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Gênesis

O princípio dizendo: “Sejam férteis e multipliquem-se!


No princípio Deus criou os céus e a

I
Encham as águas dos mares! E multipliquem-
te r r a .« ’ se as aves na terra”. 23 Passaram-se a tarde e
2 Era a tè rr ís e m forma e vazia; trevas co- a manliã; esse foi o quinto dia.
briam a face do abismo, e o Espírito de Deus • 24 Eídisse Deus: “Produza a terra seres vi-
Aldo Menezes
se movia sobre a face das águas. vos jdeacordo com as suas espécies: rebanhos
3 Disse Deus: “Haja luz”, e houve lu z. 4 Deus 1 domésticos, animais selvagens e os demais
viu que a luz era boa, e separou a luz das sereis vivos da terra, cada um de acordo com
trevas, 5 Deus chamou à kiz dia, e às trevas a sua espécie”. E assim foi. 25 Deus fez o s
chajnou noite. Passaram-se a tarde e a ma- animais selvagens de acordo cá
; esse foi o primeiro dia. espécies, os rebanhos domésticos 1

€ Depois disse Deus: “Haja entre as águas


^Ü^amento que «serv»***» ^
com as suas espécies, e os demais se
vos da terra de acordo rpm ^ suas espéc?es.

T es t em u n h a s d e Jeo vá

ESTE Exposição e refutação de suas doutrinas

EXPOSIÇÃO

2. edição revista, atualizada e ampliada

MiPiii /!) u o u ) | .«lifll* lis viu tudo o que havia feito, è iudo
nares: o ...uv* para governar o dia e o menor ado muito bom. Passaram-se a tarde
para governar a noite: fez também as estre- fiã; esse foi o sexto dia. Publicado anteriormente com o título
A*sim foram concluídos os céus e a ter-
las. 17Deu* os colocou nu firmamento do céu
pira .iluípinar a terra, governar o dia e a
noite, e separar a luz das trevas. E Deus viu
2 ra, e tudo o que neles há.
2 No sétimo dia Deus já havia concluído a
Por que abandonei as Testemunhas de Jeová

(Íu& ficou bom . 19 Passaram-se a tarde e a obra que realizara, e nesse dia descansou. 3 A-
manhã; esse foi o quarto dia. betiçpou Deus o sétimo dia e o santificou,
20 Disse também Deus: “Encham-se as águas PQJtlue nele descansou de toda a obra que
de seres vivos, e voem as aves sobre a terra, realizara na criação.
sob o firmamento do réu 31 Assim Deus A origem da humanidade
criou os grandes animais aquáticos e os de- 4 Esta é a história das origens* dos céus e
mais seres vivos que povoam as águas, de da terra, no t rrm m que foram criados:
acordo com as suas espécies; e t je u s fez a terra e os céus,
jrotado nenhum arbusto
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Vida
©2001,2009 de Aldo Menezes

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Editor responsável: Sônia Freire Lula Almeida
adaptadas segundo o Acordo Ortográfico da
Editor-assistente: Gisele Romão da Cruz Santiago Língua Portuguesa, assinado em 1990, Abreviaturas de versões da Bíblia 7
Revisão: Josemar de Souza Pinto
em vigor desde janeiro de 2009.
Diagramação: Aldo Menezes e Claudia Fatel Lino Agradecimentos 9
Capa: Arte Peniel Todos os grifos são do autor.
Prefácio 11

Introdução 13

1. Os testem unhas de Jeová são uma seita? 19


1. edição: out. 2001
2. edição: dez. 2009
2. Em busca da religião verdadeira 27

3. Deturpando a Palavra de Deus 79

4. Desnudando Jeová de seus atributos 129

5. Outro Jesus Cristo 157

6 . Despersonalizando o Espírito Santo 219


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
7. As castas de Jeová: os 144 m il e as “outras ovelhas” 241
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
8 . Aniquilando a alm a e apagando as cham as do inferno 271
Menezes, Aldo
Testemunhas de Jeová: exposição e refutação de suas doutrinas /Aldo Menezes. — Apêndice 1: Tira-dúvidas 309
Prefácio de Paulo Romeiro. — 2. ed. rev., atual, e ampl. — São Paulo: Editora Vida, 2009.
Apêndice 2: Os credos do cristianismo 349
Bibliografia.
ISBN 978-85-383-0142-4 Bibliografia e referências 355

1. Testemunhas de Jeová I. Título. índice de textos m al interpretados 363

09-08588 CDD-289.92 Ministério Edificar — Palestras que instruem e edificam 365

índice para catálogo sistemático:


1. Testemunhas de Jeová: Religião 289.92
T e s t e m u n h a s d e J e o v A: e x p o s i ç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s

MM Monges de Maredsous (Bélgica)


NBC Nova Bíblia dos Capuchinhos
NM Tradução do Novo Mundo das Escrituras
Sagradas: com referências

Abreviaturas de versões NTLH Nova Tradução na Linguagem de Hoje


RV Reina-Valera

da Bíblia RVR Reina-Valera Revisada


TB Tradução Brasileira
TE Tradução Ecumênica da Bíblia
VF Versão Fácil de Ler (Novo Testamento)
VL Vulgata Latina (de Jerônim o)

A21 Almeida Século 21 (Vida Nova)


ARA Almeida Revista e Atualizada (2.a ed.)
ARC Almeida Revista e Corrigida (2.a ed.)
AVR Almeida Versão Revisada, de acordo com os melhores
textos (IB B)
BJ A Bíblia de Jerusalém
BP Bíblia do Peregrino
BMD Bíblia Mensagem de Deus
CH Cartas Para Hoje, J. B. Phillips
CNBB Bíblia Sagrada (tradução da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil)

DHH Dios Habla Hoy {La Biblia de Estúdio Dios Habla Hoy)
EP Edição Pastoral
LR Monsenhor Lincoln Ramos (A Palavra do Senhor,
Novo Testamento)

LXX Septuaginta (ou Versão dos Setenta)


MH Mateus Hoepers (Novo Testamento)
Agradecimentos Prefácio

Inicialm ente, à Santíssim a Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Sem Foi com muito entusiasm o que m e sentei diante do computador para

sua ajuda, este livro não teria sido escrito. prefaciar a prim eira edição deste livro em 2001. E é com o m esm o prazer

À Editora Vida, por depositar confiança nesta segunda edição. que volto a prefaciar a segunda edição oito anos depois, pela qual felicito

À m inha esposa, Ana Cléia, pelas críticas e sugestões. o Aldo e a Editora Vida. Eu não pretendo inventar palavras novas. Direi

Ao dr. Paulo Rom eiro, por atenciosam ente prefaciar m ais um a vez dele e de seu livro o m esm o que disse em 2001.

esta obra. Há vários anos, conheço o Aldo. Ele tem sido fiel com panheiro de m i-
Ao Túlio César Costa Leite, amigo de longa data, pelas sugestões e crí- nistério na defesa e propagação da fé cristã. Não tenho dúvida de que o
ticas ao texto. Senhor Deus fez um milagre em sua vida, pois foi som ente por interm é-
dio da intervenção divina que ele se libertou do grupo religioso Testemu-
nhas de Jeová para entrar no Reino da luz do Deus Filho, Jesus Cristo.
A capacidade intelectual do autor será notada ao longo das páginas
deste livro. Ele pensa de m aneira clara e lógica, fruto de sua formação em
F ilo so fia, e escreve sem p re com eq u ilíb rio , resu ltad o de sua larga
experiência como editor de livros. Juntos, durante o período em que ele
trabalhou na Agência de Inform ações R eligiosas (AGIR), produzim os
textos, m inistram o s con ferências e evangelizam os adeptos de grupos
controvertidos. Tudo o que o Aldo produz desfruta de total escassez de
h ostilid ad e, crian d o um a ponte en tre ele e seus leitores, m esm o os
refutados. Quando fala a verdade, é com amor. Quando critica, o faz com
justiça. Quando erra, volta atrás e pede perdão. Precisa-se de algo mais?
Meu entusiasm o aumenta ainda ao pensar no enorm e benefício que
este livro vai proporcionar à igreja do Senhor no Brasil e até — quem
12 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

sabe? — em ou tros p aíses. N unca u m a geração de cristã o s foi tão


bom bardeada com conceitos e valores antibíblicos com o a da presente
época. Nunca um a geração de cristãos precisou tanto de discernim ento
doutrinário como a geração atual. Preocupa-m e sempre os m ilhões de
alm as vulneráveis ao bom bardeio de inform ações e técnicas proselitistas
de tantos movimentos, social e espiritualm ente nocivos, que atuam sem
Introdução
descanso na m ídia, nas ruas e de porta em porta, enganando e sendo
enganados. Com certeza, o livro do Aldo vai ajudar m uitos irm ãos em
Cristo a responder com mansidão e sem tem or aos clam ores alarm istas e
anticristãos dos testem unhas de Jeová.
0 autor não transm ite o que ouviu falar, não relata fatos distantes,
m as narra a própria trajetó ria, dem onstrando que é possível, sim , sair Não pense que este livro mudou só de título e de capa. Ele mudou

de um a organização prepotente e m anipuladora para viver na liberdade muito por dentro tam bém . Esta obra foi totalm ente revista, corrigida e

que há em Cristo, algo que antes não conhecia. Todos os que pesquisam ampliada. E não estou falando apenas de ajustá-lo ao Novo Acordo Orto-

as seitas sabem que a lid eran ça dos testem u nhas de Jeová já levou gráfico, m as m e refiro a uma alteração considerável no conteúdo, pas-

m ilhares de pessoas à m orte, proibindo as transfu sões de sangue em sando por m u itas linh as de arg u m en taçã o, além de novos dados e

decorrência da interpretação errônea de certos textos bíblicos. Graças inform ações relevantes sobre a seita. Além do m ais, oito anos depois,
a Deus, o Aldo saiu a tem po! minha reflexão teológica foi sendo aprim orada, e esta nova edição reflete
Este não é o prim eiro , nem será o ú ltim o livro do autor. Aldo é o avanço dos anos e da experiência, ouvindo e sendo ouvido. Muitas su-
p o rta d o r de u m a co n sid eráv el bagagem de co n h ecim en to b íb lic o , gestões feitas à prim eira edição estão presentes nesta segunda. Eu não
teologia sistem ática, história da Igreja e religiões em geral. Por isso, estou me canso de cantar “a beleza de ser um eterno aprendiz”. Continuo aberto
certo de que ele vai produzir m uito ainda no cam po da literatura para não só a elogios, mas a críticas e sugestões. Todos são bem -vindos. Fique
que o Reino de Cristo se estenda cada vez m ais na terra. Ao Senhor à vontade para m e contatar: aldom enezes@ gm ail.com .
som ente, toda a glória! A seita Testem unhas de Jeová tam bém passou por m udanças. Além
de atualizar dados estatísticos, m uitas doutrinas m udaram desde 2001;
D r . Pa ul o R o m e ir o por exem plo, eles acred itavam que a cham ad a ce le stia l havia sido
Presidente da Agência de Informações Religiosas concluída em 1935. Pois bem , um a nova revelação fez que reabrissem a
Pastor da Igreja Cristã da Trindade
cham ada celestial. Assim , m uitos testem unhas de Jeová têm dem ons-
Professor da Universidade Mackenzie
trado interesse de ir para o céu. Era um desejo reprim ido de m uitos,
que agora, ao que tudo indica, vai se intensificar.
Outono de 2009
Este livro é um a exposição e refutação das principais doutrinas da
seita Testemunhas de Jeová. O novo título vai direto ao assunto. A palavra
“refu tação ” parece b elico sa , m as não deve ser receb ida n esse tom .
14 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s In t r o d u ç ã o 15

Quando amam os as verdades da Bíblia e a fé de uma vez por todas entre- realmente é, tendo como parâmetro as Escrituras e o conjunto da fé cristã.
gue ao santos (Judas 3), é natural que queiramos divulgar a verdade, e, para Adem ais, as próprias pu blicações da seita confirm arão as conclusões
isso, tam bém é preciso expor equívocos sobre a verdadeira fé, com o é o às quais cheguei quanto a essa questão tendo com o ponto de partida a
caso dos testem unhas de Jeová que negam as bases da fé cristã e dizem análise de sua profissão de fé. Para isso, apresento um “Credo dos teste-
não a praticam ente tudo o que o cristianism o vem pregando ao longo munhas de Jeová”, form ulado com base em trechos extraídos de suas
desses vinte séculos. Ao refutá-las, procuro m anter o m esm o espírito de publicações. Essa exposição é um a preparação para os dem ais capítu-
am or e respeito, apesar da firmeza com que defendo certas convicções los, nos quais os artigos de fé dos testem unhas de Jeová serão desm em -
cristãs. Eu não sou adepto do “mito da imparcialidade” ou da “neutra- brados, exam inados e refutados um a um. Procurarei d em onstrar à luz
lidade”. Fui testem unha de Jeová e hoje sou cristão. O que penso e escrevo da Bíblia e da razão que o credo dessa seita não é fiel às E scritu ras nem
é reflexo dessa vivência anterior e da m inha atual e m elhor condição, pela ao cristianism o, apesar de usarem hoje o adjetivo “cristãs” em um de
graça de Deus. seus nom es ju rídico s: “A ssociação das Testem unhas Cristãs de Jeová”.
Faz tempo que recebi este conselho em tom irônico de um testem u- Os testem unhas de Jeová consideram -se a única religião verdadeira, o
nha de Jeová: “Sugiro que ajude os evangélicos a firm ar cada vez m ais a fé único povo que serve ao Soberano universal, Jeová. Contudo, sua história
nas próprias doutrinas. Não basta refutar a religião alheia para arreba- está repleta de contradições e incoerências que desm entem sua alegação
nhar fiéis; deve-se cultivar a crença entre as ovelhas já convertidas para de ser o único povo de Deus, sobretudo sua incansável m arcação e re-
que perm aneçam no aprisco”. Na verdade, m inha principal motivação ao m arcação de datas para o início do reinado m ilenar de Cristo. Além do
escrever este livro é realmente auxiliar m eus irm ãos na fé em Jesus a co- m ais, a seita se considera a restauração do cristianism o primitivo, par-
nhecer m elhor as doutrinas centrais do cristianism o; é uma singela con- tindo do ponto de que este apostatou, desviando-se da fé dos apóstolos.
tribuição de quem um dia perseguiu com sofism as a verdadeira fé. Assim, procurarem os dem onstrar no capítulo 2, “Em busca da religião
Espero que este livro ajude meus irm ãos no Senhor a responder com verdadeira”, o testem unho das Escrituras sobre a Igreja, com ênfase em
convicção, à luz da Bíblia e da razão, a qualquer testem unha de Jeová que sua indestrutibilidade e ininterrupção no decorrer dos séculos, a despeito
lhes indagar a razão de sua fé nas doutrinas da Trindade, divindade de de tantos problem as de diversas ordens pelos quais ela passou.
Jesus e sua igualdade com o Pai, pessoalidade e divindade do Espírito No capítulo 3, “D eturpando a Palavra de Deus”, o leitor verá como os
Santo, entre outros artigos de fé igualm ente im portantes. À medida que testem unhas de Jeová são hábeis em distorcer a Bíblia, a ponto de fabri-
refuto o discurso dos testem unhas de Jeová, apresento as principais dou- car sua própria versão das Escritu ras, a Tradução do Novo Mundo, consi-
trinas da ortodoxia cristã, reafirmando com isso a verdadeira fé. Gasto derada por eles a ú nica isenta de filosofias m undanas e sectarism o.
mais tempo expondo as doutrinas do cristianism o que expondo o pensa- Veremos que a coisa não é bem assim . Muitas passagens da Bíblia foram
m ento dos testem unhas de Jeová. realmente adulteradas para se conform ar ao corpo doutrinário da seita,
Inicio este livro respondendo à pergunta: O grupo Testemunhas de como é o caso clássico de João 1.1, que afirm a ser Jesus “um deus”. Vere-
Jeová é um a seita? A palavra “seita” parece muito forte e ofensiva. Eu a mos este e outros textos adulterados, seguidos de um discurso refutató-
usei muito ao me referir aos testemunhas de Jeová como grupo. Por quê? rio que dem onstra a inconsistência dessa versão nada convencional.
O que é um a seita? Explicarei isso no capítulo 1. E o leitor verá que não Quando se pensa que já se ouviu de tudo sobre Deus, o leitor talvez se
é um a questão de ofensa, m as de retratar e descrever o que um grupo espante ao saber que os testem unhas de Jeová não poupam nem o Pai
16 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s I n t r o d u ç Ao 17

celestial de suas distorções teológicas. Não deixe de ler o capítulo 4, “Des- bebem do vinho na santa ceia e que são filhos de Jeová; a casta inferior, as

nudando Jeová de seus atributos”. Por incrível que pareça, eles não creem “outras ovelhas” que viverão na terra, que, na santa ceia, só olha o pão e o
que Deus possa estar em m ais de um lugar ao m esm o tem po; ou seja, vinho passar, m as não pode com er e beber; seus m em bros têm de se con-

negam -lhe a onipresença. Jeová está confinado no céu, limitado ao seu tentar em ser “am igos” e “netos” de Jeová, pois ele será seu “Avô Celestial”.
corpo espiritual. Como se não bastasse, tam bém lhe negam a onisciência, Um absurdo! Seguiremos o cam inho tortuoso trilhado pelos testemunhas

afirmando que o saber de Deus é seletivo. Vamos demonstrar à luz da Bíblia de Jeová para tentar fundam entar essas coisas estranhas à fé cristã, e ten-

a falsidade dessas informações estranhas e descabidas sobre Deus. tarem os na medida do possível colocá-las nos trilhos da ortodoxia.

O extenso capítulo 5 é um a defesa da divindade absoluta de Jesu s. Será tam bém interessante conhecer o discurso antropológico dos tes-
É terrível ler nas publicações dos testem unhas de Jeová que Jesus é “um temunhas de Jeová. Eles negam que tem os uma alm a e que esta sobreviva
deus assim com o Satanás é cham ado de deus”. Jesus não m erece essa à m orte do corpo; negam tam bém a existência de um local ou estado de
com paração. É de lam entar que os testem unhas de Jeová não adm itam tormento eterno; o “inferno” não passa da “sepultura comum da hum ani-
que a divindade de Jesus é a m esm a do Pai. O título do capítulo, “Outro dade”. Nesse cam po, os testemunhas de Jeová costum am intim idar cris-
Jesus Cristo”, é para confirm ar que o Jesus crido pelos testem unhas de tãos com perguntas do tipo: “Seria justo atorm entar alguém eternamente
Jeová não se parece com o Jesus da Bíblia e da fé cristã: de Criador, ele porque fez algum mal na terra por uns poucos anos ? Onde está a justiça
vira criatura; de Senhor, vira um “anjo”, o arcanjo M iguel; em vez de divina?”. M as não se engane: eles são incoerentes com essa linha de argu-
m orrer num a cruz, ele foi pregado num a “estaca de tortura”; m orreu, m entação aparentemente carregada de senso de ju stiça. No capítulo 8,
m as não ressuscitou corpoream ente, e sim em “espírito”, e, para co n- “Aniquilando a alm a e apagando as cham as do inferno”, analisarem os a
vencer os discípulos de que ressuscitou, foi trocando de corpo com o constituição hum ana à luz da Bíblia e nos defrontarem os com um Deus
alguém troca de roupa; chegou m esm o a usar um corpo com ferim en- de am or e tam bém de justiça.
tos para convencer Tomé de que era ele m esm o. Além disso, ele já veio Para concluir, há dois apêndices im portantes. Na prim eira edição, ha-
em 1914, m as só testem unhas de Jeová puderam vê-lo com os “olhos da via cinco. Na verdade, os demais foram enxertados no Apêndice l , “Tira-
fé” ou do “entendim ento”. Trata-se realm ente de um Jesus com p leta- -dúvidas”. Nessa parte, respondo a várias perguntas sobre os testemunhas
m ente estranho e desconhecido pelos apóstolos e pela Igreja de Cristo. de Jeová. É um a espécie de “Guia dos curiosos”. Onde quer que eu fosse,
No capítulo 6, “Despersonalizando o Espírito Santo”, veremos que os essas perguntas eram feitas: “Por que os testem unhas de Jeová não oram
testem unhas de Jeová tratam o Espírito Santo com o uma “coisa”, “algo”, quando são convidados a orar?”, “Por que proibem transfusões de san-
não “alguém”. Para com eçar, grafam “espírito santo”, com letras m inús- gue?”, “Por que não com em oram o Natal?”, “Como alguém sabe que é dos
culas, pois para a seita ele não é um ser pessoal, m as a “força ativa” de 144 mil?” etc. Ah, a pergunta m ais disputada: “Por que você saiu da seita
Jeová; ele é o que Jeová não pode ser: onipresente. Veremos à luz das E s- Testemunhas de Jeová?”. Esta é a últim a pergunta a que respondo. Conto
crituras que o Espírito Santo é Deus com o Pai e o Filho. m inha trajetória na seita e com o o Senhor me livrou desse cativeiro m en-
Se você achava que a divisão de castas era prerrogativa do hinduísmo, tal e espiritual, como você m esm o poderá constatar.
verá que entre os testem unhas de Jeová ela é menor, m as existe. No capí- O último apêndice, “Os credos do cristianismo”, traz as principais con-
tulo 7, “As castas de Jeová: os 144 m il e as ‘outras ovelhas’ ”, você conhece- fissões de fé da Igreja de Cristo: os credos apostólico, niceno-constantinopo-
rá a casta dos “ungidos”, os que vão para o céu, que com em do pão e litano, atanasiano e o calcedônio. Poucos cristãos entre os evangélicos
18 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s

aprenderam a valorizar esses docum entos tão im portantes para a vida


da Igreja. Eles são excelentes resumos da fé evangélica, que devem ser
conhecidos, pois ensinam , de form a didática, a conhecer e a guardar com
m ais facilidade o conteúdo da fé.
1
É meu desejo que este livro seja um instrum ento para seu crescim en-
to espiritual; ficarei feliz de poder contribuir, por m enor que seja m inha Os testemunhas de Jeová
colaboração, para seu desenvolvimento na fé de nosso Senhor e Salvador
Jesus Cristo. são uma seita?
Este livro foi escrito, acim a de tudo, para louvar a Santíssim a Trinda-
de: Pai, Filho e Espírito Santo. Em seu amor, sua graça e m isericórdia,
libertou-m e de um a seita que por muito tempo m e privou da esperança
de poder contemplar meu Deus face a face e m e levou a dizer coisas terrí-
veis contra a verdadeira fé. Apesar disso, o Deus trino m e concedeu graça
e m isericórdia. A ele sejam a honra e a glória pelos séculos dos séculos. Os testem unhas de Jeová vivem se defendendo da acu sação de que
são um a “seita”. Trata-se de um a palavra de variada carga sem ântica,
geralm ente aplicada de form a pejorativa. 0 livro Raciocínios à base das
Escrituras quer nos convencer de que os testem unhas de Jeová não for-
m am um a seita:

Há os que definem seita como um grupo que se desagregou de uma


religião estabelecida. Outros aplicam o termo a um grupo que segue deter-
minado líder ou mestre humano. [...] As Testemunhas de Jeová não são
uma ramificação de alguma igreja, mas entre elas há pessoas procedentes
de todas as rodas da vida e de muitas formações religiosas. Não conside-
ram nenhum humano como seu líder, mas unicamente Jesus Cristo.1

Vamos analisar prim eiram ente a defesa dos testem unhas de Jeová.
Dentre as várias acepções de “seita”, apenas duas foram apresentadas e
negadas em relação ao grupo. Em prim eiro lugar, afirm am que “não são
uma ram ificação de alguma igreja”. Essa noção de “ram ificação” pode,
sim , ser aplicada aos testem unhas de Jeová. 0 apóstolo João m enciona

1 P. 386.
20 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s O s TESTEMUNHAS DE JEOVÁ SÃO UMA SEITA? 21

aqueles que “saíram do nosso meio, mas na realidade não eram dos nos- Mas, Jeová Deus proveu também sua organização visível, seu “es-
sos” (1 João 2.19). Essa saída pressupõe uma divisão ou ramificação. Tendo cravo fiel e discreto”, composto dos ungidos com o espírito, para ajudar
isso em vista, é bom lem brar que o fundador dos testem unhas de Jeová, os cristãos em todas as nações a entender e a aplicar corretamente a
Charles Taze Russell, foi da Igreja presbiteriana e da congregacional; o Bíblia na sua vida. A menos que estejamos em contato com este canal
segundo líder, Rutherford, foi da Igreja batista; o terceiro, Knorr, foi m em - de comunicação usado por Deus, não avançaremos na estrada da vida,
bro da Igreja reformada; o quarto, Franz, da Igreja presbiteriana; o quin- não importa quanto leiamos a Bíblia.3
to, Henschel, já foi criado na seita; e o atual presidente da Watchtower (a
entidade jurídica m undial), Don Adams, foi m em bro da Igreja episcopal. Ora, se não seguem nenhum hum ano com o líder, com o explicar essas
Ora, saíram do nosso meio, e o que é m ais grave: são apóstatas, pois repu- citações? 0 grau de dependência é bem visível: “A m enos que estejam os
diaram a verdadeira fé, que inclui a crença na doutrina trinitária, na di- em contato com este canal de com unicação, não avançaremos na estrada
vindade de Jesus e do Espírito Santo, entre outros pontos capitais da fé da vida, não im porta quanto leiam os a Bíblia”. Quando a vida de alguém
cristã. Seu ataque sistem ático ao cristianism o, do qual o grupo se desgar- entra em jogo e quem dá as cartas é o Corpo Governante (e até m esm o
rou, não deixa dúvida de que nessa prim eira acepção os testem unhas de acim a da Bíblia), a declaração de ser um a seita no sentido de seguir um
Jeová são realmente um a “seita”. Mas a ram ificação é um aspecto secun- líder ou líderes hum anos é justificável.
dário. 0 que conta realm ente é que o grupo desgarrado apostatou e se Não há dúvida de que tam bém nessa segunda acepção os testem u-
voltou contra a verdadeira fé, com o pode ser observado no capítulo 2. nhas de Jeová constituem uma seita, e uma seita potencialm ente nociva
E m segundo lugar, os testem unhas de Jeová afirm am que “não co n - para os adeptos, tendo em vista que muitos m orreram por recusar tran s-
sid eram n en hu m hu m an o co m o seu líd er, m as u n ica m en te Jesu s fusão de sangue; e no passado a liderança já proibiu vacinas (1931 -1952)
Cristo”. Quanto a isso, o grupo realm ente não tem com o se esconder. e transplantes de órgãos (19 68 -19 80 ). Se seguissem somente Jesus, não
E les são go vern ad o s m u n d ialm e n te p o r um g ru p o de q u a se dez poriam a própria vida e a de seus entes queridos em risco.
hom en s, conh ecido s com o “Corpo Governante”, que é p orta-voz do Em bora nas igrejas haja “pastores e ovelhas”, não existe essa condição
“escravo fiel e discreto ” (os 144 m il) e o “canal de co m u nicação de de dependência que inclui a própria vida da ovelha em relação ao pastor.
Jeová”. O capítulo 3, em que tratam o s desse Corpo Governante, traz Se isso ocorrer, será um caso isolado e fora do padrão das comunidades
citaçõ es que desm entem essa defesa dos testem unhas de Jeová. Apenas evangélicas sadias. No caso da seita Testemunhas de Jeová, essa liderança
para citar dois exem plos: é mundial, com governo central e centralizador, que com anda um con-
tingente de mais de 7 m ilhões de pessoas. E o discurso não deixa m ar-
Não é provável que alguém, por apenas ler a Bíblia, sem se apro- gem para dúvida no tocante ao dom ínio do Corpo Governante em relação
veitar das ajudas divinamente providas, consiga ver a luz. É por isso aos mem bros: “Para apegar-se à chefia de Cristo, é portanto necessário
que Jeová Deus proveu “o escravo fiel e discreto”, predito em Mateus obedecer à organização que ele dirige pessoalm ente. Fazer o que a organi-
24.45-47. Atualmente, este escravo é representado pelo Corpo Gover- zação diz é fazer o que ele diz. Resistir à organização é resistir a ele”.4
nante das Testemunhas de Jeová.2

3 A Sentinela, P/8/1982, p. 27.


2A Sentinela, l2/5 /1992, p. 31. 4 A Sentinela, 12/1 1/1959, p. 653.
22 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s
O s TESTEMUNHAS DE JEOVÁ SÃO UMA SEITA? 23

No âm bito do cristian ism o, há outro sentido para o term o “seita”, e


não torna o grupo uma seita. 0 cristianism o com a doutrina da Trindade
está asso ciado à dim ensão d outrinária: um grupo que não pode ser
e tudo o qu e dela deco rre exclu i n atu ralm en te as o u tras religiões,
considerado genuinam ente cristão, pois sua profissão de fé, seu credo
so bretud o no qu e diz resp eito à salvação p ela fé em C risto. Isso é
ou seu corpo de doutrinas afastou-se, e m uito, da ortodoxia, isto é, da
exclusivismo; e não está errado. Quando eu digo “Só Jesus salva”, é um
verdadeira doutrina ensinada nas E scritu ras. Tal grupo não poderia ser
discurso exclusivista, pois reafirm o que só Cristo salva e excluo qualquer
considerado parte da Igreja de Cristo, m as um a facção dela, recebendo
outro meio de salvação.
anatem atização do cristianism o por ensinar “um evangelho diferente”
Então, o foco deve ser mudado: os testem unhas de Jeová não são uma
(Gálatas 1.8), “um Jesus que não é aquele que pregam os” (2Coríntios
seita porque dizem que são os únicos que têm a verdade (discurso exclu-
11.4). O que caracteriza esse grupo é seu repúdio das doutrinas essen -
sivista), mas porque a verdade que eles afirmam possuir com exclusividade
ciais da fé cristã. É essa dim ensão doutrinária que vai determ inar se
não é verdade coistssima nenhuma. Ora, se alguém m e fala que existe um
estam os diante de um a seita ou de um a igreja genuína. Isso tam bém nos
grupo que possui “a verdade”, o bom senso diz que eu não devo recusar o
conduz a outro ponto: a seita é promotora de “heresias” (doutrinas falsas
grupo pelo discurso exclusivista. 0 que eu preciso é analisar se a “verda-
e contrárias à ortodoxia). Assim, se algum grupo insiste em negar ou dis-
de” que o grupo afirm a ter é realmente “a verdade”, se essa verdade está
torcer as principais doutrinas do cristianism o, ele é, de fato, uma seita. E
realmente de acordo com a Palavra de Deus. Se não estiver, o grupo deve
se alguém que se diga cristão advoga e ensina “um evangelho diferente”
ser rejeitado como “anátem a” (Gálatas 1.8).
ou “um Jesus que não é aquele que pregamos”, esse é um herege.
Assim , para saber se os testem unhas de Jeová são um a seita ou não
Além do doutrinário, existem outros parâm etros para definir um a sei-
no sentido teológico do term o, convém an alisar as seguintes questões:
ta: o sociológico e o moral. Esse é o método empregado por G e i s l er e R ho -
Qual é a profissão de fé do grupo? 0 grupo prega e ensina o que o cris-
des (2 0 0 0 ,p. 10-17). Na dim ensão sociológica, seita é um grupo que pratica
tianism o vem ensinando nesses qu ase dois m il anos de história? Os
o autoritarism o, o exclusivismo, o dogm atism o etc. No âm bito da moral,
testem unhas de Jeová não passam nesse teste. Seu corpo doutrinário
predomina o legalismo, a intolerância para com outras pessoas ou reli-
revela um credo cristão às avessas. A fim de facilitar nossa análise, veja
giões etc.
a segu ir 0 credo dos testemunhas de Jeová, form ulado com base em suas
Em bora eu reconheça o valor dessas outras dim ensões, acredito que
pu blicações:
as características sociológicas e m orais não são cam inhos adequados e
confiáveis para determ inar se um grupo é seita ou verdadeiramente igreja,
1. Cr emo s em Deus Pai onipotente, cu jo nom e é Jeová; ele não é oni-
pois tais características tam bém se encontram no âm bito do cristianis-
presente (pois tem um corpo de form a específica, que requer um
mo. Infelizmente, há igrejas que praticam o exclusivismo, o autoritarismo,
lugar para m orar) nem onisciente (pode saber todas as coisas, mas
o legalismo, a intolerância, o dogm atism o e muito m ais. Não deveriam,
não sabe). Cremos que a Trindade é um a invenção de Satanás.
m as praticam . De modo que os aspectos sociológicos e m orais não são
2. Cr emo s em Jesus Cristo, seu Único Filho, nosso Senhor. Ele é o
critérios definitivos para identificar uma seita. O ponto nevrálgico recai
primogênito de toda a criação, porque foi o primeiro a ser criado por
so b re os a sp ec to s d o u trin á rio s (c f. M ateu s 2 3 .1 - 3 ) . A penas p ara
Jeová; portanto, não é eterno, de eternidade a eternidade, da mesma
forma que o Pai; ele é o unigénito, pois foi o único criado diretamente
pelas mãos de Jeová; ele é um deus, assim como Satanás é um deus;
24 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s O s TESTEMUNHAS DE JEOVÁ SÃO UMA SEITA? 25

ele é “Deus poderoso”, m as não todo-poderoso; ele é, desde que 9. Cr emo s na vida eterna para os fiéis adoradores de Jeová. Há uma só

foi criado, inferior ao Pai; ele é o arcanjo Miguel, que foi transferido salvação, com duas esperanças: uma celestial e outra terrena. Para

para o ventre de Maria e se fez homem; padeceu sob Pôncio Pilatos, o céu irão 144 m il pessoas, que, assim com o Jesus, terão o poder

foi pregado num a estaca de tortura (não num a cru z); desceu à de purificar do pecado e da im perfeição as pessoas que viverão

sepultura, onde esteve inconsciente, em estado de in existência, e para sempre no paraíso na terra.

ao terceiro dia ressuscitou espiritualm ente (não fisicam ente); subiu 10. Cr emo s que a Bíblia é a Palavra de Deus, conquanto interpretada

ao céu, está assentado à direita de Jeová e já voltou invisivelm ente pelo “escravo fiel e discreto” e seu Corpo Governante; se não esti-

em 1 91 4, esp eran d o o m o m ento p ara co m eça r a b a ta lh a de vermos em contato com esse canal de com unicação usado por Jeová

Arm agedom . para nos ensinar a entender a Bíblia, não avançarem os na estrada

3. Cr emo s que o espírito santo é a força ativa de Jeová; uma força im - da vida, não im porta quanto a leiam os. Cremos tam bém que a Tra-

pessoal que está em todos os lugares ao m esm o tempo, razão pela dução do Novo Mundo, produzida por fiéis servos de Jeová, é a úni-
qual não pode ser um a pessoa. ca confiável; as demais, usadas pela cristandade, estão repletas de

4. Cr emo s que o ser hum ano é um a alm a; não possui alm a im ortal sectarism o e filosofias m undanas.

que sobreviva à m orte do corpo; ao morrer, o ser hum ano entra


em estado de inexistência; não existe consciência após a m orte. Os Para quem conhece os credos do cristianism o — o apostólico, o nice-

que se recusarem a servir a Jeová serão destruídos eternam ente, no-constantinopolitano, o atanasiano e o calcedônio (v. Apêndice 2) — ,
pois não existe o tão propalado torm ento eterno. fica evidente que os testem unhas de Jeová d istanciaram -se, e m uito, da

5. Cr emo s que a organização de Jeová é a ú nica religião verdadeira; verdadeira religião de Cristo. Algumas de suas crenças são estranhas à

a restauração do cristian ism o prim itivo, que havia apostatado fé cristã; outras já são bem conhecidas, pois não passam da ressurrei-

da fé, desviando-se para doutrinas dem oníacas com o a da Trin- ção de antigas heresias. A conclusão não poderia ser outra: os testem u-

dade, a da im ortalidade da alm a e a do tormento eterno; Jeová res- nhas de Jeová constituem um a seita, um grupo pseudocristão. Usando

taurou sua congregação na década de 1870 por meio de Charles a linguagem jo a n in a, “Eles saíram do nosso m eio, m as na realidade não

Taze Russell. eram dos nossos” ( ljo ã o 2 .1 9 ).

6. Cr emo s na comunhão apenas entre os adoradores de Jeová, que obe- Nos capítulos seguintes, vam os analisar esse credo da seita de m odo
decem à sua organização; por isso, não nos juntam os à Babilônia, crítico (sem seguir n ecessariam ente a ordem anteriorm ente apresen-

a grande, o im pério m undial da religião falsa, que tem a cristan- tada), com parando suas afirm açõ es com as E scritu ras.

dade (os cristãos nom inais) como seu principal representante.


7. Cr emo s que Jesus m orreu para abrir-nos o cam inho para a vida
eterna; agora, tudo dependerá apenas de cada adorador de Jeová,
que precisará trabalhar a fim de obter a salvação.
8. Cr emo s na ressurreição espiritual para quem é da classe dos 144
mil e na ressurreição física em outro corpo para os que viverão
para sempre na terra.
28 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

ensinos com o a predestinação e o torm ento eterno no inferno de fogo”.1

2 Essas crenças faziam parte do corpo doutrinário da Igreja p resbiteria-


na, em que Russell fora criado. Ele então decidiu frequ entar a Igreja
congregacional, onde ficou pouquíssim o tem po. Desiludido com a reli-

Em busca da gião, to rn ou -se cético. Aos 17 anos, porém , um acontecim ento o livra-
ria do ceticism o. Ele conheceu a Igreja cristã do Advento, grupo oriundo
do m ovim ento m illerita.2 Após ouvir um discu rso de Jonas Wendell,
religião verdadeira líder dessa igreja, Russell afirm ou que isso foi o su ficiente para que a
sua fé na inspiração divina da Bíblia fosse restabelecida. Sua brevíssi-
m a carreira de cético chegara ao fim .
Russell, porém , continuava insatisfeito. Por fim , ele chegou à co n -
clusão de que nenhum a igreja representava o verdadeiro cristianism o.
D ecidido, então, a restaurar a genuína religião cristã, R ussell arreg i-
Cremos que a organização de Jeová é a única religião m entou em 1870, aos 18 anos, um grupo de seguidores para estudar a
verdadeira, a restauração do cristianismo primitivo, que havia Bíblia, partindo da prem issa de que todas as igrejas de seu tem po eram
apostatado da fé, desviando-se para doutrinas demoníacas como falsas, que haviam se corrom pido doutrinariam ente e não ensinavam a
a da Trindade, a da imortalidade da alma e a do tormento eterno. verdade bíblica. Depois da m orte do últim o apóstolo e, sobretudo, na
Jeová restaurou a verdade e sua congregação de fiéis seguidores era do im perador Constantino I, o Grande (2 7 2 [? ]-3 3 7 ), o cristianism o
na década de 1870 por meio de Charles Taze Russell. teria cedido à apostasia, desviando-se da fé e corrom pendo-se com dou-
trin as pagãs, com o a im ortalidade da alm a, a existência do inferno com o
lugar de torm ento eterno e a Trindade, entre outras.
A HISTÓRIA DOS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ

1 O homem em busca de Deus, p. 350.


Charles Taze Russell 2 O movimento millerita deriva seu nome de William Miller (1782-1849), fazendei-
A seita religiosa “Testemunhas de Jeová” foi fundada pelo jovem am e- ro nova-iorquino e membro de uma igreja batista, que passou a difundir o retor-
no físico de Jesus Cristo à terra para 1843. Frustrada a primeira predição, remarcou
ricano Charles Taze Russell. Ele nasceu em Allegheny (agora parte de
a data para 1844. Essa expectativa da iminente volta de Cristo fez que muitos
Pittsburgh), na Pensilvânia, EUA, em 16 de fevereiro de 1852. Seus pais, aderissem à pregação de Miller. Mesmo após sucessivos fracassos proféticos, mui-
Joseph L. Russell e Ann E. B. Russell, eram presbiterianos. A sra. Russell tos grupos mantiveram-se fiéis aos cálculos milleritas, fazendo apenas ligeiras
morreu quando Charles tinha 9 anos. Com 15 anos, ele dirigia com o pai modificações na aplicação profética desses cálculos. Além da Igreja cristã do Ad-
vento, muitos outros grupos saíram do movimento millerita, como a Associação
um a cadeia de lojas de roupas m asculinas, com diversas filiais nos EUA.
Geral das Igrejas Adventistas do Sétimo Dia, formada em 1866. Dito isso, deve-se
Apesar da prosperidade financeira, a vida espiritual do jovem Rus- corrigir a falsa informação de Russell ter sido adventista do sétimo dia. O máxi-
sell era cercada por dúvidas e inq uietações existenciais. Duas doutri- mo que pode ser dito é que foi influenciado pelo movimento millerita e pela Igre-
nas em particu lar o incom odavam : “ [...] ele se sentia confuso com os ja cristã do Advento.
Em b u s c a d a r e lig iã o v e r d a d e ir a 29 30 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

Foi então que surgiu, desse grupo de estudo, a seita “russellita”, que só rom ano, saturado da filosofia e do pensam ento gregos. Esse declínio da

foi cham ada de “Testemunhas de Jeová” em 1931, quinze anos após a morte verdadeira fé teria começado com a m orte de João, o últim o dos 12 após-

de Russell, com veremos mais adiante. Seu surgimento no cenário mundial tolos, culm inando com a decisão de Constantino I, o Grande, em tornar o

m arcaria a restauração do verdadeiro cristianismo. Esse é o discurso apre- cristianism o a religião oficial do Im pério Romano em 321 d.C.

sentado no livro Raciocínios à base das Escrituras. Ao tratar do tempo de A apostasia teria posto fim ao cristian ism o, surgindo em seu lugar a

existência dessa seita, o livro declara: “Suas crenças e seus métodos não são “cristandade”, ou seja, “o âm bito de atividade sectária dom inado por

novos, são antes uma restauração do cristianism o primitivo”.3 religiões que afirm am ser cristãs”, ao passo que o cristian ism o seria a

Outra publicação que reafirm a esse discurso é o livro O homem em “form a original de adoração e acesso a Deus ensinada por Jesus Cristo”.
Essa apostasia foi tão séria que o cam inho a Deus foi com pletam ente
busca de Deus.4 Os diversos rum os percorridos pela hum anidade em
bloqueado (cap. 11). Nem m esm o o ím peto da R eform a Protestante foi
busca de Deus são descritos em seus 16 capítulos. M ostra-se a enorm e
capaz de devolver ao cristianism o sua verdadeira identidade (cap. 13,
diversidade de m anifestações religiosas que se veem ao redor do mundo,
parágrafo 43):
como hinduísm o, budismo, taoísm o, confucionism o, xintoísm o, judaísm o
etc. Ao tratar do cristianism o, no capítulo 10, bu sca-se m ostrar que se
Praticamente todas as igrejas protestantes endossam os mesmos
trata de um a religião divinam ente instituída. Todavia, o cristianism o
credos — os credos de Niceia, Atanasiano e dos Apóstolos — e esses
instituído por Jesus não duraria muito tempo por duas razões: perseguição
professam algumas das mesmíssimas doutrinas que o catolicismo tem
e apostasia. Essa última foi o m aior mal que acometeu o cristianism o, tendo
ensinado há séculos, como a Trindade, a imortalidade da alma e o
em vista as seguintes palavras proféticas do apóstolo Pedro:
inferno de fogo. Tais ensinos antibíblicos deram ao povo um quadro
distorcido a respeito de Deus e seu propósito. Em vez de ajudar as
No passado surgiram falsos profetas no meio do povo, como tam-
pessoas na sua busca do Deus verdadeiro, as numerosas seitas e de-
bém surgirão entre vocês falsos mestres. Estes introduzirão secretamente
nominações que surgiram em resultado do livre espírito da Reforma
heresias destruidoras, chegando a negar o Soberano que os resgatou,
Protestante apenas as dirigiram a muitas diferentes direções. De fato,
trazendo sobre si mesmos repentina destruição. Muitos seguirão os ca-
a diversidade e a confusão levaram muitos a questionar a própria exis-
minhos vergonhosos desses homens, e, por causa deles, será difamado
tência de Deus. O resultado? No século 19 surgiu uma crescente onda
o caminho da verdade. Em sua cobiça, tais mestres os explorarão com
de ateísmo e agnosticismo.
histórias que inventaram. Há muito a sua condenação paira sobre eles,
e a sua destruição não tarda (2Pedro 2.1-3).
Apesar desse cenário espiritualm ente caótico, nem tudo estaria per-
dido, pois Jeová achou por bem restaurar o verdadeiro cristianism o nes-
Assim, em razão da apostasia, ou seja, do desvio da verdadeira fé, o
se turbilhão de crenças religiosas. No capítulo 15, intitulado “Retorno ao
cristianism o transigiu com as tendências religiosas correntes do mundo
Deus verdadeiro”, no subtítulo“Um jovem em busca de Deus”, é relatada
a saga do jovem Charles Taze Russell e de como Jeová o havia escolhido
3 1989, p. 388.
para fazer que as pessoas retornassem às verdades bíblicas que haviam
4 1990, p. 261 -283; 344-354. Cf. tb. Testemunhas de Jeová: proclamadores do reino
de Deus, 1993, cap. 5. sido ofuscadas pela apostasia.
Em b u sca d a r e lig iã o v e r d a d e ira 31 32 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

A continuação dessa saga revela quanto os testem unhas de Jeová es- rom peu oficialm ente com Barbour, retirou seu apoio ao Herald e lan-

tão enganados em confundir seu fundador com o restaurador do verda- çou em julho daquele ano a revista Zion’s Watch Tower an d Herald o f

deiro cristianism o. Christ 5 Presence [Torre de Vigia de Sião e Arauto da Presença de C risto],
Na sua m issão de “restaurador da verdade”, Russell escreveu em 1873 co nhecid a h o je com o A Sentinela — Anunciando o Reino de Jeová.

o folheto 0 objetivo e a maneira da volta do Senhor,5 no qual expunha que O nom e original da revista ainda apontava para a crença da “presença

a volta de Jesus seria invisível, que ninguém o veria, em bora a Bíblia dis- invisível” de Jesus desde 1874, defendida por ele e Barbour. Russell v i-

sesse o contrário (cf. Apocalipse 1.7). Mas ele descobriu em 1876 que não via em razão dessa expectativa do retorno de Cristo em 1914 e do ju lg a-

era o único a acreditar na “vinda invisível” de Jesus. Nelson H. Barbour, m ento final.6

tam bém egresso do movim ento m illerita, defendia o m esm o ponto de Em 1881, Russell organizou a Watch Tower Tract Society, m as só foi

vista no periódico The Herald o f the Morning [ 0 arauto da m anhã]. Os em 1884 que esta adquiriu caráter jurídico com o nom e de Zion’s Watch

dois se uniram em prol dessa causa e publicaram em 1877 o livro Three Tower Tract Society, conhecida hoje com o Watch Tower Bible and Tract

World, and the Harvest ofThis World [Três mundos e a colheita deste m un- Society o f Pennsylvania [Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados

do], no qual defendiam que Jesus “voltou” em 1874 (deram a esse aconte- da Pensilvânia].

cim ento o nom e de “presença invisível”) e que, quarenta anos depois, ou Charles Russell agora tinha em m ãos um a entidade ju ríd ica devida-

seja, em 1914, as instituições políticas e religiosas seriam destruídas, os m ente constituída e um poderoso canal de com unicação. Agora, resta-
judeus seriam repatriados e Jeová e Jesus im plantariam a era do julga- va continuar a divulgar sua m ensagem até que 1914 chegasse e com ele

mento final ou o Milênio. o predito julgam ento final. Contudo, 1914 chegou e passou. A profecia
Essa doutrina afetou tam bém a vida profissional de Russell. Ainda não se cum priu. Em vez de reconhecer seu erro, R ussell rem arcou a data
em 1877, percebendo que era preciso dedicar tempo integral a essa m en- para 1918 (S il v a , v. 1 ,1 9 9 5 , p. 3 2 6 -3 2 7 ), m as não teve tem po de presen-
sagem, pois o fim estava se aproximando, Russell decidiu vender sua par- ciar outro fracasso, pois m orreu em 31 de outubro de 1916, em Pampa,

te no próspero negócio de seu pai. Por causa dessa dedicação exclusiva, no Texas, aos 64 anos.

ele passou a ser conhecido com o “pastor” Russell. Apesar desses fatos, os testem unhas de Jeová ainda louvam Russell

A união dos dois pregoeiros da “presença invisível” de Jesus entrou em com o o restaurador do cristianism o primitivo:

declínio em 1878. Russell acreditava que Jesus morrera para resgatar da


morte e da imperfeição tanto Adão como sua descendência. Barbour, em Este histórico [da vida de Russell] é de interesse especial para as

contrapartida, negava que Jesus tivesse morrido para que Adão tam bém Testemunhas de Jeová. Por quê? Porque o seu atual entendimento das

fosse salvo, e publicou esse ponto de vista no Herald o f the Morning. (É verdades bíblicas e as suas atividades remontam à década de 1870 e à

interessante que hoje os testem unhas de Jeová defendem a posição de obra de C. T. Russell e de seus associados, e de lá à Bíblia e ao cristia-

Barbour, e não de Russell!). Em resposta a isso, em m aio de 1879, Russell nismo primitivo.7

5 0 livro Prodamadores do reino de Deus, p. 718, afirma que Russell escreveu esse 6 Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976, p. 38s. Cf. tb. Testemunhas de Jeová:
folheto em 1877, embora o Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976, p. 38, prodamadores do reino de Deus, cap. 5 e 10.
tenha informado 1873. 7 Testemunhas de Jeová: prodamadores do reino de Deus, p. 42.
E m b u s c a d a r e l ig iã o v e r d a d e ir a 33 34 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s

Na verdade, esse histó rico de R ussell deveria levar os testem unhas Baseado nos argumentos até aqui apresentados, isto é, que a ordem
de Jeová a rever seu atual entendim ento acerca de suas doutrinas co n - velha das cousas, o velho mundo está se findando e dasaparecendo, e
trárias ao cristian ism o bíblico, pois segu ir Russell é seguir um falso que a nova ordem ou organização está se iniciando, e que 1925 será a
profeta, que não falou em nom e de Jeová (D euteronôm io 18 .2 0-2 2). O data marcada para ressurreição dos anciões dignos e fieis, e o principio
m esm o pode ser dito de seus sucessores, com o verem os a seguir. da reconstrucção, chega-se á conclusão razoavel de que milhões dos
que vivem agora na terra, ainda estarão vivos no anno de 1925.
Joseph Franklin Rutherford

Em janeiro de 1917, quase três meses depois da m orte de Charles Rus- 0 ano de 1925 veio e passou sem que os “príncipes” ressuscitassem ,
sell, uma assem bleia anual da Watch Tower elegeu o advogado Joseph e os “m ilhões” que então viviam e que jam a is m orreriam jazem no tú -
Franklin Rutherford com o seu novo presidente. mulo. M esm o sem o co rrer a ressurreição, Rutherford m andou co n s-
Rutherford nasceu em 8 de novembro de 1869, no condado de Morgan, tru ir em 1929, em San Diego, C alifórnia — du rante a grande crise
Missouri, EUA. Apesar de ter sido criado na Igreja batista, ele jam ais conse- m undial em razão da queda da bolsa de Nova York — , uma m ansão
guiu aceitar o ensino sobre o inferno com o lugar de torm ento eterno. cham ada Bete-Sarim, term o hebraico para “casa dos príncipes”. Ele v i-
Era um iovem promissor, reüutado com o hábil e intelieente. Aos 22 via na m ansão enquanto os “príncipes” não ressuscitavam .8

Por últim o, antes de sua m orte, em 1942, ele havia rem arcado o
Armagedom para 1941.9 Outro fracasso. ( 0 Arm agedom,para Rutherford,
era a guerra na qual Jeová dem onstraria seu poder contra as nações que
tentariam arru inar suas testem unhas; Russell, ao con trário , afirm ava
que se tratava de um a revolução social; a definição de Rutherford ainda
prevalece.) Rutherford, assim com o Russell, ingressou na galeria dos
falsos profetas.
Inicialm ente, os testem unhas de Jeová eram cham ados “russellitas”.
Com a ascensão de Rutherford, passaram tam bém a ser conhecidos como
“rutherforditas”. Sob o comando de Rutherford, os russellitas sofreram
diversas cisões; isso porque o novo presidente criou muita controvérsia
na organização, a começar pela afirmação de que Russell não poderia mais

8 R u th e rfo r d , Joseph. Salvação, p. 275-276. Embora se admita a construção de Bete-


-Sarim, a literatura dos testemunhas de Jeová afirma que ela servia de residência de
inverno para Rutherford em razão do fato de ele ter contraído pneumonia aguda e,
por ordem médica, ter se mudado para San Diego. Cf. Testemunhas de Jeová: pro-
damadores do reino de Deus, p. 76.
9 The Watchtower, 15/9/1941, p. 288.
Em b u s c a d a r e li g i ã o v e r d a d e ir a 35 36 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

ser considerado o “escravo fiel e d iscreto” — su po stam en te predito Na sua gestão, foi criada a revista The Golden Age [A Idade de Ouro],
por Jesus em M ateus 2 4 .4 5 -4 7 — , ju stam en te o que próprio Russell em 1919, conhecida hoje com o Despertai!. Foi dele a iniciativa de proibir a
afirm ava ser. (V. m ais detalhes sobre o “escravo fiel e discreto” no capí- com em oração de aniversários natalícios, do Natal, a participação no ser-
tulo 3.) Todavia, em 1927, onze anos após a m orte de Russell, Rutherford viço m ilitar e o uso de vacinas, em 1931, todos vistos como atos de rebel-
afirm ou que o “escravo fiel e discreto” não era um indivíduo, m as uma dia contra D eu s." Destacou-se tam bém por ensinar que Jesus Cristo não
classe, co ntrariand o aquilo em que todos criam até então. morrera num a cruz, mas num a“estaca de tortura” (v. o cap. 3 , Lucas 23.26).
Ao d esb an car Russell da p osição de “escravo fiel e discreto”, Ru- Foi sua ideia tam bém dividir, em 1935, os testem unhas de Jeová em dois
therford poderia daí em diante m udar inú m eros ensinam entos do fu n- grupos: os 144 mil ungidos, que irão para o céu, e a grande multidão, que
dador, bem co m o re afirm a r v árias m u dan ças d o u trin á ria s que ele viverá na terra (v. o cap. 7). Foi ele quem enviou os adeptos a trabalhar de
m esm o efetuara alguns anos antes. Por exem plo, em 1922, Rutherford casa em casa, intensificando a obra proselitista da seita. Ele tam bém cu -
fixou a data da volta “invisível” de Cristo para 1914, contrariando Rus- nhou o term o “salão do reino” (local de reunião). Rutherford foi bastante
sell, que apontara 1874. Rutherford tam bém passou a ensinar que os prolífico. Entre os livros que escreveu, destacam -se Criação (1927), Jeová
m em bros do grupo dos 144 m il que haviam m orrido (co m o os ap ósto- (1 93 4), Riquezas (19 36 ), Inimigos (1937), Religião (19 40), Filhos (194 1),
los e ou tros depois de C risto) ressu scitaram para a vida celestial em além de centenas de livretes.12
1918; Russell havia dito que foi em 1878. Mesmo depois de um período conturbado para reafirm ar seu poder e
Assim, os que ficaram a favor das antigas doutrinas de Russell per- dos fracassos de suas falsas profecias, Rutherford contribuiu muito para o
m aneceram com o nom e de “ru ssellitas”, e os que apoiaram o “ju iz” crescimento da seita, dando-lhe até mesmo o nome atual. Ele morreu em 8
Rutherford, “rutherforditas”. Em virtude desse cism a, Rutherford ado- de fevereiro de 1942, aos 72 anos, na mansão destinada aos “príncipes”.
tou, em 1931, o nom e “Testem unhas de Jeová”, distanciando -se de vez
dos ru ssellitas; m as afirm ou que a m udança se deu por m otivos b íb li- Nathan Homer Knorr
cos, recorrendo ao texto de Isaías 43 .10 , em que Jeová cham a a nação de
Com a m orte de Rutherford, Nathan Homer K norr assum iu a presi-
Israel de suas testem unhas. Ele sim plesm ente transferiu o texto bíblico
dência da Watch Tower. Ele nasceu em Bethlehem , Pensilvânia, EUA, em
para o seu grupo, com o se Jeová o tivesse escolhido de fato. E o que
23 de abril de 1905. Aos 16 anos, asso ciou-se a um a congregação dos
aconteceu com os russellitas? Eles ainda resistem ao tem po; contudo,
russellitas/rutherforditas. Em 1922, d issociou -se da Igreja reform ada,
seu núm ero é extrem am ente reduzido. Entre os vários grupos de ru s-
batizand o-se na seita no ano seguinte em 4 de julho, aos 18 anos.
sellitas, destaca-se a A ssociação dos Estudantes da B íblia Aurora, com
Até a era rutherfordita, os testem unhas de Jeová eram governados por
sede m undial em Nova Jersey, EUA. No Brasil, estão instalados na Re-
um a única pessoa. Após a morte de Rutherford, contudo, o poder de um
gião Sul, no estado do Paraná. Os “au roristas” fazem questão de frisar
que Rutherford fundou a seita “Testem unhas de Jeová”, e não o “pas-
11 The Golden Age, de 4/2/1931, p. 293, apud Esequias Soares da S il v a , op. cit., p. 377.
to r” R u ssell.10
Sobre as outras proibições, v. o Apêndice 1: “Tira-dúvidas”.
12 Esses livros de Joseph Franklin Rutherford e muitos outros, incluindo o Milhões que
10 V. a home page < http://www.dawnbible.com/pt/index.html>. Acesso em: 11/9/2009. agora vivem jamais morrerão, podem ser lidos e baixados na internet. Acesse o site
V. tb. < http://indicetj.com/aurora-pastorrussel.htm>. Acesso em: 11/9/2009. < http://www.bibliotecatj.org/downloads.php>.
Em b u sca d a re lig iã o v e r d a d e ira 37 38 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s

só hom em deu lugar, aos poucos, a um corpo diretivo, conhecido como Segunda: Eles acreditam que Jesus foi entronizado no céu em 1914;
“Corpo Governante”.13 As publicações da organização traziam o nom e do nesse m esm o ano, com eçaram os “últim os dias” deste mundo. E qu an-

escritor, no caso Russell e Rutherford. Mas, sob o com ando de Knorr, elas to tem po esses “últimos dias” durariam? 0 tempo exato de uma “geração”

passaram a ser assinadas pela própria sociedade jurídica. (M ateus 24 .36 ). E quanto tempo duraria essa “geração”? No m áxim o,

Knorr e seus associados preocuparam -se em aum entar em grande oitenta anos (Salm o s 9 0 .1 0). M as não b astaria som ar 1914 + 80, pois

escala a produção de literatura do grupo e o alcance da obra m issionária, essa “geração” não seria com posta pelos que nasceram em 1914, m as

criando em 1943 a Escola Bíblica de Gileade da Torre de Vigia (espécie de sim pelos que viram os acontecim entos daquele ano e poderiam d is-
cern i-los como o tempo do fim. Assim, a Despertai! de 22 de abril de 1969,
sem inário). No cam po da literatura, criou-se a Tradução do Novo Mundo
p. 13-14, fixou uma data para determ inar o início da geração de 1914:
(v. o cap. 3). Foram proibidas as transfusões de sangue, em 1945, e o uso
“Até se presum irm os que os jovens de 15 anos teriam suficiente percep-
de tabaco, em 1973. Em 1952, foi revogada a proibição das vacinas (im -
ção m ental para d iscernir a im portância do que aconteceu em 1914,
posta por Rutherford); m as em 1967 os transplantes de órgãos foram proi-
isso ainda faria com que os m ais jovens ‘desta geração’ tivessem quase
bidos, vistos com o canibalism o.14
70 anos atualm ente” . Ora, isso levaria ao ano 1900 aproxim adam ente.
Seguindo o m esm o curso de seus predecessores, Nathan Knorr tam -
Assim , som ando 70 ou 80 anos além , a “geração” que veria o fim deste
bém navegou e afundou nas águas das profecias. Dessa vez, o Armage-
sistem a de coisas e o início do M ilênio só poderia viver entre 1970 e
dom e o início do reinado m ilenar de Cristo foram agendados para 1975.
1980. Agora, era só esperar.
Por que essa data? Por duas razões.
Apesar das expectativas, 1975 veio e p assou; nada de Arm agedom
Primeira: Os testem unhas de Jeová ainda acreditam que cada dia da
nem do início do reino m ilenar de Cristo. Outro fiasco profético no cu r-
Criação de Gênesis teria durado 7.000 anos. Depois da criação de Adão e,
rículo da seita que pretende ser a restauração do cristian ism o p rim iti-
com isso, o fim do sexto “dia”, com eçou a contagem regressiva do sétimo
vo. Contudo, a trib u i-se esse fracasso não a K norr, m as a Frederick
dia, que tam bém teria a duração de 7.000 anos. A cronologia dos teste-
W illiam Franz, seu vice-presidente, reputado com o “em inente erudito
munhas de Jeová afirm a que Adão foi criado no ano 4026 A.E.C.15 Isso
bíblico ” da organização.17 (V. a explicação de Franz para esse m alogro
equivalia a dizer que a hum anidade com pletaria 6.000 anos de existência profético no subtítulo seguinte.)
em 1975; faltaria então m ais 1.000 anos para o fim do sétim o dia. Esses Por falar em fracasso profético, Nathan Knorr, em 1950, num congres-
1.000 anos restantes seriam o M ilênio ou o início do reinado de Cristo so internacional da seita, anulou o ensinam ento de Rutherford de que “os
sobre a terra.16 príncipes” de Isaías 32.1,2 (entre os quais patriarcas e profetas do Antigo
Testam ento) ressuscitariam a qualquer m om ento a fim de governar a ter-
13 V. o capítulo 3 para mais informações sobre o Corpo Governante. ra. E quanto à m ansão (B ete-Sarim ) construída para abrigar os “prínci-
14 A Sentinela, de P/6/1968, p. 349, e Despertai!, 8/12/1968, p. 22. pes”? Foi vendida em 1947.
15 Os testemunhas de Jeová não usam a sigla “a.C.” (antes de Cristo) e d.C. (depois de Nathan Knorr morreu em 8 de junho de 1977 por causa de um tumor
Cristo), mas A.E.C. (antes da era comum) e E.C. (era comum), respectivamente.
cerebral.
16 A Sentinela, 1E/11/1968, p. 659-660; A Sentinela, 15/2/1969, p. 110,115; Desper-
tai!, 22/4/1969, p. 13-14; A Sentinela, 15/9/1979, p. 552; Nosso m inistério do
reino, julho de 1974, p. 3-4; A Sentinela, 1Q/1/1989, p. 12. 17 Testemunhas de Jeová: proclamadores do reino de Deus, p. 109.
Em b u sca d a r e lig iã o v e r d a d e ira 39 40 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

Frederick William Franz Adão esteve sozinho no paraíso terrestre. Tomando 2 0 10 com o ponto
de partida, isso quer dizer que Adão esteve sozinho no paraíso por pelo
Morrendo Knorr, Frederick W illiam Franz, o “em inente erudito b í-
m enos trin ta e cinco anos! Entretanto, essa explicação de Franz revelou-
blico”, to rn ou -se o quarto presidente da Watch Tower em 22 de junho
-se um a m entira, pois na revista A Sentinela, de I a de novembro de 1968,
de 1977.
p. 659, afirm ou o seguinte: “Visto que o propósito de Jeová para o hom em
Franz nasceu em Covington, Kentuchy, EUA, em 12 de setem bro de tam bém era que este se m ultiplicasse e enchesse a terra, é lógico que
1893. M em bro da Igreja p resbiteriana, decidiu tornar-se pastor. Entre- criara Eva pou co depois de Adão, talvez apenas algum as sem anas ou
tanto, assim com o Rutherford, leu os escritos de Russell, Estudos das m eses m ais tarde, no m esm o ano, 4026 A.E.C.”. E ssa in fo rm ação é
Escrituras. M aravilhado com a “erudição” do pastor Russell, Franz d es- confirm ada m eses depois pela revista Despertai! de 22 de abril de 1969,
ligou-se da sua igreja e se tornou um russellita. p. 14: “Segundo fidedigna cronologia bíblica, Adão e Eva foram criados
Na sua gestão, ele aboliu a proibição dos transplantes de órgãos, que em 4026 A.E.C.”. O resultado saiu pior que a encom enda!
perdurou de 1967 a 1980, m antendo ainda a das transfu sões de sangue, Apesar do evidente m alogro, Franz persistiu no erro dos que o pre-
em bora reconhecesse que, em essên cia, a transfu são de sangue fosse cederam , rem arcando outras datas e gerando entre os testem unhas de
um a espécie de transplante de órg ãos.18 Jeová m ais expectativas falsas. A diferença é que, depois de 1975, ele se

Em 1980, a presidência de Franz foi grandem ente abalada. Seu so - m ostrou mais astuto. De form a sutil, direcionou o Armagedom e o início

brinho, Raym ond Franz, desligou-se do p oderosíssim o Corpo Gover- do reinado m ilenar de Cristo para o início da década de 1980 e depois

nante (v. o cap. 3), do qual fora m em bro desde 1971. Isso debilitou a para 1994. Para isso, ele e os dem ais líderes m undiais da seita (o Corpo

seita, criando grande rebuliço. Raymond Franz m ilitou sessenta anos Governante) esp ecularam m ais um a vez sobre a palavra “geração” de

com o testem unha de Jeová. Alguns anos depois de rom per com o gru- Mateus 34 .36. Acom panhe com paciência esse em aranhado.

po, escreveu o livro Crise de consciência (2 0 0 2 ), por m eio do qual o Como vim os no su btítu lo anterior, acred itava-se que a “geração”

m undo tom ou conhecim ento dos bastidores dessa seita, pois Raymond de 1914 era com p osta dos que viram e pod eriam discernir os acon te-

revelou com o os adeptos do grupo são m anipulados. Os testem unhas cim en to s daquele ano. Até a ed ição de 22 de dezem bro de 1986, a re-
vista Despertai! trazia a seguinte nota inform ativa: “Im p ortan tíssim o
de Jeová não foram m ais os m esm os desde a publicação dessa obra.
é que esta revista gera co n fian ça na prom essa do C riador sobre uma
Coube a Franz a tarefa de explicar à revista Time, de 11 de julho de
nova ordem p acífica e segu ra antes que a geração que viu os aco n teci-
1977, o porquê do fracasso da pseudoprofecia de 1975. Franz declarou
m entos de 1914 E.C. desap areça” .19 E ntretanto, a p a rtir de ja n eiro de
que os cálculos estavam corretos, havendo apenas um único equívoco:
1987 essa nota desapareceu da Despertai!, pois, afinal, a geração que
1975 não m arcaria os 6 .0 00 anos da criação da hum anidade, m as apenas
só pod eria durar oitenta anos já havia passado sete anos do tem po
de Adão; a hum anidade com eçou de fato na criação de Eva. Afinal, Adão
regulam entar. M as, num gesto inesperado, essa nota voltou na edição
não poderia com eçar a hum anidade sozinho! E quanto tem po depois
Eva foi criada? Não se sabe. E staríam os vivendo no intervalo em que

19 Cf. tb. A Sentinela, 15/1/1979, p. 32; A Sentinela, 15/4/1981, p. 31; Poderá viver
18 As Testemunhas de Jeová e a questão do sangue, 1977, p. 42. para sempre no paraíso na terra, 1983, p. 154.
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de 8 de m arço de 1988 da Despertai!, reafirm an d o a “co n fian ça na Milton George Henschel


p rom essa do C riador so b re um novo m undo p acífico e seguro, antes
Após a m orte de Frederick Franz, Milton Henschel, nascido em 9 de
que d esap areça a g eração qu e viu os acontecim entos de 1914”. Por
agosto de 1920, foi eleito o quinto presidente da Watch Tower.
que reed itar a nota, se a geração que viu os a co n tecim en to s já havia
A fim de resolver o fiasco profético envolvendo a “geração de 1914”,
desaparecido? Após a reed ição da nota, o Corpo Governante lançou
Henschel e os demais m em bros do Corpo Governante decidiram não mais
na Despertai! de 8 de abril de 1988 seu m ais novo co n ceito sobre a
se arriscar. Sepultaram de vez suas especulações sobre a duração dessa
palavra “geração”, an co ra n d o-se nas o bras The New International Dic-
geração, pois, afinal, não é de bom tom que “a restauração do cristianism o
tionary o f New Testament Theology e A Greek-English Lexicon o f the
primitivo” tenha um currículo tão vasto de falsas profecias! Essa foi a
New Testament, que ap resentam v árias d efiniçõ es da palavra grega
saída para evitar novos cálculos proféticos infundados e, em consequên-
genéa. Eis a co nclu são do Corpo G overnante:
cia disso, mais constrangimentos. Mas antes de apresentar essa mudança
radical, além de outras, o Corpo Governante preparou o espírito dos tes-
Tais definições permitem abranger todos aqueles que nasceram por
temunhas de Jeová por meio de A Sentinela de 15 de maio de 1995, p. 10-26,
volta da época dum acontecimento histórico e todos os que estavam vi-
sob o sugestivo título “Lam pejos de luz”. Assim, a revista A Sentinela de
vos na ocasião. [...] a maior parte da geração de 1914 já desapareceu.
l e de novembro de 1995 descartou Salm os 90.10 com o regra para estabe-
Todavia, há ainda milhões de pessoas na terra que nasceram naquele
lecer o tempo exato de uma geração. Veja:
ano ou antes disso. [...] Esse é mais um motivo para se crer que o dia de
Jeová, que virá como ladrão, está iminente”.20
O povo de Jeová, ansioso de ver o fim deste sistema iníquo, às vezes
tem especulado sobre quando irromperia a “grande tribulação”, até mes-
Com essa nova interpretação, que agora passa a abranger os que nas-
mo relacionando isso com cálculos sobre a duração da vida duma gera-
ceram em 1914 ou p or volta dessa época, basta fazer as contas: 1914 + 80
ção desde 1914. No entanto, “introduzimos um coração de sabedoria”,
= 1994. Que esse evento era esperado para aquele ano ou poucos anos
não por especular sobre quantos anos ou dias constituem uma geração,
depois, pode ser deduzido de A Sentinela de 1° de jan eiro de 1989: “O
mas por refletir como “contamos os nossos dias” em dar alegre louvor a
apóstolo Paulo servia de ponta de lança na atividade m issionária cris-
tã. Ele tam bém lançava o alicerce para um a obra que seria terminada Jeová. [...] Em vez de estabelecer uma regra para a medição do tempo, o

em nosso século 20”.21 Ora, se a pregação dos testem unhas de Jeová se- termo “geração”, conforme usado por Jesus, refere-se principalm ente a

ria concluída no “século X X ”, então o Arm agedom e o M ilênio se apro- pessoas contemporâneas dum certo período histórico, com as caracterís-

xim avam ra p id am en te. Fran z, p o rém , não viveu o su ficien te para ticas identificadoras delas. [...] Será que adianta alguma coisa procurar

presenciar outro fracasso profético. Ele m orreu em 22 de dezembro de datas ou especular sobre a duração literal da vida duma “geração”? Longe

1992, aos 99 anos. Coube a seu sucessor sair desse em aranhado vatici- disso! [...] Portanto, hoje, no cumprimento final da profecia de Jesus,

nador. De que modo? Acom panhe. “esta geração”parece referir-se aos povos da terra que veem o sinal da
presença de Cristo, mas que não se corrigem.22

20 P. 14.
21 P. 12. 22 P. 17,19-20, parágrafos 7-8 e 12.
E m b u s c a d a r e l ig iã o v e r d a d e ir a 43 44 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

Tendo em vista essa “nova luz” ou esse “novo entendimento”, o Corpo 2 5.31-46. Essa separação era feita m ediante o serviço de pregação dos
Governante dos testemunhas de Jeová mexeu m ais uma vez na nota in- adeptos da seita.24 Contudo, A Sentinela de 15 de outubro de 1995 infor-
formativa da revista Despertai! Até a edição de 22 de outubro de 1995, a m a que houve um “refinamento” ou um “entendim ento mais profundo da
redação era esta: “Im portantíssim o é que esta revista gera confiança na parábola”, ou seja, Jesus não está m ais separando as “ovelhas” dos “cabri-
promessa do Criador de estabelecer um novo mundo pacífico e seguro, tos”, pois “o julgam ento das ovelhas e dos cabritos é futuro”.25
antes que passe a geração que viu os acontecimentos de 1914”. A partir da No cam po organizacional, foi inaugurado em maio de 1999 o Centro
Despertai! de 8 de novembro de 1995, a redação passou a ser: “Im portan- Educacional da Torre de Vigia em Patterson, Nova York; trata-se de um
tíssim o é que esta revista gera confiança na prom essa do Criador de esta- conjunto de 28 prédios. Além da Escola Bíblica de Gileade, há diversas
belecer um novo mundo pacífico e seguro, prestes a substituir o atual outras escolas para atender às necessidades educacionais da seita, sem
sistema de coisas perverso e anárquico” . contar os diversos departam entos: de arte, inform ática etc., responsáveis
O leitor, porém , não se deve enganar e pensar que os testem unhas pela produção de todo o material didático do grupo.
de Jeová abandonaram de vez sua fom e de profecias e de se alim entar Henschel deixou a presidência em 7 de outubro de 2000, ano em que
com a expectativa da proxim idade do Arm agedom e da instauração do houve um a reorganização na liderança do grupo. Don A. Adams ( 1925-),
reino de Deus na terra, pois a m esm a A Sentinela de I a de novembro de ex-m em bro da Igreja episcopal, assumiu a presidência da Watch Tower.
1995, que havia apresentado o novo conceito sobre a geração de 1914, Até Henschel, som ente um m em bro do Corpo Governante poderia assu-
declarou: m ir a presidência da entidade jurídica que com anda os negócios de toda
a organização. A p artir daquela data, o Corpo Governante só exerceria a
[...] Será que nosso ponto de vista mais preciso sobre “esta gera- liderança espiritual do grupo. É o fim da era de um presidente corporati-
ção” significa que o Armagedom está ainda mais longe do que pensá- vo e espiritual. Henschel m orreu em 22 de m arço de 2003.
vamos? Deform a alguma! Embora nunca soubéssemos “o dia e a hora”,
Jeová Deus sempre os soube, e ele não muda.23
Os testemunhas de Jeová no Brasil e no mundo

No Brasil, a h istó ria dos testem unhas de Jeová rem onta à década
Assim, a expectativa da im inência do Arm agedom continua, e m ilhões de 1920, quando oito m arinheiros trouxeram o que haviam aprendido
de testem unhas de Jeová proclam am de casa em casa uma m ensagem no exterior. Logo em seguida, foram enviados m issionário s para dar
fadada m ais um a vez ao fracasso. Bernard Shaw disse com precisão: “Er- continuidade às atividades em solo brasileiro .26 Atualm ente, estão pre-
rar é hum ano, m as, quando a borracha acaba antes do lápis, estam os pas- sentes em todo o territó rio nacional, com aproxim adam ente 700 m il
sando um pouco dos lim ites”. adep tos.27
Além dessa mudança doutrinária envolvendo a geração de 1914, ou-
tras m udanças foram efetuadas. Por exemplo, acreditava-se que Jesus, 24 Cf. Poderá viver para sempre no paraíso na terra, 1989, p. 183; A Sentinela
desde 1914 (e especialm ente desde 1935), estaria julgando a hum anida- l“/9/1989, p. 19; A Sentinela 1W 1991, p. 11.
25 Cf. p. 18-22.
de, separando-as em “ovelhas” e “cabritos”, em cum prim ento de Mateus
26 Anuário das Testemunhas de Jeová de 1974, p. 34.
27 Disponível em < h ttp ://w w w .w a tch to w er.O rg / e/sta tistics/w o rld w id e _ report.htm>.
23 P. 20. Acesso em: 11/9/2009. Dados oficiais.
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Há m ais de 7 milhões de mem bros no mundo, distribuídos em mais filiais estão localizadas.30 Aqui, foram criados os seguintes nom es de

de 230 países.28 Por causa de seu intenso trabalho proselitista, em muitos representação legal da m antenedora:

lugares a seita possui razoável taxa de crescim ento. Em seu principal evento
anual, a Refeição Noturna do Senhor — na qual celebram a m orte de • Associação Torre de Vigia de Bíblias e Tratados

Cristo — , a assistência mundial ultrapassa o dobro de seus seguidores, o • Associação das Testemunhas Cristãs de Jeová

que torna aqueles que visitam seus salões do reino (locais de reunião) adep- • Associação Beneficente das Testemunhas de Jeová

tos em potencial (as estatísticas oficiais de agosto de 2008 indicam uma • Associação Bíblica e Cultural das Testemunhas de Jeová

assistência de 17.790.631 pessoas; no Brasil, a cifra atingiu 1.646.123).29


Muitos testem unhas de Jeová são egressos de igrejas cristãs (a com e- Apesar dessa alteração organizacional, em alguns lugares m antere-

çar do fundador, Charles Russell, e seus sucessores), em bora não seja pos- mos neste livro o nom e “Sociedade Torre de Vigia” ou simplesmente “Tor-

sível indicar um a porcentagem segura por falta de estatísticas e de uma re de Vigia” tendo em vista a m antenedora am ericana e a familiaridade

pesquisa séria focada nesse aspecto. N orm alm ente, os desertores são cris- da expressão, sem contar o fato de que os livros aqui citados foram publi-

tãos nom inais, pouco conhecedores dos fundam entos da fé cristã. Não é cados com o antigo nom e dessa entidade jurídica.

de adm irar que os testem unhas de Jeová consigam arrebanhar os incau- A hom epage oficial da seita é www.watchtower.org, e pode ser acessa-

tos de agrem iações cristãs, pois estes, por causa da m ornidão espiritual e do em quase 400 idiomas.

da falta de genuína conversão, cedem com facilidade ao proselitism o


O poderio editorial dos testemunhas de Jeová
aguerrido dos testem unhas de Jeová e de sua habilidade de torcer as E s-
crituras (v. ljo ã o 2.19). Por meio da Torre de Vigia, os testemunhas de Jeová destacam -se no

A sede mundial da seita fica no Brooklyn, Nova York. De lá, o Corpo cam po editorial religioso como grandes produtores de publicações. A sede

Governante — um colegiado de hom ens — com anda “espiritualmente” mundial ocupa um a área de oito quarteirões. De sua gráfica, m ais de 15

a organização, servindo-se das m ais de 110 filiais e congêneres da So- mil toneladas de publicações são despachadas anualm ente para todo o

ciedade Torre de Vigia dos EUA espalhadas pelo mundo. A filial brasileira mundo. Contando com mais de 110 filiais e congêneres espalhadas m un-

situa-se em Cesário Lange, no estado de São Paulo. No Brasil, a designação do afora, a Torre de Vigia im prim e m ilhões de publicações, entre livros,

“Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados” era o nom e da entidade revistas, folhetos, brochuras etc., em mais de 480 idiomas.

jurídica m antida pela Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados de Sem dúvida, a página im pressa tem ajudado os testemunhas de Jeová

Nova York Inc. Tendo em vista a reestruturação adm inistrativa da gestão a difundir suas doutrinas antibíblicas. Quem nunca ouviu falar das re-

de Don Adams, algum as sociedades jurídicas usadas pela seita passaram vistas A Sentinela e DespertaiP. A tiragem quinzenal de A Sentinela é de

por m udanças significativas, levando-se em conta as leis locais onde as mais de 37 m ilhões de exemplares, distribuídos em mais de 170 idiomas;
a partir de 2008, ela passou a ter um a edição para o público em geral e

28 Disponível em < http://www.jw-media.org/people/statistics.htm>. Acesso em: 11/ outra edição de estudo (exclusiva dos testem unhas de Jeová e de seus
9/2009. Dados oficiais.
29 Disponíveis em < http://www.watcht0wer.0rg/e/statistics/w0rldwide_ report.htm>
e em < http://www.jw-media.org/people/statistics.htm>. Acesso em: 11/9/2009. 30 Cf. A Sentinela, la/l 1/2001, p. 28-29.
Em b u sca d a r e lig iã o v e r d a d e ira 47 48 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

prosélitos). A Despertai! é publicada m ensalm ente, e sua tiragem ultra- É m ais do que evidente que os testem u nh as de Jeová veem a si
passa 36 milhões de exemplares, em mais de 80 idiom as. Uma de suas m esm os com o verdadeiros profetas de Deus. Eles nunca negaram isso.
publicações, A verdade que conduz à vida eterna, lançada em m aio de Entretanto, o relato histó rico de Charles Russell até os dias atuais reve-
1968, figurou no Guinness Book (o livro dos recordes). Na edição de 1994 la que desde o in ício os testem u nh as de Jeová foram dirigidos por
(p. 193), declara-se que esse livro já atingira a cifra dos 107.619.787 exem - falsos profetas. E um a organização religiosa dirigida por falsos p rofe-
plares em 117 idiom as, sendo o livro de m aior circulação mundial por tas não pode ser levada a sério na sua afirm ação de ser a restauração do
canais não com erciais. cristianism o prim itivo. Quem ousaria con fiar sua vida eterna a uma
Até a segunda quinzena de 2 008, quase 160 m ilhões de exem plares seita instável dou trinariam ente, que m uda seus ensinam entos com o
da Tradução do Novo Mundo, a versão tend enciosa da Bíblia dos teste- quem troca de roupa? N enhuma de suas profecias se cum priu. 0 que
m unhas de Jeová (v. o cap. 3 ), foram produzidos para distribu ição, in- era “verdade” ontem , não o é m ais hoje. E o que é “verdade” hoje, talvez
teira ou em parte, em m ais de 70 idiom as. E ssa versão, assim com o não o seja m ais am anhã. Os quase cento e cinqu enta anos de existência
outras publicações, tam bém é oferecida em vários form atos, com o brai- da seita podem ser definidos com o A era das incertezas e das intermi-
le, CD-ROM, DVD em Libra (Língua Brasileira de Sinais) e on-line, sem náveis contradições.
contar o investimento em m úsica, em literatura para deficientes visuais A fim de escapar da pecha de “falsos profetas”, a seita recorre aos
etc. D esde 1990, a Torre de Vigia já produziu dezenas de vídeos, em m ais seguintes subterfú gios:
de 40 idiom as, além de vídeos na linguagem de sinais para os deficientes
auditivos. É possível tam bém b aixar da internet literatura em M P3 e As Testemunhas de Jeová n ão professam ser profetas inspirados.
outros form atos. Cometeram enganos. Como no caso dos apóstolos de Jesus Cristo, tive-
ram às vezes expectativas erradas. — Luc. 19:11; Atos 1:6. [...] É verda-
O PERIGO DE SEGUIR FALSOS PROFETAS
de que as Testemunhas de Jeová com eteram erros de entendim ento,

Antes da falsa profecia de 1975, que já analisam os, ASentinela de l e de sobre o que ocorreria no fim de certos períodos de tempo, mas não

outubro de 1972 perguntou o seguinte: “Portanto, tem Deus algum profe- cometeram o erro de perder a fé ou de cessar de ficar vigilantes quan-

ta para ajudá-las [as testemunhas de Jeová], para adverti-las dos perigos to ao cumprimento dos propósitos de Jeová. [...] Os assuntos em que

e para declarar-lhes coisas futuras?”. A resposta foi: foram necessárias correções de ponto de vista têm sido relativamente
mínimos em comparação com as verdades bíblicas vitais que discer-

A estas perguntas pode-se responder na afirmativa. Quem é este niram e publicaram.32

profeta? [...] Este “profeta” não era um só homem, mas um grupo de


homens e mulheres. Era o grupo pequeno dos seguidores das pisa- A tática é simples:

das de Jesus Cristo, conhecidos naquele tempo como Estudantes In-


ternacionais da Bíblia. Hoje são conhecidos como testemunhas cristãs 1. Reconhecem que são profetas, mas não “inspirados”, ou seja, não

de Jeová.5' falam em nome de Jeová.

31 P. 581. 32 Raciocínios à base das Escrituras, p. 162.


Em b u s c a d a r e li g iã o v e r d a d e ir a 49 50 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

2. Justificam seus “enganos” (as falsas profecias e as m udanças dou- Assim como Jeová revelou suas verdades por meio da congregação
trin á ria s co n stan te s) apelando às “exp ecta tiv as errad a s” dos cristã do primeiro século, assim também ele o faz, atualmente, por meio
apóstolos e, com isso, esforçam -se por m inim izar a gravidade das da atual congregação cristã. Por meio desta agência, faz com que se
suas falsas profecias, afirm ando que o im portante são as “verda- cumpra o profetizar em escala intensificada e sem paralelo. Toda esta
des bíblicas vitais que discerniram e publicaram”. atividade não é feita por acaso. Jeová é quem está por trás de toda ela.M

Vamos analisar essas conclusões. Como alguém pode afirm ar de forma categórica que Jeová lhe “revelou
suas verdades” e que é ele quem está “por trás” de sua atividade de “profeti-
1. Profetas, mas não “inspirados”
zar” por meio de seu “canal de comunicação” e ao mesmo tempo sustentar
Os testem unhas de Jeová definem “falsos profetas” assim: que não é “inspirado” por Deus? Que sejam coerentes em suas palavras;
aliás, elas não deixam margem para dúvidas quanto às suas pretensões de

Indivíduos e organizações que proclamam mensagens que atribuem profetas “inspirados” por meio dos quais Deus “ainda está falando”:

a uma fon te sobre-hum ana , que, porém, não se originam do verdadeiro


Deus e não estão em harm onia com a sua vontade revelada.33 Deus falou ao seu povo por intermédio de Moisés e de outros profe-
tas. Depois, Jeová falou-lhe por meio do seu Filho, Jesus Cristo (Hebreus
O verdadeiro profeta e o falso atribuem suas m ensagens a uma fonte 1:1,2). Atualmente, nós temos a completa Palavra inspirada de Deus, a
sobre-humana. A diferença é que a m ensagem de um profeta “inspirado” Bíblia Sagrada. Temos tam bém o “escravo fie l e discreto”, designado por
por Deus deveria se originar no verdadeiro Deus; o profeta verdadeiro Jeová para fornecer o espiritual “alimento no tempo apropriado” (Mateus
fala em nome de Jeová, pois é usado por m eio dele para revelar suas ver- 24:45-47). De modo que Deus ainda está falan d o.35
dades e sua vontade, ao passo que a m ensagem do falso profeta não vem
de Deus. Como já vim os, a seita diz que Deus tem um profeta; esse profe- Ora, se “Deus ainda está falan do”, e se ele o faz por m eio da seita Tes-
ta é um grupo; e esse grupo são as “testem unhas cristãs de Jeová”. A ques- tem unhas de Jeová, que vê a si m esm a como um profeta de Deus e seu
tão é: Será verdade que não se veem com o profetas “inspirados”? As “escravo fiel e discreto”, cujo porta-voz é o Corpo Governante, então esse
evidências indicam que a seita está mentindo. grupo vê a si m esm o com o inspirado. A conclusão é óbvia! Não resta
Os testem u nhas de Jeová se con sid eram a “ú nica religião verda- dúvida de que os maiores inimigos dos testem unhas de Jeová são suas
deira”, por m eio da qual a vontade de Deus e seus propósitos são c o - próprias publicações.
nhecidos. Seus líderes m u ndiais, o Corpo Governante, são conhecidos
2. “Expectativas erradas” dos apóstolos
com o “canal de com unicação de Jeová” (v. o cap. 3 ). Ora, “can al” vem
do latim canális, um veículo (tu b o , can o ) p or m eio do qu al algo é Os testem unhas de Jeová com param sua vasta lista de falsas profe-
transm itido. 0 term o não foi escolhido por acaso. A Sentinela de 15 de cias com o que cham am de “expectativas erradas” dos apóstolos. Algo
dezem bro de 1964 afirm a:

34 P. 749.
33 Raciocínios à base das Escrituras, p. 158. 35 A Sentinela, 15/7/1998, p. 12.
E m b u s c a d a r e l ig iã o v e r d a d e ir a 51 52 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

do tip o: “Se aconteceu com eles, pode aco n tecer con o sco, sem que, ou que sorte de [época] o espírito neles indicava a respeito de Cristo,
com isso, sejam os vistos com o falsos profetas”. Contudo, essa com pa- quando de antemão dava testemunho dos sofrimentos por Cristo e
ração é indevida, pois tudo o que os apó sto los e p rofetas previram das glórias que os seguiriam. Foi-lhes revelado que não era para eles,
cu m priu-se. Isso , aliás, concorda com o que dizem os testem unhas de mas para vós, que ministravam as coisas que agora vos foram anunci-
Jeová: “ [...] 0 que os profetas verdadeiros predizem acontece, m as adas por intermédio dos que vos declararam as boas novas com o

podem não entender exatam ente quando e com o su ced erá”.36 Já com espírito santo enviado desde o céu.
os testem u nhas de Jeová sem pre se deu o contrário : o que profetiza-
ram nunca aconteceu, e isso é inegável. 0 apóstolo Pedro não declara que os profetas tiveram expectativas

Para que não restem dúvidas acerca da gigantesca diferença entre a erradas. Sim plesm ente afirm a que eles profetizaram acerca do M essias

atividade profética dos testem unhas de Jeová com a dos profetas e dos e da salvação que ele traria; eles estavam m inistrando não para si, m as

apóstolos, vamos analisar e refutar as passagens bíblicas apontadas pela para os ouvintes de Pedro e seus contem porâneos. Os profetas previ-

seita37 a fim de justificar os “enganos” e “erros” que o grupo cometeu: ram a vinda de Jesus, m as não o viram pessoalm ente. Pedro e os de-
m ais qu e v ira m o Se n h o r c o n firm a ra m as p alavras dos p ro feta s,
Daniel 12.8,9 (NM) continuaram a obra iniciada por eles, pregando e expandindo a mesma
mensagem imutável: a salvação viria por m eio do escolhido de Deus, o
Ora, quanto a mim, ouvi, mas não pude entender; de modo que eu
M essias. Esse quadro é muito diferente dos líderes dos testem unhas de
disse: “0 meu senhor, qual será a parte final destas coisas”.
Jeová, que viviam contradizendo seus predecessores.

O caso de Daniel não é de falsa profecia, m as de ter recebido o suficiente Atos 1.6,7; Lucas 19.11 (NM)
para registrar, e nada mais que isso. Ele queria saber “a parte final” ou o
resultado de tudo o que ouviu. O anjo lhe disse que somente no “tempo Tendo-se eles então reunido, perguntavam-lhe: “Senhor, é neste tem-

do fim” a visão seria revelada por aquele que é “Revelador de segredos” po que restabeleces o reino a Israel?” Disse-lhes ele: “Não vos cabe obter

(Daniel 2.47, NM). Caberia a Daniel se contentar com o que recebeu, sem conhecimento dos tempos ou das épocas que o Pai tem colocado sob a

especular o desfecho dos acontecim entos e em que tempo ou época eles sua própria jurisdição.

ocorreriam . A falta da inform ação solicitada não levou Daniel a publicar


especulações e levar outros a “expectativas erradas”. [...] eles estavam imaginando que o reino de Deus ia apresentar-se
instantaneamente.
1Pedro 1.10-12 (NM)
Os apóstolos, assim como toda a nação judaica, tinham a expectativa de
Acerca desta mesma salvação, fizeram diligente indagação e cuida-
que a vinda do Messias restabeleceria o reino de Israel. Eles não criaram
dosa pesquisa os profetas que profetizaram a respeito da benignidade
essa expectativa; ela fazia parte de seu contexto. Sendo parte do povo de
imerecida que vos era destinada. Eles investigaram que época específica
Deus, aguardavam a m esm a coisa que eles: o triunfo de Israel junto aos
seus inimigos. Interessante é que Jesus não os censurou por essa expecta-
36 Raciocínios à base das Escrituras, p. 160.
37 Ibid. Não será seguida a ordem empregada pelo livro. tiva. Ele não lhes disse que o que esperavam era errado. Sim plesm ente lhes
Em b u s c a d a r e li g iã o v e r d a d e ir a 53 54 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

disse que o tempo de isso acontecer estava sob os cuidados do Pai. Ao que João 16.12 (NM)
tudo indica, não houve da parte deles nenhuma expectativa errada. Ne-
Ainda tenho muitas coisas para vos dizer, mas não sois atualmente
nhum dos apóstolos agiu com o os líderes dos testem unhas de Jeová.
capazes de suportá-las.
João21.22,23 (NM)
Essa passagem não pode justificar falsas profecias e contradições dou-
Concordemente, quando o avistou, Pedro disse a Jesus: “Senhor, este
trinárias. A única coisa que Jesus está dizendo é que os discípulos não
[homem fará] o quê? Jesus disse-lhe: “Se for a minha vontade que ele
estavam preparados para ouvir determinadas coisas naquele momento,
permaneça até eu vir, de que preocupação é isso para ti? Continua tu a
m as que, com a vinda do Espírito Santo (João 14.17; 15.26), o am adure-
seguir-me”. Em consequência, difundia-se esta palavra entre os irmãos,
cim e n to n e c e s sá r io lh es p e rm itiria a lc a n ça r a p ro fu n d id a d e das
que esse discípulo não ia morrer. No entanto, Jesus não lhes disse que
revelações adicionais (João 16.13). Aos poucos, o Espírito Santo revelou
não ia morrer, mas: “Se for a minha vontade que ele permaneça até eu
aos discípulos coisas novas. Dois casos em especial m erecem destaque:
vir, de que preocupação é isso para ti?”.

