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Marabá – PA
2017
Maria Vanderléia Rocha Silva
Marabá – PA
2017
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
(Biblioteca Josineide Tavares, Marabá-PA)
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Maria Vanderléia Rocha Silva
Conceito:
Banca Examinadora:
_________________________________________ - Orientadora
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Dedico este trabalho a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para
que esse momento de conquista acontecesse. Todos que me incentivaram e apoiaram
nessa jornada.
Dedico em especial aos educandos e educadores da E.M.E.I.F. Carlos
Marighelha. A todos os assentados e assentadas do Assentamento 26 de Março, mesmo
aqueles que fizeram ou fazem parte da trajetória dessa comunidade e que por algum
motivo deixaram de seguir essa caminhada e trilharam outros horizontes. Sou
extremamente grata por tudo o que me proporcionou. Nela vivi os melhores anos de
minha vida até aqui, aprendi a respeitar, valorizar e, principalmente, adquirir a
identidade Sem-Terra da qual me orgulho muito.
Dedico também a todos aos meus colegas e amigos do curso em especial à turma
de Linguagens, na qual dividimos momentos difíceis e prazerosos, de muito
aprendizado.
E todos os que se dedicam e acreditam no trabalho com o texto poético.
AGRADECIMENTOS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO: .........................................................................................................11
1.RAZÕES DA PESQUISA ...................................................................................13
4. CONSIDERAÇOES FINAIS...................................................................................49
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................51
INTRODUÇÃO
1
O foco do Estágio Docência I foi observar a prática docente nas turmas de 6º ao 9º ano, na disciplina de
língua portuguesa.
aula e as poucas vezes que eram lembrados explorava-se somente a questão da
interpretação desses textos.
Constatando a ausência de um trabalho significativo com os textos literários na
sala de aula levantei a hipótese de que esse gênero poderia interessar aos educandos e, a
partir dessa ideia, propus trabalharmos na construção de um livreto com 11 textos
poéticos intitulados “Poetizando Saberes”.
Considerando os resultados relevantes para o aprendizado dos estudantes e os
desafios que vivenciei na condução desse projeto, coloquei-me como desafio aprofundar
estudos sobre o ensino de leitura, com foco no ensino-aprendizagem de textos poéticos
na educação básica.
Fonte: INCRA.
Existem algumas famílias que não foram inseridas nas vilas devido à forma pela
qual a área foi demarcada (raios de sol). Essas famílias vivem em lotes localizados às
margens da Rodovia PA-155 e nas vicinais dos Projetos de Assentamento (PA) Escada
Alta e Piranheira. Em um dos lotes que estão fora das agrovilas se localizam os mais de
10.300 alqueires doados pelos próprios assentados ao Instituto Federal de Educação
Ciência e Tecnologia do Pará para a implantação do Campus Rural de Marabá
(IFPA/CRMB), escola cujo objetivo na sua criação era atender a demanda de educação
em nível de ensino médio e educação técnica e tecnológica para os filhos dos assentados
da Reforma Agrária e demais sujeitos do campo.
O CRMB vem funcionando desde 2009 e já ofertou cursos de técnico em
Agropecuária com ênfase em Agroecologia, Agroindústria, Licenciatura Plena em
educação do Campo e curso de qualificação profissionalizante de jovens e adultos
voltado para os assentados da comunidade que não haviam concluído o segundo
segmento do ensino Fundamental.
Atualmente, na escola Carlos Marighella, é ofertado toda a educação básica. O
ensino infantil e fundamental já funciona na escola desde sua fundação e é de
responsabilidade da Prefeitura de Marabá. As aulas são presenciais e ocorrem em tempo
integral desde o ano de 2015. Já o ensino médio é ofertado pelo Sistema Modular de
Ensino (SOME), sob a responsabilidade da Secretaria Estadual de Educação (SEDUC).
Desde 2009 a escola é contemplada com essa modalidade de Ensino.
Estes educandos são de todas as idades e séries, desde as iniciais até o ensino
médio. Esse fato ocorre porque em muitas localidades não existem escolas e nos poucos
lugares onde há, a escola só oferece o ensino até o 5º ano do ensino fundamental.
