Sie sind auf Seite 1von 11
Pagina | de 11 “Andrea” domingo, 29 de abril de 2012 16:28 Fw: objeto na/da psicandlise Agora: Estud Print version ISSN 1516-1498 Agora (Rio J.) vol.d no.2 Rio de Janeiro July/Dec. 2001 beep 0.159 ARTIGOS * na A nocao de objeto na psicanalise freu: Nelson Ernesto Coelho Jr. Psicanalista, professor do Instituto de Psicologia da USP. Alameda Lorena, 1359 ap. 82, 01424-001 Sao Paulo SP. Tel.(11)288-8202; patnelco@uol.com.br RESUMO Este artigo tem por obj da nocSo de objeto na teoria psicanailtica de Freud. Sera caracterizada a principal concepcéo freudiana que postula as pulsdes como aspecto origindrio da constituicao da subjetividade e os objetos como aspectos secundarios. Mas sera evidenciada também outra osicgo possivel de ser derivada de Freud, que considera os objetos como determinantes origindrios na constituicao da subjetividade, Serd enfatizado que uma das riquezas epistemolégicas da psicandlise esté posicao com relacao ao estatuto do objeto. ar e discutir as definigBes ¢ 0 estatuto Palavras-chave: psicandlise freudiana, objeto, pulsdo e sujeito. ABSTRACT The concept of the object in the Freudian psychoanalysis. The aim of this paper is to discuss and situate the definition of the concept of the object in the Freudian psychoanalysis. The main Freudian conception that conceives the drive as the original aspect of subjectivity, and the object as a secondary one, will be characterized. But another position derived from Freud will be evinced: the one that considers the object as the original aspect in subjectivity. Thus, it will be emphasized that psychoanalysis epistemological richness derives from this double position regarding the object. Keywords: Freudian psychoanalysis, object, drive and subject. 01/05/2012 Pagin } INTRODUCAO Este texto tem por objetivo situar e discutir as definigées e 0 estatuto da nogao de objeto na teoria psicanalitica de Freud. Além deste objetivo, busca formular indicacdes para se conceber a articulacdo sujeito/objeto a partir da obra freudiana. Postulo que a compreensao da concepcio de objeto na teoria freudiana é elemento decisivo na definicgo da concepco de Sujeito, como alias ja foi sugerido, entre o outros, por Mere Merea (1994), 1 Embora Proud na tena Expncrado uma Concepcao de sujeito em sua | teoria, parece ser possivel sugerir que as diferentes acepcdes que o termo | objeto adquire no decorrer de sua obra séo determinantes para uma | possivel definic&o do que viria a ser o sujeito na teoria psicanalitica | freudiana. Entendo que a discusséo desse tema é de fundamental importancia no momento em que emerge com forca renovada a ‘proposicao de uma teoria e uma pratica psicanalitica intersubjetiva, em oposic¢ao a tradicional perspectiva itrapsiquica.~ Afinal, 0 objeto para \Freud deve ser entendide sempre como um objeto psiquico ou é também \um objeto real, externo? Quando os defensores de uma psicanalise iitersubjetiva referem-se a objetos e a sujeitos, essas referéncias a) ser entendidas em termos de "entidades concretas”, ou em termos de representacSes psiquicas, ou ainda, nos dois niveis simultaneamente? Procurarei, de inicio, caracterizar a concepco metapsicolégica que postula 35 pulsoes como aspecto originario da constituicdo da subjetividade e os objetos apenas como aspecto secundério. Trata-se da posicao sobre a noGao de objeto que pode ser considerada predominante na obra de Freud. Por este viés, a nocao de objeto aparece basicamente de dois modos: Tigada 8 nocdo de pulsdo — neste caso os objetos so correlatos das pulsées, so os objetos das pulsbes; ¢ ligada & atracdo e ao amor/édio, quando entéo so os objetos correlatos do amor e do édio. Mas procurarei mostrar também que é possivel derivar de Freud (como Sugere BERCHERIE, 1988) uma outra posicéo metapsicoldgica que influenciou boa parte dos tedricos da psicanélise pés-freudiana, como Lacan e Winnicott: aquela que considera os objetos como determinantes originarios na constituicgo da subjetividade. Aqui encontramos a evolucdo do pensamento freudiano a partir do