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Reflexo

O passado cobra seu preço.

Adriana Arebas
Copyright © 2015 Adriana Arebas

Capa: Evy Maciel


Revisão: Valéria Avelar
Diagramação Digital: Adriana Arebas.

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as


pessoas. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua


Portuguesa.

Todos os direitos reservados.


São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de
qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios —
tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da
autora.

Criado no Brasil.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido
na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código
Penal.
Capítulo 1

S abe aquela sensação estranha, que às vezes


sentimos quando chegamos em um determinado lugar?
Aquele sentimento de que você sabe que, não deve entrar
pela porta que está a sua frente? Esse sentimento é o que
exatamente estou sentindo agora. A linda porta giratória da
mais renomada empresa de arquitetura de MIAMI BEACH.
Blake’s Goldberg Arquitetura, está a minha frente. Não
consigo mover meus pés, eu não tenho o comando do meu
corpo, meu coração bate tão forte que estou com medo de
desmaiar.
Deixei meu modesto carro na garagem e vim para a
frente do ostentoso prédio, familiarizar com o lugar
sempre me fez bem, me deixa segura, mas não hoje. Tento
controlar minha respiração, e transmitir para meu corpo
que vai ficar tudo bem, por alguns segundos eu acho que
consigo, mas não dura muito essa segurança e logo volto a
tremer da cabeça ao dedinho do pé. Estou aqui para uma
entrevista de trabalho, eu tenho experiências anteriores, fui
vendedora em uma loja no shopping, garçonete em um
restaurante e recepcionista em uma clínica de estética.
Esses três empregos me ajudaram muito a chegar onde
estou, formada em arquitetura pela The University of
Texas, em Austin. É uma universidade pública, porém
meus pais não obtinham as devidas condições de me
manter em outra cidade, com aluguel, vestimentas e
alimentação. Eles também tinham que manter meu irmão
gêmeo, Alex, na faculdade de informática. Então eu
trabalhava para ajudá-los no que fosse preciso. Mas a
entrevista de trabalho a qual me candidatei e vai acontecer
em poucos minutos, é para o cargo de secretária do Sr.
Blake.
Na empresa Blake’s, ninguém começa trabalhando no
que realmente sonha em fazer, o Sr. Blake não permite que
se comece do topo, tem que passar por cada setor da
empresa, para depois apresentar seus projetos e ideias. E
assim, o seu nome hoje é o mais requisitado dos EUA e
estampados nas mais conceituadas revistas de arquitetura
do mundo.
Quer dizer, o fundador da Blake’s é o pai do meu
possível futuro empregador. Trabalhando aqui se aprende
desde engatinhar, andar e só então, crescer. Eu gostaria de
passar por esse desafio, mais alguma coisa me alerta que
se eu entrar nesta empresa, eu não vou mais de sair.
Respiro puxando forte o ar e solto devagar, três vezes e
isso me acalma um pouco. E então, eu decido enfrentar o
medo que me impede de entrar. Dou cinco passos à frente
e entro pela porta giratória, perco o ar com o que vejo, a
recepção é incrível, o design é perfeito. Olho para o lobby
e fico admirada por essas ideias brilhantes de decoração,
tudo é muito limpo e claro, a minha frente o balcão da
recepção com letras em aço, o nome da empresa. A linda
jovem recepcionista sorri para mim, ela sabe que estou
extasiada com a beleza do lugar.
— Bom dia, em que posso ajudar? ― Perguntou
sorrindo.
— Bom dia, estou aqui para entrevista com o Sr.
Goldberg. — Cada vez que pronuncio seu nome, sinto que
preciso correr para longe. Nas revistas de arquitetura há
muitas fotos de seu pai Clovis, mas não do Sr. Blake
Goldberg. Para um homem tão famoso, no mínimo estranho
isso.
— Sim, ele ainda não chegou. Mas você pode subir e
aguardar na recepção de seu escritório. Assim que ele
chegar, eu aviso que você o espera. — Disse ela. — Você
trouxe seu currículo? — Perguntou.
— Sim, está tudo aqui. — Quando ia pegar para lhe
entregar, ela me interrompeu.
— Não é necessário me mostrar, você vai entregá-lo
para o Sr. Goldberg, ele é quem vai avaliar pessoalmente.
— Tudo bem, obrigada.
—Vou pedir para a estagiaria, Srta. Alessandra — ela
apontou na direção do elevador — acompanha-la até o
último andar, lá fica o escritório e onde você
provavelmente vai trabalhar, se for aprovada. — Disse.
— Obrigada. — Agradeci e andei em direção ao
elevador, onde já estava uma outra linda jovem, mantendo
a porta aberta para mim. Olhei para a porta de saída mais
uma vez, e me detive na vontade de sair correndo.
— Obrigada. — Sorri para a Srta. Ela me acompanhou
em silêncio, eu agradeci por isso, estou nervosa demais
para conversar aleatórias. No vigésimo segundo andar o
elevador parou, e quando as portas se abriram, mais uma
vez o meu queixo caiu. “Se o escritório é assim, imagine
a casa dele?” Pensei. Um confortável sofá branco em
formato L fica à direita, uma mesa a esquerda, cortinas
brancas com detalhes em preto cobriam toda a grande
janela de vidro. E o que me chamou a atenção, foi o
escritório do Sr. Goldberg. Na porta, também em aço
contém o seu nome desenhado lindamente com designer
forte, as paredes são de vidros para a recepção, isso
significa que ele vê tudo o que acontece aqui. Tem uma
grande janela à direita da sala, também vejo uma escada
espiral próximo a uma porta que penso ser o banheiro,
olho até onde a escada leva e vejo a porta no topo. “O que
será que dever ser?” pensei. Observo que é tudo
impecavelmente limpo.
A Srta. se despede e sai, me deixando sozinha. “Isso
também é estranho” pensei. Sento-me no sofá e espero,
olho no relógio e são 8h30min da manhã, a entrevista foi
marcada para às 09h pela antiga secretária. Para me
ocupar durante o tempo que precisaria esperar para a
entrevista, pego meu telefone e releio algumas pesquisas
que fiz afim de me preparar. Leio atentamente as
informações que constam nos arquivos dos projetos
concluídos no site, e também pela primeira vez, uma foto
do Sr. Goldberg ainda muito jovem, mas já se percebe de
que se trata de um homem bonito. Fico olhando o site da
empresa e pouco tempo depois eu vejo de soslaio uma
pessoa ao meu lado, olho assustada por não ter ouvido os
passos chegando, era melhor não ter olhado. “OMG, que
homem é esse?” Pensei. Dou graças a Deus por ainda não
terem inventado um leitor de pensamentos, os meus estão
fervendo agora. Eu não consegui parar de olhar em seus
olhos mais azuis do mundo. Fiz uma análise rápida e
deduzi que jamais tinha visto homem mais lindo. Loiro,
com belíssimos olhos azuis, alto, forte, nariz reto, lábios
lindamente desenhados. Perfeito. E mais velho do que eu
pensei, não sabia precisar a idade, mas estava na casa dos
trinta e oito anos ou mais. Ele me olha por um tempo
consideravelmente atormentador. Seus olhos não deixam
os meus. Ele não pisca. Ele não se mexe, apenas me
observa atentamente. Levanto-me e tento manter minhas
pernas firmes, mas ele não desvia olhar, e o que sinto é tão
intenso, que tenho a certeza que não seja nada menos do
que o medo.
Ele me deixou com medo.
— Bom dia, Sr. Goldberg. — Estendi a mão um pouco
trêmula. — Me chamo Grace Montgery.
— Bom dia. — Seco e ríspido. Sua voz é tão grossa
que penetra nos meus tímpanos rasgando para entrar. —
Me acompanhe. — Disse. Ele deu passos lentos, as pernas
compridas e as costas largas deu ao seu caminhar um
charme incrível, é mais como flutuar do que andar de tanta
leveza. Mas o medo não saiu do meu coração. Eu o
acompanhei e entramos em sua sala, o cheiro de perfume
amadeirado e de macho invadiu o espaço fechado, fiquei
um pouco zonza com a intensidade de sua presença,
respirei fundo para controlar tudo o que eu estava
sentindo. Uma mistura de medo com paz, mas o medo que
eu senti dele, foi mais forte que a paz.
— Sente-se. — disse. Ele sentou-se na poltrona do
outro lado da mesa. Sentei na cadeira confortável e dei
graças a Deus por não ter caído no trajeto da porta até
aqui. Ele não me olhou mais, que foi um alívio
momentâneo, fiquei alguns minutos o esperando desocupar
do que estava fazendo no computador. Pensei se devia
falar alguma coisa, mesmo se eu quisesse não poderia, a
minha voz não saiu, estava presa no fundo da minha
garganta.
— Trouxe referências? — Perguntou muito sério depois
de algum tempo. Não expressou nada em sua fisionomia.
Peguei todas as minhas referências e currículo de dentro
da minha bolsa e coloquei em cima da mesa.
— Sim, senhor.
— Me chame de Blake. — Disse me interrompendo.
Por um momento, fico olhando cada movimento que ele faz
com as mãos, parece uma dança de balé velada,
graciosamente os movimentos me encantam. Parei de
observar assim que fui surpreendida por ele pigarreando
para chamar a minha atenção, acho que percebeu a minha
indiscrição que tentei deixar escondida, mas pelo visto,
não sou boa em disfarces. Leu todos os papéis e falou.
— Formada em arquitetura? — Me olhou inquisitivo.
— Sim, me formei há um ano. — Disse.
— Foi rápido.
— É, me dediquei bastante para isso. — Sr. Blake não
é de muitas palavras, e deixa transparecer que também não
gosta muito de ouvir.
— Está contratada, verifique com o RH o que será
necessário para sua admissão. — Ele disse. — Falou me
entregando os papéis e voltando a atenção para o
computador. Entendi que aquele era o momento de me
retirar dali. A entrevista foi rápida, não fez perguntas, não
quis saber nada, isso me pareceu muito estranho.
— Obrigada, Sr. Blake. — Agradeci e sai da sala
sentindo o olhar dele nas minhas costas. Assim que fechei
a porta atrás de mim, eu respirei. É impossível respirar
perto dele, ele consome todo o ar, deixando somente
vestígios para a sobrevivência humana. No tempo em que
permaneci na sala, ele não olhou diretamente nos meus
olhos. Me senti desprezada, chegando a cogitar a
possibilidade de ter sido contratada, por não por minhas
qualidades, mas por não haver muitas opções para ele
escolher. Passei no RH e assinei todos os papéis
necessários, isso levou mais uma hora do meu tempo.
Quando saí do prédio com meu contrato nas minhas mãos,
eu consegui respirar melhor. Esse lugar sugou minhas
forças, mas agora eu não tenho mais escolha, já estava
feito. Às 11h45 min da manhã eu já estava liberada para o
resto do meu dia, resolvi passar em algumas lojas e
comprar roupas adequadas para o meu novo ambiente de
trabalho, andei um pouco pelas ruas movimentadas de
Miami, com a mesma sensação da qual eu saí do escritório
Blake’s, sentindo seus olhos nas minhas costas. Fiquei com
esse sentimento por mais algum tempo, e então, resolvi
olhar em volta e me certificar de que não estava
acontecendo nada, eu não deveria me preocupar. Mas isso
só piorou a sensação. O sentimento não foi embora, ficou
mais forte, quase palpável, estou sendo observada, mas
não sei quem o faz, não sei onde está. A cada passo que
dou sinto um arrepio que começa da minha nuca e passa
por toda a minha coluna em alerta, eu olhei mais uma vez
ao meu redor, mas não avistei ninguém. Segui andando
pelas ruas e entrei em algumas lojas, decidi deixar o
consumismo falar mais alto. Comprei tudo o que era
preciso e fui para casa.
Coloquei as sacolas no banco de trás do meu carro e
segui pelas ruas de Miami. Moro em Downtown, meu
apartamento não é grande, mas esse é o meu espaço, minha
casa é decorada com peças não muito caras, mas de
extremo bom gosto. Eu a decorei, vale lembrar que sou
ótima nisso. Cheguei e coloquei as compras em um sofá e
cai deitada no outro, eu não fiz nada fora do meu costume
diário, mas estava muito cansada, como se eu tivesse
trabalhado o dia todo sob muita pressão. Descansei por
alguns minutos e em seguida, fui para meu quarto,
organizar as roupas que comprei no closet. Depois tomei
um banho longo e relaxante, tirando todo o peso que senti
desde o momento que entrei no subsolo da Blake’s.
Termino e visto um pijama fresquinho. Saí do quarto e tive
lembranças boas ao me deparar com as coisas que vi,
decorei minha casa com pequenos detalhes que me
remetem a minha infância com meu irmão, sinto saudades
da casa dos meus pais no Texas, lá sim é um verdadeiro
lar. Nas paredes do corredor observo as fotos que
coloquei em um quadro mosaico, meu irmão é um homem
lindo, nossos olhos são idênticos na cor e com um só
detalhe para diferenciar, ele tem uma pequenina pinta preta
dentro do olho esquerdo, as fotos de nossa família
espalhadas nas paredes, me faz ter a sensação de paz que
só encontro quando estou com todos eles. Alex é muito
carinhoso, não passa um segundo perto de mim sem me
tocar, sem conversar comigo, meu irmão é o meu melhor
amigo. Com esse sentimento bom de nostalgia que me
atinge todas as noites, eu vou para a cozinha e ligo a TV
quando passo pela sala, gosto de ouvir as notícias
enquanto estou cozinhando. Na geladeira, peguei tudo para
fazer um sanduiche, não tomei café da manhã, eu estava
muito nervosa para isso. Enquanto me delicio com a minha
primeira refeição do dia, lembro-me dos intensos olhos
azuis do Sr. Goldberg. Ele não sorriu, não foi simpático e
não demonstrou interesse algum em saber sobre mim. Por
um lado, foi bom, todos os trabalhos que tive sempre fui
muito assediada. Eles me chamavam de linda, querendo
me tocar nos braços ou mãos, me convidavam para jantar
sempre deixando claro o que seria a sobremesa. Blake
não, ele não me olhou tirando minhas roupas, ele não olhou
para meu corpo, ele só olhou para meus olhos. Diferente
de mim, que o devorei pelas costas. Terminei de me
alimentar ainda pensando nele. Na sala, me acomodei no
sofá para assistir os seriados que passam à tarde, não
demorou muito e senti meu corpo leve, adormeci deixando
o sono me vencer deliciosamente.
O barulho da buzina lá de fora me acordou, fiquei de
olhos fechados, mas logo sou despertada pela briga de
trânsito. As vozes se elevam e entram pela porta aberta da
minha sacada, abri os meus olhos e vi que já era noite
“Droga, dormi a tarde inteira” pensei. A brisa entra de
leve trazendo o ar fresco da noite, a única iluminação é a
televisão que ainda estava ligada. A briga chegou ao fim e
eu me levantei, andei até a cozinha e coloquei gelo em um
copo e depois água com gás. Me aproximei da sacada e fui
até a mureta de proteção, para se sentir o vento fresco da
noite. Beberiquei a água e fiquei olhando as pessoas
passarem e conversarem na rua, não demorou muito, eu
senti a sensação ruim outra vez, a de que estava sendo
observada. Olhei para a frente e não vi nada, em volta e
não vi nada fora do normal, mas quando olhei um pouco
mais distante, havia um carro de luxo estacionado. Pude
notar a silhueta de uma pessoa dentro do carro, apesar da
janela estar aberta, eu não consegui ver o seu rosto, a
posição em que a cabeça estava era proposital para
impedir a minha visão e um provável reconhecimento. Mas
estava olhando diretamente para mim, mesmo em meio a
sombras eu tive certeza. Observo melhor e com um esforço
sobre-humano ao olhar para a escuridão que está dentro do
carro, com um pequeno movimento que deu, eu pude ver
que era um homem. Minhas pernas ficaram trêmulas e
segurei na parede para não cair, tentei disfarçar o máximo
e saí de seu campo de visão. Voltei para dentro do
apartamento fechando a porta. Puxo bravamente na minha
memória, se vi algum carro parecido, mas não consigo me
lembrar de nada, porém, o medo que sinto é o mesmo. Vou
para o quarto e tento me distrair com um livro, mas meu
pensamento está preso a lembrança do carro estacionado
lá fora. O cansaço me toma mais uma vez, e eu adormeci.
O dia vem com uma manhã linda e o sol sorrindo para a
cidade de Miami, levanto e estico meu corpo para deixar a
preguiça da noite ir embora. Tomo meu banho e vou até
meu minúsculo closet, pego um vestido vermelho e visto
contando os minutos para não passar rápido demais,
aquela sensação que não me deixou tranquila desde o
momento em que eu entrei na Blake’s continua aqui, acho
que porque vou sentir a pressão que é estar no mesmo
ambiente que o Sr. Goldberg o dia todo. Fico em estado de
ansiedade pelo meu novo trabalho, e também pela
expectativa de fazer tudo corretamente. Vou fazer o
possível para mostrar, que não sirvo para ser só a sua
secretária e sim, uma arquiteta renomada na sua empresa.
Não entendi o porquê seus funcionários não começam por
seus cargos normais, porém não vou discutir sobre isso,
ele deve ter uma boa razão. Faço uma maquiagem leve e
pego tudo o que é necessário para sair e vou com o
estômago gelado para o meu carro. As ruas de Miami são
sempre bem movimentadas, turistas seminus indo e vindo
por todos os lados, louras intermináveis com seu cabelo
de apliques caros, eu consigo identificar o cabelo
verdadeiro do falso.
Cheguei na Blake’s e comecei a tremer quando entrei no
estacionamento privado para funcionários, parei meu carro
em uma vaga e encostei minha cabeça no volante, fechei
meus olhos e respirei um pouco mais devagar durante
alguns segundos. Fico mais calma e saio do carro
acionando o alarme e vou direto para o elevador, digito o
número 22 para ir até o último andar pedindo aos céus
para não chegar muito rápido, mas isso não acontece, em
poucos minutos eu chego no andar que será meu tormento o
dia todo. O meu corpo arrepia quando as portas do
elevador se abrem, coloco o pé direito à frente e saio
fazendo meu subconsciente entender de como é dar um
passo na frente do outro e não cair.
A sala do Sr. Blake está escura, ele ainda não chegou e
dou graças a Deus por isso. Aperto os interruptores de
luzes da recepção, e tudo ganha uma claridade perfeita, me
acomodo na cadeira onde vou passar a maior parto do meu
dia, pego a agenda para verificar os compromissos dele e
vejo que há duas reuniões marcadas para hoje. Verifico
tudo o que está anotado e começo a trabalhar no
computador. Alguns minutos depois eu sinto minha nuca
arrepiar e meu coração acelerar os batimentos, tento
convencer minha mente de que tudo vai ficar bem, mas o
medo não passa. Faço tudo o que está agendado, me
distraio e não percebo o tempo passar, quando olho para o
relógio na tela do computador e vejo as horas nem me dei
conta de que passou tão rápido. Só não passou a angústia
em meu coração. Termino de fazer as planilhas e anotações
dos projetos para a reunião e coloco para imprimir tudo,
levanto-me e quando eu vou em direção à mesa onde fica a
impressora, o que vejo me faz cair sentada no sofá quase
desmaiada. Lutei muito para me manter consciente por
causa do susto. Ele, o Sr. Goldberg, não fez qualquer
movimento, não sei a quanto tempo ele estava parado em
pé completamente imóvel com as mãos nos bolsos,
próximo ao vidro da sala dele, com as luzes apagadas e
olhando para mim. “Por onde esse homem entrou?”
Pensei. Eu olho outra vez para ele, e ele continua me
olhando através do vidro, o que destaca pela claridade das
luzes da recepção são seus olhos azuis, ele não desvia o
olhar, não sorri, não diz nada. Levanto-me novamente, e
ele sai de perto do vidro desaparecendo na escuridão de
sua sala, vejo as luzes se acenderem momentos depois e
devagar, ele senta na cadeira tranquilamente, como se não
tivesse feito nada de estranho. Respiro fundo e vou até a
impressora pegar os papéis para a reunião quando ouço o
telefone tocar, olho para ele e o vejo com o telefone no
ouvido, eu atendo imediatamente.
— Bom dia, senhor. — Minha voz quase não saiu.
— Entre, por favor. — Desligou. Ele se quer respondeu
o bom dia. Peguei a agenda e fui para a sala dele, abri a
porta e entrei. Respirei um pouco mais fundo sentindo o
cheiro de banho tomado e perfume. “Será que ele dormiu
aqui?”.
Me aproximo de sua mesa e ele faz um gesto para que
eu me sente na cadeira a sua frente. Ele liga o computador
sem falar nada e sem manter contato visual comigo. Eu o
espero fazer o que quer que seja, e então, ele olha para
mim.
— Você chegou no horário certo. — Disse, afirmando
isso.
— Também não gosto de atrasos, Sr. Goldberg —
Falei, mas me arrependi pelo olhar que me deu. “Eu não
fui grosseira, fui?” pensei.
— Me passe tudo o que está agendado para hoje. —
Curto e objetivo, sem mais delongas. Falou, realmente me
dando uma ordem, o tom de voz deixou claro isso.
— O Sr. tem duas reuniões hoje. Uma às 11h e a outra
as 16h. Todas para verificar projetos e contratos. Aqui
estão os papéis que precisa. — Peguei os papéis e quando
ia entregá-los, nossos olhos se encontraram. Quer dizer,
ele já estava olhando para mim. Ele é muito sério, mas o
que me incomoda é a intensidade de seu olhar. Ao mesmo
tempo que é bom, me causa muito medo.
— Obrigado, pode ir. — Ele me dispensou secamente.
É impressionante como ele é sério. Voltei para minha mesa
e fiz as outras coisas que faltava. Ele não me chamou mais,
eu só percebi que já era 11h, quando ele saiu da sala e
falou comigo.
— Já estou de saída. Vou precisar de você a tarde para
me acompanhar na próxima reunião. — Deu a ordem e saiu
entrando no corredor à direita. Eu ainda não tive tempo de
conhecer o lugar, e lá com certeza deve ser onde
acontecem as reuniões mais importantes. Ao meio-dia, eu
saí para almoçar, fui a um restaurante próximo a Blake’s e
falei com meu irmão enquanto devorava uma salada de
quinoa com peixe grelhado. Contei como estava me saindo
no novo trabalho, mas não disse nada sobre o “Sr.
estranho Blake”. Meu irmão é muito ciumento e protetor, a
noiva dele passa poucas e boas tendo que responder suas
chamadas a cada vinte ou trinta minutos, ele também não
permite que ela ande sozinha para nenhum lugar, tudo dela
é monitorado por ele. Alex hoje é um homem com uma
situação financeira maravilhosa. Ele ficou com raiva por
eu não alugar um apartamento maior, disse que sua
próxima aquisição será um belíssimo apartamento em meu
nome. Alex entrou para faculdade de informática, mas se
destacou fazendo projetos e mandando para as
multinacionais, trancou a faculdade por motivos de muito
trabalho, no qual ele ganha uma quantia considerável para
ficar em seu escritório desenvolvendo aplicativos para
telefone e vários outros projetos exigidos por empresas de
grande porte em informática. Mesmo com o ciúmes e
rastreamento do telefone de sua noiva, Alex é o melhor
homem do mundo.
Voltei para a Blake’s e não tive notícias do meu chefe
até às 15h30min. Exatamente esse horário, ele saiu do
elevador. Cada vez que eu olho para o Sr. Goldberg, meu
corpo responde de maneira inexplicável, não existe outra
palavra para isso, somente medo. Ele me olha intenso,
como se eu fosse uma posse. Ele não sorri, ele não
expressa emoção. Ele aproxima-se e a sua voz penetra em
meus ouvidos.
— Está pronta?
— Sim, senhor.
— Vamos, por favor. — O Sr. Goldberg não é um
homem comum, talvez por eu ser nova na empresa, mas ele
age como se não precisasse se comunicar com o mundo.
Ele esperou eu pegar minhas coisas para possíveis
anotações, e seguimos lado a lado para a sala de reunião.
O lugar era ainda maior do que eu pensava, vários
empreendimentos, pessoas passando apressadas de um
lado para o outro. Da minha mesa eu não tinha a dimensão
de tudo o que acontecia aqui. Passamos pela agitação e
ninguém ousou a dizer um simples boa tarde para ele.
Chegamos a uma grande sala, onde na porta estava escrito
“Blake’s Reuniões”. Tudo do senhor Goldberg é
detalhado, realmente trabalhar com ele não era fácil.
Entramos e observei as confortáveis cadeiras da grande
mesa oval, com quatro homens e uma mulher a nossa
espera. Linda mulher, tenho que admitir. Ele andou até, ao
que parecia ser sua cadeira, e sentou sem dizer uma
palavra. Mas a minha boa educação não me permitiu fazer
o mesmo.
— Boa tarde, senhores. — Eu disse, e me arrependi.
Eles me olharam como se eu tivesse cometido o pior erro
dentro dessa empresa. Mas responderam por educação.
— Boa tarde, Srta....
— Montgery, Grace Montgery. — Eu os cumprimentei,
mas a bela mulher foi indiferente. Sentei na cadeira que
estava reservada para mim, ao lado do Sr. Goldberg, e a
voz de William, que se apresentou como diretor de
projetos, invadiu a sala.
— Não sabia que estava com uma secretária tão linda,
Blake. Acho que preciso visitá-lo em sua sala mais vezes.
— Eu fiquei como pimentão de vergonha. Olhei para o
William com a surpresa do que ele disse. Mas assim que o
Sr. Goldberg se levantou de sua cadeira, e foi em sua
direção, todos ficaram mais sérios do que já estavam, e eu,
eu fiquei em pânico. Ele foi até a cadeira de William,
abaixou o tronco na altura de seus olhos e disse.
— Nunca mais fale isso de novo. Jamais faça esse tipo
de elogio para ela outra vez, ou você vai saber como eu
lido com isso, e tenha a certeza que não vai gostar. —
Todos na sala ficaram em silêncio. Eu não tive reação
alguma ao ouvir a voz cortante do Sr. Goldberg. Frio, esse
é o homem que está à minha frente, encarando seu
funcionário por me fazer um elogio. William se mexeu
desconfortável na cadeira e disse.
— Desculpe-me, Sr. Blake, isso não irá mais acontecer.
— Goldberg levantou o corpo novamente e voltou para
sentar ao meu lado. Ele não me olhou, ninguém me olhou.
Eu entendi que a política da empresa é, não ter
relacionamentos amorosos entre funcionários. William
ficou sentado feito uma estátua, não ousou me olhar nem ao
menos de relance. Sei disso porque eu olhei para ele
várias vezes e percebi o seu desconforto com isso. A
última vez que olhei para William, ele ficou muito
nervoso, eu voltei minha concentração para os papéis do
projeto e me dei conta que o Sr. Goldberg estava me
encarando friamente. Nossos olhos se encontraram e eu
pude perceber a raiva neles. Desviei minha atenção para o
projeto e então, a reunião aconteceu sem mais imprevistos
estranhos.
A bela mulher, Anabelle, mostrou tudo o que estava nos
projetos de design, no qual era de desejo de seu
empregador. Blake falou poucas palavras, dizendo o que
aprovava e desaprovava. O que ele achou que devia ser
mudado, ele desenhou e passou-os para todos. Anabelle
foi a única que tentou chamar a atenção de Blake com
sorrisos e piadas sem graças. Isso porque ela não é uma
funcionária, e sim uma contratada para somente
acompanhar o trabalho da Blake’s Arquitetura. Ele estava
irritado com o assédio barato, mas se manteve
profissional, eu pude notar isso. A reunião acabou e os
primeiros a saírem da sala foram os quatro homens,
Anabelle me olhou como quem gostaria muito que eu
saísse rápido. Blake ainda estava digitando um e-mail e
não percebeu nada, resolvi deixá-los à sós.
— Bem, eu terminei aqui. Vou para o escritório Sr.
Goldberg, deseja mais alguma coisa? — Perguntei. Ele
parou o que estava fazendo e olhou para mim.
— Eu não mandei você sair. — “Grosso” pensei. Ele
ficou me olhando, eu não me atrevi a dizer nada, nem um
pedido de desculpas. Anabelle não gostou muito, ficou na
sala tentando um assunto com ele até quando saímos os
três. Ela se despediu praticamente se jogando para dar um
beijo no rosto dele. Ele não se esquivou, mas não sentiu
um pingo de emoção pelo momento. Ela foi em direção ao
elevador, e nós para o outro lado do corredor em direção
ao seu reservado escritório. Ao chegar na minha mesa eu
deixei os papéis e saí, parei quando ouvi sua voz.
— Onde você vai? — Perguntou ríspido, eu me virei
para olhá-lo e disse.
— Ao toalete senhor.
— Venha na minha sala depois disso. — Ele disse e
entrou na sala de vidro, eu pude ver as costas largas e o
andar imponente. Anabelle não é a única mulher a cair nos
encantos de Blake, ele é um homem muito lindo, se não for
o mais lindo que já conheci. Vou ao banheiro e me refresco
passando um pouco de água na minha nuca e nos meus
pulsos, ficar com Blake na mesma sala causa calor e
acelera muito os batimentos, não só pela beleza dele, mas
por ele ser tão intenso e misterioso. Volto para minha mesa
e apanho a agenda se caso ele precisar saber de alguma
coisa. Bato na porta e entro na sala, o perfume dele invade
os meus sentidos, aproximo-me de sua mesa e nossos
olhos se encontram.
— Sente-se. — Disse ele. — Vai acontecer um evento
sábado à noite aqui na empresa. Temos um salão de festa
no térreo. — Ele disse, encostando na poltrona e fixando
os olhos nos meus. — Preciso que você venha para o
evento, isso é possível?
— Sim, eu não tenho nada marcado para sábado.
— Marcado com quem? — Perguntou. Achei estranho,
mas não disse nada.
— Com ninguém importante. Eu estarei lá. Posso saber
de que se trata o evento e que tipo de roupa devo usar? —
Blake não deixou de me olhar por um segundo. Essa forma
de agir me deixa desconcertada.
— É para começar um projeto. Sempre quando
assinamos um contrato, eu dou uma festa de boas-vindas
ao contratante. A roupa. — Pela primeira vez ele olha para
baixo do meu queixo. — Vestido longo, nada muito
extravagante com brilhos e paetês, que pareça uma festa de
carnaval de Veneza.
— Sim. — Ele voltou a me olhar nos olhos.
— Você pode ir para casa, já até passou do seu horário,
você não percebeu? — Perguntou.
— Não, eu realmente não me dei conta. Obrigada, tenha
uma boa noite, Sr. Goldberg. — Peguei minhas coisas e sai
da sala.
O fim de tarde estava lindo, o sol ainda se pondo me
fez fazer o caminho mais longo, senti a mesma sensação de
estar sendo observada. Olhei pelo retrovisor e senti meu
couro cabeludo arrepiar. O mesmo carro do outro dia
estava me seguindo. Tento manter a calma, mas assim que
o carro que estava trás do meu muda de faixa, eu pude ver
o carro preto de luxo. “É o mesmo, tenho certeza”.
Aumento a velocidade e modifiquei o meu trajeto entrando
em ruas diferentes, o que me fez constatar que eu estava
mesmo sendo seguida. Acelero mais rápido assim que viro
na rua onde moro, para entrar logo no meu edifício e
quando consigo, eu volto a respirar. Desligo o carro
sentindo minhas pernas baterem uma na outra e minhas
mãos molhadas de suor, saio e vou direto para o elevador
e quando as portas se fecham, uma lágrima escorre pelo
meu rosto.
Quando as portas do elevador se abriram, meus
sentidos quase se perdem com o perfume de Blake no
corredor. Mais uma vez eu senti minha nuca arrepiar e meu
corpo ficar mole, me apoiei na parede com medo de cair.
“Isso é impossível” pensei. Abro a porta do meu
apartamento e o perfume dele está aqui dentro também.
“Isso não pode ser real” Fecho a porta e ando com calma,
deixo minhas coisas em cima do sofá e vou para a cozinha,
está tudo normal como eu deixei, vou para o quarto, vejo
imediatamente que os quadros com fotos da minha família
no corredor, estão tortos. Eu tento deixar a impressão de
que alguém entrou aqui, bem longe de mim. Mas todas as
fotos que eu estou com Alex, não estão na mesma posição
de sempre. Não mexo em nada e deixo exatamente como
está, ando até o meu quarto e quando entro, mais uma vez
eu sinto o perfume dele. E o que é pior, minha cama que
pela manhã eu arrumei cuidadosamente, está com marcas
de que alguém deitou nela. Não tenho forças e me apoio da
porta do meu quarto. — Oh meu Deus, o que está
acontecendo? — Falo em voz alta. Olho em volta e tudo
está como deixei, me aproximo da cama para sentir o
cheiro. Minha pressão abaixa quando eu puxo a respiração
inalando o perfume de Blake. — Ele esteve aqui. Só tem
essa explicação. Blake esteve hoje em minha casa, mas
como? — Me pergunto. — A que horas? — Tento
descobrir em minhas lembranças. Ele passou uma boa
parte da primeira reunião longe de mim. E quando chegou,
foi pelo elevador e não pelo corredor de acesso às outras
salas. Sento-me na cama me sentindo um pouco zonza, olho
mais uma vez e não vejo nada de anormal. “Se ele esteve
aqui, ele queria que eu soubesse”. O perfume dele é
único, na verdade, eu nunca senti essa fragrância antes.
Mesmo assim isso é impossível, como ele entraria aqui?
Não tem as chaves, não sabe onde moro, não sabe nada. É
muita coincidência o perfume em meu apartamento ser o
mesmo que ele usa. O que vou fazer a partir de agora, é
observar Blake. Não posso imaginar outra pessoa ter
entrado na minha casa, se for, quem poderia ser? E como
entrou aqui? Resolvo tomar um banho para relaxar e entro
no box deixando o jato de água quente cair no meu corpo,
e sinto escorrer com a água o medo que a poucos minutos
estava em mim. Mas isso eu só consigo também, com as
lágrimas que escorrem junto com a água. Chorar é
libertador as vezes. Termino tudo e saio do box me
cobrindo com roupão branco, e vou para a cozinha fazer
algo para me alimentar. Tomo uma taça de vinho e como o
espaguete que aqueci no micro-ondas, tento não pensar
mais é impossível, me sirvo de mais vinho, e como uma
força maior que controla minha mente, tenho a infeliz ideia
de olhar lá fora, na esperança de ser tudo fruto da minha
imaginação. Abro a porta da sacada e minhas pernas ficam
bambas, sinto todo o sangue do meu corpo passar por
minhas veias, como se eu estivesse dormente e só sentido
o sangue correr dentro de mim. Olho para as ruas e não
vejo nada, mas quando olho para bem abaixo da minha
sacada, próximo a uma árvore, um homem em pé e com as
mãos no bolso. A camisa é branca, e calça escura, mas não
vejo seu rosto. Ele olha em minha direção, tudo o que eu
comi tenho vontade de colocar para fora, ele não se afasta
para se esconder, ele quer que eu o veja ali parado me
olhando. Meus nervos se afloram quando ele dá um passo
à frente, andando em direção ao carro preto que me seguiu.
Eu não consigo vê-lo porque ele está de capuz tampando a
cabeça e fazendo sombra em seu rosto. Também não
consigo dar um passo para trás e me afastar da sacada. Eu
o vejo entrar no carro, ligar os faróis, abaixar o vidro e
colocar a mão para fora, o que me faz cair no chão
realmente perdendo o controle do meu corpo, é quando
vejo ele acenar para mim com a mão. Eu sinto a dor na
minha bunda pela pancada no chão, não consigo segurar as
lágrimas que saem dos meus olhos. “Eu preciso ir à
polícia” pensei. Ouço acelerar o carro duas vezes e então,
ele vai embora.
— Meu Deus quem é esse homem? Agora eu sei que
alguém entrou em minha casa. — Praticamente grito para
mim mesma.
Respiro várias vezes para me acalmar, levanto-me
apoiada a parede e fecho a porta de vidro e depois as
cortinas. A taça que eu tinha na mão, também foi para o
chão, verifico as portas se realmente estão fechadas.
“Preciso colocar um alarme aqui, e amanhã falo com o
porteiro para ver pelas filmagens do prédio o que tenho
de informações” Pensei. Vou para meu quarto, e deito-me
na minha cama. O cheiro do perfume me assusta e me
acalma, eu durmo entre o medo e a paz.
Capítulo 2

A cordo com dores no corpo, a tensão que sofri


ontem me fez ficar toda dolorida. Levanto, e me preparo
para uma ducha gelada. Me arrumo para o trabalho, tomo
café da manhã e saio nas ruas cheias de gente andando de
um lado para o outro. “Essas pessoas não se cansam
nunca?” A maioria não dormiu, uma rotatividade de festas
regadas a bebidas, drogas e muito sexo, são intermináveis.
Sei disso porque tenho uma amiga aqui. Sim, tenho uma
amiga em Miami. Alice Lunieri não me dá notícias há duas
semanas, com certeza ainda está viajando para NY com
seus pais. Ela leva uma vida agitada e regada a festas,
sexo e dança, muita dança. Nada de drogas. Os momentos
interessantes que tenho ou os mais agitados, são
proporcionados por Alice. Ela é uma garota muito
espontânea com um jeito excêntrico de ser e que cativa
qualquer um a sua volta. Alice é uma boa amiga, mesmo
quando ela resolve me irritar, ainda assim, uma boa amiga
e estou com muita saudade de conversar com ela e ouvir o
que tem a dizer sobre meu chefe estranho Blake.
Chego na Blake’s e observo os carros, nada é
semelhante ao de ontem, ainda não sei qual é o carro dele,
mas estou curiosa. Já na minha mesa, faço tudo o que está
agendado, termino e vou ao banheiro, meu corpo está um
pouco agitado e preciso de água na nuca e no rosto para
acalmar os nervos. E assim que volto para minha mesa,
dessa vez, eu realmente desabo no chão. Ele está parado,
encostando a testa na parede de vidro da sala, olhando
para mim com o mais intenso azul de seus olhos. Bem-
vestido com seu cabelo alinhado sem um fio fora do lugar,
as mãos dentro dos bolsos da calça devidamente bem
passada. Blake não se move para me ajudar a levantar, ele
ficou me observando fazer isso sozinha. Não se preocupou
com minha saúde pelo susto que passei ao vê-lo feito um
psicopata observando a vítima que será assassinada por
suas mãos. Levanto-me, arrastando comigo minha
dignidade, apoio na mesa para não cair outra vez, e arrumo
minha saia que levantou um pouco mostrando minhas
pernas. Ele não faz nada. Olho para ele com vergonha e
com medo de seus olhos arregalados. Ele parece uma
pessoa perturbada, olhando justamente para me passar
medo, para me deixar insegura dos meus próprios passos.
E pela primeira vez tem uma reação, tira a testa do vidro e
vira-se para o lado, andando até a porta da sala, abre e sai
trazendo com ele o perfume que ficou grudado em meus
lençóis. Não tenho a menor dúvida agora, Blake esteve na
minha casa. Mas não posso dizer nada, não posso mostrar
para ele que sei disso. Ele não tira as mãos dos bolsos e
se aproxima andando sem a menor pressa. Para na minha
frente olhando nos meus olhos, eu não consegui desviar
desde o momento em que ele passou pela porta.
— Você se machucou? — A voz saiu como música
baixa e extremamente rouca.
— Não. Mas você me assustou. — Eu disse.
— Não tive a intenção.
— Ficar parado dentro de uma sala escura, encostado
com a testa no vidro e observando sua secretária chegar,
não é uma coisa muito normal. — Onde eu estou com a
cabeça ao falar assim?
— Eu já estava aqui quando você chegou, e quando foi
para o banheiro. Foi você quem não viu. Desculpe se te
assustei.
— Não se incomode com isso. Deseja alguma coisa?
— Seus olhos frios, aqueceu imediatamente.
— Não. — Ele falou, Blake se afasta e vai para sua
sala, apertou o interruptor acendendo todas as luzes
fazendo a claridade do lugar. Foi quando vi que a porta
que tem no topo da escada espiral estava aberta. “Ali deve
ser onde ele dorme, ou o banheiro” pensei. Minhas pernas
estavam pesadas para eu movê-las com rapidez, então fiz
tudo no tempo que meu corpo sentiu confortável, me
acomodei na cadeira e comecei a trabalhar. As horas
passaram e eu enviei vários e-mails direcionado a ele, fui
distraída de meus afazeres quando a porta do elevador
abriu e Anabelle adentrou a recepção, com o perfume doce
chegando primeiro em meu nariz. “Ela realmente quer
chamar a atenção do Sr. Blake”. O decote generoso no
vestido colocado a vácuo em seu corpo, não me deixa
mentir. Ela sorri largamente com os lábios vermelho
gritante e com brilho exagerado, e pede com arrogância.
— Bom dia é... Qual seu nome mesmo? — Disse em
deboche.
— Grace.
— Me anuncie, por favor, preciso falar com Blake.
— Vejo que não tem horário marcado. Sr. Goldberg não
costuma atender sem ser agendado antes, Srta.
— Querida, faça seu trabalho e fale que estou aqui. —
Ela disse sorrindo cínica. Eu fiz. Ele já tinha visto que ela
estava aqui, a sala de vidro dá para ele a visão total da
recepção. Peguei o telefone e liguei, atendeu não
esperando completar a chamada.
— Mande entrar. — Eu não disse uma palavra. Ele
desligou.
— Pode entrar, senhorita. — Falei.
— Obrigada, bom trabalho, fofa. — Ódio me define.
Superficial essa mulher. Ela entrou rebolando mais que
Beyonce e Shakira juntas. Não consegui tirar os olhos
deles, ele não sorriu no momento que ela entrou, não olhou
e não deixou a tela do computador. Respondeu tudo o que
ela perguntou sem ao menos dirigir um segundo de seu
olhar para ela. Leu tudo o que ela mostrou em papéis e
entregou, sem olhar. Mas isso acabou quando ela tocou sua
mão fazendo-o parar de escrever na folha em cima da
mesa. Ele não olhou, ele fuzilou com os olhos, mas ela é
muito burra ou cega para perceber o seu desagrado. O
telefone da minha mesa tocou e eu atendi rápido.
— Blake’s Arquitetura, em que posso ajudar?
— Bom dia, Grace, sou eu, William. O Blake está
ocupado? — Ele perguntou muito sem graça, a última
reunião deixou claro que meu chefe não o quer perto de
mim.
— Sim, está com Anabelle na sala.
— Tenho certeza que ele não está feliz por isso. —
Disse um pouco mais à vontade.
— E não está mesmo, vejo em seus olhos a vontade de
pular no pescoço dela. — Preciso mostrar para ele que
não tem problemas sermos amigos.
— Vamos ajudá-lo, passe a ligação por favor.
— Tudo bem, só um segundo. — Passei a ligação e
olhei para dentro da sala novamente, e constatei que meu
chefe não é normal. Ele está novamente parado próximo ao
vidro, me observando falar ao telefone com fisionomia
nada agradável. Anabelle está sentada virada
completamente para nós, olhando para o que estava
acontecendo. O telefone de sua mesa tocou e ele virou-se
para ir até atender. Assim que ouve a voz de William, ele
olha para mim e eu não gosto nada de como isso acontece.
Ele está com mais raiva do que quando Anabelle entrou
em sua sala. Eu desviei meus olhos para a tela do
computador e voltei a trabalhar, não demorou muito para
Anabelle e Blake saírem da sala.
— Tem certeza que não quer almoçar comigo, Blake. —
Ela fala um pouco pendurada em seus ombros como se
fosse íntima.
— Não posso, já tenho compromisso. — Ele a leva
para o elevador, certificando-se de que ela realmente vai
entrar nele e sumir.
— Que pena, tenho certeza que seu dia seria muito
melhor almoçando comigo. Eu sou uma boa distração. —
“Que mulher oferecida” pensei.
— Jamais me distraio Anabelle, tenha um bom dia. —
Ele mesmo aciona o botão para ela descer até a recepção
térrea, e volta olhando para mim. Assim que as portas se
fecham, ele pergunta.
— O que você conversou com ele? — Mentira, ele não
está me perguntando isso.
— Apenas passei a ligação, Sr. — Não vou fingir que
não sei do ele está falando.
— Eu exijo saber, Grace. — Não foi um pedido, e sim
uma exigência de um homem louco que quer saber o que eu
falo ao telefone.
— Ele perguntou se você estava ocupado. Eu disse que
estava com Anabelle. Ele disse que você não devia estar
feliz com isso. Eu disse que também achava o mesmo. Ele
disse para ajudá-lo passando a ligação. E eu fiz, passei e
você atendeu. Somente. — Seus olhos me dizem para não
esconder uma vírgula. Meu corpo treme e tento esconder
minhas mãos debaixo da mesa para ele não ver.
— Eu acredito em você. — Disse ele. E se meus olhos
não me enganam, vi um vestígio de sorriso contido em seus
lábios.
— Se a política da empresa proíbe relacionamentos
entre funcionários, não se preocupe com isso. Minha
intenção aqui é trabalhar e não arrumar um casamento. —
Meus nervos ultrapassaram a barreira da indiscrição. Não
sei de onde eu tirei coragem para falar isso, porque meu
corpo está derretendo de medo de seus olhos agora.
— Não, essa não é uma política da empresa. Essa é a
minha política para com você. Somente com você. — Ele
falou virando-se e entrou em sua sala. E eu não entendi o
que ele quis dizer, mas também não vou ousar a perguntar.
Passaram mais algumas horas e vi que já estava na hora de
meu almoço. O Sr. Blake que também já estava saindo
perguntou.
— Não vai almoçar?
— Já estou indo. — Respondi.
— Vamos descer juntos. — Mais essa agora. Ficar
dentro de um elevador com ele não é nada agradável.
Fiquei ao seu lado esperando o elevador chegar, ele
consome todo o oxigênio me deixando com dificuldade
para respirar. As portas se abrem e ele me dá espaço para
entrar primeiro, ele entrou e apertou para a recepção e
garagem, encostou na parede de metal olhando para baixo,
respirou fundo e falou.
— Você tem os pés mais lindos que já vi. — Olhei para
ele, olhei para meus pés na linda sandália vermelha,
minhas unhas estão sempre bem-feitas e devidamente
pintadas com esmaltes claros. Olhei para ele novamente e
disse.
— Obrigada. — Ouvimos o barulho das portas se
abrirem e falei.
— Tenha um bom almoço, senhor. — Ele não
respondeu. Quando saí do elevador, senti seus olhos em
mim. Vou para o restaurante almoço e rápido volto para o
escritório, passo o dia ocupada. Assim que deu o meu
horário de ir embora, o telefone tocou e eu senti que era
ele.
— Blake’s Arquitetura.
— Vá para casa, Grace. — Sua voz saiu rouca demais.
Talvez seja por causa do telefone.
— Eu já estou indo Sr.
— Me chame de Blake. — Pausou e respirou
parecendo cansado. — Liguei para avisar que na recepção
tem uma encomenda para você. Não deixe de usar todos os
dias, jamais tire de seu tornozelo, entendeu? “Não”,
pensei.
— Entendi, posso saber o porquê?
— Porque é um presente de boas-vindas e não gostaria
que você se desfizesse dele.
— Será que isso é de bom tom, aceitar um presente do
meu chefe? — Não quero dever nada para ele.
— Eu sou o seu chefe e digo que sim. Amanhã quero
vê-la com meu presente. Boa noite e tente dormir melhor.
— Desligou. “Tente dormir melhor? Como assim? Do que
ele está falando?” Faço mil perguntas ao mesmo tempo e
não ouço as respostas do meu próprio subconsciente.
Passo na recepção e pego uma caixa embrulhada
delicadamente para presente, eu não abro e deixo a
curiosidade das duas recepcionistas aguçadas, coloco
dentro da minha bolsa e vou para a garagem pegar meu
carro. Saio da Blake’s e vou direto para casa, abro a porta
devagar e tento descobrir se foi tudo uma alucinação sentir
o perfume marcante do meu chefe ontem na minha casa.
Respiro fundo e sinto o cheiro no ar, ainda está aqui, ainda
está presente no meu quarto, hoje mais forte que ontem.
Olho para as minhas coisas e não vejo nada de que foi
movido do lugar, em cima da cômoda que fica de frente
para a cama, nada de estranho, tudo devidamente
posicionado como eu deixei pela manhã. Mas o cheiro
dele está aqui. Não tem o porquê ele invadir meu
apartamento, não nos conhecemos, não sou nada dele e ele
é ocupado demais para isso acontecer. Converso com
minha imaginação e chego à conclusão de que eu estou
com medo dele e isso faz com que os sentidos preguem
peças desagradáveis em minha mente. Vou para o banheiro
preciso de um banho para relaxar, antes de preparar algo
para comer. Me delicio com a água e logo saio do box, me
enrolo na toalha e vou para o closet, quando abro as portas
e entro, luto para não perder os sentidos. Não é possível
que isso esteja acontecendo, isso é uma brincadeira do
meu irmão, ele é o único que tem as chaves da minha casa
e entra sem ser anunciado. O pequeno closet está sufocante
com tanto perfume, parece que foi borrifado para que eu
tivesse a certeza que alguém esteve aqui, mas penso mais
uma vez que isso é impossível. Pego uma camisola de
seda, visto, e vou para a cozinha, faço um peixe grelhado e
salada, então como pensando em como meu chefe é
estranho. Termino e vou para sala, não estou com
disposição para ver TV, prefiro uma música hoje. Mas meu
telefone toca e sei que é meu irmão, para quando ele me
liga coloquei uma música diferente de todos.
— Dois dias sem me ligar, pensei que você tivesse se
esquecido de mim. — Falei em deboche, meu irmão
ciumento liga todos os dias.
— Você sempre engraçadinha, Grace. Por que você não
me ligou? Eu tive dias difíceis aqui, por isso fiquei sem
tempo.
— Meu tempo também está corrido, Alex, chego em
casa e só quero saber da minha cama. E olha que eu não
trabalho muito, e só dois dias não dá para cansar tanto
assim, acho que vou ao médico.
— Você está sentindo alguma coisa? Não me esconda,
Grace.
— Não, eu estou bem. — Penso se falo sobre meu chefe
e decido que sim. — Meu chefe suga minhas forças, ele é
intenso ou estranho demais, ainda não sei.
— Pelo que pesquisei, seu chefe é um homem difícil de
conviver e completamente reservado.
— Você pesquisou sobre ele? — Esse é meu irmão.
— Claro, não posso deixar você nas mãos de qualquer
idiota. — Eu dei uma gargalhada. Alex fala como se Blake
fosse meu namorado.
— Você é muito cara de pau, Alex, mas conte-me como
estão todos aí no Texas? — Alex e eu conversamos por
duas horas, meu maxilar estava dormente de tanto que eu
gargalhei com meu irmão. Ele me contou tudo o que fez
para saber os passos de sua noiva Melloni, ela é uma
mulher muito linda e inteligente, doce como minha mãe. E
Alex é completamente apaixonado por ela, ele não deixa
Melloni respirar sem ele estar presente. Ela aceita isso, é
como se eles tivessem algum acordo obscuro. Depois de
me despedir pela décima vez, desligo o telefone e vou
para cama, estou morta de sono. Fecho as cortinas e a
porta do meu quarto, mas não passo a chave, não tem
necessidade disso, mesmo sentindo que estou sendo
observada, isso mesmo, sinto que tem alguém olhando para
mim dentro de minha própria casa. É como se fosse
invisível e andasse comigo por toda a casa, não sei o que
é, mas não é nada bom. Tiro minha camisola e deito na
cama só de calcinha, eu amo dormir livre de roupas.
Apago as luzes do abajur e deixo o sono me tomar por
completo.
A cada momento meu corpo arrepia e por isso acordo
um pouco agitada, talvez seja o tempo fresco, não me
lembro se liguei o ar condicionado do quarto. Tento
dormir novamente, mas não consigo, rolo para um lado e
para o outro, e isso também é inútil, não abro os olhos
para não me distrair com nada. Ainda é de madrugada e o
despertador não tocou, mexo na cama tentando achar uma
posição confortável, mas não consigo. A única coisa que
me resta para melhorar minha noite de pouco sono, é um
livro. Viro-me para levantar e minha garganta arde com o
grito que dou ao olhar para a frente.
— Hahahahahahahahahha meu Deus, quem é você?
Como entrou na minha casa? —Assim que olhei, eu vi a
sombra em pé próximo a minha cama. A porta do meu
quarto estava aberta e a luz do corredor iluminava um
pouco. O vulto não se moveu, não se assustou com meu
grito, não fez nada. Ele estava encostado na cômoda,
olhando para mim, mas eu não vi o seu rosto. Percebi que
eu estava nua e ele olhando para meus seios, puxo o
edredom me cobrindo e agora percebo o porquê do frio
que eu estava sentindo, o ar do quarto está no máximo, ele
deve ter ligado para que eu acordasse com o frio. Eu
fiquei encolhida encostada na cabeceira da cama, não
tenho como correr, eu não serei veloz o suficiente para
passar ao seu lado e sair pela porta. Sinto as lágrimas
escorrerem geladas pelo meu rosto, eu não consigo
segurar.
— Saia da minha casa, eu não sei como você entrou,
mas vá embora, por favor. — Faço um esforço imenso
para deixar minha voz sair. Não consigo ver nada além do
capuz que ele usa para esconder a cabeça e o rosto, ele se
move saindo de perto da cômoda e me encolho mais na
cabeceira da cama, com as mãos trêmulas eu me escondo o
máximo debaixo do edredom para ele não ver minha pele.
Ele anda lentamente até a porta, olha para mim outra vez e
sai, sem dizer uma palavra, sem ao menos respirar para eu
não ouvir algum som que eu pudesse identificar. Ouvi os
seus passos saindo e então a porta bateu, que me levou a
pensar que eu já estava sozinha em casa novamente.
Chorei abraçada as minhas pernas, chorei até não existir
mais água no meu corpo para transformar em lágrimas.
Não tive coragem de me levantar e ver se ele realmente
saiu, o sol nasceu lá fora e eu não fechei mais os olhos. O
despertador tocou e eu forcei meu corpo a sair da cama,
peguei meu telefone e fui para o banheiro, fechei a porta
com chave e sentei no chão, não consegui sustentar meu
corpo em cima de minhas pernas. Digitei o código de
acesso e disquei para o número de Alice, ela atendeu na
segunda chamada.
— Para você me telefonar uma hora dessas, a coisa é
muito grave. O que aconteceu, Grace? — Eu não consegui
falar, meu corpo foi capaz de produzir mais água em
menos de um minuto, e lágrimas transbordaram dos meus
olhos. Meu soluço fez com que Alice ficasse desesperada
do outro lado lá linha.
— Grace, pelo amor de Deus, você é a garota mais
tranquila que conheço. Se você chora assim, algo
aconteceu, por favo, grita comigo, mas me fala logo. — Eu
puxo fundo a respiração e tento controlar meus soluços, e
falo com Alice.
— Oi, Alice. Agora eu estou bem, mas pensei que ia
morrer essa noite.
— Fala logo, eu estou indo para sua casa, cheguei de
viagem não tem duas horas. Mas por você eu faço qualquer
coisa. Conte-me o que aconteceu.
— Entrou um homem em minha casa essa madrugada.
Eu não sei como, não sei quem é. Eu acordei e não
consegui dormir, quando eu ia levantar para pegar um
livro, ele estava em pé encostado na cômoda, olhando para
mim. Eu... Eu fiquei apavorada. Ele não fez nada, parecia
que não respirava. Eu gritei e ele não reagiu, só me olhou,
não vi seu rosto, não vi seus olhos, não vi nada.
— Oh meu Deus, Grace, estou indo para sua casa, estou
dentro do carro. Ele te machucou? Grace, você precisa ir
para o hospital? — Alice chora enquanto pergunta.
— Não. Ele não tocou em mim, Alice. Eu pedi para ele
sair, e ele saiu, sem me tocar, sem ao menos chegar
próximo do meu corpo. Eu estava só de calcinha na cama e
ele não me tocou. Como ele entrou aqui? Como, meu
Deus? — Comecei a chorar e tremer novamente.
— Você ligou para Alex?
— Não, não, por favor não ligue. Ele não vai me deixar
morar aqui sozinha. Vai brigar por eu ter escolhido um
lugar barato.
— Ele precisa saber para tirá-la desse apartamento
imediatamente. Se você não vai falar, tudo bem. Mais você
vai procurar um lugar mais seguro para morar. Você já se
olhou no espelho, criatura? Você é a fantasia sexual de
todos os homens do mundo, não pode ficar sozinha. Estou
chegando, já estou na rua da sua casa abre a porta para
mim. — Desligo o telefone, pego o roupão que está
pendurado na porta, saio do banheiro quando ouço a
campainha tocar. Dou passos lentos para sair do meu
quarto, aproximo da porta e assusto com mais um aciono
da campainha. Não preciso passar pelo corredor, Alice
entra gritando meu nome.
— Grace, Grace. A porta está aberta. — Ele saiu e
deixou a porta aberta. Será que ele pensou que eu fosse
fechar? Eu sento na cama e espero por Alice, que entra
rápido no meu quarto como uma irmã protetora.
— Calma, querida, eu estou aqui. — Sentou-se ao meu
lado e me abraçou, vejo que Alice está de pijamas.
— Você saiu de pijamas. — Falei.
— É o efeito Grace ás seis da manhã. — Disse ela. —
Aparentemente a sala está normal, não foi levado nada.
— Ele não queria levar nada, ele só quis me observar
dormindo.
— Jesus Cristo, isso é doentio, Grace. E você não viu
nada e não ouviu nada?
— Absolutamente nada. Ele só me olhou e quando eu
mandei, ele saiu. Fácil assim.
— Você vai dormir na minha casa hoje. Vá tomar
banho, vou levá-la para o trabalho, eu arrumo suas roupas.
— Acenei para ela e fui tomar banho, Grace sabe de todas
as minhas coisas, ela sempre fica aqui quando quer ficar
sozinha sem seus pais pegarem no seu pé. Tomo banho e
junto com a água as lágrimas ainda caem, é mais forte que
eu, não posso segurá-las. Alice abre a porta e entra para
falar comigo.
— Pronto, já arrumei sua mala. Só falta suas coisas de
higiene pessoal. — Ela é sempre atenciosa. Termino meu
banho e saio do box nua e molhada.
— Meu Deus do céu. Grace você é a mulher mais
gostosa que existe. — Alice me olha dos pés à cabeça.
— Você não é lésbica, Alice. — Falo com a toalha na
mão para me secar.
— Eu não sou lésbica, mas se existe mulher no mundo
que eu tenho vontade de dar uns “amassos”, essa mulher é
você. — Ela olha avaliando meu corpo. — Olha esses
peitos, que homem só fica observando e não ataca? — Eu
olho incrédula para ela.
— Pare com isso, Alice, você não filtra o que fala?
— Grace, olhe para você. — Ela me empurra para a
frente do espelho. — Olha essa pele, essa barriga, esses
peitos duro e natural, da vontade de chupar você toda.
— ALICE. — Eu grito com ela — Pare já com isso.
— E essa fenda de menininha, peladinha e pequena. O
homem que tirar sua virgindade vai deixá-la de pernas
bambas. Ele não vai querer sair de cima de você. — Eu
falei que Alice não tem noção das coisas às vezes? Falei
que sexo e festas são prioridades em sua vida? Bem essa é
Alice Lunieri sem filtro.
— Cale a boca. — Falo e saio de perto dela. Não dá
para ficar com Alice quando o modo lésbico está ativado.
Vou para o closet e escolho um vestido azul escuro com
pequenas estampas e outros detalhes, manga longa
levemente bordada nos punhos, quatro dedos acima do
joelho com os mesmos bordados na barra do vestido. Leve
decote V nos seios, sandálias pretas e quando comprei já
pensei em usar juntos com esse vestido. Alice fica o tempo
todo me olhando vestir minhas roupas, ela quando decide
ser indiscreta não há quem segura. Nem parece aquela
amiga preocupada que saiu de casa cedo para me socorrer.
— Você não vai usar calcinha? — Sabia que ela tinha
percebido.
— Já viu o sol que está lá fora? Só vou usar esse
vestido de mangas cumpridas porque ele é bem fresquinho
e no escritório é frio por causa do ar condicionado.
— Linda. — Ela fala.
— Acho que não é uma boa ideia eu dormir na sua casa
hoje.
— Só estou elogiando o que é para se elogiar. Você.
— Tudo bem, Alice, já estou pronta e não tenho
condições físicas e psicológicas para brigar com você
agora. Vamos, quero sair dessa casa. — Passo por ela e
pego minhas coisas, ela pega minha mala e com as coisas
de higiene que ela arrumou para mim em uma bolsa e
saímos de casa. A impressão de ser observada dentro da
minha própria casa ainda é palpável. Parece que tem olhos
por toda parte. Alice me deixa no trabalho e fala que vai
estar aqui assim que eu sair, eu a convenci a não falar nada
com meu irmão. Não quero voltar para o Texas, não quero
que ele se preocupe em comprar um apartamento caro para
mim e pegar o primeiro avião para saber se estou com
algum arranhão. Felizmente não aconteceu nada, e não vai
acontecer. Vou trocar as fechaduras e colocar alarme no
apartamento.
Entro no elevador e sinto o perfume dele, meu corpo
reage imediatamente. E me dou conta de que não senti seu
perfume com o invasor, era bem parecido o porte físico,
estava escuro mais um homem como Blake não passa
despercebido. Mas o perfume não estava lá. A porta do
elevador abriu e eu saí devagar, aproximei da minha mesa
e o vi em pé olhando para mim, e imediatamente seus
olhos foram para meus pés. Ele franziu a testa e então veio
em minha direção.
— Por que não colocou o presente que te dei? Não
gostou? — Droga, eu nem ao menos abri o presente. Acho
que minha cara disse tudo para ele.
— Onde está o presente?
— Na minha bolsa.
— Pegue e sente-se. — Um bom dia seria bem-vindo
Sr. mandão Blake. Sentei na minha cadeira e peguei de
dentro da bolsa a caixa lindamente embrulhada para
presente, e entreguei em suas mãos. Ele se ajoelhou e
abriu. Uma linda tornozeleira dourada, nunca tinha visto ao
menos parecida com essa. Uma pedra vermelha brilha
intensamente, o dourado é tipo uma chapa de ferro bem
trabalhada, parece mais um fino bracelete do que uma
tornozeleira. Ele olha para minhas pernas, depois olha
para mim.
— Eu vou tocar em você. — A voz saiu tão rouca e
sexy, e aconteceu uma coisa que jamais pensei que seria
possível. E nunca aconteceu antes. Senti meu sexo palpitar.
Ele tocou em minha panturrilha direita, firme, forte, com
posse e tomando para ele o meu pé. Acariciou o lugar
onde ele ia prender o delicado presente, colocou em volta
do meu tornozelo, olhou um pouco ela e então ouvi o
clique estranho. Muito estranho. Ele fechou e parece que
com isso, ativou alguma coisa, pois a pedra vermelha
ficou mais viva que antes, tipo uma luz interna. Mas
quando olhei estava normal, somente a linda e cara
tornozeleira com uma pedra preciosa vermelha.
— Eu não sei como agradecer, Sr. Blake, é perfeita.
Essa pedra é maravilhosa. — Falei admirando meu
tornozelo.
— É o rubi mais caro do mundo. Me agradeça não
tirando da sua pele, nunca. — Suas mãos ainda estavam
segurando minha perna, senti o polegar acariciar em
círculos.
— Eu não vou tirar, eu prometo. Mas não precisava
desse presente.
— É uma tradição, meu pai presenteou Maitê. Depois
eu presenteei Maitê. Agora estou presenteando você. E
nunca poderá me decepcionar tirando da sua pele.
— Não pretendo fazer isso. — Falei olhando para ele.
— Noite difícil? — Perguntou. Ele se levantou e olhou
para mim colocando as mãos nos bolsos da calça.
— Um pouco, não consegui dormir.
— Quem é aquela mulher que estava com você? —
Como ele sabe que Alice estava comigo?
— Uma amiga. Alice. Como você sabe disso? —
Perguntei sem perceber.
— Eu vi quando desceu do carro e ela foi embora.
— É na casa dela que eu vou dormir essa noite. —
Falei também sem perceber.
— Só não retire a tornozeleira, não esqueça disso. —
Falou e saiu para entrar em sua sala. Olhei para meu pé e
realmente não tem como tirar essa preciosidade, é muito
linda.
Capítulo 3

Pa ssei o dia trabalhando, hoje foi corrido, o Sr.


