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Anais do X Seminário

de Teses e Dissertações
do PPGPS-UERJ

Rio de Janeiro
Novembro/2017
PPGPS-UERJ

ANAIS DO X SEMINÁRIO DE TESES E DISSERTAÇÕES DO PPGPS-UERJ

Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade do Estado


do Rio de Janeiro

CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/BIBLIOTECA CEH/E

S471 Seminário de teses e dissertações do PPGPS-UERJ (Programa de Pós-


Graduação de Psicologia Social). (10.:2017:Rio de Janeiro)
Anais do 10. Seminário de teses e dissertações do PPGPS-UERJ/
[Comissão Organizadora] Ana Maria Jacó-Vilela, Alberto Filgueiras.
– Rio de Janeiro: UERJ, 2017.
179, p.

ISSN: 2178-0919

1. Psicologia Social – Seminários. 2. Psicologia Social – Teses e


Dissertações – Seminários. I. Jaco-Vilela, Ana Maria. II. Filgueiras,
Alberto. III. Instituto de Psicologia. Clio-Psyché. IV. Programa de
Pós-graduação de Psicologia Social – PPGPS. V. Universidade do
Estado do Rio de Janeiro. VI. Título

CDU 301.151

Anais do X Seminário de Teses e Dissertações


do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
PPGPS-UERJ

ANAIS DO X SEMINÁRIO DE TESES E DISSERTAÇÕES DO PPGPS-UERJ

Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade do Estado


do Rio de Janeiro

Realização:
PPGPS-UERJ
Rua São Francisco Xavier, 524, sala 10009, bloco F
Maracanã, Rio de Janeiro, RJ

Coordenação:
Profª Edna Lucia Tinoco Ponciano

Coordenação Adjunta:
Profª Anna Paula Uziel

Comissão Organizadora do X Seminário:


Profª Ana Maria Jacó-Vilela
Prof Alberto Filgueiras

Professores do programa:

Linha 1 – Processos Sociocognitivos e Psicossociais


Alberto Filgueiras, Angela Josefina Donato Oliva, Deise Maria Leal Fernandes
Mendes, Denize Cristina de Oliveira, Edna Lucia Tinoco Ponciano, Eliane Mary
de Oliveira Falcone, José Augusto Evangelho Hernandez, Marcia Maria Peruzzi
Elia da Mota, Maria Lucia Seidl de Moura, Rafael Moura Coelho Pecly Wolter,
Ricardo Vieiralves de Castro, Vanessa Romera Leme.

Linha 2 – Contemporaneidade e Processos de Subjetivação


Alexandra Cleopatre Tsallis, Amana Rocha Mattos, Anna Paula Uziel, Leila
Maria Torraca de Brito, Maria Theresa da Costa Barros, Regina Glória Nunes.

Linha 3 - História, Imaginário Social, Cultura


Ana Maria Jacó-Vilela, Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo, Ariane Patrícia
Ewald, Laura Cristina de Toledo Quadros, Ronald João Jacques Arendt.

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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO .................................................................................................. 3
PROGRAMAÇÃO ................................................................................................... 4
Mesa: Psicologia e Educação ............................................................................ 4
Mesa: Psicologia e Políticas Públicas ................................................................ 5
Mesa: Avaliação e Representações Sociais ...................................................... 6
Mesa: História e Tecnologias Sociais ................................................................ 7
Mesa: Psicologia e Movimentos Sociais ............................................................ 8
Mesa: O corpo e as Religiões ............................................................................ 9
Mesa: Psicologia e Sexualidade ...................................................................... 10
Mesa: Autorregulação e Intervenções ............................................................. 11
RESUMOS............................................................................................................ 12
1. Programa de habilidades sociais educativas para professores dos anos
finais do ensino fundamental ...................................................................... 13
2. Fatores de risco e de proteção na autoeficácia acadêmica de estudantes
ao final do ensino fundamental ................................................................... 19
3. Por que falar não é fazer? Proposições para a inclusão dos dispositivos
educacionais no problema da aprendizagem ............................................. 24
4. Relações intergrupais e estratificação social: construção da identidade
social de estudantes da rede estadual do Rio de Janeiro ......................... 29
5. A construção do corpo-gênero latino nas escolas ..................................... 32
6. Enfrentamento do câncer por crianças usando práticas de atenção plena:
uma proposta de programa de intervenção................................................ 36
7. Questões Raciais no Centro de Referência em Assistência Social CRAS:
Desafios para Psicólogas e Psicólogos ...................................................... 41
8. Fortalecimento da relação entre pais e filhos(as) adolescentes:
desenvolvendo Habilidades de Vida no CRAS .......................................... 45
9. Seguindo o PET-Saúde GraduaSUS UERJ: O “faz-fazer” da formação
da(o) psicóloga(o) à luz da Teoria Ator-Rede ............................................ 51
10. Arte e cuidado na Colônia Juliano Moreira: contribuições para o uso de
atividades artísticas no campo da saúde mental ....................................... 55
11. Representações sociais de servidores públicos do Inmetro sobre o serviço
público brasileiro. ......................................................................................... 58
12. As representações socias sobre o consumo na classe A da cidade do Rio
de Janeiro .................................................................................................... 61
13. O pensamento social de diferentes grupos de servidores acerca de seu
Trabalho e os impactos em suas práticas laborais: um estudo de caso no
CEFET/RJ .................................................................................................... 64
14. Adaptação e Validação do Interpersonal Reactivity Index for Couples
(IRIC) ............................................................................................................ 68
15. Paquetá entre histórias e memórias: representações e memória social dos
moradores. ................................................................................................... 72

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16. A Psicologia contra a Ditadura Civil-Militar (1964-1985) ........................... 75


17. A relação alma e cérebro no percurso da psicologia no Brasil: as obras de
Domingos Gonçalves de Magalhães e Hamilton Nogueira ....................... 80
18. O conceito de justiça para jovens: um estudo sobre o pensamento social e
a noção de nexus ........................................................................................ 84
19. Redes sociais como ambiência de produção, circulação e reprodução do
pensamento social ....................................................................................... 89
20. Projeto Vidas Paralelas Migrantes (Polo Rio de Janeiro) .......................... 93
21. Entre almas negras e corpos denegridos: atitude suspeita, abordagem
policial e o direito à cidade. ......................................................................... 98
22. Privilégios, vantagens e direitos: analisando a branquitude dos
movimentos feministas ..............................................................................102
23. FRONTEIRAS: Mulheres Negras Refugiadas e Migrantes. Os desafios de
uma história única......................................................................................107
24. Trajetos da violência, corpos de resistência e teias de afetos: Migrações
forçadas, pedidos de asilo e reassentamentos de LGBTT ......................113
25. Representações sociais de pais sobre amamentação ............................ 117
26. A corporeidade vivida no encontro: dimensão intersubjetiva ..................121
27. As representações sociais da cultura afro-brasileira entre os
neopentecostais......................................................................................... 127
28. Ojá ou hijab: quando cobrir a cabeça em respeito ao sagrado revela um
ato de ousadia em tempos de intolerância religiosa. ............................... 131
29. Bruxas e Santas: a religiosidade feminina no Brasil Colonial..................135
30. Formação Afetiva do Estigma Sexual .......................................................141
31. Narrativas de lésbicas da cidade de Niterói/RJ: subjetividades, políticas
públicas e exclusão social .........................................................................145
32. “Família é quando há afeto”: a vivência de processos de adoção por
casais de pessoas do mesmo sexo. ......................................................... 148
33. Sexualidades encarceradas: cartografias de experiências de mulheres
trans e travestis em uma penitenciária do Estado do Rio de Janeiro .....152
34. Autorregulação na Adultez Emergente: Psicoeducação da Experiência
Somática e Emocional ...............................................................................157
35. Compreendendo o efeito da depressão em atletas e pessoas sedentárias
com ou sem histórico de concussão ......................................................... 163
36. Função Executiva em Atletas: A importância do uso assertivo das
emoções no processo de tomada de decisão. .........................................165
37. Programa de habilidades sociais com adolescentes em medida
socioeducativa de semiliberdade .............................................................. 167
38. Neurofeedback como proposta de intervenção para a performance
esportiva.....................................................................................................172

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APRESENTAÇÃO

Uma universidade plural, comprometida e resistente


O Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social (PPGPS) da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) é reconhecido como um dos
fortes programas de qualidade em sua área. Mesmo que ao longo dos anos a
denominação “Psicologia Social” não seja mais tão adequada para intitulá-lo,
sendo mais bem apresentado como um Programa de Psicologia, com
diversidade teórica e metodológica, seus quadros docente e discente mantém
aquela dedicação, empenho, interesse acadêmico e responsabilidade pelo que-
fazer público que o caracterizam desde seus idos na década de 1990, quando
foi criado.
Neste momento, um novo atributo se soma: a capacidade de resistência
de seus professores, alunos, funcionários, mantendo viva sua reconhecida
qualidade reconhecida, em tempos tão duros para a Ciência e Tecnologia do
país e, especialmente, para nosso Estado do Rio de Janeiro. Há quase dois
anos o executivo do Estado do Rio de Janeiro sofre as consequências da má
administração dos recursos públicos, da corrupção e do desvio de verbas, a
que se acopla a inexistência de uma visão estratégica sobre o futuro – do país,
do Estado, dos jovens que estamos formando.
Esse Seminário, em sua décima edição, é a evidência mais concreta da
qualidade do trabalho e da importância da pesquisa em psicologia aqui
produzida. Os professores, funcionários e bolsistas do PPGPS, ao lado de
servidores estaduais de áreas não prioritárias, na visão estreita de nosso
governo, têm passado meses com salários e bolsas atrasados, atraso a que se
ali a falta de repasse das verbas que serviriam para manutenção dos serviços
da Universidade – nem falar em investimento! Apesar do desmantelamento do
Estado e das forças que tentam impedir que a UERJ se mantenha de pé,
procuramos demonstrar que resistimos, não pactuando com este projeto
arcaico e conservador.
Os atos de resistência são o movimento necessário da psicologia para
evidenciar os seus saberes e assumir seu papel de ciência do cuidado. Assim,
o PPGPS continua acreditando na educação pública, gratuita e de qualidade
como forma de diminuir as diferenças sociais que se tornam, novamente, cada
vez mais gritantes. Esse Seminário é uma marca permanente, uma prova cabal
de que a UERJ resiste, que as tentativas de destruir a instituição não terão
sucesso pois seus professores, alunos e funcionários consideram seu dever
contribuir, por meio da educação, para a construção de lugares mais justos e
equânimes para se viver.
Rio de Janeiro, 28 de novembro de 2017
Alberto Filgueiras
Ana Maria Jacó-Vilela
Comissão Organizadora do X Seminário

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PROGRAMAÇÃO

Mesa: Psicologia e Educação

Dia 28/11/2017, 9h30 às 12h30: sala 10.010, bloco F


Debatedora: Profª Vera Maria Ramos de Vasconcellos (UFF)

1. “Programa de habilidades sociais educativas para professores dos anos


finais do ensino fundamental”
Autora: Adriana Pinheiro Serqueira das Chagas (Mestranda)
Orientadora: Vanessa Barbosa Romera Leme
2. “Fatores de risco e de proteção na autoeficácia acadêmcia de estudantes ao
final do ensino fundamental”
Autora: Luana de Mendonça Fernandes (Doutoranda)
Orientadora: Vanessa Barbosa Romera Leme
3. “Por que falar não é fazer? Proposições para inclusão dos dispositivos
educacionais no problema da aprendizagem”
Autora: Etiane Araldi (Doutoranda)
Orientador: Ronald João Jacques Arendt
4. “Relações intergrupais e estratificação social: construção da identidade
social de estudantes da rede estadual do Rio de Janeiro”
Autor: Álvaro Rafael Santana Peixoto (Mestrando)
Orientador: Rafael Moura Coelho Pecly Wolter
5. “A construção do corpo-gênero latino nas escolas”
Autora: Amanda Neves Rastrelli (Mestranda)
Orientadora: Amana Rocha Mattos

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Mesa: Psicologia e Políticas Públicas


Dia 28/11/2017, 9h30 às 12h30: sala 10.005, bloco F
Debatedor: Camila Furlanetti Borges (FIOCRUZ)

1. “Enfrentamento do câncer por crianças usando práticas de atenção plena:


uma proposta de programa de intervenção”
Autora: Joana Lezan Sant´Anna (Doutoranda)
Orientadora: Deise Maria Fernandes Leal Mendes
2. “Questões Raciais no Centro de Referência em Assistência Social CRAS:
Desafios para Psicólogas e Psicólogos”
Autora: Ana Carolina Areias Nicolau Siqueira (Mestranda)
Orientadora: Regina Glória Nunes Andrade
3. “Fortalecimento da relação entre pais e filhos(as) adolescentes:
Desenvolvendo Habilidades de Vida no CRAS”
Autora: Xênia de Andrade Domith (Mestranda)
Orientadora: Edna Lúcia Tinoco Ponciano
4. “Seguindo o PET-Saúde GraduaSUS UERJ: O “faz-fazer” da formação da(o)
psicóloga(o) à luz da Teoria Ator-Rede”
Autora: Jackeline Sibelle Freires Aires (Mestranda)
Orientadora: Alexandra Cleopatra Tsallis
5. “Arte e cuidado na Colônia Juliano Moreira: contribuições para o uso de
atividades artísticas no campo da saúde mental”
Autor: João Henrique de Araújo (Doutorando)
Orientadora: Ana Maria Jacó-Vilela

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Mesa: Avaliação e Representações Sociais


Dia 28/11/2017, 14h00 às 17h00: sala 10.010, bloco F
Debatedor: Luciene Naiff (UFRRJ)

1. “Representações sociais de servidores públicos do Inmetro sobre o serviço


público brasileiro”
Autora: Daniela de Vasconcellos Prata Veloso (Mestranda)
Orientador: Rafael Moura Coelho Pecly Wolter
2. “As representações sociais sobre o consumo na classe A da cidade do Rio
de Janeiro”
Autora: Camilla Ramos de Lima Chagas Cristino (Mestranda)
Orientador: Ricardo Vieralves de Castro
3. “O pensamento social de diferentes grupos de servidores acerca de seu
Trabalho e os impactos em suas práticas laborais: um estudo de caso no
CEFET/RJ”
Autora: Layse Costa Pinheiro (Mestranda)
Orientador: Rafael Moura Coelho Pecly Wolter
4. “Adaptação e Validação do Interpersonal Reactivity Index for Couples (IRIC)”
Autora: Gisele Maria Rosa Sorinho (Mestranda)
Orientador: José Augusto Evangelho Hernandez

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Mesa: História e Tecnologias Sociais


Dia 28/11/2017, 14h00 às 17h00: sala 10.005, bloco F
Debatedor: Prof. Francisco Portugal (UFRJ)

1. “Paquetá entre histórias e memórias: representações e memória social dos


moradores”
Autor: Glênio Carneiro Maciel Junior (Mestrando)
Orientador: Ricardo Vieralves de Castro
2. “A Psicologia contra a Ditadura Civil-Militar (1964-1985)”
Autor: Juberto Antonio Massud de Souza (Doutorando)
Orientadora: Ana Maria Jacó-Vilela
3. “A relação alma e cérebro no percurso da psicologia no Brasil: as obras de
Domingos Gonçalves de Magalhães e Hamilton Nogueira”
Autor: Wilk Farias Nobre (Mestrando)
Orientador: Ana Maria Jacó-Vilela
4. “O conceito de justiça para jovens: um estudo sobre o pensamento social e a
noção de nexus”
Autora: Thamiris Marques da Silva (Doutoranda)
Orientador: Rafael Moura Coelho Pecly Wolter
5. “Redes sociais como ambiência de produção, circulação e reprodução do
pensamento social”
Autor: Georgie Alexánder Echeverri Vásquez (Doutorando)
Orientador: Rafael Moura Coelho Pecly Wolter

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Mesa: Psicologia e Movimentos Sociais


Dia 29/11/2017, 9h30 às 12h30: sala 10.010, bloco F
Debatedor: Prof. Hildeberto Martins (UFF)

1. “Projeto Vidas Paralelas Migrantes (Polo Rio de Janeiro)”


Autor: Wallace Araujo de Oliveira (Mestrando)
Orientadora: Regina Glória Nunes Andrade
2. “Entre almas negras e corpos denegridos: atitude suspeita, abordagem
policial e o direito à cidade”
Autora: Bárbara Silva da Rocha (Mestranda)
Orientadora: Anna Paula Uziel
3. “Privilégios, vantagens e direitos: analisando a branquitude dos movimentos
feministas”
Autora: Georgia Grube Marcinik (Mestranda)
Orientadora: Amana Rocha Mattos
4. “FRONTEIRAS: Mulheres Negras Refugiadas e Migrantes: os desafios de
uma história única”
Autora: Lumena Aleluia (Mestranda)
Orientadora: Amana Rocha Mattos
5. “Trajetos da violência, corpos de resistência e teias de afetos: Migrações
forçadas, pedidos de asilo e reassentamentos de LGBTT”
Autora: Vanessa Marinho Pereira (Doutorado)
Orientadora: Anna Paula Uziel

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Mesa: O corpo e as Religiões


Dia 29/11/2017, 9h30 às 12h30: sala 10.005, bloco F
Debatedora: Prof. Emílio Nolasco de Carvalho (UFF)

1. “Representações sociais de pais sobre amamentação


Autora: Aline da Silva Gonçalves (Mestranda)
Orientadora: Denize Cristina de Oliveira
2. “A corporeidade vivida no encontro: dimensão intersubjetiva”
Autora: Karla Guimarães Leite (Mestranda)
Orientadora: Edna Lucia Tinoco Ponciano
3. “As representações sociais da cultura afro-brasielira entre os
neopentecostais” Autor: Allan Felipe Santos de Freitas (Mestrando)
Orientador: Ricardo Vieralves de Castro
4. “Ojá ou hijab: quando cobrir a cabeça em respeito ao sagrado revela um ato
de ousadia em tempos de intolerância religiosa”
Autora: Fabiane de Souza Vieira (Mestranda)
Orientadora: Anna Paula Uziel
5. “Bruxas e Santas: a religiosidade feminina no Brasil Colonial”
Autora: Maria Cláudia Novaes Messias (Doutoranda)
Orientadora: Ana Maria Jacó-Vilela

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Mesa: Psicologia e Sexualidade


Dia 29/11/2017, 14h00 às 17h00: sala 10.010, bloco F
Debatedor: Profª. Jane Russo (Instituto de Medicina Social – UERJ)

1. “Formação Afetiva do Estigma Sexual”


Autor: Alexandre de Oliveira Marques (Doutorando)
Orientadora: Denize Cristina de Oliveira
2. “Narrativas de lésbicas da cidade de Niterói/RJ: subjetividades, políticas
públicas e exclusão social”
Autora: Leandra Sobral Oliveira (Doutoranda)
Orientadora: Amana Rocha Mattos
3. “Família é quando há afeto’: a vivência de processos de adoção por casais
de pessoas do mesmo sexo”
Autora: Lívia Lima Gurgel (Mestranda)
Orientadora: Anna Paula Uziel
4. “Sexualidades encarceradas: cartografias de experiências de mulheres trans
e travestis em uma penitenciária do Estado do Rio de Janeiro”
Autora: Vanessa Pereira de Lima (Mestranda)
Orientadora: Anna Paula Uziel

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Mesa: Autorregulação e Intervenções


Dia 29/11/2017, 14h00 às 17h00: sala 10.005, bloco F
Debatedor: Prof. Bruno de Oliveira Galvão (PUC-Rio)

1. “Autorregulação na Adultez Emergente: Psicoeducação da Experiência


Somática e Emocional”
Autor: Eduardo José Esteves Brito (Mestrando)
Orientadora: Edna Lucia Tinoco Ponciano
2. “Compreendendo o efeito da depressão em atletas e pessoas sedentárias
com e sem históricos de concussão”
Autora: Raquel Melo dos Santos (Mestranda)
Orientador: Alberto Filgueiras
3. “Função Executiva em Atletas: A importância do uso assertivo das emoções
no processo de tomada de decisão”
Autor: Paulo Sérgio Barbosa Ribeiro (Mestrando)
Orientador: Alberto Filgueiras
4. “Programa de habilidades sociais com adolescentes em medida
socioeducativa de semiliberdade”
Autora: Carolina Seixas da Rocha (Mestranda)
Orientadora: Vanessa Barbosa Romera Leme
5. “Neurofeedback como proposta de intervenção para a performance
esportiva”
Autor: Leonardo Rosa Habib (Mestrando)
Orientador: Alberto Filgueiras

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Resumos

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Programa de habilidades sociais educativas para professores dos anos


finais do ensino fundamental
Aluna: Adriana Pinheiro Serqueira das Chagas
Orientadora: Vanessa Barbosa Romera Leme
Nas últimas décadas, houve no Brasil um significativo avanço do fracasso
escolar principalmente no que diz respeito ao Ensino Fundamental. Dessa
forma, as escolas que são locais destinados à formação e ao ensino de
qualidade, também têm sido consideradas espaços onde os alunos não
conseguem aprender, o que acaba tornando-as reprodutoras do fracasso
escolar. Contudo, é importante que se reflita sobre este discurso que
culpabiliza apenas os alunos e suas famílias pelo fracasso, afinal, as questões
neurológicas, cognitivas ou familiares não podem ser consideradas como as
únicas responsáveis pelos problemas que ocorrem nas escolas. Pesquisas
destacam que alunos e professores que desenvolvem relações pautadas no
respeito e afetividade podem chegar ao sucesso no contexto escolar,
favorecendo tanto o desempenho acadêmico dos discentes, quanto às
interações que estes estabelecem com seus professores. Convém ressaltar
que a falta de estímulo no exercício da função, os conflitos decorrentes das
relações interpessoais no contexto escolar ou até mesmo as condições
precárias de trabalho são algumas das questões contextuais que podem
influenciar o estado emocional de professores, causando estresse e a
manifestação da síndrome de Burnout. Portanto, é fundamental que os
docentes sejam auxiliados, para que assim possam colaborar de forma eficaz
com as relações existentes no ambiente escolar. Nesse ínterim, estudos
apontam para a necessidade dos professores se apropriarem de determinados
conceitos que favoreçam suas relações com seus alunos e que os levem a
reflexão de seus comportamentos, fazendo-os perceberem como suas ações
podem interferir no rendimento acadêmico e socioafetivo dos discentes.
Descreve-se a seguir sucintamente alguns apontamentos teóricos da
dissertação. Nos últimos anos, a educação brasileira vem passando por
mudanças em suas legislações. A Lei 11 274, de 06 de fevereiro de 2006,
propôs alterações em alguns artigos da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, de 20 de dezembro de 1996). Dentre essas novas

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redações, convém destacar o artigo 32 sobre a duração do Ensino


Fundamental, que passou de oito para nove anos, com matrícula obrigatória a
partir dos 6 anos de idade. Com esta nova organização, os anos iniciais do
Ensino Fundamental passaram a ter duração de cinco anos e serem
compostos por crianças do 1° ao 5° ano (6 a 10 anos de idade). Já os anos
finais, com duração de quatro anos, são formados por estudantes do 6° ao 9°
ano (11 a 14 anos de idade). Alguns autores enfatizam a importância da
reflexão sobre a oferta do Ensino Fundamental não apenas no que se refere às
leis, mas principalmente com o compromisso da sociedade no progresso da
Educação brasileira. Conforme divulgado no Censo Escolar de 2016 realizado
pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira -
INEP, o Brasil possui um total de 27 588 905 alunos matriculados no Ensino
Fundamental, sendo 15 346 008 matriculados nos anos iniciais e 12 242 897
matriculados nos anos finais, o que representa uma queda de 236 433
matrículas em relação ao ano anterior. Nesse sentido, estudos evidenciaram
que a evasão escolar é o que esclarece o decréscimo dessas matrículas, uma
vez que o número de alunos é reduzido a cada ano de escolaridade. Além
disso, autores destacam que os alunos repetentes também estão inseridos
nessa quantidade de matrículas. Em relação às taxas de aprovação do Ensino
Fundamental, os indicadores do Censo Escolar de 2016 apontam que houve
um progresso nesses resultados se comparados aos resultados de anos
anteriores. No entanto, há discretas diferenças entre as taxas de aprovação no
Brasil por ano de escolaridade. Em 2015 o 6° ano atingiu a taxa de 82,9 %, o
que significa 2,3 % a menos que o 7°ano, que alcançou 84,6 %. Já o 8° ano
obteve 87,3 % de aprovação, enquanto o 9° ano ultrapassou a essa taxa num
percentual de 1,3 %, obtendo 88, 6 % de aprovação. Outro fator que merece
atenção no Ensino Fundamental da educação brasileira é a distorção idade-
série, que no ano de 2016 chegou a 23,2 % no último ano do Ensino
Fundamental, resultado inferior aos obtidos nas redes: estadual (24 %) e
municipal (28,6%). A menor taxa de distorção no 9° ano do Ensino
Fundamental se refere às escolas privadas do país, com 7,6 %. O Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica - Ideb foi criado no ano de 2007, pelo
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - Inep,

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com o objetivo de mensurar a qualidade do aprendizado nacional, combinando


dados do desempenho em avaliações padronizadas de Língua Portuguesa e
Matemática (Prova Brasil ou Saeb) realizadas por alunos do 5° ao 9° ano do
Ensino fundamental e 3° ano do Ensino Médio, com informações sobre o
rendimento escolar (aprovação). É um indicador formulado para o
estabelecimento de metas por uma melhoria no ensino do Brasil. A partir de
dados desenvolvidos pelo Inep sobre os resultados do Ideb nos anos finais do
Ensino fundamental, a média geral alcançada no ano de 2015 foi de 4,5, o que
significa um resultado abaixo do proposto pelo Governo Federal, cuja meta er a
de 4,7. Em relação às escolas públicas, o resultado (4,2) também foi inferior à
meta idealizada de 4,5. As escolas privadas do país obtiveram um melhor
desempenho com média igual a 6,1, no entanto, não atingiram a meta proposta
de 6,8. Desse modo, o Ideb favorece a organização de resultados para a
criação de políticas públicas ao passo que elabora metas individualizadas por
escola, municípios e estados. Essas estratégias visam acompanhar e propor
ações de combate ao fracasso nas escolas. Por outro lado, esses mesmos
autores destacam que a Educação Básica não pode ser compreendida através
do Ideb, já que as avaliações, o fluxo escolar e o rendimento dos alunos
relacionados apenas à leitura e à matemática não são suficientes para a
compreensão da complexidade escolar. Segundo a terceira versão da Base
Nacional Comum Curricular – BNCC, publicada em maio de 2016, é no Ensino
Fundamental que estudantes passam por diversas mudanças associadas aos
seus aspectos: físicos, cognitivos, afetivos, sociais, emocionais entre outros.
No que se refere aos anos finais do Ensino Fundamental, nesse documento, os
alunos são expostos a complexos desafios e ao mesmo tempo apresentados a
conteúdos relacionados a diversas áreas do conhecimento. Esta nova versão
da BNCC aponta a importância das habilidades sociais no sentido de
desenvolver o ser não somente em seu aspecto cognitivo, mas também no
socioafetivo. Nesse sentido, é fundamental que os adolescentes sejam
compreendidos como indivíduos em desenvolvimento, com suas singularidades
e características internas próprias e que sejam inseridos em práticas escolares
diversificadas que atendam suas reais necessidades e favoreçam a inserção
social de cada um deles. Por esta rota de compreensão, pesquisadores

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afirmam a importância do entendimento sobre os problemas que afetam os


professores, bem como sobre as variáveis que se relacionam a estes
problemas. Os autores afirmam a necessidade da compreensão das práticas
desses profissionais, analisando a interação que os mesmos estabelecem com
seus alunos e com as condições de trabalho e Burnout. Alguns estudiosos
afirmam em suas pesquisas que muitos são os fatores que podem adoecer ou
desgastar os professores, como por exemplo, ausência ou precariedade do
investimento público, excesso de trabalho, a violência nas escolas, falta de
valorização da função docente e as condições sociais dos alunos. Destacam
ainda que há outros motivos pelos quais os professores se desgastam e que
estão relacionados às políticas educacionais do país. Estas situações acabam
desestimulando os docentes e levando muitos deles a se afastarem do
exercício da função. Em se tratando de prática docente, autores destacam que
os professores que fazem uso de um bom repertório de habilidades sociais,
ultrapassam a ideia de mera transmissão de conteúdos, enriquecendo a
atuação pedagógica em sala de aula e favorecendo relações interpessoais que
são pautadas principalmente pelo diálogo entre os indivíduos em seu contexto.
Assim, ao utilizarem as habilidades sociais educativas no contexto escolar, os
docentes podem perceber as reais necessidades de seus alunos, atuando com
flexibilidade no que se refere a prática e as estratégias que utilizam em sala de
aula. Dessa forma, a ausência de embasamento no conhecimento científico por
parte do professor, bem como a falta de competência em sua atuação no
contexto da sala de aula pode contribuir para que os alunos tenham um
desempenho acadêmico insatisfatório. Portanto, as habilidades sociais
educativas dos professores e o desempenho acadêmico dos alunos parecem
ser relacionados. Nota-se a importância do desenvolvimento de habilidades
entre docentes e discentes como fator facilitador no aumento das
potencialidades dos educandos de modo a favorecer o desempenho
acadêmico dos mesmos. Corroborando com esta afirmativa, pesquisas
recentes destacam a relevância da identificação de habilidades sociais dos
professores a fim de que eles e seus alunos possam desenvolver boas
relações interpessoais, contribuindo assim com o desempenho acadêmico de
cada educando. Para favorecer ainda mais essas relações, pensar no

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investimento da formação inicial do professor é essencial, pois através de um


aprimoramento na formação social docente, os professores diminuiriam seus
comportamentos inadequados, aumentariam seu repertório de habilidades
sociais educativas e também favoreceriam o desenvolvimento dessas
habilidades em seus alunos. Assim sendo, melhor compreender este estudo,
consideremos a sala de aula como um espaço favorável às interações sociais.
Um local em que professores despertem o interesse dos alunos pela
aprendizagem através de suas habilidades sociais, levando em conta os
aspectos cognitivos e afetivos neste processo. Diante de todas essas
considerações, surge então a relevância da abordagem do tema Habilidades
Sociais Educativas do professor e a necessidade de se compreender como a
presença dessas pode vir a favorecer o desempenho acadêmico de seus
alunos. Desse modo, o objetivo geral do estudo é implementar e avaliar os
efeitos de um Programa de Habilidades Sociais Educativas no repertório de
habilidades sociais educativas, nos níveis de Burnout e na autoeficácia docente
ao final do Ensino Fundamental. Busca-se embasar este estudo na Teoria
Bioecológica do Desenvolvimento Humano. A amostra será composta por 25
professores que lecionam para o 7º, 8º e 9º ano do Ensino Fundamental, de
uma escola pública do Estado do Rio de Janeiro. O estudo contemplará duas
etapas. Primeiro, por meio de grupos focais será investigado as percepções
dos professores sobre os desafios e as oportunidades profissionais e
interpessoais presentes na atuação docente e nas relações professor-aluno.
Na segunda etapa, a partir das informações coletadas com os grupos focais,
será realizado o Programa de Habilidades Sociais Educativas, em que os
participantes serão distribuídos em grupo de intervenção e grupo controle. A
intervenção será composta por 10 encontros, com medidas de avaliação de
processo e de resultados finais. A avaliação de processo incluirá o registro de
comportamentos em um protocolo. Os participantes responderão, antes e após
a intervenção, ao (1) Inventário de Habilidades Sociais Educativas, (2) ao
Inventário de Burnout de Maslach, (3) à Escala de Fontes de Autoeficácia
Docente, (4) ao Questionário com informações demográficas. Com os dados da
pesquisa será possível identificar quais habilidades sociais educativas são

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capazes contribuir com relações interpessoais positivas, favorecer as crenças


de autoeficácia docente e amenizar a percepção de Burnout.

Palavras-chave: Habilidades sociais educativas; professores; intervenção;


ensino fundamental.

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Fatores de risco e de proteção na autoeficácia acadêmica de estudantes


ao final do ensino fundamental
Aluna: Luana de Mendonça Fernandes
Orientadora: Vanessa Barbosa Romera Leme
A escola é um local de aprendizagem, promoção e ampliação das relações
interpessoais dos estudantes. A educação tem a finalidade de desenvolver
os alunos, preparando, instruindo e fornecendo condições necessárias para
que eles exerçam sua cidadania e possam futuramente avançar nos estudos
e progredir para obter postos de trabalho mais justos e equânimes. Contudo,
no Brasil, as condições que as escolas se encontram não vem favorecendo
para que isso ocorra e isto é observado nos índices da educação básica. O
final do Ensino Fundamental (E.F) mostra-se como uma etapa crítica para os
alunos, principalmente aqueles que se encontram em vulnerabilidade social.
Dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) mostram
que nas últimas décadas a distorção idade-série vem aumentando, sobretudo
na transição do E.F. para o Ensino Médio (E.M.). A cada 100 alunos 26
estavam com atraso de dois ou mais anos. Já em 2016, a distorção idade-
série no E.F. é de 23,2% e no E.M. é de 32,9% e houve uma queda de
3,12% no número de matrículas nos anos finais do E.F. Os resultados de
pesquisas apontaram que cerca de 1,3 milhões de adolescentes e jovens
entre 15 e 17 anos abandonaram a escola, sem concluir os estudos e 52%
desses não concluíram o E.F. Estudos idenficaram que o baixo nível
socioeconômico pode interferir de maneira negativa no desempenho escolar
dos alunos e que meninos negros e os alunos que trabalham e estudam
possuem baixo rendimento acadêmico e maior probabilidade de abandonar
e\ou evadir da escola. No estado do Rio de Janeiro entre 2007 e 2015,
observou-se um decréscimo no número de matrículas nos anos finais do E.F.
A redução das matrículas se dá pelos autos índices de reprovação,
abandono e evasão escolar ao longo dos anos finais do E.F., acrescido de
outros fatores de risco como exposição à violência no contexto familiar e na
escola/comunidade. No ano de 2017 mais de 13 mil estudantes não tiveram
aula devido aos confrontos entre policiais e traficantes nas c omunidades do
Rio de Janeiro. Somente no complexo da Maré 16 escolas, seis creches e 11

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espaços de desenvolvimento infantil ficaram fechados durante 12 dias nos


meses de agosto e setembro de 2017, totalizando 11.378 alunos sem aula.
Diante disso, os anos finais são um período crítico da trajetória escolar e,
assim, é importante investigar recursos dos alunos (tais como habilidades
sociais) e dos seus contextos (tais como a percepção de apoio social), de
modo a compreender como esses os fatores de proteção podem favorecer o
desenvolvimento saudável dos escolares em situações de exposição à
violência, à discriminação e reprovação escolar. A pesquisa é baseada na
Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano e em alguns conceitos da
Teoria Social Cognitiva e da Psicologia Positiva. A perspectiva bioecológica
entende o desenvolvimento dentro do contexto proximal e distal do indivíduo,
analisando como as características da pessoa influenciam e são
influenciadas pelas relações diádas e como os processos proximais e os
contextos sociais ao longo do tempo que afetam os processos de
desenvolvimento. Nesta mesma perspectiva, a Teoria Social Cognitiva
compreende desenvolvimento da pessoa a partir propõe o modelo triádico no
qual fatores pessoais (por exemplo, crenças de autoeficácia e sexo),
ambientais (por exemplo, clima escolar, percepção de apoio social apoio
social e de discriminação, exposição à violência e históricos de reprovação
escolar) e comportamentais (por exemplo, habilidades sociais) influenciam de
maneira recíproca o desenvolvimento da pessoa. A Psicologia Positiva
enquanto uma área procura focar as potencialidades, as motivações e as
capacidades do indivíduo mesmo em ambientes hostis, favorecendo
processos de resiliência que auxiliam nos comportamentos de ajustamento e
nas crenças de autoeficácia. Autoeficácia acadêmica é a crença que um
aluno possui em se ver capaz de executar e concluir com êxito uma tarefa
acadêmica, alcançando os objetivos e os resultados esperados dentro do
contexto escolar. Os anos finais da educação básica é uma etapa importante
que desafia os estudantes tanto na vida acadêmica quanto na interpessoal e
tem efeitos a longo prazo. A transição do E.F. para o E.M. tem sido
reconhecida como um ponto de viragem potencialmente angustiante,
principalmente no 9° ano do E.F. Além de estarem entrando na adolescência,
este período é um momento de mudanças importantes na configuração

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escolar nos quais a estrutura da escola modifica, pois começam a ter mais
disciplinas acadêmicas, maior cobrança por parte dos professores e também
ocorre uma transformação em suas vivências sociais como, por exemplo a
formação de grupos de amigos. Esta descontinuidade tanto na estrutura
escolar quanto nos papéis sociais requer esforços adaptativos significativos
dos estudantes do E.F. e para alguns, tais transições, podem ser
estressantes e/ou desafiadoras. Estudos apontam que a transição do E.F.
para o E.M. está frequentemente associada a um aumento do sofrimento
psicológico, ao declínio no desempenho acadêmico, à diminuição da
motivação e à diminuição de algumas habilidades acadêmicas, sendo que
alguns alunos quando não se sentem preparados e apoiados para os novos
desafios acadêmicos ao final do E.F., podem ficar vulneráveis e evadir da
escola. Apesar disso, pouco estudos focam os anos finais da educação
básica. Desse modo, o presente estudo, com delineamento transversal e
abordagem quantitativo-qualitativo tem como objetivo geral analisar como os
fatores de risco (histórico de reprovação escolar, percepção de discriminação
cotidiana e exposição à violência na família e extrafamiliar) e de proteção
(habilidades sociais, percepção de apoio social da família, pares, professores
e comunidade e clima escolar) influenciam a autoeficácia acadêmica de
estudantes nos anos finais do E.F. Os objetivos específicos são: (1) examinar
as influências de alguns fatores de risco (histórico de reprovação escolar,
percepção de discriminação cotidiana e exposição à violência na família e
extrafamiliar), proteção (habilidades sociais, percepção de apoio social da
família, pares, professores e comunidade e clima escolar) e variáveis
demográficas (sexo e nível socioeconômico) sobre a autoeficácia acadêmica
de estudantes ao final do E.F.; (2) investigar por meio de grupos focais as
percepções dos alunos do 9º ano sobre os desafios e as oportunidades
acadêmicas e interpessoais presentes em diversos contextos (família, escola
e comunidade) que surgem ao final do E.F. ; (3) avaliar os efeitos de um
Programa de Habilidades Sociais no repertório de habilidades sociais, na
autoeficácia acadêmica, na percepção de apoio social e discriminação
cotidiana de estudantes ao final do E.F. Participarão cerca de 500
estudantes, de ambos os sexos que frequentarão o 7º, 8º e 9º ano do E.F. de

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escolas públicas do Estado do Rio de Janeiro. Os instrumentos utilizados


serão: (1) Escala de Autoeficácia Acadêmica; (3) Questionário da Juventude
Brasileira; (4) Escala de Discriminação Cotidiana; (5) Índice de Senso de
Comunidade; (6) Inventário de Habilidades Sociais para Adolescentes -
versão breve; (7) Escala de Percepção de Apoio Social; (8) Questionário de
Clima Escolar; (8) Questionário com informações demográficas dos alunos.
O projeto será submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. Todos os responsáveis pelos alunos
assinarão um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), no qual
todas essas informações estarão descritas. Os alunos também assinarão ao
Termo de Assentimento (TA), no qual estarão declarando que concordam em
participar da pesquisa. Em relação as análises dos dados, para alcançar o
objetivo especifico (1), os escores por escala e globais obtidos dos
instrumentos serão digitados em um banco de dados para a realização de
análises estatísticas. Primeiramente, será analisada a presença de casos
“faltantes” (missing), outliers uni e multivariados e será verificado se a
distribuição amostral é normal. Serão realizados os seguintes testes
estatísticos: teste t-Student; ANOVA (one-way); correlação r de Pearson;
regressão linear. Para o objetivo específico (2) serão realizados grupos
focais que seguirão um roteiro previamente estabelecido para identificar as
percepções dos estudantes sobre dois núcleos temáticos a respeito dos
desafios e oportunidades ao final do E.F.: (a) interações com os membros da
família, grupo de pares, professores e membros da comunidade/bairro; (b)
relação escola-família. As discussões que ocorrerão nos grupos focais serão
gravadas, com o assentimento dos participantes, transcritas na íntegra e
submetidas à análise de conteúdo temático-categorial. Essa análise será
composta pela exploração do material, inferência, interpretação e tratamento
dos dados. Por fim, para o objetivo específico (3), serão aplicados
questionários antes e após a intervenção que serão analisados por meio do
teste não paramétrico wilcoxon. Estudos indicam que a família, a escola e a
comunidade são os contextos mais importantes para o desenvolvimento
cognitivo e socioafetivo dos alunos nesse momento da trajetória escolar.
Dependendo da qualidade das relações interpessoais, do clima escolar e do

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apoio social percebido pelos estudantes naqueles ambientes, processos de


resiliência podem ser desenvolvidos e vulnerabilidades superadas, levando à
promoção da saúde mental e ao bom desempenho escolar. Esses fatores
podem e devem ser desenvolvidos por cuidadores e pessoas significativas
na família, na comunidade e na escola. Todos os estudantes podem se
beneficiar do efeito de recursos internos e externos que favoreçam a sua
formação nos aspectos sociais, culturais, científicos, históricos, afetivos,
econômicos, políticos e para o desempenho de seu papel de cidadãos.
Portanto, os resultados do presente estudo poderão fomentar programas de
intervenção com alunos, seus familiares e professores com o objetivo de
promover o desenvolvimento socioemocional dos participantes, bem como
possibilitar a construção plena da cidadania e na garantia aos direitos
humanos.

Palavras-chave: autoeficácia acadêmica, resiliência, relações interpessoais,


ensino fundamental.

