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Voto do vereador Fernando Cabral

Noto que o Senhor Relator defende o arquivamento do feito, essencialment


e, com fundamento no princípio constitucional da presunção da inocência. O argumento é res
peitável. Ninguém há de ser condenado senão quando as provas sejam absolutamente convinc
entes.
Entretanto, observo que a CPI não condena. Nem pode condenar. Dela ninguém s
ai condenado, assim como dela ninguém sai absolvido. CPI não julga. Tal poder ela não
tem. CPI apura fatos e encaminha suas conclusões para quem de direito.
Em se tratando de ilícito civil ou criminal, o destinatário do trabalho da C
PI é o Ministério Público. Em se tratando de crime de responsabilidade, o destinatário é o
plenário da Câmara de Vereadores. Em se tratando de ilícito administrativo, o destina
tário é a Autoridade Administrativa competente para julgar.
É isso que se extrai do disposto no §3o do art. 58 da Constituição da República. É
sso também que se extrai do §3o do art. 68 da Lei Orgânica do Município de Bom Despacho,
e do art. 77 do Regimento Interno da Câmara Municipal.
Com base nessas disposições legais e com fundamento no que foi apurado nos a
utos, concluo de forma diversa daquela manifestada pelo Senhor Relator. Ao contrár
io dele, entendo que há elementos suficientes que recomendam a aplicação de outro prin
cípio que não o da dúvida que favorece o réu. Nessa fase o que cumpre proteger é o interes
se da sociedade em detrimento dos indivíduos.
Havendo indícios de crime – como há – até que sobrevenha a apuração final o que de
prevalecer é o princípio de que na dúvida preservam-se os interesses da sociedade e não
dos indivíduos (in dubio, pro societates).
Tal como o Senhor Relator, eu também entendo que os indícios e provas amealh
ados não são suficientes para condenar os investigados. Mas – como esclareci acima – con
denar não é o objetivo de uma CPI. Ela não tem tal poder. O que compete à CPI decidir é se
há ou não elementos suficientes que ensejem encaminhamento do relatório aos órgãos compet
entes, quais sejam, o Ministério Público, o Plenário da Câmara e a Autoridade Administra
tiva responsável pelos funcionários envolvidos.
É nesse ponto que divirjo do Relator. Entendo que são veementes os indícios de
ilícitos civis, penais e administrativos.
O comportamento reprochável do investigado Haroldo Queiroz
O investigado Haroldo de Souza Queiroz comportou-se de forma reprovável, m
esquinha e covarde ao longo dos seis meses que durou a CPI. Não teve coragem e bri
o para discutir a legalidade da CPI perante o judiciário. Não teve coragem e brio pa
ra discutir a legitimidade da CPI perante o legislativo. Invés disso, agiu como ag
em os poltrões: durante seis meses se esquivou sistematicamente para não ser intimad
o das reuniões desta Comissão.
Agindo dessa forma pusilânime ele fez com que os trabalhos de apuração se alon
gassem por seis meses e obtivessem resultados acanhados. Acanhados e frustrantes
para o cidadão que queria ver os fatos emergirem com clareza. Isso, porém, não aconte
ceu.
Esta é uma nódoa com a qual o prefeito e todos os membros desta CPI teremos
que conviver. Em grande medida, esta CPI foi derrotada. Venceram os ardis do pre
feito contra a falta de recurso, a inexperiência e a cega obediência à lei observada p
elos membros desta Comissão.
Fosse o prefeito Haroldo inocente, ele teria interesse em colaborar para
tudo fosse esclarecido rapidamente. Não o fez.
Fossem os direitos do prefeito Haroldo desrespeitados pela CPI, ele teri
a interesse em recorrer à Justiça para impor a Lei. Tampouco o fez.
Se o prefeito Haroldo se reconhecesse culpado, poderia se abrigar atrás do
silêncio que a Constituição lhe garante.
Mas o prefeito não tomou nenhum desses caminhos lícitos e transparentes. Invés
disso, preferiu fugir e esconder-se a cada vez que era procurado para receber i
ntimação. Sob a ótica de quem teme a luz e se esconde da verdade, deu resultado: a CPI
avançou claudicante e produz resultados capengas.
O prefeito conseguiu ludibriar a CPI.
O comportamento reprochável das testemunhas
Também comportaram-se de forma reprochável as testemunhas. Por todas, regist
ro o triste exemplo da Senhora Tereza Raquel de Carvalho Queiroz. Convidada a de
por, não compareceu. Duas vezes intimada, não compareceu. Buscada para condução coerciti
va, refugiou-se atrás de um atestado médico. Dessa forma, conseguiu atrasar a CPI du
rante meses. No final, não depôs.
Nesse caso verifica-se com maior clareza o apego aos meios artificiosos
para frustrar a CPI. É como um vício do qual a pessoa não consegue escapar, ainda que
desnecessário.
O art. 206 do Código de Processo Penal estabelece que todos são obrigados a
depor. Porém, os filhos não são obrigados a depor contra os pais.
Assim sendo, a Senhora Tereza Raquel tinha a obrigação de comparecer perante
a CPI, mas não tinha a obrigação de depor contra seu pai. Tampouco contra si mesma – pe
lo princípio constitucional de que ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesm
o.
Entretanto, invés de se refugiar na lei, preferiu afrontar a CPI com artifíc
ios indecorosos. Assim como o pai, ela também foi bem-sucedida em suas artimanhas
para manietar a CPI.
Indícios e provas constantes dos autos
Falso testemunho e improbidade administrativa
Verifico nos autos que as testemunhas Oranício Menezes e Alex Sander Ferre
ira mentiram com o propósito de ocultar pagamentos espúrios.
Diz o depoente José Elias Botelho Neto que no período de maio a julho de 200
9 ele foi formalmente afastado do seu cargo na prefeitura. Na prática, porém, contin
uou trabalhando e recebendo seu salário.