Blake entrou e saiu de três reuniões, não fui almoçar no
restaurante como de costume, fiz o pedido e comi na
pequena copa reservada para os funcionários do setor de
produções. Às vezes, as imagens do que aconteceu de
madrugada volta para me amedrontar, e apresso para
expulsá-las rápido da minha mente. No meu horário de
almoço, eu procurei uma empresa de segurança, para
deixar meu apartamento um pouco mais seguro, sem correr
o risco de que outra vez, eu não tenha a mesma sorte de
estar nua em minha cama, com um invasor me observando
e ir embora quando eu peço. Alice me ligou duas vezes
para saber se eu estou bem, e me ajudou a procurar a
empresa, e também já anotou alguns apartamentos para eu
escolher fazer uma visita. Sabia que Alice ia fazer isso,
ela é muito rápida nas coisas, mas até lá, preciso ficar no
meu apartamento. Olho para o relógio e já são 17h03min,
o Sr. Blake não voltou ao escritório, e assim que eu pego
minha bolsa para ir embora e quando dou um passo à
frente, a porta do elevador abre e eu o vejo se aproximar.
Imagino-o como um felino, passos lentos e calculados,
posso ver nitidamente como se eu estivesse em um safári,
ele abaixa e fica em silêncio, de repente, dá o bote para
pegar a presa que tanto o fez esperar.
— Grace. — Ele me chamou e me fez voltar a
realidade.
— Desculpe, Sr. Blake, deseja alguma coisa? — Me
sinto estúpida, eu não percebi que ele estava tão perto.
— Você já está de saída? — Perguntou.
— Sim. Alice com certeza me espera na recepção.
— Certo, você poderia me emprestar o seu telefone? —
Perguntou. Por que ele quer emprestado o meu telefone?
Ele percebe a minha confusão e então diz.
— Gostaria de ter sua opinião, sobre o aplicativo que
mandei fazer para fácil acesso da Blake’s Arquitetura. —
Disse ele.
— Nossa, isso é ótimo. — Peguei meu telefone na
bolsa, digitei o código de acesso e passei para ele.
— Você é uma mulher com segredos? — Perguntou,
andando para sua sala, eu o acompanhei.
— Não, por quê?
— Códigos secretos no telefone. — “Ah isso”, pensei.
— Bem, hoje em dia tudo que cai na rede torna-se
viral. Tenho fotos com minha família, vídeos, não quero
que invadam minha privacidade. — Ele estava sentado em
sua confortável poltrona olhando para mim. Não falou
nada, começou a mexer no meu telefone e eu não me senti
confortável com isso. Eu poderia baixar esse aplicativo
perfeitamente. Os dedos de Blake e seus olhos estavam
rápido demais.
— Só mais alguns segundos e eu te entrego. — Disse
ele. Os dedos não pararam e fiquei mais receosa com o
bip da mensagem que ele recebeu em seu telefone celular.
Ele olhou para mim e disse.
— Pronto, espero sua opinião sincera. — Me entregou
o telefone e não deixou os meus olhos. Eu olhei e procurei
tudo o que ele fez, não encontrei nada de estranho. A única
coisa diferente realmente era o aplicativo muito
sofisticado da empresa. Olhei para ele e percebi que ele
ainda não tinha tirado os olhos de mim.
— Bem, eu vou ver com calma mais tarde, é um
aplicativo muito sofisticado.
— Não me contento com pouco, Grace. — Percebi um
duplo sentido em suas palavras. Sorri sem graça e falei.
— Ok. Até amanhã, Sr. Blake.
— Até amanhã, Grace, e não esqueça, sábado temos um
coquetel e preciso de você.
— Eu estarei aqui. Até amanhã. — Saio da sala
sentindo a intensidade de sua voz nos meus ouvidos. Blake
é um homem marcante. Não seria nada difícil uma mulher
cair de amores por ele em menos de cinco segundos. Alto,
loiro, olhos azuis e lindo, simplesmente lindo. Não deixa
nada a desejar em seus quase quarenta anos, pelo
contrário, muitos homens de vinte e cinco não chegam aos
seus pés. Ele deve ter uma namorada, não penso isso
porque ele não se insinuou para mim ou algo parecido,
mas pelo fato de ele ser maravilhoso, não é possível ser
solteiro, ou ele é casado. Pego minha bolsa e vou direto
para o elevador e aperto para a recepção. Aproveito para
olhar no meu telefone, não sei o que tanto ele mexeu, mas
não consigo encontrar nada. Já na recepção, vejo Alice
muito nervosa esperando por mim sentada no luxuoso sofá
preto de couro.
— Pensei que você fosse dormir aqui. Por que demorou
tanto? — Perguntou nervosa.
— Estava falando com meu chefe, e não demorei tanto
assim. — Falei. — Vamos?
Saímos e fomos direto para sua casa, é uma linda casa
na praia, o barulho do mar é o que mais gosto de ouvir
quando estou aqui, olhar para as ondas levando e trazendo
consigo as esperanças de um dia ter minha própria casa na
praia, amo cada detalhe de seu quarto, fui eu que fiz a
decoração. Alice e eu conversamos por várias horas sobre
muitas coisas. Ela me contou como foi a viagem com seus
pais, falou dos caras que ela foi para cama e como foi,
detalhadamente com cada um deles. Alice é assim, e não
vai mudar. Tomei um banho e depois fomos para cozinha,
fizemos um lanche regado a muita porcaria e doces, depois
voltamos para o quarto e pulamos na cama como duas
crianças. Dormir foi o que não conseguimos por mais uma
hora de conversas, depois de algum tempo, meu corpo
reclamou por sono, então me entreguei a ele
profundamente.
Sexta-feira amanheceu linda com o mar cantando lá
fora. Alice já não estava mais na cama e então, levanto-me
e vou direto para o banheiro, tomo banho e me arrumo
para o trabalho, penso também que amanhã, sábado, é o
dia do coquetel e preciso de um vestido longo e lindo para
não fazer feio na minha primeira festa na Blake’s. Com
certeza a mais nobre nata de Miami vai estar presente,
fotógrafos e toda a imprensa. Já vi em revistas essas festas
que acontecem na Blake’s, é um verdadeiro escândalo em
luxo, o único que não sai em fotos é meu chefe, não sei
como consegue burlar os flashes, mas ele o faz. Termino
de me vestir, pego minhas coisas e vou procurar Alice, ela
está tomando café na varanda da sala olhando o mar beijar
a areia branca.
— Bom dia, dorminhoca. — Falou.
— Bom dia. Eu não estou atrasada, portanto, esse título
não me convém.
— Você que pensa. Você não se moveu a noite toda,
dormiu feito uma pedra. — Disse.
— E você não dormiu? — Perguntei.
— Não consegui com você seminua do meu lado.
— Ah cala boca, Alice.
— Estou brincando sua boba. Eu comecei a pensar no
projeto do papai, e não consegui dormir. Fui para o
escritório e trabalhei a madrugada inteira. — Disse ela. —
Mas terminei e quando vi tudo pronto, fiquei orgulhosa de
mim. Espero que papai pense o mesmo.
— Seu pai é o seu maior fã, Alice, ele vai aprovar. —
Alice trabalha com o pai, Sr. Richard Lunieri, ele tem uma
empresa de tecnologia e Alice é a vice-presidente.
— Você vai me levar para o trabalho?
— Vou sim, toma café da manhã enquanto eu me troco e
já vamos. — Falou e saiu correndo para o quarto. Depois
de quinze minutos, ela apareceu linda e sorridente.
— Vamos, gata.
— Vamos, Alice, e se prepare que você vai me ajudar a
encontrar um vestido, para um coquetel que acontecerá
amanhã na Blake’s. — Falo enquanto a acompanho até o
carro.
— Então você precisa de um vestido mais sofisticado.
— Afirmou.
— Sim, mas como disse meu chefe, nada de paetês
escandalosos.
— Pode deixar, às 17 h você vai receber uma
encomenda. — Ela me olha da cabeça aos pés passando a
língua nos lábios.
— Não começa, Alice, você voltou estranha demais
dessa viagem.
— Não voltei não, sou a mesma. Sempre brinquei assim
com você.
— Mais agora está demais, não?
— Não. — Responde sorrindo, a safada. Alice me leva
para a Blake’s, ela não foi inconveniente pelo caminho.
Falou sério sobre a empresa de segurança, e disse que vou
me surpreender com o vestido que ela vai comprar. Somos
assim, se eu preciso ela me dá, se ela precisa e não tem
tempo de fazer, eu faço meu papel de amiga. E nunca
cobramos por isso, nunca olhamos valores, jamais
reclamamos de como isso funciona entre nós. Somos assim
e pronto, amigas acima de qualquer coisa, mesmo ela me
irritando as vezes quando ativa o modo lésbica encubada.
Chegamos na Blake’s e o mesmo sentimento de medo
estava lá. Sei que estou sendo observada, mas quando olho
para os lados, não vejo nada. Entro na recepção e o que
me surpreende é o Sr. Blake parado, olhando para a porta
por onde entrei.
— Bom dia. — Falei. Ele não respondeu.
— Dormiu bem? — Mas perguntou. Ele é complicado.
— Sim, protegida.
— Eu sei. Vamos. — Não sei o que ele quis dizer,
mas... Não quero saber. Fomos para o elevador e seguimos
para a sala dele. Sr. Blake me passou algumas coisas que
ele gostaria que eu resolvesse para o coquetel. Em uma
dessas coisas, um projeto de decoração de ambiente, que
imediatamente fiz minhas próprias anotações. Mandei para
o setor de produção e depois de uma hora, voltou com um
bilhete para o Sr. Blake e ele me chamou em sua sala.
— Você é uma mulher muito observadora. — Começou
a falar. — Foi você que fez isso? — Droga, acho que estou
em péssimos momento agora.
— Desculpe, Sr. Blake, eu comecei a ver o projeto e
quando percebi, já estava fazendo anotações.
— Eu gostei de tudo o que está aqui. É exatamente isso
que estou buscando. — Fico sem fala. — Mas você não
vai fazer esse aqui, não quero que os outros funcionários
digam em fofocas que dei prioridade a você. Tenho outros
projetos, e com certeza quero você trabalhando neles. —
Por essa eu não esperava.
— Nossa, não sei o que dizer, Sr. Obrigada.
— Não costumo fazer isso, Grace, aqui para um
funcionário colocar a mão em um projeto de grande porte
como esse, precisa provar para mim que é capaz. Você não
precisou muito para que isso acontecesse.
— Gosto do que estudei muito para fazer, Sr. Acho que
posso superar as expectativas de sua empresa.
— Assim espero. Não comente nada com ninguém. Não
quero fofocas aqui.
— Sim, não vou comentar nada. — Saí da sala com
sorriso maior que meus lábios eram capazes de suportar.
Às 17h em ponto, autorizei o entregador a subir, era meu
vestido. Alice quando quer surpreender, ela faz isso com
classe. Uma caixa grande de uma loja cara, não abri para
não ficar louca na recepção do escritório de Blake, que já
estava me olhando receber a encomenda. Logo depois que
o entregador saiu, Sr. Blake veio até minha mesa, ele não
ligou, ele veio.
— Quem te mandou esse presente, Grace? — Acho que
ele realmente é curioso, só pode ser.
— Uma amiga.
— Que amiga? O que é isso? — Não, ele não é curioso,
ele é intrometido.
— Por que o interesse, Senhor? — Ele olhou da caixa,
para mim. Me arrependi imediatamente de ter feito a
pergunta. Era só responder, não me custava nada mesmo.
— Responda o que eu te perguntar, na hora em que eu
perguntar. — Ele se aproximou. Seus olhos estavam
diferentes, em chamas de raiva. Não entendi o porquê, mas
um alerta apitou dizendo em letras grandes e vermelhas
que esse homem não é nada do que eu acho que seja.
— Alice me enviou um vestido para o coquetel de
amanhã. — Minha voz saiu sem pausas, mas meu corpo
todo tremeu com a fúria que ele transmite pelo olhar.
— Foi difícil responder? — Perguntou.
— Não. — Eu disse.
— Ótimo. — Ele olhou para a caixa em cima da mesa.
— Deve servir, é de uma loja renomada. Eu mando um
carro te apanhar amanhã às 21 h, esteja pronta, pode ir
para casa.
— Obrigada, até amanhã. — Saí como se eu fosse uma
fugitiva. Peguei rápido minha bolsa e a caixa e fui direto
para a recepção, pedi um táxi e esperei do lado de fora da
Blake’s. Até a recepção do lugar estava me sufocando,
precisava de ar. O táxi chegou e fui para casa, quando
cheguei no lobby do meu prédio, o porteiro noturno me
entregou as encomendas da empresa de segurança. Uma
caixa pequena contendo tudo o que preciso para ativar o
alarme, travar as portas e abrir digitando um código que só
eu vou ter acesso, e claro a empresa de segurança. Fui
para meu apartamento e fiquei feliz com o que vi, se uma
pessoa que eu não faço ideia quem seja tinha minhas
chaves, hoje vou dormir tranquila, ele não tem mais. Deixo
tudo no chão para pegar o manual de ativação do alarme e
travas automáticas da porta, que a empresa que Alice
contratou deixou aqui faço o passo a passo, coloco meu
código de confiança e tudo acontece, o alarme é ativado e
digito outro para desativar, isso tudo automaticamente é
ativado no sistema da empresa. Recebi uma mensagem no
meu telefone falando todos os meus dados de segurança, e
o número que eu deveria ligar em caso de emergência.
Entro no meu apartamento, e ativo para fechar outra vez, e
percebo que as portas da varanda e janelas, são ativadas
também. “Eu amo isso, eu amo Alice por ter
acompanhado a equipe que instalou do sistema.” Pensei.
As únicas pessoas que vou passar esse código são para
meus pais e Alex. Apesar de que se eu não passar, Alex
vem pessoalmente e não me deixa escolha, ele me arrasta
para o Texas sem ao menos me ouvir. Tudo está
perfeitamente normal em minha casa, não tenho medo de
ser invadida na madrugada, mas... ainda tenho a nítida
impressão de ser observada. Tomo um banho, vou até a
cozinha e preparo um lanche, como e vou para meu quarto.
Amanhã eu vejo o vestido, hoje eu somente quero dormir
sem medo e assim, eu adormeço tranquilamente.
Ouço de longe alguém bater na porta, não sei onde é,
mas sei que tem alguém. Forço minha mente para acordar,
e devagar meus pensamentos ficam longe do sono, ouço
mais batidas e sei que agora é mais próximo, mas não sei
onde, forço também o meu corpo a levantar, sento-me na
cama e ouço mais uma vez bater na porta. “Será Alice?”
Vou até a sala e o barulho para, olho para os lados e não
vejo nada. De repente, o que era uma impressão, torna-se
realidade. Pior, o medo me domina. Tremo ao ouvir a voz
rouca que está do outro lado da porta da minha sala, mas
não a reconheci.
— Oh meu Deus! — Falo tentando segurar o choro
tampando minha boca. E ouço mais uma vez a voz que me
apavora.
— Por que você fez isso? Eu não vou machucá-la. —
Como ele sabe que estou ouvindo?
— Quem é você? — Pergunto.
— Eu só queria ver você dormir. — Ele disse. Eu não
consegui identificar a voz, nada era semelhante a alguém
que eu conhecia. Ele estava irritado por não poder entrar.
— Você é louco? Vá embora e me deixe em paz. Eu vou
chamar a polícia.
— Isso não será capaz de me afastar de você. — Ele
falou e eu ouvi os passos indo embora. Não consegui
sustentar meu corpo e sentei no sofá, olhei para a porta da
sacada e tive a ridícula ideia de abrir.
Eu abri, e no exato momento, ele estava olhando parado
no meio da rua, senti um frio passando por toda minha
coluna. Ele está de capuz, não posso ver quem é, mãos
dentro dos bolsos, postura ereta e olhando para mim, ele
tira a mão direita e acena, meu corpo treme e não sei como
consigo ter forças para dar um passo à frente, e não vejo o
exato momento que corro para dentro do meu apartamento
e tranco tudo. Fiz tudo praticamente no automático, sem
saber qual movimento seria o próximo, por alguns
instantes eu não consegui assimilar nada, meu corpo
trabalhou sozinho. “Burra, eu sou burra” Pensei. Vou para
meu quarto e fecho a porta com a chave, deito na cama e
apago as luzes do abajur. Fico em silêncio deitada
pensando em como vou falar para Alex, que preciso sair
rápido desse apartamento, e depois de uma noite infernal,
consigo dormir um pouco, adormecendo mais com o medo
do que com a paz.
Sábado, e já acordo com o coquetel na minha cabeça e
na certeza de que preciso fazer tudo certo para não
desagradar ao meu chefe. Ele é estranho, mas acho que tem
um nome para ele ser assim, chama-se Blake’s Arquitetura.
Acho que ele tem algum receio de espiões dentro da
empresa, a Blake’s tem projetos por todo o país, só os
melhores que trabalham para ele e em dez anos
consecutivos, a Blake’s ganha as melhores capas de
revistas renomadas em todo o mundo. Ele tem razão de
querer saber o que entra e o que sai de sua empresa, quem
trabalha e se é de boa índole, se não fosse assim, ele não
seria o melhor sempre. Muitos projetos do governo estão
em poder da Blake’s, não sei como ele me contratou sem
uma investigação mais séria. Fico um tempo na cama e as
lembranças do que aconteceu na madrugada veem em
minha mente. Levanto-me e vejo no telefone que já são
10h45min da manhã, disco rápido para Alice e ela atende
na terceira chamada.
— Por que eu não consigo deixar tocar se vejo que é
você? — Pergunta ela.
— Porque eu sou importante. E eu não ia desistir logo
na primeira vez.
— O que te fez me ligar a essa hora da madrugada?
— Não é madrugada Alice, são 10h45min da manhã e
eu estou com problemas com um Stalker.
— O que você está dizendo? — Perguntou assustada.
— Se não fosse pelo sistema de segurança que você
solicitou, ontem o Stalker tinha entrado aqui outra vez. Ele
falou comigo, Alice. Ele teve a capacidade de falar
comigo pelo lado de fora do apartamento.
— Me conte isso direito, Grace.
— Eu ouvi um barulho e fui ver o que era, ele estava
tentando abrir a porta, e parou ao me ouvir chegar, e
perguntou por que eu tinha feito aquilo. Que ele queria só
me ver dormir.
— Santo Deus amado! — Exclamou ela.
— Eu disse para ele ir embora e que eu iria chamar a
polícia. Ele disse que isso não era capaz de fazê-lo se
afastar de mim.
— E você só me fala isso agora? Por que não me ligou
assim que isso aconteceu? — Gritou no telefone.
— Eu fiquei em choque, mas me acalmei e dormi logo
em seguida.
— Louca, você não é normal. Você é louca. Vou passar
o dia com você, me espere. —Desligou. Ela desligou sem
eu ao menos falar nada, e me deixar falar alguma coisa
para me defender, essa é Alice. A fome bateu forte e
resolvi preparar alguma coisa para comer, Alice sempre
chega com fome também. Preparo umas guloseimas para o
café da manhã quase almoço e espero por Alice, não
demora muito ela aparece batendo na porta feito uma
desesperada.
— Calma, Alice. — Digito o código e abro a porta.
— Estou com pressa e com fome o que você fez? —
Entra e se joga no sofá.
— Panquecas. — Nos sentamos bem acomodadas nas
cadeiras da pequena mesa redonda que tenho perto do
balcão da cozinha e começamos a comer.
— Suas panquecas são as melhores. — Disse ela. — E
aí, me conte mais, nós estamos levando isso na
brincadeira, você sabe né? Precisamos prestar queixa
sobre isso. — Disse ela.
— Eu sei, isso pode ficar sério demais. E o que me
incomoda, é a sensação de que eu estou sendo observada
aqui dentro. Eu sinto os olhos dele por todo o apartamento.
— Isso deve ser porque ele entrou aqui. Se contar,
ninguém acredita né. Sempre achamos que nunca acontece
com a gente uma coisa dessas. Mas precisa tomar uma
providência, Grace. Você não pode ficar mais aqui.
— Eu sei. Vou falar com Alex que pretendo trocar de
apartamento, ele vai me fazer um monte de perguntas, mas
tenho que fazer isso.
— Isso mesmo. Mudando de assunto, você viu a
maravilha de vestido que comprei para você?
— Não.
— Como não, Grace? Esse vestido é um escândalo e
você não viu ainda?
— Não. Esqueci, mas vou ver, não se preocupe.
— Pode levantar essa bunda perfeita, delícia e durinha
dessa cadeira agora. Quero ter o privilégio de ver esses
peitos naquele vestido, vamos. — Tive tempo de dizer
não? Não. Alice me arrastou puxando meu braço até o
quarto, pegou a caixa do vestido que estava na cômoda e
abriu, colocando o mais perfeito vestido preto em cima da
cama.
— Meu Deus, Alice, o que é isso?
— O seu vestido para o coquetel de hoje à noite. Quero
ver se os homens não vão babar por você.
— Eu não quero homens babando por mim.
— Você precisa ser fodida com urgência, Grace. — Ela
se aproxima e levanta minha blusa enquanto eu fico
admirando o vestido em cima da cama. Sinto suas mãos
quentes em meus seios. — Como são duros. — Ela diz e
eu a empurro para longe.
— Pare com isso, Alice.
— Quem manda nascer tão perfeita. Coloque o vestido.
— Não, só vou vestir quando eu estiver pronta.
— Desagradável. — Disse ela.
— Não sou, só não quero acabar com minhas
expectativas.
— Tudo bem. O que vamos fazer até essa hora chegar?
— Perguntou. Tirei o vestido da cama e coloquei no
closet, sentamos na sala e escolhemos um monte de filmes
para assistir pela Netflix. Passamos o dia assim, entre
pipoca e filmes. Pedimos pizza e comemos com vinho que
eu tinha na geladeira, depois disso, fui para o banho
porque já estava na hora de começar a me arrumar. Alice
ficou comigo o tempo todo, conversando e rindo de tudo,
me ajudou no penteado lateral e maquiagem, depois na
escolha da sandália para o vestido. Quando me olhei no
espelho completamente maquiada e penteada, foi a
primeira vez que me achei linda como dizem que sou.
— UAU! — Falei me sentindo linda.
— Sim, você está linda. — Nesse momento ouço o
interfone tocando na cozinha. Alice corre para atender e
volta dizendo que tem um carro da Blake’s me esperando.
— Chegou a hora. — Ela disse.
— E não sei porquê, mas estou muito nervosa. Como se
eu não fosse voltar a mesma para casa.
— Quem sabe você não vai encontrar o amor essa
noite. — Disse ela.
— Não. Não é o amor que vou encontrar hoje, mas
acredito que uma grande tormenta está por vir. — Falo. E
senti um frio estranho em minha volta. O medo. O que sinto
hoje é o mesmo ou até mais forte sentimento do que no
primeiro dia que entrei na Blake’s.
— Não seja ridícula. Vamos logo. — Alice me
acompanhou até o lobby. Quando coloquei meus pés na
calçada, vi a limusine preta me esperando.
— Meu Deus, isso é o que eu chamo de chegada
triunfal. — Disse Alice. Me despedi dela e ela foi para
casa. Eu fiquei na porta de limusine sem saber se entrava,
o motorista já estava me olhando segurando a porta aberta
para mim. Até que a voz rouca do Sr. Blake me despertou.
— Entre, Grace. “Oh meu Deus, ele está aqui?”
Pensei. Entrei no grande espaço da limusine, deslizei no
banco de couro e fiquei de frente para ele. Nos olhamos
por um longo tempo, até ele dar a ordem para o motorista
seguir. Blake fez o que por todos esses dias ele não fez, me
olhou dos pés à cabeça. E sua respiração estava
completamente irregular. Seu peito subia e descia em
descompasso. Seus olhos saiam faíscas vermelhas, vi
quando ele fechou os punhos tentando se controlar. Vi
também uma gota de suor se formar em sua testa, e
escorrer pela face. Mas o ar condicionado estava muito
forte, e o calor que vinha de seu corpo aquecia todo o
ambiente, mesmo com o ar gelado. Ele me devorou e por
um momento me arrependi de ter colocado o vestido que
Alice escolheu.
— Você está perfeita. — Falou sussurrando como se
estivesse sentindo dor. — Você vai chamar muita atenção
com esse vestido. — Senti uma ponta de raiva em sua voz
gélida.
— Pensei em ter escolhido bem. Mas se preferir, posso
voltar e trocar. — Não quero criar caso com meu chefe.
— Não será preciso, eu a quero assim. Mas mantenha-
se ao meu lado, durante toda a festa. — Disse ele.
— Sim, senhor. — Talvez ele tenha muitas coisas para
eu anotar. É um coquetel de boas-vindas, e com certeza o
responsável pelo contrato vai estar lá. Não demorou muito
e estávamos em frente a Blake’s, ele ainda me olhava com
intensidade quando a porta da limusine foi aberta. Saiu
rápido, parecia que estava sufocado. Colocou a mão para
que eu apoiasse e assim que toquei, senti o calor que
estava. E se eu não fosse tão observadora, não teria notado
que ele estava tremendo. Fiquei ao seu lado enquanto ele
me avaliava descaradamente, sem disfarces.
— Perfeita. — Disse.
— Obrigada. — Falei. Seguimos para a recepção da
festa e flashes não nos deixaram um segundo sequer.
Vários fotógrafos de revistas de fofoca estavam de
plantão. Posamos para fotos, eu queria deixa-lo sozinho
para isso, mais ele não deixou, Blake tocou em minhas
costas nua. Ele estava possessivo no toque eu pude notar.
— Namorada nova, senhor Blake? — Um fotógrafo
gritou perguntando. Ele olhou para mim e respondeu
sorrindo.
— Noiva, muito em breve minha esposa. — E os
flashes não pararam por vários segundos depois disso. Eu
fiquei sem reação olhando para ele. Ele não me olhou. Ele
teve que me empurrar um pouco para que eu conseguisse
andar, ao chegar na entrada da festa onde já não existia
mais fotógrafos, eu o encarei e pergunte.
— O que foi aquilo? Esposa? — Perguntei com a voz
trêmula.
— Aquele é um idiota abusado. Não me importo com o
que vão publicar.
— Mas eu me importo, tenho família. Não quero nem
pensar no que eles vão dizer se ver uma dessas revistas,
falando mal e dizendo mentiras sobre mim. Como vou
explicar para meu pai que não vou me casar com meu
chefe?
— Não se preocupe com isso, eu cuido de tudo. Vamos,
Sra. Goldberg, temos uma festa para recepcionar. — Falou
me dando ordem, não foi um pedido. Isso vai ficar pior do
que estou pensando.
Capítulo 4

E ntramos no grande salão de festa e tudo estava


muito bem decorado, entrei em contato com a empresa de
decoração de festas que Blake costuma contratar, e agora
sei porque ele paga tão caro. Garçons andando com
bebidas a todo momento, música ambiente, e fotógrafos
por toda parte. Não parecia uma festa de novo contrato, e
sim um desfile no red carpet, mulheres lindas andando por
toda parte, os homens não deixaram nada a desejar, Blake
cumprimentou três homens que nos viu chegar, ele não
tirou a mão das minhas costas, se não fosse um engano
posso dizer que senti seus dedos acariciando minha pele.
Falamos com algumas pessoas da empresa e notei que ele
estava mais sociável, ele até esboçou um pequeno sorriso
para um de seus chefes de produção.
— Blake. — Ouvimos a voz de Anabelle e vi quando
ele fez uma cara de quem não gostou. Ele deixou minhas
costas e se virou para cumprimentá-la.
— Anabelle. — Disse ele.
— Você demorou a chegar, já estava ficando
preocupada. — Ela me olhou e não gostou de me ver ao
seu lado.
— Quanta diferença, até que você está bonita. — Esse
foi o seu modo de me dizer boa noite.
— Você veio representando seu chefe, Anabelle? —
Perguntou Sr. Blake.
— Sim, gostou da surpresa? — Perguntou sorrindo e
passando a mão em seu peito. Blake encolheu o corpo
olhando para ela. Ele realmente não gosta de ser
assediado, não por ela.
— Tanto faz. — Ele se virou e continuou conversando
com os homens, ela ficou ao seu lado como se fosse a
primeira dama da Blake’s. Vi quando colocou as mãos
dentro dos bolsos para não a deixar tocar, conversaram
mais algumas coisas e então ouvimos mais vozes
chamando por Blake.
— Pensei que vocês estavam perdidos. — Disse ele
sorrindo. Pela primeira vez vejo um sorriso em seus
lábios.
— Ficamos presos em uma reunião chata. Como está
tudo por aqui? — Perguntou o charmoso moreno de olhos
escuros.
— Bem. — Ele olhou para mim e falou. — Srta. Grace,
esses são Oliver e Karley, meus amigos. — Eles olharam
para mim e sorriram.
— Finalmente conhecemos a famosa Srta. Grace. — Eu
não sei por que isso me pareceu estranho. O Sr. Blake
falou de mim para eles?
— Muito prazer. — Olhei para Blake e ele fuzilava os
amigos com os olhos, com certeza foi pela falha em dizer
“famosa Grace”. Blake estava de costas para Anabelle,
acho até que ele tinha esquecido que ela estava entre nós.
— Não vai me apresentar, Blake. — Ele fechou os
olhos como se tivesse sentindo dor. Oliver e Karley
ficaram tão tensos com a reação de Blake, que eles se
anteciparam nos cumprimentos.
— Muito prazer, Oliver.
— Eu sou Karley. — Ela sorridente, não percebe a
raiva que Blake está.
— Muito prazer rapazes, sou Anabelle Simon. Uma
amiga íntima de Blake. — Ela sorriu ao falar a insinuação
de ter algo com ele.
— Acho que íntima não seja o caso, Anabelle. — Disse
ele com rouquidão na voz. — No máximo, conhecidos. —
Blake ficou ao meu lado, ele passou as mãos na cabeça e
olhou para seus amigos.
— Então, Grace, como você se sente em trabalhar para
esse ranzinza? — Perguntou Oliver amenizando a tensão.
Um garçom passou e nos serviu de champanhe e canapés, e
depois todos voltaram a atenção para mim.
— Muito produtivo, não é o que exatamente gostaria de
fazer, mas um passo de cada vez. — Acho que fui sincera
demais. Blake que estava levando a taça de champanhe na
boca, parou no ar para me olhar, eu abaixei as vistas assim
que percebi o que falei.
— Eu sei como é, esse cara pega pesado até confiar em
você. Passei pela mesma situação, não se preocupe, hoje
sou o responsável pelo escritório de NY. — Não sabia que
ele trabalha também para Blake.
— Vamos parar de falar coisas chatas, esse champanhe
já está me deixando alegre. Eu fico um vulcão quando
sinto essas bolinhas passando na minha garganta. —
Anabelle falou se aproximando de Blake, segurou em seus
braços e piscou para ele praticamente se oferecendo.
Blake não moveu um músculo. Oliver chamou sua atenção
coçando a garganta. Ele olhou para Oliver que fez um sinal
para ter calma. Blake não se sente à vontade com Anabelle
e isso o deixa irritado. A festa continuou e várias pessoas
passaram nos cumprimentando, para falar a verdade, não
sei o que vim fazer aqui. Não estou trabalhando, anotando
ou fazendo algum tipo de coisa diferente, estou apenas ao
lado de Blake sorrindo como se eu fosse sua “noiva”.
Blake não queria tirar fotos, mas foi quase obrigado a
posar junto a maquete do projeto, e falar um pouco do que
iríamos fazer, ele não revelou tudo e não expôs a maquete
completa para não gerar cópias. Enquanto ele estava
falando sobre o projeto, decidi ir ao toalete me refrescar e
dar um tempo em toda essa pressão, entrei e estava em
silêncio, todos estavam no salão ouvindo o dono do
mundo. Não passou dois minutos e Anabelle entrou e
fechou a porta olhando para mim como se fosse me matar.
— Você não pode tê-lo, querida. — Falou olhando
através do espelho.
— Eu não o quero, Anabelle.
— Mesmo se quisesse, fique longe dele. Esse homem
vai ser meu, custe o que custar, eu vou ter um filho dele. —
Ela abre a pequena bolsa prateada, tira um batom
vermelho e passa nos lábios.
— Ele é o meu chefe a pouco tempo, não o vejo dessa
forma.
— Mas ele sim, e quando ele se aproximar de você,
descarte-o. — Ela falou bem próxima do meu ouvido em
tom de ameaça.
— Anabelle, não venha me dizer o que fazer. Se você o
quer tanto assim, fique à vontade. — Eu me virei para
olhá-la de frente. — Mas não fale comigo nesse tom. —
Alguém bateu na porta e ela não falou mais nada. Andou
lentamente e abriu, encontrou um Blake muito raivoso
olhando para ela.
— Veio atrás de mim, querido? — Perguntou sorrindo.
— Não, de Grace. — Ele olhou para mim e percebeu
meu incômodo com Anabelle.
— O que seria dos executivos sem suas secretarias, não
é mesmo? — Disse ela.
— Já está pronta, Grace? Ou precisa de alguns minutos
sozinha? — Perguntou ele, pude ver que Oliver estava ao
seu lado.
— Estou bem, Sr. Blake. — Ele estendeu a mão para
que eu pegasse. Anabelle ficou olhando, mas não se deu
por vencida. Ela segurou antes mesmo de eu chegar perto
dele.
— Que gentileza, querido, vamos. — Ela o arrastou e
eu pude ver seus olhos fechando de raiva. Oliver o seguiu
como um cão de guarda preocupado. Voltei para a grande
sala de festa e fiquei ao lado de Karley. Blake estava em
silêncio enquanto Oliver tentava distraí-lo com assuntos
sem importância, enquanto Anabelle segurava seu braço e
fazia carinho em seu rosto. Blake tem a pele branca, mas
agora estava muito vermelha de raiva. A festa continuou e
a boa música me distraiu, falamos com mais pessoas e ele
ficou mais relaxado. Eu já estava muito cansada e quando
olhei para a tela do telefone, eu vi que era 03h25min da
manhã. O sono começou a me incomodar, mas logo foi
embora com o que vi. Anabelle se aproximou do Sr. Blake
e falou alguma coisa que o deixou muito aborrecido. Ele a
olhou e disse.
— É isso mesmo que você quer? — Para uma mulher
inteligente, com certeza não seria difícil perceber a voz
gélida.
— Nada me faria mais feliz, querido. — Disse ela, toda
manhosa. Oliver ficou atormentado.
— Não faça isso, Blake. Você pode se prejudicar outra
vez. — Disse ele em voz baixa.
— Não me importo. — Falou frio ainda olhando para
Anabelle. Para ele, eu já não estava mais ali. Ele sorriu
para ela e eu tive medo, foi diabólico. Blake olhou para os
lados e não tinha fotógrafos por perto, observou mais até
ter certeza do que iria fazer. Ele pegou na mão de Anabelle
que a fez sorrir, e saiu em direção ao elevador, entrou com
Anabelle grudada a seu corpo e as portas se fecharam.
— Merda, o que vamos fazer Karley? — Perguntou
Oliver.
— Vamos ser mais discretos possível e ir para a sala
dele. — Karley estava muito nervoso.
— Ele odeia esse tipo de mulher. — Os dois foram
para o elevador e me deixaram sozinha. Fiquei apreensiva
por Anabelle, se Blake fosse descontar sua raiva em cima
dela, ela sairá muito machucada. “Será que ele é do tipo
de homem que bate em mulher?” Óbvio que tinha que ter
algum defeito, ele é lindo demais para ser perfeito em
tudo. Enquanto eles esperavam o elevador chegar, eu fui
para a recepção, e peguei o segundo elevador. Quando
entrei e as portas se fecharam, me senti sufocada “O que
será que vou ver?” Medo é o que sinto agora, o elevador
chegou e as portas se abriram. Andei devagar para ver se
ouvia alguma coisa e me aproximei da sala de Blake, pude
vê-lo subindo a escada espiral arrastando Anabelle pelo
braço, ela sorria por conseguir sua conquista. Ele abriu a
porta e entrou, foi então que eu ouvi.
— Esperei muito por isso. — Disse ela. Ele não
respondeu, entrei na sala a passos lentos e me aproximei
da escada, ela já estava um pouco alterada por tomar
muito champanhe então sua voz estava mais alta que o
normal, parei e olhei para trás quando ouvi passos pelo
corredor. “Oliver e Karley” pensei. Subi a escada com
cuidado para não fazer barulho, e mais uma vez ouvi a voz
de Anabelle.
— Quero beijar esses lábios. — Disse ela. Então ouvi
a voz rouca e cortante dele.
— Eu não beijo, Anabelle. — Pisei no último degrau.
Não entendi o receio que Oliver e Karley estavam, parecia
tudo normal para mim. Olhei para dentro do cômodo e vi
uma cama grande bem arrumada, era seu lugar de descanso
particular, o qual eu não conhecia, mas o que meus olhos
viram logo em seguida, fez meu corpo entrar em choque.
Blake desabotoou a calça e colocou o preservativo em seu
sexo, o qual não é normal pelo tamanho e espessura. Ele
posicionou Anabelle contra a parede segurando forte na
nuca e disse.
— Fique nessa posição, não quero olhar para você. —
Pude ver o esforço para conseguir manter a ereção.
— Quero olhar para você. Blake, sei que também me
deseja. Por que não vamos para a cama, querido? —
Perguntou tentando virar de frente para ele.
— Desejo, é o único sentimento que não tenho por
você. — Disse ele. — E na minha cama não é lugar para
lixo. Empine o quadril, vou entrar em você. — Ele
levantou o vestido até a cintura e rasgou a calcinha de
Anabelle, quando de repente ele a penetrou tão forte, que
Anabelle perdeu o fôlego tossindo.
— Você pediu para ser fodida, isso é o máximo que
posso fazer por você. — Frio. Um homem com coração de
gelo.
— Isso foi muito bom, quero mais. — Disse ela quase
sem fôlego.
— Segure-se, não vou demorar muito. E tenha a certeza
que não estou pensando em você ou te achando a mulher
mais perfeita que eu já levei para uma trepada rápida.
Mulheres como você me enojam. — Disse ele. E cada vez
mais ele a penetrava forte. Anabelle gemia alto não sei se
era de dor pela força que ele estava fazendo, ou se
realmente ela estava sentindo prazer em ser usada de
forma tão brutal. Ele fechou os olhos e em menos de três
minutos, ele gozou. Saiu de dentro dela com nojo.
— Pronto, já está fodida. — Anabelle vira-se e olha
para ele completamente desapontada.
— Mas já acabou? Eu não senti nada. — Disse ela.
— Eu não tenho obrigação de fazê-la sentir. Você pediu
para que eu a fodesse, eu fiz.
— Mas nenhum beijo, Blake? — Perguntou ela.
— Há dez anos eu não beijo uma mulher.
Principalmente se ela for uma prostituta como você. —
Blake tirou o preservativo e ouviu Oliver e Karley subir a
escada, ele olhou para a porta onde eu estava parada e
nossos olhos se encontraram. Fiquei espantada com sua
frieza, nunca imaginei presenciar uma cena tão
aterrorizante, acabou com minhas expectativas para o
sexo, nem em filmes pornográficos do idiota do meu
irmão, os homens eram tão mecânicos e brutos com as
mulheres.
— Você é um grosso, como pode tratar uma mulher
assim? — Perguntou ela abaixando o vestido. Oliver e
Karley ficaram ao meu lado na apertada escada que não
tinha espaço suficiente para três, e ele falou deixando os
meus olhos e olhando para Anabelle.
— A coisa que mais desprezo, é uma mulher oferecida
como você. Não me encanta como você fala, tenho nojo de
como me olha. Você não serve para ser uma prostituta de
classe, se arrasta na cama de qualquer homem com
dinheiro. Você pediu para ser fodida, e não para sentir
prazer. Nossa relação será estritamente profissional, se
você se comportar como das outras vezes, cancelo o
contrato com o seu empregador, deixando claro os
motivos. — Anabelle se encolheu abraçando o corpo,
lágrimas escorriam pelo seu rosto e ficou ainda mais
constrangida quando se deu conta de que os rapazes e eu
estávamos olhando tudo. Blake me olhou outra vez, foi o
único momento que vi um lapso de arrependimento, por eu
ter visto aquilo. Ele foi um animal, frio e sem menor
respeito. Não sei por que fiz isso, vir atrás de Blake para
ver o que ele iria fazer, mas arrependi da minha estupidez.
Senti pena de Anabelle que estava desolada e com
vergonha, não pude mais olhar para ele e ela, desci a
escada o mais rápido que consegui, entrei no elevador e
apertei para o térreo e as portas se fecharam. Meu coração
ficou muito acelerado, meu corpo trêmulo, e tudo em mim
não estava normal como cheguei aqui. “Se todos os
homens forem assim, quero permanecer virgem para o
resto da vida”. Ele a tratou pior que um animal, porque
animais, nós os seres humanos normais os tratamos com
carinho.
Consegui pegar um táxi e fui direto para casa, as
imagens da fisionomia de nojo dele ficaram gravadas na
minha cabeça, assim que entrei em casa fui direto para o
banheiro tomar um banho, logo estava na cama para dormir
ou ao menos tentar.
Às seis da manhã acordo e não consigo mais dormir,
fico na cama pensando várias coisas ao mesmo tempo, o
que não me deixa nada tranquila. Olho para a porta e ainda
está trancada, para a janela e está fechada e cortinas
cobrindo tudo, e mesmo assim, eu sinto que tem olhos em
cima de mim. “Tem alguém me olhando”. Penso
novamente em Anabelle e com isso veem as lágrimas, de
pena, de raiva por ela ter conseguido o que queria mesmo
não sendo de um jeito bom, choro pelo olhar que ele me
deu quando percebeu que eu presenciei tudo, e pelo nojo
que ele sentiu ao sair de dentro dela, choro não sei porque
motivo, mas choro. Mexo na cama impaciente e com outro
movimento sinto a tornozeleira na minha pele. O presente
que Blake me deu, não quero mais. Sento-me e a observo,
puxo para destravar e não consigo, é uma tornozeleira que
jamais vi igual. Parece até de monitoramento policial,
porém com visual moderno, da grossura de um dedo e
dourada, com alguns penduricalhos delicados, faz meu pé
ficar sexy, mas não quero sentir isso, parece que Blake
está me tocando e não me agrada em nada essa sensação.
Minha mente trabalha a mil por hora e quando olho as
horas outra vez, são 09h da manhã, o sono chega me
dizendo bom dia, e em agradecimento, eu durmo.
Minha campainha toca insistente, tenho dificuldades
para abrir os olhos mas faço um grande esforço. Concentro
na parede branca até que eu esteja totalmente acordada e
mais uma vez o barulho insuportável feri meus ouvidos.
“Deve ser Alice” Levanto-me ainda meio sonolenta e de
pijamas, vou até a porta da sala e sem olhar no olho
mágico, eu abro. “Por que fiz isso?”
— Boa tarde, Grace. — Disse ele. Subi um pouco as
alças da blusa que estava deixando meus seios expostos, e
seus olhos seguiram minhas mãos. Ele está de jeans, tênis
e camisa branca com jaqueta de couro. Meus sentidos não
ficaram normais com essa visão linda, e do mal.
— O que deseja, Sr. Goldberg. — Perguntei. Não vou
perguntar como ele subiu sem ser avisado, afinal, moro no
quarto andar de um prédio, e que tem porteiros
trabalhando.
— Não vai me convidar para entrar? — Perguntou sem
tirar os olhos dos meus. O que ele quer aqui?
— O que você quer?
— Saber se você está bem. — Disse ele.
— Eu estou bem, não se preocupe. — Ele empurrou a
porta e olhou para dentro do meu apartamento, entrou sem
eu permitir. Deixei a porta aberta, não quero ficar sozinha
com ele.
— Você chorou muito essa noite. — Ele afirmou
olhando através do vidro da pequena sacada.
— Engano seu. — Eu disse. Ele virou para me olhar e
viu a porta aberta.
— Feche a porta. — Foi uma ordem.
— Não.
— Precisamos conversar, Grace, feche a porta. — Ele
disse em tom mais pesado.
— Não temos nada o que falar, Sr. Não vou fechar a
porta.
— Não quer conversar sobre ontem? — Perguntou.
— Não.
— Vai trabalhar amanhã? — “Isso eu não sei
responder” pensei.
— Não sei.
— Você vai, Grace. — Ele chegou perto demais para
meu gosto. — E vai esquecer o que viu.
— Esquecer que você foi violento com Anabelle?
— Violento é uma palavra muito pesada para o que
realmente aconteceu. — Disse ele.
— E o que aconteceu, então? — Meu corpo estava
trêmulo, ele é um homem intimidador.
— Aquela mulher estava sendo inconveniente há muitos
dias. Eu nunca dei liberdade para ela, e ontem. — Ele
olhou em meus olhos. — Não gostei do que ela falou para
você no banheiro, e no meu ouvido. Ela pediu, eu dei,
simples.
— Ela pediu para ser tratada como lixo?
— Não, ela pediu para foder comigo. — Eu olhei para
meus dedos quando ele falou.
— E uma mulher como Anabelle, oferecida demais,
fácil como uma prostituta louca por drogas, somente assim
suportaria ter em minha cama. Eu a fiz entender que ela
nunca mais irá voltar. Se voltar, é a trabalho e sem
liberdades comigo. Se eu quiser uma prostituta, existe
excelentes profissionais. Deixei claro também.
— Não gostei do que vi. — Eu disse.
— Não gostei de ter feito, pensei em outra pessoa
enquanto acontecia. ― Eu olhei para ele e seus olhos
estavam como brasas vivas. — Por que você foi até lá?
— Fiquei preocupada com a sua raiva. Se você veio
aqui com medo de eu ir à polícia. — Falei desviando do
assunto. — Eu não vou.
— Não tenho medo da polícia, Grace. Eu não a
violentei, e você sabe muito bem disso. — Ele disse com
raiva. — Só quero vê-la amanhã no mesmo horário.
— Tudo bem, eu estarei lá. — Ele estava me
sufocando. — Agora pode ir, por favor, eu tenho muitas
coisas para fazer. — Deu passos em direção à porta.
— Te espero amanhã. — Disse, olhou para mim mais
uma vez e falou. — E não tente tirar a tornozeleira, foi um
presente. — Disse e saiu. “Como ele sabe que tentei
tirar?” Talvez tenha imaginado. Meu Deus, como vou
fazer agora? Trabalhar sem achar que nada daquilo foi
errado?
Fecho a porta e aciono o alarme. Vou até a sacada e o
observo, está de moto por isso a jaqueta, colocou o
capacete e saiu acelerando o motor como se já fizesse isso
há muito tempo. A imponência dele não é só dentro de sua
sala, mas em qualquer lugar em que ele esteja. Decido
tomar um banho, o calor chegou e ficou aqui dentro. Tomo
meu banho e fico só de baby doll de algodão, Miami é
sempre muito quente. Faço um sanduíche para comer e
acomodo-me no sofá na frente da televisão para ver os
seriados de domingo, isso se resume o meu dia, estranho
Alice não ter ligado ainda, mas com certeza não passa
dessa noite. Lembro que Blake subiu sem ser anunciado e
então vou até a cozinha e ligo para a portaria do prédio.
— Boa tarde, Srta. Montgery.
— Boa tarde, Sr. Ramos. Quero saber por que esse
homem que esteve em minha casa, subiu sem ser
anunciado?
— Me desculpe, srta. Mas ele disse que é seu noivo. —
Quê?
— Noivo? Não, ele é meu chefe. — Falei.
— Eu devo ter entendido errado. Desculpe.
— Ele já esteve aqui antes?
— Enquanto eu estive na portaria não, mas talvez
Antônio possa te informar melhor.
— Obrigada, Sr. Ramos. — Desliguei. Antônio é o
porteiro que fica durante a semana. Blake tem um poder
sobre as pessoas, se ele esteve aqui, conseguiu pela
simpatia. Assisti à TV todo o final do dia e já era tarde da
noite quando Alice me ligou e perguntou tudo sobre a
festa, ela estava em um local com a música muito alta,
então eu disse que falaria com ela depois. Ela concordou e
desligamos, não estou muito para conversas, no relógio já
são 11h da noite, e o sono veio forte outra vez, fui para
cama e dormi assim que me aconcheguei nos meus lençóis.
Acordo e é segunda feira, dia de voltar aquele lugar
onde me deixa tensa e oprimida. Dia de fingir não ter visto
o que vi, de ter que olhar para dentro daquela sala e não
ouvir os choros de Anabelle. Faço tudo o que preciso para
me manter apresentável e vou para a Blake’s, será um dia
difícil e tenho que ficar concentrada para não o deixar
perceber o quão ele me perturba. Quando estaciono meu
carro na vaga delegada a mim, o carro ao lado do meu me
assusta. É o carro preto que sempre me segue, é um carro
de luxo, porém não sou muito atenta a nomes, mas sei que
é ele ou um idêntico a ele. Saio do meu carro e vou para
minha sala de trabalho, ao sair do elevador vejo que tudo
está claro demais, as luzes estão acesas e quando me
aproximo da minha mesa, vejo a sala dele toda iluminada,
e ele, em pé encostado na mesa de pernas cruzadas
olhando para mim com o telefone na mão. “Acho que sou
mais corajosa do que pensei, o que eu estou fazendo aqui
outra vez?” Ele faz um sinal para que eu entre, deixo
minha bolsa em cima da mesa, abro a gaveta para pegar a
agenda e vou até sua sala, mantendo o equilíbrio que não
tenho em minhas pernas.
— Bom dia. — Eu disse, parando no meio da sala, uma
distância favorável para correr a qualquer momento. Mas
quando ele dá um passo à frente e vem em minha direção,
meu corpo fica desobediente e não consigo mover meus
pés.
— Respire, Grace. — Ele se aproximou e ficou bem
diante de mim, quase encostei meu nariz em seu peito.
Olhei para cima, ele é alto o suficiente para minha cabeça
ficar totalmente virada. — Eu não vou te fazer mal, nunca.
— Disse ele. Blake colocou a mãos por dentro do meu
cabelo na nuca. — Eu não seria capaz de machucar uma
mulher tão perfeita como você. Eu não fiz isso com ela,
Grace. Anabelle pediu para ser fodida, e é assim que fodo
uma mulher. — A cada palavra que sai da boca dele, meu
estômago fica gelado, estou suando mais que o normal
agora. Não sei se é de alívio ou medo, ele passa os dedos
da outra mão em meu rosto, é uma mistura de sentimento, é
o bom com ruim, a paz com a tormenta, eu não sei explicar.
— Acalme-se e confie em mim, você está protegida. — O
que ele quis dizer com isso? Ele se afastou, soltou meu
cabelo e colocou as mãos no bolso.
— Bom dia, Grace. — Disse. — Vamos passar a
agenda? — Louco.
— Sim. — Não falei mais nada. Ele foi para sua
cadeira e eu sentei de frente para sua mesa. Abri a agenda
procurando a data de hoje, quando ouvimos o barulho da
porta do elevador. Ele estava olhando para a tela do
computador quando disse.
— Ela não aprende. — Foi aí que me dei conta de que
meu lugar na recepção era monitorado por câmeras muito
bem escondidas, e com certeza sua sala fazia parte desse
monitoramento. O barulho do salto batendo no chão
aproximou e quando vi Anabelle sedutoramente vestida,
tive a certeza de que ela queria mais do que teve. Blake
fechou as mãos várias vezes para se controlar.
— A diferença de uma prostituta para Anabelle, é muito
clara para mim. — Olhou em meus olhos e disse. — Uma
prostituta de luxo se valoriza cobrando pelo trabalho,
talvez insuportável demais no momento. Ela se veste de
forma que olhando pensa que não leva uma vida como a
que vive. Ela se porta educadamente e muito elegante. Ela
é cara, um valor pago por um trabalho perfeito, depois
veste sua face de anjo e vai embora sem dizer nada. — Ele
olhou para a recepção. — Anabelle não, ela faz questão de
mostrar em suas roupas o quanto está ovulando, e age
como uma cadela. Um sorriso e já tem suas pernas abertas.
— Ficou em silêncio observando Anabelle entrar na sala.
— Bom dia. — Percebi o tom de voz sério de
Anabelle.
— O que você quer? — Perguntou ele.
— Entregar o que meu empregador deseja que mude. —
Ela abriu sua pasta de trabalho e pegou os documentos e
os entregou a Blake. Ele olhou e balançou a cabeça.
— Será feito conforme a sua vontade. — Falou olhando
para ela com raiva.
— Obrigada, bom dia. — E saiu, ela não olhou para
mim em momento algum. Ela se vestiu para provocá-lo,
mas não o fez, talvez porque eu esteja na sala. Ele respirou
fundo e então pediu que eu passasse a sua agenda. Ele tem
duas reuniões na parte da tarde, eu não vou precisar
participar e então me liberou na hora do almoço. Se
precisasse de alguma coisa, ele entraria em contato por e-
mail, me senti aliviada por não precisar ficar perto dele
todo o dia. Fui para minha mesa e depois de um tempo
considerável respondendo e-mails, imprimindo
documentos e fazendo um monte de coisas ao mesmo
tempo, não pude mais ignorar a sensação de sentir seus
olhos grudados em mim. Eu olhei para sua sala e como
pensei, ele estava me olhando. Em pé, no vidro da sala,
concentrado em me deixar com medo e ao mesmo tempo
meu sexo latejou como de outrora. Passou rápido pela
minha mente seus movimentos fortes em Anabelle, seus
olhos diziam que ele estava fazendo aquilo comigo agora,
em seus pensamentos. Senti meu corpo arrepiar e precisei
de ar, puxei forte para os pulmões e foi quando eu vi um
lapso de sorriso em seus lábios, se esse homem não é um
serial killer, ou um stalker, ele está treinando para ser e
pensa em me fazer de vítima. Olho novamente para o
computador e ainda sinto que está me olhando, não penso
duas vezes apenas levanto-me e vou em direção ao
banheiro. É tanta tensão que meu corpo dói, amarro meu
cabelo em rabo de cavalo e lavo meu rosto, tiro toda a
simples maquiagem que fiz, até isso estava me
incomodando. Me refresco com a água gelada e volto para
minha mesa, ele já não está mais no vidro da sala e sim,
em pé na grande janela olhando o mar. Ele percebe que
voltei e se vira outra vez para me olhar, eu desvio minha
atenção para meus afazeres e vejo sempre de soslaio que
ele permanece em pé e não se move, só olha, até que meu
telefone toca e eu atendo.
— Alex, estou no trabalho. — Repreendi meu irmão,
ele sabe que não gosto de atender ligações particulares.
— Eu sei, só não tive tempo de ligar no fim de semana,
como você está?
— Estou bem, pensando em procurar outro apartamento
para morar, o que acha? — Falei, não dando a entender o
medo que estava.
— Acho ótimo, quero você em um bom lugar. Liguei
também para avisar que talvez eu vá te fazer uma visita em
breve.
— Nossa, a que devo a honra? — Quando terminei de
perguntar, ouvi as batidas no vidro da sala. Olhei e meu
chefe estava lá outra vez, batendo com um dedo no vidro, e
na outra mão o seu telefone celular. O que me deixou
confusa, é a expressão de dúvidas e raiva que ele me olha.
Como se estivesse ouvindo a minha conversa com Alex.
Mas isso só pode ser delírios da minha cabeça
atormentada pelo medo.
— Alex. — Chamei e observei meu chefe.
— Sim. — Ele continuou batendo os dedos no vidro e
não fez nada além disso.
— Eu preciso desligar, meu chefe está me olhando,
acho que ele precisa de mim. — Assim que terminei de
dizer “precisa de mim” ele sorriu. “Oh meu Deus, ele está
ouvindo a minha conversa com meu irmão? Como isso é
possível?” Tentei manter a calma e despedi de Alex
naturalmente. Deixei meu telefone na mesa e não desviei
meus olhos dele. Ele andou lentamente até a porta olhando
para mim com o telefone ainda no ouvido.
—Vamos resolver isso. Sim, coloque tudo na conta da
empresa, afinal foi no estacionamento privado da Blake’s.
— Do que será que ele está falando? E se ele estiver
falando mesmo, ele terminou a ligação e falou.
— Aconteceu um problema na garagem, um funcionário
perdeu o controle do carro por algum motivo que
desconheço, e bateu no seu carro. E está todo amassado.
— Nossa, e ele está bem? — Fiquei preocupada com a
pessoa.
— Sim, está, e com medo por ter que desembolsar uma
quantia razoável. Fica por minha conta. Mas até lá, você
está sem carro.
— Não tem problema, eu dou um jeito. — Eu disse me
sentindo aliviada por ele não ouvir minha conversa com
Alex. De onde eu tirei isso mesmo?
— Eu vou te levar para casa, ou qualquer lugar que
você queira ir hoje.
— Não precisa, Sr. Eu pego um táxi.
— Não aceito não como resposta, Grace. Já está na sua
hora, vamos? — Olhei para as horas no telefone, e já
estava mesmo na minha hora. Não tive muita escolha em
discutir então aceitei a carona. Fomos para garagem que eu
não conheço, acho que é mais abaixo de onde estaciono. O
mesmo motorista da limusine, abriu a porta de um Bentley
branco e lindo, entrei primeiro e vi o grande espaço todo
de couro bege, parecia mais um carro de cinema, ele
entrou logo em seguida e o ar começou a ficar pesado, ou
inexistente. Assim que o carro saiu, ele acionou o botão de
privacidade e um vidro escuro subiu isolando a visão e o
som do motorista.
— Você quer almoçar comigo? — Perguntou olhando
para mim.
— Obrigada, mas prefiro ir para casa.
— Minha presença não te agrada, Grace? — Objetivo
demais.
— Não é isso, só não misturo as coisas. — Falei e
olhei para ele, me senti nua.
— Que coisas? A funcionária almoçar com o chefe não
é pecado, é?
— Não, mas eu não quero. Não hoje. — Por que eu
disse isso?
— Melhorou, vou cobrar esse almoço. — Ele apertou
um botão e deu a ordem para me levar para casa ao
motorista. Não demorou muito estávamos em frente ao meu
apartamento.
— Tenha um bom dia, Grace. ― Disse rouco.
— Bom dia, Sr. Blake.
— Sabe uma das coisas que mais gosto em você,
Grace. — Nunca imaginei que havia uma.
— Não, o que é? — Perguntei parada com uma perna
para fora do carro e olhando para ele.
— O tom de voz, e a forma que sai da sua boca quando
diz meu nome, Sr. Blake. É muito excitante. — Meu Deus,
como faço para sair desse carro? A voz rouca com a
palavra excitante, fez meu sexo pulsar.
— Bom dia Sr... — Eu ia falar novamente e parei.
— Bom dia. — E sai de perto desse homem mau,
ladrão de oxigênio.
Cap í tulo 5

