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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS


CURSO DE DIREITO

DE MENOR INFRATOR À MAIOR CRIMINOSO


(Uma Visão Jurídica da Sociedade Brasileira)

LEONARDO FERREIRA DE SOUZA.

Goiânia – Goiás
2002
DE MENOR INFRATOR À MAIOR CRIMINOSO
(Uma Visão Jurídica da Sociedade Brasileira)
LEONARDO FERREIRA DE SOUZA

DE MENOR INFRATOR À MAIOR CRIMINOSO


(Uma Visão Jurídica da Sociedade Brasileira)

Monografia de conclusão de curso,


realizada visando obtenção de aprovação
no curso de Direito da Universidade
Católica de Goiás, sob a orientação do
Profº. Adegmar José Ferreira.
Goiânia – Goiás
2002

Banca Examinadora – Nota para a Monografia Jurídica

PROFESSOR – ORIENTADOR
PROFESSOR – MEMBRO
A minha família, (mãe – Janete, pai –
José e irmão Leandro), fonte eterna de
inspiração, dedico este trabalho.

AGRADECIMENTOS

A Deus, eternamente em primeiro lugar,


por estar sempre ao meu lado permitindo todas as
alegrias ao longo de minha vida. Com Ele aprendi a
superar os muitos obstáculos, caminhando sempre.

A todas as pessoas que direta ou


indiretamente contribuíram para o meu
desenvolvimento acadêmico e pessoal; em
especial as pessoas de minha família e convívio,
que sempre acreditaram, ajudando-me de acordo
com suas necessidades.

Aos professores que largaram sua


condição de "ensinadores" para tornarem-se
verdadeiros mestres: Claicir Maria (4ª série –

fundamental); Miramy Mário (2ª e 3ª série E. Médio –

História); Hortência Ferreira (3ª série E. Médio – Biologia);


Adegmar José (UCG/Monografia); Donizete Martins
(UCG/Proc. Penal I e II) Rubens Fernando (UCG/Direito
Comercial IV); Marcelo Lopes (UCG/Direito Civil VI );

agradeço toda dedicação no passar das


experiências adquiridas, quer seja na profissão ou
na vida.
(Leonardo - um discípulo).

S U M ÁR I O

RESUMO.....................................................................................................................06

INTRODUÇÃO............................................................................................................. 07

CAPÍTULO I
1. Preliminares Históricas................................................................................... 09
1.1 As desigualdades como fonte do problema do menor infrator...........................11

CAPÍTULO II
2. A Família, A Sociedade, O Estado e a Gênese do Crime................................13
2.1 Família: formando um cidadão ou um delinqüente?...........................................14
2.2 Sociedade: integrados por direitos e normas comuns........................................15
2.3 O papel do estado..............................................................................................17
2.4 A gênese do crime..............................................................................................18

CAPÍTULO III
3. O Ordenamento Jurídico Frente ao Problema do Menor Infrator................. 22
3.1 A proteção aos direitos básicos do cidadão na constituição..............................23
3.2 A proteção à criança e ao adolescente assegurada em lei específica...............26
3.3 A evolução do direito sobre o foco da proteção do menor.................................26
3.4 A Lei 8.069/90 – O estatuto da criança e do adolescente..................................28

CAPÍTULO IV
4. A Revelação, em números, da situação do menor brasileiro........................31
4.1 Jovens à mercê da sorte................................................................................... 31
4.2 O fator financeiro e a distribuição de renda.......................................................35

CAPÍTULO V
5. Um problema com solução................................................................................39
5.1 De menor infrator à maior criminoso..................................................................40

Referências Bibliográficas.....................................................................................41

RE S U M O

O presente trabalho desenvolve-se com o intuito de suscitar se a maior ou

menor incidência de crimes se relaciona diretamente com a falta de apoio dada


àqueles indivíduos da sociedade que possuem menos condições de
desenvolvimento econômico, psicológico e social ou é reflexo exclusivo da vontade

do agente infrator. Constitui-se de um trabalho monográfico que obedece ao


método de compilação, onde são apresentados alguns dados estatísticos que
ilustram, com propriedade, o problema levantado. Após análise de todas as
vertentes apresentadas chega-se à conclusão de que existem soluções plausíveis,

decorrentes do “mundo jurídico”, que podem resolver a questão esposada.


I N T R O D U Ç ÃO

O meio social é dinâmico. A sociedade está em constante


desenvolvimento e mudanças. Das transformações sociais, que

ocorrem de forma desigual, surgem alguns problemas que interferem


na vida de todos.

A realidade do menor que não possui todos os meios


necessários à sua saudável formação é preocupante. Na falta de apoio
no “seio” familiar acaba enveredando-se à prática de atos infracionais
e caso não tenha condições adequadas de desenvolvimento, pode se

tornar um maior criminoso. A responsabilidade ante ao problema é


coletiva.

O mundo do menor infrator e as diversas causas que levam a se

marginalizarem são abordadas no presente trabalho. No decorrer deste


trabalho, e nos limites do tema proposto, abordo a questão da Família, da
Sociedade e do Estado diante desta triste realidade. Está demonstrado, com
construção narrativa e dados estatísticos, como se forma um cidadão ou um

delinqüente inserido na égide destes institutos

O objetivo portanto, é analisarmos cada ente social, para ao final

podermos nos posicionar: se a inserção do menor no mundo do crime


é vontade exclusiva sua ou é reflexo da falta de “apoio” por ele
vivenciado.

Na realização do trabalho, foi adotada a monografia de


compilação, onde foram analisados diversos textos que se posicionam
sobre a questão do menor. Visa o esclarecimento de possíveis pontos
que correlacionam, de forma direta, com um macro problema no

contexto da sociedade moderna: a deturpação infanto -juvenil e sua


possível “maioridade cri minal“.

A comprovação de muitos fatos e teses alegadas é demonstrada de forma


científica, por números, que ilustram, de forma simples e clara, as principais
causas que podem desencadear atitudes ou levar a adoções de práticas delituosas
pelos menores.

A existência de soluções da problemática, numa visão jurídica, são


suscitadas no presente trabalho. São apresentadas, no último capítulo, (capítulo V).

Estas foram verificadas, no decorrer dos estudos para elaboração do texto


monográfico.
CAPÍTULO I

1. PRELIMINARES HISTÓRICAS

A questão social tem reflexos longínquos. É ponto verificado desde as


primeiras civilizações terrenas, conforme os estudos do processo histórico que
realizamos desde nosso ensino fundamental. O homem sempre lutou pelo poder, e

quando na sua posse, para não perdê-lo ou dividí-lo. Muitas vezes de forma
egoísta, talvez pela constante batalha para garantir condições próprias para
melhoria de vida, acabou fixando desigualdades que assolam a atual conjuntura
social em diversas vertentes.

Esquecendo que a fisiologia humana é desenvolvida para a vivência coletiva,


terminou permitindo a manutenção de constantes diferenças, entre viventes de

uma mesma era ou período histórico, prevalecendo interesses individuais em face


dos coletivos.
Relações de desigualdades são observadas na sociedade desde muito
tempo. Existem claros traços no Feudalismo, na relação entre suseranos e
vassalos, entre o senhor feudal e os que trabalhavam em suas terras. Neste

sistema havia acentuadas diferenças, quer seja, no modo de exploração, na qual


maior parte da produção ficava com o senhor feudal e na sensível desigualdade
entre este e aqueles. No Escravismo evidenciaram-se disparidades mais
contundentes, vez que existiam alguns condenados a trabalharem de forma

constante e não remunerada, ficando definitivamente em “segundo plano”,


desprovidos dos seus interesses individuais.

Os sistemas sociais que passaram a reger a sociedade a partir da Idade

Média acabaram por firmar as diferenças hoje existentes no meio social. Ao final do
processo histórico, como percebemos, vingou o sistema capitalista, que é a
supremacia do poder do capital ante a qualquer outro interesse.

O Capitalismo, as grandes fortunas, assolam a sociedade atual. As grandes


riquezas, concentradas pelo mundo nas mãos de pequenos grupos, geram uma
exorbitante desigualdade social.

