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APRESENTAÇÃO

O objetivo desse caderno é oferecer uma seleção de documentos sobre Universidade Popular.
É composto por sete textos que expressam a história e o acúmulo do Movimento por uma
Universidade Popular (MUP).

Os quatro primeiros textos são resultado da preparação e realização do I Seminário Nacional de


Universidade Popular (SENUP), realizado na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, em 2011.
Constam as contribuições da União da Juventude Comunista (UJC) e dos professores Mauro Iasi
e Eduardo Serra para o Seminário, assim como a Carta de Porto Alegre e as Deliberações do I
SENUP.

O texto seguinte, a Carta de Fortaleza, expressa o resultado do Encontro de Movimentos em


luta por uma Universidade Popular (ENMUP), realizado no ano de 2014. Por fim, os dois últimos
textos são teses da UJC, balizadas pelo acúmulo das lutas e debates do MUP, apresentadas no
55º Congresso da União Nacional dos Estudantes (CONUNE) e no 26º Congresso Nacional de
Pós-Graduandos (CNPG).
SUMÁRIO

Contribuição da UJC para o I SENUP ............................................................................................ 3


Movimento por uma Universidade Popular ............................................................................... 7
Mauro Iasi

Considerações quanto à proposta da Universidade Popular e reflexões sobre a atualidade da


experiência da gestão do professor Horácio Macedo como Reitor da UFRJ ........................... 14
Eduardo Serra

Carta de Porto Alegre e Deliberação do I SENUP ...................................................................... 26


Carta de Fortaleza - ENMUP ....................................................................................................... 38

Ousar lutar por uma Universidade Popular: teses da UJC ao 55º CONUNE ............................. 50

Pós-graduandos na luta por uma Universidade Popular: teses da UJC ao 26º CNPG .............. 55
VENHA QUE A CAUSA

I
TAMBEM E SUA!
por uma entre em contato
universidade com a ujc:
021-2262-0855

UJC
ujcbrasil@yahoo.com.br
www.ujc.org.br

Contribuiçao da União da Juventude Comunista para o I Seminário Nacional de Universidade Popular setembro de 2011

A luta por uma universidade popular


é uma luta anticapitalista!

O I Seminário Nacional de Universidade


Popular, a ser realizado em Porto
Alegre entre os dias 2 e 4 de
setembro, projeta-se como um importante espaço de
discussão; contando com diversas organizações,
compõem a sociedade em seu desenvolvimento
histórico. O próprio debate em torno do modelo de
universidade reproduz as próprias disputas e
contradições existentes em cada época: a proposta
de Napoleão na França revolucionária era de que a
entidades e pessoas que de alguma forma universidade fosse um centro profissional se
protagonizam a resistência ao capital em nosso país. contrapondo ao ideário das classes feudais, ou
A UJC acredita que este seminário possibilitará uma então, o modelo alemão que sintetiza outro conceito
profunda reflexão acerca do papel da combinando a universidade enquanto sede, como
Universidade na atualidade, bem como irá projetar centro de desenvolvimento do saber e da pesquisa e
uma unidade de ação entre estudantes, professores, a sua capacidade de formação das camadas
técnicos administrativos e movimentos sociais. profissionais. A universidade sem esteve voltada
No entanto, não existe nenhum modelo de para os interesses da reprodução do capital.
Universidade isolado das forças dinâmicas que

Pela construção de um Movimento Nacional


por uma Universidade Popular!

C onforme já evidenciamos, os próprios


problemas vivenciados pela universidade
estão no bojo do próprio processo de
mercantilização da vida, ocasionado pela própria lógica de
reprodução do capital. Apenas a mais ampla das concepções
respectivas implicações na universidade. No Brasil, a
Universidade “nasceu” de forma tardia durante a primeira
metade do século XX, para atender aos interesses das elites
econômicas e a demanda por formação dos gestores na direção
política do estado capitalista. O ministro Gustavo Capanema,
nos pode ajudar a perseguir o objetivo de uma mudança em 1942, afirmava que o governo iria formar “os condutores da
verdadeiramente radical, possibilitando instrumentos que nação e os trabalhadores do Brasil”. Os condutores da nação
rompam com a lógica do capital. É necessária uma abordagem seriam formados nas Universidades. Durante a ditadura civil-
totalizante que não se proponha apenas permanecer no militar afirma-se o caráter de pesquisa e expansão (reforma de
movimento de negação condicionado pelo próprio objeto 1968) das Universidades para atender as demandas do capital,
negado, mas que aponte para uma negação radical tendo como como fator de produção importante do projeto
alvo global a própria lógica estruturada no movimento do desenvolvimentista.
capital. Não basta negarmos os efeitos do capitalismo ou É durante a era FHC que se intensifica uma nova
lutarmos por melhorias localizadas de forma gradual. O ofensiva concatenada com a chamada reestruturação produtiva
movimento pela universidade popular tem esta tarefa de se dos capitais em escala mundial entre os anos 70 e 80, a qual se
constituir como uma das forças que se contraponha a este inimigo afirmava que o modelo estatal era custoso, “pesado” e pouco
global-o capital-e transponha o projeto de educação para eficiente.Abre-se então, um conjunto de reformas na
além da lógica vigente. universidade com base nos receituários neoliberais de diversos
Por isso é fundamental compreendermos o próprio organismos internacionais (FMI, BID, Banco Mundial, dentre
movimento histórico do capitalismo em nosso país e suas outros) com base na expansão de instituições privadas em
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Contribuiçao da União da Juventude Comunista para o I Seminário Nacional de Universidade Popular setembro de 2011

grande escala e controlando as verbas das instituições públicas, concorrências entre profissionais e centros para conquistas de
como centros de excelência. verbas, as fundações uma saída jurídica para o financiamento
No governo Lula, operam-se ações para a promoção privado na universidade que pautam a pesquisa e até mesmo
de uma reforma da universidade que dava continuidade ao cursos pagos de interesse privado cuja roupagem muitas vezes
processo de mercantilização e flexibilização da universidade a aparecem como uma forma de auto financiamento ou extensão.
divisão internacional do trabalho. São elementos dessa O governo Dilma prossegue esta lógica de expansão
reforma, além da flexibilização curricular e outros pontos dos da universidade brasileira para as demandas de mercado, em
programas recentes, como a “compra” de “vagas públicas” em um contexto de maior intensidade da crise do capitalismo o
universidades privadas( PROUNI), o uso mais intensivo da corte de 3,1 bilhões do orçamento para educação e 1,7 bilhões
Educação à distância, a mudança na estrutura acadêmica, nas para ciência e tecnologia além das promessas de expansão de
limitações da Autonomia Universitária e o REUNI. Durante a era programas como o PROUNI revelam o aprofundamento e
FHC, em 1994, tínhamos 211 instituições públicas e 711 associação do desenvolvimento da educação brasileira com as
privadas; já no ano de 2001, 183 públicas e 1.208 privadas, próprias demandas do capitalismo de forma global.
ou seja, há redução de instituições públicas e aumento das No campo da luta contra hegemônica, acompanhamos
universidades privadas. O vislumbramento da era Lula - como gradualmente nos últimos 20 anos uma grande dispersão e
início de um projeto social foi marcado exatamente pelo seu isolamento dos movimentos que contrapõe ao avanço da
final-, ou seja, seguindo a risca as lições neoliberais do mercantilização da educação na universidade.Isolamento
capitalismo; 2006, 248 públicas e 2.022 privadas e no final de oriundo de uma de correlação de forças favorável à ordem do
2010, as particulares já passavam 2.400. O aumento de 340 capital, tendo no Brasil a institucionalidade burguesa logrado
% de particulares em 16 anos, mostra a perversidade do deslocar o eixo da luta para a representação política e a
capital privilegiando o privado em detrimento ao público. jurisdicionalização das demandas políticas, de maneira que
Além do quadro visível de incentivos à expansão estas demandas são vistas como possíveis de ser alcançadas
privada e de baixa qualidade, observamos no caso da apenas dentro do processo político instituído por meio de ações
universidade pública a cobrança de uma maior “eficácia” ao de governo, iniciativas legislativas ou resoluções judicial.
cumprir metas sem estourar receitas. Criando enormes

A universidade brasileira em disputa


O ponto inicial da nossa concepção de
universidade popular é que está não poderá
desenvolver-se plenamente no seio do estado capitalista. É
que se insere a universidade brasileira no modo de produção
capitalista, podemos iniciar uma reflexão sobre os eixos
estratégicos de disputa:
fundamental, assim, compreendermos o papel que a
universidade desempenha no modo de produção capitalista
para então desenvolvermos nossa estratégia de disputa. Este
papel pode ser resumido nos seguintes eixos:
1 . acesso e permanência - Esse eixo de disputas torna-se
ainda mais importante quando entendemos a luta pela
democratização do acesso como antagônica ao projeto
hegemônico para a universidade. Lutar pela ampliação das
- produção de ciência e tecnologia que permitam o capital se vagas na universidade, a partir das demandas dos setores
reproduzir, possibilitando a criação de novas mercadorias, a populares marginalizados dela, conduz necessariamente ao
adequação da produção às necessidades do capital e ao seu questionamento do atual modelo de educação fundamental e
desenvolvimento contraditório e a geraçao/aperfeiçoamento média, à luta contra o modelo privatizante de educação,
de meios de dominação político-ideológicos. contra o modelo de universidade para reproduzir ciência a
partir dos interesses do capital e à contestação do modelo
- formação de profissionais científicos/administrativos de alta h e g e m ô n i c o d e e d u c a ç ã o s u p e r i o r, c e n t r a d a
qualificação para a solução dos problemas surgidos pelo fundamentalmente na formação de profissionais técnicos para
desenvolvimento capitalista, seja pela concorrência/crises de suprir as demandas do poder estabelecido. Todas essas lutas
super produção, seja pela dinâmica gerada pelo antagonismo se articulam na contestação, por exemplo, da insuficiência de
das classes em luta. verbas destinadas à educação em todos os níveis, em
contraponto ao enorme efetivo destinado ao pagamento dos
juros e amortização da dívida pública do Brasil com
- formação de mão de obra com algum grau de qualificação banqueiros e monopólios, nacionais e internacionais. De mesma
para a reprodução do modo de produção capitalista. forma, a luta pela permanência dos setores populares nas
universidades para que possam desenvolver seus estudos
A tendência da educação superior no Brasil tem sido a plenamente, com assistência estudantil plena, força também os
de concentrar em poucos centros de excelência a produção de limites do estado burguês, ao enfrentar sua lógica de
ciência e tecnologia e a formação de profissionais de alta “enxugamento” dos recursos do estado para a garantia dos
qualificação e de expandir a formação de profissionais direitos das classes populares, como moradia, alimentação,
técnicos capazes de reproduzir o modo de produção, como transporte, saúde, arte e cultura, etc. A luta pelos direitos
explicitamos acima, seja pela expansão da educação privada estudantis, articulada ao projeto de universidade popular,
que pouca ou nenhuma ciência produz, seja pela redução do acumula para o enfrentamento da sociedade capitalista.
orçamento pra ciência e tecnologia.
Com essa breve reflexão sobre os principais eixos em
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Contribuiçao da União da Juventude Comunista para o I Seminário Nacional de Universidade Popular setembro de 2011

2 democracia - A questão da democracia na universidade


é uma importante bandeira na disputa pelo projeto de
universidade popular. O movimento deve entender a
educação
necessidades objetivas e subjetivos dos oprimidos, servindo
para solucionar os problemas mais sentidos do povo, nas mais
diversas áreas, e como instrumentos de luta no enfrentamento
democracia como ampliação da participação dos à lógica capitalista. Pesquisa indissociável de uma extensão
movimentos populares e da comunidade universitária com caráter popular, que denuncie e enfrente radicalmente a
(professores, trabalhadores técnico-administrativos e produção de ciência e tecnologia ligadas às demandas do
estudantes) nos espaços de criação, planejamento, gestão e capital, seja para a produção de mercadorias, seja para a
controle da vida universitária, seja na esfera administrativa, dominação ideológica da burguesia. A disputa da ciência e
seja no ensino ou na produção de ciência e tecnologia. Além da tecnologia passam pela utilização e criação de brechas
do mais, essa bandeira passa necessariamente por na universidade que permitam que o povo traga suas reais
aprimorar e aprofundar a democracia nas organizações de demandas, rompendo muros e abrindo espaço para que todo
massa e nas entidades representativas da comunidade o conhecimento acumulado pela humanidade seja utilizado
universitária, como sindicatos, centros e diretórios em benefício da maioria oprimida. Disputar a produção de
acadêmicos. ciência e tecnologia de caráter popular enfrenta o poder
hegemônico estabelecido e contribui para a construção das
lutas e do poder popular.
3 ensino - O ensino universitário deve ser indissociável à
criação científica, integrado pedagogicamente,
orientado pelo pensamento crítico e embasado por uma A disputa de um projeto para a universidade
profunda ligação com a realidade concreta. O ensino não brasileira orientada pela estratégia da universidade
compreendido como mera reprodução de conhecimento de popular permite a superação das lutas atuais,
forma hierárquica, mas como intercâmbio de saberes e majoritariamente orientadas apenas pela necessidade de
experiências, reflexivo e orientador para a busca de novas resistência aos sucessivos ataques do capital à educação
informações e conhecimentos. Um ensino que conteste a atual superior, materializadas na progressiva apropriação
sociedade de exploração, que contribua para uma reflexão privada do público e expansão da educação tratada como
critica dos problemas da classe trabalhadora e oriente a mercadoria, desde o ensino até a pesquisa e a extensão. A
busca de soluções. Essa disputa deve ser feita em cada curso luta pela universidade popular permite transformar as lutas
universitária (como por exemplo na construção de novos de resistência em motor que impulsione a disputa de projeto
currículos e de projetos político-pegagógicos integradores), de sociedade no seio da universidade, de dentro pra fora e
em cada sala de aula, em cada grupo de estudos. de fora pra dentro, enfrentando a lógica do capital no ensino
e produção de ciência e tecnologia e contribuindo para o
fortalecimento de um outro poder, contra-hegemônico e anti-
4 ciência e tecnologia/extensão - A produção de ciência
e tecnologia deve estar profundamente ligada às
capitalista.

Tarefas do I SENUP para a construção do


Movimento Nacional por uma UP

A organização e fortalecimento do debate


em torno do projeto de UP não é fruto do
acaso ou apenas da vontade política de
alguns grupos, mas sim fruto da própria encruzilhada
histórica que o desenvolvimento do capitalismo nos impõe. É
-Ampliar a articulação como algo central entre o
movimento universitário (estudantes e trabalhadores da
universidade) com o conjunto dos movimentos populares;
-Fortalecer e articular as diferentes experiências de
projetos dentro e fora da universidade que sejam no âmbito
necessário as forças anticapitalistas se articularem em torno do ensino, pesquisa e extensão que atendam às demandas
de um projeto contra-hegemônico no campo da populares;
educação,neste caso a universidade popular. E não apenas -Criação do Movimento Nacional pela Universidade
nesta esfera da vida social, mas no cotidiano das diversas Popular, tendo como base a criação de um grupo nacional de
lutas que se apresentam aos movimentos populares. Por isso trabalho representativo de todas às organizações e
para a UJC, este importante seminário tem as seguintes entidades que constroem o I seminário;
tarefas: -Articular Comitês estaduais que movimentem as
bases e proporcionem debates e atividades pró ao
-Acumular as diferentes concepções de universidade Movimento de Universidade Popular Nacional;
popular na formação social brasileira, reconhecendo a -Articular o 2° SENUP como um espaço ainda mais
universidade enquanto um espaço em disputa; amplo que reúna as diferentes experiências de lutas e
mediações que estão porvir.

Programa para o Movimento Nacional por uma UP

C omo já descrito, o debate sobre


Universidade Popular ainda é pouco
trabalhado pelo movimento estudantil e
para além deste, raríssimas execuções. Porém, sempre
absorvida por disputas pequenas e que nem sempre
Necessitamos de estratégia bem definida que
permita a tensão com a lógica do Capital. Portanto,
devemos pensar em mediações táticas a curto, médio e
longo prazo, como uma forma necessária de associarmos
os problemas cotidianos e imediatos da educação com o
acumulam para um horizonte de transformação radical. necessário projeto global de superação a ordem do
Diante disso, entidades, movimentos populares e capital, sendo a luta por uma universidade popular não
organizações políticas entendem que a disputa da como uma obra exclusiva dos estudantes ou dos
universidade, neste momento, passa pela elaboração de movimentos de educação, mas de milhões de
uma estratégia. trabalhadores. Propomos uma ofensiva direta contra a
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Contribuiçao da União da Juventude Comunista para o I Seminário Nacional de Universidade Popular setembro de 2011

educação-mercadoria e a todos os tipos de visam ao lucro e as de caráter filantrópico – que são, em


mercadorização da vida social. geral, desacopladas do esforço de pesquisa, apresentam
Mediações que são necessárias ao lançarmos baixos níveis de qualidade não cumprem, na maioria dos
para este projeto a abordagem totalizante em não casos, suas obrigações trabalhistas, além de serem
considerar a universidade e a educação enquanto devedoras do Estado; assim este controle deve ser exigido
problemas localizados da lógica de organização social nos campos legal / fiscal, acadêmico e trabalhista; as
que nos é imposta. Mediações concatenadas com as instituições que não atenderem a estas condições deverão
formas de reprodução desta lógica no dia a dia dos ser encampadas pelo Estado;
estudantes e trabalhadores, por isso acumulamos
coletivamente tais propostas de lutas táticas: Partindo destas lutas como preceitos de uma
unidade programática, podemos qualitativamente
a. Contra o sistema capitalista e a classe objetivar o projeto estratégico de universidade popular
dominante burguesa; na formação social brasileira com os seguintes eixos gerais
b. Contra o corte de verbas para a e a serem desenvolvidos;
educação, a precarização do ensino e a não reposição
salarial; políticas que contribuem para a desqualificação a. A Universidade Popular deve ser uma
da educação; instituição de não-mercado, tendo seus esforços de ensino,
c. Verba pública para a educação pública! pesquisa e extensão definidos a partir das necessidades
d. Pela defesa de políticas estudantis do país, das demandas da maioria da população, da
advindas de Pró-reitorias (recursos públicos diretos) e pelo classe trabalhadora.
fim da intervenção das Fundações Privadas de Apoio; b. Ser gratuita, de acesso universal,
e. Pela democratização nas instâncias c. Autonomia administrativa, política,
deliberativas das universidades, ou seja, a efetivar a jurídica e acadêmica, plena democracia nas tomadas de
participação e a valorização dos trabalhadores decisão com participação efetiva e paritária dos
técnico-administrativos em educação e estudantes, pois se professores, técnicos e estudantes.
configuram com pouca expressão; d. Deve ser engajada, ter papel político na
f. Contra a universidade a serviço do luta pelas transformações sociais, disputando a hegemonia
agronegócio e outros tipos de empresas que só objetivam cultural, política e ideológica a partir de posicionamentos
o lucro; e iniciativas anticapitalistas e socialistas.
g. Contra as políticas institucionais que não e. Deve ser autônoma, devendo ser criado o
atendem as demandas sociais para com a Educação (PNE, sistema nacional de universidades autônomas, para a
PROUNI, REUNI); garantia de elevados padrões de qualidade para todas
h. Contra o sistema de avaliação do ensino as instituições, em meio à sua diversidade
superior (ENADE) e às incongruências do FIES;
i. Contra a Educação à Distância como meio Estas são algumas propostas baseadas no
de formação básica de graduação, usurpando as várias acumulo coletivo da União da Juventude Comunista,
vivências do estudo presencial. A Educação à Distância organização que se orgulha de estar ativamente presente
passa a ser profícua, a partir de um grau de formação e na organização e no fortalecimento da nacionalização do
maturidade, vista como uma atividade de formação debate estratégico e contra hegemônico da Universidade
complementar; Popular juntamente com outras valorosas organizações,
j. Luta constante pela ampliação das entidades e militantes independentes. Temos a certeza que
políticas de permanência estudantil, de pesquisa este SENUP pode vir a contribuir para um salto qualitativo
acadêmico-científica e de extensão universitária; sempre nas lutas e debates que movimentam a classe
condizentes às demandas da comunidade universitária e trabalhadora. Salto qualitativo norteado pelo eixo
aos anseios da sociedade geral; anticapitalista na perspectiva de superação desta lógica
k. Luta pelo controle social efetivo sobre as nefasta que hoje ameaça a própria humanidade.
instituições privadas – cobrindo tanto as empresas que
União da Juventude Comunista
Fundada em 1° de agosto de 1927

CRIAR, CRIAR,
UMA UNIVERSIDADE

UJC
UJC POPULAR! 6
Movimento por uma Universidade Popular
14/09/2011

Por Mauro Iasi.

