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matute
crítica e dez 2019
fotografia recife
www.matuterevista.com
nota editorial da fotografia como convite ao matute
por Cecília Urioste
matutemos
então...
pelas melhores
imagens
de amanhã
06 10
no sertão também
existe “ETC“
no horizonte da vadiagem por Fabiana Moraes
por Mila Targino
17
disputando a imagem
do brasil: fotografia e
política na era vargas
por Maurício Lissovsky
24 30
a história do ouro
por Priscila Nascimento
a representação
das sobras
por Moacir dos Anjos
32
três perguntas para
cristiana dias
por Pedro Neves
Arlak
38
Rennan Peixe
OUTRA FOTO
-GRAFIA
42 40
Kalor Pacheco
44
Abiniel João
6
No horizonte
da vadiagem:
como observar
espectadores
em dia de anarquia
matute 7 revista de crítica e fotografia
para naturalizar a militância, ela é muito forte, tem Latina vai ser toda feminista!”, continuam as mu-
a capacidade de assustar. É também uma questão lheres, vociferando no oco do mundo.
de identificação com a política. Ela está para algu- As três personagens formam uma horizontalidade
mas mulheres, mas não está para todas. A escolha, que só funciona para elas mesmas; independem
nesse sentido, é totalmente legítima, enquanto a da existência alheia, sobretudo a que se espalha-
cidadania se torna um aprendizado. va na longa marcha das vadias. Vivem em bolhas
Subsequentemente, temos a mulher de blusa fechadas que já determinaram, de antemão e por
listrada. Escorando, com a ponta dos dedos, o pé todo vínculo ideológico, seus caminhos. Não se
direito sobre a sandália, ela mostra a enfadonha contaminam. A pichação vertical “Temer golpista”
expressão corporal das mãos apoiadas na cintura. atravessa essa horizontalidade como lança, mas
Mantemos viva a memória desse gesto; ele surge, os conformados não saem feridos. Ao menos, não
sobretudo, nos momentos de repreensão. A felici- conscientemente. O primeiro plano da fotografia,
dade não surge com as mãos na cintura, mostran- preenchido pela extensão da calçada, insinua essa
do franco cansaço nas pernas. Nesse estado de distância dos propósitos sociais.
coisas, ou a paciência sumiu ou a raiva já transbor- Abismado com a cena dos acuados no passeio,
dou. Olhos desviados demonstram o quão descon- o garoto, no canto da imagem, funciona como
fortável pode ser o momento. “Êta, êta, êta, êta, um ponto de fuga. Olhar para ele é também bater
Eduardo Cunha quer comandar minha buceta”. Na em retirada. Com sorte, talvez ele traga uma nova
velha avenida, continua o som em fúria. geração apartada do medo da força. Da força das
No meio de uma marcha de vadias, a saia no mulheres, é claro! Na contabilidade matemática
joelho contrasta. Ela significa o recato no campo final, tão ao gosto da perversidade brasileira, a res-
da religião e a consequente falta de liberdade de posta é cultural: para o anarquismo, toda liberdade
expressão na política. Há de se compreender. Em é plenitude; para o conservadorismo, todo controle
certo sentido, ainda que não em todos, a doutrina é escassez.
de fé encarcera a percepção: só olhamos o que é
permitido moralmente. Paciência, estamos diante > Mila Souza é doutora em Comunicação
pela UFPE, artista visual e escritora.
de uma práxis social. Totalmente alijadas do Esta-
do, mulheres também se “defendem” nos limites
impostos pelas paredes das igrejas.
Em seguida, temos um homem que se apoia em
muletas. No campo das formações imaginárias, ele
também segue na corda bamba, cuidando do an-
dar. Apoia o peso do corpo no quadril, dispõe um
olhar diretivo; no entanto, assim como as mulhe-
res na calçada, não sai do lugar estável. Homens
costumam ser criados para erguer a cabeça o todo
tempo. O espectro do machismo é amplo. Também
faz sofrer masculinidades. Não deve ser fácil! “Se
cuida, se cuida, se cuida seu machista, América
10
No Sertão
também
existe“etc”
texto Fabiana Moraes
frames Dia de Pagamento
Nossos bancos de
imagens só reiteram
clichês sobre um sertão
mítico congelado num
passado remoto.