Agência de fomento: CAPES

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Por que falar não é fazer? Proposições para a inclusão dos dispositivos
educacionais no problema da aprendizagem
Aluna: Etiane Araldi
Orientador: Ronald João Jacques Arendt
Há poucos meses atrás, tomei posse como professora em um Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia. A minha prova didática consistiu em eu
ficar quase cinquenta minutos falando sobre um determinado tema. Dentre os
exames solicitados para avaliar minha aptidão para o exercício do cargo, uma
videolaringoscopia. Recentemente, em duas ocasiões distintas, escutei o
seguinte comentário: “eu falo muito, sou professor”.
Em diversas outras cenas do cotidiano, a constatação de que o nosso sistema
educacional está distante “da prática”, conversas sobre como as teorias não
dão conta do mundo e a produção da ideia de que uma coisa é o discurso e
outra coisa é a ação. Enquanto isso, os(as) professores(as) e outras pessoas
com funções educativas continuam falando em suas aulas, palestras e
seminários.
Nesta tese, pretendemos explorar o paradoxo presente na expectativa
recorrentemente enunciada de que a educação transforme o mundo e a
produção cotidiana, nos espaços educacionais, de dispositivos de
distanciamento do território e da experiência dos estudantes. A intuição do
senso comum de que falar não é fazer nos oferece uma pista: enquanto o que
se faz predominantemente nas instituições de ensino – falas, textos, aulas,
seminários – não for considerado um fazer, dificilmente será possível interferir
nesses dispositivos de aprendizagem de modo a possibilitar a produção de
outros mundos a partir da educação.
A etimologia da palavra aula remete a um espaço. A depender dos
entendimentos grego ou romano, pode significar palácio ou corte, ou pátio
anexo a essas edificações, onde tiveram lugar, no século XVII, as primeiras
atividades caracteristicamente escolares. A instituição educacional em que
trabalho está em construção e essa experiência tem me permitido distinguir
uma infinidade de dispositivos de isolamento que precisam ser produzidos para
a formação de uma escola, desde os espaços de confinamento das salas de
aula, passando pelas grades curriculares, pelas agendas eminentemente

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internas de professores entre eles, até as práticas avaliativas de sujeitos e não


do que se produz em termos de transformação do mundo. A ideia de que a
educação se dirige às pessoas e não ao território está impressa nos mais
diferentes dispositivos escolares, os quais funcionam como verdadeiros
entraves para a produção de uma educação voltada ao desenvolvimento
regional, missão dos Institutos Federais.
Em nossa pesquisa de mestrado, sobre as práticas de formação de psicólogos
e psicólogas em uma universidade pública na região sul do Brasil,
compreendemos que a chamada distância entre teoria e prática na psicologia
se produzia por meio dos diferentes dispositivos atuados no espaço acadêmico
e nos espaços de intervenção psi. De um lado, a sala de aula, os textos, a
discussão filosófica e epistemológica, as pesquisas, as teorias. De outro, o
encontro com a experiência de outros sujeitos (e com as próprias emoções
despertadas nesse encontro), as lógicas institucionais permeadas pelas
desigualdades sociais brasileiras, a oralidade e a encenação como ferramentas
de transformação de subjetividades.
Nesse desencontro, produzia-se nos estudantes com quem pesquisamos a
culpa por não conseguir “fazer no estágio suas ideias”. Pareceu-nos que era
nesse exato intento de transposição dos saberes e fazeres do mundo
acadêmico para o mundo do trabalho que se produzia a distância entre
discurso e ação. Ao identificar o primeiro a um fazer
reflexivo/discursivo/abstrato e o segundo a um domínio
concreto/real/incorporado, se produzia a invisibilidade dos dispositivos
educacionais enquanto fazeres também concretos, ainda que produtores de
corpos e mundos diferentes daqueles que eram produzidos nos campos de
intervenção psi.
A produção dessa dicotomia nas práticas educacionais em um curso de
graduação em psicologia é relevante, pois essa mesma ciência tem sido,
historicamente, convocada a ofertar os fundamentos para a educação com
suas explicações sobre como as pessoas aprendem. No âmbito das relações
entre psicologia e educação no Brasil, houve, inclusive, momentos em que
esse debate deu lugar a importantes controvérsias acerca das capacidades
cognitivas dos indivíduos em contraste com a realidade social nacional, como

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quando dois grupos de pesquisadores piagetianos defenderam diferentes teses


acerca da capacidade de abstração de crianças brasileiras provenientes de
classes populares. A discussão era se as crianças em condições sociais mais
desfavorecidas desenvolveriam essa capacidade de uma maneira diferente ou
se poder-se-ia supor um déficit dos indivíduos nessas situações.
Parece-nos interessante interrogar, acerca desse debate, por que a abstração
teria sido atribuída aos ricos e o pensamento concreto aos pobres? Tal
dicotomia associada às desigualdades sociais do nosso país marca
profundamente o sistema educacional brasileiro e reflete-se em outra
controvérsia na qual se situa, no centro, a instituição em que trabalho, a saber,
a dualidade entre, de um lado, as políticas educacionais propedêuticas
destinadas às elites e, de outro, as profissionalizantes destinadas aos pobres,
com todo a discussão sobre o trabalho intelectual e manual a ela relac ionados.
Do mesmo modo, no caso da pesquisa que realizamos com estudantes de
psicologia, poderíamos perguntar quais as consequências de se supor que o
mundo do trabalho psi é corpóreo enquanto o domínio da universidade seria
eminentemente abstrato ou teórico? Haveria relação entre essa dicotomia que
permeia os debates sobre educação no Brasil e o modo como a psicologia tem
colocado o problema da aprendizagem?
A psicologia é, reconhecidamente, uma ciência que se funda dentro do escopo
do paradigma moderno, com sua cisão entre sujeito e objeto, natureza e
cultura, e a produção de intermediários, como bem trabalhado por Bruno
Latour, como elementos de ligação entre esses dois supostos domínios. O
problema da linguagem e da própria aprendizagem, muitas vezes, são situados
nesse lugar de passagem.
Na ancoragem do problema da aprendizagem no domínio do humano,
fortemente reforçada pela psicologia, temos encontrado um possível entrave
para o reconhecimento dos dispositivos educacionais e seu papel mediador na
produção de sujeitos e mundos. Sustentamos tal consideração em duas
experiências contemporâneas que apontam para o deslocamento de uma
determinada concepção de sujeito como condição para se avançar na
construção de práticas situadas e vinculadas da aprendizagem: os estudos

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feministas da educação e as aprendizagens emergentes do movimento das


ocupações dos estudantes secundaristas no Brasil.
Na presente pesquisa, pretendemos articular conhecimentos e experiências
que desloquem a psicologia da aprendizagem da cisão objetividade-
subjetividade enunciada no projeto oficial da modernidade, a qual tem
contribuído para a invisibilidade dos dispositivos educacionais e a dissociação,
nesses dispositivos, entre a formação de pessoas e a formação de mundos.
Para essa tarefa, recorreremos a diferentes autores e autoras contemporâneos
que recolocam os problemas da modernidade e da representação no âmbito
dos estudos da cognição, bem como ao pensamento feminista.
Articularemos a esse problema as distinções que temos feito em nossa
experiência como professora de psicologia em uma instituição federal de
ensino, pesquisa e extensão que encontra-se em fase de implantação, a qual,
por estar em construção, tem trazido para nós a multiplicidade dos elementos
que compõem o espaço pedagógico e os dispositivos educacionais, bem como
os entraves para a produção de uma educação que transforme as pessoas e o
território de forma articulada, que transponha o isolamento da sala de aula e as
práticas fragmentadoras operadas pelos currículos e avaliações individuais.
Nesse exercício de distinguir e tentar produzir outros dispositivos educacionais,
pensamos que podemos produzir conhecimento acerca de outras formas de
colocar o problema da aprendizagem. Parece-nos relevante que essa
discussão se expresse em uma tese de psicologia, dada a contribuição
histórica desse campo do conhecimento em situar o homem como fundamento
da aprendizagem, a qual certamente produziu diversos avanços nas práticas
educacionais, mas também reforçou, como tem sido apontado pelas
pesquisadoras feministas, dispositivos de dissociação entre escola e território.
Articulação é o termo utilizado por Bruno Latour na proposição de um
conhecimento que não opere por correspondência a um referente, na lógica
tradicional sujeito-objeto, e sim, que se construa por um acúmulo de
experiências e na convergência entre vários elementos heterogêneos:
humanos, não humanos, instrumentos. Aqui, ao recorrer a essa palavra,
apontamos o sentido metodológico com que buscamos operar na produção
desta tese: não buscaremos representar algum domínio específico, mas sim

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articular diferentes elementos da nossa experiência, da realidade brasileira


neste momento histórico e do conhecimento científico com vistas à recolocação
do problema da aprendizagem a partir dos dispositivos educacionais.

Palavras-chave: psicologia, aprendizagem, dispositivos educacionais, território

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Relações intergrupais e estratificação social: construção da identidade


social de estudantes da rede estadual do Rio de Janeiro
Aluno: Álvaro Rafael Santana Peixoto
Orientador: Rafael Moura Coelho Pecly Wolter
Este projeto de pesquisa tem o objetivo de entender de que maneira um grupo
de jovens estudantes de ensino médio da rede estadual do Rio de Janeiro
passa pelo processo da constituição de sua identidade social através da
relação com três grupos pertencentes a diferentes posições de poder na
estrutura social, um que ocupa uma posição mais elevada (estudantes da
Universidade de São Paulo), um que ocupa a mesma posição social
(estudantes de escola pública) e um que ocupa uma posição social inferior
(moradores de rua). Para compreender melhor essa relação, foram constituídos
quatro parâmetros que são utilizados pelos grupos, tanto para rebaixar quanto
para elevar a importância de outros grupos, são eles: Essência, Capacidade,
Agressão Percebida e o Cumprimento ou Rompimento de Normas Sociais. O
julgamento por essência é aquele que atribui características a outro grupo
como se elas fossem inerentes a ele, como se fossem inevitáveis e
indissociáveis a este grupo. O julgamento por capacidade diz respeito a
considerar um grupo como capaz ou incapaz de realizar determinada tarefa ou
de apreender algum tipo de conhecimento. A agressão percebida é o fato do
grupo se sentir ou não ameaçado pelo grupo alvo de comparação, seja na
presença dele ou não. E por fim, o cumprimento ou não de normas sociais está
ligado ao fato do grupo alvo cumprir ou romper normas que são consideradas
importantes para o grupo que está realizando a comparação. As teorias que
embasam esse estudo são diversas, a começar pela Teoria das
Representações Sociais formulada pelo psicólogo social Serge Moscovici em
sua tese de doutorado, bem como a abordagem estrutural dessa teoria,
formulada pelo Grupo do Midi, com nomes como Jean-Claude Abric, Claude
Flament e Michel-Louis Roquette, que tiveram como objetivo estudar como o
senso comum formula “teorias ingênuas” acerca de diversos objetos relevantes
aos diferentes grupos na sociedade, bem como esse conhecimento se constitui
e se dinamiza, transformando-se e adaptando-se às diferentes e constantes
exigências do mundo. O pensamento do sociólogo francês Pierre Bourdieu

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acerca da posição na estrutura social, definida através dos diferentes tipos de


capitais, e sua influência nos campos das relações sociais também fazem parte
do arcabouço teórico desse estudo, os capitais seriam diferentes formas de
definir a posição de poder ocupada por indivíduos e grupos dentro da estrutura
de uma sociedade, sendo que dentre as formulações teóricas de Bourdieu
sobre esse aspecto, serão abordados de maneira mais aprofundada neste
trabalho as seguintes dimensões do capital: financeiro, social e cultural. O
capital financeiro diz respeito ao poderio financeiro que o grupo possui,
considerando os bens somados pelos indivíduos. O capital social são os
contatos que o indivíduo possui, de modo que ser amigo ou se relacionar
diretamente com sujeitos ocupantes de cargos e posições de poder na
sociedade, faz com que o grupo possua um alto capital social. Já o capital
cultural se refere ao acesso que o grupo tem à diversas expressões culturais,
fazendo com o que os grupos que frequentam exposições, óperas, e outras
formas de arte que são valorizadas na sociedade, possuirão maior capital
cultural do que aqueles que se apropriam de formas culturais pouco
valorizadas no campo social. Somada ao corpo teórico do projeto, estão
também as contribuições formuladas por Willem Doise, considerado o principal
formulador da abordagem societal das representações sociais, e também
teórico que focou parte de seus estudos na influência que as relações
intergrupais exercem nas representações sociais e como essas representações
se relacionam de maneira decisiva com a formulação da identidade social de
um grupo. As teorias aqui apresentadas visam então compreender de que
maneira um grupo se posiciona dentro da estrutura social, como ele lida com
grupos colocados em posições assimétricas (possuindo maior (assimetria
negativa) ou menor poder (assimetria positiva)) e simétricas, através das quatro
tipologias (essência, agressão percebida, capacidade e cumprimento ou não de
normas sociais) considerando a influência das representações sociais em todo
esse processo. Como metodologia para a realização desse estudo, foram
formulados três questionários diferentes, cada um contendo perguntas acerca
dos quatro parâmetros de comparação já apresentados em relação à um grupo
de alvo de comparação específico e também com o objetivo de mensurar o
acúmulo dos capitais social, cultural e financeiro acumulado pelo grupo

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comparador, a diferença entre os questionários é justamente o grupo alvo de


comparação, sendo um referente à relação de assimetria positiva (moradores
de rua), um referente a relação simétrica (estudantes de escola pública) e outro
referente à relação assimétrica negativa (estudantes da Universidade de São
Paulo). Esses três questionários serão aplicados em cento e oitenta estudantes
de ensino médio da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro, sendo sessenta
estudantes para cada um dos tipos de questionários. Os resultados obtidos
através da aplicação desses instrumentos irão permitir uma comparação
acerca de como os estudantes de escola pública lidam com grupos ocupantes
de posições hierárquicas diferentes das suas, verificando se eles representarão
de maneira positiva ou negativa estes grupos com posições simétricas e
assimétricas (assimetria positiva e negativa) em relação à sua. Em última
instância será possível compreender de que forma o grupo estudado irá
representar características dos outros grupos e também suas, definindo os
limites que os diferenciarão desses grupos e formularão sua identidade social.
Como o estudo foi iniciado no começo desse ano, ainda não foi possível
finalizar o processo de coleta e de análise dos dados, fazendo com que não
estejam disponíveis os resultados da pesquisa e também qualquer discussão,
mas espera-se que esse estudo possa apresentar contribuições relevantes, já
que aborda temáticas importantes acerca de um grupo social, que é o dos
estudantes de ensino médio de escola pública do Rio de Janeiro e que está
cada vez mais evidenciado devido às condições precárias da educação no
estado do Rio de Janeiro e também devido aos recentes movimentos de
ocupação das escolas realizados por esse grupo. Outro fator de importância
dessa pesquisa é que ela irá contribuir para os estudos acerca dos processos
que formulam e constituem a base para a constituição dos diversos tipos de
preconceito que são encontrados de maneira abundante na sociedade,
permitindo compreender mais acerca desse fenômeno social.

Financiamento – Bolsa de Mestrado da Coordenação de Aperfeiçoamento de


Pessoal de Nível Superior – CAPES

Palavras-chave: Pensamento Social, Comparação Social, Identidade Social

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A construção do corpo-gênero latino nas escolas


Aluna: Amanda Neves Rastrelli
Orientadora: Amana Rocha Mattos
Tendo em vista a importância da percepção do gênero enquanto um verbo, ou
seja, passível de construção subjetiva; entretanto, levando em conta a
localização geográfica e, portanto cultural do Brasil, surge o presente trabalho.
Os estudos que deram início a esse texto tem como origem o trabalho da
americana Judith Butler (1990) e do espanhol Paul Beatriz Preciado (2015),
que são autores de grande relevância para o tema gênero à luz da teoria
queer. A teoria queer propõe que o sexo e o gênero são construções
socioculturais retirando o sexo e o gênero da lógica biológica, mas pensando-
os como algo criado por cada sujeito individualmente a partir de sua vivência
em sociedade e através da repetição de comportamentos e hábitos. Tal teoria
foi inaugurada por Butler onde o gênero é caracterizado como performativo, ou
seja, construído a cada dia a partir do indivíduo no contexto social onde o
mesmo está inserido, cada pessoa determina se é homem ou mulher e ainda.
Quando assumimos o gênero como performativo, assumimos também que
cada pessoa possui um gênero diferente. Partindo desse pressuposto, ainda
que uma pessoa com o órgão reprodutor dito feminino se reconheça como
mulher, o gênero dela é o mesmo que o de outras que estejam nesta lógica?
Ou seja, o gênero é um verbo, é criado cotidianamente, é performativo. Não há
apenas uma identidade exclusiva, tampouco permanente. Butler aponta algo
muito interessante que é a necessidade de nomeação do que se é
sexualmente, entre tantos rótulos que o indivíduo pode ter, o referente à
sexualidade é talvez o mais determinante por ter um grande poder de
excludência. O que é homem? O que é mulher? O que é um corpo masculino?
O que é um corpo feminino? O que é masculinidade? O que é feminilidade? O
que é homossexualidade? O que é heterossexualidade? O que é
bissexualidade? Preciado amplia, a partir da teoria queer, o conceito para
multidões queer, criticando a definição de gênero quando resumida ao dito
órgão sexual, enquanto o resto do corpo é descartado, como se corpo e mente
fossem completamente distintos e não uma continuação um do outro. O corpo
é uma escritura e a escritura é uma tecnologia, pois é um instrumento de

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intervenção sobre nós mesmos. O exterior é extensão do interior e vice-versa.


Tenho consciência do meu corpo através do mundo e tenho consciência do
mundo através do meu corpo. Nosso corpo, segundo Preciado, é perpassado
por outros corpos. O corpo não é fixo, mas um comportamento. Entretanto, o
debruçar sobre tais obras causou a percepção de que o gênero construído na
Europa e Estados Unidos não é o mesmo gênero construído na Ibero-América
visto que aqui ainda há marcas da colonização muito presentes. Butler e
Preciado falam de um lugar de privilégio de classe e cor que não
necessariamente coaduna com as vivências experimentadas na América
Latina. Não se pode ignorar o fato de que, na cultura brasileira, a cor da pele e
a classe social são vistas de formas diferentes baseadas em preconceitos.
Neste lugar, onde o gênero não é discutido na maior parte dos espaços, a
teoria queer é diferente do que é na Europa ou nos Estados Unidos.
Compreender tal fato ocasionou a busca de autoras que pudessem dialogar
com a realidade latina e despontou nomes como o da boliviana Maria Galindo e
seu conceito de que o primeiro tema que precisa ser pensado é a
descolonização “no se puede despatriarcalizar sin descolonizar”. Galindo
inaugurou o conceito de despatriarcar e acredita que só se pode desfazer o elo
entre colonização e patriarcado quando se buscar o lugar das mulheres nessa
relação. Não há como entender a homofobia, não há como entender o
posicionamento contra a legalização do aborto sem entender a colonização.
Em primeiro lugar, há a desmestiçagem dos índios e brancos, há uma tentativa
de branqueamento quando a mulher branca é colocada como modelo, como
ícone de beleza, e para Galindo, esta é a origem o racismo. Nossa cultura é
composta por miscigenação, entretanto é uma miscigenação forçada, na base
da violência sexual, escravidão, humilhação e exploração das mulheres. Quem
somos e como o nosso gênero/identidade é constituído, é marcado por
violência; ser uma mulher colonizada é marcado por violência. Quem era, e
quem continua sendo, o principal alvo de violação e submissão senão às
mulheres? A despatriarcalização é um método, um processo, uma
possibilidade, uma desmontagem, uma desmistificação. É desarmar, destruir,
descodificar. E ao mesmo tempo descolonizar é algo que está no horizonte,
uma utopia, uma impossibilidade. E então também é vital e importante porque

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nos permite sair da voracidade liberal. Como horizonte a despatriarcalização se


descoloca desse terreno de todas as lutas sociais. Ao mesmo tempo ela é a
criação de um sujeito político, o que é primordial para tornar-se concreta (o
sujeito poderia foi expresso por Galindo, metaforicamente como ― índias,
putas e lesbianas – juntas, revoltasey hermanadas). Com isso Galindo quer
dizer que não está falando da mulher do feminismo liberal, branco, rico que só
explora a mulher ibero-americana, mas da mulher da América Latina, que foi
educada e treinada a se comportar sob outro registro que não o europeu de
Preciado ou o americano de Butler, por exemplo. O contato com Galindo
incentivou a busca por outros nomes de outras autoras latinas, que são as que
serão utilizadas neste trabalho, que pretende dar espaço para fala das
mulheres da Ibero-América. Especificamente, neste momento, os principais
materiais estudados, além de Maria Galindo são o da argentina Maria Lugones
que busca compreender a intersecção gênero, raça, classe e sexualidade do
ponto de vista da colonialidade; e da dominicana Yurdeskys Miñoso que traz a
ideia de que o corpo colonizado pode ser um corpo político. O campo escolhido
para que este estudo possa ser desenvolvido em sua prática é o ambiente
escolar e se dará através de oficinas realizadas no formato de grupo de
reflexão com estudantes sobre as temáticas de gênero e sexualidade. Serão
desenvolvidas quinzenalmente na aulas de geografia na escola estadual de
Lumiar, distrito da cidade de Nova Friburgo, no interior do Estado do Rio de
Janeiro com estudantes do Ensino Médio durante o último bimestre de 2017 e
o primeiro semestre de 2018. Nestas oficinas, pretendo desenvolver com o
corpo discente a noção de gênero como passível de construção subjetiva e
social juntamente da ideia da identidade latina enquanto corpo político, a fim de
repensar os modelos europeus que nos cerceiam. O primeiro passo será
trabalhar na desconstrução de estereótipo de gênero, trabalhando temas como
a identidade sexual e questionando relações de poder, ao mesmo tempo em
que respeitando suas práticas no campo da sexualidade, contribuindo para a
construção de um espaço no qual possam falar de suas experiências e
questioná-las coletivamente. O segundo passo será a condução da
possibilidade de repensar se e como é possível construir uma identidade de
gênero e identidade sexual latina.

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Palavra chave: Psicologia, Gênero, América Latina, Escola.

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Enfrentamento do câncer por crianças usando práticas de atenção plena:


uma proposta de programa de intervenção
Aluna: Joana Lezan Sant´Anna
Orientadora: Deise Maria Fernandes Leal Mendes
Segundo a Estimativa 2016/2017 - Incidências de Câncer no Brasil (2015),
ocorrerão no país, em 2017, cerca de 420 mil casos novos de câncer em
crianças e adolescentes até os 19 anos, o que sinaliza para a relevância de um
enfrentamento saudável à doença e ao tratamento realizado por estas crianças.
O enfrentamento é um processo complexo, estudado por diversos autores e
com base em diversas perspectivas. Lazarus & Folkman (1984) foram os
primeiros a formalizar uma teoria do enfrentamento ou coping e
definem estratégias de enfrentamento como o conjunto de estratégias
utilizadas pelas pessoas para adaptarem-se a circunstâncias adversas.
Kohlsdorf & Costa Júnior (2008) caracterizam tais circunstâncias adversas
como algo que é percebido pelo indivíduo como uma ameaça iminente, como
uma sobrecarga às suas capacidades cognitivas e comportamentais do
momento. O importante não é a situação em si, mas sim como é percebida e
interpretada pelo indivíduo. O enfrentamento inclui processos cognitivos e
emocionais e respostas comportamentais. Durante o tratamento oncológico, a
criança poderá valer-se de diferentes estratégias de enfrentamento para lidar
com a situação de estresse causada pela doença e pelo tratamento, sendo que
algumas dessas estratégias serão adaptativas e favoráveis a um
desenvolvimento saudável, e outras não (Aldridge & Roesch 2007; Li, Chung,
Ho, Chiu, & Lopez, 2011; Van Dijk et al., 2009; Wu, Chin, Chen, Lai, & Tseng,
2011; Wu, Sheen, Shu, Chang, & Hsiao, 2013). Além disso, as estratégias de
enfrentamento das crianças estarão de acordo com o desenvolvimento de suas
habilidades cognitivas e emocionais, e também dos recursos ambientais e
sociais existentes (Moraes & Enumo, 2008). Motta & Enumo (2010) destacaram
a importância de que medidas de intervenção psicológica sejam incluídas na
assistência à criança hospitalizada, para favorecer que a mesma mobilize
recursos adequados a um enfrentamento que contribua também com o
tratamento médico. Embora estudos encontrem estratégias de enfrentamento
variadas nas crianças em tratamento e nos seus pais, na maioria das famílias

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estudadas o número de estratégias diferentes utilizadas é reduzido


(Hildenbrand, Clawson, Alderfer, & Marsac, 2011). Diversas propostas de
intervenções foram construídas e avaliadas para o favorecimento do
enfrentamento do câncer infantil. Uma das possibilidades de intervenção é a
que contempla o uso das práticas de atenção plena. Estas práticas enfatizam a
observação da experiência interna sem distorções afetivas, cognitivas ou
fisiológicas. A partir do foco da atenção em um estímulo neutro (respiração), a
pessoa pode observar os pensamentos, emoções e sensações corporais que
surgem, aceitando-as e não fazendo julgamentos. Ao observar pensamentos e
emoções a partir desta perspectiva destacada, uma maior clareza de
percepção mental pode ser alcançada. Estas práticas possuem sua origem na
cultura oriental e na religião do budismo, mas, pesquisadores e clínicos
ocidentais introduziram intervenções baseadas na atenção plena (IBAPs) em
programas de tratamento de saúde mental e, em sua maior parte, ensinam as
habilidades independentemente de suas origens religiosas e culturais (Baer,
2003). Nosso questionamento é se um programa de intervenção valendo-se de
práticas de atenção plena pode promover estratégias de enfrentamento do
câncer de modo a favorecer o tratamento em crianças com esta doença?
Nossa hipótese é a de que um programa de intervenção, valendo-se de
práticas de atenção plena é viável e eficaz junto a crianças com câncer, no
sentido de promover estratégias de enfrentamento favoráveis à cooperação ao
tratamento. Nosso objetivo é elaborar, implementar e avaliar um programa-
piloto de intervenção como forma de auxílio ao processo de enfrentamento do
câncer por crianças, com utilização da prática de atenção plena, visando
promover estratégias de enfrentamento favoráveis ao tratamento. Para isso
iremos primeiramente estruturar um programa-piloto de enfrentamento visando
favorecer o tratamento, com uso de práticas de atenção plena e definir
instrumentos e procedimentos para avaliação do mesmo. Em seguida, iremos
aplicar o programa-piloto no INCA e realizar a avaliação do mesmo. Por fim,
iremos identificar suas possíveis necessidades de aprimoramento. Participarão
deste estudo dez crianças de seis a doze anos que se encontram em
tratamento com vistas à cura no INCA, no Rio de Janeiro. Serão aplicados um
formulário para identificação dos participantes do estudo (com nome do

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responsável, nome e data de nascimento da criança, endereço, telefone e e-


mail para contato), um formulário com informações sociodemográficas (idade
da criança, sexo, região de moradia, diagnóstico, fase e periodicidade do
tratamento, data da internação atual e de internações anteriores, tempo de
permanência, motivo da internação) e o Instrumento Informatizado de
Avaliação do Enfrentamento da Hospitalização (AEH), que é um instrumento
desenvolvido por Motta (2007) e utilizado em outros estudos (Carnier, 2010;
Garioli, 2011; Moraes & Enumo, 2008; Motta & Enumo, 2004, 2010), composto
por 20 cenas sobre situações cotidianas no ambiente hospitalar, para identificar
o que as crianças fazem, pensam e sentem sobre a sua condição de
hospitalização, permitindo analisar suas estratégias de enfrentamento a partir
das justificativas dadas às escolhas das cenas. O AEH será utilizado antes e
após a participação da criança no programa. Algumas perguntas adicionais
também serão feitas às crianças com relação à sua impressão com relação ao
programa de que participou. Os contatos com os possíveis participantes,
crianças com câncer, e seus responsáveis serão feitos na Enfermaria e no
Ambulatório de Pediatria do INCA, que inclui a pediatria clínica, cirúrgica e
hematológica. As crianças e responsáveis serão abordadas e lhes serão
explicados os objetivos e o método da pesquisa, com linguagem simples e
clara. Havendo concordância na participação, assina-se o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido por criança e cuidador e determina-se data
para realização das sessões do Programa-piloto de intervenção para
enfrentamento do câncer e aplicação dos instrumentos indicados. Embora a
assinatura da criança não tenha valor legal, consideramos importante obter o
assentimento da mesma, como manifestação de respeito à sua pessoa como
um sujeito com pensamento e vontades próprias. O programa será composto
de oito sessões individuais, duas vezes na semana, com duração média de 30
minutos. Na primeira sessão, será exercitado com a criança/adolescente o
prestar atenção à sua respiração e o ficar atenta/o aos desvios de sua atenção
para outros estímulos externos ou internos, tal como pensamentos, e
retornando a atenção à sua respiração após dar-se conta destes desvios. Este
exercício auxilia a criança a focar o presente, reduzindo assim a ansiedade que
comumente está ligada a lembranças passadas ou a planejamentos futuros. Na

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segunda sessão, é retomado o exercício da sessão anterior para que possa ser
melhor apreendido e trabalha-se também o foco nos sentidos (olfato, audição).
O foco nos sentidos reforça o foco no momento presente, já estimulado na
sessão anterior. Na terceira sessão, a criança exercita observar seus
pensamentos e sentimentos sem julgá-los. Isto ajuda a criança a ter maior
autoconsciência, maior autoestima e maior capacidade de regulação emocional
por aprender a reconhecer e aceitar o que pensa e sente sem julgamento
negativo. Na quarta sessão, a criança volta a sua atenção para cada parte do
seu corpo, buscando perceber o que sente em cada parte. Este exercício
também traz maior autoconsciência, além de maior relaxamento. Na quinta
sessão, repete-se a terceira sessão para que a criança tenha maior apreensão
da prática. Na sexta sessão, a criança realiza uma visualização para
relaxamento. Esta visualização ajuda na redução da ansiedade. Na sétima
sessão, repete-se a quarta sessão, e na oitava sessão, repete-se a sexta
sessão para que a criança tenha maior apreensão das práticas. A análise de
dados contemplará uma parte de análises quantitativas através da estatística
descritiva (médias, percentuais etc.) e testes de diferença de médias para
comparação da escala Likert do AEH antes e depois do programa de
enfrentamento. Serão também realizadas análises qualitativas voltadas para as
justificativas às respostas ao AEH e também com relação às perguntas
formuladas na entrevista. Será empregado o método de análise de conteúdo
temático-categorial (Oliveira, 2008), baseado na análise de conteúdo de L.
Bardin, seguido da contabilização de frequências de evocações das categorias
oriundas da análise de conteúdo. A elaboração do protocolo dessa pesquisa
buscará atender às normas da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
(CONEP, Conselho Nacional de Saúde, Ministério da Saúde, Brasil) e do
Código de Ética Profissional dos Psicólogos. Por se tratar de uma pesquis a
envolvendo seres humanos, esta investigação atenderá às exigências
estabelecidas pela Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde e
seus desdobramentos. Todas as informações coletadas nesse estudo serão
mantidas como estritamente confidenciais, podendo ser usadas apenas para
fins de estudos e ensino, e para encontros e debates científicos, sendo sempre
resguardadas as identidades dos participantes. Como a coleta de dados se

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realizará no Instituto Nacional do Câncer (INCA), este projeto, além de


submetido e aprovado no comitê de Ética da Universidade Estadual do Rio de
Janeiro (UERJ), será também submetido e aprovado no comitê de Ética e
Pesquisa deste Instituto. Este trabalho é uma investigação científica a partir da
da atuação prática, como psicóloga hospitalar, realizada pela autora no INCA. A
expectativa que se tem é de alcançar resultados que possam contribuir para o
aprimoramento do trabalho do psicólogo na seara da pediatria oncológica. Já é
bem estabelecida a importância de diversos recursos, principalmente lúdicos,
para que se favoreça o processo de enfrentamento da criança em tratamento
hospitalar em geral e especificamente em tratamento oncológico. O que se
busca agora é o uso específico das práticas de atenção plena para auxiliar no
processo de enfrentamento dessas crianças, já tendo sido visto seu benefício
em crianças fora do contexto hospitalar e em adultos em tratamento
oncológico. O uso dessas práticas, e consequente favorecimento do processo
de enfrentamento, pode tornar o tratamento menos desgastante para estes
pequenos pacientes e mais efetivo com relação ao seu potencial curativo. O
resultado esperado desse estudo é a construção de um programa-piloto de
práticas de atenção plena para crianças em tratamento oncológico, com
avaliação de resultados de uma aplicação e indicações de necessários
aprimoramentos.

Palavras-chave: câncer; intervenção; qualidade de vida; psicologia

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Questões Raciais no Centro de Referência em Assistência Social CRAS:


Desafios para Psicólogas e Psicólogos
Aluna: Ana Carolina Areias Nicolau Siqueira
Orientadora: Regina Glória Nunes Andrade
A presente pesquisa propõe uma reflexão acerca do racismo institucional
brasileiro no trabalho de psicólogos e psicólogas no Centro de Referência em
Assistência Social (CRAS) do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) no
município de São João de Meriti, Baixada Fluminense da cidade do Rio de
Janeiro. A inserção de profissionais de psicologia no SUAS/CRAS é um dos
compromissos ético-políticos contemporâneos, com inúmeros desafios
advindos das lacunas de um campo de saberes e fazeres em construção no
cenário brasileiro, o Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas
Públicas (CREPOP) é um desdobramento de reflexões sobre a prática
profissional dos psicólogos e psicólogas no Brasil que teve início ainda nos
anos de 1970. Essas reflexões ampliaram em paralelo com a progressiva
inserção dos psicólogos no campo social durante as décadas de 1980 e 1990,
o que tornou urgente a necessidade de aprofundar e embasar melhor os
conhecimentos sobre a relação entre Psicologia e Políticas Públicas, e se
tratando especificamente de questões raciais, o panorama não é diferente.
Desta forma, temos por problemática investigar, quais são as questões raciais
características de usuários negros e negras dos CRAS da cidade de São João
de Meriti que devem ser refletidas sob o lócus da psicologia? Ao responder
esse questionamento estaremos analisando de forma crítica a realidade
politica, econômica, social e cultural do perfil dos usuários e também do fazer
dos psicólogos no CRAS. Uma das implicações diretas dessa análise é dar
visibilidade as vulnerabilidades da população negra usuária do serviço
pesquisado. Outra implicação se reflete diretamente nas questões relativas à
formação acadêmica em Psicologia. Uma das hipóteses é que a maioria dos
usuários correspondem a população negra e que pertencem as camadas mais
vulneráveis da sociedade, e, no entanto o psicólogo não estaria teoricamente
embasado para dar suporte psicológico a tais usuários por não ter em sua
grade curricular acadêmica matérias que enfoque a análise crítica histórica do
racismo no Brasil e os seus efeitos às vitimas do mesmo. Segundo o Ministério

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do Desenvolvimento Social, o CRAS é uma unidade de proteção social básica


do Sistema Único da Assistência Social, que tem por objetivo prevenir a
ocorrência de situações de vulnerabilidades e riscos sociais nos territórios, por
meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, do fortalecimento de
vínculos familiares e comunitários, e da ampliação do acesso aos direitos de
cidadania. A oferta dos serviços no CRAS deve ser planejada e depende de um
bom conhecimento do território e das famílias que nele vivem, suas
necessidades, potencialidades, bem como do mapeamento da ocorrência das
situações de risco, de vulnerabilidade social e das ofertas já existentes. A
política de assistência social também compreende a família em sua pluralidade,
como um espaço contraditório, marcado por tensões, conflitos, desigualdades e
violências. A busca ativa refere-se à procura intencional, realizada pela equipe
de referência do CRAS, das ocorrências que influenciam o modo de vida da
população em determinado território e tem como objetivo identificar as
situações de vulnerabilidade e risco social, ampliar o conhecimento e a
compreensão da realidade social, para além dos estudos e estatísticas,
contribui para o conhecimento da dinâmica do cotidiano das populações, da
realidade vivida pela família, sua cultura e valores, das relações que estabelece
no território e fora dele; os apoios e recursos existentes e, seus vínculos
sociais. Através desse mecanismo é possível identificar expressões de racismo
nas famílias atendidas pelos CRAS e propor ações que viabilize o fim da
desigualdade racial e social existente à população afro-brasileira. Como esta
escrita se propõe considerar os desafios encontrados pelos psicólogos e
psicólogas a respeito do atendimento a usuários negros do equipamento
CRAS, é importante também destacar o conceito de racismo institucional. O
Racismo Institucional foi definido pelos ativistas integrantes do grupo Panteras
Negras, Stokely Carmichael e Charles Hamilton em 1967, para especificar
como se manifesta o racismo nas estruturas de organização da sociedade e
nas instituições. Para os autores, equivale à falha coletiva de uma organização
em prover um serviço apropriado e profissional às pessoas por causa de sua
cor, cultura ou origem étnica. Analisar o racismo existente no Brasil como
causa fundamental para o entendimento das vulnerabilidades sociais da
população negra usuária dos Centros de Referência em Assistência Social,

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pode ser uma alternativa para o combate as desigualdades raciais existentes,


tema que se apresenta como desafio para o olhar dos psicólogos e psicólogas
atuantes neste equipamento entre suas demandas. No Brasil, mesmo com
variações regionais, a pobreza e a miséria são predominantemente negra,
desse modo objetivamos compreender as ações das psicólogas e psicólogos
inseridos nos CRAS/SUAS sob a perspectiva desses dados. Desta inserção no
campo da Assistência Social decorrem inúmeros desafios para o profissional
de Psicologia. Este estudo é uma contribuição teórico/prática para a atuação do
psicólogo no CRAS, levando em consideração os dados que implicam a
permanência significativa da população negra na pobreza e extrema pobreza.
Além disso, é importante para reflexão sobre as ações do psicólogo em relação
à existência do racismo institucional e a permanência dos negros como maioria
em situações de vulnerabilidade social. Neste trabalho são consideradas as
situações de vulnerabilidade social vivenciada pelas pessoas negras usuárias
dos CRAS, entendendo que ter garantidos os direitos como cidadão é central
para as sociedades democráticas. Tendo assim como objetivo evidenciar os
aspectos em que o constructo raça não é acionado para analisar tais
vulnerabilidades, levando-se em consideração apenas a condição econômica
como parâmetro para os usuários, sejam eles negros ou brancos. Esta é uma
pesquisa de cunho qualitativo e será realizada por meio de entrevistas
individuais, balizadas por um roteiro semi estruturado (com questões abertas)
no intento de acessar a singularidade dos profissionais de psicologia atuantes
nesse campo, construindo conhecimento através do que fora enunciado de/em
suas histórias. Estamos de acordo que a inserção da Psicologia na Atenção
primária, como é o caso dos CRAS, é um importante ponto de partida para o
desenvolvimento das comunidades, pois é através do bem-estar dos sujeitos e
dos grupos sociais que se pode construir a autonomia destes, proporcionando
sua inserção na sociedade de forma digna. Deve-se levar em consideração que
são inúmeras as consequências subjetivas do racismo e que isso reflete nas
atitudes e comportamentos das pessoas que de alguma forma são afetadas por
essa violência. Neste sentido cabe ao psicólogo propor intervenções que
promovam o debate sobre a relação Técnico/usuário para a efetivação do
empoderamento social dos mesmos sobre os efeitos do racismo, objetivando

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assim a quebra dos padrões institucionalizados assistencialista. A política de


Proteção Social tem por objetivo prevenir situações de risco por meio do
desenvolvimento de potencialidades e aquisições, do fortalecimento de
vínculos familiares e comunitários, sendo que seus programas, projetos,
serviços e benefícios destinam-se à população que apresenta situação de
vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação e/ou fragilização de
vínculos afetivos etc. Contudo, até que ponto o racismo interfere favorecendo a
naturalização da população negra por sua permanência majoritária nas
camadas mais vulneráveis da sociedade e beneficiária dos programas de
repasse direto de verba do governo atual? Como compromisso ético da
profissão é necessário que o(a) Psicólogo(a) analise suas ações a respeito da
realidade racialmente fundada no Brasil, buscando refletir até que ponto o seu
fazer no CRAS tornam invisíveis as questões raciais existentes.