Assim, principalmente os alunos que passam a cursar o ensino Médio precisam se
deslocar para as chamadas escolas polo.
No ano de 2016, o quadro de funcionários da escola Carlos Marighella era
constituído de 33 servidores exercendo diferentes funções: merendeiras, secretárias,
vigias, motoristas, professores, coordenação pedagógica e direção. Desse conjunto, 17
profissionais moravam no Assentamento 26 de Março, os demais vinham dos
municípios de São Joao do Araguaia e de Marabá. Quanto à formação dos educadores,
todos que atuavam na sala de aula eram Licenciados ou estavam cursando alguma
licenciatura, conforme se pode verificar na tabela abaixo:
Tabela 02: Dados sobre o corpo docente.
Tempo de
Séries em que Meio de
Área de atuação Escolaridade/Titulação Serviço na Local de moradia Cond. Prof.
atuam transporte
escola
Matemática Superior Lic. Plena em Educ. do 6º ao 9º ano 06 anos Assent. 26 de Março Ônibus escolar Concursado
Campo: Mat.
Língua Portuguesa Superiores Letras c/ espec. em 6º ao 9º ano 10 anos Assent. 26 de Março Ônibus escolar Concursada
e Espanhol Ed. Do campo.
Artes, teatro e Cursando Superior Edu. Camp. 6º ao 9º ano 16 anos Assent. 26 de Março Ônibus escolar Concursada
Música. Humanas.
Ciências e Lic em Educ.Campo Ciências 6º ao 9º ano 02 anos S. João do Araguaia Motocicleta Contratada
Agroecologia Agrárias e Naturais
História Licenciada em 6º ao 9º ano 01ano S. João do Araguaia Motocicleta Contratada
História
Educação Física Cursando Lic. Educ. Física 1º ao 9º 10 meses Zona Urbana Marabá Motocicleta Contratada
Bibliotecária Licenciada em Pedagogia 1º ao 9º 02 anos Assent. 26 de Março Ônibus escolar Concursada
Coordenador Licenciada em Pedagogia Ed. Infantil e 06 anos Zona Urbana Marabá Carro Concursado
Pedagógico Ens. Fund.
Diretoria Lic. Em Pedagogia da Terra. Diretora 04 anos Zona Urbana Marabá Carro Concursada
Todas as áreas Lic. Em Pedagogia Educ. Infantil 07 anos Zona Urbana Marabá Transporte Contratada
alternativo
Todas as áreas Cursando Superior Pedagogia 1º ano 03 anos Zona Urbana Marabá Transporte Contratada
alternativo
Todas as áreas Lic. Educ. do Campo: Ciências 2º ano 10 meses Zona Urbana Marabá Transporte Contratada
Humanas. alternativo
Todas as áreas Cursando Lic. Em Educ. 3º ano 10 meses Zona Urbana Marabá Transporte Contratada
Campo: Linguagens. alternativo
Todas as áreas Lic. Em Pedagogia da Terra 4º ano 10 meses Zona Urbana Marabá Motocicleta Contratada
Todas as áreas Lic. Educ. do Camp: Mat 5º ano 03anos Zona Rural Marabá Motocicleta Concursada
No que se alude à estrutura física do prédio escolar, durante muitos anos a escola
vinha funcionando numa das antigas sedes da fazenda. Isso durou um período que vai
de 2009 até março de 2016, quando os moradores passaram da condição de acampados
para Assentados e obviamente a escola também precisou adequar-se com essa mudança.
A escola também não tinha uma estrutura adequada para receber os educandos e tudo
funcionava de modo provisório. Isso se manteve até os moradores acessarem os
primeiros créditos do governo Federal e reivindicarem a construção do prédio escolar.
Desse modo, até maio do ano de 2016, a escola Carlos Marighella funcionou
num prédio improvisado. Durante o período em que a escola ocupou esse espaço a
secretaria de educação fez alguns ajustes na tentativa de adequar o prédio (sede da
fazenda) a um ambiente escolar. O antigo prédio se compunha por um bloco onde
funcionavam três salas de aulas, uma secretaria, três banheiros e uma cozinha. Havia
nesse mesmo local, três casas de moradias que foram adaptadas para salas de aulas e
casa de apoio para os educadores que não residiam na comunidade.