Que outros sertões
emergem quando
olhamos para além
das representações
cristalizadas?
matute 11 revista de crítica e fotografia
cia, a seca e o desfile de moda. Mas a oposição, para suas casas com luz elétrica, sabendo que em
como nos lembra Durval Albuquerque Júnior, nos alguns lugares distantes do Brasil a “verdadeira
leva a lugares perigosos e preguiçosos, e geral- natureza” e a vida de curiosos povos de pele
mente opera para realçar o poder de quem ocupa escura (os índios coroados ou Kaingang) seguiam
o espaço do visto como moderno e civilizado. O tal intocadas. Seria possível até, assim como fizera
civilizado que geralmente surge para fazer contras- Roosevelt, visitá-los oportunamente para ver de
te ao Sertão. perto os modos mais exóticos de permanecer
na terra. Esse interesse atravessado não é uma
Foram muitos os meios de formação, produção e
propriedade dos EUA, bem sabemos – como nos
reprodução de uma imagética sobre esse Sertão
diz Glauber Rocha em seu texto Ezthetyka da
que é fetiche, o Sertão que surge, periodicamen-
Fome (1965):
te, mal condensado nas imagens de candidatos
vestindo gibões e chapéus de couro, a paisagem “para o observador europeu, os processos de
árida servindo como cenário, na tentativa de bus- produção artística do mundo subdesenvolvido
car votos nordestinos. só o interessam na medida que satisfazem sua
São homens que tentam se acoplar ao citado “Bra- nostalgia do primitivismo”.
sil profundo”, aquele no qual não há sinal de celu-
Eram olhos maravilhados aqueles saídos após a
lar, que está distante dos centros onde o mundo
exibição do filme. Tão maravilhados quanto os de
civilizado está deteriorado, mas abrigando a santa
Mário de Andrade (e Luís Saia, Martin Braunwieser,
industrialização, o micróbio das máquinas e da tec-
Benedicto Pacheco e Antônio Ladeira) em suas
nologia. Recorrem, mais uma vez, à oposição que
expedições por cidades de Pernambuco, Paraíba,
acentua: são eles os iluministas e iluminados que,
Ceará, Piauí, Maranhão e Pará no calar dos anos
com sua graça e sotaques universais, nos visitam
1930. Voltaram para São Paulo, mais especifica-
de quando em vez. Com roupas de “nordestinos” –
mente aos escritórios do Departamento de Cultura,
afinal, no fetiche o Nordeste é sinônimo de Sertão
com objetos de culto, anotações, instrumentos e
–, eles apenas seguem o fluxo. Repetem imagens,
registros musicais, documentos fílmicos e fotográfi-
mantêm a camisa de força, colocam-se como
cos. Nos materiais estavam as celebrações a orixás
guardiões dos “resgates culturais”, tentam mistu-
como Xangô (BA), os rituais dos índios Pankararu
rar-se ao sol quente, ao chão rachado, ao couro,
(PE), o batuque religioso do tambor de Mina e do
ao homem brabo e ao boi morto de sede, enquan-
tambor de Crioula (MA), o colorido do coco e dos
to os entendem como suficientes para representar
reis do Congo (PB). Eram exemplos de uma “verda-
um lugar.
deira” identidade nacional, mais verdadeira ainda
Produzem, assim, conteúdo para uma plateia quando contraposta àquela cidade sudestina cuja
parecida com aquela vista em 1918 no Carnegie urbanização seguia a galope - assim como a sua
Hall, em Nova Iorque. Ali, o capitão e cineasta riqueza, em parte sustentada pela falência econô-
Luiz Thomaz Reis, patrocinado pela National mica do Nordeste de tipos folclóricos e adoráveis.
Geographic Society, exibiu para o presidente Seguia ali a plena construção, até hoje poderosa,
Theodore Roosevelt a película Wilderness do mito do universal versus regional, do moderno
(intitulado, no Brasil, Santa Cruz). O sucesso foi versus tradicional (uma tradição ficcionalizada em
enorme, e todas aquelas pessoas que já gozavam boa parte pela elite nordestina, outro presente su-
do conforto da modernidade puderam ir tranquilas blinhado por Durval). Não era algo novo, como nos
matute 13 revista de crítica e fotografia
as ca-
que nos aproxima, do que entre nós e o outro há
de semelhança, e não a busca pela diferença (“Eu
não sou discriminada porque eu sou diferente, eu
me torno diferente através da discriminação”, nos
diz a artista e pesquisadora Grada Kilomba, que
bras
conhece sertões diversos). E a produção da dife-
rença é especialmente perigosa quando estamos
armados de boa vontade, sem perceber a repetição
nem sempre sutil dos mecanismos dessa produção
e a mo-
– como quando eu clicava quase sem respirar o
coral lá no Harlem.
Nem toda visibilidade é positivamente transforma-
dora: na verdade, boa parte dela vestiu a nós, ser-
derni-
tanejas e sertanejos das periferias, das favelas, dos
interiores, da cor preta, do ser bicha, do ser mulher,
com rígidas camisas de força. O povo de NY que
se maravilhou com o filme (feito com boa vontade)
dade, o
de Luiz Thomaz Reis consumiu imagens apazigua-
doras da pesca, dos cocares e costumes daqueles
exóticos indígenas. Elas não mudaram o rumo de
uma história de genocídio: 97 anos após aquela as-
sombrosa exibição, um bebê Kaingang, Vítor, mor-
carcará
reria nos braços da mãe Sônia em frente à estação
rodoviária de Imbituba, no litoral de Santa Catarina.