Palavras Chaves: Raça, Racismo, Politicas Públicas

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Fortalecimento da relação entre pais e filhos(as) adolescentes:


desenvolvendo Habilidades de Vida no CRAS
Aluna: Xênia de Andrade Domith
Orientadora: Edna Lúcia Tinoco Ponciano
A família apresenta-se como importante contexto de desenvolvimento, no qual
a relação parental exerce papel fundamental para o bem-estar e para a saúde
mental dos(as) filhos(as) adolescentes. Os pais e cuidadores, com frequência,
verbalizam sobre o desafio de assumirem seus papéis parentais, frente às
demandas de seus(suas) filhos(as) adolescentes e, muitas vezes, declaram
sentirem-se com dificuldades e/ou paralisados, diante do processo de educar e
de promover um desenvolvimento biopsicossocial saudável dos(as) filhos(as).
Uma vez que muitos desses adultos responsáveis e pais vivenciaram uma
educação baseada no paradigma do castigo físico, da violência psicológica, da
ausência de diálogo e, por vezes, marcados por relações parentais de
desproteção e até pelo abandono, há uma forte tendência de repetirem o
mesmo padrão. Diante da necessidade e do desafio de fazer diferente,
emergem sentimentos de inadequação, incompetência e incapacidade que
podem acentuar os conflitos entre as gerações, provocando sofrimento e
prejudicando a relação entre pais e filhos(as), o que pode comprometer o
desenvolvimento integral dos(as) adolescentes envolvidos(as). Tanto pais
quanto filhos(as), em suas interações cotidianas, são tomados por sentimentos
conflitantes e dolorosos, que podem influenciar os comportamentos de risco
dos(as) adolescentes e oferecer significativos prejuízos à saúde mental desses
jovens. Os Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) têm se
revelado como significativos espaços para o fortalecimento dos vínculos, como
fator de proteção. Atualmente, com a nova visão das políticas públicas voltadas
para o enfrentamento de desigualdades sociais, da promoção da cidadania e
do fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, emerge a
necessidade de intervenções que favoreçam esses processos. No ano de
2005, foi aprovada a regulação do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS), a partir das deliberações da IV Conferência Nacional de Assistência
Social, realizada em 2004, a qual estabelece como diretrizes: 1)
descentralização político-administrativa; 2) atendimento a quem dela

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necessitar, independente de contribuição à seguridade social; e 3) participação


da comunidade. Desse modo, vai se modelando um novo paradigma da
Assistência Social no Brasil, com caráter de política pública de garantia de
direitos. Essa nova forma de gestão da Assistência Social prevê dois níveis de
atenção, a Proteção Social Básica, em que são desenvolvidas as ações de
caráter preventivo, cujo objetivo é o fortalecimento dos laços familiares e
comunitários, e a Proteção Social Especial de Média e de Alta Complexidade,
que são definidas como, a primeira, destinada a situações nas quais os direitos
do indivíduo e da família já foram violados, mas ainda há vínculo familiar e
comunitário, e a segunda, quando, além dos direitos violados, o vínculo familiar
também está rompido. As ações previstas por tais níveis de atenção garantem
proteção integral - moradia, alimentação, trabalho - para quem está em
situação de ameaça, necessitando deixar o núcleo familiar ou comunitário. Tais
políticas são operacionalizadas a partir do Centro de Referência da Assistência
Social (CRAS), que é a unidade pública da assistência social, de base
municipal, localizada em áreas com maiores índices de vulnerabilidade e de
risco social, destinada à prestação de serviços, a programas socioassistenciais
de proteção social básica às famílias, e à articulação destes serviços no seu
território de abrangência, de modo a potencializar a proteção social e atuar na
perspectiva da intersetorialidade. Estes equipamentos têm como atribuições,
de acordo com o Ministério de Desenvolvimento Social: 1) acolhida, oferta de
informações e realização de encaminhamentos às famílias usuárias do CRAS;
2) Mediação dos processos grupais do serviço socioeducativo para famílias; 3)
Realização de atendimento individualizado e visitas domiciliares às famílias
referenciadas ao CRAS; 4) Desenvolvimento de atividades coletivas e
comunitárias no território; 5) Assessoria aos serviços socioeducativos
desenvolvidos no território; 6) Acompanhamento das famílias em
descumprimento de condicionalidades; 7) Alimentação de sistema de
informação, registro das ações desenvolvidas e planejamento do trabalho de
forma coletiva e 8) Articulação de ações que potencializem as boas
experiências no território de abrangência. São muitos os desafios para a
efetivação das políticas de assistência social, e os serviços e projetos desta
área são atravessados por uma complexa e múltipla variedade de demandas,

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que exigem ações estratégicas de intervenção emancipatória e de


fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. É notório que um longo
caminho precisa ser percorrido, principalmente no que diz respeito à atuação
dos profissionais envolvidos. Para tanto, porém, é necessária uma atitude
interventiva e reflexiva, o que é proposto nesta pesquisa, como uma forma de
investigação e possível contribuição. A crise política e econômica, que
vivenciamos na atualidade, intensifica a necessidade e a responsabilidade de
investimentos, pela Psicologia, na família como contexto de desenvolvimento
situado em seu território, em seu tempo e em sua história social, com
proposições que tragam robustez para o trabalho de desenvolvimento e de
emancipação das famílias em situação de vulnerabilidade. Dessa forma, o
presente projeto tem por objetivo propor um Programa de Fortalecimento dos
Vínculos Parentais, tendo como facilitador a estratégia do desenvolvimento de
Habilidades de Vida com famílias em condição de vulnerabilidade social, que
são acompanhadas por um Centro de Referência da Assistência Social na
cidade de Juiz de Fora/MG. Além disso, com esse Programa, temos como
objetivo compreender e investigar a utilização das Habilidades de Vida
presentes no cotidiano das famílias e como seu reconhecimento e sua
implementação auxiliam para o desenvolvimento saudável da parentalidade. O
foco deste projeto está na proposta de realizar um programa que contemple o
desenvolvimento de habilidades como competências significativas para o
manejo de questões cotidianas próprias da relação entre pais e filhos(as), com
o objetivo de fortalecer os vínculos familiares e promover competências que
busquem diminuir ou evitar a violência intrafamiliar. Os resultados desta
pesquisa podem contribuir para o processo de desenvolvimento de
metodologias de trabalho com famílias que favoreçam a reflexão, a troca, o
fortalecimento mútuo e os vínculos familiares. O bem-estar subjetivo é um
importante componente, que favorece a maneira como os pais se veem e
percebem seus(suas) filhos(as) adolescentes, resultando em maior prazer de
vivenciar a parentalidade. O interesse da Psicologia Positiva concentra-se
sobre os aspectos positivos de indivíduos, grupos e instituições, com o objetivo
de fortalecer o potencial humano e promover o bem-estar subjetivo e a
qualidade das interações sociais. O Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner

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baliza o estudo da interrelação que envolve a pessoa, o processo, o contexto e


o tempo, destacando a importância do contexto sociocultural no
desenvolvimento de pessoas, com especial relevância às características dos
ambientes nos quais estão inseridos. O desenvolvimento saudável dos
indivíduos está diretamente relacionado às conexões positivas entre os
diferentes contextos, apresentando a família como fundamental. Desse modo,
é importante investir nos aspectos positivos da relação entre pais e filhos(as)
para o fortalecimento dos vínculos parentais e o manejo das situações de
conflito. O programa proposto apresenta o desenvolvimento de Habilidades de
Vida como estratégia para o fortalecimento e desenvolvimento de
competências, que auxiliem os pais a compreenderem as demandas de
seus(suas) filhos(as), contribuindo para o exercício da parentalidade. Dessa
forma, as Habilidades de Vida são competências psicossociais que promovem
comportamentos assertivos e positivos, desenvolvendo maneiras mais eficazes
de lidar com as demandas e os desafios da vida cotidiana. A Psicologia Sócio-
histórica apresenta-se como monitora de uma postura ética rigorosa por parte
do pesquisador e da qualidade da pesquisa contextualizada e aplicada à
realidade do território, onde a pesquisa será realizada. As referências de
autores da área da Psicologia Positiva, da Psicologia do Desenvolvimento e da
Psicologia Sócio-histórica integram um tripé, que investe na compreensão dos
processos de desenvolvimento humano a partir de uma leitura sistêmica.
Ligada aos processos sócio-históricos sob os quais sujeitos em vulnerabilidade,
por gerações, foram marcados pela desigualdade e pela exclusão, essa leitura
favorece a escolha da Psicologia Positiva, para a elaboração das ações
estratégicas de intervenção em políticas públicas. Neste sentido, faz-se a
escolha pela pesquisa-ação, a qual é uma estratégia metodológica da pesquisa
social, em que há ampla e explicita interação entre pesquisador e pessoas na
situação investigada. A ordem de prioridade dos problemas e das soluções a
serem encaminhadas, sob a forma de ação concreta, resulta da interação.
Desse modo, pretende-se aumentar o conhecimento dos pesquisadores e das
pessoas envolvidas. O objetivo da pesquisa-ação é resolver conjuntamente ou,
pelo menos, esclarecer os problemas da situação observada. Por isso, em
parte, não podemos prever o encaminhamento da investigação e das soluções

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apresentadas. Esta pesquisa tem início com a revisão da literatura para


delimitação do arcabouço teórico e metodológico, desdobrando-se nos passos
que compõem a trajetória a partir da qual será desenvolvida, os quais são:
contatos com a Gestão da Proteção Social Básica da Secretaria de
Desenvolvimento Social da Prefeitura de Juiz de Fora; apresentação do Projeto
no CRAS, onde a pesquisa será realizada; treinamento dos técnicos do CRAS
envolvidos na pesquisa, a partir da perspectiva da pesquisa-ação;
apresentação da pesquisa em evento definido pelo CRAS com inscrição dos
interessados em participar. Após assinatura do Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido pelos participantes da pesquisa, os quais preencherão uma Ficha
Biográfica, será realizada uma entrevista semiestruturada com cada família.
Serão realizados encontros com um grupo multifamiliar, formado por dez
famílias voluntárias atendidas por um CRAS da cidade de Juiz de Fora-MG. No
primeiro encontro, o grupo será estimulado a identificar, reconhecer e nomear
as habilidades emocionais, cognitivas e inter-relacionais que consideram
importantes na relação entre pais e filhos(as), bem como serão elencadas
aquelas consideradas prioridades por seus membros. Serão realizados até oito
encontros com periodicidade semanal, quando trabalharemos as habilidades
de vida, a partir de dinâmicas de grupo e de jogos dramáticos. A perspectiva de
grupo que sustenta esta pesquisa baseia-se na concepção de que o ser
humano é gregário, e só existe, ou subsiste, em função de seus inter-
relacionamentos grupais, uma vez que, desde o nascimento, participa de
diferentes grupos, numa constante dialética entre a busca de identidade
individual e a necessidade de uma identidade grupal e social. Sendo o grupo
reconhecido como uma entidade, com uma identidade grupal genuína, com leis
e mecanismos próprios e específicos, no qual os integrantes estão reunidos em
torno de uma tarefa e de um objetivo comum. Nesse sentido, também são
reconhecidas e preservadas as identidades específicas de cada um dos
componentes. As técnicas de dinâmica de grupo e os jogos dramáticos
apresentam-se como recursos facilitadores para a interação grupal, o
desenvolvimento das Habilidades de Vida e o fortalecimento da relação de
ajuda mútua. Uma avaliação da aplicabilidade dessas habilidades no cotidiano
será realizada imediatamente após a implementação do programa, com um

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grupo focal e, após 03 meses, será realizado outro grupo focal como pesquisa
de segmento, para identificar avanços e recuos na aplicação das Habilidades
de Vida no dia a dia dos participantes. Ao longo da realização da coleta de
dados, as entrevistas e os encontros serão gravados e transcritos, e para
análise de dados será realizada Análise de Conteúdo para o estudo do
processo e discussão dos resultados obtidos. A divulgação e a discussão dos
resultados da pesquisa acontecerão com todos os envolvidos, em momentos
distintos, após encerramento das etapas acima descritas e a elaboração da
dissertação. Como uma pesquisa em andamento, pretende-se apresentar a
discussão teórica que embasa nossa proposta de intervenção, assim como as
primeiras aproximações com o CRAS e os pais de jovens. Desse modo,
pretendemos discutir a viabilidade dessa pesquisa e as possíveis propostas de
intervenção surgidas do grupo multifamiliar. É importante ressaltar que este é
um início, uma vez que, a metodologia apresentada estará em discussão e
pode ser revista, à medida que os encontros forem acontecendo,
caracterizando a participação das famílias para a construção da pesquisa e a
solução dos problemas encontrados. Espera-se que, pela interação grupal e
pela ampliação da rede pessoal das famílias, sejam desenvolvidas e
fortalecidas Habilidades de Vida nas interações cotidianas, auxiliando a
elaboração dos desafios da relação entre pais e filhos(as) adolescentes.

Financiamento: CAPES

Palavras-chave: Habilidades de Vida, parentalidade, adolescência, CRAS.

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Seguindo o PET-Saúde GraduaSUS UERJ: O “faz-fazer” da formação


da(o) psicóloga(o) à luz da Teoria Ator-Rede
Aluna: Jackeline Sibelle Freires Aires
Orientadora: Profª Drª Alexandra Cleopatre Tsallis
O Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde),
investimento do Ministério da Saúde e da Educação, propõe ação intersetorial
dirigida para o fortalecimento de áreas estratégicas para o Sistema Único de
Saúde (SUS) a partir da educação pelo trabalho. O PET-Saúde tem como fio
condutor a integração ensino-serviço-comunidade e foi organizado partindo do
diagnóstico de um descompasso entre a formação profissional de nível superior
da saúde e as diretrizes e necessidades do SUS. Estudos apontam que a
configuração das políticas de saúde não beneficia a efetivação de uma atuação
do psicólogo condizente com as demandas da Atenção Básica, por exemplo, o
primeiro nível de atenção no SUS, avaliado como um dos modelos prioritários
para a organização de qualquer sistema de saúde. Outros estudos marcam a
necessidade de mudanças que aumentem e requalifiquem a formação em
psicologia para atuação em Atenção Primária à Saúde (APS). De acordo com a
Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), no Brasil, a Unidade de Saúde da
Família (USF) deve ser o contato preferencial dos usuários, a principal porta de
entrada e cerne de comunicação com toda a rede. Neste sentido, como a(o)
psicóloga(o) vem se inserindo neste cenário? A proposta desta pesquisa é
poder acompanhar a versão do PET-Saúde GraduaSUS da UERJ e desta
forma problematizar a formação da(o) psicóloga(o) e acompanhar um recorte
de como se “faz-fazer” a inserção profissional no SUS. Percorrendo este
desafio pretende-se observar em que medida o PET-Saúde GraduaSUS
compõe a formação da(o) psicóloga(o) para a atuação em direção ao princípio
da integralidade. Integralidade, entendida enquanto uma diretriz básica do
SUS, tem sido estudada a partir de três princípios principais: o da relação
indivíduo-profissional; o da organização e integração dos serviços; o das
respostas governamentais a uma necessidade em saúde. No que a formação
da(o) psicóloga(o) na UERJ tem atuado para preparar a(o) profissional? Como

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enfoque teórico-metodológico, parte-se das formulações da Teoria Ator-Rede


(TAR) proposta por Bruno Latour. As problematizações levantadas ao modo de
fazer ciência propõe englobar no laboratório do texto não apenas as relações
existentes entre os humanos, mas também os não-humanos. A TAR propõe-se
a socializar os actantes, desta maneira respeitando as muitas vascularizações
de que as ciências necessitam para resistir e o termo actante designa todo
aquele que age, que produz efeitos. Construir uma prática investigativa acerca
da formação da(o) psicóloga(o) para o SUS aparece pertinente para uma
pesquisa etnográfica, pois é importante percorrer os vestígios, efeitos que cada
actante compõe a este trabalho eminentemente coletivo e em rede. As ações
desenvolvidas pelo projeto PET-Saúde GraduaSUS envolvem atores do SUS e
da comunidade acadêmica, como professores, estudantes, profissionais de
saúde e gestores, com enfoque na interdisciplinaridade, na integração ensino-
serviço, na humanização do cuidado, na integralidade da assistência, no
desenvolvimento das atividades que analisem a diversificação de cenários de
práticas e redes colaborativas na formação para o SUS. Neste sentido,
apresenta-se um cenário privilegiado para o estudo da integralidade. Na TAR
trata-se de descrever a rede de relações, de avaliar as redes, observar o que
elas “fazem-fazer” e como aprendemos a ser afetados por elas. O termo “faz-
fazer” de Latour fala de um processo que não segue a lógica da causalidade, e
sim, de uma relação na qual os envolvidos ao mesmo tempo agem e são
levados a agir. Numa atitude de negociação, meu engajamento no PET-Saúde
GraduaSUS como psicóloga e pesquisadora se propõe a acompanhar este
processo de formação. Um processo que afetará reciprocamente a
pesquisadora e os pesquisados, quando, podendo acompanhar os diversos
cenários de práticas dos alunos (supervisões com as(os) psicólogas(os) na
UERJ, reuniões gerais interdisciplinares com todos os participantes do
programa, na sede da AP 2.2, a imersão das(os) psicólogas(os) no campo da
APS dentre outros espaços deste rico projeto de formação) através do PET-
Saúde GraduaSUS, poderemos tecer, com a TAR, uma “boa descrição” das
conexões complexas que articulam os actantes, podendo observar melhor
acerca dos sentidos da integralidade trabalhados na formação. Trata-se de um
trabalho etnográfico, onde seria possível performar múltiplas realidades, que

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fabricariam uma versão desta atuação contemporânea, uma dinâmica urbana


em construção nas instituições de saúde. Enquanto técnicas e procedimentos
para a realização da pesquisa está sendo realizado um levantamento
bibliográfico acerca do tema da formação da(o) psicóloga(o), da atuação no
Sistema Único de Saúde, registros das vivências de imersão junto ao PET-
Saúde GraduaSUS em um diário de campo e também outras formas de coleta
de dados que possam ser pactuadas com o grupo e orientadora, como
gravações, fotografias, acesso a diários de campo dos alunos, dentre outros
actantes. Entendendo que os não-humanos também têm agência, produzem
efeitos no mundo, modificam nossas ações, redefinem a nossa cognição,
transformam nosso modo de conhecer, a proposta é poder acompanhar esta
rede em movimento, e a riqueza da proposta teórico-metodológica da TAR é
contemplar na construção de um objeto científico todos estes elementos. Na
TAR não encontramos definições que busquem explicar os fatos, ela propõe o
seguimento dos actantes e que a partir daí seja feita a descrição das suas
ações, dos efeitos encontrados nesse caminho. Essa prática abre caminhos
para se pensar as diversidades que constituem as redes e procurar por como
se organizam e que efeitos produzem. Assim a TAR é uma proposta teórico-
metodológica que aponta a direção de seguir os rastros das inúmeras
interações que formam os fatos, os sujeitos e os objetos, caminho que faz ver
como estes são fabricados. Esse fluxo também acontece pela observação e
atuação do pesquisador, que não entra como um elemento neutro no campo
que pretende investigar, age como um fabricante. Pesquisar é entendido c omo
processo criador de versões, criações que advêm do emaranhado de relações
que perpassam as redes e que agem também nas escolhas do próprio
pesquisador. Acompanhar estes vínculos em ação, cenarizando-os, pode ser
traduzido em um texto, considerado como laboratório pela TAR onde,
submetido a testes de torção dispostos, pode construir o que mencionamos por
uma “boa descrição”. Tais práticas de construção do conhecimento ganham
consistência em instituições como o trabalho, a educação e a saúde, e quem
sabe vir a conhecer um pouco mais da realidade da formação da(o)
psicóloga(o) seja refletir e intervir nas políticas públicas.

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Palavras-chave: Formação da(o) psicóloga(o); SUS; Teoria Ator-Rede; PET-


Saúde; Integralidade

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Arte e cuidado na Colônia Juliano Moreira: contribuições para o uso de


atividades artísticas no campo da saúde mental
Aluno: João Henrique Queiroz de Araújo
Orientadora: Ana Maria Jacó Vilela
Na antiga Colônia Juliano Moreira (CJM), instituição psiquiátrica localizada em
Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, há algumas décadas a arte vem
estabelecendo um elo com os saberes psi. As práticas ali desenvolvidas não
são tão conhecidas como as que tornaram, por exemplo, o trabalho da
psiquiatra Nise da Silveira prestigiado internacionalmente. Porém, a valorização
do trabalho artístico nesta instituição tornou-se tão significativa que hoje ela
abriga o Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea (mBRAC). A história
deste museu foi objeto de minha dissertação de mestrado no Programa de
Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ), onde busquei compreender o papel deste equipamento cultural
no contexto da Reforma Psiquiátrica. Ao longo da pesquisa, constatei que,
décadas antes de o museu ter sido criado, existiu um ateliê de pintura na
instituição que funcionava como uma das diversas atividades praxiterápicas lá
oferecidas, o que comprova que a presença da arte na CJM, apes ar de ainda
pouco investigada, tem longa data. É por essa razão que desenvolvo, agora no
doutorado, uma pesquisa voltada a compreender a função da arte nesta
instituição, traçando um panorama dos usos que foram feitos dela pelos
saberes psi. Este trabalho de investigação histórica tem como ponto de partida
a década de 1950 e visa efetuar um levantamento das experiências que
dialogaram com a arte até os dias atuais. A hipótese sobre a qual este trabalho
se debruça é a de que, ao longo dessas décadas, foram múltiplos os modos de
apropriação do fazer artístico pelos saberes psi na CJM. Cabe, portanto, a
partir desta hipótese, perguntar: o conhecimento que emerge desta tradição de
entrecruzamento entre a arte e os saberes psi na CJM possui fundamentos
teóricos e práticos regulares e consistentes o suficiente que permitam
circunscreve-lo de maneira singular? Por ora, o levantamento realizado aponta
para a presença de múltiplos saberes que parecem não se alinhar em uma
corrente de pensamento, evidenciando projetos múltiplos e díspares que tem
como única conexão o próprio fazer artístico. A ausência de estudos sobre os

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usos da arte na CJM torna esta pesquisa fundamental para compreender de


que outras formas ela vem dialogando com os saberes psi no Brasil para além
daquelas experiências mais conhecidas. Quando se trata da relação entre arte
e saberes psi no Rio de Janeiro, é comum fazer uma associação imediata com
o trabalho realizado por Nise da Silveira no Museu de Imagens do
Inconsciente, no Engenho de Dentro. Porém, como dito, existiu aqui outra
experiência ainda pouco conhecida, mas que já possui também uma longa
duração. É no período em torno da década de 1950 que aparecem os primeiros
indícios do uso de atividades artísticas na CJM enquanto ferramenta
terapêutica. No ano de 1950, o Brasil foi convidado para participar da
Exposição de Arte Psicopatológica, realizada durante o I Congresso
Internacional de Psiquiatria, em Paris. Para este evento, foram enviados 395
pinturas e desenhos provenientes do Centro Psiquiátrico Nacional, no Rio de
Janeiro, do Hospício do Juquery, em São Paulo e da CJM. No mesmo ano, foi
realizada na própria CJM a I Exposição de Pinturas e Arte Feminina Aplicada,
que se tornou uma mostra permanente nos anos que se seguiram. No panfleto
que divulga a exposição, lê-se claramente que a função terapêutica das
atividades artísticas seguia a lógica do ajustamento, tendo como principal
método o incentivo à cópia e à reprodução. Como pode ser verificado nos
números do Boletim da Colônia Juliano Moreira, a instituição participou ainda
de outras exposições pelo Brasil, enviando quadros pintados por pacientes no
serviço do setor de praxiterapia denominado de Colmeia de Pintores. Não há
dados ainda que indiquem quando este serviço se iniciou e até quando
funcionou. No entanto, sabe-se que, na década de 1980, estas pinturas e
demais trabalhos artísticos produzidos por pacientes estavam abandonados em
uma grande salão do prédio da administração que daria origem ao mBRAC,
criado em 1982 pela artista plástica Maria Amélia Mattei com o nome de Museu
Nise da Silveira. Neste momento, com o advento da Reforma Psiquiátrica e a
abertura da CJM, outros projetos envolvendo atividades artísticas surgiram,
como o Projeto de Livre Criação Artística, que contava com a participação de
psicólogos e artistas oferecendo diversas oficinas. Foi neste período também
que se tornou conhecido o paciente Arthur Bispo do Rosario, quem produziu,
sem orientação médica, algumas centenas de objetos durante os 50 anos, não

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consecutivos, em que esteve internado na CJM. O crítico de arte Frederico de


Moraes foi quem colocou Bispo do Rosario no circuito da arte contemporânea,
consagrando-o como grande artista brasileiro por meio da exposição Registros
de minha passagem pela Terra: Arthur Bispo do Rosario, realizada em 1989,
logo após a morte do interno. Com a morte de Bispo do Rosario, o Museu Nise
da Silveira, agora sob a direção da psicóloga Denise Corrêa, passou a se
responsabilizar pela guarda e conservação de seu trabalho. Ao longo da
década de 1990, o museu multiplicou os tipos de oficinas oferecidas, incluindo,
por exemplo, o ensino de fotografia e serigrafia. O objetivo destas oficinas era
favorecer a reintrodução dos pacientes na sociedade por meio do aprendizado
de atividades que pudessem lhes garantir também alguma renda. No ano 2000,
sob a direção do psiquiatra Ricardo Aquino, o museu passou a se chamar
Museu Bispo do Rosario e, em 2002, incluiu em seu nome a expressão Arte
Contemporânea, em uma tentativa de despatologizar os trabalhos ali expostos.
A partir destas experiências pode-se perceber que a arte adquiriu diversas
funções na CJM. Se na década de 1950 ela era apropriada pelos saberes psi
enquanto recurso terapêutico em um contexto estritamente clínico, a partir da
década de 1980 incorporou uma função ressocializante e auxiliar no processo
de desestigmatização da loucura na sociedade. No entanto, a falta de unidade
e continuidade nestes projetos, diferente do legado deixado por Nise da
Silveira, parece ter dificultado a produção de um conhecimento mais
estruturado sobre o papel da arte na saúde mental no contexto da CJM. Por
essa razão, faz-se necessário voltar-se para cada uma destas experiências
com o objetivo de levantar que tipo de contribuições teóricas e práticas elas
deixaram para o campo dos saberes psi.

Financiamento: Este projeto recebe financiamento da CAPES.

Palavras-chave: Psiquiatria; Reforma; Colônia; História

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Representações sociais de servidores públicos do Inmetro sobre o


serviço público brasileiro.
Aluna: Daniela de Vasconcellos Prata Veloso
Orientador: Rafael Wolter
A proposta de pesquisa introduzida por este projeto é estudar as
representações sociais desenvolvidas por diferentes grupos de servidores de
um órgão público federal. O interesse pelo tema se explica pela vivência de
trabalho da autora na Instituição pesquisada e pela percepção dos conflitos de
ideias existentes entre membros dos grupos mencionados. Enquanto gestora
de equipes, a autora acredita na influência das representações de cada grupo
como condicionante de posicionamentos e atitudes nas situações de trabalho.
Como em toda empresa, também os órgãos públicos possuem, em seus
quadros funcionais, pessoas com características distintas, ideias e modos de
conceber o trabalho e o serviço público diferentes. A coincidência de tais ideias
e características acabam por constituir grupos diversos dentro da Instituição.
Tais grupos interagem entre si e seus membros realizam atividades conjuntas
e, muitas vezes, interdependentes. Em alguns casos, esta interação gera
conflitos por conta das discrepâncias de pensamento. Um dos aspectos mais
prementes que caracterizam os grupos no órgão público estudado nesta
pesquisa refere-se à forma de ingresso no serviço público. O serviço público
brasileiro passou por uma grande transformação a partir de 1988, com a
promulgação da Constituição Federal, na qual se instituiu o concurso público
como exigência para ingresso no serviço público no Brasil, exceção feita aos
chamados cargos comissionados, que são cargos de confiança que podem ser
exercidos por pessoas sem vínculo direto com a Instituição. Antes disso, todo
trabalhador em órgãos do governo era regido pela Consolidação das Leis do
Trabalho – CLT, em vigor desde 1943. Todos aqueles que trabalhavam para o
governo na data da publicação da Constituição há, pelo menos, cinco anos
ininterruptos adquiriram estabilidade no serviço público, passando
automaticamente a serem servidores públicos, mesmo sem prestar concursos,
de acordo com o artigo 19 da Constituição Federal. A promulgação da Lei
8112, de 1990, traz um marco para o serviço público brasileiro, ratificando o
concurso público como porta de entrada para os órgãos públicos federais e

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regulamentando os fundamentos do serviço público federal. Portanto, todos


aqueles que trabalhavam em órgãos públicos, até então em regime celetista, a
partir de 1988. Após 27 anos de Constituição brasileira, a grande maioria dos
órgãos públicos brasileiros é composta de servidores oriundos de concursos
públicos, ingressos a partir de 1988, e de servidores mais antigos, que
adquiriram a estabilidade conforme prevista na Constituição. Desta forma,
neste órgão público, é possível identificar a existência de alguns grupos, bem
delimitados em relação à forma de ingresso na Instituição, quais sejam:
servidores que ingressaram antes de 1988; servidores concursados que
ingressaram depois da Lei 8112/1990; servidores ocupantes de cargos em
comissão. E, ainda, justamente por ser um órgão público, a instituição carrega
uma característica peculiar trazida pelo advento do concurso público: em um
mesmo local trabalham uma diversidade de pessoas, com formações
acadêmicas, níveis de escolaridade e faixas etárias distintas. Essa pesquisa,
assim, objetiva identificar como os servidores pensam o serviço público
brasileiro, e se tais distinções relevantes entre os diferentes grupos de
servidores correspondem aos diferentes campos existentes no interior de um
órgão público. Deseja-se saber como os membros de cada grupo concebem
seu trabalho neste órgão e como as interações entre os diferentes grupos são
percebidas no âmbito do trabalho cotidiano, diante da hipótese que a
percepção do serviço público e do trabalho é distinta de acordo com o tempo
de serviço no órgão. Em termos organizacionais, compreender a estruturação e
as representações de cada grupo pode facilitar a resolução de conflitos
intergrupais, bem como proporcionar aos gestores ferramentas para que a
interação entre as pessoas possa ser mais eficiente e eficaz no
desenvolvimento de atividades. A partir do momento em que se conhecem as
diferenças e peculiaridades de cada grupo, a gestão das pessoas torna-se
mais efetiva. Esta pesquisa está sendo realizada nas duas unidades do órgão,
localizadas na Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro, com uma
amostra de 360 servidores. Foi solicitada, formalmente, autorização ao
presidente do órgão para realização de pesquisa com os servidores do Inmetro.
Os servidores foram selecionados para participar da pesquisa de acordo com
sua data de ingresso no órgão, escolaridade e cargo. Foi realizado contato

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prévio com os potenciais participantes da pesquisa, respeitando-se as


orientações institucionais quanto à aplicação de pesquisas em seu ambiente
interno. Aqueles que não desejaram participar da pesquisa foram dispensados
e substituídos por outros; a participação foi facultativa, de acordo com o
interesse do próprio sujeito. Os participantes receberam uma breve explanação
dos objetivos do estudo, sendo solicitado o preenchimento de um termo de
consentimento. Foi solicitado aos participantes que registrem cinco palavras ou
expressões que lhes viessem imediatamente à lembrança quando
apresentarmos os termos indutores – “serviço público”, “trabalho”, “servidor
público” e “Inmetro”, classificando as palavras e/ou as expressões evocadas
para cada termo por ordem de relevância. As respostas emitidas pelos
participantes serão classificadas por ordem e frequência de evocação, ou seja,
quantas vezes cada termo será evocado e em qual ordem ele será evocados
pelos sujeitos (se será a primeira, segunda, terceira palavra mencionada).
Esses dados serão distribuídos em um gráfico de quatro quadrantes, conforme
a metodologia preconizada pela análise prototípica. As evocações serão
agrupadas de acordo com os procedimentos de lematização e o ponto de corte
para as coordenadas dos quadrantes será determinado pela mediana das
ordens de evocação. Para a análise dos dados, será utilizada a técnica da
análise prototípica, que busca conhecer a estruturação das representações
sociais através da evocação livre de palavras mediante um termo indutor e do
cálculo das frequências e ordenação destas palavras evocadas pelos sujeitos
da pesquisa. Além da análise prototípica das evocações dos sujeitos, será
necessária também uma análise quantitativa e qualitativa acerca das idades
dos respondentes. Considerando que os conflitos possivelmente existentes
podem ser derivados não somente das peculiaridades envolvidas nas
diferentes formas de ingresso na Instituição, as diferentes faixas etárias que
convivem no ambiente de trabalho também serão objeto de estudo. Deverá ser
realizada uma classificação das respostas por faixa de idade, a fim de se
comprovar a existência, ou não, de algum padrão etário nas respostas.

Palavras-chave: Representações sociais; servidor; discurso; quali-quanti

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do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
PPGPS-UERJ 61

As representações socias sobre o consumo na classe A da cidade do Rio


de Janeiro
Autora: Camilla Ramos de Lima Chagas Cristino
Orientador: Ricardo Vieiralves de Castro
As pesquisas sobre o consumo tiveram início nos Estados Unidos e na Europa
no período entre 1970 e 1980, em que as publicações sobre o assunto tinham
como temas principais a sociedade de consumo, a cultura material
contemporânea, os comportamentos de compras e as formas de
comercialização. Segundo Lívia Barbosa e Colin Campbell, esses estudos
buscavam entender “o que” e “por que” se consome, através das áreas do
marketing, da comunicação e da antropologia. Ainda segundo estes autores,
antes de 2006, os estudos sobre o consumo no Brasil estavam interessados
nas etnografias de práticas de consumo, marcas e mercado. Tendo em vista a
importância do tema consumo e sua relevância em tempos de crise financeira e
na segurança pública, principalmente a que afeta a cidade do Rio de Janeiro,
esta pesquisa busca identificar de que maneira a violência está influenciando
os hábitos de compra e o cotidiano dos cidadãos da cidade do Rio de Janeiro.
Neste estudo busca-se identificar se os indivíduos estão deixando de consumir,
evitando o uso de determinados bens ou usando esses mesmos bens em
ocasiões específicas devido à violência extrema na cidade. O consumo e sua
relação com a violência serão analisados a partir da Teoria das
Representações Sociais inaugurada em 1961 por Serge Moscovici, na França,
por meio de sua obra La psychanalyse, son image et son public. O
compartilhamento de informações, crenças e opiniões através da comunicação,
que é a base da teoria do psicólogo naturalizado francês, mas de origem
romena, será amplamente utilizado para compreender como os indivíduos
estão construindo uma realidade comum acerca do consumo. Segundo Celso
Pereira de Sá, além de conceituar as Representações Sociais como um
fenômeno que surge a partir de uma sociedade contemporânea, Serge
Moscovici conferiu-lhes um caráter essencialmente psicossocial, na medida em
que as tomou como resultado de uma construção social por grupos concretos,
através da interação entre seus membros na vida cotidiana. Essas
representações refletem a realidade de nossas vidas cotidianas e são o

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do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
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principal meio para se estabelecer as associações com as quais nos ligamos


uns aos outros. Considerando o compartilhamento de informações acerca do
consumo, a Teoria das Representações Sociais de Moscovici foi escolhida por
se tratar de uma teoria do “senso comum”, em que o autor acreditava ser esse
o “pensamento natural” que movimentava a sociedade, orientando as
comunicações e os comportamentos da vida cotidiana. O senso comum,
definido por Serge Moscovici, é todo o conhecimento partilhado pela sociedade
que, mesclado com nossa linguagem, é capaz de formar nossas relações e
nossas habilidades. É um conjunto definido de descrições e explicações, que
podem estar interligadas, da personalidade, da doença e dos fenômenos
naturais que os indivíduos possuem, sem mesmo saber disso, e que utilizam
para participar de uma conversação, organizar uma experiência ou até mesmo
para negociar com outras pessoas. Ele é responsável por dar acesso direto às
representações sociais. Em uma sociedade em que a satisfação dos desejos
está acima das necessidades reais dos indivíduos, compreender o processo de
decisão desses indivíduos quando desempenham o papel de consumidor é de
extrema importância para entender o ambiente de consumo em que estão
inseridos. Para isso, um levantamento bibliográfico foi realizado e autores como
Zygmunt Bauman, Jean Baudrillard, Richard Sennett, entre outros, vieram a ser
amplamente utilizados para nortear o tema consumo. Cabe destacar que
alguns dos conceitos que serão discutidos para que haja o entendimento do
que nos tornamos em relação ao ato de consumir, são: A ideia de que a
sociedade olha para seus integrantes como consumidores, reforçando estilos
de vida pautados no consumo e não na cultura na qual estão inseridos; a
compreensão de como se deu a mudança do ser humano, que por longos anos
foi visto como força de trabalho, mas agora é notado como um ser consumista,
frequentador de shoppings, agindo por vocação, sem distinção de classe,
gênero ou etariedade; a noção de que o desejo, e não mais a necessidade dos
indivíduos, passou a sustentar a economia; o entendimento de que a
simbologia e o imaginário que estão presentes em um determinado produto o
torna mais atraente do que a funcionalidade do produto em si; a concepção de
que o desejo pelo que não se tem é mais forte do que a posse do objeto de
consumo. A satisfação dos desejos amplamente questionada pelos autores

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do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
PPGPS-UERJ 63

citados pode estar sendo afetada pelos altos índices de violência apontados
pelas pesquisas que tratam da segurança pública. Observamos em estudos
recentes que os números relacionados à violência não param de crescer. Em
pesquisas realizadas por órgãos distintos, como o Instituto Brasileiro de
Opinião e Estatística (IBOPE) e o Instituto de Segurança Pública do Estado do
Rio de Janeiro (ISP), os números encontrados são alarmantes, levando a crer
que de alguma maneira o desejo de consumir e a possibilidade de consumir em
um novo contexto social onde a violência impera estão caminhando em
direções opostas. Para se obter os dados necessários para a comprovação dos
questionamentos levantados, o estudo fará uso de questionário com perguntas
abertas e fechadas aplicado em cerca de 60 indivíduos com idade entre 25 e
40 anos com perfil de consumo da Classe A. A idade escolhida foi baseada nos
estudos geracionais desenvolvidos por Karl Mannheim e a referida classe foi
definida pelos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Durante o questionário também serão utilizadas imagens do cotidiano, para
que os entrevistados possam identificar a cena e os personagens ali presentes.
Esta técnica tem a particularidade de possuir um caráter mais fidedigno de
entendimento e significação, pois permite que a interpretação da imagem
revele determinadas características do grupo pesquisado que a linguagem
escrita não é capaz de atingir. Depois de aplicado o questionário, uma análise
de conteúdo rigorosa será realizada para que a discussão sobre o consumo e
segurança pública (ou a falta dela) seja aprofundada e os resultados sejam
mostrados de forma clara e coesa a fim de que essa pesquisa estimule o
debate sobre o assunto exemplificado, à luz das representações sociais,
enriquecendo ainda mais esse campo de estudo.

Financiamento: Não há nenhuma fonte de financiamento.

Palavras-chave: Consumo; violência; segurança pública; representações


sociais.

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da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
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O pensamento social de diferentes grupos de servidores acerca de seu


Trabalho e os impactos em suas práticas laborais: um estudo de caso no
CEFET/RJ
Aluna: Layse Costa Pinheiro
Orientador: Prof. Dr. Rafael Moura Coelho Pecly Wolter
O Trabalho humano é tema antigo nas ciências humanas e sociais, e embora
possamos achar teorizações sobre o trabalho desde os primórdios da
humanidade, especialmente na antiguidade, com as contribuições de Platão e
Aristóteles, é com o surgimento do capitalismo que o Trabalho passa a ocupar
uma grande centralidade nos estudos de diversas áreas do conhecimento.
Para se compreender como o conceito de trabalho se configura ao longo do
tempo e do espaço diversos campos de estudo tem se debruçado sobre o
assunto, e para esta pesquisa consideraremos especialmente as contribuições
da sociologia e da psicologia social (especificamente da Psicologia
Organizacional e do Trabalho). Seguindo os pressupostos desses campos de
estudos, compreende-se que as condições sócio-históricas influenciam na
concepção de trabalho de cada sociedade, bem como a posição de cada grupo
social na estrutura onde este se insere. É exatamente neste ponto que repousa
a hipótese desta pesquisa, de que a relação estabelecida com o trabalho, com
a organização de trabalho, e consequentemente com o seu trabalhar, irá variar
significativamente de acordo com a posição do grupo social pesquisado dentro
do campo social onde este está inserido. Desta forma, este projeto tem como
proposta compreender a estrutura do pensamento social de diferentes grupos
de servidores do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Sucow da
Fonseca – CEFET/RJ - acerca do seu trabalho, bem como os impactos destas
cognições em suas práticas laborais. Os grupos estudados serão: servidores
lotados na área-meio em comparação com os lotados na área-fim. Para se
analisar os aspectos psicossociais envolvidos na construção do pensamento
social destes grupos, será utilizada como fundamentação teórica a Teoria das
Representações Sociais (TRS). Partiremos da “grande teoria” de Moscovici e
a partir da abordagem complementar de Abric, a Teoria do Núcleo Central,
iremos investigar os conteúdos e a estrutura das Representações Sociais
(RS) de “trabalho” e “trabalhar no CEFET” nos grupos estudados. A Escola de

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Genebra de Doise, e seus desdobramentos baseados na sociologia de Pierre


Bourdieu, especialmente os conceitos de “campo” e “capital simbólico”, serão
utilizados como base para as análises referentes aos aspectos posicionais e
relacionais dos grupos sociais pesquisados. Para a contextualização sócio-
histórica do objeto de pesquisa, abordaremos temas relativos ao campo da
Psicologia Organizacional e do Trabalho (POT), e discorreremos sobre os
conceitos de Trabalho, Organizações e Desempenho. Através da aproximação
da TRS com a POT, ambas as áreas do conhecimento inseridas na Psicologia
social, vislumbramos uma potente possibilidade de compreensão do
pensamento social de diferentes grupos sobre o Trabalho. Uma vez que
práticas e comportamentos são orientados por cognições, compreender o
pensamento dos grupos que circulam em uma Instituição é fundamental para
elucidar a realidade Organizacional construída por estes grupos. A pesquisa
tem como objetivo geral analisar e comparar a estrutura do pensamento social
de determinados grupos de Servidores acerca do seu trabalho, considerando a
posição social no campo para a formação dos grupos, bem como analisar os
impactos destas cognições nas práticas laborais. Para tal objetivo, delimitou-se
como objetos Representacionais “Trabalho” e “Trabalhar o CEFET-RJ” para os
seguintes grupos: servidores lotados na área-meio em comparação com os
servidores lotados na área-fim. Para isto a pesquisa irá associar a Metodologia
das Representações Sociais (RS) aos fundamentos da Metodologia
Psicossocial Integrada. Desta forma, o levantamento de dados e aplicações de
instrumentos pertinentes ao estudo das RS serão conduzidos respeitando as
orientações metodológicas da Pesquisa Psicossocial Integrada, a saber:
Contrato Psicológico, Comunicação, Processo de Feedback e Decisões
Coletivas. Assim, o primeiro passo para a coleta de dados será o
estabelecimento do Contrato Psicológico com os participantes, através de uma
sensibilização para a Pesquisa, onde os participantes receberão uma carta-
convite apresentando a pesquisa, os objetivos, a importância desse estudo
para a Instituição e os contatos dos pesquisadores. Será garantido aos
participantes o sigilo das informações individuais, sendo publicados apenas os
dados tratados por grupo. Para minimizar os efeitos da pressão normativa,
especialmente porque a pesquisadora é parte do Departamento de Recursos

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Humanos da Instituição, a aplicação do instrumento será realizada por um


aluno de graduação/estagiário voluntário devidamente treinado. Retomando os
preceitos da Pesquisa Psicossocial integrada, destacamos que toda informação
gerada pela pesquisa será devolvida aos participantes a partir de reuniões
acordadas com os participantes. Essa devolução objetiva que estes tomem
conhecimento desta produção, bem como a legitimem, ou não, abrindo um
espaço para a discussão sobre tema na Instituição. Além disso, a informação
gerada e balizada junto ao coletivo pode vir a servir como base para futuras
intervenções em Gestão de Pessoas. A hipótese estabelecida nesta pesquisa é
que ao se comparar as Representações Sociais dos objetos em cada grupo
serão encontradas diferenças de conteúdo e estrutura, e que estes diferenças
guardam relação com às posições sociais dos grupos dentro do campo, ou
seja, dentro do CEFET/RJ. A ideia subjacente a delimitação destes grupos é
que os diferentes tipos de capitais simbólicos característicos de cada grupo e
sua posição no campo, ou seja, seu status na Organização, vão ser
determinantes para a constituição das RS. É possível compreender também
através dessa perspectiva as relações de poder e os jogos de interesses entre
estes grupos. Supõe-se ainda, que por termos como campo de pesquisa uma
Instituição de educação, o capital cultural será, dentre todos os capitais
elencados por Bourdieu como constituintes de um campo, o mais relevante
para compreensão das relações entre estes grupos. Assim, pode-se inferir que
a divisão entre área meio e área fim irá revelar essas diferenças de capital
cultural. Os servidores da área-fim tendem a ter maior acesso ao capital
cultural no CEFET/RJ (participação em eventos científicos e incentivos ao
desenvolvimento de carreira acadêmica, como por exemplo através de licenças
remuneradas e custeios em cursos/eventos), um maior status na instituição, e
uma relação mais direta com resultado de seu trabalho e com o objetivo
Institucional – educação. Desta forma, provavelmente terão uma RS do
trabalho (e do seu trabalhar) composta por elementos que revelem a presença
da intencionalidade do trabalho e consequentemente uma concepção do
trabalho mais plena de sentido. Por outro lado, servidores da área-meio,
tendem a ter menos acesso ao capital cultural, posições menos destacadas na
Organização, e mais dificuldade em enxergar seu trabalho de forma sistêmica,

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já que realizam atividade que em geral não tem um fim em si, sendo apenas
parte de uma cadeia de processos de trabalho estanques e desarticulados. Por
tudo isso, prevê-se que as RS do Trabalho e do trabalhar desse grupo
apresente elementos que demonstrem uma concepção de trabalho esvaziada
de sentido, mais ligada ao conceito de emprego, ou seja com a ideia de
subsistência mais proeminente do que a de realização. A pesquisa será
realizada através de um instrumento contendo duas técnicas: técnica de
evocações livres e um questionário organizado em escala Likert formado por
perguntas acerca de práticas, conhecimentos e atitudes frente ao trabalho na
Instituição. Os dados da evocação livre serão tratados por análise prototípica,
seguidos de análise da similitude, já as perguntas do questionário serão
tratadas através de análises estatísticas. Espera-se que ao final da dissertação,
a análise dos conteúdos e estrutura das RS para os diferentes grupos possa
elucidar como se estruturam suas cognições sociais, e consequentemente,
como se configuram seus jogos de interesse, representações da realidade,
bem como as relações entre grupos neste campo. Essa compreensão será
fundamental para embasar Intervenções Institucionais que levem em conta
toda a complexidade do contexto e os interesses dos diversos grupos, sendo
possível assim, promover ações que gerem uma maior justiça nas relações.

