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26/12/2019 SEI/CADE - 0699660 - Nota Técnica

Ministério da Jus ça e Segurança Pública - MJSP


Conselho Administra vo de Defesa Econômica - CADE
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Telefone: (61) 3221-8428 - www.cade.gov.br

NOTA TÉCNICA Nº 89/2019/CGAA2/SGA1/SG/CADE

Inquérito Administra vo nº 08700.003599/2018-95


Representante: Associação Brasileira de Criptoa vos e Blockchain.
Advogados: Rodrigo Caldas de Carvalho Borges e outros.
Representados: Banco do Brasil S.A.; Banco Bradesco S.A. ; Banco Itaú Unibanco S.A.; Banco Santander S.A.; Banco Inter S.A.; e Banco Coopera vo Sicredi
S.A.
Advogados: Aline Crivelari, Caroline Scopel Ceca o, Mário Renato Balardim Borges, Pedro Octávio Begalli Jr., Vinícius Marques de Carvalho, Vitor Jardim
Machado Barbosa, Flavio Augusto Ferreira do Nascimento, Marcelo Antônio C. Queiroga Lopes Filho, Paola Regina Petrozzielo Pugliese, Vinicius Hercos da
Cunha, Ana Luiza Vieira Franco, José Del Chiaro Ferreira da Rosa, Luiz Felipe Rosa Ramos e outros.

EMENTA: Inquérito Administra vo instaurado para


apurar indícios de infração à ordem econômica
passíveis de enquadramento no art. 36, incisos I, II
e IV da Lei nº 12.529, de 30 de novembro de 2011.
Recusa pelos bancos representados de manter
abertas ou contratar contas correntes com
corretoras de “criptomoedas”. Mercado relevante
de serviços bancários. Sugestão de arquivamento
e envio da Nota Técnica, para a adoção das
medidas que julgarem adequadas, à Secretaria de
Advocacia da Concorrência e Compe vidade do

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Ministério da Economia, ao Banco Central do


Brasil, à Comissão de Valores Mobiliários e à
Comissão Especial da Câmara dos Deputados
des nada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº
2303, de 2015.

VERSÃO PÚBLICA

I. RELATÓRIO

I.1. Introdução

1. Trata-se de Inquérito Administra vo (“IA”) instaurado em 18 de setembro de 2018 por esta Superintendência-Geral (“SG”) do Conselho
Administra vo de Defesa Econômica (“Cade”) com o obje vo de apurar denúncia (documento SEI nº 0483963) feita pela Associação Brasileira de
Criptoa vos[1] e Blockchain (“ABCB”) contra Banco do Brasil S.A. (“Banco do Brasil”), Banco Bradesco S.A. (“Bradesco”), Banco Inter S.A. (“Inter”), Banco Itaú
Unibanco S.A. (“Itaú”), Banco Santander S.A. (“Santander”) e Banco Sicredi (“Sicredi”) - em conjunto os “Representados” - por supostas infrações à ordem
econômica.
2. Abaixo a definição de alguns conceitos u lizados nesta Nota Técnica:
a) Criptomoeda[2]: será u lizado como sinônimo de “moeda virtual” ou “moeda criptográfica”, que, segundo o Banco Central do Brasil
(“BCB”), é uma representação digital de valor que não é emi da por um banco central ou outra autoridade monetária e seu valor decorre
da confiança depositada nas suas regras de funcionamento e na cadeia de par cipantes (exemplos: Bitcoin, Ethereum, Litecoin, Ripple);
não deve ser confundida com “moeda eletrônica”;
b) Moeda eletrônica: regulamentada[3] por norma vos do BCB, é conceituada como “recursos em reais armazenados em disposi vo ou
sistema eletrônico que permitem ao usuário final efetuar transação de pagamento”, é, portanto, um modo de expressão de créditos
denominados em reais; por sua vez, criptomoedas não são referenciadas em reais ou em outras moedas estabelecidas por governos
soberanos;
c) Blockchain: segundo o BCB[4], “blockchain é uma tecnologia para cer ficar bens e transações digitais, que usa a tecnologia de registro
distribuído para registrar informações sem a necessidade de uma en dade central”, por exemplo, o Bitcoin é uma criptomoeda que u liza
essa tecnologia;
d) Exchanges: segundo o BCB[5], “são empresas que negociam ‘moedas virtuais’ e/ou guardam chaves, senhas ou outras informações
cadastrais dos usuários“; ao longo desta Nota Técnica, exchanges serão denominadas corretoras de criptomoedas (eventualmente apenas
corretoras).
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3. A ABCB (“Representante”) iniciou a vidades em abril de 2018 e apresenta-se[6] como a primeira associação do setor de criptomoedas e
blockchain do Brasil. A associação tem o obje vo de debater soluções com autoridades e criar um marco regulatório para este novo setor da economia, em
que atuam diversos agentes financeiros como desenvolvedores, consultores, corretoras de criptomoedas e usuários de aplicações baseadas na tecnologia
blockchain. Assim, a ABCB teria surgido para representar ins tucionalmente esses agentes envolvidos com criptoa vos[7] e tecnologia blockchain.

I.2. Do objeto

4. Em síntese, a ABCB denuncia que os Representados estariam limitando ou dificultando o acesso de corretoras de criptomoedas ao sistema
bancário. Segundo a ABCB:
“(...) vários grandes bancos brasileiros de varejo, de forma totalmente arbitrária, imo vada, an compe va e lesiva aos empreendedores desse
segmento de negócios [corretoras de criptomoedas], tem encerrado unilateralmente contas ou se recusado a abri-las (...)” (doc. SEI nº 0483963,
pág. 3)
5. Por exemplo, a denúncia alega que o Banco do Brasil encerrou, sem nenhuma jus fica va, a conta corrente da empresa Atlas Proj Tecnologia
Ltda. (“Atlas”), sócia mantenedora da ABCB e corretora de criptomoedas, que se dedica, dentre outras a vidades, à aquisição e intermediação de
criptomoedas, mais especificamente de Bitcoins[8]. A Representante alega que a Atlas era corren sta do Banco do Brasil, assim como muitos de seus
clientes, e a conta corrente no banco era u lizada para receber depósitos e transferências de clientes que desejavam comprar Bitcoins.
6. A Representante afirma que o acesso a uma conta corrente é essencial para qualquer empresa, especialmente uma que se dedica a
operações financeiras (compra e venda de moedas e a vos). Dessa forma, a manutenção da conta no Banco do Brasil seria indispensável à a vidade
empresarial da Atlas uma vez que, sem uma conta bancária, a empresa não conseguiria prestar serviços financeiros a seus clientes, e não haveria qualquer
alterna va viável para a realização de negócios e para a transferência de valores, que não seja por meio dos canais do sistema financeiro tradicional.
7. Além dessa conduta do Banco do Brasil de encerrar a conta da Atlas, a Representante apresentou uma lista de ações judiciais (doc. SEI nº
0483965, anexo “Lista de ações judiciais (...)”) para demonstrar que outras corretoras de criptomoedas estariam sendo afetadas por condutas semelhantes
adotadas por outros cinco bancos, lista em que estão citados Bradesco, Inter, Itaú, Santander e Sicredi. Assim, estes cinco bancos e o Banco do Brasil são os
Representados neste IA.
8. Segundo essa lista de ações judiciais, outras corretoras estariam sendo afetadas por condutas semelhantes, além da Atlas: BitcoinTrade Digital
(“BitcoinTrade”), Braziliex Moedas Virtuais LTDA ME (“Braziliex”), Coinbr Serviços Digitais Ltda. (“CoinBR”), Foxbit Serviços Digitais Ltda. (“Foxbit”), Mercado
Bitcoin Serviços Digitais Ltda. (“Mercado Bitcoin”) e Wall me Serviços Digitais Ltda. (“Wall me”).
9. No decorrer da instrução foram apontadas outras corretoras de criptomoedas que estariam sendo afetadas pelo encerramento de suas
contas correntes, assim como outros bancos que poderiam estar pra cando condutas semelhantes às inves gadas neste IA.
10. Em síntese, este IA inves ga se há indícios de infração à ordem econômica no fechamento de contas correntes de corretoras de criptomoedas
de forma unilateral, por inicia va de bancos - em geral sem apresentar mo vação ao cliente –, assim como, em outros casos, a recusa em abrir uma conta
corrente a esses clientes, as corretoras de criptomoedas, alegando a Representante que a conta corrente seria um insumo essencial para a a vidade dessas
empresas.

I.3. Histórico da instrução


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11. Com o intuito de inves gar se as condutas narradas pela Representante cons tuiriam indícios de prá cas an concorrenciais, ou seja, se as
condutas em análise são rela vas a matéria de competência do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (“SBDC”), nos termos da Lei nº 12.529, de 30
de novembro de 2011, esta SG instaurou Procedimento Preparatório em 7 de junho de 2018.
12. Em 11 de junho de 2018, esta SG oficiou os seguintes bancos: Banco do Brasil[9], Santander[10], Bradesco[11], Itaú[12], Inter[13] e
Sicredi[14] para que se manifestassem a respeito da denúncia apresentada pela ABCB. Todos responderam tempes vamente.
13. Em 14 de agosto de 2018, a Representante enviou manifestação complementar (doc. SEI nº 0513256), sobre a qual o Itaú (doc. SEI nº
0526901) e o Santander (doc. SEI nº 0520906) se manifestaram.
14. Na instauração deste IA, foi acolhida a Nota Técnica nº 39/2018/CGAA2/SGA1/SG/CADE (“NT 39/2018”, doc. SEI nº 0526889), que concluiu
pela denegação da adoção de medida preven va solicitada pela Representante e, em síntese, foram apontados indícios suficientes de infração à ordem
econômica para prosseguir a inves gação, nos termos da Lei nº 12.529, de 2011, em relação a hipóteses previstas em seu art. 36, caput, incisos I, II e IV, em
condutas passíveis de enquadramento no mesmo art. 36, §3º, incisos III, IV e XI, em matéria rela va à competência do SBDC.
15. Em outubro de 2018, após a instauração deste IA, foram oficiadas as sete corretoras de criptomoedas já mencionadas e supostamente
afetadas por condutas dos Representados e outras cinco corretoras de criptomoedas: BitCambio, Capital Digital Aberto, E-Juno, Profi y Negócios Digitais S/S
Ltda. (“Profi y”) e BitBlue Tecnologia e Serviços Digitais S.A. (“BitBlue”). A Atlas também foi oficiada. As respostas[15] dessas empresas foram enviadas
tempes vamente e juntadas aos autos.
16. No transcorrer da instrução, a ABCB apresentou outras manifestações, descritas no Quadro 1 a seguir.
Quadro 1 - Manifestações adicionais da Representante
Data Doc. SEI nº Resumo
Jus ça na Coréia do Sul decidiu manter abertas contas de corretoras de
7.11.2018 0545343
criptomoedas
7.1.2019 0565658 Tribunal de Defesa da Livre Concorrência do Chile - idem
16.1.2019 0569540 Denuncia conduta similar da Sicoob em relação à CoinBR
8.2.2019 0578895 Denuncia conduta similar do Bradesco em relação à BitBlue
Decisão da 3a Vara Cível de Brasília para que o Santander restabelecesse a conta
13.2.2019 0580306 corrente da AL - INFORMATICA LTDA – ME (iden ficada pela Representante como
BitcoinMax
Decisão da 5ª Vara Cível de São Paulo para o Banco do Brasil manter aberta a
25.3.2019 0596198
conta corrente da Foxbit
17.4.2019 0605107 Parecer Econômico (solicitado pela ABCB)[16]
Lista complementar de corretoras de criptomoedas e legislação que exige
11.5.2019 0613752
manutenção de conta corrente para alguns fins
27.8.2019 0653923 Encerramento de conta por parte da Caixa e no cias sobre a demanda junto ao
e e Banco Central de Israel por associação de corretoras para que bancos locais
28.8.2019 0654493 divulguem suas polí cas em relação a criptoa vos.

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Fonte: autos do IA – elaboração SG/Cade

17. Em 13 de maio de 2019, o Despacho SG nº 594 (doc. SEI nº 0612911) acolheu a mo vação apresentada na Nota Técnica nº
18/2019/CGAA2/SGA1/SG/CADE (doc. SEI nº 0592231) para prorrogar o presente IA. Em 11 de julho de 2019, o Despacho SG nº 920 (doc. SEI nº 0636502)
considerou que permaneciam presentes as mesmas circunstâncias e necessidades mencionadas na Nota Técnica nº 18/2019 e decidiu pela prorrogação
deste IA.
18. Nessa mesma data, 11 de julho de 2019, avaliadas as informações trazidas aos autos para que se manifestassem a respeito da denúncia
apresentada pela ABCB, esta SG oficiou e recebeu respostas de outras corretoras de criptomoedas: 3XBIT[17], Allcoin Wallet[18], Bitcoinmax[19],
Coinext[20], Stratum[21] e Bitrecife[22]. As respostas foram recebidas pelo Cade entre 18 de julho e 2 de agosto desse ano. A Stratum informou que atua
em parceria[23] com a CoinBR, devido à aquisição desta plataforma ocorrida em dezembro de 2017.
19. Em 25 de julho de 2019, a ABCB encaminhou pe ção (doc. SEI nº 0642675) a esta SG reiterando a adoção de medida preven va, já requerida
na denúncia inicial, “em razão da con nuidade das condutas an compe vas e extremamente prejudiciais aos negócios de associados da ABCB e de outras
empresas do setor de Criptoa vos”, segundo mo vação apresentada pela Representante. No dia seguinte, a ABCB enviou nova manifestação complementar
(doc. SEI nº 0643380) a essa pe ção com informações do encerramento de contas da CoinBR.
20. Por sua vez, o Santander manifestou-se (doc. SEI nº 0644660) em 31 de julho de 2019 contestando a requerida adoção de medidas
preven vas contra os bancos. A Representante apresentou sua contestação (doc. SEI nº 0649596) a essa manifestação do Santander em 14 de agosto de
2019.
21. Em 20 de agosto de 2019 a Braziliex complementou (doc. SEI nº 0651611) a resposta anteriormente enviada ao O cio Cade nº 4729/2018. Em
27 e 28 de agosto a ABCB anexou aos autos informações sobre outro encerramento de conta corrente, entre outras informações.
22. Em 6 de setembro de 2019, o Despacho SG nº 1175 (doc. SEI nº 0658058) prorrogou este IA em função da permanência das circunstâncias
apontadas na prorrogação anterior, do prosseguimento da instrução a par r dos o cios enviados em 11 de julho e das manifestações anexadas aos autos
desde essa data.
23. Por fim, o Itaú encaminhou nova manifestação em 9 de outubro de 2019.
24. Em resumo, este IA recebeu informações[24] de 18 (dezoito) corretoras de criptomoedas e dos 6 (seis) Representados, além das diversas
manifestações da ABCB.
25. É o relatório.

II. CONDUTAS EM INVESTIGAÇÃO

II.1. Introdução

26. Segundo a denúncia, as condutas dos Representados estariam limitando ou prejudicando a livre concorrência em mercados ver calmente
relacionados ao mercado bancário, ao impedir ou limitar o acesso das corretoras de criptomoedas a contas correntes nos Representados.

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27. Este IA foi instaurado para apurar se as condutas dos Representados são passíveis de enquadramento nas hipóteses previstas no art. 36,
caput, incisos I a IV, da Lei nº 12.529, de 2011, em suma, se existem indícios suficientes que possam cons tuir infração da ordem econômica.
28. Nos termos desse disposi vo legal, cumpre analisar se os fatos trazidos ao conhecimento desta SG, independentemente de culpa, têm por
objeto ou são aptos a produzir quaisquer efeitos, ainda que potencialmente, previstos como an concorrenciais nos mencionados incisos: “I - limitar, falsear
ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre inicia va; II - dominar mercado relevante de bens ou serviços; III - aumentar arbitrariamente
os lucros; e IV - exercer de forma abusiva posição dominante. “
29. Para analisar a existência de indícios suficientes que apontem para a possibilidade de infração da ordem econômica, esta Nota Técnica seguirá
os seguintes passos: (i) delinear os mercados relevantes envolvidos nas condutas em inves gação para avaliar se os Representados detêm posição
dominante (na seção “III. MERCADOS RELEVANTES”); e (ii) ponderar os efeitos nega vos à concorrência em relação às eventuais jus fica vas dos
Representados para tais condutas (na seção “IV. JUSTIFICATIVAS PARA AS CONDUTAS”).
30. Ausência de jus fica vas aceitáveis (quanto a eficiências econômicas, em geral) e existência de posição dominante são requisitos para se
considerar a suficiência de indícios e instauração de um processo administra vo para imposição de sanções administra vas por infrações à ordem
econômica, o que implica o início do procedimento em contraditório, para garan r aos representados a ampla defesa, não cons tuindo, portanto, sentença
ou julgamento de mérito quanto às condutas.
31. Por outro lado, sem um desses requisitos considera-se que as condutas não poderiam produzir os efeitos já mencionados dos incisos I a IV do
art. 36, o que implica o arquivamento do IA.
32. Antes de seguir os dois passos mencionados, as seções a seguir trazem uma breve descrição das condutas em inves gação, da argumentação
da Representante, do pedido de medida preven va e das manifestações das corretoras. Essas descrições ajudam no entendimento quanto aos mercados
relevantes de interesse e na análise sobre a suficiência de indícios de uma suposta infração à ordem econômica.

II.2. Síntese das condutas denunciadas - corretoras e contas correntes afetadas

33. A denúncia inicial versou sobre o fechamento da conta corrente da corretora Atlas de forma unilateral pelo Banco do Brasil, encerrando a
conta por “Decisão Administra va Banco do Brasil”, conforme comunicação transcrita a seguir, e “(...) sem qualquer maior jus fica va ou explicação. “ (doc.
SEI nº 0483963, pág. 2)
Figura 1 - Exemplo de comunicado de rescisão de conta corrente

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Fonte: autos do processo (doc. SEI nº 0483965, anexo “Atlas Proj x ...”)

34. De forma similar, a denúncia inicial relacionou outras seis corretoras de criptomoedas que impetraram, cada qual na defesa de seu interesse,
ações judiciais contestando o encerramento de suas contas correntes, a saber: BitcoinTrade (ações judiciais contra Banco do Brasil e Santander), Braziliex
(contra Itaú), CoinBr (contra Bradesco, Sicredi e Banco do Brasil), Foxbit (contra Bradesco e Inter), Mercado Bitcoin (contra Banco do Brasil, Itaú e Santander)
e Wall me (contra Banco do Brasil, Bradesco e Itaú).
35. Dentre essas ações judiciais algumas foram julgadas improcedentes, enquanto outras resultaram em liminares em favor da corretora de
criptomoedas no sen do de obrigar o banco a manter a conta corrente aberta (a va), porém algumas destas liminares foram posteriormente reformadas
em segunda instância, resultando no fechamento da conta corrente a que se referia a respec va ação judicial.
36. A Representante também no ciou que diversos bancos estavam recusando abrir contas correntes para as corretoras de criptomoedas, sem
apresentar mo vo para isso, e, em alguns casos, após o banco demonstrar interesse na abertura da conta da empresa.
37. Oficiados, os Representados alegaram, em linhas gerais, que o encerramento de uma conta corrente é inerente à sua a vidade empresarial,
sendo uma escolha comercial assegurada cons tucionalmente pela liberdade de inicia va e seria, inclusive, amparada por normas exaradas pelos órgãos
reguladores. Complementaram alegando que o encerramento poderia estar atrelado a questões de risco ligadas às suas polí cas de prevenção a crimes de
“lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores e combate ao terrorismo (“PCLD”) em cumprimento à Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998 (“Lei da
PCLD”), entre outras normas dos órgãos reguladores sobre o tema.
38. Assim, para quan ficar a abrangência de empresas afetadas, a instrução procurou obter junto às corretoras de criptomoedas informações
obje vas sobre as condutas em inves gação, classificadas da seguinte forma:
a) Contas correntes man das a vas por decisão judicial;
b) Contas encerradas (por inicia va do banco); e
c) Recusa do banco em abrir conta corrente.

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39. Importante ressaltar que as contas da alínea “a” acima estão em situação precária, podendo ser rever da a decisão judicial a qualquer tempo
e, além disso, algumas corretoras relataram que os bancos dificultam ou restringem a movimentação nessas contas man das abertas por decisão judicial,
chegando até a bloquearem inteiramente a conta nessa situação.
40. O Quadro 2 a seguir resume as informações fornecidas pelas corretoras, constando a data da ocorrência de encerramento da conta (quando
informada pela corretora). Esse quadro (analí co, por corretora de criptomoedas) foi man do de acesso restrito ao Cade em proteção às empresas que
solicitaram sigilo sobre essas informações, sem prejuízo ao entendimento das condutas denunciadas, pois são mostradas em seguida informações agregadas
sobre a situação das contas correntes.
Quadro 2 - Situação da conta corrente e ocorrência de ação judicial (ACESSO RESTRITO AO CADE)
Representados
Corretoras de criptomoedas
Banco do Brasil Bradesco Inter Itaú Santander Sicredi
(ACESSO RESTRITO)
Fonte: autos do processo público e de acesso restrito – elaboração SG/Cade

41. O Quadro 3 resume as informações do Quadro 2, agregando a quan dade de ações de encerramento de contas correntes por banco
representado.
Quadro 3 - Resumo das situações descritas no Quadro 2 – quan dade de contas
Representados
Condutas e situação das contas
Banco do Brasil Bradesco Inter Itaú Santander Sicredi
Contas a vas por decisão judicial 5 2 - 1 2 -
Contas correntes Fechadas 5 5 - 7 1 1
Recusa em abrir conta corrente 1 4 1 3 6 -
Fonte: Quadro 2 (autos do processo) – elaboração SG/Cade

42. Complementando essas informações sobre os Representados, o Quadro 4 foi elaborado com informações fornecidas pelas corretoras de
criptomoedas quanto a outros bancos.
Quadro 4 - Resumo das situações em outros bancos - quan dade de contas correntes
Outros bancos
Condutas e situação das contas
Agibank Caixa Econômica Federal Rendimento Safra Sicoob
Contas a vas por decisão judicial - 1 - - 2
Contas correntes Fechadas 2 1 - 1 1
Recusa em abrir conta corrente - - 1 1 -
Fonte: autos do processo – elaboração SG/Cade

43. Além das quan dades mencionadas nos quadros acima, a par r das 18 (dezoito) corretoras que forneceram informações, destaca-se que:
a) Duas corretoras de criptomoedas não relataram qualquer po de situação envolvendo suas contas correntes, as demais 16 (dezesseis)
corretoras relataram alguma situação rela va a contas correntes (recusa em abrir ou encerramento unilateral da conta);
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b) Os seguintes bancos foram mencionados por manter conta a va para alguma corretora (sem relato de tenta va de encerramento):
Credifoz, Plural (três corretoras), Topázio e Votoran m; e
c) São 54 (cinquenta e quatro) contas a vas (sem registro de tenta va de encerramento).
44. Coincidentemente, as situações de condutas mostradas no Quadro 3 e no Quadro 4, relacionadas a encerramento de conta ou recusa em
abrir uma conta, também totalizam 54 (cinquenta e quatro) ocorrências. Dessa quan dade de condutas em inves gação neste IA o Banco do Brasil, o
Bradesco e o Itaú, respondem, cada um, com 11 (onze) relatos de encerramento ou recusa de abrir conta corrente e, em seguida, o Santander com 9 (nove)
relatos.
45. Assim, a questão principal denunciada é a situação de incerteza das corretoras de criptomoedas quanto a suas contas correntes junto aos
bancos, pois elas têm sido surpreendidas por comunicados de encerramento de forma unilateral pelos bancos e em outros casos com a recusa em abrir
conta corrente.
46. Além dessas situações, as informações trazidas aos autos trouxeram relatos das seguintes potenciais condutas por parte dos bancos:
a) Não cumprimento de aviso prévio ao encerramento da conta corrente, com os bancos bloqueando ou encerrando a conta sem respeito
ao prazo para isso determinado[25] pelo Banco Central do Brasil (“BCB”);
b) Bloqueio da conta anteriormente à comunicação de encerramento, em suposto descumprimento ao art. 12 da Resolução nº 2.025, de
24 de novembro de 1993, do Conselho Monetário Nacional (“CMN”)[26], e alterações posteriores, que prevê comunicação prévia ao
encerramento da conta;
c) Em alguns casos, sócios ou diretores da corretora também foram no ficados do encerramento de suas contas correntes pessoais; e
d) Transtornos na u lização de conta corrente man da a va por decisão judicial, com limitação de uso, movimentação e até mesmo
bloqueio integral ao uso da conta.
47. Em resumo, até o momento, 89% (oitenta e nove por cento) das corretoras de criptomoedas - dezesseis das dezoito das quais o Cade recebeu
informações – relataram algum po de situação de encerramento de conta corrente ou recusa em abrir conta corrente, em situações que alcançaram
metade das contas dessas dezoito corretoras.

II.3. Argumentação da Representante

II.3.1. Quanto aos mercados relevantes relacionados às condutas

48. Para a ABCB, as corretoras de criptomoedas são empresas da inovadora economia digital e seriam não somente clientes dos bancos (para
acessar o sistema financeiro e realizar negócios), mas também concorrentes dos bancos, pois “(...) oferecem produtos e serviços financeiros, além de meios
de pagamento alterna vos. “
49. Segundo a Representante, as corretoras de criptomoedas “(...) são claramente das como concorrentes das ins tuições financeiras, seja pelo
lado da oferta (bancos e demais ins tuições financeiras), seja pelo lado da demanda (inves dores, credores/pagadores, etc.). ” (doc. SEI nº 0483963, pág. 7)

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II.3.2. Sobre a essencialidade da conta corrente

50. A Representante alega que o acesso a uma conta corrente e, consequentemente, a seus serviços acessórios é uma essen al facility[27], em
alusão a conceito da literatura an truste. Essa alegação da suposta essencialidade de acesso ao sistema financeiro por meio de uma conta corrente está
fundamentada pela Representante no trecho transcrito a seguir.
“Muitos dos clientes da Atlas são também corren stas do Banco do Brasil, e a manutenção da conta-corrente é, portanto, u lizada para receber
depósitos e transferências de clientes que desejam comprar Bitcoins. No futuro, quando esses clientes da Atlas optarem por realizar os seus lucros
ou prejuízos, vendendo Bitcoins, poderão receber os seus valores diretamente na sua conta-corrente do banco, trazendo, inclusive, segurança e
confiabilidade às operações.
Fácil perceber, neste contexto, que a manutenção de sua conta bancária é essencial e indispensável à a vidade empresarial da Atlas, sendo, de
outro modo, impossível a realização de seu objeto social, ou seja, a prestação de serviços financeiros. Até mesmo para efetuar o pagamento de
tributos é necessário possuir uma conta bancária.
O acesso ao sistema financeiro tradicional é uma infraestrutura essencial à própria sobrevivência de qualquer agente econômico numa economia
capitalista, tanto mais àqueles que se dedicam a operações financeiras e de compra e venda de moedas e a vos. Não há qualquer alterna va
viável para a realização de negócios e para a transferência de valores, senão por meio dos canais do sistema financeiro tradicional.
Essa essencialidade do acesso a uma ins tuição financeira é, em grande medida, também derivada do alto grau de regulação desse setor da
economia e do controle das redes de atendimento por poucos, dominantes e concentrados bancos. Além disso, os serviços oferecidos pelo
sistema financeiro tradicional em relação ao trânsito de valores é ainda absolutamente irreplicável no mercado. “ (g.n.) (doc. SEI nº 0483963, pág.
2 e 3)
51. Além dessa alegação inicial, a ABCB argumentou (doc. SEI nº 0613752) sobre a obrigatoriedade de uma empresa manter uma conta corrente,
pois a legislação nacional exigiria isso para a integralização de capital, a distribuição de lucros ou dividendos e para qualquer operação atrelada ao câmbio.
Nesse sen do, foram transcritos os trechos a seguir.
Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976.
“Art. 80. A cons tuição da companhia depende do cumprimento dos seguintes requisitos preliminares:
(...)
II - realização, como entrada, de 10% (dez por cento), no mínimo, do preço de emissão das ações subscritas em dinheiro;
III - depósito, no Banco do Brasil S/A., ou em outro estabelecimento bancário autorizado pela Comissão de Valores Mobiliários, da parte do capital
realizado em dinheiro.
(...)
Art. 205. A companhia pagará o dividendo de ações nomina vas à pessoa que, na data do ato de declaração do dividendo, es ver inscrita como
proprietária ou usufrutuária da ação.
§1º Os dividendos poderão ser pagos por chegue nomina vo reme do por via postal para o endereço comunicado pelo acionista à companhia, ou
mediante crédito em conta-corrente bancária aberta em nome do acionista.“ (destaques da ABCB)

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52. Essa Lei dispõe sobre Sociedades por Ações, sendo os trechos acima rela vos à cons tuição e pagamento de dividendos desse po de
Sociedade. Quanto à mencionada necessidade de conta em operações atreladas ao câmbio, a ABCB transcreveu o trecho a seguir de seção Perguntas e
Resposta do BCB.
“Como faço para enviar recursos para o exterior ou para receber recursos do exterior em moeda estrangeira?
Você deve se dirigir a agente autorizado a operar no mercado de câmbio, que pode ser banco, caixa econômica, sociedade corretora ou sociedade
distribuidora de tulos e valores mobiliários, corretoras de câmbio ou, ainda, correspondente cambial de urna dessas ins tuições, e apresentar a
documentação que lhe for solicitada para a realização da operação de câmbio (para outras informações sobre os serviços que podem ser
prestados pelos correspondentes cambiais, consulte a seção ‘Câmbio - operações com moeda estrangeira > Mercado de câmbio – definições’; para
informações mais gerais sobre correspondentes, consulte a seção ‘Correspondentes no País’) “ (destaque da ABCB)
53. Essa SG já adianta que não percebe no trecho acima nenhuma interpretação que conduza à conclusão da ABCB, exposta no parágrafo 51, em
relação a operações de câmbio; ao contrário, a menção a “agente autorizado” afasta qualquer relação com as corretoras de criptomoedas, sendo a figura de
“agente autorizado” regulado pelo BCB e as operações de câmbio também reguladas por diversos órgãos, o que não ocorre com as corretoras de
criptomoedas.
54. Por sua vez, diversas corretoras de criptomoedas prestaram informações alinhadas com a Representante sobre a essencialidade das contas
correntes para suas a vidades. A tulo de exemplo, a seguir transcrição de alguns trechos sobre isso.
Bitcambio (Citar Tech): “(...) acesso ao sistema bancário, insumo essencial para atuação, aumentando seus custos e os custos de seus clientes,
reduzindo sua eficiência, e prejudicando, em úl ma instância, o bem-estar do consumidor. “ (doc. SEI nº 0540595, pág. 17)
BitcoinTrade: “Diante da evidência de que todas as transações em criptomoedas envolvem moeda corrente do local da transação, imperioso que
todos os usuários que negociam criptomoedas devam manter contas bancárias em ins tuições bancárias oficiais, não apenas a fim de viabilizar as
operações de compra e venda, mas garan r a segurança e a lisura das operações (...)” (doc. SEI nº 0538724, pág. 3)
Foxbit: “(...) no contexto das a vidades da FOXBIT, os serviços bancários são essenciais. Trata-se de clara dependência em sen do amplo. As
operações da FOXBIT dependem fundamentalmente do acesso às contas correntes disponibilizadas pelos bancos. Isto pois, a FOXBIT precisa
manter contas correntes para receber os valores inves dos pelos clientes e também para depositá-los em suas contas correntes quando da venda
de bitcoins. As contas correntes não são de forma alguma subs tuíveis, não há como conceber uma maneira segura, prá ca e fácil de transferir
valores em moeda corrente que não por transferências bancárias. “ (doc. SEI nº 0538698, pág. 11)
Wall me: “Para sua operação a Wall me u liza-se tanto da rede do bitcoin, conhecida como 'Blockchain’, quanto de contas bancárias para
permi r aos usuários depósitos e saques em bitcoin e em real. Sendo ambas indispensáveis à prestação dos seus serviços de intermediação. “
(doc. SEI nº 0538563, pág. 4)

