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Rita de Cássia Marques Costa

Maria Nádia da Silva Sousa

EDUCAÇÃO E MOVIMENTOS
SOCIAIS

1ª Edição
Sobral/2017

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Sumário
Palavra do professor autor
Sobre o autor
Ambientação à disciplina
Trocando ideias com os autores
Problematizando

UNIDADE I: MOVIMENTOS SOCIAIS: CONHECENDO OS ANTIGOS E


NOVOS ATORES SOCIAIS

Conceito de movimento social na bibliografia geral das ciências sociais

UNIDADE II: EXCLUSÃO SOCIAL NA SOCIEDADE CAPITALISTA

O início do processo de exclusão social

Exclusão social e a nova desigualdade: ressignificando o conceito

UNIDADE III: EDUCAÇÃO E MODERNIDADE: DIMENSÕES DA PRÁTICA


EDUCATIVA

Diferença entre pedagogia e educação

Explicando melhor com a pesquisa


Leitura Obrigatória
Pesquisando com a Internet
Saiba mais
Vendo com os olhos de ver
Revisando
Autoavaliação
Bibliografia
Bibliografia Web
Vídeos

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Palavra do professor autor

O estudo da disciplina de movimentos sociais objetiva conhecer os


principais movimentos sociais no Brasil e suas formas de atuação ao longo da
história para compreensão de superação das demandas sociais. Na atualidade,
o estudo dos movimentos sociais é compreendido por analistas como
representações sociais através de ações mobilizadoras, de mudança social e
de lutas de resistências.

A presença dos movimentos sociais é uma constante na história política


do país, mas ela é cheia de ciclos, com fluxos ascendentes e refluxos.

Inicialmente, será de grande importância conhecer o conceito de


movimentos sociais, estudar sobre as categorias teóricas utilizadas no Brasil
dos anos 70 até os dias atuais.

Em seguida, daremos continuidade ao estudo sobre como se deu o


processo da exclusão social numa sociedade capitalista, fazendo relação com
o papel da educação para a inclusão social e formação da cidadania.

Por fim, abordaremos sobre a educação na modernidade e sua


dimensão na prática para a construção do espírito ético e solidário.

Todo processo de estudo da disciplina será construído pelo diálogo e


criatividade entre aluno e professor. Serão propiciados momentos prazerosos
de estudo e pesquisa, no qual o aluno poderá aprofundar seus conhecimentos
sobre os autores que fundamentam esse estudo.

A disciplina está fundamentada em estudos de Maria da Glória Gohn,


Pedro Demo, dentre outros.

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Sobre as autoras

Rita de Cássia Marques Costa. Mestrado em


Educação Brasileira. Linha de pesquisa: Movimentos
Sociais, Educação Popular e Escola, no Eixo de Estudos
Socioantropológicos e Políticos da Educação, pela
Universidade Federal do Ceará-UFC (2009). Especialista
em Docência na Saúde, pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul – UFRGS (2015), Graduada em Pedagogia
pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA/ Sobral - (2004).

Maria Nádia da Silva Sousa- Especialista em


Gestão e Organização da Escola - Universidade Norte do
Paraná-UNOPAR (2017). Possui Graduação em
Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará-UECE
(2003). Atualmente é Secretária da Pró-Reitoria de Ensino
de Graduação- PRODEG/Centro Universitário INTA-
UNINTA. Possui Curso Técnico em Secretariado Escolar.

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Ambientação à disciplina
Sabemos que os movimentos sociais têm sido considerados por vários
analistas de organizações sociais como elementos de inovação e
transformação social. Conforme Maria da Glória Gohn, os movimentos são
elementos fundamentais na sociedade moderna, agentes construtores de uma
nova ordem social e não agentes de perturbação da ordem, como as antigas
análises conservadoras escritas nos manuais antigos, ou como ainda são
tratados na atualidade por políticos tradicionais.

Inicialmente, discutiremos nesse primeiro capítulo sobre o conceito de


movimentos sociais nas ciências sociais e as primeiras abordagens entre os
anos de 70 e 80 no Brasil. A perspectiva de estudo ajudará na compreensão do
percurso histórico, das mudanças ocorridas no mundo e suas consequências
sociais, políticas, econômicas e culturais.

No segundo capítulo iremos abordar sobre a temática da exclusão social


e o capitalismo. Iremos analisar os fenômenos socais e tentar analisar os
mesmos na perspectiva da práxis. Compreender como se deu o processo de
exclusão social ao longo da história e suas consequências em relação à
educação brasileira.

Sabemos que os processos educativos formais e não formais


contribuem para uma análise do repensamento das práticas no trabalho, na
escola, na convivência social, seja na relação da natureza com os demais
seres humanos.

Sendo assim, o papel do educador social é fundamental para o processo


de inclusão, participação e integração das comunidades.

A proposta agora é estudar sobre o papel do educador social na


perspectiva da educação popular como mecanismo de facilitação para os
processos de transformações sociais individuais e coletivos.

Para esse estudo teremos como autores principais: Paugam, José de


Souza Martins, Dalmo Dallari.

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Trocando ideias com os autores

Sugerimos que você leia o livro: Teoria dos


Movimentos Sociais. Essa obra objetivou sistematizar as
principais teorias e paradigmas; Realizar estudo
comparativo entre teorias (semelhanças e diferenças);
Apresentar o caso da América Latina e a inadequação de
teorias correntes; Delinear tendências para o Brasil com
base na globalização da economia, política e relações
socioculturais.

GOHN, Maria da Glória M. Teorias dos Movimentos Sociais. 2ª edição,


edições Loyola, São Paulo, Brasil, 1997.

Propomos a você também que leia a obra:


Cidadania Pequena. Neste livro a autora relata Dados da
Pesquisa Mensal de Emprego, em seu Suplemento de
1996, mostra perfil muito preocupante, sobretudo se
comparado a dados de 1987 (suplemento da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios): não teríamos
evoluído.

DEMO, Pedro. Cidadania pequena. 1ª edição, coleção: polêmicas do nosso


tempo, Brasil, 2001.

Guia de estudo: Logo após ler essas obras, faça uma relação entre ambas,
produza um texto argumentativo, abordando os pontos que contribuíram para
uma sociedade moderna que está em constantes mudanças.

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Problematizando
Os movimentos sociais nascem no universo dos processos de interação
social dentro da “teoria do conflito e mudança social”. O homem como ser
social, através dos processos de interação social acaba por não se adaptarem
as estruturas, e isso acaba gerando desajustes e conflitos. Os movimentos
nasciam neste universo e eram vistos como elementos destrutivos a ordem
social vigente.

Guia de estudo: o homem como um ser social, na sua interação, mas com
características diferentes, com pensamentos divergentes. Percebemos
conflitos constantemente, entretanto com objetivos comuns, nessa linha de
pensamento, como você compreende a formação dos movimentos sociais? O
que eles representam em sua vida? Compartilhe no ambiente virtual.

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MOVIMENTOS SOCIAIS:
CONHECENDO OS ANTIGOS E
NOVOS ATORES SOCIAIS
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Conhecimentos
Aprofundar estudos teóricos sobre as lutas coletivas e sua trajetória no
Brasil, aprofundando estudos nos campos da educação popular e
Ciências Sociais.

Habilidades
Desenvolver o espírito crítico no aluno, aproximando teoria e prática,
para compreensão das demandas sociais na vida societária.

Atitudes
Capacitar os alunos para atuarem em ações sociais no coletivo
tornando-os sujeitos sociais ativos e autônomos.

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Conceito de movimento social na bibliografia geral das
ciências sociais
A temática sobre os movimentos sociais surge como objeto de estudo
junto com o nascimento da própria sociologia, onde defende uma necessidade
de uma ciência da sociedade que se dedicasse ao estudo dos movimentos
sociais.

No século XX, a temática passa a ser vista no universo dos processos


de interação social dentro da “teoria do conflito e mudança social”. As doutrinas
do interacionismo simbólico norteamericano viram os movimentos como
problemas sociais, um fator de disfunção e ordem. Elas se preocupavam em
entender o comportamento dos grupos sociais.

O grande ponto de destaque nos estudos clássicos é a ênfase na


abordagem sociopsicológica. Formou-se uma tradição de se explicar o
comportamento coletivo das massas por meio da análise de reações dos
indivíduos. O sujeito era visto dentro de uma macroestrutura social. A grande
questão era sua inadaptação aquelas estruturas, gerando desajustes e
conflitos.

Os movimentos nasciam neste universo, vistos como elementos


destrutivos a ordem social vigente. As ideias Durkheimnianas da anomalia
social permeavam as análises. Estas foram construídas sob a ótica do
funcionalismo, a partir da análise estrutural funcionalista.

Em relação à produção de estudos específicos sobre os movimentos


sociais, observa-se grande parte de produção até os anos 60 no estudo do
movimento operário, particularmente nas lutas sindicais.

Portanto, a temática dos movimentos sociais é uma área clássica de


estudo da sociologia e da política, tendo lugar de destaque nas ciências
sociais. Não se trata de um tema dos anos 60, 70, 80. Ganharam maior
visibilidade a partir dessas décadas, mas são muito anteriores a elas, na vida
real e na teoria. Entretanto, o conceito tem sofrido historicamente, uma série de
alterações. Nos anos 50 e 60, abordavam os movimentos no contexto das

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mudanças sociais, vendo-os como fontes de conflitos e tensões, classificavam
o movimento de forma dualista; religiosos seculares, reformistas
revolucionários, violentos pacíficos.

Na abordagem fundada no paradigma decorrente da teoria marxista, até


os anos 50, o conceito de movimento social sempre esteve associado ao de
luta de classes. Denominavam-se movimentos sociais; as guerras, os
nacionalistas, as ideologias radicais, nazismo e fascismo. O principal sujeito
desses movimentos era a classe trabalhadora, por isso a maioria dos estudos
empíricos teve como objeto o movimento operário, os sindicatos e os partidos
políticos. Não havia muita diferença entre movimento e organizações.

