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A Junta Geral

do Distrito do Funchal
(1835 - 1892) e (1901 – 1976)

ALBERTO VIEIRA
(Coordenação)
A Junta Geral do Distrito do Funchal
(1835 - 1892) E (1901 – 1976)

COORDENAÇÃO
ALBERTO VIEIRA

REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA


A Junta Geral do Distrito do Funchal
(1835 - 1892) e (1901 – 1976)

COORDENAÇÃO
ALBERTO VIEIRA

TEXTOS PRINCIPAIS
José Emanuel Ferraz Janes /Alberto Vieira
PARTICIPAÇÃO DE INVESTIGAÇÃO E TEXTOS: Alexandra
Spranger Saldanha Cardoso, Amílcar Pereira, Ana Madalena
Trigo de Sousa, Ana Salgueiro, Gabriel Pita, Marília Bruna Freitas,
Manuel Esteves, Odeta Pereira.

Secretaria Regional da Cultura, Turismo e Transportes


Centro de Estudos de História do Atlântico
Funchal 2014
TÍTULO: A Junta Geral do Distrito do Funchal
(1835 - 1892) e (1901 – 1976)
COORDENAÇÃO: Alberto Vieira

1.ª EDIÇÃO: 2014

COLEÇÃO:
Deve & Haver, N.º 4

EDIÇÃO:

Centro de Estudos de História do Atlântico

Rua das Mercês, n.º 8, 9000-224 Funchal

Telef.: 291 214970 / FAX: 291 223002

Email: geral.ceha@gov-madeira.pt

Webpage: http://ceha.gov-madeira.pt/

FOTO DA CAPA: Foto da Capa: Franz Grasser, 1936/1939


ISBN: 978-972-8263-92-8
Junta Geral

O DEVE E O HAVER.
Projeto de Investigação sobre as Finanças e Instituições da Madeira

VOLUMES PUBLICADOS
n.º 1.A.: VIEIRA, Alberto: O Deve e o Haver das Finanças da Madeira. Finanças
Públicas e Fiscalidade na Madeira nos Séculos XV a XXI. Funchal, 2014. ISBN:
978-972-8263-75-1, vols: 2 [em Formato digital com folheto]
n.º 1.B.: VIEIRA, Alberto: Credit and Debit in Madeira Finance. Public Finance and
Tax System in Madeira from the 15th to the 21st Centuries. Funchal, 2014. ISBN:
978-972-8263-76-8 vols: 2 [Formato digital com folheto]
n.º 2.A.: VIEIRA, Alberto: Entender o Deve e o Haver das Finanças da Madeira.
Funchal, 2014. ISBN: 978-972-8263-77-5, vols: 1 [Formato papel]
n.º 2.B.: VIEIRA, Alberto: Understanding Credit and Debit in Madeira Finance.
Funchal, 2014. ISBN: 978-972-8263-78-2, vols: 1 [Formato papel]
n.º 3.A.: FARIA, Cláudia, ALVES, Graça, GOMES, Sandra, Paisagens Literárias.
(Quadros da Madeira). Funchal, 2014. ISBN: 978-972-8263-79-9, vols: 1
[Formato digital com folheto]
n.º 3.B.: FARIA, Cláudia, ALVES, Graça, GOMES, Sandra, Literary Landscapes
(Sketches of Madeira Island). Funchal, 2014. ISBN: 978-972-8263-80-5, vols: 1
[Formato digital com folheto]
n.º 4.: VIEIRA, Alberto (Coordenação): Debates Parlamentares. 1821-2010. Funchal,
2014. ISBN: 978-972-8263-81-2, vols: 1, [Formato digital com folheto]
n.º 5.: VIEIRA, Alberto: Dicionário de Finanças Públicas. Conceitos, Instituições,
Funcionários. Funchal, 2014. ISBN: 978-972-8263-84-3, vols: 1, [Formato digi­
tal com folheto]
n.º 6.: VIEIRA, Alberto: Dicionário de Impostos. Contribuições, Direitos, Impostos,
Rendas e Tributos. Funchal, 2014. ISBN: 978-972-8263-83-6, vols: 1 [Formato
digital com folheto]
n.º 7.: VIEIRA, Alberto: Livro das Citações do Deve & Haver das Finanças da Madeira.
Funchal, 2014. ISBN: 978-972-8263-82-9, vols: 1 [Formato digital com folheto]
n.º 8.: VIEIRA, Alberto: Cronologia. A História das Instituições, Finanças e Impostos.
Funchal, 2014. ISBN: 978-972-8263-85-0, vols: 1 [Formato digital com folheto]
n.º 9.: VIEIRA, Alberto (Coordenação): Junta Geral do Distrito do Funchal (1835-
1892, 1901-1976). Funchal, 2014. ISBN: 978-972-8263-92-8, vols: 2 [Formato
digital com folheto]
n.º 10.: VIEIRA, Alberto (Coordenação): A Junta Agrícola do Distrito Autónomo
do Funchal (1911 – 1918). Funchal, 2014. ISBN 978-972-8263-93-5: vols: 2
[Formato digital com folheto]

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Junta Geral

ÍNDICE GERAL

7 Apresentação

9 Introdução

12 1835-1974. A Junta Geral: da Monarquia ao Estado Novo


Evolução e Quadro Institucional
1832-1940. A Junta Geral: a Legislação e os Códigos Administrativos
Administração Periférica do Estado
O Quadro das Relações Institucionais: A Junta Geral e o Estado
A Junta e a Ação dos Deputados Madeirenses (1821-2010)
A Atividade da Junta e da Comissão Executiva
Finanças e Contabilidade
O Orçamento e Conta
O Deve e o Haver e as Obras Públicas da Junta

350 1974-1976 - Interlúdio para o Regime Autonómico


1975-1976: A Madeira, os Madeirenses e a Democracia Parlamentar

364 Conclusão

366 Instrumentos de Trabalho


Fontes Documentais e Narrativas
Bibliografia

Anexos (em volume separado)


Biografias
Legislação
Outros Documentos e Informação
Atas da Comissão Executiva e Junta
Quadros

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Junta Geral

APRESENTAÇÃO

No quadro das instituições saídas da Revolução Liberal, foi a Junta Geral


que teve maior impacto na atividade institucional madeirense. A sua ligação aos
interesses locais transforma-a na força de muitas das legítimas aspirações dos
madeirenses. Funciona com uma espécie de governo local que atende a múltiplas
questões que dominam o quotidiano do arquipélago, vistas de uma perspetiva
local, como acontecia com o município. O interesse em incluir a História desta
Instituição, no quadro de análise do Deve e Haver das Finanças da Madeira, prende-
se com o facto de queremos saber de que forma o Estado compensará a ilha pela
riqueza gerada, como se manifesta e atende às suas preocupações.
Muitas das temáticas aqui enunciadas repercutem-se noutros volumes
desta coleção, tendo em conta o papel fundamental desta instituição, na ligação
direta ao distrito. Parece-nos importante reunir toda essa informação referente
ao papel da Junta, no sentido de valorizar a sua importância histórica, no quadro
institucional madeirense e, certamente, neste jogo de interesses opostos entre o
arquipélago e o Estado, em que esta personifica, de forma clara, os interesses dos
insulares. Note-se que a criação do Governo Regional da Madeira, em outubro de
1976, deriva desta estrutura e ocupa as mesmas instalações, no antigo Hospital da
Misericórdia, no centro do Funchal.
No presente volume, contamos com a colaboração de Alexandra Spranger
para a recolha de Legislação e texto de análise dos diversos Códigos; na recolha
da informação dos orçamentos e conta, com contributos de Ana Paula Almeida,
Manuel Esteves, Amílcar Pereira e Bruna Freitas; na recolha e tratamento da
informação sobre os debates parlamentares, entre 1821 e 1976, participaram
Odeta Pereira, Ana Trigo de Sousa, Ana Salgueiro, Gabriel Pita e Graça Alves. Os
textos referentes à atividade da Junta são de Alberto Vieira e Emanuel Janes.
A exemplo do que sempre fazemos neste tipo de trabalhos, demos especial
destaque, em anexo, à documentação que serviu de base ao presente estudo.
Em primeiro lugar, temos a destacar as atas da Junta, da Comissão Executiva e
da Comissão Distrital, de que existe um valioso acervo no Arquivo Regional da
Madeira, nos Fundos da Junta Geral e Governo Civil. As atas que se juntam em
anexo foram compiladas, a partir da publicitação nos jornais (Diário de Noticias,
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Junta Geral

Jornal da Madeira e Heraldo da Madeira) e da publicação no Boletim da Junta


Geral do Funchal, que existiu a partir de 1955. As que não pudemos dispor nestas
publicações, nomeadamente para o século XIX (1835-1897), foram transcritas
dos originais existentes no acervo da Junta Geral e Governo Civil. Para que este
trabalho ciclópico de recolha fosse possível, contamos com a colaboração de
Diamantina Lira Vieira, Rosa de Sousa, Madalena Trigo de Sousa, Filipe dos Santos,
Nélio Pão, Marta Freitas, Bruno Costa, Séfora Ascensão, João Vieira, Marta Freitas,
Maria Martins, Mariana Cabral.
Um dos aspetos mais evidentes da atividade desta instituição, não obstante a
disponibilidade de um importante acervo documental, recentemente organizado,
foi a falta de dados para o tipo de abordagem que nos propusemos realizar. Não
dispomos de todos os orçamentos e conta para o período em análise, o que nos
obrigou, em alguns casos, ao recurso a outras fontes. Apenas a partir de 1902, na
segunda fase de afirmação da Junta Geral, estes estão completos. Para o primeiro
momento, a partir de 1836, as atas revelam-se o elemento mais importante.
Não foi nossa intenção fazer a História desta instituição, mas tão só tentar
entender o seu funcionamento, no quadro contabilístico e financeiro, definido
pelo Estado para este tipo de instituições periféricas. De novo se revela que,
ao Estado, parece não assistir a obrigação de suprir os meios financeiros para o
funcionamento desta instituição, a partir dos impostos que já são cobrados no
arquipélago e que, como vimos noutros volumes, seriam suficientes para atender
a tal.
No quadro do orçamento e conta da Junta, é bem visível a escassa intervenção
do Estado e a perceção de que as formas de financiamento desta instituição
assentam em receitas, resultantes de novos impostos ou de adicionais aos já
existentes. Por outro lado, parece existir, por parte dele, uma preocupação de se
demitir das suas responsabilidades financeiras, como se poderá constatar com a
transferência dos serviços, na dependência dos ministérios, para a Junta, como foi
o caso da Direção de Obras Públicas. Esta e outras situações limitam a receita da
Junta, gerando múltiplos constrangimentos de ordem financeira que a impedem
de realizar alguns dos investimentos indispensáveis ao progresso da ilha. Nas atas,
está clara esta situação e o lamento dos procuradores, por falta de financiamento
para cobrir as suas expetativas de desenvolvimento do arquipélago. Estas e outras
situações fazem com que as obras públicas, tão importantes ao progresso social
e económico, se atrasem, de forma que, quando chegam, já não cumprem, em
pleno, a sua função. Foi o caso das obras do Porto do Funchal.

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Junta Geral

INTRODUÇÃO

Com o tempo, o quadro institucional do arquipélago complexifica-se, mas é


manifestamente incapaz de atender às principais aspirações das suas populações,
nomeadamente no âmbito das obras públicas, onde as verbas disponibilizadas
pelos orçamentos eram claramente insuficientes. A partir da Revolução Liberal, o
quadro institucional torna-se complexo, colidindo, por vezes, as competências das
distintas juntas, conselhos e comissões, o que nos mostra que temos algo, mas que
não funciona.
A partir de 1902, com o retorno da Junta Geral, a Madeira passa a dispor
de uma estrutura de governo correspondente às exigências do momento que
se tornaria eficaz, não fora a problemática política do momento e a duplicação
de funções e conflito de interesses, no quadro institucional. Assim, em 1893,
surgiu a Comissão Distrital de Agricultura; em 1909, a Comissão de Viticultura;
em 1911, a Junta Agrícola da Madeira, sucedida, em 1914, da Comissão Regional
de Agricultura. Note-se que a Junta Agrícola surgiu com o objetivo de resolver a
questão Hinton e a questão Sacarina, acabando por assumir um papel de relevo
na sociedade madeirense, através da promoção de diversas iniciativas, no sentido
da valorização da agricultura e turismo, mas esvaziando de funções a Junta Geral,
que só virá a assumir em plenitude o seu papel, após a extinção daquela, em 1919.
Como se isto não bastasse, tivemos, no quadro das instituições do Estado, dois
órgãos de consulta do Governador. Entre 1836 e 1886, o Conselho de Distrito e,
entre 1859 e 1899, a Comissão Distrital. Nesta tendência de subdivisão de poderes
e competências institucionais, aparece, em 1913, a Junta Autónoma das Obras do
Porto do Funchal e depois, em 1943, a Comissão dos Aproveitamentos Hidráulicos
e Hidroelétricos do Arquipélago da Madeira, a par, ainda, do quadro corporativo
do Estado Novo.
As Juntas Gerais foram uma criação do liberalismo (decreto de 16-07-1835) que
tinham, como objetivo, a descentralização administrativa do Reino e o progresso
material dos vários distritos do país. Na Madeira, definitivamente integrada no
quadro institucional da metrópole pela revolução vintista, também foi instituída
a Junta Geral, que seria extinta em 06-08-1892 e reinstalada pelo decreto de 08
de agosto de 1901, após a visita à Madeira do Rei D. Carlos, efetuada dois meses
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Junta Geral

antes. Com esta última lei, aplicava-se à Junta Geral do Distrito do Funchal a
organização autonómica já estabelecida para alguns dos distritos açorianos, em
1895, e largamente reivindicada pelo povo madeirense.
A mudança de regime, em outubro de 1910, não implicou mudanças neste
quadro institucional, pois os vários governos da República pouco ou nada alteraram
o diploma de 1901; apenas em 1913, modificaram o número de procuradores à
Junta Geral, eleitos pelos vários concelhos da Madeira. O facto mais significativo
foi, sem dúvida, o compasso de espera na sua ação, por força do aparecimento da
Junta Agrícola (1911-1919), que capitalizou toda a atenção e obras públicas no seu
curto período de existência.
Com o Movimento de 28 de maio de 1926, em especial após a chegada de
Salazar ao poder e a consolidação do Estado Novo, vai haver lugar a mudanças no
estatuto autonómico da Junta Geral do Distrito do Funchal. A 16-02-1928, ainda
sem Salazar, o decreto n.º 15.035, com o argumento de que o estatuto vigente já
tinha muitos anos (era de 1901), tentava aperfeiçoar os serviços da Junta Geral,
proporcionando-lhe mais recursos financeiros. A composição da Junta passou de
15 para 25 procuradores efetivos, eleitos diretamente pelos eleitores do Distrito,
mas, em termos de competências e atribuições, continuavam mais ou menos as
mesmas.
A 30 de julho de 1928, já com Salazar no Governo, o decreto n.º 15.805, vinha
acrescentar algumas alterações ao anterior. No preâmbulo, dizia-se que os distritos
insulares gozavam, pelas suas condições geográficas e económicas, de uma relativa
autonomia havia mais de 30 anos e que, para manterem serviços que antes eram
responsabilidade do Estado, seriam entregues às Juntas Gerais as contribuições
diretas indispensáveis, recebendo o Estado apenas uma indemnização pelas
despesas de cobrança a seu cargo.
O novo regime da Junta Geral do Funchal ocasionava, porém, duplicação de
serviços, havendo repartições do Estado com uma restrita esfera de ação, como
sucedia nas obras públicas, daí que este diploma introduzisse como vogais natos,
os chefes dos principais serviços distritais. O preâmbulo deste diploma dizia que
era intenção do Governo conceder maior autonomia administrativa à Madeira,
dentro da unidade política do Estado, em condições favoráveis ao progresso dos
distritos insulanos e às finanças do Estado e fortalecida pelo decreto anterior de
16 de fevereiro de 1928. O aumento geral dos impostos, então decretado, e a sua
execução atribuídos às Juntas, vinha dar-lhes importantes aumentos de receita
que ainda não satisfaziam os aumentos das despesas a seu cargo.
O período entre 1926 e 1931 foi de grandes dificuldades económico-sociais,
para além da continuação da instabilidade governativa, o que naturalmente se
refletia na Madeira, com falência de bancos, fome, convulsões sociais. A nomeação
do Dr. João Figueira de Freitas para presidente da Comissão Administrativa da
Junta Geral era vista como uma possibilidade de encontrar soluções viáveis
para os problemas do distrito, até porque era ele o Presidente da Comissão
Distrital da União Nacional. Infelizmente, a sua gerência ficou marcada pelos
célebres acontecimentos da Revolta da Madeira e não foi bem sucedida, devido
essencialmente ao novo imposto criado aos madeirenses para colmatar os prejuízos

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Junta Geral

que aquela revolução causara.


Ao assumir a presidência da Junta Geral, a 14 de janeiro de 1935, o Dr. João Abel
de Freitas denuncia que as receitas normais deste organismo não lhe permitiam o
desenvolvimento de uma atividade administrativa, de acordo com as necessidades
do Distrito. Após tomar posse, pediu a todas as câmaras municipais do Distrito
que lhe enviassem um relatório das suas carências para que ele pudesse elaborar
um memorando para o Governo. A 31-01-1935, procedeu-se à elaboração desse
memorando, expondo-se as necessidades mais urgentes. A Madeira estava então
a sofrer os efeitos da crise económica mundial, com repercussões na falência dos
Bancos Henrique Figueira e Sardinha, no setor dos vinhos, do açúcar, dos bordados,
do turismo, dos lanifícios, da assistência, etc.
Deste relatório enviado a Salazar, resultaria a famosa carta deste a João Abel
de Freitas, onde Salazar analisa esses problemas, um a um, esclarecendo que está
atento a eles e definindo diretrizes para a sua resolução. Esta carta foi transcrita,
na época, e apresentada em todos os jornais madeirenses, como um documento
deveras importante para a economia do Arquipélago e como a tradução da
esperança em dias melhores. O Diário de Notícias do Funchal, de 8 de junho de
1935, chegou mesmo a considerar que a carta representava muito no campo das
aspirações madeirenses.
O novo estatuto de 1947 não veio alterar significativamente a orgânica e as
competências da Junta Geral, para além da nova função de coordenação económica
nos planos trienais, que afinal não veio a traduzir-se em nada de concreto, já que
ao Governo Central não interessava uma descentralização efetiva.
Tendo em conta o papel desta instituição, que assume a sua plenitude após o
estatuto dos anos quarenta, pensamos que o seu estudo poderia trazer algumas
revelações pertinentes sobre as diversas formas de poder, dar-nos alguma luz
sobre as receitas e despesas e sobre o modo como foi tratada a Madeira pelo
poder central de Lisboa, durante mais de um século e meio da sua existência.
Estes e demais aspetos do quadro institucional da Junta daremos conta no
capítulo em que procedemos a uma análise exaustiva à diversa legislação, de
forma especial aos códigos administrativos publicados entre 1832 e 1939.

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Junta Geral

1835-1974 Antigo edifício da Junta


A Junta Geral - DA MONARQUIA AO ESTADO NOVO Geral, hoje Governo
Regional da Madeira.

A Junta acabou por ser a instituição de ligação direta à realidade local, aquela,
que a par do município, mais fazia sentir a presença da figura do Estado. Daí a
importância a referência que a mesma assume no quotidiano distrital. Para as
ilhas, passado o primeiro momento em que tudo permaneceu igual ao continente,
aconteceu a segunda época, em que esta ganha uma dimensão inusitada no quadro
institucional e quotidiano dos insulares. É desses momentos que queremos aqui
e agora fazer a História desta instituição, fundamentalmente através da expressão
dos anseios e esperanças nela depositados pela população com das insistentes
reclamações daqueles que tiveram lugar como quadros dirigentes.
Falar da Junta será o mesmo que valorizar os anseios perdidos ou adiados de
progresso social e económico e a eterna esperança de que um dia o ilhéu saberá
que, para cá da Travessa, mandam os que cá estão e estes terão as condições
financeiras para realizar em pleno os anseios dos madeirenses.
Neste quadro, torna-se relevante analisar a múltipla legislação e códigos

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Junta Geral

administrativos, no sentido de entender a forma como o Estado criou ou não as


condições para estas funcionarem, ou delimitou constrangimentos financeiros
que fizeram apagar muitas das esperanças dos madeirenses. Para poder entender
estes constrangimentos estabelecidos na lei, quisemos proceder a uma análise
exaustiva da documentação que a fundamenta, tendo em conta a sua estrutura
institucional, a sua forma de funcionamento e, acima de tudo, a forma com se
dá força e alento a esta instituição, para poder cumprir a sua missão, através das
regras que estabelecem as principais fontes de financiamento, donde emana um
Estado quase sempre incapaz de atender com aquilo que a ilha tem direito.

1832-1940
A Junta Geral: A legislação e os códigos administrativos

O decreto n.º 23 de 16 de maio de 1832 procedeu à implantação do sistema


administrativo, inspirado no modelo francês - aproxima-se … do sistema criado
por Napoleão no ano VIII, que organizava o território francês em départements
dirigidos por um préfect e communes dirigidas por um maire acompanhado por
um conseil municipal…1 – conforme afirmado no seu Preâmbulo. É da autoria de
Mouzinho da Silveira2. Este decreto centralizador3 divide o território em províncias,
estas em comarcas e as últimas em concelhos – artigo 1.º.
A província é administrada por um Prefeito4 que, como a própria lei define,
é um chefe único de toda a administração, delegado da autoridade do Rei, ou
por um Sub-Prefeito5 (nas comarcas em que não reside o Prefeito) e a comarca
por um Provedor6. Todos são nomeados pelo Rei7, são os chamados magistrados
administrativos, a quem incumbe a administração.
Os corpos administrativos – que fiscalizam a administração -, constituídos por
pessoas eleitas pelo povo são: a Câmara Municipal, que funciona junto ao Provedor;
a Junta de comarca, junto ao Sub-Prefeito; e a Junta Geral da Província, junto ao
Prefeito – artigo 7.º. A eleição para estes corpos administrativos era indireta8 e
pelo prazo de 1 ano, renovável9 – no que respeita à Junta Geral10, os seus membros,
denominados por Procuradores, eram eleitos pelas Juntas de Comarca11. Para

1 SILVA, Henrique Dias da, Reformas Administrativas em Portugal desde o século XIX; 17 de ulho de 2013,https://www.
google.pt/?gfe_rd=cr&ei=AZKMU5_JMMXe8ge49YCwBg#q=reformas+administrativas+em+portugal+desde+o+se
culo+XIX+Henrique+Dias+da+silva.
2 José Xavier Mouzinho da Silveira foi Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda no Governo da regência
de D. Pedro.
3 Neste sentido, também SÁ, Victor de, A Reforma Administrativa Liberal que precedeu a de Mousinho da Silveira; in
Revista da Faculdade de Letras: História, 02, 1985, p. 201.
4 Ver a este propósito os artigos 30.º e ss.
5 Vide artigos 51.º e ss.
6 Artigos 60.º e ss.
7 O Prefeito é nomeado por carta régia expedida pela Secretaria do Estado dos Negócios do Reino e é remunerado -
artigos 4.º a 6.º e 31.º e 33.º.
8 Corpo do artigo 11.º.
9 Ou seja, era permitida a reeleição – artigo 12.º.
10 §§ 11.º a 13.º do sobredito artigo 11.º.
11 Eram eleitos na proporção de um Procurador por cada concelho que exista na província.

13
Junta Geral

exercer este cargo, era requisito essencial ter residência na província, sob pena de
nulidade.
A Junta Geral é convocada, anualmente, pelo Prefeito, na época designada
pelo Governo. As sessões duram 15 dias, prorrogáveis pelo Prefeito, por mais 8
dias. Os seus membros escolhem um para presidente e outro para secretário12. Só
pode ser dissolvida pelo Rei ou, nos Açores e na Madeira, pelo Prefeito, dissolução
essa que carecia de confirmação régia. As deliberações da Junta são tomadas,
tendo por base todos os documentos e informações que lhe são facultadas pelo
Prefeito, no primeiro dia da sessão – cf. artigo 19.º.
À Junta, eram dadas as seguintes atribuições:13 fazer a repartição das
contribuições diretas, e do recrutamento entre as comarcas da província; decidir
sobre os requerimentos para a redução feitas pelas Juntas da Comarca e as
Câmaras Municipais; impor as derramas e fintas necessárias para as despesas
de utilidade geral da província; contrair empréstimos, necessários para objetos
de utilidade geral da província, mas desde que tivessem autorização das Cortes;
celebrar contratos para a realização de obras de interesse geral; examinar e aprovar
as contas anuais de todos os rendimentos privativos da província em questão,
apresentadas pelo Prefeito; promover uma consulta geral sobre as necessidades,
melhoramentos e outras necessidades da província – este parecer era entregue ao
Prefeito que o enviava ao Rei. O Prefeito tem assento nas sessões da Junta, com
voto consultivo – artigo 18.º.
Sublinha a lei que, nos casos de contração de empréstimos e celebração
de contratos, para os invocados fins, cabe à Junta Geral a deliberação sobre o
objeto da obra e os termos e condições do contrato, porque a execução dessas
deliberações pertence sempre ao Prefeito. É portanto em 1832 que aparece este
corpo administrativo, então denominado Junta Geral da Província e que está na
génese da Junta Geral, nosso objeto de estudo.
A carta de lei de 25 de abril de 1835 veio estabelecer a divisão administrativa do
país. Dividiu o Reino, em 17 distritos, administrados por um magistrado nomeado
pelo Rei. Estes dividem-se em concelhos que possuem um Administrador escolhido
pelo Governo – exercem funções por 2 anos, mas podem ser reeleitos14. Em cada
um dos distritos, existirá uma Junta de distrito15. Este órgão é eleito e tem como
atribuições as que competiam às Juntas provinciais – pelo decreto n.º 23 de 16 de
maio de 183216. Os magistrados serão remunerados, mas os Administradores do
concelho não terão ordenado fixo17.
A carta de lei em análise autoriza, então, o Governo a proceder à divisão
administrativa do reino, nos termos aqui definidos18. E é na sequência daquela carta
de lei19 que surge este decreto de 18 de julho de 1835 que regula a organização

12 Nos termos do artigo 14.º.


13 Artigo 16.º.
14 Cfr. artigo 1.º e 3.º.
15 Cfr. artigo 1.º.
16 As atribuições foram enunciadas atrás, aquando da análise do respetivo decreto.
17 Vide artigo 4.º.
18 Artigo 5.º.
19 Pode ler-se no introito do decreto: Achando-se o governo autorizado pelos artigos 5.º e 6.º da carta de lei de 25 de Abril

14
Junta Geral

administrativa do Reino. Começa por proceder à divisão do território20, em distritos,


estes em concelhos, que se compõem por uma ou mais freguesias.
Como já havia sido determinado pela carta de lei estudada, em cada distrito
existirá um magistrado administrativo designado por Governador Civil e, em cada
concelho, um Administrador. Em cada freguesia, existirá um Comissário de paróquia
– artigo 5.º, que se insere no Capítulo II denominado Do pessoal da administração.
Junto do Governador Civil, existirá um corpo administrativo designado por
Junta Geral do Distrito, a Câmara Municipal junto ao Administrador do concelho e
a Junta da paróquia junto do Comissário da paróquia. Os membros destes corpos
administrativos serão eleitos pelo povo – cfr. artigo 6.º. O decreto cria ainda o
Conselho de Distrito – um em cada capital de cada distrito administrativo – artigo
7.º.
A Junta Geral é um órgão deliberativo ou consultivo - § 13.º do artigo 22.º,
composto por 13 procuradores eleitos pelos cidadãos da província … com as
mesmas solenidades com que são eleitos os Deputados da Nação… - § 1.º do artigo
10.º. São elegíveis para procuradores da Junta todos os domiciliados no distrito e
que possam ser eleitos deputados da Nação21. Os procuradores podem ser reeleitos
e o exercício do cargo é obrigatório, sendo as causas de escusa muito limitadas22.
As Juntas Gerais do distrito são convocadas anualmente pelo Governador
Civil, na época designada pelo Governo – § 1.º do artigo 22.º. A presença
dos Procuradores nas sessões é obrigatória23. É exigido como quórum para a
realização das sessões, a maioria simples e todas as sessões são públicas - §§ 5.º
e 12.º do referido artigo 22º. Os Procuradores elegem o presidente e as sessões
ordinárias duram 15 dias, prorrogáveis por mais 15, pelo Governador Civil - § 9.º
do sobredito artigo 22.º. Sessões extraordinárias só se convocadas pelo Governo,
com fundamento no interesse público.
No concernente às atribuições24, a lei distingue as consultivas das
deliberativas. Considera como consultiva a de promover anualmente uma consulta
geral sobre as necessidades do distrito, melhoramentos e outros e a de elaborar
uma conta do que tiver feito nesse ano. As atribuições deliberativas são: fazer
a repartição das contribuições diretas entre os concelhos de distrito; decidir
sobre os requerimentos para redução que lhe sejam submetidos pelas Câmaras
Municipais; impor as derramas e fintas necessárias para as despesas de utilidade
geral do distrito; contrair empréstimos necessários para objetos de utilidade geral
do distrito, desde que devidamente autorizados pelas Cortes; celebrar contratos
para a efetivação de obras de interesse geral do distrito; examinar e aprovar as
contas que o Governador Civil é anualmente obrigado a prestar, sobre todos os
rendimentos privativos do distrito que administra, autorizar as deliberações das

do corrente ano para fazer provisoriamente e na conformidade da mesma lei a divisão administrativa do reino, assim
como os regulamentos indispensáveis para a sua execução, pondo em harmonia com as bases dela os demais ramos de
administração pública…
20 Capítulo I do decreto em análise.
21 § 4.º do artigo 10.º.
22 Diz o artigo 20.º: Ninguém sendo eleito, pode escusar-se senão por incompatibilidade de serviço declarada por lei, ou por
impossibilidade absoluta…. Cabe ao Conselho de distrito validar as escusas dos membros eleitos para a Junta.
23 A escusa está limitada aos casos previstos no § 2.º do artigo 22.º.
24 § 13.º do artigo 22.º.

15
Junta Geral

Câmaras Municipais, nos casos determinados neste decreto. Relativamente à


celebração de contratos e da contração de empréstimos, cabe à Junta deliberar
sobre as condições do contrato e o objeto da obra.
O decreto de 31 de dezembro de 1836 aprova o Código Administrativo
Português. Este Código começa por determinar que o Reino – incluídas as Ilhas
Adjacentes – se divida em distritos administrativos, que se subdividem em
concelhos e estes em freguesias25. No § único do seu artigo 4, refere, e passamos
a citar …as Ilhas da Madeira e Porto Santo formam o Districto Administrativo do
Funchal… – nosso sublinhado.
Em cada distrito, existe um Administrador Geral26, nomeado por decreto
expedido pelo Secretário de Estado dos Negócios do Reino27, que é um magistrado
administrativo, coadjuvado pela Junta Geral Administrativa do Distrito, constituída
por um conjunto de cidadãos eleitos28. Estas eleições são indiretas, como
explicaremos a seguir. Os membros da Junta Geral designam-se por Procuradores
e são em número de 13 para as Ilhas e igual número de substitutos – cf. artigo 46.
Cabe ao Governo determinar o dia das eleições, nos termos do artigo 49.
Podem ser eleitos os cidadãos que reúnam as condições para ser Deputados da
Nação e os eleitores, todos aqueles que possam ser vereadores das Câmaras
Municipais – artigos 48, 52 e 53. Assim, são elegíveis, regra geral, os cidadãos
portugueses ou estrangeiros naturalizados, maiores de 25 anos, domiciliados no
distrito há pelo menos 1 ano, que estejam no gozo dos seus direitos políticos e
civis e aufiram de uma renda anual de 100.000 réis, provenientes de bens de raiz,
indústria, emprego ou comércio – artigo 24, aplicado por força do artigo 26 e com
as exceções neste previstas.
Os eleitores e os elegíveis eram apurados pelas Juntas da Paróquia. Com base
neste apuramento, a Câmara Municipal elabora e publica uma lista geral de todos
os cidadãos recenseados naquele concelho – vide artigos 28 e ss. Os eleitores
são, assim, eleitos. Nas freguesias, organizam-se listas e procede-se à votação, de
acordo com o número estabelecido no artigo 5529.
Após a eleição dos eleitores de distrito, procede-se à eleição dos procuradores
à Junta Geral – artigo 58 – cujos nomes serão, depois, divulgados, por edital, assim
como os dos seus substitutos– cf. artigo 65.
As funções dos procuradores da Junta Geral são honoríficas e não remuneradas,
de acordo com o estipulado no artigo 201.º para os membros dos diversos corpos
administrativos30. Refira-se que todos eles podem ser reeleitos, nos termos do
artigo 176.
O Código proíbe que qualquer cidadão entre armado numa assembleia

25 Cfr. artigo 1 do referido Código (C.A.)


26 Regulado em especial no Capitulo I do Título II deste Código Administrativo, artigos 102 e ss.
27 Cfr. artigos 102 e 103.
28 Vide artigos 6, 7, 45 e ss.
29 Assim, por exemplo, na freguesia ou freguesias que tiverem de mil a dois mil fogos, haverá um eleitor de distrito.
30 Já o cargo de Administrador Geral será remunerado, no montante determinado pelas Cortes Gerais da Nação e fixado
na Lei do Orçamento Geral da Receita e da despesa, 1 conto de réis para o das Ilhas. Os Secretários dos administradores
gerais, 600.000 réis – artigo 239.

16
Junta Geral

eleitoral31 e nenhum escrutínio poderá durar mais de 4 dias32.


A Junta Geral será convocada, anualmente, pelo Administrador Geral, para
uma reunião no dia 15 de julho33. Esta será a sua reunião ordinária.
O Governo, e só ele, pode, no entanto, convocar reuniões extraordinárias por
decreto34, sempre que julgue necessário35. Assim, por exemplo, se o Administrador
Geral entender oportuno a realização de uma dessas reuniões, apenas poderá
requerer ao Governo a sua convocação – artigo 70 e o seu § único.
O quórum para a realização de uma reunião da Junta é o da maioria simples
(metade mais um do seu número total)36. Qualquer deliberação tomada com o
desrespeito do quórum é considerada nula37.
Na primeira reunião, presidida pelo procurador mais velho que nomeia, de
entre os restantes membros, um secretário e 2 escrutinadores, serão eleitos, por
sufrágio secreto, um Presidente e um Secretário, de acordo com o disposto no
artigo 72. Realçamos o facto de que as sessões ordinárias da Junta Geral duram
15 dias úteis, podendo mesmo ser prorrogadas por mais 15 dias, nos termos do
artigo 75.
As atribuições da Junta Geral são meramente deliberativas ou consultivas –
expressamente determinado no artigo 77, distinguindo-as o Código. Assim, são
atribuições deliberativas (as mais importantes e a serem tratadas em primeiro
lugar38): fazer a repartição das contribuições diretas entre os conselhos de distrito;
decidir sobre os requerimentos para a redução que lhes requererem as Câmaras
Municipais; estabelecer as derramas e fintas necessárias para as despesas de
utilidade geral do distrito, contrair os empréstimos necessários para objetos de
utilidade geral do distrito, desde que devidamente autorizados pelas Cortes;
celebrar contratos para a realização de obras públicas de interesse geral39; designar
as quotas, a cargo dos concelhos para o sustento dos expostos40 e determinar os
locais do distrito onde ficarão as Rodas41; examinar e aprovar o relatório anual das
contas, apresentado pelo administrador geral, de todos os rendimentos privativos
do distrito; autorizar as deliberações das Câmaras Municipais sujeitas por Lei à sua
aprovação; nomear o tesoureiro geral do distrito (cidadão residente na capital do
mesmo).
São atribuições consultivas: elaborar um relatório anual de todas as suas
deliberações, indicando as necessidades do distrito e os meios para as suprir; enviar
o original desse relatório para o Arquivo do administrador geral e 2 cópias, uma

31 Artigo 189.
32 Artigo 197.
33 Artigo 69.
34 O Decreto de convocação determinará as matérias que serão tratadas nessa reunião extraordinária e a duração da
mesma – artigo 76.
35 Artigo 70.
36 Artigo 71.
37 Artigo 206.
38 Cfr. artigo 78.
39 Cabe também à Junta deliberar sobre o objeto da Obra e sobre os termos e condições do contrato; mas a execução das
deliberações cabe ao administrador geral - §§ 4 e 5 do mencionado artigo 77.
40 Filhos ilegítimos abandonados.
41 Onde as crianças eram deixadas, para que se preservasse a identidade de quem as abandonava.

17
Junta Geral

para o Secretario de Estado dos Negócios do Reino e outra para o administrador


geral, que o mandará publicar na Folha Oficial do Governo.
As deliberações tomadas pela Junta não previstas legalmente como suas,
serão nulas42.
O Código contém ainda uma norma de aplicação para as Ilhas, que determina
que os corpos administrativos aí situados podem ser dissolvidos por ordem do
Administrador Geral, exceto se houver confirmação régia43.
A carta de lei de 29 de outubro de 1840 vem alterar e revogar partes das
disposições do Código Administrativo em vigor – de 1837. Segundo o afirmado no
introito, introduzem-se novas regras relativamente … à organização dos corpos
coletivos e à nomeação de autoridades e suas atribuições… e ao … estabelecimento
das derramas, fintas e posturas municipais….
Esta lei veio essencialmente reforçar a autoridade do administrador do
concelho e ampliar o poder da tutela, pelo que acentua a centralização de poder.
Veio, ainda, introduzir alterações à regulamentação das Juntas Gerais.
As normas relativas às Juntas começam no artigo 11.º, que expressamente
determina que os procuradores que as compõem são nomeados pelas Câmaras e
pelos Conselhos Municipais e explica como é que se processa a sua eleição: cabe
ao Administrador Geral, sem sede do Conselho de Distrito, designar o número de
procuradores a eleger por cada Município44.
No que respeita às atribuições consultivas da Junta, mantém a obrigatoriedade
da elaboração de um relatório anual de todas as suas deliberações, indicando as
necessidades do distrito e os meios para as suprir. Continua a obrigatoriedade de
enviar os relatórios para o administrador geral e para a Secretaria de Estado dos
Negócios do Reino, mas obriga a que seja esta Secretaria de Estado dos Negócios
do Reino, por ordem do respetivo Ministro, a publicá-los anualmente, no mês de
setembro, em apenso ao Diário do Governo. As despesas com esta publicação
serão pagas pelo Ministério – artigo 12.º.
Especial referência merecem os artigos 39.º e ss., que versam sobre a
contabilidade dos corpos eletivos. O § único deste artigo obriga ao envio das contas
de gerência e dos fundos para o administrador geral, para serem definitivamente
aprovadas em conselho de distrito. Destacamos ainda o disposto no § 5.º do artigo
5.º, porque, embora respeite às Câmaras Municipais, expressamente se refere à
Madeira, pelo que passamos a transcrever: … o dízimo, e as mais imposições que
se pagam nas províncias da Madeira e Porto Santo, e nas dos Açores e do Ultramar,
servirão desde já para regular a quota das contribuições municipais; porém
naquelas possessões ultramarinas aonde se não pagam as referidas imposições,
fica substituindo a legislação existente…

42 Artigo 207.
43 Artigo 208. Nos outros distritos, os corpos administrativos só podem ser dissolvidos por ordem do Rei.
44 A escolha será feita tendo em conta a população de cada Município – artigo 11.º § 1.º in fine. Prevê-se até que se um
Município tiver uma população diminuta, não podendo como tal eleger um procurador, os seus votos juntar-se-ão aos
do Município vizinho; neste caso a assembleia eleitoral, presidida pelo respetivo Presidente da Câmara, será na capital
do concelho mais populoso - §§ 2.º e 3.º do referido artigo.

18
Junta Geral

Estudado que foi o percurso legislativo da Junta Geral45, um dos órgãos da


administração pública portuguesa, desde 1837 a 1940, cabe Estado Constitucional
concluir, sublinhando as questões mais importantes, numa perspetiva comparativa.
Desde logo e sob o ponto de vista estritamente técnico jurídico, consideramos
o Estatuto dos Distritos Autónomos das Ilhas Adjacentes o mais completo e claro
na sua forme de redação.
Na generalidade, realçamos o facto de que em todos os diplomas legislativos
estudados, em regra, as funções desempenhadas nos corpos administrativos
serem obrigatórias e gratuitas46.
Com o Liberalismo e a consagração de um Estado Constitucional – Constituição
de 1822 - e com as primeiras leis administrativas - decreto n.º 23 de 16 de maio de
183247, e os Códigos Administrativos - começa uma nova forma de descentralização
e desconcentração de poderes.
…depois de uma tradição de autonomia ampla de decisão no plano politico-
administrativo, resultante da dificuldade de comunicações e da própria estrutura
relativamente descentralizadora do Antigo Regime, a tendência dominante desde
o advento da monarquia liberal foi no sentido de integrar… as Ilhas… num modelo
jurídico-institucional e financeiro, que as aproximasse de circunscrições e/ou
autarquias e centros de decisão regionalizados…a tendência no nosso liberalismo,
monárquico ou republicano, foi no sentido de uma progressiva centralização da
Administração geral e da Administração financeira…48
Com a reforma administrativa de Mouzinho da Silveira – decreto n.º 23, de 16
de maio de 1832 –, de inspiração francesa, as autarquias passam … a instrumentos
do poder central…, pretendendo-se … construir um aparelho administrativo
‘disciplinado, obediente e eficaz’ para vencer as resistências à Razão e assegurar a
necessária centralização…49 Não se limitou, porém, a transpor o modelo francês,
encontrando-se inscrita no programa do partido liberal de 182250.
O Reino fica dividido em províncias, comarcas e concelhos, geridos por
administradores – Prefeitos, Sub-Prefeitos e Provedores - todos nomeados pelo
Rei, sendo as Juntas eletivas quase que meramente consultivas, não reconhecendo
sequer as paróquias – que só mais tarde passaram a designar-se por freguesias. Esta

45 Ou como define o Estatuto dos Distritos Autónomos das Ilhas Adjacentes, é o órgão da administração distrital
autónoma, que exerce as suas atribuições e competência diretamente ou por intermédio de uma comissão executiva –
artigo 4.º.
46 Como dissemos, o Código Administrativo de 1837 qualifica-as mesmo como honoríficas e talvez por isso estabeleça
que os elegíveis para a Junta tinham de possuir uma determina renda anual.
47 Decreto de MOUZINHO DA SILVEIRA. Segundo o aqui estipulado, a organização administrativa dividia-se em
província, comarca e concelho. A província era governada por um prefeito na Junta Geral da Província. A comarca,
por um delegado da Junta da Comarca e o concelho, por um provedor na Câmara Municipal do Concelho. Todos estes
governadores eram cargos de nomeação régia – OURIQUE, Arnaldo; in O Governo das Ilhas Portuguesas no Final
do Século XX; comunicação parcialmente apresentada no Colóquio “Portugal e a governação das Ilhas”, organizado
pela Universidade dos Açores, Universidade Nova de Lisboa e Câmara Municipal da Praia da Vitória, de 28 a 30 de
novembro de 2002; p. 202, http://www.estig.ipbeja.pt/~ac_direito/Arnaldo_Ourique.pdf.
48 FRANCO, António de Sousa, As Finanças das Regiões Autónomas: uma Tentativa de Síntese, in Estudos de Direito
Regional, Lex, Lisboa 1997, p. 517.
49 AMARAL, Diogo Freitas do, Curso de Direito Administrativo, Volume I, 3.ª Ed., Almedina, Coimbra, p. 109; cit. por
SILVA, Henrique Dias da, Reformas Administrativas em Portugal desde o Século XIX, p. 69.
50 Neste sentido, MARCELO CAETANO, Os antecedentes da Reforma Administrativa de 1832, in Revista da Faculdade
de Direito da Universidade de Lisboa, Ano XXII, 1968-1968, pp. 22 e 23.

19
Junta Geral

reforma provocou reclamações gerais contra a perda de autonomia dos concelhos,


sendo inclusive considerada inaplicável em muitos aspetos…51. Em resposta, surgiu
a lei de 25 de abril de 1835 que alargou os poderes das Câmaras, mas que, no
que concerne à Junta Geral apenas alterou a sua designação: de Junta Geral da
Província passou a chmanr-se Junta de Distrito.
Com o Código Administrativo de 1836, a organização administrativa passa a
fazer-se pelos distritos, concelhos e freguesias. Neste diploma legal, as Ilhas da
Madeira e Porto Santo formaram o Distrito Administrativo do Funchal.
Para além do administrador geral, a Junta Geral, órgão deliberativo ou
consultivo, é composta por cidadãos eleitos indiretamente e que só eram elegíveis
os cidadãos que, para além das condições que enunciámos na especialidade,
tivessem uma determinada renda anual – requisito bastante limitativo52. Por outro
lado, as competências da Junta, na época, eram limitadas e controladas pelo poder
central53. Este modelo administrativo vigorou nas Ilhas, com pequenas alterações54,
até 1895.
Em 1840, a lei de 29 de outubro veio introduzir poucas alterações no
concernente às Juntas Gerais, traduzindo, porém, no seu articulado, um reforço da
centralização de poder.
O Código Administrativo de 1842 (aquele que esteve mais tempo em vigor
durante o constitucionalismo monárquico, de 1842 a 1878) carateriza-se também
por ser um diploma centralizador e, como dissemos aquando da sua análise, divide
o território apenas em distritos e concelhos. A freguesia passou a ser apenas uma
comunidade familiar e religiosa, sem carater administrativo.
As Juntas Gerais, mantêm-se apenas com poderes consultivos e deliberativos
muito limitados.
Realçamos a Lei da Administração Civil, aprovada pela carta de lei de 26 de
junho de 1866, com uma proposta algo descentralizadora, pela sua preocupação
em regular minuciosamente os corpos administrativos, especificando todos
os poderes e competências das Juntas Gerais do Distrito, estabelecendo regras
pormenorizadas quanto aos processos de eleição, os orçamentos ou a cobrança de
impostos distritais. Teve, porém, período de vigência muito curto, sendo declarada
sem efeito, pelo decreto de 14 de janeiro de 1868.
No Código Administrativo de 1886, destacamos a existência de um orçamento
distrital; a eliminação de alguns dos requisitos exigidos para os cidadãos eleitores e
elegíveis; as eleições passam a ser diretas e a dissolução dos corpos administrativos
não é tão discricionária; as atribuições ou competências da Junta são aumentadas,
mas mantém-se em regra como um órgão consultivo do Governo ou governador
civil, adquirindo, porém, algum poder deliberativo próprio; mantém a limitação
na contração de empréstimos e definem-se os impostos distritais (adicional às

51 SILVA, Henrique Dias, ob. cit. p. 70.


52 Vide nota de rodapé n.º 7 desta conclusão.
53 A este propósito, a possibilidade de contrair empréstimos tinha de ser autorizada pelas Cortes e a dependência quase
total do administrador geral que até pode, nas Ilhas, dissolver os corpos administrativos.
54 Umas vezes província ou distrito, ora Junta Geral ou junta distrital, tendo como órgãos distritais a junta e a comissão,
mas sempre com o representante do governo central: o governador civil.

20
Junta Geral

contribuições diretas numa percentagem cujo valor máximo é fixado anualmente


pelas Cortes).
Em 1892, extinguem-se as Juntas Gerais – pelo decreto de 6 de agosto de
1892, extinção que se mantém no Código Administrativo de 1895, aprovado pela
Carta de lei de 4 de maio de 1896.
Para José Dias Ferreira, a figura das Juntas Distritais carece de toda e qualquer
racionalidade: Desconhecida no antigo regimen, criada depois artificialmente,
esta constituição surgia de improviso para satisfazer o ideal doutrinário que, ao
lado de cada magistratura singular, colocava uma corporação colectiva; mas
nunca se aclimou bem entre nós, nunca fructeou no nosso país os resultados
que se esperavam dela, e as últimas reformas administrativas, cerceando-lhe
consideravelmente as faculdades e as atribuições, anunciavam para hora muito
próxima o seu total desaparecimento. Com efeito, desde que as juntas gerais de
distrito não intervêm nos serviços de agricultura e de viação distrital, e que, em
parte, se transferiu para as câmaras municipais o dos expostos e desvalidos, e se
permitiu a constituição de concelhos com organização especial, continuando a
faculdade de fazerem, uns com outros, acordos em assuntos de interesse comum,
a existência de tais corporações ficou, sem razão suficiente, condenada a sucumbir
logo que se entrasse desassombradamente no caminho da simplificação dos
serviços públicos eda redução das respectivas despesas...55 O legislador exalta,
em seguida, as vantagens económicas da medida que acaba de ser decidida: as
Juntas gerais votariam anualmente mais de 559 contos, dos quais mais de metade
destinados a encargos com empréstimos distritais, e consumiriam cerca de 35
contos em ordenados.
Em lugar das Juntas, cria o decreto, junto dos governadores civis, comissões
distritais, compostas por 5 vogais eleitos por delegados das câmaras em cada
distrito e com reduzidas atribuições, sem receitas nem património. Segundo M.
Caetano56, desaparece a personalidade jurídica do distrito … – nosso sublinhado. …
Em contrapartida, o poder das câmaras foi aparentemente reforçado em relação
ao corpo administrativo distrital, pois elas dominam agora o processo de escolha
da comissão. Membros desta última, todavia, apenas são elegíveis residentes no
concelho capital de distrito. O distrito passa a ser representado pelo governador
civil, excepto em juízo em que a representação cabe ao Ministério Público. Isto é,
o governador civil acumula em si tanto a representação dos interesses do poder
central como a do distrito. Finalmente, determina o diploma que o Estado cobre
as percentagens sobre as contribuições que as juntas votavam e que com esse
produto satisfaça as anuidades dos empréstimos distritais e outros encargos que
para ele sejam transferidos…57
Referência merece ainda o decreto de 2 de março de 1895, publicado no Diário
do Governo n.º 50, de 4 de março de 1895, que permitiu apenas aos distritos dos

55 In Revista de Direito Administrativo de 15 de outubro de 1892, citado por J. B. SERRA; As Reformas da Administração
local de 1872 a 1910; Análise Social, vol. XXIV (103-104), 1988 (4.º e 5.º), 1037-1066, pp. 1052 e 1053.
56 Marcelo CAETANO, A Codificação Administrativa em Portugal: Um Século de Experiência (1836-1935); Lisboa,
separata da Revista da Faculdade de Direito de Lisboa, 2.º ano.
57 SERRA, JOÃO B., ob. cit. p. 1052.

21
Junta Geral

Açores manterem as Juntas Gerais58.


O Código Administrativo de 1896 mantém a extinção das Juntas Gerais e
transfere as suas funções tutelares59 para as Comissões Distritais, presididas pelo
Governador Civil respetivo, um auditor nomeado pelo Governo e 3 vogais eleitos.
Só em 1901, pelo decreto de 8 de agosto, é que se estende a aplicação do
regime de organização administrativa dos distritos açorianos ao distrito do
Funchal, ou seja, é aplicado à Madeira o previsto no sobredito decreto de 2 de
março de 1895, embora com algumas alterações introduzidas pela carta de lei de
12 de junho de 1901.
Mantém-se um regime controlado pelo governo central e algo gravoso para
os cidadãos do distrito do Funchal – veja-se nomeadamente o que dissemos sobre
a contribuição obrigatória para a conclusão das levadas, a acrescer aos impostos
distritais.
Mais, a lei n.º 88 de 7 de agosto de 1913 obriga a Junta a pagar, ao Estado, 5%
sobre o produto da cobrança das contribuições (impostos distritais) e estabelece
que, para qualquer encargo criado, tem previamente de ser instituída nova receita.
Entre 1926 a 1933, acentuou-se a centralização dos distritos ao poder central60.
Em 1928, o decreto n.º 15.035, de 16 de fevereiro ampliou a autonomia dos
distritos insulares – atribuiu às Juntas Gerais novas receitas e dispensou-as de
algumas despesas. Só que apenas esteve em vigor 5 meses…
O decreto n.º 15.805 de 31 de julho de 1928 parece ampliar a autonomia
administrativa dos distritos insulares. Este decreto, assinado por Salazar, no que
concerne à autonomia, … aparentemente tem a lógica de alargar o conceito mas é
o primeiro passo para asfixiar financeiramente as Juntas Gerais…61 Expressamente
revogou o decreto n.º 15.035, de 16 de fevereiro, supra referenciado.
Em 1940, faz-se o Estatuto Administrativo das Ilhas Adjacentes62, alterado
pelo D. L. n.º 36453, de 4 de agosto de 1947 que, aparentemente, atribui mais
poderes às Ilhas. Na verdade, porém, o que acontecia era que a Junta podia criar
os seus serviços, mas a competência era do Governo; elaborava e aprovava os seus
orçamentos, mas a receita não cobria a despesa, para além do que os distritos
tinham de pagar 2% ao Estado (impostos distritais)63; podiam criar normas de
funcionamento próprias para os seus serviços, mas o Governo podia dar-lhes
orientações técnicas.
Este Estatuto revelou-se como extremamente severo e impeditivo do
desenvolvimento dos distritos a que se aplicava, nomeadamente pela excessiva

58 O que aconteceu nos distritos de Ponta Delgada (através do decreto de 18 de novembro de 1895) e no de Angra do
Heroísmo (pelo decreto de 6 de outubro de 1898). O distrito da Horta não optou por este regime, pelo que estes dois
distritos adquiriram um modelo de autonomia administrativa semelhante ao do Código Administrativo de 1886.
59 Por isso não têm orçamento e tem funções muito limitadas.
60 Neste sentido, SOUSA FRANCO, ob. Cit. P. 518.
61 LEITE, José Guilherme Reis, A Autonomia dos Açores na Legislação Portuguesa, 1892 – 1974; Ed. Assembleia Regional
dos Açores, Horta 1987, p. 220.
62 Já que o Código Administrativo de 1936 diz expressamente que não se aplica às Ilhas Adjacentes.
63 Relembramos que a cobrança dos impostos era feita mensalmente pelo Estado, que cobrava os referidos 2% por este
“serviço” e que eram imediatamente deduzidos, antes da entrega da receita às Juntas.

22
Junta Geral

carga tributária imposta aos cidadãos residentes64.


A “autonomia” destes distritos apenas se traduzia … na existência de um
governador do distrito autónomo, nomeado pelo Governo, com poderes muito
reforçados em relação aos governadores civis do continente; e na ressurgida
existência de Juntas Gerais…a descentralização era limitada…65
No domínio financeiro, … as Juntas Gerais arrecadavam o produto de alguns
impostos gerais do Estado (contribuição predial, contribuição industrial, imposto
profissional, imposto sobre capitais, etc.: art.º 83.º), estando as respectivas
despesas sujeitas a exame e visto de uma «comissão distrital de contas», que
substituía o Tribunal de Contas (art.º 92.º)… a descentralização era limitada
e sempre meramente administrativa, sem base nem conteúdo (democrático
ou outro), além de ser evidente a asfixia financeira…66. Era assim que o regime
agravava o subdesenvolvimento, com um enorme fluxo emigratório.
Como afirma Reis Leite67, esta legislação para a organização legislativa nas Ilhas
Adjacentes insere-se … no imobilismo característico da legislação fundamental do
Estado Novo, assim havia de permanecer até ao fim do regime em 1974…
Foi toda esta situação legislativa, fortemente sancionatória e repressiva,
que contribuiu para o aparecimento nas Ilhas de várias … correntes de opinião
ideológicas ou cívico-políticas, umas reivindicando maior autonomia, outras
defendendo mesmo o separatismo…68
A autonomia foi o conceito que prevaleceu e que foi consagrado na
Constituição da República Portuguesa de 1976, ligado também ao regime político-
administrativo dos arquipélagos dos Açores e da Madeira e fundado especialmente
no interesse específico de cada uma destas regiões.
A carta de lei 26 de junho de 1867 aprova o projeto de administração civil
proposto pelas Cortes por decreto de 17 de junho do mesmo ano. Esta lei de
administração civil é um diploma legal extremamente minucioso e exaustivo.
Como regra geral69, esta lei divide o Reino de Portugal em distritos70, estes em
concelhos, que por sua vez se subdividem em paróquias civis – artigo 1.º - e que
constituem … pessoas moraes para todos os effeitos declarados nas leis… – artigo
9.º. Um dos distritos elencados é o da Madeira, cuja capital é o Funchal – artigo 2.º
No Capítulo IV desta lei, sobre a epígrafe, Do districto, encontramos, na sua
Secção I, a regulamentação da Junta Geral do distrito71, que passamos a analisar.
Este corpo administrativo tem funções deliberativas e consultivas, cujos membros
são eleitos, 2 por cada concelho, em regra. Designam-se por deputados. O seu
mandato é de 4 anos, renováveis por séries de 2 em 2 anos. As eleições destes

64 Refira-se o estipulado no artigo 83.º, que permite um adicional até 20% sobre as coletas de contribuições e impostos,
para além dos impostos diretos a que estavam sujeitos.
65 SOUSA FRANCO, ob. cit. pp. 518 e 519.
66 SOUSA FRANCO, ob. cit. p. 519.
67 Ob cit., p. 351.
68 SOUSA FRANCO, ob. cit. p. 519.º
69 Excetuam-se os concelhos de Lisboa e Porto que se dividem em bairros e estes em paróquias civis - § 2.º do artigo 1.º.
70 Reduziu os distritos a 11.
71 Artigos 202.º ss.

23
Junta Geral

deputados72 são diretas, feitas pelos cidadãos portugueses que têm o direito de
votar, os devidamente recenseados nos respetivos distritos e que saibam ler,
escrever e contar e que não sejam clérigos – artigos 364.º e ss73. São elegíveis para
o cargo de deputado à Junta Geral do Distrito, os cidadãos recenseados no distrito
como elegíveis para o cargo de deputado nas Cortes. O cargo é obrigatório, não
havendo causa de escusa e é remunerado, sendo pago pelo cofre do distrito –
artigos 214.º, 215.º, 216.º.
A Junta reúne-se obrigatoriamente no dia 1 de outubro de cada ano ou no dia
imediato, se for feriado. Cada sessão ordinária pode durar até 30 dias, prorrogável
até 15, por alvará do governador do distrito, ou até 30 dias, por decreto do Governo.
As prorrogações serão consideradas sessões extraordinárias – artigos 217.º a 219.º
Os governadores civis podem convocar sessões extraordinárias da Junta por
alvará, publicado na folha oficial do Governo e na do distrito, se existir. O Governo
também pode convocar sessões extraordinárias da Junta. O quórum exigido é o
da maioria simples74 – artigo 230.º - e os deputados elegem, de entre eles, um
presidente, um vice-presidente, um secretário e um vice-secretário. O Governador
do distrito tem assento nas sessões da Junta, com voto consultivo – artigo 234.º - e
compete-lhe apresentar propostas e relatórios – artigos 235.º e 236.º.
Este diploma legal define, assim, o corpo administrativo que estamos a estudar:
…as juntas geraes de districto são corporações administrativas com atribuições
consultivas e deliberativas, podemos ler no corpo do seu artigo 246.º.
Explica que as competências da Junta Geral de Distrito englobam: delegação
do poder legislativo, delegação do poder executivo, representa os interesses legais
do distrito e constitui um corpo consultivo, no que respeita às necessidades e
interesses do seu distrito – vide artigo 245.º. Em especial, compete-lhes75: repartir,
pelos concelhos, os montantes relativos às contribuições gerais de repartição
atribuídos aos respetivos distritos, de acordo com a lei; exercer as atribuições
relativas às estradas distritais que lhes forem conferidas por lei; distribuir os
contingentes do recrutamento; deliberar definitivamente quanto a projetos,
planos e orçamentos de quaisquer trabalhos a executar a expensas do distrito;
votar o orçamento distrital; autorizar contratos cujo objeto sejam obras distritais
ou quaisquer outros bens relativos ao distrito76; tomar as contas anuais dos
rendimentos privativos do distrito prestadas pelo seu Governador77; nomear o
tesoureiro geral do distrito78; fazer regulamentos79 e outras atribuições especiais
que lhe sejam atribuídas por lei ou regulamento.

72 Artigos 53.º, 55.º, 56.º, 58.º e 60.º, aplicáveis por força do artigo 204.º
73 A lei descreve exaustivamente todo o processo eleitoral desde o referenciado artigo 364.º até ao artigo 422.º.
74 Qualquer deliberação tomada pela Junta com violação do quórum estabelecido na lei tem como sanção a nulidade –
artigo 237.º.
75 Artigo 247.º.
76 Salvo os contratos que sejam da competência do Governo – n.º 7 do artigo 247.º.
77 E o artigo continua, dizendo: …salva a prestação d’ellas pelo mesmo governador perante o tribunal de contas, nos termos
da legislação em vigor… – n.º 8 do mesmo artigo 247.º.
78 O tesoureiro era escolhido de entre os cidadãos residentes na capital do distrito respetivo – n.º 9 do referido artigo.
79 Estes regulamentos versavam assuntos de interesse geral do distrito e de administração interna e polícia distrital …
podendo comminar penas cujo máximo não exceda o estabelecido no artigo 489.º do código penal… – artigo 247.º n.º 10,
parte final.

24
Junta Geral

No concernente aos bens distritais, cabe-lhes: resolver definitivamente


assuntos relativos à sua aquisição e alienação, administrar e arrendá-los, alterar
a afetação dos rendimentos que provenham destes bens80, proceder à aceitação
e recusa de doações ou legados ao distrito, construção, reparação ou reedificação
de edifícios distritais81.
A lei descreve ainda outras competências da Junta82: designar as localidades
onde se devem estabelecer os hospícios distritais ou as rodas83, os hospitais
distritais, os asilos de infância e de mendicidade, as prisões distritais e casas
de correção de menores. Cabe-lhe também estabelecer a comparticipação de
cada concelho para as despesas daqueles estabelecimentos distritais. Faz parte
também das suas atribuições estabelecer, suprimir ou mudar feiras e mercados
distritais; ordenar a criação de estabelecimentos de utilidade pública, custeados
exclusivamente pelo distrito, desde que a deliberação seja aprovada pelo Governo.
Relativamente aos empréstimos, a Junta tem competência para aprová-los,
não dependendo de aprovação do Governo, desde que o seu montante total não
seja superior ao valor da receita ordinária do distrito, reportada ao ano anterior,
e a sua amortização feita no prazo de 20 anos, a expensas dos recursos ordinários
do distrito84. Porém, o Governo pode suspender e anular esta deliberação, no
prazo de 60 dias contados sobre esta. Decorrido este prazo sem haver suspensão,
a deliberação torna-se executória. Na deliberação da Junta, será fixada também a
taxa de juro. Na falta da sua estipulação, aplicar-se-á a taxa fixada na lei civil.
Quanto a impostos, pertence à Junta a fixação anual da quota de contribuição
de cada concelho85 para as despesas gerais do respetivo distrito. Esta quota deve ser
proporcional à receita total ordinária dos concelhos, apurada no último orçamento
aprovado, não podendo ser superior a 30% da receita municipal – artigos 253.º
a 255.º. Este é o único imposto da competência da Junta Geral. Qualquer outro
imposto a ser lançado por ela tem de ter uma lei que expressamente conceda
autorização para tal – artigo 256.º.
Este diploma legal prevê a seguinte situação: quando o montante arrecadado
através deste imposto municipal, em conjunto com outros rendimentos do distrito,
não chegue para prover à despesa inscrita no orçamento, e com a concordância do
Governo, deverá ser pedida autorização às Cortes para aumentar a percentagem
máxima atrás referida, de 30% - artigo 257.º. No que concerne aos fins a que
se destinam, distingue o conhecimento dos negócios de interesse particular do
distrito, das questões de administração geral em que, por força da lei, intervenham
e a deliberação sobre as providências relativas ao interesse patrimonial do distrito
– números 1, 2 e 3 do artigo 246.º.

80 Exceto quando esses rendimentos estejam afetos a algum serviço público, caso em que a mudança tem de ser aprovada
pelo Governo – artigo 247.º n.º 4, III in fine.
81 As despesas relativas a estes edifícios distritais são inscritas no orçamento – artigo 247.º, n.º 4, V.
82 Artigos 251.º a 253.º.
83 Estes hospícios destinavam-se à criação e educação dos menores abandonados e desvalidos.
84 Artigos 247.º n.º 11.º e 248.º. Para empréstimos com amortizações superiores a 20 anos e menos de 30 anos, a
deliberação da Junta só produz efeitos depois de aprovada pelo Governo, no prazo de 90 dias – a contar da data em que
o pedido der entrada na Secretaria de Estado dos Negócios do Reino -, nos termos do disposto no artigo 249.º. Para
outros empréstimos recorrer-se-á a lei especial – artigo 250.º.
85 A percentagem será igual para todos os concelhos de cada distrito – § único do artigo 255.º.

25
Junta Geral

Como corpo consultivo, deve ser ouvida sobre: quaisquer alterações na


circunscrição e divisão distrital dos distritos; a designação das capitais dos distritos,
concelhos e paróquias civis; dúvidas suscitadas quanto à distribuição e repartição
de despesa com obras que interessem a mais do que um concelho; outras impostas
por lei – artigo 259.º. Sublinhamos, aqui, o estipulado no § único deste artigo, que
determina que o parecer da Junta nos casos indicados é obrigatório, sob pena de
nulidade. Noutros assuntos não especificados nesta lei, mas que interessem aos
respetivos distritos, a Junta pode ser ouvida86.
Anualmente, deverá ser feito pela Junta um relatório de todas as deliberações
e uma consulta geral sobre as necessidades, melhoramentos e meios necessários
do distrito, que serão remetidas ao Governo. Este procede à sua publicação no
diário oficial87.
Sempre que entender, a Junta poderá dirigir-se ao Governo, mas sempre através
do Governador do distrito – artigo 263.º. Esta lei contém ainda um conjunto de
disposições que respeitam à fazenda distrital88. O orçamento distrital é organizado
anualmente pelo Governador do distrito, votado pela Junta Geral e aprovado pelo
Governo89 – artigo 269.º. A receita distrital é composta por: rendimentos próprios
dos distritos; juros de créditos e de fundos consolidados pertencentes ao distrito;
dividendos de ações de que o distrito seja possuidor; o produto ou rendimento
de estabelecimento ou oficinas distritais; doações e legados; o imposto distrital
pago pelas Câmaras Municipais; subsídios pagos pelo Estado, previstos por lei,
quaisquer outros rendimentos afetos por lei aos cofres distritais. Encontramos,
nos artigos 265.º, 266.º e 272.º, normas remissivas que aplicam ao distrito e ao
orçamento distrital, respetivamente, o estabelecido para as Câmaras Municipais.
Assim, as quantias provenientes de doações ou legados ao distrito, e sempre que
o doador ou testador não tenha disposto outro fim, serão empregues em títulos
de dívida pública consolidada – artigo 126.º, aplicado por força do artigo 265.º. Os
distritos podem emitir títulos ou obrigações temporárias de assentamento pelos
empréstimos que contraíram, desde que aprovada pelo Governo – artigos 149.º e
150.º, por força do artigo 265.º.
As normas contidas nos artigos 153.º a 157.º, que explicam a gerência, o
período do exercício, os vários orçamentos possíveis90 e as constantes nos artigos
160.º a 168.º, que discriminam as verbas a incluir em cada orçamento e as regras
a que cada um deles deve obedecer, aplicam-se ao orçamento distrital, por força
do artigo 266.º, assim como a dos artigos 175.º, 177.º e 178.º, relativas à votação
do orçamento, responsabilidade pela votação e retificações orçamentais, por força
do artigo 272.º.
Como despesas obrigatórias do distrito a inserir no orçamento ordinário,

86 Artigo 260.º.
87 Artigo 261.º e 262.º.
88 Normas sistematicamente inseridas na Seção II do Capítulo IV, designada por Da fazenda districtal, artigos 264.º a
272.º.
89 O orçamento distrital deve ser apresentado ao Governo para aprovação até ao dia 15 de novembro de cada ano. A
aprovação deve ser dada no prazo de 30 dias, prorrogável por mais 30 dias, desde a apresentação do orçamento na
Secretaria de Estado dos Negócios do Reino. Se decorrido o prazo não houver resolução do Governo, …ter-se-ha este
como aprovado… – artigo 271.º in fine -, uma espécie de consentimento tácito diremos nós.
90 O orçamento pode ser ordinário, extraordinário, suplementar ou retificativo.

26
Junta Geral

registamos: o pagamento dos vencimentos do ouvidor e dos deputados na


Junta Geral do distrito, quando remunerados; a instrução primária e secundária
imputadas aos distritos; as estradas distritais; com estabelecimentos distritais
agrícolas, penais ou de beneficência; a polícia distrital; a conservação dos
edifícios distritais e daqueles onde se situarem as secretarias dos governos dos
distritos e de mobília das repartições públicas distritais; metade da que resultar
do recenseamento quinquenal ou decenal da população do distrito; o pagamento
de dívidas distritais exigíveis; quaisquer outras despesas provenientes de atos
atribuídos por lei aos distritos.
A dissolução da Junta pode ser feita por decreto do Governo, nos casos
previstos no artigo 242.º. Este Código vigorou muito pouco tempo, já que o decreto
de 14 de janeiro de 1868 o declarou sem efeito, fixando no seu artigo 4.º que …fica
em vigor a legislação administrativa anterior…
O decreto de 17 de julho de 1886 aprova o novo Código Administrativo e
revoga os anteriores – artigo 2.º. De acordo com o Relatório que antecede o
normativo do novo Código, fundamenta-se a necessidade desta reforma, pela
imperfeição e inconveniência de muitas das disposições antes em vigor91 e pelas …
omissões e lacunas, que desde a sua execução deram origem a uma jurisprudência
tão incerta como funesta à boa ordem dos serviços administrativos… (…)…são
frequentes as queixas dos povos e multiplicam-se as reclamações na imprensa e
na tribuna parlamentar…92 Critica-se, em especial, a liberdade que havia sido dada
aos corpos administrativos em matéria tributária e na contração de dívidas. Afirma-
se que … nas disposições do novo código, que asseguram a representação das
minorias d’esses corpos93, e que aplicam á sua eleição as penalidades e restricções
da intervenção da auctoridade, estabelecidas para a eleição dos deputados, terão
todos os partidos serias garantidas de effectiva influencia…94
Passemos então à análise do novo Código e comecemos pelas normas gerais,
aplicáveis a todos os corpos administrativos. A divisão administrativa do reino
de Portugal e Algarves e Ilhas Adjacentes faz-se em distritos, estes em concelhos
que, por sua vez, se subdividem em paróquias95 – artigo 1.º. Todos se consideram
pessoas morais – artigo 385.º.
A Junta Geral é o corpo administrativo do distrito96. Os corpos administrativos
são eleitos diretamente pelos eleitores das respetivas circunscrições, o seu
mandato é por três anos civis, a contar do dia 2 de janeiro imediato à eleição97 –
artigo 4.º - e as funções nelas exercidas são obrigatórias e gratuitas – artigo 6.º.
Os membros dos corpos administrativos designam-se por vogais efetivos e
são eleitos igual número de substitutos. O artigo 7.º enumera quem pode ser
eleito para aqueles corpos – todos aqueles que saibam ler, escrever e contar e

91 Código Adinistrativo de 1878.


92 Codigo Administrativo Portuguez, Coimbra, Imprensa da Universidade 1892, 2.ª Ed., p. 7.
93 Entenda-se corpos administrativos.
94 Cf. p. 9.
95 Os concelhos de Lisboa e do Porto é que se subdividem em bairros e estes em paróquias - § 1.º do artigo 2.º
96 Os restantes corpos administrativos são: no concelho, a câmara municipal e na freguesia e junta da paróquia – artigo
3.º.
97 Os corpos administrativos constituem-se nessa data, cf. artigo 18.º.

27
Junta Geral

pertençam à respetiva circunscrição – e as diversas incompatibilidades98.


Os casos de escusa estão elencados no artigo 11.º. A título de curiosidade
refira-se que quem se recusar a exercer o cargo de vogal para que tenha sido eleito
incorre em pena de multa99. Os vogais efetivos elegem, por escrutínio secreto, na
primeira sessão de cada ano, um presidente100 e um vice-presidente – artigo 15.º.
As sessões são ordinárias – para quaisquer assuntos da competência daquele
corpo administrativo - e extraordinárias – apenas para os assuntos para os quais
foram expressamente convocadas, cfr. explicado no artigo 29.º. As sessões são
públicas, não sendo, porém, permitida qualquer intervenção de quem esteja a
assistir e que não faça parte do corpo administrativo101.
O quórum exigido para a realização das reuniões e consequentes deliberações
é o de maioria simples – artigo 21.º. No entanto, o artigo 25.º diz … as deliberações
são tomadas á pluralidade absoluta de votos dos vogais presentes e por votação
nominal…serão feitas por escrutínio secreto as votações sobre nomeações e
demissões, e em geral todas aquellas que envolverem apreciação do mérito ou
demérito de qualquer pessoa…
As deliberações têm de ser tomadas no prazo de 30 dias após lhe serem
requeridas. O Código estabelece a sanção da nulidade102 para as deliberações
tomadas sobre questões que não são da competência ou atribuições daquele
corpo administrativo, em sessões ordinárias realizadas fora dos dias designados,
em sessões extraordinárias sobre assuntos que não constem da sua convocação,
as tomadas fora do local, à mesma destinada, ou antes da abertura ou depois do
encerramento da sessão e as não conformes com a lei.
A dissolução dos corpos administrativos compete ao Governo, após consulta
ao Supremo Tribunal Administrativo (STA) e, nos casos descritos nos vários números
do artigo 17.º, que mandará proceder a novas eleições no prazo não superior a 40
dias. O parecer do STA não é vinculativo, como decorre do preceituado no § 3.º do
n.º 5 do referido artigo.
Passamos agora à análise das normas específicas para as Juntas Gerais de
distrito, contidas no Título II, artigos 31.º e ss. do presente Código. Cada Junta será
constituída por um mínimo de 21 procuradores e um máximo de 25 – artigo 31.º,
não obstante o Código remeter para lei especial a divisão dos distritos em círculos
eleitorais e o número de procuradores que cada círculo elege103.
Do número total de procuradores da Junta, três constituem a comissão
distrital delegada da Junta Geral – órgão executivo das deliberações pela mesma
tomadas104. Estes três procuradores são nomeados pela Junta, assim como os
seus substitutos. Também cabe à Junta nomear, desses três, um presidente e um
secretário. Esta comissão funciona permanentemente e terá, pelo menos, uma

98 Ver também nesta matéria o disposto nos artigos 8.º a 10.º.


99 Artigo 362º.
100 Competências do presidente, vide artigo 28.º.
101 Artigo 24.º.
102 Artigo 30.º.
103 Artigo 35.º.
104 § único do sobredito Artigo 31.º e 85.º.

28
Junta Geral

sessão semanal – artigo 87.º.


O quórum para que as suas deliberações sejam válidas e executórias é de dois
votos e os seus membros não têm direito a retribuição105. As sessões da Junta, sem
quórum de vogais, são abertas e encerradas pelo governador civil106, que pode
assistir às mesmas e que pode intervir, propondo o que entender. A Junta tem um
presidente, um secretário e um vice-secretário107.
São duas as sessões ordinárias anuais da Junta, uma que começa a 1 de abril
e outra a 1 de novembro e podem ter a duração de 30 dias, prorrogáveis pelo
Governo – artigo 38.º. Para além destas, haverá mais uma sessão ordinária a 2 de
janeiro do primeiro ano de todos os triénios e, no caso de eleições extraordinárias,
terão a duração máxima de 8 dias. As sessões extraordinárias realizar-se-ão sempre
que necessário.
Compete à Junta elaborar o seu regimento interno, nos termos do artigo 46.º.
O presidente é obrigado a fazer um resumo de todas as deliberações da Junta, que
entregará, no dia seguinte, ao governador civil e mandará publicar num jornal da
capital do distrito ou, senão existir, mandará afixar à porta do edifício do Governo
Civil. Anexo a este resumo, seguirão cópias autenticadas de todos os atos e
contratos a que as deliberações se referirem. O governador civil envia-os, no prazo
de três dias, para o Ministério Público e para o Governo, emitindo parecer sobre
as deliberações que julgue ilegais ou contrárias ao interesse público – artigo 48.º.
A Junta tem as seguintes competências e atribuições108: administrar bens
e interesses do distrito, realizar todos os melhoramentos que não sejam por lei
da competência de outras corporações ou autoridades; deliberar ou dar parecer
sobre a execução de serviços de interesse geral do Estado, desde que fixado por lei.
É um órgão consultivo do Governo e do governador civil e, sobre assuntos da sua
competência, pode a Junta, por sua iniciativa, propor medidas a órgãos superiores,
superintender a administração municipal e suspender algumas deliberações das
câmaras municipais previstas neste Código.
As deliberações da Junta podem ter uma dupla natureza: definitivas –
executáveis desde logo – ou provisórias – só executáveis depois de se tornarem
definitivas – artigo 53.º. As definitivas versam sobre administração dos bens e
estabelecimentos distritais e a sua aplicação aos fins a que se destinam; aceitação
de heranças, legados e doações feitas ao distrito, que não acarretem quaisquer
encargos, condições ou reclamações; aquisição de bens mobiliários para os
serviços do distrito e alienação dos que forem dispensáveis; administração dos
expostos e menores desvalidos ou abandonados, dos 7 aos 18 anos de idade e
sobre a instituição, ou subsídios para a criação, de asilos ou escolas distritais de
artes e ofícios, onde se lhes ministre a conveniente educação; obras de construção,
reparação ou conservação de propriedades distritais até 1.000$00 réis; subsídios

105 Cf. artigos 92.º e 93.º.


106 O Governador Civil representa o Rei e, nas sessões da Junta, senta-se ao lado direito do presidente – artigos 43.º e
213.º e ss. É um cargo remunerado e é o delegado e representante do Governo, pelo que é por este órgão escolhido e
nomeado.
107 O secretário e o vice-secretário são eleitos por escrutínio secreto, anualmente, na primeira sessão de cada ano – o
mesmo artigo 44.º e § 1.º.
108 Artigos 49.º e ss.

29
Junta Geral

a estabelecimentos de beneficência, instrução e educação, que tenham utilidade


pública para o distrito e dos quais não seja administradora; inspeção da viação
municipal; aprovação, após parecer da direção das obras públicas, dos planos e
projetos das estradas, designação das obras que têm de ser feitas anualmente
nas estradas de 1.ª classe e fixar as quotas que cabem aos concelhos para as
estradas de interesse comum; concessão de subsídios aos municípios; nomeação
e suspensão, até sessenta dias no mesmo ano, dos empregados da administração
distrital ou que forem pagos pelo cofre do distrito; contratos para a execução de
obras, serviços e fornecimento do interesse do distrito e cujo efeito não exceda
um ano; arrendamentos por prazo não superior a 1 ano; regulamentos sobre o
regime dos estabelecimentos e serviços pertencentes à administração distrital;
regulamentos sobre a fruição de bens e pastos de logradouro comum dos povos
pertencentes a mais de um concelho; nomeação e execução dos vogais da
comissão distrital; conveniência de decretar a utilidade pública ou a urgência de
expropriações e a realização das declaradas por lei ou decretadas pelo Governo;
empréstimos, sua dotação e encargos, quando – de per si ou juntos aos encargos
de outros empréstimos anteriores – não absorvam a décima parte da receita
ordinária autorizada no ano corrente; nomeação de vereadores, quando a eleição
não dê resultado. Cabe-lhe, ainda, sugerir ao Governo o estudo e construção de
estradas que interessem ao distrito; todos os assuntos de administração distrital,
que forem da sua competência e que não sejam de deliberação provisória.
Sublinhe-se, a propósito, que o Código estabelece como regra geral109 para os
contratos de alienação, arrematação de rendimento, arrendamentos, empreitadas
e fornecimentos em que forem interessados os corpos administrativos e as
corporações de piedade e beneficência, a sua realização em hasta pública – artigo
389.º.
As deliberações provisórias da Junta são: a aplicação das propriedades
distritais, a uso diverso daquele a que se destinam; a dotação de serviços e
fixação de despesas da administração distrital; o lançamento de impostos e os
orçamentos distritais criação de estabelecimentos e institutos de utilidade pública
para o distrito, sua dotação e extinção; a demissão dos empregados, e suspensão
por tempo excedente a sessenta dias no mesmo ano; aposentações e deduções
às destinadas nos vencimentos dos respetivos empregados; contratos para a
execução de obras, serviços e fornecimento por mais de um ano; arrendamento
por prazo superior a 1 ano; acordos com outras corporações administrativas para a
realização de melhoramentos de interesse comum; regulamentos de polícia, com
parecer prévio das câmaras municipais, mas que entendam dever ser uniformes
em todo o distrito; empréstimos, sua dotação e encargos, quando por si só ou
conjuntamente com encargos de empréstimos anteriores, absorvam mais do que
a décima parte da receita ordinária autorizada no orçamento do ano corrente;
aquisição de bens imobiliários para os serviços do distrito e alienação dos que forem
dispensáveis; obras de construção, reparação ou conservação de propriedades
distritais, cuja despesa total exceda 1.000$00 réis; concessão de servidões em
bens distritais; desistência, confissão ou transação em pleito judicial; aceitação de
heranças, legados e doações com ónus, encargos ou reclamações. As deliberações

109 O § 1.º do artigo 389.º prevê os casos em que é dispensada a hasta pública.

30
Junta Geral

provisórias tornam-se definitivas se não forem suspensas, no prazo de 60 dias110,


pelo Governo111, com fundamento na sua ilegalidade ou contrárias ao interesse
público. Porém, a Junta pode solicitar ao Governo a dispensa do decurso deste
prazo, declarando o Governo que não irá suspender a deliberação. As deliberações
da Junta podem sempre ser suspensas ou revogadas contenciosamente. O recurso
contencioso pode ser feito pelo Ministério Público ou por qualquer interessado112.
A parte orçamental é regulada no Capítulo III deste Título II do Código
Administrativo em análise. As receitas ordinárias113 do distrito são: os rendimentos
dos bens próprios; os juros de créditos e fundos consolidados; os dividendos de
ações de bancos e companhias; o rendimento de estabelecimentos distritais; o
produto dos impostos; o produto de multas; as dívidas ativas; outros rendimentos
permanentes estipulados por lei.
Constituem receitas extraordinárias: heranças, donativos, legados; o produto
de empréstimos; o produto da alienação de bens; os subsídios do Estado para
melhoramentos no distrito; outros rendimentos incertos ou eventuais.
O Código esclarece, ainda, o que se entende por impostos distritais – um
adicional às contribuições diretas do Estado, predial, industrial, de renda de casa
e sumptuária, ou aquelas que as substituírem. O máximo desta percentagem será
fixado anualmente pelas Cortes e comunicado ao Governo. Estes impostos são
cobrados cumulativamente com os do Estado – artigos 59.º e 60.º.
As despesas obrigatórias são: dos estabelecimentos e institutos distritais; os
vencimentos a cargo do cofre distrital; das aposentações; da instrução pública;
da reparação e conservação dos governos civis e demais edifícios distritais, e
aquisição de mobiliário necessário; dos expostos e menores desvalidos dos 7 aos
18 anos; impostos, pensões e encargos a que estejam sujeitas as propriedades
ou rendimentos distritais; da amortização de empréstimos e as resultantes da
execução de outros contratos; do pagamento de dívidas exigíveis; dos litígios do
distrito; do expediente da Junta; as decorrentes das publicações exigidas por lei;
outras. Todas as que não foram supra referenciadas e que sejam de utilidade para
o distrito são despesas facultativas.
O orçamento distrital114 é proposto pela comissão distrital, discutido e
aprovado pela Junta115. Antes de aprovado, é publicado num jornal e afixado
por edital, com a antecedência mínima de 13 dias, e dele cabe reclamação pelos
eleitores do distrito116. Uma vez aprovado e quando executório é remetida cópia
ao Governo – artigo 70.º.

110 Este prazo é o estabelecido para as Ilhas Adjacentes. Para o restante território do reino, o prazo é de 40 dias – corpo do
artigo 56.º e o seu § 1.º.
111 Em vez de suspender a deliberação, o Governo pode recomendar à Junta que reveja a deliberação. A suspensão é feita
por Decreto publicado na folha oficial do Governo e tem de ser fundamentada. Dela tem de ser dado conhecimento às
Cortesa - §§ 3.º, 4.º, 5.º do referido artigo 56.º.
112 Cf. artigo 57.º.
113 Artigo 58.º.
114 O orçamento distrital é ordinário ou suplementar – artigos 63.º a 72.º
115 O orçamento ordinário é votado na reunião do mês de novembro e os suplementares em qualquer sessão ordinária da
Junta, ou em sessão extraordinária expressamente convocada para esse fim – artigo 68.º.
116 Antes de aprovado, a reclamação será para a Junta. Depois de aprovado, para o Governador Civil e, em certos casos
previstos no artigo 30.º, para o Tribunal Administrativo - § 3.º do artigo 63.º.

31
Junta Geral

A Junta tem um tesoureiro117, que é o tesoureiro pagador do distrito, ao qual


compete: arrecadar toda a receita autorizada pelos orçamentos distritais; satisfazer
todos os pagamentos devidamente autorizados pela comissão distrital e remeter
um balanço semanal do cofre à comissão distrital. No final do ano, apresenta à
comissão distrital o balanço anual.
O tesoureiro receberá uma gratificação, proposta pela Junta e arbitrada pelo
Governo, da receita do distrito por ele arrecadada – artigo 74.º.
O serviço financeiro do distrito, de acordo com o disposto no artigo 78.º,
executa-se em períodos de gerência, que correspondem, cada um, a um ano civil
– com início a 1 de janeiro e términus a 31 de dezembro. Findo o ano civil e no
prazo de 4 meses, será feita a conta geral da gerência, apresentada pela comissão
distrital à Junta Geral para parecer. É afixada, por edital, por 8 dias e publicada num
jornal da capital do distrito. Qualquer eleitor do distrito pode fazer observações
por escrito, que dela passam a fazer parte integrante. Após o que, acompanhada
dos respetivos documentos, será entregue ao Governador civil, que a envia ao
Tribunal de Contas – artigos 80.º e 83.º.
As competências118 da comissão distrital são: executar e fazer executar todas
as deliberações da Junta; propor à Junta os orçamentos distritais; ordenar as
despesas; dirigir o expediente ordinário; corresponder-se com todas as autoridades
ou corporações com quem a Junta se corresponde; prestar as contas de gerência
dos rendimentos distritais; inspecionar todos os serviços da Junta dependentes;
apresentar propostas sobre qualquer serviço distrital à Junta; na ausência da
Junta, exercer as competências desta. É ao presidente da comissão distrital que
compete representar a Junta em Juízo ou fora dele. Em todas as sessões da Junta
comissão distrital a comissão distrital tem de apresentar um relatório de todas as
suas atividades.
As deliberações da comissão podem ser revogadas pela Junta Geral e os seus
membros têm uma responsabilidade solidária perante a Fazenda do Distrito119. Dos
seus atos, cabe reclamação para a Junta. Quando a comissão entender necessária a
realização de uma sessão extraordinária da Junta, informa o Governo, justificando
os motivos que considera determinantes.
A carta de lei de 4 de maio de 1896 aprovou um novo Código Administrativo120.
Podemos ler, no Relatório que antecede este Código, que a intenção não é a de
alterar profundamente a organização administrativa em vigor, datada de 1886,
mas sim a de completá-la e aperfeiçoá-la, como por exemplo no que respeita à
equiparação jurídica entre grandes e pequenos municípios. Mantém em vigor a
extinção das Juntas Gerais feita pelo decreto de 6 de agosto de 1892, mas introduz
algumas alterações.
Assim, transferidas as funções tutelares das antigas Juntas para as comissões
distritais, torna-se necessária a existência de um delegado do poder central nestas
comissões, que zele pelo interesse público. Afirma-se que, na organização da tutela

117 Cfr. artigo 73.º.


118 Artigo 94.º.
119 Artigos 95.º e 96.º.
120 Ed. Livraria Portuense, 1895.

32
Junta Geral

administrativa, devem estar representados os interesses que importa conciliar, pelo


que não se pode atribuir em exclusivo, nem aos delegados do poder central, nem
aos povos sujeitos à sua jurisdição, mas sim aos representantes dos municípios,
sob a presidência do chefe superior do distrito. Devem também juntar-se a estes
elementos o técnico e o jurídico, pelo que também fará parte de comissão um
auditor administrativo, que exerça também funções de contencioso administrativo
– quer como juiz singular, quer como vogal da comissão nas questões contenciosas
da sua competência121.
Sublinha-se também que a extinção das Juntas se revelou numa poupança
para o Estado, uma vez que se transferiu para o Governo a viação distrital, os
serviços agrícolas e os vários graus da instrução primária e, para as Câmaras, a
administração dos expostos e crianças desvalidas e abandonadas, menores de 7
anos de idade, não fazia sentido manter aquela corporação distrital com funções
administrativas e suportar a respetiva despesa.
Passemos, então, à análise do sobredito Código. Mantém-se a divisão
administrativa do Reino e Ilhas Adjacentes122 em distritos, estes em concelhos123,
subdivididos em paróquias124. Todos são havidos como pessoas morais, nos termos
do artigo 432.º.
Quanto à organização administrativa125, dispõe-se que o corpo administrativo
no distrito é a Comissão distrital – artigo 4.º - que se encontra especialmente
regulada nos artigos 35.º e ss.
No concernente à sua composição, dela fazem parte o governador civil, que
será o presidente, um auditor nomeado por decreto126 e três vogais eleitos127.
Podem ser eleitos para os corpos administrativos os eleitores das respetivas
circunscrições que saibam ler, escrever e contar e que estejam inscritos no
recenseamento eleitoral128 e que não possuam nenhuma das incompatibilidades
previstas nos vários números do § 1.º do artigo 8.º.
As funções dos corpos administrativos são obrigatórias e gratuitas – artigo 7.º.
A Comissão tem uma sessão ordinária por semana e as extraordinárias que
forem precisas - artigo 37.º, encontrando-se a regulamentação das reuniões e
deliberações prevista nos artigos 20.º a 34.º.
O Governador Civil nomeia, como secretario, um dos empregados da
secretaria.

121 Vide pp. 7 e 8 do referido relatório.


122 Artigo 1.º.
123 Os concelhos classificam-se em 1.ª, 2.ª e 3.ª ordem, de acordo com os critérios previstos nos vários §§ do artigo 2.º.
124 Continuam os concelhos de Lisboa e Porto a se subdividirem em bairros e estes em paróquias – § único do artigo 1.º.
125 Capítulo I do Titulo II, artigos 4.º e ss.
126 Precede a sua nomeação, um concurso documental com um júri composto pelo diretor geral da administração política
e civil e 2 vogais efetivos ou extraordinários do Supremo Tribunal Administrativo, nomeados pelo respetivo ministro,
para cada concurso – artigo 327.º.
127 O processo eleitoral para os vogais e seus substitutos encontra-se especialmente regulado nos artigos 249.º a 257.º do C.
A. Em resumo, a eleição decorrerá por escrutínio secreto, em seção pública da Câmara Municipal e poderão ser eleitos
os cidadãos do distrito (os residentes na capital do distrito, elegíveis para cargos administrativos – cfr. art. 36.º). Do
resultado da eleição é dado conhecimento ao Governador Civil. Da eleição, cabe reclamação para o STA.
128 Artigo 8.º.

33
Junta Geral

A Comissão Distrital tem as seguintes competências129: desempenha as


atribuições que, na execução dos serviços de interesse geral do Estado lhe
couberem por lei ou que competiam às extintas Juntas Gerais; emite pareceres
em todos os assuntos que lhe sejam submetidos pelo Governador Civil ou imposto
pela Lei; superintende na administração municipal, nos termos do Código; elabora
o regulamento da fruição dos pastos, águas e frutos do logradouro comum da
população pertencente a mais do que um concelho; elabora os regulamentos
de polícia próprios de posturas municipais, que devem ser uniformes em todo o
distrito e depois de ouvidas as Câmaras; inspeciona a viação municipal, a cargo das
Câmaras dos concelhos de 2.ª ordem e aprova os planos e projetos de estradas,
indicando quais as obras a fazer anualmente nas de 1.ª classe; quaisquer outras
atribuições atribuídas por lei. A sua dissolução130 só pode ocorrer por decreto
devidamente fundamentado, após parecer do Procurador-Geral da Coroa.

1901-1926.
A Junta Geral no final da Monarquia e durante a República.

Para o período que decorre de 1901 a 1926, a regulamentação administrativa


da Junta foi estabelecida pelos seguintes diplomas: a carta de lei de 12 de junho de
1901, o decreto de 8 de agosto de 1901, a lei n.º 88 de 7 de agosto de 1913.
A carta de lei de 12 de junho de 1901 modifica a organização administrativa
dos distritos açorianos, estabelecida no decreto de 2 de março de 1895, tonando-a
extensiva ao distrito do Funchal131. Apesar de manter em vigor a organização
estabelecida por aquele decreto, introduz-lhe algumas alterações, que passamos a
analisar. A Junta Geral é, assim, constituída por 15 procuradores e 15 substitutos132.
O número de procuradores pertencentes a cada concelho será fixado por decreto,
pelo Governo – cf. alínea j) do supra referenciado artigo 1.º. No que respeita ao
Funchal, este número foi fixado pelo decreto de 8 de agosto de 1901 – vide artigo
2.º. As Juntas passam a ter tesoureiros privativos, por elas nomeados133. Por outro
lado, introduz alterações quanto a determinadas deliberações134 da Junta Geral135,
que têm de ser aprovadas pelo Governo, só assim tendo força executória. O
Governo tem o prazo de 60 dias136 para se pronunciar. As restantes deliberações137
dependem da aprovação do governador civil. O prazo será o mesmo, de 60 dias.
A carta de lei determina que a Comissão distrital seja constituída pelo

129 Artigo 40.º.


130 Artigo 41.º.
131 Cf. artigo 1.º alínea m). Vide decreto de 8 de agosto de 1901.
132 Artigo 1.º alínea a) da carta de lei.
133 Previsto no artigo 1.º alínea c). Esta nomeação poderá recair no recebedor do concelho, sede do distrito. Relativamente
ao vencimento destes tesoureiros, a lei estabelece que será o equivalente a um máximo de 1% da receita efetivamente
por eles cobrada, excluindo a proveniente de subsídios e empréstimos, cabendo às Juntas arbitrar-lhes a respetiva
caução.
134 Artigo 1.º alínea b) da carta de lei.
135 As estabelecidas nos artigo 24.º, nos. 1, 2, 3, 4, e 7 do decreto de 2 de março de 1895.
136 Nos termos do disposto no artigo 25.º do decreto de 2 de março de 1895 e do artigo 58.º §§ 1.º e 2.º do Código
Administrativo (C.A.).
137 As deliberações previstas nos restantes números do referido artigo 24.º.

34
Junta Geral

presidente da Junta Geral e dois procuradores por ela designados e por dois Postal ilustrado, alusivo
à visita do Rei D. Carlos
substitutos138. O secretário da comissão distrital será o empregado superior à Madeira, em 1901.
da repartição do expediente da Junta Geral e tem de estar presente em todas
as suas sessões. O quadro dos empregados desta repartição será regulado pelo
Governo139. Para que as suas deliberações sejam válidas e executórias, têm de ter a
maioria de dois votos140. A comissão distrital não pode deliberar sobre assuntos da
competência exclusiva da Junta Geral, quando esta não esteja reunida. Se o fizer,
cabe ao Governador Civil anulá-las141. Desta decisão pode a comissão recorrer para
o Governo.
O Governador Civil aprova142 as deliberações municipais sobre orçamentos e
sobre percentagens, taxas ou quaisquer impostos, cuja aprovação não dependa do
Governo – artigo 1.º alínea h).
O quadro dos empregados dos serviços agrícolas, pecuários e das obras
públicas, a cargo da Junta Geral, é fixado pelo Ministério das Obras Públicas,
comércio e indústria, de entre o pessoal requisitado pela comissão distrital – alínea
i) do mesmo artigo.
A polícia civil dos distritos e os vencimentos dos comissários, chefes, cabos e
guardas serão estabelecidos pelo Governo, ouvida a Junta143.

138 Cf. alínea d) do artigo 1.º da carta de lei em análise.


139 Cf. artigo 1.º alínea e).
140 Cf. alínea f) do sobredito artigo 1.º.
141 O governador civil tem o prazo de 40 dias para proceder à sua anulação – artigo 1.º alínea g).
142 A forma da aprovação e o prazo são os estabelecidos no Código Administrativo.
143 Cf. alínea k) do artigo 1.º da carta de lei em referência.

35
Junta Geral

Quanto às receitas da Junta Geral, constitui receita ordinária o produto líquido


das despesas de cobrança, das contribuições diretas arrecadadas no distrito,
predial, industrial, de renda de casas e sumptuária e os adicionais que incidam ou
venham a incidir sobre cada uma delas ou das que as substituírem – alínea l) do
referido preceito.
A carta de lei em análise refere-se expressamente à Junta Geral do Funchal144
e determina que esta fica obrigada a contribuir com a anuidade de 20.000$00
réis, pelo período de seis anos, para a conclusão imediata das levadas do Estado
na Madeira. Mais acrescenta que constituem receitas desta Junta, até o integral
reembolso das quantias adiantadas, todo o rendimento líquido dessas levadas,
que não for aplicado à construção urgente de novas levadas.
O decreto de 8 de agosto de 1901, publicado no Diário do Governo n.º 178,
de 12 de agosto de 1901, torna extensiva à Madeira os decretos de 2 de março de
1895, com a alteração da carta de lei de 12 de junho de 1901. Este decreto, no seu
artigo 2.º, na sequência do disposto no artigo 1.º da carta de lei acima analisada e
do artigo 202.º e ss do Código Administrativo, determina, também, a composição
dos procuradores que compõem a Junta: 3 do concelho do Funchal, 2 de Câmara
de Lobos, 1 da Ponta do Sol, 2 da Calheta, 1 do Porto Moniz, 1 de S. Vicente, 1 de
Santana, 1 de Machico, 2 de Santa Cruz e 1 do Porto Santo. Fixa ainda a data da
eleição da Junta Geral do Funchal, nos termos do estabelecido nos artigos 1.º e 2.º
da carta de lei e do artigo 203.º do Código Administrativo - primeiro domingo do
mês de novembro daquele ano de 1901145. A lei n.º 88 de 7 de agosto de 1913, do
Ministério do Interior, Direção Geral da Administração Política e Civil, foi publicada
no Diário do Governo n.º 183, de 7 de agosto de 1913 e veio regular a organização,
funcionamento, atribuições e competência dos corpos administrativos. Por ela se
determina que o distrito é considerado uma pessoa moral, para todos os devidos
efeitos – artigo 176.º. Permitam-nos transcrever o artigo 1.º deste diploma legal:
enquanto não for definitivamente reorganizada toda a administração local pela
promulgação do novo Código Administrativo, ficam reguladas pelas disposições
seguintes a organização, funcionamento, atribuições e competência dos corpos
administrativos. Esta lei define, como corpo administrativo no distrito, a Junta
Geral, que possui uma comissão executiva146. As funções na Junta são gratuitas e
obrigatórias147, estabelecendo porém, no § único do artigo 3.º, causas possíveis para
escusa. As funções na comissão executiva são também obrigatórias – aplicando-se
os mesmos motivos de escusa – mas podem ser remuneradas148.
Os procuradores que compõem a Junta são eleitos pelos respetivos concelhos
ou bairros, … na proporção de 1 por 10 000 habitantes; competindo um procurador
aos de população inferior e não podendo, em todo o caso, exceder a cinco os
procuradores de cada concelho ou bairro – artigo 39.º. Esta é a regra geral. Mas a

144 Cf. alínea n) da mesma norma.


145 Cf. artigo 3.º do decreto em causa. Ainda, o decreto volta a afirmar como encargo obrigatório desta Junta o estipulado
na alínea n) do artigo 1.º da carta de lei, ou seja, contribuir a contribuição com a anuidade de 20.000$00 réis, pelo
período de 6 anos, para a conclusão imediata das levadas do Estado, na Madeira. Mais acrescenta que constituem
receitas desta Junta, até o integral reembolso das quantias adiantadas, todo o rendimento líquido dessas levadas, que
não for aplicado à construção urgente de novas levadas.
146 Cf. artigo 2.º da lei n.º 88/1913.
147 Artigo 3.º.
148 Cf. artigos 4.º e 56.º.

36
Junta Geral

lei n.º 88 contém normas especiais, nomeadamente para o distrito do Funchal149.


Nesta questão, embora os procuradores sejam também eleitos diretamente pelos
respetivos concelhos, a Junta será composta por 7 procuradores por cada concelho
de primeira ordem, 5 por cada concelho de segunda ordem e 3 por cada concelho
de terceira ordem – vide § 1.º do artigo 87.º. Serão também eleitos tantos
substitutos, quantos forem os membros efetivos – artigo 6.º.
A eleição150 dos membros da Junta é feita diretamente pelos cidadãos inscritos
nos recenseamentos das respetivas circunscrições e o seu mandato é de 3 anos
civis, a contar do dia 2 de janeiro imediato à eleição. Nos termos do artigo 8.º,
são elegíveis todos os cidadãos das respetivas circunscrições, que saibam ler e
escrever, com algumas exceções elencadas no seu § 1.º. O mesmo se aplica aos
membros da comissão executiva. Só não podem ser eleitos para esse cargo as
pessoas enumeradas no artigo 9.º.
A comissão é composta por 3 dos membros da Junta com 25 ou menos
procuradores, e de 5 membros, nas demais. São eleitos na primeira sessão do
triénio, de entre os seus vogais, sendo também eleitos os seus substitutos, nos
mesmos termos e número. Têm um presidente e um secretário – artigo 46.º. As
comissões executivas funcionam permanentemente e terão, pelo menos, uma
sessão por semana151.
Para o distrito do Funchal, a comissão executiva será composta por 3
membros eleitos pela Junta (§ 2.º do artigo 87.º). Na sua composição, as Juntas
têm presidente e vice-presidente, secretários e vice-secretário. Todos estes são
eleitos anualmente pelos seus membros (artigo 13.º).
A Junta tem sessões ordinárias152, onde se podem tratar de todos os assuntos
da sua competência, e extraordinárias153, só para os assuntos para que foram
expressamente convocadas. As sessões são públicas, nos termos do artigo 24.º
e os Governadores Civis têm nelas assento e podem ser ouvidos (artigo 44.º). As
deliberações exigem um quórum – têm de estar presentes na sessão a maioria dos
seus membros (artigo 23.º) e a votação é nominal (artigo 26.º).
Sobre os assuntos da sua competência, a Junta tem de deliberar no prazo de
30 dias, contados da data em que lho requeiram quaisquer interessados. Se tal
prazo não for cumprido, cabe responsabilidade solidária dos seus membros, por
perdas e danos, perante os tribunais ordinários (artigo 30.º).
A sua competência está taxativamente enumerada no artigo 45.º, a saber: fazer,
interpretar, modificar ou revogar os regulamentos da administração distrital; eleger
os vogais das comissões executivas, administrar todos os bens e estabelecimentos
distritais e aplicá-los, bem como os seus rendimentos, aos fins a que são destinados;
deliberar sobre a aquisição dos bens indispensáveis ao desempenho dos serviços
distritais e sobre a alienação dos dispensáveis; deliberar sobre a aceitação de

149 Título VI, artigos 87.º e ss.


150 Artigo 5.º.
151 Artigo 47.º.
152 Para além da sessão ordinária da sua constituição, a lei obriga a 2 sessões ordinárias por ano, começando a primeira a
1 de maio e a segunda e 1 de novembro – cf. artigo 42.º.
153 Ver também §§ 1.º e 3.º do artigo 42.º.

37
Junta Geral

heranças, legados e doações feitas aos distritos ou a estabelecimentos distritais;


criar estabelecimentos distritais de beneficência, instrução e educação; subsidiar
estabelecimentos de beneficência, instrução e educação, de que não sejam
administradoras, contando que esses estabelecimentos sejam de interesse para
os respetivos distritos; mandar proceder à construção, reparação e conservação
de todas as estradas do distrito, que não estiverem a cargo das Câmaras; criar os
lugares indispensáveis ao desempenho dos serviços da administração e interesse
dos distritos, fixando-lhes a correspondente remuneração, e extingui-los quando
desnecessários; nomear, após o competente concurso, os empregados das
administrações distritais, cujos vencimentos estejam a cargo dos respetivos cofres,
podendo suspendê-los ou demiti-los, nos termos da lei; deliberar sobre os pleitos
a intentar ou a defender por parte dos distritos, tendo poderes de transação;
contrair empréstimos para a realização de melhoramentos distritais, estabelecendo
a respetiva dotação e estipulando as condições das suas amortizações; celebrar
contratos para obras154, serviços ou fornecimentos; celebrar acordos com outras
Juntas; fazer regulamentos sobre assuntos de polícia municipal; fixar a dotação de
todos os serviços e regular todas as despesas da administração distrital; deliberar
sobre expropriações por utilidade pública para o melhoramento dos distritos;
conhecer das reclamações por escrito contra decisões das comissões executivas,
podendo atendê-las; votar as contribuições e os orçamentos distritais; fiscalizar os
atos das comissões executivas e de todos os funcionários, seus subordinados; julgar
as contas de toda a administração a cargo das comissões executivas; conhecer as
questões que se levantem entre os municípios dos respetivos distritos; conhecer
das propostas das Câmaras Municipais para a efetivação de melhoramentos;
promover acordos entre concelhos do seu distrito para melhoramentos e serviços
de utilidade comum; superintender nas repartições de obras públicas que lhes
forem atribuídas pelas leis; cuidar de outros assuntos que as leis lhe confiram.
Porém, no que respeita aos empréstimos, proíbe o artigo 191.º, aqueles
cujos encargos, por si ou juntamente com os empréstimos anteriores, excedam
a quinta parte da sua receita ordinária, calculada pela média da cobrada no
triénio imediatamente anterior. Exceciona os empréstimos destinados à criação
de estabelecimentos, cujos rendimentos prováveis garantam os juros e a
amortização155. Mais obriga a lei a que os contratos de alienação, arrematação de
rendimentos e impostos indiretos, empreitadas ou fornecimentos, sejam sempre
feitos em hasta pública, precedida por edital de 20 dias156. Esta regra apenas é
derrogada para o fornecimento de expediente e obras cujo custo seja inferior a
50$00157.
Para o distrito do Funchal, além dos serviços a cargo das Juntas, compete-lhe
deliberar sobre todos os assuntos e arrecadar todas as receitas158.
Quanto à competência da comissão executiva, dispõe o artigo 49.º examinar

154 Não se podem efetuar obras de construção ou grandes reparações, sem se terem feito estudos e orçamentos respetivos,
nos termos do artigo 192.º.
155 O prazo da amortização nunca poderá exceder 30 anos - § 2.º do referido artigo 191.º.
156 Artigo 193.º.
157 § único do sobredito artigo 193.º.
158 cf. § 4.º do artigo 87.º.

38
Junta Geral

e fazer executar todas as deliberações das Juntas respetivas; administrar os bens e


estabelecimentos distritais, bem como os seus rendimentos; dirigir superiormente
todas as obras e serviços a cargo do distrito; organizar os orçamentos dos distritos
e submetê-los a exame e aprovação das juntas; prestar contas perante a Junta;
autorizar o pagamento em conformidade com os seus orçamentos e deliberações;
representar os distritos em Juízo e fora dele; aprovar os orçamentos e contas das
misericórdias, hospitais, irmandades, confrarias e outros e fiscalizá-los; exercer, no
intervalo das sessões da Junta, as atribuições que às mesmas compete, em todos
os negócios.
Dos atos das comissões executivas, cabe o recurso para os tribunais
administrativos e reclamação para a respetiva Junta (art. 52.º). Pelas resoluções
que tomarem em desacordo com as deliberações da Junta, os seus membros
respondem solidariamente à Fazenda distrital – artigo 54.º.
As receitas distritais159 são ordinárias ou extraordinárias. As ordinárias são
constituídas por: rendimento dos bens distritais; produto das percentagens
adicionais às contribuições diretas e gerais do Estado, não excedendo 15%160;
produto das multas impostas nos regulamentos distritais ou por lei que revertam
para os distritos; verbas que, no Orçamento Geral do Estado, sejam consignadas para
os serviços de viação ordinária e para os das obras públicas, sob a superintendência
da Junta; impostos distritais161; direitos de encarte correspondentes aos lugares
providos pelas respetivas Juntas; quaisquer outros rendimentos consignados por
lei às despesas distritais.
As receitas extraordinárias são as heranças, os legados e doações; o produto
dos empréstimos; o produto da alienação de bens distritais; os subsídios do Estado;
quaisquer outros rendimentos incertos e eventuais.
Quanto à despesa, classificam-se em obrigatórias e facultativas (art. 59.º). São
despesas obrigatórias, aquelas com os estabelecimentos distritais de beneficência,
instrução e educação; a viação distrital; o arrendamento, aquisição ou construção e
conservação dos edifícios indispensáveis para as repartições distritais e respetivas
mobílias; o pagamento das dívidas exigíveis; a amortização de empréstimos e
execução de contratos; os vencimentos das comissões executivas e de todos os
funcionários e empregados a cargo dos distritos; o expediente das Juntas e das
comissões executivas e outras impostas por lei aos distritos.
As despesas facultativas são as que a lei não impõe aos distritos, mas que
forem de utilidade distrital, e resultem de deliberação da Junta – artigo 60.º.
Quanto ao distrito do Funchal, dispõe o § 5.º do artigo 97.º que … nenhum
encargo novo de caráter permanente pode ser criado… à Junta … sem que
previamente seja criada receita nova e efetiva, correspondente a esse encargo…
Mais, determina o § 6.º do mesmo preceito legal que a Junta pagará ao Estado,
… como compensação pela cobrança das contribuições, 5 por cento das quantias

159 Artigo 57.º


160 Exceto se for autorizado por lei, de acordo com o disposto no n.º 2 do artigo 57.º.
161 Os impostos distritais são, nos termos do artigo 58.º, as taxas pela concessão de licenças policiais do distrito; as taxas
pela ocupação de terrenos ou de estabelecimentos distritais; as taxas sobre as empresas exploradoras de qualquer
exclusivo no distrito; a derrama especial sobre os contribuintes de alguns ou de todos os concelhos do distrito,
melhoramentos ou estabelecimentos de interesse parcial ou geral dos concelhos.

39
Junta Geral

arrecadadas, cuja dedução será feita em cada ordem de entrega de receitas,


assinada pelo inspector de finanças.
Esta lei dedica o seu Capítulo II, artigos 61.º a 70.º, aos orçamentos distritais.
Começa por defini-los: … compreendem o cálculo das receitas que se esperam
cobrar e a descrição das despesas que deverão fazer-se para ocorrer às necessidades
da Administração distrital. Como atrás referimos, os orçamentos distritais são
elaborados pelas comissões executivas e aprovados pelas Juntas162. No artigo
64.º descreve-se, exaustivamente, o conteúdo daqueles orçamentos, distingue,
no artigo 65.º, os orçamentos ordinários dos suplementares e estabelece a regra
do equilíbrio orçamental, no artigo 66.º. Os orçamentos ordinários devem ser
discutidos e votados pelas Juntas na última sessão ordinária e os suplementares,
quando as circunstâncias o exigirem163.
No caso dos corpos administrativos serem condenados ao pagamento de
qualquer quantia que não esteja autorizada no respetivo orçamento, essa quantia
será inscrita em orçamento suplementar, ou no ordinário do ano seguinte,
vencendo até total liquidação o juro de 5% - artigo 180.º.
O Capítulo III versa sobre a contabilidade – artigos 71.º a 77.º. Salientamos que
a apresentação de contas é feita pela comissão executiva à Junta Geral e descreve-
se, exaustivamente, o conteúdo das contas de gerência e respetivos anexos (art.
75.º). Do julgamento das contas gerais, pela Junta, cabe recurso para os tribunais
administrativos, no prazo de 10 dias e a legitimidade para recorrer cabe, quer
ao Ministério Público164, a qualquer membro da Junta ou da comissão executiva,
assim como aos cidadãos residentes nos respetivos distritos165.
Acrescente-se que a Junta nomeia um tesoureiro do distrito, ao qual compete,
nomeadamente, receber e arrecadar todos os rendimentos distritais e pagar as
despesas legalmente ordenadas166.
Realçamos ainda que o artigo 194.º dispõe …os gerentes dos corpos
administrativos, como simples mandatários que são, só podem fazer o que as leis
lhe permitirem ou impuserem. Os atos que praticarem fora desses limites legais
constituem um abuso de poder, e são por isso insanavelmente nulos…
É de sublinhar, por fim, que esta lei determina que, para os distritos das Ilhas,
continuam em vigor os artigos 28.º, 29.º, 30.º, 31.º e 32.º do decreto de 2 de
março de 1895, que instituiu o regime autonómico das Juntas Gerais. Quanto ao
seu funcionamento, fiscalização e tutela, regulam-se pelo regime ora previsto.
O código administrativo, publicado pelo decreto-lei n.º 27.424 de 31 de
dezembro de 1936 no seu artigo 11.º, considera extintas as Juntas Gerais dos
Distritos, a 1 de janeiro de 1937. Todavia, este Código não se aplica às Ilhas
Adjacentes – artigo 45.ºdo sobredito D.L.

162 Cf. artigos 67.º, 49.º n.º 4 e 45.º n.º 19.


163 Artigo 67.º.
164 Sublinhe-se que o recurso por parte do Ministério Público é obrigatório sempre que as contas não forem aprovadas por
unanimidade – § único do artigo 76.º.
165 Artigo 76.º
166 Para maior desenvolvimento, vide os artigos 78.º a 82.º, que regulam esta matéria.

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Junta Geral

1928-1939. Estatuto dos Distritos Autónomos das Ilhas Adjacentes.167

Juridicamente relevante é sublinhar o disposto no artigo 3.º deste Estatuto,


desde 1928: Cada distrito das ilhas adjacentes constitui uma pessoa moral de direito
público, dotada de autonomia administrativa e financeira. Trata-se, portanto,
uma pessoa coletiva de Direito Público, cujos órgãos têm o poder de praticar
atos administrativos definitivos e executórios (autonomia administrativa) e os
rendimentos do seu património e outros que a lei lhe permita cobrar constituem
receita própria, possuindo um orçamento privativo (autonomia financeira).
A Junta Geral é o órgão da administração distrital autónoma, que exerce as
suas atribuições e competência diretamente ou por intermédio de uma comissão
executiva168. Assim, a administração insular, nesta época, apenas tinha um órgão
por cada distrito. Porém, esta unidade é desmembrada entre a Junta Geral e a
Comissão Executiva169. A Junta Geral pode deliberar a criação de quaisquer órgãos
privativos de consulta, nos termos do artigo 6.º.
Este órgão era composto por sete procuradores (três natos e quatro eleitos
quadrienalmente). As funções que exercem são obrigatórias e gratuitas e só
admitem escusa ou se perdem, nos casos e pela forma que a lei estabelece para os
procuradores provinciais (artigo 11.º), ou, de acordo com o Código Administrativo,
para procuradores ao conselho de distrito170. Segundo o artigo 290.º desse Código,
são causas para a escusa ter idade superior a 60 anos à data da eleição171, sofrer
de moléstia crónica de que resulte impossibilidade ou grave dificuldade para o
exercício do cargo172. De acordo com o artigo XIII da Concordata entre a Santa Sé e a
República Portuguesa173, os eclesiásticos católicos podem, ainda, invocar dispensa
de exercício de cargos públicos, com o fundamento da sua incompatibilidade com
o estado eclesiástico considerado pelo Direito Canónico.
Os casos de perda de mandato ocorrem nos casos seguintes: tornar-se membro
das direções, conselhos de administração ou fiscais de empresas, sociedades
ou companhias que tenham contrato com o distrito; tornar-se diretamente
interessado em contrato com o distrito ou ser o respetivo fiador; ser um dos vogais
da Junta Geral, imediatamente anterior à eleição, se aquela tiver sido dissolvida,
por facto que lhe seja imputável; ser empregado de pessoa coletiva de utilidade
pública administrativa, com sede no distrito e sujeita à prestação de contas à Junta
Geral. Nos termos do artigo 292.º do C.A., a perda do mandato ou a escusa do

167 Com base no decreto n.º 15.035, de 16 de fevereiro de 1928 – amplia a autonomia administrativa dos distritos insulares;
lei n.º 1.967 de 3 de abril de 1936, executada pelo D.L. n.º 31.095, de 31 de dezembro de 1940 e alterada pelo DL n.º
36.453, de 4 de agosto de 1947 – Estatuto dos Distritos Autónomos das Ilhas Adjacentes; DL n.º 30.214, de 22 de
dezembro de 1939 – Lei Orgânica dos Serviços das Respetivas Juntas Gerais. Cf. CAMACHO, Augusto da Silva Branco
e CARVALHO, Mário Luís Jesus, Estatuto dos Distritos Autónomos das Ilhas Adjacentes, Anotada e Actualizada; 2.ª ed,
Tip. Gráfica Açoriana, Limitada; Ponta Delgada, 1972.
168 Cf. art. 4.º.
169 Cf. Art. 285.º do Código Administrativo (C.A.)
170 Alterações introduzidas pelo DL n.º 42.536, de 28 de setembro de 1959.
171 Por motivo de idade, o pedido de escusa tem de ser feito até 20 dias após a data marcada para a posse – artigo 19.º §§
2.º e 3.º C.A.
172 O pedido de escusa por moléstia poderá ser feito a todo o tempo e acompanhado de atestado médico comprovativo - §
2.º do artigo 290.º C.A.
173 Esta Concordata foi tornada direito interno pelo DL n.º 30.615, de 25 de julho de 1940.

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Junta Geral

Antonio de Oliveira
Salazar e Mário de
Figueiredo no Hotel
Monte Palace, em 1925

lugar será declarada pelo Governador do distrito.


Os procuradores natos à Junta Geral encontram-se elencados no art. 9.º,
alíneas a) a c), a saber: o reitor do liceu da sede do distrito, o delegado distrital do
Instituto Nacional do Trabalho e Previdência e o engenheiro diretor técnico da Junta
Autónoma dos Portos no distrito do Funchal. A substituição dos procuradores natos
é feita por quem estiver a desempenhar os lugares públicos que desempenham (§
1.º do mesmo preceito legal).
A Eleição dos procuradores ocorre da seguinte forma: os procuradores não
natos serão eleitos pela Câmara Municipal e organismos corporativos morais,

42
Junta Geral

culturais e económicos de distrito, por escrutínio secreto (artigo 10.º). Cada


lista para a eleição conterá quatro nomes para procuradores efetivos e quatro
para procuradores substitutos. Enquanto não estiver completa a organização
corporativa, será feita, pelo governador de distrito, uma relação dos organismos
com direito de sufrágio e depois publicada nos jornais locais e afixada nos paços
do concelho da sede do distrito, pelo prazo mínimo de 15 dias, a fim de que
os interessados possam reclamar para o governador de distrito, que decidirá
definitivamente (artigo 10.º §§ 1.º a 3.º). No ato da eleição – que deveria realizar-
se em data a ser designada pelo governador de distrito, entre 15 de novembro a 5
de dezembro (§ 6.º do supra referido artigo) - a Câmara Municipal e os organismos
corporativos serão representados pelos seus presidentes, juízes ou provedores, ou
por correspondência, se tiverem sede fora da ilha (§ 4.º do sobredito artigo).
O processo da eleição organiza-se da seguinte forma: as listas serão encerradas
num sobrescrito branco, fechado. No caso de voto por correspondência, esse
sobrescrito será metido noutro, também fechado, lacrado e endereçado, como
correspondência postal registada, ao Governador do Distrito e com a menção
de que só deverá ser aberto no ato eleitoral. Cabe ao Governador abrir esse
sobrescrito e colocar, na urna, o sobrescrito nele contido (§ 5.º). A regra é a de
que o governador do distrito nomeia um dos quatros eleitos, como presidente,
cargo que será remunerado e terá a duração de 4 anos (§ 1.º e 5.º do artigo 8.º).
Excecionalmente, pode ser nomeada uma pessoa estranha. Neste caso, passarão a
ser oito os procuradores (artigo 8.º, §§ 1.º e 2.º).
O presidente depende do governador do distrito, que o nomeia, reconduz,
exonera ou demite a todo o tempo (§ 3.º do referido artigo 8.º e artigo 99.º n.º
4). A substituição do presidente será feita por um presidente substituto, também
nomeado pelo governador substituto ou, na falta deste, pelo procurador mais
velho (artigo 8.º § 4.º). A remuneração do presidente é suportada pela Junta. (§
6.º do referido artigo).
Nos termos do artigo 296º do C.A., uma vez constituída, a Junta Geral reunir-
se-á, no dia 20 de dezembro, para verificação dos poderes dos seus membros,
designação do presidente e vice-presidente - no caso de a mesma recair num dos
procuradores eleitos - e da eleição da comissão executiva. Porém, a antiga Junta
manter-se-á em funções até 31 de dezembro. Quer a Junta Geral, quer a comissão
executiva só podem deliberar, na presença da maioria do número legal dos seus
membros174. O presidente pode convocar para determinada reunião ou parte dela,
apenas com voto consultivo, as seguintes pessoas: o secretário do governo civil ou
o funcionário que o substituir, o engenheiro-diretor das obras públicas, o diretor
da escola, do ensino técnico profissional, o diretor do distrito escolar, o inspetor
da saúde, o diretor de agricultura e o intendente de pecuária, cfr. artigo 12.º. De
acordo com o preceituado no artigo 13.º, ao chefe da secretaria distrital, ou quem
o substituir, cabe, por inerência, as funções de secretário nas reuniões da Junta
Geral, sem direito a voto. O artigo 14.º remete a regulamentação da constituição,
sessões, reuniões e deliberações e as incompatibilidades e ilegibilidades dos
respetivos procuradores, para o disposto no C. A., quanto aos conselhos provinciais.

174 Cf. art. 334.º do Código Administrativo e arts. 8.º e 29.º do Estatuto.

43
Junta Geral

De acordo com o artigo 15.º do Estatuto, a Junta Geral pode ter atribuições:
administração dos bens distritais – cadastro, conservação, uso e fruição dos bens
próprios que constituem o património do distrito; cadastro, polícia e defesa dos bens
do domínio público distrital (art. 16.º do Estatuto); de fomento agrário – estudo das
possibilidades agrícolas do distrito e o seu aproveitamento integral; experimentação
e introdução de novas culturas e melhoramento das existentes; estabelecimento
de viveiros, de campos de ensaio e de demonstração e de postos agrícolas móveis;
assistência fitopatológica e criação de postos de sanidade vegetal; realização de
concursos, exposições e feiras agrícolas; instituição de prémios aos agricultores que
adotem novos processos técnicos mais convenientes ou introduzam novas culturas
de interesse para a economia distrital; fomento da apicultura e da sericicultura
(art. 17.º do Estatuto); de fomento florestal – revogado pelo artigo 19.º do DL n.º
42.935, de 21 de abril de 1960175; de fomento pecuário – proteção, melhoramento
e aumento da riqueza pecuária do distrito; higiene e sanidade dos gados, criação e
manutenção de postos zootécnicos, introdução e difusão de novas espécies e raças
pecuárias, convenientes às condições do distrito e melhoramento das existentes,
mediante parecer favorável da Direção-Geral dos ServiçosPecuários; instituição de
prémios aos criadores; realização de feiras, concursos e exposições de gado (art.
19.º do Estatuto); de coordenação económica – realização de inquéritos à vida
económica do distrito e estudo das soluções convenientes aos seus problemas;
aproveitamento e divulgação das estatísticas oficiais que interessem à economia
do distrito e elaboração das que lhe forem cometidas pelo Instituto Nacional de
Estatística; harmonização dos interesses e atividades económicas do distrito, em
ordem a obter maior benefício público; conjugação de esforços dos municípios,
freguesias e casas do povo para melhoria da condição social dos habitantes do
distrito176 (art. 20.º do Estatuto); obras públicas, fiscalização industrial177 e viação –
construção, reparação, conservação, arborização e polícia das estradas que ligam
as sedes dos distritos às sedes dos concelhos e das vias principais que asseguram
as comunicações entre os diversos lugares das ilhas, pela sua importância
económica ou turística, como estradas distritais178; estabelecimento de caminhos-
de-ferro no leito das suas estradas ou em leito próprio; construção, reparação e
conservação de edifícios públicos distritais; proteção de monumentos nacionais;
fruição e aproveitamento de águas públicas na sua administração; regularização
das torrentes e caudais e limpeza, regularização e correção de valas e cursos de
água; aproveitamento de águas por meio de obras de irrigação; obras de fixação do
nível das lagoas; polícia das águas e da pesca; fiscalização das indústrias elétricas;
licenciamento e fiscalização das indústrias insalubres, incómodas e perigosas;
inspeção de pesos e medidas; proteção, desenvolvimento e aperfeiçoamento

175 Pelo DL n.º 38178, de 22 de fevereiro de 1951 foi criada a Circunscrição Florestal do Funchal e extinta a Regência
Florestal .
176 Nesta sequência, a Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal foi autorizada, pelo D L n.º 43.459 de 31 de dezembro
de 1960, a participar com a quota de 2% no capital da sociedade que venha a constituir-se para a instalação e exploração
da indústria de laticínios na Ilha da Madeira. Pelo que, conjugando o disposto neste DL e no n.º 3 do artigo 20.º admite-
se a participação financeira das Juntas Gerais no setor privado, em matéria das atividades económicas distritais.
177 Em matéria de condicionamento industrial, as Juntas Gerais têm a mesma competência que a Direção Geral dos
Serviços Industriais, pelo que estão sujeitas a recurso hierárquico para o Ministro da Economia – cf. Acórdão do S.T.A.
de 2 de junho de 1967.
178 Pelo DL n.º 40.167, de 20 de maio de 1955, atribuiu-se ao Ministro das Obras Públicas, depois de ouvir a Junta
Autónoma das Estradas e a Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, alterar no futuro a classificação das estradas
nacionais desse Distrito Autónomo.

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Junta Geral

das pequenas indústrias locais tradicionais; fiscalização das caldeiras e motores


(art. 21.º do Estatuto); de saúde pública – vigilância e defesa sanitária do distrito;
polícia sanitária dos portos e embarcações e demais serviços de sanidade
marítima; profilaxia social, especialmente pelo combate ao alcoolismo, à sífilis e
à tuberculose e pela proteção das grávidas e puérperas; salubridade dos lugares e
das habitações, tendo em especial atenção o combate aos ratos; fiscalização dos
cemitérios; manutenção ou auxílio a hospitais, sanatórios e dispensários distritais;
criação, manutenção de centros sanitários rurais, de preferência junto das Casas
do Povo; manutenção de um serviço antiepidémico permanente, hospital de
isolamento para doentes atacados de moléstias infeciosas, parque sanitário e
material para brigadas sanitárias; manutenção de um posto de desinfeção pública
com balneários; manutenção de serviços laboratoriais onde se possa proceder a
análises bacteriológicas e à preparação de vacinas; manutenção e administração
dos seus estabelecimentos balneares (artigo 21.º do Estatuto); de assistência –
internamento, em estabelecimentos públicos ou privados, dos velhos, doentes
e desamparados que sejam muito pobres ou indigentes; hospitalização de
alienados curáveis, internamento dos incuráveis perigosos e vigilância e auxílio aos
incuráveis inofensivos; educação de crianças anormais; proteção à maternidade,
e à primeira infância pela instituição de enfermarias-maternidades, postos de
puericultura, creches e jardins-, de-infância e pela visita domiciliária de visitadoras
especializadas; socorros a náufragos; auxílio a estabelecimentos privados de
assistência a crianças órfãs ou em perigo moral e a outros organismos públicos
ou privados de assistência (art. 23.º do Estatuto); de educação e cultura – criação,
manutenção e supressão de escolas primárias e postos escolares; dotação,
instalação e apetrechamento dos estabelecimentos públicos de ensino liceal179,
técnico ou de magistério primário criados e dirigidos pelo Estado; criação e
manutenção de escolas práticas elementares de agricultura e de escolas de
leitaria; instituição de bolsas para estudantes distintos, mas pobres, que devem
prosseguir os estudos fora do distrito180, contando que se obriguem a exercer a
futura profissão no distrito que os pensiona; criação e manutenção de jardins e
hortos botânicos; criação e manutenção de museus de arte regional e de história
natural, arquivos distritais e bibliotecas populares; recolha e defesa do folclore
do distrito; inventário e proteção das relíquias históricas, dos monumentos
artísticos181 e das belezas naturais do distrito182; conservação e divulgação dos
trajes e costumes locais; estudo das formas dialetais existentes no distrito; auxílio
a conceder a associações ou institutos culturais183 (art. 24.º do Estatuto); de polícia

179 De acordo com o DL n.º 36.508, de 17 de setembro de 1947, os liceus cuja manutenção esteja a cargo das Juntas Gerais
dos Distritos Autónomos das Ilhas Adjacentes consideram-se liceus nacionais e não municipais. Acresce que, se numa
localidade só existir um liceu, terá como denominação o nome da localidade; se existir mais do que um, terão uma
denominação que os distinga dos outros. As Juntas Gerais aprovam os orçamentos privativos dos estabelecimentos de
ensino com autonomia administrativa postos a seu cargo.
180 Nos termos do § único do artigo 24.º do Estatuto, aditado pelo DL n.º 36.453, de 4 de agosto de 1947, os bolseiros que,
sem justificação aceite pela Junta, deixem de cumprir… a exigência de que devem prosseguir os estudos fora do distrito
… ficam responsáveis pelo reembolso das importâncias que lhe tiverem sido abonadas. De destacar ainda que as bolsas de
estudo podiam ser concedidas a indivíduos não naturais do respetivo distrito.
181 A classificação de imóveis ou móveis de reconhecido interesse artístico e histórica pertencia em exclusivo à Junta
Nacional da Educação pela 1.ª Subsecção da Secção de Belas Artes. A Junta Geral poderá apenas promover junto
daquele Ministério a defesa e classificação dos valores que considere dignos de classificação.
182 A proteção que a lei aqui confere às Juntas Gerais não abrange a atribuição de poderes para conceder ou denegar
autorização para obras, pois esta matéria é da competência das Câmaras Municipais.
183 As Juntas Gerais não podiam conceder subsídios a estabelecimentos de ensino particular, exceto se proporcionassem

45
Junta Geral

– segurança e comodidade do trânsito nas estradas distritais, estacionamento dos


veículos nessas estradas, a sua iluminação pública184; conveniência e condições das
edificações junto às referidas estradas distritais; organização da polícia rural, de
acordo com as Câmaras Municipais (art. 25.º do Estatuto).
O artigo 26.º do Estatuto elenca as competências privativas das Juntas Gerais,
para o desempenho das suas atribuições, a saber:
1.º - Fazer, interpretar e modificar os regulamentos necessários aos serviços
distritais e revogar os dispensáveis;
2.º - Fazer, interpretar, modificar e revogar posturas sobre matérias das
atribuições das Câmaras Municipais que convenha regular uniformemente para
todo o distrito;
3.º - Adquirir bens imobiliários para o serviço do distrito, e alienar os que
forem dispensáveis185;
4.º - Aceitar heranças, legados e doações feitos ao distrito ou a estabelecimentos
distritais, contanto que a aceitação das heranças seja a benefício de inventário;
5.º - Aprovar as empreitadas de valor superior a 5000.000$00186 e os contratos
de fornecimento por tempo superior a um ano187;
6.º - Discutir e votar o plano trienal188 da administração do distrito189;
7.º - Lançar os impostos e respetivos adicionais na forma da lei190;
8.º - Contrair empréstimos, estabelecer a sua dotação e estipular as condições
de amortização191;
9.º - Aprovar as bases do orçamento ordinário192;
10.º - Decidir sobre os recursos graciosos que sejam interpostos das deli-
berações da comissão executiva ou das decisões do seu presidente, quando não
constitutivas de direitos193;

ensino gratuito a estudantes pobres; nem podiam conceder subsídios às comissões venatórias.
184 Estas três atribuições podem ser transferidas, por acordo, para as Câmaras Municipais nos troços de estrada que
atravessem povoações, nos termos do § único deste artigo 25.º do Estatuto.
185 Redação dada pelo D. G. n.º 247, Iª série, de 23 de outubro de 1947. Cf. art. 358.º do C. A. e artigo 36.º n.º 1.º do
Estatuto, que estabelece como competência das comissões executivas das Juntas Gerais a aquisição de bens mobiliários
e imobiliários de valor até 500.000$00.
186 Este valor das empreitadas foi fixado pelo D L n.º 49564, de 27 de dezembro de 1969.
187 Cf. artigo 359.º e ss do C. A. e n.ºs 3º e 5º do artigo 36.º do Estatuto, normas que determinam como competências
das comissões executivas, a contratação com empresas individuais ou coletivas para os fornecimentos necessários
ao funcionamento dos serviços e à execução das obras distritais, quando por tempo inferior a um ano e a efetivação
das obras públicas, por administração direta, empreitada ou concessão, quando até aquele valor determinado, de
500.000$00.
188 O plano passou a ser trienal o D L n.º 49189, de 14 de agosto de 1969.
189 Cf. artigos 27.º (que descreve o plano trienal) e 38.º n.º 4 do Estatuto (que determina como competência do presidente
da Comissão Executiva a de elaborar aquele plano).
190 De acordo com o n.º 3 do artigo 363.º do C. A., são nulas e de nenhum efeito, independentemente de declaração pelos
tribunais, as deliberações que transgridam as disposições legais relativas ao lançamento de impostos.
191 Cf. artigo 83.º do Estatuto, que discrimina a receita ordinária dos distritos autónomos. O DL n.º 39726, de 13 de julho
de 1954, autorizou a Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal a assumir os encargos de juros e amortização
respeitante a um empréstimo a favor da Comissão Administrativa dos Aproveitamentos Hidráulicos da Madeira. Este
empréstimo estava previsto no artigo 2.º do DL n.º 39566, de 16 de março de 1954.
192 Depois da Junta Geral aprovar as bases do orçamento ordinário, elaboradas pelo presidente da Junta Geral (artigo 38.º
n.º 5) e este elaborado, deve ser aprovado pela Comissão Executiva (artigo 36.º).
193 Cf. artigo 35.º do Estatuto, que determina que estes recursos serão apreciados na primeira reunião celebrada após a data

46
Junta Geral

11.º - Subsidiar associações e estabelecimentos de assistência e instrução de


interesse para o distrito194;
12.º - Comparticipar com as Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia em
melhoramentos urbanos e rurais, nos mesmos termos que o Estado e sem prejuízo
das comparticipações deste195;
13.º - Conceder subsídios para a sustentação de partidos veterinários, quando
as respetivas despesas se não comportem nos orçamentos municipais196;
14.º - Dar parecer sobre os projetos de regulamentos legislativos elaborados
pelo governador do distrito no uso da sua faculdade regulamentária197…
Destacamos que as Juntas Gerais dos distritos autónomos insulares elaboram
e aprovam os seus orçamentos, pelo que os serviços delas dependentes têm de
lhe enviar os seus orçamentos privativos, para serem tomados em conta, na fase
de preparação, bem como os de projetos de distribuição de verbas globais que
lhe sejam atribuídas nos orçamentos distritais, quando gozem de autonomia
administrativa. O Estatuto confiou à Junta algumas atribuições que, no Continente,
eram exercidas pelo Governo Central, de acordo com o princípio da especialidade.
Tudo o que não foi especificamente atribuído é da alçada administração central.
O artigo 346.º do C.A. obriga a que os corpos administrativos tomem as
suas deliberações, no prazo de 30 dias, contados sobre a data em que sejam
requeridos, por qualquer interessado. É também da sua competência conceder
licenças aos seus membros e justificar ou não as suas faltas. O processo de votação
está estabelecido no artigo 347.º e ss. do C. A. As deliberações da Junta Geral só se
tornam executórias depois de lavradas em ata e aprovadas. Esta é uma formalidade
impreterível. A sanção estabelecida para a inobservância deste processo é punida
com a nulidade198 .
A Junta é civilmente responsável pelas perdas e danos resultantes das suas
deliberações e das da sua comissão executiva. É também responsável pelos atos
praticados pelos seus funcionários que ofendam a lei, dentro das respetivas
atribuições e competência e com a observância das formalidades essenciais, desde
que para a realização dos fins legais. Se não forem respeitadas estas condições,
haverá a simples responsabilidade pessoal dos intervenientes199. Nos termos do
artigo 28.º do Estatuto as Juntas Gerais são …corpos administrativos independentes
dentro da órbita das suas deliberações…, pelo que as suas deliberações e as
das respetivas comissões executivas só podem ser modificadas, suspensas ou

da deliberação e que a decisão de revogar, converter ou reformar só terá efeito retroativo se versar sobre deliberações da
Comissão Executiva; nos outros casos apenas produzirá efeitos para o futuro.
194 Cf. artigo 23.º n.º 6 do Estatuto, atrás referido.
195 Nos termos do DL 23052, de 23 de setembro de 1933, as Juntas Gerais não devem comparticipar nos encargos da
construção de bairros de casas económicas que as Câmaras Municipais se proponham edificar, já que estas entidades
estão sujeitas a regulamentação específica. Porém, podem participar, com as Câmaras Municipais, nos encargos
que respeitem à aquisição de terrenos e respetiva urbanização que excederem o produto da importância paga pela
Repartição de casas económicas, por metro quadrado. Também as Juntas só podem atribuir subsídios às Juntas de
Freguesia, como obras de construção, ampliação ou reparação de igrejas e respetivos anexos, desde que, nas freguesias,
não estejam legalmente constituídas as respetivas comissões fabriqueiras.
196 Acrescentado pelo D L n.º 3645, de 4 de agosto de 1947.
197 Cf. artigo 101.º do Estatuto.
198 Vide arts. 353.º, 355.º e 363.º do C. A.
199 Cf. arts. 366.º e 367.º do C. A.

47
Junta Geral

anuladas, nos casos previstos no Estatuto e no Código Administrativo. Mais, o


Estatuto refere expressamente que …os serviços próprios do distrito não devem
obediência a ordens de autoridades ou funcionários do Estado…, excetuando o caso
em que desempenhem funções hierarquicamente subordinadas, expressamente
determinadas pela lei – cfr. § 2.º do sobredito preceito legal. Note-se a preocupação
do legislador em sublinhar que aquela independência … não prejudica o direito de
orientação meramente técnica da administração central sobre os seus serviços nem
a faculdade de inspeção…, a fim de verificar se cumprem as obrigações impostas
por lei e se os seus serviços funcionam regularmente e no interesse do público200.
Relativamente à faculdade de inspeção do Governo Central e, de acordo com
os artigos 372.º e ss do C. A., os Governadores dos Distritos Autónomos201 têm
competência para:
1.º - informar o Governo de todas as irregularidades de que tenham
conhecimento,
2.º - enviar ao Governo um relatório anual sobre a vida administrativa no
distrito.
De acordo com o preceituado no n.º 2 do artigo 829.º e 798.º do C. A., cabe-
lhe o recurso contencioso das deliberações das Juntas Gerais e das suas comissões
executivas para a auditoria administrativa de Lisboa. Como já referimos acima,
cabe recurso gracioso das deliberações da comissão executiva, quando não sejam
constitutivas de direito. Essa impugnação graciosa é feita junto da respetiva Junta
Geral (supra artigos 26.º n.º 10.º e 35.º do Estatuto). O prazo para a interposição
do recurso é de 3 meses, contados da data da sua publicação ou notificação aos
interessados. Não existe prazo para a impugnação da legalidade de deliberações
nulas, de posturas e regulamentos policiais e de deliberações que criem impostos
não permitidos por lei202. A impugnação graciosa é uma simples reclamação que
deve ser resolvida enquanto decorre o prazo para o recurso contencioso, sem o
prejudicar ou invalidar.
Não podemos deixar de referir aqui uma importante limitação à autonomia
da Junta Geral e da comissão executiva: o governador tem o poder de suspender
as deliberações destes órgãos, sempre que as considere gravemente lesivas do
interesse geral203.
Nos termos dos artigos 29.º e 30.º do Estatuto, a Comissão Executiva é
composta por 2 dos procuradores da Junta, eleitos quadrienalmente, e pelo
presidente da Junta Geral204 (que será assim também o presidente da comissão).
Também serão eleitos 2 substitutos. Na falta ou impedimento destes, serão
chamados os procuradores que residirem na capital do Distrito e em razão da
idade. O chefe da secretaria da Junta Geral é o secretário da comissão executiva,
mas não tem direito a voto (art. 33.º do Estatuto).

200 Cf. § 1.º do referido artigo.


201 O Governador Civil é quem representa o Governo da República e tem a seu cargo a gestão dos interesses políticos e
administrativos do Estatuto, a superintendência na polícia geral e a inspeção e fiscalização tutelar da administração
distrital autónoma – cf. art. 5.º do Estatuto.
202 Vide art. 828.º e § único do C. A.
203 Cf. n.º 7.º do artigo 99.º do Estatuto, vide também artigos 375.º e 377.º do C. A.
204 Redação dada pelo D. G. n.º 247, I.ª Série, de 23 de outubro de 1947.

