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Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

Processo: 07A2206
Nº Convencional: JSTJ000
Relator: FARIA ANTUNES
Descritores: RESPONSABILIDADE CONTRATUAL
CAUSALIDADE ADEQUADA
REDUÇÃO DA INDEMNIZAÇÃO

Nº do Documento: SJ200709250022061
Data do Acordão: 25-09-2007
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1

Meio Processual: REVISTA


Decisão: CONCEDIDA PARCIALMENTE A REVISTA

Sumário :
1- O artº 563º do CC consagra a teoria da causalidade adequada na variante
negativa, que é a mais ampla e que tem um sentido ético da culpa menos
restritivo, de acordo com a qual a previsibilidade do agente se reporta ao facto
e não aos danos, o que significa que o agente será sempre responsável pelos
danos que jamais previu, desde que provenham de um facto – condição deles
– que ele praticou e que visualizou, sendo um facto causal de um dano quando
é uma de entre várias condições sem as quais o dano não se teria produzido.
2- Tratando-se de responsabilidade contratual, desde que o devedor ou lesante
praticou um facto ilícito e este actuou como condição de certo dano, justifica-
se que o prejuízo recaia, em princípio, sobre quem, agindo ilicitamente, criou
a condição do dano, o que só deixa de ser razoável a partir do momento em
que o facto ilícito, na ordem natural das coisas, se pode considerar de todo em
todo indiferente para a produção do dano registado por terem concorrido
decisivamente circunstâncias extraordinárias, fortuitas ou excepcionais.
3- A redução da indemnização prevista no artº 494º do Código Civil apenas
opera em matéria de responsabilidade extraobrigacional (aquiliana).

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Processo: 07S672
Nº Convencional: JSTJ000
Relator: PINTO HESPANHOL
Descritores: VIOLAÇÃO DAS REGRAS DE SEGURANÇA
PROTECÇÃO CONTRA QUEDAS
CINTO DE SEGURANÇA
NEXO DE CAUSALIDADE
ÓNUS DA PROVA

Nº do Documento: SJ200709120006724
Data do Acordão: 12-09-2007
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1

Meio Processual: REVISTA.


Decisão: NEGADA A REVISTA.

Sumário : 1. Resulta globalmente das normas destinadas a garantir a


segurança no trabalho, que o uso do cinto de segurança é
obrigatório, para além dos casos especialmente previstos,
quando o trabalhador estiver exposto a um risco efectivo
de queda livre e esse risco não possa ser evitado ou
suficientemente limitado por meios técnicos de protecção
colectiva.
2. O ónus da prova dos factos que agravam a
responsabilidade da entidade patronal cabe a quem dela
tirar proveito, no caso, ao beneficiário do direito à
reparação por acidente de trabalho e à seguradora,
competindo--lhes alegar e provar não só a inobservância
por parte da empregadora de regras sobre segurança no
trabalho, mas também a existência de nexo de causalidade
entre essa alegada inobservância e o acidente.
3. Provando-se que o sinistrado, após ter efectuado uma
reparação na ponte rolante, e quando se deslocava no
passadiço, se desequilibrou e caiu ao solo de uma altura
de 12 metros, mas desconhecendo-se a razão dessa queda,
não se verificam os pressupostos da responsabilização da
empregadora (artigo 18.º, n.º 1, da Lei n.º 100/97, de 13
de Setembro).
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Processo: 07B2132
Nº Convencional: JSTJ000
Relator: GIL ROQUE
Descritores: RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL
DANOS FUTUROS
DANOS NÃO PATRIMONIAIS

Nº do Documento: SJ200707050021327
Data do Acordão: 05-07-2007
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1

Meio Processual: REVISTA


Decisão: NEGADA A REVISTA

Sumário :
1. O cálculo das indemnizações por danos futuros, deve apoiar-se tanto em
tabelas financeiras como em fórmulas matemáticas como meio de mais
facilmente se obter um valor equitativo e equilibrado da indemnização por
danos futuros. Tem-se usado em algumas decisões do S.T.J., para obtenção do
valor da indemnizações por danos futuros, tabela financeira, entre elas a
seguinte : C = Px[1/i – 1+i/(1+i)) Nx i] + P x (1+ i) –N , em que: C -
representa o valor do capital (total) com juros acumulados até ao fim dos anos
de vida activa provável do sinistrado; P - o valor do rendimento anual do
último ano de trabalho do lesado antes do sinistro; I - a taxa de juros provável
no decurso da vida activa e N - o número de anos de vida activa provável que
o sinistrado trabalharia se não fosse vítima do acidente.
2. O montante da indemnização por danos não patrimoniais deve ser
proporcional à gravidade do dano e calculado segundo as regras da prudência,
do bom senso prático e da justa medida das coisas.
3. Deve ter-se em consideração o sofrimento do lesado, durante e após o
acidente bem como as dores físicas e morais de que a vítima sofreu e sofre,
bem como o desgosto que as mazelas lhe trouxeram ou trazem.

Decisão Texto Integral:

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Processo: 07A1340
Nº Convencional: JSTJ000
Relator: RIBEIRO DE ALMEIDA
Descritores: RESPONSABILIDADE EXTRA CONTRATUAL
DIREITO À QUALIDADE DE VIDA
MUNICÍPIO
POLUIÇÃO
AMBIENTE
RECONSTITUIÇÃO NATURAL
OBRIGAÇÃO DE INDEMNIZAR
NEXO DE CAUSALIDADE
PRESCRIÇÃO

Nº do Documento: SJ200705290013406
Data do Acordão: 29-05-2007
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1

Meio Processual: REVISTA


Decisão: NEGADA A REVISTA

Sumário :
I - O n.º 2 do art. 40.º da LBA (Lei 11/87, de 07-04, com as alterações da Lei
n.º 13/2002 de 09-02) prescreve que os cidadãos directamente ameaçados ou
lesados no seu direito a um ambiente de vida humana sadia e ecologicamente
equilibrado podem pedir no termos gerais de direito, a cessação das causa de
violação e a respectiva indemnização.
II - Por força do preceituado nos arts. 71.º, n.º 2, da Lei 267/85, de 16-07, e
498.º, 304.º, n.º 1, e 306.º, n.º 1, todos do CC, o direito de indemnização
prescreve no prazo de 3 anos, a contar da data em que o lesado teve
conhecimento do direito que lhe compete.
III - O facto praticado pelo Município - mudança da linha de água, «que
trouxe a poluição para junto das habitações dos recorrentes» - é o facto
determinante para a contagem do início do prazo para a prescrição, pois desde
então que os recorrentes passaram a saber que tinham direito à indemnização.
IV - O facto gerador da responsabilidade extracontratual conducente ao
pedido de indemnização esgotou-se na data em que ocorreu. É a ocorrência do
facto e não a permanência ou esgotamento das suas consequências que releva
para efeito da prescrição.
V - O que nada tem a ver com a indemnização são as consequências desse
facto. Essas perduram no tempo, mas sendo a consequência do facto já se
englobariam na indemnização arbitrada. Quer a indemnização seja em
dinheiro quer se reporte à restituição natural a prescrição do direito ambas
engloba.
VI - Assim o pedido de indemnização que os recorrentes peticionaram ao
Município, já se encontrava prescrito à data em que a acção foi proposta, pois
o desvio da linha de água e a destruição do caminho ocorreu pelo menos em
1988 e a acção foi intentada em 1993.
VII - Os agentes poluidores é que têm que cessar a sua actividade de modo a
que os recorrentes tenham um ambiente saudável. Para fiscalizar esses
poluidores há entidades competentes.
VIII - A cessação da poluição ambiental impende sobre o agente poluidor e
não sobre o Município, que como resulta dos factos dados como provados não
polui a linha de água a que se reportam os autos.

