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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..............................................................................................................3
1. CASO PROBLEMA..................................................................................................5
2. DISCUSSÃO.............................................................................................................7
2.1. Automutilação, ideação suicida e depressão na adolescência em idade
escolar..........................................................................................................................7
2.2. A psicologia escolar frente à automutilação e a tentativa de suicídio em
adolescentes..............................................................................................................10
2.3. O papel do psicólogo escolar e as possibilidades de atuação....................13
3. CONCLUSÃO.........................................................................................................16
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................17
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INTRODUÇÃO

Os adolescentes formam um dos grupos mais vulneráveis frente aos graves


problemas mundiais da atualidade, como fome, miséria, desnutrição, analfabetismo,
violência, abandono e desintegração familiar. O jovem precisa adquirir condições
para cuidar do seu próprio acaso, com o intuito de atingir a condição de adulto. O
adolescente depara-se com estes aspectos sociais, juntamente com todo o processo
afetivo por qual passa para moldar a sua personalidade (DE CÁSSIA; PEDRÃO; DA
COSTA, 2005).
Cada vez mais, adolescentes estão recorrendo às facas, lâminas, tesouras,
ou outros objetos cortantes, para se cortarem e aliviarem a dor e a angústia que os
atormenta. Tentam esquecer esse sofrimento emocional e apenas sentirem
momentaneamente um “alívio” físico. Isto os faz sentir calma e alívio interno. Muitos
fogem da dor e lutam por não impor fim à própria vida. Contudo, ao verem o estado
em que deixaram o seu próprio corpo, sentem-se culpados e retornam ao seu
estado de transtorno. Esta angústia que eles dizem sentir deve-se, muitas vezes, a
conflitos familiares, às amizades ou até mesmo pelo seu estado psicológico.
As pessoas que realizam tal ato, não se orgulham dessas atitudes, apenas
não encontram outras alternativas para sobrepor as suas dores. Elas se
envergonham e refugiam-se cada vez mais nessas atitudes, sentem-se excluídas do
mundo "normal" não conseguindo pedir ajuda para o alívio de suas dores afetivas.
Na tentativa de refúgio, para que ninguém veja suas cicatrizes, usam apenas
roupas de manga comprida, pulseiras, acessórios, calça comprida, enfim, tudo que
possa camuflá-los. Muitos tentam parar e buscam ajuda, mas não conseguem
sucesso pois, poucos estão dispostos a ouvi-los sem julgamentos. Têm medo do
que as pessoas “normais” vão achar e dizer sobre o assunto, principalmente a
família (ALMEIDA, 2018).
O risco de autoagressão e ideação ou tentativa de suicídio não deve ser uma
preocupação exclusiva da área médica, mas de toda a comunidade. Diante da
descoberta da ideação de suicídio e do comportamento autoagressivo são
necessárias intervenções em múltiplos níveis. Com o trabalho interdisciplinar entre
as famílias, gestores e profissionais da saúde, escolas e psicólogos, é possível
diminuir e prevenir a conduta autoagressiva e o suicídio entre adolescentes em
idade escolar, a partir da identificação das causas e maior efetividade na prevenção.
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No primeiro capítulo, é apresentado o caso de uma adolescente que vivencia


a realidade da automutilação e de sua experiência na relação com sua família,
amigos e escola; e também os seus sonhos e perspectivas de futuro.
No segundo capítulo é realizada a discussão do caso à luz de estudos sobre
a autolesão, automutilação, depressão, ideação suicida, tentativa de suicídio e
suicídio. Analisa-se a atuação da psicologia escolar frente a realidade da
automutilação na adolescência e também o papel do psicólogo escolar e as
possibilidades de atuação para o enfrentamento do problema.
Na terceira parte, conclui-se o trabalho apresentando perspectivas sobre a
temática, lacunas e passos a serem aprofundados.
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1. CASO PROBLEMA