Das desigualdades surgem os pobres. Da falta de condições mínimas de


sobrevivência nasce, na maioria das vezes, o criminoso, o menor infrator. Pedro

Demo conceitua pobreza como “expressão do acesso às vantagens sociais” 1. Sem


chance alguma de garantir a sua sobrevivência, vivendo num lar desestruturado
pelos problemas inerentes a falta de apoio financeiro, educacional, social; sem a
ajuda da Família, da Sociedade e do Estado; a desvirtuação de uma pessoa, quer

menor ou maior de idade e seu ingresso no mundo do crime, torna-se mais fácil de
se acontecer. Impedidos de alcançarem às mesmas oportunidades que têm as
pessoas de melhores condições financeiras, o menor desamparado, decai ao
mundo das infrações, como tentativa de equilibrar as disparidades entre este e

aqueles.

A sociedade brasileira, desde sua formação, colonizada de forma

exploradora, vive inúmeros problemas em relação às grandes desigualdades nela


existentes. A expansão capitalista, a dificuldade por não deter capital, possuindo
apenas a força de trabalho, leva ao indivíduo, um novo enfoque na sua estratégia
de sobrevivência. O pauperismo, o subemprego, a falta de políticas sérias de apoio

patrocinadas pelo Estado contribuem de igual forma para o aumento da


1. DEMO, Pedro – Pobreza Sócio-Econômica e Política . Pobreza Política – 5ª Edição. Campinas – SP,
criminalidade desde a mais tenra idade.
Saraiva, 1996, pág. 13.

O Brasil na década de 50 (cinquenta) apresentou um acelerado

desenvolvimento econômico, notadamente no setor industrial, o que imprimiu de


forma extraordinária o crescimento urbano. À medida que a sociedade urbana se
desenvolveu levou a um êxodo rural, e isso dificultou, cada vez mais, a vida na

sociedade regional, interiorana.

Nos anos posteriores o êxodo continuou a aumentar, outros problemas foram


agregados à questão da vida urbana, acabando por levar a uma exclusão social

cada vez mais marcante. Na inexistência de infra-estrutura urbana que recebesse


todos os imigrantes, os grandes centro urbanos trataram de excluir alguns
indivíduos da vida social, do acesso às oportunidades, da moradia dígna, entre

outras exclusões, colocando inúmeras pessoas à margem social.

1.1 As Desigualdades Como Fonte do Problema do Menor Infrator:

A acumulação de vantagens nas mãos de uma pequena parcela da


sociedade, sem sombra de dúvida leva a um questionamento por parte do

indivíduo, que dela participa, sem ter as mesmas oportunidades. Muitas vezes ele
constrói ou ajuda a construir a riqueza do outro sem dela aproveitar.
O menor mantendo-se sem qualquer base de sobrevivência tem sua
formação psíquica perturbada pela situação vivida. Na falta de respostas
condizentes a sua realidade, esta o motiva a pratica de infrações.

A saída de casa, tentando fugir das condições precárias da vida em família,


leva uma boa quantidade de menores à rua, e para o mundo do crime. Uma vez na
rua, percebendo a estrutura gigante de desigualdades à sua volta, tenta igualar a

realidade dos que têm alguma coisa com a sua própria, por meio da prática de
diferentes atos infracionais.

Inserido no mundo do crime, torna-se um menor infrator, podendo num futuro

próximo, tornar-se um maior criminoso.

A existência destas desigualdades é evidenciada diariamente em todos os

meios de comunicação tais como, televisão, rádio, revistas, jornais, etc. No Brasil,
segundo reportagem de capa da Revista “Carta Capital” do mês de Abril/2002, de
cada 5 (cinco) brasileiros 4 (quatro) não possuem condições de terem o básico à
manutenção de uma pessoa.

A insatisfação dos menores perante as privações que passam rotineiramente


torna-se causa da inserção no mundo do crime, desde que, correlacionada com

uma série de outros fatores, tais como: desestrutura familiar, exclusão social,
inexistência de programas sociais voltados à sua realidade de carente. Estes outros
fatores estão melhores desenvolvidos no decorrer do trabalho.
CAPÍTULO II

2. A FAMÍLIA, A SOCIEDADE, O ESTADO E A GÊNESE DO CRIME

Muitas vezes, deparamos com questionamentos sobre a parcela de culpa


dos diversos organismos que compõem a coletividade, no despontar de um menor
infrator e sua formação no mundo do crime. Abordamos e apontamos pontos que

comprometem muitos dos núcleos que constituem o corpo social. Nesta realidade,
vejamos a responsabilidade e o papel de cada um destes institutos diante da
situação do menor.

A sociedade democrática brasileira se organiza com base em sua lei maior,


que é a Constituição Federal Brasileira de 1988, (“em vigor”). O texto constitucional,
em seu capítulo VII – Da Família, da Criança, do Adolescente e do Idoso,
precisamente no artigo 227, caput, determina:
“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de
toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão”. 2

O presente artigo absorveu a doutrina internacional da proteção integral das


crianças e adolescentes, por meio de emenda popular subscrita por um milhão e

meio de cidadãos, a qual foi meramente referendada pela Assembléia Constituinte.


O artigo 227 da Carta de 1988 fixa como prioritária a ação conjunta do Estado e da
sociedade, a fim de garantir às crianças e aos adolescentes cidadania plena.

O texto
2. BRASIL, nos apresenta
Constituição alguns
Federal Brasileira dosSão
de 1988, núcleos sociais
Paulo, 2000, responsáveis
Editora Saraíva, pág. à questão
111. do
menor. É apresentado: em primeiro lugar a Família, em segundo lugar a Sociedade
e em terceiro lugar o Estado. Não obstante é evidente que existem outros grupos

responsáveis pela questão. No texto constitucional, de forma interessante, pode se


perceber que o Estado aparece na terceira ordem de responsabilidade.
Analisaremos, a seguir, cada um dos núcleos citados em nossa Carta Magna quer
na forma individual ou correlacionada:

2.1 Família: Formando um cidadão ou um delinqüente ?

A família é a célula mater da sociedade. É nela que recebemos as primeiras


informações que nos guiam no decorrer da vida. São dos valores repassados por

pais, parentes, educadores, que formamos os nossos próprios.

Uma família estruturada, com laços de amor, respeito, diálogo, dificultará em


muito o declínio de uma pessoa à prática de qualquer ato delituoso. Na família são

transmitidos princípios que determinarão o caráter da pessoa, que estabelecerão o


modo de agir nas novas situações, as quais tiver que passar ou descobrir.

A figura dos pais é de grande importância no saudável desenvolvimento da


pessoa na medida que ela representa imposição limites. A psicologia já comprovou
todas as benéfices da educação onde estão estabelecidos, com respeito e

autoridade, parâmetros a serem respeitados pela criança ou adolescente.


Quando uma criança sabe onde está pisando e até onde pode ir, sente-se mais
segura. Aprende a lidar com seus impulsos e emoções. E pode decidir aquilo que
tem maturidade para avaliar. Sentindo-se cuidado, tende a ter maior estrutura em
termos de segurança afetiva. Os limites também dão noção do outro, de que ele
existe e também deve ser considerado. Atravessamos um período marcado pelo
individualismo, hedonismo, culto ao prazer desconectado da responsabilidade; do
imediatismo. “Eu estou com vontade eu faço, isto me dá prazer danem-se os
outros”.Os limites marcam a realidade de cada relação e estrutura social,
ajudando a criança a compreender e introjetar valores. 3

3.OLIVEIRA, Nina Eiras dias de – Limites, Internet: Texto Capturado dia 15/05/2002 http//
As crianças definem seus pais como “espelhos” de conduta, os maiores,
www.existencialismo.org.br/jornalexistencial/ninalimites.htm

heróis, fonte de educação. Assim, a importância da estrutura familiar, de pais com


controle psíquico e moral, é de indubitável importância para que não seja formado
um menor infrator ou maior criminoso.

Estamos diante de um problema: a família, na atualidade e realidade do país,


será que está em condições de formar cidadãos ou delinqüentes?