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Processo: 07B1295
Nº Convencional: JSTJ000
Relator: OLIVEIRA ROCHA
Descritores: CLÁUSULAS CONTRATUAIS GERAIS

Nº do Documento: SJ20070517012952
Data do Acordão: 17-05-2007
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1

Meio Processual: REVISTA


Decisão: NEGADA

Sumário :
1. Subjacente ao levantamento de numerário de uma máquina automática de
caixa e à operação de pagamento automático está um contrato, designado por
“contrato de utilização” do cartão.
2. Trata-se de um contrato acessório instrumental, em relação ao contrato de
depósito bancário ou ao de abertura de crédito em conta corrente.
3. As cláusulas do “contrato de utilização” – contrato pré-elaborado e que
apresenta todas as características de contrato de adesão – são unilateralmente
impostas pelo banco, que é, em regra, o contraente mais forte, reduzindo-se a
liberdade contratual do titular do cartão à decisão de aderir ou não ao contrato.
4. Daí a exigência de um controlo a posteriori – controlo incidental – das
condições gerais inseridas nesse tipo de contrato, ou do seu controlo
preventivo – controlo abstracto -, através de uma acção inibitória, destinada a
erradicar do tráfico jurídico condições gerais iníquas, independentemente da
sua inclusão em contratos singulares, com vista ao restabelecimento do
adequado equilíbrio, perdido na contratação massificada.
5. Tratando-se de cartões com um prazo determinado de validade, estamos
perante contratos de prestação duradoura por tempo determinado.
6. Deste modo, a denúncia deve fazer-se para o termo do prazo da sua
renovação, não se justificando falar em falta de motivo justificado.
7. No caso de resolução, esta tem de ser motivada, só sendo legítima, quando
verificado o pressuposto, o evento, erigido em causa de resolução.

Decisão Texto Integral:

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Processo: 07A701
Nº Convencional: JSTJ000
Relator: AZEVEDO RAMOS
Descritores: RESPONSABILIDADE CIVIL
ACIDENTE FERROVIÁRIO
CAUSALIDADE ADEQUADA
CULPA

Nº do Documento: SJ2007041700701
Data do Acordão: 17-04-2007
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1

Meio Processual: REVISTA


Decisão: NEGADA

Sumário :
I – A teoria da causalidade adequada impõe, num primeiro momento, a
existência de um facto naturalístico, condicionante de um dano sofrido, para
que este seja reparado .
II – Depois, ultrapassado aquele primeiro momento, pela positiva, a teoria da
causalidade adequada impõe que o facto concreto apurado seja, em geral e em
abstracto, adequado e apropriado para provocar o dano .
III - A teoria da causalidade adequada apresenta duas variantes : uma
formulação positiva e uma formulação negativa .
IV- Na formulação negativa, o facto que actuou como condição do dano deixa
de ser considerado como causa adequada, quando para a sua produção tiverem
contribuído, decisivamente, circunstâncias anormais, extraordinárias ou
anómalas, que intercederam no caso concreto .
V – Por mais criteriosa, deve reputar-se adoptada pela nossa lei a formulação
negativa da teoria da causalidade adequada .
VI – Se a autora se lançou para a porta do comboio e iniciou a descida da
carruagem em direcção ao cais ou à plataforma da estação e saiu dele quando
o serviço da paragem já estava concluído, a ordem de partida já tinha sido
dada e o comboio já tinha iniciado a sua marcha, e se aquela se desequilibrou
com o impulso do andamento do comboio e caiu à linha, só a mesma autora
pode ser considerada a única culpada pelo acidente de que foi vítima, em
termos de causalidade adequada .

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Processo: 05A3741
Nº Convencional: JSTJ000
Relator: AFONSO CORREIA
Descritores: RESPONSABILIDADE EXTRA CONTRATUAL
INCAPACIDADE DO MENOR
DEVER DE VIGILÂNCIA
INCAPACIDADE PERMANENTE PARCIAL
OBRIGAÇÃO DE INDEMNIZAR
PERDA DE ANO ESCOLAR
DANOS FUTUROS
DANOS NÃO PATRIMONIAIS

Nº do Documento: SJ200701230037416
Data do Acordão: 23-01-2007
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1

Meio Processual: REVISTA


Decisão: CONCEDIDA A REVISTA

Sumário :