A.E., 15 anos, feminino, está no 1º ano do Ensino Médio do Núcleo de


Educação Integrada da Fundação Romi. Participa de um projeto de Orientação
Vocacional/ Profissional que objetiva oportunizar aos jovens momentos de reflexão
acerca das pretensões de futuro relativas a escolhas profissionais. Sendo assim,
A.E. tem vivenciado na prática algumas experiências por meio de atividades e testes
psicométricos que contribuem para desenvolver seu autoconhecimento. Conforme
dados observados, A.E. se define como uma jovem que apresenta as seguintes
características pessoais: extrovertida, teimosa, esforçada, ciumenta, realista, culta,
otimista, carente, iludida, persistente, indecisa e dedicada as pessoas. Entende que
facilita sua vida ser extrovertida, esforçada, realista, culta e persistente, no entanto,
ser teimosa, ciumenta, iludida, carente, indecisa, ansiosa, dificulta suas relações,
momentos e situações cotidianas. Elegeu as dificuldades como aquelas que
apresentam sempre um peso maior a ser vivido.
Diz não estar muito feliz assim, e gostaria de mudar quase tudo já que muitas
coisas a incomodam bastante. Para que esta mudança ocorra, segundo A. E., ela
gostaria de passar mais tempo consigo mesma, se conhecer mais e melhor e mudar
hábitos. A.E. apresenta um histórico de depressão, automutilação e já tentou suicídio
por duas vezes.
A.E. é uma jovem com algumas críticas em relação às questões pessoais e
sociais da vida como um todo. Apresenta boa fluência verbal, é bastante
comunicativa, no entanto, parece ser um pouco fechada em relação aos seus
sentimentos, valores e princípios que norteiam suas ações. Parece ter um
relacionamento interpessoal bastante positivo com os colegas na rotina da escola.
Para o futuro, desejar viajar, ler bons livros e se dedicar aos estudos para ser
uma médica “formada no exército”. Diz que deseja se esforçar, mas não esquecer
que é um ser humano e nunca perder sua essência. Diz também se identificar com o
pássaro da mitologia grega Fênix porque mesmo que tudo dê errado, ele renasce
das cinzas.
De acordo com dados colhidos após a aplicação do teste psicométrico que
corresponde a Escala de Maturidade para Escolha Profissional - EMEP, observou-
se que em relação a maturidade frente a escolha profissional, suas atitudes
apresentam-se acima da média, assim como também os conhecimentos necessários
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para a escolha estão numa classificação superior. Deste modo, podemos dizer que a
única categoria que se encontra na média é o autoconhecimento, sendo que as
demais estão todos em níveis bem melhor classificados.
A.E. afirma não se influenciar por familiares, colegas e professores, e
demonstra segurança em relação a uma escolha profissional neste momento,
acreditando que conhece bem sobre profissões e mercado de trabalho. Em relação
aos conhecimentos, apenas os relativos ao autoconhecimento apresentam alguma
fragilidade, já nos conhecimentos da realidade educativa socioprofissional, ela
parece estar segura das informações e se coloca como quase pronta para formalizar
uma decisão e uma escolha final.
Embora os resultados tão positivos, acredita-se que o projeto de O.P terá um
valor muito especial para A.E., na medida em que o aprofundamento do seu
autoconhecimento poderá auxiliá-la a obter uma maturidade e um controle
emocional importante e favorável para o enfrentamento de novas perspectivas
desejáveis e atitudes frente a diversidade de situações impostas pela vida.
A respeito do problema descoberto pela escola no que se refere à
automutilação e a tentativa de suicídio da aluna, o posicionamento a priori foi de
oferecer acolhimento profissional por meio da escuta. Na sequência, a providência
tomada foi estabelecer comunicação com o núcleo familiar. Porém, os pais
verbalizam que o fato são “coisas de adolescentes”, contradizendo o relato da aluna
que se coloca em uma posição de sofrimento e angústia perante a família. A escola
continua em estado de alerta frente ao ocorrido, e mostra-se a disposição na busca
para resolução de conflitos.
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2. DISCUSSÃO

2.1. Automutilação, ideação suicida e depressão na adolescência em idade


escolar

Automutilação caracteriza-se por ações cometidas por um indivíduo a si


mesmo causando lesões corporais, machucados, feridas ou fraturas utilizando as
unhas, dentes ou outros membros do próprio corpo. No caso de A.E., a escola
identificou cortes nos braços. Pode ocorrer que sejam utilizados objetos cortantes,
paredes ou quaisquer superfícies que causem, aumentem os ferimentos ou
dificultem a cicatrização. Cabeça, couro cabeludo, rosto e cavidades orgânicas
podem ser lesadas também, pretendendo causar sangramentos e infecção.
“Automutilação nada mais é do que qualquer comportamento intencional envolvendo
agressão direta ao próprio corpo sem intenção consciente de suicídio e não
socialmente aceita dentro da própria cultura e nem para exibição” (ALMEIDA et al,
2018, p. 149).