Entre os dias 02 e 04 de setembro aconteceu em Porto Alegre um


encontro que sobre muitos aspectos é uma grata novidade no
movimento estudantil: o I Seminário Nacional de Universidade
Popular (SENUP). Primeiro uma novidade porque em momentos
como os nossos de fragmentação ele se construiu como um espaço
unitário e, segundo, porque começa a superar a mera agenda reativa e
toma uma direção ativa na construção de uma proposta para a
Universidade no Brasil.

Os modelos universitários sempre guardam relação profunda com as


formas societárias que lhes abrigam e refletem a luta entre interesses
e perspectivas das classes em disputa em cada momento histórico. Foi
assim na experiência Inglesa nos séculos XVII e XVIII , quando se
tentou inserir novos conteúdos, adequados aos interesses burgueses
em formação, mantendo-se a velha forma da Universidade medieval
baseada no conhecimento como revelação e domínio de poucos
iluminados. No século XIX, principalmente na França de Napoleão,
exige-se do conhecimento e da Universidade que forme os
profissionais do Estado, que desempenhe uma função prática e útil ao
desenvolvimento do capitalismo, como se expressa na briga entre
Napoleão e o Institut de France de Destutt de Tracy e seus ideólogos,
fazendo com que a Universidade se fragmentasse em faculdades
específicas formando profissões especializadas na lógica positivista.

Na Alemanha, em 1810, através das reformas de Humboldt, a questão


era outra. A Alemanha, ainda parte do Império Prussiano, não
realizara nem sua revolução industrial, nem a revolução política
típicas da ordem burguesa e exigia do Estado o papel de indutor desta
mudança, tal como ocorreria depois, entre 1870 e 1871, com
Bismarck. Neste cenário a Universidade deveria fornecer as bases

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para o desenvolvimento de um pensamento próprio que
fundamentasse a pesquisa e servisse de cimento de uma unidade
nacional e formação.

É, no entanto, no século XX e em nossa América Latina que um


elemento da moderna concepção de Universidade emerge. Além de
sede do conhecimento acumulado, da formação dos profissionais e
lócus da pesquisa, a Universidade seria chamada a olhar para a
sociedade real e suas demandas, dialogar com o conhecimento
produzido fora dela e enfrentar as lutas sociais que exigiam que
rompesse seu casulo. Um dos momentos decisivos deste processo se
dá na Argentina em 1918, na esteira de acontecimentos como a
Revolução Mexicana e a Revolução Russa. Protagonizada por uma
revolta estudantil na cidade de Córdoba a Universidade foi sacudida
pela exigência de democratização, eficácia e um papel mais atuante na
sociedade.

O movimento de Córdoba trazia algumas características próprias


deste período que se abria e que se expressaria novamente com vigor
nas revoltas estudantis francesas de 1968, ou seja, a ligação dos
estudantes com as lutas sociais mais amplas e o movimento operário,
assim como o papel de novas camadas médias em expansão (idem,
ibidem).

O resultado desse movimento foi o desenvolvimento daquilo que se


chamaria de educação continuada e depois de extensão universitária,
iniciativa fundada no desejo de levar àqueles que estão fora da
universidade parte do conhecimento ali desenvolvido denunciando o
elitismo inerente na forma universitária que se consolidara na
América Latina.

Como vemos, o modelo que herdamos não é simplesmente um entre


estes descritos (universidade como sede do saber acumulado,
formação profissional, pesquisa e extensão), mas uma síntese, nem
sempre harmônica dos elementos que constituíram sua história.
Como diria Hegel, que, aliás, foi reitor na Universidade de Berlim a
partir de 1830 até sua morte um ano depois, a verdade está no todo,
mas o todo nada mais é que o processo de sua identificação, antes de

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tudo, resultado.

O que queremos então: uma universidade pública, com acesso


universal, democrática em sua gestão, que articule ensino, pesquisa e
extensão e responda às reais demandas da sociedade? Existe um
provérbio chinês que nos aconselha a ter cuidado com o que
desejamos porque pode se realizar. A boa notícia para aqueles que
têm propostas rebaixadas é que já temos esta universidade, a má
notícia é que esta universidade com todos os problemas que
enfrentamos é pautada por estes parâmetros.

O que os estudantes reunidos em Porto Alegre descobriram pela sua


experiência própria é algo da maior relevância. A universidade que
temos, seus limites e contradições, não são apenas limites e
problemas de um modelo universitário – o que implicaria na
proposição de saídas técnicas, administrativas e pedagógicas que nos
levassem na direção de outro modelo – mas, expressão dos limites da
emancipação política própria da ordem burguesa, ou seja, é o máximo
de emancipação que podemos chegar “dentro da ordem mundana até
agora existente”.

A universidade é publica, ou seja, de todos e, portanto, tem que haver


uma disputa entre os indivíduos para ocupar suas vagas e só os mais
capazes é que lá chegam levando a meritocracia e o vestibular como
forma natural de acesso; é mais ou menos democrática em sua gestão
(ainda não se superou totalmente os entraves e entulhos da Ditadura
como as malditas listas tríplices na eleição de reitor e uma paridade
duvidosa na representação dos segmentos da comunidade
universitária); articulasse as dimensões do ensino, da pesquisa e da
extensão, inclusive por força constitucional (artigo 207 da CF) e, o
que pode parecer um paradoxo, responde às reais demandas da
sociedade, uma vez que estamos na sociedade do capital e as suas
personificações são organizadas e presentes fazendo com que seus
interesses se expressem como hegemônicos.

O que os estudantes perceberam corretamente é que uma


Universidade Popular não pode ser a universidade que temos
“democratizada”, com mais acesso dos trabalhadores e com trabalho

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de extensão. Todos estes aspectos não são contraditórios com o papel
da Universidade que temos como um aparelho privado de hegemonia
da burguesia, pelo contrário, é a forma pela qual tal aparelho se
legitima. A burguesia tem uma especificidade histórica, mais do que
seus antecessores ela precisa apresentar seus interesses particulares
como se fossem universais.

A Universidade que temos e o momento pelo qual passa é a expressão


do limite da emancipação política. Ela tem ampliado o acesso, tem
aumentado o número de instituições públicas, tem formado mais
profissionais, feito mais pesquisas, desenvolvido tecnologia e ciência
e, nos marcos do desmonte do Estado, tem feito isso com eficácia, isto
é, com as parcas verbas do fundo público que, por insuficiente, tem
que ser completado pelos mecanismos privatistas (diretos ou
indiretos) das Fundações, Instituições de Fomento ou de
financiamento direto das empresas privadas e algumas ditas públicas.

A universidade a serviço da “sociedade”, isto é, do mercado, a


universidade como meio individual de mobilidade social, formando a
força de trabalho através de cursos cada vez mais técnicos e
profissionalizantes, ao mesmo tempo em que isola em ilhas de
excelência a formação de pensadores e pesquisadores de elite cada
vez mais restrita e renovada.

Para aplacar as consciências: a extensão. Sempre valorizada no


discurso para ser menosprezada na prática. Considerada como prática
menor e não científica, como caridade assistencial, como
oferecimento de sobras simplificadas do conhecimento. Os pobres
podem entrar na Universidade, garante-se o acesso, mas não a
permanência, terão que disputar como indivíduos uma vaga, uma
bolsa, um lugar no alojamento, e serão tratados como um corpo
estranho a ser expelido do copo saudável do templo do conhecimento
e do mérito. Para os poucos que vencem os desafios, devem se tornar
como eles, abandonar sua identidade e sua consciência de classe,
pedir acesso à classe média intelectualizada sem nunca ser de fato
aceito, um escravo na casa grande, um bibelô pitoresco para ser
exibido como prova de nossa sociedade democrática e inclusiva em
que cada um, por seus próprios méritos pode subir na vida e ter uma
oportunidade de pisar nos que ficaram em baixo.

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Bom, se a Universidade como aparelho privado de hegemonia, local
de reprodução do saber, da formação profissional e da ideologia
dominantes, é um instrumento da hegemonia burguesa, qual o papel
de um movimento por uma Universidade Popular? Não pode ser a
pretensão de que se altere este caráter no âmbito universitário sem
que se alterem seus fundamentos, ou seja, as relações sociais de
produção e as formas de propriedade próprias da ordem do capital.
Neste sentido, o movimento por uma Universidade Popular é um
movimento contra-hegemônico.

Não podemos impedir que a burguesia e seus aliados expressem seus


interesses no fazer diário da Universidade, mas temos o dever de
apresentar ali os interesses dos trabalhadores. Devemos afirmar,
parodiando Brecht, que ali onde a burguesia fale, os trabalhadores
falarão, ali onde os exploradores afirmem seus interesses, os
explorados gritarão seus direitos, ali onde os dominadores tentarem
mascarar sua dominação sob o véu ideológico da universalidade, os
dominados mostrarão as marcas e cicatrizes de sua exploração.

Na prática isso significa uma defesa intransigente do caráter público


da universidade contra suas deformações mercantilizantes e
privatistas em curso; não uma convivência formal entre ensino,
pesquisa e extensão, mas sua efetiva integração; a recusa em aceitar
uma formação profissional rebaixada convivendo com as ilhas de
excelência, mas tomar de assalto o templo do saber e dotar de toda a
complexidade e riqueza do conhecimento como condição de execução
das diferentes frentes de ação profissional; romper os muros
universitários não para levar conhecimento aos “menos favorecidos”,
mas para constituir uma unidade real com a classe trabalhadora e
suas reais demandas como o sangue vivo das necessidades que deve
correr nas veias da busca pelo conhecimento que garanta a
reprodução da vida e não a boa saúde da acumulação do capital.

Por tudo isso, a universidade que queremos construir é mais que


pública (precisa ser radicalmente pública, mas é insuficiente), é
popular, com toda a imprecisão que o termo traz e que precisamos
polir até chegar à construção contra-hegemonica que contraponha os
interesses da burguesia com a sólida afirmação da independência e
autonomia dos interesses dos trabalhadores. Por isso, por sua

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intencionalidade e sua direção, a luta por uma Universidade Popular
é uma luta anticapitalista e socialista, ou seja, ao se defrontar com os
limites da emancipação política burguesa apresenta a necessidade da
emancipação humana.

Quando recebia o título de Professor Honoris Causa em uma


universidade de Cuba depois da revolução de 1959, Ernesto Che
Guevara alertava em seu discurso de agradecimento lembrando os
presentes que o estudo e o conhecimento não são patrimônio de
ninguém, pertencem ao povo e ao povo o darão ou o povo o tomará e
concluiu dizendo: há que se pintar a universidade de negro, de
mulato, de operário e camponês, há que se descer até o povo e vibrar
como ele, sentindo suas verdadeiras necessidades.

Os meninos e meninas, quase quinhentos participantes, que lotaram


o auditório da tradicional faculdade de Direito da UFRGS,
representando trinta e três universidades de quase todos os estados
brasileiros, estavam vibrando, em sintonia com os trabalhadores e
suas reais necessidades, se movimentarão e seu grito será ouvido: é
hora de ousar, é hora de lutar, é hora de criar uma Universidade
Popular.

* O I SENUP é uma iniciativa de vários estudantes e suas


organizações (entre elas a FEAB – Federação dos Estudantes de
Agronomia do Brasil – e a ENESSO – Executiva Nacional dos
Estudantes de Serviço Social - organizações estudantis (Juventude
Comunista Avançando, Juventude Liberdade e Revolução, União da
Juventude Comunista, etc.), núcleos de luta por uma universidade
popular (CTUP, MUP, etc) e organizações políticas como o PCB, a
CCLCP e a Refundação Comunista que se encontram desde 2010 com
a intenção de criar um movimento nacional por uma Universidade
Popular.

Sugestões de leitura:

GUEVARA, E.C. Textos Políticos e Sociais. São Paulo: Ed. Populares,


1987.

12
HEGEL, G.W.F. A fenomenologia do espírito. Vol. 1. Rio de Janeiro:
Vozes, 1997.

MARX, K. Questão Judaica, in Manuscritos Econômicos e Filosóficos.


Lisboa: Ed. 70, 1993.

MAZZILLI, S. A idéia de universidade no Brasil(…). Universidade e


Sociedade, ano XX, n. 47 de maio de 2011, pp. 110- 120. DF: ANDES-
SN,2011.

SENUP. Cartilha preparatória. I Seminário Nacional de Universidade


Popular, 2011.

***

Mauro Iasi é professor adjunto da Escola de Serviço Social da


UFRJ, pesquisador do NEPEM (Núcleo de Estudos e Pesquisas
Marxistas), do NEP 13 de Maio e membro do Comitê Central do PCB.
É autor do livro O dilema de Hamlet: o ser e o não ser da
consciência (Boitempo, 2002). Colabora para o Blog da Boitempo
mensalmente, às quartas.
http://boitempoeditorial.wordpress.com/

13
Considerações quanto à proposta da Universidade Popular e
reflexões sobre a atualidade da experiência da gestão do
professor Horácio Macedo como Reitor da UFRJ

Eduardo Serra

Introdução

A luta por uma Universidade Popular é, nos dias de hoje, uma necessidade básica, um
imperativo na consolidação do caminho para a emancipação da classe trabalhadora
brasileira, somando-se à luta pela universalização do acesso à Educação pública,
gratuita, de alta qualidade, nos planos do ensino fundamental e médio.

É preciso deixar claro o que queremos dizer com a expressão “Universidade Popular”,
pois estes termos são frequentemente confundidos com as ações de cunho “populista”
ou com as medidas do campo das políticas compensatórias: o programa “Prouni”,
lançado no governo Lula, que troca impostos devidos por instituições de ensino
privadas por bolsas de estudo, destas instituições, para alunos carentes, as propostas de
precarização da formação superior, com a oferta de cursos de curta duração, cursos à
distância e outras, o aumento de vagas sem o correspondente aumento do número de
professores e funcionários e a composição de turmas com grande número de alunos,
como indicado pelo programa “Reuni”, e mesmo medidas de assistência estudantil,
como a abertura de “bandejões” nas instituições públicas podem ser chamadas de
“Populares”.

Esta luta se trava num momento de crescimento do capitalismo brasileiro, um


capitalismo integrado internacionalmente, extremamente concentrador de renda, cuja
economia é centrada nos setores financeiro, agroexportador, mineroexportados, nas
grandes empresas industriais, balizado por duas décadas de predominância de políticas
neoliberais, que, por sua natureza, rebaixaram sobremaneira os direitos e garantias
sociais, nesse período. Vivemos ainda, nesse momento, em que pesem as medidas de
contenção de gastos do governo Dilma, uma hegemonia conservadora, lastreada,
principalmente, na elevação dos padrões de consumo das camadas de renda mais baixa
(sustentada, em muito, pelo acesso fácil ao crédito) e na permanência do ideário
neoliberal, da necessidade do Estado mínimo, da prevalência do mercado como
elemento organizador da economia e da vida social, de valores como o individualismo,
de crenças como a da possibilidade do sucesso do empreendedorismo individual para a
superação da pobreza.

No entanto, há, também, nos cenários político e social, demandas objetivas do setor
produtivo para a expansão da educação nos níveis médio e superior, e uma demanda
significativa de concluintes do ensino médio para a expansão das vagas na Universidade
pública. As aspirações da burguesia brasileira e do “bloco do poder” para a maior
projeção brasileira no plano internacional e para a consolidação de um pensamento
autointitulado como “neodesenvolvimentista”, em meio a esse bloco, também
contribuem, por sua vez, para pressionar o sistema universitário no rumo da expansão,
nas proporções e nas áreas necessárias à consecução desses objetivos.

14
Condicionantes para o desenvolvimento da Universidade

A dimensão, a estrutura, os papéis sociais e o processo de desenvolvimento das


universidades são ditados por fatores diversos, dentre os quais destacam-se sua relação
com a estrutura e o desenvolvimento da produção capitalista, em cada país, e com a
força acumulada pelas demandas sociais, estas geradas e balizadas pela correlação de
forças entre as classes sociais e os diversos grupos que as compõem, e por uma série de
elementos ligados à construção cultural em cada formação social.

Nos países capitalistas desenvolvidos, a Universidade gerou e gera boa parte parte dos
conhecimentos científicos e tecnológicos necessários para apoiar as demandas do
sistema produtivo, além de formar os quadros requeridos para ocupar uma significativa
parcela dos postos de trabalho técnicos da indústria, da agricultura e do comércio, além
das funções e cargos administrativos das empresas em geral e do Estado. É também, em
geral, um centro de geração de idéias, de conhecimento e de pensamento crítico, plural,
sobre todos os aspectos da vida social, e um espaço de qualificação e enriquecimento
pessoal e de ascensão social.

Ações propostas pelas próprias instituições universitárias e por grupos ou setores destas
voltadas para a interação direta na sociedade vem sendo desenvolvidas, também, em
diversos formatos e com diferentes concepções e graus de abrangência, constituindo o
campo da Extensão universitária. No Brasil, este campo foi elevado à categoria de eixo
fundamental de atuação da Universidade, juntamente com a pesquisa e o ensino, na
Constituição de 1988.

As universidades podem ser consideradas como um grande aparelho privado de


hegemonia, um espaço policlassista, de disputa política, cultural e ideológica, seja no
plano da sua direção central, nas suas unidades, departamentos, programas e em outras
esferas de seu funcionamento. Dialeticamente, a estrutura do sistema universitário e de
cada instituição, nos países capitalistas, ao mesmo tempo em que reflete a estrutura
produtiva e a hegemonia capitalista, apresenta inúmeras contradições, seja nas grades
curriculares dos cursos de graduação e de pós-graduação, nas linhas de pesquisa ou nas
ações externas. Influem grandemente na Universidade os movimentos organizados e as
entidades representativas dos estudantes, dos servidores técnico-administrativos e dos
docentes. As universidades – principalmente as públicas – são também permeadas e
influenciadas pelos mais diferentes movimentos sociais externos e pela ação dos
governos.

