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Goiânia – Goiás
2002
DE MENOR INFRATOR À MAIOR CRIMINOSO
(Uma Visão Jurídica da Sociedade Brasileira)
LEONARDO FERREIRA DE SOUZA
PROFESSOR – ORIENTADOR
PROFESSOR – MEMBRO
A minha família, (mãe – Janete, pai –
José e irmão Leandro), fonte eterna de
inspiração, dedico este trabalho.
AGRADECIMENTOS
S U M ÁR I O
RESUMO.....................................................................................................................06
INTRODUÇÃO............................................................................................................. 07
CAPÍTULO I
1. Preliminares Históricas................................................................................... 09
1.1 As desigualdades como fonte do problema do menor infrator...........................11
CAPÍTULO II
2. A Família, A Sociedade, O Estado e a Gênese do Crime................................13
2.1 Família: formando um cidadão ou um delinqüente?...........................................14
2.2 Sociedade: integrados por direitos e normas comuns........................................15
2.3 O papel do estado..............................................................................................17
2.4 A gênese do crime..............................................................................................18
CAPÍTULO III
3. O Ordenamento Jurídico Frente ao Problema do Menor Infrator................. 22
3.1 A proteção aos direitos básicos do cidadão na constituição..............................23
3.2 A proteção à criança e ao adolescente assegurada em lei específica...............26
3.3 A evolução do direito sobre o foco da proteção do menor.................................26
3.4 A Lei 8.069/90 – O estatuto da criança e do adolescente..................................28
CAPÍTULO IV
4. A Revelação, em números, da situação do menor brasileiro........................31
4.1 Jovens à mercê da sorte................................................................................... 31
4.2 O fator financeiro e a distribuição de renda.......................................................35
CAPÍTULO V
5. Um problema com solução................................................................................39
5.1 De menor infrator à maior criminoso..................................................................40
Referências Bibliográficas.....................................................................................41
RE S U M O
1. PRELIMINARES HISTÓRICAS
quando na sua posse, para não perdê-lo ou dividí-lo. Muitas vezes de forma
egoísta, talvez pela constante batalha para garantir condições próprias para
melhoria de vida, acabou fixando desigualdades que assolam a atual conjuntura
social em diversas vertentes.
Média acabaram por firmar as diferenças hoje existentes no meio social. Ao final do
processo histórico, como percebemos, vingou o sistema capitalista, que é a
supremacia do poder do capital ante a qualquer outro interesse.
menor ou maior de idade e seu ingresso no mundo do crime, torna-se mais fácil de
se acontecer. Impedidos de alcançarem às mesmas oportunidades que têm as
pessoas de melhores condições financeiras, o menor desamparado, decai ao
mundo das infrações, como tentativa de equilibrar as disparidades entre este e
aqueles.
indivíduo, que dela participa, sem ter as mesmas oportunidades. Muitas vezes ele
constrói ou ajuda a construir a riqueza do outro sem dela aproveitar.
O menor mantendo-se sem qualquer base de sobrevivência tem sua
formação psíquica perturbada pela situação vivida. Na falta de respostas
condizentes a sua realidade, esta o motiva a pratica de infrações.
realidade dos que têm alguma coisa com a sua própria, por meio da prática de
diferentes atos infracionais.
meios de comunicação tais como, televisão, rádio, revistas, jornais, etc. No Brasil,
segundo reportagem de capa da Revista “Carta Capital” do mês de Abril/2002, de
cada 5 (cinco) brasileiros 4 (quatro) não possuem condições de terem o básico à
manutenção de uma pessoa.
uma série de outros fatores, tais como: desestrutura familiar, exclusão social,
inexistência de programas sociais voltados à sua realidade de carente. Estes outros
fatores estão melhores desenvolvidos no decorrer do trabalho.
CAPÍTULO II
comprometem muitos dos núcleos que constituem o corpo social. Nesta realidade,
vejamos a responsabilidade e o papel de cada um destes institutos diante da
situação do menor.