Palavras-chave: Representações sociais; Pensamento social; Trabalho.

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Adaptação e Validação do Interpersonal Reactivity Index for Couples


(IRIC)
Aluna: Gisele Maria Rosa Sobrinho
Orientador: José Augustos Evangelho Hernandez
Em nossa sociedade, um número expressivo de casais parece enfrentar
problemas em suas vidas conjugais. Segundo o Instituto Brasileiro de
Estatística e Geografia, as taxas de separação e divórcio cresceram mais de
160% na última década. Nos dados da pesquisa Estatística do Registro Civil,
foram homologados 341,1 mil divórcios em 2014, um salto significativo em
relação a 2004, quando foram registrados 130,5 mil divórcios. Trata-se de
informação relevante para os profissionais da área de saúde, considerando que
o rompimento de relações amorosas estáveis tem sido apontado como um
importante fator de estresse e pode influenciar no desenvolvimento ou
manutenção de transtornos psíquicos como depressão e ansiedade. Verificou-
se que o divórcio e a separação constituem a forma mais grave de sofrimento,
perdendo apenas para a morte de um ente querido. As pesquisas empíricas, no
campo do casamento e do relacionamento conjugal, têm concentrado seus
estudos nos processos comportamentais e emocionais negativos (estresse,
briga, enfrentamento, etc) a fim de explicar e compreender os
conflitos. Recentemente, os pesquisadores salientaram a importância de se
estudar os processos positivos com a finalidade de promover o
desenvolvimento estável dos relacionamentos ao longo do tempo. Entende-se
que os testes psicológicos desempenham um papel fundamental nas pesquisas
sobre a eficácia das terapias baseadas em evidências. As esc alas podem ser
empregadas antes e após tratamento e, ainda, durante cada etapa específica
da terapia. Os inventários podem ser também utilizados para mensurar os
efeitos de uma técnica específica. Pretende-se, neste projeto, submeter o
Interpersonal Reactivity Index for Couples (IRIC) a um processo de adaptação
e validação de construto para a população brasileira, gerando evidências
empíricas iniciais para o uso do instrumento na pesquisa e, futuramente, na
clínica psicológica de casais e da família. Os itens do IRIC serão ajustados ao
idioma e à cultura brasileira a partir da versão original em língua inglesa. Após
o processo de back translation, a versão brasileira será submetida a um

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processo de validação de conteúdo com o apoio de cinco juízes-avaliadores,


todos pesquisadores doutores e com conhecimentos específicos da área dos
relacionamentos interpessoais. Essa avaliação do conteúdo do instrumento
obedecerá ao método do Coeficiente de Validade de Conteúdo (CVC), no qual
cada item do questionário é avaliado por meio de uma escala tipo Likert de
cinco pontos em três dimensões: Clareza da linguagem, Pertinência Prática e
Relevância teórica. Serão considerados como aceitáveis os itens que
apresentarem coeficientes de concordância entre juízes maiores do que 80%.
Os juízes também classificarão cada item numa das duas subescalas que
compõem o instrumento e o grau de concordância dos mesmos será calculado
pelo Coeficiente Kappa de Cohen e deverá, no mínimo, superar os 60%. Além
disso, será realizado um grupo focal composto de seis a oito pessoas maiores
de idade e integrantes da população alvo da pesquisa para verificação da
compreensão dos itens do IRIC por meio da leitura e discussão dos mesmos.
Após, o IRIC será respondido por 800 pessoas, maiores de 18 anos de idade,
de ambos os sexos e orientações sexuais, que estejam em algum tipo de
relação amorosa (casamento, união estável, etc) e que coabitem com seus
parceiros há pelo menos um ano. Os participantes serão divididos em grupos
conforme os estágios do ciclo vital familiar que estejam vivenciando no
momento da coleta de dados. Independente do tempo de relação, os indivíduos
serão classificados nas seguintes etapas do ciclo vital familiar: Conjugalidade
(sem filhos), Parentalidade (com filhos infantis), Adolescência (com filhos
adolescentes), Adultos (com filhos adultos) e “ninho vazio” (com filhos
independentes, morando fora da casa dos pais). Os participantes serão
habitantes da capital e região metropolitana do Rio de Janeiro/RJ e
responderão, também, a alguns dados sociodemográficos, tais como, sexo,
orientação sexual, idade, tipo de relação, tempo de relação, filhos na relação e
idade dos filhos. A revisão de literatura, nesta linha de pesquisa, revelou que o
IRIC é a única ferramenta multidimensional de Empatia Diádica disponível,
permitindo a mensuração cognitiva e emocional do construto. O instrumento é
composto por 13 itens, distribuídos em duas dimensões: a Perspectiva do
Outro, que avalia a tendência que um indivíduo tem em adotar
espontaneamente o ponto de vista do seu parceiro; a Consideração Empática,

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que mensura o grau em que um indivíduo experimenta sentimentos ao se


colocar no lugar do seu parceiro. Os participantes responderão ao IRIC por
meio de uma escala tipo Likert de cinco pontos (0 = “não me descreve bem” a 5
= “me descreve muito bem”). No estudo original, com a população canadense,
o IRIC apresentou boas propriedades psicométricas. Para verificar a relação
entre as medidas de Empatia Diádica e de Ajustamento Conjugal, também será
utilizada a versão brasileira da Revised Dyadic Adjustment Scale (RDAS). A
principal característica da RDAS é que ela possibilita a avaliação de diferentes
aspectos da qualidade da relação conjugal: Satisfação Diádica, Coesão Diádica
e Consenso Diádico. A RDAS possui 14 itens, nos quais os participantes
usarão uma escala tipo Likert de seis pontos (de “sempre concordamos” até
“sempre discordamos”) para responder numa série de situações (tais como,
tarefas domésticas, lazer, projetos profissionais, etc). Na avaliação estrutural
da versão brasileira da RDAS foram encontradas evidências que dão razoável
suporte de validade fatorial ao instrumento para sua utilização na pesquisa
psicológica. Por meio de Análise Fatorial Confirmatória, os itens se ajustaram
bem ao modelo de três fatores com os dados de brasileiros. O Coeficiente Alfa
de Cronbach, calculado para a RDAS total, foi de 0,93, considerado excelente.
Este projeto será submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro. Após a aprovação do projeto, os participantes
serão convidados e responderão à pesquisa de forma voluntária em locais
diversos: campi universitários, igrejas, reuniões de casais, residências,
ambientes públicos em geral. Os respondentes serão esclarecidos sobre os
objetivos da investigação, lerão um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido e assinarão sua concordância em participar da mesma. Os dados
coletados serão digitados e analisados nos programas SPSS, Factor e AMOS
Graphics. Nessas análises, serão empregadas técnicas estatísticas descritivas,
análises fatoriais exploratória e confirmatória da estrutura da IRIC, medida da
consistência interna e verificação da validade de critério com a medida da
RDAS. Os resultados obtidos com o presente projeto poderão trazer
contribuições importantes para o avanço do conhecimento teórico e aplicado ao
estudo dos relacionamentos conjugais. As implicações para a pesquisa
acadêmica são evidentes, haja vista a possibilidade da adaptação e validação

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de um instrumento de medida de Empatia Diádica. Do ponto de vista da clínica


psicológica, especificamente da psicoterapia dos casais, os conhecimentos
produzidos poderão se constituir em subsídios importantes na atuação
profissional. Além disso, espera-se que os resultados possam contribuir para a
disseminação do

conhecimento científico sobre o tema em congressos e revistas especializadas.

Palavras-chave: Empatia diádica; Ajustamento diádico; Ciclo vital familiar.

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Paquetá entre histórias e memórias: representações e memória social dos


moradores.
Aluno: Glênio Carneiro Maciel Junior
Orientador: Ricardo Vieiralves de Castro
Em meio a Baía de Guanabara, quase no fim dela, se encontra a Ilha de
Paquetá. O lugar é pacato, possui cerca de 3361 habitantes, 2223 domicílios e
170 ha de área territorial segundo a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro,
não possui automóveis em suas ruas, exceto os de serviço, o acesso à ilha é
feito somente por via marítima e possui inúmeras características que fazem
desta localidade única. Todas essas características fizeram com que o lugar
fosse admirado por diversos poetas como Vivaldo Coaracy e Braguinha, além
de ter sido o lugar do romance “A Moreninha” de Joaquim Manoel de Macedo e
ter tido moradores ilustres como José Bonifácio, até servindo de como casa de
veraneio para D. João VI. Porém, apesar de todas as belezas e a história de
Paquetá, os moradores parecem ocultos, escondidos, diante dos fatos
mencionados. Portanto, este trabalho busca falar de Paquetá sobre a ótica de
quem mais entende, buscando compreender a vida na ilha para além da Ponte
da Saudade, da Pedra da Moreninha e do Parque Darke de Mattos, porque o
material social de Paquetá é tão rico quanto a beleza de qualquer uma dessas
atrações turísticas. A história da Ilha de Paquetá se inicia no século XVI. O
primeiro registro da ilha foi feito em 1555 pelo cosmógrafo André Thevet
enquanto participava da expedição de Villegagnon que pretendia fundar a
França Antártica. Porém, após a derrota dos franceses e sua expulsão em
1565, Estácio de Sá dividiu a ilha em duas sesmarias. Paquetá ficou ligada a
freguesia de Magé devido a sua natureza eclesiástica, mas em 1833 foi
desmembrada e passou a fazer parte da corte do Rio de Janeiro, sendo
inclusive frequentada pela família real. A presença da família real já
caracterizava a ilha como elitizada, possuindo muitos casarões e casas
deslumbrantes onde a elite carioca passava os fins de semana e o verão,
porém hoje as famílias de Paquetá não possuem mais essa conjuntura. O livro
“Sob um Céu de Flamboyants” aponto que a maioria das famílias de Paquetá
descende de antigos moradores, dos quais muitos nunca viveram em outro
lugar. Além desses moradores há também muitas casas de veraneio, contudo,

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a configuração social da ilha tem sofrido algumas alterações nos últimos 30


anos, onde, somando-se aos veranistas e antigos habitantes, estão os
migrantes do nordeste, que na grande maioria das vezes vão para a ilha em
busca de oportunidade no mercado de trabalho e melhora na qualidade de
vida. Também percebemos hoje uma migração a Paquetá de um outro público:
moradores de classe média que procuram segurança e conf orto, acabam por
escolher Paquetá como seu lar. Buscamos, então, pensar a ilha a partir da
ótica da psicologia social, ou seja, pensar nos sentidos construídos pelos
moradores a respeito do lugar e sobre a vida que se construiu ali, trabalhando
assim, temas como memória social, representações sociais e identidade social.
A psicologia social é a ciência do “entre” segundo autores como Jovchelovitch,
portanto, se busca entender justamente as entrelinhas do sujeito com a
sociedade, escolhemos assim os temas acima, pois, acreditamos que a
memória social e as representações sociais são elementos importantes para o
estudo dos moradores de uma ilha como Paquetá para então discutirmos a
busca por identidade desses indivíduos, ou até discutir elementos de uma
identidade já constituída. O trabalho terá uma amostra de 60 pessoas divididas
em dois grupos: os nascidos em 1979 a 1985 e os nascidos em 1995 a 2000. A
escolha foi realizada de acordo com os estudos geracionais de Mannheim onde
esses indivíduos teriam a idade entre 16 e 21 anos em dois acontecimentos
que pretendemos levar em consideração como marcos para os moradores da
ilha. Os marcos escolhidos foram o vazamento de óleo na Baía de Guanabara
acontecido em janeiro de 2000 e o fim das charretes com cavalos em Paquetá,
acontecido no ano passado, onde os animais foram substituídos por “Charretes
elétricas”. Acreditamos que a vida dos moradores pode ter sido diretamente
influenciada por estes dois acontecimentos. Além de trabalharmos esses
acontecimentos, nos questionários procuramos realizar perguntas a respeito da
memória social local, procurando saber a partir dos próprios sujeitos
acontecimentos que os mesmos acreditam ser importantes e pedindo para os
mesmos atribuírem um grau de valência. O questionário aborda também as
personalidades de Paquetá: pessoas que acreditamos ser importantes (como
José Bonifácio, Joaquim Manoel de Macedo, D. João VI, etc.) e que de certa
forma tem uma ligação com a ilha. Pedimos também para que seja lembrada

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qual a relação da pessoa com o lugar. A partir do conceito de lugares da


memória de Pierre Nora, também elegemos monumentos, praças, parques e
locais em geral em Paquetá, que acreditamos guardar a memória do local.
Assim, fazemos perguntas a respeito do que o morador se lembra relac ionado
a cada um dos locais escolhidos. Para compreendermos melhor a identidade
dos moradores de Paquetá utilizaremos autores como Deschamps e Moliner e
no questionário perguntaremos a respeito da vocação econômica da Ilha, além
de uma definição de Paquetá pelo próprio moradores. Acreditamos que com
este questionário poderemos realizar uma boa análise de conteúdo a fim de
realizar uma discussão aprofundada em memória social e identidade,
conseguindo também contribuir para o campo das representações social e
realizando um bom estudo em psicologia social para a conclusão do mestrado
no programa de pós-graduação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
O trabalho teve início em fevereiro de 2017, estando agora na fase de
construção dos questionários para seguir a aplicação e então análise de
conteúdo. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica a respeito da história da Ilha
de Paquetá, além de compreender obras e pessoas importantes para a ilha,
como pesquisa sobre José Bonifácio e D. João VI, procurando articular suas
vidas com Paquetá a todo momento. Foram encontrados documentos na
biblioteca nacional a respeito de José Bonifácio no lugar, assinando cartas com
“Paquetá” no fim na página, e um estudo sobre a vinda de D. João VI a
Paquetá e estadia no então chamado Solar Del Rey. Além das pesquisas a fim
a ilha, uma revisão bibliográfica sobre pensamento social, representações
sociais, memória social e identidade social foi feita para embasar a pesquisa.

Fontes de financiamento: Bolsa CAPES

Palavras-chave: Paquetá; memória social; pensamento social; identidade


social; representações sociais

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A Psicologia contra a Ditadura Civil-Militar (1964-1985)


Aluno: Juberto Antonio Massud de Souza
Orientadora: Ana Maria Jacó Vilela
Em 2017, completaram-se 53 anos em o golpe civil-militar alterou a história
recente do Brasil. A passagem do dia 31 de março para primeiro de abril de
1964 fez com que houvesse uma ruptura na frágil democracia brasileira. A
intervenção dos EUA nos preparativos que antecederam o golpe eram parte do
plano de ampliação do seu domínio econômico e político América Latina. A
sucessão de financiamentos e articulações militares para o plano tornou o
Brasil de 1964 parte de uma onda que derrubaria diversos governos
estabelecidos. Neste mesmo ano, se estenderia para a Bolívia, em 1966 para a
Argentina, que teria outro golpe de estado em 1976, e em 1973 para o Uruguai
e Chile. Neste último, o dramático assassinato do presidente Salvador Allende
pelas forças de Augusto Pinochet, morto com armas em mãos no Palácio de la
Moneda, iria sepultar as últimas esperanças de igualdade social pelas vias
eleitorais. A crise estrutural do capital, que na América do Sul forçou a adoção
de medidas repressivas como a centralização das forças do estado brasileiro,
desenhava os contornos para o esboço do pior projeto de ampliação e
reprodução do capital: uma série de ditaduras coordenadas que deveriam
garantir a implementação da sua reprodução em escala ampliada. Como
exemplifixação da particularidade brasileira, basta tomarmos os super-projetos
econômicos levados a cabo pelos governos militares, que incluíram a
construção da Ponte Rio-Niterói, a Hidrelétrica de Itaipu Binacional, as três
usinas nucleares de Angra dos Reis e a rodovia Transamazônica. O objetivo
central era a integração nacional, através da modernização da economia. A
principal força de esquerda no país, o Partido Comunista Brasileiro (PCB),
ainda não se recuperara de sua fratura de 1962, ano em que parte
considerável de seus quadros organizativos, entre eles Pedro Pomar, Maurício
Grabois, João Amazonas e Ângelo Arroyo, haviam rompido com a linha
preconizada pelo partido e fundado o Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
Com o golpe civil-militar de 1964, um novo traumatismo atingiu o PCB: com a
perda de sua combatividade, e incapacidade de resistência ao golpe, setores
mais combativos procuraram a todo custo romper o seu imobilismo. Este

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processo culminou com a militarização dos quadros da esquerda e sua entrada


em enfrentamentos diretos contra as forças repressivas. A criação de uma
série de agrupamentos, que avançaria para tentar criar as condições de
guerrilha para combater a ditadura, deu início a luta armada. A longa noite
brasileira, iniciada em 1964, seria aprofundada, em 1968, com o golpe-dentro-
do-golpe e a respectiva promulgação do Ato-Institucional nº5 (AI-5). O
endurecimento do regime e a escalada do terrorismo de estado,
institucionalizado em seu Serviço Nacional de Informação (SNI), garantiria a
tentativa de pacificação à força daqueles que ousaram resistir. O AI-5 deixava
clara a direção tomada pelo estado brasileiro. O cerceamento de liberdades
individuais e a suspenção de direitos políticos, que implicou a cassação de
políticos eleitos, tinha como objetivo frear toda e qualquer oposição que
obstacularizasse os planos dos militares. Em 1969, é criada a Operação
Bandeirantes (OBAN) pelo Exército Brasileiro. Serviu como órgão responsável
por coordenar as atividades repressivas contra a luta armada. Cabe lembrar
que a chamadada ditadura brasileira se constituiu pela intervenção civil-militar,
sendo a OBAN expressão dessa união entre setores civis, principalmente do
empresariado paulista, e os setores militares. Diante deste contexto histórico,
qual foi a atuação dos psicólogos, profissionais e estudantes de psicologia?
Algumas pistas já puderam ser encontradas. Podemos dividí-las em dois
grupos: a) psicólogos e estudantes de psicologia envolvidos em agrupamentos
em suas respectivas universidades. Com o fechamento do regime, parte deles
sairia ou seria expulsa da universidade e continuariam a resistência de forma
clandestina. Isso teria implicações importantes para suas vidas, já que teriam
de abandonar suas antigas identidades, frequentar outros locais que não
aqueles sabidos por seus conhecidos, para desenvolver e ampliar a rede de
suas organizações. Parte dessas psicólogas e estudantes foram mortas; b)
aqueles que se formaram em psicologia e ajudaram de forma indireta o
desenvolvimento da luta contra a ditadura, seja fazendo o atendimento de
militantes torturados e ampliando uma rede de acolhimento para aqueles que
foram perseguidos pela ditadura, principalmente os torturados, seja criando
uma rede de contatos para ajudar militantes a saírem do país para o exílio.
Dentre aquele primeiro grupo, os casos mais conhecidos são de pessoas de

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psicologia que foram parte ativa da resistência e participaram da luta armada:


Iara Iavelberg, Aurora Maria Nascimento Furtado, Pauline Philipe Reichstul,
Marilene Villas-Boas Pinto e Liliana Inés Goldenberg. Além delas, foram
mortos: Idalísio Soares Aranha Filho, Juvelino Andrés, Carneiro da Fontoura
Gularte, Maria Regina Marcondes Pinto, Solange Lourenço Gomes. Cada uma
e cada um dos que tombaram tiveram uma história particular, assim como o
pertencimento a diferentes agrupamentos políticos. Com estes dados iniciais,
construímos como objetivo geral de nosso projeto analisar a atuação dos
psicólogos e estudantes de psicologia comprometidos com a luta, oposição e
resistência contra a ditadura civil-militar brasileira de 1964 e 1985. Para tal, é
necessário apropriarmo-nos dos aspectos gerais que se mostram nas
determinações do movimento pelo qual o capital internacional criou as
condições para o desenvolvimento de ditaduras em países de economia
dependente das centrais, assim como dos aspectos particulares que fizeram do
Brasil um dos países estratégicos para o processo de reprodução ampliada do
capital, através da instalação de um estado ditatorial em acordo com amplos
setores da sociedade civil. Além disto, pretendemos analisar, no interior desta
processo, as diferentes oposições realizadas por psicólogas e estudantes de
psicologia na luta contra a ditadura de 1964-1985. Para alcançarmos nosso
objetivo, levamos em conta que toda investigação científica tem por obrigação
desvelar os nexos internos que determinam as metamorfoses daquilo que é
estudado. Como nosso objeto de pesquisa se circunscreve em um momento
histórico que não pode ser retomado por via de experiência direta, é necessário
recorrer a meios indiretos para a apropriação daquilo que pretendemos
investigar.
A investigação metodológica deve buscar a análise dos processos em sua
essência. Desta forma, nossa pesquisa terá como fundamentação teórico-
metodológica, o materialismo histórico-dialético. Isto nos permite a
compreensão do movimento contraditório dos múltiplos elementos que
compõem a realidade, nos dando a base para entendermos a maneira pelo
qual as particularidades da ditadura civil-militar brasileira se articularam como
mediadores entre a generalidade de relações sociais mais amplas e a
singularidade das relações inter e intrapsicológicas dos individuos envolvidos.

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Estas transições entre o geral, o particular e o singular desvelam os diferentes


graus com que se manifesta a totalidade na determinação de nosso objeto na
pesquisa. Para o alcance de nossos objetivos, desenvolveremos a pesquisa
em diferentes momentos, que, de forma indireta, nos propiciarão o domínio do
movimento do real em dois planos distintos, mas complementares em sua
unidade. nicialmente nos aprofundaremos no estudo bibliográfico do tema,
buscando o conhecimento daquilo daquilo que já foi produzido, incorporando,
no plano de nossa investigação, aquilo que o trabalho analítico de outros
pesquisadores ajudaram a construir. Depois de apossarmo-nos do material
escrito anteriormente, procuraremos criar uma rede de contatos com parte dos
sujeitos que comporão o estudo. Para tal, entraremos em contato com alguns
psicólogos, antigos estudantes de psicologia, bem como c om familiares
daqueles que foram mortos ou tiveram parcela ativa na resistência contra a
ditadura para marcar uma entrevista. Isto ampliará o material de que dispomos,
dando a possibilidade de retomar antigas histórias e descobrir algumas que
não devem jamais ser esquecidas. As entrevistas constituem material central
de nossa pesquisa, já que têm por objetivo elucidar as múltiplas determinações
de parte daquilo que pretendemos retomar. Consideramos que a palavra é
recurso importante, já que é através dela que podemos nos apropriar daquilo
que foi vivenciado por outros. A analogia entre palavra e ação nos leva ao
entendimento que não basta apenas a linguagem falada, que encontra seu
microcosmo na palavra, mas, principalmente, a ação desenvolvida por aqueles
que ousaram ir além dela. Reiteramos que a importância da linguagem falada é
a de que serve de mediação para fazer com que nos apropriemos dos
elementos elaborados por estes sujeitos de gerações anteriores. Utilizaremos
como técnica de entrevista, a sua versão semi-estruturada, que torna viável a
utilização alguns temas pré-definidos, mas mantendo a possibilidade de
deslocarmos a direção de nossos questionamentos, de acordo com o que é
falado pelo entrevistado. Suprassumindo-se, primeiramente da linguagem
escrita e, posteriormente, da linguagem falada destes sujeitos, podemos,
finalmente, reconstituir, no plano ideal o movimento pelo qual os psicólogos e
estudantes de psicologia traçaram um caminho determinante tanto da
particularidade de nossa história recente, assim como da singularidade de suas

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próprias vidas, dando base para a compreensão dos aspectos gerais do


desenvolvimento da história.

Fonte de financiamento: Bolsa Faperj.

Palavras-chave: História da psicologia; luta armada; ditadura militar;


materialismo histórico-dialético.

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A relação alma e cérebro no percurso da psicologia no Brasil: as obras de


Domingos Gonçalves de Magalhães e Hamilton Nogueira
Aluno: Wilk Farias Nobre
Orientadora: Ana Maria Jacó-Vilela
Este projeto é um estudo histórico que visa investigar como um problema
tradicional no pensamento ocidental teve impacto no percurso da psicologia no
Brasil. Trata-se do problema da relação entre alma e cérebro. A escolha deste
tema ocorreu em função do acesso a materiais de pesquisa que sugeriram tal
ocorrência. O primeiro grupo de materiais consiste em uma base de dados
acerca de investigações sobre um fenômeno ocorrido na primeira metade do
século XX: o fechamento do Instituto de Psicologia, instituição fundada na
década de 1930 e chefiada por Waclaw Radecki (1887 – 1953). Tal instituição
foi criada com o declarado objetivo de formar psicólogos profissionais para
atuar em diversos campos. Foi fechado no mesmo ano de criação, em 1932.
Pesquisas históricas recentes indicam que tal fechamento, apesar de ter
ocorrido de maneira súbita e sem motivos explícitos, além dos que foram
expostos no decreto presidencial que oficializou seu fechamento, pode ser
atribuído à pressão de grupos de intelectuais que criticavam a orientação que a
psicologia ensinada por Radecki teria, isto é, uma psicologia supostamente
materialista. Uma pesquisa mais ampla possibilitou a percepção de que tal
situação se configurou mediante um embate que remete ao fim do século XIX
no Brasil. Este período presenciou o fim do regime monárquico e a instauração
da primeira república (1889 – 1930). Esta transição ocorreu em função de uma
série de mudanças com diversas implicações. De notório relevo para fins deste
trabalho foi a modificação no cenário intelectual mediante a recepção das
ideias recém-chegadas do continente europeu. Evolucionismo, Materialismo,
especialmente Positivismo – este, por sua vez, exercendo extrema influência
entre os fomentadores do movimento republicano -, constituem os exemplos
mais notórios das ideias que mais tiveram impacto na geração da tensão
intelectual que marcou este momento. Esta tensão crescia na medida em que a
influência deste arcabouço de ideias se alastrava na intelectualidade brasileira.
A crescente presença do materialismo não ocorreu sem reações por parte da
orientação intelectual anteriormente predominante. Neste sentido, o segundo

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grupo de materiais consiste em documentos que atestam esta reação. O


primeiro, na segunda metade do século XIX, consiste em duas obras de um
autor de renome na literatura brasileira: Domingos Gonçalves de Magalhães
(1811-1892), também conhecido como Visconde de Araguaya. O referido autor
publicou duas obras em que, além de constituírem num notável exemplo da
reação à crescente influência materialista, trataram diretamente do problema
da relação alma-cérebro através de diálogos com autores renomados dos
campos da filosofia e da anatomia modernas. Assim, em “Factos do espirito
Humano” (1858), Gonçalves de Magalhães afirmou a necessidade de conceber
um ser preexistente que explicasse todas as diversas faculdades do espirito,
em oposição às concepções empiristas e sensualistas, especialmente as
defendidas pelos filósofos John Locke (1632-1704) e Étienne Condilac (1715-
1780) que a seu ver visaram reduzir às sensações o que é de ordem espiritual.
Algumas décadas posteriores Gonçalves de Magalhães publicou “A alma e
cérebro – estudos de physiologia e psychologia” (1876), que compartilhava, em
suas linhas gerais, a mesma finalidade da obra anteriormente mencionada, no
entanto, nesta o autor centralizou sua crítica no afã de reduzir as diversas
faculdades do espírito a regiões cerebrais especificas, prescindindo, deste
modo, de um aspecto fundamental que estabelece como fato para qualquer
concepção psicológica: a unidade do sujeito. Neste intento, Gonçalves de
Magalhães toma o sistema frenológico do anatomista inglês Franz Jospeph
Gall (1758-1828) como exemplo, identificando nele o extremo lógico desta
posição. Neste mesmo contexto de postura reativa em relação ao materialismo
na intelectualidade brasileira de então, constatou-se que a influencia intelectual
da igreja católica, exercida praticamente desde o período colonial, encontrava-
se abalada. Isto justificou o engendramento do que ficou conhecido como
Reação Católica, que se tratou, grosso modo, de uma estratégia que objetivou
a retomada da influência católica no pensamento e nos rumos da nação
brasileira. Neste sentido, compreende-se a criação de uma instituição
denominada Centro Dom Vital e do periódico A Ordem, na segunda década do
século XX, como um dos aspectos mais representativos da consolidação
daquele objetivo. O centro abrigava uma elite intelectual católica, da qual a
revista era o veículo de transmissão de suas posições acerca de temas

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diversos, como ciências, educação, filosofia e teologia. De orientação


notoriamente aristotélico-tomista, tais intelectuais recusavam o que
identificavam como a tentativa de redução das faculdades da alma à atividade
cerebral. Sobre este aspecto tem-se um exemplo em Hamilton Nogueira (1897
– 1981). Médico, político e intelectual reconhecido nos meios católicos. Além
de reconhecido na atividade médica, sua atuação política também foi notória,
uma vez que, além de deputado, foi senador pelo distrito federal na década de
1945. Considerado um dos fundadores do Centro e da revista, foi autor de
diversos artigos publicados no periódico, os quais tratavam de temáticas em
que foi observada a utilização frequente de discursos psicológicos. Hamilton
discutiu a questão da relação entre alma e cérebro tomando posição similar à
de Gonçalves de Magalhães, porém utilizando-se do referencial da filosofia de
São Tomás de Aquino (1225-1274) para fundamentar sua posição. Assim como
Gonçalves de Magalhães, Hamilton negou posições materialistas que
buscaram reduzir a alma à atividade cerebral, afirmando o estatuto autônomo
da alma. A comparação entre Gonçalves de Magalhães e Hamilton Nogueira
indica que a intensificação do problema da relação entre alma e cérebro, longe
de se constituir numa questão filosófica isolada, representou um debate cujo
impacto no rumo da psicologia no Brasil merece atenção. Além de representar
a tensão entre posições intelectuais conflitantes, entre o materialismo que
surgia (e advogava por uma fisiologia do cérebro) e a metafísica da alma,
remete ao contexto mais amplo de modernização das instituições e da
intelectualidade brasileira. Portanto, é uma questão que só pode ser vista em
sua ligação intima com o período histórico considerado. A execução da
pesquisa seguirá uma primeira fase de revisão bibliográfica acerca dos
seguintes temas: a) alma e cérebro, b) influência das ideias europeias na
intelectualidade brasileira do fim do século XIX, especialmente materialismo,
positivismo e suas variantes, c) influência religiosa na intelectualidade brasileira
das décadas finais do século XIX e iniciais do XX, ou período da primeira
república d) o rumo institucional que a psicologia tomou no inicio século XX no
país, especialmente o que delimitou o fechamento do Instituto Superior de
Psicologia. Paralelamente à revisão bibliográfica será conduzida uma
investigação documental tendo como fonte primária de análise de obras de

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autores que as produziram no período delimitado. Até o momento, os principais


documentos delimitados foram os seguintes: as obras “Factos do espírito
humano”(1858) e “A alma e cérebro – estudos de physiologia e
psychologia”(1876), ambas de autoria de Domingos Gonçalves de Magalhães,
e dezesseis artigos Hamilton Nogueira publicados no periódico em “A Ordem” –
os artigos selecionados constituem o total da produção do autor em que se faz
presente a utilização do discurso psicológico, especialmente na defesa de sua
posição ante a questão alma-cérebro. Para a análise destes documentos
utilizaremos uma perspectiva que permitirá contextualizar as posições dos
autores, seus discursos, com as instituições e os demais vínculos que devem
ser considerados para contextualiza-los. A ferramenta de análise que permitirá
este empreendimento é a análise do discurso. Metodologia recente e
amplamente utilizada nas ciências sociais, fornece uma base sólida para
pesquisas históricas, sobretudo na história das ciências ou história intelectual
uma vez que promove a contextualização das posições consideradas em
debates particulares com os vínculos sociais que permeiam e até mesmo
modelam os discursos aplicação do método de análise referido ocorrerá a partir
de três etapas que podem, resumidamente, serem descritas da seguinte
maneira: primeira etapa ou etapa descritiva: construção de uma ficha de
identificação com informações sobre os autores do documento, tipo de texto e
sua estrutura. Segunda etapa ou etapa explicativa: identificação das “vozes” ou
autores com quem o texto dialoga no evento discurso em análise - sejam estas
implícitas ou explicitas -, verificação da tradição científico-filosófica que o texto
se vincula e apontamento do contexto sócio-histórico que o tornou possível. A
terceira etapa ou etapa ou etapa interpretativa consiste na avaliação do
conteúdo a partir de uma revisão crítica das posições assumidas pelos agentes
envolvidos em sua produção e exposição das implicações das mesmas.

Fontes de financiamento: não há financiamento

Palavras-chave: Psicologia; história; alma; cérebro

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O conceito de justiça para jovens: um estudo sobre o pensamento social


e a noção de nexus
Aluna: Thamiris Marques da Silva (Doutorado, 2016)
Orientador: Rafael Moura Coelho Pecly Wolter
Este trabalho se situa no âmbito da Psicologia Social, mais precisamente na
linha de pesquisa dos Processos sociocognitivos e psicossociais do Programa
de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro. A proposta é investigar o pensamento social de jovens universitários e
não universitários acerca do objeto Justiça. Para tanto, utilizar-se-á o enfoque
do Campo de Estudos das Representações Sociais. Julga-se relevante o
estudo acerca deste tema por se tratar de algo que envolve toda a sociedade,
uma vez que o conceito de Justiça está ligado ao Direito, a politica e a moral, e,
consequentemente, afeta todo o convívio social. Além disso, Justiça envolve o
que cada grupo social pensa acerca da Justiça e direciona suas atitudes e
comportamentos. A Justiça mobiliza as pessoas e influencia nos
posicionamentos acerca de outros temas de relevância social, como aborto,
cotas, religião, leis, enfim, influencia o pensamento em geral. Dessa forma,
este conceito gera combates e implicações diferentes no plano político de
acordo com o que se tem por justo ou injusto, isto é, afeta de forma direta a
convivência das pessoas na sociedade. Cabe ressaltar que o interesse pelo
tema se deu a partir da dissertação de Mestrado: “Reserva de vagas na
Universidade Pública: a influência das concepções de Justiça e suas relações
com a avaliação das cotas”. Os resultados demonstraram pouco conteúdo de
respostas frente ao conceito de Justiça, sobressaindo verbalizações afetivas
ligadas ao objeto, o que não ocorreu com as cotas. A partir disso, surgiu o
interesse em pesquisar o porquê desse ocorrido levando em consideração a
noção de Nexus (ROUQUETTE, 1994), pois é possível que a chave para
compreender este ocorrido seja encontrada a partir desse aspecto teóric o, uma
vez que se entende por nexus o objeto que possui alto valor afetivo e baixo ou
nenhum aspecto cognitivo, aparentemente como no caso da Justiça. O enfoque
teórico a ser utilizado foi elaborado pelo romeno Serge Moscovici definido
como campo de estudos das Representações Sociais (RS). A lógica pela qual
as representações são elaboradas é para que se possa compreender o mundo

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e também se posicionar frente a ele. Uma característica é que fornecem uma


visão funcional do mundo orientando as atitudes e comportamentos
(MOSCOVICI, 1978). Assim elas direcionam e auxiliam nos processos
referentes à tomada de posição (JODELET, 2001). As representações sociais
constituem uma forma de saber, de conhecer do mundo. Estão sempre
relacionadas à forma como o sujeito se relaciona com objeto, e com relação a
sua natureza, o objeto pode ser real ou fictício, concreto ou abstrato. Ou seja,
pode ser tanto uma pessoa quanto uma teoria, tanto um acontecimento quanto
uma ideia (JODELET, 2001). O campo de estudos das Representações Sociais
possui três grandes abordagens: a abordagem processual, a abordagem
genética e a estrutural, sendo esta última contemplada no presente trabalho.
Contida na abordagem estrutural, a Teoria do Núcleo Central foi elaborada pelo
francês Jean-Claude Abric, a partir de sua tese de doutorado, podendo ser
considerada como uma teoria complementar ao campo de estudos das
representações sociais de Moscovici. É nesse sentido que em sua teoria Abric
procurou descrever de forma mais sistematizada o funcionamento do processo
de representação, não havendo incompatibilidade entre os conceitos de ambos
os autores (SÁ, 2002). Abric (2000) atribui às RS uma organização interna na
qual existe um núcleo central e uma periferia. Trata-se de dois sistemas
diferentes entre si com funções distintas, todavia complementares. O núcleo
central é constituído tanto pela natureza do objeto quanto pela relação que o
grupo que representa tem com este. O núcleo é resistente às mudanças e
trocando-o a representação perde o sentido transformando-se em outra
representação. Através dele a homogeneidade do grupo é definida e de forma
estável e coerente o núcleo perpassa o imediato constituindo uma estrutura
duradoura (ABRIC, 2000). Ele estrutura a representação e a define,
organizando-a (CARDOSO, 2013). Já a periferia possui a função de
concretização, onde, através da ancoragem os indivíduos podem adaptar a
representação à sua realidade de vida; função de regulação, permitindo a
adaptação de elementos e contextos novos à representação, o que permite um
caráter evolutivo a esta; e função de defesa, segundo a qual as transformações
dos elementos das RS se dão na periferia a fim de proteger o núcleo, fazendo
com que se suporte a heterogeneidade do grupo (ABRIC, 2000). As

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Representações Sociais a serem estudadas referem-se ao objeto Justiça. Na


dissertação de Mestrado “Reserva de vagas na Universidade Pública: a
influência das concepções de Justiça e suas relações com a avaliação das
cotas” foi possível observar que a busca pela rejeição das cotas raciais levando
em consideração a concepção de Justiça de universitários demonstrou uma
possível falta de estruturação do conceito de Justiça por parte dos
universitários. Se de fato não existir um pensamento estruturado acerca desse
objeto talvez este possa se inserir como “nexus”, que são determinados objetos
sociais que possuem uma carga afetiva tão grande difundida nas pessoas que
formam o que Rouquette (1994) chama de “nódulos afetivos pré-lógicos”, ou
seja, o afeto ao objeto é tão grande que parece não haver cognição estruturada
relacionada a ele. A partir desses dados, o objetivo geral é a busca pela
compreensão do pensamento social de jovens acerca do objeto Justiça
levando em conta o enfoque teórico das Representações Sociais. O objetivo
específico é a comparação do conceito de Justiça através de três populações:
jovens universitários do curso de Direito, jovens universitários dos demais
cursos e jovens não universitários. Mais precisamente a hipótese é que os
estudantes do curso de Direito apresentarão uma Representação Social
estruturada acerca do objeto Justiça, ou seja, contendo um núcleo e uma
periferia; enquanto os demais estudantes, tanto universitários de outros cursos
quanto não universitários apresentarão ideias desconexas, pois apesar de
existir um pensamento acerca do objeto este não se dá de forma relacionada
ou estruturada. Assim, o conceito de Justiça não formaria uma estrutura para
as demais populações além dos estudantes de Direito, pois a abordagem
estrutural “proíbe que o sentido de uma representação se reduza à soma de
cada elemento isolado” (ROUQUETTE, RATEAU, 1998, p.30). Em termos
teóricos, acredita-se que o saber reificado não é apropriado pelo senso comum,
permanecendo somente, então, nos jovens do curso de Direito e não nos
demais. A partir dos resultados, caso a hipótese seja corroborada, espera-se
contribuir para a área do pensamento social afirmando que o conceito de
Justiça possui Representação Social somente no saber reificado da área de
Direito, não sendo representado em outras populações do próprio saber
reificado ou no senso comum, o que acarretaria a este objeto a noção de

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nexus. No que se refere ao método, a pesquisa envolve dois estudos


realizados em momentos distintos, e os sujeitos do primeiro estudo são, no
total, 240 jovens com idade entre 18 e 28 anos e de ambos os sexos
compreendendo: 80 jovens universitários selecionados no ambiente da própria
Universidade por estarem matriculados no curso de Direito da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ); 80 jovens universitários selecionados no
ambiente da própria Universidade por estarem matriculados em algum curso da
UERJ; 80 jovens não universitários selecionados no ambiente cotidiano, como
ruas e praças dos bairros próximos a UERJ. Já os sujeitos do segundo estudo
possuem os mesmos critérios de inclusão e exclusão do primeiro estudo,
contudo seu número é menor por se tratar de uma corroboração dos resultados
levantados no primeiro momento, então serão jovens com idade entre 18 e 28
anos, de ambos os sexos envolvendo: 20 estudantes de Direito, 20 de outros
cursos e 20 não universitários. Por abarcar dois momentos distintos, no
primeiro estudo será utilizada a técnica de Evocações Livres. Essa técnica
consiste em pedir ao sujeito que diga ou escreva certo número de palavras que
lhe vem à mente quando ouve ou lê determinado termo indutor. Ela é utilizada
associada geralmente à abordagem estrutural da Teoria das Representações
Sociais, pois seu objetivo é estruturar a representação dividindo seu conteúdo
em elementos periféricos e centrais, de maior ou menor frequência (OLIVEIRA,
MARQUES, GOMES, TEIXEIRA, AMARAL, 2005; VERGÈS, 1994). No caso
desta pesquisa, pedir-se-á que o sujeito diga até cinco palavras com o termo
indutor ‘Justiça’. O segundo estudo envolve o chamado teste de centralidade.
Sua aplicação nos estudos da abordagem estrutural das representações
sociais é relevante pela finalidade de testar se os elementos mais frequentes e
mais prontamente evocados das evocações livres são de fato centrais ao
objeto, pois alguns elementos identificados pelo teste de evocações livres
possivelmente como centrais podem não ser (PECORA, SÁ, 2008). Cabe
ressaltar que existem vários testes de centralidade, e o utilizado será ‘mise en
cause’ (MEC). A técnica do questionamento ou mise em cause (MOLINER,
1989) envolve a premissa de que existem elementos centrais e inegociáveis
constituintes das Representações Sociais, e que caso sejam retirados não
haverá mais reconhecimento do objeto para o grupo que o representa. Para

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análise das evocações livres será realizada análise prototípica (OLIVEIRA et al,
2005; WACHELKE, WOLTER, 2011). Já a análise da mise en cause (MEC)
será a partir do cálculo das frequências e percentuais de respostas ou com o
teste de normalidade Kolmogorov-Smirnov (K-S). Apesar de alguns estudos
realizados (PERCHERON, 1991; SHIMIZU, MENIN, 2004; SPADONI,
TORRES, 2010), pouco se tem produzido acerca do conceito de Justiça, já que
na maioria das vezes este construto está relacionado a outro e não é
pesquisado de forma isolada. A partir disso, buscar-se-á com esta pesquisa
fornecer, para área da Psicologia Social, resultados relativos à área.

