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UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller
Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald
Profa. Jociane Stolf
Revisão de Conteúdo: Prof. Evandro André de Souza
Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7830-222-1
Impresso por:
Marcelo Gonzalez Brasil Fagundes
APRESENTAÇÃO...................................................................... 7
CAPÍTULO 1
Origens da História Cultural................................................ 9
CAPÍTULO 2
Estudos Culturais e a Escrita da História ....................... 33
CAPÍTULO 3
A Nova História Cultural...................................................... 57
CAPÍTULO 4
História Cultural no Brasil................................................. 79
APRESENTAÇÃO
Prezado pós-graduando, é com muita satisfação que apresentamos a você
este caderno de estudos. É um material constituído a partir da tentativa de definir
o que é História Cultural e seus principais autores e temas.
Os autores.
C APÍTULO 1
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Capítulo 1 ORIGENS DA HISTÓRIA CULTURAL
ConteXtualiZaÇÃo
A história cultural é entendida muitas vezes como uma ramificação do estudo
da História. No entanto, ela engloba uma grande variedade de temas e métodos,
não existindo um consenso entre os historiadores sobre os seus limites e suas
fronteiras. Como afirma o historiador britânico Peter Burke, definir A história cultural
a história cultural é “como tentar prender uma nuvem em uma rede não deve ser
de caçar borboletas” (BURKE, 2000, p. 233.). A história cultural não vista como uma
denominação ou
deve ser vista como mais uma entre as diversas disciplinas históricas
campo da história,
especializadas. O cultural constitui um campo multidisciplinar capaz de mas percebida
articular temas e questões mais ou menos dispersos pelas disciplinas como constituinte
especializadas. Há os que definem a história cultural como algo que de diversas
pode estar relacionado entre o econômico, o mental e o social. Dessa dimensões
forma, a história cultural não deve ser vista como uma denominação do saber
historiográfico.
ou campo da história, mas percebida como constituinte de diversas
dimensões do saber historiográfico.
A Historicidade do Conceito de
Cultura
A grande dificuldade de definir a história cultural deriva das diversas
denominações dadas ao termo “cultura”. Muitas vezes não conseguimos
ter precisão no significado dessa palavra aparentemente tão simples.
Habitualmente no senso comum a palavra cultura está associada à ideia de
educação formal ou conhecimento, a atividade intelectual de um indivíduo.
“Aquela pessoa tem cultura”, ou seja, aquela pessoa teve uma boa formação
educacional.
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História Cultural
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Capítulo 1 ORIGENS DA HISTÓRIA CULTURAL
Ainda no século XVIII, nos territórios que virão a configurar o Estado alemão,
a palavra Kultur assumiu uma denominação bastante similar à adotada na
França. No entanto, na Alemanha, no decorrer dos séculos XVIII e XIX, a “cultura
– civilização” perdeu sua conotação aristocrática e se converteu em símbolo de
distinção das diferenças nacionais. A “cultura” se aproxima da noção de “nação”.
Segundo Cuche:
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História Cultural
Inserido nesse contexto está o etnólogo inglês Edward Tylor, que, em 1871,
disse sobre a cultura: “tomado em seu amplo sentido etnográfico, é este todo
complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou
qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de
uma sociedade” (TYLOR, 1975, p. 29). Na definição de Tylor, cultura assumia uma
dimensão ampla de todas as possibilidades de realizações humanas, fossem elas
materiais ou mentais.
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Capítulo 1 ORIGENS DA HISTÓRIA CULTURAL
Em fins do século XIX, uma das primeiras críticas aos métodos evolucionistas
de análise da cultura veio do alemão Franz Boas (1858 – 1942). Para Boas, o
método comparativo adotado por Tylor pecava na tentativa de estabelecer leis
de evolução histórica da cultura. Segundo ele, “o objetivo de nossa investigação
é descobrir processos pelos quais certos estágios culturais se desenvolveram.
