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Victor Pereira Aversa – Curso de Ciências da Religião - PUC

Análise da Figura do “Bode de Mendes” Segundo as


Dimensões da Cosmovisão Religiosa

A figura do Baphomet como conhecemos hoje, na realidade, se faz distante do


que realmente fora o Baphomet na época dos Cavaleiros Templários. Precisamos
primeiramente separar as histórias e os símbolos que estão envolvidos com esse nome
tão temido pela maioria, mas sem justificativa, já que esse medo se deve ao
desconhecimento da figura em questão e de sua história. Já não é de hoje que certas
religiões tendem a “demonizar” deuses, entidades e símbolos de outras religiões e
doutrinas. Não foi diferente no caso da figura alegórica do Baphomet.
Como bem sabemos, alegoria se deve – no geral - à criação simbólica de uma
imagem, história ou canto que tem por finalidade “enxugar” ou simplificar algo muito
amplo, ou uma tentativa de tornar algo muito hermético em uma coisa mais clara de se
entender para o público mais geral, tal quais as famosas alegorias de Platão nos livros
da República dedicados à teoria do conhecimento. A figura do Baphomet é também uma
alegoria, criada primeiramente pelos Cavaleiros Templários, e muito posteriormente
modificada e transformada no Bode de Mendes pelo ocultista e filósofo Eliphas Levi.
Antes de tudo, devemos deixar bem claro que a história até hoje não nos deixou
nada de muito concreto no que diz respeito a pesquisas em relação ao culto templário,
deixando o assunto obscuro e soterrado por diversas teorias da conspiração. Mas
podemos dizer que em primeiro lugar temos o Baphomet como figura cultuada pelos
Cavaleiros Templários, extintos no século XIV a mando do Papa Clemente V e pelo rei
da França Felipe IV, mais conhecido como Felipe, o Belo. O processo de inquisição
contra a Ordem dos Cavaleiros Templários (A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo)
só termina com a morte de seu último integrante, o Grão-Mestre da ordem Jacques De
Moley. Dentre os motivos dados para tal processo estavam a recusa de sacramentos,
negação de Cristo, práticas de sodomia e veneração a uma entidade maléfica de três
cabeças, isto é, o Baphomet. Claro que na época o nome Baphomet ainda não era
empregado, esse termo – acredita-se - foi surgir somente no século XIX, pelo
arqueólogo Barão Joseph Von Hammer-Pürgstall, simpatizante da causa templária.
Mas essa figura de três cabeças talvez cultuada de alguma forma pelos
templários não é o nosso foco, e sim o Baphomet conhecido por Bode de Mendes (ou
Bode do Sabá) criado por Eliphas Levi, no intuito de sintetizar os principais aspectos do
conhecimento atribuído pela ciência oculta. Foi em sua obra “Dogma e Ritual de Alta
Magia” que Eliphas Levi apresentou todo o processo do aprendizado mágico, a
utilização da cabala como ferramenta principal de toda cultura esotérica ocidental e a
figura do Bode de Mendes como síntese dos segredos e conhecimentos obtidos por meio
do ocultismo e da magia, ou seja, o homem realizado.
Comecemos então a análise da figura do Baphomet. Em primeiro lugar, é
possível extrair muitos elementos ligados ao aspecto Ontológico na figura. Toda a
representação do Baphomet é composta pela dualidade das coisas. A começar pelos
braços e mãos, uma voltada pra cima, apontando a Lua branca de Chesed (a Sephiroth
correspondente a Misericórdia na Árvore da Vida) e outra voltada para baixo,
apontando a Lua Negra de Geburah (a Sephiroth correspondente a Justiça). O braço
voltado para cima é feminino, e o outro é masculino. No braço voltado para cima,
encontra-se a palavra “Solve”, e no outro a palavra “Coagula”, uma menção clara à
frase alquímica “Solve et Coagula”, que significa “Dissolver e Juntar” ou “Separar e
Unir”. O caduceu hermético no lugar do falo masculino e os seios femininos, isto é, os
dois símbolos provedores da vida, e o caduceu representando a moral e a inteligência,
ou mesmo a utilização da potencialidade da energia kundalini para transformar a
Potência em Ato, o eterno movimento cósmico. As mãos postas com a simbologia
mágica da Tábua Esmeralda hermética em referência a frase: “O que está embaixo é
como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo”. Abaixo do
bode, temos a esfera rotunda do conhecimento misturada na escuridão, ao mesmo tempo
em que a cima do bode temos o facho da inteligência, isto é, a luz do conhecimento
universal, que ilumina a mente dos homens e faz com que conheçamos a verdade
sagrada. E finalmente temos o abdome coberto por escamas, representando o elemento
água, ou o lado sentimental e mais revolto do ser, enquanto as asas negras do corvo
representam a sutileza do elemento ar ou mesmo o volátil químico, isto é, a rápida
“evaporação” daquilo que não faz parte do sagrado, ou ainda aquilo que é material e
ilusório.
Todas essas dualidades que são representadas no Baphomet, têm por objetivo
principal resguardar o verdadeiro mistério por trás dessa figura: a relação do Bem e do
Mal. Na magia não há a distinção de bom e mal medidos por uma ética religiosa
comum. O Bem e o Mal estão no âmbito ilusório, da ignorância, ou seja, para atingir a
verdade sagrada é preciso que essa distinção seja diluída pela luz da sabedoria, de forma
que os dois conceitos se misturem, porque só assim a verdade pode ser tocada. A ideia
de Deus e Diabo fica suspensa aqui, tendo mais importância o autoconhecimento do