O texto
2. BRASIL, nos apresenta
Constituição alguns
Federal Brasileira dosSão
de 1988, núcleos sociais
Paulo, 2000, responsáveis
Editora Saraíva, pág. à questão
111. do
menor. É apresentado: em primeiro lugar a Família, em segundo lugar a Sociedade
e em terceiro lugar o Estado. Não obstante é evidente que existem outros grupos
3.OLIVEIRA, Nina Eiras dias de – Limites, Internet: Texto Capturado dia 15/05/2002 http//
As crianças definem seus pais como “espelhos” de conduta, os maiores,
www.existencialismo.org.br/jornalexistencial/ninalimites.htm
A instituição familiar está hoje dilacerada pela dura realidade que passa a
economia nacional. Os pais têm que trabalhar no mínimo 8 (oito) horas diárias,
não tendo oportunidade de ficar com seus filhos. Quando chegam em casa,
cansados, não sem encontram em condições de dialogar. A situação, portando, é
calamitosa; e se relaciona com o a situação do menor brasileiro. Atualmente está
Ricos e pobres, mesmos direitos, mesmos deveres, são iguais perante a lei.
A sociedade se edifica em face destes dizeres e fecha os “olhos” para a grande
desigualdade que assola o meio social. Cada integrante está, devido aos
uma carga emocional negativa, com graves reflexos na fixação de seus valores. Na
falta de condições de adquirir determinada coisa que seu colega, seu vizinho,
possuem, pode se se enveredar à práticas de infrações. Sai para furtar ou roubar
aquele objeto que, com o esforço de sua família ou próprio, não é capaz de
conseguir.
destaca-se:
“Se o menor é vítima de uma sociedade de consumo desumana e muitas vezes
cruel, há que ser tratado e não punido, preparado profissionalmente e não
marcado pelo rótulo fácil de infrator, pois foi à própria sociedade que infringiu as
regras mínimas que deveriam ser oferecidas ao ser humano quando nasce, não
podendo, depois, hipocritamente, agir com rigor contra o ser indefeso e sub-
produto de uma situação anômala” 4 .
vivem.
da política estatal, do legislativo, que apoiada numa falsa moral, elabora lei que
não permite trabalho com idade inferior a 16 (dezesseis) anos, mas permite voto
nesta mesma idade e diz que ele só terá condição de assumir responsabilidades,
civil ou penal, à partir dos 18 (dezoito) anos.
dos crimes.
em sua responsabilidade.
Mas, certamente, será mais difícil a construção de uma mente criminosa num
lar estruturado que num, por qualquer motivo, desestruturado. É fato que sem
valores fixados, sem o aprendizado formado, a criança fica sem referencial. Acaba
absorvendo todo tipo de ensino a ela apresentado. Disso decorre uma boa parte
dos problemas que contribuem para a decaída de um jovem ao mundo das
infrações legais. Sem correção necessária, sem imposição de limites, sem ajuda e
diálogo construtivo do seio familiar e social, não se consegue formar um cidadão.
Assim, muitas das vezes, como acontece nos grandes “bolsões” de pobreza , nas
favelas dos grandes centros urbanos do país este é adotado por um criminoso.
criminalidade.
CAPÍTULO III
Ordem Geral, etc., acabou construindo inúmeras normas que visam assegurar as
garantias mínimas necessárias ao bem estar social coletivo, bem como a questão
propriedade ...” 7
7. BRASIL, Constituição Federal Brasileira de 1988, Editora RT, pág. 16, São Paulo – SP., 2000.
social não foi esquecida, pelo menos na teoria, pelos legisladores da assembléia
constituinte:
Art. – 203 (CF/88). A assistência social será prestada a quem dela necessitar,
independentemente da contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
(sublinhado)
II – o amparo a criança e o adolescente; (sublinhado)
III – a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV – omisses;
V – omisses; 9
Do estudo evidenciado abstraímos que previsão legal e proteção aos menos
realidade dos acontecimentos do dia a dia do Brasil, que estas leis na prática não
são observadas.
Vivemos num estado soberano, democrático, produtivo, rico, mas que não
consegue firmar uma administração em prol do coletivo. O que reluz ao final são
interesses de uma minoria que decide.
eles garantida. O Estado não realiza sua obrigação de oferecer, na melhor forma
possível, a proteção necessária a todos, indistintamente.
a) Saúde – ligado diretamente ao direito à vida, todo cidadão terá (teria) direito a
tratamento condizente com a sua enfermidade, independendo de sua situação
econômica.
O Estado deveria estar a postos para oferecer tratamento à mãe desde sua
gravidez. É salutar que a criança tenha um acompanhamento do pediatra,
principalmente nos seus primeiros anos de vida.
assolam a sociedade.
anos, salvo
10. BRASIL, na condição
Constituição Federal de aprendiz.