Rosenthal e Favazza (1996 apud ALMEIDA et al, 2018, p. 150) descreveram


04 tipos de automutilação: 01: Tipo Estereotipado, onde os comportamentos
são repetitivos, fixos, ritmados, lesões contendo padrões, ferimentos leves,
graves ou com risco de vida podendo ser em público. 02: Tipo Grave:
Ferimentos graves e irreversíveis, risco de vida real como amputação e
castração. 03: Tipo Compulsivo: Ações recorrentes, diariamente, várias
vezes, por exemplo, a Tricotilomania (arrancar cabelos). 04: Tipo Impulsivo:
Comportamentos auto agressivos, contra o próprio corpo, por exemplo bater
em si mesmo, com objetos ou contra paredes; essa forma é acompanhada
de descontrole emocional ou ataques de raiva.

A pessoa sente prazer e alívio em sentir a dor física ao se mutilar,


reorientando a sua atenção e a tensão psíquica insuportável. Os conflitos psíquicos
são amortecidos enquanto infere incisões na sua pele, temporariamente a dor e o
sofrimento são afastados ou esquecidos causando sensação de bem-estar, o que
aparenta ser o caso da aluna, que já mencionou em relatos não estar muito feliz. “Já
o que se mutila está procurando o alívio dos seus sofrimentos, sentir-se melhor (está
em busca de mudança), com resultados imediatos e poderá ser repetida várias
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vezes até que a sensação desejada de alívio seja atingida” (ALMEIDA et al, 2018, p.
152).
Alguns motivos para o indivíduo cometer a automutilação são as dificuldades
com a regulação do afeto, manter vínculos, baixas habilidades para lidar com
problemas e pouco aprimoramento pessoal de estratégias de enfrentamento em
adolescentes em idade escolar que ainda estão desenvolvendo sua identidade e
individualidade devido a vários fatores familiares, culturais e demográficos
(GARRETO, 2015 apud ALMEIDA et al, 2018). “Colocando esse público em situação
de maior vulnerabilidade para experimentar esse comportamento como forma de
encarar as crises características dessa faixa etária“ (ALMEIDA et al, 2018, p. 153). A
aluna em questão demonstra ter baixa autoestima e aparentemente não tem o apoio
da família.
A adolescência é um conceito que difere em cada cultura, comunidade ou
sociedade em que o jovem convive, período entre a infância e a vida adulta em que
ocorrem mudanças físicas, metabólicas, psíquicas e sociais imanentes a cada
sujeito. Cada adolescente precisa se organizar frente a exigências e expectativas
vindas da família, amigos, escola e comunidade. O púbere então tende a
desenvolver novas percepções das transformações do corpo, sexualidade,
independência dos adultos, criar vínculos em novos grupos e fortalecer sua própria
identidade (ALMEIDA et al, 2018).
Almeida et al (2018) aponta que, os sujeitos têm durante a vida fases de
desenvolvimento da identidade e o corpo pode tornar-se um lugar de representações
destes conflitos como elaboração e simbolismo. Transformações corporais
particulares da adolescência propiciariam recorrer à própria pele para aliviar a carga
das experiências emocionais doloridas “ao mesmo tempo em que oferece um palco
para a dramatização de conflitos e fantasias evocadas nesse período” (ADAMO
2008 apud ALMEIDA et al, 2018, p. 152)
De acordo com Rosa (2014 apud ALMEIDA et al, 2018) casos de
automutilação têm crescido nas Instituições Escolares e a exposição das imagens
das lesões e cortes nas redes sociais, descrição de como proceder e do que estão
sentindo sobre a execução poderiam influenciar os adolescentes a seguir estes
comportamentos. Ídolos e celebridades poderiam inspirar e sugestionar a prática
deste ritual, como Demi Lovato (1992) cantora, atriz e compositora norte-americana,
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que exibiu seus problemas psicológicos, sofrimentos e automutilação nas redes


sociais para seus fãs.