Na Europa, a onda dos chamados novos movimentos sociais (NMS), a


partir dos anos 60, (de estudantes, de mulheres, pela paz, ecologia), deu
origem ao novo paradigma da ação social e foi responsável pelo surgimento de
abordagens que elegeram os movimentos sociais como tema central de
investigação. Com enfoques metodológicos distintos, os pesquisadores
criticaram as abordagens macroestruturais, que se detinham excessivamente
na análise das classes sociais como categorias econômicas e criticaram os
estudos clássicos marxistas, que só se preocupavam com as ações da classe
operária e dos sindicatos deixando de lado as ações coletivas de outros atores
sociais relevantes.

É bom lembrar que muito antes da elaboração sistemática da teoria dos


(NMS), no paradigma europeu, que surgiu no rastro da revisão das teorias
marxistas, os movimentos sociais já tinham ganhado estatuto teórico de eixo
temático na análise da realidade social na América.

No final dos anos 70, e durante toda década dos anos 80, surge uma
nova fonte de estudos sobre os (MS): dos países do Terceiro Mundo, que
apresentaram novos atores, novas problemáticas e novos cenários
sociopolíticos (mulheres, índios, negros, pobres). Mas a maioria dos estudos
foram histórico descritivos.

Chegamos então nos anos 80 com um panorama mundial das formas de


manifestação de movimentos sociais bastante alterados. O desenvolvimento do

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novo cenário passou por revoltas dos negros pelos direitos civis nos Estados
Unidos, pela estruturação dos movimentos feministas, pela revolta contra as
guerras e armas nucleares.

Nos anos 90, altera-se todo o quadro sobre os (MS) tanto no ponto de
vista das manifestações como na produção teórica. Na América Latina,
deslocam as atenções para outro fenômeno social, as (ONGs). A categoria da
ação social volta a ter centralidade nos estudos. No Brasil, as mudanças
advindas com a globalização da economia e a institucionalização dos
processos gerados no período da redemocratização levaram ao surgimento de
um novo ciclo de movimentos e lutas, menos centrados na questão dos direitos
e mais nos mecanismos de exclusão social. Os mecanismos de exclusão social
e os obstáculos à construção de democracia, segundo os princípios da
cidadania, foi outro tema que atraiu a tenção de analistas.

A tendência predominante nos anos 90, na análise dos (MS), tem sido
unir abordagens elaboradas a partir de teorias macrossociais a teorias que
priorizavam aspectos micro da vida cotidiana.

O que são movimentos sociais: questões conceituais

Inicialmente, é preciso chamar atenção pelo entendimento sobre o que


são Movimentos Sociais: são compreendidos como ações sociais coletivas de
caráter sócio-político e cultural que desencadeiam distintas formas da
população se organizar e expressar suas demandas (GOHN, 2003). Em sua
maior expressão, são manifestadas por pressões diretas como mobilizações,
marchas, concentrações até as pressões indiretas.

Na atualidade, os principais movimentos sociais atuam por meio de


rede sociais, locais, regionais, nacionais e internacionais, utilizando de novos
meios de comunicação e informação, como a internet. Por isso, constroem
práticas comunicativas, representando a construção de novos saberes,
produtos dessa comunicabilidade.

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Na realidade histórica os movimentos sempre existiram e sempre
existirão, devido a sua força social organizada que unem as pessoas como
campo de atividades e de experimentação social e estas, acabam se
mostrando como fontes geradoras de criatividade e de inovações socioculturais
(GOHN, 2003).

Conforme a autora, citado por Touraine, assegurou que movimentos


sociais são o coração, o pulsar da sociedade, eles expressam energias de
resistência ao velho que os oprime e fontes revitalizadas para construção do
novo. Energias sociais que antes dispersas são canalizadas e potencializadas
por meios de suas práticas, o que Gohn chama de “Fazeres Propositivos”
(2003,p.14).

Entretanto, não pudemos ignorar que existem tipos de movimentos


sociais conservadores, fundamentados muitas vezes, em xenofobias
nacionalistas, religiosas, raciais, etc. A autora afirma que esse tipo de
movimento social não querem as mudanças sociais emancipatórias, mas impor
as mudanças segundo seus interesses particularistas, pela força, utilizando a
violência como estratégia principal em suas ações. A intolerância existe e ela
tem estado presente em movimentos fanáticos/religiosos.

Xenofobia: Hostilidade; receio, medo ou rejeição direcionados a quem não faz


parte do local onde se vive ou habita.

Surgem também os movimentos nacionalistas, com suas ideologias


não democráticas, geradoras de ódios raciais e atos terroristas. São
movimentos construídos a partir de práticas limitadas e estreitas, destrutivas e
que negam a ordem social. Não representa movimentos abertos a participação
de qualquer cidadão porque existem códigos, crenças, valores e ideologias
específicos deles. A autora demonstra como exemplo, o que ocorreu em 11 de
setembro de 2001, nos Estados Unidos da América pelos terroristas.

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Já os movimentos sociais progressistas atuam segundo uma agenda
libertadora, realizam análises sobre a realidade social e constroem propostas.

Agem em redes, articulam ações coletivas que atuam como resistência


à exclusão e lutam pela inclusão social. Eles constituem e desenvolvem
capacidades e poder de atores da sociedade civil organizada, no momento que
criam sujeitos sociais para a ação em rede. As redes são estruturas da
sociedade atual globalizada e informatizada. Elas se referem a um tipo de
relação social e atuam segundo objetivos estratégicos, produzindo articulações
com resultados relevantes para os movimentos sociais e para a sociedade civil
em geral (GOHN, 2003).

A autora explica que existem redes de diferentes tipos são elas:

Sociabilidade: (encontradas em nosso cotidiano a partir das relações por


laços familiares, de amizade, etc.);

Redes locais: (presentes no associativismo civil local, produzidas pela


territorialidade de um bairro ou comunidade, exemplo; associações
comunitárias);

Redes virtuais: via online (que tercem as relações do movimento


antiglobalização, exemplo: redes temáticas específicas, como as das mulheres
ou das entidades que atuam sobre questões de gênero);

Redes socioculturais: (firmadas por heranças ou características étnicas,


religiosas, ocorridas da tradição ou práticas sociais presentes);

Redes geracionais: (de jovens e de idosos);

Redes históricas: (que cultuam a memória de um líder, de um ator ou cantor


famoso, etc.);

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Redes de governança: (que tentam articular a experiência de inovações da
gestão pública, como os Fóruns das prefeituras que adotam o orçamento
participativo);

Redes de entidades afins, como as redes de (ONGs).

Nesse novo milênio, os movimentos sociais estão retornando à cena e


à mídia. Neles destacam-se quatro pontos:

1-As lutas de defesas das culturas locais contra os efeitos assoladores


da globalização, numa tentativa de reconstruir um novo padrão de civilidade,
orientado para o ser humano e não para o mercado;

2- Exigência pela ética na política e cuidado sobre a ação estatal/


governamental. Acaba orientando a população para prestarem mais atenção
para o que deveria ser dela e que está sendo desviado;

3- Os movimentos têm coberto áreas do cotidiano de difícil penetração


por outras entidades e instituições do tipo partido políticos, sindicatos e igrejas,
fortalecendo aspectos subjetivos das pessoas relativos a sexo, crenças e
valores, etc.;
4- Os movimentos construíram uma compreensão sobre a questão da
autonomia, diferente do que existia nos anos 80. Conforme Maria da Glória
Gohn (2003), atualmente, ter autonomia não é ser contra tudo e todos, ou estar
isolado e de costas para o Estado, atuando no limite do instituído, e sim, ter
autonomia é principalmente, ter planos estratégicos a partir de um projeto
coletivo e pensar os interesses desse coletivo, envolvidos com uma
autodeterminação. É termos metas e programas, com olhar crítico e com
proposta de resolução para os problemas e conflitos envolvidos nas realidades,
onde o grupo está inserido, com flexibilidade para provocar a inserção dos que
ainda não participam e tem desejo de participar e de mudar as coisas da forma
como estão. É tentar tornar universal as necessidades particulares, fazer
política, vencendo os desafios dos localismos. Ter autonomia é privilegiar a
cidadania, construindo-a, resgatando-a, onde foi contaminada. Por fim, ter

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autonomia é ter pessoas capacitadas para representar os movimentos e
negociações nos fóruns de debates.

O novo associativismo

Conforme Gohn (2003), o associativismo que mais predominou nos anos


90, originou de mobilizações pontuais a partir de centros de militantes que
defendem uma causa e seguindo as diretrizes de uma organização. Já as
mobilizações de massa se fazem a partir do acolhimento a uma solicitação feita
por alguma entidade plural, fundamentada em objetivos humanitários e a partir
da realidade local, onde a mobilização acontece independente de laços
anteriores de pertencimento, o que não ocorre com o associativismo de
militância político ideológica.

O novo associativismo é mais propositivo, operativo e menos


reivindicativo e mais estratégico. O conceito básico que fundamenta esse tipo
de associativismo é o de Participação Cidadã, compreendida por um conceito
amplo de cidadania que não se restringe ao direito ao voto, mas constrói o
direito à vida do ser humano como um todo. Existe também outro conceito, de
cultura cidadã, finalizado em valores éticos universais, impessoais. Uma
concepção democrática que visa fortalecer a sociedade civil apontando
caminhos para a construção de uma nova realidade sem desigualdades e
respeitando as diversas realidades culturais. Veja o que diz a citação a seguir:

A Participação Cidadã envolve direitos e deveres diferente da


concepção neoliberal de cidadania que exclui os direitos e só
destaca os deveres, vendo o cidadão como um mero cliente de
um mercado ou um usuário de um serviço prestado. Os
deveres na perspectiva cidadã articulam-se a ideia de
civilidade, a concepção republicana de cidadão (GOHN, 2003,
p. 18).

A comunidade é tratada como sujeito ativo construtor dos programas e


participante na própria intervenção social das políticas públicas. Para que
aconteça a participação cidadã, os sujeitos de um território necessitam de uma

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organização e mobilização com ideários mesmos em sua unidade e
diversidades possam ser articulados.
Ainda nos anos 90, surgiram outros novos conceitos, gerados no interior
de outros movimentos sociais, como a cidadania planetária, sustentabilidade
democrática, participação cidadã, etc. (cf. Sousa Santos, 2000; Scherer-
Warrem, 1999; Gohn, 2001). Esses conceitos indicam que se devem respeitar
as diferenças culturais, os valores, hábitos e comportamentos, de grupos e
indivíduos, pertencentes a uma sociedade globalizada pela economia e pelas
diversas interações midiáticas dadas pela TV, internet e outros.