Esclarece que isso foi feito mediante tramoia proposta pelo prefeito Har
oldo Queiroz e implementada com a ajuda do funcionário Alex Sander Ferreira e do S
ecretário da Administração, Oranício Menezes.
De fato, José Elias explica que Alex Sander Ferreira foi nomeado para rece
ber um salário de R$ 1.700,00, cuja parte líquida deveria dividir na base de 50% com
José Elias.
O cálculo da parte líquida foi feito pelo Secretário de Administração, Oranício Men
zes. (fls. 106-108).
Em seu primeiro depoimento, Oranício Menezes negou ter feito tal cálculo ou
mesmo ter conhecimento desse arranjo (fl. 110).
Em segundo depoimento admitiu que fez os cálculos anotados no contracheque
(fl. 290). Alegou, porém, que o objetivo era saber quanto sobraria do salário de Al
ex Sander para fins de empréstimo a “Fofão” (José Elias).
Assim, quanto aos fatos não há mais dúvida. A dúvida que persiste é quanto à interp
etação. Elias afirma que foi a partilha dos vencimentos, na forma determinada pelo p
refeito Haroldo Queiroz. Já Oranício – no segundo depoimento – afirma que era para fins
de empréstimo.
Nesse sentido, os depoimentos (fls. 106-108, fl. 109-110; 126-127; 192-1
95; 196) deixam indícios suficientes da ocorrência de improbidade administrativa e f
also testemunho.
Por si só, tais indícios recomendam o encaminhamento dos autos ao Ministério Púb
lico para que – se assim entender cabível – prossiga na apuração dos ilícitos.
Crime de concussão
O depoimento do Senhor Ernane a respeito do pagamento de valores mensais
à filha do Prefeito, Tereza Raquel é revelador. O vídeo apresentado, embora cheio de
falhas, traz elementos importantes que são corroboradas pelos saques mensais efetu
ados por Ernane na Caixa Econômica Federal.
Também laboram no mesmo sentido os depoimentos de Acir Parreiras que afirm
a que o prefeito emprestava dinheiro a Ernane; que em duas ocasiões o acompanhou à C
aixa Econômica onde Ernane teria sacado um cheque de R$ 2.000,00 (abril/2009) e ou
tro de R$ 1.500,00 (setembro/2009), ambos os cheques emitidos pelo prefeito a fa
vor de Ernane (fl. 124).
Nessa passagem, o depoimento de Acir Parreiras dá plausibilidade às alegações de
Ernane de que este regularmente fazia saques para atender às necessidades do pref
eito.
Ademais, Acir Parreiras fabrica uma justificativa para explicar o dinhei
ro que Ernane repassou a Tereza Raquel. Se a tese do empréstimo pudesse prevalecer
, então o dinheiro entregue por Ernane seria mera “devolução” de dinheiro emprestado.
Essa é uma farsa engendrada por Acir Parreiras.
Esse assunto merece aprofundamento. Principalmente porque tanto José Elias
quanto Ernane afirmaram ter feito saques em dinheiro a favor do prefeito. Não ape
nas de sua própria conta, na Caixa Econômica Federal, mas também na conta de terceiros
, especialmente do seu irmão Ronaldo Queiroz e de sua empresa.
Saques de dinheiro
A propósito de saques de cheques de terceiros ou próprios do prefeito, bem c
omo do uso de cheques de empresas para pagar a compra de veículo da família, José Elia
s Botelho narrou algumas ocorrências com muita firmeza.
Afirmou, por exemplo, que no período que trabalhou na prefeitura foi várias
vezes ao banco depositar e sacar dinheiro, sendo aproximadamente 2 vezes por sem
ana; Que o serviço bancário incluía saque em dinheiro; que pode informar que pelo Banc
o do Brasil sacou cheque no valor de R$ 4.990,00 que pegou o cheque com o irmão do
prefeito, Ronaldo de Souza Queiroz; que alguns cheques já vinham endossados; que
chegou a endossar cheques cujos valores eram em torno de R$ 5.000,00; que já fez p
agamentos maiores que este valor, que em certa oportunidade fez pagamento de bol
eto no valor de R$ 47.000,00 aproximadamente em nome de Bruno Marques Pereira ou
Ferreira a favor da Fiat automóveis; Que para pagar esta boleta pegou o cheque co
m o Sr. José Guilherme emitido pela empresa Cofermapa, sendo paga na Credibom da A
venida das Palmeiras.
Porém, por falta de tempo e também por falta de poder, a CPI, não avançou nas in
vestigações referentes a esses indícios de mau uso de dinheiro público e recebimento de
propina na forma de pagamento de um carro adquirido para a família.
Conclusão
Se no julgamento a dúvida se resolve sempre a favor do réu, na investigação a dúvi
da se resolve sempre a favor da Sociedade e da Administração Pública. No presente caso
, há dúvidas suficientes que recomendam o aprofundamento nas apurações. Quanto aos crime
s de responsabilidade, por uma Comissão Processante a ser criada por determinação do P
lenário. Quanto aos demais crimes, por ordem do Ministério Público, se assim entender
cabível.
Nos presentes autos há indícios convergentes que indicam a ocorrência dos segu
intes fatos passíveis de capitulação como crime de concussão, improbidade administrativa
condescendência criminosa e corrupção passiva, entre outros:
a) concussão, caracterizado pelo repasse de parte dos vencimentos de Ernane de Oli
veira em benefício de Tereza Raquel, filha do prefeito. A exigência teria partido do
prefeito, por intermédio de sua mulher e Secretária de Ação Social, Maria da Conceição Car
alho de Queiroz, com o conhecimento do Secretário da Administração, Oranício Menezes;
b) corrupção passiva, caracterizada pelo pagamento de um dos carros da família do pref
eito Haroldo Queiroz, com cheque da empresa Cofermapa;
c) improbidade administrativa, caracterizada pela nomeação de Alex Sander Ferreira,
condicionada à exigência de que entregasse metade dos seus vencimentos líquidos a José E
lias Botelho. Esse crime teria sido cometido com o conhecimento do Secretário da A
dministração que cuidou de calcular quanto cabia a cada uma das partes beneficiadas.