Segundo Garreto (2015 apud ALMEIDA et al, 2018, p.151) conviver em


ambientes nos quais se sentem inseguros e negligenciados, levariam o
indivíduo a um desenvolvimento interpessoal baixo e dificuldades para lidar
com as próprias emoções, os maiores fatores de risco na adolescência para
a automutilação são: 01: Características Pessoais: mecanismos subjetivos
de adaptação e autoestima; 02: Transtornos Psiquiátricos: Transtornos de
Personalidade e Ansiosos e de uso de Substâncias; 03: Problemas
relacionados à infância: Abandono, doenças físicas e mentais, abusos e
violência; 04: Social: Bullyng, acesso midiático à Automutilação e amigos
que influenciariam a prática; 05: Família: Separações traumáticas dos pais,
mal tratos, Alcoolismo, Depressão Genética e relações familiares
disfuncionais.

Suicídio e automutilação são atitudes diferentes entre si, mesmo que sejam
comorbidades. A pessoa que busca o suicídio tem como intenção a morte, acabar
com sua ansiedade, angústia e dor, a que se mutila está procurando paralisar,
desviar e reduzir o seu sofrimento para sentir-se melhor. Podem ser várias as
causas precipitantes como perda de controle emocional, traumas de várias origens,
sentimentos de inutilidade, culpa, vazio, rejeição e abandono. Falta de diálogo com
os pais, agressões sofridas, brigas na escola e situações em que são separadas de
pessoas com quais mantinham vínculos, distorções psíquicas ou cognitivas da
realidade entre outras motivações (BASTOS; MOREIRA, 2015).
Causar uma lesão a si mesmo é considerado um comportamento suicida,
mesmo que não tenha um alto grau de letalidade. O comportamento suicida divide-
se em 03 características: ideação suicida, tentativa de suicídio e suicídio
consumado. O suicídio consumado está, no mundo inteiro, entre as 05 razões da
morte de meninos e meninas com idade entre 15 e 19 anos, principalmente do sexo
feminino. “A idade de 15 anos é considerada crítica para manifestações de
comportamento suicida na adolescência” (BASTOS; MOREIRA, 2015, p. 446).
Ideação suicida tem a depressão como um de seus fatores associados,
pensamentos autodestrutivos estão presentes entre os sintomas dos transtornos
depressivos apresentados por adolescentes. O abuso de álcool e de substâncias
psicoativas estão também entre esses fatores. A ideação suicida antecede a
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tentativa do suicídio, que parece ser a única opção ao indivíduo, mas, se detectada
nos jovens ajudariam no entendimento e prevenção. “Ideias suicidas englobam
desejos, atitudes e planos que o indivíduo tem para dar fim à própria vida” (BASTOS;
MOREIRA, 2015, p, 447).
As pesquisas apresentadas por Fontenele et al (2018) para identificar motivos
e apresentações da depressão entre alunos matriculados na rede escolar pública e
privada com idades entre 14 e 19 anos descreveram indícios e manifestações
depressivas como: falta de ânimo, pouco apetite, magoas, isolamento social e
ideação suicida. Outros fatores associados à esta faixa etária poderiam intensificar e
potencializar emoções e reações depressivas como: a associação entre alterações
psíquicas e agressividade, bullying escolar e cibernético que afetam a integridade
social, dependência ao acesso à internet, mídias de relacionamentos ou jogos
eletrônicos.
Estudantes do sexo feminino aparecem com maior frequência entre os
sujeitos com quadros depressivos, são vivenciados por elas: falta de sentido na vida,
humor deprimido, auto recriminação, baixa autoestima, sentimentos de culpa e
desvalorização. A falta de apoio e desarranjos familiares possuem fortes ligações
com estes fenômenos. “Entre dos estudantes de ambos os sexos, 05%
apresentaram a sintomatologia depressiva na população geral, e os sintomas
identificados foram: tristeza, pensamento suicida e de morte, choro e insônia houve
predominância no sexo feminino” (FONTENELE et al, 2018, p. 144).
A depressão entre os jovens tem indícios psicológicos e biológicos, de origens
físicas, cognitivas, psíquicas, afetivas, comportamentais, psicossociais ou
econômicas. Na esfera familiar, a violência física e psicológica são apontadas como
causas e fatores estressores apresentados como inquietude e desassossego. A
vulnerabilidade social, dificuldades econômicas e famílias disfuncionais
estabeleceriam condições para que adolescentes desenvolvessem transtornos
psiquiátricos (FONTENELE et al, 2018).

