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ABRASCO NO GLOBO — ARTIGOS PUBLICADOS ENTRE AGOSTO DE 2013 E OUTUBRO DE 2014 1

A SAÚDE
É COLETIVA
Artigos publicados
n’O Globo
PRESIDÊNCIA SECRETARIA E ASSESSORIA GERAL
Luis Eugenio de Souza Marco Aurélio Ferreira Pinto
Maria Inês Genoese
VICE-PRESIDENTES Roberta Nascimento
Eli Iola Gurgel
Laura Feuerwerker SETOR DE ASSOCIADOS
Maria Fátima Sousa Janaina Hora
Nelson da Cruz Gouveia
Nilson do Rosário Costa ABRASCO LIVROS
Inez Saurim
CONSELHO Fidel Pinheiro
Luiz Augusto Facchini Monica da Silva
Ligia Bahia
Rosana Onocko Campos SETOR DE COMUNICAÇÃO
Eronildo Felisberto Vilma Reis
Ethel Leonor Noia Maciel Bruno Dias

SECRETARIA EXECUTIVA IDEIA ORIGINAL


Carlos Silva Luis Eugenio de Souza
Thiago Barreto
CONCEPÇÃO E TEXTO
GERENTE ADMINISTRATIVA Vilma Reis
Hebe Conceição Patolea
PESQUISA
SETOR DE CONTABILIDADE Vilma Reis
Rozane Landskron Gonçalves
PROJETO GRÁFICO
ADMINISTRATIVOS Michael Oliveira
Cátia Pinheiro
Dayane Souza TRATAMENTO DE IMAGENS
Andrea Souza Michael Oliveira
Aline Macario
Jorge Luiz Lucas SUPERVISÃO GERAL
Vilma Reis

IMAGEM DE CAPA
Depositphotos

Abrasco – Associação Brasileira de Saúde Coletiva


Abrasco n’O Globo: artigos publicados entre agosto de 2013 e outubro de
2014 : Áquilas Mendes, Gastão Wagner Campos, Mauricio L. Barreto e Luís
Eugenio de Souza, Cesar Victora, Fernando Carneiro, Rosana Onocko, Pau-
lo Cesar Basta, Luiz Augusto Facchini, Naomar Almeida, Gulnar Azevedo e
Silva e Estela Aquino. – Rio de Janeiro, 2015.

18f.

1. Jornalismo. 2. Editoração e imprensa documentária e educativa


I. Título.

ISBN: 978-85-85740-05-4
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 04
Ligia Bahia

AGRADECIMENTO 05
Luis Eugenio Souza

UMA BOA ALTERNATIVA 07


Áquilas Mendes

FALTAM R$ 55 BILHÕES POR ANO NA SAÚDE 08


Gastão Wagner Campos

SAÚDE COLETIVA PRECISA DE PESQUISA E INOVAÇÃO 09


Mauricio L. Barreto e Luís Eugenio de Souza

SAÚDE INTEGRAL 10
Cesar Victora

O PERIGO DOS AGROTÓXICOS 11


Fernando Carneiro

ISOLAR DOENTE MENTAL NÃO É UMA ATITUDE SÃ 12


Rosana Onocko

A ALDEIA ESTÁ DOENTE 13


Paulo Cesar Basta

ESTRATÉGIA SAUDÁVEL 14
Luiz Augusto Facchini

EDUCAÇÃO PERVERSA 15
Naomar Almeida

AÇÃO CONTRA O CÂNCER 16


Gulnar Azevedo e Silva e Estela Aquino
APRESENTAÇÃO

É muito difícil transformar o cepcional qualidade acadêmica e jor-


mundo sem compreendê-lo e se- nalística dos artigos reunidos nessa
ria no mínimo pretensioso supor coletânea comprova o potencial da
a possibilidade de costurá-lo por área para interagir com a “opinião
meio de conceitos abstratos. O pública”. A tarefa de sintetizar con-
conhecimento pode conduzir mu- cepções teóricas e evidências cien-
danças, quando, em vez de mera tíficas é complexa e enriquecedora.
reflexão especulativa sobre a reali- Requer esforços de reconhecimento
dade, instaura-se um processo his- dos obstáculos para alterar conjun-
tórico, no qual o saber que não se turas e estruturas e assim produzir
separa do entender como. um novo auto entendimento.

Os textos de pesquisadores da Essa florada de artigos é resultan-


saúde coletiva, divulgados por um te de um trabalho coordenado pela
jornal da grande imprensa, expres- Abrasco para ampliar a presença das
sam uma forma peculiar de cogni- reflexões sistematizadas de cientistas
ção: a conjugação de fatos e valores, brasileiros na mídia. Nesses tempos,
referida não apenas à análise sobre em que a democracia e a igualdade
se o conhecimento é proveitoso voltaram a ser tensionadas por visões
para o público, mas também à moti- reducionistas sobre as distinções en-
vação para divulgá-lo. tre cidadãos e indivíduos e produtores
e consumidores, não é pouco estabe-
Deslocar-se da situação de even- lecer contrapontos, análises, interro-
tuais provedores de informações gações e equacionamentos sobre a
para matérias sobre saúde, que re- saúde no Brasil. A leitura desses arti-
percutem problemas cotidianos fil- gos, certamente, permitirá identificar
trados e proposições oficiais, para o lacunas, estimular debates, gerar a
de formuladores de uma agenda de publicação de novos textos que reafir-
prioridades permite afirmar a voca- mem compromissos de transformar o
ção política da saúde coletiva. A ex- que procuramos compreender.