1. Judeus versus gentios. Os judeus m antinham uma atitude inamisto-


Esse, sim , é um caso de “expectativa errada”, m as não generalizada,
sa para com os gentios (não judeus), crendo que estes eram indig-
pois o próprio apóstolo João esclarece as palavras de Jesus e desfaz o m al- nos de ser povo de Deus. No início, a comunidade cristã era formada
-entendido causado por suas palavras. Logo, esse apóstolo não partilhava por judeus e seus prosélitos. Essa mentalidade exclusivista ainda im -
dessa expectativa. pregnava a mente dos primeiros discípulos. Contudo, a com eçar pelo
Eis o que aconteceu: Jesus cham a Pedro e o convida para apascentar apóstolo Pedro, o Espírito Santo foi preparando os discípulos judeus
o seu rebanho (v. 1 5 -1 7). Nos versículos 18 e 19, Jesus profetiza a m orte para formar com os gentios “um novo homem”, uma nova comuni-
de Pedro. Este, por sua vez, avistando João, perguntou o que aconteceria dade: o Israel de Deus (leia Atos 10— 11; v. Efésios 2.11-22).
a ele. Jesus lhe diz que não é preciso se preocupar com isso: “Se for a 2. Circuncisão. Deus havia firm ado um a aliança com Abraão: ele e
m inha vontade que ele perm aneça até eu vir, de que preocupação é isso seus descendentes m asculinos deveriam ser circuncidados. A in-
para ti?”. Os discípulos interpretaram isso com o se Jesus estivesse di- circu ncisão era tratada com desprezo; os gentios eram cham ados
zendo que João não m orreria. Por quê? Sim plesm ente porque Jesus fa- pejorativam ente de “incircuncisos”. Entre os prim eiros cristãos
lou que se fosse da vontade dele era possível que João estivesse vivo até — judeus que aceitaram Jesus com o o M essias — , esperava-se
a sua segunda vinda, e os discípulos do século I viviam com o se Jesus que os gentios, que quisessem se subm eter ao M essias, tam bém
fosse voltar logo (Hebreus 10.37; Tiago 5.8; Filipenses 4.5; lT essaloni- fossem circuncidados e guardassem a Lei de M oisés; sem esse
censes 4 .1 5 ; 1Pedro 4 .7 ; Apocalipse 3 .1 1 ,2 0 ). O equívoco, porém , foi logo com prom isso, eles não poderiam ser salvos. A questão tom ou
corrigido. O evangelista registrou o m al-entendido a fim de que o equí- proporções gigantescas, e um co ncílio foi form ado para tratar
voco não se espalhasse. Mas isso não tem nada que ver com as falsas desse caso espinhoso, que poderia dividir a fam ília de Deus em
profecias dos testem unhas de Jeová. Seus líderes fabricaram profecias, form ação. Assim , o Espírito Santo entrou em ação e orientou a
anunciaram -nas e esperavam que todo o grupo recebesse tais palavras questão, deixando claro que os cristãos “incircuncisos” não pre-
proféticas com o vindas de Jeová. cisariam ser circuncidados nem guardar todas as observâncias
Em b u sca d a r e lig iã o v e r d a d e ira 55 56 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s

da Lei de M oisés, pois a salvação de judeus e gentios viria pela fé Pro vérbios 4.18 (NM)
em Jesus (v. Atos 15; R om anos 2 .2 8 ,2 9 ).
Mas a vereda dos justos é como a luz clara que clareia mais e mais
até o dia estar firmemente estabelecido.
0 próprio Antigo Testamento já prefigurava a união entre judeus e
gentios (Am ós 9.11,12; v. Atos 15.14-18). A própria prom essa de Deus a
Diante de tantas contradições de sua liderança, dificilm ente os tes-
Abraão já vislumbrava essa bênção aos não judeus (Gênesis 12.3). 0 Es-
tem unhas de Jeová dirão que seus líderes ensinaram m entiras. Dirão
pírito Santo apenas esclareceu o que os judeus dem oraram a perceber
que Jeová lançou um a “nova luz” ou “nova verdade”; a declaração ante-
nas Escrituras.
rior se torna então “luz velha” ou um a “verdade velha”. A ssim , em A
1Crônicas 17.1-4,15 (NM) Sentinela de 15 de maio de 1995, sob o título “Lam pejos de luz”, o Corpo
Governante preparou os testem unhas de Jeová para várias m udanças
E sucedeu que, assim que Davi começara a morar na sua própria casa,
do utrinárias que viriam pela frente. Essas alterações foram e ainda são
Davi passou a dizer a Natã, o profeta: “Eis que moro numa casa de cedros,
recebidas com o cum prim ento de Provérbios 4.18.
mas a arca do pacto de Jeová está debaixo de panos de tenda.” Então Natã
0 contexto dessa passagem , porém , não se presta a ensinar revela-
disse a Davi: “Faze tudo o que estiver no teu coração, pois o [verdadeiro]
ções progressivas de verdades divinas. 0 texto trata de duas veredas
Deus está contigo.” E aconteceu, naquela noite, que a palavra de Deus veio
(cam in h os): a dos ju sto s e a dos injustos. 0 versículo 16 afirm a que os
a Natã, dizendo: “Vai, e tens de dizer a Davi, meu servo: ‘Assim disse Jeová:
iníquos não conseguem dorm ir, a m enos que façam algum m al, e que
Não serás tu quem me construirá uma casa para morar.’ ”
eles têm insônia, a m enos que façam alguém tropeçar. D esse modo, a
vereda dos iníquos é com o as trevas: eles “não sou beram em que têm
Os testem unhas de Jeová fazem parecer que Natã profetizou falsa- estado tropeçando” (NM). Em contraste, a vereda dos ju sto s é com o a
m ente, m as que, ainda assim , continuou no agrado de Jeová. Contudo, luz: eles veem tudo o que pisam , seus passos não vacilam , possuem d is-
esse não é o caso. Eis o que aconteceu: Davi expressou seu desejo de cernim ento para evitar o m al. O cam inho dos ju sto s é com o o am a-
constru ir um a casa para a arca de Jeová. Era natural então que Natã o nhecer, em que as trevas vão se dissipando e ficando para trás. Assim , a
encorajasse a isso, pois a conversa era inform al, e não profética. Ele não vereda de Provérbios 4 .1 8 refere-se ao proceder ju sto que caracteriza a
sabia qual era a vontade de Deus a esse respeito, pois a palavra de Jeová vida dos que agradam a Deus. Nada tem que ver com os “lam pejos de
não havia vindo ao vidente; logo, Natã não profetizou. Então, quando luz” do Corpo Governante, que não passam de falsas profecias e de in -
Jeová revelou sua vontade a Natã, este, na qualidade de profeta, tran s- term ináveis contradições doutrinárias.
m itiu o recado a Davi. Se as palavras da p rim eira conversa com Davi Outra coisa a observar é que os testem unhas de Jeová não são coeren-
fossem inspiradas por Deus, certam ente teriam se cum prido. tes com a sua interpretação de Provérbios 4.18. Quando há uma m udan-
0 erro dos testemunhas de Jeová consiste em confundir profecia com ça dou trinária, é porque houve um novo “lam pejo de luz”; esp era-se
declaração informal. Quando seus líderes profetizaram a vinda do Armage- então que a “nova verdade” subsista. Entretanto, o vaivém doutrinário
dom e do reinado m ilenar de Cristo, o fizeram na qualidade de profetas de sobre o mesmo assunto é contínuo, o que invalida a própria exegese que
Jeová ou seu “canal de comunicação”, e se revelaram “falsos profetas”, pois fazem desse texto bíblico. Por exemplo, à pergunta “Os habitantes de
todas as profecias fracassaram. Natã não merece ser comparado a eles. Sodom a serão ressuscitados?”, foram dadas as seguintes respostas:
Em b u s c a d a r e li g i ã o v e r d a d e ir a 57 58 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

• Sim — de 1877 a 1952.38 justificativas para os erros e os enganos com etidos no passado, o apelo
• Não — de 1952 a 1965.39 final é para que se verifique seu corpo doutrinário, tido como “verdades
• Sim — de 1965 a 1988.40 bíblicas vitais”. E esse apelo é o que m antém a mente de m uitas pessoas
• Não — desde ju nho de 1988 (até quando?).41 aprisionadas a essa seita apocalíptica, m esm o depois de a abandonarem .
É com um ouvir esse discurso de ex-testem unhas de Jeová: “Eu saí da or-
Se a interpretação dos testemunhas de Jeová de Provérbios 4.18 esti- ganização porque estava sendo sufocado pelo sistem a; m as não posso
vesse correta, não seria possível esse quadro de contínuo vaivém. Se a ve- negar que tudo o que ela ensina é verdade”. E quais são essas “verdades”?
reda dos justos “clareia mais e mais ”, por que houve tantos retrocessos? Eis algumas:
Deste modo, essa variação doutrinária constante já é uma prova clara de
que essa seita não pode ser a restauração do cristianism o primitivo, nem • A organização é a única religião verdadeira, a restauração do cris-
o Corpo Governante pode ser o “canal de com unicação de Jeová”. Ademais, tianism o primitivo.

sua leitura de Provérbios 4.18 está com pletamente equivocada. • Jeová é o único Deus verdadeiro. A Trindade não é bíblica, mas
um a doutrina pagã.
A última cartada da seita • Jesus é o Filho de Deus, o prim eiro ser criado por Jeová; ele não faz
parte de um a divindade trinitária.
Uma vez tendo suas justificativas desmanteladas, os testem unhas de
• 0 “espírito santo” não é uma pessoa, m as a força ativa de Jeová.
Jeová apelarão finalm ente para sua grande e últim a cartada: “Os assuntos
• 0 hom em não tem um a alm a im ortal; ele é a própria alm a e é
em que foram necessárias correções de ponto de vista têm sido relati-
m ortal.
vam ente m ínim os em com paração com as verdades bíblicas vitais que
• Não existe o inferno de fogo; quando m orrem os, entram os num
discerniram e publicaram ”,42Ainda que ninguém se convença de suas
estado de inexistência
• Apenas os 144 mil vão para o céu.
38 The Object and Manner of Our Lord’s Return, 1877, p. 25; Watchtower, 7/1879, p.
7; Studies in the Scriptures, v. l , “The Plan of the Ages”, 1886, p. 11; Watch Tower
Lamentavelmente, há muitas pessoas que saem da seita Testemunhas
Reprints, 15/11/1913, p. 5351; His Vengeance, 1934, p. 38. Fontes das notas 40-43:
< http://logoshp.6te.net/tjsg.htm> e < http://observandoomundo.org/artigo.php de Jeová, m as a seita não sai dessas pessoas. Foram tão m assificadas que
?cod=41>. Acesso em: 16/9/2009. não conseguem perceber que seu conjunto de crenças nada mais é que a
39 Watchtower, lQ/6/1952, p. 338; Watchtower, P/2/1954, p. 85; Watchtower, 12/4/1955,
negação do verdadeiro cristianism o. Assim, resta-nos então analisar o
p. 200; Do paraíso perdido ao paraíso recuperado, 1959, p. 236, parágrafo 6;
corpo doutrinário dessa seita para perceber que o que cham am de “ver-
Watchtower, 15/1/1960, p. 53.
40 A Sentinela, 15/9/1965, p. 555, parágrafo 9; A Sentinela, l 2/5/1966, p. 286-287; dade” não é realm ente a verdade das Escrituras, m as um conjunto de in-
Poderá viver para sempre no paraíso na terra, edição de 1983, p. 179, parágrafo 9; terpretações errôneas sobre a Bíblia e a fé cristã.
A Sentinela 15/2/1983, p. 26. Comecemos então analisando e refutando o discurso eclesiológico dos
/6 /1988, p.31; Revelação — seu grandioso clímax está próximo,
41 A Sentinela, lQ
testem unhas de Jeová, segundo o qual a igreja da era pós-apostó lica
1988, p. 273; Estudo perspicaz das Escrituras, edição brasileira de 1992, v. 3,
p. 619. apostatou da fé, desaparecendo finalm ente na era constantiniana e sen-
42 Raciocínios à base das Escrituras, p. 162-163. do restaurada por meio de Charles Russell.
E m b u s c a d a r e l i g iã o v e r d a d e ir a 59 60 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

R efu t a ç ã o d a e c l e s io l o g ia d o s t est em u n h a s d e Jeo vá Mateus 16.18

Apesar do histórico de falsas profecias e inúm eras m udanças doutri- Eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha

nárias, os testem unhas de Jeová acreditam que são a restauração do cris- igreja, e as portas do Hades não poderão vencê-la.

tianism o primitivo. Assim, sua posição no cenário mundial depende da


ideia fixa de que a igreja que Jesus fundou corrom peu-se com doutrinas A indestrutibilidade da Igreja foi garantida pelo próprio Jesus, seu

pagãs e diabólicas. Essa seita, porém , não está sozinha nessa empreitada. fundador, que declarou ser ele m esm o o alicerce dela. Após a declaração

Além dela, outros tam bém afirmam ser a restauração da igreja primitiva, de Pedro “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mateus 16.16b), Jesus fala
de um a Igreja invencível, capaz até m esm o de vencer o “Hades” ( à ô r jç ) .
partindo do princípio de que esta apostatara, desviando-se dos ensinamen-
Esta palavra grega é de difícil tradução. A carga sem ântica é vasta, e nem
tos de Cristo: Igreja adventista do sétimo dia, Igreja de Jesus Cristo dos san-
sempre é fácil determ inar o sentido original. As traduções m ais comuns
tos dos últimos dias (m órm ons), A Família (Meninos de Deus), espiritismo
são “m orte” e “inferno”. Seja qual for a identidade desse “Hades”, o fato é
(kardecism o), Igreja da unificação (reverendo M oon), entre outras.43
que Jesus declarou que o tal não pode vencer sua Igreja. A indestrutibili-
Partindo desse ponto, cumpre afirm ar o seguinte: se ficar provado à
dade é assegurada pelo construtor.
luz da Bíblia que a igreja que Jesus fundou no século I subsiste até hoje,
A leitura mais com um dessa passagem é que a Igreja é atacada pelo
ou seja, não desapareceu da face da terra, nunca deixou de existir, não
“Hades” e resiste à feroz investida (a posição é de defesa). Outra leitura
havendo uma apostasia geral que pudesse afastá-la de seu Fundador, cai-
possível é a que vê a Igreja executando um a ação ofensiva contra o “Ha-
rá por terra a pretensão dos testemunhas de Jeová e desses outros grupos
des”. Nesse caso, o “Hades” é visto m etaforicam ente com o tendo “portas”,
de serem a única igreja verdadeira. A questão é bem simples: se não hou-
o que lem bra uma cidade fortificada dos dias de Jesus. Se essa leitura
ve a necessidade de restaurar a Igreja de Cristo, tam pouco houve necessi- estiver correta, a Igreja edificada por Jesus ataca o “Hades”, e este, im po-
dade de restaurador hum ano que tenha recebido de Deus essa tarefa. Dessa tente diante da Igreja do Senhor, é vencido por ela.
form a, concluirem os que os que ensinam tal coisa m entem e tentam per- Seja qual for a interpretação adotada (defesa ou ataque), a Igreja é e
verter as Escrituras, que atestam a indestrutibilidade da Igreja de Jesus sempre será vitoriosa, pois o seu construtor é aquele que tem “as chaves
Cristo, que é “una, santa, católica [isto é, universal] e apostólica”, de acor- da m orte e do Hades” (Apocalipse 1.8). (V. tb. o item 2: “As credenciais do
do com os credos apostólico e niceno. construtor da Igreja”.)
Abordaremos essa questão à luz da Bíblia sob cinco aspectos: Deduzimos então que Jesus Cristo perderia sua credibilidade se em
algum m om ento da história da Igreja ela deixasse de existir. Das três,
1. A indestrutibilidade da Igreja uma: ou ele se enganou, mentiu ou falou a verdade. O caráter de Jesus nos

Em primeiro lugar, várias passagens bíblicas podem ser citadas para conduz à última opção, pois ele é “a verdade” (João 14.6).

m ostrar a continuidade perpétua da igreja (“congregação” na terminologia Mateus 28.19,20


dos testemunhas de Jeová) que Jesus fundou no século I. Vejamos.
Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em
nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo
43 Para saber mais sobre esses grupos, v. o Dicionário de religiões, crenças e ocul-
tismo, de George M a t h e r e Larry N ic h o l s . o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos.
Em b u sca d a re lig iã o v e rd a d e ira 61 62 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s

Após ordenar aos seus seguidores que fizessem discípulos de todas Essa parábola é uma das m aiores provas escriturísticas de que a Igre-
as nações, Jesus lhes garantiu que estaria com eles “até o fim dos tem pos” ja é indestrutível. Jesus disse que plantaria no mundo a boa sem ente, ou
(afinal, ele é o nosso “Emanuel”, “Deus conosco” — Mateus 1.23), o que seja, os filhos do Reino, que representam a Igreja; o Diabo, por sua vez,
evidencia que sua Igreja subsistiria intacta até esse período; logo, como o plantaria o jo io (os filhos do M aligno) no m eio do trigo. Segundo Jesus,
“fim dos tem pos” ainda não ocorreu, a Igreja m antém a certeza de que am bos deveriam crescer juntos até o fim dos tem pos, que ainda não ocor-
Jesus Cristo, desde que fez tal prom essa, continua a assisti-la de forma reu. Logo, se sempre haveria joio, sempre haveria trigo. Portanto, se al-
ininterrupta. Se estaria para “sempre”, é porque sua Igreja tam bém exis- guém disser que o trigo (os filhos do Reino) desviou-se da fé, caindo em
tiria para “sempre”. Essa relação é indissolúvel. apostasia, levando o verdadeiro cristianism o ao fim, m esm o que tem po-
rariam ente, estará tornando Jesus mentiroso. Além do m ais, ele disse que
Mateus 13.24-30,36-43
os anjos (os ceifeiros) fariam a separação do trigo e do joio, m as somente
Jesus lhes contou outra parábola, dizendo: “O Reino dos céus é como no fim da era; até lá, am bos cresceriam juntos. Assim, é impossível acei-
um homem que semeou boa semente em seu campo. Mas enquanto tar a posição assum ida pelos testem unhas de Jeová e por outros grupos,
todos dormiam, veio o seu inimigo e semeou o joio no meio do trigo e se que afirm am ser a restauração da igreja primitiva.
foi. Quando o trigo brotou e formou espigas, o joio também apareceu. Alguns objetam o uso desse texto de Mateus, afirm ando que Jesus não
Os servos do dono do campo dirigiram-se a ele e disseram: ‘O senhor está falando da Igreja, m as do Reino de Deus. Dessa form a, Jesus não es-
não semeou boa semente em seu campo? Então, de onde veio o joio?’ taria falando sobre a indestrutibilidade da Igreja. Em bora seja verdade
‘Um inimigo fez isso’, respondeu ele. Os servos lhe perguntaram: ‘0 se- que a parábola em questão trate nom inalm ente do Reino de Deus, isso,
nhor quer que o tiremos?’ Ele respondeu: ‘Não, porque, ao tirar o joio, por si só, não serve de argum entação para deixar de aplicar a parábola à
vocês poderão arrancar com ele o trigo. Deixem que cresçam juntos até Igreja, pela seguinte razão: os “filhos do Reino”, m encionados na parábo-
a colheita: Então direi aos encarregados da colheita: Juntem primeiro o la, form am a Igreja.
joio e amarrem-no em feixes para ser queimado; depois juntem o trigo O Reino de Deus é tem a bem desenvolvido em Mateus. 0 Reino tem
e guardem-no no meu celeiro’ ”. [...] Então ele deixou a multidão e foi um prim eiro anunciador, João Batista (cap. 3 ); um estilo de vida que se
para casa. Seus discípulos aproximaram-se dele e pediram: “ ‘Explica- espera dos que o abraçam (cap. 5 — 7); possui proclamadores devidamente
-nos a parábola do joio no campo”. Ele respondeu: “Aquele que semeou autorizados, os apóstolos e outros (cap. 10); tem uma agência na terra, a
a boa semente é o Filho do homem. 0 campo é o mundo, e a boa semen- Igreja, pois Jesus associa numa m esm a frase tanto a Igreja com o o Reino
te são os filhos do Reino. 0 joio são os filhos do Maligno, e o inimigo que dos céus (16.18,19; 18.15-18); tem um rei, o próprio Jesus Cristo (16.28 ).
o semeia é o Diabo. A colheita é o fim desta era, e os encarregados da O problem a visto por alguns talvez se explique pela tensão que há
colheita são anjos. Assim como o joio é colhido e queimado no fogo, entre o presente e o futuro no discurso sobre o Reino de Deus.44 O Reino
assim também acontecerá no fim desta era. 0 Filho do homem enviará está (presente) e virá (fu turo), da m esm a form a que afirm am os que Jesus
os seus anjos, e eles tirarão do seu Reino tudo o que faz tropeçar e
todos os que praticam o mal. Eles os lançarão na fornalha ardente,
44 Para uma consideração entre o “já” e o “ainda não” em relação ao Reino de Deus, v. a
onde haverá choro e ranger de dentes. Então os justos brilharão como excelente exposição “O reino que veio e o que virá”, feita por John S t o t t em seu livro
o sol no Reino de seu Pai. Aquele que tem ouvidos, ouça”. Ouça o Espírito, ouça o mundo: como ser um cristão contemporâneo, p. 421-427.
Em b u sca d a r e lig iã o v e r d a d e ira 63 64 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

está (presente) em nosso meio — pois disse que estaria conosco todos Por m ais que alguns queiram negar, as palavras de Jesus em Mateus
os dias até o fim dos tem pos (M ateus 28.20; cf. M ateus 18.20) — , bem 13 .24-30,36-4 3 oferecem , de m aneira inequívoca, garantia absoluta da
como que virá (futuro) segunda vez (Mateus 25.31). A questão da presença indestrutibilidade da Igreja, peça-chave do Reino dos céus.
de Cristo na Igreja não invalida a expectativa de sua segunda vida, assim
H ebreus 12.28
com o essa expectativa não deve fazer-nos pensar que ele não esteja no
meio de nós. Assim é com o Reino de Deus. Está entre nós, som os filhos Portanto, já que estamos recebendo um Reino inabalável, sejamos
do Reino, fazemos parte dele. Mas o Reino é m uito m ais extenso em seu agradecidos e, assim, adoremos a Deus de modo aceitável, com reverên-
alcance do que im aginam os. Ainda aguardamos sua plena consumação, cia e temor.
sem negar sua realidade presente. E a Igreja faz parte dessa realidade.
Convém frisar que, quando falam os em Reino de Deus, estam os fa- O cristão recebeu um Reino que não pode ser abalado, e a Igreja faz
lando de Jesus Cristo, que é o Rei desse Reino; quando falam os em Reino parte desse Reino. Isso confirm a as palavras de Jesus em Mateus 16.18.
de Deus, estam os falando do Espírito Santo, pois o apóstolo Paulo disse Devemos ser agradecidos a Deus pelo fato de ele preservar sua Igreja.
que “ [...] o Reino de Deus não é com ida nem bebida, m as justiça, paz e Isso nos deve levar a adorá-lo com reverência e temor.
alegria no Espírito Santo” (Rom anos 14.17); quando falam os em Reino
Efésios 3.21
de Deus, estam os falando de uma form a de existência que transcende os
problem as da vida, razão pela qual Jesus afirm a: “Busquem , pois, em pri- A ele seja a glória na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações,
meiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas [as n e- para todo o sempre! Amém!
cessidades básicas de subsistência] lhes serão acrescentadas” (Mateus
6 .33). E, por último, quando falam os em Reino de Deus, estam os falando O apóstolo Paulo disse que Deus é glorificado na Igreja por m eio de
da Igreja que foi fundada sobre a Rocha, que é o próprio Jesus Cristo, a Jesus em todas as gerações. A crença de que a Igreja caiu por séculos em
quem ele prometeu sua assistência contínua (Mateus 28.20). Para cuidar apostasia faz que essa passagem perca sua força, pois haveria gerações
dessa Igreja, elem ento im portante no Reino de Deus, o apóstolo Paulo que não puderam glorificá-lo.
declarou aos líderes da igreja de Éfeso:
2. As credenciais do construtor da Igreja
Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Em segundo lugar, há outro porm enor a ser observado: se determ i-
Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja de Deus, que ele narm os as credenciais e o caráter daquele que é o alicerce da Igreja, sabe-
comprou com o seu próprio sangue. Sei que, depois da minha partida, remos então se ela é ou não indestrutível. Assim, quais as credenciais de
lobos ferozes penetrarão no meio de vocês e não pouparão o rebanho. Jesus, o construtor da Igreja? Ele é:
E dentre vocês mesmos se levantarão homens que torcerão a verdade, a
fim de atrair os discípulos. Por isso, vigiem! (Atos 20.28-3la). • Deus (João 1.1)
• Deus Forte (Isaías 9.6)
Tais palavras m antêm certa afinidade com o que o Senhor Jesus disse • Deus todo-poderoso (Apocalipse 1.8)
na parábola do jo io e do trigo (leia tam bém o cap. 2 de 2Pedro). • Rei dos reis e Senhor dos senhores (Apocalipse 19.6)
Em b u sca d a re lig iã o v e rd a d e ira 65 66 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

• Sustentador de todas as coisas pela palavra de seu poder (H e- falsas doutrinas, pois Jesus prometeu sua assistência contínua (Mateus
breus 1.3) 28.20). Com isso, afirmam os que houve (e ainda há), de fato, apostasia no
• Detentor de todo o poder no céu e na terra (Mateus 28.18) seio da Igreja; negamos, contudo, que essa apostasia tenha sido geral, pois
todos os textos apresentados como prova escriturística sobre a apostasia
Medite nestas perguntas: no meio da Igreja fazem referência a uma apostasia parcial. Acompanhe.

2Tessalonicenses 2.1-3 (cf. os v. 4-17)


1. Com essas credenciais, quem ousaria derrubar a Igreja, que tem
com o construtor o próprio Cristo (Rom anos 8.31-39)? Irmãos, quanto à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa reunião
2. Seria Cristo péssimo construtor? Se a Bíblia diz em ljo ã o 3.8 que com ele, rogamos a vocês que não se deixem abalar nem alarmar tão facil-
ele veio para “destruir as obras do Diabo”, com o poderia o Diabo mente, quer por profecia, quer por palavra, quer por carta supostamente
destruir a Igreja, obra-prim a de Jesus Cristo? vinda de nós, como se o dia do Senhor já tivesse chegado. Não deixem que
3. Se a Igreja é o Corpo de Cristo (IC oríntios 12.12-20; Efésios 5.23), ninguém os engane de modo algum. Antes daquele dia virá a apostasia e,
com o poderia o Diabo, por meio de uma apostasia, separar Cristo então, será revelado o homem do pecado, o filho da perdição.
de seu corpo durante séculos? O verdadeiro Jesus jam ais passaria
por essa derrota! Os tessalonicenses estavam sendo bom bardeados com notícias alar-
m antes de que o “dia do Senhor” havia chegado. Isso gerou expectativas e
A Bíblia não deixa dúvida quanto ao fato de Jesus e os seus seguidores dúvidas naquela comunidade cristã. A fim de não caírem nas garras dos
fiéis serem vitoriosos contra as hostes do mal: “Guerrearão [os agentes falsos pregoeiros, o apóstolo Paulo lhes fornece uma orientação quanto à
de Satã] contra o Cordeiro, m as o Cordeiro os vencerá, pois é o Senhor dos vinda do Senhor Jesus: “Antes daquele dia virá a apostasia ”, e com esta
senhores e o Rei dos reis; e vencerão com ele os seus cham ados, escolhi- seria revelado “o homem do pecado, o filho da perdição”. A apostasia, por-
dos e fiéis [a Igreja]” (Apocalipse 17.14). Quando essa passagem foi es- tanto, é uma realidade que antecederá a vinda do Senhor Jesus. No entanto,
crita , a Ig reja passava por m o m en to s d ifíceis d iante de um a severa até aqui não existe nenhum indício de que essa apostasia teria o poder e o
perseguição. Assim, esse texto não tem apenas um caráter escatológico, alcance pretendido pelas seitas, chegando até mesmo a solapar a Igreja de
m as uma aplicação im ediata aos que poderiam pensar que o inimigo se- Cristo. Em vez disso, o restante da passagem (v. 4-17) revela justam ente o
ria m ais poderoso e até m esm o invencível. Longe disso! O Cordeiro, o contrário. Preste atenção sobre quem a influência da apostasia recairá:
Emanuel (Deus conosco), vence qualquer hoste satânica, e ele não está
sozinho; seus fiéis eleitos vencem porque o Senhor é com eles. A vinda desse perverso é segundo a ação de Satanás, com todo o
poder, com sinais e com maravilhas enganadoras. Ele fará uso de todas
3. Apostasia na Igreja
as formas de engano da injustiça para os que estão perecendo, porquan-

Quando afirm am os que a Igreja é indestrutível, não querem os negar to rejeitaram o amor à verdade que os poderia salvar. Por essa razão
que ela não tenha enfrentado sérios problem as doutrinários ao longo de Deus lhes envia um poder sedutor, a fim de que creiam na mentira, e

sua jornada. Todavia, a m esm a Igreja imbatível, capaz de enfrentar a pró- sejam condenados todos os que não creram na verdade, mas tiveram

pria m orte e os poderes infernais, tam bém poderia resistir ao ataque de prazer na injustiça (1 Tessalonicenses 2.9-12).
Em b u sca d a r e lig lã o v e r d a d e ira 67 68 T e s t e m u n h a s d e J e o v A: e x p o s i ç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s

Portanto, quando o poder do m al se m anisfestar, atrairá certam ente heresias destruidoras, chegando a negar o Soberano que os resgatou,

“os que estão perecendo, porquanto rejeitaram o am or à verdade que os trazendo sobre si mesmos repentina destruição. Muitos seguirão os

poderia salvar”; eles “não creram na verdade” e “tiveram prazer na injus- caminhos vergonhosos desses homens e, por causa deles, será difa-

tiça”. Esses, sim , serão os enganados por Satanás com todo o engano de mado o caminho da verdade.
injustiça. 0 m istério da iniquidade foi ao encontro deles, pois havia afini-
dade entre eles. Usando as palavras de João: “Eles saíram do nosso meio, A presença de falsos profetas entre o povo de Deus não é novidade. Como
mas na realidade não eram dos nossos, pois, se fossem dos nossos, teriam tam bém não é de estranhar que eles sempre encontrem seguidores de suas
perm anecido conosco; o fato de terem saído m ostra que nenhum deles heresias de perdição. A novidade seria se eles tivessem o poder de seduzir
era dos nossos” (ljo ã o 2.19). todo o povo de Deus. E o apóstolo Pedro afasta essa possibilidade. Ele não
Paulo, entretanto, m enciona outro grupo: os “irm ãos amados pelo Se- afirm a que “todos seguirão os caminhos vergonhosos desses homens”, o
nhor”, que foram “escolhidos” por Deus desde o princípio “para serem que seria o caso se a apostasia fosse geral e da magnitude pretendida pelas
salvos m ediante a obra santificadora do Espírito e a fé na verdade”. A seitas. Ao contrário, Pedro empregou “muitos”. Mesmo que aponte para uma
certeza de que perseverariam está no fato de que Deus “os cham ou para grande quantidade, “muitos” ainda indica uma quantidade indefinida.
isso”, a “fim de tom arem posse da glória de nosso Senhor Jesus Cristo”. 0 Outro detalhe que cham a a atenção é o fato de Pedro afirm ar que o
m istério da iniquidade não teria poder sobre os eleitos de Deus, a Igreja, cam inho da verdade seria “difamado”, m as não diz nada de ser destruído
pois não há m ais afinidade entre a luz e as trevas (Efésios 5.8). ou interrompido por séculos. Alguém pode ser difamado, vilipendiado,
A apostasia é, portanto, parcial, lim itada e direcionada. Os que são pode-se pôr em dúvida a honra de alguém, m as isso é bem diferente de
genuinam ente de Jesus C risto p erm anecem firm es, perpetuando sua fazê-lo desaparecer.
mensagem e exaltando seu nom e por todas as gerações. Aliás, o contexto apresenta três exemplos interessantes que reforçam a
tese de que não está em jogo nenhuma apostasia geral da Igreja de Cristo.
ITimóteo 4.1
São três casos de real desvio contrastados com os rem anescentes, os que
0 Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns abandona- perm aneceram fiéis.
rão a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios.
1. Anjos rebeldes: “Pois Deus não poupou os anjos que pecaram , m as
Esse texto é um predileto das seitas para afirmar a apostasia geral da os lançou no inferno, prendendo-os em abism os tenebrosos a fim
Igreja da era pós-apostólica. Todavia, a própria passagem já traz em si a de serem reservados para o juízo” (2Pedro 2.4 ). Houve rebeldia no
refutação à crença na apostasia geral, pois afirm a expressamente que “al- céu, m as este não foi despovoado; m iríades de m iríades de anjos
guns” (e não todos) “abandonarão a fé”, ou seja, apostatarão. Uma simples perm aneceram fiéis ao Todo-poderoso (v. Apocalipse 12.7-9).
palavra (“alguns”) anula toda a mentira de que a Igreja inteira se desviou. 2. Contemporâneos de Noé: “Ele não poupou o mundo antigo quando
trouxe o Dilúvio sobre aquele povo ím pio, mas preservou Noé,
2Pedro2.1,2 pregador da justiça, e mais sete pessoas” (2Pedro 2.5).

No passado surgiram falsos profetas no meio do povo, como tam- 3. Ló: “Também condenou as cidades de Sodom a e Gomorra, redu-

bém surgirão entre vocês falsos mestres. Estes introduzirão secretamente zindo-as a cinzas, tornand o-as exem plo do que acontecerá aos
Em b u s c a d a r e li g iã o v e r d a d e ir a 69 70 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s

ímpios; mas livrou Ló, homem justo, que se afligia com o procedi- Senhor é poderoso para “impedi-los de cair e para apresentá-los diante da
mento libertino dos que não tinham princípios morais (pois, viven- sua glória sem mácula e com grande alegria” (v. 24).
do entre eles, todos os dias aquele justo se atormentava em sua alma Mais uma vez, o testem unho da Bíblia é contundente: Deus preserva
justa por causa das maldades que via e ouvia)” (2Pedro 2.6-8). na santíssim a fé os seus, para que possam propagar sua vontade num
mundo contrário aos valores divinos. Que venha Satanás com seus sinais

Diante desses exemplos, sobretudo os dois últim os, Pedro arremata: e prodígios, que venham seus dem ônios, que venham os ímpios, que ve-

“Vemos, portanto, que o Senhor sabe livrar os piedosos da provação e manter nham os falsos cristãos, que venham as seitas, que venha a apostasia...

em castigo os ímpios para o dia do juízo” (2Pedro 2.9). Assim, apesar de Nenhum deles será capaz de im pedir o avanço da Igreja no mundo e o

sucessivas ondas de apostasia do povo de Deus do Antigo e do Novo Tes- dom ínio de Cristo. As portas do “Hades” não podem prevalecer contra a

tam entos, bem como da era pós-apostólica até os diais atuais, Deus sem - Igreja (Mateus 16.18).

pre manteve e preservou seu remanescente.


4. A igreja primitiva tinha seus problemas
Judas 3,4 (cf. os v. 17-25) Em quarto lugar, os grupos que dizem ser a restauração da igreja primi-
tiva normalmente apontam as falhas das igrejas de nossos dias, afirmando
Amados, embora estivesse muito ansioso por lhes escrever acerca
que se afastaram do cristianismo, pois andam confusas, sem moral, sem
da salvação que compartilhamos, senti que era necessário escrever-lhes
um estilo de vida distintam ente cristão, sem am or ao próximo, sem von-
insistindo que batalhassem pela fé de uma vez por todas confiada aos
tade de evangelizar etc. Dizem que as seguintes características da igreja
santos. Pois certos homens, cuja condenação já estava sentenciada há
verdadeira, conforme Atos 2.42-47, estão presentes apenas no seu meio:
muito tempo, infiltraram-se dissimuladamente no meio de vocês. Estes
são ímpios, e transformam a graça de nosso Deus em libertinagem e
• Perseverança na doutrina dos apóstolos
negam Jesus Cristo, nosso único Soberano e Senhor.
• Comunhão, amizades genuínas, sem acepção de pessoas
• Partilhar ajuda com os necessitados
Essas passagens devem ser interpretadas à luz de 2Tessalonicenses
• Crescimento num érico espantoso
2.1-3 e de 2Pedro 2.1,2, que já analisam os. • Intensa atividade de casa em casa
Judas m enciona dois grupos. O primeiro é composto de “dissimula-
dores” e “ímpios” (v. 4), “zombadores que seguem seus próprios desejos Uma viagem pela Bíblia, porém, nos levará a encarar um a dura reali-
ímpios” (v. 18), “causam divisões” e “seguem a tendência da sua própria dade: a Igreja é com posta de pessoas im perfeitas, que revelam suas im -
alma e não têm o Espírito” (v. 19). Mas estes não são maioria na Igreja. Eles perfeições no trato com Deus e com o próximo. Nenhuma igreja de Cristo,
são capazes de fazer estragos na comunidade cristã e difamar o caminho no tem po e no espaço, foi exemplo fiel em todas as áreas da vida cristã. O
da verdade (2Pedro 2.2), m as não podem destruir a Igreja ou interromper capítulo 2 de Atos trata do início da história da Igreja, não da concretiza-
sua existência, pois sempre haverá o segundo grupo: os que são “guardados ção dessa história. Tudo começou ali, m as a história continua até hoje.
por Jesus” (v. 1), têm o Espírito e estão edificados “na santíssim a fé [...], Mesmo em relação à igreja primitiva, era visível que nem tudo encontrado
orando no Espírito Santo” (v. 20). Judas glorifica a Deus por eles, pois o em Atos 2 era de fato praticado por todas as igrejas da época. Vejamos.
Em b u s c a d a r e lig iã o v e r d a d e ir a 71 72 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

Apostasia Intensa atividade de casa em casa


Alguns se afastaram da “doutrina dos apóstolos”, ensinando as se- Os testem unhas de Jeová creem que sua intensa atividade proselitista
guintes aberraçõ es doutrinárias: de casa em casa é sinal visível de que sua religião é a única verdadeira,
pois nenhum outro grupo religioso estaria obedecendo a essa ordem de
a) Não havia ressurreição dos m ortos (IC oríntios 15.12-19). Cristo. Esquecem -se, contudo, de que, ao m andar seus discípulos ao m un-
b) A segunda vinda de Jesus já ocorrera (2Tessalonicenses 2.2,3). do, Jesus apenas falou da extensão de sua obra — o mundo — , sem ex-
c) A ju stificação vem pelas obras da lei, e não pela fé em Cristo (Atos plicitar o m étodo (M ateus 2 8 .1 9 ,2 0 ; Atos 1.8; v. tb. M ateus 13.38). O
15.1; Gálatas 1.6-9; 3.1-5). trabalho de casa em casa seria um dentre vários modelos, m as não o ú ni-
co. Jesus não viu na pregação de casa em casa o único m étodo para alcan-
Inimizades
çar as pessoas. Deduz-se isso de seus longos serm ões. Se ele fosse de casa
Por vezes, os mem bros das igrejas eram advertidos das contendas e em casa visitar cada pessoa, certam ente teria levado muito tempo, ultra-
facções que havia entre eles. Infelizmente, a com unhão esteve por m o- passando, em muito, seus três anos e meio de m inistério. A pregação ao
m e n to s c o m p ro m e tid a , h o u ve a c e p ç ã o de p e s so a s e a m izad es ar livre era um método rápido e eficaz. O apóstolo Paulo fez o m esm o,
corrom pedoras (v. ICoríntios 1.10-12; 3 .1 -4; Tiago 4.11,12; 3João 9,10). indo às feiras livres e a outros lugares públicos, como o Areópago, além
das sinagogas (Atos 17.17-19). O m esm o exemplo foi seguido pelo após-
Acepção de pessoas e falta de ajuda aos necessitados
tolo Pedro (Atos 2.14). Hoje existem outros recursos: a tradicional página
A falta de solidariedade por parte de m uitos cristãos era tanta que impressa, o rádio, a TV, a internet etc. O evangelismo pode ser pessoal ou
chegou a irritar profundam ente Tiago. Além disso, os ricos eram preferi- em m assa, desde que cum pram os eficazm ente a vontade do Mestre.
dos aos pobres (Tiago 2.1 -9 ,1 4 -1 7 ).
Outros problemas
Crescimento
Vale a pena a leitura das cartas de Apocalipse destinadas às sete igre-
Os testem unhas de Jeová fazem questão de apresentar seus relatórios jas, que retratam a fragilidade da parte hum ana da Igreja de Cristo (2 —
mundiais de trabalho, m ostrando que seu crescim ento num érico é sinal 3). Das sete, som ente duas igrejas — Esm irna e Filadélfia — deixaram
de que a organização é abençoada por Jeová; com isso, creem estar cum - de receber repreensão. A igreja de Éfeso foi repreendida por ter deixado o
prindo — ao tirar o texto de seu contexto — uma suposta profecia, a de prim eiro am or (2.4 ). A de Pérgamo, por tolerar heresias em seu meio,
Isaías 60.22, que diz: “O próprio pequeno tornar-se-á m il e o menor, uma com o a dos nicolaítas, que tinham livre acesso às suas dependências, além
nação forte” ( NM). Qualquer outra seita, como o m orm onism o, tam bém de outros problemas, como mesquinhez espiritual, falta de am or e falta de
poderia reivindicar o cum prim ento de Isaías 60.22, sem que isso fosse firmeza doutrinária (2 .1 4,1 5). Tiatira foi censurada por dar ouvidos aos
verdade. Assim, o alto índice de crescim ento não é sinal de que a igreja falsos m estres, que conduziam a igreja à apostasia e à im oralidade (2.20).
seja verdadeira, pois, segundo Jesus, o jo io cresceria com o trigo, em A pobre Sardes, apesar de considerar-se viva, não percebia que, na verda-
proporção igual ou m aior (M ateus 1 3 .2 4 -3 0 ). Em 2Pedro 2 .1,2 , os fal- de, estava m orta (3.1 ). Laodiceia foi advertida severamente por causa de
sos profetas seriam seguidos por “muitos”. Assim, o crescim ento diário sua m ornidão espiritual, e por isso ouviu de Jesus estas duras palavras:
desejável diz respeito à qualidade, não à quantidade (2Pedro 3.18). “Estou a ponto de vom itá-l[a] da m inha boca” (3.16).
E m b u s c a d a r e l ig iã o v e r d a d e ir a 73 74 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

Todavia, apesar das reprim endas, algumas dessas igrejas, ainda as- pessoas possuírem padrão elevadíssim o de m oral não determ ina que
sim , foram elogiadas, com exceção de Sardes e Laodiceia, que apenas seu sistem a religioso seja o correto. M esm o que os testem unhas de Jeová
ouviram severas críticas. A igreja de Éfeso, por exemplo, foi elogiada por alardeiem possuir alto padrão de moral cristã e que procuram viver de
suas obras, seu sofrim ento, sua perseverança e sua luta pela fé, pois, ao acordo com a moral e a ética bíblicas, condenando o sexo desenfreado, a

contrário da igreja de Pérgamo, rechaçou os nicolaítas (2 .3 -6 ). Pérgamo, jogatina, o adultério, o roubo, a m entira etc., nem por isso se pode dizer
apesar de sua tolerância para com os nicolaítas, foi elogiada por conser- que sua religião é a única verdadeira, pois esse padrão ético tam bém é
var o nom e de Jesus e não negar a fé no Salvador e Senhor da Igreja, con- observado no islamismo, no budismo e em outras religiões. Esses compor-
tando até m esm o com um m ártir nos anais de sua história (2.13). Tiatira tam entos fazem parte do modo de viver de várias sociedades civilizadas.
recebeu louvores por suas obras, seu amor, sua fé, seu serviço e sua per- C u m p ri-lo s ou não cu m p ri-lo s não to rn a rá m in h a ig reja falsa ou
severança, bem com o seu crescim ento constante em boas obras (2.19 ). verdadeira; apenas fará do não cum pridor de seus deveres alguém em
Como se vê, a Bíblia não nega que haja sérios problemas na Igreja. Tra- débito com suas obrigações éticas.
ta-se de uma exposição realista, que não tenta m ascarar o que é demons- Outra coisa a considerar: a vida de alguns cristãos não é nem de longe
trado pelos fatos. Contudo, apesar de todos os problemas — falta de amor, recomendável; contudo, o que dizem ou pregam pode estar de acordo com
apostasia, tolerância indevida, imoralidade, tibieza etc. — , a Bíblia afirma a Palavra de Deus, m esm o que não a cumpram. Isso nos remete a Mateus
que Jesus estava “no meio dos candelabros”, ou seja, das “igrejas”, sim, da- 23.1-3. Após afirm ar que os escribas e fariseus (a quem Jesus reputou por
quelas igrejas (Apocalipse 1.12,13,20) com seus encantos e desencantos. hipócritas) se assentam na cadeira de M oisés, ele disse às m ultidões e
Cabe dizer que os problem as expostos não é nem de longe justificati- aos seus discípulos: “O bedeçam -lhes e façam o que eles lhes dizem. Mas
va para tentar m inim izar o modo de vida que caracteriza muitos cristãos não façam o que eles fazem, pois não praticam o que pregam”.
nos dias atuais. Pelo contrário, Apocalipse 2— 3 serve de alerta a todas as Assim, os critérios para verificar se uma igreja é verdadeira ou falsa vão
igrejas. Elas não se podem esquecer de que Jesus continua no comando, muito além das obras nela praticadas. É claro que a vida cristã é im portan-

no controle da situação. Ele conhece cada igreja: seus erros e acertos, seus te. Importantíssima! Contudo, ser fiel à sã doutrina tam bém é determ inan-

defeitos e suas virtudes. E há de julgá-las segundo a obra de cada uma. te. Que adianta alguém se portar como cristão e ensinar doutrinas falsas

Isso deve conduzir muitas igrejas ao arrependimento. Por isso, não cabe acerca da Igreja, pondo em xeque a credibilidade de Jesus? Assim, não resta
aos testem unhas de Jeová, aos m órm ons e a outros mais julgar as igrejas dúvida de que a falsa doutrina da apostasia geral e da interrupção milenar
cristãs pelos problem as nelas observados. Essa é uma tarefa que compete da Igreja na História forja uma caricatura de Jesus, uma reprodução defor-

única e exclusivamente ao Senhor da Igreja. Sob o com ando dele, será mada do verdadeiro Cristo. Negar a indestrutibilidade da Igreja é um ata-

separado o jo io do trigo, e essa tarefa será dada aos anjos no fim deste que diretamente à pessoa, à natureza e ao caráter de Cristo; é desmenti-lo

velho sistem a de coisas (M ateus 13.36-43). acintosam ente; é pôr em dúvida sua capacidade de m anter o controle e a

Outro ponto igualmente im portante é o fato de os testemunhas de Jeová soberania sobre seu Corpo. Enfim, a manutenção dessa heresia cristológica

afirm arem que no cristianism o atual muitos não têm alto padrão de vida e eclesiológica põe o falso doutrinador na condição de maldito. Como fri-
cristã, pois o que reina em nosso m eio é a hipocrisia religiosa. É bom sou com muita veemência o apóstolo Paulo: “Mas ainda que nós ou um
lem brar que, de um lado, a atitude de rebeldia ou de desobediência de anjo dos céus pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos,

alguns cristãos não invalida o cristianism o. De outro lado, o fato de muitas que seja amaldiçoado !” (Gálatas 1.8; v. 2Coríntios 11.3,4).
Em b u sca d a r e lig iã o v e r d a d e ira 75 76 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s

5. A verdadeira igreja conseguinte, a unidade deve girar em torno de Cristo, não de assuntos
com o a quantidade de água para m inistrar o batism o (se por aspersão
Em quinto lugar, diante de tudo o que foi explanado surge a pergunta
ou im ersão) ou a form a de governo (se episcopal ou congregacional).
inevitável: “Se a verdadeira igreja de Jesus Cristo não desapareceu —
Deve ser prim ordial o fato de Cristo ser o nosso Rei e Senhor, sendo seu
mesm o com tantos problem as de ordem m oral e doutrinária — , qual
dom ínio, o teocrático, o que de fato deve prevalecer, m ediante a operação
das igrejas existentes hoje é a verdadeira igreja de Cristo?”. Levando-se
do Espírito Santo na vida da Igreja.
em conta que a Igreja é de Cristo e que existe continuam ente desde a sua
De acordo com os credos apostólico e niceno, a Igreja é “una, santa, cató-
fundação, afirm am os que a verdadeira igreja é a “com unhão dos santos”,
lica [universal] e apostólica”. A esse respeito, James Packer (1998, p. 1988),
como declaram os credos apostólico e niceno, seguidos pelas confissões
ministro anglicano, faz um comentário oportuno:
de fé reformada. Ela é o conjunto de todos os cristãos de todos os tempos
e de todas as épocas, os “filhos do Reino” espalhados pelo mundo em todas
É comum caracterizar a igreja na terra como “una” (porque assim
as confissões cristãs que conhecem Deus verdadeiramente (João 17.3), o
ela é em Cristo, como mostra Ef 4.3-6, a despeito do grande número
adoram da forma correta (João 4.24) e o servem em Jesus Cristo, o Salva-
de igrejas locais e agremiações denominacionais), “santa” (porque é
dor, pela palavra do Espírito Santo, com o qual são selados (Efésios 1).
consagrada a Deus corporativamente, como o é cada cristão indivi-
Espera-se que haja entre esses cristãos amor, cooperação, disposição
dualmente, Ef 2.21), “católica” (porque é universal em extensão e
para o serviço a Deus etc. Mas não se pode pedir uniform idade, como se
procura deter a plenitude da fé), e “apostólica” (porque foi fundada
todos devessem pensar em todos os aspectos de m aneira igual (os teste-
sobre o ensino dos apóstolos, Ef 2.20). Todas as quatro qualidades
munhas de Jeová orgulham -se pelo fato de serem iguais em todo o m un-
estão ilustradas em Efésios 2.19-22.
do, de terem o m esm o modo de pensar). Jesus, porém , nunca fundou uma
“Igreja McDonald’s”, isto é, praticam ente igual em todas as partes do
É im portante que se faça outro com entário sobre a unidade. Cabe lem -
mundo. Na igreja prim itiva, nem todos estavam de acordo em relação a
brar que a Igreja é o Corpo de Cristo e, como afirm a o apóstolo Paulo, esse
certas questões, m as de m odo nenhum deixavam de pertencer a Cristo
Corpo é composto por muitos mem bros (ICoríntios 12.12-27). A unida-
por isso. Para alguns, o vegetarianism o devia ser a dieta ideal para os
de existe, apesar da diversidade. Mas em que consiste essa unidade? No
cristãos; para outros, não (Rom anos 14). Alguns com iam carne sacrifi-
cada aos ídolos; outros achavam isso absurdo (IC oríntios 8). Em bora o fato de a Igreja ter um único fundador: Jesus Cristo (Mateus 16.18). Foi

apóstolo Paulo tivesse opinião formada sobre os assuntos em questão, ele quem reconciliou, na cruz, tanto judeus quanto gentios, fazendo de

nunca desejou que todos pensassem com o ele; antes, pediu que cada am bos um só povo, um só corpo (Efésios 2.11-16).

qual respeitasse o m odo de ver alheio. Certam ente, os dois elem entos m ais intrigantes dessa form ulação

Quando advertiu aos coríntios (IC o rín tio s 1.10) que não houvesse “una, santa, católica e apostólica” são as duas prim eiras expressões. Al-

divisões entre eles, m as fossem unidos num só pensam ento e num só guns ficam intrigados em querer saber como uma Igreja pode ser “una”,

propósito, tencionava acabar com as divisões do tipo “Eu sou de Paulo”, quando muitas disputam um as com as outras; com o pode ser “santa”
“Eu sou de Pedro” etc. Essas brigas faziam que perdessem de vista o com tanto pecado vindo à tona, com tantos escândalos prom ovidos por
fato de todos pertencerem a Cristo, pois não foi Paulo nem Pedro que líderes religiosos, sobre os quais se poderia dizer que estavam “acim a de
m o rre ra m cru c ific a d o s por eles, m as o p ró p rio Jesu s C risto. Por qualquer suspeita”, esbanjando espiritualidade e respeitabilidade.
Em b u sca d a r e lig iã o v e r d a d e ira 77 78 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

Para responder a essa inquietação, é im portante distinguir entre “igreja também a Igreja desfruta de uma história gloriosa com um futuro que

visível” e “igreja invisível”. Jam es Packer esclarece (ibid.): será ainda mais radiante, quando Jesus e a Igreja — ou seja, o Noivo e
a Noiva — estiverem unidos para sempre.

Há uma distinção que deve ser estabelecida entre a igreja como nós,
humanos, a vemos e como somente Deus a vê. É a distinção histórica Crendo firm em ente nisso, continuarem os a proclam ar a continuida-

entre a “igreja visível” e a “igreja invisível”. Invisível significa não que de e a indestrutibilidade da Igreja de Jesus Cristo, seguindo o proceder da
não possamos ver o sinal de sua presença, mas que não podemos saber Segunda confissão helvética (1566; B e e k e ; F e r g u s o n ,p . 184):
(como Deus, que lê os corações, sabe, 2Tm 2.19) quais dos que são bati-
zados, membros professos da igreja como instituição organizada, são Visto que Deus, desde o princípio, desejou salvar os homens e levá-
interiormente regenerados e, assim, pertencem à igreja como comuni- -los ao conhecimento da verdade (lTm 2.4), é preciso que a igreja sem-
dade espiritual de pecadores que amam seu Salvador. Jesus ensinou que pre tenha existido, exista nos nossos dias, e continue a existir até o fim
na igreja organizada haveria sempre pessoas que pensariam ser cris- do mundo.
tãos e passariam por cristãos, alguns certamente tornando-se minis-
tros, mas que não foram renovados no coração e, portanto, seriam Proclam ar a continuidade da Igreja através das eras e sua consequen-
expostos e rejeitados no Juízo (Mt 7.15-27; 13.24-30,36-43,47-50; 25.1- te indestrutibilidade é ser fiel às Escrituras Sagradas. Compete aos cha-
46). A distinção “visível-invisível” é traçada para que se tenha isto em mados, eleitos e fiéis zelar pela sã doutrina e pela Igreja de Deus. “A ele
consideração. Não porque haja duas igrejas, mas porque a comunidade seja a glória, na Igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo
visível comumente contém falsos cristãos, que Deus sabe não serem reais o sempre! Am ém !” (Efésios 3.21).
(e que podem saber isso por si mesmos, se o quiserem, 2Co 13.5).

C o n c l usã o

Após traçarem uma concisa história da Igreja desde os primórdios


até o final do século X X, os escritores George Mather e Larry Nichols (2000,
p. 126) concluíram :

Já experimentamos quase dois mil anos de história da Igreja. Rei-


nos, impérios e governos levantaram-se e caíram, enquanto ela segue
triunfante. A despeito das perseguições, da lassidão moral, das heresias
internas e externas, a Igreja de Cristo prevalece, em cumprimento das
palavras de Jesus: “As portas do inferno não prevalecerão contra ela”
(Mateus 16.18). A Igreja tem experimentado momentos tenebrosos, mas,
assim como as trevas da Sexta-feira da Paixão deram passagem ao brilho
e ao esplendor do Domingo da Ressurreição — do túmulo vazio — ,
T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s

Os interesses do Reino na terra foram confiados ao “escravo fiel e

3 discreto”, representado pelo Corpo Governante das Testemunhas de Jeo-


vá. 0 Corpo Governante preocupa-se primariamente com o fornecimento
de instruções espirituais e de orientação à congregação cristã.1

Deturpando a Conforme predito em Mateus 24.3,45-47, o Amo, Jesus Cristo, desi-


gnou o “escravo fiel e discreto”, composto de cristãos ungidos, para cuidar

Palavra de Deus de todos os seus pertences na terra durante este dia de sua presença.
Este escravo fiel e discreto é representado hoje pelo Corpo Governante
das Testemunhas de Jeová. [...] Mui apropriadamente, o escravo fiel e
discreto tem sido chamado de canal de comunicação de Deus.2

Os homens desse Corpo Governante, como os apóstolos e anciãos


em Jerusalém, têm muitos anos de experiência no serviço de Deus. Mas
Cremos que a Bíblia é a Palavra de Deus, conquanto inter-
não confiam na sabedoria humana ao fazerem decisões. Não, sendo go-
pretada pelo “escravo fiel e discreto” e seu Corpo Governante; se
não estivermos em contato com esse canal de comunicação de vernados teocraticamente, seguem o exemplo do primitivo corpo go-

Jeová para nos ensinar a interpretá-la, não avançaremos na es- vernante em Jerusalém, cujas decisões baseavam-se na Palavra de Deus

trada da vida, não importa quanto a leiamos. Cremos também e eram feitas sob a direção do espírito santo.3

que a Tradução do Novo Mundo (NM), produzida por fiéis ser-


vos de Jeová, é a única confiável; as demais estão repletas de Assim como os profetas bíblicos apontavam para o Messias, eles tam-

sectarismo e filosofias mundanas. bém nos encaminham ao unido corpo de cristãos ungidos, das Teste-
munhas de Jeová, que serve atualmente qual escravo fiel e discreto. Este
A B íb lia v e r s u s o C o rp o G o v e r n a n te nos ajuda a entender a Palavra de Deus. Todos os que desejam entender
a Bíblia devem reconhecer que a “grandemente diversificada sabedoria
Baseando-se em Mateus 24 .45-47, os testemunhas de Jeová ensinam
de Deus” só pode ser conhecida através do canal de comunicação de
que Jesus profetizou a existência de uma classe cham ada “escravo fiel e
Jeová, o escravo fiel e discreto. — João 6:68.4
discreto” {NM). Essa classe teria como porta-voz um colegiado conhecido
como Corpo Governante, que se encontra na sede mundial da organização,
As Testemunhas de Jeová destacam-se em nítido contraste com os
no Brooklyn, Nova York, EUA. Composto por nove hom ens (setem bro de
cegados por Satanás. [...] Quão gratas são por terem saído da escuridão
2009), a tarefa desse grupo seleto é interpretar a Bíblia para os testem u-
nhas de Jeová, os quais não podem contrariar suas interpretações. Tudo o
A Sentinela, 15/12/2000, p. 21.
que o Corpo Governante ensinar deve ser recebido com o vontade de Jeová
A Sentinela, 1W 1991, p. 18-19.
para a seita. As publicações dos testem unhas de Jeová não deixam dúvidas Poderá viver para sempre no paraíso na terra, p. 195.
sobre o poder espiritual absoluto do Corpo Governante sobre a seita: A Sentinela, ls/10/1994, p. 8.
D e t u r pa n d o a P a l a v r a d e D e u s 81 82 T e s t e m u n h a s d e J e o v A: e x p o s i ç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s

para a maravilhosa luz de Deus! Esta é uma luz espiritual, a verdade da • Quem correria o risco de ser como os “cegados por Satanás” e dis-
Palavra de Deus que ilumina a mente, de modo que até mesmo os pró- pensaria a intepretação da Bíblia feita pelo “escravo fiel e discreto”?
prios cegos podem enxergar a verdade. • Quem, querendo avançar na “estrada da vida”, não perm aneceria
Naturalmente, é necessário ter ajuda. Não é provável que alguém, em contato com Corpo Governante?
por apenas ler a Bíblia, sem se aproveitar das ajudas divinamente pro- • Quem se atreveria em sã consciência a desobedecer e resistir a
vidas, consiga ver a luz. É por isso que Jeová Deus proveu “o escravo fiel um a organização que se diz dirigida “pessoalm ente” por Cristo,
e discreto”, predito em Mateus 24.45-47. Atualmente, este escravo é re- sabendo que, ao fazer isso, estará enfrentando o próprio Jesus?
presentado pelo Corpo Governante das Testemunhas de Jeová.5
Os testem unhas de Jeová, portanto, veem -se num a situação da qual,

Mas, Jeová Deus proveu também sua organização visível, seu “es- para eles, não têm para onde escapar. Qualquer pensam ento contrário à

cravo fiel e discreto”, composto dos ungidos com o espírito, para ajudar seita deve ser sufocado e suprimido. Isso é dito de form a contundente no

os cristãos em todas as nações a entender e a aplicar corretamente a artigo intitulado “Lute contra ideias independentes”.

Bíblia na sua vida. A menos que estejamos em contato com este canal
de comunicação usado por Deus, não avançaremos na estrada da vida, Mas, há alguns que salientam que a organização já antes teve de

não importa quanto leiamos a Bíblia.6 fazer ajustes, e por isso argumentam: “Isto mostra que temos de decidir
por nós mesmos o que devemos crer”. Estas são ideias independentes.

Para apegar-se à chefia de Cristo, é portanto necessário obedecer à Por que são tão perigosas?
Tais ideias dão evidência de orgulho. [...] Se chegamos a pensar
organização que ele dirige pessoalmente. Fazer o que a organização diz
que sabemos mais que a organização, devemos perguntar-nos: “Onde
é fazer o que ele diz. Resistir à organização é resistir a ele.7
é que aprendemos a verdade da Bíblia? Conheceríamos o caminho
da verdade se não tivesse havido a ajuda da organização? Podemos
Diante dessas citações, surgem perguntas cujas respostas são inevitá-
realmente passar sem a orientação da organização de Deus?” Não,
veis. Entre os testem unhas de Jeová...
não podemos Z8

• Quem se atreveria a questionar alguém que afirm a ser o respon-


Esse discurso mantém os testem unhas de Jeová no cabresto e sob ré-
sável pelos “interesses de Deus na terra”?
dea curta. A fim de não perder o controle absoluto dos adeptos, o Corpo
• Quem ousaria duvidar de hom ens que, “com o os apóstolos”, b a -
Governante sempre os alerta de não darem ouvidos a críticas contra a
seiam suas decisões na Bíblia e “sob a direção do “espírito santo”?
organização, sobretudo vindas de “apóstatas”, term o que se aplica geral-
• Quem teria a coragem de rebater o “canal de com u nicação de
mente aos que saíram da seita e rejeitaram a liderança do “escravo fiel e
Jeová”?
discreto” . Sob o tem a “Não tenha tratos com apóstatas”, o Corpo Gover-
nante persuade:
5 A Sentinela, P/5/1992, p. 31.
6 A Sentinela, P/8/1982, p. 27.
7 A Sentinela, P /l 1/1959, p. 653. 8 A Sentinela, 15/7/1983, p. 27.
D e t u r pa n d o a P a l a v r a d e D e u s 83 84 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

Ora, o que fará então quando se vir confrontado com ensinos após- Odeio-os com ódio consumado. Tornaram-se para mim verdadeiros ini-
tatas — raciocínios sutis — afirmando que aquilo que você crê como migos.” [...] Nós, como leais Testemunhas de Jeová, portanto, não te-
Testemunha de Jeová não é a verdade? Por exemplo, o que fará se rece- mos nada em comum com eles.11
ber uma carta ou alguma literatura, e, abrindo-a, vê logo que procede
dum apóstata? Será induzido pela sua curiosidade a lê-la, só para ver o Todo esse cuidado é para evitar que os testem unhas de Jeová abando-
que ele tem a dizer?9 nem a seita. Eles são levados a crer que não existe vida fora da sua reli-
gião. Abandoná-la é abandonar o próprio Jeová. A consequência disso é
Para os testem unhas de Jeová que se consideram im unes aos apósta- im ediata: fora da organização, não há salvação. Os testem unhas de Jeová
tas, o Corpo Governante adverte: creem que não terão a vida eterna se não confiarem a própria vida à “or-
ganização teocrática de Jeová”, pois ela é o “cam inho” ou a “estrada” que
Talvez você até mesmo raciocine: “Isso não me vai afetar; sou forte conduzirá à vida eterna:
demais na verdade. E, além disso, tendo a verdade, não temos nada a
temer. A verdade suportará a prova.” Argumentando assim, alguns nu- Não conclua que existem várias estradas ou caminhos, que pode-
triram a mente com raciocínios apóstatas e caíram vítimas de sérias rá utilizar para ganhar a vida no novo sistema de Deus. Existe apenas
perguntas e dúvidas. [...] Com a ajuda amorosa de irmãos solícitos, al- uma. Foi apenas aquela única arca que sobreviveu ao Dilúvio e não
guns daqueles em quem os apóstatas tinham lançado dúvidas um sem-número de embarcações. E haverá apenas uma organização
restabeleceram-se depois de um período de perplexidade e trauma es- — a organização visível de Deus — que sobreviverá à “grande tribu-
pirituais. Mas esta dor poderia ter sido evitada.10 lação” que rapidamente se aproxima. [...] Você precisa pertencer à or-
ganização de Jeová e fazer a vontade de Deus, a fim de receber Sua
O recado é claro: os testem unhas de Jeová são os m ocinhos; os após- bênção de vida eterna.12
tatas são os bandidos, e os testem unhas de Jeová incautos são as vítimas.
Assim, para evitar o traum a e a dor, basta evitar os “apóstatas” e ficar ao Enquanto as Escrituras esclarecem que a salvação está em uma pes-

lado da organização do “escravo fiel e discreto”. Mas evitar não é o b as- soa, Jesus (2Tim óteo 3.1 5), os testemunhas de Jeová, em bora falem em

tante; é preciso odiá-los. Sob o título “Ódio à religião falsa e à apostasia”, “Jesus”, apontam tam bém um “lugar”. Sob o subtítulo “Não há outro lu-

O Corpo Governante profere com veemência: gar”, o Corpo Governante declara:

A obrigação de odiar o que é contra a lei aplica-se também a todas Sentir-nos-emos impelidos a servir a Jeová com lealdade junto com

as atividades dos apóstatas. Nossa atitude para com os apóstatas deve sua organização se nos lembrarmos de que não há outro lugar onde se

ser a de Davi, que declarou: “Acaso não odeio os que te odeiam inten- possa obter a vida eterna. [...] Não há outro lugar onde se possa obter o
samente, ó Jeová, e não tenho aversão aos que se revoltam contra ti? favor divino e a vida eterna. [...] Nosso coração deve impelir-nos a

9 A Sentinela, 15/3/1986, p. 12. u A Sentinela, 15/7/1992, p. 12.


10 Ibid. 12 Poderá viver para sempre no paraíso na terra, p. 255.
D e t u r pa n d o a P a l a v r a d e D e u s 85 86 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

cooperar com a organização de Jeová, porque sabemos que só ela é sabem que nenhuma delas substitui a própria Bíblia. [...] Naturalmen-
dirigida pelo Seu espírito e divulga Seu nome e Seus propósitos.13 te, a leitura da Bíblia não deve substituir seu uso da excelente matéria de
estudo providenciada por meio do “escravo fiel e discreto”. Esta também
Não é à toa que os testem unhas de Jeová se recusam a dar ouvidos às faz parte das provisões de Jeová, uma provisão muito preciosa.16

opiniões contrárias às do Corpo Governante. Na m ente deles, há muita


coisa em jogo: o favor de Jeová e a vida eterna. 0 m edo de sair e perder a Assim, a literatura da seita é posta em pé de igualdade com a Bíblia,

vida eterna leva-os a essa dependência m ental e espiritual. Incentivam as pois “m eram ente ter a Palavra de Deus e lê-la não basta para adquirir o

pessoas de outras religiões a terem “m ente aberta” e a exam inar a própria conhecim ento exato que coloca a pessoa no cam inho da vida”.17 Para os

religião sem nenhum tem or,14 m as eles m esm os não podem seguir o pró- testem unhas de Jeová, a Bíblia é como um grande poço de água da verda-

prio conselho, pois correm o risco de serem destruídos por Deus; esse de; contudo, não será possível extrair a água do poço sem o balde forneci-

será o preço para os desertores e os que ousaram questionar a “organiza- do pelo Corpo Governante (as publicações da organização).

ção teocrática de Jeová” e seu “canal de com unicação”. O estudo dessas publicações é contínuo. Tudo com eça quando a pessoa

Apesar dessa realidade mais que evidente, os testem unhas de Jeová se torna um “estudante” (p essoa que recebe um estudo dom iciliar da
seita). Esse estudo consiste teoricam ente na análise expositiva da Bíblia
dizem de si m esm os: “Não consideram nenhum humano como seu líder,
por meio de um a literatura do Corpo Governante. Entretanto, na prática,
mas unicam ente Jesus Cristo”.15No entanto, a própria literatura da seita e
o estudante lê e estuda a publicação da seita muito m ais do que a própria
a prática m ostram justam ente o contrário e desm entem essa declaração
Bíblia. Esta é usada apenas com o um guia de consulta para se verificar
do livro Raciocínios à base das Escrituras.
argum entos previam ente estabelecidos. Em seguida, a pessoa será in-
Fabricando testemunhas de Jeová centivada a frequentar um a das seguintes reuniões sem anais:

0 que faz de alguém um testem unha de Jeová não é realm ente a leitura
• Reunião Pública. Consiste num serm ão, cujo esboço é fornecido
da Bíblia, m as é o estudo da literatura produzida pelo Corpo Governante.
pela seita.
Essas publicações — A Sentinela, Despertai!, Raciocínios à base das Es-
• Estudo da Revista A Sentinela. Essa revista é publicada em duas
crituras etc. — são vistas com o o “alim ento espiritual”. De um lado, os
edições: um a para o público geral, e outra especialm ente para os
testem unhas de Jeová dizem que essas publicações não podem substituir
testem unhas de Jeová, cham ada de “edição de estudo”, com per-
a Bíblia; de outro, creem que a Bíblia não pode substituí-las:
guntas e respostas; é essa edição que é estudada nessa reunião.
• Estudo Bíblico de Congregação. Estuda-se uma publicação por meio
As Testemunhas de Jeová apreciam muito as ajudas que têm para o
de perguntas e respostas.
estudo da Bíblia, inclusive A Sentinela, e fazem uso regular delas. Mas,
• Escola do Ministério Teocrático. Voltada especialm ente para os “pu-
blicadores” (o adepto, batizado ou não, que trabalha de casa em
13 A Sentinela, 15/11/1992, p. 10, parágrafos 12,14-15.
14 Despertai!, 22/3/1985; Poderá viver para sempre no paraíso na terra, p. 32-33; A
verdade que conduz à vida eterna, p. 13. 16 A Sentinela, l2/5/1995, p. 13 e 19.
15 Raciocínios à base das Escrituras, p. 387. 17 A Sentinela, ls/12/1991, p. 19.
D e t u r pa n d o a P a l a v r a d e D e u s 87 88 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s

casa); essa reunião oferece treinam ento em oratória pública e na R efu t a ç ã o d a b ib l io l o g ia d o s t e s t e m u n h a s d e Jeo vá

arte de ensino.
• Reunião de Serviço. Estuda-se o periódico Nosso ministério do rei- A suficiência das Escrituras
no, com instruções práticas sobre a atividade de pregação da seita. A teologia reformada e sua ênfase na “sola Scriptura” (som ente a B í-

blia) é um excelente guia para nossa compreensão da suficiência das E s-


O estudo d o m iciliar e essas reuniões m antêm os testem unhas de crituras. Cremos e confessam os conform e a Segunda confissão helvética
Jeová cativos ao Corpo Governante. Sabendo disso, a liderança alerta os (1 56 6), segundo a q u a l“as Escrituras Canônicas [...] têm suficiente auto-
adeptos de não lerem a Bíblia em particular, pois isso pode conduzi-los ridade por si m esm as. [...] E nestas Escrituras Sagradas a igreja univer-
a algo muito “estranho”: sal de Cristo tem um a completa exposição de tudo o que se refere à fé
salvadora e ao padrão de uma vida aceitável a Deus” (cap. 1, § 1; in: Beeke;

De vez em quando têm surgido nas fileiras do povo de Jeová alguns F erg u son , 2006, p. 10). Essa declaração concorda plenam ente com o que o
que, iguais ao Satanás original, adotaram uma atitude de independên- apóstolo Paulo disse a Tim óteo:
cia e crítica. [...] Dizem que basta ler exclusivamente a Bíblia, quer em
particular, quer em pequenos grupos em casa. Mas, o que é estranho é Porque desde criança você conhece as sagradas letras, que são
que por meio de tal “leitura da Bíblia” voltaram novamente para trás, capazes de torná-lo sábio para a salvação mediante a f é em Jesus Cristo.
para as doutrinas apóstatas que os comentários dos clérigos da cristan- Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
dade estavam ensinando há 100 anos.18 repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o
homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra
Esse alerta é realmente revelador. Se alguém deixar de se alim entar do (2Timóteo 3.15-17).
alimento espiritual do “escravo fiel e discreto” e passar a ler som ente a
Bíblia, deixa de crer no corpo doutrinário da seita. Isso nos leva ao que foi Disso se deduz o que é muito comum ouvir nos círculos evangélicos e
dito no início deste subtítulo: não é a leitura da Bíblia que faz de alguém que se acha no Catecismo maior de Westminster (1648): “As Escrituras Sa-

um testem unha de Jeová, m as é a literatura do Corpo Governante. gradas do Antigo e do Novo Testamento são a Palavra de Deus, a única
A fim de m inim izar que a leitura exclusiva da Bíblia conduza alguém regra de/e e prática ” (pergunta 3; in: ibid., p. 11).
para fora do rebanho, os testem unhas de Jeová têm sua própria versão da Esse reconhecimento da suficiência das Escrituras, entretanto, não quer
Bíblia: a Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas. O Corpo Go- dizer que não surjam dúvidas ou discordâncias sobre assuntos secundários
vernante adequou as Escrituras ao seu sistem a doutrinário, em vez de se da fé, com o a form a de governo da igreja (episcopal, congregacional,
ajustar às Escrituras divinam ente inspiradas. Os testem unhas de Jeová presbiteriano etc.), o modo de administrar o batism o (imersão ou aspersão),
acreditam ser esta a única tradução confiável das Escrituras. quem pode receber o batismo (som ente adultos ou tam bém crianças), a
Vamos agora analisar e refutar esse discurso equivocado da seita so- identidade do “fruto da videira” usado na ceia do Senhor (vinho ou suco de
bre a suficiência da Bíblia e sua interpretação. uva; Mateus 26.29), aspectos escatológicos (se Jesus vem antes ou depois
da “grande tribulação”, ou se haverá essa “tribulação”; se o “Milênio” é literal
18 A Sentinela, P/6/1982, p. 28. ou sim bólico) etc. Entretanto, podemos seguram ente dizer que jam ais
D e t u r pa n d o a P a l a v r a d e D e u s 89 90 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

haverá dúvidas sobre como as pessoas poderão ser salvas. A salvação em condenação aos que a rejeitam (2Coríntios 2.14-16). A Confissão de f é de
Cristo nunca é posta em questionam ento pela Bíblia. Ao contrário, seu Westminster (1647, cap. 1, § 6-7; in: B eek e ; F e rg u so n , 2006, p. 1 3 ,1 5) atesta
objetivo precípuo é conduzir a humanidade a Jesus, o tem a principal das esta verdade:
Escrituras, como atestam as seguintes passagens bíblicas: Lucas 24.27,44;
João 1.45; 5.39,46; Atos 10.43; 2Tim óteo 3.15 etc. Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias
O Antigo Testamento relata a história da criação do prim eiro homem para a sua própria glória e para a salvação, a fé e a vida do homem, ou
e de sua mulher, registrando o momento em que pecaram contra o Criador. está expressamente declarado nas Escrituras ou pode ser lógica e clara-
Contudo, longe de desam pará-los, esse Deus de ju stiça e de am or faz uma mente deduzido delas. [...] Nas Escrituras, não são todas as coisas igual-
promessa: enviar um Salvador a fim de resgatar eles e seus filhos (Gê- mente claras em si, nem do mesmo modo evidentes a todos; contudo, as
nesis 3.15). Assim, o Antigo Testamento apresenta uma promessa: o Sal- coisas que precisam ser conhecidas, cridas e observadas para a salvação,
vador virá; e o Novo Testam ento aponta o cu m p rim ento: o Salvador em um ou outro lugar das Escrituras são tão claramente expostas e
chegou, m orreu com o nosso substituto, ressuscitou em glória, ascendeu aplicadas, que não só os doutos, mas ainda os incautos, com o devido uso
ao céu e virá segunda vez para levar seus servos e servas para o céu (Deu- dos meios comuns, podem alcançar um entendimento suficiente delas.
teronômio 18.15,18 [cf. João 1.45; Atos 3.22; 7.37]; Gênesis 3.15; 12.3,7 [cf.
Gálatas 3.8,16]; Atos 2.22-36). Toda essa m ensagem contraria o que diz o Corpo Governante dos tes-
Desse modo, ao ler a Bíblia, nenhum a pessoa, um a vez ilum inada pelo tem unhas de Jeová, quando afirm a que a Bíblia, inspirada pelo Espírito
Espírito Santo, o Autor das Escritu ras, bu scará em outras divindades, Santo, não é su ficientem ente capaz de conduzir a hum anidade a Jesus,
como Bram a, do hinduísm o, ou seja lá em quem for, a “fórmula” da vida o Caminho, a Verdade e a Vida (João 14.6). M esmo sem saber, o Corpo
eterna; ela até mesm o descobrirá que suas boas obras não poderão sal- Governante tenta inutilm ente fazer as vezes do Espírito Santo, porque
vá-la, por mais m eritórias que sejam do ponto de vista humano. A Bíblia ninguém pode dizer “Jesus é Senh or”, a não ser pelo E sp írito Santo
é absoluta e verdadeira ao destacar que a salvação do hom em ocorre ex- (ICoríntios 12.3); e tam bém as vezes do Pai, pois Jesus disse que ninguém
clusivamente por interm édio da graça de Deus m ediante a fé em Jesus viria até ele, a m enos que o Pai o atraísse (João 6 .3 5,4 4,45). Essa atitude
(Atos 4.12; 10.43; 16.30,31; Efésios 2.8,9; Rom anos 10.9,10). Fora de Je- do Corpo Governante é extrem am ente perigosa, pois beira a blasfêm ia.
sus Cristo, não há salvação. Essa é a m ensagem inequívoca da Bíblia.
Mesmo o incrédulo poderá tom ar ciência da m ensagem salvífica da A interpretação das Escrituras
Bíblia. Não qu er dizer que crerá au tom aticam ente nessa m ensagem . Como já vim os, nem todas as coisas nas Escrituras possuem a m es-
Certamente, por não ser espiritual (não ter nascido do Espírito nem ser m a clareza nem são com preendidas do m esm o modo. Os cristãos do sé-
iluminado interiormente por ele), mas carnal, poderá caçoar das Escrituras, culo I não tinham dúvida de que só Jesus salva, m as isso não quer dizer
ou m esm o menosprezar o que ela diz (IC orín tios 2 .6 -1 6 ); talvez fique que não houvesse dúvidas com relação às Escrituras ou dificuldades de
chocado com o exclusivismo radical da Bíblia em relação à pessoa de Jesus, interpretá-la. O apóstolo Pedro reconhece que Paulo escrevia com “a sa-
segundo ela o único meio possível para alguém se salvar; m as jam ais poderá bedoria que Deus lhe deu [...] em todas as suas cartas”. Entretanto, ele
afirm ar que a Bíblia não foi clara em relação a essa mensagem que traz vida afirm ou: “Suas cartas contêm algumas coisas difíceis de entender, as quais
aos que nela creem , pela atuação do Espírito Santo (Jo ão 1 6.8 -1 1 ), e os ignorantes e instáveis torcem, com o tam bém o fazem com as demais
D e t u r pa n d o a P a l a v r a d e D e u s 91 92 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s

Escrituras, para a própria destruição deles” (2Pedro 3.16 ). 0 reconheci- contanto que eles estejam em conformidade com as Escrituras, mas res-
mento de que há “algum as coisas difíceis de entender” nas cartas de peitosamente divergimos delas quando nelas encontramos coisas
Paulo (e, por extensão, nas Escrituras) deve levar o intérprete a uma ati- estranhas ou contrárias às Escrituras. Tampouco cremos que estamos lhes
tude de humildade e reverência diante do texto bíblico. Deve-se a todo fazendo qualquer injustiça a respeito dessa questão, visto que todos eles,
custo evitar torcer a Bíblia, ajustando-a ao que pensam os ser o certo, em unanimemente, não procuraram equiparar os seus escritos com as Es-

vez de nos ajustarm os ao que ela realm ente declara. O Corpo Governante crituras Canônicas, mas nos mandam verificar até que ponto concordam
optou, “para a própria destruição”, por distorcer as Escrituras e até m es- com elas ou delas discordam, aceitando o que está de acordo com elas e
mo fabricar sua própria versão adulterada da Palavra de Deus, negando a rejeitando o que está em desacordo. E nessa mesma ordem, colocamos
Trindade, a divindade de Jesus e sua igualdade com o Pai, a pessoalidade também os decretos e os cânones dos concílios. [...] Portanto, acerca das
e divindade do Espírito Santo, entre outras doutrinas vitais. questões de fé e religião, não admitimos outro juiz que não seja o próprio
Para fugir desses extrem os destrutivos, um excelente princípio de in- Deus, que, por intermédio das Escrituras Sagradas, anuncia o que é
terpretação das Escrituras foi exposto pela Segunda confissão helvética verdadeiro, o que é falso, o que deve ser seguido e o que deve ser evitado.
(cap. 2, § 1; in: B e ek e ; Fe rg u so n , 2006, p. 14):
Essa é a atitude que deve conduzir o cristão ao usar recursos para
[...] reconhecemos como ortodoxa e genuína apenas a interpretação das interpretar as Escrituras. Uma m ente treinada à luz da Bíblia estará pre-

Escrituras que é retirada das próprias Escrituras (ou seja, do significado parada para concordar com as opiniões dos intérpretes ou discordar de-
da língua em que foram escritas, segundo as circunstâncias em que foram las, e esses intérpretes devem ser hum ildes para reconhecer suas lim ita-
registradas, pela comparação de passagens semelhantes, das diferentes e ções. É um a pena que os testem unhas de Jeová desconheçam esses prin-
também das mais claras) que concorda com a regra de fé e amor e que cípios e não tenham essa liberdade.
contribui notavelmente para a glória de Deus e a salvação dos homens. A seguir, vamos analisar os textos bíblicos distorcidos pelo Corpo Go-
vernante a fim de fundam entar sua pretensão de “canal de com unicação

Toda bo a ajuda na interp retação da Bíblia é bem -vinda. Muitos ser- de Jeová” e de único intérprete fiel das Escrituras.

vos de Deus do passado labutaram no trabalho de interpretá-la; há um


acervo fabuloso à nossa disposição, desse a p atrística, passando pela
Textos mal interpretados
Reform a, até os dias atuais. Apesar da autoridade desses intérpretes, o
Mateus 24.45-47 (NM)
que disseram deve p assar pelo exam e m eticuloso das E scritu ras. Ao
falar das “profecias”, o apóstolo Paulo estabeleceu um princípio ainda Quem é, realmente, o escravo fiel e discreto a quem o seu amo desig-
válido: “ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom ” nou sobre os seus domésticos, para dar-lhes o seu alimento no tempo
(ITessalo nicen ses 5.2 1 ). Esse p rincípio foi levado a sério pela Segunda apropriado? Feliz aquele escravo, se o seu amo, ao chegar, o achar fazen-
confissão helvética (cap. 2, § 4; in: ibid., p. 14): do assim! Deveras, eu vos digo: Ele o designará sobre todos os seus bens.

Portanto, não desprezamos as interpretações dos santos padres Contrariando a liderança m áxim a dos testem unhas de Jeová, o texto
gregos e latinos, nem rejeitamos as suas discussões e os seus tratados, de Mateus 24.45-4 7 em nenhum m om ento ensina que Jesus predisse a
D e t u r pa n d o a P a l a v r a d e D e u s 93 94 T e s t e m u n h a s d e J e o v A: e x p o s i ç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s

existência de uma classe conhecida como “escravo fiel e discreto” ( NM), por fim, m orreria. Ele só queria saber a quem o profeta se referia nessa
nem muito m enos seu porta-voz, o Corpo Governante, que teria como passagem: se falava de si mesm o ou de outra pessoa. Ora, se o eunuco
função alim entar espiritualm ente seus seguidores. Não se trata de uma tivesse toda a Bíblia (e não tinha pelo fato de o Novo Testamento ainda
profecia, m as tão som ente de uma parábola, cujo objetivo é levar os cris- não ter sido escrito), bastaria ler 1Pedro 2.21 -25, que aplica essa passa-
tãos a estar vigilantes, aguardando a volta de Jesus, pois ninguém sabe gem de Isaías a Jesus. Assim, o problem a do eunuco era ter apenas uma
em que dia e hora virá o Mestre. fração das Escrituras. Como ensina a Confissão de f é de Westminster (cap.
Mateus 24.36 é o ponto-chave dessa questão: “Quanto ao dia e à hora 1 ,§ 9; in: ibid.,p. 15):
ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão som ente o Pai”.
Os exemplos que vão de Mateus 24.37 a 2 5.1-13 estão relacionados a esse A regra infalível de interpretação da Escritura é a própria Escritura;
versículo e servem de advertência e alerta. 0 objetivo é levar os cristãos à portanto, quando houver questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de
vigilância. Para isso, Jesus usou o Dilúvio e m ais três parábolas: a do dono qualquer texto das Escrituras (sentido que não é múltiplo, mas único),
de casa, a das dez virgens e a do “escravo fiel e discreto”. Contrário ao que esse texto deve ser estudado e examinado por outros textos que falem
faz parecer o Corpo Governante, a parábola do escravo não term ina no mais claramente.
versículo 47, m as no 51. Segundo o versículo 48, o escravo, perdendo de
Atos 15.22,23a,28,29
vista a necessidade de vigilância, diz: “Meu amo demora”. Então, Jesus
arremata: “0 am o daquele escravo virá num dia em que não espera e numa Então os apóstolos e os presbíteros, com toda a igreja, decidiram
hora que não sabe, e o punirá” (v. 50,5 1). Então, quem é o “escravo fiel e escolher alguns dentre eles e enviá-los a Antioquia com Paulo e Barna-
discreto”? É todo cristão que, desconhecendo o dia e a hora da volta de bé. Escolheram Judas, chamado Barsabás, e Silas, dois líderes entre os
Jesus, está vigiando e aguardando sua vinda. Mas não está ocioso, pois, irmãos. Com eles enviaram a seguinte carta: [...] “Pareceu bem ao Espí-
nesse ínterim , com o todo bom servo, trabalha na obra do Amo. rito Santo e a nós não impor a vocês nada além das seguintes exigências
necessárias: Que se abstenham de comida sacrificada aos ídolos, do san-
Atos 8.27-36
gue, da carne de animais estrangulados e da imoralidade sexual. Vocês
Então Filipe correu para a carruagem, ouviu o homem lendo o pro- farão bem em evitar essas coisas. Que tudo lhes vá bem”.
feta Isaías e lhe perguntou: “O senhor entende o que está lendo?” Ele
respondeu: “Como posso entender se alguém não me explicar?” Esse texto não revela a existência de um corpo governante da igreja
prim itiva em Jerusalém . Quando o cristianism o foi fundado, era com pos-
Valendo-se da declaração do eunuco etíope, que se m ostrou incapaz to prim eiram ente por judeus. Depois, pessoas de outras raças com eça-
de entender o que estava lendo, a m enos que alguém o explicasse (v. 3 1), o ram a entrar. Eram os g en tios.19 Isso gerou trem endo choque de culturas
Corpo Governante põe-se na condição de Filipe, o expositor das Escrituras e costum es. Assim , segundo o início de Atos 15, alguns judeus saíram
para o eunuco, que, nesse caso, representaria os que ignoram a Bíblia.
O contexto, porém , revela que a dúvida do eunuco lim itava-se a uma
parte das Escritu ras: Isaías 5 3 .7 -8 (v. Atos 8 .2 8 ,3 2 ,3 3 ). Lendo a profe- 19 Essa era a designação usual que os judeus davam aos que não pertenciam à sua
cia, ele entendeu que alguém sofreria, seria julgado inju stam en te e, raça. Os testemunhas de Jeová usam o termo “pessoas das nações” ( NM).
D e t u r pa n d o a P a l a v r a d e D e u s 95 96 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

de Jerusalém e foram até a cidade de Antioquia, onde estavam Paulo e assem elha no cristianism o primitivo à form a de chefia praticada pelo Cor-
Barnabé, e com eçaram a ensinar que os novos convertidos não seriam po Governante dos testem unhas de Jeová.
salvos se não fossem circuncidados segundo o costum e de Moisés. A briga
Efésios 4.11,12
estava formada.
A questão é: Por que Paulo e B arnabé não resolveram o problem a Ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para
sozinhos? Por que tiveram de ir até Jerusalém buscar auxílio dos apóstolos? evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os
A resposta é a seguinte: Paulo e Barnabé pertenciam à igreja de Antioquia santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado.
(Atos 13.1). Os judeus que foram até lá ensinar a necessidade de guardar
a Lei de Moisés saíram da igreja de Jerusalém (v. 2 4). Assim, nada mais 0 Corpo Governante apresenta esse texto da seguinte forma: “Que é
justo que o problema fosse resolvido em Jerusalém , de onde os debatedores necessário m ais do que m eram ente ler a Bíblia em particular, pode-se
haviam saído. Se eles consideravam os apóstolos daquela igreja como ver de Efésios 4 :1 1-1 3 ”. Depois disso, pergunta: “Como podemos saber
autoridade constituída por Deus, certam ente acatariam sua decisão. Isso quem são os que Jeová Deus e Jesus Cristo estão usando para ajudar
nada tem que ver com o fato de existir um “corpo governante” em Jeru- pessoas que desejam ser cristãos a alcançarem a condição de hom em
salém que controlasse todas as dem ais igrejas no mundo inteiro. Esse plenamente desenvolvido?”.21 Esse com entário contradiz o texto bíblico,
poder centralizador não fazia parte da igreja primitiva. pois A Sentinela declara que Jeová e Jesus deram à igreja hom ens para
Eis outro fato que deve ser o bservado: a d ecisão co n cilia r não foi ajudar quem desejasse ser cristão, quando o texto diz que foram dados
tom ada ap enas pelos apóstolos e presbíteros de Jeru salém . A m ultidão “com o fim de preparar os santos para a obra do m inistério”. Se são
dos irm ãos tam bém estava presente e p articip ou do debate. Ou seja, a cham ados “santos”, é porque já são cristãos.
decisão não foi tom ada arbitrariam ente pela liderança e repassada aos Para que alguém se tornasse cristão, Deus providenciara a obra do
liderados. Esse não é o prim eiro relato em que toda a igreja participa Espírito Santo, que faria o indivíduo p erceber sua condição pecam ino-
de um a decisão im portante para o grupo dos cristãos. Por exemplo, na sa, levando-o ao arrependim ento de seus pecados e ao reconhecim ento
escolha dos d iáco nos,20 vem os os apóstolos pedindo à m ultidão que de que sem Jesus Cristo não há m eio de obter a salvação. Ao ingressar
escolhesse os que cu id ariam da d istrib u ição de alim en to s na igreja então na igreja, ele, com o “santo”, isto é, separado por Deus, receberia
(Atos 6 .1 -6 ). Uma vez escolhido s, a m ultidão dos d iscípulos levou-os ajuda dos apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e m estres para de-
a té os a p ó sto lo s, q u e o ra ra m e im p u se ra m as m ã o s so b re ele s, sem penhar sua “obra do m inistério” e progredir até atingir a plena es-
con firm ando a escolha. tatu ra da medida de Cristo.
Não nos podem os esquecer, porém , do fato de existirem pessoas a Assim, essas funções foram estabelecidas por Deus com o objetivo de
quem Deus delegou a tarefa de cuidar da igreja (Atos 20.28; Efésios 4.11,12; nos levar ao crescim ento espiritual, ao amadurecim ento cristão. Nunca
Hebreus 13.17; IPedro 5.2). Se cada pessoa, isoladam ente, tivesse poder para nos conduzir à vida, com o afirm ou o Corpo Governante.22 Quão
de decisão, a anarquia dom inaria a Igreja. Mas, seja com o for, nada se diferentes são as palavras do apóstolo Paulo dirigidas aos coríntios: “Não

21 A Sentinela, P/12/1991, p. 19.


20 “Servos ministeriais” na nomenclatura dos testemunhas de Jeová. 22 A Sentinela, la/8/1982, p. 27.
D e t u r pa n d o a P a l a v r a d e D e u s 97 98 T e s t e m u n h a s d e J e o v A: e x p o s i ç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s

que tenham os dom ínio sobre a sua fé, m as cooperam os com vocês para Até 1936, os testemunhas de Jeová criam que Jesus morrera num a cruz.

que tenham alegria, porque é pela fé que vocês perm anecem firm es” No entanto, Rutherford, no livro Riquezas (p. 26), mudou esse ensinamento

(2Coríntios 1.24). Esse texto tem dois elem entos importantes: e afirm ou que Jesus não m orrera num a cruz de duas vigas, m as num
madeiro ou estaca de tortura.25Em razão disso, com o lançam ento da Tra-
1. Os “santos” perm aneciam firm es por causa da fé que tinham (pois dução do Novo Mundo, a palavra “cruz” foi substituída por “estaca de tor-
a receberam do Espírito Santo), não pela obediência cega a precei- tura”, em bora nenhum a outra versão bíblica abonasse essa substituição.26

tos de homens. A fim de desacreditar as m odernas traduções da Bíblia que usam o

2. Havendo na com unidade cristã pessoas capacitadas para instruir, term o “cruz”, os testem unhas de Jeová recorrem a uma falácia linguística:

ainda assim a atuação delas seria limitada. Deveriam ser coopera- “A palavra grega traduzida por cruz’ em m uitas versões m odernas da

doras, jam ais donas ou manipuladoras da fé alheia. O objetivo de- Bíblia [...] é stau.rós. No grego clássico, esta palavra significa m eram ente
las é levar os “santos” a desem penhar m elhor seu m inistério cristão. uma estaca reta, ou poste”. [...] Assim, o peso da evidência indica que

E a principal tarefa de cada cristão é, sem dúvida alguma, a prega- Jesus m orreu num a estaca reta e não na cruz tradicional”.27

ção das boas-novas: Cristo Jesus, Senhor do mundo e de nossa vida. Essa objeção não leva em conta que as palavras, com o passar do tempo,
podem perder o significado original ou tê-lo ampliado, o que não invalida
A Tr a d u ç ã o d o N o v o M u n d o ( N M )
a conotação que se dá hoje. 0 fato de staurós no grego clássico (séculos

Na década de 1950, o terceiro presidente da Torre de Vigia, Nathan V III-IV a.C.) significar “estaca reta”, um “poste”, não significa que tinha

Knorr, desejou uma tradução que fosse fiel às E scrituras, pois julgava que esse sentido absoluto no século I, pois o grego desse período é o coinê

as existentes estavam repletas de “filosofias m undanas, sectarism o” etc.23 (com um ) ou helenístico (c. 300 a.C.-300 d.C.). As publicações consultadas

Teve início então a produção da Tradução do Novo Mundo, que não passa pelo Corpo Governante para fundam entar esse argum ento linguístico,

de um a versão fabricada com a intenção de confirm ar as doutrinas anti- com o o The Imperial Bible Dictionary, não trazem a designação “de tor-

bíblicas da seita, uma vez que as demais traduções classificadas de “sec- tura", pois staurós aponta simplesm ente para uma estaca, um poste reto

tárias” e “m undanas” não as respaldavam . Em português, a tradução ou um pedaço de ripa, sem precisar o form ato e a finalidade. Aliás, mesmo

contendo o Antigo e o Novo Testamentos24 foi lançada em 1967. sem querer, o livro Raciocínios à base das Escrituras favorece o ponto de

Eis alguns dos exemplos de deliberada distorção do texto bíblico: vista da extensão do significado dessa palavra: “Mais tarde, [staurós] veio
tam bém a ser usada para uma estaca de execução com uma peça trans-
Lucas 23.26 (e outros) — cruz versus estaca de tortura versal”.28 Esse “mais tarde” pode se referir ao período greco-romano. Sobre
isso, veja o que disse Estêvão B e tte n c o u rt (1994, p. 101):
Então, quando o levaram embora, pegaram Simão, certo nativo de
Cirene, que vinha do campo, e puseram nele a estaca de tortura para a
levar atrás de Jesus.
25 V. tb. A Sentinela, 15/5/1995, p. 20.
26 O Novo Testamento Judaico (São Paulo: Vida, 2007) também aboliu o termo “cruz”,
23 Toda a Escritura é inspirada por Deus e proveitosa, 1966, p. 315, §16. substituindo-o por “estaca de execução”, considerado “terminologia neutra”.
24 Os testemunhas de Jeová designam o Antigo Testamento como “Escrituras Hebrai- 27 Raciocínios à base das Escrituras, p. 99-100.
cas”, e o Novo Testamento, “Escrituras Gregas Cristãs”. 28 P. 99.
D e t u r pa n d o a P a l a v r a d e D e u s 99 100 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

Ora, a crucificação era usual entre os romanos, adotada já por povos sim plex” (um a estaca sem peça transversal).30 A ideia é convencer o leitor

mais antigos. Com efeito, os persas, nos séculos V/IV a.C. a aplicavam; o de que a cruz utilizada por Jesus tinha esse form ato. O que o Corpo

costume passou para o Império de Alexandre Magno, que em 331 ven- Governante não revelou é que em seu De cruce liber secundus [A cruz,

ceu os persas, dando origem à cultura helenística. Os cartaginenses pu- segundo livro], o m esm o Justo Lípsio ilustra e descreve a cruz na qual

niam os reis nacionais e estrangeiros com a cruz. Parece que foram eles Jesus fora pendurado, a crux immissa: “Na cruz do Senhor havia quatro

que transmitiram o costume aos romanos; estes, por sua vez, o fizeram partes de m adeira: a viga vertical, a viga horizontal, um tronco de árvore

chegar à Palestina, nos tempos de Alexandre Janeu (67 a.C.), rei de Judá, (pedaço de m adeira) colocado na parte de baixo e o título (inscrição)

impregnado de cultura helenística. Os romanos aplicavam o suplício da colocado acim a” (apud Gr ie s h a be r , s.d., p. 103).

cruz aos piratas, bandidos e rebeldes; era dito supplicium servile, por- Outra obra, a The Non-Christian Cross, de John D enham Parsons, é

que destinado originariamente aos escravos; aplicavam-no, porém, oca- usada para afirm ar que o formato do staurós nos tempos apostólicos não

sionalmente, aos cidadãos romanos, apesar dos protestos de Cícero. corresponde à cruz usada na cristandade. Eis parte da citação:

O The Imperial Bible Dictionary, usado pelo Corpo Governante fora de Não existe uma única sentença em qualquer dos inúmeros escritos

contexto no livro Raciocínios à base das Escrituras, reconhece a cruz como que formam o Novo Testamento que, no grego original, forneça sequer

instrum ento de execução nos dias de Jesus; o que o dicionário com enta é evidência indireta no sentido de que o stauros usado no caso de Jesus

a dificuldade de determ inar a “forma” da cruz em que Jesus sofreu. Ele fosse diferente do stauros comum; muito menos no sentido de que con-

apresenta três m odelos: T ( crux commissa), X (crux decussata, tam bém sistisse, não em um só pedaço de madeira, mas em dois pedaços prega-

cham ada de Cruz de Santo André) e t ( crux immissa, tam bém cham ada dos juntos em forma de uma cruz.31

de latina ou capitata). Essa últim a é apontada pela “voz geral da tradição”


com o a cruz do Senhor (F a ir b a ir n , p. 3 7 6 -3 7 7 ).29 Ao contrário do que afirm ou Parsons, existem, sim , evidências internas

Assim, à luz das evidências históricas, arqueológicas e linguísticas, o nos textos bíblicos que evidenciam o form ato da cruz de Cristo. Elas

uso que fazemos da palavra “cruz” é legítimo. Negar isso é atentar contra podem não ser conclusivas, m as são altam ente prováveis.

a História, que assegura ter sido a cruz o instrum ento de execução utili-
João 20.25 (NM)
zado pelos rom anos nos dias de Jesus. Ele foi julgado num tribunal rom a-
no e executado segundo o padrão romano de condenação: a crucificação Consequentemente, os outros discípulos diziam-lhe: “Temos visto o
(B e tte n c o u r t, 1994, p. 98-106 ). Senhor!” Mas, ele lhes disse: “A menos que eu veja nas suas mãos o sinal
Na Tradução do Novo Mundo: com referências, os testem unhas de Jeová dos pregos e ponha o meu dedo no sinal dos pregos, e ponha a minha
tam bém se valem de um a ilustração da obra De cruce libri tres [A cruz, mão no seu lado, certamente não acreditarei”.
terceiro livro], de Justo Lípsio (15 4 7 -1 6 0 6 ), na qual ele retrata uma “crux

30 P. 1518.
29 V. tb. B e tte n c o u rt, 1994, p. 101. O The Imperial Bible Dictionary está disponível 31 Raciocínios à base das Escrituras, p. 99-100. O The Non-Christian Cross está
neste endereço: < http://www.archive.org/details/theimperialbible01unknuoft>. disponível em < http://www.gutenberg.Org/dirs/etext05/crossl0h.htm#CHl>. Aces-
Acesso em: 19/9/2009. so em: 19/11/2009.
D e t u r pa n d o a P a l a v r a d e D e u s 101 102 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

0 plural “pregos” é revelador. A literatura dos testem unhas de Jeová Para resolver essa questão, convém recorrer aos outros evangelistas e
retrata Jesus com as duas mãos unidas para cim a e transpassadas por ver com o cada um lidou com essa informação. Veja.
um só prego. Isso porque os pregos usados na crucificação tinham de ser
grandes, e dois pregos logicam ente rasgariam as m ãos de Jesus. Do pedido • Marcos — “E a inscrição de acusação estava escrita mais acima

de Tomé para ver o sinal dos pregos (plural), deduz-se evidentemente que [...]” (15.26, NM).

havia mais de um. Se o form ato do staurós usado para pregar Jesus con- • Lucas — “Havia tam bém uma inscrição por cima dele ” (23.38, NM).

sistia num pedaço vertical e outro horizontal, então cada uma das mãos • João — “Pilatos escreveu tam bém um título e o pôs na estaca de

de Jesus recebeu um prego, daí o plural “pregos”. tortura” (19.19 , NM).