48
Junta Geral

A comissão executiva é delegada da Junta Geral e procede sempre em sua


representação, pelo que tem as mesmas atribuições205. Reúne ordinariamente
uma vez por semana e extraordinariamente sempre que for convocada pelo
presidente e, neste último caso, só pode deliberar sobre matérias para que tenha
sido expressamente convocada (artigos 31.º do Estatuto e 338.º do C. A.).
O secretário da Comissão elabora um resumo de todas as deliberações para
ser publicado na imprensa local e, se existir, no boletim distrital. Se este inexistir, o
resumo será distribuído pelos procuradores206. Segundo o artigo 36.º do Estatuto,
as competências da Comissão Executiva são:
1.º adquirir bens mobiliários e os imobiliários de valor até 500.000$00207;
2.º celebrar contratos de arrendamento, ativa e passivamente, ou seja na
qualidade de arrendatário ou de inquilino;
3.º contratar com empresas os fornecimentos necessários ao funcionamento
dos serviços e à execução de obras distritais, desde que por tempo inferior a um
ano208;
4.º efetuar seguros, contra quaisquer riscos, em companhias nacionais
devidamente autorizadas.
5.º efetuar obras públicas, por administração direta, empreitada ou concessão,
quando de valor até 500.000$00;
6.º instaurar processos e defender-se neles, com poderes para confessar,
desistir ou transigir, quando não impliquem ofensa de direitos de terceiro209;
7.º propor ao Governo expropriações, por utilidade pública dos imóveis
indispensáveis à realização dos seus fins;
8.º propor ao Governo a alteração dos quadros do funcionalismo distrital;
9.º tudo o que se refira aos funcionários e assalariados distritais. Nos termos
dos artigos 36.º nos. 9.º e 10.º e 128.º do Estatuto, a comissão tem superioridade
hierárquica relativamente ao pessoal, pelo que exerce diretamente os poderes de
direção, inspeção, superintendência e disciplinar210;
10.º modificar e revogar os atos praticados pelos funcionários e assalariados
distritais. Dos atos praticados por estas pessoas, deve ser interposto recurso
hierárquico necessário para a Comissão Executiva que decide com caráter definitivo
e executório;
11.º submeter, via alvará, os baldios, as matas e as propriedades particulares
ao regime florestal parcial ou de simples polícia;
12.º conceder licenças, autorizações e permissões da competência dos

205 Cf. art. 31.º do Estatuto.


206 Cf. art. 34.º do Estatuto.
207 Cf. o n.º 3 do artigo 26.º do Estatuto.
208 Cf. artigo 26.º n.º 5 do Estatuto.
209 Cf. artigos 38.º n.º 12.º e 368.º e ss. do C.A. e 298.º e ss. do Código de Processo Civil.
210 As Comissões podem … nomear, contratar ou assalariar, promover, transferir, conceder licenças, louvar, punir, aposentar
e exonerar os funcionários e assalariados distritais e instaurar processo disciplinar aos funcionários do Estado pagos pelo
seu cofre que não tenham foro especial, remetendo-o depois para decisão à autoridade competente…– n.º 9.º do artigo 36.º

49
Junta Geral

serviços florestais e licenças para corte, desbaste e derrama de árvores, entrada e


pastagem nos perímetros florestais e para o fabrico de carvão;
13.º aprovar as transferências de verbas orçamentais e os orçamentos
suplementares. Cabe também à Comissão a aprovação do orçamento ordinário
das juntas gerais, nas bases fixadas pela respetiva Junta Geral;
14.º aprovar as contas de gerência e remetê-las para julgamento.
Às Juntas Gerais, que tenham atribuições relativas a obras públicas, fiscalização
industrial e viação compete ainda:
1.º ordenar, precedendo vistoria, nos mesmos termos estabelecidos para
as Câmaras Municipais, a demolição ou beneficiação e o despejo dos edifícios
construídos à beira das estradas distritais sob a sua jurisdição, quando ameacem
ruína ou ofereçam perigo para a saúde pública;
2.º embargar obras nos lugares sujeitos à sua jurisdição, sem licença ou com
inobservância das condições desta211;
3.º estabelecer taxas pela ocupação temporária de lugares e terrenos de uso
e logradouro público na sua jurisdição, pelo aproveitamento dos bens, pastos e
frutos do logradouro comum de que sejam administradoras, pela concessão de
licenças e por quaisquer outros serviços administrativos;
4.º requerer a comparticipação financeira do Estado para a realização de
melhoramentos urbanos e rurais, obras de águas e saneamento previstos no plano
quadrienal e dotados no orçamento distrital;
5.º conceder alvarás de licença para exploração das indústrias insalubres,
incómodas, perigosas ou tóxicas que não sejam da competência das Câmaras
Municipais;
6.º conceder licenças212;
7.º conceder carreiras regulares ou provisórias de transportes coletivos213;
8.º determinar os locais de acesso, itinerários e demais normas de trânsito
dos veículos de transporte coletivo;
9.º fixar os horários das carreiras regulares e aprovar as suas alterações;
10.º aprovar as tarifas de automóveis pesados;
11.º autorizar a circulação de automóveis pesados nas estradas distritais.
Atento o disposto no artigo 38.º do Estatuto, compete ao presidente:
convocar reuniões extraordinárias da Comissão214; dirigir e orientar as reuniões;
elaborar o relatório anual da gerência da Comissão para ser presente à Junta Geral;

211 Cf. artigo 51.º n.º 22 do C. A.


212 O artigo 37.º elenca vários tipos de licença, cuja concessão cabia à Comissão Executiva: para edificações ou
reedificações junto às estradas e mais lugares públicos sujeitos à sua jurisdição e aprovar os respetivos projetos, fixando
o alinhamento, dando as cotas de nível e cedendo ou adquirindo os terrenos necessários ao referido alinhamento, para
instalações elétricas, de aproveitamento industrial, de aproveitamento de águas públicas para rega e outras licenças da
competência dos serviços industriais, hidráulicos e elétricos, para exploração de automóveis pesados de aluguer para
transporte de passageiros e mercadorias.
213 O decreto 37.272, de 31 de dezembro de 1948, aprovou o Regulamento de Transportes em Automóveis.
214 Nos termos do § I.º do artigo 340.º do C.A., este é um poder exclusivo do presidente da Comissão Executiva.

50
Junta Geral

elaborar o plano trienal da administração do distrito, para ser proposto à Junta


Geral e o plano anual da atividade da Comissão Executiva215; preparar as bases do
orçamento ordinário216; propor transferências de verbas orçamentais e orçamentos
suplementares217; remeter, à comissão distrital de contas, os atos sujeitos a visto218;
autorizar as despesas orçamentadas de harmonia com as deliberações da comissão
e após o competente visto da comissão de contas, quando necessário; poderes
administrativos, de superintendência e de fiscalização219; propor as alterações
necessárias na organização dos serviços distritais; representar a Junta220; executar
e fazer executar as deliberações da Junta e da Comissão221; publicar as resoluções,
posturas e regulamentos, anúncios e avisos e zelar pela sua execução222; assinar a
correspondência expedida pela Comissão; assinar cheques, mandados e recibos
para levantamentos de fundos da Junta223.
O presidente da Comissão Executiva corresponde-se com o Governo, por
intermédio do Governador do Distrito224 [artigo 39.º do Estatuto].
As Juntas Gerais tinham como serviços distritais225: a secretaria226, a
tesouraria227, os serviços agrícolas228, pecuários229, de saúde230, de obras públicas231,
indústrias e elétricos232, de viação233, o laboratório234.
O artigo 83.º do Estatuto determina que as receitas ordinárias são constituídas
por: a contribuição predial rústica e urbana; o imposto sobre a indústria agrícola;
a contribuição industrial; o imposto profissional; o imposto de capitais; o adicional
até 20 % das coletas das contribuições e impostos referidos; o imposto de trânsito;
o imposto de camionagem; os juros de mora; os adicionais que, por lei, devam
ser cobrados para a Junta Geral, com as contribuições diretas do Estado235; os

215 Cf. já atrás exposto, de acordo com os artigos 26.º n.º 6 e 27.º do Estatuto. O plano trienal cfr. DL n.º 49.189 de 14 de
agosto de 1969. Quer o plano trienal, quer os planos anuais devem ser elaborados em subordinação e coordenação,
respetivamente, com o plano de fomento nacional e os seus programas anuais de execução – vide § único do artigo38.º
do Estatuto.
216 Como já explicamos atrás, as bases do orçamento ordinário seriam depois aprovadas pela Junta Geral, cuja Comissão
executiva aprovaria mais tarde o próprio orçamento – artigo 26.º n.º 9 do Estatuto.
217 Cf. artigos 36.º n.º 13, 93.º n.º I e 99.º n.º 5 do Estatuto.
218 Vide artigo 93.º n.º 4 do Estatuto.
219 Tais como superintender os serviços de secretaria e tesouraria, o que compreendia o poder de advertir e repreender
verbalmente os funcionários e distribuir pelos vários serviços o pessoal, cf. artigos 42.º, 45.º, 46.º n.º 8 e 79.º § I.º do
Estatuto. Podia também inspecionar os demais serviços dependentes da Junta e transmitir-lhes as deliberações desta e
da sua comissão executiva.
220 O presidente representava a Junta Geral em juízo e fora dele – artigo 21.º do Código de Processo Civil.
221 Para o que podia expedir os alvarás, licenças e diplomas necessários.
222 Artigo 43.º n.º 10.º.
223 Depois de assinados pelo tesoureiro e visados pela contabilidade.
224 O artigo 5.º explica que o Governador do Distrito é o representante na sua circunscrição do Governo da República.
225 Artigo 40.º do Estatuto.
226 Regulado nos artigos 41.º a 43.º do Estatuto.
227 Artigos 44.º a 46.º do Estatuto.
228 Artigos 47.º a 52.º do Estatuto.
229 Artigos 53.º a 55.º do Estatuto.
230 Artigos 56.º a 59.º do Estatuto.
231 Artigos 60.º a 65.º do Estatuto.
232 Artigos 66.º a 69.º do Estatuto.
233 Artigos 70.º a 72.º do Estatuto.
234 Artigos 73.º a 75.º do Estatuto.
235 Estes adicionais correspondem aos do artigo 784.º do C. A.

51
Junta Geral

rendimentos de bens próprios, mobiliários e imobiliários; as taxas, emolumentos e


rendimentos dos serviços distritais; os produtos das multas cobradas pelos serviços
distritais em consequência da transgressão de posturas e regulamentos cuja
aplicação seja da sua competência; o produto da cobrança de créditos vincendos
no ano económico; outros rendimentos atribuídos por lei236.
É de salientar o disposto no artigo 84.º, de que a cobrança das contribuições
e impostos, adicionais e juros de mora será feita pelo Estado e o produto entregue
mensalmente às Juntas Gerais, à medida que vá sendo arrecadado. Como
compensação pela cobrança, a Junta pagará, ao Estado, 2% daquelas quantias
arrecadadas, fazendo-se logo a dedução em cada ordem de entrega de receita.
Porém, permite o Estatuto que, no primeiro trimestre de cada ano, a direção
de finanças possa fazer a entrega, em cada mês, à Junta, de 80% do duodécimo
previsto para as receitas por ela cobradas (§ 3.º do referido artigo 84.º). As Juntas
têm ainda outras receitas indicadas no artigo 85.º do Estatuto237.
São despesas obrigatórias (artigo 86.º): o vencimento do pessoal, as pensões
de aposentação, os encargos de empréstimos, as resultantes de contratos, as dos
litígios, as dos prémios de seguro de bens distritais, as de dotação dos serviços
distritais, as do pagamento de emolumentos pelo julgamento de contas, as da
hospitalização dos alienados238, as que resultam da instalação e manutenção dos
serviços do Estado postos a seu cargo239, as do expediente da comissão distrital de
contas240, as da instalação e conservação da direção de finanças e quaisquer outras
repartições distritais, as despesas de representação do governo do distrito, as que
nos distritos do continente estejam a cargo dos cofres privativos dos governos civis
e outras que a lei imponha241.
Embora o orçamento das Juntas gerais seja organizado de acordo com o C.
A.242, o Estatuto estabelece algumas especificidades, tais como:
- a classificação da receita ordinária (art. 87.º)243;
- a inscrição de despesas na rubrica de «dívidas passivas» (art. 88.º)244.
Cabe à Comissão Executiva (art. 89.º) transferir verbas do orçamento das

236 Redação introduzida pelo DL n.º 45.676, de 24 de abril de 1964.


237 As receitas dos cofres privativos e os emolumentos das secretarias dos governos civis e da polícia, as taxas e
emolumentos de passaportes, licenças de emigração e de agentes de emigração, as multas aplicadas pelas delegações
do Instituto Nacional do Trabalho e Previdência e pelos tribunais de trabalho e as receitas da delegação da Inspeção
Geral das Indústrias e Comércio Agrícolas. Também constituíam receitas da Junta, nos distritos em que custeasse o
ensino, … os rendimentos provenientes dos emolumentos das secretarias dos liceus e escolas, dos boletins de matrícula e
inscrição, propinas, requerimentos para exame, cartas de curso e venda de cadernos escolares…- § 1.º do artigo 85.º do
Estatuto. Ainda, nos distritos que tenham a seu cargo os serviços industriais, elétricos e de viação, as respetivas receitas
pertencem à Junta - § 2.º do mesmo preceito legal.
238 De acordo com o artigo 138.º do Código Civil, alienados são os indivíduos que por anomalia psíquica se mostrem
incapazes de governar a sua pessoa e bens.
239 Como sejam o governo civil, os estabelecimentos de ensino liceal e técnico, as escolas de magistério primário, a
delegação do INTP, o tribunal do trabalho, a direção do distrito escolar, o arquivo distrital do Funchal, e os vencimentos
do respetivo pessoal e do pessoal do ensino primário.
240 Cf. artigo 92.º § 4.º do Estatuto.
241 Cf. artigo 792.º do C. A.
242 Artigos 677.º e ss. do C. A.
243 Fixa como capítulos para a receita ordinária: 1.º contribuições e impostos; 2.º taxas – rendimentos de diversos serviços
e de bens próprios; 3.º consignação de receitas; 4.º reembolsos, reposições e dívidas ativas.
244 Naquela rubrica, só podem ser inscritas as que figurem na relação anexa à conta de gerência do ano anterior.

52
Junta Geral

despesas dentro da mesma classe245 e aprovar orçamentos suplementares246.


Porém, estas deliberações têm de ser aprovadas pelo governador do distrito,
ouvida a comissão distrital de contas247.
O Estatuto determina que a contabilidade distrital obedeça às normas
estabelecidas para a contabilidade municipal, mas permite que as Juntas
introduzam alterações que considerem indispensáveis nos seus regulamentos
privativos – artigo 90.º. Porém, o regulamento privativo da contabilidade terá de
ser aprovado pelo governador do distrito, depois de ouvir a comissão distrital de
contas – § único do artigo 90.º. Há ainda uma referência, no artigo 91.º, à forma
de cobrança dos rendimentos dos serviços administrativos e especiais da Junta248.
Neste contexto, temos a Comissão Distrital de Contas composta pelo diretor de
finanças, que preside, o delegado do Procurador da República na comarca da sede
do distrito e um vogal249 designado pelo governador (artigo 92.º). As suas funções
são obrigatórias e gratuitas. Tratam-se de funções consultivas250, de fiscalizar e

245 Não se permite portanto a transferência de verbas de capítulo para capítulo.


246 Cf. artigo 680 do C.A.
247 Cf. artigos 93.º n.º 1 e 99.º n.º 5.
248 Determina a norma que os mesmos serão sempre cobrados pela tesouraria, mediante guia passada na repartição onde
forem processados; excetuam-se os serviços com autonomia financeira.
249 O vogal será escolhido de entre pessoas com prática da administração distrital, de preferência formados ou licenciados
em Direito ou Ciências Económicas e Financeiras.
250 Compete-lhe dar parecer sobre: transferência de verbas e orçamentos suplementares da Junta (arts. 36.º n.º 13, 38.º n.º
6 e 99.º n.º 5 e § único), o regulamento privativo da contabilidade distrital (art. 90.º), dúvidas que a Comissão Executiva

53
Junta Geral

de visar251, nos termos do artigo 93.º, competindo-lhe, também, participar ao


Governador e aos tribunais competentes, os atos praticados pela Junta, Comissão
ou pelo seu presidente, sempre que desrespeitem o preceituado nesta norma
jurídica. Sublinhe-se que a denegação de visto pela comissão distrital de contas–
nos casos em que este é necessário – implica a anulação das deliberações ou
decisões (art. 96.º), mas dela cabe recurso pela comissão executiva da Junta Geral
para o Tribunal de Contas (art. 95.º). Mais, o Estatuto determina como sanção para
as nomeações e contratos feitos sem o visto, a da nulidade (art. 96.º § 2.º).

Considerações finais sobre os Códigos e a Junta Geral.

Estudado que foi o percurso legislativo da Junta Geral252, um dos órgãos da


administração pública portuguesa, desde 1837 a 1940, cabe concluir, sublinhando
as questões mais importantes, numa perspetiva comparativa. Desde logo e sob o
ponto de vista estritamente técnico jurídico, consideramos o Estatuto dos Distritos
Autónomos das Ilhas Adjacentes o mais completo e claro, na sua forma de redação.
Como refere Álvaro Monjardino253, … da mão de Marcelo Caetano, é um sistema
estruturado de normas que espelha a férrea disciplina do regime: uma autonomia
administrativa completamente balizada, assente numa filosofia corporativista do
Estado, sem veleidades nem fantasias, nem outras perspetivas que não sejam a
gestão das… dificuldades correntes e condicionada pelo mecanismo centralizador
do Ministério das Obras Públicas ….Na generalidade, realçamos o facto de que, em
todos os diplomas legislativos estudados, em regra, as funções desempenhadas
nos corpos administrativos serem obrigatórias e gratuitas254.
Com o liberalismo e a consagração de um Estado Constitucional – Constituição
de 1822 - e com as primeiras leis administrativas - decreto n.º 23 de 16 de maio de
1832255, e os Códigos Administrativos - começa uma nova forma de descentralização
e desconcentração de poderes … depois de uma tradição de autonomia ampla de
decisão no plano politico-administrativo, resultante da dificuldade de comunicações e
da própria estrutura relativamente descentralizadora do Antigo Regime, a tendência

tenha acerca da execução das disposições legais relativas à realização de despesas e da sujeição ao exame e visto.
251 Cabe-lhe examinar e visar: as minutas de todos os contratos de arrendamento, empreitada e concessão, bem como os
de fornecimentos por prazo superior a 1 mês, contratos de qualquer natureza, todas as deliberações e decisões que
envolvam abonos de qualquer espécie a pagar por verbas do orçamento distrital, incluindo as nomeações, mesmo
interinas, e as que concederem gratificações de carater permanente autorizadas por lei, mas sem limite fixo nela
expresso. Estão dispensados de visto: as autorizações e mandados para pagamento de vencimentos certos ou eventuais
inerentes, por disposição legal expressa, ao exercício de qualquer cargo e os abonos a pagar por verbas globais em
soldadas, férias e salários de pessoal operário. As formalidades para o exame e visto estão descritas no artigo 94.º do
Estatuto.
252 Ou como define o Estatuto dos Distritos Autónomos das Ilhas Adjacentes, é o órgão da administração distrital
autónoma, que exerce as suas atribuições e competência diretamente ou por intermédio de uma comissão executiva –
artigo 4.º.
253 Raízes da Autonomia Constitucional, in Estudos de Direito Regional, Lex, Lisboa 1997, p. 780.
254 O Código Administrativo de 1837 qualifica-as mesmo como honoríficas e talvez por isso estabeleça que os elegíveis
para a Junta tinham de possuir uma determina renda anual.
255 Decreto de MOUZINHO DA SILVEIRA. Segundo o aqui estipulado, a organização administrativa dividia-se em
província, comarca e concelho. A província era governada por um prefeito na Junta Geral da Província. A comarca,
por um delegado da Junta da Comarca e o concelho, por um provedor na Câmara Municipal do Concelho. Todos estes
governadores eram cargos de nomeação régia – OURIQUE, Arnaldo; in O Governo das Ilhas Portuguesas no Final
do Século XX; comunicação parcialmente apresentada no Colóquio “Portugal e a governação das Ilhas”, organizado
pela Universidade dos Açores, Universidade Nova de Lisboa e Câmara Municipal da Praia da Vitória, de 28 a 30 de
novembro de 2002; p. 202, http://www.estig.ipbeja.pt/~ac_direito/Arnaldo_Ourique.pdf. 54
Junta Geral

dominante desde o advento da monarquia liberal foi no sentido de integrar…


as Ilhas …num modelo jurídico-institucional e financeiro, que as aproximasse de
circunscrições e/ou autarquias e centros de decisão regionalizados…a tendência no
nosso liberalismo, monárquico ou republicano, foi no sentido de uma progressiva
centralização da Administração geral e da Administração financeira…256 Com a
reforma administrativa de Mouzinho da Silveira – decreto n.º 23, de 16 de maio de
1832 –, de inspiração francesa, as autarquias passam … a instrumentos do poder
central…, pretendendo-se … construir um aparelho administrativo ‘disciplinado,
obediente e eficaz’ para vencer as resistências à Razão e assegurar a necessária
centralização…257
Não se limitou, porém, a transpor o modelo francês, encontrando-se inscrita
no programa do partido liberal de 1822258. O Reino fica dividido em províncias,
comarcas e concelhos, geridos por administradores – Prefeitos, Sub-Prefeitos
e Provedores - todos nomeados pelo Rei, sendo as Juntas Eletivas quase que
meramente consultivas, não reconhecendo sequer as paróquias – que só mais
tarde passaram a designar-se por freguesias. Esta reforma provocou reclamações
gerais contra a perda de autonomia dos concelhos, sendo inclusive considerada
inaplicável em muitos aspetos…259. Em resposta, surgiu a lei de 25 de abril de 1835
que alargou os poderes das Câmaras, mas que, no que concerne à Junta Geral
apenas alterou a sua designação: de Junta Geral da Província, passou a Junta de
Distrito.
Com o Código Administrativo de 1836, a organização administrativa passa a
fazer-se pelos distritos, concelhos e freguesias. Neste diploma legal, as Ilhas da
Madeira e Porto Santo formaram o Distrito Administrativo do Funchal. Para além
do administrador geral, a Junta Geral, órgão deliberativo ou consultivo, é composta
por cidadãos eleitos indiretamente e que só eram elegíveis os cidadãos que, para
além das condições que enunciámos na especialidade, tivessem uma determinada
renda anual – requisito bastante limitativo. Por outro lado, as competências da
Junta, na época, eram tão limitadas e controladas pelo poder central260. Este
modelo administrativo vigorou nas Ilhas, com pequenas alterações261, até 1895.
Em 1840, a lei de 29 de outubro veio introduzir poucas alterações no
concernente às Juntas Gerais, traduzindo, porém, no seu articulado, um reforço da
centralização de poder.
O Código Administrativo de 1842 (aquele que esteve mais tempo em vigor
durante o constitucionalismo monárquico, de 1842 a 1878) carateriza-se também
por ser um diploma centralizador e, como dissemos aquando da sua análise, divide
o território apenas em distritos e concelhos. A freguesia passou a ser apenas uma

256 FRANCO, António de Sousa, As Finanças das Regiões Autónomas: uma Tentativa de Síntese, in Estudos de Direito
Regional, Lex, Lisboa 1997, p. 517.
257 AMARAL, Diogo Freitas do, Curso de Direito Administrativo, Volume I, 3.ª ed., Almedina, Coimbra, p. 109; cit. por
SILVA, Henrique Dias da, Reformas Administrativas em Portugal desde o Século XIX, p. 69.
258 Neste sentido, MARCELO CAETANO, Os antecedentes da Reforma Administrativa de 1832, in Revista da Faculdade
de Direito da Universidade de Lisboa, Ano XXII, 1968-1968, pp. 22 e 23.
259 SILVA, Henrique Dias, ob. cit. p. 70.
260 A este propósito, a possibilidade de contrair empréstimos tinha de ser autorizada pelas Cortes e a dependência quase
total do administrador geral que até pode, nas Ilhas, dissolver os corpos administrativos.
261 Umas vezes província ou distrito, ora Junta Geral ou junta distrital, tendo como órgãos distritais a junta e a comissão,
mas sempre com o representante do governo central: o governador civil.

55
Junta Geral

comunidade familiar e religiosa, sem caráter administrativo. As Juntas Gerais,


mantêm-se apenas com poderes consultivos e deliberativos muito limitados.
Realçamos a Lei da Administração Civil, aprovada pela carta de lei de 26 de
junho de 1866, com uma proposta algo descentralizadora, pela sua preocupação
em regular minuciosamente os corpos administrativos, especificando todos
os poderes e competências das Juntas Gerais do Distrito, estabelecendo regras
pormenorizadas quanto aos processos de eleição, os orçamentos ou a cobrança de
impostos distritais. Teve, porém, período de vigência muito curto, sendo declarada
sem efeito, pelo decreto de 14 de janeiro de 1868.
No Código Administrativo de 1886, destacamos a existência de um orçamento
distrital; a eliminação de alguns dos requisitos exigidos para os cidadãos eleitores e
elegíveis; as eleições passam a ser diretas e a dissolução dos corpos administrativos
não é tão discricionária; as atribuições ou competências da Junta são aumentadas,
mas mantém-se, em regra, como um órgão consultivo do Governo ou Governador
Civil, adquirindo porém algum poder deliberativo próprio; mantém a limitação
na contração de empréstimos e definem-se os impostos distritais (adicional às
contribuições diretas numa percentagem cujo valor máximo é fixado anualmente
pelas Cortes).
Em 1892, extinguem-se as Juntas Gerais – pelo decreto de 6 de agosto de
1892, extinção que se mantém no Código Administrativo de 1895, aprovado pela
carta de lei de 4 de maio de 1896.
Para José Dias Ferreira, a figura das juntas distritais carece de toda e qualquer
racionalidade: Desconhecida no antigo regimen, criada depois artificialmente,
esta constituição surgia de improviso para satisfazer o ideal doutrinário que, ao
lado de cada magistratura singular, colocava uma corporação colectiva; mas
nunca se aclimou bem entre nós, nunca fructeou no nosso país os resultados
que se esperavam dela, e as últimas reformas administrativas, cerceando-lhe
consideravelmente as faculdades e as atribuições, anunciavam para hora muito
próxima o seu total desaparecimento. Com efeito, desde que as juntas gerais de
distrito não intervêm nos serviços de agricultura e de viação distrital, e que, em
parte, se transferiu para as câmaras municipais o dos expostos e desvalidos, e se
permitiu a constituição de concelhos com organização especial, continuando a
faculdade de fazerem, uns com outros, acordos em assuntos de interesse comum,
a existência de tais corporações ficou, sem razão suficiente, condenada a sucumbir
logo que se entrasse desassombradamente no caminho da simplificação dos
serviços públicos e da redução das respectivas despesas262.
O legislador exalta, em seguida, as vantagens económicas da medida que
acaba de ser decidida: as juntas gerais votariam anualmente mais de 559 contos,
dos quais mais de metade destinados a encargos com empréstimos distritais, e
consumiriam cerca de 35 contos em ordenados. Em lugar das juntas, cria o decreto,
junto dos governadores civis, comissões distritais, compostas por 5 vogais eleitos
por delegados das câmaras em cada distrito e com reduzidas atribuições, sem

262 In Revista de Direito Administrativo de 15 de outubro de 1892, citado por J. B.S ERRA; As Reformas da Administração
local de 1872 a 1910; Análise Social, vol. XXIV (103-104), 1988 (4.º e 5.º), 1037 -1066, pp. 1052 e 1053.

56
Junta Geral

receitas nem património. Segundo M. Caetano263, desaparece a personalidade


jurídica do distrito … — nosso sublinhado — … Em contrapartida, o poder das
câmaras foi aparentemente reforçado em relação ao corpo administrativo distrital,
pois elas dominam agora o processo de escolha da comissão. Membros desta
última, todavia, apenas são elegíveis residentes no concelho capital de distrito. O
distrito passa a ser representado pelo governador civil, excepto em juízo em que
a representação cabe ao Ministério Público. Isto é, o governador civil acumula
em si tanto a representação dos interesses do poder central como a do distrito.
Finalmente, determina o diploma que o Estado cobre as percentagens sobre as
contribuições que as juntas votavam e que com esse produto satisfaça as anuidades
dos empréstimos distritais e outros encargos que para ele sejam transferidos264.
Referência merece ainda o decreto de 2 de março de 1895, publicado no Diário
do Governo n.º 50, de 4 de março de 1895, que permitiu apenas aos distritos dos
Açores manterem as Juntas Gerais265.
O Código Administrativo de 1896 mantém a extinção das Juntas Gerais e
transfere as suas funções tutelares266 para as Comissões Distritais, presididas pelo
Governador Civil respetivo, um auditor nomeado pelo Governo e 3 vogais eleitos.
Só em 1901, pelo decreto de 8 de agosto, é que se estende a aplicação do
regime de organização administrativa dos distritos açorianos ao distrito do
Funchal, ou seja, é aplicado à Madeira o previsto no sobredito decreto de 2 de
março de 1895, embora com algumas alterações introduzidas pela carta de lei de
12 de junho de 1901.
Mantém-se um regime controlado pelo governo central e algo gravoso para
os cidadãos do distrito do Funchal – veja-se nomeadamente o que dissemos sobre
a contribuição obrigatória para a conclusão das levadas, a acrescer aos impostos
distritais. Mais, a lei n.º 88 de 7 de agosto de 1913 obriga a Junta a pagar, ao
Estado, 5% sobre o produto da cobrança das contribuições (impostos distritais) e
estabelece que, para qualquer encargo criado, tem previamente de ser instituída
nova receita.
Entre 1926 a 1933, acentuou-se a centralização dos distritos ao poder
central267. Em 1928, o decreto n.º 15.035, de 16 de fevereiro ampliou a autonomia
dos distritos insulares – atribuiu às Juntas Gerais novas receitas e dispensou-as de
algumas despesas. Só que apenas esteve em vigor 5 meses… O decreto n.º 15.805
de 31 de julho de 1928 parece ampliar a autonomia administrativa dos distritos
insulares. Este decreto, assinado por Salazar, no que concerne à autonomia, …
aparentemente tem a lógica de alargar o conceito mas é o primeiro passo para
asfixiar financeiramente as Juntas Gerais…268 Expressamente revogou o decreto

263 CAETANO, MARCELO, A Codificação Administrativa em Portugal: Um Século de Experiência (1836-1935); Lisboa,
separata da Revista da Faculdade de Direito de Lisboa, 2.º ano.
264 SERRA, JOÃO B., ob. cit. p. 1052.
265 O que aconteceu nos distritos de Ponta Delgada (através do decreto de 18 de novembro de 1895) e no de Angra do
Heroísmo (pelo decreto de 6 de outubro de 1898). O distrito da Horta não optou por este regime, pelo que estes dois
distritos adquiriram um modelo de autonomia administrativa semelhante ao do Código Administrativo de 1886.
266 Por isso não têm orçamento e têm funções muito limitadas.
267 Neste sentido, SOUSA FRANCO, ob. cit. P. 518.
268 LEITE, José Guilherme Reis, A Autonomia dos Açores na Legislação Portuguesa, 1892 – 1974, Ed. Assembleia Regional
dos Açores, Horta 1987, p. 220.

57
Junta Geral

n.º 15.035, de 16 de fevereiro, supra referenciado.


Em 1940, faz-se o Estatuto Administrativo das Ilhas Adjacentes269, alterado
pelo DL n.º 36.453, de 4 de agosto de 1947 que, aparentemente, atribui mais
poderes às Ilhas. Na verdade, porém, o que acontecia era que a Junta podia criar
os seus serviços, mas a competência era do Governo; elaborava e aprovava os seus
orçamentos, mas a receita não cobria a despesa, para além do que os distritos
tinham de pagar 2% ao Estado (impostos distritais)270; podiam criar normas de
funcionamento próprias para os seus serviços, mas o Governo podia dar-lhes
orientações técnicas.
Este Estatuto revelou-se como extremamente severo e impeditivo do
desenvolvimento dos distritos a que se aplicava, nomeadamente pela excessiva
carga tributária imposta aos cidadãos residentes271.
A “autonomia” destes distritos apenas se traduzia …na existência de um
governador do distrito autónomo, nomeado pelo Governo, com poderes muito
reforçados em relação aos governadores civis do continente; e na ressurgida
existência de Juntas Gerais…a descentralização era limitada…272 No domínio
financeiro,… as Juntas Gerais arrecadavam o produto de alguns impostos gerais do
Estado (contribuição predial, contribuição industrial, imposto profissional, imposto
sobre capitais, etc.: art.º 83.º), estando as respectivas despesas sujeitas a exame
e visto de uma «comissão distrital de contas», que substituía o Tribunal de Contas
(art.º 92.º)… a descentralização era limitada e sempre meramente administrativa,
sem base nem conteúdo (democrático ou outro), além de ser evidente a asfixia
financeira…273. Era assim que o regime agravava o subdesenvolvimento, com um
enorme fluxo emigratório.
Como afirma Reis Leite274, esta legislação para a organização legislativa nas
Ilhas Adjacentes insere-se … no imobilismo característico da legislação fundamental
do Estado Novo, assim havia de permanecer até ao fim do regime em 1974.
Foi toda esta situação legislativa, fortemente sancionatória e repressiva,
que contribuiu para o aparecimento nas Ilhas de várias … correntes de opinião
ideológicas ou cívico-políticas, umas reivindicando maior autonomia, outras
defendendo mesmo o separatismo…275 Foi a autonomia o conceito que prevaleceu
e que foi consagrado na Constituição da República Portuguesa de 1976, ligado
também ao regime político-administrativo dos arquipélagos dos Açores e da
Madeira e fundado especialmente no interesse específico de cada uma destas
regiões.

269 Já que o Código Administrativo de 1936 diz expressamente que não se aplica às Ilhas Adjacentes.
270 Relembramos que a cobrança dos impostos era feita mensalmente pelo Estado, que cobrava os referidos 2% por este
serviço e que eram imediatamente deduzidos, antes da entrega da receita às Juntas.
271 Refira-se o estipulado no artigo 83.º, que permite um adicional até 20% sobre as coletas de contribuições e impostos,
para além dos impostos diretos a que estavam sujeitos.
272 SOUSA FRANCO, ob. cit. pp. 518 e 519.
273 SOUSA FRANCO, ob. cit. p. 519.
274 Ob. cit., p. 351.
275 SOUSA FRANCO, ob. cit. p. 519.

58
Junta Geral

Junta Geral, hoje sede


1821-1974 do Governo Regional
ADMINISTRAÇÃO PERIFÉRICA DO ESTADO da Madeira.

A Revolução Liberal havia conduzido a profundas alterações no quadro


institucional do arquipélago, tendo as mais significativas ocorridas a partir da
década de trinta. Com efeito, em 1832, foi criada a Junta Geral como o órgão da
administração distrital, com competências nas áreas da instrução pública, fomento
industrial e agrícola e obras públicas. As Juntas Gerais tiveram origem nas Juntas
Gerais de Província, criadas a 16 de maio de 1832, por José Xavier Mouzinho da
Silveira, mas que não se concretizaram na prática. De acordo com o decreto de 28
de junho de 1833, Portugal e as Ilhas Adjacentes eram divididos em 8 províncias,
40 comarcas e 796 concelhos. A Junta Geral de Província era constituída por
treze Procuradores eleitos pelas Câmaras Municipais. A Comissão Administrativa,
composta por três membros, era eleita por estes. O caráter centralizador desta lei,
ao arrepio da secular tradição municipalista portuguesa, suscitou violentas críticas
que fizeram com que este sistema fosse afastado logo em 1835, ainda antes de ter
sido totalmente instalado. As Juntas Gerais de Província, dada a sua complexidade

59
Junta Geral

de nomeação, não chegaram a ter existência real digna de registo e muito menos
ação política. Esta época – mais do que outras - foi marcada por uma intervenção
de madeirenses na política e governo das finanças da metrópole: José Gualberto
de Oliveira (1788-1852), 1º barão e conde de Tojal, foi Ministro e Secretário de
Estado dos Negócios da Fazenda por diversas vezes, entre 1837 e 1847276.

A JUNTA E A MONARQUIA CONSTITUCIONAL

A Constituição de 1822 é um documento ilustrativo das mudanças operadas


nesta fase, onde a força das novas ideias, aliada à influência dos interesses
económicos de uma burguesia comercial e financeira em ascensão, permite
superar divisões, que, já então se fazem sentir no campo liberal. Assiste-se à
passagem das forças apegadas ao «Portugal velho» rural e senhorial277, marcado
pela aliança entre o absolutismo régio e os poderes senhoriais e eclesiásticos para
um novo sistema, assente no pluralismo das expressões dos diferentes interesses
e grupos sociais. A sociedade portuguesa ensaia, assim, os seus primeiros passos
na cena da política, tal como é modernamente entendida, com os seus líderes,
os seus projetos, os seus órgãos de imprensa, os seus clubes e associações, uma
opinião pública em formação e a Câmara dos Deputados como centro dos debates
e confrontos entre fações, sucessivos governos nomeados e demitidos278.
Derrubado o frágil regime constitucional vintista, em 1823, seria reinstaurado
um absolutismo ainda matizado pela moderação de D. João VI. Após a sua morte,
D. Pedro outorga a Carta Constitucional, mais moderada do que a Constituição
de 1822. Mas com D. Miguel, a reação absolutista tomaria o poder em 1828 e a
guerra civil assolará, desde então, o país, até à vitória liberal, em 1834. Com o fim
da guerra, o campo liberal divide-se em várias fações que disputam violentamente
o poder. Sucedem-se os governos e as intervenções militares. Em 1842, o chamado
«partido da ordem» encabeçado por Costa Cabral, derruba a Constituição de
1838 e restaura a Carta. Quatro anos mais tarde, porém, seria ele o derrubado.
O país é, de novo, campo de uma guerra civil generalizada que só terminaria em
meados de 1847. Após uma rápida e nova passagem de Costa Cabral pelo poder,
Saldanha, através de mais um pronunciamento, em 1851, abrirá uma época de
relativo progresso que ficaria conhecida por «Regeneração». Este golpe militar que
congregou cartistas moderados e setembristas contra Costa Cabral, vai inaugurar
um novo período na vida da monarquia liberal. Cansada dos conflitos ideológicos,
a classe política decide-se por uma atitude pragmática virada para os desafios
do progresso material num momento em que por toda a Europa se faz sentir a
industrialização. A Regeneração não era mais uma tentativa de reordenamento

276 Exerceu as referidas funções por quatro períodos distintos: 01-06-1837/16-04-1837; 12.03.1841/08.06.1841;
24.02.1842/20.05.1846; 20.02.1847/22.08.1847. Foi ainda Ministro dos Negócios Estrangeiros, no período de 1849-51.
Entretanto, de 1834 a 1843, foi um parlamentar de relevo em representação da Madeira onde atuou como deputado
(1834-36), senador (1838-40, 1840-42) e par do reino (1843). Sobre a sua ação cf. MAIOR, Antonio da Cunha Souto,
1843, Hontem, Hoje e amanhã visto perlo direito, Lisboa; 1847. Livro Azul ou Correspondencia relativa aos negocios de
Portugal apresentada em ambas as camaras inglezas. Lisboa, p.193.
277 MARQUES, 1989, Do Vintismo ao Cabralismo, p. 23.
278 REIS, 1989 (dir.), Portugal Contemporâneo, Vol I, p. 17.

60
Junta Geral

político mas um projeto de reconciliação nacional com vista ao desenvolvimento


industrial do País.
Numa primeira fase, nomeadamente até 1890, os ventos parecem favoráveis
ao projeto regenerador mas, numa segunda fase, a palavra crise impõe-se
no vocabulário do quotidiano da sociedade portuguesa. Se até os anos 70, o
panorama político-social é hegemonizado pelas elites da ordem estabelecida,
num segundo momento, constata-se que, pela primeira vez, surgem forças
exteriores ao sistema: republicanos, socialistas e toda a geração de intelectuais,
que iniciam a sua crítica global, introduzindo as sementes da dúvida e do conflito,
num projeto até então largamente consensual. O rotativismo partidário foi a
solução política encontrada para garantir a estabilidade e a execução do projeto
regenerador. Cartistas moderados e anteriores adeptos do cabralismo agruparam-
se no Partido Regenerador, de feição mais conservadora, enquanto antigos
setembristas promoviam a formação do Partido Histórico, mais tarde (1876)
designado Progressista, após fusão com o Reformista, de curta vida, mas que se
apresentava herdeiro das correntes mais liberais. As diferenças ideológicas de uns
e outros não tinham correspondência nas respetivas práticas políticas, sempre
muito próximas. A emergência de correntes políticas e partidárias exteriores ao
sistema ficava assim largamente facilitada, a partir do momento em que o próprio
processo de industrialização arrastava consigo uma maior conflitualidade social, a
exigir correspondente protagonismo político.
A fórmula rotativista foi a solução mais eficaz para um projeto
desenvolvimentista. Tinha, contudo, um problema: a substituição dos governos
obedecia não a um saudável e democrático princípio de alternância em função do
sucesso ou insucesso governativo de cada partido, mas a prévios arranjos entre os
partidos em causa e o rei, que promoviam a passagem de testemunho, limitando-
se as novas eleições a sancionar a substituição assim operada. Assiste-se, deste
modo, a mandatos não concluídos e raramente um executivo e uma Câmara
chegavam ao fim do seu mandato. A dança dos círculos eleitorais e do seu caráter
uninominal ou plurinominal, com ou sem representação de minorias, possibilitava
a formação das maiorias desejadas por cada governo279.
A partir de 1890, a crise política desencadeada pelo ultimato inglês e agravada
com a crise financeira do mesmo ano, vem agudizar os fatores de degenerescência
do sistema implantado com a Regeneração e facilitar a ascensão daquela que
será a maior força exterior a esse sistema: o Partido Republicano. Os escândalos
das divisões dos círculos eleitorais, a corrupção administrativa, as dissidências
nos próprios partidos do rotativismo, a ditadura de João Franco, o regicídio,
a instabilidade governativa que se lhe segue são sucessivos episódios de um
irreversível processo de decadência do liberalismo monárquico, de que o Partido
Republicano soube tirar eficaz proveito a cada momento. Houve, efetivamente,
uma capitalização do descontentamento dos meios intelectuais e constitui-
se progressivamente como a grande alternativa ao desacreditado sistema de
monarquia liberal280.

279 REIS, 1989 (dir.), Portugal Contemporâneo, Vol II, p. 7.


280 REIS, 1989 (dir.), Portugal Contemporâneo, Vol II, p. 8.

61
Junta Geral

Com a Reforma Administrativa Liberal, foi instituída, em 1832, a província


da Madeira a que se seguiu, em 1835, o Distrito do Funchal, para as ilhas do
arquipélago da Madeira e do Porto Santo. A chefia foi atribuída a um Governador
Civil, representante do Governo Central e a uma Junta Geral de Distrito com
poderes de administração.
De acordo com o decreto de 28 de junho de 1833, Portugal e as Ilhas Adjacentes
eram divididos em 8 províncias, 40 comarcas e 796 concelhos. A Junta Geral de
Província era constituída por treze Procuradores eleitos pelas Câmaras Municipais
que, por sua vez, elegiam a Comissão administrativa, composta por três membros.
O caráter centralizador desta lei, ao arrepio da secular tradição municipalista
portuguesa, suscitou violentas críticas que fizeram com que este sistema fosse
afastado logo em 1835, ainda antes de ter sido totalmente instalado. A chefia foi
atribuída a um Governador Civil, representante do Governo Central e a uma Junta
Geral de Distrito com poderes de administração.
A Junta Geral era o órgão deliberativo da administração distrital, com
competências nas áreas da instrução pública, fomento industrial e agrícola e
obras públicas. A sua capacidade de intervenção estava limitada por força do seu
orçamento. A única fonte de receita assentava no imposto sobre as estufas de
vinho, criado em 1806, e na contribuição anual de cinco dias de trabalho ou de
mil réis para as obras de construção e reparo dos caminhos. A isto juntavam-se
algumas dádivas particulares e o lançamento de fintas entre todos os moradores.
A Junta Geral era o órgão deliberativo da administração distrital, com
competências nas áreas da instrução pública, fomento industrial e agrícola e
obras públicas. A sua capacidade de intervenção estava limitada por força do seu
orçamento. A única fonte de receita assentava no imposto sobre as estufas de
vinho, criado em 1806, e na contribuição anual de cinco dias de trabalho ou de
mil réis para as obras de construção e reparo dos caminhos. A isto juntavam-se
algumas dádivas particulares e o lançamento de fintas entre todos os moradores.
Por alvará de 13 de maio de 1838, foi criada uma comissão municipal para
administração das obras das estradas e caminhos. Esta comissão era eleita no início
do biénio, tal como preceituava a lei de 6 de junho de 1864. Segundo o seu relatório
do ano de 1838, contou com uma verba de 9.927$938 réis, sendo 67% do imposto
das estufas e o restante da contribuição de trabalho. Esta verba era insuficiente
para acudir às diversas despesas com reparo das estradas, nomeadamente em
épocas de aluvião. Além disso, a partir de 1856, a Junta deixou de poder contar
com o imposto das estufas que fora extinto. Assim, em 1846, a dívida era superior
a três mil reis. Por outro lado, a Comissão quase só tinha capacidade de proceder a
pequenos reparos, devendo socorrer-se de subscrições públicas para a realização
de grandes obras, como a ponte do Ribeiro Seco e a Estrada Monumental até
Câmara de Lobos.
No âmbito de intervenção da Junta, estavam ainda a cadeia pública, a instrução
e a assistência, com particular significado para os expostos. A assistência aos
expostos fazia-se com base na receita resultante de uma finta lançada anualmente
entre todas as Câmaras, pelo valor das contribuições predial e industrial, sendo
votadas em reunião, mediante proposta apresentada pelo Governador Civil. De

62
Junta Geral

acordo com leis de 23 de junho de 1863 e 11 de junho de 1864, sabemos que esta
correspondia a 8% da referida receita do impostos municipais em causa.
A lei de 1 de julho de 1867 estabeleceu a obrigatoriedade de uma nova cadeia
pública em cada distrito, mas o Estado não provia os meios para tal, ficando o
seu funcionamento a cargo do magro orçamento da Junta. Assim, foi criada uma
comissão para o efeito que apresentou uma proposta de empréstimo, de 25 contos
de reis, aprovada pela Junta. Verba aliás insuficiente, pois não dava para a compra
dos terrenos previsto ou para, em alternativa, proceder à adequação do castelo de
S. João Baptista para o efeito.
A exiguidade da receita atribuída à Junta levava a que esta funcionasse em
precárias condições, num edifício mobilado do Governo Civil. No ano económico
de 1872-1873, houve necessidade de comprar mobiliário para as reuniões da
Junta, pois a existente, de empréstimo, encontrava-se em mau estado. A despesa
foi repartida por este ano económico e os seguintes. Aqui ficam claras as condições
precárias de funcionamento de uma instituição tão importante para a ilha, numa
época em que a sua intervenção se deveria fazer sentir nos diversos setores que
lhe estavam acometidos.
Todos os Governadores Civis que presidem à Junta manifestam grande
preocupação em acudir a todas as situações e compromissos deste órgão, mas
faltava sempre o dinheiro, pois a receita consignada era exígua e não havia qualquer
atenção da parte do poder central aos seus incessantes lamentos e pedidos de
apoio. Em março de 1878, o Governador Civil, Afonso de Castro, afirmava: Não
tem o distrito caminhos de ferro, não tem estradas carroçáveis, não há aqui pontes
monumentais, longos canais, soberbas construções urbanas, e, portanto, não é
muito que peça, que inste por uma pequena doca no porto do Funchal, onde não
há o mais pequenos melhoramento. Mas quem o ouvirá, para além dos delegados
da Junta que aprovaram o seu relatório?
Olhando ao estado calamitoso da agricultura, dada a crise provocada pela
filoxera, reclama a necessidade de melhoria das comunicações, uma vez que Sem
meios de transporte fáceis e baratos, não são possíveis os progressos agrícolas.
Mas, para que isso aconteça, é necessário um esforço do Governo, pelo que pede
que o poder central venha em nosso auxilio, mas de um modo mais eficaz, do
que até hoje o tem feito...é preciso que o governo seja menos generoso com este
distrito, do que o tem sido para com os outros.
Entretanto, a 6 de agosto de 1892, esta Junta foi extinta, mas os problemas
de administração e de falta de atenção das autoridades continuaram, sofrendo um
agravamento que provocará diversas e insistentes reclamações dos madeirenses.
Foi preciso a visita de D. Carlos à Madeira, para que a Ilha visse reinstalada, pelo
decreto de 8 de agosto de 1901, a Junta Geral, a exemplo do que havia já sucedido,
em 1895, nos distritos de Angra do Heroísmo e Ponta Delgada. De acordo com o
decreto de 12 de junho de 1901, a Junta terá uma comissão distrital composta
por um presidente e dois vogais. Aumenta-se, assim, a capacidade de intervenção
deste órgão, reforçando a sua receita. Esta passará a contar com o produto liquido
das despesas de cobrança, das contribuições diretas arrecadas no distrito, predial,
industrial, de renda de casas e sumptuaria, e dos adicionais que sobre cada uma

63
Junta Geral

delas incidam ou venham a incidir ou das que as substituírem. Visita de El-Rei D.


Carlos à Madeira,
Para este período de atividade, a informação financeira é precária. Faltam em 1901.
os orçamentos e apenas dispomos da conta a partir de 1837 (Cf. em anexo). Na
verdade, a Junta só foi instalada a 29 de julho de 1836, por força do decreto de 28
de junho. Os dados da conta evidenciam que a sua intervenção é mais de caráter
social, sendo descurada a intervenção em obras públicas. Tenha-se em conta que,
apenas no período de 1837 a 1852, marcado por grandes dificuldades e uma
situação de fome, as obras públicas tiveram algum incremento como forma de
ocupar a mão-de-obra inativa e travar o processo de emigração. Um dos aspetos
que mais chama a atenção prende-se com o baixo valor atribuído às despesas de
funcionamento, que só começam a subir a partir de 1880 e que, com a República,
se consolidam como uma despesa destacada.
Os meios financeiros da Junta não permitiam grandes realizações em termos
de obras públicas e, quando isto tinha de acontecer, a mesma deveria socorrer-se
de empréstimos, tal como sucedeu entre 1913-16. Tenha-se em conta que, no ano
de 1914, estes representavam mais de metade do valor da receita. Por outro lado,
as transferências do Estado são reduzidas e irregulares até 1925, o que indica não
existir um compromisso do governo Central no sentido de prover, com assiduidade,
as carências financeiras da Junta. Isto quer dizer que estamos perante um quase
total alheamento e a inexistência de retorno financeiro das receitas geradas no
arquipélago.
O período que decorre de 1837 a 1892 é marcado por uma quase inexistência

64
Junta Geral

de receitas próprias, que só melhora a partir de 1921. A Junta ia buscar os seus Evocação do Quinto
meios de financiamento às Câmaras Municipais e a alguns impostos, que depois Centenário do
Descobrimento da
usava para pagar as despesas com obras públicas, segurança e beneficência. Madeira. 1922.
Já no período que medeia entre o início da autonomia administrativa da Junta
Geral e o regime autonómico da Ditadura Militar (1903-1927), com o alargar das
competências e equivalentes despesas, é manifesta a dificuldade em conseguir
a receita necessária ao seu funcionamento. Desta forma, a Junta apresenta-se
incumpridora perante os funcionários, beneficiários, prestadores de serviços e
fornecedores.
No quadro estrito da tributação para este período, temos a criação por
lei de 1 de julho de 1863 da Conservatória do Registo Predial para registos de
propriedades, domínios e direitos, hipotecas e encargos. Entretanto, por decreto
de 14 de abril de 1869, que estabelecia a nova orgânica do Ministério da Fazenda,
foram criadas as repartições da fazenda, uma por cada distrito, que ficavam a cargo
de um delegado do Tesouro, em vez dos Escrivães da Fazenda. As Comarcas tinham
à sua frente um subdelegado do Tesouro. Com a República, houve a reorganização
dos serviços das Finanças, por decreto de 26 de maio de 1911281. Em 1927, temos
referências ao cargo de Director de Finanças.
Foi preciso a visita de D. Carlos à Madeira, para que a Ilha visse reinstalada,
pelo decreto de 8 de agosto de 1901, a Junta Geral, a exemplo do que havia já
sucedido, em 1895, nos distritos de Angra do Heroísmo e Ponta Delgada. De
acordo com o decreto de 12 de junho de 1901, a Junta terá uma comissão distrital

281 Organização dos serviços de finanças nos districtos e concelhos do continente da república e ilhas adjacentes: decreto com
força de lei de 26 de maio de 1911. Lisboa: Imp. Nacional, 1911.

65
Junta Geral

composta por um presidente e dois vogais. Aumenta-se, assim, a capacidade de


intervenção deste órgão, reforçando a sua receita. Esta passará a contar com o
produto liquido das despesas de cobrança, das contribuições diretas arrecadas no
distrito, predial, industrial, de renda de casas e sumptuaria, e dos adicionais que
sobre cada uma delas incidam ou venham a incidir ou das que as substituírem.
A partir de 1901, a Madeira passou a contar, a exemplo dos Açores, de
autonomia administrativa com o restabelecimento da Junta Geral. Todavia, as
condições de instabilidade política deste primeiro quartel do século XX, associadas
às limitadas competências e capacidades financeiras da Junta, não permitiram que
deste novo regime administrativo surgissem intervenções tão favoráveis quanto
eram as esperanças dos autonomistas madeirenses. Tanto mais que na década
de vinte, aproveitando a evocação do quinto centenário do descobrimento da
Madeira, foi um momento de debate por mais e melhor autonomia, revelando a
insatisfação da elite política da ilha.
O período em análise foi marcado por duas mudanças políticas: a 5 de outubro,
a implantação da República e a 28 de maio de 1926, o golpe militar que estabeleceu
o governo da Ditadura e abriu o caminho para o Estado Novo (1933-74), cujos
efeitos na questão financeira não foram significativos. Foi com a chegada de Salazar
ao poder, primeiro como Ministro das Finanças (1928-1932) e, depois, como Chefe
do Governo (1932-69), que tivemos alterações significativas no quadro político
da região, com a reforma do estatuto, assim como na alteração das estruturas
financeiras e tributárias, com reflexos evidentes para a vida dos madeirenses.

66
Junta Geral

Figuração da República.
Teto do antigo
Seminário do Funchal.

1911-1926. República.

A primeira Guerra Mundial agravou as condições de vida dos madeirenses,


pela falta de movimento no porto e disponibilidade de bens de subsistência282. Foi
ela que provocou a saída dos alemães, com uma posição relevante no comércio do
bordado, cujo efeito se fez refletir apenas no ano de 1916, tal como nos informam
os valores da exportação. Em 1915, as receitas da exportação do bordado foram
de apenas 201 contos, passando para apenas 29, no ano seguinte, mas subiram
no ano imediato, para 702 contos. Em 1912, voltará a sentir-se outra quebra
momentânea, mas esta foi provocada pela colera-morbus que alastrou a toda a
ilha e que, em 1911, vitimou muitas das bordadeiras. Os dados disponíveis sobre
a exportação para o período da guerra provam precisamente o contrário do que

282 (…) d’entre todas as cidades do mundo, o pobre e abandonado Funchal é uma das grandes victimas da guerra. Porto de
mar, n’uma ilha bem collocada no Atlantico (…) o Funchal tinha de se ressentir profundamente n’este período afflictivo de
intranquilidade, penúria e miséria em que a humanidade se contorce e debate (Ferreira, 1921, p. 154).

67
Junta Geral

é comum afirmar-se. A guerra não provocou qualquer crise no bordado que


continuou a ter mercado garantido e encontrou, nos sírios, os perfeitos substitutos
dos alemães. Aliás, o período foi de prosperidade para o bordado, sendo os anos
vinte o momento de plena afirmação nas exportações283.
Com a República, não se estabeleceram alterações significativas ao sistema
vigente. A lei n.º 88 de 7 de agosto de 1913, quanto aos distritos da Madeira
e Açores confirma o que está estabelecido no decreto de 2 de março de 1895,
nomeadamente os artigos 28, 29, 30, 31 e 32. Apenas se acrescenta, no parágrafo
6, que As Juntas pagarão ao Estado, como compensação pela cobrança das
contribuições, 5 por cento das quantias arrecadas, cuja dedução será feita em cada
ordem de entrega de receitas, assinada pelo inspector de finanças.
É óbvio que estas condições nunca satisfizeram madeirenses e açorianos
e, ao longo do tempo, foram surgindo propostas de alargamento da autonomia
financeira. Na década de vinte, surgiram diversas propostas nesse sentido. Assim,
para os Açores, Francisco d’ Athayde de Faria e Maia apresenta, em 1921, um
projeto onde contempla, no campo financeiro, como receita distrital os impostos
ou rendimentos de todas as origens e designações, gerais ou locais que neles se
cobrarem ou arrecadarem...284
Para este período de atividade, a informação financeira é precária. Faltam os
orçamentos e apenas dispomos da conta a partir de 1837 . Na verdade, a Junta
só foi instalada a 29 de julho de 1836, por força do decreto de 28 de junho. Os
dados da conta evidenciam que a sua intervenção é mais de caráter social, sendo
descurada a intervenção em obras públicas. Tenha-se em conta que, apenas no
período de 1837 a 1852, marcado por grandes dificuldades e uma situação de
fome, as obras públicas tiveram algum incremento como forma de ocupar a mão-
de-obra inativa e travar o processo de emigração. Um dos aspetos que mais chama
a atenção prende-se com o baixo valor atribuído às despesas de funcionamento,
que só começam a subir a partir de 1880 e que, com a República, se consolidam
como uma despesa destacada.
Os meios financeiros da Junta não permitiam grandes realizações em termos
de obras públicas e, quando isto tinha de acontecer, a mesma deveria socorrer-se
de empréstimos, tal como sucedeu entre 1913-16. Tenha-se em conta que, no ano
de 1914, estes representavam mais de metade do valor da receita. Por outro lado,
as transferências do Estado são reduzidas e irregulares até 1925, o que indica não
existir um compromisso do governo Central no sentido de prover, com assiduidade,
as carências financeiras da Junta. Isto quer dizer que estamos perante um quase
total alheamento e a inexistência de retorno financeiro das receitas geradas no
arquipélago.
O período que decorre de 1837 a 1892 é marcado por uma quase inexistência
de receitas próprias, que só melhora a partir de 1921. A Junta ia buscar os seus
meios de financiamento às Câmaras Municipais e a alguns impostos, que depois
usava para pagar as despesas com obras públicas, segurança e beneficência.
283 As vendas que, em 1906, não suplantavam os 6 contos atingem, em 1924, os 100.000 contos. Em 1923, o bordado ocupava
mais de 70.000 madeirenses e o comércio era garantido por 100 casas que o exportavam para a América do Norte, Canadá,
Inglaterra, França.
284 LEITE, J. G. R, 1987, A Autonomia dos Açores na Legislação Portuguesa. 1892-1947, Horta, p.192.

68
Junta Geral

Já no período que medeia entre o início da autonomia administrativa da Junta


Geral e o regime autonómico da Ditadura Militar (1903-1927), com o alargar das
competências e equivalentes despesas, é manifesta a dificuldade em conseguir
a receita necessária ao seu funcionamento. Desta forma, a Junta apresenta-se
incumpridora perante os funcionários, beneficiários, prestadores de serviços e
fornecedores.
Entretanto, a República trouxe-nos a novidade de uma nova estrutura
de coordenação económica da iniciativa do Visconde da Ribeira Brava que, em
muitos aspetos, colidia com a atividade da Junta Geral. Em 1911, surgiu a Junta
Agrícola, como organismo de coordenação de grandes empreendimentos, em prol
das melhorias da atividade agrícola e do turismo. Depois, em 1913, surgiu a Junta
Autónoma das Obras do Porto do Funchal, pela lei n.° 89, 13 de agosto de 1913,
para pôr em marcha o projeto de construção do porto oceânico. Com a República,
surgiram as chamadas Juntas Autónomas das Obras dos Portos, com o objetivo
de promover a política portuária em todo território nacional. Estas eram dirigidas
pelos Presidentes dos respetivos municípios, e, no caso da Madeira e Açores,
pelos Presidentes das Juntas Gerais do Distrito que tinham a função de gerir os
portos e proceder a todas as obras de construção e beneficiação. A partir de
1926, estabeleceu-se a reforma da política portuária, com a publicação de nova lei
orgânica destas juntas, a 8 de dezembro de 1927 e regulamento a 19 de dezembro
do mesmo ano.

1926-1974. Governo da Ditadura e Estado Novo.

São várias as situações que marcam a História da Junta Geral, neste período.
Relevamos apenas algumas datas mais significativas. Assim no quadro da estrutura
administrativa tivemos:
1928: Decreto procedendo à revisão da Autonomia Administrativa, atribuindo
novos recursos financeiros à Junta Geral do Distrito, através de vários
aumentos de receitas.
- Decreto ampliando a descentralização da Administração Pública insular,
atribuindo novas competências à Junta Geral do Distrito, mas sem
o simultâneo aumento de recursos financeiros. António de Oliveira
Salazar era já então Ministro das Finanças.
1939: Decreto aprovando a lei orgânica dos serviços da Junta Geral do Distrito
do Funchal.
- II Guerra Mundial.
1940: Promulgação do Estatuto dos Distritos Autónomos das Ilhas Adjacentes.
1947: Decreto-lei altera o Estatuto dos Distritos Autónomos das Ilhas
Adjacentes.
As reformas do sistema político na Ditadura e depois no Estado Novo refletem-
se, de forma clara, na definição do quadro institucional do arquipélago.
69
Junta Geral

1936: a Junta Autónoma das Obras do Porto do Funchal passa a designar-se


Junta Autónoma dos Portos do Arquipélago da Madeira;
- Criação da Junta Nacional dos Lacticínios da Madeira, a que se seguiu uma
convulsão popular conhecida como Revolta do Leite.
1943: Criação da Comissão Administrativa dos Aproveitamentos Hidráulicos da
Madeira, para dar execução ao Plano dos Aproveitamentos Hidráulicos.
1969: No âmbito do programa das denominadas «Regiões de Planeamento»,
é criada a «Região da Madeira», a qual funcionaria como Comissão
Consultiva Regional, incumbida de realizar planos de desenvolvimento,
a própria Junta Geral do Distrito.
Com o 25 de abril de 1974 inicia-se uma nova etapa no quadro político-
institucional que marca inúmeras alterações na Região. Para o interlúdio,
que antecede a afirmação da autonomia política administrativa e
financeira, temos:
1974: A Comissão Administrativa dos Aproveitamentos Hidráulicos da Madeira
é transformada numa empresa pública, passando a ser designada
Empresa de Eletricidade da Madeira.
1975: Criação da Junta de Planeamento da Madeira.
1976: Criação da Junta Governativa e de Desenvolvimento Regional.
- Constituição da República Portuguesa consagra o princípio da Autonomia
político-administrativa do Arquipélago da Madeira.
- eleições para os deputados da Assembleia Regional da Madeira.
- I Governo Regional da Madeira.
A conjuntura social e política foi marcada primeiro pelas dificuldades da
década de trinta com:
1930: Falência das casas bancárias Henrique Figueira da Silva e Sardinha & Ca.
1931: Revoltas da Farinha e da Madeira.
1936: Revolta do Leite.
Depois, no quadro das relações entre a Região e o Estado, a correspondência
trocada entre personalidades destacadas no sistema:
1935: correspondência trocada entre o Dr. João Abel de Freitas e o Dr. Oliveira
Salazar.
A Constituição, aprovada em 11 de abril de 1933, estabelecia para as ilhas uma
administração especial (artigo 124 § 2º), só regulamentada pela lei n.º 1967 de 30
de abril de 1938, que está muito distante destes propósitos285. No preâmbulo da
lei, refere-se que a geografia obrigara a esta descentralização e desconcentração,
em benefício dos povos e com vantagem para a boa administração. As reclamações
dos insulares fizeram com que o governo da ditadura atendesse, em 1928, com

285 Atente-se às intervenções dos deputados na Assembleia Nacional: Diário da Assembleia, n.º 164, pp. 404-405, de 3 de
março de 1038 (intervenção do deputado Favila Vieira); n.º 165, pp. 416-422, de 4 de março de 1938 (intervenção do
deputado Hintze Ribeiro ).

70
Junta Geral

alterações significativas, através da descentralização de muitos serviços. Uma vez


mais, choveram reclamações, porque as receitas eram insuficientes, continuando
o legislador a negar a possibilidade de usufruto total das receitas fiscais: Formam
as ilhas adjacentes um todo com o continente, é o mesmo o seu sistema de
administração e governo, como o mesmo é o grau de, civilização dos habitantes
e de progresso social: seria, pois, contrário ao bem comum consagrar uma forma
egoísta de plena autonomia financeira que parecesse realizar a desintegração
do Estado de uma parte do seu território metropolitano. Acusa-se os efeitos das
anteriores medidas, dizendo-se que foi excessiva a liberdade conferida às juntas
em 1928, pois a descentralização sem a tutela governamental podia ser o princípio
para uma má gestão. Deste modo, manteve-se a descentralização existente
passando, todavia, a ser fiscalizada pelo Governo Civil e tutelada pelo governo.
Nesta reforma do estatuto, surge como novidade a função de coordenação
económica da Junta, que tinha expressão ao nível do planeamento apenas nos
planos trienais. Esta problemática motivou um debate público, no Funchal, em
janeiro de 1968, sob a epígrafe “I Semana de Estudos sobre problemas sociais
económicos do desenvolvimento”. Como corolário desta reivindicação, foi
publicado, em 11 de março de 1969, o decreto-lei n.º 48.905 que estabeleceu e
regulamentou o Planeamento Regional, função que ficou a cargo da Junta Geral,
no que mereceu a contestação de todos os setores.
Quirino Avelino de Jesus (1865/1935), ainda que muito próximo de Salazar na
definição da política económica e financeira, não conseguiu demovê-lo quanto à
sua visão restrita da autonomia. Defendera que a autonomia insular era definida
pelo caráter financeiro e económico, só se podendo afirmar com reformas
financeiras286. Na proposta de divisão administrativa, o Distrito daria lugar à
Província, sob o comando de um Governador-Geral, residente e de nomeação
governamental. A estrutura assentava numa Junta Geral de Província e num
Conselho de Governo, sendo o primeiro composto de procuradores eleitos pelas
Câmaras Municipais, associações, professores e chefes de serviço das repartições
públicas, enquanto o segundo, presidido pelo Governador, integrava os vogais
eleitos entre os procuradores e chefes dos serviços.
Ao longo do século XX, tudo o que se relacionava com a expansão da rede viária
era sempre motivo de permanente reivindicação. A construção de uma estrada,
com a definição sinuosa do seu traçado, as pontes que abraçam as margens das
ribeiras e alguns [poucos] túneis que faziam o homem entrar nas entranhas da
ilha, implicavam um redobrado esforço da engenharia e da capacidade humana,
assim como um dispêndio avultado de verbas, que muitas vezes, os políticos da
metrópole não entendiam.
Chegamos, assim, ao final do século XX e a tecnologia alivia o esforço humano
e substitui a terraplanagem por viadutos, pontes e túneis, encurtando os trajetos
que se faziam pelo rendilhado das encostas, permitindo uma circulação rápida e
eficaz na aproximação dos diversos núcleos populacionais, deixando que as vias
terrestres ultrapassassem as marítimas. Deste modo, o quadro da rede viária na
década de trinta era já distinto e tornava-se motivo de elogios, contrastando com

286 Cf. Jesus, Quirino de, 1923, A Autonomia da Madeira e dos Açores, in A Pátria, n.º 960, Lisboa, 7 de julho.

71
Junta Geral

as realidades apontadas para a centúria anterior287.


Esta obra de engenharia, que demorou em ganhar expressão por toda a
ilha, não se fez à custa dos apoios do Governo Central, que sempre foram bem
calculados, mas sim como resultado da integração de Portugal na Comunidade
Económica Europeia, em que, de forma definitiva, foi estabelecida uma situação
particular para a política de desenvolvimento local que contemplará estes avultados
investimentos na rede viária, portuária e aeroportuária. Recorde-se que, em 1975,
a rede viária madeirense compreendia apenas 275 Km e, em 2005, atinge os 624
Km.
A 18 de julho de 1926, na sequência do movimento revolucionário de 28 de
maio, o Diário do Governo, 1.ª série, publicava o decreto n.º 11.875, que dissolvia
todos os corpos administrativos do país. Em relação às ilhas, os governadores civis
enviariam, no prazo de 20 dias, ao Ministro do Interior, os nomes dos cidadãos
que haviam de compor as Comissões Administrativas. No dia seguinte, um outro
decreto sobre as novas corporações administrativas dizia que delas podem fazer
parte cidadãos que pertenciam às gerências dissolvidas.
A primeira Comissão Administrativa da Junta do Estado Novo teve de
defrontar-se com a crise política marcada pela Revolução da Madeira, em abril
de 1931. Durante o período revolucionário, os corpos administrativos da ilha
foram substituídos por apaniguados da situação revolucionária, o que aconteceu
naturalmente também na Junta Geral, desde 6 de abril até 2 de maio de 1931.
Após a revolta madeirense, os órgãos gerentes das Comissões Administrativas
voltaram aos lugares que ocupavam anteriormente, assumindo João Figueira de
Freitas a presidência da Junta Geral a partir de 7 de maio desse ano. A primeira
decisão foi anular todo o expediente, atas, deliberações e despachos proferidos pela
comissão que gerira os negócios da Junta durante o curto período revolucionário.
O Professor Marcelo Caetano288 ficou com o encargo de redigir o estatuto
definitivo que foi publicado a 31 de dezembro de 1940289 e fixado pelo decreto-
lei n.º 36.459 de 4 de agosto de 1947. De acordo com este, o Governador Civil,
como representante do Ministério do Interior, assumiu uma posição dominante,
com poderes para nomear e demitir os Presidentes das Juntas Gerais, Câmaras
e Regedores de Freguesia. Esta atitude centralizadora é também evidente nas
obras públicas, através da intervenção do Ministério do mesmo nome e do
Fundo de Desemprego. A questão central continua a ser a opção centralizadora e

287 Alguns visitantes reconhecem o labor da Junta Geral: vamos olhando as terras da Junta Geral e vendo o cuidado com que
são tratadas as estradas madeirenses, limpas, calcetadas, sem poeira, debruadas por flores tenras que, dentro de anos as
emoldurarão ricamente(Montês, 1938:190). E ainda o Conde do Funchal afirmava: preparámo-nos para desembarcar no
Funchal, capital dum arquipélago feliz, que tem esplêndidas estradas, sem poeira, construídos em terreno dificílimo, que
são frequentemente verdadeiras obras de arte (…) com a electrificação rural mais adiantada do país, (…) além de possuir
já um óptimo porto de mar, com o abastecimento dos combustíveis líquidos à navegação e uma rede hoteleira das mais
modernas e confortáveis. Finalmente tem em Porto Santo um aeródromo de categoria internacional, e vai dispor, dentro
em breve, na própria Ilha da Madeira, da pista de Santa Catarina. Por todos estes melhoramentos, que a administração
nacional realizou e por todas aquelas excelências que Deus Nosso Senhor lhe deu, a Ilha da Madeira poderia considerar-se
entre as mais felizes das suas congéneres.(Conde do Funchal, 1962: 183).
288 O Professor esteve no Funchal de 5 a 13 de agosto de 1938, ficando instalado no Hotel Belmonte. cf. Diário de Noticias
de 6 e 13 de agosto de 1938.
289 Cf. referências ao estatuto com a reforma administrativa (Diário da Assembleia, 85, pp. 391-392, de 5 de março de
1940); ENES, Carlos, 2005, Açores e Madeira vistos por Marcelo Caetano em 1938, in Boletim do NCH, n.º 14, online
em: http://www.nch.pt/biblioteca-virtual/bol-nch14/n14-7.htmlhttp://www.nch.pt/biblioteca-virtual/bol-nch14/n14-
7.htmlhttp://www.nch.pt/biblioteca-virtual/bol-nch14/n14-7.html . Consulta em 25.04.2012.

72
Junta Geral

uniformizadora do Estado e a luta dos insulares por uma opção política particular
e diferenciada290.
Continua a não existir, por parte dos políticos, uma visão diferenciada da
realidade insular. A ideia de adjacência implica uma situação de continuidade
geográfica e política, a perda de identidade própria para os espaços insulares. Isto
foi estabelecido na Constituição de 1822 para designar a situação dos arquipélagos
da Madeira e dos Açores, como forma de os diferenciar das colónias e de os agregar
à metrópole. Esta realidade está perfeitamente definida pelo Governo, na lei n.º
1967 de 30 de abril de 1938: Parece desnecessário insistir na conveniência de um
regime administrativo insular diverso do adotado para o continente: estão os dois
arquipélagos dos Açores e da Madeira separados de Portugal continental pelo
Oceano, longe portanto das vistas diretas dos governantes e ligados a Lisboa por
comunicações marítimas muito espaçadas (sobretudo com os Açores); constituem-
nos um grande número de pequenas ilhas que não mantêm entre si laços de tão
estreita cooperação como por vezes se pensa, mas que são solidárias pela posição
geográfica, pelo estado social e pelas necessidades dos seus habitantes, cuja
índole e modo de viver diferem bastante dos do maior número das populações
continentais; por isso, a descentralização se impõe e a desconcentração também
- uma e outra em benefício dos povos e com vantagem para a boa administração.
Esta ideia foi reforçada no parecer da Câmara Corporativa. Isto significa que aquilo
que é atribuído à Junta Geral das Receitas do Estado, na Região, é muito pouco e
que o Governo, quando retribui, obriga-a a um esforço financeiro de 25%. Recorde-
se que, a partir da década de trinta do século XX, tivemos várias obras públicas em
que foi exigido este redobrado esforço financeiro à Junta. Tendo em conta que as
receitas não davam para cobrir estas despesas, a Junta via-se obrigada a contrair
empréstimos291.

290 Em 1938, o legislador reconhece esta diferença definida pela Geografia: Parece desnecessário insistir na conveniência
de um regime administrativo insular diverso do adoptado para o continente: estão os dois arquipélagos dos Açores e da
Madeira separados de Portugal continental pelo Oceano, longe portanto das vistas directas dos governantes e ligados a
Lisboa por comunicações marítimas muito espaçadas (sobretudo com os Açores)... (Relatório da lei n.º 138, 30 de abril,
publ. LEITE, J. G. Reis (1987), A Autonomia dos Açores na Legislação Portuguesa, Horta, p. 229), sendo reforçada pela
intervenção do Deputado madeirense Favila Vieira: A Madeira e os Açores, situados em pleno Atlântico, a alguns dias
de viagem de Lisboa, estão fora do contacto, da influência directa do Governo; as suas economias têm caracteres próprios,
que as diferenciam das províncias do continente: o espírito das suas populações, pela natureza insular do território, pelo
clima, pelo intercâmbio com o estrangeiro, pela sua vida económica e social, oferece, em certos aspectos, uma feição típica.
Para governar e administrar as nossas ilhas adjacentes é indispensável conhecê-las na intimidade, ter não só a inteligência
dos seus problemas, mas também o sentido da sua sensibilidade. (Discussão na Assembleia Nacional da proposta de lei
do regime administrativo das Ilhas Adjacentes. Ordem do dia, 3 de março de 1938. Intervenção de Favila Vieira). Este
discurso diferenciador da realidade insular continuará a ser uma palavra de ordem nos meios políticos madeirenses.
Em 1961, o Dr. Agostinho Cardoso afirmava que: A Madeira apresenta adentro do pais uma individualidade económica
muito diferenciada. (Agostinho Cardoso, Diário das Sessões, n.º 5, 12 de dezembro, p. 141.), que repete, em 1966,
quando afirma: Tem assim a Madeira aspectos económicos bem diferentes dos de qualquer outro distrito ou província da
metrópole, (...). Mesmo adentro das ilhas adjacentes, com seu estatuto administrativo próprio, o arquipélago da Madeira
tem cada vez mais características específicas, obrigando a que se encarem os seus problemas de modo individual. (...) Os
grandes problemas de produção agrícola nacional pouco influem na sua vida interna (Agostinho Cardoso, Diário das
Sessões, n.º 44, pp. 1005-1009).
291 Desta situação de desequilíbrio sentida pelos insulares, entre a receita consignada às Juntas e as despesas a que tinha
acudir, faz eco a lei de 30 de abril de 1938: queixam-se os distritos insulares de que o regime de 1928 lhes é incomportável,
porque as receitas não chegam para cobrir as despesas, e há quem, perdendo de vista o equilíbrio que tem de haver
entre a riqueza existente e a satisfação das necessidades públicas, sustente que se deve progredir ainda na autonomia.
negando-se ao Estado o direito de ir buscar um ceitil que seja à economia das ilhas. É este modo de ver filho de um vicioso
particularismo regional. que esquece a solidariedade que liga as diversas partes da Nação e a existência de órgãos políticos
e administrativos de interesse geral, para cuja manutenção todos os cidadãos têm o dever de contribuir. A administração
das circunscrições está longe de ser um circuito fechado entre as suas receitas próprias e as próprias despesas: o Estado
unitário compreende e indissoluvelmente liga as comunidades locais. acorrendo com os recursos da Fazenda Pública onde
for mais conveniente e útil para o interesse nacional. Formam as ilhas adjacentes um todo com o continente, é o mesmo o
seu sistema de administração e governo, como o mesmo é o grau de civilização dos habitantes e de progresso social: seria,

73
Junta Geral

Como se isto não bastasse, o entendimento do legislador quanto às autonomias


passava quase só pelo plano da despesa, pois que o artigo primeiro do decreto n.º
15.805, de 31 de julho de 1928, determina apenas a descentralização de serviços
e da despesa, a todos os serviços dependentes dos Ministérios do Comércio,
Agricultura e Instrução e aos dos governos civis, polícia cívica, saúde, assistência
e previdência, que se encontram subordinados aos Ministérios do Interior e das
Finanças, sem qualquer contrapartida na receita. No caso da Madeira, o Estado
deixa também de assegurar, através do orçamento do Estado, os encargos com
as levadas, sendo dada à Junta Geral capacidade para proceder à sua venda aos
seus heréus regantes, ficando a receita a fazer parte de um fundo que substituirá
a dotação do Estado.
É ponto assente entre todos os autonomistas que o Estado não assegurava, de
forma adequada, o financiamento do orçamento das Juntas Gerais, obrigando-as a
um esforço redobrado e a insistentes diligências junto do poder central292. Recorde-
se que, em sessão da Junta de 23 de agosto de 1926, o seu presidente, António
Bettencourt da Câmara, propôs a elaboração e o envio ao Ministro das Finanças
de um relatório detalhado, expondo a situação do distrito, salientando que a parte
das receitas do Estado que ficava na Ilha era manifestamente insuficiente, para
que pudessem ser realizadas, neste distrito, as obras e os melhoramentos de que
carecia. Por outro lado, e vivendo esta ilha muito do turismo, não se podia deixar
ao abandono as obras já realizadas por falta de dinheiro, contribuindo, assim, para
afugentar os estrangeiros que nos visitavam. Pedia, para isso, a intervenção do
Governador Civil, junto do Presidente do Ministério e do Ministro da Finanças, para
que alguns encargos, como assistência e polícia, deixassem de pertencer à Junta
Geral ou, em alternativa, um aumento das receitas da Junta: sem isto a nossa acção
dentro deste corpo administrativo com os recursos de que dispõe, será certamente
de uma administração que se limitará, como já foi exposto com números, a pagar
os encargos obrigatórios anuais e a proceder unicamente à conservação do que
existe.
A este propósito, o vogal Cunha Teles acrescentava que se não se fazem
obras e se despede pessoal, é porque o Governo Central fica com a maior parte
das receitas, deixando na Madeira apenas uma parcela insignificante. A Junta não
tendo dinheiro, não poderá fazer as obras e, portanto, é preciso que o Governo
dê dinheiro para que este corpo administrativo possa dotar o distrito com os
melhoramentos de que carece. Rematando que se devia pedir ao Governo que deixe
na Madeira mais algum rendimento do produto dos impostos. O mesmo vogal, na
sessão do dia 13 de setembro desse ano, afirmou que o Funchal, sendo uma das
comarcas do país mais movimentadas, dava ao Estado Português um rendimento
enorme, pois o dinheiro ia diretamente para os cofres do Estado, não ficando na
Madeira. Nesta sessão, o presidente da Junta afirmou estar a pensar sugerir ao

pois, contrário ao bem comum consagrar uma forma egoísta de plena autonomia financeira que parecesse realizar a
desintegração do Estado de uma parte do seu território metropolitano.
292 São várias vozes sobre esta asfixia financeira das juntas: A diminuição das receitas, a insuficiência das que se colhem e o
aumento das despesas, analisado tudo através da eloquência irrefutável dos números, explicam bem claramente a questão.
Assim, para exemplificar a contribuição industrial que em 1920-30 rendeu escudos 4:368.741$47, passou no ano findo de
1933-34, para 3: 346.242$01, com uma diminuição de 23%. A contribuição de aplicação de capitais (sempre reportando-
nos aos mesmos anos económicos para termo de comparação), baixou 57%, isto é, rendeu menos 767.233$31.( CÉSAR,
Oldemiro, 1944, p. 157).

74
Junta Geral

Governo que o imposto de transação pago pelo distrito - em parte ou no todo


- revertesse para a Madeira, no que foi apoiado pelo vogal Luís Portugal: vamos
fazer reverter para a Madeira aquilo a que indubitavelmente temos incontestável
direito. Este vogal sugeriu ainda o lançamento de um imposto sobre a aguardente,
para ser aplicado na assistência pública, que custava à Junta Geral a sexta parte dos
seus rendimentos. Nesta mesma sessão, foi decidido enviar uma representação ao
Governo, pedindo para ser concedida à Junta a prerrogativa de poder lançar novos
impostos e, com eles, poder obter novas receitas.
Na sessão de 20 de setembro desse ano, reivindicava-se que revertesse
para a Junta Geral a totalidade dos vários impostos lançados pelo Governo sobre
produtos como o tabaco e os estabelecimentos bancários que, na Madeira,
perfaziam cerca de 400 contos, e que estavam destinados à assistência pública,
em vez de irem para o Estado e este aplicar apenas parte na Madeira (cf. quadro
em anexo). O vogal Cunha Teles informou, então, os seus colegas que a Câmara
Municipal do Funchal já enviara até uma representação ao Governo, no sentido do
montante arrecadado com esse imposto ficar na Madeira, concluindo: já nos basta
estarmos a pagar na alfândega, um imposto para as obras do Porto de Leixões293.
Essas receitas nunca foram, porém, concedidas. O Governo limitava-se a avalizar
empréstimos, conceder subsídios, continuando a Madeira a ser a filha enjeitada
do Governo Português.
O próprio deputado Favila Vieira afirmava, em 1937, perante a Assembleia
Nacional: a insuficiência das receitas desses serviços, a deficiência e atraso da
sua organização, e o desenvolvimento crescente das necessidades públicas a que
respeitam, criaram para a Junta Geral Autónoma do Funchal uma situação difícil,
de asfixia, que de nenhum modo se compadece nem com a ação imposta pela sua
orgânica, nem com as condições especiais da Madeira294.
Não obstante estarmos perante uma realidade antiga, nas décadas seguintes,
são insistentes as reclamações dos madeirenses face a esta distância entre as
responsabilidades cada vez maiores com a despesa não devidamente compensada
com receitas, ficando pendentes da disponibilidade das transferências do Estado
ou de autorizações para pedidos de empréstimos.
A partir de 1944, o Funchal passou a contar com os rendimentos dos direitos
da taxa de salvação nacional cobrada nas alfândegas sobre a gasolina, câmaras-
de-ar e protetores importados. Parte do imposto sobre o tabaco produzido no
distrito ou importado das ilhas dos Açores era uma receita repartida entre as
câmaras municipais e a Junta Geral295. Acrescem, ainda, as receitas dos cofres e
emolumentos do Governo Civil e polícia, e os rendimentos das escolas. Desde 1885

293 Recorde-se, a propósito que, em 1939, o porto do Funchal apresentava maior movimento de embarcações que o de
Leixões, assim enquanto na Madeira tivemos 1298 embarcações com 8.037.000 toneladas de carga, neste tivemos
apenas 415 navios com uma tonelagem de 8.037.000. Isto prova a pertinência dos melhoramentos do porto funchalense
que acarretaria um retorno favorável ao Estado.
294 I Legislatura, 4ª Sessão Legislativa: Sessão da Assembleia Nacional de 3-12-1937; Diário da Assembleia, n.º 149 de 4-12-
1937, pp. 199-208.
295 A receita desta faculdade fora atribuída por lei de 10 de Julho de 1914 às obras da Junta Autónoma dos Portos da
Madeira. Depois, a 20 de janeiro de 1920 as câmaras tiveram autorização para o lançamento de um imposto de $50
por Kg de tabaco importado ou produzido na ilha. Pelo decreto-lei n.º 39.963, de 13 de dezembro de 1954, foi elevado
para 8$00 por quilograma o imposto sobre o tabaco produzido na localidade ou importado das outras ilhas, de cuja
importância, 6$00, constitui receita das Câmaras Municipais e o restante pertence às Juntas Gerais.

75
Junta Geral

que a cultura, fabrico e comércio do tabaco era livre do estanco nas ilhas.
Com esta alteração do estatuto, também se produzem alterações quanto à
despesa consignada às Juntas Gerais. Assim, estas estão obrigadas às despesas
com o pessoal dos quadros aprovados por lei, as pensões de aposentação,
hospitalização do alienados e demais do expediente, de instalação e conservação
da direção de finanças, governo civil, estabelecimentos de ensino liceal e técnico,
escolas do magistério primário, delegação do INTP, tribunal de trabalho, direção do
distrito escolar e arquivo distrital. Acrescem os vencimentos do pessoal do Arquivo
distrital e do referente ao ensino primário296. A última situação passou a ser um
encargo do Estado, por decreto-lei n.º 58.371c de 23 de dezembro de 1971. Tenha-
se em conta que esta e outras questões de índole financeira estiveram presentes
na proposta de revisão dos estatutos que saiu da reunião dos políticos insulares
realizada em 1970297.
Em 1947, o decreto 36.455 de 24 de agosto determinava, como consequência,
que a passagem dos funcionários do serviço de estradas do Estado para a alçada
da Junta passaria a contar, como contrapartida, com mais 2800 contos, verba, na
verdade muito insuficiente, pois os encargos eram de 4.500 contos (cf. quadros em
anexo).
Em quase todos os relatórios da Junta, era tónica comum a seguinte
constatação: as receitas ordinárias não são suficientes para dar satisfação
completa às necessidades dos diversos serviços e à realização de algumas obras
e empreendimentos que é forçoso adiar por mais algum tempo. Entretanto, por
decreto 34.349 de 5 de setembro de 1953, a Junta passou a contar com a receita
da venda da aguardente, mas mesmo assim não eram suficientes para suportar o
agravamento de despesas, o qual é proveniente do recente aumento de vencimentos
e abono de família e, sobretudo, do notável incremento dado à instrução primária.
Atente-se no facto de que, nesta, as cobranças dos impostos que lhe
pertenciam, cobriam apenas 68% da despesa. Passados seis anos, a mesma
situação de aumento dos vencimentos provoca esta situação de rutura financeira
que leva as autoridades a invocarem o decreto 30.214, de 26 de dezembro de 1939,
para suprirem esta dificuldade. A fazer fé no decreto 39.903 de 13 de dezembro
de 1954, haviam sido feitos estudos sobre a situação financeira das Juntas, em
face da transferência de serviços. Deste modo, mantém-se o regime de subsídios,
estabelecido com caráter provisório, pelo decreto-lei 36.455 de 4 de agosto de
1947, enquanto se procede ao aumento do imposto do tabaco e à revisão dos
rendimentos matriciais da propriedade rústica. Fez-se, ainda, transitar para o
Governo Central as despesas com o pessoal da circunscrição florestal do Funchal.
A 27 de outubro de 1968, Marcelo Caetano substituiu Salazar. As expetativas
eram grandes quanto à revisão da autonomia. Nas eleições para a Assembleia
Nacional, realizadas a 26 de outubro de 1969, a oposição aguardava essa necessária
abertura às reivindicações autonómicas. Nos anos setenta, uma cimeira insular no
Funchal e Ponta Delgada apresentou uma proposta de alteração dos estatutos.
296 Por decreto-lei n.º 46.925 de 29 de março de 1966, os encargos com a instalação e manutenção da Delegação do
Instituto Nacional de Estatística são da Junta. Também por decreto-lei n.º 41.506 de 17 de janeiro de 1958, os estudos
e projetos, compra dos terrenos e construção aeroportos.
297 Cf. Boletim da Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, n.º05, 10 (1970), pp. 1-2, 1-5.

76
Junta Geral

Mas a revisão constitucional, aprovada por lei 13/71 de 9 de agosto, consagrava a


figura de Região Autónoma apenas para as províncias ultramarinas. A Madeira e os
Açores ficaram à espera até 1976 para assumir tal estatuto.
Após abril de 1974, de entre os ativistas da oposição ao regime, saíram alguns
dirigentes do Governo Civil e da Junta Geral que não conseguiram levar a nau
a bom porto, de forma que se ensaiou uma forma de governo local, através da
criação da Junta de Planeamento, por decreto-lei n.º 139/75, de 18 de março. Era
constituída pelo Governador Civil, que presidia, e quatro vogais, sendo um deles o
Governador Militar. A Junta Geral e a Comissão Regional de Planeamento estavam-
lhe subordinadas. A esta estavam atribuídas as competências do Governo Civil, de
planeamento e supervisão dos serviços da Junta Geral e dos serviços periféricos do
Estado, de forma que, sempre que o Governo deliberasse no domínio económico-
social para o arquipélago, a Junta deveria ser ouvida.
De novo, uma situação efémera, que durou apenas até 5 de agosto. Por
decreto-lei 101/76, de 3 de fevereiro, extinguiu-se a Junta de Planeamento da
Madeira e a Comissão de Planeamento Regional dando lugar à Junta Administrativa
Regional, na dependência direta do Primeiro-Ministro. A Junta era composta pelo
Governador Militar, que a presidia, e por seis vogais com atribuições nas áreas
do planeamento e finanças, administração local, equipamento social e ambiente,
transporte e comunicações, assuntos sociais, trabalho e emigração; administração
escolar, investigação científica, cultura e comunicação social, agricultura, pescas e
indústria, comércio e turismo.
A clarificação do processo político, com a aprovação do Estatuto Provisório
da Madeira em 29 de abril de 1976 e o ato eleitoral para a Assembleia Regional, a
27 de junho, abriu o caminho para a afirmação do processo constitucional com a
atribuição da autonomia político-administrativa consagrada na Constituição, que
foi aprovada a 2 de abril de 1976. Esta mudança constitucional permitiu avançar
com o processo de descentralização administrativa para a autonomia política, que
possibilitou a criação de um Governo Regional e de uma Assembleia Regional com
capacidade legislativa, em casos específicos.

77
Junta Geral

O Quadro das Relações Institucionais:


A Junta Geral e o Estado

Com o golpe militar de 28 de maio de 1926, que estabeleceu o regime da


Ditadura Militar, não se alcançou a estabilidade governativa e financeira, necessária
à recuperação do País. Foi apenas a partir de 27 de abril de 1928, com a tomada
de posse pelo Doutor Oliveira Salazar do cargo de Ministro das Finanças, que
começou um programa de recuperação e de mudança do sistema contabilístico-
financeiro298. A década de vinte fora um período muito difícil para os madeirenses.
A crise internacional também chegara à ilha e arrastara para a falência diversas
casas bancárias299. A exemplo do que sucedia aos banqueiros que haviam falido, na
capital, a ilha clamava por atenção e apoios, mas ninguém se mostrava disponível
para ouvir e aprovar qualquer mecanismo de apoio financeiro aos madeirenses,
arrastando-se a economia para uma situação de falência.
Chegados aos anos setenta, clarificam-se algumas situações e parece que
as ilhas começam a ganhar um estatuto distinto. Paulatinamente, determinadas
situações de caráter colonial deixam de pautar as relações entre estas e o Terreiro
do Paço. Foi salutar a medida, estabelecida em 1970300, de abolir todos os entraves
à circulação de mercadorias entre a metrópole e as ilhas. A medida foi saudada,
de forma efusiva, pelos insulares que viam reduzidos os custos de circulação dos
produtos com os portos continentais301. Desde o século XIX que um conjunto amplo

298 O seu retorno ao cargo é feito com uma mão de ferro, como o testemunha o seu discurso de tomada de posse: sei muito
bem o que quero e para onde vou, mas não se me exija que chegue ao fim em poucos meses. No mais, que o país estude,
represente, reclame, discuta, mas que obedeça quando se chegar à altura de mandar.Cf. PATRIARCA, Fátima, 2006,
«Diário» de Leal Marques sobre a formação do primeiro governo de Salazar. Análise Social, n.º 178, p. 174, nota 24.
299 A este propósito, refere Eduardo A. Pestana: O ano defunto de 1924 representa para a economia da Ilha uma perda
calculável em 100.000 contos, assim distribuídos: bordados, 30.000; vinhos, 10.000; aguardente, 6000; álcool e açúcares,
6500; propriedades em transacção, mercadorias armazenadas e mercadorias em retalho, os demais 47.500 contos. in JM
de 15 de abril de 1925, cit em PESTANA, 1970, Ilha da Madeira, II Estudos Madeirenses, p. 176 .
300 Cf. apresentação e debate do decreto em Diário das Sessões, n.º 17, 28 de janeiro de 1970, pp. 1-2. Tenha-se em conta
que, por despacho de 6 de novembro de 1968 do Ministro do Interior, foi criado um grupo de trabalho “ad-hoc”
para o estudo dos entraves à livre circulação de mercadorias nacionais entre as várias ilhas adjacentes e entre estas e
o continente, tendo como base um estudo preliminar realizado pela Direcção de Serviços de integração Económica
Nacional.
301 Apenas para que se veja a forma vexatória da situação, tomamos em linha de conta uma tonelada de sal importada do
Algarve que, na origem, ficava por 335$00, e que à chegada ao Funchal, ao valor indicado, deveria adicionar-se 419$83.
Esta informação é dada em ofício do Grémios dos Industriais de Panificação do Funchal, n.º 26/69, de 25 de janeiro,
dirigido ao Presidente da comissão de Coordenação Económica. Outra informação da Somagel referente a 1 de Março

78
Junta Geral

de leis e decretos estabeleceu impostos e taxas que oneravam, de forma excessiva,


a circulação de mercadorias302. Mas, o Estado, porque não podia ser prejudicado
na receita que daí advinha, logo se apressou a determinar uma compensação,
através do alargamento do imposto de consumo sobre o tabaco às ilhas303. Desta
forma, a partir de 1 de janeiro de 1970, ficou estabelecida a integração plena das
ilhas adjacentes no espaço económico nacional, deixando de existir os referidos
entraves à livre circulação de mercadorias, preservando-se as exceções existentes
para o tabaco, vinho, açúcar e aguardente. Esta situação foi mais um ónus a que
os insulares estiveram sujeitos e que peca por tardia quando, desde 1 de janeiro
de 1963, se havia já aberto os portos nacionais aos produtos das províncias
ultramarinas304.

1935: CORRESPONDÊNCIA TROCADA ENTRE O DR. JOÃO ABEL DE


FREITAS E O DR. OLIVEIRA SALAZAR.

Nesta época que vai até 1974, foi ativa a intervenção de alguns madeirenses
na política nacional, o que não se reverteu, de modo algum, em favor da ilha,
como acontecera nos Açores, em finais da centúria anterior. Primeiro, foi o General
José Vicente de Freitas (1892-1952) que, na qualidade de Presidente do Concelho,
chamou Salazar para a pasta das Finanças. A par disso, outros madeirenses privaram
de perto com Salazar e foram intervenientes ativos no programa financeiro: António
Sebastião Spínola (1876-1956), madeirense e Inspetor Superior das Finanças, foi
chefe de Gabinete do Dr. Oliveira Salazar a partir de 1935305, João Pinto da Costa

de 1969, sobre a importação de 960 Kgs de peixe em 32 caixas no valor de 9.100$00, vimos a fatura ser acrescida de
881$50. Documento disponível em: S.A., Relatório sobre a Proposta de lei sobre a circulação de mercadorias nacionais
ou nacionalizadas entre o continente e as ilhas adjacentes, Lisboa, Ministério das Finanças e da Economia, Documentos,
O Deve e Haver das Finanças da Madeira. Séculos. XV.XXI, Funchal, Biblioteca Digital do CEHA (acesso local).
302 O decreto 8/70, que aprova a referida alteração, revogou os seguintes diplomas: carta de lei de 27 de dezembro de 1870;
lei de 26 de outubro de 1904; lei n.º 80, de 21 de julho de 1913; lei n.º 1892, de 13 de janeiro de 1928; lei n.º 1404, de
27 de fevereiro de 1923, alterada pelo decreto n.º 14.686, de 8 de dezembro de 1927, salvo no que se refere à tributação
do tabaco, que se mantém em vigor enquanto não forem alterados os direitos de importação do tabaco nas ilhas
adjacentes; lei n.º 1561, de 10 de março de 1924; decreto-lei n.º 26.424, de 17 de março de 1986; decreto-lei n.º 29.236,
de 8 de dezembro de 1938; decreto-lei n.º 36.375, de 26 de junho de 1947; decreto-lei n.º 36.820, de 7 de abril de 1948,
salvo no que se refere à tributação do tabaco, que se mantém em vigor enquanto não forem alterados os direitos de
importação do tabaco nas ilhas adjacentes; decreto-lei n.º 36.924, de 22 de junho de 1948; decreto-lei n.º 38.291, de 7 de
junho de 1951; decreto n.º 11.871, de 16 de dezembro de 1925; decreto n.º 14.736, de 16 de dezembro de 1927; decreto
n.º 16.548, de 28 de fevereiro de 1929; decreto n.º 18.041, de 28 de fevereiro de 1930; decreto n.º 18.586, de 10 de julho
de 1930; decreto n.º 19.669, de 80 de abril de 1931; decreto n.º 19.902, de 18 de junho de 1931; decreto n.º 26.952, de
28 de agosto de 1936; decreto n.º 29.477, de 9 de março de 1939; artigos 106.º a 108.º e n.º 9 do artigo 99.º do Estatuto
dos Distritos Autónomos das Ilhas Adjacentes, aprovado pelo decreto-lei n.º 86.453, de 4 de agosto de 1947; artigos
2.º e 3.º do decreto n.º 12.782, de 30 de novembro de 1926; alínea f) do artigo 6.º do decreto n.º 15.110, de 5 de março
de 1928; artigo 6.º do decreto n.º 22.389, de 29 de março de 1933; alínea c) do artigo 5.º do decreto-lei n.º 26.985, de
5 de setembro de 1936; § 2.º, do artigo 10.º do decreto-lei n.º 30.554, de 28 de junho de 1940; artigos 13.º e 14.º do
decreto n.º 30.290, de 13 de fevereiro de 1940; artigo 8.º do decreto-lei n.º 88.590, de 29 de março de 1944; alínea c) do
n.º 6.º do Regimento Geral dos Preços dos Medicamentos e Manipulações, aprovado pela portaria n.º 19.240, de 18 de
junho de 1962. Documento disponível em: S.A., Relatório sobre a Proposta de lei sobre a circulação de mercadorias
nacionais ou nacionalizadas entre o continente e as ilhas adjacentes, Lisboa, Ministério das Finanças e da Economia,
Documentos, O Deve e Haver das Finanças da Madeira. Séculos. XV.XXI, Funchal, Biblioteca Digital do CEHA (acesso
local).
303 Este imposto foi criado pelo decreto-lei 48.766 de 8 de junho de 1961 e não abrangia as ilhas, que gozavam desde o
século XIX de um regime especial quanto à tributação do tabaco.
304 Medida estabelecida pelo decreto-lei n.º 44.508, de 14 de agosto de 1962, publ. Diário do Governo, n.º186/62 SÉRIE I,
pp. 1101-1102.
305 Antes disso, havia passado pelo Ministério das Finanças apenas por 13 dias. Na sequência do golpe de 28 de maio de
1926, foi convidado por Mendes Cabeçadas para Ministro da referida pasta, mas não assumiu regressando a Coimbra a

79
Junta Geral

Monumento ao Dr. João


Abel de Freitas.

Leite (Lumbrales) (1905-1975) foi Ministro das Finanças, de 1940 a 1950; Quirino
Avelino de Jesus (1865-1935)306 interveio de forma destacada, em termos de
produção teórica no campo financeiro,307 na primeira República, e depois foi íntimo

5 de Julho. Cf. PATRIARCA, Fátima, 2006, «Diário» de Leal Marques sobre a formação do primeiro governo de Salazar.
Análise Social, n.º 178, pp.169-222.
306 Comissão do Livro Negro, 1987, Cartas e Relatórios de Quirino de Jesus a Oliveira Salazar, Lisboa, Presidência do
Conselho de Ministros.
307 Recorde-se que o seu Livro A Crise Portuguesa-subsídios para a política de reorganização nacional (1923), serviu de

80
Junta Geral

colaborador de Salazar. Por fim, não devemos esquecer a amizade que ligava o
Dr. Oliveira Salazar a alguns madeirenses como o Dr. João Abel de Freitas (1893-
1948), que contribuiu para influenciar de forma decisiva a opinião de Salazar sobre
a Madeira.
Distinta é a atitude de muitos visitantes nacionais que, de forma clara,
criticam a postura do governo Central em relação às ilhas. Oldemiro César, em duas
viagens de estudo realizadas ao arquipélago, em 1924 e 1934, respetivamente,
é testemunha do abandono a que os governos o haviam votado: Há mais de 30
anos que as Ilhas não recebiam um membro do Governo. As suas reclamações, as
suas aspirações, as suas queixas ao Terreiro do Paço longínquo chegavam apenas
transmitidas pelos fios do telégrafo, quando não pela voz dos chefes dos districtos
(...). Depois o regresso com muitas promessas e nenhumas certezas, que o tempo
convertia em tristes desilusões, assim criando entre Portugal isolado no Atlântico
e o Poder Central do Continente, um mal-estar contínuo e irritante que a ninguém
aproveitava nem mesmo a processos e habilidades políticas de outros tempos308.
O mesmo em 1934, de regresso à ilha, fica com a impressão de que pouco
teria mudado pois, para além do monumento a Gonçalves Zarco, nada de novo
(…) de progressivo ou de interessante em matéria de urbanização na sua pitoresca
cidade do Funchal. (...) arrastam-se as obras do pôrto com uma morosidade que a
falta de recursos explica (…) as três quintas, da Vigia, Pavão e Bianchi, que o Estado
vantajosamente adquiriu, oferecem o mais lamentável aspecto de abandono,
com os seus edifícios, que foram confortáveis habitações particulares, caindo em
ruínas309. Será esta manifesta situação de orfandade, que se prolonga no tempo, a
razão que levará os madeirenses às revoltas em 1931 e 1936.
A esta poderiam juntar-se outras vozes que, ao longo desta centúria, reclamam
da situação de abandono e de falta de atenção das autoridades, em termos de
investimentos públicos. Até de entre algumas personalidades e amigos do Dr.
Oliveira Salazar, na ilha, surgiram algumas vozes nesse sentido, o médico João Abel
de Freitas, amigo do Dr. Oliveira Salazar que, em 15 de janeiro de 1935, assumiu as
funções de Presidente da Junta Geral, por exemplo. A 28 de março do ano da sua
posse, em carta pessoal ao Dr. Oliveira Salazar, lança um grito pungente de pedido
de ajuda310 e testemunha aquilo que é crença popular: A grande maioria do povo
da Madeira está convencida de que o Governo Central nos tem abandonado como
castigo da revolução da Madeira, de bem triste memória.

base à política financeira definida e seguida por Oliveira Salazar, a partir de 1928. Para o estudo desta figura, veja-se:
RODRIGUES, Abel Martins, 2006, As origens do salazarismo: o nacionalismo português segundo Quirino de Jesus,
Braga: Univ. do Minho; LEAL, Ernesto Castro, 2002, A problemática da “crise nacional” em Quirino de Jesus: moral,
política e administração, Lisboa: [s.n.]; LEAL, Ernesto Castro, 1994, Quirino Avelino de Jesus, um católico “pragmático”:
notas para o estudo crítico da relação existente entre publicismo e política (1894-1926), Lisboa: s.n.; VERÍSSIMO, Nelson,
1990, Autonomia Insular: as ideias de Quirino Avelino de Jesus, Revista Islenha, n.º 7, Funchal, 1990, pp. 32-36;
VERÍSSIMO, Nelson, 1990, «O alargamento da autonomia dos distritos insulares: o debate na Madeira (1922-1923)»,
in Actas do II Colóquio Internacional de História da Madeira, Funchal, 18-23 Setembro 1989, s. l., Comissão Nacional
para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1990, pp. 493-515.
308 César, 1944, p. 148.
309 César, 1944, p. 149.
310 Diz o mesmo: Peço pelos meus filhos; peço por todos os madeirenses; peço por todos os portugueses porque o engrandecimento
da Madeira será um reflexo da prosperidade de Portugal. (...) Reputo absolutamente necessário e urgente qualquer acto de
V. Ex.a. Em benefício da Madeira, que prove a esta gente que não continuará completamente abandonada pelo Governo
Central.(...) A continuarem as coisas como estão em breve a Madeira seria como já referi, teatro duma tragédia, a maior
das que a têm assolado em todos os tempos.

81
Junta Geral

A resposta chegou, em missiva pessoal, a 23 de maio311,


de forma distante, fria, evasiva e dentro do habitual das
visões veiculadas pelo discurso oficial da metrópole. Salazar
rebate todos os pontos desta carta e de um memorandum
que havia recebido da Junta Geral: O abandono da
Madeira por parte do Poder Central entrou na formação da
consciência madeirense e vejo que os dirigentes da situação
política não podem rebater essa falsa ideia. Assume-se como
vítima da ingratidão dos madeirenses: (…) é preciso dizer
que há muitas dezenas de anos não tem a Madeira quem
tanto a tenha protegido e defendido como eu. (...)Todos em
comovedora unanimidade, assentaram ou estão assentando
em que a Madeira é uma “filha enjeitada”. E não tenho
visto que ninguém, com os factos, só com os factos, tenha
contrariado a campanha”. E remata com ameaças: E, porque
compreendo é que a Madeira continuará sendo tratado como
terra privilegiada e com paciência, ao menos enquanto se não
desmandarem demais. Porque, se o fizerem, é conveniente
não esperar a doçura da repressão usada da outra vez. E
podem continuar dizendo à vontade que os abandonam.
Já nesta época, Salazar tinha ideias muito claras sobre
aquilo que deveria ser a autonomia e que virá a estar, na
origem das reformas dos estatutos, conduzindo ao quase
total estrangulamento financeiro das juntas gerais da Madeira e Açores. Diz ele:
Todos os partidários de autonomia supuseram que esta consistia simplesmente
na liberdade de gastar, dando o Poder Central quanto fosse necessário para isso.
(…) Aí, nos Açores e mesmo aqui puseram-se todos a formular projectos e planos,
às vezes interessantes mas ousados, caríssimos e na maior parte adiáveis para
outras oportunidades, arbitraram-lhes o custo e dizem pelos mesmos termos ao
Poder Central: Queremos fazer isto ou aquilo e as receitas não chegam. Portanto
aumente-se as receitas ou tire-se o encargo de algumas despesas. Eu não posso
aceitar o problema assim posto. A autonomia não é a autonomia de gastar mas
a de administrar um património ou uma receita, tirando de um ou da outra o
maior rendimento. Do facto de a receita não chegar para tudo o que apetece ou há
mesmo necessidade de fazer, não se segue que é ao Governo que incumbe cobrir
as diferenças312.

311 Entretanto, o Diário de Noticias de 17 de abril de 1936 transcreve outra carta oficial de 9 de abril de 1936, assinada por
Antero Leal Marques, chefe de Gabinete de Salazar que retoma estas questões. Estas diligências junto de Salazar, por
parte do Dr. João Abel de Freitas e dos deputados madeirenses, são reveladas em entrevista ao mesmo diário no dia 31
de março pelo governador civil, Comandante Goulart de Medeiros.
312 Tenha-se em conta que estas ideias ganham forma de lei em 1938, com a lei 138 de 30 de abril: Queixam-se os distritos
insulares de que o regime de 1928 lhes é incomportável, porque as receitas não chegam para cobrir as despesas, e há quem,
perdendo de vista o equilíbrio que tem de haver entre a riqueza existente e a satisfação das necessidades públicas, sustente
que se deve progredir ainda na autonomia, negando-se ao Estado o direito de ir buscar um ceitil que seja à economia das
ilhas. É este modo de ver filho de um vicioso particularismo regional, que esquece a solidariedade que liga as diversas
partes da Nação e a existência de órgãos políticos e administrativos de interesse geral, para cuja manutenção todos os
cidadãos têm o dever de contribuir. A administração das circunscrições está longe de ser um circuito fechado entre as suas
receitas próprias e as próprias despesas: o Estado unitário compreende e indissoluvelmente liga as comunidades locais.
acorrendo com os recursos da Fazenda Pública onde for mais conveniente e útil para o interesse nacional. Formam as
ilhas adjacentes um todo com o continente, é o mesmo o seu sistema de administração e governo, como o mesmo é o grau
de civilização dos habitantes e de progresso social: seria, pois, contrário ao bem comum consagrar uma forma egoísta de

82
Junta Geral

O mesmo discurso continuará no tempo e a chamada primavera marcelista


cedo se confirmará como uma ilusão para os madeirenses, pois Marcelo Caetano,
autor do projeto de estatutos, afirmava: Eu ainda sou partidário da manutenção
do regime autonómico. Mas a autonomia tem de ser um processo de facilitar a
administração e a vida económica do arquipélago, e não um travão. E, por outro
lado, para que haja descentralização é preciso existirem recursos financeiros e
gente capaz de os gerir313.

plena autonomia financeira que parecesse realizar a desintegração do Estado de uma parte do seu território metropolitano.
(Relatório da lei n.º138, 30 de abril, publ. Leite, J. G. Reis (1987), A Autonomia dos Açores na Legislação Portuguesa,
Horta, p. 229.)
313 Caetano, Marcello, 1970, Mandato Inadiável, Lisboa.

83
Junta Geral

Juvenal de Araújo

A JUNTA E A AÇÃO DOS DEPUTADOS MADEIRENSES


(1836-1976)

Quisemos também neste projeto sobre o “Deve e o Haver das Finanças da


Madeira”, descobrir os testemunhos que guardam as atas de 190 anos de debate,
no sentido de entender a forma como estas questões e outras relacionadas
com a Madeira, nomeadamente as reclamações da Junta, mereceram a atenção
destas instituições e dos deputados que a compunham. Desta forma, fizemos
um levantamento sistemático deste acervo de testemunhos entre 1821 e 2011,
acompanhando todas as legislaturas da Câmara dos Deputados, da Assembleia
Nacional e da Assembleia da República.
Está claro que o continente tinha informação adequada sobre a realidade
regional através dos seus deputados, não se podendo demitir das suas
responsabilidades. Diversas vozes da ilha chegavam ao Parlamento através dos
deputados, de telegramas das instituições, associações e, mesmo de particulares.
Por diversas vezes, sentimos que o discurso e a presença dos deputados insulares se
84
Junta Geral

torna algo incomodativo. Quase sempre são entendidos como os resmungões, os


que reclamam e nunca estão satisfeitos. Não raras vezes os deputados madeirenses
são acusados de estar entrincheirados entre o rochedo, ou de olharem quase só
para a sua ilha. Com o Estado Novo, tivemos alguns deputados que assumiram
papéis destacados na defesa e definição dos argumentos que sustentavam as
políticas nacionais, como foi o caso de Juvenal de Araújo.
Por outro lado, é evidente uma diferente postura dos deputados madeirenses,
a partir de 1976. Nos anteriores parlamentos, todos se reuniam, em defesa dos
interesses da Madeira e raras foram as vezes que foram manifestas discordâncias
ou enfrentamentos. Já o quadro político partidário saído da Revolução de 1974
vai criar uma nova realidade que gera um fosso evidente entre os parlamentares
madeirenses, assim como da maioria dos continentais em relação à Madeira. Esta
última era rara e acontecia muitas vezes por expressão individual. Agora, torna-
se quase constante e expressa a voz de alguns setores partidários, que procura
exportar do parlamento para a sociedade civil, uma voz contra a Madeira. Em alguns
momentos, a Madeira faz parte, de forma constante, da agenda da Assembleia da
República. Tudo vem a propósito para definir uma corrente de opinião sobre a
Madeira, os políticos, os governantes e os madeirenses.
Até 1974, nunca vimos, em nenhum momento, um deputado da Madeira
levantar a voz na tribuna do parlamento para discursar contra a sua terra ou os seus
pares. Os madeirenses, quando subiam à tribuna, era para reclamar autonomia,
apoios financeiros, reivindicar uma situação distinta para o arquipélago que
tivesse em conta a realidade local. E, algumas vezes foram saudados pelos seus
companheiros açorianos, mas raras vezes pelos continentais.
Tudo o que acontece no Parlamento chega à comunidade. Hoje, temos as
emissões televisivas em direto, as reportagens das televisões nos seus serviços de
notícias. Mas, noutras épocas, a divulgação do que acontecia aqui fazia-se através
da imprensa, que valorizava, de forma inusitada, os acontecimentos do hemiciclo,
com especial destaque para os diplomas de interesse para a Madeira e os discursos
dos deputados madeirenses314. Em alguns casos, estas intervenções e discursos
eram, mesmo, publicados em livro315.

314 A lista de jornais e de transcrições destes discursos na imprensa madeirense é extensa. Damos aqui apenas alguns
exemplos: Semanário Oficial, 17.05.1956; A Regeneração, 27.01.1871; A Voz do Povo, 07.07.1884; Diário de Noticias,
27.05.1883, 22 a 26.02.1907, 4.03.1907, 23 e 24.10.1910, 23.11.1910, 22.01.1936, 03.03.1936, 07.12.1937, 22 a 24.12.1937,
_. 03.1938, 16.03.1938, 7 e 8. 05.1938, 29.02.1940, 12.03.1940, 12.12.1942, 04.04.1944, 04.03.1945, 27.03.1945,
19.12.1945, 12.02.1946, 05.03.1945, 21.03.1945, 28.03.1945, 19 e 20.12.1946, 28.12.1946, 27.02.1947, 13.03.1947,
23.03.1947, 10 e 11.12.1947, 06.02.1948, 15.04.1948, 12.12.1948, 08.04.1949, 21.12.1949, 28.01.1950, 28 e 29.01.1950,
25.03.1950, 05.04.1950, 30.04.1950, 15.12.1950, 17.12.1950, 22.12.1950, 20.12.1950, 18.03.1951, 05.12.1975, 21.12.1975.
315 ARAÚJO, Juvenal de; PEREIRA, Domingos, pref., 1928, Trabalhos parlamentares. Funchal: Tip. Diário da Madeira;
CARDOSO, Agostinho Gabriel de Jesus, 1964. A Madeira e o Turismo Nacional. Funchal: Junta Geral do Distrito
Autónomo do Funchal, [intervenção na sessão legislativa de 1963-64]; CARDOSO, Agostinho Gabriel de Jesus, 1968,
O fenómeno económico social de emigração madeirense, Coimbra: [s. n. ], Sep. da Revista de Direito Administrativo.
Tomo XII [artigo ampliado de apresentação feita na Assembleia Nacional em 1968]; GARCIA, Elias, co-aut, 1885,
Discursos proferidos na Gamara dos Srs. Deputados nas sessões de 13 e 14 de Janeiro de 1885. Pelos Srs. Deputados
Consiglieri Pedroso, Pedro Maria Gonçalves e Elias Garcia. Funchal: Typ. do Povo; GOUVEIA, António Homem de,
1905, Defeza Monumental dos Direitos da Egreja no Parlamento Portuguez. Discurso do ilustre deputado nacionalistas Sr
Cónego António Homem de Gouveia na sessão de 5 de Maio de 1905, Lisboa, Imprensa Nacional; GOUVEIA, António
Homem de, 1905, A Escravidão da Igreja em Portugal. Discurso sobre a Portaria 15 de Abril proferido na sessão de 5
de Maio de 1905 pelo deputado Cónego António Homem de Gouveia. Lisboa: Imprensa Nacional; GOUVEIA, António
Homem de, 1907, A Situação da Madeira. Discurso proferido na Câmara dos Senhores Deputados no dia 19 de Fevereiro
de 1907, Lisboa, Typ. do Bem Publico; GOUVEIA, António Homem de, 1907, Necessidade do descanço Dominical.
Discurso pronunciado no dia 6 de Fevereiro de 1907, na Gamara dos Senhores Deputados, a proposito do projecto do
descanço semanal. Pelo deputado conego António Homem de Gouveia. Lisboa: Typ. Do Bem Publico; MONIZ, Jaime

85
Junta Geral

Uma leitura atenta das intervenções dos deputados madeirenses ou em


representação deste círculo eleitoral revela o nível de relações que o quadro político
estabeleceu entre os insulares e continentais. A distância, o desconhecimento e,
por vezes, o desprezo, são uma evidência. Depois das mudanças políticas de 1974,
torna-se mais clara uma postura quase generalizada de hostilidade para com a
Madeira e os madeirenses, tendo a figura do Dr. Alberto João Jardim, Presidente do
Governo Regional desde 1976, como o principal alvo. A partir daqui, generalizou-
se uma ideia distinta da ilha e dos seus habitantes. Os madeirenses, sem qualquer
culpa formada, passam de magnânimos contribuintes a eternos devedores da
metrópole.

1821-1910. Monarquia Constitucional

Em dezembro de 1820, efetuam-se as eleições para as Cortes Constituintes, que


inauguram os seus trabalhos em janeiro de 1821, no Palácio das Necessidades. Foram
eleitos, nessa altura e ao longo do período constitucional, magistrados, juristas,
bacharéis, outros membros das profissões liberais, proprietários e negociantes,
alguns membros do clero e vários militares. Encarnavam as ideias liberais, crentes
no valor e na função reformadora da lei e conscientes da necessidade de libertar
o país do atraso, da miséria e da estagnação316. Os deputados representantes da
Madeira nas Cortes Constituintes são designadamente: Francisco João Moniz,
Maurício José Castelo Branco Manuel, Luís Monteiro e João José de Freitas Aragão,
em substituição de António João Rodrigues de Sousa Garcês, entretanto falecido.
Representarão a Madeira ao longo do período constitucional, 83 deputados, cujas
biografias poderão ser consultadas no anexo documental. Visto por muitos como
local privilegiado onde se discutia o destino da Nação, o Parlamento é também,
a partir de 1821, um espaço que acolhe, conforme afirma Castelo Branco, [os]
representantes dos povos da Madeira317. Aliás, de acordo com os diários, é desta
forma que todos os parlamentares insulares assumem a sua presença nas Câmaras
de que fazem parte.
Em 1826, são eleitos quatro deputados pela Madeira318: Manuel Caetano
Pimenta de Aguiar, que já fora eleito em 1822-1823; Lourenço José Moniz, que
viria a ser deputado até 1856, exceto na legislatura de 1842-1845, apresentando-

Constantino de Freitas, 1878, Discurso proferido na Câmara dos Deputados na Sessão de 15 de Março de 1878, Lisboa;
MONIZ, Jaime Constantino de Freitas, 1890, Discurso proferido na Câmara dos Dignos Pares do Reino. Por Jayme
Constantino de Freitas Moniz em Sessão de 17 de Julho de 1890. Lisboa: Imprensa Nacional; PEREIRA, João Augusto,
1903, Discurso acêrca do estado anarchico em que se encontra o Distrito do Funchal pronunciado pelo illustre membro
d’aquella casa do Parlamento (Sessão de 17 de Março de 1903) Camara dos Srs. Deputados. Funchal: Typ. do Diario
Popular; TOJAL, Conde do (João Gualberto de Oliveira), 1848, Discursos de Exmo. Sr. Conde do Tojal, pronunciado na
Camara do Dignos Pares: Nas sessões de 4 e 8 de Fevereiro de 1848, em defeza da Administração Terceira - Cabral de que
S. Exa. fez parte como Ministro da Fazenda. Porto: Typ. da Revista; VIEIRA, Manuel José, 1883. Discurso pronunciado
na Gamara dos Senhores Deputados na sessão de 7 de Maio de 1883, pelo Deputado por Santa Cruz (Ilha da Madeira)
Manuel José Vieira. E resposta do Exmo. Ministro das Obras Publicas. Lisboa: Typ. do “Diário da Manhã”; VIEIRA,
Manuel José, 1884. Discurso proferido na Camara dos Deputados na sessão de 13 de Fevereiro de 1884. Pelo deputado
Manuel José Vieira. Lisboa: Imprensa Nacional; VIEIRA, Manuel José, 1888, A Questão da Propriedade na Madeira.
Discurso Prenunciado na Câmara dos Senhores Deputados na Sessão de 7 de Julho de 1888 pelo Deputado, Funchal.
316 REIS, 1989 (dir. ), Portugal Contemporâneo, Vol. I, p. 36.
317 AHP, Primeira Legislatura, Cortes Constituintes, Diário n.º 37, 20-06-1821, p. 515.
318 VIEIRA, 2001 (coord. ), História da Madeira, p. 262.

86
Junta Geral

se, assim, como o deputado que durante mais tempo


esteve no parlamento, nomeadamente na Câmara dos
Deputados; Caetano Alberto Soares, clérigo, advogado
e professor de Latim e o comerciante lisboeta Luís
Monteiro, que já fora deputado em 1822-1823, mas
que não chegara a ir às Cortes, alegando razões de
saúde.
É por demais consensual que o vinho é o produto
fundamental da economia madeirense, no século
XIX. A sua produção e comercialização são temas
presentes, ao longo das sessões parlamentares, onde
intervêm os representantes insulares. A doença das
vinhas (primeiro o oídio, que se disseminou de forma
arrasadora, pelos vinhedos madeirenses a partir de
1851-1852319; depois a filoxera, sobretudo em 1872)
reduziram a produção vinícola a níveis insignificantes
e conduziram a uma grave crise económico-financeira
e social de proporções gigantescas que vai arrasar o
tecido produtivo e empresarial existente, exigindo
ainda a elaboração de um plano de replantação videira
que terá inevitáveis consequências na produção de
vinho. Fome, miséria, emigração e crise são palavras-
chave nas sessões das Câmaras, nestes períodos.
Perante o duro contexto ilhéu, Lourenço José
Moniz apresenta o projeto de lei n.º 116 E320: As noticias que acabam de chegar
O deputado Pimenta
da ilha da Madeira são, infelizmente, concordes em que a desastrosa calamidade
de Aguiar.
da doença que accommetteu os vinhedos daquella ilha, se apresenta já por toda
a parte com symptomas de ser ainda mais devastadora que o anno passado: a
perda pois de duas novidades consecutivas do producto principal da mesma ilha,
não so vai deixar as classes laboriosas destituidas de meios com que ganhem a
subsistencia, mas reduzida a extremo apuro a dos proprietarios; com a perda de tão
valiosa producção, desapparecendo na maior parte os rendimentos dos habitantes.
Os dízimos serão igualmente afetados, as quebras na Alfândega serão notórias e
esse era o rendimento principal do Estado. No entanto, porque existe uma rede
de relações à volta do vinho, toda a sociedade madeirense se irá ressentir. Moniz
e Pestana fazem ainda uma alusão à situação do porto de Canárias, cujas taxas
são mais atrativas para as transações comerciais do que a Madeira, o que deixa a
ilha sem defesas económicas. Estamos em perigo, segundo os parlamentares, de
serem aniquiladas as nossas vantagens a nível de clima e posição geográfica. Por
isso, o seu projeto segue no sentido do governo contrair um empréstimo em vista
a acudir os proprietários e outros necessitados.
A 26 de junho de 1869,321 Luís Vicente d’Afonseca, Luís da Câmara Leme e
Agostinho de Ornelas de Vasconcelos Esmeraldo Rolim de Moura apresentam,

319 CÂMARA, 2002, A Economia da Madeira (1850-1914), p. 92.


320 AHP, Câmara dos Deputados, Nona Legislatura, Diário n.º 7, 08-08-1853, pp. 111-113.
321 AHP, Câmara dos Deputados, Décima sétima Legislatura, Diário n.º 42, 26-06-1869, pp. 519, 524-525, 527-530.

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Junta Geral

na voz d’Afonseca, uma proposta. Contudo, antes, este deputado faz uma
apresentação da Madeira como um paraíso: A Madeira é um paiz completamente
excepcional. A Madeira excepcional, em primeiro logar porque é um oasis no
meio das liquidas campinas do oceano, em segundo logar porque está distante
da metropole 180 leguas, e foi chrismada provincia por uma lei precipitadíssima,
que não attendeu a cousa alguma se não a fazer numero de provincias. A Madeira
é um paiz excepcional, porque tem um commercio tambem excepcional; tem um
artigo só, se póde dizer, que é o vinho, que tambem é um commercio especial,
emfim tem todas as condições de um paiz completamente excepcional. Em virtude
d’isto a legislação para elle deve adaptar-se a essas condições e circumstancias.
Legislar com uniformidade para todos os pontos de um paiz é desconhecer estas
verdades de simples intuição. É incisivo ao apresentar a Madeira como um «paiz»
desconhecido relativamente à sua economia, visto que a legislação deve adaptar-
se a essas mesmas circunstâncias. Relembra outras figuras, tais como o duque
da Terceira, e seus collegas, os srs. conde do Tojal, Falcão, Gomes de Castro e
Costa Cabral, dizendo que estes tinham um maior conhecimento de economia
do que os que estão hoje no Parlamento e se lá estivessem, com toda a certeza,
haveria mudanças. Esta é uma situação que provoca risos na Câmara. Perante
essa situação, diz: A risada não é resposta a cousa alguma, se querem responder
peçam a palavra. A risada é uma arma ridícula. Silvestre Ribeiro aponta um
caminho para o comércio: Isto entendo eu, porque é uma doutrina que devia ser
adotada não só aqui, mas em toda a parte; porque, querer que um ponto distante
do continente, por exemplo 180 leguas, com productos excepcionaes e commercio
também excepcional, tenha a mesma legislação que tem o continente, é não saber
legislar nem administrar. Diz que a Madeira chegou a um estado desgraçadíssimo,
houve tempo em que produziu 35:000 a 40:000 pipas de vinho, com o oidium fukeri
talvez não produzisse 40 almudes, e hoje apenas tem 4:000 pipas. E continua, Nós
como portuguezes estamos promptos e temos obrigação rigorosa de partilhar
os encargos que pesam sobre o continente, mas não temos as vantagens, não
temos os confortos, nem os melhoramentos que têem os habitantes do continente
do reino. Nós não temos uma estrada, se póde dizer, não temos melhoramento
alguns e havemos de carregar com uma parte importante do que se vota para
o continente?! Não póde ser; a boa logica manda que se faça uma differença,
manda-o igualmente a boa administração.
Diz ainda que há um deficit que oprime aquela ilha. Se acaso nós tivessemos
a coragem de recuar em muitas das medidas precipitadas que tomámos em 1833,
as circumstancias da Madeira a este respeito seriam completamente diversas
(apoiados). Refere-se nomeadamente às pautas alfandegárias. Assim sendo, o seu
projeto vai no sentido de ser dado um parecer sobre o aumento extraordinário de
contribuições e alterações de pautas nas ilhas adjacentes, onerando desta forma os
produtos com graves consequências nos comerciantes. O projeto foi aprovado. Na
sessão de 10 de dezembro de 1870, Feliciano Teixeira apresenta um projeto-lei, no
sentido de uma maior igualdade entre as pautas alfandegárias e no de promover
uma melhor comercialização do vinho Madeira, considerado um dos melhores:
Os vinhos do continente portuguez pagarão na alfandega do Funchal o mesmo
imposto de consumo que o vinho de procedência insulana paga na alfandega de

88
Junta Geral

Lisboa322. E isto porque são já enormes os estragos feitos pela phylloxera nas vinhas
da Madeira. E cita: Na freguezia de Camara de Lobos, distincta pela excellencia dos
seus vinhos, porque era ali que se produzia o vinho mais fino, mais precioso e mais
afamado de toda a ilha, foram todas as vinhas destruidas pela phylloxera. Creio
que não escapou nem uma videira. Indica ainda a urgência do aproveitamento das
águas de rega, visto que a Madeira está atravessando uma crise gravissima.
Feliciano Teixeira323 continua, em 1880, a análise económica do arquipélago,
dando conta que a consequência desta situação é a miséria e a emigração. E esta,
em seu entender, tinha tomado proporções assustadoras. Assim sendo, Teixeira
diz que Os deveres e os direitos são correlativos. A Madeira, que tem os mesmos
deveres que as provincias do continente, tambem podia e devia ter os mesmos
direitos a entrar na communhão dos mesmos gosos, no goso dos mesmos bens que
as outras provincias continentaes.
A 30 de março de 1883324, a situação da ilha é examinada por Manuel de Arriaga,
designando de «calamitoso» o estado em que se encontra a Madeira e Porto Santo e
afirma aguardar resposta do governo para que a situação seja resolvida. Diz mesmo
que estes males que affligem tanto a ilha de Porto Santo, como a do Funchal, alguns
dos quaes, pela sua natureza e longa data, são uma verdadeira vergonha para a
historia da monarchia portugueza! O formoso arquipélago», designadamente a
ilha do Porto Santo, atravessam uma crise alimenticia de primeira ordem, lutando
as classes trabalhadoras com a miseria e grande parte d’ellas com a fome! (…) Tal e
o quadro desolador que, segundo informações fidedignas, apresenta hoje aos olhos
de nacionaes e estrangeiros a mais formosa das nossas ilhas, a que está archivada
na historia portugueza como o primeiro padrão das nossas glorias maritimas! Uma
verdadeira vergonha! E, no entanto, segundo os documentos officiaes e os dados
estatisticos que tenho consultado, possue a ilha da Madeira o porto de maior
movimento e de mais valiosos rendimentos aduaneiros, de quantos temos depois
de Lisboa e Porto! Dirigindo-se ao ministro das Obras Públicas, Hintze Ribeiro,
Arriaga afirma: Sou um insulano, e tenho a satisfação e a honra de dirigir-me a
um ministro que é igualmente insulano. Certamente por esta razão, terá maior
sensibilidade e compreensão sobre a realidade insular: Ninguem melhor do que s.
exa. conhece as condições precarias em que todas as nossas ilhas se acham, e as
justificadissimas queixas que todas dirigem á mãe patria! Não a vêem como mãe,
vêem-n’a como madrasta; sentem-se, e é verdade, exploradas por ella, e reclamam
constantemente contra esta expoliação. Reconhece que a Madeira é aquela que
maiores problemas e mais queixas tem contra a metrópole e que aquele era o
momento de se fazer justiça. Hintze responde: Não pense que o governo tenha sido
indifferente ás suggestões que d’aquella ilha tem partido, como não deve pensar
que fosse necessario que a palavra sempre eloquente de s. exa. viesse acordar
os echos do parlamento, para que o parlamento se lembrasse de que a alguns
kilometros de Portugal existe uma das suas ilhas mais formosas, e reconhecesse
quanto ella tem empobrecido por circumstancias imprevistas. (…) É assim que,
ainda não ha muito, independentemente das palavras que estimo sempre ouvir da

322 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima terceira Legislatura, Diário n.º 30, 20-02-1880, pp. 515, 517-519.
323 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima terceira Legislatura, Diário n.º 30, 20-02-1880, pp. 515, 517-519.
324 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima quarta Legislatura, Diário n.º 52, 30-03-1883, pp. 852-856.

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Junta Geral

parte de s. exa., tendo eu conhecimento de que a ilha do


Porto Santo estava a braços com a miseria pungente, por
isso que havia fome, e falta de emprego para os braços
validos, não duvidei attender promptamente dentro dos
limites possiveis á reclamação que me era feita, e nem
sequer esperei que me fosse apresentado, como seria
mais regular, o orçamento das obras que se queriam
emprehender, para as mandar logo realisar, parecendo-
me que em circumstancias d’estas a primeira necessidade
a attender era melhorar o estado desgraçado em que
se encontravam os povos d’aquella localidade, sem me
prender com formalidades burocraticas que podiam
ser tomadas mais tarde. N’esse intuito, usando até de
communicações telegraphicas, mandei a auctorisação
necessaria para que o director das obras publicas do
Funchal podesse dar prompto trabalho áquelles que mais
urgentemente o reclamavam. (…) Como s. exa. vê, pois,
não sou hospede n’este assumpto. (…) Assim, pois, no
que for rasoavel, póde o illustre deputado contar com a
minha coadjuvação, para que o districto do Funchal e os
outros districtos insulanos gosem da protecção do estado
e dos benefícios economicos que os possam levantar á
altura a que devem chegar.
A 12 de fevereiro de 1884325, Manuel de Arriaga,
corroborado por Manuel José Vieira e Luís António
Gonçalves de Freitas, apontam o dedo aos diversos
governos, dando conta de que poderiam já ter resolvido a situação da Madeira O deputado Manuel
José Vieira
como o fizeram com outras províncias. E dizem ainda que fôra das primeiras a
reclamar, e das que mais haviam contribuido para o thesouro publico para
merecerem justiça. Gonçalves de Freitas insiste: o que o povo da Madeira pede,
e reclama, e justiça, justiça, e só justiça. (…) Nos ultimos cinco annos a Madeira
deu para a metropole uma verba excedente a 500:000$000 réis; este excesso de
receita mais fortifica o direito de reclamar para aquelle districto beneficios iguaes,
melhoramentos equivalentes aos distribuidos por outros districtos bem menos
importantes. E por isso, Manuel José Vieira, afirma que o que são necessárias são
medidas promptas, e que possam attender immediatamente ás circumstancias em
tudo extraordinarias em que está a ilha da Madeira, e essas medidas promptas e
immediatas são da exclusiva competencia do ministerio da fazenda.
Manuel José Vieira, Fidélio de Freitas Branco e Feliciano João Teixeira, em
1887326, expõem, uma vez mais, a realidade insular e dão conta que a crise da
vinha e dos canaviais agrava-se, tornando incomportáveis as dívidas fiscais. O
pânico e a desolação são tais que alguns pequenos lavradores dos campos, vendo
approximar-se a epocha em que o fisco lhes havia de exigir o pagamento das
contribuições atrazadas, com os juros de mora accumulados, não podendo, por

325 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima quarta Legislatura, Diário n.º 28, 12-02-1884, pp. 285-298.
326 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima sexta Legislatura, Diário n.º 115, 09-08-1887, pp. 2445-2446.

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Junta Geral

absoluta falta de meios, satisfazer similhante exigencia, e não achando muitas


vezes, de prompto, comprador para a sua pequena fazenda e casa de habitação,
abandonaram atterrados tudo, para se irem entregar á mercê das agencias, que,
a troco das passagens gratuitas, e de outras quaesquer vantagens, promovem o
recrutamento dos emigrantes para as colonias estrangeiras. Referem mesmo que
existe um estado de escassez e de indiscriptivel abandono a que se acha reduzida
a grande maioria da população da Madeira. Pedem, assim, que as dívidas possam
ser pagas num prazo de quatro annos, por prestações mensaes ou trimestraes,
sem acrescimo de juros.
João Catanho de Menezes, tendo em conta o contexto de dizimação dos
vinhedos na Madeira, apresenta, em 1 de julho de 1899327, uma iniciativa sobre a
importação de vinho e uvas na Ilha da Madeira. E refere situações de concorrência
desleal: Assim é que o vinho do continente, já fabricado ou ainda na uva, em vez de
servir para consumo local, é transformado em vinho Madeira e depois exportado
com este nome, o que, alem de repugnante, por ser uma adulteração, prejudica a
agricultura e fere tambem o commercio licito, que exporta os vinhos genuinos.
Alberto de Sousa Botelho, a 2 de abril de 1901328, é mandatário de duas
representações: uma da Associação Comercial do Funchal e outra dos fabricantes
de aguardente de cana. Estas têm como causas principaes a falta de tratados
de commercio e a concorrencia desleal que fazem aos vinhos da Madeira os
vinhos estrangeiros. Refira-se os vinhos espanhóis e italianos com falso titulo
de procedencia e ilegalmente. Segundo refere o parlamentar, ainda ha pouco se
resolveu em França, a nosso favor, um processo intentado pela casa Blandy contra
os falsificadores de vinho da Madeira.
Ora, todo este contexto referente ao vinho e produção de cana-de-açúcar
indicam a premente necessidade de água para satisfazer as plantações. A
construção de levadas torna-se num tema muito presente, ao longo de várias
sessões. A agricultura de regadio vivia da água e a cultura da cana-de-açúcar
integrava esse grupo.
Já em 1823329, Pimenta de Aguiar defende a creação de uma junta de
encanamentos, e estradas na cidade do Funchal. Segundo este deputado, (…)
a Madeira pelo seu clima offerece a todo o lavrador as melhores experiencias
possiveis; qualquer planta que ali se plante vegeta, e produz muito (…) O clima
he tão fertil, que o chá e o tabaco nasce alí espontaneamente, e perde-se, porque
não tem o devido amanho, a agua he o que alí lhe falta; e o que eu pedia era,
que por espaço de alguns annos pelo rendimento da provincia se applicasse dois
contos de réis cada anno para o encanamento da agua, porque nisto vem a lucrar-
se bastante, porque augmentada a cultura augmentada os dizimos; com isto a
provincia ha de augmentar-se, e prosperar.
Em 1835330, Lourenço José Moniz e António Aloísio Jervis de Atouguia, na sua
intervenção parlamentar, abordam a questão da levada do Rabaçal: (…) por tanto

327 AHP, Câmara dos Deputados, Trigésima segunda Legislatura, Diário n.º 99, 01-07-1899, pp. 1, 3.
328 AHP, Câmara dos Deputados, Primeira Legislatura, Diário n.º 48, 02-04-1901, pp. 1, 4-5, 41-44.
329 AHP, Câmara dos Deputados, Primeira Legislatura, Diário n.º 33, 13-02-1823, pp. 805-806.
330 AHP, Câmara dos Deputados, Primeira Legislatura, Diário n.º 65, 14-04-1835, pp. 815-816, 832, 840-842.

91
Junta Geral

lembrava eu ao Sr Ministro do reino que tornasse em consideração esta obra das


agoas chamadas do Rabaçal da ilha da Madeira, e que lhe dê aquella consideração
que merece, sem todavia deteriorar outros objectos de importancia mais geral.
Silvestre Ribeiro e Lourenço Moniz331 reforçam a ideia da indispensabilidade
das levadas, obras dispendiosissimas na sua construcção, e de mui custoso
entretenimento; mas, que bem pagam os sacrificios, que motivaram, porque vão
communicar á terra a humidade, e a força productora, que lhe falta. O clima e a
destruição das matas, têm, no seu entender, tornado improdutivos os terrenos,
por isso, as levadas constituem uma obra urgente para o aproveitamento das
águas. Esta obra urgente é, de novo, apontada no discurso de Silvestre Ribeiro em
1849332: Sr. Presidente, em toda a parte as agoas de regadio são necessarias para
tornar ferteis os terrenos; mas na ilha da Madeira são mais do que necessarias,
são indispensaveis, são ouro. Este ouro de que fala Ribeiro necessita de obras de
canalização e seria uma obra que muito honraria a qualquer seculo, e a qualquer
nação. Aponta, no entanto, as dificuldades que estão subjacentes à sua construção:
Só lembrarei que em um certo ponto se encontrou um obstaculo de immensa
difficuldade (…) que embaraçava a passagem da Levada, e que para remover
esse obstaculo se projectou prefurar a montanha, praticando uma vasta galeria
subterranea, ou tunel, que já vai muito adiantada do lado do sul e do norte. Recorda
a apreciação positiva do Ministro da Fazenda aquando da sua visita à Madeira
e apela aos deputados que conhecem a Madeira. Esta obra permitirá o regadio
dos terrenos, até então, secos, permitindo o aumento da produção agrícola e,
desta forma, beneficiará igualmente todo o governo, porque assim aumentarão os
dízimos. O governo terá naquella Levada uma fonte de rendimento annual, talvez
de 2 contos de réis, vendendo a agoa aos lavradores, que a precisam, e a pagam
a peso de ouro.
Em 1869333, Agostinho de Ornelas de Vasconcelos Esmeraldo Rolim de
Moura, Luís Vicente de Afonseca e Luís da Câmara Leme recordam duas obras
incompletas, superiores pela sua magnitude (…): as levadas do Rabaçal e do
Furado, esta destinada a irrigar parte dos concelhos do Funchal e Santa Cruz,
aquella que deve fertilisar o importante concelho da Calheta. Afirmam ainda que
estas não são as únicas obras de irrigação que a Madeira reclama. Existem outras,
de menor dimensão, mas igualmente necessárias. Os projetos de lei apresentados
continuam ao longo dos anos334, no sentido do governo custear as obras em várias
levadas: Rabaçal, Furado, Monte Medonho e Ribeira do Inferno.
Feliciano Teixeira335 reconhece que a orografia da ilha dificulta as obras,
no entanto, é fundamental esta canalização, para serenar a impaciência dos
madeirenses. A Madeira, segundo o deputado, vê no aproveitamento das águas o
meio mais poderoso e efficaz de levantar-se da situação abatida em que se acha,
de expor se pela melhor fórma ás crises agricolas que por vezes tem atrevessado
(…) E mais: Não receie o nobre ministro que eu venha pedir lhe que beneficie

331 AHP, Câmara dos Deputados, Sétima Legislatura, Diário n.º 20, 26-01-1849, pp. 186, 191.
332 AHP, Câmara dos Deputados, Sétima Legislatura, Diário n.º 132, 22-06-1849, pp. 249, 267-268.
333 AHP, Câmara dos Deputados, Décima sétima Legislatura, Diário n.º 46, 02-07-1869, pp. 595-597.
334 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima terceira sétima Legislatura, Diário n.º 28, 17-02-1880, pp. 483-484.
335 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima terceira Legislatura, Diário n.º 30, 20-02-1880, pp. 515, 517-519.

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Junta Geral

a Madeira á custa do continente e com sacrificio d’elle. Podia fazelo sem recear
com isso estabelecer um precedente novo, ainda que não fosse auctorisado pelas
condições difficeis que actualmente se dão. Os deveres e os direitos são correlativos.
A Madeira, que tem os mesmos deveres que as provincias do continente, tambem
podia e devia ter os mesmos direitos a entrar na communhão dos mesmos gosos,
no goso dos mesmos bens que as outras provincias continentaes. Assim, se o
governo consentir que fique na ilha o avultado producto das suas contribuições,
depois de deduzidas todas as despezas para se gastar nas obras, seria uma medida
transitória, pois que acabadas as obras das levadas, passada a crise, fechar-se-ha
este parenthesis, e a Madeira voltará então remoçada e cheia de vida a tomar o
posto que occupava no orçamento geral do estado, contribuindo mais que d’antes
para os melhoramentos geraes do paiz. E este assunto da construção vai ganhando
cada vez mais relevo, na medida em que muitas das levadas não eram mais do
que condutas de madeira. Esta incipiente forma de encaminhar as águas permitia
enormes perdas por infiltração e por evaporação.
Em 1900336, o Visconde da Ribeira Brava, apoiado por José António de Almada,
João Catanho de Menezes e João Augusto Pereira exploram novamente a questão,
dando conta que, sem irrigação, as culturas na ilha são impossíveis e por isso,
tendo em consideração que existem muitas levadas particulares e a cada uma das
quais corresponde uma associação de proprietários e lavradores, propõem que o
governo venda as águas que o Estado possui na ilha. Em 1898, o Visconde da Ribeira
Brava tinha já apresentado no Parlamento um projeto que previa a alienação das
levadas do Estado existentes na Madeira aos proprietários das terras. No entanto,
só dois anos decorridos, a Comissão Parlamentar de Obras Públicas subscrevia
estas posições337.
João Augusto Pereira, na sessão de 15 de junho de 1900338, juntamente com
outros deputados, protagoniza uma defesa acérrima do assunto «levadas». O
deputado Mascarenhas Gaivão, na sua intervenção, considera ser este um assunto
particular pois que apenas interessa a grupos de lavradores. Geral seria, na sua
perspetiva, o debate acerca do fomento vinícola e afirma: Não se trata de interesses
particulares de qualidade alguma. Por outro lado, Pereira dos Santos reconhece
a essência da questão apresentada por Augusto Pereira e enuncia uma reflexão
que defende os interesses da ilha: A Madeira com o seu nectar preciosissimo e
pela sua situação geographica, situada ao meio das derrotas desde o norte da
Europa até á Africa o á America, tem naturalmente concorrido para ser conhecido
o nome portuguez em toda a parte do mundo! (…) a sua primeira necessidade é
que se façam as suas levadas; porque a Madeira, sem agua, não póde valer cousa
nenhuma e as suas culturas ricas podem desapparecer.
Neste contexto de desenvolvimento sustentável, diríamos nós hoje, a
arborização das serras da Madeira é um outro tema que ganha importância nos
debates. Alfredo César de Oliveira, em fevereiro de 1879339, apresentava um
projeto, com o fim de autorizar o governo a arborizar os terrenos das serras e

336 AHP, Câmara dos Deputados, Trigésima terceira Legislatura, Diário n.º 87, 12-06-1900, pp. 1, 5-13.
337 CÂMARA, 2002, A Economia da Madeira (1850-1914), p. 39.
338 AHP, Câmara dos Deputados, Trigésima terceira Legislatura, Diário n.º 88, 15-06-1900, pp. 1, 7-9.
339 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima segunda Legislatura, Diário n.º 29, 10-02-1879, pp. 383-389.