Figura 03: Antigo prédio da Escola Figura 04: Antigo prédio da Escola
Sabemos que a carga horária anual garantida por lei é de 800 horas,
nessa proposta de ensino, a carga horária total é de 1046 horas anual
que corresponde a 181 dias letivos, que está distribuída da seguinte
forma: 29% para Tempo Comunidade, que perpassa pela Educação
Infantil ao 9º que corresponde a 304 horas e 71% para o tempo escola
que corresponde a 742 horas. (Proposta de Ensino da E.M.E.F. Carlos
p.21.2016).
Tempo Tempo
Ano/série Horas Horas
comunidade (%) escola (%)
Ed. Infantil ao 9º 29% 304h 71% 742h
2
Isso consiste na forma de organização politica e ideológica da comunidade desde o período de
acampamento coordenado pelo MST..
Direção Nacional do Movimento Sem-Terra = Direção Estadual = Representante
da comunidade = núcleos de base.
O Tempo/espaço no Núcleo de Moradia e Tempo/espaço na família ocorrem
durante o tempo – comunidade (TC). Esse tempo é destinado a pesquisas de campo, que
ocorrem nas sextas feiras. As aulas na escola funcionam de segunda a quinta-feira. As
sextas-feiras funcionam o TC com estudos dirigidos. Após a greve dos professores do
município de Marabá, a qual a escola aderiu, o TC passou a ser realizado nos finais de
semana e as aulas passaram a ser de segunda a sexta-feira para avançar nas disciplinas.
As pesquisas desenvolvidas durante o TC são sempre direcionadas pelos educadores de
acordo com a demanda apresentada pela comunidade escolar. No TC os educandos tem
como tarefa realizar pesquisas, reflexões, planejar e executar projetos nos núcleos de
moradia.
Vale destacar que durante o período de inverno não há TA nem TC, pois como
nessa região (Sudeste Paraense) esse período se estende até os primeiros meses do ano,
a Escola começa o ano letivo após esse período já em tempo integral evitando prejuízos
aos estudantes. Como pudemos verificar anteriormente na tabela 05: Organização do
Tempo-Comunidade e o tempo escola. Esse esquema funciona somente para os
estudantes do 1º e 2º seguimento, a educação Infantil possui outro tratamento no qual
não nos deteremos porque o nosso foco consiste no segundo segmento do ensino
fundamental.
Na proposta de ensino da Escola Carlos Marighella o processo formativo dos
educandos se dá através do diálogo da teoria e da prática. Isto é, no Tempo Escola e
Tempo comunidade. Vale ressaltar que as atividades são desenvolvidas de acordo com
as especificidades de cada seguimento.
No segundo seguimento, por exemplo, alguns trabalhos desenvolvidos no campo
das linguagens e códigos foram:
TP: oficinas de percussão corporal e leituras de diversos gêneros textuais; no
TA: estudo de crônicas, cordel (verso e estrofe), gramatica, questões ortográficas
e morfológicas, lendas amazônicas, textos acerca do eixo temático: Divisão
Territorial e social, musica “Cidadão”, poema “ O operário em construção”,
filme “ O formigaz”, Adivinhações, superstições e trava- línguas, conto, Musica
“ Cidadão” fabulas entre outros.
TC investigação de histórias lendárias na comunidade 26 de Março; Relembrar
brincadeiras de adivinhações, trava-língua e as superstições locais; Produção de lendas
locais a partir das pesquisas de campo.
Nesse TCC refletimos sobre os textos poéticos a partir de um projeto de
intervenção que se realizou em 2014, logo, antes da implementação da proposta de
ensino que ora apresentamos. Percebe-se pelo exposto até aqui que o trabalho com o
gênero poético vem ocupando um espaço significativo na área de língua portuguesa da
escola Carlos Marighella.