O exemplo dos países capitalistas desenvolvidos europeus mostra a ligação das


instituições universitárias com a produção e com as demandas sociais: no início do
século passado, as universidades formaram o corpo de conhecimentos de ciência básica
e aplicada e os quadros técnicos que impulsionariam às empresas privadas das
indústrias química, siderúrgica, metal-mecânica, de geração e transmissão de energia
elétrica, entre outras, que dariam sustentação aos avanços na produção como um todo;

15
a partir do pós-guerra, o cenário de sistemas produtivos destruídos e de grande
mobilização dos trabalhadores, incluindo-se partidos e grupos armados, aliado à
presença da URSS e contando com o respaldo político e ideológico de todas as
conquistas da classe trabalhadora daquele país, fortalecida pela vitória na segunda
guerra mundial e pelo recém-formado bloco socialista, entre outros fatores, gerou uma
formação social onde foi e ainda é significativa a expansão da presença dos Estados na
produção direta e no planejamento das atividades econômicas e políticas públicas
universalizantes de acesso aos chamados sistemas de bem-estar, como o pleno emprego,
a saúde, a educação, a cultura, a previdência;

assim, o sistema universitário europeu reafirmaria o seu caráter público e seguiria esta
tendência, passando a expandir-se de forma constante, em todas as áreas do
conhecimento, atingindo, hoje, um nível de matrículas da ordem de 35 a 60% dos
jovens entre 20 e 24 anos. Esta base formou os quadros e gerou os conhecimentos para a
sustentação, além das indústrias e atividades econômicas tradicionais, às indústrias da
chamada terceira revolução industrial, de telecomunicações, de computação,
aeroespacial, farmacêutica, de química fina, de novos materiais, microeletrônica e
outros campos característicos da chamada “terceira revolução industrial”, e contribuiu
para elevar, sobremaneira, o nível cultural da população.

Já nos anos 90, sob o balizamento da hegemonia neoliberal, as universidades vêm se


adaptando às demandas da produção privada, embora mantenham-se como centros de
pensamento e como células vivas de conflito e formação de disputa política, cultural e
ideológica. Sob a égide do processo de integração política e econômica da Europa,
acelerado a partir da criação da União Européia, e com a finalidade de integrar os
diferentes sistemas universitários nacionais e aumentar a competitividade frente ao
sistema universitário norteamericano, está em curso um conjunto de mudanças
profundas na estrutura da Universidade, deflagrado a partir da Declaração de Bolonha,
firmada em 1999, em meio à fortes pressões sobre o sistema universitário – centrados na
busca de redução de custos e de sua adequação às novas demandas do capitalismo
europeu, já então integrado, fomentando a discussão sobre modelos de financiamento,
Autonomia, democracia interna e funções sociais da Universidade. Estas discussões
repercutem e impactam também o processo brasileiro, hoje, e o de todos os países, dado
o processo de mundialização em curso.

Em muitos países do chamado III Mundo ou mundo em desenvolvimento, há numerosos


exemplos de sistemas universitários fortes, voltados, em muitos casos, para projetos
abrangentes de desenvolvimento mais independente, “puxados” pelo Estado. Casos
emblemáticos são os da Índia, país que conta com um sólido aparato científico-
tecnológico, com apoio de políticas nacionais, que possibilitou ao país o domínio da
energia nuclear, da área espacial e de muitas outras. Na Coréia do Sul, as universidades
cumpriram um papel decisivo na empreitada desenvolvimentista desenvolvida no país, e
hoje atendem a mais de 60% dos jovens. As experiências da Universidade Nacional
Autônoma do México, extremamente democrática internamente e muito atuante, de
forma direta, na sociedade, e a amplitude e qualidade de sistemas universitários como os
da Argentina são exemplos a serem estudados.

A Universidade no Brasil

16
No Brasil, dadas as características de seu processo de desenvolvimento capitalista, as
universidades foram criadas tardiamente, e são voltadas, ainda, nos seus eixos mais
fundamentais, para os interesses das elites econômicas e das camadas médias altas. O
sistema universitário manteve-se afastado da produção por um longo período: No
Império e na República Velha, havia um conjunto de escolas isoladas voltadas para o
ensino, formando engenheiros, médicos e advogados, além de alguns outros
profissionais. A pesquisa era desenvolvida em outras instituições e, em geral, bastante
restrita. A primeira universidade brasileira vem do início da década de 20, quando foi
criada a Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, para que o título de “Doutor Honoris
Causa” pudesse ser oferecido ao rei Alberto, da Bélgica.

A partir da implementação do Plano de Metas (governo Juscelino Kubitschek, 1955-


1959), e por todas as décadas subseqüentes, subsidiárias de grandes empresas de capital
estrangeiro passaram a estar presentes no país, principalmente nos setores de bens de
consumo duráveis e de equipamentos. A partir de então, o capital nacional assumiu, na
maioria dos setores, a condição de parceiro minoritário dos grupos estrangeiros.

O capital externo predominava nos setores de maior sofisticação, nos quais as empresas
brasileiras, em geral, operavam como fornecedoras de componentes e matérias-primas,
ao passo que o capital nacional predominava no segmento de commodities
semiprocessadas. As empresas estatais tinham presença majoritária nos setores de
insumos intermediários, de alta intensidade de capital e escala produtiva elevada. Dessa
forma, o capital nacional veio a se constituir em parte não hegemônica, menor e
subordinada, retratando a opção dominante da burguesia brasileira, em associar-se, de
modo subordinado, ao capital internacional. Dado o fato de que, na maioria dos casos,
as empresas estrangeiras traziam e desenvolviam sua própria tecnologia, na maioria dos
casos em centros de P&D situados nos países-sede das empresas (fato comum às demais
economias latinoamericanas), houve um desestímulo à geração de conhecimento
tecnológico nas universidades brasileiras, distanciando-as, assim, da esfera da produção.

Mesmo com a industrialização e a modernização capitalista, se perpetuaram as fortes


desigualdades existentes na sociedade brasileira, agravadas de sobremaneira com a
ditadura militar. No início dos anos 60, com o crescimento das cidades e a expansão das
das camadas médias, aumentou, proporcionalmente, a pressão social por mais vagas e
para as universidades. A pressão foi solucionada com a ampliação da oferta de cursos
superiores em instituições privadas, a maioria de qualidade duvidosa, concentrada nas
áreas humanas. Esta solução não resolveria satisfatoriamente, entretanto, o problema, e
o país passaria mais quatro décadas com baixa oferta de vagas: até hoje, não passamos
do patamar de cerca de 13% dos jovens, o que é muito pouco, mesmo se comparada aos
índices de países como Argentina, Uruguai e México.

Embora retoricamente mencionado nos discursos desenvolvimentistas do Estado


brasileiro, predominante nas últimas décadas, a educação superior não se constituiu
efetivamente em um instrumento estratégico para o crescimento econômico, salvo de
forma pontual e mais nitidamente relacionada à constituição de determinados programas
de pós-graduação, desenvolvidos nos anos 70, com ênfase nas áreas tecnológicas, no
âmbito dos Planos Nacionais de Desenvolvimento dos governos militares. A ampliação
dos cursos, concentrado nas regiões sudeste e sul do país, atendeu também à demanda
das camadas médias altas e da pequena e grande burguesia, setores da sociedade que
objetivamente a consideravam como um instrumento individual de ascensão social.

17
Apesar de terem possibilitado a formação de centros de referência importantes e a
geração de um quantitativo considerável de mestres e doutores, os programas de pós-
graduação e pesquisa brasileiros foram estruturados sob os percalços de uma
modernização conservadora em que inexistiu um projeto de desenvolvimento nacional
minimamente autônomo. No entanto, em que pese sua forte contribuição em áreas
específicas, a introdução desses programas se constituiu, no caso geral, muito mais em
um instrumento de mobilidade social do que propriamente a um meio de promoção
planejada do desenvolvimento nacional. Neste sentido, o ensino superior na sociedade
brasileira terminou por assumir, mais efetivamente, a condição de bem privado e não de
bem público.

Os anos 80 foram marcados pela aceleração dos processos de maior integração dos
mercados financeiros; pela escalada de fusões e aquisições de empresas em âmbito
mundial, pela formação de blocos comerciais regionais, pela crise contínua dos Estados
socialistas do leste europeu e também pela ocorrência, no início da década, de uma nova
onda recessiva mundial que abalou fortemente os países periféricos capitalistas. No
Brasil, as turbulências do cenário mundial se expressaram através do aprofundamento
da crise da dívida, em meio à alta inflação. As finanças públicas sofreriam forte abalo e
se reduziria terrivelmente a capacidade do Estado de tomar iniciativas na condução da
economia. Os investimentos externos escasseariam e a economia brasileira perderia
dinamismo ao longo de toda a década, apresentando crescente defasagem tecnológica
em relação aos países desenvolvidos.

O enfraquecimento do governo Sarney (1984-1985, primeiro governo pós-ditadura


militar e ainda eleito indiretamente), por sua vez, faria com que a coordenação da
economia fosse ainda mais difícil. Ao final da década, passada a curta experiência de
retomada de um caminho de industrialização autônoma (aberto com o Plano Cruzado), a
adesão de amplos setores da burocracia governamental, do empresariado e das classes
médias ao ideário neoliberal, cujas propostas para as economias latino-americanas
seriam caracterizadas pelo chamado "Consenso de Washington", abriria o caminho para
um ciclo ainda mais profundo de desarticulação industrial e nacional nos anos 90, com o
abandono efetivo de quaisquer projetos de desenvolvimento econômico de caráter mais
autônomo. A liberação de importações de bens duráveis, máquinas e equipamentos
acirraria o distanciamento entre a universidade e o esforço de geração endógena de
tecnologia no Brasil, mantendo assim, mais uma vez, a Universidade distante do setor
produtivo.

Era evidente, então, o estado de estagnação dos poucos subsistemas de inovação que,
criados em torno dos grandes complexos tecnológicos estatais, como o aeronáutico, os
quais haviam conquistado um grau de competitividade mais elevado. Por diversas
razões, entre as quais pode-se citar a sua própria autonomia, seriam mantidos alguns
sistemas de inovações importantes, como o de prospecção de petróleo no mar, em torno
do complexo Petrobrás. Alguns segmentos do setor privado, no entanto, percebendo as
mudanças no ambiente, e agindo de forma antecipativa, também conseguiriam ajustar-
se, atualizando-se tecnologicamente, aprimorando a sua estrutura organizacional,
reduzindo suas escalas, promovendo a terceirização de setores das empresas, operando
fusões e novas parcerias, inclusive com empresas de capital estrangeiro. A importação
de bens de consumo e de insumos, facilitada sobremaneira pelo câmbio valorizado e
pela abertura comercial havida, contribuiria decisivamente para esta situação.

18
Embora o debate sobre a necessidade da “reforma universitária” também tenha passado
a integrar o conjunto das propostas de reestruturação do Estado, o conjunto das medidas
para a educação superior propostas no governo de Fernando Henrique Cardoso (em
especial a transformação das instituições universitárias públicas em organizações sociais
não públicas) se constituíram em tentativas de responder à crescente e contínua pressão
por ingresso no ensino superior no país, sobredeterminadas pela redução dos gastos
públicos conforme as diretrizes políticas dos recentes governantes brasileiros e, em
menor escala, às demandas setoriais por serviços oferecidos pelas instituições
universitárias (geralmente sob a forma de atividades de extensão, cursos latu sensu,
convênios com órgãos públicos e empresas privadas). Neste sentido, a então proposta de
“reforma da educação superior”, longe de ser uma “reforma” ou mesmo uma “contra-
reforma” (aos moldes, por exemplo, da implementada pela ditadura militar nos anos
setenta), era, acima de tudo, uma recomposição dos interesses dominantes nos campos
educacional e político, a serem atendidos de modo diferenciado pelas medidas
governamentais sugeridas.

Com a vitória da coalizão que se apresentava como de centro-esquerda, em 2002, o


governo Lula, apresentou, gradativamente, um conjunto de medidas sobre o ensino
superior, mas estas também não conformam propriamente uma “reforma universitária”.
Nas medidas propostas se destacam temas como a autonomia universitária, as
modalidades de instituição de ensino superior e as formas de ingresso, porém é
claramente perceptível que o ponto considerado de maior importância é o atendimento
da grande demanda reprimida por vagas no ensino superior, ainda que isto venha a ser
feito com o oferecimento de recursos públicos para as instituições privadas. O
Ministério de Educação anunciou a intenção de expandir o número de vagas nas
instituições públicas, e também se prevê o aumento das atividades de pós-graduação,
expandindo a oferta para as regiões fora do eixo sul-sudeste, além de empreender uma
maior aproximação institucional entre universidade e setor empresarial, tendo em vista a
existência a presença de demandas diversas sobre o sistema universitário oriundas
daquele setor, seja quanto à formação de quadros profissionais, seja para o incremento
da geração de conhecimento científico aplicável à indústria e de conhecimento
tecnológico strictu-sensu.

A história da república brasileira assinala a persistente demanda popular por medidas


que, possibilitando o atendimento dos interesses mais imediatos da grande maioria da
população brasileira, fossem instrumentos políticos para a reestruturação de uma ordem
social geradora das mais extremas desigualdades. Com o fim da ditadura militar e a
redefinição da ordem político-jurídica, através da Constituição de 1988, esperava-se que
demandas presentes desde as lutas sociais que antecedem o golpe militar de 1964,
somadas às decorrentes de todo o processo mais recente de desenvolvimento capitalista
vivido pela sociedade brasileira, pudessem ser atendidas. Mesmo com a aprovação da
Autonomia Universitária, e garantido o seu caráter e financiamento públicos, a “virada
neoliberal” nos governos de Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso - não
revertida nos governos Lula – somada à perpetuação do conservadorismo acadêmico e à
força dos interesses privatistas fizeram com que se perpetuasse a condição subalterna do
campo educacional no Brasil.

No Brasil recente, a educação superior, em que pesem as declarações em contrario, não


vem a ser realmente considerada como um bem público, essencial para o crescimento do

19
país, capaz de contribuir decisivamente para a superação das condições de extrema
desigualdade social de inserção internacional subalterna que hoje caracterizam o
capitalismo brasileiro. Ao contrário, ela é tratada como um meio para proporcionar,
diretamente, a manutenção do “status” ou a ascensão social individual e só,
indiretamente, um mecanismo gerador de efeitos sobre a economia e a sociedade.

Em meio a fortes pressões para a “privatização” de muitas de das atividades


universitárias, como a pressão para a captação própria de recursos e a transformação de
Hospitais Universitários em Organizações Sociais, continua-se reproduzindo um quadro
nacional incapaz de responder satisfatoriamente às demandas que advém de diversas
segmentos da sociedade, composto por restritos centros públicos de excelência
(acompanhados de algumas poucas exceções no campo das instituições particulares,
principalmente as confessionais) - que continuam a se concentrar nas regiões sudeste e
sul - e instituições privadas e públicas de “menor excelência” – espalhados por todo o
país.

Desde o governo Lula, vem sendo sinalizadas e operadas ações para a promoção de uma
reforma da universidade. São elementos dessa reforma, além da flexibilização curricular
e outros pontos dos programas recentes, como a “compra” de “vagas públicas” em
universidades privadas, as quotas, o uso mais intensivo da Educação à distância, a
mudança na estrutura acadêmica e no status da Autonomia Universitária, onde fica clara
a intenção de fazer com que a universidade pública busque os seus próprios recursos,
mantido um patamar mínimo de custeio. O exemplo das experiências de autonomia das
universidades estaduais paulistas é relevante, tendo alcançado conquistas, como a lei de
vinculação orçamentária ao Estado de São Paulo. Houve, entretanto, uma clara
“racionalização dos custos”, acompanhada de uma significativa expansão e
interiorização dos Campi, e melhoria nos índices de produção científica. Os maiores
problemas, ainda não resolvidos, concentram-se no pagamento dos inativos.

O quadro atual do sistema universitário brasileiro quanto às suas funções sociais

As instituições universitárias brasileiras, hegemonizadas pelo pensamento conservador,


desempenham funções determinadas para a alimentação do sistema produtivo e o
atendimento de demandas sociais específicas. Estas funções estão presentes, em
proporções diferentes, em todas as instituições, que, entretanto, são caracterizadas pela
predominância, em geral de uma delas.

Assim, temos:

- a pesquisa pura, característica das universidades federais, de algumas universidades


estaduais e de alguns institutos de pesquisa. Os trabalhos de pesquisa lidam com a
ciência básica e estão, em muitos casos, vinculados a redes internacionais, nas quais as
universidades brasileiras desempenham tarefas mais simples e repetitivas, no caso geral,
muitas vezes tendo, como objeto, elementos ou problemas distantes da realidade
brasileira, como vetores transmissores de doenças não presentes no Brasil;

- a pesquisa aplicada, característica de instituições públicas como a UNICAMP, que têm


ligação direta e financiamento da indústria privada. Algumas instituições religiosas e
privadas seguem também este padrão.

20
- a formação de quadros dirigentes para o Estado e os grandes grupos privados é uma
função com forte presença nas instituições públicas e religiosas e em algumas (poucas)
instituições privadas;

- a formação de quadros médios e mesmo para funções de nível médio para as empresas
privadas, característica das instituições privadas;

- a extensão, presente em diversas instituições, composta por concepções e ações


diversificadas como os projetos de cunho assistencialista, em geral de pequena escala e
promovidos por grupos acadêmicos e não acadêmicos que atuam como pequenas
ONGs, captando recursos públicos e reforçando o discurso da “mobilização social” ou
das iniciativas pessoais para o enfrentamento dos problemas sociais; a extensão como
fonte de dados ou como objeto de pesquisas; a extensão na forma de consultorias
técnicas e cursos de aperfeiçoamento financiados por governos e pelo setor privado; e a
extensão institucional, centrada em grandes projetos com interrelação direta com a
sociedade.

A proposta da Universidade Popular

O debate sobre a proposta da Universidade Popular se dá em meio à discussão sobre os


rumos da luta de classes no Brasil, num contexto em que há mais aportes de recursos
federais para a expansão do sistema universitário público e pressões populares para a
entrada no ensino superior, marcados, no entanto, por uma indução à flexibilização dos
currículos, pelo avanço de diferentes formas de privatização da Universidade e pela
precarização geral das condições de trabalho e ensino nas instituições de ensino
superior, principalmente no âmbito da graduação. Permeia, também, o debate em torno
da Universidade Popular, o debate sobre os limites da Autonomia universitária, assim
como o papel político, econômico e cultural da universidade.

Deve ser criado, assim o Movimento Nacional por uma Universidade Popular,
balizado pelos seguintes princípios:

- A Universidade Popular deve ser uma instituição de não-mercado, tendo seus


esforços de ensino, pesquisa e extensão definidos a partir das necessidades do país, das
demandas da maioria da população, da classe trabalhadora.