Os costumes e as crenças, em si mesmos, não constituem a finalidade última da
pesquisa. Queremos saber as razões pelas quais tais costumes e crenças existem
– em outras palavras, desejamos descobrir a história de seu desenvolvimento”
(BOAS, 2004, p. 33).
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História Cultural
Atividade de Estudos:
Caro pós-graduando,
1) ____________________________________________________
Elabore um texto discutindo o conceito de cultura a partir do
tema: “O (des)encontro entre indígenas e europeus no Brasil no
século XVI”. Escreva a partir de dois enfoques diferentes, um
deles aproximando o conceito de cultura da ideia de civilidade, o
outro, da perspectiva da cultura constituída a partir de diferentes
manifestações sociais.
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História Cultural
suas Reflexões sobre a História, em que ele aponta para o estudo das “três
potências” que compõem a civilização: o Estado, a religião e a cultura. Nesse
contexto, cultura, para Burckhardt, incluía
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Capítulo 1 ORIGENS DA HISTÓRIA CULTURAL
PAULA, João Antônio. Para lembrar Huizinga: 1872 – 1945. In: Nova
Economia: revista do departamento de economia da UFMG. Belo
Horizonte: n. 15 (1) janeiro-abril de 2005. p. 141-148. Disponível em:
<www.face.ufmg.br/novaeconomia/sumarios/v15n1/150106.pdf>.
Acesso em: 30 abr. 2009.
Atividade de Estudos:
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História Cultural
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Outra obra que teve grande impacto sobre os historiadores foi A cultura
popular na Idade Média e no Renascimento (1965), do teórico cultural russo
Mikhail Bakthin. Analisando a literatura do escritor francês François Rebelais e
outras “fontes populares”, o autor propõe desvendar a “cultura popular” cômica
europeia em fins do período medieval. Em conceitos como o de “carnavalização”,
Bakthin aborda as interações e transgressões dos limites entre a “cultura da elite”
e as “culturas do povo”. Seguindo a mesma linha, Peter Burke escreveu, em
1978, A cultura popular na Idade Moderna. Ao abordar “o problema do ‘popular’”,
Burke prefere utilizar o conceito no plural em virtude de sua heterogeneidade ou
“substituí-la por “a cultura das classes populares”” (BURKE, 1989, p. 17).
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Capítulo 1 ORIGENS DA HISTÓRIA CULTURAL
Para ambos os autores, existe uma ambiguidade que divide Duas teses
de forma fluída a “cultura popular” da “cultura da elite”. Apesar das sobre a cultura
popular: uma que
precauções dos autores Bakthin e Burke em qualificar a “cultura
estabelece sua
popular” como heterogênea, suas visões são criticadas por Roger marginalidade
Chartier. ante a cultura
letrada; outra que
[...] Peter Burke assim descreve os dois lhe concede uma
movimentos que desenraizam a cultura popular imagem mítica,
tradicional: de um lado, o esforço sistemático das
elites e particularmente dos cleros protestantes quase que de
e católicos, “para mudar as atitudes e valores do oposição à cultura
resto da população” e “para suprimir, ou ao menos dominante. Essas
purificar, vários elementos da cultura tradicional”; visões podem,
de outro, o abandono, pelas classes superiores, às vezes, estar
de uma cultura até então comum a todos. O
resultado é claro: “Em 1500, a cultura popular era presentes em
a cultura de todo mundo; uma segunda cultura uma mesma
para os instruídos e a única para os demais”. análise, ou obra
historiográfica.
Existem várias razões para só se retomar com
mais prudência essa periodização e esse diagnóstico que
concluem pela desqualificação da cultura popular ou pelo seu
desaparecimento. (CHARTIER, 1995, p. 181.)
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História Cultural
como nos alerta Burke, é designar o popular por aquilo que não é a elite, ou seja, o
emprego de uma “categoria residual” que em muitos casos enrijece esses termos
e perde a abrangência das manifestações culturais. Em estudos historiográficos
mais recentes esses termos são já utilizados de forma mais ampla e plural.