2.2. A psicologia escolar frente à automutilação e a tentativa de suicídio em


adolescentes

Ao lidar com casos como o de A.E, a luz da psicologia escolar, deve-se levar
em consideração o que a escola tem feito com relação a essa situação, o que pode
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ser feito, e qual o papel do psicólogo escolar. Conforme já discutido anteriormente, e


de acordo com Freitas; Souza (2017) a automutilação não é uma prática atual, e
estudos apontam que, essa prática comumente se inicia na adolescência, entre os
13 e 14 anos. Esse comportamento pode prevalecer devido à relação com alguns
fatores determinantes, por exemplo, reprimir estados cognitivos e emocionais
indesejados para gerar um estado emocional desejável, pela busca de atenção de
amigos ou familiares, baixa autoestima ou por se esquivar de responsabilidades.
Já a tentativa de suicídio, segundo Araujo et al (2010) é uma conduta que não
visa acabar com a vida, mas sim modificar o ambiente no qual o sujeito está
inserido, que de alguma forma está lhe proporcionando sofrimento. São
comportamentos característicos da adolescência como forma de reagir a conflitos. A
adolescente em questão, segundo relatos da escola, já tentou suicídio duas vezes.
E a escola, o que tem feito com relação a isso? Sabe-se que os pais da
adolescente foram chamados para conversar sobre o assunto e a direção tem
mantido contato frequente com eles, mas essa providência foi tomada depois de
duas tentativas de suicídio, e se a primeira tivesse dado certo? Há um projeto de
orientação profissional que tem proporcionado reflexões sobre futuro e isso é muito
positivo se tratando de adolescentes no ensino médio, mas essa é a necessidade
mais urgente nesse momento? E a prevenção no cotidiano escolar? Quais são as
ações colocadas em prática visando o bem-estar dos envolvidos? A instituição conta
com um trabalho de tutoria que, é desenvolvido pelos orientadores educacionais
com o objetivo de proporcionar um espaço optativo para os alunos fora do horário de
aula, para auxiliá-los quanto à adaptação de ensino e também abrir espaço para
manifestação de assuntos pertinentes aos adolescentes que surgem no âmbito
escolar, porém, não são abordados. É um projeto diferenciado, nem todas as
escolas colocam em prática, e favorece os processos de mediação e estreitamento
das relações afetivas, mas será que previne casos como esse?
O trabalho que abrange a prevenção a saúde no contexto escolar é amplo,
entretanto, apresenta divergência relacionando-se a outros fatores vistos como
prioritários se tratando de aprendizagem. Lacerda e Guzzo (2005 apud FREITAS;
SOUZA, 2017) apontam que, há níveis de prevenção e promoção a saúde. A
prevenção primária consiste em ações voltadas a grupos que não apresentam
dificuldades relacionadas a algum problema psicológico. A prevenção secundária
direciona-se a população que apresenta sinais precoces de problemas psicológicos,
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envolvendo atenção a intervenções preventivas. A prevenção terciária constitui o