- deve ser estatal, gratuita, de acesso universal; o sistema universitário público deve
passar por uma franca expansão, balizada, entretanto, e necessariamente, pela exigência
de alta qualidade;

- deve ser amplamente democrática, entendendo que, por ser uma instituição complexa,
sua condução deve ser exercida de forma colegiada, respeitando-se suas características
intrínsecas e contemplando-se todos os seus segmentos, assim como as principais
representações da sociedade civil;

- deve ser financiada plenamente pelo orçamento federal, garantidos os recursos para
sua correta manutenção e sua franca expansão;

21
- deve ser autônoma, devendo ser criado o sistema nacional de universidades
autônomas, para a garantia de elevados padrões de qualidade para todas as instituições,
em meio à sua diversidade;

- deve ser engajada, ter papel político na luta pelas transformações sociais, disputando a
hegemonia cultural, política e ideológica a partir de posicionamentos e iniciativas
anticapitalistas e socialistas;

- deve ser balizada por um projeto de desenvolvimento nacional voltado para a maioria
da população, para os segmentos menos favorecidos e com dificuldades especiais,
apontando para a superação do capitalismo e para a construção da nova sociedade e do
novo homem, sustentado técnica e cientificamente por sua capacitação interna;

- deve buscar o diálogo com o saber popular, reconhecendo-o, organizando-o e


devolvendo-o à população para seu domínio e usufruto;

Institucionalmente, a Universidade Popular organizará o seu trabalho nos eixos do


Ensino, da Pesquisa e da Extensão de acordo com sua definição e finalidade. Assim, a
UP deverá ter:

- Ensino crítico, voltado para a formação plena do estudante, para a formação da


consciência crítica e para o papel transformador da realizada a ser desempenha no
futuro exercício da profissão; o ensino deverá estar diretamente ligado aos esforços de
pesquisa e de extensão, em sentido amplo;

- seus esforços de Pesquisa voltados prioritariamente para a solução dos grandes


problemas do país e da classe trabalhadora;

- seus esforços de extensão organizados em grandes eixos de ação, envolvendo o


conjunto das instituições, para atuação direta junto à sociedade privilegiando a atuação
junto às camadas menos favorecidas, visando à criação de modelos para a solução de
seus problemas mais graves; através das ações de Extensão, a Universidade Popular
auxiliará na promoção do acesso de todos ao patrimônio cultural organizado
socialmente, e, ao mesmo tempo, buscará estudar, preservar e divulgar a cultura
popular.

A luta pela Universidade Popular

Como desenvolvido acima, o desenvolvimento da Universidade, nos últimos séculos,


acompanha e responde à dinâmica do desenvolvimento capitalista, adequando-se às
necessidades das classes dominantes. Esta relação se manifesta diretamente na ligação
da Universidade com o sistema produtivo – na geração de tecnologias, na formação de
quadros. Como nos demais sistemas ou campos sociais, a universidade é fortemente
marcada pela ideologia dominante, a ideologia burguesa. A Universidade, como
aparelho de hegemonia que é, tende também a reproduzir e reforçar a ideologia
dominante.

No entanto, a Universidade está, simultaneamente, exposta a demandas do conjunto da


sociedade, sendo permeada por pensamentos e visões de mundo diferenciadas, que

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influem na sua configuração e se fazem presentes nos três segmentos que a compõem e
nas suas respectivas representações e nas diversas instâncias internas das instituições.
Há espaço, dessa forma, para a disputa ideológica e política na sociedade quanto ao
papel das universidades, assim como há espaço para estas disputas também no interior
da Universidade;

A proposta da Universidade popular deve tornar-se uma demanda de todos os


estudantes – das instituições públicas e privadas – dos níveis médio e superior, e de
todos os trabalhadores, trabalhadores, tendo como principal eixo a luta anticapitalista.
Para isso, deve estar articulada com os movimentos organizados, dentro e fora das
instituições, e deve ser travada também na esfera institucional e no campo ideológico
que permeia toda a sociedade.

A luta pela universidade Popular é parte de uma luta maior, a luta pelo socialismo, uma
vez que, dada a estrutura do capitalismo brasileiro, em fase monopolista e integrado
internacionalmente, dadas as impossibilidades históricas da recriação da proposta
nacional libertadora e socialdemocrata (esta tentada, tardiamente, no Brasil, pela
formulação democrático-popular), impõe-se a construção revolucionária do Socialismo,
no Brasil.

Dada a complexidade da formação social brasileira e o estado atual da luta de classes no


país, a luta pela UP, assim como as demais lutas e embates da classe trabalhadora, passa
por inúmeras mediações táticas, tendo como objetivos gerais a construção da
contrahegemonia cultural, política e ideológica socialista e a organização da classe
trabalhadora.

Entendemos que esta luta tem e terá, como principal eixo, os movimentos populares, e
reúne as condições para tornar-se, ela própria, uma grande movimento de massas, uma
luta unificadora da classe trabalhadora, associada à luta mais geral pela universalização
da Escola Pública estatal, gratuita, de alta qualidade, nos planos do ensino pré-escolar,
fundamental e médio, a ser travada em todas as esferas da sociedade.

A arena da luta institucional, nas universidades, ainda que não prioritária, deve ser
utilizada, uma vez que, em determinadas conjunturas, posições no aparato institucional
podem propiciar as condições políticas e técnicas para a viabilização de ações contidas
na proposta da UP e para a sua divulgação. No entanto, mesmo levando-se em conta que
as alianças no campo institucional não repetem, em geral, o padrão e os “cortes”
encontrados nos movimentos populares, nas eleições gerais e nas entidades sindicais,
entendemos este tipo de participação deve ser considerado com cuidado, para que sejam
evitadas as alianças fisiológicas ou espúrias, devendo ser efetivadas quando o “todo” do
bloco político formado para a disputa apontar na direção que queremos.

Para seguir este caminho tático, a luta pela UP deve balizar-se em um programa de
reivindicações e de lutas apontando para os seus objetivos estratégicos, centrado:

- na luta pela expansão do sistema universitário público, estatal, de qualidade;

- na luta pelo controle social efetivo sobre todas as formas de privatização da


Universidade pública;

23
- na luta pelo controle social efetivo sobre as instituições privadas – cobrindo tanto as
empresas que visam ao lucro e as de caráter filantrópico – que são, em geral,
desacopladas do esforço de pesquisa, apresentam baixos níveis de qualidade não
cumprem, na maioria dos casos, suas obrigações trabalhistas, além de serem devedoras
do Estado; assim este controle deve ser exigido nos campos legal / fiscal, acadêmico e
trabalhista; as instituições que não atenderem a estas condições deverão ser encampadas
pelo Estado;

- na luta por mais verbas e pela garantia da vinculação orçamentária, pela abertura de
mais concursos e pela valorização dos salários e das carreiras de docentes e técnico-
administrativos;

- na luta para que as verbas públicas na Educação destinem-se unicamente às


instituições públicas;

- na luta da participação direta das universidades na elaboração e implementação de um


projeto de desenvolvimento nacional de caráter anticapitalista e antiimperialista voltado
para os interesses da classe trabalhadora;

- na luta pela maior oferta de cursos noturnos;

- na luta pela priorização das verbas de pesquisa para os programas e projetos voltados
para a solução dos grandes problemas nacionais e para as camadas menos favorecidas;

- na luta pela promoção de programas de extensão voltados para os grandes problemas


nacionais e para as camadas menos favorecidas, integrados institucionalmente aos
esforços de ensino e pesquisa;

- na luta por uma assistência estudantil efetiva e sob controle direto das entidades
representativas de estudantes, docentes e técnico-administrativos, voltada para a
universalização da oferta de bolsas de estudo, pesquisa e extensão, do direito ao
alojamento, à alimentação e a todas as instalações e equipamentos para o apoio
acadêmico;

A experiência da gestão do professor Horacio Macedo, na UFRJ: passos concretos


no rumo da construção da Universidade Popular.

É importante, no contexto do debate sobre Universidade Popular, nos referirmos aos


principais elementos que marcaram a experiência da gestão Horacio Macedo, iniciada
em meio à fase final do processo de derrota da ditadura e de redemocratização do país,
nos anos 80. Horacio havia se destacado no movimento grevista dos professores
universitários, que lutavam por salários, plano de carreira e pela democratização do país
e da Universidade pública.

A candidatura, apoiada por uma frente política progressista, composta por


representantes de partidos grupos políticos progressistas e de esquerda organizados e
personalidades acadêmicas dos mesmos matizaes, surgiu do bojo do movimento e seu
programa refletia as principais reivindicações da comunidade acadêmica e dos

24
movimentos organizados atuando na universidade, tendo obtido apoio e participação
efetiva da maioria dos professores, servidores técnico-administrativos e estudantes.

Uma vez empossado, Horacio marcou, logo de início, uma firme posição em defesa da
Autonomia (que culminaria na sua aprovação na Assembleia Constituinte, em 1988),
tomou medidas para a eliminação de todas as taxas que eram cobradas, então, dos
estudantes, instituiu o vestibular autônomo (saindo da dependência da Fundação
Cesgranrio, entidade privada responsável, até então, pelo concurso) e promoveu a
retomada da participação de estudantes e servidores técnico-administrativos em todos os
colegiados da instituição.

Na gestão Horacio, a UFRJ passaria a ter papel de destaque na esfera política, emitindo
posicionamentos sobre os grandes temas nacionais e internacionais então em destaque,
realizando articulações junto aos movimentos organizados, ao CRUB, à Andifes e
outras entidades do mundo acadêmico, compondo alianças com outras reitorias
progressistas (como a de Ivo Barbiéri, na UERJ) e apoiando lutas populares.

No plano administrativo, buscou a racionalização da gestão, criando estruturas ágeis que


realizavam obras e produziam internamente equipamentos para laboratórios e
instalações da instituição, substituindo as compras e a contratação de serviços externos,
realizou amplo levantamento do patrimônio e iniciou um processo de luta, nas esferas
jurídica, institucional e dos movimentos, para a retomada de imóveis que haviam sido
cedidos para a iniciativa privada. Lutou para a expansão das vagas para estudantes e
pela abertura de concursos para docentes e técnico-administrativos;

Na sua gestão foram criadas novas unidades, cursos e programas acadêmicos de


pesquisa que buscavam atender às demandas sociais mais candentes, como o programa
da AIDS. Horacio buscou a atualização dos currículos, lutando para a retirada do
“entulho” de disciplinas impostas pela ditadura.

A gestão Horacio foi grandemente marcada pela criação de programas de extensão


institucionalmente integrados, a partir da Reitoria, voltados, principalmente, para as
comunidades de baixa renda circunvizinhas à ilha do Fundão e outras áreas da cidade do
Rio de Janeiro. Áreas com educação (formação profissional e aceleração de
aprendizagem), nutrição (estudos e programas de ação nas comunidades), medicina e
odontologia (levantamentos e ações diretas, em postos avançados, nas comunidades),
urbanismo (ações diretas de planejamento nas áreas carentes), educação física (iniciação
esportiva, programas para idosos e gestantes), ciências sociais (censo nas áreas carentes)
e muitas outras, como na divulgação cultural e a popularização da ciência, que
formaram um todo coerente, uma intervenção forte, contando com apoio de estruturas
de pesquisa e a participação de estudantes e servidores.

Foi uma gestão que mostrou ser possível a combinação de formas de luta diversificadas
para o avanço da luta por transformações sociais, mesmo em meio a muitas
dificuldades, limitações, oposições e incompreensões, deixando um saldo de modelos de
organização e ação institucional e um significativo acúmulo cultural e ideológico.

25
Carta de Porto Alegre

A universidade como entidade pretensamente neutra e universal já não


consegue esconder suas contradições. Os conflitos sociais já não podem ser
ocultados, o povo reivindica o que é seu em plena luz do dia. Entra em cena
clamando por transformações profundas e já não se contenta com migalhas.
Quer que as instituições – tantas vezes reprodutoras das desigualdades que
o oprimem – sejam parte do grande bloco que batalha uma história
protagonizada novamente pelos “de baixo”.
Em lugar da Universidade velha e arcaica, quer a Universidade do povo.
Derruba a Universidade privatizada, constrói a Universidade do povo. Morre a
Universidade elitizada, nasce a Universidade do povo. Não quer o “popular”
como sinônimo de precariedade, mas excelência para todos. Sai a
Universidade precarizada, entra a Universidade do povo. Instituição que no
nome retoma o sentido do universal ao caracterizar o sujeito que a
protagonizará: essa é a Universidade Popular.
Se os movimentos emancipadores encontram-se na defensiva, não
implica que não haja resistências amplas e também localizadas. Mas as
classes dominantes tremem ante a possibilidade de seu domínio global ser
contraposto por um projeto igualmente global. É parte da sua estratégia
impedir-nos de constituir a nossa. E justamente na unidade dos diferentes
agentes, táticas de atuação nos vários âmbitos, e um objetivo estratégico
comum é que reside a possibilidade de derrotar o atual modelo de
Universidade.
Não é um caminho rápido nem fácil. Mas a sua complexidade não deve
implicar qualquer desânimo ou imobilismo. É preciso avançar coletivamente,
enfrentando os dilemas e escolhendo os caminhos a cada encruzilhada
encontrada. Fundamentalmente, é manter o espírito coletivo em torno de
políticas concretas, colocando toda a energia transformadora em movimento.
Com esse espírito, estivemos reunidos nos campi da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul nos dias 2, 3 e 4 de setembro de 2011, e agora
compartilhamos os principais acúmulos de discussão do I Seminário Nacional
de Universidade Popular (SENUP). São propostas de políticas que
emergiram consensualmente dos diferentes Grupos de Discussão temáticos.
Elas não expressam necessariamente a opinião homogênea de todos os
participantes do SENUP, mas sugerem alguns dos caminhos possíveis para
a construção da Universidade Popular. Venceremos!

Porto Alegre, 4 de setembro de 2011.

26
DELIBERAÇÕES DO I SENUP1

A Universidade hoje e a Universidade Popular

Lutar por uma Universidade Popular significa compreender a


necessidade de ligar as tarefas imediatas de nosso movimento com a
construção de um projeto de universidade alternativo ao projeto do capital.
Temos, nos últimos tempos, um direcionamento “lento e gradual” das
instituições educacionais às necessidades de acumulação do capital, com
uma aceleração na década de 90 e em especial no século XXI. Este
direcionamento se manifesta: na reestruturação político-pedagógica da
maioria dos currículos dos cursos de graduação, subordinando as iniciativas
da universidade às necessidades do mercado, em detrimento das demandas
da população; na entrega da estrutura física e de recursos humanos públicos
para a produção de ciência e tecnologia de acordo com as necessidades da
iniciativa privada, o que compromete a autonomia didático-científica das
universidades; uso do dinheiro público para salvar empreendimentos
universitário privados; na diminuição dos recursos públicos relativos a
quantidade de vagas abertas nas universidades públicas, que aumenta a
precarização e intensificação do trabalho, diminui a qualidade de ensino,
inviabiliza a manutenção do tripé ensino-pesquisa-extensão voltado aos
interesses populares e incentiva as instituições a buscar outras fontes de
financiamento paralelas ao Estado; nos parcos mecanismos democráticos
que permitam à comunidade universitária interferir nos rumos tomados pelas
instituições; etc.
A formalização deste conjunto de medidas tem aparecido em decretos,
medidas provisórias, leis recentes que, por seu caráter fragmentado, ofuscam
a gravidade do processo pelo qual um direito se converte em mercadoria, e
uma autarquia, em tese pública e autônoma, em uma prestadora de tais
serviços. Exemplos desses projetos são o decreto das Fundações, o
SINAES, a Lei de Inovação Tecnológica, a Universidade Aberta do Brasil, o
PROUNI, o REUNI, o chamado “Pacote da Autonomia”, e mais recentemente
projetos como a lei 7.423, o PL 1749/11 (antigo MP 520) e a lei 12425 (antiga
MP 525) que tratam, respectivamente, da relação das universidades com as
Fundações “ditas” de Apoio, da gestão dos Hospitais Universitários (HU´s) e
da possibilidade de ampliação dos contratos temporários nas Instituições
Federais de Ensino Superior (IFES).
Este processo nos leva a concluir que o projeto hegemônico para a
universidade brasileira é global e dinâmico, e que nossa tarefa de questioná-
lo e contrapô-lo exige que trabalhemos não somente a partir de ações
pontuais e reativas a seus avanços, mas principalmente a partir da
formulação de um projeto alternativo igualmente global. O desenvolvimento
desse projeto, a que chamamos popular, e sua construção cotidiana na

1
Os textos que introduzem os pontos “A Universidade hoje e a Universidade Popular”, “Ciência e
Tecnologia”, “Autonomia e Democracia”, “Formação Profissional e Educação Popular” e “Função Social
da Universidade: pra que (m)?” foram tirados da Cartilha Preparatória, com pequenos ajustes, e já
representam um acúmulo e um consenso construído antes mesmo do Seminário em si. O texto que
introduz o ponto “Acesso e Permanência” foi proposto pela Comissão de Sistematização do 1° SENUP
e representa uma discussão feita durante o próprio Seminário, seja nas mesas os Grupos de Discussão
(GD´s). Todos os eixos que seguem os textos foram aprovados por consenso em todos os GD´s e na
Plenária Final do evento.

27
universidade e fora dela são os eixos de nossa luta. É necessário, por isso,
situar em que patamar se encontra a construção desse projeto popular para a
universidade.
A educação não é determinada somente pelas instituições formais
(escolas, universidades, escolas técnicas etc). Estas são uma parte
importante na totalidade dos processos educacionais, mas somente uma
parte. Temos, assim, a seguinte equação:
1) temos os processos educacionais como um todo. Falamos de um
sistema de internalização de valores, hábitos, princípios morais e éticos da
sociedade vigente, especialmente de sua classe dominante. Isto significa que
estamos falando de indivíduos sociais que, mesmo não tendo qualquer nível
de escolaridade, também são educados pela sociedade e levados a assumir
seu ponto de vista de forma “natural”. O egoísmo, o individualismo, que se
afirmam na tendência a resolver problemas sociais de forma privada, a
desumanização, indiferença em relação à barbárie social e o sofrimento
humano são apenas exemplos de como a sociedade nos educa a aceitar um
modo de vida social tão absurdo, e isto independe da escolaridade;
2) e temos as instituições educacionais. Aí, os indivíduos sociais já são
induzidos a uma aceitação ativa das normas sociais pré-estabelecidas. Tanto
mais ativa será esta aceitação, quanto mais elevado o nível de complexidade
de que estamos falando. Na universidade, chegamos ao entendimento da
gênese abstrata de conceitos e teorias que asseguram a legitimação e a
reprodução da ordem vigente.
A mediação entre os dois pontos acima já nos leva a um elemento
necessário para nossa luta: ela se insere dentro da luta social em geral, o
que faz com que a universidade não possa ser transformada de forma
permanente por si só, assim como ela, por si só, não pode empreender uma
alternativa emancipadora radical. No entanto, isso tampouco nos leva a dizer
que a universidade é um “caso perdido”, pois, sendo ela uma manifestação
de toda a estrutura social e de seu processo educativo, isso significaria
abdicar da possibilidade de qualquer transformação social, dentro ou fora da
universidade. Pelo contrário, devemos reconhecer essa instituição como um
“caso em disputa”, como parte do processo mais amplo de disputa ideológica
e material da sociedade. Se as universidades exercem um papel crucial para
a reprodução da ordem vigente, também exercem para a resistência e para
proposição alternativa, a partir de uma disputa “de dentro para fora” e “de fora
para dentro”.
Acreditamos que na realidade brasileira, é fundamental a resignificação
da palavra povo. Em um país onde a revolução burguesa ocorreu de cima
para baixo, divorciada de uma revolução nacional e democrática, combinando
autocracia e dependência com uma modernização conservadora e uma
democracia restrita e para as elites, as alternativas populares se divorciaram
completamente do bloco de poder dominante, que se tornaram antagônicos
entre si. É nesse bojo que se encontram algumas lutas fundamentais de
nosso povo, como pela reforma agrária, reforma urbana, pela estatização de
empresas estratégicas, etc. A luta pela Universidade Popular, então, se liga a
um conjunto de tarefas imediatas da luta “dentro da ordem”, de abertura de
espaço democrático e conquista de hegemonia popular e que, ganhando
vitalidade enquanto movimento, deverá caminhar para uma luta “contra a
ordem”. Dessa forma, o debate em torno de uma Universidade Popular se

28
revela muito mais do que uma oposição às “reformas” universitárias atuais,
visto que se insere na reflexão ativa sobre outro projeto de sociedade, a ser
protagonizado por todos setores explorados e oprimidos pela sociabilidade
vigente.