Seguindo essa linha, a ideia de tradição sofreu uma crítica mais enfática
de Eric Hobsbawn e Terence Ranger, com A Invenção da tradição. A adoção
do termo “invenção” vinha com o intuito de demonstrar que as tradições
eram deliberadamente construídas e formalmente institucionalizadas. Uma
característica inerente à tradição é que, embasada no passado real ou forjado, ela
é invariável, fixa. Para os autores:
Peter Burke defende o estudo da tradição, mas alerta que deve ser
redefinida, levando em consideração a teoria da recepção cultural, a
adaptação e o reconhecimento. Dessa forma, o questionamento dos
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Atividades de Estudos:
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História Cultural
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História Cultural
parágrafo 4o do artigo 26, a História do Brasil deve levar “em conta a contribuição
de diferentes culturas e etnias [...] especialmente das matrizes indígenas, africana
e europeia” (BRASIL, 1996). Dessa definição podemos observar que a noção
adotada de cultura leva em consideração a existência de diferentes grupos. No
entanto, ela é reducionista quando delimita e enrijece as culturas e etnias em
“indígena”, “africana” e “europeia”. Dessa forma, podemos perceber as limitações
acerca da noção de cultura nas leis e diretrizes da educação nacional, bem como
nos livros didáticos utilizados nas escolas brasileiras.
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História Cultural
Atividades de Estudos:
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História Cultural
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Algumas ConsideraÇÕes
Sendo a história a disciplina que estuda o processo, interessa-nos mais
procurar identificar os caminhos que nos levam a determinadas concepções atuais
do que sejam cultura e história cultural. Considerando a amplitude dos temas
discutidos ao longo desse capítulo, nosso objetivo não é atingir uma verdade
acerca dos conceitos e muito menos acomodar você, pós-graduando, com uma
explicação reducionista de algo que é amplo e complexo.
ReFerÊncias
ABREU, Martha. “Cultura Popular: um conceito e várias histórias”. In: Ensino de
História: conceitos, temáticas e metodologias. Martha Abreu e Rachel Soihet
(organizadores). Rio de Janeiro: FAPERJ. Casa da Palavra, 2003.
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Capítulo 1 ORIGENS DA HISTÓRIA CULTURAL
BURKE, Peter. Cultura Popular na Idade Moderna. São Paulo: Companhia das
Letras, 1989.
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História Cultural
2001.
PAULA, João Antônio. Para lembrar Huizinga: 1872 – 1945. In: Nova Economia:
revista do departamento de economia da UFMG. Belo Horizonte: no. 15 (1),
janeiro-abril de 2005. p. 141-148.
SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura? São Paulo: Brasiliense, 1983.
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C APÍTULO 2
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Capítulo 2 ESTUDOS CULTURAIS E A ESCRITA DA HISTÓRIA
ConteXtualiZaÇÃo
Considerando que os estudos culturais se constituíram a partir de diferentes
áreas do conhecimento, percebemos ser de fundamental importância situar o
papel da Antropologia nesse contexto, bem como suas contribuições para o
campo da história. Portanto, este capítulo se inicia com uma discussão acerca
da Antropologia cultural, seus principais autores e fases. Esperamos que ao
final dessa seção seja possível perceber o quanto os estudos antropológicos
influenciaram a história cultural e a noção de cultura adotada pelos historiadores.
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História Cultural
A AProXimaÇÃo da AntroPologia
Cultural com Novas PossiBilidades de
Escrita da História
O que define o campo da Antropologia é o conceito de cultura, que pode
ser compreendido como sendo um código simbólico, que possui uma dinâmica
e uma coerência interna. É compartilhado pelos membros de uma determinada
sociedade ou grupo social e, mediante um procedimento antropológico, pode
ser decifrado e traduzido para membros que não pertencem a esse grupo. À
antropologia, portanto, cabe a interpretação dos diferentes códigos simbólicos
que constituem as diversas culturas. (THOMAZ, 1995, p. 427-428).