I - Como disposto nos arts. 122.º, 123.º, 1878.º, n.º 1, 1881.º, n.º 1 e 1885.º, n.º
1, do CC, enquanto dure a menoridade compete aos pais, no interesse dos
filhos, velar pela segurança, educação (física, intelectual e moral - que
abrange o poder de correcção) e saúde destes, e representá-los.
II - Provado que no dia 28-01-1983, quando descia as escadas de acesso à
Escola Secundária que frequentava, o A. foi atingido por uma pedra enviada
por outro aluno, pedra que lhe acertou na cabeça quando fazia já um trajecto
descendente, que ficou, desde logo, prostrado no chão da escada de acesso à
Escola, tendo sido conduzido à Santa Casa da Misericórdia e daí ao Hospital,
tendo sofrido traumatismo craniano com esmagamento da placa óssea, com
corte da artéria, perda da fala e hematoma subdural, lesões que obrigaram a
duas intervenções cirúrgicas onde lhe foi extraído osso craniano e implantada
uma prótese artificial na estrutura óssea, com incapacidade permanente de
50%, não pode, nestas condições, aceitar-se que o pai do agressor se
desincumbiu, tanto quanto exigível, capazmente, do dever de educação que
sobre ele impendia.
III - Provou-se ainda que o comportamento habitual do jovem agressor não
exigia que o pai o acompanhasse na escola. Nem é exigível a nenhum
obrigado à vigilância que acompanhe o vigilando para todo o lado, num
policiamento impossível e castrante. Mas o que se exige é que, desde
pequenino e dia a dia, o pai dê o pão e a criação ao filho, o eduque no respeito
pela vida e integridade física dos outros, que lhe incuta os valores, perenes, do
respeito pelos velhos e pelas crianças, pelos professores e educadores.
IV - Perante acto tão irresponsável e de tão graves resultados, praticado por
um jovem de 16 anos, é forçoso concluir que o falecido pai não conseguiu
educar o filho como devia e lhe impunha a lei. não elidindo a presunção de
culpa que sobre ele lançou o art. 491º do CC, pelo que é responsável pelos
danos causados ao A.
V - Nos termos das disposições conjugadas dos arts. 483.º, 562.º a 564.º e
566.º do CC, estão os habilitados sucessores do falecido R. obrigados a
indemnizar o A. pelos danos patrimoniais sofridos.
VI - Em consequência da pedrada sofrida, o A. perdeu o ano escolar, sofreu
dores antes e depois das intervenções cirúrgicas, passou a ter medo de brincar
com outros menores da sua idade, nomeadamente os irmãos, sentiu desgosto
por ter perdido o ano escolar e por não poder brincar livremente com menores
da sua idade, ficou a sofrer de uma incapacidade geral (fisiológica)
permanente parcial de cinquenta por cento, passou a sofrer de neurose fóbica e
obsessiva pós-traumática, traduzida por acentuada deterioração do
comportamento, requer assistência por períodos prolongados, não tem
autonomia e está dependente da família, daí que, 7.500 contos não sejam
demais para compensar os danos não patrimoniais sofridos.
VII - O autor obteve o seu primeiro emprego em 1994 como técnico de
produção, estando de baixa há mais de um ano, uma vez que começa a sentir-
se mal, designadamente com falta de ar, a tremer e sentindo uma necessidade
imperiosa de abandonar o local onde se encontra e voltar para casa. Embora se
não saiba quanto o A. auferia, quanto recebe de baixa, quando ou se será
reformado por incapacidade, certo é que a lei nos impõe que na fixação da
indemnização atendamos aos danos futuros, desde que sejam previsíveis; se
não forem concretamente determináveis, a fixação da indemnização
correspondente será remetida para decisão ulterior – n.º 2 do art. 564.º do CC
-ou o tribunal julgará equitativamente dentro dos limites que tiver por
provados – n.º 3 do art. 566.º do mesmo CC.
VIII - Como técnico de produção não aufere o A. menos que o salário
mínimo. Padecendo, como padece, de neurose fóbica e obsessiva post
traumática muito dificilmente arranjará outro emprego. A incapacidade
permanente de 50% corresponderá, na prática, a incapacidade total por cerca
de cinquenta anos: o A. arranjou o primeiro emprego aos 24 anos e a vida
activa, mais longa que a laboral, prolonga-se para lá dos setenta anos.
Considerando estes factores, a baixa taxa de juro corrente (à roda dos 3%) e
lançando mão da equidade, temos a pedida quantia de dezassete mil e
quinhentos contos por adequada a ressarcir os danos patrimoniais resultantes
da incapacidade parcial permanente de que o A. ficou a padecer.

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Processo: 06B2739
Nº Convencional: JSTJ000
Relator: SALVADOR DA COSTA
Descritores: RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL
NEXO DE CAUSALIDADE
ÓNUS DA PROVA
PRESUNÇÕES JUDICIAIS
FACTO NOTÓRIO
MATÉRIA DE FACTO
RECURSO DE REVISTA

Nº do Documento: SJ200609210027397
Data do Acordão: 21-09-2006
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1

Meio Processual: REVISTA.


Decisão: NEGADA A REVISTA.

Sumário : 1. Em matéria de responsabilidade civil


contratual, a presunção não vai além da culpa
do obrigado à reparação do dano, sendo o
ónus de prova de que do ilícito contratual
resultou o prejuízo e do nexo de causalidade
entre este e aquele de quem exerce o direito
de indemnização em juízo.
2. A nulidade a que se reporta a alínea b) do
nº 1 do artigo 668º do Código de Processo
Civil pressupõe a falta absoluta de
fundamentação.
3. O erro da Relação quanto ao juízo de prova
de livre apreciação e a sua fixação dos factos
materiais da causa excedem o âmbito do
recurso de revista.
4. A inferência de factos desconhecidos a
partir de factos conhecidos, em que se
traduzem as presunções judiciais, enquadra-
se na fixação da matéria de facto, pelo que
ela extravasa da competência funcional do
Supremo Tribunal de Justiça.
5. O juízo sobre a causalidade integra, por um
lado, matéria de facto - porque que se trata
de saber se na sequência de determinada
dinâmica factual um ou outro facto funcionou
efectivamente como condição do
desencadear de determinado efeito - e, por
outro, matéria de direito - designadamente a
determinação, no plano geral e abstracto, se
aquela condição foi ou não causa adequada
do evento, ou seja, dada a sua natureza, se
era ou não indiferente para a sua verificação.
6. São do conhecimento geral os factos
conhecidos pelos portugueses regularmente
informados, por via directa ou pela de
acessibilidade aos meios normais de
informação.
7. O Supremo Tribunal de Justiça não pode
conhecer no recurso de revista da vertente de
facto do nexo de causalidade, nem ter em
conta factos notórios que a Relação, no uso
do seu poder de fixação da matéria de facto,
não tenha considerado.
Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
Processo: 06A1979
Nº Convencional: JSTJ000
Relator: JOÃO CAMILO
Descritores: RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
FUNÇÃO JURISDICIONAL
REQUISITOS
ERRO

Nº do Documento: SJ200607180019796
Data do Acordão: 18-07-2006
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1

Meio Processual: REVISTA.


Decisão: NEGADA A REVISTA.

Sumário : I. A responsabilidade civil do Estado


decorrente do exercício da função
jurisdicional está prevista no art. 22º da
Constituição da República.
II. Essa responsabilidade civil decorrente de
erro de direito praticado no exercício da
função jurisdicional está dependente de o
erro ser considerado grosseiro, crasso,
palmar, indiscutível e de tal modo grave que
torne a decisão judicial claramente arbitrária.
Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
Processo: 05B3834
Nº Convencional: JSTJ000
Relator: PIRES DA ROSA
Descritores: RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL
ACIDENTE DESPORTIVO
DANO CAUSADO POR COISAS OU ACTIVIDADES

Nº do Documento: SJ200602260038347
Data do Acordão: 26-02-2006
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1

Meio Processual: REVISTA


Decisão: NEGADA A REVISTA

Sumário :
I - Um clube desportivo com um campo de futebol acessível a crianças tem de
manter as balizas do campo fixadas por forma a não caírem, quer os
utilizadores sejam sócios ou não sócios.

Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça


Processo: 05A3519
Nº Convencional: JSTJ000
Relator: FARIA ANTUNES
Descritores: RESPONSABILIDADE CIVIL
FACTO ILÍCITO
CONCORRÊNCIA DE CULPAS

Nº do Documento: SJ200512130035191
Data do Acordão: 13-12-2005
Votação: UNANIMIDADE
Tribunal Recurso: T REL PORTO
Processo no Tribunal 1481/05
Recurso:
Data: 09-05-2005
Texto Integral: S
Privacidade: 1

Meio Processual: REVISTA.


Decisão: NEGADA A REVISTA.

Sumário : Havendo concurso de causas adequadas subsequentes,


qualquer dos agentes é responsável pela reparação de
todos os danos, podendo o lesado exigir de qualquer dos
responsáveis (que ulteriormente poderá exercer o direito
de regresso contra o outro responsável) o pagamento
integral da indemnização (artºs 490º, 497º, nº 1 e 512ºº, nº
1 do CC).

Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça


Processo: 05A3054
Nº Convencional: JSTJ000
Relator: SILVA SALAZAR
Descritores: RESPONSABILIDADE CONTRATUAL
FORMAÇÃO DO CONTRATO
CULPA
COMPENSATIO LUCRI CUM DAMNO
CÁLCULO DA INDEMNIZAÇÃO

Nº do Documento: SJ200510250030546
Data do Acordão: 25-10-2005
Votação: UNANIMIDADE
Tribunal Recurso: T REL LISBOA
Processo no Tribunal 1083/05
Recurso:
Data: 27-04-2005
Texto Integral: S
Privacidade: 1

Meio Processual: REVISTA.


Decisão: NEGADA A REVISTA.

Sumário : I - Nas negociações preliminares à celebração de


contratos já nos encontramos no domínio da
responsabilidade contratual, pelo que há aí que ter em
conta a presunção de culpa estabelecida no art.º 799º, n.º
1, do Cód. Civil.
II - Para que o obrigado a indemnizar tenha direito de
exigir que ao montante dos danos causados pelo facto
lesivo seja deduzido o valor das vantagens que tal facto
tenha porventura proporcionado à pessoa lesada, impõe-
se que entre o facto danoso e a vantagem obtida pelo
lesado haja um verdadeiro nexo de causalidade e não uma
simples coincidência acidental, fortuita ou casual.
III - A possibilidade de graduação equitativa da
indemnização quando haja mera culpa do lesante
encontra-se consagrada na lei apenas para a
responsabilidade extracontratual, não sendo extensiva à
responsabilidade contratual.
Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
Processo: 05B1526
Nº Convencional: JSTJ000
Relator: FERREIRA GIRÃO
Descritores: RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL
DANOS MORAIS

Nº do Documento: SJ200506220015262
Data do Acordão: 22-06-2005
Votação: UNANIMIDADE
Tribunal Recurso: T REL LISBOA
Processo no Tribunal 7539/04
Recurso:
Data: 14-12-2004
Texto Integral: S
Privacidade: 1
Meio Processual: REVISTA.
Decisão: NEGADA A REVISTA.

Sumário : Na responsabilidade contratual são indemnizáveis os


danos não patrimoniais que mereçam a tutela do direito.
Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
Processo: 03B4474
Nº Convencional: JSTJ000
Relator: LUCAS COELHO
Descritores: NEXO DE CAUSALIDADE
CONTRATO DE TRANSPORTE
RESPONSABILIDADE CONTRATUAL
INDEMNIZAÇÃO
DANO EMERGENTE
LUCRO CESSANTE

Nº do Documento: SJ200504070044742
Data do Acordão: 07-04-2005
Votação: UNANIMIDADE
Tribunal Recurso: T REL LISBOA
Processo no Tribunal 4882/03
Recurso:
Data: 03-07-2003
Texto Integral: S
Privacidade: 1

Meio Processual: REVISTA.


Decisão: CONCEDIDA PARCIALMENTE A REVISTA.

Sumário : I - Na concepção mais criteriosa da doutrina da


causalidade adequada, para os casos em que a obrigação
de indemnização procede de facto ilícito culposo, quer se
trate de responsabilidade extracontratual, quer contratual -
a «formulação negativa», acolhida no artigo 563.º do
Código Civil segundo a jurisprudência dominante do
Supremo Tribunal de Justiça - o facto que actuou como
condição do dano só deixará de ser considerado como
causa adequada se, dada a sua natureza geral, se mostrar
de todo indiferente para a verificação do mesmo, tendo-o
provocado só por virtude das circunstâncias excepcionais,
anormais, extraordinárias ou anómalas que intercederam
no caso concreto;
II - Para que um dano seja considerado efeito adequado
de certo facto, em corolário da teoria sumariada em I, não
tem que se tornar previsível para o seu autor. A
previsibilidade é decerto exigível relativamente, v. g., ao
requisito da culpa, visto constituir um elemento
(intelectual) desta em qualquer das suas modalidades;
mas não em relação aos danos;
III - Formulados pedidos de indemnização pela perda
integral do lucro de comercialização de um lote de
vinhos, que se deterioraram por facto ilícito e culposo da
transportadora ré, e pela indemnização das despesas
inutilizadas no lugar de destino concernentes a essa
comercialização, é inconciliável o ressarcimento
cumulativo das duas sortes de danos, uma vez que o lucro
esperado não podia ser auferido sem que tais despesas
fossem realizadas;
IV - A procedência, por conseguinte, do pedido de
indemnização da perda do lucro, esgota e consome a
protecção do interesse do lesado mediante a
indemnização das despesas de comercialização,
determinando a improcedência deste outro pedido.
Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
Processo: 04B4570
Nº Convencional: JSTJ000
Relator: MOITINHO DE ALMEIDA
Descritores: RESPONSABILIDADE CIVIL
RESPONSABILIDADE CIVIL POR ACIDENTE DE VIAÇÃO
CAUSALIDADE
NEXO DE CAUSALIDADE
MATÉRIA DE FACTO
MATÉRIA DE DIREITO

Nº do Documento: SJ200502030045702
Data do Acordão: 03-02-2005
Votação: UNANIMIDADE
Tribunal Recurso: T REL LISBOA
Processo no Tribunal 5428/04
Recurso:
Data: 08-07-2004
Texto Integral: S
Privacidade: 1

Meio Processual: REVISTA.


Decisão: NEGADA A REVISTA.

Sumário : Constitui matéria de facto a apreciação do nexo causal


assente na mera violação de regras de prudência
Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
Processo: 04B2300
Nº Convencional: JSTJ000
Relator: FERREIRA GIRÃO
Descritores: RESPONSABILIDADE EXTRA CONTRATUAL
CULPA
EMPRESA
ENERGIA ELÉCTRICA
INCÊNDIO
Nº do Documento: SJ200410140023002
Data do Acordão: 14-10-2004
Votação: UNANIMIDADE
Tribunal Recurso: T REL PORTO
Processo no Tribunal 6588/03
Recurso:
Data: 03-02-2004
Texto Integral: S
Privacidade: 1

Meio Processual: REVISTA.


