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PRÁTICA ARTÍSTICA E PENSAMENTO TEÓRICO: a Pós-Graduação como

campo de ação – um estudo reflexivo e alargador do conceito de “Rede”

ARTISTIC PRACTICE AND THEORETICAL THOUGHT: Postgraduate as a field of action – a


reflective and enlarge study of the concept “Network”

Marcillene Ladeira1

Resumo
O artigo reflete sobre o fato artístico e sua condição de atuação na Pós-Graduação Stricto Senso no Brasil. Para
tal, identifica lacunas e circunstância uma contribuição – fruto da produção autoral da autora – de modo a
evidenciar a ampliação do conceito de “Rede” (estrutura paradigmática, que vem sendo absorvida de forma e
velocidade diferentes entre diversos campos do conhecimento). Por via, o ensaio absorve a teoria proposta por
Cecília Salles (1998; 2006), no que vem desenvolvendo no campo artístico e de Fritjof Capra (2002; 2006) no
que diz sobre a “visão ecológica”; como resultado, apresenta um modo de pensar e agir em arte perante seis
princípios de organização, podendo ser chamados de princípios básicos da ecologia. São eles: Redes, Ciclos,
Parceria ou Aliança, Diversidade, Equilíbrio Dinâmico e Energia Solar.
Palavras-chave: Pós-Graduação, Pesquisa em
Arte, Organização em Rede, Visão Ecológica/Teia da Vida.

Abstract
The academic article reflects on the artistic fact and its condition of acting in the Stricto Senso postgraduate in
Brazil. For such purpose, it identifies gaps and circumstance a contribution – the result of the author’s
authorial production – in order to highlight the broadening of the concept of “Network” (structure that has
been absorbed dissimilar and speed among different fields of knowledge). By way, the essay absorbs the
theory proposed by Cecília Salles (2006), what has been developing in the artistic area and Fritjof Capra
(2002; 2006) about “ecological vision”; as a result, it presents a way of thinking and acting in art before “six
principles of organization”, which can be called the basic principles of ecology. They are: Networks, Cycles,
Partnership or Alliance, Diversity, Dynamic Equilibrium and Solar Energy.
Keywords: Postgraduate, Art Research, Network Organization, Ecological Vision/Web of Life.

Caminhos desenhantes na estrutura institucional

Ao especificar sobre o fato artístico e seu processo na condição de atuação da Pós-Graduação Stricto
Senso no Brasil (Pesquisa em Arte), evidencia-se que a inclusão da área como linha legítima de
pesquisa no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) foi dada em
1984; após, surgem os grupos nacionais de pesquisa como a ANPAP (Associação Nacional de
Pesquisadores em Artes Plásticas) e a FAEB (Federação de Arte/Educadores do Brasil), ambos em
1987. A partir de então, o meio artístico revestiu-se de avanços, consubstanciados pelo aumento dos

1
Mestra em Processos Criativos pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, Escola de Belas Artes da
UFBA; especialista em Docência do Ensino Superior pelo Instituto Pedagógico de Minas Gerais; Graduada
(Licenciatura e Bacharelado) na área de Artes pelo Instituto de Artes e Design da UFJF, com passagem inicial
pela Escola de Belas da UFRJ. Líder do grupo de pesquisa “VEIA” – Vertentes Ensinagem Integração e Arte.
Professora Universitária – UNIPAC, campus Barbacena e Educação Básica (ensino civil e militar).
programas de pós-graduação, das pesquisa, das publicações e de eventos da área, como congressos,
simpósios, etc. Embora seja possível identificar, em uma análise um pouco mais aprofundada, o
caráter contraditório do mesmo, visto o atraso da Arte na pesquisa brasileira em relação às outras
linhas de pesquisa. Maria Amélia Bulhões (1993, p.94), em uma verificação datada de 1991/1992
relata: “enquanto a área de saúde, a mais consolidada, possuía 213 cursos estabelecidos2, a de
produção plástica havia apenas sete”. Nessa linha de raciocínio, pergunta-se: “O que os artistas
devem fazer para participarem efetivamente do mundo da pesquisa?” É o que evidencia o norte-
americano Stephen Wilson, estudioso que vem trabalhando, ao longo de anos, na abordagem do
artista como pesquisador. Sua resposta gira em torno da necessidade de expansão do campo artístico.
Acredita, fielmente, que isso seja possível sem pôr fim ou mesmo se opor às tradições artísticas. Na
verdade, como afirma, trata-se de uma premência e está ligada diretamente ao próprio futuro da
investigação artista/pesquisa. (Cf. Wilson, 2003, p. 240). É nesse sentido que o artigo em questão
circunstancia uma das contribuições escritas por mim, no projeto de Mestrado – Turma 2014/2015 –
realizado no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal da Bahia
[PPGAV-EBA-UFBA], conforme se segue.