Q uando entro em minha casa, volto a respirar. Blake é


intenso, misterioso em todos os sentidos, e também com
uma pitada de encantamento. Ele é sedutor sem fazer
esforço. Não fiz nada para o jantar, não tenho fome
somente sono, vou para meu quarto, tranco a porta e deito
na cama, adormeço imediatamente.
O dia amanhece e com ele a fome imensa, preparo meu
café dos campeões e só paro de comer quando estou
satisfeita por três dias seguidos, comi muito mesmo. Vou
para o trabalho de táxi, e quando chego, meu chefe ainda
não está, não demora dez minutos ele sai do elevador e
fala que eu não precisava ter vindo, ele iria me buscar,
mas quando viu que eu estava aqui, veio direto para
Blake’s. “E como ele soube que eu estava aqui?”
O dia passou calmo, sem reuniões intermináveis, ele
trabalhou muito em um projeto sozinho em sua sala e
almoçou aqui mesmo. Já na minha hora de sair, aproveito
que ele não está na mesa, ele subiu aquela escada espiral
para o abatedouro, entrei no elevador e fui para minha
casa de táxi novamente. À noite chegou, e depois de algum
tempo sentada no meu sofá curtindo a preguiça, ouço o bip
que toca insistente de uma mensagem no meu telefone de
que perdi uma chamada, eu não ouvi tocar e o número não
é familiar, quando vou retornar à ligação, o interfone do
prédio toca e me assusta. Não estou esperando ninguém.
— Sim.
— Boa noite, Srta. Montgery, o Sr. Goldberg está aqui.
— O que ele está fazendo aqui outra vez?
— Diz que já vou encontrá-lo. — Desligo. Não vou
deixá-lo subir sempre que quiser. Coloco um vestido floral
bem fresquinho para o calor da noite, não muito comprido,
eu reconheço, mas era o mais fácil para escolher rápido.
Desço e o encontro em pé olhando para rua. O porteiro
não está mais em seu posto de trabalho, deve ter ido fazer
alguma coisa pelo prédio.
— Sr. Blake. — Vira-se e me devora.
— Grace, você está linda. — Ele me olha com sede, eu
sei disso, já vi esse olhar no meu irmão para com sua
noiva. Depois tive que tapar os ouvidos à noite inteira,
pois ele não deu sossego para a coitada.
— Obrigada. Veio até minha casa, aconteceu alguma
coisa?
— Por que você não permitiu minha entrada? —
Perguntou.
— Porque não costumo receber homens na minha casa.
— Ele gostou do que ouviu, esboçou um sorriso.
— Bom saber. Vim para avisá-la que vou levá-la para o
trabalho amanhã.
— E você não podia ligar para me dizer? — Perguntei.
— Eu fiz, mas você não atendeu. — Olhou para minhas
pernas e passou a língua nos lábios e disse voltando os
olhos para os meus. — Seu carro foi para o conserto assim
como os demais. O número que te liguei é o meu
particular, poucas pessoas o conhecem e são proibidas a
passar para outras. Eu quero que você o tenha para
qualquer coisa ou emergência.
— Agradeço a preocupação, mas não será preciso, não
vou salvar o número. — Ele franze a testa. — Eu não vou
passar para ninguém Sr.
— Me chame de Blake. Eu quero que você o tenha,
preciso saber que irá salvar esse número na sua agenda,
Grace.
— Mas por que, Blake? — Perguntei confusa, é só um
número.
— Porque eu quero que você precise de mim. — Pronto
agora ficou estranho essa conversa. Ele me olhou mais um
pouco e andou até o grande portão de saída, e disse
olhando para meu corpo. — Venho te buscar amanhã.
— Não precisa, eu pego um táxi. — Parou e olhou para
trás. — Eu só não quero incomodá-lo. — Ele sorriu.
— Impossível você fazer isso. — E saiu. Quando ele
entrou no carro em que estava, meu corpo congelou. Eu
quase perdi os sentindo e se não fosse o porteiro me
amparar, eu tinha me machucado ao cair no chão. Era o
carro preto do outro dia. Era ele, eu sei, reconheci.
Quando Blake ligou o carro, ele acelerou duas vezes como
da outra vez, e foi embora.
— Srta. quer que eu pegue água para você. —
Perguntou o novo porteiro.
— Não, já estou bem. — Respirei fundo três vezes e
voltei aos meus sentidos. Alguém está querendo me matar.
Blake quer me matar e eu não tenho nem o direito de saber
o porquê. Olho para o porteiro e não o conheço, sei que é
novo, mas sempre quando isso acontece, somos
comunicados.
— Você é novo aqui. — Falei encostada na parede.
— Sim, comecei ontem.
— Está substituindo alguém?
— Não Sra. Estou fazendo a vigilância do prédio. —
Disse ele. — Fui contratado particular. — Não entendi,
mas fingi que sim.
— Ok. Eu vou subir, tenha uma boa noite. — Virei em
direção ao elevador e sai deixando-o sozinho, não sei se
pela distância, mas pensei ter ouvido o improvável.
— Boa noite, Sra. Goldberg.
— O que você disse? — Perguntei, olhando para trás
na parada brusca que dei.
— Disse, boa noite, Sra. Grace. — Disse ele como se
houvesse cometido uma grande falha.
— Eu ouvi você me chamar de Sra. Goldberg. — Falei
assustada com minha própria voz.
— Ouviu errado. — Curto e grosso. Eu continuei o meu
caminho e antes de entrar no elevador, olhei para o
porteiro e o vi sorrindo com o telefone na mão, se eu não
estiver enganada, ele tirou fotos minhas. Entrei assim que a
porta abriu, outro homem estranho para eu me preocupar
além de Blake e o stalker. O que eu faço, meu Deus?
Entro em meu apartamento e aciono todo o sistema de
alarme travando todas as portas e janelas, chega de
surpresas por hoje. Me sinto cansada e vou dormir, ou ao
menos tentar, ainda são 22h45min, e o sono só me visita
depois da meia-noite. Rolo na cama e não consigo me
manter concentrada, as luzes estão apagadas mais o
insuportável sentimento ainda está aqui. Não consigo ficar
deitada rolando de um lado para o outro, olho as horas
pela vigésima vez e é 01h da manhã, levanto-me e ligo as
luzes, olho pelo quarto e sinto que tem alguém aqui, mas
não vejo nada. Vou até o closet e com muita fé e coragem
abro a porta, coração fica calmo quando vejo que não
existe razão para temer. Olho debaixo da cama, no
banheiro, nos outros cômodos da casa, está tudo normal,
mas a presença de alguém aqui dentro é muito forte. Não
acredito em espíritos, acredito somente no que vejo, no
que sinto. E mesmo não vendo nada, eu sinto a presença de
alguém. Volto para o quarto e olho mais uma vez por todo
ele, está limpo. Fico parada olhando para minha cama, e
minhas costas arrepiam, é como se tivesse uma pessoa
atrás de mim, tenho medo de virar e me deparar com algo
impossível, mas preciso fazer. Respiro e solto devagar,
viro e olho tudo, não tem absolutamente nada. Me
aproximo da cômoda como se tivesse alguém me
chamando, mas não vejo quem é. Olho as minhas coisas,
meus objetos, o quadro pendurado bem no meio da parede
e quando eu olho para ele, é como se alguém estivesse me
vendo através dele. Minhas mãos tremem só de pensar em
tocá-lo, eu não consigo, sou covarde e medrosa para
descobrir se tem alguma coisa estranha com ele. Meu
coração diz que sim, mas meu corpo não reage para
certificar-se de que estou certa. Viro-me e ando seguindo
para o lado direito da cama, deito e me cubro com
edredom, olho para o quadro por horas, parece que eu
estou me comunicando com ele, ou alguém atrás dele. Até
que meus olhos se fecham completamente e caio em sono
profundo.
O dia amanheceu nublado, chuva em Miami acontece
com frequência. Faço o que me é habitual e vou preparar
meu café da manhã, olho a previsão do tempo no
computador e está marcando que até o fim de semana, uma
tempestade está por vir. Tomo meu café e tão logo recebo
uma mensagem no meu telefone, vejo que é o mesmo
número que o Sr. Blake disse ser dele, abro e leio. “Te
espero”. — Disse a mensagem. “Bom dia, seria bom Sr.
Mal-educado Blake” pensei. Pego minha bolsa e saio
direto para o elevador, e assim que as portas se abrem já
no lobby do edifício, ele está parado em frente me
esperando. Eu tento respirar fundo e não consigo, ele
roubou todo meu ar.
— Bom dia, Grace.
— Bom dia, Sr. Blake. Não precisava me esperar aqui.
— Ele sorri e diz.
— É um prazer, vamos? — Apenas aceno com a cabeça
e saímos, ele fez questão de me tocar nas costas me
fazendo sentir mais a sua presença, como se fosse pouco
toda a sua imponência. Quando me aproximo de seu carro,
vejo que era o mesmo de ontem, e o dos outros dias, o dia
em que um homem acenou para mim da janela. Fiquei tensa
e ele percebeu.
— O que foi, Grace? — Perguntou.
— Esse carro, é o mesmo que me seguiu na semana
passada.
— Você está sendo seguida?
— Parece que tenho um stalker. — Falei, olhando para
ele. — O seu carro é igual ao que ficou aqui parado com
uma pessoa dentro que não pude identificar.
— Eu não sou um perseguidor, Grace. O nome
apropriado para o que sou, seria protetor. Mas não fui eu a
te seguir, então, fique tranquila, está em ótimas mãos
entrando no meu carro. — Disse, senti suas mãos
acariciando minhas costas, ele abriu a porta e eu entrei.
Ele não estava com os serviços de seu motorista. Assim
que ele sentou ao meu lado, ele olhou para minhas pernas
cruzadas. Tentei vergonhosamente puxar meu vestido até
os meus joelhos, mas a tentativa foi sem sucesso. Ele
sorriu e seguiu para a Blake’s. O dia foi muito produtivo,
participei de duas reuniões que ele teve, e agora estamos
começando a terceira. Uma pauta para abordar a
decoração de um centro empresarial em NY, vejo que tem
pessoas que são da empresa filial e todos os funcionários
tratam Blake formalmente, ele não expressa interesse em
expandir relações com ninguém. Fazem seus trabalhos, ele
paga um ótimo salário para isso, e pronto. Sem vínculos de
amizades. Mas hoje está diferente. Comigo, Blake está em
sua posição de empresário, porém tomando água no
mesmo copo que eu. Coisa boba, eu sei, mas todos
perceberam. Peguei uma garrafa pequena de água e copos,
servi a todos, sentei como de costume ao lado de Blake, e
me servi de um copo com água bem gelada, tomei um gole,
e logo depois, ele pegou o mesmo copo e tomou. Pensei ter
sido por engano, mas ele continuou fazendo. Então
perguntei em voz muito baixa:
— Quer que eu te sirva em outro copo? — Ele parou de
digitar no computador, olhou para mim e perguntou.
— Incomoda que eu tome água no mesmo copo que
você? — Ele esperou a resposta olhando para meus
lábios.
— Não. — Não me incomodei, acho íntimo demais
para ele, mas não me incomodei em nada.
— Eu também prefiro assim. — Disse com leve
sorriso. Quando voltei a atenção para a reunião, e ele para
o computador, percebi que estávamos sendo observados
por todos. Se ele se deu conta disso, disfarçou como se
nada tivesse acontecido. A reunião prosseguiu como o
esperado e depois de uma hora, todos estavam liberados.
Já na minha mesa pego minha bolsa para ir para casa,
quando ele se aproxima.
— Vamos? — Olhei sem entender.
— Para onde?
— Vou te levar para casa. — Ele ficou me olhando e
disse depois de segundos. — Seu carro ainda não ficou
pronto, Grace. — Nossa, realmente tinha me esquecido
disso.
— Eu não quero incomodá-lo. Posso pedir para Alice
vir me buscar, ou chamar um táxi.
— Faço questão de levar você. — Ele falou tão sério
que não fiquei confortável em discutir.
— Tudo bem. — Saímos e ficar ao seu lado é
sufocante. E entrar no carro parecido com o que me seguiu,
era mais desconfortável do que apensas sufocante.
— Por que você fica tensa quando estamos próximos,
Grace? ― Perguntou.
— Não fico tensa.
— Você não gosta de mim, não é? — Ele parou o carro
no sinal vermelho e se virou para me ouvir falar.
— Não tenho nada contra você. — Meu Deus isso é
hora de me perguntar essas coisas?
— Você me sente? — Quê?
— Não entendi. — Falei.
— Estou perguntado se você me sente, Grace? — Um
carro atrás buzinou quando o sinal ficou verde, ele virou-
se novamente e tomou a direção me levando para casa.
— Desculpe minha falta de inteligência, mas ainda não
entendi a pergunta.
— Eu passo horas te observando, Grace, você me
sente? — Perguntou, como passa horas me observando?
— Não. Por que você me observa? — Espera, ontem eu
senti nitidamente que estava sendo observada. — De onde
você me observa? — Eu não quero ouvir essa resposta.
Ele me olhou com olhos em chamas, passando por todo
meu corpo e depois voltou para meus olhos.
— Da minha sala. — Ele está mentindo.
— Sempre quando eu olho, você está trabalhando. —
Falei.
— Então você me olha? — Perguntou.
— Não como você gostaria. — Ele parou o carro em
frente à minha casa.
— Eu gostaria de muitas coisas, Grace. — Conversas
de duplo sentido e bem infantil.
— Obrigado pela carona, Sr. Blake. — Disse e saí do
carro.
— Amanhã seu carro ficará pronto, para minha
infelicidade. — Ele fez questão de frisar a infelicidade em
voz baixa, para talvez eu não ouvir. Mas ouvi. Prefiro o
Blake mudo, aquele que só fala o necessário e não passa
cantadas baratas. Ele está passando cantadas? Não parece
o perfil dele.
— Obrigada. — Agradeci e saí do carro. Quando entrei
em meu apartamento, voltei a respirar. Passei a maior
parte do tempo no quarto, olhando para o quadro que me
fez ter arrepios na noite passada, mas ainda não tive
coragem de removê-lo do lugar. Parece improvável
demais ser verdade o que estou pensando, ou ridículo a
ponto de eu vasculhar minha casa atrás de algo que talvez
só esteja na minha cabeça. À noite passou e dormi
tranquilamente, fui acordada pelo barulho irritante do
despertador, sinal que já estava na hora de levantar para ir
trabalhar. Mais um dia com o Sr. Estranho, perseguidor,
misterioso, sedutor, lindo, mau caráter, Blake, só uma
pequena discrição da lista de um milhão de defeitos e
qualidades que ele possui. Quando estava tudo pronto para
sair de casa, Alice mandou uma mensagem para uma visita
de apartamento, as fotos me agradaram muito e o local era
bem localizado. Confirmei a visita para o sábado e saí
para começar mais um dia de trabalho. E lá estava ele me
esperando mais uma vez, encostado em seu carro, olhando
como se eu fosse uma miragem, mas de repente seus olhos
ficaram frios demais, parece que sofre uma luta de não
querer me olhar, mas a vontade não o deixa vencer e ele
continua com os olhos grudados em mim.
— Bom dia, Sr. Blake.
— Bom dia. — Ele estava como na primeira vez que o
conheci, frio, mortal. Ele abriu a porta do carro e entrei,
logo sentou-se ao meu lado e tê-lo assim tão perto, me
causou arrepios pelo corpo inteiro. Fomos para a Blake’s
em silêncio, trabalhamos o dia todo, não me chamou para
nada, não olhou para mim em nenhum momento do dia, era
como se eu não existisse. Às 17h o segurança da empresa
veio trazer minhas chaves, finalmente meu carro. Hoje ele
não está de bom humor então, melhor não abusar da sorte.
Não me despedi, deu meu horário e fui para a garagem,
meu carro estava melhor do que antes, ele foi todo pintado
escondendo até as imperfeições da excelente motorista que
sou para estacionar o carro sem bater. Isso jamais
aconteceu. Sempre a pilastra de concreto ou alguma coisa,
bate no meu carro de propósito. Entrei no carro e segui
para casa, o trânsito está uma bagunça, tempo nublado com
jeito de que a chuva iria chegar forte, mas não chegou,
ficou assim ontem e hoje o dia todo, previsão para só o
fim de semana. Espero que sábado não seja o dia dessa
chuva, ou até eu fazer a visita do apartamento. Assim que
adentro meu lar, me sinto leve por um momento que logo
passa, a tormenta está aqui outra vez. Mais uma noite sem
muitas emoções, Alice que por sua vez é regada delas, me
manda mensagens pedindo para ir encontrá-la para dançar,
ela esquece que não sou filha de empresário e que preciso
trabalhar. Tudo parece normal, tomo banho, me alimento e
assisto TV, até uma força estranha tomar conta do meu
corpo, é mais forte a sensação que sinto, como se eu fosse
movida a fazer coisas e pensar sob comando de outra
pessoa, com esses sentimentos levanto-me com vontade de
olhar as pessoas passando na rua, é mais forte que eu, tão
mais forte que meu coração agora, está acelerado. Como
se meu corpo tivesse plena consciência, que tem uma
corda imaginaria amarrada a ele e puxando para se mover
involuntariamente, e também tem a certeza de que vai
passar por fortes emoções. Abro a porta de vidro e saio
para a sacada, e encostando na mureta de proteção. Olho
para os lados e a única coisa que vejo, são pessoas se
exercitando, uns correm, outros caminham, mãe com filhos
andando de bicicleta e patinetes, mulher linda passeando
com seu cachorro, e um homem em pé encostado no carro
preto me olhando.
“Oh meu Deus. Não é possível, é o mesmo carro e ele
olha em minha direção”
Não o vejo, ele está com blusa de moletom e capuz.
Mas me olha, eu sei, eu sinto. Meu corpo não é mais
comandado por mim, e sim pela força estranha que me faz
ficar olhando para ele, sem desviar um segundo. Ficamos
ali, parados, um olhando para o outro, ao contrário de
mim, ele sabe quem sou, mas eu não sei quem ele é. Não
sei quanto tempo permanecemos na mesma posição, até ele
dar três passos à frente e parar no meio da rua. Ele olha
sem fazer nenhum movimento, meu desejo é entrar em
minha casa, mas ele me hipnotiza, mesmo não vendo seus
olhos, ele tem poder de me deixar imóvel. Ele vira a
cabeça para o lado olhando para mim, e a força estranha
me faz fazer o mesmo, depois para o outro lado, e eu
continuo seguindo o seu simples movimento, ele tira as
mãos de dentro dos bolsos da calça também de moletom, e
acena para mim. Meu corpo treme, apoio na mureta com
braços e pernas parecendo gelatina, mesmo assim meu
corpo reage e eu aceno para ele.
“Oh meu Deus, o que estou fazendo?”
Se for um stalker, eu estou alimentando sua obsessão.
Me tira daqui Deus, por favor, me faz entrar em casa e
trancar as portas. Suplico por forças que não tenho, quero
entrar, mas estou impedida por tamanha aflição, medo,
desejo de saber quem é. Minhas preces foram ouvidas e
consigo mover meus pés primeiro, um passo de cada vez
para trás, até que eu estou completamente dentro da
segurança do meu lar. Fecho a porta trêmula e apago as
luzes, sento-me no sofá e abraço minhas pernas
encolhidas. Não sei por quanto tempo fiquei nessa posição
e só saí dela porque parou minha circulação sanguínea e
ficaram dormentes demais. Vou para o quarto arrastando
meu corpo, deito em minha cama e permaneço assim por
vários minutos, até que ouvi trovões e ventos fortes lá
fora, a chuva começou a cair e eu me cobri com o
edredom, foi o único movimento que fiz, até o dia
amanhecer.
A chuva ainda cai lá fora, carros buzinando, pessoas
conversando, posso ouvi-las falando sobre o temporal que
não vai parar tão cedo, consegui dormir bem, mas sonhei
com ele. Quando eu conseguia tirar o capuz de sua cabeça,
os olhos do Blake estavam lá, era ele que estava lá me
olhando nos meus sonhos. Em poucos dias ele conseguiu
tomar boa parte dos meus pensamentos, não quero admitir
isso para mim, ele é obscuro demais para me envolver
com ele. Tenho medo de ser um homem mau, violento a
ponto de agredir uma mulher. O que mais tenho medo na
vida, é sofrer agressão física, quando eu era criança, via e
ouvia constantemente a minha vizinha ser agredida por seu
marido, seus olhos ficavam inchados e roxos dos fortes
hematomas. Isso quando ele pegava leve com ela, nas
outras vezes, ou ele quebrava um de seus braços, ou
pernas. Sempre ouvia os gritos de madrugada e isso é o
que mais temo em um homem. Tudo isso só parou de
acontecer, porque ela cansada de apanhar tanto, o matou
enquanto estava bêbado jogado no sofá, eu vi muito sangue
quando ele batia nela, e quando o matou a facadas. Toda a
vizinhança se compadeceu de sua situação, e quando ela
foi presa, fizeram uma doação para pagar bons advogados
e tirá-la daquele inferno. Ela ficou presa por cinco anos,
quando saiu, voltou para a casa dos pais, superou tudo e
deu a volta por cima, se tornando uma das maiores
boleiras da minha cidade. Ela fez o curso de bolos na
prisão, todos os casamentos e aniversários, o show é
sempre dela com seus doces incríveis. Mas os gritos de
sua dor, ainda estão aqui nos meus ouvidos. Resolvo sair
da preguiça que estou e tomo um banho, com a chuva que
está lá fora, eu coloco um jeans claro bem justo ao meu
corpo, com uma blusa branca e jaqueta preta, o tempo está
apropriado para usá-la. Vou para o trabalho e o trânsito
atrasou trinta minutos do meu tempo, chego com raiva na
Blake’s, por sorte meu chefe não está em sua sala. Começo
a fazer meu trabalho enquanto o mundo lá fora terminava
em água, vejo na previsão do tempo que vai ser assim até
a próxima semana, cancelar a minha visita ao apartamento
seria o mais viável, e é o que faço, digito uma mensagem
para Alice cancelando tudo. Uma hora depois, meu chefe
chega como se o mundo não estivesse derramando em água
lá fora.
— Bom dia, Grace. — Disse ele.
— Bom dia, Sr. Blake, quer passar sua agenda agora?
— Te espero na minha sala. — Disse. Ele entrou sem
falar mais nada, peguei a agenda e fui aguentar o mau
humor. Ele estava sentado olhando fixo para o computador
quando entrei, e assim continuou até eu me sentar.
— Vou fingir que você não chegou atrasada. — Disse,
olhando para mim.
— O tempo lá fora não ajudou muito no trânsito, Sr. —
Como ele sabe que cheguei atrasada?
— Eu sei, por isso disse que vou fingir. —
Insuportável. — O que temos para hoje? —Perguntou.
Passei toda a agenda, não tinha nada de especial, ele
me dispensou e voltei a trabalhar. O dia mais uma vez foi
tranquilo, assim que deu meu horário de ir para casa, Sr.
Blake já não estava mais no escritório, ele entrou em seu
casulo abatedouro e se trancou lá dentro. Tomei as ruas
ainda inundadas de tanta chuva.
Passaram dois dias e o Sr. Blake não apareceu no
escritório, não sei se ele estava em seu quarto de
descanso, ou se em sua casa, mas aqui ele não apareceu.
Trabalhei sozinha enviando e-mail de respostas para os
que ele me mandava, mas o carro preto estava na garagem
da Blake’s. O mesmo carro que aquele homem estava, às
vezes acho que é óbvio demais esse carro estar aqui para
eu poder vê-lo, mas também acho que deve ser só
coincidência o Sr. Blake ter o mesmo carro. No meu
horário de ir embora, ele não deu notícias também, então
eu resolvi ir para casa.
Sábado chegou e tenho mil coisas para fazer, a chuva
ainda estava, porém mais fina. Não pesquisei o que
disseram nas previsões do tempo, mas a chuva também não
foi embora, passei o dia fazendo o que durante a semana
não posso fazer, fui as compras de supermercado e
lavanderia, quando cheguei em casa, ao passar pela porta
ouço o bip de uma mensagem no meu telefone, deixo
minhas roupas lavadas e passadas em cima do sofá, e
confiro se a mensagem é de meu irmão. Mas não é. E sim,
dele.
“Posso te ligar? Preciso de uns documentos que estão
no escritório, mas não sei onde”.
Por que não ligou, ao invés de passar mensagem?
Pensei.
Eu faço a ligação.
— Grace. — Falou com a voz tensa demais.
— Sim, Sr., quais documentos deseja? — Perguntei.
— Preciso que você venha até o escritório, Grace,
tenho umas coisas importantes que quero que faça para
mim. — Droga, lá se foi minha noite regada a vinho e
massa. É sábado à noite, esse cara não para de trabalhar
nunca?
— Tudo bem, só vou tomar um banho, acabei de chegar
em casa.
— Vou buscá-la, o trânsito hoje está péssimo. — Por
essa eu não esperava.
— Ok, te espero. — Desliguei. Fui direto para meu
quarto, tomo um banho rápido, ainda estava péssimo o
clima lá fora então, coloquei um jeans, uma camiseta preta,
botas de cano curto e salto pequeno, e uma camisa de
moletom com capuz. Confortável e bem-vestida para a
noite chuvosa. Não esperei muito tempo e ele me mandou
nova mensagem dizendo que me esperava lá em baixo.
Saio do meu apartamento e aciono o alarme. Entro no
elevador com pensamentos de que não devia ter aceitado
trabalhar a essa hora da noite de sábado. “Espero que meu
salário venha com bônus.”
O elevador parou e as portas abriram, e meu mundo
ficou em total silêncio. Minhas vistas escureceram, senti a
dor nos meus joelhos por baterem um no outro, eu estava
tremendo. Frio no meu estômago, meu sangue corre gelado
por minhas veias, e ele em pé na minha frente. Blake
estava com a mesma roupa que o perseguidor no dia em
que acenei com a mão para ele, a única coisa que vi foi o
brilho azul intenso de seus olhos.
— Boa noite, Grace. — Disse ele. Eu não consegui
responder, ele estendeu a mão direita para mim, olhei com
atenção e não movi meu corpo. Ele entrou no elevador e
pegou minha mão, e me puxou. Eu não parei de olhar para
ele, capuz e moletom preto, tudo muito parecido com o
homem que desconheço. Ele segurou na minha mão até
chegarmos na rua, onde o carro preto estava estacionado.
Ele parou em frente à porta do passageiro, e eu olhando
assustada para o que estava na minha frente, era ele me
observando o tempo inteiro.
— Era você. — Minha voz saiu mais baixa que o
normal.
— Sim. — Disse ele com voz rouca.
— Por quê?
— Entre no carro, Grace. — Mandou. Ele abriu a porta
do carro e tocou nas minhas costas, mão firme e
possessiva me diz que não tenho outra escolha, mas o
medo me faz responder.
— Eu não quero entrar. — Falei baixo, mas ele ouviu.
— Eu não perguntei se quer, eu mandei você entrar,
Grace. — Ele forçou meu tronco para baixo, apoiando uma
mão no ombro e outra nas costas. Eu entrei, sentei e não
respirei mais. A batida quando ele fechou a porta, foi um
barulho assustador, ele andou um pouco e parou na frente
do carro, colocou as mãos nos bolsos e ficou me olhando,
fez como sempre faz, só me observou dentro de seu carro.
Agora eu podia ver seu rosto, mesmo com toda a escuridão
que o rodeava. Blake é um convite para se cometer
loucuras, cair em profundo abismo somente por olhar para
ele. Ele tem quase quarenta anos, seu porte físico e sua
aparência não diz isso, o que não entendo é por que um
homem com seu status age assim? Como se fosse um
perseguidor? Mas ele é um perseguidor, por isso não tem
namoradas, ou é casado. Ele é obscuro demais para isso e
agora, eu estou em seu carro da morte e não tenho forças
para correr. Meus olhos o seguem quando ele se aproxima
da porta do motorista, abre e entra, em silêncio. Gira a
chave olhando para mim e saímos, a chuva ficou mais forte
e o oxigênio dentro do carro cada vez mais escasso. Ele
pegou uma direção diferente do escritório, isso me deixou
mais tensa.
— Você disse que íamos para o escritório. — Minha
voz saiu baixa demais.
— Agora você sabe quem sou, não preciso mais dessa
desculpa. Eu vou levá-la para um lugar especial. — Era só
para me tirar de casa. Blake me enganou, eu sou uma
idiota, mesmo.
— Eu só conheço você a quase três semanas, por que
está fazendo isso? — Perguntei olhando para ele.
— Porque a muito tempo não tenho interesse por uma
mulher, você despertou isso. — Falou concentrado na
estrada a beira-mar. A chuva ficou cada vez mais forte.
— Você parece louco. — Falei.
— Eu não pareço, Grace. — Ele olhou para mim tão
frio, que encolhi no banco do carro. — Eu sou louco. —
Olhou novamente para a estrada escura.
— Você vai me machucar? — O ar estava pouco para
mim.
— Depende. — Oh meu Deus.
— De quê? — Perguntei com muito medo da resposta.
— Se você for boazinha. — Olhou para mim outra vez.
— Se você se comportar como uma lady, prometo não
machucá-la.
— Alguém pode descobrir onde estou. — Falei e ele
sorriu.
— Tenho tudo sob controle, você está fora de
localização até segunda-feira.
“Alex por favor, seja o irmão controlador e me
procure”
Faço uma súplica silenciosa.
— Você não pode fazer isso, Blake. Me deixe ir, por
favor. — Ele mais uma vez atirou gelo pelos olhos. Eu
fiquei com tanto medo que encostei na porta do carro,
tentando sair o máximo de perto dele.
— Eu posso tudo, Grace. — Disse ele. — E não a
deixarei ir. — Ficamos em silêncio, eu não consegui mais
pensar e falar nada. Senti meu corpo doer de tanta tensão
nos meus músculos, eu sabia que tinha algo estranho com
Blake, mas não imaginava ser tão escuro assim. Ele pode
ser um assassino e ninguém saber. Ele é um homem muito
rico, cobiçado no mundo da arquitetura, prestigiado com
prêmios todos os anos, jamais iriam pensar que ele é um
louco perseguidor. Já estávamos a trinta minutos em uma
estrada escura, a chuva forte e o que vejo, é o mar nervoso
com o vento, curvas intermináveis e perigosas e Blake não
fez mais qualquer contato comigo. Não demorou muito e
entramos em uma pequena estrada que levava a outra
direção, logo vi uma casa muito grande e na frente um
caminho de pequenas pedras, entramos e fiquei mais
nervosa, enquanto o carro estivesse em movimento, nada
aconteceria, mas agora, não sei o que esse louco irá fazer.
Ele parou o carro na frente da casa com paredes brancas e
vidro. “O que ele tem com os vidros?” Pensei. Dava para
ver a sala inteira, as cortinas estavam afastadas e a
decoração perfeita toda à mostra. Ele desceu do carro e
veio abrir minha porta.
— Bem-vinda. — Disse ele. Eu não tinha tanta certeza
disso. Com a mão estendida, eu olhei sem saber o que
fazer. Ele pegou minha mão e me ajudou a sair do carro,
tudo muito rápido pois a chuva não deu trégua. Me puxou
para correr e entrar na casa e em poucos segundos eu
estava encharcada, quando ele abriu a porta e entramos,
visualizei a possibilidade de fugir, ele foi rápido demais.
— Não pense em fazer isso. Estamos longe e não quero
correr atrás de você nesse temporal. — Ele estava me
olhando enquanto eu procurava um meio de sair. As luzes
iluminavam tudo muito bem, tudo branco com detalhes na
decoração em vermelho e tons neutros, a sala é espaçosa
que daria para acomodar até cinquenta pessoas em uma
festa. Eu estava molhando o piso com minhas roupas
cheias de água, ele também estava muito molhado.
Percebendo meu corpo tremendo de frio, ele falou.
— Vamos trocar de roupa. — Fez um gesto para que eu
andasse a sua frente e me mostrou o corredor o qual eu
deveria seguir. Cheguei próximo a escada e parei com o
leve aperto em meu ombro que ele deu, olhei para trás e
ele abriu uma porta na caixinha de alarme na parede,
apertou o interruptor e então, o barulho me fez olhar para a
sala. Uma proteção metálica desce de uma caixa branca,
que pegava de uma ponta a outra da parede de vidro, que
foi completamente coberto por essa estrutura, cujo nome
não sei. Jamais vi algo igual a isso, a casa estava toda
isolada pelo lado de dentro. Olhei para Blake assustada,
ele ficou concentrado em minhas reações, um leve sorriso
nos lábios me fez tremer.
— Continue andando, Grace. — Disse ele.
— Quem é você, Blake Goldberg? — Perguntei,
segurando as lágrimas.
— Você irá descobrir, hoje.
Capítulo 6

A o ouvir a voz tão gélida, imaginei minha morte.


Ele se aproximou, e eu dei um passo para trás.
— Continue, Grace, suba os degraus. — Disse sério.
Eu me virei e subi um por um, mantendo meu corpo o mais
firme possível. No último degrau, ele falou:
— À esquerda. — E segui com ele no meu encalço.
— Última porta à direita. — Passamos por um grande
corredor, a porta que ele falou estava um pouco aberta,
parei na frente e não entrei, ele abriu e colocou as mãos
nas minhas costas me forçando a mover os pés, eu fiz.
Entrei e o quarto era o mais lindo que já vi na vida, digno
de várias estrelas nas melhores revistas consagradas de
arquitetura. A cama de dossel branca com lençóis tão
limpos, que só de olhar me fez ter sono imediatamente. No
teto uma armação branca que descia para apoiar a TV no
suporte, na frente da cama um grande sofá, fazendo uma
minissala com tapete branco e felpudo, o suporte de teto
para a TV tem a função de virar para quem estiver na cama
poder vê-la, e também no sofá. Duas poltronas bem
acolchoadas, uma cômoda grande, luminárias espalhadas
em cada canto do quarto, duas portas, penso que seja uma
para o closet e outra para o banheiro. Tudo muito branco e
limpo, se foi ele quem escolheu cada detalhe desse
paraíso, conseguiu me fazer sentir uma inútil em sua
empresa.
— A porta à direita, é o banheiro, sinta-se à vontade
para tomar um banho. No armário do lado da pia tem
vários roupões, é só pegar. — Ele falou tirando a camisa
de moletom, ficou com o peito a mostra. Nunca vi pele
mais bonita, um bronzeado perfeito. Lindo. Tirou os tênis
deixando em cima de um pequeno tapete ao lado da cama,
olhou para mim e abaixou a calça. Eu não consegui
respirar, somente olhar e analisar ...
Ele é Lúcifer, o anjo mau que foi
expulso do céu, por querer tomar o lugar
de Deus. A beleza de Lúcifer era
incomparável, assim como a de Blake, é a
mistura do imaculado com o diabólico, é
o desejo palpável.
Seu corpo tem as medidas certas, não tão grande e nem
tão pequeno, pernas torneadas, mas não grossas demais,
abdômen com as entradas da perdição. Braços firmes e
músculos visíveis, olhei cada centímetro de seu corpo e
notei o peito subir e descer com rapidez, e em seus olhos
eu vi fogo. Blake estava transformado em um ser que
desconheço. Fecho meus olhos e abaixo minha cabeça,
tento respirar, mas estou com certa dificuldade para fazer
esse simples movimento que já nasci com ele em mim,
olho novamente para ele e tudo treme, concentro-me em
mantê-lo firme em cima de minhas pernas trêmulas, só
então vejo que é impossível manter a concentração com
ele tão perto dos meus olhos, com o mínimo de força que
tenho, dou passos rápidos e entro no banheiro
completamente atordoada com a visão dele nu. Fecho a
porta e quando vou passar as chaves, mais uma vez fico
gelada, a porta não tem fechadura, o que consegui foi só
encostá-la para ter um pouco de privacidade. Meu corpo
estava gelado com as roupas molhadas, deixo a bolsa que
eu abracei e não soltei em momento algum em cima do
cesto branco de bambu e tiro toda a minha roupa molhada.
Tomo um banho quente e me seco com toalha branca e
cheirosa, depois me cobri com um roupão. Olho para o
grande espelho que estava um pouco embaçado pelo vapor
da água, passo a mão para limpar e vejo minha imagem.
Puxo uma respiração profunda e solto, viro-me e dou dois
passos para a porta. Ele não estava mais no quarto, a TV
estava ligada em um canal de notícias que eu gosto, mas o
volume baixo demais. Pego o controle em cima da cama e
procuro o botão para aumentar. “Acho que ele me deixou
sozinha e não quer me incomodar” pensei. “Sei que
Blake tem preso os seus fantasmas, mas por que me
escolher para soltá-los?” Olho para o controle e não
tinha desenhado os sinais de + e - como de costume,
apertei um botão qualquer e mudou de canal, o sistema de
segurança da Blake’s estava ligado e pude ver tudo no
escritório. Ele tem câmeras espalhadas por todo o lugar,
mudei mais uma vez e toda a casa em que estamos,
apareceu na tela em pequenos quadrados divididos, até o
lado de fora da casa é monitorado, mas não o vejo em
lugar nenhum. Apertei outra vez e então... deixei o controle
cair no chão. Na TV, estava a imagem da minha casa,
dividida por partes, sala, cozinha, corredor, quarto, o
único que não estava ali, era o banheiro.
— Meu Deus, era ele o tempo todo. Eu estou sendo
observada por ele. — Falei em voz alta com lágrimas
banhando meu rosto. — Preciso sair daqui, agora. — Não
pensei duas vezes, andei até a porta do quarto e abri, olhei
pelo corredor e não tinha ninguém, andei rápido até chegar
a escada, desci olhando para todos os lados, eu não sei
onde ele está. A casa é muito grande, tento abrir todas as
portas que encontro, e está tudo trancado, passo por outro
corredor entro na grande biblioteca, ele também não está.
“É uma sorte” pensei. Saio e vou para outra porta
correndo, é a cozinha, o único cômodo da casa que não
está iluminado, porém vejo armários, fogão e outros
utensílios, a porta está fechada e mesmo assim tento a
sorte, seguro na maçaneta e empurro.
— Oh meu Deus, está aberta. — Falo e não penso em
nada, vou para fora da casa e corro pelo gramado com a
chuva caindo muito gelada, assim que aproximo do carro,
sou impedida por ele, segurou firme minha cintura e me
levantou do chão me abraçando forte.
— Me solta, me solta. — Grito desesperada.
— Onde você pensa que vai? — Disse ele, rouco.
— Me deixe ir, Blake, por que você está fazendo isso?
— Eu disse para ser boazinha. — Eu me debati contra
sua força, mas não consegui me soltar. Blake me levou
novamente para dentro da casa, bateu à porta da cozinha e
trancou, pegando a chave. Assim que ele me soltou, eu
corri pelos cômodos para me esconder, a cada passo meu,
eu o ouvia logo atrás de mim. Olhei para trás e ele não
fazia esforço para correr, estava aproximando com as
passadas largas. Subi a escada e não dei três passos e ele
me pegou novamente, me colocou em seus ombros como
um saco de batatas. Comecei a esmurrar suas costas, mas
não surtiu efeito algum.
— Acha que isso dói? — Perguntou com voz irônica.
— Isso é uma bela massagem nas minhas costas, Grace. —
Desgraçado. Quem ele pensa que é? Entrou no quarto e me
jogou na cama de qualquer jeito. Ele olhou para a TV e viu
o porquê do meu desespero.
— Agora você sabe que eu te observo. — Falou
olhando para mim. — E eu sei que você me sente. — Sua
voz é assustadora.
— Como você entrou na minha casa? Por que está
fazendo isso? — Falei e saí da cama. Um de cada lado
olhando para o outro.
— Entrar na sua casa foi muito fácil. Como você pode
morar em um lugar sem proteção? Qualquer pessoa entra e
não precisa ser anunciado.
— Eu gosto de morar lá.
— Você pode gostar, mas não vai morar lá por muito
tempo. Já providenciei outro lugar para você. — Fiquei
olhando para ele, não pude acreditar no que tinha acabado
de ouvir. — Não me olhe com essa cara, Grace. É normal
eu cuidar de você.
— Normal? Você acha que é normal entrar no meu
apartamento, instalar câmeras por todo lugar, e
providenciar outro lugar para eu morar? O que você é, um
stalker?
— Você tem mania de palavras fortes, não é? — Disse
ele.
— Era você que estava me observando dormir? —
Perguntei.
— Sim, me trouxe paz vê-la nua e dormindo. —
Abracei meu corpo e acomodei o roupão para não deixar
mostrar nada da minha pele.
— Eu não conheço você, o que você quer? Por que eu?
— Eu não preciso conhecer você, e o que eu quero é
simples. Você. — Disse e sorriu. Eu passei meus olhos
pelo corpo lindo, ainda estava só de cueca e o volume me
assustou. Olhei para ele outra vez, e pude nitidamente ver
que ele não é normal.
— Por que me olhar? Por que câmeras na minha casa,
Blake?
— Eu tenho uma certa necessidade especial, preciso
saber o que faz vinte quatro horas do seu dia, com quem
fala ao telefone e por quanto tempo, quem entra e sai da
sua casa. Quantas amigas você tem, quem são, onde
moram, se você tem amigos, homens não são bem-vindos
na sua vida. — “Oh meu Deus, ele é louco” — Eu não
confio nas mulheres, eu não confio em você. Mas senti
essa necessidade de ficar perto de você, como há muitos
anos não sentia.
— Você não tem o direito de tentar controlar minha
vida. — Falei com voz engasgada e lágrimas escorreram
pelo meu rosto.
— Você pode fazer o que quiser, não estou controlando.
Porém, exijo saber como, quando, com quem, a que horas.
— Disse ele.
— Isso é loucura, você não vê? Eu trabalho com você a
três semanas. Por que essa obsessão?
— Acho que vamos trabalhar muito no seu vocabulário
de palavras fortes. Não é obsessão, Grace. É zelo,
cuidado, proteção, existem vários sinônimos para colocar
ao invés dessas que você insiste em dizer.
— Se isso não for obsessão, não existe outro nome que
se iguale a este. — Falei secando minhas lágrimas.
— Bom, preciso de um banho e você de colocar sua
mente em ordem. Vamos voltar para casa na segunda de
manhã. Teremos tempo para conversar. — Ele foi até a
porta e trancou, pegou a chave e olhou para mim.
— Não vou demorar. — E entrou no banheiro como se
isso tudo fosse normal. Olhei todo o quarto e não tinha
como sair a não ser pela porta que ele trancou. Vou até a
janela e abro as cortinas, a imagem que vejo lá fora me
assusta, é um penhasco. A casa foi projetada com vista
privilegiada para o mar, o barulho das águas batendo nas
pedras está forte demais. O vento uiva e a chuva cai lá
fora, ao mesmo tempo que tudo é muito lindo, é também
assustador. Não entendi nada do que ele disse, estou aqui
por uma razão e quero saber qual é. Não vou suportar
tortura, dor é uma coisa que não está nos meus limites, não
posso com qualquer tipo de violência com meu corpo. A
única explicação para eu estar aqui, presa dentro dessa
casa, chama-se sexo. Lembro que ele disse a Anabelle,
que fazia exatos dez anos que não beijava os lábios de uma
mulher. Hoje, falou que não confia nas mulheres, alguma
coisa séria aconteceu para ele ser assim. Mesmo que isso
não justifique o que ele pretende fazer comigo, mas algo
aconteceu. Ele tem quase quarenta anos, será que um amor
mal resolvido o fez desconfiar das mulheres assim? Só
essa explicação lógica para entrar na minha cabeça. Blake
sofreu, e muito, por anos. Mas se ele quer a cura disso,
não é assim que irá conseguir, não é comigo que vai
recuperar anos perdidos e a confiança em alguém. Eu não
suporto prisão, dar satisfação vinte e quatro horas do meu
dia. A impressão que tenho é de que ele quer vingança.
Seus olhos são frios como ventos no Alasca, cada passo é
calculado, câmeras por todos os lugares, carros de vários
modelos para não ser identificado, ele exige exercer o
controle de tudo à sua volta por motivos graves do
passado. Não sou casada com ele, e mesmo que eu fosse,
não tem o direito de assoprar a vela do meu barco para um
rumo que eu desconheço. Gosto de chão firme, tomar
decisões e não deixar à deriva nada de importante para
mim.
Ouço a porta abrir, fico na mesma posição olhando lá
fora, a tempestade. Vejo seu reflexo no vidro da janela, ele
está com uma toalha branca na cintura. Se aproxima e eu
me encolho por não querer o seu toque. Viro-me e olho de
frente para ele.
— Você não vai tocar em mim, Blake. Não ouse me
forçar a fazer nada e ser tratada como fez com Anabelle.
— Cuspi entre dentes essas palavras.
— Você acha mesmo que eu a trouxe até aqui e que
nada vai acontecer? — Ele deu um passo à frente. Eu dei
um para o lado me afastando dele. — Mulheres não entram
em minhas casas, meus barcos, em nada do que é meu,
sinta-se privilegiada por estar em um lugar importante
para mim. — Disse ele, sério.
— Eu não quero nada com você e que venha de você.
Se você não me deixar ir, vai ser pior. Eu vou à polícia na
primeira oportunidade. — Falei. E ele deu mais um passo
em minha direção.
— Eu sou a polícia, Grace, e você vai fazer tudo o que
quero, como eu mandar. — Disse ele. Não consegui manter
a postura forte por mais tempo, solucei de medo e
coloquei as mãos na boca.
— Você é louco, um déspota dos infernos. Eu não tenho
culpa de seus traumas com mulheres ou, a mulher que te
fez tanto mal. EU NÃO SOU ELA BLAKE. — Gritei e
chorei. A raiva estava plantada em seu corpo, eu o atingi
com a verdade.
— Você não sabe o que está falando. — Disse ele entre
dentes. — Confiança é a coisa mais importante do mundo,
sem ela você não move sua vida, seus negócios, sua
amizade ou, um relacionamento. — Então é isso, amor e
amigo? Família, negócios? O que será que aconteceu?
— O que é mais importante no mundo é o amor, Blake.
— Falei e dei um passo para trás, e ele deu um para a
frente, apertando os punhos como se quisesse socar meu
rosto.
— Não existe amor sem confiança, segurança. — Disse
ele.
— E não existe amor sem liberdade. — Falei.
— Liberdade se conquista. Quer liberdade a partir
dessa noite, Grace? Tem que me fazer confiar em você.
— Você está falando como louco. Eu não preciso
conquistar o que já tenho. O que não tenho é uma relação
com você.
— Quem disse que não? Somos noivos, esqueceu? Já
está em todas as revistas e jornais de Miami e do mundo,
você não viu? — O quê? Meu Deus, ele fez aquilo de
propósito?
— Você planejou tudo aquilo, por quê?
— Para que todos os homens saibam que você é minha.
— Blake, como assim, sua? Eu te conheço a quinze
dias, isso é um absurdo. — Eu fiquei nervosa demais,
Alex deve ter me ligado mil vezes e eu não atendi. Com
certeza ele já está em Miami.
— Sabe a quanto tempo eu contrato profissionais do
sexo e não tenho um relacionamento?
— Isso não é da minha conta, Blake.
— Há dez anos. — Respondeu. — Você foi a única que
fez meu sangue esquentar, quando eu a vi sentada na
recepção do meu escritório. Se não fosse meu
autocontrole, eu tinha feito você minha mulher ali mesmo,
no chão. — Meu Deus.
— Eu não quero nada com você, Blake. — Falei.
— Você não tem que querer. Somente aceitar e
obedecer. — Desgraçado. Preciso sair daqui o banheiro
não tem chaves, a porta está trancada, olho
disfarçadamente procurando alguma coisa, e vejo a porta
do closet. Deve ter chaves, não é possível que ele também
pensou em deixar sem fechadura. Blake deu mais um passo
à frente e foi então que eu corri rápido pelo quarto, mas
não consegui chegar a tempo, ele me agarrou e me jogou na
cama com força.
— Não tente nada de estúpido, Grace. — Ele ficou em
cima de mim, bufando como touro bravo vendo vermelho.
Tentei sair de debaixo dele, mas ele é muito forte e grande
para minha pouca força. Ele tirou meu roupão de uma só
vez, eu gritei.
— Não faça isso, Blake, por favor. — Me debati o
máximo, mas ele não me deixou sair.
— Não vou fazer isso. — Ele segurou forte no meu
queixo, me fazendo olhar em seus olhos. — Mas fique
quieta. — Não tive outra alternativa. Não movi um
músculo do meu corpo. Blake passa uma mão segurando
meu pescoço, tremo de raiva e lágrimas caem dos meus
olhos. Ele cheira meu cabelo, e passa a ponta da língua no
meu rosto até o pescoço, me dá uma leve mordida, me
abraça forte e chupa minha orelha passando os dentes no
pequeno brinco. Ainda segurando meu pescoço, sinto as
mãos quentes tocarem toda minha pele, ele geme, eu choro.
— Shh Shh Shh, sem medo, Grace, não vou machucar
você. — Passou a mão por todo meu ventre e subiu para
descruzar os meus braços que cobri meus seios. Eu fiquei
rígida, ele forçou um pouco e me soltou. Meus seios foram
atacados por sua mão quente.
— Como são lindos e meus. — Disse ele, tirou a mão
do meu pescoço e segurou o seio livre com firmeza, os
apalpou com desejo, fiquei completamente nua. Blake
geme, morde delicadamente meus ombros e massageia
meus mamilos. Não pude ser indiferente ao seu toque, em
meio às lágrimas de medo, o pequeno gemido escapou da
minha garganta. E isso fez Blake selvagem. Ele abocanhou
meus seios segurando com as duas mãos, e me deixou
totalmente presa contra a cama enquanto ele se deliciava
com meus mamilos rígidos, tudo me fez chorar mais. Não
sei se de raiva por gostar do ele está fazendo ou medo.
Blake lambeu cada centímetro da minha pele, dos seios até
meu rosto, secando minhas lágrimas com a língua, ele
parou e olhou para mim, eu estava apavorada.
— Está com medo? — Perguntou.
— Você é o homem mais lindo que já vi, pode ter todas
as mulheres do mundo aos seus pés. Por que está fazendo
isso comigo? — Perguntei e senti a mão quente segurar o
meu quadril, a outra passou por baixo da minha cabeça e
segurou o cabelo da minha nuca.
— Eu não quero todas a mulheres do mundo. Eu quero
você. — Disse ele, e então, tirou a toalha que envolvia seu
corpo jogando no chão, encostou seu nervo rígido em meu
ventre, não pude deixar de abrir a boca assustada. Ele
espalhou beijos por toda a curva do meu pescoço, chupou
cada parte da minha pele, senti arder com a força que ele
sugou meus mamilos, meu sexo contraiu e me senti
molhada, gemi. Ele parou o que estava fazendo e levantou
rápido, eu tapei meu corpo com minhas mãos e braços,
escondendo o máximo dele. Ele sorriu.
— Não mova um centímetro, eu já volto. — Blake foi
até o banheiro correndo, logo saiu e abriu a porta do
quarto com a chave que escondeu de mim e desapareceu
pelos corredores da casa. Eu fiquei como ele mandou,
imóvel. Foi automático obedecer ao sorriso lindo que me
deu, seus olhos estavam em paz, eu gostei de ver isso por
um segundo. Voltou com um balde de gelo nas mãos, eu
continuei tampando meus seios e sexo, ele deixou o balde
no chão, pegou meus tornozelos e abriu minhas pernas de
uma vez.
— Ahh. — Assustei com o impulso de seus
movimentos, mas não tirei minha mão do meu sexo. Ele
entrou no meio das minhas pernas e ficou pairando como
águia sobre mim, olhando para meus olhos, que me senti
por um momento hipnotizada, eu entendi o que ele falou
através deles, tirei minhas mãos, me expondo para ele.
Blake pegou uma pedra de gelo e deixou em cima do meu
mamilo esquerdo, o frio com minha pele quente, me fez
arrepiar. Gemi intensamente quando ele chupou o gelo,
puxando forte o mamilo. — Huuum.
Jamais imaginei ser tão bom, esqueci o medo, o choro,
esqueci o louco que ele é. Meu corpo não respondeu mais
aos meus comandos, para obedecer aos dele, mesmo com a
minha luta interna de ver nitidamente que nada daquilo era
normal, eu obedeci a ele. Com a mão ele passa o gelo no
meu corpo, sinto o frio e o quente de sua boca cobrindo,
em seguida meu corpo está arrepiado, sinto os músculos
do meu ventre apertar as paredes internas, quente e frio é
uma combinação para deixar meu sexo latejando como está
agora. Blake desce o gelo pela lateral do meu corpo, passa
pelo meu quadril, sobe até chegar no meu umbigo e chupa
cada parte onde ele passou o gelo com os dentes e desce
do umbigo até meu sexo, eu gemo. Deixa alguns segundos
em cima do meu clitóris, tira e assopra jogando o ar
quente, eu gemo mais. — Humm.
Meu quadril ganha vida e começa a se movimentar
sozinho, meus gemidos tomam conta do quarto e a boca
habilidosa de Blake não deixa um segundo minha carne
quente. Nunca senti isso na vida, jamais me masturbei por
vergonha de mim mesma, agora estou aqui, completamente
aberta para um homem louco que quer tomar posse da
minha existência. Minhas costas saem de cima da cama
involuntariamente, aperto o lençol branco tentando conter
os espasmos, tudo o que sinto é novo, meu sexo está tão
quente que arde nas paredes internas, uma batendo na outra
procurando alívio, não seguro o que sai de dentro para
fora, em meio a gemidos altos de Blake, uma explosão
acontece e eu não controlo meu corpo que treme, pela
primeira vez vejo estrelas e perco totalmente a noção das
reações que sinto, isso só tem um nome, orgasmo. Eu gozo
na boca dele.
— Huummmaaaaahhh. — Caio deitada na cama em
espasmos. Senti meu sexo apertar e ele colocou o gelo no
clitóris outra vez, o choque deixou mais sensível e então,
ele passou a língua bem devagar.
— O melhor sabor do mundo é o seu, Grace. — Eu
fiquei de olhos fechados, é desconhecido para mim. Sinto
o colchão abaixar e quando abri meus olhos, eu vejo o
intenso brilho azul dos seus.
— Mais um. — Não entendi. Até que ele deitou entre
minhas pernas, e começou a deliciosa jornada no meu
clitóris. — Humm. Está sensível demais, mas não tenho
coragem de pedir para ele parar. E de novo, eu me delicio
com as reações do meu corpo, só que dessa vez, Blake faz
diferente, ele chupa e sinto seus dedos penetrarem minha
fenda, e para isso eu abro mais minhas pernas, gosto dos
dedos dele dentro de mim, e gosto mais quando ele acha o
ponto que... — Ai meu Deus, que delícia.
— Que isso? — Perguntei me contorcendo na cama.
— É o seu outro botão do prazer. — Disse ele. E
começou a massagear com os dedos, as estrelas não
sumiram e sim, ficaram mais intensas, meu corpo parecia
ser elevado a gravidade do prazer que ele proporciona.
— Minhanossasenhora. — Disse involuntariamente,
tudo estava acontecendo assim, sem o meu controle.
Segurei nos lençóis tentando forçar meu corpo a ficar
quieto na cama, mas as suas habilidades com os dedos não
me permitiram. Esfrego meu sexo em sua face e ele me
penetra não tão fundo, não sinto dor, somente prazer. E
uma coisa estranha acontece, uma dor diferente, chega até
ser ridículo o que passa em meus pensamentos, mais quero
essa dor mais forte e então o prazer inigualável ao
primeiro, acontece. Eu esporro um líquido não muito forte,
mas o suficiente para deixá-lo molhado. —
Hhuuuuuuaaaaaaa. Tento fechar as pernas pela sensação,
mas ele não permite. Espasmos tomam contada de mim e
eu me sento na cama para olhar aquilo tudo.
— O que é isso? — Falei com o fôlego escasso. Ele
ainda bebia do meu prazer. Eu deito na cama novamente.
Ele paira em cima de mim olhando minha respiração
voltar ao normal.
— Ejaculação. É o nome para isso que teve. Mas isso
você sabe, não é? — Perguntou e pude ver a dúvida
enrugada na testa. Eu sou virgem, mas ele não sabe disso.
Blake abre a gaveta da pequena cômoda do lado da cama,
e pega um preservativo. “Meu Deus, agora chegou a
hora” pensei. “A hora com um homem que eu não escolhi
para ser, não é meu noivo ou marido, ele é Blake
Goldberg”
Blake ficou de joelhos, segurou sua enorme ereção, já
vi em revistas masculinas, mas o dele é muito maior do
que aqueles que vi. Não consegui desviar os olhos, ele
rasgou o plástico com os dentes, segurou na ponta e
começou a deslizar pelo sexo, parecia não chegar na base
nunca. Fiquei assustada e me lembrei de Anabelle. Ele
entrou muito forte nela, mas tem uma diferença entre nós
duas, eu sou virgem, e esse membro dentro de mim, é
praticamente impossível.
— Por que olha assim? Eu não vou machucá-la. —
Disse ele.
— Eu não tenho tanta certeza disso.
— Não se preocupe, você vai dilatar rápido. — Falou
com luxúria na voz.
— Vai doer. — Falei. E senti lágrimas se formarem em
meus olhos.
— Se você fosse virgem, sim. — Olhei para ele e então
ele percebeu.
— Você é virgem? — Perguntou com a voz rouca. Olhei
mais uma vez para seu sexo e disse.
— Sim. — Ele gemeu. Arrancou o preservativo do
membro e deitou seu corpo em cima do meu.
— Virgem. — Falou sorrindo.
— Por que você tirou o preservativo? — Perguntei.
— Porque quero sentir meu membro romper o teu
hímen, pele contra pele e sem nada para atrapalhar. —
Blake se posicionou e senti encostar na minha entrada, ele
levantou o tronco apoiando as mãos em cada lado do meu
corpo, apoiou as coxas embaixo das minhas pernas, olhou
para meu sexo e fechou os olhos.
— Linda. — Disse ele. Abriu os olhos e olhou para
mim.
— Vai doer. — Disse ele. — Segure-se na cabeceira da
cama. — Levei minhas mãos até a grade da cabeceira,
segurei forte sentindo meus dedos doerem.
— Inspira. — Disse ele. Eu fiz, puxei todo o ar para
meus pulmões. Assim que fiz, ele entrou de uma vez, até o
fundo.
— Expira. — Disse ele rouco. Soltei o ar e com ele,
minhas lágrimas. Ele estava com os olhos fechados, gemeu
sentindo minha carne por dentro, abriu os olhos e me viu
chorar, apoiou os cotovelos na cama e secou as lágrimas
com beijos por todo meu rosto.
— Você é uma delícia, Grace. Não chore. — Não
consegui conter minhas lágrimas, então ele desviou seus
olhos indo em direção a minha boca. Olhou para meus
lábios e começou a se movimentar dentro de mim, a dor é
incômoda, mas suportável, saiu e entrou devagar, a dor não
existia mais e senti seu membro grande e grosso fazer meu
sexo formigar de prazer. Ele não disse nada, ficou olhando
para minha boca e intensificou os movimentos, senti todo o
seu comprimento batendo no meu útero, ele geme e pela
primeira vez, fecha os olhos e suga meus mamilos. Sei que
ele não beija, mas a única coisa que quero agora, é sentir
seus lábios nos meus. Blake me penetra forte, eu gosto
tanto que tudo acorda novamente, eu gemo, ele geme e
entra mais forte.
— Apertada, deliciosamente quente e apertada. É assim
que você é. — Disse ele rouco. Meu corpo pediu por
mais, eu o abracei segurando firme em seus ombros largos,
senti-lo todo em cima de mim me deu prazer. Comecei a
mexer o quadril junto com seus movimentos e ele gemeu
mais alto.
— Assim você vai me matar, sua virgem deliciosa. —
Cada estocada minha carne apertava seu membro, era
como se não quisesse que ele saísse. Ele olhou em meus
olhos e ficamos assim, por alguns minutos.
— Vou entrar mais forte em você. — Disse ele. Eu abri
mais minha perna e ele entrou. Com estocadas severas,
meu sexo ficou sensível, eu senti seu membro massagear
meu botão do prazer e então, eu gozei novamente.
— Aahahahuuuunnn. Isso é muito bom. — Falei.
— É sim, e eu também não consigo segurar mais. —
Blake entrou e saiu com fortes impulsos, ouvi o barulho de
seu corpo batendo no meu, ele geme alto e sai de dentro da
minha fenda, ele ficou de joelhos e segurou o membro
ereto sujo de sangue, em rápidos movimentos com a mão
para cima e para baixo, um rugido de leão saiu de dentro
da sua garganta.
— Uuaaarrrrhhumm. — Blake deixou seu sémen cair na
minha barriga. Ele olha para o membro gozando e diz.
— Sangue de virgem. — A visão que tenho de Blake se
masturbando em cima do meu corpo, é afrodisíaco. Meu
sexo deseja mais. Muito rápido ele abre a mesma gaveta
de antes, pega lenço umedecido, limpa minha barriga, seu
membro e então, me penetra novamente atendendo ao meu
pedido silencioso. Fortes estocada, com a mão no meu
rosto olhando para minha boca, eu abro um pouco como se
fosse um pedido de um beijo, e com gemidos e estocadas
rápidas, ele passa os dedos nos meus lábios desejando
beijá-los também. Blake me pega pela cintura e senta em
cima de suas próprias pernas, me posicionando
enganchada nele, frente a frente. Ele me abraça, passa a
mão segurando meu pescoço, olha meus lábios, e o que
vejo me faz ficar em choque. Lágrimas caem de seus olhos
e então, Blake me beija tirando de dentro de mim a luz de
minha alma. Seus lábios são os melhores que já provei, me
devora com seu membro e com a boca macia. Enquanto
ficamos nessa posição, ele não deixou meus lábios. E mais
uma vez eu chego ao orgasmo arrebatador, ele bebeu todos
os meus gemidos, mesmo quando saiu de mim e gozou se
masturbando, gemeu alto e não deixou minha boca como se
fosse pecado abandoná-la. Blake me pegou no colo e
andou até a janela com vista para o abismo, me posicionou
de costas para ele e virou minha cabeça tomando
novamente meus lábios, entrou forte outra vez e ficamos
nos amando ouvindo o som dos nossos beijos e o mar
revolto lá fora. Foi assim a noite inteira, Blake não me deu
descanso por horas, não imaginava tamanha energia e sede
de sexo. Fizemos contra a parede, outra vez na cama, no
chão, em cima da cômoda, debaixo do chuveiro, o que não
fizemos foi desgrudar os lábios um do outro. Meu corpo
pediu para descansar, olho lá fora e vejo o dia nascer, a
chuva fina cair, e ouço os gemidos de Blake me fazendo ter
meu nono orgasmo, não consegui mais me manter
acordada, a última coisa que ouvi antes de adormecer, foi
Blake gozando em cima de dos meus seios. Adormeci
depois disso.
Capítulo 7

O sono não quis me abandonar, me desperto com


dificuldade mexendo na cama de um lado para o outro,
meus olhos permanecem fechados e meu corpo dolorido.
Entre minhas pernas sinto o incômodo da dor, gemo baixo
e abro os olhos, estou sozinha na cama, o quarto está
escuro, a lembranças do que aconteceu a noite toda me faz
tremer, de medo, de prazer e de incertezas. Blake me quis
e me teve sem pedir licença, sem perguntar se eu gostaria
ou do que gostaria. Mas não posso negar, eu esperei o
tempo certo para perder minha virgindade, pensando que
podia ser diferente comigo, que eu tivesse boas
lembranças desse dia. Boas lembranças seria simples
demais para expressar o que aconteceu aqui. Foi mágico,
delicioso, mas ele me apavora. As câmeras na minha casa
são coisas imperdoáveis que preciso falar com ele, mesmo
que isso termine hoje e amanhã tudo volte ao que era antes,
ele já conseguiu bater minha virgindade para fora de mim,
então, o que mais ele poderia querer? Olho para os lados e
não vejo nada, sei que já amanheceu o dia, eu adormeci
com a pouca claridade surgindo lá fora, levanto-me e vou
até a grande janela, abro as cortinas que ele deve ter
fechado para não me incomodar e a claridade ofusca meus
olhos. Lá fora os raios de sol são fracos e a chuva não
existe mais, vejo pelo vidro da janela que estou nua, olho
para a cama e o lençol branco está com sangue. Blake
Goldberg me fez mulher em sua cama. “Preciso de um
banho” pensei. Ando em direção ao banheiro e me lembro
de Alex, tenho que falar com ele. Abro a porta e entro,
minha bolsa e roupas não estão mais aqui. Ele pegou
talvez para secar? Pergunto a mim mesma. Mas por que
minha bolsa não está aqui? Blake é um homem difícil,
trabalhar com ele agora não será nada fácil, se é que eu
ainda tenho um emprego depois de dormir com meu chefe,
eu já não posso garantir meu sustento trabalhando com ele.
Faço minha higiene com escova de dentes nova que está
em cima da pia, tomo banho bem devagar e lavando tudo o
que Blake depositou em cima de mim com água
deliciosamente morna, lavo meu cabelo e termino meu
banho. Pego um roupão que está no armário, visto e pego
uma toalha para secar meu cabelo, olho pelo espelho e
vejo no meu pescoço as marcas de Blake, abro rápido o
roupão e ele deixou todo meu corpo marcado como dele.
“Filho da mãe”. Penteio meu cabelo, amarro o roupão no
meu corpo e saio do banheiro, ele ainda não voltou para o
quarto, não sei se sinto alívio por isso, ou apreensão por
não saber o que ele está fazendo ou planejando fazer.
Decido que preciso sair do quarto e assim faço, no grande
corredor até chegar às escadas, vejo câmeras por todo
canto, as portas dos outros quartos estão abertas, mas eu
não entro, tenho medo. Desço a escada e passo por outro
corredor que me leva até a sala, vejo tudo lá fora. Ele
abriu as cortinas e a estrutura que parecia metal deixando
toda a luz do dia entrar na casa, é lindo. Olho pela grande
sala e tudo é muito lindo e caro, vejo uma mesa
improvisada de café da manhã, ela não estava aqui ontem e
não faz parte da decoração da sala. O suco de laranja que
está na jarra transparente me deu sede só de olhá-lo, pego
um copo e coloco o líquido amarelo que pude notar ser
natural, bebo e sinto todo o sabor descendo pela minha
garganta, bebo tudo em um único fôlego “Acho que eu
estava com sede” pensei sorrindo. Coloco mais um pouco
de suco no copo e vou para o grande vidro da sala e vejo o
penhasco, o mar está mais calmo, e o sol um pouco mais
forte. A luz do dia me puxa lá para fora, e rápido me viro
para ir até a porta, abro, ou pelo menos tento abrir e não
posso, está trancada.
— Onde pensa que vai? — Ouço a voz atrás de mim e
com o susto pela tamanha rouquidão e comando, deixo o
copo cair. Meu corpo gela e trava, não consigo me mexer
para virar e olhá-lo de frente, ouço os passos agora fortes,
porque antes eu não ouvi nada. Ele se aproximou e me
abraçou por trás, minha mão ainda estava na maçaneta
quando ele pegou e retirou de lá.
— Você não tem permissão para sair. — Falou com a
boca colada em meu ouvido. Ele me virou e olhamos de
frente um para o outro. “Meu Deus que homem
desgraçado de lindo é este?” E que me apavora a cada
palavra que sai de sua boca. Seus olhos brilham diferente
hoje, não mais com raiva, porém, com a mesma
intensidade de mistério que antes.
— Dormiu bem? — Perguntou rouco.
— Sim. — Respondi. Blake olha para meus lábios, faz
carinho no meu rosto e me beija suavemente, mas com a
posse de outrora. Nossas línguas fazem balé dentro das
nossas bocas, ele não abandonou meu corpo com braços
fortes em volta de mim, eu tremo. Ele deixou minha boca e
eu me senti abandonada.
— Você está bem? Muito machucada? — Perguntou
com a testa colada na minha.
— Estou bem, dolorida, mas bem. — Falei.
— Eu quero ver. — disse ele. — Vamos nos sentar
aqui. — Blake pegou minha mão e me conduziu até a mesa
de café da manhã, sentou na cadeira e me fez sentar em seu
colo. Ele ficou beijando meus ombros e cheirou meu
cabelo. — Cheiro bom. — Disse ele. Blake me puxou para
que eu encostasse as costas no peito dele, mas eu fiquei um
pouco de lado dando para ele a visão do meu corpo. —
Coloque seus pés apoiados nos meus joelhos. — Disse ele
e desamarrou o laço do meu roupão, abriu e puxou forte a
respiração. — Linda. — Meus seios ficaram para fora, ele
abocanhou segurando e chupou meu mamilo direito. —
Firmes e doce. — Ele passou a mão tirando o roupão do
meu corpo expondo o pouquinho dos meus pelos que
sempre deixo baixo, odeio meu sexo peludo. — Gosto de
como você se depila, da próxima vez que for fazer,
desenhe um B aqui. — Falou passando a mão em cima dos
pelos e olhando em meus olhos.
— Não mesmo, vou tirar tudo. — Falei franzindo minha
testa. Não é possível que ele esteja falando sério.
— Vai fazer isso sim, por que não faria isso para mim?
— Começou a complicar. — Quero marcá-la como minha.
— Disse ele.
— Mais? — Perguntei. — Não bastou bater minha
virgindade para fora de mim?
— Isso foi o presente mais delicioso que já recebi,
agora quero marcá-la de todas as formas possíveis. —
Disse ele.
— Como o quê? Tatuar seu nome na minha pele? —
Comecei a rir. — Pare com isso Blake, eu não sou vaca
para ser marcada. — Falei e fechei meu roupão. Ele
segurou minhas mãos e abriu novamente.
— Eu pensei isso mesmo, quero meu nome tatuado em
seu corpo. — Mentira. Ele não pode estar falando sério.
— No seu dedo, para ser mais específico. — Disse ele e
pegou a minha mão. Passou os dedos com calma no meu
dedo anelar esquerdo. — Bem aqui, quero uma tatuagem
com meu nome, Blake.
— Eu não vou fazer isso. — Falei séria olhando para
ele.
— Você não tem escolha, Grace, isso é uma
demonstração de confiança para mim. —Disse ele.
— Não, confiança não, isso é você sendo ridículo.
Confiança não tem nada a ver com isso. — Ele me olhou
repreendendo por tê-lo chamado de ridículo, mas terminou
o assunto.
— Vamos voltar nesse ponto depois, agora quero ver
como você está. — Disse ele. — Coloque os pés como te
falei para fazer. — Mais uma repreensão na voz. Ele me
ajudou erguendo minhas pernas e eu apoiei meus pés nos
seus joelhos, com as duas mãos ele abriu minhas pernas.
Fiquei sentada em seu colo, com os pés apoiados em seus
joelhos e de pernas abertas, ele olhando para meu sexo
passou a língua nos lábios.
— Você é uma miragem de tão perfeita. — Disse ele.
Eu senti sua ereção contra meu quadril. — Vamos ver
como ela está. — Disse e enfiou a mão no bolso do
pijama, pegou o telefone celular e abriu em filmar. Tudo na
minha frente e eu fiquei em choque.
— O que pensa em fazer? — Perguntei.
— Não penso, eu vou filmar o que você me deu de
presente a noite toda.
— Eu dei, ou você tomou? — Perguntei.
— Eu tomei e foi delicioso. — Olhou para mim e viu a
minha aflição. — Acalme-se, Grace, tudo o que eu fizer
com você será mantido em segredo é só para meu uso,
jamais vou expor você ao ridículo de lançar esse vídeo na
rede. Você tem minha palavra.
— Século 21, não existe mais isso de palavra, Blake.
— Falei nervosa demais para pensar em outra coisa.
— Vou provar para você que minha palavra é única. —
Ele clicou com o dedo no botão de filmar e começou a
fazer, seu telefone tem uma câmera ótima, me senti
estranha vendo o que ele estava fazendo, a grande tela do
telefone mostra meu sexo um pouco vermelho, ele
começou a passar os dedos e abrir minha carne,
verificando cada pedaço na tela. — Linda, só minha. —
Disse. — Eu machuquei você. — Falou e eu olhei na tela
para onde ele estava mostrando, um pequeno corte, como
se tivesse sido rasgado próximo a minha entrada. — Dói?
— Perguntou.
— Não.
— Eu fui com muita sede em você, devia ter sido mais
cuidadoso. — Falou com remorso na voz.
— Eu estou bem, não dói nada.
— Precisamos ir ao médico, existem pomadas para
melhorar quando isso acontecer novamente. — Disse ele
sério.
— Não se preocupe.
— Vou me preocupar sempre, cuido do que é meu. —
Disse ele. Passou dois dedos massageando meu clitóris, eu
vejo tudo pela tela do telefone, e meu sexo reage ao seu
toque, sinto contrair meus nervos por dentro.
— Olha como contrai. — Disse com voz grossa. Ele
continuou a massagear o clitóris e olhar para o telefone,
tudo estava sendo filmado, cada reação do meu sexo
estava sendo registrado para ele como uma espécie de
fetiche sujo, somente meu sexo. Fiquei mais relaxada e
fechei os olhos apoiando minha cabeça em seu ombro, a
sensação que se formou dentro de mim é perfeita, quero
senti-la mais. Ele continuou me masturbando e olhando
para a filmagem, rebolei com seus movimentos e ele
entrou em mim com dois dedos.
— Aahhum. — Gemi. Blake tem esse poder de me fazer
odiá-lo e depois me entregar com facilidade, apenas com
um breve comando de voz. Não demorou muito, ele me fez
gozar com espasmos e gemidos, segurando firme o telefone
para não perder nenhum movimento do meu sexo gozando.
Ele gemeu só de olhar meu líquido brilhoso aparecendo,
mesmo que fosse tão pouco, ele estava lá.
— Jamais pensei que fosse assim. — Disse ele. Eu
ainda estava me recuperando do orgasmo sentada em seu
colo e de pernas abertas, com seus dedos entrando e
saindo de mim.
— O quê? — Perguntei sem muito fôlego.
— As reações do sexo feminino gozando, é incrível. —
Disse ele, pensei que ele já fizesse isso com outras.
— Você não tem outras filmagens?
— Não, você é a única que me desperta o interesse de
filmar cada centímetro do seu corpo, e eu vou fazer isso
sempre. — Fiquei sentada e aberta para ele, não tirou os
olhos do telefone filmando meu sexo até que minha barriga
roncou de fome. Fiquei com vergonha e a reação dele foi
muito delicada.
— Nossa, te devo um pedido de desculpas. — Disse
ele, parando a filmagem e desligando o telefone.
— Você está há muito tempo sem comer nada, isso é
imperdoável da minha parte. — Ele deixou o telefone na
mesa, eu abaixei minhas pernas e ele fechou meu roupão.
— Sente-se aqui. — Disse apontando para a cadeira ao
lado. Eu levantei e sentei, ele segurou no meu rosto com as
duas mãos olhando para mim, depois para meus lábios, e
me beijou sugando cada pedaço da minha boca para eu não
esquecer que esse beijo, é somente ele que tem.
— Deliciosa. — Falou. — O que você quer comer? —
Olhou para a mesa e ele falou as opções, depois colocou
suco de laranja em outro copo para mim.
— Eu aceito ovos mexidos. — Falei. Ele se levantou,
me deu um beijo e foi para a cozinha preparar os ovos.
Blake parece até um homem normal agora, eu não tenho
muito o que pensar, aliás, eu não sei muito o que pensar.
Não é nada saudável o que aconteceu e o que ele deixa no
ar com suas propostas. Eu nunca fui de ter
relacionamentos, não sei se foi pela vigilância constante
de Alex, mas nunca namorei na minha vida. E de repente,
sou sequestrada pelo meu chefe, que me traz para um lugar
que eu não sei onde estou. Blake foi magoado no passado,
isso é certo. Mas por quem? E como? Se seu objetivo é me
manter sob vigilância vinte e quatro horas do dia, isso não
vai funcionar, também não sei quais seus planos a meu
respeito. Me sinto bem em seus braços quando ele deixa a
possessividade de lado, e age como um homem comum,
como agora, preparando ovos mexidos para mim.
— Um dólar por seus pensamentos. — Disse ele,
entrando na sala com dois pratos nas mãos. Olhei a bela
figura andando a passos tão lentos que era imperceptível
ouvi-lo chegar.
— Ainda estou tentando entender isso tudo. — Falei.
Ele sentou-se na cadeira ao meu lado e colocou o prato na
minha frente.
— Isso é uma obra de arte? — Perguntei com olhos
fixos para os ovos.
— Eu não sou só o seu chefe na Blake’s, na culinária eu
também comando. — Disse ele com sorriso leve. É
encantador vê-lo sem todo aquele peso em seu olhar.
— Nunca mais cozinho na minha vida. — Falei. Ele
sorriu. Peguei o talher e um pouco dos ovos, coloquei na
boca e o sabor me fez fechar os olhos. Não era só um
simples ovo mexido, era mais que isso, eu poderia passar
o resto da minha vida comendo só isso.
— Perfeito. — Falei.
— A perfeição se dá com a manteiga que ele é
preparado, depois eu mostro para você qual eu uso. —
Disse ele sorrindo.
— Alex vai amar essa receita. — Me arrependi de ter
falado. A leveza em sua face foi embora e o peso nos
olhos voltou. E com a voz cortante perguntou.
— Quem é Alex? — Blake olhou para mim com ira, eu
terminei de mastigar e engoli, tomei um gole de suco,
deixei o copo na mesa, olhei para ele e falei.
— Com tantas câmeras que você instalou invadindo a
minha única privacidade, que é minha casa, pensei que já
tivesse investigado minha vida. — Falei.
— Você é mais ousada do que pensei, fala olhando nos
olhos como um tipo de afronta. Responde com o mesmo
tom da pergunta só que um pouco mais suave por ser uma
mulher. Mas dentro do meu mundo, quem comanda sou eu,
Grace. Quem é Alex? — Gritou na última frase. Eu tremi.
— Meu irmão. — Ele visivelmente ficou mais calmo.
— Eu ainda não sei quem são as pessoas da sua
família. — Ele começou a comer como se não tivesse
ficado louco por alguns segundos. — Mas quero conhecer
todos para não termos um problema entre nós.
— O que você quer de mim, Blake? — Perguntei. Eu
fiquei cansada com o estresse momentâneo.
— Coma, e vamos conversar sobre tudo isso. Eu nunca
vou deixar você no escuro, Grace. — Disse ele. Comemos
em silêncio, na minha cabeça um turbilhão de coisas
passava a cada segundo que ficamos sentados. Estávamos
com fome, devoramos quase tudo o que estava na mesa.
Depois de eu não aguentar mais comer, ele me conduziu
até o sofá e ficamos sentados um de frente para o outro.
Fiquei preocupada e me lembrei do meu telefone, Alex ou
até mesmo papai deveria ter ligado e eu não os atendi. Isso
é um grande motivo para a terceira guerra mundial.
— Deixei minha bolsa no banheiro do quarto onde
dormi, mas não está mais lá. Você pode me devolver, eu
preciso ver se tem ligações para mim. — Falei. Blake
levantou-se e foi até a mesa de café, pegou o telefone e
voltou para o sofá, verificou alguma coisa e disse.
— Você recebeu somente uma mensagem de Alice, sua
amiga. — Ele sorri um pouco e falou. — Pornográfica ela.
— Mas esse é o seu telefone. — Falei e olhei em seus
olhos.
— Sim, e eu sei de todas as suas chamadas, mensagens,
e-mails que você recebe. Vem tudo para meu arquivo de e-
mail. — Falou sério olhando para mim.
— Como isso? — Perguntei assustada.
— Quando eu pedi o seu telefone para baixar o
aplicativo da Blake’s, eu aproveitei e coloquei um espião
em todo o seu sistema. Até mesmo no computador da sua
casa, eu não tenho o porquê esconder que estou fazendo
isso, Grace, quero saber tudo e a cada momento.
— Você não tem esse direito. — Falei com a voz
embargada. Como ele me coloca nessa situação?
— Eu tenho todo o direito, Grace, sou seu noivo,
lembra? — Perguntou.
— Blake. — Eu pausei para olhar bem em seus olhos,
ficamos assim por cinco minutos completos e em silêncio,
até que eu quebrei com minha fala. — Eu não quero nada
do que você está me oferecendo, Blake. Eu não quero um
relacionamento, noivado, nada com você. Não assim, de
forma tão doentia, sem privacidade e sendo filmada na
minha própria casa, isso não. Isso acaba aqui e agora.
Exijo que você retire aquelas coisas da minha casa por
favor. — Falei a última frase com um fio de voz chorosa.
— Eu não vou retirar nada, e nós vamos sim ter um
relacionamento. Eu não quero machucá-la se esse é o seu
medo. Mas essa é ainda a única maneira que me vejo
relacionando com alguém. Eu preciso desse poder em
minhas mãos, esse controle, meus olhos em tudo o que
você faz e meus ouvidos em tudo o que fala. — Ele olhou
para mim calmamente e continuou. — Eu quero você,
Grace, e vai ter que ser nos meus termos, aceite ou não,
você não tem escolha.
— Mesmo se eu não quiser nada com você? —
Perguntei secando as lágrimas.
— Você quer, nós somos perfeitos juntos. — Disse ele.
— Mas eu preciso estabelecer esse limite, ou essas regras.
Eu vou mostrar que não sou tão complicado assim, só
quero que esse arranjo de certo.
— Por que eu? — Perguntei encostada no sofá, não sei
por que, mas ele me acalmou com suas palavras. Blake
passa a verdade na voz e nos olhos, e é muito fácil
acreditar em tudo o que ele diz.
— Eu me apaixonei por você no momento em que eu a
vi na recepção do meu escritório. — Disse ele em voz
baixa. Eu arregalei os olhos com a confissão tão aberta
que ele fez. — Você estava tão serena olhando para o
telefone, que não percebeu a minha chegada, e quando me
olhou, você me deixou de pernas bambas, não só pelo
tesão que senti, mas pela doçura no olhar e pelo pedido
que você me fez. — Olhei para ele sem entender.
— Que pedido eu fiz? — Perguntei.
— Cuida de mim. — Disse ele. — Você pediu com seu
corpo e seus olhos para que eu cuidasse de você. E eu vou
cuidar, do meu jeito torto e até sufocante, tenho plena
consciência disso, mas vou cuidar de você. — Ele deitou
no sofá e disse. — Deite-se aqui. — Eu me deitei em cima
de seu corpo, olhando em seus olhos. Meu peso não foi um
incômodo para ele.
— Mas as coisas não podem ser assim, Blake. Eu
preciso de espaço.
— E você tem. — Disse. — Eu só preciso fazer as
coisas do meu jeito, por enquanto. Você tem que confiar
em mim, Grace.
— E por que você não confia em mim? — Perguntei.
— Confiança para mim, é uma via de mão dupla. E eu
preciso saber que não vai ocorrer acidente nela, preciso
dirigir com segurança e te conduzir ao caminho que me
leva a confiar em você.
— Quem decide isso não é você, Blake, sou eu. Se
você quer ter uma relação comigo, eu preciso fazer você
confiar em mim, e não você me levar a confiança que você
precisa. Uma vez quebrada, nunca mais restaurada. E isso
pode acontecer com qualquer um.
— Grace. — Ele pronunciou o meu nome com dor.
Segurou meu rosto e não tirou os olhos dos meus um
segundo. — Eu preciso disso, eu tenho que fazer assim e
não existe outra forma. Há dez anos eu não sabia o que era
sentir os lábios de uma mulher, de olhar nos olhos e dizer
eu estou apaixonado. Há dez anos eu não sei o que é o
significado da palavra confiança. Eu preciso que você se
entregue para mim por completo, sem medo e amarras. —
Ele começou a me beijar e falar entre meus lábios. — Esse
sou eu agora. — Os beijos ficaram intensos. — Eu quero
você na minha vida. — Ele puxou de leve o meu lábio
inferior. — E você vai aceitar sem reclamar, porque nos
braços de outro homem, você não fica. — A língua entrou
na minha boca e meu sexo que agora não é mais virgem,
estava com sede de senti-lo por dentro. Senti sua ereção
crescer muito rápido. Sentei em seu quadril e desamarrei o
laço do roupão, tirei e joguei no chão. Nua, em cima de
Blake Goldberg. Ele engoliu em seco segurando meus
seios, eu levantei um pouco meu corpo, e tirei o lindo duro
comprimento para fora da calça de pijama, não dei tempo
para ele agir, sentei de uma só vez até a base. Ele gemeu e
fechou os olhos com a surpresa. Eu senti a dor da
dilatação rápida para meu sexo encaixar com o dele que é
muito grosso. Blake sentou e chupou meus seios, eu
comecei a fazer minha dança sensual com ele dentro de
mim entrando e saindo, ele gemeu sem parar. De repente,
segurou meu corpo com força e se virou, me deitando no
sofá e eu abri ainda mais minhas pernas para ele.
— Para quem foi deflorada essa noite, você está bem
safada, Grace. — Blake apoiou os cotovelos de cada lado
do meu rosto e não deixou de beijar meus lábios,
estocando forte e fundo, somente o barulho de nossos
corpos batendo um no outro podia ser ouvido com nossos
gemidos. Blake parou de me beijar e procurou alguma
coisa no sofá, e quando encontrou, eu sabia o que ele iria
fazer. Ligou o telefone e colocou para filmar novamente,
ele ficou de joelhos olhando seu sexo entrar e sair do meu,
ele filmou isso, e me filmou também.
— Linda. — Disse ele. Eu gostei disso, me senti sexy
sabendo que ele estava gravando tudo, apenas fechei os
olhos e senti com intensidade todas as sensações
maravilhosas que o sexo proporcionava, cada estocada eu
amava mais.
— Mais forte. — Falei, apoiando minhas mãos no
braço do sofá para segurar meu corpo. E ele fez, me
penetrou tão forte que não consegui acompanhar com o
meu quadril. Mesmo com todas as imperfeições nessa
relação, mesmo com tudo gritando que isso não vai dar
certo, eu me sinto dele, eu sou dele, eu quero ser dele.
Blake chupou meus mamilos ainda com o telefone na mão
gravando tudo, eu estava parecendo uma garota de filme
pornográfico, sem aqueles gemidos falsos e escandalosos
que não engana ninguém, só elas mesmo. Meus músculos
deram sinal de que eu estava perto, e então Blake gravou o
meu orgasmo intenso e não deixou meu sexo até ele
também se liberar na minha barriga, gravou até quando a
última gota caiu.
— Deliciosa. Agora fica de quatro para mim. — O
comando na voz me fez virar tão rápido, e sentir a
estocada lá no fundo. — Huumm. — Gemeu. Eu fiquei
quase sem fôlego tomando todo ele dentro de mim.
Capítulo 8