texto Umfia lembranca infantil de Leonardo da Vinci (FREUD, 1910), com destaque ainda para IntroducSo ao narcisismo (FREUD, 1914) e, principaimente, Luto e melancolia (FREUD, 1917/1972) em que a concepcao de "objetos de identificagso” —/ torna-se fundamental na constituicao do sujeito, em particular através da nocao de identificacao primaria. OS DIVERSOS USOS DA NOCAO DE OBJETO EM FREUD qd © complexo uso que faz Freud da nocéo de objeto em suas formulagbes tedricas exige que tratemos com maxima cautela a proposta de uma apresentacdo sistematica e "enciclopédica" dos termos e definicbes, Sestabelecidos no decorrer de uma obra muito vasta, escrita em um © perfodo de mais de quarenta anos. André Green, em texto recente, || chegou a afirmar que o objeto para Freud € "polissémico, existe sempre mais que um objeto e, como um todo, eles cobrem varios campos € realizam fun¢bes que nao podem ser abarcadas por um 56 Conceito"(GREEN, 2000, p. ‘Assim como acontece com outras nodes centrais do ponto de vista epistemoldgico,2 também com relagao 3 nocao. de objeto Freud no chegou a estabelecer urria dafini¢go Unica e final'em “termos conceituais. Utilizando-se dos recursos préprios da lingua alema Dara a Tormacdo de palavras, Freud apresenta em suas obras uma série de OL Paging mogbes que anunciam a riqueza e a variedade do uso do objeto na ‘construgéo de sua teoria. Assim, encontramos, numa lista ndo exaustiva, nogSes como Objektwah! (escolha de objeto), Determinierung des Objectwahi (determinacao da escolha de objeto), Identifizierung als Vorstufe der Objektwahi (identificacao como grau elementar da escolha de objeto), infantile Objektwahl (escolha de objeto infantil), inzestudse Objektwah! (escolha de objeto incestuosa), homossexuele Objektwahl (escolha de objeto homosexual), Anfehnungstypus der Objektwah! (escolha anaclitica de objeto), narzissistische Objektwahl (escolha narclsica de objeto), Objektfindung (encontro do objeto), Objektbesetzung (investimento de objeto), Objekt-Libido (objeto de libido), Objekttriebe (objeto de pulsdes), Objektliebe (objeto de amor), Objektwechsel (troca de objeto), Objektwerbung (recrutamento do objeto), Objektverzicht (Feniincia do objeto), Objektveriust (perda do objeto), Objektvermeidung (ato de evitar o objeto) e Mutterbrust als erstes Objekt (seio materno como primeiro objeto). SeueGeE A partir desses conceitos podemos reconhecer muitos dos temas centrais da teoria psicanalitica de Freud e a forma como a nocdo de objeto s ) participa da construcéo do conjunto teérico. Como um primeiro ponto ; seria preciso destacar a relacao entre a sexualidade, ou melhor, as moses da pulsao sexual, suas "aces", e os objetos. Em geral, Freud se refere a objetos que S40 na realidade representacdes psiquicas. Assim, o . ento a que se refere a mocdo pulsional deve ser considerado um a movimento interno ao psiquismo. A seguir, seria necessario destacar a expresso "escolha de objeto”, que se refere, em geral, 8 escolhade = & objetos de amor. Como bem expressam Laplanche & Pontalis (1967) 0 termo "escolha" ndo deve ser considerado em seu sentido racional, de [uma op¢do consciente, mas sim como 0 que hé de itreversivel, na eleicao feita pelo individuo, do seu tipo de objeto de amor. A escolha pode se py” referir a uma pessoa especifica que é eleita como objeto de amor, ou a {sipos de escolha, como quando Freud se refere, por exemplo, 4 "escolha de objeto incestuosa", ou "escotha de objeto homossexual”. Ha ainda a referéncia ao préprio sujeito, ou mais precisamente, ao ego como instancia psiquica, que pode ser tomado como objeto, como no caso dos investimentos narcisicos. Mas, para Freud (1914/1972), escolhas narcisicas de objeto, embora exercidas a partir do modelo estabelecido da . Telacdo do sujeito corisigo mesmo, caracterizam-se também por escolhas de outros objetos que representem de alguma forma 0 préprio sujeito ou ’ aigum de seus aspectos. Freud partiu de sua observacao da experiéncia psiquica de inawictios homossexuais que escolheriam seu objeto de amor tomando a si mesmos