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ISSN 1984-9354
UM ESTUDO ACERCA DO
PLANEJAMENTO FINANCEIRO EM
ENTIDADE SEM FINS LUCRATIVOS
Resumo
O planejamento e controle nas entidades sem fins lucrativos no Brasil
começaram a ter mais espaço na gestão destas organizações por
contribuir para a sua sustentabilidade. Percebe-se a importância das
entidades do chamado terceiro setor, viisto que, realizam suas
atividades visando o bem-estar social e sem o intuito de obtenção do
lucro. Através das atividades que as diversas organizações do terceiro
setor (OTS) desempenham, elas contribuem para a transformação da
sociedade e para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Este
estudo de caso tem como objetivo principal identificar e descrever os
componentes utilizados para o planejamento e controle dos recursos
financeiros da Pastoral da Criança do município de Ataléia/MG.
Utilizou-se o questionário como instrumento de coleta de dados. Como
resultados, a pesquisa mostra que a entidade que possui dificuldades
na elaboração do planejamento e controle, bem como a adequada
prestação de contas de todas as aplicações dos recursos obtidos;
carece do apoio e da colaboração da sociedade na qual está inserida
de modo a melhor desenvolver suas atividades e proporcionar
efetivamente a transformação da vida das pessoas por ela atendidas. O
estudo trouxe condições de identificação de componentes necessários
para a evolução do planejamento dos recursos financeiros da entidade
estudada a fim de contribuir em seu processo de tomada de decisão.
1 Introdução
Entende-se que manter uma entidade sem fins lucrativos e suas atividades filantrópicas
no atual contexto capitalista é complexo. Com base neste cenário, este estudo de caso tem
como objetivo principal identificar e descrever os componentes utilizados para o
planejamento e controle dos recursos financeiros da Pastoral da Criança do município de
Ataléia/MG, de modo a realizar suas atividades em busca da sustentabilidade.
Com vistas a alcançar o objetivo geral, este trabalho teve como objetivos específicos:
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2 Procedimentos Metodológicos
O levantamento dos dados foi efetuado através da pesquisa de campo, utilizando como
instrumento de coleta de dados o questionário, constituído por uma série ordenada de
perguntas abertas e fechadas de múltipla escolha, que foram respondidas por escrito e sem a
presença do entrevistador. De acordo com Marconi e Lakatos (2010), o questionário é um
instrumento de coleta de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas.
Esta pesquisa classifica-se também como descritiva, uma vez que buscou-se descrever
as diversas informações levantadas nesta pesquisa, tais como informações gerais sobre a
entidade, as atividades realizadas na mesma e as formas de planejamento existentes na
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entidade. Na concepção de Gil (2007), as pesquisas descritivas têm como objetivo primordial
a descrição das características de determinada população ou fenômeno, ou então, o
estabelecimento de relações entre variáveis.
A pesquisa foi realizada na Associação Pastoral da Criança, objeto do estudo, que está
situada no município de Ataléia/MG. A escolha do referido local de estudo foi por ser uma
entidade relevante para o município e região, bem como à disponibilidade de acesso às
informações necessárias para a conclusão do presente trabalho.
O questionário foi levado em mãos na entidade pelos autores, juntamente com uma
carta de apresentação. Dado o prazo de dois dias para a resposta, os autores direcionaram-se à
entidade efetuando o recolhimento do questionário entregue. Foi solicitado o direcionamento
do questionário ao responsável pela entidade.
3 Referencial Teórico
3.1 Planejamento
A espécie humana utiliza o planejamento em praticamente toda a sua trajetória. A
Bíblia Sagrada (1990) comenta no livro dos Provérbios (21:5) que os projetos do trabalhador
trazem lucro e os planos do apressado trazem miséria, procurando demonstrar que o
planejamento é fundamental para a sustentabilidade do homem ao longo do tempo. O
planejamento está relacionado diretamente com “imagens do futuro”, onde o homem busca,
no presente, programar as ações do futuro.
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Ackoff (1976) afirma que o futuro pode ser melhorado por uma intervenção ativa no
presente. Também comenta que o planejamento é a habilidade de controlar o que é
controlável, identificando o planejamento como o instrumento utilizado para controlar o
futuro. Surgiu nos anos de 1960, o planejamento de longo prazo, que possuía como principais
características a projeção e análise das tendências.
Slack (1996) afirma que um plano é uma formalização de o que se pretende que
aconteça em determinado momento no futuro. Um plano não garante que um evento vá
realmente acontecer; é uma declaração de intenção de que aconteça. Os planos são baseados
em expectativas, contudo, expectativas são apenas esperanças relativas ao futuro.
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análise, que estimativas dessas variáveis não sejam possíveis, para que possam ser
minimizados os riscos de um efeito sazonal.