Financiamento: Bolsista CNPq

Palavras-chave: pensamento social; trabalho; universidade; cotas;


comparação social.

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Redes sociais como ambiência de produção, circulação e reprodução do


pensamento social
Aluno: Georgie Alexánder Echeverri Vásquez
Orientador: Prof. Dr. Rafael Pecly Wolter
“A sociedade é um sistema de pensamento”: são palavras de Moscovici (1976)
particularmente esclarecedoras ao levarmos em consideração que, no percurso
da história, um acontecimento radical pode mudar a forma como esse sistema
opera. A mesma história da sociedade ocidental, por exemplo, nos apresenta
eventos como a invenção da imprensa no século XV, o auge da manufatura na
Inglaterra do século XVIII e as revoluções Americana ou Francesa a modo de
pontos disruptores que incidiram diretamente na operação desse sistema de
pensamento. Em meados do século XX também aconteceu um evento que,
sem sombra de dúvida, transformou substancialmente a forma como hoje
concebemos a comunicação: no meio ao clima da Guerra Fria, em 1 de
setembro de 1969, o projeto Arpanet (Advanced Research Projects Agency)
iniciou a operação de uma rede sem controle central, integrada por redes
autônomas, com quatro nós localizados nos centros de pesquisa mais
importantes dos Estados Unidos à época, isto é, nas universidades de
Califórnia (Los Angeles e Santa Bárbara), Stanford e Utah. Aparecia, então, o
que hoje denominamos Internet: uma arquitetura de rede que aos poucos foi
tornando-se a base de um novo modelo de produção e de organização social, a
ponto de começarmos a falar de uma sociedade informacional, configurada a
partir de redes e fluxos (Castells, 1990). É nesse contexto que surge o presente
projeto de pesquisa, cujo propósito é explicar as condições de produção,
circulação e reprodução do pensamento social (conceito proposto por
Rouquette em 1973) nas redes sociais, face a eventos concretos de
mobilização coletiva. Experiências históricas de ocupação como a Primavera
Árabe no Oriente Médio e no Norte da África em 2010, o Occupy Wall Street e
o Movimiento de los Indignados da Espanha (o 15-M) em 2011, e o mesmo
Movimento Passe Livre no Brasil em 2013, nos permitem falar em configuração
de uma nova morfologia do espaço público, isto é, um híbrido entre redes
sociais da Internet e ocupação do espaço urbano, o que contribui para a
constituição de “comunidades instantâneas de prática transformadora”, como

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denominadas por Castells (2013). Partindo desse conceito, abordamos a


ocupação das escolas da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro, que
aconteceu no primeiro semestre de 2016. Foi assim como, após termos
acompanhado o desenvolvimento do fenômeno por meio das respectivas
páginas do Facebook de cada escola ocupada, optamos por analisar como se
configurava o pensamento social a partir dos conteúdos que se geravam, se
reproduziam e circulavam nessa rede de informação criada pelos estudantes. A
partir dessa análise de conteúdo nos propusemos: 1) identificar e categorizar o
que foi comunicado ou expresso dentro dessa rede; 2) estabelecer a diferença
entre postagens com maior e menor interação; e 3) mapear as diferenças entre
os colégios ocupados no que dizia respeito à expressão do pensamento social.
Identificamos e coletamos, em parceria com o Laboratório de Estudos sobre
Imagem e Cibercultura (LABIC) da Universidade Federal do Espírito Santo
(UFES), 7.586 postagens correspondentes ao período compreendido entre 21
de março —data da ocupação do Colégio Estadual Prefeito Mendes de Moraes
(Ilha do Governador-RJ)— e 31 de julho de 2016, um mês após a Juíza Titular
da Segunda Vara de Infância e Adolescência ter determinado o retorno às
aulas. Tendo em vista que se tratava de um volume muito alto de postagens,
com formatos muito diferentes, decidimos nos concentrar nos elementos que
fazem parte da taxa de engajamento de uma postagem, nomeadamente, o
número de compartilhamentos (shares), o número de curtidas (likes) e o
número de comentários (comments), e definimos o seguinte critério de escolha:
número de postagens compartilhadas acima de 100 vezes, mais número de
postagens curtidas acima de 300 vezes, mais número de postagens
comentadas acima de 50 vezes. Esse critério nos permitiu selecionar,
finalmente, 250 postagens, equivalentes a 3,3% da amostra, o que se
considera representativo, tendo em vista que o critério foi estabelecido a partir
dos valores que definem o número maior de interações, aspecto fundamental
ao tentarmos identificar as condições de produção/reprodução do pensamento
social partilhado por um grupo determinado em uma rede. O estudo foi
desenvolvido conforme as três fases tradicionais de uma análise de conteúdo:
pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados (Bardin, 2011).
Na primeira fase (pré-análise), foi realizada uma ‘leitura flutuante’ do conteúdo

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correspondente às 250 postagens, o que permitiu classificá-las em sete (7)


tipologias: 1) texto simples, 2) artigo de imprensa, 3) fotografia, 4) vídeo
amador, 5) vídeo editado, 6) cartaz e 7) gif. Após termos codificado cada
postagem segundo a tipologia à que pertencia, transcrevemos o conteúdo de
cada uma delas e realizamos o recorte do corpus, isto é, a segmentação em
unidades de registro. Uma vez preparadas no Excel as 4294 unidades de
registro, separadas por tipo de postagem, aplicamos um filtro que, para efeitos
do presente estudo, denominamos tríplice critério da fonte empírica, isto é, a
diferenciação da unidade de registro segundo suas condições de produção:
conteúdo escrito (CE), conteúdo falado (CF) e conteúdo imagético (CI). Já na
segunda fase da análise (a preparação), realizamos um processo de
organização ou classificação analógica progressiva das unidades de registro
em focos semânticos, isto é, em núcleos maiores de sentido; ao todo,
identificamos 61 focos semânticos ou subcategorias. Por fim, na terceira fase
(tratamento dos resultados), realizamos o agrupamento dos focos semânticos
em seis grandes categorias: 1) Posição político-ideológica; 2) Pauta do
movimento; 3) Desenvolvimento da ação direta; 4) Rede social como
plataforma de denúncia; 5) Narrativa grupal da ocupação; e 6) Efeitos da
ocupação. A análise categorial realizada nos permitiu atrelar duas grandes
inferências, que apresentamos aqui a modo de conclusões desse primeiro
estudo: a primeira tem a ver com as condições de produção do pensamento
social e a segunda está relacionada com a mobilização das escolas. No que diz
respeito às condições de produção do pensamento social, a análise dos
conteúdos publicados pelos estudantes nas páginas das ocupações evidencia,
sim, a configuração de uma “comunidade instantânea de prática
transformadora” nos termos de Castells, mas constituída a partir das condições
de produção do pensamento social; por outras palavras, o funcionamento
cognitivo do grupo não parte do real, mas de quatro elementos que configuram
a realidade como eles a pensam e expressam na sua narrativa, a saber: o
formalismo espontâneo, o dualismo causal, a primazia da conclusão e a
construção de analogias (Guimelli, 1999). No que tange à ocupação como
mobilização coletiva, foi possível inferir que a rede de comunicação criada
pelos mais de 80 colégios, que foi se tecendo gradativamente, contribuiu para a

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construção e reprodução de uma representação social da ocupação como


‘luta’, daí que categorias temáticas como a narrativa grupal da ocupação e a
rede social como plataforma de denúncia aglutinassem a maior quantidade de
unidades de registro no quadro da análise de conteúdo, em detrimento da
mesma pauta específica e geral do movimento; esse marcado viés afetivo
aproxima a representação social de um possível nexus, mas não consegue
configurá-lo, porque as diferenças intergrupais se conservam. Vale a pena
recordar que um nexus ou “nódulo afetivo pré-lógico” nas palavras de
Rouquette (1994) é uma construção do pensamento social que explica de
forma convergente alguns comportamentos face a eventos de mobilização
coletiva. Se caracterizam porque: a) são compartilhados por uma comunidade;
b) aparecem em situações de conflito ou crise; c) fazem parte do imaginário
social, isto é, não constroem o real, mas o reduzem a um conteúdo particular;
d) apelam a um termo único para aglutinar experiências, impressões,
expressões e sensações acumuladas; e) são socialmente elaborados a partir
da ênfase como forma discursiva de expressão; e f) mobilizam os indivíduos
ocultando temporariamente as diferenças intra e, principalmente, intergrupais.
No fenômeno de ocupação das escolas da rede estadual do Rio de Janeiro,
sem dúvida, observam-se as primeiras cinco características, e até há um
aparente ocultamento das diferenças intragrupais das escolas ocupadas em
torno da #OcupaTudo, mas as diferenças intergrupais permanecem,
especialmente no nível ideológico, e prova disso é que existiu mais outro
movimento, contrário a ocupação: “os desocupas”.

Fonte de financiamento: Bolsa FAPERJ

Palavras-chave: pensamento social; sociedade informacional; movimento


social; ocupação.

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Projeto Vidas Paralelas Migrantes (Polo Rio de Janeiro)


Aluno: Wallace Araujo de Oliveira
Orientadora: Regina Glória Nunes Andrade

Os processos migratórios e diásporas sempre existiram ao longo da história,


embora suas origens e determinações apresentem variações no cenário
político-econômico global. Nesse sentido, embora este fenômeno seja
complexo e multicausal, suas consequências associadas às situações de
guerras presentes em diversos países têm sido apontadas por organizações
internacionais como elementos determinantes de tal magnitude de
deslocamentos. Estas condições adversas, embora em graus muito
diferenciados, também estão presentes na realidade brasileira, seja por meio
do histórico de migrações internas ou através da elevação recente das
migrações externas. Apesar das variações no tempo e no espaço, a exploração
e o sonho parecem acompanhar as histórias de vida de milhares de migrantes
oriundos de regiões vulneráveis em busca de trabalho, paz e vida digna. No
entanto, os processos de resistência engendrados por estes grupos também
constituem um traço marcante destes fenômenos e comumente sinalizam uma
imensidão de criatividade e inventividade que vão sendo forjadas no cotidiano
da vida (re) construída nos “novos” territórios ocupados e no enfrentamento das
desigualdades. Há décadas recebendo migrantes e refugiados, o Brasil
demarca uma positiva experiência com respeito aos direitos humanos,
considerando as razões de naturezas diversas que justifiquem o deslocamento,
como políticas, religiosas, sociais, culturais ou de gênero. Desde o início dos
anos 1980, um considerável fluxo de refugiados se dirige ao Brasil, quando em
1982 o país aceita oficialmente a presença do Alto Comissariado das Nações
Unidas para Refugiados (ACNUR) e se estabelece um diálogo que amplia o
acolhimento de todo e qualquer refugiado do mundo. Em 1989, o país levanta a
reserva geográfica através do decreto número 98.602, com plena adesão à
Declaração de Cartagena (datada de 1984). O Brasil em nova fase política nos
anos de 1990, com certa estabilidade, tem a edição de um dispositivo jurídico
de proteção aos refugiados, pela portaria interministerial número 394,
estabelecida pelo Ministério da Justiça para o processo de solicitação e

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concessão sob reconhecimento formal. Entretanto, em meio às condições e


motivos vários que ressaltavam a complexidade do apoio que figurava
insuficiente, a Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro e de São Paulo foi
convocada à discussão e avaliação, considerando sua experiência com
brasileiros vitimados e perseguidos. Assim, o olhar direcionado ao tema
atravessou fronteiras geográficas e atentou-se para questões de saúde física e
mental, tendo a relevante participação de outras áreas do governo como os
Ministérios das Relações Exteriores, Saúde, Trabalho e Educação. Em julho de
1997, foi promulgada a lei de refúgio número 9.474/97, redigida em parceria
com a ACNUR e a sociedade civil, criando também o Comitê Nacional para
Refugiados (CONARE), órgão responsável pela política pública de refúgio e
decisão quanto às solicitações apresentadas ao país. Lidando com a
integração local por meio de documentos básicos de direitos civis, a
identificação, a possibilidade de trabalho e de livre movimento passaram a ser
garantidas em território nacional. Houve, de acordo com os dados do
CONARE, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, um aumento de 12%
na quantidade de refugiados reconhecidos no país no ano de 2016. Totalizando
9.552 refugiados de 82 nacionalidades, os maiores números expõem
Venezuela (3375), Cuba (1370), Angola (1353), Haiti (646), Síria (391) e
República Democrática do Congo (382) destacados como países de origem. A
nova legislação migratória (Lei número 13.445), sancionada em maio de 2017 e
com vigor previsto para novembro do mesmo ano, visa a garantia da condição
de igualdade com os nacionais, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade. Nesse sentido, as travessias
psicossociais no refúgio de migrantes na cidade do Rio de Janeiro, fundamenta
o objetivo de aproximar questões culturais, de memória e subjetividade
refletidas nos corpos migrantes. Embora se trate de realidades e situações
totalmente distintas, os sujeitos migrantes constroem processos de resistência
e parecem encontrar, apesar de todas as dificuldades, formas próprias de
ressignificar a vida, construir novas relações identitárias e dinâmicas culturais e
políticas que contribuem para seus processos de luta e afirmação de outros
modos de ser e estar no mundo. Uma vez que a arte é um manifesto humano a
partir de ideias, percepções ou emoções, e que sua variabilidade decorre de

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conjunturas históricas, culturais e sociais, o interesse no estudo em tela surgiu


a partir da necessidade de melhor compreensão de perspectivas inter-
relacionadas às narrativas de sujeitos no universo social, partindo de um
contexto onde os mesmos transitam e sugerem análise de seu caminhar. Como
via de reflexão e discussão percebido para somar as experiências no âmbito
artístico do presente pesquisador e mestrando do Programa de Pós-Graduação
em Psicologia Social, na aproximação do Projeto Vidas Paralelas Migrantes,
coordenado por Maria da Graça Luderitz Hoefel da Universidade de Brasília -
UNB, a convite de sua orientadora e também vice coordenadora do Projeto, a
Profa. Dra. Regina Gloria Andrade da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro - UERJ, viu a possibilidade de participar da realização,
desenvolvimento e implantação das Oficinas de Cultura Digital, intituladas
“Oficinas de Direitos Humanos e Fotografia”, durante o período de agosto a
setembro de 2017. Tratando-se de um projeto que visa consolidar uma
Cooperação Multilateral científica entre a Universidade de Brasília, e a
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a Université Paris Descartes e a
Université Paul Valéry (Montpellier), associando competências
interdisciplinares sobre a temática da migração de sujeitos oriundos de meios
desfavorecidos, no contexto do Brasil e França, com vistas ao estabelecimento
de uma rede de conhecimento cooperativa e multilateral, uma parceria foi
estabelecida com o Programa de Atendimento a Refugiados e Solicitantes de
Refúgio da Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro, apoiado pelo ACNUR,
conhecido como a Agência da ONU para Refugiados. Objetivando estudar as
representações e significações de migrantes em relação ao seu cotidiano, com
vistas à compreensão das dimensões sociais, políticas e culturais da vida
destes grupos sociais em interface de linguagens artísticas e imagéticas a
partir do olhar e narrativa dos próprios sujeitos, integrou-se às ações do Projeto
de Pesquisa CAPES –COFECUB no contexto do Brasil. Por meio de fontes
primária, secundária e terciária, dados foram coletados dentro de processo
indutivo, sob a justificativa de complementaridade e auxílio na aproximação do
fenômeno em questão, incorporando instrumentos de reflexão e promoção de
ações para a valorização do saber-fazer e auto reconhecimento dos migrantes
enquanto elementos culturais para preservar ou renovar através do registro da

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memória e organização de um banco de dados e imagens dos migrantes. Com


enfoque psicossocial, a pesquisa se deu através do Esquema Conceitual,
Referencial e Operativo (ECRO) de Enrique Pichon Rivière, como método
dialético e instrumento que permite abordar a relação de um grupo a partir da
execução de uma tarefa específica, com interesse na dinâmica e na forma
como agiam os membros de um grupo de homens selecionado através da
parceria PARES Cáritas RJ e PPGPS UERJ, tendo em vista as motivações que
os estimulam e as representações sociais que determinam essas práticas.
Considerando a abordagem do social por intermédio de cinco oficinas sob
variados temas (como por exemplo percursos, cultura, preconceito, trabalho), a
Teoria Ator-Rede foi associada ao processo teórico-metodológico, posto que o
pesquisador lida com a multiplicidade de atores humanos e não humanos,
sendo induzido a rastrear o fluxo das redes. Ademais, a observação
participante em eventos e locais com abordagem potencial à temática fez parte
da metodologia empregada, junto a análise teórico-crítica na pesquisa que se
configura bibliográfica, fotográfica, empírica, documental, videográfica e virtual,
como embasamento da pesquisa. Pensar o sistema cultural como campo no
qual se produz e compartilha significações e diferenças entre as pessoas do
grupo, despertou para a dinâmica existente no que se considera cultura ou
etnicidade, sendo conveniente refletir acerca de um conjunto característico de
artes, conhecimentos, crenças, leis, moralidade, costumes, inerente a membros
e suas comunidades. Isto posto, coincide pensar em identidades que se
fundam a partir de sua fluidez e não fixidade, visto que verbalizações e
experiências passadas possuem importância na presente pesquisa, traduzindo
um conjunto incompleto de atos de conhecimento, não aspirando ao
conhecimento universalmente válido nem atingindo a realidade profunda das
coisas, sendo, deste modo, fragmentado, o que não impede o debate e
alargamento de perspectivas. No campo das singularidades, o entendimento
processual não se dá de forma lógica, pois a subjetividade é característica na
identificação do que funda e relativiza cultura e sociedade, tendo em conta as
multifacetas do corpo migrante e sua dinamicidade simbólica, a incluir
harmonias e conflitos em meio aos significados e experiências. Como
desdobramentos e resultados, até o presente momento, os diários de campo e

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a aproximação sensível ao longo das oficinas inspiraram a exposição Projeto


Vidas Paralelas Migrantes: Perspectivas Brasil/França (Capes-Cofecub), sobre
imagens, narrativas e reflexões obtidas na aproximação dos sujeitos
pertencentes a diferentes realidades da vida migrante, o que revelou
possibilidades para se (re) pensar o contexto da migração, do refúgio e dos
direitos humanos. Percepções, imaginários e emoções surgiram das
perspectivas inter-relacionadas a relatos, condições, lugares e fatos pelos
quais migraram e que ilustram processos, memórias e representações, na
prática discursiva e performativa que criou um repertório imagético sob
diferentes temáticas. Pode-se identificar, na apuração do estudo empreendido,
a prospecção de olhares no que tange à visibilidade da maior crise humanitária
da atualidade, cujas questões e motivos evidenciam problemáticas desde o
país de origem até o país em que se estabelecem. À vista disso, a consumação
da pesquisa parte de sensibilização tanto social quanto científica,
acompanhando configurações, testemunhos e reiterando a importância da
garantia dos direitos humanos, cuja violação contextualiza fugas e percursos
sob circunstâncias frágeis. Da mesma maneira, expressa-se a identidade
individual e coletiva da migração através do migrante, de quem a participação
nesse estudo merece voz e lugar pela personificação principal que legitima o
fenômeno.

Palavras-Chave: Migração; Refúgio; Identidade Cultural; Projeto Vidas


Paralelas Migrantes; Polo Rio de Janeiro.

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Entre almas negras e corpos denegridos: atitude suspeita, abordagem


policial e o direito à cidade.
Aluna: Bárbara Silva da Rocha
Orientadora: Anna Paula Uziel
As abordagens policiais, seguidas ou não de revistas pessoais, são situações
cotidianas entre a população e a Polícia Militar na cidade do Rio de Janeiro.
Muitas vezes, descontextualizadas da ocorrência criminal, ou seja, afastadas
de quaisquer elementos concretos de ilicitude, são operacionalizadas arbitrária
e violentamente. Assim, utilizando-me da visibilidade de antigos e recentes
acontecimentos relativos às problemáticas de segurança pública e supressão
de direitos, amplamente divulgados pelos equipamentos de mídia, bem como
de vivências pessoais no intercurso com a cidade, como elementos
disparadores à análise do modelo de segurança – que suponho seletivo –,
reuni questões que despertaram em mim o interesse pelo esquadrinhamento
de uma temática que, por ora, pode ser resumida pela tríade: atitude suspeita,
abordagem policial e direito à cidade. No que concerne à revista pessoal em
razão de uma dada atitude suspeita seguida de abordagem, o texto legal do
art. 244 do Código de Processo Penal (CPP), atesta: “A busca pessoal
independerá de mandado, no caso de prisão ou quando houver fundada
suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou
papéis que constituam corpo de delito, ou quando for determinada no curso de
busca domiciliar” (art. 244 do Código de Processo Legal - CPP, p. 39).
Conforme descrita em lei, a revista pessoal é considerada prática legítima de
coibição a crimes com o objetivo de garantir a segurança – de uma parcela –
da sociedade sob a vigilância de agentes operadores do Estado. Neste
trabalho pretendo, portanto, através de uma pesquisa-intervenção, acompanhar
os processos de agenciamentos coletivos que delineiam a emergência da
suspeição policial por uma dada atitude, ou em escala hipotética, pela
presença de um corpo que carrega em si as marcas sociais e históricas de um
longo período de escravidão, realimentadas pelo racismo institucional ainda
hoje não superado e, por conseguinte, selecionado por sua cor, gênero, idade
e classe social. Deste modo, almejo encontrar lacunas nas dinâmicas
subjetivas que permeiam a relação entre atitudes suspeitas, abordagens e/ou

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revistas pessoais engendradas por policiais militares, visando identificar e


analisar as possíveis interferências de tais agenciamentos sobre o exercício
pleno de direitos do jovem, negro, morador das zonas de exclusão, como
mecanismo de controle e extermínio, pelo empreendimento de uma atitude não
necessariamente perigosa, mas pela ameaçadora presença que vigora entre
almas negras e corpos denegridos. Amparada pelo método cartográfico
(DELEUZE e GUATTARI, 1997; ROLNIK, 2014 e PASSOS, KASTRUP E
ESCÓSSIA, 2009) de acompanhamento de percursos e implicação no
processo criativo, objetivo analisar o conceito de “atitude suspeita” sob a égide
da produção de subjetividades para, a partir de então, colocar em debate as
violações de direitos constitucionais perpetrados pela polícia durante as
práticas de abordagem e revista pessoal. Orientada pelas concepções da
Análise Institucional (LOURAU, 1993; FOUCAULT, 2009), buscarei avançar
pelo plano da análise de implicação através da negação de um intervir que se
conceba neutro e imparcial, mas que, por sua vez, reconheça sua constituição
nesse complexo conjunto de forças. Diante de um contexto em permanente
tensão, ambiciono que este trabalho possa atuar como outro elemento
importante nesse jogo, de maneira a romper com formas já cristalizadas,
abrindo passagem a novos modos de expressão. Para isso, como alternativa
de mergulho num campo que me permita não apenas adentrar por caminhos
reservados às politicas de segurança pública, em especial, no que tange a
questões condizentes à construção da fundada suspeita, mas também
compartilhar experiências que acrescentem outras demandas de atualização
da problemática em estudo, imagino percorrer caminhos que me levem ao
estreitamento de vínculos tanto com homens e mulheres em atividade
profissional, lotados em batalhões da Polícia Militar que compõem a geografia
da cidade do Rio de Janeiro, quanto com pessoas que tenham vivenciado a
experiência de suspeição e grupos de movimentos sociais dedicados ao
combate das arbitrariedades do Estado, sobretudo, engendradas por meio de
uma política criminal da pobreza, de vigilância, controle e extermínio da
população negra e economicamente vulnerável que habita o cenário carioca.
Como este estudo desdobra-se, centralmente, sobre a hipótese da seletividade
punitiva pela cor – sem desconsiderar os atravessamentos pelas demais

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questões de gênero, faixa etária e índices socioeconômicos – tentarei


estabelecer contatos de maior proximidade com aqueles dedicados a instituir
novos arranjos sociais sob perspectivas políticas de fortalecimento,
representatividade e afirmação do seu povo e de sua cultura. “É importante
ressaltar que, quando se trata de politica, trata-se igualmente da concepção de
que a política é ação e posição subjetiva em relação ao mundo, movimentos
esses indissociáveis” (CASTRO; BICALHO, 2013, p.113). Desta forma, almejo
pensar e tecer esta pesquisa transversalizando perspectivas teóricas e
experiências de troca no diálogo com os referidos atores sociais. Encaminhar-
se por uma pesquisa a partir das concepções da Análise Institucional e que se
pretende cartográfica, para além da fria análise do objeto de estudo através do
contato com documentos oficiais e regimentos institucionais internos, fontes
importantes que certamente serão consideradas neste trabalho, significa
investir, ainda, nas relações sociais que se engendram, em um percurso que se
movimenta no devir e nas novas criações processuais que somente serão
possíveis se concebidas no entre. Portanto, entendo que as pistas
referenciadas durante a experimentação do percurso devam ser seguidas, de
modo a facilitar a emergência de uma postura aberta ao encontro com o novo,
que afeta e deixa-se afetar pelas transformações do campo, desobedecendo a
regras e valores previamente estabelecidos por um fazer cunhado em linhas
duras e inflexíveis. Acredito na relevância desse projeto, uma vez que suponho
que ele possa constituir-se como um importante dispositivo de reflexão e
desestabilização de práticas enrijecidas, na medida em que, contrariando as
determinações de um fazer que se pretende positivista, aposta na habitação de
territórios e identificação de processos produtores de subjetividades, colocando
em análise o que tem sido tomado como natural na sociedade mais ampla e,
especialmente, nas atividades policiais financiadas pelo Estado. Acredito,
ainda, na potência desta pesquisa como uma proposição outra de um fazer em
Psicologia, que não se dispõe à “psicologização” de sujeitos pela apropriação
do lugar de especialista, mas que sugere uma prática micropolítica, interessada
nas desestabilizações do que se tem territorializado em termos de política de
segurança pública, bem como garantias de direitos e condições desiguais entre
os moradores da cidade do Rio de Janeiro.

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Palavras-chave: Segurança Pública; Produção de Subjetividades; Processos


de Criminalização.

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Privilégios, vantagens e direitos: analisando a branquitude dos


movimentos feministas
Aluna: Georgia Grube Marcinik
Orientadora: Amana Rocha Mattos
Muito se vem discutindo acerca das diversas formas de ativismo nos
movimentos feministas e sobre como as infinitas possibilidades de subjetivação
de mulheres geram tensionamentos de pautas e agendas nesta prática e
organização política. Dentro das principais inquietações dos ativismos há a
enunciação e denúncia das produções e saberes feministas hegemônicos
existentes a partir do momento que enxergamos as mulheres não só por
questões de gênero, mas interseccionando com outros marcadores sociais da
diferença como raça, sexualidade, classe, entre outros, e sua relação direta
com a manutenção de privilégios, vantagens e direitos tanto nos contextos
feministas, como em um contexto social como um todo. Através da temática da
branquitude nos movimentos feministas, esta pesquisa problematiza os
feminismos majoritariamente brancos a partir das intersecções de raça e
gênero, principalmente. Branquitude, aqui, é entendida como algo que produz e
potencializa a (re)produção do racismo, onde a pessoa branca é pertencente a
um lugar simbólico – concretizado materialmente de diversas maneiras – que
não é estabelecido por questões genéticas, mas por posições e lugares sociais
que são construídos para que determinadas pessoas ocupem e mantenham
lógicas de privilégios, vantagens e direitos, em função de seus fenótipos
raciais. Assim, podemos afirmar que a branquidade é um sistema de poder que
está intrinsecamente articulado com os processos de racialização e
constituição subjetiva das pessoas brancas e seus desdobramentos quanto
grupo hegemônico de dominação. Neste sentido, assume-se a necessidade de
pensar a branquitude constitutiva nas discussões dominantes das produções e
práticas feministas, presente nas construções sobre o ser mulher – visto que tal
condição produz efeitos e divergências dentro de uma estrutura racializada do
gênero nos movimentos feministas e suas ramificações – sendo imprescindível
uma reflexão sobre os trânsitos raciais que se fazem presentes nesse campo
de debates. Afinal o que o termo feminismo, pensado como conceito, prática ou
teoria legitima, (des)(cons)trói? Convido a tod_s a razoarmos sobre a

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importância de discutirmos a branquitude presente nos feminismos, que acaba


por reproduzir e reforçar hegemonias e relações de saber-poder intragênero.
Para tanto, proponho que façamos este questionamento a partir de uma
descolonização do saber e do ser – questão imprescindível para entendermos
os processos de subjetivação e racialização da pessoa branca no c ontexto
brasileiro – dialogando com literaturas periféricas, não evidenciadas, mas que
através de suas epistemologias e produções fazem fraturas em uma situação
dominante de produção científica (seja ela feminista ou não) e que
potencializam práticas de (des)construção de pensamentos arraigadas em
nossas subjetivações como um todo. As propostas dos feminismos periféricos
se localizam como oposição ao feminismo hegemônico, que se coloca como
único e normativo – tanto historicamente, como academicamente –, e que é
branco, cisgênero, heterossexual, institucional e estatal. Tais propostas
acreditam na necessidade de construir uma prática política que considere as
articulações dos sistemas de dominação. Feminismos, como o feminismo
negro, o interseccional, o terceiro-mundista e o descolonial, por exemplo, têm
sido uma das propostas mais completas dentro desse diverso movimento. A
perspectiva antirracista no feminismo, e a luta contra o sexismo e
patriarcalismo do movimento pelos direitos civis, tem contribuído para
integralizar pautas das agendas feministas, explicando como o racismo, junto
com o sexismo e o classicismo afetam as mulheres. A partir da crítica dessas
mulheres manifesta-se a urgência de discutir uma pauta recorrente dentro dos
movimentos feministas marginalizados: o debate sobre privilégios, vantagens e
direitos nas relações intragênero, e consequentemente, o debate sobre
branquidade nos feminismos. Podemos afirmar que muito raramente as
feministas brancas interseccionam analiticamente raça, sexo/gênero e classe
em suas teorias e práticas. Frequentemente há o reconhecimento dessas
especificidades por parte das mesmas, mas não há um espaço horizontal para
tal diálogo dentro de suas produções e agendas, e o movimento crítico ocorre
de forma diferente quando entram em pauta as questões raciais. Partindo da
inquietação de como a branquitude se apresenta nos ativismos feministas a
partir dos processos de subjetivação e de racialização da mulher branca e
como o conceito de branquitude ajuda a pensar as lógicas hegemônicas neste

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contexto, esta pesquisa tem como propósito entender quais são os


(des)dobramentos e (des)encadeamentos que ocorrem a partir do
reconhecimento da condição racial das mulheres brancas nas diversas formas
de ativismo(s) feminista(s), analisando qual o impacto desta condição e
consciência social em uma ideia de aliança e luta pela desconstrução do
racismo, ao mesmo tempo que tem-se o interesse em explorar a racialização
dos feminismos a partir de uma discussão sobre branquitude, descolonialidade
e interseccionalidade. Neste sentido, meu campo de pesquisa se consolidou de
duas formas. Primeiramente, houve a construção processual do meu campo de
pesquisa através da observação participativa nos diferentes espaços dos
movimentos feministas na cidade do Rio de Janeiro, majoritariamente: eventos
acadêmicos, congressos, reuniões de coletivos, espaços de formação política,
disciplinas que abordaram a teoria feminista, manifestações, situações
cotidianas, dispositivos midiáticos, etc. Os registros das observações foram
feitos através de diário de campo. A partir desta vivência, convidei 5 mulheres
que se reconhecem como feministas e pessoas brancas, dispostas a dialogar
sobre sua condição racial tanto nos movimentos feministas tanto como agentes
sociais. Através de entrevistas com um roteiro semiestruturado, fiz um encontro
presencial com duração média de uma hora e meia, apenas com a
pesquisadora e a entrevista presentes. Foram convidadas mulheres de
diferentes contextos, para que possamos perceber o quão diversas são as
mulheres que se entendem como feministas, interseccionando os marcadores
sociais da diferenças de várias formas, considerando sua geração,
regionalidade, sua sexualidade, classe, formação, religião, posicionamento
político, entre outras. Ao mesmo tempo, tem-se a proposta de que a
pesquisadora seja a sexta mulher feminista branca a ser entrevistada, como
forma de desconstruir a ideia normativa de metodologia e também para
possibilitar a horizontalidade no que se refere à relação entre pesquisadora e
objeto de pesquisa. O tema que me debruço em entender e estudar me
atravessa de diversas formas, tanto academicamente como pessoalmente e
profissionalmente e é por esta questão que acho importante me colocar como
entrevistada em minha pesquisa. Ter me aproximado de diversos espaços
feministas, fazer uma construção processual do campo, conhecer mulheres

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feministas brancas (e principalmente mulheres racializadas fenotipicamente),


entrevistá-las e posteriormente articular toda essa riqueza de dados junto com
as epistemologias feministas e os estudos críticos da branquitude teve um
papel importante para entender que meus interesses transcendem o âmbito
acadêmico, e nutrem um compromisso com a Psicologia Social, através de
suas práticas, formação e entendendo-a principalmente como um
posicionamento político. Além disso, é preciso avançar na discussão sobre o
que significa produzir saberes antirracistas no feminismo a partir do lugar de
feministas brancas. Isso significa que um certo debate centrado na disputa
sobre “quem pode falar sobre racismo?”, deva ser deslocado para “de que
lugar eu falo sobre racismo?”. Para isso, essa reflexão precisa ser dialógica e
permanente, especialmente quando realizada por pessoas brancas. Não
podemos supor que basta nos localizar enquanto “brancas” para que o
problema da branquitude esteja resolvido, pois isso é apenas o primeiro passo.
Para não recairmos na essencialização de categorias raciais, é preciso
estarmos em permanente desconstrução de preconceitos arraigados, de
concepções de merecimento baseadas em características raciais
extremamente naturalizadas, e atentas às críticas de mulheres racializadas
fenotipicamente a possíveis reincidências em lógicas racistas e
desumanizantes, das quais pessoas brancas – inclusive mulheres – se
beneficiam cotidianamente. Legitimar e reivindicar a desconstrução de papéis
femininos universalizados e estereotipados para que se possa ocupar outros
lugares transgressores que buscam a ascensão social/política/econômica
presente nos discursos dos feminismos brancos exige reconhecer que,
considerando as estruturas de sexismo, racismo e capitalismo presentes em
nossa sociedade, está presente nas feministas brancas sempre o risco de
continuidade da (re)produção de formas de opressão. Assim, discutir raça e
racismo dentro dos movimentos feministas nos possibilita pensar sobre como
as práticas de agentes são (re)produzidas e como a não racialização do “ser
mulher (branca)” – ou na verdade não se assumir racializada – acaba por
legitimar concepções racistas de gênero. Falar e problematizar o racismo exige
reflexão e entendimento sobre os lugares que ocupamos e sobre nossas
práticas, visto que o não reconhecimento do lugar de privilégio racial desfrutado

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por mulheres brancas já se torna uma forma de racismo, por não permitir o
tensionamento de hierarquias raciais intragênero. Relatar como o silenciamento
de questões raciais, que não explicitam a branquidade nos saberes e práticas
dos feminismos (brancos), contribui para a não marginalização e
horizontalização de experiências de mulheres racializadas em diferentes
âmbitos e consideram reflexões sobre hierarquias raciais presentes no
movimento. Por fim, entender e analisar possibilidades de racializar os
feminismos a partir de uma discussão sobre branquidade, nos faz perceber o
quão não se tem uma noção de que há um apagamento dessa categoria racial
branca nos movimentos feministas. Refletir sobre esse desconforto coloca-se
como um grande desafio para feministas brancas, pois ele explicita as
dificuldades (ou mesmo impossibilidades) de aproximações de pautas entre
feministas brancas e feministas racializadas.

Palavras-chave: Branquitude; feminismos; interseccionalidade;


descolonialidade.

Financiamento: bolsa CAPES e bolsa FAPERJ TEC 10.

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FRONTEIRAS: Mulheres Negras Refugiadas e Migrantes. Os desafios de


uma história única
Aluna: Lumena Aleluia
Orientadora: Amana Rocha Mattos
Fronteira é um conceito utilizado comumente para demarcar limites geográficos
que representam as margens possíveis de se estar ou de ultrapassar. Todavia
uma percepção mais apurada dos processos históricos que circundam o
debate acerca de fluxos migratórios fará perceber que o status que lhe é
atribuído está majoritariamente vinculado às noções de cunho político, baseado
na produção de sentidos que classificam lugares hierárquicos frente aos
históricos jogos sociais de poder – o que pode ser evidenciado pelas palavras
de Maria Helena Martins (2002), ao analisar as relações históricas e
geopolíticas entre as fronteiras de três nações:
“Há sem dúvida, uma tendência para pensar as fronteiras a partir de uma
concepção que se ancora na territorialidade e se desdobra no político. Nesse
sentindo, a fronteira é sobretudo, encerramento de um espaço, delimitação de
um território. A fronteira é um marco que limita e separa e que aponta sentidos
de socializados, de reconhecimento. Com isso podemos ver que mesmo nesta
dimensão de abordagem fixada pela territorialidade e pela geopolítica, o
conceito de fronteira já avança para os domínios da construção simbólica de
pertencimento a que chamamos identidade e que corresponde a um marco de
referência imaginaria que se define pela diferença.”
Na história de constituição do Brasil, os fluxos migratórios podem ser
considerados um dos principais mecanismos de formação sociocultural do país.
Nesse transcurso, temos visto um notável crescimento no número de
solicitações de refugiados em território brasileiro. Frente a este histórico no que
tange aos fluxos migratórios, se faz necessario evidenciar os efeitos
socioeconômicos e políticos intimamente associados ao Sexismo e ao
Racismo, que produziram diferentes recortes e padrões de funcionamento,
demarcando significativamente os lugares históricos de determinados sujeitos.
Estas formas de organização da vida social acabam por produzir a ocupação
marginalizada das narrativas de mulheres negras no tema das migrações.
Nesse sentindo, falar da experiência de mulheres negras migrantes é

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reivindicar narrativas silenciadas. É reivindicar as narrativas que complexificam


a suas existências, que as retiram de um lugar comum de história única, de
uma produção estigmatizante construídas ao longo da história colonizada que
resultaram em efeitos insistentes que acarretam em mortes simbólicas, efeitos
os quais produzem adoecimento, efeitos os quais violetam, marginalizam
socialmente, efeitos os quais produzem genocídios. Sobre essas inquietações
acerca das constantes produções de silenciamento da vida de mulheres negras
bell hooks argumenta:
“Nós, mulheres negras sem qualquer “outro” institucionalizado que possamos
discriminar, explorar ou oprimir, muitas vezes temos uma experiência de vida
que desafia diretamente a estrutura social sexista, classista e racista vigente, e
a ideologia concomitante a ela. Essa experiência pode moldar nossa
consciência de tal maneira que nossa visão de mundo seja diferente da de
quem tem um grau de privilégio (mesmo que relativo, dentro do sistema
existente).”
Nesse sentido, intento ao longo deste projeto destacar que a experiência da
migração é também uma variável a ser considerada dentro dos projetos
analíticos que se propõem ao debate dos processos de subjetivação, e nesse
tocante também evidenciar que a experiência de migrar enquanto mulher
negra traz em si uma serie de especificidades por conta das relações de
gênero, raça e território. Falas como “Você pode substituir Mulheres Negras
como objetos de estudo por Mulheres Negras contando suas próprias histórias”
Giovana Xavier. “Mulher negra precisa dizer nome e
sobrenome, senão o racismo coloca o nome que quiser” Lélia Gonzalez, me
convocam a indagar neste projeto: quais são as repercussões nas histórias de
vidas de mulheres negras que decidiram transcender as fronteiras nacionais?
Ao migrar de território, seus corpos migraram de lugares e quais outros lugares
se fez necessário produzir?
São três anos de experiência de moradia na cidade do RJ. Durante esse
período, os dois primeiros anos foram trabalhando como Psicóloga do
Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Mulher no Instituto de
Atenção à Saúde São Francisco de Assis, da Universidade Federal do Rio de
janeiro (UFRJ), cujo ingresso se deu em março de 2014, no último ano da

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residência atendendo mulheres refugiadas pude me deparar com os entraves


associados a experiência de tais mulheres que têm chegado no Brasil,
advindas do Congo, Gâmbia, Costa do Marfim, Angola entre outros países do
Continente Africano em busca de novos projetos de vida. Muitas delas porta
vozes de uma série de histórias desafiadoras e de uma complexidade na qual o
limite de páginas do pré-projeto não me permite aprofundar. Algumas histórias
relacionadas aos conflitos políticos dos seus países, outras relacionados a
estruturas de violências domésticas, perseguições baseadas nas violências de
gênero perpetradas em seus contextos territoriais ou até mesmo escolhas
pessoais e credibilidade em novos projetos de autonomia aqui no Brasil.
Narrativas silenciadas. Muitas dessas mulheres têm suas próprias narrativas
históricas, conteúdos que em nada dialogam com o apelo midiático que muitas
vezes são disseminados pelos agentes do universo do refúgio, ou pela grande
mídia. Histórias que tem simplicidade, histórias que tem complexidade mas que
não dão audiência. O que por muitas vezes abre brecha para uma serie de
episódios de agenciamentos e manejos políticos de modo a vender uma
verdade sobre a realidade dos refugiados. Uma história que intenta explicar e
dramatizar suas vidas de modo a justificar o atual cenário que envolve o tema
dos refugiados no Brasil. Nesse sentindo é que gostaria de me debruçar sobre:
quais outros indicadores compõe a experiência dessas mulheres que
transcende o lugar de vítimas da guerra? Quais outros repertórios elas tem a
nos dizer?
Para tal, ao longo deste projeto intento refletir acerca das interseccções das
categorias gênero, raça e migração frente á experiencia de mulheres negras
que migraram de modo a habitar outros territórios geográficos e nesse sentindo
evidenciar que o debate sobre migrações territoriais também é um debate
sobre migrações simbólicas, de modo a correlacionar que a experiência de
migração convoca a uma reflexão mais cuidadosa acerca das intersecções
entre as categorias gênero e raça quando são mulheres negras rompendo
fronteiras territoriais, visto que migrar territorialmente é migrar internamente.
Mudanças territoriais produzem novos encontros culturais, simbólicos e
políticos. A migração contemporanêa de corpos negros se relaciona
diretamente com a produção de novos lugares de reflexão, nesse sentindo é

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que se faz necessário ouvir tais perspectivas na produção desses novos


lugares, pois os lugares os quais nos foram colocadas não queremos mais. No
nível de América latina, o Brasil tem sido um dos principais territórios a receber
solicitações de refúgio. Em relação às mulheres refugiadas congolesas alguns
dos aspectos que chamam atenção em relação ao universo institucional do
refúgio (FACUNDO, 2014) deste segmento específico são as constantes
narrativas correlacionadas ao tema da violência sexual, bem como a ênfase na
reprodução massiva sobre a violência sexual enquanto um ato
institucionalizado no país (RDC) e a permanente produção de referencias
acerca de como esta – a violência sexual contra mulheres congolesas –,
passou a ser vista como uma arma de guerra durante os conflitos armados que
ocorrem no país. Estes aspectos têm atravessado um número significativo de
produções e discursos intelectuais acerca da experiência de refúgio das
mulheres congolesas por exemplo.
A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie em uma apresentação no
programa de auditório TED, nos presenteia com importantes reflexões em seu
texto, que traduzido para o português significa “O perigo de uma única história. A
autora tece uma série de problematizações que nos leva a compreender os
poderosos agenciamentos acerca das relações raciais no campo das
subjetividades em meio às dinâmicas das representações estereotipadas
acerca de determinados grupos sociais, mecanismos os quais engendram
controle e manutenção de discursos poderosos sobre o que é ser, nesse caso
sobre o que é ser africano. Nesse sentindo faz-se necessário garantir um olhar
criterioso acerca das categorias que emergem perante os status que são
acrescidos ao fenômeno das migrações, visto que nessa dinâmica encontram-
se presentes diversos atravessamentos e interesses ideológicos, a exemplo
dos mecanismos agenciados pela construção da identidade nacional. Nesta
direção, Hall (2014) nos ajuda a compreender que a formação de uma cultura
nacional está diretamente associada ao ideal de padronização do
funcionamento social dos sujeitos, passando pela unificação de signos,
chegando à homogeneização da cultura através dos processos educativos,
bem como via meios de comunicação. Portanto, a construção de uma
identidade nacional perpassa por uma série de mediações que permitem a

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invenção do que é comumente disseminado de "alma nacional", ou seja,


recursos simbólicos que funcionam como "provas" da existência dessa
identidade unificada. Chimamanda Ngozi Adichie discorre: “Poder é a
habilidade de não só contar a história de uma outra pessoa, mas de fazê-la a
história definitiva daquela pessoa. Comece uma história com as flechas dos
nativos americanos, e não com a chegada dos britânicos, e você tem uma
história totalmente diferente. Comece a história com o fracasso do estado
africano e não com a criação colonial do estado africano e você tem uma
história totalmente diferente (ADICHIE, 2009).”
O Brasil constantemente é mencionado nos discursos dos agentes do universo
institucional do refúgio – termo cunhado pela antropóloga Ângela Fcaundo –
como um país com uma positiva capacidade de acolhida. Avaliação demarcada
sobretudo pelo caráter “acolhedor” das pessoas e das comunidades: “O Brasil
é um país que, ao contrário do Equador, tem muita população preta e, além
disso, um histórico de migração que conformou o Brasil [...] alemães,
poloneses, italianos, japoneses, portugueses” (Angela Facundo. 2015)
Reconhecidamente o Brasil é um país composto por um processo de fortes
migrações, relações históricas, relações complexas baseadas por vezes em
violências contra mulheres e que constituem o cenário dito “miscigenado do
Brasil” produziram uma composição de distintos fenótipos. Processo por vezes
romantizado, a exemplo dos ideias de miscigenação propagados por Gilberto
Freyre deram um caráter dito científico ao ideal de “democracia racial”, lógica
que, ainda hoje, por alguns é compreendida como máxima definidora da
sociedade brasileira enquanto um paraíso racial (GUIMARÃES, 2012). Chama
atenção a contradição aguda frente aos posicionamentos por parte dos porta
vozes de temas relacionados aos refugiados sobre os contextos violentos e
arbitrários que estas mulheres estão fugindo, onde o Brasil é evidenciado como
um país do paraíso racial e com um caráter de acolhimento e proteção para
tais vítimas da violência sexual. Segundo os dados apresentados do Mapa da
Violência em 2015, onde o Brasil está entre os países com maior índice de
homicídios femininos: ocupa a quinta posição em um ranking de 83
nações. O Mapa da Violência 2015 é uma referência sobre o tema e revelou
que, entre 1980 e 2013, 106.093 brasileiras foram vítimas de assassinato.