P assamos o dia assim, entre beijos e sexo, muito


sexo. Blake deixou o homem obscuro escondido dentro
dele, e deixou somente o romântico e cuidadoso ficar
comigo o domingo todo. Quando a chuva começou
novamente, nós estávamos nos amando em frente a lareira
acesa, ele não me deu tempo para descansar, não me
deixou perguntar as dúvidas que estavam fervendo na
minha cabeça, tudo o que sei agora é que ele está dentro de
mim mais uma vez, ávido e sedento, me possuindo com
toda a força que a natureza foi generosa em dar-lhe para
ser tão magnificamente delicioso. E olhando para seus
olhos brilhando para os meus, vendo a sua linda pele
bronzeada e suada tomando posse do meu corpo, eu tenho
a única certeza que já tive na vida, Blake Goldberg é a
minha cura, e a minha morte.
Ele me tira dos meus pensamentos quando lindamente,
deixa todo o seu prazer em cima dos meus seios, mais uma
vez. E o gemido que ouço sair de sua garganta, é que ele
poderia ficar assim muito mais tempo do que imagino.
— Hummhumm, como você é deliciosa, eu preciso
gozar dentro de você, te fazer minha como tem que ser,
marcá-la com meu esperma e vê-lo escorrer saindo de
dentro da sua fenda linda. Prometa-me isso. — Falou
quase sem fôlego e caiu deitado em cima do meu corpo,
que também estava muito cansado. Tê-lo assim tão grande
em cima de mim, me faz sentir que sou dele para a
eternidade.
— Prometo. — Falei, tentando recuperar o meu próprio
fôlego pelo orgasmo que tive a minutos atrás.
— Vou levá-la ao médico de minha confiança. — Ele
deitou-se ao meu lado.
— Não precisa, tenho uma médica ótima, nos
conhecemos através de Alice.
— Você confia nela?
— Sim, Alice sempre me fala sobre suas consultas com
ela, além de médica elas são amigas agora. Então, eu
confio sim.
— Me passe todas as informações sobre ela. — Falou
sério.
— Por quê?
— Porque quero saber quem realmente é essa mulher.
— Ele me puxou para deitar em seu peito e ficamos em
silêncio, eu não sei se ele falou mais alguma coisa, porque
dormi logo em seguida aconchegada em seu peito,
completamente vencida pelo cansaço.
Acordei e senti o macio edredom que me cobria, pelo
barulho da chuva batendo no vidro das portas e janelas, eu
sabia que estava forte demais. Blake já não estava mais na
cama improvisada que fizemos em frente à lareira,
levanto-me enrolada no edredom e sinto que preciso de um
banho e que também estou com fome. Isso se intensifica
pelo cheiro delicioso vindo da cozinha, ele está fazendo o
nosso jantar e enquanto isso, vou para o quarto tomar um
banho antes de vê-lo novamente. No banho, retiro todo o
esperma que ele deixou espalhado na minha pele, a
deliciosa água morna que cai me lavando, é quase um
orgasmo de tão boa que está, o vapor em todo o banheiro
indica que estou há tempo demais na água, e depois de
tudo limpo, eu desligo o chuveiro e abro a porta do box, e
o susto que levo de vê-lo parado em meio a fumaça, faz
minhas pernas tremerem.
— Blake! — Eu o repreendi — Você me assusta desse
jeito.
— Não foi minha intenção, vi quando você acordou e
veio para o banheiro, mas demorou a sair e então resolvi
ver se estava tudo bem com você. — Disse com a voz
calma.
— E você verifica isso por onde? — Perguntei.
— Meu telefone. — Levantou-o mostrando para mim.
— Tenho todos os sistemas de vigilância, e posso vê-los
por aqui.
— E você fala isso assim, com a maior naturalidade do
mundo?
— E você quer que eu fale como? — Perguntou
cinicamente, sorrindo.
— Você é louco. — Falo e saio do box.
— Louco não, somente cuidadoso. — Ele pegou a
toalha que deixei na pia, e me cobriu, depois pegou a outra
e me entregou para eu secar meu cabelo.
— Acho que vamos passar mais essa noite aqui, essa
chuva não vai parar tão cedo. — Disse.
— Imaginei isso, mas você não tem nada de importante
para resolver amanhã cedo, só uma reunião às 15h. —
Falei, penteando meu cabelo, depois fomos para o quarto e
em cima da cama vejo um lindo pijama de algodão.
— Que lindo.
— Comprei para você, vista-o. — Disse em comando.
Mesmo para pronunciar sobre um simples pijama, ele não
fala, ele manda.
— Sim, senhor, chefe. — Falei e sorri para ele, ele me
devolveu com um lindo, também.
— A reunião de amanhã é muito importante, mesmo
com chuva, se não parar, temos que ir logo pela manhã. —
Disse ele.
— Minha única preocupação é o meu telefone, você
pode me entregar? E se possível sem um programa espião
nele? — Perguntei olhando para o incrível e misterioso
olhos azuis perfeitos.
— Entrego o telefone, mas com o espião. — Disse,
grosso. — Está com fome? — Perguntou, mudando de
assunto.
— Muita. — Falo e termino de me vestir. Não falo mais
nada sobre a falta de privacidade que ele me impõe, não
estou em meu lugar seguro, aqui ele comanda e conhece
muito bem, então, finjo que não ouço o que ele falou. De
mãos dadas vamos para sala onde tomamos o nosso café
da manhã, que foi minha única refeição do dia. Blake está
lindamente vestido de cueca boxer branca. Somente. Não
sei qual é o meu apetite que está maior, se é por comida ou
por ele. Sento-me na confortável cadeira e ele me serve
vinho, depois vai até a cozinha e volta com nossos pratos,
um maravilhoso filé com purê de batatas, salada e legumes
cozido, isso é ótimo porque realmente preciso de comida
que alimente de verdade. Recuperar as forças que ele me
tirou não será fácil.
— Alex ligou dez vezes. — Disse ele quebrando o
silêncio.
— Meu Deus. — Falei assustada. — Com certeza ele
está em um avião agora.
— Engano seu, falei com ele me passando por você. —
Disse ele, se servindo de mais vinho.
— Você fez o quê? — Pergunto sem acreditar no que
ouvi.
— Isso mesmo que ouviu, Grace.
— Você não fala sério, não é? Blake, isso não se faz, é
minha vida, minha família, minha privacidade. — Falei,
calma o suficiente para conter uma lágrima.
— Você não entendeu ainda que agora a sua vida me
pertence? — Ele falou, levantando uma sobrancelha. Eu
me recuso a acreditar nisso, Alex é um maníaco por
controle, mas Blake, ele é doente.
— Minha vida não pertence a você, e nem a ninguém.
— Agora falo com muita raiva e saindo da razão. Preciso
me controlar ou ficarei nesta casa mais tempo que desejo.
— Você que pensa, não quero mais ter essa conversa no
nosso jantar, Grace, você precisa se alimentar. — Nisso
ele tem razão, tenho tanta fome que estou ficando tonta.
— Você não irá me fazer sua prisioneira. — Falei.
— Vou te fazer minha mulher, se você for a certa para
isso, futura Sra. Grace Goldberg. — Louco.
Então só serei sua esposa se ele achar que sou a mulher
certa? E para isso preciso passar por todos os testes e
aprovações que ele impor? Ao mesmo tempo que eu o
acho louco, fico chateada por ele confessar que está me
testando, ele é um desses homens lindos e encantadores
que só existe nos livros, e que por mais coisas absurdas
que eles fazem, a mocinha sempre acaba se apaixonando e
deixando o leitor com ódio por ela ceder tão rápido. Mas
a realidade que jamais pensei existir está diante de mim,
ele existe e quer me deixar louca e muito apaixonada,
porque dizer não para Blake é como se fosse um crime
mais perverso do mundo, só de olhar para esse homem
alto, loiro e lindo à minha frente, chego a pensar se tenho
um cérebro que age por mim, ou somente por seu comando
e beleza. Mas sei que posso fazê-lo confiar em mim, sei
que não sou uma dessas mulheres oferecidas e que se
encanta com sorrisos, se é de confiança que Blake precisa,
então é isso que darei a ele, e espero que ele não quebre
meu coração até esse dia chegar. Não posso brigar com ele
e deixá-lo com razões para sempre agir com incertezas,
mas uma vez preciso pensar que estamos em sua casa e
longe da minha ou de qualquer pessoa, para enfrentar
Blake de frente, eu preciso estar em chão conhecido e ter
para onde correr, por isso, me calo agora.
O filé está com o sabor maravilhoso, comemos calados
conversando somente com nossas próprias mentes, quando
terminamos ele leva a louça para a cozinha, e eu vejo a
noite chuvosa através do vidro. Tento abrir a porta e não
consigo, as janelas estão trancadas, ele realmente me fez
prisioneira. A chuva lá fora fica cada vez mais forte,
Miami não é assim com frequência, o calor prevalece o
ano todo e de uma hora para outra ela chegou com força.
Blake me abraçou por trás, eu não ouvi seus passos
chegando, ele tem essa habilidade de chegar como um
felino à espreita e ficamos assim por um tempo, só
olhando a chuva cair, então ele falou:
— Você quer ir para cama? — Perguntou.
— Sim, eu adoraria. — Ele me levou em seus braços
até o quarto, me deitou na cama e acomodou os
travesseiros nas minhas costas, sentou-se de frente para
mim e começou a falar olhando nos meus olhos, e então
pude ver a tormenta que é dentro dele.
— Sei que você está confusa, com tudo o que aconteceu
e como aconteceu rápido e estranho demais. — Ele puxou
o ar e continuou a falar. — Grace, esse sou eu agora. Um
Blake quebrado que há muito tempo não passa a noite com
uma mulher. — Ele coçou a garganta e continuou. — Ela
não me machucou tanto assim, na época eu achei que fosse
isso, que ela tinha acabado com minha vida, mas o que ela
destruiu foi outra coisa e outra pessoa também. — Ele olha
para os dedos decidindo se fala tudo ou não. — Não posso
falar sobre isso com você, não agora, mas preciso que
confie em mim, em como eu sou agora e não fique com
medo, por favor.
— É você quem precisa confiar em mim, e eu não tenho
medo de você, Blake.
— Eu não consigo e não posso confiar em você. —
Falou sentindo dor, pude ver em sua voz.
— Eu não quero viver presa dentro de uma casa de
vidro, e pagar por uma coisa que não fiz. Vejo em seus
olhos que você me quer, Blake, eu vi isso na primeira vez
que nos olhamos e foi muito intenso, que tinha que
controlar as reações do meu corpo toda vez que entrava
em sua sala, nesses quinze dias que nos conhecemos. Não
preciso esconder o quanto você mexe comigo, com meu
corpo e minha mente, nunca tive relacionamentos, mas
sempre soube que a verdade é para se dizer em uma
relação. E eu falo sem medo, olhando em seus olhos, você
mexe comigo, com meu sistema, com toda a minha mente
traidora, mas não posso pagar por um crime que não
cometi. Você é quem precisa expulsar seus fantasmas e dar
espaço para um novo amor, mesmo que esse não seja eu.
— Não é só você que vai pagar um preço por isso, eu
também. — Disse ele.
— Mas eu não quero, você não pode me obrigar. —
Falei.
— Eu já estou fazendo isso, Grace, e você terá que
suportar. — Blake tenta conversar normalmente, mas
quando ele escuta algo que o desagrada, o modo
misterioso e perigoso volta com força. As palavras
pronunciadas por ele agora saíram rasgando a sua
garganta, ele deixou claro que pode me obrigar a fazer o
que ele quer.
— Agora vem aqui, quero você mais uma vez nessa
cama. — Blake me puxou tão rápido para seus braços,
como a velocidade da luz, e os beijos ardentes
distribuídos por todo meu pescoço, lábios, colo e
mamilos, não me deixou pensar em mais nada. E a nossa
noite começou assim, com ele enterrado dentro de mim,
rasgando minha carne com força, me fazendo dele. Só
terminou às 5h da manhã, quando eu pedi, por favor, para
ele me deixar dormir.
Segunda-feira amanheceu sem chuva, o tempo estava
ótimo para irmos para casa com segurança, não descansei
muito, mas estou um pouco mais disposta mesmo com a
madrugada intensa que tive. Tomamos café da manhã e
enquanto ele fechava a casa, eu o observei trancar tudo
pelo telefone, o sistema tecnológico de segurança que ele
tem, é verdadeiramente um escândalo, saímos às 10h em
ponto da casa de vidro, olho pelo retrovisor e ela fica
cada vez mais longe, jamais vou esquecer o que vivi
dentro dela, de como minha virgindade foi tomada de mim
a força. “E que bom que foi a força” pensei. Não foi a
força, mas quase.
Durante todo caminho de volta, Blake segurou minha
mão, posso ver o quanto ele gostaria de ficar mais tempo
trancado comigo lá dentro da redoma de vidro, ele não
falou uma palavra todo o trajeto até minha casa, mesmo
quando eu tentei manter um diálogo com ele, foi
completamente evasivo. Quando parou o carro na frente da
minha casa, ele me olhou com carinho, e logo o brilho de
seus olhos foi embora e o gelo lançado por eles me
fizeram tremer.
— Venho te pegar antes da reunião. — Falou sério.
— Eu posso dirigir, Blake.
— Sei que pode, mas quero você em meu carro,
portanto, eu venho buscá-la. Não se atreva a sair de casa
sem me avisar. — Disse ele sem pausa.
— Blake, eu preciso sair.
— Não, tudo o que você tiver que fazer, faça uma lista
e me entregue, eu resolvo tudo o que precisar. — Falou
seco.
— Eu sou capaz de fazer minhas próprias coisas. —
Falei.
— Não me desafie, não queira conhecer o meu lado
mais sombrio. — Falou gélido.
— Acho que já estou conhecendo, não é? — Perguntei
com medo da resposta, ele deixou o Blake amoroso lá na
casa de vidro.
— Não, você ainda não conhece, esteja pronta às
14h30min, e não coloque os pés para fora dessa casa, eu
sei cada passo que você dá, entendeu? — Eu não o
reconheço. Conheci o lado torto de Blake, mas não pensei
que seria tão atormentador assim. — Agora beije-me. —
Disse ele e me puxou para perto de seu corpo, e me beijou
com sede, passamos a noite toda entre lábios e sexo, e ele
ainda tinha desejos em meus beijos.
— Entre, eu preciso ir para casa verificar a pauta da
reunião. — Ele ordenou friamente. Saio do carro com
vontade de chorar, não posso fazer isso aqui, pois ele
ainda me olha.
— Grace. — Viro-me para olhar a frieza com que ele
me olha. — Você esqueceu isso aqui. — Ele pegou no
banco de trás a minha bolsa. — Seu telefone está aí dentro.
— Disse e logo que peguei minha bolsa de suas mãos, ele
arrancou com o carro e saiu em alta velocidade. O que
acabo de conhecer é um Blake completamente diferente do
meu chefe, e do amante que tive o fim de semana.
Entro em minha casa com meu coração doendo,
confesso que agora ele me fez sentir como uma
mercadoria. Um objeto usado para seu bel prazer no fim
de semana, e que foi dispensada com ordens para não sair
de casa. Sei que estou sendo observada por ele agora, e as
lágrimas que desejo derramar precisam esperar até eu
chegar ao banheiro, se ele quis me fazer sentir mal,
conseguiu. Cada passo até o banheiro, dura uma
eternidade, abri a porta com alívio de poder chorar e
fechei logo em seguida, desabei no chão abraçando meu
corpo e deixei sair todo o mar de lágrimas que estava
preso em meus olhos. Minha garganta trava como se uma
abelha tivesse me picado, e uma enorme alergia tomou
conta do meu corpo tampando minha garganta, tudo sufoca,
tudo aperta e nada do que eu pense ou chore, alivia a dor
que sinto agora.
“Ele conseguiu, ele me quis e me teve, agora estou
completamente em suas mãos” pensei. Passei dois dias
com Blake e sei o que ele fez e disse, mas vê-lo agir com
tanta frieza como fez ao me deixar aqui, acabou com toda a
magia meio torta que foi o nosso conto, não de fadas.
Não sei quanto tempo eu fiquei chorando e deitada no
chão. Chorando pelo simples fato de que tudo está errado,
tudo me alertou sobre isso, os sentimentos que tive ao
pisar pela primeira vez na Blake’s, algo dizia para eu não
fazer, e eu fiz, quis enfrentar o medo e provar para mim
mesma que sou capaz de seguir minha vida, sem uma
escada como Alex, meu irmão. Agora, não sou mais
virgem, estou nas mãos de um homem que não conheço e
completamente sedutor, vigiada por câmeras, rastreador e
programa espião no telefone, tudo isso em quase vinte
dias. As lágrimas cessaram quando ouvi meu telefone
tocar em algum lugar, onde está minha bolsa? Seco as
lágrimas que insistem em cair e sento-me no chão, foi
assim que ele me deixou, completamente sem forças, e
com um peso enorme nas costas, como se eu tivesse
toneladas de concreto em cima das minhas costas agora. O
toque do telefone parou, e um segundo depois voltou a
tocar insistente, me apoio na parede e fico em pé, lavo
meu rosto com água fria e saio do banheiro logo em
seguida, tropecei na minha bolsa que não me lembro de tê-
la deixado no chão próxima à porta quando entrei no
banheiro. Peguei meu telefone irritante e o número de
Blake está na tela piscando para mim, a vontade de chorar
veio forte, mas me contenho, então eu o atendo.
— Oi.
— Por que está há horas no banheiro? — Perguntou, ele
estava me observando. Vou para minha cama e deito-me
aconchegada aos meus travesseiros, o cansaço parece ter
ficado maior ao ouvir sua voz.
— Na verdade, eu dormi dentro do banheiro, estou
muito cansada. — Falei.
— Estou vendo, você não tirou os seus sapatos ainda.
— Detalhista, observador. Um maníaco como ele, não
poderia deixar esses pequenos detalhes passarem
despercebido.
— Sim, ainda estou com eles.
— Vou deixá-la descansar, não precisa participar da
reunião. Sei que a culpa por você estar cansada é
totalmente minha, tire o dia para você e durma, te vejo a
noite. — Disse ele, e por um instante eu senti alívio por
não precisar vê-lo tão cedo.
— Obrigada. — Falei apenas.
— Está tudo bem com você? Estou te achando um
pouco triste. — Agora preocupado?
— Estou ótima, somente sono.
— Então bons sonhos e me espere. — Desligou. Blake
sabe como colocar uma pessoa no fundo do poço em
poucos segundos. Como estou prisioneira dentro da minha
própria casa, monitorada por câmeras em toda ela, resolvi
agir naturalmente, levanto-me e vou até o closet, tiro
minhas roupas e sapatos, e coloco um pijama de dormir
bem fresquinho, volto para a cama e coloco o telefone no
silencioso e deixo-o na pequena mesinha ao lado, quero
esquecer que esse telefone existe. Viro-me para o outro
lado e em poucos segundos o sono do descanso toma conta
do meu corpo e eu adormeço.
Não sei quanto tempo dormi, mas acordo com o
telefone residencial tocando alto, olho para a janela e vejo
que lá fora já é noite, no meu telefone celular cinco
chamadas não atendidas de Blake. “Com certeza é ele
ligando para me acordar” pensei. Vou para a sala e
atendo o com a voz de sono ainda...
— Oi.
— Para isso servem as câmeras, agora estou calmo
porque sei que estava dormindo, liguei cinco vezes e você
não atendeu, se fosse em outra ocasião, a porta da sua casa
já estaria no chão. — Disse ele com o tom de voz que
parecia sorrir.
— Boa noite para você também, Blake. — Falei sem
paciência.
— Boa noite, arrume-se, vou pegá-la em 40min para
alimentá-la, você não comeu o dia todo. — Disse ele.
— Tipo de roupa? — Já que ele estava categoricamente
me dando ordens e não me convidado para jantar, também
precisava ser cínica já que ele estava vendo a cara que
fazia pelas filmagens.
— Vestido, de preferência.
— Sim, senhor, mais alguma coisa?
— Não me faça esperar. — Desligou.
Não posso acreditar que isso está acontecendo comigo.
Tomo banho e quinze minutos depois, estou no closet
escolhendo o vestido que vou usar. O vermelho até os
joelhos é o escolhido, decido não usar calcinha para não
marcar o vestido na minha pele, o tecido é muito leve e
isso pode acabar com todo o charme que o vestido merece.
Quarenta minutos depois eu estava pronta, e sentada na
minha sala. Comecei a agir no automático, não consegui
parar de pensar em como tudo aconteceu, e de como ele
me deixou aqui, o tom de voz, o olhar gélido e
completamente insensível. Tudo isso ao ponto de tirar
minhas forças por todo o dia, e agora estou agindo no
automático. Ele me tira de meus pensamentos quando ouço
o telefone tocar.
— Sim.
— Estou aqui. — Disse e desligou. Mais uma vez sou
inundada por uma vontade louca de chorar, mas me
contenho, engulo o choro e saio trancando tudo com o
código de segurança. Quando coloco os meus pés para
fora do portão do meu prédio, fico sem ar. Ele toma todo o
oxigênio existente em Miami e quando procuro, puxando
com força o ar, não encontro. Lindo, ele está lindo. Em pé
com a porta de trás do carro aberta, ele me espera,
lindamente vestido com uma calça jeans esportiva e uma
camisa vermelha. Se ele quis combinar, eu não sei, ele me
observa o tempo todo pelo telefone, então, ele sabia que
eu escolhi usar um vestido vermelho. Ele sorri, Blake sorri
depois de ter me tratado com indiferença o dia todo.
— Você está linda.
— Obrigada.
— Está com fome de comer a melhor massa italiana de
Miami? — Perguntou.
— Sim, fome e sede de vinho.
— Ótimo, vou levá-la ao lugar certo para isso.
— Estou ansiosa. — Não estava.
Não tinha percebido que hoje temos os serviços de seu
motorista. Ele sentou-se ao meu lado e seguimos para o
lugar onde ele falou. Uma hora de viagem para ir a um dos
lugares mais lindos que já vi em Miami, Blake tomou meus
lábios durante a metade do trajeto, beijando-me como se o
mundo fosse acabar e ele pudesse aproveitar cada segundo
do momento. Ora rápido, ora devagar, ora com a língua
outra sem, não tocou em outra parte do meu corpo, somente
segurou minha cabeça e me beijou, parou somente quando
sentiu o carro parando em frente ao restaurante. O
motorista, cujo nome ainda não sei, abriu a porta para nós
e a hostess veio nos recepcionar. Ele não exagerou em
nada quando disse que me traria a um lugar perfeito,
poucas pessoas estavam nas mesas reservadas, fomos
levados para a nossa, e a vista maravilhosa do mar deu o
toque de romance que era necessário, a luz ambiente, os
candelabros com velas espalhados em alguns pontos do
restaurante, deixou tudo perfeito. Nos acomodamos e ele
sentou bem próximo a mim.
— Sejam bem-vindos, o que desejam beber? —
Perguntou o garçom.
— O melhor e mais caro vinho da casa. — Disse
Blake.
O garçom saiu e ficamos em nossa privacidade. Blake
tocou em minhas mãos até agora apoiadas em minhas
coxas.
— Você parece tensa. — Disse ele.
— Não é nada.
— Está chateada com algo? — Perguntou.
— Eu tenho com que me chatear? — Devolvi a
pergunta.
— Não, está tudo perfeito para mim. — Disse ele.
— É, nisso eu acredito. — Falei em tom de ironia. —
Como foi a reunião? — Mudei de assunto.
— Desagradável, ficou melhor quando comecei a olhar
você dormir. — Disse como se fosse normal. O garçom
voltou com nosso vinho, e realmente é o melhor que já
provei na vida.
— Perfeito. — Falei de olhos fechados, sentindo todo o
encorpado sabor.
— Eu o tenho em casa, vou aumentar a minha adega de
vinhos, já que é a sua bebida preferida. — Ele me puxou e
me beijou ardente e calmo, conseguiu ter toda a minha
atenção somente com o beijo. Seus lábios macios cobrem
os meus com fervor, sentindo toda a acidez do vinho tinto,
sinto-me embriagada com tamanha posse e sedução, sua
mão direita fica em meu rosto enquanto a esquerda
encontra minhas coxas, um gemido baixo sai da minha
boca quando seus dedos longos e quentes entram por
debaixo do meu vestido, tocando minha pele agora suada
pelo calor do momento.
— Abra. — Pediu com a voz rouca e branda. Eu abri,
sua língua encostou no céu da minha boca assim que seus
longos dedos, tocaram a minha fenda já molhada e livre de
peça íntima. Quando ele sentiu que eu estava nua por
baixo, Blake afastou a boca da minha olhando para meus
olhos, suas pupilas começaram a dilatar, e a respiração
ficou mais rápida. Seu rosto, alvo como neve, tomou
rapidamente a cor avermelhada, ele olhou para meus
lábios e com dificuldade para falar, balbuciou algumas
palavras.
— O... o... o que é isso? — Perguntou sem acreditar no
que estava tocando, e mal chegamos ao restaurante.
— Meu sexo nu. — Falei puxando uma respiração. Ele
continuou olhando para meus lábios e senti devagar, dois
dedos entrarem em mim.
— Huumm. — Segurei o gemido dentro da minha
garganta, mas foi inútil.
— Você está muito molhada. — Disse ele em voz baixa.
Ele tirou os dedos de dentro da minha fenda, e levou até a
boca, colocou tudo dentro dela e chupou de olhos
fechados.
Cap í tulo 9

— Delícia. — disse ele.


— Controle-se, Blake, estamos em um restaurante. —
Quase peço para ele me tirar daqui.
— Vou me controlar. — A voz saiu baixa e rouca. —
Até o momento em que estivermos no carro. — Ele
abaixou o vestido que ficou levemente acima dos meus
joelhos. Ele tomou um gole generoso do vinho e então eu
falei.
— Você estava diferente quando me deixou em casa
esta manhã.
— Eu não acho, só estava preocupado com a reunião.
— Respondeu apertando seu sexo com forte ereção.
— Não, Blake, você agiu de forma diferente. Sei que
não tem nada normal em você, mas hoje você não estava
como eu o conheci. — Ele me olhou nos olhos como se
não estivesse gostando de responder as minhas perguntas.
— Eu sou o mesmo, não se preocupe. — Falou. —
Você vai trabalhar amanhã? — E já mudou de assunto me
fazendo essa pergunta. Realmente, ou ele é bipolar ou
louco.
— Claro, estou quase vinte dias na agência e não tenho
porque faltar. — Falei no mesmo tom.
— Sou seu chefe, não vou demiti-la por faltar um dia.
— Você não quer que eu trabalhe por quê? — “Não me
deixou participar da reunião, e agora não quer que eu vá
amanhã?” pensei.
— Não é isso, querida. — Disse ele me beijando no
rosto. — Só quero que descanse bem.
— Não estou doente, Blake, e sou capaz de ir trabalhar
amanhã, não se preocupe. — Respondi.
— Tudo bem, se é assim que você quer, assim será. —
Disse. Tomamos o vinho e conversamos sobre a reunião, o
projeto de decoração da obra ele delegou à equipe de NY.
Ele me mostrou para explicar com mais facilidade o
projeto que estava aberto online pelo site da agência e,
imediatamente meu instinto falou mais alto, então eu
peguei o telefone de sua mão e comecei a fazer toda a
decoração virtual explicando os motivos e escolhas para
ele. Blake não disse nada sobre minha falta de educação
em tomar o telefone de sua mão, apenas me observou
concluir o trabalho entre goles de vinho e explicações. Em
menos de 60 minutos, o garçom passou e colocou outra
garrafa de vinho na nossa mesa, e eu terminei o projeto
que levaria no mínimo uma semana, mesmo com o
simulador eficaz como o da Blake’s. Sou assim, quando
olho um projeto ou faço um, vejo tudo automaticamente
como vai ficar na minha cabeça. Gosto da parte de
decoração de interiores, e de como transformar um
ambiente bruto, em lugares para famílias ou trabalhos,
como se ali tivesse que ser o melhor lugar do mundo para
se passar o tempo. Amo ver o sorriso nos lábios ou
lágrimas de emoção, por proporcionar a pessoa em
questão, o que ela realmente sonhou. Termino de concluir a
decoração virtual e entrego para Blake, que olha, olha,
olha e olha, e não diz nada. Ele focou sua concentração em
todos os detalhes que usei, todas as cores e ideias de
cortinados e estofados, depois passou a olhar a área
externa e observou cada detalhe do jardim e piscina, só
então, Blake olhou para mim e perguntou:
— Como fez isso tão rápido?
— Não sei, só olhei e o projetei na minha cabeça e
coloquei aí, nada de mais. — Falei e tomei outro gole de
vinho, que por sinal já estava correndo rápido pelo meu
sangue.
— Nada de mais? — Perguntou irônico com sorriso no
canto da boca. — Em uma hora você fez um trabalho
virtual de no mínimo sete dias. — Disse ele, que mais
parecia chocado do que com raiva pela minha falta de
educação.
— Sou boa no que faço, Blake. Sou uma ótima arquiteta
e decoradora, só preciso de uma oportunidade para
mostrar isso a você.
— Eu já estou vendo, Grace. — Falou olhando a tela
do telefone. E a curiosidade bateu no fundo da minha alma.
— Posso te perguntar uma coisa. — Falei.
— Sim. — Ele me deu toda a sua atenção virando-se
para mim.
— Por que os funcionários da Blake’s, não iniciam suas
profissões no que realmente são qualificados para fazer?
— Perguntei e percebi a tensão em seu corpo. Ele ficou
ereto como um dançarino de ballet.
— Essa pergunta ficara sem uma resposta no momento.
— Disse áspero.
— Eu preciso saber, Blake.
— Em outro momento talvez, agora — Ele deixou o
telefone na mesa e virou-se para mim. —, quero
parabenizá-la, estou delegando a você o comando do
projeto que acabou de fazer pelo programa de simulação
online da Blake’s, sem ao menos me perguntar como você
usaria as ferramentas. Surpreenda-me, Grace. — Disse
ele. Meu coração só não saiu pela minha boca, porque
coloquei a mão tampando pela emoção do momento.
Mostrar o meu trabalho para ele é o meu objetivo desde
o dia em que escolhi a Blake’s para mandar meu currículo.
— Eu não tenho palavras para agradecer, obrigada.
— Não agradeça, você mostrou aqui uma ideia perfeita,
agora faça acontecer e mostre para o mundo. — Ele sorriu
ao dizer, como se confiasse em mim para comandar esse
trabalho. Mas espero que através disso, ele confie em mim
com o amor também.
— Darei meu máximo nesse projeto, e garanto, Blake,
você irá se surpreender.
— Eu confio em você. — Disse e me beijou.
— Não parece, eu tenho uma casa cheia de câmeras de
vigilância. — Falei e me arrependi. O momento da
confiança era profissional e não pessoal, ele fechou o
semblante no mesmo minuto.
— Esse é outro assunto, outro tipo de confiança. —
Disse ele. No momento eu entendi, mas não posso permitir
que isso continue, não sou assim, o que prezo na vida é
minha liberdade.
— Blake, sei que esse não é o momento, mas
precisamos conversar sobre isso.
— Não temos nada para conversar.
— Sim temos, eu não concordei com nada do que você
me propôs. Eu não quero e não posso viver em uma prisão
domiciliar. — Seu olhar estava mais gélido do que quando
me deixou hoje pela manhã em minha casa. Estávamos
falando de trabalho e eu burra, entrei nesse assunto, mas
isso me incomoda tanto.
— Eu a trouxe aqui para termos um bom momento, e
não uma discussão sobre coisas tão superficiais.
— Superficiais? Blake, superficiais? Vou te dizer o que
são superficiais. — Olhei para ele e não consegui deixar
as palavras dentro da minha boca. — Superficial é você
pensar que pode chegar na minha vida e transformá-la em
um reality show. Superficial é você pensar que por eu ser
virgem, você achar que o sexo maravilhoso que faz, irá me
prender por tempo indeterminado. Superficial, imaturo e
idiota, é você achar que tem o direito de mandar em minha
vida como você quer. — Falei sem pausa. Respiro fundo
para continuar, e o momento em que olhei para ele, eu
gelei da cabeça aos pés. — Eu não sou tão ingênua como
você pensa. Eu tenho um irmão como você, ele é
possessivo e ciumento com sua noiva, horas e horas de
sexo intermináveis que sem querer, eu o ouvia fazendo
com ela. E Alex nem imagina que eu sei o que ele faz,
porque seria bem capaz de querer lavar meu cérebro com
sabão para me fazer esquecer. — Enquanto eu lanço as
palavras para ele, o que ele faz é somente me observar, e
eu continuo quando vejo que ele não vai dizer nada. — Eu
sei o que é um dominador, Blake. Se você quer fazer toda
essa história de dominador e submissa, acho interessante.
Alex é noivo de sua submissa, e isso aconteceu porque ele
se apaixonou por ela, ele não suporta pensar em deixá-la
para outro homem, assim como eu, ela era virgem quando
o conheceu. Mas pela experiência velada que tenho desse
estilo de vida, o que ele já me explicou por eu ser uma
bisbilhoteira, o seu jeito dominador não tem nada parecido
com isso. Você quer para você os meus pensamentos e
minha vida, e quando eu mudar e ser somente o que você
quer, você não irá ver mais interesse algum em mim.
Apesar de não nos conhecermos, o que te fez se encantar
por mim irá se perder, e você não saberá quem sou, e vai
me deixar por motivos que você mesmo provocou. —
Falei e respirei fundo quando terminei. Ele me deixou
falar até a última palavra, respirando fundo novamente e
admirando minha coragem, eu tomo um pouco de água.
Blake pegou sua taça de vinho e com muita calma deu um
gole generoso, secou os lábios com o pano de linho com as
bordas delicadas de renda branca, jamais vi tão lindo
detalhe em um pequeno pedaço de pano para limpar a
boca. Ele me olhou outra vez e então falou:
— Eu não sou dominador. Embora essa arte me encante
um pouco, somente pelo poder e não o ato em si, mas não
sou um dominador e não quero você como minha submissa.
Nunca frequentei lugares com tais práticas e não procuro
me inteirar sobre esse estilo de vida. Mas vendo por outro
lado. — Ele tocou com os dedos no meu rosto. — Você já
é a minha linda e escolhida submissa. — Disse ele. —
Não quero te fazer prisioneira em seu próprio reality
show, mas quero torná-la minha por várias razões e quero
que seja em meus termos, tenho os meus motivos para isso.
— Ele bebeu mais um pouco de vinho, respirou fundo e
continuou:
— Quanto ao sexo, não gosto de como se referiu, esse é
mais um motivo para eu ficar de olho vinte quatro horas
em você. Eu estou certo de que você poderá correr para os
braços de outro homem a qualquer momento, e o meu
trabalho é fazer com que isso não aconteça. — Disse ele.
Ele é louco?
— Blake, se eu quiser ficar com outro homem, por mais
que você tente impedir, isso será em vão. Quando um
homem ou uma mulher quer trair seu parceiro, nada pode
impedir.
— Eu odeio essa palavra. — Disse com raiva olhando
para o fundo dos meus olhos com punhos fechados. —
Nunca mais pronuncie a palavra traição entre nós, isso não
vai acontecer. Eu não vou fazer essa covardia, essa
abominação com o nosso relacionamento, isso é
inaceitável, você entendeu? — Perguntou. Parecia que ele
estava sentindo dor ao dizer essas coisas. Um lamento por
um relacionamento, o qual ele amou muito, e perdeu por
traição. Vê-lo assim, forte e ao mesmo tempo fraco, por
não conseguir esconder a dor que sente, agora, está
cortando meu coração com metal enferrujado. Dói saber
que ele prefere a morte a viver sem ela. Porque é isso que
parece, ele é um homem morto que anda em cima de seus
pés trêmulos e cansados. Com a garganta travando meu
choro, pergunto para me torturar ainda mais, porque já
estou completamente apaixonada por ele. Desde o
primeiro momento em que olhei em seus olhos na
entrevista de trabalho, eu me apaixonei ali, justo ali.
— Você a ama muito, não é? Ela o deixou porque você
traiu a relação de vocês, e agora se culpa e tenta consertar
da forma errada, mas na verdade, você quer consertar é o
relacionamento que teve com ela. — Falei com a voz mais
baixa que consegui, para eu mesma não ouvir a verdade
que estava dizendo para ele.
— Engano seu. — Disse. — Jamais isso aconteceu, e o
fato de eu exigir tanto de você, não significa que tento com
isso superar o que vivi com ela. — Ele segurou minha
mão, e a vontade de chorar não foi embora. — Eu não a
amo, e não a amei como você pensa. Ela tirou para sempre
uma das pessoas mais importantes da minha vida, e é isso
o que tanto lamento. Eu gostei dela sim, mas não amei. —
Disse. Eu não consegui acreditar em nada do que ele disse.
A dor em sua voz mostra tudo o que ele não quer passar.
— Eu não quero um relacionamento com você, Blake.
— Ele arregalou os olhos para mim. — Não como você
quer, não com tantas inseguranças e prisão como você quer
me colocar. Acho melhor acabar por aqui. — Falei e ouvi
o som da última palavra que eu mesma disse, e isso me
incomodou muito. Parecia que eu estava disposta a ficar
com ele mesmo com as coisas bizarras que ele quer impor.
— Mais uma coisa que você nunca mais poderá
pronunciar, Grace. — Disse. — Você está proibida de
falar ou pensar em me deixar, você está ouvindo o que
estou dizendo? Você não vai fazer isso jamais. — Ele
segurou minha nuca e encostou a testa na minha. — Sei que
você está confusa e eu não respondi as perguntas que me
fez, é como uma proteção para mim. Mais eu quero que
isso funcione, ok? Eu juro que quero que nossa relação
chegue bem mais longe e vou fazer o possível para não te
perder.
— Blake. — Eu o interrompi. — Olha como tudo isso é
loucura. Nós passamos dois dias juntos, só isso, e pelas
suas palavras você está jurando amor eterno.
— Não estou jurando amor eterno, só estou falando da
certeza que tenho que é ficar com você. E esses dois dias
foram mais que suficientes para eu ter a certeza que
precisava. Eu quero você para mim, Grace, é só isso que
precisa saber.
— Blake, e o monitoramento?
— Isso vai continuar sem reclamações.
— E se eu não suportar?
— Aí vamos ver outra forma de fazer isso dar certo. —
Disse ele.
— Você é louco. — Me rendi a discussão cansativa de
palavras.
— Fiquei louco por você quando a vi pela primeira
vez. E agora vou prendê-la em minha vida, custe o que
custar. — O que ele fala não me assusta, o que me deixa
apavorada é a intensidade das palavras, a força do seu
olhar e a verdade que ele passa com ele, isso sim me
assusta.
— Não pense, Grace, confie em mim, e viva tudo ao
meu lado.
— Você quer me tirar o ar.
— Não, eu quero te dar o mundo. — Disse.
Não falamos mais nada, fizemos os pedidos do nosso
jantar e conversamos sobre planos de trabalhos. Também
observei atentamente quando ele em meio aos assuntos,
fazia uma pergunta escondida da sua verdadeira intenção,
perguntou sobre minha vida no Texas, sobre Alex, se já fui
apaixonada por alguém, se meus pais permitem que eu
more sozinha e por que estou em Miami. Blake é um
manipulador, seu poder de persuasão é imperceptível a
quem não sabe fazer o seu jogo, ele roda o universo com
sorrisos e conversas agradáveis, para descobrir o que
deseja. Mas mostrei para ele que aprendi muito bem a
escapar desse tipo de jogo, e perceber quando ele começa.
Com um irmão como Alex, tenho mestrado nesse jogo de
gato e rato. Alex sempre agiu como se fosse meu namorado
quando estávamos em público, o que ele mais tinha raiva
na época de escola era que somos irmãos gêmeos, e nossa
semelhança não deixava a mentira ir muito longe. Tive que
escapar por anos de suas perseguições em festinhas de
aniversários nas casas das minhas amigas, namorar foi um
caso impossível para mim, jamais consegui chegar a uma
semana de namoro, porque Alex aterrorizava todos os
meus pretendentes. Então o que Blake pensa que está
fazendo, não é uma novidade para mim, eu só era uma
virgem, mas isso não significa que sou ingênua para não
saber quão manipulador ele está sendo agora.
— Você está sorrindo por que, Grace? — Perguntou. Eu
realmente estava sorrindo.
— De você.
— De mim? — Perguntou sorrindo. — O que fiz para
ser tão engraçado e você me deixar falando sozinho?
— Você falou sobre vários assuntos com um único
objetivo. — Olhei para ele e continuei. — Saber da minha
vida fora de Miami. — Sorri e ele também se rendeu ao
sorriso mais largo possível.
— Você é mais esperta do que pensei, não é? —
Perguntou humorado.
— Creio que sim, me esquivei com louvor de todas as
suas perguntas de tom manipulador, então, sou esperta sim.
— Falei um pouco contida no sorriso.
— Já terminou o seu jantar. — Perguntou também
contendo mais o sorriso.
— Sim. — Respondi.
— Então levante-se e vamos embora. Vou mostrar para
você o meu outro poder de persuasão, só que dessa vez,
vou ter minhas respostas. — Disse sério.
Blake chamou a hostess e pediu a conta, depois de
acertar tudo e dar uma ótima gorjeta ao garçom e hostess,
fomos para o carro sem dar uma palavra. Eu entrei e ele
sentou-se ao meu lado, mas não me tocou.
— Ande pela cidade e só pare quando eu mandar. —
Disse ele para o motorista, que vi o nome na pequenina
placa de metal tipo broche, no bolso de seu uniforme,
Antony. Quando terminou, apertou o botão ao seu lado da
porta e um vidro escuro subiu isolando toda e completa a
parte de trás do carro, não ouvimos barulho nenhum lá fora
e com certeza, não podiam ouvir e ver do lado de dentro.
Blake tem alguma coisa com segurança pessoal, todos
esses sistemas de vedação de som e blindagem de
ambiente, ele deve ter sofrido alguma consequência por ter
sido descuidado no passado.
— Tire a roupa, Grace. — Disse ele sem se mover ou
olhar para mim.
— O que pretende fazer? — Perguntei.
— Mostrar-lhe o quão persuasivo eu sou. — Sua voz é
áspera o suficiente para cortar o ar entre nós.
— Eu o proíbo de me machucar, Blake. Você pode fazer
todas as loucuras sexuais que desejar, mais não machucar,
ou algum tipo de agressão verbal ou psicológica, isso não,
Blake.
— Se for olhar por esse ponto, acho que em termos
psicológicos, o que fiz com você foi agressão. Hoje, eu a
quero nua em meu carro, e não estou com paciência para
termos técnicos. — Ele olhou com os olhos brilhando para
mim. — Tire a roupa, Grace. O que pretendo fazer com
você, nem a psicologia será capaz de explicar. — A voz
rouca fez meu sexo ter vida. Ele estava adormecido e
acordou babando de vontade de tê-lo dentro de mim.
Capítulo 10

T irei uma alça do meu vestido, Blake continuou


olhando para mim, foi uma perfeita dança, minhas mãos
foram o centro de sua atenção por alguns segundos, quando
deixei meus seios com os bicos duros pela excitação que
todo meu corpo estava sentindo para fora do vestido,
Blake puxou forte o ar e começou a tremer. Seus olhos se
encheram de água imediatamente, sua fisionomia estava
com uma expressão mista de um pouco de dor, outra de
prazer, agora via medo em seus olhos. “Mas por que o
medo?” pensei. Eu não sei o porquê do medo, mas vejo
que isso o torna vulnerável.
Blake move-se do banco devagar, e agora, ele chora,
lágrimas escorrem por todo seu rosto enquanto ele se
ajoelha à minha frente. Com as mãos trêmulas, ele me
auxilia a retirar o vestido, bem devagar, passando por meu
quadril, coxas e pés. Nua, fico nua com o carro em
movimento, passando por ruas que desconheço. O choro é
silencioso, nenhum grunhido sai de sua boca, nem mesmo
um soluço. Ele olha o meu corpo nu carinhosamente,
pausando no meu sexo que está melado pela intensidade e
calor de seu olhar. Blake passa carinhosamente os dedos
por cima dos pequenos pelos que tenho, e respira o ar que
até então, parecia ter faltado para ele.
— Sente-se com o quadril apoiado na beira do acento.
— Disse ele rouco pelo choro velado e baixo por não
conseguir deixar a voz sair. Eu movi meu quadril com a
ajuda de suas mãos, e fiquei como ele pediu, minhas
pernas, que ainda estavam fechadas, foram abertas por
mãos firmes apoiadas em meus joelhos. Bem devagar ele
me deixou arreganhada para ele. Blake olhou em meus
olhos e isso me fez perder o pouco de forças que ainda
restava em meu corpo.
— Minha. — Disse ele. — Só minha, prometa-me. —
Pediu. — Não faz isso comigo, Grace, por favor. Eu não
suportaria perder você. — Disse ele.
— Mas você não vai me perder.
— Não, não vou. — Falou com convicção em seus
olhos e voz, que mais uma vez não entendi o duplo sentido
que ele quis dizer. Blake se aproximou e me beijou, nossas
línguas dançaram valsa entrelaçadas uma na outra, me
beijou com tanta necessidade, como se dentro da minha
boca ele encontrasse o ar para viver. Desceu passando a
língua quente em minha pele até chegar no meu mamilo,
chupou com sede e encheu a boca com meu seio. Quando
senti que ele mordiscou, a reação foi imediata no meu sexo
que pulsou forte, eu gemi. Ele não resistiu ao meu gemido
e logo abaixou e tomou posse do meu sexo molhando com
sua boca quente.
— Ahhhhh. — O gemido intenso saiu sem eu me dar
conta de que o fazia, a língua macia me fez contrair por
dentro.
— Blake. — Seu nome deslizou por meus lábios como
súplica. Ele afundou ainda mais a boca na minha fenda
babada, chupando minha carne e tomando todo meu líquido
quente que saiu de dentro de mim. Ele gemeu, e gemeu
muito, sentindo o meu sabor.
— Doce. — Ele disse rouco. — Muito doce.
Blake me chupou como se eu fosse fugir e nunca mais
isso aconteceria entre nós. Ele banhou todo meu sexo com
a língua quente, não deixando nem um centímetro ficar sem
seus beijos de boca nervosa. Eu não estava mais
conseguindo me manter equilibrada no banco do carro,
então desabei, deixando meu corpo mole deitado
desajeitadamente e aberta para ele. Tudo começou a se
mover dentro do meu corpo, minha barriga fez ondinhas
com tanta contração de prazer, e quanto mais eu sentia que
estava perto do meu prazer, mais eu me abria e empurrava
meu sexo para sua boca, até que Blake penetrou os dedos
em mim, atingindo diretamente no ponto G, não resisti e
gozei tremendo em sua boca sedenta de meu prazer.
— Aaaaahh, por favor. — Ele segurou com força para
meu quadril ficasse parado para que conseguisse terminar,
e me fazer lembrar de tudo o que estava dentro do meu
sexo. Ele sugou cada gota e tomou todo meu líquido para
ele.
— Delícia. — Quase não saiu a sua voz. Blake
desabotoou rápido o zíper e o cinto da calça, abaixou a
roupa e tirou para fora o mastro grande e grosso. Minha
cabeça estava apoiada no encosto do banco e minhas
pernas abertas com meus pés também no banco. Ele não
esperou me recuperar dos tremores, puxou meu quadril
mais para perto e penetrou tão forte, que senti a dor da
minha carne fechada se abrindo toda por dentro e
acomodá-lo melhor. Fiquei alguns segundos buscando o ar,
ele me deixou sem, quando me invadiu duro e forte. Puxei
o ar para tentar manter meus sentidos, meus olhos ficaram
pesados e eu não consegui abri-los de imediato, somente
me esforcei a abri-los quando ouvi o comando de sua voz
rouca e grossa.
— Olhe para mim, Grace. — Disse ele. Eu tentei, aos
poucos, flashes de luz foram surgindo e colocando para
longe a escuridão que a dura penetração me deixou. Seu
rosto ganhou forma e olhei os olhos azuis brilhantes
olhando para mim. Blake se apoiou com os braços no
banco e levantou os joelhos do chão, esticou um pouco as
pernas para trás, o carro tinha espaço suficiente para isso,
então, ele começou a penetrar forte e rápido, rasgando
tudo dentro de mim.
— Quem está dentro de você? Responda, Grace.
— Você. — Falei com dificuldade, sentindo-o bater
forte até o fundo.
— Meu nome, qual é o meu nome? — Perguntou.
Respirei duas vezes para acalmar os meus sentidos e
disse:
— Blake Goldberg. — Falei tomando fôlego
novamente.
— Eu sou o dono da sua vida. Sou o dono do seu corpo,
e de todos os seus pensamentos. — Ele estava rouco ao
dizer tais palavras, mas os olhos marejados e fixos nos
meus. — Repita isso que eu disse em voz alta, Grace,
quero ouvir cada palavra saindo da sua boca. —Blake
pediu e com muita força entrou em mim. Eu o senti me
possuindo outras vezes, mas hoje, ele estava diferente,
hoje Blake está realmente me marcando como dele, mas de
uma maneira diferente, é com os olhos, o que ele está
fazendo e dizendo. É com os olhos que Blake está falando
o que deseja, mas o som de sua voz não permite. Ele me
rasga por dentro para me fazer lembrar que ele esteve aqui
e, não vai deixar de estar por dias seguidos.
— Blake.
— Fale agora, Grace, fale olhando para mim com todo
meu membro dentro de você. Fale tudo o que preciso
ouvir. — De repente, Blake segurou meu corpo e me
levantou rápido para logo em seguida, deitar-me no chão,
caindo por cima de mim, e continuou os movimentos de
entra e sai mais forte do que estava antes. Ele encostou a
boca na minha e disse:
— Seus lábios me pertencem, eu os desejei no momento
em que a vi sorrir. Você veio para minha vida com um só
objetivo, Grace, o de salvar-me. Tirar-me da solidão e do
medo de me entregar para o amor. Por isso preciso que
você diga para mim, tudo o que quero ouvi-la dizer, tenho
que ouvir você dizer que me pertence. — Disse ele e logo
tomou posse da minha boca. Ter os beijos de Blake e todo
seu membro me penetrando, é uma mistura de combustível
com fogo, ele entra e sai de mim jogando faíscas lá dentro
me deixando em brasas vivas. Com posse ele me toma, e
com sede ele me beija, eu pertenço a ele, eu quero ser
dele, meu corpo dá sinais de que estou perto para mais um
orgasmo. A dor foi embora e agora sinto somente o prazer.
Começo a gemer em seus lábios e meu corpo aperta todo
ele dentro de mim, e mais uma vez ele me faz dele, faz com
que meu corpo obedeça a seus comandos e então, explodo
em um orgasmo intenso apertando seu mastro dentro da
minha fenda. Com o calor do momento e prazer absoluto,
eu repito tudo o que ele falou, selando aqui o meu
compromisso de ser dele, fazendo-o meu dono
oficialmente. Depois que termino de falar, ele sai de
dentro de mim e com movimento rápido, me coloca de
quatro apoiada com as mãos no assento do carro. E com a
penetração vagarosa, mas muito dolorida, Blake entra
fundo dentro do meu ânus, sem me alertar que o faria.
— Ai, ai Blake.
— Huummhhuumm. — Ele gemeu e tremeu, segurando
firme com as duas mãos na minha bunda, apertando a carne
e abrindo para ver seu membro entrar muito apertado e
fundo. Senti a maior dor possível na vida, nem mesmo
quando ele tomou meu hímen foi tão dolorido assim. Senti
meus olhos cheios de lágrimas, meus dedos doloridos de
apertar o banco do carro e minha garganta travada pela
dor.
— Blake. — Falei baixo tentando equilibrar meu corpo
entre ele e o banco. — Blake. — Chamei mais uma vez no
intervalo de uma profunda respiração.
— Não se preocupe, você vai dilatar e tudo vai ficar
bem. — Disse ele com voz rouca e passando as mãos nas
minhas costas para me acalmar. — Eu vou cuidar de você,
querida, essa noite será memorável para nossa história. —
Disse ele e senti os pequenos e vagarosos movimentos
entrando e saindo do meu canal tão apertado e dolorido.
— Pare, Blake, isso dói muito, eu não estou preparada
para fazer isso. — Realmente a dor começou a ficar
insuportável, e nada do que ele fizesse ou dissesse iria me
fazer sentir prazer.
— Desculpe-me. — Disse ele retirando-se de mim. —
Eu não quis machucá-la. — Ele saiu todo e sentou-se no
assoalho do carro, e me puxou para sentar em seu colo.
Para mim foi um grande alívio fechar as minhas pernas, e
sentar delicadamente em seu colo. A dor foi tanta que as
lágrimas não queriam me deixar.
— Eu não quis fazê-la chorar, perdoe-me, por favor,
Grace. — Disse ele, realmente preocupado. Blake tirou o
cabelo do meu rosto que dificultava olhar em meus olhos e
então, secou minhas lágrimas com os dedos bem
delicados. Quando olhei em seus lindos olhos azuis,
realmente vi o arrependimento de ter me machucado.
— Me perdoe. — Disse.
— Tudo bem, você pensou que eu conseguiria e sei que
não quis me machucar.
— Fui um estúpido e não me preocupei em saber se
estava pronta e lubrificada para mais esse passo.
— Com essa dor? Acho difícil eu fazer isso com você,
Blake. — Falei.
— Sexo anal é como uma iguaria riquíssima, Grace. —
Disse ele, me acomodando melhor em seus braços. — O
erro foi todo meu de assustá-la. É como um prato exótico
onde você olha e fica com medo de sentir o sabor, mas
depois que prova, vagarosamente, você quer sentir para o
resto da vida o sabor daquela iguaria. — Disse ele com
leve sorriso nos lábios.
— Mas dói muito. — Falei, olhando sua boca deliciosa
e suculenta.
— A dor foi por minha indelicadeza de não a lubrificar
como deveria, foi um erro meu que não será cometido uma
segunda vez. Prometo que quando fizermos sexo anal
novamente, você vai estar tão relaxada, que vai se deliciar
com todo meu membro dentro de você. — Disse ele. Eu
não consegui tirar meus olhos dos movimentos de seus
lábios, e concentrar-me no som de sua voz, rouca e
afrodisíaca.
— Não me olhe assim, amor, ou posso pensar que você
já está preparada para me receber dentro de você
novamente. — Disse ele. Imediatamente, sentei-me com as
pernas abertas em seu colo, senti meu sexo pulsar e
também um pouco dolorido pela intensidade da
penetração. Quando levei minha mão para pegar seu
membro e colocá-lo dentro de mim, Blake me deteve
segurando forte e olhando para mim. Não entendi, mas ele
percebeu.
— A nossa festinha dentro do carro chegou ao fim
amor. Não posso penetrá-la depois de ter feito sem
preservativo nesse delicioso cuzinho, tenho que me lavar
primeiro. — Fiquei morrendo de vergonha por imaginar o
porquê não podíamos continuar, mas entendi o seu
cuidado. — Vamos continuar isso lá na minha casa, e tenha
a certeza de que mais uma noite você não irá dormir. —
Disse ele, tomando meus lábios em um beijo quente e
apaixonado, em meio ao som de nossas respirações, falei:
— Então nos leve para casa, estou em chamas com o
som da sua voz, cada vez mais rouca penetrando em meus
ouvidos. — Blake me tirou de seu colo e colocou-me ao
seu lado, ele ficou de joelhos meio desajeitado por suas
calças ainda caídas nos joelhos, e alcançou o interruptor
de alto-falante onde deu as ordens para o seu motorista.
— Leve-nos para minha casa. — Desligou e voltou a
sentar ao meu lado. Não demorou muito, recebemos o
aviso de que estávamos entrando na garagem de sua casa.
Eu me vesti rápido e Blake também se recompôs. Quando
a porta do carro foi aberta, já estávamos prontos para sair.
Fiquei mais deslumbrada com que os meus olhos viram,
uma linda mansão a beira da praia em Miami, sim, pude
ouvir o som das ondas do mar. Olhando um pouco pelo
lado de fora e as ruas, reconheci o lugar e fiquei feliz por
não ser muito distante da casa de Alice. Blake me pegou
no colo e não tive tempo de olhar os detalhes, logo
estávamos subindo a escada da mansão, onde entrou
comigo em seus braços no quarto perfeitamente decorado.
Percebi que era uma decoração semelhante ao quarto da
casa de vidro, limpo e branco.
— Prepare-se amor, essa noite você não terá um
segundo de descanso. — Só ouvi o barulho da porta do
quarto bater, e então, demos início a intensa maratona de
sexo à noite toda.
Capítulo 11