A isso, os testem unhas de Jeová o bjetam que o uso que Tomé faz do
plural não indica necessariam ente que Jesus Cristo foi pregado com um 0 argum ento dos testem unhas de Jeová só se su stentaria à luz de

prego em cada m ão, pois Lucas 2 4 .3 9 diz: “Vede m inhas m ãos e meus Marcos, Lucas e João, que escreveram de form a genérica; Mateus, porém,

pés”. Isso sugere que os pés dele tam bém foram pregados; assim , o plural foi m ais detalhista e específico: “por cim a de sua cabeça”.

“pregos” em João 20.25 é geral e poderia incluir os “pés”do Senhor. Dessa form a, ao contrário do que afirm ou The Non-Christian Cross,

A princípio, o argumento pode fazer sentido, m as preste atenção às há, sim , evidências que confirm am o formato da estaca de execução de
Jesus: a cruz, tal com o a conhecem os. Só não devemos pensar, influen-
palavras de Tomé: “A m enos que eu veja nas mãos o sinal dos pregos”. A
ciados pela arte sacra, que ele carregou a cruz completa. Não era o costume
referência não é geral, m as específica ( “nas m ãos”, e nelas som ente). Para
dos rom anos. B e t t e n c o u r t (1994, p. 101) inform a o seguinte:
ser geral e incluir as m ãos e os pés, a frase deveria rezar: “A m enos que eu
veja o sinal dos pregos”.
O braço vertical era chamado stipes ou staticulum ; ficava plantado

Mateus 27.27 (NM) na terra no lugar determinado para as execuções, pelo menos nas cida-
des do Império que tinham tribunal. [...] O braço horizontal era cha-
Também puseram por cima de sua cabeça a acusação contra ele, por mado patibulum, nome que indicava a tranca ou a barra de madeira
escrito: “Este é Jesus, o Rei dos Judeus”. que fechava a porta da casa por dentro; [...] No caso de crucificação, o
cruciarius ou o condenado à cruz, partindo do tribunal ou da prisão,
Como os testem unhas de Jeová creem que Jesus m orreu com as duas carregava seu patibulum posto sobre os seus ombros (horizontalmen-
mãos estendidas e sobrepostas, eles retratam a inscrição de Pilatos por te, atrás da nuca); as mãos passadas por cima do madeiro eram amar-
cim a das mãos de Jesus. Entretanto, o texto é muito específico: a inscrição radas à barra com cordas; as pontas das cordas eram seguradas por um
foi posta “por cim a de sua cabeça”. Assim, tom ando-se com o certo que soldado, que ia à frente do condenado
Jesus m orreu num a crux immissa ( + ) e de braços abertos, onde visualiza-
Cruz: maldição e bênção
ríamos a inscrição? Os fatos falam por si: em cim a das m ãos, claro.
Mesmo diante das evidências, a objeção dos testem unhas de Jeová é Para os que gostam de usar a cruz com o sím bolo de vitória (é o meu
que, m esm o em cim a das m ãos, conforme suas ilustrações, a posição ainda caso), expondo-a num broche ou m esm o num cordão, ou para as igrejas
é “por cim a de sua cabeça”, o que nega a especificidade do evangelista. que expõem a cruz em sua fachada, os testem unhas de Jeová lançam a
D e t u r pa n d o a P a l a v r a d e D e u s 103 104 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s

segu inte arg u m en tação: “Com o se sen tiria se um am igo seu m uito 0 Corpo Governante acrescentou o artigo indefinido “um” antes da
prezado fosse executado à base de acusações falsas? Faria um a réplica do palavra “Deus”, sendo a própria palavra grafada com inicial m inúscula, a
instrum ento de execução? Será que o prezaria, ou, antes, o evitaria?”.32 fim de diferenciar Jesus, “um deus”, de Jeová, “o Deus”. (V. no cap. 5 uma
A resposta é sim ples. resposta cristã a essa tradução equivocada e politeísta.)
Nas E sc ritu ra s, há um exem plo in teressan te de um sím b o lo de
m aldição que foi transform ado em bênção. D urante a peregrinação no João 8.58
deserto, os israelitas rebelaram -se contra Jeová, qu eixando-se do m aná Jesus disse-lhes: “Digo-vos em toda a verdade: Antes de Abraão vir à
que ele lhes provera m iraculosam ente. Por conseguinte, Jeová os puniu existência, eu tenho sido".
enviando serpentes ven enosas, e m u itos m o rreram . Por fim , o povo
m ostrou-se arrependido. Jeová então ordenou a M oisés que fizesse uma Esse é um dos raros textos do Novo Testam ento em que o próprio
imagem de bronze em form a de serpente e a pusesse num poste, a fim Jesus declara abertam ente sua divindade. Mas a Tradução do Novo Mun-
de que todo aquele que fosse picado pudesse olhar para ela e então do, na tentativa de elim inar qualquer resquício da divindade de Jesus,
recebesse a cura (N úm eros 2 1 .4 -9 ). Não há dúvida de que a serpente modificou o texto de tal m aneira que a referência a esse fato sim ples-
foi o instru m ento de m aldição e de execução da p arte de Deus para mente desaparecesse.
punir os queixosos, m as tam bém foi o instru m ento de cura e de bênção No lugar da exp ressão final “eu ten h o sido” , a co rreta tradu ção
para os arrependidos. Podem os devolver aos testem unhas de Jeová a deveria ser “eu sou”, pois é exatam ente assim que está no texto grego:
pergunta: “Seria sábio que os israelitas evitassem aquele instrum ento, è y ò ) e I j h ( ego eim i - eu sou). Assim traduzem praticam ente todas as
ou deveriam prezá-lo?”. versões da B íblia (p rotestan tes e cató lica s). M as por que isso é tão
É verdade que, séculos depois, os israelitas transform aram a serpente im portante? Porque a expressão ego eimi, utilizada por Jesus, equivale à
de bronze num ídolo, um objeto de devoção com status de divindade, m esm a expressão empregada pelo Todo-poderoso no Antigo Testamento
ocupando na vida deles o lugar que cabia exclusivam ente ao Senhor Deus. (Êxodo 3 .1 4 ). D essa form a, Jesus estaria afirm ando abertam ente sua
Por isso, o rei Ezequias, de Judá, m andou destruí-la (2Reis 18.4). Isso nos d ivindade, ao id en tifica r-se com o “Eu Sou” do Antigo Testam ento.
ensina algo útil: a cruz pode ser prezada, m as não adorada. Caso ela se Assim , a expressão “eu sou” é a ú nica adm issível. “Eu tenho sido” não é
co n verta num íd olo , deve ser elim in a d a co m o tal. C ontudo, se ao possível em João 8.58, nem gram atical (v. M a r t in , 1992, p. 106-109) nem
contemplar a cruz nos lem bram os do grande am or de Jesus ao entregar- contextualm ente. Acom panhe o raciocínio.
-se voluntariam ente por nós, não há com o negar que ela é um verdadeiro A assistência de Jesus era composta por judeus. Quando Jesus afirm ou
sím bolo de am or e de vitória sobre a m orte e o pecado. que Abraão havia visto o seu dia, os judeus simplesm ente caçoaram de
Jesus: “ [...] Você ainda não tem cinquenta anos, e viu Abraão?” (8 .57). Ao
João 1.1 que Jesus respondeu: “ [...] Eu lhes afirm o que antes de Abraão nascer, Eu
No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com o Deus e a Palavra Sou!”. Ora, ao dizer isso, a reação daqueles judeus foi im ediata: “Então
era [um] deus. eles apanharam pedras para apedrejá-lo [...]” (8.59 ). Por que o apedreja-
mento? Os judeus recorriam a essa prática por pelo m enos cinco razões,
32 Raciocínios à base das Escrituras, p. 102. como alista Walter M a r t in (1992, p. 106-107): “ 1. Invocação dos m ortos
D e t u r pa n d o a P a l a v r a d e D e u s 105 106 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

(Lv 2 0 .1 7 ); 2. B lasfêm ia (Lv 2 4 .1 0 -2 3 ); 3. Falsos p rofetas levando o Outra objeção apresentada é a seguinte:
povo à id o latria (D t 1 3 .5 -1 0 ); 4. F ilh os reb eldes (D t 2 1 .8 -2 1 ); e 5.
Adultério e estu pro (D t 2 2 .2 1 -2 4 ; Lv 2 0 .1 0 ) ” . Em seg u id a, M a rtin Alguns, na tentativa de identificar Jesus com Jeová, dizem que
c o n c lu i (p . 1 0 7 ): “Q uem e stu d a a B íb lia h o n e s ta m e n te te m de èy ò j e t| X i (e-gó ei-mi) equivale à expressão hebraica ’aníhu, “sou
co n c o rd a r qu e, d en tre os m o tivo s c ita d o s, o ú n ico que os ju d eu s eu [eu o sou]”, usada por Deus. Todavia, deve-se notar que esta ex-
poderiam alegar com o b ase legal para apedrejar Cristo era o segundo, pressão hebraica é também usada pelo homem. — lCr 21:17 n.35
a blasfêm ia (na verdade não tinham n enh u m )”.
É evidente que os judeus entenderam claram ente a expressão proferi- A linha de argum entação é esta: m esm o que Jesus tivesse usado a
da por Jesus, pois falavam o m esm o idioma dele. É interessante observar m esm a expressão que o Pai empregou, isso não o identificaria como Deus,
que os judeus de Alexandria, que traduziram o Antigo Testamento para o pois Davi, um sim ples hom em , usou em 1Crônicas 2 1 .1 7 a expressão ’ani
grego — a versão Septuaginta — , verteram a expressão hebraica ’Ehyeh hu (lit. “eu so u ” ou “eu [o] so u ” ), a m esm a u sad a p or D eu s em
’asher ’ehyeh (Eu sou o que sou), de Êxodo 3.14, por Ego eimi ho on (Eu Deuteronômio 32.39; Isaías 41.4; 43.10,13; 46.4; 48.12; 52.6.
sou o que sou), e não por “eu tenho sido”. Jesus usou exatam ente a m es- O argum ento tem co nsistên cia lógica, m as não é verdadeiro pela
m a expressão de Êxodo 3.14: ’Ehyeh (Eu sou ).33 seguinte razão: o xis da questão não está simplesm ente no uso da expres-
Os testem unhas de Jeová contra-argum entam afirm ando o seguinte: são ’an i h u , m as no contexto em que f o i empregada. Quando Davi usou
’ani h u , estava dizendo tão som ente que foi ele quem mandou fazer o
Na tentativa adicional de identificar Jesus com Jeová, alguns pro- recenseam ento do povo; assim , se Deus tivesse de p u nir algu ém , que
curam usar Êx 3:14 (LXX [Septuaginta]), que reza: ’E ycí) etr)i o punisse, m as que deixasse o povo livre disso. Davi jam ais seria acusado
[sic.J ó (0V (E-gó ei-mi ho on), que significa “Eu sou o ser” ou “Eu de b lasfêm ia por u sar a expressão n esse con texto ; ele em nenhum
sou o existente”. Esta tentativa não pode ser sustentada, porque a mom ento alegou ser o Todo-poderoso ao usar ’an i h u . Mas, quando Deus
expressão em Êx 3:14 é diferente da em Jo 8:58.M usa ’ani h u , está em pauta sua autorrevelação. Sobre isso, o com entário
de J. Ram sey M ic h a e ls é oportuno (1994, p. 164):
A única forma de a seita negar que João 8.58 não ensina a divindade
de Jesus foi mudar o que ele realmente disse e então afirm ar que a ex- Tal formulação [ ’ani hu} aparece de modo especial em Isaías 40—
pressão de Êxodo 3.14 não é a m esm a de João 8.58. Contudo, não apre- 55, onde Deus a utiliza a fim de proclamar sua singularidade como o
sentou nenhum a prova para essa afirm ação. A única coisa que move os Deus da aliança com Israel, fiel à suas promessas, forte para livrar e
testem unhas de Jeová a desvincular Êxodo 3.14 de João 8.58 é sua incre- restaurar seu povo (ver Isaías 41:4; 43:10-13,25; 45:18-19; 48:12; 52:6;
dulidade em relação à igualdade de Jesus com o Pai. cf. Deuteronômio 32:39). O emprego dessa expressão implica um
monoteísmo radical, não qualificado: “antes de mim Deus nenhum se
formou, e depois de mim nenhum haverá” (Isaías 43:10b); “Eu sou o
33 Jerônimo, que traduziu o Antigo Testamento do hebraico para o latim (a versão Vul-
gata), verteu ’Ehyeh asher ’ehyeh por Ego sum qui sum (Eu sou o que sou).“Eu tenho
sido” é uma tradução estranha à arte de traduzir as Escrituras.
34 Tradução do Novo Mundo: com referências, 1986, apêndice 6F, p. 1523. 35 Tradução do Novo Mundo: com referências, 1986, apêndice 6F, p. 1523.
D e t u r pa n d o a P a l a v r a d e D e u s 107 108 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

Senhor, e não há outro” (Isaías 45:18); “Eu sou, Eu somente, e não há • Eu sou a ressurreição (João 11.25; Filipenses 3.20,21; cf. Mateus
outro Deus além de mim” (Deuteronômio 32:39). Quem utilizasse essa 22.3 1; Atos 2.32; João 2.1 9-21; ICoríntios 6.14 ).
formulação, fosse quem fosse, da maneira como Cristo a utilizou, • Eu sou o Alfa eo Ô m eg a (Apocalipse 1.8; 21.6; 22.13 ). (V .o ca p .5 ,
cometeria blasfêmia (Isaías 47:8; Sofonias 2:15). Aqui, pela primeira subtítulo “Jesus é verdadeiramente Deus”.)
vez, as implicações da utilização dessa formulação por Jesus chegaram • Eu sou o Princípio e o Fim (Apocalipse 21.6; 2 2 .1 2 ,1 3 ) .(V. o cap. 5,
até seus ouvintes; a reação deles foi: pegaram em pedras para atirar subtítulo “Jesus é verdadeiramente Deus”.)
nele (v. 59). Não há dúvida de que acabaram entendendo que Jesus • Eu sou o Prim eiro e o Último (Apocalipse 1.17; cf. Isaías 41.4; 44.6;
falava com a voz de Deus, como se ele próprio fosse “o Deus de Abraão, 48.12 ). (V. o cap. 5, subtítulo “Jesus é verdadeiramente Deus”.)
o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó” (cf. Êxodo 3:6). • Eu sou o que é, o que era e que há de vir (Apocalipse 1.8; Hebreus
13.8; cf. Apocalipse 4.8; 11.17). ( V. o cap. 5, subtítulo “Jesus é ver-
O que a Bíblia diz sobre Jesus, nenhum hum ano ou anjo pode contra- dadeiram ente Deus”.)
dizer ou anular; suas afirm ações sobre si m esm o são comparáveis som en- • Eu sou o Todo-poderoso (Apocalipse 1.8; cf. Mateus 28.18; Fili-
te ao que as Escrituras dizem acerca da natureza do Deus todo-poderoso: penses 3.21; Hebreus 1.3). ( V. o cap. 5, subtítulo “Jesus é verdadei-
ram ente Deus”.)
O que Jesus disse de si mesmo • Creiam em Deus; creiam tam bém em m im (João 14.1).
• Honrem a m im , como honram o Pai (João 5.23).
• Eu sou a luz do mundo (João 8.12; cf. Salmos 27.1; 36.9; ljo ã o 1.5).
• Eu sou o bom Pastor (João 10.11,12,14; Hebreus 13.20; cf. Salmos O que seguidores de Jesus disseram sobre ele
23.1; 80.1; Isaías 40.10 ,11 ).
• Eu sou o Mestre (João 13.13; c f.Jó 36.22; Salmos 25.4; 27.11). • Ele é o Criador de tudo o que existe (Colossenses 1 .1 6,17 ; João 1.3;
• Eu sou o Senhor (João 13.13; Mateus 24.42; Atos 9.17; 10.36; Ro- IC oríntios 8.6 ; cf. Efésios 3.9; Hebreus 3.4; Isaías 4 0 .2 8; 44.24;
m anos 10.12 [Senhor de todos]; ICoríntios 8.6; Efésios 4.5; Judas 45.12).
4; cf. Josué 11.12,13; Neemias 8.10; 10.29). • Ele sustenta todas as coisas por sua palavra poderosa (Hebreus
• Eu sou aquele que sonda m entes e corações (Apocalipse 2.23; cf. 1.3; Filipenses 3.21; cf. Êxodo 6.3).
Salm os 7.9; Jerem ias 11.20; 17.10; 20.12). • Ele tem o poder de colocar todas as coisas debaixo do seu domínio
• Eu sou aquele que retribui a cada um de acordo com as suas obras (Filipenses 3.21; cf. Efésios 3.20,21).
(Apocalipse 2.23; 22.12,13; Mateus 16.27; 2Coríntios 5.10; cf. 62.12; • Ele é tudo e está em todos (Colossenses 3.11; Filipenses 3.21; cf.
Jó 34.11; Provérbios 24.12; Ezequiel 33.20; ISam uel 16.7; Jerem ias ICoríntios 15.28).
32.19; Rom anos 2.3-1 1; 2Tim óteo 4.14; IPedro 1.17). • Ele preenche todas as coisas (Efésios 1.23; cf. Jerem ias 23.24).
• Eu sou o cam inho (João 14.6; cf. Salmos 18.30; 2 5.8,9; 32.8). • Ele é o Senhor de m ortos e de vivos (Rom anos 14.7,8; cf. Lucas
• Eu sou a verdade (João 14.6; cf. Salm os 31.5; 86.15; 119.160). 20.37,38).
• Eu sou a vida (João 11.25; 14.6; cf. Salm os 36.9; Jerem ias 2.13; Atos • Ele é Senhor dos senhores (Apocalipse 17.14; 19.16; cf. Deuteronô-
17.28). mio 10.17; Salm os 136.6).
D e t u r pa n d o a P a l a v r a d e D e u s 109 110 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

• Ele é a vida eterna (ljo ã o 5.20; cf. João 17.3). interlinear publicado pela Torre de Vigia dos Estados Unidos da seguinte
• Ele é o verdadeiro Deus (ljo ã o 5.20; cf. João 17.3). m aneira: em prim eiro plano, aparece o texto grego; abaixo dele, aparece a
• Ele é Deus (João 1.1; cf. Isaías 43.10; 44.8). tradução para o inglês palavra por palavra; num a coluna lateral, aparece

• Ele é Deus Poderoso (Isaías 9.6; cf. Isaías 10.21; D euteronôm io o texto da Tradução do Novo Mundo (tam bém em inglês).
10.17; Neemias 9.32). Pois bem , se tom arm os João 8 .1 2 ,1 8 ,2 4 ,2 8 ,5 8 , terem os uma surpresa

• Ele é eterno (M iqueias 5.2; cf. Salmos 90.2; 93.2). na versão interlinear. Em todos esses versículos, aparece a expressão è y o J

• Todo joelho no céu e na terra se dobrará diante dele (Filipenses ei| ii [ego eimi\. Mas veja o que foi feito:

2.10; cf. Isaías 45.23; Rom anos 14.11).


• Toda língua o confessará com o Senhor (Filipenses 2.11).
Joao 8.12 8.18 8.24 8.28 8.58
• Nele habita corporalm ente toda a plenitude da divindade (Colos-
senses 2.9). Texto grego èycó eiM-i èycí) ei|u èycí) e i[ii èycó d[Ai èycò e ifu
• Ele é invocado por todos e em toda parte (IC oríntios 1.2; Atos 7.59; Tradução I am I am I am I am I am
cf. Salm os 145.18; 31.5). literal

NM (inglês) I am I am I am I am I have been


O que o Pai disse de Jesus

• “Todos os anjos de Deus o adorem” (Hebreus 1.8; cf. Apocalipse Como pode ser observado, a expressão grega èycò el|U ( ego eimi) apa-

22.9; Deuteronômio 4.2 4). (Cf. Hebreus 1.6, adiante.) rece cinco vezes em João 8. A tradução palavra por palavra da Interlinear
• “O teu trono, ó Deus, subsiste para todo o sem pre” (Hebreus 1.8; cf. verteu-a por I am (eu sou); mas, na tradução definitiva, que é o texto da
Isaías 9.7; Apocalipse 5.13). (Cf. Hebreus 1.8, adiante.) Tradução do Novo Mundo, em inglês, o versículo 58 sofreu uma mudança
• “No princípio, Senhor, firm aste os fundam entos da terra, e os céus radical, pois èyoí) eípu , traduzido sempre por I am, transformou-se, num

são obras das tuas mãos” (Hebreus 1.10; cf.Salm os 102.24,25). (Cf. passe de mágica, em 1 have been (eu tenho sido). Essa é uma prova docu-

Hebreus 1.8, adiante.) mental de que os tradutores dos testemunhas de Jeová criaram para si uma

• “Tu perm aneces o m esm o, e os teus dias jam ais terão fim” (He- armadilha, que os pega em flagrante delito textual. Tudo porque se recu-

breus 1.12; cf. Salm os 102.27; Jó 36.26; Malaquias 3.6; Tiago 1.17). sam obstinadamente a aceitar a divindade absoluta de Jesus Cristo. E para

(Cf. Hebreus 1.8, adiante.) isso não medem esforços, m esmo que seja preciso adulterar a Palavra de
Deus. 0 Corpo Governante revela não ter o menor escrúpulo linguístico e

É preciso fazer outro esclarecim ento sobre João 8.58. A troca de “eu teológico em tentar moldar as Escrituras a seu bel-prazer.

sou” por “eu tenho sido”, por quem fez a Tradução do Novo Mundo, foi Cabe aqui um a últim a palavra. Não raro, os testem unhas de Jeová,

propositada, a fim de tentar inutilm ente ocultar o que as Escrituras de m esm o diante dos manuais de teologia sistem ática que explicam a for-

fato dizem sobre a divindade de Jesus Cristo. Esse engodo bem planejado mulação da doutrina trinitária, teim am em acusar os cristãos de algo para

pode ser observado em The Kingdom Interlinear Translation o f the Greek eles indevido: afirm ar que Jesus e Jeová são a m esm a pessoa (essa é uma

Scriptures [Tradução Interlinear do Reino das Escrituras Gregas], um texto heresia chamada “sabelianism o”, “m odalismo” ou “p atrip assianism o”).
D e t u r pa n d o a P a l a v r a d e D e u s 111 112 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s

A Tradução do Novo Mundo: com referências d eclara: “Em tod as as acréscimo em João 1.3? Será que o intuito era realmente dar sentido

E scritu ras Gregas Cristãs não é possível id entificar Jesus com Jeová, ao texto em português? Ou a intenção era desacreditar a divindade

com o a mesma pessoa”.36 Por essa declaração infundada, p ercebe-se que de Jesus Cristo com o Criador de todas as coisas? O que Jesus passa-

o Corpo Governante não é honesto em expor a verdadeira form ulação ria a ser sem a existência da expressão “outras”: Criador ou criatu-

da doutrina da Trindade, conform e crida e ensinada pelos cristãos ao ra? Quando os colossenses receberam a carta paulina, o que leram:

longo dos séc u lo s. B a sta um a co n su lta ao Credo atan asian o e aos que Jesus criou “todas as [outras] coisas” ou “todas as coisas”?

m anuais de teologia para ver isso. Os cristãos não acreditam que o Pai 2. A expressão por intermédio ou por meio dele não “denota qualquer

e o Filho sejam a m esm a p essoa, m as o m esm o D eus, ju n to com o inferioridade, com o se Deus tão som ente tivesse se utilizado de

Espírito Santo. Três pessoas em um só Deus. (V. o cap. 4, que apresenta Cristo para criar as coisas, com o se ele m esm o não fosse o criador

um a defesa bíblica da doutrina da Trindade.) real, pois a m esm a coisa é dita a respeito de Deus Pai, em Hebreus
2.10” (C h a mpl in , p. 96). A expressão, portanto,“refere-se ao fato de que
Colossenses 1.16,17 a criação veio à existência através do poder e da agência de Cristo”

Porque mediante ele foram criadas todas as [outras] coisas nos (ibid). Como diz Hebreus 1.3, Jesus “sustenta todas as coisas por

céus e na terra, as coisas visíveis e as invisíveis, quer sejam tronos, sua palavra poderosa”. Ora, o m esm o que sustenta todas as coisas

quer senhorios, quer governos, quer autoridades. Todas as [outras] tem de ser necessariam ente o seu Criador.

coisas foram criadas por intermédio dele e para ele. Também, ele é
antes de todas as [outras] coisas e todas as [outras] coisas vieram a Filipenses 2.6
existir por meio dele. O qual, embora existisse em forma de Deus, não deu consideração a
uma usurpação, a saber, que devesse ser igual a Deus.
0 Corpo Governante adicionou a palavra “outras” entre colchetes para
não parecer que Jesus tenha criado todas as coisas, uma vez que segundo Em bora esse texto seja um a forte evidência da divindade de Cristo, o
Hebreus 3.4 “quem construiu todas as coisas é Deus” (N M ). Fizeram isso Corpo Governante torceu-o para dar a seguinte ideia: Jesus jam ais quere-

para desacreditar a divindade de Jesus, pois os testem unhas de Jeová ria ser igual a Deus, pois consideraria isso usurpação, ou seja, tom ar para

creem que Jeová criou Jesus (sua prim eira criação), e este criou “todas as si o que não lhe era devido. Além disso, afirm a que essa é a m elhor tradu-

[outras] coisas”. Jesus seria, portanto, um m estre de obras, pois o texto ção em vista do contexto:
usa a expressão “por interm édio dele” ou “por meio dele”.
Sobre isso, dois breves com entários são oportunos: O contexto dos versículos circundantes (3-5,7,8, Dy) esclarece como
o versículo 6 deve ser entendido. Instou-se aos filipenses: “Em humilda-
1. Argum enta-se na Tradução do Novo Mundo que os colchetes con- de, que cada um considere os outros melhores do que a si mesmo.” Daí,
têm palavras acrescentadas para com pletar o sentido do texto em Paulo usa Cristo como notável exemplo dessa atitude: “Exista em vós
português. Ora, se esse fosse o caso, por que deixaram de fazer o esta mente, que também existia em Cristo Jesus.” Que “mente”? “Achar
não ser roubo ser igual a Deus”? Não, isso seria exatamente o contrário

36 1986, apêndice 6F, p. 1523. do argumento que estava sendo apresentado! Ao contrário, Jesus, que
D e t u r pa n d o a P a l a v r a d e D e u s 113 114 T e s t e m u n h a s d e J e o v A: e x p o s i ç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s

“reputava a Deus como sendo melhor do que ele”, jamais “se apossaria Pois ele, que por sua natureza sempre foi Deus, não se apegou
da igualdade com Deus”, mas, em vez disso, “humilhou-se, tornando-se a seus privilégios como alguém igual a Deus ( CH).
obediente até a morte”.37
Ele, existindo na condição divina, não ambicionou o ser igual a
Apesar dessa construção argumentativa, afirm am os que o m odo de a Deus (CNBB).
Tradução do Novo Mundo verter o texto de Filipenses 2.6 é inadequado, e
que a justificativa exegética do Corpo Governante é que, na verdade, diz o De acordo com essas traduções, Jesus não consideraria ser usurpação
contrário do que realmente Jesus afirm a. igualar-se a Deus, pois, sendo “em form a de Deus”, “subsistindo em for-
Citamos a seguir o modo em que diversas versões em português tra- m a de Deus”, “sendo Deus” ou sendo “de condição divina”, certam ente
duzem a passagem bíblica em apreço: tinha tal direito. E em muitos casos fez uso disso: ao afirm ar que ele e o
Pai são um (Jo ã o 1 0 .30 ); que, assim com o o Pai traba lh a, ele tam bém
O qual, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus o faz ( João 5.17) etc. Ele tem os m esm os títulos do Pai, além de ter criado
era algo a que devia apegar-se ( NVI). tudo, assim como o Pai (cp. João 1.1 com Efésios 4.6; João 1.3 com Atos
14.15; Jerem ias 17.10 com Apocalipse 2.23; Isaías 9.6 com 10.21).
Pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação Ademais, aceitando-se a verdade de que Jesus é Deus, o contexto torna-
o ser igual a Deus (ARA). -se claro e riquíssim o pela seguinte razão: Paulo insta aos filipenses que
sejam hum ildes, considerando os outros superiores a si m esm os, não
Ele tinha a natureza de Deus, mas não tentou ficar igual a Deus visando a interesses próprios, m as aos dos outros. Daí, ele fala de Jesu s, o
(NTLH). exemplo supremo, pois ele, m esm o sendo Deus, tornou-se servo. Por isso,
não faria sentid o que os cristão s, hom ens e iguais entre si, se co n -
Ele tinha a condição divina, e não considerou o ser igual a Deus siderassem superiores uns aos outros. Jesus, que poderia m anifestar entre
como algo a que se apegar ciosamente (BJ). as pessoas seus poderes, sua divindade, optou por assum ir a form a de
servo; servindo, em vez de ser servido (v. Lucas 2 2 .2 6 ,2 7 e João 13.3-17).
Embora ele fosse Deus na sua natureza real, ele não pensou que ser O argumento de Paulo pode ser resumido assim : se Deus se hum ilhou,
igual a Deus era algo para utilizar para seu próprio benefício ( VF). por que deveríam os nos exaltar? Ora, Jesus p oderia ter se exaltado,
engrandecendo-se diante de todos, m as não o fez; alguns, entretanto,
Ele, apesar de sua condição divina, não fez alarde de ser igual a Deus
sendo m eros m ortais, atrevem -se a se exaltar, achando-se superiores aos
(BP).
demais. O exemplo de Cristo, que “sendo [Deus] rico, se fez pobre [servo]
por am or de nós” (2Coríntios 8.9), põe fim a essa atitude soberba.
Ele, que é de condição divina, não considerou como presa a agarrar
o ser igual a Deus (TE). Tito 2.13

Ao passo que aguardamos a feliz esperança e a gloriosa mani-


37 Deve-se crer na Trindade?, p. 25-26. festação do grande Deus e [do] Salvador de nós, Cristo Jesus.
D e t u r pa n d o a P a l a v r a d e D e u s 115 116 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s

Este caso é sem elhante a Colossenses 1.16,17 (já citado). Acrescen- • Tito 2.13: “a bem -aventurada esperança e m anifestação (idênti-
t o u -s e a preposição “do” entre o “Grande Deus e Salvador”, a fim de dar cas) da glória do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo” —
a entender que Jesus é som ente Salvador, m as não o “grande Deus” (o uma só pessoa é Deus e Salvador.
m esmo fizeram com 2Pedro 1.1). A pergunta é: “Quem seria Jesus sem a
adição da preposição ‘do’?”. 0 m esm o afirm am sobre Tito 2.13 H. E. D a n a e Julius R. M a n t e y
Além do m ais, o apóstolo Paulo usa as expressões “nosso Salvador, (1 96 3 , p. 147): “Tito 2:13 [...] assevera que Jesus é o grande Deus e Sal-
Deus” e “Jesus Cristo, nosso Salvador” com o expressões intercam biá- vador”. Eles afirm am que essa m esm a construção encontra-se em 2Pe-
veis, dando a entender que aquele a quem ele cham ou de “grande Deus” dro 2 .20 (ibid.), que reza, segundo a Tradução do Novo Mundo:
era o m esm o Salvador, ou seja, Jesus Cristo. Veja na própria Tradução
do Novo Mundo : Certamente, se eles, depois de terem escapado dos aviltamentos
do mundo pelo conhecimento exato do Senhor e Salvador Jesus Cris-
to, ficam novamente envolvidos nestas mesmas coisas e são venci-
1.3 1.4 2.10 3.4 3.6
dos, as condições derradeiras tornaram-se piores para eles do que
Nosso Salvador Cristo Jesus, Nosso Salvador, Nosso Salvador, Jesus Cristo, as primeiras.
Deus nosso Salvador Deus Deus nosso Salvador

Observe que a construção de 2Pedro 2.20 é a m esm a de Tito 2.13. En-


tretanto, a Tradução do Novo Mundo não verteu em 2Pedro 2.20: “do Se-
O quadro comparativo deixa bem claro que os term os “Salvador” e
nhor e [do] Salvador Jesus Cristo”, pois, para os testem unhas de Jeová,
“Deus” são aplicados tam bém a Jesus Cristo. 0 que tem os em Tito 2.13 é
Jesus pode ser “Senhor” e “Salvador”, m as não pode ser “Deus” e “Salva-
um a reiteração disso: “aguardamos a feliz esperança e a gloriosa m ani-
dor”, como afirm a Tito 2.13. Assim, na tentativa de desacreditar tal cons-
festação do grande Deus e Salvador de nós, Cristo Jesus”.
trução, o Corpo Governante afirma:
Essa form a de verter assim Tito 2.13 é confirm ada por especialistas
em grego. No texto grego, os term os “Deus” ( theós) e “Salvador” ( sotéros)
Neste lugar encontramos dois substantivos ligados por x a l ( kai,
são ligados pelo artigo kai (“e”), referidos à m esm a pessoa, ou seja, Jesus
“e”), sendo o primeiro substantivo precedido pelo artigo definido
Cristo. Por exemplo, o dr. W illiam Carey T a y lo r (1986, p. 2 03 -2 04 ) afir-
t o í j (tou, “do”) e o segundo substantivo sem o artigo definido. Uma
mou: “Um só artigo com vários substantivos indica certa conexão entre
construção similar é encontrada em 2Pedro 1:1,2, onde, no v. 2, se
estes com o form ando um objeto de pensam ento”; depois disso, ele dá
faz uma nítida distinção entre Deus e Jesus. [...] Isto indica que,
vários exemplos, dentre os quais citam os livremente:
quando duas pessoas diferentes são ligadas por K a i, se a primeira
pessoa for precedida pelo artigo definido, não é necessário repetir o
• Efésios 2.20: “sobre o fundam ento dos apóstolos e profetas” —
um a só base, os órgãos de revelação da Era Cristã. artigo definido antes da segunda pessoa.38

• Colossenses 2.22: “os m andam entos e ensinos dos hom ens” — um


sistem a. 38 Tradução do Novo Mundo: com referências, ap. 6E, p. 1521.
D e t u r pa n d o a P a l a v r a d e D e u s 117 118 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

0 argum ento apresentado anteriorm ente não encontra sentido pelo Essas traduções concordam com a Tradução do Novo Mundo: “B e-
seguinte motivo: Tito 2.13 não está falando sobre duas pessoas diferentes, nignidade im erecida e paz vos sejam aum entadas pelo conhecim ento
m as apenas sobre uma, Jesus Cristo. 0 texto trata da segunda vinda de exato de Deus e de Jesus Cristo, nosso Senhor” . 0 Corpo Governante
Cristo, que é aguardada com muita expectativa (Hebreus 9.28). com enta:
Assim, por tudo o que já foi citado, fica evidente que Jesus Cristo é,
sem dúvida, nosso “grande Deus e Salvador”. Neste lugar [Tt 2.13] encontramos dois substantivos ligados por
Vale a pena tam bém destacar o discurso de Deus no Antigo Testamento. K a i ( kai, “e”), sendo o primeiro substantivo precedido pelo artigo
Em Isaías 4 3.1 0, ele declara: “Antes de m im , não foi formado nenhum definido to íj (tou, “do”) e o segundo substantivo sem o artigo defi-
Deus e depois de m im continuou a não haver nenhum”. E, no versículo nido. Uma construção similar é encontrada em 2Pe 1:1,2, onde, no v.
11, o m esm o Deus afirm a: “Eu é que sou Jeová, e além de m im não há 2, se faz uma nítida distinção entre Deus e Jesus.39
salvador” ( NM). Entretanto, Jesus é cham ado “Deus” e “Salvador” (cf.
ITim óteo 2.3), o que garante sua igualdade de essência com o Pai. Todas as versões diferenciam “Deus” e “Jesus” em 2Pedro 1.2 porque
“Deus”, o Pai, e Jesus são duas pessoas distintas (é o que ensina a doutrina
2Pedro 1.1
da Trindade). 0 contexto não deixa dúvida: “Deus” e “Jesus” são as ex-
Simão Pedro, escravo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que obtive- pressões ligadas por x a l ( “e”), a exemplo de “Paulo K a i Barnabé” (Atos
ram uma fé, tida por igual privilégio como a nossa, pela justiça e 13.50). Mas a construção em 2Pedro 1.1 não é a m esm a, pois Pedro fala
nosso Deus e [do] Salvador Jesus Cristo. da “ju stiça de nosso Deus K a i Salvador Jesus Cristo” (apenas uma pessoa
está sendo referida, não duas, como no caso do versículo 2).
Este caso é análogo ao anterior. Para o apóstolo Pedro, Jesus não é so-
mente “Senhor e Salvador”, m as tam bém “Deus e Salvador”. A adição da Hebreus 1.6
preposição “do” não tem, portanto, cabimento. Comparando esse texto com Mas, ao trazer novamente o seu Primogênito à terra habitada, ele
2Pedro 2.20 e Tito 2.13, Da n a e M a n t e y (1963, p. 147) afirm am : “Também diz: “E todos os anjos de Deus lhe prestem homenagem”.
em 2Pe 1: t o v G e o u f][iô 3v k o u a o j t f í p o g ‘lr| aoi5 X p i a x o i j signi-
fica que Jesus é nosso Deus e Salvador”. Até a revisão de 1977, a Tradução do Novo Mundo traduzia a segunda

Os testem unhas de Jeová, evidentemente, não se conform am com isso, parte desse texto assim : “E todos os anjos de Deus o adorem”. Todavia, a

e apelam para 2Pedro 1.2, pois todas as Bíblias em português fazem dis- partir daquele ano, percebendo a incoerência de estarem adorando a Je-

tinção entre “Deus” e “Jesus Cristo”: sus, visto com o um a criatura, um deus, o arcanjo Miguel, os testem u-
nhas de Jeová se viram forçados a revisar a tradução, substituindo “o ado-

Graça e paz lhes sejam multiplicadas, pelo pleno conhecimento rem” por “lhe prestem homenagem”, pois somente Deus (Jeová) deve ser
de Deus e de Jesus Cristo, o nosso Senhor. (NVI) adorado. A seita diz tam bém que, se Jesus m erece algum tipo de adora-
ção, esta deverá ser “relativa”, jam ais absoluta.
Graça e paz vos sejam multiplicadas, no pleno conhecimento de
Deus e de Jesus, nosso Senhor. {ARA) 39 Tradução do Novo Mundo: com referências, ap. 6E, p. 1521.
D e t u r pa n d o a P a l a v r a d e D e u s 119 120 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

A propósito disso, esclarecem os: Com essas credenciais, quem ousaria render a Jesus uma sim ples
homenagem? Assim, segundo o testem unho esmagador das Escrituras,
1. Jesus Cristo não poderia receber adoração relativa por duas ra- Jesus Cristo, com o o Pai, é digno de receber glória, honra, poder, riqueza,
zões. Prim eira: em Deuteronômio 4.24, Jeová exige “adoração ex- sabedoria, força e louvor, além de receber a adoração de todas as criatu-
clusiva” ( NM) e em Isaías 42.8 ele declara que não dividirá sua ras do Universo (Apocalipse 4.11; 5.12-14; cf. João 5.23).
glória com m ais ninguém ; portanto, a adoração prestada a Cristo
Hebreus 1.8
tam bém deve ser absoluta, pois, sendo Deus, ele m erece e deve ser
adorado, assim com o o Pai (João 5.23). Além disso, as publicações Mas, com referência ao Filho: “Deus é o teu trono para todo o sem-
dos testem unhas de Jeová afirm am : “Não existe um único caso nas pre, e [o] cetro do teu reino é o cetro da retidão”.
Escrituras em que fiéis servos de Jeová [...] tenham se empenhado
num a form a de adoração relativa”.40 Diferentemente da Tradução do Novo Mundo, as versões em português
2 . É verdade que o verbo grego proskynéo ( Jtp o c n c u v é ttj) pode ser rezam: “Mas a respeito do Filho, diz: ‘0 teu trono, <3 Deus, subsiste para
tam bém traduzido por “prestar hom enagem ” ou “reverenciar”; todo o sem pre; cetro de equidade é o cetro do teu Reino’ ”. Neste m odo de
mas, no caso de Hebreus 1.6, o testem unho das Escrituras pede verter o texto bíblico, Jesus é chamado Deus, que reina para todo o sem -
obrigatoriam ente a tradução “o adorem”. As credenciais de Jesus pre. Na Tradução do Novo Mundo, diz-se que Deus (Jeová) é fonte e Sus-
determ inarão se ele m erece simples hom enagem ou adoração. Ele... tentador da realeza de Cristo, não lhe cabendo a designação de Deus.
Que tradução está correta? 0 problema dessa passagem é o seguinte:
• É Deus Poderoso (Isaías 9.6). Hebreus 1.8 é citação de Salm os 45.6. Esse salmo, escrito originariam ente
• É Rei dos reis e Senhor dos senhores (Apocalipse 17.4). em língua hebraica, dirigia-se a princípio a um rei de Israel, provavelmente
• É o herdeiro de todas as coisas (Hebreus 1.2). Salom ão. 0 texto hebraico reza: “Teu trono é de Deus, para sem pre e
• Sustenta todas as coisas por sua palavra poderosa (Hebreus 1.3). eternam ente!”.41 Por conseguinte, de acordo com o texto hebraico, o term o
• Tem toda a autoridade no céu e na terra (Mateus 28.18). “Deus” não é aplicado ao rei; Deus é aí a fonte de sua realeza, de seu reinado.
• Tem em si todos os tesouros da sabedoria e do conhecim ento (Co- Contudo, os cristãos do século I costumavam usar a Septuaginta ou LXX
lossenses 2.3). (tradução do século III a.C. das Escrituras hebraicas para o grego). Ao
• É o cam inho, a verdade e a vida (João 14.6). verter o texto para o grego, os tradutores da LXX traduziram “Teu trono é
• Criou todas as coisas (Colossenses 1.16,17). de Deus” por “Teu trono, ó Deus”. Citando o especialista B. F. Westcott,
• Tem anjos, autoridades e poderes sujeitos a ele (1 Pedro 2.22). que reconhece que essa é uma tradução possível, pois assim os tradutores
• Terá todo joelho no céu e na terra se dobrando diante dele (Filipen- da Septuaginta o entenderam, o Corpo Governante defende, fiando-se em
ses 2.10). Westcott, que a melhor tradução é “Teu trono é de Deus”.42
• Será confessado como Senhor por toda língua (Filipenses 2.11).

41 A Bíblia de Jerusalém, 7. impr., São Paulo, Paulus. Nessa versão, o texto encontra-se
em Salmos 46.7.
40 Estudo perspicaz das Escrituras, v. 2, p. 364. 42 Raciocínios à base das Escrituras, 1989, p. 414.
D e t u r pa n d o a P a l a v r a d e D e u s 121 122 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d f . s u a s d o u t r in a s

Todavia, o que interessa nesse caso não é a preferência dos testem u- dessa carta dem on stra que C risto é sup erior aos an jos. E quem vai
nhas de Jeová ou de Westcott, m as a do autor sagrado que escreveu a car- dem onstrar isso é o próprio Deus Pai. Ele m esm o é quem dirá, por duas
ta aos Hebreus. Q ualquer texto grego d em o nstra que ele optou pela vezes, que o Filho é Deus, no versículo 8 e nos versículos 10-12, sendo
tradução grega da Septuaginta, ou seja, “Teu trono, ó Deus”. E é exata- essa últim a passagem um a citação de Salm os 102.25-27, que no texto
m ente assim que está no texto grego das Escrituras do Novo Testamento. hebraico é dirigida ao Pai, aplicada pelo m esm o Pai ao Filho.
Portanto, não há nada para ser contestado. Se os testem unhas de Jeová Em objeção a isso, os testem unhas de Jeová citam o versículo 9, no
tiverem de reclamar, que reclamem com o autor sagrado; o que seus líde- qual aparece a expressão dirigida ao Filho — “Deus, o teu Deus, te u n-
res não devem fazer é alterar o texto grego. É assim que está escrito, e giu” — , parecendo indicar que o Filho é um a criatu ra, um dos adora-
ponto final. Veja: dores desse Deus. Desde já , essa hip ótese deve ser descartada, pois o
Filho é apresentado com o Criador de todas as coisas, não com o criatu -
Jtpòç ôé TÒV u ió v ó G póvoç GOU ra. Todavia, não é incorreto dizer que o Pai é o Deus do Filho. O próprio
com respeito m as [a]o filho o trono teu Jesus repetidas vezes falou de “meu Deus”, ao dirigir-se ao Pai (v. João
2 0.1 9; Apocalipse 3 .1 2 ). Em bora não encontrem os o Pai cham ando o
ó 0£Ó ç e tç TÒv a lc ò v a t o \5 a l c ã v o ç
Filho de “meu Deus”, vem os, contudo, que ele cham a o Filho de “Deus”
ó Deus para o século do século
(Hebreus 1.8) e de “Senhor” (Hebreus 1.10-12). Tudo isso apenas confir-
m a o que Jesus dissera: “Eu e o Pai som os um” (João 10.30; v. o cap. 5).
Essa form a de verter o texto enquadra-se perfeitam ente no contexto
O Pai glorifica ao Filho, que, por sua vez, glorifica ao Pai (João 17.1).
do capítulo 1 da carta aos Hebreus, cujo objetivo é m ostrar que Jesus não
Apesar de toda essa evidência em contrário, que dem onstra que a Tra-
é anjo, mas está acim a de todos eles. Ele é o Filho, que fez e sustenta todas
dução do Novo Mundo om ite e acrescenta ideias a seu bel-prazer, a fim de
as coisas pela palavra de seu poder (isso não poderia ser dito a respeito
ajustar o conteúdo bíblico às suas ideias teológicas, o Corpo Governante
de um anjo, um ser criado — v. 2,3). Jesus é aqui apresentado como aquele
declara o seguinte:
que, vindo na condição de servo,hum ilhando-se (Filipenses 2 .5-1 1), vence
o pecado e a m orte em sua hum anidade e, na condição de servo pela
Em primeiro lugar, é uma tradução precisa, bastante literal, dos
obediência, é exaltado, assentando-se à direita da m ajestade nas alturas
idiomas originais. Não se trata de livre paráfrase, em que os tradu-
(v. 3). Ele havia sido feito “por um pouco, m enor do que os anjos” (Hebreus
tores omitem pormenores que consideram não importantes e acres-
2.9). Tendo concluído sua m issão como hom em , é exaltado, tornando-se
centam ideias que creem ser úteis.43
o herdeiro de todas as coisas (v. 2). Está em questão, portanto, Jesus Cristo
encarnado, ressurreto e vitorioso; ele é verdadeiro Deus e verdadeiro
É evidente que se trata de uma inform ação inverídica, pois os exem -
hom em ; venceu como verdadeiro homem, e é exaltado pelo Pai. Se antes,
plos anteriores m ostram justam ente o inverso disso. Omissões, adições e
com o hom em , era m enor que os anjos, após ter feito a purificação de
distorções são comuns na Tradução do Novo Mundo.
nossos pecados “torn[o u ]-se tão superior aos anjos quanto o nom e que
herdou é superior ao deles” (v. 4). Por essa razão, deve ser adorado pelos
anjos, que devem sua existência a ele (v. 6). Desse ponto em diante, o autor 43 Raciocínios à base das Escrituras, p. 395.
D e t u r pa n d o a P a l a v r a d e D e u s 123 124 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

Outros textos adulterados justiça que há na Lei, irrepreensível” (Filipenses 3.5,6). Com todo esse
vasto currículo religioso, só podemos esperar de alguém assim um pro-
Os textos a seguir, assim com o alguns dos anteriores, conferem ao Fi-
fundo conhecim ento do Antigo Testamento. E o apóstolo Paulo revelou
lho sua igualdade com o Pai. Estes tam bém foram alterados para negar
deter amplo conhecim ento dos escritos sagrados judaicos. Suas cartas
essa verdade. Essa atitude contradiz, antes de tudo, as Escrituras, e as
fazem com frequência referências ao Antigo Testamento. Ao citar Joel 2.32,
confissões de fé do cristianism o histórico, como o Credo atanasiano, que
em que aparece o tetragram a sagrado, o apóstolo não hesitou em usar o
afirm a: “Uma só é a divindade do Pai e do Filho e do Espírito Santo; igual
term o Kyrios no lugar do tetragram a, tom ando um pelo outro, indistin-
a glória, coeterna a majestade”.
tam ente. Com isso, esse piedoso judeu convertido ao cristianism o identi-

Romanos 10.13 ficou Jesu s com o m r T ( Y H W H ) da trad ição de seu s p ais. Paulo
dem onstrou que encarava Jesus com o alguém que é muito m ais do que
Pois todo aquele que invocar o nome de Jeová será salvo. simples arcanjo. Assim, ele se distancia, e muito, da seita dos testem u-
nhas de Jeová, que identifica Jesus com o arcanjo Miguel (v. o cap. 5, que
Todos os textos gregos trazem, no lugar d e“Jeová”, a palavra K ú p i o ç
refuta essa posição antibíblica).
(Kyrios), que significa “Senhor”. Portanto, o texto deve ser lido: “Pois todo
Afirm am os então que não houve om issão do tetragram a em Rom a-
aquele que invocar o nom e do Senhor será salvo”. No original grego, não
nos 10.13, m as tão som ente a identificação desse com o term o Kyrios.
havia o nome “Jeová”. M as, segundo os testem unhas de Jeová, o nome
Esse não é o único caso em que textos do Antigo Testamento, portando o
havia sido omitido, e caberia a eles, com o suas “testem unhas”, restaurar
Nome Divino, são citados no Novo Testamento e aplicados diretam ente a
o Nome Divino ao texto bíblico. Essa conclusão baseia-se no seguinte ar-
Jesus Cristo. Com pare estes exem plos: F ilip enses 2 .1 0 ,1 1 ; Rom anos
gum ento: o texto de Rom anos 10.13 é um a citação de Joel 2.32, em cujo
14.10,11 com Isaías 45.23; Apocalipse 2.18,23 com Jerem ias 17.10; João
texto hebraico aparece o tetragram a sagrado YHW H (iTIíT),44 vertido
12.37-40 com Isaías 6.1-5; Efésios 4.7,8 com Salm os 68.18, entre outros.
por Jeová na Tradução do Novo Mundo. Assim, a substituição se tornaria
Em segundo lugar, o contexto não deixa dúvidas a respeito daquele a
necessária, para não dizer obrigatória.
quem o term o hebraico m i T e seu equivalente grego Kyrios se referem.
Acerca disso, afirm am os o seguinte:
Em prim eiro lugar, o apóstolo Paulo, autor de Rom anos, era profundo Acompanhe o raciocínio: o apóstolo Paulo está falando de seus com pa-

conhecedor das Escrituras Sagradas. Sua religião de berço era o ju daís- triotas israelitas que não se sujeitaram à ju stiça de Deus (v. 1). No versí-

mo. Segundo seu próprio depoim ento: “ [Eu] era extrem am ente zeloso culo 4, diz que é preciso “exercer fé” (NM) em Cristo para ser justificado.

das tradições dos meus antepassados” (Gálatas 1.13,14). Aos filipenses, E isso, diz Paulo, está bem perto de nós; está ao alcance da bo ca e do cora-

escreveu a respeito de si m esm o: “Circuncidado ao oitavo dia de vida, ção (v. 8). Com a boca se declara que Jesus é o Senhor ( Kyrios ) e com o
pertencente ao povo de Israel, à trib o de B enjam im , verdadeiro hebreu; coração se exerce fé (v. 9,10 ). No versículo 11, Paulo diz, citando o Antigo
quanto à Lei, fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à Testam ento, que quem crer em Jesus não será decepcionado. No versí-
culo 12, afirm a que Jesus é o Senhor de todos os que o invocam, tanto
44 O tetragrama m iT ’ compõe-se de quatro consoantes hebraicas [YHWH — yôd, judeus quanto gregos. Em todo o texto, está claro que Paulo está falan-
hê\ waw, hê’] que formam o Nome Divino, pelo qual Deus se dá a conhecer por toda
do de Jesus Cristo. E, no versículo 13, chega ao ponto m áxim o aplicando
a extensão do Antigo Testamento. É comumente vertido em português por “Jeová”
ou “Javé” (Yahweh, Iahweh). Joel 2.32 a Jesus: “Todo aquele que invocar o nom e do Senhor será salvo”
D e t u r pa n d o a P a l a v r a d e D e u s 125 126 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s

(cf. ICoríntios 1.2, Gálatas 3.28 e Efésios 2 .1 1 -1 8). Percebe-se, portanto, intitulado “Títulos e term os descritivos aplicados a Jeová”, aparece ju s-
que o autor sagrado não considerou sacrilégio aplicar o texto de Joel 2.32 tam ente aquele que é aplicado tam bém a Jesus Cristo: ha adôn, o [verda-
à pessoa de Jesus Cristo, pois reconhecia sua divindade absoluta. Como deiro] Senhor.
afirmou a Igreja no Credo niceno, ele é “Deus de Deus, Luz de Luz, Verda-
Romanos 14.7,8
deiro Deus de Verdadeiro Deus”.
Ainda sobre essa questão, a Tradução do Novo Mundo: com referências Nenhum de nós, de fato, vive somente para si mesmo, e ninguém
contém algo muito interessante. Na verdade, é um a arm adilha que, m es- morre somente para si mesmo; pois, quer vivamos, vivemos para Jeová,
mo sem saber, os testem unhas de Jeová arm aram para si m esm os. Como quer morramos, morremos para Jeová. Portanto, quer vivamos quer
já dissem os, o texto de Romanos 10.9-13 é dirigido a Jesus Cristo. Em morramos, pertencemos a Jeová.
Romanos 10.9 (ATM), o apóstolo Paulo afirm a: “Pois, se declarares publi-
cam ente essa‘palavra na tua própria boca’, que Jesus é Senhor,* [...] serás No texto grego, aparece som ente o term o “Senhor”, não Jeová. 0 autor

salvo”. Pois bem , na Tradução do Novo Mundo: com referências, o nome sagrado está falando de Jesus Cristo. V ê-se isso claram ente no versículo

“Senhor” vem acompanhado de um asterisco ( * ) , remetendo o leitor para 9, em que o apóstolo Paulo diz: “Por esta razão Cristo morreu e voltou a

a seguinte nota de rodapé: “9 * Gr.: ky-ri-os; j 1214-1618-22 (hebr.): ha-a-dhóhn, viver, para ser Senhor de vivos e de m ortos”. Esse versículo é continuação

‘o Senhor’. Não ‘Jeová’ ”. da ideia anterior. Paulo fala de Jesus com o Senhor de vivos e de m ortos;

Observe que a Tradução do Novo Mundo: com referências afirm a que por isso, podia dizer acerca de Jesus (v. 7,8): “Pois nenhum de nós vive

a expressão “o Senhor” é originária do hebraico ha-’a-dhóhn ou h a’adôn. apenas para si, e nenhum de nós m orre apenas para si. Se vivemos, vive-

Acontece que no apêndice 1H da referida tradução aparece a seguinte mos para o Senhor, e, se m orrem os, m orrem os para o Senhor. Assim, quer

explicação: vivamos, quer m orram os, som os do Senhor ”. E no versículo 9: “Por esta
razão Cristo m orreu e voltou a viver, para ser Senhor de vivos e de m or-

“O [v erd ad eiro ] S e n h o r”: H ebr.: ha^A -dhóhn. O título tos” (cf. Gálatas 2.20). A Tradução do Novo Mundo m ostra-se totalmente

’A-dhóhn, “Senhor; Amo”, quando precedido pelo artigo definido ha, incoerente e tendenciosa, pois o term o “Senhor” aparece nesses versícu-

“o”, forma a expressão ha-’A-dhóhn,“o [verdadeiro] Senhor”. No M los quatro vezes; em três das citações, a Tradução do Novo Mundo traduz

[texto Massorético], o uso do artigo definido ha antes do título por “Jeová”, m as, na últim a, por Senhor. Caso m antivessem a coerência

’A-dhóhn limita a aplicação deste título exclusivamente a Jeová Deus. na tradução, seriam obrigados a dizer “para este m esm o fim m orreu Cristo
e passou a viver novamente, para que fosse Jeová tanto sobre m ortos como

Ora, se a palavra “Senhor” de Rom anos 10.9, aplicada a Jesus Cristo, [sobre] viventes”. Como isso chocaria toda a organização, foi m ais côm o-

deriva-se do hebraico ha ’adôn, então a conclusão deveria ser óbvia: Jesus é do ser incoerente com Cristo, aquele que é a vida (João 14.6) e tem a chave

o ha ’adôn, ou seja ,“o [verdadeiro] Senhor”. Para com pelir o leitor a fugir da m orte e do Hades (Apocalipse 1.18).

dessa conclusão, que é inevitável, o Corpo Governante faz questão de fri-


ljoão 5.7,8 — um caso especial
sar: “Não ‘Jeová’ ”. M esmo sem querer, a Tradução do Novo Mundo com
referências acaba fazendo de Jesus Cristo “o [verdadeiro] Senhor”, pon- Em conversa com os testem unhas de Jeová sobre a doutrina da San-

do-o em pé de igualdade com Jeová, pois no apêndice seguinte (“ 1J”), tíssim a Trindade, é com um a citação de ljo ã o 5 .7,8 , que diz, segundo
D e t u r pa n d o a P a l a v r a d e D e u s 127 128 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s

algum as traduções: “Porque três são os que testificam no céu: o Pai, a Álefe ( X ) Códice sinaítico (século IV d.C.)
Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um. E três são os que tes- A Códice alexandrino (século V d.C.)
tificam na terra: o Espírito, e a água e o sangue; e estes três concordam B Manuscrito vaticano 1209 (século IV d.C.)
num” ( ARC). Vg Vulgata latina, de S. Jerônim o (século V d.C.)
De im ediato, os testem unhas de Jeová afirm am que as palavras “no Syh Versão siríacafiloxeniana-harcleana (séculos VI e V II d.C.)
céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um. E três são os Syp Peshita siríaca (século V d.C.)
que testificam na terra” não fazem parte dos m elhores m anuscritos. Para
isso — no caso dos católicos — , rem etem o leitor para um a nota ao pé Vale ressaltar que os m ais antigos são Álefe (N ) e B. Mas em que co n-
siste a inco erência dos testem unhas de Jeová? Para rejeitar a fórm ula
da página de A Bíblia de Jerusalém , que afirm a que essa passagem está
trinitária de ljo ã o 5.7,8, a seita recorre aos m anuscritos m ais antigos,
ausente dos m anu scritos gregos m ais antigos, nas antigas versões e nos
principalm ente Álefe ( X ) e B. Contudo, esses m esm os m anuscritos tam -
m elhores m anu scritos da Vulgata. Para alguns evangélicos, citam a obra
bém om item as passagens de Marcos 1 6.9-20 e João 7 .5 3 — 8.11 , que
A Bíblia explicada, de S. E. McNair, publicada em 1985 pela Casa Publi-
constam na Tradução do Novo Mundo. Ora, os m esm os m anuscritos, re-
cadora das A ssem bleias de Deus (p. 4 8 9 ), que afirm a que a passagem
putados como mais antigos, que não trazem ljo ã o 5.7,8, om item tam -
bíblica em apreço deve ser om itida por não se encontrar nos m elhores
bém M arcos 16 .9 -2 0 e João 7 .5 3 — 8.1 1 . Se os testem un has de Jeová
m anu scrito s.45
fossem coerentes, deveriam de igual m aneira om itir essas duas últimas
Os testem unhas de Jeová, ensinados pelo Corpo Governante, afir-
passagens bíblicas da Tradução do Novo Mundo. Por que o Corpo Gover-
m am que esses versículos “foram acrescentados por alguém que estava
nante não fez isso? Porque o conteúdo dessas passagens não contraria o
tentando dar apoio ao ensino da Trindade”; consequentem ente, “essas
sistem a doutrinário da seita; o que não se dá, certam ente, com ljo ã o 5.7,8,
palavras não fazem realm ente parte da Palavra de Deus”.46
que ensina a doutrina da Trindade (negada pelos testem unhas de Jeová).
Tem havido m uita controvérsia com respeito ao fato de essas pala-
Trata-se, portanto, de m era conveniência, não de fidelidade aos m anus-
vras fazerem ou não parte dos m anuscritos originais da Bíblia. A m aio-
critos m ais antigos.
ria dos estudiosos afirm a que não fazem. Contudo, há outros que di-
zem o contrário. Este livro não tem a intenção de entrar nessa contenda.
Diante de tudo o que foi exposto, fica evidente que a Tradução do Novo
Nossa intenção é m ostrar que, neste caso, os testem unhas de Jeová são
Mundo não se sustenta com o digna de confiança, nem ela nem seus idea-
incoerentes. Acom panhe o raciocínio.
lizadores e promotores.
Em sua Tradução do Novo Mundo: com referências, o Corpo Gover- Finalizamos este capítulo com a seguinte exortação da Segunda con-
nante, ao com entar 1João 5.7, indica os m anuscritos antigos da Bíblia que fissão helvética (cap. 1, § 3; in: B eek e; Fer g u so n , 2006, p. 10):
om item as palavras “no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes
três são um. E três são os que testificam na terra”. São os seguintes: Julgamos, portanto, que destas Escrituras devem derivar-se a ver-
dadeira sabedoria e a piedade, a reforma e o governo das igrejas, tam-

45 Raciocínios à base das Escrituras, 1989, p. 415. bém a instrução acerca de todos os deveres da piedade; enfim, a
46 Poderá viver para sempre no paraíso na terra, ed. de 1983, p. 53. confirmação das doutrinas e a refutação de todos os erros [...].
130 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s

Na realidade, por ensinar que Deus é onipresente, a cristandade

4 confundiu a questão e tornou mais difícil para Deus ser encarado


como real por seus adoradores. Como é que Deus pode estar presen-
te em todo lugar ao mesmo tempo? Deus é uma Pessoa espiritual, o

Desnudando Jeová que significa que não tem um corpo material, mas sim um espi-
ritual. Será que um espírito tem corpo? Sim, pois lemos: “Se há

de seus atributos corpo físico, há também um espiritual” (ICoríntios 15:44; João


4:24). Deus como indivíduo, como Pessoa com um corpo espiritual,
tem um lugar de residência, e assim não poderia estar em qualquer
outro lugar ao mesmo tempo.1

Essa visão lim itada de Deus levou a seita a outra heresia. Possuindo
corpo e lugar para morar, como Deus poderia ver e controlar tudo e em
Cremos em Deus Pai onipotente, cujo nome é Jeová, não sendo
toda parte? Para resolver essa questão, passou-se a negar a personalidade
ele, porém, onipresente (pois tem um corpo de forma específica,
e a divindade do Espírito Santo, pois as Escrituras o apresentam em todos
que requer um lugar para morar) nem onisciente (pode saber
os lugares ao m esm o tempo; por isso, ele não poderia ser pessoal, m as
todas as coisas, mas não sabe). Cremos que a Trindade é uma
poderia ser im pessoal, a “força ativa” de Jeová. A fim de acentu ar a
invenção de Satanás.
im pessoalidade do Espírito Santo, grafam -no com iniciais m inúsculas:

Um D eu s es t r a n h o e l im it a d o “espírito santo”.2 Este seria, portanto, o poder im pessoal de um Deus


corpóreo e pessoal, por m eio do qual ele controlaria o Universo. Por força
Os tesm unhas de Jeová reconhecem a existência de um Ser supremo.
da argum entação, o “espírito santo” seria ilimitado, e Jeová, limitado, em -
Seu teísm o, porém , é bem diferente daquele defendido pelo cristianism o.
bora os testem unhas de Jeová neguem , teoricam ente, essa lim itação.3
Em prim eiro lugar, eles negam a doutrina bíblica da Trindade. Esse ódio
Como se não bastasse, os testem unhas de Jeová tam bém negam outro
m ortal pela doutrina trin itária foi herdado de Charles Taze Russell, o
atributo indispensável a Deus: sua onisciência real e absoluta. Isso não
fundador da seita, que alegou tratar-se de uma doutrina de origem pagã,
quer dizer que a seita deixe de usar o term o “onisciência”. A revista A
satânica, e que maculava a unicidade do Deus verdadeiro.
Sentinela declara: “Jeová tem conhecim ento de tudo, é todo-sábio —
No entanto, as diferenças não se lim itam à negação da doutrina da
onisciente. Ele pode prever tudo o que deseja prever”.4Apesar de afirm arem
Trindade. 0 próprio Jeová é desnudado de alguns de seus atributos. Embora
os testemunhas afirmem que Jeová seja onipotente, negam que seja onipre-
sente. Assim, Jeová, o todo-poderoso, não pode estar em vários lugares ao 1 A Sentinela, 15/8/1981, p. 6.
2 V. o capítulo 6 quanto a uma resposta bíblica acerca dessa concepção errônea sobre
mesmo tempo. 0 raciocínio é este: Deus é uma pessoa; sendo um ser pes-
o Espírito Santo.
soal, ele possui um corpo de forma específica, o qual precisa de um lugar 3 Ibid., p. 6. V. tb. Poderá viver para sempre no paraíso na terra, 1983, p. 37.
específico para morar, e esse lugar é o céu, onde está confinado. Veja: 4 15/5/1986, p. 4.
D e s n u d a n d o J e o v A d e s e u s a t r ib u t o s 131 132 T e s t e m u n h a s d e J e o v A: e x p o s i ç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s

teoricam ente que Jeová é onisciente, essa palavra para os testem unhas viverão na terra, quem será fiel até o fim .7 (Saiba m ais sobre os 144 mil e

de Jeová não tem o m esm o significado que tem para o cristianism o. Para a classe terrestre, as “outras ovelhas”, no cap. 7.)

este, a onisciência de Deus é total e absoluta, isto é, ele sabe tudo num Outra vez, a seita m ostra-se incoerente em seus conceitos. Veja:

único e m esm o instante; não há para Deus passado, presente e futuro.


Para os testemunhas de Jeová, a onisciência de Deus é seletiva, ou seja, Ele [Jeová] é também onipotente. Não somente conhece o final

Jeová não sabe o futuro de todas as coisas, a menos que queira saber. Como desde o princípio, o futuro sendo para ele um livro aberto, mas nele

afirm ou a referida A Sentinela, ele “pode prever tudo que deseja prever”. também reside todo conhecimento e sabedoria, como indicam as

A ssim , o co nh ecim en to de Deus está entre o “p o d er” e o “d esejar”; suas maravilhosas obras de criação.8

enquanto ele não “desejar saber”, ele desconhece. Os testem unhas de Jeová
propõem a seguinte ilustração: Além disso, Jeová tem conhecimento de tudo, é todo-sábio —
onisciente. Ele pode prever tudo o que deseja prever. Sobre ele se

Uma pessoa que tem um rádio pode ouvir as notícias mundiais. diz: “Não há criação que não esteja manifesta à sua vida, mas todas

Mas o fato de que pode ouvir certa estação não significa que real- as coisas estão nuas e abertamente expostas aos olhos daquele com

mente faça isto. Ela precisa primeiro ligar o rádio e daí selecionar a quem temos uma prestação de contas” — Hebreus 4:13.9

estação. Da mesma forma, Jeová tem a capacidade de predizer even-


tos, mas a Bíblia mostra que ele faz uso seletivo e com discrição des- As incoerências podem ser resumidas assim:

sa capacidade que tem , com a devida consideração pelo


livre-arbítrio com que dotou suas criaturas humanas.5 1. Na prim eira citação, afirm a-se que para Jeová “o futuro é um livro
aberto”. Ora, se o futuro é uma história que ainda há de acontecer
e se a onisciência de Jeová é seletiva, então o futuro seria um livro
Dessa forma, se Jeová quiser saber se alguém será fiel a ele ou não,
aberto com algumas páginas em branco. Admitir que o futuro é para
deverá “sintonizar” a “estação” dessa pessoa; caso contrário, não terá como
saber. Essa seria a razão pela qual Jeová não sabia que Adão e Eva peca-
7 A Sentinela, P/10/1984, p. 30-31. V. tb. Estudo perspicaz das Escrituras, v. 2,
riam .6 Pela m esm a razão, fazem distinção entre im ortalidade e vida eter-
verbete “imortalidade”; v. 3, verbetes “incorrupção” e “vida”. Embora a seita deixe
na. Jeová concederá aos “ungidos” — com o são designados os 144 mil — transparecer que “imortalidade” e “incorrupção” se apliquem a uma espécie de
a im ortalidade, ou seja, eles se tornarão indestrutíveis, im unes à m orte, qualidade de vida, na qual não há necessidade de alimentação e outros cuidados,
pois Jeová sabe, por ter “sintonizado” a “estação” de cada um, que serão e a “vida eterna” implica cuidar do corpo para que este não venha a se corromper,
a questão central, de fato, não está na distinção entre corpo corruptível e
fiéis por toda a eternidade. No entanto, concederá aos que viverão na ter- incorruptível, mas na onisciência seletiva de Jeová, pois a referida A Sentinela
ra apenas a vida eterna, ou seja, viverão infinitam ente enquanto forem afirm a: “Jeová Deus é o Juiz perfeito que recompensa os ungidos com a
fiéis, mas não serão indestrutíveis, pois Jeová não sabe, no caso dos que imortalidade. Quando ele, em sua ilimitada sabedoria e perspicácia, determina
que tais foram cabalmente provados e estão inquestionavelmente habilitados para
a imortalidade, podemos confiar que serão fiéis para sempre” .
5 Raciocínios à base das Escrituras, 1989, p. 116. 8 A Sentinela, 15/3/1988, p. 11.
6 Ibid.,p. 117. 9 A Sentinela, 15/5/1986, p. 4.
D e s n u d a n d o J e o v á d e s e u s a t r ib u t o s 133 134 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

Jeová um livro aberto e ao m esm o tempo dizer que sua onisciên- que Deus criou o céu (G ên esis 1.1; Isaías 4 5 .1 8 ); logo, houve tem po
cia é seletiva é cair no descrédito e na contradição. em que o céu não existia. Deus, ao contrário, é de eternidade a eternidade
2. Na segunda citação, o texto de Hebreus é, na verdade, diam etral- (Salm os 9 0.2). Portanto, se é anterior ao céu, não necessitou, não necessita
mente oposto ao que os testem unhas de Jeová afirm am . Ora, se a nem necessitará dele como m orada eterna.
onisciência de Jeová for seletiva, então algum as coisas estão enco- A onipresença de Deus é revelada no salm o 139, principalm ente nos
bertas para ele, não nuas, com o diz o Texto Sagrado. Se ele só vê o versículos 7 e 8 .0 salm ista reconhece que não há para onde fugir de Deus:
que quer, então há coisas que ele ainda não viu, de modo que nem “Para onde poderia fugir da tua presença?” (v. 7b). Em qualquer canto do
todas as coisas estão abertam ente expostas aos seus olhos. Universo, lá estará Deus. Isso é dem onstração convincente de que ele é
onipresente. (V. tb. Provérbios 15.3; Jerem ias 23.23,24.)
Nos dois casos, o argumento segue m ais ou m enos assim : Jeová pode Falta-nos agora esclarecer dois pontos:
saber tudo potencialm ente, m as na prática não sabe; não porque não pos-
sa, mas porque não quer. Já que não quer, não faz sentido afirm ar que o 1. Porque IReis 8.43 diz que o céu é o lugar estabelecido de morada de
futuro é um livro aberto; nesse caso, deveria ser dito que é um livro que Deus? Os antigos não conheciam a palavra m oderna “transcendên-
pode ser aberto. Do m esm o modo, não faz sentido dizer que “não há cria- cia”, que traz a ideia de que Deus está além de nós e ultrapassa
ção que não esteja manifesta à sua vida”, pois dizem que há coisas que nossas expectativas, ou seja, transcende sua criação. A m elhor ex-
seus olhos ainda não podem ver; por conseguinte, nem tudo está, de fato, pressão que tinham ao alcance era a palavra “céu”. Visto da terra, o
nu e abertam ente exposto aos olhos de Deus. céu é lugar longínquo, bem distante. Portanto, dizer que Deus h a-
bita no céu é o m esm o que afirm ar a sua transcendência. Não está
R efu t a ç ã o d a t e o l o g ia d o s t e s t e m u n h a s d e Jeo vá
em jogo, portanto, nenhum sentido espacial ou geográfico (em bo-
A concepção dos testem unhas de Jeová a respeito de Deus tem como ra os antigos tenham recorrido a isso a fim de nos transm itir o que
referencial o ser hum ano. Assim, se o hom em , com o pessoa, não pode hoje definimos com o transcendental) (E r ic k s o n , p. 29, 33).
estar em m ais de um lugar ao m esm o tempo, Deus tam pouco poderia, e 2. E como entender a declaração bíblica de que há corpos físicos e espi-
assim segue o raciocínio. Trata-se de extrem ado antropom orfismo. rituais? Os testem unhas de Jeová afirm am que Deus tem corpo
A fim de desfazer esses conceitos errôneos, abordarem os a seguir o espiritual em razão da junção de duas passagens bíblicas: João 4.24
que a Bíblia tem para dizer sobre a onipresença e onisciência de Deus. e ICoríntios 15.44. A prim eira afirm a que “Deus é Espírito”, e a
Em seguida, faremos um estudo conciso sobre a doutrina da Trindade. segunda diz que, se há corpo físico (ou natural, ou psíquico), há
tam bém corpo espiritual. Entretanto, essa correlação de textos é
Onipresença
indevida. João 4 .24 trata da adoração que se deve prestar ao Pai,
A Bíblia apresenta Deus com o ser ilimitado, não sujeito às lim itações “em espírito e em verdade”, pois “Deus é Espírito”. A sam aritana
de um corpo físico ou espiritual. Ele tampouco precisa de lugar para morar, se considerava adoradora de Deus; ela falou da im portância do “poço
pois a Bíblia diz que ele enche os “céus e a terra” (Jerem ias 2 3.2 4), de modo de Jacó” (4.12), de seus “antepassados” e do “monte” Gerizim (4.20).
que eles não o podem conter (1 Reis 8 .2 7). Ora, se nem m esm o o céu pode Para ela, a adoração estava relacionada a coisas visíveis e concre-
contê-lo, como este poderia ser sua m orada fixa? Ademais, diz a Bíblia tas. Jesus então afasta essa possibilidade ao dizer que Deus não
D e s n u d a n d o J e o v á d e s e u s a t r ib u t o s 135 136 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

necessita nem do Gerizim nem de Jerusalém . 0 Pai procura verda- declarou: “Deus tem todas as perfeições no seu próprio ser” (1995, V,
deiros adoradores que o adorem “em espírito” (não pela vista ou 64). Isso inclui, evidentem ente, conhecer perfeitam ente todas as coisas.
por meio de coisas palpáveis) e “em verdade” (de acordo com o Outro im portante pensador afirm ou: “Em Deus, tudo é infinito. Deve-
modo que ele deseja ser adorado). Portanto, a frase “Deus é Espíri- mos admitir, então, que Deus é um a inteligência infinita e possui uma
to” torna inútil o uso de coisas m ateriais para agradar-lhe e servi- ciência infinita, a saber, não apenas a ciência de tudo o que foi, é ou será,
-lo (cp .co m Atos 17.22-31). m as ainda de tudo o que é possível” (J o l iv e t , 1957, p. 337).
Já em ICoríntios 15.44, Paulo não está discursando sobre o ser 0 p ro blem a dos testem u n has de Jeová em relação à o n isciên cia
de Deus, mas sobre a ressurreição dos mortos. A partir de 15.38, ele absoluta de Deus é não ter resposta para a seguinte pergunta: “Por que
tentará responder à pergunta “Como hão de ser levantados os mor- Deus criou Adão e Eva sabendo que pecariam ?”. Eles acreditam que, se
tos?”. Ele não está tentando demonstrar que Deus tem corpo, mas Jeová soubesse o resultado e ainda assim criasse o prim eiro casal humano,
que os ressuscitados hão de se levantar cada um com o seu corpo. ele seria o verdadeiro responsável pelo mal que há no mundo. Temendo
0 corpo ressurreto sofrerá certas transformações, as quais o identi- acusar Jeová de crim es que não poderia jam ais cometer, eles decidiram
ficarão com o anterior, m as ao m esmo tempo o diferenciarão da- então sacrificar a onisciência absoluta de Deus:
quele em alguns aspectos: “Assim tam bém é a ressurreição dos mor-
tos. Sem eia-se em corrupção, é levantado em incorrupção. Semeia- Se Deus predestinou e previu o pecado de Adão e tudo o que
-se em desonra, é levantado em glória. Sem eia-se em fraqueza, é resultaria disso, significa que, ao criar Adão, Deus deliberadamente
levantado em poder. Sem eia-se corpo físico [psíquico, natural], é le- desencadeou toda a iniquidade cometida na história humana. Ele
vantado corpo espiritual. Se há corpo físico, há tam bém um espiri- seria a Fonte de todas as guerras, do crime, da imoralidade, da opres-
tual” (ICoríntios 15.42-44, ATM). 0 apóstolo versa, portanto, sobre a são, da mentira, da hipocrisia, das doenças.10
natureza do corpo dos que ressuscitarão. Não existe nada no texto
que sugira que ele esteja tratando de Deus e seu suposto corpo. De Para início de conversa, convém destacar o seguinte: Deus não pre-
modo que não se pode usar essa passagem bíblica, nem nenhuma destinou o pecado de Adão e o de Eva. Saber o que aconteceria não o torna
outra, para afirm ar que Deus é corpóreo. Ademais, em nenhum lu- moralm ente culpado pelo evento, pois o pecado foi de Adão e de Eva, não
gar da Bíblia se diz que Deus tem corpo, pois a própria ideia de cor- de Deus. Eles eram livres para escolher entre o bem e o mal; foram criados
po é indício de limitação; Deus, ao contrário, é imensurável. retos e perfeitos, à im agem de Deus, mas havia neles a potencialidade de
cair (de outro modo, com o poderiam ser realmente livres?). Pelo relato
Onisciência
de Gênesis, está claro que Deus estabeleceu com eles um pacto, o das obras:
Afirm am os categoricam ente que a onisciência de Deus não é seletiva, se fossem obedientes, viveriam; se desobedecessem , m orreriam . A decisão
mas total e absoluta, “pois, visto que a onipotência abarca todo o poder, final coube a eles; foram eles que, por seu livre-arbítrio, decidiram pecar.
por igual modo a onisciência abarca todo o conhecim ento” ( D agg , 1989, O fato de Deus conhecer de antem ão esse acontecimento não significou
p. 54). Deus tem “perfeito conhecim ento” (Jó 37.16; v. tb. Salmos 147.5;
Isaías 40.28; 46.9,10; Atos 1.24; Hebreus 4.13; ljo ã o 3.20 ). Essa crença da
onisciência seletiva de Deus é estranha ao cristianism o. Tomás de A q u i n o 10 Raciocínios à base das Escrituras, p. 117.
D e s n u d a n d o J e o v á d e s e u s a t r ib u t o s 137 138 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

que ele plan ejou e executou o m al. N enhum a co nfissão de fé reform a- bondade são tão grandes e incompreensíveis que ele ordena e faz a
da, que crê na doutrina da predestinação e na providência divina, sequer sua obra perfeitamente e com justiça, mesmo que os demônios e os
chegou a supor a sandice de que Deus é o responsável pelo mal. ímpios ajam injustamente. E não queremos investigar curiosamente
Na verdade, o problem a para a m ente hum ana é tentar conciliar a o ri- as obras dele (que ultrapassam o entendimento humano) além da
gem do m al com a onisciência divina. Trata-se de um a questão espinho- nossa capacidade de entender. Porém, adoram os hum ilde e
sa tanto para a teologia quanto para a filosofia. Acerca da origem do mal, piedosamente a Deus em seus justos julgam entos, que nos estão
os epicureus11 raciocinavam (A bba g n a n o , 1 9 9 8 ,“teodiceia”): escondidos, contentand o-
-nos em ser discípulos de Cristo, para aprender somente o que ele nos
Deus não quer, ou não pode, ou pode e não quer, ou não quer revelou na sua Palavra, sem ultrapassar esses limites.
nem pode, ou quer e pode eliminar o mal. Se quer e não pode, é
impotente: o que Deus não pode ser. Se pode e não quer, é invejoso, Assim, em vez de sacrificar a onisciência absoluta de Deus, o melhor
o que igualmente é contrário a Deus. Se não quer nem pode, é inve- caminho a seguir é reconhecer que toda e qualquer ação de Deus é justa
joso e impotente, portanto não é Deus. Se quer e pode — a única (com o criar Adão e Eva mesmo sabendo que pecariam e o que decorreria
coisa que convém a Deus — , qual a origem da existência do mal e desse ato), resignar-nos diante do fato de que nem todos os detalhes nos
por que não o elimina? foram revelados e aceitar de vez que há coisas além da nossa compreensão.
Não temos todas as informações, mas o que temos é suficiente e necessário.
Essa é uma dúvida bem antiga! Mas perscrutar o ser de Deus, tentando Mais do que ninguém, Deus sabe por que agiu daquela forma, e não de
entender sua m ente e o porquê de determ inadas coisas, é impossível para outra. Em vez de perguntar a Deus por que ele criou Adão e Eva sabendo
a mente hum ana finita. Diante desse abism o intransponível, alguns, como que pecariam, o melhor é agradecer a ele por ter enviado seu Filho amado,
os testem unhas de Jeová, sacrificam a onisciência absoluta de Deus por Jesus, “para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida
não acharem uma resposta racional à seguinte pergunta: “Por que ele criou eterna” ( João 3.16). Como lembra o filósofo Walter BRUGGER,“a ciência divina
Adão e Eva sabendo que pecariam ?”. A Confissão belga (artigo 13; in: B e e k e ; não é passiva” (1962, “onisciência”). Ele não somente sempre soube o que
Fer g u so n , 2006, p. 10), de 1561, aponta um excelente cam inho para quem aconteceria, m as tam bém determ inou o resgate para libertar do poder
busca um a resposta a essa pergunta: do pecado e da morte aqueles a quem amou “antes da criação do mundo”
(Efésios 1.4). Em tudo, Deus deve ser glorificado, pois “Ele é a Rocha, as
Cremos que o bom Deus, depois de ter criado todas as coisas, não as suas obras são perfeitas, e todos os seus caminhos são justos. É Deus fiel,
abandonou, nem as entregou ao acaso ou à sorte, mas as orienta e governa que não comete erros; justo e reto ele é” (Deuteronômio 32.4).
conforme a sua santa vontade, de tal maneira que neste mundo nada
A doutrina da Santíssima Trindade
acontece sem a sua determinação. Contudo, Deus não é o autor, nem pode
ser acusado dos pecados que são cometidos, pois o seu poder e a sua Convém definir antes de tudo em que consiste a doutrina da Trindade,
pois até m esmo muitos cristãos se perdem nessa questão. Com “Trindade”,
não queremos dizer que crem os em três deuses, pois para nós há somente
11 Escola filosófica fundada em Atenas no ano 306 a.C. por Epicuro de Samos. um Deus único e verdadeiro (Deuteronômio 6.4; Isaías 43.10) que subsiste
D e s n u d a n d o J e o v á d e s e u s a t r ib u t o s 139 140 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

em três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Mesmo sendo paradoxal, E a fé católica [universal] consiste em venerar um só Deus na
o en sin o não é c o n tra d itó rio ; D eus é três e um sim u lta n ea m en te. Trindade e a Trindade na unidade, sem confundir as pessoas e sem
Precisam os diferenciar os term os “pessoa” e “natureza”. As pessoas em dividir a substância.
Deus são três, mas uma só é sua natureza, que consiste em onipotência, Pois uma é a pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito
onisciência, onipresença etc. Várias ilustrações foram apresentadas para Santo; mas uma só é a divindade do Pai e do Filho e do Espírito Santo,
exemplificar essa doutrina; contudo, a do triângulo equilátero é uma das igual a glória, coeterna a majestade.
que mais se aproximam desse conceito, ainda que imperfeitamente, pois Qual o Pai, tal o Filho, tal também o Espírito Santo.
nada que co nhecem os pode p erscru tar com perfeição o ser de Deus. Incriado é o Pai, incriado é o Filho, incriado é o Espírito Santo.
Acompanhe o seguinte diagrama (H o u se , 1999, p. 53): Imenso é o Pai, imenso o Filho, imenso o Espírito Santo.
Eterno o Pai, eterno o Filho, eterno o Espírito Santo; contudo, não
são três eternos, mas um único eterno; como não há três incriados, nem
três imensos, porém um só incriado e um só imenso.
Da mesma forma, o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito
Santo é onipotente; contudo, não há três onipotentes, mas um só onipo-
tente.
Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus; e toda-
via não há três Deuses, porém um único Deus.
Como o Pai é Senhor, assim o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Se-
nhor; entretanto, não são três Senhores, porém um só Senhor.
Porque, assim como pela verdade cristã somos obrigados a confes-
sar que cada pessoa, tomada em separado, é Deus e Senhor, assim tam-
bém estamos proibidos pela religião católica de dizer que são três
Deuses ou três Senhores.
Nesta Trindade nada é anterior ou posterior, nada maior ou menor;
0 triângu lo é indivisível, a ssim co m o D eus (sim b olizad o p or toda porém todas as três pessoas são coeternas e iguais entre si.
a figura). No entanto, em bora cada lado seja distinto dos outros, todos
A Trindade no Antigo Testamento
form am a m esm a figura, que só existe com os três lados iguais; assim ,
por analogia, o Pai não é o Filho, o Filho não é o Espírito Santo e vice- O Antigo Testamento não expõe a doutrina da Santíssim a Trindade
-versa; m as eles constituem o m esm o Deus. A individualidade pessoal com a m esm a clareza que a encontram os no Novo Testamento (em bora
é m antida, bem com o a unidade das três pessoas divinas. Assim , Deus isso não signifique que não esteja lá). Isso se dá porque a revelação de
não é som ente o Pai, nem som ente o Filho, tam pouco som ente o Espírito Deus sobre si m esm o foi sendo fornecida aos poucos, com o passar dos
Santo. Deus é o Pai, o Filho e o E sp írito Santo. Uma definição clara anos, assim como se deu com a identificação do “descendente” prometido,
dessa doutrina foi exposta no Credo atanasiano: em Gênesis 3.15.
D e s n u d a n d o J e o v á d e s e u s a t r ib u t o s 141 142 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

Após o pecado de Adão e Eva, Deus prometeu enviar um descendente As novas gerações de discípulos sabiam que Jesus não era apenas
que esmagaria a cabeça da serpente. Ora, tomado isoladamente, o texto não um hom em , m as era D eus, que se tornou “carne e viveu entre nós” (João
revela quem seja o descendente (a própria Eva pensou que fosse Caim — 1 .1 4 ). Um fa n á tico relig ioso , ard o ro so d efen so r do ju d a ísm o , que
Gênesis 4.1). Sua identidade ficaria oculta por séculos. Com o desenrolar perseguia ferozm ente os discípulos de Jesus, subitam ente recebe a visita
dos acontecim entos h istórico s, Deus foi preparando passo a passo o do próprio Cristo. A p artir daquele encontro, torno u -se um dos m ais
cam inho para a chegada desse descendente. Como num grande quebra- ardorosos defensores do evangelho. Surpreendentem ente, ele cham ou
cabeça, as peças foram se encaixando. Tanto é assim que até m esm o os Jesus de “grande D eus e Salvador” (T ito 2 .13 ). À m edida que lia o Antigo
principais sacerdotes e escribas de Jerusalém puderam dizer a Herodes o Testam ento e falava de Cristo, sua certeza se intensificava a ponto de lhe
local do nascim ento desse descendente: Belém da Judeia (Mateus 2.3-6). atribu ir o tetragram a sagrado m i T (YH W H ), por m eio de seu eq u i-
Jesus de Nazaré foi identificado com aquele descendente (Gálatas 3.16). valente grego, o term o K ú p i o ç ( Kyrios ), ou seja, Senhor (cp. Rom anos
Mas esse descendente aos poucos com eçou a revelar por ações e palavras 10.13 com Joel 2 .3 2).
um a identidade até então desconhecida. Ele afirm ava fazer coisas que Tudo isso lh es foi revelado tam bém pelo E sp írito Santo, enviado
somente o Pai poderia fazer. Chegou a ponto de dizer: “Eu e o Pai somos pelo Filho e pelo Pai para conduzir os d iscípulos a “tod a a verdade”.
um” ( João 10.30). Abria-se assim o cam inho para contemplar a pluralidade Segundo Jesus, o Esp írito Santo viria para g lo rificá-lo (Jo ã o 1 6 .1 4).
na Deidade. Após sua ressurreição, ainda precisou explicar as Escrituras A esse Esp írito Santo, o anjo G abriel atribu i tam bém a vinda do Filho
para m o strar a seus discípulos que toda a Lei e os Profetas falaram dele. (M ateus 1.2 0). E le acom p anhou Jesus ao d eserto, quando foi tentando
A partir de então, os discípulos p assariam a ler a Lei e os Profetas (o pelo D iabo (M ateus 4 .1 ). No batism o de Jesu s, lá estava ele, ju n to com
Antigo Testam ento) com outros olhos: os olhos da revelação que lhes o Pai (M ateus 3 .1 6 ,1 7 ). Jesus fazia m ilagres tam bém p or interm éd io
foi dada por Cristo. Nessa nova leitura, o Antigo Testamento não seria do E sp írito Santo (M ateus 12 .28). Após a ascen são de Jesu s, o E spírito
m ais o m esm o. Jesus seria visto em toda parte. Ele era realm ente o Santo passo u a guiar a Ig reja in fante, fazendo que a m ensagem acerca
descendente prometido (Gênesis 3 .15 ); por meio dele, todas as nações da de Jesus fosse espalhada por todos os can to s da terra (A tos). Assim
terra seriam abençoadas (Gênesis 22.1 8); seria um profeta sem elhante a com o Jesus, ele seria “outro C onselheiro” (cp. João 14.16 com ljo ã o
Moisés, a quem todos deveriam ouvir e obedecer (D euteronôm io 18.15); 2 .1 ); tam bém interced eria, assim com o Cristo, a favor dos eleitos de
seria o Ungido de Deus Pai (Salm os 2 ); nasceria de um a virgem (Isaías Deus (cp. R om anos 8 .2 6 ,2 7 com 8 .3 4 e Hebreus 7 .2 5 ).
7.1 4 ); seu nom e: M aravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, O quebra-cabeça sobre quem é Deus vai sendo completado de reve-
Príncipe da Paz (Isaías 9.6). lação em revelação. Os discípulos com eçam a ver que existe um a unidade
Após sua ressurreição, um dos discípulos o cham ou de “Senhor” e entre as três pessoas distintas — o Pai, o Filho e o Espírito Santo. São
“Deus” (João 20 .28). Outro disse que ele era o “Deus conosco” (Mateus inseparáveis, a ponto de ser dito: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o am or
1.23), e ele confirm ou ao dizer aos discípulos: “E eu estarei com vocês de Deus e a com unhão do Espírito Santo sejam com todos vocês” (2Co-
todos os dias, até o fim dos tem pos” (Mateus 28.20; v. tb. 18.20). Ainda ríntios 13.13 [v. 14 na ATM]). Aos efésios, foi m encionado que o Pai os
outro discípulo declarou: “No princípio era aquele que é a Palavra. Ele escolheu, o Filho os resgatou com seu sangue e o Espírito Santo os selou
estava com Deus, e era Deus. [...] Todas as coisas foram feitas por inter- (Efésios 1.3-14). Judas, outro discípulo fiel, ao falar da “santíssim a fé”,
médio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito” (João 1.1,3). incluiu a oração no Espírito Santo, a conservação no am or de Deus, o Pai,
D e s n u d a n d o J e o v á d e s e u s a t r ib u t o s 143 144 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s

e solicitou que seus conservos esperassem a m isericórdia de Jesus Cristo logo, o hom em carrega a im agem de Jesus, pois Jesus é Deus, uma vez
(Judas 20,21). 0 livro da Revelação, Apocalipse, convida Jesus a voltar, que “à imagem de Deus” o hom em foi criado. Já em Jó 33.4, Eliú declara:
m as o convite é feito pelo Espírito Santo, ju nto com a Igreja, e o Pai está “0 Espírito de Deus m e fez ”.
atento para que ninguém adultere o que foi escrito desde o princípio Afinal de contas, quem fez o homem ? A Bíblia diz: “ Criou Deus o ho-
(Apocalipse 22 .17 -21 ). m em à sua imagem, à imagem de Deus o criou”. E quem é esse Deus?
Com tudo isso em m ente, não seria de espantar que os discípulos Resposta: Pai, Filho e Espírito Santo.
lessem o Antigo Testam ento e encontrassem ali presentes o Pai, o Filho É digno de nota haver outros textos em que Deus fala no plural: Gêne-
e o Espírito Santo. O principal texto seria G ênesis 1.26,27, que Deus diz: sis 3.22; 11.7-9; Isaías 6.8. Alguns dizem tratar-se de plural m ajestático,
“Façam os o hom em à nossa im agem , conform e a nossa sem elhança”. ou seja, form a de expressão em que o indivíduo usa o plural sem necessa-

Se alg u ém n u tre alg u m a dú vida de qu e n esse “fa ça m o s” há u m a riam ente querer indicar uma pluralidade participativa. Todavia, isso não

pluralidade na Deidade, basta ler D euteronôm io 6.4, que revela um fato funciona em Gênesis 1.26,27, pois outros textos bíblicos deixam claro que
curioso: a palavra usada para dizer que Deus é “um” ( ’ehad) revela na o Pai, o Filho e o Espírito Santo criaram o hom em ; logo, não está em jogo
verdade uma unidade com posta. Acom panhe a exposição desses dois nenhum plural m ajestático, m as um ato criativo de Deus: Pai, Filho e E s-
textos e você verá. pírito Santo. Os demais textos, portanto, devem ser interpretados seguin-
do-se essa m esm a linha de raciocínio.
Gênesis 1.26,27
Deuteronômio 6.4
Então disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a
nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do Escuta, ó Israel: Jeová, nosso Deus, é um só Jeová ( NM ).

céu, sobre os grandes animais de toda a terra e sobre todos os pequenos


animais que se movem rente ao chão”. Criou Deus o homem à sua ima- Os testem unhas de Jeová usam essa passagem para desacreditar a

gem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. doutrina da Trindade; m as, ao contrário disso, é o texto que prova que na
unidade de Deus existe uma pluralidade, dando abertura para a concepção

Chegando o m omento de criar o hom em , Deus disse: “Façam os o ho- trinitária. Como assim?

m em à nossa imagem , conform e a nossa sem elhança”. O verbo “fazer”, 0 Antigo Testamento, na língua original, apresenta assim esse versículo

nesse caso, aponta para um ato criativo, e som ente Deus pode criar. As- (aqui transliterado ): shem a‘y israel YHWH ’elohênü YHWH 'ehad. Na

sim , ao ser criado, o hom em não poderia ter a im agem de um anjo ou de língua hebraica, existem duas palavras para expressar unidade, a saber,

alguma outra criatura, m as a im agem de Deus, a imagem de seu Criador. ’ehad e yahíd. A prim eira designa uma unidade composta ou plural. Por
No versículo 27, lemos: “Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de exemplo: Gênesis 2.24 diz que o hom em e a m ulher seriam uma ( ’ehad)

Deus o criou; hom em e m ulher os criou”. só carne, ou seja, dois em um. A segunda palavra é usada para expressar

O interessante, porém , é que segundo a própria Bíblia Jesus Cristo tam - unidade absolu ta, ou seja, aqu ela que não perm ite pluralidade. Por

bém criou todas as coisas, as visíveis e as invisíveis (João 1.1,3; Colossen- exemplo: Juizes 11.34 diz que Jefté tinha uma única (yahid) filha. Qual

ses 1.16,17; Hebreus 1 .1 0 ),o q u e inclui necessariam ente o hom em . Desse dessas palavras é empregada em Deuteronômio 6.4? A palavra ’ehad, o

modo, concluím os, à luz da Bíblia, que o hom em tem Jesus como Criador; que indica que na unidade da divindade há uma pluralidade.
D e s n u d a n d o J e o v á d e s e u s a t r ib u t o s 145 146 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

Tomando por base esse eixo, rom pe-se o véu acerca da doutrina da diante de uma contradição nas Escrituras? É claro que não! Aceitando-se
Trindade no Antigo Testamento. Buscá-la no Antigo sem as lentes do Novo, prontam ente o que outras passagens da Bíblia dizem sobre a doutrina da
seria desprezar a revelação progressiva que Deus (Pai, Filho e Espírito Trindade, desfaz-se a aparente contradição. Trata-se evidentemente do
Santo) fez de si mesmo. mesm o Deus. Jesus e o Pai são um, como ele m esm o afirm ou (João 10.30).
No original hebraico, Isaías disse ter visto !HIT (YHW H ). Essas qua-
O elo trinitário entre o Antigo e o Novo Testamentos
tro letras designam o nom e de Deus no Antigo Testam ento. No texto

Outro texto bíblico que m ostra o elo entre o Antigo e o Novo Testa- grego do Novo Testamento, o tetragram a é equivalente ao term o grego

mentos acerca da doutrina da Trindade é Isaías 6 .1-10 , lido paralelam en- K ú p i o ç ( Kyrios ), que significa “Senhor”. E é assim que Jesus é reco-

te com João 12.37-41 e Atos 28.25-37. nhecido e designado no Novo Testam ento (v. m ais detalhes no cap. 5 ).

