Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Análise de documentos
Aluna: Bianca Rodrigues Corrêa
1
Júnia Ferreira Furtado, Homens de negócios, p. 173.
o deslanche da urbanização e a consolidação do funcionamento do aparelho
administrativo, a preocupação da Coroa era com a organização da sociedade mineira. A
proliferação dos desocupados, resultado de uma política injusta e excludente, era tida
como perigosa, na medida em que a mobilidade de tais indivíduos não era
suficientemente controlável. O próprio governador identifica tal impossibilidade,
denunciando a “a facilidade de passarem [os vadios] de umas para outras capitanias, e
na mesma ficarem ocultos, por se ignorar o seu delito segundo a extensão e aberto do
País (...), o que faz impraticável pela raridade das povoações, duplicidades de matos e
campos, que medeiam de umas a outras, e ainda entre roças e sítios saber quem na
realidade é delinqüente e evitar-se-lhes o retiro”. A alternativa portuguesa diante desse
“medo difuso ante o incontrolável, o desenquadrado, o que foge à política de
normalização”2 foi ceder terras cultiváveis a tais indivíduos itinerantes, como forma de
os fixar na sociedade civil. Em caso de discordância, a repressão tomaria as rédeas do
processo.
O já referido clima de violência e imprevisibilidade social das Minas atingia até mesmo
as autoridades locais, como se pode perceber no comentário feito pelo governador
acerca do receio presente nos oficiais para entrar desprotegidos em alguns distritos em
busca de devedores: “É verdade que nas execuções que os particulares lhes fazem
2
Laura de Mello e Souza, Desclassificados do Ouro, p. 125.
3
Ibidem.
sucedia antigamente não se animar oficial de justiça a entrar nos referidos distritos e que
ouço que alguns que o praticaram não tornaram a sair, porém hoje o estão fazendo
protegidos do auxílio militar...”.
O segundo documento consiste num ofício, datado de 1781, enviado pelo governador D.
Rodrigo José de Menezes ao ministro Martinho de Melo e Castro, apresentando
inúmeras queixas ao então ouvidor da Comarca do Serro Frio, Joaquim Manoel de
Seixas Abrantes. O governador faz referência a atitudes tomadas pelo ouvidor que
ultrapassavam seu poder de jurisdição, como a suspensão dos oficiais da Intendência do
Ouro para colocar em seus lugares “outros com quem tinha feito ajustes” e a realização
de uma eleição ilegal para empossar o capitão Manoel José de Souza no cargo de juiz
trienal dos órfãos, “sem observar disposição alguma da lei do Reino e sem consultar
mais que o seu próprio capricho e interesse”.D. Rodrigo salienta que já havia advertido
4
Júnia Ferreira Furtado, O Livro da Capa Verde, p.160.
o ouvidor em carta particular que não surtira efeito algum, ressaltando saber exatamente
quais eram suas atribuições e quais as de Seixas.
O tom principal da queixa do governador refere-se nem tanto aos desmandos e atitudes
infratoras cometidos pelo ouvidor, mas ao abuso na utilização da autoridade, sem
relevar disposições e determinações superiores. D. Rodrigo ainda atribui este caráter a
toda uma parcela dos ministros da capitania, afirmando a ocorrência de excessos na
utilização da autoridade e a insubmissão a disposições do próprio governador:
“Não é possível expor a V. Exa. o quanto é prejudicial ao serviço de Sua Majestade e bem
comum dos povos a confusão que existe sobre os limites da jurisdição dentre os Governadores
desta Capitania e os ministros. Estes indivíduos, (...) eles se intrometem na administração
política que não pode pertencer mais que aos Governadores, arrogando-se cada um na sua
comarca uma autoridade sem limite, afetando uma total independência dos Governadores...”.
8
Laura de Mello e Souza, op. cit., p.98.