No intuito de dirimir a questão suscitada, apresentando algumas das causas


diretamente relacionadas com a maior e menor incidência dos delitos, fica
comprovado que a má distribuição de renda, dependência econômica, o

desemprego, a crítica situação da “saúde”, a carência de apoio à “educação” e a


miséria de grande parte da população são fatores imediatos de desestabilização da
família.

Na falta de condições financeiras de prover até mesmo o sustento dos filhos,


sem mais traços de dignidade, sem apoio Estatal, os pais, primeiros responsáveis
na educação e desenvolvimento da criança, acabam por “entregar os pontos”, não

tendo mínimas condições morais e psicológicas de criarem seus filhos.

Este fator é preponderante na incidência de menores que cometem atos


infracionais: a falta de apoio em sua formação familiar. Pois sem a primeira
educação, com problemas de base (alimentação precária, falta de moradia, etc),

sem o apoio familiar, o menor não terá uma boa formação.

A instituição familiar está hoje dilacerada pela dura realidade que passa a

economia nacional. Os pais têm que trabalhar no mínimo 8 (oito) horas diárias,
não tendo oportunidade de ficar com seus filhos. Quando chegam em casa,
cansados, não sem encontram em condições de dialogar. A situação, portando, é
calamitosa; e se relaciona com o a situação do menor brasileiro. Atualmente está

mais fácil formar um delinqüente que um cidadão, e infelizmente, muitas vezes, é o


que ocorre.

2.2. Sociedade: Integrados por Direitos e Normas Comuns:

Ricos e pobres, mesmos direitos, mesmos deveres, são iguais perante a lei.
A sociedade se edifica em face destes dizeres e fecha os “olhos” para a grande
desigualdade que assola o meio social. Cada integrante está, devido aos

acontecimentos do momento que vive, preocupado com sua própria manutenção.


Não há tempo ou condição para pensar na coletividade.

O segundo instituto (sociedade), também está diretamente relacionado com


o problema abordado, na maioria das vezes não pode ou não se dedica a contribuir
com a extinção da miséria, fator responsável pela maior incidência da prática de
delitos por aqueles que nada têm.

O menor é vítima de um processo de marginalização, vive uma difícil


situação. A sociedade de consumo, a expansão capitalista, gera, para o menor,

uma carga emocional negativa, com graves reflexos na fixação de seus valores. Na
falta de condições de adquirir determinada coisa que seu colega, seu vizinho,
possuem, pode se se enveredar à práticas de infrações. Sai para furtar ou roubar
aquele objeto que, com o esforço de sua família ou próprio, não é capaz de

conseguir.

Em um artigo da Revista da Promoção Social que fala sobre o assunto

destaca-se:
“Se o menor é vítima de uma sociedade de consumo desumana e muitas vezes
cruel, há que ser tratado e não punido, preparado profissionalmente e não
marcado pelo rótulo fácil de infrator, pois foi à própria sociedade que infringiu as
regras mínimas que deveriam ser oferecidas ao ser humano quando nasce, não
podendo, depois, hipocritamente, agir com rigor contra o ser indefeso e sub-
produto de uma situação anômala” 4 .

Uma vez– Oexcluído


4. J. B. A. MARQUES problema do convívio
do menor social
em São não há
Paulo, Revista da dificuldades para
Promoção Social, tornar-se
Internet. um
menor infrator e caso não seja reeducado, um maior criminoso; sendo quase

sempre o que acontece.

Reunindo-se em “bando” nas ruas, as crianças ou adolescentes tentam criar,


clandestinamente, um mundo irreal, fantasioso como resposta à irresponsabilidade

e desumanidade da sociedade, que tem seus interesses voltados para o


desenvolvimento e ignora as vítimas de uma política que não leva em conta o
social, de acordo com que podemos presenciar no dia a dia de nossa sociedade.

As pessoas tornam-se vítimas do sistema que estão inseridas. Montesquieu


ensina que na Democracia: “O amor pela democracia é o amor pela igualdade, ...
todos devem gozar das mesmas felicidades e regalias” 5. A diferença de

oportunidades, a existência de classes sociais, é causa de descontentamento dos


menos favorecidos. O fato é refletido em seu agir, tenta igualar os desiguais como
o uso de suas próprias forças, cometendo infrações e levando prejuízos à
sociedade e a si mesmo.

O colossal contraste que impera no “ventre” da sociedade é certamente a


maior causa do aumento do crime no Brasil. A existência de sociedade de classes

tão antagônicas, onde a superior (dominante) está em condições econômicas


muito melhor que as classes inferiores (dominadas), é um dos fatores de grande

preponderância no mister do processo de criminalização dos indivíduos excluídos.

2.3 O Papel do Estado:

O Estado como mantenedor da ordem pública, como organizador e


representante dos interesses coletivos, detentor de meios de produção,
responsável pela elaboração e aplicação das leis, com certeza é diretamente

responsável pelo bem estar social e pela questão do crescimento do número de


menores infratores e sua provável “maioridade criminal”.
5. SILVA, Carlos Roberto da Silva, Capturado na Internet 03.Out.2001, http://www.teiajuridica.com.br
Na omissão ou falta de políticas que proporcionem condição de vida digna

às famílias de menor poder aquisitivo, torna-se o causador de problemas de


ordem diversa nesse lar. Sem apoio da Administração Pública, sem o
desenvolvimento social patrocinado pelo Estado, com difícil acesso à educação e à
saúde, a família não consegue solver sua obrigação de criar cidadãos.

No dia a dia diversas oportunidades têm nossos representantes, tem o


Estado, de desempenhar seu papel da melhor forma. Em diversos casos a
negligência estatal contribui com a prática de delitos. Na inexistência de programas

de amparo à família, ao menor, aos desprovidos de renda, preocupado com o


crescimento pessoal, ou ostentando pudores que não fazem “jus”, termina
deixando os excluídos cada vez mais esquecidos, fora do convívio social.

A sociedade questiona a violência do ladrão mas esquece como é violenta a


inação do Estado, conivente com a proliferação de favelas em volta das cidades,
sem acesso a qualquer garantia de subsistência digna das pessoas que nela

vivem.

Fazendo sua parte, contribuindo diretamente com a erradicação da pobreza,

instituindo programas sociais, que garantissem moradia, saúde, educação e


emprego a todos os necessitados, os governantes estariam dando importante

passo na resolução do problema do menor desprovido de oportunidades.

É certo que o governo atual, em geral, muitas vezes preocupa-se com

interesses próprios, deixando em segundo plano os coletivos. No decorrer da


elaboração deste trabalho ouvi de um senhor num ônibus: “O Estado não permite
que um garoto de 14 (quatorze) anos trabalhe, mas permite que este pratique
crime, delitos, sem justa punição”. A sabedoria popular demonstra o descompasso

da política estatal, do legislativo, que apoiada numa falsa moral, elabora lei que
não permite trabalho com idade inferior a 16 (dezesseis) anos, mas permite voto
nesta mesma idade e diz que ele só terá condição de assumir responsabilidades,
civil ou penal, à partir dos 18 (dezoito) anos.

2.4 A Gênese do Crime:

Ante o problema da criminalidade desde tenra idade, levanta-se diversos

pontos, que levarão a um melhor entendimento sobre a questão.

A tese da vontade do agente infrator foi uma das preocupações decorrentes

da temática desde o projeto de construção do presente texto. Analisando os


últimos atos infracionais praticados por menores veiculados na imprensa televisiva
e escrita, evidencia-se que apenas 5 % (cinco por cento) decorrem exclusivamente
da vontade do agente infrator. A grande parte das infrações praticadas por

menores, e mesmo maiores, decorrem em suma, dos fatores inerentes à sua


condição de ser sociável desprovido dos seus direitos básicos: saúde, educação,
moradia, trabalho, lazer, etc.

A segunda tese que acabou firmando-se na elaboração do trabalho foi a do


homem visto como um ser social, necessitando assim, de oportunidades para seu
saudável desenvolvimento, fator que se relaciona de forma direta com a gênese

dos crimes.

Nós, humanos, estamos em constante aprendizado. Dia a dia, desde muito

cedo, buscamos com troca de experiências ou aquisições de conhecimentos, fixar,


aprimorar ou transformar nossos valores. Analisando a realidade vivenciada na
maioria dos lares onde se formou um delinqüente, por falta de oportunidades,
conhecimento ou mesmo sabedoria, não se consegue passar o que

verdadeiramente é certo ou errado para a alguém que vive em sociedade.

