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RESENHA

CASTELLS, Manoel. RUPTURA: A CRISE DA DEMOCRACIA. São Paulo: Zahar, 2018.


152 p. Tradução: Joana Angélica d’Avila Melo.

Manuel Castells é doutor em sociologia pela Universidade de Paris, onde leciona nas
áreas de sociologia, comunicação e planejamento urbano e regional. Estudioso da era da
informação, Castells avalia a influência da comunicação em rede para as sociedades
conectadas e suas principais transformações sociais do final do século XX. Das suas obras
principais destaca-se a coleção com três livros de A era da informação, composta por A
sociedade em rede, O poder da identidade e Fim de milênio. Nessa resenha apresentamos uma
de suas mais recentes contribuições. Refletindo a cerca da Democracia e dos principais
perigos que a cerca, o autor oferece uma perspectiva de interpretação que aponta para uma
ruptura no processo de consolidação das democracias no mundo.
“Sopram ventos malignos no planeta azul”. Assim Castells abre seu livro com cinco
capítulos, inicialmente montando o panorama no qual sua contribuição se inscreve. Crises
múltiplas, precariedades no mundo do trabalho, fanatismos de toda ordem, restrição das
liberdades em nome de uma segurança vigiada. “Fomos transformados em dados”, diz o autor
(p. 4). A era da comunicação foi transformada em uma pós-verdade onde mentiras são
torpedeadas em diversos mecanismos de comunicação e alçadas a categoria de verdades
absolutas. Existe, porém, segundo o autor, uma crise ainda mais significativa. O colapso das
instituições representativas que se configura enquanto uma crise cognitiva e emocional. A
democracia liberal, nosso modelo de representação e governança, caiu em descrença e
enfrenta a fúria das ruas. Dessa rejeição, surgem figuras políticas que negam essa forma
partidária e aprofundam a desordem mundial promovendo a separação e o protecionismo. O
autor fala, por exemplo, do surgimento de lideranças como Donald Trump (Estados Unidos),
Marine Le Pen (França), Emmanuel Macron (França) e o Brexit (Reino Unidos), como
exemplos dessa ruptura. De modo geral, o autor aborda nesse livro: a crise da democracia
liberal, a ruptura da representatividade entre cidadãos e governos e os desafios de procurar
instrumentos legítimos capazes de sanar esse “furacão sobre nossas vidas”.
No primeiro capítulo, Era uma vez a democracia, o autor elenca as bases que
constituíram, anos antes, a democracia liberal como o respeito aos direitos básicos e políticos,
as liberdades de associação, eleições periódicas e livres, por exemplo. Castells menciona
que a democracia se constitui fundamentada nas relações de poder social,
entretanto, privilegiando os poderes já consolidados, por isso não há como
afirmar que ela é representativa, exceto se os cidadãos assim acreditarem,
“porque a força e a estabilidade das instituições dependem de sua
vigência na mente das pessoas” (p. 10). Em tese, essa questão seria
resolvida no âmbito da própria democracia, com eleições periódicas e livre
escolha de representantes, mas, na prática os cidadãos acabam por
escolher o que já está disposto e dentro do quadro das possibilidades, o
que torna permanente os poderes já consolidados, segundo o autor. “A
política se profissionaliza, e os políticos se tornam um grupo social que
defende seus interesses comuns acima dos interesses daqueles que eles
dizem representar (p. 10). As raízes da ira, segundo Manuel, está na
consolidação de uma economia global pactuada com a comunicação que
desestruturou as economias nacionais e restringiu a atuação do Estado-
nação em oferecer respostas concretas aos problemas considerados
mundiais como as crises financeiras e os direitos humanos. A
desigualdade social é ainda mais atenuante, pois é o mercado predador
que institui, via comunicação de massa, as condições para uma
polarização acentuada entre ricos e pobres. Para o autor, a aliança dos
governos nacionais com a globalização a fim de não ficarem para trás
nesse processo de dinamização do mercado diminui a soberania nacional
às custas de uma rede de gestão global. Dessa forma, para ele, quanto
mais o Estado se distancia da nação que representa, mais acentua a
ruptura da representatividade e da consolidação de um Estado-nação mais
presente, aumentando a desigualdade. Ao mencionar o problema da
corrupção, fator cada vez maior da descrença na representatividade
política, Castells diz que a manipulação política e o sistema de
recompensas promovido pela ganância empresarial repercute tão somente
na figura da coisa pública, ou seja, transformando o Estado em uma
empresa, consolidam a visão de falência da coisa pública onde muito se
fala do corrupto, mas não de seus corruptores.