A ciência da obra se fazendo através de um pensamento interconectado

Quando se instaura uma obra, ela unifica várias camadas de soluções de problemas, incluindo, a
exemplo, questões de determinação de linguagem (e/ou linguagens), materialidade, poética, lugar,
passagens, auxílios tecnológicos, entre outros; todos esses elementos, quando coordenados,
proporcionam momentos diferentes ao processo de criação; sendo necessário ao artista estar
comprometido com este fazer: “tornar consciente aquilo que é possível conscientizar”. Nesse
compasso de engajamento, entendo o processo criativo como uma “presença viva”. O pintor Pablo
Picasso já dizia: “um quadro é um ser vivo, respira: se se puser um espelho junto a ele, o espelho fica
embaciado...” Ferreira Gullar complementa: “e mesmo que um quadro não respire como um animal,
isso não significa que ele esteja mais longe dos organismos vivos do que do mundo mineral. E, no
entanto, o quadro é feito de matéria inorgânica ...”. (Cf. Gullar, 2005, p. 131).

Ao aproximarmos dos conceitos trazidos à luz pela “Nova Ciência” (limiar do século XXI), vemos
que há um processo de pensar e perceber o mundo em que vivemos em sintonia com essa “presença
viva”; na qual estamos imersos, não em partes dissociadas, mas em um todo integrado, estando
ligados por redes, de modo a estabelecer inter-relacionamentos e interdependências entre fenômenos
psicológicos, biológicos, físicos, sociais, culturais, não sendo, pois, diferente na construção dos
processos criativos. Logo, as redes se tornaram, ao mesmo tempo, uma espécie de paradigma e de

2 “10 cursos em farmácia, 52 em odontologia, 151 em medicina”.


personagem principal das mudanças em curso; uma reestruturação de pensamento que vem sendo
amplamente discutida por físicos, filósofos e intelectuais de vários campos do saber, sendo absorvida
de forma e velocidade diferentes entre os diversos campos científicos. Seria a mudança de mundo
mecanicista de Descartes e de Newton para uma “Visão Ecológica”, assim tratada pelo teórico
Fritjof Capra (2006), o qual a identifica como a “Teia da Vida”. Etimologicamente, a palavra rede
vem do latim (redis), significando “teia”. Loiola e Moura (1996, p. 54) a definem: “entrelaçamento
de fios... com aberturas regulares fixadas por malhas, formando uma espécie de tecido”. Cecília
Salles em seu livro “Redes da criação: construção da obra de arte” (2006) traz um estudo bastante
fundamentado em que podemos localizar as interconexões existentes no percurso criativo – uma
duologia iniciada em uma publicação anterior: “Gesto Inacabado” (1998). Segundo relata, chegou-se
a esse conceito interconectado, ou melhor, de “rede”, após verificar a necessidade de um termo que
desse conta das novas exigências vindas a partir das múltiplas conexões, em constante mobilidade,
que invadiram o campo artístico (Cf. 2006, p. 10).

No arcabouço conceitual exposto por Capra (2006) no livro “A Teia da Vida: uma nova
compreensão científica dos sistemas vivos”, cuja primeira edição foi publicada em 1997 com o título
original “The web of life”, o referido autor, “um dos mais eloquentes porta-vozes da atualidade”
(nascido em Viena/Austrália, 1939), expõe sobre a “Visão Ecológica”. Pormenoriza, entre outras
questões, sobre os sistemas vivos e seus princípios de organização que a natureza fez evoluir para
sustentar a teia da vida. Assim, elucida: o princípio de rede está no padrão de organização de todo
ser vivo: “em meio aos ecossistemas naturais, em todas as escalas da natureza, encontramos sistemas
vivos alojados dentro de outros sistemas vivos – redes dentro de redes”. Isso ocorre desde os
processos celulares mais ínfimos, até os níveis mais complexos de existência; trata-se um modo
coerente e sistêmico, nascido da teoria da complexidade. (Cf. 2006, p.25). “De Pitágoras até
Aristóteles, Goethe e os biólogos organísmicos, há uma contínua tradição intelectual que luta para
entender o padrão, percebendo que ele é fundamental para a compreensão da forma viva”. “Sempre
que olhamos para a vida, olhamos para redes” – é o que, assim, afirma Fritjof Capra. (p.78).

