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Mayara de Carvalho
Doutoranda em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. Mestra em Ciências Jurídicas
pela Universidade Federal da Paraíba. Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande
do Norte. É advogada e professora, com formação e pesquisa em resolução de conflitos.
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estratégico do advogado como ferramenta para dos advogados estimula a busca pelos métodos
obter sucesso no julgamento. Para ele: autônomos de resolução de conflitos. Para
ele, “a nova proposta é que o processo judicial
[...] volta à baila a necessidade de seja considerado como a última opção para os
equilibrar valores e dimensionar reações. O
litígios”12.
combativo que não seja profissionalmente
Na mesma trilha, Julie Macfarlane
preparado desordena o processo e põe a
perder justas pretensões do constituinte. O assevera que “a despeito da centralidade da
cordato que não seja enérgico permite que advocacia contenciosa no imaginário popular,
a sorte dos interesses diretos do cliente seja atualmente é comum um advogado de um
conduzida pelo advogado do adversário e
escritório de advocacia ter pouca ou nenhuma
pelo juiz que ficou exposto a postulações e
experiência em processos judiciais”13.
argumentos vindos de um só10.
Adriana Sena reforça esse entendimento
ao exteriorizar suas críticas ao fenômeno da
Entretanto, caso seja assimilado o
judicialização:
fenômeno que aconteceu em outros países, a
tendência é de que os rightswarrior, ou seja,
A Justiça aparece como último refúgio
os advogados beligerantes percam espaço para de um ideal democrático desencantado;
os profissionais qualificados para solucionarem procura-se a Justiça como uma muralha
conflitos por outros métodos. Paul Carrington contra o desabamento interior, com
reconhece que “o que as pessoas trazem ao os juízes chamados a preencher uma
função clerical, abandonada pelos
tribunal é todo o resto da nossa vida nacional
antigos titulares. Surge uma sociedade de
e comunitária, falsidade, avareza, brutalidade, litigantes, onde não se tenta resolver as
preguiça e negligência são os materiais com os questões extrajudicialmente. A democracia
quais trabalhamos”11. gera o paradoxo de fragilizar os laços
Países com experiências democráticas sociais, onde cada cidadão libera-se de
seus “magistrados naturais” e entrega o
mais consolidadas, como Inglaterra, França e
destino de tudo ao juiz estatal14.
Canadá, têm adotado as formas autônomas de
resolução de conflitos: como a negociação, a
O Código de Processo Civil está em
conciliação, à justiça restaurativa e a mediação,
sintonia com esses entendimentos ao dedicar
que têm prevalecido sobre a adjudicação judicial.
norma fundamental determinando ao Estado a
Um dos fatores determinantes, apontados pelo
promoção da solução consensual de conflitos.
inglês Neil Andrews, é econômico.
O alto custo do processo, o tempo de
duração, bem como a elevada remuneração
12 ANDREWS, p. 32
13 MARCFARLANE, Julie. The new lawyer – how
settlement in transforming the practice of law.Vancouver:
UBC Press, 2008, p. 1
10 Apud, MATTOS, Leonardo Nemes de. O poder 14 ORSINI, Adriana Goulart De Sena Rev. Trib.
do advogado na condução do processo civil: propostas Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.46, n.76, p.93-114,
para ampliação. Tese de Doutorado. USP, 2009, p. 89 jul./dez.2007. Disponível em: <http://www.trt3.jus.br/
11 Apud, ANDREWS, Neil. O moderno processo escola/download/revista/rev_76/Adriana_Sena.pdf>.
civil. São Paulo: RT, 2010, p. 247 Acesso em: 30 jun. 2016.
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Naturalmente que não se trata de panaceia, algumas incongruências que necessitam ser
havendo de sopesar os casos em que a solução acomodadas a partir de uma interpretação
consensual seja adequada ao caso, além das conforme a Constituição Federal e o CPC/2015.
hipóteses em que há impedimento legal. Nem por isso deixa de ser notória a ênfase
Com efeito, o CPC/2015 trouxe uma que o legislador tem dado à autocomposição
nova perspectiva para a advocacia, como de conflitos. Espera-se que esses atos sinalizem
mencionado pelos juristas que compuseram a o futuro do processo brasileiro, e que ele seja
comissão do anteprojeto: mais democrático, participativo e efetivo.
Com isso, opta-se por uma via de
É importante fortalecer a cultura da primazia da emancipação social17, oportunidade
resolução do conflito, para que ela
na qual a contribuição colaborativa do
prepondere sobre a cultura da sentença.
advogado pode influir tanto para a resolução do
Nessa direção caminham, também,
as intenções da relatora do grupo, a conflito em questão, quanto para se repensar
Dra. Teresa Wambier que destacou a atuações constitucionalmente adequadas para
importância do fortalecimento dos meios a advocacia no Brasil.
alternativos de resolução de conflitos o
que, por certo, trará a diminuição das lides
3 O DEVER DE COOPERAÇÃO NO PROCESSO
que são enviadas ao Poder Judiciário15.