A formação da opinião também é retratada pelo autor, “nossas decisões dependem dos
sinais que recebemos e trocamos nesse universo” (p. 20). É no universo das impressões
emocionais e visuais que vamos constituindo o processo cognitivo da impressão sobre as
coisas, tornando-as opinião. Esse movimento que é permeado, cada vez mais, pelo que o autor
chama de pós-verdade, vai cristalizar inverdades como estratégias de consolidação dessa
alternativa à democracia liberal, muito comum na ascensão de governos autoritários. Além
disso, o fenômeno da política do escândalo sobre os agentes políticos gera um efeito
devastador que impulsiona a desconfiança não no agente político, mas em toda a estrutura de
representação entre governantes e governados. Em se tratando de uma realidade em que a
comunicação é cada vez mais ampla e sem as censuras tradicionais, as ondas de mensagem e
imagem são multiplicadas aos milhares e, no mundo da pós-verdade, “transforma a incerteza
na única verdade confiável: a minha, a de cada um” (p. 22). Desse modo, Castells salienta no
primeiro capítulo, a realidade de uma descrença cada vez maior da representatividade
democrática liberal institucionalizada no decorrer de muitos anos e de muitas transformações,
o surgimento de regimes autoritários como resposta e alternativa a esse sistema em descrença,
além de uma realidade onde às redes circulam conteúdos sem a menor preocupação e
responsabilidade com a verdade, fecundando o ambiente plausível para a pós-verdade.
“O medo é a mais poderosa das emoções humanas” (p. 23). O capítulo dois é
destinado à reflexão a cerca do terrorismo global e o medo como política, onde o autor
apresenta o menage à trois composto pelo terrorismo, o medo e a política que, nas últimas
décadas tomaram acento na vida cotidiana e que, baseados nessa tríplice aliança, as pessoas
abrem mão de sua intimidade em prol de uma vigilância controlada eletronicamente. Após os
ataques do 11 de setembro nos Estados Unidos, uma guerra ao terror vem produzindo
narrativas cada vez mais assustadoras onde há sempre um inimigo da humanidade a ser
abatido, o mal da vez é o Estado Islâmico. Grupo terrorista que ganha força a partir das
lacunas deixadas pela Al- Qaeda e que promoveu uma série de ataques a países da Europa,
sobretudo, a partir de 2004. O terrorismo islâmico global, com manifestações em diversos
territórios mundiais se transformou em um perigo constante e forte ameaça ao chamado
mundo civilizado. O autor complementa justificando que o pânico produzido pelo terror e o
estado de vigilância constante dos países cria o imaginário coletivo do medo do outro
legitimando, por vezes, xenofobia, islamofobia e autoristarismos.
O próximo capítulo demonstra como o medo ao terror, atrelado à desconfiança dos
partidos e das instituições, fomenta a busca por novos atores políticos eficazes no dever da
proteção. Nesse palco de medo e incertezas, os indivíduos buscam discursos claros e sem
rodeios, o discurso da xenofobia e do racismo. “É assim que a crise de legitimidade
democrática foi gerando um discurso do medo e uma prática que propõe voltar ao início” (p.
29). Esses discursos, nos diz Castells, retomam posições superadas e reforçam
conservadorismos, o papel do Estado como centro das decisões, raça como “fronteira aparente
do direito ancestral da etnia majoritária. Voltam, também, à família patriarcal, como
instituição primeira de proteção cotidiana diante de um mundo em caos” (p. 29). Surge assim
a figura de um líder ou uma causa como resposta eficaz contra um sistema em decadência ou
que não conseguiu garantir os respaldos necessários. Esse fenômeno é raiz comum a diversas
manifestações, exemplo disso, a ascensão de “um personagem estrambólico, narcisista e
grosseiro como Trump à Presidência dos Estados Unidos” (p. 30). O autor cita, também, a
secessão até pouco tempo atrás inimaginável do Reino Unido à União Europeia, a
desintegração do sistema político francês com uma mudança drástica no cenário dos partidos
que outrora dominavam a cena política. Ao refletir sobre as causas da ascensão de Trump à
presidência, uma personalidade que reúne o pior de todos os lados, “tosco e vulgar”, Castells
relembra que anos antes os americanos elegeram um negro progressista e, a partir daí, analisa
a inacreditável vitória do republicano.