Categorias teóricas utilizadas na produção brasileira a partir


dos anos 70.

Vamos mostrar nesse momento, um mapeamento das produções


bibliográficas brasileiras dos movimentos urbanos no final do século XX. Um
dado muito importante que apontamos é que a maioria dos estudos realizados
nos anos 80 e 90 houve declínio do interesse pelo estudo dos movimentos em
geral e principalmente pelos populares.

Mudanças substanciais na política em plena República no Brasil


provocam contradições da sociedade e fazem com que os profissionais das
áreas sociais (educadores, sociólogos, antropólogos e outros) tenham
interesse pela temática.

Já nos anos 90, a centralidade da maioria dos estudos passa a serem as


redes de (ONGs) e os mecanismos institucionais da democracia participativa.

No final dos anos 70, no Brasil, os novos movimentos sociais,


movimentos populares urbanos, ganham peso. Era representações ligadas a
igreja católica articulada com a teologia da libertação. Tinham um jeito diferente
de se articular, de organizar a comunidade local. A categoria trabalhada era
autonomia como uma estratégia política por detrás dos movimentos populares.

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Matrizes de socialismo libertário do século passado, assim como o
anarquismo, estavam embutidas e geravam concepções contraditórias. O
anarquismo foi um movimento de revolta do passado pré-industrial contra o
presente, que rejeitava a tradição, a religião e a igreja, o Estado e a burocracia
e defendia as causas do progresso, da ciência e da tecnologia. Acreditavam
nos processos educacionais como mola propulsora do progresso. Retomava
propostas do iluminismo e rejeitava qualquer autoridade, pregando o socialismo
libertário.

A abordagem do paradigma marxista enfatiza mais os aspectos


estruturais e analisa questões de reprodução da força de trabalho, do consumo
coletivo, da importância estratégica dos movimentos para mudanças no próprio
estado capitalista. A relação dos movimentos com o Estado era vista em
termos de incompatibilidade e aversão.

As mudanças na conjuntura da política no início dos anos 80 vieram a


alterar o panorama. No campo popular começou a questionar o caráter novo
dos movimentos populares. No campo das práticas, iniciou-se o interesse por
outros tipos de movimentos sociais, tais como o das mulheres, os ecológicos,
os dos negros, índios, etc. eles ganharam expressão nesta época, embora já
fossem lutas antigas.

A exibição desses novos estudos delimitou duas novidades: uma nova


concepção para o novo e uma divisão paradigmática. O novo passou a ser
referência para movimentos que suas necessidades estavam pautadas no
campo dos direitos sociais tradicionais (a vida, alimento, moradia...), para a
igualdade e liberdade.

O denominador comum nas análises dos novos movimentos sociais no


Brasil foi à abordagem culturalista, em sobrepondo a marxista, presente com
maior força na análise dos movimentos populares. Toda a ênfase estava na
identidade dos novos atores políticos. O dilema aqui passou a ser outro;
enfatizar mais o aspecto das mudanças socioculturais ou as transformações
políticas que os movimentos poderiam gerar (GOHN, 2005).

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Conforme a autora, no inicio da década de 80, novos tipos de
movimentos foram criados, fruto da conjuntura política econômica da época.
Foram os movimentos dos desempregados e das diretas já, que se definiam no
campo da ausência do trabalho e na luta pela mudança do regime político
brasileiro, relativas ao plano moral, da ética na política. O das diretas já, por
exemplo, surgiu no momento de pico de um ciclo de protestos, contra o regime
militar e a política excludente de desemprego que demarcou um novo ciclo de
protestos.

Abordagens nos anos 70 e 80 no Brasil até a atualidade

No final da década de 70 e partir da década de 80, os movimentos


sociais populares ficaram famosos e representaram articulações dos grupos de
oposição ao regime militar, especificamente pelos movimentos de base cristã,
sob a inspiração da Teologia da Libertação (GOHN, 2003).

Inicialmente, houve uma diminuição das manifestações nas ruas que


eram visíveis aos movimentos populares nas cidades. Alguns analistas
detectaram que eles estavam em crise por não mais existir o regime militar.
São diversas as causas das desmobilizações. É fato que nos anos 70 e 80, os
movimentos cooperaram para as aquisições de novos direitos sociais, que
foram inscritos em leis da Nova Constituição Brasileira de 1988.

A partir de 1990, ocorreram outras formas de organização popular, mais


institucionalizadas, como a constituição de Fóruns Nacionais de Luta pela
Moradia, pela Reforma Urbana, pela Participação Popular, etc. Esses fóruns
colocaram a prática de encontros nacionais gerando diagnósticos dos
problemas sociais e criando estratégias de resoluções.

Outro fato que marcou os anos 90, em relação ao organizativo, foi à


criação da Central dos Movimentos Populares, que estruturou vários
movimentos populares em nível nacional, como exemplo, a luta pela moradia.

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A ética pela política foi um movimento ocorrido nos anos 90 e teve
grande importância histórica, porque contribuiu, para a destruição do processo
democrático, de um Presidente da República por atos de corrupção, o que
nunca havia acontecido no país. Ele também contribuiu para o ressurgimento
do movimento dos estudantes com o novo perfil de atuação, as “caras
pintadas”.

À medida que as políticas neoliberais avançaram surgiram outros


movimentos sociais como: contra reformas estatais, a Ação da Cidadania
contra a fome, movimentos de desempregados, etc.

Surgiram outros movimentos no contexto de crescimento da economia


informal. Muitas ações apareceram como respostas às crises socioeconômicas,
agindo mais nos grupos de pressão do que nos movimentos sociais
estruturados. Conforme Gohn (2003), os atos e manifestações pela paz, contra
a violência urbana também são exemplos dessa categoria. Se antes, a paz se
sobrepõe a guerra, hoje ela é almejada como necessidade ao cidadão/cidadã
comum, em seu cotidiano.

Também os grupos de mulheres foram organizados nos anos 90, em


função da sua participação política, criando redes de conscientização de seus
direitos e frentes de lutas contra discriminações. O movimento dos
homossexuais também ganhou impulso. Os jovens geraram inúmeros
movimentos culturais, especialmente na área da música, destacando temas de
protesto.

Enfatizamos três outros movimentos sociais importantes na década de


90: dos indígenas, dos funcionários públicos e especialmente das áreas de
educação e saúde, e dos ecologistas.

No início deste milênio há ainda um movimento que está em


crescimento, que é o movimento contra a violência urbana, especialmente nos
grandes centros urbanos. Representam o alvoroço da Sociedade Civil na área
da segurança pública, na busca de proteção à vida do cidadão no cotidiano.

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Conforme a autora, pesquisas de opinião pública estão demonstrando
que a segurança está passando a ser o principal item de demanda da
população, maior do que o medo do cidadão ficar desempregado. Os
movimentos contra a violência, nos centros urbanos, são mais focalizados, pois
partem de grupos e ações localizadas, motivados por perdas de entes
queridos, passam a criar redes e mobilizam as associações comunitárias dos
bairros.

E o que aconteceu com os movimentos populares que nos anos 70 e 80,


sumiram? Não, sempre foram heterogêneos em termos de temáticas e
demandas. O que integra o universo de suas demandas são as carências
socioeconômicas. Nos anos 90, eles criaram e desenvolveram redes com
outros sujeitos sociais (no campo sindical, campo político partidário, campo
religioso, campo das ONGs). Os movimentos populares criaram e fortaleceram
a construção de redes sociais.

Ocorreram alterações profundas no cotidiano da dinâmica interna dos


movimentos populares. Saíram do nível das reivindicações para um nível mais
operacional, propositivo, incorporando novas práticas. Seus discursos
alteraram em função da mudança da conjuntura. Ajudaram a construir novos
caminhos de participação, não se tratando mais de ficarem em oposição ao
Estado. Como exemplo temos os Fóruns e a institucionalização de espaços
públicos importantes, como os diferentes conselhos, criados nas esferas
municipais, estaduais e nacional.

A autora assinala que,

Resulta desse processo uma identidade diferente, construída a


partir da relação com o outro, e não centrada exclusivamente
no campo dos atores populares. Esse outro estava presente
nos relacionamentos desenvolvidos com novas formas de
associativismo emergente, interações compartilhadas com
ONGs e a participação das políticas públicas (GOHN, 2003, p.
24).

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Ainda fazendo parte dos movimentos populares urbanos, a luta pela
moradia continuou a ter a importância. Uma parte dela tornou-se
institucionalizada, atuando no plano jurídico, obtendo resultados importantes
como o estatuto da Cidade. Outra parte migrou com suas assessorias para as
ONGs, participando de projetos institucionais, por exemplo, projetos de
reurbanização. Uma terceira parte inovou suas práticas seguindo o modelo de
movimento popular rural: realizando ocupações, não mais de áreas vazias, mas
ocupando prédios públicos e privados, ociosos ou abandonados, nas áreas
centrais das grandes cidades.

A quarta categoria de luta pela moradia foi representada pelos


moradores de rua, vivendo sob pontes, marquises, praças. Esses moradores
aumentaram significativamente nos anos 90, em termos de número e locais de
ocupação. Trabalhar em favor da organização de moradores de rua é muito
difícil, porque eles mudam muito de locais e não têm trabalho fixo.

Conforme Gohn (2003), muitos desses moradores foram angariados


pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) para fazer parte
dos seus acampamentos e ocupações rurais. O MST é o mais famoso dentre
os 20 movimentos sociais populares rurais do Brasil na atualidade. Os
movimentos rurais tiveram, nos anos 90, mais visibilidade e importância política
que os movimentos sociais populares urbanos.

Outro movimento que teve sua importância foi o popular da saúde, com
representações em Conferências Nacionais de Saúde e nos Conselhos de
saúde no qual existia a representação dos usuários. Ainda, existiram os
movimentos dos transportes, das creches da educação, ambientalistas, dentre
outros.