A família, desfigurada por inúmeros problemas, fica impossibilitada de


oferecer plenas condições de crescimento saudável ao menor quando este está

em sua responsabilidade.

Não queremos com esta explanação levar ao entendimento de ser regra o

fato que as famílias com menor poder aquisitivo, conhecimento cultural, ou


intelectual têm maiores chances de formarem um delinqüente que as que não
passam por tais privações. É de conhecimento público que a maior parte da
população brasileira não consegue ter a infra-estrutura necessária a uma boa

qualidade de vida, contudo, uma minoria ínfima contribui para a deturpação de um


jovem e sua inserção ao mundo do crime. Sabemos também que há casos de
menores delinqüentes que são filhos de famílias em boa situação e mesmo assim

se desvirtuam a práticas de delitos contra a sociedade.

Mas, certamente, será mais difícil a construção de uma mente criminosa num
lar estruturado que num, por qualquer motivo, desestruturado. É fato que sem

valores fixados, sem o aprendizado formado, a criança fica sem referencial. Acaba
absorvendo todo tipo de ensino a ela apresentado. Disso decorre uma boa parte
dos problemas que contribuem para a decaída de um jovem ao mundo das
infrações legais. Sem correção necessária, sem imposição de limites, sem ajuda e
diálogo construtivo do seio familiar e social, não se consegue formar um cidadão.

Assim, muitas das vezes, como acontece nos grandes “bolsões” de pobreza , nas
favelas dos grandes centros urbanos do país este é adotado por um criminoso.

Saindo do convívio familiar, passamos ao convício social. Agora, um novo


“choque” é muitas vezes dado na mente em formação do menor impúbere. Torna-
se difícil, aos menores, entender tamanhas desigualdades, sem poderem nem
mesmo questioná-las. A individualização de interesses certamente contribui para a

problemática em análise. Vivendo em uma sociedade onde está em voga o “salve-


se quem puder”, é difícil pessoas excluídas das oportunidades, teoricamente a
todos de direito, aceitem que somente uma parcela dessa sociedade possa
usufruí-la.

As causas da inserção do menor ao mundo no crime são complexas, estão


associadas à desigualdade e negligência social que existem em nosso país.

Segundo Maura Roberti, Procuradora do Estado de São Paulo e Professora Mestra


em Direito Penal pela PUC-SP: “Na maioria das vezes as crianças refugiam-se na
marginalidade, em conseqüência do fracasso da geração dos seus pais, fugindo,
desta forma, das opressões de todos os gêneros, protegendo-se da
despersonalização em que a sociedade os obriga a se amoldar.” 6

A instituição Estado, conforme já explanado, também se relaciona de forma

estrita com o fato da incidência de jovens no mundo do crime. Na falta de políticas


que garantam a melhor distribuição de renda entre indivíduos que convivem juntos,
sem oferecer as condições mínimas de vida digna a todos, torna-se o causador
sendo diretamente responsável por tudo que ocorre entre os organizados sobre

sua mão, sua soberania, sua proteção.


Na organização da política estatal delegamos interesses nas mãos de um

representante. O Estado regulador dos direitos e deveres coletivos é, conforme a


realidade nacional, indubitavelmente, causador de descontento no meio social.

A conjuntura se completa com diversos outros institutos e grupos que


compõem o mundo global, como Religião, Grupos Financeiros, ONGs e até
mesmo Criminosos “Especializados”. Todos os fatores se correlacionam.
Percebemos que não há somente um responsável, mais diversos; que com sua

parcela de responsabilidade acabam contribuindo para a realidade hoje vivenciada.


Daí são gerados os conflitos. Alguns, com o uso de suas próprias forças, passam a
buscar um equilíbrio das desigualdades entre si e o coletivo, ou seja, tudo isso é
fato gerador de infrações à lei, da existência de crimes. Temos a prima face
6. ROBERTI, Maura – O Menor Infrator e o Descaso Social, (Internet), capturado 03.Out.2001,
acabar com a causa da violência. É necessário, assim, a adoção de políticas sérias
http//www.teiajuridica.com.br
no campo do desenvolvimento econômico, na geração de empregos, saúde,
educação, habitação e segurança pública para se evitar o aumento da

criminalidade.
CAPÍTULO III

3. O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO FRENTE AO PROBLEMA DO


MENOR INFRATOR

Na medida em que os bens tornaram-se escassos, havendo concorrência de


interesses sobre determinada coisa, o homem se viu diante da necessidade de ter

algum meio, à sua disposição, que estabelecesse uma maneira de convivência


harmoniosa.

Fundando-se em princípios basilares, como a Justiça, o Direito a Vida, a

Ordem Geral, etc., acabou construindo inúmeras normas que visam assegurar as
garantias mínimas necessárias ao bem estar social coletivo, bem como a questão

dos inúmeros interesses difusos.

O compêndio de leis brasileiras estabelece garantias mínimas firmadas nos

direitos e deveres individuais e coletivos – proteções fundamentais de cunho


constitucional.

O Estado Democrático Nacional se firma buscando nivelar as situações

sociais, em sintonia com o princípio da igualdade, elencado no artigo 5º da CF/88:


“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade ...” 7

7. BRASIL, Constituição Federal Brasileira de 1988, Editora RT, pág. 16, São Paulo – SP., 2000.

A vida do ser humano começa no útero, e nascendo com vida, conforme o

Código Civil Brasileiro (CCB), adquire personalidade jurídica, tornando-se assim


sujeito de direitos.
Art. 4º (CCB) – “A personalidade civil do homem começa com nascimento

com vida; mas põe a salvo desde a concepção os direitos do nascituro.” 8

Estando no ápice da “pirâmide” das leis, nossa Carta Magna estabelece em


título próprio – Da Ordem Social, refúgio inquestionável às questões sociais. No
decorrer do estudo temático deparei com este artigo que prova que a questão

social não foi esquecida, pelo menos na teoria, pelos legisladores da assembléia
constituinte:
Art. – 203 (CF/88). A assistência social será prestada a quem dela necessitar,
independentemente da contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
(sublinhado)
II – o amparo a criança e o adolescente; (sublinhado)
III – a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV – omisses;
V – omisses; 9
Do estudo evidenciado abstraímos que previsão legal e proteção aos menos

favorecidos, que na maioria das vezes, se declinam à prática de um delito fôra


observado pelos legisladores. Na dúvida para entender o porquê da inexistência de
ações práticas e contundentes para resolução do problema percebo, em análise da

realidade dos acontecimentos do dia a dia do Brasil, que estas leis na prática não
são observadas.

Vivemos num estado soberano, democrático, produtivo, rico, mas que não

consegue firmar uma administração em prol do coletivo. O que reluz ao final são
interesses de uma minoria que decide.

8. Código Civil Brasileiro, Saraíva – 1.999 – pág. 11 – São Paulo.


9. BRASIL, Constituição Federal Brasileira de 1988, Editora RT, pág. 103, São Paulo – SP., 2000.

3.1 A Proteção aos Direitos Básicos do Cidadão na Constituição:

Em todas interpretações jurídicas brasileiras, nas diversas normas

codificadas ou esparsas, a vida ocupa posição de honra. Pelo próprio texto


constitucional, em diversos momentos, é suscitado o seu indiscutível valor.

Na maioria das vezes porém, os administrados não sabem da proteção a

eles garantida. O Estado não realiza sua obrigação de oferecer, na melhor forma
possível, a proteção necessária a todos, indistintamente.

Os pais que desconhecem o respaldo jurídico a eles oferecido, criam seus

filhos a mercê da sorte. Na falta de políticas que protejam suas garantias


fundamentais não conseguem oferecer muita coisa ao menor em formação.

Os direitos sociais, instrumento eficiente para garantir o bem estar material,


moral e espiritual de toda população constantemente, são violados. Principalmente
quando deveriam ser destinados a pessoas de menor poder aquisitivo. Interessante

é observar que constituição a garante os seguintes direitos:

a) Saúde – ligado diretamente ao direito à vida, todo cidadão terá (teria) direito a
tratamento condizente com a sua enfermidade, independendo de sua situação
econômica.