Comecemos pela leitura do evangelho de João 12.37-41 (segundo a Encontram os, assim , m ais um exem plo em que os autores do Novo Tes-

Tradução do Novo Mundo). Neste bloco, o apóstolo João expõe o motivo tam ento aplicaram a Jesus Cristo o tetragram a sagrado, reconhecendo

pelo qual os judeus m ostravam -se incrédulos em relação a Jesus Cristo: desse m odo sua divindade e igualdade com o Pai. Para um judeu pie-
doso com o o apóstolo João, isso é um a proclam ação de fé, de que Jesus

E, embora tivesse feito tantos sinais na sua presença, não creram é Deus, o grande niiT. Isso fica evidente em João 1.1: “No princípio era
nele [isto é, em Jesus], para se cumprir a palavra do profeta Isaías, aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus”.

que diz: “Jeová, quem creu em nossa pregação? E a quem foi revelado Para finalizar esse subtítulo, falta-nos comprovar que em Isaías há uma

o braço de Jeová?” referência tam bém ao Espírito Santo. Encontram o-la em Atos 28.25-27.

Por isso, não podiam crer, pois Isaías disse ainda: “Cegou-lhes os olhos Nessa passagem bíblica (assim com o em João 12.37-41), deparam os com

e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos, nem en- a incredulidade de alguns judeus diante da pregação do apóstolo Paulo

tendam com o coração, e se convertam, e sejam por mim curados”. acerca de Jesus Cristo (v. 24). Sobre os incrédulos, disse o apóstolo:

Isto disse Isaías porque viu a glória dele e falou a seu respeito.
[... ] Bem que o Espírito Santo falou aos seus antepassados, por meio

João é claro ao afirm ar que a incredulidade dos judeus para com Jesus do profeta Isaías: “Vá a este povo e diga: Ainda que estejam sempre

cumpria um a profecia de Isaías. Em 12.41, ele declara que Isaías “viu a ouvindo, vocês nunca entenderão; ainda que estejam sempre vendo, ja -

glória de Jesus e falou a seu respeito”. A passagem bíblica citada por João mais perceberão. Pois o coração deste povo se tornou insensível; de má

remete a Isaías 6. Neste capítulo, segundo João, Isaías estaria falando de vontade ouviram com os seus ouvidos, e fecharam os seus olhos. Se as-

Jesus, além de o ter visto. Ora, a leitura de Isaías 6, levando-se em conta o sim não fosse, poderiam ver com os olhos, ouvir com os ouvidos, enten-

que disse João, é reveladora. Isaías afirm ou categoricam ente: “No ano da der com o coração e converter-se, e eu os curaria”.

m orte do rei Uzias, eu vi Jeová assentado sobre um alto e sublime trono, e


as abas de suas vestes enchiam o templo” (v. 1, ATM). E, no versículo 5: Não há dúvida: foi o Espírito Santo quem disse a Isaías: “Vá a este

“ [...] e os meus olhos viram o próprio Rei , Jeová dos Exércitos ” ( NM). povo e diga: Ainda que estejam sem pre ouvindo, vocês nunca entende-

Ora, Isaías disse que viu Jeová, e João afirm a que o profeta viu Jesus e rão; ainda que estejam sempre vendo, jam ais perceberão”. Todavia, ao

falou a respeito dele. Quem Isaías viu de fato: Jeová ou Jesus? Estaríam os lerm os a referência bíblica, som os levados a Isaías 6.8 -10 (NM), que diz:
D e s n u d a n d o J e o v á d e s e u s a t r ib u t o s 147 148 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

Depois disto, ouvi a voz de Jeová, que dizia: A quem enviarei, e bíblicos alistados a seguir (respeitando-se os devidos contextos) m ostram
quem há de ir por nós? Disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim. Então, sempre juntos o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Levando-se em conta que
disse ele [Jeová]: Vai e dize a este povo: Ouvi, ouvi e não entendais; Deus é único (Isaías 43.10) e não partilha sua glória com ninguém (Isaías
vede, vede, mas não percebais. Torna insensível o coração deste povo, 42.8; 4 8.1 1), é interessante notar como o Pai, o Filho e o Espírito Santo são
endurece-lhe os ouvidos e fecha-lhe os olhos, para que não venha ele postos em pé de igualdade, coisa que nenhum a criatura, por m elhor que

a ver com os olhos, a ouvir com os ouvidos e a entender com o cora- fosse, poderia atingir, muito m enos uma “força ativa”.

ção, e se converta, e seja salvo.


Mateus 28.19
Ora, Isaías disse que ouviu a voz de Jeová, e o apóstolo Paulo afirmou Vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome
que o profeta ouviu o Espírito Santo. A quem Isaías ouviu de fato: Jeová do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
ou o Espírito Santo? Quem realm ente falou aquelas palavras a Isaías?
Estaríam os diante de uma contradição nas Escrituras Sagradas? É claro A ordem de Jesus é que se batizasse em “nom e do Pai e do Filho e do
que não! A ceitando-se a dou trina da Trindade, desfaz-se a aparente Espírito Santo”. Ora, se Jesus fosse uma criatura e o Espírito Santo uma
contradição. Trata-se evidentemente do m esm o Deus, pois o Espírito Santo “força ativa”, seria estranho que as pessoas fossem batizadas em nom e
tam bém é cham ado Deus na Bíblia (Atos 5 .3,4), assim com o o Pai e o do Criador (que não divide sua glória com ninguém ), de um anjo e de
Filho (v. o cap. 6 sobre a divindade e a personalidade do Espírito Santo). uma “força ativa”; aliás, que necessidade há em batizar alguém em nome
Seguindo a m esm a linha de raciocín io em pregada em João 12.37- de uma “força”? Tudo isso só faz sentido se Jesus e o Espírito Santo forem
4 1 , afirm am os o seguinte: no original hebraico, Isaías disse ter ouvido Deus, assim com o o Pai.

a voz de iT in \ E o apóstolo Paulo identificou-o com o Espírito Santo.


Lucas 3.22
Portanto, encontram os um caso claríssim o em que um autor sagrado do
Novo Testam en to aplicou ao E sp írito Santo o tetra g ram a sag rado, O Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como pomba.
reconhecendo desse m odo sua divindade e igualdade com o Pai. Para Então veio do céu uma voz: “Tu és o meu Filho amado; em ti me agrado”.
um judeu piedoso com o o apóstolo Paulo, isso é um a proclam ação de
fé, de que o Espírito Santo é Deus, o grande niiT. No batism o do Filho, estão presentes e atuantes o Espírito Santo e o
É diante dessa exposição trinitária que podemos ler e entender com Pai; como sempre, inseparáveis. Essa é uma das razões pelas quais o ba-
m ais clareza a pergunta feita por m í T em Isaías 6.8: “Então ouvi a voz de tism o cristão deve ser m inistrado em nom e das três pessoas.
niiT, conclam ando: ‘Quem enviarei? Quem irá por nós?’ A quem se
João 14.26
aplica esse “nós”? A resposta é simples: ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
Mas o Conselheiro, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome,
A Trindade no Novo Testamento
lhes ensinará todas as coisas e lhes fará lembrar tudo o que eu lhes disse.
Valendo-se de tudo o que já foi m encionado anteriorm ente, torna-se
evidente que a revelação da trindade e unidade de Deus perpassa toda a Jesus fala do Espírito Santo, que será enviado pelo Pai, em seu próprio
Bíblia, e no Novo Testamento isso é ainda m ais inquestionável. Os textos nom e, isto é, de Cristo. A comunhão trinitária é evidente.
D e s n u d a n d o J e o v á d e s e u s a t r ib u t o s 149 150 T e s t e m u n h a s d e J e o v A: e x p o s i ç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s

2Coríntios 13.13 (v. 14, NM) algumas das passagens bíblicas anteriorm ente citadas. Aliás, o que uma
“força ativa” estaria fazendo no meio de duas pessoas, fazendo o que so-
A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do
mente uma pessoa seria capaz de realizar?
Espírito Santo sejam com todos vocês.
Os testem unhas de Jeová objetam dizendo que m encio nar as três
pessoas juntas não indica que sejam a m esm a coisa, pois Abraão, Isaque
Outra fórmula trinitária, na qual aparece o Filho, em prim eiro lugar,
e Jacó (Mateus 22.32) e Pedro, Tiago e João (Mateus 17.1) são citados sempre
com sua graça ou benignidade im erecida; depois o Pai, com seu amor, e
juntos, m as isso não os torna um. 0 que os testem unhas de Jeová não
por fim o Espírito Santo, com a com unhão ou p articip ação que dele
perceberam foi o seguinte: Abraão, Isaque e Jacó tinham algo em comum: o
procede (v. R i e n e c k e r ; R o g er s, 1988, p. 369).
patriarcado ; Pedro, Tiago e João tinham em comum o apostolado. E o que
1 Pedro 1.1,2 o Pai, o Filho e o Espírito Santo têm em comum? A natureza divina: a
onipotência, a onisciência e a onipresença (B o w ma n J r ., 1995, p. 118).
Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos de Deus, [...] escolhidos de
acordo com o pré-conhecimento de Deus Pai, pela obra santificadora do Análise e refutação de algumas objeções
Espírito, para a obediência a Jesus Cristo e a aspersão do seu sangue [...].
Alistamos e refutamos a seguir as quatro principais objeções que os
testem unhas de Jeová lançam contra a doutrina da Trindade.
Pedro se dirige aos escolhidos, que foram eleitos segundo a presciên-
cia do Pai, santificados pelo Espírito e aspergidos com o sangue de Jesus A palavra “Trindade”não aparece na Bíblia
Cristo. A Trindade está envolvida em todos os aspectos da vida cristã.
A doutrina da Trindade está fortem ente enraizada nas Escrituras. A
Outros versículos palavra “trindade” é term o extrabíblico utilizado para designar algo re-
velado na Bíblia; em bora a palavra não apareça, a ideia está explícita.
Os versículos a seguir tam bém servem de apoio para m ostrar que a
Outro fator que torna sem fundam ento essa objeção é o fato de os
doutrina da Trindade não é alheia ao Novo Testamento. Na verdade, eles
testem unhas de Jeová utilizarem term os que são im portantes para a seita,
reforçam a doutrina, pois revelam as três pessoas agindo sem pre em
mas que não aparecem na Bíblia. Eles afirm am que Jeová tem um “canal
com unhão e harm onia: Rom anos 8 .1 4-17; 15.16,30; ICoríntios 2.10-16;
de com unicação” e que esse canal atende pelo nom e extrabíblico de “corpo
6.1-2 0; 12.4-6; 2Coríntios 1.21,22; Efésios 1.3-14; 4 .4-6 ; 2Tessalonicenses
governante”. Como se vê, a seita usa dois pesos e duas medidas, ou seja, em
2.13,14; Tito 3.4 -6; Judas 20,21; Apocalipse 1.4,512etc.
circunstâncias iguais ou análogas, ela tom a decisões de m odos diferentes.
É digno de nota que, se o Filho fosse uma criatura e o Espírito Santo
A conveniência teológica dita sua exegese.
uma “força ativa”, os dois não poderiam assum ir o prim eiro lugar em

A Trindade e o paganismo
12 Para alguns comentaristas, Apocalipse 1.4,5 refere-se ao Espírito Santo, pois o número
sete nas Escrituras simboliza “plenitude” (não nos esqueçamos do caráter simbólico A objeção de que a doutrina da Trindade é de origem pagã, pois os
de Apocalipse). Outro ponto importante é que o apóstolo João deseja aos leitores “graça pagãos cultuavam tríades de deuses, tam bém não faz sentido, pois a con-
e paz” da parte “daquele que é, que era, e que vem”; da parte dos “sete Espíritos” e da
cepção dos pagãos em nada se assem elha à doutrina trinitária. Não basta
parte de “Jesus Cristo”. Assim, trata-se evidentemente do Pai, do Espírito Santo e do
Filho, pois a estrutura do versículo é semelhante à das fórmulas trinitárias. apenas a sem elhança; é preciso haver correspondência de ideias, e essa
D e s n u d a n d o J e o v á d e s e u s a t r ib u t o s 151 152 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

correspondência inexiste entre a doutrina bíblica da Trindade e a noção Não há dúvida: a concepção cristã da doutrina da Trindade é singu-
dos pagãos. 0 abism o é im enso. Enquanto os pagãos são politeístas , ou lar, como bem destacaram Bo et t n er e W a r f ie l d (s.d., p. 8):
seja, creem na existência de vários deuses, sendo sua “trindade” m ais um
conjunto de deuses em seu panteão, os cristãos, por sua vez, são mono- As religiões pagãs, assim como as especulações filosóficas, baseiam-
teístas, pois creem que há um só Deus (Deuteronôm io 6.4; Isaías 43.10). -se na religião natural e não podem, portanto, alcançar um conceito
Entretanto, m esm o advogando a existência de um só Deus, crê-se, à luz mais elevado do que o da unidade de Deus. Em alguns sistemas, encon-
das Escrituras, que esse Deus subsiste em três “pessoas”: Pai, Filho e E s- tramos um monoteísmo com a sua crença num único Deus. Noutras,
pírito Santo (a “Trindade”, ou seja, três pessoas num a só e única Divin- encontramos um politeísmo, com a sua crença em muitos deuses, sepa-
dade). Não são uma “tríade” (um agrupam ento de três deuses), visto que rados entre si. Porém, nenhuma das religiões pagãs, nem qualquer dos
só há um Deus; por isso, o cristianism o nega perem ptoriam ente o triteís- sistemas de filosofia especulativa, chegaram jamais a uma concepção
mo, ponto de vista segundo o qual o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três trinitária de Deus. A verdade é que, fora da revelação sobrenatural, não
deuses distintos (ponto de vista defendido pelo m orm onism o). há nada na consciência ou na experiência humanas que possa fornecer
A diferenciação entre “trindade” e “tríade” parece oportuna: “A tríade, ao homem a mais pequena indicação do Deus distinto da fé cristã, o
pois, seria o resultado de processos de organização de um panteão politeís- Deus Triúno, Encarnado, Remidor e Santificador. [...] Nenhum destes
ta, ao passo que a trindade surtiria de processos de diversificação dentro sistemas possui algo em comum com a doutrina cristã da Trindade,
de concepções m onistas ou monoteístas da divindade” ( D ic io n á r io t e o l ó - excepto na noção da qualidade dum “trino”.
g ic o , p. 874). Mas essa noção de “trindade” é muito abrangente, pois pode-
ria incluir o hinduísmo, com o faz a obra citada. Entretanto, a concepção Outro ponto m ais que fundam ental foi apresentado pelo grande bispo
dita trinitária do hinduísm o está m ais próxim a do modalism o 13 (resguar- de Hipona, Agostinho, em sua obra A Trindade (p. 271):
dando-se as devidas distinções) do que da doutrina cristã da Trindade.
Os hindus creem num a infinidade de deuses; destes, há um a trimurti Acaso, amamos qualquer trindade ou somente a Trindade que é
(“três form as”): Bram a, Xiva e Vixnu. Ainda assim , essa tríade e os de- Deus? Eis o que amamos na Trindade: é ela ser Deus. Ora, jamais vimos
m ais deuses seriam apenas manifestações de Bram a (o Absoluto, tido às ou conhecemos nenhum outro Deus, porque ele é um só e único Deus, o
vezes como pessoal ou im pessoal). Bram a é a luz; os dem ais deuses não qual ainda não vimos, mas a quem amamos pela fé.
passam de uma som bra projetada dessa luz. Ora, isso em nada se parece
A Trindade e a razão humana
com a doutrina cristã da Trindade, pois o Pai, o Filho e o Espírito Santo
não são “modos” ou “form as” de Deus se m anifestar, muito m enos uma A acusação de que a doutrina da Santíssim a Trindade não se conform a
som bra projetada pela Divindade. com a lógica ou a razão tam bém é descabida. É preciso reconhecer que
é inútil esperar que a m ente hum ana apreenda tudo sobre Deus, pois é
impossível que o relativo entenda com precisão o Ser absoluto, que o finito
13 Corrente de pensamento teológico defendido por Sabélio, heresiarca do século III
atinja o Infinito, que a criatura desvende todos os m istérios e segredos
d.C., segundo a qual o Pai, o Filho e o Espírito Santo são manifestações de uma única
pessoa divina. Assim, o Pai, o Filho e o Espírito Santo não seriam três pessoas, mas do Criador. Isso é pedir dem ais para m íseros m ortais. (Leia Romanos
haveria uma só pessoa, com três modos ou formas de se manifestar ao mundo. 11.33; ICoríntios 2.11; Jó 11.7; Isaías 40.28.)
D e s n u d a n d o J e o v á d e s e u s a t r ib u t o s 153 154 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

Os testem unhas de Jeová tam bém reconhecem essa lim itação. 0 livro Existe a escolha, portanto, entre crer no Deus verdadeiro confor-
Raciocínios à base das Escrituras faz a seguinte pergunta: “Será que Deus me ele se revelou, com mistérios e tudo, ou crer num Deus que é
teve com eço?” (p. 123). D aí, cita Salm os 90.2: “Antes de nascerem os relativamente fácil de ser compreendido, mas que tem pouca seme-
próprios montes ou de teres passado a produzir com o que com dores de lhança com o Deus verdadeiro. Os trinitários estão dispostos a convi-
parto a terra e o solo produtivo, sim, de tempo indefinido a tempo inde- ver com um Deus a quem não conseguem compreender plenamente.14
finido, tu és Deus” ( NM). Ora, Deus é Deus de “eternidade a eternidade”;
ele sempre foi, é e será eternam ente Deus. Diante desse m istério, o livro Portanto, reconhecendo nossa finitude e lim itação diante da grandio-
lança o desafio: “Há lógica nisso? Nossa mente não pod e compreender isso sidade do Soberano universal, Deus Pai, Filho e Espírito Santo, devemos
plenamente. Mas não é uma razão sólida para o rejeitar ” (ibid.). nos prostrar diante dele, exclamando, assim com o o apóstolo Paulo: “Ó
Aplicando o m esm o princípio à doutrina da Trindade, podem os per- profundidade das riquezas, e da sabedoria, e do conhecim ento de Deus!
guntar: “Será que Deus é uma Trindade? Há lógica nisso?”. Já tem os uma Quão inescrutáveis [são] os seus julgam entos e além de pesquisa [são]
excelente resposta: “Nossa mente não pode com preender isso plenam en- os seus cam inhos!” (Rom anos 11.33, NM).
te. Mas não é razão sólida para o rejeitar”.
Oração à Trindade
A Trindade e a matemática
Lem bro-m e de certo dia em que, num a igreja, ajoelhei-m e para orar.
Outra objeção é que a doutrina da Trindade contraria a m atem ática, A igreja estava praticam ente vazia, com o vazio estava o m eu coração. Eu
pois, se 1 + 1 + 1 = 3, então Deus Pai + Deus Filho + Deus Espírito Santo queria crer na Trindade, m as m inha mente, ainda presa aos raciocínios
não podem ser um, m as três deuses. Ora, outro argumento desprovido capciosos dos testemunhas de Jeová, não m e perm itia aquilo no momento.
de bom senso, pois Deus não pode ser somado, diminuído, dividido ou Fiz então uma oração: “Jeová, se és um Deus trino, m ostra-m e isso em
multiplicado. Mas, se fazem tanta questão da m atem ática, podemos afir- tua Palavra, e perdoa-m e pela dúvida; m as, se não és uma Trindade divina,
m ar que, dependendo da operação m atem ática escolhida, três podem ser por favor, perdoa-m e por estar aqui pondo isso em dúvida”. Naquele dia,
um. Por exemplo: 1 x 1 x 1 = 1. Assim, a m atem ática estaria longe de desa- havia dúvida em m inha m ente e no meu coração. Hoje, dissipada qualquer
creditar a doutrina da Santíssim a Trindade. dúvida sobre a Trindade bendita, posso orar com confiança, assim como
Agostinho de Hipona (A Trindade, p. 555-557, grifos da obra):
Reconhecendo nossa limitação

Por m ais que seja difícil nossa mente finita entender o Ser infinito, Senhor nosso Deus, nós cremos em ti, Pai, Filho e Espírito Santo.
não podemos querer m udar o que a Bíblia diz sobre o Criador a fim de Pois a Verdade não teria dito: Ide, batizai a todos os povos, em nome do
torná-lo mais acessível e compreensível. A própria ideia de sua existência Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28,19), se não fosses Trindade. Nem
já nos causa perplexidade, quanto m ais ainda sua triunidade, onipresen- nos ordenarias que fôssemos batizados, ó Senhor nosso Deus, em nome
ça e onisciência. Certam ente ficam os perplexos diante de Deus. Tudo isso de alguém que não é o Senhor Deus. Nem a voz divina diria: Ouve, ó
nos espanta, m as jam ais nos deve conduzir ao erro de querer negar o que Israel, o Senhor teu Deus é o único Deus (Dt 6,4), se não fosses Trindade
ele é em sua essência. Sobre isso, Robert B o w ma n Jr . (1995, p. 132) disse e, ao mesmo tempo, o único Senhor Deus. E se tu, Deus Pai, fosses Pai e
com muita propriedade: ao mesmo tempo fosses Filho, teu Verbo, Jesus Cristo; e fosses o mesmo
D e s n u d a n d o iJ e o v A d e s e u s a t r i b u t o s 155

5
Dom, jque é o Espírito Santo, não leríamos nas Escrituras da Verdade:
enviou Deus o seu Filho (G1 4,4 e Jo 3,7). Nem tu, ó Filho Unigénito,
dirias do Espírito Santo: aquele que o Pai enviará em meu nome (Jo
14,26), e: aquele que eu vos enviarei da parte do Pai (Jo 14,26).
[...] Um sábio, falando de ti em seu livro, conhecido pelo nome
de “Eclesiástico”, diz: Por muito que digamos, muito ficará por dizer,
Outro Jesus Cristo
mas o resumo de tudo o que se pode dizer é: que o mesmo Deus é tudo
(Edo 43,29).
Portanto, quando chegarmos à tua presença, cessará o muito que
dissemos, mas muito nos ficará por dizer e tu permanecerás só, tudo
em todos (ICor 15,28), e então eternamente cantaremos um só cântico,
Cremos em Jesus Cristo. Ele é o primogênito (o primeiro a
louvando-te em um só movimento, em ti estreitamente unidos.
ser criado) e o unigénito (o único criado diretamente pelas mãos
de Jeová). Ele é um deus, assim como Satanás; é “Deus poderoso”,
mas não todo-poderoso, sendo inferior ao Pai. É o arcanjo Miguel,
que foi transferido para o ventre de Maria e se fez homem; padeceu
sob Pôncio Pilatos, foi pregado numa estaca de tortura; desceu
ao hades, onde esteve inconsciente, e ao terceiro dia ressuscitou
espiritualmente; subiu ao céu, está assentado à direita de Jeová e
já voltou invisivelmente em 1914, esperando o momento para
começar a batalha de Armagedom e instaurar o paraíso terrestre.

D is t o r ç ã o c r is t o l ó g ic a

O maior homem que j á viveu. Esse é o título de um livro publicado


pelos testem unhas de Jeová. O grupo faz questão de afirm ar sua crença
em Jesus Cristo. Um dos objetivos de A Sentinela é incentivar “a fé em
Jesus Cristo, que m orreu para que nós pudéssem os ter vida eterna e que
agora reina com o Rei do Reino de Deus”.1 Outra publicação assegura:
“Temos fé muito forte em Jesus Cristo”.2

1 Declaração encontrada na segunda página de qualquer revista A Sentinela a respei-


to do objetivo da revista.
2 Raciocínios à base das Escrituras, p. 220.
158 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s O u t r o J e s u s C r is t o 159

Entretanto, a concepção dos testem unhas de Jeová sobre Jesus em nada 0 que levou Ário a essa conclusão? Dentre as várias especulações filo-
se assem elha à do cristianism o. 0 Jesus deles é um anjo, que recebeu o sóficas e teológicas, podemos destacar a tradução para o grego da pala-
nome de Miguel e o título de arcanjo (chefe dos anjo s). É “um deus”, assim vra hebraica H 3p ( qanah, “possuir”, “adquirir” ou “criar”), empregada
com o Satanás, no sentido de ser poderoso. Pode até m esm o ser conside- em Provérbios 8.22. A Septuaginta, a versão grega do Antigo Testamento
rado um “Deus Poderoso” (Isaías 9.6), m as nunca “Deus todo-poderoso”, corrente nos dias de Ário, verteu essa passagem deste modo:
com o Jeová. Morreu numa “estaca” (não num a cruz). Ressuscitou em es-
pírito (não fisicam ente). “Voltou” invisivelmente em 1914, m as som ente Kúpioç êxxiaév |xe ápx^v óôcòv avxov etç êpya aàxov
os testem unhas de Jeová o teriam visto com os “olhos do entendim ento”, Kyrios ektisén me archén hodón autou eis erga autou
ou seja, discerniram sua “presença invisível”. Valendo-se do Corpo Gover-
nante, porta-voz do “escravo fiel e discreto”, ele exerce sua chefia sobre a “O Senhor me criou com o o princípio de suas obras,
seita (v. o cap. 3 sobre o “escravo fiel e discreto” e o Corpo Governante). antes de suas obras m ais antigas”
No cam po sem ântico, os testem unhas de Jeová dão novo sentido aos
títulos que Jesus recebe nas Escrituras. Assim, por Primogênito interpre- O contexto m ostra que quem está falando é a Sabedoria de Deus. Ário
tam que Jesus foi a prim eira criação de Jeová; Unigénito indicaria ter sido ligou Provérbios 8.22 com 1Coríntios 1.24, em que se afirm a que Jesus é a
o único criado diretam ente por Deus. Sendo “Filho de Deus”, é submisso Sabedoria de Deus. Assim, concluiu Ário, se Jesus é a Sabedoria de Deus e
e inferior ao Pai, pois, segundo nossa experiência hum ana, um filho não se ela afirm a que fora criada, então Jesus foi criado. (A Tradução do Novo
pode ter a m esm a autoridade que seu pai, nem ser igual a ele. Mundo diz: “O próprio Jeová me produziu com o princípio de seu cam i-
Vê-se, assim , que o “Jesus” crido e proclamado pelos testem unhas de nho, a mais antiga das suas realizações de há muito”. )
Jeová nada tem que ver com aquele crido e proclam ado pelos apóstolos. Ário estaria correto em sua conclusão? Se dependesse da Septuaginta,
Trata-se, de fato, de “um Jesus que não é aquele que pregamos” (2Coríntios sim , pois qanah foi traduzido pelo grego ektiso, “criar”. Isso significa que
11.4) ou “um Jesus diferente” (NM). E o perigo de crer num Jesus diferente traduzir qanah por “criar” está errado? Do ponto de vista tradutológico,
daquele anunciado pelas Escritu ras foi apresentado corretam ente pelo não; é uma acepção possível. Por exemplo, Jerônim o (c. 3 47 -420 d.C.),
dr. Paulo R o m e ir o : “Quando alguém crê num Jesus errado, em barca num a tradutor da Vulgata (a prim eira tradução do Antigo Testamento para o
salvação errada e desem barca num céu errado” (1999, p. 58). latim ), traduziu qanah por “possuir” [possedit me] em Provérbios 8.22;
m as, em Gênesis 14.19, ele traduziu qanah por creavit (criar), assim como
R efu t a ç ã o d a c r is t o l o g ia d o s t est em u n h a s d e J eo vá a Septuaginta. Isso confirm a que qanah abarca essas acepções.
Contudo, além de “criar”, qanah tem outros sentidos, com o “adquirir”
Jesus não foi criado
ou “possuir”, sendo “possuir” o sentido m ais usual da palavra (H a r r is ;

A cristologia dos testem unhas de Jeová é uma ressurreição do aria- Ar c h er J r .; W a l t ke, 1998, p. 1351, n. 2039). Em sua explanação sobre qanah,
nismo, que deriva seu nom e do apóstata e heresiarca Ário (2 5 6 -3 3 6 ), Derek Kidner inform a (1980, p. 76):
sacerdote do século IV, da cidade de Alexandria, no Egito. Ário afirmou
até o últim o dia de vida que Jesus era um a criatura, isto é, havia sido Das suas 84 ocorrências no Antigo Testamento, só seis ou sete de-
criado por Deus como todas as outras coisas. las permitiriam o sentido de “criar” (Gn 14:19,22; Êx 15:16; Dt 32:6;
160 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s O u t r o J e s u s C r is t o 161

SI 74:2; 139:13; 8:22), e mesmo estas não exigem esta tradução. Os subs- Nas discussões que os nossos escritores mantiveram contra os que
tantivos derivados ressaltam mais fortemente a possessão. asseveravam que “houve um tempo em que não existia o Filho”, alguns
aduziram o seguinte raciocínio: “Se o Filho de Deus é o poder e sabedo-
Seguindo a Septuaginta, Ário optou por “criar”, a fim de afirm ar que ria de Deus, e Deus nunca existiu sem poder e sabedoria, logo o Filho é
Jesus foi criado. Diante disso, a pergunta que se levanta é: Qual é a m elhor coeterno a Deus Pai”, pois diz o Apóstolo: Cristo, poder e sabedoria de
tradução de qanah em Provérbios 8.22: criar ou possuir ? A resposta a essa Deus. E como dizer que Deus não possuiu alguma vez poder e sabedo-
pergunta determ ina a questão levantada por Ário, pois, se a tradução cor- ria seria loucura, concluíram que não houve tempo algum em que o
reta for “criar”, então Jesus é criatura; m as, se for “possuir”, então não é Filho não existiu.3
possível afirm ar que ele foi criado, m as que é de eternidade a eternidade.
Basta um pouco de raciocínio para perceber que “possuir” é a tradução Diante da força dessa argum entação, afirm am os, sem medo de errar,
m ais correta. Acompanhe o raciocínio. que a leitura correta de Provérbios 8.22 deve ser: “O S e n h o r me possuía no
Deus é eterno, isto é,“existe” de eternidade a eternidade (Salm os 90.2). início de sua obra, antes de suas obras m ais antigas” (ARA), ou seja, an -
Como é imutável, o que ele é hoje, sempre foi e sempre será. Assim, não há tes de tudo ser criado, o Filho já existia, sendo o m esm o ontem, hoje e
variação em Deus (Tiago 1.1 7). Então, se é poderoso, é poderoso de para sempre (Hebreus 13.8). Ele é, junto com o Pai e com o Espírito Santo,
eternidade a eternidade. Nunca houve um m omento em que não tenha o Criador de todas as coisas (João 1.1-3; Colossenses 1.16,17; cp. Hebreus
tido poder. Ele não poderia ter criado seu poder, pois isso significaria que 1.10 com 3.4). (V. o cap. 4 sobre a doutrina da Trindade.)
um dia não o teve. Ora, a m esm a linha argumentativa se aplica à sabedoria Para concluir, é preciso dizer que não se pode afirm ar categoricam en-
de Deus. Se Deus é sábio, ele é sábio de eternidade a eternidade. Nunca te que o texto de Provérbios 8.22 faça referência a Jesus Cristo (K id n e r ,
houve um m omento em que não tivesse sabedoria. Se disserm os que Deus
1980, p. 74). O texto sim plesm ente apresenta a sabedoria de Deus em esti-
criou sua sabedoria, chegaremos à conclusão absurda de que um dia Deus
lo poético, e, em poesia, tudo pode acontecer: a sabedoria grita, am a, tra-
não teve sabedoria (K id n e r , 1980, p. 77).
balha etc. Seja como for, Provérbios 8.22 não pode ser usado para afirm ar
Caso aceitássem os essa conclusão ilógica, viria a pergunta: “Com que
que Jesus é um a criatura.
grau de inteligência Deus percebeu que não tinha sabedoria e precisaria
criá-la?”. Assim, diante dessa conclusão sem lógica, afirm am os à luz da Jesus não é o arcanjo Miguel
Bíblia e da razão: Deus é sábio de eternidade a eternidade, pois Deus é o
Os testem unhas de Jeová afirm am que Jesus é “o anjo m ais importante,
m esmo ontem , hoje e eternam ente. Sua sabedoria, portanto, não pode ter
tanto em poder com o em autoridade, é o arcanjo [...], tam bém cham ado
sido criada; antes, ele a detém desde a eternidade. Logo, se Jesus é a Sabe-
Miguel”.4 Mas, ao contrário do que os testem unhas de Jeová asseveram,
doria de Deus, ele é, assim com o o Pai, de eternidade a eternidade; nunca
Jesus não é o arcanjo Miguel. A afirm ação de que Jesus e Miguel são a m es-
foi criado e jam ais terá fim . Hebreus 13.8 afirm a sobre Jesus: “Ele é o
ma pessoa não se sustenta à luz das Escrituras pelas seguintes razões:
m esm o ontem , hoje e para sempre”.
No Concílio de Niceia, em 325 d.C., centenas de bispos trataram dessa
polêm ica cristológica, e o pensamento de Ário foi confrontado com esse 3 A Trindade, livro VI, cap. 2, iii.
argumento, como afirm ou Agostinho, bispo de Hipona: 4 A Sentinela, la/l 1/1995, p. 8.
162 T e s t e m u n h a s d e J e o v A: e x p o s i ç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s
O u t r o J e s u s C r is t o 163

Prim eira razão: não há nenhum a passagem nas Escrituras que iden- Evidentemente, os testemunhas de Jeová recusam as conclusões dos
tifique Miguel com Jesus. Os testem unhas de Jeová chegam à conclusão itens 2 e 3. Mas essas serão as conclusões inevitáveis, caso seu raciocínio
de que Miguel e Jesus são a m esm a pessoa pela associação indevida de seja adotado. Como os itens 2 e 3 não trazem conclusões verdadeiras,
duas passagens bíblicas: ITessalo nicenses 4 .16 e Judas 9. A p rim eira tampouco o item 1. Jesus, portanto, não pode ser identificado com o arcanjo
afirm a que Jesus descerá do céu “com voz de arcanjo” ( NM); a segunda Miguel à luz de ITessalonicenses 4.16.
diz que Miguel é um arcanjo. Então, raciocinam , Jesus é o arcanjo Miguel, A questão levantada de que a expressão “arcanjo” não aparece plu-
pois a expressão “arcanjo” só é encontrada no singular na Bíblia, dando a ralizada nas Escrituras, dando a entender que há apenas um arcanjo, não
entender que existe som ente um .5 encontra apoio na Bíblia. Esta deixa bem claro que há m ais de um arcanjo.
0 prim eiro erro é a associação indevida de textos. Seria o m esm o Basta a leitura de Daniel 10.13, em que Miguel é cham ado “um dos mais
que asso ciar M ateus 10.16 (“Sejam astutos com o as serpentes e sem destacados príncipes” (JVM). Ora, se ele é “um dos m ais”, então há outros
m alícia com o as pom bas ”) com Gênesis 3.1 (“a serpente era o m ais astuto em pé de igualdade com Miguel; consequentem ente, não pode haver um
de todos os anim ais que o S e n h o r Deus tinha feito”), Apocalipse 12.9 único arcanjo. Já em relação a Jesus, ele é cham ado “Rei dos reis e Senhor

(“Ele é a antiga serpente cham ada D iabo ou Satanás) e Mateus 3 .16 ( “ele dos senhores” (Apocalipse 17.14; 19.16), ou seja, é o Soberano, o que

viu o Espírito de Deus descendo com o pom ba”), para depois afirm ar o sustenta todas as coisas por sua palavra poderosa (Hebreus 1.3).

seguinte: “Jesus disse: ‘Sejam astutos com o Satanás e sem m alícia com o Segunda razão: enquanto em D aniel 10.13 Miguel é cham ado “um

o Espírito Santo” ’. Isso não tem cabim ento. dos m ais destacados p ríncipes” (NM) — o que nos leva a concluir que

O segundo erro é o da associação de ideias. O texto de ITessalonicenses não é o principal, o prim az — , em Colossenses 1.18 lem os que Jesus

4.16 diz o seguinte: “Porque o próprio Senhor descerá do céu com uma tem a prim azia. Assim , se Jesus tem a prim azia, e M iguel não, então os

cham ada dom inante, com voz de arcanjo e com a trom beta de Deus” dois não podem ser a m esm a pessoa.

(NM). Para os testem unhas de Jeová, a frase “descer com voz de arcanjo” Terceira razão: Mateus 4.10,11 e Marcos 1.25-27 m ostram Jesus repreen-
dendo Satanás; mas, em Judas 9, Miguel não se atreveu a censurá-lo; em
faz de Jesus o próprio arcanjo. Ora, se os testem unhas de Jeová forem
vez disso, entregou a Deus tal responsabilidade. Jesus tem , portanto,
coerentes com essa linha de raciocínio, terão tam bém de afirm ar que
diferente de Miguel, autoridade absoluta sobre Satã e seus demônios. Certa
Jesus é a “cham ada dom inante” e a “trom beta de Deus”. Acom panhe o
ocasião, eles im ploraram a Jesus que lhes perm itisse entrar num a manada
esquem a:
de porcos; só quando Jesus lhes deu perm issão é que puderam agir (M a-
teus 8.28 -32 ). Isso nos leva a outro raciocínio. Devemos nos lem brar da
1. Jesus desce “com voz de arcanjo”; portanto, é o arcanjo.
afirm ação bíblica de que os anjos, em relação à raça hum ana, são “maiores
2. Jesus desce “com uma cham ada dominante”; portanto, é a chamada
em força e poder” (2Pedro 2 .1 1). Além disso, de acordo com Hebreus 2.9,
dom inante.
Jesus foi feito por um pouco de tempo “m enor do que os anjos”, pois se
3. Jesus desce “com a trom beta de Deus”; portanto, é a trom beta de
fez “carne e habitou entre nós” (João 1.14), assum indo a forma de servo
Deus.
(Filipenses 2.7,8). Assim, se Jesus fosse o arcanjo Miguel, seríam os for-
çados a dizer que Miguel foi feito “m enor do que os anjos”. Ora, se Miguel,
5 Raciocínios à base das Escrituras, p. 219.
na condição de arcanjo, não censurou Satã, com o poderia tê-lo feito na
164 T e s t e m u n h a s d e J e o v A: e x p o s i ç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s O u t r o J e s u s C r is t o 165

condição de hom em? Se Miguel fosse realm ente Jesus, faria o m esm o que Jesus tem uma posição bem superior à de anjos, homens imperfeitos,
este fez com Satanás. Desse modo, evidencia-se que Jesus e Miguel não ou Satanás. Visto que estes são chamados de “deuses”, poderosos,
podem ser a m esm a pessoa, pois Jesus tem poder sobre as forças das certamente Jesus pode ser e é “um deus”. Por causa de sua posição ímpar
trevas, e Miguel entrega o julgam ento a quem de direito, a Deus, que detém em relação a Jeová, Jesus é um “Deus Poderoso”. — João 1:1; Isaías 9:6.7
o poder sobre as trevas.
Os testem unhas de Jeová não têm escrúpulos em dizer que Jesus é um
Jesus não é “um deus”
“deus” assim como Satanás, no sentido de ser poderoso. 0 que eles não
Os testem unhas de Jeová afirm am crer na “divindade” de Jesus. Sua podem aceitar é que Jesus seja Deus tal com o o Pai. Eles não veem objeção
concepção dessa divindade, porém , não corresponde à crença m ilenar do em se dirigir a Jesus com o “um deus” porque os anjos (Salmos 8.5) e os
cristianism o expressa no Credo niceno: “Deus de Deus, Luz de Luz, Ver- juizes de Israel (Salmos 82.1-6) tam bém foram supostam ente chamados
dadeiro Deus de Verdadeiro Deus, consubstanciai com o Pai, por quem de “deuses” (do hebraico ’elohim).
todas as coisas foram feitas”. Para os testem unhas de Jeová, ao contrário, Para resolver essa questão, convém analisar cada texto por vez. Antes,
Jesus é apenas um ser divino, um deus. Isso é confirm ado pelo m odo de o porém, é im portante m ostrar a incoerência dos testem unhas de Jeová na
texto de João 1.1 ser vertido na Tradução do Novo Mundo: “No princípio última citação mencionada. A firm a-se em prim eiro lugar que Jesus “tem
era a Palavra, e a Palavra estava com o Deus, e a Palavra era [um] deus”. uma posição bem superior à de anjos, hom ens im perfeitos ou Satanás”,
Em outras publicações da organização, isso tam bém fica claro: mas que, ao m esm o tempo, se estes são “deuses”, Jesus “pode ser e é um
deus” assim com o eles. Perguntamos então onde está essa proclamada
“Mas não é Jesus chamado de deus na Bíblia?”, poderá perguntar superioridade? Se Jesus é um deus com o Satã, no sentido de ser poderoso,
alguém. Isto é verdade. Contudo, Satanás também é chamado de deus. decorre-se que não há superioridade real. Jesus só poderia ser superior
(2Coríntios 4:4).6 de fato e de direito se fosse Deus num sentido em que Satanás, anjos e
hum anos não pudessem ser.
Será que dizer que Jesus Cristo é “um deus” conflita com o ensino As questões que tem os diante de nós para resolver são: Em que senti-
bíblico de que existe um único Deus? Não, pois às vezes a Bíblia emprega do Jesus é Deus? Por que Satanás é cham ado “deus”? Por que os anjos
esse termo para referir-se a criaturas poderosas. 0 Salmo 8:5 diz: “Tam- foram chamados “deuses”? Por que os juizes de Israel foram chamados
bém passaste a fazê-lo [o homem] um pouco menor que os semelhantes “deuses”? Será que o term o “deus” tem o m esm o sentido em todos os
a Deus [hebraico: ’elohtm]”, isto é, anjos. Na defesa de Jesus contra a casos? Apresentadas as questões, procedam os à análise delas.
acusação dos judeus, de que ele afirmava ser Deus, ele notou que a Lei
1. Em que sentido Satanás é chamado “deus”?
“chama de deuses aqueles aos quais a palavra de Deus foi dirigida”, isto é,
ajuízes humanos. (João 10:34,35, B/; Salmo 82:1-6) Até mesmo Satanás é Quando Paulo afirm a que Satanás é o “deus desta era” (2Coríntios 4.4),
chamado de “o deus deste sistema de coisas”, em 2Coríntios 4:4. não está dizendo que seja deus por natureza. Os que não servem ao Deus

6 Poderá viver para sempre no paraíso na terra, p. 40. 7 Deve-se crer na Trindade?, p. 28-29.
166 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s
O u t r o J e s u s C r is t o 167

verdadeiro entregam -se à idolatria, servindo a deuses falsos. 0 apóstolo potencialidade (H a r r is ; A r c h e r J r .; W a l t k e , 1998, p. 72). Desse modo, a

afirm a: “Antes, quando não conheciam a Deus, eram escravos daqueles frase “deuses criaram ” é um atentado à teologia judaica e ao m onoteísm o

qu e,po r natureza, não são deuses” (Gálatas 4.8). “Deuses” (afora o único bíblico. Ora, um povo que ainda crê na existência de um só Deus não

Deus) só existem na im aginação de seus cegos adoradores, que lhes facilitaria de form a tão banal a vida de seus oponentes religiosos. Essa é

atribu em algo que não detêm : a natureza divina, isto é, eternidade, um a particularidade da língua hebraica: um plural de caráter singular

onisciência, onipotência, onipresença etc. Em ICoríntios 8.4,5, o apóstolo que objetiva exaltar a sumidade do Criador. Cada língua reflete o modo

diz que os ídolos são cham ados deuses sem o serem de fato, pois Deus só próprio e peculiar de falar de um povo. Isso deve ser respeitado e enten-

há um. Esta é a essência do m onoteísm o: há um só Deus; o que passa dido a fim de evitar equívocos de tradução e interpretação.

disso é falsa deidade. Assim, o Diabo é considerado o “deus” desta era, Diante disso, podemos afirm ar que é possível que esse m esm o plural

não porque o seja por natureza, m as porque é assim considerado por seus m ajestático esteja presente em Salmos 8.5. É assim que algumas versões

escravos, que não conhecem o único e verdadeiro Deus. Satã é o deus dos da Bíblia traduzem essa passagem:

incrédulos, dos perdidos (2Coríntios 4.3,4).


Confirm a-se, desse modo, o absoluto descabim ento de afirm ar que • “Fizeste-o, no entanto, por um pouco, m enor do que Deus” (ARA).

Jesus é um deus da m esm a forma que Satanás é cham ado deus. A analogia • “Pois o fizeste pouco abaixo de Deus” (TB).

não procede e é de índole blasfem atória. • “Fizeste o ser hum ano inferior som ente a ti mesmo ” (NTLH).

2. Em que sentido os anjos são chamados “deuses”? 0 salm o está tratando do hom em ; ele recebeu poderes sobre o restan-
te da criação de Deus (Gênesis 1.28), m as, apesar de tanto poder e res-
Para início de conversa, Salm os 8.5 (8.6 nas versões católicas rom a-
ponsabilidade, ele não é Deus ou “um deus”; é só um hom em com grandes
nas) não afirm a que os anjos são “deuses”. A própria Tradução do Novo
poderes e responsabilidade delegados pelo Criador. Por isso, o hom em foi
Mundo verte o texto desta form a: “Também passaste a fazê-lo um pouco
m enor que os semelhantes a Deus”. Ora, uma coisa é ser “sem elhante a feito “m enor do que Deus”. Essa parece ser a m elhor tradução.

Deus”, outra é ser “um deus” (o hom em foi feito “à im agem e sem elhança Outros tradutores optaram por “um deus”. Veja:

de Deus”, m as não é “um deus”; é hom em ). Ademais, o texto hebraico não


traz esse “semelhante a” (trata-se de uma paráfrase feita pela NM). • “E o fizeste pouco m enos do que um deus ” (8.6, BJ).

A tradução literal de Salmos 8.5 seria esta: “Fizeste-o pouco m enor do • “Tu o fizeste pouco m enos do que um deus” (8.6, BP).

que deuses”. Na verdade, o grande problema está na tradução da palavra • “Quase um deus o fizeste” (8.6 , TEB).

’elohtm (lit.“deuses”). Apesar de estar no plural, ’elohim pode ser traduzi- • “Tu o fizeste pouco m enos do que um deus ” (8.6, EP).

da por “Deus” (singular) quando o verbo, adjetivos e pronomes que a • “No entanto o fizeste só um pouco m enor que um deus ” (CNBB).

acom panham estão no singular, com o em Gênesis 1.1, que diz: “No prin-
cípio criou ’elohim [lit. “deuses”] os céus e a terra”. A correta tradução é A tradução “quase um deus” ( TEB) ainda lem bra Gênesis 1.28, m as é

“No princípio criou Deus [no singular] os céus e a terra”, já que o verbo um texto estranho ao m onoteísm o das Escrituras. Se elohim é plural, te-
ria sido m elhor optar pelo plural m ajestático. Se o autor sagrado usou
que acom panha ’elohim está no singular — trata-se, nesse caso esp ecí-
fico, de um legítim o plural m ajestático, ou de intensidade, ou ainda de ’elohim é porque sabia o que estava fazendo, sem incorrer em politeísmo.
168 T e s t e m u n h a s d e J e o v A: e x p o s i ç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s
O u t r o J e s u s C r is t o 169

Outras traduções amenizam o peso negativo de “um deus”:


seriam cham ados “deu ses” ou “seres p oderosos”. 0 próprio livro de
Hebreus põe essa perspectiva bem distante. Ali, o autor com para o Filho
• “Tu o fizeste um pouco inferior a um ser divino ” (8.6, BPão ).
aos anjos. O que ele fala do Filho jam ais poderia ser dito de qualquer anjo.
• “Quase fizeste dele um ser divino” (8.6, NBC).
E o m ais im pressionante ainda é que as palavras são do próprio Pai:
• “Fizeste-o pouco m enor que um ser celeste” (8.6, MD).
• “Tu o fizeste um pouco m enor do que os seres celestiais”(NVI).
• 0 Filho deve ser adorado pelos anjos (Hebreus 1.6), m as nenhum
anjo pode ser adorado (Apocalipse 22.9).
Outras traduções seguem a Septuaginta, que traduziu ’elohim por
• 0 Filho, que é Deus, é rei e tem um trono (Hebreus 1.8,9), m as os
ángeloi (“an jo s”). anjos são “servidores públicos” (Hebreus 1.7,NM) ou simplesmente
íí »
servos .
• “Pois pouco m enor o fizeste do que os anjos” ( ACF).
• 0 Filho é o “Senhor” e o criador da terra e dos céus (Hebreus
• “Tu o fizeste um pouco m enor que os anjos” ( A21 ).
1.10), m as os anjos são criaturas (“E ele faz os seus anjos esp íri-
• “Entretanto, vós o fizestes quase igual aos anjos” (MM).
tos [...]).
• “Contudo, pouco m enor o fizeste do que os anjos” ( RC).
• O Filho está à destra do Pai e tem dom ínio sobre as nações (He-
breus 1.13), m as os anjos estão sem pre a serviço, até m esm o a fa-
É interessante observar que no texto grego de Hebreus 2.7, que cita
vor dos que hão de herdar a salvação (Hebreus 1.14).
Salmos 8.5 diretam ente da Septuaginta (ou 8.6), aparece “anjos”: “Tu o
fizeste um a pouco menor do que os anjos e o coroaste de glória e de honra”.
Diante disso, não faz o m enor sentido afirm ar que Jesus é “um deus”
Isso significa que ’elohim e ángeloi são term os intercambiáveis? É possível.
ou um “ser poderoso” assim como os anjos. O grande erro é com parar a
Outra possibilidade é que elohim esteja associado a dom ínio e designe
divindade de Jesus com a condição dos anjos.8
seres com poder e autoridade, com o os anjos e os juizes de Israel. Nesses
casos, não estaria em questão nenhum status de divindade, pois “só o 3. Em que sentido osjuizes foram chamados “deuses”?
S e n h o r é Deus [...]; nenhum outro há” (Deuteronôm io 4.39 ). Mas esse
O uso de ’elohim deve ser analisado sem pre à luz dos contextos es-
poder é derivado; logo, é limitado e sujeito à vontade do Senhor.
pecíficos. Os juizes de Israel tinham poder de ju lgar causas e proferir
A ssim , entre as opções de usar o plural m ajestático ou de fazer
sentenças. Eles exerciam sua função em nom e de Deus (Deuteronôm io
referência a seres com poder e autoridade, o autor de Hebreus, valendo-
1 7 .9 ,1 2 ; 19 .17; Salm o s 5 8 .1 ). O exercício d esse p od er lhes co nferia
-se da Septuaginta, optou pela segunda acepção. Tudo isso aponta para o
autoridade. Já dissem os que ’elohim tam bém está associado a dom ínio
fato de que o cam po sem ântico de ’elohim é vasto, e os autores bíblicos
e pode designar seres com poder e autoridade, m as sem que esteja em
tiveram liberdade para usar as variáveis legítim as de acordo com seus
jog o algum a natu reza divina real. A ssim , a frase “vocês são deuses ”
objetivos. Portanto, quando os tradutores da Septuaginta optaram por
traduzir ’elohim por “anjos”, não com eteram nenhum equívoco tradutoló-
gico nem teológico. 0 erro, na verdade, é dos testem unhas de Jeová, que
8 Para mais informações sobre a divindade de Jesus, v. o capítulo 3, especialmente os
usam Salmos 8.5 para justificar que Jesus é “um deus” porque os anjos comentários a Hebreus 1.6 e 1.8.
170 T e s t e m u n h a s d e J e o v A: e x p o s i ç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s
O u t r o J e s u s C r is t o 171

(Salm os 82 .6) não significa que são “deuses” por natureza (Gálatas 4 .8 ), não há nenhum a razão para o acusarem de blasfêm ia. 0 que está em

m as por an alogia. No caso de Jesus, ele é D eus por natureza (v. os questão é a defesa de sua divindade, santidade e filiação divina com o

subtítulos seguintes). respaldo daquilo que os judeus mais prezavam: a Lei.

Os juizes deviam se com portar à altura daquele a quem representa- Assim, os diversos usos da palavra “deus” ou “deuses” devem ser ana-

vam ao julgar. Entretanto, eles eram injustos e arrogantes, e não estavam lisados e interpretados dentro de seus respectivos contextos. A divindade

representando corretam ente Deus, que julgava no m eio deles. 0 salm o 82 de Jesus só pode se assem elhar à do Pai. Som ente Jesus pode ser cham a-

é, na verdade, um a severa crítica e exortação a esses juizes, que talvez do Deus Poderoso (Isaías 9.6 ), Caminho, Verdade e Vida (João 14.6). So-

estivessem levando ao pé da letra o título ’elohim. O Juiz Supremo então mente ele poderia d izer:“Eu e o Pai som os um” (João 10.30); “Creiam em

os ironiza: “Vocês são deuses. [...] Mas vocês m orrerão como simples ho- Deus; creiam tam bém em mim” (João 14.1). Enfim , som ente ele poderia

m ens; cairão com o qualquer outro governante” (v. 6 ). Assim , aqueles dizer-se igual a Deus, o Pai, porque na verdade ele é Deus, razão pela qual

juizes, em bora exercessem a função de ’elohim ou governantes, não pas- é verdadeiramente superior a tudo e a todos. Por isso, negam os que Jesus

savam de m eros “hom ens”, que são, por natureza, m ortais. Portanto, possa ser “um deus”, como querem os testem unhas de Jeová. Ele é “Deus

deve-se descartar qualquer ideia de que, além do verdadeiro Deus, exis- de Deus, Luz de Luz, Verdadeiro Deus de Verdadeiro Deus”, como profes-

tam realm ente outros deuses por natureza. sam os credos à luz das Escritu ras. É o que veremos a seguir.

Tendo em vista esse contexto, podemos analisar o uso que Jesus fez
Jesus é verdadeiramente Deus
das palavras “Vocês são deuses” (João 10.34). Ele proferiu tais palavras
logo após a acusação que sofreu por parte dos líderes religiosos judaicos Eis duas razões para afirm ar que Jesus não pode ser “um deus”, m as o
de ser blasfemo, pois dissera “Eu e o Pai somos um”, fazendo-se, dessa Deus verdadeiro, assim com o o Pai e o Espírito Santo.
m aneira, igual a Deus. A fim de anular a acusação de blasfêm ia, Jesus Prim eira: Em Isaías 43.10, o Todo-poderoso diz: “ [...] Antes de mim
reporta os líderes judaicos ao contexto do salm o 82. Ele com para o seu nenhum deus se form ou, nem haverá algum depois de mim”. Em Isaías
caráter ao daqueles juizes. Eles eram injustos e não agiam de acordo com 44.8, Deus pergunta: “ [...] Há outro Deus além de m im? Não, não existe
a vontade de Deus; mesm o assim , foram cham ados na Lei de “deuses” nenhuma outra Rocha; não conheço nenhum a”. Já que Deus disse que
( ’elohim ) ou de “filhos do Altíssimo”. Assim, nem sem pre o uso de ’elohim antes dele deus nenhum se form ou e depois dele deus nenhum haverá,
é de caráter blasfemo. Jesus então prepara o cam inho para afirm ar que a fica evidente que existe som ente um Deus. Tudo o que for além disso é
expressão “Filho de Deus” não é blasfem a e que ele tem legitim idade para falsa deidade. Por isso, por tudo o que Jesus disse de si m esm o e o que os
re iv in d ica r essa co n d ição. D iferentem ente d aqu eles ju iz es, Jesu s é seus discípulos disseram dele, ele não poderia ser um deus à parte (v. os
“santificado” e “enviado” pelo Pai; ele realiza as obras do Pai, e por isso o com entários sobre João 8.58 no cap. 3).
Pai está nele, e ele, no Pai (João 10.37,38). Portanto, ele é santo com o o Pai Além do m ais, se Jeová fosse Deus e Jesus “um deus” (João 1.1, NM),
é santo ; ele é um represen tante legítim o enviado pelo Pai, m as um então teríam os dois deuses: um m aior (Jeová) e o outro m enor (Jesus).
representante que, ao contrário dos juizes injustos, faz a vontade do Pai, Ora, a crença em mais de um Deus consiste em politeísmo, o que é grave
ou seja, pratica a ju stiça. Ora, se os “deuses” (juizes) injustos poderiam pecado contra Deus. O cúm ulo da incoerência é que são esses m esm os
ser representantes do Altíssimo, “filhos do Altíssimo”, por qual razão ele, testem unhas de Jeová que acusam os cristãos de serem politeístas por
santificado e enviado pelo Pai, não poderia dizer-se Filho de Deus? Assim, acred itarem na d ou trina da Trindade! Quem são os politeístas? Seu
172 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s O u t r o J e s u s C r is t o 173

sistem a assem elha-se ao dos gregos, que falavam de um deus maior, Zeus, Cristo. E o texto de Apocalipse reflete essa esperança, ao afirm ar
e seus deuses subordinados. Ao afirm arem que Jesus e Satanás são deuses, que ele vem e que todo olho o verá. Aliás, no final de Apocalipse
voltam-se contra o m onoteísm o, além de rebaixar Jesus a um tipo de divin- lemos: “Aquele que dá testem unho dessas coisas diz: ‘Sim; venho
dade sem elhante à do Diabo. Definitivamente, isso não é cristianism o. depressa. Amém! Vem, Senhor Jesus” ( 2 2 .2 0 , NM). Como o texto
Segunda: A Bíblia afirm a que Jesus é Deus. Ele é “Deus Forte” (Isaías diz que o Todo-poderoso é “Aquele que é, e que era, e que vem”,
9.6, ARC) o u “Poderoso ”{NM). Esse term o não é aplicado somente ao Filho, não há com o negar que Jesus Cristo é o Alfa e o Ômega, o Todo-
mas tam bém ao Pai: “Um m ero restante retornará, o restante de Jacó, ao -poderoso. Logo, como não pode haver dois todo-poderosos, mas
Deus Poderoso ” (Isaías 10.21, NM). Assim, se o Filho é Deus Poderoso e o somente um, Jesus tem de ser, necessariamente, da mesma essência
Pai é Deus Poderoso e se só existe um único Deus, então Jesus e o Pai são o que o Pai. Assim, se o Pai é todo-poderoso, o Filho também o é; e, se o
mesm o Deus (não a m esm a pessoa, mas de uma só e m esm a essência). Pai é Deus Poderoso (Isaías 10.21), o Filho tam bém o é (Isaías 9.6).
Os testem unhas de Jeová objetam afirm ando que, em bora Jesus seja
Jesus é o verdadeiro Deus e a vida eterna
“Deus Poderoso”, som ente Jeová é cham ado Todo-poderoso. Entretanto,
o term o “todo-poderoso” tam bém é aplicado ao Filho, com o se lê em Outro texto que m ostra ser Jesus o Deus verdadeiro é ljo ã o 5.20:
Apocalipse 1.8: “ ‘Eu sou o Alfa e o Ômega’, diz o Senhor Deus, o que é, o
que era o que há de vir, o Todo-poderoso’ ”. Entretanto, na Tradução do Sabemos também que o Filho de Deus veio e nos deu entendimento,
Novo Mundo lê-se: “Eu sou o Alfa e o Ômega, diz Jeová Deus”. Com isso, a para que conheçamos aquele que é o Verdadeiro. E nós estamos naquele
versão dos testem unhas de Jeová afasta qualquer possibilidade de que o que é o Verdadeiro, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e
term o “todo-poderoso” seja atribuído a Jesus Cristo. No original, contudo, a vida eterna.
não aparece o nome Jeová,m as a palavra K ú p i o ç [Kyrios], isto é,Senhor.
Trata-se aqui de Jesus Cristo, pelas seguintes observações: Parece-nos não haver motivos para dúvidas: “Este [Jesus] é o verda-
deiro Deus e a vida eterna”. Mas o Corpo Governante dos testem unhas de
1. Em Apocalipse 1.7, o apóstolo João afirm a: “Eis que ele vem com Jeová verteu assim o texto:
as nuvens, e todo olho o verá, até m esm o aqueles que o traspassa-
ram ; e todos os povos da terra se lam entarão por causa dele. Assim Mas, sabemos que o Filho de Deus veio e nos deu capacidade inte-
será! Amém”. À luz de Mateus 24.30, que mantém sem elhança re- lectual para podermos obter conhecimento do verdadeiro. E nós esta-
dacional com Apocalipse 1.7, afirm am os que a personagem aqui mos em união com o verdadeiro, por meio do seu Filho Jesus Cristo.
em questão é Jesus. Esse [o verdadeiro, o Pai] é o verdadeiro Deus e a vida eterna (NM, col-
2. Sobre aquele que virá, Apocalipse 1.8 afirm a: “Aquele que é [pre- chetes nossos).
sente], e que era [passado], e que vem [futuro]” (NM). A expres-
são é análoga a Hebreus 13.8, que diz: “Jesus Cristo é o m esm o, Ao usar o pronome demonstrativo “esse” e não “este”, os testemunhas de
ontem [passado], hoje [presente] e para sempre [futu ro]”. Jeová desviam as designações “verdadeiro Deus e a vida eterna” para o Pai.
3. A carta aos Hebreus afirm a que Jesus virá segunda vez (9 .28). Essa Como resolver esse impasse? Será que o grego pode nos ajudar a fechar
era e ainda é a esperança dos cristãos, a segunda vinda de Jesus definitivamente a questão? Em princípio, não. Isso porque, de acordo com
174 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s
O u t r o J e s u s C r is t o 175

W. C. T a yl o r (1986, p. 56, n. 160; 293-294, n. 9 e 10), o pronome o ü t ó ç


É perceptível que, quase todas as vezes que fala de Jesus, João, tanto no
( houtós ), norm alm ente traduzido por “este” (pronom e demonstrativo que evangelho quanto na prim eira carta, associa-o à vida eterna. Não é de
se refere, usualmente, ao que está próximo ou ao que foi m encionado por espantar que, ao final de sua prim eira carta, o discípulo a quem Jesus
últim o) tam bém pode ser traduzido por “esse” (pronom e demonstrativo amava tenha dito de Jesus Cristo: “Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna”.
que se refere, geralm ente, ao que está rem oto ou ausente). Neste caso, Assim, não há dúvida, aquele que é cham ado a vida eterna, tam bém é
o u x ó ç equivaleria a è K e iv o ç ( ekeinos ), habitualm ente traduzido por cham ado verdadeiro Deus.
“esse”, m as que tam bém pode sign ificar “este” . Em razão desse uso Com isso, torna-se evidente que a Tradução do Novo Mundo não se
ambivalente, é difícil resolver a questão, de modo definitivo, com base na manteve fiel ao contexto da carta jo an ina, vertendo indevidamente: “Esse
g ram ática grega. Taylor afirm a, entretanto: “Temos de nos despir da é o verdadeiro Deus e a vida eterna”, quando o correto é, sem som bra de
lem brança de nosso idiom a e deixar o grego falar segundo seu gênio, dúvida: “Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna”.
orientando-nos pelo contexto a cada vez. Contudo, em geral, ov x ó c, é
próxim o, e èK eTvoç, remoto” (ibid., p. 294, n. 10). A TERMINOLOGIA EQUIVOCADA DOS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ

À luz do que disse Taylor, vamos tentar resolver a questão recorrendo


Os testemunhas de Jeová se perdem na terminologia das Escrituras,
ao contexto, que não deixa dúvida de que “este” é o pronome adequado,
dando significados errôneos a certos termos aplicados a Jesus, como “pri-
levando-nos à inevitável conclusão de que Jesus é o referido pela expressão
mogênito”, “unigénito”, “princípio da criação” e “Filho de Deus”. Tal equí-
“verdadeiro Deus e vida eterna”. Para chegar a essa conclusão, precisamos
voco se dá em virtude do desconhecimento das regras de boa interpretação
nos deslocar para ljo ã o 1. Acompanhe o raciocínio. bíblica, e assim afastam esses termos de seu contexto imediato e geral, bem
Os versículos iniciais (1 .1 -3 ) lem bram o prólogo do evangelho de João, como histórico e gramatical, e querem que signifiquem o que originaria-
no qual o protagonista é o próprio Jesus, a quem João cham a de “Palavra” mente não significavam no texto bíblico. Eis alguns exemplos:
ou “Verbo”. Lemos em ljo ã o 1.1,2 (NM):
Primogênito (Colossenses 1.15)
Aquilo que era desde [o] princípio, o que temos ouvido, o que temos
Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação.
visto com os nossos olhos, o que temos observado atentamente e as nos-
sas mãos têm apalpado, com respeito à Palavra da vida, (sim, a vida foi
Longe de significar nesse texto “o prim eiro criado” ou “o prim eiro de
manifestada, e nós temos visto, e estamos dando testemunho, e relata-
um a série”, o term o “prim ogênito”, do grego Jtp c o x ó tO K o ç (protótokos ),
mos a vós a vida eterna que estava com o Pai e nos foi manifestada)[...].
é um título que indica preem inência ou prim azia, apontando assim para
a so b era n ia de C risto sobre a cria ç ã o , p ois, segundo os versícu lo s
Está claro que João está falando de Jesus Cristo, o Verbo de Deus, a
seguintes, ele criou todas as coisas. Isso corrobora a assertiva segundo a
quem ele tam bém cham a vida eterna. João, em sua prim eira carta, começa qual Jesus não pode ser um a criatura.
falando dele e term ina da m esm a m aneira. O m esm o ele faz no seu Outro ponto im portante é que essa passagem é um a aplicação de Sal-
evangelho. Em João 1.1, ele com eça a falar de Jesus; no versículo 4, diz que
mos 89.27, que é m essiânico. O riginariam ente, foi aplicado ao rei Davi, o
em Jesus está a vida. Em 19.31, ele diz que tudo escreveu em seu evangelho
caçula de sua fam ília (Salm os 8 9.2 0). Segundo esse salm o, Deus o coloca-
para que se creia em Jesus e, crendo, se tenha vida em seu nome. ria como “primogênito” e explica por quê: “ [...] o m ais exaltado dos reis
176 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s
O u t r o J e s u s C r is t o 177

da terra”, que equivale ao título “Rei dos reis” (Apocalipse 17.14). Que a nos quais o Pai dirigiu-se a Jesus com as seguintes palavras: “Este é o

ideia de soberan ia está im plícita, basta conferir 1Sam uel 10.1, em que meu Filho amado em quem m e agrado” (Mateus 3.17; 17.5). Entrem eando

Sam uel diz a Davi que Deus o ungiu para ser o líder ou chefe de Israel. as ideias, tudo aponta para a direção de que as expressões “Filho amado”

Assim, o term o “primogênito” trata da posição soberana de Cristo sobre e “Filho único” (unigénito) parecem ter o m esm o sentido.

tudo e todos, e não de ele ser o primeiro de uma série. Cabe salientar que nas Escritu ras fica evidente ser a filiação de Jesus
algo totalm ente especial, diferente de outras filiações. A expressão “filho
Unigénito (João 3.16) de Deus” é de fato aplicada aos anjos (Jó 1.6), ao povo de Israel (Êxodo

Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigénito, 4.22; Deuteronômio 14.1), aos reis e juizes de Israel (2Sam uel 7.14; Salmos

para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. 82.6), a Adão (Lucas 3.38) etc. No entanto, esse tipo de filiação aponta
meram ente para um a relação de intimidade entre Deus e suas criaturas.

Assim com o ocorre com “primogênito”, o term o “unigénito” (do grego Trata-se de um a filiação adotiva, nada tendo que ver com o tipo de filiação

H,ovc>Y£vf|ç [ monogenés ]) tam bém é um título aplicado a Jesus Cristo. usufruída por Jesus, o “Filho am ado”. O próprio Jesus sublinhou essa

Esse título aponta para a singularidade de Jesus, o eterno Filho de Deus. distinção, ao dizer: “Estou voltando para meu Pai e Pai de vocês, para meu

Ele é único, não há ninguém sem elhante a ele. Como afirm a Walter M a r t in Deus e Deus de vocês” (João 20.17). Jesus nunca disse “nosso Pai”. E quanto

(1992, p. 14 8),essa palavra é composta por mono (“único”) + genes (“tipo”, à Oração D ominical, o Pai-nosso? Ele estava sim plesm ente ensinando seus

“espécie” ). O ponto saliente, segundo M artin, está na prim eira parte da discípulos a orar: “Vocês, orem assim : ‘Pai nosso, que estás nos céus!’ ”.

palavra, isto é, em mono, “único”, o que implica a ideia de singularidade. O “nosso” era para ser usado por seus discípulos, não por ele.

Em Judas 4, por exem plo, Jesus é cham ado “nosso único [fx ó v o v — Jesus designou-se “Filho Unigénito” (João 3.16), pois som ente ele, e

m ónon] S o b e ra n o e S e n h o r” . Seg u in d o essa lin h a de ra c io c ín io , mais ninguém, nem anjos, nem hom ens, jam ais poderia dizer: “Eu e o Pai

“unigénito” e “único” teriam o m esm o sentido sem ântico. som os um” (João 10.30). (Para m ais detalhes sobre o que está contido

Além disso, Hebreus 11.17 leva a crer que o term o “unigénito” não neste “som os um”, v. os com entários sobre João 8.58 no cap. 3.)

deve ser tomado na acepção usual de nossa cultura, ou seja, do filho único
Princípio da criação (Apocalipse 3.14, NM)
(ibid.). Nesse texto, Isaque é cham ado unigénito de Abraão. Mas a Bíblia
inform a que Isaque não era o único filho de Abraão. Ism ael, por ordem de Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio

nascim ento, era o primogênito. Isso m ostra que o term o “unigénito” abarca da criação de Deus.

outros significados, além do que norm alm ente conhecem os, a saber, o
único filho de fato e de direito. Nesse caso, o adjetivo “unigénito” aponta A palavra grega ápxr| ( arché ), vertida por “princípio” em m uitas

para a ideia de predileção. Em que sentido, então, Isaque era o unigénito? traduções da Bíblia, tam bém significa“governador”,“soberano”,“origem”.

No sentido de que ele era o único e singular filho de Abraão. A ideia de um Assim, já que diversas passagens bíblicas atestam a eternidade de Cristo,

relacionam ento íntim o e diferencial entre pai e filho está im plícita na visto ser ele o Criador e Sustentador de todas as coisas (Colossenses

passagem ; logo, não está em questão a ordem de nascim ento de Isaque, 1.16,17; Hebreus 1.3), fica evidente que entender arché com o o “primeiro

m as sua posição diante do pai, sua singularidade. O m esm o se dá com de um a série”, nesse caso em particular, seria pedir dem ais. Se ele criou

Cristo em relação ao Pai. Isso fica evidente em dois m om entos especiais, todas as coisas e as sustenta, o term o “origem” cai com o uma luva no
178 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s O u t r o J e s u s C r is t o 179

contexto im ediato e mais amplo. É assim que se deve entender o term o Expandindo a declaração anterior, B o e t t n e r (s.d .,p. 65) diz o seguinte:
“princípio” em Apocalipse 3.14. Felizmente, existem algumas versões em
português que afastam a ambiguidade do term o “princípio”, mantendo Durante o seu ministério público, os judeus, de acordo com o uso

fidelidade ao sentido original de arché empregado pelo autor sagrado em hebraico da palavra [Filho], tiveram razão ao compreenderem que a

relação a Jesus Cristo. Na Nova Versão Internacional, lem os: “0 soberano pretensão de Jesus de ser o “Filho de Deus” era equivalente a afirmar

da criação de Deus”. A Versão Fácil (Novo Testam ento) diz: “Aquele que que era “igual a Deus” ou, simplesmente, “Deus” (João 5:18; 10:33).

tem autoridade sobre toda a criação de Deus”.


Em seguida, B o e t t n e r (ibid., p. 6 5 -57) cita as palavras de Benjam in B.
É bom tam bém lem brar que na Tradução do Novo Mundo a expressão
Warfield, extraídas da obra Bible Doctrines (p. 163):
arché é usada em relação a Jeová (Apocalipse 2 2 .1 3), sendo entendida
com o “fonte”, “origem”, “com eço”, em bora seja evidente, pelo contexto,
O que fica por detrás da concepção de filiação em linguagem bíblica é
que a referência é a Jesus, pois ele tam bém é designado dessa form a em
simplesmente “semelhança”; tudo quanto o Pai é o Filho o é igualmente.
Colossenses 1.18. De qualquer m aneira, nenhum dos term os supracitados
A aplicação enfática do termo “Filho” a uma das Pessoas Trinitárias, por
pode ser usado para defender a ideia de que Jesus seja um ser criado.
isso, afirma antes a sua igualdade com o Pai do que a sua subordinação ao

Filho de Deus (Marcos 1.1) Pai; e, se houver qualquer implicação de derivação nele, essa parece estar
muito distante. [...] Em João 5:18, lemos: “Por isso, pois, os judeus ainda
Princípio do evangelho de Jesus Cristo, o Filho de Deus. mais procuravam matá-lo, porque não só quebrantava o sábado, mas tam-
bém dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus”. O ponto
Esse term o é usado frequentem ente para indicar a inferioridade do principal aqui reside, evidentemente, no adjetivo “próprio”. Compreende-
Filho em relação ao Pai, pois um filho não pode ser igual ou m aior que ram, e bem, que Jesus chamava a Deus “seu próprio Pai”, isto é, usou os
seu pai. No entanto, isso não tem o m enor sentido, pois Jesus é cham ado termos “Pai” e “Filho” não meramente num sentido figurativo, como quan-
“filho de Maria” (M arcos 6 .3 ),“Filho de Davi” (Marcos 10.48) e “Filho do do Israel foi chamado filho de Deus, mas no verdadeiro sentido. E com-
homem” (Mateus 25 .3 1); nem por isso, poderia ser considerado inferior a preenderam que isto queria dizer que Jesus pretendia ser tudo quanto
Maria, a Davi ou ao hom em (hum anidade). 0 term o “filho”, portanto, não Deus é. Ser Filho de Deus em qualquer sentido é ser semelhante a Deus
im plica necessariam ente inferioridade. 0 escritor Sh el t o n Jr. (s.d., p. 9) nesse sentido; e ser o próprio Filho de Deus significava ser precisamente
esclarece sobre o uso dos term os “Pai” e “Filho”: parecido com ele em tudo, isto é, ser “igual a Deus”.

Na linguagem bíblica, os termos “Pai” e “Filho” transmitem, não nos- Outro estudioso da Bíblia, E. Lun d (2006, p. 143), afirmou:
sas ideias [ocidentais] da origem da existência, nem de superioridade e
subordinação e dependência, mas, sim, a ideia semítica e oriental de Entre os hebreus era costume chamar uma pessoa de filho fazendo
semelhança ou identidade de natureza e de igualdade do ser. Ora, é a referência àquilo que a caracterizava de modo especial, tanto assim que
consciência semítica que está por trás da fraseologia das Escrituras, e, o pacífico e bem-disposto era chamado filho da paz (Lc 10.6, AEC); o
sempre quando as Escrituras chamam Cristo de “Filho de Deus”, asse- iluminado e entendido, filho da luz (Ef 5.8); os desobedientes, filhos da
veram sua divindade genuína e apropriada. desobediência (Ef 2.2).
180 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s O u t r o J e s u s C r is t o 181

Seguindo esse raciocínio, fica m ais fácil entender por que Jesus é 3 . João 17.1 — “Depois de dizer isso Je su s olhou para o céu e orou :

chamado Filho de Deus. Ele é, assim como o Pai, de eternidade a eternidade ‘Pai, chegou a hora. Glorifica o teu Filho, para que o teu Filho te

(Isaías 9.6; Hebreus 13.8; cf. Salmos 90 .2); ele é a vida (Salm os 36.9), assim glorifique’ ” — Se Jesus fosse Deus, não precisaria orar; ademais,
como o Pai é a fonte ou o m anancial da vida (João 14.6) etc. Dessa forma, por que ele oraria a si mesmo? Isso prova que ele não é o Pai.
Jesus dem onstrou ter os atributos que apenas Deus poderia demonstrar. 4 . ICoríntios 11.3 — “Quero, porém, que entendam que o cabeça de
Nada m ais justo que a designação “Filho de Deus”. O m esm o se dá com todo hom em é Cristo, e o cabeça da m ulher é o hom em , e o cabeça
“Filho do homem ”. Ao encarnar-se, Jesus tornou-se verdadeiro homem. de Cristo é Deus” — Se Jesus fosse Deus, ele não teria ninguém
Não havia com o negar que aquele que veio do céu tornou-se realmente como seu cabeça (líder, superior); ele seria o cabeça. Isso m ostra
Filho do hom em , pois comeu, bebeu, sentiu cansaço, chorou, compadeceu- que existe alguém superior a Jesus, a quem ele é subordinado.
-se do sem elhante etc. São características de sua plena hum anidade. 5 . ICoríntios 15.28 — “Quando, porém , tudo lhe estiver sujeito, en-
O problem a dos testem unhas de Jeová é atribu ir ao term o “filho” tão, o próprio Filho também se sujeitará àquele que todas as coisas
um sentido único, relacionado à nossa experiência, segundo a qual, por lhe sujeitou, a fim de que Deus seja tudo em todos” — Se Jesus
ser Filho, ele não poderia ser igualado ao Pai. Mas o term o “filho” possui fosse Deus com o o Pai, jam ais se sujeitaria a outro ser; e essa sujei-
diversas acepções: ção será eterna, m esm o depois de ele entregar o Reino ao Pai. Isso
prova que em nenhum m omento ele foi, é ou será como o Pai.
• Filho de Maria — o sentido habitual do term o: biológico.
• Filho de Davi — descendente ou participante da linhagem real.
Apesar da aparente estrutura lógica dessas argum entações, os teste-
• Filho do homem — humano ou participante da natureza humana.
munhas de Jeová estão equivocados em suas conclusões. Esses equívo-
• Filho de Deus — participante da natureza divina do Pai ou “Deus”
cos decorrem do fato de desacreditarem de outra grande e “insondável
como o Pai. Aqui cabe o velho ditado “Tal pai, tal filho”, elevado, é
riqueza de Cristo” (Efésios 3.8), ou seja, a sua encarnação, doutrina se-
claro, a um sentido mais absoluto do que o costumeiro.
gundo a qual o Verbo, que era Deus, “tornou-se carne e viveu entre nós”
T e x t o s m a l in t e r p r e t a d o s pe l o s t e s t e m u n h a s d e Jeo vá ( João 1.14).9 Essa doutrina é, certam ente, a chave para entender esses tex-
tos mal interpretados. Para esclarecer as passagens bíblicas pós-ressur-
Os textos e os raciocínios apresentados a seguir são os m ais usados
reição (IC o rín tio s 11.3 e 1 5 .2 8 ), precisam os analisar outra doutrina
pelos testem unhas de Jeová para provar que Jesus Cristo não era Deus.
igualmente elucidativa: a ressurreição corpórea de Jesus, tam bém nega-
da pelos testem unhas de Jeová.
1. João 14.28 — “Se vocês m e am assem , ficariam contentes porque
vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu” — Se Jesus fosse Deus, A encarnação de Cristo
seria igual ao Pai; se ele reconheceu que o Pai é “m aior”, então não
pode ser onipotente. É bom esclarecer desde o início que a doutrina da encarnação é tão
2 . Marcos 13.32 — “Quanto ao dia e à hora, ninguém sabe, nem os complexa quanto a da Trindade. Vale ressaltar novamente: por m ais que
anjos no céu, nem o Filho, senão somente o Pai” — Se Jesus fosse
Deus, seria onisciente; com o ele disse desconhecer o dia e a hora, 9 A título de esclarecimento, a doutrina da “encarnação” não tem nenhuma relação
isso só pode significar que ele não é onisciente; logo, não é Deus. com a doutrina espírita da reencarnação.
182 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s
O u t r o J e s u s C r is t o 183

tentemos, o ser finito jam ais poderá compreender com perfeição o Ser
Confissão de fé de Westminster (1647)
infinito, m esm o quando este assum e nossa fmitude. Mais um a vez, va-
m os recorrer ao princípio estabelecido pelo livro Raciocínios à base das 0 Filho de Deus, a segunda pessoa da Trindade, sendo verdadeiro e
Escrituras (p. 123, m encionado no cap. 4 ): “Há lógica nisso? Nossa mente eterno Deus, da mesma substância do Pai e igual a ele, quando chegou a
não pod e compreender isso plenamente. Mas não é uma razão sólida para plenitude do tempo, tomou sobre si a natureza humana, com todas as

o rejeitar suas propriedades essenciais e as fraquezas comuns, contudo sem pecado,

Os credos e as confissões de fé do cristianism o explanam de modo sendo concebido pelo poder do Espírito Santo no ventre da Virgem Maria,

adequado essa rica doutrina. e da substância dela. As duas naturezas, intactas, perfeitas e distintas — a
Divindade e a Humanidade — foram inseparavelmente unidas numa só
Credo atanasiano pessoa, sem conversão, composição ou confusão; essa pessoa é verda-
deiro Deus e verdadeiro homem, porém um só Cristo, o único mediador
Mas para a salvação eterna também é necessário crer fielmente na
entre Deus e o homem (VIII, § 2; in: B e e k e ; F er g u so n , 2006, p. 65).
encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo. A fé verdadeira, por conseguin-
te, é crermos e confessarmos que nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, Os trinta e nove artigos de religião
é Deus e homem. É Deus, gerado da substância do Pai antes dos séculos, e
O Filho, que é o Verbo do Pai, gerado da eternidade do Pai, verdadei-
é homem, nascido, no mundo, da substância da mãe. Deus perfeito, ho-
ro e sempiterno Deus, e consubstanciai com o Pai, tomou a natureza
mem perfeito, subsistindo de alma racional e carne humana. Igual ao Pai
humana no ventre da bendita virgem e da Sua substância; de sorte que
segundo a divindade, menor que o Pai segundo a humanidade. Ainda que
as duas inteiras e perfeitas Naturezas, isto é, Divina e Humana, se uni-
é Deus e homem, todavia não há dois, porém um só Cristo. Um só, entre-
ram em uma Pessoa, para nunca mais se separarem, das quais resultou
tanto, não por conversão da divindade em carne, mas pela assunção da
Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem; que verdadeiramente
humanidade em Deus. De todo um só, não por confusão de substância,
padeceu, foi crucificado, morto e sepultado, para reconciliar Seu Pai co-
mas por unidade de pessoa. Pois assim como a alma racional e a carne
nosco, e ser vítima, não só pela culpa original, mas também pelos atuais
são um só homem, assim Deus e homem são um só Cristo.
pecados dos homens. [...] Cristo verdadeiramente ressuscitou dos mor-
Credo de Calcedônia tos e tomou de novo o Seu corpo, com carne, ossos e tudo o mais perten-
cente à perfeição da natureza humana; com o que subiu ao Céu, e lá está
Um só e mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigénito, que se deve confessar,
assentado, até que volte a julgar todos os homens, no último dia.
em duas naturezas, inconfundíveis e imutáveis, inseparáveis e indi-
visíveis. A distinção de naturezas de modo algum é anulada pela união,
Desses artigos de fé, podemos afirm ar o seguinte:
mas, pelo contrário, as propriedades de cada natureza permanecem
intactas, concorrendo para formar uma só pessoa e subsistência; não
Como Deus, Jesus era... Como homem, Jesus era...
dividido ou separado em duas pessoas, mas um só e mesmo Filho
Unigénito, Deus Verbo, Jesus Cristo Senhor, conforme os profetas outrora • Onipontente • Limitado
a seu respeito testemunharam, e o mesmo Jesus Cristo nos ensinou e o • Onipresente • Restrito
Credo dos Pais nos transmitiu. • Onisciente • Ensinável
O u t r o J e s u s C r is t o 185
184 T e s t e m u n h a s d e J e o v A: e x p o s i ç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s

Entrando ele no barco, seus discípulos o seguiram. De repente, uma


Assim, Jesus — Deus e hom em — possuía duas naturezas intactas,
violenta tempestade abateu-se sobre o mar, de forma que as ondas inun-
perfeitas e distintas. Ele era ao m esm o tempo:
davam o barco. Jesus, porém, dormia. Os discípulos foram acordá-lo,
clamando: “Senhor, salva-nos! Vamos morrer!” Ele perguntou: “Por que
• Onipotente e limitado em poder.
vocês estão com tanto medo, homens de pequena fé?” Então ele se le-
• Onipresente e restrito corpoream ente a um único espaço.
vantou e repreendeu os ventos e o mar, e fez-se completa bonança. Os
• Onisciente e limitado no saber.
homens ficaram perplexos e perguntaram: “Quem é este que até os ven-
tos e o mar lhe obedecem?”
O gráfico adaptado a seguir (H o u se , p. 1994, p. 64) dá uma dim ensão
da doutrina da dupla natureza de Cristo:
O evangelista relata que Jesus dorm ia durante uma tempestade, m as
Deus naturalm ente não dorme. Desesperados, os discípulos o acordaram,
clam ando por socorro. Nesse momento, Jesus acorda, repreende o vento e
R estrita (Lc 2 .11)
Ensinável (Lc 2.52) o mar, e am bos se aquietam. Ora, o homem naturalmente não tem domínio
Lim itada (Mc 13.32) sobre as forças da natureza. Segundo Salm os 6 5.5 -7 ,8 9 .9 e 107.29, somente
Ele age por
Não m eio de Deus, o Criador, tem poder sobre as forças da natureza, e Jesus revelou tal
Onipresente (M t 18.20)
dividindo qualquer poder (Hebreus 1.3). O texto revela a hum anidade e a divindade de Jesus.
Onisciente (Cl 2.2,3)
a pessoa nem das
Onipotente (Ap 1.8) Ele tornou-se hum ano, sem deixar de ser Deus. Era Deus, assim como o
confundindo naturezas
as naturezas Pai e o Espírito Santo, m as tam bém era verdadeiramente homem. Duas
naturezas distintas, cada qual com suas características, em uma só pessoa.
Os testem unhas de Jeová podem contra-argum entar que Moisés abriu
o m ar Vermelho, m as nem por isso se pode dizer que ele era Deus e homem
ao m esm o tempo (Êxodo 14). Outra objeção: quando os pés dos sacerdotes
tocaram as águas do rio Jordão, estas foram represadas, m as nem por
isso se afirm a que eles eram Deus e homem ao m esm o tempo (Josué 3).
Essas objeções, contudo, não fazem sentido, pois em nenhum a parte das
Escrituras se afirm a que Moisés abriu o m ar Vermelho. Segundo Êxodo
14, Deus mandou Moisés erguer um bastão e estendê-lo sobre o m ar (v.
16), m as o versículo 21 afirm a o seguinte: “ [...] e Jeová começou a fa z e r o
Este é o paradoxo da encarnação: compreender como pode haver em
mar retroceder por meio dum forte vento oriental [...] e as águas foram
uma pessoa duas naturezas natural e com pletam ente diferentes. Estam os
partidas” (NM). O testem unho do autor sagrado é claríssim o: foi o próprio
racionalm ente habituados com a disjunção “Deus OU hom em ”; m as a
Deus, por meio de um forte vento, que fez o m ar retroceder. Moisés não
encarnação nos leva para a conjunção “Deus E homem”. Diante desse pa-
tinha dom ínio sobre as forças da natureza. Só Deus. Quanto à travessia
radoxo, resta-nos recorrer ao testemunho das Escrituras para ver o que
do rio Jordão, o salmo 114 m ostra poeticam ente que os acontecim entos
elas têm a dizer sobre isso. Uma passagem reveladora é Mateus 8.23-27:
186 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s
O u t r o J e s u s C r is t o 187

ocorridos tanto no m ar Vermelho quanto no rio Jordão foram promovidos


Na sua aflição, clamaram ao Senhor, e ele os tirou da tribulação em
pelo “Deus de Jacó” (v. 7), não pelos sacerdotes.
que se encontravam. Reduziu a tempestade a uma brisa e serenou as
Há um fato notável: dos quatro evangelistas, Mateus é o que mais cita o
ondas. As ondas sossegaram, eles se alegraram, e Deus os guiou ao por-
Antigo Testamento. Ele procura dem onstrar por meio de profusas citações
to almejado (Salmos 107.28,29).
que Jesus é o M essias prometido, pois ele cumpre inequivocam ente as
profecias do Antigo Testamento. Mateus desejava destacar esse fato em
Mateus queria m ostrar aos leitores que Jesus Cristo estava lá no An-
seu Evangelho. Dentre as várias profecias, destacam -se as seguintes:
tigo Testamento, que ele era o “Eu Sou” (Êxodo 3 .1 4 ), o “Deus Conosco”
(M ateus 1.23). Cada gesto e cada palavra de Jesus eram um cu m pri-
1. 0 nascim ento virginal (Mateus 1.21-23; cf. Isaías 7.14)
m ento preciso das E scritu ras inspiradas por Deus. O M essias há tempo
2. 0 local de nascim ento (Mateus 2.6; cf. M iqueias 5.2)
esperado havia chegado, estava entre eles e estaria com eles para sem -
3. A fuga para o Egito (Mateus 2.15; cf. Oseias 11.1)
pre (M ateus 18.20; 2 8 .2 0).
4. 0 genocídio dos inocentes (Mateus 2.16-18; cf. Jeremias 31.15)
Apesar dessas evidências, alguém poderia objetar, afirm ando que
5. 0 m inistério em Cafarnaum (Mateus 4 .14 -16 ; cf. Isaías 9.1,2)
falta à passagem de M ateus 8 .2 3 -2 7 a indicação de cum prim ento profé-
6 . 0 uso de parábolas (Mateus 13.35; cf. Salm os 78.2)
tico norm alm ente m arcada pela expressão “está escrito” ou “assim fora
7. A entrada triunfal em Jerusalém , montado num jum ento (Mateus
dito pelo profeta” etc. M as tal o bjeção p arte da prem issa de que para a
21.5; cf. Zacarias 9.9)
identificação de um a profecia seja fundam ental a presença de uma fór-
8 . 0 abandono pelos discípulos (Mateus 26.31; cf. Zacarias 13.7) etc.
mula introdutória. Acontece, porém , que M ateus não recorre a esse ex-
pediente em todos os casos. Isso se deduz de M ateus 27 .46 : “Por volta
Ao que tudo indica, e há fortes evidências para isso, o episódio do m ar
das três horas da tarde, Jesus bradou em alta voz: ‘Eloí, Eloí, lam a sa-
revolto é m ais um trecho do Antigo Testamento que o M essias cumpriu.
bactâni?’, que s ig n ifica ‘Meu Deus! Meu Deus! Por que m e aband onas-
A própria pergunta final dos discípulos os conduzia naturalm ente às E s-
te?’ ” . E m b o ra M ateu s não te n h a u sad o n en h u m a ex p ressã o que
crituras e à identidade de Jesus: “Quem é este que até os ventos e o m ar
apontasse para o cum prim ento de algum a profecia do Antigo Testam en-
lhe obedecem ?” (v. 27). Resposta: Ele é Deus.
to, sabem os que a frase proferida por Jesus encontra-se no salm o 22,
reconhecidam ente um a profecia m essiânica.
Tu nos respondes com temíveis feitos de justiça, ó Deus, nosso Sal-
Assim , precisam os ler João 14.28, Marcos 13.32, João 17.1, ICoríntios
vador, esperança de todos os confins da terra e dos mais distantes ma-
11.3 e 15.28 tendo em vista o ensinam ento bíblico da dupla natureza de
res. Tu que firmaste os montes pela tua força, pelo teu grande poder. Tu
Cristo, lem brando sem pre que não se pode dividir a pessoa de Jesus,
que acalmas o bramido dos mares, o bramido de suas ondas, e o tumul-
nem confundir suas naturezas. Ele age e fala por m eio de qualquer uma
to das nações (Salmos 65.5-7).
delas. Reconhecem os em Jesus seu estado ilim itado e lim itado, todo-
-sábio e em processo de aprendizado etc. Por isso, nenhum dos textos-
Ó S e n h o r , Deus dos Exércitos, quem é semelhante a ti? És poderoso,
-prova dos testem unhas de Jeová constitui um problem a para a doutrina
S en h o r, envolto em tua fidelidade. Tu dominas o revolto mar; quando se
da Trindade ou da divindade de Jesu s. E n tão, à luz da d ou trin a da
agigantam as suas ondas, tu as acalmas (Salmos 89.8,9).
encarnação, podem os interpretar corretam ente os textos a seguir:
O u t r o J e s u s C r is t o 189
188 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