Quando se lançou nas prévias republicanas, Trump enfrentava a rejeição dos principais
setores do partido, se posicionando acima do establishment político e falando diretamente ao
povo americano ele foi vencendo seus concorrentes votação a votação, nomes de peso como
Jeb Bush, Ted Cruz e Maco Rubio foram derrotados sumariamente pelo bilionário
extravagante. O autor destaca como fatores principais dessa ascensão o discurso direto contra
a imigração, às falas xenófobas e a promessa de construção de um muro na fronteira com o
México, o que atiçou nos eleitores a sensação de necessidade incitada pelo medo. Em uma
campanha marcada por declarações polêmicas, escândalos dos mais absurdos e inverdades
disseminadas Trump chega ao poder carregado por setores brancos de menor instrução, além
de trabalhadores brancos da indústria e instruídos em contraponto, Hillary recebeu apoio
substancial de setores de minorias étnicas, jovens e mulheres instrídas e das grandes cidades.
Já na presidência, Trump se isola do mundo levando a diante sua política contra o mundo.
Fenômeno oriundo da vitória nacionalista de Trump, o Brexit representa outro
movimento inacreditável até poucos anos atrás, uma maioria aprova o referendo pedindo a
saída do Reino Unido da União Europeia. Em cena o chamado projeto medo que alertava para
uma crise econômico-financeira sem precedentes, entretanto, não houve apelo, por outro lado,
surge daí uma reação popular contra as elites políticas que defendiam a permanência na União
Europeia. As forças conservadoras representadas pelo ex-prefeito de Londres, Boris Johnson e
o Partido de independência do Reino Unido, nacionalista de extrema direita, ganham força
trazendo a cena política o discurso xenófobo e nacionalista incompatíveis com o bloco, além
disso, reforçados pela imprensa marrom que começara a nadar desavergonhadamente na onda
da pós-verdade, a saída do bloco vence. Entre os votos a favor da saída estão os setores acima
de 65 anos, classe operária industrial, menos escolarizados e de regiões mais afastadas dos
grandes centros além da Grande Londres. O autor conclui dizendo que para além das divisões
sociais e culturais o Brexit não é uma campanha pelo referendo, mas sim “da integração entre
sociedade e política na qual se expressam as novas relações de poder” (p. 51).
A onda de crises de legitimidade também chega à França, Castells cita pesquisa
realizada entre 2016-17 onde “83% dos franceses não se sentiam representados pelos partidos,
88% pensavam que a maioria dos políticos era de corruptos e somente 3% acreditavam que as
medidas dos governos melhoravam suas vidas” (p. 56). A crise econômica de 2008 que puxou
três milhões de franceses para o desemprego, além de duas catastróficas experiências
presidenciais, uma de Sarkozy e outra de Hollande criou o imaginário de que a globalização
seria a principal responsável pelo fator de descrédito em relação aos principais partidos do
país. Favorecido com essa descrença Macron “é quase o arquétipo do que as elites financeiras
e tecnocráticas estão buscando na Europa como resposta à crise” (p. 60). Uma figura jovem e
formada na tecnocracia do Estado, além de personalidade avessa tanto a algumas demandas
dos socialistas e dos políticos de direita, o presidente francês têm uma posição clara frente aos
partidos políticos. Segundo o autor, foi fácil sepultar de vez os socialistas que, no decorrer dos
anos, cavaram eles mesmos sua própria cova, selada de vez por Hollande. A partir daí, o autor
acrescenta que o liberalismo econômico e o autoritarismo político aparecem como “resistência
da pós-democracia liberal” (p. 61). Dessa forma, a crise dos principais partidos franceses
derrubou a soberania que exerciam e reuniu o que restou deles em torno de um novo líder que
encabeça um “movimento personalizado em sua liderança com o estandarte de renovação e
modernidade” (p. 61). Ao mencionar a união dos países europeus e o processo que vive hoje a
Europa, Castells nomeia as principais causas do enfraquecimento da ideia de unidade em
bloco: “A primeira, a falta de uma identidade comum” que gera a xenofobia, entre outros
problemas e a segunda, uma concepção maior de identidade-projeto, ou seja, a ideia de se
defender um projeto comum de crescimento (p. 65).