Ligia Bahia
AGRADECIMENTO

A publicação desses artigos no jornal O Globo decorreu da iniciativa e


da articulação de Ligia Bahia. Nos últimos seis anos, ela foi vice-presidente
(2009-2012) e conselheira (2012-2015) da Abrasco, tendo atuado intensa e ge-
nerosamente em prol da ciência e do projeto da Reforma Sanitária Brasileira.

Ligia Bahia é, sem dúvida, uma das mais importantes pesquisadoras da


área da saúde coletiva. Sua atuação na direção da Abrasco foi marcante e
contribuiu decisivamente para o fortalecimento da entidade como espaço
de representação de um pujante campo científico e de interlocução com a
sociedade em busca de um caminho para a democratização da saúde.

Luis Eugenio de Souza


NARRAR É RESISTIR.
Guimarães Rosa
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UMA BOA ALTERNATIVA


Áquilas Mendes — 23 de agosto de 2013

Devemos saudar o Movimento mentar a sua rigidez orçamentária. deflacionados IGP-DI/FGV). A Recei-
Saúde +10 pela proposição do Proje- Do total do seu orçamento para 2013 ta Corrente Líquida da União - base
to de Iniciativa Popular que estabe- (R$ 2,2 trilhões), 46% estão compro- de cálculo defendida pelo governo -
lece a aplicação do governo federal metidos com as despesas financei- teve incremento inferior a RCB, sen-
em saúde de 10%, no mínimo, da sua ras, o pagamento de amortização e do 56,6%, nesse mesmo período.
Receita Corrente Bruta (RCB). Isso juros da dívida. Interessante é que
significará R$ 40 bilhões a mais no aqui não fica explicitado que se trata Diferentemente do governo,
SUS em 2013 (0,8% do PIB). O seu de uma escolha prioritária há anos. Os entendemos que a RCB pode asse-
pleito é importante para a sobrevi- demais 54% do orçamento referem-se gurar a sustentabilidade financeira
vência do SUS, mas temos consci- às despesas obrigatórias e discricio- para o SUS, desejada desde a sua
ência de que não resolve comple- nárias. Assim, reforça que não há re- criação. A metodologia de aplicação
tamente o seu subfinanciamento cursos livres e para ampliá-los para a da União deve se equipar à dos es-
histórico. Os recursos públicos en- saúde é preciso conseguir nova fonte. tados e municípios (total das recei-
volvidos sempre foram insuficien- tas de impostos, compreendidas as
tes para garantir uma saúde pública Segundo, o governo é contrário transferências constitucionais). Tra-
universal. Em 2011, o gasto público a RCB. Para ele, há que descontar ta-se de garantir a isonomia nas três
em saúde (União, estados e municí- dessa base de cálculo os recursos esferas de governo.
pios) foi de 3,84% do PIB, enquanto das transferências constitucionais
que a média dos países europeus para estados e municípios (FPM, Ainda, a defesa pela utilização da
com sistemas universais foi de 8,3%. FPE), do Fundeb, dos royalties, do RCB decorre de sua visibilidade nas
A grande reivindicação do Projeto é salário-educação, das contribuições contas públicas federais e de difícil
pelo comprometimento do governo previdenciárias e outros. Porém, não manipulação, o que poderia ser o
federal no financiamento do SUS. está definido no Projeto de Iniciativa caso da Receita Corrente Líquida. É
Em 1995, esse governo gastou com Popular que os 10% devem ser reti- conhecida a celeuma em torno dos
saúde o equivalente a 1,75% do PIB; rados de cada uma das fontes, mas quase dez anos, após a EC 29, sobre
passados 17 anos (2012), essa pro- sim o correspondente ao “montan- o que deveriam ou não ser conside-
porção praticamente se manteve. te igual ou superior a 10% da RCB”. radas como despesas com ações e
A base RCB busca distanciar-se das serviços e saúde. Por fim, a defesa
Ao se deparar com esse Projeto, variações cíclicas da economia, men- da RCB tem o apoio de 2 milhões de
o governo federal retorna com os suradas pelo PIB, que não vem cres- assinaturas dos brasileiros, o que
mesmos argumentos utilizados nos cendo no mesmo patamar que a ar- justifica a sua não alteração por to-
embates da Lei 141/2012 (regulamen- recadação da União. A RCB cresceu dos os que desejam ouvir os gritos
tação da Emenda Constitucional 29). entre 2000 a 2012, 65,5%, enquanto o das ruas. Apoiemos a defesa do Mo-
Primeiro, o governo insiste em co- PIB aumentou apenas 5,9% (valores vimento Saúde +10.

