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S1C4T2
Fl. 2
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0-6
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MINISTÉRIO DA FAZENDA 01
S1C4T2
/2
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CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS
PRIMEIRA SEÇÃO DE JULGAMENTO
0 01
2.0
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IA
Processo nº 16832.000132/201069 16
S O
P
Recurso nº Voluntário
Acórdão nº C ES
1402001.534 – 4ª Câmara / 2ª Turma Ordinária
Ó
O
Sessão de 04 de dezembro de 2013 PR
C
Matéria R F
Auto de Infração do IRPJ e Reflexos
A
Recorrente
D -C
INTER CONTINENTAL DE CAFÉ S/A
Recorrida
PG
FAZENDA NACIONAL
NO
ADOASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ
R Anocalendário: 2005, 2006
GE CONTRATO PARTICULAR. PREVISÃO DE PAGAMENTO DE
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, dar
provimento parcial ao recurso, para reconhecer o direito à dedução dos juros até o limite da
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taxa SELIC, no período, e cancelar o IRRF, nos termos do relatório e voto que passam a
integrar o presente julgado.
P
Ó
(assinado digitalmente)
Leonardo de Andrade Couto Presidente
C
(assinado digitalmente)
Moisés Giacomelli Nunes da Silva Relator
Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001
MOISES GIACOMELLI NUNES DA SILVA, Assinado digitalmente e
Autenticado digitalmente em 04/02/2014 por
m 04/02/2014 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SILVA, Assinado digitalmente em 05/02/2014 por LEONARDO
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DE ANDRADE COUTO
Relatório
A presente autuação diz respeito aos anoscalendário de 2005 e 2006, lavrada
em face da empresa antes indicada que é tributada com base no Lucro Real anual.
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O auto de infração de fls. 104 e seguintes, lavrado em 12/02/2010, encontra
P
se acompanhado do termo de verificação fiscal de fls. 95 e seguintes, foi notificado à
recorrente em 18/02/2010 (fl. 105), exigindo IRPJ em relação ao anocalendário de 2006 e
Ó
IRRF no mês de novembro de 2005 e setembro de 2006, em face das infrações abaixo
indicadas:
C
001 IRPJ CUSTOS, DESPESAS OPERACIONAIS E ENCARGOS NO NECESSÁRIOS
Fato gerador Valor Tributável ou imposto Multa
31/12/2006 R$ 748.303,65 75%
001 IRRF OUTROS RENDIMENTOS PAGAMENTOS SEM CAUSA / OPERAÇÃO
NÃO COMPROVADA FALTA DE RECOLHIMENTO DO IMPOSTO DE RENDA
NA FONTE SOBRE PAGAMENTOS SEM CAUSA OU DE OPERAÇÃO NÃO
COMPROVADA
Fato gerador Valor Tributável ou imposto Multa
10/11/2005 R$ 553.446,99 75%
15/09/2006 R$ 598.942,12 75%
Segundo se extrai do termo de verificação fiscal e da planilha de fl. 94, a
autuada contratou a empresa ARBEIT GESTÃO DE NEGÓCIOS LTDA, pelo valor de 5%
(cinco por cento) correspondente ao total dos benefícios que obteria em face dos trabalhos a
serem desenvolvidos por esta. Desta forma, como o total dos benefícios importou em R$
52.812.376,88, o valor a ser pago deveria ser de R$ 2.640.618,84 e não R$ 3.388.923,50, como
foi pago. Em assim sendo, em relação ao excesso pago glosouse a despesa R$ 748.304,66, no
anocalendário de 2006 e exigiuse IRRF, levandose em consideração as datas dos
pagamentos, conforme quadro que segue:
Total Pago R$ 3.388.923,50
Remuneração Pactuada 5% (52.812.376,88) R$ 2.640.618,84
Excesso pago 748.304,66
Não há controvérsia quanto à efetiva prestação dos serviços e valores pagos,
bem como do recolhimento do IRRF sobre o que foi pago. Intimada para justificar a razão de
Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001
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DE ANDRADE COUTO
ter realizado pagamentos no montante de R$ 3.388.923,50, quando a simples aplicação do
percentual pactuado de 5% sobre os R$ 52.812.376,88 recebidos pela venda dos créditos,
totaliza R$ 2.640.618,85 a autuada informou que a diferença corresponde à atualização pela
taxa de juros desde as datas nas quais os valores foram recebidos de Kaiser até os pagamentos
realizados à contratada.
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A autoridade fiscal entendeu que não havia previsão contratual para pagar a
correção (diferença) acima indicada, razão pela qual glosou os custos destas e exigiu IRRF por
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considerar pagamento sem causa.