II.3.3. Sobre a recusa de contratar

55. A ABCB argumenta que a recusa de fornecer é passível de sanção de acordo com as melhores prá cas, a doutrina e a jurisprudência an truste
“(...) ainda mais quando se trata de uma infraestrutura essencial (...)”, conforme argumentado na seção “II.3.2. Sobre a essencialidade da conta corrente”, e
que o prejudicado pela recusa deve demonstrar que foi ví ma não somente de uma “inconveniência ou dissabor”, ou de alguma perda econômica, mas,
além disso, deve comprovar que "(...) uma alterna va não lhe é fac vel ou viável. “ (doc. SEI nº 0483963, pág. 4)

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56. A Representante prossegue e exemplifica a caracterização da conduta unilateral “recusa de contratar” sob o ponto de vista do “Relatório
sobre a Análise da Recusa de Contratar com um Rival”, publicado[28] em abril de 2010, pela Interna onal Compe on Network (“ICN”)[29]. Para a
construção desse Relatório, a ICN obteve informações de 43 jurisdições, tendo conceituado a conduta como sendo a “recusa incondicional de uma empresa
dominante (ou uma empresa com poder de mercado substancial) em contratar com um rival, (...) incluindo a recusa em conceder acesso a uma instalação
essencial[30]”.
57. Para a maioria dessas jurisdições, a Representante alega que: (i) a prova de ilicitude da conduta exigiria demonstrar que a recusa de contratar
poderia levar ao fechamento do mercado a jusante para uma ou mais empresas que competem nesse mercado com o fornecedor que recusa contratar,
eliminando a concorrência efe va; (ii) a conduta seria ilegal se não for jus ficada do ponto de vista comercial (que seria uma jus fica va baseada em
critérios previamente conhecidos e com alguma lógica econômico-empresarial). A Representante ainda discorre se a existência de relacionamento prévio
entre as partes ou a contratação com terceiros seriam fatores de auxílio na avaliação de possível ilicitude na conduta de recusa de contratar.
58. Também é mencionado um estudo[31] da OCDE sobre o conceito de “essen al facili es” (instalações essenciais) onde, segundo a ABCB, “(...)
a doutrina de instalações/infraestruturas essenciais se aplica quando o(s) proprietário(s) de uma instalação ‘essencial’ ou ‘gargalo’ (bo leneck) deve(m)
fornecer acesso a essa instalação, a um preço razoável. “ (g.n.) (doc. SEI nº 0483963, pág. 6)
59. Segundo a manifestação da ABCB, questões de instalações essenciais teriam uma tendência de surgir em “(...) contextos em que o
proprietário/controlador da instalação essencial esteja sujeito à regulação do Estado, ou o próprio Estado seja o controlador (...)” e por ser o Banco do Brasil
controlado pela União e atuante em um setor regulado, isso seria um indício da ilegalidade de sua conduta perante as corretoras de criptomoedas.
60. Para a ABCB, é grave a recusa de contratar dos bancos com as corretoras de criptomoedas, pois como seriam concorrentes dos bancos (vide
argumentação na seção “V.3.5. Quanto à concorrência com os bancos”), isso seria uma reação de empresa dominante em relação à concorrência dessas
corretoras. Prossegue a Representante argumentando sobre as razões dos bancos para a recusa em contratar, conforme trecho transcrito a seguir.
“Não é di cil perceber as razões para essa reação an compe va das ins tuições financeiras: a nova economia digital e criptográfica reduz
dras camente os custos de transação (tarifas bancárias em geral, custos administra vos, taxas, etc.), além de oferecerem serviços muitos mais
rápidos, confiáveis e verificáveis pra camente em tempo real (transferências instantâneas de valores, remessas internacionais, etc.).
Os ganhos econômicos e sociais, derivados das eficiências geradas pelas novas tecnologias realmente assustam ao establishment financeiro, pois
podem significar a necessidade real e premente de muitas mudanças e adaptações. “ (doc. SEI nº 0483963, pág. 7)
61. Para ilustrar a tese da ilicitude das condutas dos Representados, a Representante apresentou casos de recusa de contratar da jurisprudência
an truste internacional, resumidos nas seções seguintes[32], com referências a cinco precedentes: os Casos Commercial Solvents e United Brands - União
Europeia; O Caso Swi - acesso a instalações/infraestruturas essenciais; Caso Bankomat - Suécia; O Relatório Hilmer de 1993 - Austrália; e Bureau da
Concorrência do Canadá versus Canada Bank of Montreal e outros.

II.3.3.1. Casos Commercial Solvents e United Brands, da União Europeia

62. Nos casos Commercial Solvents e United Brands, sobre recusa de contratar, o Tribunal de Jus ça Europeu decidiu por obrigar a empresa
dominante a fornecer. Isso deve ser entendido que uma empresa dominante deveria jus ficar de forma obje va eventual recusa de fornecer, sua
classificação como empresa dominante restringiria sua liberdade comercial de contratar.

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63. A obrigação de fornecer estaria atrelada a existência de efeitos significa vos sobre a concorrência. Por exemplo, quando a recusa de fornecer
da empresa dominante significar a saída do mercado de concorrentes, isso deveria sinalizar a obrigação de fornecer. Nesse sen do a Comissão Europeia
teria mencionado que “o proprietário dominante da instalação essencial deve fornecer acesso numa base não discriminatória. “ (doc. SEI nº 0483963, pág.
8)
64. Por outro lado, para a Comissão Europeia, se o comprador ver outra fonte sa sfatória de fornecimento ou se os bens ou serviços não forem
essenciais, a autoridade an truste não deveria exigir da empresa dominante o fornecimento desses bens ou serviços.
65. E são mencionados alguns pos de instalações essenciais reconhecidos em decisões da Comissão Europeia: instalações de compensação de
cheques bancários, instalações portuárias, redes de telecomunicações, aeroportos, redes de transmissão de eletricidade e gasodutos de gás natural.

II.3.3.2. Caso Swi [33]

66. Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunica on (“Swi “) é uma empresa iniciada em 1973 em cooperação por 239 bancos de
15 países para resolver um problema comum: comunicação sobre pagamentos transfronteiriços[34]. Esses números cresceram para 518 ins tuições e 22
países no lançamento do sistema em 1977 e seguiram crescendo. Inicialmente, a Swi dava acesso a seu sistema de comunicação apenas a seus acionistas,
seus membros.
67. Em 1996 a empresa francesa La Poste (“correios”) queixou-se contra a recusa em aceitar a empresa no sistema de comunicação da Swi .
Durante o procedimento formal da ação an truste, a Comissão argumentou que o sistema da Swi é uma instalação essencial por duas razões:
a) Manter uma posição monopolista no mercado de redes internacionais de transferência de mensagens de pagamento; e
b) Recusar a par cipação de uma en dade excluiria, efe vamente, essa en dade do mercado de transferências internacionais.
68. A Comissão Europeia considerou a Swi a única rede que fornece conexões com bancos localizados em qualquer lugar do mundo. Nesse
sen do, a Comissão declarou que a recusa poderia ser um abuso de posição dominante por dois mo vos:
a) Os critérios de associação à Swi não seriam uma jus fica va para a recusa, pois reme am às condições gerais em que os candidatos
exerceriam suas a vidades financeiras e não em relação ao seu envolvimento em sistemas de pagamento; e
b) A Swi teria aplicado seus critérios de associação à La Poste de maneira discriminatória.
69. Após a declaração da Comissão, em 1997, a Swi comprometeu-se a alterar suas regras de adesão para garan r acesso total a qualquer
ins tuição da União Europeia que prestasse serviços de pagamentos transfronteiriços ao público e em acordo com critérios estabelecidos pelo European
Monetary Ins tute.
70. Em função desse compromisso, a Comissão Europeia suspendeu a ação an truste contra a Swi . Posteriormente, em 2009, a Swi contava
com mais de nove mil usuários em 209 países.
71. Segundo a denúncia da Representante, a Comissão Europeia teria estabelecido que os critérios para adesão a uma infraestrutura essencial
deveriam ser obje vamente jus ficados e que o pagamento de taxa para isso poderia ser necessário, mas não poderia ser definido em um nível alto que se
tornasse uma barreira à adesão, à entrada. Tal taxa não deveria exceder uma parcela justa do custo de inves mento realizado para implantar a
infraestrutura essencial.
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II.3.3.3. Caso Bankomat - Suécia

72. Com base em um acordo mul lateral de 1972, sete dos maiores bancos comerciais da Suécia estabeleceram e se tornaram acionistas da
empresa Bankomatcentralen (“Bankomat”) com o obje vo de interligar o sistema de caixas eletrônicos, para que os seus clientes pudessem usar caixas
eletrônicos dos outros bancos par cipantes dessa empresa. Esses sete bancos possuíam 60% (sessenta por cento) do mercado de caixas eletrônicos. Não
havia regra para acesso à rede Bankomat por outros bancos.
73. Outro grupo de bancos possuía um outro sistema de caixas eletrônicos (“Minuten”) que correspondia aos 40% (quarenta por cento) restante
desse mercado.
74. O Skandiabanken (“Skandia”), estabeleceu-se no mercado de contas bancárias para cidadãos, compe ndo com os bancos em geral, e
queixou-se à autoridade an truste contra o Bankomat, alegando que deveria ter o direito de aderir a esse sistema em condições obje vas. A alegação
conceituava a rede de caixas eletrônicos da Bankomat uma instalação essencial, pois o custo para criar uma outra rede seria tão alto que tornaria proibi va
a criação de uma rede alterna va. E sem essa rede o Skandia não conseguiria compe r pelos clientes, que já estariam acostumados com a comodidade
oferecida pelos caixas eletrônicos. Em suma, sem poder criar a própria rede, as únicas alterna vas seriam a Bankomat e a Minuten.
75. Em função da inves gação, a Bankomat abriu a possibilidade de entrada de novos par cipantes a seu sistema de caixas eletrônicos por meio
de acordos bilaterais.

II.3.3.4. Caso Bank of Montreal/Interac - Canadá

76. Bank of Montreal e outras grandes ins tuições financeiras do Canadá fundaram a empresa Interac Associa on (“Interac”), que prestava um
serviço de compar lhamento de uma rede de caixas eletrônicos e de transferências eletrônicas de fundos, entre outros serviços que foram sendo
implementados. Em 1985, as nove maiores ins tuições financeiras do Canadá eram membros da Interac, compar lhando os serviços dessa rede[35]. Após
contar com esses nove membros e com a evolução dos serviços oferecidos, a Interac dificultou a admissão de novos membros como acionistas e passou a
impor uma taxa maior de acesso aos serviços para outros membros (que não os acionistas).
77. Outras empresas tentaram prover serviços similares, mas foi alegado que, em comparação com a lnterac, eram subs tutos inadequados ou
imperfeitos. Seria avaliado se essa situação era de abuso de posição dominante, mas o Tribunal da Concorrência do Canadá celebrou acordo com as
empresas representadas para abrir o acesso à rede da Interac mediante condições (incluindo taxas) não discriminatórias.

II.3.3.5. Relatório Hilmer - Austrália

78. Segundo a ABCB, na Austrália, o relatório sobre a Polí ca Nacional de Concorrência (“Relatório Hilmer”) recomendou os seguintes critérios
para que se declare o direito de acesso a uma infraestrutura essencial:
a) Esse acesso é imprescindível, e não apenas conveniente, para permi r uma concorrência efe va no mercado a jusante ou a montante;
b) Esse acesso é de interesse público de acordo com o significado desse mercado ou setor para a economia nacional e de acordo com o
impacto esperado da concorrência desse setor sobre a compe vidade nacional.

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79. E esses critérios são sa sfeitos, por exemplo, em instalações de infraestrutura como: redes de transmissão de eletricidade, gasodutos, leitos
ferroviários e portos. E, com frequência, é uma caracterís ca o governo estar envolvido nesse po de instalação, seja como proprietário controlador ou
como regulador.
80. E nesse sen do, segundo a ABCB, essa caracterís ca estaria presente na denúncia em inves gação neste IA, quer seja pelo mercado
financeiro ser regulado pelo BCB, quer seja pela União ser controladora do Banco do Brasil e da Caixa.

II.3.4. Precedentes internacionais envolvendo corretoras de criptomoedas

81. Além desses cinco casos internacionais de “recusa de contratar” em diversos mercados relevantes, a ABCB anexou aos autos decisões de
tribunais internacionais, na Coréia do Sul e no Chile, de casos envolvendo o encerramento de contas correntes de corretoras de criptomoedas, em situações
que considerou muito similares à denúncia em apuração neste IA.
82. Segundo a ABCB (doc. SEI nº 0545343, págs. 2 e 3), em novembro de 2018, a 50ª Divisão de Assuntos Civis do Tribunal Distrital Central
decidiu pela ilegalidade de um banco comercial sul-coreano deixar de oferecer serviços de depósito e saque para a corretora de criptomoedas Coinis,
afirmando que o banco não poderia bloquear as transações da corretora Coinis com base apenas nas diretrizes do regulador financeiro do país contra a
lavagem de dinheiro, conforme havia alegado o banco.
83. Por sua vez, conforme informado pela ABCB (doc. SEI nº 0565658, págs. 3 e 4), o Tribunal de Defesa da Livre Concorrência no Chile, em 2 de
janeiro de 2019, reiterou sua medida preven va, obrigando os bancos a abrirem ou manterem abertas contas correntes de corretoras de criptomoedas.
Para esse Tribunal, não cons tuiria um novo precedente capaz de alterar sua medida preven va a decisão, em 4 de dezembro de 2018, da Corte Suprema
do Chile autorizando os bancos a encerrarem contas de corretoras de criptomoedas na ausência de regulação dessa a vidade, em decisão baseada nos
regulamentos legais sobre prevenção à lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo.
84. A Representante ainda mencionou no cias (doc. SEI nº 0654493) sobre condutas semelhantes de bancos em Israel, anexando aos autos
reportagens sobre medidas que detentores de criptoa vos estariam adotando contra os bancos nesse país; todavia, não há menção a qualquer decisão
judicial ou das autoridades da concorrência em relação ao caso.

II.3.5. Sobre a ausência de mo vos

85. A ABCB interpreta que os bancos agem de forma arbitrária ao encerrar ou não abrir contas, pois estariam fornecendo mo vos genéricos para
isso, e conclui que essa forma de agir seria uma prá ca abusiva e contrária às normas concorrenciais (doc. SEI nº 0483963, pág. 3).
86. Como exemplos de mo vos genéricos ou ausência deles para encerramento unilateral de contas, a ABCB mencionou ao longo do processo os
seguintes exemplos:
Banco do Brasil em comunicados à Atlas e ao Mercado Bitcoin: “Decisão Administra va Banco do Brasil" (doc. SEI nº 0483965, anexos “Atlas Proj x
Banco do Brasil” e “Mercado Bitcoin x Banco do Brasil”).
Bradesco encerrando conta da CoinBR pela “Razão 0705” (doc. SEI nº 0483965, anexo “CoinBr x Bradesco”).
Bradesco encerrando conta da BitBlue pela “Razão 7050”, segundo a ABCB: “A única jus fica va apresentada pelo banco teria sido um etéreo e
misterioso descumprimento de contrato (...)” (doc. SEI nº 0578895, pág.2).
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Caixa encerrou conta da CoinBr por opção prevista em contrato e amparada na Resolução nº 2.025, de 1993, do CMN (doc. SEI nº 0653923, pág.
2).
Itaú encerrando conta do Mercado Bitcoin por “desinteresse comercial” (doc. SEI nº 0483965, anexos “Mercado Bitcoin x Itaú”).
Santander encerrando conta do Mercado Bitcoin por “desinteresse comercial” (doc. SEI nº 0483965, anexos “Mercado Bitcoin x Santander”).
Sicoob-Coopercredi-SP encerrou conta da CoinBr por “exercício de a vidade prejudicial à Coopera va” (doc. SEI nº 0569540, pág.2).
87. Além desses exemplos mencionados pela ABCB, as corretoras de criptomoedas também discorreram sobre os mo vos alegados pelos bancos
para encerramento de contas, conforme alguns trechos transcritos a seguir da manifestação da Foxbit.
“Os BANCOS jamais apresentaram jus fica vas obje vas ou razoáveis, que poderiam reves r de licitude a recusa da abertura de contas correntes.
Isto porque, inexistem tais jus fica vas.
O BB [Banco do Brasil] e o BRADESCO abriram e permi ram a movimentação das contas da FOXBIT por longo período de tempo. Após o
crescimento das a vidades da OFICIADA, tentaram então encerrar as contas, limitando-se a indicar cláusulas contratuais e a legislação que lhes
permi ria resilir unilateralmente contratos firmados com corren stas. “ Foxbit (doc. SEI nº 0538698, pág. 28)
“Já o (ACESSO RESTRITO AO CADE).
88. São apresentadas a seguir transcrições de exemplos de relatos das corretoras de criptomoedas sobre as jus fica vas apresentadas pelos
bancos para recusar abrir conta corrente.
BitBlue afirma que “O Banco Santander realizou a abertura da conta e no dia seguinte informou que a Matriz do Banco havia recusado o cadastro
por conta de suposto ‘desinteresse comercial’. " (doc. SEI nº 0537987, pág. 4)
Bitcambio afirma que “o Bradesco informou apenas que a abertura de conta foi recusada, sem informar o mo vo. Quando ques onado pela
empresa acerca dos mo vos da recusa, o gerente informou que retornaria com um posicionamento. Entretanto, não houve qualquer retorno (...)”
e anexou aos autos cópias de mensagens trocadas com gerente do banco (doc. SEI nº 0540595, págs. 12 e 13).
Braziliex sobre conta no Santander: “A abertura foi recusada. Não foram apresentadas jus fica vas e nem mesmo documentos escritos revelando
a nega va em sua abertura. “ (doc. SEI nº 0535211, pág. 5)
Segundo a CoinBR: “A Coinbr teve abertura de conta recusada pelo Banco Santander e o Banco Inter sob alegação de desinteresse comercial. “
(doc. SEI nº 0541773, pág. 5)
Funcionário do Itaú para Foxbit: “Infelizmente ainda não conseguimos iniciar esse relacionamento comercial. “ (doc. SEI nº (ACESSO RESTRITO ao
Itaú)
Funcionário do Santander para a Foxbit: “A abertura da conta não foi aprovada pelo Banco. ” (doc. SEI nº (ACESSO RESTRITO ao Santander)
Profi y sobre recusas em abrir contas: “Em que pese insistências legi mas da empresa, foram negadas as aberturas de contas bancárias pelas
seguintes ins tuições: Banco ltaú Unibanco S/A., Banco Bradesco S/A., e Banco Safra S/A. E, até o presente momento não foram esclarecidos quais
os mo vos que fundamentaram a recusa, em que pese nosso interesse em operar também com esses bancos. “ (doc. SEI nº 0537897, pág. 3)
89. Além dos trechos acima, várias corretoras relataram ter solicitado detalhes ou jus fica vas para a recusa em abrir conta corrente, sem, no
entanto, obter respostas dos bancos.

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II.3.6. Quanto à ausência de CNAE específico

90. Em manifestação (doc. SEI nº 0513256) sobre o conteúdo público de respostas dos bancos a o cios enviados pelo Cade, a ABCB contestou os
Representados por interpretar a ausência de uma CNAE específica para a a vidade de criptomoedas como uma discrepância da a vidade declarada ao
banco e que isso pudesse ser considerado suspeita de prá ca de ilícitos.
91. Argumenta a ABCB que as corretoras têm usado o código CNAE “7490-1/04 – A vidades de intermediação e agenciamento de serviços e
negócios em geral, exceto imobiliários” e que tal descrição é uma aproximação e conclui que seria “(...) absurdo conceber que uma descrição aproximada
(por falta de descrição mais específica) do ramo de a vidade de um cliente possa levantar suspeita da prá ca de ilícitos e gerar postura e a tude tão radicais
por parte da ins tuição financeira. “

II.3.7. Quanto às jus fica vas dos Representados

92. Segundo a ABCB (doc. SEI nº 0513256, pág.3), os Representados, de forma geral, alegaram uma suposta incompa bilidade entre a
movimentação financeira e a a vidade econômica das corretoras de criptomoedas como jus fica va para as condutas de encerramento de conta corrente,
argumentando que isso seria um “(...) indica vo de lavagem de dinheiro e outras irregularidades. “
93. A ABCB contesta essa jus fica va argumentando que “(...) parece óbvio que transitam pela conta bancária da intermediadora valores muito
superiores aos de seu faturamento, pois são valores de terceiros, clientes da corretora“ e que, ao contrário do afirmado pelos bancos, seria da “(...) natureza
do negócio de intermediação que os valores movimentados na conta da intermediadora sejam superiores ao seu faturamento, que é apenas um percentual
do quanto foi movimentado. “
94. Pelo menos uma das corretoras argumentou nesse sen do, quan ficando valores, conforme depreende-se do trecho transcrito a seguir:
“Exemplificando, se um cliente vende o equivalente em bitcoins a R$1.000,00 (mil reais), ele pagaria R$ 10,00 de taxa de corretagem (1%),
recebendo em sua conta na plataforma R$ 990,00. Ao realizar o saque de reais o cliente receberá em sua conta bancária apenas R$ 971,10, ou
seja, R$ 990,00 deduzidos de R$ 9,90 (1%, taxa variável) mais R$ 9,00 (taxa fixa). Assim, o faturamento da corretora, em uma operação de R$
1.000,00 é de apenas R$ 28,90 (sendo que cerca de um terço deste valor corresponde ao custo da transferência para o cliente)[36].
Essa descrição simplificada do modelo de operação da plataforma demonstra que não há qualquer discrepância ou inadequação dos valores
transacionados em conta bancária com o faturamento das corretoras.
Considerando o cálculo acima demonstrado, é natural que o faturamento da empresa seja significa vamente menor do que o valor transacionado
em conta bancária, e que o montante total man do em conta. “ (g.n.) (doc. SEI nº 0540595, págs. 41 e 42)
95. A ABCB também contesta a alegação dos bancos de um suposto desconhecimento da origem dos valores que transitam pelas contas das
corretoras, o que atrairia suspeita de lavagem de dinheiro, sustentando que:
“(...) referidos valores chegam à conta das corretoras sempre e somente por meio de transferências bancárias, ou seja, são valores que já está
dentro do próprio Sistema Financeiro Nacional e, portanto, previamente subme dos aos devidos processos de KYC [Know Your Customer[37]] e
AML [An -Money Laundering[38]]. ” (doc. SEI nº 0513256, pág.3)

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96. Segundo a Representante, “As corretoras de criptomoedas, em regra, possuem normas de compliance e, nesse sen do, aplicam medidas para
evitar lavagem de dinheiro” e entre as medidas, a de não aceitar depósitos em espécie, mas apenas transferências bancárias. Afirma a Representante que
“(...) todos os bancos confessaram, literalmente, que encerraram as contas de corretoras de criptomoedas por suspeitas de lavagem de dinheiro,
simplesmente por se tratarem de corretoras de criptomoedas! ”
97. A Representante ainda argumenta (doc. SEI nº 0569540, pág.2) que os bancos confundem a ausência de regulação com a prá ca de crime
como mo vo para não manter contas correntes com corretoras de criptomoedas. Como exemplo, mencionou o trecho a seguir da mo vação apresentada
por escrito por uma coopera va de crédito (conhecida como Sicoob Coopercredi-SP) para o encerramento da relação com a CoinBR.
“Art. 17 A eliminação do associado é aplicada (...) quando:
I. exercer qualquer a vidade considerada prejudicial à Coopera va;
II. pra car atos que, a critério da Coopera va, a desabonem, como emissão de cheques sem fundos em qualquer ins tuição financeira, inclusão
nos sistemas de proteção ao crédito, pendências registradas no Banco Central do Brasil, atrasos constantes e relevantes em operações de crédito e
operações baixadas em prejuízo na Coopera va; (...)” (doc. SEI nº 0569540, pág.4)
98. Por fim, a ABCB contesta “(...) o argumento dos bancos, de que os regulamentos do Bacen [BCB] possibilitam o encerramento de contas sem
exposição da mo vação ou no ficação prévia. “ A Representante argumenta que isso estaria refle do em decisão da 3ª Vara Cível de Brasília, em trecho
transcrito a seguir:
“Entendo ser ilícita a resilição do contrato por parte do réu, considerando que não houve comprovação de que a autora foi previamente no ficada
acerca do encerramento da conta bancária.
Explico.
No [sic] obstante o fato de ninguém ser obrigado a se vincular ou a permanecer vinculado a um contrato, é certo que o encerramento da conta
bancária da autora, apesar de possível, só poderia ocorrer mediante comunicação prévia e escrita da corren sta, tendo em vista o disposto no
ar go 473 do Código Civil e 12, inciso I, da Resolução n° 2.025/1993 do Banco Central do Brasil, disposi vos (...)
Analisando o processo, verifico que o réu não se desincumbiu do ônus de demonstrar que a autora foi previamente prévia no ficada acerca do
encerramento da conta bancária, visto que o documento de id. 25090242 não demonstra que a no ficação de Id. 25090209 foi encaminhada ao
endereço da autora. “ (doc. SEI nº 0580306, pág. 3).
99. Em resumo, a Representante contestou as jus fica vas: (i) de “movimentação incompa vel” pela natureza da a vidade de uma corretora em
movimentar valores de terceiros nas suas transações; (ii) de suposto desconhecimento da origem dos recursos, porque os valores já teriam
obrigatoriamente transitado pelos bancos, e sujeitos, portanto, às polí cas de PCLD dos próprios bancos e, adicionalmente, as corretoras de criptomoedas
também adotam medidas para evitar lavagem de dinheiro; (iii) de confundir ausência de regulação com prá ca de crimes como mo vo para encerramento
de contas correntes (ou recusa em abrir uma conta); e (iv) de que norma vos do BCB possibilitariam encerrar contas sem exposição de mo vos ou
no ficação prévia.

II.3.8. Parecer Econômico (solicitado pela ABCB)

100. A ABCB anexou aos autos em 17 de abril de 2019 Parecer Econômico (doc. SEI nº 0605107 e nº (ACESSO RESTRITO à ABCB)) sobre o presente
IA. Em sua introdução, aponta que os bancos têm comunicado às corretoras de criptomoedas o encerramento de suas contas correntes e, simultaneamente,
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os bancos estariam demonstrando interesse em atuar na corretagem de criptomoedas. Afirma-se, ainda, no Parecer, que contas bancárias seriam um
elemento essencial às a vidades comerciais das corretoras.
101. Em síntese, o Parecer conclui que:
a) O mercado bancário é concentrado e com baixa rivalidade entre seus par cipantes;
b) Transações com criptoa vos crescem aceleradamente e têm potencial disrup vo sobre as a vidades de intermediação financeira e
poderiam subs tuir alguns serviços bancários e, assim, os criptoa vos seriam uma ameaça à posição dominante dos bancos estabelecidos;
c) Embora em forte crescimento, os criptoa vos necessitam do sistema financeiro para conversão de criptoa vos em moeda corrente para
sua u lização como meio de troca e, por essa razão, os serviços de conta corrente são necessários para as operações de corretoras de
criptomoedas; (g.n.)
d) Mais do que o acesso a uma conta corrente, devido aos custos de transferência bancária (TED[39] e DOC[40]), bem como elementos
ligados à conveniência dos clientes e às baixas margens na a vidade de corretagem, “(...) a capacidade de corretoras concorrerem depende
de seu acesso ao serviço de contas correntes em diversos bancos, com abrangência suficiente para cobrir parte relevante do mercado
potencial. ” (g.n.);
e) Devido a efeitos de rede do mercado de criptoa vos, as corretoras que primeiro se posicionarem podem ser favorecidas e isso seria
uma possível mo vação para os bancos dificultarem o desenvolvimento de corretoras, de forma a facilitarem a entrada dos bancos nesse
mercado; (g.n.)
f) Nessas condições de desenvolvimento dificultado para as corretoras, os bancos tenderiam a reproduzir nesse mercado suas posições
dominantes no mercado bancário e, consequentemente, perda de “(...) pressão compe va que essa a vidade potencialmente disrup va
poderia exercer sobre os serviços de intermediação financeira, com claro potencial lesivo à concorrência e ao consumidor“;
g) Seria inconsistente a alegação dos bancos de atendimento a uma polí ca de prevenção à lavagem de dinheiro por duas razões: “a)
documentos que comunicam a recusa de contratar às corretoras; b) padrão temporal de encerramento das contas de diferentes
corretoras.” (g.n.)
102. Por fim, considerando esses mo vos, o Parecer conclui que estariam presentes os requisitos de conduta an compe va por parte dos
bancos, de um ilícito an truste. Mais adiante nesta Nota Técnica são apresentadas as avaliações desta SG sobre as conclusões desse Parecer.

II.4. Do pedido de medida preven va

103. Na denúncia inicial, em 1º de junho de 2018, a Representante solicitou, conforme previsto no art. 84 da Lei nº 12.529, de 2011, a adoção de
medida preven va, conforme trecho transcrito a seguir.
“(...) para que o Banco do Brasil, e qualquer outra ins tuição financeira, doravante se abstenha de encerrar conta ou se negar a abrir conta de
qualquer empresa ou pessoa sica que cumpra com as exigências legais para tanto, seja ela do segmento de criptomoedas ou não. “ (doc. SEI nº
0483963, pág. 14)

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104. A Representante alegou que estariam presentes os pressupostos para isso, pois seria irreparável a lesão ao mercado e à concorrência, em
razão das a tudes e ações do Banco do Brasil e haveria o perigo da demora do processo. Todavia, em 18 de setembro de 2018, o Despacho SG Instauração
IA 17 (doc. SEI nº 0526896) acolheu a Nota Técnica de nº 39/2018/CGAA2/SGA1/SG/CADE (doc. SEI nº 0526889), onde a SG avaliou e decidiu que indícios
das prá cas, embora existentes, eram insuficientes para concluir pelo dano iminente e irreversível que jus ficassem uma intervenção por medida
preven va.
105. A decisão da SG registrou, ainda, que a adoção de medida preven va poderia elevar o risco de atuação das ins tuições financeiras, em
função das informações trazidas pelos Representados sobre riscos relacionados à fraude e lavagem de dinheiro eventualmente relacionados aos
criptoa vos.
106. Posteriormente, em 25 de julho de 2019, a ABCB encaminhou pe ção (doc. SEI nº 0642675) reiterando a esta SG o requerimento de adoção
de medida preven va nos termos da pe ção inicial. Segundo a ABCB, isso seria necessário porque os bancos persis am em “(...) condutas an compe vas
e extremamente prejudiciais aos negócios de associados da ABCB e de outras empresas do setor de criptoa vos. ”
107. Desde a denúncia inicial, segundo esse pedido da ABCB, “(...) inúmeras contas bancárias de pessoas sicas e jurídicas ligadas ao setor de
criptoa vos foram e con nuam sendo encerradas (...)”.
108. E prossegue o pedido de adoção de medida preven va relacionando diversas contas encerradas junto aos Representados e também junto à
Caixa Econômica Federal.
109. Na denúncia inicial a Representante argumentou que o Tribunal de Defesa da Livre Concorrência do Chile concedera medida cautelar
obrigando dois bancos a reabrirem as contas correntes de uma corretora de criptomoedas, em medida que seria “(...) necessária para impedir os eventuais
efeitos nega vos das condutas”. Essa corretora chilena teria sido afetada por outras oito ins tuições financeiras que não aceitaram abrir conta corrente.
Segundo a denúncia, essa corretora afirmava que “(...) os bancos se aproveitavam de sua posição de domínio cole vo (...)” e com isso eram capazes de
restringir a concorrência. E como o caso do Chile seria idên co ao denunciado ao Cade, essa jurisprudência reforçaria a necessidade de concessão de
medida preven va.
110. Ao fim da pe ção, a Representante requereu:
“(...) a concessão de MEDIDA PREVENTIVA para determinar aos bancos e demais ins tuições financeiras que:
a) Se abstenham de encerrar/fechar conta-correntes ou qualquer outro po de conta que possibilite o acesso ao sistema financeiro às operadoras
de criptomoedas (corretoras, exchanges, fintechs, etc.);
b) Reabram imediata e irrestritamente todas as contas encerradas/fechadas dessas operadoras do mercado de cripo-a vos, e
c) Não imponham qualquer dificuldade à abertura de novas conta-correntes ou de qualquer po a essas empresas do segmento da economia
digital e criptográfica. “ (doc. SEI nº 0483963, pág. 17)
111. Esta SG manifesta-se sobre os pedidos de medidas preven vas mais adiante nesta Nota Técnica.