Brasileira Não
de 1988, garante
Editora RT, pág.o25,emprego
São Paulo –aos
SP., pais,
2000. apenas
deverá ser deixado de lado, vez que para ele haverá tempo oportuno.
sobre o os direitos e deveres do menor e a nova realidade vivida pelo país. A lei
8069 – Estatuto da Criança e do Adolescente, especificou soluções para o conflito
social delineado. Tratou de refletir e proteger os diretamente interessados.
Portanto, na defesa dos interesses da criança carente, abandonada e que sofre
família.
11. BURKLE, Rudi Rigo, Uma Visão Criminológica do Adolescente Infrator, (Internet), capturado 03.Out.2001,
http// www.teiajuridica.com.br .
O marco de transição entre os códigos de menores de 1927 e 1979 foi a
criação da Fundação Nacional do Bem–Estar do Menor (FEBEM), a qual passou a
reger todas as instituições que lidavam com menores.
adolescente. Veio limitar, a ação do Estado, do Juiz, da Polícia, das Empresas, dos
adultos e mesmos dos pais. Apesar de todos os esforços ainda não foi capaz de
alterar, significamente, a realidade da criança e do adolescente em nosso país.
É fato porém que o ECA é apenas uma lei moderna, correlata à nova égide
dos Direitos Humanos implantados em âmbito internacional. O Brasil não poderia,
amparado por uma Constituição Cidadã, ficar indiferente às constantes
desenvolvimento. A lei surgiu assim, tendo como objetivo tratar dos menores em
três categorias: os em situação irregular, os menores vítimas e aqueles que
praticam atos infracionais.
menores. Buscou firmar conceitos mais próximos da dura realidade vivida pela
criança e pelo adolescente.
significativa a realidade social que assola a sociedade. O ECA surge como tentativa
de melhorar a situação daquelas pessoas que, por diversas vezes, são vítimas
como os maiores e capazes.
CAPÍTULO IV
privados das condições básicas, tais como: econômica, religiosa, saúde, educação,
lazer, esporte, etc., se torna mais fácil enveredarem-se para a prática de atos
ilegais. Analisando alguns institutos de pesquisas tais como: DIEESE, FIESP,
adolescente.
Po pu l a çã o re s i de n t e t o t a l e de 0 a 2 4 a n o s de i da de
Brasil (1) Norte (2) Nordeste Sudeste Sul Centro-
Oeste
Números Absolutos
População Total 156 128 003 7 357 494 45 448 490 68 280 153 23 932 379 10 823 207
0 a 6 anos 21 231 045 1 225 453 6 916 618 8 275 035 3 261 034 1 494 550
7 a 14 anos 26 863 331 1 460 186 8 950 253 10 631 164 3 852 073 1 907 095
15 a 17 anos 10 399 484 566 329 3 317 745 4 283 720 1 483 371 732 209
18 a 24 anos 13 454 058 714 267 3 924 961 5 800 848 1 960 999 1 029 430
13
Tabe l a 2 – Famí l i as com cri anças de 0 a 14 anos de i dade , por grupos de i dade e cl asse s de re ndi me nto
mensal familiar per capita em salários mínimos, segundo as Grandes Regiões,
Unidades da Federação e Regiões Metropolitanas - 1992/1999
1999
Brasil (2) 20 066 950 27,7 25,5 21,9 8,0 6,0 5,4
Norte (3) 948 228 30,6 27,5 19,9 7,1 5,2 4,2
Nordeste 5 512 832 50,2 23,5 11,6 3,7 2,5 2,3
Sudeste 8 533 528 16,5 25,4 27,1 10,1 7,8 7,1
Sul 3 471 722 19,8 26,6 26,7 9,9 7,5 5,8
Centro-Oeste 1 569 132 24,1 30,3 21,1 7,6 5,8 6,4
Goiás 681 849 27,5 30,8 20,6 7,4 4,6 3,9
14
13. Fonte: Pesquisa nacional por amostra de domicílios 1997. Microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 1998.
14. idem.
Em análise a Tabela 1, inferimos, que não muito diferente de hoje, em 1997
a população nacional se constituía de 46 % (quarenta e seis por cento) de pessoas
com idade de 0 a 24 anos. Deste total, 37,5 % (trinta e sete e meio por cento) tem
indireta, com a marginalização dessas crianças, o que pode facilitar sua inserção
no mundo do crime.
psico-social completa.
O adolescente acaba sendo obrigado a largar seus estudos para ajudar nas
despesas da casa. Na tentativa de sanar algumas dificuldades vividas por sua
família tem que dividir seus estudos com o trabalho ou mesmo abandoná-lo. Da
16
16. Fonte: Pesquisa nacional por amostra de domicílios 1997. Microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 1998.