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Capítulo 2 ESTUDOS CULTURAIS E A ESCRITA DA HISTÓRIA
Atividade de Estudos:
Você sabia?
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História Cultural
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Capítulo 2 ESTUDOS CULTURAIS E A ESCRITA DA HISTÓRIA
O estudo das O estudo das culturas de outros povos implica “descrever o que
culturas de outros eles pensam que são, o que pensam que estão fazendo e com que
povos implica finalidade pensam o que estão fazendo” (GEERTZ, 2001, p. 26). Não
“descrever o que se trata, entretanto, de sentir como os outros ou pensar como eles,
eles pensam pois isso seria impossível. O que é metodologicamente esperado do
que são, o que
pesquisador de campo é que aprenda a viver com e não como as
pensam que estão
fazendo e com sociedades ou grupos de culturas diferentes. O que o antropólogo
que finalidade busca é a ação de se situar entre aqueles que são estranhos, é a
pensam o que possibilidade de conversar com eles. Visto sob esse ângulo, o objetivo
estão fazendo” da Antropologia é o alargamento do universo do discurso humano
(GEERTZ, 2001, (GEERTZ, 1978, p.24).
p. 26).
Atividade de Estudos:
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História Cultural
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Capítulo 2 ESTUDOS CULTURAIS E A ESCRITA DA HISTÓRIA
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História Cultural
a vida social e o evento efêmero, que incluía a política e tudo que dizia respeito
ao indivíduo. A estrutura, ou longa duração tinha prioridade, enquanto os eventos
eram equiparados à poeira ou à espuma do mar.
Atividades de Estudos:
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A terceira fase dos Annales talvez seja a mais difícil de definir, pois não contou
com a centralidade dos estudos de Bloch e Febvre ou Braudel. Por isso, chega-
se a dizer que nessa fase houve uma fragmentação. Exerceu grande influência
sobre a historiografia e sobre o público leitor, em abordagens que comumente
chamamos de Nova História ou História Cultural (BURKE, 1997).
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História Cultural
ampliação dos fatos, como das fontes que deixaram de ser exclusivamente os
documentos oficiais, abrangendo todos os vestígios deixados pelo homem social
(FEBVRE, 1989).
Atividade de Estudo:
A Micro-História
A historiografia em constante movimento e diálogo com outras áreas do
conhecimento, em especial a antropologia e ciências sociais, renova-se com
certa constância, a partir da construção de diferentes formas de fazer e pensar a
história. Nessa perspectiva, a análise micro-histórica surgiu como uma alternativa
a explicações estruturantes da sociedade, que não levavam em consideração o
estudo do indivíduo como ator social.
Atividade de Estudo:
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História Cultural
Nesse sentido alguns autores defendem a relação dos sujeitos com a cultura,
partindo da interpretação do indício. Entre eles podemos citar Carlo Ginzburg, para
quem a historiografia se configura como hermenêutica ou arte de interpretação
(ESPADA, 2006, p. 366). Há que se considerar ainda que, independente de haver
duas vertentes historiográficas nas quais a micro-história se divide, há pontos
comuns e que poderiam configurar o que se convencionou chamar de projeto
micro-histórico. Giovanni Levi apontou, em 1990, as questões e posições comuns
que davam alguma unidade a esse projeto: a redução da escala, o debate
sobre a racionalidade, a pequena indicação como paradigma científico, o papel
do particular (não, entretanto, em oposição ao social), a atenção à capacidade
receptiva e à narrativa, uma definição específica do contexto e a rejeição do
relativismo (LEVI, 1992, p.159).
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Capítulo 2 ESTUDOS CULTURAIS E A ESCRITA DA HISTÓRIA
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Capítulo 2 ESTUDOS CULTURAIS E A ESCRITA DA HISTÓRIA
Atividades de Estudos:
(02) Trata-se de uma metodologia que tem por objetivo trazer à tona
trajetórias de vida a fim de anunciar questões mais amplas sobre a
sociedade.
(04) Constitui-se a partir de grande rigor metodológico e tem suas
origens no estruturalismo.