Decisão: NEGADA A REVISTA.

Sumário : Se uma empresa de distribuição de energia eléctrica de


alta tensão, omitindo os seus específicos deveres,
permitiu o crescimento de árvores debaixo das linhas
transportadoras, bem sabendo que os incêndios
constituem uma eventualidade com que devia contar e
que, por força deles, poderia formar-se um arco eléctrico
com a consequente descarga para a terra através das
árvores, determinante da morte, por electrocussão, de
uma pessoa que, utilizando uma mangueira, estava a
combater o fogo, lançando água para o referido arvoredo,
responderá, com culpa, nos termos do artigo 483, nº1 do
Código Civil, pelos danos decorrentes dessa morte.

Acórdãos TRL Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa


Processo: 1164/2007-2
Relator: FARINHA ALVES
Descritores: RESPONSABILIDADE CIVIL
CULPA

Nº do Documento: RL
Data do Acordão: 26-04-2007
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S

Meio Processual: APELAÇÃO


Decisão: PROCEDÊNCIA PARCIAL

Sumário: I - O R., que manteve o seu veículo parado depois de sair da


garagem comum do prédio onde também morava a A., e que
nessa posição accionou o comando para encerramento do portão
sem atentar na presença do veículo da A., postado debaixo do
portão, à espera de oportunidade para sair, apesar das repetidas
buzinadelas emitidas por este veículo, deu culposamente causa à
manobra de marcha-atrás realizada pela A. para sair do alcance
do portão a fechar.
II - Numa tal situação, o embate do veículo da A., no decurso da
execução dessa manobra, na parede da rampa de acesso à
garagem, não pode ser imputado exclusivamente a falta de
destreza da A., resultando, a nosso ver, de uma conjugação de
factores. Por um lado, o inesperado da situação – a A. poderia
razoavelmente contar que o R. se tivesse apercebido da sua
presença, designadamente através dos sinais sonoros que
accionou – e a urgência da reacção – apesar de não estar
estabelecido o tempo que o portão demorava a fechar, nem se a
A. tinha conhecimento desse tempo, seria sempre urgente para a
autora sair de debaixo de um portão que estava a fechar – a
justificarem alguma precipitação e atrapalhação da A. nessa
reacção. E, por outro, a menor destreza da A. para executar a
manobra em causa, naquelas circunstâncias.
III - Ora, se a menor destreza da A. lhe tem de ser imputada, o
mesmo não se passa com as circunstâncias exteriores, que
tornaram necessária a execução da manobra e condicionaram a
sua realização.

Acórdãos TRL Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa


Processo: 5627/2007-6
Relator: GRANJA DA FONSECA
Descritores: RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL
PETIÇÃO INICIAL
ÓNUS DA PROVA

Nº do Documento: RL
Data do Acordão: 28-06-2007
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S

Meio Processual: APELAÇÃO


Decisão: CONFIRMADA A DECISÃO

Sumário: 1 – Tendo a autora fundamentado o pedido, no facto do


réu, enquanto exerceu funções de Presidente da Direcção
da Autora, ter emitido cheques sem justificação e para
fins alheios, assim se apropriando de quantias que deviam
ser integradas no património daquela, conclui-se que a
acção foi gizada no articulado inicial como de
responsabilidade civil por acto ilícito e culposo.
2 – A configuração jurídica que as partes dão às causas
não vincula o tribunal na sua apreciação de direito, mas,
em contrapartida, na matéria de facto o juiz tem de cingir-
se às alegações das partes.
3 – Por isso é que a configuração da causa pode
condicionar a defesa do réu, como acontece nesta acção.
Tendo sido o réu confrontado com uma acção de
responsabilidade aquiliana, sabe que ao autor cabe a
prova de todos os factos integradores da responsabilidade
extracontratual, nomeadamente os factos controvertidos
capazes de integrar o conceito de facto ilícito e culposo,
pelo que tem apenas um ónus de impugnação na
contestação. Se, pelo contrário, o réu é confrontado com
uma acção de responsabilidade contratual, sabe desde
logo que lhe cabe o ónus de alegar e provar não ter agido
com culpa.
(G.F.)

Decisão Texto Integral: Acordam no Tribunal da Relação de Lisboa:


1.
[Associação Académica da Universidade L.], intentou a
presente acção declarativa de condenação, com processo
ordinário contra [Paulo], pedindo que o Réu seja
condenado a pagar à Autora a quantia de 23.434,96 €,
acrescida do valor dos prejuízos que vierem a ser
liquidados em execução de sentença a título de
indemnização por danos patrimoniais, com o fundamento
de que o Réu, entre 25/05/2000 e 19/03/2001, data em
que exerceu funções de Presidente da Direcção da Autora,
emitiu, durante esse período, cheques no valor de
13.971,76 €, sem justificação e para fins alheios à
Associação a que presidia. Acrescenta que, entre
Setembro de 2000 e Janeiro de 2001, a Reprografia da
Autora facturou 12.968,75 €, dos quais apenas foram
depositados na conta bancária da Autora a quantia de
3.990,38 €.

O Réu contestou, alegando, resumidamente, que a petição


é inepta por falta de causa de pedir quanto ao valor de
8.978,36 € e que a Autora não tem capacidade judiciária
para demandar o Réu, por não estar autorizada a tal por
deliberação da Assembleia – Geral. Nega que alguma vez
tenha usado dinheiro da Autora em proveito próprio ou
em qualquer actividade ou bem que não tenha sido no
exclusivo interesse da Autora. Acrescenta que todos os
cheques por si assinados continham também a assinatura
de outro membro da Direcção.
Termina pedindo que seja julgada procedente a excepção
de incapacidade judiciária activa por irregularidade de
representação da Autora; seja julgada procedente a
nulidade por ineptidão parcial da petição inicial; ou, caso
assim se não entenda, seja a acção julgada não provada e
improcedente, com a consequente absolvição do pedido.

A Autora respondeu às excepções pugnando pela sua


improcedência.

Foi elaborado o saneador, tendo a nulidade e a excepção


invocadas sido julgadas improcedentes. Foram fixados os
factos assentes e controvertidos.

Procedeu-se a julgamento, tendo sido proferida decisão


sobre a matéria de facto e, em seguida, a sentença que
absolveu o Réu do pedido.