Na fase de crescimento – de 0 anos a 8 anos a criança necessita de


inúmeros cuidados em relação ao seu normal desenvolvimento físico e intelectual.

O Estado deveria estar a postos para oferecer tratamento à mãe desde sua
gravidez. É salutar que a criança tenha um acompanhamento do pediatra,
principalmente nos seus primeiros anos de vida.

A realidade brasileira contudo é um pouco diferente do ideal assegurado. Para


marcar uma simples consulta médica de rotina, pelo SUS – Sistema Único de
Saúde – muitas vezes, o cidadão tem que dormir em filas intermináveis para que na
manhã do outro dia, marque-se uma consulta para dias após.

b) Educação – direito fundamental, é direito de todos, dever do Estado e da


família (Art. 205 – CF/88). O conhecimento leva ao jovem uma carga de
responsabilidade que lhe assegura desenvolvimento resguardado dos perigos que

assolam a sociedade.

É dever da sociedade dar formação às crianças, pois as mesmas serão


diretamente responsáveis pelo futuro do país. O Estado tem que oferecer

instituições de ensino com qualidade para acompanhamento e desenvolvimento


intelectual do menor.

c) Moradia – é fato que um lar estruturado contribui em muito para o decréscimo da

violência. O Art. 23, IX da CF/88 e o Artigo 6º - após a emenda constitucional 26 –


14/02/2000 – garante aos cidadãos brasileiros uma moradia adequada a suas

necessidades. “A União, Estados e Municípios devem promover programas de


moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento”. 10

d) Lazer – A qualidade de vida é estritamente ligada ao lazer. As recreações, as

atividades culturais, contribuem com o crescimento saudável de todos que


integram a sociedade. É proteção inserida no texto constitucional no Art. 225.

e) Trabalho – O direito ao trabalho é definido como direito social pelo artigo 6º da

CF/88. É característica de dignidade do cidadão ter um trabalho; poder com seu


próprio esforço conseguir as condições necessárias à sua manutenção .

O direito brasileiro regula que poderão exercer função laborativa de forma


irrestrita somente os maiores de 18 anos. Proíbe o trabalho de menores de 16

anos, salvo
10. BRASIL, na condição
Constituição Federal de aprendiz.
Brasileira Não
de 1988, garante
Editora RT, pág.o25,emprego
São Paulo –aos
SP., pais,
2000. apenas

garantias inerentes à prática de seu ofício – Art. 7º CF/88.

Na falta de apoio em geral pelo Estado, há reservas neste tipo de proibição.

A realidade mostra que é muito melhor a existência de um menor trabalhador que


um menor delinqüente. É certo que a formação educacional não deve ser deixado
em segundo plano; e se o trabalho, por qualquer motivo, vier atrapalhar os estudos,

deverá ser deixado de lado, vez que para ele haverá tempo oportuno.

Entre outras linhas da Carta Política de 1988 – “Constituição Cidadã” - estes


são os principais direitos que deverão ser oferecidos a todos os cidadãos. Na

análise de legislação mais específica com a questão relacionada, serão


apresentadas algumas considerações sobre o ECA – Estatuto da Criança e do
Adolescente – Lei 8.069 de 13/07/1990.
3.2 A Proteção à Criança a ao Adolescente Assegurada em Lei
Específica:

Dois anos após a promulgação da Constituição Federal de 1988, houve a


necessidade de uma norma que regulasse e possibilitasse melhor entendimento

sobre o os direitos e deveres do menor e a nova realidade vivida pelo país. A lei
8069 – Estatuto da Criança e do Adolescente, especificou soluções para o conflito
social delineado. Tratou de refletir e proteger os diretamente interessados.
Portanto, na defesa dos interesses da criança carente, abandonada e que sofre

maus tratos, surge o ECA.

O Estatuto da Criança e do Adolescente é uma das leis mais avançadas no

trato de assuntos ligados à criança, tendo respaldo internacional, vez que é


entendido como legítimo protetor de direitos humanos.

3.3 A Evolução do Direito sobre o Foco da Proteção ao Menor:

O direito do menor começa ser delineado com a estruturação do Código Civil

de 1916 – código atual. Na parte destinada à família tratou de especificar as


obrigações dos pais em relação aos seus filhos, do nascimento até a idade de 21
anos.

O Código Civil constituiu-se de artigos que abordam questões relativas ao


menor; tais como: a alimentação, a educação, a saúde, a sucessão no nome e na
herança, ou seja uma saudável proteção à família.

Anos mais tarde é consolidada uma nova lei disciplinando a questão do


menor – O Código de Menores, no ano de 1927.
“Este código, em específico, visava legislar sobre as crianças de 0 a 18 anos, em
estado de abandono, sem moradia certa, com pais falecidos, ignorados,
desaparecidos, declarados incapazes, presos a mais de 2 (dois) anos, fossem
qualificados com vagabundos, mendigos, de maus costumes, exercessem
trabalhos proibidos, fossem prostitutas ou economicamente incapazes de suprir a
necessidade de sua prole”. 11

Tratou ainda de regular o processo de internação de crianças com desvio


comportamental grave, com a intervenção do Estado através do juiz, no âmbito da

família.

Um novo código relacionado ao direito do menor é promulgado em 1979. O

Código de Menores de 1979 se preocupou, em suma, com as crianças privadas


das condições essenciais de sobrevivência, mesmo que de forma eventual. Tratou
de proteger as vítimas de maus tratos e castigos imoderados, as que se
encontrassem em perigo moral, entendidas como as que viviam em ambientes

contrários aos bons costumes e as vítimas de exploração por parte de terceiros, as


privadas de representação legal pela ausência dos pais, mesmo que eventual, as
que apresentassem desvios de conduta e as autoras de atos infracionais.

11. BURKLE, Rudi Rigo, Uma Visão Criminológica do Adolescente Infrator, (Internet), capturado 03.Out.2001,
http// www.teiajuridica.com.br .
O marco de transição entre os códigos de menores de 1927 e 1979 foi a
criação da Fundação Nacional do Bem–Estar do Menor (FEBEM), a qual passou a
reger todas as instituições que lidavam com menores.

No ano de 1979 também foi comemorado o Ano Internacional da Criança,


com grande promessa de proteção ao menor carente, abandonado e infrator. Da
presente data originou-se um grande movimento político idealista, nas mais

diversas áreas do conhecimento, resultando na aprovação dos artigos 227 e 228 da


CF/88, pela Assembléia Constituinte e posteriormente a Lei nº 8.069/90 – Estatuto
da Criança e Adolescente, pelo Congresso Nacional.

3.4 A Lei 8.069/90 – O Estatuto da Criança e do Adolescente:

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é considerado uma das mais

completas leis de proteção ao menor do mundo. Aprovado em 13 de Julho de 1990


inaugurou uma nova ordem jurídica e institucional para o trato da criança e do

adolescente. Veio limitar, a ação do Estado, do Juiz, da Polícia, das Empresas, dos
adultos e mesmos dos pais. Apesar de todos os esforços ainda não foi capaz de
alterar, significamente, a realidade da criança e do adolescente em nosso país.

Parte da sociedade, ainda hoje, vê no ECA uma arma para a impunidade. O


considera protecionista em relação ao seu conteúdo, quando visa proteger os
menores.

É fato porém que o ECA é apenas uma lei moderna, correlata à nova égide
dos Direitos Humanos implantados em âmbito internacional. O Brasil não poderia,
amparado por uma Constituição Cidadã, ficar indiferente às constantes

arbitrariedades cometidas contra os menores.

O ECA considera a criança e o adolescente como pessoa em

desenvolvimento. A lei surgiu assim, tendo como objetivo tratar dos menores em
três categorias: os em situação irregular, os menores vítimas e aqueles que
praticam atos infracionais.

A situação vivida pela sociedade brasileira contribui consideravelmente para


a deturpação juvenil, conforme já abordado no presente trabalho. O ECA entrou em
vigor na tentativa, saudável, de chegar à causa das infrações cometidas por

menores. Buscou firmar conceitos mais próximos da dura realidade vivida pela
criança e pelo adolescente.