Objetivos gerais;
Objetivos específicos;
Estratégias;
Premissas de planejamento;
O plano de longo prazo que se refere aos gastos de capital, para Sanvicente e Santos
(1983), deve ser cuidadosamente analisado para que os responsáveis pela elaboração do
orçamento de capital possam tomar contato com os projetos desse plano. Os investimentos
em ativo imobilizado normalmente constituem o ponto central desse processo, não só pelos
valores envolvidos, como também porque, uma vez tomadas certas decisões, as mesmas não
serão facilmente modificadas ou revertidas.
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Força a administração a dedicar parte de seu tempo e atenção aos efeitos das
tendências esperadas das condições econômicas gerais.
Mesmo não tendo finalidade de obtenção de lucro, as OTS podem e necessitam obter
lucros. Isto se explica à medida que tem-se em mente que estas entidades, geralmente não têm
fonte permanente de recursos, ou seja, sobrevivem de doações, do trabalho voluntário, ou
seja, sobrevivem do senso de caridade dos seus provedores, logo,estas organizações devem
administrar seus recursos de modo que possam continuar a realizar suas atividades mesmo
quando os recursos são mais escassos.
A atividade de administrar uma organização do terceiro setor pode ser tão difícil
quanto administrar uma empresa privada uma vez que essas organizações geralmente devem
prestar contas aos diversos colaboradores que fornecem recursos às mesmas além de também
ter que prestar contas à sociedade como um todo e ao governo uma vez que, normalmente,
recebem diversos incentivos por parte deste.
Desta forma, uma correta prestação de contas exige um controle adequado das receitas
e recursos recebidos e das despesas incorridas. Para que haja uma adequada prestação de
contas pela entidade é necessário um planejamento e controle de recursos a serem utilizados
na manutenção da atividade de modo que os provedores da entidade possam ter a certeza da
idoneidade e da seriedade do trabalho desenvolvido pela mesma. O planejamento no caso das
OTS, especificamente a questão de planejar as receitas e recursos a serem obtidos é um pouco
complexa, já que basicamente sobrevivem de doações. Mesmo assim, cabe ressaltar a
necessidade de que estas entidades realizem o planejamento dessas receitas visto que devem
realizar a prestação de contas da aplicação das mesmas.
Conforme Araújo (2006), o primeiro setor representa o Estado, que por meio de seus
órgãos e entidades, exercem múltiplas atividades, como as políticas, administrativas,
econômicas e financeiras, com o objetivo de cumprir suas finalidades básicas. Acrescenta-se
ainda que, no segundo setor, encontram-se as empresas privadas, que exercem suas atividades
com o objetivo de obter lucros a serem distribuídos aos investidores como remuneração do
capital aplicado.
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Para Soares (2008) pode-se conceituar o Terceiro Setor como um setor composto de
organizações diversificadas que se caracterizam pelo valor não econômico, fundadas pela
iniciativa privada (sociedade civil) com interesses públicos e sociais, com contornos
participativos, cooperativos e solidários, e apoiadas no trabalho contratado.
Com relação às OTS, não visar o lucro não significa não ter lucro. Tais entidades
podem e devem ter lucros com a realização de suas atividades, visto que precisam
constantemente de recursos. Porém, esse lucro, chamado de superávit pelas OTS, não é
distribuído aos associados; ele deve ser reinvestido na manutenção das atividades da entidade,
de modo que ela consiga atender o maior número de pessoas e com a melhor qualidade que
puder oferecer.
Conforme Araújo (2006) as OTS objetivam provocar mudanças sociais; têm como
principais fontes de recursos as doações, contribuições, subvenções e prestação de serviços
comunitários; utilizam o lucro como meio para atingir os objetivos institucionais; não
distribuem seus resultados aos seus provedores; geralmente são isentas ou imunes de tributos.
Para Andrade (2002), as OTS atuam em diversas áreas tais como cultura e recreação,
educação e pesquisa, saúde, assistência social, ambiental, desenvolvimento e defesa dos
direitos, religião e associações profissionais.
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O campo da gestão é considerado, para Teodósio (1999), um dos espaços centrais para
o avanço das organizações do Terceiro Setor, e necessita, segundo Assis (2005), de um
desdobramento no desenvolvimento de instrumentos e mecanismos gerenciais capazes de
mensurar e monitorar processos, resultados e impactos nos projetos executados, a fim de que
seus objetivos sociais sejam alcançados.
As Entidades Sem Fins Lucrativos são definidas por Olak (2010) como instituições
privadas com propósitos específicos de provocar mudanças sociais e cujo patrimônio é
constituído, mantido e ampliado a partir de contribuições, doações e subvenções e que, de
modo algum, se reverte para os seus membros ou mantenedores.
Percebe-se, contudo, a relevância das OTS, visto que, além de contribuírem para suprir
as carências existentes no atendimento da população em geral, tais organizações ainda
revelam-se como fontes de trabalho e renda para muitas pessoas. Os diversos projetos
realizados por essas entidades favorecem muitas oportunidades de trabalho e renda para as
pessoas assistidas pelas referidas organizações.