Inconformada, recorreu a Autora, formulando as


seguintes conclusões:
1ª – A Autora propôs a presente acção contra o Réu, ex –
titular do órgão de Direcção da Autora, pedindo a sua
condenação numa indemnização liquidada em parte e
ilíquida na parte restante, por actos e omissões por si
praticados, quando no exercício do seu cargo.
2ª – O Réu exerceu a função de Presidente da Direcção da
Autora, no período que mediou entre Maio de 2000 e 19
de Março de 2001, e durante este período o Réu emitiu e
subscreveu todos os cheques referidos e identificados na
resposta ao quesito primeiro, além dos outros referidos no
quesito quinto, que depositou na conta da sua, então,
namorada, que nenhuma relação tinha - comercial ou
outra - com a Autora.
3ª - Nos termos do disposto no n.º 1 do artigo 164° do
Código Civil, as obrigações e a responsabilidade dos
titulares dos órgãos das pessoas colectivas para com estas
são definidas nos respectivos estatutos, aplicando-se, na
falta de disposições estatutárias, as regras do mandato,
com as respectivas adaptações.
4ª - Prescreve o artigo 28° n.º da Lei 33/87 de 11 de
Julho, que as AAEE devem manter uma adequada
organização contabilística, sendo os elementos dos seus
órgãos directivos solidariamente responsáveis pela
administração dos bens e património da associação.
5ª – Refere, por sua vez, o artigo 512° do Código Civil
que uma obrigação é solidária, quando cada um dos
devedores responde pela prestação integral e esta a todos
libera.
6ª - O Réu é responsável pelo descaminho das referidas
importâncias e valores, titulados pelos cheques
identificados no quesito primeiro e igualmente
responsável pelo descaminho de todas as quantias "mal
gastas" e não documentadas durante o tempo do exercício
do seu mandato.
7ª - Para que a violação destes deveres gerais de conduta,
legalmente prevenidos, possa gerar responsabilidade civil,
haverá que averiguar os respectivos pressupostos; facto
ilícito, culpa, dano e nexo de causalidade entre o facto
ilícito e o dano.
8ª - No que diz respeito á ora Autora, a ilicitude resulta da
violação pelo Réu das disposições dos estatutos ou
contrato de sociedade ou da violação da lei.
9ª - Ora o Réu violou os Estatutos (artigo 14° alínea b)
dos Estatutos) e a Lei (artigo 28° n.º 1 da Lei 33/87 de 11
de Julho), ao emitir e subscrever cheques e aprovar
gastos, para fins diversos dos sociais e ao não documentar
esses mesmos gastos. Trata-se sem dúvida de uma
responsabilidade contratual, dado que o vínculo entre a
Direcção e a Associação é um vínculo contratual
(concretamente assente num contrato de mandato).
10ª - Quanto á culpa, tratando-se de responsabilidade face
á Associação ora Autora, por estarmos no domínio da
responsabilidade contratual (artigo 799° do Código
Civil), presume-se, sendo possível afastar a culpa, apenas,
se o Réu demonstrar que não participou no acto lesivo, ou
se a sua actuação se tiver baseado em deliberações
sociais.
11ª - Nos presentes Autos, competia pois ao Réu
demonstrar que agiu sem culpa, o que não sucedeu, como
resulta das respostas dadas aos Quesitos.
12ª - No tocante ao dano, é manifesto que o mesmo se
produziu na esfera jurídica da Autora, pois, como resulta
da resposta ao quesito 2°, todos os descaminhos de
despesas, foram debitados na conta que a Autora detinha
na CGD.
13ª - Quanto ao pressuposto do nexo de causalidade,
ficou demonstrado que a emissão dos cheques pelo Réu.
sem documentação de suporte ou apoio de uma
deliberação social, lesou directa e expressamente a
Autora, que se viu privada dos correspondentes meios
financeiros.
14ª - Ou seja, nos presentes autos, demonstrada que ficou
a ilicitude da actuação do Réu, a sua culpa, o dano e o
nexo de causalidade adequada entre a ilicitude e o dano,
resultaram preenchidos os pressupostos da
responsabilidade civil do Réu. Porque estamos no campo
da responsabilidade contratual, cabia ao Réu demonstrar
ter agido sem culpa, o que comprovadamente não
sucedeu.
15ª - Apenas na responsabilidade perante eventuais
credores sociais ou perante eventuais associados, se
poderia falar com propriedade de responsabilidade
delitual, por manifesta inexistência de qualquer contrato
que os ligasse. No caso dos Autos, pelo contrário, trata-se
de um caso de responsabilidade do Réu, pelos seus actos
praticados enquanto Presidente da Direcção da Autora, no
exercício do seu mandato. Trata-se pois de uma caso de
responsabilidade contratual, dado que o vínculo que o
Réu manteve com a Autora foi um vínculo contratual
(concretamente, assente num contrato de mandato).
16ª - Assim, terá a presente acção de proceder e em
consequência, deverá o Réu ser condenado no pedido de
condenação apresentado na petição inicial, acrescido de
juros a contar da citação.
17ª - Mas, mesmo que se entenda estarmos perante um
caso de responsabilidade delitual, a verdade é que,
mesmo neste caso, dizia-se, a Autora, logrou demonstrar
pelo menos a apropriação ilícita dos cheques que o Réu
entregou à sua namorada, o que resulta de forma
incontroversa da resposta ao quesito 5º, em confronto
com a alínea C).
18ª - Trata-se manifestamente de um acto ilícito, pelo
qual o Réu terá sempre de responder e que resultou
directamente demonstrado, através da resposta dada ao
quesito 5º em conjugação com a alínea c).
19ª - Ou seja, independentemente do tipo de
responsabilidade (contratual ou extracontratual) e
independentemente das regras de repartição do ónus da
prova, a verdade é que os Autos possuem elementos de
prova mais do que suficientes para condenar o Réu, pois
ficaram demonstrados os pressupostos da sua
responsabilidade: facto ilícito, culpa, dano e nexo de
causalidade entre o facto ilícito e o dano.
20ª - Mal andou pois a M. ma Juíza a quo ao absolver o
Réu, com o que violou por erro de interpretação as
normas dos artigos 483º e seguintes e 798º e seguintes do
Código Civil, além dos artigos 664º e 1014º e seguintes
do Código de Processo Civil.