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Somente em 2013, foram 4.762 assassinatos de mulheres registrados no Brasil


– ou seja, aproximadamente 13 homicídios femininos diários. Além de grave,
esse número vem aumentando – de 2003 a 2013, o número de vítimas do sexo
feminino cresceu de 3.937 para 4.762, ou seja, mais de 21% na década (Mapa
da Violência, 2015). Diante dos dados apresentados pelo Mapa da Violência
em 2015, como é possível considerar o Brasil como um país que oferece
proteção ás mulheres? O Brasil está longe de ser um país acolhedor para
Mulheres, assim como está longe de ser um paraíso racial, em verdade, somos
um país socialmente marcado por conflitos e desigualdades de gênero e raciais
escancaradas, diferenças que são históricas e atuais, entretanto,
constantemente veladas por uma série de mecanismos de controle, justificados
principalmente pelas lógicas de meritocracias que estruturam o sistema
capitalista, mas a ideia de democracia racial persiste e constantemente é
propagada.
Portanto este projeto intenta romper com os silêncios produzidos acerca da
experiência de mulheres negras que transcenderam fronteiras nacionais e
simbolicas em busca de novos lugares. Sobre isto Audre Lorde grita “quando
falamos nós temos medo nossas palavras não serão ouvidas nem bem-vindas
mas quando estamos em silêncio nós ainda temos medo. Então é melhor falar
tendo em mente que não esperavam que sobrevivêssemos”.

Palavras chaves: Mulher Negra, Migração, Refugiadas.

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Trajetos da violência, corpos de resistência e teias de afetos: Migrações


forçadas, pedidos de asilo e reassentamentos de LGBTT
Aluna: Vanessa Marinho Pereira
Orientadora: Anna Paula Uziel
No último ano vemos, nos meios midiáticos e organizações internacionais,
proliferarem manchetes de “crise dos refugiados na Europa” com os mais
diversos argumentos, opiniões e imagens impactantes. Assim, linhas e
fronteiras se enrijecem e se fecham. Tais demarcações sofrem deslocamentos
ao longo da história, porém buscam, virtualmente, fixar-se em cada momento
histórico evitando que corpos colonizados e sub-humanos adentrem seus
territórios sem permissão. Entre discursos que objetivam criar pânico social ou
políticas paternalistas de tutela estatal, as pessoas que cruzam as fronteiras
são vistas como massas e cargas, com as quais os Estados tem que lidar.
Garcia(2014) e Reis(2004), falam de medidas emergenciais de detenção e
confinamento de refugiados, ou “imigrantes ilegais”, como veiculado
midiaticamente, que se tornaram normas regulares em vários países que se
caracterizam como rotas de refúgio ou pontos de chegada de migrantes e
como o discurso da imprensa se alinha ao estatal. Se historicamente os
deslocamentos populacionais tinham a marca da ilegalidade na figura do
“imigrante-mexicano-ilegal” que rompia as fronteiras rumo aos Estados Unidos
da América, em 2016, eles assumem, também, a marca de grupos vulneráveis
vitimizados por governos anti-democráticos e/ou religiões não-cristãs, na figura
de mulheres e crianças e, de homens mulçumanos vitimas e algozes de
guerras civis, todos generalizados pela chamada “crise dos refugiados sírios”.
Do mexicano ilegal, do colombiano traficante, da criança síria afogada, da
mulher-mãe-doméstica iraniana e do mulçumano refugiado estuprador, só
temos manchetes e estórias faladas e escritas pelo homem-cis-branco-
colonizador. Essas identidades-matéria não possuem rostos, vozes, histórias
de vida ou subjetividades singulares. O menino morto é uma imagem sem
rosto, o mexicano ilegal é um problema de Green Card, o colombiano traficante
é o Outro do narcotráfico, a mulher-mãe-doméstica é a oprimida pelo véu, o
mulçumano é o diabo cristão materializado; todas as figuras mitológicas se
tornam um problema e geram uma crise por baterem a porta do “velho mundo

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civilizado”. A fronteira que preocupa não é mais apenas o Meridiano de


Greenwich e seu ocidente/oriente, o Trópico de Câncer delimita que há um
norte-colonizador e um sul-colonizado e sua porosidade ameaça hierarquias
historicamente construídas. A produção de sub-humanidades de que fala
Santos(2010) se aproxima do conceito de abjeto de Butler(2000;2002; 2010),
um conceito que articula existência ontológica e materialização dos corpos
através de uma dobra performativa. Sendo a afirmação “há corpos abjetos” o
processo de atribuir existência ontológica a uma série de corpos e vivências
que foram excluídos sistemática e propositalmente das zonas ontológicas do
sujeito (BUTLER, 2002). Esses seres abjetos habitariam zonas sombrias,
inóspitas e inacessíveis da vida social, possuindo corpos ininteligíveis e,
portanto, não importantes, que circunscrevem o perímetro onde os corpos
adquirem materialidade e formam sujeitos com vidas que são consideradas
vivas. Assim, para Butler(2009), a precariedad seria uma condição existencial
compartilhada por todos os corpos, e a precaridad, um dispositivo sócio-político
que objetifica o aniquilamento de certos corpos e populações. A apreensão da
precariedad da vida pode levar a lógicas de proteção, como forma de
manutenção das vidas dignas de serem choradas, ou podem levar à
potencialização da violência, para a destruição das vidas que não são dignas
de luto.O fato de que toda vida é precária, necessitando de condições para que
se possa viver, institui que a capacidade de ser chorada é a condição de
surgimento e manutenção da vida, pois ser digna de ser chorada é um
pressuposto de todas as vidas que importam. Nesse sentido, ao pensarmos no
status de refugiados, migrantes e assentados, falamos de sujeitos que tiver am
sua cidadania negada em seus locais de origem e deslocando-se
geograficamente, mantém esse não-lugar social. Reis(2004, p.150) assinala
que “a autonomia do Estado no campo das migrações é uma das principais
características do direito internacional tradicional. Dentro desse paradigma, o
indivíduo é um não-sujeito, isto é, não existe’, caracterizando-se como um
corpo abjeto. E, no escopo dos pedidos de asilo, refúgio e reassentamentos as
questões de gêneros e sexualidades não normativas não são pautadas e, por
muitos, consideradas inexistentes ou secundárias. As migrações forçadas de
pessoas LGBTT por motivo de perseguição em decorrência de sua orientação

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sexual e/ou identidade de gênero e esses trajetos de violências e negação de


direitos a que estão submetidos são extremamente invisibilizadas até pelos
grupos que buscam garantir direitos para pessoas em situação de refúgio. Se
pessoas cis-heterossexuais em situação de refúgio já são vulnerabilizadas e
tem sua humanidade negada, LGBTTs são totalmente abjetos nos
deslocamentos e locais institucionalizados de apoio e refúgio. Fassin(2012) nos
fala das políticas sexuais relacionadas aos novos nacionalismos sexuais, que
apesar de pautarem questões de gêneros e sexualidades, não se baseiam
efetivamente em uma democracia sexual, e sim, na intensificação de
dicotomias a partir uma perspectiva colonial, em que a Europa e Estados
Unidos se caracterizariam como locais de liberdade e desenvolvimento na
igualdade de gênero e nos direitos sexuais, enquanto “os outros” seriam
territórios atrasados e de opressão. A criação dos nacionalismos sexuais busca
retirar da pauta a xenofobia e racismo das políticas anti-imigração e anti-islã,
afirmando que os Estados europeus e norte-americano buscam “preservar a
democracia em batalhas contra o véu islâmico, a poligamia, o casamento
forçado, a violência sexual e a mutilação genital. O nacionalismo sexual não se
coloca em oposição à democracia – pelo contrário” (FASSIN, 2012:39). De
acordo com Lafuente(2014) apesar de não haver informes oficiais acerca das
solicitações de asilo por pessoas LGBTT, existem muitos pedidos de asilo
anualmente na Europa devido a perseguições e violências decorrentes de
LGBTTfobia. Assinala, ainda, que o fato de atualmente a legislação penal de 76
(setenta e seis) países criminalizarem as relações homoafetivas e, práticas
sexuais realizadas por pessoas do mesmo sexo, com penas que
compreeendem desde multas, prisão até a pena de morte, dificulta a
identificação das causas de pedido de refúgio. A Organization for Refuge,
Asylum & Migration(ORAM) em relatório publicado no ano de 2012, afirma que
as pessoas LGBTT que solicitam asilo ou estão em situação de refúgio estão
entre as mais vulneráveis do mundo. Além da perseguição em seus países de
origem, enfrentam maior exclusão, discriminação e violência nos países de
trânsito ou asilo em relação aos refugiados e migrantes cisgênero e
heterossexuais. Caracterizando um panorama de intensa marginalização
quando pautamos os direitos de LGBTT em situação de refúgio, pedidos de

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asilo e reassentamentos. Acredito ser crucial pautar e visibilizar as migrações


forçadas de pessoas LGBTT por motivo de perseguição em decorrência de sua
orientação sexual e/ou identidade de gênero e esses trajetos de violências e
negação de direitos a que estão submetidos. Os Princípios de Yogyakarta
(2007), referentes a aplicação da legislação internacional de Direitos Humanos
em relação à orientação sexual e à identidade de gênero, organizados pela
Comissão Internacional de Juristas e o Serviço Internacional de Direitos
Humanos; o manual Nascidos Livres e Iguais: Orientação sexual e identidade
de gênero nas normas internacionais de Direitos Humanos, publicado pela
ONU (Organização das Nações Unidas) em 2012 e; a Declaração Internacional
dos Direitos de Gênero (DIDG) de 1993,problematizam as violações
decorrentes do não respeito às sexualidades não heteronormativas e às
identidades de gênero não cissexistas e salientam a necessidade e importância
de se garantir os direitos sociais e civis da população LGBTT a nível global.
Apesar desses tratados internacionais salientarem o papel das nações na
criação de medidas legislativas e condições para que tais direitos se efetivem,
não há articulação com questões relativas a pedidos de asilo ou refúgio, e nem
se aponta a necessidade de discussões acerca desses traçados, mantendo na
invisibilidades as pessoas LGBTT que são obrigadas a se deslocarem e cruzar
fronteiras. As pesquisas e estudos voltados para essas pessoas ainda são
incipientes no campo do Direito, da Psicologia e das Ciências Sociais. Acredito
que a ausência de interesse por esse tema pode ser positivo e tomado como
analisador, além de possibilitar o aparecimento de novos conhecimentos,
construídos por/com essas pessoas, a partir de uma perspectiva de pluralidade
dos saberes.

Palavras-chave: Migração; Identidade; Gênero; LGBTT

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Representações sociais de pais sobre amamentação


Aluna: Aline da Silva Gonçalves
Orientadora: Denize Cristina de Oliveira
Introdução: O aleitamento materno é um tema de extrema importância, porque
envolve a sobrevivência do recém-nato e favorece o desenvolvimento saudável
do ser humano. Pesquisas têm comprovado os múltiplos benefícios da prática
do aleitamento materno, principalmente para o binômio mãe-bebê. A
amamentação é um fenômeno que acompanha a vida do homem, com
características biológicas e sociais, no entanto historicamente foi associada à
mulher. O papel do homem-pai nesse processo foi pouco estudado. A pesquisa
sobre as representações sociais de pais sobre amamentação visa contribuir
para a reflexão de como o senso comum, no caso o pai do bebê, se apropria
dos conhecimentos da ciência para entender a amamentação e modelar suas
práticas. A hipótese teórica é que as representações sociais do pai sobre
amamentação podem interferir no processo da amamentação e,
consequentemente, nas práticas dos profissionais de saúde, que visam à
inserção do pai no processo da amamentação. Objetivo: analisar as
representações sociais de homens-pais sobre a amamentação, bem como
suas práticas na promoção da amamentação. Os objetivos específicos são:
identificar os conteúdos e a organização interna das representações sociais
sobre a amamentação; descrever as práticas do pai na promoção da
amamentação; identificar o interesse do pai em relação à amamentação;
avaliar a prevalência de fatores sociodemográficos associados ao interesse do
pai em participar da amamentação. Método: estudo exploratório-descritivo,
desenvolvido a partir da abordagem qualitativa, fundamentado na teoria das
representações e nas abordagens complementares, estrutura e processual.
Grupo estudado: 103 pais acompanhantes de mães que estavam em consulta
pré-natal, no projeto Cegonha Carioca, no exame da ultrassonografia, no
alojamento conjunto de um hospital maternidade público, localizado na cidade
do Rio de Janeiro. Os critérios de inclusão são: homens maiores de 18 anos,
pais biológicos do bebê, casais acompanhados pelo serviço do pré-natal ou
com parto assistido no hospital maternidade escolhido para o estudo, em
exercício da prática de amamentação no período pós-parto. Os critérios de

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exclusão são: parto de feto morto; pai do bebê impossibilitado de fornecer as


informações; pai adotivo; mães que apresentam problemas de saúde que
contra-indiquem a amamentação ou não estejam em prática da amamentação
no período pós-parto. A amostra de 103 pais foi dividida em dois grupos: a)
Grupo 1: setor de pré-natal, foram 52 (50,48%) sujeitos; b) Grupo 2: setor de
pós-natal, foram 51 (49,51%) sujeitos. A coleta de dados foi realizada por meio
dos seguintes instrumentos: questionário de caracterização dos sujeitos
(N=103); evocação livre (f=100), com o termo indutor “amamentação”;
entrevista semi-estruturada (f=20). As respostas dos participantes obtidas
através das entrevistas foram registradas por meio de gravador de áudio e
transcritas pela pesquisadora. A média da duração das entrevistas foi entre
11mim a 1hora. Foram realizadas entre o período de março e abril de 2017.
Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre
Esclarecido. Análise dos dados: O questionário de caracterização dos sujeitos
foram analisados com estatística descritiva, organizando-os em tabelas com
frequências absolutas e relativas com o auxílio do software iOS. As evocações
livres: a análise da estrutura da representação social foi utilizado os dados
coletados através da técnica de evocação livre. Estes serão processados pelo
Software EVOC que combina os critérios de análise de frequência da evocação
de cada palavra, com o critério da ordem de evocação, expressos por média
simples e ponderada dos dados coletados. A partir da combinação destes dois
critérios será feita a análise prototípica da estrutura da representação, sob a
forma de um quadro de quatro casas. Esta análise permite a identificação dos
elementos do núcleo central, sistema periférico e a zona de contraste. Os
dados da entrevista estão sendo analisados manualmente a partir da técnica
de análise de conteúdo do tipo temática/categorial de Bardin, segundo a
proposta de sistematização por Oliveira (2008). Resultados: caracterização dos
participantes: 100% são do sexo masculino, nacionalidade brasileira e
moradores do Estado do Rio de Janeiro; 93,20% possuem a idade entre 18 e
39 anos; nível de escolaridade: ensino médio incompleto ou completo,
representado por 61,16%; e com menor expressividade o ensino superior
incompleto ou completo, com 11,65 %; estado conjugal e marital: a maioria é
casado, vive com a companheira ou em união estável, com 86,40%; possuem

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companheira fixa, mas não vive com a mesma, com 11,65%; solteiros, não
possuem namorada ou companheira fixa, com 1,94%. Pode ser observado na
amostra, englobando os participantes presentes nos serviços pré-natal e pós-
natal, grande parte 50,48% possui a faixa de renda pessoal mensal aproximada
entre 1.001,00 - 2.000,00 reais. Em relação às pessoas com as quais residem,
98,05% vivem com a família; sobre a quantidade de pessoas com quem
compartilham a renda, a maioria 85,43% entre 1-4 pessoas. Sobre a questão
do pai ser primíparo informaram: sim = 53,39% e não = 46,60%. Em relação ao
número de filhos, a maior parte 53,39%, não possui filhos anteriores. Sobre a
prática de amamentação, 50,48% estavam amamentando. Com relação à
oferta do copinho ao bebê, 17,47% foi ofertado; 18,44% não foi ofertado e
13,59% não souberam responder. Discussões: Os resultados são preliminares
e apontam para uma contradição observada entre os pais de valorizar a
amamentação como necessária ao bebê, mas não se incluirem na mesma, e
também não vislumbrar formas de operar essa inclusão. Mesmo de forma
subliminar, os discursos mostram a permanência da noção de que esse é um
campo exclusivo de responsabilidade da mulher. Observa-se que o pai ocupa
um lugar de retradutor das crenças familiares, populares e de profissionais de
saúde sobre amamentação, revelando possuir informações desencontradas,
ora interferindo de forma negativa, ora positiva. O estudo da representação
social do pai sobre amamentação poderá permitir, não somente aos
pesquisadores, mas também a sociedade, entender qual é o espaço simbólico
no qual o pai está inserido, revelando seus pensamentos, crenças, valores,
atitudes, informações e opiniões sobre a amamentação. Assim, poderá
fornecer subsídios para a área da saúde paterno-infantil de identificar e
compreender as dificuldades e necessidades de apoio para que essa relação
entre o pai, a amamentação e o seu filho possam se estreitar, criando espaço
simbólico e afetivo para uma nova paternidade. Considerações finais: A
pesquisa faz parte de uma dissertação de mestrado que ainda se encontra em
fase de execução. A fase de planejamento foi bem sucedida tal como o início
da execução, não havendo problemas metodológicos e logísticos. Foi realizado
o tratamento de todos os instrumentos das coletas de dados tais como, o
questionário semi-estruturado, a preparação do corpus da técnica da evocação

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livre e da entrevista. Os dados coletados do questionário foram analisados


manualmente pela pesquisadora com o auxílio informático. Os dados da
entrevista estão sendo analisados manualmente pela pesquisadora através da
técnica de análise de conteúdo do tipo temática/categorial de Bardin. Em
relação aos dados da técnica da evocação livre serão processados pelo
Software EVOC para analisar a estrutura da representação social do pai sobre
amamentação. A parte da fundamentação teórica está em processo de
reformulação. Assim sendo, os resultados expostos durante a apresentação
ainda são inconclusivos.

Palavras-Chave: representações sociais, pai, amamentação e aleitamento


materno.

Financiamento: CNPq

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A corporeidade vivida no encontro: dimensão intersubjetiva


Aluna: Karla Guimarães Leite
Orientadora: Edna Lúcia Tinoco Ponciano
A experiência dos encontros é o campo de interesse deste trabalho. Encontros
afetivos, fortuitos, familiares ou estranhos mas sobretudo potentes, pela sua
permanente provocação, em que implicadas maneiras de viver diferentemente,
produzem novas experiências de si, que contribuem para a construção da
identidade. A perspectiva desta investigação teórica encontra-se na articulação
de conceitos como relação, self, emoção e corpo. Os modos de interação com
o mundo e no mundo, produzem experiências emocionais variadas, que
interferem diretamente na maneira como lidamos com as respostas ligadas aos
eventos significativos. A emoção pode ser vista e reconhecida pelas
disposições corporais que a acompanham. A presença da emoção nos
movimentos e nas expressões do corpo, refere a uma dimensão biológica, mas
também de interação, uma vez que é na ação com o outro que as emoções vão
sendo ajustadas e atualizadas. A corporeidade é um objeto físico, lugar de
pensamentos, ações, emoções e sensações. Essa condição de corporeidade
interage com outros corpos, produzindo novas e indeterminadas realidades
corporais. As seguintes questões nos orientam: de que forma somos
interpelados pela presença do outro em nosso campo subjetivo-corporal?;
como a intersubjetividade-relação influencia a constituição do self? Buscamos
discutir a relevância e a atividade desse micro contexto relacional. Desse
modo, o nosso objetivo é discutir de que maneira as qualidades da presença do
outro, altera/modifica a condição corporal-subjetiva e, por consequência, o
desenvolvimento do self. Afirmando a importância para o desenvolvimento do
self, destacamos portanto, a dimensão intersubjetiva como uma noção que
forma a compreensão das percepções de si, a partir da visão da experiência
como incorporada. Desta forma, a problematização que conduz essa pesquisa
é acompanhada do interesse de conhecer e investigar as formas de se
constituir subjetivamente nas relações. Formas que não se restringem às
instâncias internas do indivíduo, interiores e essenciais. Formas c ompostas por
elementos humanos, familiares, mas sobretudo não familiares, estranhos, e
com qualidades sensoriais de força e de afeto. Em uma espécie de

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conformação de elementos que vai acontecendo numa instância concreta,


relacional e de articulações afetivas. Numa perspectiva filosófica, podemos
entender como atribuir valor a essa dimensão de subjetividade distribuída,
tornando-se um corpo mais sensível às diferenças, às experiências e aos
lugares. O interesse é pelas conversas do corpo, ou seja, como este corpo
apresenta os relatos do seu fazer. Estar presente sem se deixar levar pela
condição dual, de oposição entre mente e corpo. Como uma espécie de
exercício de sensibilidade, que o corpo vai adquirindo e tornando-se mais
sensível às diferenças, privilegiando o campo sensorial. É a habilidade de ser
afetado e efetuado, levando a um fazer. Nessa consideração, é a experiência
incorporada de ser sensibilizado por um elemento, intermediário, humano ou
não humano que ganha relevância. Esses elementos, entidades que co-
substanciam o sujeito na aquisição de um corpo, operam as articulações.
Talvez uma espécie de engajamento que vai provocando, praticando novas
sensações no sujeito e tornando-o mais afetado, efetuado e evidenciando tais
elementos, componentes humanos e materiais. Um corpo que ressoa com os
outros, posto em ação por novos elementos, cujas diferenças são percebidas
de formas novas e inesperadas. Os elementos portanto, humanos e não
humanos, materiais, ganham uma distinta adjetivação quando operam nessas
articulações; surpresas, diferenças, novidades, sensações, arregimentando,
por meio dos contextos locais, materiais e artificiais, privilegiando esse modo
dinâmico de se constituir. É dessa trajetória viva de que se trata tal
composição. As articulações, no percurso heterogêneo e de elementos cujas
materialidades também se apresentam de muitas formas, vão encontrando a
diferença, o indiscutível espectro de contrastes, a sensibilização e, certamente,
os infinitos modos de tornar-se um corpo. Para compreendermos a noção de
articulação é importante destacar três características que a define. A
proposição é o que vai ser articulado: 1.representa uma posição; 2.não
representa uma autoridade indiscutível, é uma proposição; e 3.discute consigo
própria para alcançar uma composição sem perder a estabilidade. A par da
proposição articulada, podemos recorrer a uma noção, usada para ampliar um
pouco mais essa proposição: multiverso, o universo que comporta as
articulações (linhas paralelas, fluxos turbulentos) sem a previsão e antecipação

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do curso das ações. A noção de assinatura renuncia a uma totalidade a priori e


acompanha os trajetos compostos por encontros múltiplos, contrastantes,
variáveis cujo momento de provisória permanência será dito deste modo
assinado, de forma que muitos objetos humanos e não humanos vão sendo
articulados, engajados num momento de estabilidade. Esta é uma tarefa viva
que vai se dando no fluxo, comportando novos “ajuntamentos”, nas práticas e
nos encontros que nos movem. Parece que aqui podemos supor algo que
captura, numa espécie de assinatura, atribuindo a compreensão de si ao
interjogo complexo e circunstancial. Reconhecemos, contudo, a dificuldade em
apontar o que se entende como ligação implícita entre a composição
heterogênea, o agenciamento (a agência) e a consciência de si. As práticas de
encontro, vão sendo sentidas na sua tecitura, naquilo que os faz mover e que
bem dispõe num novo texto, numa nova assinatura, numa nova realidade. É o
sujeito que vai sendo constituído num mundo prático, nos seus cursos de ação.
Numa perspectiva geográfica da subjetividade, o lugar adquire um caráter
central. A noção, de linhas ou de campos de interesse (forças, elementos
concretos, sensíveis, seres, movimento) vão engendrar modos, composições
que carregarão outras disposições corporais do lugar. Esses novos modos
tornar-se-ão composições emotivas ou formas de arte. Importante destacar a
presença proprioceptiva na produção desses modos, fluidos nos seus
deslocamentos e nos tempos de permanência. Território como detentor de um
impulso próprio. A percepção sentida desses modos e composições na
qualidade de força, orientação e espaço no conjunto proprioceptivo, ganha
notória centralidade. Chama à atenção a concretude dada a percepção sentida
corporalmente, nesses processos subjetivos. E reapresentamos a questão: o
que faz esses “encontros”(?) Partindo de uma observação quanto às boas
generalizações; aquelas que permitem relacionar acontecimentos muito
diferentes, afirmando a diferença imprevista por meio do engajamento de
poucos sujeitos, na vida e mundo de muitos outros. A abordagem do conceito
de self em conexão, com caráter de agência e de relação dialógica, implica
uma pretendida articulação para o fundamento dessa pesquisa. Esta é uma
perspectiva de constituição de um self geográfico, em permanente relação,
ocupando diferentes posições. A noção dialógica se apresenta nas instâncias

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interpessoal e intrapessoal. Esse modelo se estabelece nas rotinas dialógicas.


Pode ter um modo mais criativo, com maior possibilidade de mudança e de
desenvolvimento, ou mais rígido, com menor possibilidade de mudança. O
diálogo de que se trata é composto por um conjunto de eu(s), ou melhor,
posições de eu, numa troca constante, animada pela alternância e combinação
dessas posições. A posição de cada eu, real ou imaginário, carrega uma
qualidade psicológica que vagueia conforme as disposições de tempo e de
espaço. Cada condição observada experimenta a sua própria incorporação.
Dessa forma, cada posição enseja uma nova experiência na relação, que
envolve o corpo e suas sensações. Os diálogos nos adultos e nas crianças
acontecem nas rotinas, numa ação mútua. São rituais de interação que podem
ser também não verbais. A dinâmica do diálogo vai requerendo dos sujeitos a
possibilidade de experimentar novas posições, ações em conformidade com as
experiências dialógicas vividas. A percepção de si, do próprio self vai sendo
ajustada nessa co-regulação. Os comportamentos, as ações de cada um vão
sendo modificados num jogo de mutualidade e de espelhamento. O modo
dialógico mais criativo favorece o desenvolvimento do self num processo mais
aberto. Um conjunto expressivo de pesquisadores, tem se detido no estudo da
constituição do self, associada, primariamente, aos modelos culturais e seus
processos. Esses estudos demonstram a ampla variação nos processos de
formação do self, nessa constituição conjunta. A noção de agência confere a
perspectiva de ação e de formação do self, que se fundamenta na biologia e na
cultura. O self é formado pelos contextos socioculturais, e estes, são
modificados pelos sujeitos com os seus pensamentos, sentimentos e ações.
Este é o ciclo de constituição mútua. Um processo dinâmico em que o self está
sujeito a mudanças, nos novos contextos de engajamento. Cientistas Sociais
têm apontado, nas relações sociais, os dois modelos mais observados de
relação entre o self e os outros. Um modelo apresenta os interesses
instrumentais e as metas dos sujeitos como fundamento para o
estabelecimento principal das relações. Pode ser reconhecido como um
modelo independente, individualista. O outro apresenta uma conexão entre os
indivíduos, e a partir disso, atribuem sentido às relações que estabelecem entre
si. Pode ser reconhecido como interdependente e coletivismo. Com um self

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interdependente, a interação com os outros produz um senso de self em


conexão, relacionado com o outro, lugar de onde se parte para a ação. O
esquema interdependente de self, para estruturar o comportamento, utiliza o
conjunto de pensamento, de sentimento e de ação daqueles com quem está se
relacionando imediatamente. Para uma compreensão do lugar do encontro, nos
aspectos sensoriais da experiência perceptiva, consideramos o campo da
experiência somática para elucidar esses elementos. A contribuição original da
abordagem da Experiência Somática (SE) apresenta um modelo teórico-clínico
para a observação e a atenção consciente das sensações corporais, vividas no
encontro. Sensopercepção é a percepção consciente das sensações, dos
sinais internos do corpo. Este é percebido na sua fisicalidade. A
sensopercepção permite a conexão das áreas subcorticais (cérebro límbico e
reptiliano) e cortical (neocortex), principalmente nas experiências ligadas à
memória, às emoções, e aos pensamentos traumáticos. Como metodologia de
pesquisa, para a discussão teórico-conceitual, pretendemos realizar uma
Revisão de Literatura, narrativa e sistemática, de autores e conceitos, que
atendam ao limite da questão formulada, enfocando, principalmente, o corpo, a
relação e o desenvolvimento do self. Em uma elaboração inicial, definimos que,
no primeiro capítulo será feita a apreciação teórica da noção de corpo e a
discussão com a questão do encontro. De uma perspectiva filosófica, propõe-
se o empreendimento de tornar-se corpo a partir do exercício de sensibilidade,
adquirindo e tornando-se mais sensível às diferenças e privilegiando o campo
sensorial. Numa outra concepção, que dialoga com a anterior, o corpo escapa
do estabelecimento dual, para uma compreensão de mente corpórea. Ter o
aporte do corpo para obter uma compreensão cognitiva, e também situá-lo na
cultura e num tempo social e historicamente inscritos, fazendo as descrições de
si e da sua realidade, a partir de uma totalidade. É uma experiência
incorporada que se estrutura dinamicamente ao longo da vida por aspectos do
mundo físico, social e cultural. Para a reflexão teórica pretendida neste
capítulo, nos apoiaremos nos seguintes autores: Maturana, Varela, Deleuze,
Fréderique de Vignemont, Buber e outros, cuja contribuição dialogue c om essa
perspectiva definida. Para o encaminhamento da pesquisa desse primeiro
capítulo, pretendemos realizar uma revisão bibliográfica narrativa. No segundo

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capítulo, discorreremos sobre o conceito de relação e intersubjetividade e, na


esteira dessa compreensão, discutiremos as noções de vínculo, de apego e de
ressonância. Estamos aqui considerando uma subjetividade que se afasta de
uma interioridade essencial, que emerge do indivíduo, e aponta para uma
oferta de elementos humanos e não-humanos, materiais, que se articulam e
vão compondo múltiplas relações em espaços e tempos próprios. Uma
subjetividade distribuída, heterogênea. A contribuição de autores como Latour,
Mol, Friedman, Lovkvist e Bowlby será fundamental para o desenvolvimento
crítico desta pesquisa. Para este capítulo, será realizada a revisão bibliográfica
sistemática com a utilização de base de dados nacionais e internacionais. No
terceiro capítulo será apresentado e discutido o conceito de self. Estamos na
história recente da Psicologia, em particular, num campo de pesquisa sobre a
relação na abordagem sistêmica, mais acostumados a ver uma concepção de
self, estabelecida de forma separada das relações, que vamos constituindo ao
longo da vida. Nem sempre encontramos uma abordagem em que self e
relação se impliquem mutuamente. Para a discussão teórica proposta nesse
capítulo, as referências serão apoiadas em autores como, Fogel, Kitayama e
Kagitcibasi. Da mesma forma que no capítulo anterior, utilizaremos a revisão
bibliográfica sistemática, com o recurso de pesquisa na base de dados
nacionais e internacionais.

Palavras chave: corpo; intersubjetividade; self.

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As representações sociais da cultura afro-brasileira entre os


neopentecostais
Aluno: Allan Felipe Santos de Freitas
Orientador: Ricardo Vieiralves de Castro
O presente projeto está inserido no eixo temático das representações sociais,
no contexto cultural e religioso, sendo a pretensão deste pesquisar as
representações sociais da cultura afro-brasileira entre os neopentecostais –
vertente pentecostal caracterizada como a terceira onda do pentecostalismo,
movimento carismático iniciado na década de 70, nos Estados Unidos e,
largamente difundido entre as Américas, incluindo o Brasil. O interesse em
pesquisar tal tema surge da necessidade de compreender os movimentos de
intolerância religiosa que estão costumeiramente em debate, normalmente as
notícias apontam ataques de ditos neopentecostais a praticantes ou a locais de
culto das religiões de matriz africana. Esse tem sido um tema de extrema
relevância que cada vez mais ganha espaço nas mídias, especialmente nos
estado do Rio de Janeiro, que é o estado com maior índice de intolerância
religiosa do país. O neopentecostalismo é uma derivação do pentecostalismo
clássico, conserva alguns valores, práticas e características do
pentecostalismo, porém se diferencia na ênfase dada a temas como: libertação
e expulsão de demônios, prosperidade, dinheiro, cura e milagres. Nesse novo
seguimento, votos, campanhas, propósitos, correntes, ofertas e sacrifícios
financeiros, com a proposta de alcance de uma bênção, ganham maior força.
Além disso, são inseridas práticas presentes em religiões de origem africana,
como “descarrego” e “banho de arruda”, e o uso de objetos “consagrados”,
como rosas e sabonetes “ungidos”. É possível destacar, com base na
publicidade e na produção literária, algumas igrejas deste seguimento que
gozam de maior expressividade no Rio de Janeiro; são elas: Igreja Universal do
Reino de Deus (IURD), Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD), Sara
Nossa Terra, Projeto Vida Nova, Bola de Neve Church, Igreja Mundial do Poder
de Deus (IMPD), pode-se ainda acrescentar uma mais recente, a Igreja
Apostólica Plenitude do Trono de Deus (IAPTD). É preciso ressaltar que todas
as igrejas citadas são reconhecidas no plano neopentecostal, porém não estão
em comum acordo quanto à sua teologia e liturgia, por isso, é preciso pontuar

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que mesmo fazendo parte da mesma corrente elas possuem divergências


relevantes entre si. Um dos fatores que indica a importância social e a
relevância desta proposta de pesquisa é o nível de publicidade pertinente às
igrejas neopentecostais, bem como a demonstração de intolerância e
desrespeito para com as religiões de matriz africana por parte de alguns
representantes (líderes e fiéis) deste seguimento. Nesse sentido, a proposta
desta pesquisa tem um objeto em construção que obedece ao critério de
suficiente ‘relevância social’ ou ‘espessura social’. As igrejas neopentecostais
fazem grandes investimentos em publicidade, consequentemente, constata-se
a forte presença das igrejas neopentecostais nos canais de comunicação. Em
sua maioria, as igrejas citadas anteriormente são possuidoras de canais de TV
e emissoras de rádio, quando não, ocupam um largo espaço na programação
de emissoras de rádio AM e FM e de canais da TV aberta, além de
promoverem esporadicamente eventos como: cruzadas, marchas, shows e
grandes reuniões em estádios, ginásios, praças, praias e locais públicos que
comportem um grande número de pessoas. É importante salientar também, o
crescimento da bancada evangélica e o grande quantitativo de políticos eleitos
pelas igrejas neopentecostais. Parece que esse grupo religioso especifico
pretende não só ocupar espaço na imprensa, mas também nos poderes
legislativo e executivo. Como expresso anteriormente, notícias de
manifestações de intolerância e violência contra locais de culto afro, seus
seguidores, suas imagens e elementos estão constantemente nos noticiários.
Nesse sentido, um dos casos de maior repercussão na mídia foi o de uma
criança de 11 anos, vestida a caráter, que após sair de um culto afro, foi
apedrejada no subúrbio do Rio de Janeiro, em 2015. Manifestações de
hostilidade, agressão, exclusão e preconceito contra elementos da cultura
africana incorporada à brasileira podem estar ligados a representação feita
sobre o produto desta cultura que vai desde a culinária, a capoeira, o vestuário,
a linguagem, a música, o artesanato, até a religião e seu conjunto de sentidos e
significados. Considerando que há diversas definições de cultura, e, que
historicamente constatamos a repetição de uma postura de imposição religiosa
em busca da hegemonia de uma religião em detrimento das demais, percebe-
se também, pelo viés sócio-histórico, a repetição de uma ação etnocêntrica que

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tenta diminuir, segregar e até destruir qualquer cultura que seja divergente à do
padrão dominante. Percebe-se uma postura de intolerância que está presente
no discurso e na conduta. Constata-se alto teor de hostilidade e agressividade
por parte de grupos radicais que depredam o patrimônio e os locais onde se
dão os cultos afro, que destroem objetos pertencentes à cultura e a religião
negra, numa postura de combate, de guerra, de “rivalização”, tomando a outra
religião, seus praticantes e seus elementos como inimigos. Curiosamente os
cultos neopentecostais validam as entidades presentes na umbanda e no
candomblé. Durante os ritos de exorcismo são identificadas diversas entidades
comuns aos cultos afro, porém, naquele ambiente religioso elas devem ser
combatidas e expulsas. Segundo os estudos de Celso Sá, a teoria das
representações sociais é uma teoria apropriada para estudar o fenômeno
religioso. A ocupação característica da perspectiva psicossocial com o
conhecimento e as experiências religiosas socialmente compartilhadas
apresenta algumas importantes diferenças em relação às abordagens
sociológica e antropológica. Este projeto de pesquisa tem como objetivos
gerais: conhecer e analisar as representações sociais da cultura afro-brasileira
que surgem na relação de grupos neopentecostais pertencentes a igrejas
estabelecidas no Rio de Janeiro. Seus objetivos específicos são: investigar o
processo de formação e a estruturação da representação social da cultura afro-
brasileira entre os neopentecostais; identificar e a analisar o processo
representacional de entidades espirituais oriundas da umbanda entre os
neopentecostais e a repercussão destas representações entre os umbandistas.
A pesquisa se dará com base no método qualitativo e pretende realizar: (1) um
estudo exploratório de campo em templos de igrejas neopentecostais
(especificamente a Igreja Universal do Reino de Deus, por ser a mais
proeminente igreja no meio neopentecostal), situados na cidade do Rio de
Janeiro, pautado numa abordagem etnográfica, utilizando as técnicas de
observação sistemática; (2) entrevistas com no mínimo 5 pastores e obreiros
vinculados a Igreja Universal do Reino de Deus; (3) entrevistas com no mínimo
5 líderes de casas de Umbanda localizadas na cidade do Rio de Janeiro (4)
observação sistemática ou participante das sessões realizadas nas casas de
umbanda dos entrevistados; (5) construção de um inventário sobre as

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entidades que aparecem incorporadas durante os cultos de libertação


neopentecostais com base nas entrevistas e na observação; (6) apresentação
do inventário aos líderes umbandistas e recolhimento de dados sobre a opinião
deles diante das informações contidas no inventário. Com relação à análise dos
dados, será aplicada a técnica de análise do conteúdo como forma de tratar
qualitativamente as informações coletadas, pois tal técnica demonstrar ser
adequada quando se pretende qualificar as percepções do sujeito sobre
determinado objeto e seus fenômenos.