LINK: http://noblat.oglobo.globo.com/artigos/noticia/2013/08/uma-boa-alternativa-por-aquilas-mendes-507941.html
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FALTAM R$ 55 BILHÕES POR ANO NA SAÚDE


Gastão Wagner Campos — 20 de setembro de 2013

Há consenso sobre a insuficiên- resolver impasses do SUS, sequer equipe básica (médico, enfermeiro
cia do financiamento para o Sistema médicos para a Atenção Básica têm e apoio matricial multiprofissional)
Único de Saúde (SUS). Entretanto, sido conseguidos. para o dobro de gente custaria R$ 28
esse acordo desaparece quando se bilhões. A Atenção Básica não se des-
discute como e onde gastar. Essa O SUS poderia constituir-se em tina somente a populações pobres,
divergência decorre de conflito de autarquia pública; uma organização trata-se de uma estratégia para resol-
interesse entre considerar-se a saú- federal, estadual e municipal; tendo ver 80% dos problemas de saúde me-
de como direito ou como negócio. como núcleo organizativo as 420 re- diante cuidado personalizado e que
Há evidências sólidas, extraídas da giões de saúde em que se divide o implique em abordagem clínica e pre-
experiência internacional, sobre o país. O SUS conformado por normas ventiva. Para isto será necessário me-
modo mais efetivo para organizar a e modelo de gestão que consideras- lhorar a qualidade da atenção Básica:
saúde. Sistemas públicos e nacionais sem a especificidade e complexida- melhor infraestrutura e integração
têm melhor desempenho que mo- de da saúde. com hospitais e serviços especializa-
delos privados. dos. Ampliar a liberdade das famílias,
Trazer a racionalidade do mer- garantindo-lhes a possibilidade de
No Brasil, a construção do SUS cado para dentro do SUS implica escolher a qual equipe se vincular em
é incompleta e ainda carente de um em liquidar o SUS. Nessa lógica uma dada região.
projeto nacional estratégico. Im- já funciona a Saúde Suplementar.
passe a ser enfrentado é o do mo- Nesse caso, fará sentido gastar-se Estima-se a necessidade de 200
delo de gestão. A atual estrutura já com uma carreira da saúde para o novos hospitais gerais em regiões
demonstrou seu limite. Não avança- SUS: para atenção básica, atendi- carentes. Para construí-los e equipá-
remos mais se persistir a atual frag- mento hospitalar e especializado, -los serão necessários R$ 10 bilhões,
mentação entre os entes federados vigilância à saúde. Concursos por o custeio anual exigirá orçamento se-
e a multiplicidade de lógicas organi- estado da Federação, mobilidade melhante. A recuperação e a reorga-
zativas dos serviços (administração entre cidades e postos de traba- nização da precária rede já existente
direta, contrato e convênios, Orga- lho, formação continuada. custarão outros R$ 20 bilhões anuais.
nizações Sociais etc.). Não haverá Haveria ainda que ampliar o gasto
governança nem regulação pos- Outro investimento prioritário com Vigilância em Saúde, controlar
sível nessa Babel. Um dos pontos seria a expansão da Atenção Básica epidemias, drogas, violência: outros
relevantes do programa Mais Mé- para 80 a 90% dos brasileiros. Atual- R$ 5 bilhões por ano. Evitar milhões de
dicos foi o reconhecimento de que mente, custa R$ 16,8 bilhões por ano mortes evitáveis: somente com novos
os municípios não darão conta de atender a 50% da população. Garantir R$ 55 bilhões anuais para o SUS.

LINK: http://www.abrasco.org.br/site/2013/09/artigo-de-gastao-wagner-no-jornal-o-globo
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SAÚDE COLETIVA PRECISA DE


PESQUISA E INOVAÇÃO
Mauricio L. Barreto e Luís Eugenio de Souza — 31 de outubro de 2013