Ela vendia artesanato durante o Carnaval; eles es-
tavam dormindo na rua quando um desconhecido
ea
se aproximou, afagou os cabelos da criança e de-
pois a feriu na garganta com uma navalha. Nossos
olhos maravilhados não conseguiram evitar que,
em 2019, um pastor chamado Ailton publicasse em
carícia
seu canal no YouTube um ritual de “unção e poder
de Deus” sobre este mesmo ainda exposto povo.
Nossas imagens, livros, filmes e tantos “resgates”,
enfim, não conseguiram impedir que cerca de 80
povos indígenas desaparecessem, nem que eles
sejam apenas 896.917 pessoas (Censo de 2010)
em um país de mais de 208 milhões.
Os sertões que na retina e na história já se firma- seus bois e vacas, nas estiagens mais prolon-
ram bem mais como o espaço da natureza, da gadas, sim). Isso não se conta: é preciso manter
família, do poder e do sobrenatural (como escre- o imaginário de um povo fadado à incivilização.
veram Vernaide Wanderley e Eugênia Menezes). Transmutou-se sem alarde essa seca tão pós-mo-
Sertões de campos de caatinga cobertos com o derna e célebre quanto o padre de batina preta,
plástico de embalagens de biscoitos, macarrão gesso-oco por dentro e prenhe de disputas simbó-
instantâneo, refrigerante. Sertões de carcaças de licas. Estamparam as capas de jornais e cartes de
carros largadas em borracharias à beira da estrada. visite destinados às senhoras dos elegantes salões.
Sertões de casas de colorido insistente que dispu- Também assombravam os olhos maravilhados.
tam espaço, numa briga ferrenha, com as cerâmi- Mas agora, na justa guerra das representações,
cas e os portões de alumínio. quem vamos observar quando esses olhos, afiadas
Sertões com mais caixas de som instaladas nas tesouras, se voltam diretamente para nós?
traseiras dos carros do que Riobaldos. Com tan- Inferno e paraíso, centro e periferia, o Sertão é
tas “mulheres macho”, tantos “machos mulheres”. distinto lugar e é como todos os outros. Guar-
Onde o trator cego do geralmente falso desen- da, em alguns recantos – nas malas de papelão de
volvimento passa sem avisar – como em todas as Seu Dedé em Apodi (RN), nas anáguas bordadas
regiões do planeta. “Acabou-se essa história de vendidas nas feiras de Parnamirim (PE) –, alguma
sangue. Os velhos não aguentam e os novos têm resistência ao cego trator. Essa resistência é tam-
medo”, me disse uma vez, ali por 2009, o senhor bém aviso que diz: é de fato moderno aquele que
Severino Rocha, Primeiro Decurião da Ordem dos sabe guardar algo da história de si. Uma história
Penitentes da Irmandade da Cruz, em Barbalha, tantas vezes mal contada através de uma media-
Ceará. Olhava, resignado mas não triste, seu cacho ção que há muito precisa se reinventar. Por fim,
de penitência, repleto de lâminas cortantes, pendu- volta a pergunta de Tom Zé, saído do Irará, sertão
rado na parede, sem trabalhar. Perto, no Juazeiro da Bahia, o mais universal dos seres e dono de
do Norte, um beato de barba longa não escondia maravilhosas tesouras:
sua decepção: naquele mesmo 2009, José Alves
de Jesus, líder dos pedintes e penitentes Borbo- Oh, Senhor Cidadão, eu quero saber,
letas Azuis, reclamava: “Desde que ela nasceu, eu eu quero saber
batalho. Tentei segurar, mas o demônio não dei- com quantos quilos de medo,
xa”. Referia-se a Amanda, sua neta, então com 12 com quantos quilos de medo,
anos. Sim, ela gostava de Cristo e do Padre Cícero. se faz uma tradição?
Tanto quanto de televisão e música pop.
> Fabiana Moraes é jornalista e professora de
Nos abracemos a esse sertão sempre grávido de Comunicação Social no Centro Acadêmico do
sentidos. Com seu Padre Cícero, que nunca pre- Agreste, campus da Universidade Federal de
cisou de um reconhecimento católico oficial para Pernambuco situado em Caruaru.