A partir dos movimentos citados e analisados, observamos que o perfil


dos movimentos sociais foi alterado pela própria mudança da conjuntura
política, na qual se redefiniram em função das mudanças. Foram vítimas dessa
conjuntura que através das políticas neoliberais, acabaram que enfraquecendo
os setores organizados.

25
Por esse motivo os movimentos dos anos 90, passaram a atuar em rede
e em parceria com outros atores sociais dentro da institucionalidade redefinido
suas relações para continuarem atuando em busca da igualdade e inclusão
social.

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EXCLUSÃO SOCIAL NA
SOCIEDADE CAPITALISTA
2

Conhecimento

Desenvolver no aluno a partir dos estudos teóricos, uma análise histórica dos
processos sociais ligados à pobreza, trabalho e exclusão.

Habilidades

Preparar os alunos para o enfrentamento das situações sociais vigentes em


nosso País como possibilidade de construção da civilidade humana.

Atitudes

Provocar o espírito de participação e cidadania ativa ligada a noção dos


direitos, como possibilidade para alcançar patamares mínimos de uma
sociedade mais justa e igual.

27
28
O início do processo de exclusão social

Atualmente, existem muitas discussões sobre exclusão social, as suas


causas e suas consequências relativas aos processos de transformações
econômicas, sociais e políticas. Hoje a problemática da exclusão é colocada e
debatida no seu conceito, como se esta, fosse uma situação recente da
atualidade, só que a temática da exclusão, pertence a vários períodos da nossa
história, vem desde a antiguidade, representada pelo humanismo, passando
pela burguesia mercantil, depois pela revolução industrial onde surgem as
classes trabalhadoras e daí, caímos no capitalismo, no neoliberalismo e no
processo de globalização econômica. Todo este percurso histórico reflete o
problema das desigualdades e da busca dos direitos da humanidade.

Desde a antiguidade, já se buscava a consciência dos valores humanos,


até mesmo, na época do humanismo, esses valores foram distorcidos e os
trabalhadores sofreram humilhações e exclusões. Foi sob a inspiração dos
valores humanos fundamentais que ocorreram as revoluções burguesas, nos
séculos XVII e XVIII, onde acreditaram que através da imposição de limitações
ao poder pessoal dos governantes e a eliminação de privilégios da nobreza,
dariam lugar a uma nova ordem social justa, uma sociedade de pessoas livres
e iguais. O que não aconteceu, pois houve uma tremenda distorção em relação
à liberdade e igualdade dos direitos do cidadão. Para quem era nascido na
pobreza, esses não tiveram direitos sobre esta liberdade e igualdade. A marca
da sociedade do século XVIII foi à supremacia absoluta para a riqueza material,
privilégios políticos e sociais para os detentores do poder e egoísmo em lugar
de fraternidade e solidariedade, criando distâncias enormes entre o pobre e o
rico.

A aprovação da declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948,


além de representar um grito de protesto representou também, a rejeição do
individualismo egoísta e do materialismo disfarçado implantado no fim do
século XVIII, onde utilizaram o rótulo do liberalismo, mas na verdade só
cuidaram da liberdade dos privilegiados economicamente.

29
Só que através dessas transformações econômicas, a própria sociedade
começa a questionar como está a humanidade dentro desse perfil conflituoso,
e então começa a buscar com muita clareza a dignidade da pessoa humana.
Desse modo, os valores essenciais na vida do homem foram colocados em
primeiro plano. Dalmo Dallari (1998) afirma que, “é no contexto dos conflitos
entre as diferenças econômicas, políticas e sociais, que nasce a necessidade
de mudanças em uma determinada realidade de uma sociedade”.

Já no século XVIII, houve a marca do capitalismo, que formou uma


sociedade destrutiva e excludente.

Só que a economia capitalista continuou forte e provocou um processo


de conflitos, fazendo aparecer o Estado de bem-estar social. Esse Estado
benfeitor possibilitou, principalmente na Europa Central, a oferta de serviços
públicos, garantia de empregos e redistribuição de renda. Mas existiu uma
contradição no Estado de bem-estar; ao atender os interesses dos burgueses,
a fim de impedir a eclosão das constantes crises no modelo capitalista,
possibilitou também, a organização dos trabalhadores na Europa. No Brasil
esta situação foi bem mais diferente.

Surge então o neoliberalismo, onde o Estado deixa de intervir na


economia e no social transferindo a responsabilidade para a sociedade civil e o
desemprego surge como consequência normal desse processo econômico.

Com o surgimento da globalização da economia, tudo piora em relação


aos direitos humanos. O (FMI) e o Banco Mundial realizam acordos
internacionais. Esta globalização parece supor uma posição de igualdade entre
todos (países, empresas e indivíduos), mas tudo é uma grande ilusão. Ela
influenciou bastante para o crescimento da desigualdade entre países, tanto os
emergentes como os de primeiro mundo, fazendo surgir uma “nova pobreza”,
sendo o desemprego sua face mais visível.

Sendo assim, existem três elementos teoricamente distintos, mas que se


relacionam e se reforçam para produzir o desemprego, sua precarização e as
quedas dos salários e consequentemente a desigualdade e a exclusão, são

30
eles: o processo de reestruturação produtiva, o neoliberalismo e o processo de
globalização.

Estamos tentando explicar toda esta polêmica em torno da exclusão na


contemporaneidade, baseada não numa visão conceitual ligada ao modismo
que está sendo tão usado atualmente, mas numa visão mais realista, onde o
conceito estará ligado à própria prática vivencial da humanidade, onde Demo
(2002) citado por Paugam, explica esta polêmica da seguinte forma “o sucesso
da noção de exclusão é (...), em parte, ligado à tomada de consciência coletiva
de uma ameaça que pesa sobre franjas cada vez mais numerosas e mal
protegidas da população” (PAUGAM, 1996, p.15).

A exclusão passa a ser um fenômeno típico da atual fase do capitalismo


(globalização neoliberal), onde o setor social não consegue se integrar no
desenvolvimento capitalista.

Na educação, o processo de exclusão também está presente, onde o


capitalismo provoca a promoção da educação para a qualificação do trabalho.
A cartilha neoliberal indica a reorientação do modelo educacional, onde a
educação passa a ser vista como um bem a ser consumido, baseada numa
proposta de mercantilização da educação, comprometendo o desenvolvimento
político ideológico da humanidade, promovendo a total ignorância e submissão.

Uma nação que se submete às decisões das maiores potências


mundiais, haja visto que o sistema educacional não passa de um produto de
importação de sociedades dominantes, do que um resultado de um
desenvolvimento originário e relativo a seu povo, logo, a educação é uma
condição necessária, mas, não suficiente para o desenvolvimento e para a
cidadania.

Exclusão social e a nova desigualdade: ressignificando o


conceito

José de Souza Martins (1997) comenta que a discussão em torno da


exclusão social nesta atualidade, expressa uma rotulação de conceitos, que ao
invés da palavra expressar uma prática rica, ela acaba induzindo a uma prática

31
pobre, onde alguns teóricos da exclusão desenvolvem uma luta vazia em torno
dos significados, sem raiz na prática dos que lutam pela vida, “uma ação que
se reduz ao discurso que não se nutre do vivido”. Que a ideia de exclusão é
pobre e insuficiente, onde se discute a exclusão e deixa de se discutir as
formas de pobres, as formas indecentes de inclusão.

Consequentemente, surge uma conceituação rotuladora, onde os


militantes envolvidos na batalha pedagógica pela luta da igualdade social,
através de seu idealismo, não derivam os conceitos da práxis, mas procuram
fazer da práxis a realização dos conceitos, provocando uma “coisificação
conceitual”.

Para conceituar exclusão, o autor, tenta fazer uma leitura da realidade


reflexiva, sem pré-julgamentos e sem arrogância. Pretendem descobrir os
significados ocultos e ocultados, os mecanismos invisíveis da produção de
miséria, do sofrimento e das privações. Em seu livro, Exclusão Social e a Nova
Desigualdade, tem o objetivo de nos propor a ideia de que a reflexão crítica é
que situa o nosso agir no processo histórico, e que sem isso, a ação se torna
um equívoco.

Adota uma linha de trabalho baseado numa perspectiva sociológica


política, antieconomicista, onde provoca uma reflexão política entre sociedade
e o Estado, defendendo que este é o âmbito de reivindicação de exigências
dos direitos sociais, das vítimas da exclusão.

Colocam em discussão dois pontos; o primeiro, que não existe exclusão


e o segundo, o que chamam de exclusão, são dolorosas situações de
ajustamento econômico, social e político, decorrentes da mesma. E essas
vítimas através dos conflitos, proclamam pelo seu inconformismo, sua revolta e
seu mal-estar. A própria população está construindo, uma alternativa
includente, que provoca a necessidade de resolver, de criticar. Falamos das
necessidades radicais, desenvolvida pelo sociólogo francês Henri Lefebvre,
que explica: “são necessidades que derivam das contradições insuportáveis,
ajustando-as de acordo com as necessidades do homem e não as
conveniências do capital”.

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Martins defende a fetichização da ideia de exclusão, onde todos os
problemas sociais passam a ser atribuídos mecanicamente a exclusão. Sendo
assim, esta, passa a ser um momento de percepção que cada um pode ter e
traduzir em privação; privação de emprego, de participação do mercado de
consumo, de bem-estar, de direitos, de liberdade, de esperança, é o que
chamamos vulgarmente de pobreza.

Fetichismo: Ocultismo. Culto aos objetos tidos como poderosos e/ou


sobrenaturais; Ação de estar do lado de alguém, contra uma terceira pessoa,
sem se importar com a verdade.

Hoje, esta privação é mais do que econômica, existe nela certa


dimensão moral, onde a nova pobreza já não oferece alternativa a ninguém,
onde o valor do trabalho mudou e vai sendo desmoralizado, deixando de ser de
integração positiva na sociedade atual. É o que o autor chama de inclusão
marginal.