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Junta Geral

montanhas da ilha da Madeira, que pertençam actualmente ou vieram a pertencer


á fazenda nacional. No dia seguinte340, pormenoriza um pouco mais a situação
da ilha: As matas e florestas que em tempos remotos vestiam as serras da ilha da
Madeira estão hoje quasi totalmente extintas. O fogo, o ferro e o gado têem sido os
agentes da destruição. Apresenta, então, as consequências dessa devastação: As
massas immensas de basalto, que se ostentam nuas nas elevações das montanhas;
as sinuosidades profundas e precipícios formados nos declives dos montes, sâo as
tristes consequências d’essa devastação vandalica. As aguas das chuvas, correndo
sem obstáculo das elevações, arrastam no seu caminho terras e rochedos,
esterilisam os montes, devastam os valles, e ameaçam as povoações; precipitando-
se nas ribeiras, actualmente quasi seccas, e que então se tornam torrenciaes e
caudalosas, produzem desastres incalculáveis. Essa mesma, secca habitual das
ribeiras é ainda outra desastrosa consequência d’aquella devastação; porquanto
as chuvas são muito menos frequentes e regulares, e a terra, apresentando á acção
do ar almospherico uma superfície nua, sem húmus, sem raizes vegetaes, sem
abrigo protector, nâo infiltra de aguas suficientes para sustentarem as fontes e
tornarem perennes as correntes. Apresenta uma visão realista e muito atualizada,
referenciando várias figuras e os notáveis trabalhos dos Humboldt, dos Saussure,
dos Boussingault. Cita Humboldt, geógrafo, naturalista e explorador alemão
e diz que é preparar ás gerações futuras duas calamidades ao mesmo tempo,
falta de combustível e escassez de agua. Se em toda a parte, os governos mais
illustrados téem reconhecido a conveniência e necessidade de impedir as funestas
consequências da devastação dos arvoredos; e tendo em vista que o bem geral
está acima do bem particular reclama atenção para o que, a este respeito, se vivia
na ilha. Apresentando o exemplo da Áustria onde vigoraria esta visão ecológica
e de sustentabilidade do meio ambiente, Oliveira indica a realidade madeirense
onde Ha actualmente nas serras da ilha da Madeira mais de 20:000 hectares de
terra a arborisar; e se bem que seja certo que em muitos pontos a arborisação
se faz espontaneamente logo que elles estejam defendidas dos gados, a maior
parte d’aquelle terreno só poderá ser arborisado por sementeiras ou plantações
artificiaes.
Pedro Maria Gonçalves de Freitas, Henrique de Santana e Vasconcelos
Moniz de Bettencourt e João Augusto Teixeira341 reforçam a iniciativa anterior
defendendo, a 31 de janeiro de 1885, a conservação e augmento dos arvoredos
nas serras da ilha da Madeira. E, em sessão posterior342, apresentam mais alguns
dados relevantes: A solução da crise agricola da ilha da Madeira não depende
sómente da tiragem das levadas, depende tambem da arborisacão das serras.
Identificam várias situações que contribuiram para o fenómeno do desbaste das
serras, designadamente o abate de árvores para construções e combustível. O
vandalismo que aconteceu permitiu que apenas se encontram ainda algumas
arvores seculares nas serras d’onde, por falta de veredas, transitaveis, nem
reduzidas a carvão podem ser conduzidas para os centros populosos. Reconhece
igualmente que águas aproveitaveis da ilha da Madeira não podem ser sufficientes
para a irrigação de todos os terrenos cultivaveis d’aquella ilha, havendo uma grande
340 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima segunda Legislatura, Diário n.º 30, 11-02-1879, pp. 393-396.
341 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima quinta Legislatura, Diário n.º 20, 31-01-1885, pp. 323, 327.
342 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima quinta Legislatura, Diário n.º 25, 09-02-1885, pp. 379-380.

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Junta Geral

zona que só póde ser fecundada pelas chuvas, e sendo a arborisacão o unico meio
de attrahir as chuvas regulares, parece-me, senhores, que o complemento desta
obra de tamanho alcance para os madeirenses será a arborisação das serras da
Madeira. Por isso, pede no Parlamento que voteis uma verba especial para este,
aliás momentoso, melhoramento; mas considerando, todavia, que se não póde
emprehender na Madeira, depois da tiragem das levadas, obra mais importante
do que a arborisação das serras; só pedirei, e ouso esperar, senhores, que mo não
recusareis, que da verba votada annualmente para obras publicas no districto do
Funchal a quarta parte seja applicada a arborisacão das serras.
Em toda esta descrição das circunstâncias económicas do arquipélago, os
impostos constituem referência acutilante nas intervenções dos madeirenses.
Manuel Caetano Pimenta de Aguiar, Caetano Alberto Soares e Lourenço José Moniz,
já na sessão de 20 de março de 1827343, apontam o desfasamento, no que concerne
às pautas alfandegárias entre Lisboa e a Madeira, o que condiciona as atividades
comerciais e principalmente não constitui um regime de igualdade nas alfândegas,
prejudicando a atividade comercial insular. O mesmo acontece noutras sessões344.
A 21 de janeiro de 1843, os deputados Luís Vicente d’Afonseca, Bartolomeu dos
Mártires e Sousa, Francisco Correia de Herédia de Aragão e Melo e João da Câmara
Carvalhal Esmeraldo alertam para este aspeto, uma vez mais, apontando o facto
de ser uma forma de não atrair estrangeiros a esta ilha do Atlântico. Luís Vicente
d’Afonseca, em 1843, considera que é preciso atender à especificidade insular,
quando se aborda a questão das pautas alfandegárias e diz mesmo: Sr. Presidente,
dizia Camões: Passámos a grande ilha da Madeira, Hoje pôde-se dizer: Passámos o
penhasco da Madeira, Que por mendigo e pobre assim se chama. E aponta o dedo
a uma errónea decisão: Se a Lei da Pauta não tivesse comprehendido a Madeira,
a Metrópole teria mais alguns centos de contos para alivio dos encargos geraes, e
na Madeira não se daria o caso ate agora virgem de estalar gente de fome como
tem acontecido depois da inundação do anno passado, nem cinco mil desgraça,
dos se teriam ido arremessar aos Pântanos, (…) de Demerara, onde quasi todos
succumbirão. Prossegue a sua análise, descrevendo uma ilha à beira do precipício
e cheia de mendigos.
O deputado açoriano, Pegado, em 1853345, demonstra solidariedade para
com a realidade madeirense, ao ser proposta a suspensão da cobrança do dízimo,
uma iniciativa de António da Luz Pita e José Silvestre Ribeiro, tendo em conta
a situação económica de então. O seu sentir de ilhéu fá-lo expressar-se assim:
Sr. presidente, nunca ouvi pronunciar o nome da ilha da Madeira, que me não
recordasse pungentemente da minha patria; porque as circumstancias actuaes
de ambas sao as mesmas. Esta identidade da sorte faz que ella tome o maior
interesse pelo presente estado da nossa ilha, que bem se póde chamar o estado
de desesperação, porque os seus habitantes, uns vão-se e deixam o torrão natal;
os que ficam, não teem para subsistirem. A ilha da Madeira, a flor do Atlantico
como lhe chamam os navegantes, tem sido a inveja dos estrangeiros, e a vergonha
de Portugal; porque tudo quanta ella tem de bom, deve-o á natureza, pouco ao
343 AHP, Câmara dos Deputados, Primeira Legislatura, Diário n.º 57, 20-03-1827, pp. 635-638.
344 AHP, Câmara dos Deputados, Quarta Legislatura, Diário n.º 112, 19-10-1840, pp. 393-395; AHP, Câmara dos Deputados,
Quinta Legislatura, Diário n.º 17, 21-01-1843, pp. 182-183.
345 AHP, Câmara dos Deputados, Nona Legislatura, Diário n.º 14, 18-06-1853, pp. 194, 199-208.

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Junta Geral

homem, menos aos governos. Os viajantes admiram tanto a sua belleza, a sua
magnificencia natural, e a portentosa variedade das suas zonas, como o desleixo
da nação a que pertence. Fóra ella dos americanos, ou dos inglezes, que de ha
muito teria sido o paraizo terreal; qual lhe cabia por aquellas qualidades, e pela
sua posição no globo. A ilha da Madeira é, como todas as nossas possessões de
além do Oceano, o testimunho vivo, a prova visivel, ostensiva, e perante do pouco
que se tem sabido entre nós governar e administrar. A ilha de Hong-Kong é ingleza,
ha menos de 10 annos tem já cáes, planos inclinados para a subida e revista dos
navios, docas que os abrigam: os nossos desfazem-se no Tejo sob a acção continua
dos ventos, das chutas, e das correntes; tem quarteis espaçosos, hospitaes,
armazens, escriptorios officinas, ruas amplissimas: ilha de terreno infecundo, de
atmosfera ventosissima, e mal sã, cortada hoje de estradas! (…) Nenhum districto
da monarchia está hoje como a ilha da Madeira. Não se deve, pois, dizer que igual
medida se estenda aos mais districtos; ou que sé espere por medidas geraes.
Convem-nos ser menos egoistas. A minha opinião é, que para a Madeira, faça-
se o que se puder, por pequeno bem que seja; porque lhe dá alguns recursos, e
alimenta a esperança, e a não desanima, e provoca o abandono da ilha. Cuide-
se já, já da Madeira, e cuidar-se-ha depois dos outros districtos: a excepção está
justificada pela necessidade, pelo principio da humanidade, e pelo brio e decóro
nacional. Os próprios estrangeiros têem concorrido com donativos para o soccorro
de madeirenses: não é possivel que o parlamento deixe de concorrer tambem para
tudo o que tende a melhorar a sua sorte. Assim, vota neste projeto dos porta-vozes
da realidade insular. Neste contexto, Tavares Macedo reage: O illustre deputado
disse — a ilha da Madeira deve tudo á natureza, pouco aos homens, e nada ao
governo — Que a ilha da Madeira deve muito á natureza, é proverbial; basta
lembrar que se lhe chama — a flor do Oceano — que ella deve pouco aos homens,
não sei como similhante cousa se possa dizer. (Apoiados) A ilha da Madeira foi
descoberta pelos portuguezes, foi por elles colonisada, foi por elles levada a um
alto gráo de prosperidade; é muito povoada, e os seus habitantes estão sendo
muitos civilisados; e se se diz que a ilha da Madeira nada deve aos homens, isto,
na minha opinião, é desacreditar a raça portugueza. Disse-se — que a ilha da
Madeira nada deve ao governo. Peço licença para lançar um rapido golpe de vista
sobre a politica portugueza acêrca da ilha da Madeira, não a politica antiga mas a
politica actual. Aquella ilha tem uma pauta de alfandega aonde se estabeleceram
direitos que se julgaram rasoaveis; mas acontece que na ilha da Madeira apenas
se pagam 40 por cento, em relação ao que pagam os contribuintes do continente
europeu, quer dizer, que em 1842 tomou-se uma providencia, a qual existe ainda
em vigor, em virtude da qual quando o contribuinte do continente paga 100 réis
pelos generos que importa do estrangeiro, o contribuinte da Madeira paga só 40
réis. Considera que o contribuinte da Madeira tem sido mais favorecido que o do
continente porque o da Madeira tem sido isento de certos tributos que se tem pago
no continente, como, por exemplo, o tributo para amortisação das notas, e muitos
outros. E no entretanto diz-se que a ilha da Madeira não deve nada ao governo! Eu
perguntarei — se o governo abandona ou tracta mal a ilha da Madeira, quando lhe

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Junta Geral

faz beneficios desta ordem! E estes beneficios poderia eu dizer, que eram injustos,
porque é necessario haver igualdade, visto que todos são subditos portuguezes. Eu
intendo que quando ha uma circumstancia especial, e extraordinaria, póde e deve
fazer-se uma excepção qualquer; mas adopta-la como regra geral, como medida
constante e permanente, com isso é que eu não posso concordar. Todos sabem
que para se favorecerem os cereaes portuguezes, se impozeram altos direitos
quanto á importação de cereaes estrangeiros, e que depois se estabeleceu um
direito diminuto, como premio á exportação dos nossos cereaes. Parece natural
que um territorio portuguez qualquer consumisse generos portuguezes, mas a
ilha da Madeira tem gosado da vantagem de admittir generos estrangeiros. Paga,
é verdade, um direito, mas esse direito é municipal. E note-se que em quanto o
contribuinte do continente paga grandes tributos municipaes, lá paga-se um
imposto municipal muito diminuto lançado sobre estes generos. E não deverá
nada a ilha da Madeira ao governo? Segundo o deputado, a Madeira é a cousa
mais elastica que eu tenho visto. Umas vezes é summamente fertil, e deve tudo á
natureza, outras vezes é summamente esteril, e não produz nada, para pedir-se
medidas taes como a que está em discussão. Custa-me fallar nestas cousas, custa-
me trazer estes factos; mas se o faço, é por achar realmente desagradavel o dizer-
se que a Madeira não deve nada ao governo! E note se que quando digo governo
não me refiro a este ou áquelle ministerio, refiro-me ao governo da nação; sendo
fóra de duvida que todos os ministerios tem favorecido, e favorecido altamente a
ilha da Madeira. (Apoiados).
O discurso do deputado é longo e todo ele vai no sentido de apontar as
especificidades que são, segundo refere o diário parlamentar, concedidas à ilha,
pelo que vota contra o projeto. Alves Martins, intervém, referindo que: Não se póde
dizer que o governo olhe com olhos de indifferença para a Madeira, nem tambem
a camara, e mesmo os srs. deputados pela Madeira não se queixam disso, mas são
tantas as presunções a favor da Madeira, que eu confesso que já estou cançado de
ouvir tanto sentimentalismo a respeito da Madeira. Nós estamos promptos a tornar
todas as providencias que estiverem ao nosso alcance a favor daquelles povos,
são nossos irmãos, são portuguezes; que mais querem de nós? Dizem os illustres
deputados pela Madeira — queremos uma medida que acuda aos males daquella
ilha; ora vamos a vêr qual é o remedio que os illustres deputados, e a commissão,
propõem que se applique á Madeira. E eu não estou indisposto com a Madeira,
pelo contrario sou portuguez, sou homem, tenho sentimento como os outros tem,
e não obstante eu vêr neste projecto uma excepção á regra geral, excepção anti-
economica e contra a doutrina, comtudo attendendo ao caso especial em que está
a Madeira, faria excepção ás doutrinas, faria excepção á legislação para acudir
a Madeira; esta é a minha disposição; mas eu voto contra o projecto, não por
elle ser contra as doutrinas, porem por ser contraproducente, por não acudir ao
mal que se quer remediar, porque me parece mais nem eu quero dizer o que me
parece. Ora eu vou provar á camara como o projecto não acode aos males a que
a commissão de fazenda quer que se acuda, eu vou provar como não serve para
cousa alguma, senão para occupar tempo á camara, e eu se fosse deputado pela
Madeira não queria a gloria de o ter conseguido da camara. Luz Pita reage com
uma questão: Terá um parlamento portuguez a coragem de recusar áquella ilha,
pobre e desgraçada como está, a pequena e justa concessão que se lhe pede?

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Junta Geral

Os proponentes continuam a sua argumentação em favor da ilha indicando


mais uma vez a fome, a miséria, a emigração que já faz parte da vida das famílias
madeirenses. E responde ainda a Alves Martins, dando conta de que a Madeira
Effectivamente é fóra de duvida, que os differentes governos, ou ministerios,
que tem havido em Portugal, tem sempre attendido á Madeira, tem proposto
algumas leis, que a protegem e beneficiam; seria ingratidão se não dissesse isto; os
madeirenses não desconhecem os beneficios que tem recebido dos governos e dos
parlamentos portuguezes. Em resposta a um illustre deputado, que disse — que a
ilha da Madeira não pagava tributos, ou pagava poucos tributos, em comparação
com os que se pagavam no continente — devo dizer — que na Madeira pagam-se
os dizimos, o subsidio litterario, o imposto dicto das estufas, o da exportação de
vinhos — imposto pessoal remivel a dinheiro para estradas — o finto, os direitos
de alfandegas, e, além disto, impostos municipaes mui avultados. Portanto, não se
póde dizer, que a Madeira não paga tributo; paga tributos, e paga muitos.
Na sessão de 23 de junho de 1855346, a isenção de impostos sobre objetos
necessários para o fabrico da cana-de-açúcar, sugestão equacionada no âmbito das
circunstâncias adversas para a Madeira é alvo de uma proposta por José Ferreira
Pestana, Lourenço José Moniz e José Silvestre Ribeiro. Este projeto, segundo os
seus autores tem por fim animar um novo ramo de agricultura e industria, que
póde atenuar os males de que está sendo victima aquella parte da Monarchia.
Assim, seriam contemplados pelo prazo de três anos, a importação, livre de
direitos, das machinas, caldeiras e mais utensilios necessarios, para o fabrico dos
productos da canna doce, na mesma ilha. Em 1858347, Jacinto Augusto de Sant’Ana
e Vasconcelos Moniz de Bettencourt e Luís de Freitas Branco renovam a iniciativa
e em 1875 volta novamente à Câmara dos Deputados.348
E em 1859, na sessão de 16 de fevereiro349, o imposto dos cinco dias de
trabalho é alvo de análise no Parlamento. Os representantes ilhéus consideram
este tributo desigual e vexatório. E assim, desta desigualdade, consideram que tem
havido grande resistência ao seu pagamento. Por isso, apresentam como proposta
que o trabalho de cinco dias possa ser pago em dinheiro. A 31 de dezembro de
1861, a discussão no Parlamento entre deputados madeirenses, no respeitante a
este imposto, indica algumas posturas opostas.350
As dívidas fiscais são a consequência natural do agravamento dos inúmeros
impostos que os madeirenses pagam. Nas Cortes Constituintes, José Manuel
de Freitas da Silva Branco é mensageiro das queixas da Madeira devido ao
esmagamento de impostos351: queixas, e descontentamentos dos povos de uma
provincia consideravel, e numerosa, os quaes descontentes e queixosos clamão em
altas vozes, e com manifesta justiça contra a força que os esmaga; e estendendo os
braços para o soberano Congresso, lhe supplicão a graça de os alliviar de um peso
enorme e injusto, que sobremaneira os opprime e sobrecarrega. E diz ainda: Não,

346 AHP, Câmara dos Deputados, Nona Legislatura, Diário n.º 17, 23-06-1855, pp. 802-803.
347 AHP, Câmara dos Deputados, Décima primeira Legislatura, Diário n.º 1, 01-07-1858, pp. 3, 7.
348 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima primeira Legislatura, Diário n.º 28, 13-02-1875, pp. 369-371.
349 AHP, Câmara dos Deputados, Décima primeira Legislatura, Diário n.º 13, 16-02-1859, pp. 103-105.
350 AHP, Câmara dos Deputados, Décima terceira Legislatura, Diário n.º 7, 31-12-1861, pp. 14, 16-17.
351 AHP, Câmara dos Deputados, Primeira Legislatura, Diário n.º 39, 20-02-1823, pp. 886, 905-907.

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Junta Geral

Senhores: a Madeira queixa-se, porque muito se sente opprimida, porem queixa-


se da mesma maneira, que o doente se queixa ao medico, de cujas mãos espera o
remedio e a saude.
Para o parlamentar, estas queixas são dirigidas ao soberano congresso, porque
nesta nova assembleia estão depositadas as esperanças da Madeira para a resolução
dos seus problemas. E em 1828352, Lourenço José Moniz lamenta-se na Câmara dos
Deputados: triste cousa he ser devedor sem poder pagar, e tristissima cousa ser no
mesmo caso devedor fiscal. Nesta sua expressão, o deputado parece indicar o peso
que recai sobre os seus compatriotas. Ilustra a realidade dos devedores dizendo
que: (…) limitar-me-hei a mostrar a esta Camara que, quanto á Provincia; que me
fez a honra de me eleger, he absolutamente impossivel sujeitar seus habitantes
nas circunstancias actuaes a execuções vivas, ou ainda a pagamentos violentos,
sem ao mesmo tempo arruinar totalmente suas casas e familias, e frustrar toda a
arrecadação da divida á Fazenda Publica. Todo o contexto europeu e internacional,
a grande crise do comércio do vinho e as consequências da aluvião de 1803, são
por si evocados como alguns dos fatores que foram catalisadores dessa situação
de dívida.
No dia seguinte353, Manuel Caetano Pimenta de Aguiar reforça esta ideia,
dando conta do doloroso quadro da consternação pública dos devedores fiscaes
na Madeira, não só porque elle já foi delineado com sombrias cores, mas para não
sensibilisar outra vez os corações generosos de alguns dos Senhores Deputados,
que se tem interessado pela sua sorte. Lourenço José Moniz, ainda em março de
1828354, lamenta a dificuldade em se encontrar na Madeira fiadores que sejam
a garantia do pagamento efetivo das dívidas: como será possivel achar estes
multiplicados Fiadores em um Paiz como he a Madeira, onde grande parte dos
bens já andão hypothecados, e outros não o podem ser, senão pelos rendimentos,
por que são bens de Capellas, e Morgados?
Nos finais do século XIX355, com a crise económica que se constata na Madeira,
os deputados reclamam dos poderes públicos uma séria atenção e adoção
imediata de providências especiais que tendam a minorar os males presentes e
a remover ou a, pelo menos, attenuar as consequencias funestissimas, que elles
podem gerar de futuro. E uma dessas providências é, de acordo com Manuel José
Vieira, Fidélio de Freitas Branco e Feliciano João Teixeira tornar mais suaves as
prestações tributarias, de modo que estas se não traduzam n’um encargo tão
pesado e oneroso no momento actual, que ainda mais vão aggravar a penosa
situação em que se acha o agricultor e o proprietario madeirense, precipitando a
epocha da sua completa ruina, e da transigencia forçada com o triste e extremo
recurso da emigração.
O sistema de propriedade e de exploração da terra apresentava na Madeira
caraterísticas muito particulares. Além do tipo de propriedade livre e de outros
sistemas de exploração da terra, vigorava aí um contrato agrícola denominado

352 AHP, Câmara dos Deputados, Primeira Legislatura, Diário n.º 31, 11-02-1828, pp. 411, 420-426.
353 AHP, Câmara dos Deputados, Primeira Legislatura, Diário n.º 32, 12-02-1828, pp. 503, 512.
354 AHP, Câmara dos Deputados, Primeira Legislatura, Diário n.º 43, 04-03-1828, p. 679.
355 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima sexta Legislatura, Diário n.º 115, 09-08-1887, pp. 2445-2446.

99
Junta Geral

«colonia»356. Este contrato é regulado pelo direito consuetudinário, em que o


proprietário da terra a cede a outrem, tendo este a obrigação de a tornar arável,
construindo as benfeitorias, dando-lhes na altura da colheita a metade da mesma357.
Segundo José Silvestre Ribeiro358, a colonia é um costume tão injusto, tão absurdo
e anti-economico, deve ceder o passo a principios de justiça universal, reduzidos
a lei escripta. Na sua perspetiva, a colonia não deve subsistir. Por isso, em 23 de
fevereiro de 1855359, propõe que o governo seja convidado a mandar proceder,
na Ilha da Madeira, a um inquerito acerca do denominado, contrato, de colonia.
Para Silvestre Ribeiro, era essencial conhecer, entre vários aspetos, se esse sistema
era fundado em lei escrita ou em costume da terra, se satisfazia as conveniências
da propriedade territorial e os interesses da agricultura e se havia prejuízos para
ambas as partes. Dois anos depois, a 11 de maio de 1857360, Sebastião Frederico
Rodrigues Leal renova a proposta de Silvestre Ribeiro, visto que até então, não
tinha sido satisfeita. Outras sessões abordarão a situação da colonia na Madeira361.
Daniel de Ornelas e Vasconcelos apresenta, na Câmara dos Pares362, dados
sobre a situação de estagnação do comércio. Assim, segundo o Par, por tanto,
ou haviam de tornar-se salteadores, ou emigrar. Na sua opinião, seria até uma
tyrannia obstar, a que essa gente, não tendo no seu Paiz modo de vida, o vão
procurar fóra, quando na sua permanencia alli, ou soffriam muito, ou se proporiam
a meios de subsistencia fataes a si, e á Sociedade. Luz Pita e Silvestre Ribeiro
apresentam o retrato da ilha na sessão de 18 de junho de 1853363: Não estranhe
a camara que eu lhe diga, que a ilha da Madeira está desgraçadissima, e que se
perderá de todo, se se não acudir com providencias promptas; mais tarde, será
muito tarde. A emigração alli cada vez é maior, e espantosa, e isto resultante da
falla de subsistencia; a população alli cada vez vai diminuindo mais, por falla de
proporcional alimentação.
O clamor do antigo Governador Civil Silvestre Ribeiro faz-se ouvir no
Parlamento364: o povo da ilha da Madeira, (…) está hoje lá fóra levantando altos
clamores, que está gemendo na miseria, reduzido á fome, e pedindo providencias
serias para o mal que está soffrendo. E em nome, pois, dos interesses desse povo
que eu peço me seja permittido erguer a minha voz, ainda que debil e fraca.
Levanta uma questão pertinente: O governo ha de ser só para a cidade de Lisboa,
para a cidade do Porto, ou para mais uma ou outra cidade? Não, sr. presidente.
O governo deve ser para todos os portuguezes. O governo deve estender as suas
vistas paternaes a todos os pontos da monarchia. Se o povo da Madeira não e aqui
representado intelligentemente pela minha pessoa, pelo menos e representado

356 CÂMARA, 2002, A Economia da Madeira (1850-1914), pp. 31-32.


357 VIEIRA, 2004, Canaviais, Açúcar, e Aguardente na Madeira-Séculos XV a XX, p. 99.
358 AHP, Câmara dos Deputados, Nona Legislatura, Diário n.º 15, 17-03-1854, pp. 233, 235-236.
359 AHP, Câmara dos Deputados, Nona Legislatura, Diário n.º 17, 23-02-1855, pp. 183-184.
360 AHP, Câmara dos Deputados, Décima Legislatura, Diário n.º 9, 11-05-1857, pp. 133, 136.
361 AHP, Câmara dos Deputados, Nona Legislatura, Diário n.º 9, 10-03-1855, pp. 101-102; AHP, Câmara dos Deputados,
Décima sétima Legislatura, Diário n.º 60, 22-07-1869, pp. 849, 862; AHP, Câmara dos Deputados, Trigésima terceira
Legislatura, Diário n.º 72, 21-05-1900, pp. 1, 3-4; AHP, Câmara dos Deputados, Trigésima terceira Legislatura, Diário
n.º 83, 07-06-1900, pp. 3-6.
362 AHP, Câmara dos Pares, Quinta Legislatura, Diário n.º 66, 26-04-1843, pp. 349, 355.
363 AHP, Câmara dos Deputados, Nona Legislatura, Diário n.º 14, 18-06-1853, pp. 194, 199-208.
364 AHP, Câmara dos Deputados, Nona Legislatura, Diário n.º 22, 27-01-1854, pp. 175, 186-193.

100
Junta Geral

com singeleza e com sinceridade, e com a necessaria


coragem. Pondo a mão na minha consciencia, julgo
que tenho direito e razão para dizer aos srs. Ministros:
— Tendes sido remissos, tendes sido altamente
indolentes e descuidados, em quanto á sorte de um
povo que está bradando por soccorro, de um povo que
geme na miseria! Reconhece a sua impotência como
deputado na gestão das decisões concernentes aos
problemas e diz: Porque lá fóra, sr. presidente, pensa-
se que um deputado póde fazer tudo, mas infelizmente
a verdade é que não póde fazer nada. Uns emigram,
outros vão tentando aproveitar alguma coisa da terra
cultivada mas a miséria é generalizada. E questiona
Ribeiro: E quaes recursos tem apresentado o governo
para habilitar os madeirenses a que possam variar as
suas culturas? Perante a sua intervenção, o Ministro do
Reino, Fonseca Magalhães, considera que o deputado
tratou com extrema severidade o governo. E continua
dizendo que o governo quer apresentar resoluções
exequíveis e não propostas vãs que possam agravar a
atual situação exposta pelo deputado. Por isso, criou
uma Comissão para analisar essa conjuntura insular.
Em março de 1883365, Arriaga refere-se aos males
que affligem tanto a ilha de Porto Santo, como a do
Funchal, alguns dos quaes, pela sua natureza e longa
data, são uma verdadeira vergonha para a historia da
monarchia portugueza! Sr. presidente, a camara terá observado que, não obstante José Silvestre Ribeiro
as declarações ha pouco feitas por um deputado da maioria, de que estava prestes
a findar esta sessão parlamentar, eu ainda não levantei a minha voz no parlamento
a favor do circulo do Funchal, pelo qual tenho a honra de ser deputado (…) sem
esperanças de verem realisadas em seu beneficio uma nova ordem de cousas que
têem força e coragem emigram para o estrangeiro á busca de melhor fortuna;
os que as não têem, ou arrastam uma existencia miseravel vivendo da escassa
remuneração do seu trabalho quotidiano, ou appellam para a caridade, e vivem
das esmolas! Tal e o quadro desolador que, segundo informações fidedignas,
apresenta hoje aos olhos de nacionaes e estrangeiros a mais formosa das nossas
ilhas, a que está archivada na historia portugueza como o primeiro padrão das
nossas glorias maritimas! Uma verdadeira vergonha! E, no entanto, segundo os
documentos officiaes e os dados estatisticos que tenho consultado, possue a ilha da
Madeira o porto de maior movimento e de mais valiosos rendimentos aduaneiros,
de quantos temos depois de Lisboa e Porto!
Manuel José Vieira apresenta, de uma forma desassombrada, um quadro
dramático da Madeira, a 7 de maio de 1883366, socorrendo-se das informações
veiculadas por um jornal local de 28 de abril e que recebera no dia 5 de maio:

365 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima quarta Legislatura, Diário n.º 52, 30-03-1883, pp. 852-856.
366 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima quarta Legislatura, Diário n.º 80, 07-05-1883, pp. 1432-1437.

101
Junta Geral

A fome entrou já nos casaes dos lavradores, a miseria lavra por toda a parte:
braços validos de centenares de homens não encontram trabalho; e o resultado
é o que ahi vemos - a emigração, que começa hoje em quasi mil pessoas, e que
ámanhã ha de ser de duas mil ou mais, sem se attentar nas funestas consequencias
que advem de um tal estado de cousas. Não são os vadios, os mandriões, os
ambiciosos e aventureiros que emigram; mas os chefes de familia, os homens
validos para o trabalho, os operarios e lavradores que abandonam o lar domestico,
a sua parochia, a terra onde nasceram. Hontem commoviam-nos esses grupos
de homens, mulheres e creanças, atravessando as ruas do Funchal, uns com as
faces cobertas de lagrimas, ao darem o ultimo adeus aos paes, parentes e amigos,
outros com o sorriso da esperança nos labios, porque julgam que os aguardam
n’essas longinquas paragens os confortos que a patria lhes nega, o trabalho que
ella lhes não dá.
A emigração, já anteriormente referida, é um drama apresentado em inúmeros
debates e uma consequência da conjuntura. Silvestre Ribeiro é um dos que mais
faz ouvir a sua voz, perante o quadro trágico que se verifica na Madeira. Foi, na
verdade, com este governador (1846-1852) que se estabeleceu uma política
pragmática de combate à emigração, face aos números elevados da mesma e à
miséria a que estava reduzida a maioria da população da ilha367.
Daniel de Ornelas e Vasconcelos368, em 1843, refere que essa emigração foi
muito voluntaria, e que nella lucraram, porque essa gente não linha alli de que
viver: aquella Ilha conta cento e vinte mil Habitantes, muitos dos quaes não podem
tirar a subsistencia do pequeno espaço de terra, em que viviam, pela falta de
trabalho, resultante da estagnação do commercio: por tanto, ou haviam de tornar-
se salteadores, ou emigrar.
Manuel José Vieira, a 7 de maio de 1883369, regista no Parlamento que a ilha
do Porto Santo tem estado reduzida a um tal estado de miséria que se anda a pedir
esmola para ela, pelo estrangeiro e repetidos têm sido os bailes que se tem dado
no Funchal, a fim de beneficiar aquela pobre gente. (…) Mas não é só o Porto Santo
que se encontra nestas circunstâncias. Nas mesmas está também a ilha da Madeira,
em grande parte. (…) A fome entrou já nas casas dos lavradores, a miséria lavra
por toda a parte; braços válidos de centenas de homens não encontram trabalho
(…).
Obras públicas, nomeadamente a rede viária e o porto do Funchal são
apontadas como forma de evitar a emigração e são propostas por Alfredo César
de Oliveira na sessão de 12 de maio de 1879370. Referindo-se a um artigo do
Diário de Notícias do Funchal sobre a emigração madeirense, aponta essas obras,
tão carentes de operários, como forma de manter na ilha, aqueles que, por
necessidades económicas, estão a sair em proporções assustadoras371.
As obras públicas como um motor de desenvolvimento do arquipélago serão

367 BAPTISTA, 2008, Emigração e Teatro em Portugal no século XIX, p. 18.


368 AHP, Câmara dos Pares, Quinta Legislatura, Diário n.º 66, 26-04-1843, pp. 349, 355.
369 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima quarta Legislatura, Diário n.º 80, 07-05-1883, pp. 1432-1437.
370 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima segunda Legislatura, Diário n.º 95, 12-05-1879, pp. 1655-1656.
371 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima terceira Legislatura, Diário n.º 30, 20-02-1880, pp. 515, 517-519; AHP, Câmara
dos Deputados, Vigésima sexta Legislatura, Diário n.º 122, 19-06-1888, pp. 2091-2092.

102
Junta Geral

constantemente requeridas pelos deputados da Madeira junto do Parlamento e


do Governo. Nomeadamente, a construção de estradas e do porto do Funchal,
serão pontos abordados nos debates parlamentares, com regularidade. Já na
sessão de 16 de maio de 1821372, João José de Freitas Aragão lê um projeto acerca
do concerto, e reparo das estradas e pontes da Ilha da Madeira. Em 1823373,
Manuel Caetano Pimenta de Aguiar reforça esta ideia com uma proposta de
canalização de águas tendo em conta a grande fertilidade das terras insulares.
Lourenço José Moniz, em 1850374, solicita um esclarecimento sobre se as obras
públicas, tais como Encanamento das ribeiras, a de um Caes, as das Fortificações,
e as dos reparos de Igrejas, e mais Edificios públicos que estão contempladas
no orçamento para a Madeira. E justifica as primeiras, lembrando as aluviões
entretanto ocorridas na Madeira: são de absoluta necessidade, porque sem ellas
as aguas arrastarião para o Oceano Campos, e Cidade, como já acontecêo em
outro tempo e ainda a necessidade de manutenção de edifícios porque cairão em
ruina, com notavel prejuizo da Fazenda Publica. Relativamente ao cais, regista que
é fundamental para o comércio e que a Madeira está a perder muitas vantagens
da sua localização geográfica. Em várias sessões, o assunto volta a ser abordado
e, por isso, em 1858375, Jacinto Bettencourt e Luís de Freitas Branco solicitam um
empréstimo para fazer face a estas obras públicas. Ainda em 1860376, indicam
os insulares alguns obras que são fundamentais, tais como: «estrada da Ribeira
Brava a S. Vicente», «lazareto», «ribeira do Porto Novo, e sobre a que corre entre
SantAnna e S. Jorge». A estrada Funchal - Câmara de Lobos377 é mencionada como
uma grande necessidade por Vicente d’Afonseca.
Nos finais do século XIX378, há novamente menção às estradas: a unica que
temos em regulares condições de transporte foi começada ha quarenta para
cincoenta annos, e ainda (. . . ) não chega á primeira povoação - Camara de Lobos -
apenas a duas leguas de distancia do Funchal, que é o ponto de partida. (Apoiados.)
Em 1882379, Francisco Correia de Herédia refere que as obras são alguma coisa da
máxima utilidade para a Madeira, quasi esquecida dos poderes publicos. Segundo
ele, a Madeira, que contribue annualmente com sommas enormes para os cofres
publicos, tem sido tão esquecida no que diz respeito a melhoramentos materiaes,
que nem uma estrada hoje tem. Gonçalves de Freitas considera mesmo que é uma
bem justa compensação aos encargos que pesam sobre os povos da Madeira.
Importa considerar neste contexto dos debates parlamentares que havia
grandes diferenças entre o Norte e o Sul da Madeira. O norte não só dispunha
de menores condições para a prática agrícola, em virtude do seu clima, como as
suas produções eram menos acessíveis ao mercado do que no sul, sobretudo pelo
facto de as comunicações terrestres e marítimas se efetuarem aí com maiores

372 AHP, Cortes Constituintes, Primeira Legislatura, Diário n.º 81, 16-05-1821, p. 925.
373 AHP, Câmara dos Deputados, Primeira Legislatura, Diário n.º 33, 13-02-1823, pp. 784, 805-806.
374 AHP, Câmara dos Deputados, Primeira Legislatura, Diário n.º 64, 28-03-1827, pp. 749, 756.
375 AHP, Câmara dos Deputados, Décima primeira Legislatura, Diário n.º 20, 23-07-1858, pp. 261, 264.
376 AHP, Câmara dos Deputados, Décima segunda Legislatura, Diário n.º 4, 04-06-1860, pp. 77-79.
377 AHP, Câmara dos Deputados, Décima segunda Legislatura, Diário n.º 29, 08-02-1861, pp. 361-362.
378 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima quarta Legislatura, Diário n.º 58, 31-03-1882, pp. 982-988.
379 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima quarta Legislatura, Diário n.º 89, 16-05-1882, p. 1449.

103
Junta Geral

dificuldades. Entre 1850 e 1914380, a ilha da Madeira apresentava más condições


de comunicação por via terrestre. Para esta situação, contribuía a orografia da
ilha, caraterizada por gigantescas montanhas e vales profundos das ribeiras, que
não facilitaram a construção de estradas. A maior parte dos caminhos desta ilha
não eram mais do que tortuosas, estreitíssimas e arriscadas veredas, oferecendo
grandes precipícios, tendo alguns deles, por fundo, o oceano. Essa era a razão por
que as cargas eram quase sempre carregadas às costas.
Em 1884381, Manuel de Arriaga, do alto da tribuna, recorda as palavras que
consubstanciavam o programa político do ministro das Obras Públicas, no primeiro
dia em que se apresentou no parlamento: ir ao encontro de todas as miserias,
minorar todo o soffrimento e acudir a todas as desgraças, quer sejam dos nossos
amigos, quer dos nossos adversarios, para lembrar o estado verdadeiramente
calamitoso do arquipélago da Madeira. E isto por forma a obter uma solução
imediata e definitiva de muitas das reclamações daquela ilha que, segundo
o deputado, até hoje têem sido desprezadas. Na verdade, o orador só queria
aproveitar as circunstâncias favoráveis da entrada do ministro interpelado para
levar o governo a ser coerente com as suas palavras e a converter em factos positivos
o que até hoje tem sido limitado a promessas sempre vãs, sempre desmentidas
pela realidade. Ainda na mesma sessão, Manuel José Vieira relata o seguinte:
Olhemos para estes factos, e ao mesmo tempo percorramos o interior da ilha. O
que vemos ahi de melhoramentos publicos? Disse eu isto aqui mesmo n’esta casa
na sessão de 7 de maio do anno passado, e estes documentos foram publicados
a 1 e 4 de dezembro do anno passado tambem. Vamos ás estradas reaes. Chega
o comprimento total d’ellas a 300 kilometros. E quantos estão feitos d’estes 300
kilometros? Apenas 10! Para Vieira, são dados oficiais e não vêm fazer outra cousa
mais do que confirmar em dezembro de 1883 o que (…) dissera em sessão de 7 de
maio do mesmo anno, quando perante a camara declarei que o nosso estado sob
esse ponto de vista era tão desgraçado que uma estrada carreteira, a unica d’essa
natureza, começada ha quarenta annos, quando era governador civil do Funchal o
sr. José Silvestre Ribeiro, um dos homens que na ilha tem deixado mais gloriosas,
recordações em relação á sua administração (Apoiados. ), e que, apesar de não ser
filho da Madeira, constantemente pugna pelos interesses d’ella, porque conhece as
suas circumstancias especialissimas, ainda agora não chega á primeira povoação
que tem de encontrar - Camara de Lobos - a duas leguas de distancia a oeste do
Funchal.
O desconhecimento das condições especiais do arquipélago é mencionado
por Catanho de Menezes382. Assim, esta terra necessita de uma organização
especial, diferente da que vigora no continente do reino. A falta de estradas devido
ao solo acidentado torna, na sua análise, a difícil execução da justiça. As distâncias
concorrem para grandes despesas de viagem, o que a onera mais ainda mais. E
assim sendo, a justiça constitui apenas um privilégio dos ricos.
No âmbito das obras públicas, o porto do Funchal surge, desde sempre, como
uma necessidade fundamental do ponto de vista económico e social. Agostinho de

380 CÂMARA, 2002, A Economia da Madeira (1850-1914), p. 41.


381 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima quarta Legislatura, Diário n.º 28, 12-02-1884, pp. 285-298.
382 AHP, Câmara dos Deputados, Trigésima segunda Legislatura, Diário n.º 64, 20-05-1899, pp. 1-2.

104
Junta Geral

Ornelas de Vasconcelos Esmeraldo Rolim de Moura, Luís


da Câmara Leme, Caetano Veloso Carvalhal Esmeraldo
de Castelo Branco e João Barbosa Matos da Câmara, a
4 de julho de 1868383, submetem à Câmara um projeto,
no sentido do governo mandar construir, no mais curto
praso possivel, um porto artificial nas proximidades da
cidade do Funchal, ilha da Madeira. Agostinho Ornelas
renova a iniciativa em 1869384, à qual se juntam Luís
Vicente d’Afonseca e Luís da Câmara Leme. Evidenciam
a realidade da Madeira, que outrora florescente, luta
agora com graves dificuldades. A própria alfândega do
Funchal ainda nos primeiros annos do seculo, durante
a guerra do primeiro imperio, ou, para melhor dizer,
durante a guerra peninsular, em rendimentos, [era]
a segunda da metropole e possessões. E todo o corpo
diplomático português era pago pelo erário da ilha (…)
A sua posição, oasis no meio do vasto Oceano, caminho
para diversas partes do globo, attrahia ao seu porto
as numerosas esquadras que sulcavam o Atlantico e
traziam comsigo á ilha o movimento e a vida. Agora, a
situação era marcadamente diferente.
Francisco Correia de Herédia, visconde da Ribeira Brava e Luís António Visconde da Ribeira
Gonçalves de Freitas, em 1882385, expõem a situação do porto, dando conta Brava.
que grande numero de embarcações annualmente demandam o porto do
Funchal, e maior numero por certo seria se n’aquelle porto houvesse segurança;
ali procurariam refrescos, dariam e receberiam noticias, instrucções e ordens,
muitos ali iriam a reparos mais ou menos urgentes, e muitos a abrigarem-se dos
temporaes; mas, no estado actual de cousas, longe de se approximarem da terra
onde poderiam encontrar todos os beneficios do que carecessem, d’ella fogem
cuidadosamente como quem foge de um perigo real, certissimo, sem nenhuma
compensação. Segundo os autores, se o número de passageiros fosse superior,
maior seriam também as receitas arrecadadas pela sua passagem na ilha. Um
porto em boas condições proveria a toda a uma série de áreas, como o carvão,
oficinas para consertos diversos, os alimentos, como sejam as frutas e hortaliças,
criação de gado, enfim tudo aquilo de que se abastece um navio. Portanto, tudo
contribuiria para fazer florescer aquella formosa ilha, que geralmente todos
desejam conhecer, muito mais os que d’ella se approximam em viagem, ou n’ella
lhes faz conta tocar como ponto de escala. Por isso, concluem que é evidente que
uma das primeiras necessidades da ilha da Madeira, e a mais urgente de entre ellas,
é o estabelecimento de um porto de abrigo; e se considerarmos, que em uma das
ilhas Canarias se trata de dar essa vantagem á navegação, e que de tal providencia
resulta infallivelmente desviarem se do porto do Funchal, até as embarcações que
hoje o demandam. Assim, um dos aspetos do seu projeto a conceder a Roberto
Augusto da Costa Campos, [é] construir na bahia da cidade do Funchal da ilha da
383 AHP, Câmara dos Deputados, Décima sexta Legislatura, Diário n.º 65, 04-07-1868, p. 1567.
384 AHP, Câmara dos Deputados, Décima sétima Legislatura, Diário n.º 46, 02-07-1869, pp. 595-597.
385 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima quarta Legislatura, Diário n.º 90, 17-05-1882, pp. 1502-1503.

105
Junta Geral

Madeira, um porto de abrigo ligando para esse fim a fortaleza denominada do


Ilhéu com o quebramar do caes da Pontinha. A Madeira é preterida em favor das
Canárias, pela inexistência de um porto em devidas condições bem como pelas
condições comercialmente atrativas naquele arquipélago espanhol.
A 31 de março de 1883386, Luís António Gonçalves de Freitas, Manuel José Vieira
e Francisco Correia de Herédia, na sua intervenção parlamentar, fazem alusão, uma
vez mais, ao porto do Funchal. Vieira diz: farei notar as vergonhas porque nós, os
habitantes daquella ilha, passamos aos olhos dos estrangeiros, vergonhas em que
aliás somos solidarios com o resto do paiz. Ao approximar-se da praia o passageiro
que ali aporta, quasi sempre em procura da saúde que lhe falta, tem alguma vez
de correr risco de vida, e não poucas, de sujeitar-se a grandes incommodos. Refere,
que inúmeras vezes, antes do barco estar varado, as ondas são mais fortes e o
visitante é brindado com banho de chuveiro, se felizmente a chuveiro se limita
o banho. Portanto, o desembarque é feito em péssimas condições, o que não
credibiliza o destino da ilha como estância terapêutica.
Arriaga, em 12 de fevereiro de 1884387, levanta a questão do desvio da
navegação para o arquipélago das Canárias e que em breve tempo seria de fataes
consequencias para nós, se não for atalhada a tempo (…) Socorrendo-se da leitura
de artigos, constata que o governo espanhol se estava aproveitando habilmente
da nossa criminosa indifferença pelos melhoramentos da Madeira, para os desviar
d’ella para as Canarias a navegação que em grande escala se fazia por aquella
ilha e que era hoje uma das fontes principaes da sua receita. E dá alguns exemplos
dessa situação: Que emquanto nós iamos onerar com impostos o carvão de
pedra, que devia ser considerado a materia prima por excellencia, o pão por assim
dizer de todas as industrias, designadamente da nevegação a vapor, o governo
hespanhol o isentava de todos os direitos; emquanto nós embaraçavamos n’uma
rede incommoda e inutil de medidas fiscaes a navegação e quasi afugentamos
do porto da Madeira o grande numero de viajantes que a procuram, o governo
hespanhol tornava os portos das referidas ilhas quasi livres, e simplificava o mais
possivel a sua legislação aduaneira; emquanto deixavamos o porto do Funchal no
estado da mais primitiva selvageria, para o escarneo da civilisação, não o dotando
nem ao menos de um caes, e expondo o a encommodos e perigos de notoriedade
universal, o governo hespanhol está dotando as nossas rivaes com um excellente
porto de abrigo e com todas as commodidades que a civilisação reclama e a que
era de superior urgencia attendermos. Arriaga é bem elucidativo no que concerne
a esta concorrência que pode aniquilar o comércio da Madeira. Relembra que a
Alfândega da ilha da Madeira, depois de Lisboa e Porto, era a que mais rendia para
os cofres publicos, como consta das estadistas officiaes e já no anno passado se
mostrára n’aquella casa. Por isso, diz, ninguem póde eximir-se ao reconhecimento
e convicção da dura fatalidade que pende sobre todo o districto do Funchal; desde
que elle se veja abandonado, como com effeito já começou a selo, pela navegação
de escala que até agora demandava aquelle porto. Manuel José Vieira retoma
a questão, para acentuar a posição geoestratégica da Madeira: Não fallo nos
Açores como primeiro, porque, embora mais ao norte, são elles ponto de escala de

386 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima quarta Legislatura, Diário n.º 58, 31-03-1882, pp. 982-988.
387 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima quarta Legislatura, Diário n.º 28, 12-02-1884, pp. 285-298.

106
Junta Geral

preferencia para a navegação que se dirige para a America do norte. Para a que se
dirige para a America do sul, para a Africa Occidental e ainda parte da oriental, o
primeiro ponto de escala é effectivamente a Madeira. O archipelago das Canarias
por sua parte está mais ao sul do que nós, e por isso a sua situação geographica
é superior. Basta olhar para os pontos iniciaes d’onde essa navegação procede -
Inglaterra e norte da Europa - e pontos extremos a que ella se dirige - costas oriental
da America do sul, e occidental e parte oriental d’Africa. Quanto mais a localidade
for ao sul, tanto mais central será ella em relação áquelles pontos extremos de
navegação, e tanto maior conveniencia offerecerá, portanto, á navegação a
vapor. Esta é situação geographica da Madeira, como todos nós conhecemos, em
relação ao archipelago das Canarias. Nesse sentido, se as Canárias nos ultrapassa
na questão das facilidades aduaneiras do seu porto, o que fica a favor da ilha da
Madeira? Continua e acrescenta: unicamente, como disse, o seu excellente clima,
e por consequencia resta-nos a fraca probabilidade de ser procurada por alguns
passageiros que para ali vão passar a estação invernosa, em procura do lenitivos
a seus males. No entanto, se os vapores não chegam à ilha, como poderão eles
aproveitar o belo clima d’aquella ilha?
Vieira menciona, igualmente, outro facto, não menos importante. A valorização
de uma burocracia que é prejudicial aos interesses insulares: chega um vapor ao
Funchal, supponhâmos com 3:000 toneladas, de carga, sendo 1:000 toneladas
para a Madeira. Em logar de se lhe exigir unicamente os documentos; relativos á
carga destinada para o porto do Funchal, exige se-lhe mais uma relação de todo
o resto da carga para outros portos de escala, com designação dos volumes, seu
peso marcas, e outras minucias que nenhuma cousa util produzem, causando
aliás enormes perdas do tampo, maiores do que a demora que seria precisa para
um paquete fornecer-se de carvão e seguir. Será isto desenvolvimento o auxilio á
navegação? Nas Canarias nenhuma d’estas exigencias é feita. Assim, os benefícios
tendem todos para o porto canário. Augusto Dias Ferreira, na mesma sessão,
informa a Câmara que o Funchal é visitado por grande quantidade de estrangeiros;
porque quaesquer que sejam as localidades da Italia e da Hespanha, que muita
gente procura para recuperar a saude, nenhuma d’essas localidades se avantaja á
ilha da Madeira. N’este sentido, estou persuadido que o primeiro paiz do mundo é
a ilha da Madeira. Mas, não e indifferente para paiz nenhum o chamar ou deixar
de chamar os estrangeiros ao seu territorio, porque elles deixam riquezas de todo
o genero. Mas levanta uma questão vital: quem chega á Madeira não tem um caes
de desembarque! Além disso, o porto de mais a mais, no inverno, é perigosissimo.
Eu já embarquei ali, no 1.º de junho, que não era inverno, e filo com perigo de vida.
Perante a intervenção dos deputados, António Augusto de Aguiar, ministro
das Obras Públicas diz estar de acordo com a necessidade de obras na ilha mas
não concorda com os deputados que acusaram os governos de terem despresado
aquella ilha desde longos annos. Faz ainda outra reflexões acerca do governo não
póder acudir a uma localidade, e auxiliala como desejava, esquecendo as outras.
E agora tomo a defeza de todos os governos. O governo attende ao paiz em geral,
o auxilia cada uma das localidades, em que elle se divide, segundo a urgencia das
necessidades. Por outro lado, indica que a alfândega nunca deixou de aumentar os
direitos de entrada sobre os produtos importados e aponta dados. Menciona ainda

107
Junta Geral

que não lhe fora apresentado um projeto final sobre o porto. Termina o ministro,
dizendo que todos estarão de accordo em que o governo não pode conceder tudo
que se lhe pede; (Apoiados.) mas eu estou disposto a conceder alguma cousa.
E considera que, muitas vezes, os deputados madeirenses que fallaram sobre
esta questão exageraram um pouco a situação da ilha da Madeira, e eu preciso
fazer algumas referencias a essa parte dos seus discursos, para não ser notado
que não houvesse quem só levantasse, não só para defender este governo, mas
todos os governos que o têem precedido. Estou certo que todo o governo, quando
póde fazer qualquer melhoramento de que se espera que o paiz ha de tirar bom
resultado, tem n’isso uma grande satisfação. (Apoiados.) Mas ha obras que são
mais opportunas do que outras.
No respeitante às verbas para o porto, indica diversos valores: Quer v. exa.
saber qual foi o orçamento da muralha que deve ligar o futuro molhe com o caes da
Pontinha? Foi de 118:000$000 réis. Quer saber quanto se tem despendido com elle
até hoje? 55:000$000 réis. Falta despender 63:000$000 réis. Sabe quanto o director
pediu este anno para a muralha? 20:000$000 réis. E sabe quanto mandámos já?
10:000$000 réis. Mandámos já metade d’esta quantia e não estamos ainda no
meio do anno. Por consequencia não se diga - que o governo portuguez desattende
a ilha da Madeira. Portanto, para o ministro, é necessario que se saiba que todos
os governos de Portugal, dentro das suas finanças escassas e apertadas, têem
attendido á Madeira como verdadeiros portuguezes. Diante desses montantes,
Arriaga interrompe e acrescenta: Se confrontarmos este acto com o que se tem
feito com os Açores, ha grande desproporção. No final do seu discurso, António
Augusto de Aguiar informa: Vou convidar com a maior rapidez os representantes
da ilha da Madeira para terem uma conferencia commigo, e dentro dos recursos
actuaes havemos de fazer alguma cousa que se não contentar aquella ilha, a
colloque pelo menos em circumstancias de poder lutar com o porto das Canarias.
Em junho de 1888388, Fidélio de Freitas Branco e Manuel José Vieira explanam,
uma vez mais, na sua intervenção, a urgência da construção do porto no Funchal,
visto que, no inverno anterior, a Madeira fora frequentada por pessoas pertencentes
ás mais altas classes da sociedade européa (…) um numero considerável de pessoas
pertencentes ás famílias mais ricas e aristocráticas da Europa; pessoas que estão
mais no caso de espalharem n’aquella importante povoação dinheiro e outros
benefícios. Assim, alertam para que não succeda obrigarmos essas pessoas que
vão á Madeira procurar uma residencia favoravel á cura das enfermidades de que
padecem e ainda uma residencia agradavel de inverno, a assistirem ao espectaculo
de um desembarque tão barbaro como aquelle que ainda ali se faz.
Em 1893389, António de Gouveia Osório solicita informações sobre o porto
de abrigo no Funchal que é, segundo o parlamentar, uma das obras que tanto
dinheiro custou, e que logo no primeiro anno quasi que se arruinou por completo.
E continua: parece que um mau fado persegue as obras da Madeira. A realidade
dura para o porto é que depois de muitos esforços, e de se terem despendido
avultadas quantias, conseguiu-se um porto de abrigo no porto do Funchal; pouco
tempo depois de concluido o mar destruiu-o. E lá está arruinado, sem fazer serviço

388 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima sexta Legislatura, Diário n.º 122, 19-06-1888, pp. 2091-2092.
389 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima nona Legislatura, Diário n.º 37, 08-07-1893, pp. 405, 414-416.

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Junta Geral

e proximo a ser completamente destruido. Mais um temporal na longa história


destes fenómenos na ilha!
A temática dos transportes marítimos constitui um assunto recorrente e
essencial ao normal funcionamento do quotidiano dos habitantes da Madeira
e Porto Santo. A isenção das despesas relativamente às embarcações a vapor
na Madeira é assunto proposto por Luís Vicente d’Afonseca, logo na primeira
metade do século XIX390. Em 1848391, o mesmo deputado apresenta uma iniciativa
sobre a navegação a vapor entre o continente, Madeira, Açores e Canárias. Na
sua explanação, salienta que a prosperidade de um povo também se mede pela
facilidade das suas comunicações. Na sessão de 29 de janeiro de 1859392, o tema
é novamente recordado e assinala-se que esta iniciativa pode ser crucial para o
Arquipélago. Em seu entender, suppõe-se que a subvenção seja muito grande;
e não se olha para as vantagens que o paiz, e a Madeira em primeiro logar, o
commercio em geral e a industria podem tirar d’esta linha de communicação. A
Madeira é um grande paiz; produz fructos deliciosos, vinho exquisito, deputados
intelligentes e conscienciosos, e saude de primeira qualidade! A Madeira é a nossa
verdadeira casa de saude, e por consequencia devemos tratar d’ella com lodo o
nosso amor. (…) Ora qual é a estrada para a Madeira? Não se póde ir de carrinho
pelo mar dentro, creio eu; ha de armar-se um barro. É assim que se fazem as
estradas para as nossas possessões ultramarinas.
Silvestre Ribeiro refere-se, por outro lado, à navegação de cabotagem em
1849393. Começa por dar o exemplo dos Açores: As pessoas que tem estado nos
Açôres sabem perfeitamente quanto é perigoso o viajar de uma para outra das Ilhas
daquelle Archipelago nos pequenos barcos, a que os naturaes dão vulgarmente a
denominação de barcos de bocca aberta. Elucida a Câmara sobre a navegação em
tão frageis taboas [n]o temeroso Oceano, [que] de subito nos póde tomar uma
tempestade, é por certo jogar com a vida, expondo-a sem tino ao furor das ondas,
que a todo o momento ameaçam abrir um abysmo devorador. E acaba a sua análise,
referindo que o mesmo se passa em relação à navegação Madeira-Porto Santo. Por
isso, põe à consideração da Câmara um projeto de lei com o fim de promover a
facilidade e segurança da navegação entre aquellas ilhas, e como um dos meios
indirectos de ir fomentando pouco a pouco o fabrico de navios portuguezes. Propõe
que todos os navios que realizarem uma navegação de cabotagem, no arquipélago
dos Açores, sejam equiparados aos barcos costeiros, a fim de ficarem isentos do
pagamento de direitos nos portos das referidas ilhas. E assim sendo, no artigo
2º do seu projeto, recomenda a mesma disposição aos navios portuguezes que
fizerem o commercio de cabotagem entre a Ilha da Madeira, e Porto Santo394.
Em 1860395, Vicente d’Afonseca chama a atenção da Câmara sobre um projecto
dos srs. deputados Arrobas e Gonçalves, para que os vapores da companhia de
Africa, ou União Mercantil, toquem no porto do Funchal, na ida e volta, isto sem

390 AHP, Câmara dos Deputados, Quarta Legislatura, Diário n.º 22, 25-06-1840, pp. 333, 346-347.
391 AHP, Câmara dos Deputados, Sétima Legislatura, Diário n.º 22, 25-05-1848, pp. 1-5.
392 AHP, Câmara dos Deputados, Décima primeira Legislatura, Diário n.º 22, 29-01-1859, pp. 299-313.
393 AHP, Câmara dos Deputados, Sétima Legislatura, Diário n.º 84, 19-04-1849, pp. 208-209.
394 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima nona Legislatura, Diário n.º 53, 20-06-1893, pp. 1, 4-5.
395 AHP, Câmara dos Deputados, Décima segunda Legislatura, Diário n.º 8, 08-06-1860, pp. 129, 131, 141-142.

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Junta Geral

pedir augmento de subvenção ou subsidio. Enaltece a ilha e, de forma eloquente,


diz que esta é um oásis dos líquidos desertos de Neptuno, é a flor mais gentil
de todo o oceano, mas a morte da sua industria agrícola, pela enfermidade da
vinha, tem reduzido á ultima penúria o seu estado. Continua a sua intervenção,
analisando a situação da ilha, como a terceira Alfândega de Portugal que já
colaborou para as despesas públicas com muitos milhares de contos de réis, foi
a primeira possessão que depois do Porto e Lisboa soltou o grito da liberdade;
no entretanto abandonada á sua sorte, vendo-se isolada, por isso que a mesma
navegação deixa o seu porto pelo das Canárias, geme debaixo da pressão de não
ter receita que faça face á sua despeza. Luís Vicente d’Afonseca é frontal, ao referir-
se ao silêncio dos deputados e ao número sem fim de comissões para análise dos
assuntos da Madeira. Por isso, diz que há uma fatalidade n’esta casa que deploro
muito e, nesse sentido, os interesses dos constituintes ficam prejudicados e fica
desacreditado o representante da ilha: Os vapores da companhia tocando na ida
e na volta, com obrigação de levar gratuitamente seis colonos em cada viagem,
podem prestar valioso serviço ao paiz, e dar origem a um commercio importante
entre a Madeira e as nossas possessões de Africa occidental, muito especialmente
quando isto se dá sem augmenlo de encargo para o thesouro.
Como forma de evidenciar o relevo do transporte marítimo na Madeira,
João de Alarcão Velasques Sarmento Osório396 relata a sua própria experiência,
dizendo que, na ilha, toda a rede viária se reduz a uns carreiros estreitissimos
tão accidentados, como accidentado é o systema orographico da ilha, subindo
agora aos mais alcantilados cerros, descendo logo aos valles mais profundos, ora
atravessando tunneis naturaes cavados nas montanhas, ou seguindo á beira de
ravinas, cortadas a pique sobre o mar, ora contornando abysmos e precipicios
talhados nas rochas negras do basalto, que põem n’aquella serena paisagem uma
nota tão sombria e grave, como triste e melancólica. Ao atravessar quasi toda
a região da Madeira, quando, no cumprimento dos meus deveres officiaes, tive
que visitar os diversos concelhos do districto. Vi pontos de vista admiravelmente
pittorescos, abrindo aos meus pés abysmos, vertiginosamente medonhos, que me
faziam estremecer. É por esses alcantis perigosissimos, e que têem custado muitas
vidas, que seguem as chamadas estradas da Madeira. Se assim é tão difícil para os
viajantes fazerem esse percurso, muito mais o é para o transporte de mercadorias.
Por isso, aponta o mar como a única ligação entre as várias povoações e o Funchal.
E essa comunicação faz-se por meio de barcos de pequeno lote e a remos, o que
torna por isso despendiosissimo o transporte das mercadorias; e d’ali resulta que
só os productos ricos, capazes de supportar taes despezas, é que conseguem ser
transportados por este meio. Todos os mais productos, excedendo em muito as
necessidades do consumo local, mas de infimos preços, ficam desvalorisados, a
apodrecer nos campos. Por isso, este novo serviço de vapor que vae agora ser
estabelecido em torno da ilha, virá necessariamente valorisar o que até agora
se perdia com prejuizo para os colonos e senhorios e para toda aquella região. É
certo que esse valor não fica muito augmentado unicamente com as facilidades
do transporte. Ha, com effeito; no Funchal tres ou quatro exploradores de generos
agricolas e alimenticios, que os açambarcam todos, comprando-os na praia por

396 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima nona Legislatura, Diário n.º 68, 07-07-1893, pp. 1, 19-32.

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um preço excessivamente barato, e que depois os vendem por um preço excessivo


aos consumidores, encarecendo assim muito a vida no Funchal. Mas esse mal
ficará muito attenuado com a maior concorrencia de productos, e eu tenho fé
que cessará inteiramente quando se der completa execução a um largo plano
de melhoramentos. O parlamentar insiste em dar a conhecer a Madeira no que
concerne às suas dificuldades em comunicações e transportes: Nós chegâmos á
Madeira e que vemos? Paisagens muito lindas, muito bonitas, mas desembarcamos
com as costas voltadas para terra, n’um barco puxado a bois! E tomâmos o nosso
banho involuntariamente, se o mar está um pouco agitado. Eu já o tomei, e posso
affirmar que não é muito agradavel nem divertido. Depois no interior, na cidade do
Funchal, procura-se um trem e não ha, nem póde haver, porque não tem estrada
de meia duzia de kilometros; de modo que ahi está a rasão do facto de que se
queixou o illustre deputado, o sr. Varella, de se demorar o vapor vinte e quatro
horas. Aquella pobre gente tem de trazer ás costas os productos da sua terra, a
banana principalmente; e para os embarcar precisa muito tempo, porque não tem
estradas! A um dado momento, o seu discurso parece não estar a ser escutado
e, por isso, Sarmento Osório reclama: Eu hei de fallar muito tempo por que ha
muito tempo tinha pedido a palavra e nunca me chegou. Eu não sei porque é
esta antipathia pelas ilhas. Eu ainda me lembro do tempo em que nos corredores
se perguntava: de que se está fallando? É das ilhas ou do ultramar? E ninguem
entrava na sala. Evidencia, de forma cáustica, a secundarização em relação às
intervenções dos parlamentares: Ora, era bom, sr. Presidente, que isso já tivesse
acabado, porque nós não merecemos menos do que Figueiró dos Vinhos e Farinha
Podre. Vai mesmo ao ponto de solicitar que os deputados se retirem se estão
cansados dos discursos das ilhas. Mas quem leva aqui horas e horas a discutir os
altos interesses politicos e economicos de villas sertanejas não póde manifestar
enfado quando n’uma unica sessão se discute um projecto da importancia do que
estamos discutindo. (Apoiados.)
E atendendo às dificuldades de comunicação, a administração judicial é muito
mais lenta e onerosa397. Infelizmente, segundo Menezes e o Visconde da Ribeira
Brava, a ilha do Porto Santo, que tem approximadamente 2:000 almas e 500 fogos,
pertence á comarca do Funchal, e apenas tem um juiz de paz que, pelas funcções
limitadissimas que a lei lhe concede, não exime o povo do pesado tributo de fazer
uma viagem á sede da comarca, ainda por causa das questões mais insignificantes.
E para se avaliar o incommodo d’esta viagem basta attender que a ilha do Porto
Santo dista da Madeira 18 leguas, sendo muitas vezes difficil a travessia do mar, as
passagens dispendiosas e o serviço de navegação em más condições.
Um aspeto não menos relevante e complementar no apoio à navegação foi,
ao longo dos anos, a insistência dos parlamentares para a construção de faróis na
Madeira, designadamente o farol de São Lourenço398.
O caminho-de-ferro do Monte é integrado no âmbito das dificuldades viárias
sentidas na ilha e que tolhem o desenvolvimento insular. Mas é também um

397 AHP, Câmara dos Deputados, Trigésima segunda Legislatura, Diário n.º 14, 15-07-1897, pp. 241-242.
398 AHP, Câmara dos Deputados, Décima primeira Legislatura, Diário n.º 9, 12-03-1859, pp. 91-92; AHP, Câmara dos
Deputados, Décima primeira Legislatura, Diário n.º 6, 07-04-1859, pp. 75-76; AHP, Câmara dos Deputados, Décima
quinta Legislatura, Diário n.º 124, 28-11-1865, p. 2699; Câmara dos Deputados, Vigésima primeira Legislatura, Diário
n.º 20, 29-01-1875, p. 241.

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elemento essencial para o desenvolvimento turístico que se começa a sentir, nos Comboio do Monte.
finais do século XIX, no Funchal. Em 1891399, os parlamentares representantes 1900.
da Madeira, enquadram a sua situação económica no âmbito da construção
do caminho-de-ferro, dando conta que para em parte obviar aos males acima
apontados um grupo de capitalistas do Funchal, reunidos em sociedade anonyma,
emprehendeu construir um caminho-de-ferro de forte rampa, que ligue aquella
cidade com o norte da ilha, para onde não ha vias de communicação que possam
em todas as estações do anno trazer a mercados mais remuneradores os productos
agricolas das regiões distantes. No entanto, tal projeto supõe investimentos
elevados e, subjacente à conjuntura madeirense, contam com a protecção do
estado para a isenção de impostos sobre o material de que carecerem, como de
outras vezes e para fins similares já se tem feito a outras emprezas. Nesse âmbito,
Gouveia Osório salienta, em 1893400, que o que se pede é uma cousa que é de
inteira justiça, e que não ha rasão plausivel para que seja recusada. O caminho-
de-ferro, de forte rampa, systema Riggenback, entre a cidade do Funchal e o sitio

399 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima oitava Legislatura, Diário n.º 21, 23-06-1891, pp. 1-2.
400 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima nona Legislatura, Diário n.º 37, 08-07-1893, pp. 405, 414-416.

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Junta Geral

das Laginhas, na freguezia do Monte já se encontra com trabalhos adiantados.


Esta será uma obra fundamental, porque vai facilitar o acesso a um dos pontos
mais pitorescos da ilha, frequentado por naturais da ilha e estrangeiros. Agora,
compete apenas aos poderes públicos prestarem tambem a sua coadjuvação para
que se conclua uma obra tão importante, prestando á empreza auxílios. Nesse
sentido, a companhia pede apenas que o material fixo e circulante de que carece
seja importado livre de direitos. Não pede subsidio pecuniario tirado dos cofres
publicos, pede um pequeno auxilio, que não é justo negar-lhe.
A Câmara Municipal do Funchal, ao dotar de melhores condições a cidade,
nomeadamente com o caminho-de-ferro do Monte, inicia também o processo de
instalação da iluminação pública, um avanço tecnológico que vai alterar o quotidiano
madeirense. Em 1884401, Luís António Gonçalves de Freitas, Manuel José Vieira e
Francisco Correia de Herédia referem a contratação de Eduardo Augusto Kopke
para instalar a illuminação publica da mesma cidade por meio de gaz. Em 1896402, os
deputados Fidélio de Freitas Branco, Romano Santa Clara Gomes e Luciano Afonso
da Silva Monteiro referem-se já à luz elétrica e solicitam a isenção de pagamento
de impostos sobre os materiais destinados a esse fim. No ano subsequente, a 16
de julho403, Francisco Correia de Herédia e João Catanho de Menezes referem que
por carta de lei de 13 de maio de 1890, foi o governo auctorisado a conceder a
isenção de direitos ou de qualquer impostos locaes, durante um anno, a todo o
material para illuminação publica (…), com destino á cidade do Funchal e posto
a despacho na referida alfandega. Dizem ainda que o praso d’esta isenção devia
contar-se desde a data da mesma lei; mas como só em 17 do novembro do mesmo
anno foi approvada pelo governo (…), o beneficio da isenção só foi aproveitado
durante cinco mezes, pois o anno a que se referia terminou em 13 de maio de
1897. Assim, para que esta isenção se torne effectiva, temos a honra de propor
o seguinte projecto de lei: Artigo 1° É prorogada por mais um anno, a contar da
data da publicação d’esta lei, a auctorisação concedida pelo governo pela carta de
lei de 13 do maio de 1896, para conceder a isenção de direitos ou de quaesquer
impostos locaes ao material que ainda seja necessario importar para a illuminação
publica a luz electrica com destino a cidade do Funchal, e posto a despacho na
respectiva alfandega. Em agosto seguinte404, Catanho de Menezes e Francisco
Herédia referem que as circunstancias especiaes em que se encontra a ilha da
Madeira, carecendo quasi por completo de todos os melhoramentos essenciaes á
vida de um povo civilisado justificam essa isenção de impostos. Assim a iluminação
elétrica representa um desses melhoramentos de há muito reclamados visto que
até agora existia apenas uma má illuminação a petróleo.
O saneamento básico405, como fator essencial no acolhimento de todos os
que vivem na cidade e a visitam, é referido nos debates, num primeiro momento,
por José Júlio Bettencourt Rodrigues que faz alusão às condições de salubridade
do Funchal e á limpeza das valas e ribeiras madeirenses. Diz: Lembrasse-se a

401 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima quarta Legislatura, Diário n.º 38, 01-03-1884, pp. 475-476.
402 AHP, Câmara dos Deputados, Trigésima primeira Legislatura, Diário n.º 52, 07-04-1896, pp. 907-909.
403 AHP, Câmara dos Deputados, Trigésima segunda Legislatura, Diário n.º 15, 16-07-1897, pp. 261, 263.
404 AHP, Câmara dos Deputados, Trigésima segunda Legislatura, Diário n.º 48, 26-08-1897, pp. 827-832.
405 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima oitava Legislatura, Diário n.º 24, 12-02-1892, pp. 1-4.

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Junta Geral

camara que a ilha era um posto de saúde, attrahindo numerosos estrangeiros, em


regra acostumados a todos os confortos, que era mister que ella não fosse apenas
formosa, dessa esplendida formosura que é filha da natureza, mas formosa também
pelas obras e trabalhos, que tornando-a limpa e saudável, fizessem do Funchal
uma cidade digna da esmerada convivência dos seus hospedes, possuidores, não
raro, de grandes e avultadas fortunas.
Este saneamento básico, como já salientámos, é fundamental para as
condições de higiene da cidade que recebe inúmeros visitantes. É isso mesmo que
é indicado na sessão de 20 de abril de 1896406: [a] canalização de agua potavel e
canalisação de esgotos, tem luctado com grandes dificuldades para a realisação
d’aquella obra, que aos funchalenses se impõe com a maior urgencia. E essas
dificuldades resultam exclusivamente da falta de recursos para a realisação de um
melhoramento de tamanha importancia, não só porque actualmente, pesam sobre
aquella corporação muitos encargos que lhe não permittem desviar uma parte
importante das suas receitas, para tal fim, como tambem por lhe ser absolutamente
impossivel lançar addicionaes sobre as contribuições directas do estado, attentas
as circumstancias difficeis por que vem atravessando aquelle districto. Segundo
os deputados, o lançamento de qualquer imposto é desagradável, no entanto, o
problema da canalização das águas impõe-se como a primeira e a maior de todas
as suas necessidades. O Funchal, procurado pelo seu clima não pode permitir
que os seus visitantes vão diminuindo, o que iria dificultar ainda mais toda a sua
conjuntura. Por isso, propõem que a Câmara municipal do Funchal seja auctorisada
a cobrar como receita as taxas das licenças que conceder aos estabelecimentos
industriaes e commerciaes, sendo toda essa receita exclusivamente applicada ao
abastecimento e á canalisação geral de agua potavel e á canalisação do esgotos
da cidade do Funchal.
A Madeira, a ilha terapêutica da Europa, é um motor de desenvolvimento
económico-social. A apologia do ameno clima madeirense, especialmente
vocacionado para o tratamento de doenças pulmonares, corria pela Europa, desde
finais do século XVIII. Estas doenças levaram a que, especialmente na época do
inverno, a Madeira fosse procurada pelas classes mais abastadas, em busca de um
melhor clima e, se possível, da almejada cura. Escritores e poetas passam então a
divulgar o nome do arquipélago, enaltecendo a fama e a existência da temperatura
e do espaço propício ao lazer e à contemplação da natureza, incitando a vinda
de doentes oriundos dos rigorosos climas europeus407. Fidélio de Freitas Branco e
Manuel José Vieira referem que vimos que durante a estação invernosa se reuniu
ali, como ha muitos annos nào succedia, um numero considerável de pessoas
pertencentes ás famílias mais ricas e aristocráticas da Europa; pessoas que estão
mais no caso de espalharem n’aquella importante povoação dinheiro é outros
benefícios. Vicente d’Afonseca408, ao mencionar a estrada Funchal-Câmara de
Lobos, que não se encontra concluída, fala mesmo que a ilha já recebera a visita de
uma rainha da Inglaterra e presentemente a Imperatriz da Áustria beneficiava do
clima madeirense sendo que era necessário proporcionar confortos a todos estes

406 AHP, Câmara dos Deputados, Trigésima primeira Legislatura, Diário n.º 61, 20-04-1896, pp. 1141-1142.
407 CARITA, 2008, Funchal 500 anos de História, pp. 105, 111.
408 AHP, Câmara dos Deputados, Décima segunda Legislatura, Diário n.º 29, 08-02-1861, pp. 361-362.

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Junta Geral

forasteiros, e um deles passa obviamente pela construção de estradas.


A construção de escolas e a consequente necessidade de professores aparecem
nos debates como uma grande prioridade para a instrução das crianças, numa ilha
onde a dispersão populacional era enorme. Maurício José Castelo Branco Manuel,
em 1821409, apresentou o requerimento dos moradores da freguesia do Caniço
que solicitavam a criação de uma cadeira de mestres das primeiras letras. No
entanto, Castelo Branco reconhece a existência dessa mesma necessidade noutras
zonas, como salienta: Vendo eu que no Norte da mesma ilha em distancia de 18
legoas não ha mais que um mestre das primeiras letras, e tendo-se referido aos
moradores do Caniço, havia outras freguezias muito mais populosas, e que cada
uma delias contém bem justo, ou mais de trez mil almas, representei, e requeri,
que ás mesmas se entendesse aquella providencia, decediu o Congresso, que para
isso fizesse indicação. Por isso proponho, e requeiro, que nas freguezias do Porto-
Moniz, Ponta-Delgada, S. Jorge, Santa Anna, Fayal, Porto da Cruz, Cama de Lobos,
e Estreito de Nossa Senhora da Graça se crie em cada uma dellas (…) uma cadeira
das primeiras letras, com ordenado de 130$ réis conforme ai outras poucas, que
sé achão creadas. No mês seguinte410, o mesmo deputado referia que o subsídio
literário direcionado para o pagamento das escolas e seus professores, não estava
a ser atribuído: A ilha da Madeira não tem outros tributos senão os do vinho, estão
pagando para estas escolas e vêem-se sem ellas, em dezoito leguas de distancia
não há nem um mestre de lêr; por tanto peço que se dêem providencias sobre isto.
Em 1853411, José Ferreira Pestana, José Silvestre Ribeiro e Lourenço
José Moniz referem que debalde se cançará qualquer governo em querer
conseguir o progresso da civilisação, se não promover com decidido empenho o
desenvolvimento da instrucção publica, e com especialidade do ensino primario.
Demonstrar esta asserção seria uma superfluidade, e por ventura uma offensa á
sabedoria da camara. E propõem uma escola de ensino primario para creanças do
sexo feminino, em todas as cabeças de concelho do districto do Funchal (…) uma
escola de ensino primario para creanças do sexo masculino, em todas as freguezias
do mesmo districto, onde ainda não houver chegado aquelle beneficio. Além disso,
é o governo auctorisado no seu projeto, a conceder casas dos proprios nacionaes,
para accommodação das escólas já existentes, cujos professores estiverem dando
aula em edificios arrendados; comprehendendo-se neste numero a mestra regia de
meninas da cidade do Funchal.
O ensino profissional é referenciado por Luís Gonzaga dos Reis Torgal, em
1893412. O parlamentar propõe a oficina de S. José, no Funchal, para ministrar o
ensino profissional de artes e ofícios juntamente com educação moral e religiosa a
expostos e menores abandonados e quando haja logar a filhos menores de pessoas
miseráveis.
A creação de uma cadeira de principios de physica e chimica, e introducção á
historia natural dos tres reinos, no lyceu nacional do Funchal é solicitado por vários

409 AHP, Cortes Constituintes, Primeira Legislatura, Diário n.º 216, 03-11-1821, pp. 2911-2912.
410 AHP, Cortes Constituintes, Primeira Legislatura, Diário n.º 252, 17-12-1821, pp. 3429, 3441.
411 AHP, Câmara dos Deputados, Nona Legislatura, Diário n.º 2, 03-05-1853, pp. 8, 12-13.
412 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima nona Legislatura, Diário n.º 59, 26-06-1893, pp. 1-2.

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Junta Geral

deputados na sessão de 14 de dezembro de 1858413. Uma cadeira de desenho linear


é igualmente solicitada em 1860414. Em 1865415, Francisco Joaquim de Sá Camelo
Lampreia e Luís de Freitas Branco apontam já poucas accommodações do edificio
aonde se acha estabelecido aquelle lyceu.
No respeitante à Escola Médico-Cirúrgica, Luis d’Afonseca e Agostinho de
Ornelas, em 1869416, enaltecem as competências deste estabelecimento de ensino
e indicam vários locais onde os seus médicos estão a desempenhar funções: Sr.
presidente, ha muitos annos existia no Funchal uma escola medico-cirurgica. Esta
escola medico-cirurgica tem dado excellentes resultados, porque muitos dos seus
alumnos estão hoje estabelecidos em Portugal. E mesmo no Funchal, os alumnos
que ali acabam os seus estudos são distribuídos por differentes partes da ilha, onde
prestam muito bons serviços. E refere o papel relevante que a escola assume para
aqueles alunos que não têm posses económicas para cursar Medicina em Lisboa.
Vicente d’Afonseca incide no facto de que não se conhece a realidade da
Madeira e, por isso, insiste: é preciso que v. exa. e a camara saibam o que é a
Madeira, e por isso é que eu já uma vez aqui disse que desejava que os senhores ao
menos uma vez na vida fossem aquella ilha para verem o que ella é. Os senhores
não tem idéa alguma do que é a Madeira, Imaginam talvez que é a Lourinhã ou
outro ponto similhante; mas não é assim. É uma cousa inteiramente differente.
Alguns dos membros d’esta casa talvez se lembrem que já houve uma epocha
em que o presidente desta camara era filho da Madeira, que um dos secretarios
era filho da Madeira, e que um dos membros do ministerio tambem era filho da
Madeira; eram tres filhos da Madeira collocados n’estas posições; portanto não é
uma parte do paiz que merecesse ser tão desprezada como o foi, transformando o
seu lyceu de 1.ª classe n’um de 2.ª; e determinando de repente que os professores,
conhecidos e acreditados pelo seu saber, ficassem n’uma posição inferior. Não me
parece, pois, que fosse crucial e estudada esta reforma. Pedia ao sr. ministro do
reino que, se fosse possível, attendesse aos rogos d’aquella gente, que está anciosa
porque a degradação que teve logar se annulle restituindo-lhe o lyceu de 1.ª
classe. E o mesmo digo a respeito da escola medica. De mais a mais que economia
deu a abolição da escola medica? Deu uma economia de 300$000 réis, e por uma
economia d’estas creio que não valia a pena privar aquelles povos dos benefícios
resultantes da existência d’aquella escola. O deputado Fernando de Mello indica
a importância desta Escola, principalmente para formar médicos para as zonas
rurais, que são zonas pequenas e pobres. Lamenta a situação e é um dos que
menciona que já teve ocasião de visitar a ilha da Madeira, e se não posso regozijar-
me pelo fim que lá me levou, regozijo me com a lembrança da vida que ali passei
e com a recordação sempre grata dos favores que lá recebi. É necessario fazer
idéa do que vale aquella ilha e do que merece. Convida todos a visitarem aquella
terra (...) agradável e tão fértil, e de uma importância que infelizmente parece que
nem todos conhecem. De qualquer das formas, salienta que alguns dos concelhos
ruraes da Madeira são essencialmente pobres, são collocados em pontos pouco

413 AHP, Câmara dos Deputados, Décima primeira Legislatura, Diário n.º 11, 14-12-1858, p. 142.
414 AHP, Câmara dos Deputados, Décima segunda Legislatura, Diário n.º 24, 30-05-1860, p. 324.
415 AHP, Câmara dos Deputados, Décima quinta Legislatura, Diário n.º111, 13-11-1865, p. 2542.
416 AHP, Câmara dos Deputados, Décima sétima Legislatura, Diário n.º 58, 20-07-1869, pp. 811, 816-827.

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Junta Geral

acessivos, e sendo a ilha de uma belleza deslumbrante, algumas das povoações do


interior nem por este lado se recommendam. Para estes pontos decerto não podem
ir facultativos senão da propria ilha, que tenham feito poucas despezas nas suas
habilitações, e que não tenham aversão por aquella vida insulana, que tem pela
falta de communicações não poucas horas de aborrecimento (apoiados). Diz ainda
esperar que para ali vão facultativos do continente, de qualquer das escolas que
aqui existem, é condemnar os tristes habitantes d’aquellas montanhas, tristes até
no nome generico por que são tratados e conhecidos, a serem victimas dos mais
ordinarios curandeiros, ou da maldita praga dos barbeiros (apoiados). No entanto,
não deseja que se extinga a escola porque porque provém d’ali grandes males, e
fazemos com isso muitas victimas (apoiados). Com a extinção da escola, muitos
foram para o liceu como professores, uma situação repudiada pelo deputado,
que considera que serão mais úteis num hospital. O parlamentar faz referência
a povoações como Ponta do Pargo, o Curral das Freiras, as Canhas e outras
muitas talvez peiores para as quais não se espera que vá um facultativo que viveu
muitos annos em Coimbrã, Lisboa ou Porto, que gastou muito dinheiro e que teve
muitíssimo trabalho para arranjar um titulo que o auctorisa a exercer a medicina
e a cirurgia em qualquer terra de Portugal ou da Hespanha, segundo o que ali se
decretou no tempo do governo provisório. Por isso, é sua opinião não extinguir a
Escola Médico-Cirúrgica do Funchal.
Outras referências são feitas pelo Ministro do Reino, tendo em conta um
relatório feito pelo Dr. João da Câmara Leme, professor naquele estabelecimento.
Esse relatório insiste no facto de que esta escola tinha que ser extinta porque seria
impossível fazer reformas. E continua o ministro, dizendo que emquanto a passar
o lyceu do Funchal de 1.ª para 2.ª classe, não se moveu o governo n’esse acto pelos
motivos que o sr. Affonseca indicou. Não foram affeições ou desaffeições á terra
nem ás pessoas; o illustre deputado póde dizer o que julgar conveniente para a sua
rhetorica, mas a realidade não é essa. Diz, pelo contrário, que tal decisão depende
de vários fatores, nomeadamente no desenvolvimento dos ramos de instrucção
publica e na classificação dos lyceus, além de que é preciso attender á população
dos alumnos. Continua com uma alusão importante no que se refere à instrução:
Se nós tivessemos as nossas finanças em melhor estado do que temos, eu seria
de voto que não regateássemos despeza alguma com a instrucção publica. Só nós
tivessemos de prodigalisar e de ter mão larga na bolsa, devia ser de certo para a
instrucção publica (apoiados), porque dar o pão do espirito ao povo é dar-lhe a
civilisação, e sem isto não ha nada. Mas é preciso ser contido nas despesas porque
não temos para dar. O governo guiou-se por estes princípios, não podíamos estar
a gastar muito em diversas localidades quando não havia alumnos bastantes para
se tirar a compensação das despegas. Ficando um lyceu de 2.ª classe na ilha da
Madeira é o suficiente. É natural que os representantes da ilha queiram tudo para
lá, diz o ministro mas os poderes públicos não devem ir senão até onde convier,
até onde comportam as forças do nosso thesouro e as necessidades do serviço.
Importa registar a opinião do deputado Fernando de Mello, ao considerar de menor
relevância a análise destes assuntos de natureza educacional, em detrimento
dos assuntos de natureza económica: Parece-me que o paiz se ha de admirar de
que se não discutam os impostos com que foi ameaçado, e o orçamento onde se
promettem tantas reducções.

117
Junta Geral

Em 1902, Frederico dos Santos Martins, Alexandre José Sarsfield e Alberto de


Sousa Botelho417 fazem referência à Escola Industrial do Funchal António Augusto
de Aguiar, como escola de comércio e onde estão inscritos muitos alunos.
As instituições de assistência social terão um papel significativo no contexto
insular, visto que muitos homens e mulheres a elas recorriam como única forma de
apoio dadas as condições de vida miseráveis. Já nos anos 1840, são referenciadas
em várias sessões418, nomeadamente, a Misericórdia do Funchal. As necessidades
são crescentes e os meios não são os suficientes para prover a essa instituição e,
em 1888419, são apresentados projetos com esse objetivo.
O Asilo de Mendicidade420, nas palavras de José Ferreira Pestana, José
Silvestre Ribeiro e Lourenço José Moniz, em 1853, conta seis annos de duração,
tem-se mantido á custa de esmollas, de subscripções, e do producto de um basar
em cada anno (…) a fonte de receita é fallivel, e precaria; e um estabelecimento
de beneficencia tão util e interessante deve ter meios puramente de sustentação,
e não sujeitos a vicissitudes. Propõem, por isso, que a contribuição mensal que
a camara do Funchal paga ao asylo de mendicidade respectivo, approvada pelo
conselho de districto [fique] sendo despeza obrigatoria da mesma camara, podendo
ser augmentada por esta, ou pelo conselho de districto, quando o permittirem as
rendas do municipio. Em 1860421, Luís Vicente d’Afonseca e Luís de Freitas Branco
falam mesmo que esta é uma questão de humanidade.
O Lazareto, outra instituição de apoio social, é referenciado no diário
de 19 de abril de 1855422. Fazem os deputados alusão à zona leste do Funchal,
Ribeira de Gonçalo Ayres, como local destinado à sua construção. Em 1865423,
Francisco Joaquim de Sá Camelo Lampreia e Luís de Freitas Branco apresentam
um requerimento ao ministério das obras públicas, para que sejam enviados a
esta camara os estudos, projectos e orçamentos que houver no mesmo ministerio,
relativos ao estabelecimento de um lazareto na ilha da Madeira.
Durante o período da Monarquia Constitucional, as sessões parlamentares
expressam várias posturas face às intervenções dos insulares, nomeadamente no
que concerne à atualidade e pertinência dos seus projetos. São também reveladoras
da atitude do reino, relativamente ao estatuto do arquipélago. Por isso, os debates
evidenciam, de modo bastante claro, as reivindicações político-administrativas dos
parlamentares insulares relativamente à Madeira e Porto Santo.
Desde o início dos trabalhos parlamentares, em 1821, os deputados
representantes da Madeira reclamam a urgência na discussão dos seus projetos424.
Maurício José Castelo Branco Manuel refere essa premência, nomeadamente, no
respeitante aos projetos sobre a reforma da Administração Pública na ilha. Na

417 AHP, Câmara dos Deputados, Primeira Legislatura, Diário n.º 43, 22-03-1902, pp. 1, 44.
418 AHP, Câmara dos Deputados, Quarta Legislatura, Diário n.º 68, 25-06-1841, pp. 337-338, 344; AHP, Câmara dos
Deputados, Quinta Legislatura, Diário n.º 17, 21-01-1843, pp. 182-183.
419 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima sexta Legislatura, Diário n.º 29, 20-02-1888, pp. 515-516.
420 AHP, Câmara dos Deputados, Nona Legislatura, Diário n.º 2, 03-05-1853, pp. 8, 12-13.
421 AHP, Câmara dos Deputados, Décima segunda Legislatura, Diário n.º 4, 04-06-1860, pp. 77-79.
422 AHP, Câmara dos Deputados, Nona Legislatura, Diário n.º 11, 19-04-1855, pp. 167, 180.
423 AHP, Câmara dos Deputados, Décima quinta Legislatura, Diário n.º 124, 28-11-1865, p. 2699.
424 AHP, Cortes Constituintes, Primeira Legislatura, Diário n.º 91, 28-05-1821, pp. 1051, 1056.

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Junta Geral

perspetiva dos inúmeros deputados insulares que irão passar pelo Parlamento,
parece existir uma secundarização relativamente a tudo aquilo que é por si
requerido. Freitas Aragão425 manifesta a sua preocupação, no que diz respeito aos
deputados, pois não deseja que sejam considerados de omissos por aquelles, a
quem temos a honra de representar [e assim] tambem eu requeiro, que os projectos
dados a bem da ilha da Madeira já impressos, e distribuidos, sejão quanto antes
objecto de discussão (…) No ano seguinte426, Castelo Branco lamenta e afirma: Eu já
por muitas vezes me tenho aqui levantado para que se dêm algumas providencias
a respeito da ilha da Madeira: não tenho sido attendido, e já se vão vendo as
consequencias, e queira Deus que estas sejão as ultimas; porem eu ainda espero
algumas mais funestas, e por isso digo que he necessario dar algumas providencias
a este respeito (…). Ainda em 1822427, Castelo Branco faz o seguinte comentário:
Desgraçada he a ilha da Madeira, Sr. Presidente. Todos os dias se propõem
emendas aos artigos dos projectos, approvão-se ou reprovão-se sem discussão;
hoje porque são negocios da Madeira, não se póde, sem discussão, votar sobre
ellas. Desgraçada ilha da Madeira! eu o repito. Requeiro pois, Sr. Presidente, que
ao menos se tome uma base sobre a qual a Commissão funde os seus trabalhos, e
que se lhe remettão as indicações depois, mas com a maior urgencia. Segundo o
deputado, os projetos que se referem a assuntos da Madeira são tratados de forma
desigual. Várias iniciativas permanecem meses consecutivos em debate e outras só
são aprovadas no ano seguinte, nomeadamente o projeto referente à proibição da
importação das aguardentes estrangeiras: (…) o Sr. Deputado Secretario Felgueiras
deu conta da ultima redacção do decreto sobre a introducção de aguas ardentes
nas ilhas da Madeira, e Porto Santo, que foi approvado428.
Neste contexto de adiamento de forma continuada, o deputado Castelo
Branco apresenta uma moção escrita a propor sessões extraordinárias, a fim de
serem discutidos os projetos referentes à Madeira429: (…) se devêra alterar a ordem
do dia (…) assentou-se serem de toda a urgencia semelhantes projectos; por tanto
requeiro a sua promptissima discussão, a fim de que os nossos representados vejão
algum fructo dos nossos trabalhos (…). Na mesma sessão, o deputado Monteiro
acaba mesmo por referir que (…) a ilha da Madeira merecia uma contemplação
muito distincta, por ser a primeira provincia que se unio a Portugal. Diante de tal
solicitação, (…) decidiu-se, que se reunissem as duas Commissões de agricultura e
commercio a fim de prepararem o trabalho para a discussão dos projectos relativos
á ilha da Madeira, e se assignou para a discussão o dia de quinta feira. Mesmo
no respeitante ao famoso vinho da Madeira, o deputado Canavarro afirma: Diz-
se que os vinhos da Madeira são os melhores vinhos do mundo! Porem se alguns
Preopinantes soubessem dos vinhos do Douro chamados muscatel, e malvasia,
saberião quão grande he a superioridade destes vinhos sobre os da Madeira430. O
vinho da Madeira assume uma posição de uma certa desvalorização.

425 AHP, Cortes Constituintes, Primeira Legislatura, Diário n.º 129, 17-07-1821, pp. 1563-1564.
426 AHP, Cortes Constituintes, Primeira Legislatura, Diário n.º 31, 08-03-1822, pp. 407-408.
427 AHP, Cortes Constituintes, Primeira Legislatura, Diário n.º 40, 25-06-1822, pp. 541, 545-549, 553, 555-556.
428 AHP, Cortes Constituintes, Primeira Legislatura, Diário n.º 69, 31-07-1822, p. 1005.
429 AHP, Cortes Constituintes, Primeira Legislatura, Diário n.º 129, 17-07-1821, p. 1564; AHP, Cortes Constituintes,
Primeira Legislatura, Diário n.º 130, 18-07-1821, p. 1585.
430 AHP, Cortes Constituintes, Primeira Legislatura, Diário n.º 131, 19-07-1821, p. 1595.

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Junta Geral

O destino económico, financeiro, social, político e militar da Madeira está


agora nas Cortes. Estas são o órgão legislativo que delibera sobre todo o Portugal e
a Madeira e das Cortes esperam os madeirenses as decisões mais favoráveis para
o arquipélago. Por isso, como afirma o deputado Freitas Branco: (…) a Madeira
queixa-se, porque muito se sente opprimida (…) mas suas queixas são respeitosas,
e dirigidas a quem seu mal deve curar (…). 431 Mas as dificuldades são constantes
e continuadas.
O redator de O Patriota Funchalense a 16 de janeiro de 1822, acusava as
Cortes de continuarem, sem atender ao desgosto em que vivia esta Província, com
Autoridades e Empregados, que continuavam a girar com rodas velhas do antigo
sistema (…) há quase um ano que aderimos à causa da nação e onde está o único
bem que esta Província tem recebido da reforma? Na mudança do governador e
autoridades? Tal não há, em maior liberdade nos negócios da Administração Pública?
Também não; em algumas providências económicas? Não as vemos432.E continua,
a 19 de janeiro de 1822, dando conta do quadro da vida económica madeirense:
A perda de numerário (…), a agricultura definhada, o comercio desalentado; as
poucas produções do país sem preço e sem consideração; a pobreza no grau mais
superlativo; tudo anuncia ao desgraçado Insulano dias de luto e sumamente
desgraçadas.433 Com efeito, segundo Neli Barros, a Ilha da Madeira, apesar de ter
deputados nas Cortes, pouco conseguia fazer, em prol do seu desenvolvimento.
O deputado Castelo Branco acusava as Cortes de não o deixarem interpelar, o
que levava os madeirenses a pensar que ele andava dormindo, resultando a sua
insistência em ser chamado à ordem pelo Presidente do Congresso, após exclamar
a Ilha da Madeira é sem dúvida malfadada434. Castelo Branco Manuel é mesmo
perentório: (…) Eu já por muitas vezes me tenho aqui levantado para que se dêm
algumas providencias a respeito da ilha da Madeira: não tenho sido atendido (…)435.
O desconhecimento da realidade insular é evidente em várias intervenções
dos madeirenses. Castelo Branco Manuel, na sessão de 19 de julho de 1821436,
é categórico: Já disse que muitos senhores Deputados não estão ao facto das
circunstancias da ilha da Madeira (…). Os diários parlamentares nas Cortes
Constituintes e nas diferentes Câmaras apresentam, não poucas vezes, uma visão
multifacetada da Madeira: a imagem descrita pelos deputados insulares e a imagem
que têm sobre ela, os deputados nacionais. Conhecer estas imagens é uma forma
de aferir da adequação de decretos e pareceres em relação à Madeira. Saliente-se
a referência insistente por parte de Castelo Branco Manuel: Se se vai a estabelecer
Ley geral, he necessario attender á Ilha da Madeira437. A lei geral não pode, pois,
ser aplicada sem o devido conhecimento do local em questão. É necessário ouvir os
povos, como reclama o deputado Caetano Alberto Soares: (…) não pôde conhecer-
se sem ouvir os seus povos (…) os povos não hão de vir aqui por si requerer, nós he

431 AHP, Cortes Constituintes, Primeira Legislatura, Diário n.º 39, 20-02-1823, pp. 905-906.
432 O Patriota Funchalense, 1822, 16 de janeiro apud BARROS, 2003, Os Deputados Brasileiros nas Primeiras Constituintes
e a Ilha da Madeira (1821-1823), p. 143.
433 O Patriota Funchalense, 1822, 19 de janeiro apud BARROS, 2003, Os Deputados Brasileiros nas Primeiras Constituintes
e a Ilha da Madeira (1821-1823), p. 143.
434 BARROS, 2003, Os Deputados Brasileiros nas Primeiras Constituintes e a Ilha da Madeira (1821-1823), p. 142.
435 AHP, Cortes Constituintes, Primeira Legislatura, Diário n.º 31, 08-03-1822, p. 408.
436 AHP, Cortes Constituintes, Primeira Legislatura, Diário n.º 131, 19-07-1821, p. 1595.
437 AHP, Cortes Constituintes, Primeira Legislatura, Diário n.º 80, 15-05-1821, p. 917.

120
Junta Geral

que somos os seus representantes (…)438. Aquando da discussão sobre um projeto


de ordem administrativa, o deputado madeirense Pimenta de Aguiar refere, com
grande ênfase, que o arquipélago não é só constituído pela ilha da Madeira: (…)
sr. Presidente, a nação Portugueza tem mais uma ilha, e eu não vejo que della se
fassa aqui menção; esta ilha he a de Porto Santo, posto que ella esteja unida á da
Madeira contudo tem o seu Governo separado439. Nesse contexto, serão entregues,
no Parlamento, memórias descritivas da ilha da Madeira por parte do governador
de então, bem como pela Câmara do Funchal. Esta é a forma encontrada na época,
para divulgar a realidade insular: vilas, freguesias, número de habitantes, estradas,
fortificações, mapas, produções agrícolas, comércio, artes, instrução pública440.
Em 1865441, António Gonçalves de Freitas e Francisco Joaquim de Sá Camelo
Lampreia interpelam o Ministro da Fazenda sobre a ordem pela qual o governo
mandou arrecadar na Madeira a decima dos juros e observar a legislação respectiva
a este imposto, legislação só relativa ás provincias do continente do reino, e por isso
nunca vigorou nas ilhas adjacentes, nem pôde ser-lhes applicavel senão por acto
do poder legislativo. Parecem expressar a sua surpresa e indignação perante um
facto que indicia a postura do governo em relação às ilhas. Em 1869442, Luís Vicente
d’Afonseca declara o seu mal-estar pelo facto do arquipélago ser uma província de
Portugal: A Madeira é um paiz desgraçado, um paiz pobre. Dizia o nosso primeiro
epico: Passámos a grande ilha da Madeira, que do muito arvoredo assim se
chama. Assim hoje póde dizer-se: Passámos a pobre ilha da Madeira. De famintos
espectros habitada. É o que ella é hoje na realidade. Este salto geographico que nós
demos, fazendo da Madeira provincia de Portugal, foi fatal para nós. E continua,
comparando Portugal com outras realidades de Espanha: A Hespanha nunca se
lembrou de chamar ás Canarias provincia das Canarias; Maiorca, provincia de
Maiorca. A Inglaterra nunca chamou Bombaim, provincia de Bombaim; Calcutá,
provincia de Calcutá. Só nós é que temos estas felizes lembranças. Isto faz-me
lembrar um homem pequeno que a natureza não deixou crescer, lá sabe porque,
e que quando vae ao sapateiro pede que lhe ponha saltos altos para parecer um
gigante. Parece, de acordo com os diários parlamentares, que a designação de
Província ou o tratamento de colónia num arquipélago de ilhas adjacentes não
desapareceu ao longo do período constitucional. Um assunto que mereceria uma
análise muito mais profunda.
Esta visão da ilha é humilhante para Vicente d’Afonseca. Lamenta o facto de
não se conhecer a ilha e só deseja no montão de leis que nós fazemos aqui todos
os dias, entrasse uma que era para que todos os deputados fossem obrigados,
ao menos uma vez na vida, a visitar a Madeira, assim como os turcos fazem com
relação ao túmulo do propheta. Quisera isso para conhecerem o que é a Madeira,
e para não termos grandes difficuldades a vencer sempre que se trata de questões
que lhe dizem respeito. E num tom irónico e de desagrado, acrescenta: Não quero
entreter por mais tempo a camara, que tem de occupar-se de outros objectos

438 AHP, Câmara dos Deputados, Primeira Legislatura, Diário n.º 69, 16-05-1823, p. 19.
439 AHP, Câmara dos Deputados, Primeira Legislatura, Diário n.º 69, 16-05-1823, p. 19.
440 AHP, Cortes Constituintes, Primeira Legislatura, Diário n.º 194, 08-10-1821, pp. 2561- 2562; AHP, Cortes Constituintes,
Primeira Legislatura, Diário n.º 143, 03-08-1821, p. 1759.
441 AHP, Câmara dos Deputados, Décima quarta Legislatura, Diário n.º 73, 01-05-1865, pp. 1131-1132.
442 AHP, Câmara dos Deputados, Décima sétima Legislatura, Diário n.º 33, 14-06-1869, pp. 329, 332.

121
Junta Geral

serios.
A 12 de fevereiro de 1884443, Arriaga recorda o discurso do ministro das Obras
Públicas que acentuava o caráter da exagerada e asphyxiadora centralisação
administrativa e politica que têem seguido visto que chamaram a si a direção de
todos os negócios, mesmo os mais insignificantes, impedindo a iniciativa e as
liberdades locaes. Esta perspetiva denota, para Arriaga, uma atitude de controle
por parte da metrópole em relação às ilhas.
Logo em 1822444, Francisco João Moniz, João José de Freitas Aragão e Maurício
José Castelo Branco Manuel solicitam, para o Porto Santo, além do governador
que lá exerce funções, um juiz de fora. A 16 de maio de 1823445, Caetano de Aguiar
insiste no facto de que o projeto de divisão do território não apresenta uma
menção à ilha do Porto Santo, numa clara alusão ao esquecimento das ilhas.
A reivindicação de um Tribunal da Relação na Madeira é defendida em 1828, por
Lourenço José Moniz446. No projeto de divisão administrativa do país, Moniz realça
a essência da unidade do território insular447, quando afirma: julgo aquella ilha
indivisivel, e por isso peço que se não altere em nada o que alli está, porque quando
uma provincia existe em grande distancia do Governo, já pelo seu clima, já pelos
habitos dos povos, deve ter uma legislação especial. E continuam as pretensões,
nomeadamente em manter a cidade do Funchal com duas comarcas448: oriental
e ocidental, residindo na mesma cidade os juízes por não ser possível organisar
o Juizo convenientemente em outra parte da Ilha. E para poupar despesas449,
acrescenta: é do dever de um representante da nação no parlamento, contribuir
efficazmente para que aos povos sejam proporcionadas todas as commodidades a
fim de que estes possam poupar o tempo, e evitar despezas, sempre que poderosos
motivos a isso não obstarem. Daí ser pedido um tabelião para a vila de Câmara de
Lobos e para a povoação da Fajã da Ovelha.
Em 1854450, José Silvestre Ribeiro, anterior Governador Civil da Madeira, num
projeto por si apresentado, pede a nomeação de um funcionário que reuna e possa
exercer as attribuições de governador civil e commandante militar, no districto
do Funchal, accumulando os vencimentos que se acham estabelecidos para os
empregados, que separadamente fazem o serviço dos dois cargos. Entende que
a divisão de atribuições administrativas e militares é um princípio a manter como
garantia das liberdades públicas e individuais. No entanto, tal se deve attendendo
ás circumstancias extraordinarias em que se acha aquelle districto, e a que é
preciso empregar providencias efficazes, para minorar os males que affligem os
seus habitantes.
Feliciano Teixeira, em 1880451, manda para a mesa um requerimento por

443 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima quarta Legislatura, Diário n.º 28, 12-02-1884, pp. 285-298.
444 AHP, Cortes Constituintes, Primeira Legislatura, Diário n.º 41, 26-06-1822, pp. 557, 572.
445 AHP, Câmara dos Deputados, Primeira Legislatura, Diário n.º 69, 16-05-1823, pp. 6, 11.
446 AHP, Câmara dos Deputados, Primeira Legislatura, Diário n.º 13, 18-01-1828, pp. 153, 161-165.
447 AHP, Câmara dos Deputados, Primeira Legislatura, Diário n.º 64, 13-04-1835, pp. 808-810.
448 AHP, Câmara dos Deputados, Oitava Legislatura, Diário n.º 39, 20-02-1852, pp. 189-190.
449 AHP, Câmara dos Deputados Nona Legislatura, Diário n.º 12, 19-05-1853, pp. 167-168.
450 AHP, Câmara dos Deputados, Nona Legislatura, Diário n.º 13, 15-03-1854, pp. 196, 204-205.
451 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima terceira Legislatura, Diário n.º 24, 12-02-1880, pp. 401, 403-404.

122
Junta Geral

parte dos empregados da Alfândega do Funchal, pedindo que os seus vencimentos


sejam equiparados aos dos empregados da alfandega de Lisboa. Prossegue a sua
apresentação confirmando que estes allegam em seu favor direitos adquiridos.
Aponta várias disposições legislativas que, por vezes, os têm prejudicado e mostra
a paridade de circunstâncias em que se acham, relativamente aos empregados
da alfândega de Lisboa. Salienta ainda a carestia dos meios necessarios á vida na
cidade do Funchal (…), bem como o facto do seu vencimento ser menor e o serviço
relativamente maior na alfandega do Funchal do que em qualquer outra alfandega
comprehendendo inclusivamente as de Lisboa e Porto porque ha n’ella menos
pessoal e mais accumulação de serviço. Além deste requerimento, indica outros
aspetos importantes a nível administrativo, tais como um tabelião para o Porto
Santo; anexar o julgado do Porto Santo à comarca do Funchal como acontecia antes
do decreto de 12 de novembro de 1875 que creando a nova comarca de Santa Cruz
lhe annexou o julgado de Porto Santo. E conclui, dizendo que tudo o aconselha
(…) tudo o persuade para que os povos d’aquella ilha sejam menos prejudicados
quando os negocios judiciaes os chamarem a sede da sua comarca.
Em 1885452, João Augusto Teixeira renova esta iniciativa, o que indica que o
requerimento não tinha sido atendido. Em maio de 1885453, este assunto volta ao
Parlamento e Teixeira justifica a anexação do julgado do Porto Santo, visto que a
administração da justiça para os povos d’aquelle julgado [é] sobremaneira difficil e
vexatoria, e até em muitos casos impossivel. Constata a situação do povo do Porto
Santo, que não tem contactos habituais com a vila de Santa Cruz e que, nesta, nem
ha casas que dêem hospedagem por preços commodos, nem bachareis em direito
que tratem qualquer questão forense. Assim sendo, e considerando o Funchal a
capital do distrito e a sua relevância a nível comercial, é o único ponto da Madeira
com o qual os povos do Porto Santo mantêem relações estreitas e frequentes. Por
isso, por forma a evitar grandes vexames e enormissimas despezas, a organização
administrativa deve ser modelada pelas conveniências e circunstâncias especiais
dos povos e não o contrário.
O projeto de remodelação da circunscrição judicial na ilha da Madeira defendido
pelo ministro da justiça é questionado no Parlamento por Catanho de Menezes454,
a 14 de julho de 1897. Segundo Menezes, o projeto ministerial pretende reduzir
de quatro para duas as comarcas existentes na Madeira. E, ironicamente, diz: ou,
o que seria ainda melhor, a uma só com duas varas. Segundo o ministro, para
os processos de menos importancia seria conveniente que se creassem julgados
municipaes, quando as respectivas camaras o requeressem, sendo os juizes o os
delegados pagos pelo estado, visto que a ilha da Madeira contribuo para o thesouro
publico com cerca de 500 contos de réis anualmente (…).
A organização, em termos judiciais, é novamente colocada em análise, no dia
seguinte,455 por João Catanho de Menezes e Francisco Correia de Herédia. Começam
por registar a diferente realidade das duas ilhas do arquipélago e dão conta que
os serviços judiciais aí são em geral extremente incommodos e dispendiosos.

452 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima quinta Legislatura, Diário n.º 51, 23-03-1885, pp. 865, 868.
453 AHP, Câmara dos Deputados, Vigésima quinta Legislatura, Diário n.º 90, 25-05-1885, pp. 1763, 1770-1771.
454 AHP, Câmara dos Deputados, Trigésima segunda Legislatura, Diário n.º 13, 14-07-1897, pp. 227-228.
455 AHP, Câmara dos Deputados, Trigésima segunda Legislatura, Diário n.º 14, 15-07-1897, pp. 241-242.

123
Junta Geral

Reclamam da ação do juiz do Porto Santo que não dispensa os seus habitantes
do pesado tributo de fazer uma viagem á sede da comarca, ainda por causa das
questões mais insignificantes. E para se avaliar o incommodo d’esta viagem basta
attender que a ilha do Porto Santo dista da Madeira 18 leguas, sendo muitas vezes
difficil a travessia do mar, as passagens dispendiosas e o serviço de navegação em
más condições. Quando se referem à organização judicial na Madeira, afirmam
que seria preferível a orgânica anterior, visto que esta concorre para dizer que os
benefícios que resultaram da instalação das comarcas, foram a bem dizer nullos,
porque a falta de estradas e de percursos marítimos, tornam também difficeis
e até perigosas as communicações entre as freguezias ruraes. Mencionam que,
anteriormente, todo o districto era dividido em duas comarcas, com séde no
Funchal e que seria esta a melhor organização, obviamente complementada pela
instalação dos juízes municipais nos concelhos em que fosse permitido criá-los.
Esta perspetiva dos deputados parece contrária aos desejos de uma
descentralização e da possibilidade de todos os habitantes da ilha terem acesso
aos mais diversos serviços. Mas tal visão é justificada pelo facto de a população
ter relações frequentes com a cidade do Funchal, onde vem abastecer-se de quasi
todos os artigos importados do estrangeiro, pela falta de estabelecimentos em que
os adquiram nas povoações ruraes e, obviamente, pela ausência de uma política
eficaz, no respeitante à rede viária. A centralidade da capital da ilha e o exíguo
movimento judicial em comarcas, tais como Ponta do Sol, São Vicente e Santa
Cruz, devido à inexistência de advogados, assim o exige. Deste modo, existe um
encarecimento das demandas, tornando os honorários dos juristas extremamente
mais elevados do que o seriam se fossem prestados no Funchal. Por isso, a extincção
d’aquellas comarcas é uma necessidade quasi unanimemente reclamada, e será
recebida com geral agrado, principalmente se for permittida a installação de juizos
municipaes nos concelhos da ilha da Madeira, cujas povoações distem mais de 15
kilometros da sede da comarca. No entanto, para fazer face a estas alterações, nem
o município do Porto Santo nem os municípios rurais da Madeira estão habilitados
a satisfazer todos os encargos pelas enormes despesas e faltas de receita que têm
escasseado. É proposto então que a cargo das Câmaras municipais fique o edifício
próprio para serviço de audiencias e para cadeia de simples detenção policial e
transito de presos, e a verba do expediente [fique à responsabilidade] do tribunal.
A 4 e 5 de junho de 1900456, os deputados João Catanho de Menezes, Francisco
Correia de Herédia, João Augusto Pereira e José António de Almada reivindicam um
regime administrativo para o Funchal semelhante ao dos Açores. Os parlamentares
tomam, como ponto de referência, o código administrativo de 2 de março de
1895457, analisado na sessão de 16 de janeiro de 1897. O regime dos Açores
permitira a este arquipélago uma organização administrativa diferente em alguns
pontos essenciaes, da destinada ao continente do reino. E este novo estatuto foi
conseguido como fruto das reclamações instantes [que] os povos dos Açores traziam
perante os poderes publicos, pedindo uma organisação administrativa especial,
ora em termos expressos de autonomia, ora apenas com regimen approximado

456 AHP, Câmara dos Deputados, Trigésima terceira Legislatura, Diário n.º 80, 04-06-1900, pp. 1, 3; AHP, Câmara dos
Deputados, Trigésima terceira Legislatura, Diário n.º 81, 05-06-1900, pp. 1-2.
457 AHP, Câmara dos Deputados, Trigésima primeira Legislatura, Diário n.º 8, 16-01-1897, pp. 45-59.

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Junta Geral

do estabelecido no codigo administrativo de 17 de julho de 1886. Nesse sentido, o


governo conciliou os interesses do estado com os dos povos, facultando-lhes este
regime administrativo. Importa analisar alguns aspetos da sessão, tendo em conta
a luta dos insulares açorianos. No entanto, tal regimento não é consensual entre os
parlamentares que se encontram na sessão. Carneiro de Moura advoga que se os
açorianos querem ser bem administrados que se administrem elles proprios. Mas
isto é o reconhecimento da nossa incapacidade governativa! E continua, insistindo
no facto de que, com este regime, o arquipélago ficará com mais direitos que os
reconhecidos pelo código administrativo aos povos da metrópole. E questiona
incrédulo: Onde se viu já isto?! Os Açores tinham sido uma colónia e, apenas mais
tarde, pela illustração e docilidade dos povos, a metropole concedeu aos açorianos
direitos iguaes aos que se disfructavam na metropole. A exploração do tema merece
vários comentários por Moura, nomeadamente: Então são os açorianos que nos
devem dominar por serem mais cultos, ou pelo menos devemos-lhes reconhecer
a independencia politica, porque um povo mais culto não póde ser dominado por
outro que o não seja tanto. Foi isto o que se quiz reconhecer? Veja-se o absurdo do
projecto. O absurdo do projeto estava em conceder mais do que mereceriam, pois
que, também na metropole, devemos ter pelo menos iguaes direitos. Devemos ter
uma administração de povo culto, civilisado e liberal; e já que os Açores como
a Madeira tudo merecem, demos-lhes tudo o que possuimos, applique-mos-lhes
o nosso codigo administrativo. Mais não! Mas este plano é, na sua ótica, uma
forma de confirmar que não os sabemos governar. E este regime é dar-lhes rasão.
Assim sendo, os Açores assumem uma categoria igual aos distritos do Continente,
deixando de ser classificado de colónia. Contudo, os receios de maior autonomia
administrativa é constatado: Mas os Açores, que formam uma colonia nossa,
serem agora elevados a uma categoria maxima, como direi? de superioridade á
metropole, é que é extraordinario. Mas fez-se; de resto, os açorianos têem tido o
bom senso de pedir mais vezes administração do que o regimen liberal que se lhes
quer dar. E ainda se quer levar por diante esta idéa que, uma vez posta em pratica,
qual será o governo que seja capaz de a fazer voltar atrás?
O exame a esta sessão parlamentar permite enquadrar o projeto de lei dos
deputados insulares, em 1900. Fundamentam as suas reivindicações no facto de
que a favor do Funchal militam as mesmas rasões que determinaram o decreto
com força de lei de 2 de março de 1895 a conceder aos Açores certa autonomia
administrativa; e portanto não é justo que seja negado aos povos da Madeira
um regimen que tanto está concorrendo já para o engrandecimento e felicidade
dos districtos de Ponta Delgada e Terceira, onde elle está em pratica com o maior
applauso d’estas importantes povoações. A solidariedade deve estar presente tanto
para os Açores como para a Madeira e, por isso, este sistema de descentralização é
submetido para apreciação com a indicação no artigo 1º: É o governo auctorisado
a conceder ao districto do Funchal, o regimen especial de administração creado
para os districtos dos Açores pelo decreto de 2 de março de 1895 nos seus precisos
termos e da mais legislação subsequente. Como resultado desta reivindicação,
em 1901458, foi promulgado um decreto do poder central, concedendo ao Distrito
do Funchal uma autonomia administrativa, a exemplo do que havia sucedido, em

458 GUERRA, 2010, Funchal 500 anos: Momentos e Documentos da História da Nossa Cidade, p. 105.

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Junta Geral

1895, com os distritos dos Açores. Apesar de obviamente reduzida, comparada


com o atual regime autonómico, constituiu, na época, segundo Valdemar Guerra,
um apreciável benefício, amplamente reivindicado, pois viria a facultar ao principal
orgão administrativo -a Junta Geral do Distrito- a arrecadação das imprescindíveis
receitas que lhe permitiriam realizar avultadas obras públicas: nomeadamente,
a rede de estradas. A única estrada existente na Madeira digna desse nome era,
até então a Estrada Monumental que ligava o Funchal a Câmara de Lobos. A Junta
Geral fora primitivamente instalada em 1837, mas logo extinta, em 1892, só sendo
restabelecida através do referido decreto de 1901, que lhe permitiu desempenhar
relevante papel nos melhoramentos urbanos e rurais e sobretudo superintender
as grandes obras públicas.

1911-26. A Junta Geral e os deputados Republicanos eleitos pela


Madeira

O período da Primeira República é marcado pelo funcionamento de três


Câmaras: a Câmara dos Deputados (1911-1926), o Senado da República (1911-
19269 e o Congresso da República (1911-1926). De acordo com a Constituição, a
Câmara dos Deputados intervinha sobre impostos, a organização das forças de terra
e mar, a discussão das propostas do Poder Executivo, a revisão da Constituição,
a prorrogação e o adiamento da sessão legislativa (secção II, art. 22º, 23º). Já
o Senado era a segunda Câmara a quem estava acometido o poder legislativo
(secção II, art. 7º, 25º, 26º). A reunião das duas Câmaras fazia-se no Congresso, que
reunia sempre a partir de 2 de dezembro, por um período de 4 meses, e tinha por
função legislar sobre questões relacionadas com a administração e a capacidade
de demitir os membros do Governo. Entre 15 de junho e 25 de agosto de 1911,
funcionou a Assembleia Nacional Constituinte, com o objetivo de aprovar a nova
Constituição, o que aconteceu na 56ª sessão em 21 de agosto de 1911459.
Os debates na Assembleia Constituinte foram, sobretudo, de índole político-
ideológico, o que é, à partida, compreensível, uma vez que se vivia ainda o clima
revolucionário e o seu objetivo era produzir uma nova Constituição que expressasse
os novos valores por que lutara o movimento republicano triunfante no dia 5 de
outubro de 1910. A distribuição dos poderes políticos pelos diferentes órgãos de
poder e o papel do presidente da República (órgão que se questionou mesmo e
se votou se deveria ou não existir) foram os temas mais exaustivamente tratados
e discutidos. Houve também algumas intervenções de caráter económico, debate
sobre situações concretas em regiões do país, envio de mensagens, reclamando
a atenção dos poderes públicos para carências registadas em várias localidades.
Da Madeira, porém, nada foi enviado à Assembleia e aqui não se abordou sequer
algum problema político ou económico que lhe dissesse diretamente respeito.
As intervenções dos deputados eleitos pelo Funchal foram de âmbito geral
e nacional. São especialmente de relevar a intervenção de Manuel de Arriaga, na

459 1911, Constituição Política da República Portuguesa de 21 de Agosto de 1911, Coimbra, Edição da Livraria Editora F.
França, Amado.

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Junta Geral

sessão n.º 18, de 11 de julho de 1911, e a de Carlos Olavo, na sessão n.º 22, de Engenho do Hinton
17 de julho de 1911, dois tratados de filosofia política. O único tema, diretamente
relacionado com a Madeira, a ser abordado, foi a questão Hinton460 e, nessa
discussão, não interveio nenhum dos deputados eleitos pelo Funchal. Questionou-
se o posicionamento do novo regime, face aos privilégios daquele súbdito inglês
e lançou-se a dúvida se houvera intervenção oficial ou particular de ministros
da Inglaterra para favorecer o seu concidadão, como já ocorrera no anterior
regime monárquico. Transversalmente, porém, foram feitas algumas referências
à conjuntura política e às questões que preocupavam os madeirenses como os
incidentes eleitorais461, o surto de cólera462, a questão da autonomia das Ilhas

460 AHP, Assembleia Constituinte, I legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 39, 07-08-1911, pp. 10-12, 24-25; AHP,
Assembleia Constituinte, I legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 42, 09-08-1911, pp. 7-8; AHP, Assembleia
Constituinte, I legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 43, 10-08-1911, pp. 19-20.
461 AHP, Assembleia Constituinte, I legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 6, 26-06-1911, pp. 11-12; AHP, Assembleia
Constituinte, I legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 50, 16-08-1911, pp. 6-7; AHP, Assembleia Constituinte, I
legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 52, 17-08-1911, p. 7.
462 AHP, Assembleia Constituinte, I legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 43, 10-08-1911, pp. 7-9; AHP, Assembleia
Constituinte, I legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 50, 16-08-1911, p. 7.

127
Junta Geral

Adjacentes463, a questão dos Sanatórios464.


Os 16 anos da I. ª República foram um período muito agitado, de modo especial
sob o ponto de vista político-social. O novo regime praticamente não chegou a
assentar arraiais, tendo-se vivido numa instabilidade permanente. Na vigência do
Governo Provisório, o espírito revolucionário e o idealismo radical impuseram uma
abundante legislação com objetivos claros de alteração das estruturas políticas,
sociais e culturais, sob a batuta do maestro Afonso Costa.
A publicação da Constituição e o início do funcionamento das novas instituições,
com renovação de quadros na administração do Estado e dos municípios, não
trouxe, porém, a estabilidade tão desejada e necessária para o cumprimento das
promessas, agora renovadas e com outra força, do velho Partido Republicano
Português, que contava já com 35 anos. Logo em 1911 e 1912, surgem as incursões
monárquicas, que contaram com a ajuda da hierarquia católica, tão hostilizada
pelas elites republicanas; neste último ano, o Partido Republicano divide-se em
3 facções, que rapidamente se vão subdividir em muitas mais; o predomínio da
fação maioritária, o então denominado Partido Democrático, liderado por Afonso
Costa, e a inviabilização duma alternativa conservadora, que só foi possível, por
escassos meses, em 1923, com a fundação do Partido Nacionalista, transferiram
a luta política do parlamento para a rua e para os quartéis e, registe-se, a lei
vigente permitia aos militares militância partidária; a participação da Portugal na
I. ª Guerra Mundial, a aventura ditatorial de Sidónio Pais e a desforra monárquica
que se lhe seguiu, bem como a crise económica do pós-guerra, a retirada e o
desaparecimento das grandes personalidades políticas republicanas e o avanço de
gente da 3.ª linha, acabariam por proporcionar a caminhada para o fim do regime,
com a ajuda do contexto internacional, do fascismo e do bolchevismo.
A defesa dos interesses da Madeira e dos madeirenses no parlamento
nacional foi, assim, prejudicada por estas circunstâncias adversas – divisionismo
político-partidário, instabilidade política, crise económica nacional – a que é
preciso acrescentar uma outra condicionante importante: a distância geográfica
e a estrutura rudimentar e deficiente funcionamento das comunicações entre o
arquipélago e Lisboa.
Sobretudo nos primeiros anos do regime, dois lóbis se impõem na Câmara de
Deputados, o militar e o colonial, fazendo valer as suas reivindicações corporativas
e os seus interesses económicos, relegando para um segundo plano tudo o mais.
As sucessivas mudanças de Governo e o facciosismo da atuação governamental
originaram, muitas vezes, o adiamento da discussão e até mesmo a inviabilização,
de projetos de lei apresentados pelos representantes do círculo n.º 50, do Funchal,
apesar das repetidas queixas nesse sentido.
Francisco Correia Herédia (ex-Visconde da Ribeira Brava), até 1918, data do
seu assassinato político, e Pedro Góis Pita, após esta data, foram as duas figuras de
proa da representação política da Madeira na Câmara de Deputados. O primeiro,
pelo seu caráter combativo e pela sua filiação no “partido governamental”,
conseguiu defender, com algum êxito, algumas reivindicações do círculo que

463 AHP, Assembleia Constituinte, I legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 20, 13-07-1911, pp. 12-13.
464 AHP, Assembleia Constituinte, I legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 39, 07-08-1911, p. 11.

128
Junta Geral

representava. O segundo, pela sua inteligência, competência jurídica e capacidade


de argumentação, conseguiu também defender com brilhantismo os interesses da
Madeira mas esta defesa foi prejudicada pela sua saída do Partido Democrático e
adesão ao Partido Evolucionista e pelas suas ambições de carreira a nível nacional.
Relativamente aos outros deputados pelo círculo do Funchal, Carlos Olavo
e o seu irmão Américo Olavo, nos primeiros anos, só intervinham em questões
militares, a nível nacional; depois, passaram a ter algumas intervenções em defesa
da Madeira e apoiaram sempre projetos de lei apresentados por Pedro Pita,
mesmo quando o segundo deles foi deputado por outro círculo. Domingos Reis
Costa e Adolfo Brazão fizeram também, na última legislatura (1925-26), algumas
intervenções brilhantes. O mesmo se pode afirmar do deputado pelo Centro
Católico, Juvenal Henriques de Araújo, entre 1922 e 1925.
Durante o consulado de Sidónio Pais, a representação parlamentar da Madeira
formalmente existiu mas nunca se fez ouvir.
Se entre os deputados pela Madeira ou apenas madeirenses houve
solidariedade e a defesa dos interesses dos madeirenses apenas prejudicada
pela divisão partidária e por ambições políticas a nível nacional, o mesmo não
se pode afirmar da relação entre os deputados e as forças vivas do Arquipélago.
Houve aqui alguma descoordenação e a dificuldade de comunicações e as divisões
partidárias não são suficientes para explicar esse facto. É o caso da alteração do
regime cerealífero e do regime sacarino e do projeto de criação duma zona franca,
na zona do Gorgulho, no Funchal, entre outros.
Representações465 e telegramas466 de vários setores da vida madeirense

465 AHP, Câmara dos Deputados, I legislatura, 4ª sessão parlamentar, Diário n.º 81, 27-04-1914, p. 8.
466 AHP, Câmara dos Deputados, I legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 104, 07-05-1912, p. 3; AHP, Câmara
dos Deputados, I legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 109, 14-05-1912, p. 3; AHP, Câmara dos Deputados, I
legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 111, 16-05-1912, p. 3; AHP, Câmara dos Deputados, I legislatura, 2ª sessão
parlamentar, Diário n.º 117, 23-05-1912, pp. 2-3; AHP, Câmara dos Deputados, I legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário
n.º 125, 01-06-1912, p. 3; AHP, Câmara dos Deputados, I legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 178, 28-11-1912,
p. 3; AHP, Câmara dos Deputados, I legislatura, 3ª sessão parlamentar, Diário n.º 48, 28-02-1913, p. 48; AHP, Câmara
dos Deputados, I legislatura, 4ª sessão parlamentar, Diário n.º 75, 17-04-1914, pp. 4; AHP, Câmara dos Deputados, I
legislatura, 4ª sessão parlamentar, Diário n.º 76, 20-04-1914, pp. 4; AHP, Câmara dos Deputados, I legislatura, 4ª sessão
parlamentar, Diário n.º 77, 21-04-1914, pp. 8; AHP, Câmara dos Deputados, I legislatura, 4ª sessão parlamentar, Diário
n.º 87, 30-04-1914, pp. 3; AHP, Câmara dos Deputados, I legislatura, 4ª sessão parlamentar, Diário n.º 1118, 13-06-
1914, pp. 3-4; AHP, Câmara dos Deputados, I legislatura, 4ª sessão parlamentar, Diário n.º 137, 27-07-1914, pp. 08;
AHP, Câmara dos Deputados, II legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 23, 26-07-1915, pp. 04; AHP, Câmara
dos Deputados, III legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 46, 22-02-1916, pp. 4; AHP, Câmara dos Deputados, II
legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 46, 23-02-1916, pp. 4; AHP, Câmara dos Deputados, II legislatura, 1ª sessão
parlamentar, Diário n.º 52, 15-3-1916, pp. 3-4; AHP, Câmara dos Deputados, II legislatura, 1ª sessão parlamentar,
Diário n.º 107, 10-05-1912, pp. 11; AHP, Câmara dos Deputados, II legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 54,
20-03-1916, pp. 3; AHP, Câmara dos Deputados, II legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 67, 06-04-1916, pp. 3;
AHP, Câmara dos Deputados, II legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 69, 10-04-1916, pp. 3-4; AHP, Câmara
dos Deputados, II legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 70, 11-04-1916, pp. 4; AHP, Câmara dos Deputados, II
legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 74, 25-04-1916, pp. 6; AHP, Câmara dos Deputados, II legislatura, 1ª sessão
parlamentar, Diário n.º 78, 01-05-1916, pp. 4; AHP, Câmara dos Deputados, II legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário
n.º 127, 23-08-1917, pp. 4; AHP, Câmara dos Deputados, IV legislatura, sessão parlamentar extraordinária, Diário n.º
05, 11-06-1919, pp. 4; AHP, Câmara dos Deputados, IV legislatura, sessão parlamentar extraordinária, Diário n.º 06,
12-06-1919, pp. 3; AHP, Câmara dos Deputados, IV legislatura, sessão parlamentar extraordinária, Diário n.º 08, 17-06-
1919, pp. 3; AHP, Câmara dos Deputados, IV legislatura, sessão parlamentar extraordinária, Diário n.º 12, 24-06-1919,
pp. 3; AHP, Câmara dos Deputados, IV legislatura, sessão parlamentar extraordinária, Diário n.º 23, 16-07-1919, pp.
3; AHP, Câmara dos Deputados, IV legislatura, sessão parlamentar extraordinária, Diário n.º 29, 28-07-1919, pp. 5;
AHP, Câmara dos Deputados, IV legislatura, sessão parlamentar extraordinária, Diário n.º 66, 22-10-1919, pp. 3- 4;
AHP, Câmara dos Deputados, IV legislatura, sessão parlamentar extraordinária, Diário n.º 67, 23-10-1919, pp. 4; AHP,
Câmara dos Deputados, IV legislatura, sessão parlamentar extraordinária, Diário n.º 69 23-10-1919, pp. 4; AHP, Câmara
dos Deputados, IV legislatura, sessão parlamentar extraordinária, Diário n.º 72, 30-10-1919, pp. 3-4; AHP, Câmara
dos Deputados, IV legislatura, sessão parlamentar extraordinária, Diário n.º 73, 31-10-1919, pp. 4; AHP, Câmara dos
Deputados, IV legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 10, 15-12-1919, pp. 4; AHP, Câmara dos Deputados, IV

129
Junta Geral

chegaram à Câmara de Deputados, para contrariar estes projetos de lei dos


deputados pelo círculo do Funchal ou reclamar por distintas situações.
Na verdade, ao parlamento nacional chegam muitas representações e
telegramas, de vários pontos do país e de várias associações e municípios,
reclamando disto e daquilo. As reclamações madeirenses são também constantes,
como vimos. Sobre a questão religiosa, por exemplo, que suscitou tantas queixas
ao parlamento, a Madeira quase não se fez ouvir. É certo que, entre 1911 e 1915,
a diocese do Funchal esteve em sede vacante e, depois disso, o bispo D. António
Pereira Ribeiro (1915-1957) fazia viagens frequentes à sua terra natal, Viana do
Castelo; mas isto não será suficiente para explicar este alheamento.
Da leitura das atas da Câmara de Deputados, depreende-se ainda que os
madeirenses, embora muitas vezes alheados da realidade e dos problemas
nacionais, se revelam reivindicativos e as suas queixas abrangem vários setores,
com particular incidência para o problema económico – açúcar467, vinho468,

legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 38, 09-02-1920, pp. 4; AHP, Câmara dos Deputados, IV legislatura, 1ª
sessão parlamentar, Diário n.º 42, 13-02-1919, pp. 3; AHP, Câmara dos Deputados, IV legislatura, 1ª sessão parlamentar,
Diário n.º 44, 23-02-1920, pp. 5; AHP, Câmara dos Deputados, IV legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 50, 03-
03-1920, pp. 4; AHP, Câmara dos Deputados, IV legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 126, 09-08-1920, pp. 5;
AHP, Câmara dos Deputados, IV legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 16, 17-01-1921, pp. 4; AHP, Câmara
dos Deputados, IV legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 38, 15-03-1921, pp. 4; AHP, Câmara dos Deputados, V
legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 25, 14-09-1921, pp. 3; AHP, Câmara dos Deputados, V legislatura, 1ª sessão
parlamentar, Diário n.º 27, 16-09-1921, pp. 3; AHP, Câmara dos Deputados, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar,
Diário n.º 21, 28-03-1922, pp. 3; AHP, Câmara dos Deputados, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 29,
24-04-1922, pp. 4; Câmara dos Deputados, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 32, 28-04-1922, pp. 4;
AHP, Câmara dos Deputados, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 33, 01-05-1922, pp. 3; AHP, Câmara
dos Deputados, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 33, 01-05-1922, pp. 3; AHP, Câmara dos Deputados, VI
legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 35, 04-05-1922, pp. 4; AHP, Câmara dos Deputados, VI legislatura, 1ª sessão
parlamentar, Diário n.º 48, 19-05-1922, pp. 3; Câmara dos Deputados, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º
49, 22-05-1922, pp. 4; AHP, Câmara dos Deputados, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 52, 25-05-1922, pp.
3; AHP, Câmara dos Deputados, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 56, 29-05-1922, pp. 4; AHP, Câmara
dos Deputados, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 57, 30-05-1922, pp. 3; AHP, Câmara dos Deputados,
VI legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 59, 31-05-1922, pp. 3; Câmara dos Deputados, VI legislatura, 1ª sessão
parlamentar, Diário n.º 63, 02-06-1922, pp. 3; AHP, Câmara dos Deputados, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar,
Diário n.º 65, 05-06-1922, pp. 4; AHP, Câmara dos Deputados, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 69,
07-06-1922, pp. 4; AHP, Câmara dos Deputados, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 76, 16-06-1922, pp.
4; AHP, Câmara dos Deputados, VI legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 02, 04-12-1922, pp. 4; Câmara dos
Deputados, VI legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 79, 10-05-1923, pp. 4; AHP, Câmara dos Deputados, VI
legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 142, 04-08-1923, pp. 4; Câmara dos Deputados, VI legislatura, 2ª sessão
parlamentar, Diário n.º144, 26-09-1923, pp. 5; AHP, Câmara dos Deputados, VI legislatura, 2ª sessão parlamentar,
Diário n.º 171, 30-11-1923, pp. 3; AHP, Câmara dos Deputados, VI legislatura, 3ª sessão parlamentar, Diário n.º 34,
11-02-1924, pp. 4; AHP, Câmara dos Deputados, VI legislatura, 4ª sessão parlamentar, Diário n.º 24, 03-02-1925, pp. 4.
467 AHP, Câmara dos Deputados, I legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 107, 10-05-1912, pp. 11; AHP, Câmara
dos Deputados, II legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 06, 09-12-1915: p. 03; AHP, Câmara dos Deputados,
IV legislatura, sessão parlamentar extraordinária, Diário n.º 05, 11-06-1919: p. 03; AHP, Câmara dos Deputados,
IV legislatura, sessão parlamentar extraordinária, Diário n.º 06, 12-06-1919: p. 03; AHP, Câmara dos Deputados,
IV legislatura, sessão parlamentar extraordinária, Diário n.º 08, 17-06-1919: p. 03; AHP, Câmara dos Deputados, IV
legislatura, sessão parlamentar extraordinária, Diário n.º 18, 02-07-1919: pp. 18-20; AHP, Câmara dos Deputados, IV
legislatura, sessão parlamentar extraordinária, Diário n.º 41, 12-08-1919: pp. 14-28; AHP, Câmara dos Deputados, IV
legislatura, sessão parlamentar extraordinária, Diário n.º 91, 28-11-1919: pp. 27-28; AHP, Câmara dos Deputados, I
legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 112, 19-07-1920: p. 03.
468 AHP, Câmara dos Deputados, I legislatura, 3ª sessão parlamentar, Diário n.º 16, 03-01-1913: p. 20; AHP, Câmara dos
Deputados, IV legislatura, sessão parlamentar extraordinária, Diário n.º 09, 18-06-1919: pp. 10-11; AHP, Câmara
dos Deputados, IV legislatura, sessão parlamentar extraordinária, Diário n.º 76, 05-11-1919: p. 05; AHP, Câmara
dos Deputados, IV legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 36, 10-03-1921: p. 19; AHP, Câmara dos Deputados,
V legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 03, 05-08-1921: pp. 14-15, 30, 39, 49, 115-116; AHP, Câmara dos
Deputados, VI legislatura, 3ª sessão parlamentar, Diário n.º 02, 03-12-1923: pp. 4-6; AHP, Câmara dos Deputados, VI
legislatura, 4ª sessão parlamentar, Diário n.º 46, 17-03-1925: pp. 5-9.

130
Junta Geral

navegação469, turismo470, crise de subsistências471, zona franca do Gorgulho472.


As questões relacionadas com a subsistência e o regime cerealífero, que
permitisse a solução desta constante da sociedade madeirense, são frequentes na
voz e reivindicação dos madeirenses473.
Atente-se ainda no facto de que muitas questões persistem na voz dos
madeirenses, desde os tempos da Monarquia constitucional. Questões, como o
engenho do Hinton474 e dos sanatórios475 continuam na ordem do dia.
A questão da autonomia está presente nos debates, pela voz dos deputados
açorianos e madeirenses. Atente-se a que o deputado madeirense, Pedro Pita,
chegou a ameaçar na Câmara de Deputados que, se para conseguir o que era de
justiça para a Madeira fossem necessárias atitudes separatistas, à semelhança
dos Açores, os madeirenses também enveredariam por esse caminho476. Ainda
podemos assinalar alguns interesses divergentes dos dois arquipélagos. Assim,
na discussão duma proposta de lei do Governo de criação dum imposto sobre
o tabaco477, a reverter para as Câmaras Municipais, os deputados açorianos
opuseram-se, em nome da defesa da indústria tabaqueira de Ponta Delgada e
dos seus postos de trabalho; os deputados madeirenses não se solidarizaram,
invocando a necessidade de receitas dos municípios.

469 AHP, Câmara dos Deputados, II legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 44, 16-08-1915: pp. 20-22; AHP, Câmara
dos Deputados, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 05, 03-03-1922: pp. 42-6, 13.
470 AHP, Câmara dos Deputados, I legislatura, 4ª sessão parlamentar, Diário n.º 41, 18-02-1912: pp. 12-16; AHP, Câmara
dos Deputados, I legislatura, 4ª sessão parlamentar, Diário n.º 73, 31-10-1919: pp. 5-7; AHP, Câmara dos Deputados, VI
legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 05, 03-03-1922: pp. 4-8; AHP, Câmara dos Deputados, VI legislatura, 1ª
sessão parlamentar, Diário n.º 90, 30-06-1922: pp. 12-22.
471 AHP, Câmara dos Deputados, IV legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 40, 11-02-1920: pp. 4-6; AHP, Câmara
dos Deputados, VII legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 06, 17-12-1914: pp. 6-7; AHP, Câmara dos Deputados,
VII legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 25, 27-01-1926: pp. 6.
472 AHP, Câmara dos Deputados, I legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 84, 25-03-1912: pp. 15-16; AHP, Câmara
dos Deputados, I legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 97, 25-04-1912: pp. 5-6; AHP, Câmara dos Deputados,
I legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 100, 01-05-1912: p. 07; AHP, Câmara dos Deputados, I legislatura, 2ª
sessão parlamentar, Diário n.º 108 13-05-1912: p. 38; AHP, Câmara dos Deputados, I legislatura, 2ª sessão parlamentar,
Diário n.º 108, 13-05-1912: p. 39; AHP, Câmara dos Deputados, I legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 110,
15-05-1912: pp. 4-8; AHP, Câmara dos Deputados, I legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 132, 12-06-1912:
pp. 02; AHP, Câmara dos Deputados, I legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 139, 20-06-1912: pp. 8-9; AHP,
Câmara dos Deputados, I legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 154, 01-07-1912: pp. 12-14; AHP, Câmara dos
Deputados, I legislatura, 3ª sessão parlamentar, Diário n.º 37, 12-02-1913: pp. 28-33; AHP, Câmara dos Deputados, I
legislatura, 3ª sessão parlamentar, Diário n.º 40, 13-02-1913: pp. 25-30; AHP, Câmara dos Deputados, I legislatura, 3ª
sessão parlamentar, Diário n.º 42, 19-02-1913: pp. 9-11;
473 AHP, Câmara dos Deputados, I legislatura, 4ª sessão parlamentar, Diário n.º 117/12-06-1914, pp. 6-8; AHP, Câmara dos
Deputados, 2 legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 21/22-07-1915, p. 4.
474 AHP, Câmara dos Deputados, I legislatura, 3ª sessão parlamentar, n.º 39/14-02-1913, pp. 9-18; AHP, Câmara dos
Deputados, III legislatura, sessão extraordinária, Diário n.º 10/05-08-1918, pp. 23-26; AHP, Câmara dos Deputados, IV
legislatura, sessão extraordinária, Diário n.º 23/16-07-1919, pp. 4-5; AHP, Câmara dos Deputados, IV legislatura, sessão
extraordinária, Diário n.º 26/22-07-1919, p. 4.
475 AHP, Câmara dos Deputados, I legislatura, 2º sessão, Diário n.º 30, 25-01-1912, p. 7; AHP, Câmara dos Deputados, I
legislatura, 3º sessão, Diário n.º 33, 27-01-1913, pp. 14-15, 24-25; AHP, Câmara dos Deputados, IV legislatura, sessão
extraordinária, Diário n.º 38/07-08-1919, p. 26; AHP, Câmara dos Deputados, IV legislatura, sessão extraordinária,
Diário n.º 73/31-10-1919, pp. 5-7; AHP, Câmara dos Deputados, VI legislatura, 1ª sessão n.º 65/05-06-1922, p. 16; AHP,
Câmara dos Deputados, VI legislatura, 1ª sessão n.º 90/30-06-1922, pp. 12-22.
476 Há uma grande desigualdade na maneira como são cuidados os interesses das ilhas dos Açores e os da Madeira. Isto
resulta, creio, de constar que nos Açores está iminente um movimento separatista, que eu não sei se existe ou não, mas
que muito tem servido àquele arquipélago para conseguir a realização das suas justas aspirações. Ora muito bem. Pois
eu quero prevenir V. Ex.ª e a Câmara de que, se for necessário, para a Madeira progredir o ter, consequentemente, aquilo
a que tem direito, existir também ali um movimento separatista, êle surgirá. Fique isto assente! A Madeira tem direito a
viver, e há-de viver! E não se esqueça que movimentos separatistas surgem em toda a parte, quando se provocam; como
está a fazer-se. Mais uma vez: se for necessário, se teimarem em provocá-lo, poderá aparecer, também ali, esse movimento.
Tenho dito (Pedro Pita, AHP, Câmara de Deputados, sessão de 28 de novembro de 1919, p. 8).
477 AHP, Câmara dos Deputados, I legislatura, 4ª sessão parlamentar, Diário n.º 113, 04-06-1914, pp. 4-8.