tornar-se poderoso santo popular. Sertões de
cisternas que interrompem a repetição das histó-
rias de secas que a mídia aprendeu historicamente
a valorar (rendem, afinal, polpudos dramas). Hoje,
a mulher e o homem não morrem de sede – mas
17
Disputando
a Imagem
do Brasil:
fotografia e
política na
Era Vargas
texto Maurício Lissovsky
imagens Acervo FGV
Arquivo Gustavo Capanema / FGV CPDOC
Quando a Segunda Guerra começa, em 1939, canos, órgão diplomático encarregado de garantir
o Brasil, sob a ditadura de Vargas, é uma peça a aliança entre os Estados Unidos e as demais
importante que ainda não decidiu de que lado repúblicas do continente. Entre seus objetivos
irá alinhar-se. Mesmo no âmbito do governo, são estava convencer o público norte-americano que
grandes as divergências. O Ministério da Educa- essa imensa nação do Sul, apesar de seu governo
ção promovia grandes manifestações cívicas nos autoritário, era constituída por um povo humilde,
estádios de futebol, inspiradas na estética dos porém alegre e de alma democrática, que vivia
comícios fascistas, mas logo os estudantes univer- em cidades modernas e movimentadas, e que o
sitários irão às ruas para reivindicar a entrada do modo de vida dos brasileiros estava mais próximo
Brasil no conflito ao lado das “nações democráti- do liberal American-way-of-life do que da rigidez
cas”. Tudo isso em meio a um processo de intensa fascista. Ao confrontarmos esses dois conjuntos de
urbanização e modernização do comportamento e imagens, nos aproximamos da experiência de ser
da cultura que tornará o Brasil e os brasileiros do brasileiro em um mundo dividido pela guerra e pelo
pós-guerra muito diferentes do que eram antes dela. conflito ideológico.
Esse conflito ideológico e político também ocorre Comecemos pela Obra Getuliana. A ideia surgiu
na imagem. As fotografias produzidas no Brasil na nos últimos anos da década de 1930. Concebida
década de 1930 e nos primeiros anos da guerra como um livro comemorativo do governo Vargas,
propõem visões divergentes a respeito do caráter as fotografias remanescentes deste projeto cons-
e da vocação do país. De um lado, as fotografias tituem um impressionante acervo de mais de 600
de um Brasil ordeiro, trabalhador, educado, domi- imagens, produzidas por profissionais brasileiros
nantemente branco e governado por um Estado e europeus (particularmente imigrantes alemães).
muito bem organizado. É o Brasil dos fotógrafos Influenciados pelas vanguardas fotográficas euro-
do poderoso Departamento de Imprensa e Propa- peias, realizaram um empreendimento estético radi-
ganda e, principalmente, o Brasil da Obra Getuliana calmente novo na fotografia brasileira que a queda
– um monumental álbum de propaganda política de Vargas, em 1945, impediu que viesse a público.
que reuniu fotografias produzidas, quase todas, por Enquanto os textos da Obra Getuliana têm um ca-
alemães. Refugiados de guerra, esses fotógrafos ráter eminentemente burocrático, suas fotografias
usaram aqui as melhores técnicas da fotografia conformam um gigantesco empreendimento peda-
modernista europeia - a mesma utilizada pelos go- gógico e propagandístico autônomo, que faz uso
vernos fascistas da Itália, da Alemanha, mas igual- de várias soluções modernistas para representar a
mente pela comunista União Soviética. invenção do futuro no presente. No intuito de tor-
Em contraponto a esse, temos um outro Brasil: nar visível o progresso do Brasil após a revolução
carnavalesco, turístico, religioso e mestiço, ale- de 1930, o livro foi implicitamente concebido como
gremente desorganizado, musical e hospitaleiro. uma “pedagogia do olhar” que, simultaneamente,
É o Brasil fotografado pelas lentes dos repórteres mostrava e ensinava a ver. Entre os fotógrafos que
norte-americanos da revista Life e por Genevieve participaram desta empreitada, destacam-se os
Naylor, fotógrafa documental a serviço do Escri- alemães Peter Lange (cujo extremo rigor formal im-
tório de Coordenação dos Negócios Interameri- prime sua marca por toda a obra), Erich Hess, Paul
matute 19 revista de crítica e fotografia
Ao confrontarmos
esses dois conjuntos
de imagens, nos
aproximamos da
experiência de ser
brasileiro em um
mundo dividido pela
guerra e pelo conflito
ideológico.