Ao se falar em saúde, pensa-se pação de pesquisadores, gestores e 122 Institutos Nacionais de Ciência e
logo em médicos e hospitais. E, de usuários do SUS. E importantes es- Tecnologia, criados há poucos anos
fato, médicos e hospitais são fun- forços organizacionais têm sido fei- pelo CNPq, aproximadamente um
damentais para ajudar a recuperar tos, incluindo a criação, em 2003, de terço é da área.
a saúde. Contudo, o cuidado exige uma secretaria dedicada a CT&I no
muito mais, exige a garantia de con- Ministério da Saúde. A saúde coletiva é uma das mais
dições dignas de vida, que incluem produtivas áreas da pesquisa cientí-
desde ações de saneamento ambien- Esses esforços permitiram apro- fica, tendo por foco produzir conhe-
tal e de enfrentamento da violência ximar as prioridades de pesquisa cimentos e desenvolver tecnologias
até a realização de transplantes de das necessidades da população e relacionados à situação e aos deter-
órgãos, passando pela vacinação e dos programas do SUS, assim como minantes da saúde das pessoas, bem
pela dieta nutritiva, entre outras coi- propiciaram o aumento do investi- como a formulação de políticas e a
sas. Construir um sistema capaz de mento na pesquisa, criando as con- organização de serviços e programas.
articular todas essas dimensões é dições objetivas para que crescesse Se a CT&I, em geral, é vital para o de-
tarefa que requer, além de decisão a produção científica brasileira. O senvolvimento do país, a CT&I em saú-
política e capacidade de gestão, um Brasil é hoje o décimo-terceiro país de e, em especial, em saúde coletiva,
grande investimento em pesquisa e do mundo em produção científica, é importante para que, ao processo
desenvolvimento tecnológico. com o campo da saúde represen- de desenvolvimento econômico, se
tando uma proporção significati- alie o desenvolvimento social.
A Constituição Brasileira, no inci- va desta produção. A comunidade
so V do artigo 200, atribui ao Siste- científica brasileira da área, organi- Para a comunidade da saúde
ma Único de Saúde (SUS) a compe- zada em milhares de grupos de pes- coletiva, a consolidação de um
tência de incrementar em sua área quisas de universidades, centros e SUS de alta qualidade não visa
de atuação o desenvolvimento cien- institutos acadêmicos do país, tem somente a fazer cumprir um di-
tífico e tecnológico. Em consequ- se mobilizado para responder aos reito constitucional, mas também
ência, duas conferências nacionais desafios postos pela Constituição a promover a construção de uma
de Ciência, Tecnologia e Inovação e, assim, gerar conhecimentos e sociedade mais saudável, o que
(CT&I) em saúde foram realizadas tecnologias que melhorem as con- demanda a utilização do melhor
(1994 e 2004), com ampla partici- dições de saúde dos brasileiros. Dos conhecimento científico.

LINK: http://www.abrasco.org.br/UserFiles/Image/artigo%20o%20globo%20LE.pdf
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SAÚDE INTEGRAL
Cesar Victora — 2 de dezembro de 2013

Os Objetivos de Desenvolvimen- os ODM, a nova agenda direciona- divíduos a serviços de saúde. Como
to do Milênio (ODM) têm ocupado rá os investimentos globais, públi- sanitaristas, questionamos este con-
um papel central na agenda global cos e privados, para os próximos ceito por reduzir a saúde ao consu-
até 2015. Dos oito objetivos, três di- 20 anos, o que justifica a acirrada mo de serviços médicos e portanto
zem respeito à saúde: redução da competição para definir as novas por ignorar seus determinantes so-
mortalidade de crianças menores de metas. Sustentabilidade e equida- ciais e ambientais. Questionamos
cinco anos, redução da mortalidade de serão sem dúvida dois pilares da ainda o fato de que a meta não dis-
materna e controle de doenças in- nova agenda, que deve incluir ques- crimina o tipo de serviços de saúde
fecciosas como a AIDS e a malária. tões como mudanças climáticas e aos quais seria garantido o acesso –
Destes três objetivos, o Brasil só não segurança internacional. se serviços públicos, universais, com
atingirá o da mortalidade materna. alta qualidade e equidade, ou servi-
Alcançamos também enorme pro- Alguns argumentam que não de- ços com fins lucrativos contratados
gresso na redução da subnutrição veria haver um objetivo específico a partir de seguradoras privadas. A
infantil, uma das metas do objetivo para a saúde, uma vez que esta já re- nova meta de saúde deve contem-
de erradicar a pobreza. Mais impor- presentou 3 dos 8 ODMs. Este seria plar tanto os determinantes médi-
tante ainda, logramos diminuir as um grande equívoco, pois a saúde co-assistenciais quanto os determi-
brechas entre a saúde de pobres e não é importante por si só, mas con- nantes sociais. Esta precisa ainda
ricos, ao contrário da grande maio- tribui para o desenvolvimento eco- dar igual ênfase aos distintos tipos
ria dos demais países. nômico, assim como para o bem es- de doenças e incapacidades que afli-
tar individual e social. Não obstante, gem nossas populações. O indicador
Na medida em que os ODM são mesmo dentro do setor saúde há um que mais bem capta estas distintas
– ou deixam de ser – alcançados, debate intenso. Argumenta-se que a dimensões é expectativa de vida
existe intensa mobilização interna- saúde materno-infantil e as doenças saudável. Ao indicar o número mé-
cional para definir novos objetivos infecciosas já receberam suficiente dio de anos vividos sem incapacida-
para o período pós 2015. Países ricos atenção, sendo agora necessário des importantes, esta medida capta
e pobres, órgãos das Nações Uni- priorizar as doenças cardiovascula- a totalidade da experiência de saú-
das, fundações filantrópicas e a so- res, o câncer e as doenças mentais. de de uma população, que propicia
ciedade civil estão debatendo den- A Organização Mundial da Saúde a oportunidade de um trabalho con-
tro de um processo que deverá ser propõe que a meta seja a cobertura junto para garantir a todos o direito
concluído. Assim como ocorreu para universal – ou acesso de todos os in- a uma vida plena.