Ao navegarmos nas vivências passadas e presentes da Escola Carlos Marighella,
compreendemos que a escola faz parte da trajetória de lutas e conquistas dos assentados
da 26 de Março. Ao longo de todos esses anos os moradores daquela comunidade
continuam a batalha por políticas públicas que assegurem sua permanência na terra,
dando-lhes os direitos básicos para melhores condições de vida. A escola também faz
parte desses direitos, o de ter uma educação de qualidade que os atenda em sua
particularidade.
Citamos neste capítulo que desde sua fundação a escola procura desenvolver
suas atividades de acordo com os princípios de educação do MST. Pois bem,
acreditamos que ao longo de sua trajetória ela tenha buscado inserir esses princípios no
seu fazer pedagógico e durante alguns anos tenham conseguido. No entanto, problemas
relacionados à infraestrutura e questões políticas que dizem respeito, por exemplo, a
apoio financeiro e pedagógico, limitava os educadores a realizarem um trabalho mais
consistente.
Em 2016 se viu a concretização de muito do que foi sonhado lá atrás,
principalmente no que se refere ao fazer pedagógico ofertado atualmente na escola. O
projeto Educação do Campo em Movimento é fruto de ideias, de construções e práticas
coletivas dos educadores e estudantes que ao longo dos anos sonharam com um projeto
educacional como esse.
2. O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E O TEXTO POÉTICO NA
EDUCAÇÃO BÁSICA.
Com Geraldi (1995) entendemos que ensinar está para além da apreensão de
significados. Mais do que repetir uma sequência de atividade é ofertar novos meios de
reunião dos saberes vivenciados e adquiridos pelos sujeitos. A sala de aula precisa ser
esse lugar de interação de reunião do saber, os professores e estudantes precisam ocupar
esse espaço confrontando-os interagindo verbalmente constantemente.
Os estudantes precisam ser inseridos na construção do conhecimento precisa
sentir-se parte dessa construção, por isso a importância de conceber o texto como peça
fundamental para o ensino-aprendizado. Assim compreende-se o texto:
[...] como um lugar de entrada para o diálogo com outros textos, que
remetem a textos passados e que farão surgir textos futuros. Conceber
o aluno como produtor de textos é concebê-lo como participante ativo
deste diálogo continuo: com texto e leitores” (CHIAPPINI, 2004, p.
22).
Nessa perspectiva o texto (oral ou escrito), como ressalta Geraldi (1995), deve
ser visto como o lugar das correlações, ou seja, o texto liga, interagem em qualquer que
seja o campo de conhecimento. Sendo necessária, que haja uma constante prática de
escuta de textos orais, leitura de textos escritos e de produção de textos orais e escrita.
Entretanto, os estudos apontam que ainda é uma realidade nas salas de aula de
Língua Portuguesa o trabalho com textos centralizados na assimilação de conteúdos
gramaticais. Geraldi (1995) afirma que em linhas gerais, os estudos apontam o ensino
de língua portuguesa em duas instâncias: O tradicional, centrado no ensino da
gramática; e a dialógica orientada pela interlocução. Segundo o autor, na abordagem
tradicional a aprendizagem é receptiva e automática, prevalecendo o código escrito
culto, expresso nas atividades em sala de aula. E a abordagem dialógica fundamenta-se
na prática da interlocução.
Sorrenti (2009), também privilegia a poesia em suas obras como algo cheio de
mistério, capaz de prender o leitor, chamando-o para compartilhar o universo poético.
Se observarmos, dentre os variados benefícios da literatura/texto poético nas escolas
brasileiras, veremos que ela propicia ao educando o exercício de sua livre imaginação,
sendo ele capaz de compreender e apreciar o texto como um todo contextualizado.
Até aqui em nosso estudo vermos diferentes autores que trabalharam com o
gênero textos literários. E que acreditam nos textos poéticos como instrumento de
aprendizados. Boas e significativas experiências de trabalho com a poesia na escola
existem. Mas, na Educação Básica, as experiências ainda são limitadas, por vezes,
muito tímidas. Atribui-se como fator para a existência dessa realidade o fato de que
maioria dos professores não são leitores de poemas. O texto poético, precisa ser
trabalhado no cotidiano escolar para que, deste modo, alunos e professores despertem
em si o prazer por esse tipo de leitura.