II.5. Síntese das informações fornecidas pelas corretoras de criptomoedas

II.5.1. Introdução - informações agregadas

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112. Em resposta a ques onamentos desta SG, as corretoras de criptomoedas forneceram informações sobre suas contas correntes (resumidas na
seção “II.2. Síntese das condutas denunciadas - corretoras e contas correntes afetadas”) e sobre os seguintes temas:
a) Impactos oriundos das dificuldades em abrir ou manter abertas contas correntes em bancos;
b) Situações e mo vos em que as corretoras de criptomoedas podem recusar transações para seus clientes;
c) Possibilidades de clientes das corretoras realizarem transações em dinheiro na compra ou venda de criptomoedas;
d) Iden ficação de origem e des no dos recursos envolvidos em transações com criptomoedas; e
e) Polí cas de prevenção à lavagem de dinheiro adotadas pelas corretoras.
113. Esses temas estão resumidos a seguir de forma agregada, assim como “transferência de criptomoedas” e “outros aspectos”, todos com base
nas informações fornecidas pelas corretoras oficiadas.
114. Esta SG avalia que as informações resumidas de forma agregada não prejudicam os obje vos desta Nota Técnica, pois tais informações têm
por obje vo um entendimento geral de a vidades relacionadas às corretoras de criptomoedas.

II.5.2. Impactos nega vos

115. Considerando apenas as respostas de corretoras de criptomoedas que declararam ao menos uma conta corrente encerrada por inicia va do
banco, listamos a seguir os principais impactos nega vos apontados:
a) Con nuidade do negócio: com a disseminação crescente da percepção de que os bancos estariam encerrando as contas de corretoras
de criptomoedas em razão de sua a vidade, as corretoras externaram sua preocupação com a con nuidade dos negócios, pois, sem
nenhuma conta corrente, estariam impossibilitadas de realizar negócios com seus clientes, além de executar funções básicas de uma
empresa como pagamentos a fornecedores, funcionários e tributos, entre outros;
b) Perda de clientes: o encerramento de uma conta tem levado as corretoras a perderem clientes do banco em que a conta foi encerrada,
pois, para os clientes é conveniente u lizar corretoras que tenham conta em seu banco para enviar e receber valores de forma mais rápida
e mais barata (muitas vezes sem custo), de forma que sem essa conveniência os clientes manifestam sua insa sfação e podem optar por
operar com outra corretora;
c) Queda na receita (ou faturamento): cada situação de encerramento de conta leva a perda de clientes, conforme descrito no item
anterior, e, consequentemente, perda de receita;
d) Prejuízos: em alguns casos relatados, houve o bloqueio de recursos de terceiros (rela vo a venda de criptomoedas de clientes) na conta
encerrada e impactando a imagem da corretora e prejuízos financeiros (ao buscar emprés mos para res tuir os recursos de terceiros e
arcar com os juros até a solução do bloqueio);
e) Len dão: sem conta corrente em diversos bancos as corretoras de criptomoedas movimentam recursos dos clientes (recebendo e
enviando) de forma mais lenta, dependendo de TED e DOC, em vez de TEF[41], em contraste com o elevado dinamismo do mercado de
criptomoedas; e

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f) Aumento de custos: sem acesso a diversos bancos as corretoras podem incorrer em mais custos ao u lizar TED e DOC, comprimindo as
margens de sua a vidade, além das despesas extras para readaptar o funcionamento da corretora sem a conta encerrada e do aumento de
custos com ações judiciais.
116. Em suma, esses são os principais relatos de impactos nega vos, na opinião das corretoras de criptomoedas, relacionados às situações de
encerramento ou recusa em abrir conta corrente.

II.5.3. Recusa de transações de criptomoedas

117. Ques onadas sobre possíveis mo vos ou situações que levariam a corretora a recusar realizar transações para seus clientes, em síntese, as
corretoras de criptomoedas informaram que recusariam transações:
a) Para cliente com algum problema no cadastro;
b) Em dinheiro;
c) Fora do limite estabelecido (ou da capacidade financeira do cliente);
d) Des nadas a terceiros (e não ao cliente);
e) Envolvendo recursos não iden ficados (origem)
118. O item “a” acima foi o mo vo mais mencionado pelas corretoras, com doze citações. Além desses mo vos acima (que foram citados ao
menos três vezes), uma corretora mencionou inadequação à sua polí ca de compliance e outra um cliente com processo.
119. Uma das corretoras mencionou nunca ter recusado transações.

II.5.4. Transações em dinheiro

120. A maioria das corretoras informou não realizar transações em dinheiro para seus clientes, tendo uma das corretoras alegado já ter realizado
três devoluções para clientes que tentaram esse po de transação.
121. Pelo menos uma corretora informou aceitar depósito em dinheiro, de forma limitada, abaixo de R$ 1 mil reais ou menos.

II.5.5. Iden ficação de origem e des no das transações

122. A grande maioria das corretoras de criptomoedas informa que a iden ficação de origem e des no pode ser feita por meio dos bancos, pois
suas transações para receber ou enviar reais para os clientes passam pelos bancos.
123. Uma corretora afirmou não ter responsabilidade legal por isso, que seria de responsabilidade de bancos e órgãos públicos.
124. Algumas corretoras informaram não ser possível a iden ficação se a transação envolve transferência de criptomoedas (vide seção “II.5.7.
Transferência de criptomoedas”).

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II.5.6. Polí cas de prevenção à lavagem de dinheiro

125. As corretoras afirmam que não há norma legal que as imponha alguma obrigação, até mesmo porque a a vidade não é, atualmente,
regulamentada.
126. No entanto, uma das corretoras já mencionou que segue os termos da recente Instrução Norma va RFB nº 1888, de 3 de maio de 2019 (“IN
RFB 1888”), e alterações posteriores, da Receita Federal do Brasil (“RFB”), que “ins tui e disciplina a obrigatoriedade de prestação de informações rela vas
às operações realizadas com criptoa vos”. Segundo essa Instrução Norma va, a “exchange de criptoa vo[42]” domiciliada no Brasil para fins tributários está
obrigada a prestas as informações ali previstas.
127. Adicionalmente, várias corretoras informaram adotar alguma polí ca de PCLD, apesar da não obrigatoriedade legal disso, adotando prá cas
como:
a) Conheça seu cliente (KYC);
b) Reporte (e registro) junto ao Coaf[43];
c) Comitê interno (de análise de clientes ou transações);
d) Treinamento de funcionários;
e) Análise individualizada (podendo estar atrelada para operações a par r de certo volume);
f) Compliance;
g) Fixação de limites para as operações (de acordo com a capacidade financeira atestada pelo cliente);
h) Avaliação em caso de pessoas expostas poli camente (“PEP”);
i) Pesquisa de antecedentes.
128. Uma corretora afirma ter par cipado de audiência da Câmara dos Deputados em Brasília para defender uma regulamentação do setor. Outra
anexou aos autos sua documentação (ACESSO RESTRITO AO CADE) sobre tais polí cas, incluindo uma avaliação por uma auditoria independente.
129. Por outro lado, uma corretora afirmou não possuir meios para implantar uma polí ca de PCLD, enquanto outras presumem que essas
polí cas são aplicadas pelos bancos, e, portanto, seria uma duplicidade desnecessária porque só realizam transações com recursos originados ou des nados
por meio de bancos.

II.5.7. Transferência de criptomoedas

130. Conforme visto na seção “I.1. Introdução”, uma criptomoeda é um registro em um banco de dados descentralizado na internet e protegido
por criptografia, que independe de iden ficação de seu portador. Tipicamente é u lizada a tecnologia blockchain para esse registro, sendo necessário
conhecer a chave privada, ou senha, para alterar esse registro, para efetuar operações com uma criptomoeda. Por exemplo, a corretora Mercado Bitcoin
oferece a seguinte explicação em seu site[44]:

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“O blockchain é uma das tecnologias por trás do Bitcoin. De uma maneira bem simples, ele pode ser entendido como um banco de dados online,
público e descentralizado, criado para tornar a distribuição de informação transparente e confiável, sem precisar de um agente externo e
centralizador que valide o processo. Foi graças a essas caracterís cas que o blockchain tornou possível a criação de uma moeda digital
descentralizada, como o bitcoin. “
131. São usadas “carteiras” (ou wallets) para facilitar as operações e guardar em segurança as chaves públicas e privadas de determinada
criptomoedas. Carteiras podem ser programas para interagir com o banco de dados em que está registrada a criptomoeda, mas também podem consis r de
disposi vos sicos (hardware) ou até mesmo papel, que guarda a chave privada. A seguir estão transcritas duas explicações[45] de corretoras de
criptomoedas sobre carteiras.
“Carteira ou ‘wallet’, em inglês, é o nome dado ao so ware com chaves criptográficas que permite ao usuário receber e realizar transações com
criptomoedas. (...)
Existem também opções de disposi vo sico (hardware wallet) e até folha de papel. “ Mercado Bitcoin
“Caso você pretenda usar Bitcoin ou outra moeda virtual, como Ethereum, Ripple e Litecoin, precisará de uma carteira digital. Ela nada mais é que
um so ware usado para armazenar as chaves públicas e privadas para os consumidores interagirem com a rede Bitcoin (blockchain). Assim, você
consegue receber, pagar, transferir e monitorar seu montante.
Ao contrário das carteiras sicas, a carteira digital não armazena a criptomoeda. A rede de Bitcoin é como um banco de dados com transações
descentralizadas que ocorrem ao redor do mundo, no qual cada registro contém um endereço de origem, um de des no e uma quan dade de
moeda virtual a ser transferida.
Tudo isso é fundamentado por arquivos contendo sequências únicas de caracteres, chamadas de par de chaves. A chave pública, como o próprio
nome diz, é acessível publicamente para formar o seu endereço, já a chave privada confirma a posse sobre seu saldo. Dessa maneira, se alguém
enviar uma moeda digital para o seu endereço, você só pode u lizá-la se ver a chave privada. “ BitcointTrade
132. Portanto, para transferir uma criptomoeda, ou uma fração dela, para outro “endereço”, para outra carteira, é necessário ter a chave privada
da carteira onde está registrada essa criptomoeda. Como dito anteriormente, o anonimato é uma caracterís ca pica das criptomoedas, estando a sua
posse atrelada à chave privada e não à iden dade de seu portador como no caso de “moedas virtuais” (que são as representações digitais de valores
emi dos por um Banco Central), que ficam vinculadas a uma conta e a iden ficação de seu proprietário.
133. O uso de criptomoeda como meio de pagamento é, na verdade, uma transferência de criptomoeda do comprador do produto ou usuário do
serviço para o vendedor: o comprador transfere a quan dade acordada em criptomoedas em pagamento para a “carteira” do vendedor. É a chamada
transação “peer to peer” (ou P2P), uma transação sem intermediários, o sistema ponto a ponto[46]. E não depender de um intermediário estaria na raiz da
mo vação para criar criptomoedas, assim como não depender de um governo para interferir em seu valor.
134. Note-se que o histórico de transações de uma criptomoeda é, picamente[47], público, mas não necessariamente[48] se conhece o seu
detentor a cada transação, o portador da chave privada.
135. Embora esta SG não tenha ques onado diretamente as corretoras sobre a possibilidade de transferência de criptomoedas (receber ou enviar
carteira de criptomoedas), das informações trazidas aos autos, presume-se que diversas das dezoito corretoras realizam esse po de negociação.
136. Assim, um cliente pode receber na corretora uma carteira de criptomoedas sem que se saiba sua origem, sem a iden dade do remetente
dessa carteira. Da mesma forma, um cliente dessas corretoras que realizam transferências pode solicitar o envio de sua carteira de criptomoedas para uma
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outra carteira, sem que se conheça a iden ficação do des natário que receberá esses recursos.
137. Essa impossibilidade de iden ficação de todos os envolvidos em uma transferência de criptomoedas já foi mencionada na seção “II.5.5.
Iden ficação de origem e des no das transações”. Por outro lado, vale destacar, a tulo de exemplo, o esforço da Bitcambio para minorar a questão do
anonimato em transferências, conforme trecho transcrito a seguir.
“Ressalta-se, que, para que o cliente possa transferir bitcoins para uma carteira, ele precisa antes cadastrá-la na plataforma, confirmando o
cadastro da carteira por meio de um código secreto que é enviado pela plataforma para o e-mail do cliente. Dessa forma, a Citar Tech [Bitcambio]
sabe quais são as carteiras do cliente, mantendo registro do des no dos bitcoins. “ (g.n.) Bitcambio (doc. SEI nº 0540595, pág. 41)

II.5.8. Outros aspectos

138. As seguintes informações fornecidas pelas corretoras de criptomoedas complementam os temas ques onados e abordados anteriormente:
a) Algumas corretoras explicitaram sua concordância com os termos da denúncia da ABCB de que os bancos estariam agindo de forma
an compe va, em conjunto, de forma exclusionária;
b) Algumas corretoras afirmam que os bancos têm interesse em blockchain, ou que concorrem com elas em inves mentos ou
pagamentos; e
c) Duas corretoras apresentaram informações de relatórios europeus que ques onam as medidas de prevenção à lavagem de dinheiro
adotadas pelos bancos, medidas que poderiam ter conduzido operações à clandes nidade, em vez de promover maior transparência.
139. Sobre o item “a” acima, uma corretora conclui que a conduta dos bancos em relação às corretoras de criptomoedas é discriminatória e
exclusionária, pois afirma não ter no cias de encerramento de contas de outros agentes que também intermedeiam a compra e venda de criptomoedas.
Como exemplo[49], cita o site Mercado Livre que teria dezenas de milhares de anúncios de criptomoedas, à época, cerca de dezoito mil, e que o site
contaria inclusive com uma categoria específica[50] para essa oferta de criptomoedas. Segundo a corretora, com tal número de anúncios o Mercado Livre
pode ser o maior intermediador de compra e venda de criptomoedas no país e os negociantes que atuam nessa plataforma “(...) não têm polí cas de
compliance e de KYC tão rigorosas quanto as corretoras, isso caso adotem alguma medida nesse sen do. “
140. Sobre o suposto interesse dos bancos em a vidades relacionadas a criptomoedas, a seguir transcrição de trechos das manifestações das
corretoras:
“Como exemplo claro do interesse dos bancos pela tecnologia de blockchain, pode-se [citar] o convite feito pelo ltaú Unibanco ao CEO da
Blinktrade, empresa norte-americana desenvolvedora da plataforma u lizada pela Citar Tech, para proferir palestra para seus funcionários sobre
bitcoin e blockchain no dia 12 de abril de 2017, nas dependências do Banco, conforme e-mail (...)
Acerca do interesse dos bancos em blockchain, e da clara concorrência entre as ins tuições bancárias e as fintechs que atuam com essa
tecnologia, é também de se notar que os três maiores bancos privados do país, ltaú, Bradesco e Santander, já vêm desenvolvendo aplicações em
blockchain, conforme matéria do Valor Econômico de 31 de janeiro de 2018 (...) A matéria menciona, ainda, o consórcio R3, um grupo que
congrega ins tuições financeiras de diversos países para avaliar as possibilidades de uso dessa tecnologia, do qual o próprio ltaú é membro. ”
(doc. SEI nº 0540595, págs. 49 e 50)

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“Os bancos hoje, são os maiores inves dores na tecnologia de Blockchain que possui as criptomoedas como uma aplicação. “ (doc. SEI nº
0645017, pág. 6)
“Prova cabal da tenta va de controlar o mercado de criptomoedas no Brasil é o recém anunciado ingresso da XP na ‘bolsa’ de criptomoedas. Em
tempo, a XP não deve ter qualquer problema em manter suas contas e obter serviços bancários. “ (doc. SEI nº 0538698, pág. 37)
“O SANTANDER, por sua vez, anunciou inves mento mul milionário e união com outras ins tuições financeiras para a criação da sua
criptomoeda[51]. O problema, portanto, não seria técnico ou de segurança, mas, sim, de concorrência. O SANTANDER já enfrentou essa questão
recentemente na Europa e voltou atrás, passando a aceitar as operações envolvendo exchanges de criptoa vos[52] “ (doc. SEI nº 0538698, pág.
31)
141. Sobre o item “c” acima, vale destacar informações[53] sobre dois estudos europeus que abordaram riscos de lavagem de dinheiro envolvendo
criptomoedas: (i) Relatório de Avaliação de Riscos Supranacionais da Comissão Europeia de junho de 2017; e (ii) Relatório de Avaliação de Riscos Nacionais
do Reino Unido, também de 2017. Segundo a manifestação da corretora, o relatório da Comissão Europeia teria concluído que operações com criptomoedas
seriam a vidades de baixo risco para lavagem de dinheiro e financiamento de ilícitos. O Reino Unido teria chegado em conclusão similar e teria avaliado que
o risco de lavagem de dinheiro seria maior em ins tuições bancárias. Um dos mo vos para isso seria uma dificuldade maior em operações envolvendo
criptomoedas, pois necessitaria de conhecimento técnico especializado, e isso restringiria a capilaridade desse instrumento entre criminosos, que
prefeririam outros mecanismos para lavagem de dinheiro.
142. Além disso, dentre essas informações, consta no Relatório do Reino Unido a crí ca a polí cas implementadas a par r de 2008 para
diminuição de riscos de exposição à lavagem de dinheiro, que envolveu medidas como programas de expulsão em massa de clientes com perfil de alto risco.
A crí ca[54] envolve não tratar de forma genérica categorias inteiras de clientes, expulsando-os, mas conduzir análise caso a caso. O Relatório teria
concluído, segundo a corretora, que medidas desse po (e amplitude) poderiam conduzir transações financeiras à clandes nidade, criando exclusão
financeira, reduzindo a transparência e, assim, aumentando os riscos de lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo, sugerindo que as medidas
deveriam gerenciar e não evitar (integralmente) o risco. Segundo essa corretora, os bancos no Brasil estariam agindo atualmente dessa forma ao excluir de
forma ampla contas correntes de corretoras de criptomoedas.

III. MERCADOS RELEVANTES

III.1. Introdução

143. Descritas as condutas em inves gação, a argumentação da Representante e as manifestações das corretoras, esta Nota Técnica passa a
delinear os mercados relevantes envolvidos nas condutas em inves gação para avaliar o poder de mercado dos Representados e se eles detêm posição
dominante. O art. 36, §2º, da Lei 12.529, de 2011, estabelece que:
“§2º Presume-se posição dominante sempre que uma empresa ou grupo de empresas for capaz de alterar unilateral ou coordenadamente as
condições de mercado ou quando controlar 20% (vinte por cento) ou mais do mercado relevante, podendo este percentual ser alterado pelo Cade
para setores específicos da economia. ”

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144. Segundo as narra vas, os Representados estariam impondo restrições à montante no mercado relevante bancário em prejuízo da livre
concorrência no mercado à jusante em que atuam as corretoras de criptomoedas. Em linhas gerais, esses são os mercados relevantes a avaliar.

III.2. Mercado relevante a montante

III.2.1. Dimensão produto - mercado bancário

145. A SG realizou um estudo da jurisprudência, nacional e internacional, a respeito da definição de mercados relevantes no setor bancário no Ato
de Concentração nº 08700.010790/2015-41, que envolveu Banco Bradesco S.A., HSBC Bank Brasil S.A. – Banco Múl plo, e HSBC Serviços e Par cipações
Ltda. (“AC Bradesco e HSBC”)[55], e apontou a ausência de consenso acerca do tema naquela época.
146. Em resumo desse estudo, quanto à definição dos mercados relevantes no setor bancário sob a ó ca do produto, apontou-se o uso de duas
diferentes definições[56]: (i) definir produtos e serviços bancários como um cluster, ou seja, agrupando-os em uma cesta de produtos; e (ii) definir cada
produto e/ou serviço bancário como um mercado relevante dis nto.
147. Em suma, por décadas, no mercado financeiro as ins tuições atuavam de forma ver calizada, em uma estrutura “fechada”, ou seja, ofertando
a seus clientes apenas produtos desenvolvidos internamente, o que jus ficava a definição de mercado relevante por cesta de produtos. O surgimento de
plataformas abertas de produtos financeiros e a oferta crescente de serviços digitais vêm se contrapondo à essa estrutura fechada e isso favoreceu o
entendimento atual[57] de definir cada produto ou serviço como um mercado relevante dis nto.
148. Por exemplo, o Tribunal do Cade em voto[58] do então conselheiro Relator João Paulo de Resende, decidiu que “cada produto e/ou serviço
bancário cons tui um mercado produto dis nto, devendo ser analisado individualmente”, definição esta em consonância com o entendimento do Cade
expressado anteriormente no Ato de Concentração nº 08012.011303/2008-96 (Requerentes: Banco Itaú S.A. e Unibanco S.A.).
149. Neste IA, a denúncia versa sobre o produto bancário conta corrente e serviços acessórios, em especial transferências, em qualquer
modalidade, para enviar ou receber recursos de terceiros, dos clientes das corretoras de criptomoedas. E para conta corrente e serviços acessórios, a
jurisprudência do Cade tem u lizado como proxy para avaliação da par cipação de mercado dos bancos o montante de depósitos à vista em ins tuições
financeiras.
150. A Tabela 1 mostra os valores monetários (em milhares de reais) dos depósitos à vista e a Tabela 2 as par cipações nesse mercado, com base
em dados do BCB nos meses de dezembro, de 2013 a 2017.
Tabela 1 - Depósitos à vista - Conglomerados Financeiros e Ins tuições Independentes – 2013 a 2017 – valores em R$ mil
Ins tuição 2013 2014 2015 2016 2017
Itaú 50.006.936 63.359.176 93.754.112 99.946.590 107.710.788
Banco do Brasil 74.412.783 73.520.083 65.777.553 68.666.153 69.347.462
Bradesco[59] 53.214.892 46.347.100 34.664.204 33.004.522 33.876.130
Caixa 25.165.991 27.002.940 27.360.464 31.882.980 32.389.648
Santander 15.516.555 15.912.435 15.546.108 15.777.949 16.995.434
Inter 8.916 10.114 21.228 43.454 231.377

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Ins tuição 2013 2014 2015 2016 2017


Sicredi 43.988 42.361 49.524 41.821 81.076
Outras ins tuições 19.049.923 19.130.915 81.866.267 16.385.103 18.544.845
Total 237.419.984 245.325.124 319.039.460 265.748.572 279.176.760
Fonte: BCB[60] – elaboração SG/Cade

Tabela 2 - Evolução das par cipações de mercado com base em depósitos à vista
Ins tuição 2013 2014 2015 2016 2017
Itaú 21,1% 25,8% 29,4% 37,6% 38,6%
Banco do Brasil 31,3% 30,0% 20,6% 25,8% 24,8%
Bradesco[59] 22,4% 18,9% 10,9% 12,4% 12,1%
Caixa 10,6% 11,0% 8,6% 12,0% 11,6%
Santander 6,5% 6,5% 4,9% 5,9% 6,1%
Inter 0,00% 0,00% 0,01% 0,02% 0,08%
Sicredi 0,02% 0,02% 0,02% 0,02% 0,03%
Outras ins tuições 8,0% 7,8% 25,7% 6,2% 6,6%
Total 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: BCB[60] – Tabela 1 - elaboração SG/Cade

151. Frise-se, que a u lização de depósitos à vista é a jurisprudência do Cade nas análises de atos de concentração do mercado bancário, análises
em que o foco está sob a oferta dos diversos produtos bancários, onde, por exemplo, a rede de agências tem exercido influência sobre a capacidade de
crescimento de novos entrantes, cons tuindo assim um fator relevante da análise an truste. Mais adiante, são analisados outros cenários em função das
especificidades das condutas em apuração deste IA, em que o alvo da análise é sob o ponto de vista da demanda pelo produto conta corrente e serviços
acessórios, do eventual poder de mercado dos Representados controlarem a oferta desse insumo para o mercado à jusante.
152. Registre-se, desde já, que o Itaú, apesar de também usar dados do BCB, diverge desse cálculo e aponta que sua par cipação é inferior a 20%
(vinte por cento). Esse cálculo do Itaú e a sua jus fica va estão na seção “IV.2.5.3 Manifestação adicional do Itaú”.
153. Alterna vamente, em suposto indica vo de poder de mercado por parte dos Representados, a Foxbit apresentou seu cálculo u lizando duas
variáveis dis ntas, conforme os gráficos a seguir.
Gráfico 1 - Par cipação por total de a vos – junho de 2018

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Fonte: elaborado pela Foxbit com base em dados do BCB[61]

Gráfico 2 - Par cipação por quan dade de clientes – junho de 2018

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Fonte: elaborado pela Foxbit com base em dados do BCB [62]

154. A par r dessas par cipações, a Foxbit concluiu que:


“82. Verifica-se que os BANCOS [quatro dos Representados: Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander] são os maiores bancos no mercado
brasileiro, alcançando par cipação de mercado conjunta de 64% (sessenta e quatro por cento). Embora haja no mercado alterna vas para serviços
financeiros, estas ins tuições representam apenas uma pequena parcela do mercado e possuem um número diminuto de corren stas.
83. No presente caso, a importância dos BANCOS também pode ser medida pelo seu número de clientes. Os BANCOS detêm, em conjunto, 68%
(sessenta e oito por cento) dos clientes bancários (...)
84. Não restam dúvidas de que os BANCOS têm elevado poder de mercado, o suficiente para que suas condutas tenham impactos deletérios
significa vos aos seus concorrentes, novos entrantes e usuários de serviços bancários. “ (doc. SEI nº 0538698)
155. Para o propósito desta Nota, neste momento, são suficientes as par cipações mostradas em relação a depósitos a vista, ao total de a vos e
quan dade de clientes.

III.2.2. Dimensão geográfica - mercado bancário

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156. Na análise do AC Bradesco e HSBC, definiu-se que o mercado relevante no setor bancário sob a ó ca geográfica, em geral, seria nacional, pois
as polí cas comerciais dos bancos são, na grande maioria das vezes, definidas nacionalmente. Por exemplo, registra-se nos autos deste IA que as diretrizes
das polí cas de prevenção a crimes de lavagem de dinheiro dos Representados são emanadas de forma centralizada.
157. Essa definição de mercado nacional foi fundamentada em diversos fatores. Se por um lado, neste IA, não se cogita a u lização de contas
correntes no exterior para as corretoras de criptomoedas atenderem aos clientes no Brasil, por outro lado, argumenta-se que cenários de mercados
relevantes regionais poderiam ser adotados, mas players regionais não teriam poder de contestar os produtos de abrangência nacional de forma
significa va, enquanto o inverso seria possível. Nos autos deste IA constam, inclusive, corretoras de criptomoedas estabelecidas em diversas cidades e
regiões do país e que apresentaram informações sobre contas correntes junto aos Representados, bancos de atuação nacional.
158. Portanto, a dimensão geográfica do mercado relevante bancário nesta análise deve ser considerada nacional. E esse entendimento é
convergente com a jurisprudência recente do Cade no setor financeiro.