Desenvolvendo-se em ambiente pouco propício à honestidade e ao

discernimento, os menores são alvos fáceis do mundo do crime, tornando-se, em


boa parte das vezes, um maior infrator. Tobias Barreto, com bastante propriedade
diz: “Ninguém nasce infrator. Para chegar à delinqüência, passa-se pelo abandono e
vai dos pequenos furtos até o latrocínio”.12
Assim é que o Estatuto da Criança e do Adolescente visa dar um novo

enfoque à questão do menor. Propõe-se a estabelecer medidas de proteção de


caráter essencialmente pedagógico, levando em consideração a peculiaridade dos
sujeitos-objetos das mesmas. O juiz passa a ser assessorado por uma equipe

multi-profissional – composta de no mínimo uma assistente social e um psicólogo,


em todas as ações na qual um menor é paciente ou infrator.

O Estado, pelo Estatuto, revestiu-se da responsabilidade de oferecer uma

política que proporcionasse da melhor forma, o bem-estar do menor; a sociedade


porém, deverá assumir seu papel visando resgatar a infância abandonada.

A lei existente de excelente qualidade, já está com 11 (onze) anos e ainda

não foi colocada plenamente em prática.


12. BURKLE,
EntreRudi Rigo, Uma
outras Visãonão
coisas: Criminológica do Adolescente
pode garantir Infrator, (Internet),
atendimento capturado
com políticas 03.Out.2001,
básicas às
http// www.teiajuridica.com.br .
crianças, aos adolescentes e suas famílias; não conseguiu melhorar de forma

significativa a realidade social que assola a sociedade. O ECA surge como tentativa
de melhorar a situação daquelas pessoas que, por diversas vezes, são vítimas
como os maiores e capazes.

É necessário abandonarmos as práticas utópicas de resoluções dos


problemas juvenis e que passamos a considerar os diversos fatores que levam
uma criança a cometer um ato infracional; conseguindo assim eliminar o mal pela

raiz. Estaremos, com essas atitudes, contribuindo para o decréscimo do número


criminosos na sociedade.

O meio social é dinâmico, necessário se faz portanto, todas as formas

legalizadas ou não amparadas pelo direito para proteção e observação de tudo


aquilo que se relaciona com os menores. Contudo, não devemos esquecer que o
direito se integra de leis e bom senso. Com o intuito de buscarmos melhor
afirmação de todas as vertentes já explicitadas analiso à seguir alguns indicadores

sociais que ilustram o posicionamento esposado.

CAPÍTULO IV

4. A REVELAÇÃO , EM NÚMEROS, DA SITUAÇÃO DO MENOR BRASILEIRO

O complexo social deve ser considerado em sua magnitude. O caminho para


a prática de crimes muitas vezes é a forma encontrada para sobrevivência
daqueles que um dia perceberam-se sem qualquer proteção ou apoio. Condições
de subsistência, maus tratos, pobreza, discriminação são alguns dos fatores

cotidianamente existentes na vida de um maior criminoso desde muito cedo.


Alguns gráficos e levantamentos revelaram, cientificamente, que quanto mais

privados das condições básicas, tais como: econômica, religiosa, saúde, educação,
lazer, esporte, etc., se torna mais fácil enveredarem-se para a prática de atos
ilegais. Analisando alguns institutos de pesquisas tais como: DIEESE, FIESP,

IBGE, foi feito um levantamento de alguns dados estatísticos que revelaram a


realidade social brasileira ao longo dos anos 90. O IBGE – Instituto Brasileiro de
Geo-estratégia, dispõe de dados muito interessantes, os quais passo a apresentar
e analisar. No estudo foi dado foco especial à questão do menor – criança e

adolescente.

4.1 Jovens à Mercê da Sorte:

O Brasil atualmente possui em torno de 170.000.000 (cento e setenta


milhões) de habitantes. Deste total, aproximadamente a metade está na faixa etária
de 0 a 24 anos, o que o caracteriza como um país formado por uma população
jovem.

Segue a seguir duas tabelas do IBGE de 1997, que permitirão alguns


comentários:
Tabela 1 – População residente total e de 0 a 24 anos de idade,
absoluta e relativa, por Grandes Regiões, segundo os grupos de idade
Brasil – 1997

Po pu l a çã o re s i de n t e t o t a l e de 0 a 2 4 a n o s de i da de
Brasil (1) Norte (2) Nordeste Sudeste Sul Centro-
Oeste

Números Absolutos
População Total 156 128 003 7 357 494 45 448 490 68 280 153 23 932 379 10 823 207

0 a 6 anos 21 231 045 1 225 453 6 916 618 8 275 035 3 261 034 1 494 550

7 a 14 anos 26 863 331 1 460 186 8 950 253 10 631 164 3 852 073 1 907 095

15 a 17 anos 10 399 484 566 329 3 317 745 4 283 720 1 483 371 732 209

18 a 24 anos 13 454 058 714 267 3 924 961 5 800 848 1 960 999 1 029 430

13
Tabe l a 2 – Famí l i as com cri anças de 0 a 14 anos de i dade , por grupos de i dade e cl asse s de re ndi me nto
mensal familiar per capita em salários mínimos, segundo as Grandes Regiões,
Unidades da Federação e Regiões Metropolitanas - 1992/1999

Famílias com crianças de 0 a 14 anos de idade


Classes de renda mensal familiar per capita em salários
mínimos (%)
Total Até 1/2 Mais de Mais de Mais de Mais de Mais de
(1) 1/2 até 1 1 a 2 2a3 3a5 5

1999
Brasil (2) 20 066 950 27,7 25,5 21,9 8,0 6,0 5,4
Norte (3) 948 228 30,6 27,5 19,9 7,1 5,2 4,2
Nordeste 5 512 832 50,2 23,5 11,6 3,7 2,5 2,3
Sudeste 8 533 528 16,5 25,4 27,1 10,1 7,8 7,1
Sul 3 471 722 19,8 26,6 26,7 9,9 7,5 5,8
Centro-Oeste 1 569 132 24,1 30,3 21,1 7,6 5,8 6,4
Goiás 681 849 27,5 30,8 20,6 7,4 4,6 3,9

Notas: 1. Famílias com pelo menos uma criança


dentro do grupo de idade destacado.
2. Em 1992, valores inflacionados pelo INPC com base em setembro
de 1999 e expressos em salários mínimos de 1999.
(1) Inclusive sem rendimento e sem declaração de rendimento. (2) Exclusive a
população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá. (3) Exc. a rural

14

13. Fonte: Pesquisa nacional por amostra de domicílios 1997. Microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 1998.
14. idem.
Em análise a Tabela 1, inferimos, que não muito diferente de hoje, em 1997
a população nacional se constituía de 46 % (quarenta e seis por cento) de pessoas
com idade de 0 a 24 anos. Deste total, 37,5 % (trinta e sete e meio por cento) tem

idade inferior a 18 (dezoito) anos, portanto, boa parte se enquadra na proteção e


cuidados assegurados no Estatuto da Criança e Adolescente.

Uma maior preocupação com situação do desenvolvimento infanto-juvenil

indubitavelmente deveria ser observada. Há diversos estudos na área da psicologia


que nos provam que até os 10 (dez) anos de idade a criança tem o seu caráter
constituído, porém em países em desenvolvimento, como o Brasil, elas ficam

privadas de importantes elementos eficazes à sua formação. Não há ajuda social


ou política-estatal coerentes com as necessidades da criança em fase de
amadurecimento.
“A primeira infância é essencial e relaciona-se de forma direta

com toda formação psíquica de uma pessoa. Estudos esclarecem


que de 0 a 1 anos de idade é fator primordial ao bom crescimento a
existência de abrigo, alimento e micronutrientes, atenção de saúde e

estímulo. De 1 a 3 anos se soma a estas necessidades o uso de


água potável. E de 3 a 5 anos educação escolar e dos pais”. 15

O Brasil não consegue oferecer tratamentos condizentes com a necessidade

de suas crianças e adolescentes. Parte das famílias que possuem crianças de 0 a


14 anos têm uma renda per capta até ½ salário mínimo, o que representa
aproximadamente 28% (vinte e oito por cento) das famílias brasileiras, quando
deveria ser suficiente ao sustento de todos os indivíduos que compõem o grupo

familiar, (conforme se evidencia na Tabela 2). E ainda, mais de 75 % (setenta e


cinco por cento) auferem renda per capta inferior a 2 (dois) salários mínimos.