As políticas econômicas atuais, no Brasil, com o modelo neoliberal,


implicam esta inclusão, que não são políticas de exclusão. Cria-se então, uma
sociedade dupla, como se fossem dois mundos que se excluem
reciprocamente; parecidos na competição, mas não são parecidos nas
oportunidades. Uma nova sociedade não mais gerada pelo aparecimento das
classes sociais, pois resulta no fim das possibilidades de ascensão social. Esse
momento da passagem de exclusão para o momento de inclusão está se
transformando em um modo de vida e está criando uma grande massa de
população sobrante.

Além da inclusão marginal, produz também a reinclusão ideológica no


imaginário da sociedade de consumo. Surge o que o autor chama de “estado
de drogado”, o moderno colonizado, o homem que já não sabe ser um
verdadeiro igual, mas que se sente feliz porque pode imitar os ricos e os
poderosos, confundindo o falso com o verdadeiro, pensando que nisso está à
igualdade. Esta é uma sociedade da imitação, do falso novo, que não mais
cede lugar a invenção, a criação, a revolução, prevalecendo à perda da
capacidade de cultivar a inteligência crítica.

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Martins (1970) coloca que, esse “estado de drogado” está se
proliferando facilmente como substituto manipulável e mercantilizado do sonho.

Ele defende que é aí que se revela o que de fato deve ser objeto de
crítica e de combate por parte daqueles que não perderam a dimensão da
humanidade do homem, como o grande projeto dos que tem sede de justiça.

Sendo assim, a compreensão da realidade social exige das ciências


sociais um esforço permanente de crítica dos conceitos utilizados nas análises
da sociedade. Espera-se que, frente às alterações que estas realidades sociais
vêm sofrendo ao longo do tempo, façam emergir novos conceitos que melhor
se relacionem às mudanças, dando lugar à forma como os problemas sociais
se manifestam ou nos fatores que os determinam.

O papel do educador social na condução do processo de


inclusão, integração e participação das comunidades.

O contexto político-social e econômico do Brasil no final dos anos 80,


influenciado pela política social europeia, impôs ao Brasil situações
desconfortáveis e comprometedoras de seu processo de desenvolvimento
social. É que neste período, nosso país começa a apresentar complexas
feições características da globalização com consequências negativas para a
sociedade. É que o processo de globalização tem o poder de provocar
diferentes situações de desigualdades sociais. Tal processo tem afetado as
mobilizações e organizações sociais no cotidiano da realidade dos movimentos
sociais, contribuindo para a ampliação das desigualdades e exclusões sociais,
associadas à perda dos direitos sociais e trabalhistas.

Com isso, está ocorrendo um crescente aumento de projetos voltados


para o atendimento aos múltiplos aspectos das condições de vida da
população brasileira. Entretanto, um significativo contingente de atores sociais
tem se utilizado dessa realidade política e social, para desenvolver ações que
favorecem poucas interferências na transformação da sociedade. Porém,
muitas vezes, esses projetos sociais revelam interesses de classes,

34
beneficiando aos grupos sociais favorecidos e negligenciam aos interesses
comunitários. Assim reforça a continuidade das práticas, a reprodução das
desigualdades e manutenção do poder dominante.
Nesta compreensão, o educador social engajado na luta pelas
transformações da realidade concreta, exerce papel fundamental na construção
de novos caminhos históricos, atuando sobre as causas que originam os
problemas, buscando medidas preventivas, atentando para a elaboração de
projetos sociais que respondam às necessidades do coletivo, a partir do
comprometimento dos sujeitos sociais em busca de objetivos comuns que, ao
longo do processo histórico, consiga erradicar as desigualdades e as exclusões
sociais existentes. Somente assim, justificam-se as preocupações com a
ampliação do índice de ONGs, associações diversas. Caso contrário nada de
novo ocorrerá no cenário brasileiro.

Logo, a atuação dos projetos sociais deve assumir a forma de uma


atuação preventiva, e para tal, deve atuar sobre as causas. Pensando na
atuação social com esta orientação, no sentido de prevenção e erradicação das
desigualdades e desvantagens nas nossas sociedades, devemos ter bastante
cuidado e estar atentos aos objetivos e instrumentos para a realização dos
projetos sociais.

Sendo assim, os projetos sociais podem ser indutores de novas políticas


públicas e são frequentes as intervenções da política social, que têm em suas
atuações a preocupação em resolver e integrar a dimensão dos direitos sociais,
a fim de reduzir as situações de carência e atuações inclusivas de integração
social, políticas que tenta proporcionar ao beneficiário, meios que lhe permitam
reinserir-se na sociedade, seja pela participação no mercado de trabalho ou em
outras formas de participação, voltadas para o atendimento às necessidades
coletivas.

Ao mesmo tempo em que a sociedade civil, com sua heterogeneidade,


vem se fortalecendo e desenvolvendo novas formas de organizações (não
governamentais, redes, entre outras), torna-se protagonista da ação social,
atuando de forma direta nas questões sociais e também participando

35
ativamente de políticas públicas, formando um ambiente que produz efeitos
educativos.

Já no contexto educacional, dentro de uma perspectiva pedagógica de


estruturação, mobilização e conscientização da comunidade torna-se
fundamental, a presença do educador social. Ele se apresenta como
interventor da realidade com seus problemas, daí sua importância nesta ação.
O educador social favorece ao desenvolvimento de uma consciência crítica de
caráter intencional para a produção de impactos e iniciativas e sua ação deve
ser permeada pelos valores humanistas. São esses valores que, atualmente,
estão sendo priorizados pela comunidade comprometida com a construção da
sociedade justa e igualitária.

Desse modo, o ambiente social, político e cultural vai implicando na


geração sempre mais, de processos educativos. Firma-se então, que na
sociedade estão presentes novos processos educativos informais,
espontâneos, difusos, envolvendo práticas de socialização.

Por fim, a análise dos fenômenos sociais deve ser consistentemente


bem alicerçada num conjunto sólido de conceitos, acompanhada de reflexão
crítica sobre adequação desses projetos sociais sob os fenômenos analisados,
devendo este trabalho social ser reavaliado e reajustado a nossa realidade, de
forma continuada, exigindo uma constante revisão de sua práxis para que
possam proporcionar bons resultados. O êxito, neste sentido, será alcançado
em face da possibilidade concreta de realizar mudança e transformação social.

A Pedagogia Social está referenciada como uma política que atua numa
formação para atuação na área social na intervenção, propiciando a criação de
ações orientadas e intencionais. O objeto da Pedagogia Social é a própria
intervenção na realidade social, numa análise da sociedade e do indivíduo. A
expansão da ação da pedagoga social ocorre na educação não formal, é o
conjunto de processos, meios e instituições específicas, organizadas em
função de objetivos explícitos de formação e instrução que não estão
diretamente vinculados à obtenção de graus próprios do sistema educativo

36
formal. É diferente da escola, mas é uma ação com planejamento e com
intenção e organização para o aprendizado.

No Brasil, um exemplo é a Educação Popular que em 1960, na qual o


educador Paulo Freire com a Educação de Jovens e Adultos teve notável
influência com as campanhas de alfabetização e formação política.

Então, se nos anos 1960 e 1970, os movimentos populares foram


marcados pela luta de contestação ao sistema contra a concentração de
riqueza, de poder, de injustiça, do autoritarismo, os anos 1980 trazem à cena
agentes sociais com nova natureza, nova lógica. Surgem lutas específicas de
mulheres, jovens, negros, ecologistas, todos em defesa da conquista de suas
identidades culturais e da igualdade dos direitos; lutas que apontam para um
modelo de democracia, que permita a convivência com as diferenças e redução
de desigualdades. Já os anos 1990, caracterizaram-se pela exacerbação do
eu, do desejo, da subjetividade, da descrença política, do recuo aos
movimentos sociais, favorecendo o surgimento do liberalismo e o
fortalecimento do capitalismo.

Para alguns estudiosos na atualidade, a tarefa mais importante da (EP)


é a de reconstituir criticamente a linguagem popular para a libertação. O
problema expresso diante de tal ação comunicativa é que muitas das suas
deformações, obstáculos para o sucesso dos diálogos, existem porque ocorrem
numa sociedade desigual e estas deformações advêm de mecanismos que
legitimam a dominação, impedindo a problematização dos discursos interativos.

Os processos educativos, sejam formais ou não formais, contribuem


para o repensar das relações de trabalho, seja no processo de convivência
social, seja na produção de sua sobrevivência e afirmação, seja na relação
com a natureza ou com os demais seres humanos, o homem elabora
conhecimento, processa educação, aprende e desenvolve capacidades.

37
38
EDUCAÇÃO E MODERNIDADE:
DIMENSÕES DA PRÁTICA
EDUCATIVA
3
Conhecimentos
Conhecer as modalidades da prática educativa (informal, não formal e formal)
para formação profissional do educador nessa atualidade com um olhar
ampliador no campo profissional, abrangendo além dos conteúdos teóricos e
práticos, valores e atitudes para viver e se desenvolver.

Habilidades
Preparar o aluno para atuar como educador nas diversas dimensões
educativas nos múltiplos contextos da prática social do pedagogo com
capacidade para realizar ações competentes. Formar um profissional
qualificado para atender as demandas socioeducativas do tipo formal, informal
e não formal.

Atitudes
Provocar no aluno uma formação pedagógica para construção de sujeitos
autônomos, solidários e participativos, com atitudes transformadoras, tomando
agentes educativos conforme a instância que operem, atuando com novas
metodologias e linguagens.

39
40
Diferença entre pedagogia e educação

A pedagogia está ligada aos processos educativos, aos métodos,


maneiras de ensinar, tendo um significado mais amplo: é uma diretriz
orientadora da ação educativa. O pedagógico refere-se a finalidades da ação
educativa. A pedagogia se ocupa do estudo sistemático da educação, ou seja,
do ato educativo, da prática educativa. Estabelece-se pelos processos
formativos. Ocorrem nas instituições, na família, trabalho, rua, e meios de
comunicação. Por isso, existem diferentes manifestações e modalidades de
prática educativa (formal informal e não formal).