A impossibilidade de realizar outras averiguações


Devido à exiguidade de tempo, falta de recursos da Câmara Municipal e princi
palmente pelo sistemático atraso proporcionado pelas fugas empreendidas pelo prefe
ito para não ser intimado dos atos da CPI, esta Comissão viu-se impossibilitada de a
purar os demais fatos que a motivaram, em especial o desvio de recursos para a c
onstrução do prédio que o prefeito construiu em parte com recursos desviados da canali
zação do Córrego dos Machados.
Assim, cumpre a essa Câmara ou continuar na investigação desses fatos, usando
dos meios de que possa se valer, ou encaminhar aos órgãos competentes para se aprofu
ndarem conforme acharem necessário.
Voto
Não podemos nos afastar do princípio da presunção da inocência. Não podemos nos afa
tar de nenhuma das garantias constitucionais que protegem a pessoa contra a ação ind
evida do Estado. Mas também não podemos abrir mão da proteção da Sociedade e do próprio Est
do que só existe para defendê-la.
No presente caso entendo que há indícios suficientes de diversos crimes come
tidos pelo prefeito Haroldo de Souza Queiroz, sua mulher e Secretária Municipal de
Ação Social e Comunitária, Maria da Conceição de Carvalho Queiroz, com a participação do S
etário da Administração, Oranício Menezes e do funcionário Alex Sander Ferreira.
Assim, com o devido respeito pela proposta do relator que vota pelo arqu
ivamento do feito, eu voto diferente. Proponho que o Plenário da Câmara determine:
a) o encaminhamento de uma cópia destes autos ao representante do Ministério Público p
ara que tome as medidas que entender cabíveis no que concerne aos indícios dos crime
s de improbidade administrativa, concussão e corrupção passiva perpetrados pelo prefei
to Haroldo de Souza Queiroz, sua mulher e Secretária Municipal de Ação Social e Comuni
tária, Maria da Conceição de Carvalho Queiroz, Secretário da Administração, Oranício Meneze
funcionário Alex Sander Ferreira;
b) a constituição de uma comissão de investigação e processante, na forma dos artigos 281;
81, II; e 74, IV e seguintes, todos do Regimento Interno da Câmara Municipal, co
mbinados com art. 4o do Decreto-Lei no 201, de 27 de fevereiro de 1967.
É como voto.

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