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jurídica, mas a animosidade entre os envolvidos solucionar o conflito com ética, promovendo
no conflito perdura. A consequência da “não a cidadania, contribuindo para a efetivação
solução do conflito” é, por muitas vezes, de direitos e redução de desigualdades, e
vivenciada pelo retorno das partes ou apenas para assim, promover a justiça e assegurar a
uma delas ao Judiciário. liberdade.
Para se evitar a judicialização
permanente, o advogado deve oferecer ao REFERÊNCIAS
cliente a opção pelos métodos consensuais mais
ágeis, econômicos e socialmente construtivos. BARBOSA MOREIRA, José Carlos. O futuro da
É preciso trabalhar com o olhar voltado a uma Justiça: alguns mitos. In: ______. Temas de
solução adequada. Direito Processual. 8ª Série. São Paulo: Saraiva,
O dever de cooperação, estipulado 2004. p. 1-14.
no art. 6º, do CPC/2015, impõe ao advogado
a participação para contribuir para o bom CALAMANDREI, Piero. Il processo come giuoco.
andamento do processo, “facendo si chequalsiasi Rivista di diritto processuale. Anno V, n. 1,
processo si svolga nelcontraddittoriotrale parti, Padova, 1950. p. 3-31.
in condizionidiparità, davanti a giudiceterzo
e imparciale, com garanzie ‘legali’ di CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil:
‘ragionevoledurata”24. o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização
A atuação colaborativa, destina-se brasileira, 2012.
a “fazer com que os homens se falem, que
desenvolvam uma relação intersubjetiva sem COMMOGLIO, Luigi Paolo. Etica e técnica del
‘giusto processo’. Turim: G. Giappichelli, 2004
violência, com que os desejos e às paixões,
incrustados nos sótãos do humano se COMMOGLIO, Luigi Paolo. Etica e técnica del
exteriorizem”25. ‘giusto processo’. Turim: G. Giappichelli, 2004,
A proposta de solução autônoma significa p. 63.
uma ampliação da mentalidade, visando a
GAMBOGI, Luís Carlos Balbino. Direito: razão
pluralizar os métodos para se almejar o acesso e sensibilidade – as intuições na hermenêutica
à ordem jurídica justa. A adoção de práticas jurídica. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p.133.
adequadas ao caso específico é o método mais FISS, Owen. Um novo processo civil: estudos
norte-americanos sobre jurisdição, constituição
democrático, participativo e efetivo.
e sociedade. São Paulo: Revista dos Tribunais,
Logo, o advogado, reconhecendo- 2004.
se partícipe, atua construtivamente para
GAMBOGI, Luís Carlos Balbino. Direito: razão
e sensibilidade – as intuições na hermenêutica
jurídica. Belo Horizonte: Del Rey, 2006.
24 COMMOGLIO, Luigi Paolo. Etica e técnica del
‘giusto processo’. Turim: G. Giappichelli, 2004, p. 63.
25 GAMBOGI, Luís Carlos Balbino. Direito: razão GOLDSCHMIDT, James. Teoría general
e sensibilidade – as intuições na hermenêutica jurídica.
Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p.133. delproceso. Barcelona: Editorial Labor, 1936.
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Artigos
Colección Labor, Sección VIII, Cienciasjuridicas, Apud, ANDREWS, Neil. O moderno processo
n. 386. civil. São Paulo: RT, 2010, p. 247
MARCFARLANE, Julie. The new lawyer – how Comissão de elaboração do Novo Código de
settlement in transforming the practice of law. Processo Civil busca a agilidade, a simplicidade
Vancouver: UBC Press, 2008 e a efetividade como seus princípios de ação.
http://solweb-5.tjmg.jus.br/audiencia/1_
MATURANA, Humberto; VERDEN-ZOLLER, reuniao.pdf
Gerda. Amar e brincar: fundamentos esquecidos
do humano. São Paulo: Palas Athena, 2004. NUNES, Dierle. STRECK, Lenio Luiz. CUNHA,
Leonardo Carneiro da (Coord.). Comentários
ao Código de Processo Civil. São Paulo: Saraiva,
MOORE, Christopher W. O processo de 2016, p. 43.
mediação. 2ª ed. Porto Alegre: ARTMED
JUNIOR, Humberto Theodoro, Primeiras lições
ORSINI, Adriana Goulart De Sena Rev. Trib. Reg. sobre o NCPC. Forense, 2016, p.
Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.46, n.76, p.93-
114, jul./dez.2007. Disponível em: <http:// CNJ. Justiça em números. Disponível em: <
www.trt3.jus.br/escola/download/revista/ http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pj-
justica-em-numeros>. Acesso em: 01 jul. 2016.
rev_76/Adriana_Sena.pdf>. Acesso em: 30 jun.
2016.
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