Como princípios, defendemos:

- Articular a luta por uma Universidade Popular com a luta pela Educação
Popular em geral, propondo a horizontalidade no saber, uma formação plena
(contra a fragmentação do conhecimento), e pela produção de conhecimento
para a classes trabalhadoras e pela transformação social;

- A universidade popular deve constituir-se pelo o povo e para o povo,


objetivando a transformação social para a emancipação humana.

Táticas:

- Constituição de um Grupo de Trabalho Nacional sobre Universidade


Popular no intuito de dar continuidade a esta construção. Ele será composto
inicialmente pelos mesmos convocantes do 1° SENUP, buscando agregar
mais organizações e manterá o método consensual de trabalho e
organização;

- Constituir e fortalecer na base do movimento grupos de trabalho pela


universidade popular;

- Construção de agenda mínima nacional para articulação da luta pela


Universidade Popular;

- Construção de um 2° Seminário Nacional de Univers idade Popular.

Ciência e Tecnologia

A universidade vem se transformando profundamente com sua


associação ao setor produtivo. Esse é um processo que se inicia na fase de
industrialização brasileira, se desenvolve com o advento do capitalismo
monopolista no Brasil, fase na qual também se consolida. Antes, a academia
era uma instituição pequena e auto-referenciada, voltada à formação de
profissionais liberais e de quadros para a burocracia estatal. A produção, por
sua vez, era desenvolvida pelo senso prático de alguns indivíduos, pela
intuição e pelo empirismo. A organização do saber tecno-científico e sua
associação à produção gerou um processo inesgotável de renovação e
transformação da base material da sociedade, no que se convencionou
chamar de sociedade industrial. A universidade cumpriu um papel decisivo
nesse processo, e, para isso, colocou-se a serviço da inovação tecnológica.
Nas faculdades e universidades nas sociedades pré-capitalistas, o
conhecimento era restrito pelo baixo nível de desenvolvimento das forças
produtivas. Após a industrialização, o conhecimento passou a ser restrito por
direitos de propriedade intelectual e tornou-se altamente cobiçado por ser

29
instrumental e necessário no processo reprodutivo do capital e de expansão
do mercado.
Com o desenvolvimento capitalista, o conhecimento se tornou muito
dinâmico. Os países centrais colocaram a produção de conhecimento (e,
assim, as universidades) como pilares de seu projeto de desenvolvimento,
criando e aprofundando uma estratificação internacional de conhecimento.
Nesse novo cenário, as elites passaram a respaldar sua condição de elite
não só na riqueza ou no Estado, mas também em uma pretensa
superioridade intelectual. A universidade, controlada por esse segmento
social, passou a ser o núcleo de certificação do conhecimento válido, o que
serviu para deslegitimar saberes populares, indígenas, orais, religiosos e
comunitários. Ao mesmo tempo em que consolidava o cânone científico como
hegemônico, a universidade pôs a ciência e a tecnologia como mecanismos
de acumulação privada de riqueza e reprodução da ordem existente. Ela não
só se voltou à criação de novos direitos de propriedade intelectual, mas
também forjou um ambiente ideológico que legitima essa como sua função
única e ideal.
Dessa forma, a produção de conhecimento revela a universidade como
uma instituição social e ideologicamente conservadora. Por trás das
inovações, dos títulos e das patentes, revela-se o profundo comprometimento
com o mundo atual e a silenciosa renúncia em transformá-lo.
Por isso, a questão diz respeito à orientação programática para a ciência.
A difusão de uma ideologia tecnocrática criou a ilusão de que a solução dos
problemas da humanidade viria exclusivamente por meio do avanço da
ciência e da tecnologia produtiva. Esta ilusão surge da orientação ideológica
que atua no sentido de desviar o foco de intervenção humana do plano da
estrutura social de classes. O ofuscamento, ou completa exclusão da
dimensão social, leva a uma orientação da problemática social ao âmbito da
“gestão” e da “responsabilidade individual”, inclusive a administração ganha
um caráter “científico” e, por assim dizer, “neutro” e “autojustificado”. Na
verdade, a própria expansão produtiva por meio da ciência é inseparável da
conformidade ideológica com certos parâmetros de “avanço social” impostos
justamente por quem se beneficia deles. Por isso mesmo, no campo da luta
pela universidade popular, nos interessa a ligação entre o conhecimento
produzido e transmitido nas instituições de ensino superior com os interesses
e as necessidades das massas populares e dos trabalhadores. Assim, um
dos papéis fundamentais da luta pela universidade popular é revitalizar o
papel intelectual crítico e criador dentro da universidade atual, rompendo com
os parâmetros da educação que tem o mercado como condição e o lucro
como fim.

Defendemos:

- Lutar contra a privatização do ensino e a reprodução da ciência e tecnologia


voltada aos interesses do capital;

- Atender as demandas populares através da Ciência e Tecnologia;

30
- Lutar pelo financiamento público no desenvolvimento da ciência e
tecnologia, contrapondo ao financiamento privado que condiciona os fins da
pesquisa à mera demanda do mercado;

- Controle popular sobre a produção cientifica e tecnológica e a socialização


do conhecimento.

Táticas:

- Criação de um Grupo de Trabalho de Ciência e Tecnologia articulado ao


GT-Nacional;

- Articulação com movimentos sociais para disputa do direcionamento da


ciência e tecnologia produzida na universidade;

- Debater a influência das Fundações “ditas” de Apoio no condicionamento


privatista da produção de ciência e tecnologia;

- Questionar e discutir as políticas científicas.

Autonomia e Democracia

A luta por uma Universidade Popular terá o grande desafio de construir


as mediações democráticas para a organização coletiva de nosso povo na
gerência do trabalho social produzido no espaço universitário. Para tanto, os
mesmos produtores do trabalho social (e da ciência) devem ter autonomia
sobre seu trabalho, não sendo determinados por outra força (o lucro, por
exemplo).
Hoje encontramos as universidades com poucos espaços abertos para a
discussão, para a interferência dos setores progressistas da sociedade como
um todo, para a livre escolha de dirigentes pela comunidade universitária e
para o exercício da transparência democrática nos processos de construção
de planos políticos pedagógicos bem como nas definições sobre a pesquisa e
a extensão, entre outros. Nessas condições é praticamente impossível
avançar em um projeto de Universidade Popular. Autonomia e democracia
são imprescindíveis.
No Brasil, a universidade é criada dentro da ordem burguesa e
desenvolve-se com as transformações requeridas pela “modernização
conservadora”, que extirpou os elementos progressistas na ditadura civil
militar de 1964. Com a redemocratização “lenta, gradual, segura e
consentida” referendada pela Constituição de 1988, ela é permanentemente
requerida pela lógica de mercado. As reformas do período FHC-Lula
fortaleceram o setor privado de ensino superior, bem como a penetração de
empresas privadas nas universidades públicas.
É evidente que o movimento universitário tem ficado na defensiva: na luta
contra a “reforma universitária” e suas medidas “fatiadas” implantadas nos
últimos anos. Em todos os casos, além das muitas dificuldades de
apresentarmos e reivindicarmos os nossos projetos por uma universidade
crítica, criadora e popular, temos que reconhecer que fomos implacavelmente

31
derrotados. A ausência de democracia interna e autonomia de gestão
universitária foram constantes nesse período.
Se aprovar toda uma contra-reforma universitária de uma só vez no
primeiro governo de Lula poderia gerar mais problemas, o recurso às
medidas provisórias, decretos e aprovação de leis, sem o necessário debate
nas universidades, foi implantado. Projetos do início do Governo Lula já estão
consolidados. E notem que a proposta mais avançada da dita “reforma” – o
fim da escolha dos reitores pelo presidente da república (lista tríplice)
inserindo eleições diretas e não mais “consultas públicas” – não só ficou na
promessa como parece já estar esquecida.
Em vários momentos os conselhos decisórios, mesmo com a vantagem
numérica de dirigentes indicados, foram palcos de referendamento das
políticas governamentais para as universidades. Foi assim na aceitação do
programa REUNI, firmada com força policial e o deslocamento das reuniões
previamente indicadas para locais mais afastados; na tentativa de aprovação
de Parques Tecnológicos, sem consulta à comunidade universitária; nos
inúmeros processos com expulsões e multas a estudantes que ocuparam,
protestaram e reivindicaram os seus direitos nos últimos 8 anos, entre outras
medidas. Ou seja, a “autonomia” que o Estado garante às universidades é
apenas para a captação de recursos junto à iniciativa privada e cobrança de
“serviços” (taxas e mensalidades), privatizando o destino e a função do
conhecimento produzido.
Diante desse quadro conjuntural, muitas das reivindicações dessa
temática serão fundamentos para uma Universidade Popular, pois indicam as
possibilidades democráticas e progressistas da inserção de movimentos
sociais ignorados pela universidade. Por isso, é necessário “romper os
muros” e inserir movimentos sociais, populares, sindicais e demais
estudantes no contexto geral da disputa pelos rumos da universidade
brasileira.

Defendemos:

- A democracia interna nas universidades para ser efetiva, não pode ser
simplesmente formal, mas tem como condição a existência de um movimento
organizado identificado com as causas populares;

- Autonomia das Instituições de Ensino Superior (IES) ao Estado e ao


mercado. Pelo financiamento estatal integral;

- Lutar pela estatização ou reestatização das universidades privadas e/ou


pagas. Pela completa gratuidade do ensino superior;

- Que as Fundações “ditas” de Apoio impedem a autonomia plena das IES


perante ao mercado. Sua lógica é privatizante e portanto lutaremos pelo fim
delas;

- Resistir às políticas do MEC que ferem com a autonomia das IES (REUNI,
“pacote da autonomia”, Lei de Inovação Tecnológica, etc);

- Criar mecanismos para o controle social dos recursos da sociedade;

32
- Abrir espaços para inserção dos movimentos sociais contra-hegemônicos
organizados na disputa dos rumos da universidade popular.

Táticas:

- Luta pelos 10% do PIB para a educação pública;

- Construir campanhas por democracia interna, como pela paridade nos


colegiados e escolha de dirigentes, avaliando as condições específicas para
a luta pelo voto universal;

- Pelo fim da lista tríplice e o artigo da LDB que estipula o voto dos
professores em 70%;

- Por mais concursos públicos para docentes e técnico-administrativos


efetivos;

- Nas universidades pagas lutaremos pelo congelamento ou rebaixamento


das mensalidades;

- Contra o Projeto de Lei 7.639/10 das “universidades comunitárias” a ser


aprovado no Congresso Federal;

- Lutar pela liberdade de organização sindical e estudantil em todas


universidades, em especial para as IES privadas e pagas;

- Contra qualquer forma de criminalização dos estudantes e trabalhadores


que se organizam e lutam por seus direitos.

Formação Profissional e Educação Popular

Em uma compreensão mais ampla, nossa formação enquanto seres


humanos abrange todos os espaços de nossa vida em sociedade. Em uma
sociedade onde a lógica do capital hegemoniza a produção e a reprodução
da vida social, as instituições educacionais e culturais e os meios de
comunicação seguem, em sua maioria, os ditames desta lógica. Necessitam
garantir o consenso de que os interesses de acumulação das classes
dominantes são interesses gerais de toda a sociedade.
No contexto universitário, este enquadramento fica cada vez mais
explícito com a crescente dissociação entre o ensino, a pesquisa e a
extensão e a busca por submeter estes elementos da formação à lógica
privada. Conforme a universidade orienta-se para o mercado, limita cada vez
mais o protagonismo e a autonomia da comunidade universitária para a
construção de um processo de formação criador e voltado para as
necessidades humanas.
Nas universidades particulares e centros de ensino superior privados, a
busca pelo perfil mais adequado ao mercado se tornou uma obsessão,
criando uma subserviência quase religiosa em relação aos desígnios e

33
vontades do mercado, na busca por “qualificar” a mão-de-obra. Muitos
professores de universidades públicas e privadas utilizam a expressão
“mercado” para se referir ao que espera o estudante do lado de fora da
universidade. Soma-se a essa lógica a massificação de bacharelados
“genéricos” com salas superlotadas e a expansão do ensino à distância puro
ou mesclado com ensino presencial.
A fragmentação do conhecimento evidencia-se quando vemos cursos de
exatas e/ou tecnológicos com uma lógica bastante tecnicista, onde a
intervenção na realidade deve limitar-se a execução e reprodução do que já
veio pronto “de cima”, e nos cursos de humanas, uma tendência ao
crescimento de um tipo de formação “academicista”, individual e desconexa
de uma inter-relação com os anseios de transformação da realidade. A
separação entre “bacharelados” e “licenciaturas” também fortalece essa
lógica de fragmentação do conhecimento e adequação à lógica do mercado.
Tudo isso força, nos diferentes campos de aprendizado, a legitimação
material e ideológica do poder dominante.
No entanto, a tendência de privatização e precarização do saber não se
impõem de maneira absoluta, pois sempre encontra resistência nos setores
mais avançados da comunidade universitária que defendem o caráter público
e democrático do ensino e a necessidade de um conhecimento crítico e
criador.
A construção de uma formação oposta à lógica dominante exige não só o
apetite pelo conhecimento, mas também a ânsia por transformação,
colocando o conhecimento como um bem social e coletivo e não uma
aquisição individual, fazendo com que o aprender, o fazer e o ensinar sejam
partes inseparáveis de um todo.

Defendemos:

- Contrapor ao tecnicismo e a fragmentação do conhecimento uma educação


integral, plural e voltada à emancipação e desenvolvimento das capacidades
humanas;

- Trabalhar a multidisciplinaridade e interdisciplinaridade na construção da


universidade popular.

Táticas:

- Ampliar os debates para outros níveis de ensino realizando a discussão


sobre educação popular;

- Disputa dos currículos dos cursos pela ótica da Universidade Popular;

- Luta contra fragmentação dos cursos em bacharelados e licenciaturas.

Acesso e Permanência

É impossível pensar a luta pela Universidade Popular, como estratégia


de luta a longo prazo que visualiza a constituição de uma nova universidade

34
dentro de uma sociedade que objetiva a superação das desigualdades
sociais, se não tivermos no horizonte a destruição da universidade elitista.
Portanto, nesta luta necessariamente teremos o horizonte de universalização
do ensino superior público, gratuito e de qualidade, com a abertura da
universidade para as camadas populares de forma massiva.
Entretanto, precisamos estar atentos para o fato de que nem toda
massificação do acesso significa uma real democratização ou popularização
da universidade, muito embora a democratização efetiva necessariamente
exija massificação do acesso. Em outras palavras, uma ampliação de vagas
que não aumenta os investimentos públicos – pelo contrário, os diminui –
levando a um sucateamento da infra-estrutura e a uma intensificação do
trabalho docente, com conseqüente diminuição da qualidade; que incentiva a
privatização interna das universidades públicas e um crescimento
exponencial das instituições privadas; que apresenta o ensino à distância em
substituição ao ensino presencial não representa uma real democratização.
Nessas condições, temos um aumento da evasão e das vagas ociosas, bem
como uma divisão desigual entre “centros de ensino” (escolões de terceiro
grau, ou ensino pós-médio) e “centros de excelência”. A popularização e
democratização real da universidade exige excelência para todos, uma
equiparação da qualidade e não a competição entre as instituições; exige
políticas amplas de permanência para combater as vagas ociosas e a
evasão, dando condições plenas para a formação de indivíduos críticos.
O entendimento da educação enquanto um direito de fato, exige a
condição de igualdade substantiva e não meramente formal.

Defendemos:

- Fim dos processos seletivos para instituições educacionais e pela


universalização do ensino superior público e gratuito;

- É dever do Estado garantir totalmente a permanência do estudante na


universidade.

Táticas:

- Lutar pela manutenção e ampliação dos direitos estudantis como: bolsas,


casa do estudante, creche, alimentação, acessibilidade, condições de ensino,
cultura e lazer, passe livre e outros;

- Lutar para democratizar a gestão das políticas de permanência nas


instituições;

- Transferência dos bolsistas do PROUNI para as universidades federais;

- Lutar por políticas públicas que garantam reserva de vagas para estudantes
de escolas públicas em todas as universidades públicas;

- Estimular a criação de cursinhos populares;

- Fim da cobrança de taxas para o vestibular;

35
- Preservar a conquista das políticas de cotas étnico-raciais nas
universidades. Lutar por cotas para deficientes físicos;

- Tornar público todos os equipamentos de infra-estrutura destinados a


permanência que ainda permaneçam sob o comando da iniciativa privada;

- Lutar por desenhos universais e atendimento às necessidades especiais de


cada sujeito de modo a garantir tanto o acesso quanto a permanência de
todas as pessoas na universidade. Fazer campanhas de conscientização e
discussão que abordem o tema;

- Elaborar e socializar estudos sobre a situação e perfil dos estudantes das


universidades;

Função social da universidade: pra que (m)?