3. POETISANDO SABERES, RESSIGNIFICANDO VIVÊNCIAS.
Essa etapa teve duração de três horas. Depois dos relatos dos estudantes foram
feitas algumas considerações e o material da dinâmica ficou exposto na sala de leitura,
onde foram realizadas essas atividades. Após essa etapa da atividade passamos ao
estudo de textos do gênero poético com os estudantes, pois ainda não havia sido
trabalhado na turma. Essa etapa começou a ser desenvolvida em seis de Maio de 2014 e
só foi concluída em quinze de Maio do mesmo ano. Foram utilizadas as aulas dos dias
06,08, 09, 13 e 15, para a finalização dessa etapa. Ao todo foram 13 horas de estudos
realizados da seguinte forma: Leitura de trechos do “Iracema”, de José de Alencar na
sua versão original. Identificamos aqui esse texto como texto I. Em seguida os alunos
leram uma versão de “Iracema” de autoria de João Martins de Athayde, em forma de
cordel, texto II. Os dois trechos levados para estudo relatam o episódio que trata do
encontro de Iracema e Martin. O objetivo com a leitura dessas versões do poema era que
os estudantes pudessem diferenciar um estilo do outro e, principalmente, compreender
que a poesia pode estar presente nesses dois gêneros, mesmo tendo linguagens e
estrutura diferentes.
Começamos o estudo pelo texto I. Primeiro fizemos uma leitura compartilhada e
depois conversamos sobre o episódio narrado. Na perspectiva de instigar os estudantes a
expor suas impressões sobre o texto foram feitos alguns questionamentos tais como, o
que acharam do texto, se já os conheciam, se conseguiam identificar o gênero.
Alguns estudantes, nesse primeiro momento, relataram que o texto I apresentava
uma linguagem de difícil compreensão, palavras desconhecidas e que não
compreendiam o trecho narrado. Disseram ainda acreditar que o texto apresentava
características do gênero narrativo por ter contado uma história, a presença dos
personagens e do próprio narrador. O que de fato não deixa de fazer sentido.
Ressaltamos aos estudantes que se tratava de um poema escrito em prosa.
Nesse sentido, foram expostas na lousa as características gerais dos textos em
prosa e do poema, explicando como cada uma se estrutura, os recursos utilizados por
cada gênero e etc. Os conceitos que apresentamos aos alunos naquela aula foram
extraídos do livro didático que usávamos como base para nosso planejamento. Vejamos
como o livro definia o texto em prosa e os poemas:
A prosa é escrita em parágrafos em forma do discurso direto, a
linguagem empregada pode ser tanto a conotação quando a denotação.
Poema: textos escritos em versos, estrofes que contam história.
(ALVES; BRUGNEROTTO, 2014, p.36).
3
Apesar de não terem estudado a literatura de cordel, os estudantes relataram conhecer o gênero da TV.
estátua de bronze vivo
feita pele natureza
Martim até se assustou
dum pulo se levantou
sem se conter de surpresa
[...] (autor, ano, p.)
O quarto desceu
em frente à estátua.
Caiu-lhe sobre a cabeça
uma espada de prata.
[...] (autor, ano, p.)
Para alguns dos alunos a inspiração veio de imediato e logo os primeiros poemas
foram surgindo. Para outros, o processo foi um pouco mais doloroso, a nossa orientação
precisou ser mais individualizada, ajudando-os, tirando dúvidas e, principalmente,
estimulando-os para não desistirem desse processo de produção.
Alguns estudantes por várias vezes pensaram em desistir. Ora com o pretexto de
não saber, ora pelo simples fato de não querer se envolver na atividade. Para esses
alunos foi dado o tempo necessário para amadurecer uma proposta de texto, além da
atenção necessária para que se envolvessem com a proposta da atividade e
desenvolvessem-na em seu próprio ritmo. Assim, essa etapa que havia, incialmente sido
pensada para ser concluída em dois dias, só foi finalizada após cinco dias, pois se notou
naquele momento a necessidade de adéqua-me ao tempo e ao ritmo dos educandos.