homem do que a adoração de algum Ser externo, sendo ele Deus, Diabo ou qualquer
outro. Pode-se dizer então que a relação entre o absoluto e o relativo está no
autoconhecimento livre de crenças externas e ilusórias.
A cabeça de bode faz menção não só aos cultos de origem druida e grega à
fertilidade, mas também fora escolhida por dois outros motivos. Nos sistemas mágicos o
bode representa o contrário da ovelha. Enquanto a ovelha representa a passividade e a
paz de espírito, o bode representa o aspecto negativo da existência. Ao mesmo passo
que a cabeça de bode torna-se horrenda atrelada ao corpo humanoide. A cabeça de bode
represente o horror do pecado sofrido pelo homem, pecado este que é culpa somente do
agente material. A alma por sua vez é neutra e impassível naturalmente, e chega a sofrer
as consequências do pecado e da corrupção no momento em que se materializa. Aqui
começamos enxergar os aspectos Antropológicos da imagem, isto é, as condições
básicas do ser humano.
A título de exemplo, vemos no catolicismo o pecado original como condição
básica do ser humano, tal qual a determinação cósmica para algumas religiões orientais.
Na Alta Magia o homem precisa lhe dar com o fato de estar aprisionado à matéria e
entender que o sofrimento não faz parte da sua natureza, mas este se faz presente ao
passo que não conseguimos nos distanciar da ignorância comum. Mas esse movimento
não é definitivo. Precisamos nos encontrar em constante metamorfose, pois a
permanência não faz parte da lógica natural, a durabilidade não é natural.
O princípio da transmutação da natureza humana por meio do verdadeiro
conhecimento das coisas. Na alquimia, o chumbo representaria a ignorância das coisas
sagradas, ou seja, o homem ignorante e profano. O homem, portanto, deve dissolver as
concepções tradicionais e os conceitos do senso-comum, para que depois, enxergando
como as coisas funcionam e entendendo melhor a realidade, ele junte os cacos que
restaram dos conhecimentos obsoletos e passe a reconstruir tudo do zero, resultando
assim no ouro, elemento que representa o Sol, o deus Apolo, a sabedoria. Seria essa
então a condição básica do homem na Alta Magia, a mudança, o movimento.
Por fim, chegamos ao símbolo da estrela de cinco pontas, cabalisticamente
conhecido como Pentagrama. Vulgarmente, esse símbolo é considerado a representação
dos quatro elementos materiais – terra, água, ar e fogo – e o quinto elemento, sendo ele
etéreo, isto é, o espírito, ou éter. Mas na prática da mágica, tanto da Alta Magia quanto
das magickas de cunho thelêmico ou posterior, o pentagrama representa não só os cinco
elementos, mas a cima de tudo representa todo o microcosmo. A estrela de seis pontas,
conhecida por “Estrela de Salomão”, é na realidade a sobreposição das duas trindades,
uma de polo negativo e outra de polo positivo, representando o macrocosmo, isto é,
possuindo uma visão mais geral da realidade. Já o Pentagrama possui uma métrica mais
perfeita e complexa, desse modo tornando-se mais poderoso à medida que o iniciado na
magia o entende de forma correta. O conhecimento do símbolo não basta, é preciso
entendimento. O entendimento se dá por meio da evolução de nossos órgãos provedores
dos sentidos, que por sua vez, devem ser trabalhados para que consigam tocar o plano
etéreo. Resumidamente falando, o pentagrama não se encontra postado na testa do bode,
mas sim no seu “terceiro olho”. Portanto, está representado no Baphomet o
conhecimento pleno do pentagrama e de tudo o que ele representa.
É difícil expormos todos os conceitos envolvidos na figura do pentagrama, já
que seu conhecimento está ligado à prática da magia e do autoconhecimento do
iniciado. É um conhecimento muito pessoal. Mas de forma geral, pode-se dizer que a
figura do pentagrama está ligada de certa forma à ideia de salvação. Aqui podemos
então apontar a questão da Soteriologia representada no Baphomet.
Na magia, a salvação está ligada à ideia de conhecimento de si e do mundo
natural por meio dos sistemas mágicos extraídos de diversas religiões, filosofias e
ciências. Na magia mescla-se a Cabala, a Alquimia, o Ocultismo, práticas medicinais
antigas, Yoga, técnicas de invocação entre outras práticas antigas absorvidas pela
cultura ocidental medieval e relidas nos dias de hoje. Por isso o Pentagrama é o símbolo
mais importante para o mago, pois nele estão contidas todas as informações necessárias
para o conhecimento oculto. O Pentagrama é o símbolo que expressa o domínio da
Alma sobre a matéria e os elementos que a compõe. Ao final de tudo, a ideia é que o
homem, por meio do sistema mágico atinja um grau de conhecimento e controle de si e
da natureza que possibilite que ele manipule a natureza e tenha o poder de criar. “Para o
mago falar é criar”.
Para finalizar, deixarei um pequeno trecho da obra “Dogma e Ritual de Alta
Magia” onde Eliphas Levi resume bem a visão de mundo a partir da magia. E que partir
de agora olhando para a figura do Baphomet possamos entender a extensão e
profundidade do seu significado:

“Não há mundo invisível. Há apenas muitos graus de perfeição nos órgãos. O corpo é a
representação grosseira e como se fosse a casca transitória da alma. A alma pode perceber por
si mesma, sem a intermediação dos órgãos corporais por meio de sua sensibilidade e de seu
diáfano, as coisas corporais e espirituais que existem no Universo.”

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