O Réu contra – alegou, defendendo a bondade da decisão


recorrida.
2.
Na 1ª instância, consideraram-se provados os seguintes
factos:
1º - Entre 25/05/2000 e 19/03/2001, o Réu exerceu
funções de Presidente da Direcção da Autora, competindo
à Direcção a que presidia realizar a gestão dos recursos
económicos e financeiros da Autora e elaborar o relatório
de contas (alínea A).
2 - Uma das fontes de receitas da Autora é a proveniente
dos serviços de cópias prestados aos alunos da
Universidade Lusíada, na exploração da Reprografia
(alínea B).
3 - Enquanto exerceu as funções de presidente da
Direcção da Autora, o Réu emitiu e assinou os seguintes
cheques:
(…) (resposta ao quesito1º).
4 - Tais cheques foram descontados de conta da Caixa
Geral de Depósitos, titulada pela Autora (resposta ao 2º).
5 - Em todos os cheques assinados pelo Réu de contas da
Autora foi também aposta assinatura de outro membro da
Direcção (resposta ao quesito 21º).
6 - Os cheques de contas da Autora implicavam sempre as
assinaturas de dois dos quatro membros da Direcção –
Réu, Tesoureiro, Vice - Presidente e Secretária - Geral
(resposta ao quesito 22º).
7 - Em 19/07/2000, o Réu assinou dois cheques, com os
n. os 75381512 e 43479332, com os valores de 193,04 € e
291,80 €, respectivamente, e depositou-os em conta
bancária da sua namorada à data (resposta ao quesito 5º).
8 – [Ana] era, à data, namorada do Réu e não tinha
qualquer tipo de relação comercial ou outra com a Autora
(alínea C)
9 - Em meados de Março de 2001, houve
desentendimentos entre os membros da Direcção da
Autora na sequência e por causa dos quais, a dada altura,
a documentação que se encontrava nas instalações da
Autora foi transportada para uma sala da Universidade
(resposta aos quesitos 9º a 12º).
10 - Na altura dos desentendimentos entre na Direcção,
vários membros, incluindo o Réu, se pronunciaram no
sentido de se contratar uma auditoria independente
(resposta ao quesito 14º).
11 - Em 7 de Março de 2002, o Réu reuniu-se com a
Direcção da Autora então em funções da qual foi lavrada
a acta que consta de fls. 218 a 226 (resposta aos quesitos
17º a 20º).
3.
O âmbito do recurso determina-se pelas conclusões da
recorrente (artigos 684º, n.º 3 e 690º, n.º 1 CPC), só
abrangendo as questões que nelas se contêm ainda que
outras tenham sido afloradas nas alegações propriamente
ditas, salvo tratando-se de questões que o Tribunal deva
conhecer oficiosamente (artigo 660º, n.º 2, ex vi artigo
713º, n.º 1 CPC).
Por outro lado, os recursos destinam-se a apreciar
questões já decididas e não a decidir questões novas, pelo
que o tribunal de recurso não deve conhecer de questões
que não tenham sido suscitadas no tribunal recorrido e de
que, por isso, este não cuidou nem tinha de cuidar, a não
ser que fossem questões do conhecimento oficioso.

Sendo assim, atentas as doutas conclusões e a cauda de


pedir da acção, importará saber se se verificam os
pressupostos da responsabilidade civil extracontratual,
devendo o Réu ser condenado pelos prejuízos
alegadamente causados à Autora.
4.
“A petição inicial é o articulado em que o autor propõe a
acção. Esta é a sua função específica.

Ao propor a acção, o autor formulará a pretensão de tutela


jurisdicional que visa obter e exporá as razões de facto e
de direito em que a fundamenta.
A importância da petição (inicial) como instrumento de
proposição da acção nasce do princípio básico da
iniciativa de parte, que é, no fundo, um corolário do
princípio dispositivo (artigo 3º, n.º 1, 1ª parte e 264º, n.º
1).
A acção não pode nascer da iniciativa do juiz. Admitir o
contrário seria fomentar situações numerosas de injustiça
relativa, visto o juiz não poder, por sua iniciativa, acudir a
todas as situações de ilicitude no foro do direito privado e
seria ainda comprometer a posição de imparcialidade que
o juiz deve manter no julgamento dos dissídios desta área
de direito.

É, por conseguinte, ao titular do direito violado que


incumbe requerer do tribunal o meio de tutela
jurisdicional adequado à reparação do seu direito.
A petição inicial é precisamente o acto processual pelo
qual o titular do direito violado ou ameaçado, nas acções
de condenação, requer do tribunal o meio de tutela
jurisdicional destinado à reparação da violação ou ao
afastamento da ameaça.

Entre as indicações mais importantes que devem constar


da petição (artigo 467º, n.º 1), destacam-se a narração dos
factos e a exposição das razões de direito que servem de
fundamento à acção e a formulação do pedido.

Na fundamentação da acção, é mais premente a menção


das razões de facto do que das razões de direito.
Enquanto, na matéria de facto, o juiz tem de cingir-se às
alegações das partes, na indagação, interpretação e
aplicação do direito o tribunal age livremente.

A formulação do pedido reveste também a maior


importância, porque o juiz não pode condenar em
quantidade superior ou em objecto diverso do que se
pedir (artigo 661º, n.º 1)(1)”.

A autora fundamentou o pedido, no facto do Réu,


enquanto exerceu funções de Presidente da Direcção da
Autora, ter emitido cheques sem justificação e para fins
alheios , assim se apropriando de quantias que deviam ser
integradas no património daquela e ainda porque não
depositou, na conta bancária da Autora, cerca de 9.000 €,
quantia correspondentes a facturação da Reprografia, que
o Réu dirigia.

Assim, a presente acção foi gizada no articulado inicial


como de responsabilidade civil por acto ilícito e culposo,
muito embora, em sede de alegações escritas sobre a
matéria de direito e nas alegações, tenha pretendido a
Autora vir atribuir-lhe outra configuração – a da
responsabilidade contratual.
É sabido que a configuração jurídica que as partes dão às
causas não vincula o tribunal na sua apreciação de direito,
mas, em contrapartida, na matéria de facto o juiz tem de
cingir-se às alegações das partes (art. 664º do CPC).

Aliás, a configuração da causa pode condicionar a defesa


do réu, e é o que sucede na presente acção. Se o réu é
confrontado com uma acção de responsabilidade
aquiliana, sabe que ao autor cabe a prova de todos os
factos, nomeadamente, da culpa do réu, pelo que tem
apenas um ónus de impugnação na contestação (arts.
483º, 342º/1 e 487º, todos do CC). Se, pelo contrário, o
réu é confrontado com uma acção de responsabilidade
contratual, sabe desde logo que lhe cabe o ónus de alegar
e provar não ter agido com culpa (art. 799º do CC).
Na situação dos autos, o Réu defendeu-se por
impugnação e mais não tinha de fazer, face à forma como
a acção foi concebida e apresentada, como a sentença
realça.
Cabia à Autora a prova dos factos integradores da
responsabilidade extracontratual, nomeadamente os factos
controvertidos capazes de integrar o conceito de facto
ilícito e culposo.
Mas, em lado algum ficou provada a ilicitude dos actos
questionados pela Apelante, como igualmente se não
provou a culpa do lesante nem sequer a existência de
quaisquer danos ou prejuízos para a Apelante.