(08) Tem por objetivo o estudo do micro, sem levar em consideração
contextos macro.
(16) Parte do pressuposto de que contextos micro são
fundamentais para a compreensão do macro.
(32) Está centrada na ideia de que o que realmente é importante
na história são os grandes eventos.
O Pós-Colonialismo
Nas décadas de 1980 e 1990 os estudos pós-coloniais ganharam amplitude
em diversas partes do mundo, em especial nas academias dos Estados Unidos,
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História Cultural
Spivak, escritora indiana, emigrada nos Estados Unidos, torna-se, com seu
livro “Crítica da razão colonial”, publicado em 1990, uma das estudiosas mais
significativas no panorama dos estudos pós-coloniais e dos estudos femininos.
Para Spivak, o sujeito subalterno não se conhece e não pode falar e ainda menos
o sujeito subalterno feminino, visto pela autora como o símbolo máximo do
esquecimento histórico (NEVES, 2009, p. 237).
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Capítulo 2 ESTUDOS CULTURAIS E A ESCRITA DA HISTÓRIA
Algumas ConsideraÇÕes
Sem dúvida alguma, todos os temas abordados neste caderno têm um
objetivo comum: tornar mais claro o significado de História Cultural. Embora já
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História Cultural
A história se faz a tenhamos afirmado no primeiro capítulo ser uma tarefa difícil, em função
partir do cotidia- da diversidade que abarca o conceito de cultura, compreendemos que,
no das pessoas a cada página escrita, nosso objetivo se torna mais concreto.
comuns, a partir
do seu próprio A História Cultural é interdisciplinar e por essa razão não nos
cotidiano e de
basta averiguar somente o campo da história, mas também recorrer à
suas experiências.
Portanto, você, Antropologia, área que nos emprestou sua concepção de cultura tão
caro pós-graduan- alargada, para a qual procuramos um constante ressignificar.
do, não somente
ensina história, Esse caderno não pretende ser um amontoado de palavras que
você vive história, se juntam e formam frases, que por sua vez se juntam e formam
você faz história.
parágrafos. Pretende, sim, ser um material que tenha aplicabilidade na
prática, portanto buscamos ressaltar inúmeras vezes que a história se
faz a partir do cotidiano das pessoas comuns, a partir do seu próprio cotidiano e
de suas experiências. Portanto, você, caro pós-graduando, não somente ensina
história, você vive história, você faz história.
ReFerÊncias
BARBOSA, Muryatan, Santana. O pós-colonialismo como projeto. (mimeo), 2006.
Disponível em: <www.historiaecultura.googlepages.com>. Acesso em: 28 de jun.
2009.
BARTH, Fredrik. Process and form in social life. Selected Essays of Fredrik
Barth. London: Routledge& Kegan Paul, 1981.
BENEDICT, Ruth. Padrões de cultura. São Paulo: Editora Livros do Brasil, 1983.
GEERTZ, Clifford. Nova Luz sobre a Antropologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
HUNT, Lynn. A Nova História Cultural. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
REIS, José Carlos. Tempo, História e Evasão. Campinas: Papirus Editora, 1994.
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História Cultural
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C APÍTULO 3
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Capítulo 3 A NOVA HISTÓRIA CULTURAL
ConteXtualiZaÇÃo
Caro pós-graduando, neste capítulo observaremos a grande
A Nova História
renovação da História Cultural ocorrida no final da década de 1980. Cultural questio-
A Nova História Cultural questionou os pressupostos teóricos nou os pressu-
predominantes na historiografia da cultura e utilizou pensadores postos teóricos
de outras áreas de conhecimento para criar novas perspectivas de predominantes na
análise. Até meados da década de 1980 era visível o predomínio historiografia da
cultura e utilizou
de estudos de adeptos da escola dos Annales e do marxismo. No
pensadores de
entanto, a descoberta, pelos historiadores, de autores que haviam outras áreas de
sido menosprezados revigorou os questionamentos historiográficos. conhecimento
Veremos em seguida como Norbert Elias, Michel Foucault e Pierre para criar novas
Bourdieu estremeceram a bases teóricas da história da cultura perspectivas de
sedimentadas naquele momento. análise.