Palavras-chave: representações sociais; cultura afro-brasileira; religião;


neopentecostalismo.

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Ojá ou hijab: quando cobrir a cabeça em respeito ao sagrado revela um


ato de ousadia em tempos de intolerância religiosa.
Aluna: Fabiane de Souza Vieira
Orientadora: Anna Paula Uziel
Em face ao aumento da visibilidade e da gravidade dos casos de intolerância
religiosa no Rio de Janeiro e acompanhando os dados do Centro de Promoção
da Liberdade Religiosa - CEPLIR percebemos que as mais atingidas são
mulheres de religiões afrobrasileiras e muçulmanas. A pertença religiosa para
as mulheres nestes segmentos é marcada por elementos estéticos simbólicos.
O uso de tecidos que cobrem a cabeça nas duas religiões, o ojá nas religiões
afro brasileiras, mais especificamente no candomblé e o hijab na religião
islâmica, marcam, a partir da vestimenta, a diversidade religiosa. A
indumentária aparece como um marcador que ao mesmo tempo as identifica e
as expõe como religiosas. Uma vez identificadas, também se tornam alvo de
ataques e sua liberdade religiosa é posta em cheque, elas ficam mais expostas
ao preconceito religioso e às ações discriminatórias. O próprio direito ao uso do
véu, turbante ou outras insígnias que seriam direitos da livre expressão
religiosa, mas que também apontam para a diferença do padrão, podem ser
interpretados ou ressignificados de forma a marginalizá-las. O ataque ao
diferente ou à diferença é uma marca da intolerância. Liberdade religiosa é um
direito Constitucional garantido pelo princípio da Laicidade do Estado Brasileiro,
já a intolerância religiosa é crime definido pelo art.20 da lei 7.716/89 através de
uma atualização ocorrida com a Lei nº 9.459, de 15/05/97. Mas ao contrário do
que é previsto em lei, alguns segmentos religiosos vêm sendo perseguidos e
seus adeptos têm sofrido os efeitos psicossociais desta violação de direitos.
Discorrer sobre liberdade religiosa, quem tem direito a ela ou ainda se há
liberdade possível em uma sociedade que se baseia em desigualdades torna-
se um questionamento relevante para um tema atual que é o direito à
diversidade. Vivemos em uma sociedade atravessada por valores que se
impõem aos nossos processos de subjetivação e colocam alguns sujeitos em
posição de vulnerabilidade; são valores racistas, sexistas, classistas,
heteronormativos e judaico-cristãos. O fenômeno religioso é bastante presente
em nossa sociedade e se constitui como um elemento importante para a nossa

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produção de subjetividades. Apesar da afirmação de um Estado Laico, o Brasil


não conhece, em geral, uma sociedade apartada da dimensão religiosa. Para
exemplificar isto temos visto questões importantes para a sociedade e sobre a
vida dos cidadãos e cidadãs sendo consideradas a partir de pressupostos
religiosos, como a isenção de impostos para templos religiosos, a
descriminalização do aborto, das drogas, criminalização da homofobia entre
outras questões de gênero, sexualidade, além do reconhecimento da existência
de uma bancada evangélica em um Estado laico. A pertença a determinado
segmento religioso, a crença ou não crença em um deus ou deuses são fatores
importantes da constituição do sujeito, para sua inserção na cultura e interação
com grupos. Porém, a intolerância religiosa como fenômeno social que
hierarquiza as pertenças religiosas normatizando apenas alguns segmentos
como aceitáveis, alija outros indivíduos do direito
à liberdade, em especial, aqueles já excluídos por outros tipos de
marginalização como o racismo e o sexismo. Precisamos observar os jogos de
poder que atuam na dinâmica social brasileira e marginaliza alguns grupos
religiosos. Com isso, abre espaço para questionarmos se a liberdade é um
conceito/direito que pode ser acessado por todas ou por qualquer pessoa. No
Rio de Janeiro, episódios como a invasão a um terreiro no Catete, a pedrada
em uma criança candomblecista de onze anos, cuspir e queimar o véu de
mulheres muçulmanas ou atingir uma idosa também com pedradas têm sido
cada vez mais comuns e nestes e em todos os casos mais noticiados pela
mídia, as vítimas são mulheres, mesmo no caso emblemático da década de
noventa do “chute na santa”, situação em que um líder religioso de igreja neo-
pentecostal quebra um símbolo religioso católico, em rede nacional, a imagem
era de uma santa, do feminino. Portanto, neste trabalho todo e qualquer
conceito precisa ser entendido de forma interseccional, uma vez que, se não
articulamos e posicionamos os diversos elementos que incidem sobre cada
situação, deixaremos escapar elementos que afetam diferentemente pessoas,
comunidades e situações. Sendo assim, com a intenção de conhecer melhor
este fenômeno da intolerância religiosa e seus desdobramentos, faremos uma
revisão de literatura a respeito dos conceitos de laicidade, liberdade,
intolerância, entrevistas com mulheres afetadas pelo fenômeno da intolerância

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religiosa, especialmente as mulheres candomblecistas e muçulmanas, religiões


mais atingidas no Rio de Janeiro segundo dados da Comissão de Combate de
Intolerância Religiosa, em relatório produzido pela própria comissão em
conjunto com outros órgãos como o CEPLIR, o Disque 100. Interrogaremos
também sobre como o exercício da religiosidade atravessa o cotidiano dessas
pessoas tanto nas relações familiares, na relação com suas comunidades,
quanto em relações com o Estado. Outras pessoas afetadas e/ou envolvidas
no combate a intolerância religiosa também serão ouvidas como parentes
próximos das vítimas ou militantes da causa, além disso, estaremos
acompanhando eventos como seminários, reuniões organizadas por grupos
atingidos, palestras sobre a temática com fins de observação das dinâmicas de
enfrentamento da intolerância na sociedade. A partir de minha atuação,
primeiro como assessora de intolerância religiosa da Superintendência de
Direitos Individuais, Coletivos e Difusos – SUPERDir, da extinta Secretaria de
Estado de Assistência Social e Direitos Humanos e depois como psicóloga do
Centro de Promoção da Liberdade Religiosa e Direitos Humanos - CEPLIR,
nos anos de 2014 e 2015, alguns dados já conhecidos em teoria saltaram aos
olhos: as vítimas deste fenômeno relatam sensações de insegurança,
impotência, violação de direitos, vulnerabilidade social, depressão e
desconfiança em relação às instituições em geral que não garantem seu direito
à religiosidade. Vimos a importância de escutá-las e, a partir de suas histórias,
mapear como a dificuldade provocada pela relativização do direito
constitucional a laicidade e a livre expressão religiosa tem colocado essas
mulheres em situação de vulnerabilidade. Precisamos pensar sobre os efeitos
na vida dessas pessoas. E ainda que o conceito de liberdade não seja
compreendido de forma geral e irrestrita, ainda que este conceito em disputa
seja analisado de forma interseccional, a questão da liberdade religiosa pode
evidenciar atravessamentos que incidem sobre alguns processos de
subjetivação que terminam aprisionando determinadas pessoas, religiões,
gênero.

Palavras chave: Intolerância religiosa, gênero, liberdade, processos de


subjetivação, liberdade.

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Financiamento: CAPES

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Bruxas e Santas: a religiosidade feminina no Brasil Colonial


Aluna: Maria Cláudia Novaes Messias
Orientadora: Ana Maria Jacó-Vilela
Bruxas, Feiticeiras, Deusas, Santas, Curandeiras e Benzedeiras, as mulheres
foram representadas de diversas formas no campo religioso. Este trabalho
pretende investigar a religiosidade feminina nos relatos sobre práticas de
bruxaria e feitiçaria através da análise da documentação produzida pela
terceira e última Visitação do Santo Ofício na América Portuguesa, realizada na
província do Grão-Pará e Maranhão, entre 1763 e 1769. O objetivo é evidenciar
alguns aspectos da cultura popular, das experiências das mulheres, de uma
construção social sobre o feminino e o imaginário sobre as mulheres da
Colônia no século XVIII. A partir de uma análise histórica de gênero, no campo
da história das mulheres, este estudo busca compreender como os discursos e
as práticas religiosas atravessavam e construíam as relações de gênero e
poder no Brasil Colonial. As razões que justificam a eleição do gênero como
categoria de análise histórica partem da percepção de que este é fundamental
para a compreensão de qualquer acontecimento histórico. A categoria de
gênero levou a um questionamento da narrativa historiográfica, por não ser
normalmente utilizada enquanto dimensão analítica da história. Portanto, inserir
as mulheres na história provoca uma resignificação do que tradicionalmente é
tido como historicamente relevante. A escolha dessa temática de investigação
se justifica, em primeiro plano, pela lacuna no campo de estudos das religiões
e religiosidades. Apesar destes estudos terem crescido nas últimas décadas,
na psicologia ainda são bastante reduzidos, demonstrando o quanto ainda são
necessários investimentos neste tema, especialmente levando-se em
consideração que o Brasil é tido como um dos países mais religiosos do
mundo. Sendo as religiões construções sócio-culturais, estudar esta temática é
se debruçar sobre modificações sociais, relações de classe, raça/etnia, poder e
gênero, como importantes instrumentos de construção da realidade. Nesse
sentido, implica pensar o papel que as religiões assumem na constituição dos
gêneros, pois, historicamente, ergueram em seu discurso teológico e em sua
prática institucional um pressuposto antropológico que prescreve e delimita os
papéis do que deve ser o masculino e o feminino, definindo normas de conduta

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social, moral e sexual. Religião e gênero partilham, portanto, uma profunda


relação com elementos fundamentais na composição das crenças, das normas,
dos valores e dos preconceitos de certo contexto social e histórico,
prescrevendo e condicionando a subjetividade. Sendo assim, entendendo a
religião como um sistema simbólico fundamental para a construção das
relações de gênero na sociedade, a escolha do tema se justifica também, e
especialmente, pela lacuna encontrada em estudos que tratam das
manifestações religiosas das mulheres no período colonial brasileiro, e os
discursos que sobre elas se construíam neste contexto. Deste ponto advém a
relevância das fontes inquisitoriais, o que é afirmado por muitos historiadores
desse período, segundo os quais sem os documentos do Tribunal do Santo
Ofício teríamos muito pouco a dizer sobre as mulheres e suas experiências no
Brasil Colonial. Este Tribunal Eclesiástico foi instituído no século XII, no
contexto de perseguição a grupos minoritários considerados hereges na França
e sua duração se estende até o século XIX. Contudo, teve eu período de
atuação mais preponderante em diversas partes da Europa entre os séculos
XVI e XIX, como parte das estratégias da Contra-Reforma Católica, visando
fazer frente a Reforma Protestante empreendida por Martinho Lutero, em 1517.
No século XIX, os Tribunais da Inquisição foram suprimidos pelos Estados
europeus, mas mantidos pelo Estado Pontifício, com o nome de “Congregação
para a Doutrina da Fé”. Em Portugal, a atuação do Tribunal da Inquisição se
iniciou em 1536, a pedido de D. João III, estendendo suas ações às Colônias
Portuguesas, incluindo o Brasil. Findando-se apenas em 1821. Ligadas a sede
do Tribunal de Lisboa, pois não fora instalado no Brasil, sabe-se que foram
feitas três visitações do Tribunal as Capitanias da Bahia (1591-1595),
Pernambuco (1618-1621), Grão-Pará e Maranhão (1763-1769). Além de tais
visitações, diversas denúncias foram enviadas a Lisboa e inúmeros processos
abertos, deles contando algumas execuções sumárias. A escolha da Terceira
Visitação se deve ao caráter excepcional da Visita, que ocorreu durante a
gestão do Marquês de Pombal, numa época em que a Inquisição portugusesa
já se encontrava em declínio, tendo, há muito, abandonado a prática de enviar
Visitas ao ultramar. Mas se deve, sobretudo, ao fato de que, segundo
levantamento prévio, dois terços dos relatos dessa Visitação se referem à

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realização de práticas mágicas e de bruxaria, consideradas como crimes de fé,


heresias. Observa-se um importante deslizamento na concepção sobre as
bruxas entre o período medieval e a Idade Moderna. Ao perseguir as feiticeiras
na Idade Média, a Igreja não via nessas mulheres a fonte do mal, mas visava,
sobretudo, combater resquícios da religiosidade pagã e o que se considerava
como superticões. Não havia uma associação imediata com a heresia. A
repressão às heresias chegou ao seu ápice em relação às mulheres
acompanhando uma mudança de mentalidade com relação à magia, feitiçaria e
bruxaria, devido às crises que assolovam a Europa, além das crises políticas
na Igreja Católica nos séculos XV e XVI. Assim, práticas antes ridicularizadas,
passaram a ser motivo de preocupação e perseguição. A caça às bruxas, até
então esporádica, foi oficializada em 1484, quando o Papa Inocêncio VIII
publicou uma Bula, Summis desiderantes affectibus, transformando em
hereges todos aqueles que realizassem encantamentos, sortilégios,
conjurações de espíritos entre outras “abominações do genêro”, conforme
descrito na Bula. A sabedoria popular, práticas de cura ou quaisquer outras que
não tivessem o respaldo e a permissão da Igreja passaram a ser consideradas
coisa do Diabo e práticas de heresia contra a fé cristã. Esta Bula possui
importância histórica, pois é através dela que a Igreja reconheceu a existência
das bruxas e da bruxaria e, assim, autorizou as perseguições sistemáticas que
ocorreram se seguiram em grande parte da Europa e nas Colônias das
Américas, África e Ásia. O Tratado Malleus Maleficarum, traduzido como O
Martelo das Feiticeiras, escrito pelos freis dominicanos Heinrich Kraemer e
James Sprenger, impresso em Estrasburgo, em 1486, foi a primeira obra
moderna a tratar da bruxaria, propiciando ao clero o instrumental teórico
necessário à perseguição das discípulas de Satã: as bruxas. Desde então,
quando as fogueiras da Inquisição ardiam em nome de Deus, eram as
mulheres e sua sexualidade as mais perseguidas por heresias. Os inquisidores
constroem o discurso de que a mulher carregava em si o gérmen de todos os
pecados do mundo, por isso, sua moral, seu corpo e seu comportamento
precisavam ser rigorosamente vigiados e controlados. As heresias da bruxaria
descritas por Kraemer e Sprenger giravam em torno, quase que estritamente,
da sexualidade feminina. No Tribunal do Santo Ofício os inquisidores

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consideravam como bruxa toda mulher que demonstrasse qualquer


transgressão à ordem estabelecida, eminentemente patriarcal. A rebeldia era o
primeiro sinal de bruxaria. Iniciou-se, então uma verdadeira guerra contra as
emissárias do Diabo, sendo que todos os textos expressavam-se no feminino
porque eram, majoritariamente, mulheres as acusadas. Eram elas as bruxas e
feiticeiras, que se colocavam contra a fé cristã, comentendo crime de heresia.
Neste período, as perseguições levaram a milhares de execuções, contribuindo
decisivamente para a centralização do poder religioso institucionalizado em
mãos masculinas. Quando cessou a caça às bruxas viabilizou-se uma profunda
alteração da condição feminina, com a normatização de sua sexualidade e sua
conduta, pública e privada. A submissão e a castidade, então atreladas à moral
cristã, sujeitava à danação eterna toda aquela que se desviasse destas
prerrogativas. Depois de séculos de perseguição e milhares de assassinatos de
mulheres nas fogueiras da Inquisição, as tentativas de disciplinar, controlar e
estabelecer normas para as mulheres, seus corpos e suas vidas passaram a
envolver, além do discurso religioso, também os dispositivos médicos, políticos
e jurídicos, que se difundiam no imaginário social, levando-as ao rechaço, ao
hospício ou à prisão por sua conduta desviante. O corpo feminino foi,
reiteradas vezes, considerado morada privilegiada do mal e da loucura. As
bruxas foram queimadas vivas, as loucas, torturadas e aprisionadas, seus
corpos eram depositários das punições e do sofrimento, além de objeto de
ostentação da moral, pois vigorava a ideia de que a condição feminina era, em
si, maléfica. Vinculadas ao pecado original e à perdição humana, em cada
mulher, Eva era reeditada. Daí advinha a necessidade do sofrimento,
especialmente aquele inscrito em seu corpo, sua carne, visto a necessidade de
expiar a perdição original, bem como contrapor-se aos seus efeitos sobre o
desejo masculino, responsabilizando-as por este e suas implicações.
Construções sociais tão potentes não se perderam por completo nos desvãos
da trama histórica. Ainda ardem as fogueiras! As premissas da Inquisição não
pertencem a um passado longínquo. O patriarcado permanece presente em
quase todas as culturas modernas e, no caso do Brasil, de forma bastante
acentuada, evidenciando uma subjetividade marcada pelo controle do corpo e
da sexualidade feminina, pautados, sobretudo, na moral religiosa, justificando

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misoginia e violência contra as mulheres em diversos níveis. Acredita-se que a


religião é, ainda hoje, importante circuito produtor e reprodutor de sistemas
simbólicos que exercem extrema influência sobre as relações de gênero, o que
os torna o motivo subjacente à realização deste trabalho. Ou seja, é uma
questão atual que nos leva a perguntar ao passado: Por que a persistência da
assimetria de gênero, da violência e da desigualdade em um século povoado
por conquistas femininas? A perspectiva teórico-metodológica deste trabalho
se insere no campo da historiografia, mais especificamente da Nova História:
história das mentalidades, história das mulheres e das relações de gênero.
Através das estruturas de longa duração, revela-se uma história que escapa
aos sujeitos particulares, propiciando um estudo dos comportamentos coletivos
e do imaginário. Ao identificar o modo como uma determinada realidade social
é construída, pensada, dada a ler, indo além das representações, procura as
práticas que as engredram e são engendradas por elas. Além disto, destaca-se
que, no campo da historiografia, a história das mentalidades e a histórias das
mulheres estão entre aquelas que mais permitem a aproximação com outros
campos de saber, notadamente com a Psicologia Social. Assim, o primeiro
recurso metodológico deste trabalho refere-se à análise da bibliografia
produzida sobre a temática, abrangendo obras relativas à história do Brasil,
história do catolicismo, história das religiões, das práticas religiosas brasileiras
e história das mulheres. Também serão relevantes os estudos acerca do
método histórico, de psicologia e ciências sociais, abrangendo temas como
relações de gênero, relações de poder e religião/religiosidade. O segundo
recurso metodológico refere-se à pesquisa empírica. Tratando-se de uma
investigação histórica, a principal fonte de pesquisa será documental. Os
principais arquivos nos quais se pretende fazer o levantamento da pesquisa
empírica são: os Arquivos Públicos do Rio de Janeiro; a Biblioteca Nacional; o
Arquivo do Museu Nacional; o Arquivo Nacional; Arquivo do Gabinete Real
Português; Bibliotecas Públicas e o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em
Lisboa, Portugal. Entende-se que o documento não é objetivo, nem tão pouco
neutro, e, sim, produzido pela sociedade que o fabricou de acordo com as
relações de poder em jogo, estando, por isso, carregado de seus valores e
concepções ideológicas. Estas questões ficam mais nítidas e trazem novos

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problemas quando se pretende estudar a história das mulheres. Dispõe-se de


poucos documentos escritos por mulheres. O que significa que, ao estudar as
experiências femininas no passado, lidamos com uma construção masculina,
mais do que com a percepção das próprias mulheres sobre sua condição
social. Sendo assim, ao debruçar-se sobre tais documentos deve-se destacar a
sensibilidade necessária para se vislumbrar a experiência feminina por entre
documentos produzidos por homens. Ou seja, pensar o efeito do gênero nas
relações sociais e institucionais. Como um campo primário no interior do qual,
ou por meio do qual, o poder é articulado, saberes são construídos, práticas
são engendradas, subjetividades produzidas, e, consequentemente,
documentos são fabricados ou silenciados, assim como a história.

Palavras Chave: mulheres, bruxas, religiosidade, inquisição

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Formação Afetiva do Estigma Sexual


Aluno: Alexandre de Oliveira Marques
Orientadora: Denize Cristina de Oliveira
O estigma é um fenômeno multidimensional cuja complexidade se refere a ser,
ao mesmo tempo, tanto percebido quanto praticado por aqueles que o sofrem
e, além disso, também relacionado a muitos fatores como a diversidade cultural
dos grupos e características que se prestam à estigmatização nas diferentes
sociedades. A presente pesquisa tem como problema saber como os afetos se
relacionam com as representações sociais na produção de estigmas sexuais. É
de consenso na literatura das ciências sociais que o estigma surge dentro de
um processo de exclusão endereçado a diversas identidades. Embora o
estigma não tenha sido claramente definido durante muito tempo em suas
condições estruturais é possível caracterizá-lo resumidamente, com base em
assertivas muito gerais, como uma característica depreciativa estipulada sobre
um indivíduo ou um grupo com base em expectativas irrefletidas sobre como
estes deveriam ser e depois numa demanda explícita quando o indivíduo ou
grupo real se apresenta na situação de interação. Possui duas dimensões: o
estigma percebido é um fenômeno de estar consciente de que se pode sofrer
algum tratamento negativo por parte de outros, e isto envolve o medo de
atitudes ou práticas de hostilidade, já o estigma praticado se refere a
experiências de discriminação tanto físicas quanto verbais que incluem crimes
motivados por ódio. O estigma nesta pesquisa remete à condição do indivíduo
ou grupo depreciado, e além disso ao próprio processo dessa depreciação. Por
ser uma condição que incide sempre sobre os outros e nunca sobre o
observador é que o estigma se diferencia de uma identidade, e embora os
estigmatizados possam também se nomear com os termos empregados para
estigmatizá-los supõe-se que o façam por um fenômeno de submissão e
inferioridade a outros grupos, e não devido a uma propriedade aglutinadora do
estigma. Ocorre que, nesses termos, fica difícil entender o estigma que parte
dos estigmatizados para outros estigmatizados com os quais tenham relações
de proximidade ou identidade. Seria preciso, ao contrário, considerar o estigma
como um fenômeno de capital simbólico que decorre das relações sociais e

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das trocas decorrentes dessas relações. A esse respeito, pode ser


categorizado dentro uma “economia”, por oposição à noção de “luta” (ou
quaisquer correlatos como os de uma luta de classes) na qual se tem duas
partes nitidamente identificadas em valores absolutos. Se se entende o estigma
em valores absolutos, ou como identidades reificadas, além de não se saber o
que acontece nas relações de estigmatização também se pode ter uma visão
distorcida do problema, opondo naturalmente elementos que podem não estar
em oposição. Seria possível encontrar no estigma sexual um exemplo dos
prejuízos interpretativos que essa aparente compreensão reificada do estigma
oferece: considerando o estigma não como uma identidade pejorativa, mas
como uma desvalia resultante de um jogo de oposições pode-se recuperar a
ideia original de estigma como um continuum que vai da alienação até a
aceitação social, mas com uma adequação necessária, estabelecendo os
lugares dessa “régua” social não nas categorias, e sim nas atribuições com as
quais atuam no ambiente social. Então, o estigma precisaria ser recuperado na
exata diferença entre identidade social real (atributos que o indivíduo prova
possuir ou ser) e identidade social virtual (os atributos imputados por outros
com base em seu retrospecto). Não é, portanto, o caso de se pensar no
estigma como um objeto de limites bem definidos. Por sua vez, ao delimitar o
estigma sexual se assume que mulheres e homossexuais (homens ou
mulheres) são grupos estigmatizados, que lutam por seus direitos na
sociedade, como se pode examinar seja pelo aspecto histórico do problema
seja no viés sociológico, quando se entende que às mulheres um lugar foi
imposto, secundário ao do homem, nas sociedades ditas ocidentais. Ainda que
a elas se atribua uma função de importância, a da maternidade, esta é ligada a
uma suposta natureza da qual a mulher não poderia escapar, ou discordar,
mas simplesmente cumprir – sua importância social neste caso é dada por
gerar a vida enquanto que na condição primária de mulher sua participação na
sociedade é limitada, suscetível a assédios diversos que tentam objetificar seu
comportamento (suas escolhas no cotidiano), sua personalidade (suas
escolhas na vida) e seu corpo (incluindo vestuário e uma dada noção de
aparência). Já aos homoafetivos a perseguição social se dá como se passasse
em todos estratos sociais aglutinando um interesse maior da sociedade,

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embora não pelos mesmos motivos, pois para os homens o comportamento


homoafetivo é repulsivo por ofender seu sistema de crenças, a imagem que
tem de si mesmos, ou seu ideal de sociedade na qual o sexo define as
posições, enquanto que para as mulheres por ofender o que se poderia chamar
ideal de masculinidade na qual a posição social do homem é aquela a ser
invejada (neste ponto tanto homens quanto mulheres podem estigmatizar
homossexuais tomando como premissa um desejo de se igualar a uma ordem
masculina vigente). A homossexualidade feminina é comumente vista como
fetiche não por acaso, dadas as condições simbólicas das trocas afetivas
sociais é de esperar que sua representação seja duplamente associada a uma
submissão ao desejo alheio. Na presente pesquisa opera-se com a noção de
que toda norma é, em sua origem, valorativa, pois é com ela que se atribuem
ou se retiram lugares de crédito ou de depreciação, o que leva a assumir a
hipótese de que o conteúdo ideativo do estigma seria secundário, usado para
justificar a estigmatização, e não sua origem. A importância desta investigação
está em tornar clara a relação entre o componente afetivo e o ideativo,
reconhecendo-se que ambos contribuem para a produção de estigmas. No
estudo dos processos mentais básicos os afetos configuram respostas
fisiológicas a uma dada condição. A afetividade é aqui definida como o cabedal
dessas reações imediatas e irrefletidas que permitem ao sujeito responder
(espera-se que adequadamente) a cada situação, enquanto os sentimentos
são os afetos cuja duração no tempo foi longa o suficiente para amenizá-los.
De acordo, no estudo das representações sociais as emoções apresentam um
interesse primordial para a identificação das construções ideativas sobre um
objeto. Objetiva-se, assim, partir do referencial da Teoria das Representações
Sociais e da discussão bourdiesiana da expressão do poder nas trocas
simbólicas, para conhecer em que medida as respostas afetivas trocadas entr e
grupos permitem identificar a presença ou ausência de estigmas. Trata-se de
pesquisa quase-experimental, na qual as variáveis de confusão deverão ser
controladas visando-se avaliar o modo como afetos e representações se
associam, com o mínimo de interferências de outros valores. Espera-se como
resultado obter maior entendimento sobre os estigmas sexuais como

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produções relacionais, e o papel desempenhado pelas respostas emocionais


que neles atuam.

Palavras-chave: Estigmas sexuais; Afetos; Representações sociais.

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Narrativas de lésbicas da cidade de Niterói/RJ: subjetividades, políticas


públicas e exclusão social
Aluna: Leandra Sobral Oliveira
Orientadora: Amana Rocha Mattos
O presente projeto nasce da necessidade de dar visibilidade às mulheres
(cisgêneras, trans e travestis) homossexuais niteroienses e ouví-las sobre
como elas percebem os avanços das políticas públicas na cidade.
Conjuntamente, pretendemos investigar como esses avanços são percebidos
nos espaços ocupados por elas na cidade, ou seja, através de suas biografias
desejamos fazer um mapeamento dessas narrativas homossexuais. O primeiro
desafio na estruturação deste estudo diz respeito à solicitação ‘científica’ de
neutralidade/imparcialidade, o que obrigaria a adotar um estilo mais imparcial
de escrita, em nome de uma suposta racionalidade metodológica. No entanto,
tendo em vista a plena impossibilidade de conduzir este trabalho nesses
termos, pois há algo aqui que nos perpassa diretamente, a proposta se insere
no campo das práticas sociais a partir daquilo vivido e contado pelos seus
próprios atores, no caso mulheres que se relacionam a partir de desejos e
práticas homossexuais. A segunda dificuldade reside na própria forma de
conceituar o tema. Neste sentido, a escolha pela utilização no título do projeto
da nomenclatura “lésbicas” reside na compreensão de que qualquer que seja a
forma de encaixe linguístico utilizada aqui algumas significações serão
contempladas e outras tantas ficarão de fora. Assim, optamos por utilizar a
nomenclatura de referência do próprio “movimento político” (LGBT). Mesmo
que inegavelmente possamos reconhecer grandes avanços no que tange ao
aumento da visibilidade da população LGBT, a própria vivência da
homossexualidade parece ainda fortemente perpassada pela apreensão de
espaços de sociabilidade marginais, e de um autorretrato que vem deflagrando
grandes hiatos sociais. Quando falamos sobre a produção de políticas públicas
para a população LGBT, uma maior representatividade só foi efetivamente
alcançada nos anos iniciais do século XXI, precisamente em 2004, com a
formalização do “Brasil Sem Homofobia – Programa de Combate à Violência e
à Discriminação contra GLTB e de Promoção da Cidadania Homossexual”
(Brasil, 2004). É importante destacar que as últimas décadas do século XX

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originaram programas e políticas voltados para a população LGBT, mas quase


em sua totalidade envolvendo o mapeamento e a construção de políticas de
saúde de combate de DSTs e HIV/AIDS. O que há de novo nos programas e
nas políticas mais recentes é a ampliação do foco, dando destaque ao
enfrentamento da violência e da discriminação com relação à população LGBT,
bem como à análise dos processos de subjetivação de grupos minoritários. Já
no cenário regional (Rio de Janeiro), em 2007 é criado o Programa Rio Sem
Homofobia, alinhado ao Programa Nacional de 2004. Em Niterói, em
consequência deste programa do Estado e pelo ativismo da Ong GDN (Grupo
Diversidade Niterói - principal grupo ativista LGBT da cidade fundado em
2004), temos a abertura em junho de 2012 do Centro de Cidadania LGBT
Leste, que em 2017 passa a ser mantido pela prefeitura de Niterói, devido ao
desinvestimento promovido pelo governo do RJ. Em 2015, o prefeito de Niterói
cria, através do decreto 12083/15, a Coordenadoria LGBT (CODIR), com a
finalidade de acompanhar, monitorar, elaborar, avaliar e fiscalizar a execução
de políticas públicas para a população LGBT na cidade e, em agosto de 2017,
Niterói passa a ser a primeira cidade do estado do Rio de Janeiro a possuir um
Conselho LGBT constituído por integrantes da sociedade civil organizada e
membros representantes das secretarias do município e presidido por uma
mulher transexual. Podemos destacar ainda dois grandes marcos no processo
de reconhecimento de direitos e cidadania da comunidade LGBT, que são a
autorização para que casais homossexuais possam gozar dos direitos
inerentes à união estável em todos os cartórios de registro civil do Brasil
(2011), e a ampliação para a realização do casamento civil em sua irrestrita
formalização de direitos (2013). Mas o que certamente se apresenta como um
imenso ganho no que tange à conquista de direitos, por outro lado denuncia de
forma muitas vezes dramática as situações de violência às quais mulheres
homossexuais estão cotidianamente expostas, como discutido em audiência
pública, em julho de 2017, na Câmara Municipal de Niterói sobre o aumento da
violência contra a população LGBT no Brasil e consequentemente na cidade.
Nos últimos dois anos, o Centro de Cidadania LGBT Leste registrou 732 casos
de violência homotransfóbica, ou seja, praticamente um registro por dia. É a
partir dessa dicotomia que encaminhamos este projeto, que possui como

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principais categorias de análise a narrativa de mulheres em sua vivência


homossexual, sua trajetória (história de vida) perpassada pelos seus espaços
de ocupação (família, educação, trabalho, círculos sociais, cotidiano, espaços
privados e públicos, enfim, a própria cidade). Tal encaminhamento se dá no
sentido de buscar a afirmação das vozes dessas interlocutoras como forma de
ampliação na conquista de direitos coletivos. Se por um lado podemos
reconhecer a valiosa contribuição na ampliação de pesquisas, referenciais
teóricos e pontos de ancoragem da discussão sobre homossexualidade nesse
início de século, ainda presenciamos um número bastante escasso de estudos
que valorizem o protagonismo dessas mulheres, a partir das suas próprias
vozes, ou seja, tendo como ponto comum a valorização das falas, das
vivências, das circulações e das estratégias de mobilização de lésbicas a partir
de suas próprias existências. Desta forma, é na brecha de uma certa escassez
de estudos que partam desse protagonismo, e com a consideração básica de
que a única forma de reduzir os processos de exclusão social é a partir da
construção coletiva de informações sobre quem são, onde estão e como se
percebem e organizam essas mulheres, que este projeto de pesquisa de
doutorado se fundamenta. A estratégia inicial está circunscrita na realização de
entrevistas com mulheres que se relacionam sexualmente com outras
mulheres, tomando como base a interação entre pesquisadora e pesquisadas
por si só como produtora de conhecimento. Nenhuma estratégia nos parece
mais eficaz no reconhecimento desse protagonismo do que a integralidade da
fala dessas mulheres sobre seus afetos, suas circulações (espaços de
habitabilidade) e suas redes de significação, o que pode nos encaminhar às
suas redes de sociabilidade. O processo de produção de conhecimento
(entrevistas) será guiado por alguns balisadores, como: mapeamento do campo
teórico dos estudos em gênero, sexualidade e especialmente lesbianidades,
das políticas públicas para a população LGBT em Niterói, assim como a
história do ativismo na cidade.

Palavras-chave: lésbicas; exclusão social, políticas públicas

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“Família é quando há afeto”: a vivência de processos de adoção por


casais de pessoas do mesmo sexo.
Aluna: Lívia Lima Gurgel
Orientadora: Anna Paula Uziel
O presente Pré-Projeto de Pesquisa trata do tema homoparentalidade e
adoção. O interesse pelo assunto surge a partir da observação de iniciativas de
setores sociais que se opõem aos avanços relacionados aos direitos da parcela
homossexual da população brasileira e por conta de estágio realizado no
Núcleo de Psicologia e Assistência Social em Apoio à Jurisdição da Comarca
da Capital, do Fórum Clóvis Beviláqua, em Fortaleza, que possibilitou contato
mais próximo com famílias em conflito, inclusive aquelas formadas por
homossexuais, o que despertou o interesse sobre os processos de adoção que
tramitam no núcleo responsável por tais processos. A família é, ainda hoje,
uma instituição de grande importância social, considerada uma das grandes
responsáveis pela transmissão de valores, costumes e práticas culturais aos
indivíduos. Porém, a noção de família não é estável, passando por
transformações de acordo com o contexto social e histórico de um povo. No
mundo contemporâneo existe uma diversidade de valores e estilos de vida,
desejos e necessidades, fatores que contribuem para mudanças nas relações
familiares. Por conta de tantas mudanças, muitas vezes essa instituição é vista
como estando em crise ou próxima de ser extinta, porém, vem sobrevivendo e
se adaptando para atender as novas demandas do mundo globalizado, se
reconfigurando e reorganizando. Hoje é possível pensar em diversas
configurações familiares, como as famílias monoparentais, as reconstituídas e
aquelas formadas por casais de homens ou mulheres. Não existe, na
Constituição Federal de 1988 ou no Código Civil de 2002, regra que se
direcione especificamente a essas organizações familiares, mais
especificamente para as famílias formadas por casais de pessoas do mesmo
sexo. No código civil de 2002, embora a definição de entidade familiar ainda se
refira apenas a casais heterossexuais, durante os anos 2000 foi possível
observar decisões de alguns tribunais brasileiros favoráveis às uniões entre
pessoas do mesmo sexo, à adoção de crianças por casais de dois homens ou
duas mulheres, à união estável, à concessão de benefício após o falecimento

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do companheiro, entre outras. Porém, essas decisões ficavam a cargo de cada


tribunal individualmente. Ainda assim, essas configurações familiares foram
gradativamente sendo reconhecidas. É importante destacar, no contexto dos
avanços com relação às questões de família, a decisão tomada pelo Supremo
Tribunal Federal (STF), em maio de 2011, que reconheceu a união estável
entre pessoas do mesmo sexo. Na sequência em 2013, o Conselho Nacional
de Justiça (CNJ) aprovou a Resolução sobre o casamento civil entre pessoas
do mesmo sexo e proibiu que os cartórios se negassem à habilitação,
celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em
casamento entre pessoas de mesmo sexo. Não havia, nas leis brasileiras,
vedação legal para a adoção de crianças por casais de dois homens ou de
duas mulheres, mas entende-se que, com a permissão para a união civil entre
casais homossexuais no Brasil, abre-se maior possibilidade para a adoção
realizada pelo casal de dois homens ou duas mulheres no país. O Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA) também não traz nenhuma disposição que
proíba a adoção de crianças por casais homossexuais. Porém, ao lado de tais
decisões, no Brasil ainda existe a organização de grupos que reagem
contrariamente aos avanços relacionados à legitimidade de casais
homossexuais como constituidores de famílias e à igualdade de direitos entre
homens e mulheres. Exemplo disso é o Estatuto da Família, projeto de Lei que
tramita na Câmara dos Deputados e visa definir que uma família deve ser
constituída por um homem e uma mulher. Além disso, figuras públicas de
grande destaque no Brasil promovem discursos que têm grande alcance
populacional e se colocam contra as configurações familiares que se
distanciam dos modelos tradicionais formados por homem e mulher. Diante
desse cenário, configura-se como importante o questionamento acerca da
compreensão que a sociedade possui sobre as transformações atuais
referentes aos modelos familiares. A adoção por casais de pessoas do mesmo
sexo ainda levanta debates na sociedade, havendo polêmicas relacionadas à
falta de informação e ao preconceito, como as ideias de que as crianças
adotadas por esses sujeitos terão algum prejuízo psicológico, embora nenhuma
pesquisa reforce isso, e argumentos de ordem moral contra os homossexuais.
Diante disso, o presente estudo pretende ouvir casais de pessoas do mesmo

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sexo que desejam constituir uma família, acreditando na necessidade de que


tenham seus direitos preservados. Diante de avanços e retrocessos, mostra-se
como importante estudar como os casais de pessoas do mesmo sexo estão
vivenciando os processos de adoção dentro do Judiciário e na sociedade, quais
desafios esses sujeitos ainda enfrentam quando decidem adotar um filho ou
filha, quais preconceitos ainda são vivenciados por esses sujeitos, assim como
as expectativas e angústias, considerando que a adoção é uma das
possibilidades para que essas pessoas possam tornar-se pais e mães. O
trabalho tem como objetivo geral compreender a adoção homoparental sob a
ótica dos usuários do Sistema de Justiça do Ceará. Para isso, será investigado
como o processo de adoção está sendo vivenciado por casais de pessoas do
mesmo sexo e buscar-se-á compreender como estão sendo construídos os
projetos de paternidade e maternidade para esses casais. A proposta
metodológica é cartográfica. Pretende-se realizar tal proposta através do
contato com ONG’s de Apoio à Adoção em Fortaleza. Primeiramente será
realizado contato para uma explicação inicial acerca do estudo e pedido de
colaboração na apresentação de possíveis entrevistados/as. Os/as sujeitos/as
da investigação serão casais de pessoas do mesmo sexo que estão
vivenciando ou já vivenciaram um processo de adoção, que serão indicados
pelas ONG’s. Espera-se que, inicialmente, os profissionais das ONG’s
contatem os possíveis participantes para averiguar o interesse destes em
participar da pesquisa e, posteriormente, após permissão dos sujeitos, eles
serão contatados pela pesquisadora. Esses participantes poderão ser de todas
as faixas etárias e ambos os sexos. A partir da manifestação do interesse e
formalização dos requisitos éticos necessários, serão agendadas entrevistas,
que permitem o acompanhamento de processos, movimentos, rupturas nas
falas dos entrevistados, assim como permitem intervenções, provocação de
mudanças, sendo, portanto, ferramenta eficaz para acompanhar os processos
construídos nesta interação de produção de sentidos. As entrevistas serão
realizadas com quem voluntariamente se dispuser e o registro será feito por
gravações de áudio, para facilitar o registro do maior número possível de
informações, de acordo com a aceitação dos participantes.

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Palavras chave: Famílias; Homoparentalidade; Adoção.

Financiamento: CAPES.