Como muito bem realça a sentença, todas as testemunhas


depuseram de forma clara, desinteressada, com riqueza de
pormenores diferenciados entre elas. Mereceram-me
credibilidade e lograram convencer.
Das onze, nove faziam parte a Associação ora Autora, no
período em que o Réu foi o Presidente. Os seus
depoimentos foram muitos importantes para as respostas
negativas aos arts. 3º, 4º, 6º, 8º. Estas testemunhas
explicaram com o detalhe possível a esta distância, e com
narrativas próprias, os destinos prováveis dos cheques
juntos aos autos e a prática habitual e consensual de os
membros da Autora adiantarem dinheiros para as muitas
iniciativas (festas, debates, jogos, etc.) que levavam a
cabo, sendo depois reintegrados pela Autora, através de
cheques e contra a apresentação e entrega de documentos
comprovativos das despesas efectuadas. Bem como
explicaram que as receitas da reprografia muitas vezes
serviam directamente para suportar as despesas, com
funcionários, colaboradores e material, não chegando a
entrar no Banco.

De todo o modo, ainda que se configurasse a acção como


de responsabilidade contratual, os factos assentes não
permitem afirmar que o Réu tenha incorrido em
incumprimento contratual enquanto representante da
Associação ora Autora.
Só numa acção de prestação de contas, teria o Réu que
fazer a prova da justificação das várias despesas em que a
Associação incorreu. Obviamente, não estamos perante
uma acção dessa natureza.
5.
Pelo exposto, na improcedência da apelação, confirma-se
a sentença recorrida.
Custas pela apelante.
Lisboa, 28 de Junho de 2007.
Manuel F. Granja da Fonseca
Fernando Pereira Rodrigues
Fernanda Isabel Pereira
______________________________

VAZ SERRA E O «NEXO DE CAUSALIDADE»

· O Prof. VAZ SERRA (Adriano Paes da Silva Vaz Serra)


foi um dos mais importantes juristas portugueses do
séc. XX. Os seus estudos preparatórios para o Código
Civil, sobretudo em matéria de direito das obrigações,
são uma obra essencial. Estendem-se por dezenas de
volumes do BMJ, de 1952 a 1965. Quem quiser estudar
com um mínimo de profundidade algum tema de direito
das obrigações terá de conhecer o texto respectivo de
VAZ SERRA. Há um índice desses textos no manual de
Direito das Obrigações do Prof. ALMEIDA COSTA, logo no
número 2 (Bibliografia). Além disso, VAZ SERRA também
foi autor de inúmeras e interessantíssimas anotações
jurisprudenciais, publicadas sobretudo na RLJ depois da
entrada em vigor do Código.

· Uma questão pedagógica interessante é a de saber se


seria admissível reprovar um aluno por não saber quem
foi o Prof. VAZ SERRA (evidentemente, depois de outras
falhas). Julgo que sim. Trata-se de um aspecto
elementar da cultura jurídica portuguesa. Exige-se aos
alunos, não só que saibam algumas coisas, mas também
que saibam encontrar as outras. Ora, os estudos de VAZ
SERRA são fundamentais para encontrar qualquer coisa
de direito das obrigações português. Claro que também
seria muito mau um aluno não conhecer as siglas
«BMJ» ou «RLJ»...

· Vem isto a propósito da matéria da imputação do dano


ao facto na responsabilidade civil, também chamada do
«nexo de causalidade».

· No articulado que propunha [Obrigação de


indemnização, BMJ 84, 1959, pp. 5-303 (p. 284)], VAZ
SERRA escreveu:

«Art. 1.º
1. Não existe o dever de indemnização quando o facto,
segundo a sua natureza geral e as regras da vida
corrente, era de todo indiferente para que surgissem
danos da espécie dos produzidos, de sorte que apenas
por circunstâncias extraordinárias se tornou tal facto
uma condição dos mesmos danos.
2. Não é necessário que o facto tido como causa
jurídica do dano dê só por si lugar a este, bastando que
seja condição do mesmo dano e satisfaça ao requisito
do parágrafo antecedente.
......»
· Chamo a atenção dos alunos para dois aspectos:
No número 1, propõe-se a consagração de uma
fórmula que pode ser reconduzida à teoria da
adequação (ou da «causalidade adequada»), embora
não se use o termo «probabilidade» (a probabilidade ex
ante de o dano surgir). A fórmula da adequação aqui
adoptada é uma fórmula negativa, como acontece em
muitos autores. Ou seja, não se exige, para haver
obrigação de indemnizar, que, à partida, fosse
«normal», «previsível» ou «provável» a ocorrência do
dano (isto seria uma fórmula positiva). Pelo contrário,
diz-se que só não há obrigação de indemnizar quando, à
partida, o facto responsabilizador era «totalmente
indiferente» para a produção de daqueles danos, que só
surgiram devido a «circunstâncias extraordinárias»,
«altamente improváveis», «absolutamente
imprevisíveis», etc. A formulação negativa da teoria da
adequação permite alargar os casos em que surge a
obrigação de indemnizar.
O número 2 tem ainda mais interesse, devido à parte
final. VAZ SERRA mostra que, para haver imputação do
dano ao facto («nexo de causalidade») e, portanto,
obrigação de indemnizar, são necessárias, em princípio,
duas coisas:
a) Que o facto responsabilizador «seja condição do
mesmo dano» e
b) Que esse facto «satisfaça ao requisito do parágrafo
antecedente».
· Ou seja, a exigência de «causalidade em sentido
naturalístico» (ou «condicionalidade» ou «causalidade
em sentido estrito») não é afastada pela exigência de
«adequação». A teoria da adequação não afasta a
condicio sine qua non. Impõe é um novo requisito para
a existência de responsabilidade civil. Outras teorias,
como a teoria do fim da norma, também não
prescindem (na maioria dos casos) do requisito da
causalidade em sentido estrito.

· A distinção entre a causalidade em sentido estrito e


imputação jurídica deve-se, originalmente, a KARL
LARENZ (Hegels Zurechnungslehre und der Begriff der
objektiven Zurechnung. Ein Beitrag zur
Rechtsphilosophie des kritischen Idealismus und zur
Lehre der „juristischen Kausalität“, reimp., Scientia,
Aalen, 1970 (1927)). Em Portugal, a distinção surgiu na
obra de PEREIRA COELHO (O problema da causa virtual
na responsabilidade civil, reimp. com n. prévia,
Almedina, Coimbra, 1998 (1955), pp. 171-173).

· Isto não impede, por outro lado, que haja imensas


dificuldades na definição da causalidade stricto sensu,
dificuldades essas muito debatidas na filosofia e na
teoria da ciência, não só em direito. A condicio sine qua
non ajuda a compreender o que é a causalidade, mas é
uma fórmula imperfeita, porque não funciona nas
situações de causa virtual e de causas cumulativas.

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