A universidade brasileira, desde a sua implementação, vem cumprindo


um papel importante na sociedade, configurando-se no espaço de
desenvolvimento de ciência e tecnologia. Só que para tal análise da
universidade, necessitamos também analisá-la em sua dinâmica complexa
com a sociedade. Para tanto, a ciência e tecnologia e suas aplicações
práticas dependem, de modo decisivo, do regime social, das forças que
dominam essa determinada sociedade, dos interesses a que o
desenvolvimento social está subordinado: em síntese, ao regime de classes
em permanente luta. Mas também, assim como os antagonismos existentes
na sociedade, a universidade também assim se revela.
Utilizando-se de bandeiras históricas do Movimento Universitário, os
últimos governos provocaram algumas mudanças que poderiam iludir os mais
desavisados. O REUNI, enquanto cartada do projeto da contra-reforma
universitária, trouxe a tona a requerida expansão das vagas nas
universidades públicas e a mudança dos padrões pedagógicos. Eivada das
condições atuais de desenvolvimento do capitalismo, trouxe fragmentação
quando prometia “grandes áreas”, precarização e sucateamento das vagas
pela ausência de investimento quando prometia expansão. Além disso,
trouxe diferenciação e desigualdades evidentes com a perspectiva de centros
de ensino e centros de excelência.
No plano ideológico, a universidade é reflexo de uma sociedade
individualista e competitiva, moldada a partir dos interesses dominantes,
oriundos hegemonicamente dos países centrais. Para tanto, as lutas sociais
emancipatórias necessitam cada vez mais de uma unidade histórica para
propor alternativas à essa visão hegemônica.
Da universidade, temos as categorias dos técnicos, professores, e
estudantes constituindo o Movimento Universitário. Aliado a esses, a
necessidade de todos os movimentos sociais das classes trabalhadoras de
disputar o espaço da universidade. Já que, em muitos movimentos sociais
(do campo e da cidade) existentes, pauta-se a transformação da sociedade, o
povo deverá estar preparado para superar tudo que foi imposto pelo sistema
capitalista: desde as relações de produção na sociedade até a produção de

36
ciência e tecnologia (orientada assim, por outro ideal, outra lógica de
construção de todo o conhecimento) que são pontos que estão intimamente
ligados – a produção de tecnologia está orientada também pela forma de
exploração dos meios de produção e da força de trabalho disponível.
A universidade não mudará somente de dentro para fora e nem somente
de fora pra dentro devido à forte influência do sistema vigente da sociedade.
Emancipar a produção de ciência e tecnologia, alterando essa ideologia
segregadora é o grande desafio. As experiências no campo da pesquisa
emancipadora (geralmente ligada aos movimentos sociais mais fortes), na
extensão (como canal de formulação e ligação com as demandas populares)
e no ensino que busque construir conhecimento crítico, são as expressões
mais presentes de ações locais e singulares de uma idealizada universidade
popular. Por isso, é fundamental superar a fragmentação das ações
universitárias do tripé, integrando todas e pensando nela como a totalidade
de um mesmo ser, em que cada uma, não deixando de fazer as ligações,
podem contribuir para essa totalidade.
Na busca por uma universidade pública, de qualidade, democrática,
crítica, criadora e popular, vê-se um caminho estratégico que aponta um
horizonte de transformação, não só da universidade, mas de toda a
sociedade.

Defendemos:

- Que a universidade contribua para a formação de pessoas que produzam


conhecimento na perspectiva da classe trabalhadora;

- Ampliar a luta pela universidade popular, buscando envolver outras forças


sociais como protagonistas na construção do projeto de Universidade
Popular;

- Indissociabilidade do tripé ensino-pesquisa-extensão nas universidades;

- Verba pública para educação publica.

Táticas:

- Mapear, articular e fortalecer os projetos e grupos de Extensão Popular que


agem como uma das ferramentas para a construção da Universidade
Popular, contribuindo para que tenham mais expressão política e popular;

- Campanha pelo fim do analfabetismo no Brasil;

- Articular com os movimentos sociais para lutar por reformas que


democratizem a sociedade, exemplo: reforma agrária, reforma Urbana, etc;

- Fomentar discussão de educação popular no ensino fundamental e médio,


nos grupos locais e estaduais;

- Construção dos Estágios Interdisciplinares de Vivência – EIV’s.

37
CARTA DE FORTALEZA – ENMUP

Durante os dias 14 e 17 de Agosto de 2014, aproximadamente 700 pessoas oriundas


de um conjunto de movimentos, organizações, entidades e instituições acadêmicas de
quase todo o país reuniram-se para refletir, debater e lutar por outro modelo de
universidade e educação. Rejeitamos o quadro crescente atual de mercantilização e
privatização da educação, repudiamos o predomínio da lógica do grande capital na
produção de ciência e tecnologia nas universidades, desejamos superar a atual
estruturação da educação e da universidade brasileira como reprodutoras das
desigualdades sociais, da exploração de classe e das opressões étnico-raciais,
gênero, identidade de gênero e diversidade sexual.

A privatização da educação faz parte da mesma política das classes dominantes de


militarização das periferias e criminalização do povo trabalhador, da opção dos
governos de direcionar mais de 40 % do orçamento nacional para o grande capital
monopolista e financeiro (dívida pública) em detrimento de mais investimentos em
áreas sociais básicas. Além disso, também faz parte da mesma lógica de controle da
população através dos monopólios privados de mídia e da informação, em suma,
estes são o modelo e a visão de educação alinhados aos interesses da grande
burguesia monopolista.

A educação é cada vez mais tratada como um negócio. O maior monopólio de


educação do mundo, Kroton e Anhanguera, foi formado no Brasil. O poder econômico
e político também se associam na área educacional. Para constatarmos isso, basta
analisarmos a linha diretiva de benefícios para a expansão privada do ensino em
programas de governos como o ProUni, Fies, Ciência sem Fronteiras, Pronatec e
creches conveniadas. O poder desta articulação se materializou com a aprovação dos
10% do PIB para educação. Embora aparentemente esta medida possa ter
contemplado uma importante pauta dos movimentos combativos no que se refere à
ampliação do investimento público na educação, esta demanda é readequada aos
interesses dos empresários ao aprovar o aumento do investimento público também
para a expansão do setor privado. Neste sentido, acreditamos ser importante a
articulação nacional em defesa dos 10% do PIB para educação publica já, não para
daqui a 10 anos, como propõe o governo, e, sobretudo, a partir das demandas e sob o
controle da classe trabalhadora.

38
Nas Universidades Públicas predomina a lógica privada no ensino, pesquisa e
extensão, através de fundações de apoio, cursos pagos e a total adequação dos
currículos de ensino e pesquisa às necessidades de mercado. Hoje, aproximadamente
75% das vagas disponíveis para o ensino superior são ofertadas por instituições
particulares, quadro que se intensificou nos últimos 10 anos de governos do PT.
Mesmo assim, menos de 14% da juventude brasileira consegue ter acesso à
universidade. Escolas são fechadas no campo, ainda convivemos com altos índices de
analfabetismo, e também na educação básica predomina a lógica do capital de
compreender, organizar e lucrar com a educação.

O Encontro de Movimentos em luta por uma Universidade Popular identifica


claramente que este modelo de universidade e educação não atende às necessidades
do povo trabalhador. O atual modelo não nos serve, muito menos nos representa! A
Universidade é um aparelho privado de hegemonia, isto é, local de reprodução do
saber, da formação profissional e da ideologia dominante, é um instrumento da
burguesia para reproduzir as relações de exploração e opressão que garantem a sua
dominação.

Com o acirramento das lutas populares e o desgaste no pacto social que vigora no
país, o debate sobre os rumos da educação cresce entre a juventude e a sociedade
como um todo. No último ciclo houve o crescimento de organizações que formulam e
propagam a visão dxs empresárixs sobre a educação e universidade. É hora de
ousarmos ao propor a construção de um programa/movimento que represente uma
alternativa real de educação vinculada ao poder dxs trabalhadorxs, onde xs
trabalhadorxs através de seus locais de estudo, trabalho e moradia possam se
articular não somente para frear a logica da exploração e opressão capitalista, mas
também construir espaços onde possam decidir coletivamente os rumos de suas
próprias vidas, na perspectiva de criar uma contra ofensiva anticapitalista das classes
exploradas, o que chamamos de poder popular.
Ousar, Criar, Lutar Universidade Popular! Construir a Educação do poder
popular!

Qual o papel dxs lutadorxs por uma Universidade Popular e por outro modelo de
educação? Não temos ilusões de que mudaremos o âmbito universitário e educativo
sem modificar os fundamentos que geram desigualdades, exploração e opressão
contra nosso povo. Porém, esta é uma luta indispensável para o conjunto das
mudanças radicais na sociedade brasileira.

39
Afirmamos, parodiando Brecht, que onde a burguesia fale, xs trabalhadorxs falarão,
onde xs exploradorxs afirmem seus interesses, xs exploradxs gritarão seus direitos,
onde xs dominadorxs tentarem mascarar sua dominação sob o véu ideológico da
universalidade, xs dominadxs mostrarão as marcas e cicatrizes de sua exploração.

Defendemos de forma intransigente o caráter público e estatal da educação contra


suas deformações mercantilizantes e privatistas em curso. Na universidade, não
defendemos a convivência formal entre ensino, pesquisa e extensão, mas sua efetiva
integração. Recusamos a formação profissional rebaixada convivendo com as ilhas de
excelência. Defendemos a socialização do saber como condição de execução das
diferentes frentes de ação profissional, assim como o fim do vestibular, o acesso
universal que garanta as condições de permanência.

Queremos romper com os muros universitários não para levar conhecimento aos
“menos favorecidos”, mas para constituir uma unidade real com a classe trabalhadora
e suas reais demandas como o sangue vivo das necessidades que devem correr nas
veias, a construção do conhecimento que garanta a reprodução da vida e não a boa
saúde da acumulação capitalista.

Não podemos menosprezar nenhuma forma de luta dentro e fora da ordem. Diversas
resistências e lutas já estão em curso, as quais vão desde a produção de
conhecimento a serviço das grandes necessidades do povo trabalhador e seus
movimentos, passando pelas lutas de democratização na produção e acesso à cultura
até a luta dxs estudantes de universidades privadas contra os aumentos rotineiros nas
mensalidades. Sem sectarismos e autoproclamação, valorizamos todas estas lutas em
curso. Acreditamos que a luta pela construção de uma educação vinculada ao poder
dxs trabalhadorxs ajuda na rearticulação destas experiências e resistências para uma
contra ofensiva.

Por tudo isso, a educação que queremos construir é mais que pública, é popular. Por
isso, por sua intencionalidade e sua direção, a luta por uma Universidade Popular e
por outro modelo de educação é uma luta para expor os limites da ordem burguesa e
apresentar a necessidade de uma transformação profunda nas bases da sociedade.
Diante disso, o ENMUP aprova o indicativo da construção de uma Frente Nacional de
Luta por uma Educação alinhada ao poder popular! A base desta frente será,
justamente, a concepção central de construção deste vitorioso encontro: a construção
pela base dentro e fora da ordem. Isto é, fortaleceremos os diversos MUP´s

40
(Movimento por uma Universidade Popular) locais por todo o país, grupos de
pesquisas contra hegemônicos, coletivos das periferias e culturais, alianças com
sindicatos combativos e movimentos populares, associações de moradores e de pais e
mães de estudantes, além da articulação com professorxs de todos os níveis e
funcionárixs da educação. Qualquer grupo que se indigne com a atual configuração
dos rumos educacionais e com as mazelas do capitalismo pode e deve fortalecer esta
luta.

Encaminhamentos do Encontro Nacional dos Movimentos em Luta por uma


Universidade Popular
Deliberações da Plenária Final:

 Lançamento da campanha “Produção de ciência e tecnologia para quem?”


 Outubro como mês nacional da extensão popular
 20 de Dezembro de 2014 – Reunião Nacional de Articulação dos Movimentos
em luta por uma Universidade e Educação Popular.

Local: Goiânia.

 Maio de 2015: Mês de luta por uma Universidade e Educação do Poder


Popular.

 Será formada uma articulação nacional entre os movimentos e entidades que


lutam por uma educação popular, com o intuito de operar essas campanhas,
socializar os debates e experiência sobre educação popular e garantir a
próxima reunião em Goiânia. Tal articulação será formada por: MUP Rio, MUP
Niterói, MUP Pernambuco, APG UFSM, MUP Ceará, MUP Goiás, DCE da
UFRPE e CA de História da UFPE.

Encaminhamentos dos GD’s


EDUCAÇÃO E FEMINISMO

 Defender a abolição da educação por gênero e desconstrução das opressões


pela língua;
 Defender a ampliação do acesso e utilização dos Hospitais e Restaurantes
Universitários, que hoje são restritos às universidades, para toda a população.
 Criar espaços de denúncia do machismo nas universidades, executivas de
curso, encontro de estudantes e demais espaços estudantis.

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 Combater a violência obstétrica nos cursos da área da saúde e nos hospitais
inseridos nas universidades.
 Defender a utilização do nome social da população T no interior das
instituições de ensino.
 Realizar atividades mistas e prioritárias sobre feminismo nos encontros, sem
conflitar com o restante da programação, visando maior número de
participantes nesses espaços.
 Discussão de políticas educacionais para formação de educadores capazes de
promoverem o debate de opressões em sala de aula, combatendo-as.
 Defender a implementação de disciplinas que promovam o debate feminista
nas grades curriculares de ensino básico, médio e superior, contemplando
todas as áreas do conhecimento.
 Implantação de creches 24h no interior e fora das universidades, para atender
todas as mães, não permitindo que mulheres sejam privadas da educação e
demais espaços por conta da maternidade.
 Realização de espaços de creche no ENMUP, com contribuições masculinas
na sua garantia, para a maior participação feminina nos outros espaços do
Encontro.
 Defesa do transporte público gratuito e 24h, combatendo o abuso sexual e
demais formas de violência contra a mulher.
 Combate ao trote machista e violento.
 Criação de uma frente permanente que realize atividades sobre educação e
feminismo.

GD UNIVERSIDADE E RACISMO

 Defender o fim do racismo na perspectiva classista;


 Articular grupos de estudo com as comunidades de periferia sobre raça, classe
e gênero;
 Construir mediações para o aumento de pesquisas sobre população negra e
criar especialização sobre o movimento negro e racial no Brasil;
 Discutir, aumentar e fomentar o processo de representatividade e
empoderamento nos espaços de base e liderança da juventude negra;
 Criação de um grupo de pesquisa para estudo do movimento negro do MUP;
 Criação de grupos extensão popular nas faculdades, periferias e quilombos;
 Fomentar a elaboração de mestrados, pós-graduações e especializações para
estudo do movimento negro;

42
 Defender a implementação de estágios obrigatórios em favelas, quilombos e
periferias;
 Defender a descriminalização das drogas no entendimento de que, hoje, a
política de guerra às drogas é o fator que dá ao Estado a legitimidade de
repreender a juventude negra, de periferia, pobre e favelada;
 Defender o fim da policia militar, a desmilitarização da segurança pública, o fim
da UPP e qualquer tipo de militarização por parte do Estado dentro das
comunidades, periferias, favelas.
 Construir uma marcha na perspectiva de raça, classe e gênero para combater
o racismo.
 Criar uma cartilha sobre racismo, gênero e periferia.
 Criar nas redes sociais um grupo racial do ENMUP
 Levar para a comunidade e para o nossos lares a questão da conscientização
e respeito a nossa negritude. Isso deve iniciar-se com a população infanto-
juvenil, através de debates, grupos de estudos, cine debates.
 Defender a imposição da política de cotas raciais a todas universidades
públicas do Brasil, Apoio crítico as cotas raciais.
 Luta pela obrigatoriedade do ensino de História da África nas escolas.

PNE

 Repúdio ao PNE sob múltiplos aspectos: a forma como foi construído,


ignorando a participação social e atendendo aos interesses do governo e das
elites; a ressignificação do conceito de educação pública; a maneira como ele
submete os institutos de educação à lógica mercadológica, que ignora a
qualidade do ensino; a forma como ele induz os institutos a maquiar dados.

 Apoio a Auditoria da Dívida Pública.


 Necessidade de não se limitar ao âmbito da universidade, discutindo educação
nos diversos níveis de ensino, como na educação básica, primária, etc.
 Necessidade de massificação do debate de Universidade Popular nas
instituições de ensino, especialmente nos cursos de licenciatura.
 Criação de uma Frente Nacional de Luta pela Educação Popular, com
movimentos sociais, sindicais e etc., que garanta uma educação pública,
gratuita e de qualidade.

DEMOCRACIA E ACESSO

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 Defender o voto universal nas eleições universitárias entre os três setores
universitários (estudante, técnico e professor), com garantia de participação
dos trabalhadores e movimentos que participam dos projetos de extensão e
pesquisa popular, variando com a realidade de cada localidade.
 Lutar pela criação de espaços alternativos onde seja possível que os
estudantes, professores e trabalhadores exerçam poder real dentro da
universidade , onde estes decidam a produção de conhecimento da
universidade extrapolando os espaços tradicionais de organização( CAs, DAs e
DCEs)
 Lutar pelo fim da privatização dos serviços que deveriam fazer parte do
programa de permanência e assistência estudantil ( R.U, moradia e etc…)
 Defender o fim da meritocracia hoje existente na educação (Acesso, bolsas,
projetos, avaliações e etc…)
 Construir grupos de educação popular: Pré-Vestibulares populares, curso de
alfabetização e etc
 Retirada imediata da PM das universidades e escolas. Propondo uma guarda
universitária não militarizada e não patrimonial
 Defender a universidade enquanto um instrumento de difusão de cultura
popular, criando espaços culturais de sociabilidade entre a universidade e a
sociedade;
 Defender o fim da bolsa trabalho e lutar pela ampliação de bolsas de pesquisa
 Defender o acesso da população e dos movimentos sociais aos meios de
transporte interno das universidades e também dos transportes garantidos a
participação dos encontros
 Defender a reformulação dos PDI e incentivo aos projetos de pesquisa e
extensão para comunidade
 Fim do Ranking utilizado para garantir o acesso as bolsas de ensino e
extensão nas Universidades Particulares, Federais e Estaduais

EIXO HISTÓRIA, MEMÓRIA POLÍTICA E EDUCAÇÃO

 Defender a luta pela memória, verdade e justiça, pela punição dos torturadores,
abertura dos arquivos da ditadura militar e pela localização dos corpos dos
desaparecidos políticos;
 Refutar as correntes pedagógicas que esvaziam de conteúdo as grades
curriculares;

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 Construir campanha política que exponha empresas e instituições as quais
colaboraram para a ditadura civil-militar;
 Elaborar mapeamento que identifique instituições, edifícios públicos, ruas,
avenidas e praças com nome de torturadores, bem como, por outro lado, dos
espaços de resistências e memória política. A partir dos mapeamentos locais
organizar um mapa nacional;
 Rebatizar, prioritariamente, escolas e espaços dentro da universidade que
tenham nome de torturadores, sempre em diálogo com a comunidade,
debatendo sobre o período ditatorial;
 Mobilizar para criação de Projeto de Lei de iniciativa popular que vise instituir a
troca de nome dos espaços públicos que tinham nome de torturadores por
nomes daqueles que lutaram e resistiram contra a ditadura;
 Impulsionar cursos, seminários e oficinas que discutam sobre a ditadura, no
intuito de ampliar o conhecimento sobre aquele período histórico;
 Organizar ações criativas pela memória, verdade e justiça (stencil, lambe-
lambe, grafitagem, etc.);
 Resgatar o histórico das várias lutas populares e momentos de resistência que
ocorreram no Brasil (a exemplo da Confederação do Equador, Canudos, etc.),
através de campanha de agitação e propaganda.

UNIVERSIDADES PARTICULARES E MOVIMENTO ESTUDANTIL POR UMA


UNIVERSIDADE POPULAR

 Defender uma universidade atrelada aos anseios do povo trabalhador, contra a


lógica privatista e mercantilizante impressa no ensino superior;
 Construir uma campanha contra a privatização e mercantilização do ensino
superior;
 Lutar pela estatização de todas as Instituições Particulares de Ensino Superior
– IPES;
 Defender o congelamento das mensalidades nas universidades privadas;
 Aprofundar o debate sobre a contrarreforma universitária nas Instituições de
Ensino superior;
 Construir e fortalecer as entidades do movimento estudantil como os CA’s,
DA’s, DCE’s e executivas/federações de curso;
 Buscar a articulação com os movimentos sociais e da classe trabalhadora;
 Por um movimento estudantil aderente ao projeto de Universidade Popular;
 Pela ampliação da pesquisa e extensão popular nas IPES;

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 Amadurecer estratégias de articuçação e unificação das entidades do
Movimento Estudantil contra os aumentos de mensalidades na instituições
privadas de ensino superior;
 Construir de cursos sobre educação no campo dialogados com @s estudantes
das universidades privadas.