O Estado de Goiás apresenta números bem próximos da realidade nacional.


Abstrai-se dos presentes dados que estas famílias não poderão oferecer
15. GAAG, Jacques Van Der. Desenvolvimento Inicial da Criança – Uma Perspectiva Econômica - Internet
infra-estrutura adequada às suas crianças, tais como: saúde, alimentação,
educação, lazer, vestuário. Estas privações podem contribuir de forma direta ou

indireta, com a marginalização dessas crianças, o que pode facilitar sua inserção
no mundo do crime.

É desta falta de apoio que emergem os inúmeros problemas relacionados


com a população infanto-juvenil. As diferenças de classes imprimem na
personalidade do menor um constante descontentamento, que, muitas vezes, se
exterioriza em atos infracionais. Com as privações, não consegue uma formação

psico-social completa.

O adolescente acaba sendo obrigado a largar seus estudos para ajudar nas
despesas da casa. Na tentativa de sanar algumas dificuldades vividas por sua
família tem que dividir seus estudos com o trabalho ou mesmo abandoná-lo. Da

totalidade de adolescentes entre 15 e 17 anos de idade, no ano de 1999, uma parte


considerável só trabalhava, mais de 24 % (vinte quatro por cento). Outra parte tenta
conciliar seu estudo com o labor diário, mais de 20 % (vinte por cento). Há ainda

aqueles que ajudam em casa, cerca de 12 % e os que não realizam qualquer


atividade, não tendo a oportunidade nem mesmo de dedicar-se somente aos
estudos, cerca de 4 % (quatro por cento) – Tabela 3.
Tabela 3 – Adolescentes de 15 a 17 anos de idade, total e sua respectiva distribuição percentual,
por condição de atividade, segundo as Grandes Regiões, Unidades da Federação e
Regiões Metropolitanas - 1992/1999

Adolescentes de 15 a 17 anos de idade


Condição de atividade (%)
Total Só Trabalha Só Afazeres Não realiza
estuda e estuda trabalha domésticos nenhuma
atividade
Brasil (1) 9 134 677 38,9 20,8 24,7 11,8 3,8
Norte (2) 433 564 49,3 22,9 14,0 10,7 2,7
Nordeste 2 956 393 35,9 20,4 26,2 12,9 4,4
Sudeste 3 774 813 43,1 20,1 21,8 11,1 3,9
Sul 1 302 941 31,1 21,2 32,8 11,5 3,3
Centro-Oeste 643 638 37,3 24,3 24,1 11,2 3,0
Goiás 278 934 34,1 26,6 26,7 9,8 2,9

16

16. Fonte: Pesquisa nacional por amostra de domicílios 1997. Microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 1998.

Goiás, mais uma vez, fica em situação próxima da vivenciada pelo contexto
do país. Menos de 40 % (quarenta por cento) dos adolescentes com idade entre 15

e 17 anos podem se dedicar somente aos seus estudos. O fato adquire maiores
proporções por ser justamente a época mais propícia à finalização dos estudos
básicos do Brasil que é a conclusão do Ensino Médio.

4.2 O Fator Financeiro e a Distribuição de Renda :

A situação financeira dos brasileiros espelha um pouco as dificuldades

experimentadas por boa parte da sociedade em seu cotidiano. O índice de pessoas


que vivem com renda per capta de até ½ salário mínimo, conforme já exposto, é de
25 % (vinte e cinco por cento) da população nacional . Há regiões de nosso país
que este percentual quase dobra. Na região nordeste chega a 47,5 % (quarenta e

sete e meio por cento) da população.

Os números também variam de acordo com a idade do elemento em estudo,

consoante Tabela 4, apresentada à seguir:


Tabela 4 - Proporção de pessoas com rendimento de até 1/2 salário mínimo, per capita,
por Grandes Regiões, segundo os grupos de idade
Brasil e Grandes Regiões – 1997

Proporção De Pessoas Com Rendimento De Até ½


Salário Mínimo, Per Capita (%)

Brasil (1) Norte (2) Nordeste Sudeste Sul Centro-


Oeste

Total 25,0 30,1 47,5 13,1 16,2 19,4

0 a 6 anos 37,7 41,1 61,0 23,1 27,2 29,5


7 a 14 anos 35,4 39,3 60,0 19,6 23,6 27,2
15 a 17 anos 27,3 29,8 51,0 14,0 16,2 18,0
18 a 24 anos 21,6 24,6 43,1 10,6 12,3 14,8

(1) Exclusive a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá. (2) Exclusive a
população rural.

17

17. Fonte: Pesquisa nacional por amostra de domicílios 1997. Microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 1998.
Os dados estatísticos ilustram que justamente na fase em que se necessita
de maiores cuidados na formação do menor, a renda é proporcionalmente inferior.

O presente fato se relaciona de forma direta com o desenvolvimento cultural dos


brasileiros.

Não se pode negar que o lado financeiro contribui diretamente para uma

melhor ou maior oportunidade na obtenção dos valores intrínsecos ao conjunto de


informações que delineiam o caráter de cada um dos indivíduos que compõe o
estratus social nacional.

Quanto maior é a condição financeira da pessoa, maior tempo de estudo


esta consegue obter. O fator financeiro se relaciona de forma direta com a
oportunidade de desenvolvimento que cada indivíduo atingirá. Estudos elaborados

pelo IBGE comprovam que a cada ano escolar concluído uma pessoa consegue
aumentar sua renda em 16 % (dezesseis por cento). A relação entre renda mensal

per capta em salários mínimos e anos de estudo chega a duplicar para aqueles que
tem proventos fixados acima de 2 (dois) salários mínimos, de acordo com tabela à
seguir:
Tabela 5 - Média de anos de estudo das pessoas de 10 a 24 anos de idade,
por grupos de idade e renda mensal familiar per capita, segundo as Grandes Regiões
Brasil e Grandes Regiões – 1997

Média de anos de estudo das pessoas de 10 a 24 anos de idade,


por grupos de idade e renda mensal familiar per capita

Grandes Regiões 10 a 11 anos 12 a 14 anos 15 a 17 anos 18 a 24 anos

Até 1/4 Mais Até 1/4 Mais Até 1/4 Mais Até ¼ Mais
do de 2 do de 2 do de 2 do de 2
salário salários salário salários salário salários salário salários
mínimo mínimos mínimo mínimos mínimo mínimos mínimo mínimos

Brasil (1) 2,3 4,2 3,4 6,4 4,5 8,6 4,6 10,6
Norte (2) 2,3 4,0 3,5 5,9 5,1 8,1 5,7 10,3

Nordeste 2,0 4,0 3,0 6,1 4,0 8,3 4,2 10,6

Sudeste 3,0 4,2 4,5 6,5 5,5 8,6 5,6 10,6

Sul 3,1 4,5 4,7 6,7 5,5 9,0 5,5 10,7

Centro-Oeste 2,7 4,3 4,1 6,5 5,1 8,4 5,6 10,4

(1) Exclusive a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá. (2) Exclusive a população rural.

18
A condição financeira influi de forma tão direta para o empecilho aos estudos
18. Fonte: Pesquisa nacional por amostra de domicílios 1997. Microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 1998.

que, de 15 a 17 anos de idade em mais de 20 % (vinte por cento) de nossos jovens


não conseguem somar nem 4 (quatro) anos de estudo.
Tabela 6 - Proporção de pessoas de 15 a 24 anos de idade, com menos de
4 anos de estudo, por Grandes Regiões e sexo, segundo os grupos de idade
Brasil e Grandes Regiões – 1997

Proporção de pessoas de 15 a 24 anos de idade,


com menos de 4 anos de estudo (%)
Brasil (1) Norte (2) Nordeste Sudeste Sul Centro-
Oeste
15 a 17 anos 20,2 20,5 39,2 10,6 8,3 14,4
18 anos 18,1 15,5 34,4 11,5 7,9 12,7
19 anos 17,6 16,0 34,6 9,9 8,3 13,0
20 a 24 anos 18,9 17,0 34,1 12,2 10,4 15,2

(1) Exclusive a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá. (2) Exclusive a população
rural.