A cordo sentindo o cheiro de café, o quarto está em


uma deliciosa penumbra, espreguiço meu corpo ainda
preguiçoso pelo sono, e noite intensa que tive e sento-me
na cama. Blake já não está mais comigo, então, olho para
os lados e vejo tudo o que não consegui ver ontem quando
chegamos. Ele gosta de ambientes claros, o quarto é todo
branco com leve detalhe azul e vermelho, grande, muito
grande. A cama é no mínimo quinze centímetros maior que
a da casa de vidro, cortinas azuis claras com detalhes em
renda branca, tudo perfeitamente decorado e caro. Uma
fresta de sol entra no quarto pela cortina levemente aberta,
dá para ver que o dia está lindo lá fora. Passo os olhos
pelo quarto mais uma vez, e vejo de onde vem o cheiro
delicioso de café. Um carrinho de café da manhã está ao
lado da cama, e pelo que parece, completo com tudo do
melhor. Me aproximo mais do carrinho e sirvo-me de leite
e café, dou um gole generoso e sinto o sabor despertar a
fome que estou. Pego uma panqueca com mel e morangos e
coloco no prato, assim, em silêncio e cafeína, degusto meu
café da manhã. Entre uma mordida e outra, olho para os
lados e continuo admirando os detalhes do quarto, lembro-
me de Blake e não ouço barulho vindo do banheiro ou
closet, só então lembro-me de olhar as horas, e quase pulo
da cama quando vejo no relógio digital, piscando em
vermelho 11h30m da manhã.
— Merda, por que ele não me acordou? — Falo em voz
alterada. Deixo de saborear meu delicioso café, e levanto-
me para me recompor. “Preciso ir para a Blake’s, não
posso abusar só porque estou dormindo com o meu
chefe” pensei. Vou até o banheiro e encontro roupas novas
e peças íntimas na bancada da pia, como sempre ele pensa
em tudo. Tomo um banho rápido e visto as roupas mais
rápido ainda, que caem perfeitamente em meu corpo, vou
para o quarto novamente e procuro minha bolsa com medo.
“Graças a Deus ele não escondeu” pensei. Da última vez,
isso foi o que aconteceu. Verifico dentro e encontro meu
telefone, sinto um alívio quando eu o vejo em minhas
mãos, mas logo passa quando também vejo, quinze
mensagens de voz e quinze chamadas perdidas de Alex.
— AI MEU DEUS! — Ele não estava brincando
quando começou a ligar. Sento-me imediatamente na cama
e sinto-me um pouco trêmula. Alex é um irmão muito
diferente dos outros, ele é ciumento e protetor, e somos
gêmeos, por isso sei que ele está preocupado, sentiu um
pouco de minhas angustias. Aperto para chamar logo em
seu nome, não chamou uma segunda vez, ele não esperou a
primeira terminar de tocar e atendeu.
— Grace? — A voz baixa e extremamente calma, é o
sinal para sua raiva em nível máximo.
— Alex, desculpa, eu realmente não ouvi tocar.
— Onde você passou a noite? — Perguntou. — E não
me fale que foi em casa, porque passei a noite toda ligando
para lá. E não tente Alice, pois falei com a mãe dela, e
você também não dormiu em sua casa. Então, Grace, tente
uma desculpa bem convincente, para eu não entrar no
avião que estou esperando, e ir falar com você
pessoalmente. — Alex não respirou para falar, mais um
sinal de seus nervos à flor da pele.
— Não vou mentir para você. — Falei tomando uma
profunda respiração para acalmar meus nervos, e falei:
— Estou em um relacionamento, e passei a noite na
casa dele. — Consegui dizer, mas precisei segurar o
telefone com as duas mãos, meu corpo todo sentiu a tensão
de Alex e começou a tremer muito.
— Relacionamento? Quando você iria me contar sobre
isso? — Perguntou ainda calmo demais.
— Eu não sei. — Foi o que consegui dizer.
— Então, se você passou a noite com um homem,
significa que você já é uma mulher. — Disse ele. E senti
que Alex gostaria que eu dissesse que era tudo mentira.
— Eu não sou mais virgem, Alex, se é isso a que você
se refere. — Falei e fechei os olhos, eu pude sentir a dor
do meu irmão.
— Por que eu passei o fim de semana inteiro
apreensivo, Grace? Você está bem?
— Sim.
— Mentira. Você sabe que sinto tudo o que você sente.
Somos gêmeos e muito ligados um ao outro, ontem você
estava triste, diga-me, foi esse homem que você está se
relacionando que a fez ficar assim?
— Eu não estava triste, Alex, não se preocupe.
— Está mentindo outra vez. — Disse ele. — Estou indo
para Miami, Grace, temos muito o que conversar e
principalmente, quero conhecer esse homem que está
fazendo você mentir para mim. — Disse. — Me espere
hoje à noite e acordada. — Desligou. Enquanto meu corpo
ainda tremia, meu cérebro tentou processar o que Alex
falou. A única coisa que sei, é que estou em sérios
problemas. E um deles é, não sei se vou para Blake’s, ou
para casa inventar uma receita para adoçar a boca do meu
irmão.
Decido ir para casa, são somente algumas horas de voo,
mas preciso me preparar para enfrentar o olhar de Alex.
Ouvir o que meu irmão tem a dizer não é o problema, mas
ter que suportar a força de seu olhar, é sim, o mais difícil
que já tive que passar na vida. Alex não tem meias
palavras, ele não espera para fazer o que tem que ser feito,
e em relação a nossa família, ele é muito protetor.
Pego minha bolsa e saio do quarto, não tive tempo de
conhecer a casa, por isso observo tudo, desço os degraus e
logo ouço barulho de passos vindo em minha direção.
“Será Blake?” pensei. Não, uma mulher de mais ou menos
quarenta anos, vestida com uniforme lindamente bordado
com o nome Blake’s, sorria para mim.
— Bom dia, senhora Goldberg, tomou o seu café?
Estava do seu agrado? — Perguntou simpática. O que
percebi é que ela é a segunda pessoa a me chamar de Sra.
Goldberg.
— Bom dia. Sim estava uma delícia, e pode me chamar
de Grace, afinal não sou casada com o Sr. Goldberg.
— Como não? Ele jamais trouxe uma mulher para esta
casa, e pela sua exigência hoje antes de sair, pediu para
que chamasse sua esposa caso passasse do meio-dia. —
Disse a mulher franzindo a testa.
— Qual é o seu nome, senhora? — Perguntei.
— Pode me chamar de Tina. — Disse ela.
— Bom, Tina, Blake só brincou com você, eu não sou
sua esposa. Talvez entrando para o time de sua namorada.
— Falei. — Agora você poderia chamar um táxi para mim,
preciso muito ir para casa. — Pedi. Ela fechou o
semblante do rosto e eu não gostei nada de ver isso.
— A Sra. não pode sair sem o consentimento do senhor
Goldberg. — Disse ela. Mais uma vez puxei forte o ar
para meus pulmões, Blake estava tornando as coisas bem
difíceis para mim.
— Tina, sei que você cumpre ordens, então não precisa
chamar o táxi. — Olhei para a porta por onde entramos na
noite anterior, e as chaves estavam nela. — Mas eu vou
sair por aquela porta agora, tenho realmente algo muito
importante para resolver. — Ela ficou apreensiva. —
Então, quando Blake perguntar por mim, diga-lhe que eu
saí e que ele me telefone quando quiser.
Comecei a me aproximar da porta e cada vez mais ela
ficava branca, e caso ela colocasse mais objeções a minha
saída, eu já estaria perto o suficiente para não lhe dar
atenção. Quando abri a porta, senti o calor do sol bater em
minha pele, foi quase um alívio imediato. Saí e bati a porta
atrás de mim, ela foi aberta por uma Tina muito assustada.
— Vou chamar o táxi, Sra. — Disse ela. Eu somente
agradeci e não demorou muito o táxi parou em frente à
casa, entrei e pedi para me levar para o meu endereço.
Todo o trajeto eu pensei mil coisas, e nada fez amenizar
a sensação ruim em meu coração. Um peso, ou talvez uma
pressão enorme que me fez perder o ar. Alex nunca esteve
tão presente ao meu lado como estou sentindo agora.
Mesmo ele dentro de um avião e eu em um táxi, de repente,
sinto como se ele estivesse assoprando um mantra de
calmaria no meu ouvido de que tudo vai ficar bem. E na
verdade, tenho medo desse encontro com Blake, Alex é tão
possessivo quanto ele, e o poder sobre mim, será o lance
alto de cada um.
Já no meu apartamento, arrumo tudo, como se Alex
merecesse tudo limpo e cheiroso, agora, o que sinto é
felicidade de saber que meu irmão está chegando. A
saudade transborda pelos meus olhos. Limpo tudo e vou
para a cozinha preparar um jantar para nós dois, e com
isso esqueço do tempo. Arrumo a mesa delicadamente
como ele gosta, o vinho que vou servir é o seu preferido, e
quando vejo tudo pronto, sinto orgulho de mim. Não nego
ser uma ótima decoradora, a mesa ficou incrível, e quando
resolvo tomar um banho para esperá-lo, a campainha toca
insistente. Atendo a porta e imediatamente meus olhos
ficam marejados quando vejo meu irmão, e foi como um
balde de agua fria quando ele não sorriu para mim, isso
cortou meu coração.
— Vem aqui. — Disse ele abrindo os braços. Me
aproximei e me deixei levar pela emoção e saudade, eu o
abracei forte.
— Me desculpa. — Pedi.
— Por que não me contou que precisava de ajuda? —
Perguntou, me levantando do chão com abraço generoso, e
fechou a porta com o pé.
— Mas eu não preciso, estou bem. — Falei.
— Mentira, Grace. Você tem uma porta codificada e
alarme em toda a casa. O que está acontecendo? —
Perguntou tenso.
— Nada com que deva se preocupar. — Falei e
continuamos abraçados.
— Por que você está tensa esses dias? Por que ficou
assim hoje?
— Não foi nada.
— É esse seu namorado? Ele está te causando
problemas?
— Não, Blake é muito gentil. — Assim que pronunciei
o nome Blake, Alex me soltou e olhou duro para mim.
— Você está namorando, Blake Goldberg, seu chefe?
— Sua voz entrou rasgando meus tímpanos.
— Sim. — Foi o que consegui dizer.
— Ele é um homem perigoso. — Disse ele em alerta.
— Vamos nos sentar, Alex, você mal chegou e a
conversa já ficou tensa.
— Você quer que eu sente para quê? Me acalmar não
me fara desistir de descobrir o que está acontecendo. —
Disse ele. Eu o segurei em suas mãos e o levei para a
mesa posta para nós dois. Alex estava trêmulo e suando
frio nas mãos, assim como eu, tudo o que estou sentindo
por dentro, ele também está. Nunca consegui mentir para
ele, não sei se é uma lenda que os irmãos gêmeos sentem
tudo o que o outro sente, mas isso acontece comigo e Alex,
para ser mais exata, acontece mais com Alex. Ele sempre
soube tudo o que acontecia comigo, antes mesmo de eu
falar para ele. Alex colocou suas mãos completamente
geladas em meu rosto, segurou firme me fazendo olhar
para ele. Eu pude ver nitidamente a preocupação que ele
estava, e também que já sabia toda a agonia pela qual eu
vinha passando.
— Você não está mentindo para mim, irmã. E sim para
você mesma. Diga-me o que está acontecendo?
Eu não sei o que dizer para Alex, é estranho ter Blake
me vigiando em tão pouco tempo, mas é também
perturbador de como eu gosto disso. Não posso dizer-lhe
as loucuras de Blake, ele me arrancaria a força de Miami,
não deixando um fio de cabelo para ficar de lembranças
para ele.
— A única coisa que posso dizer, Alex, é que estou
perdidamente apaixonada por um louco. Que ele me faz ter
muito medo, é como um alerta sobre a proximidade de um
furacão, depois que o perigo passa, vem a calmaria e o
conforto de saber que tudo não passou de um alerta, e o
furacão não aconteceu. — Alex ficou me olhando
atentamente. — Ele toma para ele todo o meu oxigênio,
toda a minha atenção, e é muito fácil fazer as coisas
conforme a sua vontade, sendo assim, não sou capaz de
dizer não para Blake Goldberg, porque depois de todo o
medo que ele me faz ter, ele me traz muita paz. — Falei
olhando para meu irmão, e ele olhando para cada
movimento de meus lábios, isso significava que ele não
queria perder nenhum detalhe do que eu dissesse para ele,
cada palavra dita estava devidamente bem gravada.
— Blake é um homem sem rastros, Grace. Existe um
mistério que o cerca e eu não consegui desvendar com a
investigação que fiz. Isso o fez perder a cabeça, e se ele
machucar você, quem vai perder a cabeça sou eu.
— Alex, estou andando em uma corda bamba, e a
qualquer momento ou eu consigo atravessar, ou vou cair. O
que não tenho forças para fazer, é o caminho de volta. —
Ele me olhou e beijou minha testa e disse:
— Agora eu quero saber a parte que você ainda
esconde, vamos irmã, diga-me, o que ele fez e faz com
você. — Sabia que eu ainda estava em prova com Alex.
Posso até falar tudo, mas não agora, preciso distraí-lo com
outro assunto.
— Que tal sentarmos para comer, e você me contar um
pouco da sua vida também? — Perguntei.
— Garota esperta, você sempre tentando me fazer
perder o foco. — Alex acomodou-se na cadeira enquanto
eu o servi, começamos a comer e conversar, e o clima
pesado ficou um tempo esquecido. Aliás, quando fico
perto do meu irmão, o tempo para mim não existe. Alex
tem uma leveza única de conduzir uma conversa tranquila,
ele é um homem sereno e transparente onde qualquer
pessoa tem sua atenção quando ele fala. Saber das coisas
que ele aprontou com sua noiva Melloni, foi divertido, e o
que me deixou em crise de riso foi saber sobre mamãe e
papai. Alex contou que eles estão em ótima forma, ele
pegou papai e mamãe transando no jardim da nossa casa, e
que foi um dos momentos mais constrangedor de sua vida.
Eu não consegui me controlar em risos, o vinho e as
peripécias de Alex me fez esquecer o mundo lá fora. O que
não me agradou, mas foi engraçado, foi a visão que tive
dos meus pais em pleno ato sexual que Alex contou em
minuciosos detalhes e as gargalhadas. Papai tentando
esconder mamãe com seu corpo, enquanto Alex pedia mil
perdões para eles, mamãe gritava para ele sair, mais sem
saber como agir direito, Alex se aproximava mais dos dois
pelados no jardim da casa. Imaginar a cena me fez
gargalhar até o ano de 2050. Tomamos duas garrafas de
vinho, conversamos e rimos muito, mas não era tão boba
assim, Alex aceitou mudar de assunto só para me deixar
mais leve e bêbada, porque minha língua fica bem solta
depois de vários goles de vinho.
— Preciso ir ao banheiro, irmã. — Disse ele aos risos.
— Vai lá, vou para o quarto porque não consigo mais
ficar sentada aqui. Essa casa está rodando. — Falei. Alex
se levantou e foi para o banheiro, e eu segui para o quarto
e caí na cama esperando por ele. Realmente meu mundo
rodou. Quase adormeci até que senti Alex deitando na
cama.
— Você não bebeu tanto assim, irmã. — Disse ele me
puxando para perto. Tínhamos o costume de dormir
abraçados quando morávamos juntos.
— Foi uma quantidade boa para me deixar com sono.
— Você está fraca para a bebida. E eu ainda não contei
como foi olhar para o papai e mamãe depois de tudo o que
aconteceu. — Mais uma vez me deu a crise de
gargalhadas, só de imaginar o constrangimento da mamãe
de ser pega no ato pelo próprio filho. Tenho mais uma
geração de risos para dar hoje, e foi assim que pegamos no
sono, comida boa, duas garrafas de vinho e risos, só o
sono para compensar mais ainda os momentos
maravilhosos com meu irmão. E com esses pensamentos,
adormeci completamente.
Senti apertar minha mão, minha mente ainda estava sob
o efeito do álcool, abri devagar meus olhos e minha visão
ficou turva com a claridade forte de luz. Não sei que horas
são, só me lembro que Alex e eu fomos dormir depois do
jantar, mais uma vez senti apertar minha mão, dessa vez
não foi confortável porque doeu meus dedos. Fixo meus
olhos na parede para me acostumar com a luz e de repente,
ouço um grunhido estranho e mais um aperto em meus
dedos. Olho para o lado que veio o som e o que sinto é o
meu corpo congelar por dentro. Pulo da cama ainda zonza
pelo vinho e sinto a dor imensa em minha cabeça, mas
logo tudo passa para dar espaço a agonia que meu coração
sente.
— Alex. — Consigo pronunciar em desespero. Ele me
olha com um pouco de dificuldade, e fala com olhos,
atentamente, para eu ter calma. Olho para os olhos azuis
mais raivosos do mundo, e ele não me vê, apenas fixa sua
atenção em Alex, que está deitado em minha cama, com
Blake colocando todo o seu peso através da perna em cima
dele.
— Blake. — Eu o chamo, mas ele não responde. Seus
braços estão rígidos, seu corpo em posição estratégica, a
perna esquerda em cima do corpo de Alex, forçando-o a
ficar imóvel na cama, perna direita ereta e firme no chão
para apoiá-lo em sua posição de ataque. Alex engasga e
então, minha mente desperta para o que o fez engasgar.
— Blake, por favor. — Pedi novamente só que dessa
vez em total desespero. Ver meu amado irmão com a
metade de uma pistola carregada dentro de sua boca, é a
coisa mais perturbadora que poderia acontecer na minha
vida. Blake me olha devagar, e eu soube que ele tinha sim,
coragem para apertar o gatilho e acabar com a vida do
meu irmão bem na minha frente.
— Blake, não atira, por favor. Eu posso explicar. —
Minha voz quase não saiu, e minha garganta travou quando
ouvi o barulho para destravar o gatilho.
Capítulo 12

M inha visão ficou escura, sentei-me novamente na


cama para não desabar no chão. O barulho que meu irmão
faz engasgando com a arma afundada em sua garganta, é
perturbador. Fui despertada pelo desprezo da voz de
Blake.
— Explicar o quê, Grace? Que ser traído é meu carma?
Que você tem um homem em sua cama? Que vocês
tomaram duas garrafas de vinho caro, enquanto eu estava
em uma reunião muito enfadada e não tive tempo para
olhar onde você estava? Que você dormia tão tranquila
nos braços desse homem, com tamanha intimidade, aquela
que você não tem comigo, enquanto eu fazia planos de uma
noite perfeita com você? — Suas últimas palavras foram
aos berros. A voz de Blake não me deixou com medo, pelo
contrário, me deixou com pesar. Ele estava sofrendo e
sentindo uma dor inexplicável aos olhos humanos, e o
desespero o fez colocar uma arma dentro da boca do meu
irmão.
— Não é nada disso que está pensando, Blake, me ouça
por favor. — Pedi em súplica.
— Por que você não foi para a Blake’s? Achei que
fosse importante o seu trabalho. Mas este homem em sua
cama ocupou o seu dia, não foi? — Ele estava tenso e com
olhos vidrados, qualquer palavra errada poderia colocar
tudo a perder.
— Blake, você não está pensando direito, e também não
ouviu o nome pelo qual eu o chamei. — Respirei fundo
duas vezes para continuar a falar. — Esse é Alex, meu
irmão gêmeo. Olhe nos olhos dele e você terá a prova de
que falo a verdade. — O desespero tomou conta dos meus
sentidos, mas mantive-me firme em olhá-lo com atenção e
dureza. Blake me encarou por alguns segundos e logo
depois olhou para Alex deitado na cama debaixo de seus
joelhos.
— Este é Alex, meu irmão, Blake. Jamais colocaria
outro homem em minha cama.
— Você colocou esse. — Disse ele, olhando para Alex.
— Meu irmão, esse homem tem o meu sangue. —
Percebi o quanto ele estava rígido, ele não deixou de
encará-lo e não tirou a arma de sua boca.
— Prove que ele é seu irmão. — Imediatamente
lembrei-me de meu álbum de fotografia dentro da cômoda,
levantei com cuidado para não ficar tonta e...
— Onde você pensa que vai? — Perguntou.
— Pegar fotos, vídeos e tudo o que posso provar que
falo a verdade.
— Quero você no meu campo de visão. — Disse ele e
doeu saber que ele não confiava em mim. Com apenas três
passos cheguei até minha cômoda e abri a gaveta de
calcinhas, peguei meu álbum de família e voltei para a
cama, sentei-me com calma para ele ver todos os meus
movimentos. Abri e comecei a folhear as páginas e eu
tinha toda a sua atenção. Blake olhou tudo atentamente, nos
viu crianças e adultos, a nossa semelhança era por vários
fatores, mas os olhos era o que tínhamos de mais idênticos.
Blake ficou olhando das fotos para Alex e depois para
mim, foi nítido como seu corpo relaxou ao se deparar com
a verdade. Ele fechou os olhos e pude ver como ele
agradeceu a Deus por eu não ter mentido. Quando seus
olhos alcançaram os meus outra vez, foi com um pedido de
perdão, o qual não serei capaz de dar tão rápido. Blake
olhou para Alex deitado na cama com a arma dentro da
boca, ele travou o gatilho e foi mais uma vez perturbador
ouvir esse som. Devagar ele retirou a pistola da boca de
Alex, depois retirou o joelho do seu peito, abaixou os
braços em posição de rendição e olhou para mim
novamente. Lágrimas escorriam pela minha face como
cachoeira por ver meu irmão no perigo temporário. Blake
jogou a pistola em cima da cama e rápido se aproximou de
mim a passadas largas, não tive tempo de assimilar o que
ele iria fazer. Ele me levantou pelos braços e me abraçou
forte com uma mão passando por baixo do meu cabelo,
levantando meu rosto para olhar em meus olhos. Senti sua
excitação e vi a vontade de me ter nua em seus braços, me
beijou forte não se importando com a presença de Alex no
quarto. Blake me deixou presa entre seu forte corpo e a
parede, não tive tempo de dizer nada, somente senti-lo
invadir minha boca com a língua. E em um piscar de olhos,
ele foi tirado e arremessado em cima da cama por Alex,
que agora estava na mesma posição que ele o colocou
antes, e com a mesma arma dentro da boca. Alex e Blake
são dois homens muito grandes e fortes, o que meus olhos
viram era meu irmão muito furioso e pagando na mesma
moeda o que lhe foi feito. O que me tranquilizava, era
saber que agora era Alex quem estava comandando a
pistola.
— Como ousa fazer o que fez comigo, e ainda beijar
minha irmã de forma tão leviana? — Disse Alex. — Como
é estar do outro lado da arma, o lado onde sua vida está
por um fio, dependendo somente de minha misericórdia?
— Alex disse com a mais suave das vozes, o mais brando
dos sons, porém, com o mais puro poder de honra e
verdade. Voz essa que fez Blake arregalar os olhos, não
pela arma apontada para estourar seus miolos, mas pela
voz assassina de Alex, competindo somente com o próprio
demônio sentado em seu trono, nas profundezas do inferno.
— Olhe nos meus olhos, Blake Goldberg. — Disse
Alex retirando a arma de dentro da boca de Blake. — Olhe
nos meus olhos e ouça com atenção o que vou lhe dizer.
Grace não está sozinha no mundo, ela tem uma família que
a ama e principalmente, tem um irmão obcecado por ela.
Não vai ser um homem como você que irá apagar o que
temos e somos, sangue do mesmo sangue. Cria do mesmo
ventre. — Alex se afastou enquanto Blake se levantou e
ficaram frente a frente, um olhando nos olhos do outro. —
Não me subestime, Goldberg, vejo nos seus olhos o
desespero que está por medo de perder Grace por essa
idiotice que fez, e vejo também que você tem princípios,
um tanto quanto estranho e às vezes incertos, mas algum
vestígio de integridade restou em você. Mas, nunca mais,
nunca mais ouviu bem? Ouse fazer o que fez, ou pode dar
adeus a esperança de ter minha irmã como sua, para o
resto da vida. — Disse ele gélido.
— Ninguém me diz o que devo fazer. — Disse Blake.
— Pois eu digo, e trate de ser muito obediente, ou você
não vai me ter como amigo e sim, como o seu arqui-
inimigo. — Alex virou-se para verificar como eu estava,
ele se aproximou ainda com a arma nas mãos.
— Você está bem, irmã? — Perguntou preocupado. Ele
foi o que passou momentos de tensão, e pergunta como
estou me sentindo. Amo meu irmão.
— Preocupada com você.
— Não se preocupe, eu estou bem. — Alex tocou em
meu rosto para me acalmar, mas Blake logo se fez presente
e entrou no meio de nós dois, fazendo assim, Alex se
afastar. Ele mais uma vez sem pedir licença, me beijou
com necessidade.
— Blake. — Tento falar mais é em vão. — Blake me
solte. — Peço, mais ele continua com sua posse em meus
lábios. — Blake, meu irmão nos observa, deixe-me, por
favor. — Falei um pouco mais dura com ele, na verdade,
ele me deixou com mais raiva. Ele deixou meus lábios e
apoiou a testa na minha.
— Perdoe-me. Fiquei desorientado quando vi as
filmagens da casa do meu telefone. — Em nenhum
momento lembrei que minha casa era monitorada com
câmeras e que ele tinha livre acesso as imagens.
— O que você fez não tem perdão, Blake.
— Tem sim e você vai me perdoar. Fiquei louco
quando vi outro homem aqui dentro, e tenho meus motivos
para agir assim.
— Uma arma dentro da boca do meu irmão é demais,
você, não acha? — Blake olhou para trás em direção a
Alex, que ainda estava com a arma na mão.
— Se ele não fosse seu irmão, seria capaz de matá-lo.
— Solte minha irmã, Sr. Goldberg, nós precisamos
conversar. — Disse Alex, aproveitando que tinha sua
atenção. Blake me soltou devagar, como se estivesse
deixando uma joia preciosa escapar das suas mãos. E a
arma nas mãos de Alex era tão perigoso quanto nas mãos
de Blake, esse alto e baixo de emoções me deixou com a
pressão baixa ao ponto de me segurar para não desmaiar.
Blake se afastou quando teve a certeza de que meus pés
estavam firmes no chão. Ele olhou para Alex
desafiadoramente, medo era o que não existia em Blake ao
se deparar com um homem à sua frente.
— Ela é minha mulher. — Disse ele.
— Eu não estou aqui para disputar quem é o mais
importante na vida de Grace, e sim, porque sou da família,
fomos gerados no mesmo ventre e temos os mesmos pais, e
o mesmo sangue. — Disse meu irmão. — Sou o irmão
dela, conforme-se em me ter como grande estima na vida
de Grace, ou as coisas não podem dar certo para vocês
dois.
— Não ouse a me desafiar, Alex, não gosto de ser
testado. — Bradou Blake se afastando de mim e
aproximando de Alex. O medo me paralisou e a única
coisa que consegui fazer, foi olhar para os dois e a arma. A
única pessoa que poderia conter os ânimos dos dois, era
eu. Em passos lentos me aproximei de Alex.
— Preciso que me dê essa arma, irmão. — Falo quase
como súplica ao fazê-lo passar por isso.
— Não fique assim, Grace, eu não a culpo de nada. —
Alex e eu temos uma grande ligação, além de irmãos,
somos amigos.
— Coloque a arma na cama ou dentro de alguma
gaveta. — Pedi. E ele fez, colocou a arma dentro da
primeira gaveta da minha cômoda, olhou para Blake e
falou:
— Agora podemos conversar.
— Suponho que sim. — Rebateu Blake. — O que veio
fazer aqui? — Perguntou para Alex.
— Ver minha irmã, e suponho que sou eu que devo fazer
as perguntas, você não acha? — Disse Alex.
— Grace é minha mulher. — Respondeu.
— Não, Blake, ela pode ser talvez sua namorada.
Mulher, não. — Disse Alex.
— Jamais vou fazer algum mal a ela. Só tenho meus
próprios métodos de proteger o que é meu, se esse for o
seu medo, não o tenha. — Disse Blake.
— Você fala como se ela fosse sua propriedade.
— Ela é. A mais valiosa propriedade e prioridade da
minha vida. — Disse Blake.
— Se acaso ela vir a sofrer por sua causa, jamais vou
deixá-la sozinha, Blake. Estamos aqui falando da pessoa
mais importante da minha vida.
— Não a farei sofrer, e também não abro mão de ser o
centro do seu mundo. O que ofereço a Grace é amor,
proteção e respeito. Fique feliz por eu cuidar bem da
pessoa que você diz ser importante para você.
— Isso é uma desculpa para possuir a vida de quem
não lhe pertence. — Disse Alex. — Pelo que ouvi você
dizer, está vigiando Grace de algum modo, diga-me como.
— Exigiu Alex nervoso. Blake cruzou os braços no peito
como se essa conversa já estivesse ganha. Ele olhou para
mim e depois para Alex e disse:
— Tenho câmeras espalhadas por todo esse
apartamento. Tenho dois funcionários no prédio. Tenho
GPS instalado em seu carro, aplicativo espião no telefone
celular e uma escuta no telefone fixo, também tenho alguns
sistemas em seu computador. — Disse ele. — Posso assim
ver, ler e ouvir tudo o que Grace faz, fala e escuta quando
acionados os sistemas de telefone e computador. — Eu
apenas sentei na cama terminando de processar na minha
mente cansada, o quanto Blake invadiu a minha vida. E o
mais assustador, é ouvi-lo falar de forma tão natural, como
se isso fosse igual a respirar, quase uma necessidade de
vida.
— Você está me dizendo que Grace está em uma prisão
particular, e ainda tem coragem de dizer que isso é amor?
— Gritou Alex.
— Posso dar uma vida de rainha para ela. Sou o homem
que a ama, é comigo que ela vai se casar e ter filhos.
— CHEGA! — Soltei o grito preso e sufocado dentro
de mim. — Parem de falar, eu não aguento mais ouvir
tamanha loucura. — Levanto-me e encaro os dois. — Alex
está certo em se preocupar comigo, ele é meu irmão e a
pessoa mais próxima com quem posso contar. Você, Blake,
apesar de ser o meu “suposto namorado”, passou dos
limites. — Minha voz já estava em baixo tom. — Sei que,
o que temos é forte, mas tomar posse da minha vida não
vai me fazer sua para sempre. Assim você me assusta e
não me deixa com opções de escolhas, caso eu vir a fazer
uma. — Disse. Eu estava muito relaxada antes de Blake
chegar, agora o que quero é dormir, não consigo mais ficar
em pé. — Nós nos conhecemos a pouco tempo e ...
— Pouco tempo sim, mais tenho certeza que é para
sempre. — Disse ele. Eu o olhei e vi a agonia em seus
olhos. — Preciso de você, e sei que é a única que pode me
salvar. — Disse ele.
— Salvar do quê? — Perguntei.
— Do medo de enfrentar certos momentos na vida. —
Falou e abaixou a cabeça. Resolvi não falar mais nada.
Alex, que estava observando a nós dois, falou:
— Acho melhor você ir embora agora, Sr. Goldberg.
— Eu não vou embora. — Sussurrou Blake olhando de
mim para Alex. — Vou dormir aqui com minha mulher.
— Vai dividir a cama comigo, Blake? — Perguntou
Alex, provocando. — Não vou sair de perto da minha irmã
hoje.
— Dormimos os três na mesma cama, mas não deixo
minha mulher sozinha com você.
— Se vocês não calarem a boca, eu juro que vou sair
por aquela porta e não voltarei tão cedo. — O silêncio
prevaleceu. Viro-me com os pensamentos a todo vapor e
vou para o banheiro, tranco a porta e fico quieta ouvindo
somente o silêncio. Tomo um banho um pouco mais
demorado que o costume, saio do box e me seco, visto meu
pijama que deixei em cima do cesto e vou para o quarto
outra vez. Blake e Alex estão sentados cada um de um lado
da cama e olham para mim. E minha disposição para ouvir
minha própria voz e as deles é inexistente. Finjo que vou
me deitar e pego um travesseiro, ando rápido em direção à
porta do quarto e pego a chave, saio e bato a porta, e a
tranco. A única coisa que ouço são os gritos de Blake e as
risadas de meu irmão. Alex o impede de arrombar a porta
e diz que eu preciso de um tempo sozinha, não ouço mais
nada do que eles falam e então concluo que resolveram
ficar calados. Fico com medo ao lembrar que a pistola
ficou dentro do quarto, mas logo passa, eles já estão no
estado normal da razão. Deito-me no sofá e cubro-me com
uma pequena manta que fica dobrada em cima dele,
adormeço com lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
Capítulo 13

A noite passou e o dia chegou, lá fora o sol brilha


muito e o vejo pela cortina levemente aberta, essa é uma
das características lindas de Miami, temos o sol sempre
sorrindo. Permaneço quieta para ver se ouço algum
barulho vindo do quarto, e tudo está muito quieto. Levanto-
me e vou até o quarto, destranco a porta com a chave que
deixei do lado de fora, e entro. Blake está em pé encostado
na parede ao lado da cama, Alex ainda dorme ou finge.
— Bom dia. — Disse Blake com voz suave.
— Bom dia. — Já a minha não saiu com carinho. Vou
em direção ao banheiro e Blake me acompanha.
— Eu só vou ao banheiro.
— Eu sei, não vou entrar. — Ter uma sombra atrás de
mim não é nada confortável, mas Blake sabe passar dos
limites muito bem. No silêncio e privacidade do banheiro
penso que, o que Blake não sabe é que ele me magoou
profundamente. Vê-lo segurando uma arma dentro da boca
do meu irmão foi muito além do que eu poderia imaginar
que ele faria. Penso em tudo o que aconteceu mais uma vez
e tomo banho, quando volto para o quarto, Alex e Blake
não estão mais no quarto. Visto uma roupa simples para
ficar em casa e vou para a sala, eles estão sentados um do
lado do outro no sofá, falando muito baixo e olhando um
no olho do outro, como dois adultos. A única coisa que
consegui ouvir foi: EU A AMO MAIS QUE MINHA
VIDA.
Isso foi um choque de ouvir, mesmo com suas belas
palavras, não ameniza em nada a merda que ele fez.
— Dormiu bem, irmã? — Perguntou Alex que percebeu
minha proximidade.
— Na medida do possível. — Não paro para prolongar
a conversa e vou direto para a cozinha. Blake levantou-se
e foi para o quarto, achei estranho ele me deixar sozinha
no mesmo espaço que Alex. E enquanto eu preparo o café,
Alex recolhe as coisas do jantar de ontem que estavam na
mesa.
— Você sabe que será difícil para você, não é? —
Perguntou.
— Agora tenho uma ideia melhor disso. — Respondi.
— Ele tem problemas, Grace, e isso é muito sério.
— Eu sei e preciso conversar com ele.
— Uma conversa não vai resolver o que acabei de
ouvir. — Olho para Alex assustada.
— Do que você está falando? — Perguntei.
— Só tome cuidado, ele não vai machucá-la
fisicamente, mas você pode se machucar psicologicamente
e isso é a mesma coisa, Grace. — Disse ele. — Você o
ama?
— Eu não sei. — Ele me olha atento. — É como uma
força que me obriga a ficar ao seu lado. Quando ele está
perto, os meus sentidos ficam confusos, e tudo o que faço é
para tê-lo comigo. Sinto-me segura com ele e ao mesmo
tempo, ele me tira o ar que preciso para viver. — Eu o
encaro nos olhos e falo com vontade de chorar. — Ele é
intenso, Alex, um homem que quando quer, consegue. Ele
não pediu licença para me fazer dele. Blake me levou para
um lugar lindo, e me fez dele sem ao menos uma pergunta
se eu queria ou não. Ele não me machucou, não me
estuprou, mesmo assim eu não tive escolha e o que é mais
assustador nisso tudo, é o quanto gostei disso. — Alex
sorriu levemente, como se ele já soubesse disso.
— Eu senti o seu medo quando aconteceu. Depois senti
o seu conforto, quase como uma paz interior. — Sorrio. —
E mesmo assim, é o que tenho mais medo por você, ele já
é o dono do seu mundo, irmã, e você está completamente
apaixonada por ele.
— O que vocês estão falando tão baixo que eu não
posso ouvir? — Blake nos tirou do momento irmão-irmã
com uma voz perturbada.
— Se estamos falando baixo, é exatamente porque não
queremos que você nos ouça. — Disse Alex.
— Você tem fibra, Alex, mas exijo saber o que tanto
conversam.
— Pare com isso, Blake. — Falo olhando para ele. —
O dia mal começou e o que não preciso agora, é de você
agindo assim.
— Só quero saber se seu amado irmão, está colocando
você contra mim.
— O meu amado irmão não faz esse papel. — Falei. —
O único que tem esse poder é você. — Os lindos olhos
azuis de Blake ganharam uma cor tão intensa, que só pode
ser raiva.
— Não me teste, Grace. — Disse.
— Eu não estou. — Ele se aproxima e diz:
— Precisamos sair, tenho muitas coisas para resolver
na Blake’s. — Falou.
— Pensei que poderíamos passar a tarde juntos, Grace,
para conversarmos. — Falou Alex.
— Impossível. — Bradou Blake.
— Por quê? — Perguntei.
— Não quero minha mulher sozinha com outro homem.
— Do que tanto tem medo, Blake? O simples fato de
sua namorada ficar sozinha com o próprio irmão o deixa
apavorado. — Falou Alex.
— Não tenho medo de nada. — Respondeu.
— Não é o que parece.
— Vou passar o dia com meu irmão. Sua agenda eu
posso cuidar daqui mesmo. — Falei para que os dois não
começassem uma batalha de palavras. Em segundos Blake
estava segurando meu rosto, ele me beijou com hálito de
menta delicioso, e me deixou sem oxigênio mais uma vez.
Por um instante, esqueci que Alex estava nos observando,
e me deixei levar pelos seus encantos. Blake sabe como
comandar o meu corpo, e o que sinto agora é meu sexo
desejando-o dentro de mim. Mas não posso deixá-lo me
manipular assim, preciso fazê-lo saber que sou dona de
mim, dona das minhas decisões. Ele deixou os meus lábios
e foi como perder minhas forças, olhou para mim e disse:
— Você vai comigo e não quero ouvir nada ao contrário
disso. — Foi uma ordem dele, que eu vou passar por cima.
— Não, Blake, é você que vai me ouvir agora. — Falo
e me afasto dele. Posicionada ao lado de Alex.
— Seus beijos não vão me fazer mudar de ideia e
esquecer o que aconteceu. Você não pode me comprar com
sexo, por mais que seja perfeito. — Falei. — Quero
conversar com meu irmão a sós e você não irá me dizer o
que fazer ou não. — Olho para Alex que está com os olhos
grudados em mim, reconhecendo a sua verdadeira irmã. —
Você colocou uma arma dentro da boca do meu irmão, isso
não se apaga com orgasmos. — Falo e olho para ele. —
Vá trabalhar e me de espaço, Blake, preciso do dia de hoje
para me redimir com meu irmão. — Falei e ele não pensou
para responder.
— Você não entende que quero passar o dia com você,
amor?
— VOCÊ É QUE NÃO ENTENDE. — Grito. Sim,
estou gritando com Blake. — Você não entende a dimensão
do que fez? Eu preciso e quero ficar longe de você hoje,
ponto. — Quase não consegui terminar de falar, e ele já
estava colado em meus lábios outra vez. E é tão fácil
perder os sentidos, sentindo ele.
— Nunca fale isso novamente para mim. — Falou
grudado em meus lábios. — Você não quer ficar longe e
isso é impossível. Diga-me que é mentira, que está com
raiva e por isso falou tais palavras.
— Eu preciso ficar sozinha. Prometo que só por hoje,
amanhã conversaremos como você quer.
— Te dou até hoje à noite, você dorme em minha casa e
sem discutir.
— Tudo bem, Blake. — O cansaço se fez presente e
nem nove horas da manhã eram. — Vem me pegar quando
você sair do trabalho.
— Farei isso com prazer. Deixe seu telefone sempre
ligado se sair de casa, vá com o seu carro. — Olhou para
mim segurando meu rosto com as duas mãos. — Sei que fiz
coisas idiotas e não justifica nada do que posso dizer,
peço perdão, Grace, por favor.
— Em pouquíssimo tempo já estou esgotada, Blake,
imagine se isso durar. — Falei o que pensei em voz alta, o
que não foi nada bom.
— O que quer dizer com isso? Pensa em me deixar? —
Perguntou, arregalando os olhos. Ele não se importou em
mostrar o seu desespero na frente de Alex.
— Não. Não penso nada disso.
— Bom mesmo, porque será impossível de acontecer.
— Blake me abraçou com carinho e ao mesmo tempo
odiando me deixar sozinha com meu irmão. Beijou-me
como uma despedida muito dolorosa, e saiu batendo a
porta atrás dele. Nesse instante eu respirei todo o ar do
apartamento, e lágrimas rolaram mais uma vez.
— Tenha calma, tudo vai ficar bem. — Ouvi a voz de
Alex.
— Não tenho tanta certeza disso.
— Pois tenha irmã, você é a salvação que esse homem
precisa.
— Como você sabe disso?
— Os olhos nunca mentem, irmã. Os olhos nunca dizem
inverdades, para pessoas que saibam ler o que eles dizem.
— Ele me abraçou e ficamos assim por um tempo. Até que
quebrei o silêncio.
— Ele disse que ficou dez anos sem beijar os lábios de
uma mulher. Tenho medo de descobrir o porquê disso.
— Não consegui muitas informações sobre ele. Blake é
um homem que sabe usar o dinheiro para ficar longe dos
holofotes. O que sei é que, aconteceu sim algo há dez anos
que abalou a estrutura de sua família, e principalmente,
tornou-se uma alma solitária e com amigos escolhidos a
dedo. — Disse Alex. — Ele era um jovem-adulto rico,
festeiro e que expulsou todos que estavam ao seu redor
para ficar somente com sua própria companhia. Então não
há bochichos que ficam inexistentes por muito tempo, mas
essa é a única coisa que sei dele.
— Espero um dia saber disso tudo, e não fazer parte de
sua solidão. — Falei.
— Vamos tomar café e conversar, Grace, quero saber
tudo o que está acontecendo. — Disse Alex, mudando de
assunto.
— Acho que não preciso dizer mais nada, seus olhos já
viram tudo.
Capítulo 14

S entamos no sofá, cada um com uma xícara de café


com leite e ovos mexidos no prato. Conversamos por
horas, Alex sempre soube me fazer soltar a língua, nunca
consegui esconder as coisas dele. Falamos desde o
primeiro dia na Blake’s, até o momento em que ele foi
acordado pelo meu namorado psicopata, com uma arma
dentro de sua boca. Também conversamos sobre seu
casamento, sua vida de Dominador, nunca tivemos
segredos então, ele me contou que se associou a um clube
muito seleto de dominadores, e está preparando uma
surpresa para sua submissa, no caso, sua própria noiva. A
surpresa chama-se cerimonia das rosas, pelo que entendi,
é um casamento lindo entre dominador e submissa, falamos
também sobre papai, mamãe e Alice. Mas o assunto
sempre volta com o nome Blake.
O tempo passou e a hora do almoço chegou,
preparamos juntos um enorme sanduíche, e voltamos
novamente para o sofá. A sensação de sempre ser
observada estava ali, só que dessa vez eu sei o porquê e
por quem. Imagino agora Blake sentado olhando para sua
tela do computador, morrendo de raiva de não ter
colocado também, alguns microfones pela casa. Como
Alex é uma ótima companhia, deixei os pensamentos de
Blake de lado e voltamos aos nossos assuntos. E o dia
passou e a noite chegou, com ela também chegou Blake
adentrando a minha casa, sem ao menos bater à porta.
Como ele conseguiu a senha do alarme eu não sei, mas
posso imaginar o tanto de dinheiro que ele desembolsou
para a empresa de segurança.
— Vocês passaram o dia sentados neste sofá, agora
preciso saber o porquê. — Disse ele.
— O que conversamos você já sabe. Você com minha
irmã. — Disse Alex.
— Acho que estou muito cansada de toda essa
conversa, então, se vocês forem começar uma discussão,
parem ou não respondo por mim. — Realmente não tenho
mais paciência para ouvir tanta ladainha, séria sim, mas é
ladainha do mesmo jeito. Blake aproximou-se e sentou no
braço do sofá, ele começou a passar a mão na minha
cabeça para me acalmar e me sondar. São dois homens
importantes para mim, e Blake entrou na minha vida como
um tornado, mas se eles não se entenderem de uma vez por
todas, eu vou ficar louca.
— Quero que venha dormir em minha casa. — Disse
ele em tom baixo.
— Disse que iria, então eu vou. — Falei.
— Ótimo, vá se vestir enquanto seu irmão e eu
conversamos. — Olho para Alex e ele pisca para mim.
— Desde que vocês não se matem. Ou precisarei fazer
compras de produtos de limpeza pesada para tirar o cheiro
de sangue, o que ficaria insuportável aqui. — Disse
irônica ao me levantar e ir em direção ao meu quarto,
deixando-os sozinhos. Assim que fechei a porta, eu não
consegui ouvir mais nada. No closet, escolho uma roupa
leve, Miami é quente demais e não estou com disposição
para jeans. Um vestido curto e saltos é o suficiente, vou
para o banho e dez minutos depois começo a me vestir, um
leve perfume e maquiagem para me agradar, afinal, passei
o dia em casa entre desabafos e comida, então preciso me
olhar no espelho e me sentir gente. Pronta, pego minha
bolsa e telefone e saio do quarto, e logo, os olhos de Blake
me alcançam e é quando tenho a certeza de que estou
apaixonada por esse louco. E cada vez que nos olhamos, o
nosso amor cresce e enraíza mais em nossos corações.
Chego até a esquecer as suas loucas obsessões.
— Você está magnífica. — Disse ele.
— Não exagera, é só um simples vestido. — Falei.
— Bem, então pode se vestir somente com os simples o
tempo todo, lhe cai muito bem.
— Obrigada, senhor galanteador.
— Está realmente linda, irmã. — Ele sorri. — Minha
princesinha cresceu. — Disse Alex melancólico.
— Nós crescemos, irmão. — Eu lhe devolvo o sorriso.
— Você vai ficar bem aqui sozinho? — Perguntei.
— Vou sim, não se preocupe. — O olhar sacana me diz
que lá vem provocação. — Você já está levando o bicho
papão embora, então eu vou dormir à noite.
— Olha! Ele sabe fazer piadas. — Disse Blake irônico.
— Claro, cunhado. Você é que parece não ter senso de
humor. — Alex levantou-se e me abraçou. — Fique bem.
— Ficarei. — Ele voltou-se para Blake e disse:
— Trate-a bem, com o respeito que lhe pedi.
— Farei com prazer, só quero cuidar de Grace.
Ok, então eles conversaram civilizadamente, olho para
o chão e realmente não vejo sangue. Já é um começo. Nos
despedimos de Alex e saímos para o elevador, assim que
entramos e as portas se fecharam, Blake me encostou na
parede fria, mas não tão fria quanto sua voz. Ele segurou
meu queixo forte e disse:
— Não faça isso outra vez. Jamais tenha outro homem
em sua cama. — Seus olhos estavam tão frios, como todo
o gelo da Antártida.
— Se você quer me fazer escolher entre você e meu
irmão, você não irá gostar do resultado, Blake. — Ele
ficou com os olhos azuis parados no tempo, como se
estivesse fazendo uma viagem ao passado.
— Só exijo que minha mulher, seja minha.
— Não sou sua mulher e tenho uma família que você
precisa aprender a respeitar, e me compartilhar com eles.
— A porta do elevador abriu, ele segurou firme em minha
mão e me conduziu ao seu carro. Ele que estava dirigindo,
dispensou os serviços de seu motorista. Fizemos todo o
caminho até sua casa em silêncio, olhei para a vasta
opções de pubs e restaurantes que Miami nos oferece,
pessoas sorrindo e andando pelas ruas leves e vivendo
suas vidas normalmente. Ao contrário do clima dentro do
carro, lá fora estava leve e feliz.
Quando chegamos em sua casa, ele foi um perfeito
cavalheiro.
— Está com fome? — Perguntou.
— Não, comida foi o que tive o dia todo.
— Vai me contar o que conversaram?
— Não, Blake, foi uma conversa entre irmãos.
— Tudo bem. — Disse apenas. — Vamos subir. —
Ando na frente e ele logo atrás de mim, quando entro em
seu quarto e ele passa a porta, fecha com a chave e a retira
da fechadura.
— Eu não vou fugir. — Falo.
— Eu sei, mas não é pecado ser precavido, é?
— Como quiser, Blake. — Respondi. No closet, tiro os
meus sapatos e vestido, coloco roupas de dormir que ele
comprou e as deixou para mim aqui. Volto para o quarto e
ele está no banho, deito de bruços na cama morta de
cansada, meu corpo começou a pedir por descanso, eu
adormeci.
Acordo com mãos passando em meu corpo, minhas
roupas já não estavam mais em mim, meus olhos têm
dificuldade para abrir pelo sono, e aos poucos os sentidos
tentam me despertar. A língua quente de Blake, passa por
toda as minhas costas nua, desce chupando cada pedaço da
carne da minha bunda, eu gemo. Um gemido baixo e
preguiçoso, não estava com vontade de ser despertada, e
com esse pensamento, Blake abre minha bunda com as
mãos e passa a língua babada por todo meu sexo, eu gemo,
mais não me movo. Ele continua estimulando meu ânus
com sua boca nervosa. Eu gosto, mais continuo imóvel.
Sinto quando ele afasta as minhas pernas e coloca um
travesseiro debaixo do meu quadril, com um pouco de
dificuldade, afinal, eu não facilitei em nada para ele,
estava gostando desse jogo de preguiça e luxúria. Senti
quando passou seu membro todo por minha carne babada,
ele sabe que estou acordada, mas também quer que eu
fique como estou, a sua mercê. O meu gemido sai mais
abafado quando sinto toda a sua ereção entrar rasgando
meu sexo. Chegou até o fundo encostando no útero, ele
geme com um som tão libertador, como se quisesse deixar
sair esse grito há muito tempo e não podia.
— Perfeita. — Ele se acomodou e apoiou em minhas
costas, segurou minhas mãos acima da minha cabeça, me
deixando impossibilitada de me mover. Fico presa
debaixo de seu corpo, a disposição para todo o seu prazer.
Não sei quantas vezes ele gozou e quantas eu gozei
somente nesta posição, e mais uma vez o meu corpo pediu
repouso, e logo depois do meu último orgasmo, eu
adormeço com ele se movimentando dentro de mim.
O dia amanheceu e eu acordei com muita vontade de ir
ao banheiro, tento me virar e não consigo, o peso da perna
de Blake em cima das minhas pernas, não deixa que eu me
mova um centímetro. Ele está abraçado ao meu corpo e
com o nariz afundado em meu cabelo. Bem devagar para
não o acordar, retiro sua perna e seu braço de cima de
mim, me livro do peso que é seu corpo e me afasto um
pouco, ele se move, mas não acorda. Deixo-o em seu sono
e vou ao banheiro, minha bexiga incomoda muito, depois
de aliviada e não sentindo mais dor por segurar o xixi, eu
tomo um banho rápido, sinto-me completamente melada
com todo o esperma de Blake escorrendo pelas minhas
pernas. Isso me remete a lembrança de que não faço uso de
anticoncepcional, e muito menos Blake usa preservativo, é
o meu primeiro homem e ele sente-se seguro em não usar
comigo. Mas acho que ele esquece do risco de uma
gravidez, e eu também, porque quando lembro dessas
coisas é somente nessa hora que estou o lavando de dentro
de mim.
Lavo-me toda e lembro-me o quanto o sexo de ontem
foi perfeito, ele realmente sabe me prender em seus
luxuriosos encantos. Limpa e seca, vou para o quarto
vestida com roupão dele, e ele ainda dorme, olho as horas
e são 6h30min. Penso em acordá-lo com o café da manhã
na cama, e resolvo eu mesma fazer isso. Saio e me
aproximo da porta do quarto, mas sou impedida de sair,
assim que tento mexer na maçaneta e um alarme não muito
escandaloso começa a gritar no quarto. Blake pula da
cama olhando para todos os lados, até seus olhos
encontrarem com os meus.
— O que faz tentando abrir a porta? — Perguntou.
— Estou... Tentando abrir a porta. — Respondo
irônica. — Mas esqueci que estava trancada.
— E o que você quer fazer fora deste quarto?
— Comer, seria uma lógica razoável, não?
— Tina, minha governanta pode cuidar disso. — Ele
me pega pela cintura. — Agora volte para a cama comigo
e deixe-me sentir o seu cheiro de banho tomado. — Disse
ele. — E a propósito, esse roupão esconde muito de seu
corpo dos meus olhos.
— Precisamos conversar, e não trepar como coelhos.
— Falei entre seus beijos de dentes não escovados.
— Eu sei, vamos conversar, e também preciso que você
vá para a Blake’s hoje, preciso que faça algumas coisas
para mim. — Falou.
— Você não está fazendo isso só porque meu irmão está
em minha casa, não é, Blake?
— Claro que não, amor. — Disse caindo por cima de
mim na cama. — Preciso que você assine um contrato de
uma decoração que vou passar para a sua supervisão. É
um magnata que apreciou a sua simulação online, e pediu
por você como designer de interiores de seus imóveis. —
Meu coração quase para de alegria, principalmente por
Blake ter estampado um sorriso nos lábios, feliz por me
ver feliz.
— Como posso agradecer? — Falo emocionada.
— Sendo boazinha e fazendo o seu ótimo trabalho. —
Disse ele.
— E será feito, Sr. Goldberg, vou surpreendê-lo. — E
ele me beija apaixonado.
Esqueci completamente o que aconteceu, e fiquei
somente com meu novo projeto na cabeça. Ele pediu o
nosso café da manhã e logo depois nos vestimos e fomos
para a Blake’s. Chegamos ao escritório de mãos dadas e
sorrindo um para o outro, percebi que eu já não era mais
tão bem-vinda entre as mulheres, que na realidade isso não
me importava. Sento-me na minha cadeira de secretária e
não vejo o dia passar, quando percebo, já são 12h30min, e
sou surpreendida por dois homens na recepção esperando
para falar com Blake. Eu o aviso e fico mais pensativa por
saber que são do cartório, mas deixo para lá. Ele me
libera para o almoço e fica conversando com os senhores.
Duas horas mais tarde, volto e os senhores ainda estão na
sala com Blake, dez minutos depois os três homens saem
da sala e todos me cumprimentam. Blake sorrindo para
mim, diz:
— Grace, esses dois cavalheiros são responsáveis por
registrar a obra de decoração, uma pequena exigência do
cliente. Como você será a responsável, precisa assinar
alguns documentos. Eu já os assinei como responsável e
proprietário da empresa. — Disse Blake. E isso me
motivou a fazer o meu melhor trabalho como iniciante na
Blake’s.
— Claro. Só preciso ler e prometo não demorar. —
Blake parou de sorrir.
— Não precisa ler, Grace. Eu já o fiz e também assinei.
Apenas desocupe logo os senhores, pois eles ainda têm
muito o que fazer. — Disse ele muito sério.
— Tudo bem. — Se ele assinou, então não deve ser
nada de grave.
Assino três papéis e não pude ler uma vírgula, pois um
dos senhores fez o incrível trabalho de me deixar apenas
com a linha para minha assinatura. Depois de assinado, o
sorriso de Blake ficou mais iluminado. Os homens foram
embora e encarando-me de forma preocupante, e Blake foi
para sua sala sem mencionar uma palavra.
— Que coisa bizarra. — Falo em voz alta, o suficiente
para somente eu ouvir.
Blake não trabalhou o resto do dia, a única coisa que
ele fez foi me observar de dentro da sua sala de vidro.
Quando não consegui mais segurar o incomodo de ser
observada por ele, eu adentro sua sala e ele sorri.
— Por que me olha tanto? — Perguntei.
— Porque a partir de hoje, você está oficialmente
amarrada a mim.
Capítulo 15