nível mais especifico, visando minimizar os impactos e consequências de uma
doença já localizada.
Maia e Willians (2005 apud FREITAS; SOUZA, 2017) apontam como fatores
de riscos os que aumentam a probabilidade de o adolescente desenvolver alguma
desordem tanto emocional quanto comportamental, podendo resultar na alteração
pessoal para possíveis riscos físicos e psicológicos. A adolescente A.E., em seus
relatos, fala das dificuldades como um peso maior a ser vivido. Partindo desse
pressuposto, destaca-se a importância de observar indícios de automutilação ou
ideação suicida em adolescentes, visto que, isso faz com que eles se escondam,
pois sabem que esses comportamentos não são aceitos socialmente. De acordo
com as informações obtidas, os pais da jovem encaram esse comportamento como
“coisas de adolescentes” o que é bastante comum em circunstâncias envolvendo
automutilação e ideação suicida, mas sabe-se que essa não é a forma mais viável
de lidar com a situação, e não é isso que um jovem em sofrimento espera ouvir. A
falta de empatia dos familiares nesse momento pode fazer com o jovem se esconda
e deixe de procurar ajuda por medo de ser julgado.
A psicologia escolar, em sua ação preventiva, nesse caso de automutilação e
tentativa de suicídio, deve colocar em prática ações que tenham como objetivo
favorecer a construção de estratégias de enfrentamento, o incentivo a
conscientização de funções, papéis e responsabilidades dos sujeitos, e em união
com a equipe que compõe o contexto escolar, buscar a superação dos obstáculos a
apropriação do conhecimento (MARINHO et al, 2005 apud FREITAS; SOUZA, 2017).
Araujo et al (2003 apud FREITAS; SOUZA, 2017) acrescenta que, as ações
preventivas devem direcionar-se em compreensão e intervenção no que se refere a
constituição de relações interpessoais e no foco de atenção e intervenção.
Discutindo a atuação do psicólogo escolar, Guarido e Sayão (2004 apud
FREITAS; SOUZA, 2017) apontam que, a atuação desse profissional em casos
como esse de A.E., diante das diferenças de fatores de riscos e modos de se
manifestar, seria mais viável uma proposta de ação considerando todo o contexto
que pode ter produzido determinada situação, no lugar de estabelecer um modelo de
ação.
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2.3. O papel do psicólogo escolar e as possibilidades de atuação