Stille e Arno Kikoler, além do teuto-chileno Erwin Por conta própria, talvez, Naylor ampliou sua pau-
Von Dessauer, o francês Jean Manzon e os brasilei- ta: fotografou o carnaval negro do Rio, na Praça
ros Jorge de Castro e Epaminondas Macedo.¹ XI e nas favelas; seguiu as procissões nas cidades
O Brasil representado na Getuliana é bastante históricas mineiras; desceu o rio São Francisco, de
diferente daquele que se via nas ruas do país. Pirapora a Juazeiro; pegou um navio em Belém e
Mestiços, negros, pobres, marginalizados, índios, visitou Recife, Maceió, Aracaju e Salvador. É bas-
boêmios ou quaisquer outros sujeitos que não tra- tante provável que tenha selecionado algumas de
duzissem a ação modernizadora do Estado estão suas imagens para compor um livro com as foto-
ausentes dessa representação do futuro nacional. grafias de sua viagem, que pretendia expor no Bra-
Festejos populares, carnaval e manifestações reli- sil e, eventualmente, publicá-lo, aqui ou nos Esta-
giosas – com exceção de uma única foto, em que dos Unidos. Um pequeno ensaio inédito de Aníbal
a missa em honra à bandeira nacional celebra-se Machado foi claramente escrito como introdução
no altar da pátria – também estão invisíveis. Na a essa obra. A fotógrafa fora advertida por seus
Getuliana, não há povo, depositário de uma alma, superiores no Office para evitar fotografar tantos
de uma tradição, ou de qualquer manifestação “negros, mulatos, barracos de negros, negros no
nativista, mas brasileiros, cada um deles ocupando carnaval”. Em seu texto, o crítico brasileiro procu-
um lugar específico na ordem social, cumprindo ra justificar a desobediência: o álbum conteria a
zelosamente suas responsabilidades. Do mesmo “imagem de um país”, na “espontaneidade de seus
modo, não há natureza em estado bruto, selvagem. costumes, na sua atividade cotidiana, nalguns dos
Nós a vemos sempre domesticada, agriculturada, gestos mais expressivos de seu povo”, assinalando
produtiva; ou então, disposta ao turismo, ao lazer que a fotógrafa desprezou os “temas facilmente
civilizado e organizado – natureza desembrutecida. brilhantes” e preferiu os “assuntos mais humildes”.
Mas o fez com “sentido sociológico”, em que tipos
Em fins de 1940, quando os olhos modernos da “marcados por um caráter racial tão forte” parecem
Getuliana começam a percorrer o país, uma outra “o resumo etnográfico de uma determinada clas-
missão fotográfica, a norte-americana, desembar- se social”. Se nas fotografias de Naylor não são
ca no Rio de Janeiro. Entre os primeiros emissá- visíveis “o dinamismo do nosso trabalho e a nossa
rios culturais do Departamento de Estado, está a vontade de ir para a frente”, isso não as desme-
fotógrafa Genevieve Naylor. Não existem evidên- rece, pois “todo mundo sabe que o Brasil progri-
cias de instruções específicas que tenha recebido de”. Como se respondesse a eventuais críticas
previamente do Office. As únicas recomendações de funcionários da diplomacia norte-americana e
de pauta conhecidas vieram do próprio DIP, em autoridades brasileiras, Aníbal Machado reconhece
papel timbrado de sua Divisão de Turismo, listando que o livro não contém “uma imagem completa do
cenários relacionados à vida moderna das elites no Brasil”, porém exibe “a mais rara, a menos conhe-
Rio de Janeiro: apartamentos luxuosos, as praias cida, de um país que deseja e necessita entender-
de Copacabana e Ipanema, iates, o Jóquei Clube, -se com seus irmãos da América para uma mais
as lojas de moda da Rua do Ouvidor. A essa lista íntima e cordial solidariedade.” ²
que associa modernidade e sensualidade à capital
federal acrescentava-se apenas uma dimensão Genevieve Naylor não pôde expor suas fotos no
relativa aos menos favorecidos: “as obras de as- Brasil, pois o principal dirigente do Office no país
sistência social da Sra. Darcy Vargas” e a festa de as considerou inadequadas: “Há muito mais no
Natal no Palácio do Catete. Brasil que sacolejos de negros, negros no Car-
21
Em 1942, quando as
tensões da guerra
estavam mais
acirradas no Brasil,
ambos os projetos
sucumbiram: a
Getuliana, por ser
Arquivo Gustavo Capanema / FGV CPDOC
demasiado ariana, e
o álbum de Naylor,
demasiado negro.
disutando a imagem do brasil 22 por Maurício Lissovsky
1. O conjunto das imagens está disponível 2. Texto datilogafado, com correções manus-
no site do CPDOC/FGV, como parte do critas, mantido pela família de Naylor. Cópia
acervo do Arquivo Gustavo Capanema. gentilmente cedida por Ana Maria Mauad.
imagem
progresso
povo
identidade
A representação
das sobras
matute 25 revista de crítica e fotografia
Para a revista, Marte está mana que tal fato ocorre, a capa da Newsweek dá
destaque a uma reportagem sobre como sobreviver
mais próximo dos Estados em um mercado financeiro instável.
realidade. Untitled (Newsweek) torna evidente que e de quem morre em Ruanda. E de quem vive e
essa equivalência inventada nunca coincide com morre em tantos outros lugares situados além da
a realidade a que se refere, sendo resultado da “linha abissal”. São imagens que, juntas, produzem
inclusão e exclusão de sujeitos e fatos tidos como uma representação ao mesmo tempo hegemônica
relevantes ou desprezíveis por quem tem o poder e racista do mundo.
de representá-la. Mostra que toda equivalência Por meio da aproximação de duas linhas do tem-
criada entre representação e realidade é informa- po que se contradizem e se chocam, Alfredo Jaar
da por maneiras particulares, e no mais das vezes contribui para a criação de uma representação
conflitantes com quaisquer outras, de recortar e alternativa desse mesmo mundo, contrapondo-se
compreender o mundo. A representação é, por àquelas que ignoram os já excluídos de outras
isso, campo aberto de negociações e disputas para esferas da vida, como a feita pela revista. Contri-
tornar visíveis e inteligíveis pessoas e acontecimen- bui, em tarefa partilhada com vários outros artistas,
tos, lançando outros, ao mesmo tempo, no campo para a criação de uma representação das sobras.