III.3. Mercado relevante a jusante

III.3.1. Dimensão produto - mercado de corretoras de criptomoedas

159. Segundo os autos do processo, a quase totalidade das corretoras de criptomoedas que forneceram informações ao Cade exercem a a vidade
de intermediação entre compradores e vendedores de criptomoedas, por meio de uma plataforma eletrônica com as ofertas de compra e venda.
160. Como já mencionado, as criptomoedas foram construídas de forma a não necessitar de intermediários, pois os detentores de criptomoedas
podem transacionar (ou transferir), em pagamento ou venda, suas criptomoedas para qualquer interessado. Em contrapar da, a transação direta pode
gerar insegurança entre partes desconhecidas. Assim, para sanar essa insegurança, as corretoras atuam na intermediação das partes custodiando os reais e
as criptomoedas de seus clientes. As corretoras funcionam como a terceira parte de confiança para a concre zação da transação.
161. A seguir, exemplos das respostas das corretoras de criptomoedas sobre suas a vidades, demonstrando que a quase totalidade atua
preponderantemente, ou até integralmente, nessa a vidade de intermediação.
Atlas: “(...) é uma empresa que realiza venda de bitcoins no Brasil. “ (doc. SEI nº 0536446, pág. 3)
Bitblue: “(...) atua como uma corretora de criptomoedas, fornecendo uma plataforma para network entre clientes compradores e vendedores de
criptomoedas num ambiente virtual, seguro e consistente. “ (doc. SEI nº 0537987, pág. 3).
BitcoinTrade: “(...) é uma empresa que atua por meio de uma plataforma eletrônica (...) desenvolvida com a finalidade de intermediar e facilitar a
compra e venda de criptomoedas, tais como Bitcoin, Ethereum e Litecoin. “ (doc. SEI nº 0538724, pág. 2)
Bitrecife: “(...) tem como objeto o fornecimento de Plataforma de câmbio que possibilita o match (troca) entre usuários (compradores e
vendedores) de Bitcoins, Niobium Coin, SmartCash e Tether, através de livro (book) de ordens de compra e venda. “ (doc. SEI nº 0640146, pág. 3)
Braziliex: “Serviço de intermediação de compra e venda de a vos digitais criptográficos (criptomoedas e tokens em blockchain) através de
plataforma online (‘exchange’). A a vidade se resume a: (i) receber transferências bancárias dos compradores e transferir os recursos aos
vendedores e, simultaneamente (ii) receber criptoa vos de vendedores e os transferir aos compradores. Retém uma pequena porcentagem do
fluxo a tulo de comissão comercial pela realização da operação de intermediação. “ (doc. SEI nº 0535211, pág. 2)

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E-Juno: “(...) é uma corretora digital de criptomoedas que nasceu para oferecer a melhor experiência em soluções para comprar e vender Bitcoíns,
bem como outras criptomoedas existentes, através de uma plataforma denominada Home Broker, que possui tecnologia de alta performance e
elevado nível de segurança. “ (doc. SEI nº 0538725, pág. 4)
Foxbit: “(...) é uma empresa de tecnologia que atua como uma bolsa de comercialização da criptomoeda bitcoin (ou corretora de bitcoins), onde
vendedores encontram compradores em um ambiente online simples, ágil e seguro. “ (doc. SEI nº 0538698, pág. 3)
Mercado Bitcoin: “(...) é uma corretora (exchange) que intermedeia a compra e venda, entre clientes-usuários, de criptomoedas (Bitcoin, Bitcoin
Cash, Litecoin e Ripple) por meio de uma plataforma online. “ (doc. SEI nº 0539128, pág. 3)
Profi y: “(...) exerce a vidade de intermediação e agenciamento de negócios digitais, ordinariamente conhecida como Exchange, mediante
plataforma eletrônica (so ware) on line disponível no domínio (...), por intermédio da qual são realizados negócios digitais por agentes
econômicos privados de commodi es eletrônicas, comumente designados cripto-a vos ou criptomoedas, em que são intercambiados cripto-
a vos de pares diferentes (v. g., BitcoinBTC, Litecoin-LTC e Decred-DCR) ou entro cripto-a vos e moeda fiduciária (necessariamente Real-RS). “
(doc. SEI nº 0537897, pág. 3)
Wall me: “(...) atua na intermediação da compra e venda de criptomoedas, mais especificamente o bitcoin, por meio da Internet, a fim de garan r
segurança e confiabilidade nas negociações. ” (doc. SEI nº 0538563, pág. 4)
162. As corretoras 3XBit, Bitcoinmax, Citcoin, CoinBR e Coinext descreveram suas a vidades de forma semelhante. Embora tenham sido
mencionadas nos autos outras a vidades das corretoras de criptomoedas, como meio de pagamento ou como serviço de intermediação financeira, nas
respostas sobre suas a vidades, apenas duas corretoras indicaram outras a vidades, conforme trechos transcritos abaixo.
Bitcambio (Citar Tech): “(...) possui duas unidades de negócios:
A primeira unidade é Bitcambio (...), que atua como um marketplace de bitcoins, que realiza a intermediação de compra e venda de bitcoins entre
os clientes. (...)
A segunda unidade é a Pague com Bitcoin (...), que atua no segmento de processamento de pagamentos de Bitcoins, e que permite que clientes
façam recargas de Telefone celular e pagamento de contas u lizando Bitcoin.“ (doc. SEI nº 0540595, págs. 3 e 4)
Capital Digital Aberto: “(...) é uma empresa de Intermediação de negócios e Desenvolvimento de So wares Customizados. Desenvolvemos
ferramentas tecnológicas, de inovação para o mercado e adotamos os protocolos blockchain e smartcontracts em caráter de pesquisa e
desenvolvimento, a fim de explorar novos mercados e acompanhar as tecnologias emergentes. “ (doc. SEI nº 0532172, pág. 1)
163. Além da intermediação de criptomoedas, a a vidade descrita pela Bitcambio sugere tratar-se de prestação de serviço adicional à
intermediação, atuando a empresa como a compradora de criptomoeda e u lizando os reais para pagamento de contas ou boletos, em vez de entregar
esses reais ao cliente que entregou criptomoeda, conforme presume-se da descrição da empresa: “Operacionalmente, os clientes realizam as vendas do
Bitcoins diretamente para a Citar Tech, que então realiza os pagamentos para os clientes, garan ndo que os clientes são os sacados.” Assim, essa outra
a vidade sugere ser uma extensão da intermediação de criptomoedas.
164. Por sua vez, a descrição de a vidades da Capital Digital Aberto é ampla e não há sugestão nos autos de que as a vidades relacionadas a
blockchain e smart contracts, e os serviços de desenvolvimento de so ware estejam relacionados às condutas em análise neste IA.
165. Assim, para a análise deste IA, o mercado relevante à jusante que estaria sendo prejudicado pelas condutas dos Representados é o mercado
de corretoras de criptomoedas, também conhecidas como exchanges, com atuação na intermediação de criptomoedas.

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166. Por outro lado, para a Representante, as corretoras de criptomoedas também seriam concorrentes dos bancos e argumenta que “(...)
oferecem produtos e serviços financeiros, além de meios de pagamento alterna vos. “ Além disso, a ABCB ainda afirma que as corretoras “(...) são
claramente das como concorrentes das ins tuições financeiras, seja pelo lado da oferta (bancos e demais ins tuições financeiras), seja pelo lado da
demanda (inves dores, credores/pagadores, etc.). ” (doc. SEI nº 0483963, pág. 7)
167. Esta SG avalia que não há indícios de criptomoedas como meio de pagamento, como sugere a Representante, de forma relevante no país. Nos
autos, por exemplo, uma corretora afirmou que “é possível u lizar o bitcoin para adquirir imóveis, passagens aéreas, carros, serviços odontológicos e
médicos, computadores, diárias em hotéis, entre tantos outros serviços e bens” (doc. SEI nº 0538698, pág. 17), tendo apontado cinco links para no cias ou
anúncios de lojas que aceitam bitcoins. Todavia, ao avaliar tais exemplos somente comprovou-se a incipiência[63] dessa função. Frise-se que não é
pretensão desta SG esgotar a análise sobre exemplos de pagamentos com Bitcoin ou outras criptomoedas, pois é crível que essa possibilidade esteja em
uso, porém não há qualquer evidência de que os pagamentos em Bitcoins, ainda que aceitos, estejam ocorrendo com frequência minimamente significa va.
Criptomoedas como meio de pagamento, na avaliação desta SG, é uma possibilidade, mas não uma realidade percep vel ou amplamente difundida no país
neste momento.
168. Por sua vez, não é crível colocar as criptomoedas como concorrentes dos bancos junto a inves dores, como afirma a Representante, dadas as
restrições norma vas no país. Como exemplo, a Comissão de Valores Mobiliários (“CVM”) divulgou esclarecimentos nos O cios Circulares de nº 1 e nº 11,
ambos de 2018, conforme trechos transcritos a seguir:
“Como sabido, tanto no Brasil quanto em outras jurisdições ainda tem se discu do a natureza jurídica e econômica dessas modalidades de
inves mento, sem que se tenha, em especial no mercado e regulação domés cos, se chegado a uma conclusão sobre tal conceituação.
Assim e baseado em dita indefinição, a interpretação desta área técnica é a de que as criptomoedas não podem ser qualificadas como a vos
financeiros, para os efeitos do disposto no ar go 2º, V, da Instrução CVM nº 555/14, e por essa razão, sua aquisição direta pelos fundos de
inves mento ali regulados não é permi da. “ (g.n.) O cio Circular nº 1/2018/CVM/SIN
“A Instrução CVM nº 555, em seu arts. 98 e seguintes, ao tratar do inves mento no exterior, autoriza o inves mento indireto em criptoa vos por
meio, por exemplo, da aquisição de cotas de fundos e deriva vos, entre outros a vos negociados em terceiras jurisdições, desde que admi dos e
regulamentados naqueles mercados. “ (g.n.) O cio Circular nº 11/2018/CVM/SIN
169. Ainda que criptomoedas venham a ser classificadas como a vos financeiros e seja permi da sua aquisição como inves mento no país, esta
SG não pode assumir, atualmente, que corretoras de criptomoedas, não reguladas, são concorrentes diretas de bancos, sendo estes sujeitos a forte
regulação, em produtos de inves mentos.
170. Além dos autos não evidenciarem outras a vidades relevantes das corretoras de criptomoedas que não seja a de intermediação, a própria
Representante aponta que é a intermediação a a vidade central (ou a única) das corretoras quando contesta a argumentação dos Representados sobre
movimentação financeira a pica, conforme trechos transcritos a seguir:
“2.2. (...) Um cliente interessado em comprar, realiza uma transferência bancária com o valor da compra para a conta corrente da intermediadora
(corretora de criptomoedas), enquanto o cliente que quer vender transfere criptomoedas para a wallet (endereço de uma carteira de
criptomoedas) da corretora.
2.3. (...) parece óbvio que transitam pela conta bancária da intermediadora valores muito superiores aos de seu faturamento, pois são valores de
terceiros, clientes da corretora“

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2.4. (...) é da natureza do negócio de intermediação que os valores movimentados na conta da intermediadora sejam superiores ao seu
faturamento, que é apenas um percentual do quanto foi movimentado. “ (g.n.) (doc. SEI nº 0513256, pág. 3)
171. Logicamente, a confirmação da a vidade de intermediação não exclui a possibilidade dessas empresas terem outras a vidades, mas, reitera-
se que não há indícios nos autos de outros mercados relevantes em que estejam atuando as corretoras de criptomoedas atualmente. Sobre essas
possibilidades, a seguir transcrição de trechos da manifestação da Bitcambio:
“Assim, ainda que hoje o modelo principal das fintechs que atuam como corretoras de bitcoin seja intermediar a compra e a venda de bitcoins,
atuando de forma semelhante a um agente de escrow, essas fintechs certamente con nuarão a inves r em tecnologia e inovação, de forma que a
tendência é que no futuro as corretoras possam ampliar a gama de serviços prestados a seus clientes, concorrendo de formas mais intensa e em
outras a vidades com os bancos.
A tulo de exemplo, as corretoras poderiam, no futuro, caso haja permissão da CVM, negociar tokens que representam valores mobiliários, o que
concorreria diretamente com as corretoras de valores mobiliários, serviço este também prestado pelos bancos. Outro exemplo é a possibilidade
de que as corretoras de bitcoin se tornem Ins tuição de Pagamento (como já é o caso da BitBlue) e ofereçam outros serviços financeiros aos seus
clientes que concorrem diretamente com os serviços oferecidos pelos bancos. (...)
Assim, é notório que a inovação trazida pelo bitcoin pode, no médio e longo prazo, impor ameaças às tecnologias tradicionais e ao sistema
bancário, mudando a forma como as pessoas se relacionam com o seu dinheiro. Assim, ao tentar fechar o acesso das corretoras ao sistema
bancário, insumo essencial para sua atuação, os bancos buscam, na verdade, dificultar o desenvolvimento de concorrentes e impedir a inovação
trazida pelas fintechs do setor, impedindo que essas fintechs contestem a sua posição no futuro. “ (g.n.) (doc. SEI nº 0540595, pág. 48)
172. Como se depreende desses trechos[64], a corretora coloca algumas possibilidades de concorrência com bancos sempre no futuro,
confirmando que a a vidade, hoje, é intermediar compra e venda de criptomoedas.
173. Em suma, para os obje vos de análise deste IA, o mercado relevante à jusante que estaria sendo prejudicado pelas condutas dos
Representados é o mercado de corretoras de criptomoedas, com atuação na intermediação de criptomoedas.

III.3.2. Dimensão geográfica - mercado de corretoras de criptomoedas

174. De forma similar ao já argumentado quanto ao mercado bancário, a dimensão geográfica do mercado relevante de corretoras de
criptomoedas neste IA deve ser considerada nacional. Em ra ficação dessa definição, nota-se nos autos do processo que as corretoras de criptomoedas
operam pela internet para atender clientes em todo território nacional.
175. Note-se que não há “fronteiras” para as criptomoedas, pois podem ser adquiridas no exterior e negociadas no Brasil, ou o inverso, adquiridas
aqui e negociadas no exterior. Todavia, isso não altera a definição de mercado relevante como nacional, pois a intermediação realizada pelas corretoras de
criptomoedas, que constam nos autos deste IA, é a conversão de criptomoedas em moeda nacional, em reais, ou vice-versa. Caso contrário, as corretoras
teriam que se adequar a normas cambiais, conforme depreende-se do trecho transcrito a seguir do Comunicado nº 31.379, de 16 de novembro de 2017, do
BCB:
“6. É importante ressaltar que as operações com moedas virtuais [criptomoedas] e com outros instrumentos conexos que impliquem
transferências internacionais referenciadas em moedas estrangeiras não afastam a obrigatoriedade de se observar as normas cambiais, em
especial a realização de transações exclusivamente por meio de ins tuições autorizadas pelo BCB a operar no mercado de câmbio. “

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176. Assim, para os obje vos de análise deste IA, a dimensão do mercado relevante das corretoras de criptomoedas é nacional.

III.4. Análise SG - avaliação preliminar de poder de mercado

III.4.1. Sobre a concentração no mercado bancário

177. O cálculo de par cipação nos mercados relevantes, conforme visto na seção “III.2.1. Dimensão produto - mercado bancário”, visa avaliar se as
empresas detentoras dessas par cipações detêm poder de mercado e, ainda, avaliar o grau de concentração desse mercado. Para o mercado bancário essa
avaliação tem sido tema recorrente e as conclusões são consistentes em afirmar que é um mercado concentrado em que os maiores bancos possuem poder
de mercado individual e conjuntamente.
178. Em documentos do Cade, podem ser encontrados exemplos recentes da avaliação da concentração no mercado bancário em: (i) Parecer nº
16/2017/CGAA2/SGA1/SG (doc. SEI nº 0360633, em especial parágrafos 16 e 17), do Ato de Concentração nº 08700.001642/2017-05 (AC Itaú e Ci bank); (ii)
Anexo ao Parecer nº 16/2017/CGAA2/SGA1/SG/Cade (doc. SEI nº 0361338, em especial parágrafos 26 a 28) do mesmo Ato de Concentração; (iii) Anexo ao
Parecer Técnico nº 12/2016/CGAA02/SGA1/SG/CADE do AC Bradesco e HSBC (doc. SEI nº 0183983, em especial parágrafos 303 a 306).
179. Por sua vez, tanto a Representante como algumas corretoras trouxeram aos autos argumentação no sen do da concentração do mercado
bancário. Como exemplo, segue-se argumentação do Parecer Econômico (solicitado pela ABCB).
“Há diversos modos possíveis de se mensurar a par cipação de mercado na indústria bancária, como depósitos totais, a vos totais, depósitos à
vista, dentre outros. Sob qualquer referência escolhida, é possível verificar que poucos bancos possuem elevada par cipação de mercado.
Usando-se os depósitos totais como medida, verifica-se que cinco ins tuições concentram quase 88% do mercado em 2018 (...)
Além disso, esta concentração vem se intensificando ao longo do tempo. Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, ltaú, Bradesco e Santander
de nham aproximadamente 81% de par cipação de mercado conjuntamente em 2010, passando para quase 86% em 2014 e, finalmente a par r
de 2016 a ngindo o patamar muito próximo de 88%. O mesmo padrão ocorre se usarmos os a vos totais como referência. As mesmas cinco
ins tuições financeiras detêm parcela significa va de mercado e a concentração de mercado se intensifica ao longo do tempo, saindo 79,6% em
2010 e chegando a aproximadamente 85% de par cipação de mercado.
(...)
Conforme pode ser observado na (...), os cinco maiores bancos de nham conjuntamente 94,4% de par cipação de mercado em depósitos à vista
no ano de 2017.
(...) No Relatório de Economia Bancária de 2017, o Banco Central informa que o Brasil tem a segunda maior razão de concentração dos cinco
maiores bancos (RC-5) do mundo, juntamente com a França, a ngindo 82% em 2016 (...) “ (g.n.) (doc. SEI nº 0605107, págs. 19 a 22)
180. Portanto, para os obje vos desta Nota Técnica, neste momento, é suficiente a análise levar em consideração que o mercado bancário, em
termos amplos, é concentrado e com caracterís cas próprias.

III.4.2. Avaliação preliminar sobre o poder de mercado dos Representados

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181. De início, as par cipações calculadas na seção “III.2.1. Dimensão produto - mercado bancário” mostram que Inter e Sicredi são detentores de
par cipações mínimas no mercado de depósitos à vista, com par cipações percentuais inferiores a um decimal. Descabido atribuir poder de mercado a
esses bancos individualmente. Improvável considerar uma suposta atuação conjunta no caso desses dois bancos porque os autos apontam que cada um
deles mantém conta a va de algumas corretoras de criptomoedas que veram conta encerrada em alguns dos outros bancos representados ou na Caixa
(que não é um dos representados neste IA).
182. Em relação ao poder de mercado dos Representados, a seguir a conclusão apresentada no Parecer Econômico (solicitado pela ABCB) anexado
aos autos:
“A concentração na indústria bancária é elevada independentemente do critério u lizado para a sua mensuração. Além disso, a falta de rivalidade
na indústria bancária, por conta de switching costs e problemas informacionais, facilita que ações unilaterais desses bancos sejam seguidas pelos
demais, o que explica o porquê de haver diversos bancos no polo passivo do presente inquérito administra vo.
Não se descarta a existência de uma ação coordenada entre os bancos autores da conduta de recusa de venda, o que tornaria o padrão de prova
menos exigente, sendo a conduta então caracterizada como recusa concertada de venda (Hovenkamp, 2005). Não é esta, contudo, a linha de
análise seguida por este parecer por não haver evidências suficientes, de conhecimento deste parecerista, de coordenação explícita entre bancos.
“ (doc. SEI nº 0605107, pág. 30)
183. Por sua vez, a Bitcambio manifestou-se da seguinte forma:
“(...) acerca da alegação de alguns bancos em resposta aos ques onamentos feitos pelo CADE nos autos deste inquérito administra vo, de que
não detêm poder de mercado, e que por essa razão não poderiam gerar prejuízo às corretoras, não merece prosperar. Isso ocorre porque, em que
pese isoladamente o banco deter menos de 20% do mercado, as condutas de recusa de contratar e de encerramento imo vado de relação
contratual vêm sendo perpetradas pela maior parte dos grandes Bancos, e contra a maior parte, senão todas as corretoras de bitcoin brasileiras.
Dessa forma, em que pese não haver indícios, a princípio, de coordenação entre os bancos, sua conduta no presente caso é inegavelmente similar,
devendo ser analisada de forma conjunta. “ (doc. SEI nº 0540595, pág. 44)
184. O cálculo de par cipações em mercados relevantes busca indica vos de poder de mercado por parte dos Representados, em condição da
como necessária para produzir os efeitos listados no art. 36 da Lei 12.529, de 2011. Todavia, essa não é a única ferramenta, podendo-se u lizar de outros
mecanismos para concluir pela presença ou não de poder de mercado dos Representados.
185. Neste momento, para os obje vos desta Nota Técnica, pode-se admi r que alguns dos Representados detêm posição dominante, ou seja,
possuem par cipação de mercado acima de 20%, o que, potencialmente, podem permi r a existência de poder de mercado; porém, esta questão será
analisada com mais profundidade mais adiante, após a descrição das jus fica vas dos Representados.

IV. JUSTIFICATIVAS PARA AS CONDUTAS

IV.1. Introdução

186. Na sequência para analisar a existência de indícios suficientes que apontem para a possibilidade de infração da ordem econômica, esta Nota
Técnica precisa ponderar os supostos efeitos nega vos à concorrência, já descritos na seção ”II.5.2. Impactos nega vos”, em relação às eventuais
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jus fica vas dos Representados para suas condutas, resumidas nas seções seguintes.

IV.2. Manifestação dos Representados

IV.2.1. Introdução - argumentações comuns aos Representados

187. Nesta seção estão registradas informações e argumentações comuns a mais de um dos Representados. Nas seções seguintes, as demais
informações e argumentações par culares de cada um dos Representados.
188. A maioria dos Representados apontou a inexistência de um código específico para a a vidade de intermediação na compra e venda de
criptomoedas na Classificação Nacional de A vidades Econômicas[65] (“CNAE”) ou, ainda, que não exis ria um objeto social padronizado adotado pelas
corretoras de criptomoedas que possibilitasse a iden ficação completa em seus cadastros. Por essa razão, argumentaram a impossibilidade de precisar a
lista de corretoras de criptomoedas com quem nham relacionamento, devido à ausência de um CNAE específico ou outro po de informação em seu
cadastro que garan sse a exa dão da lista. Os Representados alegam que não existe um código CNAE para corretagem de moedas virtuais porque essa não
é uma a vidade regulamentada.
189. Em outra informação apresentada reiteradamente, os Representados ressaltam que não há, até o momento, marco regulatório incidente
sobre as a vidades relacionadas às criptomoedas, que as corretoras que atuam nesse setor não são fiscalizadas pelo BCB ou pela CVM, embora essas
corretoras estejam atuando como intermediários financeiros.
190. Por sua vez, vários Representados alegam que o encerramento de uma conta corrente de forma unilateral por inicia va do banco pode
ocorrer por diversos mo vos, como recusa ou dificuldade em obter informações cadastrais do cliente, ou ainda por divergências nessas informações.
Argumentam que o encerramento de uma conta corrente estaria amparado na Resolução nº 2.025, de 1993, do CMN (e alterações posteriores), conforme
trechos transcritos a seguir:
Resolução n°2.025, de 1993
“Art. 10. É facultada à ins tuição financeira a abertura, manutenção ou encerramento de conta de depósitos à vista cujo tular figure ou tenha
figurado no Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF).
(...)
Art. 12. Cabe à ins tuição financeira esclarecer ao depositante acerca das condições exigidas para a rescisão do contrato de conta de depósitos à
vista por inicia va de qualquer das partes, devendo ser incluídas na ficha-proposta as seguintes disposições mínimas:
I - comunicação prévia, por escrito, da intenção de rescindir o contrato;
II - prazo para adoção das providências relacionadas à rescisão do contrato;
(...)
Art. 13. A ins tuição financeira deve encerrar conta de depósitos em relação à qual verificar irregularidades nas informações prestadas, julgadas
de natureza grave, mantendo as informações e os documentos rela vos ao encerramento da conta à disposição do Banco Central do Brasil pelo
prazo de cinco anos. “ (g.n.)

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191. As normas de prevenção a crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores e combate ao terrorismo, PCLD, também dão amparo
para o encerramento de uma conta corrente, em especial, a Circular nº 3.461, de 24 de julho de 2009, do BCB (e alterações posteriores), tendo em vista o
disposto na Lei da PCLD e em cumprimento à Convenção Internacional para Supressão do Financiamento do Terrorismo, conforme o seguinte disposi vo:
Circular n° 3.461, de 2009
“Art. 5º As ins tuições de que trata o art. 1º somente devem iniciar qualquer relação de negócio ou dar prosseguimento a relação já existente com
o cliente se observadas as providências estabelecidas nos arts. 2º, 3º e 4º, conforme o caso. “
Art. 6º As ins tuições de que trata o art. 1º devem manter registros de todos os serviços financeiros prestados e de todas as operações financeiras
realizadas com os clientes ou em seu nome.
§ 1º No caso de movimentação de recursos por clientes permanentes, os registros devem conter informações consolidadas que permitam
verificar:
I - a compa bilidade entre a movimentação de recursos e a a vidade econômica e capacidade financeira do cliente;
II - a origem dos recursos movimentados;
III - os beneficiários finais das movimentações.
§ 2º O sistema de registro deve permi r a iden ficação:
I - das operações que, realizadas com uma mesma pessoa, conglomerado financeiro ou grupo, em um mesmo mês calendário, superem, por
ins tuição ou en dade, em seu conjunto, o valor de R$10.000,00 (dez mil reais);
II - das operações que, por sua habitualidade, valor ou forma, configurem ar cio que obje ve burlar os mecanismos de iden ficação, controle e
registro.
(...)
Art. 10. As ins tuições de que trata o art. 1º devem dispensar especial atenção a:
I - operações ou propostas cujas caracterís cas, no que se refere às partes envolvidas, valores, formas de realização e instrumentos u lizados, ou
que, pela falta de fundamento econômico ou legal, indiquem risco de ocorrência dos crimes previstos na Lei nº 9.613, de 1998, ou com eles
relacionados;
II - propostas de início de relacionamento e operações com pessoas poli camente expostas de nacionalidade brasileira e as oriundas de países
com os quais o Brasil possua elevado número de transações financeiras e comerciais, fronteiras comuns ou proximidade étnica, linguís ca ou
polí ca;
III - indícios de burla aos procedimentos de iden ficação e registro estabelecidos nesta circular;
IV - clientes e operações em que não seja possível iden ficar o beneficiário final;
(...) VI - situações em que não seja possível manter atualizadas as informações cadastrais de seus clientes.
§ 1º A expressão “especial atenção” inclui os seguintes procedimentos:
I - monitoramento con nuo reforçado, mediante a adoção de procedimentos mais rigorosos para a apuração de situações suspeitas;
II - análise com vistas à verificação da necessidade das comunicações de que tratam os arts. 12 e 13;
III - avaliação da alta gerência quanto ao interesse no início ou manutenção do relacionamento com o cliente. “ (g.n.)
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192. Vários Representados frisam que o encerramento de uma conta corrente amparado por essas normas pode ocorrer com clientes de qualquer
po de a vidade econômica, não havendo discriminação de clientes que atuem com corretagem de criptomoedas. Os Representados ressaltam a obrigação
dos bancos de (ACESSO RESTRITO à Representante e aos Representados).
Lei n° 9.613, de 1998 (“Lei da PCLD”)
“Art. 11. As pessoas referidas no art. 91:
(...)
II - deverão comunicar ao Coaf, abstendo-se de dar ciência de tal ato a qualquer pessoa, inclusive àquela à qual se refira a informação, no prazo de
24 (vinte e quatro) horas, a proposta ou realização:
a) de todas as transações referidas no inciso II do art. 10, acompanhadas da iden ficação de que trata o inciso I do mencionado ar go; e
b) das operações referidas no inciso I; (...)”
Circular nº 3.461, de 2009
“Art. 14. As comunicações de que tratam os arts. 12 e 13 deverão ser efetuadas sem que seja dada ciência aos envolvidos ou a terceiros.
“ (ACESSO RESTRITO à Representante e aos Representados).
193. Assim, segundo os Representados, se o encerramento de uma conta (ACESSO RESTRITO à Representante e aos Representados).
194. Alguns Representados argumentam que riscos inerentes às a vidades de criptomoedas têm sido objeto de diferentes alertas, tais como:
a) O cio Circular nº 1/2018/CVM/SIN da CVM, que não permite a aquisição de criptomoedas por fundos de inves mentos, por não as
considerar um a vo financeiro e que “(...) há ainda muitos outros riscos associados a sua própria natureza (como riscos de ordem de
segurança ciberné ca e par culares de custódia), ou mesmo ligados à legalidade futura de sua aquisição ou negociação. ”;
b) Comunicado nº 31.379, de 16 de novembro de 2017, do BCB, que alerta sobre os riscos decorrentes de operações de guarda e
negociação das denominadas moedas virtuais (criptomoedas);
c) Enccla[66] aprovou a Ação[67] 8 de 2017 que realizou o levantamento de pologias de lavagem de dinheiro e corrupção mediante o uso
de moedas virtuais e meios de pagamento eletrônico, apontando, por exemplo, como riscos a limitada possibilidade de iden ficação e
verificação de par cipantes desse mercado; um possível anonimato no comércio de moedas virtuais e a falta de um órgão central
supervisor (favorecendo a impunidade), em um mercado que pode ter rapidez para transferir valores entre países;
d) Declaração[68] da U.S. Securi es and Exchange Commission (“SEC”), indicando, entre outros riscos, que as criptomoedas podem
facilitar transações comerciais e financeiras ilícitas; e
e) Diversas no cias apontam para a existência de casos de suposta prá ca criminosa envolvendo criptomoedas.
195. Em outra informação repisada, a maioria dos Representados afirma não exis r qualquer recomendação da Anbima, Febraban ou outra
en dade nesse sen do, qual seja, o de recusa de contratação baseada na a vidade negocial relacionada a moedas virtuais.
196. Por fim, alguns Representados discordam da argumentação da Representante quanto a aplicação de forma abrangente de normas de
compliance e prevenção à lavagem de dinheiro por parte das corretoras de criptomoedas, assim como relatam casos de não comprovação da iden ficação
da origem ou des no dos recursos transacionados com criptomoedas, conforme depreende-se dos exemplos transcritos a seguir.
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“13. (ACESSO RESTRITO ao Santander)


“4. (...) não conseguem comprovar a origem (isto é, de onde veio o recurso) ou o des no (isto é, para quê o recurso será u lizado), tampouco o
beneficiário final daqueles recursos já que é da essência das criptomoedas o anonimato (...)” (doc. SEI nº 0526901) Itaú

IV.2.2. Síntese da manifestação do Banco do Brasil

197. Em reposta ao O cio Cade nº 2484/2018 (doc. SEI nº 0494120), o Banco do Brasil informa que é ro neiro o processo de avaliação da
manutenção ou não da relação negocial com clientes e, rela vamente à sua polí ca de PCLD, teria encerrado o relacionamento com cerca de mil pessoas
sicas e jurídicas[69]. Assim, isso demonstraria que o encerramento de contas não se trata de discriminação com a a vidade de corretoras de criptomoedas,
mas sim uma ro na per nente às suas responsabilidades legais em PCLD.
198. Em relação à suposta discriminação, o Banco do Brasil alega que não poderia recusar a abertura de conta corrente de clientes por negociarem
moedas virtuais porque não teria como iden ficar essa a vidade de corretora de criptomoedas (pela ausência de “elementos oficiais” que permitam a
iden ficação).
199. Em decorrência, principalmente, da Lei da PCLD, adota parâmetros em seus sistemas, automa zados, para monitoramento de transações e
iden ficação de indícios de lavagem de dinheiro (e financiamento do terrorismo). Para isso, avaliar diversos aspectos das transações, tais como: instrumento
u lizado, forma, frequência, partes e valores envolvidos, capacidade financeira e, inclusive, a a vidade econômica do cliente, entre outros indica vos de
irregularidades ou ilegalidades.
200. Informa que, nos casos ligados à polí ca de PCLD, a decisão de encerramento da relação negocial é tomada de forma colegiada por um
Comitê, considerando as informações quanto às operações suspeitas de lavagem de dinheiro e que não há qualquer discriminação quanto à a vidade
econômica do cliente.

IV.2.3. Síntese da manifestação do Bradesco

201. Em resposta ao O cio Cade nº 2487/2018 (doc. SEI nº 0495677), o Bradesco informou ter iden ficado [70](ACESSO RESTRITO ao Bradesco),
lembrando da dificuldade dessa iden ficação em razão da ausência de um CNAE específico para esse segmento de a vidade.
202. Amparado pela Resolução n° 2.025, de 1993, para comparação com o segmento de corretoras de criptomoedas, o Bradesco informa ter
encerrado (ACESSO RESTRITO ao Bradesco). Nesses casos de encerramento envolvendo empresas de todo po de a vidade econômica, as principais
irregularidades observadas pelo banco consis riam em documentos e informações falsas (ou sem comprovação) e movimentações incompa veis com a
a vidade e capacidade financeira presumida do cliente. Além da mencionada Resolução, note-se, por exemplo, as obrigações de registro de informações
con das na Circular nº 3.461, de 2009, do BCB, conforme disposi vo transcrito a seguir:
“Art. 6º As ins tuições de que trata o art. 1º devem manter registros de todos os serviços financeiros prestados e de todas as operações
financeiras realizadas com os clientes ou em seu nome.
§ 1º No caso de movimentação de recursos por clientes permanentes, os registros devem conter informações consolidadas que permitam
verificar:
I - a compa bilidade entre a movimentação de recursos e a a vidade econômica e capacidade financeira do cliente;

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II - a origem dos recursos movimentados;


III - os beneficiários finais das movimentações. “ (grifo do Bradesco)
203. Em atenção a essas normas mencionadas, à Lei da PCLD e à Carta Circular nº 3.542, de 12 de março de 2013, segundo o Bradesco, (ACESSO
RESTRITO ao Bradesco).
204. Frisa o Bradesco que o encerramento se dá em cumprimento às normas mencionadas, em especial a Resolução nº 2.025, de 1993, em
conformidade com o exposto na seção “IV.2.1 Introdução – argumentações comuns aos Representados”. (ACESSO RESTRITO ao Bradesco).
205. A tulo de exemplo dos potencias riscos de a vidades envolvendo criptomoedas, o Bradesco menciona no cias[71] (ACESSO RESTRITO ao
Bradesco).
206. Quanto à recusa em abrir conta corrente para corretoras de criptomoedas, alega o Bradesco (ACESSO RESTRITO ao Bradesco), e transcreve
trecho de sua Polí ca Ins tucional de Relacionamento com Clientes e Usuários.