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História Cultural
Atividade de Estudos:
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Capítulo 3 A NOVA HISTÓRIA CULTURAL
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Atividade de Estudos:
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Capítulo 3 A NOVA HISTÓRIA CULTURAL
Edward Thompson ocupou lugar central dentro das correntes Edward Thomp-
dos neomarxistas ingleses introduzindo inovações nos planos da son ocupou lugar
teoria, do método, da temática e das fontes a serem utilizados pela central dentro
história. Thompson rejeitou a explicação da base e superestrutura e das correntes
dos neomarxistas
dedicou-se ao estudo do que ele chamava “mediações culturais”. Em
ingleses introdu-
1963 publicou A formação da classe operária inglesa, em que definiu o zindo inovações
conceito de “consciência de classe”. Essa consciência seria a maneira nos planos da
pela qual as experiências das relações produtivas são manipuladas teoria, do método,
em termos culturais: incorporadas em tradições, sistemas de valores, da temática e das
ideias e formas institucionais. O livro, no entanto, não teve uma fontes a serem
utilizados pela
boa recepção entre os marxistas que o acusaram de “culturalista”,
história.
ou seja, por colocar ênfase nas experiências e nas ideias, e não
nas duras realidades econômicas, sociais e políticas. Apesar das críticas, a
obra de Thompson exerceu, naquele momento, enorme influência entre jovens
historiadores, elevando o papel da cultura nos estudos marxistas.
b) Autores e temas
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História Cultural
• Norbert Elias
• Michel Foucault
A reação dos A reação dos historiadores à obra de Foucault foi, por um longo
historiadores à período, conflituosa. Ele, como filósofo, não gozava da simpatia dos
obra de Foucault historiadores por “sua rejeição à história positivista, sua linguagem
foi, por um longo
codificada e obscura e por sua rejeição aos críticos como “espíritos
período, conflitu-
osa. menores”, “burocratas e policiais”, que em nada contribui para
transpor o abismo entre ele e os historiadores acadêmicos”. (O´BRIEN,
1992, p. 36 – 37). Em seu livro sobre a Arqueologia do conhecimento, Foucault
disse: “não sou um historiador profissional – mas ninguém é perfeito”. Essa ironia
era uma crítica aos historiadores que apontavam a falta de método, menosprezo
dos dados e simplificações excessivas de suas obras. Um historiador francês,
Jacques Léonard, comparou Foucault a um “cavaleiro bárbaro” que galopava
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Capítulo 3 A NOVA HISTÓRIA CULTURAL
• Pierre Bourdieu
A maior contri- O conceito de Pierre Bourdieu que teve maior impacto entre os
buição de Pierre historiadores foi a sua “teoria da prática”, especialmente a noção de
Bourdieu aos “habitus”. Através dessa ideia, Bourdieu analisou as práticas cotidianas
historiadores foi em termos de improvisação sustentada em uma estrutura de esquemas
lhes dar ferramen-
impostos pela cultura tanto na mente quanto no corpo. Outros conceitos
tas não só para
descrever, mas importantes de Bourdieu foram as ideias de “reprodução cultural”
para analisar a e “capital cultural” ou “capital simbólico”. Este último, emprestado
história. das ciências econômicas, passou a integrar estudos de sociólogos,
antropólogos e alguns historiadores. De maneira geral, a maior
contribuição de Pierre Bourdieu aos historiadores foi lhes dar ferramentas não só
para descrever, mas para analisar a história.
Atividade de Estudos:
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Capítulo 3 A NOVA HISTÓRIA CULTURAL
Essa nova geração da escola francesa buscava novas fontes para estudar as
mentalidades das sociedades do passado. No entanto, diferentemente da primeira
geração, a história das mentalidades passa a ser um fenômeno significativo na
historiografia. Agora, o termo mentalidades não designa apenas um campo de
interpretação da cultura, mas um conceito difundido nos meios de comunicação.