João 14.28 João 17.1

A Bíblia diz a verdade: Jesus orava e precisava orar. Ele era hom em
Jesus disse a verdade: o Pai era realm ente m aior do que ele, pois
Jesus é “m enor que o Pai segundo a hum anidade” ( Credo atanasiano). verdadeiram ente. Ele não tinha apenas necessidades físicas e em ocio-

E ele não era só m enor que o Pai; na condição de hom em , o Senhor nais, m as tam bém espirituais. Ele era um hom em de oração, com o atesta

Jesus tam bém era m enor que os an jos (Hebreus 2 .6 -9 ), pois, em relação Hebreus 5.7: “D urante os seus dias de vida na terra, Jesus ofereceu o ra-

aos hum anos, os anjos são “m aiores em força e poder” (2Pedro 2 .11 ). ções e súplicas, em alta voz e com lágrim as, àquele que o podia salvar

Sendo m enor que os an jo s, Jesus podia dizer sem prejuízo para sua da m orte, sendo ouvido por causa da sua reverente subm issão”.

natureza divina que o Pai era m aior que ele. Geralm ente, quando os an titrin itário s usam João 17.1, costum am

No entanto, ele não disse apenas “o Pai é m aior do que eu”; tam bém acrescentar o seguinte argumento: com o Jesus orou ao Pai pedindo que

afirm ou: “Eu e o Pai som os um” (João 10.30), pois Jesus é “igual ao Pai fosse feita a vontade dele, não a sua (Lucas 22 .4 2), os dois não poderiam

segundo a divindade” {Credo atanasiano). Ele era “m enor” e “igual” ao ser a mesma pessoa ; se Jesus fosse Deus, não oraria a si mesmo. Esse argu-
m esm o tem po. E aqui reside algo fantástico: Jesus jam a is entraria em mento, porém, revela desconhecimento da doutrina trinitária, pois o Pai, o
co n tra d içã o. Ele p od eria a firm a r as duas co isa s, pois a m bas eram Filho e o Espírito Santo não são a m esm a pessoa. O Credo atanasiano afir-
verdadeiras: ele é realmente um com o Pai, pois é Deus; m as tam bém é ma: “E a fé católica consiste em venerar um só Deus na Trindade e a Trin-
m enor que o Pai, pois é hom em ; aliás, ele será para sem pre“igual” ao Pai e dade na unidade, sem confundir as pessoas e sem dividir a substância.
“m enor” que ele, pois Jesus ressuscitou corpoream ente; ele se uniu à sua Pois uma é a pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo”.
natureza hum ana para sem pre,“para nunca mais se separarem” (Os trinta A definição clássica da Trindade é: “Em Deus há três pessoas: Pai, Fi-
e nove artigos de religião, II). As duas naturezas foram “ inseparavelmente lho e Espírito Santo” (v. o cap. 4 ). A versão herética de que em Deus há
unidas num a só pessoa” {Confissão de f é de Westminster, V III, § 2). somente uma pessoa e que “o Pai, o Filho e o Espírito” são apenas modos
Na declaração “o Pai é m aior do que eu”, subentende-se a posição de de Jesus se m anifestar é defendida pelos u nicistas.10Desse m odo, não sen-
servo, de hum ilhação à qual Jesus se submeteu voluntariam ente, nada do a m esm a “pessoa”, não há im pedim ento para o Filho orar ao Pai.
tendo que ver com sua essência ou sua natureza divina (Filipenses 2.6-8;
Atos 8.33; 2Coríntios 8.9). 10 Apesar de não crerem na doutrina da Trindade, como os testemunhas de Jeová, os
unicistas vão ao extremo na defesa da divindade de Jesus. Alegam que ele é o Pai, o
Marcos 13.32 Filho e o Espírito Santo (não há três pessoas na Divindade, mas apenas uma). Essa
heresia, conhecida como patripassianismo, modalismo ou sabelianismo, foi rechaçada
Jesus disse a verdade: ele realmente não sabia o dia e a hora, assim
pela Igreja por volta do ano 260 d.C., sendo, porém, ressuscitada com ímpeto na
como os anjos não sabiam . M as, se ele dissesse que sabia, tam bém esta- reunião de um acampamento pentecostal em Arroyo Seco, próximo a Los Angeles,
ria falando a verdade. Afinal, ele age e fala por meio de qualquer das natu- Califórnia, EUA, em 1913, quando R. E. McAlister pregou um sermão afirmando que
rezas. Com relação à natureza divina, afirm a-se que nele estão “escondidos os apóstolos não batizavam em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, mas apenas
em nome de Jesus. Depois de ouvir tal pregação, John G. Scheppe meditou à noite
todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (Colossenses 2.3). As-
sobre essa mensagem e orou e, pela manhã, anunciou ter recebido uma “revelação”
sim , paradoxalmente, em Cristo há todo o conhecim ento (natureza divi- da parte de Deus sobre a verdade do batismo em nome de Jesus. A partir daí.difundiu-
na) e o conhecim ento em curso (natureza hum ana). Quem não tiver isso -se que as pessoas teriam de ser batizadas em nome de Jesus e que a doutrina da
em mente, ficará perdido em vãos argumentos. Trindade era antibíblica (v. M a t h e r ; Larry N i c h o l s , 2. ed., 2009, p. 370ss).
190 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s O u t r o J e s u s C r is t o 191

Na encarnação, Jesus participou de todas experiências hum anas, m e- aquele que, com o Pai e o Espírito Santo, vive e reina para sempre.
nos a do pecado (2Pedro 2.22). Como qualquer ser hum ano, ele precisava Portanto, pelos versículos precedentes a João 10.30, fica claro que,
de contato com o Pai (Mateus 4.4; João 4.34 ). Portanto, ele dialogou com o se o Pai e o Filho são fonte da vida, então Jesus foi além da “unidade
Pai sem deixar de participar da m esm a natureza divina, pois ele m esm o de propósito e pensamento” ao dizer “Eu e o Pai som os um”.
disse: “Eu e o Pai somos um” (João 10.30). Vale a pena lem brar que, por m ais que nos esforcem os, jam ais
conseguiremos ser a ressurreição, a verdade e a vida. Assim, deve-
João 10.30 — um parêntese
mos nos contentar com nossa “unidade de propósito e pensam en-
A objeção mais comum à expressão “Eu e o Pai som os um” é que ela to” para com Deus. Já Jesus Cristo, além de tudo o que temos (e
não significa que Jesus tenha a m esm a natureza do Pai, que am bos sejam num grau mais elevado e incom parável), possui “toda a plenitude
de fato um, m as que Jesus apenas frisava sua unidade de propósito e da divindade”12 (Colossenses 2.9).
pensam ento com o Pai. A base bíblica apresentada é João 17.11,21,22, em 2. Diante da expressão “Eu e o Pai som os um”, a reação dos judeus foi
que Jesus em oração pede que todos os seus discípulos sejam um, assim imediata: acusaram Jesus de blasfêmia, pois, sendo homem, fazia-se
como ele e o Pai são um. Para os testem unhas de Jeová, isso não significa Deus a si m esm o (João 10.33). Eles entenderam exatam ente o que
que os discípulos serão a m esm a pessoa ou possuirão a natureza divina. Jesus queria dizer com aquele “um”. Não faria sentido acusá-lo de
Mais uma vez, frisam os: Pai e Filho não são a m esm a pessoa. Quanto à blasfêm ia pelo simples fato de expressar com a palavra “um” uma
ideia de unidade de propósito e pensam ento, dizemos que ela está pre- “unidade de propósito e pensamento”.
sente em am bas as passagens. Todavia, segundo o contexto de João 10.30, A Tradução do Novo Mundo verte João 10.33 assim : “Nós te ape-
há muito mais em jogo do que sim plesm ente “unidade de propósito e drejam os, não por uma obra excelente, m as por blasfêm ia, sim, por-
pensamento”. Acompanhe os raciocínios seguintes.
que tu, em bora sejas um hom em , te fazes um deus”. A expressão
mal traduzida “te fazes um deus” tenta suavizar a força das pala-
1. Em João 10, Jesus fala diversas vezes de suas ovelhas. Em 10.28,
vras de Jesus, que evidentemente igualou-se ao Pai. Ademais, a acu-
diz que dá a essas ovelhas a “vida eterna”, e elas jam ais perecerão.
sação de blasfêm ia só faria sentido para os judeus se Jesus se fizesse
Pergunta-se: “Poderia uma criatura, por m ais im portante que fos-
igual a Deus, o Pai, e não a “um deus”, term o m ais do que genérico
se, conceder a outras criaturas a vida eterna e a indestrutibilida-
nessa péssim a tradução.
de? Não é som ente Deus, o Eterno, a fonte da vida? (Salm os 36.9;
É im portante ressaltar que em outra ocasião Jesus falou aos
Atos 1 7 .2 7 ,2 8 )”. Contudo, Jesus disse a respeito de si mesm o: “Eu
judeus, dizendo: “Meu Pai tem estado trabalhando até agora e eu
sou a ressurreição e a vida” (João 11.25). Disse m ais: “Eu sou o
estou trabalhando” (João 5.17, NM). Diante disso, alguns dos ju -
cam inho, a verdade e a vida” (João 14.6). Seria pedantism o um ar-
deus queriam m atá-lo, e uma das razões apresentadas foi a de que
canjo, um a criatura, ainda que fosse “o segundo m aior persona-
ele chamava Deus de Pai,“fazendo-se igual a Deus” (João 5 .1 8 , NM).
gem do universo”, 11 afirm ar tudo isso. Não o seria, porém , para

12 A Tradução do Novo Mundo verte Colossenses 2.9 da seguinte maneira: “Porque é


11 Raciocínios à base das Escrituras, p. 210. nele que mora corporalmente toda a plenitude da qualidade divina”.
192 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s O u t r o J e s u s C r is t o 193

Percebe-se, portanto, que em am bas as passagens (João 10.29-33 e lCoríntios 15.28


5.17 ,18) as declarações de Jesus sempre são entendidas como afir-
0 apóstolo Paulo, que acreditava na divindade absoluta de Jesus e na
m ações de igualdade com o Pai, ou seja, ele afirm a fazer aquilo de
sua igualdade com o Pai (v. o cap. 4 ), disse a verdade: “ [...] o próprio Filho
que apenas o Ser Supremo é capaz (cf. Marcos 2.5-11). Assim, se Je-
se sujeitará àq u de que todas as coisas lhe sujeitou, a fim de que Deus seja
sus não fosse tudo aquilo que afirm ou ser, direta ou indiretam en-
tudo em todos”.
te, não passaria de um impostor, mentiroso e megalomaníaco.
Uma vez que ele é igual ao Pai na divindade e m enor que o Pai na

ICoríntios 11.3 hum anidade, m esm o que seja no corpo glorificado e exaltado, não há
inconveniência em adm itir essa leitura da “subordinação” do Filho em
O apóstolo Paulo disse a verdade: o Pai é realm ente o cabeça do Filho.
relação ao Pai. A encarnação não foi um evento passageiro. Entretanto...
Essa é uma condição real, imposta pela encarnação. Já vim os que Jesus
será para sempre “igual” ao Pai e “m enor” que ele, pois Jesus ressuscitou
1. Essa “subordinação” não exclui o Filho da divindade e da igual-
corpoream ente (v. m ais adiante sobre a ressurreição corpórea de Jesus); dade com o Pai (João 10.30). O próprio Pai disse do Filho: “O teu
ele se uniu à sua natureza hum ana para sempre. Ele será eternamente o trono, ó Deus ” (Hebreus 1.8; v. o cap. 3 ); e: “Tu, ó Senhor [...] és o
Deus-hom em (IT im óteo 2.5). m esm o” (Hebreus 1.10,12; v. 13.8). Ele é e sem pre será Deus (João
Os testemunhas de Jeová usam essa passagem para dizer que Jesus é 1.1; ljo ã o 5.2 0).
“inferior” ao Pai, mesm o após a ressurreição. Em primeiro lugar, não está 2. Essa “subordinação” não exclui o Filho do dom ínio universal.
em questão nenhuma espécie de inferioridade, muito menos a inferiori- Jesus, sendo Deus, não reinará por tempo determinado e limitado.
dade de ser, de natureza, de essência, pois nem m esm o os testem unhas A Bíblia afirm a de forma clara e inequívoca que Jesus reinará para
de Jeová diriam que a mulher é inferior ao homem em natureza pelo fato de todo o sempre. O próprio Pai confirm ou isso: “O teu trono, ó Deus,
Paulo dizer que o homem é o cabeça da mulher. O próprio apóstolo afirma subsiste para todo o sempre” {Hebreus 1.8; v.Apocalipse 5.13; 11.15;
que, em Cristo, homens e mulheres são iguais (Gálatas 3.28). A igualdade cf. Isaías 9.6,7; Lucas 1.33).
de natureza, porém, admite uma relação que pode im plicar certa hierarquia Os testem unhas de Jeová argum entam que Cristo reinará para
funcional. Por isso, no arranjo familiar, o hom em é o cabeça. A m ulher sempre no sentido de que os resultados obtidos p or seu reinado per-
assum iria a função de auxiliadora. Isso está claro no relato da Criação, durarão eternamente sob a administração do Pai.11 Tal explicação
quando o próprio Deus afirm a: “Farei para ele alguém que o auxilie e lhe não procede, pois os textos supracitados afirm am que o próprio
corresponda” (Gênesis 2.18). Deus estabeleceu essa relação funcional, sem, Cristo reinará para sempre. O que o anjo Gabriel disse a M aria ain-
contudo, fazer do homem um ser por natureza superior à mulher. Eles são da é válido: “Não haverá fim do seu Reino”. E em Apocalipse ou-
iguais, mas exercem funções diferentes no arranjo familiar. vem -se todas as criaturas afirm ar que o poderio de Cristo será,
À luz da doutrina da encarnação, só podemos afirm ar que Jesus é igual assim como o do Pai,“para todo o sempre” (5 .13). Como disse Agos-
ao Pai na divindade e m enor que o Pai na sua humanidade. Portanto, não tinho: “Não devemos aceitar que Cristo, ao entregar o Reino a Deus
há incoerência teológica em afirm ar que o Pai é e sem pre será o “cabeça” Pai, dele ficará privado” (1994, livro I, cap. 8 ,1 6 ).
do Filho, assim como tam bém é e sempre será verdade o que o Filho disse:
“Eu e o Pai som os um” (João 10.30). 13 A Sentinela, 15/10/2000, p. 20.
194 T e s t e m u n h a s d e J e o v A: e x p o s i ç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s O u t r o J e s u s C r is t o 195

3. Essa “subordinação” não exclui o Filho de ser “tudo em todos”. 1. Em bora não haja referência explícita ao dom ínio do Espírito Santo,
Mesmo que a referência “Deus será tudo em todos” seja dirigida podemos afirm ar que ele, com o o Pai e o Filho, será tudo em todos,
ao Pai em ICoríntios 15.28, outras passagens bíblicas atribuem o pois, afinal, o Espírito Santo é Deus (Atos 5 .3,4), e só Deus pode ser
m esm o ao Fillho: “Cristo é todas as coisas e em todos” ( NM), o que “tudo em todos” (v. o cap. 6 para uma consideração da divindade
atesta sua igualdade com o Pai. Essa ideia de dom ínio sobre tudo e do Espírito Santo).
todos é constantem ente aplicada ao próprio Jesus e pode ver vista 2. Não se pode falar de Reino de Deus e deixar de lado o Pai, o Filho e
nas seguintes passagens bíblicas (NM). o Espírito Santo. O apóstolo Paulo afirm a que o Reino de Deus é
“justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rom anos 14.17).
• João 1.3 — Todas as coisas foram feitas por interm édio dele. 3. A falta de referência explícita a um a pessoa da Trindade não sig-
• Filipenses 2.10,11 — •Todo joelho se dobrará diante dele e toda nifica que a passagem não se refira a ela. Por exemplo, em Mateus
língua o confessará como Senhor. 12.31,32 Jesus afirm a que a blasfêm ia contra o Espírito Santo não
• Colossenses 1.16,17 — Nele foram criadas todas as coisas; todas será perdoada. Mas Jesus não m encionou o Pai. Ora, nem por isso
as coisas foram criadas por ele e para ele; ele é antes de todas as alguém deve se sentir livre para blasfem ar contra o Pai.
coisas, e nele tudo subsiste.
• Colossenses 2.3 — Todos os tesouros da sabedoria e do conheci- Além dessas razões que nos levam a crer que a Trindade será “tudo em
mento estão escondidos nele. todos”, e não exclusivamente o Pai, apresentam os esta: “Há diferentes ti-
• Colossenses 2.9 — Toda a plenitude da divindade habita nele. pos de dons, m as o Espírito é o mesmo. Há diferentes tipos de m inistérios,
• Hebreus 1.3 — Ele sustenta todas as coisas pela palavra do seu m as o Senhor é o mesmo. Há diferentes formas de atuação, m as é o mesmo
poder. Deus quem efetua tudo em todos” ( ICoríntios 12.4-6).
• Hebreus 1.6 — Todos os anjos o adoram. Muitos com entaristas bíblicos, quando tratam da “subordinação” do
Filho, tendem a focar apenas o aspecto funcional da relação entre o Pai e
É interessante notar tam bém que, de acordo com Filipenses 3.21, Jesus o Filho, afirm ando que a subordinação diz respeito som ente ao ofício ou
tem o poder de “colocar todas as coisas debaixo do seu domínio”. Em à função, não à pessoa, e que a referência é à obra de Cristo com o Redentor,
João 17.10, ele afirm a que tudo o que é dele é do Pai, e tudo o que é do Pai Mediador e com o Rei no Reino de Deus (D o u g l a s , 1994, p. 1213; B r u c e ,
é dele. Isso se dá porque Pai, Filho e Espírito Santo agem juntos (em bora 2009, p. 1921). Entretanto, Paulo é muito específico, ao dizer: “o próprio
tenham os mais referências entre o Filho e o Pai). Filho se sujeitará” (a referência é à “pessoa” do Filho, não ao seu ofício).
Diante de tudo isso e de Hebreus 13.8, que afirm a ser Jesus o m esm o Assim, para interpretar essa passagem de m odo adequado, é m ister levar
ontem, hoje e para sempre, afirm am os que ele será eternam ente, por ser em conta a doutrina da encarnação. A linha de raciocínio é bem simples:
Deus assim como o Pai e o Espírito Santo, “tudo em todos”.
Alguém talvez queira levantar a seguinte questão: “Em qual parte das 1. O Filho é igual ao Pai quanto à divindade (João 1.1; João 10.30;
Escrituras se diz que o Espírito Santo será tudo em todos? A m enção ao ljo ã o 5.20).
Pai e ao Filho existe, mas não há nenhum a que trate do Espírito Santo”. 2. Na encarnação, ele continuou igual ao Pai quanto à divindade, m as
Para responder a isso, propomos as seguintes explicações: m enor que o Pai quanto à hum anidade (João 10.30; João 14.28).
196 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s O u t r o J e s u s C r is t o 197

3. Depois da ressurreição, o Filho continuou igual ao Pai quanto à num corpo humano, quer num corpo espiritual, e ainda assim conservará
divindade e m enor que o Pai quanto à hum anidade, m esm o que sua identidade pessoal, tendo a mesma personalidade e memórias que
essa hum anidade fosse glorificada e exaltada; este é o estado atual tinha quando morreu.15
e eterno do Deus-hom em (IT im óteo 2.5).
4. As palavras de Paulo em ICoríntios 15.28 são ditas na perspectiva Em suma, para os testem unhas de Jeová o corpo não ressuscita. 0 que
do hom em Jesus Cristo (ITim óteo 2.5). acontece é que Jeová guarda na m em ória a personalidade de cada pessoa
5. Se Jesus é m enor que o Pai quanto à hum anidade antes e depois da que será ressuscitada, ou seja, recriada ou restaurada. Na ressurreição,
ressurreição, as palavras de Paulo quanto à subordinação não aten- Jeová coloca o “padrão de vida da pessoa” — sua personalidade e seus
tam contra a doutrina da Trindade e da igualdade ontológica do traços característicos — num novo corpo especialm ente criado para essa
Filho e do Pai. ocasião. Para os que vão para o céu, os 144 mil, Jeová lhes dá um corpo
6 . Logo, pode-se afirm ar que o Filho se sujeitará ao Pai sem que isso espiritual, que é im aterial e invisível; para os que viverão aqui na terra,
detraia algo de sua natureza divina, que é da m esm a essência ou Jeová criará outro corpo m aterial, idêntico em aparência ao anterior. Essa
substância que a do Pai. é, para os testem unhas de Jeová, a ressurreição dos mortos.
Outra particularidade da doutrina dos testemunhas de Jeová acerca da
A RESSURREIÇÃO DE JESUS E OS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ
ressurreição: não será geral; nem todos ressuscitarão. Ao morrer, as pes-
A palavra “ressu rreição ” é u sada tanto por cristãos quanto pelos soas terão um destes três destinos: o céu, o hades ou a geena.16Acompanhe:
testem unhas de Jeová. No entanto, am bos entendem o term o de m odo
muito diferente. Os cristãos professam , nos dizeres do Credo apostólico, 1. Céu — Para onde irão apenas 144 m il pessoas. Assim que um in-
a “ressurreição da carne” ou do “corpo”. Para os testem unhas de Jeová, tegrante desse grupo m orre, vai diretam ente para o céu, já com
contudo, a ressurreição não pode ser do corpo, pois este, entregue à seu corpo espiritual. (V. m ais sobre os 144 m il no cap. 7.)
m orte, não pode m ais retornar, um a vez que se decom pôs e voltou ao 2. Hades ( sheol) — Significa a “sepultura com um da hum anidade”
solo. Dessa form a, ou “túmulo com um terrestre da hum anidade m orta”, para onde
vão os que terão a oportunidade de ressuscitar. Caso se m ostrem
[...] Deus ressuscita não o mesmo corpo, mas a mesma pessoa que
dignos, poderão viver para sem pre na terra. Para o hades, vão os
morreu. Às pessoas que vão ao céu, ele fornece um novo corpo espiritual.
justos (os que serviram fielm ente a Jeová) e os injustos (os que
Àquelas que são ressuscitadas para viver na terra ele fornece um novo
não tiveram a oportunidade de conhecer a m ensagem de Jeová e
corpo físico.’4
praticá-la, pois m orreram na ignorância).
3. Geena — Ir para a geena significa não ressuscitar ou ser d estruí-
A ressurreição envolve a reativação do padrão de vida da pessoa,
do. Isso diz respeito aos iníquos. Entre estes, encon tram -se Adão
padrão de vida este que Deus guarda em sua memória. Segundo a
vontade de Deus para com o indivíduo, a pessoa será restaurada, quer
15 Raciocínios à base das Escrituras, p. 324.
/
16 A Sentinela, Ia/10 1982, p. 26-27. V. tb. o verbete “ re ss u rre iç ã o ” da obra Estudo pers-
14 Poderá viver para sempre no paraíso na terra, p. 174. picaz das Escrituras, v. 3.
198 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s O u t r o J e s u s C r is t o 199

e Eva, Judas Iscariotes, os fariseus e outros que se recu saram A frase “o hom em terrestre, Jesus de Nazaré, não m ais existe” é uma

obstinadam ente a abraçar Jeová e sua m ensagem , principalm ente negação tácita de sua ressurreição corpórea. Se ele não ressuscitou fisica-
os apóstatas — os que deixaram de ser testem unhas de Jeová e m ente, a única saída é afirm ar que ressuscitou em espírito, ou seja, num
praticam outra religião ou denunciam os testem unhas de Jeová corpo espiritual, sem relação com o anterior. Para confirm ar esse racio-
com o um grupo herético. Satanás e seus dem ônios tam bém se- cínio, os testem unhas de Jeová apontam para o fato de M aria Madalena,

rão lançados nela depois do M ilênio. A geena é, portanto, sím bo - os dois discípulos de Em aús e os sete reunidos no m ar de Tiberíades não

lo de “destruição eterna”. Os testem unhas de Jeová não creem na identificarem Jesus prontam ente (João 2 0.11 -16 ; 2 1.1-14; Lucas 24.15-

doutrina bíblica do torm ento eterno, m as no aniquilacionism o. 18). Além dessas passagens, os testem unhas de Jeová recorrem a 1Pedro

(Para m ais detalhes, v. o cap. 8.) 3.18 e ICoríntios 15.45,50. Na prim eira, afirm a-se que Jesus foi m orto na
carne, mas “vivificado no espírito”.E m ICoríntios 1 5.4 5 ,0 apóstolo Paulo

Essa herança doutrinária deixada pelo fundador dos testemunhas de afirm a que Jesus “tornou-se espírito vivificante”; e, em ICoríntios 15.50,

Jeová, Charles Taze Russell, está alicerçada na negação de que os hum anos ele diz que “carne e sangue não podem herdar o Reino de Deus”.

tenham um a alm a ou esp írito que sobreviva à m orte do corpo físico. Entretanto, com o a seita explica o fato de Jesus ter aparecido aos
Assim, na morte, o corpo perde totalmente a im portância. Sua ressurreição discípulos? Com que corpo ele teria se com unicado com eles? Veja a
seria, portanto, desnecessária. explicação:

É fundando-se nesse raciocínio que os testem unhas de Jeová negam a


Mas, visto que foi possível o apóstolo Tomé pôr sua mão no orifício
ressurreição corpórea de Jesus. Quando ele m orreu, a seita crê que Jesus
no lado de Jesus, não mostra isso que Jesus foi ressuscitado no mesmo
entrou num estado de inexistência enquanto esteve no sepulcro. Sua
corpo que foi pregado na estaca? Não, pois Jesus simplesmente se m ate-
ressurreição significou que Jeová teria transferido para um novo corpo
rializou, ou assumiu um corpo carnal, como os anjos haviam feito no
a personalidade daquele que era Jesus Cristo, só que dessa vez era um
passado. A fim de convencer Tomé de quem Ele era, Ele usou um corpo
corpo espiritual; com isso, aquele Jesus deixou de existir. Veja o que afirm a
com marcas de ferim entos. Tinha a aparência, ou parecia ser plenamen-
uma de suas publicações:
te um humano, capaz de comer e de beber, como haviam feito os anjos
que Abraão certa vez recepcionou — Gênesis 18:8; Hebreus 13:2.
O homem terrestre, Jesus de Nazaré, não mais existe. Foi morto em 33
Embora aparecesse a Tomé num corpo similar ao em que fora mor-
E.C. Mas, por ocasião de seu batismo, três anos e meio antes, ocorrera uma
to, Ele assumiu tam bém corpos diferentes a o aparecer a Seus seguidores.
mudança. Ungido pelo espírito santo de Deus, Jesus de Nazaré tornou-se
De modo que Maria Madalena de início pensou que Jesus fosse um jar-
Jesus Cristo — o ungido, o prometido Messias. E, como tal, foi ressuscitado
dineiro. Em outras ocasiões seus discípulos não o reconheceram logo.
por Deus para a vida celeste no terceiro dia após sua morte. Assim, embora
Nesses casos o que serviu para identificá-lo não foi a sua aparência pes-
o hom em Jesus de N azaré esteja m orto, Jesus Cristo está vivo. Assim,
soal, mas foi alguma palavra ou ação que eles reconheceram. — João
importante como seja conhecer quem Jesus de Nazaré era, é ainda mais
20.14-16; 21:6,7; Lucas 24:30,31.18
importante conhecer quem Jesus Cristo é. — Atos 10:37-43.17

17 Despertai!, 22/12/1984, p. 20. 18 Poderá viver para sempre no paraíso na terra, p. 174.
200 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s O u t r o J e s u s C r is t o 201

Os testem unhas de Jeová querem nos levar a crer que Jesus trocou de os m esm os corpos anteriorm ente sepultados estavam presentes para
corpo como alguém troca de roupa. (Mais adiante, refutaremos essas ver- dar testem unho do grande fenôm eno que é a ressurreição.
sões equivocadas sobre a ressurreição corpórea de Jesus.) Convém frisar, todavia, que essas ressurreições são diferentes da res-
surreição de Jesus. Em que sentido? Depois de sua ressurreição, o filho da
O TESTEMUNHO DA BlBLIA SOBRE A RESSURREIÇÃO DE JESUS
viúva de Sarepta, a filha de Jairo e Lázaro continuavam sujeitos à morte.
Antes de provar à luz da Bíblia a ressurreição física de Jesus, convém De acordo com C. S. Lewis, deve ter sido um bocado duro para esses três
m ostrar o erro em que os testem unhas de Jeová incorrem em sua visão ressuscitados serem trazidos de volta à vida e ter de passar pela m orte de
acerca da ressurreição de modo geral. novo (apud S t o t t , 1997, p. 81)! O corpo de Jesus, ao contrário, era um
corpo glorificado, revestido de im ortalidade. Por essa razão, ele é cham a-
O mesmo corpo é ressuscitado
do tam bém “o prim ogênito dentre os m ortos” (Colossenses 1.18; Apoca-
Afirm am os, ao contrário dos testem unhas de Jeová, que o ser hum ano lipse 1.5; Atos 2 6 .2 3 ), pois, em bora não tenha sido o p rim eiro a ser
possui natureza im aterial (alm a ou espírito), e esta sobrevive à m orte do ressuscitado, foi o prim eiro no sentido de que sua ressurreição elevou-o
corpo. Enquanto a m orte m arca a sep aração da alm a e do corpo, a “a um novo nível de existência, em que ele já não era m ortal, m as estava
ressurreição m arca o reencontro. Em bora seja possível falar da alm a e do vivo para todo o sempre’ ” (ibid.). Em razão disso, podem os afirm ar que
corpo separadam ente, cada qual não é com pleto em si mesmo. A alm a era o m esm o corpo num sentido e não era o m esm o em outro sentido,
destituída do corpo é lim itada; um a vez ausente dele, suas atividades pois anteriorm ente seu corpo estava sujeito à m orte, às vicissitudes da
lim itam -se aos atos de pensar e sentir. Da m esm a form a, o corpo sem a vida; era um corpo hum ilhado. Após a ressurreição, porém , seu corpo
alm a, sem seu princípio de vida, nada é. Mas juntos, corpo e alm a, formam passou a ser incorruptível, im ortal, glorificado, exaltado. Assim serão tam -
o ser hum ano completo (B e d ò y e r e . N o va e n c ic l o pé d ia c a t ó l ic a , 1969, p. 695, bém os corpos dos que forem ressuscitados em Cristo (IC oríntios 15.35-
v. 7 ) .( V .o c a p .8 .) 5 4 ) . O S e n h o r Jesu s “tr a n s fo r m a rá n o sso s co rp o s h u m ilh a d o s,
A ressurreição, de acordo com a Bíblia, m arca o retorno da alm a ao tornando-os sem elhantes ao seu corpo glorioso” (Filipenses 3.21).
corpo. Em Mateus 27.52, por exemplo, lê-se que, por ocasião da m orte de
Jesus, houve um milagre: “ [...] os corpos dos santos que tinham ador- A ressurreição é geral
mecido foram levantados” ( NM), ou seja, “ressuscitados”. Essa distinção entre “injusto” (que terá segunda oportunidade) e “iní-
Para deixar bem claro que é o m esm o corpo que será ressuscitado, quo” (que recebeu sentença de aniquilam ento) não é bíblica. A Bíblia é
basta m encionar as diversas ressurreições relatadas na Bíblia. Temos, por taxativa: todos ressuscitarão — justos e injustos (Atos 24.15; João 5.28,29).
exemplo, a ressurreição do filho da viúva de Sarepta ( IReis 17.21,22), da Esses “injustos” ou “iníquos” (palavra sinônim as) foram os que praticaram
filha de Jairo (Lucas 8 .53 -55), de Lázaro, amigo de Jesus (João 11.17-44) o mal. É o que afirma João 5.29: os que fizeram o bem ressuscitarão para a
etc. Em todos esses casos, a ressurreição envolveu o corpo que havia sido vida, e os que praticaram o mal, para uma ressurreição de julgamento, ou
sepultado. Não lhes foi dado outro corpo, em que se pôs seu anterior seja, serão condenados. Isso lembra Mateus 25.31-46, em que Jesus afirma
“padrão de vida”. No caso de Lázaro, por exemplo, seu corpo foi desen- que separará as pessoas em duas classes apenas: as ovelhas (os justos), que
faixado. Não era outro; era o m esm o corpo. De todos os que estiveram herdarão a vida eterna (ressurreição de vida), e os bodes (os injustos),
m ortos e voltaram a viver, diz-se que ressuscitaram , e, em todos os casos, que receberão o castigo eterno (ressurreição de julgamento).
202 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s O u t r o J e s u s C r is t o 203

0 Corpo Governante interpreta João 5.29 desta m aneira: depois da m esm o corpo, em bora não deva ser negado, e isso é evidente, que aquele

batalha de Armagedom, terá início na terra o reino m ilenar de Cristo. No corpo tinha outras propriedades não vistas anteriorm ente, com o veremos

decorrer do Milênio, os sobreviventes — somente os testemunhas de Jeová m ais adiante.

— reconstruirão a terra, transform ando-a num paraíso. À medida que Apresentamos as seguintes razões para confirm ar a ressurreição física

isso acontece, ocorrerá a ressurreição dos m ortos. Prim eiram ente, serão de Jesus:

os justos; em seguida, os injustos. Estes aprenderão no paraíso terrestre a


am ar a Jeová. No final do Milênio, quando todos tiverem sido aperfei- 1. O próprio Jesus falou que ressuscitaria corpoream ente. Em João

çoados por Jesus e pelos 144 m il, serão subm etidos a uma últim a prova: 2.1 8-22 , isso fica mais que evidente. Diante dos judeus que lhe pe-

Satanás será solto e testará a hum anidade levada à perfeição, nas m esm as dem um sinal para confirm ar sua autoridade de expulsar os cam -
condições em que se encontravam Adão e Eva antes do pecado. Nesse bistas do templo, Jesus disse: “Demoli este templo, e em três dias o

mom ento então João 5.29 terá cumprim ento. De que modo? Os que pas- levantarei” (v. 19, NM). Seus ouvintes acharam que ele falava do

sarem pela prova final dem onstrarão que sua ressurreição foi de vida, e templo de Jerusalém ; contudo, o versículo 21 diz que ele “estava
os desencam inhados por Satanás dem onstrarão que sua ressurreição foi falando do templo do seu corpo". Assim, o corpo de Jesus, que seria

de julgam ento, sendo depois aniquilados para sempre com o D iabo.19 demolido, tam bém seria reerguido (ressuscitado). Sua ressurrei-
Ora, se essa interpretação fosse válida, o texto de João 5.29 deveria ser ção corpórea seria, portanto, a prova definitiva de sua autoridade
lido com os verbos no futuro: “Os que fizerem boas coisas, para uma divina, pois ele m esm o declarou: “Eu o levantarei”. A Bíblia tam -
ressurreição de vida, os que praticarem coisas ruins, para uma ressurreição bém apresenta a ressurreição de Jesus com o obra do Pai (Atos 2.24;
de julgam ento”. M as os verbos estão no passado (“fizeram”), e a res- ICoríntios 6 .14). Se som ente Deus pode ressuscitar, e se Jesus dis-
surreição relaciona-se com o que fizeram antes de ser ressuscitados, e se que ele m esm o levantaria seu corpo, fica atestada sua plena di-
não depois da ressurreição. Assim, quem fez o bem receberá a prometida vindade, pois afirm ou fazer o que som ente Deus poderia realizar.
vida eterna em Cristo (João 3 .16,36). Os que praticaram o m al (que inclui, E ele não poderia fazer isso se estivessse num estado de inexistên-
sobretudo, não crer naquele que foi enviado pelo Pai para a nossa salvação) cia ou inconsciência, com o ensinam os testem unhas de Jeová.
serão lançados no lago de fogo e enxofre, na geena, ou seja, no inferno, 2. O testem unho do apóstolo Paulo: “Pois há um só Deus e um só
bem longe de Deus, onde serão atormentados pelos séculos dos séculos mediador entre Deus e os hom ens: o hom em Cristo Jesus” (1 Tim ó-
(Apocalipse 2 0 .1 0-1 5). (V. o cap. 8 para m ais detalhes acerca da doutrina teo 2.5). Essa declaração de fé testem unha a crença generalizada
bíblica da condenação eterna.) da ressurreição corpórea de Jesus na comunidade cristã prim iti-
va, já que esse registro ocorreu cerca de trinta anos depois que o
Jesus ressuscitou fisicamente
túmulo foi encontrado vazio.

Segundo as Escritu ras, a ressurreição de Jesus foi física, ou seja, ele 3. Nos dias de Jesus, era comum a crença (baseada nas Escrituras)

ressuscitou com o m esm o corpo. Mesmo sendo glorificado, ainda era o de que, quando alguém m orresse, seu corpo ia para a sepultura, e
sua alm a (ou espírito) para o sheol ou hades (sendo o prim eiro

19 Raciocínios à base das Escrituras, p. 328. V. tb. Poderá viver para sempre no term o hebraico, e o segundo, grego; am bos apontam para o “m un-
paraíso na terra, p. 172-173, e Estudo perspicaz das Escrituras, v. 3, p. 435-436. do” ou “h a bitaçã o dos m o rto s” ). O texto s de Salm os 1 6.9,10 ,
204 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s O u t r o J e s u s C r is t o 205

com parados com a passagem correspondente de Atos 2 .2 5 -3 1 , morrido, nem estaria tentando agora provar sua ressurreição física dentre
m ostram que foi isso o que teria ocorrido com Jesus .Assim, quando os m o rtos. A ssu m iram um corp o, porque são in co rp óreo s. Jesu s, ao
m orreu, seu corpo foi para a sepultura (sem sofrer corrupção), contrário,“tornou-se carne e viveu entre nós” (João 14.6); nasceu de uma
enquanto sua alma/espírito foi para o “mundo dos m ortos”.20 Quan- virgem (Mateus 1.23); era verdadeiramente hum ano (2João 7). Os anjos
do, porém , ao terceiro dia, seu corpo foi novamente unido à sua não passaram por esse processo.
natureza espiritual, ele ressuscitou. Que se tratava do m esm o corpo, Na real condição de hum ano, o Senhor Jesus foi até a cruz e, voluntaria-
fica evidente pelo relato de seu encontro com os discípulos. Jesus mente, entregou-se por nós. Sofreu no corpo e na alm a, ou seja, integral-
lhes disse: “Vejam as m inhas mãos e os m eus pés. Sou eu m esmo! mente. Mas a m orte não foi capaz de detê-lo. Ele ressuscitou. E, a fim de
Toquem -m e e vejam ; um espírito não tem carne nem ossos, como provar que era ele m esm o, mostrou suas feridas, espalhadas pelo corpo.
vocês estão vendo que eu tenho” (Lucas 24.38,39). Naquela ocasião, Se aquelas feridas eram chagas forjadas, fabricadas, então aquele que disse
alguém estava ausente: Tomé. Quando soube do ocorrido, duvidou. “Eu sou a verdade” estava m entindo deliberadam ente. 0 único modo de
Jesus então lhe apareceu e o incentivou a tocar suas feridas (João evitar cair nessa heresia é acreditar no que Jesus disse: “Sou eu mesm o!
20.27). Comprovando tratar-se realmente do Mestre, ele creu. Toquem-me e vejam ; um espírito não tem carne nem ossos, como vocês
estão vendo que eu tenho” (Lucas 24.39 ).
Os testem unhas de Jeová, com o já vim os, afirm am que Jesus se m a-
O corpo glorificado
terializou a fim de convencer seus discípulos de que ele havia realm ente
ressu scitad o , do m esm o m odo qu e a n jo s haviam se m aterializado Em bora a Bíblia não fale muito sobre a natureza do corpo ressurreto
(G ênesis 19 .1-3). Ora, se aceitarm os tal raciocín io, serem os conduzi- de Jesus, deduz-se que tinha propriedades que o anterior não apresenta-
dos inevitavelm ente a um a co n clu são indevida: a de que Jesu s, ao ra, como não estar sujeito às leis naturais (Jesus entrava em lugares total-
m aterializar-se, com eteu um engodo, pois não só produziu um corpo mente fechados — João 20 .1 9,2 6); o corpo ressurreto pode alim entar-se,
físico, m as, a fim de convencer seus discípulos, forjou ferim entos que nun- se assim desejar (com o Jesus fez com os discípulos — Lucas 24.41-43;
ca existiram naquele corpo. Acreditar e ensinar isso acerca de Jesus é, sem Atos 10.41), em bora não necessite do alim ento físico para se m anter etc.
dúvida, grande afronta àquele que disse: “Eu sou a verdade” (João 14.6). Em suma, o corpo ressurreto é capaz de fazer tudo o que o corpo físico
De nada adiantará os testem unhas de Jeová contra-argum entarem pode realizar (ainda que lhe seja facultativo). Outras diferenças: o corpo
afirm ando que a simples m aterialização não fez dos anjos seres m entiro- físico é corruptível, nasce em desonra (que pode se referir ao pecado), é
sos, pois o contexto é radicalm ente distinto. Nenhum daqueles anjos havia fraco (lim itado), ao passo que o corpo ressurreto é incorruptível, glorio-
so e poderoso (IC oríntios 15.40-43).

P o r q ue Jesu s nã o f o i r e c o n h e c id o po r s e u s d is c ípu l o s
20 Há aqueles para quem se trata aqui do “inferno” de tormento, pois defendem a hipótese
de que a ida de Jesus ao inferno objetivou proclamar sua vitória sobre os domínios
“Mas”, perguntam alguns, “se Jesus ressuscitou fisicam ente, por que
infernais. Outros entendem que Jesus foi “pregar aos espíritos” em prisão (entendendo-
-se por “pregar” a proclamação do evangelho), conforme IPedro 3.18-20; estes seriam Maria Madalena, os discípulos de Em aús e outros não o reconheceram
os que estavam no lado bom do hades, ou então os espíritos dos que não deram ouvidos tão prontamente?”. Para resolver essa questão, seguem -se as seguintes
à pregação de Noé.
considerações:
206 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s O u t r o J e s u s C r is t o 207

Maria Madalena (João 20.11-18) Maria olhava fixam ente, sim , para dentro do túmulo, quando, de repente,
observou dois anjos (João 20.11,12). Após dizer aos anjos que chorava,
É preciso que sejam levados em conta quatro fatores que dificultaram
pois não sabia onde haviam posto Jesus, o relato diz: “Nisso ela se voltou e
o reconhecim ento imediato de Jesus por Maria, m esm o que ele estivesse
viu Jesus ali, em pé, m as não o reconheceu” (João 20.14). Daí o texto exibe
próxim o a ela.
um a conversa entabulada entre os dois, m as Maria não olhava para Jesus.
Seu primeiro olhar foi apenas de relance; então ela volta novamente a olhar
1. Geográfico. Jesus foi sepultado num jardim (João 19.41), e, segundo
o túmulo. Na sequência, Jesus exclama “M aria!”; então, segundo o versículo
um a publicação dos testemunhas de Jeová (e a informação é verídi-
16 ( NM), ela dá “meia-volta”, dirigindo-se a Jesus e cham ando-o Mestre.
ca), “os jardins mencionados na Bíblia eram bastante diferentes dos
Ela então pode ver que era ele m esmo em carne e osso.
costumeiros jardins no Ocidente. Muitos deles eram mais da natu-
reza de um parque, com diversas espécies de árvores”.21 Os discípulos de Emaús (Lucas 24.13-35)
2. Tempo. 0 texto de João 20.1 narra que M aria foi ao túmulo “bem
cedo” ou de madrugada, “enquanto ainda estava escuro” ( NM). Esse caso é diferente do anterior, pois nenhum daqueles fatores estava

3. Incredulidade. Ao ver que o túmulo estava vazio, a prim eira coisa em jogo, com exceção da incredulidade. No entanto, essa não foi a razão

que M aria pensou foi que houvessem roubado o corpo de Jesus que dificultou o reconhecim ento de Jesus por parte dos discípulos de

(João 20 .2,1 3,1 5), não que ele houvesse ressuscitado. Isso evidencia Em aús. O apóstolo João deixa claro que o problema não estava no corpo

que nem ela nem os discípulos criam na ressurreição do Mestre, de Jesus ou na sua aparência, m as nos olhos dos discípulos de Em aús. Diz

pois, segundo João 20.9, ainda “não discerniam a escritura, de que a narrativa que “os olhos deles foram impedidos de reconhecê-lo” (Lucas

ele tinha de ser levantado dentre os m ortos” {NM). 24.16), e logo depois “os olhos foram abertos e o reconheceram ” (24.31).

4. Emocional. Maria estava chorando; ela estava abalada em ocional- Por que Deus fez isso? Não é possível ter certeza, m as talvez a passagem

mente (João 20.11,12,1 5). de 2Reis 6.8 -1 8 lance luz sobre essa questão.
O texto narra que um rei assírio enviou tropas para prender o profe-

Unindo, portanto, esses fatores, não espanta o fato de M aria olhar para ta Eliseu. Quando seu ajudante viu que as tropas haviam cercado a c i-

Jesus e não o reconhecer imediatamente, além de o confundir com u m “jardi- dade, ficou am edrontado. Eliseu disse ao pupilo que não tem esse: “ [...]

neiro” (João 20.15); afinal, num jardim , ainda de madrugada, descrente na aqueles que estão conosco são m ais num erosos do que eles” (2Reis 6 .16 ).

ressurreição e em ocionalm ente abalada, quem ela im aginaria que esti- Então, o profeta ora pedindo a Deus que abra os olhos do ajudante para
que veja. O relato prossegue: “Jeová abriu im ediatam ente os olhos do
vesse naquele jardim -cem itério? O problem a não estava no corpo de Jesus,
ajudante de m odo que viu; e eis que a região m ontanhosa estava cheia
m as nas circunstâncias que dificultaram o reconhecim ento do corpo.
de cavalos e de carros de guerra, de fogo, em torno de Eliseu” (v. 17,
Outra observação im portante no diálogo entre Jesus e M aria: tem -se
a impressão de que ela conversava com ele face a face. Contudo, uma leitura
NM). Assim , segundo a ocasião e sua vontade soberana (m esm o que
não entendam os o porquê), Deus pode fazer que alguém veja ou deixe
atenta aos porm enores da narrativa revelará que M aria não o encarava.
de ver. De m odo que, no caso do ajudante do profeta, Deus fez que ele
visse o que não podia ver e, no caso dos discípulos de Em aús, fez que
21 Estudo perspicaz das Escrituras, v. 2, p. 473.
não vissem o que poderiam naturalm ente ter visto.
208 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s O u t r o J e s u s C r is t o 209

Os discípulos no mar de Tiberíades (João 21.1-14) 0 relato da aparição de Jesus em Lucas 24.36-41 tam bém elucida o
caso. Segundo Lucas, os discípulos ficaram “assustados e com medo”,
E ssa foi a terceira ap arição de Jesus aos d iscíp u lo s (v. 14). Não
pois “pensavam que estavam vendo um espírito”. Diante disso, Jesus lhes
tem os aqui os m esm os elem entos diretos de elucidação encontrad os
exibe as mãos e os pés, pedindo a eles que o apalpassem, pois um espírito
nos casos anteriores. Não obstante, pelos precedentes, con clu i-se que
não teria nem carne nem ossos, como era visível que ele tinha. 0 versículo
o problem a nunca esteve com a ap arência de Jesus ou seu corpo. E x is-
41 registra algo interessante: “E, por não crerem ainda, tão cheios estavam
tem , porém , alguns detalhes no texto que p recisam ser exam inados:
de alegria e de espanto, ele lhes perguntou: ‘Vocês têm aqui algo para comer?’
”. Assim, deve-se entender João 21.12 levando-se em conta o estado de
1 . Os discípulos tentaram pescar por toda a noite, m as nada apanha-
alegria e admiração ao qual os discípulos foram submetidos, pois não é
ram (v. 3) — o que m ostra seu desgaste físico.
todo dia que alguém anda sobre as águas ou ressuscita dentre os mortos.
2. Jesus lhes apareceu “ao clarear da madrugada” ou “quando estava
É possível, porém , que alguém queira citar M arcos 16.12, que diz
am anhecendo” (v. 4, NM).
que Jesus, depois de se m anifestar a M aria M adalena, apareceu noutra
3. À prim eira vista, o relato parece indicar que Jesus e os discípulos
form a aos discípulos que rum avam para a cidade de Em aús. Ora, em
estavam próxim os (v. 5 ,6), a ponto de entabular uma conversa. No
prim eiro lugar, a expressão “noutra forma” certamente não significa em ou-
entanto, o versículo 8 diz que a distância entre eles era de quase
tro corpo real, m aterial e físico (G e is l e r ; H o w e , 1999, p. 3 8 6 ), levando-se
100 m etros, o que, aliado aos fatos expostos nos itens 1 e 2, dificul-
em conta os argum entos precedentes. Em segundo lugar, há um a séria
taria a identificação im ediata de Jesus por aqueles discípulos.
questão sobre a autenticidade da passagem de M arcos 1 6.9-20, pois ela

Há, porém, um problem a de solução. Ao estarem face a face com Jesus, não é encontrada nos m anu scritos ou códices m elhores e m ais antigos:

diz o relato que “nenhum dos discípulos tinha coragem de lhe perguntar: o sinaítico ( K ) e o vaticano (B ). C onsequentem ente, não seria prudente

‘Quem és tu?’ Sabiam que era o Senhor” (2 1.12). Segundo os testemunhas fundam entar um pronunciam ento d outrinário significativo sobre um

de Jeová, isso evidencia que Jesus foi reconhecido por algo que fez (a pesca texto controverso (ib id .), em bora não se deva negar evidentem ente sua

m iraculosa), e não porque se tratava do m esm o corpo — do contrário, aceitação pelos cristão s dos prim eiros séculos.22

com o entender o receio dos discípulos em perguntar “Quem és tu?”.


Existe um a passagem bíblica que pode elucidar essa questão. M ar-
22 Esse acréscimo explica-se pelo fato de Marcos 16.8 terminar de forma brusca e
cos 6 .4 8 -5 0 relata que Jesus, vendo que os discípulos estavam em d ifi- pessimista, como se o texto não tivesse sido concluído. “Donde a suposição de
culdades no m ar po r cau sa de um vendaval, foi ao en co n tro deles que o final primitivo desapareceu por alguma causa por nós desconhecida e de que
o atual fecho foi escrito para preencher a lacuna. Apresenta-se como um breve
“andando sobre o m ar”. D iante desse acontecim ento fantástico, eles
resumo das aparições do Cristo ressuscitado, cuja redação é sensivelmente diver-
“pensaram que fosse um fantasm a” (“um a aparição”, NM). “Então g ri- sa da que Marcos habitualmente usa, concreta e pitoresca. Contudo, o final que
taram ”, pois nunca tinham visto alguém andar sobre o mar. Isso acon- hoje possuímos era conhecido, já no séc. II por Taciano e santo Irineu, e teve gua-
teceu antes da ressurreição; logo, não se poderia esp erar que o corpo de rida na imensa maioria dos [manuscritos] gregos e outros. Se não se pode provar
ter sido [Marcos] o seu autor, permanece o fato de que ele constitui, nas palavras
Jesus estivesse diferente. Era o m esm o, sim ; contudo, o que fez os d iscí-
de Swete,‘uma autêntica relíquia da primeira geração cristã’ ” ( BJ, nota de rodapé
pulos pensarem não se tratar de Jesus foi o estado de perplexidade, de f). Assim, segundo a mesma nota, esse texto “faz parte das Escrituras inspiradas;
adm iração em que se encontravam . é tido como canônico”.
210 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s O u t r o J e s u s C r is t o 211

R efu t a ç ã o d e o u t r o s t e x t o s m a l in t e r pr e t a d o s 1. A expressão deveria ou poderia ser substituída por “vivificado


pelo Espírito ”, com o verte a Nova Versão Internacional e a Almeida
A resistência dos testem unhas de Jeová em relação à ressurreição
Revista e Corrigida. Nesse caso, Deus, o Pai, teria ressuscitado Jesus
corpórea de Jesus tam bém está relacionada a três textos bíblicos: 1 Pedro
por meio do Espírito Santo, pois, assim com o o Pai e o Espírito
3.18, IC oríntios 15.45 e 15.50. 0 primeiro afirm aria, de acordo com os
testem unhas de Jeová, que Jesus foi m orto na carne e “ressuscitado em Santo atuaram na encarnação do Filho, tam bém estariam agindo

espírito”; o segundo confirm aria 1Pedro 3.18, ao dizer que Jesus se tornou no m om ento da ressurreição dele (v. Rom anos 1.4; 8 .1 1). (Ênio

“espírito vivificante”; e o terceiro diz que “carne e sangue não podem M u e l l e r , p. 2 05-20 7; v. tb. NBC, nota de rodapé n. 18, p. 2003).

herdar o Reino de Deus”. Dessa forma, nem Jesus nem qualquer outro 2. Para outros,“espírito” designa a alm a hum ana de Jesus, com a qual

que ressuscitasse dentre os m ortos poderia ressuscitar corpoream ente. ele desceu ao hades, ao mundo dos m ortos, a fim de pregar aos

À luz de tudo o que já vim os, a interpretação dessas passagens bíblicas espíritos em prisão (1 Pedro 3.19 ). Nesse caso, estando Jesus no

não pode levar à conclusão proposta pelos testem unhas de Jeová quanto sepulcro, m esm o m orto na carne, continuava vivo, ou seja, em

à ressurreição de Jesus. Ele ressuscitou, sim , naquele m esm o corpo que espírito, em sua natureza espiritual. “Vivificado” nesse caso não é

fora conduzido ao sepulcro. Não podemos nos apartar deste princípio: as sinônim o de “ressurreto”, pois o espírito de Jesus aguardaria o
Escrituras não se contradizem. Muitas passagens bíblicas, como já analisa- momento exato para unir-se novamente ao corpo, ocorrendo assim
mos, são claríssim as ao ensinar a ressurreição física de Jesus. Assim, não a ressurreição dentre os m ortos (C h a mpl in , 1995, v. 6, p. 147).
devemos deduzir que IPedro 3.18 e ICoríntios 15.45,50 estejam ensinando 3. Trata-se de uma form ulação prim itiva para exprim ir que Jesus, ao
0 contrário do que o restante das Escrituras ensina inteligivelmente. morrer, abandonou de vez sua condição m ortal para passar, com a
Vejamos, então, como interpretar os textos em questão à luz da res- ressurreição, a viver no seu estado glorioso e im ortal. Assim, carne
surreição física de Jesus. (e não “corpo” ) designa o estado m ortal (vida terrena), e espírito, o
im o rta l (vid a ce le stia l). (G e i s l er ; R h o d e s , 2 0 0 0 , p. 4 8 2 . V. tb.
1Pedro 3.18 (ARA) — vivificado no espírito
R e in e c k e r ; R o g e r s , 1985, p. 563.)
Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo
pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas Seja qual for a interpretação correta (algo difícil de ser apurado), o
vivificado no espírito. que não se pode aceitar é que o texto de IPedro 3.18 seja usado para negar
a ressurreição física de Jesus. Certam ente, há nas E scritu ras passagens
Nem todos os pensadores cristãos estão de acordo com o significado de difícil interpretação. Devemos reconhecer com hum ildade algumas
da expressão “vivificado no espírito”. Contudo, são unânim es no seguinte dificuldades em achar uma saída única para resolver a questão em pauta.
ponto: Jesus ressuscitou corpoream ente, segundo as Escrituras. A expres- Entretanto, o que não podem os fazer é sacrificar a doutrina bíblica da
são “vivificado no espírito” (ou “em espírito”) não estaria apresentando ressurreição corpórea de Cristo em detrim ento dessas dificuldades.
nenhum a dificuldade para a crença na ressurreição física, m as som ente As três explicações propostas são plausíveis, pois refletem a verdade, de
para o significado da própria expressão “vivificado no espírito”. um modo ou de outro, de que a morte de Jesus pôs fim à sua condição mortal;
As seguintes explicações têm sido dadas para tentar entender o signi- que, ao morrer, seu espírito separou-se do corpo, aguardando o momento
ficado dessa expressão: da ressurreição; que o Espírito Santo participou da ressurreição de Jesus,
212 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s O u t r o J e s u s C r is t o 213

assim com o de sua encarnação. 0 único elemento que deve ser descartado alm a vivente (ser que vive); o segundo não só vive, m as concede
é a ideia de que Jesus não ressuscitou fisicamente. vida, pois ele é espírito (ser celestial) “vivificante”, ou seja, dá vida.
É assim que verte o texto da Nova Tradução na Linguagem de Hoje:
ICoríntios 15.45 — espírito vivificante
“ [...] o último Adão, Jesus Cristo, é o Espírito que dá vida”. 0 pri-
Assim está escrito: “0 primeiro homem, Adão, tornou-se um ser meiro, ao contrário, m orreu e trouxe a m orte com ele para os seus.
vivente”; o último Adão, espírito vivificante.
Com isso em mente, o argumento de Paulo serve para afirm ar que o
Paulo estabelece um paralelo entre o primeiro hom em , Adão, e Jesus, que carrega a im agem do terreno será transform ado na im agem do ce-
o segundo Adão. 0 prim eiro tornou-se “ser vivente”, e o segundo, “espíri- lestial. Assim, a corrupção dará lugar à incorrupção; a desonra, à glória; a
to vivificante”. 0 que Paulo quis dizer com essa com paração? Por que con- fraqueza, à força, ao poder. Fomos sem eados em corpo corruptível, m or-
trastar “ser vivente” e “espírito vivificante”? tal (à sem elhança do prim eiro Adão após a Queda), e serem os transfor-
0 tem a principal de Paulo nesse capítulo é a ressurreição. Sua inten- mados à sem elhança do segundo Adão, após a sua ressurreição. Ou seja:
ção é responder à pergunta “Como ressuscitam os mortos? Com que es- nosso corpo será incorruptível, im ortal, sem m ais aquelas característi-
pécie de corpo virão?” (1 5.3 5). Para responder a essa pergunta, Paulo cas degradantes do terreno, m as com as características do celestial ou
apresenta então duas im agens, um a presente e uma futura: “Assim como espiritual (IC oríntios 15.51-54).
tivemos a im agem do hom em terreno, terem os tam bém a im agem do À pergunta “Com que espécie de corpo os m ortos em Cristo hão de
hom em celestial” (1 5.49). Antes e depois dessas palavras, o apóstolo m o s- vir?”, a resposta é: num corpo físico incorruptível, pois, diz o apóstolo,
tra o que é ter a im agem do hom em terreno, Adão, e o que significará ter “aquilo que é m ortal, se revista de im ortalidade” (1 5.53). Assim, os ter-
a imagem do hom em celestial, Jesus. Assim, a expressão “ser vivente” tem mos “m ortal” e “espírito” não estão apontando para a natureza do corpo,
o sentido de “hom em terreno”, e “espírito vivificante”, de “hom em celes- ou seja, para o fato de o corpo ser feito de carne e sangue, visível e m ate-
tial”. As diferenças entre am bos são as seguintes: rial, em co ntraste com um corpo ser feito de “espírito”, invisível e im a-
terial. “M ortal” e “espírito” na verdade são term os que apontam para o
1. Ser vivente — 0 term o refere-se à sua origem, isto é ,“era do pó da que caracteriza e caracterizará nosso corpo.
terra” (15 .4 7), e m ostra tam bém todas as características próprias Em Filipenses 3.21, Paulo diz que Jesus “transform ará nossos corpos
que m arcaram o primeiro Adão após o pecado: corrupção, deson- hum ilhados para ser sem elhantes a seu corpo glorioso”. Apenas nesse
ra e fraqueza. Era terreno, feito do pó, e ao pó voltou. Ao pecar, le- sentido é que o corpo de Jesus ressurreto pode ser cham ado “espírito”.
gou aos descendentes tudo o que lhe era próprio; por isso, como Não se trata de uma oposição entre m atéria e não m atéria, m as do que é
diz o apóstolo, carregam os em nosso corpo a im agem do prim eiro fraco, desonroso, corruptível, m ortal, contra o que é poderoso, honroso,
Adão (15.4 9), com todas as suas fraquezas e vicissitudes. incorruptível e im ortal. É esse tipo de corpo que com partilharem os com
2. Espírito vivificante — A expressão refere-se à origem do segundo Jesus. Ele próprio nos concederá esse tipo de vida. Ele é o que seremos:
Adão — veio do céu (15.47) — , m as tam bém designa suas caracte- superiores aos anjos, com corpo glorificado, espiritual, mantendo sem e-
rísticas pós-ressurreição: incorrupto, glorioso e poderoso (15.42, lhanças com o corpo anterior, m as sendo infinitam ente superior.
43). Há tam bém um a grande diferença: o prim eiro Adão foi feito Como destacam G e is l e r e H o w e (1999, p. 4 72-4 73 ):
214 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s
O u t r o J e s u s C r is t o 215

Um corpo “espiritual” é um corpo imortal, não um corpo imateri-


A segunda pergunta dos discípulos é vertida da seguinte m aneira na
al. [...] Assim, “corpo espiritual” não significa corpo imaterial e invisí-
Tradução do Novo Mundo : “Quando sucederão estas coisas e qual será o
vel, mas imortal e imperecível.
sinal da tua presença e da term inação do sistem a de coisas?”.
Além disso, quando Paulo falou sobre um “homem espiritual” (1 Co
Indo de encontro à h istó ria do cristian ism o, que sem pre pregou a
2:15), obviamente não estava se referindo a alguém que fosse invisível,
volta visível de Cristo, os testem unhas de Jeová ousaram inovar, e ensi-
imaterial, que não tivesse um corpo físico, mas sim a um homem de car-
nam que Jesus já “voltou”, ou m elhor, “está presente” desde 1914. Ten-
ne e osso cuja vida era vivida pelo poder sobrenatural de Deus e dirigida
tam fundam entar isso com cálculos que não resistem a um a pesquisa
pelo Espírito. 0 homem espiritual é aquele que é ensinado pelo Espírito
séria (S il v a , 1993, v. 2, cap. 3 e 6 ). A Tradução do Novo Mundo não usa o
e que recebe as coisas que provêm do Espírito de Deus (ICo 2:13-14).
term o “vinda”, m as “presença”. Isso tam bém está relacionado com sua
0 corpo ressurreto pode ser chamado de “corpo espiritual”, no mes-
descrença na ressu rreição física de Jesus. Se ele não ressuscitou cor-
mo sentido em que chamamos a Bíblia de “livro espiritual”. A despeito
poream ente, não pode ser m ais visto. M as com o entender M ateus 24.30,
de sua origem e poder espirituais, tanto o corpo ressurreto como a Bí-
que afirm a que as nações da terra “verão o Filho do hom em vir nas
blia são feitos de matéria.
nuvens do céu, com poder e grande glória” (M ateus 2 4 .30 ). Como ver

ICoríntios 15.50 — carne e sangue não herdam o Reino aquele que é invisível? Assim , num esforço de salvaguardar sua heresia
acerca da ressurreição de Cristo, ou seja, de que ele ressuscitou espiri-
Irmãos, eu lhes declaro que carne e sangue não podem herdar o tual m as não fisicam ente, passou -se a ensin ar que o “vir com as nu-
Reino de Deus, nem o que é perecível pode herdar o imperecível. vens” im p lica invisibilid ad e, e, p ortan to , o “ver o Filho do hom em ”
tam bém seria em sentido figurado. Significaria vê-lo com os “olhos do
A expressão “carne e sangue” deve ser interpretada à luz do contexto coração” (Efésios 1.18), isto é, do entendim ento, do discernim ento.
que acabam os de elucidar. “Carne e sangue”, ou seja, o indivíduo em seu Tal explicação, porém , não subsiste a um a análise criteriosa do tex-
estado corruptível, desonroso, fraco, m ortal, não pode realm ente herdar to bíblico. Nem é preciso ir ao texto grego para exp licar que o term o
o Reino de Deus, a m enos que seja transform ado, ou seja, que a corrup-
parousía deveria ser corretam ente traduzido por “vinda”. Basta um
ção dê lugar à incorrupção; a desonra, à glória; a fraqueza, à força; a m or- pouco de exercício m ental com o próprio texto bíblico.
talidade, à im ortalidade. É preciso que sejam os sem elhantes ao segundo Eis as razões pelas quais devemos acreditar que Jesus falou de vinda
Adão, Jesus Cristo. visível, e não de uma “presença invisível”:

Avolt a d e Jesu s
1. Em Mateus 24.5, Jesus fala dos pseudocristos. Ele retom a esse tema
Mateus 24 relata que os discípulos de Jesus, próxim os do templo de em 2 4.23,26: “Se, então, alguém lhes disser: ‘Vejam, aqui está o
Jerusalém , lhe fizeram duas perguntas. Queriam saber... Cristo!’, ou: ‘A li está ele!’, não acreditem. [...] Assim, se alguém lhes
disser: ‘Ele está lá, no deserto!’, não saiam ; ou: ‘Ali está ele, dentro
1. Quando se cum pririam as palavras proféticas de Jesus sobre o tem - da casa!’, não acreditem”. Então, Jesus arrem ata (2 4.27 ): “Porque
plo: “Não ficará aqui pedra sobre pedra; serão todas derrubadas”. assim com o o relâmpago sai do Oriente e se mostra no Ocidente,
2. Qual seria o sinal que m arcaria a sua vinda e o fim dos tempos. assim será a vinda do Filho do homem”. Deduzimos então que não
O u t r o J e s u s C r is t o 217
216 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s

sempre estaria com eles: “E eis que estou convosco todos os dias,
seria preciso nenhum agente ilum inado para apontar seu retorno,
até a term in açã o do sistem a de co isas” (M ateu s 2 8 .2 0 , ATM).
pois ele seria visível a todos. Note que Jesus comparou seu apare-
Também declarou: “Pois, onde há dois ou três ajuntados em meu
cim ento ao de um relâmpago, que é bem visível. Ninguém vê um
nome, ali estou eu no meio deles” (Mateus 18.20, NM). Assim, fica
relâmpago com os “olhos do coração”; vê, sim, com os olhos físicos.
evidente nos textos que Jesus prom eteu sua presença constante
2. Em Mateus 24.32,33, Jesus lança mão de outro fenômeno da natureza:
junto aos seus discípulos, de m aneira que não faria nenhum sentido
“Aprendam a lição da figueira: quando seus ramos se renovam e suas
prometer-lhes uma futura “presença” invisível.
folhas com eçam a brotar, vocês sabem que o verão está próximo.
Assim tam bém , quando virem todas estas coisas, saibam que ele
Então, diante de todas essas razões, fica evidente que Jesus voltará
está próxim o, às portas”. Ora, é pela observação dos sinais que
visivelmente, pois disse que “verão o Filho do hom em vir nas nuvens”. O
percebemos a proximidade do verão; o mesm o se dá com a vinda de
apóstolo João tam bém disse: “Eis que ele vem com as nuvens e todo olho
Jesus. Ademais, ninguém percebe os sinais da proximidade do verão
o verá” (Apocalipse 1.7). Nessas passagens bíblicas, nuvem não é sinal de
com os “olhos do coração”, mas com os olhos físicos.
invisibilidade. Jesus não disse que viria oculto sob as nuvens, mas “nas
3. A partir de 24.37, Jesus começa a com parar sua vinda com a vinda
nuvens” e “com as nuvens”, e seria visto por todos.
visível de outras coisas que tam bém foram aguardadas, como o
Que dizer, no entanto, dos “olhos do coração”, m encionados pelo após-
Dilúvio dos dias de Noé. As pessoas ouviam a pregação de Noé,
tolo Paulo? Bem , segundo Efésios 1.18,19, som ente os cristãos detêm essa
m as não se importavam nem um pouco com a m ensagem de um
visão especial. Antes, porém , estávamos nas trevas, servindo aos poderes
cataclism o pluvial, até o dia em que viram a água cair. Mas já era
do mal; m as Deus, na sua graça e m isericórdia, iluminou nosso coração,
tarde. A visão dos prim eiros pingos já apontava para a realidade
para que penetrasse a luz do evangelho, que resplandece na face de Cristo
do que havia sido pregado por Noé. Se os contemporâneos de Noé,
(2Coríntios 4.6). Assim, tendo os olhos de nosso coração abertos por Deus,
no entanto, tivessem visto o Dilúvio com os “olhos do coração”,
poderíam os enxergar nossa vocação celestial, nossa condição de herdei-
certam ente não se teriam afogado. “Assim acontecerá na vinda do
ros de Deus e coerdeiros com Cristo (Rom anos 8 .1 4 -1 7 ), bem como en-
Filho do homem”. Veja o que Jesus disse, e com o as histórias se
xergar que Deus age em nós, seus eleitos, de form a eficaz e poderosa.
assem elham : “Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem,
e todas as tribos da terra se baterão então em lam ento, e verão o C o n c l usã o
Filho do hom em nas nuvens do céu, com poder e grande glória”
(24.30). M as, como ocorreu nos dias de Noé, será tarde demais. Ao escrever aos coríntios, o apóstolo Paulo disse:

4. Em 24.43, Jesus com para sua vinda à de um ladrão, na calada da


noite, sorrateiram ente. Mas os ladrões não são invisíveis. Por isso, O que receio, e quero evitar, é que assim como a serpente enganou

é preciso estar atento aos sinais que m arcam sua proximidade, sua Eva com astúcia, a mente de vocês seja corrompida e se desvie da sua

vinda. Nenhum ladrão pode ser preso se alguém disser que o viu sincera e pura devoção a Cristo. Pois, se alguém lhes vem pregando um

roubando com os “olhos do coração”. Jesus que não é aquele que pregamos, ou se vocês acolhem um espírito

5. Para concluir, afirm am os que Jesus não poderia ter se referido a diferente do que acolheram ou um evangelho diferente do que aceita-

um a futura “presença invisível”, pois prometeu aos discípulos que ram, vocês o toleram com facilidade (2Coríntios 11.3,4).
218 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

0 apóstolo receia e lam enta pelo fato de aqueles crentes tolerarem pes-
soas que pregam “um Jesus que não é aquele que pregamos”, ou seja, “um
Jesus diferente”. Por que isso é tão importante? Paulo lembra a mentira do
paraíso. Eva deu ouvidos à mentira que a serpente contou sobre Deus e
6
sobre o fruto do conhecim ento do bem e do mal, e o resultado disso foi o
pecado com suas tristes consequências. Pois bem , a “serpente” continua Despersonalizando o
ensinando mentiras e levando outros a crer num “Jesus diferente”. E, pelo
que foi visto neste capítulo, o “Jesus” crido pelos testemunhas de Jeová é
certam ente um Jesus diferente, um outro Jesus, completamente estranho
Espírito Santo
àquele revelado nas Escrituras Sagradas e crido pela Igreja ao longo dos
séculos. 0 “Jesus” dos testemunhas de Jeová...

• É um anjo, o prim eiro criado por Deus.


• É um deus, assim com o Satanás é um deus.
Cremos que o espírito santo é a força ativa de Jeová; uma
• É alguém que já voltou e ninguém viu.
força impessoal que está em todos os lugares ao mesmo tempo,
• É um enganador, pois forjou um corpo com ferim entos para con-
razão pela qual não pode ser uma pessoa, mas a poderosa
vencer Tomé de que ele havia ressuscitado, quando, na verdade, ele
energia que Jeová faz emanar de si mesmo para realizar sua
havia sido recriado.
santa vontade.

Esse “Jesus” certam ente não pode salvar. Relem brando as palavras O E s p Ir it o Sa n t o e o s t est emu n h a s d e Jeo vá

iniciais deste capítulo: “Quando alguém crê num Jesus errado, em barca
As Escrituras afirm am que o Espírito Santo está em toda parte, o que
num a salvação errada e desem barca num céu errado”.
significa que ele é onipresente. Em vez de reconhecer essa verdade, os
Esperamos que os testemunhas de Jeová se libertem desse falso “Jesus”
testem unhas de Jeová defendem uma estranha pneumatologia (doutrina
e conheçam o verdadeiro, aquele que é Deus de Deus, Luz de Luz, Verdadeiro
do Espírito Santo): o Espírito não pode ser uma pessoa, m as uma “força
Deus de Verdadeiro Deus, o Caminho, a Verdade e a Vida, que vive e reina
ativa”, pois um a pessoa só pode estar num único lugar ao m esm o tempo.
com o Pai e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém!
Desse modo, eles negam ao Espírito Santo sua pessoalidade e divindade.
A relação entre Jeová Deus e o Espírito Santo é ilustrada da seguinte for-
ma: Jeová é com o uma usina elétrica, que está em determ inado lugar;
porém, desse centro de força em ana uma poderosa energia (o Espírito
Santo) que o Soberano Universal pode enviar para qualquer parte a fim
de cum prir sua vontade.1

1 Poderá viver para sempre no paraíso na terra, p. 37.


220 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s D e s pe r s o n a l iz a n d o o E s p ír it o S a n t o 221

A fim de dem onstrar sua posição acerca do Espírito Santo como uma O Espírito Santo é onipresente e é Deus
“coisa”, e não uma pessoa, os testem unhas de Jeová grafam Espírito Santo
Para onde poderia eu escapar do teu Espírito? Para onde poderia
com letras m inúsculas: “espírito santo”.
fugir da tua presença? Se eu subir aos céus, lá estás; se eu fizer a minha
Contudo, essa negação da personalidade e divindade do Espírito Santo
cama na sepultura, também lá estás (Salmos 139.7,8).
não é coisa nova; é uma ressurreição do macedonismo, nome dado a essa
heresia em referência a Macedônio (século IV ), bispo de Constantinopla,
Não há dúvida de que o Espírito Santo é onipresente. O salmo supra-
dirigente de um grupo que negava a divindade do Espírito Santo, afirm an-
citado deixa isso muito claro. Ele está em toda parte. Nem por isso, ele
do que o term o “espírito” designava os dons da graça derramados sobre os
deixa de ser Deus. Como vim os no capítulo 4, não é cabível o argumento
homens (C a l v in o , 1985, v . 1, cap. XIII, xvi). Macedônio baseava-se parcial-
segundo o qual Deus, sendo uma “pessoa”, não possa estar em m ais de
mente em dois ou três textos bíblicos, bem como na ausência de referências
um lugar ao m esm o tempo. Estam os falando de Deus, e, para Deus, tudo
à divindade do Espírito Santo no Concílio de Niceia (325 d.C.), no qual fo-
é possível (Lucas 18.27; Gênesis 18.14; Jó 42.2). Assim, fica sem sentido
ram ressaltadas a divindade de Cristo e sua igualdade de essência com o
afirm ar que o Espírito Santo não é uma pessoa, pois, sendo Deus da m es-
Pai. Sobre o Espírito, o credo original dizia apenas: “Cremos no Espírito
m a form a que o Pai e o Filho, tem todo o poder, podendo estar onde qui-
Santo”, sem mais explicações (C h a d w ic k , 1969, p. 157).
ser, quando lhe aprouver. Estar em todos os lugares ao m esm o tempo não
Tornando-se acirrada a questão, o I Concílio de Constantinopla, reu-
subtrai sua personalidade e dem onstra o seu im enso e infinito poder.
nido em 38 1 , exp resso u -se da seguinte form a: “Crem os tam bém no
Espírito Santo, que é Senhor e dá a vida, que procede do Pai; que com o A personalidade e a divindade do Espírito Santo
Pai e com o Filho deve ser adorado e glorificado e que falou por meio dos
A Bíblia tem muito a dizer sobre a personalidade e a divindade do
profetas” (apud P a d o v e s e , 1999, p. 75). Essa é a cláusula que encontram os
Espírito Santo. Se puserm os alguns versículos um ao lado do outro, tere-
na atual redação do Credo niceno, tam bém cham ado Niceno-constantino-
m os um quadro revelador a esse respeito. Comecemos por...
politano, em razão da inclusão dessas frases, que ensinam a consubstan-
cialidade do Espírito Santo em relação ao Pai e ao Filho, na unidade da At o s 5 .3 At o s 5 .4
Trindade, em oposição ao pensam ento dos pneum atôm acos ou “com ba-
tentes contra o Espírito”, com o tam bém eram conhecidos os m acedonia- Então perguntou Pedro: “Ana- Ela não lhe pertencia? E, depois
nias, como você permitiu que de vendida, o dinheiro não es-
nos (C h a d w ic k , 1969, p. 157).
Satanás enchesse o seu coração, tava em seu poder? 0 que o le-
Em bora a seita dos testem unhas de Jeová tenha um conceito diferente
a ponto de você m entir ao E s- vou a pensar em fazer tal coisa?
do defendido pelos m acedonianos acerca do Espírito Santo, ela tam bém pírito Santo e guardar para si Você não m entiu aos hom ens,
pode ser classificada de pneum atôm aca, pois, a exemplo dos m acedonia- uma parte do dinheiro que re- m as sim a Deus”.
nos, nega-lhe a divindade e a personalidade. cebeu pela propriedade?

R efu t a ç ã o d a pn e u m a t o l o g ia d o s t e s t e m u n h a s d e Jeo vá

A estrutura dos versículos é muito interessante. Em am bos, encontra-


Veremos, à luz da Bíblia, que os atuais pneum atôm acos erram qu an-
m os os seguintes elementos:
do se referem ao Espírito Santo com o força ativa.
222 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s D e s pe r s o n a l iz a n d o o E s p ir it o S a n t o 223

1. Um delito — a mentira. Em am bos os textos, encontram os os seguintes elementos:


2. Um delinquente — Ananias.
3. Uma provável “vítim a” — o Espírito Santo. 1. Alguém anunciando uma m ensagem de advertência — Deus, o
Senhor.
No versículo 3, Pedro foi claro ao dizer que A nanias m entiu ao E spí- 2. Um povo advertido — o povo infiel de Israel.
rito Santo. Já no versículo 4, ele cham a o Espírito Santo de Deus, ficando 3. Um m ensageiro que levaria a m ensagem ao povo — Isaías.
desse m odo comprovada sua divindade. Sua personalidade tam bém é
definitivam ente confirm ada, visto que um a “força ativa” não poderia Com parando-se as passagens bíblicas, vem os que Atos 28 .2 5-2 7 é uma
d iscernir entre verdade e m entira; isso é próprio de seres racionais. Por citação direta de Isaías 6 .8 -1 0 . 0 apóstolo Paulo estava falando para
falar em racional, seria irracionalidade da parte de Ananias tentar en- israelitas (o povo advertido), muitos dos quais perm aneciam incrédulos
ganar um a força sem elhante à eletricidade. Ele só poderia tentar enga- diante da exposição de que Jesus é o M essias, predito pela Lei de Moisés e
nar alguém, não algo. pelos profetas (Atos 28 .23 ,2 4 ,2 8 ). Paulo citou aos incrédulos a m esm a
m ensagem que Isaías recebera para tran sm itir aos infiéis de sua época.
Is a ía s 6.8-10 A t o s 28.25-27 E quem falou para Isaías aquelas palavras de advertência? A declaração
paulina é m ais do que clara: o Espírito Santo. Mas, no original hebraico,

Então ouvi a voz do Senhor Discordaram entre si mesmos Isaías disse ter ouvido a voz de m i T (Jeová). Por conseguinte, encon-
[Jeová] conclamando: “Quem e começaram a ir embora, de- tra m o s um c a s o c la r ís s im o em q u e um a u to r sa g ra d o do Novo
enviarei? Quem irá por nós?” E pois de Paulo ter feito esta de-
T e sta m e n to a p lic o u ao E s p ír ito S a n to o te tr a g r a m a sa g ra d o ,
eu respondi: Eis-me aqui. En- claração final: “Bem que o
reconhecendo desse m odo sua divindade e igualdade com o Pai. Para
via-me! Ele [Jeová] disse: “Vá, Espírito Santo falou aos seus
antepassados, p o r m eio do um judeu piedoso com o o apóstolo Paulo, isso é uma proclam ação de fé,
e diga a este povo: Estejam
sempre ouvindo, mas nunca profeta Isaías: ‘Vá a este povo de que o Espírito Santo é Deus, o grande iT U T .
entendam ; estejam sempre e diga: Ainda que estejam
sempre ouvindo, vocês nunca
vendo, e jamais percebam. Tor- Sa l mo s 78.17,40 Isa ía s 63.10
entenderão; ainda que estejam
ne insensível o coração deste
sempre vendo, jamais percebe-
povo; torne surdos os seus ou-
rão. Pois o coração deste povo Mas contra ele continuaram a Apesar disso, eles se revolta-
vidos e feche os seus olhos. Que
se tornou insensível; de má pecar, revoltando-se no deser- ram e entristeceram o seu E s-
eles não vejam com os olhos,
vontade ouviram com os seus to c o n tr a o A ltíssim o . [...] p írito Santo. Por isso ele se
não ouçam com os ouvidos, e
ouvidos, e fecharam os seus Quantas vezes m ostraram -se tornou inimigo deles e lutou
não entendam com o coração,
olhos. Se assim não fosse, po- rebeldes contra ele no deserto pessoalmente contra eles.
para que não se convertam e
deriam ver com os olhos, ou- e o e n tristeceram na terra so-
sejam curados”. vir com os ouvidos, entender litária!
com o coração e converter-se, e
eu os curaria’ ”.

Em am bos os textos, os elementos presentes são:


224 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s D e s pe r s o n a l iz a n d o o E s p ír it o S a n t o 225

1. Um povo rebelde — os israelitas. Resistir a uma das pessoas da Trindade bendita é resistir a todas, pois
2. Aquele contra quem se rebelaram — o Altíssimo. as três são o único e m esm o Deus.
3. A consequência da rebeldia — entristeceram o Altíssimo. Todas essas evidências, m ais as alistadas a seguir, levam forçosam en-
te a adm itir que o Espírito Santo é um a pessoa e é Deus, pois ele...
No salm o 78, o salm ista relembra em versos as grandes obras de Deus
em benefício de seu povo. Sua intenção é que as novas gerações não se 1. Guia, fala, declara e ouve (João 16.13).
apartem de Deus, como acontecera com seus antepassados (78.8 ). Ape- 2. Ama (Rom anos 15.30).
sar de todos os portentos em favor do povo, ele constantem ente rebelava- 3. Clama (Gálatas 4.6).
-se contra o Altíssimo, entristecendo-o. Resultado: o Altíssimo com eçou 4. Toma decisões, adm inistra (IC oríntios 12.11).
a guerrear contra o povo infiel e rebelde (78.5 9-62 ). 5. Sabe e atinge as profundezas de Deus (IC oríntios 2.10,11; cf. M a-
Em Isaías 63, o profeta tam bém relembra a infidelidade do povo para teus 11.27 e Lucas 10.22, pois o m esm o se diz a respeito de Jesus).
com o Altíssimo. Há um encontro de ideias entre Isaías 63 e o salmo 78. 6 . Pode ser contristado (Efésios 4.30; cp. com Isaías 63.10).
Mas, ao passo que o salmo 78 diz que o Altíssimo foi entristecido, Isaías 7. Implora e intercede (Rom anos 8.26,27; cf. v. 34, no qual a m esm a
63.10 afirm a que o povo entristeceu o Espírito Santo. A identificação do Es- atribuição é dada a Jesus).
pírito Santo com o Altíssimo é clara. Ademais, se somente uma pessoa pode 8 . Ensina (Lucas 12.12; cp. com 2 1.14,15; v. João 14.26).
ser entristecida ou magoada, então o Espírito Santo é uma pessoa. 9. Fala (Atos 10.19; v. 13.2; 10.19,20; 21.11; Mateus 10.18-20).
Deve-se ressaltar tam bém o seguinte: no discurso de Estêvão aos ju - 10. É resistido (Atos 7.51; cp. com Isaías 63.10; Salm os 78 .17-19).
deus incrédulos, ele tam bém faz uma longa retrospectiva da infidelidade 11. Proíbe, põe obstáculo (Atos 16.6, 7; cp. com o v. 7, com Romanos
do povo de Israel para com o Altíssimo, dizendo-lhe em seguida: “Povo 8.9 e com Filipenses 1.19).
rebelde, obstinado de coração e de ouvidos! Vocês são iguais aos seus 12. Ordena, dirige e dá testem unho (Atos 8.29,39 e 20 .2 3).
antepassados: sempre resistem ao Espírito Santoí’ (Atos 7.5 1). Ora, o elo 13. Designa, com issiona (Atos 20.28; v. tb. ICo. 12.7-11; cp. com 12.28
histórico é inconfundível. Aquele que foi m agoado pelos antepassados dos e Efésios 4.10,11).
israelitas era o Altíssimo. Portanto, não há dúvida: o Espírito Santo é Deus, 14. É mencionado entre outras pessoas (Atos 15.28).
o Altíssimo, assim como o Pai e o Filho. Como declara o Credo atanasiano :

Apesar de tantas provas bíblicas a favor da personalidade e divindade


Qual o Pai, tal o Filho, tal também o Espírito Santo. do Espírito Santo, os testem unhas de Jeová sustentam o seguinte:
Da mesma forma, o Pai é Onipotente, o Filho é Onipotente, o Espíri-
to Santo é Onipotente; contudo, não há três Onipotentes, mas um só É verdade que Jesus falou do espírito santo como “ajudador” e falou de
Onipotente. tal ajudador como “ensinando”, “dando testemunho”, “dando evidência”,
Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus; e toda- “guiando”,“falando”,“ouvindo”e“recebendo”. Ao fazer isso,o grego original
via não há três Deuses, porém um único Deus. mostra que Jesus, às vezes, aplicava o pronome pessoal masculino a este
Como o Pai é Senhor, assim o Filho é Senhor, o Espírito Santo é “ajudador” (paracleto). [...] No entanto, não é incomum, nas Escrituras,
Senhor; entretanto, não são três Senhores, porém um só Senhor. que aquilo que realmente não é pessoa seja personalizado ou personificado.
226 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s D e s p e r s o n a l iz a n d o o E s p ír it o S a n t o 22 7

A sabedoria é personificada no livro de Provérbios (1:20-33; :l-36); e mero simbolism o. Tudo o que se diz a respeito do Espírito Santo aponta
formas pronominais femininas são usadas para ela no original hebraico, para um ser pessoal, para alguém que, assim como o Pai e o Filho, é adora-
como também em muitas traduções. A sabedoria é também personificada do e glorificado como Deus pelos séculos sem fim.
em Mateus 11:19 e em Lucas 7:35, onde é apresentada como tendo tanto
Outra evidência a favor da divindade do Espírito Santo
“obras” como “filhos”. O apóstolo Paulo personalizou o pecado e a morte,
e também a benignidade imerecida, como “reinando”. (Ro 5 :1 4,17 ,21; David Reed (1990, p. 89 -9 0 ), ex-testem unha de Jeová, apresenta um
6.12) Fala do pecado como “recebendo induzimento”,“produzindo cobiça”, argumento muito interessante a favor da personalidade do Espírito:
“seduzindo” e “matando”. (Ro 7.8-11) Todavia, é óbvio que Paulo não
queria dizer que o pecado era realmente uma pessoa.2 Ao lado do templo do verdadeiro Deus na antiga Jerusalém, as Es-
crituras mencionam muitos outros templos — por exemplo: o templo
Os testem unhas de Jeová estão certos ao afirm ar que a Bíblia personi- de Dagom (I Sam. 5:2), o templo de Júpiter (Atos 14:13), o templo de
fica a sabedoria, o pecado e a m orte, pois tais coisas não são pessoas, mas Diana (Atos 19:35), e assim por diante. Cada um era o templo de al-
erram ao afirm ar a m esm a coisa sobre o Espírito Santo. Como já vimos guém, ou do Deus verdadeiro ou de um deus falso. Mas a Bíblia também
nas passagens bíblicas citadas, ele é uma pessoa e é Deus, e não uma “for- mostra que o corpo físico de cada cristão individualmente se torna um
ça ativa” personificada. O que podemos dizer, à luz das Escrituras, é que, templo. Templo de quem? Um “templo do Espírito Santo” (I Cor. 6:19).
à sem elhança do Pai e do Filho, o Espírito Santo é representado de diver-
sos m odos; são os cham ados sím bolos do Espírito Santo, assim como Outro ponto deve ser frisado. 0 apóstolo Paulo estabelece uma relação
tem os os sím bolos do Pai e do Filho. Acompanhe: direta entre Deus e o Espírito Santo. Veja:

IC o r ín t io s 3 .1 6 ,1 7 IC o r ín t io s 6 .1 9 2C o r ín t io s 6 .1 6
Pai Fogo (Deuteronômio 4.2 4); sol (Salm os 84.11) etc.

Filho Leão (Apocalipse 5.5); videira (João 15.1) etc.