O referido estudo foi expandido para o livro “As conexões ocultas” (2002). Neste, o teórico acaba
por identificar seis princípios de organização comuns que sustentam a grande “Teia da Vida”, que
podem ser chamados de princípios básicos da ecologia. São estes: Redes, Ciclos, Parceria ou
Aliança, Diversidade, Equilíbrio Dinâmico e Energia Solar. (Cf. 2002, p. 238). Ao compreender que
o percurso de criação artística possui uma “presença viva” e de igual modo se manifesta em “rede”,
os absorvo como diretrizes a serem aplicados, diretamente, ao fato artístico e seu processo (modos de
pensar e agir); aprimorando, pois, a arte junto a essa nova concepção científica do mundo. Refere-se
a uma concatenação e alargamento do que Salles vem desenvolvendo. Cheguei a essa questão, tendo
em vista que “teia” relaciona-se com o conceito de “ecologia”, próprio do assunto poético que
articulo em minha produção em artes visuais (sobre como isso ocorreu, discorrerei mais adiante).

Para a estruturação desses seis elementos no percurso criativo, desenvolvo-os:

1. Redes: Em todas as escalas do fazer artístico, desde as proposições às obras acabadas, é


permeável o encontro de camadas de soluções de problemas alojados um dentro do outro – “redes
dentro de redes” (as redes são fechadas dentro de certos limites, no que diz respeito à sua
organização, mas abertas a um fluxo contínuo de energia e matéria). A fronteira entre estas camadas
não são demarcações de separação, mas de identidades que, por um lado tornam cada “obra” una, e
por outro, compartilham determinadas características: conceitos, materiais, linguagens, etc. Elas
criam e recriam a si mesmas, sofrendo mudanças estruturais contínuas, seja por novas inclusões ou
refluxos a processos anteriores, ao mesmo tempo em que não deixam de preservar o padrão de
organização, sendo este, múltiplo. À medida que os elos vão se formando, percebe-se a presença do
“encontro”3 podendo haver turbulência – “são os picos ou nós da rede” – é preciso estar atento. A
plasticidade visual desse princípio pode ser hipoteticamente construída conforme a figura abaixo:

Figura 1 – Representação hipotética da Plasticidade do Pensamento em Criação: Rede

Fonte: Desenho elaborado pela autora, 2014.

3 Usado no sentido de: achar; encontrar o que procurava; passar a conhecer; topar; deparar com
algo inesperado, mas favorável.
2. Ciclos: Todos os processos poéticos alimentam-se de fluxos contínuos e energias vindas de seu
próprio meio, ou de outros meios (adoção de abordagens teóricas inter e trans disciplinar,
conceituais, procedimentais, etc.) de modo a criar ciclos, sendo definidos por momentos expositivos
ou fases pertencentes à vida de um artista, por exemplo (facilmente assinalado na Fig. 2, que
hipoteticamente identifica três ciclos). São fenômenos que deixam seus rastros para novas
produções; em uma visão sobre o todo, não tende a haver sobra na “teia”, pois tudo acaba se ligando
e se multiplicando incessantemente, à medida que o tempo passa.

Figura 2 – Representação hipotética da Plasticidade do Pensamento em Criação: Ciclos

Fonte: Desenho elaborado pela autora, 2016.

3. Parcerias ou Alianças: As relações de trocas (teóricas, materiais, conceituais, procedimentais,...)


do sistema são sustentadas por cooperação, e não competição, sendo construídas pelo contato
(ligação; aliança): só catalisamos aquilo que conhecemos – é preciso investigar; desvelar. Isto que
garante a existência de um sistema “vivo” e fértil.