como modelo. Em oposicao a este tipo de escolha, reud propés o que ele denominou "escolhas anacliticas de objeto". Nesse5 casos, 0 objeto de amor é escolhido a partir do modelo das primeiras relacdes objetais, em geral as relacdes com os pais. Em sua primeira teoria das pulsées, Freud propée que as pulsdes sexuais $e apoiam originalmente sobre as puls servaca escolhas anacliticas de objeto estariam se estabelecendo a partir do miodelo de relacSo presente nds primeiros momentos de vida, em que a , satisfacdo sexual sé apoiaria sobre objetos responsdveis pela conservacéo da vida, ou seja, principalmente sobre o seio materno. Dai outro uso do , objeto na formulacdo tedrica de Freud, aquele que estabelece que 0 seio (OC materno é 0 primeiro objeto sexual: "Em um tempo em que o inicio da. \-} satisfac&o sexual ainda esta vinculado ao recebimento de alimentos, a | pulsdo sexual encontra 0 objeto sexual fora do corpo da crianga, na forma |G. do seio materno"(FREUD, 1905/1972, p.125). De fato, para Freud, 0 ‘ primeiro objeto seré o modelo para as futuras relacdes objetais: "Existem, . Povorte bras 1 TIRE LAYS © HO He UTA CHEER IHERO HO COIN Pagina 4 de 11 se tore o protétipo para toda relacéo de amor. Encontrar um objeto (die Objektfindung) & na realidade reencontré-lo" (FREUD, 1905/1972, p.125- 126). Essa é uma frase muito citada e talvez a mais reconhecida entre as passagens da obra freudiana em que hd uma referéncia & noco de objet Embora Freud fizesse inicialmente uma clara diferenciago entre a Sexualidade infantil e a sexualidade posterior ao periodo da puberdade, jé caracteristicas de teoria DceSSOS pSiquicos infantis, tanto em sua_ Gitensaa deacke comm de afeto e representacéo, tendem a ser o modelo paraas relacées adultas. Outr citaggo de Freud & a complexidade da experiéncia temporal, nos termos emrque é compreendida pela psicandlise. Se inegavelmente ha uma linha Fegressiva, em que o passado explica o presente (as escolhas objetais passadas explicam as escolhas atuais ou posteriores), hd também o caminho inverso, em que $6 as experiéncias posteriores podem fazer com que as passadas ganhem sentido, ganhem significado. Essa Ultima forma de compreender a temporalidade, como se sabe, foi dénominada por Freud de Nachtraglichkeit (posterioridade). No texto de 1914, "Introduco ao narcisismo", Freud retomard o tema das escolhas objetais, propondo um resumo, que por sua importéncia, reproduzirei na integra: "ama-se: (1) A partir do tipo narcisico: a) 0 que se é (a prépria pessoa), b) 0 que se foi, c) 0 que se gostaria de ser, d) alguém que foi parte da propria pessoa. (2) A partir do tipo anaclitico: a) a mulher que alimenta, b) o homem que protege, e a sucessdo de pessoas substitutivas que venham a ocupar o seu lugar." (FREUD, 1914/1972, p. 56-57) Através dessa seqiiéncia, é possivel apreender os caminhos que Freud antevia para cada sujeito em suas escolhas de objeto amorosas. Mais uma vez fica claro o quanto as experiéncias amorosas infantis determinam as “fica evidente que na escolha de objeto escolhe-se sempre com base no modelo que é ao mesmo tempo constitutivo do sujeito (e portanto também narcisista) e externo (e portanto anaclitico...). Desta perspectiva, néo se torna tao cortante a distin¢ao entre os dois modos de escolha de objeto, exceto em suas possibilidades de combinacdo, de extraordinaria riqueza. (MAREA, 1994, p. 8-9) Mas fica claro também que tanto os movimentos que buscam no objeto externa a realizaco de iim deseio. camo anueles auie huscam no nrdnrio. 