LINK: http://oglobo.globo.com/opiniao/saude-integral-10927387
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O PERIGO DOS AGROTÓXICOS


Fernando Carneiro — 24 de janeiro de 2014

O agronegócio brasileiro vem pres- la ou de agrotóxicos, comunidades só espécie vegetal, como a soja.
sionando a Presidência da República e atingidos por resíduos de pulveriza- Por isso, a cada dia, surgem novas
o Congresso para diminuir o papel do ção aérea e trabalhadores expostos. superpragas, que associadas aos
setor saúde na liberação dos agrotó- transgênicos, tem exigido a libera-
xicos. O Brasil é o maior consumidor Mesmo frente a esse quadro, ção de agrotóxicos até então não
desses venenos no planeta e a cada o mais dramático, é a ofensiva do autorizados para o Brasil. O mais
dia se torna mais dependente deles. agronegócio e sua bancada ruralista recente caso foi a liberação emer-
Qual o impacto que essas medidas te- para aprofundar a desregulamen- gencial do benzoato de amamecti-
rão na saúde da população brasileira? tação do processo de registro de na usado para combater a lagarta
agrotóxicos no país. Qualquer agro- Helicoverpa que está dizimando as
No Brasil, a cada ano, cerca de tóxico para ser registrado precisa lavouras de soja de norte a sul do
500 mil pessoas são contaminadas ser analisado por equipes técnicas país. A lei que garantiu a liberação
por agrotóxicos segundo o Sistema dos Ministérios da Agricultura, Saú- desse veneno foi tramitada e apro-
Único de Saúde (SUS) e estimativas de e Meio Ambiente. Inspirados na vada em um mês pelo Congresso e
da Organização Mundial da Saúde CTNBIO, instância criada para avaliar Presidência da República.
(OMS). Os brasileiros estão consu- os transgênicos, que até hoje auto-
mindo alimentos com resíduos de rizou 100% dos pedidos de liberação A pergunta que não quer calar é:
agrotóxicos acima do limite permiti- a ela submetidos, os ruralistas que- no momento em que a população
do e estão ingerindo substâncias tó- rem a criação da CTNAGRO onde o brasileira espera um Estado que ga-
xicas não autorizadas. Em outubro, a olhar da saúde e meio ambiente dei- ranta o direito constitucional a saú-
Agência de Vigilância Sanitária (AN- xariam de ser determinantes para a de e ao ambiente por quê estamos
VISA), revelou que 36% das amostras liberação de agrotóxicos. vendo o contrário?
analisadas de frutas, verduras, legu-
mes e cereais estavam impróprias Quem ganha e quem perde com Na maioria dos estados brasileiros
para o consumo humano ou traziam essa medida? Não há dúvida que os agrotóxicos não pagam impostos.
substâncias proibidas no Brasil, ten- entre os beneficiários diretos está O Estado brasileiro tem sido forte
dência crescente nos últimos anos. o grande agronegócio, que tem na para liberalizar o uso de agrotóxicos,
sua essência a monocultura para mas fraco para monitorar e controlar
Os agrotóxicos afetam a saúde exportação. Esse tipo de produção seus danos a saúde e ao ambiente.
dos consumidores, moradores do en- não pode viver sem o veneno por- Enquanto isso, todos nós estamos
torno de áreas de produção agríco- que baseia-se no domínio de uma pagando para ser contaminados.

LINK: http://oglobo.globo.com/opiniao/o-perigo-dos-agrotoxicos-11386588
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ISOLAR DOENTE MENTAL NÃO É UMA ATITUDE SÃ


Rosana Onocko — 4 de março de 2014

Ser assediado por vozes, ter o Tem sido uma política de Estado des- melhor forma de tratar as doenças
corpo invadido em seus orifícios mais de os anos 90, sustentada por vários mentais. Os asilos para doentes
íntimos, sentir que o próprio corpo governos. Não é a invenção de uns mentais remanescentes no Brasil
já não lhe pertence, não saber como poucos aloprados desinformados e em nada se parecem a lindas clí-
eliminar essas sensações e sentir-se não científicos. nicas com salas de leitura, como
indefeso e impotente em relação a afirma Gullar. Eles mais bem são
elas... Assim relatam suas experiên- Organizações dos próprios usuá- pocilgas, onde a taxa de mortalida-
cias pessoas diagnosticadas dentro rios (que escolheram se chamar so- de supera em muito a esperada, e
do espectro das psicoses. breviventes da psiquiatria no mundo têm sido motivo para o Brasil ser
anglo-saxão!) têm chamado a atenção processado na Corte Internacional
A loucura espanta a humanida- para a importância de estratégias tera- de Direitos Humanos.
de há séculos, e episódios como o pêuticas inclusivas e serviços orienta-
da morte de Eduardo Coutinho nos dos para o recovery. Para eles, recovery Em muitos episódios dolorosos
lembram o porquê. A sociedade tem não implica a volta a um estado pré- como o de Coutinho, constata-se a
buscado formas de afastá-la de si -mórbido, nem exige a completa remis- ausência de diagnóstico e/ou trata-
como a uma assombração: nau dos são dos sintomas, senão a retomada da mento. Mais que clamar pela volta
loucos, asilos, reclusão domiciliar fo- vida social, a possibilidade de sentir-se do encerramento (que contraria
ram amplamente experimentadas. útil e de a vida ter algum sentido. todas as recomendações interna-
Desde o início do século XX, as for- cionais de boas práticas clínicas)
mas de segregação e encerramento Quando acontecem passagens deveríamos chamar a atenção para
dos doentes mentais foram sendo ao ato tão dramáticas quanto a a importância do acesso ao trata-
substituídas no mundo ocidental por que vitimou o grande cineasta mento por meio da ampliação e
novas formas de cuidado que bus- Coutinho, não raro alçam-se vozes qualificação da rede territorial de
cam o convívio na comunidade e a clamando pela volta das formas serviços substitutivos: recovery
reinserção social dos outrora exclu- fechadas de tratamento, como re- oriented. Que eles venham substi-
ídos. O advento dos psicotrópicos centemente reivindicou o poeta tuir definitivamente as formas asi-
trouxe alívio para alguns sintomas e Ferreira Gullar. lares de afastamento da loucura. E
facilitou o manejo de muitos casos, os artistas, que venham nos acudir
porém não resolveu a questão. Apesar de a sensibilidade ser a com sua arte, única forma de exor-
matéria-prima dos artistas, ela não cizar o espanto. Não precisamos de
A política de saúde mental brasi- os coloca em posição privilegiada seus conselhos clínicos e, sim, do
leira se insere nessa vasta tradição. para proferir julgamentos sobre a sublime contato com a beleza.