Vocês não sabem Acaso não sabem Que acordo há
que são santuário que o corpo de entre o templo de
Espírito Santo Pomba (Lucas 3.22); selo (Efésios 1.13) etc.
de Deus e que o vocês é san tu á- Deus e os ídolos?
Espírito de Deus rio do E sp írito Pois som os san-
Ademais, nunca se disse a respeito da sabedoria, do pecado ou da morte habita em vocês? Santo que habita tu á rio do Deus
Se alguém des- em vocês, que vivo. Como disse
que sejam Deus (Atos 5.3,4). Nenhum escritor do Novo Testamento aplicou
truir o santuário lhes foi dado por Deus:“Habitarei
textos do Antigo Testamento que se dirigem ao Pai a uma dessas coisas
de Deus, Deus Deus, e que vocês com eles e entre
abstratas. Jesus jam ais diria sobre a sabedoria, o pecado e a m orte o que o destruirá; pois o não são de si eles andarei; se-
disse acerca do Espírito Santo. É preciso saber separar personificação de san tu ário de mesmos? rei o seu Deus, e
Deus, que são vo- eles serão o meu
cês, é sagrado. povo”.
2 Estudo perspicaz das Escrituras, v. 2, p. 33.
228 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s D e s pe r s o n a l iz a n d o o E s p ír it o S a n t o 229

Os textos estão estruturados de tal m odo que não admitem dúvidas: O Espírito Santo conhece o Pai da mesma maneira que o
o Espírito Santo é Deus. Veja: Filho o conhece
Jesus afirm a em M ateus 11.27 e em Lucas 10.22 que ninguém co -
1. Há um santuário — os cristãos.
nhece o Filho, a não ser o Pai, e que ninguém conhece o Pai, a não ser o
2. Há alguém que habita nesse santu ário — Deus Espírito Santo
Filho. No entanto, ICoríntios 2.10,11 afirm a que o Espírito Santo conhe-
(“Disse D eu s:‘Habitarei com eles
ce “até m esm o as coisas mais profundas de Deus”, e “ninguém conhece
os pensamentos de Deus, a não ser o Espírito de Deus”. Só Deus conhece
Evidência m ais clara que essa de que o Espírito Santo é Deus, im pos-
a si m esm o na vida íntim a da Santíssim a Trindade.
sível! Paulo escreve ora que somos templo de Deus, ora, na m esm a acep-
ção, que som os templo do Espírito Santo (C a l v in o , 1985, v. 1, p. 155). OEspírito Santo ama damesma forma que o Paie o Filho
O Espírito Santo na comunidade trinitária É o que afirm a Rom anos 15.30, ao falar do am or do Espírito, da m es-
m a forma que fala do am or do Pai e do am or do Filho (2Coríntios 13.13
Já vim os no capítulo 4 a interação que há entre o Pai, o Filho e o
[v. 14 na ATM]; Rom anos 8.35; 2Coríntios 5.14; Efésios 3.19).
Espírito Santo. Vamos am pliar aqui um pouco essa interação. Q uere-
m os abordar, sobretudo, a sim ilaridade dos papéis desem penhados pelo O Espírito, como Cristo, é nosso Ajudador
Filho e pelo Espírito Santo. Veremos tam bém com o essa relação entre
Jesus afirm ou que o Espírito Santo seria nosso “Ajudador” ou “Conso-
as três pessoas divinas tem m ais a nos revelar acerca da personalidade
lad or^ João 14.16,26; 16.7). A m esm a expressão grega — n :a p á x X rix o ç
e divindade do Espírito Santo.
{parácletos ) — tam bém é aplicada a Jesus em ljo ã o 2.1.
O Espírito Santo é de ambos: do Pai e do Filho O Espírito Santo, como Cristo, é nosso Intercessor
Em Rom anos 8.9, ele é cham ado “Espírito de Deus” e “Espírito de
Romanos 8.26,27 afirm a que o Espírito Santo “intercede por nós”. O
Cristo”. Em Mateus 10.20, é cham ado “Espírito do Pai”. Eles se pertencem m esm o se atribui a Jesus em Rom anos 8.34 e em Hebreus 7.25.
mutuamente. É uma comunidade perfeita.
O Espírito Santo, como Cristo, é a Verdade
O Espírito Santo glorifica a Cristo
Jesus afirm ou ser a Verdade (João 14.6). O m esm o se diz do Espírito
O Espírito Santo faz para o Filho o m esm o que o Filho faz para o Pai. Santo em ljo ã o 5.6: “o Espírito é a verdade”.
Por exemplo, o Filho glorifica o Pai (João 17.1,5); por sua vez, o Espírito
Santo glorifica o Filho (João 16.14). E o Pai, assim com o o Espírito Santo, O Espírito Santo, assim como Cristo, designa homens
tam bém glorifica o Filho (João 8.54; 17.4).
para cuidar da Igreja de Deus
Em Atos 20.28, Paulo afirm a aos presbíteros de Éfeso que foi o Espíri-
O Espírito Santo revela o senhorio de Cristo
to Santo quem os designou para o presbiterato ou bispado, a fim de que
“Ninguém pode dizer: ‘Jesus é Senhor’, a não ser pelo Espírito Santo” cuidassem da Igreja de Deus. O m esm o apóstolo tam bém afirm a que essa
(IC oríntios 12.3). m esm a função é exercida pelo próprio Jesus (Efésios 4 .7 -11).
230 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s D e s pe r s o n a l iz a n d o o E s p ír it o Sa n t o 231

OEspírito Santoparticipou, com o Pai, da encarnação de Neste texto, João Batista é citado dizendo que Jesus batizaria com o
Cristo Espírito Santo, assim com o ele batizava em água. Os testem unhas de Jeo-
vá então raciocinam : assim com o a água não é pessoa, tam pouco seria o
É o que afirm ou Gabriel, o arcanjo, à jovem M aria (Mateus 1.18,20;
Espírito Santo, pois ninguém poderia ser batizado com uma pessoa.
Lucas 1.30-35).
Esse paralelism o entre água/Espírito não afeta em nada a personali-

Os textos anteriorm ente citados, em conjunto, som ados àqueles c i- dade do Espírito Santo, pois em Romanos 6.3 encontram os o paralelismo

tados no capítulo 4, m ostram a estreita relação m antida entre as três batizados em Cristo/batizados em sua morte, e em Gálatas 3.27 fala-se no
pessoas da Santíssim a Trindade. Como alguém afirm ou acertadam ente batismo em Cristo e em ser revestido de Cristo. Nem por isso Jesus perdeu
(B of f , 1985, p. 15): sua identidade pessoal. Trata-se tão som ente de um caso de analogia, ou
seja, estabelece-se relações entre seres de naturezas distintas. 0 m esm o
Pai, Filho e Espírito Santo não emergem como separados ou justa- encontram os a respeito de Moisés, em ICoríntios 10.2. Fala-se ali de ser
postos, mas sempre mutuamente implicados e relacionados. Onde reside batizado em Moisés, m ostrando assim que é possível alguém ser batiza-
a unidade dos três? Reside na comunhão entre os divinos Três. Comunhão do num a pessoa, sem que ela perca sua identidade pessoal.
significa comu-união (communio). Somente entre pessoas pode haver
união, porque elas intrinsecamente se abrem umas às outras, existem com 2Coríntios 6.6
as outras e são umas pelas outras. Pai, Filho e Espírito Santo vivem em
[...] em pureza, conhecimento, paciência e bondade; no Espírito Santo e
comunidade por causa da comunhão. A comunhão é expressão do amor e
no amor sincero [...].
da vida. Vida e amor, por sua própria natureza, são dinâmicos e
transbordantes. Sob o nome de Deus devemos entender, portanto, sempre O fato de o Espírito ser m encionado entre várias qualidades levou os
a Tri-unidade, a Trindade como união do Pai, do Filho e do Espírito Santo. testemunhas de Jeová a entender que ele não é uma pessoa. Entre outros
Em outras palavras: a união trinitária é a própria Trindade. textos apresentados, estão Efésios 5.18, Atos 6 .3 ,1 1 .2 4 e 13.52.
Ora, se isso fosse verdade, então Jesus tam bém perderia sua persona-
R e f u t a ç ã o a o s t e x t o s m a l a pl ic a d o s c o n t r a a
lidade, pois em Gálatas 3.27 insiste-se com as pessoas para que se revis-
PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO
tam de Cristo, da m esm a m aneira que se instam outros, em Colossenses
É com um os testem unhas de Jeová citarem os textos a seguir, geral- 3.12, a se revestirem de qualidades com o humildade, compaixão, bonda-
mente fora de contexto, para se aventurar a provar a impersonalidade do de, m ansidão e paciência. Se nada disso faz de Cristo uma “força ativa”, o
Espírito Santo. Acompanhe os argumentos da seita, seguidos das respecti- mesm o se dá com o Espírito Santo. Ser mencionado entre coisas im pes-
vas refutações. soais não faz dele algo im pessoal.
Ademais, se ser associado a coisas im pessoais faz do Espírito Santo
Mateus 3.11
algo im pessoal, com o afirm am erroneam ente os testem unhas de Jeová,
Eu os batizo com água para arrependimento. Mas depois de mim então, na m esm a linha de raciocínio, eles teriam de adm itir obrigatoria-
vem alguém mais poderoso do que eu, tanto que não sou digno nem de mente que, ao ser citado em associação com outras pessoas, isso faria do
levar as suas sandálias. Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo. Espírito Santo uma pessoa. Veja:
232 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s D e s p e r s o n a l iz a n d o o E s p í r it o S a n t o 233

1. Em Mateus 28.19, o Senhor Jesus ordena: “Vão e façam discípulos Atos 2.4
de todas as nações, batizando-os em nome do Pai [uma pessoa] e
Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras
do Filho [outra pessoa] e do Espírito Santo [também uma pessoa]”.
línguas, conforme o Espírito os capacitava.
(V. tb. o cap. 4, no tópico “A Trindade no Novo Testamento”).
2. Atos 13.1,2 afirm a que na igreja de Antioquia “havia profetas e Este é, sem dúvida, o texto m ais utilizado pelos testem unhas de Jeová.
m estres: Barnabé, Simeão, chamado Níger, Lúcio de Cirene, Ma- Eles argum entam que no Pentecoste 120 discípulos ficaram cheios de
naém , que fora criado com Herodes, o tetrarca, e Saulo [todos se- um a “força ativa”, não de um a p essoa, pois um a pessoa não pode habi-
res p esso a is]. E n q u anto ad oravam ao Sen h o r [o Ser p essoal tar 120 outras pessoas sim ultaneam ente. O erro dos testem unhas de
adorado] e jejuavam , disse o Espírito Santo [outra p essoa]^‘Sepa- Jeová já com eça quando tom am o term o “pessoa” à luz das próprias
rem -m e Barnabé e Saulo [pessoas] para a obra a que os tenho cha- lim itações do ser m ortal. Ora, Deus é aquele que “preenche todas as
mado [falando na prim eira pessoa do singular]”. coisas”, de acordo com Efésios 1.23. Ele tudo pode. Nada há que ele não
3. Após a disputa acerca da im posição da circuncisão aos cristãos, os possa fazer. Então, se naquele acontecim ento do Pentecoste lhe aprouve

apóstolos e presbíteros de Jerusalém enviaram a seguinte carta para encher 120 pessoas, quem som os nós para pôr em dúvida sua ação so-

os irm ãos de Antioquia, Síria e Cilicia: “Soubem os que alguns saí- berana? Nos dizeres do Credo atanasian o: “Im enso é o Pai, Im enso o

ram de nosso meio, sem nossa autorização, e os perturbaram trans- Filho, Im enso o Espírito Santo”.

tornando suas mentes com o que disseram . Assim, concordamos Rom anos 8.11 diz que o Espírito Santo m ora ou reside em nós. Efé-

todos em escolher alguns hom ens e enviá-los a vocês com nossos sios 3.17 diz que Cristo reside em nosso coração. Da m esm a form a, João
14.23 fala da h abitação em nós tanto do Pai quanto do Filho. Nada disso
amados irm ãos Paulo e Barnabé [pessoas], hom ens que têm ar-
faz que o Pai e o Filho deixem de ser p essoas.
riscado a vida pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo [Ser pessoal].
Portanto, estam os enviando Judas e Silas [pessoas] para confir- Atos 13.2
m arem verbalm ente o que estam os escrevendo. Pareceu bem ao
Enquanto adoravam ao Senhor e jejuavam, disse o Espírito Santo:
Espírito Santo [Ser pessoal] e a nós [seres pessoais] não im por a
“Separem-me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado”.
vocês nada além das seguintes exigências necessárias: Abster-se
de com ida sacrificada aos ídolos, do sangue, da carne de anim ais
Os testem unhas de Jeová, m esm o diante da evidência de que o E spí-
estrangulados e da im oralidade sexual. Vocês farão bem em evitar
rito Santo fala e se com unica, usam esse texto para protestar contra a
essas coisas. Que tudo lhes vá bem”.
personalidade do Espírito Santo, afirm ando que o fato de a Bíblia dizer
que o Espírito Santo fala não provaria sua personalidade, pois outros
Não é preciso muito esforço para saber que a pureza, o conhecimento,
textos m ostram que isso era feito por m eio de seres hum anos ou de
a paciência, a bondade e o am or sincero não poderiam substituir o Espíri-
anjos, sem que ele tivesse voz própria (Atos 21.4; 2 8 .25 ).
to Santo nos textos mencionados anteriorm ente (faça o teste). Ele apare-
O argu m ento dos testem u nh as de Jeová é inócuo pelos seguintes
ce entre pessoas por ser um ente pessoal, pois age como pessoa, m as tam -
m o tivo s:
bém pode ser m encionado entre coisas, sem deixar de ser pessoa.
234 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s D e s p e r s o n a l iz a n d o o E s p í r it o S a n t o 235

1. Se os testem unhas de Jeová insistirem nesse argum ento, terão de Em Mateus 10.19,20, quem fala é o Espírito Santo; em Lucas 21.14,15,
adm itir que o Pai tam pouco é um a pessoa, pois tam bém lem os quem fala é o Filho; e, em Jerem ias 1.7-9, quem fala é o Pai. E todos eles
que ele falou por meio de outros. Veja esta com paração: falam por meio de alguém , e ainda assim continuam seres pessoais. O
Espírito fala assim com o o Pai e o Filho. Logo, ele é um ser pessoal.

At o s 3.21 At o s 1.16 At o s 28.25


2. Não im porta se o Espírito Santo falou diretam ente ou por m eio de

[...] até que che- [...] “Irmãos, era Bem que o Espí- alguém, de anjos ou de hom ens. O que está claro é que foi ele, o
gue o tempo em necessário que se rito Santo falou próprio Espírito Santo, quem falou. O profeta por m eio de quem
que Deus restau- cumprisse a Es- aos seus antepas- ele falou era apenas um canal, um instrum ento, m as as palavras
rará todas as coi- critura que o Es- sados, por m eio eram dele, do Espírito Santo.
sas, com o falou pírito Santo pre- do profeta Isaías.
há muito tempo, disse por boca de Atos 7.55,56
po r m eio dos Davi [...].
seus santos pro- Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, levantou os olhos para o céu e
fetas. viu a glória de Deus, e Jesus de pé, à direita de Deus, e disse: “Vejo o céu
aberto e o Filho do homem de pé à direita de Deus”.

Agora, com pare os textos anteriores com estes: Os testem unhas de Jeová argum entam que, se Deus fosse um a Trin-
dade, Estêvão, ao fitar os olhos no céu, deveria ter visto o Pai, o Filho e o
M a t eus 10.19,20 Luc a s 21.14,15 J e r e m ia s 1.7-9
Espírito Santo. Contudo, afirm ou ter visto apenas o Pai e o Filho; nada
disse sobre o Espírito Santo.
Mas quando os Mas convençam- 0 S e n h o r , p or ém ,
Estêvão não precisava ter visto o Espírito Santo para que a doutrina da
prenderem, não se -se de uma vez de me disse: “[...] A
Trindade fosse verdadeira (e ainda que Estêvão tivesse dito que o viu, os
preocupem quan- que não devem todos a quem eu
to ao que dizer, ou preocupar-se com o enviar, voce ira testemunhas de Jeová em sua incredulidade certam ente negariam tal fato
como dizê-lo. Na- o que dirão para e dirá tudo o que mediante algum argumento falacioso como o anteriorm ente citado). Na
quela hora lhes se defender. eu lhe ordenar. verdade, os testemunhas de Jeová precisam prestar mais atenção ao texto. A
será dado o que Pois eu lhes da- [...] 0 S e n h o r e s - Trindade é o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e Estêvão só pôde ver o Pai e o
dizer, pois não se- rei palavras e sa- tendeu a mão, to-
Filho porque ele estava “cheio do Espírito Santo”. Pronto, eis a Trindade!
rão vocês que es- b e d o ria a que cou a minha boca
tarão falando, mas nenhum dos seus e disse-me: “Ago- A falta de identificação pessoal
o Espírito do Pai adversários será ra ponho em sua
de vocês falará capaz de resistir boca as m inhas Outra objeção apresentada pelos testem unhas de Jeová a fim de, inu-
por interm édio ou contradizer. palavras”. tilm ente, comprovar a im personalidade do Espírito Santo, é o fato de o
de vocês. Espírito Santo não ter identificação pessoal. Esse argum ento é apresenta-
do na obra Estudo perspicaz das Escrituras, que diz:
236 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s D e s pe r s o n a l iz a n d o o E s p ír it o Sa n t o 237

Visto que o próprio Deus é Espírito e é santo, e visto que todos os o Espírito Santo. A ordem bíblica de batizar “em nom e do Espírito Santo”
seus fiéis filhos angélicos são espíritos e são santos, é evidente que, se o já torna isso plausível (Mateus 28.19).
“espírito santo” fosse pessoa, as Escrituras deveriam razoavelmente Os testem unhas de Jeová o bjetam afirm and o que a palavra grega
fornecer alguns meios para diferenciar e identificar tal pessoa espiritual ô v o j i a ( ónom a ), traduzida por “nom e”, pode significar algo diferente
dentre todos esses outros “espíritos santos”. Seria de esperar que, pelo de um nom e pessoal, com o quando se diz em nome da lei ou em nome do
menos, se usasse o artigo definido para ele em todos os casos onde não bom senso. “Nome”, nesses casos, indicaria o que tais coisas represen-
é chamado de “espírito santo de Deus”, ou não é modificado por alguma tam . Para co rroborar sua linha de argum entação, elas citam a obra Word
expressão similar. Isto pelo menos o distinguiria como 0 Espírito Santo. Pictures in the New Testament [Quadros verbais do Novo Testam ento],
Mas, ao contrário, em grande número de casos, a expressão “espírito de um a grande autoridade no idiom a grego, o dr. Archibald Thom as
santo” aparece no grego original sem o artigo, indicando ausência de Robertson: “0 uso do nom e (ónom a) que se faz aqui [em Mateus 28.19]

personalidade.3 é com um na Septuaginta e nos papiros para sim bolizar poder ou auto-
ridade”. D esse modo, os testem unhas de Jeová argum entam : “Portanto,
Ora, se os testem unhas de Jeová têm dificuldade em diferenciar o E s- o batism o ‘em nom e do esp írito santo’ subentende o reconhecim ento

pírito Santo de Deus do próprio Pai ou dos anjos, é sinal de que existe deste espírito como tendo por fonte a Deus e com o exercendo sua função

alguma coisa errada em sua teologia de modo geral. Seu argumento não segundo a vontade divina”.4

revela erudição, mas deficiência e desconhecimento. A conclusão extraída das palavras do dr. Robertson não é válida pela

Ao designar a terceira pessoa da Trindade por “Espírito Santo”, as E s- seguinte razão: Robertson cria na doutrina bíblica da Trindade, e não es-

crituras já o diferenciam dos demais espíritos que são santos, como no taria ensinando o contrário disso em sua obra. De fato, com entando M a-

caso dos anjos, em bora nenhum dos anjos nunca seja designado direta- teus 28.19, ele afirm a que o batism o em nom e do Pai, do Filho e do Espí-

mente pela expressão “espírito santo”. Quando lem os “o Espírito Santo rito Santo é o batism o “em nom e da Trindade” (1988, p. 25 4). Quando ele

disse” (Atos 13.2), ou “m entiram ao Espírito Santo ” (Atos 5.3 ), ou ainda afirm ou que “o uso do nom e (ónoma) que se faz aqui é com um na LXX

“todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Ro- [Septuaginta] e nos papiros para sim bolizar poder ou autoridade”, esta-
manos 8.14), não nos vem à m ente o Pai, o Filho ou os anjos, m as a pessoa va, na realidade, argum entando contra a espécie de batism o efetuado pela

divina que conhecem os pelo nom e “Espírito Santo”. Igreja ortodoxa grega, que pratica a tríplice im ersão: o batism o em nome

Em bora as expressões “espírito” e “santo” sejam atributos comuns às do Pai, em seguida em nome do Filho e depois em nom e do Espírito San-

pessoas da Trindade, bem com o aos anjos, cabe afirm ar que, em relação à to. A disputa gira em torno da preposição e i ç (eis), que para a Igreja orto-

terceira pessoa da Trindade, os term os aparecem juntos, designando “a doxa grega significa “para dentro”; enquanto R obertson explica que aqui,
em Mateus 28.19, significa sim plesm ente “em nome”, e não “para den-
Pessoa inefável do Espírito Santo, sem equívoco possível com os outros
tro”. Daí, então, sua conclusão (extraída indevidamente do contexto na
empregos dos term os espírito e santo ” ( C a t e c i s m o , 1993, p. 172, § 691).
literatura dos testem unhas de Jeová): “0 uso do nom e (ónoma) que se faz
Assim, quando empregados juntam ente, os term os “espírito” e “santo”
aqui é com um na LXX [Septuaginta ] e nos papiros para sim bolizar poder
form am o nom e daquele que, com o Pai e o Filho, é adorado e glorificado,

3 V. 2, p. 33. 4 Estudo perspicaz das Escrituras, v. 2, p. 155.


238 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s D e s pe r s o n a l iz a n d o o E s p ír it o S a n t o 239

ou autoridade” (ibid.). A sua conclusão é óbvia: não está em questão o 2. Espírito Santo (sem artigo: Lucas 4.1; 11.13 etc.) ou o Espírito San-
tríplice batism o, mas batizar em nome ou no poder/autoridade do Pai, do to (com artigo: Mateus 28.19; 2Coríntios 13.13 [v. 14 na NM] etc.).
Filho e do Espírito Santo. 3. 0 Espírito, o Santo (am bos com o artigo: Atos 1.16; 5.3; 28.25 etc.).
Assim, ao contrário de concordar com a conclusão dos testem unhas
de Jeová — como eles indevidamente fazem parecer — , Robertson asso- V ê-se que não há u niform idade nas E scritu ras em relação ao uso
cia poder ou autoridade à Trindade: ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, do artigo neutro toda vez que se fala do Espírito Santo. Há casos em que
em cujo nome os cristãos são batizados. Dessa form a, o Pai, o Filho e o o artigo é usado, com o há casos em que não é. Isso não deve constitu ir
Espírito Santo têm o m esmo poder ou autoridade, pois são o m esm o Deus. nenhum obstáculo para a personalidade do Espírito Santo. Sobre essa
Uma “força ativa” não tem “poder” e “autoridade”, nem m esm o figurada- questão, convém citar o com entário de W illiam Carey Taylor (198 6, p. 594,
mente, pois em nenhum lugar das Escrituras tal coisa é ensinada. § 539) acerca do uso do artigo na língua grega:
Quanto ao uso do artigo definido, os testemunhas de Jeová afirmam
que a expressão “Espírito Santo”, “em grande número de casos [...] aparece Quando se emprega o artigo, o substantivo é definido; quando
no grego original sem o artigo, indicando ausência de personalidade”. não se emprega, o substantivo pode ser definido ou indefinido. [...]
Respondemos, em prim eiro lugar, que os testem unhas de Jeová tom a- É essencial esforçarmo-nos para alcançar o ponto de vista grego.
ram o cuidado de dizer em grande número de casos, pois, se dissessem em Nunca devemos falar de “omissão do artigo”. 0 grego não omitiu o
todos os casos, seriam rapidamente desm ascarados, pois o term o “Espíri- que é diferente no nosso idioma, mas escreveu segundo a sua pró-
to Santo” tam bém é acompanhado de artigo definido em muitos outros pria índole. Se não há artigo, é porque não lhe era natural usá-lo.
lugares. Nesse caso, o argumento dos testem unhas de Jeová se desfaz pelo
seu contrário, pois se “Espírito Santo”, sem artigo, indica ausência de per- Assim, a ausência do artigo não indica necessariam ente falta de per-
sonalidade, então o uso do artigo definido indicaria a personalidade do sonalidade. 0 argum ento dos testem unhas de Jeová, portanto, carece de
Espírito Santo. E é justam ente o que acontece. base sólida, e não subsiste ao grego do Novo Testamento.
Contudo, recorrer à ausência ou ao uso do artigo definido para pro-
C o n c l u sã o
var ou deixar de provar a personalidade de alguém não é correto à luz
das particularidades do idiom a grego. 0 grego do Novo Testam ento co n - Os heresiarcas dos testemunhas de Jeová correm o sério risco de, ao
ta com três gêneros: m asculino, fem inino e neutro (em português, só defender com unhas e dentes enunciados doutrinais desprovidos de pie-
há os dois p rim eiros). A palavra grega traduzida por “espírito”, Jtv e í3 jx a dade e base bíblica, pecar contra o Espírito Santo. E contra esse pecado
{pneum a), é neutra, que exige o artigo neutro, quando o autor ju lgar Jesus foi categórico: “Quem falar contra o Espírito Santo não será perdoa-
necessário. 0 artigo pode ser usado ou não, sem que isso detraia a per- do, nem nesta era nem na era que há de vir” (Mateus 12.32). Que Deus se
sonalidade do Espírito Santo. As Escritu ras designam a terceira pessoa apiede dos tais, abrindo-lhes a mente antes que seja muito tarde.
da Trindade de diversas form as: A fé no Espírito Santo com o Ser pessoal e Deus verdadeiro, assim como
o Pai e o Filho, é um a convicção que ultrapassa um sim ples enunciado
1. Espírito (sem artigo: João 3.5 etc.) ou o Espírito (com artigo: Marcos doutrinal. Como afirm ou Luigi Pa d o v e se (1999, p. 8 4), “Trata-se de uma
1.10,12; Atos 2.4 etc.). profissão de esperança e de confiança no Deus trinitário”.
240 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

Para finalizar, queremos voltar à introdução deste capítulo, na qual


vim os um a das razões pelas quais Macedônio, bispo de Constantinopla,
negava a divindade e a personalidade do Espírito Santo: a ausência de
quaisquer referências à divindade do Espírito Santo no Concílio de Ni-
7
ceia (325 d.C.), no qual foi ressaltada a divindade de Cristo e sua igualdade
de essência com o Pai. A fé trinitária parecia, para o bispo apóstata, muito
As castas de Jeová:
tardia (o m esm o argum ento é empregado pelos testem unhas de Jeová).
Sobre o Espírito Santo, o Credo niceno originariam ente dizia: “Cremos no os 144 mil e as
Espírito Santo”, sem explicações adicionais. Mas é na pena de Gregório
de Nazianzo (33 0 -3 9 0 ), “O Teólogo”, que encontram os o porquê de o E s-
pírito Santo ser o último na revelação das pessoas da Santíssim a Trinda-
“outras ovelhas”
de. Trata-se do que ele cham ou de “pedagogia progressiva da condescen-
dência divina” (apud Ca t e c is m o , 1993, p. 170, § 684):

O Antigo Testamento proclamava manifestamente o Pai, mas obs-


curamente o Filho. O Novo manifestou o Filho, fez entrever a divin- Cremos em uma só salvação com duas esperanças: uma
dade do Espírito. Agora o Espírito tem direito de cidadania entre celestial, para 144 mil pessoas, e outra terrena, para as “outras
nós e nos concede uma visão mais clara de si mesmo. Com efeito, ovelhas” que viverão para sempre no paraíso na terra.
não era prudente, quando ainda não se confessava a divindade do
Pai, proclamar abertamente o Filho e, quando a divindade do Fi- Quem pensa que é apenas no hinduísmo que existe uma separação de
lho ainda não era admitida, acrescentar o Espírito Santo como um castas entre os fiéis da mesma religião está equivocado. Na seita Testemu-
peso suplementar, para usarmos uma expressão um tanto ousada. nhas de Jeová, tam bém existe análogo. Os adeptos estão divididos em dois
[...] É através de avanços e de progressões “de glória em glória”, que grupos: os 144 m il, com esperança celestial, e as “outras ovelhas”, com
a luz da Trindade resplandecerá em claridades mais brilhantes. esperança terrestre. Essa divisão está baseada na interpretação de João 10.16:
“E tenho outras ovelhas , que não são deste aprisco; a estas tam bém tenho
de trazer, e elas escutarão a minha voz e se tornarão um só rebanho, um só
pastor” ( NM). O diagrama a seguir m ostra como esse texto é aplicado:

No a p risc o

O p a sto r O reb an h o (O s 144 m il — esperança celestial)


(Jesus) (Os testem unhas
de Jeová)
’ ’
r
F o r a d o a p risc o

(O utras ovelhas — esperança terrestre)


242 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s As CASTAS DE JEOVÁ: OS 144 MIL E AS “OUTRAS OVELHAS” 243

Segundo os testem unhas de Jeová, o “aprisco” de João 10.16 refere-se quase 99,9% , espera ganhar vida eterna na terra. Este é o núm ero que
aos 144 m il (cham ados “ungidos” e “pequeno rebanho”), que com eçou a compõe atualm ente a “grande multidão” das “outras ovelhas”, que espera
ser reunido em 33 d.C., no Pentecoste. Houve depois uma interrupção sobreviver a uma im inente “grande tribulação”. Em bora se afirm e fazer
nessa eleição em razão da apostasia da Igreja depois do ano 100 (v. o cap. parte de um só rebanho (a organização religiosa), há notáveis diferenças
2), sendo retom ada em 1870 por meio de Charles Russell, o fundador da entre o grupo dos 144 mil e o das “outras ovelhas”. Veja o quadro a seguir:
seita, e continua até os dias atuais. Já as “outras ovelhas” são os que vive-
rão para sempre no paraíso terrestre. Isso inclui os fiéis do Antigo Testa-
Os 144 MIL UNGIDOS As “ o u t r a s o v e l h a s”
mento e os que m orreram antes do ano 33 d.C.; todos serão ressuscitados
para viver no paraíso terrestre.
Irão para o céu Viverão para sempre na terra
O juiz Rutherford, sucessor de Russell, decretou o fim da cham ada
celestial em 1935. Até aquele ano, cria-se que dois grupos iriam para o Reis e sacerdotes do Reino de Deus Súditos do Reino de Deus

céu: a “Noiva”, os 144 m il que reinariam com Cristo, e a “grande m ulti- Verão Deus Não verão Deus
dão” (Apocalipse 7.9), cujos m em bros seriam a “dam a de companhia” da
Filhos de Jeová Netos de Jeová
“Noiva”. Mas, em 1935, Rutherford eliminou a chamada celestial; a “grande
multidão” tornou-se parte das “outras ovelhas”, cuja esperança era terre- Irmãos de Jesus Filhos de Jesus
na. Assim, de 1935 para cá, com eçou o ajuntam ento da “grande m ulti- Noiva de Cristo Amigos do Noivo
dão”, que espera sobreviver à “grande tribu lação”, restau rar a terra e
Nascem de novo Não nascem de novo
transform á-la num paraíso, e se juntar aos justos do Antigo Testamento,
que serão ressuscitados. Juntos, form arão definitivam ente as “outras ove- Templo do Espírito Santo Não são templo do Espírito Santo
lhas”. Mas, em 2007, a seita abandonou a data de 1935 e passou a ensinar
Corpo de Cristo Não são Corpo de Cristo
que a cham ada celestial continua aberta.1
Os testem unhas de Jeová possuem m ais de 7 m ilhões de adeptos. Des- Participam do pão e do vinho na Não participam dos emblemas;

tes, apenas quase 10 mil afirm am possuir esperança celestial.2 O restante, Comemoração da Morte de Cristo são apenas observadores

Congregação (Igreja) de Deus Associados da Congregação

Israel de Deus Estrangeiros (gentios)


1 V. A verdade que conduz à vida eterna, 1968, p. 77; Poderá viver para sempre
no paraíso na terra, 1982, p. 125,201 e cap. 21; Unidos na adoração do único Justificados para a vida Justificados para serem amigos de
Deus verdadeiro, p. 80-81; Testemunhas de Jeová: proclamadores do reino de
Deus
Deus, cap. 12; “Seja Deus verdadeiro”, 2. ed., p. 224-225; A Sentinela 15/2/1971,
p. 126; 15/9/1979, p. 32; lfi/8/1995, p. 13; 15/2/1995, p. 19-20; P/2/1999, p. 19; 15/ Receberão imortalidade Receberão vida eterna
1/2000; 15/5/2001, p. 15; P/5/2007, p. 30-31; 15/8/2007, p. 19.
2 Disponível em <www.watchtower.org./e/statistics/worldwide_report.htm>. Acesso Jesus é seu Mediador Os 144 mil são seus mediadores
em: 28/9/2009. Em 2001, esse número era de 8.600 (A Sentinela, 1W 2001, p. 21).
Terão o poder de perdoar pecados e Terão seus pecados perdoados
Como o número só vinha crescendo, a chamada celestial foi reaberta em 2007. Para
mais detalhes, v. o Apêndice 1, pergunta n. 10. purificar as “outras ovelhas” por Jesus e pelos 144 mil
244 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s As CASTAS DE JEOVÁ: OS 144 MIL E AS “OUTRAS OVELHAS” 245

R e f u t a ç ã o d o s is t e m a d e c a s t a s d o s t e s t e m u n h a s d e J e o v á atenta dos Evangelhos revela que a m ensagem salvadora de Jesus seria


realizada em dois estágios: prim eiram ente, aos judeus, e depois, ao mundo
Essas interpretações acerca dos 144 mil, da “grande multidão” e das
pagão, aos gentios ou não judeus. Mas por que os judeus em prim eiro
“outras ovelhas” estão associadas às distorções herm enêuticas dos se-
lugar? Romanos 3.1,2 fornece a resposta: “Qual é então a superioridade
guintes textos bíblicos: Apocalipse (Revelação) 7 .4 ,1 4 .1 ,3 -5 (que apre-
do judeu, ou qual é o proveito da circuncisão? Grande, de todo modo.
sentam o núm ero 144 m il), 7.9 (que m enciona uma grande multidão) e,
Prim eiram ente, porque foram incum bidos das proclam ações sagradas
como já vim os, João 10.16 (no qual são m encionadas as “outras ovelhas”).
de Deus” ( NM). Ora, os judeus aguardavam a realização das profecias do
Os textos-prova de que as “outras ovelhas” viverão na terra são Mateus
Antigo Testamento. Eles, e mais ninguém, conheciam as predições acerca
5.5 e Salmos 37.29, que dizem, respectivam ente: “Felizes os de tem pera-
mento brando, porque herdarão a terra” e “os próprios justos possuirão a do M essias, o “Salvador de Israel”. Sobre eles, Jeová disse: “E vós mesmos

terra e residirão sobre ela para todo o sempre” ( NM). vos tornareis para m im um Reino de sacerdotes e um a nação santa”

Veremos a seguir que essas interpretações não subsistem a uma aná- (Êxodo 19.6, NM). Eram , portanto, um povo separado por Deus para um

lise criteriosa desses textos bíblicos, o que põe fim ao sistem a de castas propósito especial: o Messias ou Cristo sairia do seu meio.

da seita Testemunhas de Jeová (v. o Apêndice 1, pergunta n. 10). Os gentios, de modo geral, não conheciam o verdadeiro Deus, o Deus
de Abraão, Isaque e Jacó, m as adoravam e serviam outros deuses. Além
As “outras ovelhas” do m ais, tinham a vida devotada aos prazeres carnais (Rom anos 1.18-

Para a correta identificação das “outras ovelhas”, precisam os ter em 32). De m odo que seria improvável que aceitassem tão prontam ente um

m ente que a pregação de Jesus dirigia-se em prim eiro lugar aos judeus. salvador e, muito m enos, um único Deus. Em razão disso, a m ensagem

Jesus é cham ado o “Salvador de Israel” e “Reis dos judeus” (Mateus 1.21; de Jesus destinava-se em prim eiro lugar aos judeus.

2 .2). Ao com issionar os 12 discípulos, Jesus disse: “Não vos desvieis para Com tudo isso em mente, leiamos as palavras de Jesus em João 10.16:

a estrada das nações [ou gentios], e não entreis em cidade sam aritana; “E tenho outras ovelhas [os gentios] que não são deste aprisco [judaico]; a

m as, ide antes continuam ente às ovelhas perdidas da casa de Israel” (M a- estas tam bém tenho de trazer, e elas escutarão a m inha voz e se tornarão um

teus 10.5,6, NM). Portanto, quando Jesus disse que tinha “outras ovelhas” só rebanho [a Igreja], um só pastor” (NM). Não seria apenas Israel que seria

que não eram “deste aprisco”, este na realidade refere-se ao aprisco ju dai- salvo. Haveria “outras ovelhas” que, com o aprisco judaico, seriam, como

co ou às “ovelhas perdidas da casa de Israel”. De modo que as “outras rebanho, conduzidas por Jesus à vida eterna. Assim, judeus e gentios for-

ovelhas” não são da “casa de Israel”; são gentios. m ariam “um só rebanho” (leia tam bém Efésios 2).

Que Jesus ajuntaria prim eiram ente o aprisco judaico, torna-se evidente Não há dúvida, portanto, sobre a identidade das “outras ovelhas”: são
na conversa travada entre ele e uma m ulher siro-fenícia (cananeia). Ela os cristãos gentios (leia Atos 13.46; 18.6; 1.8; 10.1-35; Isaías 49.6).
implorava a ele que curasse sua filha endem oninhada. Jesus então lhe
A “grande multidão”
disse: “Não fui enviado a ninguém senão às ovelhas perdidas da casa de
Israel” (Mateus 15.21-26, NM). Apesar de ter dito isso, Jesus curou a filha A leitura de Apocalipse 7.9-15 dá a certeza de que a “grande multidão”
da m ulher em razão da grande fé demonstrada por ela. está no céu, não na terra, pois João afirm a que viu a grande multidão em
Essas palavras de Jesus fazem alguns pensar que ele estaria excluindo pé diante do trono de Deus e diante do Cordeiro, isto é, no céu. Isto, por si
os gentios de ouvir sua mensagem salvífica. Não é bem assim . Uma leitura só, já anula essa divisão classista dos testem unhas de Jeová. Não há
246 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s As CASTAS DE JEOVÁ: OS 144 MIL E AS “OUTRAS OVELHAS” 247

margem para a interpretação particular de que João a viu na terra. No en- 0 interlocutor de João usou o pronome demonstrativo “estes” (do gre-
tanto, apesar dessa clara evidência, os testemunhas de Jeová argumentam: go cnJT O i, houtoi) ao falar da grande multidão. Emprega-se “estes” para
indicar o que está próximo ou junto da primeira pessoa, aquela que fala.
A descrição deles como “estando em pé diante do trono e diante do Isso quer dizer que, se a grande multidão estivesse na terra, “à vista do
Cordeiro” indica, não necessariamente, um local, mas uma condição trono”, não se poderia usar o pronome “estes”, m as “aqueles”, pois “aquele”
aprovada. [...] A expressão “diante do trono” (em grego, e.nó.pion tou indica pessoa ou objeto igualmente distante da pessoa que fala (no caso, o
thró.nou; literalmente, “à vista do trono”) não requer que estejam no ancião, que está no céu) e da pessoa com quem se fala (o apóstolo João).

céu. Sua posição é simplesmente “à vista de Deus”, que nos diz que no O bjeta-se a isso, afirm ando que, em bora o ancião esteja no céu, o após-

céu ele observa os filhos dos homens.3 tolo João estava aqui na terra, na ilha de Patmos. Respondemos que, na-
quele mom ento, a situação não era exatam ente essa. Vejamos Apocalipse

Essa interpretação faria sentido se não fosse um detalhe: a m esm a 4.1: “Depois destas coisas vi, e eis uma porta aberta no céu, e a prim eira

expressão “em pé diante do trono” tam bém é aplicada aos anjos em Apo- voz que ouvi era com o a duma trom beta, falando comigo [e] dizendo:

calipse 7.11: “todos os anjos [...] prostraram -se sobre os seus rostos di- ‘Sobe para cá e eu te m ostrarei as coisas que têm de ocorrer’ ”. Portanto,

ante do trono e adoraram a Deus” ( NM). Essa expressão, portanto, requer João estava em transe; por outras palavras, fora arrebatado em espírito
(v. 2), de form a que escreve com o se estivesse pessoalm ente no céu; daí a
que os anjos estejam no céu; sua posição não é simplesm ente à vista de
conversa tão íntim a com seu interlocutor. O uso então do pronom e de-
Deus, pois eles vivem no céu. Além do m ais, a m esm a expressão é em pre-
m onstrativo “este”, e não “aquele”, indica que a grande m ultidão está no
gada para indicar o local em que se encontram os 144 mil: “E eu vi, e eis o
m esm o lugar que o ancião, isto é, o céu.
Cordeiro em pé no m onte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil
Outro ponto im portante é Apocalipse 7 .1 5, que inform a que a gran-
[...]. E estão cantando com o que um novo cântico diante do trono e diante
de m ultidão serve a Deus “dia e noite no seu templo”. Portanto, se o
das quatro criaturas viventes e dos anciãos” (Apocalipse 14.1,3, NM). Ora,
tem plo de Deus está no céu, quem o serve “dia e noite” tem de estar no
se os anjos e os 144 m il estão diante do trono, e isso indica que estão no
m esm o lugar.
céu, por que o caso deveria ser diferente para a grande multidão?
Resta-nos agora identificar a grande multidão. Há um a grande possi-
Adicionalmente, Apocalipse 7.13,14 fornece outra pista do local onde
bilidade de que sejam m ártires do cristianism o, pois o texto revela que
deve estar a grande m ultidão (é o diálogo entre João e um dos anciãos):
saíram de um a “grande tribulação”. Isso certam ente confortaria os leito-
res de João, que estavam vivendo um período de perseguição religiosa (o
E, em resposta, um dos anciãos me disse: “Quem são estes que tra-
próprio apóstolo, autor de Apocalipse, estava preso pelo m esm o motivo).
jam compridas vestes brancas e donde vieram?” Eu lhe disse assim ime-
diatamente: “Meu senhor, és tu quem sabes.” E ele me disse: “Estes são Os 144 mil — quem são?
os que saem da grande tribulação e lavaram as suas vestes compridas e
Por se tratar de uma das figuras de Apocalipse, livro de m il e uma
as embranqueceram no sangue do Cordeiro” (NM).
interpretações, torna-se difícil identificar com precisão os 144 mil. Há
quem defenda que se trata de um núm ero literal, interpretando os 144
3 Raciocínios à base das Escrituras, p. 85. mil como judeus carnais. Outros, porém, optam por uma interpretação
248 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s
As CASTAS DE JEOVÁ: OS 144 MIL E AS “OUTRAS OVELHAS” 249

sim bólica, vendo nos 144 mil um a representação num érica de todo o m anter a coerência interpretativa, seria preciso reconhecer que a divisão
povo de Deus, tanto do Antigo quanto do Novo Testam entos. Seja como
tam bém é literal. Todavia, contrariando sua linha interpretativa, os teste-
for, afirm am os que, quer literal, quer sim bólico, o que im porta neste
munhas de Jeová dizem que essa divisão é sim bólica. 0 absurdo está ju s -
livro é afirm ar que, independentem ente da interpretação adotada, o tes-
tam ente nessa afirm ação. Com isso, os testem unhas de Jeová afirm am
tem unho da Bíblia é que os 144 mil não serão os únicos que irão para o
que a som a final da divisão sim bólica resulta num núm ero literal. Veja:
céu, com o dem onstram os no subtópico “A grande multidão”.
Além disso, a interpretação dos testem unhas de Jeová acerca dos 144
Judá 1 2 .0 0 0 (sim bólico) +
mil m ostra-se por demais incoerente. Segundo a seita, o núm ero 144 mil
Rúben 1 2 .0 0 0 (sim bólico) +
tem de ser obrigatoriam ente literal:
Gade 1 2 .0 0 0 (sim bólico) +
Aser 1 2 .0 0 0 (sim bólico) +
É o número 144.000 meramente simbólico? A resposta é indica-
Naftali 1 2 .0 0 0 (sim bólico) +
da pelo fato de que, após a menção do número definido de 144.000,
M anasses 1 2 .0 0 0 (sim bólico) +
Revelação 7:9 faz referência a “uma grande multidão, que nenhum
Sim eão 1 2 .0 0 0 (sim bólico) +
homem podia contar”. Se o número 144.000 não fosse literal, não
Levi 1 2 .0 0 0 (sim bólico) +
teria sentido contrastá-lo com a “grande multidão”. 4 Issacar 1 2 .0 0 0 (sim bólico) +
Zebulom 1 2 .0 0 0 (sim bólico) +
Em bora haja lógica na conclusão anterior, os testem unhas de Jeová,
José 1 2 .0 0 0 (sim bólico) +
todavia, não m antém essa coerência, pois deixam de seguir a linha de
Benjam im 1 2 .0 0 0 (sim bólico) +
raciocínio que deveria conduzi-la para a conclusão de que os 144 m il só
Total = 144.000 (literal?)
poderiam ser judeus carnais. Isso porque João, além de contrastar o fator
num érico, contrasta a nacionalidade de am bos os grupos: enquanto os
A pergunta é: Como na contabilidade dos testem unhas de Jeová a soma
144 mil são “selados de toda tribo dos filhos de Israel”, a “grande m ulti-
final de núm eros sim bólicos resulta em um núm ero literal? Não há como
dão”, por sua vez, vem “de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas”.
sustentar isso, definitivamente. Se a divisão é sim bólica, o resultado será
Há, portanto, um contraste entre uma “grande multidão de todas as na-
sim bólico; se a divisão é literal, então o resultado tam bém será literal.
ções” com os 144 mil das tribos dos “filhos de Israel”. Nesse caso, os 144
Mais um pouco de ponderação sobre os 144 mil. Os testem unhas de
mil seriam exclusivamente judeus naturais. No entanto, entre os teste-
Jeová afirm am que os 144 mil serão reis e sacerdotes, citando Apocalipse
m unhas de Jeová há “ungidos” am ericanos, brasileiros etc. Essa é a razão
5 .9 ,1 0 .0 apóstolo João relata que as quatro criaturas viventes e m ais os
pela qual não podem adm itir a nacionalidade judaica para os 144 mil.
24 anciãos cantam um novo cântico, dizendo (dirigindo-se ao Cordeiro):
Outra incoerência salta à vista. Para os testem unhas de Jeová, 144 mil
“Digno és de tom ar o rolo e de abrir os seus selos, porque foste m orto e
é um núm ero literal, m as, segundo Apocalipse 7 .5 -8, os 144 m il estão
com o teu sangue com praste pessoas para Deus, dentre toda tribo, e lín-
divididos em grupos de 12 mil de cada tribo dos filhos de Israel. Para
gua, e povo, e nação, e fizeste deles um reino e sacerdotes para o nosso
Deus, e hão de reinar sobre a terra” ( NM). De acordo com o que dissemos,
4 Raciocínios à base das Escrituras, p. 85.
se o número 144 mil for literal, a sua divisão em 12 tribos tam bém o será,
250 T e s t e m u n h a s d e J e o v A: e x p o s i ç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s As CASTAS DE JEOVÁ: OS 144 MIL E AS “OUTRAS OVELHAS” 251

bem como sua nacionalidade. Nesse caso, os 144 mil não seriam reis e Jesus Cristo e os 144 mil
sacerdotes, pois o texto diz que estes foram com prados dentre “toda
Os testem unhas de Jeová acreditam que os 144 m il serão reis e sacer-
tribo, e língua, e povo, e nação”. Isso se encaixa mais com a grande m ul-
dotes. Que papel desem penharão com o sacerdotes? Eis a resposta da sei-
tidão que procede de toda tribo, língua, povo e nação (v. Apocalipse 7.9).
ta: “Eles terão um poder que até agora tem faltado a todos os governos
Portanto, os reis e sacerdotes sairiam da grande multidão, e não dos 144
hum anos: o poder de purificar as pessoas do pecado e da imperfeição”.5
mil. Apocalipse tam bém diz que os 144 mil são “virgens”. Mas para os
Mesmo que os testem unhas de Jeová afirm em que os 144 m il detêm esse
testem unhas de Jeová trata -se de virgindade sim bólica, espiritu al, pois
poder m ediante o sacrifício resgatador de Jesus, essa declaração é um
m uitos “ungidos” são casados. Temos assim o quadro completo da inco-
atentado à singularidade de Jesus. Ele não precisa de 144 mil sacerdotes
erência da seita acerca dos 144 mil: o núm ero é literal, m as sua naciona-
para cum prir sua m issão de “purificar as pessoas do pecado e da im per-
lidade, sua divisão em 12 tribos e sua castidade são sim bólicas.
feição”, com o atestam as seguintes passagens bíblicas:
Para terminar, queremos destacar o seguinte: se apenas 144 mil vão para
o céu, esse número já teria sido completado lá no século I. Os dados bíblicos Romanos 5.9
da expansão do cristianism o primitivo revelam um crescimento espanto-
Como agora fomos justificados por seu sangue, muito mais ainda,
so. Os convertidos com toda a certeza ultrapassaram a casa dos 144 mil.
por meio dele, seremos salvos da ira de Deus!
Deduzimos isso de Atos dos Apóstolos. No Pentecoste, 120 discípulos rece-
beram o Espírito Santo, e ainda “naquele dia acrescentaram-se cerca de três Efésios 1.7
mil almas” (Atos 2.41, NM). Mas o crescimento não parou por aí. Após um
Nele [em Jesus Cristo] temos a redenção por meio de seu sangue, o
serm ão de Pedro, “muitos dos que tinham escutado o discurso creram, e o
perdão dos pecados, de acordo com as riquezas da graça de Deus.
número dos homens chegou a cerca de cinco miT’ (Atos 4.4, ATM). Lucas
ainda diz: “Mais do que isso, os crentes no Senhor continuavam a ser acres- Colossenses 1.14
cidos, multidões deles, tanto de homens como de mulheres” (Atos 5 .1 4, NM).
E mais: “Consequentemente, a palavra de Deus crescia e o número dos dis- [...] em [Jesus] temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados.

cípulos multiplicava-se grandemente em Jerusalém; e uma grande multi- Hebreus 9.14


dão de sacerdotes começou a ser obediente à fé” (Atos 6.7, NM).
“Cento e vinte discípulos”, “três m il”, “cinco m il”, “multidões deles”, [...] quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofe-

“o número dos discípulos multiplicava-se grandem ente”, “uma grande receu de forma imaculada a Deus, purificará a nossa consciência de

m u ltid ão de sa cerd o tes” . O ra, faz sen tid o a cred ita r que por m il e atos que levam à morte, para que sirvamos ao Deus vivo!

novecentos anos o núm ero dos 144 mil ainda não foi completado? Se, num
1Pedro 1.18,19
só dia, 3 mil se converteram , por que não acreditar que até o final do ano
100 o número 144 mil já tivesse sido ultrapassado? Se o número de cristãos Pois vocês sabem que não foi por meio de coisas perecíveis como
crescesse em torno de 3 mil ao ano, em apenas sessenta e sete anos (de 33 prata ou ouro que vocês foram redimidos da sua maneira vazia de viver,

a 100) já teria alcançado 201 mil discípulos, ultrapassando em m uito a


casa dos 144 mil! 5 A verdade que conduz à vida eterna, 1968, p. 106.
252 T e s t e m u n h a s d e J e o v A: e x p o s i ç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s As c a s t a s d e Je o v á : o s 144 MIL e a s “ o u t r a s o v e l h a s ” 253

transmitida por seus antepassados, mas pelo precioso sangue de Cris- Salmos 37.29 (NM)
to, como de um cordeiro sem mancha e sem defeito.
Os próprios justos possuirão a terra e residirão sobre ela para todo o
ljoão 1.7 sempre.

Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, temos comunhão
Os salm os são certam ente um grande presente de Deus para todos
uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo o
nós. Os próprios testem unhas de Jeová reconhecem esse fato:
pecado.

Apocalipse 1.5,6 Esses salmos são cânticos de louvor a Jeová, e, não só isso, contêm
também orações de pedido de misericórdia e de ajuda, bem como ex-
[...] e de Jesus Cristo, que é a testemunha fiel e verdadeira, o primo-
pressão de fé e confiança. São repletos de agradecimentos, exultações e
gênito dentre os mortos e o soberano dos reis da terra. Ele nos ama e
exclamações de grande, sim, superlativa, alegria. [...] Encerram muita
nos libertou dos nossos pecados por meio do seu sangue, e nos consti-
instrução proveitosa e edificante, escrita em linguagem elevada e figu-
tuiu reino e sacerdotes para servir a seu Deus e Pai. A ele seja glória e
rada, fazendo vibrar o coração do leitor.6
poder para todo o sempre! Amém.

Sim, os salm os estão repletos de “expressões de fé e confiança” e “en-


0 povo de Deus é sacerdote não porque recebeu poder para purificar
cerram muita instrução proveitosa e edificante”. No entanto, nem todos
as pessoas do pecado e da im perfeição, m as para tão som ente servir a
os salmos são proféticos. Este é o caso do salm o 37. Não é profético. Não
Deus. 0 papel de purificar as pessoas cabe inteiram ente a Jesus.
está predizendo que, num futuro próxim o, Deus estabelecerá um paraíso

Apocalipse 7.14 para os justos viverem. Aliás, note-se que não se faz m enção de nenhum
paraíso terrestre. Esse salm o, na verdade, está dando excelentes conse-
Estes são os que vieram da grande tribulação e lavaram as suas ves- lhos a pessoas tementes a Deus que vivem entre m alfeitores. De fato, pela
tes e as alvejaram no sangue do Cordeiro. leitura desse salm o, deduzimos que Davi o compôs na intenção de m os-
trar aos de sua época que, apesar de o ím pio prosperar m aterialmente,
F e l ic id a d e e t e r n a n o c é u , n ã o n a t e r r a
esse quadro não durará de modo indefinido. Ele terá de pagar por seus
Em sua pregação de casa em casa, os testemunhas de Jeová procuram atos iníquos. Davi adverte: “Não invejes os que fazem injustiça” (v. 1).
ensinar às pessoas que elas têm a esperança de viver para sempre em um Uma leitura cuidadosa revela que Davi está falando de fatos ocorridos
lindo paraíso terrestre, igual ao que fora perdido por Adão e Eva. Pro- durante a sua vida (Reed,1990, p. 33). Isso é comprovado pela leitura do
curam m ostrar em seus livros ou revistas alguma ilustração de como será versículo 25, que diz: “Eu era m oço, tam bém fiquei velho, e no entanto, não
o paraíso. A mensagem inteira é voltada para a vida no paraíso terrestre, vi nenhum ju sto com pletam ente abandonado, nem a sua descendência
mas nunca para a verdadeira esperança que a Bíblia oferece: o céu. procurando pão”. Leia o salmo 37 e verá que as ações são ou passadas ou
Exam inaremos a seguir os principais textos bíblicos que parecem in- presentes, mas nunca futuras. Quando os verbos indicarem ação futura,
dicar que muitos viverão aqui na terra para sempre. Trata-se, na m aioria,
de textos isolados da Bíblia, retirados de seus respectivos contextos. 6 Toda Escritura é inspirada por Deus e proveitosa, ed. rev., p. 101; antiga ed., p. 97.
254 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s As CASTAS DE JEOVÁ: OS 144 MIL E AS “OUTRAS OVELHAS” 255

essas expressões devem ser entendidas dentro da m ensagem que Davi Além disso, o term o “terra” é usado na Bíblia em diversos sentidos:
quer transm itir a seus irm ãos. Confira: “não te acalores”, “não invejes”,
“confia em Jeová”, “fazei o bem ”, “reside na terra”, “age com fidelidade”, 1. 0 globo terrestre (Gênesis 1.2; Salm os 33.14).
“deleita-te”, “rola teu cam inho”, “fica quieto”, “espera ansiosam ente”, 2. Terra natal (Gênesis 12.1; Salm os 81.5).
“larga a ira”, “abandona o furor”, “o iníquo está tram ando”, “range os 3. Um pedaço de terra; terreno (Gênesis 47.19; Salm os 63.1).
dentes”, “os iníquos desem bainharam ”,“o iníquo tom a em prestado e não 4. A terra da prom essa (Gênesis 12.7; 15.18; 2 6.3; Josué 1.2-6 etc.).
paga de volta”, “o justo está m ostrando favor”, “está dando presentes”,
“eu era m oço”, “fiquei velho”, “não vi”, “a boca profere sabedoria”, “sua Qual desses foi empregado pelo salm ista? Pode ser o último, pois “ter-
língua fala de modo justo”, “a lei de Deus está no seu coração”, “seus ra da promessa” remete a esperança a um lugar sem impiedade, com far-
passos não vacilam ”, “o iníquo está viajando”, “está procurando”,“espera tura (no qual m ana leite e m el) e ju stiça etc. (Êxodo 3.17; Salmos 72). É a
em Jeová”, “guarda seu cam inho”, “eu vi o iníquo ser tirano”, “e ainda terra na qual as expectativas m essiânicas serão finalm ente alcançadas.
assim foi passando”, “eis que não era m ais”, “estive procurando”, “ele No cristianism o, a transposição é im ediata: a “terra” m encionada em Sal-
não foi achado”, “vigia o inculpe”, “m antém a vista no hom em reto”. mos 37.29 é o céu por analogia. É lá a nossa pátria, na qual esperamos
Evidentemente, esse não é um salm o profético no sentido estrito da encontrar ansiosam ente o Senhor Jesus (Filipenses 3.2 0).
palavra. Na verdade, as ações futuras que Davi emprega são dirigidas sem -
pre a Deus, que recom pensará os justos por sua fidelidade, m esm o nos
Salmos 115.16 (NM)
dias do próprio Davi (e não séculos à frente). Mas, da m esm a form a que Quanto aos céus, os céus pertencem a Jeová, mas a terra ele deu aos
Deus recom pensa, ele tam bém castiga as im piedades praticadas pelo filhos dos homens.
ímpio: “Eu vi o iníquo ser tirano e espalhar-se com o um a árvore frondo-
sa em solo nativo. E ainda assim foi passando, e eis que não era m ais; e eu Assim com o o anterior, esse salmo não é profético, escatológico. Ao
o estive procurando, e ele não foi achado” (v. 35,36 ). Note que Davi não mesm o tempo que o salm ista diz que Deus deu a terra aos filhos dos ho-
disse que o iníquo passará, m as que foi passando ; que não seria m ais, mens, tam bém afirm a: “Nada nos pertence, ó Jeová, nada nos pertence”
mas que “não era mais” etc. (v. 1, NM). Portanto, a terra não é nossa; é de Deus: “A Jeová pertence a
No entanto, apesar de ter sido escrito aos súditos do rei Davi, isso terra e o que a enche, o solo produtivo e os que m oram nele” (24.1, NM).
não significa que ele não nos sirva hoje. Pelo contrário: “Toda Escritu ra Ela foi “arrendada” aos hom ens; apenas nesse sentido ela foi “dada”.
é inspirada por Deus e proveitosa para ensinar, para repreender, para Além disso, a vida na terra estava sujeita a um pacto. O prim eiro pac-
end ireitar as coisas, para disciplinar em ju stiça” (2T im óteo 3 .16 , NM). to entre Deus e o hom em foi o das obras. A vida eterna seria outorgada ao
P o r ta n to , o sa lm o 3 7 e n s in a q u e D eu s re c o m p e n sa e ta m b é m hom em e à sua posteridade se ele m antivesse perfeita obediência. Entre-
recom pensará a boa conduta do ju sto, do que o teme. Em contrapartida, tanto, Adão e Eva quebraram o pacto com Deus, desobedecendo-o. Em
não adianta ser iníquo, pois perder o favor de Deus é cair na condenação decorrência disso, o que deveria ser bênção virou maldição: o solo pro-
eterna (Mateus 25.41,46; Hebreus 10.31). De fato, o salm o 37 dá excelentes dutivo foi amaldiçoado, a mulher teria as dores de parto aum entadas, o
conselhos a pessoas tem entes a Deus que vivem entre m alfeitores. Nada homem teria de trabalhar arduamente na terra para tirar dela sua sub-
m ais que isso. sistência (Gênesis 3). Portanto, com a incapacidade de ter vida por meio
256 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s As CASTAS DE JtOVÁ: OS 144 MIL E AS “OUTRAS OVELHAS” 257

desse pacto, Deus estabeleceu outra aliança com o hom em , o que cham a Por meio desse texto bíblico, os testem unhas de Jeová garantem que
de “pacto da graça”. 0 Senhor prometeu enviar um Salvador para desfa- o céu não é o destino de todos os cristãos, pois, para que as palavras de
zer o m al causado no Éden (Gênesis 3.15; 1João 3.8). Por m eio de Cristo, a Jeová se cum pram , será preciso que a terra seja habitada por hum anos.
paz e a comunhão com Deus seriam restauradas, e os cham ados e eleitos Ora, o texto não diz que, para que o propósito de Deus seja cumprido,
de Deus iriam para o “paraíso de Deus” (Apocalipse 2.7, NM). Trata-se a terra deverá ser habitada por hum anos; o texto não especifica os habi-
evidentem ente do céu, pois este era a esperança prom etida a todos os tantes. Aliás, antes de Deus criar a hum anidade, a terra já era habitada
fiéis (João 14.1-3; Filipenses 3.20; IPedro 1 .3 ,4 ); é lá onde se verá Deus, por anim ais (Gênesis 1.20-25). Isso já seria o suficiente para que as pala-
como o próprio Jesus prometeu (Mateus 5.8; v. tb. Mateus 5.5 m ais adian- vras de Deus registradas em Isaías tivessem seu cumprimento.
te). Com Jesus, o paraíso é recuperado. Ademais, e isso é m era especulação teológica, se terem os um corpo
glorificado capaz de viver em dim ensões opostas (espiritual e terrena),
Provérbios 2.21,22 (NM)
nada im pediria essa nova hum anidade glorificada de habitar a terra ou
Pois os restos são os que residirão na terra e os inculpes são os que outros mundos. É esperar para ver.
renascerão nela. Quanto aos iníquos, serão decepados da própria terra;
e quanto aos traiçoeiros, serão arrancados dela.
Mateus 5.5 (NM; v. 4, em algumas versões)
Felizes os de temperamento brando porque herdarão a terra.
O livro de Provérbios ja m ais tencionou ser escatológico. Essas m áxi-
m as foram escritas com um objetivo: “Os provérbios de Salom ão, filho Nas Bem -aventuranças, Jesus parece usar o term o “terra” para lem -
de Davi, rei de Israel, para se conhecer sabedoria e d isciplina, para se brar a seus ouvintes a terra prometida, para em seguida falar que os bem -
discernirem as declarações de entendim ento, para se receber a disciplina -aventurados “verão a Deus” e que sua recom pensa está reservada no céu.
que dá perspicácia, ju stiça e juízo, e retidão, para se dar argúcia aos Por diversas vezes, Jesus prometeu o céu, não a terra (Mateus 5.3,8,12;
inexperientes, conhecim ento e raciocínio ao m oço” (1 .1 -4 , NM). João 14.2,3). Portanto, Jesus não fez nenhuma separação de pessoas e não
Deve-se evitar o erro de querer fazer do sábio um profeta. Na verdade, lhes destinou moradas diferentes, com o fazem os testem unhas de Jeová.
em todo o capítulo 2, o sábio dá instruções sobre a conduta correta e sua Os ouvintes de Jesus eram judeus, os quais esperavam a restauração do
recompensa. Exalta a sabedoria e o raciocínio, e diz que o objetivo de suas reino de Israel, im ponente, dominando sobre os inimigos e livres do jugo
palavras “é que andes no cam inho de gente boa e que guardes as veredas romano (v. Atos 1.6). Ansiavam pelo M essias, que lhes devolveria a terra
dos justos”. Note a sem elhança desse provérbio com o salm o 37. Não se da promessa, a terra que m ana “leite e mel” (Êxodo 3.8; Números 13.27;
pode arbitrar e atribuir ao sábio aquilo que ele não disse. Deuteronômio 27.3). Essa prom essa de Deus seguiu-se logo após a liber-
tação dos hebreus do jugo egípcio. Mas a libertação que Jesus estava ofe-
Isaías 45.18 (NM)
recendo era muito m aior; era a libertação da escravidão do pecado e da
Pois assim disse Jeová, o Criador dos céus, ele, o [verdadeiro] Deus, o morte. A grande novidade é que o céu seria a nova “terra prom etida”,
Formador da terra e aquele que a fez, aquele que a estabeleceu firmemente, onde as expectativas m essiânicas finalm ente seriam cumpridas.
que não a criou simplesmente para nada, que a formou mesmo para ser Os cristãos viram na “terra da prom essa” um tipo perfeito e adequado
habitada: “Eu sou Jeová, e não há outro”. do novo paraíso, ou seja, o próprio céu (com direito à árvore da vida e
258 T e s t e m u n h a s d e J e o v A: e x p o s i ç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s As c a s t a s d e J e o v á : OS 144 MIL E a s “ o u t r a s o v e l h a s ” 259

tudo m ais): “Àquele que vencer concederei com er da árvore da vida, que Quais “co-herdeiros” de Cristo, tais ungidos, de temperamento bran-
está no paraíso de Deus” (Apocalipse 2.7, NM). Assim, a árvore da vida, do, partilharão de Sua herança da Terra. (Romanos 8:17).8
que antes estava na terra, agora se encontra no céu. 0 m esm o se deu com
o paraíso, com o templo de Deus e com a cidade de Jerusalém , que são
2Pedro 3.13 (NM)
apresentados pela Bíblia no céu (Apocalipse 14.17; 21.2). Mas, há novos céus e uma nova terra que aguardamos segundo a
Todavia, se é o globo terrestre que está em questão, ainda assim a in- sua promessa, e nestes há de morar a justiça.
terpretação dos testem unhas de Jeová perde força pela seguinte razão:
Hebreus 1.3 diz que Jesus é o “herdeiro de todas as coisas”, o que inclui a Os testem unhas de Jeová afirm am que os “novos céus” representam o
terra. Ora, apesar de herdá-la, isso não im plica dizer que viverá nela. O governo de mil anos de Jeová, que será exercido por Jesus Cristo, auxilia-
m esm o se aplica aos cristãos, pois o apóstolo Paulo diz que, por serm os do pelos 144 mil. E a “nova terra” refere-se à nova e justa sociedade hu-
filhos de Deus, somos tam bém seus herdeiros: “Então, se som os filhos, mana, que viverá segundo a vontade de Jeová.
som os tam bém herdeiros: deveras, herdeiros de Deus, m as co-herdei- Essa é um a interpretação d istante das E scritu ras. A expressão “no-
ros de Cristo” (Rom anos 8.17, NM). Sendo herdeiros de Cristo, herdare- vos céus e um a nova terra” não é exclusividade do apóstolo Pedro. No
m os o que Cristo herdou, incluindo a terra, m as, com o no caso dele, não início do capítulo 3, ele diz que o objetivo de sua carta é lem brar aos
quer dizer que terem os de viver nela para sem pre. Isso pode ser ilustra- leitores as declarações anteriorm ente feitas pelos santos profetas. Entre
do da seguinte m aneira: se alguém herdar uma propriedade, não signi- estes, está Isaías, que usou esta expressão: “Pois eis que criou novos céus
fica necessariam ente que terá de habitar nela; m as fica a garantia de que e uma nova terra; e não haverá recordação das coisas anteriores, nem
se trata de um bem seu. Aliás, as publicações dos testem unhas de Jeová subirão ao coração” (6 5 .1 7 , NM ). Tam bém em 66.22 (iVM ):“ ‘Pois assim
confirm am essa interpretação, pois afirm am que as palavras de Mateus com o os novos céus e a nova terra que eu faço estão postos diante de
5.5 tam bém são aplicadas a Jesus e aos “ungidos”, aos 144 m il com m im ’, é a pronunciação de Jeová, assim ficarão postas a vossa descen-
esperança celestial; estes tam bém “herdam a terra”. Veja: dência e o vosso nom e” ’. Nesses capítulos, o santo profeta está falando
da restauração de Sião (Jeru salém ). Algumas passagens exprim em es-
Diz-se que os membros ungidos da congregação cristã têm uma he- peranças m essiânicas, que, na linguagem do povo de Deus, representa-
rança celestial, compartilhando a herança de Jesus como seus “irmãos”. ria um novo p a ra íso , um lug ar de d eleite e felicid a d e e tern o s (v.
(Ef 1:14; Col 1:12; IPe 1:4,5) Isto inclui a terra. — Mt 5:5.7 6 5 .1 3 ,1 4 ,2 1 -2 5 ).
Depois de m encionar os “novos céus e uma nova terra” (65.17), Jeová
Jesus declarou felizes os de temperamento brando porque estes her-
diz: “Mas exultai e jubilai para todo o sempre naquilo que estou criando.
darão a Terra. Na qualidade de Filho de Deus de temperamento brando
Pois eis que crio Jerusalém como causa para júbilo e seu povo como causa
perfeito, Jesus é o Herdeiro Principal da Terra. (Salmo 2:8; Mateus 11:29;
para exultação” (65.18, NM). Portanto, essa expressão, de acordo com o
Hebreus 1:1,2; 2:5-9) Mas, qual messiânico “filho de homem”, ele teria
co n tex to , revela “re sta u ra ção co m p leta”; ela não deve ser tom ad a
governantes associados no seu Reino celestial. (Daniel 7 :1 3 ,1 4 ,2 2 ,2 7 )
literalmente, nem do modo que é interpretada pelos testemunhas de Jeová.

7 Estudo perspicaz das Escrituras, v. 2, p. 316. 8 A Sentinela 15/10/1991, p. 10.


260 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s As CASTAS DE JEOVÁ: OS 144 MIL E AS “OUTRAS OVELHAS” 261

0 desejo de restauração estava profundam ente enraizado no coração dos isso pode incluir a renovação do próprio planeta Terra, e que este pode vir a
amantes de Sião. Jeová disse a seu povo: ser um local para os salvos com corpo glorificado desfrutarem.
É verdade que falar sobre o tempo vindouro não é nada fácil. Sabe-
Alegrai-vos com Jerusalém e jubilai com ela, todos os que a amais. m os, porém , o suficiente para afirm ar que os “novos céus” não represen-
Exultai grandemente com ela, todos os que estais pranteando com ela, tam o reinado m ilenar de Cristo com os 144 m il e que a “nova terra” não
visto que mamareis e certam ente vos fartareis do peito de plena diz respeito aos testem unhas de Jeová, que aguardam sobreviver à bata-
consolação por ela, visto que sorvereis e tereis deleite com a mama de lha de Armagedom e form ar a “sociedade do novo Mundo”.
sua glória. Pois assim disse Jeová: “Eis que lhe estendo a paz como um
Apocalipse 21.3,4 (NM)
rio e a glória de nações como torrente inundante, e vós haveis de mamar.
Sobre o lado sereis carregados e sobre os joelhos sereis afagados. Como Com isso ouvi uma voz alta do trono dizer: “Eis que a tenda de Deus
a um homem a quem a sua própria mãe está consolando, assim eu está com a humanidade, e ele residirá com eles e eles serão os seus povos.
mesmo continuarei a consolar-vos; e no caso de Jerusalém, sereis E o próprio Deus estará com eles. E enxugará dos seus olhos toda lágri-
consolados. E certamente vereis, e vosso coração forçosamente exultará, ma, e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem clamor,
e os vossos próprios ossos florescerão como a tenra relva. E a mão de nem dor. As coisas anteriores já passaram”.
Jeová há de ser dada a conhecer aos seus servos, mas ele verberará
realmente os seus inimigos”. Essa passagem de Apocalipse está diretam ente ligada ao que disse-
mos sobre 2Pedro 3.13. Os versículos 1 e 2 (NM) dizem: “E eu vi um novo
Ademais, há várias passagens que usam a expressão “céus e terra” céu e uma nova terra; pois o céu anterior e a terra anterior tinham passa-
com o sím bolo de totalidade (Gênesis 1.1; 14.19; D euteronôm io 4.26; do, e o m ar já não é. Vi tam bém a cidade santa, Nova Jerusalém , descendo
30 .19; 31.28; 32 .1; Salm os 50.4; 102.25; 136.5,6; Isaías 4 2.5). Nesses tex- do céu, da parte de Deus, e preparada com o noiva adornada para seu
tos, o grupo “céus e terra” indica algo completo, o todo. Assim, a frase marido”. Apocalipse 21.1 nos reporta a Isaías 65.17 e 66.22, em que a ex-
“Deus criou os céus e a terra” (Gênesis 1.1) indica a totalidade da criação. pressão “novos céus e nova terra” é sím bolo da renovação ou restauração.
No caso de Deuteronômio 30.19, o Senhor, com o intuito de ressaltar suas A intim idade de Deus com o seu povo é m ostrada em 21.3. Aliás, essa
palavras e seus preceitos, declarou que “os céus e a terra” seriam suas teste- intimidade é característica da aliança de Deus com o antigo Israel. Por
munhas. É claro que o sentido é metafórico. Com isso, ele quis dizer que o meio dessa aliança, Deus estaria presente com o seu povo. A arca da aliança
conjunto da criação seria testem unha daquilo que ele proferiu. era sím bolo da presença de Deus, e a tenda (tabernácu lo) era a habitação
Diante disso, podemos afirm ar que Pedro e Isaías se referiam a um dele. Essa intim idade e presença de Deus estendem -se a todos os cris-
período de renovação ou de restauração com a expressão “um novo céu e tãos, uma vez que estes são “templo do Deus vivo”: “Pois nós som os tem -
uma nova terra”. E é essa a mensagem da Bíblia acerca do Reino m essiâ- plo dum Deus vivente; assim com o Deus disse: “Residirei entre eles e
nico. O Reino do Messias é um Reino que “restaura”, que renova o céu e a andarei entre eles, e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo” (2Corín-
terra, ou seja, toda a cria çã o de D eus. Nada escap ará às profundas tios 6.16, ATM; v. tb. ICoríntios 3.16; 6.19).
transformações que Deus realizará no Universo (leia Mateus 19.28; Atos Em bora a esperança dos cristãos seja a vida eterna no céu, “o paraíso
3.21; Romanos 8.19-21; ICoríntios 15.24-28; Efésios 1.8-12). E é claro que de Deus” (Apocalipse 2.7 ), isso não exclui a possibilidade de a terra ser
262 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s As CASTAS DB JEOVÁ: OS 144 MIL E AS “OUTRAS OVELHAS” 263

um lugar de deleite para aqueles que desfrutarão de um corpo glorifica- viram -nas de longe e acolh eram -n as, e d eclararam p u blicam ente que
do. Mas esse assunto não é objeto deste livro, até porque as Escrituras eram estranhos e residentes tem porários no país” (1 1 .13 , NM).

não versam muito sobre essa questão. 0 m ais im portante é que estare- Preste atenção em 11.16: “Mas agora procuram alcançar um lugar

mos com o Senhor onde quer que ele esteja: “Na casa de meu Pai há mui- melhor, isto é, um pertencente ao céu. Por isso, Deus não se envergonha
deles, de ser cham ado seu Deus, porque aprontou para eles uma cidade”.
tos aposentos; se não fosse assim , eu lhes teria dito. Vou preparar-lhes
Ora, “um lugar pertencente ao céu” — com o verte a NM — é um lugar
lugar. E se eu for e lhes preparar lugar, voltarei e os levarei para m im, para
celestial, que, com toda a certeza, deve ser m elhor do que a terra onde
que vocês estejam onde eu estiver” (João 14.2,3).
habitavam. O texto deixa bem claro que a esperança desses fiéis da Anti-
O s f ié is d o A n t ig o T e s t a m e n t o guidade era m orar no céu ,“um lugar m elhor” . 0 texto ainda diz que Deus
“aprontou para eles uma cidade”. Que cidade é essa? Seria algum lugar
Os testem unhas de Jeová creem que os servos fiéis de Jeová do Antigo aqui na terra? No capítulo 12, o autor responde: “M as, vós vos chegastes
Testamento, com o Abraão, Daniel, Davi, Isaque, Jacó, Jó e muitos outros a um m onte Sião e a uma cidade do Deus vivente, a Jerusalém celestial, e
citados em Hebreus 11, serão ressuscitados para viver para sempre no a m iríades de an jo s” (v. 22, NM).
paraíso terrestre, já que m orreram antes que a cham ada celestial fosse Portanto, a cidade em que os fiéis do Antigo Testamento habitariam
iniciada, no ano 33 d.C., em Jerusalém . Estão incluídos na lista João B a- seria uma cidade celestial, a cidade do Deus vivente, a nova Jerusalém .
tista e o pai adotivo de Jesus, José. Nenhum deles terá acesso ao céu. Hebreus 11.10 (NM) registra que Abraão “aguardava a cidade que tem

Trataremos dessa questão em duas etapas. Prim eiram ente, vamos verdadeiros alicerces, cujo construtor e fazedor é Deus”. Essa cidade é a
m esm a descrita em Apocalipse 21.2 ( NM ): “Vi tam bém a cidade santa,
m ostrar à luz da Bíblia que o destino e a esperança dos fiéis servos de
Nova Jerusalém , descendo do céu, da parte de Deus”. E na lista dos que
Deus do Antigo Testamento era o céu. Para lá iriam a fim de encontrar
habitariam a cidade santa, a nova Jerusalém , que Deus aprontou para os
seu Deus. Em seguida, vam os analisar alguns textos m al interpretados
seus fiéis, está o rei Davi (Hebreus 11.32), aquele que, segundo os teste-
pelos testem unhas de Jeová a fim de provar que nem todos os servos de
munhas de Jeová, não poderia viver no céu.
Deus vão para o céu, como João Batista e o rei Davi, além do ladrão que
O testem unho das Escritu ras é claro: todos os que foram eleitos e
m orreu ao lado de Jesus.
chamados por Deus por fim estarão com ele e o verão face a face. Isso não

Hebreus 11 — a esperança dos heróis da fé é prerrogativa de apenas 144 mil pessoas.

Que os fiéis do Antigo Testam ento foram agraciados por Deus com
Esclarecendo textos mal interpretados
a cham ada celestial, evidencia-se pela leitura de Hebreus 11 e 12. No Mateus 11.11 (NM) — João Batista
capítulo l l , o autor apresenta o que se cham a de “galeria dos heróis da
Entre os nascidos de mulheres não se levantou ninguém maior do
fé”, uma lista de fiéis do Antigo Testamento, que inclui Abel, Enoque, Noé,
que João Batista; mas aquele que é menor no Reino dos céus é maior
Abraão, Isaque, Jacó, José, M oisés, Raabe, Gideão, Baraque, Sansão, Jefté,
do que ele.
Davi, Sam uel e outros profetas, além de personagens desconhecidas ou
não citadas nom inalm ente. Sobre eles, é dito: “Todos estes m o rreram Baseando-se nesse texto, os testemunhas de Jeová afirm am que João, o
em fé, em bora não recebessem o [cum prim ento das] prom essas, m as Batista, não poderia ir para o céu. O raciocínio é o seguinte: se João tivesse
264 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s As CASTAS DE JEOVÁ: OS 144 MIL E AS “OUTRAS OVELHAS” 265

morrido e ido para o céu, certam ente não seria m enor que o m enor desse breve, sem ver e acom panhar o M essias cum prindo a obra para a qual
Reino. Esse raciocínio pressupõe que João havia m orrido, m as que não fora destinado pelo Pai. Apesar de ser um profeta, o m aior entre os nasci-
havia ido para o céu, pois, se tivesse ido, o m enor no Reino dos céus não dos de mulher, João não participou ativam ente no processo de cresci-
poderia ser m aior do que ele. Ora, tal conclusão é descabida, pois, qu an- mento do Reino. Assim, o m enor nesse Reino seria m aior do que João,
do Jesus proferiu essas palavras, João estava vivo, não m orto; levando-se pois este foi apenas seu precursor, seu anunciador, ao passo que aquele
isso em consideração, o argumento dos testem unhas de Jeová fica sem andaria com Cristo, veria seus milagres e prodígios, seria ensinado dire-
sentido. Então, o que queria Jesus dizer com a frase “o m enor no Reino tam ente por ele, veria sua ressurreição, m arcando seu triunfo sobre a
dos céus é m aior do que João”? morte, e a glória do Reino.
Em prim eiro lugar, a expressão “m enor” não deve ser tom ada como Como se vê, Jesus não ensinou que João Batista não iria para o céu.
comparação entre indivíduos, m as entre situações (L a c u eva , 1984). Exem -
Atos 2.29,34a fNM) — Davi
plo disso está em Hebreus 2.9. Essa passagem diz que Jesus foi feito “m e-
nor” que os anjos. É evidente que a referência diz respeito ao tempo em Homens, irmãos, é permissível falar-vos com franqueza a respeito
que Jesus, sendo rico, fez-se pobre (IC oríntios 8.9), tom ando a forma de do chefe de família Davi, que ele tanto faleceu como foi enterrado, e o
servo, hum ilhando-se até a m orte de cruz (Filipenses 2.5-8). Da perspecti- seu túmulo está entre nós até o dia de hoje. [...] Realmente, Davi não
va da encarnação, Jesus foi feito m enor que os anjos. Agora resta-nos sa- ascendeu aos céus.
ber a qual situação Jesus estaria se referindo, para que o menor no Reino
dos céus fosse m aior que o Batista. Como Davi está na lista daquelas fiéis testem unhas de Deus de He-
As palavras de Jesus em 11.13 indicam que com João dá-se o fim de breus 11 (que já analisam os), fica evidente que a cham ada de Davi era
uma época e o início de outra: “Pois todos, os Profetas e a Lei, profetiza- celestial, e não para viver para sempre no paraíso na terra. Então, como
ram até João”. Profetizaram o quê? A vinda do M essias e do Reino dos entender a frase “Davi não ascendeu aos céus”?
céus. Essa era a m ensagem do Batista: “A rrependei-vos, pois o Reino As palavras de Pedro foram dirigidas aos judeus, que conheciam bem
dos céus tem se aproximado” (Mateus 3.1,2). No tempo em que pregou isso, a história de Davi. Sua linha de raciocínio, pelo contexto, conduzia seus
João tinha seus discípulos, os quais se tornariam discípulos de Jesus, ouvintes a perceber que Jesus, a quem m ataram , crucificando-o, na reali-
quando este fosse manifestado. João disse: “Eu não sou o Cristo, mas, fui dade era o Senhor, o M essias, de quem os profetas haviam falado. Ele teria
enviado na frente deste. Quem tem a noiva é o noivo. No entanto, o amigo do de morrer, m as seria ressuscitado dentre os m ortos. E Davi foi um dos
noivo, estando em pé e ouvindo-o, tem m uita alegria por causa da voz profetas que falou sobre a ressurreição do M essias no salm o 16. Esse sal-
do noivo. Esta alegria minha, por isso, ficou completa. Este tem de estar mo, porém, está na prim eira pessoa, como se Davi estivesse falando de si
aumentando, m as eu tenho de estar diminuindo” (João 3.28b-30, NM). mesmo. Pedro, contudo, diz que Davi falava de Jesus (v. 25). Davi, portan-
Assim, com a vinda de Cristo, João, o precursor, sairia de cena, abrin- to, não falou de sua ressurreição, m as da ressurreição de outro, do M es-
do espaço para o Rei do Reino dos céus. Temos, portanto, a época dos sias. Ambos m orreram , mas Davi não ressuscitou, não foi enaltecido à
anunciadores do Reino (os Profetas, a Lei e João Batista) e a do próprio direita de Deus, com o frisou Pedro (v. 29). O ponto que Pedro procura es-
Reino, inaugurada com a m anifestação pública de Jesus. João, além de tabelecer em seu discurso é que Jesus é o “Senhor e Cristo” (2.36), que nem
diminuir, pois seus discípulos deveriam seguir Jesus, viria a m orrer em mesmo a morte foi capaz de detê-lo (v. 24), e que, por sua ressurreição,
266 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s As CASTAS DE JEOVÁ: OS 144 MIL E AS “OUTRAS OVELHAS” 267

ascendeu aos céus e assentou -se à direita do Pai, tendo os inim igos Lucas 23.43 ( NM) — o ladrão arrependido
como escabelo para os pés (v. 32,33 ). Assim, a sentença “não ascendeu
E ele prosseguiu a dizer: “Jesus, lembra-te de mim quando entrares
aos céus” deve ser entendida como “Davi não ressuscitou”.
no teu reino. E ele lhe disse: Deveras, eu te digo hoje: Estarás comigo no
João J./J(N M ) — ninguém ascendeu ao céu Paraíso”.

Ademais, nenhum homem ascendeu ao céu, senão aquele que des-


A po ntu ação d essa passagem na Tradução do Novo Mundo dá a
ceu do céu, o Filho do homem.
entender que Jesus não prometera o céu para o ladrão arrependido. Assim,
em vez de dizer: “D igo-te que hoje estarás comigo no paraíso”, Jesus teria
A seita usa esse texto para m ostrar que não havia esperança celestial
dito: “Eu te digo hoje: Estarás comigo no paraíso”. 0 argumento principal
antes da m orte de Cristo. Todavia, aqui não está em questão a esperança
dos testem unhas de Jeová é que a Bíblia não concorda com o conceito de
celestial. Nesse texto especificam ente, a expressão “ascendeu ao céu” deve
que Jesus e o malfeitor tenham ido para o céu no dia em que Jesus morreu,
ser entendida de outro modo, pois Jesus declara que som ente ele “ascen-
porque Jesus disse para Maria Madalena que não ascendera para o Pai ( João
deu” ao céu. Todavia, ele ainda não havia m orrido quando disse isso. Como
20.17); isso ocorreria apenas quarenta dias após sua ressurreição. Assim, o
então poderia ter subido? Alguns intérpretes creem que João estava se
referindo à ascensão de Jesus. Contudo, não parece ser o caso, pois João ladrão será ressuscitado no paraíso terrestre a fim de aprender a vontade

põe a frase “ninguém ascendeu ao céu, a não ser aquele que desceu do de Deus e praticá-la, uma vez que não teve oportunidade para isso.

céu” numa conversa que Jesus entabulou com Nicodemos; ele está repor- Há duas respostas que, apesar de conflitantes entre si, rebatem a posi-

tando-se àquela ocasião. Ao que parece, não era intenção de Jesus falar a ção dos testem unhas de Jeová.

Nicodemos de sua ascensão, m as m ostrar-lhe que ele tinha autoridade


para falar de coisas celestiais. É o que o contexto esclarece. Vejamos. 1. O paraíso referido por Jesus não era o céu. Consequentemente, am -

Nicodem os se espantou quando Jesus lhe disse que ele deveria “n as- bos não foram para lá naquele m esm o dia, m as para uma região
cer de novo” (v. 3). Ele não entendeu o que Jesus disse; achou que se de bem -aventurança. Essa posição é baseada em Lucas 16.19-31, o
tratava de voltar ao ventre m aterno (v. 4 ), e indagou a Jesus com o al- relato do rico e Lázaro. Deduz-se do texto que se trata de um a m es-
guém poderia nascer de novo (v. 9). Em resposta, Jesus revela estar fa- m a região, conhecida com o hades ou sheol, o local da habitação
lando daquilo que sabe e daquilo que viu (v. 11). Suas palavras tratam das alm as dos m ortos, tanto bons quanto maus (Salm os 9.17; Gê-
de coisas celestiais (v. 12). Assim, por ter descido de lá, ele tem autori- nesis 37.35). Chegando lá, cada um é destinado a um am biente di-
dade para falar daquilo que concerne ao céu, ou seja, para “ir até lá”. ferente. Alguns seguem para uma ala de torm ento, e outros, para o
Nenhum outro poderia falar daquilo que não viu. De m odo que só pode “seio de Abraão”, que seria o “paraíso” prometido por Jesus ao la-
entender e falar das coisas celestiais (“ascender ao céu”) aquele que de drão (v. o cap. 8). Para lá foram todos os fiéis do Antigo Testamen-
lá veio. Assim, em vez de ensinar que não havia esperança celestial antes to. Ao descer ao hades com o ladrão, Jesus visitou aqueles demais
de sua vinda, Jesus está dizendo que som ente ele tem autoridade para espíritos, anunciando aos habitantes do paraíso as boas-novas de
falar das coisas do céu (v. 32,33). E, para o próprio bem , Nicodem os de- salvação e,ao s que estavam no hades, palavras de julgam ento. Após
veria aceitar seu testem unho: “Não se surpreenda pelo fato de eu ter sua ascensão, Jesus teria conduzido os que estavam cativos no pa-
dito: É necessário que vocês nasçam de novo” (v. 7). raíso para o céu (Efésios 4.8-1 0; 1Pedro 3 .18 -20 ).
268 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s As c a s t a s d e J e o v á : OS 144 MIL E a s “ o u t r a s o v e l h a s ” 269

2. Jesus e o ladrão arrependido foram p ara o céu. D eduz-se essa co ngregaçõ es [igrejas] saberão que sou eu quem p esqu isa os
ideia de Apocalipse 2.7, que m enciona o céu com o o “paraíso de rins e os co rações, e eu vos darei individualm ente segundo as
Deus”. Isso em nada invalidaria o que Jesus disse a M aria M ada- vossas ações” (Apocalipse 2.2 3, NM). A explicação dos testem u -
lena, pois a ascensão não se dera de fato, um a vez que ele não nhas pressupõe a salvação pelas o bras. Como o ladrão não teve
ascendera corp oream ente. Ele ascend eria ao céu ressurreto, e, tem po de provar pelas obras que m erecia a salvação, deverá ser
com o a ressu rreição im plica união de corpo e alm a, essa a scen - ressu scitado no p araíso terrestre a fim de se provar digno da
são ainda haveria de acontecer. Os bem -aventu rados esp erari- prom essa que Jesu s lhe fizera. Essa explicação está em d esacor-
am a re s s u r r e iç ã o no p ró p rio c é u , n ão em alg u m lu g a r do com a Bíblia, que enfatiza a salvação pela fé, não pelas obras
interm ediário (2C oríntios 5.8; João 14 .3). É o que ensinam to - (Efésios 2 .8 -1 0 ). Portanto, o ladrão arrependido dem onstrou a
das as confissões de fé reform ada. fé exigida para a salvação, com o se depreende dos argum entos a
seguir (v. Rom anos 1 0 .9 -1 1 ).
Ambas as exposições refutam o ponto de vista antibíblico dos teste-
munhas de Jeová sobre o destino do ladrão arrependido. Acrescentamos a) O outro ladrão questionou Jesus; o arrependido, porém , re-
tam bém as seguintes razões que descartam a visão da seita: preendeu-o por isso, dizendo: “Não tem es absolu tam ente a
Deus?”. V ê-se claram ente que ele dem onstrou conhecim ento
1. A palavra “hoje” deve ser entendida em relação ao tempo do cu m - e tem or de Deus.
primento da promessa de Jesus, e não para m arcar o dia em que a b) Quando disse “Lem bra-te de m im quando entrares no teu Rei-
promessa fora feita. A razão disso está no fato de que quem diz no”, ele fez uma profissão de fé na m essianidade de Jesus, reco-
algo está dizendo naquele exato momento. Portanto, seria extre- nhecendo tratar-se de um rei.

m am ente redundante Jesus dizer: “Eu te digo hoje”. A frase “Eu te c) Demonstra crença na ressurreição de Jesus, e na sua própria,
digo” já resolveria a questão. O ladrão não pensaria que ele teria pois como Jesus poderia lem brar-se dele em seu Reino se ele
dito ontem ou que diria am anhã. Assim , a presença da palavra não ressuscitasse? Não faria sentido o pedido do ladrão arre-
“hoje” encaixa-se m elhor com a tradução: “D igo-te que hoje m es- pendido se ele não acreditasse na ressurreição de Jesus.
mo estarás comigo no paraíso”.
C o n c l u sã o
2 . Os testem u nhas afirm am que o ladrão deveria ser ressu scita -
do para ser posto à prova, um a vez que Jesus não p od eria saber Com o Credo apostólico, afirm am os: “Creio na vida eterna”. Essa vida
se ele teria sido crim in oso caso tivesse conhecido a vontade de será usufruída no céu, pois é lá que aguardamos ansiosam ente nosso Sal-
D eus.9 Ora, os testem u nhas de Jeová estão su bestim and o aquele vador Jesus Cristo, que transform ará nosso corpo de hum ilhação para
de quem se falou: “Agora sabem os que sabes todas as coisas” ser conform e o dele (Filipenses 3.20,21). Viver no céu é estar e viver com
(Jo ã o 1 6 .3 0 ; 2 1 .1 7 , N M ); e que d isse de si m esm o : “ [...] as Cristo (João 14.3; Filipenses 1.23; ITessalonicenses 4 .17 ). “O céu é o fim
último e a realização das aspirações m ais profundas do hom em , o estado
de felicidade suprema e definitiva” ( C a t e c i s m o , p. 246, n. 1024). Como de-
9 Poderá viver para sempre no paraíso na terra, p. 171, § 15. clarou J. I. Packer (1998, p. 243):
270 T est em u n h a s d e J e o v á : e x po s iç á o e r e f u t a ç á o d e s u a s d o u t r in a s

Os corações na terra dizem no curso de uma jubilosa experiência:


“Quero que isto nunca termine”. Mas, invariavelmente, termina. Os co-
rações dos que estão no céu dizem: “Quero que isto dure para sempre”.
E durará. Não pode haver melhor notícia que esta.
8
Aniquilando a alma e
apagando as chamas do
inferno

Cremos que o ser humano é uma alma; não possui alma imor-
tal que sobreviva à morte do corpo; ao morrer, o ser humano
entra em estado de inexistência; não existe consciência após a
morte. Os que se recusarem a servir a Jeová serão destruídos
eternamente. 0 inferno como lugar de tormento eterno não existe.

A ANTROPOLOGIA DOS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ


0 d iscu rso a n tro p o ló g ico dos te ste m u n h a s de Jeo vá, aliad o ao
escatológico (que diz respeito às últim as coisas), tem um a form a própria
de responder às perguntas Quem sou? e Para onde vou? O hom em é uma
alm a (Gênesis 2.7). Adão não tinha alm a. Ele era uma alm a, resultado da
com binação dos elem entos básicos do solo m ais o “fôlego de vida”, ou
espírito, que seria a centelha de vida que Jeová colocou no corpo sem vida
de Adão.1 0 conceito de im ortalidade da alm a é visto com o antibíblico e
baseado na con cep ção p la tô n ico -so c rá tica da natureza hum ana. Ao

1 Conhecimento que conduz à vida eterna, 1995, p. 81.


272 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s A n iq u i l a n d o a a l m a e a p a g a n d o a s c h a m a s d o in f e r n o 273

afirm ar que “a alm a que pecar, essa é que m orrerá” (Ezequiel 18.4, NM), a poderia ser sábio, nem justo, tam pouco amoroso. Seu padrão seria mais
Bíblia estaria testemunhando contra a doutrina da im ortalidade da alma. baixo do que o de muitos hom ens”. Essas foram as palavras proferidas
“A alm a m orre quando o corpo morre”, dizem os testemunhas de Jeová.2 por Russell para pôr em dúvida a doutrina bíblica da predestinação e do
Ao morrer, a alm a entra em estado de inexistência. Quando o “fôlego de torm ento eterno. Russell sentia-se confuso em relação a esses ensinos e
vida” é retirado, ou seja, quando alguém m orre, o indivíduo pode ter um decidiu declará-los antibíblicos.4 Por essa razão, os testemunhas de Jeo-
dos três destinos (já mencionados no cap. 5): vá afirm am ser m entira difundida pelo Diabo que as alm as dos iníquos
sejam atorm entadas num inferno de fogo. Não poderia existir esse lugar
1. O céu, destinado a 144 m il eleitos, escolhidos desde 33 d.C. Assim de tormento, porque isso é contrário ao coração de Deus, pois seria injus-
que alguém desse grupo morre, recebe im ediatam ente um corpo to atorm entar alguém eternam ente por ter feito algum mal na terra por
espiritual, passando a residir no céu. (Há m ais inform ações sobre uns poucos anos.
os 144 mil no cap. 7.)
2. 0 hades ou sheol, sepultura com um terrestre da humanidade m or- R e f u t a ç ã o d a a n t r o po l o g ia d o s t e s t e m u n h a s d e J e o v á
ta. Ir para o hades significa garantia de ressurreição no paraíso Vamos analisar tudo isso à luz do que as Escritu ras dizem acerca das
terrestre; para lá vão os justos (os que serviram fielmente a Jeová) duas perguntas fundam entais: Quem somos? e Para onde vamos?
e os injustos (os que não tiveram a oportunidade de conhecer a
mensagem de Jeová e praticá-la, pois m orreram na ignorância). Quem somos
3. A geena. Ir para a geena significa que o indivíduo não será ressus- Existe algo em nós que sobrevive à m orte física? Se som os apenas se-
citado. Isso diz respeito aos iníquos. Entre estes, encontram -se Adão res físicos, como ensinam os testem unhas de Jeová, então nada sobrevive
e Eva, Judas Iscariotes, os fariseus e outros que se recusaram obs- à m orte física; se a alm a existe, então o hom em não é um ser apenas físi-
tinadam ente a abraçar Jeová e sua m ensagem , principalm ente os co, mas tam bém espiritual. Neste caso, torna-se possível a crença numa
apóstatas, ou seja, os que deixaram de ser testemunhas de Jeová e parte im aterial da constituição hum ana que sobrevive à m orte física e
praticam outra religião ou denunciam os testem unhas de Jeová preserva suas faculdades intelectuais e morais.
como um grupo herético. Para a geena, tam bém irão Satanás e seus
dem ônios. A geena é, portanto, sím bolo de “destruição eterna”.3 O conceito de “alma” na Bíblia
Essa concepção é denominada aniquilacionismo. 0 que é “alma” de acordo com as Escrituras? Essa questão poderá ser
mais bem respondida se, em prim eiro lugar, com preenderm os de modo
Ao defender tais posições, os testem unhas de Jeová m antêm -se fiéis adequado como a palavra “alma” foi sendo usada à m edida que a Bíblia
ao modo de ver de seu fundador, Charles Russell, que afirmou: “Um Deus era escrita. Trata-se do chamado “progresso da revelação”. Sobre isso, Roy
que usasse seu poder para criar seres hum anos que de antem ão sabia Zuck (1994, p. 85, 314), professor de Exposição Bíblica pelo Sem inário
seriam atorm entados eternam ente, e que os predestinasse a isso, não Teológico de Dallas, nos Estados Unidos, afirm a:

2 Estudo perspicaz das Escrituras, v. 3, p. 436.


3 A Sentinela, P/10/1982, p. 26-27. 4 O homem em busca de Deus, 1990, p. 350-353.
2 74 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s A n iq u il a n d o a a l m a e a p a g a n d o a s c h a m a s d o in f e r n o 275

[...] Isso não significa que a revelação bíblica evoluiu. 0 que preten- 0 Antigo Testamento emprega nefesh tanto para hum anos (Gênesis

de dizer é que nas últimas passagens Deus fez acréscimos ao que re- 2.7; 12.5 etc.) com o para anim ais (Gênesis 1.20,21,24,30 etc.) e, em al-

velara nas primeiras. Não estamos insinuando que o que ficou registrado guns casos, para Deus (1 Samuel 2.35; Salm os 11.5; Jerem ias 6.8 etc.).

nos trechos mais antigos da Bíblia seja imperfeito, sendo as revelações Estam os diante então de um a palavra de vasta carga sem ântica e de

posteriores perfeitas; tampouco que os primeiros registros contenham diversas aplicações. Assim, toda vez que um tradutor deparar com nefesh,

erros e que os trechos mais novos sejam fidedignos. 0 que se quer dizer deverá apurar, à luz do contexto, qual o m elhor significado de nefesh no

é que uma informação que pode ter sido parcial foi acrescentada poste- texto. Por exemplo: Gênesis 2.7 afirma que o “homem foi feito nefesh viven-

riormente, de sorte que a revelação ficou mais completa. [...] 0 que o te”. O term o nefesh, nesse caso, pode ser corretam ente traduzido por “pes-

Antigo Testamento fala sobre morte é lapidado no Novo. A Trindade soa”, “ser”, m as não cabe aqui a palavra “vida”, “apetite” ou “m ente”. À luz

do Antigo Testamento é apresentada de forma mais completa no Novo. disso, deduz-se corretam ente que o hom em é uma alma. Gênesis 2.7, por-

[...] À medida que os livros da Bíblia eram escritos, Deus revelava pro- tanto, não tenciona provar que o homem tem uma alm a, m as que ele é

gressivamente mais verdades sobre muitos temas. Isso não quer dizer um a alm a. Assim, “não se deve interpretar o substantivo no sentido m e-

que as revelações anteriores estavam erradas; pode ser que estivessem tafísico-teológico que tendem os dar à palavra ‘alma’ hoje em dia” (ibid., p.

incompletas. 0 que antes era parcial recebia um complemento. [...] 986; cf. tb. Davidson, 1963, v. 1, p. 84).