Apesar das limitações que tivemos, o projeto foi executado da maneira como
planejado, ao contrário de outras Pesquisas Socioeducacionais, nas quais enfrentamos
muitos desafios e contratempos comuns na 26 de Março.
O trabalho resultou em 11 textos poéticos feitos pelos próprios educandos, nos
quais os estudantes refletem o processo de luta e conquista do Assentamento 26 de
Março, as dificuldades que vinham enfrentando no período da pesquisa, seus sonhos,
seus anseios e, principalmente. a valorização da comunidade.
Os estudantes produziram textos em estrofes acompanhados por rimas; alguns
optaram pela quadra, outros pela sextilha e rimas externas, outros preferiram por não
seguir uma estrutura fixa, sendo mais livres em suas criações; outros optaram por textos
característicos da prosa e outros, ainda, da literatura de cordel com mais ritmo e
musicalidade, como é o caso da produção apresentada abaixo:
Eu sou gildeon
Agora vou falar
Da luta dos assentados
Para a terra conquistar.
Buscando seu próprio alimento
Para seus filhos sustentar.
No Assentamento 26 de Março
No meu assentamento
Tem uma escola, que tem
Um interesse cultural
Transformou um curral
Num espaço cultural.
No assentamento 26 de março
Já teve muitas conquistas
E realizações, porém faltam
Para os jovens mais revolução.
Para Cândido (2004) um texto literário são “[...] Todas as criações de toque poético,
ficcional ou dramático em todos os níveis de uma sociedade, em todos os tipos de
cultura, desde o que chamamos folclore, lenda, chiste, até as formas mais complexas e
difíceis da produção escrita das grandes civilizações” (CÂNDIDO, 2004, p 03.).
Vejamos outro texto organizado de maneira distinta dos apresentados anteriormente:
Minha Escola
Nessa perspectiva, a estrutura do texto é uma forma particular por meio da qual
se apresentam as experiências sentidas pelo autor que as individualiza. Portanto, não
nos permitimos julgar o conteúdo pela forma. A lição que retiramos das produções
escritas dos alunos no projeto de intervenção Poetizando Saberes foi que, embora
apresentando características diferentes, os textos dos alunos possuem riquezas próprias.
Ver as produções dos alunos nos permite acreditar no trabalho com o gênero poético e
afirmar que a escola precisa tomar iniciativas para vivenciar momentos como esse.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para tecermos as considerações finais deste trabalho, partirei da ideia de
Cândido (1988, p. ): “E durante a vigília a criação ficcional ou poética, que é a mola da
literatura em todos os seus níveis e modalidades, está presente em cada um de nós,
analfabeto ou erudito, como anedota, causo, história em quadrinhos, noticiário policial,
canção popular, moda de viola”.
O objetivo desse estudo não se fundiu em fazer juízos de valor acerca do que é
ou não textos literários, privilegiar um tipo de produção literária. Como se observa na
citação de Cândido (1988) acima, a criação ficcional ou poética está presente em todos
nós. Pode aparecer nos causos e até mesmo na moda de viola, embora a linguagem
poética se apresente em formas distintas ela está presente em nossas vivências. Basta
sermos humanizados para enxergá-la.
A literatura deve estar a serviço do povo. Todos nós temos o livre arbítrio para
usá-la. Ela não pode e nem tão pouco deve ser artifício de poucos, ao contrario ela dever
ser mais explorada. A escola precisa proporcionar vivências com os textos poéticos na
sala de aula.
Vimos ao longo desse estudo que os trabalhos com textos e produções de textos
apresentam problemas gravíssimos quanto ao seu tratamento. Nas aulas de linguagens
ainda prevalece uma pedagogia instrumental e mecanizada. O intuito dessa
investigação centrou-se nas discussões sobre o tratamento para/com os textos poéticos
dentro do ensino de língua portuguesa no segundo segmento do ensino fundamental,
tendo como material para nossas reflexões o produto do projeto “Poetizando Saberes”
desenvolvido em 2014 na Escola Carlos Marighella na turma de 7° ano do ensino
Fundamental.