4. Equilíbrio Dinâmico: Para realizar o “contato” é preciso um “estado dinâmico” em busca de


desenvolvimento e aprendizado, isto é, para pensar a criação artística é vital romper com o
isolamento, com a ideia de um lugar físico, único de trabalho (atelier/estúdio), passando ao
equilíbrio de movimento (“apropriações, transformações e ajustes”), de modo a ativar as relações e
garantir um sistema complexo, no qual as trocas são estabelecidas, pouco a pouco, pelas interações
que vão sendo tecidas e mobilizadas em prol dessa realidade. Elas ocorrem entre: pessoas
(professores, amigos, orientador, etc.); informações (livros, artigos, historiografia, documentos
oficiais, banco de dados, etc.); áreas do conhecimento (arte – centro da pesquisa, filosofia, religião,
ciências); pares (artistas vivos ou mortos, obras, processos, etc.); materialidades (tela, barro, espaço,
lugar, tecnologias disponíveis, avanços científicos, etc.); atores (crítico, curador, marchand,
musicólogo, etc.) e tudo o que possa garantir a “auto geração” e a “autoperpetuação” da atividade
organizadora deste sistema, que se consolida por um processo mental (cognitivo). Ou, em outros
termos, a partir do momento em que o artista-pesquisador inicia seu projeto, ele imerge em um
processo de criação (“Estado de Pesquisa”), na qual sua ação extrapola um único local físico. Surge,
assim, um “novo espaço-tempo de criação”, que inevitavelmente o afeta em todos os seus
deslocamentos: na rua, na sala de aula, em conversa pelos corredores, em casa, na leitura de livros,
no noticiário da TV, ou em qualquer outra situação que lhe possa trazer algo inspirador. É o intelecto
em busca de respostas para as tantas questões que passam a povoar a mente. São os diversos
“fragmentos” sendo coletados à medida que a pesquisa progride. Observa-se que estúdio (do francês
atelier), por um lado, tem como designação “oficina de artista”, e por outro, (do latim studere),
“ânsia de conseguir algo” – eis uma característica própria do ser pesquisador. Fritjof Capra traz à luz
dos biólogos e filósofos chilenos Francisco Varela e Humberto Maturana o termo “autopoiese” (do
grego auto "próprio", poiesis "criação"), pensado com a finalidade de designar a capacidade dos
seres vivos de produzirem a si próprios.

5. Diversidade: Refere-se à desenvoltura poética do sistema quando alcança estabilidade e


capacidade de permanecer “vivo”, tendo em vista a riqueza e a complexidade de suas teias
(ligações). Toda produção saudável é garantida por uma base de sustentação consistente e profícua,
que permite um campo delimitado, porém diversificado de ações expansivas (surgimento do “novo”
para continuidade do sistema).

6. Energia Solar: Como as plantas que absorvem a luz produzindo os alimentos que necessitam para
a sobrevivência, de modo a preencher a si mesmas com cores e aromas que qualificam a variedade
das espécies; igualmente deve ser o artista, ímpar na luz que absorve do universo (interior e exterior)
e retorna ao mundo. Esse lugar equivale, então, ao “código pessoal” de trabalho de cada artista
(síntese de individualidades), que ecoarão nas “marcas pessoais” da(s) obra(s) ou do(s) processo(s)
artísticos que compõem o sistema (“Teia da Vida”) como um todo.

Pensando na sincronização desta reflexão teórica com a prática artística, estabeleço flashes do
processo poético que a originou; reconhecesse que embora tenha culminado na produção realizada
durante o projeto de Mestrado, defendido no final de 2015, trata-se de inquietações vindas em longo
prazo. Capra (2006, p.14), em uma de suas colocações, assinala, chamando a atenção para como
nossas percepções são invadidas pelo “reconhecimento”. Quando buscamos perceber algo, muitas
das vezes, esse processo desponta por um “enquadramento” daquilo em relação a alguma coisa que
já está armazenado dentro de nós. É assim que nosso processo “neutro” de percepção é interrompido
e “rotulamos” o que vemos como algo já conhecido; faz-se um “encaixe” com o que buscamos.
Duchamp (1957) já dizia: a “arte se dá no encontro de uma intenção com uma atenção”; uma espécie
de jogo interpretativo em que passamos as conexões de “informações fragmentadas”.
Cecília Salles explica (2006, p. 18): “ao adotarmos o paradigma da rede estamos pensando o
ambiente das interações, dos laços, da conectividade, dos nexos e das relações”. Em vista desta
consciência, a primeira obra produzida na fase do Mestrado, sendo denominada “Vek” (do russo,
século/época), formulou-se como um “nó” ou “pico” na rede, de modo a ligá-la à última obra
produzida anteriormente. Foi isso que fiz, e deste contato veio o elo entre dois ciclos; dois momentos
de produção (graduação e pós-graduação). Edgar Morin entende esta combinação como fenômeno
(de organização), que, por sua vez, é capaz de modificar comportamentos ou a natureza das partes
envolvidas (Morin 2002b, p. 72 apud Salles, loc. cit). Niels Bohr (1885-1962), físico ganhador de
nobres prêmios, afirma: "nenhum fenômeno é fenômeno até ser observado". Com a obra em mãos,
constituiu-se como a base de decisão estratégica e dos conceitos operacionais veiculados, de modo a
direcionar as demais produções, estruturando um modelo teórico de rede na arquitetura “Raio de
Sol” (Fig. 3). Esse, caracteriza-se por apresentar um núcleo criativo central (círculo em amarelo) que
orienta os demais elos da rede (obras que surgem em direções distintas, partindo do meio para as
bordas), conforme se visualiza na figura abaixo:

Figura 3 – Estrutura em rede no modelo “Raio de Sol” referente a um ciclo de produção

Fonte: Desenho elaborado pela autora (2015).

Este modelo foi proposto por Quinn et. al. (2001) e origina-se da teoria e prática administrativa
(funcionamento de empresas); área que também vem adotando o princípio inter organizacional em
rede nos negócios que tratam – o que vem ocorrendo há cerca de 30 anos.

Dando continuidade, o que se caracteriza como “Energia Solar” (código pessoal de produção),
circunscreve-se: desafios ambientais enfrentados pelas sociedades contemporâneas, como excessiva
produção de resíduos sólidos, mudanças climáticas, poluição do ar e da água, riscos químicos e
toxicológicos, etc; estando a produção autoral assentada em três conceitos-operacionais-chave:
respeito à natureza, a transitoriedade da existência e a liquidez (dos tempos, das linguagens, dos
procedimentos, ...). Em vista disso, vem a palavra “ecologia”, que indica a capacidade de
preservação dos sistemas vivos ao longo dos anos; chegando, então, “a Teia da Vida” e as teorias
traçadas por Capra, as quais embasaram minhas produções poéticas; mais também revertem em
fundamentações para a teoria proposta.

Voltando ao início da produção, no primeiro ciclo (graduação4) trabalhei com uma estratégia que
pode ser denominada de “acaso objetivo” – questão muito utilizada por certos artistas surrealistas,
como o suíço Alberto Giacometti. Consiste na predisposição de eleger certos lugares onde seria
potencialmente mais fácil deparar com situações de interesse plástico pretendidos (imagens, objetos,
resíduos, etc.). Assim, o acaso foi circunstanciado através do flanar5 pela urbe (substantivo francês
que significa “andarilho”). Apesar de ter se tornado emblemática na Paris do século XIX, utilizar a
cidade como repertório de formas permanece como estratégia operacional na produção artística
contemporânea, sendo evidenciado por autores como o crítico francês Nicolas Bourriaud (2009).

No segundo ciclo (Pós-Graduação/Mestrado6), o local elegido para o “acaso objetivo” foi deslocado;
ou, passou-se também a absorção de uma estratégia que envolve “matéria, memória, conceito e as
histórias do lugar”. Tem-se, então, uma “visita” ao lixão da minha Cidade Natal (Barroso/MG –
cidade localizada na mesorregião do Campo das Vertentes7). De outra forma, a união entre dois
conceitos articulados e um assunto poético estruturado, resultou ao “contato” (Parceria/Aliança) com
o material poético necessário para a plasticidade pretendida. Portanto, foi nesse lugar específico, que
me deparei com um fenômeno estético perfazendo um elo entre os dois ciclos (conforme já relatado).
Esse foi registrado pelo uso da máquina fotográfica e posterior transfiguração para uma linguagem
pictórica (técnica do óleo sobre tela), cuja obra apresenta-se na imagem seguinte (Fig. 4/a). Na
“Diversidade” das expressões empregadas a esta rede, afora o uso da pintura e da fotografia, também
foram exploradas à manipulação digital e a sublimação (modalidade de gravura); já a paleta de cores
foi particularizada pelo uso de dez matizes provenientes do “Código de Cores da Reciclagem” 8
(vermelho, azul, verde, amarelo, cinza, preto, branco, laranja, roxo e marrom).