01/05/2012 Pagina sujelto essa realizacio, partem de marcas estabelecidas no psiquismo e de SEUS TEgStrOs afétivOs € representacionais. Ou seja, 05 estimulos, ou se quisermos, os "convites” que partem do mundo externo sergo sempre SECUNGATIOS ne epcao. N3o hd aqui nenhum poder de constituicso do sujeito atribuido aos objetos enquanto fonte primaria. A das acées @ escolhas seré sempre algo "interno" ao préprio sujeito, ou melhor, 0 préprio movimento pulsional. Mas, a0 menos potencialmente, no movimento da escolha de objeto, o sujeito entra em contato com a Giferenga, € assim percebe, ainda que parcialmente, a existéncia de um outro, de um ndo-ego. E sé a partir do momento em que Freud passa a valorizar os objetos de identificacdo, que esse modelo poderd ser modificado. J4 no texto de > 1910, Uma lembranca infantil de Leonardo da Vinci (FREUD, 1910), pode : ser verificado 0 movimento de Freud em dire¢ao ao reconhecimento dos F processos de identificacéo para a constituicao da subjetividade. Ao procurar compreender a homossexualidade a partir das concepcées psicanaliticas, sugere que o menino tende a recalcar seu amor pela mae e, a0 assim proceder, coloca-se em seu lugar, identifica-se com ela e acaba por tomar-se a si mesmo por modelo para seus novos objetos de amor. > Encontramos assim, jé nesse texto, importantes formulaces sobre a Be identificacéo e 0 narcisismo, Mas € no texto de 1917, Luto e melancolia, que a nocdo de identificacdo tomard corpo. O que se apresenta nesse texto é que em funcao da perda de um objeto que pode ser real ou mesmo fantasiada, o sujeito passa a viver uma identificacdo do objeto perdi > com Seu proprio ego. Embora Freud trabalhe ainda predominantemente com a concepcao do | \ objeto como sendo endopsiquico, nessé momento de sua obra comeca a | se esbocar a idéia da introjecdo do objeto, através da identificacdo \ (principalmente da identificacao primaria), como elemento central na \ constituicéo da subjetividade. Freud passa pouco a pouco a considera ‘em que 0 modelo fundamenti ‘ego como um precipitado de identificacBes, a figura paterna. As identificacdes, como se sabe, ocorrem desde 0 inic da vida, e vao preparando 0 caminho para o Complexo de Edipo, pedra angular da constituigdo da subjetividade para Freud. A identificago do menino com o pai pode servir aqui como exemplo: ha, No inicio, a0 mesmo tempo o desejo sexual pela mée e a identificacdo cc © pai. Na medida em que ocorre a necessidade de uma unificacao da ‘experiéncia psiquica, estes dois aspectos tendem a se fundir, dando origem ao Complexo de Edipo. E nesse momento que 0 pai passa a ser claramente um rival e a identificagao pode adquirir um caréter hostil, qu inclui movimentos de incorporaco (querer ser como o pai) e substituicé (querer ocupar o lugar do pai).Vale lembrar que 0 objeto Incorporado (como também ocorre na relacao objetal inaugural do bebé com o seio me) n3o é da ordem do observavel, j4 que é 0 objeto do desejo sexua para 0 qual n&o ha um correlato externo observavel. Embora exista a_ referéncia a um objeto externo (seio da me, 0 pai, etc.) ndo ha nenhu arantia de que 0 objeto vi: visado pelo desejo sexual e 2 incorporado — psiquicamente, seja 0 objeto externo real. Incorpora-se, em ultima instancia, uma relacao ‘qué passa @ produ ir efeitos na cadeia de fantas inconscientes. Freud postula, nesses termos, a constituicso da Subjetividade como um processo de sucessivas identificacdes. Os objet vo sendo Substituidos e o sucesso ou o fracasso nas substituicées ser determinante na formacgo de sintomas ou do equilibrio € das Pagina 6 de 11 Se retomarmos 0 caso especifico da melanc , estudado por Freud no justamente na impossibilidade de substituicao do objeto de amor. Mesmo que 0 teste de realidade comprove para a instncia egoica a auséncia do objeto na realidade exterior, no plano das fantasias e dos devaneios 0 objeto perdido mantém-se presente. Ou como sugere Pollock "Fantasias e devaneios com relacdo ao finado objeto podem interferir no trabalho de luto e, em insténcias em que 0 objeto morto nao pode ser apreciado realisticamente, 0 objeto continua a existir como um objeto introjetado inassimildvel, com o qual conversacées internas podem ser mantidas.” (POLLOCK, 1994, p.155) A tenso caracterizada pela auséncia do objeto externo, acompanhado da presenca psiquica do objeto é fonte de grande sofrimento. O exempla da melancolia é elucidativo de uma das formas com que o objeto aparece na teorizagao freudiana. A simultaneidade entre presenca e auséncia, a impossibilidade de uma parcela do psiquismo em reconhecer