Ao realizarmos esse estudo chegamos à conclusão de que os textos poéticos
ocupam ainda um lugar subalterno dentro da sala de aula. Esse fator pode estar
relacionado a uma série de outros, sendo os mais comuns relacionados ao despreparo
por parte dos professores, a falta de apreciação dos professores e estudantes dos textos
poéticos, o preconceito e, até mesmo, a privação dos textos do gênero poético como
luxo dos eruditos.
Trabalhar com o gênero poético não foi tarefa fácil no projeto que
desenvolvemos em nosso II Estágio de Intervenção. Os desafios no fazer desse trabalho
foram inicialmente compreender a literatura como meio de produção de sentidos e não
apenas como expressão do belo.
Durante o estágio os desafios se deram por não ter experiência na sala de aula,
como já mencionado nesse trabalho. Ter realizado o projeto de intervenção na nossa
própria sala de aula foi um grande desafio porque nos exigiu avaliar a nossa própria
prática docente. Além disso, lidar com o público adolescente e manusear equipamentos
tecnológicos para a confecção do livreto com as produções dos alunos foram muito
desafiadores.
Como aprendizados na realização do projeto de intervenção que analisamos
aqui, destacamos que foi um trabalho muito rico e prazeroso que resultou na troca de
informação e principalmente na produção de conhecimento. O livreto é uma pequena
mostra/fruto dos saberes partilhado durante a atividade. Destaco também que devido
falta de leituras e domínio com relação ao gênero proposto, fizeram-me ofertar um
trabalho muito limitado, mesmo sem ter embasamento teórico esta atividade
proporcionou aprendizados significativos, pois pude aprender na pratica o quanto é
relevante o trabalho com o gênero proposto.
Através dessa experiência vivenciada, analise desses momentos e um estudo
mais intenso com teóricos gabaritados no tema aqui abordado destaco que à construção
desse trabalho proporcionou-me ampliar o conhecimento a cerca do gênero poético e
vencer meus próprios desafios, as leituras realizadas durante a realização deste estudo
fizeram-me compreender a importância em propormos atividades com o gênero literário
na sala de aula e querer adota-lo em minha pratica docente.
Com relação ao lugar dos textos poéticos na escola Carlos Marighella chegamos
a conclusão que eles tem ocupado um lugar significativo nas aulas de linguagens e
códigos, devido à proposta de ensino implantada desde 2015 a escola passou a dá um
tratamento mais altivo, além do projeto foi possível verificar essa firmação no plano de
aula da professora de língua portuguesa do segundo seguimento do ensino fundamental
da instituição já referida.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRÉ, Marli Elisa Dalmazo Afonso de. Etnografia da prática escolar. Campinas
São Paulo: 1995.
CHIAPPINI, Ligia. Aprender e Ensinar com textos de alunos. São Paulo: Cortez,
2004 (coleção aprender e ensinar com textos, vl. 01).
GERALDI, Joao Wanderley. O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 1996.
LAJOLO, Marisa. Do Mundo da Leitura para a leitura do Mundo. São Paulo: Ática,
1993.
SILVA, Eliseu Ferreira da; JESUS, Wellington Gomes de. Como e por que trabalhar
com a poesia na sala de aula. Revista Graduando, nº 02, 2011.
SILVA, Idelma Santiago da; SOUZA, Haroldo de; e RIBEIRO, Nilsa Brito (Org’s).
Práticas contra-hegemônicas na formação de educadores: reflexões a partir do curso
de Licenciatura em Educação do Campo do sul e sudeste do Pará. Brasília: MDA, 2014.
RIBEIRO, Nilsa Brito e COSTA, Lucivaldo Silva da. O lugar da área de Linguagens na
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educadores: reflexões a partir do curso de Licenciatura em Educação do Campo do sul
e sudeste do Pará. Organizadores: SILVA, Idelma Santiago da; SOUZA, Haroldo de; e
RIBEIRO, Nilsa Brito, orgs. Brasília: MDA, 2014.
CANDIDO, Antônio. Vários Escritores. O direito a literatura. São Paulo; Ouro sobre
Azul 2004.