No capítulo quatro, ao se referir a Espanha para desenvolver sua ideia de que a
democracia está cansada, o autor menciona a alternância de poder entre o Partido Popular e o
Socialista Operário Espanhol que, por quatro décadas, sustentou a paz em uma região cansada
de guerras civis, contudo, a normalidade aparente escondia conflitos e frustrações
permanentes, sufocados pelos acordos políticos bem fortificados. A própria esquerda sufocou
os poderosos movimentos sociais que ajudaram a derrubar o regime Franquista, subordinando
o movimento operário ao rigor fiscal e contenção de salários, perdendo assim seu poder de
articulação dos interesses de classe. O controle absoluto do jogo pelos grandes partidos abre
caminho para uma corrupção sistêmica. Na Catalunha, Jordi Pujol, movimentando uma
identidade nacional catalã e chefiando a rede Convergência e União (CiU) governou
basicamente em cima de extorsões a empresas. Já nos primeiros anos do século XXI, a
desconfiança nos partidos se acentuou, em parte gerada ela mentira do governo Aznar em não
admitir que o ataque a estação de Atocha, em Madri, em 2004, foi da Al-Qaeda e não do ETA,
como o governo afirmou, além disso, da crise econômica de 2008-2010, negada pelo governo
incompetente de Rodrìguez Zapatero que executou uma política de extrema austeridade
ditadas pelo Banco Central Europeu e por Angela Merkel. Com o sistema financeiro e político
eclodindo e com a credibilidade dos partidos em queda livre surge o clamor por uma
democracia real. Para Castells, o movimento de 15 de Maio de 2011 nas praças das principais
cidades espanholas reuniu manifestações de cunho diverso, movimento a parte dos sindicatos
e movimentos sociais, o 15-M trouxe “os indignados”, como os manifestantes se
denominavam, e uma tentativa de refazer a democracia a partir da prática, com assembleias e
discussões virtuais que eram levadas aos espaços urbanos, essa forma de mobilização política
procurava se distanciar das frias e cínicas reuniões partidárias e institucionais. Foi considerada
a “manifestação mais latente da crise econômica tanto na Espanha quanto no mundo” (p. 78).
Com apoio maciço da população, apesar de não acreditarem muito na concretização dessas
ideias, o impacto do movimento foi positivo, pois mudou a sociedade e a política espanhola.
Como sinais de uma nova política, Castells cita o surgimento do Ciudadanos, partido político
nascido na Catalunha que, patrocinado pela elite financeira neoliberal de direita, conseguiu
somar 13% da população, basicamente o que o PP perdeu em votos. Entretanto, a maior
consolidação que o movimento do 15-M e movimentos sociais trouxeram, na esquerda, foi o
que se convencionou chamar Podemos. Em torno desse partido, surgem os movimentos
regionais como os “comuns”, o Compromís, entre outras coalizões. O partido criado em 2014
obteve 8% das eleições naquele mesmo ano, além de, cinco eurodeputados. Como resultado
dessas atuações, em 2015, a Espanha já contava com um quadro de quadripartidarismo.
Entretanto, as reivindicações surgidas do 15-M não foram absorvidas pelo parlamento
espanhol que, apesar das mobilizações importantes reprimidas pela força policial, dissolve tais
demandas. Fato esse que obriga os ativistas do 15-M a buscar uma forma de representação
mais ampla. O partido X é resultado da união dos ativistas do movimento que buscando uma
representação fiel dos ideais do movimento constituem uma nova formação política para
pleitear vagas nas eleições, mas, sem sucesso, pois só obtiveram 250 mil votos, não elegendo
sequer um deputado. As razões disso, segundo Castells, foi o enquadramento mais fiel do
Podemos aos moldes do sentimento contrainstitucional e por ser composto majoritariamente
por grupos de jovens acadêmicos, o que favoreceu a não relação com o sistema anterior. Outro
fator do crescimento do Podemos é sua plurinacionalidade, tal como a realidade espanhola, e
por não assumir nenhuma posição de expressão política das estruturas históricas dominantes.
Para consolidar suas concepções sobre o Podemos o autor diz: “O crescimento do Podemos,
tanto na presença quanto em perspectivas eleitorais, é um caso único na história recente
europeia: esta é uma observação empírica, não um juízo de valor”. (p. 91).
No subcapítulo destinado a questão catalã e a crise do Estado espanhol, Manoel
Castells rememora os fatos ocorridos no 01 de Outubro de 2017 quando mais de 2 milhões de
cidadãos da Catalunha tentaram votar o referente da independência da região, sem sucesso
graças a negativa do governo de Mariano Rajoy em reconhecer o resultado do referendo. O
resultado desse processo traumático foi a fratura ainda mais profunda entre Espanha e
Catalunha, além disso, rompeu-se o consenso constitucional em relação a questão dos
governos autônomos na região. O autor atribui as dificuldades e ao atual estrutura do estado
espanhol à uma organização duvidosa sob o regime de uma monarquia cada vez mais sem
sentido e “incapaz de expressar uma realidade plurinacional” (p. 107). Além disso, o
descrédito em torno dos partidos tradicionais afundados em esquemas de corrupção e ligado
às austeridades que só aumentam o perigo da desobediência cidadã. O 15-M se transformou
em inspiração para outros importantes movimentos sociais em rede que floresceram em toda a
Europa, pelos Estados Unidos e também na América Latina. O Occupy Wall Street nos EUA,
os movimentos na Place de la République em Paris, tem em comum o fato de fundamentarem-
se na experiência espanhola. Ao mencionar esses movimentos, Castells acredita que estamos
diante de “embriões de regeneração democráticas” (p. 110), daí a reflexão sobre a experiência
espanhola ser fundamental para analisar o atual contexto político do mundo.