LINK: http://oglobo.globo.com/opiniao/isolar-doente-mental-nao-uma-atitude-sa-11739165
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A ALDEIA ESTÁ DOENTE


Paulo Cesar Basta — 28 de abril de 2014

A questão indígena tem ocupado cobertura de ações básica em saúde tes de internação de crianças. Doen-
expressivo espaço no noticiário na- a uma população que, segundo da- ças infecciosas como malária, tuber-
cional. Com freqüência, os indígenas dos do Censo 2010, totaliza 890 mil culose, hepatites virais e parasitoses
são associados à violência contra pessoas, representantes de 300 et- intestinais e doenças crônicas não
não indígenas e responsabilizados nias e falantes de 200 línguas. transmissíveis, como diabetes e hi-
por invasões de propriedades “par- pertensão, também são problemas
ticulares”. Com essa abundante ex- Apesar de amparados pela legis- freqüentes nas aldeias.
posição negativa, não é de estranhar lação, os indígenas permanecem à
que a opinião pública os veja com margem da sociedade. A exclusão Em dezembro de 2013, por ocasião
preconceito e como empecilhos ao tem graves conseqüências e resulta da 5ª Conferência Nacional de Saúde
desenvolvimento do país, e não se em vultosas desvantagens que se Indígena, 1209 delegados tiveram a
interesse por seus direitos. refletem, sobretudo, nos indicado- oportunidade de analisar 453 pro-
res de saúde. postas sobre os principais desafios a
A Constituição reconheceu aos serem enfrentados na área da saúde.
povos indígenas o direito de manter Dados do IBGE revelam que a Embora as autoridades tenham afir-
sua cultura e os costumes ancestrais, taxa de mortalidade infantil entre mado que houve expansão do finan-
além das terras que tradicionalmen- indígenas – desde que se iniciou o ciamento, os relatos das lideranças
te ocupam. Deixou-se assim de enfa- registro em 1999 – é maior do que foram enfáticos em declarar que as
tizar a “integração” dos indígenas à a reportada nas outras categorias ações nas comunidades continuam
sociedade nacional e passou-se a re- de cor ou raça. precárias. Na maioria das quase 5000
conhecer que o Estado deve assegu- aldeias existentes no país não há pos-
rar condições mínimas para que pos- Entre 2008-2010, aproximada- tos de saúde. Naquelas em que há, fal-
sam viver segundo suas tradições, mente um quarto das crianças apre- tam medicamentos e equipamentos
sem a perspectiva inexorável de se sentavam-se cronicamente desnu- básicos, material para atendimento
“integrar” à sociedade nacional. tridas e mais da metade sofriam de de urgências e emergências, além de
anemia, segundo o Inquérito Nacio- profissionais de saúde. Nesse cená-
Em 1999, foi criado o Subsistema nal de Saúde e Nutrição dos Povos rio, crianças continuam adoecendo
de Atenção à Saúde Indígena (SASI), Indígenas, realizado pela Associação e morrendo por agravos passíveis de
no âmbito do SUS. O SASI conta Brasileira de Saúde Coletiva. prevenção na atenção básica e os pro-
com 34 Distritos Sanitários Especiais blemas estruturais apontados na últi-
Indígenas, espalhados no território Diarreia e infecção respiratória ma conferência, realizada em 2006,
nacional, e propiciou a extensão da aguda foram as causas mais frequen- permanecem aguardando solução.