Goiás, mais uma vez, fica em situação próxima da vivenciada pelo contexto
do país. Menos de 40 % (quarenta por cento) dos adolescentes com idade entre 15
e 17 anos podem se dedicar somente aos seus estudos. O fato adquire maiores
proporções por ser justamente a época mais propícia à finalização dos estudos
básicos do Brasil que é a conclusão do Ensino Médio.
(1) Exclusive a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá. (2) Exclusive a
população rural.
17
17. Fonte: Pesquisa nacional por amostra de domicílios 1997. Microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 1998.
Os dados estatísticos ilustram que justamente na fase em que se necessita
de maiores cuidados na formação do menor, a renda é proporcionalmente inferior.
Não se pode negar que o lado financeiro contribui diretamente para uma
pelo IBGE comprovam que a cada ano escolar concluído uma pessoa consegue
aumentar sua renda em 16 % (dezesseis por cento). A relação entre renda mensal
per capta em salários mínimos e anos de estudo chega a duplicar para aqueles que
tem proventos fixados acima de 2 (dois) salários mínimos, de acordo com tabela à
seguir:
Tabela 5 - Média de anos de estudo das pessoas de 10 a 24 anos de idade,
por grupos de idade e renda mensal familiar per capita, segundo as Grandes Regiões
Brasil e Grandes Regiões – 1997
Até 1/4 Mais Até 1/4 Mais Até 1/4 Mais Até ¼ Mais
do de 2 do de 2 do de 2 do de 2
salário salários salário salários salário salários salário salários
mínimo mínimos mínimo mínimos mínimo mínimos mínimo mínimos
Brasil (1) 2,3 4,2 3,4 6,4 4,5 8,6 4,6 10,6
Norte (2) 2,3 4,0 3,5 5,9 5,1 8,1 5,7 10,3
(1) Exclusive a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá. (2) Exclusive a população rural.
18
A condição financeira influi de forma tão direta para o empecilho aos estudos
18. Fonte: Pesquisa nacional por amostra de domicílios 1997. Microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 1998.
(1) Exclusive a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá. (2) Exclusive a população
rural.
19
a 29% (vinte e nove por cento). São pessoas que não conseguem nem mesmo
assinar seu nome.
19. Fonte: Pesquisa nacional por amostra de domicílios 1997. Microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 1998.
20. Fontes: Pesquisa nacional por amostra de domicílios 1992. Microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 1997;
Pesquisa nacional por amostra de domicílios 1999: microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 2000.
que ofereça bem estar geral a toda a população; e não só àqueles que detém o
poder econômico.
CAPÍTULO V
3) Apoiar com políticas sérias, por parte do governo, ações que visem assegurar ao
menor o seu direito aos estudos sem detrimento de sua subsistência.
4) Exigir que o governo trate não somente o menor, mas sua família, contribuindo
para a extinção de traços de desigualdades que afloram entre aqueles que muito
têm e os que pouco possuem.
Portanto a realidade nos revela que não é uma questão de idade, e sim uma
questão de “falta de apoio” que condiciona o menor na prática de infrações legais.
REFERÊNCIAS B IBLIOGRÁFICAS
6. GRECO FILHO, Vicente. Manual de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 1.995.
10. MARTINS, Carlos Benedito. O Que é Sociologia, São Paulo: Editora Brasiliense
– Coleção Primeiros Passos, 1.991.
11. MARTINS, Maria Helena. O Que é Leitura, São Paulo: Editora Brasiliense –
Coleção Primeiros Passos, 1.992.
12. MELO, Sírley Fabiann Cordeiro de Lima. Breve análise sobre o Estatuto da
Criança e do Adolescente. In: Jus Navigandi, n. 45. [Internet]
http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=1645 [Capturado 20.Dez.2001]
13. MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de Processo Penal. v. 01 e 02, São Paulo:
Saraiva, 1.997.
16. OLIVEIRA, Nina Eiras dias de – Limites, Internet: Texto Capturado dia
15/05/2002 http// www.existencialismo.org.br/jornalexistencial/ninalimites.htm
19. SILVA, Roberto da, Os filhos do Governo, São Paulo, Editora Ática, 1997.
23. Jornal O Popular – Organização Jaime Câmara, Goiânia – GO, várias edições
2001/2002.
24. Folha de São Paulo, São Paulo – SP, várias edições 2001/2002.