No último capítulo, com título bem poético, Manuel Castells relembra Gramsci ao
falar dos tempos de incertezas quando o autor italiano dizia que a nova ordem já não existe e a
nova ainda está por nascer, rememora essa frase para dizer que há uma necessidade na criação
de uma nova ordem visto que crises servem justamente para a realocação dos movimentos da
sociedade para novamente se acomodarem, pelo menos por um período de tempo. Das razões
para a crise da velha política e ascensão de novas lideranças toscas, o autor, menciona a
subversão das instituições democráticas que são tomadas por personalidades narcisistas que,
se aproveitando da repugnância das pessoas provocada por escândalos de corrupção, violência
e crises econômicas, “manipulação midiática das esperanças frustradas por encantadores de
serpentes; a renovação aparente e transitória da representação política” (p. 112), tem
constituído poderes autoritários em todo o mundo, por vezes, neofascistas, teocráticas
fundamentalistas e, por fim, “o entrincheiramento no cinismo político disfarçado de
possibilismo realista” (p. 112). A ruptura da relação entre representantes e representados cria
uma situação de insustentabilidade que ameaça, inclusive, nossa existência. Evoluímos
consideravelmente na tecnologia, mas nossa evolução política e ética não acompanhou esse
processo. A experiência histórica nos mostra que dessas crises profundas e do desespero
surgem sempre movimentos diferentes e cabe a nós cuidar para que sejam movimentos
propícios ao desenvolvimento humano. Faz-se necessário, portanto, achar uma solução para o
caos atual, para as crises de identidade, para as crises econômicas e institucionais para que
assim possamos “aprender a viver no caos” (p. 114), o que, para o autor, não tão nocivo
assim.
O livro aborda fenômenos atuais. Resgatando movimentos em diversos países,
principalmente na Europa, para explicar como a ruptura do modelo de vivência em bloco está
em desuso vítima de sucessíveis crises econômicas, desemprego, e da exclusão de grupos
postos à margem da globalização. Essas figuras hoje representam uma multidão de
descontentes que têm, em cada canto do mundo, ajudado a colocar no poder governos
autoritários, neofascistas, nacionalistas xenófobos, disseminadores de pós-verdade e que, já
estamos assistindo, não nos tira do buraco em que chegamos, mas ajuda a aprofundar as
desigualdades e dificuldades pelas quais passa o mundo todo. Castells, nesse sentido, ao
rememorar os fenômenos da crista dessa nova onda conservadora e anti-globalização, nos
permite acesso a um arcabouço interessante de fatos e reflexões que, sem dúvidas, nos
auxiliam a entender esses fatores de maneira interligada, em rede, e não como situações
oriundas país a país. O fenômeno da ruptura não é regional, mas sim, global, entretanto, não é
produção interna de cada região ou países, mas sim, uma corrente formada por tudo que
havíamos rechaçado outrora e que, aproveitando-se dos dilemas catastróficos atuais, ganha
fôlego e força no imaginário e nas ações ferozes dos menos avisados.

Resumo: A resenha apresenta as análises projetadas pelo sociólogo espanhol Manuel Castells
em sua mais recente obra, Ruptura: crise da democracia liberal (2018). Neste livro, Castells
elabora um panorama geral dos eventos políticos mais recentes, como Brexit, a eleição norte-
americana que levou Donald Trump ao poder, bem como o movimento conservador liberal
originário da dissolução da confiança nas instituições políticas, o agaravamento da crise
econômica global, desemprego em marcha e fim do protagonismo de partidos políticos
tradicionais nos Estados Unidos, na Europa e em países latinoamericanos.

Palavras-chave: Democracia; Conservadorismo; Globalização; Rupturas.

Abstract: The review presents the analyzes projected by the Spanish sociologist Manuel
Castells in his most recent work, Rupture: crisis of liberal democracy (2018). In this book,
Castells elaborates a general overview of recent political events, such as Brexit, the US
election that led Donald Trump to power, as well as the liberal conservative movement
stemming from the dissolution of confidence in political institutions, the collapse of the global
economic crisis, unemployment on the march and end of the protagonism of traditional
political parties in the United States, Europe and Latin American countries.

Keywords: Democracy; Conservatism; Globalization; Ruptures.

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