A educação informal são ações e influências exercidas pelo meio, pelo


ambiente sociocultural, através das relações dos indivíduos e grupos que não
estão ligadas a uma instituição, nem são intencionais e organizadas. Já a
educação não formal, é realizada em instituições educativas fora dos marcos
institucionais, mas com certo grau de sistematização e estruturação. A
educação formal compreende as instituições de formação, escolares ou não,
onde há objetivos explícitos, é sistematizada e intencional e organizada.

Sendo assim, se existem várias práticas educativas, existem também,


várias pedagogias: a pedagogia familiar, sindical, social, escolar, etc., mas a
pedagogia trabalha com a educação intencional, aquela que há sempre uma
intervenção voltada para fins desejáveis do processo de formação.

A partir da complexidade em nossa sociedade e das diversas ações


educativas o conceito de educação torna-se ampliado afetando a própria
pedagogia. Em vários âmbitos da sociedade surge a necessidade de
disseminar saberes, conhecimentos, modos e atitudes, levando a diversas
práticas pedagógicas.

Numa visão funcionalista, a educação é compreendida como algo que se


transmite que se repete e que é imutável, dando uma ideia que a educação
será sempre a mesma para uma mesma sociedade. A educação tem de fato

41
uma função adaptadora, existindo um vínculo de fato, entre o ser humano que
se educa e o meio natural e social.

Mas a educação também é uma prática ligada à produção e reprodução


da vida social, e o acontecer educativo corresponde à ação e ao resultado de
um processo de formação de sujeitos a partir das exigências impostas num
determinado contexto social.

“Conforme Demo (1999), citado por Dewey (1979: 83), a educação não é
preparação para vida é a própria vida”. É representada como uma constante
reconstrução de nossas experiências vividas.

Para a concepção culturalista, a educação é uma atividade cultural


dirigida para formação das pessoas a partir da transmissão de bens culturais,
ou seja, um modo de ser subjetivo da cultura.

Já a concepção ambientalista joga o meio externo como toda força de


atuação sobre o indivíduo. Conforme Demo, na compreensão do sociólogo
Durkheim, é a sociedade que propicia valores, ideias e regras, as quais o
espírito do educando deve submeter-se.

Outra corrente ambientalista é a do behaviorismo, na qual o homem é


um ser moldável ao meio externo, a partir de estímulos externos o homem se
desenvolve e seu comportamento é controlado.

Na concepção interacionista, a educação é compreendida da seguinte


forma: o ser humano se desenvolve biologicamente e psiquicamente na
interação com o ambiente, onde homem e meio interagem.

Encontramos diversas formas de compreensão da educação, umas


colocam o ideal educativo fora do indivíduo outras identificam com o
desenvolvimento individual. Mas essas definições se movem em torno de uma
visão individualista e liberal de educação.

O processo educativo é um fenômeno social, em suas contradições e


lutas sociais e nos embates da práxis social é que vai se formando o ideal de

42
formação da humanidade. Nesse sentido, a tarefa educativa se reflete em
superar a antinomia entre fins individuais e fins sociais.

A educação está inserida no processo de desenvolvimento pessoal e de


relação interpessoal, mas também, inserida no conjunto das relações sociais,
econômicas, políticas, culturais numa determinada sociedade. Esse vínculo da
prática educacional com prática social faz com que a educação fique
subordinada aos interesses dos grupos sociais e daí tende a representar
interesses dominantes e ser transmissora das ideologias que responde a esses
interesses. Torna-se uma expressão de determinadas formas de organizações
das relações sociais em nossa sociedade.

Partindo da concepção crítico-social sobre a educação, é compreendida


como um conjunto de processos formativos que acontecem no meio social,
podendo ser intencional ou não, sistematizado ou não, institucionalizado ou
não.

Quando nos referimos à intencionalidade da educação estamos nos


referindo a uma prática social para potencializar a atividade humana, tornando-
a mais rica, produtiva, visando o desenvolvimento a partir dos processos de
transmissão e apropriação dos conhecimentos, valores, habilidades, técnicas,
organizadas para esse fim. A família, a escola, as instituições e grupos sociais
fazem parte dessa educação intencional.

Existem outros sentidos da educação: a educação como instituição


social que corresponde à estrutura organizacional e administrativa; a educação
como processo, que corresponde à ação educadora suas condições e modos
pelos quais os sujeitos podem se educar. Indica a atividade formativa nas
várias instâncias, com objetivos e conteúdos definidos; e a educação produto,
onde a educação tem o sentido de caracterizar os resultados obtidos de ações
educativas.

43
A educação não formal e a construção da cidadania

De forma genérica, a educação não formal era vista como processos


educativos para alcançar a participação de indivíduos e grupos em áreas de
extensão rural, animação comunitária, treinamento vocacional, planejamento
familiar, etc..

Em 1990, ela se destacou devido às mudanças na economia, na


sociedade e no mundo do trabalho. Começou a dar importância aos processos
de aprendizagem coletiva, aos valores culturais, exigindo de novas habilidades
para além da sala de aula.

Nesse cenário, o modelo desenhado pela Organização das Nações


Unidas (ONU), adotado para área da educação, passou a vigorar com toda
força. O poder do conhecimento aparece em pauta, e não mais o da economia.
Exige-se agora, o domínio das habilidades básicas como: comunicar-se bem,
domínio das máquinas e habilidade de gestão, de gerir sua carreira, os
conflitos, sua vida. Cobra-se um perfil de trabalhador criativo, que compreenda
os processos e incorpore novas ideias, que tenha autoestima e assuma
responsabilidades e seja cidadão ativo.

Os cursos entram para fazer parte do modelo econômico vigente, na


nova sociedade globalizada, que priorizam o interesse do capital internacional
em detrimento do desenvolvimento nacional. Nesse cenário, o resultado é uma
sociedade competitiva, individualista e violenta. Uma educação que requer
reciclagem, aperfeiçoamento, atualização e especialização emergindo mais nas
áreas do terceiro setor que é constituído por organizações sem fins lucrativos e
não governamentais, que tem como objetivo gerar serviços de caráter público.

É nesse sentido que a educação não formal ganha importância, porque


envolve a aprendizagem política dos direitos dos indivíduos. Ela capacita os
indivíduos para o mundo do trabalho por meio da aprendizagem de habilidades
e potencialidades. Favorece a organização coletiva dos indivíduos.

Os espaços onde se desenvolve a atuação da educação não formal são


dos mais variados; no bairro, nas associações, nas organizações, nas igrejas,

44
sindicatos e nos partidos políticos e Organizações Não Governamentais
(ONGs).

Existem dois campos de atuação da educação não formal, um que


abrange a área da educação popular e educação de jovens e adultos
destinados a transmitir conhecimentos diferentes dos planejados nas escolas e
o outro que abrange a educação voltada para o processo de participação social
não voltado para educação de conteúdos.

Na educação não formal a cidadania é o objetivo principal, e se


caracteriza por seu caráter voluntário, promovem a socialização, a
solidariedade, visa desenvolvimento humano, político, social e econômico,
preocupa-se com a mudança social, favorecem a participação descentralizada,
proporcionam projetos de intervenção e a aprendizagem se dá pela prática
social através de vivências de situações problema.

Ao estudarmos a educação não formal, desenvolvida nos grupos sociais


organizados ou movimentos sociais devemos atentar para as questões
metodológicas e os modos de funcionamento. Sistematizar a metodologia
contida nos processos de aprendizagem irá depender da nossa capacidade,
enquanto educadores, de entender e ouvir os sujeitos pensantes e falantes.
Precisamos estar prontos para escutar as falas e também o silêncio que
acompanha aquela fala. Devemos desenvolver capacidades e habilidades no
campo da linguística, captar conteúdos motivacionais, ideológicos e
emocionais.

Dessa forma, se queremos pensar dialeticamente a educação temos que


refletir sobre o homem como ser histórico e suas relações sociais, ou seja,
considerar o homem como conjunto das relações sociais.

A dialética concebe o homem como ser histórico: portanto, toma como


referência o homem concreto que age sobre si e que se relaciona e age sobre
seu meio. Esta linha de análise deixa claro que o processo educativo é
entendido como atividade que exige por parte do educando grande esforço e
um trabalho disciplinado e metódico. Evidencia-se que a ação educativa é
política e não neutra. Cabe ao educador não se opor à vida do grupo social

45
onde o educando se insere, mas se mostra como aprendiz e confere maior
rigor lógico ao saber popular.

Educar para solidariedade: o homem como problema ético

O problema da solidariedade refere-se à justiça e que as raízes da


injustiça estão fixadas tanto em atitudes pessoais como em estruturas injustas.
Dessa forma, a luta pela justiça tem relação em muitos aspectos, com a
educação para a cultura da solidariedade. Gostaria de inserir a ideia de
educação como humanização, socialização e singularização.

É necessária e urgente a construção de novos valores, de uma nova


ética. É imprescindível um impulso ético para a construção do bem comum.
Será considerada a reflexão crítica sobre os valores, os ideais e os estilos de
vida dominantes. A cultura da solidariedade é totalmente inversa à
homogeneização. Pelo contrário, tem um projeto alternativo que busca a
diversidade cultural endógena, com identidade e autonomia complementares.

Representa uma chamada para a sensibilização da problemática global


do desenvolvimento: pobreza, injustiça, degradação ambiental, todo tipo de
conflito. O objetivo da educação é formar pessoas adultas, solidárias e abertas
para o mundo plural e a formação profissional deve vir depois de tudo isso.

O objetivo da aprendizagem é o crescimento pessoal do indivíduo


mediante a intervenção social e como esse indivíduo assume os sistemas de
valores. Os valores são independentes dos bens, ou seja, não precisam
encarnar nas coisas reais. São criações humanas e só existem e se realizam
no homem e pelo homem.

Os trabalhos em educação falam sobre eixos transversais, a


transversalidade. Alguns compreendem que a transversalidade está no âmbito
da ética, ou seja, dos valores básicos para a vida e a convivência – a educação
de valores. Define-se como ética o comportamento moral do homem na
sociedade, ética como ciência da moral. Portanto, ética e moral se relacionam.

46
Não existe direito sem obrigação e não há nem direito e nem obrigação
sem uma norma de conduta. A noção de direito moral introduz também, a
obrigação moral. Ter direito moral em face de alguém significa que há outro
indivíduo que tem obrigação moral para comigo.