do que não se enxerga e não se entende. Dinâmica Representação contra-hegemônica que aponta e
que produz lembrança e também esquecimento. rememora os radicalmente excluídos dos espaços
E o que não coube ou foi excluído da represen- de visibilidade social pela dinâmica política que
tação do mundo que a Newsweek fez naquele move o mundo, reclamando para estes a condição
período foram justamente os indícios da exclu- de parte. Representação que questiona a ausência
são radical a que estava submetida grande parte dos ruandeses nas capas da Newsweek quando o
da população de Ruanda. Não couberam o mais massacre ainda estava em seu início, momento em
de um milhão de Tutsis e, em menor medida, de que sua visibilidade poderia contribuir, no âmbito
Hutus que morreram naqueles 100 dias, vítimas da de uma política das imagens, para a tomada de
necropolítica. Eles não contavam no mundo repre- ações efetivas capazes de controlá-lo. Um tipo de
sentado pela revista. Ou ao menos não contavam o representação, portanto, que reclama a condição
bastante para que seu extermínio fosse merecedor de alguém para quem é ninguém. “Ninguéns” que
de ser assunto de capa da publicação. Na morte naquele momento foram os ruandeses, mas que
de cada ruandês se afirmava uma perfeita coinci- já foram armênios, que já foram judeus, que são
dência entre o desaparecimento físico de uma vida palestinos e que são e serão ainda outros povos ou
e a quase insignificância simbólica desse fato. Nes- grupos sociais despossuídos de sua condição de
se sentido, esse conjunto de capas da Newsweek humanidade. Povos e grupos sociais que foram e
agrupadas produz uma representação perver- serão colocados em uma zona de abandono social
samente adequada de uma realidade que gera, e feitos vítimas de uma política ativa da morte.
ativamente, a invisibilidade e o olvido de quem vive
> Moacir dos Anjos é pesquisador da
Fundação Joaquim Nabuco.
30
A história
do ouro
texto Priscila Nascimento
imagem Bárbara Wagner
nada, pois o ouro foi um presente, dado de livre e pobre, preto, indígena e favelado nunca existiu, se
espontânea vontade pelos habitantes da terra. esses grupos sempre fizeram parte do cânone do
Nazaré da Mata é considerada o berço do mara- belo, para então validar esse argumento.
catu rural, local onde atualmente se concentra o Chegando na Espanha é derretido o ouro.
maior número de maracatuzeiros de Pernambu- No site de Bárbara Wagner, de uma bela organi-
co. A principal personagem do maracatu rural é zação minimalista, há fotos que dizem silencio-
o caboclo de lança, essa figura mística que, com samente tudo o que eu tento dizer com palavras
elementos da cultura negra e indígena, carrega em neste texto. Há um homem negro comprimido,
suas cores vivas as lutas ancestrais de um povo cortado, reduzido para se enquadrar no tamanho
que resiste. Sendo seus principais representantes e de um livro. Em torno dele, mãos brancas posam
grande parte dos brincantes trabalhadores da cana para a foto: o registro de uma possível posse. Essa
de açúcar, o maracatu rural é uma representação foto está na loja do site, e esse não é o único livro
histórica do que a classe dominante sempre tentou segurado por essas mãos com esse tom de pele: é
calar. Em artigo publicado em 2017 pelo pesquisa- assim com todos os outros que estão à venda.
dor Jean Carlos Nascimento, os principais mestres
de maracatu da Zona da Mata de Pernambuco Em entrevista para o site Limiares, Wagner comen-
falam sobre a falta de atenção das políticas públi- ta que uma de suas séries, Brasília Teimosa, foi
cas para com essa manifestação cultural, e como majoritariamente vendida para o Sudeste e para
isso dificulta sua manutenção. O artigo reflete o exterior. A artista fala da ausência de vendas em
sobre como o incentivo de políticas públicas acaba Recife, cidade palco da série fotográfica, que apa-
destinado a uma classe média artística, reforçando rece aqui como produtora de uma beleza para ex-
assim uma narrativa dominante sobre o que pode portação, que a própria “colônia” não sabe apreciar.
ser arte e quem pode exercê-la. Ao final de uma visita guiada ao Museo del Oro,
Algo na série fotográfica Estrela Brilhante me inco- um dos guias perguntou: “Você achou grande
moda; enquanto uma mulher negra de ascendência esse museu, que é um dos maiores do mundo?
indígena, acredito profundamente em intuições, e Achou que tem muita coisa? Não tem um terço
as minhas sempre apontaram algo que desgosto do que ele deveria ter. Todo o resto, a Espanha
nesses corpos achatados sob um tom estourado levou.”