Olak (2010) afirma que do ponto de vista legal (Código Civil), as ONGs são pessoas
jurídicas, de direito privado, constituídas sob a forma de associações ou fundações, ou seja, o
que chamamos de “ONG” só será contemplado pelo nosso Direito Social.
Apresentam-se como categorias das ESFL, dentre as diversas entidades que compõem
o chamado terceiro setor:
Associações;
Fundações Privadas;
Organizações Sociais.
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Araújo (2006) afirma que o termo fundação designa um patrimônio destinado a servir,
sem intuito de lucro, a uma determinada causa de interesse público que adquira personificação
jurídica por seu possuidor.
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O artigo 62 do Código Civil (2002) define que as fundações somente poderão ser
constituídas para fins religiosos, morais, culturais e de assistência. Caso a fundação não tenha
tais finalidades não deverá ser constituída, e se já estiver em funcionamento, deverá ser
extinta e o seu patrimônio será incorporado ao de outra fundação de fins semelhantes aos da
extinta.
Ainda conforme o Código Civil (2002), artigo 66, as fundações serão controladas pelo
Ministério Público de onde estiverem situadas. Para que haja alteração no estatuto da
fundação existem algumas regras enumeradas pelo Código Civil que devem ser observadas
tais como a deliberação de dois terços dos responsáveis por gerir e representar a entidade; não
contrariar as finalidades da fundação; deve haver aprovação do Ministério Público.
Conforme Araújo (2006), as OSCIP são organizações do terceiro setor que, por
intermédio da lei, relacionam-se com o Estado através de termo de parceria. A lei que
regulamenta as OSCIP é a Lei n. 9.790 de 23 de março de 1999, chamada Lei do Terceiro
Setor.
As Organizações Não Governamentais (ONG's) são entidades não estatais que visam
atender a demanda social. Conforme Olak (2010) as ONG's são entidades comprometidas
com a sociedade visando seu bem estar e sua consequente transformação.
4 Resultados da pesquisa
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Ressalta-se que o respondente possui o cargo de direção da entidade, faz onze anos
que atua na entidade, sendo que há dois anos está na função atual. Identificou-se que o
respondente teve como experiência em outras organizações a função de professor e vice-
diretor de escola.
Com relação aos recursos necessários para a realização das atividades desenvolvidas
na entidade, tem-se que a mesma recebe recursos da Coordenação Nacional da Pastoral da
Criança, que é um organismo de Ação Social da CNBB que possui diversas parcerias como
bancos, indústrias, Associação Nacional de Amigos da Pastoral da Criança (ANAPAC),
Ministério da Saúde, Projeto Criança Esperança, Unicef, entre outras. E ainda, percebe-se a
existência de doações de pessoas das comunidades atendidas. As receitas oriundas da
Coordenação Nacional da Pastoral da Criança são permanentes, porém o valor é calculado
pelo número de crianças pesadas cadastradas e pelo número de gestantes atendidas. As
doações de pessoas da comunidade variam mês a mês. Essas pessoas são chamadas de
Padrinhos da Pastoral.
Os recursos necessários para a manutenção das atividades são diversos, dos quais
destacam-se:
Dinheiro;
Mão-de-obra voluntária;
Merenda;
Correios;
Gás;
Com relação à gestão dos recursos da entidade, obteve-se pela pesquisa que o
coordenador do ramo é capacitado para realizar a gestão de recursos. A capacitação é
chamada de Missão e Gestão. Ocorre sempre que existe a troca do coordenador. Tal
capacitação ocorre geralmente no município de Teófilo Otoni, para as áreas próximas deste
município. Não foi possível obter dados sobre a forma de capacitação que é realizada aos
coordenadores, portanto, avaliar a qualidade do coordenador enquanto gestor do planejamento
e controle dos recursos financeiros não se aplica ao estudo.
Poucos voluntários;
Falta de materiais para auxiliar no trabalho, como cadeira, mesas, bancos, fogão,
entre outros.
O respondente ainda afirma que os recursos obtidos são suficientes apenas para
realizar atividades básicas da entidade e que, para a realização de atividades adicionais é
preciso pedir a ajuda da comunidade. Entende-se que os recursos obtidos pela entidade
servem para suas atividades operacionais. Quando existe a necessidade de recursos para, por
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exemplo, reformar, ampliar, adquirir ativos, entre outros, efetuam-se atividades junto à
comunidade para angariar recursos financeiros que serão direcionados a determinado fim.
Com relação ao planejamento dos recursos obtidos pela entidade, o respondente afirma
que o planejamento é feito limitando-se ao valor recebido pela Coordenação Nacional da
Pastoral da Criança. O controle dos recursos é feito por meio de recibos, e demonstração
mensal das despesas. O planejamento dos recursos é realizado mensalmente, sendo que o
valor depende do montante a ser repassado pela Coordenação Nacional, conforme o número
de crianças e gestantes atendidas.
5 Conclusões
Os recursos obtidos servem somente para suas atividades operacionais, o que pode
comprometer sua operacionalização em caso de sazonalidade e na necessidade de
suportar financeiramente algum imprevisto;
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