IV.2.4. Síntese da manifestação do Inter

207. Em reposta ao O cio Cade nº 2489/2018 (doc. SEI nº 0495682), o Inter apresenta-se como o primeiro banco 100% (cem por cento) digital do
Brasil e afirma possuir quatro[72] corren stas que atuam como corretoras de criptomoedas, com base em informações prestadas por esses clientes.
208. O Inter informou ter no ficado (ACESSO RESTRITO ao Inter).
209. Segundo o Inter, a opção (ACESSO RESTRITO ao Inter) seria uma questão derivada, exclusivamente, das normas de PCLD a que está sujeito,
em especial quanto à (ACESSO RESTRITO ao Inter). O banco interpreta ter não só o dever, mas também a autorização das normas relacionadas a PCLD para
encerrar uma conta corrente em que seja detectada movimentação incompa vel com a situação do cliente.
210. Por fim, ressalta o Inter que suas obrigações quanto à PCLD são adotadas para qualquer cliente, de qualquer po de a vidade, inexis ndo
norma vo ou orientação interna no sen do de discriminar corretoras de criptomoedas ou qualquer outra a vidade.

IV.2.5. Síntese da manifestação do Itaú

IV.2.5.1. Manifestação inicial do Itaú

211. Em resposta ao O cio Cade nº 2484/2018 (doc. SEI nº 0496076) o Itaú informa que nenhuma empresa pertencente à Itaú Unibanco Holding
S.A. atua no mercado de corretagem de criptomoedas.
212. Para abertura de uma conta o cliente precisa apresentar uma série de documentos e informações cadastrais, incluindo a profissão (pessoa
sica) ou a vidade (pessoa jurídica) e renda ou faturamento (alinhados com documentação comprobatória). Segundo a experiência do Itaú: “No caso de o
cliente exercer, de forma principal ou acessória, corretagem de criptomoedas ou a vidade equivalente, seja na qualidade de pessoa sica ou jurídica, via de
regra, ele não declara essa a vidade à Ins tuição Financeira no momento da abertura da conta. ” (doc. SEI nº 0496076, pág. 5)

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213. Segundo o Itaú, clientes que atuam com criptomoedas, via de regra, declaram sua atuação de forma ampla como consultoria em tecnologia
da informação, serviços de informa va, intermediação e agenciamento de serviços, entre outros exemplos mencionados. O banco embasa esse argumento
com uma série de exemplos (doc. SEI nº 0496084, págs. 4 a 12, de acesso restrito ao Cade) e destaca que não deseja induzir a um juízo de má-fé, mas a
imprecisão da informação sobre a atuação de uma empresa impacta a necessária análise de risco do cliente.
214. Aponta o Itaú que é um dever das ins tuições financeiras “(...) implementar polí cas, procedimentos e controles internos des nados a
prevenir a u lização de seus serviços na prá ca de crimes de que trata a Lei de Lavagem ou Ocultação de Bens, Direitos e Valores (...)”, a Lei da PCLD, assim
como normas do CMN e do BCB (Resoluções nº 2.025, de 1993, nº 2.747, de 2000, Circular nº 3.461, de 2009, e Cartas-Circulares nº 3.430, de 2010 e nº
3.542, de 2012). Esse dever impõe que as ins tuições financeiras mantenham atualizadas as informações cadastrais de seus clientes e o registro de
operações e serviços financeiros prestados, monitorando os clientes e os recursos financeiros movimentados para possibilitar a iden ficação de operações
incompa veis com sua a vidade econômica, objeto social, faturamento, origem e des no dos recursos nas transações. Ainda em atenção aos mencionados
disposi vos legais, é obrigação no ciar ao Coaf operações e situações que possam configurar indícios da ocorrência de lavagem de dinheiro e financiamento
ao terrorismo.
215. Nesse sen do, o Itaú aponta para a incongruência cadastral de uma corretora de criptomoedas ter declarado sua a vidade como sendo, por
exemplo, consultoria de tecnologia ou intermediação de negócios (exceto de imóveis), e exerce a vidade de corretagem, em situação que pode configurar
indícios de lavagem de dinheiro, segundo os norma vos legais, em especial quando detectadas movimentações incompa veis com a a vidade cadastrada.
Diante desse po de situação o Itaú afirma proceder uma apuração, podendo requisitar informações ou comprovantes ao cliente (de qualquer a vidade
econômica) com movimentações financeiras suspeitas. Segundo a experiência do Itaú, cliente com atuação em corretagem de criptomoedas ou a vidade
equivalente “(...) não consegue comprovar a origem ou o des no dos recursos, tampouco demonstrar o processo de iden ficação e aceitação do cliente
(...)” e reconhece que em algumas situações as corretoras de criptomoedas demonstram conhecimento sobre o cliente tular da criptomoeda, mas não de
forma suficiente a comprovar a origem ou o des no dos recursos transacionados.
216. Para o Itaú, a ausência de regulação e de rastreabilidade de origem e des no da criptomoedas são os aspectos principais neste caso, das
corretoras, que representam risco diante das polí cas de PCLD. E isso decorre das caracterís cas intrínsecas de criptomoedas: a independência de um banco
central ou órgão regulador e o anonimato.
217. O Itaú informa que a eventual não observância das mencionadas normas de PCLD pode resultar em penalidades às Ins tuições Financeiras e
também às pessoas sicas que atuam como administradores, tais como: multa pecuniária (de até vinte milhões de reais), cassação da autorização para o
exercício da a vidade, e inabilitação para exercício de cargo de administrador. E tais penalidades e suas consequências econômicas jus ficariam o
encerramento de contas de corretoras de criptomoedas, e não a alegação da Representante de suposta conotação concorrencial. Para o Itaú, “(...)
consoante os Princípios da Autonomia da Vontade e da Liberdade de Contratar[73] (...)”, as Ins tuições Financeiras não são obrigadas a assumir os riscos
oriundos de transações envolvendo criptomoedas, em especial pela falta de comprovação da origem e do des no dos recursos. E tais Princípios estariam
sendo aceitos pelo Superior Tribunal de Jus ça (“STJ”)[74]. Segundo o Itaú, o único condicionante seria o envio de no ficação prévia ao corren sta, em
cumprimento à Resolução nº 2.025, de 1993, do BCB, o que estaria sendo observado pelo banco.
218. O Itaú alega aplicar as normas[75] a todos os setores econômicos, tendo iden ficado o encerramento de (ACESSO RESTRITO ao Itaú), de um
total de (ACESSO RESTRITO ao Itaú) contas encerradas em 2017, por sua inicia va, em demonstração que não há discriminação com a a vidade de
corretagem de criptomoedas.

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219. Na opinião do Itaú, as obrigações legais exigidas de Ins tuições Financeiras em relação à PCLD apontam que o encerramento da conta
corrente é “(...) a medida mais efe va, segura, prudente e legalmente viável até o momento (...)”, relembrando que inexiste regulação ou legislação sobre
criptomoedas, em a vidade que deveria efetuar polí ca de Conheça seu Cliente (KYC) e, também, iden ficar e rastrear a origem e des no dos recursos
envolvidos com criptomoedas.
220. Sobre eventuais bloqueios de saldos em conta corrente, o Itaú reafirma a dificuldade em informar as situações envolvendo corretoras de
criptomoedas pelos mo vos já apresentados de falta de um CNAE específico ou marcador cadastral. Porém, o banco informa que recebe o cios judiciais
determinando bloqueios de contas correntes, poupanças, inves mentos, etc.
221. Além das jus fica vas apresentadas que fundamentam o encerramento de contas correntes, o Itaú argumenta que não detém posição
dominante no mercado relevante nacional de depósitos à vista, pois sua par cipação em março de 2018 seria de [5% a 15%](ACESSO RESTRITO ao Itaú),
conforme informações do Banco Central do Brasil. Considerando a doutrina an truste e a jurisprudência do Cade, essa par cipação não configuraria
infração à ordem econômica ainda que se considerasse uma eventual conduta de recusa de contratar por parte do banco.
222. Adicionalmente, segundo o Itaú, a corretagem de criptomoedas não pode ser entendida como concorrente ou semelhante a seus produtos
de inves mentos, que estão sujeitos a ”(...) forte ambiente regulatório no Brasil (...)”, cons tuindo outro fator a descaracterizar qualquer infração à ordem
econômica.

IV.2.5.2. Réplica e tréplica sobre a manifestação do Itaú

223. A ABCB insurge-se contra a argumentação do Itaú, reiterando que as corretoras de criptomoedas possuem polí cas de compliance, que todos
os recursos transitam pelas contas correntes dos bancos e que seria uma discriminação ou desinformação do Itaú alegar que um setor não regulado seria
um risco para o Sistema Financeiro Nacional (“SFN”), ques onando, por exemplo, se uma “banca de verduras” (setor não regulado) seria um risco para o
SFN. Afirma a Representante que o banco não teria esclarecido quais irregularidades ou movimentações suspeitas cons tuiriam os negócios com
criptomoedas.
224. A ABCB contesta a argumentação do Itaú quanto aos princípios da autonomia da vontade e da liberdade de contratar, pois seriam suavizados
perante os princípios cons tucionais da livre concorrência e da livre inicia va.
225. Afirma a Representante que o Itaú não estaria cumprindo os disposi vos norma vos sobre encerramento de contas, pois não teria informado
qualquer mo vo para o encerramento, conforme obrigam tais norma vos, o que cons tuiria sólida evidência da conduta de “recusa de contratar”.
226. O Itaú contesta as alegações da Representante, primeiro quanto à uma errônea simplificação das polí cas de PCLD, pois argumenta que não
são, isoladamente, fatores mencionados como a ausência de uma CNAE ou a incompa bilidade entre volume movimentado e faturamento que definem
suspeitas de lavagem de dinheiro. Argumenta que esses seriam apenas alguns dos elementos analisados conjuntamente em seus processos de compliance e
polí cas do po Conheça seu Cliente (KYC).
227. Argumenta o Itaú que as corretoras de criptomoedas não conseguem, em várias oportunidades, iden ficar ou a origem ou o des no dos
recursos, pois seria “4. (...) da essência das criptomoedas o anonimato, tendo tal a vo todo o potencial para ser u lizado no financiamento de a vidades
criminosas“ (doc. SEI nº 0526901). Alerta o Itaú que iden ficar o beneficiário final da operação é importante recomendação do Grupo de Ação Financeira

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contra a Lavagem de Dinheiro e o Financiamento do Terrorismo (“GAFI”), organização intergovernamental da qual o Brasil é membro e representado pela
UIF do BCB[76] e pela Secretaria de Assuntos Internacionais do Ministério da Economia.
228. O Itaú argumenta que as corretoras de criptomoedas não exercem a vidade regulada como os bancos, e que são impostas obrigações sobre
estes, declarando que:
“7. Nessa esteira, o extenso e rígido arcabouço regulatório vigente sobre Polí cas de PLD2, ao qual as Ins tuições Financeiras e autorizadas a
funcionar pelo BACEN [BCB] devem guardar irrestrito cumprimento, impõe obrigações diretas de comunicar o fato às autoridades e agir conforme
as polí cas internas de cada banco frente à detecção de indícios de u lização de sua estrutura para lavagem de dinheiro e financiamento ao
terrorismo. Não cabe aos Bancos concluir se houve ou não crime de lavagem de dinheiro - função essa des nada às autoridades competentes -
mas tão somente cumprir suas obrigações, legais e regulamentares, dentro de um processo abrangente de ‘conheça seu cliente’ frente às
suspeitas detectadas.
(...)
9. Inclusive, é preciso esclarecer que a comunicação pelo banco ao COAF diante de uma transação considerada suspeita na qual iden ficou
indícios de lavagem de dinheiro ou financiamento ao terrorismo deve, por força de determinação legal, ocorrer de forma sigilosa, sem dar ciência
ao cliente envolvido. Por isso, a consequência sistemá ca lógica ao tratar do encerramento imediato do relacionamento, conforme determina a
polí ca interna, é indicar o mo vo como sendo de "desinteresse comercial" (até porque esse mo vo não decorre só do fato da aplicação da
polí ca interna em virtude de não expor a riscos exacerbados em tal situação, mas também, dos Princípios da Liberdade Contratual e da
Autonomia da Vontade, por meio dos quais as partes podem optar por não contratar ou não se manter contratadas). Também é de se notar que o
mo vo do encerramento ser indicado como "desinteresse comercial" evita o inconveniente ao Banco de, indevidamente, ser acusado
judicialmente de imputação caluniosa. “ (g.n.) (doc. SEI nº 0526901)
229. Ao contrário do afirmado pela Representante, Itaú contesta que as corretoras não aceitam depósitos em espécie e informa que iden ficou
(ACESSO RESTRITO ao Itaú).

IV.2.5.3. Manifestação adicional do Itaú

230. Em 9 de outubro de 2019, o Itaú encaminhou manifestação adicional (doc. SEI nº 0670936) contendo argumentação e informações adicionais
sobre este IA. Nessa manifestação o representado reitera que a matéria não seria de competência do Cade e, ainda que fosse, não estariam presentes os
requisitos que configurassem infração compe va, além de outras informações e argumentos resumidos a seguir.
231. Para o Itaú, os requisitos necessários para a abertura e manutenção de contas correntes em bancos são matéria de regulação financeira por
normas do BCB, CMN e relacionadas à PCLD. Por esse mo vo o Cade não teria competência sobre a matéria deste IA.
232. Independente do Cade ter ou não competência, o Itaú argumenta que a suposta recusa de contratar não seria uma prá ca an compe va,
pelos seguintes mo vos: (i) o Itaú não possui posição dominante no mercado de depósitos à vista, tendo apresentado 11,73% de par cipação em 2018
nesse mercado em seu cálculo[77]; (ii) conta corrente não é uma essen al facility e existem diversas outras ins tuições que ofertam esse serviço, além da
possibilidade de operar de outras formas; (iii) a ausência de regulação sobre criptomoedas jus fica a polí ca interna do Itaú de não permi r operações com
criptoa vos em razão do nível de risco em que o banco atua.

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233. Quanto ao primeiro mo vo, não possuir posição dominante, o Itaú calculou sua par cipação em dois cenários[78]: 11,73% no primeiro
cenário incluindo “apenas bancos” (sem considerar coopera vas que têm sido uma opção para as corretoras de criptomoedas); e 13,17% em um segundo
cenário, mais restri vo, considerando apenas os cinco maiores grupos bancários. O Itaú conclui não ter posição dominante, pois essas par cipações são
inferiores aos 20% (vinte por cento) estabelecidos no art. 36, § 2º, da Lei 12,529, de 2011, para se presumir posição dominante e, ainda, Bradesco e Caixa
possuiriam par cipações, respec vamente, de 31,96% (trinta e um por cento e noventa e seis centésimos) e 18,44% (dezoito por cento e quarenta e quatro
centésimos), superiores, portanto, à par cipação do Itaú.
234. Para o cálculo dessas par cipações, o Itaú u liza dados de relatórios do BCB, assim como esta SG, porém explica que a diferença em relação a
outros cálculos é rela va a depósitos no exterior, que não devem ser incluídos, pois o mercado relevante deste IA é nacional. O Itaú u liza-se do relatório
“Ins tuições individuais” e agrega os valores das quatro sociedades de seu grupo[79]. Segundo o Itaú, não deve ser u lizado o relatório “Conglomerados
financeiros”, como consta nas Tabelas 1 e 2 desta Nota Técnica, porque inclui depósitos no exterior. Pelo mesmo mo vo o representado contesta as
par cipações apresentadas pela Representante no Parecer Econômico (doc. SEI nº 0605107, pág. 20). Além disso, discorda desse Parecer Econômico que
também analisa par cipações de mercado com base em depósitos totais, pois não guardariam relação com serviços de conta corrente e seriam
inadequados conforme precedentes do Cade.
235. Quanto ao segundo mo vo apresentado pelo Itaú: “A eventual recusa de um banco em abrir contas para corretoras de criptomoedas é
incapaz de causar prejuízos à concorrência, uma vez que diversas outras ins tuições (...) ofertam esse serviço e (...) permi riam o acesso desses agentes ao
sistema bancário. ” Além da possibilidade de usar contas correntes em outros bancos, argumenta que existem outros métodos de transferência de recursos
que as corretoras de criptomoedas podem usar.
236. Como existem outras opções, contas correntes em outros bancos e outros métodos de transferência de recursos, segundo o Itaú, a conta
corrente não pode ser vista como um insumo essencial e argumenta que o racional apresentado no Parecer Econômico (solicitado pela ABCB) expõe uma
contradição nesse sen do, em trecho transcrito a seguir:
“(...) é muito importante para as corretoras, e benéfico aos usuários, que as exchanges mantenham contas correntes abertas em várias ins tuições
financeiras simultaneamente. A consequência concorrencial desse fato é que mesmo uma única nega va de abertura de uma conta corrente (ou,
ainda mais grave, o encerramento de uma conta corrente em andamento) tem efeito sobre a capacidade de uma Exchange em concorrer. Se
houver fechamento de contas correntes em diversos bancos, esse efeito é magnificado.
Por tudo isso, o serviço de contas correntes oferecidos pelos bancos configuram um insumo essencial para a a vidade de corretagem de
criptoa vos. “ (doc. SEI nº 0605107, pág. 18)
237. E o Itaú explica a contradição da seguinte forma:
“25. (...) Ora, o argumento é contraditório com a fundamentação básica de um insumo essencial. Se o serviço pode ser prestado por vários
fornecedores (bancos) e se esses fornecedores estão interligados e prestam serviços compa veis entre si, não faz sen do afirmar que o serviço
prestado por um fornecedor específico é um insumo essencial. Ainda que se alegasse a existência de vantagens tarifárias quando corretoras e
usuários possuem contas correntes no mesmo banco, eventual não aproveitamento dessas vantagens não pode ser equiparado à recusa como
prá ca an compe va.“ (doc. SEI nº 0670936, pág. 13)
238. Em relação a outros métodos de transferências de recursos, o Itaú argumenta que isso seria possível por meio de ins tuições de pagamentos,
autorizadas pelo BCB, e menciona algumas corretoras que u lizariam uma delas, o PayPal. Cita ainda outra possibilidade, os marketplaces em que a compra
de criptomoedas é feita diretamente de outras pessoas. Quanto a esse mo vo, conclui o Itaú que:
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“27. Como há diversas opções para que as corretoras de criptomoedas possam operar, sem necessariamente contar com a intermediação de um
banco, não há prejuízo decorrente da conduta do Itaú Unibanco e, portanto, impossível se falar em recusa como conduta an compe va. “ (doc.
SEI nº 0670936, pág. 14)
239. Quanto ao terceiro mo vo, o Itaú argumenta que “(...) não deve ser obrigado a assumir riscos maiores do que aqueles que estabeleceu como
adequados para conduzir sua estratégia de negócios. “ O representado apresenta diversas normas[80] a que ins tuições financeiras estão sujeitas, para
preservar a solidez do sistema e também evitar seu uso em prá cas delituosas. Por outro lado, não há regulação sobre a a vidade das corretoras de
criptomoedas.
240. O Itaú discorre sobre a importância das ins tuições financeiras na prevenção e no combate a atos ilícitos, incluindo PCLD e argumenta que
“(...) as operações envolvendo criptoa vos são par cularmente desafiadoras, tendo em vista suas caracterís cas intrínsecas de descentralização (total
independência dos bancos centrais) e anonimato (ainda que rela vo). “ Para o Itaú, as criptomoedas representam elevados riscos que jus ficam sua polí ca
de não manter contas correntes com corretoras de criptomoedas. Nesse sen do, a tulo de exemplo, menciona diversas no cias[81] envolvendo fraudes ou
ilícitos de alguma forma relacionados com criptomoedas.
241. Segundo o Itaú, as preocupações nesse sen do não se limitariam aos bancos, exemplificando que o Google teria adotado restrições[82] em
sua publicidade em junho de 2018 quanto a criptomoedas (entre outros produtos ou serviços).
242. O Itaú esclarece que a tecnologia blockchain pode ser u lizada em diversas aplicações como registro de imóveis, direitos autorais,
testamentos, e que inves mentos de bancos nessa tecnologia não podem ser confundidos com atuação em criptomoedas, como foi sugerido nos autos do
IA. Informa que não tem interesse no mercado de criptoa vos como está estruturado atualmente em razão dos riscos mencionados e a ausência de
legislação, de um “marco regulatório”.
243. O Itaú sinte za que sua avaliação de riscos em relação a criptomoedas decorre da facilidade com que essas transações podem ser u lizadas
como meio de lavagem de dinheiro ou financiamento ao terrorismo. Para o Itaú, a vidades relacionadas a criptomoedas representam elevado risco pelos
seguintes aspectos: ausência de um órgão central de supervisão; maior nível de anonimato das criptomoedas em relação a outros métodos de pagamento;
possibilidade de partes do “sistema” de criptomoedas estar localizado em outras jurisdições, que não tenham controles ou polí cas de PCLD.
244. Prossegue o Itaú detalhando normas da regulação de ins tuições financeiras, incluindo exigências de controle da entrada de novos clientes e
monitoramento de suas operações, documentos exigíveis para conhecer a a vidade do cliente e, com isso, poder iden ficar os riscos, movimentações
a picas. Menciona situações que são obrigatoriamente reportadas à Unidade de Inteligência Financeira do BCB (“UIF”, que sucedeu o Conselho de Controle
de A vidades Financeiras – COAF).
245. Informa que corretoras e distribuidoras de valores mobiliários também estão sujeitas à regulação, assim como operações de câmbio ou
envolvendo dinheiro em espécie também possuem regulação específica. Para o Itaú, toda essa regulação permite ao banco lidar com esses agentes
regulados com maior segurança em seus esforços de PCLD, em situação dis nta, portanto, de a vidades relacionadas a criptomoedas, sob as quais não
incide, até o momento, nenhuma regulação que possa propiciar ao Itaú segurança suficiente.
246. O Itaú ressalta as penalizações a que está sujeito por eventual descumprimento de todo o conjunto norma vo mencionado, que podem ser
advertência, multa, cassação da autorização do banco para o exercício de sua a vidade, e, inclusive, penalizações sobre pessoas sicas, dos administradores
do banco, podendo culminar em inabilitação por até 10 (dez) anos para o exercício do cargo de administrador.

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247. Em contestação a um suposto direcionamento da aplicação de normas de PCLD em desfavor de corretoras de criptomoedas, o Itaú informou
que o Relatório de A vidades do an go COAF de 2018 contabilizou mais de 330 mil (trezentos e trinta mil) comunicações de operações financeiras,
relacionadas a mais de 370 mil (trezentos e setenta mil) pessoas sicas ou jurídicas, em demonstração que tais polí cas não são direcionadas
exclusivamente contra as corretoras de criptomoedas, mas cons tuem um trabalho amplo no combate a a vidades ilícitas. No Itaú, seu departamento de
Prevenção à Lavagem de Dinheiro é composto por (ACESSO RESTRITO ao Itaú) e, em 2018, encerrou um total de (ACESSO RESTRITO ao Itaú) contas, e de
janeiro a julho de 2019, (ACESSO RESTRITO ao Itaú) contas, todos esses encerramentos resultantes das a vidades desse departamento, de clientes de
qualquer setor e não apenas de corretoras de criptomoedas.
248. Nesse sen do, o Itaú descreve como parte de sua polí ca corpora va algumas situações que ensejam preocupações de a vidades associadas
à lavagem de dinheiro ou financiamento do terrorismo, tais como: movimentação expressiva de dinheiro em espécie; depósitos originados em algumas
regiões de fronteira; recebimento de depósitos em regiões diferentes da área de atuação da empresa; operações com recusa de explicações.
249. Além de tudo isso, para demonstrar que as polí cas do Itaú não são direcionadas exclusivamente a corretoras de criptomoedas, o banco
informa que “Em razão do alto potencial de risco, o Itaú Unibanco não aceita nem mesmo a manutenção de conta corrente de clientes que realizam outras
a vidades, como (...)” (g.n.). Exemplos de (ACESSO RESTRITO ao Itaú).
250. Também como parte de suas polí cas[83], o Itaú informa não aceitar a manutenção de contas correntes por parte de pessoas sicas que:
(ACESSO RESTRITO ao Itaú).
251. O Itaú acrescenta argumentação sobre decisões judiciais, incluindo do STJ, reconhecendo o direito do banco de encerrar contas correntes
(doc. SEI nº 0670936, págs. 33 a 37) e contestando argumentações da Representante. Para o obje vo desta Nota Técnica não será necessário aprofundar-se
sobre esse tema no âmbito da aplicação da Lei nº 12.529, de 2011.
252. Por essa argumentação exposta, o Itaú requer o arquivamento deste IA.

IV.2.6. Síntese da manifestação do Santander

253. O Santander informa (ACESSO RESTRITO ao Santander). Portanto, alega que não atua no mercado de criptomoedas.
254. Em resposta (doc. SEI nº 0495248) ao O cio Cade nº 2486/2018, o Santander afirma possuir (ACESSO RESTRITO ao Santander).
255. Em suma, o Santander informou[84] possuir (ACESSO RESTRITO ao Santander).
256. Por outro lado, informou ter encerrado o relacionamento (ACESSO RESTRITO ao Santander).
257. Segundo o Santander, com respaldo nas Resoluções nº CMN 2.025, de 1993, e nº 4.539, de 24 de novembro de 2016, ambas do CMN, os
mo vos de encerramento envolveram: [85] (ACESSO RESTRITO ao Santander).
258. Além dessas informações, na avaliação da manutenção ou não do relacionamento com seus clientes, o Santander considera as polí cas de
“aceitabilidade de clientes (know your client)” adotadas pelas corretoras de criptomoedas. E exemplifica que essas polí cas envolveriam verificação de
informações cadastrais de pessoas sicas e jurídicas (incluindo sócios), existência de limites operacionais, checagem com bases da Receita Federal,
verificação de listas restri vas, entre outros aspectos que as corretoras de criptomoedas avaliariam quanto a seus clientes. O Santander frisa, ainda, que
esses seriam critérios mínimos para “(...) mi gar os riscos de a vidades ilícitas na corretagem de moedas virtuais. “
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259. Prossegue o Santander informando sobre a possibilidade de uma carteira de criptomoedas chegar a uma corretora por meio de transferência
entre carteiras no mercado virtual e isso ocorreria sem o conhecimento de sua origem, a corretora não saberia iden ficar como ou quem adquiriu as
criptomoedas recebidas em transferência. (ACESSO RESTRITO ao Santander).
260. Assim, essa possibilidade (ACESSO RESTRITO ao Santander), em respeito à Lei da PCLD, Resolução nº 2.025, de 1993, Circular nº 3.461, de
2009 e Carta Circular nº 3.542, de 2012, conforme alguns trechos transcritos a seguir.
Lei n° 9.613, de 1998 (“Lei da PCLD”)
“Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores
provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal.
Pena: reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa.
§ 1º Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a u lização de bens, direitos ou valores provenientes de infração penal:
I - os converte em a vos lícitos;
II - os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em garan a, guarda, tem em depósito, movimenta ou transfere;
III - importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos verdadeiros. “ (grifos do Santander)
Resolução nº 2.025, de 24 de novembro de 1993.
“Art. 3º As informações constantes da ficha-proposta, bem como os elementos de iden ficação e localização do proponente, devem ser conferidos
à vista de documentação competente, observada a responsabilidade da ins tuição pela verificação acerca da exa dão das informações prestadas.
(...) Parágrafo 2° A ins tuição deve adequar seus sistemas de controles internos voltados para as a vidades de abertura e acompanhamento de
contas de depósitos, implantados nos termos da Resolução 2.554, de 24 de setembro de 1998, com vistas a prever o monitoramento das
atribuições conferidas na forma do parágrafo 1º, bem como adotar polí cas e procedimentos, incluindo regras rígidas do po ‘conheça seu
cliente’, que previnam a u lização das respec vas ins tuições, intencionalmente ou não, para fins de prá cas ilícitas ou fraudulentas. “ (grifos do
Santander)
261. Toda essa regulamentação mencionada, em parte transcrita acima, segundo o (ACESSO RESTRITO ao Santander)
262. Para o Santander, sem a possibilidade de iden ficar a origem ou o des no dos recursos (como em transferências de carteiras de
criptomoedas), (ACESSO RESTRITO ao Santander). Assim, para manter a vas as contas de empresas atuantes com criptomoedas,[86] (ACESSO RESTRITO ao
Santander).
263. Dessa forma, o Santander explicou genericamente as diversas possibilidades que jus ficariam o encerramento ou a recusa em abrir uma
conta corrente e complementou com as jus fica vas (ACESSO RESTRITO ao Santander), resumidas no Quadro 5 a seguir .
Quadro 5 - Jus fica vas para encerramento de conta - Santander
Cliente Apurações e jus fica vas do Santander Base norma va
(ACESSO RESTRITO ao Santander) (ACESSO RESTRITO ao Santander) (ACESSO RESTRITO ao Santander)
Fonte: autos do processo (ACESSO RESTRITO ao Santander)

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264. Quanto à jus fica va de “movimentação incompa vel” com o faturamento de corretoras de criptomoedas, apresentada pelos bancos como
indício de lavagem de dinheiro, a Representante contestou essa jus fica va, conforme apresentado na seção “II.3.7 Quanto às jus fica va”, e o Santander,
em manifestação complementar enviada ao Cade (doc. SEI nº 0520906 e nº (ACESSO RESTRITO ao Santander)), esclarece que:
“8. Ora, o Santander tem pleno conhecimento e experiência com clientes cuja a vidade econômica implica intermediação ou trânsito de valores
por suas contas bancárias que não representam faturamento. São exemplos as a vidades corretagem de valores e as factoring. Nessas a vidades
é natural que haja uma disparidade entre a movimentação financeira e o faturamento efe vo de empresas, que se remuneram por uma comissão
sobre os valores transitados.
9. Empresas a vas nesses segmentos, evidentemente, não estão livres de uma avaliação de compa bilidade da movimentação financeira com as
operações por elas realizadas. Para sua avaliação, no entanto, os patamares de compa bilidade são adaptados ao negócio em que atuam. Assim é
que o Santander, ao concluir que uma determinada corretora de criptomoedas tem movimentação incompa vel com seu faturamento, considera
a movimentação bancária vis-à-vis outros elementos, como o número de transações e a proporcionalidade em relação aos fees de corretagem que
remuneram a corretora. (ACESSO RESTRITO ao Santander)"
265. Em contrapar da, para a manutenção do relacionamento com uma corretora de criptomoedas, como exemplo de informações e polí cas
adotadas pela corretora, o Santander narrou[87] ACESSO RESTRITO ao Santander).
266. Narrou, ainda, que um cliente (ACESSO RESTRITO ao Santander). A par r desses exemplos narrados, (ACESSO RESTRITO ao Santander), o
Santander alega sua boa-fé em “(...) buscar os possíveis caminhos para atender empresas que comercializam criptomoedas”, sem expor o banco às
regulações.
267. Em suma, o Santander afirma que:
“85. (ACESSO RESTRITO ao Santander)"
268. Em sua manifestação complementar, o Santander (ACESSO RESTRITO ao Santander).
269. Além dos esclarecimentos apresentados, o Santander argumenta que realiza controle diário de operações em geral, respondendo o segmento
de corretoras de criptomoedas por pequena parcela desse controle, e que tal controle alcança[88] (ACESSO RESTRITO ao Santander).
270. Por fim, quanto à recusa em abrir conta corrente para corretoras de criptomoedas, o Santander informa (ACESSO RESTRITO ao Santander).
271. Considerando os esclarecimentos fornecidos, o Santander requer o arquivamento deste IA por “(...) total ausência de indícios de conduta
an compe va (...)”.