131
Junta Geral

Até 16 de agosto de 1915, data da primeira


intervenção do senador Vasco Marques, não se pode
falar de representação madeirense no Senado da
República. Após esta data, e até 1925, são apenas dois
os senadores pelo círculo do Funchal, que intervêm
com alguma frequência: o referido Dr. Vasco Gonçalves
Marques, médico formado pela Escola Médico-Cirúrgica
do Funchal, e o então capitão-tenente da Marinha, César
Procópio de Freitas, este a partir de 1922. Os senadores
José Varela, eleito em 1921, e João Augusto de Freitas,
eleito em 1925, têm também, a partir desta última
data, brilhantes intervenções em favor dos interesses
madeirenses e revelam-se promessas auspiciosas, que
a instauração da Ditadura Militar, a 28 de maio de 1926
veio interromper.
De uma forma geral, Vasco Marques, de longe o
mais interventor, representa os interesses das forças
vivas da Madeira, do comércio e da indústria, embora
também coloque, algumas vezes, o problema das
subsistências e a situação aflitiva das classes mais
pobres; muito raramente se refere a problemas de
âmbito nacional e luta pela concretização dum projeto
de mais ampla autonomia478 para a Madeira, que
reputa de indispensável para o progresso da economia
madeirense e libertação de atrasos estruturais de longa
data, evidenciando sempre a vontade de preservação da unidade nacional479. Vasco Gonçalves
Procópio de Freitas, do partido radical, lutando também pelos interesses da Marques.
economia madeirense, tem, no entanto, uma intervenção mais direcionada para a
resolução dos problemas sociais dos madeirenses e participa também no debate
de questões de âmbito nacional, sobretudo ligados à Marinha e aos portos.
Nem sempre estão de acordo, sendo de salientar o caso concreto da discussão
em torno da regulamentação do jogo, que o primeiro reclama, em nome da defesa
do turismo e da economia da Madeira, alegando também o aumento de receitas
para o Estado, e que o segundo rejeita, em nome dos ideais republicanos480. No
entanto, o confronto entre os dois, no Senado, não aconteceu. Quando um abordou
a questão, o outro manteve-se em silêncio. Por outro lado, o bom relacionamento
entre a Junta Geral e o Governo Civil — em relação à Câmara do Funchal, a questão
é mais complicada — e a ligação com os deputados madeirenses traduziram-se
numa mais-valia para a Madeira. Ao contrário, a apatia da população madeirense
em geral e até mesmo das forças vivas, em vários momentos em que se discutiam
questões importantes para a Madeira ou com reflexos na vida económica e social

478 AHP, Senado da República, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 7, 22-12-1922, pp. 7-9; AHP, Senado da
República, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 22, 06-03-1923, pp. 4-8.
479 AHP, Senado da República, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 86, 25-07-1922, pp. 6-12, 22-23; AHP,
Senado da República, VII legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 853, 04-05-1926, pp. 5-6, 9.
480 AHP, Senado da República, I legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 77, 29-04-1912, p. 8.

132
Junta Geral

local, prejudicaram as reivindicações apresentadas pelos seus representantes nas


duas Câmaras do parlamento nacional.
Diferentemente da Câmara de Deputados, é visível, no Senado, uma maior
simpatia para com a Madeira e um acolhimento mais condescendente e de
contornos paternalistas, por parte dos deputados do território continental,
relativamente às reivindicações dos senadores madeirenses. Esta atitude é mais
expressiva quando se trata de senadores que ocasionalmente viveram algum
tempo na Madeira, por razões de serviço público ou atividade profissional, como é
o caso do ex-Governador Civil Tomás de Vilhena e do advogado José de Castro que,
em 1884, esteve na Madeira para, em parceria com Manuel de Arriaga, defender
os acusados dos distúrbios eleitorais na Ribeira Brava, que causaram, então, sete
mortos e muitos feridos. Paralelamente, também se levantaram vozes a protestar
que a Madeira devia ser tratada como qualquer região do território continental e
que a autonomia existente ocasionava impunidade, alegações que Vasco Marques
se encarregou de contestar, acusando alguns dos seus colegas de terem uma visão
incompleta da Madeira mas de falarem como se fossem profundos conhecedores
do arquipélago, ao mesmo tempo que opinava que o alargamento da Autonomia da
Madeira contribuiria para estreitar os laços entre o arquipélago e o Governo, pela
resolução de muitas das queixas dos madeirenses. Hábil e inteligentemente, este
senador irá aproveitar a presença de dois madeirenses, João Catanho de Menezes
e Alfredo Rodrigues Gaspar, no Governo de Álvaro de Castro (de dezembro de
1923 a julho de 1924), para apelar ao sentimento regionalista dos dois ministros e
solicitar a atenção dos mesmos para os problemas da sua terra natal.
Tal como na Câmara de Deputados, também no Senado se expressaram
divergências de interesses entre madeirenses e açorianos, o que, naturalmente,
dificultou o projeto de luta comum para ampliação do regime autonómico, que
veio a nascer no final de 1922 mas que rapidamente se verificaria tratar-se dum
nado-morto. Também nesta Câmara, se ouviram, algumas vezes, deputados
açorianos a incluir a Madeira quando reivindicavam benesses para os Açores ou
quando alertavam para os problemas específicos comuns; a inversa, porém, diga-
se em abono da verdade, não se verificou. O conflito com maior visibilidade entre
os dois arquipélagos verificou-se relativamente ao decreto que proibia os navios
estrangeiros de transportarem carga para a Madeira e os Açores. Os senadores
madeirenses reivindicavam o fim do decreto, alegando que o mesmo estava a
acarretar a diminuição de navios no porto do Funchal, com prejuízo para o turismo;
os senadores açorianos, por sua vez, alegavam que o fim do decreto arruinaria a
Companhia Nacional de Navegação e a diminuição das comunicações marítimas
entre as ilhas açorianas.
Um outro aspeto importante a salientar é que as reivindicações madeirenses,
tão insistente e repetidamente expostas e reclamadas, chocavam com as
dificuldades financeiras da República, agravadas pela participação de Portugal na
I Guerra Mundial, e a necessidade de diminuir a despesa e aumentar a receita
do Estado, estando, portanto, condicionadas pela chamada «lei-travão». Exigia-se
aos legisladores muita argúcia e habilidade para contornar tais condicionantes,
e a aprovação e concretização dos projetos de lei apresentados dependiam
muitas vezes da boa vontade dos governantes, da maioria nas duas Câmaras do

133
Junta Geral

parlamento e do clientelismo político.


No que respeita à natureza concreta das reivindicações madeirenses no
Senado, elas são, antes de mais, uma duplicação das apresentadas na Câmara
de Deputados. A Constituição Republicana de 1911 estabelecia, aliás, que o
Senado, para além de discutir, aprovar ou devolver com emendas os projetos
de lei da referida Câmara de Deputados, pudesse também apresentar projetos
de lei próprios. A constatação desta duplicação de funções terá provavelmente
contribuído para que os legisladores da Constituinte de 1975-76 tenham optado,
no regresso da democracia, pela existência duma única assembleia parlamentar.
No que se refere especificamente à Madeira, a existência do Senado como
uma tribuna mais para expor os problemas da Madeira e reclamar soluções terá
sido, à partida, positiva para os madeirenses, até pela dimensão menor desta
Câmara, com as vantagens inerentes e pela qualidade das intervenções, de modo
especial relativamente ao senador Vasco Marques.
As queixas mais frequentes dos senadores madeirenses dizem respeito à carga
fiscal que é imposta à Madeira e que consideram excessiva e a inoperacionalidade
do estatuto autonómico, já que não era possível usufruir das suas potencialidades,
dispondo de receitas parcas e agravadas com a galopante desvalorização da moeda
portuguesa.
Vasco Marques, numa brilhante intervenção de 6 de março de 1923481, em que
faz um levantamento dos principais problemas económicos da Madeira, reclama,
para o arquipélago, um estatuto autonómico que lhe permita administrar o que é
caracteristicamente local, mas refere que a Madeira recebe do Estado 100 contos
anuais e contribui para ele com 400. Recorda que uma lei de 1913 fizera reverter
para a Junta Geral as receitas das contribuições predial, industrial e suntuária, mas
ampliara os seus encargos, passando a ter de pagar o seu pessoal, subsidiar os
expostos e desvalidos, o manicómio, a polícia cívica, a polícia de emigração, o posto
de desinfeção, etc. Na mesma ocasião, Vasco Marques insurge-se contra o facto de
o produto dos impostos que a Madeira paga não se traduzir em progresso material
local e que, não dispondo de um porto de abrigo com condições mínimas, ainda
tivesse de participar nas despesas da construção do porto de Leixões, estando os
projetos de construção de cais no Porto Santo, Calheta e Paúl do Mar adiados, em
virtude de os direitos alfandegários dos materiais vindos da Bélgica custarem o
triplo das despesas de construção. Quatro dias antes desta intervenção482, o senador
açoriano Vicente Ramos denunciava no Senado a escrituração, no orçamento do
Estado, de receitas que pertenciam, em virtude dos estatutos autonómicos, às
Juntas Gerais de Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Funchal.
Os senadores madeirenses reclamam a redução de impostos sobre as duas
principais produções locais, a cana sacarina483 e o vinho484 e sobre a navegação,
dada a concorrência das Canárias485; debatem e aprovam, ainda que de forma

481 AHP, Senado da República, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 22, 23-03-1923, pp. 3-8.
482 AHP, Senado da República, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 21, 02-03-1923, pp. 6-9.
483 AHP, Senado da República, VI legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 82, 15-07-1924, pp. 17-18; AHP, Senado da
República, VI legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 87, 25-07-1924, pp. 12, 15-23.
484 AHP, Senado da República, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 86, 25-07-1922, pp. 6-12, 22-23.
485 AHP, Senado da República, I legislatura, 4ª sessão parlamentar, Diário n.º 75, 17-04-1914: pp. 8-15; AHP, Senado da

134
Junta Geral

tardia, a lei do porto franco486; pedem subsídios à navegação costeira de cabo-


tagem e entre a Madeira e o Porto Santo487, uma nova estação telegráfica para
a Madeira e a transferência para o Porto Santo da que, então, estava instalada
no Funchal, no forte de S. João Baptista, na Achada488; insistem na necessidade
de alteração do regime cerealífero, de forma a permitir a livre entrada de trigo
estrangeiro na Madeira489, facilidade de entrada do milho vindo das colónias490
e alteração do regime sacarino491. Aqui, as divergências de opinião são visíveis.
Procópio Freitas e outros propõem a redução do cultivo da cana e da produção de
álcool e aguardente; Vasco Marques salienta a necessidade de produção de álcool
para o vinho, do contributo da palha da cana para a agricultura e da ineficácia da
lei que anteriormente reduzira a produção de aguardente e originara apenas uma
redução de receitas, pela declaração de menor produção que, afinal, era falsa. É
citado mesmo o caso da fábrica de aguardente de Adelaide Ferreira, na Ponta do
Sol, como exemplo significativo desta situação, perante a ineficácia da fiscalização
e conivência das autoridades locais.
Curiosamente, já em 1913492, se alertava para o problema da existência
excessiva de gado nas serras da Madeira, que invadiam propriedades particulares,
e do perigo de desflorestação pelas abundantes queimadas levadas a efeito pelos
carvoeiros, dada a intensa procura de carvão.

República, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 110, -08-1922, pp. 3-5.
486 AHP, Senado da República, I legislatura, 3ª sessão parlamentar, Diário n.º 93, 05-05-1913: pp. 6-7; AHP, Senado da
República, I legislatura, 4ª sessão parlamentar, Diário n.º 75, 17-04-1914: pp. 8-15; Senado da República, VI legislatura, 4ª
sessão parlamentar, Diário n.º 107, 03-06-1914, pp. 9; AHP, Senado da República, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar,
Diário n.º 86, 25-07-1922, pp. 6-12, 22-23; AHP, Senado da República, VI legislatura, 4ª sessão parlamentar, Diário n.º
109, 06-06-1914: pp. 6-24.
487 AHP, Senado da República, II legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 82, 09-07-1917, p. 4; AHP, Senado da
República, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 84, 21-07-1922, p. 23; AHP, Senado da República, VI
legislatura, 4ª sessão parlamentar, Diário n.º 108, 04-06-1914, p. 3.
488 AHP, Senado da República, VI legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 89, 30-07-1924, pp. 22-23; AHP, Senado da
República, VI legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 104, 12-11-1924, pp. 17-18, AHP, Senado da República, VI
legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 07, 22-12-1922, p. 7; AHP, Senado da República, VI legislatura, 1ª sessão
parlamentar, Diário n.º 86, 25-07-1922, pp. 6-12, 22-23.
489 AHP, Senado da República, II legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 96, 09-08-1917, pp. 4-5; AHP, Senado da
República, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 116, 08-09-1922, pp. 2-5; AHP, Senado da República, VI
legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 86, 25-07-1922, pp. 6-12, 22-23; AHP, Senado da República, VI legislatura,
2ª sessão parlamentar, Diário n.º 82, 15-07-1924, pp. 13-18; AHP, Senado da República, VI legislatura, 2ª sessão
parlamentar, Diário n.º 82, 15-07-1924, pp. 45; AHP, Senado da República, VI legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário
n.º 82, 15-07-1924, pp. 2-4; AHP, Senado da República, VII legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 36, 12-03-1926,
pp. 9-13.
490 AHP, Senado da República, I legislatura, 3ª sessão parlamentar, Diário n.º 143, 28-06-1913, pp. 9-10, 12; AHP, Senado
da República, I legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 21, 30-07-1915, pp. 11-12; AHP, Senado da República, I
legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 96, 09-08-1917, pp. 4-5.
491 AHP, Senado da República, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 85, 24-07-1922, pp. 4-9; AHP, Senado da
República, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 86, 25-07-1922, pp. 35-38; AHP, Senado da República, VI
legislatura, 1ª sessão parlamentar, Diário n.º 27, 23-03-19223, pp. 4-9; Senado da República, VI legislatura, 2ª sessão
parlamentar, Diário n.º 41, 03-08-1924, pp. 7-14; AHP, Senado da República, VI legislatura, 1ª sessão parlamentar,
Diário n.º 41, 28-03-1924, pp. 8-14; AHP, Senado da República, VI legislatura, 3ª sessão parlamentar, Diário n.º 251,
07-03-1925, pp. 12-19.
492 AHP, Senado da República, I legislatura, 2ª sessão parlamentar, Diário n.º 20, 01-19-1913, pp. 23-28; AHP, Senado
da República, I legislatura 32ª sessão parlamentar, Diário n.º 81, 17-04-1913, pp. 7-9; AHP, Senado da República,
I legislatura, 3ª sessão parlamentar, Diário n.º 91, 01-05-1911, pp. 7-14; AHP, Senado da República, VI legislatura,
2ª sessão parlamentar, Diário n.º 41 28-03-1924, pp. 10-14; AHP, Senado da República, VII legislatura, 3ª sessão
parlamentar, Diário n.º 56, 15-07-1925, pp. 11-12.

135
Junta Geral

1935 - 1974: A AÇÃO DOS DEPUTADOS ELEITOS


PELA MADEIRA NA ASSEMBLEIA NACIONAL

Entre 1933 e 1974, vigorou em Portugal o sistema político que ficou conhecido
por Estado Novo. Alicerçado político e ideologicamente na Constituição de 1933,
o Estado Novo caraterizou-se por implementar uma governação estruturada no
corporativismo com a finalidade de abranger toda a organização social e política.
De acordo com a Constituição de 1933, devia funcionar, ao lado da Assembleia
Nacional, uma Câmara de natureza corporativa cujas funções eram de cariz
consultivo face à atividade legislativa da Assembleia e do Governo. Era um órgão
que materializava a definição do Estado português como uma república fundada
na participação dos elementos estruturais da Nação na política e na administração
geral e local493. A Câmara Corporativa era composta por procuradores que
representavam as autarquias locais e os interesses da sociedade, divididos em
quatro ramos considerados fundamentais: de ordem moral, de ordem cultural,
de ordem económica e de ordem administrativa. Emitia pareceres de natureza
meramente consultiva, mas que nos revelam o trabalho dos mais conceituados
especialistas e a sua perspetiva da vida política, económica e social do país,
exprimindo os diferentes tipos de interesses e forças nele existentes494.
As intervenções dos deputados madeirenses dedicadas aos problemas da
economia madeirense foram uma constante, logo a partir da II Legislatura, altura
em que a Madeira começou a sofrer o impacto da II Guerra Mundial. Salientamos,
neste domínio, as intervenções dos deputados Álvaro Favila Vieira e Gabriel
Maurício Teixeira, ambas de 1940. Para uma região insular como a Madeira, a
conjuntura de guerra significou uma quebra acentuadíssima da procura externa,
tendo em consideração que a sua economia estava alicerçada no vinho, nos
bordados e no turismo, cuja receita provinha de clientes estrangeiros, sobretudo
europeus. De acordo com Álvaro Favila Vieira, a crise madeirense, na sua natural
progressão, asfixia implacavelmente a vida da Ilha, pela cessação ou contracção das
suas principais actividades e fontes de riqueza495. Contudo, refere que a depressão
económica da Madeira teria principiado no início da década de trinta. Por volta de
1939, a Madeira apresentava indicadores económicos deveras preocupantes com
uma diminuição do consumo de farinha em cerca de 40%, apesar do aumento
populacional; com um aumento do desemprego (10.845 desempregados em
dezembro de 1939); com uma diminuição acentuada do rendimento da Alfândega
do Funchal. Refira-se que a receita da Alfândega atingira, no início da década de
trinta, o montante de 25.000 contos, mas, nove anos mais tarde, não fora além
de 16.000 contos496. Na sua intervenção, Álvaro Favila Vieira, propunha que o
Governo Central adotasse um conjunto de medidas que deviam ser as seguintes:
concessão de um subsídio de socorro aos desempregados; diminuição do preço
dos cereais praticado localmente; colocação no Brasil e na África Portuguesa de
alguns milhares desses desempregados, por meio de acordos e contratos que

493 ROSAS, BRITO, 1996, Dicionário de História do Estado Novo […], pp. 113-115.
494 FERREIRA, 2009, A Câmara Corporativa no Estado Novo […], pp. 30-39.
495 AHP, Assembleia Nacional, II Legislatura, Sessão de 1-3-1940, Diário n.º 83, pp. 361-362.
496 Ibidem.

136
Junta Geral

garantissem o transporte, a justa remuneração e as condições de segurança desses


potenciais trabalhadores; investimento em obras públicas, no repovoamento
florestal e na hidráulica agrícola, com a finalidade de criar postos de trabalho entre
os naturais da Madeira497. A exposição de Favila Vieira mereceu a solidariedade do
deputado Sebastião Ramires que, não sendo eleito pela Madeira, se manifestou
deveras impressionado com a situação vivida na Ilha: circunstâncias especiais da
minha vida proporcionaram-me o agradável ensejo de visitar a Ilha, de auscultar
os seus problemas, de tomar contacto com as suas ansiedades, e fiquei preso e
ligado à Madeira por uma gratidão e carinho que não morrem498. Sublinha ainda
a excecionalidade da conjuntura ditada pela guerra, algo que ultrapassava
totalmente as capacidades do Governo que, desde 1926 vinha a dedicar ao estudo
e solução dos problemas madeirenses um cuidado, um carinho e uma solicitude
que a Madeira jamais conhecera…499 Por seu turno, o deputado Gabriel Maurício
Teixeira focaliza a sua atenção na necessidade de redução do preço do pão na
Madeira, ressaltando que tanto como de pão para a boca, a gente da minha terra
carece de amparo moral que lhe dê ânimo para suportar as duras privações que
a guerra lhe está impondo500. Perante a iminência da publicação de um diploma,
por parte do Ministério da Agricultura, que impunha a redução do preço do pão
na Madeira, Gabriel Maurício Teixeira refere a importância de tal medida pelos
benefícios a conceder à população, e pela capacidade de cortar cerces todos os
interesses ilegítimos que se tinham criado à sombra do regime cerealífero atual501.
A defesa da agricultura madeirense é apontada por António Camacho Teixeira
de Freitas numa das suas intervenções, onde reclama a necessidade de que às
mais elevadas produções agrícolas sejam concedidas pelo Governo todas as
facilidades para a sua exportação502. De acordo com este deputado, a agricultura
madeirense carecia de intervenção em três grandes áreas: a revisão do regime
sacarino, com respeito pela doutrina corporativa e onde se deveria encontrar
uma solução justa e equilibrada, harmonizando todos os interesses envolvidos;
a proteção do vinho da Madeira, acautelando-se os interesses dos produtores e
dos exportadores e devendo o Governo continuar a conceder, através do Fundo
de Fomento de Exportação, as verbas necessárias para a divulgação dos vinhos da
Madeira junto dos mercados do norte da Europa; adotar práticas de fomento da
agricultura intensiva, por meio do investimento em obras de hidráulica agrícola, de
forma a favorecer a exportação dos produtos hortícolas e das frutas, em especial
a banana503. Alguns anos mais tarde, verificamos que a opção de concentrar
uma parte substancial do esforço agrícola na produção de banana trouxe alguns
problemas associados, devidamente explanados por Alberto Henriques de Araújo.
Com efeito, o vinho e a cana sacarina continuavam longe de satisfazer as expetativas
criadas em torno da reorganização da sua produção, solicitada uma década atrás;
a produção de leite e laticínios não estava a passar pelo seu melhor momento

497 Ibidem.
498 Ibidem.
499 Ibidem.
500 AHP, Assembleia Nacional, II Legislatura, Sessão de 5-3-1940, Diário n.º 85, pp. 391-392.
501 Ibidem.
502 AHP, Assembleia Nacional, VI Legislatura, Sessão de 11-12-1953, Diário n.º 6, pp. 62-64.
503 Ibidem.

137
Junta Geral

e estava fortemente desvalorizado o valor das matas e pinheiros que cobriam


extensas áreas de terreno504. O desenvolvimento e intensificação da cultura da
banana não estava, segundo Henriques de Araújo, isento de riscos. Se não fossem
adotadas providências destinadas a assegurar a colocação e o preço da banana
da Madeira, esta ficaria ameaçada, no mercado continental, pela concorrência da
banana oriunda de Angola, produzida em muito maior quantidade505.
O regime de colonia é uma realidade específica da Madeira e denunciada pelo
deputado Álvaro Favila Vieira que, em 1947, apresentava na Assembleia Nacional
um projeto lei destinado a promover a libertação da agricultura da Madeira das
situações de colonia que a dominam há séculos506. Foram cinco os principais
objetivos desta proposta legislativa: promover a unificação da propriedade e
da direcção da exploração agrícola por via da integração dos seus elementos
constitutivos numa só entidade, com o objetivo de se poder obter o desenvolvimento
da economia agro-pecuária madeirense; promover o agrupamento das pequenas
parcelas e terrenos em unidades económicas de rendimento suficiente; promover
a fixação dos pequenos proprietários e colonos ou caseiros nas terras que possuem
ou onde vivem; promover uma valorização social de muitos dos actuais parceiros
pela aplicação das suas qualidades de iniciativa, na administração direta das
suas explorações agrícolas; por último, promover um fortalecimento dos laços
de solidariedade humana entre as classes sociais, pela libertação dos motivos de
atrito e rivalidade, resultantes das precárias condições em que se têm mantido,
para senhorios e caseiros, os contratos de colonia507.
O setor terciário, designadamente o comércio, é alvo de uma exposição por
parte do deputado Alberto Henriques de Araújo, onde refere que as dificuldades
que atingem a atividade comercial estavam a afetar, de igual modo, a classe
patronal e os empregados do setor: a má situação do comércio do Funchal deriva
de um conjunto complexo de causas, entre as quais deve ser destacada a usurpação
da atividade comercial por pessoas e entidades que não são comerciantes nem
estão como tal coletadas508. Henriques de Araújo, ao denunciar a difícil situação
por que estava a passar o comércio madeirense, assumia a expetativa de que o
Governo tomasse em consideração as aspirações de uma classe sempre pronta
a dar às autoridades locais e aos Poderes Públicos a sua melhor e mais devotada
colaboração509.
Uma outra componente da vida económica da Madeira era o custo de vida.
Este é-nos descrito como muito elevado, em consequência das taxas, impostos e
alcavalas que oneram alguns dos artigos importados e essenciais à subsistência
pública510: é o caso de dois bens essenciais à alimentação da população, o bacalhau
e o azeite. Neste âmbito, o deputado Alberto Henriques de Araújo denuncia o
facto de , no ato da distribuição do contingente de bacalhau, as ilhas não terem

504 AHP, Assembleia Nacional, IX Legislatura, Sessão de 25-1-1967, Diário n.º 62, pp. 1128-1129.
505 Ibidem.
506 AHP, Assembleia Nacional, IV Legislatura, Sessão de 22-3-1947, Diário n.º 111, pp. 1003-1006.
507 Ibidem.
508 AHP, Assembleia Nacional, VI Legislatura, Sessão de 9-12-1955, Diário n.º 106, p. 134.
509 Ibidem.
510 AHP, Assembleia Nacional, VII Legislatura, Sessão de 9-12-1959, Diário n.º 136, pp. 108-110.

138
Junta Geral

sido consideradas. E não sendo fácil adquirir este


género, nos mercados externos, os madeirenses
corriam o risco de ficar privados de um produto
de generalizado consumo. Em relação ao azeite, é
referido o facto de o azeite enviado para a Madeira
sofrer um agravamento do preço, em média, na
ordem de 1$50 por litro, uma realidade que levou
Alberto Henriques de Araújo a proferir o desabafo:
quer dizer, há um preço de azeite para o continente
e outro para as ilhas, como se estas fossem terra
estranha e não fizessem parte integrante da própria
metrópole511.
O problema do custo de vida na Madeira
estava intimamente relacionado com a existência
de barreiras aduaneiras entre o espaço insular e o
continente. Sobre esta matéria, vejamos as palavras
do deputado Alberto Henriques de Araújo: a verdade
é que o arquipélago da Madeira não é separado do
continente apenas por cerca de quinhentas milhas
marítimas. Separa-o, também, uma verdadeira
barreira aduaneira, com todas as suas implicações,
organização burocrática, sistemas de despachos
e vasta gama de impostos e taxas incidindo sobre
as mercadorias importadas512. São dados como
exemplo, o agravamento do custo de géneros
essênciais como o azeite, o arroz, o óleo ou o sabão,
uma situação que afetava, diretamente, as classes
de menor poder económico. Em suma, toda uma
realidade que em nada se enquadrava no cenário de
crescente liberalização que dominava o espaço português. Para este deputado, o Agostinho Cardoso
sistema de formalidades e de encargos que vigora nas relações comerciais entre
a Madeira e o continente, são absolutamente anacrónicos e ferem a mentalidade
do nosso tempo513. Dois anos mais tarde, coube ao deputado Agostinho Cardoso
a missão de expor esta questão na Assembleia Nacional, em concreto, no âmbito
da discussão da proposta de lei que pretendia uniformizar o espaço económico
metropolitano e, dessa forma, pôr termo aos entraves existentes na circulação
de mercadorias entre o continente e a Madeira. Agostinho Cardoso salienta o
trabalho feito ao longo das diversas legislaturas por parte dos deputados pelo
Funchal que muito insistiram na abolição do regime que agora vai terminar514. No
âmbito desta discussão, Agostinho Cardoso tem o cuidado de apontar o caráter
demasiado generalista das bases da mencionada proposta de lei que deixava ao
Governo o papel de efetuar uma vasta regulamentação515.

511 Ibidem.
512 AHP, Assembleia Nacional, IX Legislatura, Sessão de 12-12-1968, Diário n.º 154, pp. 2809-2812.
513 Ibidem.
514 AHP, Assembleia Nacional, X Legislatura, Sessão de 21-4-1970, Diário n.º 39, pp. 815-816.
515 Ibidem.

139
Junta Geral

As décadas de 60 e 70 trazem para a discussão, em sede de Assembleia Nacional,


as questões da aplicação dos Planos de Fomento na Madeira e, nesse domínio, o
desenvolvimento da atividade turística e a questão da criação de uma Zona Franca
na Madeira. Foi o deputado Alberto Henriques de Araújo quem levantou a questão
da necessidade de implementar uma Zona Franca na Madeira. Que vantagens
teria? De acordo com Henriques de Araújo, os portos francos tinham sido, através
dos tempos, instrumentos fecundos de expansão económica. Porque são centros
de agrupamento e armazenamento e, por vezes, de manipulação e transformação
de mercadorias, ativam o comércio externo, aumentam a reexportação e o tráfego
marítimo, facilitam a utilização de mão-de-obra, são fator de desenvolvimento do
rendimento nacional e, naqueles que têm um caráter industrial, elemento relevante
no lançamento de novos empreendimentos e atividades, cujos benefícios não se
circunscrevem ao porto franco, mas, pelo contrário, se alargam a todo o país em
que este se encontra situado516.
As vantagens de uma Zona Franca seriam evidentes para os setores da
navegação, comércio, banca, turismo, sendo, ainda, de realçar a capacidade de
obtenção de moedas e divisas. A Madeira, pela sua localização geográfica, no
cruzamento das grandes linhas marítimas de África, da América Central e da
América do Sul possuía as melhores condições para ser um centro de importação/
exportação de mercadorias, nomeadamente, através do porto do Funchal.
Henriques de Araújo ressalta que o ideal seria fazer de toda a ilha uma zona franca
mas, enquanto esse objetivo não pudesse ser atingido, devia estabelecer-se um
regime de franquia aduaneira, pelo menos para todos os artigos essenciais ao
consumo público e ainda para aqueles que são necessários ao turismo517.
Em harmonia com estas aspirações expostas pelo deputado Alberto Henriques
de Araújo, estiveram as discussões sobre o planeamento da economia da Madeira,
onde o setor do turismo assumiu especial relevância. Com efeito, Henriques de
Araújo estava perfeitamente ciente de que o turismo só constituiria elemento de
equilíbrio e de valorização da economia regional desde que esta fosse planeada518.
Tal planeamento teria de ser devidamente orientado pelo Governo, em articulação
com as entidades mais representativas da vida pública e privada do arquipélago.
Uns anos mais tarde, Alberto Henriques de Araújo reiterava a necessidade
do planeamento económico para a Madeira, com a finalidade de valorizar este
espaço insular, através do emprego racional dos seus recursos, de uma melhor
rentabilidade dos empreendimentos e de uma promoção social e educativa da
sua população, de forma que a Madeira pudesse ocupar um lugar de destaque, no
conjunto da economia nacional e nos índices do seu crescimento e produtividade519.
Será nas palavras proferidas em alguns dos discursos do deputado Agostinho
Cardoso, sobretudo no decurso da VIII Legislatura, que ficamos com uma ideia mais
completa acerca da forma como deveria ser planificada a economia madeirense.
Um primeiro ponto que deveria ser salientado era a especificidade da Madeira,
cujos aspetos da sua economia eram diferentes dos de qualquer outro distrito ou

516 AHP, Assembleia Nacional, VIII Legislatura, Sessão de 18-2-1964, Diário n.º 130, pp. 3240-3242.
517 Ibidem.
518 Ibidem.
519 AHP, Assembleia Nacional, IX Legislatura, Sessão de 6-12-1967, Diário n.º 106, pp. 1999-2002.

140
Junta Geral

província da metrópole. Aquilo que mais condicionava a economia madeirense era, Postal ilustrado.
na perspetiva do deputado Agostinho Cardoso, a interdependência dos setores
económicos locais, a mútua repercussão das suas atividades, a variável extensão
do terreno por onde se expande cada produto agrícola, segundo a sua fortuita
valorização, os volumes de produção, consumo, rarefação, ou pletora do seu bem
delimitado mercado interno e a possibilidade de absorção por parte dos mercados
externos dos seus clientes520. Os principais produtos da economia madeirense
estavam a passar por uma situação algo conturbada. Os bordados, o vinho, o
açúcar e a banana estavam demasiado dependentes das condições do mercado
externo. Neste ponto, o deputado Agostinho Cardoso perspetiva uma realidade
não muito animadora. Em relação ao bordado, este dificilmente teria capacidade
de vencer, no contexto do mercado da América do Norte, a concorrência maciça
dos bordados produzidos na China, no caso de os dois países reatarem relações
comerciais.
Para Agostinho Cardoso, o planeamento e estruturação da economia madeirense
teria de estar, imperativamente, ligados às perspetivas do desenvolvimento do

520 AHP, Assembleia Nacional, VIII Legislatura, Sessão de 13-3-1962, Diário n.º 44, pp. 1005-1009.

141
Junta Geral

turismo local. Só este sacudiria a vida económica da Madeira521. Contudo, uma Postal ilustrado.
economia assente no turismo necessitava de ver resolvido, de forma urgente, um
conjunto de problemas. Agostinho Cardoso enumera-os, numa sua intervenção,
no ano de 1964: reestruturação da agricultura com a respetiva mecanização;
construção de silos para cereais; proteção à comercialização dos produtos agrícolas
madeirenses, como o açúcar e a banana; modernização dos métodos agrícolas na
nascente indústria da floricultura; criação de um organismo coordenador, a nível
distrital, com a missão de prestar informação e assistência especializada em matéria
de prospeção dos mercados interno e externo522. Para que o desenvolvimento
turístico da Madeira fosse uma realidade, o deputado Agostinho Cardoso chamava
a atenção para o cumprimento de uma lista de prerrogativas, da qual são dignas
de menção a construção e apetrechamento de hotéis a um ritmo acelerado, mas
com a atenção de se considerar o equilíbrio necessário entre os hotéis de primeira
classe e os de turismo médio. Em sintonia com o ponto anterior, Agostinho Cardoso
advertia para a necessidade de haver construção de apartamentos e residências
turísticas enquanto não fossem edificados os novos hotéis.
A importância das comunicações não podia ser ignorada. Com esse fim, deveria
ser instalado o posto da Emissora Nacional, com a possibilidade de implementar a
televisão e, simultaneamente, ampliar a ligação telefónica direta entre a Madeira
e o estrangeiro. A definição de uma política de liberalização do tráfego aéreo era

521 Ibidem.
522 AHP, Assembleia Nacional, VIII Legislatura, Sessão de 3-3-1964, Diário n.º 138, pp. 3455-3468.

142
Junta Geral

um outro ponto considerado vital, assim como a inclusão da ilha do Porto Santo
no plano de desenvolvimento turístico da Madeira. As questões de segurança
impunham-se numa região turística. Assim, deviam ser aumentados os efetivos da
Polícia de Segurança Pública, considerados insuficientes face às necessidades do
setor do turismo.
O património da Madeira devia ser valorizado, utilizando-se, para fins
turísticos, alguns edifícios antigos e fortalezas na posse do Estado. A criação de uma
Escola Hoteleira era um outro ponto considerado da maior importância, segundo
o deputado Agostinho Cardoso, para a qual deviam ser devidamente estudadas e
adotadas providências no setor da educação, tendo em conta esse fim. Igualmente
importante seria estimular o turismo interno, para que os madeirenses e os
continentais pudessem conhecer melhor as respetivas regiões. Finalmente, era
fundamental dar prioridade à Madeira, no âmbito dos investimentos a realizar, de
acordo com o plano de desenvolvimento turístico, estruturado a nível nacional523.
Concluía Agostinho Cardoso com a frase, não isenta de algum dramatismo: Já não
há mais terra a arrotear. Que do turismo brote o pão para a população madeirense.
As intervenções dos deputados sobre o problema das comunicações
marítimas e aéreas com a Madeira praticamente ofuscaram um outro problema,
o das comunicações internas, que, pelas vozes de Juvenal Henriques de Araújo
e de Álvaro Favila Vieira, fora mencionado em 1937. Referimo-nos à rede
complementar de estradas da Madeira. No contexto da discussão da proposta de
lei da autorização das receitas e das despesas públicas para o ano de 1938, Juvenal
Henriques de Araújo põe em relevo o facto de o artigo 9º da mencionada proposta
de lei autorizar o Governo a subsidiar a construção da rede complementar de
estradas da Ilha da Madeira, tendo em consideração o facto de se tratar de um
território cuja orografia exigia condições especiais para a realização destas obras,
exigindo um trabalho e um dispêndio muito superior ao verificado no continente.
Contudo, Juvenal Henriques de Araújo sublinhava que a Madeira continuava a ter
uma enorme carência de comunicações capazes de unir o litoral ao interior524.
Sobre este assunto, destacava o deputado Álvaro Favila Vieira que a construção
da rede de estradas do distrito constituía, pela sua dimensão e pelo seu custo,
um problema da maior importância para a administração distrital. De facto, eram
numerosos, ainda, os centros populacionais que estavam incomunicáveis entre
si, ou sem vias de circulação suficientemente cómodas capazes de transportar as
pessoas às sedes dos concelhos e ao Funchal. Ao mesmo tempo, muitos locais de
interesse turístico, no interior da ilha, continuavam praticamente inacessíveis525.
Como a realização desta rede de estradas excedia, em muito, as possibilidades
financeiras da Junta Geral do Distrito, cujas receitas eram totalmente absorvidas
pelas despesas ordinárias, era requerido o auxílio financeiro por parte do Governo
Central526. O plano de trabalhos para a execução da rede complementar das
estradas da ilha da Madeira seria aprovado pelo decreto-lei n.º 28.592, de 14 de
abril de 1938 que determinava a comparticipação do Governo na proporção de

523 Ibidem.
524 AHP, Assembleia Nacional, I Legislatura, Sessão de 2-12-1937, Diário n.º 148, pp. 184-186.
525 AHP, Assembleia Nacional, I Legislatura, Sessão de 3-12-1937, Diário n.º 149, p. 207.
526 Ibidem.

143
Junta Geral

75% das despesas destas obras, ficando os restantes 25%


a cargo da Junta Geral Autónoma do Distrito do Funchal,
entidade que ficava com a incumbência da execução das
obras, cuja orientação técnica e fiscalização caberia à
Junta Autónoma de Estradas527.
Contudo, alguns anos mais tarde, o problema
das comunicações externas era considerado o grande
problema da Madeira528. Neste domínio, a atenção
dos parlamentares madeirenses centrou-se em duas
infraestruturas: o porto do Funchal, que se queria
dotado de instalações convenientes e devidamente
apetrechado; e a construção de um aeródromo, tido
como imprescindível para o fomento da actividade
turística na região529.
A importância do porto do Funchal, no contexto
do desenrolar da vida insular, está bem patente na
afirmação do deputado António Camacho Teixeira de
Sousa: o mar é para o Madeirense o seu grande latifúndio
pois, para além da pesca e de outras actividades que
no mesmo têm lugar, é pelo mar que ele estabelece o
contacto com as mais diversas regiões do Mundo. É pelo
mar que o Madeirense emigra, à procura de melhor
sorte (…) foi pelo mar que a Madeira se afirmou como estância de turismo de António Teixeira de
fama mundial530. Desde o início do século XX que o porto do Funchal era alvo Sousa.
de estudos e projetos elaborados com a finalidade de se proceder a obras de
ampliação. Essa situação durou até ao início da década de cinquenta, altura em
que foi nomeada uma comissão que integrava representantes dos ministérios da
Marinha, das Obras Públicas e das Comunicações531. Até então, as obras que foram
sendo realizadas acabariam por ser consideradas insuficientes para o tráfego do
porto da altura e, sobretudo, para o seu movimento futuro. Para que se ficasse
com uma noção da importância daquele porto, o deputado Alberto Henriques de
Araújo dava os seguintes números: basta dizer que em 1938, último ano anterior
à guerra, escalaram aquele porto 1.347 navios, com 10.000 toneladas brutas de
arqueação – acompanhando de perto a tonelagem entrada nesse mesmo ano no
porto de Lisboa – e transportando em trânsito 170.000 passageiros, ou seja, o
equivalente a, aproximadamente, dois terços da população total da ilha532. Perante
estes dados, Alberto Henriques de Araújo reiterava a imposição de realização
de obras que prolongassem o atual molhe da Pontinha e que propiciassem o
apetrechamento do porto em condições de serem dadas as devidas facilidades
aos navios que ali fizessem escala533. No final do ano de 1954, era aberto concurso

527 Diário do Governo, I Série, n.º 86 de 14 de abril de 1938, pp. 679-670.


528 AHP, Assembleia Nacional, IV Legislatura, Sessão de 9-12-1947, Diário n.º 116, pp. 34-36.
529 Ibidem.
530 AHP, Assembleia Nacional, VI Legislatura, Sessão de 8-2-1956, Diário n.º 125, pp. 464-466.
531 AHP, Assembleia Nacional, VI Legislatura, Sessão de 11-1-1955, Diário n.º 64, pp. 269-271.
532 AHP, Assembleia Nacional, IV Legislatura, Sessão de 9-12-1947, Diário n.º 116, pp. 34-36.
533 Ibidem.

144
Junta Geral

para as obras de ampliação do porto do Funchal, concurso devidamente tutelado


pelo Ministro das Obras Públicas534. Ficava satisfeita, nas palavras do deputado
António Camacho Teixeira de Sousa, uma antiga aspiração dos madeirenses: a
construção de um porto suficientemente amplo, devidamente equipado e capaz
de garantir o abastecimento de óleos à navegação535. Punha-se termo ao atraso
que existia em relação às vizinhas ilhas Canárias, cujos portos de Las Palmas e
Santa Cruz de Tenerife eram dos mais concorridos do Atlântico, numa altura em
que a importância das escalas deste oceano era novamente testada, em virtude
do desvio da navegação do Canal do Suez para as antigas rotas do Cabo da Boa
Esperança536. As obras de ampliação do porto do Funchal deveriam ficar concluídas
em 1961, com a expetativa de um aumento sensível do tráfego portuário, pois os
navios portugueses das carreiras de África deixariam de ir às Canárias abastecer-
se de combustível. Nessa altura, colocava-se o problema do apetrechamento do
porto do Funchal, nomeadamente a construção dos rebocadores indispensáveis à
acostagem e desacostagem dos navios537.
O problema das ligações aéreas com a Madeira foi, sem dúvida, uma
temática repetidas vezes abordada pelos deputados madeirenses que entendiam
ser absolutamente indispensável que a Madeira possua um aeródromo, se não
quisermos que ela marche sempre atrás das estâncias turísticas que são as suas
rivais e concorrentes538. Logo na década de quarenta, coube ao deputado Álvaro
Favila Vieira a responsabilidade de interpelar o Governo sobre o problema das
ligações aéreas com a ilha, colocando a questão sobre a localização do campo
de aviação e sobre a data em que este problema estaria resolvido no plano das
realizações concretas539. Favila Vieira tece algumas considerações sobre a relação
entre a Madeira e as linhas aéreas que operavam no espaço transatlântico,
registando que a situação geográfica da ilha poderia não ser a do maior interesse
para essas companhias de aviação. Contudo, atendendo à importância turística da
Madeira, sobretudo junto do mercado anglo-saxónico, e à sua importância no plano
dos interesses nacionais, ligando Lisboa, os Açores e as províncias ultramarinas,
justificava-se a construção daquela infraestrutura540.
A apresentação de dados numéricos foi igualmente importante na argumenta-
ção deste deputado. Assim, ficamos com a informação de que, em 1937, o número
de turistas chegou a 145.184, tendo aumentado no ano seguinte, atingindo
150.285. Contudo, a Madeira corria o risco de perder muitos destes turistas
para outros destinos, por não quererem sujeitar-se às demoras e incertezas dos
transportes marítimos, algo perfeitamente compreensível. Consequentemente, o
transporte aéreo assumia um papel fundamental para captar turistas, impedindo
que fossem para outras estâncias concorrentes da Madeira541.
Encontramos idêntica argumentação no discurso do deputado Gastão de

534 AHP, Assembleia Nacional, VI Legislatura, Sessão de 11-1-1955, Diário n.º 64, pp. 269-271.
535 Ibidem.
536 AHP, Assembleia Nacional, VI Legislatura, Sessão de 28-2-1957, Diário n.º 183, pp. 296-297.
537 AHP, Assembleia Nacional, VII Legislatura, Sessão de 9-12-1959, Diário n.º 136, pp. 108-110.
538 AHP, Assembleia Nacional, VI Legislatura, Sessão de 28-2-1957, Diário n.º 183, pp. 296-297.
539 AHP, Assembleia Nacional, IV Legislatura, Sessão de 23-2-1946, Diário n.º 57, pp. 975-977.
540 Ibidem.
541 Ibidem.

145
Junta Geral

Deus Figueira que encarava a ligação à Madeira por hidroavião, não uma solução
mas um remédio insuficiente542. Gastão de Deus Figueira assumia a sua confiança
na deslocação à Madeira do ministro das Obras Públicas, esperando que este
analisasse a hipótese de construção de um aeródromo que, na opinião de muito
boa gente, é efetivamente necessária543. A irregularidade nas ligações aéreas para
a Madeira, motivada pelo recurso aos hidroaviões, foi uma questão devidamente
exposta pelo deputado Alberto Henriques de Araújo, ressaltando o problema
da falta de comunicações durante os meses de inverno, devido à forte agitação
marítima, prejudicando a atividade turística544.
A necessidade de inserção do projeto de construção do aeródromo da Madeira
no Plano de Fomento é mencionada, novamente, pelo deputado Alberto Henriques
de Araújo, em virtude do problema da irregularidade do transporte por hidroavião
ter sido uma temática tratada no Parlamento de Inglaterra, em consequência de
várias reclamações efetuadas por viajantes ingleses545. Ciente de que se tratava de
uma situação prejudicial ao desenvolvimento turístico da Madeira, Henriques de
Araújo reiterava a absoluta necessidade de construção daquela infra-estrutura546.
Pela intervenção do deputado António Camacho Teixeira de Sousa, na sessão
de 25-4-1957, ficamos com a informação de que o Ministério das Comunicações
determinara a deslocação à Madeira de engenheiros da Direcção-Geral da
Aeronáutica Civil e do Laboratório Nacional de Engenharia Civil que, em colaboração
com os técnicos da Direcção de Obras Públicas e da Junta Geral de Distrito do
Funchal estavam a elaborar os devidos estudos e projetos para a construção do
aeródromo da Madeira547.
A construção do aeródromo da ilha do Porto Santo era iniciada em 1959, em
virtude da suavidade do seu relevo. No entanto, o deputado Alberto Henriques de
Araújo chamava a atenção para o facto de que essa obra, por si só, em nada serviria
a Madeira e o seu turismo, pois a ideia de se fazer a ligação, por via marítima,
entre as duas ilhas, numa pequena embarcação, não apresentava qualquer
viabilidade: o viajante que soubesse que para ir à Madeira teria de descer no Porto
Santo, atravessar num pequeno barco o mar da Travessa e fazer depois o retorno,
desistiria imediatamente do seu propósito548. Nesta perspetiva, Alberto Henriques
de Araújo considerava que a solução perfeita do problema das ligações aéreas para
o arquipélago passava pela construção de dois aeródromos, um no Porto Santo e o
outro na Madeira549. A solução de construir esta infraestrutura em Santa Catarina,
próximo da vila de Santa Cruz, na Madeira, estaria a ser equacionada em 1960550.
Com efeito, a obra viria a ser inaugurada alguns anos mais tarde.
Fortemente implicados nas questões económicas que marcaram a História da

542 AHP, Assembleia Nacional, V Legislatura, Sessão de 9-3-1950, Diário n.º 28, pp. 437-440.
543 Ibidem.
544 AHP, Assembleia Nacional, VI Legislatura, Sessão de 28-6-1956, Diário n.º 159, p. 1214.
545 AHP, Assembleia Nacional, VI Legislatura, Sessão de 28-2-1957, Diário n.º 183, pp. 296-297.
546 Ibidem.
547 AHP, Assembleia Nacional, VI Legislatura, Sessão de 25-4-1957, Diário n.º 206, pp. 797-798.
548 AHP, Assembleia Nacional, VII Legislatura, Sessão de 9-12-1959, Diário n.º 136, pp. 108-110.
549 Ibidem.
550 AHP, Assembleia Nacional, VII Legislatura, Sessão de 6-4-1960, Diário n.º 164, pp. 579-580.

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Junta Geral

Madeira durante o período do Estado Novo, estão os problemas sociais vividos na Revolta da Madeira.
ilha e cuja notícia é levada à Assembleia Nacional pelos deputados eleitos pelo 4 de abril de 1931.
Funchal551. A respeito destas temáticas, destacam-se, em diferentes períodos,
as vozes de alguns desses representantes insulares. Na transição de 1939 para
1940, as intervenções de Gastão de Deus Figueira e Álvaro Favilla Vieira dão conta
da agudização das situações de desemprego e da verdadeira miséria social daí
decorrente552, problemas que ambos os deputados não deixam de associar aos
perigos de perturbação da ordem pública definida pelo Estado Novo, num período
em que, até por sinais implícitos nos seus discursos, ainda é notória a sombra
das consequência locais e nacionais geradas pelas revoltas registadas na Madeira,
durante a década de 1930: a Revolta da Farinha, em fevereiro de 1931; a Revolta
da Madeira, em abril desse mesmo ano; e a Revolta do Leite, já em 1936553.
Destacando a verdadeira situação de “emergência” vivida na ilha, um espaço que,
segundo Álvaro Favilla Vieira, asfixia[va] implacavelmente perante a gravíssima

551 Referimo-nos aos problemas da ilha e não do arquipélago porque, de facto, o discurso dos deputados relativamente
aos problemas sociais aqui experienciados centra-se sobretudo na realidade madeirense, ignorando, praticamente,
o Porto Santo. A título excepcional, destaque-se a intervenção de Eleutério Aguiar que, em defesa da urgência de
desenvolvimento de uma política urbanística no arquipélago, com preocupações sociais (saneamento básico,
eletricidade, habitação social, comunicações, etc.), destaca, em 1972, a necessidade da aplicação dessa política também
ao Porto Santo – cf. AHP, Assembleia Nacional, X Legislatura, Sessão de 26-04-1972, Diário n.º 189, p. 3742.
552 AHP, Assembleia Nacional, II Legislatura, Sessão de 01-03-1940, Diário n.º 83 p. 361.
553 Sobre estas insurreições ver: BRAZÃO e ABREU, 2008, A Revolta da Madeira, 1931 […]; FREITAS, 2011, A Revolta do
Leite: Madeira 1936 […].

147
Junta Geral

depressão económica e financeira nacional e internacional que a II Guerra Mundial


viera agravar554, esse deputado, em março de 1940, chamava a atenção para a
verdadeira miséria social crescente no arquipélago e para o facto de esta tornar
precária a receptividade do meio ao espírito renovador da Revolução e a integração
da sua estrutura económica na orgânica do Estado Novo555. Para Favilla Vieira, o
problema da Madeira não era uma simples questão de ordem pública, mas antes
um problema económico com gravíssimas implicações sociais556. Daí que, em seu
entender, fosse urgente, por razões sócioeconómicas, mas também por razões
políticas e de segurança do Estado, a tomada de medidas por parte do Governo.
Em discreta evocação dos incidentes revoltosos registados na ilha em 1931 e 1936,
este deputado sublinhava que essas medidas que a Madeira aguarda[va] de novo
(…) com sobressaltada ansiedade, poderiam atenuar a verdadeira psicose colectiva,
de fundo trágico, exasperante e fatalista, que t[inha] levado espíritos mais fracos
a actos da maior desorientação e desespero557. Favilla Vieira (aqui apoiado pela
intervenção do influente deputado continental Sebastião Ramires que, na década
de 1930, estudara o sistema económico da ilha, ao tomar a responsabilidade do
processo de corporativização dos frutos, dos produtos hortícolas e dos bordados
da Madeira558), não deixa de reconhecer que, em período algum da sua vida
administrativa, a Ilha [tivera merecido] igual atenção e tão grandes benefícios
do Estado, como naquele ciclo da Revolução Nacional559. Porém, esse seu louvor
àquilo que entendia ser a salvaguarda da ilha por parte do regime salazarista, não
invalidava que apresentasse à Assembleia Nacional um conjunto de medidas que
considerava poderem contribuir para a minoração dos problemas sócioeconómicos
da sua terra. Esta intervenção de Favila Vieira secundava, assim, uma anterior,
proferida por Gastão Deus Figueira, em novembro de 1939. Este deputado
assegurava que o ponto do País onde a atual crise europeia produzira efeitos mais
graves e fulminantes fora a Madeira e acrescentava que, aí, era então confrangedor
o acréscimo da mendicidade, sobretudo decorrente do facto de, repentinamente,
milhares de pessoas, sem emprego na ilha, terem ficado privadas dos modestos
recursos de que viviam560. Uma situação que, em seu entender, era ainda agravada
pelo assustador desenvolvimento demográfico verificado no arquipélago e pelas
crescentes dificuldades colocadas nos países de destino, àqueles que pretendiam
emigrar, mas que, naquela altura, em muitos casos, acabavam por logo regressar,
ainda em pior estado do que haviam partido561. Porém, e pesem embora este
quadro contextual e as medidas repressivas que hoje se sabem ter sido aplicadas
pelo Estado Novo aos madeirenses, em resposta às revoltas de 1931 e 1936, Gastão
Figueira é bem mais entusiasta do que o cauteloso Favilla Vieira, na convicção
de que as políticas de Lisboa para a Madeira atenuariam, quer os problemas
sócioeconómicos agravados com a guerra, quer os perigos da desordem pública.
Gastão Figueira enaltecerá as medidas tomadas pelo Estado, por exemplo, na

554 AHP, Assembleia Nacional, II Legislatura, Sessão de 01-03-1940, Diário n.º 83, p. 361.
555 Ibidem.
556 Ibidem.
557 Ibidem.
558 Cf. CRUZ, PINTO, 2004, Dicionário Biográfico Parlamentar 1935-1974 […], pp. 418-420.
559 AHP, Assembleia Nacional, II Legislatura, Sessão de 01-03-1940, Diário n.º 83, p. 362.
560 AHP, Assembleia Nacional, II Legislatura, Sessão de 25-11-1939, Diário n.º 48, p. 3.
561 Ibidem.

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Junta Geral

proteção ao setor vinícola insular, assegurando à Assembleia Nacional que, graças


a essas medidas, na ilha havia renasc[ido] a confiança, a certeza fundamentada de
que só os males humanamente inevitáveis para a [sua] economia (…) não seriam
prontamente removidos pelo governo de Oliveira Salazar562. E, mantendo o mesmo
registo de exaltado agradecimento e de declaração de fidelidade da Madeira ao
governo da Nação, termina esse seu discurso a garantir que, no arquipélago,
ninguém duvida[va] de que ser[iam] tomadas as medidas possíveis para se atenuar
os sofrimentos desencadeados pela guerra, que todos sab[iam] que, desde há
alguns anos, t[inha] sido larga e generosa a atenção prestada pelo Governo aos
problemas da Ilha e que, por tudo isso, a gente da Madeira, profundamente grata
ao Governo nacional, est[aria] mobilizada para cooperar, com o maior espírito
de sacrifício e de justiça, na tarefa dura que a todos os portugueses incumb[eria]
neste período angustiante e dramático563.
O problema da miséria seria retomado, na década de 1950, por iniciativa de
Alberto Henriques de Araújo e, uma vez mais, Gastão Figueira, ainda que já não
fosse diretamente apontado como uma das consequências da crise económica
internacional agravada pela II Guerra Mundial. O enfoque dado a essa problemática
era agora diverso. No caso de Gastão Figueira, a pobreza, associada à inexistência
na Madeira de instituições de correção criminal para jovens, era apresentada como
principal causa da delinquência infantil564. Assinalando aquilo que considerava
serem os progressos alarmantes deste tipo de delinquência registada no Funchal,
nos últimos anos, quer pelo aumento do registo de ocorrências, quer pelo potencial
de agressividade e violência muito elevado com que esses jovens operavam, o
deputado reconhece a miséria como uma das causas que se escondia por trás desse
problema social, ao apontar as precárias condições em que viviam: habitavam, na
sua maioria, em furnas, nas aberturas das paredes das ribeiras que atravessavam
a cidade, e desses covis part[iam] para as suas obras maléficas (…), sem limitações
morais de qualquer espécie565. A comparação com os animais selvagens sublinha
o modo como este deputado e juiz (ressalve-se esta sua formação académica e
profissional) equacionava o problema da delinquência infantil: ao assumirem
uma atitude marginal e violenta (Nada respeitam nem temem), estes menores de
10 e 11 anos deveriam, na sua opinião, ser domados por medidas correctivas e
educacionais, aplicadas por um tribunal especializado e logo que comete[ssem]
o seu primeiro delito566. Para tal, seria necessário dotar o Funchal, com toda
a urgência possível de um tribunal central de menores e de um reformatório
onde fosse possível internar os jovens criminosos para lhes serem aplicadas as
medidas corretivas e educativas mais convenientes à sua reintegração social567.
Gastão Figueira acrescentava, por fim, a urgência na resolução deste problema
porque, na sua opinião, estavam em causa não apenas as condições mínimas de
seguranças dos madeirenses e dos muitos estrangeiros dos países mais civilizados
do Mundo que visitavam o Funchal, mas também a imagem do próprio país no

562 Ibidem.
563 Ibidem.
564 AHP, Assembleia Nacional, VI Legislatura, Sessão de 07-12-1955, Diário n.º 105, p. 112.
565 Ibidem.
566 Ibidem.
567 Ibidem.

149
Junta Geral

principal centro português de turismo568. Caso a delinquência infantil na Madeira


continuasse abandonada a si mesma, sem resolução à vista, adivinhava-se que, a
médio ou longo prazo, isso implicaria consequências económicas gravosas para a
própria Nação, por colocar em causa o desenvolvimento turístico da ilha569.
Quatro anos mais tarde, Alberto Henriques de Araújo abordará, en passant,
uma outra questão social igualmente aflorada por Gastão Figueira em 1955 e
retomada por Eleutério Gomes de Aguiar em 1972, embora neste último caso
de forma bem mais demorada, problematizadora e fundamentada. Referimo-
nos, em palavras de Eleutério Aguiar, às carências no sector da habitação
verificadas na Madeira, e que eram agravadas quer pela pressão demográfica aí
verificada, quer por um cada vez mais intenso êxodo rural que conduzia a uma
forte concentração dos madeirenses nas zonas urbanas do sul da ilha570. Gastão
Figueira reportara-se às condições de habitabilidade infra-humanas existentes
nas “furnas”571. Por seu lado, Alberto Henriques de Araújo, fazendo jus ao espírito
corporativista que enformava o modelo de governo do Estado Novo, insistirá na
necessidade de construção de casas de renda acessível, nomeadamente para as
classes médias, incluindo o funcionalismo público, uma medida que, segundo ele,
fora já várias vezes anunciada, mas até aí sem efectivação prática572. E Eleutério
Aguiar, assinalando a “aprovação” do “Plano Director da Cidade do Funchal” -
documento elaborado por imposição do Conselho de Ministros presidido por
Marcelo Caetano, com o fim de promover a transformação e desenvolvimento
das cidades do país, de acordo com as exigências da vida económica e social, da
estética, da higiene e da viação vigorantes nas sociedades modernas – aproveitará
a ocasião para dar conta das deficiências da habitação na Madeira, enquadrando
esta questão no problema mais vasto e complexo da necessária urbanização do
espaço insular573. Sublinhando a escassez de infraestruturas sociais, a incompleta
cobertura sanitária, a estrutura escolar amplamente deficitária em instalações e
pessoal docente, a insuficiência de meios de comunicação terrestres e precárias
instalações portuárias, assim como a forte densidade populacional, cada vez mais
concentrada no Funchal e nas zonas urbanas do sul da Madeira, devido ao êxodo
rural, Eleutério de Aguiar, baseando-se na sua experiência pessoal e em dados
fornecidos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), traça um mapa social da
ilha bastante problemático. Destacando o caso de Câmara de Lobos como aquele
onde se verifica a mais terrível anima social que imaginar se possa, este deputado
não deixa, porém, de chamar a atenção quer para o perigo da proliferação das
barracas nas zonas limítrofes da cidade do Funchal, quer para o crescente número
de situações de sublocação que levavam inúmeras famílias a viver em partes de
casa sem um mínimo de condições, quer ainda para a previsível demolição de
construções existentes, a fim de nesses espaços serem criados empreendimentos
capazes de satisfazer as necessidades do desenvolvimento turístico na ilha, situação
que tenderia a agravar o défice habitacional aí detetado. Assim, para além da

568 Ibidem.
569 Ibidem.
570 AHP, Assembleia Nacional, X Legislatura, Sessão de 26-04-1972, Diário n.º 189, p. 3741.
571 AHP, Assembleia Nacional, VI Legislatura, Sessão de 07-12-1955, Diário n.º 105, p. 112.
572 AHP, Assembleia Nacional, VII Legislatura, Sessão de 09-12-1959, Diário n.º 136, p. 109.
573 AHP, Assembleia Nacional, X Legislatura, Sessão de 26-04-1972, Diário n.º 189, p. 3741.

150
Junta Geral

elaboração do novo Plano Director da Cidade do Funchal, no entender de Eleutério


Aguiar, era necessário enfrentar, agora, a batalha do cimento, a fase mais difícil
que exigia a imprescindível intervenção dos organismos estatais ou para-estatais,
através de investimentos vultuosos na construção de habitações (sobretudo
habitações sociais), em ritmo acelerado574. Um investimento que, por toda a ilha,
respeitasse as normas estabelecidas no novo Plano do Funchal (construir em
condições ordenadas e com os serviços de equipamento coletivo assegurados)
e que não deveria procurar o lucro do juro do capital investido, mas antes visar
apenas a promoção social575. Para tal, seria necessário repensar as estruturas
da administração local que fossem capazes de atender em recursos financeiros,
técnicos e administrativos às solicitações decorrentes de um desenvolvimento
verdadeiramente explosivo registado na Madeira nesses anos, ultrapassando os
moldes atuais da administração municipal e cuja competência se estendesse a
todo o arquipélago576. Isto, até porque, na sua perspetiva, o problema da habitação
na Madeira não poderia ser desvinculado de um também necessário processo
de urbanização e modernização de todo o arquipélago (Porto Santo incluído),
cuidando do abastecimento de água potável, electricidade, instalações portuárias,
comunicações, esgotos, longas vias de acesso entre as principais localidades das
ilhas, eficientes serviços de recolha de lixos, etc.577
Para além de todos estes problemas sociais, um outro, fortemente
implicado nos primeiros, será convocado para debate na Assembleia Nacional
pelos deputados eleitos pelo Funchal. Referimo-nos ao problema da mobilidade
humana, não na sua vertente interna de êxodo rural (questão também tratada
por alguns desses representantes insulares, como já vimos), mas na dimensão
migrante transfronteiriça.
Em 1939 e 1940, caberá a Gastão Figueira e a Favila Vieira levar até à
Assembleia Nacional notícias sobre a emigração madeirense nesse período. Destas
intervenções sobressai a ideia de que a saída da ilha para outros países seria a
solução mais imediata para a crise sem par da Madeira, no aspecto dramático
do desemprego578. Porém, Gastão Figueira, dando conta da situação vivida pelos
madeirenses que tinham partido para Curaçao, à procura de melhor sorte, mostra
como essa solução, no final de 1939, não seria muito produtiva579. Segundo o
deputado, esses emigrantes, contratados para as “refinarias” desta ilha e para lá
deslocados, supostamente sob proteção do Governo Inglês580, tinham acabado por
regressar, em pior estado à Madeira, do que apresentavam à partida.
De resto, a intervenção de Favilla Vieira de 16 de fevereiro de 1940 ilustra
bem grande parte das dificuldades por que passavam os emigrantes portugueses
de então. Dando especial enfoque à realidade da nossa emigração para o Brasil, o
deputado do Funchal, alegando fazê-lo por naturais sentimentos de humanidade

574 Ibidem.
575 Ibidem.
576 Ibidem.
577 Ibidem.
578 AHP, Assembleia Nacional, II Legislatura, Sessão de 16-02-1940, Diário n.º 77, p. 301.
579 AHP, Assembleia Nacional, II Legislatura, Sessão de 25-11-1939, Diário n.º 48, p. 3.
580 AHP, Assembleia Nacional, IX Legislatura, Sessão de 22-02-1968, Diário n.º 139, p. 2509.

151
Junta Geral

e solidariedade nacional, mas também por razões de interesse económico e


político, chamava a atenção da Assembleia Nacional para o risco de vida a que
se sujeitavam os emigrantes lusos, em trânsito para a América do Sul, uma vez
que esses portugueses viaja[va]m indistintamente nos navios de países neutros
e beligerantes sem a necessária consideração pelo estado de guerra em que o
mundo se encontrava581. Em seu entender, a política internacional de neutralidade
assumida pelo Governo de Salazar não devia impedir que este tomasse as medidas
necessárias para assegurar a protecção da vida desses valorosos portugueses,
entre os quais se encontravam muitos madeirenses582. Num discurso marcado por
um certo realismo pragmático, e em resposta ao deputado Marques de Carvalho
que atribuía aos próprios interessados a responsabilidade da escolha do navio em
que viajavam para o estrangeiro, Favilla Vieira argumentará que nem as leis da
emigração, nem a precária condição de emigrante (quase sempre sem dinheiro, sem
instrução e sem consciência dos verdadeiros perigos e dos seus direitos) permitiam
que coubesse a esses portugueses a decisão da escolha583. Por isso mesmo, e dados
os perigos e inconvenientes de ordem pessoal e política que pod[eria]m resultar
de semelhante exposição aos riscos da guerra, Álvaro Favilla Vieira não se inibe
de propor ao Governo uma pronta intervenção neste assunto, aconselhando o
executivo de Salazar a exigir que os barcos portugueses, brasileiros e italianos que
fizessem, então, carreira para o Brasil devessem garantir o ritmo normal da nossa
emigração e que, quando assim não fosse possível, o governo proibisse o trânsito
atlântico desses patrícios, em transportes dos países em guerra584. Para além deste
problema, o deputado do Funchal denunciava também as condições irregulares
e precárias em que se desenvolvia, então, a emigração portuguesa, ainda sujeita
a graves abusos e extorsões, quer no momento que antecedia a partida, quer lá
fora585. Evocando os princípios fundamentais de solidariedade nacional e justiça
social que, em seu entender, dominavam a doutrina da Revolução, Favilla Vieira
apelava em três sentidos: que o Governo apoiasse, regulasse e fiscalizasse a
emigração para o Brasil, sustentando as suas medidas nas informações recolhidas
pelos deputados Sebastião Ramires e André Navarro, durante a “missão especial”
que haviam desenvolvido naquele país, no verão de 1938, informações essas que
davam conta das possibilidades excepcionais que o Brasil oferecia ao trabalho dos
portugueses naquele nível moral e económico que não pod[ia] deixar de constituir a
linha geral das exigências do Estado Novo586; que as instituições políticas nacionais
valoriz[assem] e dignific[assem] o nosso emigrante, nos moldes heroicizantes da
retórica do regime, paradigma discursivo que, de resto, o próprio Favilla Vieira
adotava no seu discurso, em defesa desses valorosos portugueses587; e que Oliveira
Salazar olhasse para a saída-Brasil como uma questão com carácter de urgência
inadiável, uma vez que nela se poderia encontrar alguma resolução para a crise

581 AHP, Assembleia Nacional, II Legislatura, Sessão de 16-02-1940, Diário n.º 77, p. 300.
582 Ibidem.
583 Ibidem.
584 Ibidem.
585 Ibidem.
586 Não esquecer, a este respeito, que em novembro de 1937, Getúlio Vargas passava a liderar o Estado Novo brasileiro,
cujo ideário político acompanhava o Estado Novo de Salazar.
587 AHP, Assembleia Nacional, II Legislatura, Sessão de 16-02-1940, Diário n.º 77, p. 301.

152
Junta Geral

sem par da Madeira588. Ainda a respeito da emigração madeirense, cabe aqui


notar duas outras intervenções protagonizadas por Alberto Henriques de Araújo
e por Agostinho Cardoso, respetivamente, a 6 de abril de 1961 e a 22 de fevereiro
de 1968. O tempo histórico-político destas intervenções é, sem dúvida, outro: o
do rescaldo do assalto ao navio “Santa Maria”, incidente opositor ao Estado Novo
que, planeado a partir da Venezuela, tivera início em janeiro desse mesmo ano589;
e o tempo da imensa debandada, expressão utilizada por Fernando Rosas, quando
se refere ao crescente fenómeno emigrante registado por todo o país, a partir
da década de 1950, e que condicionará um gradual e problemático esvaziamento
de diversas zonas do país590. Manifestando o seu desagrado pelo facto de o
Governo da Venezuela ter recentemente decidido extinguir o consulado daquele
país na Madeira, Alberto Henriques de Araújo apela ao Sr. Ministro dos Negócios
Estrangeiros, sempre atento à defesa dos interesses portugueses, onde quer que
eles se situem, para, junto do Governo da Venezuela, desencadear as diligências
oficiais no sentido de se manter o consulado daquele país no Funchal591. Embora
sem nunca associar explicitamente este encerramento quer às consequências
diplomáticas internacionais da recente tomada do paquete “Santa Maria” pela
oposição delgadista ao Estado Novo, quer à “Guerra das embaixadas” de 1959, em
que a Venezuela – país envolvido num recente processo de democratização – havia
já colaborado com a oposição portuguesa, ao conceder asilo político, em Lisboa, a
alguns agentes revoltosos envolvidos na “Conspiração da Sé”592, Alberto de Araújo
sublinha, discreta, mas assertivamente, que a colónia madeirense na Venezuela,
pelas suas quantidades de trabalho e espírito de ordem e disciplina, sempre se
tinha revelado um elemento social e económico de grande valia na vida daquela
nação, sendo igualmente merecedora de toda a assistência e defesa, não só da
parte das entidades oficiais venezuelanas, mas também do Governo do seu país593.
Em seu entender, o encerramento daquele consulado não acautelava os merecidos
direitos dos emigrantes madeirenses, dado que, a partir de então, sempre que estes
tivessem necessidade de tratar de algum assunto respeitante à emigração para a
Venezuela ou aos seus negócios e interesses neste país, seriam forçados a deslocar-
se a Lisboa594. Portanto, nesta breve intervenção de Alberto Araújo, evidenciam-
se duas ideias: a relevância da comunidade insular emigrada na Venezuela era
significativa, fosse pelo número elevado de madeirense e seus descendentes que
a constituíam, fosse pela relevância sócioeconómica que ela assumia no contexto
do arquipélago, mas também no contexto nacional; e a defesa dos interesses da
Madeira (até pelo que já anteriormente apontámos a respeito do modo como os
deputados do Funchal entendiam a emigração para o estrangeiro na gestão da crise

588 Ibidem.
589 Segundo Daniel de Melo, o assalto ao paquete de luxo “Santa Maria”, ocorrido a 22 de janeiro de 1961, em águas
internacionais das Caraíbas, foi uma operação desencadeada pelo Directório Revolucionário Ibérico de Libertação.
Esta era uma organização antifascista, criada na Venezuela em 1960 e constituído por exilados políticos portugueses
e espanhóis, anti-Salazar e anti-Franco, respetivamente. Embora não tendo alcançado a dimensão pretendida, este
assalto terá uma forte repercussão mundial, agravando o isolamento externo a que se vê remetido o Governo de Lisboa,
ROSAS, BRITO, 1996, Dicionário de História do Estado Novo […], pp. 67-69.
590 MATTOSO, 1994, História de Portugal […], p. 420.
591 AHP, Assembleia Nacional, VII Legislatura, Sessão de 06-04-1961, Diário n.º 206, p. 326.
592 MATTOSO, 1994, História de Portugal […], p. 532.
593 AHP, Assembleia Nacional, VII Legislatura, Sessão de 06-04-1961, Diário n.º 206, p. 326.
594 Ibidem.

153
Junta Geral

sócioeconómica do arquipélago no pós-guerra) terá sido mais premente, a 6 de


abril de 1961, do que a defesa corporativa do regime. Isto, ainda que num assunto
tão complexo como estes que, de facto, ultrapassava a mera gestão do fenómeno
migratório para a Venezuela, envolvendo também delicadas questões de política
internacional e de segurança do próprio Estado Novo, Alberto Araújo (o defensor
incondicional da política prosseguida por Salazar e o experiente deputado que,
na Assembleia, frequentemente apreciava as relações internacionais promovidas
pelo Governo595) não deixasse nem de sublinhar a grande valia económica para
a Nação que constituía a comunidade madeirense emigrada na Venezuela, nem
de assegurar que os seus elementos, em tempo algum, haviam posto em causa o
espírito de ordem e disciplina, ou seja, dois dos princípios fundadores do Estado
Novo. A última intervenção de deputados eleitos pelo círculo do Funchal, por
nós detetada, acerca da emigração insular é da responsabilidade de Agostinho
Cardoso e uma das mais completas e problematizadoras. Em fevereiro de 1968,
este deputado proferirá um longo discurso sobre o tema aqui enunciado596.
Apontará, então, causas (sócioeconómicas, político-religiosas mas também
causas histórico-identitárias específicas do arquipélago), consequências preo-
cupantes e contributos benéficos inerentes aos processos migratórios em que as
ilhas da Madeira, desde sempre, haviam estado implicadas. Apresentará propostas
a considerar numa política de emigração para a Madeira, que fossem enquadradas
na política económica aplicada pelo Estado Novo ao arquipélago e em articulação
com medidas que Agostinho Cardoso considerava urgentes no setor do ensino e da
formação profissional. Destacará os números das vagas emigratórias e os destinos
preferencialmente procurados pelos seus conterrâneos (Ilhas Sanduíche, Guiana,
Venezuela, Brasil, África do Sul, Canadá, Argentina, Estados Unidos, Curaçao,
Inglaterra, Angola, etc.). Anotará variações sociológicas no modo como, ao longo
do tempo, os madeirenses se iam transferindo para outros espaços estrangeiros
(emigração maioritariamente masculina ou feminina; emigração sazonal ou de
longo prazo, com ou sem fixação familiar no estrangeiro; frequência e índices de
situações de retorno à Madeira, etc.). E, entre outros aspetos referidos, lembrará
que a mobilidade humana, na Madeira, não se efetuou apenas no sentido emigrante,
mas também imigrante, destacando o contributo económico e social que, durante
a “última guerra mundial” deveria ser atribuído aos cerca de “2000 gibraltinos”
que o governo inglês tinha transferido para o Funchal597. Trata-se, neste caso, de
uma longa reflexão sustentada em dados sociológicos recolhidos nos censos então
realizados, mas também com preocupações de análise da variação histórica, até
pela citação de dois notáve[is] historiador[es] da ilha: o Pe. Eduardo Pereira e o
Pe. Fernando Augusto da Silva598. Isto não determina, porém, que a preocupação
com o rigor dos dados apresentados tornasse o discurso de Agostinho Cardoso
imune aos valores ideológicos da retórica do Estado Novo. Também nesta análise
sobre a emigração da e na Madeira se torna evidente a necessidade de heroicizar
a história dos seus grandes homens que, ao serviço dos interesses sobretudo da

595 CRUZ, PINTO, 2004, Dicionário Biográfico Parlamentar […], pp. 186-188.
596 AHP, Assembleia Nacional, IX Legislatura, Sessão de 22-02-1968, Diário n.º 139, pp. 2508-2512.
597 Ibidem.
598 Ibidem.

154
Junta Geral

Nação, participaram na epopeia da construção do império599. Agostinho Cardoso, a


este respeito, evocará a figura de Fernando Vieira, o libertador de Pernambuco, no
século XVII, mas também o grupo de madeirenses anónimos que, em 1884, haviam
empreendido a fundação da cidade de Sá da Bandeira, no sul de Angola, com
ignorado heroísmo600. Estávamos em 1968, nos anos quentes da Guerra Colonial, e
o discurso de Agostinho Cardoso, preocupado em enaltecer a entrega madeirense,
no século XIX, à causa pátria, quando se desenhava, em Angola, a infiltração dos
boers, não pode ser desenquadrado nem do apoio incondicional deste deputado
madeirense à política colonial portuguesa601, nem da retórica do regime que,
apelando ao amor pátrio e à legitimidade histórica da soberania portuguesa sobre
os territórios coloniais, procurava sustentar uma guerra que, dentro e fora das
fronteiras nacionais, ganhava cada vez maior oposição e descrédito.
A abordagem das temáticas políticas e administrativas centrou-se no
regime administrativo das Ilhas Adjacentes, cujo estatuto foi alvo de discussão
na Assembleia Nacional em 1938602. Estava em causa a aplicação do Código
Administrativo, promulgado em 1936, aos arquipélagos da Madeira e dos Açores,
com as alterações que as circunstâncias específicas das Ilhas tornavam necessárias,
dentro dos limites das bases propostas. A apreciação dos deputados deveria
restringir-se às condições particulares que as ilhas adjacentes apresentavam
perante o Código Administrativo e, consequentemente, às soluções a adotar. Em
suma, a questão era a autonomia administrativa das ilhas603.
O princípio dominante da proposta em causa era, em relação às Juntas Gerais,
uma descentralização subordinada a uma apertada tutela e fiscalização financeira.
Considerando que a Madeira e os Açores, situados em pleno Atlântico e a alguns
dias de viagem de Lisboa, estavam fora do contacto e influência direta do Governo
Central, o deputado Álvaro Favila Vieira afirmava que para governar e administrar
as nossas ilhas adjacentes é indispensável conhecê-las na intimidade, ter não só
inteligência dos seus problemas, mas também o sentido da sua sensibilidade604.
Dentro desta perspetiva, as dificuldades que a administração central tinha na
pronta resolução dos assuntos insulares, impunham a adoção de um sistema que
tornasse a direção da administração das ilhas maioritariamente dependente dos
órgãos locais. Logo, e segundo Favila Vieira, seria a forma de evitar em grande
parte os inconvenientes que a morosidade burocrática, a falta de conhecimento
directo dos assuntos, a divergência de informações e a luta de influências
determinam quando as questões insulares se subordinam inteiramente à mecânica
das repartições ou serviços centrais605.

599 Ibidem.
600 Ibidem.
601 Cf. , por exemplo, a intervenção de Agostinho Cardoso, em 1964, a respeito dos conflitos no Congo: AHP, Assembleia
Nacional, VIII Legislatura, Sessão de 02-12-1964, Diário n.º 159, p. 3938.
602 Pela lei n.º 1.967, de 30 de abril de 1938, foram publicadas as bases do regime administrativo insular. Esta lei seria
completada com o Estatuto dos distritos autónomos das ilhas adjacentes, aprovado pelo decreto – lei n.º 30 214, de 22
de dezembro de 1939. Pelo decreto-lei n.º 36453, de 4 de agosto de 1947 foi aprovada nova redacção do Estatuto que,
conservando a estrutura, introduziu no texto algumas alterações secundárias. Veja-se CAETANO, 1982, Manual de
Direito Administrativo […], p. 159.
603 AHP, Assembleia Nacional, I Legislatura, Sessão de 3-3-1938, Diário n.º 164, pp. 404-405.
604 Ibidem.
605 Ibidem.

155
Junta Geral

O problema centrava-se no estabelecimento de um regime que adaptasse a


organização administrativa insular às condições e exigências do seu meio específico,
mas impedindo os desmandos que poderiam existir se as administrações locais
ficassem libertas de qualquer ingerência por parte do poder central. O deputado
Favila Vieira, na sua intervenção de 3 de março de 1938, considera que a proposta
apresentada era omissa em alguns pontos que considerava fundamentais,
designadamente, o das atribuições e competências das Juntas Gerais e o das receitas
que lhes deveriam ser concedidas. Pois sem meios de ação e sem possibilidades
financeiras, as Juntas Gerais ficavam incapazes de resolver os problemas locais, na
esfera das suas competências606. Na sequência desta constatação, entendia Favila
Vieira que o ponto de equilíbrio deveria ser encontrado num processo de tutela que
permitisse, em simultâneo, a fiscalização do Governo Central e a autonomia do
corpo administrativo considerado. Ficava, de igual modo, assente que a insistência
por parte das Juntas Gerais no sentido da concessão de subsídios ou de algumas
receitas obedecia, somente, à pressão das necessidades locais e de modo algum a
sentimentos de absorvente regionalismo ou independência económica. A Madeira
e os Açores sentem-se tão profundamente ligados a Portugal, como qualquer das
nossas províncias continentais607. Na sessão do dia seguinte, 4 de março de 1938,
deu-se a discussão da mencionada proposta de lei sobre o regime administrativo
das Ilhas Adjacentes. Nesta sessão, assumiram o protagonismo dois deputados:
António Carlos Borges, antigo vice-presidente da Câmara Municipal da Figueira da
Foz e o deputado açoriano António Hintze Ribeiro. Para Carlos Borges, a discussão
desta proposta de lei era algo da maior importância pelo interesse que merecia
à Assembleia Nacional os arquipélagos dos Açores e da Madeira que no meio do
Oceano Atlântico são os legítimos representantes do povo português, da alma
portuguesa e de todas as nossas aspirações mais sentidamente patrióticas e
nacionalistas (…) essas ilhas são um baluarte da nossa própria defesa e uma garantia
da nossa própria independência608. Por seu turno, Hintze Ribeiro chama a atenção
para o artigo 125º, § 2º da Constituição de 1933 que estipulava que a divisão do
território das ilhas adjacentes e respetiva administração seriam reguladas por uma
lei especial. Votado o Código Administrativo (1936), interessava estabelecer qual
seria a lei administrativa para esses territórios. Hintze Ribeiro assume que a sua
pretensão seria ver consagrada, nesta lei administrativa, uma clarificação do papel
financeiro da Juntas, ou seja, fazer-se um ajustamento das receitas e das despesas,
de modo que fique uma margem que possa permitir medidas de fomento, porque
de contrário, ficando as receitas cingidas apenas às despesas, as Juntas Gerais dos
distritos autónomos pouco mais teriam a fazer do que o papel de tesoureiro – pagar
e receber609. Uma outra questão devidamente levantada por Hintze Ribeiro estava
relacionada com a tutela administrativa. Entendia que se esta era necessária, então
que fosse aceite. No entanto, sendo a tutela exercida pelo governador civil, ficava
a mesma dependente de quem exercesse o cargo. Isto é, sendo o governador
civil alguém estranho ao meio insular, só ao fim de algum tempo é que ficava
conhecedor dos assuntos que mais importavam à vida do distrito, altura em que,

606 Ibidem.
607 Ibidem.
608 AHP, Assembleia Nacional, I Legislatura, Sessão de 4-3-1938, Diário n.º 165, pp. 416-422.
609 Ibidem.

156
Junta Geral

na maior parte das vezes, chegava ao fim do seu mandato. Por conseguinte, ficava
prejudicada a resolução atempada dos problemas do distrito. Tal não aconteceria,
no entender de Hintze Ribeiro, se os presidentes das Juntas Gerais tivessem maior
poder de decisão610. Contudo, apesar de expor estas sugestões, Hintze Ribeiro
assumia a noção de que, à semelhança do Código Administrativo anterior, o atual
seria muito parecido, apenas contendo a diferenciação nas disposições especiais
que regulam o funcionamento das Juntas Gerais. No final deste debate, foi votada,
e aprovada por unanimidade, uma moção onde a Assembleia Nacional prestou
homenagem ao espírito de unidade nacional e à devoção patriótica que caraterizam
os portugueses dos arquipélagos da Madeira e dos Açores611. A aplicação do regime
administrativo das Ilhas Adjacentes (lei n.º 1.967, de 30 de abril de 1938 e lei n.º
30.214, de 22 de dezembro de 1939) mereceu a aceitação unânime por parte dos
deputados madeirenses.
O Estatuto dos Distritos Autónomos das Ilhas Adjacentes (1940) determinava
o distrito do Funchal como um distrito de primeira ordem. Relativamente às Juntas
Gerais, ficou estabelecido que estas passavam a ser designadas Juntas Gerais dos
Distritos Autónomos e que continuavam fortemente tuteladas pelo Governo de
Lisboa, através do seu representante na Madeira, o governador civil. De facto, este
tinha a faculdade de escolher os presidentes dos municípios e os da Junta Geral,
cujo número de procuradores baixou de 15 para 7, todos eleitos pelos municípios
e pelos organismos corporativos ao nível do distrito612.
As competências das Juntas eram vastas, mas muito condicionadas pela
falta de meios financeiros. Assim, essas competências estavam direcionadas para
importantes aspetos da vida distrital como a administração dos bens distritais, o
fomento agrícola, pecuário e florestal, a coordenação das atividades económicas do
distrito, as obras públicas, a saúde e a assistência. Os meios de financiamento das
Juntas eram o produto de alguns impostos, cobrados pelo Estado, nomeadamente,
a contribuição predial e industrial assim como o imposto profissional. Esta legislação
manteve-se, com muito poucas alterações, até 1976613.
Um ano mais tarde, Álvaro Favila Vieira não hesitava em afirmar que se
tinha adotado um regime que torna solidários, na sua hierarquia própria, os
interesses superiores do Estado e as exigências da administração local. Dão-se às
Juntas Gerais autónomas maiores contribuições e meios de acção, em obediência
às necessidades da descentralização, ao mesmo tempo que, paralelamente,
se estende e torna mais efectiva a fiscalização do Governo614. Já na década de
50, o deputado António Camacho Teixeira de Sousa, entendia que o Estatuto
dos Distritos Autónomos das Ilhas Adjacentes, de 4 de agosto de 1947, tinha
trazido importantes vantagens para a Madeira, designadamente nas obras de
aproveitamento hidráulico e no alargamento da rede de estradas, opinião que
fora secundada pelo deputado açoriano, Pedro Cymbron, que salienta o poder de
intervenção do Estado na autonomia administrativa das Ilhas Adjacentes, onde

610 Ibidem.
611 Ibidem.
612 BRAGA, 2010, Madeirenses na Assembleia Nacional […], pp. 99-112.
613 OLIVEIRA, 1996, História dos Municípios e do Poder Local […], pp. 315-316.
614 AHP, Assembleia Nacional, II Legislatura, Sessão de 5-3-1940, Diário n.º 85, pp. 391-392.

157
Junta Geral

era bem recebida a orientação dos serviços centrais615. Este regime autonómico,
fortemente condicionado pelo centralismo corporativo - burocrático do regime só
começaria a ser colocado em causa, e de uma forma muito ténue, no início da
década de 70. No âmbito de uma discussão sobre a livre circulação de mercadorias
no espaço metropolitano e referindo-se ao anúncio da revisão do Estatuto das
Ilhas Adjacentes, Agostinho Cardoso afirmava que a lei que regula a autonomia das
ilhas muito tem a atualizar, no sentido de uma maior eficiência dessa autonomia,
transformando-a num verdadeiro estatuto de região em desenvolvimento,
fortalecendo-se a capacidade e o poder de atuação dos governadores de distrito616.
Em sessão legislativa posterior, Agostinho Cardoso salientava o problema do
funcionamento das instituições, pois, na Madeira, existiam cerca de vinte
organismos dependentes, pelo menos, de três ministérios diferentes, Interior,
Finanças e Economia, completamente descoordenados a nível distrital, porque
não comunicavam com a Junta Geral, exceto por mera deferência, e igualmente
descoordenados a nível nacional, porque pertenciam a diferentes ministérios que
opinavam e decidiam sobre os problemas da Madeira, sem comunicarem uns com
os outros. Uma solução deste problema passaria por encontrar fórmulas para evitar
que o Estado duplicasse serviços na região e, de igual modo, dar, ao Governador
do distrito autónomo, o conhecimento oficial dos problemas económicos desse
mesmo distrito617. Idêntica posição encontra-se no deputado Eleutério de Aguiar,
que sublinhava o facto de o Estado ter de continuar a desempenhar um importante
papel, no fomento dos arquipélagos dos Açores e da Madeira, mas respeitando
a autonomia administrativa das Ilhas Adjacentes, num processo que se desejava
capaz de facilitar a vida económica insular e não o oposto618.
Temas bem diversos dos anteriores são os implicados em questões
ambientais respeitantes às ilhas e que foram também abordados na Assembleia
Nacional pelos deputados madeirenses. Umas vezes, esses temas emergirão em
debates de âmbito mais abrangente, como a discussão em torno da reflorestação
nacional, a propósito da qual, por exemplo, Álvaro Favila Vieira, logo em 1938,
requererá a inclusão das Ilhas Adjacentes nesse plano do povoamento florestal,
dado considerar que em nenhuma região do continente a questão do povoamento
florestal te[ria] maior acuidade e aspectos mais graves e alarmantes do que no
Arquipélago da Madeira619. Em outras situações, pelo contrário, esses temas serão
suscitados ou por ocorrências calamitosas verificadas no arquipélago, ou pela
deteção de situações que colocavam em risco o ambiente das ilhas. Ilustrativas
deste primeiro caso são as intervenções de Gastão de Deus Figueira e Alberto
Henriques de Araújo, em novembro e dezembro de 1956, a propósito das chuvas
torrenciais que, a 3 de novembro, haviam gerado desastres muito graves em Santa
Cruz, Machico e Porto da Cruz620. Exemplificativos do segundo, são os discursos de
alerta de Agostinho Cardoso e Eleutério Gomes de Aguiar, dirigidos aos seus pares
em janeiro de 1972 e chamando a atenção para o perigo de poluição da praia do

615 AHP, Assembleia Nacional, VI Legislatura, Sessão de 26-4-1957, Diário n.º 207, pp. 861-865.
616 AHP, Assembleia Nacional, X Legislatura, Sessão de 7-4-1970, Diário n.º 30, pp. 577-579.
617 AHP, Assembleia Nacional, X Legislatura, Sessão de 21-4-1970, Diário n.º 39, pp. 815-816.
618 AHP, Assembleia Nacional, X Legislatura, Sessão de 23-4-1970, Diário n.º 41, pp. 856-858.
619 AHP, Assembleia Nacional, I Legislatura, Sessão de 26-04-1938, Diário n.º 190, pp. 775-776.
620 AHP, Assembleia Nacional, VI Legislatura, Sessão de 26-11-1956, Diário n.º 170, p. 4.

158
Junta Geral

Porto Santo, caso o Governo mantivesse a decisão de aí instalar um sistema de


pipeline para abastecimento do aeroporto e da base da NATO621. A respeito do
processo de reflorestação da Madeira e do Porto Santo, é de notar a reiterada
insistência neste tema, por parte dos deputados insulares, o que parece confirmar
as palavras de alguma insatisfação e alarme proferidas por Gastão Figueira, a 30 de
novembro de 1949, cerca de 10 anos após a primeira intervenção de Favila Vieira,
solicitando a urgente inclusão das Ilhas Atlânticas no plano de povoamento florestal
português622. Figueira denuncia, então, o permanente e progressivo desgaste nas
florestas da ilha, sem que a tutela do Governo tivesse agido, quer no sentido
de salvaguardar (de forma legal ou policial) a protecção das suas matas, que se
vão perdendo dia-a-dia na mais lastimosa e criminosa incúria, quer no sentido
de pôr em prática o plano de arborização que exist[ia] há anos623. Apontando
as consequências negativas desse impasse para espécies raríssimas que alguns
homens de ciência estrangeiros vinham estudando na Madeira, por aquelas não
se encontrarem em outra parte do globo (consequências essas que advinham ora
dos cortes clandestinos, fora de todas as regras do desbaste, ora dos incêndios,
quase sempre provocados), este deputado não deixa também de sublinhar os
danos económicos suscitados pela destruição ambiental do arquipélago624. Adota,
assim, o posicionamento assumido pela totalidade dos seus pares, no que respeita
ao tema da reflorestação da Madeira e Porto Santo: a urgência de medidas neste
sentido não se prendia apenas com preocupações de preservação ecológica, mas
sobretudo com a necessidade económica de assegurar a manutenção, na Madeira,
das suas mais pitorescas e ricas paisagens para fins turísticos, como afirmara Favila
Vieira, já em 1947625. Daí que a intervenção de Gastão Figueira, deputado que,
cerca de um ano mais tarde, assistiria, com manifesto regozijo, à publicação do
decreto que dava execução aos planos complementares do plano de povoamento
florestal (…) referentes ao distrito do Funchal626, sublinhasse o quanto as magníficas
paisagens da Madeira constituíam um património específico, muito valioso para
aquela formosíssima terra, património esse que, em seu entender, seria o único
recurso de vulto de que se pode[ria] lançar mão (…) para criar riqueza que elev[asse]
o nível baixíssimo a que tem descido o grosso da população627. Acrescentava, ainda:
tudo o que seja diminuir as condições de atracção turística é subtrair meios de vida
à gente da Madeira, é infelicitar numerosas famílias portuguesas, impondo-se, por
isso, uma acção imediata no sentido de se resolver o problema, evitando não só o
risco dos incalculáveis prejuízos económicos para o arquipélago, como também o
perigo de colocar em causa o nome e prestígio de Portugal, junto da comunidade
científica628. Adotando esta perspetiva, não surpreende, pois, que apenas cinco
anos mais tarde, aquando das chuvas torrenciais de 1956, em Santa Cruz, Machico
e Porto da Cruz, os deputados eleitos pelo Funchal não associassem diretamente
o problema da desflorestação da ilha aos efeitos devastadores da aluvião desse

621 AHP, Assembleia Nacional, X Legislatura, Sessão de 26-01- 1972, Diário n.º 153, p. 3089.
622 AHP, Assembleia Nacional, I Legislatura, Sessão de 26-04-1938, Diário n.º 190, p. 775-776.
623 AHP, Assembleia Nacional, V Legislatura, Sessão de 30-11-1949, Diário n.º 4, p. 27.
624 Ibidem.
625 AHP, Assembleia Nacional, IV Legislatura, Sessão de 20-02-1947, Diário n.º 89, p. 557.
626 AHP, Assembleia Nacional, V Legislatura, Sessão de 23-02-1951, Diário n.º 74, p. 370.
627 AHP, Assembleia Nacional, V Legislatura, Sessão de 30-11-1949, Diário n.º 4, p. 27.
628 Ibidem.

159
Junta Geral

inverno629. Em 1938, Favila Vieira havia aludido ao relevante contributo da


arborização da Madeira e Porto Santo, quer na captação de águas da chuva, quer
na sustentação da terra arável das suas encostas e vales, evitando que elas fossem
arrastadas para o mar630.
Aquando do desastre de 1956, nenhum destes argumentos é utilizado para
explicar a aluvião. Encontramos, nas intervenções de Gastão Figueira e Alberto
Henriques de Araújo, a descrição minuciosa e dramática do desastre, assim
como das suas consequências destrutivas: tinham caido nos concelhos de Santa
Cruz e de Machico, da ilha da Madeira, na manhã de 3 de novembro último,
chuvas torrenciais, que, pelas inundações e volume caudaloso de águas que
originaram, encheram de verdadeiro pânico as respetivas populações. Durante
algumas horas, bátegas diluvianas de água caíram e acumularam-se sobre a
terra, desceram impetuosamente por vales e ribeiras e, na sua corrida vertiginosa
para o mar, ceifaram vidas, cortaram estradas, destruíram habitações, e o luto
e a dor envolveram a ilha maravilhosa, que todas as manhãs, com o despontar
do sol, acorda, esperançada e confiante, para a sua vida de trabalho631. De igual
forma, destacando o movimento de solidariedade e a comovedora manifestação
de espírito cristão e humano gerado em torno da ocorrência, são apontadas as
medidas de emergência e de socorro tomadas de imediato, pelas autoridades locais
e insulares (a Junta Geral do Distrito do Funchal, as Câmaras Municipais de Santa
Cruz e Machico, a Comissão Administrativa dos Aproveitamentos Hidráulicos, os
Correios e serviços de telégrafos, o Comando Militar, a Casa dos Pescadores, etc.),
mas também por instituições e orgãos de poder nacionais (o Governo, a Fundação
Calouste Gulbenkian, a Caritas, o Grémio da Lavoura, etc.) ou até por associações
de insulares situadas junto das colónias madeirenses no estrangeiro632. E se ambos
os deputados apelam ao Governo para que este reforce os auxílios substanciais,
que muito reduzirão o mal produzido633, ao financiarem a reconstrução de
moradias, muralhas, caminhos, pontes e estradas634, não registamos, porém,
nos seus discursos, a procura das causas (naturais ou humanas) que estariam na
génese da calamidade. Pelo contrário, Alberto Henriques de Araújo, evocando a
história da velha e fidalga vila de Machico, onde desembarcaram, pela primeira vez
na Madeira, os navegadores que haviam de levar aos confins do Mundo o nome
e a fé de Portugal, insinua a crença numa causa transcendente, ao dar conta de
um suposto milagre, ocorrido com a capela do Senhor dos Milagres em Machico,
edifício religioso que, fantasticamente, não fora arrastado para o mar635. Dando
mostras de profunda adesão aos valores nacionalistas, católicos, conservadores e
dogmáticos que enformavam o pensamento político salazarista e o sistema cultural
legitimado pelo Estado Novo, Gastão Figueira depositará na figura tutelar do “Chefe,
Doutor Oliveira Salazar”, a profunda convicção de que este pater patriae sempre
cumpriria a sua missão de zelar pelo bem dos povos e de, mais uma vez, mostrar

629 AHP, Assembleia Nacional, VI Legislatura, Sessão de 26-11-1956, Diário n.º 170, p. 4; e AHP, Assembleia Nacional,
Sessão de 10-12-1956, Diário n.º 171, pp. 10-11.
630 AHP, Assembleia Nacional, I Legislatura, Sessão de 26-04-1938, Diário n.º 190, p. 776.
631 AHP, Assembleia Nacional, VI Legislatura, Sessão de 10-12-1956, Diário n.º 171, p. 10.
632 Ibidem.
633 AHP, Assembleia Nacionall, VI Legislatura, Sessão de 26-11-1956, Diário n.º 170, p. 4.
634 AHP, Assembleia Nacional, Sessão de 10-12-1956, Diário n.º 171, p. 11.
635 Idem.

160
Junta Geral

o seu carinho pela Madeira636. Por seu lado, Alberto Henriques de Araújo, como
fica implícito nas suas palavras, anteriormente aqui citadas, manifestará idêntica
adesão/inculcação: bem ao gosto salazarista, atribuirá à História de Portugal e
da Madeira um sentido providencial e mítico (Toda a nossa ilha é, na verdade,
um milagre. Milagre de Deus nas suas belezas sem par, milagre dos homens no
hino esplendoroso do seu esforço e do seu trabalho637), inserindo o infortúnio e
a desgraça da aluvião de 1956, no plano transcendente de um corajoso destino
superior a cumprir pelo homem nacional. Aos madeirenses restaria confiar nas
bençãos de Deus, e no apoio de Salazar para, enquanto agentes dessa história
providencial, sararem as feridas que o desastre causara no seio da sua terra
fecunda e no coração do seu povo generoso638.
Bem mais terrenas foram as considerações sobre o sistema de saúde na
Madeira, levadas pelos seus representantes à Assembleia Nacional. Os deputados
que, na década de 1960, refletirão sobre este tema serão Alberto Henriques de
Araújo, em dezembro de 1961639; Agostinho Cardoso, o médico tisiologista afeto
ao Sanatório do Funchal, em fevereiro de 1962640; e Rui Manuel da Silva Vieira,
em dezembro de 1965641. Alberto Henriques de Araújo traçará um preocupante
retrato do sistema hospitalar no Funchal, dando conta das péssimas condições e
das numerosas pessoas com doenças graves ou necessitando de assistência médica
que se acumulavam nas poucas salas do Hospital da Misericórdia do Funchal642.
Este deputado apelava, assim, para que o Governo incluísse no “Orçamento
Geral do Estado” a dotação necessária para, pelo Ministério das Obras Públicas,
ser iniciada em 1962 a construção do futuro hospital do Funchal 643. Só assim, a
breve trecho, se poderia aliviar o congestionamento hospitalar no edifício dos
Marmeleiros e em outras instituições hospitalares da ilha, um problema que
punha manifestamente em perigo a saúde pública644. Em diferente registo, agora
laudatório, Agostinho Cardoso evocava, em fevereiro de 1962, o I centenário da
fundação do Sanatório do Funchal pela princesa Maria Amélia, filha de D. Pedro I
do Brasil, uma instituição que, em seu entender, fora criada, de acordo com as mais
modernas indicações de sumidades médicas da época645. Esta seria a principal razão
pela qual este mais antigo sanatório de tuberculosos em Portugal desempenhara,
até então, um relevante papel na Madeira646: ora do ponto de vista médico e
social, ao abrir as suas portas a tuberculosos pobres, portugueses e brasileiros e
ao desenvolver, em volta do Hospício, um orfanato para filhos de tuberculosos,
escolas primárias para centenas de crianças pobres e a piedosa associação das
Filhas de Maria e a Associação das Senhoras da Caridade647; ora do ponto de vista

636 AHP, Assembleia Nacional, VI Legislatura, Sessão de 26-11-1956, Diário n.º 170, p. 4.
637 AHP, Assembleia Nacional, VI Legislatura, Sessão de 10-12-1956, Diário n.º 171, p. 11.
638 Ibidem.
639 AHP, Assembleia Nacional, VIII Legislatura, Sessão de 13-12-1961, Diário n.º 6, pp. 167-168.
640 AHP, Assembleia Nacional, VIII Legislatura, Sessão de 02-02-1962, Diário n.º 27, pp. 620-621.
641 AHP, Assembleia Nacional, IX Legislatura, Sessão de 02-02-1962, Diário n.º 27, p. 620.
642 AHP, Assembleia Nacional, VIII Legislatura, Sessão de 13-12-1961, Diário n.º 6, p. 167.
643 Ibidem.
644 Ibidem.
645 AHP, Assembleia Nacional, VIII Legislatura, Sessão de 02-02-1962, Diário n.º 27, p. 620.
646 Ibidem.
647 Ibidem.

161
Junta Geral

cultural, ao promover, nas suas escolas, o ensino da língua francesa e inglesa, ao


instituir-se como o único e eficiente núcleo de amizade franco-portuguesa na ilha,
e ainda ao apoiar, segundo Cardoso, a primeira tentativa de aproximação entre o
protestantismo e a igreja católica, na história do mundo ocidental648; ora ainda do
ponto de vista económico, ao contribuir, desde o século XIX, para a sustentação
de uma espécie de pré-turismo terapêutico na ilha que, a partir de então, passava
a assumir o estatuto de Suíssa do Oceano649. Por seu lado, Rui Manuel da Silva
Vieira louvará a relevância que, quer no âmbito nacional, quer no regional, atribuía
ao facto de o Governo, na proposta de autorização das receitas e despesas para
1966, ter destacado o seu empenho numa política de protecção materno-infantil,
em mercê da alta taxa de mortalidade infantil do País650. Com esse fim, apoiará,
nessa data, a criação de uma rede mais ou menos completa de dispensários e
maternidades rurais, que pudessem dar assistência eficiente aos recém-nascidos
e às grávidas, acompanhada sempre de indispensável visitação domiciliária
onde se vigiem cuidadosamente o desenvolvimento e o bem-estar das crianças,
aplicando, assim, a todo o país, um modelo que já fora aplicado e produzia bons
resultados no Funchal e em Ponta Delgada651. Aplaudirá ainda, nesse mesmo
sentido, o alargamento do número do pessoal de enfermagem, apostando na sua
formação e garantindo-lhe maiores vencimentos652. Rui Manuel da Silva Vieira
irá, então, descrever o programa de proteção materno-infantil, implementado no
Funchal desde 1960, apresentando-o como um exemplo de sucesso, pela redução
da mortalidade infantil que introduzira na Madeira, mas também pela educação
da população que aí potenciara653. Justamente por isso, o deputado terminava,
solicitando ao titular da pasta da Saúde que impulsion[asse], desde já, a fase final
do programa de proteção materno-infantil do Funchal, suportando-o, no todo ou
na sua maior parte, com verbas próprias ou com taxas que venham a criar novas
receitas, os encargos dos 29 dispensários e 2 maternidades rurais654. Acrescentava
ainda que, se é necessário estrutrar devidamente tudo o que à sua economia respeita
– economia que nasceu e vive sobretudo do complexo agricultura + emigração +
turismo – não é menos urgente tratar dos importantíssimos problemas de natureza
social e educacional que afectam toda a população da Madeira655.
A intervenção de Rui Manuel da Silva Vieira é datada de 10 de dezembro de
1965 e a (nova) preocupação aí manifesta, respeitante aos problemas de natureza
educacional, segue uma certa tendência registada no discurso dos deputados
do Funchal. Não se trata, porém, de uma viragem exclusiva dos representantes
insulares, uma vez que, como já destacaram vários autores656, depois da adesão
de Portugal à OECE/OCDE (nomeadamente após a definição do Projecto Regional
do Mediterrâneo, em 1962), a escola e o sistema de educação em Portugal
passarão a constar, com maior incidência, no discurso político do Estado Novo

648 Ibidem.
649 Ibidem.
650 AHP, Assembleia Nacional, IX Legislatura, Sessão de 10-12-1965, Diário n.º 5, p. 45.
651 Ibidem.
652 Ibidem.
653 Ibidem, p. 46.
654 Ibidem.
655 Ibidem.
656 CAMPOS, 2011, Novos rumos da educação […], p. 1; TEODORO, 2000, O fim do isolacionismo […], pp. 52 -54.

162
Junta Geral

e, por conseguinte, também na Assembleia Nacional. Isto, porque, à revelia de


alguma resistência ideológica dos setores mais conservadores, o regime começará,
gradual e moderadamente, a entender a educação (sobretudo científica e técnica)
como um fator determinante do desenvolvimento económico e social, na medida
em que fomentasse o crescimento do capital humano. Agostinho Cardoso e
Eleutério Aguiar, nesses anos, serão os deputados da Madeira que, junto dos
seus pares e Governo, reivindicarão alterações e melhorias no ensino ministrado
no arquipélago, sem que isso, porém, significasse qualquer tipo de propósito
diferenciador relativamente à educação nacional desenvolvida na metrópole e
extensiva ao Ultramar. Aliás, é de notar que, embora intervindo frequentemente,
na Assembleia Nacional, sobre os sistemas educacional e cultural portugueses,
a educação e a cultura não serão temas que ocupem, com especial cuidado, os
deputados do Funchal, quando, naquela Câmara, debatem a situação particular
da Madeira ou reivindicam medidas específicas que solucionassem os problemas
locais por si detetados nas ilhas. Apesar disso, em abril de 1965, Agostinho
Cardoso, na sequência de uma das suas intervenções sobre a situação do ensino
em Portugal (num inusitado registo de crítica contundente relativamente às
políticas educacionais seguidas até então657), apresenta, na Assembleia Nacional,
duas reivindicações insulares, inspiradas, certamente, pelo Projecto Regional do
Mediterrâneo que o deputado chega a citar658. Em primeiro lugar, destacando
a campanha contra o analfabetismo, em curso no país, e demonstrando estar
consciente do clima de explosão educacional vivido no Portugal de então,
Agostinho Cardoso solicitará ao governo, a urgente construção, no arquipélago, de
mais edifícios escolares659. Na sua perspetiva, seria necessário que esses trabalhos
fossem suportados pelo Ministério das Obras Públicas, dado que a concretização do
novo plano do ensino primário estaria colocada em risco, se o custo do alargamento
do parque escolar dependesse apenas das limitadas possibilidades das Câmaras
municipais das ilhas660. Depois, dando conta de um estudo prévio já realizado pelas
entidades locais do arquipélago, solicitará a criação, no Funchal, de um esboço de
Estudos Universitários, a desenvolver pouco a pouco, consoante a experiência o
for aconselhando661. Para fundamentar esta sua reivindicação, Agostinho Cardoso
exporá cinco argumentos: o crescente número de alunos madeirenses que - a custos
bem mais elevados do que os alunos continentais e sem qualquer tipo de apoios
ou de discriminação positiva idênticos aos concedidos a estudantes ultramarinos
- eram forçados a migrar para a metrópole, para aí realizarem a sua formação
académica, com todos os perigos de ordem moral que numa grande cidade, longe
do ambiente familiar, correm jovens dos dois sexos662; a orientação inevitável das

657 A série de anomalias e absurdos que ao longo dos anos se criou em volta do professorado de ensino secundário e técnico,
com reflexos cada vez mais graves sobre as condições e resultados do ensino, parece-me que aconselhava um conjunto
de medidas de saneamento da situação que preceda a completa reforma geral destes sectores […]é de pedir-se […] um
aumento substancial de dotações orçamentais orientadas nesse sentido. Só assim será possível melhoria de remunerações,
aumento do quadro dos professores efectivos, […] abertura de estágios em certos grupos, hoje fechados, no ensino técnico
– AHP, VIII Legislatura, Sessão de 23-04-1965, Diário n.º 203, p. 4851.
658 AHP, VIII Legislatura, Sessão de 23-04-1965, Diário n.º 203, p. 4852. A respeito do Plano Regional do Mediterrâneo
e da sua implicação nas políticas educacionais adotadas (ou não) pelo Estado Novo, ver TEODORO, 2000, O fim do
isolacionismo […], pp. 48-54.
659 Ibidem, p. 4853.
660 Ibidem, p. 4853.
661 Ibidem.
662 Ibidem. Em 1971, Agostinho Cardoso voltará a chamar a atenção para as desigualdades de situação entre a juventude

163
Junta Geral

políticas de educação nacionais para a descentralização663, seguindo o novo rumo


imposto a Portugal, externamente, pelos acordos internacionais assinados pelo
Estado Novo, no âmbito dos planos de desenvolvimento económico promovidos
pela OEDE/OCDE; a existência de duas universidades em Canárias, ilhas que, pela
proximidade e concorrência geo-económica, podiam ser tidas como referências
para a Madeira; a recente criação de “Estudos Universitários” em duas províncias
ultramarinas portuguesas, num processo de descentralização do ensino superior
que, em seu entender, deveria ser alargado a outros territórios portugueses; a
necessidade de, na Madeira, se recrutar pessoal docente para outros níveis de
ensino, uma situação que seria favorecida, caso a aspiração do arquipélago a ter um
curso superior fosse aceite pelo Governo, adotando, na ilha, um modelo de ensino
médio ou superior que, segundo Agostinho Cardoso, já fora aí posto em prática
com resultados benéficos (quer para o arquipélago, quer para o todo nacional),
nos casos da Academia de Música e de Belas-Artes da Madeira e da extinta
Escola Médica do Funchal664. Perante todos estes dados, o deputado madeirense
apelava, então, para que no Orçamento Geral do Estado para 1966 pudessem ser
substancialmente aumentadas as dotações do Ministério da Educação Nacional, de
modo que este pudesse responder, satisfatoriamente, à aspiração madeirense665.
E concluindo com a paráfrase das palavras do próprio ministro que tutelava o
ensino, afirmava que há reparações urgentes a efectuar no actual funcionamento
de diversos sectores da educação nacional que não podem aguardar as reformas
de conjunto, sob pena de comprometer-se gravemente o futuro666. Será, pois,
com moderado regozijo que, em janeiro de 1973, Agostinho Cardoso agradece
ao Governo a atribuição ao Funchal de uma Escola Normal Superior, sendo,
neste agradecimento, acompanhado por Eleutério de Aguiar, que lembrará ainda
ser essa uma medida que veio decididamente ao encontro de velha e legítima
aspiração da comunidade que ambos ali representavam667. Porém, reconhecendo
que a mais-valia da criação dessa escola, destinada a formar professores para
o ensino básico, e em especial para os quatro anos de ensino secundário nele
incluídos, era incontestável, por dar resposta à procura de professores para esse
ensino, no contexto da explosão escolar madeirense, Agostinho Cardoso não
deixará de insistir na necessidade de, a médio prazo, dotar o arquipélago quer de
uma Universidade descentralizada – paralelamente ao que existe em Angola, com
sede em Lisboa e valências diversas de cursos de Letras ou Ciências disseminadas
para outros distritos, quer (neste caso, a mais breve trecho) de uma instituição de
ensino médio superior, isto é, um Instituto Politécnico668.
O argumento maior agora apontado era o direito constitucional de todos os
cidadãos deverem ter acesso aos vários graus de ensino e aos bens da cultura, sem

das grandes cidades do continente e a das aldeias ou vilas distantes, sobretudo a das ilhas dos arquipélagos metropolitanos
dos Açores e da Madeira – AHP, X Legislatura, Sessão de 13-01-1971, Diário n.º 65, p. 1326.
663 Ibidem.
664 Ibidem.
665 Ibidem.
666 Ibidem.
667 AHP, X Legislatura, Sessão de 24-01-1973, Diário n.º 215, p. 4275 e p. 4276.
668 Ibidem, p. 4275.

164
Junta Geral

outra distinção que não [fosse] a resultante da capacidade dos méritos669. Ora,
segundo Agostinho Cardoso, a distância e a insularidade da Madeira relativamente
aos centros académicos metropolitanos, quando não compensadas de alguma
forma, punham em causa esse direito dos cidadãos portugueses habitantes nas
Ilhas Adjacentes670. E como notava também Eleutério de Aguiar, a criação de um
“Instituto Politécnico” (previsto, segundo esclarecimento seu, para 1974) e da
“Escola Normal Superior”, a acrescentar à Academia de Música e de Belas-Artes da
Madeira, eram decisivos para o progresso económico e social do arquipélago, uma
região ainda em vias de desenvolvimento671.
Já anteriormente apontámos o modo como, durante o Estado Novo, os
deputados eleitos pelo Funchal equacionaram o problema da autonomia
administrativa. Importa agora salientar que no discurso desses representantes
da Madeira não se regista, com notória evidência, a reivindicação de um sistema
cultural autónomo ou diferenciado, relativamente ao sistema nacional legitimado
e permitido pelo Estado Novo. Registando-se algumas modalizações que, em
estudo mais aprofundado do que aquele por nós aqui desenvolvido, merecem
ser analisadas, quer do ponto de vista diacrónico, quer tendo em consideração
o pensamento e ação políticos de cada um dos deputados, os representantes do
arquipélago terão sempre o cuidado de assegurar que as suas reivindicações para
a Madeira e Porto Santo não pretendem pôr em causa a unidade da Nação e uma
completa integração do arquipélago (e das suas pretensões) no todo metropolitano
e no projeto político que o Estado Novo pretendia para o país e para o império. Aliás,
nos primeiros anos do regime (e aqui não devemos esquecer o contexto político da
época), encontram-se mesmo intervenções em que é evidente a preocupação de
atenuar a potencial intencionalidade regionalista das propostas ou reivindicações
apresentadas pelos deputados madeirenses. Lembremos, a título ilustrativo, as
palavras de Álvaro Favilla Vieira, a respeito do seu pedido de alargamento do
plano de reflorestação nacional às Ilhas Adjacentes: Não desejo, evidentemente,
perante um plano de carácter nacional, levantar questões de mero interesse local
que, de uma forma ou de outra, possam comprometer os objectivos da proposta.
Não ignoro nem deixo de sentir vivamente que os interesses regionais se colocam,
por força das circunstâncias e da ordem natural das coisas, em lugar secundário,
subordinados à hierarquia dos interesses nacionais (…). Ninguém, afigura-se-me,
pode tomar à conta de impertinência o facto de, uma vez ou outra, se chamar
a atenção do País para as ilhas adjacentes, onde cerca de 470.000 portugueses
recordam e documentam a nossa epopeia marítima e afirma e garantem a
soberania nacional672.
É certo que, muito pontualmente, se encontram comentários que assinalam
uma diferenciação cultural detetável entre a Madeira e o todo homogéneo que
o Estado Novo considerava ser a Nação. Desta rara perspetiva, são exemplo as
palavras do deputado continental Sebastião Ramires, em março de 1940: tenho
para mim como um axioma que o governo vai, mais uma vez, olhar com carinho

669 Ibidem.
670 Ibidem.
671 Ibidem, p. 4276.
672 AHP, I Legislatura, Sessão de 26-04-1938, Diário n.º 190, p. 775.

165
Junta Geral

para a Madeira e, mais uma vez, encontrará as melhores soluções que adentro do
condicionalismo actual sejam possíveis, porque não podemos esquecer - o Governo
e todos nós – que a Madeira, apesar do contacto permanente com povos de outras
civilizações e de outras línguas, mantém bem viva a sua fé patriótica e o seu amor
à Pátria673.
Contudo, notas como estas são verdadeiras exceções, sendo dominante
o discurso contrário, que, como já demonstrámos, procurará, inclusivamente,
inscrever a Madeira no destino providencial que a historiografia do Estado Novo
atribuía a Portugal.
É, portanto, neste quadro de valores, que devem ser inseridas as intervenções
dos deputados eleitos pelo Funchal que ora exaltam figuras madeirenses que
contribuíram para a empresa dos Descobrimentos ou para a construção do Império,
ora destacam a relevância da visita de figuras do Estado português à Madeira, por
se tratarem, em seu entender, de encontros promotores da coesão nacional674. Será
também, porventura, nesse mesmo quadro ideológico que deverão ser entendidos
muitos dos silêncios desses mesmos deputados quanto à (não) reivindicação quer
de valores culturais próprios, quer de criação de instituições culturais específicas
e autónomas.

673 AHP, II Legislatura, Sessão de 01-03-1940, Diário n.º 83, p. 362.


674 Veja-se Anexo Documental: Biografias.

166
Junta Geral

A ATIVIDADE DA JUNTA E COMISSÃO EXECUTIVA.

A forma mais adequada de entender a atividade de uma instituição é


acompanhar a leitura das suas atas, decorrentes das reuniões estabelecidas
estatutáriamente. No caso da Junta Geral, estão disponiveis, através dos seus
livros próprios, como em muitas situações eram publicadas na imprensa da época
e, depois, a partir de 1955, também divulgadas no boletim editado pela mesma
Junta.
Tudo ou quase tudo que corresponde a esta instituição e às preocupações
dos seus dirigentes está documentado em ata. Desta forma, esta tipologia de
documentação torna-se importante, na hora de fazer a História destas instituições.
Foi isso que pretendemos, ao recompilar as atas que conseguimos reunir em anexo
a este volume e a função primordial do presente capítulo.

167
Junta Geral

1837-1895
A JUNTA GERAL NA REGENERAÇÃO

Em maio de 1851, o marechal-duque de Saldanha, através de um golpe de


Estado, instaurou uma nova etapa politica em Portugal, designada por Regeneração.
O movimento revolucionário pretendia unir as diversas facções do Liberalismo e
conciliar os interesses da alta burguesia com os das camadas rurais e da pequena
e média burguesia. Em 1852, o Acto Adicional à Carta Constitucional de 1826
alargava o sufrágio e estabelecia eleições diretas para a Câmara dos Deputados,
assegurando-se, assim, o rotativismo partidário e as reformas económicas
necessárias. O grande obreiro da Regeneração foi Fontes Pereira de Melo que,
aproveitando-se das fraquezas de Saldanha, toma o poder e empreende uma
política de fomento económico e social, encetando a construção de obras públicas,
novos meios de comunicação e transporte, estradas, caminhos-de-ferro, carros
elétricos, pontes, portos, telégrafo e telefones, tentando recuperar o país do atraso
económico e tecnológico e criar um mercado à escala nacional, fazendo chegar os
produtos a zonas isoladas e estimulando o consumo, a modernização agrícola e
industrial, processo que só foi possível com recurso a capitais estrangeiros. Foi
durante a Regeneração que se redigiu um novo Código Civil, se aboliu a pena de
morte para crimes civis e se extinguiu a escravatura.
Esperava-se que a política de desenvolvimento da Regeneração levasse o país
a um progresso geral. Nos finais do século XIX, o automóvel e o carro elétrico
eram conhecidos dos portugueses. A política económica do fontismo assentou na
doutrina livre-cambista, expressa na pauta alfandegária de 1852 que visava uma
maior liberalização do comércio, com redução das tarifas aduaneiras, favorecendo
a exportação dos produtos portugueses como o vinho e a cortiça, além das
inovações introduzidas, arroteamentos, redução do pousio, abolição dos baldios
e dos pastos comuns, permitindo aumentar a superfície cultivada. Em relação à
indústria, os progressos foram diminutos, devido ao atraso que se registava em
Portugal face aos países europeus. No entanto, desenvolveram-se alguns setores
industriais como as conservas de peixe, cortiças, tabacos. Com a lenta difusão da
máquina a vapor no país, criaram-se algumas unidades industriais, sobretudo na
área dos têxteis.
Na Madeira, o desenvolvimento foi tardando, apesar das boas vontades
do Governo e dos seus representantes no Distrito. O centralismo do Terreiro do
Paço foi adiando a resolução das necessidades dos madeirenses. A Junta Geral
e os vários Governadores Civis bem se empenharam na sua resolução, mas em
vão. O dinheiro dos impostos arrecadados na Ilha iam para o cofre do Estado; o
pouco que ficava era quase insuficiente para manter o aparelho burocrático. Os
relatórios e as ronsultas obrigatórias que a Junta Geral dirigia ao Governo, após as
sessões da Comissão Administrativa, com reivindicações de necessidades básicas
dos madeirenses raramente eram tidas em conta pelos governos nacionais, nem
chegando, muitas vezes, resposta às suas preocupações. Os rendimentos da Junta
Geral eram demasiado parcos para resolver as necessidades mais urgentes dos
madeirenses. A contribuição para obras das estradas e o imposto sobre as estufas
de melhorar vinhos, eram os únicos rendimentos que constituiam a dotação da

168
Junta Geral

Junta Geral.
Não era por isso, no entanto, que os procuradores à Junta Geral do Distrito
esmoreciam no seu trabalho e na determinação de procurar resolver os problemas
do Distrito. Apesar das grandes dificuldades e dos escolhos que lhe surgiam com
frequência pelo caminho, a Junta Geral prosseguia no seu trabalho porque era
o órgão legal de nossos cidadãos, devemos tomar esta responsabilidade sem as
contemplações entorpecerem a defesa que aqueles esperam de nosso zelo e da
confiança que em nós depositam1. A 22-4-1854, propunha-se que se rogue ao
Governo de Sua Majestade que até o ano de 1860 não mande ele aplicar para
fora deste Distrito rendimento algum do cofre dele e que, pagas as suas despesas
ordinárias, se apliquem as sobras ao aproveitamento de águas e outras obras
públicas neste Distrito, enquanto durasse a calamitosa crise que atravessamos. O
vogal Dr. Perestrelo ia mais longe, propondo que, em vez de pedir ao Governo que
protelasse a arrecadação dos impostos, se lhe peça que, á imitação do Governo
espanhol na Galiza, no-la perdoe, enquanto continuasse a crise porque atravessava
o distrito. Todos os procuradores estavam preocupados com a grave crise que a
Madeira atravessava no início da Regeneração; o presidente da Junta constatava
que a miséria e a fome já fazem sentir seus horrores, os povos espavoridos e
aterrados só ambicionam embarcações que os levem ainda aos climas mais
insalubres, para não perecerem de cruel inanição. O próprio Governo solicita nas
nações estrangeiras subscrições filantrópicas à pró daquela mesma província
que, quando feliz, deu à mãe pátria milhões e hoje desgraçada, não só lamenta
que não tenha merecido o que o Governo de Espanha, de próximo, praticou com
a Galiza, em menos aflitivas circunstancias, mas nem ainda uma subscrição na
Corte!!... Será justo ou ainda humano que se exijam e ordenem execuções fiscais,
durante uma semelhante crise, por tributos e fintos que se devam?! Será justo ou
compatível com a boa razão e equidade que, quando o Governo solicita esmolas
para que lhe não pereça esta Província, faça distrair para outras aplicações, que
não sejam a bem dela, os dinheiros e rendimentos que ela produzir e que lhe são
tão necessários para objectos de sua própria salvação?
Para resolver a crise profunda por que passava o Distrito, a Junta Geral do
Funchal propunha ao Governo que autorizasse a contração de um empréstimo para
ajudar os agricultores a mudarem e a melhorarem as suas culturas e ainda para
resolver questões urgentes. Pedia, ainda, que não se cobrassem os fintos e outros
tributos em dívida, e que se suspendesse as execuções que tivessem começado
durante essa crise, porque seria uma barbaridade exigir executivamente dívidas
de quem privado de meios para matar a fome, estende a mão para pedir esmola.
Pediam, ainda, ao procuradores que os dinheiros das rendas deste Distrito não
sejam distraídas da província, mas aplicadas às necessidades dela – maxime para
represas de águas, tiragem de lavadas e obras de pública utilidade, socorro às
Câmaras que se não podem manter, nem acudir aos infelizes expostos e outras
urgências.
A 25-4-1854, o Presidente sustentou a sua proposta de empréstimo como
sendo de imediata necessidade para salvação da Província, dizendo esperar que o

1 Ata da Sessão de 25-4-1854.

169
Junta Geral

Governo atendesse àquele justo fim, fazendo pela Madeira o que já havia feito pelo
Alentejo, quando envolto numa crise não maior do que aquela por que passava
este distrito, solicitando que esse empréstimo fosse do Governo, sob hipoteca da
propriedade pública ou privada que quem beneficiasse com ele.
Em relação à cobrança dos fintos atrasados e das execuções fiscais, resolveu-
se não arrecadá-los, sem que fosse realizada a substituição dos vinhedos
afectados pelo oidium tuchery, (vulgo “mangra”) e que o seu pagamento se fizesse
voluntariamente, entrando-se com o pagamento do ano que então se vencer e
outro dos atrasados e que igualmente se pedisse a suspensão das execuções
fiscais por dívidas contraídas até o ano de 1852, visto que as posteriores já tinham
sido contraídas com conhecimento desse estado de crise e que para o pagamento
daquelas se tornasse extensivo o benefício da lei de 26 de novembro de 1846.
Na reunião de 27 de abril desse ano, continuou-se a discutir o empréstimo
e as suas garantias, tendo o Presidente proposto que esse empréstimo não fosse
inferior a seiscentos contos de réis. Na mesma reunião, o procurador Antas propôs
que se procedesse à substituição das vinhas devido à moléstia de que se acham
acometidas, pela cultura da cana-de-açúcar, por ser de maior confiança, apesar da
constatação de que as avultadas porções de mel, ou melaço, que se tem introduzido
ultimamente neste mercado, desencorajavam os agricultores. Proponha que o mel
ou melaço pagasse direitos de entrada, pelo menos, seiscentos réis por galão de
duas canadas e meia. Insistia ainda que o Governo deveria dar à cana-de-açúcar a
mesma proteção que dera à produção vinícola taxando a aguardente estrangeira.
A 4-7-1855, foram discutidas as providências indicadas na sessão ordinária
anterior e, por isso, a primeira que se apresentou foi a necessidade do governo
animar a nascente cultura da cana-de-açúcar, impondo uma contribuição sobre
todo o mel ou melaço estrangeiro importado na Madeira. A Junta resolveu
unanimemente instar por esta providência, com o argumento de que só subjeitando
a um direito o mel estrangeiro, se poderá evitar a concorrência, que traria á
moribunda Madeira a sua ultima e inevitavel ruina. Para facilitar a consecução
desta providência, resolveu conformar-se com a opinião do Governador Civil,
manifestada no ofício dirigido ao Ministro do Reino a 14 de abril de 1855, no qual
dizia que o imposto deveria ser de mil e duzentos réis por arroba.
Os vinhos acreditados nos diferentes mercados estrangeiros por elevado
preço constituiam o principal setor da produção agrícola madeirense. A invasão
do oidium tuchery, em 1852, quase fez desaparecer as vinhas. O desaparecimento
das vinhas deu lugar a novas culturas que se desenvolveram de forma muito
satisfatória. Mesmo assim, o Distrito continuou a sua decadência económica
porque os recursos encontrados não foram capazes de superar a perda da cultura
do vinho. Os mapas da exportação do vinho no longo período de 22 anos, entre
1828 e 1849, registam a quantia de 166.474 pipas, uma média de 7.567 por ano.
O agricultor vendia o vinho à média de 50.000 réis à pipa. Quem controlava este
negócio era o negociante inglês que, sendo o único comprador, monopolizava
os preços comprando ao preço que queria, realizando lucros fabulosos, mas o
lavrador ou o colono vivia miseravelmente.
Esta questão do vinho era tão importante para a Madeira que, a 30 de outubro

170
Junta Geral

de 1866, a Junta Geral faz uma consulta especial ao Governo, contestando a livre
entrada dos vinhos e aguardentes do território continental na Madeira e pedia
para que fosse terminado esse regime de excepção que os princípios da ciência
económica reprovam e que os factos se têm encarregado de demonstrar menos
vantajoso. A Madeira vivia essencialmente da produção do vinho e adaptar os
terrenos que o produziam, para outras culturas, custaria muito dinheiro ao Estado,
sem a certeza do seu sucesso, vendo o pequeno desenvolvimento que entre nós
têm as obras públicas, pelos poucos rendimentos do nosso cofre e pela dificuldade
de serem para ele enviadas da metrópole as somas de que carece e que ao cofre
central da nação cumpre satisfazer. Sendo assim, teria o vinho de continuar a ser
a nossa principal produção, tendo os preços ultimamente sido influenciados –
não só pelo diminuto das colheitas, mas pela falta de concorrência; tendo esta
de diminui-los e de um modo notável nos primeiros tempos, pelo menos; é certo
que deve resultar daqui, crise a que o Governo de Vossa Magestade nem pode,
nem deve ficar indiferente. A Junta pedia que o Governo abrisse o comércio do
vinho à concorrência porque via nela um meio de levar o nosso industrial vinícola
a produzir vinhos menos alcoolizados, mais em harmonia com o gosto da grande
maioria dos consumidores, mais baratos, mais vendáveis portanto. Esperamos que
a concorrencia forçando a produzir com mais economia, influa ainda no sistema de
cultura e o melhore; mas tememos uma transição demasiado rápida, assusta-nos
o desânimo dos que palpam os inconvenientes no presente, sem saber antever as
vantagens futuras e desejamos compensações, auxílio para os que têm que sofrer
e não pouco. Pedia ao Governo que adoptasse providências nesse sentido evitando
os inconvenientes de uma transição rápida, acreditando que a criação dum imposto
aduaneiro idêntico ao que os vinhos da Madeira pagavam em Lisboa seria o mais
conveniente, porque a Junta não desconhece que esta ideia não é rigorosamente
harmonica com as verdadeiras teorias económicas; mas vendo-a ainda em vigor
em tantos pontos do país, vendo-a decretada não há muito, e depois já de votada
a liberdade do comércio dos vinhos do Douro não hesita em aventa-la.
Outra consulta especial que foi levada a efeito pela Junta Geral ao Governo,
nesta mesma data, incidia sobre outra cultura importante para a vida económica
da Madeira, a cultura da cana-de-açúcar, que depois da terrível crise que devastou
grande parte dos vinhedos da Madeira no ano de 1852, começou a desenvolver-
se, tendo tomado um notável incremento, contribuindo para atenuar, até certo
ponto, os males que a invasão do oidium havia causado aos proprietarios da
Madeira. A Junta considerava indispensavel que essa cultura continuasse e que
se desenvolvesse, aproveitando-se para ela os terrenos mais abundantes em
águas e menos próprios para a vinha. Assim, conseguir-se-ia uma produção que
poderia animar o comércio externo, evitando a dependência dum único produto
de exportação. Constatava a Junta que grande parte do produto bruto da cana era
destinada ao fabrico de aguardente, quase toda consumida na Ilha. Acreditava que
este consumo haveria de baixar porque, com o aumento da produção vinícola e
com a introdução dos vinhos e aguardentes do território continental, ela perderia
o interesse económico que ainda tinha. A matéria-prima da cana teria de ser
transformada quase exclusivamente em açúcar, mas para que ela se tornasse
vantajosa seria necessário produzir melhor açúcar e de forma mais económica,
conseguindo-se aumentar a sua venda no mercado interno e alargar o seu consumo

171
Junta Geral

no continente, que deveria ser o seu principal mercado externo. Para consegui-lo,
a Junta considerava indispensavel que, pelo menos, montemos mais uma fábrica,
estabelecida em ponto grande e em que funcionem os aparelhos modernos mais
perfeitos. Neste empenho lida já uma associação de diferentes proprietários desta
terra – associação digna de sinceros elogios, mas as despesas a fazer são tão
consideráveis, os capitais na Madeira são tão caros e pouco especuladores, que a
associação terá de lutar com dificuldades porventura insuperáveis, se o Governo
não vier em seu auxílio.
Considerava ainda a Junta que esta consulta seria desnecessária, se o Governo
criasse as instituições de crédito a que a Madeira tinha direito e onde o proprietário
pudesse ter à sua disposição os capitais necessários à reconversão das suas culturas.
Lamentava o facto de elas não existirem, concluindo que o crédito, e só ele, poderá
libertar a terra ainda hoje escrava por efeito do contrato de colonia; só ele poderá
fornecer aos proprietários os meios para melhorar, desenvolver e variar as culturas;
só ele poderá habilita-los, para que se associem com o fim de exportarem os seus
vinhos sustentando-lhes aqui preço remunerados e acreditando-os nos mercados
estrangeiros.
Até 1852, a importação de cereais para consumo era entre nove e dez mil
moios de milho e cinco mil e quinhentos moios de trigo. Desde essa época, a
importação reduziu-se à média de aproximadamente quatro mil e quinhentos
moios de milho e de mil e quinhentos moios de trigo. Calculando o preço de cada
moio de trigo em quarenta mil réis e do milho em trinta mil réis, o que é inferior ao
que realmente se pagava, teremos aqui uma compensação de duzentos e setenta
contos de réis aproximadamente, o que reduz a pouco mais de cem contos o deficit
causado pela perda dos vinhos. Mas, mesmo com a introdução da nova cultura da
cana-de-açúcar e hortaliças, a decadência económica da Madeira é um facto que
se regista nos anos que se seguem. E há que contar ainda com antiquadas práticas
agrícolas, revelando o agricultor madeirense alguma aversão ao uso de processos
mais racionais, cujas vantagens a experiência confirmava.
Face a esta situação, a Junta pretendia difundir pelos agricultores os
conhecimentos agrónomicos que os habilitassem a produzir mais e melhor,
com menos custos, tendo pedido ainda do Governo, através do Ministério das
Obras Públicas, um subsídio para o estabelecimento de um campo de culturas
experimentais, destinado a auxiliar os diversos ramos da agricultura na Madeira.
A 5 de julho de 1858, a Câmara Municipal do Funchal, autorizada pela lei
de 29 de março de 1836, lançou, por acordão de 27 de maio do mesmo ano,
um imposto sobre os cereais importados, pagando os nacionais metade do que
pagavam os estrangeiros, criando assim uma boa fonte de receita para si e para as
outras câmaras do Distrito que recebiam uma quarta parte dela. A carta de lei de
26 de junho de 1850 isentou daquele imposto os cereais importados do continente
português, com o intuito de favorecer a indústria nacional. O resultado, porém,
não correspondeu ao pensamento dessa lei e veio tirar às câmaras o único recurso
de que podiam lançar mão, para fazerem face às muitas despesas obrigatórias a
que tinham de acudir e para se libertarem das enormes dívidas que sobre elas
pesavam. Em resultado do insucesso destas medidas, a Junta pediu ao Governo
a revogação da lei de 26 de junho de 1850 e que mantivesse em vigor a de 29 de
172
Junta Geral

março de 1836.
A 14 de julho desse ano, o procurador Francisco Leandro Severim mostrava a
necessidade de aplicar na entrada dos cereais nacionais metade da contribuição
municipal que pagavam os cereais estrangeiros, a fim de acudir à pobreza geral que
grassava no Distrito e ao atraso em que se encontravam as câmaras municipais.
A comissão encarregada de analisar esta proposta entendia, pelo contrario, que
seria difícil conseguir esse pedido por depender das Cortes, onde existiam muitos
interessados na cultura nacional e que essa redução da contribuição não só
afastaria os cereais estrangeiros como os nacionais, o que prejudicaria a população
madeirense, até porque quase todo o milho e trigo que se consumia vinha do
estrangeiro, apesar do imposto municipal e o lançamento do imposto, nos cereais
nacionais, afastaria o comércio dos Açores e portos do Reino, entregando o seu
monopólio aos negociantes da Barbaria e Mediterrâneo, sem proveito algum
do Distrito, nem dos cofres das câmaras, nem do povo. Entendia que de maior
proveito para os municípios e de muito maior interesse para a agricultura e
indústria madeirense seria substituir esta proposta pelo imposto para as câmaras
de 320 réis por arroba de açúcar estrangeiro, que se importasse na ilha, dando-se-
lhe a mesma aplicação e forma de arrecadação que se acha determinada para os
cereais na Lei de vinte e seis de Junho de mil oitocentos e cinquenta, artigo oitavo,
parágrafo primeiro. Este imposto aumentaria, assim, dez réis em arratel no preço
do consumo, protegendo a nova cultura da cana e as fábricas de açúcar, recaindo
menos sobre as classes pobres do que o imposto dos cereais.
Uma semana depois, a 22-07-1858, o procurador Jaime de França Neto via ser
discutida a sua proposta que pedia: 1º a isenção do dízimo da cana doce por três
anos e quando chegue a ser cobrado, que o seja na mesma cana; 2º que o direito
sobre o melaço estrangeiro continue por mais três anos; 3º que se eleve o direito
sobre o açúcar para proteger o seu fabrico e 4º que se promova o estabelecimento
de fábricas de açúcar nesta Ilha.
A comissão encarregada de analisar esta proposta discordou do primeiro
ponto, por entender que o imposto a que as canas-de-açúcar estavam obrigadas,
não era o do dízimo, mas sim o da vigéssima parte do seu produto, a que ficara
reduzido pelo decreto de 5 de janeiro de 1837 e parecia à Comissão que, no
estado em que se encontrava essa cultura, não se podia considerar excessivo, se
se conseguirem as outras medidas proteectoras que cumpria reclamar, oferecendo
esta cultura já uma fonte de receita considerável para o Estado. Concorda porém
a comissão com as razões apresentadas para que esse imposto fosse cobrado na
mesma cana, na ocasião em que ela era apanhada como se praticava na divisão
entre o senhorio e o colono.
Face às grandes dificuldades económicas da Madeira e às crises cíclicas de
subsistência, a 6 de agosto de 1868, o procurador Diogo de Ornelas defendia que se
pedisse ao Governo a continuação do imposto sobre o mel estrangeiro importado
na Madeira, considerando que a livre entrada do mel e a baixa dos direitos sobre o
açúcar estrangeiro importado, seriam a completa ruína da então principal cultura,
a da cana-de-açúcar, da qual vinha a maior receita fundamental para acudir às
necessidades económicas dos madeirenses.

173
Junta Geral

A 06-11-1869, discutiu-se e votou-se, aprovando-se o preço dos diferentes


géneros de acordo com a base adoptada pela Junta Geral para a distribuição do
contingente da contribuição, sendo estes valores os seguintes: 600 réis por cada
alqueire de trigo nos Concelhos de Machico, Santana e São Vicente; 700 réis por
cada alqueire do mesmo género nos outros Concelhos; 400 réis por alqueire de
milho nos mesmos três concelhos; 450 réis nos demais concelhos; 500 réis por
alqueire de centeio em todos os concelhos; 350 réis por alqueire de cevada; 250
réis por alqueire de aveia; 500 réis por alqueire de feijão e lentilha; 300 réis por
alqueire de tremoço; 400 réis por alqueire de fava; 800 réis por alqueire de grão-
de-bico; chicharos 300 réis; ervilha 700 réis; batata 120 réis por alqueire; inhame
150 réis; vinho 6.000 réis por barril no concelho de Câmara de Lobos; 5.000 réis
no concelho do Funchal; 4.500 réis no concelho do Porto do Moniz; 4.000 réis nos
concelhos de Santana, Machico, Santa Cruz e Ponta do Sol; 5.000 réis no concelho
da Calheta; 3.600 réis no de São Vicente e 3.500 réis no do Porto Santo.
A 07-03-1873, foi discutida a proposta do procurador Camacho e Almeida
pedindo a modificação do artigo 13º da carta de lei de 13 de maio de 1864, com
exceção do distrito do Funchal, da quota adicional sobre as contribuições diretas
lançadas como compensação da diferença para menos, entre os rendimentos
dos direitos da importação do tabaco. A 10-03-1874, foi discutido o regulamento
para a execução da lei de 13 de maio de 1862, sobre o imposto do sal, tendo a
comissão encarregada de o estudar e dar parecer declarado que o regulamento de
11 de fevereiro de 1873, para execução da lei de 13 maio de 1872, no distrito do
Funchal, tinha sido mandado reformar. O Governador Civil do Funchal apresentou
um projeto, constante do seu relatório, tendo a comissão elaborado um outro
projeto que tentava harmonizar as disposições do regulamento com as citadas leis
e portaria, que foi aprovado na reunião seguinte de 11-03-18742.
2 Artigo primeiro. O produto dos impostos indirectos sobre o sal e liquidos importados nesta ilha pela alfândega do
Funchal, autorizados na lei de 13 de Maio de 1872, será mensalmente entregue á Câmara Municipal do Funchal,
que dele fará conveniente repartição pelas outras Câmaras do distrito, guardada a proporção, quanto ao sal,
entre o quantitativo do imposto e a população de cada concelho, e, quanto aos líquidos, a que está estabelecida e
regulada, para os cereais e vinhos de Portugal, no parágrafo primeiro do artigo oitavo da lei de 26 de Junho de 1850.
Parágrafo único. A base acima indicada para a distribuição do imposto sobre o sal subsistirá unicamente enquanto
existir o acordo, tomado pelas câmaras municipais, de ser uniforme em todos os concelhos o lançamento que tributa
o dito género e no caso que tal acordo cesse, em parte ou no todo, receberão então as câmaras municipais que dele
se afastem, directamente da alfândega o produto de tais impostos com respeito ao dito género que for despachado
para consumo no concelho. Artigo segundo: Para a execução do que fica prescrito no artigo antecedente, devem
as câmaras municipais do distrito, logo que pelo tribunal competente sejam aprovados os seus orçamentos anuais
de receita e despesa, remeter ao director da mencionada alfândega por intermédio do Governo Civil uma nota da
qual conste a data daquela aprovação, quais os géneros tributados e quantitativo do imposto. Artigo terceiro. Igual
nota remeterão pela mesma ocasião e pelo mesmo modo as referidas câmaras à do Funchal. Esta nota e o mapa da
população de cada concelho, que será fornecido pelo Governo Civil, servirão de base à divisão do imposto sobre o
sal. Artigo quarto. A câmara municipal do concelho do Funchal participará às dos concelhos rurais, até o dia vinte
e cinco de cada mês, qual foi a totalidade do imposto recebido no mês anterior e qual a nota que nesse mês coube
em partilha a cada uma delas na importância dos referidos impostos. Parágrafo primeiro. As mesmas Câmaras
rurais, logo que recebam a supra dita participação, poderão mandar receber sua quota, guardadas as formalidades
da escrituração e contabilidade municipal. Parágrafo segundo. As reclamações, que se suscitarem sobre qualquer
irregularidade na distribuição aludida, serão resolvidas pela forma estabelecida na legislação vigente para os casos
da competência do contencioso administrativo. Artigo quinto. A despesa que a câmara municipal do concelho do
Funchal fizer com o material, como livros, papel et cætera para a execução do presente regulamento, sairá do total
importe dos impostos, a que este mesmo regulamento respeita. Artigo sexto. O exportador por grosso de quaisquer
géneros tributados pelas câmaras municipais deste distrito, para, nos termos do artigo quarto da citada lei de 13
de Maio, solicitar e haver da câmara municipal do Funchal a restituição dos impostos respectivos aos géneros por
ele exportados, deverá apresentar à mesma câmara documento passado naquela alfândega, no qual se especifique:
Primeiro a qualidade e quantidade dos géneros pelo exportador submetidos a despacho para exportação; Segundo
– a importância do imposto que tais géneros pagaram quando importados: Terceiro – Que efectivamente foram
exportados esses géneros. Parágrafo primeiro. Havendo mais de uma restituição a fazer, serão graduadas pela data
da apresentação do documento de que este artigo trata. Parágrafo segundo. Por motivo algum, salvo falta de dinheiro
em caixa, poderá a câmara municipal do Funchal deixar de fazer pronto pagamento às restituições de que trata o

174
Junta Geral

Outra grande necessidade da agricultura era a arborização das serras, outrora


tão ricas de vegetação e agora completamente escalvadas e desertas também
face aos fogos que se tinham desenvolvido. Para resolver este problema, a Junta
propunha a elaboração de legislação repressiva para os cortes de árvores, mais
meios de fiscalização sobre os proprietários e criadores de gado que, olhando
apenas para os seus interesses pessoais, tinham contribuído para a devastação dos
arvoredos da Ilha. Toda esta devastação levava à alteração do clima, que sempre
fora uma das grandes riquezas da ilha, à diminuição das águas tão necessárias à
agricultura e à degradação do solo das montanhas.
A indústria fabril neste distrito era de pouca importância. Para além de algumas
fábricas ou engenhos de aguardente, havia apenas três fábricas de fazer açúcar. A
Junta achava conveniente que estas últimas se multiplicassem e espalhassem pela
Ilha de modo que o proprietário não se visse obrigado a reduzir à fabricação de
aguardente toda a garapa que colhia. Mas mesmo com o apoio do Governo, que
concedera um empréstimo em 1858 para o estabelecimento de novas fábricas,
ninguém se havia aproveitado dessa benesse.
O comércio também não se desenvolvia porque faltavam as vias de
comunicação por onde os agricultores pudessem divulgar os seus produtos.
Uma das funções da Junta Geral do Distrito, em cumprimento do artigo 4º
do decreto com força de lei de 31 de dezembro de 1852 e, em conformidade com
o disposto no capítulo 4º das Instrucções Regulamentares para a repartição da
contribuição predial, nos artigos 63 e 64, aprovadas pelo decreto de 7 de agosto
de 1860, era distribuir o contingente da cobrança da contribuição predial pelos
concelhos, de forma equitativa, conforme a sua produção económica. Todos os
anos, a Junta nomeava uma comissão especial de procuradores que tinham a
seu cargo fazer essa distribuição, tendo normalmente como referência as notas
da repartição da Fazenda, da cobrança dos dízimos, do rendimento coletável das
matrizes, do rendimento dos prédios urbanos, do rendimento bruto coletável
da espécie de cultura mais geralmente adoptado em cada um dos concelhos,
normalmente a cana-de-açúcar e da distribuição feita pelas matrizes do contingente
predial dos anos anteriores. No entanto, esta era uma base imperfeita devido
às irregularidades e imperfeições que apresentavam os documentos referidos.
Por isso, todos os anos era necessário ajustar e adaptar as bases por onde se
estipulavam esses rendimentos.

parágrafo antecedente. Parágrafo terceiro. As quantias restituidas serão deduzidas da soma total do produto dos
impostos que estiverem ou vierem a estar em depósito no cofre da câmara do Funchal, antes de se proceder à divisão
mensal pelas outras câmaras do distrito. Artigo sétimo. Para os efeitos do artigo antecedente, serão consideradas
medidas de grosso como o mínimo para a exportação, para o sal, a de doze mil e trezentos litros; para a cerveja, a
de trezentos litros, para o cognhac e rum, a de cem litros; para a genébra, a de duzentos e oitenta e nove litros; para
o champanhe, a de noventa e seis litros; para os demais vinhos estrangeiros, a de duzentos litros; para aguardente,
a de trezentos e oitenta e nove litros; para o mel e melaço, a de seis centos quilogramas. Parágrafo único. Quando
de futuro as câmaras municipais tributarem os demais liquidos importados pela alfândega do Funchal, será tambem
considerada como o mínimo da medida por grosso (nos termos acima expostos), para o azeite comum e purificado, a de
seis centos quilogrammas; para a água-raz, a de cem quilogrammas; para o alcatrão e coltart, a de cem quilogramas;
para o petróleo, a de duzentos e cinquenta quilogramas; para o óleo de linhaça, a de seis centos quilogrammas; para
os óleos fixos não especificados, a de trezentos quilogramas; para o vinagre, a de trezentos e oitenta e nove litros;
para os licores, a de noventa e seis litros; para whisky, a de trezentos e oitenta e nove litros; para o verniz, a de cem
quilogramas. Artigo oitavo. As câmaras municipais poderão, quanto aos impostos indirectos de que trata a lei de 13
de Maio de 1872, empregar todos os meios de fiscalização que as suas posturas estatuem ou venham a estatuir para
a fiscalização das contribuições municipais. Artigo nono. O presente regulamento, feito em observância do disposto
no artigo quinto da lei de 13 de Maio de 1872, será, depois de públicado, destribuido às auctoridades e corporações
a que competir, para a inteira e fiel execução das disposições que no mesmo se contêm.