LINK: http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/site/arquivos/anexos/e5d568ff0fe059a01a4febb7bf2b737c3efb85f8.JPG
ABRASCO NO GLOBO — ARTIGOS PUBLICADOS ENTRE AGOSTO DE 2013 E OUTUBRO DE 2014 15

EDUCAÇÃO PERVERSA
Naomar de Almeida Filho — 27 de julho de 2014

No Brasil, quem ganha o suficien- É impressionante o papel cúmpli- em projetos individuais, numa rela-
te para pagar Imposto de Renda tem ce da universidade brasileira nessa ção patrimonialista e, tantas vezes,
direito a uma dedução parcial do que inversão ou perversão. Aqui, a uni- predatória com a universidade. Rela-
gastou na educação dos filhos, ou na versidade falha como instrumento cionam-se com a instituição pública
sua própria. Este mecanismo facilita ou dispositivo de integração social. como um lugar aonde irão adquirir
aos jovens de classe média alta aces- Na dinâmica de reprodução social do ou garantir uma carreira pessoal, um
so a ensino básico privado de melhor nosso país, age como promotora de projeto individual ou familiar, sem
qualidade e aprovação em processos desigualdades. Vagas em universida- qualquer construção de solidarieda-
seletivos competitivos para entrada des públicas de melhor qualidade e de pelo pertencimento à instituição
em universidades públicas. Educação nos cursos de maior prestígio social universitária, sustentada pela socie-
superior nessas universidades gratui- eram (e, em grande medida, ainda dade.
tas (para os estudantes, porque são são) destinadas quase exclusivamen-
pagas pela sociedade) produz em- te a uma minoria, apesar das políticas Solidariedade e consciência cida-
pregabilidade, maior renda, capital de ações afirmativas compensató- dã são palavras-chave para garantir a
político e valor social. Em paralelo, rias. saúde como direito de todos. A pro-
trabalhadores pobres pagam impos- moção desses valores encontra-se,
tos sobre o consumo, financiando A missão social das políticas pú- basicamente, na educação, o que
o Estado, mas não se beneficiam de blicas de educação, que é formação requer profunda mudança dos mo-
renúncias fiscais. Essa maioria social, de cidadãos plenos, aptos a promo- delos de formação profissional em
no mais das vezes, tem acesso a ensi- ver dignidade humana, igualdade de saúde. A formação de médicos, en-
no básico de baixíssima qualidade na direitos, solidariedade, responsabili- fermeiros, psicólogos, odontólogos,
rede pública. Aos que conseguem dade ambiental e justiça social, não nutricionistas e demais trabalhado-
concluir o nível médio de ensino, está sendo cumprida. Se fizermos res da saúde deve basear-se nas ne-
resta o ensino superior privado, mui- uma avaliação do perfil ideológico de cessidades de saúde das populações,
tas vezes de menor qualidade, pago egressos das universidades públicas na interdisciplinaridade, na atuação
pelo estudante ou por sua família. brasileiras — especialmente em áre- interprofissional e no efetivo conhe-
A formação profissional desse seg- as como saúde — encontraremos o cimento sobre o Sistema Único de
mento social resulta enfim em me- oposto disso. Profissionais formados Saúde. A nova Universidade Federal
nor renda, desemprego, exclusão e em instituições públicas desprezam o do Sul da Bahia assumiu o desafio de
pouco capital político. caráter público do Estado, engajados experimentar essa mudança.

LINK: http://oglobo.globo.com/opiniao/educacao-perversa-13388723
ABRASCO NO GLOBO — ARTIGOS PUBLICADOS ENTRE AGOSTO DE 2013 E OUTUBRO DE 2014 16

ESTRATÉGIA SAUDÁVEL
Luiz Augusto Facchini — 1º de julho de 2014

Apesar dos problemas diaria- medida que aumenta a cobertura. lheres recebem cuidados pré-natais
mente destacados, o SUS, implan- Além disso, a proporção do gasto e a cobertura de vacinas contra dif-
tado em 1988, acumula sucessos na municipal não aumentou com o in- teria, tétano e coqueluche em crian-
universalização do direito constitu- cremento da cobertura, sugerindo a ças menores de um 1 ano é superior
cional à saúde. As ações ofertadas eficiência da estratégia. a 95% na maioria dos municípios. Os
gratuitamente pelo sistema estão cuidados de hipertensão e diabetes
entre as mais abrangentes dentre Os indicadores e serviços me- e o acesso a medicamentos para
os países com sistemas públicos, in- lhoraram significativamente nos essas condições alcançam a grande
cluindo de vacinas a transplantes. E últimos 20 anos no Brasil, acompa- maioria das pessoas com os agravos.
são favorecidas pela Estratégia de nhando a expansão do SUS e da co-
Saúde da Família. bertura de Saúde da Família. Entre Ainda assim, persistem proble-
1990 e 2012, a taxa de mortalidade mas de estrutura (prédios, equipa-
Implantada em 1994, a Saúde infantil caiu 75%, enquanto a taxa de mentos, registro eletrônico e acesso
da Família oferta ações de promo- mortalidade de menores de 5 anos a internet) e de organização (coorde-
ção da saúde, exames preventivos foi reduzida em 77%. Nos últimos nação do cuidado multiprofissional,
e cuidados básicos, principalmente cinco anos, as internações hospita- especialmente de problemas crôni-
em áreas onde reside a população lares por diabetes diminuíram 25% cos) na Saúde da Família e a qualida-
mais pobre. Em julho de 2013, to- e a proporção de crianças menores de dos cuidados deixa a desejar. Ape-
talizou 34.185 equipes distribuídas de 5 anos abaixo do peso caiu 67%. nas 30% das pessoas com diabetes
em 5.309 (95%) municípios, desde O crescimento da cobertura da Saú- tiveram seus pés examinados, 46%
as pequenas localidades do interior de da Família está associado à redu- dos pacientes com pressão alta rea-
até as grandes cidades, atingindo e ção da mortalidade infantil e de in- lizaram eletrocardiograma e 60% das
108.096.363 pessoas (56% da popu- ternações por condições sensíveis à puérperas fizeram revisão pós-parto.
lação brasileira). atenção primária, ao maior acesso a Investimentos em infraestrutura, co-
consultas gratuitas e ao atendimen- ordenação e qualificação dos cuida-
A iniciativa tem sido bastante to domiciliar, especialmente em po- dos integrais vão ser fundamentais
avaliada e os resultados sinalizam pulações mais pobres. para melhorar não apenas a efetivi-
uma tendência de melhoria do de- dade, mas também a equidade em
sempenho do SUS, em praticamen- Várias ações foram praticamente saúde, dada sua maior presença em
te todos os portes de município, à universalizadas. Mais de 95% das mu- municípios e áreas mais pobres.