Esse profissional deve atuar diretamente no desenvolvimento de fatores de


proteção, centralizando-se em aspectos resilientes contribuintes para o
enfrentamento de situações aversivas. Nessa ótica, acaba se tornando ineficaz o
trabalho restritivo, que se baseia na remediação e no modelo clinico, devendo focar
em uma atuação mais eficiente, objetivando a saúde e o bem estar, do sucesso
escolar, competências e qualidades, a despeito da doença, do fracasso escolar e
dos distúrbios (FREITAS; SOUZA, 2017)
Diante de situações como a de A.E., o psicólogo pode auxiliar a escola na
contextualização que considera a complexidade existente, conforme a necessidade
de atentar-se as mudanças que ocorrem nesse âmbito e tudo que o permeia. O
psicólogo deve estar apto a analisar as situações socioeducativas, articulá-las e
conjugá-las, fazendo uso de modelos de inteligibilidade das práticas educativas que
sejam capazes de distinguir os olhares centrados no sujeito, nas interações entre os
grupos e institucionais (FREITAS; SOUZA, 2017).
As possibilidades de intervenção ao lidar com esses temas variam de acordo
com o contexto, porém, convém destacar: reunião inicial com a equipe pedagógica,
visando dar novos significados as situações que acontecem cotidianamente em sala
de aula, a fim de eliminar a estigmatização de alunos atendidos. Eleger espaços
visando à escuta de demandas e reflexão sobre como lidar com as situações
(FREITAS; SOUZA, 2017).
Almeida et al (2018) destaca a importância de projetos educativos específicos
sobre determinada temática, como resposta a problemáticas da instituição. Um
projeto sobre automutilação e suicídio, por exemplo, com o objetivo de sensibilizar
os adolescentes que praticam esses comportamentos a procurarem uma maneira
mais assertiva de lidar com seus conflitos internos. Uma ideia considerável pode ser
uma palestra sobre o tema, enfatizando a importância da construção da identidade
na adolescência, se baseando na teoria de Erikson. Segundo ele, nessa fase, os
indivíduos devem enfrentar e resolver uma crise de identidade básica do ego, e em
caso de resolução satisfatória dessa crise, terão como resultado um quadro
consciente e congruente (SCHULTZ; SCHULTZ, 2013 apud ALMEIDA et al, 2018).
Em contrapartida, se não ocorre de modo assertivo a resolução dessa crise,
isso se torna um impedimento para que o adolescente forme sua identidade de
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forma coesa, encarando uma crise de identidade que se caracteriza pela confusão
de papeis, de modo que ele passa a não saber quem é, muito menos qual é o seu
lugar na sociedade e o que pretende se tornar. A jovem A.E. é comunicativa, pensa
no futuro, tem bons relacionamentos interpessoais, os resultados de seu teste sobre
maturidade para escolha profissional foram satisfatórios, porém, ela demonstra estar
insatisfeita consigo mesma, e declara querer mudar quase tudo nela e ainda diz que
precisa se conhecer, o que pode ser indícios dessa crise. A tal crise de identidade
pode provocar no adolescente um afastamento da sequencia normal da vida, ou
mesmo despertar nele o desejo por uma busca de identidade negativa, recorrendo
por exemplo a automutilação, e em casos mais extremos, a tentativa de suicídio, que
ocorreu com a aluna. Nesse sentido, o psicólogo pode trabalhar com a
sensibilização sobre as repercussões que essas atitudes acarretam a longo prazo,
estimulando-os a buscar soluções alternativas, como a psicoterapia, atividades
físicas, artísticas, etc (ALMEIDA et al, 2018).
O autor supracitado aponta ainda que, um outro aspecto de extrema
importância é o desenvolvimento da autoestima, que trata-se de um sentimento de
valor que o sujeito tem por si mesmo, persuadindo na maneira como ele se percebe
e interage. Dessa forma, a partir da construção de uma identidade coesa, o
adolescente consegue confiar em si mesmo, sente-se mais seguro ao interagir com
as demais pessoas, o que é essencial para que não sejam influenciados pela mídia,
por exemplo, ou por amigos, que é algo muito comum.
Além disso, estes são comportamentos silenciosos, havendo nos jovens que
colocam em prática uma singularidade talhada no corpo, num aproximar-se da morte
sem morrer, é necessário proporcionar a escuta de perturbações psíquicas por ela
fomentada. O psicólogo escolar pode usar da escuta clinica como uma maneira de
abordar os fenômenos que se desenvolvem na rotina escolar, possibilitando o
desenvolvimento de ações coletivas, espaços visando à constituição de
conhecimentos sobre as experiências desses adolescentes, contribuindo para que
problemáticas como a da adolescente em questão seja discutida, e a busca de
solução seja compartilhada (MARTINS, 2013 apud ALMEIDA et al, 2018).
Silva e Santos (2018 apud ALMEIDA et al, 2018) acrescentam que, dizer o
que pode ajudar um sujeito que pratica a automutilação e a tentativa de suicídio é
dar a ele a liberdade de expressão, ouvindo-o e reconhecendo-o em sua
singularidade, favorecendo uma troca simbólica com aqueles que estão a sua volta.
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Proporcionar a fala desse individuo é dar voz ao silêncio, que é muito presente na
sociedade atual, levando em consideração que, comportamentos como esses são
formas de comunicar suas angústias. Como consequência, o oferecimento desse
espaço de escuta proporcionará a esses jovens a expressão dos seus modos de ver
e dizer como se sentem, possibilitando que compartilhem experiências e construam
espaços de singularização.
A escuta clinica pode ser desenvolvida por meio de plantão psicológico, que
possibilitará aos adolescentes o que Mahfoud (2012 apud ALMEIDA et al, 2018)
coloca como “consciência de si mesmo” e da realidade circundante. Esse espaço dá
abertura para que os indivíduos busquem ajuda no momento em que fizer sentido
para eles, de forma espontânea. Diferente da intervenção psicossociológica
tradicional, onde o psicólogo faz uma leitura diagnostica da escola, e oposta da
clínica-curativista, em que o objetivo é a superação de dificuldades no que se refere
à saúde mental, o plantão psicológico contribui para a abertura ao inesperado e a
disponibilidade de tempo e escuta sem planejamento prévio.
Não se pode esquecer do espaço para atendimento as famílias, embora a
instituição em que A.E. estuda já esteja fazendo isso, de acordo com relatos e
observações, deve-se levantar questões relacionadas a autonomia, dependência,
limites, autoritarismo, autoridade, relacionamento cognitivo e emocional da família,
visando a ressignificação dos relacionamentos intrafamiliares. É importante refletir
sobre a dificuldade de aprendizagem nesse momento do ciclo de vida familiar,
gerando espaços de diálogo quanto à dificuldade de todos, não apenas do aluno,
desfazendo nos sistemas a “culpa” pelo fracasso escolar (ALMEIDA et al, 2018).
Deve-se ressaltar que, a armadilha de que “a culpa é sempre da família” se
fragiliza quando o psicólogo atua como questionador, se esforça, e assume uma
posição investigativa, possibilitando estratégias de intervenção colaborativa, em que
todos têm influência sobre o aluno, assim como ele também sofre influência de todos
mutuamente (ANDRADA, 2005 apud ALMEIDA et al, 2018).
Na visão da psicologia escolar, trabalhando com questões como de
automutilação e suicídio, é notório a necessidade de uma atuação multidisciplinar no
que diz respeito ao encaminhamento e a prevenção, pois, antes de ser um
mecanismo aplicável, é resultante de uma conciliação social e politica que tem como
resultado o compromisso com a cidadania em seus diversos aspectos (BELISÁRIO,
1992 apud ALMEIDA et al, 2018).
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3. CONCLUSÃO