IV.2.7. Síntese da manifestação do Sicredi

272. Na resposta (doc. SEI nº 0491995) ao O cio Cade nº 2490/2018, o Sicredi esclarece detalhadamente sobre a composição e funções de seu
sistema coopera vo. Em síntese, o Banco Coopera vo Sicredi S.A., representado neste IA, é controlado pela Sicredi Par cipações S.A. (“SicrediPar”), uma
Confederação cujos acionistas são cinco Coopera vas Centrais (Norte/Nordeste; Brasil Central; Centro Norte; Paraná/São Paulo/Rio de Janeiro; e
Sul/Sudeste). A atuação do sistema coopera vo Sicredi se dá por meio de 117 (cento e dezessete) coopera vas de crédito afiliadas a essas Coopera vas
Centrais, operando mais de 1.480 agências em 22 estados brasileiros, e que contam com mais de 3,7 milhões de associados.

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273. O Sicredi confirmou o encerramento da conta corrente de uma corretora de criptomoedas, dentre as corretoras que conseguiu iden ficar
com as quais possui relacionamento. E o encerramento, executado unilateralmente pelo Sicredi, foi mo vado pela “(...) incompa bilidade entre a
movimentação financeira na conta corrente e o faturamento da empresa e o seu ramo de a vidade. “
274. E esse encerramento estaria previsto nas normas legais mencionadas na seção “IV.2.1. Introdução – argumentações comuns aos
Representados” e no Contrato de Abertura de Contas[89] assinado pelas partes, conforme a cláusula 64 transcrita a seguir.
“64. O encerramento de Contas de Depósito poderá se dar por vontade de qualquer das Partes, mediante prévia comunicação por escrito,
endereçada à outra Parte, com no mínimo 15 (quinze) dias de antecedência, presumindo-se seu recebimento na forma prevista na Cláusula 7, ou,
ainda, a qualquer tempo e de imediato, independentemente de aviso prévio: [...] b) pelo SICREDI, quando evidenciado: [ ... ] (ii) que a
movimentação é incompa vel com a capacidade financeira do Associado ou pelas a vidades desenvolvidas por este; “ (doc. SEI nº 0491995, pág.
11)
275. O Sicredi informou desconhecer qualquer recusa em abrir conta corrente por parte das coopera vas integrantes de seu sistema, reforçando
que não há como ter certeza sobre isso pela impossibilidade de iden ficação de empresas como corretoras de criptomoedas. Informou também não haver
determinação expressa para recusar a abertura de conta corrente. O que pode vir a ocorrer é o encerramento de uma conta, como relatado, devido ao
controle posterior à sua abertura e em respeito às responsabilidades em PCLD.

IV.3. Síntese dos argumentos dos Representados

276. Em síntese, os Representados alegaram que:


a) Inexiste um CNAE específico para a a vidade das corretoras de criptomoedas, de forma que os bancos não asseguram ter ob do
informações em suas bases de dados de todas as empresas que atuam nessa a vidade;
b) Não há regulação sobre o setor de criptomoedas, até o momento, embora os bancos entendam que a atuação seja de intermediação
financeira e, portanto, deveriam incidir obrigações de PCLD similares a dos bancos;
c) Argumentam que os bancos não discriminam o setor de criptomoedas, que os riscos inerentes às a vidades desse setor têm sido objeto
de diferentes alertas por diversas en dades, além de no ciário sobre diversas fraudes;
d) O encerramento de conta corrente de forma unilateral pode se dar por diversos mo vos, como recusa ou dificuldade em obter
informações cadastrais do cliente, ou ainda por divergências nessas informações, sendo amparada tal decisão na Resolução nº 2.025, de
1993, e nos Princípios da Liberdade Contratual e da Autonomia da Vontade;
e) O encerramento de contas correntes de uma corretora de criptomoedas ou qualquer outro po de empresa, pode ser decorrência de
avaliação do banco de que essa empresa não segue as precauções necessárias para evitar a vidades ilícitas (como lavagem de dinheiro,
financiamento ao terrorismo, esquemas de pirâmide, etc.), da empresa ou de seus clientes e, em tal situação é obrigação legal do banco
não comunicar essa mo vação a essa empresa, tendo o encerramento amparo norma vo na Circular nº 3.461, de 2009;
f) Na experiência dos bancos, não são todas as corretoras de criptomoedas que aplicam efe vamente normas de compliance e prevenção
à lavagem de dinheiro, assim como relataram casos de ausência de comprovação de origem ou des no dos recursos transacionados;

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g) São encerradas contas de forma unilateral pelos bancos de forma ro neira, alguns bancos apresentando números sobre isso, e que,
portanto, o encerramento de contas de corretoras de criptomoedas não se trata de discriminação com essa a vidade, mas sim uma ro na
per nente às suas responsabilidades legais em polí cas de PCLD;
h) Não possuem poder de mercado.

V. ANÁLISE

V.1. Introdução

277. A Lei nº 12.529, de 2011, em relação às condutas an compe vas, possui uma estrutura norma va que permite, ao mesmo tempo, a
iden ficação de atos que serão considerados por si só como condutas an compe vas e, portanto, puníveis, assim como permite que a iden ficação de
qualquer ato que gere potencialidade an compe va também seja punível, ainda que tal ato seja lícito a priori. A opção por tal estrutura traduz a
preocupação de tornar punível todo ato que, ou por seu objeto, ou por seus potenciais efeitos, seja an compe vo.
278. Portanto, uma conduta deve ser entendida como an compe va se ver objeto ilícito ou se ver objeto lícito, mas possuir potencialidade
lesiva. A interpretação desta estrutura norma va permite classificar as condutas em dois pos: (i) conduta por objeto; e (ii) conduta por efeitos.
279. A conduta por objeto é considerada an compe va porque possui objeto ilícito, ou seja, sua mera existência a torna ilícita já que dela nunca
decorreriam efeitos posi vos concorrenciais, existe uma presunção de ilegalidade, aplicando-se aquilo que se convencionou chamar de regra per se.
280. Por sua vez, o que torna uma conduta por efeitos ilícita, an compe va, são seus potenciais efeitos, e nesse caso é necessário que a decisão
sobre a existência ou não da conduta, perpasse algumas etapas relacionadas a estes potenciais efeitos, considerando-se, por exemplo, variáveis como
eficiências geradas, racionalidade econômica ou jus fica va para a conduta, entre outros. Na doutrina tradicional, diz-se que as condutas cuja ilicitude se
define pela potencialidade de efeitos devem ser analisadas sob a regra da razão.
281. As condutas em análise neste IA, de recusa de contratar, envolveram agentes com livre inicia va para contratar, não sendo ilegais a priori, em
que a suposta recusa de contratar no mercado à montante (bancário) teria imposto restrições à concorrência no mercado à jusante (corretoras de
criptomoedas), uma conduta denominada restrição ver cal em função da relação de fornecimento entre esses dois mercados. Trata-se, portanto, de um
caso de suposta conduta por efeitos, a analisar sob a regra da razão. Nesse sen do, a tulo de exemplo, foi o voto transcrito a seguir no Processo
Administra vo nº 08012.010483/2011-94:
“53. No presente caso, trata-se de conduta unilateral ver cal que, de acordo com a literatura especializada, pode vir a gerar efeitos nega vos
sobre o bem-estar do consumidor. Portanto, entendo que tal conduta deve ser analisada pela regra da razão, em linha com o entendimento
jurisprudencial do CADE. “[90]
282. Sob a regra da razão, a análise nesta Nota Técnica seguirá as seguintes etapas: (i) avaliar se os agentes que recusaram a abertura da conta ou
encerraram contas de forma unilateral têm poder de mercado, condição necessária para que a prá ca de recusa possa trazer prejuízos ao mercado; e (ii)
ainda que os Representados tenham poder de mercado, se há jus fica vas razoáveis para a recusa de contratar de sua parte.

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283. Para a Representante, em síntese, os Representados têm poder de mercado, pois o mercado bancário seria concentrado, não agiriam com
rivalidade e seriam detentores conjuntamente de elevadas par cipações de mercado. A Representante sustenta que uma conta corrente é um insumo
essencial, indispensável para qualquer empresa, para efetuar transações com clientes, recebimentos e pagamentos de tributos, e, em especial, essencial
para as corretoras de criptomoedas que se dedicam a operações financeiras (compra e venda de criptomoedas). Além disso, contesta de forma geral as
jus fica vas apresentadas pelos Representados e argumenta que a recusa de contratar contas correntes teria mo vação em prejudicar estas empresas, que
seriam concorrentes dos Representados.
284. Diante da mul plicidade de argumentos apresentados pelas partes, a análise das condutas inves gadas por meio deste IA nas duas etapas
mencionadas está segmentada abrangendo os principais aspectos relacionados ao caso, nas seguintes seções:
V.2 Avaliação de poder de mercado
V.2.1 Quanto aos mercados relevantes relacionados às condutas
V.2.2 Sobre a essencialidade da conta corrente
V.3 Avaliação das jus fica vas dos Representados
V.3.1 Ausência de CNAE - iden ficação das corretoras de criptomoedas
V.3.2 Quanto à ausência de mo vos dos bancos
V.3.3 Prevenção à lavagem de dinheiro
V.3.4 Riscos rela vos às a vidades de criptomoedas
V.3.5 Quanto à concorrência com os bancos
V.3.6 Sobre o Parecer Econômico (solicitado pela ABCB)
V.3.7 Sobre a ausência de regulação
V.4 Resumo da Análise da SG
V.5 Avaliação da SG sobre o pedido de medida preven va.

V.2. Avaliação de poder de mercado

V.2.1. Quanto aos mercados relevantes relacionados às condutas

285. As supostas condutas exclusionárias dos Representados teriam ocorrido no mercado bancário nacional, com a conta corrente sendo um
“insumo” para o funcionamento do mercado à jusante das corretoras de criptomoedas. Em termos gerais, como visto na seção “III.2.1. Dimensão produto -
mercado bancário”, admite-se que o mercado bancário é concentrado e quatro dos Representados, assim como a Caixa, teriam poder de mercado para
prejudicar a concorrência, recusando a abertura ou manutenção de contas correntes para as corretoras.

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286. Não há contestação por parte dos Representados sobre os atos de encerramento unilateral das contas correntes ou da recusa em abri-las.
Assim, a prá ca da recusa, nas situações indicadas, é incontroversa. A questão que se coloca é (i) se a prá ca da recusa poderia trazer prejuízos ao mercado
– nesse caso, se há poder de mercado pelos agentes que recusaram a abertura da conta – e (ii) mesmo havendo poder de mercado, se há jus fica vas
razoáveis para a recusa. No presente caso, para que as condutas em análise tenham potencialidade de geração de efeitos nega vos na concorrência, é
preciso avaliar o mercado relevante sob o ponto de vista da demanda, em função das peculiaridades deste caso.
287. Tipicamente, se uma determinada empresa ou grupos de empresas detêm poder de mercado, isso significa que, sob a ó ca ver cal, tais
empresas podem adotar condutas exclusionárias a ponto de restringir o acesso a seu insumo proporcionalmente às suas par cipações de mercado.
Exemplificando, se um grupo de empresas detêm 80% de um mercado, a recusa de contratar dessas empresas a um comprador significaria que esse
comprador teria que buscar insumos de outros fornecedores e estaria restrito a conseguir, no máximo, 20% desse insumo no respec vo mercado relevante
a montante. Porém, esta SG entende que isso não ocorre no caso em análise, o que será melhor explicado a seguir, u lizando-se dois cenários.
288. Num primeiro cenário, o insumo é a conta corrente. Com uma conta corrente a corretora de criptomoedas está apta a realizar pagamentos,
receber os depósitos de seus clientes ou enviar os recursos a eles (via DOC, TED e TEF), entre outros serviços acessórios a uma conta corrente, permi ndo o
regular funcionamento de sua a vidade empresarial. Em outras palavras, basta uma única conta corrente para sa sfazer, nesse cenário, a necessidade da
corretora de criptomoedas por esse insumo, que lhe daria acesso ao Sistema Financeiro Nacional. Nesse sen do argumentou o Itaú:
“13. (...) se já há um Banco no mercado (...) que aceita, dentro de sua livre inicia va e autonomia da vontade, trabalhar com corretoras de
criptomoedas, não há que se falar, então, em cerceamento de acesso à infraestrutura essencial. Em outras palavras, se uma corretora de
criptomoedas mantém relacionamento com qualquer banco com carteira comercial autorizado a funcionar pelo BACEN [BCB], ela já pode
desfrutar de toda a infraestrutura do SFN (indústria financeira) composta pelos mercados de moedas (pagamentos e transferências), crédito,
câmbio e capitais. Assim, não depende mais de qualquer outro banco (seja ele grande ou pequeno) para ter acesso à alegada infraestrutura
essencial. “ (doc. SEI nº 0526901, pág.8)
289. Nesse primeiro cenário, na opinião desta SG, o poder de mercado dos Representados do ponto de vista da oferta não se verifica sob o ponto
de vista da demanda. E isso independe da forma de medir a par cipação de mercado de bancos, pois qualquer banco entre as dezenas deles instalados no
país pode fornecer uma conta corrente. Assim, sem poder restringir o acesso ao “insumo” conta corrente, que é a conduta em análise neste IA, não há que
se falar em ilicitude an truste, ainda que potencial, porque a conduta dos Representados, de forma individual, não seria suficiente para impedir uma
corretora de abrir e manter uma conta corrente em algum banco dentre as dezenas instalados no país, ou recorrer a uma forma alterna va para a conta
corrente em ins tuições de pagamentos.
290. Entretanto, o arrazoado da Representante e das corretoras de criptomoedas que consta nos autos sugere, para esta SG, que a intenção dessas
partes seria desfrutar de liberdade para contratar contas correntes com diversos bancos, em especial, os grandes bancos, para ter acesso à base de
corren stas desses bancos e, assim, reduzir seus custos de transação.
291. Na seção “II.5.2. Impactos nega vos”, foram resumidos os impactos nega vos informados pelas corretoras, dentre os quais a perda de
clientes, que, em suma, foi descrito de forma similar por diversas corretoras como a consequência do encerramento da conta em um banco, pois, para os
clientes, seria conveniente u lizar corretoras de criptomoedas que tenham conta no mesmo banco do cliente, de forma a efetuar as transações de recursos
com as corretoras de forma mais rápida e mais barata (muitas vezes sem custo), por possibilitar o uso de TEF entre contas do mesmo banco. A tulo de
exemplo, a seguir estão transcritos trechos dos autos que confirmam isso.

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Bitcambio: “(...) aos grandes bancos que detêm, conjuntamente, parcela esmagadora do mercado de serviços bancários, além de dificultar o
acesso das corretoras a seus corren stas. “ (g.n.) (doc. SEI nº 0540595, pág. 50)
Parecer Econômico (solicitado pela ABCB): “5. Por conta dos custos de transferência bancária (TED/DOC) frente às baixas margens na a vidade de
corretagem, bem como de elementos ligados à conveniência dos clientes, a capacidade de corretoras concorrerem depende de seu acesso ao
serviço de contas correntes em diversos bancos, com abrangência suficiente para cobrir parte relevante do mercado potencial. Por isso, a recusa
de contratar por parte de um banco tem efeito sobre a capacidade de concorrer de uma corretora. “ (g.n.) (doc. SEI nº 0605107, pág. 4)
Bitcambio: “Acerca da geração de desvantagens compe vas, esse ponto já foi extensamente abordado nesta manifestação, indicando que a
detenção de conta bancária no mesmo banco que seus clientes reduz o custo tanto da corretora como do cliente, aumenta a rapidez das
transações e a eficiência operacional, possibilitando que os clientes aproveitem a melhor oportunidade de trade, que pode não estar presente se
o cliente ver que esperar até um dia para a confirmação de seu depósito. Sobre este ponto, é importante adicionar uma úl ma questão. Os
clientes que mais precisam de agilidade operacional para aproveitar oportunidades de negócios são os grandes traders, que muitas vezes arbitram
com base em spread, ou seja, clientes que operam grandes volumes. Ao contrário, os clientes pequenos, que compram valores baixos para inves r
ou para manter os bitcoins no médio e longo prazo, não são tão sensíveis ao tempo de aprovação de depósito, porque além de comprarem valores
baixos, não buscam vender rapidamente os bitcoins, ou seja, não fazem a vidade de trading. Assim, o fechamento de conta gera ainda mais esse
efeito deletério, qual seja, a probabilidade maior de que a corretora perca grandes clientes que movimentam grandes valores, em comparação a
clientes pequenos. “ (g.n.) (doc. SEI nº 0540595, pág. 65)
ABCB, pedindo medida preven va: “(...) para que o Banco do Brasil, e qualquer outra ins tuição financeira, doravante se abstenha de encerrar
conta ou se negar a abrir conta de qualquer empresa ou pessoa sica que cumpra com as exigências legais para tanto, seja ela do segmento de
criptomoedas ou não. “ (g.n.) (doc. SEI nº 0483963, pág. 14)
292. Portanto, corretoras de criptomoedas com contas em diversos bancos conseguiriam enviar e receber recursos de seus clientes via TEF, que,
em geral, não implicam custos extras (além dos pacotes de serviços ofertados pelos bancos) para a corretora e para o seu cliente.
293. No segundo cenário em análise, supondo que uma conta corrente não seria sa sfatória para as corretoras de criptomoedas, estas
necessitariam abrir e manter abertas contas correntes em diversos bancos para poder acessar, sem custo (ou custo reduzido), a base de corren stas desses
bancos. Portanto, o interesse real da Representante seria manter contas nos grandes bancos que detêm a maior quan dade de corren stas, mantendo,
portanto, seus produtos mais atra vos ao consumidor final. Nesse cenário, na visão da Representante, a conduta dos Representados, com poder de
mercado (ainda que cole vamente), teria a capacidade de restringir a concorrência das corretoras.
294. Também não se detecta nos autos, nas informações sobre encerramentos de contas correntes, indícios de ações conjuntas dos
Representados, verificando-se diversas corretoras em situação de encerramento de contas em alguns bancos, permanecendo com contas em outros. Em
outras palavras, não se encontra uma uniformidade nas condutas dos Representados que pudesse sugerir uma ação conjunta a a ngir as mesmas empresas
em datas similares. Portanto, não há que se avaliar poder de mercado de forma conjunta.
295. Ainda quanto à hipótese desse segundo cenário, esta SG entende que o pedido da Representante, de ter acesso irrestrito a todos os bancos,
não guarda razoabilidade sob a ó ca concorrencial. Como já dito, bastaria o acesso a um banco para que uma corretora de criptomoedas vesse acesso a
todo o sistema financeiro, ainda que a um custo maior do que se vesse acesso a qualquer banco que pretendesse. De fato, uma decisão do Cade nesse
sen do daria a possibilidade às corretoras de criptomoedas para se aproveitarem dos inves mentos realizados pelos bancos na conquista de sua base de
clientes para que elas possam transferir recursos, via TEF, sem custo (ou custo reduzido). Tal situação poderia ser inclusive enquadrada na definição[91] da
teoria do free rider, que é uma prá ca indesejada no an truste, conforme o ensinamento de Paula A. Forgioni, transcrito a seguir:
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“O sistema jurídico procura impedir que um agente econômico aposse-se indevidamente da vantagem compe va desenvolvida por outro, para
que as empresas tenham incen vos para aprimorar seus produtos ou seu processo de produção/comercialização. “
296. Em outras palavras, nesse segundo cenário as corretoras de criptomoedas, que se apresentam como concorrentes dos bancos, solicitam
algum po de medida do Cade para que acessem a alegada “infraestrutura essencial” dos bancos e movimentem a custo zero ou bem reduzido os recursos
oriundos das transações com seus clientes. Ao mesmo tempo que solicita o acesso a contas correntes em diversos bancos para que as corretoras de
criptomoedas se tornem mais compe vas, note-se na declaração da Representante, transcrita abaixo, que a ABCB alega ser a reação an compe va das
ins tuições financeiras mo vada pela redução de custos da a vidade das corretoras e por sua rapidez e confiabilidade.
“Não é di cil perceber as razões para essa reação an compe va das ins tuições financeiras: a nova economia digital e criptográfica reduz
dras camente os custos de transação (tarifas bancárias em geral, custos administra vos, taxas, etc.), além de oferecerem serviços muitos mais
rápidos, confiáveis e verificáveis pra camente em tempo real (transferências instantâneas de valores, remessas internacionais, etc.).
Os ganhos econômicos e sociais, derivados das eficiências geradas pelas novas tecnologias realmente assustam ao establishment financeiro, pois
podem significar a necessidade real e premente de muitas mudanças e adaptações. “ (g.n.) (doc. SEI nº 0483963, pág. 7)
297. Dessa forma, para reduzir custos as corretoras precisariam dos diversos bancos para movimentar recursos via TEF, sem custo (ou custo
reduzido). Para esta SG, essa intenção em contratar com diversos bancos, em especial os maiores, parece ser uma contradição com a alegação da conta
corrente como uma “infraestrutura essencial”. Nesse sen do, transcrito a seguir, mais uma vez, argumentação do Itaú:
“25. (...) Ora, o argumento é contraditório com a fundamentação básica de um insumo essencial. Se o serviço [conta corrente] pode ser prestado
por vários fornecedores (bancos) e se esses fornecedores estão interligados e prestam serviços compa veis entre si, não faz sen do afirmar que o
serviço prestado por um fornecedor específico é um insumo essencial. Ainda que se alegasse a existência de vantagens tarifárias quando
corretoras e usuários possuem contas correntes no mesmo banco, eventual não aproveitamento dessas vantagens não pode ser equiparado à
recusa como prá ca an compe va. “ (doc. SEI nº 0670936, pág. 13)
298. Em adição a essa contradição, na argumentação transcrita no parágrafo 291, a Bitcambio alertou que o encerramento de contas em bancos
afetaria mais os seus grandes clientes, que movimentam grandes volumes. Ora, justamente os grandes clientes e seus grandes volumes deveriam ser os
mais capazes de incorrer em custos de DOC ou TED, quando for o caso, em vez da desejada gratuidade de TEF. Ademais, tais custos poderiam ser absorvidos
pelas corretoras, de forma a atrair seus melhores clientes. Tal argumentação somente aponta que o cenário de diversas contas correntes não prospera, pois
é fac vel a subs tuição de TEF por DOC ou TED com algum incremento de custo. Isso se houver tal aumento, pois é notório que os corren stas podem se
beneficiar de programas de descontos ou pacotes de serviços nos bancos com acesso gratuito a determinada quan dade de DOC ou TED, e, de forma
similar, as corretoras de criptomoedas podem negociar pacotes de serviços com tais benesses para sua conta de pessoa jurídica.
299. Em verdade, ao contrário do que aponta a Representante, os autos indicam que o mercado de corretoras está em pleno funcionamento, em
crescimento e com elevada rivalidade. Nesse sen do, abaixo transcrito trecho do Parecer Econômico solicitado pela ABCB:
“Entre as Fintechs, o segmento de maior crescimento foi o de corretoras de criptoa vos. O número de inicia vas teve um aumento de 86% nos
primeiros oito meses de 2018, indo de 15 para 28 corretoras.
O volume transacionado total de criptoa vos por exchanges no Brasil chegou a aproximadamente 6,6 bilhões de reais em 2018, totalizando 3
milhões de negociações. A Tabela 1 [do Parecer] mostra a par cipação de mercado das corretoras de criptoa vos em 2017 e 2018.
(...)

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E possível verificar que o mercado de corretoras de criptomoedas apresenta uma dinâmica bastante compe va entre 2017 e 2018. Há entradas
(Bitcambio, Coinext, 3XBit e outras) e saídas de mercado (Negocie Coins, LocalBitcoins, Arena Bitcoin, Paxful e Bitsquare), restando mais firmas em
2018 (28 empresas) que em 2017 (15 empresas), além de mudanças significa vas de market shares entre as empresas.
Houve uma importante redução de concentração de mercado, o que pode ser observado pela redução do Índice de Herfindahl-Hirschman (HHI)
na úl ma linha da Tabela 1 [do Parecer], que reduziu cerca de três mil pontos para aproximadamente dois mil pontos. (...)” (g.n.) (doc. SEI nº
0605107, págs. 14 e 15)
300. De fato, a denúncia formulada pela ABCB parece se aproximar mais de sua intenção de redução dos custos das corretoras de criptomoedas
com tarifas de DOC e TED, visando tornarem-se mais atra vas e com custos menores de transação. Em outras palavras, há nessa denúncia um teor maior de
lide privada do que, propriamente, efeitos nega vos na concorrência e, em úl ma instância, no consumidor tanto de criptomoedas quanto dos demais
produtos financeiros dos bancos.
301. É possível encontrar sites especializados com informações sobre rankings de corretoras de criptomoedas em que se pode ver dezenas de
empresas que atuam nessa a vidade no país, além das mencionadas neste IA. Em outro indica vo da mul plicidade de players desse mercado, nota-se nos
autos que dos clientes iden ficados (ACESSO RESTRITO AO CADE).
302. Quanto à rapidez para executar as transações, esta SG avalia que, embora seja um aspecto importante, o uso de TED propicia rapidez
compa vel com tais transações, e a própria efe vação de uma transação com criptomoeda não é instantânea como poderia parecer num primeiro
momento. Nesse sen do:
Mercado Bitcoin[92]: “A intervalos regulares de tempo — no caso do bitcoin, são cerca de 10 minutos —, essas novas transações são reunidas em
bloco, criptografadas e adicionadas a uma cadeia de blocos que guarda também as transações passadas. É daí que vêm o nome da tecnologia,
blockchain, ou ‘cadeia de blocos’. “
303. Em suma, o entendimento da SG é que estritamente no mercado relevante relacionado à conduta em inves gação, sob a ó ca da demanda,
do fornecimento do insumo “conta corrente”, os Representados não detêm poder de mercado suficiente para restringir que uma corretora de criptomoedas
mantenha ao menos uma conta corrente em algum dos bancos instalados no país.
304. Além disso, esta SG diverge da tese da Representante e das corretoras em ter direito assegurado de contratar conta corrente livremente com
diversos bancos, com base nos critérios exclusivamente da própria corretora, no intuito de obter vantagem compe va na redução de custos com
transferências de recursos. Naturalmente, a contratação de diversas contas correntes deve decorrer de livre negociação entre as partes. Nesse sen do,
sobre a existência de alterna vas a determinado insumo, abaixo trecho transcrito de manifestação da ABCB:
“(...) de acordo com as melhores prá cas internacionais, aquele prejudicado (in casu a Atlas, associada mantenedora da Associação) deve
demonstrar que foi ví ma não somente de uma ‘inconveniência ou dissabor’, ou mesmo de alguma perda econômica: mas acima disso, deve
comprovar que uma alterna va não lhe é fac vel ou viável. " (g.n.) (doc. SEI nº 0483963, pág. 4)
305. Note-se que nos casos internacionais trazidos aos autos pela Representante, por exemplo, no Relatório Hilmer da Austrália, é citada a
imprescindibilidade do acesso a determinado insumo e não apenas a conveniência como requisito para caracterizar a recusa como an compe va,
enquanto nos Casos Commercial Solvents e United Brands, da União Europeia, é mencionado que não há conduta an compe va se ver outra fonte
sa sfatória de fornecimento. Assim, na opinião desta SG, pode-se dizer que o encerramento de uma conta corrente pode ser visto apenas como uma

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inconveniência, pois existem diversos outros bancos instalados no país onde é possível abrir uma conta corrente, podendo também serem consideradas
ins tuições de pagamento como eventuais alterna vas a uma conta corrente.
306. Além disso, a instrução também revelou que a racionalidade para o encerramento das contas correntes objeto da denúncia não é meramente
an compe va, conforme detalhado na seção V.3 Avaliação das jus fica vas dos Representados.

V.2.2. Sobre a essencialidade da conta corrente

307. No entendimento desta SG, a essencialidade de um produto ou serviço é um aspecto relevante, mas não determinante, na análise de
condutas relacionadas à recusa de contratar de uma forma geral. Diversos fatores devem ser sopesados para a análise adequada de um caso envolvendo a
conduta de recusa de contratar e, principalmente, em relação a doutrina de essen al facility[93].
308. Considerando a argumentação da ABCB exposta no parágrafo 51 desta Nota Técnica, quanto a uma suposta obrigatoriedade de uma empresa
manter uma conta corrente, esta SG avalia que essa é uma interpretação que estende em demasia o previsto na Lei nº 6.404, de 1976, que versa sobre
sociedades anônimas, podendo as empresas serem cons tuídas de outras formas e, além disso, a menção de obrigação de depósito é rela va a um
momento inicial de cons tuição da empresa e não quanto ao seu funcionamento regular. Sobre isso, vale transcrever trecho da argumentação do Itaú:
“104. O art. 80, III, da Lei 6.404/76 não obriga as corretoras de criptomoedas a manterem contas correntes em funcionamento. Em primeiro lugar,
esse ar go se aplica apenas à cons tuição de sociedades por ações, sendo certo que corretoras de criptomoedas podem adotar qualquer formato
societário alterna vo, e não necessariamente o de uma sociedade por ações. Inclusive, dentre as 13 corretoras oficiadas nos autos, apenas 2 se
apresentam como sociedades por ações.
105. Ademais, trata-se de ar go que dispõe apenas sobre a fase de cons tuição da sociedade anônima, um ato anterior a qualquer a vidade
operacional. Não há uma obrigação legal de manutenção da conta corrente durante o exercício da a vidade, após concluída a fase de
integralização do capital à qual a obrigação se aplica.
106. Por fim, o inciso em questão abre a possibilidade de a conta ser man da no Banco do Brasil ou em qualquer banco autorizado pela Comissão
de Valores Mobiliários - ainda que por hipótese o Itaú Unibanco recusasse a abertura de conta para uma sociedade anônima em fase de
cons tuição, haveria diversos outros bancos como opções para isso, não podendo ser atribuída uma consequência concorrencialmente relevante
a tal recusa. Destaca-se que a Comissão de Valores Mobiliários autorizou todos os bancos comerciais a receberem a realização inicial do capital em
dinheiro.
107. O art. 205, §19, da Lei 6.404/76 também não obriga as corretoras de criptomoedas a manterem contas correntes em funcionamento. Como
já informado, trata-se de norma direcionada a sociedades anônimas, especificamente. Ademais, o parágrafo em questão ins tui possibilidade de
pagamento de dividendos por cheque ou crédito em conta corrente - não obrigação de pagamento por algum desses meios. O pagamento de
dividendos pode, por exemplo, ser feito em bens “ (doc. SEI nº 0670936)
309. Conforme argumentado na seção anterior, esta SG diverge da Representante sobre contratar conta corrente livremente com diversos bancos,
não há que se considerar um insumo essencial a contratação de um pacote de contas correntes. Quanto à contratação de uma conta corrente, não será
necessário definir nesta Nota Técnica se está presente a essencialidade dessa contratação neste caso, de vez que a essencialidade de um produto ou serviço
é um aspecto relevante, mas não determinante, na análise de condutas relacionadas à recusa de contratar. ”

V.3. Avaliação das jus fica vas dos Representados


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V.3.1. Ausência de CNAE - iden ficação das corretoras de criptomoedas

310. O Inter afirmou (doc. SEI nº 0495682, pág. 3) possuir quatro clientes “(...) que atuam como corretoras de criptomoedas, conforme
informações por eles prestadas” (g.n.). Para a ABCB, isso contestaria os outros bancos quando argumentam que as corretoras não informam corretamente
sua atuação com criptomoedas. Todavia, verifica-se nos autos deste IA que (ACESSO RESTRITO AO CADE). Portanto, esta SG interpreta que o Inter, assim
como os demais bancos, somente contabilizou em sua resposta as corretoras que informaram corretamente (ou completamente) que atuam com
criptomoedas. Essa foi uma argumentação comum dos Representados, que estariam fornecendo as informações de seu conhecimento, pois não nham um
dado ou mecanismo, como um CNAE específico para a vidades com criptomoedas, que pudessem usar para filtrar de suas bases de clientes todas as
corretoras de criptomoedas.
311. A argumentação dos bancos, sobre a ausência de um CNAE específico, diz respeito à dificuldade para iden ficar corretoras de criptomoedas
em suas bases de dados, de modo a sugerir sua boa-fé em atender os ques onamentos do Cade, ao alertar esta SG sobre possíveis divergências,
evidenciando que não eram casos de omissão ou enganosidade.
312. Portanto, não é correto deduzir que a ausência de informação de CNAE teria sido mo vo para o encerramento das contas das corretoras de
criptomoedas por parte dos bancos, como pretendeu a Representante, mas tão somente que, sem essa codificação propiciada pelo CNAE, os bancos não
puderam garan r a completude de informações prestadas ao Cade, não puderam garan r ter enviado informações sobre todas as corretoras de
criptomoedas.
313. Para esta SG, a eventual ausência de informação sobre alguma corretora por parte de algum banco não prejudicou a presente análise, tendo
em vista a obtenção de informações de dezoito corretoras de criptomoedas.