LINK: http://oglobo.globo.com/opiniao/estrategia-saudavel-13084802
ABRASCO NO GLOBO — ARTIGOS PUBLICADOS ENTRE AGOSTO DE 2013 E OUTUBRO DE 2014 17

AÇÃO CONTRA O CÂNCER


Gulnar Azevedo e Silva e Estela Aquino — 7 de outubro de 2014

A cada dia cerca de 170 mulheres evolução. As técnicas cirúrgicas são estudos foram conduzidos existe
recebem o diagnóstico de câncer hoje menos invasivas e mutiladoras, acesso oportuno a serviços de saú-
de mama no Brasil. O risco de ter e a indicação de terapia complemen- de de boa qualidade, o que minimiza
a doença deve continuar aumen- tar — radioterapia, hormonoterapia as diferenças entre as mulheres in-
tando em função, principalmente, ou quimioterapia — é mais precisa. cluídas no grupo com realização re-
das mudanças no estilo de vida das Porém, para a efetividade do trata- gular de mamografia e as que foram
mulheres. Elas estão vivendo mais, mento, é necessário iniciá-lo cedo. alocadas para o grupo controle.
adiaram a primeira gestação e dimi-
nuíram o número de filhos, fatores Em países desenvolvidos, o au- Outro aspecto que desafia a or-
associados à ocorrência desta doen- mento da sobrevida das pacientes ganização de estratégias de contro-
ça, mas que são ao mesmo tempo decorre da maior consciência so- le do câncer de mama diz respeito
conquistas sociais. bre a doença, da detecção precoce ao sobrediagnóstico (detecção de
dos casos e do aprimoramento do casos entre mulheres assintomá-
Outros fatores de risco para o tratamento. Os benefícios do ras- ticas que nunca evoluiriam para a
câncer de mama — como a obesida- treamento da doença em mulheres morte ou complicações). A investi-
de após a menopausa e o consumo assintomáticas através de mamo- gação diagnóstica e o tratamento
de álcool — têm sido alvo de ações grafia a cada dois ou três anos só envolvem procedimentos invasivos
de saúde pública por aumentar o ris- foram confirmados para mulheres e sofrimento, que só se justificam se
co de várias doenças e serem passí- entre 50 e 69 anos. ocasionarem benefícios.
veis de controle por meio de ações
preventivas voltadas para toda a po- Em 2012, a prestigiosa revista Por tudo isto, para diminuir a
pulação. O uso de terapia hormonal médica inglesa “Lancet” publicou mortalidade e melhorar a qualidade
na menopausa igualmente aumenta uma revisão de vários estudos pelo de vida de todas as mulheres do país
o risco de câncer de mama, o que le- Independent UK Panel on Breast é preciso que o rastreamento mamo-
vou à recomendação de que sua uti- Cancer Screening, concluindo que gráfico seja acompanhado do diag-
lização seja indicada quando estrita- o rastreamento mamográfico reduz nóstico e tratamento precoces. É es-
mente necessária, por curto período apenas 20% das mortes por esta neo- sencial que as mulheres tenham seus
de tempo e abaixo dos 60 anos. plasia entre as mulheres assintomá- direitos respeitados e que recebam
ticas quando comparadas a outras as informações necessárias para que
Muitas mulheres morrem de cân- em que o diagnóstico foi feito logo possam compartilhar decisões sobre
cer de mama e parte delas, se tratada após o aparecimento de sintomas. a própria saúde e exercer o controle
oportunamente, poderia ter melhor Ressalve-se que nos países onde os social sobre as políticas públicas.

LINK: http://oglobo.globo.com/opiniao/acao-contra-cancer-14162436

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