4
Monografia intitulada Depois da Chuva: uma narrativa por fragmentos, realizada sob orientação do
professor Dr. Ricardo de Cristófaro, IAD/UFJF.
5
O conceito foi trazido por Walter Benjamin de Charles Baudelaire e está contido no sentido de que, após
1850 (início do período moderno), as cidades se tornaram um ambiente muito mais abarrotado, caótico e
estimulante do que jamais havia sido no passado (CHARNEY; SCHWARTZ, 2001, p. 21).
6
Dissertação Campos das Vertentes: uma coleta pictórica; orientação: Professora Dr.ª Maria Virginia
Gordilho Martins (Viga Gordilho), PPGAV-EBA-UFBA.
7
De modo similar a ideia de rede, na expansão deste estudo, o referido termo chegou, também, a uma teoria;
devido as suas extensões não serão tratados neste momento.
8
Código estabelecida pela Resolução n.º 275, de 25 de abril de 2001, CONAMA.
Figura 4 (a e b) – Ligação entre duas obras de uma mesma rede: “Vek” e “Marca/Marco I”

Fonte: Produção autoral da artista-pesquisadora, 2014/2015

Assim sendo, Vek corresponde a primeira obra produzida no Mestrado, a qual foi adotada como
núcleo do centro criativo, conforme Fig. 3. Dela, “colheu-se” um resíduo sólido – lata de alumínio –
passando como materialidade norteadora das ações poéticas que se seguiram; sendo essas
instauradas pelo conceito de “reciclar” (visto ser um artefato exemplar do pós-consumo) e
efetuando-se por uma rememoração ao período da Pop Art (década de 1960), com a consequente
reprodutividade da imagem.

Após escolha e apropriação da materialidade do alumínio, estabeleceu-se uma investigação


desmembrada em várias linhas de ações, de modo a evidenciar especificidades sobre o mesmo (nível
histórico, político, econômico e cultural). Identificou-se, a exemplo, que entre os metais não
ferrosos, é o produto mais consumido no mundo, sendo marco para a indústria moderna; se destaca
por sua beleza e por ser 100% reciclável – o Brasil é líder mundial de reciclagem dessas embalagens,
perfazendo um total de 95% de aproveitamento. Capra, ao citar um exemplo sobre como trabalhar
com a “visão ecológica”, descreve sobre uma “bicicleta” dizendo que neste tipo de percepção é
preciso compreendê-la como um todo funcional, estando em conformidade com as interdependências
de suas partes. Inclui nisto, identificar como a bicicleta está encaixada no seu ambiente natural e
social: “de onde vêm as matérias-primas que entram nela, como foi fabricada, como seu uso afeta o
meio ambiente natural e a comunidade pela qual ela é usada, e assim em diante”. (p.25).
Toda essa ideia estruturada quanto ao percurso criativo verteu-se também no momento expositivo
(Projeto Expográfico). A Figura 6 apresenta parcialmente esse momento; identifica-se na imagem
compassos demarcados pelo tempo, isto é, a disposição(/rotação) das latas foram ordenadas em um
ciclo (horário) de quatro períodos; indicando a placa de alumínio uma quebra do mesmo.

Figura 5 – Obras em disposição cíclica

Fonte: Produção da autora, acervo da galeria representante

De igual modo, nessa imagem, observa-se outra variação da lata de alumínio (marca “Coca-Cola” –
Fig. 4/b). Nela, para além do amassada, há um estágio inicial de derretimento, indicando uma
continuidade do pensamento ou da rede.

A exposição final de curso foi realizada entre os dias 19 a 31 de março de 2015, na Galeria
Cañizares, localizada na sede da Escola de Belas Artes da UFBA, no bairro Canela em Salvador,
BA. Todas as proposições artísticas (um total de 216 unidades) foram transladadas do lugar
expositivo para uma galeria representante9 – e mais uma vez, identifica-se o ciclo “biológico” da arte
se fazendo e refazendo.

Por fim, este trabalho considerou não apenas a premência da vida sobre o planeta – nossa casa – mas
também ao absorver os princípios organizacionais que rege a visão ecológica, segundo teoria
apresentada por Capra e numa ampliação quanto aos estudos de Salles, à “arte como pesquisa” ganha
novo fôlego. Ora, Erns Gombrich (1999, p.44) disserta: a história da arte “não é uma história de
progresso na proficiência técnica, mas uma história de ideias, concepções e necessidades em
permanente evolução”.

9
Galeria Luiz Fernando Landeiro, Arte Contemporânea – situada a Rua da Paciência, Salvador, BA.
Referências Bibliográficas

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Recuperado em 10 de setembro de 2012, em <http://www.poiesis.uff.br/PDF/poiesis11/Poiesis_11_
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