“Porque a partir de hoje, você está oficialmente


amarrada a mim”
Essas palavras ficaram ecoando na minha cabeça. Por
um momento cheguei a ficar tonta de pensar no que poderia
ser, mas não tive tempo de perguntar nada. Ele se levantou
e aproximou com sorriso largo, segurou minha mão e com
movimentos lentos olhando para mim, tirou do bolso uma
caixinha de veludo vermelha. Senti meus olhos
arregalarem.
— Amor. — E não consegui olhar para outro lugar que
não fosse a pequena caixinha em sua mão. “Ele vai me
pedir em casamento” pensei. Mas o sorriso em seus
lábios me dizia que era muito mais do que isso. Ele abriu a
caixinha ainda olhando para mim. Duas maravilhosas
alianças cobertas de puros diamantes. Meus olhos ficaram
ofuscados com tanto brilho.
— Oh Meu Deus! — Jamais poderia imaginar duas
alianças, o normal para um pedido de casamento seria um
anel de noivado. Mas o que há de normal em Blake?
— Eu falei para seu irmão, que nosso casamento era
tão certo quanto o céu azul. — Disse sorrindo. — Alex
disse que se eu realmente tivesse a intenção de fazê-la
feliz, eu tinha a sua benção. — Mesmo depois do que
aconteceu. — Alex entendeu que eu a amo e posso
cuidar de você e protegê-la de qualquer coisa. — Blake
fechou os olhos e respirou fundo, abriu calmamente e
voltou a me olhar.
— Agora você é minha, Sra. Goldberg.
— O quê?
— Essas alianças selam nosso compromisso, meu amor.
— Você está me pedindo em casamento eu sei, porém,
não seria mais apropriado, um anel de noivado? E também
pedir minha mão aos meus pais? — Me senti uma idiota
com o olhar que ele me deu, do tipo: inocente você
garota.
— Se eu não tivesse tanta pressa em tê-la como minha,
sim, isso seria o apropriado, mas... Não sou um homem
que espera o tempo certo. O meu tempo, quem faz sou eu,
Sra. Goldberg. Eu precisava tê-la e agora és minha, só
minha. — E com essas palavras, Blake tirou as alianças da
caixa de veludo, colocou a caixa de volta no bolso e
segurou minha mão esquerda. Delicadamente ele colocou
no meu dedo, Blake estava de olhos fechados como se
estivesse sentindo cada polegada que a aliança entrava. E
o que foi uma surpresa para mim, foi vê-lo deixar as
lágrimas caírem pelo seu rosto. Ele realmente estava
emocionado, poderia dizer até, aliviado, como se o peso
que ele tinha nas costas, não existisse mais.
— Agora é a sua vez, meu amor. — Disse rouco da
emoção. Tenho várias perguntas e sugestões importantes a
fazer sobre esse momento. Mas vendo-o tão emocionado,
não quero estragar o clima, mas como ele é um homem
diferente dos outros, ele percebeu ao me entregar a
aliança.
— Em breve as respostas para suas perguntas estarão
em suas mãos. Agora só coloque em meu dedo, o nosso
selo de compromisso.
E eu coloquei. Confesso que minhas mãos estavam
trêmulas e meu corpo aquecido pelo momento. Foi como
se eu tivesse em uma igreja cheia de meus amigos e
familiares, parecia sim um casamento real onde eu até por
uma fração de segundo, ouvi o padre dizer: EU OS
DECLARO, MARIDO E MULHER.
Assim que a aliança chegou no final de seu dedo, Blake
me pegou no colo, me colocou deitada em cima de sua
mesa e então, passamos o resto da tarde em nossa lua de
mel.
Saímos da Blake’s já tarde, não falei com Alex em
nenhum momento do dia. Quando entramos em minha casa,
meu irmão estava conversando com Alice, que logo veio
correndo me abraçar.
— Que saudades que eu estava de você. — Disse ela
fingindo raiva.
— Você some de mim e agora reclama? — Falei em
brincadeira.
— Muito trabalho com o papai. — Alice passou seus
olhos de mim para Blake, e quase que peguei um pano para
limpar a baba que escorria de sua boca.
— Minha amiga, você demorou a soltar a sua
passarinha, mas quando soltou, foi para um belo falcão.
— Alice! — Alex a repreendeu pelo comentário.
— Eu só estou falando a verdade. — Disse ela ainda
comendo Blake com os olhos. Ela agora parecia mais
assustada do que admirada. — Falcão, assim como o
pássaro, você também foi o mais rápido. — Alice viu o
brilho em meu dedo. Alex também, mas não disse nada
com sua voz, e sim, com os olhos. Posso jurar que ele quer
matar Blake agora.
— Você está bem, Grace? — Perguntou ele.
— Sim, estou.
Sentamos todos nos sofás, Alex e Alice de frente para
Blake e eu. Um momento perturbador, pois, Alex, não tirou
os olhos das nossas alianças, e Alice, não deixou de
passar o seu recado para Blake.
— Sr. Goldberg, você será um problema com a minha
amizade com Grace?
— Claro que não Alice, por que ele seria? — Não
entendi o tom de Alice.
— Vai ou não Sr.? — Ela não desviou os olhos de
Blake.
— Só se você ficar no meu caminho, Srta. Alice. Grace
é minha mulher e não permito que pessoas duvidosas
façam parte do nosso convívio. — Disse ele.
— Blake! — Gritei — O que está acontecendo aqui?
Você e Alex se desafiando o tempo todo, agora Alice
também? — Perguntei, olhando para os dois. — Alex e
Alice são importantes para mim, era para ficarem felizes
por mim afinal, eu nunca namorei ninguém. Mas vocês três
estão em uma disputa de cabo de aço e não tem motivos.
— Olho para os três com mais calma, Alice conheceu o
Blake agora e já vejo o medo em seus olhos.
— Blake, eles são minha família. Essas insinuações de
que você pode nos afastar acaba aqui. Amo você, mas não
gosto que decidam por mim. Se hoje você tem algum
problema com Alex e Alice, engula isso se quer continuar
comigo. E vocês dois. — Falei olhando para eles. — Não
provoquem Blake, eu o amo e vocês três são partes da
minha vida, não suportaria perdê-los. — Falei em um só
fôlego, e Blake apertou a minha mão como se estivesse
apavorado com que acabara de ouvir.
Formou-se um grande silêncio entre nós, Alex por
admirar e gostar do que falei, Alice por tentar sorrir
disfarçadamente por baixo da mão que cobria a boca e
Blake por ficar como estátua olhando para mim. Até que
ele resolveu reagir e falou olhando para Alex:
— Prometi cuidar de Grace, e é o que farei. Você e
Alice. — Ele olhou para ela também. — Tem minha
palavra que podem ir e vir da nossa casa quando quiser.
Vocês são bem-vindos no lar dos Goldberg.
— Mas nós não somos casados ainda. — Falei no
impulso. Blake olha-me profundamente e diz:
— Você que pensa, Grace. É você que pensa. — Ele
sorriu e passou o dedo por cima da minha aliança, e nesse
momento, lembrei dos papéis que assinei hoje na Blake’s,
sem ler, por exigência dele. Minha mãe sempre me alerta
por confiar demais nas pessoas, ela não quis que eu viesse
morar em Miami sozinha, dizia que um dia eu iria me
surpreender com minha falta de desconfiança no ser
humano. “Mãe, esse dia chegou”.
Tento não acreditar que ele seria capaz disso, mas isso
não é verdade. Blake me cercou de todas as formas e
invadiu a minha casa, organizar os papéis de um
casamento e me fazer assinar, aproveitando por eu estar
feliz com o projeto que supostamente ele colocou em
minhas mãos, não seria nada difícil para ele. E agora aqui,
ouvindo de longe as vozes dos três conversando, pergunto
para mim mesma e com medo da resposta.
“Até onde Blake é capaz de ir?”
Fico olhando os diamantes em meu dedo e minha mente
me leva para muito longe. Aliás, eu não sei onde estou
agora. Olho para eles e não tenho voz para compartilhar
do que estão conversando, as risadas de Alice me diz que
foi uma piada qualquer que Alex fez para Blake, mas eu
não sei o que foi. Blake continua a acariciar a minha mão
esquerda, e eu ainda estou flutuando com o pensamento de
“já ser sua esposa”, e o medo que sentia quando eu o via
me vigiando embaixo daquele capuz, está aqui presente
querendo explodir dentro de mim, e alguma coisa o
controla lá dentro, não deixando sair. Alice chama a minha
atenção e então eu olho para ela, não sei como, mas
automaticamente eu entro no assunto como se um milhão de
coisas não tivessem passando por minha cabeça.
Alex e Blake conversaram sobre trabalhos, como o
mercado de aplicativos para telefones são rentáveis, Alice
e eu falamos sobre várias coisas também, porém não me
recordo de nada. Pedimos pizza, comemos e depois de
satisfeitos e cansados de falar, Alice vai embora. Alex
atende uma ligação de sua noiva, outra de papai e mamãe,
que também falei um pouco com eles, e ouvi que estou uma
filha muito desatenta para com a família. Conversamos
mais um pouco com Alex enquanto eu organizava a cozinha
e logo depois saímos para a casa de Blake. Mas não antes
de despedir do meu irmão por exatos vinte minutos, ele
embarca amanhã para o Texas e deixou mil recomendações
para Blake e eu. Definitivamente, amo meu irmão gêmeo.
No caminho para a cada de Blake, ele falou do projeto
que será meu — então ainda tenho um projeto — Não
toquei no assunto casamento, estou aprendendo que com
meu agora marido, é tudo muito imprevisível e intenso.
Quando chegamos em casa, cada um foi fazer sua
higiene e tomar banho, depois de prontos e já na cama,
Blake me fala sobre sua viagem inesperada e urgente.
— Preciso fazer uma viagem de no mínimo 25 a 30
dias.
— Tudo isso?
— Sim, olha isso aqui. — Ele me mostrou o que estava
acontecendo. — Estão me roubando e serei acusado de
coisas graves com a empresa de NY. Oliver e Karley
exigem que eu vá o quanto antes.
— Nossa, Blake, isso é muito sério.
— Sério até demais, amor, já imaginou a essa altura da
minha vida sofrer uma acusação de sonegação de
impostos?
— Eu não quero nem pensar nisso. — Falei.
— Também não.
Blake ficou em silêncio respondendo aos e-mails
urgentes, fiquei ao seu lado também respondendo a
algumas coisas e logo o sono me venceu, deitei encostada
nele e dormi ouvindo as teclas do computador quase
quebrarem por tamanha rapidez na digitação.
Era madrugada quando senti suas mãos me abraçando,
um burburinho no meu ouvido me fez acordar e ficar muito
sonolenta.
— Shi shi shi amor, não precisa se mover. Só quero
avisar que estou indo agora para NY, a coisa ficou muito
feia por lá e preciso mesmo ir agora.
— Hum. — Murmurei.
— Eu ainda não dormi e acho que não vou conseguir
tão cedo. — Ele ficou passando a mão na minha cabeça
enquanto falava próximo ao meu ouvido. — Vou fazer o
máximo para voltar o mais cedo possível. — Disse ele. —
Todos os funcionários da casa já estão avisados do que
precisam fazer, e como fazer. — Tentei me mover, mas não
consegui e o sono também não deixou. — Seja uma esposa
muito boazinha, meu amor, tudo é para o seu bem — Sinto
seus lábios nos meus. — Voltarei o mais breve possível.
— Sim. — Sussurrei.
— Durma bem e não tente levantar para me
acompanhar, desculpe por acordá-la.
— Boa sorte em NY. — Consegui falar
— Obrigado, amor, eu te amo.
— Também te amo.
E não ouvi mais nada, cai novamente em sono profundo.
O sol estava alto lá fora, senti pela dificuldade em abrir
meus olhos e a claridade que entrava pelas janelas. “Quem
será que abriu essas cortinas?”
Espreguicei o máximo para tirar a preguiça do meu
corpo e então, lembrei de tudo que Blake disse antes de
sair, espero realmente que ele consiga resolver tudo. O
sono me venceu e eu não tive forças para lutar contra ele e
conversar melhor com Blake a respeito dos problemas que
surgiram. Olhei para o relógio ao lado da cama e marcava
7h45min, “hora de levantar” pensei. Movi meu corpo e
quando mexi minhas pernas para sair da cama, ouvi o
barulho de metal, que assustou todas as merdas dentro de
mim. Senti algo um pouco apertado no meu tornozelo
esquerdo, e quando puxei o edredom para o lado e olhei
para meus pés, o meu mundo desabou.
— NÃAAAAAOOOOOO. — O desespero entrou e
fechou a porta na escuridão dentro da minha agonia.
Correntes não tão finas e nem tão grossas, grudadas a uma
tornozeleira de largo metal, trancadas com cadeado médio
e com senha para abri-lo. Com meu corpo mole pelo
pavor, esforço-me para sair da cama, e ao colocar os pés
no chão, o barulho metálico com o piso frio, fez meu corpo
tremer como se eu estivesse em um ataque epilético.
— Oh meu Deus! — Tremendo, abaixei para tocar nas
correntes e quase perdi o equilíbrio, me apoiei na cama e
com uma profunda respiração, observei tudo o que meus
olhos não queriam acreditar. Olhei mais em baixo da
enorme e grossa madeira da cama, e um amontoado de
corrente estava lá, bem presa ao pé da cama. Várias voltas
de correntes como se fosse uma cobra em baixo da cama.
“Não posso acreditar” pensei. Sentei no chão, minha
visão ficou turva e precisava respirar com calma para
pensar melhor. Fechei meus olhos e fiz minha prece a
Deus, não me lembrei muito bem depois o que eu disse,
mais fiz mesmo assim. Olhei outra vez para meu tornozelo
e puxei a corrente, o barulho era apavorante e então, vi
que eram metros de correntes para que eu pudesse me
mover pela casa. Levantei apoiada na cama e secando
minhas lágrimas, não consegui controlar os tremores do
meu corpo, o medo é mais forte do que eu nesse momento.
A cada passo que eu consegui dar, meu corpo entrava em
estado de choque, mas agora era pelo barulho das
correntes se arrastando atrás de mim, o soluço saiu de
dentro da minha boca como grito de socorro, é
ensurdecedor o barulho do metal. Era como se o barulho
tivesse ali, para me fazer lembrar que estou no inferno com
aparência de jardim do Éden, “ trim shi trim shi” e coral
de demônios em seu tilintar metálico arrastando no chão,
me fez perder o controle total do meu corpo e então, senti
um líquido quente escorrendo pelas minhas pernas. Por
sorte, cheguei a tempo de me apoiar na porta de saída do
quarto, porque a tontura de um desmaio veio com tudo. O
cheiro de xixi que não consegui segurar dentro de mim, me
alertou para respirar fundo e não deixar o pavor vencer.
Encostei minhas costas na porta e abri meus olhos que eu
não sabia que os tinha fechado, puxei forte uma respiração
para oxigenar meu cérebro e acalmar meus batimentos
cardíacos, com minha consciência voltando ao normal,
abri a porta do quarto e saí pelo corredor para ver até
onde Blake me permitiu ir. Acorrentada, me arrasto
segurando na grande e fria parede branca com o peso em
minha perna, e o insuportável tilintar. Lágrimas e mais
lágrimas escorrem pelo meu rosto, minha boca seca e a
garganta trava, que eu não consigo pronunciar um único
som, quando chego na escada para ir para o andar de
baixo, o próximo passo foi impedido.
“É aqui o meu limite” pensei. Ele me prendeu a
correntes e me deu um limite para transitar. A escuridão
dentro de mim quis sair, o medo tomou conta e não
consegui lutar contra ele, minha visão ficou um completo
borrão e então, senti meus joelhos baterem no chão, “é
demais para mim” e tudo ficou escuro.
A cama macia e o cheiro de amaciante de roupas, me
impediram de abrir os olhos, mas logo a minha mente foi
despertada e pulo sentada na cama. Fico meio tonta com o
susto, mas nada que eu não suportasse. A minha frente,
sentada na poltrona, a Sra. Tina me observa, olhei para
meu corpo e vi que não estava mais com as roupas que
acordei e cheias de xixi, joguei mais uma vez o edredom
para o lado e lá estava ela, a corrente amarrada a minha
perna.
— A senhora caiu, bateu os joelhos e a cabeça. Está
tudo bem? Sente alguma dor? — Perguntou com a voz
trêmula.
— Eu não caí Tina, eu desmaiei. — Respondi seca.
— Não se apavore, Sra. Tudo será esclarecido no
devido tempo. — Disse ela.
— Ele já fez isso antes? — Perguntei e pedi a Deus
para não ouvir a resposta.
— Não, senhora, você é a única mulher que entrou aqui,
depois da Srta. Britt. — Fiquei olhando para Tina e me
esforcei para perguntar quem é Britt. A minha voz insiste
em permanecer dentro da minha garganta.
— Quem... Quem é Britt? — Perguntei. Tina não
hesitou em nenhum momento para falar, e pelo que pude
notar, ela odiava a tal mulher.
— O demônio destruidor de vidas, a ex-noiva do Sr.
Blake. — Eu olho para o “além” de Tina. Eu não a vejo
mais, não ouço o que ela continua a pronunciar, só sinto o
nome Britt entrar e ficar dentro dos meus ouvidos. “Esse é
o nome dela” pensei. “Da mulher por quem ele foi, ou é
apaixonado. E agora desconta em mim suas frustrações
de homem abandonado”
Britt é a razão pela qual Blake se tornou obsessivo,
neurótico, louco, monstro, possessivo ou todos os nomes e
adjetivos existentes na terra.
— A Sra. quer alguma coisa para dor. — Tina
interrompe o meu momento de devaneio.
— Não. Quero sentir cada momento dessa agonia,
dessa dor em plena consciência acordada, para quando eu
vê-lo outra vez, conseguir com todas as forças possíveis
odiá-lo até a morte. — Fico encarando Tina e vejo sua
expressão ficar em pânico. — Responda-me Tina, Blake
fez isso com Britt? — Encostei nos travesseiros para ficar
melhor acomodada, senti uma dor no meu corpo que acho
que foi pelo tombo que levei.
— Não, senhora. Porém ele ficou assim pelo que ela
fez com ele. — Revelações. A cada segundo com Tina, eu
descubro quem Blake é.
— Ser traído não é motivo para se tornar um louco, ele
não pode descontar em mim o que ele viveu com Britt.
— Ser traído nunca foi o problema para ele, Sra.
Grace. A pessoa com quem ela o traiu sim. E isso tudo vai
muito mais longe do que você possa imaginar. Ele é
quebrado não por ela, só ficou noivo por ser bom para os
negócios da família. Ele é quebrado por ele, pelo homem o
qual ele a pegou na cama, e resultou uma trágica história.
— Fiquei mais tonta do que já estava, Tina fala muito e
agradeço por isso. Mas vejo que ela não irá falar tudo, seu
tom de voz foi único em dizer que já era o bastante para eu
saber.
— Quem o ajudou com as correntes? — Perguntei.
Preciso saber quem são os aliados de Blake, Tina sei que
é a defensora.
— Antony, o motorista. — Fecho meus olhos pelo
cansaço e por vontade de chorar.
— Quais são as ordens, Tina. — Perguntei abrindo os
olhos e deixando sair de mim, a dor em lágrimas.
— Se você atender a ligações, que sejam todas
monitoradas por mim. Mas duvido muito que ele irá deixar
você fazer isso. — Disse ela. — Banho de sol todas as
manhãs e não gritar socorro da sacada, ou posso trancar as
portas e você não sairá mais até ele voltar. — Engasgo e
soluço de tanta agonia e ela continua. — Não receber
visitas, se alimentar bem, ler, ver filmes, fazer exercícios
na área externa da casa sob vigilância de Antony. —
Abaixo a cabeça até meus joelhos e abraço meu corpo, não
consigo olhar para ela. — Se você quiser trabalhar,
precisa ser sob minha supervisão, ficarei ao seu lado até
que termine tudo. E jamais esquecer que toda a casa tem
câmeras, ele está olhando tudo, provavelmente nesse exato
momento. — Um forte arrepio passou pelas minhas costas.
“Ele precisa de ajuda profissional” pensei.
— Por que eu, Tina? Por que eu? Por favor, me deixe ir.
— Tento um pedido lamentável de sua ajuda.
— Não posso. — E não diz mais nada. Não quero mais
vê-la e peço que saia do quarto, não antes de dizer que
trará sopa para me alimentar. Deitei na cama e ouvi a porta
bater devagar, cobri todo meu corpo trêmulo com edredom
e gritei embaixo dele desesperadamente. Sentindo cada
molécula do meu corpo se abrir em desespero e gritar
junto comigo. Pensei em Alex, ele vai sentir minha agonia
e virá para Miami. Ou talvez Blake também já deu um jeito
de despistar Alex e Alice. Como? Eu não sei.
Choro coberta pelo grosso edredom e penso que assim
seguirão meus dias, e então, o sono e cansaço me vencem
outra vez.

Capítulo 16
A cordo com o corpo dolorido, e o que mais dói, é
minha alma. No quarto, agora com as cortinas fechadas, o
escuro prevalece, mas ao olhar para os lados vejo uma
fresta de luz que ainda insiste em passar pela cortina, e
iluminar a sombra observadora de Tina, sentada na mesma
poltrona de outrora.
— Me perdoe, Sra., mas ele é um bom menino. — Ela
percebeu que já estou acordada e resolveu me dar o
desprazer de ouvi-la. — Sinto-me alegre por ele ser capaz
de amar uma mulher linda como você. — Disse ela. — Ele
não está mais infeliz.
— Isso realmente não me comove, Tina, agora eu
gostaria de um banho. — Falei. O que menos preciso
agora, é saber qual é sua opinião a respeito dos
sentimentos de Blake. Levantei e me senti um pouco tonta,
não comi nada o dia inteiro e quando olhei no relógio
digital, marcava 16h30min, eu passei quase o dia
dormindo. Ao tocar com meus pés no chão, o tilintar das
correntes fez meus tímpanos coçarem, eu não me atrevi a
olhar para baixo e ver como estava meu tornozelo com
essa coisa de metal. E ele me acompanha, o som metálico
que se arrasta comigo gritando desesperado em cada passo
que dou. Ao passar pela porta do banheiro, vi pelo
espelho que Tina me acompanhava de cabeça baixa. Agora
ela é uma espécie de sombra e terei que me acostumar com
isso. Olhei para o espelho e o que vi foi uma Grace muito
abatida, triste, com raiva, muita raiva, e tudo só começou
hoje pela manhã.
— Eu vou tomar banho com isso no pé? — Perguntei.
— Sim, Sra.
— O que aconteceu com a ex. de Blake? — Perguntei
em um fio de esperança que ela pudesse me contar.
— Só ele para lhe dizer, Sra.
— Pare de me chamar de senhora, meu nome é Grace.
— Falo entre dentes.
— Desculpe.
— Devo me preparar para mais mentiras. É somente do
que ele é feito. — Falei.
— Está enganada, Blake não mente.
— Mentiu que me amava.
— Mas ele ama. — Exclamou Tina. — Ele só não
confia mais nas mulheres. — Falou quase como sussurro.
— E agora eu tenho que passar por isso, você acha
justo? — Perguntei mais não tive resposta. Tina calou-se e
abaixou a cabeça. Ela também não concordava, porém
respeitava suas escolhas de como segurar um
relacionamento.
— Você vai me dar banho? — Perguntei sabendo que
não devo descontar minha raiva nela. Tina saiu e me
deixou com a menina do espelho triste e com raiva. Tirei
minhas roupas e tomei banho, a água não lava a minha
alma, ela está quebrada. Choro todas as lágrimas e deixo
que a água leve tudo embora, e mesmo assim, a dor não
passa. “O que sou? Burra? Ingênua? Cega? Já sei, sou a
combinação perfeita das três coisas” pensei. Terminei
meu banho depois de quase quarenta minutos, vesti o
mesmo pijama porque não estava com disposição para
procurar outro, e me deitei na cama outra vez, não
demorou cinco minutos, Tina entrou no quarto trazendo
meu alimento, eu não tenho fome.
— Precisa comer. — Disse ela. Eu não respondi, mas
ela estava com razão e precisava me manter forte. Comi o
que me trouxe e permaneci calada, quando terminei, ela
tirou o prato das minhas mãos e saiu sem dizer nada.
Deitei e me cobri da cabeça aos pés e fiquei na minha
escuridão, até o sono vir outra vez.
Três dias, longos e perturbadores três dias que arrasto
essas correntes e o barulho infernal pelo quarto. Lugar
onde não me é mais atrativo, e também não consegui
pronunciar nenhuma palavra a mais com Tina. Ela fazia o
que a rotina lhe obrigara, entrava, deixava água e comida e
saia sem dizer nada, depois, voltava trazendo mais e
recolhia os pratos sujos. O sol lá fora estava com o mais
puro dos brilhos, cascatas douradas desciam do céu azul,
como se fosse ouro reluzente.
— O que tem de brilho, a vida, sol? — Perguntei. Ele
não respondeu.
— Eu odeio o sol. — Falei e puxei as cortinas para
cobrir as janelas, e então, Tina entrou no quarto mais cedo
do que eu esperava. Olhei para ela e a vi com telefone na
mão. “Alex sentiu a minha dor” pensei.
— Sra., precisa atender. — Disse ela. Aproximei e
junto com o som das correntes arrastando, peguei o
telefone de suas mãos.
— Alex? — Minha voz saiu em súplica.
— Não, meu amor, assim você me deixa triste. —
Ouvir a voz de Blake depois de três dias, fez meu
estômago torcer.
— Eu odeio você. Eu quero que você morra. Não quero
vê-lo nunca mais. — Desliguei.
Meu corpo, movimentos, cérebro, todo meu sistema
nervoso ficou em modo automático. Entreguei o telefone
para Tina e voltei para a janela, agora com as cortinas
fechadas, e fico olhando para o tecido claro até meus
braços fazerem o movimento de abri-las novamente.
Depois que atendi a ligação de Blake, tudo ficou assim,
mecânico. Foi assim que passei o resto do dia, e chegou a
noite, comi, tomei banho, deitei e dormi. Não prestei mais
atenção a datas, penso eu, que se passaram dez dias, para
que novamente a indesejável voz de Blake, entrasse pelos
meus ouvidos.
— Como você está, meu amor? — Perguntou com
cautela.
— Acho que você sabe, você me vê todos os dias
então, por que a pergunta tão idiota?
— Grace, não fique assim, tenho meus motivos.
— Eu odeio você hoje, muito mais que ontem, e vou
odiar você, muito mais amanhã. — Desliguei. “Só quero
saber onde Alex e Alice estão” pensei.
Os dias ficaram longos demais, e dentro do quarto a
única música que eu ouvia, era o som metálico arrastando
por onde eu andasse. Sentada na poltrona eu olho para meu
tornozelo com uma chapa de ferro ao redor, presa a
corrente. Sinto-me impotente. Meu tornozelo começou a
ficar muito machucado, e a coceira estava me deixando
maluca. O idiota nem para pensar que isso poderia me
fazer grande mal? A cada dia eu pensava coisas
diferentes, um dia eu estava otimista, que tudo isso eu
superaria com o tempo, no outro eu estava à beira da
morte. Um desses dias ruins, levantei da cama e fui ao
banheiro, no espelho, a imagem refletida era de uma Grace
que mesmo comendo cinco refeições por dia, estava um
pouco mais magra. O sono não me fazia descansar e por
isso grandes olheiras começou a fazer parte do meu visual.
Não tinha vontade de fazer nada, TV, música, livros não
me deixavam tranquila, era como se eu tivesse me
conformando com a situação. E mais dias se passaram
assim. À noite, eu ouvia muito barulho no próprio silêncio,
os carros, os portões se fechando e abrindo, o silêncio, o
cachorro que o dono tirou para um passeio, o silêncio, a
água que esguichava regando o jardim, o silêncio. E essa
madrugada teve um barulho a mais, vozes no corredor lá
fora, podia entender que era Tina falando, mais a outra eu
não consegui identificar. Levantei da cama pensando que
Blake voltara para casa, um sentimento estranho ocorreu
dentro de mim, medo e alívio, não sei o porquê. Abri a
porta do quarto para ver se conseguia ouvir melhor, mais o
cochicho não me deixou, andei um pouco com cuidado e a
corrente arrastada pela minha perna, não me deixou fazer o
trabalho de ouvir a conversa alheia, de repente passos vem
em minha direção, e então quando viraram o corredor,
deram de cara comigo.
— Oliver, o que faz aqui? — Perguntei. Oliver é um
dos homens de confiança e amigo de Blake, eu o conheci
na ocasião da festa com a intragável Anabelle.
— Saber como você está. Volto para NY esta manhã.
Blake está preocupado com você. — Oliver baixou os
olhos para meus pés.
— Estou bem acorrentada, como pode ver. — Volto
para o quarto com Oliver e Tina atrás de mim, sentei na
cama e olhei para os dois, até Oliver tentar amenizar o
clima tenso.
— Ele também não gostou de deixá-la assim, Grace. E
esse é o jeito que ele sabe lidar com isso.
— Você está defendendo essa atitude monstruosa?
— Não. Grace, mas tem coisas que você não sabe e
isso complica o seu entendimento.
— Que coisas são essas? As que ele faz questão de
esconder?
— Grace, Blake é um ótimo homem e amigo, como
poucos no mundo. Porém ele tem medos que não o deixam
seguir em frente. E um desses medos, é perder você.
— Ele já perdeu, Oliver. Estou aqui trancada e
acorrentada, com vizinhos por todos os lados, eu vou
gritar e pedir socorro. — Ele me olhou assustado.
— Não faça isso, Grace.
— Já olhei por todo redor através dessa sacada, vou
pedir socorro. — Falei.
— Não vai adiantar, o sistema de segurança dessa casa
está configurado para os seus gritos, assim que o primeiro
grito sair de sua garganta, o som mais alto que já ouviu
começa a tocar. Blake pensa em tudo, Grace. Ele só
precisa que você confie nele e que a autoconfiança que ele
precisa sentir para voltar a confiar em uma mulher volte
outra vez a existir em sua vida. — Oliver disse sem pausa.
— Não posso continuar com ele depois dessas
correntes.
— Não diga isso nem por brincadeira. — Falou
assustado. — Por que se eu o conheço tão bem como
penso, você não verá a luz do sol se repetir isso, ou ele
pensar que realmente pode perder você. — Disse ele
olhando para o fundo dos meus olhos. — Eu tenho fé em
você, Grace, depois de anos sem uma mulher, ele se
apaixonou por você disposto a corrigir os erros e suportar
não vigiar cada passo que você der.
— Você está enganado, ele vigia todos os meus passos.
Todos os meus meios de comunicação. Ele está como
minha sombra em todos os lugares.
— Eu não disse que ele vai deixar de vigiá-la agora.
Mas pode ter certeza que um dia ele não o fará mais.
— Com certeza que não, quando eu o abandoná-lo.
Oliver e eu ficamos nos olhando, ele não tem nada para
minha raiva ser jogada contra ele. Mas é bom que ele de o
recado que desejo, sei que ele vai dizer cada palavra.
— Eu trouxe esses papéis para você. Ele não pode vir e
agora mesmo está em uma reunião com possíveis
investidores e clientes. Os problemas que tivemos com os
funcionários já foram resolvidos. — Disse um pouco
apreensivo. Abriu a pasta que tinha nas mãos e pegou
alguns papéis e me entregou. Passei meus olhos em cada
linha, demorando mais na que estava escrito Certidão de
Casamento.
Tudo o que pensei ser imaginação da minha cabeça,
agora estava em minhas mãos, não assinei contrato com
cliente e sim, a certidão do meu casamento.
— Ele é um covarde doente. — Falei em voz baixa. —
Não teve a coragem de me entregar pessoalmente e
mandou o capacho fazer? Ele não pode decidir a minha
vida. — Oliver não olhou em meus olhos, chamá-lo de
capacho foi uma ofensa grande.
— Desculpe, Oliver, eu estou com os nervos à flor da
pele.
— Eu entendo. E também não concordo com esse
casamento. No mínimo você tinha que saber o que estava
assinando.
— E por que ele não me entregou pessoalmente? —
Perguntei.
— Medo de olhar para você, e ver que você o odeia
como disse ao telefone. — Eu não falo uma palavra,
apenas sinto minhas lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
— Eu vou embora agora. Ele volta para casa no
sábado, fique bem, Grace. — Disse e saiu acompanhado
por Tina, que se manteve calada todo o tempo.
“Medo de olhar para você, e ver que você o odeia
como disse por telefone”
Repito isso várias vezes na minha cabeça. Eu o odeio
mesmo. Odeio tudo em Blake. Odeio como me beija, como
faz amor comigo, como ele me olha apaixonado. Odeio
como é possessivo. Odeio quando ele sorri e me faz sorrir.
Odeio quando ele conta uma piada sem graça e eu rio por
ser realmente sem graça. Odeio quando ele me acorda de
madrugada enterrado dentro de mim, por sentir saudades
de me ter e ouvir os meus gemidos de prazer. Odeio como
ele diz tão lindamente que me ama e odeio a forma como
se casou comigo. Odeio por ter vários espasmos e vários
orgasmo em uma transa apenas. Odeio não conseguir dizer
não para ele e odeio senti-lo dentro de mim, mesmo ele
estando tão longe. Odeio o cheiro de macho que ele tem.
Eu odeio amar loucamente Blake Goldberg, mesmo depois
de ele me manter acorrentada e trancada dentro de seu
quarto. Eu o odeio.
Deitei na cama e não voltei a dormir, vi toda a
madrugada passar até o amanhecer do dia. E o que fiz, foi
o mesmo do dia anterior, comer, dormir, acordar, comer,
tomar banho, e ver a noite chegar. E assim eu vi o resto de
toda a semana se arrastar comigo.
Sábado, não consegui dormir à noite, eu senti a
presença dele, eu senti seus olhos em mim, o dia
amanheceu e ele ainda não apareceu, mas eu sei que ele
está aqui. A cada barulho lá fora eu sentia todo meu corpo
arrepiar, era como se a porta do quarto fosse abrir a
qualquer momento, a ansiedade não me deixou comer
nada, o quarto já estava pequeno para mim, o barulho do
tilintar metálico já não me incomodava como ontem, hoje o
que me incomoda mais é a sensação de saber que ele me
olha, e o que ele irá fazer. É como se meu corpo tivesse
em constante montanha russa, altos e baixos, giros de 360
muito rápidos. O dia passou, e as vezes que Tina entrou no
quarto, eu mantive minha cara de paisagem, mas por dentro
estava corroendo de ansiedade, não quis comer o dia todo,
quando Tina entrou no quarto pela milésima vez, eu olhei
para o relógio digital, marcava 17h30min, Tina é uma
mulher irritante e ao mesmo tempo interessante, sua
dedicação a Blake é admirável. Vejo a sua preocupação
em saber se vou ou não ficar com ele, seus olhos me dizem
que ela torce muito por nós dois, mesmo assim ela tem
medo, não sei por que, mas tem. Agora ela está inquieta,
vejo-a tremer um pouco quando coloca a bandeja com um
belo prato de sopa, Tina me olha de soslaio, como se
tentasse disfarçar a sua ansiedade, mas falha
miseravelmente.
— Não comeu o dia todo, Grace, por favor tome a
sopa. — Disse ela evitando olhar em meus olhos.
— Não vai me falar o que te perturba tanto? —
Perguntei.
— Não tenho nada para falar. — Respondeu.
— Então acho melhor você aprender a disfarçar, sua
voz, agora trêmula entrega sua falha. — Tina olhou nos
meus olhos dessa vez, mas continuou calada.
— Vou deixar você tranquila para se alimentar. —
Disse e saiu. Tomei a sopa, realmente estava com muita
fome, minha pequena greve de fome não fez ele sair de trás
das câmeras, é por onde me olha. Deixei o prato na
bandeja e fui para o banheiro, abri a torneira e deixei a
água na temperatura mais quente que o normal encher a
banheira, depois de colocar sais de banho e um óleo
delicioso na água, eu entrei e afundei todo meu corpo
embaixo da cheirosa espuma de banho. Peguei uma toalha
branca e dobrei para colocar como apoio na minha cabeça
encostada na borda da banheira. Fiquei mais ou menos uns
quarenta minutos desfrutando da água morna. Quando achei
que já estava bom, o motivo para ele pensar o que eu fazia
no banheiro por tanto tempo, sai da água, me sequei e fui
direto para o closet, nua, não sei porque faço isso, não sei
se é a necessidade de provocá-lo ou me provocar, pensar
que ele me olha de algum lugar deixa meu corpo em
chamas. E ao mesmo tempo com ódio de mim mesma por
me sentir assim. Coloquei um lingerie provocante e
simples, das várias que ele comprou para mim depois,
fechei as cortinas da janela, apaguei todas as luzes e fui
para cama. Agora, espero do fundo do meu coração que a
impressão que tenho dele me olhando, seja mentira, uma
falha dos meus sentimentos, ouvir o barulho que se arrasta
comigo a dias pelo chão, é o motivo pelo qual nesse exato
momento, derrame lágrimas sem controlar.
Blake me faz querer ele a todo momento, mais também
me faz odiá-lo com muita força, me sinto uma idiota agora,
aquelas que os maridos fazem o que querem, batem,
exploram e às vezes até estupram, mas elas continuam lá,
apaixonadas pelas promessas e vozes mansas, pelas juras
de amor ou até, acreditam que realmente merecem passar
por aquilo. Eu não mereço isso, o que sinto por Blake
agora é uma mistura entre o bem e o mal, é um turbilhão de
vingança e piedade. Porque para mim, Blake é digno de
pena, um infeliz depressivo que não confia, não em mim ou
qualquer mulher do mundo, Blake não confia nele mesmo.
Depois de algum tempo com minhas teorias sobre a vida e
Blake, olhei para o relógio e são 22h15min, o sono já me
vencia como sempre, o desgaste emocional cansa mais do
que qualquer trabalho braçal, e eu estou muito cansada de
todos esses pensamentos e sentimentos de amor e ódio, o
bem e o mal. Assim, eu adormeci novamente, e não tive
mais a sensação que ele estava me olhando.
“Humm que bom” pensei. Tentei abrir meus olhos mais
não consegui, o alívio que senti no meu tornozelo que
estava ferido, é maravilhoso, algo muito gelado suavizava
a dor e as coceiras. “É bom, massagem, mãos firmes fazem
massagem em meus pés e isso é reconfortante, não quero
parar de sentir isso é o prazer dos deuses” “Não pare, por
favor” Sinto-me relaxada. “Mãos assim parecem as do
Blake”
— Blake. — Senti meus lábios abrirem e minha voz
sair com facilidade, ele está aqui.
— BLAKE! — Gritei ao despertar completamente,
sentando na cama rápido. Uma pequena luminária estava
acesa do lado da cama. E eu vi os seus olhos azuis em
cima de mim. Abracei minhas pernas no meu peito, e eu
não tenho mais as correntes no meu tornozelo.
— Oi, Grace. — Sua voz saiu triste pela garganta.
— O que faz aqui, Blake? — Perguntei e senti a raiva
passando por minhas veias tão quente, que pensei que iria
me queimar.
— Voltei, amor, eu precisava te ver. — Disse e
permaneceu sentado na beirada da cama e afastado de
mim. Lindo, só um pouco mais magro, essa foi a análise
imediata que fiz.
— Não precisava voltar, eu não queria te ver, Blake.
— Não diga isso, Grace, eu posso explicar. — Não sei
se é loucura da minha cabeça, mas Blake está sofrendo
tanto quanto eu. Abatido e com olheiras monstruosas em
seu rosto, que agora estava muito fino para a estrutura de
seu maxilar.
— Eu não quero ouvir o que você tem a dizer, só quero
minha liberdade de volta.
— Você está livre, Grace, isso foi só pelo tempo que
passei fora. Agora tudo está normal outra vez.
— Eu não quero mais nada de você, Blake, exijo que
me deixe sair daqui. — A raiva falou mais alto, a dor de
dias andando somente nesse quarto, olhar para meu
tornozelo ferido e para a minha ferida no coração, foi o
que me fez sair da razão. Eu pulei em cima de Blake
esmurrando o quanto eu conseguia.
— Seu miserável covarde. — Tapas e mais tapas que
minhas mãos começaram a arder, seu rosto ficou vermelho
e ele não se moveu para se defender, só me deixou bater.
— Deixe-me sair daqui seu idiota. — Blake segurou os
meus braços.
— Não toque em mim. — Gritei. Continuei na tentativa
ridícula de escapar de suas mãos, fracassei.
— Eu estou louco para ser tocado por você, Grace.
Mas entendo a sua raiva. — Ficamos olhando um para o
outro.
— Entende. Você é um covarde que não entende nada,
Blake. — Ele continuou me olhando. — A sua desculpa de
não confiar nas mulheres faz de você um monstro, só que a
verdade, é que você não confia em você mesmo, seu
animal. — Gritei muito perto de seu rosto, e ele com força
me impediu de sair de seu aperto.
Blake me empurrou e eu caí deitada em cima da cama,
não tive tempo para levantar e muito rápido ele me
prendeu com seu corpo em cima de mim.
— Sai de cima de mim seu verme. — Falei com a voz
engasgada. Ele soltou a mão que segurava a minha para
não o socar, e rasgou com toda a força a minha roupa de
dormir, jogando os trapos para o lado, olhou em meus
olhos com desejo derramando por eles.
— Não ouse, Blake, eu tenho nojo de você. — Ele não
me ouviu, abaixou a calça até os joelhos mesmo com a
dificuldade, ainda com os olhos nos meus, rasgou a minha
calcinha e senti arder na minha pele, Blake afastou minhas
pernas com o seu joelho entrando no meio delas, eu senti o
calor que vinha dele, senti o cheiro de seu membro
babando por mim.
— Eu não quero, Blake, você não pode fazer isso. —
Bato mais duas vezes em seu rosto, até que ele segura
minha mão novamente, e caí por cima de mim, e eu senti
seu membro babado encostar no meu sexo, ele fechou os
olhos e puxou forte a respiração.
— Não, não, Blake. — Ele chora com o meu desprezo,
ele abre os olhos e está um mar azul e vermelho e lágrimas
saindo sem parar, mesmo com o meu pedido, ele não deixa
de me possuir. Blake entra em mim sentindo cada polegada
de seu membro se afundar na minha carne quente, até o
fundo. Eu estou tão apertada que fechei os olhos sentindo
um pouco de dor por causa de seu tamanho.
— Eu te amo, Grace. — Abro os meus olhos e ele solta
meus braços e apoia-se na cama, e começa a entrar e sair
de mim.
— Eu odeio você. Eu tenho nojo de você. Eu não sou
sua e nunca fui. — Falei com a voz trêmula, não sei se é
pelo prazer de tê-lo dentro de mim, ou raiva por ele fazer
somente o que lhe deseja.
— Mentira. Sinta como esta babada por mim. Sinta
como você me acolhe dentro de você que mesmo que
queira, não consegue controlar os espasmos que sente
agora. — Ele afunda mais forte dentro de mim. — Engula
ele todo dentro de você, amor. — A voz rouca de prazer
que a dias eu não ouvia, entrou rasgando meus ouvidos. E
enquanto Blake me penetra com toda a força, tento
controlar meu corpo para que eu não sinta nada, mas é
impossível. Tudo dentro de mim chama por ele, eu começo
a estapeá-lo mais uma vez para me distrair, seus urros de
prazer me fodendo não deixou meu esforço de não sentir
nada vencer.
— Sai, sai, Blake, me deixe em paz. — A súplica
mentirosa não o convenceu, e então ele entrou mais fundo e
forte. Eu choro e bato nele, amando ser penetrada com
tanta força e desejo, mesmo depois de ser acorrentada por
dias, trancada dentro de uma casa e vigiada como fugitiva.
Sou fraca e burra, eu sei. Julgue-me quem um dia
descobrir isso.
— Nunca vou sair de dentro de você, amor, sei que me
quer e eu sou o único que posso fazê-la feliz. — Ele vai
até o fundo de mim, e não consigo controlar o meu corpo
que é um traidor, gozo tentando esconder dentro da minha
boca, os gemidos involuntários que dou. Meu corpo treme
embaixo dele, meu sexo mastiga o dele engolindo todo e
não deixando sair em grande aperto, espasmos fazem meu
quadril sair de cima da cama e levantá-lo com toda a força
do meu orgasmo. Então eu ouço ele gozar fundo e desejoso
do meu prazer.
— Hummmm aaahaah, Grace, amo você, amor. — Ele
cai em cima de mim ainda penetrando forte, segurando as
minhas mãos acima da minha cabeça, e enfia mais até o
fundo para não parar de me possuir. Ainda com os
espasmos do meu gozo e mole com ele em cima de mim, eu
o ouço dizer.
— Quero você até o amanhecer, Grace.

Capítulo 17
As coisas não acontecem só porque sou fraca ou
burra, às vezes, é quase impossível evitar. Agora com
meus pensamentos, em pé de frente para a grande janela do
quarto, olhando para o sol lá fora, que brilha tão
intensamente que me dá vontade de tocá-lo. Penso que, não
me culpo pelo que aconteceu a noite toda, sou uma mulher,
e forças para competir com a de Blake, eu não tenho.
Ele me quis até o amanhecer, e ele me teve. Viro-me e
olho para ele agora, deitado ocupando toda a cama,
dormindo o sono mais tranquilo que já o vi dormir. Seus
lindos fios loiros desalinhados, o braço direito jogado em
meu travesseiro, o outro próximo ao seu quadril, os lábios
um pouco abertos, tórax lindo e não muito definido,
poucos pelos saindo do peito fazendo todo o caminho até o
umbigo. O pênis que agora dorme, está posicionado de
lado em seu abdome definido, mesmo dormindo ele é
majestosamente grande e grosso, as pernas relaxadas
ocupam todo o restante do espaço da cama. Blake
Goldberg é um homem que preenche toda uma cama. E
agora ele é o meu marido. Peguei o robe de seda branca
jogado no chão e vesti, devo ter deixado ele aí por dias,
não permiti que Tina limpasse o quarto só para não ter que
olhar muito tempo para ela. Bem devagar dei passos até a
cômoda onde deixei os papéis do nosso casamento, que
Oliver me entregou, voltei e parei ao lado da cama, joguei
os papéis em cima de seu rosto para fazê-lo acordar.
— Acorde, Blake. — Falei. — Hora de conversar. —
Seus olhos azuis encontram os meus assustados. Ele
levanta e fica sentado na cama tentando entender o que
estava acontecendo. Depois de acordar de verdade, ele
pega os papéis e olha-os em silêncio. Joga-os para o lado
e olha para mim.
— Você já está acordada, por quê?
— Eu não dormi. — Afastei, indo para a janela outra
vez.
— O que quer conversar, amor? — Perguntou um pouco
grogue de sono.
— Eu assinei esses papéis confiando em você de que
seria sobre um trabalho, e não um suposto casamento,
Blake. — Falei. — Por que fez isso?
— Grace, tenho meus motivos, não quero perdê-la e foi
assim que encontrei a solução.
— Por que me acorrentar? — Lá fora o sol aquece,
aqui dentro o gelo queima a minha pele. Não olho para ele,
não quero ser seduzida por ele, de novo.
— Não confio em você. — Suas palavras me fizeram
virar e olhá-lo no olho.
— Eu não sou ela, Blake. Não sou Britt. — Falo quase
em sussurro. Ele me olha com raiva agora, com raiva.
Levanta-se e não deixa meu olhar cair por um segundo,
aproximou-se ficando muito, muito perto e invadindo a
minha zona de conforto. Senti o medo andar por minhas
veias através do meu sangue fervendo, ele tem esse poder
de intimidar qualquer pessoa.
— Nunca mais fale o nome dessa mulher dentro da
minha casa. — Sua voz cortou minha pele de tão afiada e
gélida que saiu entre seus dentes. Tremi e senti os meus
sentidos reclamarem por ar, então percebi que não estou
respirando. Puxo o ar bem devagar para dentro de mim e
solto, faço isso três vezes e sinto meu corpo voltar ao
normal lentamente. — Exijo saber quem falou a respeito
desse nome. — Disse ele. A voz é assassina e os olhos
azuis já me fazem sangrar.
— Tina. — Antes mesmo de pensar se falaria, eu já
tinha falado. Não sei se pelo medo do momento, mas agora
é o que estou sentindo.
— Ela não tinha esse direito.
— A culpa foi minha, eu praticamente puxei a sua
língua. — Não podia deixar sua ira cair em cima da
senhora que tanto lhe tem respeito.
— Deixe o meu passado, longe do nosso futuro, Grace.
— E não sei de onde, mas a coragem chegou até a mim.
— Não existe futuro para nós, Blake. — Falei. Ele me
olhou com raiva e dor. — Não posso ficar com você,
depois de tudo o que você fez.
— Você não vai me deixar, isso eu garanto. — Disse
ríspido.
— Eu não sou ela para que você não confie em mim.
Diga-me, o que ela fez a você? — A coragem não foi
embora.
— Ela destruiu a minha vida e da minha família. E já
disse que aqui, não se fala seu nome.
— Eu não falei o nome dessa vez. Você não pode
descontar em mim as suas frustrações do passado. — Falei
olhando em seus olhos. — Ela deve ter deixado você,
porque você é louco. — Cuspo as palavras em sua face.
— Eu é que a expulsei da minha vida. Eu paguei um
bom dinheiro para ela não passar na minha frente, nunca
mais, nem em Miami, e nem onde eu estiver com a planta
dos meus pés, ela nunca mais vai estar também, ou não
responderei por mim. — Gritou as últimas palavras. Ele
não se deu conta, mas estava segurando forte o meu braço,
enquanto vomitava a sua dor em minha face.
— Você está me machucando. — Sussurrei. E senti
lágrimas quentes escorrendo pelo meu rosto. Ele olhou
onde estava suas mãos e chocado, soltou meus braços.
— Perdoe, amor, por favor eu... eu não quis machucar
você. — Disse arrependido. Ele me abraçou forte e beijou
toda a minha face. — Desculpa, por favor, não tive a
intenção.
O que posso pensar sobre isso? Eu não consigo ter uma
linha de raciocínio.
— Você ainda a ama muito. — Mais uma vez as
palavras saíram da minha boca sem eu pensar em dizer.
— Eu nunca amei uma mulher, Grace. Sempre fui um
homem de várias mulheres, mas amor, isso nunca. — Disse
ele. — Por isso sei que, ao olhar em seus olhos pela
primeira vez, eu sei que amei você a partir daquele
momento. Foi o famoso “amor à primeira vista”. Por isso
tenho tanto medo de perdê-la. — Agora sua voz saiu doce
e sincera.
— E de onde você tirou que casar comigo e me
acorrentar em sua casa, vai fazer com que eu não o deixe?
— Perguntei ainda envolvida em seu abraço.
— Tenho medo de que você se encante por outro
homem. Tenho medo de não ocupar a sua cabeça e seu
corpo com a minha presença e o meu prazer, e você
procurar em outros braços, aquilo que não te dou. — Disse
ele.
— Eu não sou assim, Blake.
— Preciso fazer do meu jeito e com minhas regras para
que eu consiga confiar em você.
— E eu preciso respirar e ter minha liberdade de volta.
— Falei. — Não quero ser acorrentada outra vez.
— Não me peça isso, Grace. Não em tão pouco tempo
de relacionamento, eu preciso ficar de olho em você para
me sentir seguro de que você não irá me deixar, mesmo
com todas essas merdas. — Eu ouvi, mais não respondi.
Não posso permitir que ele faça isso comigo. Não posso
achar normal o modo como ele faz para confiar em mim.
Sei que estou ilhada dentro desta casa, mas também sei
que o meu sonho com Blake chegou ao fim. Compreendo
algumas coisas, mesmo não sabendo o que aconteceu, mas
aceitar, não sei se consigo.
Ficamos abraçados em silêncio, e logo foi quebrado
com sua voz apavorada.
— Não pense isso, amor, por favor, não fuja de mim.
Não procure por mais motivos para você me deixar. Olhe
para mim. — Pediu, segurando meu rosto com as duas
mãos, seus olhos estão banhados em lágrimas. — Eu não
quero persuadir você, ou forçá-la a aceitar as minhas
condições. Só quero fazê-la compreender alguns pontos.
— Disse. — Olhe pelo lado bom entre nós. Você me ama
eu posso sentir isso, mesmo agora com toda essa raiva que
sai pelos seus poros. E eu te amo, você é minha vida
agora, não sou um monstro, porém preciso fazer algumas
coisas fora das normas só por um tempo, até minha
confiança em você permanecer para sempre.
“Isso é ridículo” pensei. Eu o amo, mas aceitar isso é
totalmente doentio. Vejo em seus olhos o desespero e a
capacidade de fazer coisa pior, caso eu não concorde com
ele. Blake precisa de ajuda profissional, já vejo isso e sei
onde vai nos levar. Para chamar minha atenção e me fazer
ficar ao seu lado, ele é capaz de tudo. Na minha mente, é
Blake enfiando uma arma dentro da boca de meu irmão.
— Eu amo você, Blake, e vou esperar o seu tempo sem
reclamar. Com uma condição. — Falei e ele franziu a testa
em dúvida.
— E qual seria?
— Exijo que não me afaste da minha família e Alice.
Jamais irei suportar tais coisas que você tem necessidades
sem ao menos vê-los de vez em quando, ou ouvi-los por
telefone. — Falei e ele suavizou a expressão em seu rosto.
— Prometo não contar nada do que aconteceu, ou do que
está por vir. Esses dias me senti muito sozinha, preciso
deles comigo. E sei que Alex não ficaria todo esse tempo
sem falar comigo, você fez alguma coisa e isso acaba aqui.
Se você me acorrentar outra vez e eu ficar isolada do
mundo, talvez quando você voltar, me encontrará morta.
— Não diga isso. — Gritou.
— Então não me prive deles, por favor. As correntes eu
posso suportar, já a solidão, isso não.
— Tudo bem, obrigado por compreender. Não vou
afastá-la deles, me desculpe, minha viagem foi repentina e
precisei tomar atitudes que nem eu achei que seria capaz
de fazer.
— Internet não é só para e-mails ou pedir socorro. De
toda forma, meu computador é monitorado por você o
tempo todo, então, não precisa ficar tão inseguro quanto ao
meu uso, e também não preciso da Tina ao meu lado
quando eu for usá-lo.
— Claro, você está certa. Preciso ir para a Blake’s,
você vem comigo? — Perguntou como se tudo tivesse
resolvido e normal entre nós. Agir com naturalidade é o
que preciso agora. E preciso descobrir o que aconteceu
com Britt.
— Com certeza, estou nessa casa há dias, o que mais
quero é trabalhar e ver as pessoas andando nas ruas.
— Então se arrume amor, e vamos trabalhar. Teremos o
dia cheio hoje. — Disse ele.
— Você tem que me deixar saber sobre sua agenda. —
Falei o mais natural possível.
— Está tudo no iPad, amor, verifique as reuniões e
agende tudo para as datas que tenho disponíveis.
— Tudo bem. Como foi em NY?
E assim começou o nosso dia, como um casal normal,
sem problemas e grandes conversas. Enquanto ele
escovava os dentes e falava tudo sobre NY, eu entrei no
chuveiro e comecei a tomar banho, prestando bastante
atenção e colhendo tudo o que era possível de
informações, para arquivá-las em minha memória, já que
telefone e computador não era possível.
Olhando para ele enquanto tomava banho e
conversávamos, pensei o quanto eu o amava, agora vendo-
o depois de dias de raiva, angustia e solidão sem fim,
pensei também em como sou doente, e em quanto o mundo
está cheio de amores assim, avassaladores e capazes de
suportar coisas absurdas. Quem um dia descobrir isso,
mais uma vez peço, não me julgue, poderia ser você aqui
no meu lugar, é difícil amar assim com tantos altos e
baixos, é difícil deixá-lo ir ou fugir, é difícil saber que um
dia vou deixá-lo, vou fugir.
Blake é um homem perturbado com o passado, ele
sofre, posso ver em seus olhos. Vi também o quanto estava
triste ao olhar a pequena ferida que tenho agora em meu
tornozelo. Ele não ficou nada satisfeito de ter feito o que
fez, me deixado como deixou, acorrentada. É nesse
momento que uma luz se acende na minha cabeça, antes de
deixá-lo, não posso fazer isso sem lutar por ele, meu
marido precisa de ajuda e grita por isso, um grito no meio
do deserto onde somente ele pode ouvi-lo, mais os ecos
chegam aos meus ouvidos. E antes de desistir, eu vou lutar.
Mas, infelizmente, não sei até quando poderei suportar,
sem fugir.
Ele se juntou a mim no box, a água quente banhando
nossos corpos agora, grudados um no outro. Ele me tem
mais uma vez, o sexo é forte, duro, fundo e delicioso. Meu
corpo não sabe dizer não, eu não sei dizer não, ou talvez
só não quero dizer não agora.
Quatro reuniões, Blake voltou ágil e forte para
trabalhar, um dos funcionários de NY fez coisas
inaceitáveis na empresa, se não fosse Oliver ser o
profissional competente que é, hoje o nome da Blake’s
Arquitetura estaria estampado nas revistas de fofocas e
jornais de todo o mundo, sendo acusada de sonegação de
impostos e uso de materiais indevidos. Com essa viagem
que ele fez para NY, todas as irregularidades foram
resolvidas. Com isso, Blake estava como um tubarão dono
do mar, expulsando tudo e todos somente com sua
presença. Com ele em reuniões o dia todo, tive tempo de
fazer uma análise de como pedir ajuda para meu irmão e
Alice, sendo assim, peguei um papel e comecei a escrever
os contras:
Ele pode ver pelas câmeras, mas não ouvir o que eu
falo, ele pode receber e ler todos os meus e-mails,
ligações, mas não pode ler o que escrevo em papéis e
principalmente, o banheiro é um lugar seguro para fazer
algumas coisas das quais ele nem perceba se eu for
esperta. Eu só tinha que pensar em tudo, para não me
machucar e não machucar a Blake.
Eu aproveitei as reuniões e liguei para Alice do
telefone do escritório, falei que precisava muito falar com
ela e que quando eu contasse, ela não ficasse desesperada,
ou ia colocar tudo a perder. Ela concordou e marcamos um
encontro. Depois que desliguei o telefone, busquei na
minha mente se ele já tinha me dito, se o telefone do
escritório também era grampeado, realmente não me
lembrei disso, e então, a tensão começou outra vez andar
por todo meu corpo.
Depois desse deslize, o dia foi tranquilo, andei pelas
ruas sentindo o sol na minha pele, sem correntes
arrastando atrás de mim, o barulho insuportável se foi, e é
quase como véspera de natal para mim. Fiz meu lanche
devagar, e enquanto estava comendo, ele mandou uma
mensagem perguntando onde eu estava. Tirei uma foto do
meu lanche e do local onde eu estava e mandei para ele.
“Obrigado por me dizer, amor” ele respondeu.
“Sempre” fiz a minha parte também. Se é para
conquistar sua confiança, então vou fazer o possível para
isso. Quando voltei para o escritório, ele estava em sua
sala com mais três pessoas, uma delas era a intragável
Anabelle. O alívio em me ver entrando na recepção fez o
sorriso em seu rosto brilhar e todos olharem para ver o
que ele estava olhando e o motivo do sorriso de “Graças a
Deus ela voltou”. Trinta minutos depois, eles saíram de
sua sala e então fomos para casa. Ele me contou o quanto
estava satisfeito com os projetos, principalmente os de
Anabelle, coisa que não gostei de ouvir, e com o seu
contratante. Conversamos todo o caminho sobre o
casamento, e Blake admitiu que foi uma loucura querer me
prender a todo custo, e depois se justificou que me amava
muito para me perder. Perguntei quando ele irá me contar
sobre Britt, e percebi o quanto isso o perturba e o deixa
triste. É como se ela tivesse tirado o rumo de sua vida por
muito tempo, e agora que estamos juntos, ele encontrou seu
caminho de volta. Essas foram um pouco de suas palavras,
junto com um pedido de perdão, e também, um pedido de
ajuda para esquecer, como as pessoas podem ser tão
mentirosas e articulosas para destruírem alguém. Foi como
se ele quisesse me contar, mas a dor de lembrar faz com
que ele se bloqueie. Então lembrei-me do desprezo que
sente por Anabelle, de Oliver o advertindo de alguma
coisa referente ao passado, mas não consegui me lembrar
com exatidão. Blake tem aversão a mulheres levianas, e só
posso crer que tudo do seu passado leva para esse
caminho.
Quando chegamos em casa, ele devolveu meu telefone
celular.
— Você não fugiu de mim hoje, e teve oportunidade
para isso, obrigado por ficar. — Disse ele. E acho que
devolver meu telefone foi um tipo de recompensa. Ele só
não sabia que eu sei que já sabia onde eu estava. O
precioso presente que ele me deu quando eu cheguei na
Blake’s, uma maravilhosa tornozeleira caríssima, ainda
estava no meu pé como ele pediu, e sei que tem um
rastreador GPS nela. “Blake, Blake, Blake, não sei se te
mato ou se te amo” pensei.
Me acomodei na cama e comecei a mexer no telefone.
Blake deixou todas as mensagens que ele e Alex trocaram,
se passando por mim claro, e Alice, que percebeu alguma
coisa, mas logo foi despistada pelo esperto Blake. Foi
fácil para ele se passar por mim, estudar as mensagens
anteriores e chamá-los como eu sempre os chamo, não
levantou muitas suspeitas. Mas Alex é um tubarão como
Blake, ele comentou coisas de quando éramos crianças, e
entre elas, o nome do meu ursinho de pelúcia que ele
rasgou, e eu chorei muito dizendo que ele morreu, e Alex
limpando minhas lágrimas, falou que o ursinho agora
estava livre. Quando fazíamos algumas coisas erradas,
nosso código para quando íamos ter ou não castigo, era se
nós estaríamos livres como o ursinho, ou presos como o
passarinho de papai que ficava na gaiola.
A saudade bateu no meu peito e ouvir a voz de Alex,
era tudo o que eu precisava. E foi exatamente isso que fiz,
liguei para Alex e no segundo toque, ele atendeu.
— Irmã, resolveu sair da toca e falar comigo? —
Perguntou sério.
— Oi, irmão, senti sua falta.
— Também senti a sua, como você está?
— Bem, e você?
— Tudo ok. Papai e mamãe estão com saudades. —
Disse ele.
— Eu também estou, diga-lhes que em breve irei visitá-
los.
— Sim, livre. — Disse ele em tom normal, mas sei que
foi uma pergunta velada. Ele não acreditou em nada das
mensagens de Blake. Olhei para a frente e vi Blake com o
telefone no ouvido olhando para mim.
— Não. — Blake não entendeu. — Como estão os
preparativos para o casamento? — Mudar de assunto,
também era um bom código para Alex.
— Muito bem, a cerimônia das rosas, será melhor do
que o casamento na igreja que é só para agradar o papai e
a mamãe. Gostaria que viesse nela também.
— Eles não sabem dessa outra festa?
— Claro que não. Imagine a mamãe vendo minha noiva
entrar vestida com a roupa maravilhosa de submissa que
mandei fazer para ela? — Ele sorriu tenso. Sei que Alex
está sentindo alguma coisa.
— Verdade, deixe isso somente entre vocês,
pervertidos. — Sorri quebrando o clima estranho. Blake
também sorriu baixo, e a pequena gargalhada que Alex
deu, não chegou em meu coração.
— Pervertidos não, irmãzinha, somente com gostos
peculiares para sexo.
— Sei. Irmão, preciso te falar uma coisa. — Blake me
olhou franzindo a testa.
— Se for sobre o ridículo casamento que Blake armou
e você caiu, eu já sei.
— Quem te contou.
— Ele. Blake tem coragem para me enfrentar, tenho que
admitir. — Blake sorriu.
Conversar com Alex sob a supervisão de Blake, era
muito difícil. Ele estava atento a todas as vírgulas que eu
colocava no assunto. Lembrar dele com uma arma na boca
do meu irmão, me dava uma boa ideia do que ele era capaz
de fazer. Conversei com Alex por mais dez minutos e
desliguei, Blake sorriu e se aproximou.
— Obrigado. — Disse ele.
— Pelo quê?
— Por não pedir socorro, não fugir de mim. Jamais
machucaria você, Grace, só não quero perdê-la. Sei que é
errado e irracional o que fiz, só que me vi sem opções
quando precisei viajar e o medo de você conhecer alguém
foi maior que qualquer outra coisa.
— Seu jeito de amar é estranho para mim. Conhecer
pessoas eu vou a todo tempo, você nunca poderá me
prender no seu mundo. Basta confiar em você mesmo, e no
nosso amor. — Falei.
— Um dia você vai entender. — Disse ele.
— Espero que não demore muito.
Ele me abraçou e eu senti que sua vontade era de falar,
mas sei que o que Blake tem a revelar, vai tirar todas as
merdas de dentro de mim. Esse é o seu medo, de revelar e
eu desaparecer por medo dele. De mostrar o que ele fez e
tudo isso no passado, se transformar em um reflexo para o
futuro. O medo de tudo vir à tona, o medo de como
machucaria as pessoas que soubessem e como a ferida
aberta traria de volta a sua dor. Esse é o seu medo.
Capítulo 18

T udo voltou ao normal, os dias se passaram e


conversamos mais sobre nosso casamento, e entendi alguns
de seus pontos. Blake é um homem extraordinário no dia a
dia, e muito amável. Ele faz todos os mimos que uma
mulher pode merecer. Trabalhamos em grande sintonia e a
cada dia ele tinha mais orgulho de mim. Fomos
convidados para vários eventos importantes, e meu rosto
estava estampado junto com o dele, em todas as revistas
do mundo como a Sra. Goldberg.
Alice e eu passamos a almoçar juntas duas vezes por
semana, mas aquela sensação de estar sendo observada era
constante, eu sentia Blake a quilômetros de distância, sua
presença sempre foi muito forte ao meu lado, mesmo
quando eu não sabia que era ele o homem que me
perseguia. Como Blake não é homem que manda fazer, ele
mesmo faz, eu o sentia olhando para mim em todos esses
meus encontros, semanas após semanas, em restaurantes,
pubs, ele sempre estava lá, onde? Eu não sei. Como nossa
convivência se tornou mais do que perfeita, eu não
comentei nada do que aconteceu com Alice. Deixei-a
totalmente fora disso, e acho, que por isso ele nunca se
opôs as minhas saídas com ela. O projeto a qual ele me
delegou todo o direito e contrato, estava indo muito bem,
demorou três meses, mas tudo saiu perfeitamente como era
de desejo do cliente.
O que eu não aceitava em todos esses meses que
passamos desde o episódio das correntes, era que Blake
fazia o máximo e até o impossível às vezes, só para ficar
ao meu lado, em todas as reuniões, eu nunca participei
sozinha. Tomava sim todas as decisões e ele permanecia
calado, mas sempre sua presença estava nas salas de
reuniões, visitas nas obras e todos os lugares onde tinham
homens por perto.
E quando os clientes faziam comentários um pouco
ousados, Blake deixava sair o lado escuro e ciumento
dele, afastando todas as possibilidades de trabalharmos
sozinhos. Em uma reunião muito importante, Blake me
deixou muito assustada, ao ponto de pensar mesmo se ele
era ou não bipolar.
— Ela é maravilhosa, Blake. — Disse o cliente. —
Uma pena que você a viu primeiro. — O homem falou
sorrindo. — Mas se um dia vocês se separarem, saiba que
serei o primeiro a procurá-la. — O homem gargalhou com
a brincadeira, não descente, e bateu nas costas de Blake
como camaradagem. Ao ouvir isso, Blake se transformou.
— Nunca mais faça esse tipo de comentário, ou eu mato
você. — O homem ficou azul com a força e seriedade que
Blake, passou em sua voz.
— Calma, amigo, foi só um comentário, infeliz
reconheço.
— Pois infeliz ou não, esse tipo de comentário dirigido
a minha mulher, pode levar você a morte. — Fui como
sempre, a apaziguadora da situação, e terminei a reunião
com o seguimento do projeto. O homem nunca mais quis se
encontrar comigo se Blake não tivesse presente. Depois
disso, Blake ficou obsessivo, todo final do dia, ele
averiguava meu telefone, computador, o GPS da
tornozeleira, câmeras de segurança, mesmo se ele tivesse
presente nas salas, ele verificava todos os vídeos do
mesmo jeito.
E assim deu seguimento a uma rotina, ele olhava tudo, e
quando via nos vídeos alguém olhando para mim, minhas
pernas ou seios, as roupas eram jogadas fora. Blake todos
os dias jogava no lixo um vestido, ou saia, ou calças que
me deixava mais atraente. Ele trocou praticamente todo o
meu guarda-roupa em dois meses. Nenhum tipo de decote
era permitido, saias somente quatro dedos abaixo dos
joelhos, decotes nas costas jamais, calças que modelavam
meu corpo também não. Maquiagem, foram todas para o
lixo. Ele somente permitia, um batom muito claro, e rímel,
nada de sombras ou bases para esconder qualquer
imperfeição que eu tivesse no rosto. E óculos, sim Blake
exigiu que eu usasse uma imitação de óculos de grau, com
armação redonda. Eu já não recebia tantos elogios da
minha aparência na mídia, afinal, uma mudança drástica
foi feita no meu guarda-roupa, e a mídia não perdoa.
Meses se passaram e a cada dia Blake se transformava em
algo possessivo além do normal. Os pequenos momentos
que eu tinha livre, só meu, era quando eu almoçava com
Alice, que desenvolvemos uma conversa em códigos, eu
sorria a todo tempo, falando para ela o quão infernal a
minha vida estava, a minha aparência, e quando eu disse
que sua última exigência era somente usar roupas pretas
abaixo dos joelhos e mangas longas, Alice disse que eu
tinha que dar um jeito na minha vida. Blake podia sim ser
um Deus na cama, mas estava me fazendo afundar nas
loucuras dele. Fui embora pensando nisso e tive a certeza
de que, por mais que eu fizesse tudo para agradá-lo, nada
seria o suficiente.
Eu peguei mais um projeto, e ao longo dos dias,
aconteceram as mesmas coisas, meses se passaram assim,
e no dia do nosso aniversário de um ano juntos, junto com
a festa de entrega do projeto, Blake me assustou até a
última gota de sangue do meu corpo.
O projeto foi um sucesso, na festa de entrega toda a
mídia estava presente, tentei me colocar com a melhor
aparência, mas as roupas de freira que Blake me fez usar,
foi o suficiente para me expor ao ridículo. No coquetel,
várias pessoas vieram falar comigo, ele sempre ao meu
lado, e o projeto que ele desenhou para uma grande
empresa, era também assunto falado nas entrevistas, ele
respondeu a tudo e todos, e quando as perguntas eram
dirigidas a mim, eu só podia responder quando eram feitas
por mulheres, ou, eu era presenteada com um beliscão na
minha costela, isso aconteceu por duas vezes e quando eu
fui no banheiro para ver, lá estava a prova de sua
agressão, minhas costelas estavam roxas. Ao abrir a porta
para sair e retornar a festa, lá estava ele me esperando.
— Quantas mil vezes eu já falei para não falar com
homens? — Ele estava com raiva.
— Era só uma entrevista e você estava ao meu lado
Blake. — Respondi magoada.
— Não importa, abaixe a cabeça e não olhe para
ninguém nessa festa, Grace. — E assim eu fiz, a voz de
Blake já avisava de como poderia ser se eu não
obedecesse. Ele nunca levantou a mão para me espancar
ou algo assim, talvez porque eu sempre fazia o que ele
ordenava. Fiquei a noite inteira olhando para o chão, não
vi os rostos das pessoas e quando elas vinham me
cumprimentar, eu era obrigada a olhá-las, mas logo quando
saiam, eu abaixava minha cabeça. Mas infelizmente as
pessoas não olham tudo que acontece em sua volta. O filho
do meu ciente que ficou muito satisfeito com o projeto que
desenvolvi, chegou a festa e veio imediatamente me
cumprimentar, com um abraço.
— Que maravilha, papai e eu estamos muito felizes por
sua competência, Sra. Goldberg. — Ele me abraçou. —
Gostaria de marcar uma reunião para outro projeto. —
Disse soltando-me. Eu senti todo o inferno chegando com a
fúria de Blake, que estava ao meu lado.
— Ótimo, me ligue essa semana e marcamos uma
reunião. — Falei.
Conversamos mais um pouco e Blake ficou calado
olhando para nos dois, até que o jovem se levantou e foi
embora.
— Nem por cima do meu cadáver você vai trabalhar
para esse homem.
— É só trabalho, além do mais, você fica ao meu lado
o tempo todo.
— Eu disse não e pronto, já está decidido. — Disse
ele.
— Pois eu digo que vou trabalhar sim, você gostando
ou não disso. Trabalho é trabalho, Blake, você sempre fala
isso.
— Veremos. — O medo se apossou de mim. No foi um
simples veremos, foi o gelo mais profundo de todas as
águas da Antártida.
— Vamos embora.
Saímos sem nos despedir de ninguém, Antony nos tirou
sem sermos vistos pela imprensa. E quando chegamos em
casa, meu presente de um ano com ele não foi nada como
pensei que seria. Depois do sexo maravilhoso de horas ele
possuindo meu corpo, como todos os dias ele faz, Blake
fez o que eu temia. Quando sai do banheiro de banho
tomado e vestida com roupas curtas de algodão, Blake
estava em pé, no meio do quarto, com as correntes em suas
mãos. Senti todo meu corpo gelar, tremer e a garganta
seca. Eu fiz um grande esforço para deixar a voz sair.
— O que significa isso? — Me olhou e não disse nada.
— Estou perguntando, para que as correntes?
— Você sabe que uma ordem minha é para ser
obedecida. Você não vai mais trabalhar para homens.
— Blake, você está sendo irracional, pense um pouco.
— Ele me olhou com raiva pelo o meu comentário.
— Estou sendo precavido, é diferente. Sente-se na
cama.
— Isso não é justo, sabe que dia é hoje? Um ano que
estamos juntos.
— Justo ou não, essa é a minha decisão, sente-se.
— Você não vai encostar em mim. — Gritei.
— Veremos.
Blake se aproximou a passadas largas e com fúria para
cima de mim, corri pelo quarto e ele também, sempre que
entravamos para o quarto, ele trancava a porta então,
éramos só nós dois presos aqui. Blake me pegou, eu não
tinha como fugir e então, me jogou na cama, mesmo me
debatendo e gritando, ele me prendeu. E eu chorei a noite
inteira, com ele abraçado a mim. Todos os trabalhos que
fiz depois desse dia, foram com mulheres, as esposas iam
nas reuniões e passavam os projetos aos maridos, quando
eu voltava para casa, as correntes eram colocadas
novamente, eu só podia sair de casa quando realmente era
preciso, reuniões que não podiam ser adiadas, e nada
mais. Dias após dias trancada no quarto acorrentada e
trabalhando pelo computador, enquanto ele ficava na
Blake’s. Quando chegava do trabalho, ele se fartava do
meu corpo, me possuindo de todas as formas que queria e
quando queria. Eu me tornei realmente sua prisioneira,
nem para transar ele tirava as correntes. Não tive mais os
meus almoços com Alice, nos falávamos por telefone, e foi
assim que passei o meu apartamento para ela fazer seus
encontros obscenos longe dos olhos de seus pais. Como eu
não podia mais sair de casa, Blake retirou tudo o que era
de vigilância no meu antigo apartamento, e entregou as
chaves para Alice. Ele disse para ela que não tinha
interesse em vê-la praticando sexo com três ou quatro
homens, sorriu e saiu do apartamento, foi assim que ela me
disse em uma de nossas conversas que ele claro,
monitorava e às vezes até conversava com ela. Alice só
não podia ver os meus novos acessórios de joias que
ficavam em meus pés 24 horas por dia.
Blake cortou também as reuniões com as esposas dos
clientes, agora era tudo por videoconferência e no meu
quarto, ele sempre dava uma desculpa de que eu estava
acamada, e não podia fazer esforço, chegou até a insinuar
uma gravidez, que a essa altura, não sei como nunca fiquei
grávida, eu não tomava nenhum contraceptivo, e ele
também jamais se prevenia com preservativos, então,
alguma coisa nos impedia de ser pais. A luz do sol eu só
via da minha grande janela, quando as portas eram abertas
para eu ir até a sacada, ele sempre estava perto, caso eu
gritasse para pedir socorro.
Minhas conversar com Alex eram frequentes, por isso
ele nunca desconfiou de nada, no casamento dele, Blake
não soltou as correntes e não permitiu que eu fosse, mesmo
se me acompanhasse. Ele fez uma leve maquiagem em
mim, me deixando pálida e com aparência de doente,
colocou roupas de frio e amarrou meu cabelo de forma
emaranhada na minha cabeça, ficou ao meu lado enquanto
eu dava a desculpa para Alex e meus pais, de que eu
realmente estava muito doente para sair de casa enfrentar
um voo de horas. Alex ficou desolado, e quando eu disse
no meio da conversa que estava me lembrando do
passarinho do papai, aquele que ficava preso na gaiola,
Alex entendeu tudo, mas até agora não fez nada.
Blake nunca mais me levou a lugar nenhum,
restaurantes, cinema, shopping, nada, durante quase onze
meses depois do nosso aniversário de um ano, eu não saí
de casa para nada. Tudo ele fazia para mim, aprendeu
cortar o meu cabelo pelos vídeos do Youtube, aprendeu
fazer minhas unhas como eu gostava, aprendeu a me
depilar com cera quente, ele teve o cuidado de sempre
comprar da mesma marca que eu usava, tudo o que era
necessário eu sair de casa para fazer, ele aprendeu pela
internet.
Onze meses sem ver o que estavam fazendo nas ruas,
sem falar com outras pessoas que não fosse ele e Tina
pessoalmente, onze meses presa dentro dessa casa e
acorrentada feito uma coisa inútil. Onze meses ele
tomando meu corpo e se fartando dele, com as correntes no
meu pé, onze meses que Blake sorria como criança ao
chegar em casa do trabalho e me ver lá, para ele, para tudo
dele. Onze meses com jantares a luz de velas dentro do
quarto, com presentes lindos para eu usar e desfilar para
ele dentro do quarto, lingeries intermináveis para usar
para ele, dentro do quarto, vestidos com decotes até o
umbigo, que eu usava dentro do quarto, maquiagens como
se eu fosse a um grande evento, mas eu só usava dentro do
quarto. Passaram mais alguns dias sem novidades, somente
vivendo presa e com dor no coração de ver aquele homem
doente todos os dias e saber que a cura para a sua doença,
parte de sua força de vontade de entender a situação e
olhar com outros olhos, para tudo o que ele faz. Dentro do
quarto eu não chorava, somente trabalhava e ficava linda
para ele, somente ele poderia comtemplar a minha beleza,
palavras dele. A boa aparência servia também, para
despistar boatos de que eu estava doente, e quando as
mulheres me viam pela videoconferência, viam sim uma
mulher saudável e comunicativa, que estava de viagens
pelo mundo trabalhando para todos os contratantes que
exigiam somente que os projetos fossem feitos por minhas
mãos. Eu não sei como as pessoas acreditavam nisso, onde
já se viu fazer tudo via internet? As pessoas gostam sim
das tecnologias, mas nada melhor do que o olho no olho
exigido de cada cliente. E olho no olho, era somente com
Blake.
Doze meses, doze meses em uma prisão domiciliar, e
nenhum crime eu cometi para tal feito. E na manhã de doze
meses, eu senti o meu primeiro enjoo matinal. Foi quando
me dei conta de que meu período estava atrasado. Vomitei
muito e quando saí do banheiro, Blake estava na porta com
semblante muito preocupado.
— O que foi, amor, está doente? — Perguntou
apavorado.
— Vá à farmácia e compre um teste de gravidez, acho
que vamos ter um filho. — Falei sem muito entusiasmo.
Um filho presa aqui era o que eu não precisava jamais.
Passei por ele com as mãos no meu ventre, não pela
criança, mas pelo enjoo brutal que estava sofrendo.
— Um filho, você vai me dar um filho, amor? —
Perguntou emocionado.
— Pelo que parece, sim. — Eu não fiquei feliz em
pensar que seria mãe, mas ele ficou eufórico com a
possibilidade de ser pai. Me abraçou e fez juras de amor,
como se o mundo fosse acabar naquele momento, eu não
tive emoção com nada, talvez pelo impacto da notícia, ou
por saber que não poderei ir a um parquinho com meu
filho, fazer coisas simples como brincar com ele.
— Você não está feliz, Grace? — Perguntou.
— Como posso ficar feliz com isso? Um ano Blake,
hoje faz um ano que estou presa nessa casa, sem cometer
um único crime.
— Já conversamos sobre isso. — Respondeu.
— Sim, conversamos. E parece que você jamais vai
entender que não posso viver assim. Sexo não é tudo,
Blake, não para mim. — Fazemos sexo todos os dias,
duas, três vezes por dia ou até mais. Blake esgota todas as
minhas forças, eu gosto de cada centímetro do seu corpo,
gosto quando estou mole na cama com os olhos fechados
de exaustão, e ele ainda me quer mesmo assim, me toma
sem ao menos eu dar um único gemido. Me toma para ele
mesmo dormindo, ele usa meu corpo com desespero,
paixão, fogo. A cada dia ele me faz dele como quer, na
hora que quer, sem pedir licença, ele me tem, até o fundo.
— Você não me ama mais? — Perguntou. Eu o amo?
Não. Droga. Sim, eu o amo, amo cada pedaço dele, cada
sorriso, cada lágrima, cada medo, cada tudo dele eu amo.
— Eu te amo, Blake, só não suporto mais viver assim.
— Ele foi para o banheiro tomar banho, depois se vestiu e
chamou Antony ao telefone, pedindo para ir à farmácia e
comprar os melhores testes de gravidez. Quinze minutos
depois, Blake estava na porta do banheiro esperando eu
fazer xixi para confirmar o resultado.
POSITIVO.
Blake deu pulos de alegria, confesso que não me senti
tão estimulada assim, mas vendo a sua felicidade, minha
emoção trasbordou pelos meus olhos. Passamos o dia
juntos, dentro do quarto, ele tirou as correntes a alguns
dias e não colocou mais, me mimou de todas as formas
possíveis, provando cada centímetro do meu corpo. Dias
foram passando e eu continuei presa no quarto, sem as
correntes. Alex ficou feliz em saber que vai ser tio, mamãe
e papai estão eufóricos assim como Blake, nas nossas
conversas monitoradas por ele, sempre dou um jeito de
falar com Alex e ele entende tudo. Agora grávida, a
situação mudou, não posso pensar em mim sozinha, tenho
outra vida dentro de mim. Preciso sair daqui, preciso fugir.
Sim, eu estava disposta a lutar e ajudar Blake e seus
fantasmas que ainda não os conheço, ele não fala nada,
nunca. Mas já chega, não dá mais para suportar isso. Com
todos os jeitos possíveis do mundo, Alice e eu estamos
nos falando mais pela web, Blake sempre ao meu lado,
mas quando ele se distrai ou vai ao banheiro, ou atende
uma ligação, eu falo com Alice. Minha barriga de quatro
meses já está aparecendo, sim, se passaram quatro meses e
eu ainda estou aqui.
Hoje quando ele chegar do trabalho, vou falar com
Alice, eu realmente preciso de ajuda. Vou deixar, Blake
Goldberg lutar sozinho com os seus monstros, os meus, eu
os enfrentarei à minha maneira. A gravidez me deixou mais
sensível, e com os hormônios, a tristeza está profunda em
meu coração, se eu continuar assim, é possível uma
depressão sem fim. E o mais importante, eu preciso ir ao
médico ver o meu bebê, a médica amiga de Blake que vem
todo mês não é confiável. Alice é esperta e hoje à noite, o
plano para minha nova vida será traçado.
Capítulo 19