Dado o exposto, as práticas ligadas a questões acerca da automutilação e do


suicídio entre adolescentes, abrange uma gama de sentimentos e comportamentos
que necessitam ser analisados com graus de importância e urgência, diante da
crescente incidência de casos na atualidade e principalmente evidenciados no
contexto educacional.
O impacto destes fenômenos crescentes e alarmantes entre os adolescentes
mostra uma problemática que carece da atenção de educadores e psicólogos,
buscando compreender o surgimento de algumas desordens envolvidas nestes
processos como: angustia, vazio, abandono e rejeição que antecedem tais
comportamentos, existindo assim uma inabilidade em lidar com estes sentimentos,
ocasionando episódios de raiva e frustação, fazendo com que os jovens voltem
essas demandas contra si.
Tendo em vista o caso mencionado neste trabalho, bem como os demais
envolvidos neste cenário, evidenciamos estratégias adaptativas de enfrentamento ao
passo que seja possível: promover a capacidade de tomar contato com a situação,
ter consciência do ato, permitindo assim a diminuição do autojulgamento e
pensamentos destrutivos, buscar a capacidade de tolerar aflições e emoções
negativas, por meio de habilidades que estão de certa forma velados, buscar a
eficácia interpessoal, com o auxílio de psicólogos, melhorando dessa forma a
comunicação e interação com os outros, e consequentemente o reestabelecimento
da autoestima e do fortalecimento de vínculos.
Salientamos, portanto, que se faz necessário atenção de todos os implicados
neste processo, desde os pais, educadores, psicólogos e dispositivos face as
políticas públicas, a fim de que o olhar esteja voltado para o sujeito e para o campo
dialético de modo que haja compreensão no processo de subjetivação presente no
cotidiano dos adolescentes, pois, um reproduz e é reproduzido pelo outro.
Levando em consideração os aspectos envolvidos neste ambiente, torna-se
de fundamental importância buscar articulação entre psicologia escolar, o aporte
teórico e ações com a finalidade de contribuir de diversas maneiras frente a essas
adversidades, buscando por meio de intervenções a prevenção e o bem-estar
relacionados à saúde física e emocional dos sujeitos envolvidos no contexto
educacional.
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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, R.S. et al. A prática da automutilação na adolescência: o olhar da


psicologia escolar/educacional. Ciências Humanas e Sociais. Alagoas, v.4 n.3
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BASTOS, O. H.; MOREIRA, O. C. Prevalência e fatores associados à ideação


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Uma revisão Integrativa. Enciclopédia Biosfera: Centro Cientifico Conhecer,
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<http://www.conhecer.org.br/enciclop/2018a/sau/depressao.pdf>. Acesso em 16 de
maio de 2019.

FREITAS, E.Q.M; SOUZA, R. Automutilação na adolescência: prevenção e


intervenção em psicologia escolar. Vol 1 n.5 Salvador/Bahia, 2017.

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