175
Junta Geral

A 16 de março de 1865, a comissão encarregada de estudar o contingente da


contribuição predial, que, por Decreto de 9 de fevereiro desse ano, foi fixado para
este Distrito, tendo examinado o relatório do Governador Civil e os documentos
que o acompanhavam, verificou que as contribuições extintas e que agora eram
substituídas pela contribuição predial, tinham produzido nos anos de 1860, 1861
e 1862, a seguinte importância média: os dízimos vinte e um contos quarenta e
quatro mil quatrocentos noventa e quatro réis; o finto, três contos novecentos
trinta e seis mil setecentos trinta e quatro réis e o subsídio literário cento e seis
mil trezentos noventa e um réis, num total de vinte e cinco contos oitenta e sete
mil seiscentos e dezanove réis. A soma dos rendimentos coletáveis dos diversos
concelhos foi de quatrocentos oitenta e dois contos novecentos noventa e três mil
seiscentos oitenta e dois réis, tendo sido de trinta e oito contos seiscentos trinta e
nove mil e quinhentos réis, a soma do contingente da contribuição predial, relativo
ao ano de 1863.
Analisando os contingentes com que cada um dos Concelhos concorria para
a soma das contribuições extintas, concluía que o Funchal contribuía com a quota
de dois contos novecentos e cinco mil oitocentos e sessenta réis e os outros
concelhos, com um total de vinte e dois contos cento oitenta e um mil setecentos
cinquenta e nove réis. A maior parte e a que mais onerava a propriedade era a
dos dízimos que, nos três anos referidos, produziu a média de vinte e um contos
quarenta e quatro mil quatrocentos noventa e quatro réis. Como a contribuição
dos dízimos era paga na razão das produções agrícolas, os dízimos apareciam
quase que exclusivamente pagos pelos concelhos rurais. O concelho do Funchal,
composto na sua grande parte por prédios urbanos e produções que não pagavam
dízimo, a sua contribuição era quase ridícula, tendo contribuído para o pagamento
dos dízimos nos referidos anos com a importância de um conto seiscentos vinte e
nove mil e tres réis.
Por aqui se vê a injustiça da tomada por base para a repartição: em relação
aos concelhos rurais, a média das contribuições extintas nos três anos anteriores,
a quota que lhes deveria ser votada, seria igual à importância dessa média, ou
vinte e dois contos cento oitenta e um mil setecentos cinquenta e nove réis. Como
o contingente da contribuição predial fixado no Distrito foi de trinta e oito contos
seiscentos trinta e nove mil e quinhentos réis, os concelhos rurais pagaram vinte e
dois contos cento oitenta e um mil setecentos cinquenta e nove réis. A diferença
entre esta e a importância do contigente fixado ao Distrito era de dezasseis contos
quatrocentos cinquenta e sete mil setecentos quarenta e um réis, que é a quota
que deveria caber ao concelho do Funchal, quota aproximadamente igual à de oito
por cento sobre a importância de duzentos e quatro contos setecentos vinte e oito
mil e oitenta e oito réis, rendimento coletável desse concelho.
A comissão chamava a atenção da Junta para que tivesse o cuidado, aquando
da atribuição das quotas aos concelhos rurais ter em consideração que, nesses
concelhos, existem produtos agrícolas em maior ou menor escala que estavam
isentos dos dízimos como a cana sacarina, o inhame e a batata entre outros, sendo
quase o seu maior rendimento, não aparecendo, porém, nas estatísticas e, por
isso mesmo, a Junta teria que aproveitar os dados das matrizes prediais, porque
nestas, as avaliações efetuadas consideravam todas as produções sujeitas e não

176
Junta Geral

sujeitas às contribuições.
Para superar todos estes problemas, a comissão entendia que a base que
deveria fundamentar a repartição do contingente pelos concelhos do Distrito
deveria ser a soma do rendimento coletável dos mesmos concelhos, porque as
matrizes eram, de uma forma aproximada, a expressão das verdadeiras condições
em que os diversos concelhos estavam uns para com os outros.
Apresentados estes fundamentos, a comissão propôs a aprovação do projeto
para a repartição pelos concelhos do Distrito, na proporção de oito porcento sobre
o seu rendimento coletável, de acordo com o decreto de 9 de fevereiro desse ano.
A comissão apresentou, em seguida, o mapa das quotas que cabia a cada um dos
concelhos do Distrito no contigente da contribuição predial, fixado pelo referido
decreto:
Distribuição da contribuição predial (em réis)

Concelhos Montante
Funchal 16.378$250
Câmara de Lobos 2.217$630
Ponta do Sol 3.175$260
Calheta 3.078$200
Porto do Moniz 2.066$340
São Vicente 2.424$740
Santana 2.682$209
Machico 2.617$060
Santa Cruz 2.678$820
Porto Santo 1.320$900
Total 38.639$500

Posto à discussão na reunião do dia 20 desse mês, o Dr. Manuel José


Vieira propôs um aditamento, no sentido de indicar ao Governo que a base de
repartição das contribuições tomada pela comissão apenas tivera em conta
os dados estatísticos fornecidos pelas matrizes, por falta de outros dados que
garantissem credibilidade. Pedia, por isso, à autoridade administrativa que, nos
futuros trabalhos de matrizes, procurasse que a distribuição do contingente da
contribuição predial fosse feita com igualdade entre todos os concelhos. Após este
aditamento, o projeto foi aprovado por unanimidade.
No ano seguinte, a Junta debatia-se com o mesmo problema da falta de
credibilidade das matrizes, mas era obrigada a reconhecer que a fiabilidade dos
dados estatísticos das antigas contribuições e, designadamente, a dos dízimos era
muito menos garantida e muito mais duvidosa do que a das matrizes. A comissão

177
Junta Geral

era de parecer que a única base possível e adotável era a da soma coletável das
matrizes dos diversos concelhos, que fora de trinta e oito contos quinhentos vinte
e nove mil setecentos e sessenta réis, com relação aos anos de 1864 e 1865,
constante do seguinte mapa:

Contribuição predial em 1864 e 1865 (em réis)


Concelhos Montante
Funchal 16.361$375
Câmara de Lobos 2.217$300
Ponta do Sol 3.180$820
Calheta 3.079$640
Porto do Moniz 2.052$740
São Vicente 2.424$725
Santana 2.682$930
Machico 2.627$150
Santa Cruz 6$960
Porto Santo 1.336$120
No ano seguinte, foi utilizada a mesma fórmula. Em 1868, a 22 de agosto,
a comissão encarregada da distribuição do contingente da contribuição predial,
decidiu que a forma que garantia maior justiça na distribuição da derrama seria que
cada concelho pagasse segundo seus haveres e riquezas, entendendo não tomar
por base apenas as matrizes. Além da disparidade e das imperfeições das matrizes,
as que que existiam tinham sido feitas em 1863 e estavam desatulizadas porque,
nos anos seguintes, a cultura dos diversos concelhos rurais mudara, notando-se
em alguns deles considerável aumento de riqueza. Face a estas considerações, esta
comissão entendeu dever procurar outras bases nos diversos dados estatísticos nos
quais pudesse obter um resultado mais próximo da realidade. Cada um dos três
vogais tomou por base matéria diversa como a população, a produção e a matriz
predial. Do trabalho baseado nas duas primeiras premissas, deu os resultados
apresentados no quadro que segue:

Proposta de distribuição da contribuição predial (em réis)


Concelhos Produção/População Montante Média
Funchal Pela produção 11. 547$477
10.833$731 ½
Pela população 10.119$985
Santa Cruz Pela produção 1.469$547
2.295$064 ½
Pela população 3.120$581
Machico Pela produção 3,029,565
3.022$883 ½
Pela população 3.016$201
Santana Pela produção 2.949$475
2.946$ ½
Pela população 2,942,891

178
Junta Geral

São Vicente Pela produção 2.091$317


2.361$ ½
Pela população 2.631$147
Porto Moniz Pela produção 4.653$839
3.344$ ½
Pela população 2,034,539
Calheta Pela produção 4,068,945
4.197$
Pela população 4,326,015
Ponta do Sol Pela produção 3,158,458
4.285$ ½
Pela população 5,413,453
Câmara de Lobos Pela produção 4,280,298
4.383$972 ½
Pela população 4,487,647
Porto Santo Pela produção 1,390,579
968$81
Pela população 547,04
Total 38.639$500
O vogal Dr. Álvaro Rodrigues de Azevedo não concordou com esta proposta
e apresentou outra, baseada na matriz predial que, segundo ele, era mais justa,
porque tinha por segurança a autenticidade oficial; (…) a regularidade no processo
e, portanto, a presunção de acerto como facto e força de verdade legal; (…) que
isto se conforma com o actual sistema tributário e é a acção regular dos meios
legais; (…) que a matriz respectiva e o contingente da contribuição predial que esta
Junta tem de distribuir pelos concelhos deste distrito para o ano de mil oitocentos
sessenta e oito, são os mesmos dos últimos anos anteriores, tendo a distribuição
quanto a estes sido feita pela aludida matriz, como base. Por todas estas razões,
este procurador era de parecer que a distribuição do contingente da contribuição
predial para o ano de 1868 fosse a mesma que foi feita para os dois anos anos
anteriores.
A Junta adiou a discussão destas duas propostas para a reunião do dia 26 desse
mês, tendo decidido, por maioria, que distribuição do contingente da contribuição
predial para o ano de 1868 fosse feita de acordo com a proposta do procurador
Álvaro Rodrigues de Azevedo, baseada na matriz predial, ficando assim distribuída:

Proposta de distribuição da contribuição predial para 1868 (em réis)

Concelhos Montante
Funchal 16.378$250
Câmara de Lobos 2.217$630
Ponta do Sol 3.175$260
Calheta 3.078$200
Porto do Moniz 2.066$340
São Vicente 2.424$740
Santana 2.682$290
Machico 2.617$070

179
Junta Geral

Santa Cruz 2.678$820


Porto Santo 1.320$009
Total 38.639$500
No ano seguinte, a 10 de novembro, o vogal Antas de Almeida apresentou
o resultado dos cálculos que assentavam sobre a base da distribuição adotada
pela Junta, segundo a média da produção pelos mapas estatísticos de 1865, 1866
e 1867, sobre a produção da cana-de-açúcar e do rendimento da propriedade
urbana extraída das matrizes, declarando que estas duas verbas não constavam dos
dados estatísticos fornecidos à Junta pelo Governo Civil, relativos à produção dos
diferentes concelhos, tendo votado a distribuição do contingente da contribuição
predial da forma seguinte:

Proposta de distribuição da contribuição predial para 1869 (em réis)


Concelhos Rendimento de Distribuição do Adicionais (10%)
cada Concelho contingente predial
pelos Concelhos
Funchal 246.011$236 11.597$253 1.159$725
Santa Cruz 31.507$538 1.484$699 148$469
Machico 65.800$516 3.100$647 310$064
Santana 58.109$050 2.738$211 273$821
São Vicente 45.291$447 2.134$223 213$422
Porto do Moniz 99.204$961 4.674$726 467$472
Calheta 85.505$085 4.029$840 402$984
Ponta do Sol 68,036$774 3.206$025 320$602
Câmara de Lobos 92.281$722 4.348$491 434$849
Porto Santo 28.126$620 1.325$385 132$538
Totais 819.097$949 38.640$000 3.086$946

Nos anos seguintes, a fórmula usada para a distribuição do contingente da


contribuição predial foi sempre a mesma. Em 1875, três decretos de lei, datados de
4 de fevereiro desse ano, fixavam o contingente da contribuição predial relativa aos
anos de 1872, 1873 e 1874, na quantia de trinta e oito contos seiscentos trinta e nove
mil e quinhentos réis, para cada um dos referidos anos. O delegado do Tesouro no
Distrito fornecia uma nota do rendimento coletável das matrizes prediais, relativa
aos 10 concelhos do distrito, na importância total de seiscentos sessenta e cinco
contos quatro centos oitenta e quatro mil quatro centos noventa e quatro réis.
Não havendo outros documentos ou quaisquer dados estatísticos que pudessem
esclarecer completamente, por não haver no distrito uma repartição de estatística,
a Junta Geral adotou, para a distribuição do contingente da contribuição predial,

180
Junta Geral

a base que lhe pareceu mais justa e proporcional ao rendimento dos concelhos,
como se encontrava declarado em algumas portarias e, designadamente, na
portaria do Ministério da Fazenda de 16 de janeiro de 1874, a distribuição feita na
sua sessão ordinaria de 1868, tomando por base os rendimentos constantes dos
dados estatísticos fornecidos pelas administrações dos concelhos, que deu lugar
a injustiças lesivas em alguns concelhos. E, mesmo considerando as matrizes da
contribuição predial muito imperfeitas e irregulares, considerava a comissão que
elas eram a base mais aproximada da verdade, sendo consideradas como a mais
legal e equitativa pelo conselho de Estado, na sua decisão de 30 de abril de 1863.

Distribuição da contribuição predial para 1872, 1873 e 1874 (em réis)

Funchal 16.219$140
Câmara de Lobos 3.731$515
Ponta do Sol 3.502$264
Calheta 3.502$264
Porto do Moniz 1.151$135
São Vicente 2.123$613
Santana 2.118$716
Machico 2.207$836
Santa Cruz 3.134$131
Porto Santo 1.169$837
Total 38.639$500

As grandes dificuldades económicas que a Madeira sofria, nos anos cinquenta


do século XIX, e a despesa com os funcionários públicos tornavam insuficientes
os recursos de que dispunha a Junta Geral para acorrer às necessidades mais
prementes dos municípios. Daqui surgiu uma campanha a favor da diminuição
do número de municípios. Reconhecia-se ainda que a população dos 8 concelhos
rurais era de tal modo diminuta, que mal podia suportar os encargos ordinários,
não havendo também neles muitas pessoas habilitadas para a gestão dos negócios
públicos. A existência dos muitos municípios era vista como dificuldades para
administração geral, sem vantagens para a população que se via onerada com
imensos impostos de consumo sem, por outro lado, sentir nos melhoramentos dos
caminhos vicinais e na regularidade dos outros ramos de serviço a compensação
dos seus encargos.
A comissão administrativa da Junta tinha consciência que esta tentativa
de alteração da divisão territorial do Distrito causaria alguma repugnancia com
que os povos de um municipo olham para a sua anexação a outro e dos conflitos
possíveis entre eles, o que aliás constitue uma série de circunstâncias atendiveis e
que não devem ser esquecidas numa reforma de divisão territorial, é indubitavel
que na Madeira motivos e razões muito especiais se apõem a qualquer tentativa
de reforma. Não são só as dificuldades de comunicação filhas das condições
181
Junta Geral

geológicas do terreno e da quasi absoluta carência de estradas – é também o modo


por que se acha destribuida a população que fora do Funchal e dalgumas pequenas
vilas, se acha espalhada por toda a superficie habitável da ilha, de modo a tornar
impossível que um município compreenda uma certa quantidade de população,
sem ter de ocupar uma grande extensão de territorio dificilmente viável, o que
também constitue uma grande dificuldade para a administração ao mesmo tempo
que obriga os povos a maiores e mais pesados sacrifícios. Os recursos das câmaras
municipais eram muito parcos; elas viviam quase exclusivamente do imposto
indireto, cuja receita apenas chegava para pagar as despesas do pessoal.
A 28 de abril de 1854, o cónego Gregório Nazianzeno Medina e Vasconcelos
defendia a diminuição do número de concelhos na Ilha, nomeadamente
extinguindo os de Câmara de Lobos, Santa Cruz e Santana, com o argumento de
que a grave despesa com os empregados devorando-lhe esses poucos meios os
tornou insuficientes para ocorrerem às principais necessidades dos municípios.
Na reunião de 2 de julho de 1858, o procurador Francisco Leandro Severim
propunha que, na Consulta, se pedisse ao Governo a extinção do concelho de
Machico e que as freguesias do Caniçal, Machico, Água de Pena e parte do Santo
da Serra ficassem pertencendo ao concelho de Santa Cruz, desanexando-se deste
a freguesia do Caniço que se uniria ao concelho do Funchal e que a freguesia do
Porto da Cruz se integrasse no concelho de Santana.
O vogal Figueiroa de Albuquerque propôs que se fizesse ver ao Governo a
conveniência de serem suprimidos os concelhos de Santana, Câmara de Lobos,
Machico, Ponta do Sol e Porto Moniz, sugerindo a criação de um novo concelho
na Ribeira Brava, ficando assim dividido o Distrito em cinco grandes concelhos,
pelo modo que indica a seguir: 1º - Concelho da Calheta, composto das freguesias
do Arco da Calheta, Calheta, Estreito da Calheta, Fajã da Ovelha, Jardim do
Mar, Madalena, Paul do Mar, Ponta do Pargo, Prazeres, com perto de tres mil e
quinhentos fogos; 2º - Concelho de Santa Cruz, composto das freguesias de Água
de Pena, Santo António da Serra, Camacha, Caniçal, Caniço, Santa Cruz, Faial, com
perto de quatro mil e quatrocentos fogos; 3º - Concelho do Funchal, composto das
freguesias de Santo António, Câmara de Lobos, Curral das Freiras, Estreito, São
Gonçalo, Santa Luzia, Santa Maria Maior, São Martinho, São Pedro, São Roque,
Sé e Senhora do Monte, com perto de oito mil e seiscentos fogos; 4º - Concelho da
Ribeira Brava, composto das freguesias da Tabua, Campanário, Canhas, Ponta do
Sol, Quinta Grande, Ribeira Brava e Serra de Água, com perto de quatro mil fogos;
5º - Enfim, Concelho de São Vicente, composto das freguesias das Achadas da Cruz,
Santana, Arco de São Jorge, Boaventura, São Jorge, Ponta Delgada, Porto Moniz,
Ribeira da Janela, Seixal e São Vicente, com perto de quatro mil e trezentos fogos.
O mesmo vogal propôs que, na mesma Consulta, se pedisse ao Governo que
promovesse a extinção das duas Comarcas do Funchal e se criasse um Juízo de
Direito em cada um dos concelhos, ficando assim todos os concelhos elevados à
categoria de comarcas e devendo o concelho do Porto Santo fazer parte da comarca
do Funchal. Sugeria também que se chamasse a atenção do Governo para: 1º a
necessidade não só de serem conservados os logares de Tabeliães de notas que
actualmente existem nas vilas de Machico, Ponta do Sol e Porto Moniz, posto que
estas vilas deixem de ser cabeças de julgados, mas tambem de serem criados três
182
Junta Geral

idênticos lugares nas freguesias de Câmara de Lobos, Fajã da Ovelha e S. Jorge; 2º


a conveniência, no caso em que tenha logar a criação dos cinco supra citadas, digo
indicadas comarcas, de serem alteradas as circunscrições dos distritos de juízes de
paz, ficando estes distritos organisados como se vê no seguinte mapa:

Proposta de Figueiroa de Vasconcelos (1858)

Comarcas / Distritos Freguesias


Concelhos
Calheta Calheta Arco da Calheta, Calheta, Estreito da Calheta e Madalena

Fajã da Ovelha Fajã da Ovelha, Jardim do Mar, Paul do Mar, Ponta do Pargo
e Prazeres
Santa Cruz Caniço Camacha e Caniço

Santa Cruz Santo Antonio da Serra, Santa Cruz e Gaula

Machico Água de Pena, Caniçal e Machico

Porto da Cruz Faial, Porto da Cruz e São Roque do Faial


Funchal Porto Santo Porto Santo

Santo António Santo António, Curral das Freiras e São Martinho

Câmara de Lobos Câmara de Lobos e Estreito

São Pedro Santa Luzia, São Pedro, São Roque e Senhora do Monte

Santa Maria Maior São Gonçalo, Santa Maria Maior e Sé


Ribeira Brava Campanário Campanário e Quinta Grande

Ponta do Sol Ponta do Sol e Canhas

Ribeira Brava Tabua, Ribeira Brava e Serra de Água


São Vicente São Jorge Arco de São Jorge, Santana, São Jorge e Boaventura

Porto Moniz Achadas da Cruz, Porto Moniz, Ribeira da Janela e Seixal

São Vicente Ponta Delgada e São Vicente


A Junta aprovou esta proposta que, no entanto, foi rejeitada pelo Governo.
A 03-07-1858, o vogal Jaime de França Neto opinava que a dificuldade em
formar o quadro das Câmaras, porque não se acha um número suficiente de pessoas
ilustradas que possam convenientemente e nos termos da lei, servir os cargos
municipais, mostra a necessidade de se pedir para este Distrito uma alteração ao

183
Junta Geral

artigo sétimo do Capítulo primeiro, título segundo, do Código Administrativo, pelo


que o Governo Civil ficasse autorisado a reduzir o número dos vereadores, nos
concelhos rurais, a cinco e mesmo a três, quando se verificasse a impossibilidade
de se formar as câmaras com um maior número. Asseverava que a Câmara da
Ponta do Sol estava bem persuadida de que seria muito mais vantajoso e muito
mais económico, abolir todas as câmaras rurais e estabelecer uma só câmara na
cidade do Funchal e esta nomear, para cada concelho, um Delegado. Proponha
ainda que se pedisse ao Governo que os vereadores das câmaras ficassem isentos
de todo o serviço pessoal, durante o biénio em que a serviam.
A 28-7-58, a comissão encarregada de examinar a proposta do vogal Francisco
Leandro Severim, que pedia a extinção do concelho de Machico, deu parecer
negativo, argumentando que a receita desse concelho era suficiente para as suas
despesas, as contribuições municipais não eram mais pesadas do que as dos
outros concelhos, os ordenados também não eram inferiores aos dos empregados
dos outros concelhos da mesma ordem e também porque, em Machico, havia
pessoas habilitadas para os cargos administrativos. A comissão inclusivamente
citava a circular do Governador Civil, de 17 de outubro de 1850, que recomendava
às câmaras do Distrito que imitassem a de Machico em certas providências por ela
tomadas e os ofícios de 9 de julho e de 7 de agosto de 1851 que elogiam o trabalho
desenvolvido por essa câmara.
A 3 de julho de 1863, a comissão encarregada de dar o parecer sobre
um projeto de divisão territorial que apresentava uma redução para sete
dos municípios do Distrito do Funchal, seis na Madeira e um no Porto Santo,
suprimindo-se os concelhos de Câmara de Lobos, Porto do Moniz e Santa Cruz,
pronunciou-se negativamente, entendendo que estes concelhos que se pretendia
extinguir, apresentavam argumentos suficientemente fortes que favoreciam a sua
conservação, além de que a falta de vias de comunicação entre eles era também
um fator que aconselhava à sua manutenção, já que a extinção iria prejudicar
cerca de vinte e cinco mil novecentos e dezoito habitantes, obrigando-os a longas
deslocações através de caminhos intransitáveis.
Em agosto de 1868, foi discutida a adaptação à Província da Madeira da
divisão do Distrito, em círculos eleitorais e a conveniência de a pôr em vigor,
questão já debatida e aprovada na Câmara dos Deputados, na sessão de 16 de
maio de 1859, ficando assim estabelecida: Círculo do Funchal – com 6.754 fogos,
compreendendo o concelho do mesmo nome; Círculo de Santa Cruz – com 5.545
fogos, compreendendo os concelhos de Santa Cruz, Machico, Santana e Porto
Santo; Círculo da Ponta do Sol – com 5.784 fogos, compreendendo os concelhos
de Câmara de Lobos e Ponta do Sol; Círculo da Calheta – com 5.542 fogos,
compreendendo os concelhos de São Vicente, Porto do Moniz e Calheta. Estas
alterações já tinham sido apresentadas à Junta, pelo procurador Diogo Berenguer,
na sessão de 14 de julho de 1849, mas só agora foram aprovadas.
A construção de obras públicas foi a grande questão que se colocou aos vários
procuradores à Junta Geral do Distrito ao longo dos anos. A falta delas tornou-se
a grande preocupação da Junta Geralj em particular após a extraordinária crise
agrícola e económica por que passara a Madeira, na segunda metade do século XIX,
com a perda da produção vinícola, que constituia a sua principal riqueza. A viação
184
Junta Geral

fácil e segura era uma comodidade que os povos constantemente reclamavam


e constituía um incentivo importante para o desenvolvimento da agricultura
e um meio eficaz de elevar o valor da propriedade. O projeto de construção e
classificação de estradas do Distrito era uma aspiração ancestral dos madeirenses,
que infelizmente foi tardando, mesmo numa fase em que as obras públicas
foram o suporte político dos governos nacionais. O deplorável estado em que se
encontravam as estradas do Distrito reclamava uma atenção especial por parte
da Junta que não se cansava de projetá-las e sugerir a sua construção, nos vários
relatórios e consultas destinados ao Governo. A reivindicação era constante: um
dos maiores benefícios que se pode fazer a este belo país, onde a agricultura tende
a desenvolver-se, é melhorar as vias de comunicação existentes e abrir outras
de novo para facilitar convenientemente os meios de transporte e, com estes, as
permutações dos productos da agricultura. Sem uma bem pensada reforma nos
meios que devem constituir a dotação da Junta Geral, não poderemos nunca
conseguir este desejado e utilissimo fim. A ocasião é oportuna e ouso esperar do
sêlo e patriotismo desta Junta que não deixará para mais tarde a solução desta
importante questão. À vista do que tenho dito em relação ao estado do cofre da
Junta, é facil reconhecer que nenhumas obras públicas foi possivel empreender a
expensas dela, além das que fizeram com as ordenanças algumas das Câmaras
Municipaes e a Direcção das Obras Públicas.
Até aqui, as pequenas obras realizadas pela Junta e pelas Câmaras tinham
sido executadas por conta do crédito votado para obras do Distrito, e enquanto o
sistema de viação pública não for radicalmente reformado, enquanto as estradas
se não prestarem ao fácil trânsito de transportes, quase desconhecidos na Madeira,
a falta desta grande e indispensavel condição de progresso material, há-de influir
sempre de um modo inconvenientíssimo no estado da agricultura e no valor da
propriedade. A estrutura e a natureza geológica da ilha da Madeira, dificultam
quase geralmente a obtenção de tão vantajoso desideratum, mas os obstáculos
que opõe às comunicações, este solo tão notavelmente acidentado desaparecerão
todos sob o lápis do engenheiro, uma vez que haja recursos para empreender obras
de vasto alcance.
Em 1855, na apresentação do seu relatório de contas, o Governador Civil
confessava que a falta de recursos do cofre da Junta não permitiu que se fizessem
no ano findo reparos em grande escala nas estradas gerais desta ilha3. Por
este motivo, continuou a prática, há muito tempo adotada, de se mandar pôr à
disposição das Câmaras Municipais as ordenanças que estas precisassem para
obras nos caminhos vicinais, concessão que, tambem por falta de meios, nunca foi
muito aproveitada.
Muitas eram as deliberações da Junta acerca da contribuição anual de cinco
dias de trabalho ou mil réis em dinheiro, para aplicação no melhoramento e abertura
de estradas. Esta era uma derrama que todos repudiavam pela desigualdade
com que forçava o pobre a pagar tanto como o rico. Este imposto, para ser legal
e justo, devia estar em sintonia com os rendimentos de cada indivíduo. A 2 de
julho de 1858, o vogal Francisco Leandro Severim propunha que se nomeasse uma

3 Ata da reunião da Junta Geral de 18-06-1855.

185
Junta Geral

comissão para estudar o assunto e apresentar um parecer que pudesse regular


convenientemente esta contribuição ou que a extinguisse, por injusta e ilegal. Este
vogal chamava a atenção da Junta para o estado de ruína em que se encontrava
o caminho que ia de São Vicente para a Ribeira Brava, propondo que das rodas
ou cinco dias de trabalho a que os moradores de S. Vicente e Ribeira Brava são
obrigados a prestar, se empregassem na reparação desse caminho. No dia seguinte,
o vogal Jaime de França Neto lançava idêntico alerta relativamente às estradas no
concelho da Ponta do Sol, com destaque para a ponte da ribeira da Madalena que,
no inverno, se tornava intransitável, a estrada pela beira-mar desde a vila da Ponta
do Sol até à Madalena e dali ao Arco da Calheta, a reparação das muralhas que
defendiam a Ribeira Brava, a estrada da Ribeira Brava à Serra d’Água, a reparação
do pegão da ponte de pedra da vila da Ponta do Sol e a reconstrução da muralha
da ribeira da mesma vila.
Na reunião de 28-07-1858, discutiu-se o parecer da comissão de estradas,
tendo-se examinado a questão relativa ao imposto de cinco dias de trabalho, a que
anualmente eram obrigadas, em virtude das Cartas Régias de 1 de Outubro de 1801
e 12 de Agosto de 1824 e da Resolução de Consulta de 12 de Junho de 1805, todas
as pessoas do sexo masculino, residentes nesta ilha, para a limpeza das ribeiras
e conservação das estradas e caminhos públicos. A comissão era de opinião que,
enquanto a Junta não elaborasse um Regulamento para aplicação desse imposto,
fossem postas em prática as instruções que, para aquela arrecadação, haviam sido
dirigidas aos Administradores de Concelho, na circular do Governo Civil do Distrito,
sob número 1240, datada de 29 de julho de 1848, com exceção das modificações
que, às mencionadas instruções, haviam sido feitas pela portaria do Ministério
do Reino de 4 de janeiro de 1849. A 25 de junho de 1863, pedia-se ao Governo
que aumentasse a verba destinada para obras públicas no Distrito para quarenta
contos de réis anuais. A 6 de julho, os procuradores António Pedro de Azevedo e
João Perestrelo de Vasconcelos pediam à Junta que elaborasse um ante-projeto
de estradas a realizar, com o respetivo orçamento e a quantia que o Distrito podia
dispensar, a fim de se poder solicitar ao Governo um subsídio para o efeito e
que nunca poderia exceder metade do custo total das obras. Esta proposta foi
aprovada, tendo-se votado uma derrama na importância de 12 contos de réis com
esse objetivo.
O procurador António Pedro de Azevedo solicitou que se incluísse na Consulta
ao Governo a proposta que tinha sido apresentada na Câmara dos Deputados, na
sessão de 16 de junho desse ano e que era do seguinte teor: Considerando que
o artigo segundo da carta de lei de 30 de Junho de 1860 estabelece o imposto
de viação em substituição do imposto de estradas; Considerando que o imposto
das estradaas criado pela lei de 22 de Julho de 1850 somente recaía sobre os
contribuintes do continente do reino; Considerando que a lei de 11 de Setembro
de 1851, que manda aplicar ás ilhas adjacentes as contribuições predial, industrial
e pessoal segundo a legislação de 1860 não dispõe do mesmo modo enquanto à
contribuição de viação. A Câmara dos Deputados resolve que o imposto de viaçao
não é aplicavel às ilhas, enquanto uma lei especial a não tenha expressamente
determinado.
A 15 de julho desse ano, a Junta fez uma Consulta especial ao Governo sobre a

186
Junta Geral

classificação de estradas e obras públicas em que, invocando o artigo 219 do Código


Administrativo e a circular de 30 de junho de 1854, expunha alguns problemas
urgentes do Distrito, solicitando ao Rei e ao Ministro das Obras Públicas, ajuda
para os poder resolver. Pedia que o Governo procedesse com a maior urgência à
classificação das estradas do Distrito, tendo em conta as suas caraterísticas próprias
porque a estrutura vulcânica e de aluvião que se pronuncia claramente em todo
o terreno da Madeira, trazendo por conseguinte um aglomerado de montanhas
elevadas, vales mui curtos e sem desenvolvimento algum, encostas quasi cortadas
a prumo, terrenos sedimentares de aluvião de estrutura alterada e confusa, não
podendo orientar-se pelo mesmo sistema de classificação do território continental.
Por isso, a Junta era de parecer que se devem classificar as estradas no Distrito
Administrativo do Funchal em estradas reais e suas transversais de primeira ordem,
estradas reais e suas transversais de segunda ordem e estradas municipais. Que
as estradas reputadas reais e transversais de primeira ordem sejam construídas,
mantidas e reparadas pelo Governo; que as de segunda ordem, entrado na classe
das chamadas districtais, sejam feitas e reparadas pelo Governo e pelo Distrito
e que, finalmente, as municipais sejam feitas e reparadas pelo Governo e pelos
municipios em conformidade com o disposto no artigo segundo da Carta de Lei de
15 de Julho de 1862. Constatava ainda a Junta Geral que a deficiência da receita
do Distrito continuava a impedir o pagamento integral do crédito votado para
obras públicas, manifestando a esperança de que a cobrança da contribuição
predial, então já iniciada em alguns concelhos, havia de contribuir, em parte, para
a realização das obras projetadas.
Em 1866, o Governador Civil no seu relatório à Junta Geral, reafirmava
que a falta de receita no cofre central do Distrito não tinha permitido satisfazer
integralmente à Direção das Obras Públicas a dotação que lhe competia,
confirmando o despedimento de operários e a paragem de obras por falta de
dinheiro.
Nesse relatório, o Governador Civil mostrava grande preocupação com a
inépcia do Governo em relação às necessidades da Madeira, solicitando o envio
imediato das verbas já votadas para obras públicas e que estavam em dívida e
que se não torne a dar, o que mais de uma vez se tem dado já e que últimamente
aconteceu ainda faltarem nas épocas apropriadas para os trabalhos os meios
necessários para faze-los. Reafirmava a necessidade urgente da construção de
estradas, de abertura de canais de irrigação que, além de resolver grande parte
dos problemas agrícolas, também iriam fornecer trabalho às classes populares,
tendo em particular atenção às localidades que, por serem mais especialmente
produtoras de vinho, mais sofriam devido à crise na agricultura.
Na Consulta ao Governo de 1866, a Junta apelava à justiça de ser continuada a
estrada que devia ligar o concelho do Funchal ao de Câmara de Lobos, pelo litoral
e a estrada do Seixal ao Porto do Moniz. A 22 de agosto de 1868, o presidente da
Câmara Municipal do Porto do Moniz insistia na necessidade urgente da realização
desta obra, através de um ofício remetido ao Dr. Juvenal Honório de Ornelas,
procurador à Junta por este concelho, pedindo também a construção da ponte
da Ribeira da Janela e a conclusão da igreja paroquial da mesma freguesia. A 6
de agosto de 1868, o procurador Diogo de Ornelas propôs que a Junta pedisse ao

187
Junta Geral

Governo a urgente conclusão do túnel do Monte das Levadinhas, no concelho da


Calheta, por onde haveria de passar a grande porção de água do Rabaçal, das fontes
do Lombo, de entre as águas e do ribeiro dos Cedros, de forma a poder contribuir
para o desenvolvimento da agricultura desse concelho. Pedia à autoridade
competente para fazer o regulamento sobre a distribuição da água do Rabaçal que
saía pelo túnel do Monte das Estribarias, água que se arrendava aos proprietários
e lavradores, devendo ser essa água fielmente entregue aos arrendatários pelos
respetivos levadeiros, sem prejuizo dos giros.
No dia seguinte, o procurador Dr. Antas de Almeida propôs que se representasse
ao Governo sobre a necessidade de serem aplicados na construção das estradas
principais do distrito, pelo menos a terça parte do crédito ordinário e todo o
crédito extraordinário. Esta proposta foi aprovada por unanimidade, após o que o
Dr. Aires de Ornelas e Vasconcelos sugeriu que se pedisse ao Governo autorização
para se realizar um empréstimo a aplicar totalmente na continuação das estradas
principais do distrito, que seria amortizado com a terça parte da verba votada para
as obras públicas do distrito.
A 12 de agosto de 1868, o presidente Diogo Berenguer, procurador pelo
concelho da Ponta do Sol, alertava para a necessidade de obtenção dum crédito
para a construção da estrada pelo litoral que vai da Vila da Ponta do Sol até à
Ribeira Brava cujo plano e planta, mandados preparar pelo Governo, haviam já
sido aprovados pelo Governo. Em complemento desta proposta, o vogal Dr. Freitas
Leal chamou a atenção da Junta para a necessidade de melhorar a pequena
estrada que ligava esse cais ao porto da mesma freguesia, devendo-se também
proceder, com urgência, às obras necessárias para tornar transitável a estrada que
ia do calhau do Porto da Cruz aos sítios da Maiata, Larano e Cruz da Guarda e no
lugar denominado o Lava-pés. Foi ainda discutida uma proposta do procurador
Diogo de Ornelas França Frazão que pedia ao Governo a continuação da abertura
de um bocado de estrada litoral, desde o sítio do Ribeiro das Cales, na freguesia do
Arco da Calheta até a Fajã da Serra de Água, da mesma freguesia, numa extensão
de um quilómetro, considerada muito importante para o trânsito e o transporte
dos géneros agrícolas para os dois portos de embarque desse lugar. Pedia também
autorização para a reconstrução de um pedaço de muralha que servia para
encaminhar a água da ribeira da Serra de Água, na Calheta e que desviava a ponte
que dava passagem para a estrada principal.
A 20 de agosto desse ano, o procurador deão Dr. Aires de Ornelas pedia que
a estrada da Camacha, que ligava o Funchal ao norte da ilha, fosse considerada
estrada real, que fosse executada a tiragem de uma levada que antes vinha regar
de Machico até o sítio da Torre, na freguesia de Santa Cruz, podendo fertilizar
grande parte dos terrenos de Santa Cruz, a construção de uma ponte na ribeira
do Porto Novo, freguesia de Gaula, assim como de uma outra ponte na ribeira da
Boaventura, na freguesia de Santa Cruz. A 22 do mesmo mês, o mesmo procurador
propôs que a Junta consultasse o Governo sobre a urgente necessidade de terminar
a levada do Furado, aproveitando as águas supérfluas, de modo que pudessem ser
fertilizadas as freguesias do Caniço, São Gonçalo e Santa Maria Maior. Na mesma
reunião, o procurador Dr. Freitas Leal pediu que se fizesse o mesmo em relação
ao melhoramento do porto de desembarque da vila de Machico, bem como a

188
Junta Geral

pequena estrada que ligava o porto à villa.


A 7 de março de 1873, o Dr. João Baptista de Freitas Leal pedia urgência na
execução do projeto da estrada entre o cais da Pontinha e a Alfândega do Funchal
e que se consultasse o Governo sobre a possível construção de um cais, na vila de
Machico. Pedia também que a verba votada para o desentulhamento das ribeiras
da ilha fosse extensiva à de Machico. Esta proposta foi discutida no dia seguinte
e aprovada, por maioria, com uma alteração: se peça ao Governo que aumente
a verba votada no orçamento do estado para o desentulhamento das ribeiras da
ilha, ficando assim habilitado o respectivo director a aplicar de tal verba uma parte
para o desentulhamento da ribeira de Machico. O procurador Luís Soares de Sousa
Henriques pediu que fossem ampliadas e reparadas as igrejas paroquiais das
freguesias do Campanário, Quinta Grande, Câmara de Lobos e de Nossa Senhora
da Graça, no Estreito. O presidente pediu que se consultasse o Governo, para que
fosse ouvido o Governador Civil acerca da distribuição e aplicação dos fundos
destinados a obras públicas e, também, para que fossem elaborados regulamentos
sanitários e aduaneiros, onde se determinasse o expediente na alfândega da
delegação de saúde, a fim de facilitar o exercício daquelas repartições, para que
os navios e passageiros que demandavam o porto do Funchal encontrassem nele
razoáveis facilidades de comunicação e despacho.
No ano seguinte, voltavam à mesa propostas para a construção da estrada
litoral que era de capital importância, trazendo vantagem para todos os concelhos
e freguesias da Ilha, pedindo ao Governo o reforço de verbas para esse fim. O
presidente propôs que esta Junta consulte ao Governo de Sua Magestade a fim de
que determine que, ultimadas as obras em construção, todos os meios destinados
a obras públicas nesta ilha da Madeira sejam aplicados á continuação da estrada
litoral, salvo os necessários para a conservação das obras existentes e que se
forem ultimando e para aquelas que, por urgentes, tenham de ser de pronto
empreendidas4. A 10 de março de 1874, o procurador pelo concelho de São Vicente,
Dr. João de Freitas da Silva, propunha que a Junta consultasse o Governo, sobre
a conveniência de ser aumentada a dotação para obras públicas neste distrito,
pelo menos em um terço. O procurador pelo concelho de Câmara de Lobos, João
Bettencourt Araújo Esmeraldo, pedia ao Governo que mandasse elaborar o projeto
e orçamento, há tanto tempo solicitado, para a construção de um cais, no porto
do Funchal. Este mesmo procurador propôs que se consultasse o Governo, para
que fosse proposta, em Cortes, uma lei que estabelecesse, a favor deste distrito,
um direito de duzentos réis, pago na Alfândega do Funchal, por cada tonelada de
carvão de pedra descarregada neste porto, devendo o produto de tal imposto ser
aplicado na criação de escolas municipais e construção de um teatro nesta cidade.
Neste mesmo dia, o procurador Dr. Álvaro Rodrigues de Azevedo apresentou uma
proposta para a construção desse teatro na cidade do Funchal, argumentando que
Lisboa tinha dois teatros e o Porto um, subsídiados pelo Tesouro Público. A cidade
do Funchal é, por não poucas razões, a terceira cidade portuguesa e a primeira
delas fora do continente do reino. Por outro lado, é certo que teve um grande e belo
teatro, feito a expensas particulares e que foi mandado demolir pelo Governador
D. Álvaro da Costa Macedo.

4 Reunião de 9 de março de 1874.

189
Junta Geral

A 11 de março de 1875, propunha-se a construção urgente de uma ponte de


alvenaria sobre a ribeira denominada da “Atabua”, na estrada litoral que ligava
as freguesias da Ribeira Brava e Ponta do Sol, a fim de evitar que os viandantes
continuassem a passar pelo leito da ribeira, com risco das suas vidas, em especial
no inverno.
Na Consulta de 1875, a Junta Geral fazia menção da exiguidade de meios
com que este distrito contava para a conclusão de trabalhos da máxima urgência
e importância, chamando a atenção do Governo para o estado de atraso em
que se encontrava esta província. Para remediar estes males, a Junta, nos vários
relatórios e consultas ao Governo, indicara já as obras consideradas mais urgentes,
vindo novamente este ano apresentar. Sugeria agora o aumento da dotação para
a realização da estrada litoral que devia circundar toda a ilha, ligando todas as
povoações costeiras, e que se encontrava iniciada nas proximidades do Funchal,
a continuação da Estrada Monumental, votando-se para ela a verba anual de
seis contos de réis, até à sua conclusão, mas também que todos os fundos que
excedessem fossem destinados à continuação da dita estrada. Voltava a referir a
importância da construção de uma ponte sobre a ribeira do Faial a fim de poder
estabelecer-se a ligação entre as populações de Machico e de Santana e as pontes
sobre as ribeiras do Porto Novo, Boaventura e São Sebastião, no concelho de Santa
Cruz. Pedia-se o melhoramento da estrada que ligava o Funchal a São Vicente, no
sítio denominado a “Terra dos Alhos”, na freguesia de São Martinho, concelho do
Funchal, estrada esta que se encontrava intransitável para carro e perigosa para
os viandantes, especialmente para os carreteiros do vinho produzido no concelho
de Câmara de Lobos. Na distribuição de fundos designados para obras públicas,
era sempre votada uma verba para ser aplicada à construção de muralhas,
encanamento e desentulhamento das ribeiras; pedia-se o aumento dessa verba a
ser aplicada no desentulhamento da ribeira da vila de Santa Cruz. Igual providência
foi reclamada para a ribeira que atravessa a vila de Machico, que também, havia
muito, ameaçava destruir a Vila. Outras reivindicações de obras públicas eram
renovadas todos os anos, como a reconstrução da casa do Poiso e a elaboração
de um projeto para a construção de uma nova casa que serviria de abrigo a todos
aqueles que transitavam entre os concelhos de Santana, Machico e Santa Cruz.
Na Madeira, a ligação entre os vários concelhos era feita essencialmente
através de pequenos barcos, que transportavam mercadorias e passageiros, de
porto a porto, sem nunca perder de vista a costa, porque as vias de comunicação
terrestres eram de difícil trânsito. No entanto, não eram só as estradas que, no
período em estudo, eram insipientes e rudimentares; os portos e cais existentes,
nos vários concelhos e freguesias da Ilha, eram de difícil acesso, sendo o
desembarque e embarque quase uma aventura. Vários foram os pedidos da Junta
Geral ao Governo, através de relatórios e de consultas, para que este pudesse
ajudar, com maior dotação financeira, a sua construção ou reparação. O porto da
cidade do Funchal, o mais frequentado, carecia de um cais, sendo o embarque e
desembarque de passageiros feito de um modo pouco conforme com a importância
do distrito. A vila de Câmara de Lobos, com um importante movimento comercial,
também reclamava a construção de um cais, assim como a freguesia do Porto
da Cruz, no Concelho de Machico, porque, o lado leste da ilha era aquele onde

190
Junta Geral

podiam mais facilmente fazer-se embarcar e desembarcar produtos de consumo


e passageiros, podendo-se adaptar aqui, com pouco dinheiro, os rochedos que aí
existiam, para servir de cais. Nas povoações costeiras do norte da ilha, os portos de
mar eram muito pedregosos e de difícil acesso, o que causava frequentes sinistros
em ocasiões de embarque e desembarque; por isso, pedia-se a construção de um
cais na freguesia de São Jorge para apoiar o concelho de Santana, que não tinha na
altura outro porto para recorrer.
A 15 de julho de 1862, o procurador pelo concelho de Câmara de Lobos, Roque
Teixeira de Agrela apresentou uma proposta, que foi aprovada por unanimidade,
onde pedia a destruição das baixas e restingas5 que tornavam perigosa a navegação
costeira da Ilha. Solicitava que as Câmaras Municipais dalguns concelhos do
Distrito lançassem uma contribuição de cem réis por mês, a pagar pelos barcos
de cabotagem para ser aplicada a essa destruição. A comissão que analisou esta
proposta, embora desse um parecer positivo, entendia que o lançamento dessa
contribuição ia contra a lei e que as obras deveriam ser executadas com urgência
e pagas pelo cofre da Junta.
A 7 de julho de 1863, foi proposto consultar o Governo sobre a necessidade de
se estabelecer em algumas localidades da ilha, a exemplo dos desembarcadouros de
Santa Cruz e Ponta do Sol, lugares onde se podia mais comodamente desembarcar
e até abrigar os barcos acossados pelo mau tempo, aproveitando a natureza
geológica do terreno. Os vogais António Pedro de Azevedo e João Perestrelo de
Vasconcelos propunham que a Junta procedesse aos estudos necessários para
execução de cais abertos nas rochas das Pontas da Oliveira da Atalaia, Porto Novo,
Machico, Porto da Cruz e ainda um porto de abrigo em Santana e Seixal, cais no
Poro Moniz, reparações no cais do Pesqueiro na Ponta do Pargo, Paul do Mar e
Câmara de Lobos e salinas do Porto da Cruz.
Outra das obras importantes a realizar na Madeira era a colocação de Faróis,
nos pontos estratégicos para guiar a navegação que demandava os portos do
Arquipélago. Nesta mesma reunião da Junta, foi proposto consultar o Governo a
fim de que ele procedesse a um estudo económico e geográfico para a construção
de alguns faróis na Madeira, nomeadamente na Ponta de São Lourenço, na
fortaleza do Ilhéu e noutros pontos abrigados para ancoragem dos navios. Pedia
ainda que se fizessem os estudos necessários para a elaboração do ante-projeto
para a construção de uma doca formada pela rocha da Pontinha, Baixa Larga e
terrenos fronteiros a ela até a Ponte Monumental.
A 2 de outubro de 1866, os procuradores pelo Concelho da Ponta do Sol,
Padre Feliciano João Teixeira e João Fortunato de Oliveira apresentaram uma
proposta que visava a conclusão da obra do cais deste concelho, porque este era
um dos portos mais frequentados por madeirenses e estrangeiros que se dirigiam
ao Rabaçal e o único daquela costa da ilha. A 22 desse mês, o Coronel António
Pedro de Azevedo informou que a Direcção das Obras Públicas estava autorizada a
começar os trabalhos do cais da Ponta do Sol.
Na consulta feita ao Governo, a 30-10-1866, sobre a entrada de vinho do
território continental português na Madeira, a Junta sugeriu a criação de um

5. Baixios na orla costeira.

191
Junta Geral

imposto aduaneiro idêntico ao que os vinhos da Madeira pagavam em Lisboa, para


ser aplicado na construção de uma doca no porto do Funchal. A Junta entendia que
essa obra tão dispendiosa não podia ser feita apenas a expensas da verba votada
para as obras públicas do distrito, nem por exclusiva iniciativa do Governo. A Junta
tinha informações que os estudos prévios para a execução dessa obra já tinham
começado, apontando como receita para a sua construção, o imposto sobre todos
os vinhos importados na Madeira, que devia ser cobrado em separado e aplicável
só para esta obra.
A 12 de agosto de 1868, o presidente Diogo Berenguer apresentou, por parte
do concelho da Ponta do Sol, do qual era procurador, uma proposta onde alertava
para a necessidade de obtenção dum crédito para a construção do cais da Vila da
Ponta do Sol e a necessidade de melhorar e aperfeiçoar o cais natural que existia
no sítio da Furna, na freguesia do Porto da Cruz. A 07-03-1873, o procurador Luís
Soares de Sousa Henriques pediu que se consultasse o Governo sobre a necessidade
de ser construído um cais no porto da vila de Câmara de Lobos e, a 10 desse
mês, o procurador pelo concelho de Câmara de Lobos, João Bettencourt Araújo
Esmeraldo, pedia ao Governo que mandasse elaborar o projeto e orçamento, há
tanto tempo solicitado, para a construção de um cais no porto do Funchal.
Outra obra considerada urgente era a da procura dum edifício digno para o
tribunal do Funchal que funcionava, então, num espaço sem condições. No início
da década de 40 do século XIX, o Governo cedera à Câmara Municipal do Funchal o
convento dos extintos Franciscanos, com a condição de ser ali construído, por conta
da Câmara, a casa dos Tribunais de Justiça. Mas, em 1845, a Câmara entendeu
que devia demolir completamente aquele edifício. A falta de meios financeiros fez
surgir a ideia de abrir algumas ruas nos seus escombros. Esta ideia esbarrou, no
entanto, na letra da lei que apenas cedia aquele espaço para o Tribunal.
A 5 de julho de 1858, o procurador Francisco Leandro Severim afirmava que
ninguém haverá que se não envergonhe de olhar para essa casa onde os nossos
Juizes são obrigados a administrar a justiça como para a casa dum dos Tribunais
mais respeitaveis desta Provincia e não se diga que há outra nesta cidade que
se possa alugar para este fim, por que eu sei que a Câmara actual tem lidado
infrutuosamente nesse arranjo. Sugeria, por isso, o espaço do antigo convento
de São Francisco como o ideal para instalar o tribunal do Funchal. A 13-07-1858,
a comissão encarregada de analisar a proposta pronunciou-se nestes termos:
Ninguém há, que não reconheça a necessidade da construção deste edificio
pelo nenhum respeito que infunde a casa arruinada, em que se estão fazendo
as audiências públicas, tão indigna e imprópria para um tal mister. A comissão
sugeria que se pedisse ao Governo autorização para alienar a parte do edifício
que não fosse necessária para, com a verba obtida, se proceder à construção do
Tribunal. Em 1863, a situação mantinha-se e nada havia sido feito. A 25 de junho
desse ano, foi apresentada uma proposta pelo procurador João Barbosa de Matos
e Câmara para que a Junta fizesse sentir ao Governador Civil a conveniência de
sugerir à Câmara Municipal do Funchal, a imperiosa necessidade da construção
desse tribunal e duma cadeia.
A ilha do Porto Santo era então constantemente esquecida, funcionando como
enteada para nacionais e insulares. A falta de água para irrigação e para consumo
192
Junta Geral

doméstico e industrial era uma das mais decisivas causas que dificultavam o
progresso agrícola e o desenvolvimento económico em geral da ilha. A fecundidade
do seu solo e a vastidão das suas campinas, acessíveis à ação do arado, asseguravam
abundantes e boas produções. A prosperidade da ilha do Porto Santo era também
muito útil ao arquipélago em geral e à cidade do Funchal em particular, tornando
o mercado de cereais e outros géneros alimentícios mais abundante. A 9 de março
de 1874, o procurador pelo Funchal, Álvaro Rodrigues de Azevedo, propunha que
a Junta consultasse o Governo a fim de que seja comissionada pessoa hábil, para
na ilha do Porto Santo fazer explorações hidraúlicas e que, sendo essas explorações
de resultado satisfatório, se proceda, prontamente e em primeiro logar, às obras
das fontes precisas para abastecimento público e depois à construcção de levadas
ou aquedutos para irrigação. Apresentou, então, uma proposta na qual, face à
dificuldade de comunicações em que a ilha se encontrava, grande responsável
pelo seu atraso e decadência e, estando pendente o contrato de carreiras de
navios a vapor directas e regulares entre Lisboa e o Funchal, propunha que a Junta
consultasse o Governo para que, nesse contrato, se estabelecesse a condição dos
navios dessa carreira passarem e demorarem-se, por algum tempo, tanto na vinda,
como na volta, no Porto Santo. Pedia também ao Governo que estabelecesse ali
uma estação fiscal. A 8 de março de 1875, o Dr. Manuel Inácio Brum do Canto,
procurador pelo concelho do Porto Santo, renovando a iniciativa da Consulta
do ano anterior, requeria que a Junta consultasse o Governo no sentido de se
debruçar Primeiro: Sobre a urgente necessidade de ser estabelecida na mesma ilha
a delegação da alfândega do Funchal que foi criada por decretos de 17 de Agosto
de 1866 (Diário de Lisboa número cento noventa e sete) e de 23 de Dezembro
de 1869; Segundo: Acerca da necessidade também urgnte de se despender na
construção de estradas e exploração de águas algumas quantias, a expensas do
Estado; Terceiro: Finalmente sobre a não menos urgente necessidade de se impor à
Empresa Insulana a obrigação de fazer na ida e volta escala de algumas horas pela
ilha do Porto Santo os paquetes a vapor subsídiados pelo Estado, que mensalmente
navegam entre esta ilha da Madeira e a metrópole. Ao mesmo tempo, remeteu
à mesa da presidência a representação datada de 27 de março de 1873, que a
Câmara Municipal do Porto Santo dirigiu ao Governador Civil do distrito, onde,
desenvolvidamente, reclamava os referidos melhoramentos. O procurador pediu
que esta matéria fosse incluída na Consulta que a Junta tinha de enviar ao Governo.
A lei de 27 de julho de 1855, no seu artigo 3º, 1º parágrafo, incumbia às Juntas
Gerais o trabalho da subdivisão do contingente de recrutas atribuído ao distrito.
Esta situação criou algumas dificuldades à comissão administrativa da Junta porque
muitos dos mancebos na idade da recruta fugiam para o estrangeiro, à procura
de melhor vida, para além de que a definição do contingente para o Distrito do
Funchal demorava a chegar. Vários governadores civis fizeram diligências perante
o Governo, no sentido deste definir o número de recrutas. Não menos importante
foi o desaparecimento dos cadernos que continham os termos de responsabilidade
dos fiadores que se tinham responsabilizado por menores que tiravam passaportes
para emigrarem para o estrangeiro. Os governadores civis chamaram, por várias
vezes, a atenção dos Administradores dos Concelhos para a importância do
recrutamento, exigindo execuções contra os fiadores que não apresentassem os
seus afiançados, no prazo em que eram intimados. Apesar de tudo, em 1864, a

193
Junta Geral

Junta Geral nomeou uma comissão que tinha o encargo de distribuir o contingente
de recrutas e que apresentou o seu trabalho na reunião de 25 de novembro desse
ano, tendo procedido à distribuição do seguinte modo:

Contingente de recrutas do distrito do Funchal (1864)

Concelhos Quantitativo
Funchal 24
Santa Cruz 7
Machico 6
Santana 6
São Vicente 6
Porto Moniz 5
Calheta 10
Ponta do Sol 12
Câmara de Lobos 10
Porto Santo 1
Totais 87
A solução para a miséria do povo era sempre a mesma, o recurso à emigração
que, de uma forma legal ou clandestina, levava milhares de madeirenses a procurar
a sua sorte noutros países, deixando a sua terra ainda mais pobre e com falta de
braços para trabalhar a terra.
As várias comissões administrativas da Junta Geral do Distrito, por diversas
vezes, se insurgiram contra a emigração, em especial a emigração clandestina
e ilegal, “Tráfico da Escravatura Branca”, que colocava em risco a vida de
tantos cidadãos. A 4-5-1854, o procurador António Gil Gomes apresentou uma
proposta de repressão à emigração clandestina. Entendia que se tinha abolido
a escravatura para ser substituída impunemente pela “escravatura branca”, com
todas as agravantes que daí advinham. Considerava este tráfico uma vergonha
que os jornais da época regularmente denunciavam, mostrando a perversidade
desse tráfico desumano que vendia com fria atrocidade em praça pública e para
mundos pestilentes e escravidão, uma criatura humana, como se fora um animal
irracional, que trafica escandalosamente com as mulheres, convertidas em objectos
comerciáveis, fazendo das cidades uns lupanares de abominável devassidão, como
nós temos presenciado no nosso Funchal que deve ser limpo desta praga, e como
temos notícia de estar acontecendo no Brasil onde a beleza da mulher imigrante
é posta em hasta pública, para fins de brutal sensualidade!. O mesmo procurador
chamava a atenção dos poderes públicos para o facto desta emigração despovoar
as terras, faltando os braços para o trabalho, não desconhecendo que a população
é uma riqueza de renda efectiva e que a terra pouco vale sem o braço do homem
que a fecunda, por que ela produz pouquíssimos frutos espontâneos. Na sequência

194
Junta Geral

da discussão desta proposta, a Junta decidiu pedir ao Governo que elaborasse,


com alguma urgência, um corpo de leis contra os aliciadores, porque considerava
que aqueles agentes são a causa primária e eficiente de graves crimes, roubos,
prostituições e imoralidades, que chegando ao escândalo de conspirar os filhos
contra os pais, as mulheres contra os maridos, os colonos contra os Senhorios e
a destruir a disciplina militar induzindo os soldadosà deserção, de que tudo há
sobejos exemplos neste pais – e que infelizmente tem ficado impunes por falta de
Lei expressa, devendo também ponderar-se que os referidos aliciadores causam
enorme prejuízo ao Tesouro Público, ocasionando a fuga de devedores fiscais e
também de particulares, como quotidianamente está acontecendo.
A 5-7-1858, o procurador Francisco Severim, representante de S. Vicente,
considerava que uma das principais razões que concorriam para a emigração dos
povos da Madeira era o pagamento de muitos anos de finto que se encontravam
em atraso, pela incúria de quem não procedeu, em tempo útil, à sua arrecadação.
Propunha que se pedisse ao Governo o perdão dos fintos em dívida, impondo que,
desde essa data, se procedesse à sua cobrança, com a regularidade adequada,
porque constatava que, com a saída de milhares de pessoas para a emigração,
muito sofremos na nossa agricultura e em outros misteres que reclamam os
braços de nossos camponeos. Na sessão de 13 de julho, foi discutido o parecer
da Comissão sobre a proposta apresentada pelo procurador Francisco Severim
que pedia o perdão do finto. A Comissão recusou a proposta por entender que
o seu fundamento não era verdadeiro, porque entendia que a maior parte das
pessoas que emigravam não possuiam prédios de que pagassem finto, não sendo
devedores de tal tributo. Considerando ainda que, no estado em que se encontrava
o Tesouro Público, não era conveniente deixar de arrecadar um tributo devido, que
fazia parte do orçamento da receita e despesa do Estado e que, provavelmente,
isso daria lugar à imposição de novo tributo, talvez até maior, que teria de recaír
sobre os que já tinham pago o do finto. A Comissão prometeu apresentar uma
proposta sobre a forma como resolver esta questão.
Em 1863, o relatório apresentado à Junta pelo Governador Civil anexava um
mapa que quantificava os indivíduos que nos ultimos cinco anos abandonaram a
pátria em procura de mais largos destinos, considerando reduzido, em relação aos
anos anteriores, o número de emigrantes e que a falta de braços para a agricultura
tinha sido atenuada com o regresso dos colonos que depois de verem desfeitas
as vãs ilusões que as haviam arrastado para fora do seu país natal. Esperava que
esse movimento emigratório decrescesse ao longo dos anos até à sua completa
extinção porque já hoje se não crê como d’antes nas ilusórias vantagens que se lhes
prometiam. O cruel desengano colhido por muitos milhares de filhos desta terra
em resultado dos seus esforços para melhorar de fortuna com a mudança de país
é um poderoso argumento de facto que estão no coração de muitos e que se opõe
eloquentemente as fementidas sugestões dos traficantes de carne humana.
Outro problema que obstava ao desenvolvimento do Distrito do Funchal era a
colonia. Foi necessário aguardar pelo último quartel do século XX, pela revolução
democrática do 25 de abril de 1974 para que ela fosse definitivamente resolvida.
Esta questão foi longamente debatida nas reuniões da Comissão Administrativa
da Junta Geral de 1855, tendo sido criada uma Comissão para estudar e formular
195
Junta Geral

um projeto de resposta ao inquérito ordenado sobre os quesitos propostos pelo


deputado José Silvestre Ribeiro, na sessão de 26 de fevereiro desse ano, acerca do
Contrato de Colonia vigente na Madeira.
Na reunião de 27-06-1855, o secretário da Junta Padre Filipe José Nunes
apresentou um projeto de lei sobre o contrato da colonia. Este projeto ficou de ser
analisado por uma comissão nomeada na reunião marcada para o dia 21 de julho
desse ano que deu o parecer que foi aprovado e reproduzimos em nota de rodapé6.

6 Sobre os quesitos gerais: Ao 1.º – O contrato de colonia na ilha da Madeira é fundado em costume da terra, mas como
não tenha sido reduzido a escritura autêntica é sempre necessário provar as condições dele por testemunhas em questões
judiciais e as testemunhas, ou por menos claras, ou por menos exactas em seus depoimentos, apresentam em tal variedade
o que dizem ser costume invariavel que produzem decisões contraditórias em diferentes juízos e diferentes épocas e põem
os direitos e obrigações do senhorio e do colono em tal oscilação que não pode deixar de ser prejudicial à agricultura.
Ao 2.º – O costume que constitue o verdadeiro contrato originário é de tempo imemorial. Os colonos desta ilha, considerados
famulos dos senhorios, sempre foram como tais, chamados caseiros deles, e lhes chamavam seus amos, respeitando-os
como tais, fazendo-lhes alguns pequenos serviços próprios de domésticos, alem dos trabalhos e despesas da cultura, e tendo
para pagamento de tudo a divida dos frutos da terra que cultivavam[.]
Os serviços e respeito de famulos têm caído em desuso desde 1820.
No norte da ilha pertence ao colono um terço dos frutos de toda a fazenda a seu cargo, ou de demarcada porção dela, se em
toda, ou só nessa porção há benfeitorias do senhorio – delle exclusivamente, ou de mistura com algumas de colono.
– E quando são adjudicadas aos próprios Nacionaes, no Norte ou no Sul da Ilha, benfeitorias de algum colono por
dívida fiscal, é só dado um quarto dos frutos ao individuo que se incumbe de as amanhar, prestando fiança para as
renovar e conservar sem deterioração. – Elas, salvas raríssimas excepções, o colono está mui longe de ser exacto
na partilha. – O senhorio nunca há-de receber a renda que lhe pertencer, enquanto ela for dependente da partilha
de frutos.
São tambem cláusulas antigas do contrato de colonia as seguintes:
Não devem de ser colhidos os frutos, nem partilhados, sem licença do senhorio; mas esta clausula é sempre mais ou menos
iludida.
As plantas que nascem e crescem espontaneamente são todas do senhorio, mas os frutos delas devem entrar na partilha geral
em quanto o senhorio as conservar.
Como o crescimento das árvores não é obra do colono, o senhorio tem só de pagar-lhe o trabalho da plantação, sementeira,
ou enxerto delas, salva convenção em contrário.
Pode o colono fazer paredes rústicas (que são as de menor custo e maior duração) para sustentarem as terras inclinadas;
mas não pode fazer casa de qualidade alguma, nem obra de pedra e cal, ou desnecessária, sem licença do senhorio.
Contra esta providente cláusula há imensos abusos que têm por fim dificultar o despejo, apresentando a terra sobrecarregada
de obras não necessárias, não úteis e muitas vezes prejudiciais, que com o argumento de tácita aprovação, e com
o receio do resultado de lítigios dispendiosos e incómodos, colocam o senhorio na necessidade de – ou suportar
um mau colono e a sua descendência perpétuamente, se não pode ou lhe não convém pagar todas essas obras, e as
benfeitorias úteis, – ou despender muito para libertar a sua terra.
O senhorio por ser dono da terra que mandava cultivar por seus caseiros, mediante a referida paga, e por ser interessado
no melhoramento da produção, tinha (e bem natural é que tivesse) a faculdade de dirigir a cultura. Ha muitos anos,
porem, que o colono cultiva se quer ou como quer e se o senhorio o adverte de sua principal obrigação, que é a de
cultivar bem, responde que o despeça pagando-lhe as chamadas benfeitorias, que em grande parte ele só fez para se
perpetuar na colonia, retendo e desfrutando como melhor lhe convier uma terra alheia.
Não é permitido ao senhorio requerer o despejo só de parte de uma fazenda; mas pode excluir o colono de uma e deixá-lo em
outra, pagas préviamente todas as benfeitorias necessárias, e as autoridades, ainda que não necessárias, nemúuteis.
Têm com tudo alguns senhorios mandado cultivar por si ou por um terceiro a porção ou porções de fazenda que o
colono não quer ou não pode cultivar e este arbítrio, que parece bem fundado e de conveniência pública, tem algumas
vezes sido questionado em juizo e decidida a questão contra o senhorio, não havendo com tudo costume fixo a tal
respeito.
O senhorio dispõe da sua água como lhe convém e geralmente usa deste direito para correcção do mau colono. Alguns terão
abusado, tirando água a um bom cultivador; mas bem poucos serão os que queiram a sua terra desaproveitada e
contra capricho, malícia ou desgoverno do senhorio há direito e acção.
Tais são as cláusulas do contracto de colonia, não escrito, que com certeza pode a Junta declarar.
Ao 3.º quesito responde negativamente e do mesmo modo à primeira parte do quarto; referindo-se quanto á segunda, ao que
deixa escrito, em resposta ao segundo quesito.
Ao 5.º – É de grande necessidade reduzir a lei escrita o contrato de colonia na Ilha da Madeira, mas não pode a Junta, no
curto periodo de seus trabalhos legais, apresentar informação cabal que sirva de base a todas as provisões que essa
lei deve conter. Limita-se portanto a dizer que o projecto de lei apresentado à Câmara dos senhores Deputados, pelo
snr. Deputado José Silvestre Ribeiro, na sessão de 17 de Março de 1854, contém as providências de que, com a maior
urgencia, carece a agricultura na ilha da Madeira, contra os abusos do contracto de colonia; pedindo licença para
manifestar seu desejo de que no art.º 1.º fique mais saliente a faculdade que, natural e justamente, tem o senhorio de
mandar fazer a cultura mais conveniente dando preferência ao colono, sem intervenção previa de alguma autoridade
pública, – salva a acção do colono contra o abuso; – por quanto se se entender, contra o espírito do artigo, que a
questão de conveniência deve preceder ao aproveitamento das terras, o artigo ficará inutil.
Sobre os quesitos especiais[:]
O primeiro tem resposta nas que foram dadas aos quesitos gerais.
Ao 2.º – É infelizmente mui certo o demasiado e absurdo retalhamento da terra por causa das benfeitorias do colono. – A
terra que tivera um só e rendia para o sustentar com a sua família, passou a ser dividida e subdividida por herdeiros,

196
Junta Geral

A 5 de julho de 1858, o procurador Francisco Leandro Severim, apresentava à


Comissão uma proposta onde considerava ser ocioso enumerar as muitas razões
que justificavam a necessidade de tornar alodiais as terras vinculadas da Madeira.
Dizia que a liberdade da terra era tão necessária como a própria liberdade,
afirmando ser ela muito necessária na Ilha porque a maior felicidade que poderia
vir à Madeira era a desvinculação de nossas terras. Todos sabem que os nossos
proprietários vinculados, nada possuem além dos rendimentos que recebem desses
vinculos, rendimentos que, na actualidade mal chegam para a sua sustentação
e de suas famílias. Se eles quiserem mudar de cultura ou melhorar a existente,
nada têm que possam oferecer em garantia dos capitais precisos e quer hajam
ou não estabelecimentos de crédito ver-se-hão sempre limitados a uma prisão
odiosa que lhes foi legada e que legarão, mau grado seu, a seus sucessores, sem
poderem obter melhoria para si nem para eles. Convencido de que prestava um
importante serviço à sua pátria, propunha que a Junta apresentasse ao Governo e
ao Parlamento, como medida de salvação para a Madeira, a abolição dos vínculos.
A 14 desse mês, a comissão encarregue de dar parecer sobre esta proposta
entendia que, na consulta, se fizesse sentir ao Governo que, para esta ilha, a
libertação da terra era uma necessidade suprema, pedindo, ao mesmo tempo, a
elaboração de uma lei que decretasse a abolição dos vínculos. Como o Governo
demorava na resolução desta questão tão importante para a economia da Ilha, a 30-
11-1864, o procurador Tenente Coronel Antonio Pedro Azevedo apresentou uma
proposta que chamava a atenção do Governo para as especificidades do contrato
de colonia da Madeira, já que este estava baseado num sistema misto, passando de
pais para filhos, onde o senhorio não exclui o colono, pagando-lhe as benfeitorias
necessárias e úteis que este tenha na terra. Esta parceria ou sociedade tinha claúsulas
fixas que não eram escritas ou, quando eram, muitas vezes as escrituras perdiam-
se ou deterioravam-se, não deixando ver os termos do contrato, que passava a
ser reconhecido através de testemunhas, o que levava a muitas desinteligências,
ódios, vinganças e despendiosos litígios judiciais que prejudicavam as partes e a
agricultura. Por isso, sugeria que se verificassem as claúsulas primordiais e gerais
do contrato de colonia, convertendo-as em lei, para o que fez a seguinte proposta:
Primeiro – que se abra concurso que terminara a dezesete d’abril a fim de obter-
se o melhor projecto de lei para melhoramento da industria agricola na ilha da
Madeira, tomando-se por baze o antigo contracto de colonia, ou recorrendo-se a
outro meio que mais convencinente pareça; Segundo – Que entretanto se colligão
e imprimão os antigos e modernos documentos que facilmente se encontrem, e
sirvão para illustração das pessoas que se encarregarem de preparar o pretendido

credores, ou compradores, com ofensa dos direitos dominicais e, assim retalhada, torna-se ordináriamente inútil.
Dão-se a um simples colono parciário faculdades que não tem o senhorio útil de um prazo! Mas não lhas deu o
contrato, – introduziu-as o abuso que muito convém reprimir e acabar, para utilidade do senhorio, do Estado, e do
próprio colono.
Ao 3.º – Uma terra que origináriamente tivera um só colono e uma só casa de habitação para ele e sua familia,
passou a ter muitas casas de residência dos muito[s] colonos que a invadiram. Tem isto acontecido geralmente e já
se vê que por esta forma tem a agricultura perdido algumas léguas de terra produtiva e crescido para os senhorios as
dificuldades de libertarem as suas terras de maus colonos. São, na maior parte, choupanas informes essas habitações,
por que pertencem a pequenos colonos; – há por toda a parte arrumações, em forma de paredes, feitas das pedras
toscas que os colonos vão separando da terra vegetal, e a tais paredes também chamam benfeitorias; – mas as obras
não toscas, as paredes de pedra preparada como para um edifício urbano, essas são as que mais habilitam o colono
para sujeitar o seu arbítrio a terra e o senhorio.
Ao 4.º e 5.º responde-se afirmativamente.
Sala das Sessões da Junta do Funchal, 21 de Julho de 1855.

197
Junta Geral

projecto; Terceiro – Que ao melhor projecto seja adjudicado por parte desta Junta
o prémio de cento e cincoenta mil réis, e ao immediato o de trinta mil réis; Quarto
– Que a apreciação dos projectos apresentado pelos concorrentes e escolha do
melhor e do immediato, sejão commettidos a um jury composto de cinco membros,
sendo nomeado um por Sua Excellencia o Governador Civil, dois eleitos por esta
Junta, e dois pela Sociedade Agricola, os quais poderão tomar as informações que
lhes parecerem necessárias; Quinto – Que os projectos apresentados dentro do
prazo do concurso estejão nos sessenta dias immediatos, patentes, no local que
previamente fôr annunciado pelas folhas da terra, pera serem examinados por
quem quizer certificar-se das providencias que eles contenhão, convidando-se ao
mesmo tempo o público a apresentar as considerações que julgar convenientes,
para serem apreciadas pelo jury na occazião do julgamento.
Nessa mesma altura, o procurador João Frederico da Câmara Leme apresentou
outra proposta para que se pedisse ao Governo a elaboração de uma lei onde as
avaliações para a exclusão dos colonos fosse feita, tendo em conta os rendimentos
que, nos três anos anteriores, os colonos tivessem dado aos senhorios.
Para redação de um projeto de lei em conformidade com as necessidades
da Ilha, a Junta Geral decidiu abrir um concurso ao público, com um prémio
monetário para os melhores trabalhos, para apresentação de propostas sobre o
contrato de colonia. Para isto, a Junta pedia a colaboração das várias câmaras do
Distrito, deliberando lançar uma derrama entre elas do montante de trezentos
mil réis, para as despesas de impressão das várias propostas que viessem a
receber. Foi nomeado um júri para avaliar o mérito das propostas, presidido pelo
Governador Civil. A 5-12-1864, o procurador Luiz Figueiroa de Albuquerque propôs
que, no programa do concurso, os concorrentes apresentassem os seus projetos
acompanhados de uma exposição dos motivos que tinham presidido à redação de
cada um dos respetivos artigos.
Infelizmente, durante a existência da Junta Geral na Regeneração, esses
projetos nunca foram plasmados em lei.
Os expostos também constituíam preocupação para a Junta Geral. Segundo
as Ordenações Manuelinas de 1521, competia às Câmaras Municipais suportar o
custo da criação das crianças abandonadas nos respetivos concelhos, até aos 7 anos
de idade. Devido às constantes crises que afetaram a Madeira, as câmaras, por não
terem fundos, deixaram de poder cumprir com esse preceito, constatando a Junta
que havia necessidade urgente de tomar providências, para evitar o descalabro
neste serviço fundamental para a comunidade. Havia anos que estas não pagavam
às amas que cuidavam dos expostos, ficando em dívida para com elas, durante
muitos anos, deixando-se de cumprir a lei de 7 de outubro de 1837. A Junta
tinha consciência dessa situação e da impossibilidade em que se encontravam os
municípios de fazerem esse pagamento.
A Junta achava necessário proporcionar às câmaras os meios necessários para
a regularização desse serviço, pagando normalmente às amas, fazendo inspeções
frequentes aos expostos e assegurando-lhes um bom tratamento. Em 1854,
das contas relativas à sustentação dos expostos, via-se que as câmaras deviam
às amas, até 31 de março desse ano, a avultada quantia de 18.379$232 réis. A

198
Junta Geral

Junta entendia que era urgente criar uma receita específica para fazer face a esta
despesa, sugerindo a criação dum imposto sobre o mel e figos importados, embora
reconhecendo os problemas que causaria à comercialização desses produtos.
Em substituição, a Comissão administrativa da Junta decidiu solicitar ao Governo
um auxílio extraordinário para pagamento daquela dívida, comprometendo-se as
câmaras, a partir daqui, a cumprir o integral pagamento anual desta despesa. E,
para impedir o progressivo aumento de expostos, cuja despesa poderia absorver a
maior parte dos rendimentos das câmaras, recomendava uma vigilância apertada
sobre as mulheres solteiras em estado de gravidez, para que fossem obrigadas,
não só a apresentar os filhos como a criá-los. Para a regular sustentação dos
expostos, a Comissão entendia que devia manter-se a deliberação da Junta de 18
de junho de 1845, a qual estabelecia que as câmaras concorressem para a caixa
dos expostos com uma quota proporcional à sua receita.
A 18-06-1855, o Governador Civil, na apresentação do seu relatório,
informava a Junta que tinham sido adotadas medidas para entrar na normalidade
a administração dos expostos. No entanto, esta situação parecia insolúvel. A 03-
07-1858, o procurador Jaime de França Neto assumia que as dívidas das câmaras
às amas dos expostos eram demasiado avultadas, não lhes sendo possível acertar
as contas, mesmo que recorressem à criação de novos impostos e derramas que,
nesse momento, eram considerados incompatíveis com a miséria da população.
Este procurador, representante do concelho da Ponta do Sol, informava que a
câmara do concelho que representava submetia o estado decadente das suas
finanças à consideração da Junta Geral e pedia para ser embolsada pelo cofre da
mesma Junta, do saldo que esta lhe devia, por conta dos expostos. Admitia que
talvez fosse proveitoso pedir ao Governo que concedesse às câmaras a faculdade
de transigir com os seus credores. Muitas amas a quem as câmaras deviam
avultadas quantias, querendo emigrar, abdicavam da totalidade da dívida, para
poderem receber algum, mas as câmaras não podiam aceitar tais propostas por
lhes ser impedido por lei essa faculdade.
A 31 de dezembro de 1857, o número de expostos em todo o Distrito era
de 972 e a despesa de 12.385$910 réis, com a sua sustentação, foi distribuída
pelas Câmaras Municipais, através de quotas calculadas segundo a receita de cada
uma delas, no decurso desse ano. Nessa conta, foram igualmente indicadas as
importâncias que o cofre geral dos expostos devia a algumas Câmaras Municipais,
por conta dessa despesa nos anos anteriores, assim como os saldos que outras
tinham de pagar ao mesmo cofre, das quotas que lhes tinham cabido nas derramas
respetivas. Da falta de meios com que lutavam as Câmaras Municipais, resultava
que as amas dos expostos eram credoras da avultada soma de 37.145$475 réis,
quantia que, dificilmente, seria amortizada, sem o lançamento de uma derrama
para este fim em especial.
A 30-06-1863, o procurador Tenente Coronel António Pedro de Azevedo
recomendava ao Governador Civil a conveniência de levar a efeito um rigoroso
inquérito sobre os abusos que as câmaras eventualmente tenham cometido,
prejudicando os jovens expostos que se encontravam desprotegidos, compelindo-
as a pagar às amas as dívidas atrasadas e que as despesas correntes com os expostos
se fizessem em conformidade com o preceito da portaria de 17 de dezembro de
199
Junta Geral

1840, que lhe dava preferência a todas as outras despesas municipais e que os
pagamentos atrasados fossem feitos num curto espaço de tempo em prestações
mensais. Em relação ao inquérito sugerido, entendia que o Governador Civil
deveria ordenar as medidas que lhe parecessem convenientes, mandando repor
em vigor as instruções de 30 de abril de 1855, a todas as câmaras que tivessem
a administração da roda de expostos. Nesta mesma reunião, o vogal Manuel
Joaquim de Gouveia fazia sentir ao Governador Civil a conveniência de ordenar às
câmaras que colocasse um cognome aos expostos, no ato do baptismo, a fim de
melhor serem conhecidos no recenseamento e para que não ficassem isentos de
tal tributo.
Em 1863, o Cónego Filipe José Nunes, vogal que fazia parte da comissão dos
expostos, considerava que o modo que se estava provendo à sua sustentação não
era o mais justo, porque alguns concelhos rurais contribuíam, em alguns anos, com
uma quota inferior à que era necessária. Aprovava, no entanto, esse sistema como
o mais conveniente, porque não era possível, nesse momento, adotar outro modo
de satisfazer esse encargo, na medida em que as rendas do concelho do Funchal
eram, na sua quase totalidade, consumidas pelos expostos. Solicitava que se
determinasse às Câmaras Municipais que, sempre que fosse possível, fizessem com
que os expostos fossem criados por amas domiciliadas no mesmo concelho e não
por amas que residissem noutros concelhos, porque, desse modo, seria mais fácil
não só evitar alguns abusos, mas também fiscalizar-se o bem-estar dos expostos.
A 11 de julho desse ano, a verba de 8.850$000 réis, proposta no orçamento e
aprovada para sustentação dos expostos a cargo das Câmaras Municipais do
distrito, foi distribuída na proporção das contas da receita das referidas câmaras
no ano civil de 1862.

Quota dos concelhos para os expostos em 1862 (em réis)

Concelhos Receitas Quota


Funchal 24.980$431 5.592$715
Santa Cruz 1.939$703 434$267
Machico 1.670$592 374$018
Santana 772$788 173$014
São Vicente 1.035$005 231$720
Porto do Moniz 664$714 148$818
Calheta 1.614$325 361$420
Ponta do Sol 3.162$820 708$103
Câmara de Lobos 2.620$950 586$787
Porto Santo 1.068$137 239$138
Totais 39.529$465 8.850$000
A verba de 3.581$160 réis, destinada à amortização da dívida das câmaras aos

200
Junta Geral

expostos, foi pela mesma forma e proporção distribuída por elas, como mostra o
seguinte quadro:

Subsído da Junta Geral para amortização das dívidas dos expostos em 1862

Concelhos Dívida Quota


Funchal 24.980$431 2.263$099
Santa Cruz 1.939$703 175$726
Machico 1.670$592 157$346
Santana 772$788 70$010
São Vicente 1.035$005 93$765
Porto do Moniz 664$714 60$219
Calheta 1.614$325 146$249
Ponta do Sol 3.162$820 286$535
Câmara de Lobos 2.620$950 237$444
Porto Santo 1.068$137 96$767
Totais 39.529$465 3.581$160

A 7 de dezembro de 1864, a Junta Geral, sob proposta do Governador Civil,


tomou a seguinte deliberação: Artigo primeiro: é criada no Governo Civil deste
Distrito uma Repartição Central, a cujo cargo fica exclusivamente o serviço dos
expostos e a dos estabelecimentos pios e de beneficiência do mesmo Distrito;
Artigo Segundo: o seu pessoal compor-se-à de um oficial chefe da repartição e de
um amanuense; Parágrafo primeiro: o oficial será nomeado dentre os chefes de
repartição do Governo Civil, dando-se-lhe por este serviço a gratificação anual de
cento e quarenta mil réis; Parágrafo segundo: a nomeação do amuense recairá em
pessoa fora do quadro da Secretaria e que se mostre devidamente habilitada para
desempenhar o trabalho que lhe é incumbido, vencendo por isso o ordenado anual
de duzentos e sessenta mil réis; Artigo terceiro: a verba de quatrocentos mil réis,
necessária para acorrer a esta despesa, sairá da quota votada para o serviço com
os expostos.
A Junta aprovou esta proposta por unanimidade e, tomando-a na devida
consideração e atendendo à necessidade de exercer uma assídua e ativa fiscalização
sobre o serviço dos expostos e sobre a administração das Confrarias, porque daí
hão-de provir grandes vantagens tanto para os municipios pela diminuição da
despesa com a sustentação dos expostos, como para os estabelecimentos de
beneficiência do distrito pelas importantes somas que podem ser convertidas em
favor deles, se a administração das confrarias entrar nas devidas condições de
regularidade.
No ano de 1864, a verba de 6.850$000 réis, proposta no orçamento e aprovada
para a sustentação dos expostos a cargo das Câmaras Municipais do Distrito, foi
201
Junta Geral

distribuída na proporção das contas de receita das respetivas Câmaras, no último


ano económico, como demosntra o quadro apresentado:

Quota dos concelhos para os expostos em 1864 (em réis)


Concelhos Receitas Quota
Funchal 310.041$030 4.618$000
Santa Cruz 2.034$590 298$000
Machico 1.916$290 286$000
Santana 851$740 126$000
São Vicente 733$450 110$000
Porto do Moniz 845$890 116$000
Calheta 2.134$000 320$000
Ponta do Sol 4.235$310 660$000
Câmara de Lobos 1.407$430 210$000
Porto Santo 727$000 106$000
Totais 45.924$730 6.850$000

A verba destinada para a amortização da dívida das Câmaras aos expostos


foi, pela mesma forma e na devida proporção, distribuída pelas câmaras, do modo
seguinte:

Subsídio da Junta Geral para amortização das dívidas dos expostos em 1864
Concelhos Dívida Quota
Funchal 27.561$600 2.756$160
Santa Cruz 2.289$045 228$904
Machico 839$645 83$964
Santana 149$755 14$975
São Vicente 293$090 29$309
Porto do Moniz - -
Calheta 2.704$180 270$418
Ponta do Sol 1.014$300 101$430
Câmara de Lobos 1.091$715 109$171
Porto Santo - -
Totais - -

A partir de 1865, o serviço de expostos deixou de ser municipal para ser


distrital. A partir desse ano, as contas desse serviço teriam de ser apresentadas ao
respetivo tribunal, tendo a administração dos expostos melhorado sensivelmente.
O Governador Civil, no seu relatório à Junta Geral, informou que a situação estava

202
Junta Geral

a mudar pelo número de 657 expostos que encontrei no Distrito, quando em


Janeiro de1863 tomei conta da sua administração era ainda de 527 no príncipio
do ano económico de 1864 a 1865. O número médio das exposições nos seis anos
decorridos de 1857 a 1862 era de 171 e um décimo. A despesa média anual em
cada um dos anos do referido periodo – 10.090$389 réis. Em 30 de Junho de 1865,
o número de expostos em criação estava reduzido a 456. O número de exposição
em todo o ano foi de 83, dos quais se entregaram aos pais 18, ficando por isso
reduzido a 65. A mortalidade durante o mesmo ano foi de 48, ou 1 em 12 e sete
décimos. A despesa em todo o ano foi de 5.804$780 réis, incluindo a verba de
subsídios às mães pobres. No corrente ano a quota que vos peço no orçamento,
atenta a circunstância de haver sobras do ano anterior, é apenas de 3.200$000
réis para serem dividios pelo Distrito. Estas cifras, indicando os resultados colhidos
da execução do regulamento que dei a este ramo de serviço e da adopção das
diferentes propostas que apresentei nas anteriores sessões da Junta, são a
recompensa mais brilhante que podia desejar para tudo quanto hei feito neste
assunto. Os estabelecimentos de beneficiência melhoram também sensivelmente
nas suas condições económicas e no seu regimen interno pelos esforços incessantes
e zelo inexcedível das administrações a quem estão imediatamente confiados.
O hospital do Funchal, que desde tantos tempos caminhava em progressiva
decadência, a despeito da dedicação e óptima vontade com que havia sido servido
por algumas comissões, vai de dia a dia levantando-se do profundo abatimento em
que tem jazido e diminuindo as dificuldades penosíssimas que lhe eram já quasi
vida normal. (…). O asilo de mendicidade, graças á ilustrada direcção e generosa
protecção que tem tido vai tambem sucessivamente melhorando. (…), tenho
procurado aumentar-lhe a dotação que comecei a estabelecer-lhe e nesse intuito
continuo a aplicar-lhe todas as verbas que tenho podido obter. A falta de estatutos
aprovados que deêm vida legal àquele estabelecimento, é uma das suas maiores
dificuldades. Para faze-la cessar elaborei e submeti á aprovação do Governo,
depois de ouvir a digna comissão directora, um projecto de estatutos, que mereceu
a aprovação daquella corporação. (…). A administração das confrarias continua
atestando a necessidade de acudir-lhe com alguma providência que habilite esses
estabelecimentos a satisfazerem melhor aos fins da sua instituição e a produzirem
o bem que há a esperar deles.
A 5 de janeiro de 1866, o procurador João de Santana e Vasconcelos Júnior
propôs que, no relatório a elaborar pela Junta, se fizesse especial menção dos
resultados surpreendentes que tinha dado a criação de uma repartição especial
para se ocupar deste serviço. No relatório do Governador Civil, pode constatar-
se que a despesa com o serviço dos expostos, no ano de 1865, compreendendo
o subsídio às mães, fora de 5.390$080 réis e, no projeto de orçamento para o
ano de 1866, estava referida a dotação de 5.100$000 réis. Mas as dívidas às amas
continuavam sem solução. A 25 de outubro de 1869, foi analisado na reunião
da Junta um requerimento de várias amas, pedindo que lhes mandasse pagar
os ordenados vencidos há três anos. Resolveu a Junta que não sendo das suas
atribuições deliberar sobre este assunto, no qual tinha unicamente voto consultivo,
deviam as requerentes dirigir-se ao Governador Civil, a quem competia decidir
esta questão. Em 1868 e 1873, as quotas para o serviço de expostos ficaram assim
distribuídas:

203
Junta Geral

Quota dos concelhos para os expostos em 1868 e 1873 (em réis)

Concelhos Quota de 1868 Quota de 1873


Funchal 2.367$800 1.649$000
Santa Cruz 253$000 212$000
Machico 343$500 205$000
Santana 321$700 202$000
São Vicente 210$000 187$500
Porto do Moniz 245$000 96$600
Calheta 286$500 277$900
Ponta do Sol 297$400 235$000
Câmara de Lobos 287$500 171$000
Porto Santo 138$600 103$000
Totais 4.751$000 3.339$000

A 13 de março de 1873, a comissão encarregada de dar parecer sobre o relatório


do Governador Civil informou que, no início de julho de 1872, existiam, em todo
o distrito, 222 expostos, (104 do sexo masculino e 118 do sexo feminino), tendo
sido de 2.713$785 réis a despesa com a sua sustentação. No entanto, voltava a
alertar para a existência da dívida das câmaras às amas. No ano seguinte, a mesma
comissão encarregada de designar as quotas com que cada concelho deveria
contribuir nesse e no ano seguinte para a sustentação dos expostos, confirmou que,
em 30 de junho de 1873, existiam em todo o distrito 227 expostos, (109 do sexo
masculino e 118 do sexo feminino), não tendo havido alteração alguma nesta cifra
até 31 de dezembro desse ano. Pelos mapas estatísticos da mortalidade, verificou
a comissão que, no ano económico de 1871 e 1872, o número de falecimentos foi
de 25 e no de 1872 a 1873, de 14, tendo falecido no semestre decorrido de 1 de
julho a 31 de dezembro do último ano, apenas 11 expostos. Em 1873, a epidemia
da varíola causou 1007 vítimas, sendo a primeira infância a mais afetada; nos
concelhos da Ponta do Sol e Câmara de Lobos, onde existiam mais de dois terços
dos expostos, fez a epidemia 209 vítimas. Sendo assim, foi diminuto o número
de casos fatais havidos nos expostos, no ano de 1873, até pela eficácia da vacina
preventiva dessa doença.
No orçamento do distrito para os anos de 1874 e 1875, a mesma comissão
previa que as Câmaras Municipais contribuíssem para a sustentação dos expostos,
no ano de 1875, com um total de 3.486$000 réis e tendo examinado e comparado
os documentos que serviram de base para essa distribuição, entendeu que as
quotas fossem iguais às desse ano.
As Misericórdias são uma instituição secular que vem dos tempos medievais
que se converteram numa ação organizada, com o objetivo de ajudar as classes
mais desfavorecidas. Aparecem primeiro em Florença, em 1244, por ação de

204
Junta Geral

S. Pedro Mártir, chegando a Portugal no reinado de D. João II. Na Madeira, as


Misericórdias viveram sempre com grandes dificuldades, tendo-se agravado por
volta de meados do século XIX, devido às circunstâncias económicas em que se
encontrava o Distrito. O procurador à Junta Geral, Cónego José Joaquim de Sá, na
reunião de 4 de maio de 1854, apresentou uma proposta para que a Misericórdia
pudesse fazer Lotarias, cedendo o Governo a favor do mesmo estabelecimento
os 5% que delas recebia, além da suspensão das execuções fiscais para todas
as dívidas contraídas até o ano de 1852. Na reunião de 12 desse mês, o mesmo
procurador apresentou outra proposta, aprovada por unanimidade, para que a
Junta pedisse ao Governo que a Santa Casa da Misericórdia do Funchal passasse a
ser administrada por um Provedor e Mesa, na forma do seu antigo compromisso
e que lhe fosse aplicada a legislação particular e privilégios iguais aos concedidos
pelo Governo à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e Hospital de São José. Esta
medida foi atendida pelo Governo, por Alvará Régio de 13 de março de 1855.
Uma outra providência proposta pela Junta, também em benefício das
Misericórdias do Distrito do Funchal, era a aplicação à mesa da Misericórdia do
Funchal das mesmas leis, por que se regia a Misericórdia de Lisboa. O Governo
atendeu o pedido, mandando o Governador Civil, em portaria do Ministério
do Reino de 28 de abril desse ano, proceder à reforma do Compromisso, em
conformidade com a portaria de 3 de abril de 1852.
A 28 de novembro de 1864, o procurador Manuel José Vieira Júnior foi
encarregado pela Comissão de exame do estado de decadência da Misericórdia
e Hospital do Funchal de indicar as medidas necessárias para a resolução
desse problema. A 10 de agosto de 1868, o procurador Dr. Freitas Leal, tendo
conhecimento de que as Misericórdias de Machico, Santa Cruz e Calheta apenas
possuíam os meios necessários para satisfazer as despesas do seu pessoal, não
podendo ser tratados gratuitamente no hospital da Santa Casa da Misericórdia
do Funchal, os doentes moradores naqueles concelhos devido à existência ali
de casas de misericórdia, apresentou uma proposta para que se consultasse o
Governo sobre a conveniência de serem os rendimentos dessas Misericórdias
anexados à do Funchal, obrigando-se esta a receber gratuitamente os doentes
dessas localidades, como acontecia com todos os que procuravam esta Santa Casa,
vindos de freguesias onde não havia Misericórdias. Esta proposta foi aprovada
com uma ligeira alteração, proposta pelo Dr. Azevedo: Que se peça à autoridade
competente que indique quais os rendimentos dessas misericórdias para se poder
fundamentar melhor a utilidade da proposta. O Dr. Perestrelo de Vasconcelos disse
que, além dos esclarecimentos pedidos pelo Dr. Azevedo, desejava conhecer o
ativo e o passivo das referidas Misericórdias.
O Asilo de Mendicidade do Funchal foi criado no ano de 1847, depois da
grave crise agrícola e comercial por que passara o Distrito, nos anos de 1846 e
1847, cabendo tal feito ao Governador Civil da Madeia, José Silvestre Ribeiro. Em
1856, houve uma epidemia de cólera que vitimou muitos madeirenses, deixando
muitas crianças orfãs e desamparadas e para as quais era necessário procurar
abrigo. O Governador Civil de então decidiu adaptar algumas dependências do
extinto Convento de S. Francisco, instalando ali um asilo destinado exclusivamente
a crianças, ficando a sua direção a cargo do Asilo de Mendicidade, que, devido à

205
Junta Geral

falta de recursos para os manter separados, se juntaram no ano de 1862, no Asilo


de Mendicidade e Órfãos. Este estabelecimento pio não tinha bens próprios e vivia
exclusivamente da caridade pública, o que lhe causava problemas em tempos de
crise, pondo-se em causa, por várias vezes, a sua continuidade. O Governador Civil,
Jacinto António Perdigão, empenhou-se na defesa desta instituição de caridade,
organizando e aprovando os seus estatutos e obrigou a Câmara Municipal do
Funchal a pagar-lhe uma dívida de 5 contos de réis de que o asilo era credor,
constituindo com este dinheiro o seu fundo permanente.
No entanto, o asilo lutou sempre com muitas dificuldades que iam sendo
ultrapassadas com a comparticipação da Junta, das câmaras municipais e do
Governo. Existia apenas um estabelecimento destes para uma população de mais
de cem mil habitantes. Por estas razões a conservação dum estabelecimento deste
género era de suma utilidade para o Distrito. Mas não tinha fundos próprios. Os
meios extraordinários de que se lançava mão (bazares, espetáculos, rendimentos
de confrarias extintas etc.) eram insuficientes para a sua manutenção. As
comparticipações de beneméritos eram quase irrisórias. A Junta Geral contribuía
com os meios que podia. A solução era que as câmaras votassem uma lei de
dotação ao asilo de mendicidade e orfãos do Funchal, a exemplo do que acontecia
em outros Distritos. Além destas sugestões, a Junta decidiu autorizar o Chefe do
Distrito a aplicar neste estabelecimento todos os rendimentos pertencentes às
extintas confrarias. A Junta recomendou ainda ao Governador Civil que usasse
de todos os meios ao seu alcance para obrigar todos os devedores ao cofre dos
socorros públicos a pagarem as suas dívidas para que fossem aplicadas no Asilo e
na Santa Casa da Misericórdia do Funchal.
Em 1854, na apresentação de contas do Governador Civil, a Junta esclarecia
que já tinha pedido ao Governo o que lhe parecia possível obter para o Asilo de
Mendicidade e Hospital da Santa Casa da Misericórdia do Funchal, pedindo também
autorização para dispôr dos rendimentos das extintas confrarias, a favor destes
estabelecimentos e agradecia ao Governador Civil a criação de um rendimento,
através do alvará de 11 de março desse ano, para estes estabelecimentos, dando
ao pouco que restava dos socorros públicos uma aplicação mais conforme com a
sua instituição. Através da carta de lei de 27 de junho desse ano, foi concedida a
dotação de 100$000 réis mensais para o Asilo de Mendicidade. A 19-07-1855, o
presidente da Junta informou a comissão administrativa ter recebido um ofício
do Governador Civil, em que este ordenava a aplicação dos rendimentos e bens
próprios das extintas confrarias de Nossa Senhora da Piedade, dos Reis Magos e
das Almas, ao asilo e ao Hospital da Misericórdia.
A 6-7-1863, o procurador pelo concelho do Funchal, cónego Filipe José
Nunes, propunha que a Junta solicitasse ao Governo que fizesse votar, em Cortes,
uma lei de dotação ao Asilo de Mendicidade e Órfãos deste Distrito, sem o que
ests tinha necessariamente de fechar a porta. No dia seguinte, os procuradores
António Pedro de Azevedo e João Perestrelo de Vasconcelos sugeriram que
a Junta pedisse, na consulta ao Governo, que se revissem os compromissos
das confrarias e irmandades para os pôr em harmonia com o estado actual da
legislação e torna-los uniformes nas suas principais bases e para a comutação dos
encargos pios em obras de utilidade e beneficência. A 8 desse mês, Filipe José

206
Junta Geral

Nunes apresentou, por parte da comissão do Asilo de Mendicidade e Órfãos, o


seu parecer, recomendando ao Governador Civil que empregasse todos os meios
ao seu alcance para obrigar todos os devedores ao cofre dos socorros públicos
que pagassem as dívidas, cumprindo as condições a que se haviam obrigado,
perante o Governo Civil, pagando o capital e juros. Pedia também ao Governo
que as obras não se realizassem com o dinheiro dos pobres. Sugeria ainda que o
Governo comprasse inscrições, no valor dos cinco contos de réis que devia ao cofre
das pensões da companhia dos trabalhos braçais da alfândega e que o rendimento
dessas inscrições fosse aplicado à dotação dos asilos, com a obrigação de serem
socorridos em suas casas, pelos mesmos asilos, os trabalhadores da alfândega que
ficassem inválidos. Por último, pedia ao Governo para que fizesse votar, em Cortes,
uma lei de dotação ao asilo de mendicidade e orfãos do Funchal, como já tinha
sido sugerido pela Junta na sessão do ano anterior.
O relatório do Governo Civil, apresentado à Junta no ano de 1869, congratulava-
se com os progressos do asilo e chamava a atenção da Junta para a crescente
mendicidade nas ruas da cidade. Esta questão foi discutida na reunião de 20-
10-1869, tendo sido decidido que, no relatório que a Junta devia apresentar ao
Governador Civil, se apontassem os alvitres que se tinham discutido nessa reunião
sobre este assunto, tendo o procurador Dr. Álvaro Rodrigues de Azevedo lembrado:
Primeiro; Que parecia conveniente remover os mendigos para o concelho da sua
residência quando eles preferissem este ao da naturalidade; Segundo: Que para
impedir que acorram à caridade pública os que não carecem de socorrer-se a ela,
seria acertado proceder-se à matrícula de todos os mendigos que estão no caso de
esmolar, sendo estes obrigados a trazerem um distintivo ou sinal visivel, de modo
que fossem facilmente conhecidos.
A 22 de outubro de 1869, continuando a discussão sobre o Asilo de
Mendicidade, o Dr. Álvaro Rodrigues de Azevedo manifestou a opinião de que
seria conveniente criar, em todos os Concelhos, comissões permanentes que se
incumbissem de obter, nas suas localidades, donativos em benefício do asilo. O
Dr. Manuel de Jesus Antas e Almeida opinou que esta medida se opunha à de
obrigar os mendigos estranhos ao município a saírem para as suas naturalidades,
entendendo que o melhor seria reunir os mendigos num asilo e fazer uma
derrama pelos Concelhos, como se praticava com os expostos, acrescentando
que a derrama devia ser lançada sobre as contribuições predial e industrial. O
Dr. Azevedo concordou com ele, mas acrescentando que lhe parecia conveniente
alterar os estatutos do asilo, na parte relativa à admissão dos asilados, devendo
a classificação ser feita pelas autoridades administrativas. A 7 de março de 1873,
a questão era a mesma. O Dr. Freitas pedia uma consulta ao Governo, para que
fosse concedido um subsídio de 50$000 réis mensais ao Asilo de Mendicidade e
Órfãos do Funchal, pagos pelo cofre central do distrito. Discutida a proposta, foi
por unanimidade aprovada, com exceção da parte que dizia ser do cofre central do
distrito que deveria sair tal importância. A 10 de março de 1874, o procurador pelo
concelho de São Vicente, Dr. João de Freitas da Silva, propôs que se fizesse uma
consulta ao Governo sobre a conveniência de serem isentos de todo o imposto os
estabelecimentos de caridade, asilos e misericórdias, porque parecia mal que o
Estado viesse cercear a esmola que a caridade generosamente oferecia em favor

207
Junta Geral

dos pobres, já que essa isenção era reconhecida nas leis de 12 de dezembro de
1844 e 30 de junho de 1860.
Os únicos meios considerados eficazes para combater e cortar pela raiz
a mendicidade eram, segundo os elementos da Comissão Administrativa da
Junta Geral, a difusão da instrução, a generalização dos princípios económicos
disseminados pelas massas, revestidos com a linguagem própria e a elas acessível
e o amor pela religião.
Assim sendo, a Junta tentou, pelos meios ao seu alcance, divulgar entre a
população as vantagens da instrução pública, embora reconhecesse que o quadro
de dificuldades não fosse propício ao desenvolvimento da escolaridade, mesmo
tendo as estatísticas da época revelado alguns progressos. Como afirmava então o
Governador Civil, o denominado vilão refutava uma inutilidade e até um prejuízo
mandar seus filhos aprender a ler e escrever, porque ao mesmo tempo que não
queriam compreender para que isso lhes servia, tinham de privar-se do auxílio que
nos seus trabalhos campestres costumavam receber dos filhos desde a mais tenra
idade. O número de escolas era então muito limitado e a sua frequência, mais
difícil. O relatório do Governador Civil indicava que tinham aumentado o número
de escolas sustentadas pelo Estado ou pelos municípios, tendo também aumentado
as particulares consideravelmente e o amor pela instrução tem-se desenvolvido ao
ponto de ser muito lisongeiro, apesar de ser ainda inferior ao que seria de desejar.
Em 1863, a população do Distrito em idade própria para receber a instrução
primária não excederia muito as seis mil almas. A frequência, no ano de 1862,
fora de 2.704 indivíduos distribuídos pelo seguinte modo: – 1.341 nas escolas
municipais e 620 nas particulares. Dos 2.704 alunos, 1.113 pertenciam ao sexo
feminino. Constatava-se que, havia poucos anos, apenas havia uma escola régia
para o sexo feminino, em todo o distrito. Nessa altura, a educação da mulher era
completamente descurada pelo homem. A ninguem é hoje lícito desconhecer a
influência da mulher nos costumes e na civilisação – a ninguem é permitido preterir
a necessidade de lhe formar o espírito e o coração por meio de uma educação, que
a eleve e prepare a grande missão, que é chamada a desenpenhar na Sociedade.
Nesse ano, já contava o distrito com nove escolas régias para o sexo feminino e
algumas outras particulares. A Junta, entusiasmada com estes números, ia criando
escolas o mais próximo das populações.
A falta de pessoal devidamente habilitado para exercer a docência era outro
problema que preocupava a Junta. A situação topográfica da ilha e a modesta
retribuição, que auferiam os professores impedia que concorressem para os
concelhos mais distantes pessoas estranhas à localidade, que confirmava o adágio:
ou um mestre pouco apto, ou a escola fechada.
Na reunião de 25 de junho de 1855, a Junta decidiu criar escolas em todas
as freguesias rurais que tivessem um número de população que o exigisse. Nessa
mesma reunião, a Junta recebera um mapa, enviado pelo Governador Civil, de
todas as escolas de ambos os sexos, tanto públicas como particulares, que havia
no Distrito, designando as localidades em que se encontravam e por quem
eram custeadas. A Junta considerava então a instrução primária o germen do
aperfeiçoamento da sociedade, das artes e da boa morigeração dos povos, por

208
Junta Geral

isso que sem instrucção é impossivel avançar um passo na estrada da civilisação


e do progresso. Pensando nas dificuldades de deslocação dos alunos, em especial
no inverno, tendo que atravessar ribeiras caudalosas, na maior parte das quais
não havia pontes e atendendo às grandes distâncias, a Junta resolveu propôr a
criação de vinte e três escolas pagas pelo Estado. E, mesmo assim, considerava
este número ainda bastante insuficiente, olhando para o mapa das escolas que
o governo sustentava neste Distrito, onde os povos têm pago centenas de contos
de réis de subsídio literário, que, segundo a lei, é e deve ser aplicado a escolas de
instrução primária e onde, relativamente à população, é tão diminuto o número
delas, que não pode haver termo de comparação com as que ha no reino. Das 23
escolas propostas pela Junta, 20 seriam do sexo masculino, e 3 do sexo feminino7.
A 6 de julho desse ano, o Presidente da Junta recebeu do Governador Civil um
ofício, emanado do Conselho Superior de Instrução Pública, acompanhado de um
mapa do Comissário de Estudos do Distrito, em que, por ele, é proposta a criação
de trinta e seis escolas de ensino primário. A 17 desse mês, tendo tomado já a
Junta uma deliberação a este respeito, resolveu não alterar a sua proposta, por
julgar que, embora se não satisfizesse cabalmente a necessidade pública, não lhe
era possível, nesse momento, aumentar o proposto número de 23 escolas, atentas
as circunstâncias apuradas do tesouro.
A 28 de julho de 1858, a Comissão de Consulta examinou a proposta do
procurador Santana para que se pedisse que o ordenado da única cadeira de ensino
público da ilha do Porto Santo fosse igualado ao ordenado dos professores das
escolas de ensino primário do Funchal. Tendo em vista as circunstâncias especiais
do concelho do Porto Santo e as disposições da lei de 20 de setembro de 1844, era
de parecer, e foi aprovado, que, na Consulta, se pedisse ao Governo que a cadeira
de ensino público naquela ilha fosse provida com um professor habilitado para
ensinar os objetos de instrução primária do segundo grau, com o ordenado que
estabelecia a lei.
A 17 de julho de 1862, o procurador António da Luz Pitta propôs que, na
Consulta desse ano, fosse pedido o aumento do número de escolas de ensino
primário de ambos os sexos, em todo o distrito. A 9-7-1863, o procurador João
Barbosa de Matos e Câmara chamava a atenção do Governo para a necessidade
da criação de mais quatro escolas de ensino primário: uma na freguesia do Arco
da Calheta, outra na freguesia do Porto do Moniz, no sítio da Terra Chã, uma em
São Vicente e outra na freguesia do Seixal. O procurador Roque Teixeira de Agrela

7 As do sexo masculino eram as seguintes: uma no Funchal, nas três primeiras horas da noite, para artistas e classes operárias;
quatro para jovens no Concelho de Câmara de Lobos, a saber: uma na freguesia de Câmara de Lobos, sítio da Saraiva; outra
na freguesia do Estreito de Nossa Senhora da Graça, sítio da Igreja; outra na freguesia do Curral das Freiras, sítio da Igreja
do Livramento e outra na freguesia da Quinta Grande, sítio da Igreja dos Remédios; duas no concelho da Ponta do Sol, a
saber: uma na freguesia dos Canhas, sítio do Jogo da Bola e outra na freguesia da Ribeira Brava, sítio da Igreja; uma no
Concelho da Calheta, na freguesia da Fajã da Ovelha, sítio da Igreja; quatro no Concelho de S. Vicente, uma no sítio dos
Barros, outra na freguesia da Ribeira da Janella, sítio da Igreja; outra na freguesia do Seixal, sítio do Açougue; e a quarta na
freguesia da Boaventura, sítio do Serrão; três no Concelho de Santana, a saber: uma na freguesia de S. Roque do Faial, sítio
do Lombo de Baixo, outra na freguesia de S. Jorge, sítio da Igreja e outra na freguesia do Arco de S. Jorge, sítio da Igreja;
duas no Concelho de Machico, a saber: uma na freguesia do Porto da Cruz, sítio da Igreja, outra na freguesia de Santo
António da Serra, na casa dos Romeiros, e finalmente três no Concelho de Santa Cruz, a saber: a primeira na freguesia do
Caniço, sítio da Azenha, a segunda em Gaula, no sítio da Igreja, e a 3ª na Camacha, no sítio da Igreja. É de advertir, porém,
que estas três últimas e algumas outras, já existiam sustentadas pelos Municípios; mas deixaram de ser devido à enorme
falta de meios que com a perda dos vinhos passaram as Câmaras. As três escolas do sexo feminino eram as duas primeiras
no Concelho de Câmara de Lobos, a saber: uma na freguesia de Câmara de Lobos, sítio da Torre e na freguesia do Estreito
de Nossa Senhora da Graça, sítio da Igreja; e a terceira no Concelho da Calheta, no sítio da Vila.

209
Junta Geral

acrescentou a esta proposta a necessidade de criação, na freguesia de Câmara de


Lobos, duma escola para os filhos dos pescadores, devendo esta escola funcionar
de tarde das três horas até ao pôr-do-sol. Nesta mesma reunião, o vogal Francisco
Simplício de Vasconcelos Lomelino pediu que se indicasse, na Consulta ao Governo,
a necessidade de reformar a Escola Médico-Cirúrgica do Funchal, colocando-a nas
mesmas condições em que estava a escola da Nova Goa. Os procuradores Joaquim
de Sá Camelo Lampreia e Manuel José Vieira sugeriram que se colocasse na mesma
consulta a conveniência que havia em que o Agrónomo, adido ao Governo Civil do
Distrito, mediante uma gratificação, pudesse dar, no Liceu Nacional do Funchal,
preleções sobre princípios de agricultura prática e zootecnia. Do mesmo vogal,
Lampreia, veio a proposta, que já tinha sido feita no ano anterior, para que se
promovesse à redação e publicação dum bom catecismo agrícola, para uso das
escolas primárias e a elevação do subsídio do Liceu do Funchal para a quantia de
60$000 réis.
Em 1866, no seu relatório, o Governador Civil dizia que a Instrução primária
no distrito continuava acanhada e caminha devagar, é insuficiente e está muito
desigualmente repartida. Equanto a população urbana tem nas escolas um por
dezassete indivíduos, a população rural apenas ali conta um por cada sessenta e
cinco.
A 7 de agosto de 1868, o procurador Álvaro Rodrigues de Azevedo apresentou
uma proposta, pedindo para que, na Vila de Câmara de Lobos, fosse estabelecida
uma escola de instrução primária das instituídas por virtude do legado do Conde
de Ferreira e que, no edifício do Liceu do Funchal, se fizessem as obras precisas
para torná-lo apto ao fim que é destinado, já que não era possível levantar um
edifício novo. A 13 do mesmo mês, o mesmo vogal pediu que a escola de instrução
primária para o Concelho de Câmara de Lobos, fosse estabelecida na freguesia do
Estreito de Câmara de Lobos, onde não existia nenhuma escola pública. A 24, o
Dr. Freitas Leal propôs que se consultasse o Governo sobre a conveniência de ser
criada, no sítio das Lages, freguesia de Machico, uma escola de ensino primário
para o sexo masculino, e outra na freguesia de Santo António da Serra, onde não
havia escola pública.
A 13-3-1873, o Dr. Freitas, relator da comissão encarregada de dar parecer
sobre o relatório do Governador Civil, na parte referente à instrução pública, dizia
sentir a comissão o estado de estacionamento em que se encontrava a instrução
primária neste distrito, não estando em relação com a sua população, nem no
número de escolas nem no de alunos, apontando como principal causa, a baixa
remuneração dos professores e a falta de habilitação destes. O Liceu Nacional
do Funchal, na reforma da Instrução Secundária, promulgada pelo decreto de 23
de dezembro de 1862, tinha perdido o estatuto de liceu de primeira classe. Por
isso, a comissão sugeria que fossem concedidas gratificações aos professores que
lecionassem as matérias necessárias para o mesmo ser considerado de primeira
classe, reconhecendo as vantagens, para o distrito, em ter um Liceu de primeira
classe. Era, contudo, de parecer que, devido às dificuldades financeiras do distrito,
este não poderia ser ainda mais sobrecarregado com mais essa despesa, parecendo,
além disso, à comissão que a instrução secundária e superior devia ser paga pelo
cofre central do Estado e não pelo distrital. Nesta conformidade, solicitava à Junta

210
Junta Geral

para que esta pedisse ao Governo que o Liceu continuasse, para todos os efeitos, a
ser considerado de primeira classe, atentas as circunstâncias especiais em que se
encontrava esta província, separada do continente do Reino.

1901-1926.

Implantada a República, o Partido Republicano na Madeira procede à mudança


em todos os departamentos governamentais e na administração local, durante
todo o mês de outubro e o início de novembro. As voltas que a República foi
dando tiveram também influência na Junta Geral que foi alterando a sua comissão
administrativa, conforme se iam alternando os governos e as cores políticas no
país.
A primeira comissão administrativa republicana da Junta Geral foi nomeada
no dia 5 de novembro8 e tomou posse no dia seguinte9. Foram eleitos Presidente
e vice-presidente, Aníbal Sertório dos Santos Pereira e José Joaquim de Freitas,
respetivamente. A comissão reuniu-se, pela primeira vez, nesse mesmo dia, logo
depois de conferida a posse, tendo decidido diligenciar a mudança do Hospital Civil
para o edifício do extinto convento de Santa Clara, a fim de ali serem instaladas
as repartições a cargo da Junta Geral, passando para outras casas do Governo
as recolhidas das órfãs e as pupilas daquele convento, assunto que voltou a ser
abordado na reunião seguinte. Nesta reunião, foi presente o balancete geral da
tesouraria, que acusava, em cofre, um saldo de 2.979$190 réis. Na reunião de
15-2-1912, por motivo de doença, o presidente pediu a sua exoneração, sendo
substituído por Pedro Luís Rodrigues.

RECEITA DA JUNTA GERAL EM 1910 (em réis)


Setembro 19.939$134
Outubro 7.727$082
Novembro 5.109$098
Dezembro
Janeiro a Dezembro 151.347$181

A nova comissão administrativa da Junta Geral, agora empossada, limitou-


se, nas primeiras reuniões, a discutir lugares comuns, pedindo relatórios a todos
os serviços, a fim de poder avaliar o estado em que a instituição se encontrava
administrativa e financeiramente. Na segunda reunião, foram presentes várias
notas sobre as obras públicas em execução, das que tinham sido dadas em
praça pública e as realizadas por conta da Junta ou por administração direta e
sobre o montante de vencimentos, assiduidade e competência dos funcionários

8 Os elementos que compunham a nova comissão administrativa da Junta Geral eram os seguintes: Aníbal Sertório dos
Santos, José Joaquim de Freitas, Pedro Luís Rodrigues, Augusto César Coutinho Gorjão e Francisco Augusto da Silva.
9 O presente capítulo foi elaborado com base nas atas que se juntam no anexo documental, para onde se remetem todas
as referências.

211
Junta Geral

da secretaria, da polícia de emigração, do posto bacteriológico e higiene, da


regência silvícola, da direção das obras públicas, do manicómio Câmara Pestana
e da comissão de viticultura, entre outras informações. Era sua intenção elaborar
um relatório circunscrito e claro que pudesse expressar a prioridade das tarefas
a realizar. Foram dadas ordens rigorosas aos funcionários para que não fizessem
nada sem o conhecimento e autorização da Comissão.
Face às necessidades urgentes e às reclamações de várias pessoas, esta
comissão resolveu autorizar, sem arrematação, as diminutas reparações de
estradas consideradas urgentes. Foi decidido estabelecer a obrigatoriedade do
livro de ponto em todas as repartições da Junta.
Na reunião de 9 de dezembro de 1910, a comissão pediu ao Governo o
estabelecimento do sistema de telegrafia sem fios entre a Madeira e o Porto Santo,
entendido como fator imprescindível do desenvolvimento e prosperidade desta
Ilha e mandou elaborar o projeto de um cais em cimento armado, para o serviço
do porto desta Ilha, acabando com o vergonhoso espectáculo do actual serviço de
desembarque de passageiros. No ano seguinte, a Junta decidiu mandar elaborar os
projetos para a construção de duas pontes sobre a ribeira da vila do Porto Santo,
que iriam custar a importância de 470$000 e 557$000 réis respetivamente.
A 4 de maio de 1911, um ofício do Ministério do Fomento propunha a aplicação
da quantia de 6.710$810 réis, proveniente da liquidação das levadas da Ilha, em
reparações urgentes, nas levadas da Serra do Faial, de S. Jorge, de S. Vicente e
Ribeira Brava.
A Junta Geral debatia-se, então, com falta de verbas para acudir a todos
os locais carenciados. A 8 de junho de 1911, informava-se que o 2º orçamento
suplementar para esse ano civil tinha sido submetido a aprovação, na importância
de 6.470$545 réis, tendo sido o 1º, na importância de 10.000$000 réis. A 15-10-
1911, o Diário de Notícias informa que a cobrança do imposto distrital no mês de
setembro rendera 881$450 réis.
Tentando cumprir o seu projeto de desenvolvimento das regiões e dos povos,
distribui os seus recursos por todos os concelhos, de forma a poder, com isso,
amenizar o sofrimento das populações que haviam acreditado na República. Neste
período de dificuldades e de início de um novo regime político, com os parcos
recursos de que dispunha, a Junta Geral do Distrito limitou-se à construção de
alguns fontanários pelos diversos concelhos, à abertura de pequenos lanços de
estradas, para o que era necessário fazer expropriações que lhe causavam rombos
no seu ínfimo orçamento e reparações de outras que se encontravam em estado
lastimável, à limpeza de veredas, a melhoramentos nos edifícios de todos os faróis
da distrito, ao apoio à Câmara Municipal do Funchal, na criação de escolas, à
construção de um pontão sobre o Ribeiro Seco, no Caminho do Pilar, à reparação
nos vários cais do distrito, ao calcetamento de várias estradas, à construção da
Ponte Vermelha, no concelho da Ribeira Brava, à construção de lavadouros
públicos, à plantação de árvores nas várias estradas da Madeira, em especial
no concelho do Funchal. A Junta fez ainda vários pagamentos de serviços à sua
responsabilidade, nomeadamente o serviço com os alienados de Rilhafoles e de
Câmara Pestana. O despoletar da epidemia de cólera-mórbus no Funchal trouxe à

212
Junta Geral

Junta Geral preocupações acrescidas que lhe causaram transtorno económico com
o tratamento de doentes e disponibilização de habitações para recolhê-los. Uma
parte importante dos seus recursos económicos foi canalizada para a contenção
desta epidemia e o combate às questões sociais que ela causou.
A 31 de dezembro de 1911, o Diário de Notícias informava que, no dia
anterior, a Comissão Administrativa da Junta Geral tinha autorizado pagamentos,
na importância de 15.000$000 réis aproximadamente, assim como o levantamento
de 38.000$000 réis por conta das receitas gerais da Junta.
A jurisdição das estradas foi, então, cedida à Câmara Municipal do Funchal,
para que esta pudesse estabelecer o sistema de viação acelerada. Tratou-se de um
processo longo, que se arrastou por vários anos, de forma que a Junta reivindicou
a realização desta obra, apesar de não ter tido mas êxito, devido aos eternos
problemas financeiros.
No dia 26 de janeiro de 1912 foi instalada na Junta Geral, por portaria do
Ministro do Fomento, uma comissão para os melhoramentos de que carecia o porto
artificial do Funchal, a qual apresentou, logo a seguir, o seu plano de trabalhos. Essa
portaria limitava os trabalhos desta comissão, pelo que o presidente da Associação
Comercial do Funchal (ACF), Luís Fialho sugeriu que se limitasse a propor as
necessárias reparações a introduzir no molhe da Pontinha. Mais tarde, um ofício
do mesmo ministro veio esclarecer que a ação desta comissão abarcava toda a
envolvência do porto do Funchal e não apenas o porto artificial. Na reunião de
2-2-12, o Visconde da Ribeira Brava, convidado a tomar parte nos trabalhos desta
comissão, afirmou que fora ele que tivera a iniciativa de instituir esta comissão, a
fim de orientar o Governo acerca dos melhoramentos mais necessários a realizar
no porto, entendendo que a comissão deveria restringir-se a traçar um plano
das obras mais urgentes, tais como o posto de desinfeção, o prolongamento do
cais e a construção de um cais acostável desde a entrada da cidade até ao forte
de S. Tiago ou, pelo menos, até à foz da ribeira de Santa Luzia, proposta que foi
aprovada por unanimidade. Luís da Rocha Machado, vogal da Junta, entendia que
a Madeira deveria pedir ao Governo a construção de um porto de abrigo, como
forma de atrair a navegação estrangeira e que era uma vergonha para o Funchal
que o existente não possuísse as condições mínimas.
A 1 de fevereiro, são aprovados os projetos das obras no Caminho do Trapiche
e do Caminho do Lombo dos Aguiares, em Santo António, assim como o do
matadouro de Santa Cruz. A ACF pedia urgência na construção do farol da Ponta
do Pargo, como um melhoramento de grande alcance e importância económica,
tendo sido informada de que as obras já tinham sido mandadas executar. A 29-2-
1912 foi presente, à reunião, o projeto deste farol, orçado em 14.200$000 réis, não
incluindo o aparelho ótico e a sua montagem.
Entretanto, tinham sido expropriados vários terrenos para construção da
estrada da Ribeira Brava a S. Vicente. Na reunião de 8-2-1912, foram arrematados
o 2º e 3º lanço desta estrada, pelas quantias de 19.770$000 réis e 31.900$000
respetivamente.
A Empresa Funchalense de Cabotagem, que fazia as viagens entre o Funchal e
os vários concelhos da Madeira e Porto Santo, prontificava-se a melhorar o serviço

213
Junta Geral

costeiro de navegação em volta da ilha, mediante um subsídio por viagem que a


Junta Geral concedeu a 23 de agosto de 1913. Era um subsídio anual de 6.000$000
réis, mediante as condições, de nas viagens de domingo, os seus barcos fazerem
escala pelo Pesqueiro, na Ponta do Pargo, de estabelecer mais uma viagem
quinzenal, alternadamente por leste e oeste e de reduzir a tarifa de transporte
de carga. Esse subsídio só voltaria a ser atualizado em 1916, após constantes
reivindicações daquela empresa.
No início de maio de 1917, a Junta decidiu pedir ao Ministro da Marinha um
subsídio para a navegação costeira que, nesse momento, estava interrompida. Um
telegrama do Ministro anunciava resposta positiva, pedindo, no entanto, que se
aguardasse algum tempo pela sua concretização. Em ofício de 12 de maio, deu
conhecimento desta promessa à nova Empresa Funchalense de Cabotagem, que,
entretanto se constituiu, a que esta respondeu, comprometendo-se a continuar
provisoriamente a realizar o serviço costeiro na Madeira e Porto Santo, exigindo
um subsídio mensal de 3.000$000 réis, autorização para cobrar a sobretaxa de
100% sobre os preços de fretes e passagens da tabela em vigor antes da guerra e a
possibilidade de denunciar o contrato provisório, em qualquer momento, mediante
aviso prévio de 30 dias10. A empresa realizava 5 viagens semanais à costa do sul,
3 viagens para oeste, até à Calheta e 2 para leste até Machico, 1 semanal, à costa
norte, até à Ponta Delgada, alternadamente por leste e oeste, e uma quinzenal
ao Porto Santo. A nova empresa oferecia o vapor Victória, para fazer uma viagem
semanal ao norte da ilha, alternadamente pelas costas leste e oeste, saindo do
Funchal pelas 6 horas da manhã e fazendo escala pelos portos do Porto do Moniz,
Seixal, S. Vicente, Ponta Delgada, S. Jorge Faial e Porto da Cruz, pelo subsídio de
100 escudos por viagem, com a obrigação de só tomar passageiros que pagassem
80 centavos cada um, sendo também cobrado o porte de carga que porventura
pudesse receber11.
A firma Leça, Gomes e Cª pediu a concessão do arrendamento e exploração,
por 75 anos, de uma via-férrea para tração elétrica a fim de ligar a entrada da
Pontinha com o terreno do Gorgulho, onde pretendia estabelecer uma Zona
Franca, fazendo tudo à sua custa.
A 12 de abril de 1912, o Diário de Notícias dava conta de um ofício do
Governador Civil acompanhado do alvará de nomeação da nova comissão
administrativa da Junta Geral do Distrito, comunicando que, de acordo com o
novo Código Administrativo, o número de vogais era elevado para 15 e que o
presidente e secretário da Junta passavam a ser eleitos pela Comissão, na sua
primeira reunião. A nova comissão era constituída por António Augusto, Pedro
Luís Rodrigues, José Luciano Henriques, Luís Pereira, Joaquim Vieira, António
de Sousa, Castro e Abreu, Pedro Gouveia, Alfredo Justino Rodrigues, José Maria
da Conceição Macedo, Alfredo Conceição Rodrigues e Luís Pedro Gomes. Foram
eleitos presidente e secretário António Augusto e José Luciano Henriques. A 3-8-
1912, novos vogais substitutos foram nomeados, incluindo o Visconde da Ribeira
Brava, que passou a efetivo. A 7-8-1912, foram eleitos 3 delegados da Junta Geral
à Junta Agrícola da Madeira, tendo sido eleitos o Visconde da Ribeira Brava, José

10 Ata da reunião de 25-5-1917. (Cfr. Diário de Notícias, 26-5-1917).


11 Ata da reunião de 29-5-1917. (Cfr. Diário de Notícias, 29-5-1917).

214
Junta Geral

Luciano e Francisco Andrade. O Visconde da Ribeira Brava disse que não podia ser
assíduo às sessões da Junta Geral, dados os seus muitos afazeres, mostrando-se,
no entanto, pronto a cooperar com todos os vogais e o presidente. Mais tarde,
Francisco Correia Herédia veio a ser nomeado representante da Junta Geral da
Madeira, junto da Junta Consultiva de Agricultura, em Lisboa.
Na reunião de 8 de novembro de 1912, face às ausências do Visconde da
Ribeira Brava às reuniões da Junta Geral, o presidente questionou se ele poderia
ser considerado vogal dessa comissão administrativa, já que apenas tinha tomado
posse do cargo de vogal e não mais tinha comparecido nas reuniões. Afirmava-o,
apoiado no código administrativo de 2-3-1895, no seu artigo 59, no seu parágrafo
único, que dizia que se as faltas forem mais de dez em cada ano ou menos de
dez, mas excedentes às duma sessão ordinária ou extraordinária, além da
multa correspondente aos dias das faltas, incorreria também, os procuradores,
na pena de suspensão dos direitos políticos por dois anos. Esta questão causou
algum incómodo, a sessão foi interrompida e retomada mais tarde. O presidente
convidou, por várias vezes, o Visconde a retirar-se da sala, o que ele recusou
sistematicamente, exigindo usar da palavra, o que nunca lhe foi permitido. A sessão
foi suspensa pela segunda vez, os vogais bateram várias pancadas de protesto nas
carteiras onde se sentavam, até que a sessão foi suspensa definitivamente. A 15 de
novembro, o mesmo problema continuou: o Visconde apresenta-se à reunião da
Comissão Administrativa e não lhe é concedida a palavra. Continuando os trabalhos
e a insistência do Visconde, foi chamado o comissário de polícia que ficou, por
algum tempo, na sala de sessões. O presidente volta a esclarecer que o Visconde,
perante o número de faltas dadas, já tinha sido substituído por um outro vogal.
Produz-se um tumulto na sala, há algazarra e batidas de carteiras, gritam-se vivas e
foras. O vogal Joaquim Vieira desabafa que na Madeira só pode mandar o Visconde
da Ribeira Brava e propõe vivas ao Visconde. A sessão é, de novo, encerrada. Os
jornais de 19 de novembro informam que o Ministro do Interior iria nomear um
juiz de direito para fazer uma sindicância aos tumultos das três últimas reuniões da
Junta Geral. No dia 21 do mesmo mês, diziam que tinham sido nomeados Joaquim
Fernandes de Almeida e Clemente de Freitas da Silva. Na reunião seguinte da Junta
Geral, realizada nesse mesmo dia, o presidente enviou, ao chefe do distrito, um
protesto contra as pessoas nomeadas para realizar a sindicância à Junta, por não
lhe merecerem confiança, já que estavam reconhecidamente ligados a uma das
partes em conflito. O primeiro tinha aderido à facção democrática representada
na Junta pela minoria; o segundo era diretor e proprietário do bissemanário Brado
d´Oeste, da Ponta do Sol, que já tomara publicamente partido pela minoria que
causara os tumultos na Junta Geral, tendo, em três números do seu jornal, feito
a defesa da atitude tumultuosa da minoria e manifestado parcialidade na análise
desta questão. Nesta reunião, realizada sem a presença do Visconde da Ribeira
Brava, os ânimos estavam serenados. Esta comissão administrativa pretendia ter
uma atitude mais implementadora e dinamizadora das várias atividades da Junta
Geral. Para isso logo após a sua posse nomeou várias comissões para esse fim. A 20
de abril, foi nomeada uma comissão para tratar das bases para a reorganização do
corpo de polícia cívica, uma comissão para elaborar o regulamento da secretaria,
tesouraria e obras públicas da Junta; a 11 de maio, foi constituída uma comissão
para estudar as modificações que deveriam ser feitas no serviço costeiro de

215
Junta Geral

navegação.
Entretanto, na reunião de 17 de abril de 1912, foi presente um ofício,
informando que a Junta tivera, nesse ano, um aumento de receita na importância
de 50.000$000 réis, que provinha do aumento das contribuições diretas que
constituíam receita dos distritos autónomos.
A 11-5-1912, foi decidido pedir ao Governo a cedência do Palácio de S.
Lourenço e os terrenos adjacentes, para construção de um edifício onde pudessem
ser instaladas as diversas repartições da Junta Geral.
No dia 8-9-1912, a Junta Geral concedeu, à CMF, um subsídio de 850$000
réis, para a iluminação pública e comprou águas, no valor de 200$000 réis, para
fornecer a vários marcos fontanários, na freguesia de Santo António, no Funchal.
Mandou, ainda, proceder ao estudo para a construção da estrada entre o Paúl e o
Jardim do Mar.
O Diário do Governo de 11 de fevereiro de 1913 publicou a composição da
nova comissão administrativa da Junta Geral12, presidida pelo General Daniel Telo
Simões Soares. Na tomada de posse, o vogal Francisco Correia Herédia chamou
a atenção para os melhoramentos necessários que havia a fazer na Madeira, em
especial nas estradas e construção de outras, nomeadamente: da Ribeira Brava
a S. Vicente, da Ribeira Brava ao Funchal, do Funchal a Machico, da Pontinha à
Ponte Monumental, pela beira-mar, da porta da Sé, começo da estrada n.º 23,
pelo antigo passeio público, hoje praça da República, a fazer a ligação com a rua
Hermenegildo Capelo, em linha recta com a rua da Princesa D. Amélia até à Ponte
Monumental, sendo a avenida, pelo menos de largura de 10 metros. Propôs também
a coordenação entre a Junta Geral, a Junta Agrícola e a Câmara Municipal do
Funchal, a fim de assentarem um plano de melhoramentos para o embelezamento
da cidade; a votação de um subsídio à CMF, para a construção da estrada de cintura
sobre a ribeira de Santa Luzia, para ligar as freguesias de S. Roque e Santa Maria
Maior, no sítio do Bom Sucesso. Para fazer face às despesas, era de opinião de
que a Junta deveria contrair um empréstimo, na Caixa Geral de Depósitos, até
700.000$000 réis, em harmonia com a autorização parlamentar de 12 de julho de
1912, acrescentando que a Madeira tem visto passar tanto tempo sem nada de
proveitoso se realizar, mas espero que dora avante até os minutos se aproveitem e
assim verem certamente coroados de êxitos os nossos desejos. Fazendo referência
à presença na Madeira do arquiteto paisagista continental, Ventura Terra, para
fazer o plano de melhoramentos da cidade, sugeria que lhe fosse pedido, também,
um projeto de embelezamento das salas do palácio de S. Lourenço. Na sessão de
24-10-1913, propunha, ainda, obras no cais e salientava a importância do projeto
já apresentado no Parlamento que criava a Junta Autónoma de melhoramentos do
Porto do Funchal. Para o Porto Santo, indicava a necessidade da construção de um
cais. Propunha, ainda, que a Junta mandasse proceder aos estudos dos projetos e
respetivos orçamentos de um cais para a Calheta, Paul do Mar e melhoramento do
da Ribeira Brava e desse particular atenção à canalização de águas e construção de

12 A nova Comissão administrativa da Junta Geral era composta por: General Daniel Simões Soares, Drs. Alberto Figueira
Jardim, António Filipe de Noronha e Remígio António Gil Spínola Barreto, Francisco Correia Herédia, Carlos Ferreira,
Diogo Alberto Cunha, Ernesto Guilherme dos Ramos, Henrique Tristão Bettencourt da Câmara, João Augusto Pina,
João Paulo Nogueira Guimarães, José Marcelo Figueira, Manuel Martins Júnior e Nuno Cardoso de Castro e Abreu.

216
Junta Geral

vários marcos fontanários.