Essa história foi associada, então, ao surgimento de uma “nova história”.
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História Cultural
Roger Chartier afirma que “as representações coletivas [devem ser vistas]
como as matrizes de práticas construtoras do próprio mundo social”. Ele
apresenta as representações coletivas como um retorno a Marcel Mauss e Emile
Durkheim e que processa, “sem dúvida melhor que o conceito de mentalidade”, as
modalidades das relações sociais.
Etnicidade e Identidade
As diferenças culturais cada vez mais assumidas em nossa sociedade
demandam uma reflexão em relação a alguns conceitos. Se há pouco tempo
era comum a utilização de raça para definir diferenças em relação aos grupos
humanos, atualmente existem questionamentos em relação ao termo que, embora
ainda seja utilizado, implica a noção de algo definitivo e puramente biológico,
sendo também a origem do que chamamos de racismo, conceito presente em
nosso cotidiano, infelizmente.
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Capítulo 3 A NOVA HISTÓRIA CULTURAL
social torna ainda mais dificil a sua solução. Agora reflita e registre:
quais os tipos de racismo existentes na sociedade brasileira? Quais
suas origens?
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História Cultural
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Capítulo 3 A NOVA HISTÓRIA CULTURAL
Atividades de Estudos:
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História Cultural
No senso comum tem-se uma ideia de que, por vivermos num país composto
por diferentes etnias, estas coexistem de forma democrática, num sistema de
igualdade de possibilidades. O mito da democracia racial surge para esconder
o racismo existente em nossa sociedade. Ao nos considerarmos uma nação
sem preconceitos, em raros momentos nos questionamos sobre o significado
dessa palavra e suas implicações na vida de milhões de brasileiros. Como
resolver um problema considerado inexistente? Avançamos nessa discussão e
os estudos historiográficos nos mostram isso, porém em muitos momentos as
análises de pesquisadores acabam não sendo difundidas para toda a população.
Enquanto certas questões já estão superadas na universidade, continuam sendo
reproduzidas no cotidiano de muitas pessoas que não têm acesso a essas
informações (SBRAVATI; DANTAS, 2009).
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Capítulo 3 A NOVA HISTÓRIA CULTURAL
Atividades de Estudos:
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História Cultural
TraBalHando as DiFerenÇas
Diferença, uma palavra que constitui a base de muitos conflitos, desencontros,
incompreensões. Palavra demasiadamente humana, e de natureza inatingível
para nosso olhar tão etnocêntrico e acostumado a posicionar-se somente sobre
nós mesmos. A diferença constitui os seres humanos, divide-os em grupos, dá-
lhes identidade. Aliás, a formação de uma identidade só é possível porque existe
a diferença.
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Capítulo 3 A NOVA HISTÓRIA CULTURAL
Às vezes pode parecer difícil nos desprendermos de velhas Nossa história não
roupagens, mesmo que estas não sirvam mais. Mas quando inovamos, é constituída por
mudamos a perspectiva, desistimos de incorrer em erros nos quais uma sequência
já estamos acomodados, percebemos vida em nossa prática e esta de fatos lineares,
ganha então seu sentido literal de ação. Passamos a nos sentir atores, mas sim pelo
modo como os
agentes de nossas vidas e capazes de contribuir com tantas outras
diferentes povos
vidas. Em partes esse é o ofício do historiador-professor, do professor- se organizaram e
historiador. Dar importância a detalhes mínimos e que fazem uma viveram.
enorme diferença. Não deixar que os grandes feitos de “pequenos”
homens se apaguem no tempo. Nossa história não é constituída por uma
sequência de fatos lineares, mas sim pelo modo como os diferentes povos se
organizaram e viveram.