entrando em contato com o barro, no mesmo nível Brasiliense interessada no “Corpo Popular”, Bárba-
do chão. Para defender essas imagens, fala-se ra Wagner mora há 10 anos em Recife. Suas obras
sobre um desejo de fugir do belo, sobre uma busca percorrem exposições nacionais e internacionais
pela distorção desses corpos populares, uma equi- desde 2007, quando fez a série fotográfica Brasí-
paração da figura com o chão, que se enquadra lia Teimosa. Desde 2011 trabalha em colaboração
nesse ensaio como fundo. Uma fuga da represen- com Benjamin de Burca.
tação canônica desses brincantes que se mate- Este texto, escrito por um dos corpos populares de
rializa na vontade de representar apenas o corpo, Pernambuco, é endereçado à Espanha.
sem as fantasias características. Esse argumento
vale-se de um admirável poder retórico, já que é > Priscila Nascimento é graduanda em cinema
ausente de sentido. Questiono-me se toda uma na Universidade Federal de Pernambuco
história de representações coloniais distorcidas do e realizadora audiovisual.
três perguntas para cristiana dias 32 por Pedro Neves
3 perguntas para
Cristiana Dias
por Pedro Neves
imagem Cristiana Dias
é o que desejo para o jornalismo. E tento manter pesquisas, conhecendo o perfil dos usuários, seria
sempre a reflexão sobre o que de fato são “nos- um processo bem mais eficiente e eficaz. Quando
sos” desejos, e como eles impactam no todo. Isso você acerta este timing é mais fácil ser acompa-
é essencial numa democracia. nhado nas redes sociais. Quando a gente mantém
um nível de qualidade e credibilidade acaba se
Os veículos de comunicação têm investido tornando um ponto de parada obrigatória. Mas não
cada vez mais em múltiplas plataformas para tenho receitas prontas.
veicular conteúdo; as redes sociais se torna-
ram especialmente importantes nos últimos Entre as muitas crises enfrentadas pelo jor-
anos. Como o Facebook, Twitter, Instagram nalismo atualmente, a crise de credibilidade
e outras mídias do tipo têm transformado o parece ser uma das mais sérias. Por um lado,
trabalho do fotojornalista e do editor de fo- há a constatação que empresas de mídia
tografia? Como disputar a atenção do públi- têm interesses a defender que interferem no
co em um espaço tão saturado de imagens conteúdo que elas produzem e disseminam.
e vozes? Por outro, muito vem se falando das fake
Se a gente for pensar no uso das tecnologias, news, produzidas por agentes sem nenhum
nossa demanda de trabalho sempre aumenta. É compromisso ético e veiculadas fora dos
preciso alimentar as diversas plataformas seguindo espaços tradicionais do jornalismo. Você vê
o ritmo e o perfil de cada uma delas. Passamos por saídas para essa crise? Como ela afeta o fo-
algumas dificuldades para entender o que deveria tojornalismo especificamente?
pesar mais na escolha das imagens. Temos uma Talvez seja lugar comum afirmar que o jornalismo
matéria quente ou um flagrante: a gente segura nunca foi tão necessário em tempos de fake news
para o impresso ou publica logo nas redes? Mui- e pós-verdade. Vão surgindo outras necessida-
tas vezes a redação queria jogar a informação no des para as quais não estávamos preparados.
Instagram, que é uma plataforma de imagens, e no Há a necessidade de se consolidar como fonte de
departamento de fotografia a gente entendia que a checagem de notícias até as leis acompanharem e
notícia tinha mais perfil pra Facebook. os tribunais começarem a punir seriamente os (ir)
Esse timing fomos descobrindo aos poucos, e responsáveis pela disseminação de notícias falsas.
percebendo que determinado tipo de imagem ga- Também se fortalecer com matérias especiais bem
nhava mais visualizações que outros. Nem sempre construídas a partir de checagem, análise e interpre-
o que considerávamos a melhor fotografia ganhava tação de dados, utilizando-se dos mesmos meca-
a simpatia nas redes. Vamos descobrindo o que nismos de uso de algoritmos. É incrível o que pode
funciona, mas com o cuidado de estar sempre ser feito se utilizarmos estas ferramentas com cri-
alimentando com novas imagens de qualidade e térios éticos. Mas na medida em que encontramos
relevantes do ponto de vista jornalístico. Isso foi soluções, novos problemas a enfrentar vão surgindo.
feito por nós de forma intuitiva, através de acer- A última eleição presidencial brasileira foi marcada
tos e erros. Às vezes a fotografia vale pela notícia, pela consolidação da indústria da mentira e da dis-
outras pela imagem em si. No começo da manhã seminação do ódio, com aporte financeiro pesado
a gente buscava abrir com algo mais leve, como para bancar a gestão de perfis falsos, os “internau-
quem deseja “bom dia” e depois “te prepara que tas” robôs, o que impactou e talvez tenha definido
vem bomba”! Claro que se tivéssemos partido de o resultado das eleições. Uma estética amadora,
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caseira dá a sensação de publicações espontâ- independente para que tenhamos um porto, “algo
neas, sem planejamento, mas sabemos que em ou alguém” em quem confiar neste mar revolto de
sua maioria estas postagens são milimetricamente mentiras, jogo de poder, disputas de narrativas e
estudadas e definidas por algoritmos. muita manipulação.