V.3.2. Quanto à ausência de mo vos dos bancos

314. A Representante e as corretoras de criptomoedas argumentaram sobre a ausência de mo vos, ou do detalhamento dos mo vos, quando os
bancos comunicam unilateralmente o encerramento de contas correntes ou a recusa em abrir uma conta corrente, conforme descrito na seção “II.3.5. Sobre
a ausência de mo vos”.
315. Relembrando, a Representante alega que os bancos muitas vezes informavam mo vos genéricos, como “desinteresse comercial”, sem
detalhar as situações que levaram à decisão de encerramento da conta ou, ainda, que permi ssem às corretoras apresentarem suas explicações e, assim,
evitar o fim do relacionamento comercial.
316. Por sua vez, ao longo da seção “IV.2. Manifestação dos Representados”, os Representados explicaram que estão obrigados por força de
normas legais a não comunicar expressamente os mo vos da decisão de encerramento de conta quando a mo vação es vesse relacionada a indícios de
lavagem de dinheiro e que a obrigação ao encerrar a conta corrente consis a, basicamente, em comunicar previamente essa decisão. O art. 12, da
Resolução nº 2.025, de 1993, do BCB[94], não contêm obrigação de mo var o encerramento de uma conta corrente, contendo apenas a obrigação de
conceder um aviso prévio em prazo previsto na ficha-proposta de abertura da conta. Note-se que no trecho da decisão judicial transcrito abaixo, depreende-
se o mesmo entendimento, pois a decisão ficou mo vada, em síntese, apenas pela falta de comprovação do aviso prévio e, além disso, a decisão reconhece
a possibilidade do encerramento da conta:

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“Entendo ser ilícita a resilição do contrato por parte do réu, considerando que não houve comprovação de que a autora foi previamente no ficada
acerca do encerramento da conta bancária.
Explico.
No [sic] obstante o fato de ninguém ser obrigado a se vincular ou a permanecer vinculado a um contrato, é certo que o encerramento da conta
bancária da autora, apesar de possível, só poderia ocorrer mediante comunicação prévia e escrita da corren sta, tendo em vista o disposto no
ar go 473 do Código Civil e 12, inciso I, da Resolução n° 2.025/1993 do Banco Central do Brasil, disposi vos (...)
Analisando o processo, verifico que o réu não se desincumbiu do ônus de demonstrar que a autora foi previamente prévia [sic] no ficada acerca
do encerramento da conta bancária, visto que o documento de id. 25090242 não demonstra que a no ficação de Id. 25090209 foi encaminhada
ao endereço da autora. “ (g.n.) (doc. SEI nº 0580306, págs. 2 e 3).
317. Essa é uma questão que consta dos autos deste IA, com a Representante e algumas corretoras alegando o descumprimento desse aviso
prévio. Todavia, na opinião desta SG, o eventual não cumprimento desse aviso prévio é uma questão de competência do órgão regulador, do BCB, e não tem
relação direta com a análise de uma suposta conduta an concorrencial[95] neste IA.
318. Note-se que esse art. 12 da Resolução nº 2.025, de 1993, prevê expressamente a hipótese de “rescisão do contrato de conta de depósitos à
vista por inicia va de qualquer das partes” (g.n.); além disso, o art. 13 do mesmo norma vo determina que “A ins tuição financeira deverá encerrar conta
de depósito em relação à qual verificar irregularidades nas informações prestadas, julgadas de natureza grave” (g.n.). Assim, esses dois disposi vos do
norma vo do BCB devem ser considerados na análise, afinal, são disposi vos com significante teor discricionário por parte dos bancos e que, caso limitados,
poderiam vir a causar problemas inclusive de cunho jurídico para estes.
319. Assim, do ponto de vista da SG, há embasamento nas normas de regulação do setor para as decisões dos bancos por encerrar ou não abrir
contas correntes e são sa sfatórias as explicações fornecidas pelos Representados, incluindo os documentos exemplifica vos e comprobatórios anexados
aos autos de acesso restrito ao Cade sobre eventuais indícios de lavagem de dinheiro, que mo varam vários dos encerramentos das contas correntes.
320. Vale reforçar a explicação dos Representados que, ao considerar alguma transação ou movimentação financeira suspeita de lavagem de
dinheiro, isso não cons tui juízo de valor ou atribuição de crime, pois obviamente não cabe aos bancos concluir se houve ou não crime de lavagem de
dinheiro, mas apenas apontar aos órgãos de controle operações que considerem suspeitas.
321. Assim, dentre os casos ilustrados nos autos, esta SG não considera a ausência de mo vos detalhados para o encerramento de contas
correntes um indício de conduta an compe va por parte dos Representados. Ao contrário, há racionalidade nas decisões dos bancos para o fechamento
de contas correntes, ou recusa em abri-las, e esta racionalidade não está condicionada a uma eventual mo vação para tal a tude, até mesmo porque em
determinadas situações já citadas nesta Nota Técnica, o banco está proibido de comunicar a real mo vação ao seu cliente, sob pena de atrapalhar as
inves gações pelas autoridades competentes.

V.3.3. Prevenção à lavagem de dinheiro

322. A seção “II.5.6. Polí cas de prevenção à lavagem de dinheiro” contém um brevíssimo resumo de polí cas de compliance e PCLD aplicadas
pelas corretoras de criptomoedas. Os Representados argumentaram à exaustão nos autos deste IA sobre a relevância das polí cas de PCLD e a forte
regulação a que estão subme dos, e, ainda, opinaram que não percebem, de modo geral, uma aplicação efe va de normas de compliance e PCLD por parte
das corretoras.
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323. A ABCB contestou[96] argumentação do Itaú reiterando que as corretoras de criptomoedas possuem polí cas de compliance e exigem
informações de seus clientes, para argumentar que os Representados não poderiam alegar que um setor não regulado cons tuiria um risco para o SFN,
comparando com uma “banca de verduras” que também seria um setor não regulado e não ofereceria qualquer risco. Não procede tal argumentação da
Representante, tendo os Representados argumentado que são as a vidades relacionadas a criptomoedas que cons tuem risco e não o fato do setor não ser
regulado.
324. Note-se que a vidades de risco para PCLD em setores não regulados, como pessoas sicas que comercializam bens de luxo ou an guidades,
estão sujeitas expressamente à Lei da PCLD[97], o mesmo não ocorrendo, ao menos de forma expressa, com a vidades relacionadas a criptomoedas.
325. Considerando as informações trazidas aos autos pelas corretoras de criptomoedas sobre suas polí cas de PCLD, esta SG conclui que a
intensidade de aplicação de polí cas de PCLD por parte das corretoras não é uniforme, oscila, com exemplos de corretoras declarando não ter recursos para
isso e, em outro extremo, algumas corretoras descrevendo polí cas aparentemente bem desenhadas e efe vas, entre as quais, corretoras que atenderam
as exigências (ACESSO RESTRITO AO CADE) para manter as contas correntes abertas. Na opinião desta SG, ao responder sobre medidas que adotam
relacionadas a PCLD, predomina nas corretoras a percepção de que isso seria uma obrigação dos bancos e somente a aplicação de polí cas de PCLD por
parte dos bancos seria suficiente. E isso confirma a argumentação dos Representados quanto a não aplicação efe va de normas de PCLD por parte das
corretoras. Em suma, verifica-se a assimetria argumentada pelos Representados quanto à regulação e aplicação de polí cas de PCLD.
326. A tulo de exemplo dessa aplicação, (ACESSO RESTRITO AO CADE):
“O (ACESSO RESTRITO AO CADE)"
327. O posicionamento predominante entre as corretoras (não todas, diga-se) aponta que elas consideram suficiente a aplicação de polí cas de
PCLD por parte somente dos bancos, considerando que todos os recursos financeiros que chegam às corretoras passariam pelos bancos. A ABCB também
sustenta isso, conforme exemplo de trecho já transcrito:
“(...) referidos valores chegam à conta das corretoras sempre e somente por meio de transferências bancárias, ou seja, são valores que já está
dentro do próprio Sistema Financeiro Nacional e, portanto, previamente subme dos aos devidos processos de KYC [Know Your Customer[98]] e
AML [An -Money Laundering[99]]. ” (doc. SEI nº 0513256, pág.3)
328. Para esta SG, isso não parece coerente com a argumentação das corretoras serem concorrentes dos bancos. Apresentam-se as corretoras de
criptomoedas como concorrentes (em algum mercado relacionado a produtos financeiros ou mesmo a meio de pagamento) dos bancos, mas a
responsabilidade e os custos de polí cas de PCLD seriam dos bancos. É fato que, até o momento, não há obrigação legal, exceto pela recente IN RFB 1888,
ou regulação sobre as corretoras de criptomoedas, mas, em linhas gerais, esta SG concorda com a argumentação dos Representados sobre a inadequação
dessa abordagem de diversas corretoras de criptomoedas quanto à aplicação de polí cas de PCLD. Ademais, a falta de uniformidade na aplicação de
polí cas de PCLD por parte das corretoras reforça a racionalidade por trás dos encerramentos de contas de algumas corretoras de criptomoedas, haja vista
que ela coloca em risco a segurança dos bancos aqui representados.

V.3.4. Riscos rela vos às a vidades de criptomoedas

329. Ao afirmar que os bancos estariam discriminando as corretoras de criptomoedas, por serem concorrentes dos bancos, a ABCB argumenta
que:

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“O que o Banco Santander deixa de esclarecer nestes autos, assim como todos os outros bancos inves gados, é a razão por que considera o
segmento de criptoa vos um ‘risco à saúde do Sistema Financeiro’. Lembre-se, neste contexto, que não há qualquer manifestação de entes
reguladores neste sen do: nem Banco Central, nem CVM, nem COAF, tampouco a Receita Federal ou qualquer outro ente regulador, nacional ou
estrangeiro ou organismo internacional. “ (doc. SEI nº 0649596, pág. 3)
330. Todavia, os Representados informaram o oposto nos autos, e estão listados no parágrafo 194 exemplos de alertas de reguladores e órgãos em
relação aos riscos relacionados às criptomoedas. A tulo de exemplo, o O cio Circular nº 1/2018/CVM/SIN da CVM, informa que a CVM não considera
criptomoedas um a vo financeiro e, portanto, não permite a aquisição de criptomoedas por fundos de inves mentos e prossegue afirmando que “(...) há
ainda muitos outros riscos associados a sua própria natureza (como riscos de ordem de segurança ciberné ca e par culares de custódia), ou mesmo ligados
à legalidade futura de sua aquisição ou negociação.”(g.n.) Vale transcrever trecho desse O cio:
“Entretanto, não custa repisar, mais uma vez, que as discussões existentes sobre o inves mento em criptomoedas, seja diretamente pelos fundos
ou de outras formas, ainda se encontram em patamar bastante incipiente, e convivem, inclusive, com Projeto de Lei em curso, de nº 2.303/2015,
que pode vir a impedir, restringir ou mesmo criminalizar a negociação de tais modalidades de inves mento. “ (g.n.)
331. Por sua vez, o Comunicado nº 31.379, de 2017, do BCB, alerta sobre os riscos decorrentes de operações de guarda e negociação das
denominadas moedas virtuais (criptomoedas). Além dessa lista de alertas de diversos órgãos, encontra-se com facilidade no cias relacionadas a
criptomoedas, fraudes e pirâmides financeiras. Desnecessário apresentar exemplos dessas no cias.
332. A essas no cias, acrescente-se a questão do anonimato relacionado a criptomoedas, que pode representar um risco ainda maior do que já
consta nos autos, conforme depreende-se de informações veiculadas em sites especializados, transcritas a seguir:
“A Monero é uma criptomoeda que promete total anonimato, em oposto ao rela vo anonimato oferecido pela Bitcoin. Seu sistema não-rastreável
permite maior privacidade ao usuário ao ocultar completamente o remetente, o des natário e a quan a da transação. Como já observado, isso
pode ser uma possibilidade para negócios e transações ilegais. “[100] (g.n.)
“(...) nascia a criptomoeda mais anônima e privada de todos os tempos. Por meio de um fork o projeto Monero (XMR) não só deu privacidade com
as tecnologias existentes, como também ajudou nas pesquisas sobre novas formas de manter sua privacidade contra governos e grandes
corporações.
A criptomoeda viu seu valor subir em mais de 7.000% nos úl mos 3 anos, se tornando a 12° com maior valor de mercado. “[101] (g.n.)
“Apesar de ser a líder nesse mercado de privacidade, nos próximos meses e anos o XRM irá encontrar adversários cada vez maiores.
O Bitcoin estar caminhando para implementar o Taproot, uma tecnologia que permi rá não apenas transações mais privadas, mas também a
criação de contratos inteligentes. ”[102] (g.n.)
“Zcash é uma criptomoeda descentralizada e open-source que oferece privacidade e transparência sele va das transações. Pagamentos Zcash são
publicados em um blockchain público, mas o remetente, des natário e quan a de uma transação permanecem privados.
Ele transpõe o esquema de pagamento transparente existente e usado pelo Bitcoin com um esquema de pagamento blindado. Este sistema é
garan do por argumentos de conhecimento não-intera vos sucintos e de conhecimento zero, conhecidos como zk-SNARKs. “[103] (g.n.)
“Grin é uma criptomoeda recente que teve sua rede principal lançada no dia 15 de janeiro de 2019. É um projeto de implementação do protocolo
MimbleWimble, que foi sugerido por (...)

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A Blockchain do Bitcoin foi criada com o intuito de sanar o problema de criar um banco de dados descentralizado que fosse honesto e seguro.
MimbleWimble, por outro lado, vem com a ideia de criar uma Blockchain anônima, mais leve e escalável. “[104] (g.n.)
333. Portanto, a SG concorda com as alegações dos representados que a vidades relacionadas às criptomoedas podem conter risco alto,
independente da ausência de regulação, mas inerentemente ligado às possibilidades que envolvem criptomoedas, como exemplificado acima, como
anonimato total de seus portadores, de transferências internacionais, de fraudes, de pirâmides financeiras e até mesmo que a vidades relacionadas a
negociação de criptomoedas venham a ser criminalizadas.

V.3.5. Quanto à concorrência com os bancos

334. Para a ABCB, as corretoras de criptomoedas são empresas da inovadora economia digital e seriam concorrentes dos bancos em produtos e
serviços financeiros, além de meios de pagamento alterna vos. Contudo, na opinião da SG, os autos não mostram evidências da existência da concorrência
efe va entre criptomoedas e produtos financeiros ofertados pelos bancos, ao menos no momento, mas evidenciaram que eventual concorrência é uma
possibilidade para o futuro.
Bitcambio: “(...) de um setor [criptomoedas] que certamente concorrerá com os bancos mais fortemente no futuro (concorrência potencial), e que
já concorre com os bancos atualmente em diversas a vidades, como pelos recursos financeiros dos clientes, oferta de produtos de inves mento,
inovação financeira u lizando tecnologia de blockchain e processamento de pagamentos, por exemplo. “ (g.n.) (doc. SEI nº 0540595, pág. 47)
Parecer Econômico (solicitado pela ABCB): “2. As transações com criptoa vos vêm crescendo aceleradamente e têm potencial disrup vo sobre as
a vidades de intermediação financeira, podendo vir a subs tuir alguns serviços bancários e, assim, ameaçar o lucro e a posição dominante de
bancos estabelecidos. “ (g.n.) (doc. SEI nº 0605107, pág. 3)
335. Embora a Bitcambio considere que as corretoras já concorrem com os bancos, conforme mostrado nos parágrafos 167 a 172, não há indícios
de criptomoedas como meio para processamento de pagamentos de forma relevante e tampouco são consideradas a vos financeiros pela CVM, até o
momento, não tendo, portanto, a mesma abrangência que produtos de inves mentos do mercado bancário. Esta SG conclui que uma suposta inovação
financeira ou processamento de pagamentos não são a realidade atual das corretoras de criptomoedas, ao menos no Brasil.
336. Algumas corretoras de criptomoedas, por sua vez, também argumentaram que os bancos são seus concorrentes e discorreram sobre o
interesse de alguns Representados em atuar com blockchain e criptomoedas (vide parágrafo 140).
337. Foi citado, por exemplo, que o Itaú organizou palestra sobre blockchain e Bitcoin para seus funcionários. O Itaú esclareceu que a tecnologia
blockchain pode ser u lizada em diversas aplicações como registro de imóveis, direitos autorais, testamentos, e que inves mentos de bancos nessa
tecnologia não podem ser confundidos com atuação em criptomoedas. Na opinião desta SG, uma palestra é um evento de caráter informa vo e pode ser
interpretado de diversas formas que não implicam necessariamente a entrada do banco na a vidade de corretagem de criptomoedas. Ademais, tal como
dito pelo Itaú, de fato a tecnologia blockchain pode ser u lizada de diversas formas dentro do por ólio de produtos atuais dos bancos, e não
necessariamente apenas para a comercialização de criptomoedas.
338. Alegou-se também que o Itaú já teria anunciado a entrada nesse mercado por meio da XP Inves mentos, empresa na qual o Itaú tem
par cipação. Em no cia[105] sobre essa entrada, Guilherme Benchimol, presidente da XP Inves mentos, declarou que “A corretora será totalmente
separada da nossa holding financeira (...)” e “No futuro, caso a legislação permita será integrada à empresa. ”(g.n.) Essa corretora é a XDEX, e, conforme
veiculado em seu site[106], a XDEX é uma empresa inves da por XP Controle Par cipações e General Atlan c. Nesse sen do, argumentou o Itaú:
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“67. Em relação à XP Inves mentos ou melhor, à XDEX: ao contrário do que (...) descreve em seu parecer (SEI 0605107, p. 36), a XDEX não faz
parte do Grupo Itaú Unibanco, pois essa empresa não integrou o conjunto de a vos da operação entre Grupo Itaú Unibanco/XP Inves mentos.
Como já divulgado pela XP Inves mentos[107], a XDEX é uma empresa inves da por XP Controle Par cipações (acionista da XP Inves mentos em
que o Itaú Unibanco não detém par cipação societária[108]) e da General Atlan c, que não se relaciona à XP Inves mentos, da qual o
conglomerado Itaú Unibanco é acionista. (ACESSO RESTRITO ao Itaú) (...)
70. (...) não faz nenhum sen do a acusação de que o Itaú Unibanco estaria deixando de ofertar seus serviços para corretoras de criptomoedas
com o intuito de beneficiar uma operação própria concorrente, na medida em que (i) a XDEX não integra o conjunto de a vos relacionado à
operação Itaú Unibanco/XP; (ii) a XDEX, tal como outras corretoras de criptomoedas, não tem conta corrente no Itaú Unibanco; e (iii) o Itaú
Unibanco não realiza operações com criptoa vos para terceiros ou de forma ca va. “ (docs. SEI nº 0670936 e nº (ACESSO RESTRITO ao Itaú))
339. As corretoras mencionaram que Itaú, Bradesco e Santander estariam inves ndo e desenvolvendo aplicações em blockchain. Ora, as
criptomoedas baseiam-se nessa tecnologia, que pode ser usada para diversas outras finalidades e, portanto, inves mentos em blockchain, por si só, não são
indica vos de atuação dos bancos como corretoras de criptomoedas. Essa menção aos bancos não altera a opinião desta SG em relação a não concorrência
dos bancos com as corretoras de criptomoedas atualmente, podendo isso vir a ocorrer no futuro, notadamente quanto tais a vidades es verem
devidamente regulamentadas pelos órgãos competentes, tais como o BCB e a CVM.
340. Por fim, afirmou-se que o Santander iria criar criptomoedas junto com outras ins tuições financeiras, mas basta acessar o link[109] para a
no cia apontada pela corretora e ler que “(...) seis dos maiores bancos mundiais revelaram uma série de passos para execução de projeto facilitador para
emissão de moedas digitais por bancos centrais (...)” e que “(...) os gerentes do projeto es veram em contato com bancos centrais e reguladores para
garan r que USC [projeto U lity Se lement Coin] cumpra todos os requisitos, tais como a polí ca de proteção de dados ou segurança ciberné ca.“
341. Segundo essa no cia, esse não é um projeto que guarde similaridades com a abertura de uma corretora de criptomoedas e os par cipantes
do projeto estão em busca de orientação junto aos órgãos reguladores antes de iniciar operações, em diferença significa va com a atual ausência de
regulação incidente sobre as corretoras de criptomoedas que já estão em plena a vidade, além de ser um projeto em desenvolvimento fora do Brasil, e,
portanto, sem relação com os mercados relevantes deste IA, todos de âmbito nacional.
342. Assim, em oposição ao argumentado pela Representante e por algumas corretoras, esta SG considera que as corretoras de criptomoedas não
concorrem atualmente com os bancos, nem podem, no momento atual, ser consideradas concorrentes potenciais, dado o elevado grau de incertezas que
cercam a a vidade de criptomoedas. Como dito anteriormente, esta SG entende que, uma vez regulamentadas, as criptomoedas poderão vir a concorrer
com os produtos financeiros ofertados pelos bancos incumbentes e fintechs, mas essa ainda é uma hipótese de di cil previsão.

V.3.6. Sobre o Parecer Econômico (solicitado pela ABCB)

343. A ABCB anexou aos autos em 17 de abril de 2019 Parecer Econômico (doc. SEI nº 0605107 e nº (ACESSO RESTRITO à ABCB)) sobre o presente
IA.
344. Esta SG reconhece e concorda, em linhas gerais, com a asser va sobre a concentração no mercado bancário e sua baixa rivalidade;
entretanto, para a apuração se as condutas em análise neste IA cons tuem infração à ordem econômica, conforme o exposto nas seções anteriores, a
prestação de serviço de uma conta corrente é plenamente subs tuível por qualquer banco instalado no país, independente de seu tamanho, concluindo
assim que os Representados não dispõem, isoladamente, de capacidade de restringir o acesso a uma conta corrente no país às corretoras de criptomoedas.

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Ademais, esta SG também entende que não seria aplicável aqui a tese de dominância cole va, pois apesar de os 5 maiores bancos comerciais do país
deterem uma par cipação relevante dos mercados de serviços bancários em geral, pelas par cularidades mencionadas anteriormente do "insumo" conta
corrente, não há como se restringir, por completo, o acesso das corretoras a uma conta corrente e ao Sistema Financeiro Nacional.
345. Quanto à indicação no Parecer sobre a suposta necessidade de acesso, pelas corretoras, a diversas contas correntes (em especial nos grandes
bancos) para redução de custos de transferências e incremento de sua capacidade de compe ção, não se vê, no momento, indícios de que tal acesso
deveria ser universal, como preceitua o Parecer, e avalia-se que as dezenas de corretoras de criptomoedas atuantes no país são indica vos de plena
concorrência, como aliás é citado no próprio Parecer: “É possível verificar que o mercado de corretoras de criptomoedas apresenta uma dinâmica bastante
compe va entre 2017 e 2018”[110].
346. Ademais, como já dito anteriormente, não se vê, claramente, uma concorrência entre as corretoras de criptomoedas e os produtos
financeiros ofertados pelos bancos, não havendo que se dizer, portanto, em vantagem compe va destes em relação às corretoras.
347. Isso considerado, com dezenas de corretoras de criptomoedas instaladas há alguns anos no país, se os efeitos de rede mencionados no
Parecer forem, de fato, primordiais para esse mercado, estão as corretoras em franca vantagem em eventual entrada dos bancos nesse mercado. Note-se
que os autos e o Parecer trazem elementos sobre o crescimento já alcançado das criptomoedas, incluindo inferências sobre a quan dade de detentores de
criptomoedas superar a de inves dores em bolsas de valores, de forma a enfraquecer o argumento sobre eventual corrida para beneficiar-se dos efeitos de
rede.
348. O Parecer Econômico (solicitado pela ABCB) também contesta a jus fica va dos Representados quanto a polí cas de PCLD, pois argumenta
que as datas de encerramento de contas não seriam condizentes com um “padrão temporal” esperado caso os bancos aplicassem suas polí cas de um
modo não-discriminatório e transparente, conforme trecho transcrito a seguir:
“Outro (ACESSO RESTRITO à ABCB)"
349. Esta SG compreende a hipótese apresentada no Parecer; todavia, além da jus fica va sublinhada na citação acima, fornecida pelo próprio
Parecer, considerando as informações trazidas aos autos, os Representados informaram sobre seus processos e polí cas de PCLD, e, em suma, há outras
possibilidades para iden ficar uma empresa suspeita de lavagem de dinheiro, por exemplo, e não necessariamente a busca “a va” por um nome de
corretora[111], ou CNPJ, ou descrição de a vidades na base de clientes. Uma delas é por meio das movimentações financeiras das corretoras, isoladamente
ou um conjunto de movimentações, que acionariam alertas nos sistemas de detecção de possíveis indícios de lavagem de dinheiro. Somente o fato de, por
vezes, ser um conjunto de movimentações e não apenas uma isoladamente, que aciona um alerta, já é suficiente para explicar a inexistência de um padrão
temporal, pois isso depende das corretoras e seus clientes, nessa possibilidade de iden ficação “passiva”.
350. Outra possibilidade trazida aos autos é a iden ficação de uma empresa suspeita, de qualquer setor de a vidade, se houver indícios de
lavagem de dinheiro incidindo sobre os sócios ou administradores dessa empresa (ou suas movimentações financeiras), em outra possibilidade de
iden ficação “passiva”. Assim, não se pode esperar um padrão temporal consistente nas datas de encerramento das contas correntes, e, portanto,
tampouco inferir a par r disso a invalidade das jus fica vas apresentadas pelos Representados.
351. Em outro argumento para contestar a jus fica va dos Representados quanto a polí cas de PCLD, o Parecer ques ona a ausência de
jus fica va (ACESSO RESTRITO à ABCB). A seção “V.3.2. Quanto à ausência de mo vos dos bancos” apresenta informações suficientes sobre as obrigações
norma vas a que estão subme dos os bancos, de forma a afastar essa argumentação trazida no Parecer.

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V.3.7. Sobre a ausência de regulação

352. Na opinião desta SG, diante de todo o exposto, o quadro atual de ausência total de regulação sobre a vidades relacionadas a criptomoedas
coloca as corretoras em uma situação paradoxal: se por um lado propicia liberdade de escolhas e atuação empresarial; por outro dificulta o estabelecimento
de um relacionamento comercial com o SFN, ao qual essa a vidade está relacionada.
353. Está em tramitação em Comissão Especial da Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei nº 2303, de 2015 (PL 2303/2015), que “dispõe sobre a
inclusão das moedas virtuais e programas de milhagem aéreas na definição de ‘arranjos de pagamento’ sob a supervisão do Banco Central do Brasil”,
alterando a Lei nº 12.865, de 9 de outubro de 2013, e a Lei da PCLD. Na jus fica va[112] do PL 2303/2015, esta SG destaca os seguintes trechos:
“As chamadas ‘moedas virtuais’ ganham cada vez mais destaque nas operações financeiras atuais.
Apesar de não haver ainda uma regulamentação nem nacional e nem internacional sobre a matéria, há uma preocupação crescente com os
efeitos das transações realizadas por meios destes instrumentos.
O assunto mereceu um relatório especial do Banco Central Europeu (BCE) em outubro de 2012[113], que foi atualizado em fevereiro de
2015[114]. Apesar de concluir pela desnecessidade da introdução imediata de uma regulação mais a va sobre as moedas virtuais, tal relatório
aponta um conjunto de riscos que devem ser devidamente monitorados. “ (g.n.)
354. Diante dos riscos mencionados ao longo desta Nota Técnica, é certo que os bancos, sob forte regulação, devem proceder com cautela na
ausência de parâmetros e suporte dos órgãos reguladores, para que possam amparar a construção de relacionamento empresarial sustentável para os
modelos de negócios de bancos e corretoras de criptomoedas. Nesse sen do, a tulo de exemplo, a seguir declaração do Itaú:
“64. (...) não há ainda segurança suficiente para operar com as corretoras de criptomoedas nos moldes atuais. A operação das corretoras deve
passar a ser regulada para que elas também se tornem obrigadas a seguir os mesmos parâmetros de verificação de origem e des nação dos
recursos que operam. Ainda que não se possa presumir que todos os recursos operados por essas corretoras estejam associados a origem ilícita, o
controle de PLD/CFT [prevenção à lavagem de dinheiro e ao financiamento ao terrorismo] não pode ser feito por amostragem; é necessário um
alto grau de segurança e rastreabilidade para todos os recursos operados pelo banco. Até que isso ocorra, os bancos não podem ser obrigados a
operar com exposição de risco maior do que aquela que entendam adequada para o seu modelo de negócio.“ (g.n.) (doc. SEI nº 0670936)
355. Da mesma forma, compreende-se a intenção da Representante e das corretoras de criptomoedas em solucionar o quadro atual de
instabilidade das contas correntes, uma vez que as situações de encerramento ou recusa em abrir conta corrente apuradas neste IA alcançam percentual
significa vo (vide seção “II.2. Síntese das condutas denunciadas - corretoras e contas correntes afetadas”), em um possível indica vo de falha de mercado.
356. Todavia, ainda que incumbido legalmente de competência para adotar diversas medidas perante empresas privadas, não é o Cade
competente e responsável por sanar todas as falhas de mercado. Há, por exemplo, uma considerável assimetria de informação entre as corretoras de
criptoa vos e as ins tuições financeiras. Estas úl mas, diante das incertezas, optam por não trabalharem com aquelas, mesmo abrindo mão dos
consideráveis fluxos monetários que podem originar-se das corretoras. Não fosse real o risco de responsabilização cível e penal dos bancos em admi r
clientes que não cumprem os critérios de segurança exigidos pelo SFN, não haveria racionalidade em se recusar a venda dos serviços financeiros por um
determinado banco, até porque, como já dito aqui algumas vezes, não há indícios de que criptomoedas concorram diretamente com os produtos financeiros
tradicionais ofertados por ins tuições financeiras.