a perda do objeto, insistindo em sua presenca psiquica, evidencia a complexidade da nogao de objeto em uma teoria que procura justamente ultrapassar os limites da objetividade. Ao lado disso, entendo ser importante sublinhar a ambigUidade presente na concep¢do freudiana do objeto a partir da formulacao das identificagées como elemento constituinte dos processos de subjetivacio. Pode-se reconhecer 0 esforco de Freud em nao estabelecer uma presenca apenas empirica dos objetos. Por outro lado, seria erréneo supor que Freud negue a realidade dos objetos externos ou mesmo sua importancia na constituigéo da subjetividade. Nao ha, em Freud, a pretensdo de que a representacdo psiquica do seio materno, por exemplo, possa ter se formado sem que existisse um seio Materno “empirico”. O objeto seria simultaneamente empirico e psiquico. E deste modo que a teorizacao freudiana acaba por constituir sua especificidade quanto & nocao de objeto. Florence chega a afirmar que "a psicologia se refere a objetos da objetividade. A psicandlise situa-se no nivel da objetalidade"(FLORENCE, 1994, p.162). A objetalidade refere-se a uma experiéncia da identificacao que n&o se confundiria com a descricao psicolégica da imitacao. Nao ha, de fato, nessa concepcao, a possibilidade de um objeto empirico “estavel", que venha a ser imitado. Nas identificacdes, a énfase recairia muito mais sobre a relac3o entre um sujeito e os objetos, do que nos termos em si, de forma isolada. Assim, 0 sujeito criaria seu objeto, sma forma que © objeto criaria o sujeito através de sucessivas relacées. Encontrariamos aqui o que o fildsofo francés Merleau-Ponty (1945, 1964) denomina de processos de mitua constituicgo nas relacdes entre sujeito e ‘objeto. Nao hd anterioridade entre sujeito e objeto e também nao ha mais termos fixos, jé constituidos. O que ha ¢ ha 6 um processo permanente de miitua constituicgo. Essas sao as exigéncias reflexivas que as propostas freudianas sobre a identificacdo acabam por nos colocar. Nenhuma destas idéias esta explicitada na obra freudiana, mas sao idéias a que se chega a partir das exigéncias colocadas pelos textos de Freud. Voltarei a isso na conclusao deste artigo. POSSIVEIS ORDENACOES PARA A NOCAO DE OBJETO NA PSICANALISE FREUDIANA E possfvel estabelecer diferentes ordenacées da nogio de objeto na obra freudiana a partir do que j4 foi exposto. Nenhuma delas é definitiva, mas 01/05/2012 Pagina 7 de 11 escolhas precisam ser feitas se quisermos avancar na compreenséo de um pensamento tanto no que diz respeito a seus acertos quanto a seus erros. E inevitavel, nas tentativas didaticas de ordenaco de um conceito em uma obra to complexa como a de Freud, algum grau de esquematismo e simplificacdo. Pretendo correr esse risco em favor da clareza da exposicgo e, acreditando que o leitor poderd avancar, a partir da ordenacdo proposta, para além dela em direcgo a uma re-complexificacdo mais sistemdtica do conceito de objeto e da relac3o sujeito/objeto na obra freudiana. Assim, uma ordenacao possivel seria a seguinte: 0 objeto é objeto da pulsdo Considerando a teoria pulsional, Freud afirma que constitui-se como abjeto da pulsdo todo objeto no qual ou através do qual a pulso Consegue atingir seu alvo. 0 objeto nao € fixo, nem previamente determinado, ¢ gente no conjunto de elementos & processos presentes nos atos pulsionais. O objeto é v: indeterminado, mas é 0 que permite > satisfacSo as puls6es. Os objetos pulsionais tendem a ser objetos parciais, como por exemplo partes do corpo. Nao precisam ser objetos reais presentes, podem ser objetos fantasiados, o importante é que sejam objetos que garantam a satisfacdo. Nesse sentido, 0 objeto estard sempre a servico dos movimentos das pulsées sexuais, tal como Freud as define em sua primeira teoria das pulsdes. O objeto é objeto de atracdo e de amor objetos de atracéo e objetos de amor sdo em geral individuos que se articulam: ngo | ndo apenas a relacdes pulsionais mas sobretudo a relacées do ego total com os objetos. E através dos objetos de amor que Freud (1910/1972) elabora