A vida após a morte é apresentada no Antigo Testamento como uma Não quer dizer, contudo, que não haja um vislumbre da dupla nature-

existência vaga, onde o homem tem pouca consciência do que se passa. za hum ana no Antigo Testamento. O próprio texto de Gênesis 2.7 aponta,

Já o Novo Testamento revela mais fatos a respeito desse tema [...]. veladamente, para esse cam inho. Há dois elementos constitutivos do ho-
mem: o material (o corpo) e o espiritual (o “sopro” ou “hálito” de Deus),

Com isso em mente, devemos afirm ar que o conceito de “alm a” do que faz daquela criatura “alm a vivente”, ser vivente. Em bora não seja ain-

Antigo Testamento foi completado no Novo. 0 conceito antigo perm ane- da o nosso conceito m etafísico-teológico de “alm a”, o princípio da dupla

ceu, mas recebeu m ais verdades sobre o tema. natureza se faz presente no texto.
No caso dos anim ais, Gênesis 1.20 e outros relatam que Deus fez sur-
A alma no Antigo Testamento gir nefesh nas águas e no campo. Nesses versículos, nefesh deve ser tradu-

Na Bíblia, a palavra portuguesa “alma” traduz o hebraico nefesh. Esse zido por “ser”, “criatura”, m as nunca por “pessoa”.

term o tam bém pode ser traduzido por “vida” (a vida do indivíduo, o “eu”,
A alma no Novo Testamento
que experim enta desejos e tem tais anseios satisfeitos, que am a, que odeia,
alegra-se e entristece-se etc .),“criatura”, “pessoa” (a pessoa na sua totali- No Novo Testamento (escrito em grego), a palavra vertida por “alma”
d ade),“apetite”,“mente” etc. Em diversos trechos, como em Gênesis 12.13, é psyché, que tem praticam ente o mesm o significado do seu equivalente
19.20 e Isaías 55.3, nefesh poderia ser substituído pelo pronome pessoal. hebraico nefesh. Os tradutores da Septuaginta, a prim eira tradução do
Quando ocorre como sujeito do verbo, nefesh em geral é traduzido por Antigo Testamento para o idiom a grego, verteram nefesh por psyché aproxi-
“alma” (ou seja ,“desejos”,“tendências” etc.); com o objeto do verbo, é, com m adam ente 600 vezes das mais de 750 ocorrências (H a rris [O rg.],op .cit.,
frequência, traduzido por “vida”, isto é, o estado de existência pessoal em p. 986). O mesm o fizeram os autores do Novo Testamento ao citar trechos
oposição à m o rte (H a r ris [Org.], 1998, p. 9 8 1 ,n. 1395a). do Antigo (cf. Gênesis 2.7 com ICoríntios 15.45).
276 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s
A n iq u il a n d o a a l m a e a pa g a n d o a s c h a m a s d o in f e r n o 2 77

Contudo, existem coisas que o Novo Testamento fala sobre a psyché que m ortos. Assim, algo daqueles m ártires sobreviveu à m orte pela qual
ampliam e completam o que foi dado no Antigo Testamento. É aqui que se passaram . Sendo isso verdade, afirm a-se peremptoriamente a du-
encaixa o princípio do “progresso da revelação divina”. Passo a passo, Deus pla natureza hum ana: a material e a imaterial.
foi revelando sua vontade e coisas novas a seus servos (ICoríntios 13.12; 2. Essas almas, que puderam ser vistas, não estavam inconscientes;
ljo ã o 3.2). De modo que o conceito de “alma” no Antigo Testamento foi ao contrário, bradavam a Deus solicitando que fossem vingadas,
completado no Novo. 0 conceito antigo permaneceu, m as recebeu mais ver- que os assassinos fossem julgados e condenados pelos crim es co-
dades sobre o tema. De fato, o Novo Testamento vai além do Antigo ao falar metidos. Esse trecho revela que essas alm as estavam em pleno uso
da alma. À luz do Novo Testamento, é correto afirm ar que o homem não de suas faculdades m entais e em ocionais. Lem bravam -se do que
apenas é uma alm a, m as tam bém tem uma alma. Ser uma alm a e ter uma lhes havia acontecido.
alm a não são ideias mutuamente excludentes, mas complementares. 3. Afirm a-se que estão “descansando”, m as, m esm o assim , são apre-
Os testem unhas de Jeová, em parte, estão certos em afirm ar que o ho- sentadas falando, ouvindo, sentindo e lembrando.
m em é uma alm a; por outro lado, enganam -se ao negar que existe algo no
ser hum ano que sobreviva à m orte física, mantendo consciência após a Se fosse verdade que na m orte “dorm im os” ou entram os num estado
morte. Esse “algo” tam bém pode ser cham ado alma. Recorram os então a de inexistência ou de inconsciência, não faria sentido esse relato, pois ele
algumas passagens neotestam entárias que m ostram existir algo no ser estaria ensinando justam ente o oposto dessa suposta “verdade”.
hum ano que sobrevive à m orte física e continua a existir em outro nível
de existência. Trata-se de outra aplicação da palavra psyché. Mateus 10.28 (NM; v. tb. Lucas 12.4,5)

Apocalipse 6.9-11 ( NM) E não fiqueis temerosos dos que matam o corpo, mas não podem
matar a alma; antes, temei aquele que pode destruir na Geena tanto a
E quando abriu o quinto selo, vi por baixo do altar as almas dos que alma como o corpo.
tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa da obra
de testemunho que costumavam ter. E gritaram com voz alta, dizendo:
Essa passagem encaixa-se perfeitamente com a anterior. Aqueles m ár-
“Até quando, Soberano Senhor, santo e verdadeiro, abster-te-ás de jul-
tires foram mortos. Tal com o Jesus falou, conseguiram m atar o corpo, mas
gar e vingar o nosso sangue dos que moram na terra?” [...] E foi-lhes
não a alm a. Jesus nunca se equivoca. M ataram o indivíduo por inteiro, cla-
dito que descansassem mais um pouco, até que se completasse tam-
ro. Mas suas partes constitutivas, a material (o corpo) e a espiritual (a alma),
bém o número dos seus coescravos e dos seus irmãos, que estavam para
foram separadas. Mas, frisou Jesus, essa espécie de m orte não deve ser
ser mortos assim como eles também tinham sido.
temida, pois pior é alguém ser lançado inteiram ente (corpo e alm a = o ser
integral) na geena ou no inferno (v. mais sobre geena adiante).
Apesar da natureza apocalíptica da passagem, alguns elem entos do
Contudo, a palavra “destruir” não implica aniquilamento ? Não. O termo
texto são esclarecedores: grego apolésai ( à J i o X é a a i ) , vertido por “destruir” na Tradução do Novo
Mundo, não tem o sentido de aniquilação, m as de ruína (L a c u eva , 1984,
1. João faz m enção de certos m ártires cristãos no céu. E fala clara-
2.a nota de rodapé). A Bíblia de Jerusalém (versão católica rom ana) tam -
m ente que viu as “alm as” (psychás) daqueles m ártires que foram
bém verte apolésai por “destruir”, m as a Igreja católica rom ana não é
278 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s A n iq u il a n d o a a l m a e a p a g a n d o a s c h a m a s d o in f e r n o 279

aniquilacionista; ao contrário, tam bém crê no ensino bíblico do torm ento acolher p ecadores. 0 versículo 3 diz que ele usou “a seguinte
eterno. 0 verbo grego pode significar tam bém “perecer”, “fazer sofrer”, ilustração”, indicando tratar-se de uma parábola; aliás, ele contou
“m atar” (cf. Mateus 2.13; 16.25; Atos 5.37; Romanos 2.12 etc.).5 Além do três, sendo a últim a a do filho pródigo, para m ostrar que Deus
m ais, com o erroneam ente ensinam os testem unhas de Jeová, o term o acolhe pecadores quando estes se arrependem.
“destruir” não implica aniquilamento. Por exemplo, alguém pode destruir 3. A parábola que Jesus aplica aos fariseus pelo fato de eles serem
um vaso que, m esm o em pedaços, ainda assim não estará aniquilado. É am antes do dinheiro e ricos não é a história real do rico e Lázaro,
isso o que tam bém está envolvido no term o apolésai. como erroneam ente interpretam os testem unhas de Jeová, m as a
parábola de Lucas 16.1-14.
Lucas 16.19-31 — Lázaro e o homem rico
Essa passagem tam bém prova que a alm a sobrevive à m orte física. Os Os que admitem tratar-se de uma parábola demonstram que ainda as-

testem unhas de Jeová afirm am que esse relato é uma parábola ou ilustra- sim isso não invalidaria a ideia da sobrevivência da alm a após a morte,

ção, na qual o rico representaria os fariseus, já que eram amantes do di- mas que o relato aponta essa realidade. A linha de raciocínio é esta: todas as

nheiro (Lucas 16.14). Lázaro sim bolizaria os pobres desprezados pelos parábolas de Jesus apontavam para fatos da vida real. Os ouvintes estavam

fariseus. A morte de am bos é sím bolo de “m udança de condição” de vida; familiarizados com tudo o que Jesus ensinava. Sabiam, por exemplo, que

o torm ento do rico é representado quando os pobres receberam o favor era comum alguém pedir parte de sua herança e gastar tudo com farras;

de Deus e passaram a denunciar as injustiças com etidas pelos fariseus. era comum que homens, em viagem, deixassem seus escravos cuidar de

Entre os teólogos, há séria controvérsia a respeito dessa passagem, sua casa; era normal que um bom pastor buscasse a ovelha que se desgar-

quanto a ser ou não uma parábola (v. Champlim, v. 2, p. 161-165; M iranda, rou do rebanho. Eles conheciam a semente de mostarda, que Jesus disse ser

1984, p. 214-2 16; Lockyer, 1999, p. 33 7-34 2). Os que argum entam tratar- a menor de todas. Tudo o que Jesus falou foi baseado em fatos reais. Como

-se de um caso real, apresentam as seguintes argumentações: escreveu David Reed (1990, p. 61): “Jesus usou a familiaridade de seus ou-
vintes com essas coisas para ilustrar coisas espirituais”.
1. O próprio Jesus não disse que se tratava de parábola. Partindo da validade e da veracidade do argum ento de Reed e apli-
2. Em nenhum a das parábolas de Jesus, aparecem nomes próprios, cando-o à narrativa lucana, tem os os seguintes elementos, pelos quais o
com o Lázaro, Abraão e Moisés. Por exemplo, qual o nom e do filho texto fala por si m esmo:
pródigo? Como se cham am seu pai e seu irmão? Não há um único
caso nas E scritu ra s em que Jesu s ten h a dado no m e às suas 1. Jesus centrou seu foco em duas pessoas (Lázaro e o rico), m as ci-
personagens, a m enos, é claro, que o relato fosse real. No caso do tou outras pessoas históricas (Abraão e M oisés).
filho pródigo, há evidências de que se tratava de parábola, pois 2. Afirmou que am bos m orreram . Após sua m orte, cada um deles foi
Lucas 15.1-3 m ostra os fariseus queixando-se pelo fato de Jesus conduzido para uma região diferente, onde m antinham suas fa-
culdades psíquicas.
3. O rico estava num lugar de torm ento. Tinha plena consciência de
5 Para mais ocorrências de àjio / .éoeiv, v. J. R. K o h l e n b e r g e r III, E. W. G o o d r ic k e J.
A. S w a n s o n , The Exhaustive Concordance to the Greek New Testament, Grand seus atos passados, bem com o se recordava de seus fam iliares, e
Rapids, Zondervan, 1995, p. 103-104, n. 660. nutria desejo de que os seus não passassem pela m esm a desgraça.
280 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s A n iq u i l a n d o a a l m a e a p a g a n d o a s c h a m a s d o in f e r n o 281

4. Lázaro estava num lugar de bem -aventurança. Assim como o rico, Assim, a despeito da falta de ciência do povo, se quisesse viver bem , deve-
não estava inconsciente. Lázaro estava descansando. — (V. outros ria tão som ente ouvir a Deus, m esm o que não soubesse a razão dessa ou
detalhes m ais adiante, no tópico sobre o inferno.) daquela proibição.
Por que não se com unicar com os m ortos? Eles não sabiam , mas nós
1Samuel 28 — Saul e a consulta aos mortos
sabem os pela revelação posterior: a com unicação não é possível (Lucas
Em bora o Antigo Testamento não traga uma form ulação explícita acer- 16.19-31). A tentativa pode colocar a pessoa em contato com os dem ô-
ca da crença na sobrevivência da alm a à m orte física, o relato de 1Samuel nios (2Coríntios 11.14; ICoríntios 10.20,21).
28 traz a ideia de que havia a crença de que nem tudo terminava com a Antes de prosseguir, quero deixar bem claro que não acredito que Sa-
m orte física. Se era generalizada, o Antigo Testamento não explicita, mas muel tenha aparecido naquela sessão m ediúnica (em bora muitos teólo-
o fato de Deus proibir a consulta aos m ortos pode apontar para essa dire- gos evangélicos conservadores advoguem isso). M inha preocupação não
ção,ou seja, o povo cria nessa possibilidade (Levítico 19.31; 20.27; Deute- é identificar quem falou com Saul, m as afirm ar que o texto transm ite a
ronômio 18.11 etc.). Não lhes fora dado saber naquela época que tentar antiga crença de que, m esm o m orrendo, o indivíduo continua a existir
m anter contato com o espírito dos m ortos era na verdade uma arm adi- em outra esfera de vida. Do contrário, por que Saul desejaria arriscar-se
lha do mundo dos espíritos malignos. A demonologia estava em proces- tanto a fim de consultar “Samuel”, se fosse crença generalizada que os
so de revelação, motivo pelo qual a proibição era categórica e intimidativa. m ortos entram num estado de inconsciência e inexistência?
Deus sabia o porquê. O povo só tinha de obedecer. A m enção do sheol no Antigo Testamento é um testem unho, m esm o
O m esm o pode ser dito de algum as outras adm oestações, com o aquela que com certas reservas, de que havia a crença na sobrevivência do “eu”
segundo a qual, após tocar em cadáver, o indivíduo deveria lavar as mãos daquele que passou pela m orte física. Por essa razão, Jacó desejou ir para
e roupas (Núm eros 19.11-22); outro preceito era enterrar os excrementos o sheol, a fim de encontrar-se com seu filho José, que, segundo relato dos
bem longe do arraial ou acam pam ento (Números 19.11-22; Deuteronô- seus filhos, havia sido m orto por uma fera (Gênesis 37 .35 ). Mas é no Novo
mio 23 .13). Ainda há o m andam ento da circuncisão, com a seguinte par- Testamento que tem os a explicitação daquilo que no Antigo está enco-
ticularidade: deve ser no oitavo dia de vida (Gênesis 17.12; Levítico 12.2,3). berto, incluindo a doutrina da im ortalidade da alma.
Não cabia ao povo perguntar: Por que tenho de lavar as mãos? Por que
tenho de cobrir com terra os excrementos? Por que não posso circunci-
A imortalidade da alma
dar no sétim o ou no nono dia? Por que tem de ser no oitavo? Nenhuma Já vim os, à luz das Escrituras, que a palavra grega psyché pode indicar
explicação lhes foi dada. Hoje sabem os as razões: a infecção do m orto tanto o ser hum ano integral com o a parte espiritual de sua constituição.
poderia ser transm itida; o simples gesto de lavar as mãos seria profiláti- Mas duas perguntas exigem pronta resposta:
co. No caso dos excrem entos, deixá-los expostos às m oscas poderia levar
doenças para toda a comunidade, já que as m oscas são vetores de certas 1. A “alma” é inerentem ente imortal?
doenças. E, no caso da circuncisão, a pesquisa m édica revelou que a vita- 2. Pode-se falar corretam ente em im ortalidade da alma?
m ina K, que desempenha um papel preponderante na coagulação do san-
gue, só sobe a nível apropriado nessa ocasião, bem com o a protrom bina, Antes de tudo, a principal questão a ser resolvida é: O que queremos
outro fator coagulante (M cM ille n , 1963, p. 23, in: Sociedade, 1985, p. 206). dizer com a expressão “im ortalidade”?
282 T e s t e m u n h a s d e J e o v A: e x p o s i ç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s A n iq u il a n d o a a l m a e a pa g a n d o a s c h a m a s d o in f e r n o 283

Louis Berkhof (1994, p. 678 -6 79 ), célebre teólogo reformado, apresen- u su fru í-lo s um ser eterno e im ortal (n a segu nda acep ção do term o

ta alguns sentidos do term o “im ortalidade”: anteriorm ente referido) em sua constituição.
A Bíblia, porém, não declara em algumas versões que “a alm a que pecar,

1. No sentido mais absoluto da palavra, só se atribui im ortalidade a essa é que morrerá” (Ezequiel 18.4, ARA)7
. Sim, é verdade. Mas, em Ezequiel
Deus, pois em 1Tim óteo 6.16 afirm a-se que ele é “o único que é 18.4, o termo nefesh deve ser traduzido por “pessoa” ou “indivíduo”; as-

im ortal”. Essa im ortalidade é “como uma qualidade original, eter- sim ,“aquele que pecar é que m orrerá”. Não há nenhuma contradição com a

na e necessária”. Sua im ortalidade não é derivada. A im ortalidade doutrina da imortalidade da alma. Convém frisar que, dependendo do con-

é intrínseca à sua natureza. texto, pode-se afirm ar tanto a mortalidade quanto a imortalidade da alma

2. Im ortalidade no sentido de existência continuada e sem fim , isto (tudo depende de como traduzimos nefesh ou psyché).

é, m esm o com a dissolução do corpo, a alm a continua a reter sua


Esclarecimento: A superestimação da influência grega
identidade de ser individual (com o em Apocalipse 6.9-11 etc.).
3. 0 term o tam bém é usado para designar “o estado do homem no Os testem unhas de Jeová ufanam -se de não ter nada com a filosofia
qual ele está inteiram ente livre das sem entes da decadência e da grega e afirm am que o mal que se abateu sobre o cristianism o foi fiar-se
morte” (IC oríntios 15.53: “aquilo que é corruptível, se revista de nos gregos, esquecendo-se da Bíblia. Esse equívoco exige considerações.
incorruptibilidade” ).
4. Por im ortalidade tam bém se designa “o estado do hom em no qual 1. Ao passo que os com entaristas de filosofia afirm am que “não é
ele é im pérvio [impenetrável] à m orte e não tem a m ínim a possi- fácil determ inar o que Platão entende com essa palavra [alm a]”;
bilidade de se tornar sua presa” (IC oríntios 15.54,55). “que não se deve acreditar, a priori, que ele afirm e, sem pre e com
clareza, a im ortalidade da alma”; e que “ele elabora um discurso
Respondendo à pergunta sobre a im ortalidade da alm a, afirm am os, múltiplo sobre a alm a sem nunca ser explícito sobre o que ela é”
de acordo com o item 1, que a alm a não é im ortal, pois sua imortalidade (Jeannière, 1995, p. 110; v. tb. R e ale, 1995, p. 2 1 6 -21 9 ), os testem u-
é derivada. Antes de ser alm a, éram os nada, e do nada fomos feitos. So- nhas de Jeová parecem que já encontraram a resposta definitiva.
mos, portanto, dependentes de um Ser que nos conferiu a vida e a im or- Pelo visto, entendem de filosofia m elhor que os próprios filósofos.
talidade dele oriunda. A dele é perfeita; a nossa é um m isto de ser e nada. 2. Em virtude dos vários conceitos de “alma” encontrados nas obras
Em sentido estrito, a Bíblia não usa o term o “im ortalidade” em rela- platônicas, não é de espantar que encontrem os sem elhanças de
ção à alm a. Tal conclusão é pressuposta à luz dos textos referidos, bem ideias com variadas correntes religiosas atuais, incluindo o cristia-
como à luz da doutrina do juízo final, que afirm a que todos serão julgados nism o, o espiritism o e até m esm o a seita Testemunhas de Jeová.
nesse dia: ju sto s e inju stos. Os que fizeram o bem viverão em bem - Sim , ao contrário do que afirm am , os testem unhas de Jeová estão
-aventurança para sempre no céu; os que praticaram o mal receberão como mais próxim os de Platão do que im aginam. A seguinte exposição
castigo o tormento eterno, designado nas Escrituras pelos termos “geena”, de Abel Jeannière nos conduz a tal conclusão (op. c i t ., p. 110):
“lago de fogo”, “fogo eterno”, ou seja, o inferno (Mateus 11.22-24; 25.31-46;
Lucas 20.47; Romanos 2.1-11; 14.10,12; 2Coríntios 5.10; Apocalipse 20.11- No Alcibíades, Platão adota a posição dos órficos. Sem dúvida, o
15). Assim, se a bem -aventurança e o torm ento são eternos, só poderá homem é composto “de um corpo e de uma alma”, mas “como não é
284 T e s t e m u n h a s d e J e o v A: e x p o s i ç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s A n iq u i l a n d o a a l m a e a pa g a n d o a s c h a m a s d o in f e r n o 285

nem o corpo nem o composto dos dois que é o homem, conclui- Sócrates analisa o destino da alm a que se separa do corpo. Para
se, acredito, que o homem não é nada, ou então, se ele é alguma onde irá a alma? Seu destino estará sujeito às coisas pelas quais ela
coisa, que o homem não é nada mais do que uma alma”. se apegou enquanto viveu no corpo. A alm a pura, que se ocupou
Assim, “a tua pessoa, é a tua alma?”, pergunta Sócrates a Alcibíades, da filosofia e se exercitou para a m orte e nada levou consigo do
que responde: “Mas é claro!” [Alcibíades 130c]. corpo, pois seu contato com ele em vida não foi voluntário, que se
Essa é a posição, nítida e radical, que se atribui muitas vezes a concentrou em e sobre si m esm a, ao deixar o corpo vai se dirigir
Platão, e pode-se encontrar mais de um texto para confirmá-la. para o que é invisível, divino, im ortal e sábio.
Contudo, se essa alm a tivesse sido poluída, e não purificada, ou
Assim, dependendo do texto adotado, é possível dizer sobre seja, se ela se apegou ao corpo, am ando-o, deixando-se enfeitiçar
muitos grupos que foram influenciados pela filosofia platônica. Em por seus desejos e prazeres, considerando real apenas o corpóreo,
Estudo perspicaz das Escrituras (v. 1, p. 90), dos testem unhas de quando deixasse o corpo ela ficaria totalm ente desorientada e não
Jeová, cita-se um trecho do diálogo Fédon, de Platão, no qual ele poderia tom ar consciência de si m esm a. Sua ligação ao corpo a
afirm a que a alm a é im ortal e que, ao deixar o corpo, parte para o prenderia aos m onum entos funerários e às sepulturas, transfor-
mundo invisível, divino, im ortal e sábio. Esse trecho teria influen- m ando-a em espectro. Mas, m esm o liberta do corpo, é visível, gra-
ciado o cristianism o, que, em vez de recorrer às E scrituras, deu ças à sua participação com o corpo. Essas são as alm as dos hom ens
ouvidos a Platão. Ora, o conceito de Platão não é uniform e em seus maus, que só pararão de vaguear nas som bras quando encontra-
diálogos; em um deles, pelo m enos, podemos afirm ar que há con- rem outro corpo que possua os m esm os atributos que as distin-
cordância com o pensam ento dos testem unhas de Jeová: “O ho- guiram em sua vida. As alm as que não praticaram a sobriedade
mem não é nada mais do que uma alma” ou “a alm a é a própria entrarão em corpos de asnos ou de anim ais sem elhantes. Para os
pessoa”. Os testem unhas de Jeová podem objetar afirm ando que que se deleitavam na injustiça, na tirania, na rapinagem, os corpos
não dependem de Platão, m as de Gênesis 2.7 e ICoríntios 15.45, de lobos, falcões e m ilhafres lhes cairão como uma luva.
pois o conceito de que o hom em é uma alm a já estava lá. Ao que V ê-se que essas ideias não têm relação com o cristianism o, que
respondemos: contudo, o conceito de que o hom em tam bém pos- recusa e sempre recusou a teoria da metempsicose ou transm igra-
sui alm a hum ana e de que esta é im ortal tam bém está nas E scritu- ção da alma.
ras: Lucas 16.19-31, Apocalipse 6.9-11 , Mateus 10.28 etc. A Revela- 4. Outro desacordo é que a definição platônica de im ortalidade da
ção é a autoridade prim eira, não os filósofos gregos. alm a não é aceita pelo cristianism o. No diálogo Fedro, afirm a-se
3. Ademais, o encontro de algumas ideias não pressupõe aceitação que “a alm a é sim ultaneam ente incriada e im ortal” (P la tã o , 1994,
de todos os porm enores em relação a tais ideias. Embora o cristia- p. 246). No cristianism o, isso só pode ser dito a respeito de Deus,
nism o tenha tomado por em préstim o alguns conceitos da filoso- m as não da alma.
fia grega, há nítidos contrastes entre a concepção platônica da alm a
e a esboçada pelo cristianism o. Aliás, acredito que os testem unhas Em bora a filosofia tenha contribuído, e muito, para a exposição e o
de Jeová não leram Fédon (P l a tã o , 1 9 5 5 ,80d a 82a), pois a concep- desenvolvimento da teologia cristã, a fonte prim eira ainda é a Revelação.
ção ali apresentada não é partilhada pelo cristianism o. Vejamos. É dela que partim os para falar da natureza e im ortalidade da alma.
286 T e s t e m u n h a s d e J e o v A: e x p o s i ç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s A n iq u il a n d o a a l m a e a p a g a n d o a s c h a m a s d o in f e r n o 287

O conceito de “espírito” na Bíblia Nesse sentido, pode-se afirm ar que tanto hom ens quanto anim ais têm
espírito (Eclesiastes 3.1 9). Apesar disso, Eclesiastes m ostra a diferença
Até aqui, falamos sobre alm a. Mas e o espírito? As palavras traduzidas
entre o rúah do hom em e o dos animais: o destes desce para a terra, ou seja,
na Bíblia por “espírito” são rüah (hebraico) zpneuma (grego). Assim como
para o pó da terra; o daquele sobe para Deus, que o deu (12.7). Essa expressão
acontece com nefesh e psyché, rüah e pneuma possuem um leque de sig-
tra z -n o s consolação, pois é confortador saber que nem tudo para o homem
nificados. Ambas são traduzidas literalm ente por “vento”, “hálito”, “so-
termina com a morte física. O mesm o Deus que lhe deu o “fôlego, alento”,
pro”, “espírito” etc., m as seu em prego vai m uito além , pois podem se
poderá concedê-lo novamente, mediante a ressurreição dos mortos.
relacionar com seres pessoais. Veja alguns exemplos:
No entanto, o que nos interessa no m om ento é verificar na Bíblia o
emprego de “espírito” com o sinônim o de “alma”, apontando para a nature-
1. Deus (João 4.2 4). Jesus afirm ou nessa passagem que Deus é “espí-
za espiritual do hom em , aquela parte constitutiva do homem que sobrevi-
rito”. Nem de longe se deve pensar que Jesus estivesse negando a
ve à morte física e aguardará o mom ento determinado por Deus para unir-se
personalidade de Deus, nem dizendo que Deus é um “vento” ou
novamente ao seu corpo na ressurreição. Feita essa associação, tudo o que
um a força im pessoal. Trata-se de um a descrição da natureza divi-
dissemos anteriormente sobre a alm a aplica-se tam bém ao espírito.
na. Muita coisa pode estar envolvida nesse term o: Deus não é cor-
póreo, não é material. Por exemplo, em Isaías 31.3, lemos: “Pois os Esclarecimento: dicotomia x tricotomia
egípcios são hom ens, e não Deus; seus cavalos são carne, e não
espírito”. Em Lucas 24.29, Jesus diz que um “espírito não tem car- Antes de prosseguir, faz-se necessário o seguinte esclarecim ento. Há

ne e ossos”. Nesses versículos, o term o “espírito” m ostra que a na- duas escolas teológicas que versam sobre a com posição da natureza hu-

tureza de Deus é espiritual, nada tendo que ver com a matéria. m ana: a dicotomista e a tricotom ista. A prim eira diz que o ser hum ano é

2. Anjos (Salm os 104.4; Hebreus 1.14). Os anjos, que são seres pesso- composto de corpo e alm a (ou espírito). Nessa escola, não há distinção

ais, tam bém são cham ados “espíritos m inistradores enviados para entre alm a e espírito; seriam term os intercambiáveis. Na segunda, advo-

servir aqueles que hão de herdar a salvação”. ga-se que o ser hum ano é composto de corpo, alm a e espírito; não sendo

3. Demônios (Mateus 10.1; Lucas 9.39 etc.). Os demônios tam bém são estes últim os, portanto, term os intercambiáveis.

designados na Bíblia pelo termo “espírito”; em muitos casos, são cha- Apesar da diferença m arcante, há algo que une dicotom istas e tricoto-

mados de “espírito imundo” ou “maligno” (Marcos 1.23; 7.25 etc.). m istas em oposição aos testem unhas de Jeová: o ser hum ano possui na-
tureza material e imaterial, e essa parte im aterial sobrevive à m orte física,

Esses exemplos bastam -nos para associar ao term o “espírito” o fator mantendo consciência após a m orte, aguardando a ressurreição, a fim de

“personalidade”. voltar a ser um ser integral.

Há, todavia, outros empregos. Em Eclesiastes 3.21, por exemplo, afir- O autor é dicotom ista, mas compreende e respeita o posição dos tri-
m a-se a respeito dos anim ais que possuem “espírito” (NM). Trata-se de cotom istas. O ponto de convergência apresentado no parágrafo anterior
outro uso do term o “espírito”, que, neste caso, pode referir-se ao princípio deve nos levar a conviver com essas divergências teológicas. Vale ressal-
vital ou à energia que sustenta o anim al. Retirado tal princípio vital, ele tar que Jesus é o Senhor dos dicotom istas e dos tricotom istas.
m orre. Algum as traduções vertem rüah nesse texto por “alento” ( BJ ), Os partidários do dicotomismo reconhecem que textos como lTessalo-
“fôlego de vida” (ARA), “sop ro ” (TE) ou “so p ro de vida” ( NTLH ). nicenses 5.23 e Hebreus 4.12 podem levar a essa distinção artificial entre os
2 88 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s
A n iq u il a n d o a a l m a e a pa g a n d o a s c h a m a s d o in f e r n o 289

term os “alma” e “espírito”. Pode parecer que, às vezes, um seja distinto do [pneuma ] ”; o m esm o se diz de Estêvão (Atos 7.59). Em todos os
outro sem anticamente. Mas esse aparente desencontro sem ântico não é casos, usa-se ora “alma” , ora “espírito”, para o que sai no m om ento
necessário e absoluto, pois muitas vezes, seguindo o cam inho oposto,“alma” da morte.
e “espírito” são usados como termos intercambiáveis. Assim, quando a dife- 3. 0 homem é tido tanto como “corpo e alm a” quanto como "corpo e
rença estiver em questão, deve-se levar em conta o amplo espectro de signifi- espírito”. O prim eiro binôm io é encontrado em Mateus 10.28: “Não
cados dessas palavras nos contextos em que se apresentam (v. mais adiante a tenham medo dos que m atam o corpo [soma], m as não podem
interpretação dicotomista para ITessalonicenses 5.23 e Hebreus 4.12). m atar a alm a [psyché]. Antes, tenham m edo daquele que pode des-
Wayne Grudem (1999, p. 3 8 9 -393 ), da escola dicotôm ica, apresenta al- truir tanto a alm a [psyché] com o o corpo [soma] no inferno”. “Por
guns dos seguintes argumentos em prol de alma e espírito serem uma e a outro lado”, afirm a Grudem, “o hom em é às vezes tido com o ‘corpo
m esm a coisa aos nos referirm os à natureza im aterial do homem: e espírito’ ”. Paulo quer que a igreja coríntia entregue um irm ão
transgressor a Satanás,“para que o corpo [soma] seja destruído, e
1. As Escrituras usam “alm a”e “espírito”indistintamente. Isso pode ser o seu espírito [pneuma] seja salvo no dia do Senhor” (IC oríntios
depreendido com parando-se João 12.27 com 13.21. Na prim eira 5.5). Não que Paulo tenha esquecido tam bém da alm a do homem;
passagem , Jesus afirm a: “M inha alm a [psyché] está agora con- ele simplesm ente recorre à palavra “espírito” em referência a toda
turbada” (BJ), m as, na segunda, usando fraseologia similar, diz: a existência im aterial da pessoa. Do m esm o modo, Tiago diz que
“Jesus perturbou-se em espírito [pneum a ]”. Outra passagem inte- “o corpo [soma] sem espírito [pneuma] está m orto” (Tiago 2.26),
ressante é Lucas 1.46,47, na qual a bem -aventurada M aria diz: mas nada diz sobre uma alm a distinta. Além do m ais, quando Paulo
“M inha alm a [psyché] engrand ece ao Senhor e o m eu espírito fala do crescim ento na santidade, aprova a m ulher que se preo-
[pneuma] se alegra em Deus, m eu Salvador”. “Esse parece um cupa e m “ser santa no corpo [soma] e no espírito [pneuma]” ( lC o-
exemplo bem evidente”, afirm a Grudem,“de paralelismo hebraico, ríntios 7 .34), sugerindo que isso abarca toda a vida da pessoa.
o artifício poético em que a m esm a ideia é repetida com o uso de 4. Tudo o que se diz que a alma faz, diz-se que o espírito também faz; e
palavras diferentes, m as sinônim as”. Outra com paração im por- tudo o que se diz que o espírito faz, diz-se que a alma também faz.
tante é feita entre Hebreus 12.23 e Apocalipse 6.9. Ambas tratam
Esse argumento é apresentado em razão de os tricotomistas afirm a-
de pessoas que m orreram e foram para o céu; na prim eira, essas rem que a alma atua na esfera humana, por meio do intelecto, das
pessoas são cham adas “espíritos dos justos aperfeiçoados”, na em oções e da vontade; ao passo que o espírito é a parte de nós que
segunda, “alm as”. diretamente se relaciona com Deus em adoração e oração. Os se-
2. Na morte, as Escrituras dizem que tanto a “alm a”parte quanto o g u intes v ersícu lo s são ap resen tad o s a favor d essa não
“espírito”parte. Sobre a morte de Raquel, lem os (Gênesis 35.18): distinção. Atos 17.16: “Enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu
“Já a ponto de sair-lhe a vida [nefesh], quando estava morrendo”. espírito se revoltava [...]” (ARA); Marcos 2.8: “Jesus percebeu logo
Em outro texto, pede-se que a “alma” de alguém que saiu retorne em seu espírito”; João 13.21: “Jesus perturbou-se em espírito”; lCo-
ao corpo (IR e is 17.21). 0 profeta Isaías prediz (Isaías 53.12) que
ríntios 2.11: “Pois quem conhece os pensamentos do homem, a não
Jesus,o Servo Sofredor,derram aria “a sua vida [nefesh] atéam o rte”,
ser o espírito do homem que nele está?”. “O objetivo desses versícu-
o que confirm a João 19.30, que afirm a que Jesus “entregou o espírito los”, assevera Grudem, “não é dizer que é o espírito e não a alm a que
290 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s A n iq u il a n d o a a l m a e a pa g a n d o a s c h a m a s d o in f e r n o 291

sente e pensa, m as que alma’ e ‘espírito’ são termos usados indistin- Para onde vamos
tamente para significar a parte im aterial das pessoas, e é difícil en-
Já analisam os quem som os à luz das Escrituras. Som os seres consti-
xergar qualquer distinção real no uso dessas duas palavras”.
tuídos de corpo e alm a (ou espírito). Ao m orrerm os, ocorre um fenôm e-
no interessante: nossa alm a sep ara-se do corpo e passa a h abitar em
Entretanto, que dizer de ITessalonicenses 5.23 e Hebreus 4.12, que
outra esfera de vida, a esfera espiritual, na qual m antêm -se plenam ente
parecem apresentar a alm a como algo distinto do espírito? Deixemos a
as atividades intelectivas e em ocionais (Lucas 16.19-31).
resposta por conta de outro dicotom ista, Louis B erkhof (1994, p. 194-195):
Nessa nova esfera de vida, todas as alm as aguardarão a ressurreição
geral, tanto de justos quanto de injustos. Todos ressuscitarão, sem exce-
1. A simples m enção dos term os “espírito” e “alma”, um ao lado do
ção (João 5.29). Alguns, com o lem bra o apóstolo Paulo, não morrerão.
outro, não prova que são duas substâncias distintas, como tam -
São os que estiverem vivos quando Jesus voltar — serão transform ados
bém Mateus 22.37 não prova que Jesus considerava o coração, a
(IC oríntios 15.51,52). Os m ortos, por sua vez, serão ressuscitados (lC o -
alm a e o entendim ento com o três substâncias distintas.
ríntios 15.52). Será então instaurado o juízo final. Haverá im ediatamente
2. Em ITessalonicenses 5.23, o apóstolo deseja simplesmente forta-
o julgam ento dos vivos e dos m ortos, com o afirm a o Credo apostólico.
lecer a afirm ação “o próprio Deus da paz os santifique inteiram en-
Esse período do qual falam os, que com preende o espaço de tempo
te” com uma declaração epizegética (figura de retórica pela qual
entre a m orte e a ressurreição, antes do juízo final, é designado “estado
há repetição de palavras ou de sinônim os para m aior veemência
intermediário”. As almas dos que morreram aguardarão num local deter-
ou proem inência), na qual se resumem os diferentes aspectos da
minado por Deus o grande dia do juízo, no qual receberão sua recompensa:
existência do hom em , e na qual o apóstolo se sente perfeitam ente
a vida eterna no céu ou a condenação eterna no inferno (Mateus 25.31-46).
livre para m encionar os term os “alma” e “espírito”, um ao lado do
Entretanto, por que não são julgados e recompensados im ediatam en-
outro, porque a Bíblia não faz distinção entre am bos.
te? As coisas devem seguir o curso estabelecido por Deus. Jesus falou da
3. Não se deve entender Hebreus 4 .12 no sentido de que a Palavra
ressurreição dos m ortos (João 5.28,29). E já vim os que o ser hum ano não
de Deus ao penetrar no íntim o do hom em faz sep aração entre a
pode ser um corpo sem alm a ou uma alm a sem corpo; ele é constituído
sua alm a e o seu espírito, o que naturalm ente im plicaria duas
de corpo e alma. Essa é a pessoa integral. Som os uma alm a, uma pessoa.
substâncias diferentes; m as se trata sim plesm ente de um a de-
Então, será este ser integral que será julgado. Daí a necessidade de espe-
claração de que ela produz separação entre os pensam entos e as
rar o momento estabelecido por Deus para isso (Atos 17.31; Marcos 13.32).
intenções do coração.
Contudo, m esm o antes do juízo final, no estado interm ediário, as al-
mas já sabem o que receberão, e vivem, em m enor grau de intensidade, o
Convém destacar tam bém que, assim como acontece em Lucas 1.46,47,
que receberão definitivam ente quando se juntarem a seus respectivos cor-
tem os em am bas as passagens um paralelismo hebraico em que a m es-
pos. 0 relato do “rico e Lázaro” m ostra que, para os ju stos, há consolação,
m a ideia é expressa mediante o uso de term os distintos, porém sinôni- e para os ímpios, torm ento (Lucas 16.19-31).
mos: alma/espírito, juntas/medulas e pensamentos/intenções do coração.
Quanto ao céu com o morada final e definitiva dos justos, já vimos
Pode ser intenção do autor transm itir a ideia de que a Palavra de Deus algo a esse respeito no capítulo 7. A seguir, desenvolvemos m elhor o que a
nos atinge integralmente. Bíblia tem a dizer sobre o inferno ou o tormento eterno.
292 T e s t e m u n h a s d e J e o v A: e x p o s i ç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s A n iq u il a n d o a a l m a e a p a g a n d o a s c h a m a s d o in f e r n o 293

O inferno Outra passagem significativa: “Eu sei que o meu Redentor vive, e que
no fim se levantará sobre a terra. E depois que o meu corpo estiver destruí-
A palavra “inferno”, que designa o estado final dos réprobos, nós a
do e sem carne, verei a Deus. Eu o verei com os meus próprios olhos; eu
recebem os do latim infernus, ou seja, “inferior”, “subterrâneo”. Trata-se
mesmo, e não outro! Como anseia no meu peito o coração!” ( Jó 19.25-27).
de tradução dos seguintes vocábulos bíblicos: sheol, hades, tártaros egéen-
na. As diversas versões da Bíblia, protestantes e católicas rom anas, não Gênesis 37.35 (NM)
m antêm uniformidade na tradução de tais term os por causa da riqueza
sem ântica de cada um deles (o que, às vezes, pode dificultar a com pre- Pois descerei pranteando para meu filho ao Seol\

ensão de determ inadas passagens bíblicas), com o veremos a seguir.


Seria grosseiro traduzir sheol, nesse texto, por “inferno”, no sentido teo-
Sheol lógico do termo (felizmente, nenhuma tradução faz isso). Algumas versões

Essa palavra ocorre no Antigo Testamento e é equivalente ao grego hades. vertem sheol aqui como “sepultura” {ARA, ARC, NBC, NVI, RV) ou “túmulo”

Tem sido traduzida por “abismo”, “morte”, “mundo”, “região ou mansão dos ( A21, EP). Contudo, alguns argumentam que “sepultura” não se mantém

mortos”,“abismo”,“cova”,“sepultura”,“sepulcro”,“túmulo”,“inferno” etc. Com fiel ao sentido do texto, pois Jacó soube que seu filho predileto supostamen-
tantas possibilidades, qual a melhor palavra para traduzir sheoP. O contexto te morrera. Enganado por seus filhos ciumentos, achou que um anim al ha-
deve determinar a melhor palavra. Veja alguns exemplos: via devorado seu filho (v. 33). Seu desejo era estar no m esm o lugar que ele;
contudo, supondo que um animal devorara seu filho, seu desejo não era ir
Jó 14.13 (NM) para uma simples sepultura, pois José não fora sepultado (Silva, 1995, p.

Quem dera que me escondesses no Seol [...]. 290). Aquele pai desesperado queria reencontrar seu filho no sheol, seol ( TB,
AVR, RVR) ou Xeol ( B] ), no “mundo dos mortos” (NTLH, M M ), “entre os
Nesse texto, não seria conveniente traduzir sheol por “inferno”, pois cer- mortos” ( DHH), na “morada dos mortos” ( TE). Se esse for o caso, Jacó esta-
tam ente Jó, que já estava sofrendo, não desejaria ainda mais tormentos. ria revelando sua crença na continuação da vida após a morte, em outro
Diante de tanto sofrimento, certam ente a morte era desejável para Jó; dessa nível de existência, no qual pudesse reencontrar José.
forma, as seguintes traduções seriam m ais aceitáveis: “região, mansão ou Há, contudo, quem veja nisso sim ples referência à sepultura, ao tú-
mundo dos m ortos” (MM, NBC, NTLH) ou “reino da morte” (DHH). Outras mulo. Jacó queria apenas m orrer (H a rris [Org.], op. cit., p. 1503). Todavia,
versões trazem “sepultura” (ARA, ARC, NVI), “sepulcro” (RV) e “túmulo” mesmo que esse texto não esteja ensinando nada sobre a vida no além ou
(EP). Algumas versões simplesmente transliteram a palavra, mantendo o sobre a crença na ressurreição, h á m uitas outras passagens no Antigo
termo sheol ou seol (A21,AVR, RVR, TB, TE, NM) ou ainda Xeol ( BJ). Testamento que fazem isso (Salm os 16.9,10; Isaías 26.19; Daniel 12.2).
Apesar de anelar o sheol, Jó demonstrou sua fé num a vida futura, lon-
ge do sheol, ao pedir que Deus o deixasse lá por pouco tempo e então se Isaías 14.15 (NM)
lem brasse dele. “Quando um hom em m orre, acaso tornará a viver?” O
Todavia, no Seol serás precipitado, nas partes mais remotas do poço.
próprio Jó responde: “Chamarás, e eu te responderei; terás anelo pela cria -
tura que as tuas m ãos fizeram. Por certo contarás então os meus passos,
Em bora se aplique inicialm ente a um rei da Babilônia, esse trecho tem
mas não tomarás conhecim ento do meu pecado” (Jó 14.14-16).
sido aplicado tam bém a Satanás. Isso leva alguns a traduzirem sheol por
294 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s A n iq u il a n d o a a l m a e a pa g a n d o a s c h a m a s d o in f e r n o 295

“abism o” ( NBC ), que recorda Apocalipse 2 0 .1 -3 , ou m esm o “inferno” Deus, que oonhece com o ninguém o fim de cada um.

(ARC, VL), ou faz-se a sim ples transliteração (A21, BJ, IBB, NVI, RVR, TB, Ainda sobre a palavra sheol, Laird R. H a rris (Org., op. cit., p. 1502),

TE). C ontudo, os testem u nh as de Jeová, ap esar de m an ter o term o professor de Antigo Testamento, inform a o seguinte:

transliterado, erram ao associar o sheol à sepultura comum da humanidade,


pois o Diabo, certam ente, não seria precipitado na sepultura comum da A etimologia é incerta. [...] A palavra obviamente se refere de algu-

humanidade, ao domínio terrestre (e eles tam bém aplicam esse texto ao ma maneira ao lugar dos mortos.

Diabo). Há grande divergência de opinião acerca do significado do termo, o

Se essa interpretação for sustentada (e não é tão simples m antê-la), que é em parte causado por diferentes maneiras de entender o ensino

ou seja, aplicando-se o texto a Satanás, então as traduções “sepulcro” ( RV), do AT sobre a vida futura.

“m ansão dos m o rtos” ( EP ), “reino dos m o rtos” (ARA), “m orada dos


m ortos” (MM), “reino da m orte” (DHH), “mundo dos m ortos” (NTLH) Apesar das parcas referências à vida pós-m orte e à vida futura no Anti-

perderiam a força. Mas, se deixássem os de lado a segunda aplicação e go Testamento, os textos supracitados m ostram que para o sheol iam os

nos mantivéssem os fiéis à literalidade do texto, todas as demais traduções mortos (à luz do Novo Testamento, afirmam os que iam as “alm as” dos mor-

estariam em perfeito acordo com o term o sheol, usado aqui em Isaías tos), tanto bons (Gênesis 37.35) quanto maus (Isaías 14.15; Números 16.30);

14.15 (com exceção de “sepultura”). Isso poria fim ao modo de ver dos que desse lugar é possível sair por meio da ressurreição (Salmos 16.9,10;

testem unhas de Jeová, que nega a consciência no sheol, pois o texto revela Isaías 26 19; Daniel 12.2); m as que, uma vez havendo perm anência nele, a

que no sheol, para onde iria o rei da Babilônia, haveria atividade consciente, consciência no sheol é mantida (Isaías 14.15).

pois Deus afirm a ao rei de Babilônia o seguinte (v. 9 -11, A/AÍ):


Hades
“Até mesmo o Seol, embaixo, ficou agitado por tua causa, para en- Essa palavra grega é equivalente ao hebraico sheol (cf. Gênesis 2.7 com
contrar-se contigo ao entrares. Por ti tem despertado os impotentes na ICoríntios 15.45). É empregada apenas dez vezes no Novo Testamento
morte, todos os líderes caprinos da terra. Fez que todos os reis das na- (K ohlenberger III; Goodrick; Swanson, 1995, p. 22, n. 87). Assim com o acon-

ções se levantassem dos seus tronos. Todos eles respondem e te dizem: tece com sheol, hades tam bém é dotada de profuso sentido sem ântico
‘Foste tu mesmo também debilitado igual a nós? É a nós que te tornaste (v. na página seguinte com o hades é geralm ente traduzida nas dez ocor-
comparável? Ao Seol se fez descer o teu orgulho, a barulhada dos teus rências em diversas versões em português). Muito do que foi citado so-

instrumentos de cordas. Abaixo de ti, os gusanos estão estendidos como bre o sheol na seção anterior tam bém se pode dizer sobre o hades. Mas

leito; e vermes são a tua cobertura’ ”. outras considerações são im portantes acerca do hades, e estas lançarão
luz tam bém sobre o conceito de sheol no Antigo Testamento. Analisare-

O orgulhoso rei haveria de encontrar seus inimigos no sheol, aqueles m os especialm ente duas passagens: Lucas 16.23 e Apocalipse 20.13,14.

que, assim com o ele, desceram ao mundo dos mortos. M esmo que tais
L u c a s 1 6 .1 9 -3 1 — O r ico e L á z a r o
palavras sejam uma “sátira” (MM, Isaías 14.4), um “m otejo” (ARA) ou
um a “expressão proverbial” (NM), foram formuladas com base na crença Já vim os que o Antigo Testam ento usa o term o sheol com o signifi-
de que no sheol há vida consciente, pois foram proferidas pelo próprio cado de “m undo dos m ortos”, bons ou m aus (Salm os 9 .1 7 e Gênesis
2 96 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s A n iq u il a n d o a a l m a e a p a g a n d o a s c h a m a s d o in f e r n o 29 7

Ma t eus Ma t eus Luc as Luc a s At o s Apocaupse Apocalipse Apocaixpse 3 7 .3 5 ). M as seria razoável acred itar que tanto ju sto s quanto inju stos
Ver sOes
11.23 16.18 10.15 16.23 2.27,31 1.18 6.8 21.13,14
não poderiam com partilhar do mesm íssim o destino. Assim, à luz de Lu-
A21 Inferno Inferno Inferno Inferno Túmulo/ Inferno Inferno Além/
inferno
cas 16.19-31, na história do rico e Lázaro, vem os que, até o tem po de
túmulo

ARA Inferno Inferno Inferno Inferno Morte Inferno Inferno Além/ Cristo, o hades/sheol era con stituíd o de duas seçõ es, que, de acordo
Inferno
com o relato do rico e Lázaro, eram separados por um grande abism o
ARC Inferno Inferno Inferno Hades Hades Inferno Inferno Inferno
ou precipício (v. 2 6 ). Havia um lado bom para os ju stos, onde estava
BI Inferno Inferno Mansão Hades Hades Hades Hades
dos mortos
Abraão, e para onde fora Lázaro, a fim de ser consolado. É aqui que o

BMD Inferno Forças Inferno Inferno Mansão Região dos Região dos Mundo dos Antigo e o Novo Testam entos se encontram acerca do sheol/hades.
diabólicas dos mortos mortos mortos mortos/
Alguns afirm am que o lado aprazível era conhecido por “seio de
Abismo
Abraão”, para onde as alm as, ou espíritos, dos fiéis eram conduzidas pe-
CNBB Inferno Morte Inferno Região dos Reino da Morada Morada Morada
mortos morte dos mortos dos mortos dos mortoí los anjos de Deus (v. 22). Mas no texto de Lucas não aparece a designação

EP Inferno Morte Inferno Inferno Região dos Morada Mundo Morada desse lado bom . Assim, cham á-lo de “seio de Abraão” é ir além do próprio
mortos dos mortos dos mortos dos morto)
texto. A expressão apenas indica que Lázaro foi levado para perto de
AVR Hades Hades Hades Hades Hades Hades Hades Hades
Abraão (cf. João 13.23) (Davidson, 1963, v. 2, p. 1047). O term o “paraíso”,
LR Inferno Inferno Inferno Inferno Mansão e Mansão Mansão Inferno em bora não esteja no texto, é corroborado pela literatura judaica apoca-
habitação dos mortos dos mortos
dos mortos
líptica do período intertestam entário (compreendido entre os dois Tes-
tam entos), que chamava o lado ruim do hades de “tártaro” (v. a seguir) e
MH Inferno Inferno Inferno Inferno Região dos Inferno Inferno Inferno
mortos o lado bom , “paraíso” (Champlin; B entes, v. 3, p. 323). Aliado a isso, está o

MM Inferno Inferno Inferno Inferno Região dos Região dos Região dos Morada fato de Jesus ter prometido, no m esm o dia de sua m orte, estar com o la-
mortos mortos mortos subterrânea drão no “paraíso” (Lucas 23.4 3), referência ao lado de bem -aventurança
do hades (v. m ais detalhes no cap. 7).
NCB Abismo Abismo Inferno Morada Habitação Abismo Abismo Abismo
dos mortos dos mortos Quanto ao lado ruim , além de ser denominado “tártaro” nos escritos
apocalípticos judaicos, era denominado hades. Mas hades não é a denomi-
NTLH Mundo Morte Mundo Mundo Mundo Mundo Mundo Mundo
dos mortos dos mortos dos mortos dos mortos dos mortos dos mortos dos mortos nação dos dois lados? Também. Temos aí uma figura de linguagem: a siné-
doque, em que a parte é nomeada pelo todo. Esse lado não é uma região
TB Hades Hades Hades Hades Hades Hades Hades Hades
benquista, pois é um lugar de tormento: o rico estava “em tormentos”, sen-
TE Morada Morte Morada Morada Morada e Hades Hades Hades tindo-se angustiado pelo “fogo intenso” (v. 23,24). A descrição é vívida.
dos mortos dos mortos dos mortos mansão
dos mortos Entretanto, com o já dissem os, esse hades, m esm o sendo lugar de pu-
nição, de torm ento, não seria o inferno propriam ente dito, pois, de acor-
NM Hades Hades Hades Hades Hades Hades Hades Hades
do com Apocalipse 2 0 .1 3 -15 (v. m ais adiante), o hades será lançado no

Lugar Hades Mundo e Mundo Mundo Mundo


“lago de fogo”, outra expressão usada para designar o inferno de fato (v.
VF Lugar Poderes
dos mortos da morte dos mortos Lugar dos dos mortos dos mortos dos mortos geena, adiante). A conclusão é esperada: o hades, mencionado no texto
mortos
lucano, é um lugar interm ediário (ou condição) entre a m orte e a ressur-
298 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s A n iq u il a n d o a a l m a e a pa g a n d o a s c h a m a s d o in f e r n o 2 99

reição dos m ortos. É para lá que são enviadas as alm as dos ímpios. 0 Seol e o Hades não se referem a um lugar de torm ento”.6 Em

Quanto aos justos, o “paraíso” teria sido seu estado interm ediário até outra publicação, afirm a-se: “Essas palavras, intrinsecam ente, não

a ascensão de Cristo, quando então ele teria conduzido seus habitantes contêm nenhum a ideia ou sugestão de prazer ou de dor”.7

para o céu, num espaço tam bém chamado “paraíso”, o “paraíso de Deus”
(IP edro 3.18-22; Efésios 4 .8-10 ; Apocalipse 2.7). Desde esse momento, Apesar dessas evidências escriturísticas, os testemunhas de Jeová não

quando um fiel morre, sua alma/espírito segue diretam ente para o céu, se dão por vencidos e costum am fazer certas perguntas tentando provar o

aguardando a ressurreição do corpo (2Coríntios 5.6 -8; Filipenses 1.21- caráter puramente fictício da passagem.8 Respondamos a cada pergunta:

23; Hebreus 12 .22 ,23 ; Apocalipse 6.9).


Os testem unhas de Jeová negam tudo isso e apregoam a não consciên- 1. Será que a distância que separa o inferno do céu está ao alcance da

cia após a m orte (v. m ais adiante o subtítulo “Textos mal interpretados voz, de modo que se possa realmente manter uma conversação? (v.
sobre a consciência após a morte”). Trata-se, dizem eles, de uma parábo- 23,24). Só podemos falar do que está no texto: o rico “viu Abraão

la, cujo conteúdo não deve ser tomado literalm ente (esse argumento já de longe” (v. 23); havia um “grande precipício” ou abism o que os

foi refutado neste capítulo). Cabem tam bém aqui outras considerações. separava (v. 2 6 ), m as este não im pedia que um a conversa entre

Tomando-se por certo que as parábolas de Jesus apontavam para fatos da o rico e Abraão fosse entabulada. Ademais, levando-se em conta o

vida real, podemos fazer as seguintes perguntas ao texto: que foi mencionado no início da exposição de Lucas 16.19-31, não
está em questão “a distância que separa o inferno do céu”, m as a

1. Jesus disse que o rico m orreu e foi enterrado? Sim (v. 22). que separa o “paraíso” do lado ruim do hades.

2. Para onde o rico foi? Para o hades (v. 23). 2. Além disso, se o rico estivesse num lago ardente literal, como poderia
3. No hades, o rico estava consciente ou inconsciente? Consciente, pois Abraão m andar Lázaro para lhe refrescar a língua com apenas uma
m antinha seu sentido da visão, além de reconhecer seu estado de gota de água na ponta do dedo (v. 24)? Respondemos, perguntan-
penúria (v. 23,24). do: “Em que parte do texto se diz que Abraão m andou ou m anda-

4. Jesus disse que no hades havia tormento? Sim (v. 23). Ora, se Jesus ria Lázaro até o rico?”. Ao contrário, o próprio Abraão respondera

confirm ou que no hades, onde estava o rico, havia tormento, é por- ao rico que havia um grande precipício entre eles, de modo que “os

que ele sabia o que estava dizendo, pois, se não houvesse, suas pa- que desejam passar do nosso lado para o seu, ou do seu lado para

lavras não fariam sentido. Mesm o num a parábola, ele não poderia o nosso, não conseguem” (v. 2 6). Ademais, o rico sofria de tal m a-

dizer algo que realmente não existiria, pois incorreria na falta de neira que naquele “fogo intenso”, em devaneios, achava que uma

ensinar doutrina errônea a seus ouvintes. Logo, se Jesus disse que simples gota d’água aliviaria de algum modo seu tormento. É pro-

no hades há torm ento, por que contradizê-lo? É o que fazem os vável que ele não se desse conta do estado em que se encontrava.

testem unhas de Jeová: “Em todos os lugares em que Seol ocorre na Além da realidade do torm ento, o texto deixa claro que há plena

Bíblia, este nunca éassociado com vida, atividade ou tormento. [...]

7 Tradução do Novo Mundo: com referências, ap. 4B, p. 1514.


6 Poderá viver para sempre no paraíso na terra, p. 83, § 7. 8 Poderá viver para sempre no paraíso na terra, p. 88, § 17.
300 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s A n iq u il a n d o a a l m a e a pa g a n d o a s c h a m a s d o in f e r n o 301

consciência das faculdades m entais após a m orte física. ao passo que outras ainda adotam traduções alternativas, como “lugar de
castigo” {CNBB) e “abism os de escuridão” (VF).
A p o c a lip s e 2 0 .1 3 ,1 4
No entanto, a identidade do tártaro ainda é um assunto polêmico, e as
E o mar entregou os mortos nele, e a morte e o Hades entregaram opiniões são conflitantes entre si. Tanto a literatura grega quanto os es-
os mortos neles, e foram julgados individualmente segundo suas ações. critos apocalípticos judaicos do período intertestam entário associam o
E a morte e o Hades foram lançados no lago de fogo. Este significa a tártaro ao hades (Champlin; B en tes, op. cit., v. 3 p. 323). Às vezes, são vistos
segunda morte, o lago de fogo. como term os intercambiáveis (Davidson, op. cit., v. 2, p. 1047). Nos escri-
tos judaicos m encionados, o tártaro seria a designação do lado ruim do
Já vimos no comentário anterior sobre Lucas 16.19-31 que o hades é um hades. Para os gregos, segundo a Ilíada, de Homero, o tártaro era a prisão
estado intermediário para os ímpios entre a m orte e a ressurreição. Mas dos deuses e titãs (sem ideuses) vencidos, que haviam ofendido o grande
algumas traduções não ajudam muito nesse particular; em Apocalipse Zeus, o pai dos deuses, localizando-se nas partes inferiores do hades.
20.13,14, por exemplo, traduzem hades por “inferno”, o que causa muita Que conclusão podemos extrair de 2Pedro 2.4? É possível associar o
confusão, pois ensinaria o seguinte: E a morte e o inferno foram lançados no tártaro ao hades ? Há autores para quem o texto de 2Pedro não estaria
lago de fogo. Ora, como o inferno poderia ser lançado no “lago de fogo”? querendo distinguir entre o hades e o tártaro; o que ocorre é tão somente
Significa dizer que há algo pior que o inferno? Isso não faz sentido. um a m enção à porção m á do hades (Champlin; Bentes, op. cit., v. 3, p. 323).
Já falamos que a expressão “lago de fogo” corresponde m elhor ao que Proponho algum as considerações a respeito:
as Escrituras têm a dizer sobre o inferno. Nele será lançado o Diabo, onde
“será atorm entado dia e noite, para todo o sempre” (Apocalipse 20.1 0). O 1. Fala-se de um julgam ento pelo qual esses anjos passarão. Por con-
“lago de fogo” identifica-se com “o fogo eterno preparado para o Diabo e
seguinte, seria inadmissível crer que já estivessem no “inferno” pro-
seus anjos”, do qual Jesus falou em Mateus 25.41. Aceitando-se essa in-
priamente dito, pois este ainda não recebeu o Diabo e seus anjos
terpretação, o “lago de fogo” seria o banim ento eterno, a condenação final
(Mateus 25.41), já que o inferno o u “lago de fogo” é o destino final
(v. geena mais adiante). Assim, ao ser lançado no “lago de fogo” , o derra-
de todos os desobedientes, tanto hum anos quanto seres espirituais
deiro destino dos réprobos no juízo final, o hades desaparece como esta-
rebelados (Apocalipse 2 0 .1 0 -1 5 ). Portanto, esse “tártaro” parece
do interm ediário. E esse “fogo que nunca se apaga” m anterá os pecadores
indicar um estado interm ediário (diferentem ente da geena), onde
impenitentes em eterna prisão.
os anjos rebeldes citados no texto ficarão até o julgam ento final.
Tártaro 2. Em bora a literatura grega e os escritos judaicos apocalípticos as-
sociem o tártaro ao hades, esse não parece ter sido o cam inho
Essa palavra ocorre uma única vez na Bíblia, em 2Pedro 2.4, em que
seguido por Pedro. Já expusemos aqui que há um estado interm e-
lemos: “Pois Deus não poupou os anjos que pecaram , m as os lançou no
diário para as alm as dos justos (o paraíso de Deus) e dos injustos
inferno [tártaro], prendendo-os em abism os tenebrosos a fim de serem
(o hades). Muitos desses injustos são m encionados em 2Pedro 2.5-
reservados para o juízo”. A NVI segue a esm agadora m aioria das versões
8: os desobedientes da época de Noé e os impudicos de Sodoma e
ao verter o grego tártaros por “inferno” (A21, ARA, ARC, NTLH, DHH,
Gomorra. Pedro alista-os juntos, incluindo os anjos, para m ostrar
AVR, LR, NBC, RV, RVR, TB, VL). Outras apenas transliteram (BJ, TE, NM);
que, se D eus não poupou n enhum d esses, h um anos e so bre-
302 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s A n iq u il a n d o a a l m a e a p a g a n d o a s c h a m a s d o in f e r n o 303

-hum anos, tam bém não poupará os falsos m estres, que fom entam conta as palavras de Jesus, “a m orada final dos destinados ao castigo
heresias destruidoras. Todos são m antidos em castigo para o dia eterno no juízo final” (P a cker, 1998, p. 238) (Mateus 2 5.41-46; Apocalipse
do juízo final (v. 9). Mas não há no texto nenhum indício direto de 2 0 .1 1 -1 5 ). Com o term o “geena”, Jesus indicou a realidade do castigo
que os ímpios hum anos tenham ido para o tártaro. A referência é eterno (Mateus 5.22; 13.42-50; 22.13; Apocalipse 20.10; 21.8 ). Não está
aos anjos rebelados, não aos hum anos rebeldes. Estes, assim como em questão, com o querem os testem unhas de Jeová, o aniquilam ento, a
o rico, mencionado em Lucas 16.19-31, foram para o hades, onde eterna e com p leta d estru ição do indivídu o, p ois nos texto s citad os
tam bém são atormentados. percebe-se que os que vão para a geena, assim com o os habitantes do
hades, m antêm suas plenas faculdades m entais.
Ao que tudo indica, Pedro utilizou o term o “tártaro” com o sinônim o
A Bíblia tam bém apresenta o torm ento eterno com outros term os,
de “prisão”, pois é esse o sentido básico do term o na m itologia grega.
como: “fogo eterno” (Judas 7 ) ,“escuridão das trevas” (2Pedro 2 .1 7 ),“den-

Geena sas trevas” (Judas 13; “negrum e da escuridão”, ATM). Por isso, podemos
afirm ar que o conceito neotestam entário de geena enquadra-se perfeita-
Esse term o aparece 12 vezes no Novo Testamento: M ateus 5 .2 2 ,2 8 ,3 0;
mente na descrição do “lago de fogo” presente em Apocalipse (2 0.1 3-15 ),
10.28; 18.9; 23 .1 5 ,3 3 ; M arcos 9 .4 3 ,45 ,4 7 ; Lucas 12.5; Tiago 3.6 (C on cor-
indicando, portanto, o que conhecem os comum ente por inferno.
dância, p. 119, n. 1067). E ssa é a m elhor palavra para descrever o infer-
Millard J. Erickson (1997, p. 492 ) cita o teólogo luterano Joachim Jere-
no. Usam os a palavra latina porque esta se firm ou por m eio da Vulgata,
m ias, que explica a diferença entre geena e hades:
de Jerônim o. “Geena” é o verdadeiro inferno de fogo, o estado derradei-
ro dos ím pios; por isso, a m aioria das versões traduz o grego géenna
O Novo Testamento faz distinção entre o Geena e o Hades. O Hades
por “inferno” (A21,ARA, ARC, NTLH, CNBB, AVR, MH, RV, VF); outras
recebe os ímpios no período entre a morte e a ressurreição, enquanto o
apenas tran sliteram (BJ, TB, TE, NM) ou usam as duas form as ( BMD,
Geena é o lugar de punição designado permanentemente no julgamen-
EP, LH, MM, NBC).
to final. O tormento do Geena é eterno (Marcos 9.43,48). Além disso, as
Esse term o já era conhecido pelos ouvintes de Jesus. Géenna é a forma
almas dos ímpios ficam fora do [corpo no] Hades, enquanto no Geena,
grega do hebraico gehinnom (“vale de Hinom”). Esse vale encontrava-se
ambos, corpo e alma, reunidos na ressurreição, são destruídos pelo fogo
a oeste e ao sul da antiga Jerusalém (Josué 15.8; 18.16; Jerem ias 19.2,6).
eterno (Marcos 9.43-48; Mateus 10.28).9
Muitos reis de Judá sucum biram à idolatria, adorando o deus Moloque
no vale de Hinom. Nesse período idolátrico, muitos israelitas apóstatas
Essa posição responde coerentem ente, à luz das Escrituras, aos pro-
chegaram a queim ar seus filhos vivos em sacrifício a Moloque (2Crônicas
blem as levantados sobre a condição dos seres hum anos ímpios entre a
28.3; 33.6; Jerem ias 7.31,32; 32 .35). Na reform a religiosa que efetuou, o
rei Josias pôs fim a essa sandice (2Reis 23.10 ). Com o tempo, o vale de m orte e a ressurreição, quando serão finalmente recompensados de acordo

Hinom foi transform ado no depósito e incinerador de lixo de Jerusalém , com o que fizeram (João 5 .28,29), sem que haja injustiça da parte de Deus.

onde até m esm o cadáveres de crim inosos executados eram ali jogados.
Sendo um perm anente depósito de lixo, sempre aceso por força do
enxofre, a geena passou a designar no Novo Testamento, levando-se em 9 O conteúdo entre colchetes faz parte da obra original, em inglês, de Erickson, Christian
Theology, p. 1183; por algum descuido qualquer, foi omitido na edição brasileira.
304 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s A n iq u il a n d o a a l m a e a pa g a n d o a s c h a m a s d o in f e r n o 305

Inferno: não há injustiça da parte de Deus 2. Em bora tente revelar certo senso de ju stiça, os testem unhas de
Jeová, na verdade, m o stram -se totalm ente incoerentes pela se-
Os testem unhas de Jeová objetam à doutrina do castigo eterno ale-
guinte razão: alegam que há m ais de seis m il anos o Diabo está
gando o seguinte:
ativo, levando os hom ens a p raticar todo tipo de atrocid ad e.12
É contrário ao coração de Deus, pois quando os israelitas começa-
Portanto, seguindo sua concepção de ju stiça, Satanás deveria pa-
ram a queimar seus filhos, Jeová disse: “Construíram os altos de Tofe-
gar por seus crim es por pelo m enos seis m il anos. Contudo, ale-
te, que está no vale do filho de Hinom, para queimarem no fogo a seus
gam que em breve, quando o Armagedom tiver term inado, o Diabo
filhos e suas filhas, coisa que não havia ordenado e que não me havia
será encarcerado por m il anos, em estado de inatividade, mas
subido ao coração” (Jr 7:31).10
sem sofrer castigo algum. Depois dos m il anos, será solto, “por
um pouco de tempo”, quando finalmente será destruído para todo
Seria injusto atormentar alguém eternamente porque fez algum mal
o sem pre. Onde está a justiça exigida pelos testem unhas de Jeo-
na terra por uns poucos anos.11
vá? Satã faz e desfaz e, no fim de tudo, sim plesm ente entra num
estado de inexistência e é destruído para sempre? Será que ele não
A propósito disso, respondemos:
merece pagar por seus crim es? Por que os testem unhas de Jeová
são tão condescendentes com Satanás? Onde foi parar seu senso
1. Jesus disse que o “fogo eterno” foi preparado para o Diabo e seus
de justiça?
anjos (Mateus 25.41). Ele tam bém falou sobre os “filhos do Diabo”
(João 8.4 4). Todos esses estão em pecado e por ele perecerão. Não
Ora, tudo aquilo que Deus faz é sem injustiça, como atesta Deutero-
há nenhuma inju stiça da parte de Deus. Quanto ao texto de Jere-
nôm io 32.4,5: “Ele é a Rocha, as suas obras são perfeitas, e todos os seus
mias 7.31, não pode ser aplicado ao Diabo, seus anjos e seus filhos,
cam inhos são justos. É Deus fiel, que não com ete erros; justo e reto ele é.
pois a ira de Deus se acendeu pelo fato de as crianças serem sacrifi-
Seus filhos têm agido corruptam ente para com ele, e não com o filhos;
cadas por seus pais ao falso deus Moloque, e isso, certam ente, nunca
que vergonha! São geração pervertida e transviada”. Assim, se alguém se
subira ao coração de Deus, e ele mandou dar o basta a isso. Em
encam inhar para a condenação eterna, vai não porque ele seja injusto,
outras ocasiões, porém , o próprio Deus puniu com fogo certas pes-
mas porque sua ju stiça foi posta em prática. Deus não lança ninguém no
soas, como os habitantes de Sodom a e Gomorra (Gênesis 19.24) e
“negrume da escuridão”; os hom ens lançam -se lá por seus próprios deli-
Nadabe e Abiú (Levítico 10.1-8). Vale lem brar tam bém que, para
tos e pecados contra o Deus santo. Ele apenas sentencia o culpado segun-
certos crim es com etidos contra a Lei mosaica, havia a prescrição
do seu reto e justo julgamento. Quanto a nós, não nos cabe questioná-lo,
divina de que os transgressores fossem queimados, conform e Le-
mas reconhecer que Deus não é injusto quando dá vazão a seu furor con-
vítico 20.14 e 21.9.
tra o pecado (Rom anos 3 .5,6), pois se trata de um a ação santa contra o
erro e a injustiça.

10 Poderá viver para sempre no paraíso na terra, p. 81, § 2. Um parque de diversões para Satanás?
" Ibid., p. 89, § 20.
12 Ibid., cap. 2. Há quem acredite que o inferno seja um centro de diversões do Diabo,
306 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s A n iq u il a n d o a a l m a e a p a g a n d o a s c h a m a s d o in f e r n o 307

onde Satanás e seus asseclas se divertirão com as pobres alm as condena- Ora, ao morrer, o indivíduo deixa tudo para trás, pois entra em outro

das ao suplício infernal. Nada está tão longe da verdade. A Bíblia afirm a nível de existência. Nesse sentido, não há m ais nenhum a participação nas

que o “fogo eterno” — como o inferno é descrito em Mateus 25.41 — foi atividades dos viventes “debaixo do sol”. Concluímos então que Eclesias-

preparado para o Diabo e seus anjos, e estes serão “atorm entados para tes 9.5 não está ensinando a inconsciência após a m orte, m as o rompi-

todo o sempre” (Apocalipse 20.10). mento dos vínculos com qualquer atividade que se faça “debaixo do sol”.
O autor talvez não tivesse consciência do que de fato acontecia no sheol,
T e x t o s m a l in t e r pr e t a d o s s o b r e a c o n s c iê n c ia a pó s a m o r t e m as revelou saber o suficiente: é uma realidade totalm ente distinta da
presente. E é isso o que nos basta nesse texto bíblico.
Segundo os testem unhas de Jeová, os textos a seguir indicam que os
m ortos não podem fazer nada e não podem sentir nada. Não têm pensa- Salmos 146.4 (NM)
mento algum, pois sem o espírito, o “fôlego de vida”, o indivíduo deixa de
existir, entrando num estado de inconsciência total. Sai-lhe o espírito, ele volta ao seu solo; neste dia perecem deveras os

Após a citação de cada texto, dem onstrarem os a fragilidade da argu- seus pensamentos.

m entação proposta pelos testem unhas de Jeová. Acompanhe.


Quais os “pensam entos” que perecem quando sai o espírito do hom em
Eclesiastes 9.5,10 (NM) terreno? Será que o autor sagrado está falando da capacidade de pensar?
Dificilmente! O contexto revela que a expressão “pensam entos” deve ser
Pois os viventes estão cônscios de que morrerão; os mortos, porém,
entendida por “planos”, “desígnios”. O raciocínio é o seguinte: o salm ista
não estão cônscios de absolutamente nada, nem têm mais salário, por-
diz que Jeová será “rei por tem po indefinido [...] por geração após gera-
que a recordação deles foi esquecida. [...] Tudo o que a tua mão achar
ção” (v. 10). Portanto, é nele que se deve confiar, não nos nobres, nem no
para fazer, faze-o com o próprio poder que tens, pois não há trabalho,
filho do hom em terreno, que, ao contrário de Jeová, são m ortais, passa-
nem planejamento, nem conhecimento, nem sabedoria no Seol, o lugar
geiros. Som ente Jeová, por ser eterno, pode “executar o julgam ento para
para onde vais.
os defraudados”, dar “pão aos fam intos”, libertar os “presos” (v. 7) etc. Os
Existe uma expressão no livro de Eclesiastes que é a chave do correto hom ens, não. Os nobres fazem planos, m as m orrem sem levar a cabo o
entendim ento dessa questão, a saber, “debaixo do sol”, utilizada 27 vezes que foi planejado; por isso, quando m orrem ,“perecem os seus pensam en-
(1 .3 ,9 ,1 3 ,1 4 ; 2 .1 1 ,1 8 -2 0 ,2 2 ; 3.16; 4.1 ,3 ,7,1 5; 5 .1 3,1 8; 6 .1 ,12 ; 8 .9 ,15 ,1 7; tos”, ou seja, os seus desígnios, planos e tudo o mais.
9.3,6,9,1 1,13 e 10.5). Essa expressão é utilizada pelo autor sagrado para
C o n c l u sã o
falar do seu mundo presente, ou seja, de tudo o que ele viu e via “debaixo
do sol”. Em 9.5 -1 0, ele contrasta a realidade de dois mundos: aquele que O excessivo sentim entalism o de Charles Russell, aliado ao seu ceti-
está “debaixo do sol” e aquele além desta vida, o mundo dos m ortos, o cism o, o levou a negar a doutrina bíblica do inferno com o lugar ou es-
sheol. Assim, ao dizer que “os m ortos não estão cônscios de nada”, ele está tado de to rm en to eterno, em d ecorrência tam bém de negar a existência
dizendo que não estão cônscios de nada do que se faz “debaixo do sol”. da alm a e sua im ortalidade. M uitos cristãos, infelizm ente, tam bém têm
Por isso, o seu conselho: “Tudo o que a tua m ão achar para fazer, faze-o procurado negar, em vão, a doutrina do torm ento eterno. Outros não a
com o próprio poder que tens, pois não há trabalho, nem planejamento, negam , m as a ignoram , e não se atrevem a falar sobre o assunto. Mas há
nem conhecim ento, nem sabedoria no Seol, o lugar para onde vais”.
308 T e s t e m u n h a s d e J e o v A: e x p o s i ç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s

algo de nobre na doutrina do inferno, por m ais que isso nos repulse
(P a ck e r, 1998, p. 240): Apêndice 1
O propósito do ensino bíblico sobre o inferno é levar-nos a apreciar,
acolher com gratidão e preferir racionalmente a graça de Cristo, que
nos livra dele (Mateus 5.29,30; 13.48-50). É realmente uma compaixão
pela humanidade o fato de Deus ser tão explícito na Bíblia acerca do Tira-dúvidas
inferno. Não podemos dizer que não fomos alertados.

O grande escritor português M anoel Bernardes tam bém disse algo


muito im portante sobre o inferno (N unes [Org.], 1966, p. 24, n. 37):

Ó alma minha, sabe que o mal da pena não é absoluta e simples- 1. Por que os testemunhas de Jeová fogem quando são
mente mal; o da culpa sim, porque não podendo Deus fazer mal sim- convidados para orar?
plesmente, fez o inferno e não fez o pecado. O pecado, só tu o fizeste; o Não se trata de fugir, com o se os testem unhas de Jeová tivessem medo

inferno, Deus e mais tu o fizeram; ele como justo, tu como condenado; de oração. Ao contrário, eles oram regularmente. Essa é a má impressão

ele quando fabricou a terra, tu quando fabricaste a maldade. Se não que fica para algumas pessoas. No entanto, os testem unhas de Jeová sim -

pecaras, não houvera para ti inferno. De sorte que todo o mal da pena plesmente se recusam a participar da oração com alguém que, segundo

lá o tens refundido no da tua culpa, e pela gravidade daquela conhe- eles, não serve ao Soberano Senhor Jeová. No livro Raciocínios à base das

cerás a desta. Escrituras (p. 27 0), os testem unhas de Jeová são incentivados, caso al-
guém lhes diga “Ore junto comigo prim eiro, depois fale sobre o assunto
que gostaria de falar”, a responder o seguinte: “Sei que representantes de
alguns grupos religiosos fazem isso. Mas as testem unhas de Jeová não,
porque Jesus instruiu seus discípulos a fazerem sua obra de pregação de
outra forma”. Daí, os testemunhas de Jeová deverão dizer que a instrução
de Jesus é de, ao entrar num a casa, falar sobre o Reino de Deus, não fazer
uma oração.
Ademais, nem todos os testem unhas de Jeová encaram isso como re-
gra a ser seguida ao pé da letra. Há os testem unhas de Jeová que aceitam,
sim , o convite para participar de uma oração, desde que, é claro, seja feita
por eles. Outros, porém , podem aceitar participar da oração simplesm ente
para, em seguida, apresentar sua mensagem . Detalhe: normalm ente, quan-
do os testem unhas de Jeová participam de uma oração dirigida por uma
310 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s A pê n d ic e 1: T ir a - d ü v id a s 311

pessoa de outra religião, eles não fecham os olhos e, se o fazem, não di- Estêvão (Atos 7.59). Na Tradução do Novo Mundo, está escrito que E stê-
zem “amém”, indicando que não concordaram com a oração. vão “fazia apelo” a Jesus. 0 interessante é que a expressão traduzida por
Lem bro-m e de certa ocasião, ao trabalhar de casa em casa, em que “fazer apelo” ou invocar (do grego epikaloúmenon) tam bém é traduzida
um grupo de evangélicos m e convidou para orar. Sabendo de antem ão o por “orar”. Isso é reconhecido pela Tradução do Novo Mundo: com refe-
que lhes fora ensinado — que os testem unhas de Jeová fogem quando rências (um a espécie de Bíblia de estudo). 0 próprio Jesus certa vez disse:
convidados a orar — , de imediato aceitei, pois sabia que quem lhes ensi- “0 que for que pedirdes em meu nom e [isto é, a m im ], eu farei isso” (João
nara tal coisa passaria por m entiroso. De fato, as pessoas ficaram espan- 13.13, NM, colchetes nossos). Foi exatam ente o que fez Estêvão. Ele pediu
tadas. E o espanto aumentou quando m e propus a fazer a oração. Assim, a Jesus, ou seja, em “seu nom e”, que recebesse seu espírito, e ele certa-
não espalhe esse boato de que os testem unhas de Jeová não oram. mente o atendeu.
Outro ponto: se um testemunha de Jeová depara com um cristão pente-
costal, cuja oração pode ser acompanhada de línguas estranhas, nesse caso 3. Por que os testemunhas de Jeová não votam?
o testemunha de Jeová se recusará a participar, pois crê que a língua estra- Não é bem assim . Todo testem unha de Jeová tem seu título eleitoral
nha seja manifestação de algum espírito iníquo, quer dizer, um demônio. (m enos os que tiveram seus direitos políticos cassados por não presta-
Você deixaria alguém orar em seu favor, se julgasse que tal pessoa está pos- rem o serviço m ilitar [v. a pergunta seguinte]), e devem cum prir com
suída por um demônio? Pois é, nem o testemunha de Jeová. suas obrigações eleitorais. Mas, além de obrigações, todo cidadão tem
seus direitos, e um deles é o de votar em branco ou anular seu voto. E é
2. Os testemunhas de Jeová oram em nome de Jesus ou de exatam ente isso o que todo testem unha de Jeová fiel à organização deve-
Jeová? ria fazer: anular seu voto. Por quê? Eles creem que todo o sistem a político
Toda oração dos testem unhas de Jeová é dirigida a Jeová e em nome governamental é a besta ou fera de Apocalipse. Dessa form a, votar em
de Jesus. Nenhuma oração é feita sem a frase “em nom e de Jesus” ou algo algum político é uma form a de receber a m arca da besta.
semelhante. Evidentemente, não é o m esm o Jesus da Bíblia, pois o Jesus Os testem unhas de Jeová creem que o mundo de Satanás é composto
dos testem unhas de Jeová é uma criatura, um arcanjo. Eles têm uma vi- de várias partes interligadas: o sistem a político governam ental, a religião
são própria a respeito de Jesus e o prezam a seu próprio modo. Eles o falsa e o com ércio. E, para provar que o sistem a político pertence ao Dia-
encaram como o m aior hom em que já viveu, a segunda m aior persona- bo, citam a passagem bíblica em que Satanás tentou o Senhor Jesus ofere-
gem do Universo. 0 que um testem unha de Jeová jam ais faria, nesse caso, cendo-lhe todos os reinos do m undo. Para firm ar de vez essa ideia,
é dirigir sua oração a Jesus. lem bram que o próprio Satanás afirm ou que os reinos do mundo lhe fo-
Cabe lem brar que não se deve usar a frase “em nom e de Jesus” como ram entregues, e que ele os daria a quem quisesse (Lucas 4.5 ,6). Ademais,
se fosse m ágica, sem a qual a oração não seria ouvida por Deus. 0 sentido citam o texto de ljo ã o 5.19, que diz: “0 mundo inteiro jaz no poder do
de orar “em nom e de Jesus” é reconhecer que sem ele, que é o Caminho, a iníquo” {NM), e 2Coríntios 4.4, que cham a Satanás de “deus desta era” ou,
Verdade e a Vida (João 14.6), esse privilégio não seria possível. Assim, se como verte a Tradução do Novo Mundo, “deus deste sistem a de coisas”.
algum contato com Deus é possível, só o é porque Jesus abriu o cam inho 0 erro dos testem unhas de Jeová é dar a Satanás a autoridade que cer-
de acesso a Deus. E, sendo Deus, da m esm a form a que o Pai e o Espírito tam ente ele não tem e, pior ainda, acreditar nas palavras daquele que é o
Santo, as orações tam bém podem ser dirigidas a ele, com o fez o m ártir “pai da m entira” (João 8.44). 0 Diabo m entiu ao dizer a Eva que ela não
3 12 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s A p ê n d ic e 1: T ir a - d ü v id a s 313

m orreria (Gênesis 3.4 ); mentiu para si m esm o quando disse que se as- questões com respeito a muitos povos. E terão de forjar das suas espadas
sentaria no trono de Deus e seria sem elhante ao Altíssimo (Isaías 14.12- relhas de arado, e das suas lanças, podadeiras. Não levantará espada na-
14); mentiu igualmente quando disse que o hom em só serve a Deus por ção contra nação, nem aprenderão m ais a guerra”. Para os testem unhas
interesse (Jó 1). Assim, por que acreditar em Satanás quando disse que de Jeová, esse texto tem aplicação em sua organização, que, coerente com
todos os reinos do mundo lhe pertenciam ? Não seria m ais um delírio a profecia de Isaías, não aprende m ais o ofício da guerra.
desse anjo caído e megalomaníaco? Assim, em vez de dar crédito ao Dia- Contudo, o próprio Isaías disse no início de seu livro estar escrevendo
bo, m elhor será dar crédito ao apóstolo Paulo, que disse: “Todos devem com respeito a “Judá e Jerusalém ” (1.1 ). Isso é atestado por 2.1 (NM): “A
su jeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que coisa que Isaías, filho de Amoz, visionou concernente a Judá e Jerusalém ”.
não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabeleci- Situados num contexto de guerra, em que era preciso m anter a sobrevi-
das” (Rom anos 13.1ss). vência diante do ataque de superpotências, Deus promete aos “homens
E o que dizer quando a Bíblia afirm a que Satanás é o “deus desta era”, da casa de Jacó” (2.5) que, em algum tempo, as guerras haveriam de ces-
ou que “o mundo todo está sob o poder do Maligno”? Por “era” ou “m un- sar, e suas arm as seriam transform adas em instrum entos de trabalho
do”, devemos entender uma sociedade anti-D eus, que prefere as trevas a agrícola. 0 que tem os aqui, portanto, é a prom essa da cessação das guer-
aceitar a luz divina. ras, não a proibição do serviço m ilitar, pois, para m anter a própria sobre-
vivência, a nação de Israel tinha seu exército. 0 próprio Jeová é chamado
4. Por que os jovens testemunhas de Jeová não servem às “pessoa varonil de guerra” (Êxodo 15.3, NM). Em Josué 10.14 (NM), le-
Forças Armadas? m os que “o próprio Jeová lutava por Israel”.
No Brasil, o serviço militar é obrigatório. Mas, a cada ano, dezenas de Segundo o que concluím os pela leitura das Escrituras, não há nenhu-
jovens testemunhas de Jeová solicitam sua exoneração. A revista Veja, de 10 m a proibição quanto à prática do serviço militar. A principal passagem
de fevereiro de 1988 (p. 4 5), noticiou que, em janeiro desse ano, o então bíblica que elucida essa questão encontra-se em Lucas 3, num episódio
presidente da República José Sarney cassou os direitos políticos de “99 jo - envolvendo João Batista. Foi profetizado sobre João que ele seria “profeta
vens, que, por imperativos de consciência, se recusaram a prestar o serviço do Altíssimo” e cum priria o propósito de Deus de conduzir seu povo “no
militar”. Eram na maioria testemunhas de Jeová. Os jovens testemunhas de
cam inho da paz” (Lucas 1.76,79). Portanto, João Batista jam ais incenti-
Jeová não apenas são incentivados a pedir exoneração do serviço militar, varia práticas contrárias à vontade do Altíssimo. Ao pregar a necessidade
mas tam bém a recusar o serviço alternativo, que livra o indivíduo de pegar do arrependim ento, o relato de Lucas 3 revela que muitos, querendo sa-
em armas, porém lhe confere outras tarefas, como trabalhar na cozinha, ber o que deveriam fazer a fim de escapar do julgam ento divino, achega-
enfermaria etc. Isso porque, nesse caso, os testemunhas de Jeová alegam ram -se a João. Veja como João Batista aconselhou cada grupo:
que estariam apoiando a guerra. Não só isso. Seria tam bém uma maneira
de receber a marca da fera, ou seja, da besta de Apocalipse, que, para os 1. As multidões. “E as multidões perguntavam-lhe: ‘Que devemos fazer,
testemunhas de Jeová, simboliza o poder político com seu sistema militar. então?’. Em resposta, ele lhes dizia: ‘A quele que tiver duas peças de
Em consequência disso, esses jovens têm seus direitos políticos cassados. roupa interior partilhe com aquele que não tiver nenhuma, e aquele
A principal base bíblica para essa recusa é o texto de Isaías 2.4 ( NM ), que tiver coisas para comer, faça o mesmo’ ” (v. 10,11, NM). Para esse
que diz: “E ele certam ente fará julgam ento entre as nações e resolverá as grupo, João aconselhou a prática da beneficência, da fraternidade.
314 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s A pê n d ic e 1: T ir a - d ü v id a s 315

2. Cobradores de impostos (publicanos ) . “Vinham , porém, até m esm o etc. 0 mesmo se dá com o Espírito Santo. Ser batizado em nom e do Espí-
cobradores de impostos para ser batizados, e disseram -lhe: ‘In s- rito Santo é reconhecer que ele é a “força ativa” de Jeová. Então, se o estu-
trutor, que devemos fazer?’ Ele lhes disse: ‘Não reclameis m ais do dante dos testem unhas de Jeová reconhecer tudo isso, será um dos sinais
que a taxa do imposto’ ” (v. 12,13, NM). Ora, João não pediu que os de que está pronto para o batism o.
publicanos deixassem sua profissão, m as que fossem honestos, não
defraudando ninguém. 6. Por que os testemunhas de Jeová não saúdam a bandeira
3. Soldados. Por fim , apareceram os em serviço militar, que lhe per- nacional nem cantam o hino nacional?
guntaram: “Também nós, que devemos fazer?”. Se João Batista fosse Por encararem tais coisas com o p ráticas idólatras. A bandeira e o
um testem unha de Jeová, teria dito certam ente: “Deixem seu sol- hino nacionais seriam ídolos, que, com o tais, deveriam ser evitados
do, pois não cabe a um servo do Deus Altíssim o aprender o ofício (IC o rín tio s 10.14; ljo ã o 5.21 ).
da guerra; peçam a dispensa do serviço m ilitar”. Mas não foi as- O erro dos testem unhas de Jeová, nesse particular, é confundir honra
sim que o “profeta do Altíssimo”, que conduziria seu povo no “ca- com adoração. Cabe lem brar que nem toda imagem é um ídolo. Por exem -
m inho da paz” , respondeu. Ele lhes d isse: “Não h o stilizeis a plo, certa vez Deus enviou uma m aldição para os israelitas resmungado-
ninguém e não acuseis a ninguém falsam ente, m as contentai-vos res, a saber, serpentes venenosas. Ao reconhecer seu erro, o povo pediu a
com o vosso soldo” (v. 14, NM). Assim, João som ente lhes pediu Moisés que intercedesse a seu favor. Deus então m andou M oisés fazer
que não abusassem de sua autoridade, chocando qualquer teste- uma serpente de bronze e erguê-la a fim de que o povo de Israel pudesse
munha de Jeová, ao dizer: “Contentai-vos com o vosso soldo”. olhar para ela e receber a cura física e espiritual (Números 2 1.4-9 ). O povo
convivia muito bem com a im agem e com o verdadeiro Deus. Não havia
5. Os testemunhas de Jeová batizam em nome do Pai, do nenhuma incoerência nisso. Todavia, a serpente de bronze deixou de ser
Filho e do Espírito Santo? uma simples im agem e converteu-se num ídolo, quando o povo passou a
A resposta será “não”, caso tenham os em m ente o que é praticado en- adorá-la, dando-lhe status de divindade. Quando isso aconteceu, a ser-
tre os cristãos. Os testem unhas de Jeová não usam nenhum a espécie de pente foi destruída (2Reis 18.4).
fórmula batism al, como é comum no cristianism o. Assim procedem para Assim, se o governo local tem seus sím bolos nacionais, nada impede
evitar qualquer associação com os que creem na Trindade. Antes do b a - que esses sím bolos sejam honrados, pois representam a nação. Contudo,
tism o, no lugar do tradicional “Fulano de tal, eu te batizo em nom e do Pai, se o governo local dissesse que devemos am ar a bandeira nacional com
do Filho e do Espírito Santo”, o batizando apenas é incentivado a tam par todo o nosso ser, alm a, mente e força, num a espécie de adoração que so-
o nariz, a fim de que não entre água no ato da im ersão total. mente deve ser prestada a Deus, então, nesse caso, a bandeira nacional se
Como os testem unhas de Jeová entendem Mateus 28.19, que ordena converteria num ídolo. Até onde se sabe, isso não acontece em solo brasi-
aos cristãos batizarem em nom e do Pai, do Filho e do Espírito Santo? Eles leiro, não fazendo sentido, portanto, essa posição exagerada assum ida
explicam o seguinte: ser batizado em nom e do Pai significa, antes do ba- pelos testem unhas de Jeová. É muito zelo por pouca coisa.
tism o, reconhecer que Jeová é o único Deus verdadeiro; que não existe Que dizer, porém , da parte da letra de nosso hino nacional que chama
nenhum a concepção trinitária a seu respeito na Bíblia. Ser batizado em o Brasil de “pátria amada, idolatrada” e de “terra adorada”? Não estaría-
nom e do Filho significa reconhecer que Jesus Cristo foi criado por Jeová mos diante de um a letra idólatra? Obrigatoriamente, não. O problema todo
316 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s A pê n d ic e 1: T ir a - d ú v id a s 317

parece estar no cam po da linguagem. Os verbos “idolatrar” e “adorar” tam - Além disso tudo, o trabalho de casa em casa tem forte apelo so-
bém detêm sentido figurado. Podem ser tomados como am or ou gosto exa- teriológico (salvífico), com o evidencia a seguinte declaração extraída da
gerado por algo, com o na sentença: “Eu adoro chocolate”. Não vejo por que publicação m ensal Nosso ministério do reino (12/1984, p. 1): “Sim, traba-
objetar essa expressão popular. Fala-se também em “criança adorável”, ou lhamos arduamente com o fim de obter a nossa própria salvação e de
seja, encantadora. Os poetas não se cansam de falar na mulher adorada, ajudar outros a tam bém serem fiéis”.
isto é, muito amada. Aliás, foi um poeta que compôs o hino nacional. Quem Até janeiro de 2000, o sistema de publicações funcionava assim entre os
mais, senão um poeta, poderia externar seu amor pela pátria lançando mão testemunhas de Jeová (no Brasil): quando alguém ia trabalhar de casa em
dos termos que expressassem todo o seu sentido grandioso ao mais alto casa, dirigia-se até o balcão de revistas, por exemplo, e com prava um nú-
expoente? Quem se atreveria a condená-lo por isso? m ero de revistas A Sentinela e Despertai! O pagam ento geralm ente era
Repetimos: um a coisa é adorar a pátria no sentido de “gostar muito”, feito no ato. Assim, a Torre de Vigia já recebia sua parte. O lucro era certo.
outra é adorá-la no sentido de lhe prestar culto como se possuísse status de Ao trabalhar de casa em casa, o testemunha de Jeová “colocaria” (não se usa
divindade. Se a situação fosse essa, o cristão deveria dizer não à idolatria. na organização o verbo “vender”) a revista pelo mesm o preço que pagou.
Se não colocasse, ficaria no prejuízo financeiro; se colocasse, recuperaria o
7. Os testemunhas de Jeová são obrigados a vender revista que tivesse investido. Uma breve observação: no caso dos pioneiros (um
de casa em casa? É verdade que quem não vende é publicador que dedica um número definido de horas na pregação de casa
considerado servo inútil? em casa), eles retiravam a revista com 50% de desconto e a repassavam pelo
Nenhum testem unha de Jeová é obrigado a vender nada de casa em preço normal; assim, metade ficava com o pioneiro para ajuda de custo.
casa. Se alguém sair de casa em casa e não “passar” ou “colocar” (estes A partir de janeiro de 2000, o sistem a de distribuição de publicações
são term os usados por eles) nenhum a literatura, não será considerado foi alterado. Ao dirigir-se ao balcão de revistas, o m esm o testem unha de
servo inútil. Contudo, não se pode negar que há um forte apelo para que Jeová, dessa vez, não terá mais de dar um valor fixo por aquilo que adqui-
cada publicação da Torre de Vigia seja distribuída de casa em casa. Con- rir. Contribuirá com o que quiser, com o se fosse um simples donativo
sequentem ente, quem se esforça nesse sentido acaba tendo certo status (novam ente, a Torre de Vigia receberá o que investiu e um pouco mais,
entre os mem bros do grupo, pois, afinal de contas, tanta dedicação con- provavelmente; ela nunca sai perdendo). Ao realizar seu trabalho de dis-
tribui para que muitos conheçam a m ensagem da seita. tribuição de publicações, o testem unha de Jeová solicitará às pessoas uma
Não se pode negar que os testem unhas de Jeová dedicam m uitas ho- contribuição voluntária, sem estipular o valor, alegando tratar-se de um
ras de sua vida na divulgação do que acreditam. Faça sol, faça chuva, lá donativo para colaborar com a obra mundial da sua organização. E para
estão eles de casa em casa. É bem verdade tam bém que, com o passar do onde irá o dinheiro arrecadado? Para os cofres da Torre de Vigia.
tempo, muitos trabalham som ente em virtude dos relatórios m ensais exi-
gidos, nos quais constam o número de horas trabalhadas, a quantidade 8. É verdade que os testemunhas de Jeová não creem em
de revistas, brochu ras, folhetos e livros vendidos, bem com o o núm ero Jesus?
de visitas e estudos bíblicos dom iciliares realizados. No final das contas, O cristianism o tem ensinado à luz da Bíblia que Jesus é incriado, pois,
torna-se um a vida de escravidão, pois acabam sendo explorados por uma sendo Deus, é de eternidade a eternidade. Ele é todo-poderoso, onipre-
organização que cresce financeiram ente à custa deles. sente e onisciente. Por ser Deus, com o Pai e o Espírito Santo, ele é digno
318 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s
A pê n d ic e 1: T ir a - d ú v id a s 319

de louvor e deve ser adorado por toda a criação. Como os testem unhas de Rom anos 8.1 4 -1 7 é aplicado exclusivam ente aos 144 m il. Aqueles que

Jeová não creem nisso — ao contrário, afirm am que Jesus é uma criatu- pertencem à classe da “grande multidão” das “outras ovelhas”, ou seja, os

ra, sem ser, portanto, consubstanciai com o Pai, negando o que a Bíblia que têm a esperança de viver no paraíso terrestre, não recebem tal testem u-

afirm a sobre quem é Jesus — , podemos dizer que os testemunhas de Jeová nho; portanto, o texto de Rom anos 8.14-17 não serve para os tais. Então,

não creem nele, conform e está revelado nas Escritu ras. Todavia, deve- quando alguém dos 144 mil ler Romanos 8.14-17, dirá: “Isso diz respeito

m os afirm ar que os testem unhas de Jeová têm uma concepção própria a mim ”; ao passo que alguém das “outras ovelhas” dirá: “Isso não diz

sobre Jesus. 0 Jesus em quem afirm am crer é bem diferente daquele apre- respeito a mim, m as aos ungidos”, isto é, aos 144 mil. Além disso, se um

sentado na Bíblia (v. o cap. 5: “Outro Jesus Cristo”). dos “ungidos” ler Salmos 37.29, que diz que os “m ansos herdarão a terra”,
dirá: “Isso não diz respeito a m im , m as às outras ovelhas”; ao passo que

9. É verdade que os testemunhas de Jeová creem que alguém das “outras ovelhas”, ao ler o mesmo texto, dirá: “Isso diz respeito

somente 144 mil serão salvos? a mim , pois tenho esperança terrestre”.