N ão quero fugir, mesmo com tudo o que passei esse


tempo aqui, trancada dentro desse quarto, tive momentos
bons, lindos. Todas as manhãs, Blake sai para trabalhar, e
assim que termina tudo, ele volta sorrindo ao saber que irá
me encontrar esperando por ele. Mas a situação que vivo
hoje não me dá o direito de aceitar, mais do que já aceitei.
Todos os dias que falei com meu irmão em uma conversa
velada, em códigos, eu sempre pedi para que ele esperasse
o meu tempo, e que eu estava bem. Alex e Alice nunca
fizeram nada, porque eu pedi. Blake me ligou e disse que
estava vindo mais cedo para casa, tínhamos coisas
importantes para resolvermos sobre o projeto que eu
estava trabalhando. Então, esperei por ele como sempre
fiz, com bom humor fingido e achando tudo normal na vida
que ele me impôs vivê-la. Quando ele chegou, trabalhamos
juntos no quarto, como se estivéssemos no escritório. A
dor que aperta meu peito a cada segundo é por vê-lo tão
sereno e não achar que nada disso é insano. E saber que
mesmo presa por mais de um ano aqui dentro, ele nunca
confiou em mim, nunca conheci ninguém de sua família ou
seus amigos, Oliver e Karley são os únicos. Ele nunca
confiou em mim o seu passado, que o transformou em um
doente no presente. Para ele, somos um casal normal.
— Pronto, terminamos. — Disse ele.
— Sim, então você entendeu o que quero? Não deixe
faltar nada, Blake, e quero tudo dessa marca aqui. —
Mostrei para ele no mostruário. — A Sra. Duque é muito
exigente. — Falei arrumando os papéis do projeto.
— Sim, sim, claro, querida. Não vai ficar nada
diferente de como você exige, fique tranquila. Está com
fome? — Perguntou.
— Um pouco.
— Vou buscar nosso jantar, ou você prefere comer lá
embaixo? — Olhei para Blake incrédula. Ando sim pela
casa, mas sempre com sua supervisão, e não demora muito
mais que dez minutos. Depois de tanto tempo presa aqui,
comer na cozinha é um prêmio.
— Eu não vou fazer nenhuma pergunta, somente
aproveitar o seu bom humor. Claro, vamos para a cozinha.
E posso falar com Alice hoje? — Sempre tenho que pedir.
— Não abuse, Grace.
— Eu só gostaria de falar com Alice, posso? — A
possibilidade de não falar com ela e dizer o que preciso,
me irrita.
— Tudo bem, não quero que fique brava com coisas tão
sem importância. Nosso bebê não pode se estressar. — De
mãos dadas fomos para a cozinha, sentei no confortável
banco do balcão, enquanto Blake esquentava no micro-
ondas, os pratos preparados por Tina. Comemos e
conversamos, ele tomou vinho e eu suco de morango,
depois de satisfeitos fomos para o quarto, me acomodei na
cama com o computador em meu colo, e Blake ao meu
lado, trabalhando em seu computador, tive um pouco de
esperança que em algum momento ele saísse de perto de
mim. Chamei Alice pelo Skype e logo ela respondeu.
— Parece até que você lê meus pensamentos. — Disse
ela.
— Que bom, pensei que você tivesse no apartamento da
luxúria. — Falei.
— Ontem, hoje estou descansando. — Ela caiu na
gargalhada.
— Você é uma vadia, Alice. — Disse Blake
aparecendo para ela.
— E você é um gay, Blake. — Eles sorriam.
— Vocês se amam. — Falei.
— Deus me livre, Blake é um monstro. — Disse e ele
fez careta para ela.
— Sai daí babaca, quero saber como está meu afilhado.
— Está ótimo, Alice. — Descobrimos que é um menino
a três dias, eu mandei uma mensagem para ela do celular
de Blake. — Com saudades de você.
— Também estou, amiga linda, faz muito tempo que não
nos vemos pessoalmente e temos uma boa conversa de
meninas. Blake! — Chamou Alice e ele apareceu na tela.
— Da uma trégua, deixe-me fazer uma visita e levar os
presentes que comprei. — Alice lê meus pensamentos
também.
— Isso, amor, deixe ela vir, tarde das meninas enquanto
você trabalha. — Reforcei o pedido.
— Posso sim deixá-la vir, mais não vou trabalhar no
dia. — Disse ele.
— Você pode sim me dar uma tarde com Alice nessa
casa. E não precisa ficar colado o tempo todo em mim.
Pode trabalhar no escritório, lá embaixo. — Falei ríspida.
Uma das vantagens de estar grávida de Blake, é sua
preocupação comigo e o bebê, ele estava aceitando tudo
ultimamente.
— Tudo bem, amor, você tem um dia com Alice, é só
marcar.
— Ebaaaaaaa! — Gritamos as duas.
Começamos a conversar sobre coisas do bebê, e para a
decoração do quarto ao lado do nosso, deixei o
computador na cama e falando alto para ela ouvir, peguei
as roupinhas na cômoda que Blake comprou e mostrei para
ela, a cada passo que eu dava ele me olhava, prestando
atenção em cada movimento meu.
— Vou te mostrar o quarto quando você vier. — Alice
percebeu o meu tom de voz, Blake também. Fingi uma
tosse para disfarçar.
— Me mostre agora para eu ter uma breve noção do
que vou comprar. — Pediu naturalmente. Olhei para Blake
afinal, eu teria que sair do quarto.
— Pode ir mais não demore.
— O quarto é ao lado do nosso, Blake, não vou
demorar. — Falei e levantei da cama antes que ele
mudasse de ideia. Ele continuou trabalhando em seu
computador e pela primeira vez sozinha, eu saio do quarto.
Foi como uma sensação de liberdade incrível, tanto que
lágrimas escorreram dos meus olhos enquanto eu passei
pelo corredor do quarto.
— Por que está chorando? — Sussurrou ela. Olhei para
trás e ele ainda estava lá dentro. Entrei no quarto que seria
do bebê e olhei para ela, meu mundo desabou em água.
— Preciso sair daqui, não consigo suportar mais.
— Graças a Deus por ouvir isso, finalmente. Esperei
mais de um ano para você enxergar essa prisão insana,
Grace.
— Tenho que falar rápido, Alice. Venha me ver com um
plano de me tirar dessa casa. Se ele estiver aqui, vai ser
mais complicado. Eu o amo, amo com todas as forças
possíveis. Mas agora preciso delas para cuidar do meu
filho em um lugar saudável, não tenho mais forças para
esperar saber o que aconteceu com ele que o deixou assim,
já se esgotou não suporto mais.
— Alex está louco, Grace, ele só não fez nada ainda
porque você não deixa, ele sabe que você o ama. E não
quer fazer nada contra a sua vontade. Mas ficar presa
dentro de uma casa é demais, Grace.
— Eu sei, e agora eu peço ajuda, me tire daqui, por
favor.
— Me espere sexta-feira, eu tiro você dessa casa ou
não me chamo Alice Lunieri.
— E a tornozeleira com GPS? — Perguntei, o
presentinho de Blake jamais saiu do meu pé.
— Não se preocupe, tenho fotos dela aqui, um amigo
pode me ajudar.
— Obrigada, Alice.
— Pare de chorar, lave o rosto e volte para o quarto
antes que ele aparece e a veja nesse estado.
Coloquei o computador na pequena cômoda que tinha
no quarto, e lavei meu rosto no banheiro com água fria, e
então, ouvi a porta do quarto abrir.
— Grace!
— Banheiro, Blake, fazendo xixi essa barriga não me
deixa sem xixi um minuto. — Ouvi ele conversando com
Alice como se nada tivesse acontecendo. Entrei no quarto
outra vez e ele me observou.
— Estava chorando? — Perguntou.
— Não, acho que é alergia desse tapete, entrei aqui e
comecei a espirrar. Você pode mandar trocar?
— Claro, meu amor, vamos para nosso quarto então. —
Peguei o computador e fomos para o nosso quarto,
conversei com Alice por mais trinta minutos sobre nomes
de bebês, e Blake gostou de alguns que ela sugeriu.
Desliguei e me acomodei na cama enquanto Blake
continuava em seu trabalho. Pensei várias coisas a
respeito da nossa relação, e do nosso futuro. Ele nunca me
maltratou, jamais foi um agressor físico, as correntes foi
até ele ter certeza de que eu não iria fugir. Vivi momentos
realmente bons aqui, mesmo não sendo uma agressão
física, tudo foi agressão do mesmo jeito. Uma agressão
psicológica, privação de liberdade e privacidade, Blake
jogou comigo, Alex, meus pais, minha melhor amiga, ele
jogou com nossa inteligência. Me seduziu de todas as
formas para que eu não o odiasse pelos dias aqui trancada,
mas que eu visse o outro lado do que ele quis me mostrar,
eu vi, e amei, sei que ele tem a capacidade de se tornar um
homem normal, mas agora eu me pergunto:
Ele me ama mesmo? Que amor é esse que me tranca
para o mundo e não se abre para que eu possa ajudá-lo?
Que amor é esse, onde ele prefere o comodismo a ter que
sentar e realmente falar o que acontece com o seu
interior? Isso não é amor. Me recuso a continuar
acreditando que um dia ele vai mudar porque ele me ama.
As opções que vou deixar para ele sim, se ele as cumprir,
ele vai provar com todas as letras e sentimentos possíveis
que me ama. Vou ser clara com ele, vou deixá-lo escolher
o caminho que quer seguir, coisa que ele não fez comigo.
Ou ele se entrega a mim de uma vez por todas, ou nosso
amor será morto e enterrado. Porque só tem uma forma de
eu voltar a essa casa, com sua cura e verdades em suas
palavras de que nunca mais será o homem que é, ou morta.
Meu corpo frio e sem vida em seus braços, aí será mais
uma vez tarde demais para Blake.
Adormeci olhando para seu rosto lindo, mas com tudo
planejado em minha cabeça.
Dias lentos, até hoje, quinta-feira, e meu coração está
em pedaços. Todos os momentos de choro que tive nesse
quarto, vem com força agora em minhas lembranças.
Agora, sentada aqui na banheira, caneta e um pequeno
bloco de notas em minhas mãos, eu choro todos os dias
pelo quais passei aqui. O bebê chuta na minha barriga, ele
sabe que estou triste, seu nome é Benjamim, escolhido com
muita emoção por Blake, ele chorou o chamando de
pequeno Ben, nesse dia, ele passou o tempo inteiro no
escritório de casa, mexendo em coisas do passado, eu sei,
eu o vi, por isso não podia entrar lá. É onde ele guarda os
seus fantasmas. Ele não disse nada quando voltou para o
quarto, somente que era uma homenagem.
Coloquei música para inspirar o que vou escrever,
sempre deixo o iPod no banheiro para facilitar os
momentos que tenho em privacidade, água quente na
banheira, sais de banho, óleo e uma espuma deliciosa,
deixei o papel e caneta na borda e tirei o roupão branco
que caiu pesado no chão aos meus pés, entrei na banheira e
sentei-me acomodada, a água quente me abraçou, e
lágrimas deixaram meus olhos. Sequei minhas mãos na
pequena toalha para apoio da minha cabeça, peguei o
bloco de notas e a caneta, e em lágrimas coloquei no papel
o que senti nessa prisão.
Capítulo 20

Black
Grace acordou não muito bem, seus olhos tristes
olhando para mim, senti na alma que ela queria chorar. O
beijo de bom dia, não foi igual ao de todos os dias. Todo
esse tempo, até mesmo os meses intermináveis da minha
insanidade de acorrentá-la, ela não meu olhou como me
olha agora. Ela está linda em pé, com seu vestido branco
floral, o vento que entra pela janela faz o seu lindo e longo
cabelo negro dançar em sintonia. Ela passa a mão na linda
barriga crescida, que protege o nosso pequeno Ben. Ela
me olha de soslaio, ela me acha um monstro. Estou doente,
eu sei. Há anos eu estou assim, o que aconteceu com meu
irmão Benjamim, não é motivo para eu fazer o que faço
com minha pequena Grace. Mas é uma força obscura que
me persegue, aquela mulher conseguiu destruir qualquer
tipo se confiança que um dia, eu tive nas mulheres.
Vou homenagear meu irmão dando o nome dele ao meu
filho, Benjamim.
Grace é minha força, minha vida e aos poucos estou
conseguindo deixar o passado no passado, por ela.
“Mentira, a quem estou querendo enganar?” pensei.
Fico em pânico quando penso que um dia ela terá que sair
dessa casa. Quero tê-la sempre debaixo dos meus olhos,
não suporto quando um homem a olha, parece que rasga
minha pele com faca quente. Tenho medo de Grace me
deixar, medo maior, é se um dia ela me trair. A traição é
algo sujo. Seja ela qual for, jamais deixará a alma de
alguém em paz. Traição é o coração sangrar até não existir
mais uma gota no corpo, é a pele se romper com tamanha
dor. Eu sei. Eu conheço essa dor.
A traição que sofri, foi a minha morte por anos, até
olhar nos lindos olhos de Grace no meu escritório. Ali eu
tive esperança de amor.
— Você está calado. — Disse ela.
— Estou só pensando em algumas coisas. Você também
não está no seu normal, está sentindo alguma coisa?
— Não. Estou bem. — Disse ela ainda em pé de frente
para a grande porta da sacada do nosso quarto olhando
para o tempo lá fora.
— Como programou o seu dia hoje com Alice? —
Perguntei. Grace virou-se para me olhar, e se aproximou
devagar, sentou na cama e ficou me olhando. Até que ela
sorriu.
— Alice está louca para pintar o quarto do bebê, eu
disse que você não vai deixá-la fazer isso. — Ela sorri
lindamente. — Mas ela insiste e vai chegar com um monte
de coisas para o quarto do Benjamim. — Disse com os
olhos um pouco mais felizes.
— Vejo que você está animada com isso.
— Sim, estou. Faz tempo que não tenho sua companhia,
e agora com esse garotão aqui. — Ela olha para a barriga
de quase cinco meses. — Tudo gira em torno dele. Até
Alice não quer mais saber de mim, só dele. — Ela sorri.
— Você é nosso tesouro, Grace. Alice está feliz por ser
madrinha babona dele. — Falei.
— Sim, está. Acho que vamos ter trabalho para segurar
os ânimos dela quando o Ben nascer. — Seus olhos
estavam tristes outra vez. O que será que está
acontecendo?
— Eu vou tomar um banho e esperar por ela. Você vai
trabalhar aqui hoje? — Perguntou. Preciso dirigir uma
reunião muito importante, mas penso que não tem perigo
em deixá-las sozinhas. Em todo caso, Antony vai ficar
aqui.
— Vou para a Blake’s, preciso resolver umas coisas
importantes. Mas Antony vai ficar aqui, caso você precise
de alguma coisa urgente.
— Tudo bem. — Disse ela. Prestei bem atenção em
suas feições, ela não fez nada que eu pudesse suspeitar
então, acho que posso ficar calmo a respeito de deixá-la
aqui.
— Vamos tomar banho juntos amor, estou com sede de
você. — Falei.
— É uma ótima ideia. — Disse ela, mas não sorriu.
Fazer amor com Grace, vai muito além de todas as
minhas expectativas. Nunca tive mulher mais saborosa que
ela. O cheiro, a pele quente linda e viva, o jeito que me
olha quando eu a faço gozar, é único, é néctar para meu
deleite de predador que sou.
Peguei em suas mãos e a levei para o banheiro, ela
ficou de frente para o espelho, minha sede por ela não me
faz ser tão carinhoso. Tirei o vestido e deixei cair no chão,
os seios grandes e inchados pela gravidez, me deixam
salivando feito lobo de olho na presa suculenta. Suguei
seus mamilos com todo desejo possível, ela geme e fecha
os olhos sentindo minha posse.
— Vire-se e fique de frente para o espelho. — Falei,
ela obedeceu. Tracei o caminho dos seus ombros até a
nuca com minha língua, afastando seu cabelo, mordi
levemente e chupei em cima, ela gemeu, isso acordou o
seu corpo. Seguro os seios e desço com a língua babando e
chupando toda sua pele, ela se apoia na pia curvando o
corpo para a frente e empinando a bunda para mim.
Belisquei seus mamilos e vi quando seus pelos ficaram
arrepiados, sua pele vermelha de desejo, o sexo acendeu
dentro dela, sempre foi assim na entrega para mim. Deixei
seus seios e coloquei minhas mãos em cada lado da
calcinha, de joelhos, coloquei meu nariz na carne dura e
arredondada da bunda empinada, e cheirei, roçando o
nariz e assoprando para ela sentir por dentro da calcinha,
ela geme. E eu sinto o seu cheiro afrodisíaco, abaixei a
calcinha passando o nariz na bunda macia e lisa, vejo e
gosto de como ela reage, seus pelos todos para cima me
deixa babando por ela. Tirei a calcinha e cheguei na
bancada da pia. Nua e linda. Minha mulher. A sua
excitação exala com o cheiro do seu corpo que para mim,
é doce, único.
Abri a bunda com minhas mãos segurando firme na
carne dura, e a ouvi gemer, ela sabe o que gosto de fazer.
— Abre mais as pernas amor, e empina essa bunda para
mim.
Ela fez. Abriu e empinou colocando a bunda na minha
cara, senti o cheiro suave do seu sexo, abri mais a sua
carne e vi o ânus piscando para mim. “Amo essas pregas”
pensei.
Tão pequeno e louco para ter meu pau dentro dele.
Chupei seu cuzinho apertado, babando nele e sentindo-o
piscar na minha língua.
— Ahahaha. — Ela geme, ela treme. Grace rebola
mexendo a bunda na minha cara e ela sabe que isso me
deixa louco. Passei os dedos entre sua carne agora,
alagada da boceta suculenta, encharcada que mais parecia
um lago do que uma boceta. E eu não comecei nada ainda.
Ela está assim, os hormônios da gravidez fazem com que
um toque apenas, ela abra as pernas para mim. Chupei o
cuzinho, e a pressão no clitóris inchado a fez gritar de
prazer. Amo ver seu corpo sentindo prazer, mas hoje está
diferente, um pouco tenso, mesmo assim, ela se entrega
toda para mim.
— Quero você dentro de mim. — Ela tem pressa.
— Onde amor? — Perguntei. Ultimamente Grace tem
muito tesão na bunda. Ela goza como uma cadela quando
fodo seu cuzinho.
— Aqui. — Mostrou, passando os dedos e para meu
deleite, vejo as preguinhas piscarem para mim.
— Você é uma garota má, Sra. Goldberg.
— Então use essa garota e entra logo dentro de mim,
amor.
O seu pedido é uma ordem. Levantei e fui até o
armário, peguei um lubrificante para facilitar a penetração.
Eu sou muito grande e grosso, ela é forte, aguenta bem,
mas posso aliviar para ela, então, é muito mais prazer para
nos dois. Grace apoia os antebraços na bancada da pia,
abre as pernas e se concentra para me receber, lambuzo
todo meu pau de lubrificante, e passo também na bunda
suculenta e apertada dela. Ela geme. Amo seus gemidos.
— Agora eu vou foder você, amor, forte e rápido como
você gosta. — Ela geme mais. Com o rabo todo empinado
para mim, passo a cabeça do meu pau subindo da boceta
até o cuzinho apertado, ela geme e treme. Ela rebola no vai
e vem para entrar a cabeça, eu vejo o cuzinho piscando e
babo todo nele.
— Ohhhoho, gostoso demais, Grace. — Ela é uma
provocadora, se movimenta para frente e para trás em seu
ritmo, para não sentir tanta dor. Eu gosto de vê-la
rebolando com o cuzinho no meu pau, entrou a cabeça e
vejo as pregas se abrindo e abraçando a tora grossa. Ela
geme e para, respira e continua, eu a deixo em seu tempo e
quanto mais ela rebola, mais eu babo e fico duro. Não
aguento esperar e abro a carne da sua bunda e forço para
entrar tudo, sinto cada prega relaxar a força com meu pau.
— Ahahaha, Grace.
— Blake aí. — Gemeu, sentindo meu pau bater no
fundo do seu cuzinho.
— Cada dia melhor sua safada.
Espero até ela se acostumar, quando ela olha para mim
através do espelho e sorri, eu sei que já posso pegar
pesado com o cuzinho safado dela.
— Você é muito valente, amor. — Soco até o talo. —
Huhuhmm. — Entro e saio entro e saio, segurando seu
corpo pelo quadril. “Essa garota é forte” pensei. Grace
colocou seus dedos no clitóris e começou a se masturbar e
rebolar mais, recebendo meu pau na sua bunda.
— Toma, toma, toma no seu cuzinho cadelinha grávida.
— Seus olhos estão moles e os pelos arrepiados, e o
cuzinho apertado e quente engolindo meu pau até as bolas.
Ela é uma guerreira, vinte e cinco centímetros de pica no
rabo, só para as fortes.
“Grace me ama, me ama muito. Sei que preciso
libertá-la, mais não posso perdê-la” pensei. “Foca nesse
cuzinho, Blake” Meto mais forte e sinto os espasmos de
seu corpo, ela treme e sorri de olhos fechados, vejo tudo
pelo espelho. Eu apoio os meus pés, nos pés dela, para
que não escorregue e se machuque, porque agora vou
aumentar a potência das estocadas nesse cuzinho.
— Segura amor, porque agora eu vou começar a te
foder. — Falei. Grace se apoiou mais na pia, e não
abandonou seu clitóris, ela estava quase gozando e eu
também. Estoquei no cuzinho com toda força e os seus
gemidos me dão mais energia, sinto seu corpo balançar
com os tremores dos espasmos. Fechei meus olhos
saboreando a sensação de sentir a carne quente engolir
meu pau e de repente, Grace goza feito uma cadela por
meu pau no seu rabo.
— Ahahahah, Blake. — Ela treme toda, eu a seguro no
quadril e nos pés para ela não cair. Sinto minha porra
passando por todo meu canal, chegando com força e
arrastando tudo de dentro de mim como tornado furioso,
até que...
— Aahahahooooo. — Esporro tudo dentro dela, até o
fundo do cuzinho apertado. — Safada gostosa. — Caí por
cima dela tremendo e jorrando minha porra toda nela.
— Quer me matar, Grace? — Perguntei brincando.
— Não, mas acho que outra dessa, vamos precisar de
uma ambulância. — Ela sorri. Olhei para ela no espelho e
mesmo depois de um orgasmo intenso, seu sorriso não
chegou aos olhos.
— Eu te amo, pequena.
— Também te amo, Blake. — Depois de nossas forças
recuperadas, tomamos banho e nos amamos outra vez, só
que dessa vez por vias normais e devagar, não podia
assustar o nosso Benjamim. Ela disse que ele não sente
nada, que é seguro, mais vai saber, né?
Grace continuou calada e com seus pensamentos longe
de mim, eu a deixei assim por algum tempo, entendo que
não deve ser fácil para ela amar um homem como eu.
Reconheço os meus erros, mas não posso correr o risco de
ela ser seduzida, ou ela seduzir alguém, não posso deixá-la
sair do nosso mundo, eu construí a nossa rotina e nada vai
atrapalhar isso. Alex está uma fera, sua vontade é de me
matar. Grace não sabe, mais eu dou um relatório de como
ela está toda semana para ele. Quando ele chegou na
Blake’s passando por cima de todo mundo para falar
comigo, eu achei melhor contar para ele o que estava
acontecendo, e como eu me sentia em relação a muitas
coisas e medo. Ele não entendeu, ninguém entende. Oliver
também, assim como Alex, acha que devo procurar uma
ajuda médica. Falei tudo sobre o meu passado com Alex, e
o que aconteceu com Benjamim, ele ficou chocado e não
aceitou que eu fizesse Grace minha prisioneira por conta
disso. Ele me deu um prazo que está se esgotando, se até lá
eu não falar tudo com Grace e deixá-la livre, eu iria sofrer
as consequências dos meus atos por suas mãos e pela
justiça. Mas antes disso eu vou estar longe com minha
mulher e meu filho, só estou esperando ele nascer.
— Eu já estou indo para o escritório, amor. — Falei
tirando-a de seus devaneios.
— Tudo bem, pode pedir a Tina para me trazer o café
da manhã?
— Claro, amor, que horas Alice vem?
— Acho que para almoçar. Pede também para Tina
fazer aquele bolo de chocolate que amo. — Pediu e eu a vi
salivar de desejo.
— Sim, meu amor, tudo por você. — Beijei os seus
lábios, e senti que ela estava deixando a alma comigo. Ela
me olhou um pouco e pude ler o que seus olhos diziam. Ela
ainda tinha esperança de que eu me tornasse um homem
diferente, ela tinha fé em mim. E um pouco de lágrima
escorreu pelo canto do olho, tímida, mas estava lá em seus
lindos olhos.
— O que está acontecendo com você hoje? —
Perguntei.
— Nada, amor, são os hormônios, eu estou assim
ultimamente.
— Percebi. Fique bem, amor e divirta-se com Alice.
— Obrigada.
Deixei Grace sentada na nossa cama, ela com os olhos
cheios de lágrimas. Passei na cozinha e dei as instruções
para Tina sobre o café e o almoço. Na garagem, Antony já
estava à minha espera com a porta do carro aberta.
— Bom dia, senhor.
— Bom dia, Antony, hoje você fica aqui. — Ele me
olhou confuso. — Alice Lunieri vem passar o dia com
Grace, quero você de olho nas duas o tempo inteiro.
— Sim, senhor.
— Elas terão o acesso livre a toda a casa, basta não
deixá-las vir para a garagem ou jardim, entendeu?
— Perfeitamente, senhor.
— Ótimo, me dá a chave do carro. — Antony me
entregou e então assim que me coloquei atrás da direção,
meu coração sofreu uma longa aceleração. No caminho até
a Blake’s, eu fiquei mais calmo e respirando
pausadamente. Eu não gostei do que senti, parecia que eu
nunca mais fosse vê-la outra vez.
Duas reuniões, estou na segunda agora. Eu tive que
fazê-la sem opções de dizer não. O projeto que Grace
estava trabalhando, incrivelmente ela concluiu essa
semana e não me deixou saber. Ela mesmo marcou essa
reunião surpresa, e não gostei nada da “surpresa”. Tudo
estava perfeitamente organizado por ela, vi cada detalhe
de sua marca e profissionalismo. Ela quis que eu ficasse
muito ocupado, e não saber o porquê me deixa irritado.
Talvez ela pensou em sua linda cabecinha inocente que eu
não perceberia as suas artimanhas para me manter longe.
Ela conseguiu. Uma hora de reunião a mais que o normal.
“O que Grace está fazendo com Alice?” pensei. Por
nenhum momento eu consegui espiá-la pelas câmeras, a
finalização de um projeto é mais burocrático do que a
iniciação dele. Trinta minutos depois de divagar com meus
pensamentos, o meu telefone de emergência, que só Antony
e Tina tem o número, tocou em um som alto e dolorido aos
meus ouvidos. Todos na sala ficaram assustados com a
minha rápida reação ao pegar o telefone e atender em
pânico.
— O que está acontecendo? — Perguntei.
— Sr. me desculpe, mas é muito urgente.
— Diga-me, Antony, rápido. — Gritei e saí da sala
deixando todos para trás me olhando. Sei que a nova
secretária vai pôr fim a reunião. Meu corpo começou a
esfriar, pensei em várias coisas ao mesmo tempo. Grace
caída nos degraus e sangrando, o nosso bebê e sua vida em
perigo, tudo passou em uma fração de segundos.
— Sra. Grace. — Ele pausou. — Ela não está mais
aqui, ela foi embora. Grace fugiu.
Eu não consegui ouvir mais nada do que ele disse. “Ela
fugiu, minha Grace foi para longe de mim” Conclui com
lágrimas nos olhos e sabor amargo dos meus atos na boca.
Entrei em minha sala com o telefone no ouvido, sei que
Antony falava alguma coisa, mas eu não entendia nada.
Sento-me no sofá no canto da sala, eu não consegui chegar
até a minha mesa.
— Ela deixou uma carta, Sr., está em um envelope
vermelho em cima da cama. — Ouvi sua voz fraca ao
fundo. “Uma carta”
— Ant... Ant... Antony. — Consegui falar. — Vem me
buscar, eu não consigo levantar. — Ouvi o bip que ele
desligou o telefone. Não sei quantos minutos se passaram,
não sei o que pensei, ou se pensei em alguma coisa. Não
desviei meus olhos da parede branca à minha frente. Senti
mãos firmes no meu ombro, então eu acordei do meu
pequeno transe.
— Sr. — Ouvi a voz sôfrega de Antony. — Vamos sair
daqui, Blake. — Ele colocou para longe o profissional e
deu lugar ao amigo que sempre foi. — Vamos para casa.
Antony me ajudou a levantar, tudo em minha volta
estava como um borrão. Meus passos trêmulos me fizeram
cambalear e Antony teve trabalho para me ajudar a ficar
de pé novamente. Ele me colocou dentro do carro e dirigiu
olhando sempre pelo retrovisor, ele estava preocupado.
Chegamos em casa e fui diretamente para meu quarto, sem
esperar por sua ajuda, me agarrei as paredes para não cair,
eu não estava em meu estado normal. Quando entrei no
meu quarto, meus olhos varreram todo o espaço em busca
de um vestígio dela, o que vi foi o envelope vermelho em
cima da cama. Sentei devagar e puxei todo o ar que
consegui para meus pulmões, o cheiro dela fresco ainda
estava muito presente, abri meus olhos e peguei o
envelope. Letra cursiva, lindamente e levemente escrita
com próprio punho, deu para ver a sintonia de uma palavra
para outra. Então eu comecei a ler.

Para Blake Goldberg

Reflexo
Azul
A cor dos seus olhos, é a cor do céu azul.
O céu que em dias de sol, aquece e alegra quem tem
vida no coração.
Eu tenho vida.
Dentro de mim batem dois corações.
Por isso eu amo os seus olhos azuis.
Mas vejo muita dor, querido.
Deixe me ajudá-lo.
Aqui, agora, não existe mais luz. Eu te amo e não o
quero ver partir.
Mas quem está partindo sou eu.
Você me deixou ir, você me mandou embora.
Onde está a verdade, amor?
Você teve tempo para me contar, mas não o fez, por
quê?
Medo?
Eu sempre estive aqui, eu não quero abandoná-lo, eu
nunca quis fazer isso.
Mas estou triste.
O seu jeito de amar me sufoca, me mata.
Você quer que eu morra?
Tenho em meu ventre o seu fruto, não quero que ele
morra. A vida é linda e livre.
Ele precisa viver.
Por que me deixou ir, amor?
Por que fez isso?
Por que não confiou em mim?
Conte-me seu segredo.
Livre-se e nos deixe livre, vamos viver o nosso amor.
Confie em mim, sou tua, sempre fui.
Não tenha medo.
Cuide-se
Cure-se
E só depois venha nos buscar.
Não ficarei presa, amor
Eu sofro
É muita dor.
O seu passado não pode ser o reflexo do seu futuro.
Liberte-se.
Eu ainda te amo, querido. Mas vou embora.
Conte-me o seu segredo.
Deixe ir a escuridão.
Cure-se e só depois, venha me buscar.
Os olhos azuis estão negros, a dor e a escuridão não
te deixam ver.
Eu ainda sinto você.
Conte-me o seu segredo
E venha me buscar.

Grace e Benjamim.
Blake, eu te amo e os meus sentimentos por você
jamais serão apagados de mim. Você está na minha pele,
no meu coração. E dentro do meu ventre agora, cresce o
ser mais importante que você poderia me dar. Eu sou a
mãe de um filho seu, Blake, e é por esse filho, e também
por nós dois, que estou fazendo isso. Tudo no nosso
relacionamento foi rápido demais, tenha esse tempo para
colocar sua cabeça em ordem e pensar se sua vida assim
é boa para você. Você não está feliz, eu posso sentir,
posso ver. Você está sofrendo por você e por me fazer
sofrer. Porém, controlar a minha vida, e pensar coisas
ruins sobre nós, é mais forte que você. Não sei o que te
prende ao passado, o que aconteceu, você nunca me
falou, mas estou certa de que você já teve o tempo para
se recuperar e seguir em frente e também, de me contar
essa parte da sua vida que você esconde de mim. Me
acorrentar e me trancar em casa, são coisas que posso
parecer inocente, ingênua talvez, mas me recuso a
acreditar que esse é o seu verdadeiro eu. O seu reflexo
não é esse, Blake. Eu não fugi, você sabe onde estou, eu
estou com Alice e depois vou para meus pais. E por isso,
por acreditar em você, e por amá-lo tanto, que eu o deixo
livre para seguir em frente. Se ao meu lado você não
libertou seus monstros, liberte-os agora que estou longe,
e se você me amar depois disso, venha me buscar. Eu sou
sua, sempre fui sua.
Blake, cure-se, ou nunca mais olhe nos meus olhos. A
morte seria mais livre a viver como eu vivi em sua casa.
Confie em você e confie em nós, e só depois, venha me
buscar.
Benjamim e eu, amamos
você.
Até
breve!
Capítulo 21

T udo ficou turvo, as lágrimas não me deixaram ver


mais nada. Minha Grace tinha ido embora, por ela, por
Benjamim e por mim. Eu estava matando minha Grace a
conta-gotas, ela tinha razão em ir. Mas agora, olhando para
esse quarto vazio e somente sentindo o cheiro limpo e
fresco, meu coração se quebra em mil pedaços. “Preciso
trazê-la de volta”. Deitei na cama olhando para o teto, o
peso do meu passado e minhas ações com Grace, pesaram
tanto que não consegui manter meu corpo sentado. Meu
corpo entrou em estado de choque, eu não consegui mexer
um dedo, um nervo de qualquer parte do meu corpo,
somente, respirar e chorar.
Britt tirou tudo de mim, minhas forças, minha fé, minha
confiança. Ela entrou na minha vida como um furacão
devastando tudo o que a vida me deu de presente. E
enquanto esses pensamentos ficaram grudados na minha
cabeça, as horas foram passando e eu não consegui fazer
nada. Ouvi vozes lá fora, e logo depois falando comigo, eu
só não consegui olhar para eles. Sei que são Antony e
Tina, mas eu não posso encará-los agora. Eles estão
preocupados comigo, eu só fiquei assim tão imóvel como
agora quando Benjamim morreu em meus braços me
pedindo perdão. Tenho sua voz e suas palavras até hoje
gravadas no meu cérebro. A dor por olhar em meus olhos e
confessar tudo, a dor de achar melhor a morte, a suportar o
meu desprezo por ele. Ele só não sabia que isso jamais
aconteceria, eu o amava muito, meu irmão era o meu
presente especial. E Britt o tirou de mim.
“Senhor, por favor não fique assim” Tina falou com a
voz rouca, sei que ela chora agora.
“Nós vamos encontrá-la, Blake” Disse Antony.
Eu quero dizer que sei onde ela está, mas não consigo
movimentar os meus lábios, não consigo deixar o grito sair
de dentro de mim.
Eles não estão mais no quarto, me deixaram com minha
dor, é o melhor a fazer nesse momento, não quero falar ou
ver ninguém. Só preciso lutar uma batalha comigo mesmo,
para tirar a vergonha do meu sistema e ir encontrar a
minha mulher.
Não sei quanto tempo se passou, ou quantas noites eu vi
escurecer lá fora. Eu sei que, dormi, acordei, dormi,
acordei e assim se passaram os dias. Minha boca seca e a
saliva grossa passa pela minha garganta, sinto uma forte
dor por esse movimento, sinto também o meu estômago
doer e então, sei que a fome é que faz isso. Um cheiro
ardido também estava no quarto, puxei forte o ar e senti o
cheiro de urina. Eu devo ter feito sem notar que o fazia.
Meu corpo dói e sei que é por ficar na mesma posição,
tentei me mover, mas no primeiro sinal, me fez ficar tonto
de tanta fraqueza, então, paro novamente. “Levante-se,
Blake, vá atrás dela” falei comigo mesmo e não surgiu
nenhum efeito. De repente, vozes lá fora me faz ficar em
alerta, ou ao menos tentar ficar, não consigo manter minhas
pálpebras abertas por mais que dois segundos inteiros. E
então a porta foi aberta e ouvi a voz um pouco familiar.
— Há quanto tempo ele não come?
— Sete dias. — Tina respondeu.
— E água? — Perguntou o homem.
— Eu presumo que seja o mesmo tempo.
— Aqui está fedendo. — Disse o homem.
— Da outra vez que ele ficou assim, ele surtou quando
tentamos levantá-lo. É essa a nossa preocupação, que ele
volte a ser internado em sigilo pelo grave erro que
cometeu com a monstruosa Britt. Ele nunca iria nos
perdoar se isso acontecesse de novo.
“Eu não sou louco para precisar de internação”
— Bom, então vamos ter que arriscar. Eu vou fazê-lo
acordar para a vida. — Disse a voz, que agora eu
reconheço. Alex. — Deixe-nos a sós Tina.
— Tem certeza?
— Sim. — O barulho da porta fechando me fez saber
que ela saiu.
— Sei que você me ouve, Blake, seus olhos estão
abertos e você está um trapo. — Disse ele. — Grace está
sofrendo, achando que você nunca a amou, porque tem
muitos dias que você não dá notícias. Mas agora eu
entendo o porquê, você não pode cuidar de si mesmo. —
Tentei falar, mas minha garganta está seca demais, e arde
só por eu tentar. — Eu vou ajudar você Blake. — Eu quero
ajuda, preciso desesperadamente de ajuda. Alex se
aproximou da cama, e agora eu o vejo, ele está chateado
comigo. — Vou levantar você. — Disse. E em um segundo
com muita habilidade, ele me deixou sentado na cama, e
então, o meu mundo rodou. — Aguente firme, Blake,
respire. Seja homem, cara. — Disse ele aos gritos. —
Para fazê-la fugir de você foi homem, mas para trazê-la de
volta, você não é, seu merda do caralho. — Gritou
cuspindo na minha cara. Eu fiquei muito tonto mas forcei a
não perder os sentidos. — Você está fedendo seu merda,
todo mijado. — Gritou. — Vamos, ajude-me, levante-se.
— Alex tentou me levantar e eu tentei ajudá-lo, até que
fiquei de pé e tudo rodou a minha volta. Respirei fundo,
sentindo um forte enjoo no meu estômago, é a fome que
estou. Eu não permiti Antony me alimentar, eu lembro
disso. — Vamos, um passo de cada vez. — Alex me
arrastou para o banheiro. — Que fedor, você está uma casa
quente para os vermes. Deve ser assim que você se sente
né, seu verme idiota. — É eu sei, ele quer me matar. Alex
me sentou na borda da banheira encostado na parede.
Tirou minha gravata, terno, camisa.
— Meu Deus, seus braços parecem gambás de tão
fedido que estão, covarde. — Ele gritou mais uma vez, eu
senti o seu hálito no meu nariz. — Vou tirar a sua calça,
segure-se ou vai cair. — Olhei para o que ele estava
fazendo, tirou os sapatos, meias, ligou a água para encher a
banheira, colocou toda espuma de banho, sais, óleos, tudo
para me lavar na água quente. Depois ele tirou a calça e a
boxer.
— Que nojo, cara, olha só para isso seu porco, todo
mijado e sujo esse pau de merda.
— Ca... Ca... Cale a a a boca Alex. — Consegui
sussurrar.
— Você, cale-se e não eu seu idiota, vamos, entre na
banheira. — Ele colocou minhas pernas primeiro, e a água
estava realmente quente, eu gemi.
— To nem aí para você, quem mandou ficar sujo assim.
— Sentei na banheira com todo meu corpo na água e foi
um grande alívio senti-la tão quente. Alex pegou um pouco
de água da torneira com o pequeno copo de plástico que
fica na pia, e me entregou. — Tome, precisa de água. —
Ele me deu na boca, e fiz um enorme esforço para deixar a
água passar, e lubrificar a minha garganta. — Vou falar
com Tina, volto logo. — Saiu e me deixou sozinho, eu o
ouvi falando com ela e acho que foi pelo telefone do meu
quarto, ele voltou e disse:
— Mandei fazer uma sopa de galinha para você, seu
bosta. Olhe para mim. — Eu olhei — Cadê o valentão que
acorrenta a mulher que ama para ela não fugir? Cadê o
valentão que vigia cada passo dela? Prefere morrer à
mingua a admitir que precisa de ajuda, superar suas
merdas e viver sua vida? — Perguntou e ele não foi nada
suave.
— Eu só não consegui reagir, Alex. Eu a quero de volta
e preciso de ajuda. — Sussurrei.
— Você sabe o quanto eu tenho vontade de te matar, e
depois me matar, por aceitar esse tempo toda essa merda,
que você fez a minha irmã? Eu não sei onde eu estava com
a cabeça de tentar respeitar a sua dor, e tentar ajudar você
a superar uma merda que minha irmã não tem culpa. Eu sou
um cretino mesmo. — Disse ele nervoso. — Ela precisa
de você, Blake, mesmo com tudo isso, ela o ama e espera
um filho seu. — Ele não respirou para falar. — Rasteje-se
seu merda, e cuide da minha irmã como ela merece, você
prometeu. — Falou e respirou para continuar. — Talvez a
minha reação deveria ter sido diferente com você, eu
devia te bater por você fazer isso com ela, mas eu vejo o
quanto você a ama. Eu vi o seu medo quando me contou
tudo, você prefere a morte a ter que viver sem ela.
— Sim, eu quero isso. — Falei.
— Você não vai deixar uma vadia vencer outra vez,
vai? E você vai superar o que fez com ela seu idiota. Ela
não vale isso, Blake, e Grace vale todas as lutas e batalhas
que você possa ter. Britt não, vocês eram jovens demais,
agora você é um homem, supere isso, supere Benjamim, e
viva com Grace ou qualquer outra mulher que o faça feliz.
— Somente Grace, Alex. Ela é quem eu esperei a vida
toda.
— Então seu merda, procure um terapeuta. Você ficou
internado por um surto de culpa que teve, depois do que
aconteceu com Britt. Qualquer um que vê isso do lado de
fora, sabe que você foi movido pela ira, e também, a
amarga dor do arrependimento em seus olhos é imensa.
Você quase se matou por ter feito o que fez com ela, e por
isso o surto. Mesmo que ela tenha feito muitas coisas
erradas, você precisa pedir perdão do que você fez para
ela. Só então, você vai tirar essa dor de dentro de você. —
Disse ele sério olhando nos meus olhos — Cuide de você,
Blake, para você cuidar da minha irmã, que agora pensa
que tudo o que viveu e sofreu ao seu lado, foi um pesadelo
e ela não acordou ainda. Mas o pesadelo é de pensar que
você nunca a amou de verdade.
— Eu vou, eu faço qualquer coisa. Pode marcar a
consulta, Alex, eu vou ter o devido acompanhamento e
assim, falar tudo com Grace.
— Ótimo. Agora eu vou esfregar você, por favor não
fique duro. Sei que sou irresistível, mas você não faz o
meu tipo. — Falou quebrando o clima sério.
— Babaca. — Falei. Alex conseguiu me fazer sentir
melhor, ele me deu banho, me ajudou a fazer a barba, eu
estava tremendo por falta de alimento, então ele fez todo o
serviço para mim. Só não lavou o meu pau e minha bunda,
esses eu mesmo lavei.
Tomei toda a sopa de galinha que Tina trouxe. Meu
corpo agradeceu. Alex me fez tomar três litros de água em
duas horas, me vigiando enquanto estava sentado na
poltrona próximo a minha cama. Ele chamou um terapeuta
amigo dele de confiança, quando o Dr. John chegou, Alex
foi embora nos dando privacidade, e prometendo voltar
com notícias de Grace. “Ele é que precisa de terapia.
Primeiro, por ser um louco do BDSM, segundo: Ele torce
para dar certo o amor de sua irmã com o homem que a
acorrentou e a deixou em prisão domiciliar. Depois o
louco sou eu?” pensei. Conversamos um pouco a respeito
do BDSM, eu sei o que é, e o que me deixou mais
encantado é como o BDSM traz para sua vida cotidiana, o
controle sobre tudo, não só entre quatro paredes, é uma
espécie de lição de vida. Ainda bem que já tenho a minha
submissa.
John é um homem educado e discreto, Antony também
fez as suas investigações e aprovou a escolha de Alex.
Conversamos coisas da minha infância e sobre trabalho, e
depois que ele fez sua lógica eu perguntei:
— Posso dizer agora porque minha esposa foi embora?
— Ainda não, Blake. Você levou anos para construir e
talvez, complicar a sua vida. Não será em um dia, que terá
suas respostas. — Disse ele. E depois disso foi embora,
marcando voltar no dia seguinte. A noite chegou e eu
dormi bem, a madrugada não serviu somente para me fazer
chorar dessa vez. Acordei no meio da noite, mas logo
dormi outra vez, mas não antes de descer a escada devagar
e assaltar a geladeira. No outro dia, a conversa com John
deu início às dez da manhã, e foi muito produtiva. Ele me
fez ver alguns pontos importantes sobre a minha infância e
a de Benjamim, que eu não conseguia ver e o que me fez
ser quem eu sou hoje. Assim que Alex chegou, ele foi
embora. Alex trouxe fotos de Grace sentada em uma
cadeira de balanço, ela está tão perto de mim que dá
vontade de sair correndo e ir buscá-la. Alex comprou uma
casa para ele em Miami, e é lá que ela está. Mas ela quer
ir para o Texas na próxima semana, e eu tenho dúvidas se
já posso falar com ela ou não. John disse que estou bem,
se comparando ao meu histórico do surto no passado.
Disse também que eu só preciso aprender a lidar com o
medo da perda e equilibrar a minha possessão. Posso sim
ser possessivo, mas desde que eu deixe Grace respirar e
não a trancafiar dentro de uma casa. Nos próximos dias
vamos começar a trabalhar o sentimento de perder alguém
que para mim é importante, é difícil aceitar perder. E
vamos começar com o meu irmão Benjamim.
A semana passou e tudo correu como deveria. Eu já
estava mais forte, hidratado e confiante. Alex e eu nos
tornamos bons amigos. Ele ligou para Oliver e Karley,
para eles ficarem a frente dos negócios enquanto estou
fora, eles sabiam o que estava acontecendo. Grace estava
de malas prontas para ir para o Texas, e Alex e eu
achamos melhor não impedir a sua partida, ela precisava
desse tempo para ela, e eu para mim também. Quando eu a
encontrá-la novamente, quero estar totalmente pronto para
a nossa conversa, e tomá-la por horas. Ficar sem foder
Grace é um verdadeiro inferno.
No decorrer dos outros dias, John e eu tivemos ótimo
progresso, eu chorei em muitas das nossas conversas, e ele
entendeu o que significa para mim perder uma pessoa que
amo. Porém, me fez entender que, perder não significa
necessariamente o fim do mundo ou uma eterna despedida.
Eu nunca esqueci Benjamim, então, ele só não está mais ao
meu lado, porém, está em meu coração enquanto vida eu
tiver. Me fez ver também que a morte de Benjamim foi uma
tragédia e não um suicídio. O pedido de perdão foi o seu
caminho cristalino para a sua despedida. Eu não tive
culpa, mas ainda me sinto culpado e isso eu preciso
trabalhar muito ainda. Benjamim também não teve culpa.
Britt é uma figura que entrou e causou devastação, mas
isso serviu para eu ver a diferença entre Britt e Grace,
John me ajudou a enxergar onde eu só via o escuro. Ele me
fez ver a diferença entre o bem e o mal. E tudo o que
sofremos pode ser sempre um reflexo de nossas ações. E
agora, com o meu psicológico reorganizado, minha mente
mais sadia e controlada, os dias longos e distantes de
Grace chegaram ao fim. Eu estou pronto para encontrar
com a minha mulher.
O voo foi confortável, meus pilotos são realmente os
melhores, e o serviço de bordo não era menos que
perfeito. Alex me buscou no aeroporto e me levou para sua
casa, onde Grace está, seus pais começaram a fazer muitas
perguntas e ela não estava dispostas a respondê-las.
Quando chegamos, sua esposa Melloni me recebeu muito
bem, me acomodou e disse que Grace tinha acabado de
entrar no banho.
— Nós vamos sair para dar privacidade a vocês. —
Disse Alex. — Mas lembre-se, Blake, eu não vou permitir
mais sofrimento na vida de Grace. É a sua última
oportunidade.
— Tem a minha palavra. E John pode confirmar, ele
continuará me acompanhado.
— Ótimo, pegue sua mulher de volta.
— Obrigado, Alex, por tudo. Principalmente por não
me matar.
— Confesso que fiquei tentado muitas vezes. — Disse
sorrindo e logo depois saiu com o dedo na argola da
coleira de sua esposa. Mas não por muito tempo, ao chegar
na porta, ele a soltou e segurou possessivamente em seu
cotovelo. Eu gostei disso. Ele é um dominador pervertido.
Andei em direção ao quarto onde ele disse ser o de Grace,
a porta estava fechada, mas não trancada, entrei sem bater.
O barulho da água caindo me fez ficar de pau duro, ela nua
foi exatamente no que pensei.
— Calma aí amigão, primeiro conversar, depois foder
com cuidado. Meu filho está lá dentro, porra. — Falei
sussurrando para me distrair de tamanho nervoso. A água
parou e eu ouvi os passos de Grace, fiquei parado no meio
do quarto, e quando ela abriu a porta, nua, e molhada, foi a
morte para mim, segurar o meu pau entre as pernas.
Ele inchou mais ainda, e ficou muito apertado dentro da
calça. “Desgraçado, controle-se” pensei.
— Oi. — Falei em um sussurro e sorriso envergonhado
nos lábios.
Capítulo 22