as passagens de fantasias infantis inconscientes para as experiéncias na assim chamada "vida real". Parte-se, na infancia, de objetos visados pelas pulsdes parciais para se atingir, posteriormente, objetos totais, visados pelo ego adulto. E possivel apreender, a partir dessa nocdo de objeto, uma certa concepcao de desenvolvimento. psicossexual sugerida por Freud, na passagem de objetos da pulséo — parciais e pré-genitais, para objetos totais — objetos de amor e genitais. No entanto, as préprias investigacdes posteriores de Freud (1917/1972), € principalmente os trabalhos de Abraham (1924/1980) e Klein (1932), tornargo essas relacdes muito mais complexas, envolvendo a experiéncia do fetichismo e os processos de incorporacéo, introjego e projecdo, fazendo com que a relacdo com objetos parciais assuma um papel central. OBJETO E NARCISISMO, O EGO TORNA-SE OBJETO DA PULSAO A introdugo do ego como abjeto da pulso abre espaco para uma grande transformaco na obra freudiana, que culminard com uma nova teoria das pulsdes. A complexidade das relagdes entre as pulsdes e seus objetos recoloca a questdo sobre as formas de vinculacdo entre os objetos das pulses sexuais e os objetos de necessidade, vinculados as pulsdes de autoconservacao. A propria nocao de prazer e objetos de prazer precisaré ser questionada, ao lado da nocao de identificacao. E ainda mais, 0 ego, Nos processos narcisicos ¢ definide como um objeto de amor. Serd 0 ego um objeto de amor como qualquer outro? Objeto e identificacao Jrmeste.a partir deLutn emelancalia Fraud gassa a dar mais ee ae =. 01/05/2012 Pagina 8 de 11 Enfase a importancia dos objetos de identificacdo na constituicdo do sujeito. Na experiéncia melancélica ha a introjecdo de uma relacdo ambivalente entre 0 ego 0 objeto, objeto que nesse caso é inconsciente. A identificacao parcial entre 0 ego € 0 objeto "perdido" resulta em um processo de grande destrutividade para 0 ego, na medida em que o ego No consegue igualar 0 objeto introjetado e assim partir em busca de Novos objetos. Freud estabelece também, com clareza, que 0 objeto pode ter sua existéncia no psiquismo mesmo depois de no estar mais presente como objeto da percepcao. As multiplas dimensdes psiquicas e empiricas que se desdobram a partir da concepcdo freudiana das identificacdes tem Papel preponderante nas formulacées da nocdo de objeto de autores pés- freudianos. Pode-se dizer que o objeto jamais serd o mesmo para a psicandlise a partir da énfase nas identificacoes como elemento central na Constituicso da subjetividade. a Percepcao e objeto. O objeto da percepcao 6 objeto real? A formulag3o sobre o vinculo entre percepgao e objeto, presente sobretudo nos textos iniciais de Freud, apresenta o objeto como sendo por um lado um objeto externo e real, oferecendo ao sujeito — ou a consciéncia — 0 critério de realidade, e de outro lado como sendo um ‘objeto psiquico e ento trata-se fundamentalmente de representacbes (Vorstellungen). Nesse plano, Freud no se distingue de boa parte da tradigdo psicolégica, em que objeto é objeto empirico e a representacdo seria uma representacdo do objeto real externo. A percepcao seria uma fungo da consciéncia, ou do ego, que por sua vez deveria ser definido como sede das funcées psicoldgicas (atencao, cognicao, etc.). Mas Freud (1915/1972 e 1923/1972) introduz uma novidade, em termos de teorias cléssicas da percep¢do, ao deixar aberta a possibilidade de percepcoes ‘“Inconscientes. E nesta medida permite que se postule 0 reconhecimento de que nenhuma percepco garante um acesso objetivo a realidade,” ndo cabendo, assim, reconhecimentos definitivos sobre a objetividade das percepcées. CONCLUSAO: SUJEITO E OBJETO SAO SUPLEMENTARES Apesar destas diferentes acepcSes, podemos considerar que na teoria freudiana, de uma forma geral, o objeto esté sempre ligado a0 processo fa Ris fé vida do sujeito, ou seja, se o objeto é determinado por algo, nao o é simplesmente por elementos ja sujeito, mas sim, pa birt oe Wiss historia de vida (Fundamentalmente a historia de vida infantil). Neste