Os valores não são algo abstrato que se aprendem, eles estão inseridos
em contextos reais, na interação humana. Toda educação de valores deve
estar em relação dinâmica com a realidade das pessoas.

Muito acostumados a um sistema educativo que privilegia os conteúdos


conceituais em detrimento dos procedimentos das atitudes, para se trabalhar
na educação para solidariedade, será necessário articular o desenvolvimento
de capacidades críticas e analíticas.

Devemos entender a educação como um direito e não como instrumento


de desenvolvimento econômico e social e nem é preparação para o mercado
de trabalho, mesmo que possa contribuir para formação profissional. Ela é
movimento de humanização, de socialização, de subjetivação. A educação é
um instrumento importante para a luta pelo direito, pela paz, contra a
discriminação, exploração e degradação do ser humano.

A globalização neoliberal atual impõe princípios contraditórios aos


direitos dos cidadãos. Estes só podem ser conquistados por meio de lutas por
uma sociedade e por um mundo solidário na educação, o processo de exclusão
também está presente, onde o capitalismo provoca a promoção da educação
para a qualificação do trabalho. A cartilha neoliberal indica a reorientação do
modelo educacional, onde a educação passa a ser vista como um bem a ser
consumido, baseada numa proposta de mercantilização da educação,
comprometendo o desenvolvimento político ideológico da humanidade,
promovendo a total ignorância e submissão.

É importante destacar que os excluídos: pobres, minorias, comunidades


indígenas, etc. não devem ser somente beneficiados da educação, devem
participar ativamente por meio do debate público. A exclusão está na realidade
social de nosso país, onde a sociedade se coloca autoritária e hierarquizada
em relação aos direitos do homem.

47
Esse processo que chamamos de exclusão não cria mais pobres, cria
uma sociedade paralela que é includente do ponto de vista econômico e
excludente do ponto de vista social, moral e político. A nossa sociedade está se
constituindo em sociedade dupla, duas humanidades: humanidade constituídas
de integrados (ricos e pobres) e outra, de sub-humanidade, incorporada do
trabalho precário, no trambique, das privações. Toda exclusão é a negação do
humano.

Não basta falar dos Direitos Humanos, devemos ter disposição para
respeitar e fazê-los respeitar. Através da educação para solidariedade e para
os direitos humanos os excluídos adquirem consciência dos direitos e
começam a lutar por eles. Devemos ensinar para que as pessoas
compreendam melhor o sentido do mundo, da vida humana, das relações com
os outros e consigo mesmo. É respeitando o direito ao sentido que a educação
contribuirá para construção de um mundo solidário.

A contribuição dos Movimentos Sociais para construção de


políticas públicas educacionais

Os movimentos sociais vêm desempenhando um papel muito importante


na articulação entre o Estado e a sociedade civil, através da luta por direitos,
na construção das políticas públicas e os seus desdobramentos no âmbito da
Educação Básica.

Neste sentido, buscamos comprovar que o princípio da equidade e da


formação de sujeitos de direitos, vocalizado pelos novos movimentos sociais a
partir das lutas e de suas transformações que receberam maior impulso desde
a promulgação da Constituição Federal de 1988, se institui como pressuposto
fundamental da educação em direitos humanos (PEREIRA, 2015).

Conforme Pereira (2015) é importante demonstrar os princípios da


educação em direitos humanos preconizados no Plano Nacional de Educação
em Direitos Humanos (PNEDH), como a principal política indutora dos direitos
humanos nos contextos educacionais, na qual foi proposto um conjunto de
ações programáticas que norteiam a transversalidade das ações, dos

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programas e dos projetos de promoção dos direitos humanos nas políticas
públicas do poder executivo.

A certeza da pluralidade de interesses e o oferecimento das condições


necessárias à participação social dos sujeitos

“[...] faz com que os movimentos sociais emergidos e


mobilizados ajudem a mudar o centro de gravidade
sociopolítico, de uma democracia política estruturada a partir
do Estado para uma democracia mais participativa, mobilizada
a partir do poder da sociedade civil.” (RAMÍREZ, 2003, p. 55)

Em relação à construção de políticas públicas, vale destacar que em


1996 o Brasil lançou o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH I),
contendo as diretrizes para atuação do Poder Público no âmbito dos direitos
humanos, cujo principal objetivo era a garantia dos direitos civis e políticos;
relançado em 2002, o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH II)
outorga as demandas dos movimentos sociais, contemplando os direitos
econômicos, sociais e culturais.

Os eixos orientadores estabelecidos no Programa Nacional de Direitos


Humanos obedecem à seguinte divisão:

Interação democrática entre Estado e sociedade civil;


Desenvolvimento e Direitos Humanos; Universalizar Direitos
em um Contexto de Desigualdades; Segurança Pública,
Acesso à Justiça e Combate à Violência; Educação e Cultura
em Direitos Humanos; Direito à Memória e à Verdade.
(BRASIL, 2010, p. 9-10)

Logo, a implementação desses eixos promove a ações com vistas à


promoção do direito à igualdade, combate à discriminação e a promoção da
equidade, igualmente encontra respaldo nas propostas de ações
governamentais relativas à educação, conscientização e mobilização contidas
no Plano Nacional de Políticas para as Mulheres de (2004), no Programa Brasil
sem Homofobia de (2004), no Plano Nacional de Educação em Direitos
Humanos de (2006), e no Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com
Deficiência de (2011), gestados de maneira articulada com ativistas,

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inaugurando o reconhecimento por parte do Estado brasileiro das
reivindicações dos movimentos sociais por cidadania, transformando diversas
iniciativas pontuais em políticas de Estado (PEREIRA, 2015).

Contudo, foi necessário alterar as práticas educativas, a produção de


conhecimento, a cultura e a legislação, como instrumentos necessários ao
exercício de todos os direitos e liberdades fundamentais dos grupos sociais
historicamente discriminados e excluídos das políticas públicas.

Conforme Pereira (2015), em 2010 houve uma alteração do Plano, a


terceira versão do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH – III) que
resume as principais exigências dos movimentos sociais, reunindo as
resoluções aprovadas nas conferências territoriais, estaduais e nacional,
realizadas desde 2003, pelo Governo Federal, em articulação com os governos
municipais, estaduais, os movimentos sociais e a sociedade civil, nos 27
estados da Federação.

Nestas conferências foram idealizadas as diretrizes que nortearam a


concepção de políticas públicas nas seguintes áreas temáticas consideradas
prioritárias, tais como: direitos humanos, segurança pública, educação, saúde,
igualdade racial, direitos da mulher, juventude, crianças e adolescentes,
pessoas com deficiência, idoso e meio ambiente.

O processo educativo é responsável diretamente, pelos direitos sobre os


indivíduos que pretende formar, na medida em que difunde valores, ideais e
concepções do homem e da sociedade. Sendo assim, o Eixo “Educação e
Cultura em Direitos Humanos” é definido como prioritário, constituindo-se como
tarefa importante da educação em direitos humanos para fazer valer os
princípios e as diretrizes do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos
(PNEDH) e promover processos educativos para a formação de uma cultura
pautada no respeito aos direitos, no reconhecimento as diferenças e
implementação da cultura da paz. Veja a citação a seguir:

O Governo Federal convocou, em 2010, a 1ª Conferência


Nacional de Educação (Conae), reunindo representantes da
sociedade civil organizada dos 27 estados brasileiros, tendo
como temática “Construindo o Sistema Nacional Articulado: O

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Plano Nacional de Educação, Diretrizes e Estratégias de Ação”.
Esta Conferência aprovou diretrizes, metas e ações para a
política nacional de educação, na perspectiva da inclusão,
igualdade e diversidade, com o objetivo de se constituir como
subsídio para a construção do novo Plano Nacional de
Educação (PNE 2011-2020), atualmente em fase de
elaboração. (BRASIL, 2010b)

Existe o estreito vínculo entre educação e participação política e em


todos os textos oficiais, a educação é assumida como elemento central para a
construção de uma cultura alicerçada nos ideais e valores da democracia, da
inclusão social e da formação de sujeitos de direitos. (ARROYO, 1996).

Sendo assim, A LDB (9.394/96) recomendou, para todos os níveis de


ensino, a formação ética e a formação para a cidadania “[...] inspirada nos
princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por
finalidade o pleno desenvolvimento do educando” (BRASIL, 1996, art. 2º).
Estes documentos preconizam, sob o ponto de vista normativo, o objetivo de
promover e cultivar uma educação pautada em princípios éticos identificados
com a noção universalista de Direitos Humanos. (CARVALHO, 2008)

A partir da LDB, em 1997 surgem os Parâmetros Curriculares Nacionais


(PCN), cujo escopo consistia em estruturar as disciplinas dos ensinos:
fundamental e médio, no qual, este documento sugere que sejam incorporadas
nas propostas educacionais problemáticas sociais, sob a forma de Temas
Transversais, não se constituindo como novas disciplinas, mas assuntos
necessários à formação de cidadãos e cidadãs. Designou a promoção de uma
educação orientada pelos princípios éticos proclamados pelos direitos
humanos, cujas diretrizes gerais foram posteriormente incorporadas ao Plano
Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNDEH).

Oficialmente lançado em (2006), depois de ter sido submetido ao olhar e


aceitação da sociedade civil organizada, o (PNEDH) passa a constituir-se como
marco legal da educação em direitos humanos no Brasil, confirmando a adesão
do Estado brasileiro ao Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos
(PMEDH), compreendendo processos de educação formal e não formal com
vistas à formação de uma cultura de respeito à dignidade dos seres humanos.

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Conforme Pereira (2015), a partir dessa concepção, a educação em
direitos humanos deve favorecer o conhecimento destes direitos e de suas
garantias no curso da evolução social e histórica da sociedade, bem como dos
instrumentos nacionais e internacionais que concedem sua concretização.
Portanto, os conteúdos devem estar comprometidos com a revisão de valores,
atitudes e comportamentos, capazes de formar os sujeitos para o exercício
competente da cidadania.