EDUCAÇÃO E SAÚDE

 Articular ações entre os MUPs e a Frente Nacional Contra a Privatização da


Saúde no tocante à construção de um modelo de universidade anticapitalista e
antiprivatista;
 Articular os MUPs objetivando contribuir com a luta nacional contra a EBSERH,
FEDP, OS´s, OSCIP´s e qualquer forma de privatização na saúde;

 Lutar pela autonomia universitária sobre os Hospitais Universitários, garantido


a indissociabilidade do tripé ensino-pesquisa-extensão nestes;

 Contribuir na criação/reativação dos Fóruns Populares de Saúde nos Estados


com dificuldade.

MEGA EVENTOS

 Lutar pela construção de espaços urbanos que possibilitem o acesso às


distintas manifestações esportivas construídas e apropriadas pela/os
trabalhadores
 Criar um fórum de discussão no MUP que paute a questão do direito à cidade;
 Lutar por política públicas que possibilitem o acesso dos trabalhadores ao
esporte e o lazer.

EDUCAÇÃO DO CAMPO

 Os MUPs devem buscar discutir educação do campo juntamente com as


comunidades tradicionais do campo, movimentos sociais, coletivos,
comunidade acadêmica no intuito de proporcionar a construção de
possibilidades para a materialização da luta por uma Universidade Popular;
 Lutar contra o fechamento das escolas do campo e pela construção de mais
escolas do campo e melhores condições para as existentes.

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 Lutar pela ampliação de vagas nas universidades públicas para comunidades
tradicionais do campo e assentados da reforma agrária articulada com a
universalização do acesso e permanência;
 Defender a autonomia pedagógica para os educadores do campo;
 Incentivar a elaboração de materiais áudio visuais, radiofônicos e impressos
sobre educação do campo;
 Aprofundar a leitura acerca das ferramentas de diálogos como o diagnóstico
rural;
 Ampliar a efetivar participação coletiva das comunidades na construção de
projetos de extensão;
 Defender a agroecologia e sua inclusão da disciplina de Agroecologia no
curriculum dos cursos das ciências agrárias;
 Incentivar as formações políticas, técnicas, intercâmbios e vivências sobre
educação do campo dentro e fora da universidade;
 Denunciar e repudiar toda e qualquer iniciativa de incentivo à produção
agrícola através da utilização de agrotóxicos como também aderir à campanha
nacional permanente contra o uso de agrotóxicos e pela vida;
 Organizar nos estados através dos MUPs seminários sobre educação do
campo, reforma agrária, praticas pedagógicas para o campo e demais
temáticas relacionadas ao campo vinculadas ao debate da Universidade
Popular;
 Criar um grupo de email para socialização de informações acerca da educação
do campo;
 Criar de uma comissão Nacional do MUP para aprofundar e pesquisar acerca
das experiências de educação do campo no Brasil e no mundo;
 Defesa dos MUP’s diante da autonomia de cada comunidade para gerir todos
os espaços e tempos educacionais, tanto nas escolas como fora dela.
(autonomia para construir o PPP da escola, definir os tempos educacionais e
etc)

Extensão Popular + Ciência e tecnologia

 O tripé ensino, pesquisa e extensão deve realmente ser integrado, a fim que as
demandas dos trabalhadores reflitam na produção de conhecimento e no
ensino na universidade. Os projetos de extensão devem refletir as demandas
que vem da comunidade.
 Campanha Nacional: Produção de conhecimento para quem?

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 Mapeamento de extensões populares que funcionem como instrumentos de
luta para a classe trabalhadora, auxiliar na construção destas e socializar estas
experiências
 Incentivar a criação de cursinhos populares, com utilização da educação
popular nestes espaços, bem como estimular a formação de educadores
populares
 Articular movimentos do campo, da cidade e o movimento universitário para
construção de cursos de formação, intercâmbios e vivências, de acordo com
cada realidade.
 Pautar a implementação de carga horária curricular de extensão dentro da
universidade

 Estudar sobre as experiências internacionais de educação popular


 – Mapear e denunciar os grupos de pesquisa que estão produzindo
conhecimento para empresas privadas dentro da universidade pública . Lutar
contra o produtivismo dentro da pesquisa na universidade e os direitos de
patente privados
 Pautar a necessidade do tripé, ensino pesquisa e extensão também nas
universidade privadas, articulado com as lutas pela estatização da educação
privada.
 Defender a produção de alimentos nos restaurantes universitários pelos
movimentos populares do campo
 Contribuir na construção de projetos de mídia alternativa contra-hegemônica
nas comunidades periféricas e movimentos sociais

EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE SEXUAL

 Construir espacos de formaçao sobre diversidade sexual e de gênero nas


escolas e universidades.
 Lutar pelo fim do binarismo de gênero na educaçao.
 Lutar por intersecções das questões de opressões sexual e de gênero junto à
questão classista.
 Criar espaços de debate sobre todo os tipos de opressões, em especial o
machismo, o racismo, a transfobia, a lesbofobia, a bifobia, a homofobia e o
capacitismo.
 Produzir intervenções estéticas/éticas nas culturais no intuito de desconstruir a
normatividade de gênero e sexual.

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 Externalizar na prática social, um material para campanha educativa de caráter
nacional da discussão sobre opressões na perspectiva classista, como, por
exemplo, uma cartilha sobre a importância das lutas transversais.
 Criar um espaço de discussão online para nacionalizar as atividades dos
movimentos em luta por uma universidade popular e a questão de diversidade
sexual e de gênero.
 Lutar para garantir a integridade do cuidado em saúde da população LGBT,
com destaque para o processo de transgenitalização, tendo em vista a
crescente privatização da saúde pública através das fundações privadas.
 Lutar pela obrigatoriedade nas grades curriculares de uma disciplina sobre
diversidade sexual e identidade de gênero.
 Políticas públicas para o acesso e permanência da população transexual e
travesti nas escolas e universidades

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www.ujc.org.br
brasil.ujc@gmail.com Teses União da Juventude Comunista • JUNHO 2017

1) Conjuntura dos efeitos causados pela ofensiva impe- tros imperialistas aos povos sírio, pales-
CONSTRUIR A RESISTÊNCIA rialista em todo mundo. tino, afegão, iraniano e norte-coreano.
SOCIALISTA FRENTE AOS Os centros hegemônicos imperi- Na América Latina, a ofensiva imperia-
ATAQUES DA BURGUESIA! alistas (EUA, União Europeia e seus lista, hoje, se concentra na Venezuela,
aliados) atacam diversos povos, saquei- onde se desenvolveu a experiência
O cenário de ataques aos direitos dos am riquezas de outros países, impõem recente mais avançada de um governo
trabalhadores e jovens brasileiros não é uma agenda regressiva civilizatória popular. Sabemos dos limites e desvios
uma exclusividade do nosso país. A crise contra os direitos sociais, políticos e do governo de Nicolás Maduro, no
sistêmica do capitalismo tem intensifica- trabalhistas no mundo, promovem guer- entanto, apesar de todos os ataques da
do as disputas, contradições e cisões ras e controlam quase toda a informação direita fascista venezuelana e do imperi-
entre os grandes monopólios nacionais e que circula globalmente, através dos alismo, a organização popular resiste
internacionais. As guerras, o desempre- monopólios midiáticos. A UJC-Brasil se neste país, defendendo suas conquistas.
go, a fome, a xenofobia, os golpes políti- solidariza com todas as juventudes em Nesse sentido, apoiamos os camaradas
cos, o aumento da exploração e o cresci- luta contra o capitalismo e o imperialis- da Juventude Comunista Venezuelana
mento da extrema direita têm sido alguns mo. Denunciamos os ataques dos cen- (JCV), a real alternativa revolucionária e

50
www.ujc.org.br Teses União da Juventude Comunista • JUNHO 2017
brasil.ujc@gmail.com

proletária para a juventude na Venezue- na prática, revoga grande parte da CLT irão emergir das lutas e do processo de
la. (Consolidação das Leis do Trabalho), reorganização independente da classe
No Brasil, as contradições inter- reduzindo direitos, salários e garantias trabalhadora. Sendo assim, a prioridade
burguesas e interimperialistas geram dos trabalhadores. Com essa lei, as para o nosso futuro é lutar agora!
uma onda implacável de ataques aos empresas podem terceirizar todas as Por outro lado, devemos comba-
trabalhadores e à juventude. Os grandes suas atividades, o que resultará no rebai- ter as diversas expressões vanguardistas,
oligopólios midiáticos e setores do xamento dos salários e na precarização sectárias e divisionistas existentes em
poder judiciário tentam impor as pautas das condições de trabalho. Além disso, o grupos políticos pequenos-burgueses
anticorrupção e antipolíticos para mano- governo quer aprovar uma reforma tra- influentes entre os jovens, os quais se
brar a população, de acordo com os seus balhista, para acabar de vez com os direi- recusam a construir frentes amplas de
obscuros interesses. A seletividade da tos dos trabalhadores, que foram con- unidade ao lado de todos aqueles que
“Operação Lava-Jato” demonstra uma quistados com muita luta. Essas duas marcham contrários às reformas antipo-
clara direção política e econômica nos medidas favorecem o trabalho escravo pulares do governo golpista, e insistem,
rumos das operações. no campo, retiram os direitos dos traba- infantilmente, em priorizar o debate
Os anos dos governos petistas, lhadores nas cidades, configurando-se, sobre a forma dos atos, ao invés de mobi-
de conciliação de classes, muito contri- assim, o mais brutal retrocesso contra o lizar e organizar a classe trabalhadora e
buíram para o acúmulo de forças da dire- proletariado brasileiro em toda sua his- os setores populares.
ita e extrema direita brasileira. Ao con- tória moderna. Tudo isso, num cenário Além disso, é imprescindível
trário do que muitos defensores acríticos que já impõe o desemprego a 20 milhões que, no interior do campo unitário que
desses governos pregavam, a política de de pessoas! Essa realidade é ainda mais tanto defendemos, se fortaleçam forças e
conciliação, favorável ao crescimento drástica entre a juventude, na medida em concepções anticapitalistas e anti-
do capitalismo brasileiro, desmobilizou que, hoje, um quarto das pessoas entre imperialistas, visando constituir uma
e desorganizou as principais entidades 18 e 24 anos estão desempregadas. frente política permanente. Assim como
dos trabalhadores e da juventude. A UJS A reforma da previdência dita o nosso partido, o PCB, propõe, defen-
e seus aliados (correntes do PT, JPMDB, que os trabalhadores só poderão receber demos a construção de um Encontro
JPSB, JPSDB) transformaram a UNE, o benefício pleno, se contribuírem ao Nacional da Classe Trabalhadora e do
na época, em correia de transmissão do longo de 49 anos. Com ela, homens e Movimento Popular (ENCLAT), com
MEC. A direção majoritária da UNE foi mulheres irão se aposentar com a mesma vistas à construção de um projeto alter-
cúmplice das políticas de fortalecimento idade e terão que trabalhar até os 65 anos nativo para o país, que se transforme em
do setor privado na educação brasileira, para ter direito à aposentadoria. Isso, referência organizativa para a grande
em que pese a pequena ampliação de num país onde, em muitos estados e, insatisfação que hoje existe na sociedade
vagas nas universidades. especialmente, na área rural, a média de brasileira.
O governo golpista de Michel vida é menor que 65 anos! A juventude, Prestes a completar 90 anos de
Temer, a serviço dos patrões, vem reali- além de perder a perspectiva da aposen- sua existência, a história da UJC faz
zando um conjunto de medidas antipo- tadoria, de direitos e vida, também será parte das grandes lutas lideradas pela
pulares para favorecer os bancos, o agro- muito prejudicada com a reforma do UNE no passado. Orgulhamo-nos em ter
negócio e as grandes empresas em geral. ensino médio, que reduz as disciplinas sido a principal organização fundadora
Aprovou, no Parlamento, um ajuste de ciências sociais e implanta o tecnicis- dessa importante entidade do movimen-
fiscal por 20 anos, cujo objetivo é conge- mo, o obscurantismo e a repressão con- to estudantil brasileiro e latino america-
lar por duas décadas os gastos públicos, tra o ensino crítico e democrático. no. Diante dessa difícil conjuntura
reduzir as verbas para saúde e educação, O governo Temer se utiliza de exposta, urge lutarmos para que a UNE
de forma a privatizar os hospitais e as sua ilegitimidade e impopularidade para não fique em cima do muro nas lutas, ou
escolas públicas, além de cortar os recur- concentrar os golpes contra a classe tra- priorize apenas o acordo de cúpulas e
sos para as áreas sociais. Os primeiros balhadora. Para a juventude e os traba- gabinetes, tão pouco, abra espaço para
resultados desses cortes já podem ser lhadores, sobram motivos para lutar e se que as políticas da direita golpista aden-
sentidos na crise financeira dos estados e organizar! A UJC defende a mais ampla trem a entidade. É hora de mudarmos
municípios, com atraso e parcelamento unidade na luta contra os ataques nesta radicalmente a UNE, construirmos um
dos pagamentos de funcionários e apo- conjuntura. Infelizmente, constatamos novo projeto estratégico de educação
sentados, fechamento de postos de saú- que algumas organizações, entidades, popular e anticapitalista. É preciso reto-
de, redução da merenda escolar, falta de movimentos populares e militantes com- mar a entidade e afirmar que esta tem
creches, além da violenta crise nas peni- bativos estão, muitas vezes, mais preo- lado sim - o lado dos estudantes e dos
tenciárias, cuja face mais visível são as cupadas com o calendário eleitoral de projetos históricos de transformação dos
cenas de barbárie nos presídios de vários 2018 do que com a luta em 2017. Apesar trabalhadores.
estados. de respeitarmos os debates eleitorais e
O governo ilegítimo também diversas opiniões, afirmamos que as - Contra as Guerras e as intervenções
aprovou a “Lei das Terceirizações” que, reais alternativas para os trabalhadores imperialistas dos EUA, UE e seus alia-

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dos! Toda solidariedade aos povos ção direta com as condições reais de congela por 20 anos o investimento em
sírio, palestino, afegão, iraquiano, permanência dos sujeitos historicamente direitos sociais – incluindo educação –,
iraniano e norte coreano! excluídos num espaço como este. Neste foi aprovada; os cortes na educação avan-
- Golpistas e Fascistas não passarão! sentido, tratou-se de uma expansão sem çam em ritmo assustador; o projeto “es-
Toda solidariedade ao povo venezue- romper com o projeto conservador da cola sem partido” tem total apoio do
lano e à Revolução Bolivariana! - Em universidade brasileira. Expandiu-se a governo ilegítimo; a já debilitada demo-
defesa dos diálogos de Paz na Colôm- universidade, para formar força de traba- cracia no espaço escolar é ameaçada,
bia! Toda solidariedade às FARC-EP! lho um pouco mais qualificada, apenas com a polícia militar fazendo gestão de
- Unidade para derrotar as contra com o objetivo de atender a demanda do escolas; e as contrarreformas, como a do
reformas antipopulares do governo então crescimento econômico brasileiro. ensino médio, são uma realidade.
golpista Temer! Se os governos do PSDB aprofundaram Os golpistas, apoiados pelo grande
- Construir o Encontro Nacional da o desmonte da escola pública, os gover- empresariado da educação, ameaçam
Classe Trabalhadora e do Movimento nos do PT deram pleno incentivo ao seriamente qualquer resquício do caráter
Popular (ENCLAT)! crescimento do ensino privado. Foi público da educação brasileira. Amea-
- Fortalecer as Frentes Povo Sem durante os governos petistas que se çam cobrar mensalidades nas universi-
Medo e o Bloco da Esquerda Socialis- intensificou o processo de fortalecimen- dades públicas, cortar mais verbas para
ta! to da financeirização do ensino superior assistência estudantil e investimentos
- Em defesa dos direitos da população no país. Estimulados e financiados, em em pesquisa e extensão, aprofundar a
LGBT e das mulheres! grande parte, por programas governa- precarização das condições de estudo e
- Em defesa dos direitos das popula- mentais, universidades privadas e cursos trabalho na universidade, com a finalida-
ções Indígenas e Quilombolas! à distância se expandiram. Grandes gru- de de reduzir gastos e seguir o script da
- Retomar a UNE para as lutas, sem pos movidos pelo capital internacional, política econômica de austeridade em
conciliação! verdadeiros conglomerados monopolis- vigor.
- Ousar lutar por uma Universidade tas, progressivamente têm entrado no Além disso, depois de beneficiar
Popular! Brasil. a formação de grandes oligopólios da
Na década de 2000, a Estácio de educação superior, o governo ilegítimo,
2) Educação e Universidade Sá, no Rio de Janeiro, foi uma das prime- progressivamente, restringe os progra-
FORTALECER A RESISTÊNCIA, iras universidades a fornecer o modelo mas de financiamento de estudantes nas
CONSTRUIR A EDUCAÇÃO de constituição das sociedades anônimas universidades privadas, como o
POPULAR no ensino superior, passando a ser con- PROUNI e o FIES. O desmonte da uni-
trolada por um grupo de investimentos versidade pública e de qualquer avanço
A educação brasileira não é uma que, dentre outros negócios, controla o social na educação é, infelizmente, ape-
ilha, isto é, os problemas da educação comércio varejista de rede (Lojas Ame- nas uma das frentes do implacável ata-
não estão isolados em relação aos dema- ricanas), bancos e bebidas (AMBEV). A que da burguesia contra os trabalhado-
is problemas sociais. A educação, em partir de São Paulo, com ramificações res.
especial na universidade, reproduz o em vários estados, conglomerados como Nesse sentido, o feroz assalto ao
caráter desigual, elitista, dependente, o Apollo Group, Kroton Pitágoras e ensino público nesse momento histórico
antinacional e racista da formação social Anhanguera Educacional, participam pede a máxima unidade na luta contra o
brasileira. Segundo dados da OCDE agressivamente do processo de concen- avanço reacionário, materializado em
(Organização para Cooperação e Desen- tração de capital no setor educacional – projetos como o supracitado “escola sem
volvimento Econômico), apenas 14 % por meio de compra e venda de ações, partido” e em cortes nos investimentos
dos adultos brasileiros chegam à univer- fusões, investimentos. A falta de visão na universidade pública. O avanço da
sidade. O Brasil consegue ficar atrás de estratégica da direção majoritária da empreitada reacionária impõe enormes
outros países latino- americanos, como a UNE no campo da educação e a defesa retrocessos sociais, culturais e democrá-
Argentina, Chile, Colômbia e Costa acrítica de programas educacionais dos ticos ao povo brasileiro. Esses retroces-
Rica. governos petistas, fez com que a entida- sos articulam e potencializam o processo
Sem dúvida, durante os gover- de acompanhasse esse movimento de de exploração e opressões da sociedade,
nos de conciliação de classes, liderados maneira passiva e desmobilizadora. na medida em que recuperam a raiz anti-
pelo PT, ocorreu uma expansão da uni- Infelizmente, a educação brasi- popular, racista, machista, lgbtfóbica e
versidade brasileira. Mais jovens tive- leira passa por um processo dramático conservadora das elites brasileiras.
ram acesso à universidade, às cotas soci- de ataques, assim como os diversos dire- No entanto, no interior dessa unidade,
ais e raciais e universidades foram cons- itos conquistados pelos trabalhadores. O devemos fortalecer a construção de um
truídas em diversas regiões do país. No governo golpista de Temer (PMDB) novo projeto de educação, que polarize
entanto, o limite da permeabilidade de tentar impor uma agenda extremamente com o atual modelo – o qual aprofunda a
algumas demandas populares (como antipopular, antinacional e pró-capital dependência econômica e as desigualda-
aumentar o acesso) se pôs em contradi- financeiro. A PEC da MORTE, que des sociais e raciais. Um projeto estraté-