Em relação às obras nas estradas, entendia que as instâncias superiores
do país não conheciam suficientemente o regime das estradas da Madeira que,
embora tivessem a classificação de nacionais, não eram propriamente do Estado,
visto a Junta ser autónoma. Entendia que a comissão das obras públicas e minas
parecia destinada a criar dificuldades à realização de certos melhoramentos, senão
é ver o que sucedeu com a estrada da Ribeira Brava a S. Vicente, que mais parece
um parafuso do que uma estrada pública. Falando com o presidente do Ministério
e com o director geral de obras públicas, vi que nenhum tinha sobre o assunto a
mesma opinião. Toda a gente se julga com o direito de intrometer-se na autonomia
do distrito13.
O Visconde da Ribeira Brava considerava também de grande importância
a instrução pública. Na primeira sessão da nova Comissão Administrativa,
nomeada a 11-2-1913, afirmava: quero o desenvolvimento intelectual da Madeira
e sobretudo da mulher que geralmente não tem a compreensão nítida dos
deveres que a civilização lhe impõe pelo papel preponderante que desempenha
na educação da sociedade de amanhã e por isso proponho a criação de uma
escola que se denomine Escola de Utilidades e Belas Artes destinada ao ensino
de meninas. O Visconde estava convencido que, do Continente e de África, viriam
procurar este estabelecimento de instrução, muitas educandas. Para minorar as
despesas, pretendia que todas as câmaras concorressem com uma verba anual
e permanente. Para a sua instalação, sugeria o edifício do antigo Seminário e as
propriedades anexas, devendo o Governo Civil e a Junta Geral mudar-se para o
palácio de S. Lourenço. Meses depois, na sessão de 24-10-1913, defendeu a
criação de uma cadeira de Francês, na escola Industrial António Augusto de Aguiar.
Outra obra importante introduzida pela mão do Visconde da Ribeira Brava, foi
o Gymnasium-Madeira que preparava as meninas para a futura vida de casa. O
vogal, Dr. João Ferreira, foi, então, enviado a Londres, Zurique, Berna, Lausanne e
Paris, para escolher e contratar professores para esta escola14. Na reunião de 6-8-
1913, o Visconde da Ribeira Brava defendeu as oito horas de trabalho e fez várias
propostas sobre o assunto.
Atenta à questão social, a Junta Geral, na sessão de 29-4-1913, decidiu auxiliar
diferentes instituições de solidariedade social, com um subsídio anual, cabendo à
Santa Casa da Misericórdia do Funchal e Asilo de Mendicidade, 1.000$000 réis, aos
Órfãos do Funchal, 800$000 réis, ao Auxílio Maternal, 300$000 réis, à Assistência
de Crianças Fracas, 300$000 réis. Foi ainda decidido, na mesma sessão, pedir ao
Governo a dispensa da contribuição de 1.500$000 réis, para o fundo especial de
beneficência, que em nada aproveitava ao distrito, devendo essa verba reverter
para benefício do Hospital Civil, para tratamento de tuberculosos indigentes.
Na reunião de 23 de outubro, foi decidido conceder à CMF um subsídio de
1.000$000 réis, para ajuda nas despesas da iluminação pública, assim como outro,
no valor de 10.000$000 réis, para os estudos e abertura da estrada de cintura
(continuação da estrada da levada de Santa Luzia). Também foi concedido um

13 Ata da reunião de 14-2-1913.


14 Cf. ata de sessão de 24-11-1913.

217
Junta Geral

subsídio de 200$000 à Escola Normal do Funchal, destinado à aquisição de material


didático e pedagógico.
A 2 de junho de 1913, a Junta Geral pedia, insistentemente, o estabelecimento
da telegrafia sem fios na Madeira, pois entendia que os benefícios que daí adviriam
seriam enormes. O vogal António Filipe de Noronha propôs o envio duma proposta
nesse sentido ao Governo.
A 3 de junho de 1913, foi aprovado o primeiro orçamento suplementar para
esse ano, na importância total de 255.252$059 réis, no qual figuravam 48.486$615
réis de receita ordinária da Junta e 206.765$444 réis de receita extraordinária,
proveniente do primeiro levantamento a efetuar na Caixa Geral de Depósitos, por
conta do empréstimo de 700.000$000 réis. Este orçamento consignava verbas
importantes para a construção de fontanários, pontes, estradas, cais, farol da
Ponta do Pargo, adaptação do edifício do Convento da Encarnação a uma escola
de Utilidades e Belas Artes, pagamento dos juros do empréstimo de 700.000$000,
aposentações, ordenados em atraso ao pessoal da polícia repressiva de emigração
clandestina, expropriações, subsídios ao Hospital Civil, Asilo de Mendicidade e
Órfãos, Auxílio Maternal, CMF, trabalhos geodésicos e obras no Liceu do Funchal.
O convento da Encarnação foi entregue à Junta Geral a 12 de julho de 1913, pela
comissão concelhia dos bens da Igreja. Nesta reunião, foi votada a concessão de
um subsídio à CMF, para construção de fontanários nas estradas distritais.
A 27de junho de 1913, foi apresentado um ofício do inspetor de finanças,
participando que a cobrança do rendimento em conta da Junta Geral, no mês de
maio fora de 12.232$309 réis.
Na reunião de 8 de agosto de 1913, foi presente à comissão administrativa
da Junta Geral um ofício da Câmara Municipal do Porto Santo, pedindo licença
para explorar uma nascente de água mineromedicinal, no sítio da Fontinha. Nesse
dia, o Visconde da Ribeira Brava apresentou quatro propostas: contratar um
engenheiro, para estudar as modificações a fazer no cais da Ribeira Brava; adquirir
uma nascente de água potável, no sítio da Rocha Alta, para abastecer vários focos
de população na freguesia da Ribeira Brava e no concelho de S. Vicente; pedir à
CMF a cedência do serviço de viação rápida nas suas estradas, de forma a que não
estivessem duas entidades envolvidas no mesmo assunto.
A 29 de agosto de 1913, foi presente à reunião da comissão administrativa,
um ofício do capitão do porto do Funchal, pedindo a comparência do presidente
da Junta Geral, no edifício do Governo Civil, no dia 17 do mês seguinte, a fim
de definir, definitivamente, o modo de efetuar o embarque e desembarque nos
cais da cidade. Ainda foi presente um outro ofício da direção-geral do Ministério
do Interior, participando que o Ministério da Justiça cedera o edifício do Paço
Episcopal, para a instalação do Liceu Central do Funchal.
A 10 de outubro de 1913, o Ministério da Instrução Pública pede à Junta a
maior brevidade nos trabalhos no Paço Episcopal, para ali instalar o Liceu, ao qual
foi concedido, pela Junta, um subsídio de 420$000.
A 25 de outubro de 1913, o Visconde da Ribeira Brava propôs telegrafar ao
chefe do Governo, solicitando que pusesse à disposição das obras públicas do

218
Junta Geral

Estado a verba de 3.000$000 réis e autorizasse a Junta Agrícola a gastar idêntica


quantia com as obras urgentes a realizar na Ribeira Brava, nomeadamente o desvio
do leito da ribeira, de modo a evitar-se catástrofes causadoras de perdas de vidas
humanas, capital e propriedades, em caso de tempestades.
A 13 de setembro de 1913, foi aprovado o projeto da avenida entre a Sé e a
Ponte Monumental. Teria 25 metros de largura e passaria sobre a Rua da Ribeira de
S. João, onde seria construído um viaduto com uma escadaria que faria comunicar
a rua inferior com a avenida. Para a sua construção, o Jardim Municipal e o quintal
do Asilo de Mendicidade e Órfãos teriam de ceder algumas porções de terreno.
A 3-10-1913, foi lido um ofício da Inspeção de Finanças, participando que os
rendimentos da Junta, no mês de agosto, haviam sido de 61.749$250 réis, quantia
que entrara na Caixa Geral de Depósitos. A 4-11-1913, foi apresentado o orçamento
ordinário para o ano de 1914, na importância de 286.201$860 réis, incluindo a
receita possível de 142.688$021 de contribuições diretas e seus adicionais. A 21-
11-1913, a Inspeção de Finanças comunica que os rendimentos da Junta, no mês
anterior de outubro, havia sido de 13.195$900 réis.
A 2 de janeiro de 1913, tomou posse a nova comissão administrativa da Junta
Geral do Distrito do Funchal, presidida novamente pelo General Daniel Telo Simões
Soares15. A 21 de novembro desse mesmo ano, colocava-se, de novo, o problema
da distribuição dos impostos municipais que muita celeuma tinha causado nas
várias câmaras municipais do Distrito. Foi nomeada uma comissão especial para
estudar e propor uma solução para o problema, já que havia algumas câmaras que
se recusavam a pagá-los. Não tendo chegado a acordo, os membros desta comissão
especial encarregada da divisão pelas câmaras municipais dos impostos municipais
indiretos, arrecadados pela Alfândega do Funchal, resolveram que a discussão do
assunto se faria na reunião seguinte. O vogal, presidente da comissão de contas
da Junta Geral, Luís Gomes da Conceição fez, então, uma proposta, no sentido de
resolver este instante problema, pedindo que, na generalidade, não se alterasse a
distribuição de impostos municipais que já se fazia. Caso houvesse necessidade de
nova divisão, a distribuição deveria apenas ser feita entre as Câmaras do Funchal,
Ribeira Brava e Ponta do Sol16. Nessa reunião, o presidente da Junta telegrafou ao
Presidente do Ministério e Ministro do Fomento, pedindo a extinção do imposto
de farolagem na Madeira.
Em relação aos direitos de encarte, os funcionários da Junta eram pagos
pelo fundo das suas receitas e os reformados pelo cofre distrital. A Junta resolveu
representar ao Parlamento, no sentido dos seus direitos de encarte e outros

15 A Comissão Administrativa da Junta Geral do Distrito do Funchal ficou assim constituída: a Comissão Distrital era
presidida pelo General Daniel Telo Simões Soares, tendo como secretário António Augusto da Silva; a Comissão
Executiva era presidida por Vasco Gonçalves Marques que tinha como vogais Diogo Alberto Cunha e Alberto Figueira
Jardim; como substitutos foram eleitos José Marcelo Figueira, José Maria das Neves e Clemente de Freitas da Silva;
Comissão de Contas: Luís Gomes da Conceição; Comissão do Orçamento: Gregório Pestana Júnior; Comissão de
Obras Públicas: General Daniel Telo Simões Soares.
16 1º que na generalidade se não altere a actual distribuição dos impostos municipais e que a haver nova divisão, esta se
efectue apenas entre as câmaras municipais da Câmara de Lobos, Ponta do Sol e Ribeira Brava, distribuindo-se pelas
três o que dantes pertencia apenas às duas primeiras; 2º que a haver uma nova distribuição geral, se tome por base a
contribuição industrial e predial de cada concelho; 3º que se não adopte para base de uma nova distribuição a população
de cada concelho, visto os artigos de luxo “os que mais pagam“ serem consumidos na sua quase totalidade no Funchal, ao
passo que a farinha e milho utilizados em grande escala nos campos, e nenhum imposto municipal estão sujeitos. (Cfr.
Diário de Notícias, 22-11-1914).

219
Junta Geral

quaisquer descontos constituírem receita da própria, conforme determinava uma


disposição do código administrativo, então suspensa.
Em 1914, as receitas da Junta Geral que foi possível apurar, foram as constantes
na tabela abaixo:

RECEITA DA JUNTA GERAL EM 1914 (em réis)


Abril 5.352$420
Junho 14.366$001
Julho 25.434$470
Setembro 7.670$190
Outubro 7.082$700
Novembro 2.229$840
Dezembro 3.323$330

Neste ano, a receita foi de 543.066$170 réis, incluindo o saldo de 83.742$500


réis que transitou do ano anterior e a despesa de 362.378$820, com o saldo de
180.687$035 réis, que passou à gerência seguinte, perfazendo a importância da
receita da Junta.
A 27-3-1914, foi presente na reunião da Comissão Administrativa um ofício da
Junta Geral de Lisboa contra a aprovação dum projeto de lei que alterava o Código
Administrativo, fazendo com que as Juntas Gerais passassem a Juntas Provinciais.
O presidente da Comissão Executiva, Vasco Marques, opinou que a comissão era
favorável à descentralização administrativa e não se sujeitará de boamente à
tutela por vezes irritante e despótica dos poderes centrais, até porque a Junta Geral
da Madeira tinha estatuto de autónoma.
Esta comissão deu algum incremento às obras públicas. Construiu uma ponte
sobre a ribeira da Lapa, em Santo António, que custou 157$600 réis, iniciou a
construção do cais do Paúl do Mar e o de S. Jorge, adquiriu a lanterna destinada ao
farol da Ponta do Pargo. Foram ainda elaboradas propostas de construção de novas
estradas, nomeadamente, entre a Terça e o Santo da Serra, em Santa Cruz, da
igreja da Vila da Calheta, ao Lombo da Estrela e do Porto, à Serra de Fora, no Porto
Santo, orçada em 196$600 réis e também a construção de um desembarcadouro
na mesma ilha. Relativamente ao Porto Santo, foi proposto que a Delegação
Agrícola ou Regência Florestal estudassem a forma de compensar os agricultores
que arborizassem os seus terrenos, estabelecendo prémios ou propondo isenção
de contribuições, durante um determinado número de anos. Foi ainda adjudicada
a construção do farol da Ponta do Pargo à empresa francesa Bénard e Turenne. Foi
decidido adquirir as luzes de 1.500 velas, para os portos do Paúl do Mar e Calheta
e recorrer ao empréstimo de 700.000$000 réis, para a construção duma ampla
rede de estradas que conduzia a um encargo obrigatório de 42.500$000, durante
60 anos, para pagamento de juros e amortização.
Na sessão de 19 de maio de 1914, foi pedida a extinção da Direção das Obras
Públicas do Estado, no Funchal, passando os serviços e o quadro de pessoal para
a Junta Geral; foi também aprovada uma proposta, apresentada em nome do
220
Junta Geral

Partido Democrático da Madeira, pedindo a extinção da Junta Agrícola da Madeira,


passando as receitas e o seu pessoal para a Junta Geral.
No ano de 1915, as receitas da Junta Geral que foi possível apurar foram as
constantes na tabela seguinte:

RECEITAS DA JUNTA GERAL EM 1915 (em réis)


Janeiro 67.448$860
Abril 11.988$530
Junho 15.000$000
Julho 30.229$720
Outubro 7.851$130
Novembro 6.611$070
Dezembro 7.819$190

A 22 de janeiro de 1915, dá-se, em Portugal, um golpe de Estado, conhecido


como o movimento das espadas, que levou à implantação da Ditadura de Pimenta
de Castro, com reflexos também na Madeira.
Na reunião da comissão executiva da Junta Geral de 5 de março desse ano,
foi aprovado, por unanimidade, um protesto contra a ditadura que infringia os
princípios orgânicos da República, ofendendo a Constituição do país, que a
todos cumpre acatar, fazendo ao mesmo tempo votos para que, rapidamente,
se regressasse ao respeito pela lei. Face a esta deliberação, a Comissão Distrital,
presidida pelo General Simões Soares, foi obrigada a reunir extraordinariamente,
para responder a um ofício do Governador Civil que convidava a Junta Geral a
definir a sua posição perante a resolução da comissão executiva que protestara
contra os decretos do governo ditatorial de Pimenta de Castro. O procurador João
Augusto Pina apresentou uma moção, lamentando a atitude da Comissão Executiva
da Junta Geral no dia 5 de março, considerando ilegal a deliberação tomada pela
qual protestou contra os actos do poder executivo e resolve anulá-la nos termos
do artigo 38, da lei de 7 de Agosto de 191317. Mais acrescentou que se informasse
o Governador Civil da decisão da Comissão Distrital. Esta moção foi aprovada por
maioria. O Dr. Vasco Marques, que estava presente nesta reunião, declarou que,
em face desta decisão, se encontrava demissionário de presidente da Comissão
Executiva e que não voltaria a exercer aquelas funções.
No dia 4 de maio, reuniu-se novamente a Comissão Distrital, com a presença
de 23 procuradores que aprovaram a redação da ata da reunião anterior. Nesta
reunião, o Dr. Vasco Marques instou para que se procedesse à eleição de uma
nova comissão executiva. O Visconde da Ribeira Brava criticou a moção aprovada
e a Ditadura, apoiando o presidente demissionário. Procedeu-se, seguidamente, à
eleição da nova comissão executiva que ficou constituída pelo Dr. Gregório Pestana
Júnior, presidente, Ernesto Guilherme Ramos e José Marcelo Figueira, vogais.
Nesta reunião, que foi bastante tumultuosa e em que foram proferidos vários

17 Cfr. ata da reunião da Junta Geral de 26-4-1915. (Diário de Notícias, 27-4-1915).

221
Junta Geral

discursos contra a Ditadura e os monárquicos que a apoiavam, o vogal Manuel


Brás Sequeira propôs que se pedisse ao Estado a abolição do direito alfandegário
e imposto municipal que incidia sobre a “semilha” importada para semente no
distrito, durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro de todos os anos.
O Diário do Governo, 2ª série, de 7 de maio de 1915, publicou o decreto que
dissolvia a comissão administrativa da Junta e nomeava uma nova comissão que
ficou assim constituída: Coronel Augusto Jacinto Martins Ferreira, presidente,
José Pinto Correia Jasmins e João de Castro da Silva Banhos, vogais18. Este último
pediu escusa do cargo. Esta comissão reuniu apenas uma vez, exatamente no dia
seguinte à sua pomada de posse, a 14 de maio, sem ter tomado decisões de realce.
Após a queda da Ditadura, a 18 de maio, o Diário de Notícias publica um
artigo intitulado “A revolução em Portugal. O que se passou ontem no Funchal”,
onde explica os incidentes da derrocada ditatorial na Madeira, dizendo que, no dia
anterior pela manhã, tendo tido conhecimento da queda de Pimenta de Castro,
alguns elementos da comissão anterior tinham comparecido na Junta Geral,
ordenando o hasteamento da bandeira nacional, no mastro existente na fachada
do edifício, tendo-se decidido que, no dia seguinte, haveria reunião da comissão,
demitida indevidamente. A esta manifestação não compareceu nenhum elemento
da comissão administrativa nomeada pelo governo da Ditadura.
No dia seguinte, o General Simões Soares, retomando o seu posto de
presidente da Junta Geral, fez algumas considerações sobre a interrupção da
sessão de maio pelos atos ditatoriais, declarando aberta a sessão e a reposição
da legalidade democrática. Nesta sessão, intervieram vários democratas, entre
eles o Visconde da Ribeira Brava e o Dr. Gregório Pestana Júnior, para saudar a
revolução. José Vicente de Freitas, que era o Governador Civil do distrito na altura
da Ditadura, foi considerado o major delegado do ditador Pimenta de Castro, neste
distrito19. O Visconde propôs que o Dr. Vasco Marques retomasse o seu lugar de
Presidente da Comissão Executiva. Este exigiu que essa retoma fosse legitimada
através do voto secreto, tendo ele e os vogais da anterior comissão obtido 21 votos
cada um, o total dos membros presentes nessa reunião, ficando assim a Comissão
Executiva constituída pelo presidente, Dr. Vasco Marques e pelos vogais, Diogo
Alberto Cunha e Dr. Alberto Figueira Jardim. Encerrada esta sessão, organizou-se
uma manifestação de apoio à República que, juntamente com a banda filarmónica,
seguiu pelas ruas da cidade, em direção Governo Civil, Junta Agrícola, quartel
de Infantaria n.º 27, Inspeção Escolar, etc. O General Simões Soares passou a
desempenhar o cargo de comissário da Polícia Cívica, a partir de 13 de outubro
desse ano, deixando o de presidente da Junta Deliberativa, sendo substituído por
João Augusto Pina, vice-presidente em exercício.
A 21 de maio, foi convocado, para a reunião da comissão executiva, o advogado
António de Noronha, a fim de instaurar processos-crime contra todos aqueles que
indevidamente tinham intervindo na administração distrital.
Na reunião de 19-5-1915, em virtude da miséria por que passavam as classes
trabalhadoras do distrito, a intervenção do Visconde da Ribeira Brava foi no sentido

18 Cfr. Diário de Notícias, 14-5-1915.


19 Cfr. ata da reunião de 19-5-1915 (Diário de Notícias, 20-5-1915).

222
Junta Geral

de dizer que, apesar das dificuldades que a Junta atravessava, era de opinião que
esta se devia empenhar em baixar o preço do pão e do peixe, entendendo que, no
caso deste último, bastava que este viesse diretamente do pescador para a praça,
sem intermediários.
A 25-5-1915, foi apresentado o orçamento suplementar ao ordinário para o
ano em curso, na importância de 126.271$950 réis.
Nesta reunião, foi pedida a extinção da Direção das Obras Públicas do Estado,
por se despender, por ano, cerca de 15.000$000 réis sem justificação, passando
estas funções para a Junta Geral. Pestana Júnior pediu à Junta que enviasse uma
mensagem ao Parlamento, a solicitar a isenção de direitos, durante 5 anos, de
todo o material importado pela Junta Geral, que importasse diretamente o milho,
vendendo-o, sem qualquer lucro, ao consumidor, por intermédio das autoridades
administrativas, para minorar as dificuldades das populações mais pobres e que
solicitasse ao Governo a isenção de direitos sobre o arroz entrado na Alfândega,
enquanto durasse a crise. A Junta acabaria por receber um ofício do Governo, a 25
de junho desse ano, com a informação de que mantinha os direitos alfandegários
sobre o arroz importado no Continente do Reino.
Em resposta, o Dr. Vasco Marques disse que o Estado levava da Madeira,
anualmente, o melhor de oitocentos contos de réis, tendo ainda apresentado a
conta de pagamentos de subsídios a expostos e menores desvalidos no 2º semestre
de 1915, na quantia de 2.648$409 réis.
Na reunião de 1 de junho de 1915, o procurador Dr. Pedro Lomelino, apoiado
pelo Dr. Pestana Júnior, faz uma intervenção de fundo, em relação aos impostos
municipais cobrados no Porto Santo, chamando a atenção para a crónica falta de
água, a filoxera e o aparecimento da formiga em grande escala, estragando as
únicas produções que a terra dá, vinha e cereal, deixando as populações daquela
ilha no mais lamentável estado de pobreza e propondo que a Comissão Executiva
da Junta solicitasse, às entidades competentes, a modificação do número ou
fator de 2,141, distribuído àquele concelho para dar cumprimento ao Código da
Contribuição Predial, de 5 de junho de 1913.
A Junta era contrária à alteração do regulamento dos vinhos, de 8 de
novembro de 1913, que o Governo pretendia introduzir, porque o projeto
apresentado continha várias disposições contrárias aos interesses vitícolas e
vinícolas do distrito. Consideravam os procuradores da Junta que esse projeto
representava uma excepção odiosa para a Madeira, visto que, em nenhuma
parte do Continente, tais disposições se aplicavam, sendo certo que todos estes
serviços no País se achavam regulados pelas mesmas leis e que o aludido projeto
seria ruinoso, cheio de encargos, vexatório, impraticável e muito prejudicial para
o distrito, e portanto para este corpo administrativo, não só pela verba que lhe
levaria, cerca de 60.000$000 réis mas também pelo cerceamento que acarretaria
nas suas receitas. O vogal Nunes Vieira faz a seguinte proposta, que foi aprovada
por unanimidade: Que se peça por telegrama ao Presidente do Conselho, Ministros
do Fomento, Finanças e Justiça, que seja mantido sem alteração o regulamento
de 8 de Novembro de 1913, visto satisfazer a todos os interesses do distrito e por
serem altamente prejudiciais todas as modificações contidas no citado projecto de

223
Junta Geral

regulamento, além de que a Junta não pode arcar com despesas além das que já é
obrigada20. Tendo em conta o pessoal e as receitas da Junta, podemos considerar
que ela operava grandes milagres para fazer todas as obras que propunham os
seus procuradores. O presidente, Dr. Vasco Marques, pediu-lhes que, nas suas
propostas, tivessem em conta a situação financeira da Junta Geral.
Foi pedido também ao Governo que subsidiasse a criação da cadeira de
Inglês, na Escola Industrial ou que lhe desse receita para esse fim. A Junta já tinha
subsidiado seis disciplinas, no valor de 10.000$000 réis e não podia subsidiar o
Inglês porque, nessa altura, as suas despesas estavam bastante sobrecarregadas.
Sobre isto, dizia Vasco Marques: O Governo nada mais quer dar à Junta Geral, dele
nenhuma coisa podemos esperar e deve atender-se a que além da despesa com
o pessoal da secretaria e da repartição técnica — uma gota de água — impedem
sobre a Junta o pagamento da Polícia Cívica, Polícia de Emigração, Produtos
Agrícolas, Manicómio Câmara Pestana, Serviços Silvícolas, Governo Civil, o que
eleva a despesa obrigatória a 80 contos que somados aos 42.500$000 réis para
o empréstimo perfaz cerca de 130.000$000 réis. A Junta a partir de agora tem de
ser mais parcimoniosa, fazendo boa administração dos seus recursos económicos.
O Governo que mercê da obra da Junta Geral indirectamente vai obtendo lucros
consideráveis não quer encargos, nós também não os podemos ter21.
Na reunião de 3 de novembro de 1915, procedeu-se à eleição das comissões
especiais para o ano de 191622.
A 13 de novembro, foi proposta a construção de um desembarcadouro aéreo,
no sítio da Beira dos Casais, no Arco de S. Jorge, para facilitar a agricultura e o
comércio daquela localidade (vinho e cana-de-açúcar) e o pagamento de obras
no palácio de S. Lourenço, transformando um casarão em ruinas numa habitação
luxuosa à altura da categoria e representação do cargo de Governador Civil.
Foi presente o relatório da comissão executiva que suscitou dos procuradores
algumas dúvidas, embora tenha sido aprovado por maioria. Perante esta situação,
o Dr. Vasco Marques, presidente da comissão e o Dr. Alberto Jardim, secretário da
mesma, apresentaram a sua demissão. Face a este desenlace imprevisto, propôs-se
que, de acordo com o disposto no n.º 2 do art.º 45 do Código Administrativo, fosse
considerado terminado o mandato dos vogais efetivos e substitutos da Comissão
Executiva e se passasse a eleger novos vogais. No entanto, a eleição da nova
comissão executiva recaiu, uma vez mais, sobre os mesmos vogais demissionários
que aceitaram a nova eleição. Efetivos: Presidente Vasco Gonçalves Marques,
vogal José Marcelo Figueira e secretário Alberto F. Jardim. Substitutos: Manuel
Martins, José Maria das Neves e João Maria Ribeiro. Vasco Marques enviou, então,
para a mesa, o orçamento para o ano de 1916, na receita de 393.068$880 réis e
igual despesa. Este orçamento consignava a importância de 186.053$370 réis para
obras. Na reunião de 3 de novembro, foi presente o 2º orçamento suplementar para

20 Ata da reunião de 3-11-1915. (Cfr. Diário de Notícias, 4-11-1915)


21 Ata da reunião de 24-12-1915. (Cfr. Diário de Notícias, 25-12-1915).
22 Foram eleitos para a Comissão do Orçamento o Dr. Pestana Júnior, José Maria das Neves e Frederico Quirino Soares;
Comissão de Petições, Vasco Gonçalves Marques, Gregório Pestana Júnior e João Augusto Pina; Comissão de Contas,
Clemente de Freitas da Silva, Ernesto Guilherme dos Ramos e João Maria Ribeiro; Comissão de Obras, Dr. Remígio
Barreto, João Augusto Pina e Francisco José de Brito Figueiroa; Mesa: Presidente Remígio Barreto, vice. Presidente,
João Augusto Pina, secretário, Frederico Quirino Soares, vice-secretário, Ernesto dos Ramos.

224
Junta Geral

esse ano de 1916, receita e despesa no montante de 24.853$051. O orçamento


ordinário para o ano de 1917 foi apresentado na reunião de 18 de novembro, no
montante de 237.743$094.
Os temporais que assolaram a Madeira no início do mês de maio de 1916
tinham arrasado as zonas ribeirinhas do norte da Madeira e deixado, na Ribeira da
Janela, várias famílias na mais extrema miséria. Face aos prejuízos avaliados em
mais de 20.000$000 réis, a Junta votou uma verba de ajuda de 400$000 réis para
distribuir pelos afetados, através das Câmaras Municipais e dos párocos locais. A
15-5-1916, foi decidido subsidiar a sopa económica, com a quantia de 200$000
réis e a Assistência Protectora dos Estudantes Pobres, com igual verba.
Em relação a obras públicas, neste ano de 1916, foi adjudicada a estrada
distrital do Porto Santo. A 30 de maio de 1916, foi presente à reunião um abaixo-
assinado dos proprietários e industriais da freguesia de Santa Cruz, pedindo
a reparação e prolongamento do cais da vila que consideravam em condições
ruinosas e dificultava o embarque e desembarque. A comissão entendeu que havia
obras mais urgentes a tratar e decidiu proceder à construção de vários lanços de
estrada em volta da ilha, com destaque para os que vão das Queimadas ao Santo
da Serra e de Machico ao Porto da Cruz, projetos considerados muito importantes
para o turismo e já apresentados em sessões anteriores.
No início de 1916, foi inaugurada, com pompa e circunstância, a estrada
do Funchal a Machico. O Presidente da Comissão Executiva da Junta, Dr. Vasco
Marques, propôs que fosse considerado feriado para os funcionários das
repartições dependentes da Junta, no dia da inauguração da estrada, para que
toda a gente pudesse festejar tão importante acontecimento. Na reunião de
27 de novembro de 1916, a Comissão Executiva foi informada de que estavam
terminados os estudos de obras de mar de que a Junta necessitava e para as
quais tinha sido contratado o Engenheiro José Maria Furtado de Mendonça, com
quem se terminava o contrato. Vasco Marques informou que a Junta tinha gasto
desde 2-3-1895, data da sua organização administrativa, cerca de 34.000$000 réis
com o pagamento de renda dos edifícios das diversas repartições a seu cargo,
despendendo por ano 3.050$000 réis; decorridos 50 anos e se estas rendas não
aumentarem, a Junta terá gasto a importância de 146.850$000 réis quantia que
se elevaria a 152.500$000 réis no caso dos referidos 50 anos se contarem a partir
dessa data; os juros oficiais da quantia de 3.050$000 réis despendida anualmente
destes 50 anos atingirão a verba de 9.150$000 réis sem entrar em linha de conta
com os juros acumulados23. Face ao exposto, o presidente envia para a mesa a
seguinte proposta: Considerando que qualquer destas verbas 146.850$000 réis e
152.500$000 réis apresentam o custo de um prédio com as instalações necessárias
para acomodação das diversas repartições a cargo da Junta Geral; considerando
as vantagens que haveria dos serviços funcionarem num só prédio, propõe que
o Governo autorizasse a Junta a contrair um empréstimo de 126.000$000 réis na
CGD ou noutra instituição bancária, para custear as despesas com a aquisição e
construção das repartições a seu cargo24.

23 Ata da reunião de 27-11-1916. (Cf. Diário de Notícias, 28-11-1916).


24 Idem.

225
Junta Geral

Na reunião de 30-5-1916, a comissão executiva da Junta apresentou a folha dos


gastos com apoio à beneficência, no ano anterior de 1915, de cerca de 30.000$000
réis; no ano em curso, já tinha indicado, nos orçamentos, números exatos:
18.896$960 réis, assim distribuídos: Manicómio Câmara Pestana - 10.596$980
réis, Expostos e desvalidos - 4.000$000 réis, Asilo dos Velhinhos - 3.500$000 réis,
Sopa económica - 200$000 réis, Assistência e protecção aos estudantes pobres -
200$000 réis, Vítimas da Ribeira da Janela - 400$000 réis, que perfazia a quantia
acima descrita. A Junta mantinha ainda 20 alunos pobres, na escola de Utilidades e
Belas Artes e, no Posto de Desinfeção, apoiava os pobres com colchões, enxergões
e roupa de cama, entre outros materiais. Deve ainda referir-se a compra de
mobiliário para o Tribunal, na importância de 308$006 réis.
Na reunião de 30 de dezembro de 1916, foi reeleita a comissão executiva para
o ano seguinte de 191725.
Devido à crise originada pela 1ª Guerra Mundial e as dificuldades sentidas
pela população madeirense, a Junta decidiu criar uma comissão de abastecimentos
para fixar o preço da venda de legumes, hortaliças, etc. Neste sentido, essa
comissão apresentou um relatório, na reunião da Junta de 25 de maio de 1917,
propondo o estabelecimento de uma barraca com preços módicos, por conta da
Junta, para venda de hortaliças e legumes, no mercado D. Pedro, oficiando aos
estabelecimentos de caridade por si mantidos para aí se abastecerem.
Na reunião de 14 de maio de 1917, por proposta do procurador João Augusto
Pina, foi decidido comemorar os 500 anos da Descoberta da Madeira, de forma
condigna, não só com demonstrações festivas de ocasião, mas também com a
publicação duma obra mais perdurável, que ao mesmo tempo sirva de estímulo
a trabalhos de mais largo fôlego e também de ensinamentos úteis e proveitosos
para a geração contemporânea. Quero referir-me a uma obra literária, de carácter
histórico, mas de feição popular e principalmente destinada às classes menos
doutas, de fácil e pronta consulta, em que toda a vida deste arquipélago nas suas
múltiplas manifestações e variados aspectos seja posta em saliente relevo (…). Esta
circunstância não exclui a necessidade de ocupar-se esse trabalho dos principais
acontecimentos ocorridos na Madeira no longo período de cinco séculos, das
biografias dos seus homens mais notáveis, dos seus usos, costumes e tradições, da
sua actividade literária, científica, industrial, agrícola e comercial, da benignidade
do seu clima, da riqueza da sua fauna e da sua flora, das incomparáveis belezas da
sua paisagem (…). Considerando pois a vantagem de um trabalho desta natureza e
tendo em vista que as Saudades da Terra, o mais rico pecúlio que possuímos para
a história da Madeira, é uma obra de difícil aquisição, publicada há mais de 40
anos e principalmente proveitosa para os eruditos, proponho que esta corporação
promova a publicação de um estudo sobre este arquipélago nas condições que
ficam indicadas, dando à Comissão Executiva um voto de confiança para a completa
realização desta ideia. Surgiu, assim, o Elucidário Madeirense. Propôs-se ainda que
o dia 2 de julho, data do descobrimento da Madeira, se tornasse feriado regional.
A 3 de novembro de 1917, o Visconde da Ribeira Brava faz um discurso em

25 A comissão ficou composta por: Vasco Marques - presidente, Alberto Figueira Jardim - vogal, José Marcelo Figueira
- secretário.

226
Junta Geral

defesa da agricultura madeirense, relevando a obra que a Junta Agrícola, de que


era presidente, tinha feito em prol do seu desenvolvimento. Entendia que, face
às grandes dificuldades criadas pela Guerra e a crise instalada, se deveria cuidar
do desenvolvimento da agricultura, na parte que dizia respeito à produção de
géneros alimentícios, por exemplo, substituindo a cana-de-açúcar nos terrenos em
que ela não se desse e se plantasse outras culturas. Refere, como exemplo, a obra
da Junta Agrícola no Paúl da Serra que tinha dado alguns resultados animadores
na produção de semilha, nabos, cenouras, beterraba e trigo. Entendia que o Paul
da Serra produziria o suficiente para abastecimento dos nossos mercados. Disse
que a Madeira necessitava de importar sementes de trigo e semilha, adubos e
instrumentos de lavoura, para o que pedia uma pequena ajuda financeira do
Governo. Na mesma ocasião, Vasco Marques referiu que, apesar de todos os
esforços da Junta Geral, devido às suas grandes dificuldades financeiras e à crise
originada com o despoletar da 1ª Guerra Mundial, até ao dia 21 de novembro
de 1917 apenas se tinha inaugurado a estrada até à Encumeada, apresentando
o projeoto de uma estrada entre o Chão das Feiteiras e o Poiso para sairmos da
incúria e desmazelo em que tínhamos caído, antes da actual Junta ter começado
a sua acção26. Para construir esta estrada e a ligação de Machico ao Santo da
Serra, propunha recorrer a um empréstimo de 300 mil escudos, na Caixa Geral de
Depósitos ou noutra instituição de crédito, amortizável em 50 anos. Foi decidido,
também, criar uma comissão para proceder à arborização das partes altas do
distrito, serras e cultura de terrenos abandonados.
A 3 de janeiro de 1918, foi feita a eleição para as várias comissões da Junta
Geral para o triénio de 1918 a 192027. Entretanto, o Partido Democrático e o Partido
Evolucionista coligados na União Sagrada, conduziram Portugal à participação
na I.ª Guerra Mundial, a que se opôs o Partido Unionista. Em resultado dessa
participação, a situação económica agravou-se, os bens de primeira necessidade
escasseavam e a crise adensava entre as populações trabalhadoras e as mais
carenciadas, originando instabilidade política e social e criando condições para o
golpe de Estado de Sidónio Pais, ocorrido a 5 de dezembro de 1917, enquanto
o chefe do governo, Afonso Costa, se encontrava em Londres. A Junta Militar
Revolucionária transferiu para si todos os poderes, suspendeu a Constituição
e Sidónio Pais assumiu a presidência da República, iniciando uma ditadura
presidencialista, apoiada pelos monárquicos e pelas classes trabalhadoras.
Na Madeira, a situação é idêntica e os monárquicos passam a controlar
as instituições do Estado. A 21 de janeiro, são empossadas as novas comissões
administrativas da CMF e da Junta Geral, os corpos administrativos mais importantes
na gestão do distrito. A nomeação da comissão da Junta Geral é feita por alvará com
data desse mês e ficou constituída por António Augusto Coelho da Silva Pereira,
João Augusto de Freitas, Maximiano de Sousa Rodrigues, Manuel José Perestrelo
Favila Vieira e Henrique Teodorico Fernandes. Na reunião que se realizou a seguir à

26 Ata da reunião de 21-11-1917. (Cfr. Diário de Notícias, 22-11-1917).


27 Foram eleitos os corpos administrativos da Junta Geral para o triénio de 1918-1920. Para a Junta Deliberativa: Remígio
Barreto, presidente, Francisco Alexandrino Rebelo, vice-presidente, Alfredo Rodrigues, secretário e Ernesto Guilherme
dos Ramos, secretário; Para a Comissão Executiva: Vasco Gonçalves, presidente Alberto Figueira Jardim, vogal e
José Marcelo Figueira, secretário; Comissão de Finanças Francisco Alexandrino Rebelo, Abel Rocha de Gouveia e
Alexandrino de Sousa; Comissão de Viação e Obras; Remígio Barreto, José Marcelo Figueira e Francisco José Figueira;
Comissão de Petição e Administração: Vasco Marques, Crispim Norberto Rodrigues e Pedro Augusto de Oliveira.

227
Junta Geral

tomada de posse, procedeu-se à eleição do presidente e secretário, saindo eleitos


António Augusto Coelho da Silva Pereira e Teodorico Fernandes respetivamente.
Após pedir a colaboração isenta e leal de todos os elementos da Junta e dos
seus funcionários, o presidente afirmou que esta comissão procuraria seguir o
exemplo do Governo de moralidade à administração pública, (…) que será seguido
na administração da Junta. Alertou para a situação de crise e para as consequências
difíceis em que esta comissão tomava conta da administração da Junta, dadas as
excepcionais dúvidas do momento difícil que todos os países atravessam, por um
lado e por outro devido à má orientação seguida pelas anteriores administrações
da Junta e pelos ruinosos empréstimos contraídos não podendo dispor dos meios
necessários para acudir às necessidades mais urgentes do distrito28.
Numa tentativa de reduzir custos, esta comissão tomou imediatamente a
deliberação de reduzir o pessoal a cargo da Junta e pediu a extinção da Escola de
Utilidades e Belas Artes, decidindo manter a barraca do mercado D. Pedro que
tinha um papel de reguladora dos preços, sustentando-se a si própria e tendo dado
um lucro de 14$93 escudos, no ano anterior.
A 7 de fevereiro desse mesmo ano, é nomeada uma nova comissão
administrativa para a Junta Geral, recheada de monárquicos que assim tomavam
conta dos seus destinos. A comissão administrativa ficou constituída pelo cónego
António Homem de Gouveia, João Augusto de Freitas, Manuel José Perestrelo
Favila Vieira, Abel de Sousa Alves e Carlos Bettencourt da Câmara, que tomou
posse no dia seguinte, sendo eleito presidente, o cónego António Homem de
Gouveia que se ausentou para Lisboa a 23 de março seguinte, ficando, como
presidente, Manuel José Perestrelo Favila Vieira. Este, por sua vez, a 17 de agosto
tem o mesmo destino do cónego Homem de Gouveia, ficando a dirigir a Junta
o vice-presidente, Dr. Henrique Teodorico Fernandes. A 21 de setembro, Manuel
José Favila Vieira volta a exercer a presidência. A 4 de novembro de 1918, por
esta comissão não concordar com a higienização da cidade, nem com a orientação
administrativa do chefe do distrito, pediu a sua exoneração. No mesmo dia, o
Governador Civil nomeia outra comissão constituída por Adolfo João Sarmento
Figueiredo (na altura, diretor da Alfândega do Funchal) eleito presidente, Pedro
Augusto de Gouveia e António Luís Nunes Vieira, João Sabóia Gomes, como vogais
e João Eleutério Carvão Gomes, eleito secretário.
Com a morte de Sidónio Pais, o regime desmembra-se, voltando o país à
“República Velha”. Na Madeira, os acontecimentos desenrolam-se, de forma
instintiva. A 19 de fevereiro de 1919, os jornais do Funchal informavam que o
Dr. Manuel Augusto Martins, novo chefe do Distrito, tinha indicado o Dr. Vasco
Gonçalves Marques, para presidir à comissão administrativa da Junta Geral. No dia
seguinte, dá-se a posse do Governador Civil e das comissões administrativas da
CMF e da Junta Geral, tendo esta ficado constituída por Vasco Marques, Fernando
Tolentino da Costa, António Augusto da Silva, Vicente Cândido Gonçalves Farinha
e José Marcelo Figueira.
A conjuntura que se adivinha nos próximos anos será difícil para o país, com a
agravante da situação da Madeira. A guerra continua no continente, mas a refletir-

28 Ata da reunião de 21-1-1918. (Cfr. Diário de Notícias, 22-1-1918).

228
Junta Geral

se na vida económica e social da ilha, de forma clara. São inúmeras as dificuldades


para o abastecimento de víveres das populações, e ainda mais acrescidas para
aqueles que interferem na economia de exportação madeirense. Entretanto, o
armistício assinado a 11 de novembro de 1918 pôs fim à guerra das populações
tendo sido um fator positivo no quadro da política nacional, com reflexos no
funcionamento da Junta Geral. A 22 de janeiro de 1919, a tomada de posse de
Vasco Marques, como presidente da comissão, foi um ato festivo, com muita
participação popular29.
Como se isto não bastasse, uma crise político-partidária no país tem expressão
plena na realidade madeirense e com reflexos evidentes no funcionamento da
Junta Geral que, nesta época, reage como a caixa-de-ressonância dos interesses
partidários e das crises governamentais que se sucedem, de forma continuada,
até 1926. A governação torna-se insustentável, com esta situação de precariedade
governativa, levando a insistente mudanças na estrutura da comissão executiva
da Junta e no seu normal funcionamento. A nova comissão, que tomou posse
a 22 de fevereiro, presidida por Vasco Marques, assume-se como republicana e
disposta a sanear os serviços da junta de elementos monárquicos30. Depois, a 2 de
outubro, determina-se a comemoração solene do 5 de outubro, embandeirando o
edifício da Junta. Desta forma, a 8 de março, determina-se a suspensão de alguns
funcionários por questões políticas, afirmando-se que não pode a comissão ter
contemplações com os que não tem mostrado evidente amor pela Republica e
propósito final de a defenderem e prestigiarem. Desta forma, a 13 do mesmo mês,
foi decidido nomear um magistrado para instaurar processos aos funcionários, de
forma a apurar as provas do seu monarquismo. A 16 de junho de 1919, Francisco
Tolentino Costa substitui Vasco Marques e afirma-se como republicano, imprimindo
esta cor politica à sua presidência da comissão31.
As reuniões são, muitas vezes, uma tribuna de enfrentamento dos múltiplos
interesses partidários, ou de enfrentamento dos diversos grupos políticos, que se
fazem eleger como procuradores. A 22 de dezembro de 1921, Fernando Tolentino
Costa, presidente da comissão, saúda a tomada de posse do novo governo32. Desta
forma, a 1 de março de 1925, o presidente da comissão executiva, Domingos Reis
Costa, em resposta a afirmações de Vieira de Castro, afirmava que a Junta não é
soalheiro de comadres bilhardeiras, para estabelecer discussões dize tu, direi eu,
com quem quer que seja. No dia 26 de abril, uma nova comissão inicia o mandato
e, em sessão ordinária de tomada de posse, os ânimos dos procuradores estão ao
rubro e os debates são acalorados, A tensão aumenta em junho, de forma que, na
reunião do dia 6, se acusava o aspirante de finanças, Noé Francisco Pereira, que
aliciava gente para perturbar o funcionamento da junta geral na reunião do dia
29 de maio. A imprensa do dia 23 de novembro refere a tomada de posse da nova

29 No final da ata, refere-se: A sala das sessões achava-se ornamentada com palmas e flores naturais, sendo a comissão
saudada pela assistência, ao entrara na sala, com uma calorosa salva de palmas.
30 A sentença foi conhecida na reunião de 5 de junho de 1919.
31 No discurso de posse, afirma: sob o ponto de vista politico a atitude da comissão da sua presidência será sinceramente
republicana e de defesa da Republica e folga muito em ver a administração do distrito novamente entregue a cidadãos
portadores de ideias genuinamente republicanas, que haviam sido violentamente arrancados dos seus cargos pela
despótica ditadura sidonista.
32 Era o 34º governo da República, liderado por Francisco Cunha Leal, que foi nomeado a 16 de dezembro de 1921 e
exonerado a 6 de fevereiro de 1922.

229
Junta Geral

junta, que, nas palavras do Governador civil, a sessão acontecia, com verdadeira
cordura, correção e fidalguia...deixando as suas paixões e que ali dentro apenas
os animava o propósito de exercerem as dignas funções de procuradores dos
povos do distrito. Mas estava enganado. A 25 de novembro, inicia-se o mandato
da nova junta para o triénio seguinte, onde se expressa, de forma clara, a divisão
partidária que imperava na sociedade. Dos 44 procuradores, 22 são católicos e 20
da oposição.
As sessões da Junta assumem-se, claramente, como a tribuna de debate e de
afrontamento de ambos os grupos. A 6 de abril, o debate foi mesmo acalorado,
obrigando à sua interrupção durante meia hora. Desta forma, na sessão do dia
29, o presidente da comissão, Fernando Tolentino, apresenta o seu protesto pelos
tumultos, sendo secundado por Manuel Pestana Reis. A 18 de maio, a sessão
plenária foi ensombrada com novos tumultos, com a presença de público, o que
levou à intervenção da polícia cívica.
A 1 de janeiro de 1926, tomaram posse os novos procuradores para o triénio
de 1926-28. A sessão foi presidida pelo procurador mais votado, Dr. Luís Vieira
de Castro, tendo, ao seu lado direito, o Governador civil e sendo secretariado por
Firmo Figueiredo Silva e João Francisco de Canhas. Foi eleito presidente da Junta
Vasco Marques. O Engenheiro Henriques Araújo, na saudação que lhe faz, refere
que anceia porque se realize uma obra vasta, estudando-se a melhor forma de
a conseguir, pois muito dela necessita o distrito. Afastem-se dessa obra todas as
preocupações partidárias e tenha-se apenas em mira os interesses real do distrito.
O novo presidente, em resposta, manifesta o desejo de uma ampla autonomia e
maiores receitas. Mas os acontecimentos de 28 de maio traçaram outro rumo.
Uma das questões mais prementes da ação da junta prende-se com o
problema dos abastecimentos, nomeadamente do espaço urbano. Desta forma,
em 15 de maio de 1917, foi proposta a criação de uma comissão de abastecimento
para atender a esses problemas. Neste contexto, tivemos em 04 de novembro,
uma barraca para venda pública de produtos. Por outro lado, de modo a impedir
os elevados preços da venda dos produtos essenciais, o governador insiste, em
12 de agosto de 1917, no sentido de câmara e Junta custearem o desembarque
de cereais. A 6 de abril de 1918, o milho continuava a faltar e, por isso, pede-se a
tomada de medidas para o seu abastecimento. A 3 de abril, sabemos que a Junta
assumira os custos do abastecimento de 491 sacas de milho, fazendo-o vender, na
sua barraca, a preço de custo. Em 1923, os problemas com o abastecimento de
carne levaram o delegado do Comissariado de abastecimento a referir, em reunião
de 21 de setembro, que não tinha poderes para interferir em tal, uma vez que era
uma obrigação da câmara. De acordo com Manuel Pestana Reis, aí expressa, esta
falta de carne devia-se ao baixo preço estabelecido pela câmara, pedindo-se o seu
aumento e o socorro ao gado açoriano.
Como sabemos, eram múltiplas as áreas de intervenção da Junta, através
da sua reunião de procuradores ou da comissão executiva, mas sem dúvida que
as obras públicas e, nomeadamente a reparação, calcetamento e construção de
estradas ocupa um lugar cimeiro no conjunto das deliberações. Recorde-se que,
entre 1911 e 1918, parte desta atribuição estava acometida à Junta Agrícola, mas
com o fim desta última, pelo decreto 379 de 1 de janeiro de 1918, foi restabelecida
230
Junta Geral

a Direção de Obras Públicas da Junta Geral, que assumirá a plenitude de funções


no desenho e construção da rede viária da ilha. O ano de 1918 foi de transição
neste quadro de mudanças institucionais, levando a que não fossem realizadas
nenhumas obras públicas.
Ainda deveremos salientar que a Junta tinha uma Repartição Técnica para
construções, que passou a dispor de instalações na Rua Elias Garcia, a partir de 1 de
janeiro de 1924. Desta forma, a partir desta data, redobram as responsabilidades
financeiras da Junta Geral que, em 26 de janeiro, reclama da situação da Tesouraria,
que a impede de terminar as obras iniciadas, aventando-se ainda na necessidade
de um projeto de redução de pessoal. A 11 de maio, então, face à reclamação dos
funcionários, no sentido de receberem a subvenção que tinham direito, a Junta
insiste na inexistência de verba para tal em orçamento e dinheiro em caixa.
A falta de dinheiro parece ter sido uma constante das administrações da Junta
e o principal obstáculo ao seu trabalho em prol das populações madeirenses.
Sucedem-se, por isso, vários conflitos e debates em torno da questão financeira.
Uma das mais importantes relaciona-se com o pagamento da Policia cívica. A
questão financeira parece ser um tema tabu para o Governo. Senão, vejamos: a 26
de julho de 1918, perante o problema da falta de cantoneiros afirma-se o que falta
à Junta de dinheiro sobra-lhe em boa vontade. E, finalmente, a 20 de setembro, um
desabafo claro: os ministros ficam satisfeitos quando se pede qualquer coisa que
diminue as despesas dos respetivos ministérios. Outro tanto não sucede quando
se pretende, como no caso presente, que essas despesas sejão aumentadas. Em
relatório apresentado a 23 de agosto de 1926, a Junta apresenta um deficit de 712
contos, mandatando o seu presidente, Tenente-coronel António Bettencourt da
Câmara, o procurador Cunha Teles para encontrar soluções, no sentido de reduzir
as despesas de funcionamento.
O aperto financeiro obrigava a uma gestão criteriosa e ao recurso ao
financiamento junto da Caixa Geral de Depósitos, através de empréstimos, que
estavam limitados pela lei. A 12 de agosto, refere-se que as câmaras municipais
haviam decidido fazer um referendo sobre um empréstimo de 300 contos
deliberado pela Junta. De acordo com a lei de 23 de junho de 1916, os encargos
com os empréstimos deveriam estar salvaguardados pela receita depois de pagas
as despesas ordinárias de funcionamento. As contas da Junta apresentadas a
31 de dezembro de 1918 revelam que as dívidas passivas eram de 56.166$40 e
da amortização de empréstimos, no valor de 43.245$90, isto numa situação de
endividamento da Junta, em 238.298$69. Entretanto, a 4 de novembro, a comissão
executiva da Junta demitiu-se por causa do desvio de um empréstimo no valor
de 388.240$40, como comparticipação desta para as obras de canalização dos
esgotos da cidade.
A extinção da Junta Agrícola trouxe encargos acrescidos com pessoal para
a Junta Geral, uma vez que teve de admitir nos seus quadros os funcionários
desta instituição. Estes encargos chegavam a 90 contos. O facto de terem sido
transferidas as receitas permitiu, contudo, atender a este aumento de encargos
e aliviar os cofres da Junta. Note-se que, a 20 de abril de 1922, a folha de receita
do mês de março apresentava 30.339$51 da Junta e 146.631$30 da extinta Junta
Agrícola.
231
Junta Geral

A 23 de dezembro de 1925, o governador Civil informa a Junta de que o


ministério das Finanças havia autorizado um empréstimo de 20.000 contos e
que deveria solicitar-se a necessária autorização junto do Ministério do Interior.
Às dificuldades e ao apertado sistema de controlo, junta-se, neste quadro dos
empréstimos, a excessiva burocracia e controlo.
É em torno das questões financeiras que se ateiam os debates e alguns
conflitos institucionais da Junta. A 27 de agosto, refere-se no Diário da Madeira
que as receitas do Estado no distrito foram de 3.080.248$18, mas que todos os
progressos materiais ocorridos na ilha não resultam do Estado, mas do regime
administrativo da autonomia alcançado em 1895. Já a 27 de novembro de 1924,
Ernesto Dias Nascimento escreve que revertem, na sua quase totalidade, a benefício
do continente, ficando apenas nesta ilha insignificante parcela, insuficientíssima
para os melhoramentos distritais que a Madeira tem direito. Diz-se que o Estado
leva 20.000 contos e deixa à Junta apenas 3.500 contos. Depois, o mesmo periódico
volta a reclamar, a 18 de abril, dos impostos, nomeadamente da contribuição de
registo, em que o Estado leva milhares de contos e à ilha seriam importantes uma
pequena parte dessas receitas para que o Funchal possa progredir e desenvolver-
se.
Por outro lado, em 1925, ateou-se um conflito em torno do problema
financeiro quanto ao pagamento dos vencimentos da Polícia Cívica que eram um
encargo da Junta33. A 19 de fevereiro de 1925, o Governador Civil reclama da Junta
o pagamento da Policia Cívica. Mas a comissão executiva responde que é autónoma
e não admite a intromissão do sr. Governador civil no seu funcionamento, não
obstante ter aceitado reunir para deliberar sobre o assunto. Entretanto, a Direção
de Finanças informa uma ordem da Direção Geral da Fazenda Pública, no sentido
de não entregar mais receita da Junta enquanto não for paga a polícia cívica.
Perante isto, a comissão reclama, dizendo que a Junta é administrativamente
autónoma e não reconhece ao ministério das Finanças o direito de intervir na sua
administração e lavra um protesto junto do Ministro das Finanças. Para resolver a
situação, interveio o madeirense, Dr. Pestana Júnior, então Ministro das Finanças,
ordenando que a as finanças adiantassem o referido de dinheiro para servir de
pagamento à polícia.
O plano da rede viária é um dos objetivos primordiais da Junta que se
expressam, não apenas deliberações em torno desta área das obras públicas, mas
também está expressa na mente dos seus dirigentes. O transporte era um setor
prioritário para o progresso global da ilha e a presença cada vez mais frequente e
numerosa do automóvel obrigava a isso. Em 23 de dezembro de 1926, refere-se
a circulação na ilha de 650 carros, pelo que, nesta reunião, foi lavrado um voto
de confiança ao seu presidente, Tenente-Coronel António Bettencourt da Câmara,
no sentido de tomar providencias necessárias cerca das reparações nas estradas,
no intervalo das sessões. A 15 de novembro de 1823, Vasco Marques, no auto
de posse como presidente da comissão executiva, é claro ao afirmar as opções
do seu mandato: A obra máxima que esta junta geral tem a estipendiar é a das

33 Além da Polícia Cívica, temos, na ilha, a Guarda Republicana, primeiro instalada no Lazareto e, depois, passado para
as instalações da Quinta Vigia (cf. Atas de 19 de maio e 3 de junho). Recorde-se que, por reunião de 22 de dezembro
de 1921, sabemos que o efetivo da polícia cívica fora aumentado para 100 homens.

232
Junta Geral

novas estradas, concluindo as já existentes e prosseguindo com a construção


das já estudadas e aprovadas, pois só assim poderemos ver ligadas entre si
todas as povoações da Madeira e tornar verdadeiramente útil e prática a viação
eléctrica. São inúmeras as adjudicações de empreitadas para a sua construção ou
calcetamento. De acordo com informação da ata de 13 de julho de 1923, sabemos
que a despesa com o calcetamento de um lanço de estrada de 170 metros em Água
de Pena custava 9.426$84, depois, a 24 de julho de 1925, sabemos que 358 metros
de calçada haviam sido arrematados em 3.554$96. Estas obras de calcetamento
causavam natural transtorno à circulação automóvel, pelo que, a 22 de janeiro de
1926, a Associação de Classe dos Chauffeurs da Madeira pedia à Junta para não
vedar a passagem de automóveis na Estrada Monumental, enquanto durassem as
obras de calcetamento da via.
A aposta estava na valorização da rede viária como motor do progresso da
ilha. A 24 de abril, a Repartição Técnica é encarregada de proceder aos estudos de
alargamento das curvas de todas as estradas com raio inferior ao legal, de modo
a permitir o trânsito de qualquer sistema de viação. A 13 de junho, a Junta recebe
a oferta do representante da Ford, na ilha, de um trator, no valor de 32 contos,
para a reparação das estradas. Alguns reveses sucedem-se, como o que acontece
a 6 de abril, com o projeto de estrada entre Ribeira Brava e Ponta de Sol, que foi
reprovado pelo conselho Superior de obras públicas, por ser muito dispendioso.
Os cuidados com a rede viária redobravam, após a época invernosa e as
aluviões. Foi isso que aconteceu em 1917, em que a Junta, nas reuniões de 6
de janeiro e 3 de fevereiro, aprovou diversas reparações nas estradas da Ribeira
Brava, Santa Cruz, Machico, S. Vicente, Porto Moniz. Por outro lado, não devemos
descurar a ação perniciosa dos chamados comerciantes de lenha que acarretavam
a lenha com carros de rodas na estrada da Junta, entre o Amparo e o Salão,
provocando a sua ruína. Deste modo, o regedor da Ponta do Pargo fez chegar à
reunião de 29 de novembro de 1923 uma reclamação pela ineficácia e ausência do
chefe de conservação de estradas e dos cantoneiros.
A par da rede viária, o serviço de cabotagem exercia ainda um papel
importante nas ligações entre as diversas localidades da ilha e o Porto Santo,
servidas de portos. Deste modo, para além da necessária manutenção dos cais e
ancoradouros indispensáveis a este serviço, temos a necessidade de manutenção
do serviço de cabotagem. Em 1917, a situação era complicada, uma vez que a
empresa funchalense da cabotagem fazia depender a sua ação de um subsídio
de 3 contos para realizar o serviço público na ilha e Porto Santo, o qual constava
de uma viagem quinzenal ao Porto Santo, outra semanal a Ponta Delgada, e 5
viagens por semana no sul, sendo 3 para a Calheta e 2 para Machico. Entretanto,
a 26 do mesmo mês, a Junta manifesta apreensão com a suspensão das viagens
para o norte da viagem, fazendo sentir a necessidade de proceder-se a um estudo
sobre a situação e a maneira de a resolver. A 4 de novembro, sabemos que o
restabelecimento deste serviço de cabotagem com o norte dependeria de um
subsídio de 3.500$00.
Para este período, acontecem diversas comemorações relacionadas com a
História que merecem a exaltação e apoio da Junta. Pela lei 1.115, de 4 de fevereiro
de 1921, o Governo concedeu o bronze para a estátua de João Gonçalves Zarco. A 3
233
Junta Geral

de maio de 1925, a junta concedeu 10 contos para o monumento a João Fernandes


Vieira. Por outro lado, a 6 de junho, sabemos que Francisco Franco cedeu à Junta a
maquete do monumento a João Gonçalves Zarco, tendo a obra custado 48.000$00.
Ainda temos a 31 de dezembro de 1924, o estudo para a aquisição do Palácio de S.
Pedro, para a instalação da biblioteca e museu municipal.
A partir da década de vinte, junta-se uma nova preocupação da Junta,
a montagem de uma rede telefónica em toda a ilha, cujos custos são da sua
responsabilidade. A 13 de novembro de 1925, a comissão aprova a verba para a
rede de telefonia das freguesias de E. C. Lobos, Madalena do Mar, Arco da Calheta,
Prazeres, Seixal, Boaventura, Santo António da Serra e Caniço. Em 30 de setembro
de 1926, o Diário da Madeira refere que a Junta gastara 200 contos na montagem
de linhas telefónicas, algo relevante quando ainda não existia nos distritos do
continente, até mesmo em Lisboa e Porto. Este investimento continuará nos
anos seguintes, tendo-se, a 21 de janeiro de 1927, novo investimento em linhas
para Caniçal, Camacha, Santo da Serra, Faial, S. Jorge, Boaventura, Seixal, Fajã da
Ovelha, Calheta, Arco da Calheta, Madalena do Mar, Canhas, Campanário, E. C.
Lobos e Prazeres.
As preocupações com a agricultura e a floresta são escassas e apenas em
1917 sabemos que, a 28 de maio, uma comissão apresentara um estudo sobre
a situação das serras da ilha, propondo a criação de comissões municipais para
assegurar o serviço de arborização das serras34. Sabemos ainda desta reunião de
11 de novembro que a grande obra da junta era a rede viária, mas que a mesma
estava ainda empenhada em comprar materiais para a agricultura, nomeadamente
sulfato de cobre, enxofre e adubos, que depois venderia aos agricultores a preço
de custo. Ainda o Visconde da Ribeira Brava, presente, aprovou a necessidade de
substituição da cana sacarina e apelou no sentido da ilha ser auto suficiente em
termos agrícolas, referindo a necessidade de valorização do projeto do Paul da
Serra. A sua opção em termos agrícolas era clara: a cana e a vinha podem continuar
a existir, bastando que sejam substituídas nos terrenos impróprios para as suas
culturas. O Visconde será recordado, aquando da sua morte trágica, e rendida
homenagem pela comissão a 20 de março de 192135, decidindo-se colocar um
retrato seu, na sala de reuniões, e atribuir o seu nome a uma rua da cidade.

1926-1974.

A Junta Geral, órgão da administração distrital, tinha competências nas áreas


da instrução pública, fomento industrial e agrícola e obras públicas. Com a reforma

34 Cf. SEQUEIRA, Manuel Braz. Argumento a favor da arborização obrigatória das serras da ilha da Madeira, Funchal,
1913; CAMACHO, João Henriques, Notas para o estudo da rearborização da Ilha da Madeira, Lisboa, 1920; SILVA,
Fernando Augusto da. O revestimento florestal do Arquipélago da Madeira, Funchal, 1946.
35 Aí refere-se: …foi um dos mais ilustres madeirenses e um dos mais distintos membros desta Junta, tendo advogado
sempre com ardor e tenacidade, no Parlamento e fóra dele, os interesses da Madeira, que lhe ficou a dever os mais
assinalados serviços e obras da mais larga iniciativa, que muito teem contribuído no futuro para o desenvolvimento
e prosperidade deste distrito. (…) O nome do Visconde da Ribeira Brava fica indelevelmente ligado às mais largas
iniciativas e maiores melhoramentos em favor da Madeira… o Visconde da Ribeira Brava sempre procurou servir a
terra que lhe foi berço.

234
Junta Geral

administrativa do Estado Novo, estas foram substituídas pela lei n.º 1.945, de
21 de dezembro de 1936, pelas Juntas de Província, excetuando-se os Distritos
Autónomos Insulares.
Com a chegada de Salazar ao poder e a consolidação do Estado Novo, a partir
de 1933, foram introduzidas mudanças no estatuto autonómico da Junta Geral
do Distrito do Funchal. Já a 16 de fevereiro de 1928, ainda Salazar não estava no
Ministério das Finanças, surgiu o decreto n.º 15.035, com o argumento de que o
estatuto vigente já tinha muitos anos (de 1901) e havia que estabelecer alterações
aos serviços da Junta Geral, dando-lhes maiores recursos financeiros. A 30 de
julho desse mesmo ano, já Salazar estava no Governo como Ministro das Finanças,
surgem algumas alterações ao estatuto, com o decreto n.º 15.805.
No preâmbulo, diz-se que os distritos insulares gozavam, pelas suas condições
geográficas e económicas, de uma relativa autonomia, há mais de 30 anos; que, para
manterem serviços que antes eram responsabilidade do Estado, seriam entregues
às Juntas Gerais as contribuições diretas indispensáveis, recebendo o Estado
apenas uma indemnização pelas despesas de cobrança, a seu cargo. Assinala-se
que havia, por vezes, duplicação de serviços que causavam inconvenientes graves,
com repartições do Estado com uma restrita esfera de ação, como sucedia nas
obras públicas; exatamente por isso, este diploma introduz nas Juntas, como
vogais natos, os chefes dos principais serviços distritais. O decreto preconizava
a urgência das autarquias fazerem economias, em consonância com as que se
impunham ao orçamento geral do Estado, reforçando o acréscimo garantido das
receitas, passando-se agora para as Juntas a importância cobrada pelo fundo de
instrução primária e as receitas correspondentes ao adicional de 1% para o cofre
geral de emolumentos, receitas essas que o decreto de 16 de fevereiro desse ano
tinha reservado para o Estado. O mesmo previa, ainda, a concessão de subsídios
necessários à descentralização de serviços que agora propunha.
Uma das preocupações estava certamente nas obras públicas e, de forma
especial, no plano viário. Muito ainda havia por fazer e a Madeira precisava destes
investimentos para sair definitivamente do atraso e abandono. O desenvolvimento
do plano viário da ilha foi um processo muito mais moroso. A orografia da ilha
não favoreceu a construção de estradas e as que foram sendo construídas foram-
no a muito custo e com elevadas despesas para a Junta Geral36. Desde 1928 que
esta dispunha da receita dos impostos sobre as transações e sobre a aplicação de
capitais, consignada à construção e reforma das estradas37.
Em 1938, foi definido um plano de construção de estradas pelo período de
oito anos, com o custo de 44.000 contos, competindo ao Governo o financiamento
de 75% e o restante à Junta38que, para honrar a sua parte, teve de solicitar um
empréstimo no valor de 3750 contos39. Esta proporção mantém-se em 1967,
ano em que a participação do Estado foi de 33.750 contos e a da Junta Geral de

36 A este propósito, refere Edmundo Tavares (1948, p.40): Há estradas que foram inteiramente abertas a dinamite. Outras
só conseguiriam ter continuação à custa de arrojadas obras de engenharia, tais como muralhas de suporte, pontões,
viadutos e pontes altíssimas.
37 LEITE, 1987, p. 218.
38 Diário das Sessões, 2 de dezembro de 1938.
39 Diário do Governo, n.º 140, 20 de junho de 1938.

235
Junta Geral

Rede Viária da Madeira.


Século XXI

11.250 contos40. É de referir o papel de Abel Rodrigues da Silva Vieira (1898-1972),


responsável do departamento de obras públicas da Junta Geral, na definição deste
plano viário do Estado Novo.
Ao longo do século XX, tudo o que se relacionava com a expansão da rede viária
era sempre motivo de permanente reivindicação. A construção de uma estrada,
com a definição sinuosa do seu traçado, as pontes que abraçam as margens das
40 Diário das Sessões, 30 de junho de 1967.

236
Junta Geral

ribeiras e alguns (poucos) túneis que faziam o homem entrar nas entranhas da
ilha, implicavam um redobrado esforço da engenharia e da capacidade humana,
assim como um dispêndio avultado de verbas, que muitas vezes, os políticos da
metrópole não entendiam.
Chegamos, assim, ao final do século XX e a tecnologia alivia o esforço humano
e substitui a terraplanagem por viadutos, pontes e túneis, encurtando os trajetos
que se faziam pelo rendilhado das encostas, permitindo uma circulação rápida e
eficaz, na aproximação dos diversos núcleos populacionais, deixando que as vias
terrestres ultrapassassem as marítimas. Deste modo, o quadro da rede viária na
década de trinta era já distinto e tornava-se motivo de elogios, contrastando com
as realidades apontadas para a centúria anterior41.
Esta obra de engenharia, que demorou em ganhar expressão por toda a
ilha, não se fez à custa dos apoios do Governo Central, que sempre foram bem
calculados, mas foi, sim, resultado da integração de Portugal na Comunidade
Económica Europeia, em que, de forma definitiva, foi estabelecida uma situação
particular para a política de desenvolvimento local que contemplará estes
avultados investimentos na rede viária, portuária e aeroportuária. Recorde-se
que, em 1975, a rede viária madeirense compreendia apenas 275 Km e, em 2005,
atinge os 624Km.
A 18 de julho de 1926, na sequência do movimento revolucionário de 28 de
maio, o Diário do Governo, 1.ª série, publicava o decreto n.º 11.875, que dissolvia
todos os corpos administrativos do país. Em relação às ilhas, os governadores civis
enviariam, no prazo de 20 dias, ao Ministro do Interior, os nomes dos cidadãos
que haviam de compor as Comissões Administrativas. No dia seguinte, um outro
decreto sobre as novas corporações administrativas dizia que delas podem fazer
parte cidadãos que pertenciam às gerências dissolvidas.
Na Madeira, a demora na chegada do novo Governador Civil e as guerrilhas
entre as várias fações políticas dificultaram a escolha dos nomes para as novas
comissões administrativas42. Apenas a 13 de agosto,43 foi anunciada a nova comissão
administrativa da Junta Geral do Funchal, constituída pelo Tenente-coronel António
Bettencourt da Câmara, pelos capitães Abel Magno de Vasconcelos e Jaime Nunes

41 Alguns visitantes reconhecem o labor da Junta Geral: vamos olhando as terras da Junta Geral e vendo o cuidado com
que são tratadas as estradas madeirenses, limpas, calcetadas, sem poeira, debruadas por flores tenras que, dentro de
anos as emoldurarão ricamente (MONTÊS, 1938, p. 190). O Conde do Funchal afirmava também: preparámo-nos para
desembarcar no Funchal, capital dum arquipélago feliz, que tem esplêndidas estradas, sem poeira, construídos em terreno
dificílimo, que são frequentemente verdadeiras obras de arte (…) com a electrificação rural mais adiantada do país, (…)
além de possuir já um óptimo porto de mar, com o abastecimento dos combustíveis líquidos à navegação e uma rede
hoteleira das mais modernas e confortáveis. Finalmente tem em Porto Santo um aeródromo de categoria internacional,
e vai dispor, dentro em breve, na própria Ilha da Madeira, da pista de Santa Catarina. Por todos estes melhoramentos,
que a administração nacional realizou e por todas aquelas excelências que Deus Nosso Senhor lhe deu, a Ilha da Madeira
poderia considerar-se entre as mais felizes das suas congéneres. (Conde do Funchal, 1962, p. 183).
42 A 13 de agosto, o Diário de Notícias, em editorial, assinado pelo seu redator principal, F. Conceição Rodrigues, e
intitulado “E então ?!...”, escrevia que o povo já começava a enervar-se com a demora na nomeação das novas comissões
administrativas, fervilhando boatos que não prestigiavam as novas administrações. Dizia o Diário de Notícias que
as reuniões iam pela noite dentro, que eram frequentadas predominantemente por uma determinada casta, não se
justificando a continuação deste marasmo, porque a obra a realizar era muito complexa e numerosos os problemas a
resolver. Incitava a que ninguém recusasse os convites feitos, porque a hora era grave e era necessário olhar pelo futuro
da Madeira. Considerava que as responsabilidades eram grandes, mas entendia que os escolhidos teriam de tomar a
iniciativa dos grandes empreendimentos de que carece esta ilha, estabelecendo um plano que execute escrupulosamente.
Sugeria, para a Junta Geral, a nomeação de um homem de acção e iniciativa, que se tenha dedicado ao estudo dos
problemas que interessam ao distrito.
43 Diário de Notícias de 14 de agosto de 1926.

237
Junta Geral

de Oliveira, pelo Dr. Alexandre da Cunha Teles e Luís Portugal Rodrigues dos Santos,
que tomou posse no dia seguinte.
Na primeira reunião da nova Comissão Administrativa da Junta Geral, realizada
no dia 23 desse mês, foi presente um relatório exaustivo sobre a precária situação
financeira da Junta44. Fazendo um cálculo aproximado da receita e despesa da
Junta, este chegava à conclusão de que, no fim desse ano, continuaria a haver um
deficit nas contas da Junta, que, no ano anterior, fora de 712 contos e que, naquele,
deveria aproximar-se deste valor. A situação implicava que não se pudessem
realizar obras de uma certa importância, sem que novos recursos viessem a ser
obtidos. Impunha-se, em primeiro lugar, economizar, acabando-se com obras que
não fossem de absoluta utilidade pública. Quanto ao pessoal, necessário seria
reduzi-lo. Outras propostas de poupança foram, mais tarde, apresentadas pelo
vogal Cunha Teles, depois do exame do orçamento ordinário da Junta45.
O presidente propôs que se elaborasse um relatório detalhado, expondo toda
a situação do distrito ao Ministro das Finanças, salientando que a parte das receitas
do Estado que ficava na Ilha era manifestamente insuficiente para que pudessem
ser realizadas, neste distrito, as obras e os melhoramentos de que carecia e,
vivendo esta ilha muito do turismo, não se podia deixar ao abandono as obras já
realizadas, por falta de dinheiro. Pedia, para isso, a intervenção do Governador
Civil, junto do Presidente do Ministério e do Ministro da Finanças, para que alguns
encargos, como assistência e polícia, deixassem de pertencer à Junta Geral ou que,
em alternativa, houvesse um aumento das receitas para esse fim.
A batalha pela reivindicação de mais receitas para a Junta, que é o mesmo
que dizer o retorno das receitas dos madeirenses, continua. Assim, na sessão de
20 de setembro46, desse ano, reclamava-se que revertesse para a Junta Geral a
totalidade dos impostos lançados pelo Governo sobre produtos como o tabaco e
estabelecimentos bancários, que na Madeira perfaziam cerca de 400 contos, e que
estavam destinados à assistência pública.
São várias as vozes de protesto, por esta situação. O Tenente-coronel António
Bettencourt da Câmara, dececionado por não conseguir solucionar os problemas
do Distrito, pediu a sua exoneração, no dia 8 de março de 192747, sendo substituído
pelo capitão Abel Magno de Vasconcelos que, pelos mesmos motivos, se demitiu
a 20 de julho de 1930, passando o cargo ao engenheiro Luís Menezes de Aciaiolli.
Este último, devido a doença prolongada, deixou o cargo a 8 de janeiro de 1931,
dando lugar ao Dr. João Figueira de Freitas.
Este período de 1926-1931 foi marcado por grandes dificuldades económico-
sociais, para além da continuação da instabilidade governativa, o que naturalmente
se refletia na Madeira, onde se acrescentam a falência de bancos, a fome e as
convulsões sociais. A nomeação do Dr. João Figueira de Freitas para presidente
da Comissão Administrativa da Junta Geral era uma possibilidade de encontrar

44 O Diário de Notícias publicou o relatório na íntegra, no dia 25 de agosto de 1926.


45 Para esse ano, propunha-se que algumas verbas julgadas inúteis por esta comissão fossem transferidas para o orçamento
suplementar a organizar para esse ano. Foi ainda decidida a extinção de vários serviços e correspondente despedimento
de pessoal, incluindo quadros superiores e chefias. Foi dispensado todo o pessoal assalariado.
46 Diário de Notícias de 23 de setembro de 1926.
47 Diário de Notícias de 8 de março de 1927.

238
Junta Geral

soluções viáveis para os problemas do distrito, até porque era o Presidente da Revolta da Madeira
Comissão Distrital da União Nacional, o que lhe assegurava uma grande capacidade 1931.
de intervenção no sistema político.
A primeira Comissão Administrativa da Junta do Estado Novo teve de
defrontar-se com a crise política marcada pela Revolução da Madeira, em abril
de 1931. Durante o período revolucionário, os corpos administrativos da ilha
foram substituídos por apaniguados da situação revolucionária, o que aconteceu
naturalmente também na Junta Geral, desde 6 de abril até 2 de maio de 1931.
Após a revolta madeirense, os órgãos gerentes das Comissões Administrativas
voltaram aos lugares que ocupavam anteriormente, assumindo João Figueira de
Freitas a presidência da Junta Geral, a partir de 7 de maio desse ano. A primeira
decisão foi anular todo o expediente, atas, deliberações e despachos proferidos pela
comissão que gerira os negócios da Junta durante o curto período revolucionário.
Em janeiro de 1934, na cerimónia de posse do novo Governador Civil do
Distrito, Dr. Caldeira Coelho, o Dr. João Figueira de Freitas, referindo-se à sua ação
como Presidente da Comissão Administrativa da Junta Geral, considerava ser o
cargo mais espinhoso depois do Governador Civil, acrescentando que a mesma teve
que lutar com uma grande diminuição de receitas que se faz sentir principalmente
pela crise no Comércio e na Indústria, cuja causa próxima mais importante foi
precipitada pelo desastre bancário, mas que mercê duma compressão violenta de
despesas, a Junta conseguiu o equilíbrio orçamental no qual vive. Entendia que a

239
Junta Geral

sua obra era razoável, que ainda havia muito para fazer mas que, para isso, eram
necessários milhares de contos48. Foi durante a sua presidência que se procedeu à
mudança de instalações da Junta Geral para o edifício atual, o antigo Hospital da
Misericórdia, facto que ocorreu em 1933.
A Comissão Administrativa da Junta Geral, liderada pelo Dr. João Figueira
de Freitas, deu prioridade ao desenvolvimento da rede de estradas da Madeira.
Para isso, solicitou ao Governo Nacional autorização para contrair um empréstimo
de 15.000 contos49. Em janeiro de 1931, para atenuar a grave crise de trabalho
por que passava a Madeira, pediu ao Presidente do Ministério e Ministros do
Interior, Comércio e Finanças para que aprovassem de imediato a adjudicação da
empreitada das obras do cais do Funchal e de outras obras que, entretanto, se
seguiram50.
Uma das grandes preocupações desta comissão administrativa foi o
abastecimento de água potável e de irrigação a todos os concelhos da Ilha, um
problema quase permanente do arquipélago, cuja solução continuava a depender
de elevados investimentos, que aconteciam de forma lenta51. Para a sua realização,
convidou o Pe. Fernando Gomes, técnico especialista na exploração de águas, a vir à
Madeira, com o fim de estudar os novos locais onde se podia fazer, com segurança,
novas captações de água para irrigação de terrenos. Como esta comissão não tinha
receitas suficientes para iniciar estas importantes explorações, tentou obter do
Governo autorização para proceder à venda de algumas das suas águas aos atuais

48 Cf. Diário de Notícias, 16-1-1934.


49 Este empréstimo, autorizado pelo Governo, destinou-se à construção das estradas Funchal - Santana, Machico - Porto
da Cruz e Funchal - Porto Moniz, cujos primeiros lanços já tinham sido iniciados por esta mesma comissão. Foi ainda
possível, com essas verbas, proceder à construção da estrada Ribeiro Frio - Santana e a estrada Funchal-Camacha,
inaugurada no ano de 1932.
50 Em fevereiro, procedeu-se ao estudo da ligação da Encumeada ao Porto do Moniz e a 31 de março de 1931, dava-se
conhecimento do início das obras de construção da nova avenida entre o centro do Funchal e o Ribeiro Seco. Para tal,
houve necessidade de demolir o antigo edifício da sopa económica, na esquina da rua dos Aranhas, para dar lugar à
rotunda que encabeça a avenida. A 5 de junho desse mesmo ano, a Junta deliberou dar de arrematação as seguintes
obras: a Estrada de ligação das levadas de Stª Luzia e Bom Sucesso, numa extensão de 1.578 metros, reivindicada há
muito tempo e concluída a 24 de agosto de 1933; a reconstrução de uma ponte de betão armado sobre a ponte da Ribeira
da Tábua e o calcetamento da estrada Nacional n.º 26, entre os sítios do Furado e Rocha Alta, freguesia da Ribeira
Brava. Em março de 1933, decidiu construir a ligação da Levada de Sta. Luzia com S. Roque, para assim completar
a chamada estrada de cintura da cidade; a ligação dos Barreiros com o Avista Navios; a ligação do Flamengo com a
nova estrada do Monte, junto aos Hospital dos Marmeleiros; a construção de duas pontes sobre a Ribeira do Seixal;
uma ponte sobre a Ribeira da Tabua; duas pontes, a do Seixo e da Polé, na estrada nacional n.º 23; o desassoreamento
das Ribeiras de Machico e de João Gomes; vários calcetamentos em outras estradas na Ribeira Brava, Ponta do Sol e o
calcetamento do caminho que liga o Pico dos Barcelos com as Romeiras, na freguesia de Santo António; e ainda outras
obras de reparação de estradas e levadas; a construção do ramal de ligação da Pontinha à Rua Imperatriz D. Amélia e
entre a capela de S. Pedro e S. Fernando, na freguesia de Stª Cruz; vários calcetamentos em várias estradas. São ainda
obra desta comissão a construção da Ponte de S. Vicente que liga esta freguesia à Ponta Delgada; a construção de um
jardim marginal à estrada que liga a Pontinha à rua Imperatriz D. Amélia, em colaboração com a CMF; a construção
do varadouro do Porto do Moniz, a reparação nas casas de abrigo do Caramujo e Rabaçal, a ligação de S. Vicente com
o Paul da Serra, a conclusão da estrada que liga o Terreiro da Luta à Choupana e a construção do desembarcadouro
da Calheta. Procedeu-se à montagem de telefones na Ribeira da Janela e nas Achadas da Cruz, Gaula, Tabua, Jardim
do Mar, Madalena do Mar, Caniçal, Água de Pena, S. Roque do Faial e Cruzinhas. De entre as múltiplas iniciativas que
marcaram a ação desta Comissão saliente-se, a 19 de fevereiro de 1934, começaram os trabalhos para o lançamento dos
alicerces do monumento ao descobridor da Madeira, trabalho da autoria do Eng.º Abel Vieira e o prolongamento da
Avenida de Zarco, para o que se tornava necessário demolir parte do edifício da Junta Geral, fazendo-se a reconstrução
em ângulo, com fachada para a nova artéria. O prolongamento da Avenida daria lugar à construção do edifício do
Banco de Portugal e dos Correios e Telégrafos. No cruzamento das duas avenidas, seria colocada a estátua de Zarco, da
autoria de Francisco Franco.
51 Sobre isto, tenha-se em conta: The government levadas completed before the commencement of the Levada do Furado
measured 110 miles and cost 500,000,000 reis or about £100,000, and the private levadas 130 miles at a cost of 230,000,000
reis or say £46,000. (...) The judicial authorities can compel any landlord proprietor to allow the passage of water through
his territory on consideration that he is indemnified beforehand. (BROWN, A. Samler, 1932, Brown’s Madeira, Canary
Islands and Azores, 14th and Revised Edition).

240
Junta Geral

arrendatários, de forma a melhor distribuir os giros, através de facilidades de


pagamento anuais.
Como o presidente52 da Junta era também o mesmo da Junta Autónoma dos
Portos, procedeu-se à construção do cais do Porto Santo, uma velha aspiração da
população daquela ilha e, em 1932-1933, ao prolongamento do cais do Funchal,
numa extensão de 80 metros de comprimento e 5 metros de largura, sendo 2,5
metros para cada lado.
Lutar contra o analfabetismo foi uma das prioridades desta Comissão
Administrativa53. Uma das suas grandes preocupações foi a construção de um
edifício de raiz para o Liceu do Funchal. O estudo do empreendimento iniciou-se
no ano de 1931. Para o efeito, já havia conseguido a obtenção de uma verba e
estava à procura de um local apropriado para a construção. Destinou, para o efeito,
a verba de 800 contos e obteve um empréstimo de 15.000 contos54. Procedeu-se,
ainda aos trabalhos necessários para a instalação do Arquivo Distrital do Funchal,

52 As obras tiveram início a 9 de junho de 1932, com o lançamento à água do primeiro bloco. Este prolongamento foi
inaugurado a 28 de maio de 1933.
53 No ano de 1931, procedeu à organização da Carta Escolar do Ensino Primário e criou 10 novas escolas, nas freguesias
da Ribeira Brava, Tabua, S. Vicente, Monte, S. Gonçalo, Machico, Santo António e Calheta.
54 Foram pensados vários locais para a sua construção, nomeou-se uma comissão que ficaria encarregada de escolher o
local mais adequado, composta pelo Reitor do Liceu, Dr. Ângelo A. Silva, o médico escolar, Dr. William Clode e o Eng.º
Abel Vieira, Diretor da Repartição Técnica da Junta Geral. Quatro propriedades foram então sugeridas: Hotel Reid, do
Carmo, Quinta das Cruzes e Hospital Militar. Optou-se pelo Hospital Militar, para o que se oficiou ao Ministério da
Guerra, com vista à sua cedência, assim como dos terrenos anexos.

241
Junta Geral

criado pelo decreto n.º 19.952, de 30 de julho de 193155. Liceu Nacional do


Funchal.
As dificuldades económicas têm reflexo na sociedade e obrigam à tomada
de medidas. Assim, a mendicidade e a pobreza na cidade mereceram, desta
comissão administrativa, um tratamento especial. Logo em 1931, instituiu uma
sopa gratuita aos pobres56. A Junta Geral encontrou no Tenente Domingos Cardoso
um auxiliar muito ativo que se interessou vivamente por esta obra de assistência.
Apoiou a assistência hospitalar a alienados, no Asilo dos Velhinhos, as comissões
de assistência, as casas de caridade e ainda a construção de um pavilhão para
tuberculosos. Em 1934, decidiu ceder dois pavilhões do Lazareto de Gonçalo Aires,
para instalação do Albergue de Mendicidade da PSP.
O dinamismo desta comissão passou também por uma atenção ao problema
secular das florestas do arquipélago. Na sessão de 7 de janeiro de 1932, foi decidido
rearborizar as serras da Madeira e os baldios do Poiso.
Igual cuidado mereceu a agricultura, com a renovação dos apoios à cultura
da cana sacarina. Deste modo, a 7 de janeiro de 1932 foi decidido comprar novas

55 Refira-se que o artigo 9º, alínea i do decreto, lhe atribui a categoria de Arquivo Geral.
56 No edifício do antigo Hospital da Misericórdia do Funchal. Diariamente, eram distribuídas 700 sopas aos pobres.

242
Junta Geral

plantas de cana-de-açúcar, com o fim de as reproduzir nos viveiros da Junta, para


depois distribuir entre os agricultores, face à doença que atacara as canas57.
Durou pouco tempo esta intervenção de João Figueira de Freitas, pois as
incompatibilidades com o Governador Civil, levaram-no a apresentar o seu pedido
de exoneração, a 3 de março de 1934. É substituído por José Basto Machado, que
desempenhou apenas funções de gestão. Em dezembro de 1934, é nomeado para
o cargo o Dr. João Abel de Freitas que o exerceu até 8 de março de 1947, quando
foi nomeado Governador Civil do Distrito58.
Estamos perante o início de uma nova era, em termos materiais e sociais,
no distrito do Funchal. O novo presidente da Junta iniciou a sua ação, solicitando
a todas as Câmaras Municipais do Distrito que lhe enviassem um relatório das
suas carências para que ele pudesse elaborar um memorando para o Governo. A
31 de janeiro de 1935, procedeu-se à sua elaboração, expondo-se ao Governo as
necessidades mais urgentes do Distrito. A Madeira estava, então, sob os efeitos
da crise económica mundial, com repercussões na falência dos Bancos Henrique
Figueira e Sardinha, no setor dos vinhos, do açúcar, dos bordados, do turismo, dos
lanifícios, da assistência, etc.
A situação financeira da Junta continuará a ser o principal cavalo de batalha
dos seus dirigentes. Na inauguração do troço de estrada Funchal - Santana, a 1
de julho de 193559, ainda no início do seu mandato, o Dr. João Abel de Freitas
dizia que o estado financeiro da Junta Geral, naquele momento, era tão mau que
não permitia sequer que se pense na construção dum metro de estrada nova! Já
na inauguração da estrada nacional até aos Prazeres, a 15 de dezembro de 1935,
lamentava-se que só para estradas absolutamente indispensáveis à economia da
ilha, necessitamos mais 40 mil contos, esperando obter essa verba do Governo,
já que a comissão da Junta Geral é composta por soldados disciplinados da União
Nacional, norteando o seu proceder pelos rigorosos princípios dessa instituição.
Entretanto, o Governo enviou à Madeira uma comissão técnica que estudou e
estabeleceu um plano para a construção das novas estradas e conclusão de outras,
concedendo à Junta Geral um empréstimo de 33 mil contos; esta colocou, dos seus
cofres, mais 11 mil contos, perfazendo, assim, 44 mil contos, com que concluiu as
ditas estradas60. Em 14 de abril de 1938, é publicado o decreto-lei, n.º 28.592, que
estabelecia o novo Plano Complementar da Rede de Estradas da Madeira, que
previa o período de dez anos para conclusão das obras.
Relativamente às despesas correntes da Junta, João Abel de Freitas elaborou
um relatório, propondo ao Governo Central a necessidade de concentração de

57 A 27 de janeiro, o Diário de Notícias anunciava que a Junta Geral tinha procedido à arborização do Montado do Poiso,
com 36.021 árvores, sendo também ali instalado um campo experimental com 3.472 metros e um viveiro com 3.611
metros e construído uma estrada com a extensão de 3 km, ornamentada com cedros, castanheiros, hortênsias e coroas
de Henrique. Foram ainda feitas vedações numa extensão de 500.000 metros.
58 Tomou posse a 14 de janeiro de 1935.
59 Diário de Notícias de 2 de julho de 1935.
60 Com esta verba, a presidência de João Abel de Freitas conseguiu deixar uma obra emblemática, no campo rodoviário:
as estradas Funchal – Santana, Santana – Ponta Delgada, Prazeres – Porto do Moniz, Porto do Moniz – Ribeira da
Janela, S. Vicente – Ponta Delgada, Portela – Porto da Cruz, Porto da Cruz – Faial, Camacha – Santo da Serra, Camacha
– Portela, S. Vicente – Seixal. Procedeu ainda ao calcetamento de estradas já concluídas: Ponta do Sol - Prazeres,
Machico - Portela, Funchal - Camacha, Ribeiro Frio - Fajã do Cedro, Rosário – S. Vicente e as estradas da Serra de Água
e do Curral das Freiras, entre outras.

243
Junta Geral

certos organismos, uma melhor distribuição de atribuições, o desbaste de certas


inutilidades, maior justiça na remuneração dos funcionários dos diversos quadros,
inspeções obrigatórias, designadamente nos chamados serviços técnicos, a adoção
de uma mais apropriada técnica na execução dos trabalhos de ordem burocrática,
etc.
A agricultura continua a ser um setor prioritário e alvo de atenção. Deste
modo, criou o ensino agrícola, baseado na divulgação de conhecimentos práticos,
suscetíveis de serem assimilados pelos agricultores madeirenses; arrendou e
comprou terrenos que serviram de campos experimentais, como no Lugar de Baixo,
na Ponta do Sol, onde foi constituída uma estação agrária para aperfeiçoamento e
desenvolvimento da fruticultura e horticultura e experimentação de novas culturas;
dedicou especial cuidado aos problemas da arborização, condição essencial para
a captação de águas para a agricultura, base da atividade económica maioritária
dos madeirenses.
A Junta contou com a aprovação da proposta de lei, na Assembleia Nacional,
relativamente ao povoamento florestal do país e à lucidez do deputado madeirense
Álvaro Favila Vieira, que apontou à Junta Agrícola, então, a necessidade de incluir
a Madeira na primeira fase do plano florestal que se traçava para o país. Neste
contexto, foi elaborado um plano de reflorestação da ilha, conjugando-se tudo isso
com o embelezamento artístico dos panoramas, a cobertura dos terrenos pelos
detritos orgânicos que favorecem a infiltração de águas, a correção dos cursos das
244
Junta Geral

ribeiras e dos fluxos das nascentes.


O problema da irrigação dos solos continuava a ser a grande preocupação
dos agricultores. Para tal, construíram-se muitos quilómetros de novas levadas em
muitas freguesias da Ilha e barragens para retenção de águas, na zona do Paúl da
Serra, campo de infiltração de águas por excelência e origem das ribeiras mais
caudalosas da Madeira, da Ribeira da Janela, do Seixal, do Inferno, de S. Vicente,
da Ponta do Sol e da Madalena.
Em 1942, a Junta Geral estabeleceu um plano de fomento na pecuária,
conjugando a sua utilidade prática com as condições orográficas e agrícolas das
duas ilhas do Arquipélago, criando mais lugares para veterinários, nos vários
concelhos da Madeira, de acordo com a riqueza pecuária dessas zonas. Mandou
estudar os problemas do abastecimento de águas e dos esgotos nos diversos
concelhos e incitou as diversas Câmaras Municipais a procederem aos trabalhos
de urbanização necessários. Ampliou e melhorou a rede de água potável em todos
os concelhos e subúrbios do Funchal, construindo fontanários e concedendo
subsídios às Câmaras para obras de canalização e distribuição de águas.
No que respeita à rede de luz elétrica, e como presidente da Comissão
Administrativa dos Aproveitamentos Hidráulicos da Madeira, em 1939, o presidente
da Junta conseguiu sensibilizar o Governo para a necessidade de enviar à Ilha uma
comissão de técnicos especializados para estudar este problema, que se realizou
em 1942 e fez com que fossem aprovadas as bases do plano hidroelétrico para a
Madeira, iniciando-se, assim, a construção de barragens e centrais hidroelétricas,
em várias localidades da Madeira.
A Junta Geral, sob a presidência do Dr. João Abel de Freitas, relevou a
importância do turismo para a Ilha, empreendendo obras de valorização da
paisagem, como a plantação de flores e árvores ao longo das estradas da ilha, a
construção de miradouros e de casas de abrigo, a limpeza de levadas, veredas e
caminhos por onde os estrangeiros se deslocavam, à procura das belezas naturais
da Madeira.
Na saúde e assistência, nos anos em que o Dr. João Abel de Freitas esteve
à frente dos destinos da Junta Geral, notória foi a sua ação em favor dos mais
desprotegidos, com a construção de pavilhões para os tuberculosos e a entrega
à Assistência Nacional aos Tuberculosos dos terrenos da Quinta de Santana e da
Confeiteira para a construção dum hospital sanatório, comparticipando, ainda,
para a construção de um dispensário de proteção a grávidas e crianças e de um
posto clínico central. No campo da Assistência, mandou construir bairros sociais e
casas de renda baixa, como foi o caso dos bairros económicos de Câmara de Lobos,
Paúl do Mar e Madalena do Mar.
No que respeita à educação e cultura, procedeu à construção de dezenas de
escolas em todo o Distrito, criando bolsas de estudos para frequência de cursos,
em Lisboa.
Com a saída do Dr. João Abel de Freitas da presidência da Comissão
Administrativa da Junta Geral, em 1947, ficou como presidente interino o seu
vice-presidente, engenheiro António Egídio Henriques de Araújo que, por motivos

245
Junta Geral

particulares, não pôde aceitar o cargo de presidente, proposto pelo Dr. João Abel
de Freitas, já então Governador Civil. Face a esta recusa, o novo Governador Civil
convidou o Dr. João Figueira de Freitas, então também presidente da Comissão
Distrital da União Nacional, para desempenhar o cargo, para o qual é nomeado a 30
de agosto, desse ano. Na tomada de posse, a 1 de setembro de 1947, João Figueira
de Freitas deixou a promessa de continuar a imprimir maior impulso à construção
das estradas distritais e à luta contra o analfabetismo, ao melhoramento da saúde
pública, à riqueza florestal, aos transportes públicos e coletivos e aos serviços
pecuários.
A 28 de maio de 1949, inaugura-se a ponte monumental sobre a Ribeira de S.
Jorge e da estrada Santana - Arco de S. Jorge. João Figueira de Freitas, no discurso
inaugural, informava que o Estado contribuíra com 75% do custo desta obra,
relembrando o grande impulso, dado pelo Governo, em 1932, para conclusão das
obras, com a autorização para que a Junta contraísse um empréstimo de 15.000
contos. Com o estabelecimento do plano complementar, deu uma comparticipação
de 44.000 contos, elevada, em 1946, para 66.000 contos e, no ano de 1948, para
78.000 contos.
Efetuou obras de proteção nas ribeiras, no Funchal e na Madalena do Mar,
além de trabalhos de desassoreamento, e realizou e comparticipou em diversos
empreendimentos61. Esta comissão resolveu ainda fazer reparações e beneficiações
nas casas de abrigo do Caramujo e Lombo do Mouro e aproveitar as ruínas para
construir uma nova casa para abrigo do pessoal. Decidiu orçamentar a construção
de uma casa para os serviços de cantoneiros, em ponto a escolher abaixo da
Encumeada62.
No sentido de proporcionar água potável à população do Distrito, mandou
construir um túnel para transporte de água entre a nora da Junta Geral e o sítio do
Tanque, no Porto Santo63. Para beneficiar a irrigação das terras agrícolas, mandou
construir novas levadas e reparar outras, para que a água pudesse chegar a todos
os pontos fulcrais da ilha64.
Mandou fazer estudos para construção de uma barragem, nos terrenos da
Bica da Cana, para garantir a irrigação e o aumento dos caudais das levadas daquela
zona. Procedeu à construção de um sifão para regadio da Achada do Gramacho, em
Santana e de um tanque e de uma nitreira, na Quinta Grande. Ordenou, também,
estudos hidrogeológicos no Porto Santo, conseguindo que o engenheiro Professor
Dr. Ernesto Fleury, com grande competência nestes assuntos, viesse ao Porto Santo
e, em conjunto com os engenheiros Pinto Eliseu e Amaro da Costa, apresentasse
um relatório sobre as obras desta especialidade a fazer nesta ilha.

61 Começou a edificar o prédio destinado à instalação da Direção de Finanças, construiu o novo observatório do Areeiro.
Mandou fazer obras no Hospital dos Marmeleiros e no Sanatório Dr. João de Almada, construir novas moradias no
Bairro dos Viveiros, o Dispensário de Higiene Infantil de Câmara de Lobos e o edifício para colocação do Laboratório
Distrital. Comparticipou na construção do Colégio Missionário e mandou fazer estudos para construção do novo
edifício da Alfândega do Funchal.
62 Em sessão de 4-11-1948.
63 Em sessão de 15-5-1948.
64 A 5 de agosto de 1949, o Diário de Notícias anuncia, de forma festiva, a inauguração da levada de Machico-Caniçal,
beneficiação hidroagrícola que trazia a água, regando as terras das encostas do Caniçal, desde o Facho à Cancela e as
vertentes da margem esquerda da ribeira de Machico, sobranceiras à velha levada da rocha, aquém do Cheque, num
total de 16. 670 metros de canal.

246
Junta Geral

Combateu as doenças infeciosas, dotando os centros sanitários rurais dos meios


indispensáveis à sua ação e criação de outros, como o posto de puericultura e o
Dispensário Infantil, em Santa Cruz. Comparticipou em 50% na promoção e aplicação
da vacina BCG. Simultaneamente, melhorou as condições de sanidade pública,
construindo novos edifícios para centros sanitários rurais ou estabelecimentos afins
e desenvolveu uma ação profilática intensiva, nomeadamente junto das crianças
que frequentavam as escolas primárias. Mandou construir um centro sanitário
no Curral das Freiras e outro na Quinta Grande. Numa das suas deslocações a
Lisboa, o Dr. João F. Freitas tentou sensibilizar os governantes para a necessidade
de se instalar na Madeira uma escola de enfermagem, nos mesmos moldes da
que funcionava junto do Instituto de Oncologia, obra que, infelizmente, não foi
concretizada durante o seu mandato.
João Figueira de Freitas foi o presidente da Junta Geral que, num curto espaço
de tempo, mais escolas criou no Distrito. Esta comissão destinou boa parte das
suas receitas à difusão do ensino primário oficial e à concessão de subsídios às
escolas do ensino particular. No ano de 1947, foram criadas 96 escolas e foram
despendidos cerca de 4.000 contos com o ensino primário, o que levou a que o
professorado primário lhe fizesse uma homenagem, a 3 de agosto de 1948. Na
sessão de 30 de junho de 1948, procedeu à aprovação do anteprojeto do novo
edifício da Escola Industrial e Comercial António Augusto de Aguiar. Em novembro
de 1948, João Figueira de Freitas foi a Lisboa para tratar, junto do Governo, da
construção desta nova Escola, cujo projeto estava já elaborado, e da instalação da
Academia de Música da Madeira.
A Quinta das Cruzes foi adaptada a museu de arte regional, graças à iniciativa
desta comissão administrativa da Junta Geral. Promoveu ainda a restauração de
quadros quinhentistas e dotou a Sociedade de Concertos e a Academia de Música,
cuja oficialização se deveu em grande parte a esta comissão.
Os transportes mereceram grande atenção, por parte desta Comissão
Administrativa, tendo conseguido, em 1948, que a competência para aprovação
de questões em matéria de transportes coletivos de passageiros, em especial no
que respeitava à renovação do material circulante, passasse para a Junta Geral, em
substituição da Direção Geral dos Serviços de Viação.
A construção do Estádio dos Barreiros foi um dos problemas que, desde a
primeira hora, João Figueira de Freitas levou a Lisboa para tratar, no início do seu
mandato. O Governo enviaria, à Madeira, o arquiteto Couto Martins, para colher
os elementos para a execução do projeto. Durante o seu mandato, foi aprovado
o projeto e assegurada a comparticipação do Governo para a sua construção e a
expropriação e aquisição de terrenos necessários para esse fim.
Desenvolveu um plano onde se valorizavam os campos experimentais da
Junta Geral, intensificou o cultivo da batata, especialmente nas Queimadas,
Bica da Cana, Montado do Pereiro e Porto do Moniz, abrangendo terrenos cada
vez mais extensos. Construiu campos ampelográficos, para estudo das castas
vitícolas e criou um campo de demonstração, no Caniçal. Continuou os trabalhos
de parquização, exploração agrícola e florestal nas Queimadas, prosseguindo os
trabalhos de arborização e agropecuária do Montado do Pereiro e fomentou a

247
Junta Geral

cultura da vinha no Porto Santo.


No final de 1951, o Dr. Figueira de Freitas pede a sua exoneração e é
substituído, a 24 de janeiro do ano seguinte, pelo engenheiro António Camacho
Teixeira de Sousa que tomou posse do cargo de presidente da Junta Geral do
Distrito Autónomo do Funchal, a 26 de janeiro de 1952. Acumulou as funções
de presidente da Comissão Administrativa dos Aproveitamentos Hidráulicos da
Madeira, a partir de 5 de novembro de 1956, da Junta Autónoma dos Portos
do Arquipélago da Madeira, presidente do Sindicato Nacional dos Engenheiros
Agrónomos e deputado à Assembleia Nacional, pelo círculo do Funchal, na VI
legislatura, de 1953 a 1957. Durante este período, foi constantemente substituído,
na presidência destes cargos, pelo Dr. João Lemos Gomes, presidente substituto
da Junta Geral.
No discurso de posse, afirmou que o problema fundamental da Madeira
era o da elevada densidade populacional, salientando que a área agrícola
era insuficiente para alimentar uma tão grande população, numa terra onde
escasseavam as indústrias; verificava que o cultivo intensivo da agricultura e a
emigração eram os recursos imediatos dessa numerosa população, concluindo: É
com as receitas das exportações de bordados, bananas, vinhos, lacticínios, vimes,
etc., à qual se adicionam as remessas de dinheiro dos emigrantes, que é possível
fazer face às necessidades de importação de produtos da alimentação (...) e dos
artigos de vestuário. Em resumo: o problema limita-se, no seu aspecto simplista,
a exportar mercadorias ou homens para importar alimentos e vestuário. Perante
este diagnóstico, propunha que os serviços técnicos regionais agrícolas e pecuários
sejam objeto de atenção especial e se procure, a todo o custo, que actuem com
plena eficiência, comprometendo-se ainda, a lutar por uma melhor justiça social.
A sua atuação como presidente da Junta Geral refletirá estas preocupações e
estes propósitos, empenhando-se, de modo especial, no incremento da viticultura,
horticultura, fruticultura e pecuária, com as necessárias medidas sanitárias, no
apoio às iniciativas particulares de floricultores, na formação técnica e envolvimento
da população no progresso da Madeira, pela valorização da atividade agrícola e
pela divulgação de novas culturas e novas técnicas, nos vários postos agrários e
campos experimentais que implementou. Apostou no campo da formação técnica,
sendo de salientar a sua capacidade de coordenação e ligação com os diferentes
departamentos governamentais e o empenho na implementação, na Madeira, da
campanha nacional de alfabetização e na eletrificação das freguesias rurais.
No exercício das suas funções de deputado, interveio, algumas vezes, em
defesa dos interesses económicos da Madeira. Considerava este cargo como
subsidiário do de Presidente da Junta Geral do Distrito do Funchal. A 5 de novembro
de 1953, afirmava essa convicção: Deus queira que da minha atuação e para meu
sossego de espírito, possa resultar alguma coisa de útil para o bem da Madeira.
Foi um defensor acérrimo do corporativismo e da previdência social, da liberdade
condicionada, apenas as liberdades necessárias, manifestando-se contra as
oposições que considerava uma ponte de passagem para o comunismo. Nomeado
administrador do Banco Angola, pediu a exoneração do cargo de presidente da
Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, a 18 de junho de 1960. Exerceu,
ainda, o cargo de Presidente da Assembleia Geral da TAP.
248
Junta Geral

Construção de levada.

Da sua obra à frente da Junta Geral do Distrito, salientam-se as seguintes:


canalizou, para as receitas da Junta, o Imposto de Compensação, fazendo transitar
para serviços próprios do Estado as despesas com os serviços florestais e com a
Polícia de Segurança Pública; procedeu ao Inventário e Cadastro dos bens que
constituíam o património distrital; criou Conselhos, para debate de problemas:

249
Junta Geral

da Agricultura, de Saúde, de Turismo, de Viação; recriou, em 1953, a Festa da Aeroporto do Porto


Vindima, que propôs como cartaz de propaganda turística, passando a realizar-se Santo.1964.
anualmente, durante a segunda semana de setembro, nas Quintas Vigia, Pavão e
Bianchi, com um caráter de festa da agricultura em geral, com exibição de grupos
folclóricos, cortejo agrícola e etnográfico, com representação dos diferentes
concelhos, e exposições do trabalho realizado pela Junta Geral, no setor agrícola,
nomeadamente amostra de produtos experimentais dos postos agrários e campos
experimentais, com objetivo de valorizar a agricultura e os agricultores; instituiu a
Feira do Gado, no Porto Moniz, em 1956.
Mandou construir centrais hidroelétricas em dois lugares estratégicos, em
termos de divisão do território: na Calheta e na Serra d’Água, devido à diferença
de nível entre as nascentes e os terrenos. O decreto-lei n.º 38.722, de 14 de
abril de 1952, passou para a Junta Geral a coordenação das obras hidrográficas
executadas pela CAAHM, assim como a produção e transporte de energia elétrica;
mandou construir a Central Hidro-Eléctrica Dr. António de Oliveira Salazar, na Serra
d’Água, e a Central Eng.º José Frederico Ulrich, na Calheta (1953); as levadas do
Norte, (Ribeira Brava - Câmara de Lobos), a Levada Machico - Caniçal e a Levada
da Calheta; procedeu à eletrificação das freguesias rurais da Madeira. Foi com
ele que se construíram vários postos de transformação de corrente elétrica, que

250
Junta Geral

permitiram a iluminação pública e o início da eletrificação doméstica. Aeroporto da Madeira,


em 1964.
No plano das construções, deu seguimento à realização do Plano
Complementar da Rede de Estradas da Madeira, com a dotação de 78.000 contos,
assumindo o Estado 75% e a Junta Geral 25%. Em 1955, conseguiu do Governo
um reforço desse plano com mais 50.000 contos, do Estado. Foi ele que construiu
as estradas da Ribeira da Janela - Seixal e Boaventura - Arco de S. Jorge, com o
respetivo túnel, denominado Eng.º Duarte Pacheco, a ponte da Ribeira da Janela
e as estradas de acesso ao Curral das Freiras e ao Pico do Areeiro. Construiu o
edifício da nova Escola Industrial e Comercial do Funchal (atual Francisco Franco);
mandou reparar e adaptar o antigo Paço Episcopal, à Rua do Bispo, para instalação
do Museu de Arte Sacra e do Palácio de S. Pedro, para o Museu de História
Natural e Biblioteca Municipal, o novo edifício da «Casa da Luz» e Dispensário de
Higiene Infantil de Câmara de Lobos; concluiu as obras de construção do Estádio
dos Barreiros, inaugurado a 22 de maio de 1957. Mandou proceder ao estudo da
correção e regularização das ribeiras, aos estudos para a construção do aeroporto
251
Junta Geral

Aberttura da
Estrada do Curral
das Freiras, 1960

da Madeira, expropriando vários terrenos para o efeito e aos estudos e à avaliação


dos terrenos para a construção do aeroporto do Porto Santo; procedeu aos estudos
para construção da estrada de Câmara de Lobos à Ponta do Sol, à beira-mar.
No campo da agricultura, florestas e pecuária, introduziu novas raças de
bovinos e instituiu a Campanha de Saneamento dos Bovinos Leiteiros; apoiou

252
Junta Geral

postos agrários em fazendas particulares, nos Canhas (Quinta do Retiro), Ponta


do Sol (Lugar de Baixo) e Ribeira Brava (Vila) e adquiriu terrenos em Santana,
Caniçal e Porto do Moniz, para o estabelecimento de postos agrários, onde se
procedeu à reconstituição de vinhedos e plantação de árvores de fruto; ordenou
o plantio de árvores de fruto nos terrenos marginais das Levadas da Calheta e
do Norte (cerejeiras, ginjeiras, castanheiros, nogueiras); instituiu uma Campanha
de Sanidade Vegetal; mandou realizar uma larga demonstração do processo de
combate ao bicho da cana, em colaboração da Direção Geral dos Serviços Agrícolas;
adquiriu a Quinta do Bom Sucesso, destinada à estação experimental e onde veio a
ficar instalado o Jardim Botânico, também por ele criado; incentivou a construção
de campos experimentais de cana-de-açúcar em S. Vicente e Santana. No Porto
Santo, foi um grande ativista do Plano de Fomento e construiu barragens, valas,
levadas para abastecimento de água; mandou construir a Adega Experimental
do Porto Santo e de Câmara de Lobos, para nelas se fazer a vinificação coletiva,
melhorando o tipo de vinho de mesa dessas regiões.
No ensino e educação, a sua obra também foi muito profícua: deu incremento
ao ensino primário elementar, construindo algumas escolas, acompanhando
o governo na sua política de combate ao analfabetismo. O decreto 40.964, de
31/12/1956, tornou obrigatória a frequência da 4.ª classe para crianças do sexo
masculino em idade escolar, crescendo então, significativamente, o número de
alunos; criou ainda inúmeros cursos de educação de adultos; aumentou o número
de bolsas de estudo para os estudantes distintos, cujas possibilidades não lhes
permitiam frequentar cursos superiores; criou a Escola Prática Elementar de
Agricultura, no Lugar de Baixo, Ponta do Sol, para formar capatazes agrícolas;
estabeleceu cursos de formação profissional, como o Curso de Avicultura e Cursos
Complementares de Aprendizagem Agrícola, cursos de Férias de Iniciação Agrícola,
para professores primários, com lições proferidas por engenheiros e veterinários
da Junta. Em todos estes cursos, o engenheiro Teixeira de Sousa também participou
pessoalmente, proferindo uma lição.
Impulsionou a criação, na Madeira, (Camacha, Santana, Ponta do Sol e Canhas)
de Centros Rurais de Formação Familiar, da Obra das Mães pela Educação Nacional,
que já funcionavam há mais tempo no território continental; fez editar o Boletim
Distrital65 e outras publicações de caráter literário e divulgativo; mandou editar o
Suplemento Estatístico, com elementos do I. N. E., relativos à Madeira; mandou
beneficiar e restaurar, em Lisboa, alguns valiosos quadros da diocese do Funchal;
patrocinou a Sociedade de Concertos da Madeira e a Academia de Música e Belas
Artes.
Em relação à assistência social, pôs em funcionamento o Dispensário
de Higiene Infantil de Câmara de Lobos, com o fim de ser posto de assistência
materno-infantil, o Asilo dos Velhinhos «Dr. João Abel de Freitas», no Lazareto, a
clínica ortopédica «Sol, Ar, Saúde», junto do Asilo dos Velhinhos, dirigida pelo Dr.
João de Lemos Gomes e estabeleceu a Campanha de Melhoramento da Qualidade
Higiénica do Leite.
Foi também durante o seu mandato que se iniciaram os trabalhos, no sentido

65 Este boletim era editado mensalmente e publicou-se até 1974.

253
Junta Geral

de dotar a Madeira de aeródromos. O serviço regular aéreo seria apoiado com


estruturas aeroportuárias em terra, primeiro no Porto Santo, em 1960, e depois na
Madeira, em 1964 66. Para o efeito, foram feitos avultados investimentos, a partir
de finais da década de cinquenta, com a compra dos terrenos e a construção das
infraestruturas aeroportuárias. Em 1958, foram consignados 43.000 contos, a que
acrescem 30.000 contos, em 1959, para aquisições dos terrenos67. Já em 1969,
temos referência a uma despesa de 6030 contos (0,3%) para os aeroportos da
Madeira, num total de despesa nacional de 2.033.441 contos.
A partir da década de cinquenta, a Madeira recebeu diversas comparticipações
financeiras dos Fundos de Desemprego e de Melhoramentos Rurais que permitiram
a concretização de vários projetos. Também as transferências estabelecidas em lei
do Orçamento do Estado contribuíram para a realização de vários empreendimentos
para ampliar a rede viária, a construção de habitação social e a ampliação da rede
de esgotos.
O Coronel Fernando Homem da Costa foi nomeado Presidente da Junta Geral,
por alvará de 21 de setembro de 1960, e, a seu pedido, é exonerado do cargo a 24
de fevereiro de 1971. Durante 11 anos, esteve à frente dos destinos da Junta Geral
do Distrito, tendo exercido o cargo com destacado zelo, competência e dedicação,
como refere o prólogo do louvor que lhe foi, então, atribuído pelo Governador
Civil.
Neste espaço de tempo, a sua ação foi notória em todos os setores da
vida regional, desde as obras públicas, serviços agropecuários, saúde, cultura e
assistência social. Planeou e concluiu inúmeras realizações que foram integradas
nos planos quadrienais e anuais de atividade e constam nos relatórios de gerência,
destacando-se a ampliação da rede de estradas distritais, criação e instalação do
Instituto de Surdos do Funchal, eletrificação do Estádio Prof. Marcelo Caetano
(Barreiros), planeamento e início da construção do posto Zootécnico, na Camacha,
construção do parque de jogos da Escola Industrial e Comercial do Funchal
e da vereda turística entre o Pico do Areeiro e o Pico Ruivo, criação da secção
de Pedologia e Tecnologia Agrícola e postos de inseminação artificial, obras de
fomento no Porto Santo, alojamento de famílias desalojadas de Santa Catarina,
Santa Cruz, em consequência da construção do aeroporto, criação de inúmeras
escolas primárias, facilidades de concessão de bolsas de estudo e de subsídios às
instituições de assistência social do Distrito.
O Engenheiro Rui Manuel da Silva Vieira foi nomeado presidente da Junta
Geral, por alvará de 24 de fevereiro de 1971, tendo tomado posse a 27 desse mês,
cargo que passou a acumular com o de Presidente da Comissão de Planeamento da
Região da Madeira. Nesta altura, a Comissão de Estudo e Coordenação Económica,
órgão consultivo da Junta Geral, criado por deliberação da Comissão Executiva, de
11 de junho de 1970. Foi exonerado, a seu pedido, no início de setembro de 1974.
Durante o período em que dirigiu a Junta Geral, Rui Vieira foi o responsável
pela abertura, correção, alargamento e pavimentação de várias estradas e
caminhos, com destaque especial para a saída leste da cidade, entre a estrada

66 Cf. PAULINO, Francisco Faria e Susana Silva, 2000, Aeroporto da Madeira. A História de um Sonho, Funchal.
67 Diário das Sessões, 11 de abril de 1958, 31 de agosto de 1959.

254
Junta Geral

Visconde de Cacongo e a Estrada Nacional 102-1, que serviria de saída para o


aeroporto e a estrada Cancela - Porto Novo; concluiu a construção da Central
Hidroelétrica da Ribeira da Metade (Fajã da Nogueira); procedeu à construção de
tanques de rega em várias freguesias de vários concelhos; ao abastecimento de
água potável à freguesia do Caniçal, construindo um tanque para abastecimento
ao Jardim-de-infância desta freguesia; empreendeu a reparação e construção de
levadas de regadio; enviou técnicos e engenheiros a Lanzarote e Grã-Canária para
ali estudarem os mais modernos e eficientes sistemas de dessalinização de água
do mar e respetivas redes de distribuição domiciliária, para possível adaptação no
Porto Santo.
Reuniu várias vezes com os presidentes de câmara do Distrito para averiguar
da necessidade das obras de beneficiação para esses concelhos. Concebeu o
plano de ordenamento territorial do Porto Santo, em dezembro de 1971 e esteve
envolvido na compra, pelo Estado, das ilhas Selvagens e Desertas.
Empenhou-se, ainda, no fomento agrário e industrial do distrito, com a
introdução de plantas diversas de cana sacarina, na luta biológica contra a mosca
da fruta (cerabilis capitata) e na criação de um centro industrial de obra de vimes
no Caniçal.
Na área cultural, patrocinou estudos de recolha e defesa do folclore
madeirense, edições de trabalhos escritos, serviços de projeção dos cantares
populares madeirenses, organização do cancioneiro musical madeirense, por
sugestão do historiador António Aragão Correia, celebrando com este um contrato
de prestação de serviços para recolha e gravação do folclore madeirense em 5
concelhos do Distrito, conseguiu que os encargos com o ensino primário e Ciclo
Preparatório passassem a ser suportados pelo Estado, abriu concurso para a
construção de um pavilhão para o Ciclo Preparatório anexo à Escola Industrial e
Comercial do Funchal e concluiu o Pavilhão Gimnodesportivo do Funchal.
No campo social, destacam-se a elaboração das bases do serviço social da
Junta Geral e o seu regulamento, entrega da quinta do Vale Paraíso, na Camacha,
à Aldeia do Padre Américo, apoio às casas de saúde mental, no Trapiche e em S.
Gonçalo. Concedeu bolsas a estudantes pobres para a prossecução de estudos,
atribuiu subsídios a instituições de solidariedade social.
Na sequência do golpe militar de 25 de abril de 1974, que derrubou o Estado
Novo, o Eng.º Rui Vieira foi exonerado do cargo, por alvará do Governador Civil do
Distrito, de 13 de setembro de 1974. Foi, então, nomeado para substituí-lo o Dr.
António Egídio Fernandes Loja, cargo que exerceu até 23 de abril de 1975. Este foi
um período muito conturbado da vida política nacional e regional, e a sua ação
limitou-se praticamente a uma gestão administrativa dum órgão que, no breve
espaço de alguns meses, seria substituído pela Junta de Planeamento da Madeira.
Depois desta visão-síntese da política governativa e da ação dos diversos
presidentes da Junta, vejamos agora quais as principais dominantes das políticas
orçamentais e financeiras, que permitem aclarar as dificuldades sentidas por
estes governantes na concretização dos seus programas e no atender às principais
solicitações das populações.

255
Junta Geral

FINANÇAS E CONTABILIDADE

As principais fontes de receita da Junta Geral são as Contribuições Predial,


Industrial e Impostos sobre Aplicação de Capitais; Taxas - rendimento de diversos
serviços e de bens próprios - Consignação de Receitas, Reembolsos, Reposições
e Dívidas Ativas e Receitas Extraordinárias. A estas, juntam-se o imposto
profissional, o imposto sobre aplicação de capitais, o adicional até 20 % das coletas
de contribuição e impostos; o imposto de trânsito, o imposto de camionagem;
os juros de mora; os adicionais que por lei devem ser cobrados para a Junta
Geral com as contribuições diretas do Estado. As principais despesas obrigatórias
são: os vencimentos do pessoal; as pensões de aposentação; os encargos de
empréstimos; o pagamento de dívidas exigíveis; as dos litígios; as de dotação
dos serviços distritais; hospitalização de alienados; Governo Civil; ensino liceal e
técnico; Delegação do Tribunal do Trabalho e Previdência; o Tribunal do Trabalho,
a Direção do Distrito Escolar, o Arquivo Distrital, as de representação do Presidente
da Comissão e do Governo do Distrito.
Dispõe também, desde 1933, do importante recurso de comparticipações de
50 %, em dinheiro, do Fundo de Desemprego, para todas as obras de utilidade
pública, e de empréstimos caucionados com parte das suas receitas. Estas
comparticipações montariam, em 1957, acrescidas do saldo de 1956, no primeiro

256
Junta Geral

orçamento suplementar, a 2.600 contos, consideradas as verbas a despender


extraordinariamente com a reparação dos grandes e numerosos danos causados
pela aluvião de 3 de novembro daquele último ano, nos concelhos de Machico
e Santa Cruz. A receita média da Junta é superior a cinquenta mil contos anuais,
passando, de 1957 em diante, pelo decreto-lei n.º 40.717, a beneficiar de mais
uma importante verba proveniente do Imposto de Compensação que excede
anualmente 1.200 contos. Mas, paralelamente a este aumento de receitas, pode
dizer-se que crescem os encargos da Junta Geral com o progressivo desenvolvimento
do ensino primário, hospitalização de alienados, criação e aperfeiçoamento
de serviços, campanhas, experiências estudos necessários aos setores de suas
atividades, indispensáveis a economia geral, ao progresso material e moral das
populações distritais. Só a instrução pública, a partir de outubro de 1957, passou
a sobrecarregar a Junta Geral com mais de 10.000 contos anuais, por efeito da
obrigatoriedade do ensino até a quarta classe, para todas as crianças em idade
escolar.
Os orçamentos constituem uma previsão das quantias do deve e do haver e,
por sua vez, a Conta representa a sua execução. A Conta de Gerência, documento
síntese de registo dos valores da Receita e da Despesa, de um determinado
período, normalmente um ano68, reveste-se de uma importância significativa
porquanto representa nas relações financeiras entre o Distrito Autónomo do
Funchal e o Estado Central. Algumas dificuldades surgiram na localização desta
documentação. A partir do ano de 1940, as Contas encontram-se em localização
incerta e indisponível, no Arquivo Regional da Madeira, para os períodos: 1941
a 1944, 1946 a 1956, 1958 a 1963. No Arquivo Digital da Secretaria-Geral do
Ministério das Finanças e da Administração Pública, foi-nos possível a obtenção
de três documentos inexistentes no Arquivo Regional da Madeira que continham
a Conta Geral da Receita e da Despesa da Junta Geral do Distrito do Funchal, dos
anos civis de 194869, 195270 e 195671, como parte dos processos seguintes: Obras
de Aproveitamento Hidroagrícola e Hidroelétrico da Ilha da Madeira, Instalação de
Casais Agrícolas e do Campo Experimental (Caniçal) da Estação Agrária da Madeira
e Reparações em Estradas e Obras Hidráulicas devido a temporal, respetivamente.
Estas faltas documentais, por comparação com os Orçamentos, acontecem em
momentos importantes na vida do Distrito, nomeadamente ao nível das Obras
Públicas, com realizações infraestruturais como o Liceu e Escola Industrial e
Comercial, os aeroportos do Porto Santo e da Madeira e o porto do Funchal, as
estradas nacionais e o Campo dos Barreiros, essencialmente.
Não foi, ainda, possível localizar com certeza e, por conseguinte, consultar as
Contas dos anos de 1941 a 1944, 1946, 1947, de 1949 a 1951, de 1953 a 1955 e de
1958 a 1962. Todos os montantes totais apresentados para os anos em falta foram
apurados, a partir da leitura das atas das sessões da Junta Geral e/ou das atas da

68 Coincidente ou não com o ano civil.


69 “Conta da gerência da Junta Geral (…) 1948”, em linha, disponível em http://213.58.158.153/Arquivo-SG-----EMP-
FUN--015/1/P26.html, 1/6/2011
70 “Conta da gerência da Junta Geral (…) 1952”, em linha, disponível em http://213.58.158.153/Arquivo-SG-----EMP-
FUN--016/1/P58.html, 1/6/2011
71 “Conta da gerência da Junta Geral (…) 1956”, em linha, disponível em http://213.58.158.153/Arquivo-SG-----EMP-
FUN--018/1/P29.html, 1/6/2011

257
Junta Geral

Comissão Executiva da Junta Geral e/ou dos balancetes, nos Boletins da Junta Geral
do Distrito Autónomo do Funchal. Por este facto, não possuímos certezas quanto
aos valores para aqueles anos, mas apenas valores aproximados, sobretudo no
que respeita aos obtidos, a partir dos balancetes dos Boletins da Junta Geral, com
data anterior a 30 de dezembro do ano a que respeitam.
Todos os montantes contabilísticos manifestados em Conta, entre os
anos de 1887 e 197672, foram registados e tratados por categorias que fossem
simultaneamente relevantes para a nossa análise, e aglutinadoras, já que os
documentos são, por vezes, extensos registos de artigos de Receita e Despesa que
podem ultrapassar as sete centenas de lançamentos, por ano económico.
O Orçamento e a Conta da Junta Geral vão manter-se calculados na unidade
monetária Réis, até 1912, passando a Escudos, no ano de 1913, sendo, no entanto,
neste ano, calculados até aos mil avos. Dos valores aqui expressos algumas
advertências, para a sua interpretação, são necessárias. A designação de 1928
apenas respeita ao primeiro semestre daquele ano. Em 1928, as contas passam
a ser apresentadas por ano económico. O ano económico tinha início a 1 de julho
e findava a 30 de junho, do ano civil seguinte. A Conta de Gerência de 1934-1935
contempla este ano económico ao qual adicionaram, à época, o segundo semestre
do ano de 1935, só terminando a 31 de dezembro deste.

Orçamento da Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal.

O orçamento é uma previsão, em regra, anual, das despesas a realizar e dos


processos de as cobrir. Para criar, adquirir ou prestar serviços, tendo em vista
a satisfação de necessidades públicas, ou seja, para a realização de despesa, é
necessário apresentar receita que a satisfaça73. A receita pode ser classificada em
receitas patrimoniais, em receitas tributárias e em receitas creditícias.
Os orçamentos anuais da Junta Geral do Distrito Administrativo do Funchal
fazem cooincidir o ano económico com o ano civil, solução consagrada desde 1936,
após alguns anos (1928 a 1935) em que o económico iniciava em julho e terminava
em junho do ano seguinte.
A Junta Geral apresenta sempre orçamentos equilibrados – sem qualquer
défice ou superavit. Mas como é uma previsão de receita e de despesa futuras,
é normal que não coincidam com as necessidades e com imprevistos que surjam.
Por isso, na conta de gerência, verifica-se que os valores gastos e os recibos não
coincidem, apresentando, normalmente, um saldo contabilístico positivo, sendo
este saldo transferido para o orçamento do ano seguinte como uma receita.
A recolha da informação nos Livros do Orçamento da Junta Geral é processada,
tendo em conta o orçamento anual ordinário e os orçamentos suplementares. O
valor anual do orçamento é imutável, isto é, os suplementares não aumentam ou

72 Termina a 30/9/1976, JGDFUN-SEC, Cx. 3345, Cap. 5, Arquivo Regional da Madeira, Folha n.º 1.
73 FRANCO, António L. de Sousa, Finanças Públicas e Direito Financeiro, Vol. I, 4ª Edição, Almedina, Coimbra, 1999, pp.
335 e seguintes.

258
Junta Geral

diminuem o valor inicial atribuído à receita e à despesa, a não ser que ocorra uma
receita extraordinária e exista a necessidade de a aplicar. Assim sendo, o que temos
feito relativamente aos suplementares é retificar os valores das rubricas da receita
e da despesa, apresentado valores únicos para cada um dos anos orçamentados.
Se, num ano, temos o orçamento ordinário obrigatório, vamos reformulando as
duas componentes do orçamento, com os posteriores suplementares e, assim,
temos os valores efetivos para cada uma das rubricas.
Na receita, aparecem as várias rubricas em grandes grupos: Saldo, Contribuições
Diretas, Impostos Distritais, Impostos para Socorros a Náufragos e Tuberculose,
Levadas, Receitas dos diversos serviços, Multas e Taxas, Dívidas Ativas. Na receita
ordinária, são contempladas as rubricas: despesa, deduções no combate à
tuberculose e deduções na cobrança. Em vez de transferirmos estas rubricas para a
despesa, mantivemo-la na receita, mas com valor negativo e, assim, conseguimos
apresentar os valores finais corretos. A despesa recai principalmente nos
seguintes grupos: Vencimentos, Imóveis, Obras Públicas, Apoios Sociais, Subsídios,
Empréstimos, Dívida, Outras despesas e Donativos.

Os orçamentos suplementares apresentam, às vezes, um saldo positivo de uma


receita (normalmente não identificada) que surgiu no período entre orçamentos.
Para estes casos, utilizamos o mesmo método que o anterior, apresentamo-lo
como valor negativo, na despesa. Como os orçamentos suplementares apenas
transferem valores de uma rubrica, para voltar a aplicar na mesma rubrica
ou transferi-la para outra, apenas preenchemos a despesa dos orçamentos
suplementares, pois, efetivamente, não existiu receita, mas um movimento entre
rubricas. Para exemplificar: se nos ordinários está contemplado um valor para uma
obra, o suplementar identifica como receita aquela obra (o que indica que aquela
obra não se efetivou) e transfere aquele valor para outra rubrica.
Foi a partir do ano de 1902, em que se iniciou a arrecadação das receitas
facultadas à Junta Geral, que esta corporação administrativa começou a realizar
uma grande soma de melhoramentos públicos, especialmente na construção da
rede de estradas. Essa ação administrativa da Junta Geral estendia-se também
259
Junta Geral

a muitos outros serviços públicos, uns já existentes e outros de criação nova,


evidenciando-se continuamente os inapreciáveis benefícios que a este distrito
trouxera a concessão de «autonomia administrativa»74. No entanto, a extensão
da esfera da autonomia administrativa, através do decreto de 31 de julho de
1928, enquanto alargando as suas competências e atribuições, veio, de igual
modo, sobrecarregar a Junta Geral com novos e pesados encargos, não lhe
sendo facultadas as receitas compensadoras para a sua plena satisfação. Com
este decreto, a descentralização aconteceu para os serviços dos Ministérios do
Comércio e Comunicações, Agricultura e Instrução; os do Governo Civil, polícia
cívica, saúde pública, assistência e previdência ficaram dependentes do Ministério
do Interior e Finanças. Desta forma, à medida que era feita a descentralização de
serviços além da pertencente receita era acompanhada, como é óbvio, da despesa
associada. Com efeito, essa situação reflete-se, em determinados aspetos, nos
gráficos representativos do orçamento da Junta Geral do Funchal. Ainda que o
Estado compensasse transitoriamente as deficiências de receita para o custeio das
despesas que passaram a pertencer à Junta, esta devia procurar economizar para
poder custear essas novas despesas.
Os orçamentos da Junta Geral continham cerca de 66 tipos de receita variada.

74 SILVA, Pe. Fernando Augusto da / MENESES, Carlos Azevedo de, Elucidário Madeirense, SREC, DRAC, 1998, Vol.I, p.
107.

260
Junta Geral

De modo a uma simplificação da leitura dos mesmos, agrupamos a receita em


cinco grupos: Impostos e Taxas; Transferências do Estado; Rendimentos Próprios;
Empréstimos; Outras Receitas.
O peso no orçamento de cada um destes grupos não é igual, mas a sua maior
ou menor importância é determinada com a existência num ou numa série de
anos de uma receita extraordinária. Se não existir nenhuma destas esporádicas
entradas de capital, as receitas tributárias são aquelas que têm, de longe, um
maior peso no orçamento, em média cerca de 44% do total.

A receita tributária é a mais importante receita da Junta Geral. É dos impostos


e das taxas que se arrecada quase metade das receitas (cerca de 44% no total).
O primeiro orçamento da Junta foi o único em que a totalidade das receitas
previstas tinha uma origem tributária. Se excetuarmos o empréstimo de 1913,
verificamos que, até aos inícios dos anos 30, as receitas provenientes dos impostos
e das taxas correspondem a mais de 80% do total do previsto.
A receita tributária tem um crescimento substancial, em valores, a partir de
1928, com a transição de novas competências e de receitas, através do decreto-lei
n.º 15.805, de 31 de julho de 1928, do Governo da Ditadura75.

75 Este decreto, o primeiro que traz a assinatura de Salazar, é o rebate da Ditadura em relação as veleidades autonomistas
insulares. Aparentemente tem a lógica de alargar o conceito mas é o primeiro passo para asfixiar financeiramente as Juntas
Gerais. Os velhos autonomistas haviam calculado mal os propósitos do Governo da Ditadura e acima de tudo não tinham
contado com as teorias de Salazar sobre finanças públicas, que no caso ilhéu fica bem patente na carta ao Presidente da
Junta Geral do Funchal. in LEITE, José Guilherme Reis, A Autonomia dos Açores na Legislação Portuguesa 1892-1947,
Assembleia Regional dos Açores, Horta, 1987, p. 220.

261
Junta Geral

A partir deste decreto, transitaram, do Estado para a dependência da Junta Hotel Golden Gate e
Geral, os serviços dependentes dos Ministérios do Comércio, Agricultura e Delegação de Turismo
no Funchal.
Instrução. Apenas não transitaram destes ministérios os serviços dos correios e
telégrafos, os serviços meteorológicos e os da fiscalização do ensino. Transitaram
também os dos governos civis, polícia cívica, saúde, assistência e previdência, que
se encontravam subordinados aos Ministérios do Interior e das Finanças, recebendo
a Junta os encargos dos respetivos funcionários, agora como seus funcionários.
O decreto-lei n.º 15.805 fixa, como receitas da Junta Geral, o seguinte: o
rendimento dos bens próprios, juros de papéis de crédito, fundos consolidados,
depósitos e dividendos de ações de bancos e companhias; o rendimento dos
estabelecimentos e serviços distritais que o produzam; o produto das multas
impostas em regulamentos de polícia ou outros quaisquer que por lei sejam
aplicadas para o cofre da junta geral; parte do produto líquido, atribuída ao distrito,
nos impostos criados para hospitalização de alienados, socorros a náufragos e
para outros serviços que estejam a cargo das juntas; emolumentos autorizados
na tabela especial; rendimento do fundo de viação e turismo; produto líquido das
despesas de cobrança das contribuições e impostos abaixo mencionados ou outras
receitas do Estado que as substituam, e respetivos adicionais, com exceção dos de
instrução primária e cofre de emolumentos do Ministério das Finanças ou outros
de futuro criados com aplicação especial para serviços do Estado - contribuição
predial rústica e urbana; contribuição industrial; Imposto de aplicação de capitais;
Imposto de transação e o produto dos impostos distritais.
Para além da receita ordinária, constituem receita extraordinária: as heranças,

262
Junta Geral

os legados, os donativos e as doações; o produto dos empréstimos; o produto da


alienação de bens; outros quaisquer rendimentos incertos e eventuais.
O impostos distritais consistem em uma percentagem até 30%, adicional a
todas ou somente a algumas das contribuições e impostos a que se refere o n.°
7 do § 1.°, serão cobrados cumulativamente com estas receitas ou com as que as
substituírem e lançados no ano económico em que forem votados, contanto que o
sejam até 31 de dezembro.
Receita: Percentagens anuais

O Estado entrega algumas novas receitas para custear estas novas


competências, mas lembra à Junta Geral a necessidade de reorganização dos
serviços, agora da sua administração, com as respetivas reduções e economias
indispensáveis para que possam custear, com as suas receitas ordinárias, tudo o
que lhes fora confiado pelas leis anteriores e pelo decreto-lei n.º 15.805.
A partir de 1 de julho de 1928, a receita correspondente ao adicional para
o fundo de instrução primária, mesmo nos impostos diretos em que não tenha
sido ainda englobado, e bem assim a do adicional que pertencia ao cofre geral
de emolumentos do Ministério das Finanças, e o produto do selo administrativo
vendido no distrito, ficam como receitas da Junta Geral.
O Estado obriga-se, ainda, a compensar a Junta Geral, de uma forma transitória,
de quaisquer deficiências de receita para o custeio das despesas que ficam agora

263
Junta Geral

a seu cargo por aquele decreto.

O Estatuto dos Distritos Autónomos das Ilhas Adjacentes, de 31 de dezembro


de 1940 e as retificações de decreto-lei n.º 36.453, de 4 de agosto de 1947,
elaborado por Marcelo Caetano, vem definir as receitas das Juntas Gerais insulares.
Este estatuto vigorou até 1976.
As receitas que ficaram definidas como da Junta Geral são: contribuição
predial, rústica e urbana; contribuição industrial; imposto profissional; imposto
sobre a aplicação de capitais; adicional até 20 por cento das coletas das
contribuições e impostos; imposto de trânsito; imposto de camionagem; juros
de mora; adicionais que por lei devam ser cobrados para a Junta Geral com as
contribuições diretas do Estado; rendimentos de bens próprios, mobiliários e

264
Junta Geral

imobiliários; taxas, emolumentos e rendimentos dos serviços distritais; produto


das multas cobradas pelos serviços distritais em consequência da transgressão
de posturas e regulamentos cuja aplicação seja da sua competência; produto da
cobrança de créditos vincendos no ano económico; quaisquer outros rendimentos
atribuídos por lei.

Impostos e taxas cobradas pela Junta Geral – 1903-1960


Impostos e taxas Início
Impostos Distritais 1903
Imposto para a Hospitalização de Alienados e Socorros a Naufragos 1903
Açucar, Alcool e Aguardente 1920
Imposto sobre os Combustíveis 1926
Contribuição Industrial 1926
Contribuição Predial 1928/29
Fundo de Viação e Turismo 1928/29
Imposto do Açúcar 1928/29
Imposto Sobre Capitais 1928/29
Imposto sobre Transferências 1941
Adicional 20% Multas 1941
Autuante ou Participante 1941
Adicional de 10% multas para Albergue de Mendicidade 1941
Imposto de Salvação Pública 1941
Imposto de Selo 1941
Imp. Trânsito e Camionagem 1941
Imp. Profissional 1941
Adicional 25% Multas 1942
%de taxas 1941
Adicional de 10% sobre multas para Salvação Nacional 1941
Imp.lucros extra de guerra 1944
Adicional de 10% sobre a Cont.Ind.lançado pelo Estado 1944
% de taxas de aferição de pesos e medidas 1944
Taxas de Salvação Nacional cobrados pelas Alfandegas relativos a 1945
gasolinas, câmaras de ar e protetores
Imposto sobre tabacos 1955
Imposto de compensação 1956
Imposto sobre licença de uso e porte de arma: 1955

Pertencem ainda à Junta Geral as receitas dos cofres privativos e os


emolumentos das secretarias dos governos civis e da polícia, as taxas e emolumentos
de passaportes, licenças de emigração, as multas aplicadas pelas delegações do
Instituto Nacional do Trabalho e Previdência e pelos tribunais do trabalho e as
receitas da delegação da Inspeção Geral das Indústrias e Comércio Agrícolas.
Fazem também parte da sua receita os rendimentos provenientes dos
emolumentos das secretarias dos liceus e escolas, dos boletins de matrícula
e inscrição, propinas, requerimentos para exame, cartas de curso e venda de
265
Junta Geral

cadernos escolares. As receitas dos serviços industriais, elétricos e de viação


pertencem às juntas gerais, salvo as de registo de trabalho nacional, de que terão
dois terços, e as do licenciamento e fiscalização de caldeiras e motores, de que
lhes cabe metade.

A Junta Geral teve que recorrer, ao longo deste período em análise, a vários
empréstimos, para a despesa com obras públicas e com a amortização da dívida.
Os empréstimos mais importantes são os de 1914, 1932, 1940, 1946 e o de 1958;
o primeiro e o segundo foram justificados para efetuar obras públicas; o de 1940
e o de 1946 foram contraídos, principalmente, para amortização das anteriores

266
Junta Geral

dívidas; o de 1958 serviu para financiar o início das construções dos aeroportos
do Porto Santo e o de Santa Catarina, nomeadamente com as expropriações, e
indemnizações.
As transferências do Estado surgem em 1928, por influência das compensações
atribuídas pelo decreto-lei n.º 15.805, mas começam a ter relevância a partir de
1938. É o caso de alguns importantes subsídios, como o fundo de desemprego,
que servia para o financiamento de obras públicas, e as compensações atribuídas
à Junta Geral.
Rendimentos próprios são todas as receitas provenientes dos vários serviços
da Junta Geral, como as dos serviços agrícolas, de viação, saúde, educação, as
receitas das levadas ou o produto da venda de aguardente.
Consideram-se outros rendimentos, todos aqueles que não se enquadrem
nas rubricas anteriores. Esta receita, na soma total, representa cerca de 17% e é a
segunda maior fonte de receita da Junta Geral.

As despesas são divididas em obrigatórias ou facultativas, sendo as


obrigatórias: as dos estabelecimentos, institutos e serviços distritais, as dos
vencimentos dos funcionários, e empregados pagos pelo cofre distrital, as das
aposentações, as da viação, as de socorros a náufragos, as da hospitalização de
alienados, as dos serviços pecuários e agrícolas, as da construção, reparação e
polícia dos portos de pequena cabotagem e faróis, as da instrução primária, as
da reparação e conservação ou arrendamento dos edifícios dos governos civis
e mais estabelecimentos distritais, e aquisição de mobiliário, as dos expostos e
menores desvalidos ou abandonados, os impostos, pensões e encargos a que
estiverem sujeitos as propriedades e rendimentos distritais, as da amortização de
empréstimos e as resultantes de outros contratos legalmente celebrados, as dos
pagamentos de dívidas exigíveis, as dos litígios do distrito, as do expediente da
junta geral, as da publicação dos relatórios da comissão distrital e da folha oficial
do governo e outras quaisquer que por lei foram postas a cargo do cofre distrital.

267
Junta Geral

As facultativas são todas as restantes não enumeradas anteriormente76.


Para efeitos do presente estudo, constituem os elementos da despesa da
Junta Geral os vencimentos, os imóveis, as obras públicas, a saúde e assistência, os
empréstimos, a educação, a dívida, a compensação do estado e outras despesas.
Numa perspetiva mais generalizada acerca da evolução da despesa da
Junta, verificamos que as obras públicas e os vencimentos exibem os valores
com maior projeção no gráfico n.º 9, os restantes itens ocupam posições menos
predominantes, mas não menos importantes.
O gráfico evidencia uma linha tendencial de aumento, a qual é originada por
um aumento efetivo das despesas da Junta Geral do Funchal, o qual é, na sua
essência, da responsabilidade do decreto-lei 15.805 de 31 de julho de 1928. Tal
como fizemos referência anteriormente e podemos constatar pelo quadro em
anexo, este permitiu uma maior descentralização dos serviços do Estado, se bem
que ainda não constituísse grandes avanços, em termos de autonomia.

Da variável “Vencimentos” fazem parte os vencimentos, as aposentações, as


gratificações e os honorários pagos pela Junta a todos os serviços pertencentes
à mesma. Por outras palavras, estão incluídos, consoante os anos em questão:
Presidência, Secretaria, Estação Agrária, Intendência de Pecuária, Inspeção de
Saúde, Direção das Obras Públicas, Direção dos Serviços Industriais Elétricos e
de Viação, Laboratório Distrital, Governo do Distrito Autónomo, Liceu Nacional
do Funchal, Escola Industrial e Comercial «António Augusto Aguiar», Instrução
Primária, Tribunal do Trabalho e Delegação do Instituto Nacional do Trabalho e
Previdência, Arquivo Distrital.
A gradual atribuição de novas competências à Junta Geral do Funchal,
fruto de uma maior descentralização administrativa, como, aliás, já fizemos
referência, faz com que, em determinados períodos, os gastos com vencimentos

76 Decreto de 2 de março de 1895, Cap.III, Secção I, art.32º, in: LEITE, J. G. Reis, A autonomia dos Açores na
legislação portuguesa, Edição da Assembleia Legislativa dos Açores, Horta, 1987, p.105.

268
Junta Geral

aumentem. Uma das maiores responsáveis pelos valores mais elevados são as
escolas, designadamente o Liceu e a Escola Comercial e Industrial do Funchal e
ainda a Instrução Primária, que, por exemplo, no ano de 1959, teve uma despesa
com vencimentos de 14.091.170$00, perfazendo 53.6% da despesa total com
vencimentos nesse ano.

Desta forma, levando em conta o ano de 1928/1929, constatamos que o gasto


com vencimentos duplicou em relação a 1927 e 1928. De facto, foi neste ano,
com a aprovação do decreto-lei n.º15.805 que passaram a constar do orçamento
encargos com novos serviços.

Nos anos de 1931/1932, 1932/1933 e 1934/1935, é visível um aumento


exponencial, no que diz respeito aos imóveis. Tal situação deve-se ao pagamento
de parte do preço de compra do edifício do antigo Hospital das Misericórdias,
hoje dos Marmeleiros. A partir de 1945, não encontramos nenhum fator digno de
relevância que apresentasse uma justificação para o aumento registado; todavia
podemos adiantar uma hipótese de aumento de rendas.

269
Junta Geral

Os gastos com rendas e arrendamentos não parecem ocupar um lugar


relevante na despesa pública, em média, recebe 0.6% dos orçamentos da Junta
Geral, constituindo o valor mais elevado 2.8%, em 1903, e o mais reduzido de 0.1%
em 1921, 1923 e 1924.
Os restantes valores referem-se às rendas de edifícios para o Tribunal do
Trabalho e Direção Escolar, renda de uma loja para depósito de materiais, Direção
de Finanças, postos florestais, secção de análises bacteriológicas e clínicas,
dependência feminina da Escola Industrial e Comercial do Funchal «Dr. António
Augusto Aguiar», Polícia de Segurança Pública, secção de polícia de investigação
criminal, delegação de polícia de vigilância do Estado, no Lugar de Baixo,
arrendamento de propriedades do estado no Lugar de Baixo, arrendamento de
propriedades para campos experimentais e de demonstração.
A partir de 1901, com a concessão de autonomia administrativa ao distrito do
Funchal, e com as novas atribuições e competências na área das obras públicas,
foi possível à Junta Geral desenvolver um plano de estradas capaz de colmatar os
deficientes modos de viação terrestre. A maior parte das estradas eram carreiros
de pé-posto, e as que tinham o nome de nacionais não passavam de «estreitas
veredas praticadas no solo, de penoso e dificílimo piso, sobranceiras e insondáveis
abismos, costeando flancos de elevadas montanhas e oferecendo quase sempre
aos viandantes os mais graves incómodos e perigos77.
A importância das obras públicas está, de resto, bem patente no elenco das
atribuições das juntas gerais para os distritos autónomos. Já no decreto de 2 de
março de 1895, que facultara especial organização administrativa aos distritos
açorianos, se dispunha, logo na abertura do catálogo das atribuições e competências
das juntas gerais, que a estas cabia promover e realizar todos (…) os melhoramentos
morais e materiais (do distrito), art.18º; estabelecia, de igual modo, que as juntas
gerais deviam deliberar sobre obras de construção, reparação ou conservação
de propriedades distritais (art.23º §5º); aprovar planos e projetos de estradas e
designar as obras que têm de ser feitas anualmente nas de 1ª classe (art.23º §7º);
cabia às juntas gerais assumir toda a despesa com o pessoal e material do serviço
de obras públicas (entre outros) – com exceção dos encargos com docas ou outras
obras especiais, cuja construção continua a expensas do Estado (art. 56º).
Fazem parte do capítulo respeitante às obras públicas, a construção, reparação
e conservação das estradas, levadas, fontenários, edifícios pertencentes à Junta,
construção dos bairros económicos.
Quanto às obras públicas, obviamente, o principal responsável pela despesa
da Junta Geral do Funchal, verificamos, mais uma vez, a ligação com o contexto
histórico, ou seja, quando o país está a passar por mudanças, como por exemplo,
os anos conturbados da I República, ou as duas Grandes Guerras, a despesa com
obras públicas apresenta uma tendência de diminuição, como, aliás, seria de
esperar.