Ó
prestado quando do procedimento fiscal:
"(...) Cabe esclarecer que além dos R$ 52.812.376,88 pagos a
Inter — Continental de Café S/A, a Kaiser pagou diretamente ao
advogado do processo judicial que gerou o crédito, um valor de
R$ 2.087.764,13 correspondente ao percentual de êxito da parte
negociada e recebida. Totalizando, portanto, um paramento
total de RS 54.900.141,00. Sobre este valor calculase o
percentual de 5%, ou seja um valor devido pela prestação de
serviço de R$ 2.745.007, 05. A razão da diferença entre este
valor e o valor da N.F da Arbeit é que os valores eram devidos
nas respectivas datas de recebimento da Kaiser, ou seja 28/o
ut/2004, 29/Nov12004, 29/dez/2004, 26/jan/2005 e 25/fev/2005.
E foram efetivamente pagos em 05/set/2005, 04/out/2005,
31/out/2005, 10/nov/2005 e 15/set/2006, portanto foram
atualizados pela taxa de juros que renderam neste período."
(grifo no original).
A DRJ julgou improcedente a impugnação com base no entendimento de que
"Sujeitamse a incidência de que trata o art 674 do RIR/1999 os pagamentos cujas causas sejam
desconhecidas."
Intimada do acórdão em 22/11/2012 (fl. 179), a contribuinte, de forma
tempestiva, ingressou com o recurso de fls. 182 e seguintes, repisando os fundamentos
destacados quando da impugnação e reiterando a tese de insubsistência do lançamento.
Em síntese, diz a recorrente que tendo pago os valores com atraso, eram
devidos os juros de mora. Em defesa de sua tese cita jurisprudência do STJ quanto ao marco
inicial dos juros de mora (RESP 1.151.873).
É o relatório.
Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001
MOISES GIACOMELLI NUNES DA SILVA, Assinado digitalmente e
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DE ANDRADE COUTO
Voto
IA
Conselheiro MOISÉS GIACOMELLI NUNES DA SILVA Relator
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Quanto ao recurso voluntário o mesmo está previsto no artigo 33 do Decreto
C
nº 70.235, de 1972, é tempestivo, encontrase devidamente fundamentado e foi interposto por
parte legítima que pretende ver a decisão da DRJ reformada . Assim, por preencher os
requisitos de admissibilidade, conheçoo e passo ao exame do mérito.
Conforme contrato de honorários correspondente à prestação de serviços de
fls. 61/62, datado de 23/10/2003, firmado Inter Continental assumiu a obrigação de pagar à
empresa contratada 5% (cinco por cento) sobre o valor total dos créditos negociados e
efetivamente recebidos, atualizados até a data da venda efetiva pela CONTRATANTE.
Pelo que se extrai do item 2.2 do referido contrato, o preço dos créditos
tributários a serem negociados tinha como piso mínimo de venda 60% (sessenta por cento) de
seu valor integral.
Ao tratar dos honorários e forma de pagamento, a cláusula segunda do
referido contrato assim dispõe:
CLÁUSULA SEGUNDA HONORÁRIOS E FORMA DE
PAGAMENTO
2.1. A remuneração da CONTRATADA pelos serviços prestados
somente será devida caso a CONTRATANTE negocie
efetivamente os créditos tributários mencionados na cláusula 1.2
deste Instrumento.
2.2. Atendendo ao disposto na cláusula 2.1 deste Instrumento, a
CONTRATADA fará jus remuneração equivalente a 5 % (cinco
por cento) sobre o valor total dos créditos negociados e
efetivamente recebidos, atualizados ate a data da venda efetiva
pela CONTRATANTE, desde que o custo de aquisição dos
créditos, entendido como prego devido à CONTRATANTE, tenha
como piso mínimo 60% (sessenta por cento) do seu valor
integral.
No momento em que o contrato estabelece que os honorários seriam devidos
"sobre o valor total dos créditos negociados e efetivamente recebidos" tenho que existem duas
condições aqui previstas, quais sejam, a venda e o efetivo recebimento.
Se os honorários passavam a ser devidos com a venda e o recebimento, tem
se que uma vez recebido, sobre a parcela recebida, a contratante já fazia jus aos honorários.
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DE ANDRADE COUTO
Ainda que não havendo disposição expressa no contrato, no momento em que
o referido instrumento menciona que "os honorários são devidos com a venda e o
recebimento", não se pode imaginar outra data à obrigação da contratante de efetuar o
pagamento dos honorários senão a data em que recebeu o crédito. Imaginar outro momento
seria afrontar a boafé objetiva1 cuja função é estabelecer um padrão ético de conduta para as
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partes nas relações obrigacionais que deve decorrer dos contratos.
O argumento do acórdão recorrido de que não havia prazo ou termo para
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pagamento da dívida, razão pela qual não podia se contar juros, a não ser por cobrança ou
interpelação judicial, não subsiste.