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gico que defenda não apenas o caráter - Contra a terceirização, principal- ços da UNE. Temos participado, tanto do
público, gratuito e a qualidade da educa- mente, dentro das Universidades debate público sobre concepção de movi-
ção, mas a produção de ciência e tecno- Públicas! mento estudantil, quanto nas lutas por
logia pautada pelas demandas do povo - Cotas já! Rumo ao fim do vestibular! ele travadas, no sentido de apresentar ao
brasileiro, um real diálogo com a comu- - Por uma educação pública, gratuita, conjunto de militantes que se inserem
nidade e os movimentos populares, o crítica e popular! nesse movimento social, a necessidade
aprofundamento da democracia no inte- - Produção de Ciência e Tecnologia de superarmos o que caracterizamos
rior das instituições, ou seja, um projeto para o povo brasileiro! como crise de concepção no ME brasile-
de universidade e de educação popula- - Democracia nas Universidades: Elei- iro.
res. ções diretas para reitor já! Sobre essa crise, nos diferenci-
Só por meio da massificação e - Pela paridade nas instâncias delibe- ando de outras orientações e análises,
organização dos processos de resistên- rativas das universidades! avaliamos que o problema enfrentado
cia, fortaleceremos o projeto de educa- - Contra a cobrança de mensalidades hoje pelo ME não pode ser caracterizado
ção popular, que questione o sistema de na Universidade Pública! apenas como uma crise de direção. Essa
produção do conhecimento, o elitismo - Pela implantação de creches 24hs em afirmação nos levaria a concluir que,
da educação, não só no acesso, mas tam- todos os campi! para superarmos as dificuldades com
bém na negação de tomar como priorida- - Por uma extensão popular nas uni- que se depara o ME brasileiro, bastaria
de os problemas e necessidades da classe versidades junto às periferias, qui- trocar a direção majoritária da UNE e,
trabalhadora; um projeto de educação lombos e movimentos do campo! assim, os obstáculos políticos e organi-
que abra as escolas, universidades e - Pelo resgate da memória e obrigato- zativos seriam naturalmente superados.
escolas de ensino técnico para uma ges- riedade do ensino de História da Áfri- Infelizmente, essa visão, que considera-
tão radicalmente democrática, com for- ca nas escolas! mos equivocada, continua a orientar a
mas de poder popular, reflexão crítica - Pela construção de espaços de dis- ação de boa parte das organizações que
como alma dos currículos e do ensino, e cussão sobre diversidade sexual e de compõem a União Nacional dos Estu-
uma postura profunda e decidida contra gênero nas escolas e universidades! dantes.
o domínio do capital privado nos rumos - Contra a privatização dos HU´s. O erro dessa análise consiste no
da pesquisa científica. Por tudo isso, a Com o SUS e para além do SUS! seguinte: se a crise é de direção, precisa-
educação popular como projeto estraté- - Contra a repressão aos estudantes mos trocá- la. Para tanto, faz-se necessá-
gico, aliada à luta pelo socialismo, deve em luta! Contra a entrada da PM nas rio obter o maior número de delegados
sempre ser o nosso horizonte de ação. universidades e moradias estudantis! possível para, enfim, vencer o atual
Ao longo da sua bela história, a - Em defesa da extensão popular: uni- campo majoritário e pôr fim a política
UNE conseguiu avançar na sua organi- versidade pública voltada para a popu- que tem sido impressa na UNE. Orienta-
zação e massificação, justamente, quan- lação! dos por essa análise, as organizações que
do aliou sua capacidade de mobilização com ela concordam, inclusive as mais
na base dos estudantes, a um projeto 3) Movimento Estudantil combativas, acabam por concentrar
estratégico de educação e sociedade. CONUNE, MOVIMENTO todos os seus esforços na disputa em si
Infelizmente, a direção majoritária (UJS ESTUDANTIL E A da UNE, em detrimento do necessário
e correntes do PT) desta entidade aban- UNIVERSIDADE POPULAR trabalho de base e da reoxigenação de
donou essa perspectiva e se acomodou entidades mais próximas do cotidiano
na lógica da conciliação e nos acordos de A União da Juventude Comunis- dos estudantes (CA's e DA's, DCE's e
cúpula. Por isso, para os comunistas, ta se orgulha em ser a principal organiza- executivas e federações de curso). O
retomar a UNE para as lutas, também é ção fundadora da UNE e, nos 80 anos de processo de tiragem de delegados para o
ousar lutar por uma UNIVERSIDADE vida dessa histórica entidade do Movi- CONUNE é bem didático sobre isso.
POPULAR! mento Estudantil brasileiro, a UJC sem- Muitas vezes, vale mais o poder de
pre esteve presente nas grandes lutas da máquina e manipulação burocrática, do
- TEMER JAMAIS! Contra os ata- juventude. Desde a década de 1930 do que a construção de uma disputa real e
ques do governo golpista à educação! século passado, sempre procuramos politizada nas bases do ME, que consiga
- Educação não é Mercadoria! fortalecer e construir uma UNE massiva, atrair mais estudantes para conhecer e
Enfrentar os oligopólios financeiros pela base, e vinculada a um projeto de construir a UNE.
da educação! educação progressista para os trabalha- Na opinião da UJC, essa lógica
- Contra a financeirização da politica dores. Infelizmente, a direção majoritá- viciada e degenerada do ME brasileiro
de assistência estudantil! ria da UNE, hoje, tenta apagar a contri- tem, em sua raiz, a falta de um debate
- Pela reestruturação e universaliza- buição dos comunistas na história do real sobre um projeto estratégico para a
ção das políticas de permanência e movimento estudantil brasileiro. educação e para a universidade, em espe-
assistência estudantil! - Em defesa dos Mesmo com todas as críticas e cífico. Não basta mudarmos o campo
estudantes do PROUNI e do FIES! divergências, não abandonamos os espa- majoritário da direção UNE, se não

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mudarmos a orientação política e organi- Precisamos ampliar, organizar e autonomia e democracia dentro da uni-
zativa da entidade. politizar cada vez mais o programa da versidade à articulação com os diferen-
Retomar a UNE para o caminho da luta, Oposição, que não pode se restringir a tes movimentos sociais que questionam
sem conciliação! Construir uma oposi- disputas dentro da entidade. Temos gran- a sociedade em que vivemos, ou seja,
ção de esquerda, combativa e popular na de respeito por todos os coletivos e orga- lutar por uma universidade popular
UNE! nizações desta frente, e mesmo sabendo requer a articulação da defesa de uma
A conjuntura de brutais ataques que há divergências, os comunistas estão sociedade socialista.
aos direitos políticos, sociais e trabalhis- comprometidos a fortalecer o polo mais Convidamos todos os estudantes, coleti-
tas e de radicalização neoliberal exige combativo da UNE, dentro de uma vos e forças políticas a conhecerem e
que fortaleçamos todos os espaços, fren- ampla unidade contra os ataques à debaterem mais sobre a necessidade de
tes e entidades coletivas da juventude. juventude. construirmos o projeto de Universidade
Os anos dos governos petistas foram Popular! Ousar luta, ousar vencer!
anos de grande deseducação política e
desmobilização das entidades da juven- OUSAR LUTAR POR UMA - Oposição da UNE ao governo golpis-
tude e dos trabalhadores. É fundamental UNIVERSIDADE POPULAR! ta e ilegítimo de Temer!
retomarmos a construção de entidades - Pela reconstrução pela base do movi-
amplas, em consonância com as bases A UJC constrói o Movimento mento estudantil brasileiro!
estudantis. Fortalecer a UNE, também Nacional por uma Universidade Popular - Fortalecimento dos CA´S, DA´S,
perpassa por fortalecer CA´s, DA´s, (MUP). Em mais de 18 estados do país, DCE´S, Executivas e Federações de
DCE´S, Executivas e Federações de organizamos, na base, núcleos de luta Curso!
Curso. pela Universidade Popular. Os estudan- - Retomar a UNE para o caminho das
Infelizmente, o campo majoritá- tes que constroem essa tese, sendo comu- lutas, sem conciliação!
rio da UNE representa o que há de mais nistas ou não, estão convencidos de que, - Construir uma oposição de esquer-
conciliador e atrasado no movimento para mudar o movimento estudantil da, combativa e popular na UNE!
estudantil brasileiro. Até pouco tempo hoje, no Brasil, necessitamos fortalecer - Eleição para o CONUNE na base!
atrás, esse setor compunha a direção da um novo projeto estratégico de educa- Eleições via cursos, institutos e esco-
entidade com a JPMDB e JPSDB, juven- ção. las!
tudes de partidos golpistas e sem o Até então, os setores majoritári- - Conselho fiscal da UNE composto
menor comprometimento com os direi- os da UNE ainda possuem ilusões com a por DCE´S e CA´S.
tos sociais e democráticos. No lugar de conciliação de uma educação "inclusi- - Apoio da UNE às Frentes Políticas
aproximar mais a UNE da base estudan- va", a partir de um novo ciclo de cresci- Unitárias, em especial a Frente Povo
til, esse campo opta pelas negociações mento econômico do capitalismo brasi- Sem Medo e a Frente de Esquerda
pelo alto e pela ultrainstitucionalização leiro. Essa é uma ilusão fadada a novos Socialista!
da entidade. fracassos políticos e sociais para a - Construir o II ENMUP (Encontro
A UJC defende a mais ampla juventude. É preciso construir um proje- Nacional de Movimentos em Luta por
unidade nessa conjuntura adversa para a to de educação radicalmente voltado uma Universidade Popular).
juventude. Contudo, é importantíssimo para os interesses da classe trabalhadora - A luta em defesa da educação pública
que a UNE seja cada vez mais pressiona- e, principalmente, alinhado à construção é internacional!
da nos espaços da entidade e pela base do de um novo modelo de sociedade: o soci- - Pelo fortalecimento e construção da
movimento a retomar o seu histórico de alismo. OCLAE (Organização Caribenha e
luta, romper com a lógica da conciliação Vimos que desde a apresentação Latino Americana de Estudantes)!
e construir um novo projeto estratégico da proposta da universidade popular, - Democratizar os fóruns da UNE!
contra a privatização e os grandes mono- esta vem ganhando cada vez mais a ade- - Pelo fortalecimento dos encontros de
pólios da educação. são de DA's/CA's, DCE's e Executivas mulheres, negros e LGBTs da UNE!
Obviamente, a pressão e o árduo de curso. A eleição de delegados ao - Nem um estudante a menos: por uma
contraponto não serão obra apenas da CONUNE, sobre essa plataforma políti- campanha da UNE em defesa da per-
UJC. É necessário fortalecermos e ca, expressa o quão acertada está a críti- manência estudantil nas universida-
ampliarmos um amplo campo de esquer- ca sobre a concepção de ME que rege a des públicas e privadas!
da combativo na entidade, que rompa maioria das organizações e o caráter
com o mero pragmatismo da disputa pela consequente da estratégia por uma Uni-
disputa, que construa um programa popu- versidade Popular. Na contra corrente da
lar e anticapitalista para a universidade educação hegemônica, a universidade
brasileira. Nesse sentido, constatamos popular se efetiva desde iniciativas de
maior aproximação com os companhei- luta por acesso e permanência, produção
ros que hoje compõe a Oposição de de ciência, tecnologia e extensão à servi-
Esquerda da UNE. ço dos trabalhadores, radicalização da

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Pós-graduandos na luta por uma
Universidade Popular!
Movimento por uma Universidade Popular
Quem somos?

Somos pós graduandos em universidades, cursos e programas espalhados por


todo o país. Somos um grupo plural de pesquisadoras/es, trabalhadoras/es,
cotistas, mães, pais, negros e negras, LGBT´s, feministas, democratas,
socialistas e comunistas que se unem para debater e lutar por melhores
condições de ensino, bolsas, pesquisa e investimento público na produção de
ciência e tecnologia.

Um país que tem como proposta a terceirização ao setor privado da produção


de ciência e tecnologia está fadado a dependência, a perpetuação das
desigualdades e a produção de um tipo de ciência apenas a serviço dos
interesses do grande poder econômico.

Não achamos que a ciência é neutra! Enfrentamos a rotina de assédios


machistas, às pressões da lógica produtivista e a progressiva desvalorização
da pesquisa no país, em tempos de radicalização das políticas neoliberais.
Lutamos contra o golpe jurídico parlamentar e seus desdobramentos, mesmo
não corroborando com a política de conciliação de classes. Defendemos os
direitos dos trabalhadores e as liberdades democráticos, em um momento de
crescimento de forças obscurantistas e de extrema direita. O obscurantismo
também afeta a necessária liberdade crítica de todos os cientistas brasileiros.

Acreditamos que o atual momento pede uma ANPG mais forte, plural e diversa
e mais presente nas lutas em defesa da universidade pública e dos direitos dos
pesquisadores.

Lutamos por um outro modelo de educação e universidade, para além da lógica


capitalista. Uma Universidade Popular que realmente se volte no seu ensino,
pesquisa e extensão para os interesses da maioria da população. Em tempos
sombrios, é necessário reafirmamos nosso projeto sem se confundir com
aqueles que hoje golpearam a universidade pública.

Nesse sentido, participamos do 26º Congresso Nacional de Pós Graduandos


reconhecendo a necessidade de mudança nos rumos na direção da ANPG na
perspectiva de construirmos uma entidade mais ampla, plural, massiva e que
defenda um projeto atrelado às demandas populares para a ciência e pesquisa
no Brasil.

O atual momento da pós-graduação no Brasil

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Nos últimos anos, vivemos um período de evidente expansão do ensino
superior brasileiro, incluindo o aumento do número de cursos de pós-
graduação. De acordo com dados da CAPES, de 2000 a 2015, tivemos um
crescimento de 1.439 para 3.905 programas de pós-graduação stricto sensu.
Hoje somos, também, o 15º país do ranking mundial de publicação de artigos
(Scimago Jornal & Country Rank).

A priori, esses dados podem parecer positivos para nós, certo? Errado! Nós,
pós-graduandos, pesquisadores e professores ligados à produção científica e
tecnológica nacional, estamos cada vez mais preocupados com a situação dos
nossos programas de pós-graduação, e entendemos que esta expansão não
pode dar-se a qualquer custo.

As condições de pesquisa são, atualmente, bastante precárias. Há inúmeras


responsabilidades/deveres impostos a estudantes de pós-graduação, e, ao
mesmo tempo, quase nenhum direito. Na prática, o que acontece é que um(a)
estudante de pós-graduação é submetido a um regime tal qual o de trabalho,
com uma carga horária elevada, cobranças por índices elevados de
produtividade, e, enquanto bolsista, dedicação exclusiva ao desenvolvimento
da pesquisa. Por outro lado, contudo, a qualidade dos laboratórios é baixa; o
número de bolsas é insuficiente para a demanda; e, ainda, não há o devido
acompanhamento para a realização das pesquisas. Sob muita pressão e pouca
assistência, a consequência direta é o aumento do sofrimento psíquico de cada
um(a) de nós.

Não suficiente, com a redução em 44% no orçamento do Ministério da Ciência,


Tecnologia, Inovações e Comunicações, foi aplicado um corte de mais de 2
bilhões nos investimentos da pós-graduação, o que tende a agravar esta
situação. O próximo período será, portanto, de constante fechamento de
programas, corte de bolsas e, inevitavelmente, aprofundamento dos índices de
adoecimento.

Ciência e Tecnologia para o futuro socialista!

A ciência e tecnologia é fundamental para o desenvolvimento da soberania


nacional e para a resolução dos problemas sociais, econômicos e ambientais
do país. O grande desafio é justamente colocar a produção de conhecimento a
serviço da sociedade, dos interesses populares e do desenvolvimento do país.
No Brasil, a política de ciência e tecnologia cumpriu papel estratégico
principalmente quando esteve ligada à política de industrialização nacional, o
que vinculou Universidades, Institutos de Pesquisas e empresas estatais, como
Petrobrás, Telebrás e Eletrobrás. Ou seja, quando o Estado uniu a produção de
ciência e tecnologia e empresas estatais para atuar em setores estratégicos.

A centralidade do Estado no investimento em Ciência e Tecnologia é


característica dos países de como o Brasil, pois o capital privado investe muito
pouco no setor nesses países. As multinacionais investem em pesquisa e
desenvolvimento principalmente nos países-sede e as empresas brasileiras,

56
em geral, são importadoras de tecnologia, máquinas e processos, investindo
pouco em ciência e tecnologia.

As políticas neoliberais, principalmente a partir do governo FHC e sem


mudanças estruturais nos governos petistas, reduziram o papel de organizador
econômico e social do Estado e consequentemente as possibilidades de
vincular os investimentos em ciência e tecnologia e a formação de
pesquisadores e profissionais especializados com objetivos estratégicos nas
áreas de saúde, educação, moradia, infraestrutura, energia, telecomunicações
etc.

Atualmente, o Estado continua sendo o principal investidor em C&T no Brasil


(0,63% do PIB contra 0,52% de investimento não-governamental), no entanto,
sem conseguir utilizar o conhecimento produzido para atender os interesses
nacionais e populares. O investimento em Ciência e Tecnologia é público, mas
a apropriação do conhecimento é privada. Passa a predominar os interesses
privados nos resultados das pesquisas, o que subordina o que será investigado
à lógica do lucro, distanciando quase sempre a ciência dos interesses da
maioria da população.

Em 2016, Dilma sancionou o novo Marco Legal de CT&I, apoiada pela direção
majoritária da ANPG, que aprofunda este cenário privatizante do conhecimento
público: estimula a produção de patentes, legaliza a entrada das empresas
privadas nas instituições públicas de pesquisa para subordinar infraestrutura e
recursos humanos aos interesses privados, permite que professores com
dedicação integral trabalharem em empresas privadas por até 8h semanais.
Além disso, promove um deslocamento da pesquisa científica e tecnológica
para a inovação ao incentivar as incubadoras de empresas e a cultura do pós-
graduando como empreendedor.

Nossos desafios são enormes, é preciso construir um movimento nacional de


pós-graduandos a altura do que enfrentamos, combativo e massivo, que lute
pelos investimentos públicos em C&TI e que tenha clareza que os interesses
privados e privatizantes do lucro não resolvem os problemas sociais,
econômicos e ambientais do Brasil. É preciso colocar a pesquisa no papel que
lhe cabe: para resolver as questões nacionais e atender os interesses
populares!

Revogação da EC 95!

Pelo retorno do MCTI!

Contra o ajuste fiscal!

CT&I para o desenvolvimento nacional e interesses populares!

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