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Sexualidades encarceradas: cartografias de experiências de mulheres


trans e travestis em uma penitenciária do Estado do Rio de Janeiro
Aluna: Vanessa Pereira de Lima
Orientadora: Anna Paula Uziel
Co-orientadora: Patrícia Castro de Oliveira e Silva
Este trabalho pretende compreender como mulheres trans e travestis
percebem e vivenciam suas sexualidades e gêneros no contexto de uma
unidade prisional masculina no Estado do Rio de Janeiro. As aqui denominadas
“sexualidades encarceradas” serão investigadas especialmente sob dois
aspectos 1) o controle das instituições com suas regras e seus efeitos sobre
as sexualidades, e, 2) o “cárcere” vivido por pessoas travestis e transexuais por
não performatizar a norma, por reivindicar uma outra forma possível de existir.
O interesse é discutir os diferentes processos e práticas discursivas que
atravessam e impactam quem está do lado de dentro do muro, bem como a
produção de subjetividade e a potência criativa para resistir à máquina de
controle do Estado (Foucault, 1987), suas normas, seus saberes e poderes que
se articulam em torno das práticas e vivências dos corpos abjetos que são
duplamente institucionalizados: pelas normas de gênero e através da privação
de liberdade. Inicialmente a ideia era dar continuidade a uma pesquisa
realizada em 2012 que buscou conhecer as homossexualidades e
conjugalidades no sistema prisional feminino, que, posteriormente gerou minha
monografia de graduação. Essa pesquisa foi muito especial, além de ter sido
meu primeiro encontro com o campo de pesquisa, pude conhecer uma
infinidade de mundos que resistem diariamente à mecânica do poder e suas
capilaridades. Como nos aponta Foucault, “no ponto em que o poder encontra
o nível dos indivíduos, atinge seus corpos, vem se inserir em seus gestos, suas
atitudes, seus discursos, sua aprendizagem, sua vida quotidiana” (Foucault,
1979, p. 131). Contudo, participando do Projeto Vida - desenvolvido pela
coordenação de psicologia da Secretaria de Estado de Administração
Penitenciária do Estado do Rio de Janeiro (SEAP), cujo foco é a promoção de
saúde e cidadania - em uma unidade masculina que tem a maior concentração
de pessoas travestis e transexuais e que chamarei de unidade mista, fui
capturada pela fala de uma pessoa, cuja identidade estava em c onstrução de

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um feminino, mas que temia como seria o encontro com sua família através da
performatividade de seu gênero. Neste momento fui habitada por um
sentimento da emergência de trazer para o protagonismo deste trabalho, essas
pessoas que são invisibilizadas em quase todos os seguimentos sociais, e
assim a escolha se deu: o campo me escolheu e acolhida por essa escolha,
também o escolhi. As angústias que assombram constantemente essas
pessoas que vivem a não norma, seus medos e anseios diante de suas
famílias, o estigma e supressão dos seus direitos mediante a toda uma
violência que as acompanham dentro e fora da prisão, foram partes
estruturantes para que essas vozes tão silenciadas fossem potencializadas
através desse trabalho, para além de um objeto de pesquisa, essas vozes irão
protagonizar as suas próprias histórias. O projeto inicial que tinha como
pressuposto pesquisar famílias e prisão foi guardado com carinho, certamente
o retomarei em algum momento, mas a intensidade com que fui capturada pelo
campo nesta unidade mista foi arrebatador e sabia que precisaria fazê-lo. Aqui
se deu a captura do encontro: pensar a transexualidade e a travestilidade no
presídio masculino nos traz à luz questões como: as normas de gênero, as
sexualidades, o controle do Estado sobre esses corpos que nasceram
biologicamente masculinos, mas que performatizam o gênero feminino, as
relações afetivas e/ou sexuais que se estabelecem, as relações familiares,
relações com a instituição e as relações e negociações com os corpos e seus
cuidados no contexto prisional. Sendo este o objetivo deste trabalho, trazer a
partir do protagonismo dessas pessoas o que é ser travesti e transexual na
condição de privação de liberdade em uma instituição masculina. Para falar
sobre travestis, transexuais e prisão, faz-se necessário discorrer sobre os
conceitos: de transexualidade e travestilidade e seus atravessamentos de
classe social, raça/cor, geração, a institucionalização, dentre outros. Ademais,
é fundamental a transversalidade com outros aspectos como, impactos da
prisão na relação familiar; relações de poder, resistência e afetividade; garantia
de direitos e o conceito de gênero, um marcador importante na distinção do
cumprimento de pena. “Discutir gênero é se situar em um espaço de lutas
marcado por interesses múltiplos” (Bento; Pelúcio, 2012, p. 575), sendo a
generificação o pano de fundo das instituições prisionais, sobretudo nessa

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unidade mista, que diz reconhecer a presença de um ou mais femininos lá


dentro, mas os órgãos sexuais e os nomes de registro parecem falar mais alto
em alguns momentos. O que podemos perceber na fala de uma das
participantes da oficina do Projeto Vida, uma travesti que relata um ocorrido
com uma de suas colegas que ao questionar sobre sua revista ser na frente de
toda a cela, repleta por homens, e ela, uma travesti com seios e curvas
femininas ter de ficar nua, o que ela escutou foi “você é homem, tira logo essa
roupa!”. Mesmo uma unidade sendo referência para as pessoas que vivenciam
outras possibilidades de experenciar suas sexualidades, não respeitam direitos
mínimos, como chamar pelo nome social ou fazer uma revista com o mínimo
de privacidade. Os discursos de uma verdade sobre o sexo, verdade imutável,
ou se nasce mulher ou se nasce homem, vêm sendo produzidos como norma e
reiterados com uma série de atitudes e comportamentos que (d) enunciam o
que é ser homem e o que é ser mulher, sobretudo, nas instituições prisionais.
O conceito de gênero será o fio condutor deste trabalho, uma vez que constitui
e estrutura modos de ser e se organizar em função da prisão, instituição que
regula não só a liberdade de ir e vir, mas os corpos, as identidades, os direitos,
a manutenção da identidade feminina, ser chamada e reconhecida pelo seu
nome social, são questões a serem pensadas. É objetivo central deste
trabalho, apresentar as experiências vividas por travestis e mulheres trans que
se encontram privadas de liberdade em uma penitenciária masculina no Estado
do Rio de Janeiro. Através de entrevistas com pessoas travestis e transexuais
que se encontram privadas de liberdade em um presídio masculino tem-se o
intuito de 1) pensar a corporalidade das mulheres trans e travestis, pensando
como se dá a manutenção desses corpos que performatizam o feminino, como
a instituição governa esses corpos e seus acessos ao cuidado para a
manutenção da identidade feminina; 2) compreender as relações das mulheres
trans e travestis com a instituição, qual o lugar e reconhecimento que elas
ocupam no dia a dia institucional, como são as relações
afetivas/sexuais/proteção/cuidado/amizade, enfim, as múltiplas formas de se
conviver em um espaço de confinamento; 3) discutir a importância das visitas
familiares para a manutenção da identidade feminina, bem como a falta delas
afeta as mulheres trans e travestis durante a passagem na prisão. Através do

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método cartográfico pretende-se capturar as intensidades e tensões dos


encontros, desnaturalizar, produzir afetos, onde o encontro com o outro
acontece. Instituições fabricam modelos e formas identitárias, no entanto, é
possível pensar que outros modos de viver circulam, já que linhas de fuga
(Deleuze, Guattari, 1995) aparecem no cotidiano. Neste trabalho o método
cartográfico está posto desde o início, capturando as tensões que habitam em
mim, onde posso mergulhar por águas profundas, me levando a interrogar o
que há em mim que captura e é capturada por tais afetos. Rolnik (1989) ao
falar de “corpo vibrátil” nos leva a interrogar o que há em nós, da infinidade do
mundo em nós que nos leva a ser e a criar novos mundos. Será utilizada uma
pergunta disparadora como meio de nos aproximarmos e traçar um plano
comum (Kastrup, Passos, 2013). Inicialmente, foi pensada a seguinte pergunta:
“me fala um pouco sobre como você vivencia a passagem na prisão”. Para
acessar as pessoas trans o projeto de pesquisa será apresentado de maneira
ampla para as (os) representantes da população LGBT da unidade prisional e
através desse contato serão pedidas indicações de possíveis entrevistadas. Ao
início de cada encontro será lido em conjunto, o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (TCLE). Todas as entrevistas serão transcritas posteriormente,
podendo ser feitas pequenas anotações durante a mesma. É importante
ressaltar que toda a pesquisa foi submetida à Plataforma Brasil para fins de
aprovação no Comitê de Ética, como também ao Centro de Estudos e
Pesquisas (CEP) da SEAP, exigência da instituição. Acreditamos que falar
sobre travestis e transexuais em prisão será uma provocação, pois ambas as
estruturas carregam consigo uma dinâmica complexa e desafiadora. Por fim,
tomo emprestadas as palavras de Foucault quanto à minha motivação de
pesquisar COM (Moraes, 2010). “Quanto ao motivo que me impulsionou foi
muito simples. Para alguns, espero, esse motivo poderá ser suficiente por ele
mesmo. É a curiosidade – em todo caso, a única espécie de curiosidade que
vale a pena ser praticada com um pouco de obstinação: não aquela que
procura assimilar o que convém conhecer, mas a que permite separar-se de si
mesmo. De que valerias a obstinação do saber se ele assegurasse apenas a
aquisição dos conhecimentos e não, de certa maneira, e tanto quanto possível
o descaminho daquele que conhece? Existem momentos na vida onde a

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questão de saber se se pode pensar diferentemente do que se pensa, e


perceber diferentemente do que se vê, é indispensável para continuar a olhar
ou a refletir” (Foucault, 1984, p. 13). Estudos sobre os atravessamentos de
gênero e prisão, sobretudo, travestis e mulheres trans no sistema prisional
masculino são escassos, nos apontando a emergência de pesquisas que
potencializam tais questões. Este trabalho busca contribuir nesse sentido, não
pretendendo ser um fim em si, mas ao contrário, objetivando bifurcações, onde
os fluxos sejam rizomáticos, sempre em um “entre” (Deleuze, 1995).

Palavras chaves: transexualidade, travestilidade, corporalidade, prisão

Financiamento: CAPES

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Autorregulação na Adultez Emergente: Psicoeducação da Experiência


Somática e Emocional
Aluno: Eduardo José Esteves Brito
Orientadora: Edna Lúcia Tinoco Ponciano
Este projeto surge do diálogo entre a Biologia e a Psicologia, tendo a
autorregulação na adultez emergente como objeto de estudo. Propomos as
sensações somáticas como ferramenta do processo autorregulatório inerente à
condição humana, enquanto ser biológico. Abordar sensações significa
processar e avaliar informações do ambiente pelos sentidos assim como
estados de prazer, desprazer e o senso de Self. Devido a nossa herança como
espécie, o sistema sensorial, como parte integrante do sistema nervoso, avalia
continuamente tais informações, muitas vezes sem nosso conhecimento
consciente. A detecção de uma pessoa como segura, perigosa, estados
internos de bem estar ou mal estar, aciona neurobiologicamente
comportamentos sociais. Mesmo que não tenhamos consciênc ia de tais
processos no nível cognitivo, no nível neurofisiológico nosso corpo já iniciou
uma sequência de processos sensoriais que podem facilitar comportamentos
adaptativos. Essa linguagem sensorial é traduzida pelo neocórtex como:
apertado, frouxo, quente, frio, morno, pequeno, grande, calor, tremor, mexendo
as vísceras etc. A partir da formação em Psicoterapia Corporal - Experiência
Somática® (S.E.) percebemos a importância das sensações no processo
autorregulatório. Esta abordagem objetiva acessar a autorregulação, tendo
como princípio a atenção no corpo durante o relato. Realizamos estudos que
se concentram sobre a importância das sensações como “ponte” entre a fala e
experiência sentida, enquanto forma de “integração” do self. A Experiência
Somática® (S.E.) é um modelo naturalista biológico de resolução de estresse
pós traumático, desenvolvido pelo psicólogo e biofísico norte americano Peter
A. Levine, PhD, baseado em estudos neurofisiológicos com animais e
humanos, em estado de estresse. A pesquisa está sendo desenvolvida no
Projeto DERA - Desafios Emocionais e Relacionais na Adolescência e na
Adultez Emergente, que tem, como uma de suas atuações, a proposta
psicoeducativa para o desenvolvimento saudável nessas fases. Uma das
características desse momento é um sofrimento psíquico marcado pela não

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linearidade da entrada na vida adulta. Enquanto não assume completamente


sua autonomia, a relação com os pais sofre modificações. A principal mudança
é uma maior aproximação entre eles, sendo estabelecido um relacionamento
de maior reciprocidade e respeito mútuo, tendendo mais à igualdade do que à
hierarquia. A relação de dependência e/ou independência é alternada conforme
a situação e a necessidade dos filhos. Os pais continuam oferecendo suporte
financeiro e emocional, principalmente quando não há condições favoráveis de
entrada no mercado de trabalho e quando as relações amorosas são instáveis,
levando a não definição de um projeto de casamento e de saída da casa
paterna. A adultez emergente pode gerar uma situação de insegurança
marcada pela instabilidade, falta de informação e incerteza. Emocionalmente
destaca-se angústia, ansiedade e oscilação emocional, característica da fase.
São estados emocionais e sentimentos que mobilizam o jovem durante o
processo de desenvolvimento. O campo de estudos sobre regulação da
emoção ou autorregulação está relacionado diretamente a como os indivíduos
influenciam suas emoções, quando tê-las, como experimentam e expressam,
podendo ser automáticas ou controladas, conscientes ou inconscientes, que
podem ter um ou mais efeitos na emoção gerada, além de estar relacionado ao
agenciamento assim como ao controle das emoções em um movimento Top-
down de autocontrole. Esta discussão leva a uma perspectiva evolutiva e
caracteriza a emoção em termos de tendências de resposta. Regulação
emocional é distinta de enfrentamento, de regulação do humor, defesa e
ataque. Atualmente, o campo da regulação emocional atravessa fronteiras
disciplinares tradicionais e proporciona um terreno comum, cada vez mais
especializado, da Psicologia. Para além da sua característica intraorganísmica,
as emoções também servem a funções sociais. Estas nos informam sobre os
outros e suas intenções comportamentais, fornecem pistas sobre se algo é
bom ou ruim, e também como roteiro de nosso comportamento social. Duas
questões surgem para serem trabalhadas: como os jovens se relacionam com
seu sofrimento psíquico na adultez emergente? Como autorregulam suas
emoções e como elas se expressam corporalmente? Pretendemos contribuir
para a compreensão da experiência dos jovens, bem como discutir
instrumentos psicoeducativos que podem auxiliar nesse processo, a partir de

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uma abordagem interventiva. Um ponto relevante neste estudo é o corpo como


organismo, como elemento fundamental de informação e de educação, para
contribuições na interface entre a Biologia e a Psicologia. Adotar um modelo
biológico não significa aderir a um modelo psiquiátrico ou a uma Psicologia
voltada para moldar ou adaptar a determinadas normais sociais e sim
desenvolver uma perspectiva biológica que acrescente uma nova leitura do
corpo para a Psicologia, por exemplo, ao considerar o tempo da auto-
observação das sensações corporais, enquanto elementos da experiência. É
nesse ponto do trabalho que propomos um modelo no sentido bottom-up, para
a autorregulação: direcionar o foco para o que acontece no corpo, a fim de
acessar as sensações, o que possibilita modular e promover escolhas entre
uma variedade de respostas possíveis. É literalmente “escutar” o corpo e não
somente gerenciá-lo. Ocorre uma “abertura” em outros elementos da
experiência possibilitando não ser “tragado” por uma experiência emocional,
que pode ser vista como descontrolada. Com isso, surge a ideia de consciência
estruturada no corpo físico. Do que é feita a consciência? Do que é feita a
mente? A mente consciente surge quando um processo do self é adicionado a
um processo mental básico, por exemplo, os processos fisiológicos, tais como
as sensações do peso corporal, a partir da relação com a gravidade e o
espaço, os sentidos, os movimentos viscerais, o ritmo respiratório, as dores,
como consequência de acidentes ou os prazeres, quando nos satisfazemos.
Quando não ocorre um self na mente, esta não é consciente, no sentido próprio
do termo, ou seja, quando estamos dormindo, por exemplo. Durante o sono
sem sonho não sabemos quantas vezes viramos para os lados, se sentimos
fome, sede, quais movimentos fazemos. Uma parte desta consciência é
“desligada” e, por isso, não há noção de julgamento. Para que haja a auto-
observação precisa-se estar “acordado”, integrando a mente aos processos
básicos que possibilitam o surgimento da mente consciente. Podemos
considerar o processo do self por duas perspectivas do observador, o que
muda é o foco: perspectiva do Observador que aprecia um objeto dinâmico,
como certos funcionamentos da mente, a partir de comportamentos e história
de vida; a outra é a do self como um conhecedor que foca na experiência
sentida. Há dois movimentos, um para “fora” e outro para “dentro”. A

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alternância constante desses selves permite uma atenção ou foco na


experiência sentida. O “problema” é ficar “preso” em apenas um self ou
somente no simbólico, negligenciando a experiência sentida ou sendo refém
das emoções, numa identificação com padrões emotivos imutáveis. A
linguagem do corpo ou desses processos básicos baseia-se nas sensações e
nas emoções. Essa perspectiva permite indagar como é a experiência sentida
dos jovens, diante das novas exigências sociais da adultez emergente, uma
vez que vêm se mantendo mais tempo na casa paterna. É uma fase de
construção de uma identidade, baseada em ação e, consequentemente,
escolhas que os levam a novas inserções sociais. A partir da adolescência, as
mudanças corporais, no início da puberdade, e o desenvolvimento cognitivo,
com a aquisição do pensamento abstrato, marcam o amadurecimento do jovem
e promovem ações envolvendo novas responsabilidades, busca de mais
autonomia, formação de uma identidade e de pensamentos próprios. A maior
consciência de si exige a construção de uma identidade que considera
aspectos intra e interpessoais. As mudanças no âmbito social estão
relacionadas à interação social, surgindo novas demandas nos modos de
relacionamento, em função do amadurecimento de novas competências e
novas formas de socialização são geradas, o que pode ser visto na preferência
de querer passar mais tempo na presença de amigos do que dos pais. A
autoconsciência está na capacidade de modular o que acontece no corpo e o
que acontece para fora deste, simultaneamente. Por meio do self observador
ou consciência de si podemos nos conectar e aprender sobre nossos instintos,
sensações, emoções, crenças, etc. Podemos ainda explorá-los atentamente.
Estar presente no corpo significa que somos conduzidos pelos instintos,
enquanto ao mesmo tempo temos a oportunidade de ter autoconsciência dessa
condução. No momento que vivenciamos um forte sentimento emocional ou
uma grande exigência social, não precisamos necessariamente agir de acordo
com o que nos é demandado, a habilidade de observar-se e observar o espaço
da experiência emocional é o que permite a não fixação nessa emoção. São
nessas frações de tempo que observamos nosso ímpeto e que, dividindo a
atenção entre o “dentro e fora” do nosso corpo físico, ressignificamos a
experiência “incorpando” novos procedimentos. Nessa perspectiva é que

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consideramos sobre o modo como os adultos emergentes relacionam-se com


seu processo de “estar no corpo”, a partir da observação das sensações
corporais. A partir da atenção no corpo, a significação da sensação produz uma
mudança sentida. Essa é a sabedoria corporal. Como resultante desta
interação do corpo que sente com a mente observadora, ocorre a nossa
existência. Nossas experiências sensoriais funcionam como “termômetros”
situacionalmente vividos e são sempre referidos a alguma interação. Essa
sensação sentida é pré-verbal e pré-reflexiva, sentimos antes de dizer o que é.
O existir se define a partir dessa experiência. Como proposta de investigação e
de intervenção, temos como objetivo a prática psicoeducativa com grupos de
adultos emergentes, mais especificamente, alunos de graduação da UERJ. A
experiência deste trabalho pode potencializar e facilitar a produção coletiva de
conhecimento, experiências e reflexões sobre a realidade configurada para tais
pessoas, apontando estratégias de autorregulação e enfrentamento dos
desafios por vezes existentes. Como o objetivo do trabalho é o
desenvolvimento de uma metodologia para abordar o corpo sentido, a atenção
será direcionada para uma investigação sensorial. Como resultado, a
construção de possíveis critérios psicoeducativos são esperados, a fim de
gerar mudanças significativas para os jovens, especialmente no que diz
respeito ao desenvolvimento do autoconhecimento e da capacidade de
reflexão, desenvolvendo maior capacidade de aceitar e lidar com o seu próprio
processo de desenvolvimento pessoal, especificamente com as dificuldades e
as fontes de stress, além do desenvolvimento da capacidade para identificar
recursos essenciais durante a transição entre papéis e contextos que
vivenciam. O trabalho psicoeducativo será conduzido a partir de três perguntas
básicas: o que, onde e como você sente, para levar a atenção ao corpo
despertando a autoconsciência, diante do acontecimento. Nesse processo de
aprendizagem e de reconhecimento das sensações, estamos utilizando 7
passos, nessa ordem: acolhimento, ativação, Felt Sense, descrição,
significado, Felt Sense, acolhimento. A proposta é trabalhar com grupos de 5 a
10 pessoas, podendo ser um até 4 encontros. Serão compostos por jovens
universitários da UERJ, entre 18 e 29 anos, de classes sociais e graduações
variadas. Os encontros serão gravados em áudio e vídeo e transcritos, para

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serem analisados, com a aprovação firmada pelos participantes, em um termo


de consentimento. Como um estudo exploratório, pretendemos construir
critérios que identifiquem transformações, a partir de uma abordagem
psicoeducativa, considerando as sensações e as emoções como fonte da
formação do self e da autorregulação para elaborar esses possíveis critérios.
Efetivamente, “tornar-se adulto” é um processo pessoal e social e há uma
lacuna na literatura em relação à regulação de emoções em grupos. Pouco se
sabe sobre como as sensações e emoções são reguladas nesse contexto.
Nosso objetivo é usar uma estrutura que permita um exame do conteúdo da
sensação e da emoção na experiência do adulto emergente. As sensações
geralmente envolvem um aumento de intensidade, que mais tarde desaparece.
Isso significa que, geralmente, é mais fácil identificar a situação que provocou a
sensação do que os fatores associados com a sua rescisão. Além da atenção
aos eventos externos, concentrar-se nas representações internas também
pode levar à elicitação de memórias, reflexões e interpretações. Seja interno-
subjetivo ou externo-social, a atenção a um estímulo é um estágio necessário
na eliciação de uma resposta. Este é o primeiro ponto de contato entre a
regulação da emoção e a literatura sobre emoções baseadas em grupos.
Trabalhando as sensações e as emoções em grupo buscamos compreender a
experiência da regulação emocional dos adultos emergentes, pretendendo
contribuir para a elaboração de intervenções psicoeducativas, que tenham
efeito no processo de desenvolvimento saudável do jovem.

Palavras-chave: autorregulação, adultez emergente, experiência somática,


experiência emocional.

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Compreendendo o efeito da depressão em atletas e pessoas sedentárias


com ou sem histórico de concussão
Alina: Raquel Melo dos Santos
Orientador: Alberto Filgueiras
A depressão pode desencadear por muitos motivos: estresse agudo, luto,
consumo de drogas psicoativas, mas dentre as causas que interessam à
Psicologia Esportiva estão duas mais conhecidas na literatura: a pressão por
resultados e a concussão. A concussão vem sendo nos últimos anos o assunto
no mundo desportivo, por ser caracterizada pela presença de
sintomas neurológicos sem nenhuma lesão identificada, mas com danos, que
dependendo da situação, podem ser reversíveis ou não. Em muitos esportes
existe o risco de o atleta sofrer concussão, podendo ocorrer perda da
consciência, prejuízo da memória, cefaleia, náuseas e vômitos, distúrbios
visuais e da movimentação dos olhos. A concussão cerebral é a perda da
consciência de curta duração, que acontece logo após um traumatismo
craniano. Pode deixar o indivíduo um pouco confuso, com dor de cabeça e com
uma sonolência anormal, podendo ser acompanhada de tontura, dificuldade de
concentração, esquecimento, depressão, falta de sensibilidade ou de emoções
e ansiedade. As concussões causam uma disfunção cerebral temporária, sem
apresentar fratura do crânio ou feridas na cabeça. Elas podem ocorrer mesmo
após um traumatismo crânio-encefálico menor, dependendo da intensidade
com que o cérebro foi mobilizado no interior da caixa craniana. Já a depressão
está em primeiro lugar no ranking dos dados da Organização Mundial da
Saúde (OMS) como a doença que mais afeta a população OMS. Trata-se de
“uma patologia que acomete o organismo como um todo, compromete o físico,
o humor e, em consequência, o pensamento”. Ela altera a maneira como a
pessoa vê o mundo e sente a realidade, entende as coisas, manifesta
emoções, sente a disposição e o prazer com a vida. Afeta a forma como a
pessoa se alimenta e dorme como se sente em relação a si própria e como
pensa sobre as coisas. A depressão é uma psicopatologia que se caracteriza
por afetar o estado de humor da pessoa, deixando-a com um predomínio
anormal de tristeza. Apesar da prevalência ser maior em mulheres na
proporção 1 para 2 (i.e., a cada um paciente homem com depressão, há duas

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mulheres com a mesma demanda) e de idosos estarem mais predispostos a


adquirir o quadro sintomático depressivo. Este trabalho está orientado ao
estudo da depressão nos atletas, mas contará com pessoas sedentárias como
grupo controle. Será aprofundada dentro desta área como a concussão pode
desencadear os sintomas depressivos nos atletas, trazendo consequências
cognitivas e na performance. O presente estudo, portanto, buscará
compreender se a presença ou ausência de concussão pode ter um papel
preditor nos sintomas da depressão de atletas e sedentários.

Palavras-Chave: Concussão; depressão; esporte; atletas

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Função Executiva em Atletas: A importância do uso assertivo das


emoções no processo de tomada de decisão.
Aluno: PAULO Sérgio RIBEIRO Barboza
Orientador: Alberto Filgueiras
A função executiva do cérebro humano, passou a ser caracterizada como o
conjunto de habilidades que, de maneira integrada, permitam que o sujeito
empreenda, de maneira direcionada, comportamentos voltados ao
cumprimento de objetivos, por meio da realização voluntária de ações. Essas
ações ocorrem de maneira auto organizada e conforme a adequação que
apresentam em relação à eficiência no alcance do objetivo almejado, o que
possibilita a eleição de estratégias mais eficientes e a solução de problemas
que surgem de maneira imediata, ou então aqueles que médio e longo prazo.

Entende-se então que a função executiva é necessária sempre que o sujeito


precisa elaborar planos de ação, ou quando uma sequência de respostas
adequadas, precisa ser selecionada e esquematizada. Na neuropsicologia, a
função executiva diz respeito a fenômenos atrelados à flexibilidade cognitiva e
tomada de decisões. Considerando então que atletas, independentemente de
sua modalidade esportiva, precisam ter agilidade para pensar rapidamente e
empreender ações praticamente instantâneas durante as partidas, presume-se
que a função executiva nessa população é importante, assim como o uso
assertivo das emoções que, como se sabe, são balizadoras do comportamento.

Em vista do cenário supra exposto, desenha-se como objetivo central do


trabalho resultante do presente projeto, debater de maneira conceitual sobre a
função executiva em atletas, a fim de compreender como as emoções tem
papel fundamental no processo desempenhado pela função executiva – o
pensar, sentir e agir – é importante para as tomadas de decisões na vida de
atletas que, algumas vezes, empreendem esforços durante as partidas, sem
que pensem ou sintam antes de agir, tornando seus movimentos ineficazes no
contexto do esporte praticado.

O estudo resultante desse projeto justifica-se, pois pretende contribuir para o


âmbito acadêmico oferecendo através da pesquisa em tela uma visão

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diferenciada acerca do tema, ampliando o material teórico, que poderá ser


utilizado a fim de desenvolver estudos e pesquisas posteriores, estimular o
aprofundamento sobre o tema, assuntos relacionados e demais vertentes
científicas que possam originar-se a partir do interesse por este. Além da
relevância acadêmica, a pesquisa também intenciona servir como fonte de
informações para o âmbito social, podendo oferecer dados relevantes para que
os públicos de interesse envolvidos na área colham dados para notar a
importância da abordagem e aplicabilidade do tema em estudo.

Palavras-chave: Esporte; Funções Executivas; Atletas; Tomada de Decisão;


Emoção

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Programa de habilidades sociais com adolescentes em medida


socioeducativa de semiliberdade
Aluna: Carolina Seixas da Rocha
Orientadora: Vanessa Barbosa Romera Leme
A preocupação com a violência praticada por jovens tem afligido a população e
influenciado a tomada de decisões junto a governantes na busca para conter
esse problema. Em 2014, o Brasil possuía um total de 89.718 inseridos no
sistema socioeducativo, desses, 24.155 haviam cometido atos mais severos de
modo que cumpriam medida de privação ou restrição de liberdade. No Rio de
Janeiro, o número de jovens que tinham sua liberdade privada ou restrita era
de 1.655 adolescentes. Ainda que apenas 0,07% dos adolescentes brasileiros
cumpram medida socioeducativa devido a uma infração severa, a prática
infracional conduz os adolescentes a uma condição de vulnerabilidade, uma
vez que, o senso comum deixa de visualizá-los como sujeitos de direitos.
Dessa forma, entende-se a importância de desenvolver ações de apoio ao
egresso com foco na reinserção social do adolescente. Nesse sentido, a
academia tem buscado se colocar frente à prevenção desses comportamentos
através da promoção de fatores de proteção. O presente estudo está
embasado na Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano (TBDH) que
tem sido amplamente utilizada por enfatizar a complexidade dos processos que
envolvem o desenvolvimento humano. De modo simplificado, entende-se que o
desenvolvimento humano ocorre a partir de processos contínuos ocorridos ao
longo do tempo, nesse sentido, as diferentes possibilidades de interação da
pessoa com seu contexto tanto proximal quanto distal produziria múltiplas
trajetórias desenvolvimentais. Assim, a TBDH tem sido utilizada por possibilitar
a compreensão dos diferentes contextos nos quais o adolescente em conflito
com a lei está inserido. Destarte, não apenas fatores de risco à conduta
infracional devem ser estudados, mas também os fatores de proteção pessoais
e contextuais que contribuam para sua minimização e promovam a saúde
mental ao longo do ciclo de vida. Nesse sentido, pesquisas que utilizam o
modelo bioecológico têm priorizado a investigação de variáveis relacionadas a
qualidades e características positivas. A presente pesquisa optou-se por
investigar a percepção de discriminação por esta contemplar um fator de risco

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presente no contexto dos adolescentes. Esta variável é entendida como a


classificação de uma ação como injusta por esta se dever somente ao
pertencimento de um indivíduo a um grupo considerado estigmatizado
socialmente. Também serão investigadas as habilidades sociais e as crenças
de autoeficácia dos participantes, que correspondem ao elemento pessoa por
envolverem as características biológicas e psicossociais do sujeito. Nesse
sentido, as habilidades sociais são o conjunto de comportamentos sociais
valorizados pela cultura e que são indispensáveis para capacitar a pessoa de
alcançar objetivos pessoais e lidar com demandas culturais. Enquanto que, as
habilidades de vida são comportamentos adaptativos e positivos que capacitam
o indivíduo a lidar efetivamente com as demandas cotidianas. Já a crença de
autoeficácia é entendida como a confiança que um indivíduo tem na sua
capacidade de gerar resultados esperados em determinadas situações. Por
fim, os processos proximais serão investigados a partir da percepção de apoio
social que corresponde ao fornecimento instrumental e expressivo que os
adolescentes percebem receber da comunidade, das redes sociais ou de
parceiros de confiança. O estudo tem por objetivos: (1) investigar as
percepções dos adolescentes sobre suas relações interpessoais nos contextos
da família, escola, comunidade e instituição socioeducativa, procurando
identificar fatores de risco e de proteção; (2) implementar e avaliar os efeitos de
um Programa de Habilidades Sociais e de Vida na percepção de discriminação,
na percepção de apoio social, no repertório de habilidades sociais e nas
crenças de autoeficácia de adolescentes em cumprimento de medida
socioeducativa de semiliberdade. A pesquisa terá um delineamento transversal
e uma abordagem qualitativa-quantitativo. Participarão do estudo cerca de 15
adolescentes, do sexo masculino, com idade entre 13 e 15 anos em
cumprimento de medida socioeducativa de restrição de liberdade no Estado do
Rio de Janeiro. Em relação às considerações éticas, o presente projeto foi
avaliado e aprovado pela equipe técnica do Departamento Geral de Ações
Socioeducativas (DEGASE) e será submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa
com Seres Humanos. Será esclarecido aos adolescentes que consentirem em
participar que a adesão ao projeto é voluntária, de modo que é possível
interromper a participação em qualquer etapa, além da confidencialidade e

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anonimato das informações coletadas. A equipe responsável pela intervenção


passará por um treinamento que envolve a participação em grupos de estudo e
a coordenação de programas de intervenção para promoção de relações
interpessoais positivas, sendo que a coleta de dados será realizada em uma
instituição socioeducativa de semiliberdade durante os meses de fevereiro,
março e abril de 2018. Primeiro, serão realizadas entrevistas individuais para
que os adolescentes respondam a Escala de Discriminação Cotidiana, Escala
de Percepção de Apoio Social, o Inventário de Habilidades Sociais para
Adolescentes, a Escala de Autoeficácia e o Questionário Demográfico. Na
sequência, serão organizados grupos focais com os adolescentes para
identificar as demandas e interesses, além de investigar os recursos pess oais,
o contexto e as dificuldades interpessoais que serão utilizadas na preparação e
planejamento dos encontros na intervenção. Com base nos dados coletados,
será realizado um Programa de Habilidades Sociais e de Vida com foco na
promoção de relações interpessoais positivas, composto por seis encontros
nos quais serão utilizadas metodologias demonstrativas e participativas, com
medidas de avaliação de processo e de resultados finais. Cada encontro
deverá iniciar com um aquecimento para introduzir o tema escolhido, seguido
da atividade central, que poderá ser uma vivência (atividade estruturada de
modo análogo ou simbólico a situações cotidianas de interação social dos
participantes, que mobiliza sentimentos, pensamentos e ações, com objetivo de
suprimir déficits e maximizar habilidades sociais em ações educativas) ou um
role-playing (consiste na encenação de uma situação, buscando colocar o
indivíduo frente ao problema e contribuindo para a modelação de
comportamento). Por fim, ocorrerá a discussão da atividade e avaliação do
encontro. Também serão utilizados recursos audiovisuais, técnicas de
relaxamento e tarefas de treino para momentos além do curso. Os temas
trabalhados estarão em ordem crescente de complexidade e abordarão
habilidades sociais mais frequentes na adolescência. No primeiro módulo será
realizado o contato com os adolescentes, no qual se buscará estabelecer
vínculos com o grupo, reconhecer queixas, definir os termos de funcionamento
do grupo, esclarecer dúvidas, identificar motivações e promover a integração
do grupo. Já o segundo, espera-se trabalhar com a identificação de

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sentimentos e emoções que seriam as habilidades de prestar atenção às


mensagens dos sentimentos, reconhecer e nomear as emoções próprias e dos
outros e discutir situações que geram sentimentos de raiva, rancor, felicidade
etc. O terceiro irá explorar a empatia através da capacidade de observar,
prestar atenção, ouvir e demonstrar interesse pelo outro, reconhecer/inferir
sentimento do interlocutor, compreender a situação (assumir perspectiva),
demonstrar respeito às diferenças, expressar compreensão pelo sentimento ou
experiência do outro, oferecer ajuda e compartilhar. No quarto módulo será
trabalhada a assertividade, no caso, ajudando os adolescentes a conhecer os
comportamentos assertivos, agressivos e passivos, além do treino de
expressão de sentimentos e pensamentos (positivos e negativos) de forma
assertiva, manifestar opinião (concordar e discordar), aceitar e recusar pedidos
e desenvolver argumentação. As habilidades de vida serão trabalhadas no
quinto módulo dando subsídios para se discutir a discriminação através da
estimulação do pensamento crítico e criativo, da promoção da capacidade de
reflexão e o autoconhecimento. Por fim, o sexto módulo será focado na
resolução de problemas e em lidar com as emoções, sendo assim, será
abordada a habilidade de acalmar-se diante de uma situação problema,
analisar consequências de uma situação, definir riscos e benefícios de uma
situação, analisar causa-consequência das regras e importância das mesmas,
identificar recursos pessoais e do contexto e estimular a autoeficácia. Ao final
de todos os módulos será realizada uma avaliação de processo que incluirá o
registro de comportamentos em um protocolo e diários de campo. Por fim,
serão feitas entrevistas nas quais os participantes responderão os instrumentos
novamente com o objetivo de avaliar a intervenção nas variáveis investigadas:
percepção de discriminação, percepção de apoio social, repertório de
habilidades sociais e crenças de autoeficácia. Para a análise dos dados obtidos
na pré e pós-avaliação será utilizado o pacote estatístico para ciências sociais
(SPSS). Já em relação às informações obtidas durante a intervenção, os
facilitadores deverão verificar a presença ou ausência de comportamentos
treinados, sendo contabilizada a frequência que esses são expressos e, ao
final dos módulos, calculada a porcentagem de ocorrência. Os dados da
pesquisa permitirão fomentar ações que busquem romper os estigmas e a

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marginalização em torno dos adolescentes em conflito com a lei, além de


possibilitar o subsídio de políticas de prevenção da violência, promoção da
saúde mental e aperfeiçoamento das medidas socioeducativas.

Financiamento: CAPES.

Palavras-chave: adolescente; semiliberdade; relações interpessoais;


Programa de Habilidades Sociais; Teoria Bioecológica do Desenvolvimento
Humano.

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Neurofeedback como proposta de intervenção para a performance


esportiva
Aluno: Leonardo Rosa Habib
Orientador: Alberto Filgueiras
O presente projeto de pesquisa apresenta uma proposta de aplicação de uma
técnica de Biofeedback (BFB) utilizando o Eletroencefalograma Quantitativo
(QEEG), também conhecida como Neurofeedback (NFB), como uma proposta
de intervenção que tem como finalidade melhorar a performance esportiva de
atletas amadores e profissionais. Para se trabalhar com as funções cognitivas,
há diversas ferramentas que, no esporte, são fruto de pesquisas para se
melhorar o rendimento de atletas nas mais diferentes modalidades. Como diria
o William Thomson, “Aquilo que não se pode medir, não se pode melhorar” e,
por esse motivo, a ciência há séculos vem se aprimorando em medir
informações do corpo humano. Por mais que já se tenha avançado muito nesta
área, ainda há poucas intervenções no cérebro e no sistema nervoso que
possam, de maneira segura e incontestável, melhorar a performance humana,
modificando hábitos e comportamentos, que muitas vezes, podem apresentar
um risco a saúde de cada sujeito. É bem verdade, que, com o desenvolvimento
da computação e da tecnologia, cada vez mais vem sendo possível conhecer
esses dados em tempo real, de forma acessível e até doméstica, inclusive
dados do sistema nervoso central (SNC) e do sistema nervoso autônomo
(SNA), aparelhos chamados de BFB têm esta função e seu objetivo é o de
serem utilizados para o monitoramento e o controle de alguns dados
neuropsicofisiológicos. Tais dispositivos medem dados do SNA e fornecem
algum tipo de feedback (auditivo, visual ou sensorial) como frequência
cardíaca, coerência de variabilidade cardíaca, pressão sanguínea, frequência
respiratória, e até a sudorese das mãos. O NFB utiliza a leitura das atividades
eletroquímicas neuronais por meio de eletrodos devidamente fixados no couro
cabeludo e conectados a um equipamento que amplifica, filtra e as transmite a
um computador e em tempo real. Utilizando um software, é possível diferenciar
tais dados em bandas de frequência organizadas da seguinte forma: Delta (0,5
a 3 Hz), encontrada predominante no sono profundo e nos momentos de
redução da atividade dos neurônios piramidais, caracterizando a mente

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inconsciente; Theta (4 a 7 Hz), presente nos estados de sonolência, oriunda da


atividade talâmica e do sistema límbico, relacionada à mente subconsciente e
seus conteúdos emocionais, pensamentos globais, crenças e valores, bem
como à criatividade e a espiritualidade; Alpha (8 a 12 Hz), que se relaciona com
estados meditativos de calma e tranquilidade interior, foco relaxado, estado
observador, calmo, porém atento. Ritmo Sensório Motor (13 a 15 Hz), banda
medida na região do córtex sensório-motor, caracteriza o estado de prontidão
para executar um movimento, um estado calma ativa (corpo calmo e mente
alerta) permitindo o ajuste antecipatório à ação; Beta (13 a 38 Hz), faixa que
reúne as frequências mais rápidas produzidas no tronco cerebral e no córtex,
associadas ao processamento da informação, à atenção e à orientação
externa; Gama (38 a 42 Hz), ou mais especificamente 40 Hz é encontrada em
todo o cérebro e está relacionada com a eficiência cognitiva, aprendizado,
compreensão da linguagem, retenção da memória, ao aumento da atenção e
foco concentrado. As bandas de frequências constituem a base informacional,
tanto para a avaliação e montagem dos protocolos, como para o próprio
treinamento relacionando-as com áreas especificas do cérebro. É por meio de
condicionamento operante que torna-se possível recompensar e/ou inibir
atividades neurais especificas utilizando som e imagem, treinando desta forma
atenção, concentração, planejamento e diversas outras funções executivas. A
ideia é propor um estudo com design experimental randomizado e controlado
aplicando a técnica de NFB no grupo experimental em 30 sessões, com
frequência de, pelo menos, duas vezes por semana e no máximo três vezes.
No grupo controle, apenas seria proposto um debriefing sobre a pratica
esportiva de cada sujeito exatamente com a mesma frequência do grupo que
passaria pela intervenção principal. Para aferir a melhora real de performance
nas respectivas modalidades esportivas, constructos seriam definidos
baseados em habilidades fundamentais para a melhor execução de tal prática.
Em seguida, testes quantitativos seriam aplicados antes e depois da fase de
intervenção, além de serem cruzados com a avaliação do EEG também
aplicada antes e após às 30 sessões. Em um contexto tão competitivo e tão
desenvolvido como o do esporte, a principal hipótese levantada é se a
intervenção com NFB realmente melhora as funções cognitivas e, por

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conseguinte, aumenta a performance esportiva. É nesse mundo, que algumas


tecnologias de ponta são aplicadas para diminuir milésimos de segundo ou
para aumentar a força e resistência física de um indivíduo que está sempre
buscando melhorar o limite. Atualmente, já se sabe o quanto alguns esportes já
não possuem mais um destaque considerável de um determinado atleta ou
equipe. Quase todas as questões técnicas são conhecidas e, raramente, algo
surpreendentemente novo é aplicado para a quebra de um recorde ou a derrota
de um adversário. Partindo deste ponto de vista, as habilidades mentais e
psicológicas que possam vir ser treinadas de maneira lícita para se melhorar o
rendimento de atletas, podem se tornar o diferencial determinante para a vitória
ou para a derrota. São inúmeros os exemplos de atletas e equipes que perdem
para algo descrito pelo senso comum como “o psicológico”. Ademais, sempre
que não é possível explicar o “inexplicável mundo das emoções”, adjetivos
pejorativos referentes aos estados emocionais dos atletas profissionais e
amadores surgem com força total para taxa-los de “amarelões” ou
“pipoqueiros”. Uma vez alcançando a real melhora da população esportiva em
um ambiente que já está acostumado a lidar com altos índices de habilidades,
a presente pesquisa tem como objetivo secundário a validação de uma técnica
segura para a melhora de aspectos psicológicos que são determinantes para a
qualidade de vida de milhões de pessoas em todo mundo. Atualmente, o NFB
já é utilizado como opção de tratamento em diversas patologias como nos
casos de transtorno obsessivo compulsivo, transtorno do estresse pós-
traumático, transtorno opositor desafiador, transtornos de ansiedade,
transtornos do espectro autista, transtorno depressivo, transtornos alimentares,
transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de substância
psicoativa. Além disso, o NFB também é utilizado em casos de dificuldades de
concentração e memória, distúrbios de aprendizagem, enxaqueca, fibromialgia
e insônia. Nos EUA, o NFB é considerado uma das opções de primeira linha
para o tratamento de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade sendo
considerado, a única opção tratamento não medicamentoso a pacientes
refratários ao metilfenidato. Já há na literatura, muitos artigos sobre o NFB
como opção de tratamento para diversas patologias e/ou para o alivio de
sintomas como os descritos anteriormente. Contudo, ainda há poucas

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pesquisas realmente conclusivas e que atestam o NFB como uma opção de


intervenção que tem como objetivo principal a melhora da performance
humana.

Palavras chave: Neurofeedback; Performance Esportiva; Psicologia do


Esporte

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