sentido, mesmo a assim chamada "escolha de objeto” presente na adolescéncia ¢ na vida adulta, se no ocorre por acaso, também no pode ser concebida como completamente determinada, seja constitucionalmente, seja por uma decisdo soberana da consciéncia ou do ego. Freud denominou série complementar a complementaridade de fatores _ exégenos e endégenos na etiologia das neuroses. Esta mesma concepeéo Nos parece adequada para pensar, em um primeiro nivel, 0 estatuto do pedectiang un ahjeto na teoria Freudian 6 Um objeto dito "externo” quanto a um objeto dito “interno”. O objeto entender as formulagoes € a objeto tanto no sentido d simultaneamente interno smo. Tral frevdianas para além das tentativas de reduzi-las quer ao empirismo quer 20 idealismo. Assim, seria preciso reconhecer que Freud supde um sujeito (pulsional) constituindo objetos e também obj identificacéo) constituinda o sujeito. 01/05/2012 Pagina 9 de 11 A partir da trajet6ria realizada, é possivel propor uma concepgo freudiana do sujeito, apesar dos riscos envolvidos. Entendo que o sujeito precisaria ser pensad¢ resultado, simultaneamente, da complexa intensidade dos movimentos pulsionais ¢ das sucessivas identificacoes (possiveis também gracas a uma presenca “ativa" de objetos como a mde, 0 pai, étc.) ocorridos em seu processo constitutivo. A idéia de simultaneidade é aqui fundamental. Nao penso que haja anterioridade das pulsées com Felacdo aos objetos de identificacdo, como tampouco me parece possivel dizer que os objetos antecedam os movimentos pulsionais. Seria Necessdrio reconhecer em Freud uma idgica ndo identitdria, uma i6gica da suplementaridade para dar 2 essa concepcdo sua formulacdo mais rigorosa. Os pélos da dualidade (pulss0-identificacéo, interno-externo, psiquico- émppirico ou mesmo sujeito-objeto) nao precisam ser pensados como cada um sendo idéntico a si mesmo. Tampouco bastaria pensar os pélos como compiementares, 0 que ainda manteria certa unidade permanente e definitiva na concepgéo de cada um dos elementos complementares, ou entao a diluic&o de cada polo em um novo "produto" resultante da complementaridade. Entendo que cada um dos pélos traz em sia exigéncia de suplementac3o. Ou como sugere Figueiredo, a partir do fildsofo francés Derrida (1973): "...cada pélo é sempre um apelo de supie mento raat a0 outro, (...) Cada pdlo procura no outro a_ supléncia de suas fraquezas ou o controle suplementar de seus &xcess0s" (FIGUEIREDO, 1999, p. 28). ‘Ao propor a légica da suplementaridade como alternativa 4 légica identitaria e a légica diaiética, Figueiredo procura enfatizar uma leitura que valoriza as tensGes internas e as di préprias da construcdo da teoria em Freud, recusando leituras enrijecidas dos conceitos ou a de sinteses evolutivas entre polaridades. Slais do que isso, chega a propor que "na perspectiva que acredito ser a de Freud, a subjetividade (0 aparelno psiquico) é constituido na e pela fogica da Suplementaridade” (FIGUEIREDO, 1999, p. 28). Outra vez encontramos, neste ponto, as concencées de Tet seee fe sua nocdo sem sintese, que ao invés de reunir polaridades impoe a jermanente exigéncia de um polo a outro, que estarlo sempre em stante dindmica. Mas isso nao estabelecimer dleatérias entre os pélos, ou na relativizacao de qualquer conhecimento bre os processos d= © que se deve aqui poi és que a dialética sem sintese de que falamos tentative de textos de Freud. Caminnel para a "3 proposigso de possiveis ordenacbes da objeto em Fi a Constructo de uma relacdo sujeito-abjeto na obra freudiana Varias epist Freud tar neste texto, mais de que uma proposicae epistemoldgica, fot a 01/05/2012 Pagina 10 de 11 proposta de uma leitura de certas noc®es que acompanham o percurso Fre sugerindo algumas balizas que talvez permitam novos questionamentos e novas "traducées" dos textos freudianos, que parecem (felizmente) se mostrar irredutiveis @ qualquer tentativa de uma traducéo final e defi BIBLIOGRAFIA ABRAHAM. K. (1924) Psicoandlisis clinico, Buenos Aires, Ediciones Hormé, 1980. [ Links ] BERCHERIE, P. Géographie