19

O menor, impossibilitado de dar seqüência a seus estudos, contribui para o


decréscimo do índice sócio-intelectual do país. Na zona rural, onde a infra-estrutura
do Estado tem maior dificuldade para chegar, o percentual de analfabetismo chega

a 29% (vinte e nove por cento). São pessoas que não conseguem nem mesmo
assinar seu nome.

Nas cidades a situação é um pouco melhor, mas certamente está muito

aquém do saudável e desejável à expansão do país:


Tabela 7 - Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade, por situação do domicílio e sexo,
segundo as Grandes Regiões, Unidades da Federação e Regiões Metropolitanas – 1992/1999

Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade (%)


Situação do domicílio e sexo
Rural
Total Homens Mulheres
1999
Brasil (1) 29,0 30,2 27,7

Norte (2) ... ... ...


41,0 44,2 37,6
Nordeste
19,4 18,6 20,3
Sudeste
12,4 12,1 12,8
Sul
18,9 19,6 18,1
Centro-Oeste
Goiás 20,7 22,4 18,8
(1) Exclusive a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá. 20

19. Fonte: Pesquisa nacional por amostra de domicílios 1997. Microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 1998.
20. Fontes: Pesquisa nacional por amostra de domicílios 1992. Microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 1997;
Pesquisa nacional por amostra de domicílios 1999: microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 2000.

O Brasil é uma das maiores economias do mundo, porém esta renda é


extremamente mal distribuída, contribuindo naturalmente para o desajuste social. É
possível e necessária a implantação de um programa, em curto espaço de tempo,

que ofereça bem estar geral a toda a população; e não só àqueles que detém o
poder econômico.
CAPÍTULO V

5. UM PROBLEMA COM SOLUÇÃO

Na elucidação de todas as hipóteses apresentadas à problemática do menor


e sua inserção ao mundo do crime, que podem levar a se tornar um maior
criminoso, com satisfação percebo que há chances plausíveis à resolução do
macro problema hoje existente.
É interessante notar que há repúdio pela violência, contudo esquece-se de
suas causas. A hipocrisia impede que aqueles que vivem em situação privilegiada
somem esforços no intuito de tentarem balancear as inúmeras desigualdades
existentes na sociedade. A violência instituída, pelos grandes grupos detentores do
poder, opressores dos menos favorecidos, nem sempre é questionada. Contudo,
qualquer delito praticado por um menor, logo é objeto de questionamento, visando
à repressão imediata de tais atos. Deve-se sobretudo atacar as causas da
violência, não se permitindo as práticas arcaicas de governo.

Sabemos que os direitos sociais mínimos amparados pela Constituição


Federal normalmente não estão sendo observados e ficamos estáticos diante das
arbitrariedades cometidas.

Cerceando o direito das crianças, que não podem freqüentar a escola,


permitindo o seu abandono à sua própria sorte, estaremos favorecendo a adoção
da prática de maus tratos. E, certamente, estaremos contribuindo para o
nascedouro de criminosos, que atormentarão a paz social, tanto em voga na
atualidade. É hora de cortamos o mal pela raiz, de resolvermos o problema em sua
base.

O “mundo” Jurídico pode oferecer sua contribuição na resolução da questão


do menor infrator. A inexistência de menores desprovidos de condições básicas
contribuirá com o decréscimo dos números de criminosos na sociedade.

5.1. De Menor Infrator à Maior Criminoso:

O estudo da situação nos permite enumerar algumas soluções que, se não


resolvessem, amenizariam, em muito, a incidência da criminalidade em nosso meio.
É necessário adotarmos políticas que interfiram na crescente marginalização infato
juvenil e sua provável “maioridade criminal”, buscando respaldar a sociedade com
todos os anseios por ela almejada. Torna-se importante:

1) Compreendermos que o menor infrator é, também, vítima do sistema, da


conjuntura formada em torno de si, sendo necessário que a comunidade jurídica
exija dos responsáveis o cumprimento das leis, já existentes, que regulam à
questão. Em especial a Lei 8069/90 , O Estatuto da Criança e do Adolescente.

2) Colocar em prática os Direitos Humanos e Sociais mínimos garantidos em nossa


lei maior – CF/88 – respeitando a dignidade humana e o artigo 5º - incisos – bem
como artigo 227, entre outros.

3) Apoiar com políticas sérias, por parte do governo, ações que visem assegurar ao
menor o seu direito aos estudos sem detrimento de sua subsistência.

4) Exigir que o governo trate não somente o menor, mas sua família, contribuindo
para a extinção de traços de desigualdades que afloram entre aqueles que muito
têm e os que pouco possuem.

5) Zelar para que haja condições reais de reestruturamento, com tratamento


adequado, àqueles que por diferentes motivos sofreram algum gravame que os
compeliram à prática de atos não bem quistos e aceitos pela sociedade.

Portanto a realidade nos revela que não é uma questão de idade, e sim uma
questão de “falta de apoio” que condiciona o menor na prática de infrações legais.
REFERÊNCIAS B IBLIOGRÁFICAS

1. BRASIL, Constituição Federal Brasileira de 1.988.

2. COSTA, Maria Cristina Castilho. Sociologia: Introdução à Ciência da


Sociedade. São Paulo: Moderna, 1.994.

3. DAHER, Marlusse Pestana. Em defesa do Estatuto da Criança e do Adolescente. In: Jus


Navigandi, n. 41. [Internet] http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=1646[Capturado
20.Dez.2001]

4. FARIA, José Eduardo. Justiça e Conflito: Os Juízes em Face dos Novos


Movimentos Sociais – 2ª ed., rev. e ampl. – São Paulo . RT – 1992.
5. FERNANDES, Newton e Valter. Criminologia Integrada. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 1995.

6. GRECO FILHO, Vicente. Manual de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 1.995.

7. JESUS, Damásio Evangelista de. Código Penal Interpretado. São Paulo:


Saraiva, 1.998.

8. LUNGARZO, Carlos. O Que é Ciência, São Paulo: Editora Brasiliense – Coleção


Primeiros Passos, 1.993.

9. MALUF, Sahid. Teoria Geral do Estado, São Paulo: Saraiva, 1.995.

10. MARTINS, Carlos Benedito. O Que é Sociologia, São Paulo: Editora Brasiliense
– Coleção Primeiros Passos, 1.991.

11. MARTINS, Maria Helena. O Que é Leitura, São Paulo: Editora Brasiliense –
Coleção Primeiros Passos, 1.992.

12. MELO, Sírley Fabiann Cordeiro de Lima. Breve análise sobre o Estatuto da
Criança e do Adolescente. In: Jus Navigandi, n. 45. [Internet]
http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=1645 [Capturado 20.Dez.2001]

13. MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de Processo Penal. v. 01 e 02, São Paulo:
Saraiva, 1.997.

14. NADER, Paulo. Introdução ao Estudo de Direito, Rio de Janeiro: Forense,


1.997.

15. NOGUEIRA, Paulo Lúcio, Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado,


São Paulo, Saraiva, 1998.

16. OLIVEIRA, Nina Eiras dias de – Limites, Internet: Texto Capturado dia
15/05/2002 http// www.existencialismo.org.br/jornalexistencial/ninalimites.htm

17. QUEIROZ, José J. (coordenador) – O Mundo do Menor Infrator, São Paulo:


Editora Cortez, 1984.

18. ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato Social.

19. SILVA, Roberto da, Os filhos do Governo, São Paulo, Editora Ática, 1997.

20. Código Penal Brasileiro, 2.000.

21. Código de Processo Penal Brasileiro, 2.000.

22. Revista Veja, Editora Abril – 2001.

23. Jornal O Popular – Organização Jaime Câmara, Goiânia – GO, várias edições
2001/2002.
24. Folha de São Paulo, São Paulo – SP, várias edições 2001/2002.

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