As mídias tradicionais estão em crise, e faz parte Em relação ao fotojornalismo, o mercado vem mu-
do jogo político derrubar sua credibilidade e, con- dando muito rápido. Há anos o flagrante não per-
sequentemente, seu poder de alcance. Empresas tence ao fotógrafo profissional, mas a quem estiver
sempre terão interesses a defender. É importante com celular a postos diante dos acontecimentos.
que a visão da empresa seja clara. É honesto se Repórteres de texto acumulam funções. Fotógrafos
posicionar e esclarecer a linha editorial. Mas elas também. Algumas empresas priorizam fotógrafos
têm responsabilidade e pagarão o preço das suas com formação em jornalismo. No final, todos pas-
escolhas. A crise de credibilidade é um preço muito sam um flash para a rádio, fazem um live para as
alto. Também é bom lembrar que boa parte dos jor- redes sociais, fotografam, filmam, editam, escre-
nalistas que fazem estas empresas tentam escapar vem e postam. As equipes diminuem, a qualidade
cai, a crise atinge a todos. A facilidade de manipula-
Empresas sempre terão ção de imagens não escapa à crise de credibilidade.
que fazem estas algum campo da fotografia não bastar, vira e se vira
com o auxílio de outras paixões, ou o que for ne-
empresas tentam escapar cessário à sobrevivência: assessoria, produção de
das formas de controle e vídeos, cinema, fotografia fine art, culinária, jardina-
gem etc. Ou então muda de profissão e a fotografia
têm compromisso com a deixa de ser ganha-pão.
Arlak
Karla Fagundes (Recife, 1993)
atuando nos campos da fotografia, do cinema, da curadoria, da produção cultural e
da educação, Arlak leva sempre consigo uma perspectiva afro-indígena, a herança
que ela carrega nas veias e na formação. Sobrinha da Yalorixá Sandra Juremeira do
terreiro Ilê Axé Yemonjá Ossi, na Zona Norte do Recife, a artista conhece de perto
as religiões de matriz africana, cujos encontros, festas e cerimônias ela captura
obliquamente, em imagens de atmosfera densa e misteriosa.
instagram.com/arlak_fagundes
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matute 41 revista de crítica e fotografia
Rennan Peixe
Rennan Peixe (Recife, 1989)
Fotógrafo, cinegrafista, artista e professor, há dez anos Rennan vem registrando
a religiosidade e as manifestações culturais da diáspora africana. Seja numa
cerimônia de Santeria em Cuba ou no Kipupa Malunguinho do Quilombo do
Catucá (PE), suas imagens sempre demonstram cumplicidade com as pessoas e
intimidade com os espaços onde elas celebram sua espiritualidade.
instagram.com/rennanpeixe
matute 42 revista de crítica e fotografia
Abiniel João
Abiniel João do Nascimento (Carpina, 1996)
Marcado, ferido, ensopado de sangue, exposto aos olhos dos passantes, o corpo de
Abiniel é o seu instrumento de trabalho e o seu principal suporte artístico. É a partir da
própria carne que ele constrói situações performáticas que evocam a opressão histó-
rica dos negros no Brasil, da escravidão ao apagamento cultural. A fotografia aparece
duplamente em sua obra: como registro de ações efêmeras e como mídia em si mes-
ma valiosa pelos jogos de visibilidade e invisibilidade que permite.
abinieljnascimento.com
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matute 45 revista de crítica e fotografia
Kalor
Kalor Pacheco (Camaragibe, 1990)
transitando entre performance, videoarte, net art e fotografia, a artista põe seu corpo
em jogo para refletir sobre a experiência de ser uma jovem mulher negra hoje. Sua série
Tecnologia a serviço da orgia inventa dispositivos complexos para explorar manifestações de
sexualidade mediadas pelas redes sociais e por serviços de streaming ao vivo. Encarnando
e subvertendo estereótipos relacionados à mulher negra na cultura brasileira, ela investiga
os lugares em que a tecnologia de ponta encontra atualizações dos velhos mitos racistas e
patriarcais de sempre.
kalor.hotglue.me
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idealização e coordenação
Cecilia Urioste e Mila Souza
matute
edição
Pedro Neves
design gráfico
A Firma
roteiro audiodescrição
Lliana Tavares
consultoria audiodescrição
Michelle Alheiros
assessoria de imprensa
Sofia Lucchesi
incentivo apoio
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www.matuterevista.com