77 PEREIRA, Eduardo C. N., Ilhas de Zargo, 1968, Vol. II, 3ª edição, Câmara Municipal do Funchal, p. 9.

270
Junta Geral

Numa análise mais detalhada da despesa com obras, verificamos a existência


de um decréscimo nesta área, após o estalar da I Guerra e os anos de 1918, 1919
e 1920 apresentam os valores mais baixos. De salientar, de igual modo, a quebra
na despesa com obras públicas, nos anos que se seguiram à II Guerra Mundial.
De 1941 a 1946, a despesa com obras públicas foi reduzida para praticamente
metade, de 57% para 27.2%.
Na década de trinta, o gráfico evidencia outra redução com os custos em obras
cuja justificação poderá encontrar-se no período conturbado para esta região. Os
anos trinta, na Madeira, significaram uma época de revoltas, nomeadamente a
Revolta da Farinha e a Revolta da Madeira (1931).
Alguns dos outros valores mais elevados podem ser explicados com algumas
das grandes obras da época. No que concerne ao quadro apresentado em seguida,
julgamos necessário referir que as obras em questão não são, na sua totalidade,
justificativas de alguns ‘picos’, nos quadros concernentes às obras públicas. É
na soma das construções de estradas, edifícios públicos, na sua conservação
e manutenção e não nas obras individuais que se encontram os aumentos de
despesa com as mesmas.

Ano Obra Valor Adjudicação


1938 Pavimentação da EN n.º1-1ª classe, entre a Ponta 1.969.000$00
do Sol e Prazeres
1938 Construção da EN n.º3-1ª classe, troço Fajã do 1.585.000$00
Cedro – Faial
1939 Construção do lanço da estrada nacional entre o 1.210.000$00
Faial e Santana
1941 Construção de blocos de casas económicas da
Madalena do Mar e do Paúl do Mar
1943 Construção da estrada Camacha-Santo da Serra 1.798.000$00

271
Junta Geral

1944 Construção da EN n.º 1-1ª classe, lanço Santana – 1.980.000$00


Achada do Felpa
1947 Construção de terraplanagens e pavimentação da 1.550.000$00
EN n.º 1-1ª classe, lanço da Fajã da Eira – Fajã da
Parreira
1951 Construção da Escola Comercial e Industrial do 10.990.000$00
Funchal
1953 Construção do Estádio dos Barreiros 4.592.900$00
1955 Remodelação do antigo edíficio da Junta Geral 2.098.700$00
1959 Reparação do pavimento e trabalhos complemen- 6.780.623$80
tares da EN 101, entre o Cabo Girão e a Vila da
Ribeira Brava
1960 Pavimentação do ramal da EN 101 na freguesia do 1.545.000$00
Caniçal
1960 Construção do Parque de Material e Armazéns da 1.564.420$00
Junta
Fonte: Diário de Notícias

A construção do Liceu Jaime Moniz começou em 1940, tendo a 28 de maio de


1946, sido inaugurado oficialmente (as aulas iniciaram-se em 1942, com as obras
ainda a decorrerem) e, de acordo com o Diário de Notícias78, toda a obra orçou em
7.132.562$29, tendo sido adjudicada por 4.815.000$00.
O aumento verificado em 1959 deve-se essencialmente ao início das despesas
provenientes da construção dos aeródromos da Madeira e Porto Santo, constituindo
as mesmas: expropriações, indemnizações, aquisição de terrenos e construção de
casas para deslocação dos moradores na área abrangida pelo aeródromo, nesse
ano, no valor de 29.900.000$00.

78 Diário de Notícias n.º 21.873 de 28 de maio de 1946.

272
Junta Geral

A relação entre a contração de empréstimos e a sua utilização em obras públicas Aeroporto do Porto
pode ser constatada através do gráfico. Encontra-se patente no mesmo que, no Santo
momento em que a Junta contrai um empréstimo, ocorre um ‘pico’ simultâneo
na despesa com obras públicas. Por outras palavras, no âmbito da contração
dum empréstimo, a Junta Geral do Funchal aplica essa receita extraordinária no
departamento das obras públicas. Acrescentamos que o destino dos empréstimos
não são exclusivamente as obras, mas também, a amortização de empréstimos
anteriores.
Nas despesas com saúde e assistência, incluem-se: o tratamento de doentes
na Casa de Saúde Câmara Pestana, na Casa de Saúde do Trapiche, no Sanatório
da Sagrada Família, despesas do Asilo dos Velhinhos «Dr. João Abel de Freitas»,
e subsídios às mais variadas instituições sociais da ilha, nomeadamente a Santa
Casa da Misericórdia, a Associação de Assistência aos Indigentes da Madeira, a
Associação Protectora dos Pobres (Sopa Económica), às Câmaras Municipais
para obras, bombeiros, orfanatos, Conferência de S. Vicente de Paulo, Mocidade
Portuguesa, a privados, estabelecimentos de Instrução Primária, etc.
Como já referimos, também neste campo podemos falar numa linha tendencial
de aumento, sendo possível identificar dois momentos de maior estabilidade: de
1903 a 1924 e outro de 1936 a 1942.
Na distribuição das amortizações dos empréstimos efetuados por esta
Junta Geral, evidenciam-se os anos de 1940 e 1946, aos quais corresponde
igualmente uma receita superior neste campo. Esta situação permite-nos concluir
273
Junta Geral

que a contração de um empréstimo nestes anos, parece ter tido como destino
o pagamento de outros empréstimos. O de 1940 foi contraído para pagamento
de outros empréstimos e para fazer face às obras de construção do Liceu Jaime

Moniz. Assim como em 1946, a Junta contraiu outro empréstimo de 25.000.000$00


destinado à amortização de empréstimos anteriores.
De 1903 a 1911, não existem registos de despesas com este tipo de encargos,
situação que se relaciona com o facto de o primeiro registo de contração de
empréstimos ter ocorrido em 1913. Este facto pode parecer estranho, mas, ao
estabelecermos a comparação com a conta, veremos que, efetivamente, só em
1913, a Junta irá proceder à amortização de um empréstimo. Desconhecemos, no
entanto, por que razão previam efetuar esta amortização.
A rubrica Outras despesas refere-se, essencialmente, às despesas de
funcionamento, designadamente, expediente, aquisição de mobiliário, utensílios

274
Junta Geral

e material diverso, encargos económicos, luz, aquecimento, telefone, água e


limpeza, seguros, litígios, solenidades e festas, relatórios, anúncios, editais,
revistas, gado, rendas de água, vacina e material sanitário, veículos e combustível,
encadernações, entre outros.
Com efeito, este tipo de despesas é de natureza variável, pelo que constatamos
uma relativa estabilidade até 1927. O ano de 1928 apresenta um valor muito
superior, o qual tem um caráter excecional visto dever-se à aquisição de álcool
e aguardente e, ainda, uma indemnização às fábricas de aguardente da zona sul.

No ano de 1951, também se evidencia um grande aumento, devido,


essencialmente, à aquisição de mobiliário e material diverso para o novo edifício
da Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal.

275
Junta Geral

Em termos percentuais, o gráfico demonstra que as obras públicas e os


vencimentos representam, indubitavelmente, as maiores despesas da Junta Geral
do Funchal, como, aliás, é percetível nos gráficos anteriores.
No que diz respeito às obras públicas, salientamos as percentagens para os
anos de 1913, 1914 e 1915, os quais apresentam valores muito elevados, de 61,6%,
72,2% e 71,4%, respetivamente.
Evidenciam-se, de igual modo, os anos em que a amortização de empréstimos
é superior, como é o caso de 1940 e 1946. Nesses anos, os empréstimos perfazem
percentagens mais elevadas, na ordem dos 30%.
Analisando as restantes rubricas, em termos percentuais, constatamos que as
flutuações verificadas anteriormente com imóveis não se fazem sentir em relação
ao total da despesa.

A Conta de Gerência da Receita e da Despesa da Junta Geral


do Distrito Autónomo do Funchal (1903-1960)

A Conta de Gerência da Junta Geral aparece-nos representada sob duas


formas, uma em livro de grande formato (aproximadamente A3), de produção
local (preparação manual ou da tipografia do Bazar do Povo), inclui o exercício de
vários anos, e usa-se para o período de 1887 a 1940, e outra em livro de formato
médio (aproximadamente A4), contendo apenas um ano de execução, no período

276
Junta Geral

que vai de, supõe-se, 194079 até 197680. Esta é uma coleção documental do Arquivo
Regional da Madeira que se encontra incompleta. Tem começo no livro Junta Geral
do Funchal, Livro n.º 2, Contas da Receita e Despesa, 1887 – 1892, 1903 – 1913,
porque o livro n.º 1 não foi encontrado. Neste livro inicial, verifica-se a inexistência
de Contas para os anos da Comissão Distrital, ou seja, entre 1892 e 1901, e para o
primeiro ano civil completo da Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, 1902.
Reiniciada a escrituração em 1903, esta mantém-se sem faltas até 1940.
É a partir deste ano que mais Contas se encontram em localização incerta e
indisponíveis neste Arquivo Regional, nomeadamente para os períodos: 1941 a
1944, 1946 a 1956, 1958 a 1963, como, aliás, fizemos referência na introdução.
Todos os montantes contabilísticos manifestados em Conta, entre os
anos de 1887 e 197681, foram registados e tratados por categorias que fossem
simultaneamente relevantes para a nossa análise, e aglutinadoras, já que os
documentos são, por vezes, extensos registos de artigos de Receita e Despesa que
podem ultrapassar as sete centenas de lançamentos por ano económico.
Para a Conta de Gerência da Receita e da Despesa da Junta Geral de 1887
a 1892 e de 1903 a 1913, foram considerados todos os totais apresentados: na
receita, a receita orçada, a receita liquidada e a receita cobrada; na despesa, a
despesa votada, a despesa autorizada e a despesa paga. Foram também feitos
quadros síntese para a receita, apurando, individualmente, os Impostos: - Impostos
Distritais; - Contribuições Diretas e Adicionais;- Imposto do Vinho de Estufa;
Imposto para Hospitalização de Alienados e Socorros a Náufragos; Impostos sobre
o Açúcar, o Álcool e a Aguardente; Imposto sobre os Combustíveis; Fundo de Viação
e Turismo; Contribuição Predial; Contribuição Industrial; Imposto Sobre Capitais;
Imposto Sobre Transações; Imposto de Camionagem; Imposto Profissional; Imposto
de Trânsito; Imposto de Compensação; Imposto do Tabaco; artigo 1.º do decreto-
lei n.º 34.051; artigo 2.º do decreto-lei n.º 34.051; Imposto do Selo; Imposto de
Circulação; e outras categorias como Emolumentos, Multas e Taxas, Receita de
Diversos Serviços, Rendimento das Levadas do Estado, Consignação de Receitas,
Recebimentos para Outras Entidades, Subsídios, Empréstimos, Dívidas, Subsídios
do Fundo de Desemprego e Outras Receitas.
Procedendo, de igual forma, com a despesa foram elaborados quadros
síntese que apuram individualmente Vencimentos, Gratificações e Aposentações,
Despesa com Imóveis, Obras Públicas, Apoios Sociais, Subsídios, Empréstimos,
Outras Despesas, Compensação ao Estado, Subvenção da Polícia, Imposto do Selo,
Consignação de Receita e Recebimentos para Outras Entidades. Estas Categorias
são obtidas a partir da observação dos documentos e não são universais a todas
as fontes, motivo pelo qual só são apresentadas para determinados segmentos
cronológicos.
Numa tentativa de uniformização de toda esta diversidade de elementos,
para uma mais inteligível análise, houve a necessidade de uma categorização

79 Não se conhecem os registos das Contas entre 1941 e 1944.


80 Secretaria da Junta Geral do Distrito do Funchal, Instrumentos Descritivos 46, Volume I, Arquivo Regional da Madeira,
2010, pp. 67 e 112.
81 Termina a 30/9/1976, JGDFUN-SEC, Cx. 3345, Cap. 5, Arquivo Regional da Madeira, Folha n.º 1.

277
Junta Geral

mais aglutinadora e de aplicação universal às fontes observadas. Neste sentido,


procedeu-se apenas à consideração dos valores cobrados da receita e pagos da
despesa, criando-se uma divisão artificial para cada um destes. Para a receita,
consideraram-se as categorias abrangentes – empréstimos; subsídios do Estado;
impostos; taxas, emolumentos e multas; e outra receita – e para a despesa
privilegiou-se as categorias – pessoal; obras públicas; assistência social; educação;
funcionamento; e outra despesa. Tentando ainda uma maior velocidade da leitura
dos dados, procedeu-se à conversão dos valores absolutos apurados em valores
relativos percentuais, criando um novo quadro para este efeito.
De salientar algumas considerações de caráter subjetivo, na atribuição dos
valores às categorias que deverão ser tidas em conta. Nos quadros anuais que
apresentam a receita e a despesa orçada/votada, liquidada/autorizada e cobrada/
paga, no caso da receita, foram considerados subsídios, transferências de algumas
entidades apesar de não estarem referenciadas como tal. Na despesa, o abono
de família foi considerado apoio social, bem como as bolsas de estudo. A despesa
com imóveis contempla a manutenção, obras de beneficiação e/ou adaptação,
aquisição, água, eletricidade e limpeza. Na despesa, os subsídios que se destinam
a obras públicas foram contabilizados na categoria Obras Públicas, tal como os que
se destinam a fins beneficentes adicionaram-se ao Apoio Social.
Nos quadros exclusivos de despesa, a rubrica “pessoal” inclui o abono de
família e os seguros do pessoal, a rubrica “assistência social” contempla gastos
de saúde e apoio a instituições de solidariedade social, a rubrica “educação”
integra, para além de salários e despesas correntes valores de investimentos em
equipamento e imóveis bem como as Bolsas de Estudos.
O documento, com a identificação JGDFUN 1751 do Arquivo Regional da
Madeira, tem por título Junta Geral do Funchal, Livro n.º 2, Contas da Receita
e Despesa, 1887 – 1892, 1903 – 1913, é um livro com 99 folhas, manualmente
numeradas e rubricadas na frente, no canto superior direito, pelo vice-presidente.
Com capa dura e papel de 57 linhas, tem dimensão aproximada à do formato A3
(para mais). Tem termo de encerramento na folha 99 frente. As folhas 93 a 98
frente e verso foram deixadas em branco. No seu interior, grelhas manualmente
adicionadas a cor vermelha, a partir do verso da folha 1, surgem sob títulos
como: Conta geral da receita e despeza da Juncta Geral do Districto do Funchal
pela gerencia do anno civil de 1887, Conta (…) relativa ao anno civil de 1888,
Conta(…)1889, Relação das dívidas activas da Junta Geral do Districto do Funchal
respectivas ao exercício do anno civil de 1889, Relação das dividas passivas (…)
1889, Rectificação para o ano de 1887, Mappa comparativo das verbas auctorizadas
pelo orçamento ordinário de 1887, que vigorou no anno civil 1888, Conta(…) 1890,
Relação das dividas passivas (…) 1890, Relação das dividas activas (…) 1890, folha
12 frente inutilizada, Conta(…) 1891, Mappa comparativo das verbas de despeza
auctorizadas pelos orçamentos ordinario e supplementar relativos ao anno civil de
1891, Relação das dividas activas (…) 1891, Relação das dividas passivas (…) 1891,
Conta corrente da Comissão districtal da Junta Geral do districto do Funchal relativa
ao anno civil de 1892, Mappa comparativo das verbas de despeza auctorizada
pelo orçamento ordinário relativo ao anno de 1892, Relação das dividas activas
(…) 1892” e “Relação das dividas passivas (…) 1892; para o período anterior ao

278
Junta Geral

Código Administrativo de 1896, aprovado pela Carta de lei de 4 de maio de 189682;


página 21 frente apenas com uma assinatura intitulada de Vice Presidente separa
a alteração de regime administrativo.
Neste primeiro período que vai de 1887 até 1892, a Receita (designada por
Débito) e a Despesa (intitulada por Crédito) apresentam-se divididas em “Títulos”:
Receita, “Despeza obrigatoria”, “Despeza facultativa”; e subdivididas em Artigos
(descrevem a origem da receita ou o destino da despesa), de forma meramente
aleatória. No ano de 1888, a Conta tem uma distribuição mensal dos itens e
valores de Receita e Despesa, não sendo atribuídos quaisquer títulos ou artigos
aos mesmos. Aliás, para este ano só são expressos os valores da Receita Cobrada
e da Despesa Paga. No ano de 1889, apenas se lançam as designações e valores
das receitas e despesas do ano. Estando quase sempre presentes os valores da
Receita Orçada, Liquidada e Cobrada e da Despesa Votada, Autorizada e Paga,
aparecem por vezes os cálculos das diferenças para mais ou para menos da Receita
Cobrada e Despesa Paga em comparação com a Receita Orçada e Despesa Votada,
respetivamente. A despesa do ano de 1887 surge retificada na frente e verso da
folha 7, sem que o total do orçado, “effectuado” e realizado se altere.
Na Conta de 1890, surgem os primeiros capítulos na receita (um capítulo único
colocado, aparentemente sem uma lógica sequencial, com a simples designação
de primeiro, seguido de 2 artigos) e na despesa: Obrigatória – Capítulo 1.º Pessoal
da Secretaria da Junta Geral, Capítulo 2.º Edifício do Governo Civil, Capítulo 3.º
Subsídios, Capítulo 4.º Polícia Distrital, Capítulo 5.º Expediente da Junta Geral,
Capítulo 6.º Publicação do Relatório, Capítulo 7.º Dívidas Passivas; Facultativa –
Capítulo 1.º (sem designação); apresentando de seguida a despesa obrigatória
contemplada no “Orçamento supplementar”, num capítulo 1.º, sumariamente
assim designado.
A Receita da Conta de 1891 surge anulada com duplos traços paralelos a
negro cruzados sobre a frente da folha 12, repetindo-se no verso desta. A Receita
apresenta-se só com um Título – Receita Ordinária – seguida de cinco artigos
descritivos e o número de capítulos de Despesa sobe neste ano para oito, com
a entrada para o Capítulo 3.º das Despesas Judiciais, passando o anteriormente
denominado deste modo, bem como todos os posteriores, a serem designados
pelo número imediatamente superior, pela mesma ordem. Este ano apresenta
também orçamento suplementar onde estão corretamente identificados os
capítulos contemplados. A Conta de 1892 apresenta-se de forma coerente com as
anteriores.
Estão declaradas conformes as Contas de: 1887 (não assinada), 1889 (assinada
pela Comissão Districtal), 1890 (assinada pela Comissão Districtal), 1891 (assinada
pela Comissão) e 1892 (assinada pelo Governador Civil). A Conta de 1888 não
apresenta qualquer validação.
Após a autonomia administrativa prevista no decreto de 2 de março de 1895,
alterada pela carta de lei de 22 de maio e pela lei de 12 junho de 1901, e obtida
pelo Distrito do Funchal, no decreto de 8 de agosto de 1901, a primeira Conta que
está disponível, neste documento, é a do ano de 1903.

82 In http://www.archive.org/stream/cdigoadministra00portgoog#page/n26/mode/2up.

279
Junta Geral

A Conta do ano de 1903 apresenta um título [Receita Ordinária (orçamento


ordinário)] e os 6 artigos numerados que lhe seguem estão intitulados, por
esta ordem: Impostos “districtaes”, Multas Diversas, Contribuições Directas e
“addicionaes”, Impostos para Hospitalização de Alienados, Impostos para Socorros
a Náufragos e Rendimentos de Diversos Serviços “districtaes”; ao que se segue
a designação, não numerada, Dívidas Activas. No campo da Despesa, o Título I
(Despesa Obrigatória), apresenta novos Capítulos numerados e pela ordem
seguinte: - Vencimentos dos Funcionários e Empregados Pagos pelo Cofre da Junta
Geral, Viação “districtal”, Socorros a Náufragos, Hospitalização de Alienados,
“Construcção”, Reparação e Polícia dos Portos de Pequena Cabotagem e dos
“pharoes”, Arrendamento de Estabelecimentos “districtaes” e “acquisições” de
Mobília, Subsídios a Expostos e Menores Desvalidos ou Abandonados, Desde
7 a 18 “annos de edade”, Encargos Diversos, Dívidas Passivas, Expedientes
Diversos,Publicação de Relatórios da Comissão “Districtal” e outros Documentos
de Interesse para o “Districto” e “assignatura” da Folha “official” do Governo,
Despesa com Litígios; Título II resume-se a um Artigo Único.
Denota-se, a partir desta data, uma maior preocupação com o rigor no registo
dos diferentes itens da Conta, essencialmente com os da receita, mas também com
a despesa, apesar desta sempre ter apresentado um maior cuidado descritivo. A
Conta passa a ter um registo com uma dimensão mais considerável, duplicando
as páginas ocupadas (ex.: 1887 tem 4 páginas, 1903 tem 8 páginas) ou mais. É de
salientar a anotação, à frente dos artigos correspondentes, dos orçamentos que os
contemplaram. Deixam de surgir os mapas comparativos com os anos transatos e
as relações de dívidas.
Na Conta de 1904, a Receita passa a contemplar dois títulos numerados,
Receita Ordinária e Receita Extraordinária, seguidos de artigos, numerados no caso
da primeira, por esta ordem: Impostos districtaes, Contribuições Directas e seus
addicionaes, Impostos para a Hospitalização de Alienados e Socorros a Náufragos,
Rendimentos de Diversos Serviços districtaes, Emolumentos de Secretaria, Levadas
e Dívidas Ativas; e único para a segunda. No presente documento e a partir deste
ano, todas as Contas da Junta Geral têm estes dois títulos.
A Despesa com dois títulos, Despesa Obrigatória e Despesa Facultativa, está
precedida da designação Deducções da Receita Ordinária. Os capítulos vão sofrer
nova atualização. - É suprimido o capítulo Socorros a Náufragos. É substituído o
capítulo Arrendamento de Estabelecimentos districtaes e acquisições de mobília
para o edifício do Governo Civil e mais estabelecimentos districtaes. É dividido o
capítulo Publicação de Relatórios da Comissão Districtal e Outros Documentos de
Interesse para o Districto e assignatura da Folha official do Governo, em dois novos
capítulos o da Publicação de Relatórios e assignatura do Diário do Governo e o dos
Editaes e annuncios. O título 2.º tem dois capítulos, o primeiro sem designação e
o segundo designado de Subsídios Diversos, seguido dos respetivos destinatários.
A Receita da Conta da Junta Geral do ano de 1905 tem os mesmos artigos
da do ano anterior na Receita Ordinária e na Receita Extraordinária, os seguintes:
Donativos e Producto da Alienação de Bens. A Despesa apresenta novamente
alterações. Iniciando-se com o item Deduccções da Receita Ordinária, segue-
se o título 1.º (Despesa Obrigatória) com os seguintes novos capítulos, entre
280
Junta Geral

os costumeiros: como capítulo 2.º, Aposentações; como capítulo 5.º, Serviços


Pecuários e Agrícolas; sendo já em número de 14, no total. A Despesa Facultativa
surge com o capítulo 1.º, como único, nomeado de Subsídios Diversos.
O ano de 1906 apresenta, em termos de Conta, uma novidade na Receita,
um terceiro título Receita Especial (trata-se de uma reposição). A Despesa
apresenta uma configuração idêntica à do ano anterior. O capítulo, um tanto ou
quanto indefinido, Encargos Diversos, contempla artigos como Levadas, Serviços
Sanitários Marítimos, Posto de Desinfecção, Posto de Bacteriologia e de Higiene e
Polícia Repressiva de Emigração Clandestina.
A Conta do ano de 1907 tem a particularidade de apresentar dois capítulos
na Despesa Facultativa: Saúde e Beneficência Pública, com apenas o artigo 1.º
Variolosos, e Subsídios. O capítulo Encargos Diversos, da Despesa da Conta da
Junta Geral do ano de 1908, contempla um novo artigo – Delegação de Fiscalização
de Productos Agricolas.
Em 1909, o capítulo da Despesa, Encargos Diversos, apresenta dois novos
artigos Hospital de Isolamento, no Lazareto de Gonçalo Ayres e Commissão de
Viticultura da Região da Madeira.
A Conta da Receita e da Despesa da Junta Geral do Distrito do Funchal de
1910 não apresenta alterações à do ano anterior.
A Conta do ano de 1911, na sua Receita, introduz um novo artigo, Impostos
Districtaes, artigo 7.º. A sua Despesa vai também apresentar algumas alterações
como a entrada para capítulo 8.º da designação Expostos, passando as Dívidas
Passivas para o 14.º. Os artigos da Despesa Facultativa (Titulo 2.º) são, por esta
ordem, Subsídios, Saúde Pública e Beneficência Pública.
Em 1912, mantém-se o modelo usado no ano transato, completando-se a
designação do capítulo 8.º - Expostos e Menores Desvalidos ou Abandonados. A
Despesa Facultativa contempla Beneficência Pública e Subsídios.
O ano de 1913 é o primeiro a apresentar a Conta calculada em escudos, com
a particularidade de o fazer até à parcela dos mil avos. São pagos pelo Cofre desta
Junta Geral neste ano e apresentados na sua Despesa Obrigatória os mesmos cinco
artigos que o eram em 1903: Quadro dos Empregados do Expediente da Junta Geral,
Thesouraria, Quadro dos Empregados das Obras Publicas Districtaes, Empregados
dos Serviços Pecuários e Agrícolas e a Polícia Civil. A Despesa Facultativa apresenta
quatro capítulos, Beneficência Pública, Subsídios, Festejos e Receções e o Palácio
de São Lourenço.
Todas as Contas entre 1903 e 1913 estão assinadas pela Comissão. A Receita,
nesta fonte é frequentemente encimada pelo valor do saldo que transita do
exercício anterior (exceto 1888 e 1903).
O documento, com a identificação JGDFUN 1752, do Arquivo Regional da
Madeira, tem por título Junta Geral do Funchal, Livro n.º 3, Contas da Receita
e Despesa, 1914 – 1927, é um livro com 100 folhas, manualmente numeradas
e rubricadas na frente, no canto superior direito, pelo Presidente da Comissão
Executiva e 49 linhas na frente e verso. De capa dura e papel, com quadros
previamente impressos para o fim específico a que se destinam (referência Typ.
281
Junta Geral

Bazar do Povo-Funchal 19765), tem o seguinte título que se estende do verso


da página anterior à frente da página seguinte: Conta da Receita e Despeza da
Junta Geral do Districto do Funchal, relativa á gerencia do anno civil de 19__;
subintitulado, na página à esquerda, de Débito e na página à direita, de Crédito. Na
página do Débito, existem dois campos, um para a Natureza da Receita e outro para
Importâncias, que, por sua vez, está dividido em Orçada, Liquidada, Cobrada e Em
dívida. Na página destinada ao Crédito, os campos são o da Natureza da Despeza
e, novamente, Importancias, subdividido em Votada, Liquidada, Paga e Em divida.
Apresenta uma dimensão aproximada à do formato A3 (para mais). Tem termo de
abertura e de encerramento nas folhas 1 frente e 100 verso, respetivamente.
A Conta da Receita e da Despesa da Junta Geral de 1914 mantém os mesmos
pressupostos das Contas dos anos civis anteriores, quer ao nível do Débito como
do Crédito. No Capítulo, Despesa Obrigatória, Encargos Diversos, aparecem, pela
primeira vez, os artigos Empréstimo para o Saneamento do Funchal, Escola de
Utilidades e Bellas Artes, Emprestimo auctorizado, por Lei de 12 de julho de 1912,
Inspecção dos Serviços da Junta Geral e Palácio de São Lourenço.
Em 1915, é introduzida, como Capítulo 1.º da Despesa Obrigatória, a Comissão
Executiva da Junta Geral.
O ano de 1916 é mais um ano sem particularidades. A Receita Extraordinária
deste e dos anos transatos contam com artigos como Emprestimo auctorizado
por lei de 12 de julho de 1912, Producto de Alienação de Bens e Rendimentos
Incertos e eventuaes. A Despesa Facultativa incide nestes três anos nos capítulos
Beneficência Pública, Subsídios e Festejos. Curiosamente, o Titulo 1.º da Conta
de 1917 inicia-se no Capítulo 2.º, o Capítulo 11.º passa a designar-se Expediente
e Mobiliário e o Capítulo 13.º Relatórios, Legislação e Anúncios. Entram para
Capítulos da Despesa Facultativa, a Escola Industrial António Augusto de Aguiar e
Subsistências.
Em 1918, a Despesa inicia-se do mesmo modo da do ano anterior e adiciona
um capítulo mais, Subvenções.
No ano de 1919, o capítulo designado por 1.º da Despesa Obrigatória volta a
ser Vencimentos dos Funcionários e Empregados Pagos pelo Cofre da Junta Geral.
Ao Capítulo 9.º Encargos Diversos, adicionam-se novos artigos, o 11.º, Escola
Industrial António Augusto d’Aguiar, o 12.º, Liceu Nacional Central do Funchal
e o 13.º, Gratificação ao Magistrado Encarregado da Sindicância aos atos dos
Funcionários Desligados do Serviço e seu Secretário. Na Despesa Facultativa, surge
um novo Capítulo designado Centenário do Descobrimento da Madeira.
Com o ano de 1920, regista-se na Receita Ordinária um artigo 7.º, Indústria de
Fabricação de Açúcar, Álcool e Aguardente de Cana Sacarina. O artigo Donativos
é apresentado na Receita Extraordinária deste ano, além dos artigos comuns. Na
Despesa Obrigatória, o Capítulo 5.º até aqui intitulado de Serviços Agrícolas e
Pecuários, adiciona os Florestaes. No Capítulo 9.º, Encargos Diversos, não surgem
os artigos superiores ao 10.º e este passa a ser Guarda Republicana. Na Despesa
Facultativa vão manter-se os capítulos Beneficência Pública, Festejos, Centenário
do Descobrimento da Madeira e Subsídios.

282
Junta Geral

Cerimónias Oficiais
do V Centenário do
Descobrimento da
Madeira em 1922.

No ano de 1921, no Capítulo 1.º da Despesa Obrigatória, Vencimento dos


Funcionários e Empregados Pagos pelo Cofre da Junta Geral, é adicionado o
artigo 8.º, Polícia Rural e Florestal, aos previamente existentes: Empregados do
Expediente, Thesouraria, Quadro dos Empregados das Obras Públicas, Nona
Região Agrícola, Intendência de Pecuária, Regência Florestal e Polícia Civil.
No ano de 1922, é suprimido do Capítulo 9.º da Despesa Obrigatória, Encargos
Diversos, o artigo 10.º Guarda Republicana e da Despesa Facultativa o capítulo
Centenário do Descobrimento da Madeira.
Para o ano de 1923, a Receita Extraordinária exclui o artigo Donativos,
também designado no ano civil anterior por Legados. Ressurge, neste ano, na
Despesa Facultativa, o capítulo Centenário do Descobrimento da Madeira. Deixa
de estar presente no Capítulo 5.º da Despesa Obrigatória a designação Agrícolas,
redigindo-se Serviços Pecuários e Florestais.
Após esta Conta, folha 66 verso, 67 e 68 frente, existe um Acordam do
julgamento das contas que refere a tomada violenta dos negócios da Junta por
uma pseudo Comissão Executiva eleita sem o quórum legal à qual, o Supremo
Tribunal Administrativo de 8 de dezembro de 1923, anulou todas as deliberações
e demais atos e o Tribunal de primeira instância condenou todos os cidadãos que
funcionaram naquela sessão ao pagamento das custas, selos dos autos, procuradoria
e multa por violação da lei. Foram reprovados os relatórios de tais atos abusivos
e delituosos relativos aos períodos de 1 de maio a 31 de outubro de 1923 e de 1
de novembro de 1923 a 30 de abril de 1924. Ficaram responsáveis por Despesas
efetuadas sem os devidos avales, no valor de 476.927$05, na sessão de 28 de maio
1924, com a discordância do Procurador António Homem de Gouvêa que votou
vencido favoravelmente os relatórios de contas, os cidadãos Manoel Gregório
Pestana Júnior, Francisco de Andrade, Carlos Jaime Plácido de Castro e Abreu,

283
Junta Geral

Cerimónias Oficiais
do V Centenário do
Descobrimento da
Madeira em 1922.

António Policarpo Gomes e Alfredo Ferreira de Nóbrega. Surge, com novidade, no


ano de 1924, o artigo 8.º da Receita Ordinária, Emolumentos do Comissariado de
Polícia Cívica, que desaparece no ano seguinte. Na Despesa Obrigatória, o capítulo
7.º passa a ter a redação de Estabelecimentos e Propriedades Distritais. Um
capítulo 4.º, Monumento, é adicionado à Despesa Facultativa, destinado à estátua
do Gonçalves Zarco.
No ano de 1925, as Receitas Extraordinárias reintroduzem o artigo Legados.
Na Despesa Obrigatória, Capítulo 9.º Encargos Diversos, novos artigos são
introduzidos como Reedição das Saudades de Terra, Monumento a Gonçalves
Zarco e Linha Telefónica Omnibus.
Em 1926, um novo artigo 8.º com o título Imposto sobre Gasolina e Óleos,
é introduzido na Receita Ordinária. A Receita Extraordinária recebe para artigo
4.º a Caixa Geral de Depósitos. Na Despesa Obrigatória, Capítulo 9.º Encargos
Diversos, novos artigos, 10.º Asilo dos Velhinhos e 12.º Instrução Pública, e sai a
Linha Telefónica Omnibus. A Despesa Facultativa reduz-se a Festejos e Subsídios.
A Conta da Receita e da Despesa de 1927 passa para artigos 4.º, o Imposto
Sobre gazolina e olios, e 5.º, Imposto Sobre Aguardente. Neste ano, nos Encargos
Diversos da Despesa Obrigatória suprimiu-se a Instrução Pública e reintroduz-se a
Linha Telefónica Omnibus. Idêntica Despesa Facultativa ao ano anterior. Esta Conta
foi julgada pela Comissão creada pelo §º único do art.º 8.º do Decreto n.º 15.434
de 30 de Abril de 1928.
Os Vistos às Contas são em nome da Comissão Executiva até 1916, passando,
no ano seguinte, a ser designada por Comissão Administrativa até 1919, ano em
que regressam à anterior designação. Para 1923 e 1924, surge a figura jurídica do
Acórdão do Julgamento de Contas. As Contas de 1925 não foram julgadas segundo

284
Junta Geral

inscrição a lápis no verso da folha 83. As páginas em branco são maioritariamente


trancadas com um traço na diagonal a toda a altura útil. O verso da folha 30 foi
deixado em branco bem como a frente das folhas 33, 60 (quase totalmente).
O documento, com a identificação JGDFUN 1753 do Arquivo Regional da
Madeira, tem por título Junta Geral do Funchal, Livro n.º 4, Contas da Receita e
Despesa, 1928 a 1934/1935, é um livro com 100 folhas, manualmente numeradas
e rubricadas na frente, no canto superior direito, pelo Presidente da Comissão
Administrativa e 47 linhas na frente e verso. De capa dura e papel, com quadros
previamente impressos para o fim específico a que se destinam (referência M.
1-7-927), tem o seguinte título que se estende do verso da página anterior à
frente da página seguinte Conta da RECEITA e DESPEZA da Junta Geral do Distrito
do Funchal, relativa à gerencia do anno civil de 19__; subintitulado na página à
esquerda de Débito e na página à direita de Crédito. Na página do Débito existem
dois campos, um para a Natureza da Receita e outro para Importancias, que por
sua vez está dividido em Orçada, Liquidada, Cobrada e Em divida. Na página
destinada ao Crédito, os campos são o da Natureza da Despeza e, novamente,
Importancias, subdividido em Votada, Liquidada, Paga e Em divida. Apresenta uma
dimensão aproximada à do formato A3 (para mais). Tem termo de abertura e de
encerramento nas folhas 1 frente e 100 verso, respectivamente.
A Conta de 1928 tem o título corrigido para Conta da Receita e Despeza da
Junta Geral do Distrito do Funchal, relativa á gerencia no 1º semestre do ano
civil de 1928. Dois novos artigos são adicionados à Receita Ordinária, Producto
da Venda de Aguardente e Imposto Sobre o Açúcar, que em tudo se mantém
à semelhança do livro anterior. São introduzidos no capítulo 1º da Despesa
Obrigatória, Vencimento dos Funcionários e Empregados Pagos pelo Cofre da Junta
Geral, os artigos: Empregados do Expediente, Tesouraria, Quadro dos Empregados
das Obras Públicas, Intendência de Pecuária, Regência Florestal, Polícia Civil,
Manicómio Câmara Pestana, Posto de Desinfecção, Posto de Bacteriologia, Polícia
de Emigração, Hospital de Isolamento, Comissão de Viticultura da Região da
Madeira e Palácio de S. Lourenço. Aos Encargos Diversos da Despesa Obrigatória,
são apensos os seguintes artigos: Serviços Sanitários Marítimos, Empréstimos,
Asilo dos Velhinhos, Monumento a Gonçalves Zarco, Linha Telefónica Omnibus,
Inspecção aos Serviços da Junta, Instalação dos Serviços creados pelo decreto
14.168, Acquisição de Aguardente, acquisição de alcool, Indemnisação às Fabricas
de Aguardente da Zona Sul e Percentagem que Compete à Estação Agrária e
Câmaras Municipais do Distrito. Toda a restante Conta mantém uma redação de
continuidade. Esta Conta foi julgada pela Comissão creada pelo §º unico do art.º
1.º do Decreto n.º 15.434 de 30 de Abril de 1928 e será de acordo com este diploma
legal que o serão todas as que forem julgadas doravante.
A Conta que se segue deixa de ser coincidente com o ano civil, inaugurando-
se, nestes registos, o ano económico. No ano económico de 1928-1929, os
artigos da Receita Ordinária tornam-se mais numerosos, a saber: Rendimento de
Diversos Serviços Distritais, Producto de Multas, Imposto para a Hospitalização de
Alienados e Socorros a Náufragos, Emolumentos da Secretaria, Fundo de Viação e
Turismo, Contribuições e Impostos Diretos e seus Adicionais (nestes aparecem pela
primeira vez individualizados Impostos como o Predial, Industrial, Sobre Aplicação

285
Junta Geral

de Capitais e Sobre Transações), Impostos Distritais, Receita da Aguardente,


Imposto Sobre o Açúcar, Quotas para Aposentação, Dívidas Ativas, Emolumentos
(conforme o parágrafo 1.º art.º 2.º do decreto 15.805), Taxa da Assistência, Serviços
Hidráulicos, Estação Agrária, Serviços de Sanidade Marítima, Instrução Pública,
Sétima Circunscrição Industrial, Policia Civica, Serviços de Saúde, Governo Civil
e Serviços Pecuários; num total de vinte e dois artigos pela ordem apresentada
numerados. A Receita Extraordinária apresenta os artigos e não capítulos como
anteriormente, Producto de Alienação de Bens, Rendimentos Incertos e Eventuais
e Subsídio do Estado.
Quanto à Despesa Obrigatória, os capítulos sofrem uma reordenação e
algumas alterações. Assim e por esta ordem apresentam-se-nos: Vencimento
dos Funcionários e Empregados Pagos pelo Cofre da Junta Geral, Aposentações,
Hospitalisação de Alienados, Estabelecimentos e Propriedades Distritais (omisso),
Viação Distrital, Construção e Reparações de Portos de Pequena Cabotagem,
Expostos e Menores Desvalidos e Abandonados, Encargos Diversos, Dívidas
Passivas, Litígios, Expediente, Mobiliário e Material, Relatórios, Legislação e
Anúncios e Descentralização dos Serviços Administrativos (decreto 15.805). Destes
são de realçar os artigos dos capítulos, Encargos Diversos e Descentralização
dos Serviços Administrativos (decreto 15.805). No caso dos Encargos Diversos,
encontramos Empréstimos, Fundo Especial de Beneficência Contra a Tuberculose,
Asilo dos Velhinhos, Monumento a Gonsalves Zarco, Linha Telefónica Omnibus,
Inspeção dos Serviços da Junta, Serviços Radiológicos, Posto Zootécnico, Avaliação
de Prédios, Assistência, Restituição de Propinas e Aquisição d’um Vapor. Para a
Descentralização dos Serviços Administrativos (decreto 15.805), surgem Serviços
Hidráulicos, Estação Agrária, Sétima Circunscrição Industrial, Serviços de Sanidade
Marítima, Instrução Pública, Polícia Cívica, Serviços de Saúde e Governo Civil.
Apenas se apresentam dois artigos na Despesa Facultativa, Festejos e Subsídios.
Esta Conta foi julgada.
No ano económico de 1929-1930, são suprimidos, ao Titulo 1.º da Receita,
os artigos: Impostos Distritais, Receita da Aguardente, Imposto Sobre o Açúcar,
Taxa da Assistência, Polícia Cívica e Governo Civil e adicionado Subsídio do Estado.
O mesmo será também adicionado à Receita Extraordinária. No Capítulo 1.º da
Despesa Obrigatória, Vencimento dos Funcionários e Empregados Pagos pelo
Cofre da Junta Geral, suprimiu-se os artigos Polícia Civil, Manicómio Câmara
Pestana, Palácio de S. Lourenço e Hospital de Isolamento, e adicionou-se Estação
Agrária, Serviços de Sanidade Marítima, Instrução Pública, Sétima Circunscrição
Industrial, Polícia Cívica, Serviços de Saúde e Governo Civil. É introduzido novo
Capítulo 7.º, com a designação Serviços Pecuários, Agrícolas e Florestais. No
Capítulo, Encargos Diversos, não estão contemplados os artigos Linha Telefónica
Omnibus, Serviços Radiológicos e Posto Zootécnico e surgem os artigos Casa para
Pobres, Compensação ao Estado, Subsídio às Câmaras Municipais do Distrito (para
satisfação do disposto no art.º 2.º do decreto 16.956, de 14 de junho de 1929),
Serviços Hidráulicos, Serviços de Saúde, Governo Civil, Hospital Civil e Revisão de
Matrizes. Presentes na Despesa Facultativa os Capítulos: Festejos, Gratificações e
Subsídios. Esta Conta foi julgada.
Para 1930-1931, a Receita mantém-se inalterada, mas o Capítulo 1.º da

286
Junta Geral

Despesa Obrigatória, integra novos artigos, são integrados os artigos 13.º Instrução
Pública e 17.º Tribunal de Desastres de Trabalho. No Capítulo, Encargos Diversos,
ressurge o artigo Restituição de Propinas, surge o artigo nomeado de Repartição
Finanças do Funchal e são eliminados o Hospital Civil e o Casa dos Pobres. Esta
Conta foi Julgada. A Receita Extraordinária de 1931-1932 apresenta um novo
artigo, Empréstimo Contraído por Escritura de 7 de abril de 1932. Novo artigo é
integrado no Capítulo 1.º da Despesa Obrigatória, Vencimento dos Funcionários e
Empregados Pagos pelo Cofre da Junta Geral, o Arquivo Distrital. Ao Capítulo 9.º é
adicionado o artigo Sindicâncias e retirados os Restituição de Propinas e Repartição
de Finanças do Funchal. A Despesa Facultativa apresenta adicionalmente o artigo
Turismo. A partir deste ano, o Capítulo 4.º, Estabelecimentos e Propriedades
Distritais, integra um artigo novo Compra do Antigo Edifício do Hospital. Esta Conta
foi julgada.
Em 1932-1933, o artigo Inspecção Técnica das Indústrias e Comércio Agrícolas
passa a fazer parte da Receita Ordinária, bem como o artigo Arquivo Distrital.
Neste ano económico, o Subsídio do Estado na Receita Extraordinária é substituído
por Subsídio. O Capítulo 1.º da Despesa Obrigatória acrescenta o artigo Delegação
da Inspecção Técnica das Indústrias e Comércio Agrícolas. Os Encargos Diversos,
na Despesa Obrigatória vai apresentar os novos artigos Pensões, Pavilhão para
Tuberculosos e Indemnização do Palácio da Encarnação e subtrair o Avaliação de
Prédios. Esta Conta foi julgada.
No ano económico de 1933-1934, o artigo 8.º da Receita Ordinária passa a
designar-se Serviços Hidráulicos e Eléctricos. Na Receita Extraordinária, um novo
artigo intitulado Donativo. Quanto à Despesa Obrigatória, o seu Capítulo 1.º tem
dois novos artigos, Tribunal do Trabalho e Secção Técnica dos Serviços de Viação.
Dois novos artigos para os Encargos Diversos, Juízo Criminal e Compensação à Caixa
Geral de Depósitos e supressão dos artigos Pensões, Pavilhão para Tuberculosos e
Indemnização do Palácio da Encarnação. A Despesa Facultativa integra o Capítulo
4.º, Turismo e Festas da Cidade. Esta Conta não foi julgada.
Em 1934-1935, mais um artigo é adicionado à Receita Ordinária, Taxas do
Tribunal do Trabalho e outros à Receita Extraordinária como os artigos Caixa Geral
de Depósitos, Crédito e Previdência, Restituição e Turismo. Esta Conta tem 18
meses de execução, uma vez que contempla todo o ano de 1935. No Capítulo
1.º da Despesa, Vencimento dos Funcionários e Empregados Pagos pelo Cofre da
Junta Geral, o artigo Polícia de Emigração é substituído por Delegação dos Serviços
de Emigração; é suprimido o Tribunal de Desastres de Trabalho e adicionado o
Serviços de Turismo. No Capítulo 9.º, Encargos Diversos, há a adição de novos
capítulos, Julgamento de Contas, Indemnização, Remissão d’um Foro, Demarcação
de Concelhos e Aquisição de Prédios. Capítulos como Juízo Criminal, Compensação
à Caixa Geral de Depósitos e Subsídios às Câmaras Municipais do Distrito (para
satisfação do disposto do art.º 2.º do decreto 16.956 de 14 de junho de 1929), são
eliminados. Esta Conta não foi julgada. Ficaram em branco as folhas 95 verso e 96
a 100 frente.
O documento, com a identificação JGDFUN 1754 do Arquivo Regional da
Madeira, tem por título Registo de Contas a partir de 1936, é um livro com 99
folhas, manualmente numeradas e rubricadas na frente, no canto superior direito,
287
Junta Geral

pelo Presidente da Comissão Administrativa e 49 linhas na frente e verso. De capa


dura e papel com quadros previamente impressos para o fim específico a que se
destinam (referência Typ. Bazar do Povo - Funchal 63293), tem o seguinte título
que se estende do verso da página anterior à frente da página seguinte: Conta
da RECEITA e DESPEZA da Junta Geral do Distrito do Funchal, relativa á gerência
do ano economico de 19__; subintitulado, na página à esquerda, de Débito e, na
página à direita, de Crédito. Na página do Débito, existem dois campos, um para
a Natureza da Receita e outro para Importancias, que, por sua vez, está dividido
em Orçada, Liquidada, Cobrada e Em divida. Na página destinada ao Crédito os
campos são o da Natureza da Despeza e, novamente, Importancias, subdividido
em Votada, Liquidada, Paga e Em divida. Apresenta uma dimensão aproximada à
do formato A3 (para mais). Tem termo de abertura e de encerramento nas folhas
1 frente e 99 verso, respetivamente. Encontra-se em branco, a partir do verso da
folha 70.
A Conta da Receita e da Despesa do ano de 1936, com que este livro se
inicia, introduz novas alterações de forma e conteúdo no registo dos itens nela
contemplados, sobretudo no que à Despesa diz respeito. Assim, o Débito apresenta-
se com dois Títulos como anteriormente, o 1.º Receita Ordinária e o 2.º Receita
Extraordinária. A Receita Ordinária, por sua vez, contém, neste ano, os seguintes
artigos: 1.º Impostos Directos, 2.º Dívidas Activas, 3.º Rendimento de Diversos
Serviços e 4.º Quotas para Aposentações. O Título 2.º faz-se dos artigos seguintes:
1.º Producto de Alienação de Bens, 2.º Rendimentos Incertos e Eventuais, 3.º
Empréstimo Contraído pela Escritura de 7 d’Abril de 1932 e 4.º Subsídios. Por sua
vez, a Despesa Obrigatória (Titulo 1.º) tem os seguintes Capítulos: 1.º Encargos
de Empréstimos, 2.º Aposentações, 3.º Secretaria, 4.º Tesouraria, 5.º Inspeção de
Saude, 6.º Posto de Desinfecção, 7.º Posto de Bacteriologia, 8.º Estação de Saúde,
9.º Hospital de Isolamento, 10.º Liceu de Jaime Moniz, 11.º Escola Industrial e
Comercial de António Augusto de Aguiar, 12.º Instrução Primária, 13.º Delegação
dos Serviços de Emigração, 14.º Secretaria da Comissão de Viticultura da Região
da Madeira, 15.º Serviços Pecuários, 16.º Estação Agrária, 17.º Regência Florestal,
18.º Policia Civica, 19.º Sétima Circunscrição Industrial, 20.º Governo Civil, 21.º
Tribunal do Trabalho e Delegação do Instituto Nacional do Trabalho e Previdência,
22.º Arquivo Distrital, 23.º Delegação da Inspecção Tecnica das Industrias e
Comercio Agricolas, 24.º Secção Técnica dos Serviços de Viação, 25.º Turismo, 26.º
Obras Públicas, 27.º Hospitalização de Alienados, 28.º Assistência e 29.º Encargos
Gerais da Junta. Grande parte destes capítulos está dividida em dois subcapítulos,
Despesas com o Pessoal e Despesas com o Material. Quanto à Despesa Facultativa,
apenas um Capítulo, Subsídios.
O ano de 1937, em tudo semelhante na Receita, retira da Receita Extraordinária,
o Empréstimo referido na Conta do ano anterior. No título da Despesa Obrigatória,
o Capítulo 21.º passa a designar-se simplesmente Tribunal do Trabalho e o Capítulo
29.º é suprimido.
Na Conta de 1938, a Receita é idêntica à do ano que o precedeu, apenas
adicionando, à Receita Extraordinária, o artigo Empréstimos. Na Despesa
Obrigatória desaparece o capítulo Turismo e surge o capítulo Concelho Tecnico
Agricola da Madeira. Neste ano, denota-se uma melhoria substancial na acentuação

288
Junta Geral

das palavras inscritas no registo da Conta, mantendo-se, contudo, alguns erros


ortográficos.
No ano de 1939, na Receita Ordinária, é retirado o artigo Quotas para
Aposentações e introduzidos os artigos 3.º Reembolso e Reposições e 4.º Taxas
Sanitárias. Na Despesa Obrigatória o Capítulo 14.º recebe a redação Antiga
Secretaria da Comissão de Viticultura da Região da Madeira. À Despesa Facultativa,
é adicionado novo Capítulo, Elucidário Madeirense.
Em 1940, encerra-se este documento com dois novos capítulos, desta feita,
na Receita Ordinária, Consignação de Receita e Restituição e três artigos mais
para a Receita Extraordinaria, Restituição de Quotas, Crédito do Ministério das
Finanças e Refugiados. Na Despesa Obrigatória, o Capítulo 7.º passa a designar-se
Laboratório Distrital, o 18.º Despesas com Serviços Policiais, o 19.º Direcção dos
Serviços Industriais, Eléctricos e de Viação e o 24.º Circunscrição da Madeira dos
Serviços de Viação. O Capítulo 23.º é omitido. Aparecem três capítulos, 29.º Quadro
Geral do Pessoal Menor, 30.º Pagamento a Diversas Entidades por Consignação de
Receitas e 30.º Comissão Distrital de Contas.
A referência JGDFUN Secretaria, Caixa 3344, do Arquivo Regional da Madeira,
é uma caixa contendo catorze capilhas, correspondendo, cada uma, a uma Conta
da gerência da Junta Geral. À Capilha 1, corresponde a cópia da Conta da gerência
da Junta Geral do ano de 1945, à 2.ª Capilha, a Conta de 1957, à 3.ª, a Conta de
1963, à 4.ª a Conta de 1964, à 5.ª Capilha, a cópia da Conta de 1965 (datilografada),
à 6.ª, a Conta do ano 1965, à Capilha 7, a do ano de 1966, à 8.ª o duplicado da
Conta de 1966, à 9.ª a Conta de 1967, à Capilha 10, uma cópia da Conta de 1967
(datilografada), à Capilha 11, uma cópia da Conta de 1968, à 12.ª a Conta de 1969,
à 13.ª o duplicado da Conta de Gerência de 1970 e à 14.ª Capilha corresponde o
duplicado da Conta da Junta Geral de 1971.
O documento, com a identificação JGDFUN-SEC, Caixa 3344, Capilha 1 do
Arquivo Regional da Madeira, tem por título Junta Geral do Distrito Autónomo do
Funchal, Ano de 1945, Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano supra,
é um livro com 28 folhas, manualmente numeradas, exceto a primeira que tem
impressa Folha N.º 1. Apresenta uma dimensão aproximada à do formato A4 (para
mais). Encontra-se propositadamente em branco, a partir do verso da folha 10 até
à frente da folha 12. De capa mole e papel com quadros previamente impressos
para o fim específico a que se destinam (referências: Mod. 21, para a capa e
contracapa e para a primeira e última folha do livro; Mod. 21-T.C. 17588, para
as folhas de título Em documentos de Cobrança; e Mod. 21-T.C. 17589, para as
folhas de título Em documentos de Despesa), tem, na frente da primeira folha, os
seguintes subtítulos, após a designação da Junta e do ano a que respeita a Conta,
Conta de responsabilidade do Tesoureiro, ao que se segue a sua identificação e
período de responsabilidade e Acordão, onde a entidade competente procede ao
registo do julgamento da Conta. No verso da folha 28 (a última), surgem os títulos
Em Dinheiro, onde se indica o saldo em numerário e Recopilação dos Saldos,
para registo dos parciais e total destes, seguidos da data e dos campos para as
assinaturas do Chefe da Secretaria e do Tesoureiro. A primeira parte do documento
está dedicada ao registo da Receita. Sob o título Em Documentos de Cobrança que
se estende do verso da folha anterior à frente da folha seguinte, aparecem como
289
Junta Geral

colunas na grelha de inscrição os subtítulos: (1) Designação dos rendimentos (que


deveriam ser inscritos por ordem orçamental), (2) Número das Verbas orçamentais
(subdividido em Alínea e Artigo), (3) Divida em 1 de Janeiro de 194_, (4) Receita
liquidada virtual e eventualmente em 194_, (5) Soma, (6) Receita cobrada virtual e
eventualmente em 194_, (7) Receita virtual anulada em 194_, (8) Soma, (9) Saldo
que transita para a gerência imediata, (10) Verba orçada, (Diferença entre 6 e 10)
(subdividido em: Para mais e Para menos). A segunda parte destinada ao registo da
Despesa tem como título Em documentos de Despesa, que se estende do verso da
folha anterior à frente da folha seguinte e está subintitulado de: (1) Designação e
descrição da despesa (pela ordem orçamental), (2) Número das Verbas orçamentais
(subdividido para inscrição da alínea e do artigo), (3) Pagamentos autorizados em
194_, (4) Pagamentos efectuados em 194_, (5) Saldo, (6) Verba votada, (Diferença
entre 4 e 6) (subdividido em: Para mais e Para menos).
São Capítulos da Receita desta Conta: 1.º Contribuições e Impostos, 2.º Taxas –
Rendimentos de Diversos Serviços e de Bens próprios, 3.º Consignação de Receitas,
4.º Reembolsos, Reposições e Dívidas Activas e 5.º Receita Extraordinária. O
Capítulo 1.º tem por artigos: Contribuição Predial, Rústica e Urbana; Contribuição
Industrial; Imposto Profissional; Imposto Sobre a Aplicação de Capitais; Imposto
de Trânsito; Imposto de Camionagem; Juros de Mora; Imposto Sobre Bebidas
Alcoólicas; Rendimento dos Direitos e Taxa de Salvação Nacional, Cobradas pelas
Alfândegas Relativos a Gasolina, camaras de ar e Protectores Importados ou
Enviados (art.º 1.º do decreto-lei n.º 34.051 de 21 de outubro de 1944); e Imposto
Sobre os Lucros Extraordinários da Guerra, neste Distrito (art.º 2.º do decreto-lei n.º
34.051 de 21 de outubro de 1944). O Capítulo 2.º tem como artigos: Taxas Diversas,
Multas Diversas, Emolumentos, Educação Nacional, Análises, Delegação da Polícia
de Vigilância e Defesa do Estado, Casas de Saúde do Trapiche e Câmara Pestana,
Intendência Pecuária, Propriedades do Estado, Serviços Agrícolas, Bens Próprios e
Tribunal do Trabalho. A Consignação de Receitas divide-se nos artigos seguintes:
Adicionais, Taxas e Multas Destinadas ao Estado; Receitas Cobradas por Conta de
Diversas Entidades; Imposto de Selo; Assistência Nacional aos Funcionários Civis
Tuberculosos; e Emolumentos da Secretaria do Estado. A Receita Extraordinária
compõe-se de: Produto de Alienação de Bens, Rendimentos Incertos e Eventuais,
Subsídios, Reembolso de Capitais e Empréstimos.
A despesa deste ano de 1945 apresenta os capítulos que se seguem: 1.º
Encargos de Empréstimos, 2.º Pensões de Aposentação ou Outras Pagas a
Funcionários Fora do Serviço, 3.º Secretaria, 4.º Tesouraria, 5.º Estação Agrária,
6.º Regência Florestal, 7.º Intendência de Pecuária, 8.º Inspecção de Saúde, 9.º
Direcção das Obras Públicas, 10.º Direcção dos Serviços Industriais, Eléctricos e
de Viação, 11.º Laboratório Distrital, 12.º Governo do Distrito Autónomo, 13.º
Liceu de Jaime Moniz, 14.º Escola Industrial e Comercial de António Augusto de
Aguiar, 15.º Instrucção Primária, 16.º Delegação da Polícia de Vigilância e Defesa
do Estado, 17.º Tribunal do Trabalho, 18.º Arquivo Distrital, 19.º Pagamento a
Diversas Entidades por Consignações de Receitas, 20.º Comparticipação, 21.º
Aceitação duma Doação e 22.º Subsídios. Os Capítulos de Receita estão resumidos
e somados no verso da folha 9 e frente da folha 10 e os de Despesa, no verso da
folha 27 e frente da folha 28 deste livro.

290
Junta Geral

O documento, com a identificação Arquivo/SG/EMP/FUN/01583, do Arquivo


Digital da Secretaria-Geral do Ministério das Finanças e da Administração Pública,
tem por título Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, Ano de 1948. É um
livro com 33 folhas, numeradas manualmente, rubricadas e autenticadas com selo
branco no canto superior direito, exceto a primeira que tem impressa Folha N.º 1.
Apresenta uma dimensão aproximada à do formato A4 (para mais) e é manuscrito.
De capa mole e papel com quadros previamente impressos para o fim específico a
que se destinam (referências: Mod. 21, para a capa e contracapa e para a primeira
e última folha do livro; Mod. 21-T.C. 17588, para as folhas de título Em documentos
de Cobrança; e Mod. 21-T.C. 17589, para as folhas de título Em documentos de
Despesa), tem, na frente da primeira folha, os seguintes subtítulos, após a
designação da Junta e do ano a que respeita a Conta, Conta de responsabilidade
do Tesoureiro, ao que se segue a sua identificação e período de responsabilidade e
Acordão, onde a entidade competente procede ao registo do julgamento da Conta.
No verso da folha 33 (a última) surgem os títulos Em Dinheiro, onde se indica o
saldo em numerário e Recopilação dos Saldos, para registo dos parciais e total
destes, seguidos da data e dos campos para as assinaturas do Chefe da Secretaria e
do Tesoureiro. A primeira parte do documento está dedicada ao registo da receita.
Sob o título Em Documentos de Cobrança que se estende do verso da folha anterior
à frente da folha seguinte, aparecem como colunas na grelha de inscrição os
subtítulos: (1) Designação dos rendimentos (que deveriam ser inscritos por ordem
orçamental), (2) Número das Verbas orçamentais (subdividido em alínea e artigo),
(3) Dívida em 1 de Janeiro de 194_, (4) Receita liquidada virtual e eventualmente
em 194_, (5) Soma, (6) Receita cobrada virtual e eventualmente em 194_, (7)
Receita virtual anulada em 194_, (8) Soma, (9) Saldo que transita para a gerência
imediata, (10) Verba orçada, (Diferença entre 6 e 10) (subdividido em: Para mais
e Para menos). A segunda parte destinada ao registo da despesa tem como título
Em documentos de Despesa, que se estende do verso da folha anterior, à frente
da folha seguinte e está subintitulado de: (1) Designação e descrição da despesa
(pela ordem orçamental), (2) Número das Verbas orçamentais (subdividido
para inscrição da alínea e do artigo), (3) Pagamentos autorizados em 194_, (4)
Pagamentos efetuados em 194_, (5) Saldo, (6) Verba votada, (Diferença entre 4 e
6) (subdividido em: Para mais e Para menos).
São capítulos da receita desta Conta: 1.º Contribuições e Impostos, 2.º Taxas –
Rendimentos de Diversos Serviços e de Bens Próprios, 3.º Consignação de Receitas,
4.º Reembolsos, Reposições e Dívidas Activas e 5.º Receita Extraordinária. O
Capítulo 1.º tem por artigos: Contribuição Predial, Rústica e Urbana; Contribuição
Industrial; Imposto Profissional; Imposto Sobre a Aplicação de Capitais; Imposto
de Trânsito; Imposto de Camionagem; Juros de Mora; Imposto Sobre Bebidas
Alcoólicas; e Rendimento dos Direitos e Taxa de Salvação Nacional, Cobradas
pelas Alfândegas Relativos a Gasolina, camaras de ar e Protetores Importados ou
Enviados (art.º 1.º do decreto-lei n.º 34.051 de 21 de outubro de 1944). O Capítulo
2.º tem como artigos: Taxas Diversas, Multas diversas, Emolumentos, Educação
Nacional, Análises, Casas de Saúde do Trapiche e Câmara Pestana, Intendência
Pecuária, Serviços Agrícolas, Bens Próprios, Tribunal do Trabalho e Delegação da

83 In http://213.58.158.153/Arquivo-SG-----EMP-FUN--015/1/P26.html a P60.html .

291
Junta Geral

Inspecção Geral das Indústrias e Comércio Agrícolas. A Consignação de Receitas


divide-se nos artigos seguintes: Adicionais, Taxas e Multas Destinadas ao Estado;
Receitas Cobradas por Conta de Diversas Entidades; Imposto de Selo; Assistência
Nacional aos Funcionários Civis Tuberculosos; e Emolumentos de Secretaria de
Estado. A Receita Extraordinária compõe-se de: Produto de Alienação de Bens,
Subsídios, Reembolso de Capitais e Empréstimos.
A Despesa deste ano de 1948 apresenta os Capítulos que se seguem:
1.º Encargos de Empréstimos, 2.º Pensões de Aposentação ou Outras Pagas
a Funcionários Fora do Serviço, 3.º Presidência da Junta Geral, 4.º Secretaria,
5.º Tesouraria, 6.º Estação Agrária, 7.º Regência Florestal, 8.º Intendência de
Pecuária, 9.º Inspecção de Saúde, 10.º Direcção das Obras Públicas, 11.º Direcção
dos Serviços Industriais, Eléctricos e de Viação, 12.º Laboratório Distrital, 13.º
Governo do Distrito Autónomo, 14.º Liceu de Jaime Moniz, 15.º Escola Industrial
e Comercial de António Augusto de Aguiar e Escola Técnica Elementar Gonçalves
Zarco, 16.º Instrução Primária, 17.º Tribunal do Trabalho e Delegação do Instituto
Nacional do Trabalho, 18.º Arquivo Distrital, 19.º Pagamento a Diversas Entidades
por Consignações de Receitas, 20.º Aceitação duma Doação e 21.º Subsídios. Os
capítulos de receita estão resumidos e somados no verso da folha 11 e frente da
folha 12 e os de Despesa no verso da folha 31 e frente da folha 32 deste livro.
O documento, com a identificação Arquivo/SG/ EMP/FUN/01684, do Arquivo
Digital da Secretaria-geral do Ministério das Finanças e da Administração Pública,
tem por título Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, Ano de 1952, é um
livro com 33 folhas, numeradas manualmente, rubricadas e autenticadas com selo
branco no canto superior direito, exceto a primeira que tem impressa Folha N.º 1.
Apresenta uma dimensão aproximada à do formato A4 (para mais) e é manuscrito.
De capa mole e papel com quadros previamente impressos para o fim específico a
que se destinam (referências: Mod. 21-39043, para a capa e contracapa; Mod. 21-
39044 para a primeira e última folha do livro; Mod. 21-T.C. 17588, para as folhas
de título Em documentos de Cobrança; e Mod. 21-T. C. 17589, para as folhas de
título Em documentos de Despesa), tem, na frente da primeira folha, os seguintes
subtítulos, após a designação da Junta e do ano a que respeita a Conta, Conta de
responsabilidade do Tesoureiro, ao que se segue a sua identificação e período de
responsabilidade e Acordão onde a entidade competente procede ao registo do
julgamento da Conta. No verso da folha 33 (a última) surgem os títulos Em Dinheiro,
onde se indica o saldo em numerário e Recopilação dos Saldos, para registo dos
parciais e total destes, seguidos da data e dos campos para as assinaturas do Chefe
da Secretaria e do Tesoureiro. A primeira parte do documento está dedicada ao
registo da Receita. Sob o título Em Documentos de Cobrança, que se estende do
verso da folha anterior à frente da folha seguinte, aparecem como colunas, na
grelha de inscrição, os subtítulos: (1) Designação dos rendimentos (que deveriam
ser inscritos por ordem orçamental), (2) Número das Verbas orçamentais
(subdividido em Alínea e Artigo), (3) Divida em 1 de Janeiro de 194_, (4) Receita
liquidada virtual e eventualmente em 194_, (5) Soma, (6) Receita cobrada virtual e
eventualmente em 194_, (7) Receita virtual anulada em 194_, (8) Soma, (9) Saldo
que transita para a gerência imediata, (10) Verba orçada, (Diferença entre 6 e 10)

84 In http://213.58.158.153/Arquivo-SG-----EMP-FUN--016/1/P57.html a P91.html

292
Junta Geral

(subdividido em: Para mais e Para menos). A segunda parte destinada ao registo da
Despesa tem como título Em documentos de Despesa que se estende do verso da
folha anterior à frente da folha seguinte e está subintitulado de: (1) Designação e
descrição da despesa (pela ordem orçamental), (2) Número das Verbas orçamentais
(subdividido para inscrição da alínea e do artigo), (3) Pagamentos autorizados em
194_, (4) Pagamentos efectuados em 194_, (5) Saldo, (6) Verba votada, (Diferença
entre 4 e 6) (subdividido em: Para mais e Para menos).
São capítulos da receita desta Conta: 1.º Contribuições e Impostos, 2.º Taxas –
Rendimentos de Diversos Serviços e de Bens Próprios, 3.º Consignação de Receitas,
4.º Reembolsos, Reposições e Dívidas Activas e 5.º Receita Extraordinária. O Capítulo
1.º tem por artigos: Contribuição Predial, Rústica e Urbana; Contribuição Industrial;
Imposto Profissional; Imposto Sobre a Aplicação de Capitais; Imposto de Trânsito;
Imposto de Camionagem; Juros de Mora; Imposto Sobre Bebidas Alcoólicas; e
Rendimento dos Direitos e Taxa de Salvação Nacional, Cobradas pelas Alfândegas
Relativos a Gasolina, camaras de ar e Protectores Importados ou Enviados (art.º
1.º dodecreto-lei n.º 34.051 de 21 de outubro de 1944). O Capítulo 2.º tem
como artigos: Secretaria da Junta, Casas de Saúde do Trapiche e Câmara Pestana,
Estação Agrária, Circunscrição Florestal, Intendência de Pecuária, Inspecção de
Saúde, Direcção das Obras Públicas, Direcção dos Serviços Industriais, Eléctricos
e de Viação, Laboratório Distrital, Governo do Distrito Autónomo, Educação
Nacional, Tribunal do Trabalho, Comando Distrital da Polícia de Segurança Pública,
Outros Serviços Distritais e Bens Próprios. A Consignação de Receitas divide-se
nos artigos seguintes: Adicionais, Taxas e Multas Destinadas ao Estado; Receitas
Cobradas por Conta de Diversas Entidades; Imposto de Selo; Assistência Nacional
aos Funcionários Civis Tuberculosos; e Emolumentos de Secretaria de Estado. A
Receita Extraordinária compõe-se de: Produto de Alienação de Bens, Rendimentos
Incertos e Eventuais, Subsídios, Reembolso de Capitais, Empréstimos e Dívidas
Activas.
A despesa deste ano de 1952 apresenta os capítulos que se seguem: 1.º
Encargos de Empréstimos, 2.º Pensões de Aposentação ou Outras Pagas a
Funcionários Fora do Serviço, 3.º Presidência da Junta Geral, 4.º Secretaria, 5.º
Estação Agrária, 6.º Circunscrição Florestal, 7.º Intendência de Pecuária, 8.º
Inspecção de Saúde, 9.º Direcção das Obras Públicas, 10.º Direcção dos Serviços
Industriais, Eléctricos e de Viação, 11.º Laboratório Distrital, 12.º Governo do
Distrito Autónomo, 13.º Liceu de Jaime Moniz, 14.º Escola Industrial e Comercial
de António Augusto de Aguiar, 15.º Instrução Primária, 16.º Tribunal do Trabalho e
Delegação do Instituto Nacional do Trabalho, 17.º Arquivo Distrital, 18.º Subsídios,
19.º Pagamento a Diversas Entidades por Consignações de Receitas, 20.º Despeza
Extraordinaria. Os Capítulos de Receita estão resumidos e somados no verso da
folha 12 e frente da folha 13 e os de Despesa no verso da folha 31 e frente da folha
32 deste livro.
O documento, com a identificação Arquivo/SG/EMP/FUN/01885, do Arquivo
Digital da Secretaria-geral do Ministério das Finanças e da Administração Pública,
tem por título Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, Ano de 1956, é um

85 In http://213.58.158.153/Arquivo-SG-----EMP-FUN--018/1/P29.html a P66.html.

293
Junta Geral

livro com 36 folhas, numeradas manualmente, rubricadas e autenticadas com selo


branco no canto superior direito, exceto a primeira que tem impressa Folha N.º 1.
Apresenta uma dimensão aproximada à do formato A4 (para mais) e é manuscrito.
De capa mole e papel com quadros previamente impressos para o fim específico a
que se destinam (referências: Mod. 21-39043, para a capa e contracapa; Mod. 21-
39044 para a primeira e última folha do livro; Mod. 21-T.C. 17588, para as folhas
de título Em documentos de Cobrança; e Mod. 21-Tip. Comercial 43536, para as
folhas de título Em documentos de Despesa), tem, na frente da primeira folha, os
seguintes subtítulos, após a designação da Junta e do ano a que respeita a Conta,
Conta de responsabilidade do Tesoureiro, ao que se segue a sua identificação e
período de responsabilidade e Acordão, onde a entidade competente procede
ao registo do julgamento da Conta. No verso da folha 36 (a última) surgem os
títulos Em Dinheiro, onde se indica o saldo em numerário e Recopilação dos Saldos
para registo dos parciais e total destes, seguidos da data e dos campos para as
assinaturas do Chefe da Secretaria e do Tesoureiro. A primeira parte do documento
está dedicada ao registo da Receita. Sob o título Em Documentos de Cobrança que
se estende do verso da folha anterior à frente da folha seguinte, aparecem como
colunas na grelha de inscrição os subtítulos: (1) Designação dos rendimentos (que
deveriam ser inscritos por ordem orçamental), (2) Número das Verbas orçamentais
(subdividido em Alínea e Artigo), (3) Divida em 1 de Janeiro de 195_, (4) Receita
liquidada virtual e eventualmente em 195_, (5) Soma, (6) Receita cobrada virtual e
eventualmente em 195_, (7) Receita virtual anulada em 195_, (8) Soma, (9) Saldo
que transita para a gerência imediata, (10) Verba orçada, (Diferença entre 6 e 10)
(subdividido em: Para mais e Para menos). A segunda parte destinada ao registo da
Despesa tem como título Em documentos de Despesa, que se estende do verso da
folha anterior à frente da folha seguinte e está subintitulado de: (1) Designação e
descrição da despesa (pela ordem orçamental), (2) Número das Verbas orçamentais
(subdividido para inscrição da alínea e do artigo), (3) Pagamentos autorisados em
195_, (4) Pagamentos efectuados em 195_, (5) Saldo, (6) Verba votada, (Diferença
entre 4 e 6) (subdividido em: Para mais e Para menos).
São Capítulos da Receita desta Conta: 1.º Contribuições e Impostos, 2.º
Taxas – Rendimentos de Diversos Serviços e de Bens Próprios, 3.º Consignação de
Receitas, 4.º Reembolsos, Reposições e Dívidas Activas e 5.º Receita Extraordinária.
O Capítulo 1.º tem como novos artigos o Imposto de Compensação nos Termos
do Decreto-lei n.º 40.717 de 2 de Agosto de 1956 e o Imposto Sobre Tabacos
nos Termos do Decreto-lei n.º 39.963 de 13 de Dezembro de 1954. O Capítulo
2.º tem os artigos: Secretaria da Junta, Internamento nas Casas de Saúde e no
Asilo dos Velhinhos, Estação Agrária, Intendência de Pecuária, Inspecção de Saúde,
Direcção das Obras Públicas, Direcção dos Serviços Industriais, Eléctricos e de
Viação, Laboratório Distrital, Governo do Distrito Autónomo, Educação Nacional,
Tribunal do Trabalho, Comando Distrital da Polícia de Segurança Pública, Direcção
de Finanças, Arquivo Distrital, Outros Rendimentos Permanentes Destinados por
Lei a Constituir Receita Distrital, Diversos Serviços, Ocupação do Sub-solo e Bens
Próprios. A Consignação de Receitas apresenta os artigos: Adicionais, Taxas e Multas
Destinadas ao Estado, Receitas Cobradas por Conta de Diversas Entidades, Outras
Receitas Consignadas, Imposto de Selo, Assistência Nacional aos Funcionários Civis
Tuberculosos e Emolumentos da Secretaria do Estado. A Receita Extraordinária

294
Junta Geral

compõe-se de: Produto de Alienação de Bens, Rendimentos Incertos e Eventuais,


Subsídios, e Reembolso de Capitais.
A despesa deste ano de 1956 apresenta os capítulos que se seguem: 1.º
Encargos de Empréstimos, 2.º Pensões de Aposentação ou Outras Pagas a
Funcionários Fora do Serviço e Outras Pensões, 3.º Presidência da Junta Geral, 4.º
Secretaria, 5.º Estação Agrária, 6.º Intendência de Pecuária, 8.º Inspecção de Saúde,
9.º Direcção das Obras Públicas, 10.º Direcção dos Serviços Industriais, Eléctricos
e de Viação, 11.º Laboratório Distrital, 12.º Governo do Distrito Autónomo, 13.º
Liceu de Jaime Moniz, 14.º Escola Industrial e Comercial de António Augusto de
Aguiar, 15.º Instrução Primária, 16.º Delegação do Instituto Nacional do Trabalho
e Previdência, 17.º Arquivo Distrital, 18.º Subsídios, 19.º Pagamento a Diversas
Entidades por Consignações de Receitas, 20.º Despesa Extraordinária. Na Despesa
Extraordinária de salientar os artigos: Construção e Obras Novas, Aquisições de
Utilização Permanente, Conservação e Aproveitamento do Material. Os Capítulos
de Receita estão resumidos e somados no verso da folha 14 e frente da folha 15 e
os de Despesa no verso da folha 34 e frente da folha 35 deste livro.
O documento, com a identificação JGDFUN-SEC, Caixa 3344, Capilha 2 do
Arquivo Regional da Madeira, tem por título Junta Geral do Distrito Autónomo do
Funchal, Ano de 1957, Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano supra, é um
livro com 36 folhas, manualmente numeradas, exceto a primeira que tem impressa
Folha N.º 1. Apresenta uma dimensão aproximada à do formato A4 (para mais).
De capa mole e papel com quadros previamente impressos para o fim específico a
que se destinam (referências: Mod. 21-39043, para a capa e contracapa; Mod. 21-
39044 para a primeira e última folha do livro; Mod. 21-T.C. 17588, para as folhas
de título Em documentos de Cobrança; e Mod. 21-Tip. Comercial 43536, para as
folhas de título Em documentos de Despesa), tem na frente da primeira folha os
seguintes subtítulos, após a designação da Junta e do ano a que respeita a Conta,
Conta de responsabilidade do Tesoureiro, ao que se segue a sua identificação e
período de responsabilidade e Acordão onde a entidade competente procede ao
registo do julgamento da Conta. No verso da folha 36 (a última) surgem os títulos
Em Dinheiro, onde se indica o saldo em numerário e Recopilação dos Saldos,
para registo dos parciais e total destes, seguidos da data e dos campos para as
assinaturas do Chefe da Secretaria e do Tesoureiro. A primeira parte do documento
está dedicada ao registo da receita. Sob o título Em Documentos de Cobrança, que
se estende do verso da folha anterior à frente da folha seguinte, aparecem como
colunas na grelha de inscrição os subtítulos: (1) Designação dos rendimentos (que
deveriam ser inscritos por ordem orçamental), (2) Número das Verbas orçamentais
(subdividido em Alínea e Artigo), (3) Divida em 1 de Janeiro de 195_, (4) Receita
liquidada virtual e eventualmente em 195_, (5) Soma, (6) Receita cobrada virtual e
eventualmente em 195_, (7) Receita virtual anulada em 195_, (8) Soma, (9) Saldo
que transita para a gerência imediata, (10) Verba orçada, (Diferença entre 6 e 10)
(subdividido em: Para mais e Para menos). A segunda parte destinada ao registo da
Despesa tem como título “Em documentos de Despesa”, que se estende do verso
da folha anterior à frente da folha seguinte e está subintitulado de: (1) Designação e
descrição da despesa (pela ordem orçamental), (2) Número das Verbas orçamentais
(subdividido para inscrição da alínea e do artigo), (3) Pagamentos autorisados em

295
Junta Geral

195_, (4) Pagamentos efectuados em 195_, (5) Saldo, (6) Verba votada, (Diferença
entre 4 e 6) (subdividido em: Para mais e Para menos).
São capítulos da receita desta Conta: 1.º Contribuições e Impostos, 2.º Taxas
– Rendimentos de Diversos Serviços e de Bens Próprios, 3.º Consignação de
Receitas, 4.º Reembolsos, Reposições e Dívidas Activas e 5.º Receita Extraordinária.
O Capítulo 1.º tem como novos artigos o Imposto de Compensação e o Imposto
Sobre Tabacos (nos termos do decreto-lei n.º 39.963 de 13 de dezembro de 1954)
e perde o Imposto Sobre os Lucros Extraordinários da Guerra neste Distrito (art.º
2.º do Decreto-Lei n.º 34.051 de 21 de Outubro de 1944). O Capítulo 2.º tem
imensos novos artigos: Secretaria da Junta, Internamento nas Casas de Saúde e
no Asilo dos Velhinhos, Estação Agrária, Inspecção de Saúde, Direcção das Obras
Públicas, Direcção dos Serviços Industriais, Eléctricos e de Viação, Laboratório
Distrital, Governo do Distrito Autónomo, Comando Distrital da Polícia de Segurança
Pública, Direcção de Finanças, Arquivo Distrital, Outros Rendimentos Permanentes
Destinados por Lei a Constituir Receita Distrital, Diversos Serviços, Ocupação
do “sub-solo”; e outros do ano anterior como Educação Nacional, Intendência
Pecuária, Bens Próprios e Tribunal do Trabalho. A Consignação de Receitas recebe o
artigo Outras Receitas Consignadas e perde os artigos Imposto de Selo, Assistência
Nacional aos Funcionários Civis Tuberculosos e Emolumentos de Secretaria de
Estado. A Receita Extraordinária perde Rendimentos Incertos e Eventuais.
A despesa do ano de 1957 apresenta as alterações nos capítulos que passamos
a descrever: o Capítulo 2.º passa a ter a redação seguinte Pensões de Aposentação
a Pagar a Funcionários Fora do Serviço e Outras Pensões, o 3.º Secretaria passa
a 4.º (Tesouraria, que desaparece), o 3.º é agora Presidência da Junta Geral, o
6.º passa a designar-se Intendência de Pecuária e a Regência Florestal sai da
Conta, o 7.º é a Inspecção de Saúde, 8.º Direcção das Obras Públicas, 9.º Direcção
dos Serviços Industriais, Eléctricos e de Viação, 10.º Laboratório Distrital, 11.º
Governo do Distrito Autónomo, 12.º Liceu de Jaime Moniz, 13.º Escola Industrial
e Comercial de António Augusto de Aguiar, 14.º Instrução Primária, (neste não
está contemplada a Delegação da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado) 15.º
Tribunal do Trabalho, para 16.º entra o Delegado do Instituto Nacional do Trabalho
e Previdência, 17.º Arquivo Distrital, 18.º Subsídios 19.º Pagamento a Diversas
Entidades por Consignações de Receitas, 20.º é a Despesa Extraordinária e são
eliminados Comparticipação e Aceitação duma Doação. Na Despesa Extraordinária,
salientam-se os artigos: Construção e Obras Novas, Aquisições de Utilização
Permanente, Conservação e Aproveitamento de Material e Outros Serviços e
Encargos. Capítulos de Receita estão resumidos e somados no verso da folha 14 e
frente da folha 15 e os de Despesa, no verso da folha 35 e frente da folha 36 deste
livro.
O documento, com a identificação JGDFUN-SEC, Caixa 3344, Capilha 3 do
Arquivo Regional da Madeira, tem por título Junta Geral do Distrito Autónomo do
Funchal, Ano de 1963, Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano supra, é um
livro com 52 folhas, manualmente numeradas, exceto a primeira que tem impressa
Folha N.º 1. Apresenta uma dimensão aproximada à do formato A4 (para mais).
De capa mole e papel com quadros previamente impressos para o fim específico a
que se destinam (referências: Mod. 21-53866, para a capa e contracapa; Mod. 21-

296
Junta Geral

53869 para a primeira e última folha do livro; Mod. 21 Tip. Comercial 1326, para as
folhas de título Em documentos de Cobrança; e Mod. 21-Tip. Comercial 1326, para
as folhas de título Em documentos de Despesa), tem, na frente da primeira folha, os
seguintes subtítulos, após a designação da Junta e do ano a que respeita a Conta,
Conta de responsabilidade do Tesoureiro, ao que se segue a sua identificação e
período de responsabilidade e Acordão, onde a entidade competente procede ao
registo do julgamento da Conta. No verso da folha 52 (a última), surgem os títulos
Em Dinheiro, onde se indica o saldo em numerário e Recopilação dos Saldos,
para registo dos parciais e total destes, seguidos da data e dos campos para as
assinaturas do Chefe da Secretaria e do Tesoureiro. A primeira parte do documento
está dedicada ao registo da Receita. Sob o título Em Documentos de Cobrança, que
se estende do verso da folha anterior à frente da folha seguinte, aparecem como
colunas na grelha de inscrição os subtítulos: (1) Designação dos rendimentos (que
deveriam ser inscritos por ordem orçamental), (2) Número das Verbas orçamentais
(subdividido em Alínea e Artigo), (3) Divida em 1 de Janeiro de 19__, (4) Receita
liquidada virtual e eventualmente em 19__, (5) Soma, (6) Receita cobrada virtual e
eventualmente em 19__, (7) Receita virtual anulada em 19__, (8) Soma, (9) Saldo
que transita para a gerência imediata, (10) Verba orçada, (Diferença entre 6 e 10)
(subdividido em: Para mais e Para menos). A segunda parte, destinada ao registo da
Despesa, tem como título Em documentos de Despesa, que se estende do verso da
folha anterior à frente da folha seguinte e está subintitulado de: (1) Designação e
descrição da despesa (pela ordem orçamental), (2) Número das Verbas orçamentais
(subdividido para inscrição da alínea e do artigo), (3) Pagamentos autorisados em
19__, (4) Pagamentos efectuados em 19__, (5) Saldo, (6) Verba votada, (Diferença
entre 4 e 6) (subdividido em: Para mais e Para menos).
São capítulos da receita desta Conta: 1.º Contribuições e Impostos, 2.º Taxas –
Rendimentos de Diversos Serviços e de Bens Próprios, 3.º Consignação de Receitas,
4.º Reembolsos, Reposições e Dívidas Activas e 5.º Receita Extraordinária. O
Capítulo 1.º mantém a configuração do ano anterior adicionando apenas o artigo
Adicionais Cobrados nos Termos do Decreto-lei n.º 44.187 de 14 de Fevereiro de
1962, Sobre a Contribuição Industrial e Depositados na Caixa Geral de Depósitos,
Crédito e Previdência pelo Director de Finanças de Lisboa. O Capítulo 2.º adiciona
o artigo Da Comissão Distrital de Assistência, Comparticipação para o Asilo dos
Velhinhos “Dr. João Abel de Freitas”. A Consignação de Receitas recebe um novo
artigo - Receita Emolumentar dos Funcionários. Da Receita Extraordinária sai o
artigo Empréstimos e entra Outras Receitas Extraordinárias.
A despesa do ano de 1963 apresenta as alterações nos capítulos que passamos
a descrever: o capítulo 3.º troca de posição com o 4.º, Presidência, e, para 18.º,
entra Polícia Judiciária. Na Despesa Extraordinária, sai o artigo Conservação e
Aproveitamento de Material. Os capítulos de receita estão resumidos e somados
no verso da folha 14 e frente da folha 15 e os de despesa no verso da folha 45 e
frente da folha 46 deste livro. As folhas 15 verso e 16 frente e 46 verso a 52 frente
estão cortadas.
O documento, com a identificação JGDFUN-SEC, Caixa 3344, Capilha 4 do
Arquivo Regional da Madeira, tem por título Junta Geral do Distrito Autónomo
do Funchal, Ano de 1964, Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano

297
Junta Geral

supra, é um livro com 46 folhas, manualmente numeradas, excepto a primeira


que tem impressa Folha N.º 1. Apresenta uma dimensão aproximada à do formato
A4 (para mais). De capa mole e papel com quadros previamente impressos para
o fim específico a que se destinam (referências: Mod. 21-53866, para a capa e
contracapa; Mod. 21-53869 para a primeira e última folha do livro; Mod. 21 Tip.
Comercial 1326, para as folhas de título Em documentos de Cobrança; e Mod. 21-
Tip. Comercial 1326, para as folhas de título Em documentos de Despesa), tem
na frente da primeira folha os seguintes subtítulos, após a designação da Junta e
do ano a que respeita a Conta, Conta de responsabilidade do Tesoureiro, ao que
se segue a sua identificação e período de responsabilidade e Acordão, onde a
entidade competente procede ao registo do julgamento da Conta. No verso da folha
46 (a última), surgem os títulos Em Dinheiro, onde se indica o saldo em numerário
e Recopilação dos Saldos, para registo dos parciais e total destes, seguidos da
data e dos campos para as assinaturas do Chefe da Secretaria e do Tesoureiro. A
primeira parte do documento está dedicada ao registo da Receita. Sob o título Em
Documentos de Cobrança, que se estende do verso da folha anterior à frente da
folha seguinte, aparecem como colunas na grelha de inscrição os subtítulos: (1)
Designação dos rendimentos (que deveriam ser inscritos por ordem orçamental),
(2) Número das Verbas orçamentais (subdividido em Alínea e Artigo), (3) Divida
em 1 de Janeiro de 19__, (4) Receita liquidada virtual e eventualmente em 19__,
(5) Soma, (6) Receita cobrada virtual e eventualmente em 19__, (7) Receita virtual
anulada em 19__, (8) Soma, (9) Saldo que transita para a gerência imediata, (10)
Verba orçada, (Diferença entre 6 e 10) (subdividido em: Para mais e Para menos). A
segunda parte destinada ao registo da despesa tem como título Em documentos de
Despesa, que se estende do verso da folha anterior à frente da folha seguinte e está
subintitulado de: (1) Designação e descrição da despesa (pela ordem orçamental),
(2) Número das Verbas orçamentais (subdividido para inscrição da alínea e do
artigo), (3) Pagamentos autorisados em 19__, (4) Pagamentos efectuados em
19__, (5) Saldo, (6) Verba votada, (Diferença entre 4 e 6) (subdividido em: Para
mais e Para menos).
São capítulos da receita desta Conta os mesmos cinco que nos anteriores
documentos desta Caixa 3344. O capítulo 1.º acrescenta à configuração do ano
anterior o artigo Imposto sobre a Indústria Agrícola. O capítulo 2.º mantém os
mesmos artigos anteriormente apresentados. Da Receita Extraordinária, sai o
artigo Outras Receitas Extraordinárias e entra Cauções Bancárias.A Despesa do
ano de 1964 não apresenta alterações nos capítulos, face a 1963. A Despesa
Extraordinária também mantém a mesma apresentação. Os capítulos de Receita
estão resumidos e somados no verso da folha 14 e frente da folha 15 e os de
Despesa no verso da folha 44 e frente da folha 45 deste livro. O verso das folhas 15
e 45 e a frente das 16 e 46 estão cortadas.
O documento, com a identificação JGDFUN-SEC, Caixa 3344, Capilha 5 do
Arquivo Regional da Madeira, tem por título Junta Geral do Distrito Autónomo do
Funchal, Ano de 1965, Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano supra, é
um livro com 46 folhas, numeradas à máquina de escrever, exceto a primeira que
tem impressa Folha N.º 1. Apresenta uma dimensão aproximada à do formato A4
(para mais) e está identificado como cópia, manualmente, a tinta. De conteúdo

298
Junta Geral

igual ao documento da Capilha 6, mas de leitura mais fácil por ser datilografado. De
capa mole e papel com quadros previamente impressos para o fim específico a que
se destinam (referências: Mod. 21-53866, para a capa e contracapa; Mod. 21-3806
para a primeira e última folha do livro; 3729, para as folhas de título Em documentos
de Cobrança; e 3728, para as folhas de título Em documentos de Despesa), tem,
na frente da primeira folha, os seguintes subtítulos, após a designação da Junta
e do ano a que respeita a Conta, Conta de responsabilidade do Tesoureiro, ao
que se segue a sua identificação e período de responsabilidade e Acórdão, onde
a entidade competente procede ao registo do julgamento da Conta. No verso
da folha 46 (a última), surgem os títulos Em Dinheiro, onde se indica o saldo em
numerário e Recopilação dos Saldos, para registo dos parciais e seus totais, seguidos
da data e dos campos para as assinaturas do Chefe da Secretaria e do Tesoureiro.
A primeira parte do documento está dedicada ao registo da Receita. Sob o título
Em Documentos de Cobrança, que se estende do verso da folha anterior à frente
da folha seguinte, aparecem como colunas na grelha de inscrição os subtítulos: (1)
Designação dos rendimentos (que deveriam ser inscritos por ordem orçamental),
(2) Número das Verbas orçamentais (subdividido em Capítulo, Artigo e Alínea), (3)
Divida em 1 de Janeiro de 196_, (4) Receita liquidada virtual e eventualmente em
19__, (5) Soma, (6) Receita cobrada virtual e eventualmente em 19__, (7) Receita
virtual anulada em 19__, (8) Soma, (9) Saldo que transita para a gerência imediata,
(10) Verba orçada, Diferença (6 e 10) (subdividido em: Para mais e Para menos) e
Observações. A segunda parte destinada ao registo da despesa tem como título
Em documentos de Despesa, que se estende do verso da folha anterior à frente
da folha seguinte e está subintitulado de: (1) Designação e descrição da despesa
(pela ordem orçamental), (2) Número das verbas orçamentais (subdividido para
inscrição do Capítulo, Artigo e Alínea), (3) Pagamentos autorizados em 19__, (4)
Pagamentos efectuados em 19__, (5) Saldo, (6) Verba votada, Diferença (4 e 6)
(subdividido em: Para mais e Para menos) e Observações.
São capítulos da Receita desta Conta os mesmos cinco dos anteriores
documentos desta Caixa 3344. Os capítulos mantêm-se inalteráveis, face ao ano
anterior. Da Receita Extraordinária, sai o artigo Cauções Bancárias. A Despesa do
ano de 1965 não apresenta alterações nos capítulos. A Despesa Extraordinária
continua com os mesmos artigos. Os capítulos de Receita estão resumidos e
somados no verso da folha 13 e frente da folha 14 e os de Despesa no verso da
folha 45 e frente da folha 46 deste livro. O verso da folha 14 a folha 15 e a frente
da 16 estão cortados.
O documento, com a identificação JGDFUN-SEC, Caixa 3344, Capilha 8 do
Arquivo Regional da Madeira, tem por título Junta Geral do Distrito Autónomo do
Funchal, Ano de 1966, Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano supra,
é um livro com 52 folhas, numeradas manualmente a lápis até à 50, excepto a
primeira que tem impressa Folha N.º 1. Apresenta uma dimensão aproximada à do
formato A4 (para mais) e está designado de Duplicado, a lápis. De conteúdo igual
ao documento da Capilha 7, mas de leitura mais fácil por ser datilografado. De
capa mole e papel com quadros previamente impressos para o fim específico a que
se destinam (referências: Mod. 21-53866, para a capa e contracapa; Mod. 21-3805
para a primeira e última folha do livro; 3602, para as folhas de título Em documentos

299
Junta Geral

de Cobrança; e 3063, para as folhas de título Em documentos de Despesa), tem na


frente da primeira folha os seguintes subtítulos, após a designação da Junta e do
ano a que respeita a Conta, Conta de responsabilidade do Tesoureiro, ao que se
segue a sua identificação e período de responsabilidade e Acórdão, onde a entidade
competente procede ao registo do julgamento da Conta. No verso da folha 52
(a última), surgem os títulos Em Dinheiro, onde se indica o saldo em numerário
e Recopilação dos Saldos, para registo dos parciais e total destes, seguidos da
data e dos campos para as assinaturas do Chefe da Secretaria e do Tesoureiro. A
primeira parte do documento está dedicada ao registo da Receita. Sob o título Em
Documentos de Cobrança, que se estende do verso da folha anterior à frente da
folha seguinte, aparecem como colunas na grelha de inscrição os subtítulos: (1)
Designação dos rendimentos (que deveriam ser inscritos por ordem orçamental),
(2) Número das Verbas orçamentais (subdividido em Capítulo, Artigo e Alínea), (3)
Divida em 1 de Janeiro de 196_, (4) Receita liquidada virtual e eventualmente em
19__, (5) Soma, (6) Receita cobrada virtual e eventualmente em 19__, (7) Receita
virtual anulada em 19__, (8) Soma, (9) Saldo que transita para a gerência imediata,
(10) Verba orçada, Diferença (6 e 10) (subdividido em: Para mais e Para menos) e
Observações. A segunda parte destinada ao registo da Despesa tem como título
Em documentos de Despesa, que se estende do verso da folha anterior à frente
da folha seguinte e está subintitulado de: (1) Designação e Descrição da Despesa
(pela ordem orçamental), (2) Número das verbas orçamentais (subdividido para
inscrição do Capítulo, Artigo e Alínea), (3) Pagamentos autorizados em 19__, (4)
Pagamentos efectuados em 19__, (5) Saldo, (6) Verba votada, Diferença (4 e 6)
(subdividido em: Para mais e Para menos) e Observações.
São capítulos da Receita desta Conta os mesmos cinco dos anteriores
documentos desta Caixa 3344. O capítulo 1.º retira o Imposto Sobre a Indústria
Agrícola face ao ano anterior. Quanto ao 2.º, o artigo 2 passa a designar-se
Internamentos nas Casas de Saúde e é integrado um novo artigo, Subinspecção
da Polícia Judiciária do Funchal. A Receita Extraordinária fica com a mesma
configuração. A Despesa do ano de 1966 não apresenta alterações nos capítulos. A
Despesa Extraordinária continua com os mesmos artigos. Os capítulos de Receita
estão resumidos e somados no verso da folha 15 e frente da folha 16 e, os de
Despesa, no verso da folha 45 e frente da folha 46 deste livro. O verso das folhas
16 e 51 a folha 17 e a frente das 18 e 52 estão cortados.
O documento, com a identificação JGDFUN-SEC, Caixa 3344, Capilha 10 do
Arquivo Regional da Madeira, tem por título Junta Geral do Distrito Autónomo do
Funchal, Ano de 1967, Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano supra,
é um livro com 52 folhas, numeradas manualmente a tinta, excepto a primeira
que tem impressa Folha N.º 1 e rubricadas no canto superior direito. Apresenta
uma dimensão aproximada à do formato A4 (para mais). De conteúdo igual ao
documento da Capilha 9, mas de leitura mais fácil por ser datilografado. De capa
mole e papel com quadros previamente impressos para o fim específico a que se
destinam (referências: Mod. 21-53866, para a capa e contracapa; Mod. 21-3805
para a primeira e última folha do livro; 3602, para as folhas de título Em documentos
de Cobrança; e 3063, para as folhas de título Em documentos de Despesa), tem na
frente da primeira folha os seguintes subtítulos, após a designação da Junta e do

300
Junta Geral

ano a que respeita a Conta, Conta de responsabilidade do Tesoureiro, ao que se


segue a sua identificação e período de responsabilidade e Acórdão, onde a entidade
competente procede ao registo do julgamento da Conta. No verso da folha 52
(a última), surgem os títulos Em Dinheiro, onde se indica o saldo em numerário
e Recopilação dos Saldos, para registo dos parciais e total destes, seguidos da
data e dos campos para as assinaturas do Chefe da Secretaria e do Tesoureiro. A
primeira parte do documento está dedicada ao registo da Receita. Sob o título Em
Documentos de Cobrança, que se estende do verso da folha anterior à frente da
folha seguinte, aparecem como colunas na grelha de inscrição os subtítulos: (1)
Designação dos rendimentos (que deveriam ser inscritos por ordem orçamental),
(2) Número das Verbas orçamentais (subdividido em Capítulo, Artigo e Alínea), (3)
Divida em 1 de Janeiro de 196_, (4) Receita liquidada virtual e eventualmente em
19__, (5) Soma, (6) Receita cobrada virtual e eventualmente em 19__, (7) Receita
virtual anulada em 19__, (8) Soma, (9) Saldo que transita para a gerência imediata,
(10) Verba orçada, Diferença (6 e 10) (subdividido em: Para mais e Para menos) e
Observações. A segunda parte destinada ao registo da Despesa tem como título
Em documentos de Despesa, que se estende do verso da folha anterior à frente
da folha seguinte e está subintitulado de: (1) Designação e Descrição da Despesa
(pela ordem orçamental), (2) Número das verbas orçamentais (subdividido para
inscrição do Capítulo, Artigo e Alínea), (3) Pagamentos autorizados em 19__, (4)
Pagamentos efectuados em 19__, (5) Saldo, (6) Verba votada, Diferença (4 e 6)
(subdividido em: Para mais e Para menos) e Observações.
São Capítulos da Receita desta Conta os mesmos cinco que nos anteriores
documentos desta Caixa 3344. O capítulo 1.º não apresenta o artigo Adicionais
Cobrados, nos termos do decreto-lei n.º 44.187 de 14 de fevereiro de 1962. A
Receita Extraordinária não apresenta o artigo Outras Receitas Extraordinárias. A
Despesa do ano de 1967 não apresenta alterações nos Capítulos. Para a Despesa
Extraordinária reentra o artigo Outras Despesas Extraordinárias. Os Capítulos de
Receita estão resumidos e somados no verso da folha 15 e frente da folha 16 e os
de Despesa no verso da folha 48 e frente da folha 49 deste livro. O verso das folhas
16 e 49 as folhas 17, 50, 51 e a frente das 18 e 52 estão cortados.
O documento, com a identificação JGDFUN-SEC, Caixa 3344, “Capilha” 11 do
Arquivo Regional da Madeira, tem por título Junta Geral do Distrito Autónomo do
Funchal, Ano de 1968, Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano supra,
é um livro com 50 folhas, numeradas manualmente a tinta, excepto a primeira
que tem impressa Folha N.º 1 e rubricadas no canto superior direito. Apresenta
uma dimensão aproximada à do formato A4 (para mais) e é de leitura fácil por
ser datilografado. De capa mole e papel com quadros previamente impressos
para o fim específico a que se destinam (referências: Mod. 21-53866, para a
capa e contracapa; Mod. 21-3806 para a primeira e última folha do livro; 3729,
para as folhas de título Em documentos de Cobrança; e 3728, para as folhas de
título Em documentos de Despesa), tem, na frente da primeira folha, os seguintes
subtítulos, após a designação da Junta e do ano a que respeita a Conta, Conta de
responsabilidade do Tesoureiro, ao que se segue a sua identificação e período de
responsabilidade e Acórdão, onde a entidade competente procede ao registo do
julgamento da Conta. No verso da folha 50 (a última) surgem os títulos Em Dinheiro,

301
Junta Geral

onde se indica o saldo em numerário e Recopilação dos Saldos, para registo


dos parciais e total destes, seguidos da data e dos campos para as assinaturas
do Chefe da Secretaria e do Tesoureiro. A primeira parte do documento está
dedicada ao registo da Receita. Sob o título Em Documentos de Cobrança, que
se estende do verso da folha anterior à frente da folha seguinte, aparecem como
colunas na grelha de inscrição os subtítulos: (1) Designação dos rendimentos (que
deveriam ser inscritos por ordem orçamental), (2) Número das Verbas orçamentais
(subdividido em Capítulo, Artigo e Alínea), (3) Divida em 1 de Janeiro de 196_, (4)
Receita liquidada virtual e eventualmente em 19__, (5) Soma, (6) Receita cobrada
virtual e eventualmente em 19__, (7) Receita virtual anulada em 19__, (8) Soma,
(9) Saldo que transita para a gerência imediata, (10) Verba orçada, Diferença (6
e 10) (subdividido em: Para mais e Para menos) e Observações. A segunda parte
destinada ao registo da Despesa tem como título Em documentos de Despesa, que
se estende do verso da folha anterior à frente da folha seguinte e está subintitulado
de: (1) Designação e Descrição da Despesa (pela ordem orçamental), (2) Número
das verbas orçamentais (subdividido para inscrição do capítulo, artigo e alínea), (3)
Pagamentos autorizados em 19__, (4) Pagamentos efectuados em 19__, (5) Saldo,
(6) Verba votada, Diferença (4 e 6) (subdividido em: Para mais e Para menos) e
Observações.
São Capítulos da Receita desta Conta os mesmos cinco dos anteriores
documentos desta Caixa 3344. O capítulo 1.º introduz o novo artigo Imposto de
Circulação, nos termos do decreto-lei n.º 48.118 de 18 de dezembro de 1967.
O dapítulo 2.º tem mais outro artigo, Câmaras Municipais. Despesa do ano de
1968 não apresenta alterações nos dapítulos. Na Despesa Extraordinária, sai o
artigo Outras Despesas Extraordinárias. Os Capítulos de Receita estão resumidos
e somados no verso da folha 14 e frente da folha 15 e os de Despesa no verso da
folha 46 e frente da folha 47 deste livro. O verso das folhas 15 e 47 as folhas 48 e
49 e a frente das 16 e 50 estão cortados.
O documento, com a identificação JGDFUN-SEC, Caixa 3344, Capilha 12 do
Arquivo Regional da Madeira, tem por título Junta Geral do Distrito Autónomo
do Funchal, Ano de 1969, Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano
supra, é um livro com 52 folhas, numeradas manualmente a lápis, por página e
incorretamente (contou-se como página 2 a terceira e recomeçou-se a contagem
na Despesa), exceto a primeira que tem impressa Folha N.º 1. Apresenta uma
dimensão aproximada à do formato A4 (para mais) e é de leitura fácil por ser
parcialmente datilografado, já que os valores estão lançados manualmente,
a tinta. Está identificado manualmente, a lápis na capa, como Borrão. De capa
mole e papel com quadros previamente impressos para o fim específico a que se
destinam (referências: Mod. 21-53866, para a capa e contracapa; Mod. 21-3806
para a primeira e última folha do livro; 3729, para as folhas de título Em documentos
de Cobrança; e 3728, para as folhas de título Em documentos de Despesa), tem,
na frente da primeira folha, os seguintes subtítulos, após a designação da Junta e
do ano a que respeita a Conta, Conta de responsabilidade do Tesoureiro, ao que
se segue a sua identificação e período de responsabilidade e Acórdão, onde a
entidade competente procede ao registo do julgamento da Conta. No verso da folha
52 (a última), surgem os títulos Em Dinheiro, onde se indica o saldo em numerário

302
Junta Geral

e Recopilação dos Saldos para registo dos parciais e total destes, seguidos da
data e dos campos para as assinaturas do Chefe da Secretaria e do Tesoureiro. A
primeira parte do documento está dedicada ao registo da Receita. Sob o título Em
Documentos de Cobrança, que se estende do verso da folha anterior à frente da
folha seguinte, aparecem como colunas na grelha de inscrição os subtítulos: (1)
Designação dos rendimentos (que deveriam ser inscritos por ordem orçamental),
(2) Número das Verbas orçamentais (subdividido em Capítulo, Artigo e Alínea), (3)
Divida em 1 de Janeiro de 196_, (4) Receita liquidada virtual e eventualmente em
19__, (5) Soma, (6) Receita cobrada virtual e eventualmente em 19__, (7) Receita
virtual anulada em 19__, (8) Soma, (9) Saldo que transita para a gerência imediata,
(10) Verba orçada, Diferença (6 e 10) (subdividido em: Para mais e Para menos) e
Observações. A segunda parte destinada ao registo da Despesa tem como título
Em documentos de Despesa, que se estende do verso da folha anterior à frente
da folha seguinte e está subintitulado de: (1) Designação e Descrição da Despesa
(pela ordem orçamental), (2) Número das verbas orçamentais (subdividido para
inscrição do Capítulo, Artigo e Alínea), (3) Pagamentos autorizados em 19__, (4)
Pagamentos efectuados em 19__, (5) Saldo, (6) Verba votada, Diferença (4 e 6)
(subdividido em: Para mais e Para menos) e Observações.
São Capítulos da Receita desta Conta os mesmos cinco dos anteriores
documentos desta Caixa 3344. Os capítulos 1.º e 2.º mantêm a configuração do
ano anterior. A Receita Extraordinária recebe o artigo Reposições.
A Despesa do ano de 1969 apresenta uma alteração na redação dos Capítulos
12.º e 13.º, passando a designar-se, respetivamente: Liceu Nacional do Funchal
e Escola do Magistério Primário e Escola Preparatória Gonçalves Zarco; Escola
Industrial e Comercial do Funchal. A Despesa Extraordinária mantém-se inalterável
nos seus artigos. Os Capítulos de Receita estão resumidos e somados no verso da
folha 14 e frente da folha 15 e os de Despesa no verso da folha 50 e frente da folha
51 deste livro. O verso das folhas 15 e 51 as folhas 16 e 17 e a frente das 18 e 52
estão em branco.
O documento, com a identificação JGDFUN-SEC, Caixa 3344, Capilha 13 do
Arquivo Regional da Madeira, tem por título Junta Geral do Distrito Autónomo
do Funchal, Ano de 1970, Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano
supra, é um livro com 54 folhas, numeradas manualmente a carimbo, exceto a
primeira que tem impressa Folha N.º 1, rubricadas e validadas a selo branco da
Junta Geral, no canto superior direito. Apresenta uma dimensão aproximada à do
formato A4 (para mais) e é de fácil leitura por ser datilografado. Está identificado
com um carimbo, na capa, como Duplicado. De capa mole e papel com quadros
previamente impressos para o fim específico a que se destinam (referências: Mod.
21-53866, para a capa e contracapa; Mod. 21-3805 para a primeira e última folha
do livro; 3602, para as folhas de título Em documentos de Cobrança; e Mod. 143-
31-1-71, para as folhas de título Em documentos de Despesa), tem na frente da
primeira folha os seguintes subtítulos, após a designação da Junta e do ano a
que respeita a Conta, Conta de responsabilidade do Tesoureiro, ao que se segue
a sua identificação e período de responsabilidade e Acórdão, onde a entidade
competente procede ao registo do julgamento da Conta. No verso da folha 54
(a última), surgem os títulos Em Dinheiro, onde se indica o saldo em numerário

303
Junta Geral

e Recopilação dos Saldos, para registo dos parciais e total destes, seguidos da
data e dos campos para as assinaturas do Chefe da Secretaria e do Tesoureiro. A
primeira parte do documento está dedicada ao registo da Receita. Sob o título, Em
Documentos de Cobrança, que se estende do verso da folha anterior à frente da
folha seguinte, aparecem como colunas na grelha de inscrição os subtítulos: (1)
Designação dos rendimentos (que deveriam ser inscritos por ordem orçamental),
(2) Número das Verbas orçamentais (subdividido em Capítulo, Artigo e Alínea), (3)
Divida em 1 de Janeiro de 196_, (4) Receita liquidada virtual e eventualmente em
19__, (5) Soma, (6) Receita cobrada virtual e eventualmente em 19__, (7) Receita
virtual anulada em 19__, (8) Soma, (9) Saldo que transita para a gerência imediata,
(10) Verba orçada, Diferença (6 e 10) (subdividido em: Para mais e Para menos) e
Observações. A segunda parte destinada ao registo da Despesa tem como título
Em documentos de Despesa, que se estende do verso da folha anterior à frente da
folha seguinte e está subintitulado como: (1) Designação e Descrição da Despesa
(pela ordem orçamental), (2) Número das verbas orçamentais (subdividido para
inscrição do Capítulo, Artigo e Alínea), (3) Pagamentos autorizados em 19__, (4)
Pagamentos efectuados em 19__, (5) Saldo, (6) Verba votada, Diferença (4 e 6)
(subdividido em: Para mais e Para menos) e Observações.
São Capítulos da Receita desta Conta os mesmos cinco dos anteriores
documentos desta Caixa 3344. O capítulo 1.º mantém a configuração do ano anterior.
O capítulo 2.º apresenta extraordinariamente o artigo Receita do Tribunal Colectivo
de Géneros Alimentícios (que por lapso foi dirigido a esta Junta). Posteriormente,
o referido Tribunal comunicou à Junta que a quantia enviada era destinada ao
Ajudante de Pecuária António de Paiva e Cunha. A Receita Extraordinária recebe
o artigo Empréstimos. A Despesa do ano de 1970 apresenta uma mesma redação
dos capítulos relativamente ao ano anterior. A Despesa Extraordinária mantém-se
inalterável nos seus artigos. Os Capítulos de Receita estão resumidos e somados
no verso da folha 14 e frente da folha 15 e os de Despesa, no verso da folha 53 e
frente da folha 54 deste livro. O verso da folha 15 as folhas 16 e 21 e a frente da
22 estão cortados.
O documento, com a identificação JGDFUN-SEC, Caixa 3344, Capilha 14 do
Arquivo Regional da Madeira, tem por título Junta Geral do Distrito Autónomo
do Funchal, Ano de 1971, Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano
supra, é um livro com 48 folhas, numeradas manualmente a carimbo, excepto a
primeira que tem impressa Folha N.º 1. Apresenta uma dimensão aproximada à do
formato A4 (para mais) e é de fácil leitura por ser datilografado. Está identificado
com um carimbo, na capa, como Duplicado. De capa mole e papel com quadros
previamente impressos para o fim específico a que se destinam (referências: Mod.
21-53866, para a capa e contracapa; Mod. 21-3805, para a primeira e última folha
do livro; Mod. 143-406-12-70, para as folhas de título Em documentos de Cobrança;
e Mod. 143-31-1-71, para as folhas de título Em documentos de Despesa), tem,
na frente da primeira folha, os seguintes subtítulos, após a designação da Junta
e do ano a que respeita a Conta, Conta de responsabilidade do Tesoureiro, ao
que se segue a sua identificação e período de responsabilidade e Acórdão, onde
a entidade competente procede ao registo do julgamento da Conta. No verso
da folha 48 (a última), surgem os títulos Em Dinheiro, onde se indica o saldo em

304
Junta Geral

numerário e Recopilação dos Saldos, para registo dos parciais e seu total, seguidos
da data e dos campos para as assinaturas do Chefe da Secretaria e do Tesoureiro.
A primeira parte do documento está dedicada ao registo da Receita. Sob o título
Em Documentos de Cobrança, que se estende do verso da folha anterior à frente
da folha seguinte, aparecem como colunas na grelha de inscrição os subtítulos: (1)
Designação dos rendimentos (que deveriam ser inscritos por ordem orçamental),
(2) Número das Verbas orçamentais (subdividido em Capítulo, Artigo e Alínea), (3)
Divida em 1 de Janeiro de 197_, (4) Receita liquidada virtual e eventualmente em
19__, (5) Soma, (6) Receita cobrada virtual e eventualmente em 19__, (7) Receita
virtual anulada em 19__, (8) Soma, (9) Saldo que transita para a gerência imediata,
(10) Verba orçada, Diferença (6 e 10) (subdividido em: Para mais e Para menos) e
Observações. A segunda parte destinada ao registo da Despesa tem como título
Em documentos de Despesa, que se estende do verso da folha anterior à frente
da folha seguinte e está subintitulado de: (1) Designação e Descrição da Despesa
(pela ordem orçamental), (2) Número das verbas orçamentais (subdividido para
inscrição do Capítulo, Artigo e Alínea), (3) Pagamentos autorizados em 19__, (4)
Pagamentos efectuados em 19__, (5) Saldo, (6) Verba votada, Diferença (4 e 6)
(subdividido em: Para mais e Para menos) e Observações.
São Capítulos da Receita desta Conta os mesmos cinco que nos anteriores
documentos desta Caixa 3344. O Capítulo 1.º introduz à configuração do ano
anterior o artigo Imposto Sobre a Produção e Venda de Álcool e Aguardente. O
Capítulo 2.º regressa à apresentação de 1969. A Receita Extraordinária mantém os
artigos do ano anterior.
A Despesa do ano de 1971 apresenta uma mesma redação dos capítulos
relativamente ao ano transato. A Despesa Extraordinária mantém-se inalterável
nos seus artigos. Os Capítulos de Receita estão resumidos e somados, no verso
da folha 14 e frente da folha 15 e, os de Despesa, no verso da folha 46 e frente
da folha 47 deste livro. O verso das folhas 15 e 47 e a frente das 16 e 48 estão
cortados.
A referência JGDFUN Secretaria, Caixa 3345, do Arquivo Regional da Madeira,
é uma caixa contendo 14 capilhas. Atendendo que a nossa atenção vai para a
Conta da Gerência da Junta Geral, só nos interessaram as capilhas 1 a 5. À Capilha
1 corresponde à Conta da Gerência da Junta Geral do ano de 1972, à 2.ª Capilha o
Duplicado da Conta de 1973, à 3.ª o Duplicado da Conta de 1974, à 4.ª o Triplicado
da Conta de 1975, à 5.ª capilha a Conta de 1976 (sem capa).
O documento, com a identificação JGDFUN-SEC, Caixa 3345, Capilha 1 do
Arquivo Regional da Madeira, tem por título Junta Geral do Distrito Autónomo do
Funchal, Ano de 1972, Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano supra, é
um livro com 54 folhas, numeradas manualmente a carimbo, excepto a primeira
que tem impressa Folha N.º 1, e rubricadas no canto superior direito. Apresenta
uma dimensão aproximada à do formato A4 (para mais) e é de fácil leitura por
ser datilografado. De capa mole e papel com quadros previamente impressos
para o fim específico a que se destinam (referências: Mod. 21-53866, para a capa
e contracapa; Mod. 21-3806 para a primeira e última folha do livro; Mod. 143-
406-12-70, para as folhas de título Em documentos de Cobrança; e Mod. 143-
406-12-70, para as folhas de título Em documentos de Despesa), tem na frente
305
Junta Geral

da primeira folha, os seguintes subtítulos, após a designação da Junta e do ano a


que respeita a Conta, Conta de responsabilidade do Tesoureiro, ao que se segue
a sua identificação e período de responsabilidade e Acórdão, onde a entidade
competente procede ao registo do julgamento da Conta. No verso da folha 54
(a última), surgem os títulos Em Dinheiro, onde se indica o saldo em numerário
e Recopilação dos Saldos, para registo dos parciais e total destes, seguidos da
data e dos campos para as assinaturas do Chefe da Secretaria e do Tesoureiro. A
primeira parte do documento está dedicada ao registo da Receita. Sob o título Em
Documentos de Cobrança, que se estende do verso da folha anterior à frente da
folha seguinte, aparecem como colunas na grelha de inscrição os subtítulos: (1)
Designação dos rendimentos (que deveriam ser inscritos por ordem orçamental),
(2) Número das Verbas orçamentais (subdividido em Capítulo, Artigo e Alínea), (3)
Divida em 1 de Janeiro de 197_, (4) Receita liquidada virtual e eventualmente em
19__, (5) Soma, (6) Receita cobrada virtual e eventualmente em 19__, (7) Receita
virtual anulada em 19__, (8) Soma, (9) Saldo que transita para a gerência imediata,
(10) Verba orçada, Diferença (6 e 10) (subdividido em: Para mais e Para menos) e
Observações. A segunda parte destinada ao registo da Despesa tem como título
Em documentos de Despesa, que se estende do verso da folha anterior à frente
da folha seguinte e está subintitulado de: (1) Designação e Descrição da Despesa
(pela ordem orçamental), (2) Número das verbas orçamentais (subdividido para
inscrição do Capítulo, Artigo e Alínea), (3) Pagamentos autorizados em 19__, (4)
Pagamentos efetuados em 19__, (5) Saldo, (6) Verba votada, Diferença (4 e 6)
(subdividido em: Para mais e Para menos) e Observações.
São Capítulos da Receita desta Conta os mesmos cinco dos anteriores
documentos da Caixa 3344. O capítulo 1.º retira à configuração do ano anterior o
artigo Imposto Sobre a Produção e Venda de Álcool e Aguardente. O capítulo 2.º
tem a apresentação de 1971. A Receita Extraordinária mantém os artigos do ano
anterior.
A Despesa do ano de 1972 apresenta uma diferente redação dos Capítulos,
relativamente ao ano transato, sendo alterados ou introduzidos os seguintes: 4.º
Planeamento Regional, 13.º Liceu Nacional do Funchal, 14.º Escola do Magistério
Primário, 15.º Escola Industrial e Comercial do Funchal, 16.º Escola Preparatória
Gonçalves Zarco, e 17.º Direção do Distrito Escolar, em vez de Instrução Primária,
saindo o Capítulo 19.º Subsídios. A Despesa Extraordinária mantém-se inalterável
nos seus artigos.
Os Capítulos de Receita estão resumidos e somados no verso da folha 15 e
frente da folha 16 e os de Despesa no verso da folha 50 e frente da folha 51 deste
livro. O verso das folhas 16 e 51, as folhas 17, 52 e 53 e a frente das 17 e 54 estão
cortados.
O documento, com a identificação JGDFUN-SEC, Caixa 3345, Capilha 2 do
Arquivo Regional da Madeira, tem por título Junta Geral do Distrito Autónomo
do Funchal, Ano de 1973, Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano
supra, é um livro com 56 folhas, numeradas manualmente a carimbo, excepto a
primeira que tem impressa “Folha N.º 1”, e rubricadas no canto superior direito.
Apresenta uma dimensão aproximada à do formato A4 (para mais) e é de fácil
leitura por ser datilografado. Tem apenso na capa o carimbo Duplicado. De capa
306
Junta Geral

mole e papel com quadros previamente impressos para o fim específico a que
se destinam (referências: Mod. 21-53866, para a capa e contracapa; Mod. 21-
3805 para a primeira e última folha do livro; Mod. 143-406-12-70, para as folhas
de título Em documentos de Cobrança; e Mod. 143-31-1-70, para as folhas de
título Em documentos de Despesa), tem, na frente da primeira folha, os seguintes
subtítulos, após a designação da Junta e do ano a que respeita a Conta, Conta
de responsabilidade do Tesoureiro, ao que se segue a sua identificação e período
de responsabilidade e Acórdão, onde a entidade competente procede ao registo
do julgamento da Conta. No verso da folha 56 (a última), surgem os títulos
Em Dinheiro, onde se indica o saldo em numerário e Recopilação dos Saldos,
para registo dos parciais e total destes, seguidos da data e dos campos para as
assinaturas do Chefe da Secretaria e do Tesoureiro. A primeira parte do documento
está dedicada ao registo da Receita. Sob o título Em Documentos de Cobrança, que
se estende do verso da folha anterior à frente da folha seguinte, aparecem como
colunas na grelha de inscrição os subtítulos: (1) Designação dos rendimentos (que
deveriam ser inscritos por ordem orçamental), (2) Número das Verbas orçamentais
(subdividido em Capítulo, Artigo e Alínea), (3) Divida em 1 de Janeiro de 197_, (4)
Receita liquidada virtual e eventualmente em 19__, (5) Soma, (6) Receita cobrada
virtual e eventualmente em 19__, (7) Receita virtual anulada em 19__, (8) Soma,
(9) Saldo que transita para a gerência imediata, (10) Verba orçada, Diferença (6
e 10) (subdividido em: Para mais e Para menos) e Observações. A segunda parte
destinada ao registo da Despesa tem como título Em documentos de Despesa, que
se estende do verso da folha anterior à frente da folha seguinte e está subintitulado
de: (1) Designação e Descrição da Despesa (pela ordem orçamental), (2) Número
das verbas orçamentais (subdividido para inscrição do Capítulo, Artigo e Alínea),
(3) Pagamentos autorizados em 19__, (4) Pagamentos efectuados em 19__, (5)
Saldo, (6) Verba votada, Diferença (4 e 6) (subdividido em: Para mais e Para menos)
e Observações.
São Capítulos da Receita desta Conta os mesmos cinco que no anterior
documento da Caixa 3345. O capítulo 1.º integra os três novos artigos, Licenças de
Uso e Porte de Arma e Outros Rendimentos da Mesma Natureza, Estabelecimentos
Insalubres e Impostos Rodoviários e retira o Imposto Sobre a Produção e Venda
de Álcool e Aguardente. O capítulo 2.º tem a apresentação de 1972. A Receita
Extraordinária apresenta os seguintes artigos: Produtos da Alienação de Bens,
Subsídios e Comparticipações, Reembolso de Capitais e Empréstimos.
A Despesa do ano de 1973 apresenta uma pouco diferente redação,
relativamente ao ano anterior, sendo alterado o capítulo 16.º para Escolas
Preparatórias. A Despesa Extraordinária mantém-se inalterável nos seus artigos.
Os Capítulos de Receita estão resumidos e somados no verso da folha 16 e
frente da folha 17 e os de Despesa no verso da folha 54 e frente da folha 55 deste
livro. O verso das folhas 17 e 55, as folhas 18 a 21 e a frente das 22 e 56 estão
cortados.
O documento, com a identificação JGDFUN-SEC, Caixa 3345, Capilha 3 do
Arquivo Regional da Madeira, tem por título Junta Geral do Distrito Autónomo
do Funchal, Ano de 1974, Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano
supra, é um livro com 56 folhas, numeradas manualmente a carimbo, exceto a
307
Junta Geral

primeira que tem impressa Folha N.º 1, e rubricadas no canto superior direito.
Apresenta uma dimensão aproximada à do formato A4 (para mais) e é de fácil
leitura por ser datilografado. Tem apenso na capa o carimbo Duplicado. De capa
mole e papel com quadros previamente impressos para o fim específico a que
se destinam (referências: Mod. 21-53866, para a capa e contracapa; Mod. 21-
3805 para a primeira e última folha do livro; Mod. 143-406-12-70, para as folhas
de título Em documentos de Cobrança; e Mod. 635-84-1-75, para as folhas de
título Em documentos de Despesa), tem, na frente da primeira folha, os seguintes
subtítulos, após a designação da Junta e do ano a que respeita a Conta, Conta
de responsabilidade do Tesoureiro, ao que se segue a sua identificação e período
de responsabilidade e Acórdão, onde a entidade competente procede ao registo
do julgamento da Conta. No verso da folha 56 (a última), surgem os títulos
Em Dinheiro, onde se indica o saldo em numerário e Recopilação dos Saldos,
para registo dos parciais e total destes, seguidos da data e dos campos para as
assinaturas do Chefe da Secretaria e do Tesoureiro. A primeira parte do documento
está dedicada ao registo da Receita. Sob o título Em Documentos de Cobrança, que
se estende do verso da folha anterior à frente da folha seguinte, aparecem como
colunas na grelha de inscrição os subtítulos: (1) Designação dos rendimentos (que
deveriam ser inscritos por ordem orçamental), (2) Número das Verbas orçamentais
(subdividido em Capítulo, Artigo e Alínea), (3) Divida em 1 de Janeiro de 197_, (4)
Receita liquidada virtual e eventualmente em 19__, (5) Soma, (6) Receita cobrada
virtual e eventualmente em 19__, (7) Receita virtual anulada em 19__, (8) Soma,
(9) Saldo que transita para a gerência imediata, (10) Verba orçada, Diferença (6
e 10) (subdividido em: Para mais e Para menos) e Observações. A segunda parte
destinada ao registo da Despesa tem como título Em documentos de Despesa, que
se estende do verso da folha anterior à frente da folha seguinte e está subintitulado
de: (1) Designação e Descrição da Despesa (pela ordem orçamental), (2) Número
das verbas orçamentais (subdividido para inscrição do Capítulo, Artigo e Alínea),
(3) Pagamentos autorizados em 19__, (4) Pagamentos efectuados em 19__, (5)
Saldo, (6) Verba votada, Diferença (4 e 6) (subdividido em: Para mais e Para menos)
e Observações.
São Capítulos da Receita desta Conta os mesmos cinco que nos anteriores
documentos da Caixa 3345. O Capítulo 1.º retira à configuração do ano anterior
os artigos Imposto de Trânsito, Imposto de Circulação, Imposto de Camionagem,
Imposto de Compensação e Estabelecimentos Insalubres, modifica a designação
do artigo Imposto do Uso, Porte e Detenção de Armas e introduz o artigo,
Serviços Gerais e Licenciamentos Concedidos a Empresas. O Capítulo 2.º tem
nova apresentação, integrando o artigo Jardim Botânico e eliminando o artigo Da
Comissão Distrital de Assistência, Comparticipação Para o Lar dos Velhinhos “Dr.
João Abel de Freitas”. A Receita Extraordinária apresenta os mesmos artigos de
1973.
A Despesa do ano de 1974 apresenta uma diferente redação, relativamente
ao ano transato, sendo alterados os seguintes: Capítulo 6.º Coordenação
Económica e 8.º Jardim Botânico. A Despesa Extraordinária sofre alterações nos
seus artigos: Investimentos e Acções de Maior Relevo para o Desenvolvimento do
Distrito [(Iniciados em anos anteriores e alguns incluídos no IV Plano de Fomento)

308
Junta Geral

Educação e Cultura, Saúde, Assistência Social, Estradas e Transportes Rodoviários,


Agricultura e Pecuária, Hidráulica (Incluindo correção torrencial), Estudos Diversos
(Obras Públicas), Porto Santo e Outros Setores] e Aquisições Diversas.
Os Capítulos de Receita estão resumidos e somados no verso da folha 16 e
frente da folha 17 e os de Despesa no verso da folha 52 e frente da folha 53 deste
livro. O verso das folhas 17 e 53, as folhas 54 e 55 e a frente das 18 e 56 estão
cortados.
O documento, com a identificação JGDFUN-SEC, Caixa 3345, Capilha 4 do
Arquivo Regional da Madeira, tem por título Junta Geral do Distrito Autónomo do
Funchal, Ano de 1975, Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano supra,
é um livro com 58 folhas, numeradas manualmente a carimbo, exceto a primeira
que tem impressa Folha N.º 1. Apresenta uma dimensão aproximada à do formato
A4 (para mais) e é de fácil leitura por ser datilografado. Tem apenso na capa o
carimbo Triplicado. De capa mole e papel com quadros previamente impressos
para o fim específico a que se destinam (referências: Mod. 700-8(?)-4-76, para
a capa e contracapa; Mod. 21-3805 para a primeira e última folha do livro; Mod.
143-406-12-70, para as folhas de título Em documentos de Cobrança; e Mod.
143-31-1-71, para as folhas de título Em documentos de Despesa), tem na frente
da primeira folha os seguintes subtítulos, após a designação da Junta e do ano a
que respeita a Conta, Conta de responsabilidade do Tesoureiro, ao que se segue
a sua identificação e período de responsabilidade e Acórdão, onde a entidade
competente procede ao registo do julgamento da Conta. No verso da folha 58
(a última), surgem os títulos Em Dinheiro, onde se indica o saldo em numerário
e Recopilação dos Saldos, para registo dos parciais e total destes, seguidos da
data e dos campos para as assinaturas do Chefe da Secretaria e do Tesoureiro. A
primeira parte do documento está dedicada ao registo da Receita. Sob o título Em
Documentos de Cobrança, que se estende do verso da folha anterior à frente da
folha seguinte, aparecem como colunas na grelha de inscrição os subtítulos: (1)
Designação dos rendimentos (que deveriam ser inscritos por ordem orçamental),
(2) Número das Verbas orçamentais (subdividido em capítulo, artigo e alínea), (3)
Divida em 1 de Janeiro de 197_, (4) Receita liquidada virtual e eventualmente em
19__, (5) Soma, (6) Receita cobrada virtual e eventualmente em 19__, (7) Receita
virtual anulada em 19__, (8) Soma, (9) Saldo que transita para a gerência imediata,
(10) Verba orçada, Diferença (6 e 10) (subdividido em: Para mais e Para menos) e
Observações. A segunda parte destinada ao registo da Despesa tem como título
“Em documentos de Despesa” que se estende do verso da folha anterior à frente
da folha seguinte e está subintitulado de: (1) Designação e Descrição da Despesa
(pela ordem orçamental), (2) Número das verbas orçamentais (subdividido para
inscrição do Capítulo, Artigo e Alínea), (3) Pagamentos autorizados em 19__, (4)
Pagamentos efetuados em 19__, (5) Saldo, (6) Verba votada, Diferença (4 e 6)
(subdividido em: Para mais e Para menos) e Observações.
São Capítulos da Receita desta Conta os mesmos cinco que nos anteriores
documentos da Caixa 3345. O capítulo 1.º reintroduz à configuração do ano
anterior o artigo Imposto de Trânsito. O capítulo 2.º mantém a apresentação do ano
anterior. A Receita Extraordinária apresenta novos artigos, Junta de Planeamento
e Doações e retira Reembolsos de Capitais.

309
Junta Geral

A Despesa do ano de 1975 apresenta uma alteração à redação dos Capítulos


do ano anterior, surgindo o Capítulo 3.º-A, Junta de Planeamento da Madeira.
A Despesa Extraordinária mantém uma redação semelhante à do ano transato,
apenas introduzindo o artigo Despesas da Junta de Planeamento (decreto-lei
n.º 139/75 de 18 de março de 1975). Os Capítulos de Receita estão resumidos e
somados no verso da folha 16 e frente da folha 17 e os de Despesa no verso da
folha 52 e frente da folha 53 deste livro. O verso das folhas 17 e 53, as folhas 54 a
57 e a frente das 18 e 58 estão cortados.
O documento, com a identificação JGDFUN-SEC, Caixa 3345, Capilha 5 do
Arquivo Regional da Madeira, tem por título Junta Geral do Distrito Autónomo
do Funchal, Ano de 1976 (para o período de 2 de janeiro a 30 de setembro de
1976, data em que se faz a transferência de competências para o Governo
Regional), é um livro com 60 folhas, numeradas anualmente a carimbo, excepto
a primeira que tem impressa Folha N.º 1. Apresenta uma dimensão aproximada
à do formato A4 (para mais) e é de fácil leitura por ser datilografado. Sem capa
e de papel com quadros previamente impressos para o fim específico a que se
destinam (referências: Mod. 21-3806 para a primeira e última folha do livro; Mod.
143-406-12-70, para as folhas de título Em documentos de Cobrança; e Mod. 635-
84-1-75, para as folhas de título Em documentos de Despesa), tem, na frente da
primeira folha, os seguintes subtítulos, após a designação da Junta e do ano a
que respeita a Conta, Conta de responsabilidade do Tesoureiro, ao que se segue
a sua identificação e período de responsabilidade e Acórdão, onde a entidade
competente procede ao registo do julgamento da Conta. No verso da folha 58
(a última), surgem os títulos Em Dinheiro, onde se indica o saldo em numerário
e Recopilação dos Saldos, para registo dos parciais e total destes, seguidos da
data e dos campos para as assinaturas do Chefe da Secretaria e do Tesoureiro. A
primeira parte do documento está dedicada ao registo da Receita. Sob o título Em
Documentos de Cobrança, que se estende do verso da folha anterior à frente da
folha seguinte, aparecem como colunas na grelha de inscrição os subtítulos: (1)
Designação dos rendimentos (que deveriam ser inscritos por ordem orçamental),
(2) Número das Verbas orçamentais (subdividido em Capítulo, Artigo e Alínea), (3)
Divida em 1 de Janeiro de 197_, (4) Receita liquidada virtual e eventualmente em
19__, (5) Soma, (6) Receita cobrada virtual e eventualmente em 19__, (7) Receita
virtual anulada em 19__, (8) Soma, (9) Saldo que transita para a gerência imediata,
(10) Verba orçada, Diferença (6 e 10) (subdividido em: Para mais e Para menos) e
Observações. A segunda parte destinada ao registo da Despesa tem como título
Em documentos de Despesa que se estende do verso da folha anterior à frente
da folha seguinte e está subintitulado de: (1) Designação e Descrição da Despesa
(pela ordem orçamental), (2) Número das verbas orçamentais (subdividido para
inscrição do Capítulo, Artigo e Alínea), (3) Pagamentos autorizados em 19__, (4)
Pagamentos efectuados em 19__, (5) Saldo, (6) Verba votada, Diferença (4 e 6)
(subdividido em: Para mais e Para menos) e Observações.
São capítulos da Receita desta Conta os mesmos cinco que nos anteriores
documentos da Caixa 3345. O capítulo 1.º retira de novo o artigo Imposto de
Trânsito. O capítulo 2.º mantém a apresentação do ano anterior. A Receita
Extraordinária é apenas constituída por Produtos de Alienação de Bens e Subsídios

310
Junta Geral

e Comparticipações.
A Despesa do ano de 1976 apresenta alterações à redação dos artigos do ano
anterior, sai o Capítulo 3.º-A Junta de Planeamento da Madeira e o Capítulo 6.º
Coordenação Económica e o Capítulo 5.º passa a chamar-se Planeamento Regional
e Coordenação Económica. A Despesa Extraordinária adiciona à redação do ano
anterior os artigos Junta Regional da Madeira, Junta de Planeamento da Madeira,
Governo Regional da Madeira e Assembleia Regional da Madeira.
Esta Conta apresenta um período de execução entre 1 de janeiro e 30 de
setembro deste ano, altura em que as competências são transferidas para o
Governo Regional da Madeira.
Os capítulos de Receita estão resumidos e somados no verso da folha 18 e
frente da folha 19 e, os de Despesa, no verso da folha 56 e frente da folha 57 deste
livro. O verso das folhas 19 e 57, as folhas 20, 21 e 58, 59 e a frente das 22 e 60
estão cortados.
A Documentação consultada é constituída por coleções incompletas ou
mesmo muito incompletas, desde os Impostos Municipais passando pelos Impostos
Especiais e do Tabaco à Conta da Junta Geral. A documentação observada para a
Conta da Junta Geral apresenta quatro grandes períodos distintos na forma de
averbamento: o período do século XIX até à extinção da Junta Geral do Distrito
(1887-1892); o período do século XX entre o início da autonomia administrativa
da Junta Geral e o regime autonómico da Ditadura Militar (1903-1927); o período
que medeia o regime autonómico estabelecido pelos decreto n.º 15.035, de 16
de fevereiro de 1928, n.º 15.805, de 31 de julho de 1928, da Ditadura, até ao
Estatuto dos Distritos Autónomos das Ilhas Adjacentes (1928-1940) e o período
pós Estatuto, até ao Governo Regional (1941-1976).
Num primeiro momento, o que é visível é uma quase inexistência de receitas
próprias, que se resumia ao financiamento junto das Câmaras Municipais para
pagar despesas ligadas à segurança e à beneficência. Depois, um período de
expansão de competências, onde se denota uma grande dificuldade em obter
as receitas necessárias à execução daquelas, em que é notório e recorrente o
endividamento perante os funcionários, por impossibilidade de pagamento dos
salários e um terceiro momento onde se denota um maior rigor no registo dos
capítulos e artigos da Conta e se verifica um forte crescimento e consolidação
das receitas bem como uma satisfação das despesas. Finalmente, um período
de grande rigor e organização no assentamento da Receita e da Despesa, com
capítulos e artigos claramente definidos e documentação de produção normalizada
para o efeito do seu lançamento. Comum a todos estes momentos, o facto de
estarem sempre presentes, nos registos de averbamento da Conta da Receita e
da Despesa, no campo do débito, os montantes orçados, liquidados e cobrados
e, no campo do crédito, as somas votadas, autorizadas e pagas. Os valores dos
montantes liquidados e cobrados foram sempre coincidentes e, frequentemente,
o mesmo verificou-se entre o autorizado e pago. Os erros são esporádicos, muito
pouco significativos e quase inexistentes nos quantitativos do cobrado e do pago.
No quadro que apresentamos, mostramos os totais que nos foi possível apurar
a partir das Contas de Gerência ou, na sua ausência, pela consulta de fontes várias,

311
Junta Geral

primárias e secundárias, que nos permitiram, estas últimas valores aproximados.


Os anos sem valores para o autorizado/liquidado são, mormente, anos sem
Conta disponível e, por conseguinte, o orçado/votado foi obtido a partir de atas
da Junta Geral, da sua Comissão Executiva e dos seus Boletins editados, a partir
de 1953. Estes correspondem apenas aos totais apresentados nos Orçamentos
Ordinários. Os montantes respeitantes ao Cobrado/Pago são levantados dos
Balancetes efetuados nas reuniões semanais da Comissão Executiva da Junta Geral
e apenas servem de referência aproximada para os totais do ano económico em
correspondente. Alguns destes balancetes são datados de 29 e 30 de dezembro
do ano a que correspondem não incluindo todos os valores cobrados por outros
organismos.
Os Totais da Conta de Gerência por Ano Económico
Valor Valor
Ano Valor Liquidado/Autorizado
Orçado/Votado Cobrado/Pago
Económico
Receita Despesa Receita Despesa Receita Despesa
1887 11.920$068 11.920$068 6.072$415 6.072$415 6.072$415 6.072$415
1888 - - - - 7.904$675 7.904$675
1889 14.941$773 14.941$773 12.261$254 - 11.993$044 12.261$231
1890 14.923$876 14.923$876 13.884$771 - 13.884$771 13.886$971
1891 15.820$197 15.820$197 15.767$878 - 14.963$992 14.963$992
1892 14.145$481 14.154$481 13.292$806 - 13.292$806 13.292$806
1903 176.842$315 176.842$315 172.095$783 123.881$579 157.057$091 123.881$579
1904 183.646$920 183.646$920 168.169$275 134.684$915 159.235$483 134.503$022
1905 162.397$422 162.397$422 157.521$725 127.542$991 156.035$933 127.389$314
1906 170.939$352 170.939$352 166.327$925 151.090$106 164.850$183 150.466$298
1907 151.022$614 151.022$614 156.488$721 140.733$544 154.266$029 140.684$490
1908 152.723$846 152.723$846 152.484$639 147.625$125 150.461$944 147.599$425
1909 150.494$792 149.743$452 152.117$267 147.294$139 147.576$912 147.275$339
1910 146.020$654 145.520$654 151.406$660 134.308$590 151.374$818 134.308$590
1911 166.323$283 166.323$283 171.974$951 136.194$501 171.974$951 136.194$501
1912 191.431$133 191.431$133 201.283$032 152.846$516 201.283$032 152.846$516
1913 411.701$612 410.518$945 344.756$487 261.098$58 344.756$487 261.013$98
1914 546.061$80 546.061$80 548.430$39 362.378$82 543.066$17 362.378$82
1915 648.414$77 648.414$77 574.768$42 492.763$24 574.768$42 492.763$24
1916 438.158$56 435.698$56 409.739$59 405.598$95 409.739$59 405.346$95
1917 254.253$10 254.253$10 211.763$74 211.429$85 211.455$24 211.429$85
1918 246.931$45 245.631$45 191.759$85 191.437$15 191.741$85 191.327$11
1919 242.601$63 242.418$22 222.555$10 222.596$14 222.555$10 222.596$14
1920 559.685$11 559.685$11 561.033$34 487.753$73 561.033$34 487.753$73
1921 1.386.660$04 1.386.660$04 1.302.956$16 1.269.618$79 1.302.956$16 1.269.618$79
1922 1.472.114$85 1.472.114$85 1.019.634$69 1.016.300$88 1.019.634$69 1.016.300$88
1923 2.610.860$68 2.610.860$68 1.373.168$53 1.372.978$41 1.373.168$53 1.372.978$41
1924 3.736.981$76 3.736.981$76 1.150.898$41 1.150.855$46 1.150.898$41 1.150.855$46
1925 3.928.389$05 3.928.389$05 3.881.168$94 3.770.311$21 3.881.168$94 3.770.311$21
1926 3.997.934$85 3.997.934$85 3.842.419$51 3.621.027$09 3.842.419$51 3.621.027$09
1927 4.918.993$92 4.927.073$22 4.183.769$73 4.182.213$05 4.183.769$73 4.182.213$05
1ºSem1928 11.965.198$27 11.965.198$27 2.490.373$39 1.871.103$99 2.490.373$39 1.871.103$99
1928-1929 12.954.329$21 12.954.329$21 11.299.958$92 8.802.281$97 11.299.958$92 8.802.281$97
1929-1930 15.206.637$52 15.206.637$52 12.687.622$24 11.310.955$01 12.687.622$24 11.310.955$01

312
Junta Geral

1930-1931 15.518.759$03 15.518.759$03 13.836.654$80 12.375.632$65 13.836.654$80 12.375.632$65


1931-1932 17.412.902$48 17.413.920$48 13.046.551$12 13.010.429$55 13.045.351$12 13.010.429$55
1932-1933 27.421.213$91 27.421.213$91 15.191.135$02 13.830.615$74 15.191.135$02 13.830.615$74
1933-1934 24.722.373$22 24.722.373$22 15.759.470$85 15.273.664$67 15.759.470$85 15.271.902$47
1934-1935 24.825.407$98 24.825.407$98 20.927.906$03 20.645.135$57 20.927.906$03 20.645.135$57
1936 14.750.400$90 14.750.400$90 13.703.637$92 12.419.840$89 13.703.637$92 12.419.840$89
1937 14.849.034$38 14.849.034$38 13.341.001$90 13.042.024$94 13.341.001$90 13.042.024$94
1938 18.659.138$38 18.590.093$38 16.353.899$00 12.467.906$69 16.353.899$00 12.467.906$69
1939 22.923.804$47 22.923.804$47 20.421.252$35 14.658.134$00 20.421.252$35 14.658.134$00
1940 45.880.234$15 45.880.234$15 38.112.103$82 30.837.343$02 38.112.103$82 30.837.343$02
1941 28.411.988$95 28.411.988$95 - - 22.894.982$47 19.886.531$36
1942 25.904.994$51 25.904.994$51 - - 24.470.333$84 19.797.690$12
1943 22.703.031$42 22.703.031$42 - - 18.746.070$08 17.343.275$06
1944 23.632.837$54 23.632.837$54 - - 24.331.015$90 20.119.927$47
1945 28.603.400$15 32.535.272$54 26.781.423$06 25.117.652$25 26.781.423$06 25.105.912$98
1946 35.278.705$52 35.278.705$52 - - 55.033.224$17 47.548.580$82
1947 50.718.623$68 50.718.623$68 - - 45.814.739$86 35.861.859$09
1948 48.219.427$55 58.163.308$62 38.735.504$52 41.519.005$47 38.735.504$52 41.487.799$37
1949 41.870.716$73 41.870.716$73 - - 56.977.488$16 38.834.291$02
1950 42.456.190$50 42.456.190$50 - - 60.394.307$54 46.596.935$34
1951 48.158.572$70 48.158.572$70 - - 64.972.347$70 52.702.167$60
1952 60.971.588$50 73.241.518$60 55.246.212$10 55.450.462$70 55.246.212$10 55.429.504$20
1953 61.376.524$80 61.376.524$80 - - 72.224.785$50 60.777.499$90
1954 50.675.064$70 50.675.064$70 - - 64.136.252$10 52.799.320$50
1955 53.305.985$40 53.305.985$40 - - 61.228.580$50 55.202.448$20
1956 60.507.091$40 65.650.064$30 62.084.854$40 58.609.883$60 62.084.854$40 58.555.463$20
1957 63.448.787$70 72.163.971$80 67.254.440$30 65.677.531$10 67.254.440$30 65.658.160$60
1958 56.474.962$90 56.474.962$90 - - 72.780.355$90 66.448.319$40
1959 59.882.995$90 59.882.995$90 - - 89.945.381$60 86.647.599$20
1960 86.056.792$20 86.056.792$20 - - 88.448.593$80 75.609.445$40
1961 86.948.891$10 86.948.891$10 - - 116.103.351$30 108.925.204$80
1962 70.788.288$60 70.788.288$60 - - 88.699.287$40 78.537.488$00
1963 82.237.268$60 92.399.068$00 83.094.646$00 86.202.661$50 83.094.646$00 86.193.471$00
1964 83.816.554$70 90.879.529$10 94.493.073$00 87.831.735$80 94.493.073$00 87.709.903$70
1965 98.354.458$50 112.260.602$20 102.038.276$80 105.578.695$00 102.038.276$80 105.482.793$80
1966 106.540.841$30 113.798.468$00 114.712.053$10 113.739.809$40 114.712.053$10 113.730.579$70
1967 114.366.855$80 125.810.045$90 124.790.915$00 121.216.786$80 124.790.915$00 121.205.018$30
1968 121.477.595$70 136.509.592$50 134.927.063$20 133.322.709$00 134.927.063$20 133.305.076$60
1969 143.285.159$40 159.931.642$80 149.578.937$60 151.330.055$10 149.578.937$60 151.197.203$60
1970 172.442.856$10 187.466.573$50 181.035.523$00 174.719.665$50 181.035.523$00 174.692.852$80
1971 187.122.353$40 208.488.741$00 189.836.371$20 193.460.081$80 189.836.371$20 193.401.196$20
1972 261.441.522$70 279.243.085$30 231.840.117$50 242.803.829$00 231.840.117$50 242.722.168$30
1973 288.401.674$10 295.320.786$30 278.871.131$80 276.360.457$80 278.871.131$80 276.269.161$60
1974 364.582.064$20 374.105.321$20 346.000.677$60 342.837.466$40 346.000.677$60 342.779.363$70
1975 674.621.253$40 708.414.049$30 640.632.298$50 578.930.575$90 640.632.298$50 578.845.038$60
1976 873.506.265$50 948.036.322$30 598.397.331$00 502.261.816$30 598.397.331$00 501.850.758$60
FONTES: JGDFUN, 1751 a 1754, Arquivo Regional da Madeira; JGDFUN-SEC, Cx. 3344 e Cx.
3345 (Cap. 1 a 5), A. R. M.; Actas da Comissão Executiva da Junta Geral, JGDFUN-SEC 2251 a
2331, A. R. M.; Actas das Sessões da Junta Geral, A.R.M. JGFUN-SEC 2249, A. R. M.; Boletim
da Junta Geral, de 1953 a 1973, Biblioteca Municipal do Funchal; Conta da Junta Geral
do Distrito do Funchal, 1948, 1952, 1956, Arquivo Digital Secretaria-Geral Ministério das
Finanças e da Administração Pública.