Se por salvação entendemos exclusivamente viver para sempre com Deus No entanto, ainda fica a questão: “Como a pessoa sabe que pertence a

no céu, então os testemunhas de Jeová creem que somente 144 mil serão um grupo ou ao outro?”. Até 2007, a idade era um fator im portante. Os

salvos (v. o cap. 7: “As castas de Jeová: os 144 mil e as ‘outras ovelhas’ ”). testem unhas de Jeová acreditavam que a cham ada celestial term inou em

Contudo, não é assim que os testemunhas de Jeová conceituam salvação. 1935 (v. o cap. 7). Assim, todos os que aderiram à seita de 1935 para cá

Para a organização, há uma só salvação e duas esperanças. Tanto os 144 mil aprenderam que sua esperança é terrestre.

quanto as “outras ovelhas” serão salvos; no entanto, um grupo será salvo E isso, na prática, funcionava? Geralmente, sim. A seita costum a con-

para ir para o céu, e o outro, para viver para sempre no paraíso terrestre. tar uma vez ao ano o núm ero de “ungidos”. Essa contagem é feita na
Comemoração da Morte de Cristo (a santa ceia), a reunião solene, a m ais
10. Como alguém sabe que é um dos 144 mil eleitos? im portante para os testem unhas de Jeová. Trata-se de uma data móvel,

A resposta dada pelos testemunhas de Jeová é a citação de Romanos pois os testem unhas seguem o calendário lunar, à sem elhança dos ju -

8.14-17, em que se lê, de acordo com a Tradução do Novo Mundo: “Porque deus, para determ inar a data da Páscoa. Nessa ocasião, os testem unhas

todos os que são conduzidos pelo espírito de Deus, estes são filhos de Deus. de Jeová reúnem -se após o pôr do sol. Todos a postos, com eça a com e-

Pois não recebestes um espírito de escravidão, causando novamente temor, m oração. Prim eiram ente, passa-se o pão, depois o vinho. De repente, se

m as recebestes um espírito de adoção, com o filhos, espírito pelo qual cla- alguém com er do pão e beber do vinho, um dirigente do “salão do reino”

mamos: 'Aba, Pai!’ 0 próprio espírito dá testemunho com o nosso espírito local anotará tal acontecimento, pois quem pertence às “outras ovelhas”

de que som os filhos de Deus. Então, se somos filhos, somos também her- não pode com er do pão nem beber do vinho. Só pode participar quem

deiros: deveras, herdeiros de Deus, mas co-herdeiros de Cristo, desde que afirm a ter esperança celestial. Os das “outras ovelhas” são chamados tão

soframos juntamente, para que tam bém sejamos glorificados juntamente”. somente observadores (Poderá viver para sempre no paraíso na terra, p.

Assim, aquele que pertence à classe dos 144 mil saberá que é um deles 202, § 30). Esse procedimento será repetido em todos os “salões do reino”.

em razão do testemunho do “espírito santo” com o “espírito” do testem u- Depois, é feita a contagem geral. Assim, na Comemoração de 2008, realiza-

nha de Jeová; esse testem unho é uma convicção profunda no íntim o da da no dia 22 de março, foi contabilizado que, dentre as 17.790.631 pessoas

pessoa que a leva a ter certeza de sua vocação celestial. Esse texto de que assistiram ao evento (entre os testemunhas de Jeová e convidados),
32 0 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s A p ê n d ic e 1: T ir a - d ü v id a s 321

apenas 9.9 96 com eram do pão e beberam do vinho. Logo, conclu i-se As Escrituras, em oposição a isso, afirm am : “Contudo, aos que o recebe-
entre os testem unhas de Jeová: há em nosso m eio 9.996 “ungidos” (da- ram [o Logos, a Palavra, que é Jesu s], aos que creram em seu nom e, deu-
dos disponíveis em < http://www.watchtower.org/e/statistics/worldwi- -lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram por
d e_ rep o rt.h tm X Acesso em: 28/12/2009). descendência natural, nem pela vontade da carne nem pela vontade de
Aí, porém, começou a acontecer algo inesperado: o núm ero de “ungi- algum hom em , m as nasceram de Deus” (João 1.12,13).
dos” passou a crescer de um ano para o outro (o que era um absurdo para Ademais, ao aceitar a errônea ideia de que Rom anos 8.1 4-17 serve
os testem unhas de Jeová, pois o núm ero já estava completo desde 1935, apenas para um pequeno grupo, os demais são colocados num a situação
tendendo somente a dim inuir). Nesse caso, as explicações propostas para terrível, pois Romanos 8 estabelece uma distinção clara entre apenas dois
esse fenôm eno eras estas: grupos: os que têm o “Espírito de Deus” e os que não têm o Espírito, mas
vivem segundo a carne (8 .1-5 ). Quem vive pela carne receberá a morte,
1. Alguém das “outras ovelhas” comeu e bebeu indevidamente. Uma m as quem anda pelo Espírito terá vida e paz (8 .6 -1 2 ). Ou uma coisa, ou
razão para isso é o fato de a pessoa ser novata e egressa de uma outra. Assim, os que andam pelo Espírito Santo são guiados por ele e dele
igreja que ensinava que todos os batizados deveriam participar da recebem o testem unho em seu espírito de que são filhos de Deus. Sendo
“ceia do Senhor”. filhos de Deus, tornam o-nos tam bém herdeiros de Deus e co-herdeiros
2. Alguém dos “ungidos” pode ter apostatado da fé, ficando uma vaga com Cristo (8 .1 4 -1 7 ). Portanto, essa divisão fomentada pelos testem u-
em aberto; nesse caso, Jeová escolheu alguém das “outras ovelhas”, nhas de Jeová não tem base bíblica.
brindando-a com a esperança celestial. De fato, A Sentinela, de 15/
2/1971 (p. 126) designa a “grande multidão” de “outras ovelhas” de 11. Os testemunhas de Jeová são dizimistas?
“grande estoque de reserva”, ao qual Jeová poderá recorrer, caso Não. Não se exige de nenhum testem unha de Jeová que seja dizimista.
um dos “ungidos” perca sua esperança celestial. 0 dízim o é visto com o prática do Antigo Testamento, não sendo m ais
obrigatória para os cristãos atuais. Isso não quer dizer que não haja algum
O problem a é que o núm ero cresceu demais. Resultado: o Corpo Go- tipo de arrecadação financeira na seita. Em bora não se faça coleta em
vernante, a liderança m áxim a da seita, decidiu abolir a data de 1935 como suas reuniões públicas, há, contudo, caixas de contribuição espalhadas
o fim da cham ada celestial. A porta do céu foi reaberta (v. o cap. 7). Tanto pelos locais de reunião. Contribui quem quer. Há tam bém outro recurso
é que, em 2000, o núm ero de “ungidos” era de 8.860. muito utilizado pela seita. Em alguns núm eros da revista A Sentinela, a
Tudo isso é confuso e antibíblico. Para com eçar, não há na Bíblia essa Torre de Vigia solicita doações em dinheiro, joias, apólices de seguro de
divisão de classes entre “ungidos”, que tudo podem, e as “outras ove- vida ou planos de previdência privada, além de testam entos que podem
lhas”, que nada podem. Ao contrário, em Cristo todos são um (João 17.20, incluir bens móveis e im óveis, contas bancárias (corrente ou poupança)
21; Rom anos 10.12; IC oríntios 12.13; Gálatas 3.28; Colossenses 3 .11 ). ou dinheiro etc. (V. A Sentinela, 1Q/11/2000, p. 31).
Todos tornam -se, em Cristo, filhos de Deus, e com em oram sua m orte até
que ele venha (IC oríntio s 11.26). 12. Os testemunhas de Jeová guardam o domingo?
Contudo, contrariando a Bíblia, os testem unhas de Jeová afirm am Eles não guardam nenhum dia de descanso esp ecialm ente dedica-
que somente os 144 mil são filhos de Deus (A Sentinela, l a/8/1995, p. 13). do para o culto ou atividades religiosas. Para eles, não há nenhum
322 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s A p ê n d ic e 1: T ir a - d ú v id a s 323

m andam ento acerca de guardar esse ou aquele dia específico. 0 descan- Os testemunhas perseguidos pelo regime nazista foram alvo, na verdade,
so atual não deve estar associado a um dia literal, m as ser visto com o das intrigas políticas fomentadas pelo então presidente da Sociedade Torre
descanso espiritual, realizado todos os dias, no qual o indivíduo deve de Vigia dos EUA, Joseph Franklin Rutherford, contra o nazismo. Rutherford,
dar-se conta de que precisa reservar tem po para as coisas espirituais. de seu escritó rio nos EUA, atacava veem entem ente o regim e nazista,
além de se atrever a querer dar ordens ao infam e ditador Adolf Hitler.
13. Os testemunhas de Jeová acreditam na atualidade dos Devemos lem brar que, na Prim eira Guerra M undial, a Alem anha fora
dons espirituais? derrotada pelas forças da Tríplice Entente (França, Grã-Bretanha e Rússia),
N orm alm ente, quem faz essa pergunta tem em m ente dois dons apoiadas pelos Estados Unidos. Ao ser empossado como chanceler, em 30
específicos: o dom de curar e o de falar em línguas. Para os testemunhas de janeiro de 1933, e algumas sem anas depois como chefe de Estado com
de Jeová, nenhum desses dons tem validade para os dias atuais. 0 dom de poderes absolutos, fundando assim o Terceiro Reich, regime ditatorial que
curar lim itou-se a poucos profetas israelitas, com o Elias e Eliseu; a Jesus levou ao extremo seu nacionalismo, Hitler não toleraria nenhum discurso
Cristo e aos apóstolos. Com a m orte do último apóstolo, João, o dom teria que contrariasse seus objetivos pangermanistas. Dessa forma, por menor
cessado. Segundo o modo de pensar da seita, alguns desses dons foram expressão que tivesse na Alemanha, qualquer propaganda contra o nazismo
dados simplesmente para que houvesse evidência visível entre o povo de difundida pelos testemunhas de Jeová deveria ser silenciada.
que o cristianism o tinha o respaldo divino. Uma vez provado isso, não Dos Estados Unidos, Rutherford escrevia artigos e m ais artigos con-
seria m ais necessário o uso de tais dons. Como então explicar algumas trariando o Terceiro Reich. Eis algum as de suas declarações, citadas pela
curas realizadas nos dias atuais e as línguas estranhas praticadas por revista Despertai! de 22 de agosto de 1995 (p. 6 -17):
algum as igrejas? Segundo o livro Raciocínios à base das Escrituras (p. 103),
esses dons seriam m anifestações dem oníacas, ligadas à religião falsa. O Nacional-Socialismo [partido fundado por Hitler] é [...] um mo-
vimento [...] diretamente a serviço do inimigo do homem, o Diabo. [...]
14. É verdade que os testemunhas de Jeová foram Está emergindo o rochedo ameaçador do movimento Nacional-Socia-
perseguidos pelo regime nazista? lista. Parece inacreditável que um partido político de origem tão insig-
Sim, é verdade. Os testem unhas de Jeová chegaram a produzir um ví- nificante, de diretrizes tão heterodoxas, possa, em apenas alguns anos,
deo sobre as perseguições que sofreram na Alem anha sob o regim e hitle- assumir proporções que ofuscam a estrutura de um governo nacional.
rista, cham ado As Testemunhas de Jeová resistem ao ataque nazista. No entanto, Adolf Hitler e seu partido nacional-socialista (os nazistas)
Entretanto, algo precisa ser dito a respeito disso. Eles afirm am que tal conseguiram realizar essa rara proeza.
perseguição se deu em virtude de sua “inabalável neutralidade e sua lealdade
ao Reino de Deus, inaceitáveis ao governo de Hitler”. Ora, nada está mais Em 9 de fevereiro de 1934, Rutherford enviou uma carta de protesto a
longe da verdade do que afirm ar que os testemunhas de Jeová eram neutros, Hitler, declarando:
que não tomavam partido político em relação ao nazismo. Ao contrário, foi
uma tomada de posição contra o regime que desencadeou o ataque nazista O senhor poderá ter êxito em resistir a qualquer e a todos os ho-
contra a organização, não sua neutralidade política. É essa imagem de uma mens, mas não poderá ter êxito em resistir a Jeová Deus. [...] Em nome
organização neutra, politicamente falando, que precisa ser revista. de Jeová Deus e de seu Rei ungido, Cristo Jesus, exijo que ordene a
A pê n d ic e 1: T ir a - d ú v id a s 325
324 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

todas as autoridades e servidores de seu governo que as Testemunhas locais de reunião) abriga um a ou m ais congregações (grupos de teste-

de Jeová na Alemanha tenham permissão de reunir-se pacificamente m unhas de Jeová). Cada congregação realiza cinco reuniões por sem ana:

e adorar a Deus sem impedimento (op. cit.).


1. Reunião Pública. Geralm ente realizada aos domingos, essa reunião

Em 2 de outubro de 1938, ele proferiu o serm ão Fascismo ou liberdade, consiste num discurso (hom ilia, serm ão) destinado, principalm en-

declarando: te, aos que não fazem parte da seita. É proferido, norm alm ente, por
um ancião (pastor) ou um servo m inisterial (diácono). Por analogia,

Na Alemanha, o povo em geral ama a paz. [...] 0 Diabo colocou seu seria o equivalente, em algum as igrejas evangélicas, a um culto

representante, Hitler, no controle, um homem demente, cruel, maligno evangelístico.

e implacável. [...] Ele persegue cruelmente os judeus porque eles eram 2. Estudo de A Sentinela. Os núm eros de A Sentinela, edição de es-

outrora o povo pactuado de Jeová e levavam o nome de Jeová, e porque tudo (destinados exclusivam ente aos m em bros da seita), trazem

Cristo Jesus era judeu (op. cit.). artigos com perguntas e respostas que são estudados nessa reu-
nião. Assim com o a Reunião Pública, é realizada geralm ente aos

Em maio de 1940, num a de suas publicações, Rutherford vociferou: dom ingos.

“Hitler é um filho tão perfeito do Diabo que esses discursos e decisões 3. Escola do Ministério Teocrático. Reunião destinada a treinar os tes-

[de Hitler] fluem através dele como água através de um bem construído temunhas de Jeová e seus estudantes na arte da conversação. Os

esgoto” (op. cit.). matriculados, que abrangem pessoas de am bos os sexos e de to-

Diante disso, não demorou muito para vir a resposta. Mas quem so- das as idades, proferem, de tempos em tem pos, breves palestras

fria as consequências eram os testem unhas de Jeová sob o regime hitle- aos presentes na reunião. Ao final da palestra/aula, o estudante é

rista. Rutherford ateava fogo, m as ficava bem longe da fogueira, a salvo, avaliado por um ancião (líder) experiente, que lhe dá conselhos

nos Estados Unidos. E depois usava a im agem dos testem unhas de Jeová sobre como m elhorar cada vez m ais seu desempenho. Essa avalia-

perseguidos para afirm ar que se tratava de uma luta entre Satanás e sua ção é feita num form ulário à parte, no qual são apresentados pon-

organização, que Rutherford dirigia com mão de ferro. tos sob re as característica s exigidas para o rado res pú blicos e

Lam entam os profundam ente pelo que Hitler fez a m ilhares de teste- pregadores de casa em casa: postura, vestim enta, voz, pausa, ges-

m unhas de Jeová, bem com o ao mal que causou a m ilhões de judeus, sem tos, uso de ilustrações, contato com os ouvintes etc.

contar poloneses, russos, ciganos e outros. Nossa intenção nesta exposi- 4. Reunião de Serviço. N ormalmente, essa reunião ocorre logo após a

ção dos artigos de Rutherford é m ostrar que essa im agem de uma orga- Escola do M inistério Teocrático. 0 esboço para tal reunião é pu-

nização politicam ente neutra, tão propalada pelos testem unhas de Jeová, blicado no Nosso ministério do reino, publicação m ensal de duas

está longe de corresponder aos fatos. ou mais páginas editada pelo Corpo Governante. Há um a seção
intitulada “N otícias teocráticas”, que contém inform ações atua-

15. Como são os cultos nos “salões do reino”? lizadas sobre o crescim ento da organização no Brasil e em algumas

Para início de conversa, os testem unhas de Jeová não usam o term o partes do mundo. Nessa reunião, são apresentadas orientações

“culto”, m as “reunião”. Cada “salão do reino” (com o são conhecidos seus práticas (geralm ente com encenações) sobre com o um adepto da
326 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s A pê n d ic e 1: T ir a - d ü v id a s 327

organização poderá apresentar sua m ensagem em qualquer lugar m esm o consideram pecado o uso de vinho na santa ceia). M as nem
e em qualquer ocasião. todos os cristãos concordam com essa visão sobre o vinho ou qualquer
5. Estudo Bíblico de Congregação. Essa reunião é sem elhante ao estu- outra espécie de bebida. O tem a está em aberto, cabendo a cada cristão, no
do de A Sentinela, ou seja, por m eio de perguntas e respostas de uso livre de sua consciência treinada, discernir o que é lícito e o que é
um a publicação previamente escrita pelo Corpo Governante. ilícito. Como diz o apóstolo Paulo: “A ssim , cada um de nós prestará
contas de si m esm o a Deus. Portanto, deixemos de julgar uns aos outros.
Nessas reuniões, há o acom panham ento de cânticos e orações. [...] Aquilo que é bom para vocês não se torne objeto de maledicência. Pois
As duas prim eiras reuniões e a últim a de aulas de doutrinamento; a o Reino de Deus não é com ida nem bebida, m as ju stiça, paz e alegria no
terceira e quarta, aulas de propaganda e marketing. As reuniões nos salões Espírito Santo; aquele que assim serve a Cristo é agradável a Deus e
do reino lem bram m uito mais um a escola, uma academ ia, do que uma aprovado pelos hom ens. [...] Feliz é o hom em que não se condena naquilo
igreja reunida para adorar o único Deus verdadeiro. Os testem unhas de que aprova” (Rom anos 1 4 .1 2 ,1 3a,1 6-18 ,22b ).
Jeová estudam , em m édia, cinco horas sem anais. A leitu ra to rna-se,
portanto, um hábito entre a m aioria deles, o que explica sua desenvoltura 18. Os testemunhas de Jeová aceitam ordenação feminina?
e espontaneidade ao falar publicam ente daquilo em que acreditam. Não. Apesar disso, são as mulheres que exercem a principal atividade
do grupo: a pregação de casa em casa. Todavia, pode acontecer que, num a
16. Os testemunhas de Jeová usam instrumentos musicais congregação em que não haja hom ens batizados ou qualificados para o
em suas reuniões? ensino, m ulheres habilitadas exerçam a função de ensino e liderança,
Eles não são contrários ao uso de instrum entos musicais; m as geral- desde que usem um véu (já que essa não é um a atividade própria de
mente, nos salões do reino, estes não são utilizados. 0 acom panham ento hom ens), em respeito aos anjos e aos hom ens presentes, um a vez que as
m usical para seu cancioneiro padrão, Cantemos louvores a Jeová, é feito mulheres não podem exercer naturalm ente chefia sobre o sexo m asculino
por interm édio de gravações fonográficas. D iferentem ente tam bém da em razão de seu estado natural de submissão. Usar o véu é indicativo de
m aioria das igrejas evangélicas, os testem unhas de Jeová não contam com que a mulher não deseja usurpar o lugar do homem. Outra ocasião em que
“grupos de louvor”, apresentação de coral ou algo parecido, pois o canto é as mulheres testem unhas de Jeová usam véu é quando estão dirigindo
visto como com petência de todos na congregação. form alm ente estudos dom iciliares na p resença do m arido ou de um
hom em testem unha de Jeová batizado.
17. É verdade que os testemunhas de Jeová podem beber e Sabe-se, baseado em ICoríntios 11.4-6,10, que o uso do véu tam bém
fumar? é praticad o em algum as ig rejas evangélicas (talvez não com tantas
Beber, sim . Fumar, não. 0 fum o foi proibido em 1972. Mas algo precisa m inúcias, como as exigidas pelos testem unhas de Jeová). Há quem veja o
ser m encionado a respeito da bebida. Em bora a organização admita o uso do véu com o norm a para todos os tempos e épocas; outros, contudo,
uso de qualquer bebida alcoólica, não incentiva o uso da bebida nem a veem nas p a lav ra s do ap ó sto lo Paulo u m a situ a ç ã o de m o m en to ,
embriaguez. Faz uso do álcool quem quer, desde que com moderação. relacionada à sua época. Entretanto, esses cristão s acred itam que as
Geralm ente, esse tipo de pergunta vem de m em bros de igrejas nas palavras do apóstolo, m esm o lim itadas a um contexto definido, possuem
quais não é perm itido o consum o de bebidas alcoólicas (algum as até um princípio universal, a saber: deve-se evitar qualquer coisa que venha
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A pê n d ic e 1: T ir a - d ú v id a s 329

a causar escândalo na igreja de Cristo. Nos dias do apóstolo, segundo alguns Alegam tam bém que os dois únicos registros na Bíblia de celebrações
com entaristas bíblicos, na cidade de Corinto o problema era que a falta do de aniversários natalícios desqualificam essa com em oração com o cristã,
véu poderia levar as mulheres cristãs a serem confundidas com prostitutas.
pois seus dois celebrantes eram pessoas pagãs, a saber, um dos faraós do
Nos dias de hoje, poderá ser qualquer coisa que traga vergonha para a igreja.
Egito e o rei da Galileia, Herodes Antipas. Nesses dois aniversários, houve
Em geral, a maioria das igrejas não mais adota o uso do véu. (Para uma
um homicídio. Gênesis 40.18-22 relata que o faraó ordenou a execução do
consideração sobre a “essência permanente e duradoura de um conceito e
chefe dos padeiros, enforcando-o. E o evangelho de Mateus 14.6-10 relata
suas formas temporárias de expressão”, v. E r i c k s o n , 1997, p. 27-37.)
que foi num banquete de aniversário que João Batista foi degolado.
Segundo a bro chu ra A escola e as Testemunhas de Jeov á (p. 15):
19. Os testemunhas de Jeová desprezam a educação secular? “As Testemunhas de Jeová não particip am em festas de aniversários na-
Não que haja desprezo pela educação secular em si m esm a. A questão talícios [na celebração, no cantar, nos presentes, e assim por d ian te]”.
deve ser abordada por outro ângulo: por acreditarem na aproximação do Ainda na m esm a página: “Os aniversários natalícios costum am dar im -
Armagedom, da grande batalha que Jeová travará contra as forças do mal portância excessiva à pessoa [...] ”.
e a sociedade iníqua, muitos jovens são incentivados a buscar os interes- Fazendo alusão ao texto de Eclesiastes anteriorm ente citado, A Senti-
ses da organização em primeiro lugar (vistos como os interesses do Rei- nela (15/1/1981, p. 31), declara: “ [...] Podemos concordar em que o dia da
no de Deus), em detrim ento de uma carreira profissional bem -sucedida.
morte é m elhor do que o dia do nascim ento. Portanto, não devemos con-
Além disso, dependendo do nível sociocultural do qual o testemunha
centrar-nos no dia do nascimento, m as em cada dia, im itando a Cristo e
de Jeová faça parte, poderá haver m ais pressão quanto a essa questão. Por
refletindo a im agem de Deus”. Mas o curioso vem a seguir: “ [...] Embora
exemplo: num a congregação em que a m aioria pertence a um a classe so-
a Bíblia não contenha uma proibição específica da celebração de aniver-
cial m enos favorecida, se algum testem unha de Jeová por acaso decidir
sários natalícios, as Testemunhas de Jeová já por muito tempo têm nota-
ingressar num a carreira secular e, em consequência disso, deixar de fre-
do as indicações bíblicas e não têm celebrado aniversários”.
quentar as reuniões congregacionais sem anais (deve-se assistir a todas),
Com efeito, a Bíblia não contém nem m esm o um a proibição esp ecí-
isso será visto com o um descaso para com os interesses do Reino de Deus
fica ou indireta da proibição de aniversários natalícios. A seguir, vere-
e da organização. Nesse caso, os que se aventuram a bu scar os interesses
mos as razões que nos dão a certeza de que a proibição de aniversários
terrenos são vistos como m aterialistas e antiteocráticos.
natalícios não tem base escritu rística.

20. Por que os testemunhas de Jeová não comemoram 1. Nem G ên e sis n em M ateu s d ec la ra m qu e fo sse c o stu m e iro
aniversários natalícios? assassinar pessoas por ocasião de uma festa de aniversário. A festa
Eles afirm am ser antibíblico celebrar o dia em que se nasceu. Basei-
de Herodes lança luz sobre isso. Ao ver a filha de Herodias, Salomé,
am -se principalm ente nas seguintes passagens bíblicas: “Não se ponham
dançar, o rei Herodes, num m om ento de êxtase, prom eteu-lhe dar
em jugo desigual com descrentes. Pois o que têm em comum a ju stiça e a
qualquer coisa que pedisse, incluindo m etade de seu reino. Esta,
maldade? Ou que comunhão pode ter a luz com as trevas?” (2Coríntios
instigada por sua m ãe, pediu a cabeça de João Batista. Amargurado
6.14) e “O bom nom e é m elhor do que um perfum e finíssim o, e o dia da
com isso, Herodes não teve outra opção, já que fizera a promessa
morte é m elhor do que o dia do nascimento” (Eclesiastes 7.1).
em público. E assim m andou m atar João, o Batista. Portanto, João
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foi morto não porque era aniversário de Herodes, m as por causa de apresentada no capítulo 7 de Eclesiastes e em outros revela certo
uma vingança da parte de Herodias, que se sentia atormentada pelo grau de pessim ism o em relação ao mundo, m as, logo adiante, o
fato de João denunciar publicam ente a relação im oral dela com escritor volta a ser m ais positivo em suas ponderações. Essa estru-
Herodes. Aproveitando-se da promessa precipitada deste, deu vazão tura de pensam ento não é exclusividade do livro de Eclesiastes.
à sua ira, mandando matar o profeta João (v. Marcos 6.17-29). Uma leitu ra do salm o 73 am p liará n ossos horizontes sobre o
Quanto à m orte do chefe dos padeiros do faraó, os versículos ini- assunto. Por exemplo, no versículo 2 Asafe revela que chegou a sentir
ciais do capítulo 40 esclarecem que ele havia cometido um delito inveja dos ímpios. Isso porque sem pre via o justo sofrendo adver-
contra o seu rei, sendo posto na prisão junto com o chefe dos copei- sidades; o ímpio, pelo contrário, prosperava. Contudo, o sentim ento
ros. Por alguma razão não revelada, o faraó perdoou o copeiro-chefe, de inveja durou pouco, pois, segundo o versículo 17, ele passou a
mas mandou enforcar o padeiro-chefe. Seja como for, o padeiro-chefe discernir o futuro dos ím pios e percebeu que Deus, m ais cedo ou
foi m orto pelo crim e que praticara. Sua morte coincidiu com o ani- mais tarde, os puniria. Portanto, Asafe chegou à conclusão de que a
versário do rei do Egito. Trata-se de algo puramente acidental. felicidade dos ímpios é efêm era. Como ele m esm o disse: “Quanto a
2. O fato de Eclesiastes 7.1 afirm ar que o “dia da m orte é m elhor do m im , os meus pés quase tropeçaram ; por pouco não escorreguei”
que o dia do nascim ento” não desaprova, por si só, a celebração de (v. 2). Assim com o o escrito de Eclesiastes, Asafe tivera sua fase
aniversários natalícios. E m ais: se tom arm os ao pé da letra algu- pessim ista, m as logo retornou à sensatez. Portanto, Eclesiastes 7.1
mas expressões do capítulo 7 de Eclesiastes, chegaremos a algumas deve ser entendido dentro do contexto geral do livro.
conclusões absurdas. Por exemplo, no versículo 2 está escrito que
“é melhor ir a uma casa onde há luto do que a uma casa em festa, Além do mais, quando nos reunim os com a fam ília e com os amigos
pois a m orte é o destino de todos; os vivos devem levar isso a sé- para a celebração de um aniversário de alguém querido, não nos passa
rio!”. Ora, quem dentre os testem unhas de Jeová gosta de ir a en- pela mente escolher um dentre os convidados para degolar-lhe a cabeça;
terros e parabenizar a fam ília do falecido só porque Eclesiastes diz muito m enos idolatrar o aniversariante. Nossa m otivação é baseada em
que o “dia da m orte é m elhor do que o dia do nascimento” e que “é lCoríntios 10.31: “Assim, quer vocês com am , bebam ou façam qualquer
m elhor ir a um a casa onde há luto do que a um a casa em festa”? coisa, façam tudo para a glória de Deus”.
Também os versículos 3 e 4 dizem: “A tristeza é m elhor do que
o riso, porque o rosto triste melhora o coração. O coração do sábio 21. Por que os testemunhas de Jeová não comemoram o
está na casa onde há luto, m as o do tolo, na casa da alegria”. Qual Natal?
dentre os testem unhas de Jeová prefere a tristeza ao riso? Qual de- Eles não com em oram aniversários natalícios, e o Natal nada m ais é
les se considera estúpido pelo simples fato de estar alegre? Portan- que o aniversário de alguém: Jesus. Sabem os que a data de 25 de dezem-
to, se não tom am os versículos 2, 3 e 4 do capítulo 7 de modo bro não m arca realm ente a data do nascim ento de Jesus. Isso, entretanto,
literal, por que deveriam tom ar o versículo 1? não é razão para recusar com em orar o Natal em hom enagem a Jesus.
O que acontece nesse caso é que a interp retação equivocada O riginariam ente, o Natal m arcava a com em oração do nascim ento
das palavras de Eclesiastes tem causado confusão na m ente de do deu s p e rsa M itra . O N atalis S olis In victi [N a scim en to do Sol
alguns. Para evitar isso, é necessário entender o seguinte: a visão Invencível], celebrado em 25 de dezembro, era acom panhado de orgias
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sexu ais e em briaguez. No entanto, a Igreja fixou essa data, entre os 1. No princípio era o Logos. Muito antes de o apóstolo João escrever
séculos IV e V (não se sabe o tempo exato), com o a do nascim ento de “No princípio era aquele que é a Palavra [do grego logos], Ele esta-
Jesu s, pois várias datas circulavam entre os cristã o s, sendo a m ais va com Deus, e era Deus” (João 1.1), já havia nos seus dias, e antes
com um a de 6 de ja neiro (até hoje celebrada pelos cristãos arm ênios). disso, um a concepção particular do que significa o term o logos.
A tradição, portanto, é bem antiga. Um grupo muito atuante na época eram os gnósticos. Ensinava
Entretanto, os testem unhas de Jeová veem nessa tradição a princi- que o Deus Supremo era inatingível, ou seja, nenhum a criatura po-
pal razão para qu estionar a validade da celebração natalina, pois julga deria m anter contato com ele, m as apenas com seres interm ediá-
trata r-se de conivência com as trevas, já que a origem do Natal é inega- rios conhecidos com o éons. 0 logos, então, seria um dentre muitos
velm ente pagã. Não pretendo transform ar o Natal num artigo de fé, m as éons. Alguns grupos apregoavam que, por ser de constituição es-
desejo m ostrar que a celebração por p arte de um cristão não constitui
piritual, o logos não poderia assum ir corpo hum ano, pois a m até-
pecado nem associação com o paganism o pelas razões a seguir.
ria era inerentem ente m á, podendo contam iná-lo. Tudo isso se
Mitra, considerado pelos pagãos o Sol invencível, era um deus falso
constituía em em pecilho para que a m ensagem da encarnação
sob a ótica cristã. Cultuá-lo constituía idolatria. Querendo resgatar os
(Deus, o Filho, fez-se hom em ), pregada pelo apóstolo João e ratifi-
pagãos da idolatria e conduzi-los para o Reino de Deus, a Igreja procla-
cada pelos credos apostólico e niceno, fosse aceita.
mou que Jesus Cristo, o Salvador enviado por Deus — e não o mitológico
0 discurso do apóstolo João, portanto, é uma resposta cristã ao
Mitra — é o Sol Invencível, proclamado pelo profeta Malaquias, quando
pensam ento gnóstico. É im portante no tar que ele não negou a
profetizou a vinda do “sol da justiça” (Malaquias 4.2; nas versões católi-
existência do logos. 0 apóstolo tão som ente corrigiu os conceitos
cas é 3.20). Mitra oferecia prazeres terrenos e m om entâneos, ao passo que
errados que havia sobre ele. Com sua prim eira frase, “No princípio
Jesus oferecia seu Reino, que, nas palavras de Paulo, “não é com ida nem
era aquele que é a Palavra”, m ostrou que, antes do surgimento de
bebida, m as justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rom anos 14.17).
todas as coisas, a Palavra já existia, sendo o Criador de todo o
Equivale dizer que o real prazer não se prende exclusivamente ao aspecto
Universo (João 1.3; v. tb. Colossenses 1.16-18). Em seguida, João
material da festa, m as deve ser acom panhado da espiritualidade cristã
afirm ou que “Ele estava com Deus”, o que para alguns gnósticos
(envolvendo o Espírito Santo, que glorifica Jesus [João 16.14], que, por
sua vez, glorifica o Pai [João 17.1]). Assim, o cristão não viverá m ais para era impossível, visto ser a Divindade inacessível. E, para concluir,

si, para a satisfação de seus desejos egoístas, m as viverá sobretudo para disse: “E [ele] era Deus”, ou seja, tinha a natureza divina. Assim, o

Deus, aprendendo a am á-lo, a am ar seu próximo, bem como a am ar a si Pai, com quem a Palavra estava, era Deus, e a Palavra tam bém o

m esm o, procurando viver vida justa, pacífica e alegre. era. Isso é afirmado pelo Credo niceno: “Deus de Deus, Luz de Luz,

A Igreja, portanto, cumpriu seu papel de ser “luz do mundo” (Mateus Verdadeiro Deus de Verdadeiro Deus, consubstanciai com o Pai”.

5.14), levando a mensagem de salvação, m ediante Jesus Cristo, o Sol In- Mas, para causar ainda mais espanto aos m estres gnósticos, João

vencível, aos que viviam entregues ao erro da idolatria e da imoralidade afirm ou: “E aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre

desenfreada. Afirmamos, então, que a Igreja não foi paganizada, nem se nós” (João 1.14). Com isso, o apóstolo desmoronou a concepção
contam inou ao substituir a festa m itraica pelo nascim ento de Jesus. Onde errônea acerca de Jesus Cristo, o Logos eterno.
havia ignorância espiritual, a Igreja levou a luz de Deus, que resplandece 2. Ao Deus desconhecido. A Bíblia relata que, em visita à cidade de
na face de Cristo. Para entender essa questão, veja os exemplos a seguir. Atenas, o apóstolo Paulo “ficou profundamente indignado ao ver
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que a cidade estava cheia de ídolos”. Apesar de sua indignação, não A ssim , é preciso que h aja em nós um espírito de tolerância e am or para
saiu pela cidade chutando ídolos, am arrando demônios ou dizen- com aquelas pessoas que não pensam com o nós a esse respeito (é um
do que tudo aquilo era de Satanás. A atitude do apóstolo foi sensata direito inalienável que detêm ). Podemos travar batalha no cam po das
e inteligente. Quando teve oportunidade, disse aos atenienses: “Vejo id eias, certam en te; m as nunca devem os levar o caso para o cam po
que em todos os aspectos vocês são muito religiosos, pois, andan- pessoal, detratando nosso próxim o porque diverge de nós em aspectos
do pela cidade, observei cuidadosam ente seus objetos de culto e secundários da fé. Entretanto, é lam entável que, m esm o sinceras, essas
encontrei até um altar com esta inscrição: a o d e u s d e sc o n h e c id o . Ora, pessoas não consigam enxergar nesse episódio histórico a vitória es-
o que vocês adoram, apesar de não conhecerem, eu lhes anuncio” magadora do cristianism o sobre o paganism o, da adoração genuína sobre
(Atos 17.22,23). 0 resultado dessa sábia investida foi a conversão a idolatria. A única coisa que conseguem focalizar é a exploração em torno
de alguns atenienses. Antes adoravam um “deus desconhecido”, do Natal feita pelo com ércio, a glutonaria, a bebed ice e a figura do “Papai
m as, a partir de então, adorariam aquele que, com o Pai e o Espíri- Noel” (que, de fato, em nada se relaciona com o genuíno Natal).
to Santo, um só Deus, é adorado pelos séculos dos séculos. Como De forma alguma, negamos que haja tais distorções em torno do Na-
disse Paulo: “Pois Deus, que disse: ‘Das trevas resplandeça a luz’, tal. Contudo, se constituem um problema, por que não promover o verda-
ele m esm o brilhou em nossos corações, para ilum inação do co - deiro espírito do Natal? Por que não levar a m ensagem de Cristo, que pede
nhecim ento da glória de Deus na face de Cristo” (2Coríntios 4.6). de nós que am em os a Deus sobre todas as coisas e ao próxim o com o a
Assim com o o apóstolo Paulo usou o ídolo com o ponte para nós mesmos? Ele nos ensinou a partilhar tudo uns com os outros: amor,
transm itir a m ensagem do evangelho aos pagãos e o apóstolo João alegria, bens m ateriais, entre tantas outras coisas. Enfim , há muito que
usou o term o logos, corrigindo conceitos pagãos acerca de Deus e dizer ao mundo acerca do verdadeiro Natal, que não se resume som ente a
da natureza hum ana, do m esm o modo fez a Igreja séculos atrás, com ida e bebida, m as trata-se do reconhecim ento de que Deus se fez ho-
desviando a atenção das pessoas da adoração que se prestava a mem na pessoa de Jesus de Nazaré, a fim de nos libertar do poder do
Mitra, guiando-as até Jesus, o único que é digno de receber “poder, pecado e da m orte, dando-nos vida e uma viva esperança, a saber, a de
riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor [...] para sempre” vivermos eternam ente com ele.
(Apocalipse 5.12,13). 0 resultado disso foi positivo, pois ninguém Enquanto houver cristãos equilibrados e cientes desses fatos, juntar-
mais associa a data de 25 de dezembro a M itra, m as a Jesus. Mitra -se-ão àquele anjo, que há dois mil anos bradou para que todos ouvissem
já foi esquecido. O Sol da Justiça nasceu num a pequena estrebaria, alto e bom som a Boa Notícia que seria motivo de grande alegria a todos:
numa cidadezinha desconhecida, não se sabendo exatam ente a data “Hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador que é Cristo, o Senhor!”
de seu nascim ento, mas o mundo inteiro conhece seu nom e, e em (Lucas 2.11).
sua homenagem foi dedicada a data de 25 de dezembro. Jesus veio,
venceu e dissipou as trevas da ignorância, provando que ele é ver- 22. Por que os testemunhas de Jeová recusam transfusão de
dadeiramente o Sol Invencível (Apocalipse 17.14)! sangue?
Desde 1945, a liderança máxima da seita, o Corpo Governante (v. o cap.
Convém lem brar que o Natal não é um artigo de fé, um dogm a — 3), proíbe as transfusões de sangue. Baseando-se em textos bíblicos que
em b o ra sua im p o rtâ n cia n ão deva ser d im in u íd a em razão d isso . proíbem a ingestão de sangue como fonte alimentar, os testemunhas de
A p ê n d ic e 1: T ir a - d ú v id a s 337
336 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e su a s d o u t r in a s

Jeová creem que os m esm os princípios devem ser aplicados às transfusões, Outro caso envolvendo crianças e adolescentes foi noticiado na Desper-

pois raciocinam que a transfusão é o m esm o que com er sangue. tai! de 22 de maio de 1994. Sob o tem a “Jovens que colocaram Deus em
Além disso, costum am fazer extensas citações de depoim entos m é- prim eiro lugar”, a revista apresentou todos os que m orreram com o m ár-

dicos sobre os riscos que acom panham as transfusões de sangue. Ao re- tires por recusar transfusão de sangue. Foi o caso de Lenae M artinez (12

cu sar um a tra n sfu são , o m em bro da seita é incentivado a so licita r anos), Adrian Yeatts (15 anos) e Lisa Kosack (12 anos). Eram portadores
tratam entos alternativos, que não se valham de sangue. de leucemia. Eles, com o apoio dos pais, recusaram o tratam ento (pro-
A fim de ajudar os testem unhas de Jeová a m anter essa posição com gram a intensivo de quim ioterapia e transfusões de sangue) e m orreram .
respeito ao sangue, foram form adas em 1984 diversas com issões de an- O Corpo Governante leva os testemunhas de Jeová a encarar a transfu-
ciãos (líderes locais) para entrevistar médicos e registrar os que respei- são de sangue como “espiritualmente corrompedora ’ (Nosso ministério do
ta ria m a d ecisã o do p acien te testem u n h a de Jeová de não a ceita r reino, fevereiro de 1991, p. 3), ou seja, a transfusão poderá levar o adepto a
transfusões de sangue. Esse sistem a ganhou força em 1991, quando se perder o favor de Jeová, o que implica sua destruição eterna. Isso fica evi-
realizou na cidade de São Paulo um sem inário internacional de Comis- dente pela seguinte declaração: “Os pais precisam estar firmemente decidi-
sões de Ligação com Hospitais (Colihs). Os m em bros dessas com issões dos a recusar o sangue para si m esm os e para seus filhos, prezando sua
com eçariam a fazer apresentações a médicos e a equipes m édicas, escla- relação com Jeová mais do que qualquer alegado prolongamento da vida
recendo a posição da seita sobre o uso de sangue e repassando-lhes arti- que envolva a transgressão da lei divina. Estão envolvidos o favor de Deus
gos científicos sobre tratam entos sem sangue. As Colihs agem em cidades agora e a vida eterna no futurol” (Nosso ministério do reino, setembro de
com grandes centros de tratam ento médico.
1992, p. 3). Segundo o Corpo Governante, quando os pais testem unhas
Em outubro de 1992, os testem unhas de Jeová realizaram na cidade
de Jeová escolhem um tratamento sem o recurso do sangue, isso “mantém
de São Paulo o X X II Congresso Internacional sobre Transfusões de San-
os filhos no favor do grande Deus da Vida, Jeová Deus” (ibid., p. 5).
gue. Estiveram presentes cerca de 1.300 médicos de m ais de cem países.
Por conta disso, muitos casos de pais que recusaram transfusão de san-
Uma hem atologista, m em bro da seita, apresentou um pôster que alistava
gue para seus filhos foram registrados no Brasil (em m uitos, verificou-se
65 alternativas m édicas à transfusão de sangue. Nos m eses seguintes, fi-
a m orte do filho). Por exemplo, em 1993, na cidade de Curitiba, o m enino
zeram -se apresentações em 20 conselhos regionais de m edicina, e vários
Kleison Sílvio Bento, de 10 m eses, nasceu com uma deform ação congênita
deles recom endaram que, ocorrendo problem as relacionados ao sangue,
do coração. Era necessário submetê-lo a uma cirurgia para corrigir a defor-
os médicos contatassem as Colihs locais. Por meio desses sem inários, os
mação. Entretanto, sua mãe, testem unha de Jeová, recusou-se a autorizar
testem unhas de Jeová conseguiram a cooperação de quase 2 mil médicos
tal operação. Depois de m eses de discussão, o hospital no qual Kleison
dispostos a realizar operações sem uso de sangue.
estava internado conseguiu na Justiça o direito de operá-lo, m as foi tarde
Os testem unhas de Jeová costum am levar a sério essa proibição, pre-
demais. A criança sofreu um a parada cardíaca, vindo a falecer após a
ferindo a m orte a uma transfusão sanguínea. Muitas pessoas já m orre-
ram por obedecer cegam ente a essa proibição. Em 1983, em Ontário, no operação, segundo noticiou na época o Jornal do Brasil, em m atéria de 24

Canadá, os pais de Sara Cyrenne, de 12 anos, recusaram a transfusão de de abril de 1993.

sangue, causando sua m orte. Sua m ãe declarou: “Nós o fizemos porque Outro caso, dessa vez de um adulto, foi noticiado pelo jorn al Folha da

sabíam os que o que havíamos feito era a coisa certa e que tínham os Jeová Tarde (2/6/1994, A-7). Em junho de 1994, um hospital da cidade de São
Deus do nosso lado” (A Sentinela, 15/8/1983, p. 29). Paulo precisou recorrer à Justiça para operar o comerciante José Nogueira
338 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s A p ê n d ic e 1: T ir a - d ü v id a s 339

de Lima. Sua fam ília, testem unha de Jeová, havia proibido a cirurgia. a principal objeção dos testem unhas de Jeová seria a seguinte: transfusão
Felizmente, a cirurgia resultou na salvação de José Nogueira. Apesar dis- é o m esm o que ingestão de sangue. 0 argumento é:
so, a fam ília protestou.
A fim de se assegurar de que, em caso de acidente, não venham a ser Num hospital, quando um paciente não consegue alimentar-se pela
submetidos a transfusão de sangue, os testem unhas de Jeová portam o boca, ele é alimentado endovenosamente. Ora, será que alguém que ja -
Documento para uso médico: Não aplique sangue. 0 documento solicita que, mais poria sangue em sua boca, mas que aceitasse sangue por meio de
em caso de acidente, não seja ministrada uma transfusão de sangue. Para transfusão, estaria realmente obedecendo à ordem de “persistir em abs-
facilitar a adesão de médicos, o documento isenta toda a equipe médica de ter-se de sangue”? (Atos 15:29). A título de comparação, considere o
quaisquer danos causados pela recusa. Eis o teor do documento: caso de um homem a quem o médico dissesse que precisa abster-se de
álcool. Estaria ele obedecendo à ordem, se deixasse de beber álcool, mas
Eu, , determino que não me seja aplicada nenhuma fizesse que este lhe fosse injetado diretamente nas veias? (Raciocínios à
transfusão de sangue, mesmo que médicos julguem isso vital para mi- base das Escrituras, 1989, p. 345).
nha saúde ou minha vida. Aceito expansores de plasma não derivados
de sangue (tais como Dextran, solução salina ou de Ringer, amido- 0 erro do argum ento anteriorm ente citado está em ver o sangue como
-hidroxietil). Tenho anos e é de minha própria iniciativa que valido este alimento, não com o tratam ento médico. Desfazendo-se a m á interpreta-
documento. Este está em conformidade com meus direitos como ção, anula-se o argumento. Ademais, a comparação proposta anteriorm en-
paciente e com minhas crenças como testemunha de Jeová. A Bíblia te é totalm ente descabida, pelas seguintes razões:
ordena: “Persisti em abster-vos de sangue” (Atos 15:28,29). Essa é, e
tem sido, minha posição há anos. Determino que não me seja aplicada 1. O paciente que injeta álcool pelas veias quando proibido de fazê-lo
nenhuma transfusão de sangue. Aceito qualquer risco adicional que oralm ente está desobedecendo a um preceito médico. Tal não é o
isso possa acarretar. Isento médicos, anestesistas, hospitais e a equipe caso das transfusões de sangue, que são, em certos casos, adm i-
médica de responsabilidade por quaisquer resultados adversos cau- nistradas e recomendadas por médicos.
sados por minha recusa, a despeito de seus competentes cuidados. 2. 0 paciente da com paração lem bra um viciado em álcool, que faz
No caso de eu ficar inconsciente, autorizo qualquer das testemunhas de tudo para m anter o vício, prejudicando sua saúde. Isso nada
abaixo a cuidar de que minha decisão seja sustentada. tem que ver com a hemoterapia, ou seja, com o tratam ento à base
de sangue, que visa ao restabelecim ento da saúde do indivíduo.
No caso de crianças, há outro documento em que os pais se responsa-
bilizam pelos danos causados pela recusa da transfusão. A fim de fazer que os textos bíblicos supracitados sejam aplicados às
A razão principal de um testem unha de Jeová recusar a hem oterapia transfusões, é com um entre os testem unhas de Jeová a citação de Levítico
está na m á interpretação que seus líderes fazem de certas passagens b í- 17.10, em que se p roíbe co m er “q u alqu er espécie de sangue” ( NM ),
blicas, como Gênesis 9.4, Levítico 17.11,12 e Atos 15.28,29. Todos esses incluindo o sangue humano. Trata-se de um argumento sem nexo, pois
textos bíblicos proíbem a ingestão de sangue como dieta alimentar. Não o contexto revela com o a expressão “qualquer espécie de sangue” deve
está em questão o uso do sangue com o tratam ento terapêutico. Neste caso, ser entendida. Nos versículos 13 e 14 (NM), lemos o seguinte:
340 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s A p ê n d ic e 1: T ir a - d ú v id a s 341

Quanto a qualquer homem dos filhos de Israel ou algum resi- ingerir até m esm o sangue anim al. O que não se pode afirmar, contudo, é
dente forasteiro que reside no vosso meio, que caçando apanhe um que as palavras de Tertuliano devam ser aplicadas às transfu sões de
animal selvático ou uma ave que se possa comer, neste caso tem de sangue. Nem Tertuliano nem os autores cristãos tinham isso em m ente
derramar seu sangue e cobri-lo com pó. [...] Não deveis comer o quando registraram a proibição divina de ingerir sangue.
sangue de qualquer tipo de carne, porque a alma de todo tipo de Toda essa questão se resolve quando tem os em m ente que com er san-
carne é seu sangue. gue e transfundir sangue são coisas totalm ente diferentes.

Há aqui dois tipos de sangue: de um lado, o sangue de um anim al 23. Como você se envolveu com a seita Testemunhas de Jeová
selvático; de outro, o sangue de um a ave. Nem de um nem de outro se e o que o levou a abandoná-la?
deveria com er o sangue. Assim , a expressão “qualqu er espécie de sa n - Desde cedo, aprendi a gostar das coisas espirituais. Aos 8 anos, ganhei
gue” deve ser, de acordo com o contexto, entendida com o “qualquer es- a obra Meu livro de histórias bíblicas, editado pelos Testemunhas de Jeová.
pécie de sangue anim al, seja selvático, seja alado” . Não pode estar em As ilustrações do paraíso terrestre cham aram -m e a atenção; desde aque-
questão o sangue hum ano, pois não havia canibais entre os israelitas. le momento, passei a desejar a vida naquele lindo lugar! Palavras como
Segundo afirm ação dos testemunhas de Jeová, os prim eiros cristãos “nova ordem” e “Jeová” causaram grande im pacto em m im . Aos poucos,
entendiam que a proibição bíblica de não ingerir sangue inclui o da espé- interessava-me por saber muito mais.
cie humana. Para isso, reportam -se a uma declaração de Tertuliano (155- M inha m ãe estudava com os testem unhas de Jeová. Meu pai, voltado
c.220 d.C.), um dos pais da Igreja, que disse: “O interdito do sangue, nós para a m ística esotérica, não gostava desses estudos. Quando ela decidiu
entenderem os com o sendo (um interdito) ainda m ais do sangue hum a- parar de estudar, eu continuei. Meu contato m aior com os testem unhas
no” ( Raciocínios à base das Escrituras, 1989, p. 345). de Jeová sempre foi por m eio da página im pressa. Lia tudo. Não faltavam
Quando Tertuliano proferiu essas palavras em sua obra Apologeticum livros lá em casa, nem as revistas A Sentinela e Despertai!
[Apologia] , escrita por volta do fim de 197 d.C., sua intenção era solicitar Sempre sedento das coisas espirituais, passei a ir por conta própria às
aos governadores provinciais do Im pério R om ano que concedessem reuniões em casa de um testem unha de Jeová. 0 carinho e a atenção que
liberdade religiosa aos cristãos (A l t a n e r , 19 60 ,p. 169). Estes eram perse- dispensavam a m im eram cativantes. Isso foi no início de 1982. A partir
guidos por causa de certas m entiras que circulavam no im pério, como daí, com eçaria um longo estágio na seita.
a de que os cristãos com iam crianças e bebiam seu sangue em banquetes Aos poucos, fui assim ilando a ideia de que aquela era a única religião
de infanticídio sacram ental (Q u a s t e n , 1953, v. 2, p. 2 5 7 ). Em defesa dos verdadeira. Se Deus tinha um povo na terra, só poderia ser aquele. Passei
cristãos, Tertuliano afirm ou que os cristãos não ingeriam sangue anim al a levar a sério o que aprendia, e tam bém compartilhava isso com colegas
em suas refeições, muito m enos sangue hum ano. O Raciocínios à base da escola, principalm ente em m om entos de debate, quando alguns ques-
das Escrituras (p. 3 4 4 ) , dos te stem u n h a s de Jeová, c o n firm a essa tionavam m inha fé. A seita passou a fazer parte de m inha vida.
inform ação, ao citar o livro Tertulian, Apologetical Works, and Minucius Eu era tão assíduo às reuniões do “estudo de livro de congregação”
Felix, Octavius, New York, 1950, p. 33. que alguns achavam que eu já tin ha m eu estudo bíb lico dom iciliar.
Portanto, a declaração de Tertuliano deixa claro que nenhum cristão Até que alguém percebeu que eu não tinha um “instrutor”. Depois de
se atreveria a consum ir sangue hum ano, já que as Escrituras proíbem participar por dois anos daquelas reuniões, alguém foi designado para ir
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uma vez por sem ana a m inha casa. Por tudo o que já havia lido e ouvido, Eu já estava m e acostum ando à “nova verdade” quando descobri que

eu já estava bem avançado no conhecim ento doutrinário. Sem pre me o Corpo Governante, além de contraditório, era assassino. Soube disso

preparava para cada estudo. A vontade de aprender m ais sobre Jeová por meio de um a m anifestação pacífica feita por alguns cristãos portan-

crescia a cada dia, e m inha vida foi sendo moldada pelos costum es da do faixas e cartazes em agosto de 1988 na porta do estádio do M aracanã,

seita. P assei a trabalhar de casa em casa, m atricu lei-m e na escola de num congresso promovido pela seita. Uma faixa dizia:
oratória pública e por fim m e batizei na seita em 6 de julho de 1985.
M inha perseverança influenciou m inhas quatro irm ãs e m inha m ãe a Haverá ju stiça divina para os assassinos do Corpo Governante das
retornar para a seita. Testemunhas de Jeová?
Contudo, algo viria a abalar m inha fé naquela que eu considerava ser • Proibiram vacinas de 1931 a 1952.
a organização dirigida por Jeová. Tudo começou por volta do final de abril • Proibiram transplantes de órgãos de 1967 a 1980.
de 1988, com a chegada de A Sentinela, de I a de junho. A seção que eu • E ainda proíbem as transfusões de sangue desde 1945.
mais gostava de ler, “Perguntas dos leitores”, trazia a seguinte questão: • Até quando?
“Significam as palavras de Jesus em Mateus 11:24 que aqueles que Jeová Essa confusão não vem de Jeová — Provérbios 19.5
destruiu com fogo em Sodom a e Gom orra serão ressuscitados?”. Eu ha-
via aprendido que Jeová daria um a segunda chance aos habitantes de Acabei descobrindo que aquelas inform ações eram verdadeiras. Como
Sodom a e Gomorra, e essa inform ação veio de Jeová por m eio do seu “ca- o Corpo Governante pode ser tão irresponsável? O que dizer das vidas
nal de com unicação”, o “escravo fiel e discreto” e seu “Corpo Governante”.
que foram ceifadas por acreditarem em suas declarações? Então pensei
Entretanto, A Sentinela informava que eles não seriam m ais ressuscita-
que Jeová não poderia ser o responsável por nada disso e, portanto, o Cor-
dos. Até aquele momento, eu confiava cegam ente no Corpo Governante
po Governante não poderia ser seu “canal de comunicação”. Voltei à estaca
como o “canal de com unicação” do Altíssimo (v. o cap. 3). Mas pensei: “Se
zero. Lá estava eu novamente em m eio ao m isto de medo e descrença.
o Corpo Governante é o canal de com unicação de Jeová, como é possível
Dessa vez, a coisa era séria. Entrei em depressão. Meu mundo ruíra com ple-
que isso pudesse estar acontecendo? Será que Jeová não sabe interpretar
tamente. Não sabia realmente o que fazer. Não poderia com partilhar meus
corretam ente sua Palavra? Ou será que o Corpo Governante não é de fato
temores com ninguém, pois eu poderia ser denunciado por apostasia.
o seu canal de com unicação’?”. Eu aprendera no Poderá viver para sem-
Isso m e levou a sair do Rio de Janeiro. Fui para São José dos Campos,
pre (p. 32) que não pode haver duas verdades, quando uma não concorda
SP, em janeiro de 1990. Pensei que em outro estado essa crise passaria.
com a outra. Por conseguinte, um a deveria ser necessariam ente m entira.
Não passou. O problem a era interno; não adiantava fugir. Meses depois,
Mas poderia a organização do Soberano universal ensinar m entiras?
conheci um ancião que m e convenceu a voltar para o Rio de Janeiro e
Como, se éram os a única religião verdadeira?
retom ar minha vida de jovem teocrático. Voltei para o Rio em julho de 1990.
E assim a dúvida assaltou-m e sobrem aneira. Praticam ente não con-
Ao retornar, contei a um dos anciãos de m inha congregação o que havia
segui dorm ir aquela noite. Era um m isto de medo e descrença. Eu estava
nutrindo dúvidas contra os “ungidos” de Jeová, e ele poderia castigar-m e acontecido. Convencido de que era a m ão de Jeová atrás dos aconteci-

por isso no Arm agedom . Decidi então aceitar a explicação de que se m entos, decidi sufocar cada foco de dúvida que se abatera sobre mim.

tratava de uma “nova luz”, uma “nova verdade” que Jeová estava lançan- Quase um ano depois, ao trabalhar de casa em casa, vi uma de minhas

do sobre a organização (Provérbios 4.18). irmãs em apuros com um pastor evangélico. Estava desafiando m inha
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irm ã e sua companheira para um debate. Afirmou possuir provas materiais com o da personalidade e divindade do Espírito Santo, não tive m ais
que confirm avam ser o Corpo Governante um falso profeta, pois este dúvidas quanto ao assunto.
teria previsto a vinda do Armagedom para diversas datas: 1 9 1 4 ,1 9 2 5 , De abril a setem bro de 1991, perm aneci som ente estudando. Coletei
1941 e 1975. 0 duelo se daria um m ês depois, em abril de 1991. muitas inform ações (sem pre m uito bem guardadas de m inha fam ília).
Fui à casa desse pastor no dia e na hora marcados. Ele estava munido Meu interesse pela seita se desvanecera. M as, ainda assim , era preciso
de provas docu m entais que confirm avam suas acusações. Som ando-se perm anecer entre eles, pois todos os meus amigos estavam lá. E m inha
todas as contradições, era im possível não deixar de concluir que o Cor- família? Tinha m edo de perdê-la. Assim, com receio de ver desencadeado
po Governante era um falso profeta. Eu m e recusava a reconhecer isso, o fim de m inha família, protelei m inha saída da seita.
porque não queria novamente mergulhar na dúvida. Decepção total! Tudo Contudo, em setem bro de 1991, senti-m e compelido a pôr à prova tudo
o que aquele líder havia m encionado era verdade. 0 texto de Deuteronô- o que havia descoberto. Queria saber se poderia ser refutado por um dos
mio 18.20-22, que fala dos falsos profetas, encaixava-se com perfeição no anciãos mais conceituados no circuito do qual fazia parte. Somente então,
Corpo Governante. Não havia mais saída, nem desculpas. eu teria a certeza da solidez de tudo o que havia, com muito esforço, estu-
Diante da constatação de que eu estava num a seita, decidi investigar à dado. Tivemos vários encontros. E pela prim eira vez vi a figura que tanto
luz da Bíblia seu sistem a doutrinário. Até então, nunca tinha lido a Bíblia adm irava por seus conhecim entos “teocráticos” ficar por vezes calada,
sem alguma publicação do Corpo Governante como retaguarda. Estava sem saber o que dizer. Em relação às atrocidades com etidas pelo Corpo
convencido de que seria preciso ler a Bíblia sem influência alguma do Governante, ele citou o exemplo de Davi, que certa vez mandou m atar o
Corpo Governante. Cada investigação direta no texto sagrado era uma marido de uma mulher com quem adulterara. Se Jeová o havia perdoado
surpresa para m im . Os resultados das prim eiras pesquisas revelaram que por isso, por que não perdoaria o Corpo Governante? Em nenhum m o-
os 144 m il não seriam os únicos a ir para o céu: eu tam bém poderia ir; mento, ele se atreveu a questionar a autoridade dos líderes da seita.
que Miguel, o arcanjo, e Jesus não eram a m esm a pessoa, pois Jesus é Eu sabia que meus dias estavam contados nessa seita. Afastei-m e de
Criador e Miguel é criatura; que o Espírito Santo não era uma força ativa, todas as atividades de setem bro a dezembro, sem apresentar a ninguém
im pessoal, mas um ser pessoal e, com o Pai e o Filho, um só Deus. as razões de meu afastam ento. Recebi cartas, telefonemas e visitas. Nin-
Tomei tam bém conhecim ento de livros publicados por ex-testem u- guém acreditava no que estava acontecendo. Se eu tivesse mencionado
nhas de Jeová. Outros já haviam trilhado aquele cam inho tortuoso, e so- qualquer palavra contra a organização, seria acusado de estar fom entan-
breviveram. Sentia-m e motivado a prosseguir em m inhas investigações. do apostasia. Acuado, ficava calado, pois não queria ser visto como após-
Estudava horas a fio. Não queria perder um minuto. É de perder de vista tata, vendo em seus olhos o desprezo e a dor. Até então, som ente aquele
a quantidade de livros que li e de horas que dediquei ao estudo da Bíblia. ancião tinha conhecim ento disso. Contudo, quando ele relatou o caso aos
O que eu mais queria entender em todo o corpo doutrinário do cristia- demais anciãos, fui convocado no dia 12 de dezembro de 1991 para uma
nism o era a doutrina da Trindade. Parecia-m e que os argumentos dos reunião com a comissão judicativa, que lida com as questões de ordem
testem unhas de Jeová eram irrefutáveis. Contudo, rebatê-los não foi tão disciplinar na congregação local. Já antevendo o que poderia acontecer,
difícil quanto parecia à prim eira vista. Ao perceber em que m edida a decidi escrever uma carta declarando meu desejo de não m ais ser reco-
Tradução do Novo Mundo fora manipulada e deliberadam ente adultera- nhecido como m em bro dessa organização anticristã. A carta foi escrita
da para fazer desaparecer todo indício da divindade de Jesus Cristo, bem no dia 8 de dezembro, quatro dias antes da reunião marcada.
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Na reunião, tentaram convencer-me de que o cam inho que estava to- Disseram -m e que não ouviriam nada contra a organização de Jeová; que o

mando me conduziria à destruição eterna. Fui acusado de soberba, pois erro era meu; que Satanás havia conseguido capturar-m e. Assim, uma a

segundo eles, estava querendo ser m ais conhecedor da Bíblia do que a um a, saíram de m inha presença, sem sequer m e dar ouvidos. Uma de

seita. Quando quis dialogar sobre algumas passagens bíblicas, recusaram - m inhas irmãs falava bem alto a fim de abafar o som de m inha voz. Não

-se. Além disso, disseram -m e que a congregação é como um corpo, e um havia m ais clim a para qualquer tipo de conversa. R ecordo-m e de que

dos mem bros estava com gangrena; das duas, uma: ou saravam o m em - naquela noite, antes de recolher-m e, fui, com o de costume, pedir a bênção

bro, ou teriam de amputá-lo. Isso foi a gota d’água para mim. de meus pais. Mamãe recusou-se a dá-la. Fiquei arrasado!

Nesse instante, então, entreguei-lhes a carta anunciando m inha d is- Na sem ana seguinte, quando foi dado o anúncio de m inha dissocia-

sociação. Foi um a autoam putação. Na carta, expus as razões por que ção, deparei-m e com alguns testem unhas de Jeová na rua. Im ediatam en-

estava rom pendo com um a associação que perdurou m uitos anos, co n- te, baixaram a ca b eça, sem d irig ir-m e a palavra. Nem um a sim ples

sum indo m inha adolescência e juventude. Não poderia continuar num a saudação. Não queriam ser cúmplices de um “apóstata”. Na cabeça da-

organização cu ja histó ria era repleta de falsas profecias e interm iná- quela gente, eu havia traído e abandonado Jeová. Alguns chegavam a dar

veis contradições. Como confiar num a religião d ou trinariam ente in - m eia-volta, a fim de não passar pelo m esm o lugar em que eu m e encon-

constante? Eu não teria nenhum a garantia de que a provável “verdade” trava. Era estranho ver meus ex-com panheiros agindo dessa forma. Pre-

de hoje não se tornaria m entira am anhã. Uma seita assim jam ais pode- gava-se tanto o amor, a fraternidade, a com paixão... Naquele momento,

ria ser a única religião verdadeira. Por isso, em sã co nsciên cia, não po- eu só via pobres alm as fanáticas e amedrontadas. Seu coração estava en-

deria continu ar nessa seita. durecido. Não conseguia acreditar que eu m esm o havia sido um deles!

Finalm ente, saí daquela fatídica reunião sabendo que na sem ana se- Quanto à m inha fam ília, aos poucos a poeira foi se assentando. Apesar

guinte anunciariam à congregação que eu m e dissociara da organização, de continuar na seita — com exceção de m inha irm ã m ais velha, excluída

que “abandonei Jeová”. do grupo em 1994 — , retom am os no ssos laços de ternura. Todavia,

Naquela noite, fui para casa a passos lentos, tentando postergar ao continua a proibição de que conversem comigo coisas sobre a seita ou
m áxim o olhar para m inha fam ília. Não sabia como lhe diria o que estava outro tem a relacionado à Bíblia. Elas seguem isso ao pé da letra. No dia
acontecendo. Qual seria sua reação? Eu seria desprezado? Esse era meu do meu casam ento, por exemplo, m inha m ãe e duas de m inhas irm ãs
grande temor. Ao chegar a casa, não tive coragem de dizer-lhe nada. Dei- ficaram do lado de fora da igreja. Elas estavam divididas entre o amor
xei para o dia seguinte. Foi impossível dorm ir aquela noite. Eu estava em por m im e pela seita. Estiveram lá, em consideração a m im , m as não
frangalhos. Nunca havia chorado tanto em minha vida! “Jeová, ajude-m e!”, entraram na igreja, em obediência à seita. Ainda aguardo pacientemente
era só o que eu clamava. a saída de m inha m ãe e m inhas irm ãs dessa seita. Não vejo a hora de
No dia seguinte, reuni minha família, incluindo meu pai; convoquei partilhar com elas a alegria da salvação, que somente o verdadeiro Jesus
tam bém minha tia, aquela que me dera o Meu livro de histórias bíblicas, e Cristo, Deus de Deus, Luz de Luz, pode dar.
um a prima. Relatei-lhes tudo o que havia acontecido. À medida que falava, Livre, leve e solto. Foi assim que m e senti, apesar de toda a dor inicial.
via em seus olhos decepção e descrença (m enos nos de papai, que parecia “Mas e agora, para onde ir?”, era a pergunta que m e fazia. Alguém em
estar gostando da notícia; seu filho por fim estava livre daquele fana- m eu lugar talvez não qu isesse saber de religião nenhum a. Foi o que
tism o religioso). Quando quis alertá-los, de imediato fui interrompido. pensei. Mas estava sem rumo e achava que não poderia ficar sem uma
348 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x p o s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s

religião, pois tinha medo de sentir-m e livre o bastante para fazer o que bem
entendesse, sem ligar nem m esmo para Deus. Não sabia o que fazer com Apêndice 2
m inha liberdade. Eu ainda achava que o cristianism o significava pertencer
a um grupo religioso específico, seguindo suas crenças e costumes.
Contudo, em fevereiro de 1992, num a igreja batista que ficava duas
ruas atrás do salão do reino em que fui m embro, aprendi que o verdadei-
ro cristianism o é uma entrega total e incondicional ao senhorio de Jesus
Os credos do
Cristo. Eu já tinha conhecim ento intelectual sobre quem ele era, m as não
sabia que poderia relacionar-m e com ele, senti-lo e am á-lo profundam en- cristianismo
te. Lem bro-m e até hoje da forma carinhosa em que o pastor daquela igre-
ja , Paulo Lima, tratou-m e. Ele não estava nem um pouco preocupado com
m inhas indagações teológicas, m as com o meu relacionam ento pessoal
com Cristo. Passei a ver o cristianism o sob outra ótica.
Foi reconfortante saber que m inha felicidade e salvação não depende-
riam m ais de um a organização religiosa, m as de um relacionam ento ín- Apresentamos a seguir as confissões de fé com uns a todos os cristãos,
tim o com Deus. a despeito da im ensa diversidade denom inacional que caracteriza o cris-
Diante de tudo o que foi relatado aqui, fica evidente a razão pela qual tianism o. São valiosíssim as, principalm ente por se tratar de excelentes
não canso de, noite e dia, agradecer a Deus por m inha libertação da súm ulas da fé cristã.
seita Testem unhas de Jeová. Por isso, agradeço ao Pai, o qual m e elegeu O leitor perceberá que não existe um a cláusula para “Creio que a B í-
antes da fundação do mundo e m e predestinou para ser seu filho adoti- blia, a Palavra escrita de Deus, seja nossa fonte de autoridade e fé”, pois
vo por Jesus Cristo (Efésios 1 .3 -6 ); ao Filho, Deus de Deus, Luz de Luz, tudo o que se acha nos credos pode ser averiguado no Livro Santo. A Bí-
que por m im m orreu na cruz, derram ando seu sangue para salvar-m e blia é, em últim a instância, a base do conteúdo dos credos.
do poder do pecado e da m orte (Efésios 1.7); e ao Espírito Santo, o Con- Por que tam anha im portância para com os credos? Am brósio de M i-
solador, por m eio do qual fui selado para sem pre para o louvor da gló- lão (c. 340 -39 7), ao falar do credo apostólico, fornece-nos a resposta: “Os
ria de D eus (E fésio s 1 .1 3 ,1 4 ). C reio qu e este é, de to d o s, o m aio r santos apóstolos reunidos juntos fizeram um resumo da fé, a fim de que
testem unho que alguém pode dar. pudéssemos com preender brevemente o elenco de toda a nossa fé. A bre-
Desde então, Deus tem sido realmente muito bondoso comigo. Além vidade é necessária, para que ele seja sem pre m antido na m em ória e na
de ter m e libertado dessa seita, deu-m e um m inistério de evangelização, lem brança” (1996, p. 23).
por m eio do qual já vi m uitos se renderem aos pés de Cristo. Ele tam bém Assim, tê-los em mente e recitá-los é um bom exercício para que ja -
me presentou com um a família m arvilhosa: Ana Cléia, uma fiel presbite- mais nos esqueçam os das doutrinas centrais da fé cristã. Os credos, cer-
riana form ada em teologia, e nossas heranças no Senhor: Ana M aria e tam ente, não detêm poderes m iraculosos (com o cria Am brósio de Milão
Ana Luíza, que nos dão m uita alegria ao se ju ntarem a nós na adoração com relação ao apostólico [ibid., p. 2 8), m as são profundamente didáticos
do nosso “único Dono e Senhor Jesus Cristo” (Judas 4 ). (v . H a l l , 2000).
350 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s A p ê n d ice 2 : Os c r e d o s d o c r is t ia n is m o 351

C r e d o a po s t ó l ic o ( S ím b o l o d o s a pó s t o l o s ) E no Espírito Santo, Senhor e Vivificador, que procede do Pai e do


Documento datado de antes do século IV. Filho, que com o Pai e o Filho conjuntamente é adorado e glorificado,
que falou através dos profetas.
Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, criador do céu e da terra. E na Igreja una, santa, católica e apostólica; confessamos um só ba-
E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor; o qual foi concebido tismo para remissão dos pecados.3 Esperamos a ressurreição dos mor-
por obra do Espírito Santo; nasceu da Virgem Maria; padeceu sob o poder tos e da vida do mundo vindouro.4
de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu ao Hades;
ressuscitou ao terceiro dia; subiu ao Céu; e está sentado à mão direita de C r e d o a t a n a s ia n o
Deus Pai Todo-Poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos. Séculos IV e V, assim cham ado em hom enagem a Atanásio.5
Creio no Espírito Santo; na Santa Igreja Católica;1 na Comunhão dos
santos; na Remissão dos pecados; na Ressurreição do Corpo; e na Vida 1. Todo aquele que quiser ser salvo, é necessário, acima de tudo, que sus-
Eterna. Amém.2 tente a Fé Católica;
2. A qual, a menos que cada um preserve perfeita e inviolável, certamente
C r e d o n ic e n o - c o n s t a n t in o po l it a n o perecerá para sempre;
Formulado no Concílio de Niceia no ano 325 d.C. e revisado no Concí- 3. Mas a Fé Católica é esta: que adoremos um Único Deus em Trindade e a
lio de Constantinopla, no ano 381. Trindade em Unidade;
4. Não confundindo as Pessoas, nem dividindo a substância;
Creio em um Deus, Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra, de 5. Porque a Pessoa do Pai é uma, a do Filho é outra, e a do Espírito Santo
todas as coisas visíveis e invisíveis; outra,
E em um Senhor Jesus Cristo, o unigénito Filho de Deus, gerado pelo 6. Mas no Pai, no Filho e no Espírito Santo há uma mesma Divindade,
Pai antes de todos os séculos, Luz de Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro igual em Glória e coeterna Majestade;
Deus, gerado, não feito, de uma só substância com o Pai; pelo qual todas 7. 0 que o Pai é, o mesmo é o Filho, e o Espírito Santo;
as coisas foram feitas; o qual, por nós homens e por nossa salvação, desceu
dos céus, foi feito carne do Espírito Santo e da Virgem Maria, e tornou-se 3 Essa é uma cláusula polêmica em muitas igrejas evangélicas, pois entendem a ex-
pressão “um só batismo para a remissão de pecados” como uma afronta à salvação
homem; e foi crucificado por nós sob o poder de Pôncio Pilatos, e padeceu,
pela graça mediante a fé (Efésios 2.8,9). Martinho Lutero não deixou de ensinar tal
e foi sepultado; e ressuscitou ao terceiro dia conforme as Escrituras; e cláusula, lembrando, contudo, que não é a água em si que produz algum efeito salví-
subiu aos céus, e assentou-se à direita do Pai, e de novo há de vir com fico, mas a obediência ao mandamento de Cristo, que afirmou que todos os que
abraçassem sua mensagem deveriam ser batizados (Mateus 28.19). Há também
glória para julgar os vivos e os mortos, e seu reino não terá fim.
quem prefira ver o batismo aí referido como o batismo espiritual em Cristo (Roma-
nos 6.3,4), sendo a água tão somente símbolo desse batismo espiritual.
4 Disponível em <http://www.dar.org.br/biblioteca/57-documentos/528-credo-nice-
1 Palavra de origem grega que significa “universal”, pois a Igreja deveria estar presente no-constantinopolitano.html>. Acesso em: 29/9/2009.
em todo o mundo (Mateus 13.24,37,38; 28.19,20; Atos 1.8). 5 Autor da obra Da encarnação, que defendia a plena humanidade e a plena divindade
2 < http://www.dar.org.br/biblioteca/57-documentos/530-credo-apostolico.html>. de Jesus Cristo, Atanásio foi a grande figura que diligentemente lutou contra a here-
Acesso em: 29/9/2009. sia ariana, a qual defendia a ideia de que Jesus era uma criatura, não o Criador.
352 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s A p ê n d ic e 2 : Os c r e d o s d o c r is tia n is m o 353

8. 0 Pai é não criado, o Filho é não criado, o Espírito Santo é não criado; 29. Ele é Deus eternamente gerado da substância do Pai. Homem nascido
9. 0 Pai é ilimitado, o Filho é ilimitado, o Espírito Santo é ilimitado; no tempo da substância da sua mãe;
10. O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno; 30. Perfeito Deus, perfeito homem, subsistindo de uma alma racional e car-
11. Contudo não há três eternos, mas um eterno; ne humana;
12. Portanto não há três (seres) não criados, nem três ilimitados, mas um 31. Igual ao Pai com relação à sua divindade, menor do que o Pai com rela-
não criado e um ilimitado; ção à sua humanidade;
13. Do mesmo modo, o Pai é Onipotente, o Filho é Onipotente, o Espírito 32. O qual, embora seja Deus e homem, não é dois, mas um só Cristo;
Santo é Onipotente; 33. Mas um, não pela conversão da sua divindade em carne, mas por sua
14. Contudo não há três Onipotentes, mas um só Onipotente; divindade haver assumido sua humanidade;
15. Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus; 34. Um, não, de modo algum, pela confusão de substância, mas pela unida-
16. Contudo não há três Deuses, mas um só Deus; de de pessoa;
17. Portanto o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, e o Espírito Santo é Senhor; 35. Pois assim como uma alma racional e carne constituem um só homem,
18. Contudo, não há três Senhores, mas um só Senhor; assim Deus e homem constituem um só Cristo;
19. Porque, assim como compelidos pela verdade cristã a confessar cada 36. O qual sofreu por nossa salvação, desceu ao Hades, ressuscitou dos mor-
pessoa separadamente como Deus e Senhor, assim também somos proi- tos ao terceiro dia;
bidos pela religião Católica de dizer que há três Deuses ou Senhores. 37. Ascendeu ao Céu, sentou à direita de Deus, Pai Onipotente; de onde virá
20. O Pai não foi feito de ninguém, nem foi criado, nem gerado; para julgar os vivos e os mortos;
2 1 . 0 Filho procede do Pai somente; nem feito, nem criado, mas gerado; 38. Em cuja vinda, todo homem ressuscitará com seus corpos, e prestarão
22. O Espírito Santo procede do Pai e do Filho; não feito, nem criado, nem contas de suas obras;
gerado, mas procedente; 39. E aqueles que houverem feito o bem irão para a vida eterna. Aqueles
23. Portanto, há um só Pai, não três Pais; um Filho, não três Filhos; um que houverem feito o mal, para o fogo eterno;
Espírito Santo, e não três Espíritos Santos. 40. Esta é a Fé católica, a qual, a não ser que um homem creia firmemente
24. E nessa Trindade nenhum é primeiro ou último, nenhum é maior ou nela, não pode ser salvo.6
menor;
25. Mas todas as três pessoas coeternas são coiguais entre si, de modo que C r e d o ( D e f i n i ç ã o o u F ó r m u l a ) d e C a l c e d ô n ia
em tudo o que foi dito acima, tanto a Unidade em Trindade, como a Século V, formulado no ano 451 d.C., no Concílio de Calcedônia.
Trindade em Unidade deve ser cultuada;
26. Logo, todo aquele que quiser ser salvo deve pensar desse modo em rela- Fiéis aos santos pais, todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos
ção à Trindade; que se deve confessar um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo,
27. Mas também é necessário, para a salvação eterna, que se creia fielmen-
te na Encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo;
28. É, portanto, fé verdadeira que creiamos e confessemos que nosso Se-
6 Disponível em < http://www.dar.org.br/biblioteca/57-documentos/529-credo-
nhor e Salvador Jesus Cristo é tanto Deus como homem; atanasiano.htmlx Acesso em: 29/9/2009.
354 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

perfeito quanto à divindade, perfeito quanto à humanidade, verdadeira-


mente Deus e verdadeiramente homem, constando de alma racional e
de corpo; consubstanciai [homooysios ] ao Pai, segundo a divindade, e
consubstanciai a nós, segundo a humanidade; “em todas as coisas se-
melhante a nós, excetuando o pecado”, gerado segundo a divindade antes
dos séculos pelo Pai e, segundo a humanidade, por nós e para nossa sal-
Bibliografia e
vação, gerado da Virgem Maria, mãe de Deus [Theotókos]?
Um só e mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigénito, que se deve confes- referências
sar, em duas naturezas, inconfundíveis e imutáveis, conseparáveis e in-
divisíveis [En dyophysesin, asgchytôs, atréptôs, adiairétôs, achôristôs}. A
distinção das naturezas de modo algum é anulada pela união, mas, pelo
contrário, as propriedades de cada natureza permanecem intactas, con-
correndo para formar uma só pessoa e subsistência [hypóstasis]; não P u b l ic a ç õ e s s o b r e a s T e s t e m u n h a s d e J e o v á

dividido ou separado em duas pessoas. Mas um só e mesmo Filho Uni-


génito, Deus Verbo, Jesus Cristo Senhor; conforme os profetas outrora a
A p olinário, Pedro. As testemunhas de Jeová e sua interpretação da
seu respeito testemunharam, e o mesmo Jesus Cristo nos ensinou e o Bíblia. 4. ed. São Paulo: Instituto Adventista de Ensino, 1986.

credo dos pais nos transmitiu.8


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7 Muitos evangélicos têm objetado ao uso do termo “mãe de Deus”, como se o Concí- Grand Rapids: Baker, 1989.
lio de Calcedônia estivesse ensinando que Maria é mãe da Trindade. Não é esse o
B rito , Azenilto G. O desafio da Torre de Vigia. Tatui: Casa Publicadora
caso. 0 título “mãe de Deus” ( Theotókos, lit. “portadora de Deus”) não foi dado em
Brasileira, 1992.
razão de Maria, mas em razão de Jesus. A ênfase está nele, não nela. O título quer
dizer que ele é Deus. Maria portou em seu ventre aquele que, com o Pai e com o Bu itrago, Orellano Pérez. Y Cristo me liberto. M iam i: Unilit,1992.
Espírito Santo, é um só Deus, agora e sempre. Ele fez-se homem sem deixar de ser C a r rer a , Antonio. Los falsos manejos de los Testigos de Jehová. 2. ed.
Deus. 0 termo Theotókos foi inspirado nas palavras de Isabel, mãe de João Batista,
Bilbao, Espana: [s.n.], 1976.
dirigidas a Maria: “Mas por que sou tão agraciada, a ponto de me visitar a mãe do
meu SenhorV’ (Lucas 1.43). 0 termo “Senhor” aponta para a divindade de Jesus. C a rro , Daniel (Org.). Sectas y movimientos en America Latina. Buenos
Aquele que estava no ventre de Maria, a quem ela amamentou e de quem cuidou, Aires: Asociación Bautista Argentina de Publicaciones, 1992.
era o “Deus conosco” (Mateus 1.23), verdadeiro Deus e verdadeiro homem. 0 termo
C astex, C. Bernardo. Estudando a Bíblia com os originais hebreus e
Theotókos aponta para essa confissão de fé cristológica. Cabe lembrar que o termo
“Deus” pode ser aplicado a cada pessoa da Santíssima Trindade. Sendo assim, se
gregos. São Paulo: [s.n.], 1965.
Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, não há impropriedade em afirmar C h ristianin i, Arnaldo B. Radiografia do jeovismo. 2. ed. refundida e
que Maria foi, de fato, mãe de Deus, ou seja, de Deus Filho, do Verbo encarnado. Se ampl. São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1975.
ficarmos só nisso, não estaremos violando nenhum preceito bíblico.
Conner, W. T. The Teachings of “Pastor” Russell. Nashville: Southern
8 Disponível em < http://www.dar.org.br/biblioteca/57-documentos/532-confissao-
-de-fe-de-calcedonia.html>. Acesso em: 29/9/2009. Baptist Press, 1926.
356 T e s t e m u n h a s d e J e o v A: e x p o s i ç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r i n a s B ib l io g r a f ia e r e f e r ê n c ia s 357

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Revelação: seu grandioso clímax está próximo, 1988. 1.26,27 127-128 115.16 241
2.7 257, 261- 262, 271,283 139.7,8 203 D a n ie l
Segurança mundial sob o Príncipe da Paz, 1986. 9.4 340 146.3.4 295 10.13 147
Sentinela, A (diversos números). 37.35 253, 268, 281, 283-
“Seja Deus verdadeiro”, 2. ed., 1955. 284 P r o v é r b io s JO E L

40.18-22 323 2.20-22 242 2.32 106-108


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Venha ser meu seguidor, 2007
17.10 341 11.11 249
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Unidos na adoração do único Deus verdadeiro, 1983. D e u t e r o n OM io 2.4 333 17.1 134
6.4 123, 127- 129,135 9.6 65, 92, 97, 103, 126, 22.32 134
Watchtower Library 1997 (CD-ROM)
142, 153- 155,162 24.3.4 195
I R e is 14.15 281-283 24.30 154,196
8.43 117 43.10 53, 92, 100, 123, 132, 24.45-47 53, 77, 80-81
135,153 28.19,20 61, 70
Jó 45.18 116,243
14.13 280 60.22 70 M a r c o s

1.1 160
Sa l mo s J e r e m ia s 13.32 1 6 3 , 167- 168,279
37.9 238 7.31 292 16.12 189
36 4 T e s t e m u n h a s d e J e o v á : e x po s iç ã o e r e f u t a ç ã o d e s u a s d o u t r in a s

Luc a s 15.22.28.29 82 I T e s s a l o n ic e n s e s

16.19-31 253 , 264, 267 , 15.28.29 340 4.16 146,147


M in is t é r io E d if ic a r
271, 278-279, 274, 285,
287- 288, 290 Ro ma n o s 2 T e s s a l o n ic e n s e s
Palestras que instruem e edificam
23.26 86 10.13 106- 107,126 2.3-17 66, 68
23.43 253,285 14.7,8 109
24.13-35 187 T it o
24.15-18 180 I C O R iN T IO S 2.13 73, 98- 101,126 A lém de es c rito r, A ld o M e n e z e s ta m b é m é p ro fe s so r e c o n fe re n -
1.10 73 cista . P o r isso , sin ta -s e à v o n ta d e p a ra c o n v id á -lo a re a liza r p a -
H ebr eu s
Jo ã o I.24 143
1.6 93, 102- 103,175 le stra s d in â m ic a s e d id á tic a s e m su a in s titu iç ã o d e e n s in o o u
1.1 86, 92, 97, 148, 153, II.3 171
157,328 15.25-28; 15.44 117 1.8 9 3 , 103-105 ig re ja . O o b je tiv o d essas c o n fe r ê n c ia s é d ifu n d ir a a p o lo g é tic a
1.10-12 105
8.58 87, 93,159 15.50 180, 191,195 c r istã a liad a a o e n s in o te o ló g ic o e filo s ó fic o . A ên fa se é a in te r-
11 226, 248,251
3.13 252
d is c ip lin a rid a d e d esta s q u a tro á re as te m á tic a s : A p o l o g é t ic a c r is -
10.16 225 -226, 228,230 2 C o r 1n t io s
1P ed r o t ã , R e l ig iõ e s e c r e n ç a s , T eo l o g i a s i s t e m á t ic a e E v a n g e l is m o , te n d o
10.30 97, 106, 125, 130, 6.6 213-214
3.18 180, 190- 192, 254,
153, 159, 165, 169, 170, 6.14 36 e m v ista a ed ific a ç ã o d o c o r p o de C r is to e o p re p a ro p a ra a o b ra
286
172 13.13 211,220 d o m in is té rio d ia n te d o s d e sa fio s d a p ó s -m o d e rn id a d e e d o c li-
10.33 170
2Ped r o m a c u ltu ra l de n o s so s d ias (E fé s io s 4 . 1 1 - 1 6 ) .
14.28 163, 165,167 E f é s io s
2.1 67
16.13 207 1.18 196
3.13 244,247
17.1 106, 163, 168,328 4.11,12 207,212 E is a lg u m a s su g estõ es de te m a s:
17.3 92
IJo ã o
17.20,21 309 F il ipe n s e s
5.7.8 110-111 • O p lu ra lism o religioso e seus desafio s p a ra a o rto d o x ia cristã
20.11-18 186 2.6,7 165
5.20 92, 155,169
20.24-29 180 2.11 93,103 • O v a lo r da a p o lo g é tic a c ris tã p a ra o b e m -e s ta r es p iritu a l
20.28 126 2J o ã o da Ig re ja
21.1-14 188 C o l o ssen ses 7.8 185 • A in d e s tru tib ilid a d e e a firm e z a d a Ig re ja de C ris to e m te m -
1.15 157
A t o s 1.16,17 95, 98, 128, 145, p o s d e a p o sta sia re lig io sa
Juda s
1.8 70 160 17-25 67-68 • C r is tia n is m o : a m e lh o r re s p o sta às g ra n d e s q u e s tõ e s da
2.4 215,220 2.9 93, 170,175
h u m a n id a d e
2.25-31 184 A p o c a l ip s e
• “A i d e m im se n ã o p re g a r o ev a n g elh o ” — A im p o rtâ n c ia
2.29,34a 251 1T im ó t e o 1.7.8 154,198
2.42-47 68 2.5 172,184 3.14 160 de m a n te r o fo c o n a G ra n d e C o m iss ã o
5 .3 .4 169, 203,209 4.1 67 7.4 228 • T este m u n h a s d e Jeo v á : ex p o s iç ã o e re fu ta ç ã o d e su as d o u -
7.55,56 217 7.9 226, 235,320
trin a s h e tero d o x a s
8.27-38 81 2 T im ó t e o 14.1-3 228,231
13.1,2 216 3.15-17 79 20.13-15 286,291
21.3.4 247 P a ra m a is in fo rm a ç õ e s , e n tre e m c o n ta to p e lo em aih

a ld o m e n e z e s @ g m a il .c o m
SE JESUS É IGU AL A DEUS, CO M O PÔDE DIZER
Q UE O PAI É M AIO R QUE ELE?
SE DEUS É JUSTO, CO M O PO DERIA MANTER
ALGUÉM ETERN AM ENTE NO IN FE RN O ?
POR QUE DESEJAR IR PARA O CEU SE JESUS
DISSE Q UE “OS M AN SOS HERDARÃO A TERRA” ?

Diariam ente, centenas de testem unhas de Jeová batem à porta de


m uitos lares com perguntas capciosas, apresentando uma
m ensagem contrária à fé cristã. N essa investida, fazem contato
com cristãos m uitas vezes sem conhecim ento suficiente para
contestar seus argum entos.

Este livro foi escrito por um ex‐adepto que fazia essas e muitas
outras perguntas aos cristãos ao ir de casa em casa. Esta obra expõe
sistematicamente as crenças básicas dessa seita, refutando‐as à luz
da Bíblia e da razão.

Numa geração bom bardeada por conceitos antibíblicos e carente


de discernim ento espiritual, a leitura deste livro ajudará m uitos
cristãos a reafirm ar sua fé na autoridade das Escrituras, na
doutrina da Trindade, na ressurreição do corpo, na esperança
celestial e na indestrutibilidade da Igreja. Esta obra é um convite
para conhecer mais profundam ente a fé cristã e lutar por ela.

é form ado em Filosofia pela U niversidade de São


Paulo (USP), professor de Religiões e Crenças em instituições
teológicas de ensino e m inistro ordenado da Igreja Anglicana do
Cone Sul da Am érica. Desde 1992, é pesquisador e palestrante no
cam po da religião. É autor de verbetes do Dicionário de religiões,
crenças e ocultism o e de artigos da Bíblia EvangeUsmo em Ação
(publicados pela Editora Vida). Casado com Ana Cléia, tem duas
filhas, Ana Maria e Ana Luíza; a fam ília vive em João Pessoa, PB.

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