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357. Nesse sen do, diante de todo o exposto, considerando não haver evidências de ilícitos an truste em decorrência da recusa em contratar de
alguns bancos frente a determinadas corretoras de criptomoedas, aliado ao fato de que os bancos aqui representados apresentaram jus fica vas razoáveis
para tal recusa, esta SG sugere o arquivamento do presente Inquérito Administra vo por entender que não há indícios de infrações à ordem econômica nos
temos da Lei nº 12.529, de 2011. Contudo, recomenda o envio desta Nota Técnica para que os órgãos listados a seguir tomem ciência da situação descrita
nesta inves gação e vivenciada pelas corretoras de criptomoedas, para que, em seu juízo de conveniência e oportunidade, adotem as medidas que julgarem
adequadas:
a) Secretaria de Advocacia da Concorrência e Compe vidade do Ministério da Economia;
b) Banco Central do Brasil;
c) Comissão de Valores Mobiliários; e
d) Comissão Especial da Câmara dos Deputados des nada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 2303, de 2015.

V.4. Resumo da análise da SG

358. Num primeiro cenário considerando uma conta corrente como o insumo da suposta conduta de recusa de contratar, esta SG concluiu que os
Representados não têm poder de mercado quanto a esse insumo, isoladamente, porque uma conta corrente tem as mesmas funcionalidades em qualquer
um dentre as dezenas de bancos instalados no país.
359. Em um segundo cenário considerando como o insumo essencial da suposta conduta de recusa de contratar como sendo um pacote de contas
correntes, em especial em grandes bancos, esta SG diverge que tal pacote de contas seja um insumo essencial, e enquadra tal pacote de contas correntes
como uma conveniência para obtenção de vantagens, para redução de custos com transferências de valores, sendo tais transferências viáveis u lizando-se
apenas uma conta corrente. Nesse segundo cenário, não foram detectados nos autos indícios de atuação conjunta dos Representados, descartando-se
avaliar seu poder de mercado conjuntamente.
360. Além disso, esta SG concluiu pela racionalidade das jus fica vas apresentadas pelos Representados quanto às condutas de recusa de
contratar no presente caso.
361. Em suma, sob a regra da razão, sem o requisito de poder de mercado e presentes jus fica vas aceitáveis para as condutas dos
Representados, conclui-se que não há indícios de infração à ordem econômica nas condutas em análise.

V.5. Avaliação da SG sobre o pedido de medida preven va

362. O Representante, em 25 de julho de 2019, encaminhou pe ção (doc. SEI nº 0642675) a esta SG reiterando a adoção de medida preven va,
conforme consta na seção “II.4. Do pedido de medida preven va”. Tendo em vista o exposto nesta Nota Técnica, que sugere o arquivamento do presente IA
por não encontrar indício de infração à ordem econômica nas condutas em análise, não há, portanto, que se cogitar em adotar qualquer medida preven va.

VI. CONCLUSÃO
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363. Diante do exposto, sugere-se o arquivamento deste Inquérito Administra vo, pela ausência, neste momento, de indícios de infração à ordem
econômica, nos termos dos ar gos 13, IV, e 66 e seguintes, da Lei nº 12.529, de 2011 c/c os ar gos 140 e seguintes do Regimento Interno do Cade em
vigor[115].
364. Vale alertar que o arquivamento do presente Inquérito Administra vo não tem o condão de validar o comportamento futuro em relação a
contas correntes e outros serviços relacionados a criptomoedas, tendo a análise sido realizada dada a condição atual de ausência de regulação e
consideradas razoáveis as jus fica vas apresentadas pelos Representados em relação às prá cas denunciadas, frise-se, mais uma vez, até o presente
momento.
365. Adicionalmente, recomenda-se o envio desta Nota Técnica aos órgãos listados a seguir, para a adoção das medidas que julgarem adequadas
relacionadas ao mercado de criptoa vos:
a) Secretaria de Advocacia da Concorrência e Compe vidade do Ministério da Economia;
b) Banco Central do Brasil;
c) Comissão de Valores Mobiliários; e
d) Comissão Especial da Câmara dos Deputados des nada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 2303, de 2015.
366. Estas as conclusões. Encaminhe-se ao Sr. Superintendente Geral.

[1] A ABCB informou em manifestação de 7 de janeiro de 2019 (doc. SEI nº 0565658, fl. 3) que alteração em seu estatuto social mudou sua razão social, trocando “Criptomoedas” (anterior)
por “Criptoa vos” (atual).
[2] Vide h ps://www.bcb.gov.br/acessoinformacao/perguntasfrequentes-respostas/faq_moedasvirtuais - acesso em 11.3.2019.
[3] Conceito definido na Lei nº 12.865, de 9 de outubro de 2013.
[4] Vide h ps://www.bcb.gov.br/en/#!/c/no cias/249 - acesso em 11.3.2019.
[5] Vide h ps://www.bcb.gov.br/acessoinformacao/perguntasfrequentes-respostas/faq_moedasvirtuais - acesso em 11.3.2019.
[6] Conforme seu site em h p://abcb.in/ - acesso em 8.3.2019.
[7] Segundo a Comissão de Valores Mobiliários, “os criptoa vos são a vos virtuais, protegidos por criptografia, presentes exclusivamente em registros digitais, cujas operações são
executadas e armazenadas em uma rede de computadores. “ E ainda afirma que “A propriedade desses a vos virtuais não é verificada pela comprovação da iden dade de seu detentor, mas
sim por uma senha secreta que, por meio de técnicas de criptografia, permite que as transações sejam realizadas de forma quase anônimas, sem que as partes tenham que revelar
quaisquer informações que não desejem. Assim, quem possuir a senha se torna o proprietário dos criptoa vos. Esses a vos podem ser negociados através de plataformas eletrônicas
(exchanges) ou bilateralmente, em negócios sem intermediação. “ Vide Série Alertas – Criptoa vos em h p://www.inves dor.gov.br/publicacao/Alertas/listaalertas.html - acesso em
12.3.2019.
[8] Bitcoin é o nome de uma moeda virtual ou criptomoeda. Segundo a CVM, “atualmente existem centenas de criptoa vos, dentre os quais o pioneiro e mais conhecido é o Bitcoin. “
[9] O cio nº 2484/2018/CADE (doc. SEI nº 0487226).
[10] O cio nº 2486/2018/CADE (doc. SEI nº 0487277).
[11] O cio nº 2487/2018/CADE (doc. SEI nº 0487321).
[12] Oficio nº 2488/2018/CADE (doc. SEI nº 0487324).
[13] O cio nº 2489/2018/CADE (doc. SEI nº 0487327).
[14] O cio nº 2490/2018/CADE (doc. SEI nº 0487331).

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[15] Capital Digital Aberto em resposta ao O cio Cade nº 4734/2018 (doc. SEI nº 0532172);
Braziliex Moedas Virt. Ltda. em resposta ao O cio Cade nº 4729/2018 (doc. SEI nº 0535211 e 0538972);
Atlas em resposta ao O cio Cade nº 4879/2018 (doc. SEI nº 0536446);
Profi y - Negócios Digitais S/S Ltda. em resposta ao O cio Cade nº 4735/2018 (doc. SEI nº 0537897);
BitBlue Tec. e Serv. Digitais S.A. em resposta ao O cio Cade nº 4736/2018 (doc. SEI nº 0537987);
Wall me Serviços Digitais Ltda. em resposta ao O cio Cade nº 4732/2018 (doc. SEI nº 0538563);
Foxbit em resposta ao O cio Cade nº 4733/2018 (doc. SEI nº 0538698);
BitcoinTrade Digital em resposta ao O cio Cade nº 4731/2018 (doc. SEI nº 0538698);
E-Juno em resposta ao O cio Cade nº 4737/2018 (doc. SEI nº 0538725);
Mercado Bitcoin em resposta ao O cio Cade nº 4730/2018 (doc. SEI nº 0539128);
Bitcambio em resposta ao O cio Cade nº 4737/2018 (doc. SEI nº 0540595);
CoinBR em resposta ao O cio Cade nº 4738/2018 (doc. SEI nº 0541773).
[16] Parecer de autoria do Prof. Dr. Paulo Furquim de Azevedo que, entre outras qualificações, foi Conselheiro do Cade entre 2006 e 2009. Currículo La es disponível em
h p://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4784215D8 .
[17] O cio nº 4525/2019/CADE (doc. SEI nº 0636045) e resposta (doc. SEI nº 0641668 e nº 0641669).
[18] O cio nº 4583/2019/CADE (doc. SEI nº 0636699) e resposta (doc. SEI nº 0645482).
[19] O cio nº 4585/2019/CADE (doc. SEI nº 0636704) e resposta (doc. SEI nº 0645017).
[20] O cio nº 4587/2019/CADE (doc. SEI nº 0636712) e resposta (doc. SEI nº 0642177).
[21] O cio nº 4589/2019/CADE (doc. SEI nº 0636716) e resposta (doc. SEI nº 0646405).
[22] O cio nº 4591/2019/CADE (doc. SEI nº 0636720) e resposta (doc. SEI nº 0640146).
[23] A CoinBr foi anteriormente oficiada por esta SG, de forma que as informações ob das foram atualizadas e consideradas como de uma única empresa.
[24] As informações fornecidas pelas corretoras de criptomoedas totalizam 275 páginas nos autos deste IA, as manifestações da ABCB representam 89 páginas e as dos Representados 138
páginas, não sendo considerados nesses totais os documentos anexos às manifestações.
[25] A Resolução nº 2.747, de 28 de junho de 2000, do CMN estabeleceu que a ficha-proposta (de abertura de conta de depósitos à vista) deve conter qual será o prazo para as providências
relacionadas à rescisão de contrato. Não há indica vo nos autos de norma vo es pulando qual seria esse prazo.
[26] “Art. 12. Cabe à ins tuição financeira esclarecer ao depositante acerca das condições exigidas para a rescisão do contrato de conta de depósitos à vista por inicia va de qualquer das
partes, devendo ser incluídas na ficha-proposta as seguintes disposições mínimas:
I - comunicação prévia, por escrito, da intenção de rescindir o contrato; (...)”
[27] Voto do então conselheiro Alexandre Cordeiro no Processo nº 08012.000504/2005-15: “32. Em defesa da concorrência qualifica-se como essen al facility o insumo essencial,
indispensável, para o fornecimento de um produto ou serviço. A essencialidade se caracteriza pelo fato de ser a um terceiro impossível replicar ou subs tuir o insumo sica ou
economicamente. Exige-se, portanto, mais que uma simples posição dominante a par r do controle de um a vo ou capacidade. Para se falar em essen al facility o acesso ao insumo/a vo
deve ser, na prá ca, indispensável. “
[28] Vide em h ps://www.interna onalcompe onnetwork.org/wp-content/uploads/2018/07/UCWG_SR_Re oDeal.pdf - acesso em 2.9.2019.
[29] Segundo o próprio site: “The ICN is an informal network of established and newer agencies compe on agencies with the common aim of addressing prac cal an trust enforcement and
policy issues. By enhancing convergence and coopera on, the ICN promotes more efficient and effec ve an trust enforcement worldwide for the benefit of consumers and businesses. ”
[30] Tradução livre, pág. 3 do Relatório mencionado na NR 28.
[31] Vide em h p://www.oecd.org/compe on/abuse/1920021.pdf - acesso em 3.9.2019.
[32] Para a finalidade desta Nota Técnica, esta SG entendeu ser suficiente transcrever o resumo do texto apresentado pela Representante, sem, portanto, buscar mais informações na fonte
da jurisprudência.
[33] Vide em h ps://europa.eu/rapid/press-release_IP-97-870_en.htm - acesso em 9.9.2019.
[34] Vide em h ps://www.swi .com/about-us/history - acesso em 9.9.2019.
[35] Vide em Statement of Grounds and Material Facts - h ps://www.ct-tc.gc.ca/CMFiles/0001b38IDH-3102004-3064.pdf - acesso em 9.9.2019
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[36] A taxa cobrada no saque de bitcoins é fixa, de 0.00018 bitcoins por saque.
[37] Conheça seu Cliente (tradução livre), polí ca de controle para validação de informações do cliente como parte das polí cas de prevenção de crimes de lavagem de dinheiro e
financiamento ao terrorismo.
[38] An lavagem de dinheiro (tradução livre)
[39] Transferência Eletrônica Disponível (“TED”) é modalidade de transferência de valores para uma outra ins tuição financeira, sendo o valor creditado em poucos minutos após a sua
autorização pelo cliente, se realizada em determinado horário (entre 7h e 17h).
[40] Documento de Ordem de Crédito (“DOC”) é uma modalidade de transferência de valores para uma outra ins tuição financeira, com o valor sendo creditado no dia ú l seguinte, se
solicitadas até 22h de dias úteis.
[41] Modalidade de transferência de valores entre contas na mesma ins tuição financeira, em geral a transferência é “instantânea” e sem custo.
[42] Vide art. 5º, inciso II da IN RFB 1888 - "exchange de criptoa vo: a pessoa jurídica, ainda que não financeira, que oferece serviços referentes a operações realizadas com criptoa vos,
inclusive intermediação, negociação ou custódia, e que pode aceitar quaisquer meios de pagamento, inclusive outros criptoa vos.
Parágrafo único. Incluem-se no conceito de intermediação de operações realizadas com criptoa vos, a disponibilização de ambientes para a realização das operações de compra e venda de
criptoa vos realizadas entre os próprios usuários de seus serviços. ”
[43] O Conselho de Controle de A vidades Financeiras (“Coaf”) foi transformado pela Medida Provisória nº 893, de 19 de agosto de 2019, e recebeu a denominação de Unidade de
Inteligência Financeira (“UIF”), com vinculação administra va ao BCB. Ao longo desta Nota Técnica, às menções a esse órgão podem ser feitas como Coaf ou UIF.
[44] Vide em h ps://blog.mercadobitcoin.com.br/o-que-%C3%A9-blockchain-a087538e9550 - acesso em 4.10.2019.
[45] Vide em h ps://suporte.mercadobitcoin.com.br/hc/pt-br/ar cles/360010319511-O-que-s%C3%A3o-carteiras-de-criptomoedas e h ps://blog.bitcointrade.com.br/conheca-o-que-e-
carteira-digital-e-quais-sao-os-principais- pos/ - acesso em 4.10.2019.
[46] Para transferir ou enviar uma criptomoeda, o sistema ponto a ponto, a rede de computadores associada à sua base de dados, a seu blockchain, tem dois obje vos para essa transação:
validar e registrar. Validar é verificar se a chave privada é correta e registrar é inserir na base de dados para onde foi, para qual carteira foi transferida a criptomoeda. Esses dois obje vos
envolvem cálculos matemá cos complexos e quem faz isso são, atualmente, computadores especializados conhecidos como “mineradores”, que são os “auditores” dos processos de uma
criptomoeda. Esses cálculos e a função dos mineradores servem para prevenir que criptomoedas sejam criadas “a par r do nada” e que seus portadores não efetuem gastos da mesma
criptomoeda mais de uma vez, gastos duplos, ou seja, impedem a clonagem de criptomoeda.
[47] Criptomoedas como Monero, Zcash e Grin conferem maior anonimato às transações.
[48] Em um cenário em que criptomoedas sejam u lizadas como meio de pagamento, é natural que alguns detentores de “carteiras” sejam conhecidos, como vendedores, lojistas,
produtores e outros agentes que recebam criptomoedas como pagamento por seus produtos ou serviços.
[49] Vide resposta da Bitcambio (grupo Citar Tech) ao O cio Cade nº 4692/2018 (doc. SEI nº 0540595, págs. 58 a 60).
[50] Vide h ps://lista.mercadolivre.com.br/criptomoedas/ - acesso em 28.10.2019
[51] Vide em h ps://br.sputniknews.com/economia/201709019250469-criptomoeda-bancos-mundiais-bitcoin/ - acesso em 7.10.2019.
[52] A corretora apontou para uma no cia em site com conteúdo exclusivo para assinantes. Todavia, em outro site pode-se ver no cia sobre o mesmo caso em
h ps://guiadobitcoin.com.br/santander-apos-pressao-dos-clientes-banco-libera-transacoes-envolvendo-bitcoin/ - acesso em 7.10.2019.
[53] Vide resposta da Braziliex ao O cio Cade nº 4729/2019 (doc. SEI nº 0535211, págs. 7 a 10).
[54] Com base em análise do Banco Mundial e da Interna onal Finance Corpora on, a resposta da Bitcambio (grupo Citar Tech) ao O cio Cade nº 4692/2018 (doc. SEI nº 0540595, págs. 56 a
58) contém crí ca similar a essa apontada na manifestação da Braziliex (com base em relatório do Reino Unido).
[55] Vide Anexo ao Parecer nº 12/2016/CGAA2/SGA1/SG/Cade (doc. SEI nº 0183983, parágrafos 39 a 60).
[56] Histórico da u lização dessas duas definições pode ser visto no Anexo ao Parecer nº 24/2017 (doc. SEI nº 0425434, parágrafos 14 a 21) do Ato de Concentração nº 08700.004431/2017-
16, que envolveu Itaú Unibanco S.A. e XP Inves mentos S.A. (“AC Itaú e XP”).
[57] No Ato de Concentração nº 08700.001642/2017-05 envolvendo Itaú Unibanco Holding S.A. e Banco Ci bank S.A. (“AC Itaú e Ci bank”), encontra-se no Anexo ao Parecer nº 16/2017
(doc. SEI nº 0361338, parágrafos 37 a 42) síntese do atual entendimento em relação à definição de mercados relevantes no setor bancário, para fins de análise an truste.
[58] Vide voto do então conselheiro relator João Paulo de Resende no Ato de Concentração nº 08700.010790/2015-41 (Requerentes: Banco Bradesco S.A.; HSBC Bank Brasil S.A. – Banco
Múl plo; e HSBC Serviços e Par cipações Ltda.) (doc. SEI nº 0211912, pág. 15).
[59] De 2013 a 2015 os valores incluem informações do HSBC (que foi incorporado pelo Bradesco).
https://sei.cade.gov.br/sei/modulos/pesquisa/md_pesq_documento_consulta_externa.php?DZ2uWeaYicbuRZEFhBt-n3BfPLlu9u7akQAh8mpB9yODvDjpdjNXGQs-AlMNZAEUPSy4u1BSa5zz00ISo6nwatPH8zn-SK… 69/72
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[60] Relatório disponível em h ps://www3.bcb.gov.br/ifdata/ - acesso em 26.2.2019. Dados do relatório “Passivo”, rela vos a Conglomerados Financeiros e Ins tuições Independentes ( po
de ins tuição). Considerados somente os valores de ins tuições financeiras “b1” no “Tipo de Consolidado Bancário -TCB”, que são: Banco Comercial, Banco Múl plo com Carteira Comercial
ou Caixas Econômicas.
[61] Considerando o total de a vos de dos por Bancos Comerciais, Caixas Econômicas, Bancos Múl plos com carteira comercial e Conglomerados Bancários I e II. Dados de junho/2018 e
disponíveis em h ps://www3.bcb.gov.br/ifdata/ - úl mo acesso (Foxbit) em 15.10.2018.
[62] Considerando a quan dade de clientes de Bancos Comerciais, Caixas Econômicas, Bancos Múl plos com carteira comercial e Conglomerados Bancários I e II. Dados de junho/2018 e
disponíveis em h ps://www3.bcb.gov.br/ifdata/ - úl mo acesso (Foxbit) em 15.10.2018.
[63] Visitando os links, observou-se que: (i) um anúncio explicita “(...) é a primeira clínica da Cidade de São Paulo e a segunda clínica médica no Brasil a receber esse po de pagamento[em
Bitcoin]”; (ii) a matéria, de 2014, sobre a fabricante de computadores aceitando bitcoin é rela va aos Estados Unidos; (iii) o link para página do Guia do Bitcoin com lojas que aceitam
bitcoins apresenta, notadamente, no cias de lojas estrangeiras; (iv) a loja de veículos que aceita bitcoin afirma em seu site “ser a única loja mul marcas a oferecer essa facilidade” (g.n.).
[64] Observação da SG: embora a corretora tenha mencionado a Bitblue como Ins tuição de Pagamento, vale destacar que não há qualquer indício nos autos ou no site da Bitblue nesse
sen do.
[65] A CNAE é uma das classificações esta s cas nacionais, que são definidas e monitoradas pela Comissão Nacional de Classificação, órgão colegiado e composto por membros de diversos
Ministérios e presidida pelo presidente da Fundação Ins tuto Brasileiro de Geografia e Esta s ca (“IBGE”).
[66] Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (“Enccla”) é uma rede de ar culação de diversos órgãos dos Poderes Execu vo, Legisla vo e Judiciário, para
formulação de polí cas públicas voltadas aos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. O trabalho da Enccla é concre zado nas chamadas Ações, as quais são elaboradas e pactuadas
anualmente pelos seus membros.
[67] Vide relatório da Ação 8 em h p://enccla.camara.leg.br/acoes/acoes-de-2017 - acesso em 17.9.2019.
[68] Vide em h ps://www.sec.gov/news/public-statement/statement-clayton-2017-12-11 - acesso em 17.9.2019. Por exemplo: “Other o en-touted features of cryptocurrencies include
personal anonymity and the absence of government regula on or oversight. Cri cs of cryptocurrencies note that these features may facilitate illicit trading and financial transac ons, and
that some of the purported beneficial features may not prove to be available in prac ce. ”
[69] Observação da SG: não foi informado a que período se referem tais encerramentos, todavia esta SG avalia que isso não é relevante no momento processual.
[70] O Bradesco iden ficou (ACESSO RESTRITO ao Bradesco).
[71] Vide (ACESSO RESTRITO ao Bradesco).
[72] O Inter iden ficou esses clientes na versão de acesso restrito (doc. SEI nº 0495683, pág. 4).
[73] Código Civil, Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002: “Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. ”
[74] O Itaú apontou pronunciamentos do STJ (doc. SEI nº 0496076, pág. 14, nota de rodapé 18).
[75] O Itaú anexou aos autos sua ”POLITICA CORPORATIVA DO PROCESSO CONHEÇA SEU CLIENTE – KYC” (ACESSO RESTRITO ao Itaú)
[76] Unidade de Inteligência Financeira do BCB (“UIF”, que sucedeu o Conselho de Controle de A vidades Financeiras – COAF).
[77] Vide na manifestação adicional do Itaú (doc. SEI nº 0670936, págs. 54 a 57).
[78] O primeiro cenário adota entendimento recorrente no Cade, como o u lizado no Ato de Concentração nº 08700.001642/2017-05 (Itaú e Ci bank), considerando bancos em geral
( pologia b1 nos relatórios do BCB), enquanto o segundo cenário u liza entendimento já adotado pela SG em alguns casos, por considerar os maiores bancos como um mercado relevante à
parte, por fatores como: diferença de escala, capilaridade da rede de atendimento e por ólio de produtos.
[79] Banco Itaú BBA S.A., Banco Itaucard S.A., Itaú Unibanco BM S.A. e Itaú Unibanco S.A.
[80] Vide na manifestação adicional do Itaú (doc. SEI nº 0670936, págs. 48 a 43).
[81] Vide manifestação adicional do Itaú (doc. SEI nº 0670936, pág. 17).
[82] Vide manifestação adicional do Itaú (doc. SEI nº 0670936, pág. 18, parágrafo 39).
[83] Descritas no texto um resumo de restrições. Vide restrições de a vidades e pessoas para manter conta corrente no Itaú na manifestação adicional (ACESSO RESTRITO ao Itaú).
[84] Em atenção à Lei Complementar nº 105, de 10 de janeiro de 2001 (que dispõe sobre o sigilo das operações de ins tuições financeiras e dá outras providências), (ACESSO RESTRITO ao
Santander).
[85] (ACESSO RESTRITO ao Santander).
[86] Vide na resposta ao O cio Cade nº 2486/2018 (ACESSO RESTRITO ao Santander).
https://sei.cade.gov.br/sei/modulos/pesquisa/md_pesq_documento_consulta_externa.php?DZ2uWeaYicbuRZEFhBt-n3BfPLlu9u7akQAh8mpB9yODvDjpdjNXGQs-AlMNZAEUPSy4u1BSa5zz00ISo6nwatPH8zn-SK… 70/72
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[87] Vide na resposta ao O cio Cade nº 2486/2018 (doc. SEI nº 0495248, págs. 18 a 21).
[88] Valores que se seguem foram apurados no período de novembro de 2017 a abril de 2018.
[89] Embora conste na resposta o Contrato como anexo, tal documento não foi juntado aos autos.
[90] Voto da conselheira Paula Farani de Azevedo Silveira (doc. SEI nº 0644436).
[91] Os fundamentos do an truste, Paula A. Forgioni.- 8ª ed. rev., atual e ampl. -São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015, pág. 368.
[92] Vide em h ps://blog.mercadobitcoin.com.br/o-que-%C3%A9-blockchain-a087538e9550 - acesso em 4.10.2019
[93] Nesse sen do a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (“OCDE“) já se manifestou em 2007, a respeito do papel dessa doutrina dentro do corpo jurisprudencial a
respeito da prá ca de recusa de contratar: “A doutrina sobre essen al facili es, que faz parte do corpo de jurisprudências sobre recusas de contratar, surgiu nos Estados Unidos. Embora, em
termos técnicos, ainda não esteja ‘morta’, ficou seriamente ‘manca’ devido a uma recente decisão da Suprema Corte [americana]. Analistas de ambos os lados do Atlân co, incluindo juízes,
têm cri cado agressivamente essa doutrina, assim como considerando-a supérflua e imprevidente. No entanto, parte da doutrina está indiscu velmente viva e bem na jurisprudência da
União Europeia sobre recusa de contratar, que exige que o produto relevante seja ‘indispensável’”. (g.n.) (tradução própria) . No original: “The essen al facili es doctrine, which is part of the
body of case law on RTDs, arose in the US. Although in a technical sense it is not dead there yet, it has been seriously hobbled by a recent Supreme Court decision. Commentators on both
sides of the Atlan c, including judges, have been sharply cri cal of the doctrine, as well, finding it to be superfluous and ill-advised. Nevertheless, part of the doctrine is arguably alive and
well in EU case law on RTDs, which requires the relevant product to be ‘indispensable’.” OCDE - Series Roundtables On Compe on Policy – Refusals to Deal – 2007 - DAF/COMP (2007). Vide
em h ps://www.oecd.org/daf/43644518.pdf - acesso em 18.3.2019.
[94] Vide art. 12 da Resolução nº 2.025, de 1993, do BCB.
[95] Idem quanto aos bloqueios e transtornos no uso de contas correntes relatados no parágrafo 46.
[96] Vide em manifestação da ABCB (doc. SEI nº 0513256, págs. 4 e 5).
[97] Vide art. 9º da Lei nº 9.613, de 1998, em especial os incisos XI e XII sobre os exemplos mencionados.
[98] Conheça seu Cliente (tradução livre), polí ca de controle para validação de informações do cliente como parte das polí cas de prevenção de crimes de lavagem de dinheiro e
financiamento ao terrorismo.
[99] An lavagem de dinheiro (tradução livre).
[100] Vide em h ps://www.poli ze.com.br/criptomoedas-o-que-sao-e-como-funcionam/ - acesso em 8.10.2019.
[101] Vide em h ps://coin mes.com.br/monero-faz-aniversario-de-5-anos-quais-os-diferenciais-dessa-criptomoeda/ - acesso em 8.10.2019.
[102] Vide em h ps://coin mes.com.br/monero-faz-aniversario-de-5-anos-quais-os-diferenciais-dessa-criptomoeda/ - acesso em 10.10.2019
[103] Vide em h ps://www.infomoney.com.br/cotacoes/zcash-zec/ - acesso em 7.10.2019.
[104] Vide em h ps://portaldobitcoin.com/grin-criptomoeda-seduzindo-mineradores/ - acesso em 7.10.2019.
[105] Vide em h ps://portaldobitcoin.com/xp-inves mentos-corretora-de-criptomoedas-bitcoin-e-ethereum/ - acesso em 9.10.2019.
[106] Vide em h ps://www.xdex.com.br/sobre - acesso em 9.10.2019.
[107] Vide em h ps://www.criptofacil.com/fernando-ulrich-esclarece-que-a-plataforma-de-criptomoedas-xdex-nao-tem-ligacao-com-a-xp-inves mentos/ - acesso em 22.10.2019.
[108] Nota de rodapé do Itaú: Como exposto no voto condutor da aprovação da operação pelo CADE: "Trata-se de Contrato ( ... ) entre os atuais acionistas da XP [Inves mentos S.A.J (XP
Controle Par cipações S.A., G. A. Brasil IV FTP, Dyna IR FIP e outros) e o Itaú [Unibanco S.A.J, por meio do qual o Itaú se comprometeu a realizar inves mento na XP - holding que consolida
todos os inves mentos do Grupo XP (...) Enquanto a Operação acarretará a saída completa das Sociedades G.A. Brasil IV FIP e Dyna III FIP do capital social da XP, o controle do capital votante
remanescerá com os atuais controladores da XP Controle Par cipações S.A."
[109] Vide em h ps://br.sputniknews.com/economia/201709019250469-criptomoeda-bancos-mundiais-bitcoin/ -acesso em 7.10.2019.
[110] Vide Parecer Econômico solicitado pela ABCB (doc. SEI nº 0605107, pág. 15).
[111] Note-se que algumas empresas operam publicamente com “nome fantasia”, que talvez nem constem nas bases de dados dos bancos.
[112] Acesso em 29.8.2019, vide em h ps://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=F9FFAF66DC119006F5AB1BECF37CBFA4.proposicoesWebExterno2?
codteor=1358969&filename=PL+2303/2015
[113] Virtual currency Schemes. European Central Bank.October, 2012 h ps://www.ecb.europa.eu/pub/pdf/other/virtualcurrencyschemes201210en.pdf
[114] Virtual Currency Schemes –a further nalaysis. February, 2015. h ps://www.ecb.europa.eu/pub/pdf/other/virtualcurrencyschemesen.pdf
[115] Regimento Interno do Cade aprovado pela Resolução nº 22, de 19 de junho de 2019, em vigor desde 24 de setembro de 2019.
https://sei.cade.gov.br/sei/modulos/pesquisa/md_pesq_documento_consulta_externa.php?DZ2uWeaYicbuRZEFhBt-n3BfPLlu9u7akQAh8mpB9yODvDjpdjNXGQs-AlMNZAEUPSy4u1BSa5zz00ISo6nwatPH8zn-SK… 71/72
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Documento assinado eletronicamente por Diogo Thomson de Andrade, Superintendente-Geral subs tuto, em 23/12/2019, às 17:42, conforme horário
oficial de Brasília e Resolução Cade nº 11, de 02 de dezembro de 2014.

Documento assinado eletronicamente por Mário Sérgio Rocha Gordilho Júnior, Coordenador-Geral, em 23/12/2019, às 17:49, conforme horário oficial de
Brasília e Resolução Cade nº 11, de 02 de dezembro de 2014.

Documento assinado eletronicamente por Tarcisio Henke Fortes, Analista de Planejamento e Orçamento, em 24/12/2019, às 13:32, conforme horário
oficial de Brasília e Resolução Cade nº 11, de 02 de dezembro de 2014.

A auten cidade deste documento pode ser conferida no site h p://sei.cade.gov.br/sei/controlador_externo.php?


acao=documento_conferir&id_orgao_acesso_externo=0, informando o código verificador 0699660 e o código CRC 81E07F53.

Referência: Processo nº 08700.003599/2018-95 SEI nº 0699660

https://sei.cade.gov.br/sei/modulos/pesquisa/md_pesq_documento_consulta_externa.php?DZ2uWeaYicbuRZEFhBt-n3BfPLlu9u7akQAh8mpB9yODvDjpdjNXGQs-AlMNZAEUPSy4u1BSa5zz00ISo6nwatPH8zn-SK… 72/72

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