du champ psychanalytique, Paris, Navarin Editeur, 1988. [ Links ] COELHO JUNIOR, N. E. "Inconsciente e percepcao na psicandlise freudiana", Psicologia USP, v. 10. n. 1, 25-54, Sdo Paulo, 1999. [ Links ] FIGUEIREDO, L.C. "Psicanidlise e Brasil: Consideracdes acerca do sintoma social brasileiro", in Psicandilise e colonizaco, SOUZA, E. A. (org.), Porto Alegre, Artes e Oficios, 1999. [ Links ] FLORENCE, J. "As identificagdes", in As identificacées na clinica e na teoria psicanalitica, MANNONI, M. (org.), Rio de Janeiro, Relume Dumard,1994. T Links J FREUD, S. Studienausgabe, Frankfurt, S. Fischer Verlag, 1972. [ Links ] "Drei Abbandlungen zur Sexualtheorie”, 1905, v. 5, p. 37-147. [ Links ] “Uber einen besonderen Tvpus der objektwahl beim Manne", 1910, v. 5, p.185-195. [ Links } “Eine Kindheitserinnerung des Leonardo da Vinci", 1910, v. 10, p. 88-159. C Links ] " Zur Einfuhrung des Narzissmus", 1914, v. 3, p.37-68. [ 1 “Das Unbewusste", 1915, v. 3, p.119-174. [ Links ] "Trauer wtd Melancholie", 1917, v. 3, p. 183-212. [ Links ] "Das Ich und das Es", 1923, “Fetichismus",1927, v. 3, p. 379-388. [ Links GREEN, A. "The intrapychic and intersubjective in psychoanalysis", The Psychoanalytic Quarterly, v. LXIX, n. 1, 2000, p. 1-39. [ Links } KLEIN. M Die Psychoanalyse des Kindes, Viena, Internationaler psychoanalytischer Verlag, 1932. [ Links ] LAPLANCHE J. & PONTALIS, J.8. Vocabulaire de la psychanalyse, Paris, Presses Universitaires de France, 1967. [ Links ] MITCHELL, S. A. & ARON L. (orgs.) Relational Psychoanalysis: The Emergence of a Tradition, Hillsdale, New Jersey: The Analytic Press, 1999. 01/05/2012 Pagina 11 de 11 (Links ] MEREA. C. "Os conceitos de objeto na obra de Freud", in Contribuicgdes ao conceito de objeto em psicandlise, BARANGER, W. (org.), S80 Paulo, Casa do Psicdlogo, 1994, p.1-18. [ Links ] MERLEAU-PONTY, M. Phénoménologie de la perception, Paris, Gallimard, 1945. [ Links ] _____.. Le visible et /'invisible, Paris, Gallimard, 1964. [ Links ] MONZANI, L.R. "Discurso filoséfico e discurso psicanalitico: balanco e perspectivas", in Filosofia da psicandlise, PRADO, 8. (org.), S80 Paulo, Brasiliense, 1991. [ Links } POLLOCK, G. H. "Mourning and adaptation", in Essential papers on object no FRANKIEL, R. (org.), Nova York, New York University Press, 1994. Links } STOLOROW, R. D. & ATWOOD, G. E. , Contexts of beeing: The intersujective foundations of psychological life, Hillsdale, New Jersey, The Analytic Press, 1992. [ Links ] Recebido em 7/7/2001. Aprovado em 29/9/2001, * As idéias contidas neste artigo foram apresentadas na forma de comunicacao livre no XXVIII Congreso Interamericano de Psicologia, realizado em Santiago, Chile, jul/ago de 2001, com o Auxilio Reunigo- Exterior da Fapesp. 1 Confira-se, especialmente, STOLOROW, R.D. e ATWOOD,, G. E. (1992) Contexts of Beeing: The intersujective foundations of psychological life, Hillsdale, New Jersey: The Analytic Press, MITCHELL,, S. A. e ARON,, L. (orgs.) (1999) Relational psychoanalysis: the emergence of a tradition, Hillsdale, New Jersey: The Analytic Press e GREEN, A. (2000) “The Intrapychic and intersubjective in psychoarialysis", The psychoanalytic quarterly, v. LXIX, n. 1, 2000, p. 1-39. 2 Desenvolvi argumento semelhante em dois trabalhos anteriores dedicados as nogées de "realidade” (COELHO JUNIOR, N. E., in A forca da realidade na clinica freudiana, Sao Paulo, Escuta, 1995) e “percepgao" (COELHO JUNIOR, N. E., "Inconsciente e percepcao na psicandliise freudiana", Psicologia USP, 1999, v. 10, n.1, p. 25-54) na obra freudiana. 3 Aesse respeito, confira COELHO JUNIOR, N. E. (1999), op. cit., p.25-54. 4. Cf. MONZANI, L.R. Discurso filoséfico e discurso psicanalitico: balanco € perspectivas, in BENTO PRADO JR. (org.) Filosofia da psicandlise, S40 Paulo, Brasiliense, 1991. I the contents of the journal, except where otherwise noted, is Agora - estudos em teoria psicanalitica FRI ‘Campus Praia Vermetha Tastituto de Psicolog!: Ay. Pasteur, 250 - Pa 22290-240 Iho Nilton Campos - Urca 01/05/2012

Das könnte Ihnen auch gefallen