Algumas ConsideraÇÕes
Neste capítulo vimos como os historiadores franceses dos Annales e os
neomarxistas trabalhavam, do final dos anos de 1960 aos anos de 1980, com
uma história social que avançava para os domínios do cultural, procurando ver
como as práticas e experiências, sobretudo de homens comuns, traduziam-
se em valores, ideias e conceitos sobre o mundo. Apesar de os neomarxistas
permanecerem ligados às teorias de Marx e que a historiografia francesa, herdeira
dos Annales, não se definissem metodologicamente, houve uma transformação
dos historiadores ante os problemas historiográficos.
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ReFerÊncias
ARIÈS, Philippe. A história das mentalidades. In: LE GOFF, Jacques. A história
nova. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
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Capítulo 3 A NOVA HISTÓRIA CULTURAL
HUNT, Lynn. A Nova História Cultural. (trad.) São Paulo: Martins Fontes, 1992.
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História Cultural
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C APÍTULO 4
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Capítulo 4 HISTÓRIA CULTURAL NO BRASIL
ConteXtualiZaÇÃo
Caro pós-graduando: nesse capítulo, estudaremos os caminhos da
História Cultural no Brasil em suas dimensões históricas e contemporâneas.
Perceberemos que a História Cultural só teve uma franca expansão na
historiografia brasileira a partir da década de 1990. Contudo, notaremos que
o tema da “cultura brasileira” não foi menosprezado pelos estudiosos da
História. Cada um a sua maneira, o sociólogo Gilberto Freyre e o historiador
Sérgio Buarque de Holanda preocuparam-se com essa temática e trouxeram
reflexões avançadas para o seu tempo no que se refere ao estudo da cultura.
Da mesma maneira o fizeram mais recentemente Mary Del Priori e Sidney
Chalhoub, tratando de questões com implicação direta na nossa sociedade
atual.
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História Cultural
as principais ideias dessas obras fundamentais para observar os passos iniciais dos
estudos culturais no Brasil.
a) Gilberto Freyre
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Atividade de Estudos:
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Ainda assim Raízes do Brasil surge como uma das mais emblemáticas
explicações sobre o Brasil. Inovadora em seu tempo, Sérgio Buarque introduziu
reflexões que auxiliaram no desenvolvimento da ciência histórica. Ele superou
modelos explicativos factuais percebendo que as estruturas mentais de um povo
diziam muito sobre ele. Dessa forma, ele desenvolveu uma reflexão fértil acerca
da influência da tradição luso-católica na formação das estruturas sociais no Brasil.
Raízes teve, tem e permanecerá tendo uma grande importância para compreender o
significado da “cultura” no Brasil, mas devemos continuar reinventando novas formas
de olhar a complexidade desse significado.
Atividade de Estudos:
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b) Sidney Chalhoub
Atividade de Estudos:
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Algumas ConsideraÇÕes
Caro pós-graduando, nosso trabalho está chegando ao fim. Compreendemos
ter sido a produção desse material uma chance de aprendizado para nós, autores,
assim como esperamos ter sido para você. A possibilidade de reflexão a partir
dos textos construídos nos instigou a buscar uma história com movimento. Uma
história que tornasse possível uma aproximação com o vivido. E História Cultural
é isso, a aproximação com o vivido. Compreender como as pessoas sentiam,
agiam e pensavam não é tarefa fácil e é por essa razão que a metodologia da
historiografia cultural nos dá espaço para diferentes interpretações
acerca dos significados da história. Da mesma maneira, trabalha com E História Cultural
a ideia de que na história não existe uma verdade única e acabada, é isso, a apro-
mas sim versões. É nesse sentido que mais uma vez enfatizamos uma ximação com o
vivido.
história em movimento, que se renova e se transforma, assim como a
sociedade em que vivemos.
ReFerÊncias
BUARQUE DE HOLANDA, Sérgio. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José
Olympo, 1984.
FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. Rio de Janeiro: Record, 2000.
PRIORI, Mary Del (org). História das mulheres o Brasil. São Paulo: Contexto,
2006.
RIBEIRO, Darcy. Gilberto Freyre: uma introdução a Casa Grande & Senzala. In:
FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. Rio de Janeiro: Record, 2000.
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