313
Junta Geral

Conta da Junta Geral do Distrito do Funchal


100000
Milhares

90000

80000

70000
Réis / Escudos

60000

50000

40000

30000

20000

10000

0
1903
1906
1909
1912
1915
1918
1921
1924
1927
1929-1930
1932-1933
1936
1939
1942
1945
1948
1951
1954
1957
1960
Receita Despesa

Para os anos em que não há Conta de Gerência disponível, os valores totais


do Orçado/Votado são os apresentados pelo Orçamento Ordinário, não existem
valores totais para o Liquidado/Autorizado e são meramente indicativos (por
aproximação) os valores totais do Cobrado/Pago. Esta última afirmação baseia-se
na experiência obtida nos anos de 1948, 1952 e 1956, para os quais a Conta só
foi localizada a posteriori,86 e os seus totais diferiam daqueles apresentados pelos
Balancetes nos Boletins da Junta Geral do Distrito do Funchal.
Para uma mais fácil análise dos dados, houve necessidade de os agrupar em
categorias que fossem significativas, quer ao nível da sua frequência, dos valores e
do interesse para as relações financeiras Estado Central/Distrito, quer ao nível do
interesse local.
Assim, para a área da Receita, foi decidida uma divisão em: Empréstimos, para
se conhecer a necessidade, frequência e montantes de endividamento; Subsídios
do Estado, para se apurar da frequência e montantes da intervenção do Governo
Central nos rendimentos da Junta Geral; Impostos, para se perceber o seu peso
nas receitas deste organismo; Taxas, Emolumentos e Multas, para se aquilatar
dos montantes cobrados, essencialmente, por determinações regionais; e Outra,
onde se incluiu toda a receita não enquadrada nas anteriores, como por exemplo:
rendas, rendimentos de vária ordem, reposições, donativos, legados, e saldos de
exercício anterior entre outras.

86 Arquivo Digital da Secretaria-Geral do Ministério das Finanças e da Administração Pública.

314
Junta Geral

No respeitante à Despesa, a divisão foi estabelecida pelas seguintes


categorias: Pessoal, para se avaliar os montantes envolvidos em salários, ajudas
de custo, abono de família, compensações, aposentações; Obras Públicas, para
se verificar o seu peso na governação da Junta Geral; Assistência Social, para se
perceber a sua evolução durante todo este período; Educação, para contabilizar
todos os investimentos feitos nesta área; Funcionamento da Junta Geral, para
percebermos o peso dos custos de expediente e de compras essenciais ao
funcionamento dos diversos organismos na dependência desta; e Outra, onde
se incluíram diversas rubricas, como por exemplo subsídios para fins que não se
enquadrem nas categorias anteriores, amortização de empréstimos, contribuições,
reembolsos e compensações ao Estado. Para a Despesa, é importante realçar
que, sendo muito mais extensa porque mais descritiva, a categorização fez-se
com algumas particularidades. No caso da Assistência Social, consideraram-se os
apoios de saúde e todas as despesas com casas de saúde e centros sanitários,
para a Educação consideraram-se todos os investimentos neste âmbito incluindo
construção, aquisição e transformação de equipamentos.
A Receita foi quase sempre superior à Despesa, com exceção dos anos de
1919, o que sucede pelo saldo negativo de 41$04, 1948, por saldo negativo de
2.752.294$85, e 1952, com um saldo negativo de 183.292$10, ressalvando-se a
possibilidade de outras situações de défice, no período compreendido entre 1941
e 1962, por falta de confiança nos dados obtidos, já que a experiência anterior
assim o determina. Foram diferentes os valores apresentados previamente,
obtidos nos Balancetes, no Boletim da Junta Geral, para os anos de 1948, 1952 e
1956, daqueles verificados posteriormente em Conta de Gerência depositada no
Arquivo Digital da Secretaria Geral do Ministério das Finanças.
O défice apurado por somatório dos artigos lançados para o ano de 1919
deve-se, muito provavelmente, a lapso de lançamento, já que a Conta é aprovada
com um saldo nulo. A Conta de 1948 é compensada com o saldo que transitava
do exercício anterior, no valor de 9.952.880$77, transitando, para o ano seguinte,
7.200.585$92 e a Conta de 1952 é compensada com o saldo de 12.270.180$10
que transitava da gerência anterior, passando à gerência subsequente o valor de
12.087.210$00.
Nos anos de 1913 e 1914, verifica-se um crescimento acentuado dos valores
da Conta de Gerência que se explica, para o primeiro, por um empréstimo de
100.000$000 e, para o segundo, um outro, no valor de 300.000$00, no cumprimento
da lei de 12 de julho de 1912, e foram destinados à construção da Estrada n.º 23
nos seus troços Caminho do Palheiro – Machico e Câmara de Lobos – Ribeira Brava.
A Primeira Grande Guerra torna-se visível nos registos da Conta de Gerência,
produzindo uma redução para metade nas receitas da Junta. Em 1921, os impostos
que constituem receita desta Junta Geral quase sextuplicam, face aos do ano de
1919, fazendo a receita mais do que duplicar. O ano de 1925 torna a apresentar um
crescimento exponencial e, mais uma vez, são os Impostos que mais contribuem
para tal, particularmente Contribuições Diretas e Seus Adicionais, mais do que
triplicando, face ao exercício imediatamente anterior.
Apresentado como ano, 1928, corresponde apenas ao primeiro semestre,

315
Junta Geral

daí a aparente perda no exercício da Junta Geral. O ano económico de 1928-1929


vê, mais uma vez, os rendimentos da Junta crescerem de forma significativa, são
novamente as Contribuições Diretas e Seus Adicionais a fazerem a diferença,
quase triplicando os valores face a 1927. Também muito significativa começa
por ser a Compensação do Estado, ao abrigo do § 3.º do artigo 2.º do decreto
n.º 15.805 de 31 de julho de 1928, mas que se vai esbatendo, ao longo dos três
anos económicos seguintes. De salientar o facto da crise mundial de 1929 não
ter tido impacto visível na Conta de Gerência da Junta Geral. O ano económico
de 1935-1936 tem a particularidade de corresponder a um período contabilístico
excecional, na Conta de Gerência da Junta Geral do Funchal, incorporando, não os
tradicionais doze meses, mas dezoito meses de exercício. Explica-se, deste modo,
o acentuado crescimento verificado.
Em 1940, um empréstimo de valor superior a 14.500.000$00 e um saldo do
exercício anterior de mais de 5.700.000$00 fazem este ano apresentar um exercício
extraordinário. Ficamos sem poder explicar os crescimentos singulares de 1946,
1953 e de 1959 por não termos podido, ainda, aceder a estas Contas de Gerência.

A Distribuição da Receita (%)


100%

80%

60%

40%

20%

0%
1903

1906

1909

1912

1915

1918

1921

1924

1927

1929-1930

1932-1933

1936

1939

1942

1945

1948

1951

1954

1957

1960

Empréstimos Subsídios do Estado Impostos Taxas Emolumentos Multas Outras Receitas

É incontornável a certeza de que a principal procedência de Receita da


Junta do Distrito do Funchal foram os Impostos Diretos, representando, neste
período, salvo raras exceções, valores sempre acima dos 60% do total, atingindo
frequentemente os 80% das Receitas. Quando tal não acontece, de acordo com os
dados disponíveis, são os Empréstimos que tornam aqueles rendimentos menos
significativos, destinando-se estes mormente a Obras Públicas. Ocasionalmente,
as Outras Receitas são relevantes, o que se deve especialmente aos saldos, em
Conta do exercício anterior.

316
Junta Geral

Os Empréstimos
18000
Milhares

16000

14000

12000
Réis / Escudos

10000

8000

6000

4000

2000

0
1903

1906

1909

1912

1915

1918

1921

1924

1927

1936

1939

1942

1945

1948

1951

1954

1957

1960
1929-1930

1932-1933

A lei de 12 de julho de 1912 traz à Junta Geral a possibilidade de se endividar,


pela primeira vez neste período, para a construção de estradas no Distrito.
Assim, 100.000$000 serão integrados na Conta de 1913, 300.000$00 na de
1914, 200.000$00 para a de 1915 e, finalmente, 100.000$00 na de 1916. No ano
económico de 1931-1932, há novo endividamento por Escritura de 7 de abril
de 1932, que vai incorporar, na Conta deste ano, 535.855$98, 3.226.800$62 na
de 1932-1933, para a de 1933-1934, 3.872.429$41, em 1934-1935, o valor de
4.975.355$19 e, finalmente, 2.389.558$80, em 1936. Em 1938, um empréstimo
é contraído por Escritura de 24 de setembro de 1938, fazendo entrar, na escrita
deste ano, 275.323$88, 471.065$15, na conta de 1939 e em 1940, o valor de
1.279.296$29, para a conclusão e construção de estradas na Ilha da Madeira.
O exercício de 1940 vai contemplar um novo empréstimo escriturado a 16
de abril de 1940, que faz entrar na Receita 14.577.389$45 e que se destinará
predominantemente à liquidação de Empréstimos. Neste mesmo ano, o Ministério
das Finanças empresta 800.000$00, para a construção de blocos, no Paúl do Mar e
Madalena do Mar, conforme o artigo 10.º do decreto n.º 30.605 de 22 de julho de
1940. Para o ano de 1945, há a entrada de 3.000.000$00, para efeitos do disposto
no decreto-Lei n.º 33.158 de 21 de outubro de 1943. Para satisfazer o mesmo
diploma legal, entra no exercício de 1948 um empréstimo de igual quantia. Neste
mesmo ano, em conformidade com a portaria de 11 de março de 1946, entra,
em conta, o valor de 945.984$29, referente à Escritura de 9 de julho de 1946.
Em 1952, o valor de 4.000.000$00 oriundo da Caixa Geral de Depósitos, Crédito
e Previdência contraído pelas Escrituras de 29 de abril de 1950 e de 9 de abril de
1951, faz parte da Receita desta Junta. Finalmente, neste período, para 1957, da
mesma instituição de crédito chegam a esta Junta Geral 2.000.000$00, ao abrigo

317
Junta Geral

do decreto-lei n.º 41.028 de 15 de março de 1957. Não há recurso a empréstimos


entre 1903 e 1912, 1917 e 1930-1931, em 1937 e 1956, sendo desconhecido para
os períodos em que a Conta não está disponível.

Os Subsídios do Estado
12000
Milhares

10000
Réis / Escudos

8000

6000

4000

2000

0
1903

1906

1909

1912

1915

1918

1921

1924

1927

1936

1939

1942

1945

1948

1951

1954

1957

1960
1929-1930

1932-1933

Entre 1906 e 1910, os subsídios dos Estado entram em quantitativos que


oscilam entre os 200$000 e os 900$000 e destinam-se ao pagamento da renda do
edifício do Governo Civil e da Repartição da Fazenda. A partir de 1921 e até 1926,
com exceção de 1924 que será compensado em 1925, o Estado dá cumprimento
à lei n.º 1.017 de 17 de agosto de 1920, com montantes que oscilam entre os
3.000$00 de 1926 e os 7.333$26 de 1925. O ano económico de 1930-1931 vê
chegar a esta Junta subsídios em quantidade e montantes nunca antes vistos para
esta rubrica: 2.000.000$00 pelo disposto no artigo 1.º do decreto 16.956, de 14
de junho de 1929, relativos aos anos de 1929-1930 e 1930-1931, 600.000$00 pelo
§ 3.º do artigo 2.º do decreto 15.805, fixado pelo artigo 7.º do decreto 18.562 de
28 de junho de 1930 e por este mesmo articulado legal, 660.000$00, respeitantes
ao ano de 1928-1929. Para 1931-1932 recebem-se 900.000$00 pelo decreto
n.º 15.805 pertencentes a 1929-1930 e 1930-1931, 1.000.000$00 no âmbito do
decreto n.º 16.956. Em 1932-1933, entram 1.000.000$00 para o cumprimento do
decreto n.º 16.956 e 1.000.000$00 da Junta Autónoma das Obras do Porto do
Funchal, para a construção da Estrada n.º 23 entre Machico e Porto da Cruz. No ano
subsequente, apenas se dá cumprimento ao decreto n.º 16.956, com o subsídio
de 1.000.000$00. Os montantes para os anos de 1934-1935, 1936 e 1937 são
simbólicos e irrelevantes. Entre 1938 e 1940, vão entrar anualmente, no exercício
318
Junta Geral

da Junta Geral do Funchal, 3.750.000$00 destinados à conclusão e construção de


estradas, na Ilha da Madeira. Para 1945, a conclusão e construção de estradas
recebe do Estado 2.250.000$00. A partir de 1948, estando presente e inalterado
nas Contas disponíveis de 1952, 1956 e 1957, surge o subsídio de 2.800.000$00
para pagamento do suplemento e subsídio eventual, conforme o decreto-lei n.º
36.455, de 4 de agosto de 1947. A construção do novo edifício da Junta Geral (2.ª
fase) leva o Estado a transferir quase 1.000.000$00 para este organismo, em 1952.
Ainda neste ano, entrega à Junta 6.375.000$00, para conclusão e construção de
estradas, referente a 1951. Chegam, em 1956, vários subsídios a este órgão do
Distrito, 3.750.000$00 para o Plano de Construção da Rede de Estradas Nacionais
do Distrito Autónomo do Funchal e vários outros, de valor superior a 400.000$00,
para o Asilo dos Velhinhos, o Plano de Fomento Hidroagrícola e Florestal do Porto
Santo e para a Construção do Campo de Jogos dos Barreiros e da Escola Industrial
e Comercial do Funchal. Para além do subsídio para o Pagamento do Suplemento
e Subsídio Eventual, o ano de 1957 vê recheada a sua receita com: 3.750.000$00
para a ampliação do Plano de Construção da Rede de Estradas Nacionais do
Distrito Autónomo do Funchal (decreto-lei n.º 40.168 de 20 de maio de 1955),
1.328.799$00, para a construção da Escola Industrial e Comercial do Funchal e
1.352.000$00, para os estragos da aluvião de 3 de novembro de 1956, em Machico
e Santa Cruz, conforme o decreto-lei n.º 41.028, de 15 de março de 1957. Não há
lugar a transferências do Estado entre 1903 e 1905, 1911 e 1920, em 1924 e entre
1927 e 1929-1930, sendo desconhecido para os períodos em que a Conta não
está disponível. O valor mais baixo é de 200$000 para 1909 e o mais elevado de
11.125.084$50 para 1952.
No ano de 1920, o imposto sobre Indústria de Fabricação de Açúcar, Álcool e
Aguardente de Cana Sacarina faz disparar este rendimento. O ano de 1921 vê este
imposto quadruplicar, face ao ano anterior. Com a chegada de 1922, este mesmo
imposto cai para um décimo do imediatamente anterior cobrado. Em 1925, os
impostos mais que triplicam de valor, não se conhecendo, de momento, as razões
para tal, podendo ser consequência da lei n.º 1453 de 26 de julho de 1923. Com
o decreto n.º 15.035, de 16 de fevereiro de 192887, justificam-se claramente os
montantes dos impostos para os anos 30, já que transferidos para Receita da Junta
as Contribuições Predial e Industrial e os Impostos de Capitais e de Transações. Em
1945, os impostos com valores significativos são o Predial, o Industrial, e surgem o
de Salvação Nacional e o dos Lucros Extraordinários de Guerra. Este último já não é
cobrado em 1948, mas os totais dos impostos ascendem a mais de 25.000.000$00.
Para o ano de 1957, os impostos ultrapassam todos os valores orçados, exceto o de
Trânsito, o que mostra claramente a tendência crescente desta receita. Os impostos
estão presentes para todos os anos, sendo desconhecidos para os períodos em
que a Conta não está disponível. O valor mais baixo é de 125.094$826 para 1904 e
o mais elevado de 44.290.046$20 para 1957.
O artigo Dívidas Ativas, contendo aquelas cobradas pelo Posto de Desinfeção
para o período de 1 de julho de 1902 a 31 de dezembro de 1905, na Conta de
1906, explica o grande peso destas na Receita daquele ano. Para 1928-1929,
será de ter em conta o decreto n.º 15.035, de 16 de fevereiro de 1928. Após este

87 VIEIRA, Alberto (Coord.), História da Madeira, Funchal, Secretaria Regional da Educação, 2001, pp. 319-320.

319
Junta Geral

As Taxas, Emolumentos e Multas


1400
Milhares

1200

1000
Réis / Escudos

800

600

400

200

0
1903
1906
1909
1912
1915
1918
1921
1924
1927

1936
1939
1942
1945
1948
1951
1954
1957
1960
1929-1930
1932-1933

período, as Taxas, Emolumentos e Multas estão sempre presentes na Conta, sendo


desconhecidas para os períodos em que a Conta não está disponível. O valor mais
baixo é de 7$870 para 1907 e o mais elevado de 1.321.335$70, para 1957.
As grandes oscilações desta categoria devem-se sobretudo ao facto de

As Outras Receitas
10000
Milhares

9000

8000

7000
Réis / Escudos

6000

5000

4000

3000

2000

1000

0
1903
1906
1909
1912
1915
1918
1921
1924
1927

1936
1939
1942
1945
1948
1951
1954
1957
1960
1929-1930
1932-1933

320
Junta Geral

termos incluído nesta os saldos em Conta do exercício anterior, o que as faz


predominantemente coincidir com períodos de recurso ao Crédito. São relevantes
os saldos de 1904, 1905, 1906, 1912 e, em 1915, regista-se o levantamento
dum depósito para expropriações em Santa Cruz. Voltam a ser relevantes os
saldos de 1926 e 1927, tendo, em 1925, o Visconde Ribeiro Real feito legado ao
Manicómio Câmara Pestana. Para este período, existe sempre outra receita, sendo
desconhecida para os períodos em que a Conta não está disponível. O valor mais
baixo é de 179$526 para 1903 e o mais elevado de 9.081.470$80 para 1956.
A Despesa tem, como principais destinatários, os salários e as obras públicas.
A educação passa a ter uma expressão significativa, com a assunção da Instrução
Pública, pelo decreto n.º 15.035, de 16 de fevereiro de 1928. A preocupação com
a Assistência Social já remonta às origens da Junta Geral e tem uma expressão
crescente até 1940, salvo poucas exceções. O funcionamento vai-se tornando
menos significativo com o crescimento dos montantes geridos e a outra despesa
tem um comportamento irregular associado a subsídios a diversas entidades e a
juros, amortização e liquidação de dívida.

A Distribuição da Despesa (%)


100%

80%

60%

40%

20%

0%
1903

1906

1909
1912
1915

1918
1921
1924

1927
1929-1930

1932-1933
1936

1939

1942
1945

1948

1951
1954

1957

1960

Pessoal Obras Públicas Assistência Social Educação Funcionamento Outra Despesa

Em 1919, as dívidas a funcionários fazem subir o montante dos vencimentos


e, em 1921, o elevado valor apresentado deverá ser com assalariados para a
construção de estradas. Em 1928-1929, a Junta Geral vai integrar uma série de
serviços e competências que fazem crescer a sua Despesa com Pessoal como,
por exemplo, a Polícia Cívica, o Governo Civil, Serviços Hidráulicos e a Sétima
Circunscrição Industrial, de acordo com o decreto n.º 15.805. Na conta de 1945,
surgem, para além dos Vencimentos, as Ajudas de Custo e o Abono de Família,
dando cumprimento aos decretos n.º 33.272 e 34.430. Para o ano de 1948, mais

321
Junta Geral

A Distribuição da Despesa (%)


100%

80%

60%

40%

20%

0%
1903

1906

1909
1912

1915

1918
1921

1924

1927
1929-1930
1932-1933
1936
1939

1942
1945
1948

1951
1954
1957

1960
Pessoal Obras Públicas Assistência Social Educação Funcionamento Outra Despesa

montantes são envolvidos para o Subsídio Eventual e os Encargos de Suplemento,


pelo decreto-lei n.º 37.115 de 26 de outubro de 1948. Em 1952, os jornaleiros da
Estação Agrária representam metade dos gastos com pessoal naquele serviço e os
da Direção de Obras Públicas um quarto das mesmas expensas. As despesas com

O Pessoal
9000
Milhares

8000

7000

6000
Réis / Escudos

5000

4000

3000

2000

1000

0
1903
1906
1909
1912
1915
1918
1921
1924
1927

1936
1939
1942
1945
1948
1951
1954
1957
1960
1929-1930
1932-1933

322
Junta Geral

Pessoal estão sempre presentes na Conta, sendo desconhecidas para os períodos


em que a Conta não está disponível. O valor mais baixo é de 30.209$324 para 1903
e o mais elevado de 7.875.359$70, para 1957.
O ano de 1913 sofre um incremento nas Obras Públicas, devido à construção
de estradas. Em 1914, os investimentos faziam-se nas estradas n.º 23, 25, 26, 27
e 28 e abastecimento de águas às mesmas. No ano seguinte, para além das vias
anteriormente citadas, contempla-se uma estrada distrital no Porto Santo. Entre

As Obras Públicas
25000
Milhares

20000
Réis / Escudos

15000

10000

5000

0
1903
1906
1909
1912
1915
1918
1921
1924
1927

1936
1939
1942
1945
1948
1951
1954
1957
1960
1929-1930
1932-1933

1917 e 1920, dá-se uma forte retração no investimento em Obras (de 343.426$53
em 1915, para 7.656$55 em 1918) que estará relacionado com a participação
de Portugal no primeiro conflito mundial. Este investimento só será retomado
em 1921. O ano de 1925 revela um novo crescimento deste capítulo com o
calcetamento, conclusão, expropriação e indemnizações. Para o ano económico
de 1928-1929, são os principais responsáveis por estes dispêndios, o calcetamento
de estradas já abertas, as estradas Ribeira Brava – Ponta do Sol e Funchal –
Santana e as expropriações. Em 1931-1932, o ligeiro decréscimo tem que ver
com o investimento significativo apenas em calcetamento de vias já abertas e
expropriações. Entrado 1932-1933, as estradas mais caras foram a Ponta do Sol –
Porto Moniz, Machico – Porto da Cruz e a Levada de Santa Luzia – Bom Sucesso, com
as respetivas expropriações e indemnizações. Nos dois anos seguintes, para além
das expropriações e indemnizações, as estradas nas quais a Junta mais dinheiro
despende são novamente a Ponta do Sol – Porto Moniz e a Machico – Porto da
Cruz mais a do Ribeiro Frio – Santana. Com o ano civil novamente a coincidir
com o económico, começa 1936 e o investimento centra-se no prolongamento e
alargamento da Avenida Zarco e na estrada Ponta do Sol – Porto Moniz. Aquela
avenida será o principal empreendimento de 1937. De salientar, em 1938, os

323
Junta Geral

gastos com as expropriações e indemnizações, a construção da Avenida Oeste e Inauguração do Estádio


um ramal da estrada n.º 23, à Vila da Ponta do Sol. O mais significativo em 1939, dos Barreiros. 1957.
para além da conclusão de estradas e das expropriações e indemnizações, foi a
construção duma vala para aproveitamento da água das chuvas no Porto Santo.
Entre os grandes investimentos para 1952, encontram-se o Fomento Hidroagrícola
e Florestal do Porto Santo, a conclusão e construção e asfaltagem de estradas, o
novo edifício da Junta Geral, as expropriações e modificação do atual, o dispensário
infantil de Câmara de Lobos e a ampliação do campo de jogos dos Barreiros.
A obra mais cara de 1956 é a ampliação do Estádio dos Barreiros, com as
respetivas expropriações que ascendeu a mais de 2.500.000$00. No ano de 1957,
a Levada do Norte necessitou de um investimento superior a 3.000.000$00 e as
reparações em estradas atingiram mais de 1.000.000$00. As Obras Públicas estão
sempre presentes na Conta, sendo desconhecidas para os períodos em que a
Conta não está disponível. O valor mais baixo é de 7.656$55 para 1918 e o mais
elevado de 22.349.598$10 para 1957.
Presente desde sempre nas preocupações da Junta Geral viu, grosso modo,
a sua dotação crescer paulatinamente. Em 1906, as suas preocupações eram
com hospitalizações, expostos, internamento de alienados e subsídios a algumas
324
Junta Geral

A Assistência Social
8000
Milhares

7000

6000
Réis / Escudos

5000

4000

3000

2000

1000

0
1903
1906
1909
1912
1915
1918
1921
1924
1927

1936
1939
1942
1945
1948
1951
1954
1957
1960
1929-1930
1932-1933

poucas instituições. O ano de 1924 marca um dos raros momentos de decréscimo


dos montantes destinados a esta área que teve necessariamente que ver com a
redução da principal fonte de receita e o crescimento dos gastos com pessoal,
em mais de 30%. No ano de 1921, é cedido, a esta Junta, o Asilo dos Velhinhos e
surge o capítulo Beneficência Pública. Com o ano económico de 1928-1929, no
capítulo dos Encargos Diversos, é introduzido o artigo Às Comissões Municipais
de Assistência. A Assistência Social é uma preocupação constante da Junta Geral,

A Educação
18000
Milhares

16000

14000

12000
Réis / Escudos

10000

8000

6000

4000

2000

0
1903
1906
1909
1912
1915
1918
1921
1924
1927

1936
1939
1942
1945
1948
1951
1954
1957
1960
1929-1930
1932-1933

325
Junta Geral

sendo desconhecida para os períodos em que a Conta não está disponível. O valor
mais baixo é de 2.378$400, para 1903 e o mais elevado de 7.231.845$30 para
1957.
A Educação é a área que teve uma aposta mais descontínua, nas prioridades
da Junta Geral. Os seus gastos de 1913 a 1922 resumem-se à Escola de Utilidades
e Bellas Artes. Em 1925, paga-se material escolar para a Escola Industrial António
Augusto de Aguiar e, em 1926, saldam-se despesas dos Cursos Complementares
do Liceu Jaime Moniz. No ano de 1927, material e outras despesas são liquidadas
ao mesmo Liceu. Com o ano económico de 1928-1929, chega o capítulo ,Instrução
Pública e as despesas com a instrução primária. O ano de 1936 adiciona o Liceu
de Jaime Moniz e a Escola Industrial e Comercial António Augusto de Aguiar à
Instrução Primária. Estes três artigos representam, em 1945, expensas superiores a
4.000.000$00. A Conta de 1952 atribui para a construção e expropriações do novo
edifício da Escola Industrial e Comercial António Augusto de Aguiar, 1.671.525$20.
Para 1956, os valores daquele estabelecimento de ensino atingem os 1.996.805$20.
Ficaram assim distribuídos os montantes para o ano de 1957: 2.165.053$80 para
o Liceu Nacional do Funchal, 1.811.257$50, para a Escola Industrial e Comercial
António Augusto de Aguiar e 9.116.318$10, para a Instrução Primária. A Educação
nem sempre foi uma atribuição da Junta Geral, não estando contemplada entre
1903 e 1912 e 1923, 1924, sendo desconhecida para os períodos em que a Conta
não está disponível. O valor mais baixo é de 500$00 para 1922 e o mais elevado de
15.640.112$80 para 1956.

O Funcionamento
7000
Milhares

6000

5000
Réis / Escudos

4000

3000

2000

1000

0
1903
1906
1909
1912
1915
1918
1921
1924
1927

1936
1939
1942
1945
1948
1951
1954
1957
1960
1929-1930
1932-1933

As despesas desta categoria eram, em 1904, somente o Expediente da Junta


Geral. Em 1920, a instalação e funcionamento da Estação Agrária da 9.ª Região
justificam o acréscimo de Despesa verificado. As novas tecnologias vão também

326
Junta Geral

representar mais gastos e, em 1925, a instalação da linha telefónica Omnibus é


disso representativa. Presente sistematicamente na Conta de 1945 e seguintes, o
artigo Encargos dos anos económicos findos vai representar valores significativos. O
Funcionamento é, para este período, uma constante na Conta, sendo desconhecido
para os períodos em que a Conta não está disponível. O valor mais baixo é de
7.559$011 para 1903 e o mais elevado de 5.903.318$70 para 1957.

As Outras Despesas
18000
Milhares

16000

14000
Réis / Escudos

12000

10000

8000

6000

4000

2000

0
1903
1906
1909
1912
1915
1918
1921
1924
1927

1936
1939
1942
1945
1948
1951
1954
1957
1960
1929-1930
1932-1933

Para 1903, a Outra Despesa mais significativa foi a Anuidade para a Conclusão
de Levadas. Em 1925, os subsídios a várias Comissões e Associações justificam
o acréscimo do montante. Com a atribuição das receitas dos Impostos Diretos e
Adicionais, em 1928-1929, a Junta Geral fica obrigada a entregar ao Estado 1% das
mesmas. O ano de 1940, o mais excecional, justifica-se muito simplesmente com a
liquidação de dois empréstimos, na Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência,
no valor de 13.968.266$71, contraídos pelas Escrituras de 23 de setembro de
1913 e de 7 de abril de 1932. A partir de 1940, a contrapartida para o Estado,
por benefício da receita dos Impostos Directos e Adicionais, passa para 2% do
cobrado (§ 1.º do artigo 84.º do Estatuto Administrativo dos Distritos Autónomos
das Ilhas Adjacentes). A Junta fica também obrigada à entrega de uma subvenção
obrigatória para os Serviços Policiais (500.000$00). Em 1945, a Compensação
ao Estado de 2% representou mais de 340.000$00 a adicionar à Subvenção dos
Serviços Policiais. A estes valores, junta-se um subsídio no valor de 3.000.000$00,
destinado à Comissão Administrativa dos Aproveitamentos Hidráulicos da Madeira.
Os encargos com empréstimos no ano de 1956 são responsáveis por um montante
superior a 4.000.000$00 nesta despesa. A Outra despesa não é uma constante na
Conta, não estando contemplada em 1907, 1908 e 1910, sendo desconhecida para
os períodos em que a Conta não está disponível. O valor mais baixo é de 300$000
para 1911 e o mais elevado de 15.998.047$64 para 1940.

327
Junta Geral

O Orçamento e a Conta de Gerência da Junta Geral – uma análise comparativa

Quando a Conta é a efetiva execução, o Orçamento é a previsão das receitas


tributárias, patrimoniais e creditícias, necessárias para se realizar a despesa
pública.
Numa análise comparativa, verificamos logo que os Orçamentos apresentados
são sempre equilibrados, não se prevendo qualquer défice ou superavit para o
período orçamentado. Facto que é alterado na execução, pois, normalmente, não
se gasta o valor previsto para a despesa, transitando este valor como uma receita

para o ano seguinte. Portanto, apesar de tudo, os saldos executados são positivos.
A Receita prevista e a efetivamente arrecadada evoluem, normalmente,
328
Junta Geral

de forma semelhante. Mas sendo a executada, quase na sua totalidade sempre


inferior ao esperado, isto por razões que mais à frente procurarei demonstrar.

A Despesa executada, tal como anteriormente vimos para a Receita,


acompanha a tendência da orçamentada, mas apresentando sempre valores muito
abaixo do previsto.
Vejamos algumas das razões que justificam isto:

A Junta Geral, durante o período analisado, recorreu a vários empréstimos,


sendo os mais importantes os de 1913 e de 1932/33, estes para a realização de várias
obras públicas, nomeadamente com a rede viária; Em 1938 e 1944, recorreram
ao crédito, principalmente para a amortização dos anteriores empréstimos. Em
1958, recorreu-se mais uma vez ao crédito para se financiar a expropriação,

329
Junta Geral

indemnizações e construção dos aeroportos do Porto Santo e o de Santa Catarina.


Mas os valores que contavam receber anualmente, por conta destes
empréstimos, nunca eram os que na realidade eram transferidos. Sendo eles
esbatidos ao longo de vários anos.
Compreende-se como Transferências do Estado alguns subsídios, como o do
desemprego e as compensações do Estado: principalmente, após 1932 e 1933, os
valores previstos com a arrecadação são sempre inferiores aos que, na realidade,
são transferidos.
Os Orçamentos ordinários apresentavam um plano de obras públicas
que raramente se efetivava. Mesmo com as várias retificações operadas pelos
orçamentos suplementares, que transferiam entre 92 rubricas, os valores previstos
para as obras, a sua real efetivação ficava muito abaixo do esperado.

330
Junta Geral

Se olharmos para o gráfico da despesa com os empréstimos, verifica-se que


a verba orçada para a amortização da dívida é, efetivamente, similar à executada.
Se tivéssemos apenas em conta os valores apresentados pelos orçamentos
ordinários, não teríamos este paralelismo, embora com valores de execução mais
baixos, isto, porque, ao longo do ano e após o orçamento ordinário ser apresentado,
surgem vários orçamentos suplementares, em média 3 orçamentos suplementares
por ano, que retificam algumas despesas e receitas extraordinárias, aproximando-
as dos valores executados.
Muita da despesa orçamentada, nomeadamente a criação de bens e
infraestruturas públicas, como por exemplo a rede viária, são abandonadas, através
dos orçamentos suplementares, para colmatarem necessidades de pagamento na
despesa corrente, como com os vencimentos do pessoal.
Evidencia-se, a partir de 1941, que a receita com os impostos e taxas é sempre
superior ao orçamentado, quando até esse ano era precisamente o oposto que
sucedia.
Para este período de atividade, a informação financeira é precária. Faltam
os orçamentos e apenas dispomos da conta a partir de 1837. Na verdade, a Junta
só foi instalada a 29 de julho de 1836, por força do decreto de 28 de junho. Os
dados da conta evidenciam que a sua intervenção é mais de caráter social, sendo
descurada a intervenção em obras públicas. Tenha-se em conta que, apenas no
período de 1837 a 1852, marcado por grandes dificuldades e uma situação de
fome, as obras públicas tiveram algum incremento, como forma de ocupar a mão-
de-obra inativa e travar o processo de emigração. Um dos aspetos que mais chama
a atenção prende-se com o baixo valor atribuído às despesas de funcionamento,
que só começam a subir a partir de 1880 e que, com a República, se consolidam
como uma despesa destacada.
Os meios financeiros da Junta não permitiam grandes realizações em termos
de obras públicas e, quando isto tinha de acontecer, a mesma deveria socorrer-se
de empréstimos, tal como sucedeu entre 1913 e 1916. Tenha-se em conta que,
no ano de 1914, estes representavam mais de metade do valor da receita. Por
outro lado, as transferências do Estado são reduzidas e irregulares até 1925, o que
indica não existir um compromisso do governo Central, no sentido de prover, com
assiduidade, as carências financeiras da Junta. Isto quer dizer que estamos perante
um quase total alheamento e a inexistência de retorno financeiro das receitas
geradas no arquipélago.
O período que decorre de 1837 a 1892 é marcado por uma quase inexistência
de receitas próprias, que só melhora a partir de 1921. A Junta ia buscar os seus
meios de financiamento às Câmaras Municipais e a alguns impostos, usando-os,
depois, para pagar as despesas com obras públicas, segurança e beneficência.
Já no período que medeia entre o início da autonomia administrativa da Junta
Geral e o regime autonómico da Ditadura Militar (1903-1927), com o alargar das
competências e equivalentes despesas, é manifesta a dificuldade em conseguir
a receita necessária ao seu funcionamento. Desta forma, a Junta apresenta-se
incumpridora perante os funcionários, beneficiários, prestadores de serviços e
fornecedores.

331
Junta Geral

O DEVE E O HAVER E AS OBRAS PÚBLICAS

1835-1895
A Junta Geral era o órgão deliberativo da administração distrital, com
competências nas áreas da instrução pública, fomento industrial e agrícola e
obras públicas. A sua capacidade de intervenção estava limitada por força do seu
orçamento. A única fonte de receita assentava no imposto sobre as estufas de
vinho, criado em 1806, e na contribuição anual de cinco dias de trabalho ou de
mil réis, para as obras de construção e reparo dos caminhos. A isto juntavam-se
algumas dádivas particulares e o lançamento de fintas entre todos os moradores.
Por alvará de 13 de maio de 1838, foi criada uma comissão municipal para
administração das obras das estradas e caminhos. Esta comissão era eleita no início
do biénio, tal como preceituava a lei de 6 de Junho de 1864. Segundo o seu relatório
do ano de 1838, contou com uma verba de 9.927$938 réis, sendo 67% do imposto
das estufas e o restante da contribuição de trabalho. Esta verba era insuficiente
para acudir às diversas despesas com reparo das estradas, nomeadamente em
épocas de aluvião. Além disso, a partir de 1856, a Junta deixou de poder contar
com o imposto das estufas que fora extinto. Assim, em 1846, a dívida era superior
a três mil reis. Por outro lado, a Comissão quase só tinha capacidade de proceder a

332
Junta Geral

pequenos reparos, devendo socorrer-se de subscrições públicas para a realização


de grandes obras, como a ponte do Ribeiro Seco e a estrada monumental até
Câmara de Lobos.
No âmbito de intervenção da Junta, estavam ainda a cadeia pública, a instrução
e a assistência, com particular significado para os expostos. A assistência aos
expostos fazia-se com base na receita resultante de uma finta lançada anualmente
entre todas as Câmaras, pelo valor das contribuições predial e industrial, sendo
votadas em reunião, mediante proposta apresentada pelo Governador Civil. De
acordo com leis de 23 de junho de 1863 e 11 de junho de 1864, sabemos que esta
correspondia a 8% da referida receita do impostos municipais em causa.
A lei de 1 de julho de 1867 estabeleceu a obrigatoriedade de uma nova cadeia
pública em cada distrito, mas o Estado não provia os meios para tal, ficando o
seu funcionamento a cargo do magro orçamento da Junta. Assim, foi criada uma
comissão para o efeito que apresentou uma proposta de empréstimo, de 25 contos
de reis, aprovada pela Junta. Verba aliás insuficiente, pois não dava para a compra
dos terrenos previsto ou para, em alternativa, proceder à adequação do castelo de
S. João Baptista para o efeito.
A exiguidade da receita atribuída à Junta levava a que esta funcionasse em
precárias condições, num edifício mobilado do Governo Civil. No ano económico
de 1872-1873, houve necessidade de comprar mobiliário para as reuniões da
Junta, pois a existente, de empréstimo, encontrava-se em mau estado. A despesa
foi repartida por este ano económico e os seguintes. Aqui ficam claras as condições
precárias de funcionamento de uma instituição tão importante para a ilha, numa
época em que a sua intervenção se deveria fazer sentir nos diversos setores que
lhe estavam acometidos.
Todos os governadores civis que presidem à Junta manifestam grande
preocupação em acudir a todas as situações e compromissos deste órgão, mas
faltava sempre o dinheiro, pois a receita consignada era exígua e não havia qualquer
atenção da parte do poder central aos seus incessantes lamentos e pedidos de
apoio. Em março de 1878, o Governador Civil, Afonso de Castro, afirmava: Não
tem o distrito caminhos de ferro, não tem estradas carroçáveis, não há aqui pontes
monumentais, longos canais, soberbas construções urbanas, e, portanto, não é
muito que peça, que inste por uma pequena doca no porto do Funchal, onde não
há o mais pequenos melhoramento. Mas quem o ouvirá, para além dos delegados
da Junta que aprovaram o seu relatório?
Olhando ao estado calamitoso da agricultura, dada a crise provocada pela
filoxera, reclama a necessidade de melhoria das comunicações, uma vez que Sem
meios de transporte fáceis e baratos, não são possíveis os progressos agrícolas.
Mas, para que isso aconteça, é necessário um esforço do Governo, pelo que pede
que o poder central venha em nosso auxilio, mas de um modo mais eficaz, do
que até hoje o tem feito...é preciso que o governo seja menos generoso com este
distrito, do que o tem sido para com os outros.
Entretanto, a 6 de agosto de 1892, esta Junta foi extinta, mas os problemas
de administração e de falta de atenção das autoridades continuaram, sofrendo um
agravamento que provocará diversas e insistentes reclamações dos madeirenses.

333
Junta Geral

Foi preciso a visita de D. Carlos à Madeira, para que a Ilha visse reinstalada, pelo
decreto de 8 de agosto de 1901, a Junta Geral, a exemplo do que havia já sucedido,
em 1895, nos distritos de Angra do Heroísmo e Ponta Delgada. De acordo com o
decreto de 12 de junho de 1901, a Junta terá uma comissão distrital composta
por um presidente e dois vogais. Aumenta-se, assim, a capacidade de intervenção
deste órgão, reforçando a sua receita. Esta passará a contar com o produto liquido
das despesas de cobrança, das contribuições diretas arrecadas no distrito, predial,
industrial, de renda de casas e sumptuaria, e dos adicionais que sobre cada uma
delas incidam ou venham a incidir ou das que as substituírem.
Durante muito tempo, as reivindicações dos madeirenses assentam no
retorno do dinheiro dos seus impostos para a realização de obras necessárias ao
desenvolvimento da ilha que, em muitas situações, acabarão por trazer retorno
ao Estado. Com o programa de regadio, amplia-se a área agrícola e os tributos
também; com a construção de portos, cais e embarcadouros, são garantidas as
condições de circulação de pessoas e produtos, mecanismo eficaz de animação
da agricultura e mercado. Por fim, o porto principal no Funchal, com condições de
apoio à navegação livre de taxas tributárias é uma esperança para os madeirenses
que veem nele o futuro.
Tudo isto era conhecido e sabido, mas continuavam a tardar as soluções.
As populações continuavam isoladas nos seus locais de nascimento, muitas
vezes, alheias a tudo. Ir ao Funchal era um acontecimento ocasional e de grande
comemoração, tal como nos refere Francisco Barral: de alguns camponeses nunca
terem saído do vale onde nasceram, e outros registar como um dia de felicidade
jamais esquecido aquele em que fazem a primeira excursão à cidade do Funchal!88
Para muitos visitantes, o conhecimento da ilha limitava-se à cidade, pois, como
afirmava, em 1869, Júlio Dinis: Passeios a pé são impraticáveis graças às pavorosas
subidas que por toda a parte se encontram. A rede não é tão cómoda como parece;
e os carros em rodas não podem vencer todos os caminhos.
A orografia da ilha sempre foi um dos principais obstáculos ao desenvolvimento
da agricultura, dadas as dificuldades em encontrar espaços planos em condições de
serem cultivados, assim como da possibilidade de estabelecer meios de circulação
das pessoas e produtos. Os poios erguem-se sobre os precipícios e os caminhos
suspendem-se sobre as ravinas. O madeirense vive em permanente convívio com
o abismo. A esta dificuldade de traçar caminhos de trânsito de carros e pessoas
juntam-se as permanentes aluviões que assolam a ilha e intervêm com a ação do
Homem nos leitos das ribeiras, destruindo caminhos e pontes. Após o inverno, a
primavera anunciava-se, quase sempre como um momento de trabalho redobrado
no campo, mas também de reparação dos estragos que as aluviões haviam causado
aos caminhos, pontes e levadas, para que a vida voltasse à normalidade.
A partir do século XIX, levantam-se as vozes das autoridades a clamar por
apoios e a apresentar soluções, no sentido de resolver esta ancestral dificuldade.

88 RAMOS, 1879, Ilha da Madeira, A este propósito, refere-se Guilherme Read Cabral: A falta de estrada, ponderou um
passageiro, filho da Madeira, e consequentemente os meios de transporte dos productos da ilha, é outro grande obstáculo
ao seu desenvolvimento, e francamente não sei qual destes melhoramentos é mais reclamado. (1895, Ângela Santa Clara,
p. 182).

334
Junta Geral

Em reunião de 11 de agosto de 1840,89 a Junta Geral decidiu ampliar esta obrigação


– a finta - a todos os estrangeiros residentes na ilha há mais de um ano. Para o
efeito, existia a Comissão encarregada das Estradas e Caminhos - criada por alvará
de 13 de maio de 183790 - que superintendia os trabalhos e o serviço braçal dos
fregueses. Será na década de quarenta que o plano de obras públicas em torno da
construção moderna de pontes e estradas terá o seu arranque definitivo, mercê da
intervenção do Governador Civil, José Silvestre Ribeiro.
Desde o primeiro quartel do século XIX que se manifestam reclamações dos
madeirenses, no sentido de o Estado intervir na Madeira, através de obras públicas
para a abertura de caminhos, levadas e canalização das ribeiras. A crise agrícola e
comercial faz despertar o olhar crítico de muitos madeirenses e amplia a imagem
de uma terra abandonada à sua sorte, sem ninguém que a acuda.
A este propósito, convém relembrar a intervenção do deputado madeirense
Manuel José Vieira, em 188491: é preciso que não se pense que, quando se falla
em levadas, nós, madeirenses, estamos simplesmente á espera que o governo as
faça; nós temos feito muitas levadas à nossa custa, que representam centenas e
até milhares de contos de réis, e para as quaes não solicitamos nem um real dos
governos. Não estejamos por consequência a fallar de leve em levadas, parecendo
que nada temos feito. Recorde-se que, para o ano económico de 1884-85, o
Ministério do Negócios das Obras Públicas, Commercio e Industria reservou na
rubrica de obras públicas um valor de 30. 000$000, de um total de despesa em
portos de 1.026.000$000, em que o de Leixões ficava com uma fatia de 55%92.
A necessidade de investimento torna-se cada vez mais importante, quer
na metrópole, quer na ilha. A solução para atender a esta necessidade passa
obrigatoriamente por mais contribuições, sob a forma de adicional a impostos
como a décima, ou a criação de novas contribuições. A reforma tributária de
1843 dá particular a atenção a esta situação e, durante as décadas de quarenta
e cinquenta da centúria oitocentista, o fomento das estradas passa por novas
contribuições.
Na ilha, a falta de medidas das autoridades levará os Governadores, como
foi o caso de José Silvestre Ribeiro, a reestabelecer o velho contributo da roda
de caminho que, a partir de 1843, se institucionaliza como uma contribuição dos
madeirenses para as obras públicas, das quais o Estado se demite. A Ponte do
Ribeiro Seco, com o custo de 5799$000 réis, foi construída em 1848, com subscrições
populares e diversos auxílios93. As dificuldades da ilha, nos anos de 1852 e 1853,
levaram José Silvestre Ribeiro a solicitar o apoio da comunidade de mercadores do
Funchal e do estrangeiro, que prontamente responderam à iniciativa e constituíram
comissão, designada Comissão de Socorros Publicos dos Paizes Estrangeiros, criada
para efeito, recolhendo a quantia de 37.482$324 reis. Parte desta receita foi usada
nas obras de construção da chamada estrada monumental que ligará o Funchal a

89 Actas da Junta Geral do districto Administrativo do Funchal, anno de 1840, Funchal, pp. 5-6.
90 Idem, p. 18.
91 1884, Discurso pronunciado na Câmara dos Senhores Deputados na sessão de 13 de fevereiro de 1884, Lisboa, p. 20.
92 BULHÕES, Miguel de, 1885, A Fazenda Publica de Portugal, Lisboa, p. 156.
93 1851, Brevissima Resenha de Alguns Serviços que ao districto do Funchal tem prestado o Conselheiro José Silvestre Ribeiro,
Funchal, p. 20.

335
Junta Geral

Câmara de Lobos. Em 1854, foram distribuídos mais 2410$973 reis pelas obras das
estradas Monumental, do Monte e Palheiro Ferreiro.
A década de quarenta do século XIX foi marcada pela fome, recebendo a ilha
vários socorros de fora. De entre estes, temos a salientar a dádiva norte-americana
de milho que, depois, foi distribuída à população como moeda de troca pelos
trabalhos realizados na abertura e reparação de estradas e pontes. Desta situação,
resultou a ponte no Ribeiro do Moinho, na Ponta do Pargo, que liga os sítios do
Pedregal e Salão. Como memória, ficou inscrita numa pedra a seguinte inscrição:

Esta Pedra é de Memoria


Por ser oferta estrangeira
América! Tens a Gloria
de Socorrer a Madeira94.

Na ilha, a falta de medidas das autoridades levará os Governadores, como


foi o caso de José Silvestre Ribeiro, a reestabelecer o velho contributo da roda
de caminho que, a partir de 1843, se institucionaliza como uma contribuição dos
madeirenses para as obras públicas, das quais o Estado se demite. A Ponte do Ribeiro
Seco, com o custo de 5799$000 réis, foi construída, em 1848, com subscrições
populares e diversos auxílios95. As dificuldades da ilha, nos anos de 1852 e 1853,
levaram José Silvestre Ribeiro a solicitar o apoio da comunidade de mercadores do
Funchal e do estrangeiro, que prontamente responderam à iniciativa e constituíram
comissão, designada Comissão de Socorros Publicos dos Paizes Estrangeiros, criada
para efeito, recolhendo a quantia de 37.482$324 reis. Parte desta receita foi usada
nas obras de construção da chamada Estrada Monumental que ligará o Funchal a
Câmara de Lobos. Em 1854, foram distribuídos mais 2410$973 reis pelas obras das
estradas Monumental, do Monte e Palheiro Ferreiro.
José Silvestre Ribeiro (1807-1891) teve um papel de destaque na valorização da
Madeira, nas décadas de quarenta e cinquenta96. Primeiro, como Governador Civil

94 SARMENTO, A. A.,1953, Freguesias da Madeira, Funchal, p. 129.


95 1851, Brevissima Resenha de Alguns Serviços que ao districto do Funchal tem prestado o Conselheiro José Silvestre Ribeiro,
Funchal, p. 20.
96 Sobre a sua biografia,veja-se: DIAS, Eduardo A. da Rocha, 1888, O conselheiro José Silvestre Ribeiro. Exemplo de Inteira
Dedicação à Liberdade e à Pátria, Lisboa. IDEM, 1891, Elogio Historico do Conselheiro José Silvestre Ribeiro lido na
sessão solemne de 10 de Maio de 1891, Lisboa, tip. Franco-Portugueza; COSTA JÚNIOR, Félix José da, 1841, Memória
Histórica do Horrível Terramoto de 15 de Junho de 1841 que assolou a Vila da Praia da Vitória da Ilha Terceira, Angra
do Heroísmo (reeditada na colectânea, 1983, Memória Histórica do Horrível Terramoto de 15.VI.1841 que Assolou a
Vila da Praia da Vitória, Câmara Municipal da Praia da Vitória, Praia da Vitória). AMARAL E PIMENTEL, João
Maria Pereira de,1879, Discurso que na inauguração da estatua do conselheiro José Silvestre Ribeiro na villa da Praia da
Victoria, que recitou o Bispo da Diocese D. João Maria Pereira de Amaral e Pimentel, Angra do Heroísmo, Typ. da Virgem
Immaculada; CUNHA, José Germano da, 1893, O Conselheiro de Estado Extraordinário José Silvestre Ribeiro, Fundão;
MONJARDINO, José Ignacio d’Almeida, 1844, Collecção de Documentos sobre os trabalhos de reedificação da Villa da
Praya…, Angra do Heroísmo; 1983, Colectânea Memória Histórica do Horrível Terramoto de 15.VI.1841 que Assolou
a Vila da Praia da Vitória, Câmara Municipal da Praia da Vitória, Praia da Vitória); SANTOS, Júlio Eduardo dos,
1925, Elogio Histórico do Conselheiro José Silvestre Ribeiro, Lisboa; MÓNICA, Maria Filomena (coordenadora), 2006,
Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910), volume 3, Assembleia da República, Lisboa, pp. 464-468); Menezes,
Sérvulo Drummond de, 1848, Collecção de documentos relativos a crise da fome por que passaram as Ilhas da Madeira e
Porto Santo, no anno de 1847, Funchal, Typ. de Bernardo F. L. Machado; IDEM, 1848, Collecção de Documentos relativos
a construção da Ponte do Ribeiro Seco na ilha da Madeira, arrematada em 27 de Fevereiro de 1848..., Funchal, Typ. De
L. Vianna Junior; IDEM, 1848, Collecção de Documentos relativos ao Asylo de Mendicidade do Funchal desde a sua

336
Junta Geral

no período de 1846-1852, desenvolveu um conjunto de iniciativas de valorização


socioeconómica da Ilha, com diversas obras de construção e reparo de pontes,
estradas, edifícios e muralhas de encanamento das ribeiras das principais vilas.

Obras Despesa
Igrejas 211.372$942
Estradas e caminhos 12.592$925
Pontes 24.359$788
Varadouros e postos 758$735
Ribeiras 9429$415
Total 2.160.870$288
Fonte: Tibério Augusto Blanc e outros, 1851, Brevissima resenha dos serviços que ao districto do
Funchal tem prestado o conselheiro José Silvestre Ribeiro, Funchal.

Efetivamente, por este tempo, os acessos ao interior da ilha eram


extremamente difíceis. Qualquer povoação distava muito da cidade e as ligações,
por via terrestre e mesmo marítima, eram difíceis e morosas. É por isso que,
quando em 1850, Isabella de França97, casada com um aristocrata madeirense,
veio à descoberta da ilha, ficou estupefacta com a situação e com o facto de as
populações se anicharem em sítios distantes do Funchal, como a Calheta, onde o
marido tinha parentes e interesses fundiários.
Por outro lado, os Governadores insistem, nos seus relatórios, na necessidade
de atenção ao setor agrícola, através do alargamento da área de regadio com
a construção de levadas e das melhorias e construção de caminhos de acesso.
Políticos e escribas de ocasião aproveitam as múltiplas tribunas de expressão do
pensamento e das ideias, os jornais ou a Câmara dos Deputados caso tivessem aí
assento, para reivindicar e reclamar. Em 1856, o Governador Civil António R. G.
Couceiro referia que São em grande abundancia as aguas que de muitos pontos
da ilha correm para o mar, sem utilidade alguma para a agricultura, ao passo que
esta, por falta d’esse elemento indispensável, não pode desenvolver-se em grande
escala, perdendo-se d’este modo as grandes vantagens que offerece um terreno
fertil e proprio para quasi todas as culturas98.
Também foi frequente a atitude de alguns deputados madeirenses na defesa
dos interesses da Madeira. Parece ter-se criado uma trincheira de combate na
Câmara, onde, de vez em quando, os madeirenses levantam a sua voz para reclamar
o retorno da riqueza pertencente à ilha, amealhada nos cofres do Tesouro. Gera-
se, por vezes, algum mal-estar, mas estes não desistem do amor à sua terra e
à reivindicação de melhorias, que, mesmo assim, demoram de tal forma que,
por vezes, quando chegam, já é tarde. Por outro lado, a Madeira não oferecia

creação até ao dia em que a actual commissão administrativa tomou conta da Direcção, Funchal, Typ. de Bernardo F.
L. Machado; BLANC, Tibério Augusto e outros, 1851, Brevissima resenha dos serviços que ao districto do Funchal tem
prestado o conselheiro José Silvestre Ribeiro, Funchal.
97 FRANÇA, Isabella, 1970, Jornal de uma Visita à Madeira e a Portugal. 1853-1854, Funchal, Junta Geral, pp. 52, 126.
98 Relatorios sobre o Estado da Administração Pública..., Lisboa, 1857, p. 380.

337
Junta Geral

grandes condições para o traçar de qualquer rede viária e aquilo que se fizesse
seria sempre muito custoso e demorado. Assim, num período de mais de quarenta
anos, gastaram-se 60.000$000 rs e apenas se alcançaram 6 Km de estrada entre o
Funchal e Câmara de Lobos. Perante isto, D. João da Câmara Leme propõe a viação
por cabos de transporte Hodgson99.
Perante tantos obstáculos, o mar era a solução mais imediata e económica,
mas tardou até que isso acontecesse100. Seria o medo do mar e o constante apego
à terra que os impelia para esta situação? A verdade é que, para os primórdios do
século XX, a prioridade esteve na definição de uma rede de transportes costeiros e
a criação de infraestruturas de apoios.
Várias são as opiniões a favor de uma adequada política de regadio. Aqui,
as levadas são consideradas fundamentais para a promoção da agricultura
madeirense. Na voz de Henrique Valle,101 são as águas o principal incremento para
o desenvolvimento e prosperidade agricola.
É por isso que os madeirenses reclamam por mais atenção do Estado, o
que não significa a demissão das suas responsabilidades, pois não se pense que,
quando se falla em levadas, nós madeirenses, estamos simplesmente á espera que
o governo as faça; nós temos feito muitas levadas á nossa custa, que representam
centenas e até milhares de contos de réis, e para as quaes não solicitamos nem um
real dos governos. Não estejamos por consequência a falar de leve em levadas,
aparecendo que nada temos feito102.
A primeira intenção de construção de levadas por parte do Estado data do
século XVIII e tem a ver com o aproveitamento das águas do Rabaçal. Todavia,
só em 1835, se começou a construir a levada do Rabaçal, que ficou concluída em
1860, tendo custado ao Estado 69.369$420103.
Impelido por insistentes reclamações, o Estado decide definitivamente intervir
no sistema de aproveitamento dos recursos hídricos, como forma de promover a
agricultura. Em 1849, o deputado José Silvestre Ribeiro apresentou na câmara dos
deputados uma proposta, no sentido do Governo financiar com 6 contos insulanos
as obras das levadas, o que foi feito por decreto de 11 de julho104. A 20 de março de
1857, António Correia Herédia apresenta à Câmara de Deputados uma proposta

99 1876, Uma Crise, um caminho aereo e uma sociedade anonyma, Funchal.


100 Em novembro de 1879, o correspondente do Diário de Noticias dava conta desta realidade da seguinte forma: O mar
desde há muito tempo que está mau, bravissimo, querendo engulir a terra, o que nos tem judicado bastante. Há tanta
carga nos armazens do porto que nem três barcos machiqueiros são capazes de transportal-a para essa cidade. É uma
desgraça para esta freguesia ter o porto que tem, e nem sequer se pense em melhoral-o.(Diário de Noticias, n.º 5.334, 25
de novembro, p. 2).
101 1888, A Revolta da Madeira e a Comissão de Inquerito. Breves considerações e Apontamentos, Madeira.
102 VIEIRA, Manuel José, Discurso Proferido na Câmara dos Senhores Deputados na Sessão de 13 de fevereiro de 1884,
Lisboa, 1884, p. 20.
103 Basta o exemplo que nos offerece o Rabaçal. Que era no primeiro quartel d’este século aquella enorme penha de alguns
1000 pés d’altura? (…) O Estado dispendeu, mas com a venda da água e com o augmento das contribuições, reembolsou-se
e hoje tem um rendimento importante d’essa obra que data de 1836. O Estado lucraria pois, directa ou indirectamente! -
A falta de estrada, ponderou um passageiro, filho da Madeira, e consequentemente os meios de transporte dos productos
da ilha, é outro grande obstáculo ao seu desenvolvimento, e francamente não sei qual destes melhoramentos é mais
reclamado.- É, não há dúvida uma falta de que se ressente, sempre se há-de ressentir na Madeira.(…) Então, estradas
centraes, ramificando-se em diferentes direcções, facilitarão a communicação com as mais afastadas povoações. Por esse
meio, conseguiremos vencer as dificuldades que ora se nos opõe; porque a transposição dessas quebradas enormes, desses
despenhadeiros (…) não se consegue sem sommas fabulosas. CABRAL, Guilherme Read, 1895, Angela Santa Clara,
Funchal, Typ. Esperança, p. 182.
104 MENEZES, Sérvulo Drummond, 1850, Uma época Administrativa da Madeira, vol.II, Funchal, pp. 611-613.

338
Junta Geral

de decreto para o lançamento de um adicional de 1% sobre os direitos a ser usado Levada Nova do
nestas obras. Rabaçal.

A partir de 11 de março, uma lei determina que os excessos da receita do


distrito do Funchal, resultante das alterações da lei de 13 de março de 1864, sobre a
liberdade de cultivo do tabaco nas ilhas, fosse usada para dar continuidade às obras
de irrigação da Madeira. Em 1866, a irrigação continua a ser uma prioridade no
desenvolvimento da agricultura, afirmando, então, o Governador Jacinto António
Perdigão que a irrigação é talvez a condição mais essencial para o aproveitamento
do solo da Madeira105. Por lei de 11 de março de 1884, regulou-se a forma do
empréstimo a solicitar para as obras de construção das levadas. Entretanto, em
1890, tivemos a chamada Levada Nova do Rabaçal, que custou 116.208$480106. A
estas duas temos ainda de juntar outras intervenções do Estado com as levadas da
Serra do Faial e de S. Jorge, do Caramujo, do Lombo do Moiro e do Juncal107. Entre

105 Relatorios sobre o Estado da Administração Pública..., Lisboa, 1868, p. 34.


106 Cf. CORREIA, Marques de Jácome, 1927, Ilha da Madeira, Coimbra, pp. 81-82.
107 SILVA, Fernando Augusto, 1978, Levadas, in Elucidário Madeirense, vol. II, Funchal, pp. 227-259.

339
Junta Geral

1903 e 1906, o Governo foi autorizado a prestar um crédito, no valor 76.051$000rs


para a construção de novas levadas108.
Por lei de 21 de maio de 1896, o Governo foi autorizado a pôr em concurso a
construção e exploração de levadas na Madeira, cuja ordem de abertura é de 18
de junho109. A concessão foi entregue a Manuel Afonso de Sousa, mas este, ao fim
de três anos, acabou por pedir a rescisão do contrato, sem ter feito nada, passando
novamente todos os serviços das levadas para a Direcção das Obras Públicas do
distrito, a 22 de junho de 1899.
Estamos perante uma atitude hipócrita, na medida em que o Estado quer
fugir às suas responsabilidades financeiras, passando para os privados o seu
ónus, quando os estudos apontavam contrapartidas favoráveis para uma ativa
intervenção do mesmo, com o aumento das produções e consequentes tributos e,
depois, da venda das levadas aos heréus110.
Os particulares também se organizam na defesa dos seus interesses. Em 1903,
surgiu a Liga das Levadas111, para a defesa dos direitos dos heréus das levadas de
D. Isabel, Moinhos e Santa Luzia, servidas pela Ribeira de Santa Luzia. A par disso,
temos a salientar diferentes propostas que foram apresentadas a solicitar contrato
de concessão para a construção e exploração de levadas, que nunca mereceram
atenção do Governo112. Juntam-se várias propostas apresentadas na imprensa e na
Câmara dos Deputados ou simplesmente publicadas em folheto113.
A partir de finais do século XIX, foram feitas propostas para que o Estado as
vendesse. A primeira foi feita em 29 de abril de 1898, pelo Visconde da Ribeira
Brava. Segue-se outra, com a República. Mas apenas por decreto de 31 de julho de
1928, o Estado foi autorizado a vender as levadas.
A rede viária é também uma preocupação permanente. Aliás, a partir de
meados do século XIX, o Estado intervém, de forma direta, na definição de uma rede
de transportes e comunicações, com a construção de estradas, caminhos-de-ferro
e portos. Desta forma, em 1852, surgiu Ministério das Obras Públicas, Comércio
e Indústria, revelador da importância deste setor na estrutura institucional, que
começara a ser definida em 1836, com as divisões de Obras Públicas do Ministério
do Reino.

108 Decretos: 13 de novembro de 1903 crédito especial de 20.000$000 rs; 3 de janeiro de 1905 crédito de 16.051$000; 24 de
agosto de 1905: 20.0000$000 rs; 29 de agosto de 1906: 20.000$000. Outros decretos foram feitos em 8 de novembro de
1906, 4 de maio de 1920.
109 Por lei de 20 de setembro refere-se que o governo tem direito a 35% das cobranças a serem feitas ao concessionário das
levadas. Cf. 1896, Relatorio Justificativo da Proposta apresentada pelo consultorio d’engenharia e Architectura do Funchal
no Concurso para a Adjudicação da empreza d’Irrigação no Archipelago da Madeira, a que se refere o Decreto de 18 de
junho de 1896, Funchal. A proposta é de 5 de setembro de 1896 e foi subscrita por Carlos Roma Machado de Faria e
Maia e Anibal Augusto Trigo.
110 1916, A imprensa e os tres projectos sobre colonia, venda de aguas do estado e autonomia da Junta Agricola..., Funchal,
111 VALLE PARAIZO, Visconde. Relatório apresentado pelo visconde de Valle Paraizo. como presidente da Commissão
Delegada da Liga das Levadas derivadas da Ribeira de Sta Luzia, na sessão de 9 de junho de 1906. (5.1.): (8. n.), (1906?).
112 A primeira proposta é de 1882, surgindo outras em 1891 e 1892.
113 1888, Considerações appresentadas á Comissão encarregada de estudar a situação economica da Madeira. Por AIguns
Madeirenses. Funchal: Typ. do Diario de Noticias; CACONGO, Visconde e outros, 1891, Representação dirigida ao
Governo acerca das aguas d’irrigação na Madeira, Funchal, Typ. Esperança; JESUS, Ouirino, 1897, Representação
dirigida ao Governo ácerca das aguas d’irrigação na Madeira. Funchal: Typ. Esperança; 1897, Empreza das levadas
do archipelago da madeira. instrucções para as commissões syndico-agricolas concelhias de irrigação. Funchal: Typ.
Esperança; JESUS, Quirino Avelino de, As aguas e as levadas da Madeira.in Revista. Portugal em Africa. de março de
1898; TRIGO, Adriano Augusto, 1911, Plano geral de distribuição e arrendamento das agues da Levada da Serra do Falai
para irrigação das freguezias do Caniço. S. Gonçalo e Sta. Maria Maior (Ilha da Madeira). Lisboa, Imprensa Nacional.

340
Junta Geral

Em 1868, com a reforma dos serviços do ministério, subdividiu-se o Serviço


Técnico das Obras Públicas em divisões de serviço, sendo uma para o Funchal. A
estas estavam atribuídas funções administrativas, técnicas e de fiscalização para
as estradas, pontes, edifícios e monumentos, obras hidráulicas, minas, geologia,
máquinas a vapor, florestas, pesos e medidas. Para a Madeira, a autonomia
administrativa de 1901 transferiu estes serviços para a Junta Geral.
A partir da lei de 6 de junho de 1864, os encargos com as estradas e caminhos
de terceira ordem passam para a administração municipal, existindo uma comissão
municipal de viação que superintende e autoriza as obras. Entretanto, em 1863,
havia-se elaborado um plano para a rede de estradas reais da ilha, definido por
duas estradas litorais e duas transversais que estabeleciam a ligação entre as duas
primeiras114. Esta situação foi considerada favorável ao desenvolvimento do plano
viário da ilha115. Em 1872116, a sua superintendência está a cargo de uma Repartição
Distrital de Obras Públicas, que funciona no âmbito da Junta e é coordenada por
um Diretor de Obras Públicas.

1901-1926

Os vários governos da República pouco ou nada alteraram o diploma de 1901;


apenas em 1913, foi modificado o número de procuradores à Junta Geral, eleitos
pelos vários concelhos da Madeira. A crise política que o regime republicano
instalou não trouxe nada de novo à ilha, uma vez mais manietada por falta de
meios financeiros para atender às legítimas aspirações dos madeirenses.
Em 1902, a Junta Geral iniciou a sua atividade e, como refere Reis Leite, começou
imediatamente a realizar muitos melhoramentos públicos, como a construção da
rede de estradas e de muitos outros serviços, uns já existentes e outros de criação
nova. No entanto, a extensão da esfera da autonomia administrativa, através
do decreto de 31 de julho de 1928, o primeiro que traz a assinatura de Oliveira
Salazar, alargando as suas competências e atribuições, veio, de igual modo,
sobrecarregar a Junta Geral com novos e pesados encargos e sem os necessários
meios compensadores para a sua satisfação, asfixiando-a financeiramente. Através
deste decreto, procedeu-se à descentralização, para a Junta, de serviços dos
ministérios do Comércio e Comunicações, Agricultura e Instrução, os do Governo
Civil, da Polícia, da Saúde Pública, da Assistência e Previdência dependentes do
inistério do Interior e Finanças.
Chegados à República, redobra a capacidade de intervenção dos madeirenses,
através da figura do Visconde da Ribeira Brava. A política de apoio à construção
das levadas tem continuidade. Para o ano económico de 1910-1911, a Madeira foi
contemplada com 4276$540, num total de obras públicas orçamentadas no valor

114 1863, Relatório Apresentado à Junta Geral do Distrito do Funchal na sua sessão ordinária de 1863 pelo secretário-geral
servindo de Governador Civil Jacinto António Perdigão, Funchal, doc. anexo; VASCONCELLOS, João H. de 1879,
Apontamentos para o Estudo da Crise Agrícola do Distrito do Funchal, Funchal, pp. 36, 101-103, 136 e 157.
115 1872, Relatorio e documentos dirigidos a Junta Geral do districto do Funchal em 1 de março de 1872, Funchal, pp. 7-8.
116 Relatorio da Junta Geral, 1874.

341
Junta Geral

de 27.437$360117. Por outro lado, a Junta Geral intervém com 1.2000$000, com a
finalidade de abrir as estradas de ligação do Funchal a Machico e a S. Vicente.
A construção de estradas é grande preocupação desta época. Tanto mais que
o desenvolvimento do transporte automóvel vai obrigar à definição de uma nova
política de estradas e caminhos. Entretanto, a partir da década de quarenta do
século XIX, por força do turismo, é insistente a reclamação para que se apostasse
numa rede viária. Recorde-se que o plano de estradas andará sempre ligado ao
Turismo, incluso em termos de estrutura administrativa.
Será este o verdadeiro impulsionador da rede viária e não as necessidades
sentidas no setor agrícola e industrial. Em 1921, surgiu a Administração Geral das
Estradas e Turismo que, em 1927, deu lugar à Junta Autónoma das Estradas (JAE)
e à Direcção Geral de Estradas. O madeirense Francisco Maria Henriques (1879-
1942), que havia sido chefe de Gabinete do Dr. Sidónio Pais, entre 1911-12, foi
vice-Presidente desta Junta Autónoma de Estradas.
A construção da ponte do Ribeiro Seco, a partir de 1848, é o principal símbolo
da modernidade e o ponto de partida para o traçar de uma adequada rede viária
madeirense que diminuísse as distâncias e aproximasse os diversos núcleos
populacionais e espaços agrícolas do Funchal, que atua como centro administrativo
e de comércio de importação e exportação a ser usado nestas obras de construção
de levadas e estradas118. Esta modernidade dará novas condições para o traçar de
uma rede viária para a ilha. Mesmo assim, apesar de tantas solicitações por mais
estradas, há quem se pergunte se as mesmas seriam viáveis119.
Parece que a ideia não conquistava adeptos na metrópole pois, do plano de
intenções de construção de 936 Km de estrada apresentado em 1883, não passava
dos 10km120, no ano seguinte. Contudo, as vozes em prol de um plano viário para
a Madeira não esmorecem, pois é fundamental para a valorização e afirmação da
agricultura e para a animação do comércio121.
Vários governadores civis insistiram na precariedade do sistema viário da ilha
e na necessidade do seu melhoramento. Em 1856, o Governador António R. G.
Couceiro é claro: As estradas e caminhos que existem são quasi todos de muito
dificil transito, e nem um só delles permitte o uso de carros nem de outros meios de

117 Diário da Câmara dos Deputados, 8 de março de 1912, pp.18-20; 25 de Março de 1912, p. 9.
118 A Ordem, n.º28, pp. 2-3.
119 Em 1879, Henrique de Lima e Cunha, o Capitão de artilharia em serviço nas obras públicas do Funchal referia: É claro
que no estado actual das sciencias seria exequível fazer todas as obras de arte, estradas capazes de serem percorridas por
vehiculos de rodas, mas tal empreza seria perfeitamente absurda, considerada pelo lado económico, e ainda que em taes
trabalhos se houvesse somente de gastar a décima parte do que realmente seria necessário, os gastos não compensariam as
vantagens. (Plano de Melhoramentos para a ilha da Madeira. Relatório, Lisboa, p. 12.
120 VIEIRA, M. J., 1884, Discurso Proferido na Câmara dos Senhores Deputados na Sessão de 13 de Fevereiro de 1884,
Lisboa, p. 8.
121 Cf. LYRA, Manuel Inisio da Costa, 1888, Propostas Apresentadas por Manuel Inisio da Costa Lyra na commissão de
inquerito creada para estudar as causas da crise economica da Madeira. Por decreto de 31 de Dezembro, Funchal, pp. 5,
14; (1895), Propostas Apresentadas pela Commissão nomeada pela Assembleia da Associação Comercial do Funchal a 14
de Novembro de 1894 para Estudar as Causas do Desvio da Navegação do nosso Porto e do afastamento dos Forasteiros,
Funchal, p. 18; RAMOS, Acúrcio Garcia, 1880, ilha da Madeira, t.I, Lisboa, p.33; Castro, José de (1885), As Vitimas
d’Elrei. História dos Processos movidos contra os perseguidos políticos da ilha da Madeira desde 29 de Junho de 1884 até
ao anno de 1885, Lisboa, p. 73. A este propósito, diz-nos HERÉDIA, Francisco Correia: Os caminhos e estradas mais
urgentes são os que devem dar communicação facil entre os centros de produção e os portos de mar, e entre o norte e o
sul da ilha. Chegados os productos aos portos, seguem dahi por mar por preços commodos para todos os pontos da ilha
onde convenha leva-los, quer para consumo immediato, quer para as localidades de fabricas de assucar e de aguardente.
(Situação Económica da ilha da Madeira, Funchal, p. 28).

342
Junta Geral

transporte, sem o que a indústria prospere neste paiz122. A orografia e o


abandono do poder
Por decreto de 2 de setembro de 1915, foi permitido à Junta Agrícola Central são os
contratar com a Caixa Geral dos Depósitos, um empréstimo de 100:000$00 para principais obstáculos
a construção de estradas e hotéis de turismo. Numa sindicância feita em 1917, ao desenvolvimento da
rede viária.
ficamos a saber que, até 1916, a Junta terá gasto a quantia de 97.301$93, em
estudos e na concretização de estradas123. Durante esta época, por impulso do
Visconde da Ribeira Brava e de Vasco Gonçalves Marques, que foi Presidente da
Comissão Executiva da Junta Geral desde 1914, deu-se um impulso significativo
à construção de estradas. Assim, temos a assinalar as estradas entre Funchal e
Machico, Câmara de Lobos a Ribeira Brava e Encumeada S. Vicente. Esta última
teve abertura oficial em 1916.
O primeiro automóvel apareceu na Madeira, em 1904 e demorou muito a
desenvolver-se uma rede de circulação viária eficaz. Em 1907, constituiu-se a
primeira empresa de transportes coletivos, a Empresa Madeirense de Automóveis,
depois, em 1913, surgiu a Empresa Funchalense de Automóveis e, com ela, o

122 Relatório sobre o Estado da Administração Pública..., Lisboa, 1857, p. 380.


123 1917, Sindicância à Junta Agrícola da Madeira, Lisboa, pp. 93.

343
Junta Geral

agendamento de uma carreira regular de transportes


para a vila de Câmara de Lobos. A existência de uma
estrada até Câmara de Lobos vai despertar o interesse
pela exploração de carreiras regulares, tendo surgido,
em 1925, a Empresa Camaralobense de Automóveis. Já
em 1914, surgiu, na Ribeira Brava, outra companhia que
estabelecia ligações regulares com o Funchal. Depois,
em 1933, tivemos outra companhia de transportes. A
sua associação veio a dar origem à RODOESTE Lda.124,
em 1967.
O automóvel assume-se como o meio de transporte
mais importante, obrigando as autoridades a um
esforço redobrado para abrir novas estradas e alargar
as estradas reais e as ruas da cidade. Mas a conquista definitiva do espaço da ilha Postal Ilustrado.
estava reservada para a época seguinte.
O mar que contorna a ilha, que poderia ter sido o caminho mais fácil para a
circulação dos madeirenses, tendo em conta a orografia, parecia ter-se tornado
num obstáculo, sendo estas vias imprescindíveis para animar a agricultura e o
comércio125.
A República trouxe-nos a novidade de uma nova estrutura de coordenação
económica da iniciativa do Visconde da Ribeira Brava que, em muitos aspetos,
colidia com a atividade da Junta Geral. Em 1911, surgiu a Junta Agrícola, como
organismo de coordenação de grandes empreendimentos, em prol das melhorias
da atividade agrícola e do turismo. Depois, em 1913, surgiu a Junta Autónoma
das Obras do Porto do Funchal, pela lei n.° 89, 13 de agosto de 1913, para pôr em
marcha o projeto de construção do porto oceânico. Com a República, surgiram as
chamadas Juntas Autónomas das Obras dos Portos, com o objetivo de promover
a política portuária em todo território nacional. Estas eram dirigidas pelos
presidentes dos respetivos municípios, e, no caso da Madeira e Açores, pelos
presidentes das Juntas Gerais do Distrito que tinham a função de gerir os portos e
proceder a todas as obras de construção e beneficiação de que necessitassem. A
partir de 1926, estabeleceu-se a reforma da política portuária, com a publicação
de nova lei orgânica destas juntas, a 8 de dezembro de 1927 e regulamento a 19
de dezembro do mesmo ano.
Chegados à República, redobra a capacidade de intervenção dos madeirenses,
através da figura do Visconde da Ribeira Brava. A política de apoio à construção
das levadas tem continuidade. Para o ano económico de 1910-1911, a Madeira foi
contemplada com 4276$540, num total de obras públicas orçamentadas no valor
de 27.437$360126. Por outro lado, a Junta Geral intervém com 1.2000$000, com a
finalidade de abrir as estradas de ligação do Funchal a Machico e a S. Vicente.
A criação da Junta Agrícola, em 1911, foi importante na definição local desta

124 Ribeiro, João Adriano, 1998, Ribeira Brava, pp. 212-214.


125 Cf. CUNHA, Henrique de, 1879, Plano de Melhoramentos para a Ilha da Madeira, Lisboa, Imprensa Democratica, pp.
11-12.
126 Diário da Câmara dos Deputados, 8 de março de 1912, pp.18-20; 25 de março de 1912, p. 9.

344
Junta Geral

política de desenvolvimento integrado do espaço rural. Recorde-se que o artigo


3.° da lei de 31 de agosto de 1915 passou para a Junta Agrícola, a administração,
conservação e reparação das levadas do Estado.
A Junta Agrícola (1911-1919) foi instituída pelo decreto de 13 de março de
1911, como forma de encontrar uma solução para a chamada Questão Hinton,
gerada pelo monopólio da produção açucareira. A República pretendeu resolver
a questão sacarina da Madeira, através de um novo regime que viesse facilitar a
vida aos pequenos agricultores acabando, na prática, com o monopólio da casa
Hinton. O Regime Sacarino, então em vigor, vinha do decreto de 24 de setembro
de 1903. Em 1908, o relator geral do orçamento de Estado propôs e o parlamento
aprovou, que algumas disposições, que eram apenas transitórias, passassem a ser
definitivas, efetivando esse monopólio. Esta lei obrigava as fábricas matriculadas
a comprarem todos os saldos de aguardente manifestados até 31 de dezembro de
cada ano.
De acordo com Governador Civil do Distrito do Funchal, Dr. Santiago Prezado,
o decreto de criação da Junta Agrícola da Madeira era uma iniciativa meritória
do Governo Provisório da República, que tinha em vista um fim humanitário:
reprimir o alcoolismo que tem depauperado a raça madeirense de uma maneira
assustadora127. Além disso, criara receitas importantes que seriam geridas
localmente e empregues integralmente no desenvolvimento económico da
Madeira. Ainda estava nos propósitos desta estrutura uma intervenção ativa na
regulação da atividade económica, com especial atenção na agricultura. Deste
modo, houve atuações em algumas culturas tradicionais, como a cana-de-açúcar
e a vinha. Esta política rural128 passava também pelo alargamento das áreas
cultivadas, de forma a assegurar a subsistência das populações e o povoamento
florestal das serras. O turismo e a viação são as duas novas apostas. Por fim, temos
aquilo que estava na sua origem, a expropriação das fábricas de aguardente,
que estão contribuindo para o envenenamento dos povos da Madeira e para a
paralisação de todas as culturas que não sejam a cana sacarina.
Dentro da política agrícola, a Junta pretendia a construção de barragens nos
planaltos da Ilha, de forma a conseguir uma maior infiltração das águas pluviais,
enriquecendo assim as fontes que alimentavam as levadas que, complementadas
com o estabelecimento de novas florestas, proporcionariam o progresso agrícola.
Para o planalto do Paúl da Serra, uma área de aproximadamente 4.000 hectares,
foi estabelecido um plano de colonização. Pretendia-se estabelecer aí uma colónia
de pessoas, bem dirigida, escolher, escrupulosamente, as pastagens, as espécies
florestais e os gados próprios da altitude, que é de aproximadamente 1.500
metros, transformando completamente a vida daquele planalto, com a construção
de granjas e de pequenas vilas equipadas com distrações, escolas, balneários,
postos médicos e habitações higiénicas e económicas.

127 Entrevista publicada a 15 de agosto de 1912, o Diário de Notícias.


128 A Junta pretendia instalar a Estação Agrária da Madeira e estabelecer, em diversos pontos da Ilha, grandes viveiros das
antigas castas indígenas enxertadas em cavalos resistentes, e de frutas, tendo ao serviço destes viveiros pomicultores
estrangeiros, para ensinar aos agricultores os processos modernos de tratamento e distribuindo gratuitamente a todos
os interessados os produtos dos viveiros. Considerava ainda a Junta a possibilidade de estabelecer prémios para os
agricultores e promovia a construção de frigoríficos para a conservação e armazenamento de frutas e carnes. A Rua do
Frigorífico, no Funchal, é herdeira desta última situação, testemunhando uma infraestrutura que nunca funcionou.

345
Junta Geral

Por decreto de 2 de setembro de 1915, foi permitido à Junta Agrícola contratar


com a Caixa Geral dos Depósitos, um empréstimo de 100:000$00 para a construção
de estradas e hotéis de turismo. Uma sindicância feita em 1917 mostrou-nos que,
até 1916, a Junta gastou a quantia de 97.301$93, em estudos e na concretização
de estradas129, Durante esta época, por impulso do Visconde da Ribeira Brava e
de Vasco Gonçalves Marques, que foi Presidente da Comissão Executiva da Junta
Geral desde 1914, deu-se um impulso significativo à construção de estradas. Assim,
temos a assinalar as estradas entre Funchal e Machico, Câmara de Lobos a Ribeira
Brava e Encumeada S. Vicente. Esta última teve abertura oficial em 1916.
O conflito de competências entre a Junta Agrícola e a Junta Geral, originando
duplicação de despesas e serviços, implicou que, na sessão da comissão executiva
da Junta Geral do Distrito, de 19 de maio de 1914, fosse aprovada uma proposta
feita em nome do Partido Democrático da Madeira, que pedia ao Governo da
República, a extinção da Junta Agrícola da Madeira, com a passagem das receitas
e do seu pessoal para a Junta Geral.

129 1917, Sindicância à Junta Agrícola da Madeira, Lisboa, p. 93.

346
Junta Geral

1926-1974 Postal Ilustrado


A década de trinta foi uma década fatal no quadro da relação da ilha com o
Estado. Duas Revoluções, em 1931 e 1936, são exemplo do descontentamento
generalizado e da incapacidade da Junta em fazer qualquer coisa, manietada que
estava pelos constrangimentos financeiros.
O Governador José Nosolini, num relatório sobre a situação da Madeira
enviado ao Ministro do Interior, em 1939130, dava conta do estado de abandono
e esquecimento a que estava sujeita a Madeira: até dezembro de 1936, o Estado
gastara 943.369 contos, em estradas do continente e, na Madeira, nada. Apenas
pelo decreto 28.592, de 14 de abril de 1938, estabelecera um plano de construção
de estradas até 1949, no valor 44.000 contos, assumindo o Estado 75% do seu
financiamento. O presente governador aponta, mesmo, o dedo ao Estado,
acusando-o de favorecer outras regiões, em detrimento desta, apontando o caso
dos portos, em que o Estado apoiara, através de empréstimos, as obras dos portos
de Viana do Castelo, Aveiro, Setúbal, Douro e Leixões, enquanto no Funchal as
obras realizadas haviam sido todas custeadas pelas receitas da Junta.
Há um sentimento generalizado de orfandade por parte dos madeirenses, é
manifesto o descrédito das instituições e das pessoas que as dirigem. A crise da

130 Documento disponível em: Nosolini, José,1939, Relatório ao ministro do Interior, Documentos, O Deve e Haver das
Finanças da Madeira. Séculos. XV.XXI, Funchal, Biblioteca Digital do CEHA (acesso local).

347
Junta Geral

década de trinta provocara efeitos inevitáveis na sociedade insular. Primeiro, deixou


de se acreditar nas promessas e nas obrigações institucionais das autoridades
locais e nacionais. Depois, foi-se somando a descrença nas demais instituições que
o Governo, de forma legislativa, foi moldando, como as Cooperativas leiteiras, os
Grémios, as Juntas e Comissões. Cava-se, de forma definitiva, um fosso entre o
quadro político-institucional e os interesses dos madeirenses. Tardará muito, até
que o ilhéu adquira a confiança nas instituições e nos políticos continentais. A
democracia de 1974 demorou muito tempo a sarar as feridas. Daí a permanente
ideia de orfandade e descrédito e a persistência de um princípio de que Do
Garajau para cá manda quem cá está. O problema estava – e está - nas barreiras e
dificuldades, humanas e não físicas, que existiam – e existem - para além da Ponta
do Garajau.
Chegados aos anos setenta, clarificam-se algumas situações e parece que
as ilhas começam a ganhar um estatuto distinto. Paulatinamente, determinadas
situações de caráter colonial deixam de pautar as relações entre estas e o Terreiro
do Paço. Foi salutar a medida, estabelecida em 1970131, de abolir todos os entraves
à circulação de mercadorias entre a metrópole e as ilhas. A medida foi saudada,
de forma efusiva, pelos insulares que viam reduzidos os custos de circulação dos
produtos com os portos continentais132. Desde o século XIX que um conjunto amplo
de leis e decretos estabeleceu impostos e taxas que oneravam, de forma excessiva,
a circulação de mercadorias133. Mas, o Estado, porque não podia ser prejudicado
na receita que daí advinha, logo se apressou a determinar uma compensação,
através do alargamento do imposto de consumo sobre o tabaco às ilhas134. Desta

131 Cf. apresentação e debate do Decreto em Diário das Sessões n.º 17, 28 de janeiro de 1970, pp. 1-2. Tenha-se em conta
que, por despacho de 6 de novembro de 1968 do Ministro do Interior, foi criado um grupo de trabalho ad-hoc,para
o estudo dos entraves à livre circulação de mercadorias nacionais entre as várias ilhas adjacentes e entre estas e o
continente, tendo como base um estudo preliminar realizado pela Direcção de Serviços de integração Económica
Nacional.
132 Apenas para que se veja a forma vexatória da situação, tomamos em linha de conta uma tonelada de sal importada do
Algarve que, na origem, ficava por 335$00, e que à chegada ao Funchal, ao valor indicado, deveria adicionar-se 419$83.
Esta informação é dada em ofício do Grémios dos industriais de Panificação do Funchal, n.º26/69 de 25 de janeiro,
dirigido ao Presidente da comissão de Coordenação Económica. Outra informação da Somagel referente a 1 de Março
de 1969, sobre a importação de 960 Kgs de peixe em 32 caixas no valor de 9.100$00, vimos a fatura ser acrescida de
881$50. Documento disponível em: S.A., Relatório sobre a Proposta de lei sobre a circulação de mercadorias nacionais
ou nacionalizadas entre o continente e as ilhas adjacentes, Lisboa, Ministério das Finanças e da Economia, Documentos,
O Deve e Haver das Finanças da Madeira. Séculos. XV.XXI, Funchal, Biblioteca Digital do CEHA (acesso local).
133 O decreto 8/70, que aprova a referida alteração, revogou os seguintes diplomas: carta de lei de 27 de dezembro de 1870;
lei de 26 de outubro de 1904; lei n.º 80, de 21 de julho de 1913; lei n.º 1892, de 13 de janeiro de 1928; lei n.º 1404, de
27 de fevereiro de 1923, alterada pelo decreto n.º 14.686, de 8 de dezembro de 1927, salvo no que se refere à tributação
do tabaco, que se mantém em vigor enquanto não forem alterados os direitos de importação do tabaco nas ilhas
adjacentes; lei n.º 1561, de 10 de março de 1924; decreto-lei n.º 26 424, de 17 de março de 1986; decreto-lei n.º 29.236,
de 8 de dezembro de 1938; decreto-lei n.º 36.375, de 26 de junho de 1947; decreto-lei n.º 36.820, de 7 de abril de 1948,
salvo no que se refere à tributação do tabaco, que se mantém em vigor enquanto não forem alterados os direitos dê
importação do tabaco nas ilhas adjacentes; decreto-lei n.º 36.924, de 22 de junho de 1948; decreto-lei n.º 38.291, de 7 de
junho de 1951; decreto n.º 11.871, de 16 de dezembro de 1925; decreto n.º 14.736, de 16 de dezembro de 1927; decreto
n.º 16.548, de 28 de fevereiro de 1929; decreto n.º 18.041, de 28 de fevereiro de 1930; decreto n.º 18.586, de 10 de julho
de 1930; decreto n.º 19.669, de 8 de abril de 1931; decreto n.º 19.902, de 18 de junho de 1931; decreto n.º 26.952, de
28 de agosto de 1936; decreto n.º 29.477, de 9 de março de 1939; artigos 106.º a 108.º e n.º 9 do artigo 99.º do Estatuto
dos Distritos Autónomos das Ilhas Adjacentes, provado pelo decreto-lei n.º 86.453, de 4 de agosto de 1947; artigos 2.º
e 3.º do decreto n.º 12.782, de 30 de novembro de 1926; Alínea f) do artigo 6º, do decreto n.º 15.110, de 5 de março de
1928; artigo 6.º do decreto n.º 22.389, de 29 de março de 1933; alínea c) do artigo 5.º do decreto-lei n.º 26.985, de 5 de
setembro de 1936; § 2.º do artigo 10.º do decreto-lei n.º 30.554, de 28 de junho de 1940; artigos 13.º e 14.º do decreto
n.º 30.290, de 13 de fevereiro de 1940; artigo 8.º do decreto-lei n.º 88.590, de 29 de março de 1944; alínea c) do n.º 6.º
do Regimento Geral dos Preços dos Medicamentos e Manipulações, aprovado pela portaria n.º 19.240, de 18 de junho
de 1962. Documento disponível em: S.A., Relatório sobre a Proposta de lei sobre a circulação de mercadorias nacionais
ou nacionalizadas entre o continente e as ilhas adjacentes, Lisboa, Ministério das Finanças e da Economia, Documentos,
O Deve e Haver das Finanças da Madeira. Séculos. XV.XXI, Funchal, Biblioteca Digital do CEHA (acesso local).
134 Este imposto foi criado pelo decreto-lei 48.766 de 8 de junho de 1961 e não abrangia as ilhas, que gozavam desde o

348
Junta Geral

forma, a partir de 1 de janeiro de 1970, ficou estabelecida a integração plena das


ilhas adjacentes no espaço económico nacional, deixando de existir os referidos
entraves à livre circulação de mercadorias, preservando-se as exceções existentes
para o tabaco, vinho, açúcar e aguardente. Esta situação foi mais um ónus a que
os insulares estiveram sujeitos e que peca por tardia quando, desde 1 de janeiro
de 1963, se havia já aberto os portos nacionais aos produtos das províncias
ultramarinas135.
É deste período o maior esforço de investimento por parte do Estado na região,
mas que contou sempre com um ativo financeiro dos madeirenses, através de
empréstimos bancários e adicionais aos impostos, de cobrança local. Os resultados
eram visíveis e motivo de regozijo para os homens do sistema136. A mudança
definitiva deste quadro de transformação do arquipélago estará reservada para
a década de setenta, quando o regime democrático permite aos madeirenses
definirem as suas políticas de investimento e serem donos das suas receitas.

século XIX de um regime especial quanto à tributação do tabaco.


135 Medida estabelecida pelo decreto-lei n.º 44508, de 14 de agosto de 1962, publ. Diário do Governo, n.º 186/62 SÉRIE I,
pp. 1101-1102.
136 Por diversas vezes, no post-segunda guerra mundial, vimos estas referências de gratidão à iniciativa do governo na ilha.
Estas obras do Estado Novo são o motivo do discurso do Dr. Alberto Araújo, na Assembleia Nacional, que o Diário de
Notícias (3 de março de 1946) dá destaque de primeira página. Mais tarde o Governador Camacho de Freitas, na presença
do Presidente da República, afirmava: Percorreu V. Exa toda a ilha e pôde assim apreciar a grande obra aqui realizada
pelo Estado Novo, em que é saliente a forma como, digna de louvar, como as autarquias têm correspondido aos esforços do
Governo em prol do progresso e engrandecimento da Madeira e utilizado as verbas consignadas. O desenvolvimento dado
à instrução pública e aos serviços assistenciais; as estradas, o repovoamento florestal, os aproveitamentos hidroagrícolas
e hidroelétricos, a eletrificação rural (…) a substituição da rede de distribuição de energia elétrica da cidade do Funchal;
as Centrais elétricas Salazar e José Frederico Ulrich; o início da construção da central da Ribeira da Janela; os novos
edifícios em que se instalaram condignamente os serviços públicos; o aeroporto do Porto Santo e o de Santa Catarina, em
ritmo verdadeiramente notável de construção; todas as realizações da Junta Geral do Distrito e das Câmaras Municipais,
constituem um conjunto extraordinário de melhoramentos e assinalam uma era que, com toda a justiça, bem se pode
chamar a era de Salazar. Entre as inaugurações a que V. Exa. procedeu durante esta visita, pela sua projecção no futuro
da madeira, pelo volume da obra realizada e verba dispendida, é de destacar o novo porto do Funchal. De ano para
ano vêm sendo resolvidos os problemas capitais da Madeira, graças à política seguida pelo Governo da Nação. Dos que
estão para resolver destaca-se pela sua importância o problema do turismo, única indústria para a qual a Madeira foi
excepcionalmente dotada e que pode influir consideravelmente na melhoria das suas condições de vida. Equacionado com
larga visão das possibilidades locais e executado com a vontade firme de fazer desta ilha um verdadeiro centro de atracção
mundial, o plano do turismo pode e deve constituir fonte de riqueza importante a distribuir por todos os que aqui vivem e
trabalham (Conde do Funchal, 1962, pp. 229-230).

349
Junta Geral

1974-1976
INTERLÚDIO PARA O REGIME AUTONÓMICO.

A clarificação do processo político, com a aprovação do Estatuto Provisório


da Madeira em 29 de abril de 1976 e o ato eleitoral para a Assembleia Regional a
27 de junho, abriu o caminho para a afirmação do processo constitucional com a
atribuição da autonomia político-administrativa consagrada na Constituição, que
foi aprovada a 2 de abril de 1976. A mudança constitucional de 1976 permitiu
avançar com o processo de descentralização administrativa para a autonomia
política, que possibilitou a criação de um Governo Regional e de uma Assembleia
Regional com capacidade legislativa em casos específicos. A efetiva governação do
arquipélago só teve lugar a partir das primeiras eleições regionais e com a tomada
de posse do primeiro governo constitucional a 1 de outubro de 1976.
Com as alterações políticas de 1974, pelo decreto-lei n.º 139/75, de 18 de
março de 1975, é criada, na Madeira uma Junta de Planeamento que funciona
como instituição governativa transitória e que tinha, sob a sua tutela, a Junta Geral
do Distrito Autónomo da Madeira e a Comissão Regional de Planeamento.
Foi um um órgão transitório, até à definição da autonomia constitucional,
um órgão de gestão criado para o Distrito do Funchal, que se apresentava com

350
Junta Geral

uma composição e poderes mais amplos dos do Governador Civil e da Junta Geral.
A Junta foi criada pelo decreto-lei n.° 139/75, promulgado a 11 de março, pelo
Presidente da República, Costa Gomes, e publicado sete dias depois. A junta, que era
presidida pelo Governador Civil e integrava três vogais, tomou posse a 25 de março.
Por decreto-lei 339-A/75, de 2 de julho, este órgão ficou acometido da função de
proceder ao saneamento dos serviços do Estado e corpos administrativos e outras
entidades aí existentes, passando a contar com mais um vogal, o Representante
do Comando Militar. A situação de instabilidade política e, de forma especial, o
desagrado dos partidos pela sua ação levou-a a pedir a demissão a 9 de agosto
de 1975. Manteve-se, porém, em gestão até meados de outubro e, apenas em
20 de fevereiro de 1976, foi substituída pela Junta Regional, pelo decreto-lei n.º
101/76, de 3 de fevereiro de 1976, à Junta Administrativa e de Desenvolvimento
Regional, com competências no Planeamento e nas Finanças. A anterior Junta
havia pedido a demissão por força da instabilidade politica e oposição manifesta
do PSD, que a intitulava de comunista. Este partido apresentou, a 26 de setembro,
ao Governador Civil, a proposta de uma nova Junta. A 1 de outubro desse ano, o
Brigadeiro Carlos Azeredo consulta os partidos políticos sobre a composição da
nova Junta, manifestando o CDS a indisponibilidade para tal. Entretanto, a sua
composição foi aprovada no Conselho de Ministros do dia 13 de dezembro, sendo
o decreto promulgado pelo Presidente da República, a 29 de janeiro. A nova Junta
Regional tomou posse a 20 de fevereiro de 1976, sendo composta de 6 vogais
sob a presidência do Brigadeiro Carlos Azeredo. A Junta Regional manteve-se em
funções até finais de Setembro do ano, dando lugar, a 1 de outubro, ao primeiro
Governo Regional da Madeira. Durante este curto mandato, para além de preparar
e coordenar as eleições regionais e a instalação da primeira Assembleia Regional, a
Junta Geral atuou de forma direta em diversas situações da sociedade madeirense,
com múltiplas determinações de caráter económico e social.
A Junta Geral e a Junta Regional em outubro de 1976, pelo decreto regional
n.º 2/76, de 21 de outubro, mediante o processo político de mudança político-
institucional, dá lugar ao primeiro Governo Regional da Madeira, chefiado pelo
Eng. Ornelas Camacho. Em março de 1978, toma posse o Dr. Alberto João Jardim,
que se mantém no cargo até ao presente. A partir do 25 de abril de 1974, com
a deposição do regime político vigente, abriu-se uma nova página de esperança
para os madeirenses que não desistiram da sua luta por uma autonomia capaz
de satisfazer as suas necessidades de desenvolvimento económico e social, com a
adequada utilização dos seus impostos. A consolidação do regime autonómico faz-
se através da transferências de competências em múltiplas áreas e serviços que
passam, paulatinamente, a integrar a estrutura do Governo Regional. O processo
iniciou-se em 1978 e só ficou concluído em 2005, com a regionalização dos serviços
de finanças.
O 25 de abril de 1974 abriu novas oportunidades para a afirmação e o
desenvolvimento da autonomia. A clarificação do processo político, com a
aprovação do Estatuto Provisório da Madeira em 29 de abril de 1976 e o ato
eleitoral para a Assembleia Regional a 27 de junho, foram o primeiro passo para
a afirmação do processo constitucional, com a atribuição da autonomia político
administrativa consagrada na Constituição, aprovada a 2 de abril de 1976. Daqui

351
Junta Geral

resultou o processo de descentralização administrativa para a autonomia política,


que possibilitou a criação de um Governo Regional e de uma Assembleia Regional
com capacidade legislativa, em casos específicos. Com a Constituição de 1976,
foram instituídas as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores que passam a
usufruir de poderes financeiros e administrativos que se expressam na autonomia
patrimonial plena, com poderes de planeamento e orçamentais próprios. Desta
forma, a Secretaria das Finanças elabora e submete à aprovação da Assembleia
Legislativa Regional o plano, o orçamento e as contas.

1975-1976:
Os primórdios da Nova Democracia Parlamentar.

Os debates parlamentares apresentam-nos um manancial de informações


que exigiriam outro tratamento. Deixámos a porta aberta para outras viagens, com
outras direções.
Como Deputado eleito pelo povo madeirense, integrado num grupo que
abrange cinco dos seis Deputados do distrito do Funchal, cumpre-me trazer ao
vosso conhecimento, embora, em termos genéricos, a dolorosa realidade actual da
ilha da Madeira e os anseios e aspirações de toda a população dessa maravilhosa
parcela de Portugal. Este é o princípio da intervenção mais relevante deste primeiro
tempo de liberdades e de descobertas de novos caminhos para as então ilhas
adjacentes. O deputado Emanuel Rodrigues (PPD) apresenta, deste modo, aos
seus congéneres, os anseios e aspirações de um paraíso que esconde, de acordo
com as suas palavras, uma dolorosa realidade.
O teor do seu discurso [ora poético, ora inflamado, florido, como o caraterizou
o deputado Manuel Moura do PS, no pedido de esclarecimento que se lhe seguiu]
focou duas ideias que serão repetidas, ao longo de décadas por aqueles que, em
nome do povo que os elegeu, pretenderam fazer da ilha da Madeira um lugar
melhor de se viver: E é propositadamente que emprego a palavra «maravilhosa».
Com efeito, o povo continental, quando por vezes se recorda de que existe uma
ilha que dá pelo nome de Madeira, recorda-a como a pérola do Atlântico, como
a ilha de paisagens paradisíacas, recorda-a como aquela região insular em que
os festejos de fim de ano são um sonho, recorda-a como a ilha das flores, onde
há orquídeas, antúrios e estrelícias! (...) Mas, Srs. Deputados, isto não passa de
pura ilusão! Nós, os madeirenses, não vemos o quadro de tal forma; para nós, as
tonalidades são outras, são mais escuras, bem mais sombrias.
A realidade é bem diferente! O povo madeirense tem a sensação clara de que
tem sido sistematicamente marginalizado, votado ao ostracismo, discriminado. De
resto, esta discriminação é tão evidente, já tão arreigada que, até nesta Assembleia
(e refiro-o por mera curiosidade) isso se verificou aquando da leitura do relatório da
Comissão de Verificação de Poderes: nesse relatório os Deputados eram referidos
por ordem alfabética de distritos e, embora sem surpresa minha, os Deputados das
ilhas foram «indelicadamente» relegados para o final.

352
Junta Geral

Neste discurso inicial, desmistifica-se a noção de ilha-paraíso, de um lugar


edénico: a ilha das flores, das paisagens maravilhosas e dos fogos do fim do
ano esconde, afinal, uma outra realidade, mais triste, mais sombria. Mostra
um povo marginalizado, discriminado. Usa um faits-divers demonstrativo deste
esquecimento – o facto de os deputados das ilhas terem sido relegados para o fim,
apesar da ordem alfabética da lista. Teria sido esta “indelicadeza” um acaso?
O deputado Vasco da Gama Fernandes (PS) trata o caso assim: E se o Sr.
Deputado me permite o trocadilho ou o floreado, atendendo à Madeira, faço votos
para que os últimos possam ser os primeiros destes debates. 3
Este tema não morrerá nesta sessão. A lonjura da ilha e das necessidades
dos seus habitantes voltará aos debates muitas vezes, sob formas variadas –
abandono dos problemas insulares, ilhas esquecidas ou mal conhecidas, Portugal
abandonado.
As reivindicações:
Num momento de viragem do país, na abertura de um programa de liberdades
e de direitos, era necessário que os deputados das ilhas (e nesta primeira fase da
democracia ainda menina) mostrassem o quadro dos seus distritos. A Madeira traz
uma história de injustiças e de abandonos, uma lista de pobrezas e necessidades
que, desde o primeiro momento, são introduzidas no debate: a situação da
agricultura, os transportes que a ligam ao mundo, o aeroporto, as dificuldades de
um povo que planta a vida em socalcos, o regime da colonia e das levadas:
Estes problemas, além de tantos outros que em momento oportuno traremos
à colação, tornam extremamente difícil o modus vivendi da população madeirense.
Problemas que, na sua grande maioria, terão de ser resolvidos a nível regional. A
Madeira tem de ser pensada na sua descontinuidade geográfica, na especificidade
dos seus problemas, e não pensada em termos de Berlengas ou Tróia. O povo
da Madeira clama por justiça e espera que esta Assembleia Constituinte, à qual
compete definir o quadro do futuro português, saiba fazer-lhe justiça, como último
representante que é de todo, mas mesmo de todo, o povo de Portugal.
Estava dado o mote para que o país entendesse a ilha como Portugal, sim,
mas com especificidades concretas, uma velha aspiração do povo madeirense.
A lista das reivindicações é extensa. Deputados de várias cores políticas
elencam as prioridades: Monteiro de Aguiar (PS) é claro:
Ao trazer a esta Assembleia alguns problemas do arquipélago da Madeira,
faço-o com o entusiasmo que eles sempre me despertaram, porque os vivo, tal
como o povo trabalhador, esse povo que vem aguardando, calma e serenamente,
que um dia seja libertado das situações injustas de que tem sido vítima ao longo
de vários anos.
Mas esse sofrer contínuo tem de ter o seu fim, e já é tempo de pensar-se
nas resoluções concretas para os vários problemas que afligem as populações da
sacrificada gente da minha terra.
(…) Sim, é já tempo de pensar-se que a melhor resposta que pode dar-se a um
povo, muito concretamente, o da região da Madeira, é mostrar-lhe todo o interesse

353
Junta Geral

na solução efectiva dos seus mais sensíveis problemas.


Contudo, naquela terra, onde há muito para fazer e quase tudo é problema,
causa certa inquietação por onde e como começarem as primeiras medidas.
Com efeito, o Governo deverá tomar as necessárias providências para as
situações que na ilha da Madeira se nos afiguram de importância vital, e requerem
uma resposta rápida, concreta.
E enumera-as: a extinção da colonia, a reorganização do setor das pescas, a
montagem de uma rede de frio, a construção de silos, a ampliação do aeroporto,
a construção de habitação social, o estabelecimento de ligações entre as zonas
rurais e a cidade, a preocupação com o Porto Santo [ainda mais longe e mais
abandonado], a educação, a assistência médica, a necessidade de arborização, a
construção de um porto eficaz, entre outros problemas a precisar de respostas
urgentes.
Ao longo de toda esta legislatura, estas e outras preocupações fizeram parte
dos discursos de antes da ordem do dia, das ideias desenvolvidas no interior dos
debates, nos requerimentos e nas respostas sucessivas de deputados e ministérios.
Eis algumas dessas questões – que não se esgotam nesta lista – que apresentamos,
apenas, com o objetivo de ilustrar o nosso discurso:
- a criação de um instituto universitário;
- a urgência da criação da Junta Regional da Madeira;
- o alcance da rádio e da televisão na ilha toda;
- os dinheiros públicos e privados da Madeira;
- o ensino e a construção de escolas secundárias nas zonas rurais;
- o início das obras públicas.
-…
Todos estes requerimentos mereceram resposta do Ministérios que, à altura,
tutelavam cada área.
O que se pede é que a Madeira volte a aparecer no mapa do país, de pleno
direito, pede-se um Governo da Madeira, com poderes legislativos, capaz de tomar
medidas: na reforma agrária, na socialização da medicina, na aplicação nas ilhas,
das finanças públicas, na regionalização da banca. É necessário que seja lançada
uma política realista, que tendo em conta a vontade majoritária da população
se adegue às realidades sócio-económicas madeirenses, afirma o deputado José
Camacho (PPD). O que se pede é que sejam encontradas as soluções específicas
para uma região específica, separada da Metrópole, pelo mar e por outras
insularidades.
É o tema da marginalização do povo madeirense, do seu abandono pelo poder
central, do esquecimento das suas idiossincrasias que é lançado ao debate. Algumas
notas soltas da identificação deste descuido [intencional ou não] sublinham, de
algum modo, este sentimento de falta de pertença.
Assumindo a descontextualização dos discursos que não nos importam, agora,

354
Junta Geral

analisar, deixamos alguns desses silêncios insulares que a voz de deputados [da
ilha, de outras ilhas e do continente] faz ouvir.
Moura Guedes (PPD) manifesta a sua esperança no momento em que saúda
o governo: Pela atenção que mostra dispensar às justíssimas reivindicações de
autonomia dos esquecidos arquipélagos dos Açores e da Madeira; Monteiro de
Aguiar (PS) inicia assim a sua intervenção do dia 4 de dezembro de 1975: Ao trazer
a esta Assembleia alguns problemas do arquipélago da Madeira, faço-o com o
entusiasmo que eles sempre me despertaram, porque os vivo, tal como o povo
trabalhador, esse povo que vem aguardando, calma e serenamente, que um dia
seja libertado das situações injustas de que tem sido vítima ao longo de vários
anos8 ou então, Para terminar esta minha intervenção, ficará um apelo: Que o
Governo tome em consideração os problemas aqui levantados em relação ao povo
do arquipélago da Madeira, e não os deixe esquecidos, como acontecia e ainda
acontece.
O povo da minha terra, que tem sofrido e continua a sofrer tamanhas injustiças,
quer ver, sentir, que a Revolução, como disse, chegou também a ele, e que, assim
sendo, os madeirenses são também portugueses.
As palavras do deputado Jaime Gama (PS) concorrem para a mesma perceção.
Referindo-se concretamente aos Açores, acaba por juntar-lhe a questão da
Madeira, juntando os arquipélagos na palavra abandono : Que este abandono dos
problemas insulares tenha sido timbre dos Governos anteriores ao VI, onde forças
políticas minoritárias tinham participação excessiva, é algo que se não justifica,
mas cujas razões se podem compreender. A política de intriga e de movimentação
palaciana teve, no caso açoriano, um dos expoentes máximos do gonçalvismo, a
que o povo, por via democrática e no uso das liberdades públicas, soube dar a
resposta firme no momento oportuno.
Para além desta, talvez a explicação esteja no ir e vir das marés, no isolamento
geográfico das ilhas, Nós já conhecemos o que significa um regime centralizador
nas relações continente-ilhas. Sabemos o que é estar afastados e dependentes dos
centros de decisão, que, desconhecendo a realidade local e pressionadas por outros
acontecimentos e preocupações, acabam por esquecer e abandonar as ilhas ao seu
isolamento. Quem afirma é o Deputado José Camacho. Falando de autonomia,
as palavras do deputado Independente dos Açores, José Bettencourt, são
solidárias com a realidade da Madeira: E a construção de um Portugal que se quer
verdadeiramente livre e justo tem de passar inequivocamente pela consagração,
na Constituição, de uma ampla, real e efectiva autonomia político-administrativa
das regiões da Madeira e dos Açores.
Regiões essas que, precisamente por serem ilhas, mais abandonadas têm sido
dentro deste Portugal abandonado, esquecido e explorado por todos quantos a
partir do Terreiro do Paço impunham cruelmente o facho da ditadura.
Por outro lado, desenha-se, no sentir dos madeirenses, a vontade em tomar
o seu destino nas mãos. Um exemplo, apenas: na resposta a um Requerimento do
deputado Américo dos Reis Duarte, da UDP, que tratava um caso específico ocorrido
em Machico, em que (…) o padre Martins foi de novo destituído do cargo para que

355
Junta Geral

foi eleito, que o Machico foi invadido por forças policiais e militares que de novo
agrediram cobardemente o povo, Manuel Rodrigues responde assim: Desde já,
confesso que não compreendo a razão dos espirros do Sr. Deputado relativamente
ao povo madeirense; não compreendo donde lhe advém a legitimidade para falar de
problemas com os quais ele não se identifica; não compreendo tanta preocupação
de tutela da UDP no tocante à Madeira, tutela que os Madeirenses dispensam em
absoluto; não compreendo, finalmente, como se pode ter o despudor de tratar
de problemas insulares quando se desconhece a mentalidade, o modo de ser sui
generis do ilhéu.
Estavam lançadas as razões para a Constituição de Regiões Autónomas. Os
Açores e a Madeira preparavam aquele que viria a ser o seu futuro.
A Autonomia / A Independência . Se acertar a hora das ilhas com a hora de
Lisboa é sinal de unidade nacional, sim, mas pensar as ilhas, a partir da capital –
lugar do poder central – não será, certamente, a melhor forma de resolver os seus
problemas.
Serão objeto de debate, na fase inicial da construção efetiva das autonomias,
questões como a salvaguarda dos direitos das populações insulares, os custos da
insularidade, as relações económico-financeiras com a Metrópole, o princípio da
solidariedade nacional, os perigos inerentes ao separatismo.
Neste período, definia-se aquilo que Ruben Raposo definirá como Uma
autonomia ao serviço de todas as ilhas, ao serviço de todas as populações,
particularmente as mais desfavorecidas. Estava traçado um percurso diferente que
abre, para os Açores e para a Madeira, um caminho novo que, olhando o futuro de
frente, vale a pena percorrer.
Propomos, então, seguir a discussão e assinalar os pontos nevrálgicos que
as palavras sugeriram na construção do texto final. E partimos de um comentário
de Medeiros Ferreira, deputado do Partido socialista a uma intervenção de Vital
Moreira do PCP: Em primeiro lugar, existe um problema chamado Açores e Madeira,
e não é tentando não encará-lo de frente que ele não existe. É, tentando dentro do
quadro da soberania portuguesa, dar-lhe uma resposta adequada.
É nesta conformidade que o artigo 6º da Constituição se apresenta nestes
moldes:
ARTIGO 6. º
1. O Estado é unitário e organiza-se no respeito pelos princípios da autonomia
das autarquias locais e da descentralização democrática da administração pública.
2. Os arquipélagos dos Açores e da Madeira constituem regiões autónomas
dotadas de estatutos especiais.
Sem tirar os olhos da unidade do Estado, sem pôr em causa o Estado unitário,
ou, muito menos, a Administração Central, portanto, o PPD, pela voz açoriana do
deputado Mota Amaral assume a conquista da autonomia como sua. Efetivamente,
numa declaração de voto relativa ao Parecer da Comissão das regiões autónomas
dos Açores e da Madeira clarifica alguns aspetos, a saber: estabelecimento de
estatutos político-administrativos próprios adaptados às condições das regiões

356
Junta Geral

e respetivas necessidades de desenvolvimento; respeito pelos anseios de


madeirenses e açorianos; uma legislação específica para regiões específicas:
1. O programa do PPD, ao tratar do tema «As instituições políticas e o Estado»,
afirma o seguinte: «A estrutura do Estado deverá comportar a existência de duas
regiões autónomas, constituídas pelos arquipélagos dos Açores e Madeira. Estas
regiões autónomas deverão possuir estatutos político-administrativos próprios,
que estabelecerão um esquema de descentralização das funções do Estado,
adequado às respectivas condições geoeconómicas e sociais e necessidades de
desenvolvimento.» Estes princípios, aprovados no I Congresso Nacional do PPD, por
proposta unânime das delegações açoriana e madeirense, corporizam profundas
e ancestrais aspirações das gentes insulares e inserem-se rigorosamente na linha
social-democrática de solução dos grandes problemas nacionais, preconizada e
praticada pelo PPD. Porque se trata de comunidades dotadas de características
próprias, é indispensável reconhecer-lhes o direito de conduzirem, em toda a
medida de que forem capazes, os seus destinos, exprimindo plenamente a sua
personalidade e contribuindo assim para o enriquecimento do todo nacional.
2. Fiel ao seu programa, que em ambos os arquipélagos mereceu, nas históricas
eleições de 25 de Abril de 1975, o visto da maioria absoluta do eleitorado - caso
único, em todo o País, para qualquer partido! - o PPD trouxe a esta Assembleia
Constituinte propostas concretas para a criação e estruturação das regiões
autónomas dos Açores e da Madeira.
Entendemos sempre tratar-se de matéria constitucional, pois a autonomia
reclamada pelas populações insulares não é apenas, como outrora, administrativa
e financeira, mas também política, implica, portanto, a descentralização das
funções políticas do Estado e a instituição, nas regiões, de órgãos governativos
próprios, inclusivamente com competência legislativa.
Sempre defendemos, por outro lado, que a Constituição nascida da Revolução
de 25 de Abril para garantia de conquistas democráticas, que queremos irreversíveis,
não haveria de limitar-se, na parte agora em pausa, ao enunciado dos órgãos das
regiões autónomas e do âmbito da autonomia destes reconhecida, menos ainda à
simples menção da existência de um estatuto próprio delas e do processo da sua
elaboração.
Para o PPD é indispensável a consagração constitucional de alguns princípios
fundamentais de âmbito muito genérico, embora correspondentes a justas
reivindicações dos povos açoriano e madeirense. Em função desses princípios,
deverão os órgãos de Soberania, cooperando com os órgãos de governo próprio
das regiões, definir algo que nunca existiu - duro é dizê-lo - em mais de quinhentos
anos de presença portuguesa nas ilhas adjacentes: uma política insular, que lance
alicerces sólidos para o desenvolvimento económico e para as reformas sociais
necessárias ao desvelar do verdadeiro rosto, tão rico de traços peculiares, das
comunidades dos Açores e da Madeira.
De algum modo, e apesar de aprovado, o voto vencido do PCP, nomeadamente
no relativo ao ponto 2, assume um receio que se estenderá ao longo do tempo: No
artigo 6. º, referente à unidade do Estado, votámos vencido o n.º 2 e considerámos
politicamente inoportuna e constitucionalmente desnecessária a qualificação dos

357
Junta Geral

Açores e da Madeira como regiões autónomas, com toda a carga e significados


políticos constitucionais que o conceito encerra. Por isso, propusemos uma
formulação diferente, que, sem excluir o mesmo conteúdo constitucional, não o
tornem imperativo. É a seguinte:
Os Açores e a Madeira terão um estatuto especial de autonomia regional.
Este medo de perda da soberania [partilhado em diversos momentos pelo
Partido Socialista] há-de assumir, no ano seguinte, um ar acusatório. O deputado
Vital Moreira explica-o desta forma, repetindo um discurso antigo: Em Outubro
do ano passado afirmei deste mesmo lugar: «Ao contrário do que as forças de
direita pretendem fazer crer, a autonomia não é, em si mesma, uma panaceia para
o problema dos Açores. Pois há que distinguir: autonomia para quem? Para as
classes dominantes e para a reacção açoriana ou para as classes trabalhadoras e
forças progressistas açorianas?»
(…) Estas palavras poderiam ter sido aplicadas igualmente à Madeira. E eram
tão válidas há seis meses, face às posições então tomadas sabre a autonomia das
ilhas, como o são hoje, face ao projecto de autonomia regional apresentado ao
Plenário pela 8. ª Comissão.
Tal como já afirmámos na nossa declaração de voto sobre o projecto da
Comissão, importa que a autonomia regional — justo anseio das populações
insulares — não possa servir como instrumento do separatismo, que ponha em
causa a unidade nacional e a proeminência dos interesses nacionais sobre os
interesses regionais. E importa também que a autonomia regional não possa
constituir apenas um instrumento de reforço do poder da grande burguesia insular.
De resto, o separatismo e interesses da burguesia insular são uma e a mesma coisa.
O separatismo é uma cobertura das forças reaccionárias. Ameaçada de perder
os seus privilégios de classe dominante com as transformações produzidas pela
evolução desde o 25 de Abril, a reacção insular procura «livrar-se» desse perigo
através da separação e da independência. Evidentemente, procura atrelar aos
seus objectivos algumas camadas populares, tentando esconder as reais causas
da exploração de que estas são vítimas através da sua mobilização demagógica
contra o continente e os «continentais».
Ao contrário do que aparentemente defendem outros partidos, nós não
consideramos que o melhor meio de derrotar o separatismo seja fazer-lhe
concessões. Nós não consideramos que o melhor meio de cortar o risco de
arrombamento da porta da unidade nacional seja abrir as portas de par em par ao
separatismo. Ora, é precisamente o que parece acontecer com o articulado agora
em discussão no Plenário da Assembleia Constituinte.
Aponta, no decurso da sua intervenção, a existência de um lobby autonomista
de deputados agarrados a objetivos eleitoralistas e, por isso mesmo, desvinculados
das verdadeiras preocupações do povo. Explica com isso o silêncio de algumas
bancadas no que respeita a questões insulares. Os problemas das ilhas são
problemas da nação, pelo que não podem ser objeto de reflexão apenas:
A autonomia regional dos Açores e da Madeira não respeita apenas às
populações açoriana e madeirense (por muito que isso pese ao Deputado Mota

358
Junta Geral

Amaral). Muito menos diz respeito, nesta Assembleia Constituinte, aos Deputados
eleitos, pelos círculos eleitorais das ilhas, ou delas oriundos. É um problema que
interessa a todo o povo português. É um problema que deve interessar todos
os Deputados, representantes como são de todos os eleitores e não dos círculos
eleitorais por que foram eleitos. Não podemos deixar de manifestar a mais funda
preocupação pelo alheamento da maioria dos Deputadas em relação a esta
matéria, como que a significar ou a pressupor que isto é negócio de ilhéus.
Nós não podemos partilhar dessa concepção. Nós entendemos que nenhum
Deputado o deve fazer.
Ou ainda,
Ao defender a autonomia regional dos Açores e da Madeira, os Deputados do
PCP lutam por um justo regime constitucional de autonomia que não permita pôr em
causa a unidade nacional e os interesses dos trabalhadores e das massas populares
dessas regiões. Os Deputados do PCP entendem que não é fazendo concessões à
linguagem ou às posições separatistas que se «amorteceu o separatismo.
(…) Os Deputados do PCP não contam entre os interesses a considerar
mesquinhas contabilidades eleitoralistas. Os Deputados do PCP, com a autoridade
que lhes dá a experiência colhida pelas organizações do partido e pelos seus
militantes nos Açores e na Madeira, sentem-se no direito de reclamar desta
Assembleia que a apreciação e discussão da questão da autonomia regional seja
feita com objectividade, imune às tensões existentes nos arquipélagos e liberta da
pressão das forças reaccionárias afectas ao separatismo, em termo de dar resposta
eficaz, coerente e justa a um problema que interessa a todos os portugueses.
Efetivamente, a História conta histórias desta ambição dos povos insulares.
Américo Viveiros, por exemplo, explica que aquilo que constará da Constituição é a
vontade do povo, espezinhado e abafado pelo ditador Salazar, que satanicamente
nos retirou a autonomia.
Estava dado o mote para a história do movimento autonomista nos Açores
e na Madeira. Tomaram a palavra para o efeito, Jaime Gama, pelo PS e Emanuel
Rodrigues pela Madeira.
Sem grandes restrições, o deputado açoriano reforça a esperança trazida pelo
25 de abril, no sentido de que a autonomia pudesse voltar a ser uma realidade
no plano das instituições, realidade capaz de contribuir de forma mais eficaz para
a solução dos problemas regionais, designadamente em ordem a conseguir o
desenvolvimento económico-social do arquipélago, uma autonomia ampla que
não perde [nem deixa perder]de vista que é parte de um todo: Trata-se de uma
ampla autonomia, que não deve ser entendida como forma de mútua isolamento,
ou alheamento recíproco, nem por parte da região nem por parte do Estado. Com
efeito, ao Estado é fixada a responsabilidade de cooperar para o desenvolvimento
das regiões autónomas, em ordem a corrigir as desigualdades derivadas da
insularidade, e aos órgãos de Soberania cabe ouvir os órgãos de governo regional
em todas as matérias da sua competência respeitantes às regiões.
Esta posição virá a ser reforçada numa intervenção do madeirense socialista,
Monteiro de Aguiar. Numa análise à vida da Madeira pós 74 e, num capítulo dedicado

359
Junta Geral

à economia da ilha e ao desenvolvimento de um dos seus mais importantes pilares,


o turismo, afirma:
Mas nós, socialistas, queremos, o povo madeirense quer, que a autonomia
seja um meio de reforçar a unidade nacional.
Na mesma sessão, Emanuel Rodrigues também evoca a História para justificar
esta vontade do povo madeirense em conseguir, para a sua terra, a autonomia.
Fala das caraterísticas autonómicas do princípio, recuando até às Cartas de Doação
do Infante que atribuíam amplos poderes aos Capitães: Com efeito, as cartas de
doação das ilhas aos capitães dos donatários concediam-lhes amplos poderes de
governo com jurisdição cível e crime, reservando à Coroa, apenas, o direito de,
fazer guerra e paz, cunhar moeda e aplicar penas que implicassem talhamento de
membro. Tão latos poderes foram sucessivamente limitados.
Na sequência do seu discurso, o deputado da ilha refere o Estatuto dos Distritos
Autónomos das Ilhas Adjacentes, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 31.095, de 31
de dezembro de 1940, posteriormente alterado por decreto-lei de 1947 e a sua
incapacidade de responder cabalmente às suas legítimas aspirações, pois todos os
cordelinhos eram despoticamente movimentados a partir do Terreiro do Paço. Fala
em exploração em larga escala do povo insular por Lisboa e pelos aliados locais do
governo central. Fala em silêncio [ou silenciamento] por parte da Metrópole: Mas
eram mal ouvidas as suas vozes, ou nem mesmo eram escutadas!…
O que se pretende, agora, é uma autonomia verdadeira, inteira, deixando
velada a ameaça do separatismo. Isto explica que tenham surgido na Madeira os
movimentos separatistas. Movimentos que serão potencialmente engrossados
por aqueles que hoje afirmam a eles aderir se, afinal, o sonho da autonomia real
não passar de uma triste miragem! E reforça-a: Mas não esqueçamos o perigo do
separatismo que existe na ilha da Madeira; perigo que será facilmente eliminado
pela aplicação do único remédio adequado: a aprovação, por esta Câmara, daquela
autonomia efectiva, real e completa, que, ao fim e ao cabo, é o esfarrapado sonho
de todo o madeirense.
Entramos então numa zona sensível destes começos da democracia: o
separatismo ou independentismo. O Sr. Mota Pinto (PPD):- Sr. Presidente,
Srs. Deputados: O Grupo Parlamentar do Partido Popular Democrático sente
necessariamente profunda preocupação pela situação e destino de uma certa
realidade material e espiritual. Essa realidade chama-se Portugal. Portugal e a
integridade do seu território; Portugal e a liberdade, a paz, o progresso, a justiça
social para os seus cidadãos; Portugal e a situação de muitos dos seus filhos que,
de tudo despojados, ansiosamente buscam na velha Pátria a segurança das suas
vidas; Portugal e a sua independência nacional.
Portugal e a integridade do seu território.
As populações insulares são hoje sacudidas por ventos de separatismo. Mas
porquê se, desde sempre, se sentiram irmanadas com o continente que as gerou
e lhes descobriu o território? Mas porquê, se sempre levantaram alto a bandeira
do portuguesismo, mesmo quando demandando melhores condições de vida,
labutam em terras estrangeiras? Mas porquê, se ainda recentemente participaram

360
Junta Geral

maciçamente no significativo acto nacional que foi a eleição para esta Assembleia
Constituinte? Mas porquê, se votaram em peso, como os seus concidadãos
continentais, nos dois partidos majoritários?
Entre acusações múltiplas e linhas de pensamento diversas, este tema perpassa
alguns discursos da direita e da esquerda. Se, por um lado, a direita entende todas
as reações de violência, personificadas na FLA e na FLAMA, como respostas contra
uma ditadura comunista - Quem tiver mediana informação da temática insular
sabe, perfeitamente, que a ideia separatista surgiu não como repúdio de Portugal,
mas como fuga ao risco de ditadura comunista em Portugal- por outro, a UDP
diz que a luta do povo da Madeira é a mesma luta do povo do continente. É a
luta de todo o povo português contra a dominação do imperialismo americano e
do social imperialismo russo.E, enquanto o deputado Américo Duarte acusa, em
requerimento, elementos do PPD e do CDS no envolvimento da ocupação do Posto
Emissor Regional da Madeira,Moura Guedes, do PPD, envolve o PCP em violências,
na Madeira também.
O MDP/CDE, pela voz de Marques Pinto fala em projetos de independência
mais ou menos encapotados38; Vital Moreira, do PCP, considera que a autonomia
regional não possa constituir apenas um instrumento de reforço do poder da
grande burguesia insular.
A dezassete de março de 1976, no debate do Projeto Constitucional, o
Presidente da 8ª Comissão, Jaime Gama, explica esta necessidade de conciliar
os imperativos da autonomia político-administrativa regional com a necessária e
equilibrada salvaguarda das experiências da unidade nacional, dentro do quadro
da sua sociedade democrática e livre.
Numa intervenção breve, assume o articulado em apreciação como um
documento que responde às aspirações autonomistas manifestadas nas ilhas, um
marco decisivo para a história dos Açores e da Madeira e, neste aspecto, constitui
uma destruição positiva de toda a asfixia centralizadora operada pelo fascismo
contra a dinâmica das sociedades insulares (…) que exige apoio e estímulo - mas
não paternalismo - por parte do Estado, visto que nele se empenha e com ele se
compromete, por via desta Assembleia, todo o povo português. De acordo com
este preâmbulo, são a descentralização e a autonomia que ajudam a definir a
democracia e a vida de uma nação que vive em liberdade.
Há, porém, uma outra questão que se levanta nestes debates: as relações
financeiras com o Estado. Talvez seja o grande pomo de discórdia desta [e podemos,
neste momento, afirmar de outras] assembleia. Da mesma forma que se pede a
autonomia política e administrativa, pede-se também o apoio para a resolução dos
problemas que a ilha da Madeira - região das mais pobres do país - apresenta. É a
partir deste pressuposto e da agudização de uma crise económica que se aproxima
que o deputado José António Camacho, do PPD, exige medidas que contrariem a
situação da ilha:
Outro indicador sobre o panorama madeirense é o facto de o Estado ter
realizado nos últimos dez anos uma poupança pública que ascendeu a um milhão
de contos, colocando a região da Madeira como financiadora da macrocefalia
de Lisboa, isto é, não atendendo às enormes carências que existem em todos

361
Junta Geral

os domínios na Madeira, não considerando os custos da insularidade, uma vez


que para a sua subsistência é obrigada a adquirir quase tudo o que necessita no
Continente.
Impõe-se a modificação completa deste estado de coisas, prejudicial às
legítimas aspirações dos Madeirenses em ver melhoradas as suas condições de
vida e ver satisfeitas as carências de toda a espécie existentes.
A economia da Madeira é vulnerável e dependente, não tendo seguido um
processo de desenvolvimento integrado. A autonomia é, desta forma, apresentada
como solução capaz de salvaguardar os interesses regionais. Entre intervenções
e requerimentos, pedidos de esclarecimento e votos de protesto, o debate
financeiro acende-se na Assembleia Constituinte. Em questão, está a entrada de
divisas na Madeira provenientes do turismo e dos emigrantes, a forma como foram
aplicadas e a compensação dada à Madeira. Em questão, está a falta de confiança
dos emigrantes nos governantes do continente. Em questão, estão ambiguidades
na definição dos movimentos financeiros entre a Madeira e Lisboa. Segue-se, na
íntegra, um requerimento entrado na Assembleia, ilustrativo das questões que
preocupam os deputados, nomeadamente os do Partido Popular Democrático:
Requerimento
Considerando que em recente intervenção televisiva, na Madeira, o brigadeiro
Azeredo, presidente da actual não representativa Junta Governativa, se referiu
ambiguamente aos movimentos financeiros entre o continente e a Madeira,
colocando os Madeirenses na situação de esmoleres do continente;
Considerando que não podemos nem devemos continuar a viver em
ambiguidades e que o povo da Madeira tem o direito de saber concretamente quais
os movimentos financeiros entre o continente e a Madeira e vice-versa: Requeiro
ao Governo, através do Ministério das Finanças, que me sejam fornecidos os
números referentes aos movimentos de dinheiros públicos e privados da Madeira
para o continente e daqui para lá enviados nos últimos cinco anos e com os saldos
apurados de ano para ano, incluindo o saldo de 1970.
Sala das Sessões da Assembleia Constituinte, 4 de Março de 1976. - O Deputado
do PPD pela Madeira, Nicolau Gregório de Freitas.
Um outro tema, desta vez levantado pelos socialistas, relaciona-se com o
Orçamento Geral do Estado. Jaime Gama, manifestamente contra uma proposta
apresentada pelos Comunistas, explica que um dos factores de desigualdade que
tem existido em relação aos arquipélagos dos Açores e da Madeira, que existia
no regime anterior e que continua a existir no regime presente, é o da sistemática
drenagem dos recursos financeiros da região.
Afirma que, no orçamento, a capitação de investimentos públicos para ilhas
corresponde a metade daquela que será atribuída ao continente. Este exemplo
demonstra claramente uma situação típica de colonialismo interno, em que
determinadas regiões se vêem privadas dos seus próprios recursos fiscais para os
aplicarem no seu desenvolvimento.
Obviamente, segundo o deputado, esta deficiência do sistema fiscal não
contempla os impostos gerados nas ilhas, mas apenas os que são cobrados nas
362
Junta Geral

ilhas, o que afeta os orçamentos regionais e traz, naturalmente, prejuízo para o


seu desenvolvimento.
Vital Moreira, em nome do Partido Comunista, volta a pôr a tónica na justiça
social, comparando as ilhas a outros distritos do país: O resultado não seria
exactamente o mesmo se comparasse a capitação de investimento em Bragança,
na Guarda, em Portalegre ou em Beja em relação, ao restante território nacional,
incluindo no restante território nacional os Açores e a Madeira?
Não é este, pois, um problema geral que não diz respeito apenas às regiões
autónomas?
José Camacho (PPD) expõe, então, aquilo por que luta, em nome do povo que
representa: uma autonomia completa:
Mas não basta essa autonomia política, já que ela, se não estiver alicerçada
numa autonomia económica e financeira nada significará. Isto é: os antros de
decisão que viabilizariam a autonomia política, nesse caso, continuariam no
Terreiro do Paço e a autonomia que se pretende não se concretizaria e estaríamos
caídos numa solução de pseudoautonomia, que não é inédita se tivermos em
consideração o regime que vigorou e ainda vigora, herdado da ditadura Salazar-
Caetanista.
As legítimas aspirações do povo madeirense têm de ser uma realidade,
sob pena de se perder para sempre a população da Madeira para a revolução
democrática que todos de boa fé desejam.
Efetivamente, a partir da Revolução de Abril, alterou-se o espetro político da
Região. O movimento autonomista ganha forma com a aprovação da Constituição
que lhe atribui a autonomia político-administrativa, com o ato eleitoral para a
Assembleia Regional e com a aprovação do Estatuto Provisório da Madeira.

363
Junta Geral

Conclusão

A Junta Geral surgiu no quadro institucional do país como forma de


descentralização do poder, criando-se assim mecanismos institucionais de
proximidade do poder com as instituições. Para as ilhas, esta assumiu um papel
muito relevante, a partir de 1895, para alguns distritos açorianos e, em 1901, para
a Madeira. Para a classe política insular, esta instituição foi um bastião de afirmação
da descentralização e autonomia, pelo qual lutaram em diversas frentes. Desta
forma, podemos assinalar que a instituição mereceu um papel relevante, no quadro
da vida política e na evolução das instituições madeirenses, nomeadamente entre
1901 e 1976.
Foi por tudo isso que consideramos indispensável a sua abordagem, no quadro
do projeto o Deve e Haver das Finanças da Madeira, no sentido de encontrar os
pontos de contacto e divergência, quanto à forma como os meios financeiros são
usados em favor do arquipélago. Ficou demonstrado que, aqui, como na totalidade
do quadro institucional, a criação e o funcionamento de qualquer instituição, no
arquipélago, as receitas fiscais que a Madeira gerava para os cofres do Estado
eram consideradas, por vezes, mais uma forma de onerar as populações com os
chamados impostos distritais. Por outro lado, as finanças desta Junta foram sempre
um problema para os seus dirigentes, quer no período da monarquia constitucional,
quer, depois, com a República e Estado Novo. Num e noutro momento, a legislação
atrai, para esta instituição, amplos poderes de intervenção no arquipélago, mas,
na hora de se avançar com políticas e ações práticas esbarra sempre com a falta de
recursos financeiros.
Entender os mecanismos de funcionamento, as esperanças e anseios, por
vezes inglórios, dos seus dirigentes, levou-nos à leitura da totalidade das atas da
comissão executiva, cuja transcrição se junta em anexo, no sentido de possibilitar
ao leitor a oportunidade de constatar as realidades e as dificuldades dos
governantes para atender a todos os problemas da ilha. São claras as reclamações
de alguns membros das Juntas, quanto às evidências do torniquete financeiro,
face às esperanças e realizações, nomeadamente em termos de importantes obras
públicas, como no apoio social e no lançamento de iniciativas culturais. A partir da
leitura destas atas, foi possível acompanhar tudo isso e, ao mesmo tempo, sentir a

364
Junta Geral

elevada preocupação da Junta, na definição de uma rede viária como numa outra
de fontenários públicos os que permitissem a disponibilidade de água potável a
todas as populações.
Entre 1901 e 1976, a Junta Geral funcionou como o Governo da região/
arquipélago da Madeira, pelo que, ao tentar fazer-se as contas do Deve e Haver das
relações financeiras da Madeira com o Estado, se torna importante esta abordagem,
que permitiu, uma vez mais, relevar o quanto os madeirenses foram espoliados da
sua riqueza/impostos em benefício do Estado/Continente, revertendo pouco ou
quase nenhum proveito para os madeirenses.
Na verdade, a História diz-nos que, a partir de determinado momento, deram-
nos alguns meios institucionais para que a ilha pudesse decidir e avançar, na senda
de uma maior autonomia política, em relação ao poder central, mas faltaram os
pilares financeiros com que se constrói e se afirma.

365
Junta Geral

INSTRUMENTOS DE TRABALHO

FONTES DOCUMENTAIS E NARRATIVAS.

1835-1910, Diário da Câmara dos Deputados. Lisboa: Imprensa Nacional[entre


1861 e 1869 foi publicado no Diário de Lisboa].
1838-1841, Diário da Câmara dos Senadores. Lisboa : Imprensa Nacional.
1842-1843, Diário da Câmara dos Pares do Reino de Portugal. Lisboa: Imprensa
Nacional, [entre 1844 e 1869 foi publicado no Diário do Governo (1844-
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Março de 1858 pela dissolução da Câmara dos Senhores Deputados. Lisboa:
Imprensa Nacional.
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Sessão ordinária de 1864 pelo Governador Civil Jacinto António Perdigão,
Funchal,Imprensa Nacional.
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Administrativos do continente do Reino e ilhas Adjacentes em 1862, Lisboa,
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1870-1910, Diário da Câmara dos Dignos Pares do Reino. Lisboa: Imprensa
Nacional.
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Junta Geral

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1911-1926. Diário do Senado. Lisboa: [Imprensa Nacional].
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URL:http://debates.parlamento.pt/?pid=mc] Arquivo acedido em 27 de
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Arquivo Histórico Parlamentar, 1838-42, Diário da Câmara dos Senadores.
[disponível na Internet via WWW. URL: http://debates.parlamento.
pt/?pid=mc] Arquivo acedido em 27 de Junho de 2012.
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Reino. [disponível na Internet via WWW. URL: http://debates.parlamento.
pt/?pid=mc] Arquivo acedido em 27 de Junho de 2012.
Arquivo Histórico Parlamentar, 1935-1974, Diário das Sessões da Assembleia
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debates.parlamento/”http://debates.parlamento.pt/?pid=mc] Arquivo
acedido em 27 de Junho de 2012.
Arquivo Histórico Parlamentar, 1953-74, Actas da Câmara Corporativa. [disponível
na Internet via WWW. URL: HYPERLINK “http://debates/”http://debates

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Junta Geral

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Autónomo do Funchal, Ano de 1963.
Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano supra; Junta Geral do Distrito
Autónomo do Funchal, Ano de 1964.
Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano supra; Junta Geral do Distrito
Autónomo do Funchal, Ano de 1965.
Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano supra; Junta Geral do Distrito
Autónomo do Funchal, Ano de 1966.
Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano supra; Junta Geral do Distrito
Autónomo do Funchal, Ano de 1967.
Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano supra; Junta Geral do Distrito
Autónomo do Funchal, Ano de 1968.
Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano supra; Junta Geral do Distrito
Autónomo do Funchal, Ano de 1969.
Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano supra; Junta Geral do Distrito
Autónomo do Funchal, Ano de 1970.
Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano supra; Junta Geral do Distrito
Autónomo do Funchal, Ano de 1971.
Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano supra; Junta Geral do Distrito
Autónomo do Funchal, Ano de 1972.
Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano supra; Junta Geral do Distrito
Autónomo do Funchal, Ano de 1973.
Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano supra; Junta Geral do Distrito
Autónomo do Funchal, Ano de 1974.
Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano supra; Junta Geral do Distrito
Autónomo do Funchal, Ano de 1975.
Conta da gerência da Junta Geral referente ao ano supra; Junta Geral do Distrito
Autónomo do Funchal, Ano de 1976.
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Registo de orçamentos da Junta Geral, n.º5,1931/32 a 1936.

368
Junta Geral

Registo de Orçamentos da Junta Geral, n.º6, 1936-2º a 1941.


Registo de orçamentos da Junta Geral, n.º7, 1942 a 1946.
Registo de orçamentos da Junta Geral, n.º8, 1947 a 1951; Registo de orçamentos
da Junta Geral, n.º7, 1956 a 1959.
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