No eixo Educação Básica, o Plano destaca a “[...] necessidade de


concentrar esforços, desde a infância, na formação de cidadãos, com atenção
especial às pessoas e segmentos sociais historicamente excluídos e
discriminados.” (BRASIL, 2009, p. 32)

Segundo Pereira (2015), a escola como local onde a educação em


direitos humanos deve se instalar para a formação da cidadania promovendo a
equidade e da formação de sujeitos de direito, como espaço social privilegiado
onde se definem a ação institucional pedagógica e a prática e vivência dos
direitos humanos. O tema da educação em direitos humanos proclama,
portanto, uma perspectiva mais ampliada do que significa educar.

Portanto, a consciência deste direito não se faz espontaneamente, é por


meio da educação que o sujeito se reconhecerá como protagonista de direitos,
e será através do processo educacional que se preparará para o exercício da
cidadania, imprescindível para uma participação mais efetiva na condução dos
destinos do seu país.

Atualmente, diante do contexto político e econômico que estamos


vivenciando em nosso país, é mais do que necessário disseminar a educação
em direitos humanos junto aos professores, escolas, intensificando o
oferecimento de cursos que priorizem a abordagem deste tema em sala de
aula, promovendo a transversalidade desta temática no currículo das unidades
escolares, e a produção de materiais educativos específicos para a abordagem
dos direitos humanos, para que algum tipo de repercussão se efetive em sua
prática pedagógica e para que possamos vivenciar efetivamente, uma
democracia ativa e cidadã.

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Pereira (2015, p.37), afirma que “Os ideais emancipatórios inscritos na
reivindicação por direitos protagonizados pelos novos movimentos sociais
produziram um impacto significativo no cenário das mudanças sociais em curso
na contemporaneidade”, que no Brasil geraram políticas públicas importantes e
que as legislações educacionais têm enfatizado a formação para o exercício da
cidadania como essencial para a construção de uma sociedade democrática,
justa e igualitária. , mas que ainda existe um enorme distanciamento entre os
marcos jurídicos de proteção e promoção dos direitos humanos e a contínua e
permanente realidade de violações aos direitos humanos.

Ainda precisamos transformar a realidade escolar para que ela se torne


mais inclusiva, configurando-se como um espaço decisivo para construção de
relações sociais pautadas na compreensão de que o reconhecimento e o
respeito às diversidades concebem grandes oportunidades de aprendizado e
possibilidades de transformações sociais.

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Explicando melhor com a pesquisa

Sugerimos a leitura do artigo: movimentos sociais e participação popular: luta


pela conquista dos direitos sociais. Este artigo tem como objetivo resgatar o
reconhecimento histórico dos movimentos sociais e da participação popular
como elementos fundamentais na conquista.

Propomos também a leitura do artigo: Desafios dos movimentos sociais hoje no


Brasil / Challenges of social movements in Brazil today. : Este artigo recupera
fragmentos do processo de construção da cidadania no Brasil, nas últimas três
décadas, destacando a participação da sociedade civil organizada.

Guia de estudo: Após a leitura dos artigos propostos, faça uma relação entre
eles, direcionando para o Brasil de hoje e produza uma resenha crítica
abordando: qual seria a contribuição da participação ativa da população nas
decisões da política brasileira?

54
Leitura Obrigatória

Caro estudante, a seguir propomos que você leia a obra:


Exclusão social e a nova desigualdade. Esse livro é
uma crítica à concepção corrente de exclusão e um
convite a uma reflexão consequente sobre aquilo que
constitui o verdadeiro problema: o modo como se dá a
inclusão numa sociedade que fez da exclusão um modo
de vida.

MARTINS, José de Souza. Exclusão social e a nova desigualdade. São


Paulo: Paulus, 1997, (Coleção Temas da Atualidade)

Guia de estudo: Após a leitura dessa obra, faça um texto argumentativo


expondo sua opinião sobre o seguinte questionamento: incluir é o mesmo que
inserir? Em seguida poste no ambiente virtual.

55
Pesquisando com a Internet

Prezado estudante, você é convidado a buscar na internet uma


investigação referente ao assunto estudado nesta disciplina para ampliar seus
conhecimentos. Faça uma pesquisa norteada pela seguinte pergunta. Qual a
relação de José Carlos “Libâneo” tem com educação e movimentos sociais?

Guia de estudo: Logo após sua pesquisa desenvolva um texto abordando a


importância da didática para a disciplina educação e movimento sociais.

56
Saiba mais

Sugerimos a leitura da entrevista: Movimentos Sociais, Partidos Políticos


e Ações Coletivas: entrevista ao professor e pesquisador Dr. Nildo Viana.
Nesta entrevista o professor Nildo Viana explica a relação que ele tem com
seus estudos sobre o marxismo.

Propomos a leitura da entrevista: educação, etnicidade e movimentos


sociais. Nesta entrevista Regina Weber aborda sobre o capitalista como uma
elite que não se vê como responsável pela miséria da população e tende a
perpetuar desigualdades e injustiças sociais.

Guia de estudo: Ao ler essas entrevistas faça uma resenha crítica sobre o
conflito de “classes. ” Será que hoje, ainda há o domínio da classe alta sobre a
classe baixa?

57
Vendo com os olhos de ver

Sugerimos a você que assista ao vídeo: Os Movimentos Sociais. Neste


vídeo os movimentos sociais trazem para o conjunto da sociedade uma noção
de cidadania e participação popular.

Propomos também que você assista ao vídeo: Melhor e Mais Justo:


Movimentos Sociais no séc.XXI - 1/3. Neste vídeo são abordados os desafios e
as conquistas dos movimentos sociais no século XXI.

Guia de estudo: Após você assistir esses vídeos faça um estudo sistemático
da trajetória dos movimentos sociais até os dias de hoje. Em seguida
disponibilize suas descobertas no ambiente virtual.

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Revisando

Em relação à produção de estudos específicos sobre os movimentos


sociais, observa-se grande parte de produção até os anos 60 no estudo do
movimento operário, particularmente nas lutas sindicais.

Na abordagem fundada no paradigma decorrente da teoria marxista, até


os anos 50, o conceito de movimento social sempre esteve associado ao de
luta de classes. Denominavam-se movimentos sociais; as guerras, os
nacionalistas, as ideologias radicais; nazismo, fascismo.

Na Europa, a onda dos chamados novos movimentos sociais - NMS, a


partir dos anos 60, (de estudantes, de mulheres, pela paz, ecologia), deu
origem ao novo paradigma da ação social e foi responsável pelo surgimento de
abordagens que elegeram os movimentos sociais como tema central de
investigação.

As mudanças na conjuntura da política no início dos anos 80 vieram a


alterar o panorama. No campo popular começou a questionar o caráter novo
dos movimentos populares.

Nos anos 90, altera-se todo o quadro sobre os MS tanto no ponto de


vista das manifestações como na produção teórica. Na América Latina,
deslocam as atenções para outro fenômeno social, as ONGs.

A partir de 1990, ocorreram outras formas de organização popular, mais


institucionalizadas, como a constituição de Fóruns Nacionais de Luta pela
Moradia, pela Reforma Urbana, pela Participação Popular.

Na atualidade, os principais movimentos sociais atuam por meio de rede


sociais, locais, regionais, nacionais e internacionais, utilizando de novos meios
de comunicação e informação, como a internet.

Conforme Gohn (2003), o associativismo que mais predominou nos anos


90, originou de mobilizações pontuais a partir de centros de militantes que
defendem uma causa e seguindo as diretrizes de uma organização. O novo

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associativismo é mais propositivo, operativo e menos reivindicativo e mais
estratégico. Um dado muito importante que apontamos é que a maioria dos
estudos realizados nos anos 80 e 90 houve declínio do interesse pelo estudo
dos movimentos em geral e principalmente pelos populares.

Foi sob a inspiração dos valores humanos fundamentais que ocorreram


as revoluções burguesas, nos séculos XVII e XVIII, onde acreditaram que
através da imposição de limitações ao poder pessoal dos governantes e a
eliminação de privilégios da nobreza, dariam lugar a uma nova ordem social
justa, uma sociedade de pessoas livres e iguais. O que não aconteceu, pois
houve uma tremenda distorção em relação à liberdade e igualdade dos direitos
do cidadão.

A aprovação da declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948,


além de representar um grito de protesto representou também, a rejeição do
individualismo egoísta e do materialismo disfarçado implantado no fim do
século XVIII.

Surge então o neoliberalismo, onde o Estado deixa de intervir na


economia e no social transferindo a responsabilidade para a sociedade civil e o
desemprego surge como consequência normal desse processo econômico.

Com o surgimento da globalização da economia, tudo piora em relação


aos direitos humanos. O FMI e o Banco Mundial realizam acordos
internacionais. Esta globalização parece supor uma posição de igualdade entre
todos (países, empresas e indivíduos), mas tudo é uma grande ilusão.

Sendo assim, existem três elementos teoricamente distintos, mas que se


relacionam e se reforçam para produzir o desemprego, sua precarização e as
quedas dos salários e consequentemente a desigualdade e a exclusão, são
eles: o processo de reestruturação produtiva, o neoliberalismo e o processo de
globalização.

As políticas econômicas atuais, no Brasil, com o modelo neoliberal,


implicam esta inclusão, não são políticas de exclusão. Sendo assim, os
projetos sociais podem ser indutores de novas políticas públicas e são
frequentes as intervenções da política social, que têm em suas atuações a

60
preocupação em resolver e integrar a dimensão dos direitos sociais, a fim de
reduzir as situações de carência e atuações inclusivas de integração social,
políticas que tenta proporcionar ao beneficiário, meios que lhe permitam
reinserir-se na sociedade, seja pela participação no mercado de trabalho ou em
outras formas de participação, voltadas para o atendimento às necessidades
coletivas.

61
Autoavaliação

1) Quais são os desafios e as conquistas dos movimentos sociais no século


XXI?

2) Na atualidade como os principais movimentos sociais atuam?

3) Como você compreende a história dos movimentos sociais em nosso país e


a conquista da democracia?

4) Como ensinar para libertar os sujeitos e favorecer a participação?

5) Conforme o conteúdo estudado defina e diferencie pedagogia e educação.

62
Bibliografia

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