Ó
À fl. 72 a recorrente juntou aos autos a planilha abaixo indicando ter recebido
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os seguintes valores da Cervejaria Kaiser decorrentes dos serviços prestados pela contratante:
RECEBIMENTO DE CERVEJARIA KAISER BRASIL S/A
DATA DO BANCO/AGENCIA/CORRENTE VALOR
RECEBIMENTO
28OUT04 BRADESCO S/A AG.26 C/C 422072 515.309,05
28OUT04 BRADESCO S/A AG.26 C/C 422072 9.790.871,89
29NOV04 BRADESCO S/A AG.26 C/C 422072 696.938,75
29NOV04 BRADESCO S/A AG.26 C/C 422072 9.729.683,36
29NOV04 BRADESCO S/A AG.26 C/C 422072 616.920,00
29NOV04 BRADESCO S/A AG.26 C/C 422072 9.934.124,81
26JAN05 BRADESCO S/A AG.26 C/C 422072 625.533,60
26JAN05 BRADESCO S/A AG.26 C/C 422072 10.072.827,69
25FEV05 BRADESCO S/A AG.26 C/C 422072 633.240,33
25FEV05 BRADESCO S/A AG.26 C/C 422072 10.196.927,40
Os extratos bancários de fls. fls. 64 e seguintes, da conta bancária da
recorrente junto ao Banco Sudameris e Banco Bradesco e os registros contábeis juntado aos
autos e já analisados pela autoridade fiscal, não deixam dúvida quanto ao efetivo recebimento
dos valores acima indicados e, tampouco quanto ao pagamento dos honorários à Arbeit Gestão
de Negócios nas seguintes datas e valores:
Pagamentos à Arbeit Gestão de Negócios
Data Valor
05/09/05 R$ 1.000.000,00
04/10/05 R$ 500.000,00
31/10/05 R$ 500.000,00
10/11105 R$ 1.000.000,00
15/09/06 R$ 388.923,50
Total Pago R$ 3.388.923,50
Quando se confronta a data do recebimento dos créditos acima elencados com as
datas dos pagamentos dos honorários verificase, claramente, que houve atraso no adimplemento, não
podendo a devedora pretender negar os encargos decorrentes da mora, sob pena de afrontar o disposto
no artigo 422 do Código Civil que assim dispõe:
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Documento assinado A digitalmente
boafé objetiva constitui
conforme MP nº um modelo
2.200-2 de conduta social ou um padrão ético de comportamento, que impõe,
de 24/08/2001
concretamente, a todo cidadão que, nas suas relações, atue com honestidade, lealdade e probidade.
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DE ANDRADE COUTO
Tanto os juros de mora calculados sobre débitos fiscais recolhidos com
atraso, quanto as multas e juros efetivamente suportadas pela empresa, em virtude de
cumprimento de obrigação contratual, desde que vinculadas a legítimas transações comerciais,
são despesas necessárias que decorrem da lei e dedutíveis da base de cálculo do imposto de
renda, sendo que o respectivo pagamento de tais encargos não se constitui em mera
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liberalidade da empresa e, tampouco, caracteriza a existência de pagamento sem causa.
No caso concreto, ao atrasar o recolhimento dos tributos retidos quando dos
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pagamentos realizados à empresa Arbeit Gestão de Negócios, a recorrente estava obrigada a
quitálos com os encargos previstos no artigo 406 do Código Civil2.
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No caso dos autos, para efeito de apuração do valor cuja glosa
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permanece, na execução deve ser pego o valor de cada parcela quando do vencimento,
aplicar a taxa Selic até a dada do efetivo pagamento, apurando o valor devido. O que
exceder entre o valor apurado e o valor pago constitui despesa cuja glosa se mantém.
Todavia, o valor objeto da glosa não se constitui em pagamento sem causa.
No caso dos autos existia contrato que justificava o pagamento. O fato da devedora, quando do
pagamento, além dos juros de mora, ter inserido outros encargos ou acréscimos é fator que
enseja a glosa do excedente, mas não caracteriza pagamento sem causa. Neste sentido aponta
se o acórdão abaixo da CSRF:
R FONTE PAGAMENTO SEM CAUSA ART. 61 DA LEI Nº.
8.981, de 1995 LUCRO REAL REDUÇÃO DE LUCRO
LÍQUIDO MESMA BASE DE CÁLCULO
INCOMPATIBILIDADE A aplicação do art. 61 está reservada
para aquelas situações em que o fisco prova a existência de um
pagamento sem causa ou a beneficiário não identificado, desde
que a mesma hipótese não enseje tributação por redução do
lucro líquido, tipicamente caracterizada por omissão de receita
ou glosa de custos/despesas, situações próprias da tributação do
IRPJ pelo lucro real (Precedente da CSRF. Ac. 0401.094.
Sessão de 03/11/2008. Rel. Conselheira Ivete Malaquias Pessoa
Monteiro).
Em 2009 a matéria aqui referida voltou a ser objeto pela CSRF, nos autos do
processo nº 10730.004442/200212, de minha relatoria, tendo o Colegiado, em nova
composição, mantido o entendimento sintetizado na ementa acima.
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Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando
provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de
impostos devidos à Fazenda Nacional
ISSO POSTO, voto no sentido de dar provimento parcial ao recurso, para
reconhecer o direito à dedução dos juros até o limite da taxa SELIC, no período, e cancelar o
IRRF.
(assinado digitalmente)
MOISÉS GIACOMELLI NUNES DA SILVA
IA
P
Ó
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