Grace

M eus pensamentos me levam a lugares bons e ruins


ao mesmo tempo. Essa água quente que me abraça me faz
relaxar um pouco. Eu vivi uma vida de confusões e
sentimentos amedrontados, um homem lindo, rico, que tem
um trauma de não sei o quê, obcecado por controlar a
minha vida de maneira errada. Ao ponto de me acorrentar
dentro de sua casa, e tirar de mim o direito de viver como
eu gostaria. Comigo, não aconteceu como as outras
mulheres, outras histórias que já vi pelos jornais e
documentários na televisão. Blake jamais me deixou com
hematomas por uma surra, ou algum osso quebrado. Ele
nunca fez isso. O que ele fez foi construir a nossa vida
dentro de casa, sem que ninguém do mundo pudesse
atrapalhar. Mas parte dessa vida é porque ele não confia
nas mulheres. Mas quando ele chegava em casa, minha
vida era perfeita, ele supria todo o vazio que eu sentia
durante o dia inteiro, e eu não tinha vontade de sair do
quarto quando ele estava lá. O sexo é somente a coisa mais
perfeita do mundo, ele venerava meu corpo, cada pedaço
de mim, beijava, mordia, lambia, eu adorava ficar em
nossa cama quando ele estava comigo e confesso, estou
com muitas saudades daquele quarto. Mas isso tinha que
acabar, agora tenho Benjamim em meu ventre, mãe, pai e
um irmão que me contou muitas coisas. Como por exemplo
que fez Blake tirar as correntes de mim, coisa que ele fez
muito tempo depois, mais fez. Alex viu em Blake um
homem atormentado por uma dor, frágil e amedrontado por
um passado triste.
Blake não me procurou ainda e Alex disse que ele o
fará assim que se sentir pronto para esse encontro, para
olhar nos meus olhos. E eu estou esperando por ele.
Desliguei a água e saí do box, olhei no espelho e minha
barriga já grande e arredondada me fez rir, e então escutei
um barulho vindo do quarto, abri a porta pensando ser
Alex com alguma coisa para mim, mais não, meu coração e
corpo entram em sintonia e tremem acelerados ao mesmo
tempo, é ele. Blake. Parado no meio do quarto com olhos
de falcão em cima do meu corpo, senti todo o meu sexo
latejar quando olhei a ereção nítida em sua calça. Blake
respirou fundo, o peito subiu e desceu com dificuldade,
suas mãos estavam dentro do bolso para esconder o quanto
estava tremendo, eu sei.
— Oi. — Disse ele tímido e triste.
— Oi.
— Você está linda, amor.
— Eu estou nua.
— É exatamente por isso que está linda. Sua barriga
cresceu e está perfeita.
— Sim, esse menino aqui está cada dia mais arteiro, ele
chuta muito. — Falei e vi quando ele olhou fixo para os
meus mamilos. Ele molhou os lábios com a língua, esse é o
sinal que ele quer pular em cima de mim. Eu não consegui
me conter, foi mais forte que eu, enchi minhas mãos com
meus seios, e suas pálpebras quase não ficaram quietas de
tanto desejo.
— Não faz isso, Grace, nós precisamos conversar. —
Disse ele com a voz rouca.
— Eles estão mais pesados e doloridos. — Falei.
— Eu vejo. Quero muito chupá-los agora. — Disse
olhando em meus olhos.
— Você disse que precisamos conversar, e eu espero
por isso há muito tempo. Então, eu vou me vestir, e vamos
sentar e conversar. — Falei. — Sobre tudo, Blake. É o
nosso acerto de contas.
— Concordo com você, amor. Por favor, vista-se ou eu
não respondo por mim. — Disse ele.
— Como você acha que estou? Senti sua falta e vendo
você aqui, na minha frente, tão lindo, minha vontade é de
deitar nessa cama e abrir minhas pernas para você. — Ele
gemeu e cambaleou para a frente e para trás. Ele fez um
grande esforço para não me atacar sem pedir licença,
como é o seu costume.
— Não fale essas coisas para mim, Grace, você sabe
como sou e estou me controlando aqui. — Disse
sussurrando. — Você merece um castigo por me privar
tanto tempo de seu corpo, você sabe disso, não é?
— Sim. — Respondi. — Quando você falar tudo o que
preciso saber, e depois eu achar que você merece, vou
deixá-lo me castigar como quiser. Agora eu vou me cobrir.
— Passei por ele indo até a grande cômoda onde organizei
minhas roupas leves, peguei um vestido amarelo floral e
vesti. Sentei na cama bem acomodada com os travesseiros
dando apoio as minhas costas, eu olhei para ele novamente
e disse:
— Sente-se, Blake. Nada com o nosso relacionamento
começou de forma normal, acho que terminar “normal”
seria pedir muito, não é? — Falei enquanto ele se
acomodava na cama um pouco distante de mim.
— Você está dizendo isso, por que para você, esse é o
fim? — Perguntou e eu senti na sua voz a preocupação.
— Depende de você, dessa nossa conversa. Comece,
Blake, e conte cada ponto e vírgula.
— Eu vou, Grace, e peço que tente entender. — Pediu.
— Estou ouvindo. — E ele começou.
— Eu era um jovem que já trabalhava com meu pai,
meu senso de responsabilidade começou cedo, diferente
do meu irmão mais novo, Benjamim. Como o sucessor das
empresas Blake’s eu precisava agir como tal. — Sua voz
calma e verdadeira me fez relaxar, e saber que ele tinha
um irmão mais novo, era uma novidade. — Meu irmão
Benjamim, assim como o significado de seu nome, era um
menino muito feliz, de bem com a vida. — Blake fechou os
olhos com dor e abriu novamente. — Eu estava no
primeiro ano da faculdade e preocupado, ele só queria
saber de farra, e como irmão mais velho, meu pai sempre
me deixava a responsabilidade de vigiá-lo. Ben tinha uns
amigos nada confiáveis e isso começou a nos preocupar.
Benjamim apesar de jovem, tinha a cabeça no lugar. —
“Então o nome do meu filho, é uma homenagem a seu
irmão”. — Eu tinha vinte anos quando conheci Britt na
faculdade. — Mencionar o nome dela não foi agradável
aos meus ouvidos. — Ela era uma jovem feliz e cheia de
energia, linda como poucas naquela época. — Blake falou
olhando para mim. — Nós começamos a namorar e era
uma coisa boa o que nós tínhamos. Comecei a perceber
depois de um tempo de convivência que ela era uma jovem
muito ambiciosa, mas ela dosava bem isso e fazia com que
todos achassem normal ela querer crescer futuramente.
Britt começou a frequentar minha casa, festas da família,
ação de graça e tudo o que uma namorada normal fazia
com a família do namorado. Estudávamos juntos e ela
sempre foi muito inteligente, e quando tínhamos coisas da
faculdade para fazer, ela vestia uma personalidade séria, e
só saia disso quando tudo estava pronto e correto. — Ele
pausou para uma respiração pesada. — Devo muito a ela
por cada vez que eu queria sair para festas, ela me
convencia muitas vezes que os trabalhos de faculdades
eram mais importantes, confesso que não foram todas as
vezes que eu a ouvi. Mesmo assim, eu era considerado
pelos professores o melhor da turma e exemplo a ser
seguido. — Ele não tirou os olhos dos meus e eu não disse
uma palavra, somente ouvi. — E por mais que Britt fosse
uma garota popular e muito alegre, todas a adoravam, eu
nunca consegui amá-la. Eu gostava de estar perto dela, mas
amor não, eu não a via como minha futura esposa. Porém, a
ambição de Britt sempre foi maior que qualquer amor do
mundo. Ela e Benjamim se tornaram grandes amigos. Ela
tinha o poder de falar com ele, que papai e eu não
tínhamos. Ele não queria estudar, ela o convenceu. Papai
venerava Britt, às vezes, ele a convidava para reuniões
importantes só para saber a sua opinião sobre o assunto.
— Ele falou com a voz muito triste. — Britt conquistou a
todos da minha família sem nenhum esforço, começaram a
falar sobre o nosso casamento, e eu sempre colocava a
faculdade em primeiro lugar. Falei que depois da
formatura que me casaria com ela. Os anos se passaram e
a formatura chegou, foi uma festa linda. Benjamim estava
muito feliz aquele dia, lembro-me como se fosse hoje. —
Disse ele com sorriso que não chegou aos olhos. — Ele e
Britt não se desgrudavam, ela sempre me dizia que o tinha
como irmão, e sempre pediu para não falar nada disso
para ele, ou ela perderia a credibilidade que tinha em
sempre o convencê-lo a fazer a coisa certa. Eu não via
nada de mais nisso, então eu deixava para lá. Depois da
formatura ela falou em casamento, eu não. — Pensar em
Blake casado com ela não me agradava. — Ela começou a
trabalhar na Blake’s. Não passaram seis meses, e ela
convenceu Benjamim a fazer parte da nossa equipe na
Blake’s, papai ficou muito feliz, ele estava realizando o
sonho de uma vida, ter os dois filhos trabalhando nos
negócios da família e ao seu lado. Britt se destacou com
astúcia, e eu sempre enfurnado dentro de reuniões e
confiei tudo em suas mãos. Ela estava indo muito bem. Foi
uma época que não falávamos mais em nosso casamento,
isso ficou pequeno para ela. — Ele respirou fundo com
lágrimas nos olhos. — E também foi a época em que
Benjamim começou a se distanciar de mim, e sempre mais
próximo a Britt. Era notável como ele ficava incomodado
com a minha presença, e sempre me deixava falando
sozinho. Não tínhamos mais o mesmo convívio e amizade,
ele me excluiu de sua vida aos poucos. — Consegui sentir
a dor em sua voz. — Até que um dia, um dos meus
funcionários me chamou para uma reunião particular, ele
me mostrou os roubos que Benjamim estava fazendo na
Blake’s, e que foi muito bem escondido por algum tempo.
Se não fosse Marcos ser um ótimo profissional e começar
a investigar as falhas que encontrou, e com medo de cair
em suas costas, já que ele era do financeiro e assinava
como o responsável. O que me deixou com ódio, foi saber
que Britt estava por trás de tudo. Marcos me aconselhou a
ficarmos calados, e também não contar para papai. Britt
era quase “Deus” dentro da Blake’s, ninguém iria acreditar
só com o que tínhamos em mãos. Comecei a perceber que
quando estávamos sozinhos ela era uma pessoa carinhosa,
sexualmente selvagem, e sua atenção era para sempre me
satisfazer em tudo, da mesa, a cama. Mas, quando
Benjamim estava perto, ela sempre se esquivava, e a pulga
atrás da minha orelha começou a coçar. E quando, em uma
festa, Benjamim brigou aos socos com outro cara por
ciúmes de Britt, ele deixou escapar que ela era sua mulher.
Ele não percebeu o que falou no furor da ira, mas eu sim.
— Meu Deus, meu corpo treme só de pensar em o que
mais vou ouvir. — Fiquei intrigado por Britt não falar em
casamento comigo, também percebi uma aliança no dedo
de Benjamim que ele disfarçou com um anel. Britt usava
uma um pouco diferente, e que disse ser presente de sua
mãe. Benjamim além de distante, começou a ficar
agressivo comigo, brigamos muitas vezes até pararmos de
falar um com o outro. O fim de tudo foi quando coloquei
meus advogados particulares para investigar, e
descobriram uma certidão de casamento de Benjamim e
Britt, várias fotos dos dois juntos me foi entregue, eles
sempre se encontravam em lugares neutros e lofts que ele
comprou. Eu fiquei louco quando vi tudo aquilo. De como
ela manipulou a todos. Pela manhã, esquentava a minha
cama, durante o dia ela esquentava a cama de Benjamim. E
pior foi quando descobri uma procuração dando plenos
poderes a Britt, sobre a parte de Benjamim na empresa.
Fiquei observando a relação dos dois de longe, ela o
seduziu como uma profissional, ele estava completamente
apaixonado por ela, envolvida em sua teia de
manipulações. Benjamim não via um palmo à frente de seu
nariz, e tudo em sua vida era controlado por ela. — Ouvir
Blake dizer tudo isso, me fez ter uma ideia do porquê não
confia nas mulheres. — Ela não o amava, ela sentia raiva
de quando ele se aproximava, coloquei câmeras em todos
os lugares e as filmagens me mostrava que, quando eles se
beijavam, minutos depois e sozinha, ela limpava seus
lábios com raiva, com nojo. — Disse ele e pausou para
olhar para mim, Blake baixou os olhos e continuou. — Fiz
o teste comigo. Fui até a sua sala e falei algumas coisas de
trabalho, depois, a beijei apaixonadamente e saí, fui para
minha sala olhar a câmera e, me surpreendi com o que vi.
Ela se masturbava olhando para uma foto minha, tive a
certeza de ver por quem ela era realmente apaixonada, e
não era por Benjamim. — Respirou profundamente. — Eu
a pedi em casamento dois dias depois. — Meus olhos
quase saltaram para fora. — Ela aceitou e foi onde
começou uma crise entre Benjamim e Britt. Eu o chamei
para uma conversa e mostrei tudo para ele, provas
documentadas, fotos, as sujeiras que ela fazia por suas
costas e as minhas. E ele, diante dos fatos, confessou tudo,
mas não acreditou em nada do que mostrei, disse que a
amava e que os vídeos comigo eram todos manipulados
por mim. Não quis acreditar que ela não o amava, depois
de anos juntos, um casamento em segredo e cúmplices em
tudo. Então eu fiz uma coisa horrível, gravei um vídeo
fazendo sexo com ela, dias depois de nós dois
conversarmos. Foi o sexo mais horrível que já tive na
vida, porém, sua entrega foi perfeita, principalmente a
declaração de amor em meio as lágrimas. Gravei também
um vídeo deles transando, ele não contou que eu já sabia
com medo da reação dela de se separar dele. Meus
advogados já estavam trabalhando para cancelar a
procuração, é uma coisa muito complicada e burocrática,
mas sempre há brechas. Depois disso era só esperar.
O meu erro foi ter mandado as provas de várias ações
de Britt para ele. Outros vídeos dela com ele, com o
advogado pessoal dele. Foi assim que ela conseguiu
convencê-lo de vários roubos e assinar documentos que o
advogado propunha. Ela também tinha um caso com ele e
os dois manipulavam Benjamim. O que levou meu irmão a
morte foi o vídeo em que ela e eu fazíamos sexo. Ela
mostrou sua face de nojo e olhando no relógio para que ele
terminasse logo. Em seguida ele saiu e eu entrei e
começamos a fazer, foi tudo diferente, ele viu o quanto ela
me beijava desesperada como se sua vida dependesse
daquele momento comigo, ela chorando e se declarava
para mim. Benjamim ficou arrasado, ele saiu da minha sala
foi para a nossa casa, onde estava acontecendo um jantar
de família e amigos próximos. Ele bebeu antes de chegar
lá, e foi tirar satisfação com ela na frente de todos, com
fotos dela e do advogado em suas mãos, e fotos minhas
com ela. A maldita o humilhou tanto na frente de todos,
meu pai foi levado para o hospital aquele dia. Ela dizia
que ele não passou de um fantoche em suas mãos e que era
maravilhoso ele saber de tudo, porque ela não precisava
mais fingir, ela estava realmente cansada da vida que tinha
criado com ele. E não abriria mão de todo o dinheiro que
ela julgava merecer por aguentá-lo por tantos anos. Jogou
em sua cara que eu sim, sempre fui o homem de sua vida,
que me amou desde o primeiro dia, mas que também sabia
que eu jamais me casaria com ela, por isso ela o seduziu e
o convenceu a se casar com ela dando plenos poderes
como legítima esposa. Para ela era cômodo, casada com o
banana, e gozando com o macho alfa. Isso destruiu meu
irmão, humilhado na frente de todos da nossa família e
amigos. — Blake não me olhou, mas chorou ao falar sobre
isso. — Eu lembro como se fosse nesse momento, o seu
olhar de dor e vergonha para mim. Ele que sempre foi meu
amigo, me traiu e foi traído. Benjamim pegou uma garrafa
de whisky e saiu com seu carro a toda velocidade, fui logo
atrás dele, como você sabe, Miami chove muito, e nesse
dia, estava muito forte a chuva. Eu me perdi dele, ele
sempre foi melhor na direção do que eu, ele não tinha
medo das coisas. Ele bebeu a garrafa toda dirigindo pela
cidade e eu o procurando como um louco pelas ruas. Até
que já era alto da madrugada, eu ouvi as sirenes ao longe
de onde eu estava, fui como um louco em direção ao som
horrível. — Blake soluçava de tanto chorar. — Quando
cheguei ao local, eu vi o seu carro todo destruído e aquilo
quase me fez capotar também, ele já tinha sido atendido e
estavam levando-o para dentro da ambulância, a chuva
ainda forte, meu corpo tremia com desespero. Eu passei na
frente de todos e tentei falar com ele, a última coisa que
ouvi sair de sua boca foi o desesperado pedido de perdão,
e “eu te amo irmão”. — Blake abraçou as próprias pernas
em cima da cama e disse. — Ele morreu nos meus braços,
Grace. — Ele tremia como nunca o vi. — Ele morreu me
pedindo perdão e dizendo eu te amo. Seus olhos que ainda
tinham o fio de uma vida, era de profunda dor. Eu não
devia ter feito o que fiz, mostrar aquelas filmagens tirou a
sua vida. — Me arrastei para Blake e o abracei.
— Você não teve culpa, amor, não pense assim. —
Falei quase sem forças por sentir sua dor.
— Eu o amava e fui negligente ficando tanto tempo no
trabalho, enquanto ela preenchia o espaço que era meu. E
o tempo dele com toda a sedução e falsas promessas, ele
era só um menino.
— Blake, calma ok, não fique assim. Você não teve
culpa de nada. — Ele ficou com o rosto enterrado no meu
pescoço por uns minutos e parou de chorar, e de tremer. Se
afastou olhando para mim e de repente, levantou e ficou
em pé, com as mãos no bolso sem deixar os meus olhos.
— Depois do enterro de Benjamim, eu consegui tirar
tudo dela, gastei uma fortuna para retirar do sistema
qualquer vestígio de que um dia ela foi casada com ele. —
Ele respirou fundo e continuou. — Ela me ligou para pedir
perdão, eu aproveitei essa situação e disse que queria
muito vê-la, que sentia saudades. Dei o endereço de um
apartamento que eu tinha alugado somente para essa
finalidade, e disse que era para conversarmos longe do
meu pai, que ainda estava enfermo. Ela foi. — Ele
respirou fundo mais uma vez. — Grace, o que eu vou dizer
fará você correr para longe de mim. Mas eu prometi a
verdade então, por mais suja que ela seja, eu vou falar
tudo para você. — Fiquei assustada, mas tentei não
demonstrar. — Quando Britt chegou ao apartamento, eu
estava esperando por ela. Eu a espanquei, Grace. Eu
espanquei Britt como um bicho enjaulado, eu tirei tanto
sangue, que ela por várias vezes chegou a inconsciência.
Fiz com ela o que não se faz com ninguém, eu vi em seus
olhos que ela preferia morrer, mas o ódio em que eu
estava, achei que a morte seria pouco. Espanquei, com a
força de cinco homens dentro de mim, eu fiz isso por
quatro dias, amordacei para ela não gritar, e descontei meu
ódio nos momentos que ela estava consciente, por quatro
dias. Eu jamais pensei que seria capaz de fazer aquilo,
mas fiz, e não teve um pedaço de pele de seu corpo, que
não ficou roxa e com sangue. Ela ficou com uma sequela
da minha força, eu a fiz perder a visão de um olho, não
parece quando se olha, mas ela não enxerga nada do olho
direito. — Ele disse com um fio de voz. — Depois que
tudo acabou, chamei um médico de confiança e paguei uma
quantia obscena de dinheiro por seu sigilo. Ele cuidou
dela por mais de dez dias e vinte dias depois ela estava
recuperada. Ela nunca mais olhou em meus olhos, eu a
paguei muito bem para sumir de Miami, e onde eu
estivesse com os meus pés, ela desviasse do caminho.
Desde então, eu não tenho mais nenhuma notícia dessa
mulher. — Lágrimas não me deixaram ver nada, eu só ouvi
dizer. — Essa é a história da minha vida, Grace. — Disse
ele, com muito, muito arrependimento em sua voz.
Capítulo 23

O uvir de sua própria boca que ele a espancou ao


ponto de deixá-la cega, eu vomitei no chão do quarto.
Mesmo se ela o traia com o irmão, e com outros homens,
acho que só deixá-la sem o que ela mais amava, o
dinheiro, já seria o suficiente. Não consegui ouvir mais
nada e pedi para ele sair do meu quarto, ele não disse
nada, apenas me olhou e saiu. Porém, foi nítido vê-lo com
vontade de morrer ao passar pela porta, quase dois metros
de altura, músculo e perfeição, ficou pequeno ao olhar em
meus olhos e sair. Sei que foi um esforço grande para ele.
Sei que me espera na sala, eu não ouvi a porta bater em
sinal de que ele deixou a casa. O que aconteceu com seu
irmão eu entendo, o garoto foi seduzido por uma vigarista
com experiência, manobrou a sua vida como ela bem quis,
e o descartou na frente de todos quando foi pressionada.
Mas, espancá-la foi além do que eu poderia imaginar.
Pensei em como ela estaria agora, se superou o que ele
fez. Lembrei de seu nome completo, Tina tinha mencionado
em certa ocasião. A curiosidade e eu sei lá mais o que
falou mais alto, levantei rápido e fechei a porta com a
chave, bem devagar para ele não ouvir, em cima da
cômoda eu peguei o computador de Alex, ele o deixou
para que eu pudesse responder alguns e-mails. No campo
de busca do Google, escrevi Britt Phoebe e algumas
imagens que apareceram, várias mulheres diferentes e com
profissões que achei que não pertencia ao seu mundo.
Procurei como arquiteta e então as informações que batia
com ela apareceu, cliquei nas imagens e fiquei enjoada
com o que vi. Uma mulher maravilhosa e extremamente
sexy, loira, com certeza cinco centímetros a menos que
Blake, os dois juntos faziam qualquer um ficar ridículo aos
olhos do mundo. Não foi nada bom para minha autoestima
ver uma mulher tão perfeita. Mas vi que seu olho direito
era um pouco mais fechado que o outro. As informações
constam a faculdade onde cursou e ano, são as mesmas
informações de Blake. Trabalha como arquiteta de uma
grande empresa de construtora de imóveis de luxo, morou
um tempo na Europa e depois voltou para América, hoje
reside na Carolina do Norte, é casada e tem um filho. O
número de telefone me fez parar e olhar para ele por um
bom tempo, senti formigar minhas mãos para ligar e saber
como ela estava, nas fotos parecia uma mulher feliz, porém
seus olhos não, eles são tristes e com um vazio enorme,
são mortos, assim como Benjamim está agora. Olhei para
o telefone que fica na mesinha ao lado da minha cama, isso
pode parecer sem lógica, fora de qualquer contexto, mas o
que sinto agora é exatamente isso, vontade de ouvir sua
voz. Com um ato sem pensar, eu peguei o telefone e digitei
os números que estava na tela, e quando chamou a
primeira vez, meu coração disparou e minhas mãos não
pararam de tremer. No segundo toque eu ouvi a sua voz.
— Alô! — A voz saiu alta o suficiente para passar
segurança, mas era triste, isso eu pude sentir. — Alô! —
Disse e eu desliguei. Fechei meus olhos e abracei minha
barriga, gostaria de saber o que pensar e fazer a respeito
disso tudo, e lágrimas de um sentimento ruim rolaram pelo
meu rosto. Eu fiquei muito insegura, agora parecia tão
errado eu ficar com ele, ser dele depois do que ele disse
ser capaz de fazer. O telefone tocou no silêncio do meu
quarto, meu coração quase pulou para fora da minha boca.
Ouvi os passos firmes de Blake lá fora, e em súbito
momento, eu atendi o telefone.
— Alô! — Britt falou, eu só consegui respirar fundo.
— Eu ouço a sua respiração, e você me ligou do Texas. —
Disse ela com a voz calma.
— Grace, fale comigo. — Blake bateu na porta me
chamando.
— Quem é você? Por que me ligou? — Perguntou ela.
— Grace, com quem está falando? Por que fechou a
porta? — Blake começou a bater forte para chamar minha
atenção.
— Que barulho é esse? Você precisa de ajuda? Quer
que eu chame a polícia?
— Não, sem polícia. — Respondi de repente.
— Então você tem voz, e é uma mulher, do Texas. —
Disse ela. — Em que posso ajudar? — Perguntou e quando
eu ia responder, Blake arrombou a porta do quarto. Eu
fiquei imóvel olhando para ele.
— Grace, amor, com quem você está falando? — A voz
de Blake saiu mais alta que o normal. Ele estava com o
rosto inchado de chorar.
— Eu conheço essa voz, eu sei que conheço. — Disse
ela. — E também o seu nome. — Ela pausou. — Você é a
mulher dele, não é? Blake Goldberg. — Britt falou em
sussurro dolorido.
— Sim. — Respondi.
Ela não disse nada, ficou na linha ouvindo a minha
respiração nervosa. Meus olhos não deixaram os de Blake,
ele se aproximou e sentou na cama, olhou para o
computador e virou para ele e então, seus olhos cheios de
dor, ficaram frios imediatamente. Ele olhou para mim, e
para o telefone em meu ouvido, então ele soube com quem
eu estava falando.
— Ele te contou, não foi? Por isso você me ligou,
Grace? — Perguntou.
— Sim.
— Ele te contou que me espancou até me deixar cega, e
você me ligou. — Disse ela.
— Sim. — Eu não conseguia formular uma resposta
completa.
— Você está com medo dele.
— Sim. — Blake me olhava atentamente. Ele entendeu
que eu estava apavorada com o que ele tinha contado.
— Ele está aí com você, não é?
— Sim.
— Você está em choque?
— Sim.
— Não fique, Grace. — Disse ela puxando uma longa
respiração. — Ele é um bom homem, se não for o melhor
do mundo. Eu não o culpo pelo que fez. Jamais vou
defendê-lo e também, não existe justificativa para isso. —
Ela pausou. — Mas Blake aquele dia, estava movido pela
dor da perda de seu irmão mais novo, de seu amado irmão.
E a sua morte foi minha culpa. — Meus olhos não ficaram
secos quando ela começou a falar. — Ele te contou hoje,
certo? Por isso você está assim.
— Sim. — Respondi.
— Coloque no viva-voz, Grace. Por favor. — Pediu e
em uma ação mecânica eu fiz.
Ela começou a falar.
— Eu te perdoo, Blake. — Ele ficou tenso ao ouvir sua
voz. — Não que isso justifique, mas com o passar dos
anos eu compreendi o quão errada eu fui para com você e
seu irmão. Sua família que me acolheu, não merecia isso.
— Ela soluçava. — A minha ambição me levou ao
extremo da podridão mundana. O que fiz com Benjamim
não tem volta, mas quero que saiba de uma coisa. — Disse
ela aos prantos. — Eu me arrependo, Blake, ele era só um
menino que se encantou por uma mulher mais velha que o
seduziu. Ele era um menino feliz e eu tirei isso dele. —
Britt soluçava e Blake já não chorava mais. Ele só me
olhava com muita dor. — Eu aproveitei a paixão proibida
pela namorada do irmão, e usei a meu favor. Mas hoje,
depois de todos esses anos com o peso de sua morte, eu
me arrependo de tudo o que fiz e sei que isso não o trará
de volta. — Ela ficou mais calma. — Eu tenho um filho,
ele se chama Blake Benjamim. — Os olhos de Blake
parecia saltar para fora de seu rosto. — Isso porque vocês
foram uma lição de vida para mim, que jamais quero
esquecer, mesmo com os erros ou acertos. Eu te perdoo
por aqueles dias tristes que você descontou a sua ira em
mim, e te peço perdão por fazê-lo sofrer por todos esses
anos, e também por Benjamim. Você fez aquilo comigo,
mas eu sei que não tem uma noite que você não chore de
arrependimento, sei que o seu coração é o mais bondoso
do mundo. O mais fiel de todos. — Ela pausou, respirou e
falou. — Eu segui em frente, mesmo que tudo o que
aconteceu fique em meus pensamentos. Mas eu consegui,
Blake, eu venci a prepotência, a ambição, aceitando
apenas o que a vida me der de presente, e não fazendo o
que fiz para conseguir mais do que eu merecia. — Ela
respirou fundo e meus olhos nuca deixaram os de Blake.
— Olhe para essa mulher que está a sua frente, Grace é
maravilhosa, sabe porquê? — Ela perguntou mesmo
sabendo que não ouviria a resposta dele. — Porque assim
que você falou tudo para ela, ela não fugiu e a sua atitude
de procurar por mim, para saber como estou, mesmo
depois do que fiz a você e Benjamim, só me diz que ela é
humana e se preocupa com os demais. Independente de
qual situação for. Acredite nela, Blake, acredite em vocês
dois. Ela vale muito a pena. — Ela tentou se recompor e
falou logo em seguida. — Obrigada, Grace, pela
oportunidade de pedir perdão, e de dizer que também eu o
perdoo.
— Tudo bem. — Respondi.
— Sejam felizes. — Disse ela e então Blake falou.
— Britt. — A sua voz saiu forte.
— Sim.
— Eu te perdoo, e obrigado por me perdoar. — Agora
uma lágrima solitária escorria no seu olho esquerdo.
— Está tudo bem. Viva e a faça feliz. — Ela desligou.
E eu deixei o telefone cair na cama. Fiquei trêmula e mais
uma vez não soube o que fazer.
— Você está com medo de mim, amor? — Perguntou.
— Eu não sei o que pensar, para falar a verdade.
— Eu posso entender isso. — Disse ele sentado na
cama com a postura derrotada. — Eu não posso me
defender do que fiz, isso foi monstruoso. Mas posso dizer
que fui movido pelo ódio e perda. Eu sei que não devia ter
feito o que fiz, mas me arrependo, Grace, juro para você
que eu gostaria de voltar no tempo e só mandá-la embora
da minha vida, sem fazer a merda que fiz. — Blake
colocou as mãos em seu rosto, e chorou como nunca
imaginei que podia vê-lo chorar. Eu me levantei e fui até
ele, o abracei e o confortei. Eu vi fortemente o seu
arrependimento, e vejo também o quanto ele sofre com
isso tudo.
— Você precisa se perdoar agora, ela já o fez e você
precisa seguir em frente.
— Você vai me abandonar? — Perguntou. — Me
perdoe, Grace, por tudo que a fiz passar. Eu estava doente
de ódio, de desconfiança. Eu estou me tratando agora, por
favor, isso não vai mais acontecer. — Ele disse aos
prantos abraçado ao meu corpo, como se o seu maior
medo fosse eu fugir outra vez.
— Você vai continuar com o acompanhamento médico?
— Sim, não vou parar até John disser para fazê-lo.
— Você vai me acorrentar e me trancar em casa?
— Nunca mais isso irá acontecer, eu vejo agora o quão
insano eu fui para com você, meu amor. Me perdoe, por
favor. — Disse ele segurando meu rosto com as mãos.
— Eu quero ter a sua possessão, o seu controle. Quero
as suas ordens e voz de comando que me deixa em chamas.
— Falei olhando em seus olhos. — Mas não quero nada
das suas merdas outra vez. — Ele me deitou na cama em
um rápido movimento e disse.
— O que eu não prometo, Grace, é de não a castigar
por me privar tanto tempo de seu corpo. — E então ele se
acomodou entre minhas pernas, e senti a sua língua
trabalhar no meu sexo. — Nunca mais eu lhe darei motivos
para fugir da minha vida amor. — Disse ele entre uma
chupada e outra. — Vou continuar empenhado a deixar
esse passado tão longe, que breve não existira mais
vestígios dele no meu sistema. — Ele pegou forte no meu
clitóris. — Agora eu só quero sentir seu gosto, me dê o
que quero, amor, goze para mim. — Então ele fez, me senti
completa novamente assim que ele me possuiu de todas as
formas possíveis. Blake não me deixou respirar por três
horas para não ser tão má, ele me deu alguns intervalos de
uma foda para outra.
Tudo ficou perfeito depois daquele dia, Britt e Blake se
perdoaram, o peso no olhar do meu amor, não existia mais.
Claro que esquecer o que aconteceu e como aconteceu com
Benjamim, ele jamais conseguiria fazer isso, porém, ele se
deu o benefício da dúvida, e está seguindo em frente.
Voltamos para casa em Miami, Antony e Tina quando me
viram, respiraram com alívio e sorriam abertamente para
mim, como se eles tivessem a certeza, de que Blake e eu
éramos totalmente compatíveis. Um não funcionava sem o
outro. Blake e Alex começaram a desenvolver alguns
projetos juntos, e durante os meses restantes, muito
próximo para nosso lindo Benjamim nascer, ele ficou mais
cuidadoso e controlador comigo.
Melloni e eu ficamos mais próximas, ela me contou
como tudo funcionava entre ela e Alex, sobre ser uma
esposa e submissa de um Dom. Alex por ser meu irmão e
meu melhor amigo, jamais escondeu as suas preferências
de mim, quando ele conheceu o BDSM, me contar foi a
primeira coisa que fez. Ficamos horas conversando, eu
absorvendo tudo o que ele estava conhecendo do meio e o
alertando para qualquer perigo que poderia acontecer. Ele
passou por um treinamento rigoroso dos manuseios de
equipamentos usados, então, ele sabe muito bem como
tudo funciona. A veia dominadora, ele já nasceu com ela,
eu sou a prova disso, papai falava comigo mil vezes para
eu parar de fazer alguma coisa errada, e não tinha êxito.
Alex falava calmo e com um acentuado som, comandando
sem ao menos levantar a voz, e quando eu olhava em seus
olhos, eles falavam para mim claramente, parar de
desobedecer papai, e eu parava, e ainda dizia: “Desculpa,
irmão” e ele “Tudo bem, só não volte a fazer. Está na
hora do seu banho, vá”. E como num passe de mágica, eu
estava obedecendo ao meu irmão gêmeo, isso com apenas
dez anos de idade. Sempre foi assim. Alex começou a ter
momentos de longas conversar com Blake, um dia sem
querer, eu ouvi um pouco, eles falavam sobre dominação.
Alex explicou para Blake que ele também tinha essa veia,
e como não conhecia a fundo o seu mundo, às vezes ele
usava a dominação de forma errada, isso existe sim, nem
todos são perfeitos. E então, eu passei a ter um marido
aprendiz de BDSM em casa.
Minha barriga ao final da gestação, ficou muito pesada,
todos se preocuparam comigo, porque em uma consulta
médica, minha pressão estava um pouco alta. Fiquei de
repouso absoluto e com cuidados na alimentação. Mas não
demorou muito até que uma madrugada, eu acordei toda
molhada, e com um pouco de dor nas costas e na cabeça.
Senti também meu coração disparado, e tonta, eu realmente
não me sentia bem. Acendi a luz do pequeno abajur que
ficava ao lado da minha cama, olhei para Blake e ele
estava dormindo, devagar eu sentei na cama para não o
acordar, e vi que a água vinha de dentro do meu sexo, “A
bolsa estourou” pensei. A dor na minha cabeça começou a
ficar mais forte, e se eu não tivesse apoiada com as duas
mãos em cada lado da cama, eu tinha caído tonta no chão,
respirei fundo e logo percebi que algo estava muito errado
comigo, foi quando uma dor monstruosa me fez sangrar, e
ao olhar as minhas pernas com sangue, eu quase não tive
forças para chamar Blake.
— Blake. — Sussurrei. — Acorde, Blake. — Meus
olhos fechando por não conseguir me manter consciente,
então eu senti as mãos de Blake segurando meu corpo, e
depois disso, não vi mais nada.
Um gosto metálico na minha boca, o barulho irritante de
um bip e a claridade nos meus olhos me incomodavam
muito. Tentei abrir mais uma vez e com dificuldade,
consegui manter minhas pálpebras abertas, um quarto de
hospital, então, lembrei de meu pequeno bebê.
— Ben... Benjamim. — Tentei falar sem saber se eu
estava sendo ouvida.
— Shii shii amor. — Blake apareceu no meu campo de
visão. — Ele nasceu, um garotão muito forte, não se
preocupe, meu amor. — Ele estava chorando.
— Por que você chora? — Perguntei com dificuldade.
— Porque estou feliz em vê-la com vida amor. Você me
deu um susto danado. — Ele apertou um botão ao lado da
cama, e ela começou a subir até que ele desligou outra vez.
Depois apertou outro botão, e ouvi passos fora do quarto.
— O médico já vem para vê-la, fique tranquila.
— O que aconteceu? — Meu corpo estava muito
dolorido.
— Você teve complicações no parto, tiveram que fazer
uma cesariana com urgência. Mas já está tudo bem, como
você e com nosso filho. Alex está vindo para cá, ele quase
colocou o hospital abaixo, eu devo admitir, esse cara é
mais louco que eu. — Eu sorri um pouco e senti dor.
— Eu quero ver o meu filho.
— Você vai, amor, vamos cuidar de você agora, tudo
bem? — E assim foi. O médico chegou e me informou tudo
o que aconteceu. Também falou todas as precauções que no
momento eu devia tomar, Blake muito atento a tudo, não
deixou escapar nada das ordens do médico. Logo depois
que ele saiu, Alex chegou com flores, e Melloni com
bichinhos de pelúcia para Benjamim. Eu não estava muito
bem, mas não disse para eles, vê-los me deixou muito
confortável. Alex disse que papai e mamãe chegariam essa
semana para conhecer Ben, eles ficariam na nossa casa, e
estava feliz por tê-los aqui também. Alex e Melloni foram
embora e eu descansei um pouco, dormi ouvindo Blake
conversar comigo e contar sobre nosso bebê. Quando eu
acordei novamente, lá estava ele com um lindo montinho
vestido de azul em seu colo. Cabelo incrivelmente negro e
os olhos do pai, felizes por olhar o pequeno menino em
seus braços.
— Posso vê-lo? — Blake olhou para mim, ele não tinha
me visto acordar.
— Claro, meu amor. — Blake levantou da cadeira
devagar, como se aumentar um pouco a velocidade de seus
movimentos, prejudicasse gravemente Benjamim, eu sorri
com o seu cuidado. Ele cuidadosamente colocou meu bebê
em meus braços, assim que vi seu lindo rostinho pela
primeira vez, as lágrimas brotaram de meus olhos.
— Ele é lindo. — Falei.
— Sim, amor, nós trabalhamos bem ao fazê-lo. — Eu
sorri com seu comentário obsceno. E nesse momento,
olhando para o menino tão indefeso e necessitado de
cuidados, eu tive a certeza de que minha vida começara
nesse momento. Blake passou a mão em meu rosto e então
eu o olhei nos olhos.
— Eu te amo, Grace. Eu não sei como agradecer por
fazer isso por mim. Eu amo vocês com toda a força do
mundo e acredite, sempre vou estar aqui para protegê-los.
— Eu também te amor, meu amor. E eu quero você aqui
para sempre.
— Sim, para sempre.
EPÍLOGO

Tem coisas que não existe explicação, ou somente não


precisam. Minha história com Blake, é uma delas, você
não precisa entender, somente aceitar. Aceitar que existe o
perdão, existe o amor, existe também consequências de
todos os seus atos. Eu me vi fraca, mas descobri que sou
muito forte, não por aceitar sorridente o que meu amor fez
comigo, mas sim, por perdoá-lo e entendê-lo depois que
eu soube de seus motivos. Com ajuda de pessoas que o
ama, ele saiu da escuridão, ele aceitou ser ajudado e hoje,
ele vê a vida com outros olhos. Blake e eu tínhamos tudo
para dar como fracassados em nossa relação, mas como
nada na vida é por acaso, já estava escrito que nossos
destinos estavam selados e seríamos um do outro. É
exatamente como vejo agora. E o que também vejo agora,
é Alice grudada ao meu bebê, ela está chorando e sorrindo
ao mesmo tempo, eu me sinto agradecida por sua amizade,
por tudo o que fez por mim. Alice não suporta entrar em
hospitais, mas quando soube que Benjamim nasceu, ela
entrou no primeiro avião e veio ver o afilhado. Ela estava
em mais uma de suas viagens de trabalho e cancelou tudo o
que tinha agendado para estar aqui. Antes de entrar em
meu quarto, Alice ligou para Blake e pediu alguns minutos
para conversarem em privado. Não achei nada parecido
com Alice, mas respeitei e não me importei. Blake saiu
assim que ela passou uma mensagem dizendo onde o
aguardava.

Alice
Todo esse tempo eu mantive minha opinião para mim
mesma. Saber de todo o sofrimento de Grace por pequenas
dicas que ela me passava, era torturante para mim. Alex
estava desesperado, mas ele tinha motivos em deixar
Blake levar toda essa história como ele quisesse, eu não
entendi, mas Alex me tranquilizou em partes sobre o que
estava acontecendo. Até que eu não consegui mais segurar,
e observar Grace presa dentro de uma casa era demais
para mim. Ela era supervisionada 24 horas e isso só me
dizia que era uma prisão domiciliar. Blake precisava ser
preso e eu fui impedida por Alex muitas vezes para não
fazer a denúncia. Até que Alex jogou toda a bomba em
cima do meu colo, ele me entregou provas de uma
investigação que fez sobre a vida de Blake, toda ela. Alex
escondeu boa parte de Grace. Ele me contou tudo sobre
Britt, mostrou-me fotos que o investigador que ele
contratou, tirou dela em seu dia a dia, mostrou tudo o que
descobriu sobre Benjamim, irmão de Blake. E contou-me
tudo o que Blake conversou com Alex em privado, foi
Blake quem abriu todas as cartas para Alex, não
escondendo nada, e dando todas as pistas para chegar em
Britt, e descobri o outro lado da verdade. Foi assim que
tomei conhecimento de toda a vida de Blake Goldberg.
Mas eu precisava de “mais”, para não o mandar para a
prisão por manter minha amiga presa e infeliz dentro de
sua mansão. E pensar que ela estava tão perto da minha
casa e eu não podia fazer nada, com a fortaleza de Blake
vigiada por três homens armados do lado de fora da casa,
e Grace não sabia de toda essa vigilância. Eu precisei
estudar bem todo o lado de fora da casa para ajudá-la
quando ela pediu por ajuda. O meu “mais”, eu consegui
quando fui pessoalmente falar com Britt. Quando me
apresentei e falei o motivo de ir pessoalmente conhecê-la,
ela se recusou a falar de Blake, então eu contei sobre
Grace, e ela decidiu me ouvir. Conversamos por três
horas, Britt me contou tudo, desde o momento em que
resolveu seduzir Benjamim e fazê-lo casar com ela, já que
Blake nunca a amou para fazer o pedido oficial. Ela me
falou sobre pontos importantes que eu estava deixando
passar, vê-la sempre de óculos escuro e saber que ela não
quer mostrar um olho cego, era assustador para mim. Mas
Britt acreditava tanto que Blake em seu estado normal
jamais faria aquilo, que eu também passei a acreditar. A
perda brutal do irmão, a manipulação de Britt, a
leviandade com a qual agiu, fez Blake surtar. Britt que me
convenceu a tentar fazer Grace fugir de Blake, assim ele
tomaria um choque de realidade e seria a única forma de
enxergar o que realmente estava fazendo. Eu planejei tudo
para falar com Grace, e a surpresa foi ela tomar a
iniciativa de fugir foi como presente para mim. Eu não
precisei convencê-la a nada.
Agora estou aqui, neste restaurante esperando por
Blake Goldberg. Eu nunca deixei claro para ele o meu grau
de amizade com Grace, então, hoje nós vamos acertar tudo
o que está errado. Hoje ele vai ouvir tudo o que está
entalado na minha garganta há muito tempo.

Blake
Tenho que respeitar Alice, ela quer falar comigo e sei
que vem bomba por aí. Ela só não sabe que também estou
armado até os dentes. Quando cheguei ao restaurante perto
do hospital em que ela estava me esperando, eu a vi de
cabeça baixa mexendo no telefone, ela é uma mulher muito
bonita, o que eu odeio nela é que ela é vulgar demais. Ser
amiga de Grace é meu tormento. Ela tem uma vida livre
com vários homens, não se prende a nenhum deles e fala
disso abertamente para Grace, eu odeio isso. Minha Grace
é doce, sensível, ingênua, não quero que isso polua sua
cabeça.
Eu aproximo da mesa e continua com os olhos fixos no
telefone.
— Bom dia, Alice. — Eu a vejo tremer, ela tem
respeito e isso já é um ponto a seu favor. Ela olha em meus
olhos.
— Bom dia, Blake, sente-se por favor. — Voz um
pouco trêmula, mas ela tenta manter-se firme.
— Grace não pode ficar sozinha por muito tempo, então
seja breve. — Falei.
— Eu vou ser. — Disse ela. Eu sentei na cadeira a sua
frente, ficamos com o mesmo nível dos olhos, um olhando
para o outro.
— Você não gosta de mim, não é? — Perguntou.
— Não, eu não gosto de você. — Respondi.
— Eu também não gosto de você, Blake. — Ela é
corajosa, não tirou os olhos dos meus, ainda.
— Vamos ao que interessa, Alice, saber que você não
gosta de mim, não vai mudar em nada a minha vida e
minha saúde. — Ela engoliu seco.
— Eu estive com Britt. — Disse ela. E meu sangue
ferveu. Ela viu isso nos meus olhos. — Foi antes de Grace
fugir da sua casa. Eu precisava entender os dois lados, o
seu, Alex tentou me explicar e também fez um grande
esforço para entender, e não matá-lo. Mas eu precisava
saber e ouvir pela boca de Britt. — Disse ela. Ousada,
intrometida, vadia.
— Então você conheceu Britt? — Perguntei. — Você
sabe da história entre meu irmão e ela? Você sabe que
éramos namorados? E também o que aconteceu com meu
irmão?
— Sim, agora eu sei de tudo.
— Então você entende o porquê eu não a suporto como
amiga de Grace? — Ela me olhou sem entender.
— O que eu tenho a ver com Britt? — Perguntou.
— Simples, cara Alice, as duas são vulgares, vadias,
fáceis, liberais, se deitam na cama de qualquer homem. Eu
não suporto você como amiga de Grace, minha mulher, por
você ser como é. Uma mulher de comportamento duvidoso,
não pode ser amiga da minha mulher.
— Você me julga sem ao menos me conhecer? —
Perguntou olhando séria para mim. — Você acha que todas
as mulheres vão fazer com você o que Britt fez? —
Sempre pensei isso, não por ela, mas pelo meu irmão.
Sempre me mantive afastado das mulheres por motivos
óbvios, Britt me fez conhecer um lado que não desejo a
nenhum homem. — Eu não sou como Britt, Blake. —
Continuou. — Você não tem o direito de me julgar assim,
você não sabe o que eu passei nas mãos de um grande
amor que pensei me amar de volta. — Lágrimas banharam
seu rosto. — Às vezes não vale a pena você se entregar a
um amor, e sonhar em vivê-lo, para depois descobrir, que
nunca foi só você. Nunca foi especial. Eu já tive isso que
você tem com Grace, e fui parar em um hospital por amar
tanto um homem, que não me amou de volta. — Eu olhei
confuso para ela, nunca soube de nada. — Eu vivo minha
vida com liberdade porque me dei conta de que entregar o
meu coração para um homem que não seja o certo, não
vale a pena. Prefiro viver assim, a ter que passar por tudo
outra vez, ver meus pais desesperados tentando diminuir a
dor da filha. — Ela pausou e respirou fundo, e continuou.
— Eu só tenho uma coisa para lhe dizer, Blake,
independente do que você ache ou não de mim, eu sou
amiga de Grace, e você não pode fazer nada contra isso.
Eu estou aqui para lhe dizer na sua cara, olhando nos seus
olhos que se você fizer outra vez tudo o que fez com ela,
eu mesmo tiro sua vida com minhas próprias mãos. Grace
foi quem me fez acreditar em uma amizade outra vez, como
você vê, ela o salvou e me salvou. Só que ela nem sabe
disso. Ela é doce e acredita demais no ser humano para
ver tamanha maldade em cada um. — Respirou mais uma
vez. — Eu vou destruir a sua vida se acaso não a fizer
feliz, ela o ama como jamais pensou amar alguém. E peço
a você, em nome de minha amizade com Grace, e até
mesmo em nome do amor entre os seres humanos, dê-me
um voto de confiança, não me julgues pelos meus atos e
sim, pelo que sou. Eu não sou nem um pouco parecida com
aquela Britt que você conheceu, e que hoje é uma mulher
totalmente diferente daquilo que destruiu a sua família.
Você a perdoou, então eu também mereço um olhar
diferente desse que você me dá agora. Não me tome como
ingênua, ou uma vadia, eu estou de olho em você, Blake
Goldberg, se antes eu não fiz nada, foi pela confiança que
depositaram em você, mas agora, não, eu passo por cima
da sua vida como rolo compressor. — Rosnou Alice. — E
para quem eu abro minhas pernas, não lhe diz respeito em
nada, sou eu que abro e não Grace, tenha isso em mente.
— Ficamos nos olhando por longos minutos, ela realmente
queria tirar de dentro da garganta o que estava entalado.
Alice não vacilou um segundo olhando dentro dos meus
olhos, eu tive a certeza de que toda a ameaça contra a
minha vida, era real. Ela tem uma amizade por Grace e é
verdadeira, agora posso ver em seus olhos. E também vejo
que tirei a dor para fora dela, que há muito tempo dormia.
Ela sofreu muito, e tenho para mim que nem minha Grace
sabe disso.
— Foi com uma amiga? — Perguntei.
— Como? — Ela não entendeu.
— O seu amor, te traiu com sua amiga? — Ela me olhou
triste. — Você disse que Grace a fez acreditar em uma
amizade novamente. — Falei.
— Sim. Foi com uma amiga que eu amava muito,
crescemos juntas, estudamos juntas, escrevemos diários
juntas. Eu descobri que ela estava grávida, ela esqueceu o
diário em minha casa e eu tive o ímpeto de invadir a sua
privacidade e ler o que ela nunca me deixou saber. — Ela
abaixou a cabeça e fechou os olhos. — Fotos, declarações
de amor, as coisas que ele falava para ela, os planos dos
dois. Ela escreveu que não suportava mais olhar na minha
cara e que desejava que eu morresse logo, a ter que fingir
e esperar mais alguns dias para ter que falar tudo aos seus
pais e jogar na minha cara tudo o que eu a fiz sofrer
enquanto beijava o homem que era dela. O que ela não
sabia, é que ele já tinha pedido minha mão em casamento
para meus pais naquela semana, e que ele me pediu
segredo até revelar tudo em um jantar surpresa para seus
pais. — Ela olhou para mim novamente. — Ele fez isso
porque queria o dinheiro, se não fosse o meu, seria o dela.
Então, Blake, a nossa vida não foi totalmente igual, mas
tem pontos bem parecidos.
— Percebo. Me desculpe, Alice, eu realmente julgo as
mulheres pelos atos e não pelo que são. Eu fui moldado a
isso. Prometo tentar ser mais condescendente com você,
com as coisas que faz e como vive. E tem minha palavra
sobre o bem-estar de Grace, eu não quero voltar a ser
aquele homem, Alice, ele me faz grande mal. Ele me deixa
em profunda solidão e eu não quero e não posso passar
por isso novamente, tenho o meu principezinho que agora
precisa da mãe e do pai, eu não sou e não tornarei a ser
aquele monstro. Então lamento em dizer, você não terá o
prazer em tirar minha vida. — Sorri ao dizer. Ela sorriu
também.
— Podemos selar a paz entre nós? — Perguntou.
— Em nome do meu amor por Grace, por meu pequeno
Benjamim, pela confiança louca que Alex tem em mim, e
por sua amizade para com minha família, sim, podemos
selar a paz. — Ela sorriu com mais alegria. Eu entendi o
ponto de Alice, ela tinha medo por Grace, por mim, pelo
sofrimento que causei e ela sentiu a distância. Foi um
tempo insano, um tempo doentio e triste, para Grace e eu.
Não quero voltar aquele lugar novamente, e quero o
máximo de pessoas que se importem com nossa família, ao
meu lado. Ficamos conversando e expliquei vários pontos
sobre Britt, sobre meu irmão, e o que eu sinto hoje e sentia
no passado, foi uma ótima conversa para falar a verdade.
Ela é uma boa ouvinte e fala coisas que só quem entende a
dor pode falar, senti que Alice e eu seríamos também, bons
amigos. Comemos e conversamos mais, depois, fomos
para o hospital ver nosso lindo Benjamim.

Alex
“Eu vou matá-lo com minhas próprias mãos”
Foi isso que pensei quando Grace abriu a porta do
apartamento para mim. Eu vi os olhos da minha irmã, que
foi gerada ao mesmo tempo que eu, no mesmo ventre.
Minha irmã gêmea. Grace é uma espécie diferente de
mulher, às vezes esperta demais, outras ingênua a ponto de
acreditar em qualquer coisa que lhe digam.
Quando conheci Blake, não foi aprazível, eu soube que
precisaria ir muito devagar com ele. Completamente
apaixonado por Grace e instável. Colocar uma arma dentro
da minha boca, não foi o que me assustou, e sim, ver o que
os olhos dele transmitiam no momento. Ele me olhou com
dor, que eu pude ver as pupilas dilatando com o medo. Eu
só não sabia o porquê do medo que ele estava sentindo,
não raiva, nunca foi raiva. Foi exasperação, foi dor, foi
sua alma sendo arrancada a pauladas de seu corpo. E o
que me fez agir passivamente com tudo o que aconteceu,
foi ver em seus olhos quando Grace disse que éramos
irmãos gêmeos, ele parecia ver Deus em sua frente, as
pupilas voltaram ao normal e ele começou a tremer. Juro
que se não fosse irreal, eu quase podia ver a alma dele
voltando para o corpo.
Foi quando vi que ele era esmagado por dentro e Grace
era o fio de esperança para ele viver novamente.
Blake foi corajoso, disse que pretendia casar-se com
ela, mesmo se ela não soubesse. Olho no olho, sem deixar
que minha atenção de desviasse.
— Eu a amo, Alex. E mesmo que você não aceite,
amanhã até o fim do dia, ela será minha esposa. Mesmo
sem ela saber.
— Por que tem que ser assim? Por que não pode fazer
as coisas com vias normais? Ela te ama. — Falei.
— Sim, eu posso, mas tenho medo de ela dizer não
depois de me ver com uma arma apontada para você. —
Disse ele.
— Você está me dizendo uma infantilidade, uma
desculpa para fazer do seu jeito.
— Não, Alex, aceite por favor uma conversa em
privado, eu vi quanto Grace o ama e você é o seu irmão.
Eu lhe devo uma explicação para tudo isso, e lhe contarei
toda a história da minha vida. — Disse. — Você me olha
com calma, isso ajuda muito.
— Eu estou mantendo a calma por Grace.
— Eu sei, é em respeito a isso que te peço me ajude,
por favor. Não me afaste dela, você é o único que tem esse
direito. — Ele tem razão.
— Quando você quer ter essa conversa?
— Amanhã ela vai para a Blake’s, enquanto ela
trabalha, tenho uma reunião que posso deixar nas mãos dos
meus funcionários e podemos nos encontrar esse horário.
— Tudo bem, eu o verei amanhã. — Ele me olhou
sério.
— Eu vou me casar com ela, só posso lhe dizer isso.
— Eu sei, Blake, só não me faça matá-lo antes disso.
Quando nos encontramos para conversar, Blake se abriu
comigo. Aquele que vivia em sua fortaleza interior, falou
tudo para uma pessoa que acabara de conhecer, isso só me
dizia que ele estava com medo de perder Grace. Ouvir
sobre seu irmão Benjamim e Britt, foi um choque, ele falou
com detalhes como se tivesse acontecido tudo naquele
momento. Cada vírgula, cada pondo, cada dor, cor de
roupa, falas pronunciadas, momentos, datas. Blake se
lembrava de tudo. Mas meu mundo caiu quando ele me
contou em detalhes absolutos, o que fez com Britt. O meu
medo por Grace foi tão nítido que ele percebeu e falou
sobre isso. Prometendo jamais usar seus punhos em minha
irmã, ou eu poderia tirar a sua vida.
Conversamos e acertamos tudo, ele queria Grace, e eu
sei que minha irmã o amava profundamente, e quando
lágrimas banharam o rosto do homem grande com corpo
másculo na minha frente, eu tive mais certeza de que Blake
precisava de uma atenção especial, ele estava instável,
teria que ter muito cuidado com ele.
Blake fez o que prometeu, se casou com Grace e sem
dizê-la que o faria. Ver minha irmã em uma linha cruzada
de balas não foi fácil. Depois da conversa com Blake fui à
fundo investigar a sua vida, o seu internamento em uma
clínica psiquiátrica pelo surto que teve depois da agressão
contra Britt, ele não me falou nada disso e minhas
preocupações aumentaram depois disso. Quando recebi
por e-mail todo o monitoramento de Grace em vídeos, que
o próprio Blake me enviou, eu decidi matá-lo, somente
tentar controlar e observar de longe não adiantaria de
nada, mais uma vez tivemos uma conversa e dessa vez eu o
ameacei com uma Glock 9mm, brigamos de socos e chutes,
e ele é bom em se defender, mas eu sou melhor ainda. Ver
minha irmã acorrentada, tirou mais uma vez o meu chão.
— Eu vou soltá-la.
— Você já fez isso uma vez, ela não é Britt. — Gritei.
— Eu sei, mas tenho medo, e não quero perdê-la.
— Você precisa de tratamento. Precisa se internar
novamente.
— Me dê um tempo, por favor, eu não vou machucá-la.
— Com que objetivo eu não entendo, Blake. — Gritei
andando de um lado para o outro em sua sala.
— Eu também não sei. — Falou com o olhar mais
perdido do que o meu. Blake estava mais preso do que a
própria Grace em seu quarto. Quando ele tirou as
correntes, foi um progresso, eu me mudei para Miami e
passei a acompanhar de perto, todos os dias tínhamos uma
conversa de trinta minutos, por web ou telefone, eu passei
a fazer terapia para aprender a lidar com ele. Eu não posso
explicar, mas aqui dentro de mim tinha um sentimento forte
por Blake, era bom, não com pena ou ódio, era amor de
irmão. Passei a me preocupar com ele como se ele fosse
da minha própria família. Talvez era pelo sorriso de Grace
ao recebê-lo no fim do dia em seu quarto. Ela podia ficar
triste o dia todo, chorar e se lamentar, mas quando ele
chegava, tudo aquilo não tinha mais sentido, ela sorria
feliz, e a felicidade era verdadeira e não fingida. Ela se
entregava para ele, e é claro, nessa hora as filmagens eram
cortadas. E eu agradeço, porque ver minha irmã sendo
tomada por Blake, seria uma visão do inferno. Blake
estava indo bem em nossas conversar, ele não sabia, mas
eu estava sendo orientado a falar com ele. Eu gravava
todas as conversar e repassava para o meu terapeuta,
Blake estava doente e precisava de Grace, de mim, e de
ajuda. Culpa por ter ficado longe do irmão, por agredir
Britt, por ter negligenciado com a família. Trancar Grace
em um quarto onde só ele tinha o livre acesso, ela que era
a sua família agora, era a sua válvula de escape pensar e
agir assim.
Quando Grace fugiu, eu me senti no paraíso, já estava
cansado de dar desculpas para nossos pais, apesar que ela
falava com eles uma ou duas vezes no mês. Grace agiu
como tinha que ser, grávida e presa, não faria bem a sua
saúde e eu mesmo já estava planejando tirá-la da casa.
Mas Blake morreu. Sim, ele morreu por dentro, não reagiu
e tudo ficou por minha conta. Quando começou a terapia,
foi ótimo e viu tudo o que precisava ver de um outro
ponto. E a partir desse momento, ver o seu crescimento e
se libertando, se perdoando, do seu próprio mundo
obscuro onde ele mesmo se colocou, foi também libertador
para mim, e para as pessoas que estavam acompanhando
isso de longe, Alice e minha esposa. Eu o amei como um
irmão. Ele se curou por ele principalmente, por Grace e
pelo pequeno Benjamim. Pedir perdão a Britt foi o
primeiro grande passo para a sua própria redenção. Hoje,
estou feliz, casado com a minha submissa que amo, vendo
o sorriso lindo e a felicidade de Grace, meus pais
tranquilos novamente, e Blake, sendo o marido e pai que
sempre achei que seria. Me sinto realizado. Tudo ficou
para trás e nós não tocamos mais no assunto. Grace pode ir
e vir de onde quiser, como quiser. Blake não é mais o
instável de outrora, e sim, o confiável de seu próprio
destino. Nossa família está e continuará muito feliz.
Só tem um parêntese nessa história, Alice Lunieri.
Nossa querida amiga, ainda não conseguiu se encontrar,
mas acho que tenho a solução. Com os meus anos de Dom,
aprendi a observar e ler as pessoas, esse intensivo com
Blake me fez ver mais intensamente cada detalhe dos que
estão a minha volta. E se meu instinto dominador não
estiver enganado, Alice precisa de um Dom em sua vida.
Não um Dom, mas o amor e cuidados de um. Assim como
eu, meu amigo Jake é um Dom, que vejo que está
precisando mais do que uma submissa em sua vida. Jake
não se contenta com nenhuma delas, sempre frustrado, para
as sessões no meio por não sentir nada, a unha da sub não
está da cor que lhe agrada, bater não o satisfaz como antes,
nada para ele está bom e sempre culpa as subs por isso.
Há meses venho estudando o seu comportamento e cada
palavra que sai de sua boca, assim também faço com
Alice. Minha esposa, que agora é uma grande amiga de
Alice, me passa todas as informações que eu não vejo. E
apostei com minha sub, que eu quero ser o seu submisso
por uma semana, se Jake e Alice não se encantarem um
pelo outro no encontro às cegas que estamos planejando
para eles. Eu sou um dominador, e minha sub está feliz em
me fazer seu submisso por alguns dias, e isso é lamentável.
— Sabe o que vou fazer com você se nada disso der
certo? O seu contentamento em me colocar amarrado e
fazer tudo o que tem planejado na sua cabeça, é um
estimulo para mim, como seu Dom.
— Eu faço ideia, senhor. — Ajoelhada na minha frente,
está a minha Melloni.
— Eu vou castigá-la, só pelo prazer que você está
sentindo se eu perder essa aposta. — Ela estava de cabeça
baixa e nua, vi os mamilos ficarem duros.
— Eu não faço por mal, senhor.
— Olhe para mim. — Ela levantou a cabeça devagar e
olhou em meus olhos. — Eu quero você nua por uma
semana, com sapatos pretos de salto com 15 centímetros.
Dispense todos os empregados, porque você vai sempre
estar de pernas abertas em qualquer cômodo da casa em
que eu esteja. Se por acaso eu quiser fodê-la, eu o farei e
você não vai gozar o tempo que durar a aposta. — Ela me
olhou assustada e engoliu em seco. — Você ficará aberta
somente para o meu prazer, a qualquer hora e lugar desta
casa, entendeu?
— Sim, senhor. — Sussurrou.
— O jantar é amanhã, se Alice e Jake não se acertarem,
você me terá como seu sub, e se eles ficarem juntos,
prepare-se para o maior castigo que até hoje o seu Dom já
lhe deu. — Ela balançou a cabeça em aceitação. — Agora
levante-se, e vá para a cama, vou fazer você gozar tanto,
que uma semana não será nada se você ficar somente me
servindo. — Melloni levantou-se e andou até a nossa
cama, sentou e olhou para mim esperando a próxima
ordem. — Deite-se e abra as pernas.
Alice

Alex e Melloni me convidaram para jantar em sua casa,


queriam conversar sobre Grace e Benjamim, coisa que me
preocupou muito ao dizer por telefone. Melloni disse para
eu não me preocupar pois eles estavam bem, era só
organizar uma festa na mansão Blake, para eles. E de festa
eu entendo bem.
Cheguei e fui recebida por um Alex muito sorridente, a
mesa de jantar estava arrumada lindamente para três
pessoas, e na sala, várias sacolas de presentes para
Benjamim e coisas de decoração de festas com temas
infantil.
— Ele não é muito novo para fazermos isso? —
Perguntei.
— É para meu sobrinho, então podemos tudo, cara
Alice. — Ficamos por muito tempo conversando, sorrimos
e brincamos. Também entramos no assunto Blake, que para
mim foi resolvido até quando ele tivesse um momento de
fraqueza. A campainha tocou e eu achei estranho.
— Está esperando alguém, amor? — Perguntou
Melloni.
— Jake falou que viria, mas eu não acreditei, por isso
não falei para colocar outro lugar na mesa. — Disse Alex.
Ele levantou e foi servir outra dose de uísque. A
empregada atendeu a porta e quando eu ouvi a voz mais
linda atrás de mim, meu mundo quase parou. Foi como se
todos os meus sentidos tivessem paralisados somente para
ouvi-lo.
— Boa noite, casal. — Disse o homem. Eu não tive
coragem de olhar para ele.
— Jake, que bom vê-lo. — Melloni levantou-se e foi
cumprimentá-lo. Alex não deixou de me olhar um só
segundo.
— Melloni, querida, como vai?
— Bem, obrigada.
— Jake. — A voz de Alex era risonha e seus olhos
estavam diferentes.
— Alex, você é um sacana, não apareceu mais no tênis.
— Eles se cumprimentaram.
— Sem tempo, amigo, meu sobrinho nasceu e eu estava
resolvendo problemas de família.
— Mas está tudo bem, não é? — Perguntou o homem,
eu não vi o seu rosto, mas senti na voz que ele se
preocupou ao ouvir a palavra família.
— Sim, estamos todos bem agora. Aceita uma bebida?
— Sim, por favor. — Respondeu. Eu estava sentada e
assim fiquei? “O que você é Alice, uma idiota?” pensei.
— Venha, deixe-me apresentá-lo a uma grande amiga da
família. — Quando ouvi a voz de Alex dizer isso, meu
corpo começou a tremer.
— Eu não quero atrapalhar, só passei porque você
disse que queria conversar. — “Não foi isso que Alex
disse” pensei.
— Não atrapalha, o jantar será servido e você é bem-
vindo a juntar-se a nós. — Disse Alex. — Alice, quero te
apresentar um amigo, Jake. Jake, essa é Alice, também
uma grande amiga. — Quando eu olhei de soslaio para o
corpo se aproximando, meu coração bateu mais forte. A
voz, somente a voz me deixou trêmula e sem ação. Tentei
pensar e agir rápido, mas com naturalidade. Levantei
controlando ao máximo meu corpo, e sorri ao olhar para
ele. Ele sorria também, e quando nossos olhos se
encontraram, foi como se realmente o meu mundo tivesse
parado. Ele me dominou, e eu aceitei e prendi a respiração
com o momento. Jake não deixou os meus olhos, cada
centímetro do meu rosto ele observou e eu tremi. O
silêncio ocupou a sala e só existia nós dois ali. Até que ele
quebrou o silêncio.
— Encantado. — Disse estendendo a mão para mim. Eu
sorri.
— Olá. — Foi o que consegui dizer. A voz dele ficou
mais rouca e mais grossa.
— Jake. — Disse.
— Alice. — Peguei em sua mão e senti o calor dela.
Ele sorriu, e foi o sorriso mais lindo que já vi. Ele é o
homem mais lindo que já vi. Alto, negro, olhos mel, forte,
cabelo raspado, lábios desenhado a pincel e não muito
grosso, dentes perfeitos, fez-me ficar com vergonha de
sorrir. Ficamos nos olhando até Alex nos chamar.
— Vamos nos sentar. Como vão os negócios, Jake? —
Eles começaram a conversar e se sentaram no sofá a frente
do que eu estava. Melloni e eu nos sentamos, e ela pegou
na minha mão.
— Foi o mesmo que senti quando eu vi Alex pela
primeira vez. — Disse ela em voz baixa. Eu olhei para
Melloni e ela sorriu para mim.
— Isso nunca aconteceu comigo, estou agindo como
uma idiota. — Falei sussurrando. Olhei para Jake e ele
estava olhando para mim, foi tão intenso que eu não
consegui manter e abaixei os olhos. Eu ouvi ele sorrir por
isso. Conversamos todos por mais um tempo e depois
fomos para mesa de jantar, ele sempre com sorriso aberto
e falando com Alex e Melloni, e me incluía sempre em
todos os assuntos, mas eu me mantive calada o máximo,
parecia não ser certo estragar o som do ambiente com
minha voz quando a dele era tão linda de se ouvir.
Terminamos o jantar e fomos para a sala, eu precisava
ir embora, mas não queria. E também por raiva de mim
mesma por estar agindo tão ridícula, sem conseguir me
controlar e a cada vez que nos olhávamos, uma corrente
elétrica passava pelo meu corpo. Não sei se foi o meu
desejo, mas parecia que ele sentia a mesma corrente que
eu. Olhei mais uma vez as horas e já era tarde, eu
precisava ir.
— O jantar estava maravilhoso, mas preciso ir agora.
— Falei.
— Tão cedo? — Perguntou Jake.
— Eu preciso começar o dia bem cedo amanhã. —
Falei olhando para ele.
— Eu a levo em casa.
— Não precisa, eu vim com meu carro.
— Eu quero. — Seu tom foi cortante, mas adorável de
ouvir.
— Tudo bem. — Foi o que respondi e não acreditei no
que ouvi sair da minha boca. Alex sorriu e ficou sério,
logo em seguida, olhou para Melloni e ela abaixou os
olhos para não o encarar, não entendi e também não estava
em condições de entender nada.
— Alex, amanhã continuamos a planejar a festa. —
Falei.
— Na verdade, pensei melhor e acho que vamos
esperar até o próximo mês, meus pais estarão aqui.
— Claro, será melhor mesmo. — Nos despedimos e
saímos. Eu estava na frente do meu carro quando falei.
— Eu posso mesmo ir sozinha, não precisa se
incomodar, Jake. — Falei olhando para ele, afinal, eu
estava com meu carro a minha disposição.
— Alice, eu disse que quero te levar, então isso não é
discutível. — Ele me olhou sério.
— Por quê?
— Porque eu posso. Dê-me o número do seu telefone.
— Disse ele. E eu dei o meu cartão de visitas para ele.
— Entre. — Ele abriu a porta do carro na parte de trás
para mim. Não deixei de notar que ele estava com serviço
de motorista.
— Obrigada.
— A que horas você vai para o trabalho amanhã? E em
que trabalha? — Perguntou.
— Trabalho na empresa da minha família, tecnologia. E
saio de casa às 7h da manhã.
— Seu carro vai estar na sua casa nesse horário. E eu
também para levá-la ao trabalho.
— Mas não......
— Alice. — A voz foi de repreenda, eu me calei. — Eu
quero levá-la e às 12 horas passo para buscá-la para
almoçar comigo, precisamos conversar. — Disse ele.
— Sobre o quê? — Perguntei.
— Nós dois.
— O que tem nós dois? — Minha voz quase não saiu.
— Eu quero você. — Disse ele e eu soltei a respiração
que não sabia que estava segurando. — E eu vou ter você,
e precisamos conversar sobre isso. — Não falei nada, a
minha voz me abandonou. Chegamos ao meu endereço e
nos despedimos formalmente. A noite toda eu não dormi.
No outro dia ele estava me esperando às sete horas em
ponto, me levou para o trabalho, e ao meio-dia me buscou
para o almoço. Ele me levou ao seu apartamento, muito
luxuoso, ou o que ele se encontrava com as mulheres, não
posso deixar de pensar nisso pois não sou tão idiota assim.
A mesa estava posta para o almoço e quando nos
sentamos, ele começou a falar.
— Eu sou um dominador, Alice. Você sabe o que é
isso? — Claro que nas minhas saídas nas noites eu via de
tudo, mas essa questão nunca me interessou.
— Não perfeitamente, mas já ouvi falar. — O seu olhar
se iluminou.
— Eu quero você, Alice, e sei que me quer desde o
momento em que nos olhamos ontem. O seu corpo se
submeteu a mim sem eu dizer para fazê-lo. — Disse. —
Hoje você não volta para o seu trabalho, eu vou tê-la em
meus lençóis. Quero você nua e de joelhos, submissa para
mim. Você é linda demais para sair daqui sem me ter como
seu amo. — Seus olhos me devoravam, eu tremi com o
poder da voz de Jake.
— Eu sou assim, rápido e não gosto de esperar por
alguma coisa que posso ter ou fazer hoje. — Ele levantou-
se e se aproximou, eu tremi mais uma vez. — Você está
com fome?
— Não.
— Levante-se, eu vou mostrar-lhe o meu mundo. — Eu
me levantei, obedeci, não tive medo, nem vontade de
correr, eu só queria obedecê-lo. O meu corpo já não era
mais meu e sim dele, desde o momento em que eu ouvi a
sua voz.
Jake me tomou ali mesmo, na sala, me fazendo sua
submissa, eu nunca me senti tão especial na vida. Depois
do sexo intenso, eu adormeci em seus braços. E acordei
com ele dentro de mim novamente.
— Oi. — Disse ele sorrindo.
— Oi. — Respondi.
— Você disse que precisava ir para casa de Grace sem
falta, estou acordando você.
— Sim, eu estou vendo e gostando. — Ele estocou
forte.
— Depois você vai para sua casa? — Perguntou,
penetrando até o fundo.
— Sim.
— Então eu vou buscá-la para dormir comigo.
— Sim. — Eu não queria falar, somente senti-lo dentro
de mim. Se isso seria um problema, eu não sei. O que eu
sabia era que ele me fez dele, e eu me apaixonei. Uma
felicidade tomou conta do meu coração, por ver também
em seus olhos, não o amor, mas sim a certeza de que nós
dois iriamos durar, até enquanto Deus quisesse. Jake me
queria tanto quanto eu o queria, isso já era tudo para mim.

Grace

Estamos todos sentados à nossa grande mesa de jantar,


para comemorar o dia de ação de graças. Tenho realmente
muito a agradecer. Papai e mamãe estão aqui e sorridentes
por conhecer o seu neto, Alice e Jake por serem nossos
amigos e agora nossos homens estão muito amigos, Alex e
Melloni sempre amáveis e apaixonados um pelo outro, e
nossos amigos solteiros, Oliver e Karley, eu também os
considero da família. Meu pequeno Benjamim no colo do
meu amado marido Blake Goldberg.
Alex e Jake estão mostrando como é o mundo BDSM
para Blake, ensinando realmente a essência disso, não só o
controle sexual, mas também a mente. Porque no BDSM se
você não tem o controle da mente, você torna-se uma
máquina assustadora.
Por tudo o que aconteceu eu aprendi que:
O amor cura as feridas que a vida trás,
O perdão cura a alma,
Família é o esteio de tudo,
Amigos são irmãos escolhidos por Deus e por nós.
Então sim, eu tenho hoje muito o que agradecer,
principalmente porque eu vi um milagre, uma mudança de
comportamento, uma aceitação do passado, uma admissão
dos erros. Blake não é mais o mesmo, nós não somos.
Aprendemos a diferenciar atos do passado para não ser o
reflexo do futuro. Ele está saudável, confiante e o melhor,
posso ir e vir de onde e por onde eu quiser. Aquilo que
passei, ficou lá no passado. Hoje vivemos felizes e sem
qualquer efeito colateral.
Olho para Blake e os lindos olhos dele estão olhando
para mim.
— Hoje é um dia que não quero esquecê-lo nunca mais,
por isso estou gravando tudo. — Disse ele sorrindo para
mim.
— Eu sabia que o faria. — Falei.
— Existe costumes difíceis de mudar. — Disse.
— Como o quê, por exemplo? Entendo que não é da
gravação que está falando. — Falei.
— Não mesmo. Estou falando da vontade que estou de
fodê-la agora mesmo. — Sussurrou.
— Isso ainda vai demorar mais uns dez dias, amor.
— Grace, você vai me enlouquecer, eu preciso de você.
— Ele sussurrou e sorriu tentando disfarçar o que
estávamos falando.
— Vamos ter nosso momento assim que todos
terminarem o jantar. — Falei, ele me olhou sem acreditar.
— A minha bundinha está precisando de alguma coisa
dentro dela e creio que você possa me ajudar.
— Com certeza, amor. — Disse rouco.
— Você precisa ser calmo.
— Eu não tenho certeza disso. — Falou.
— Era o que eu precisava ouvir. — Falei e sorri.
— Você aprendeu direitinho, não é?
— Eu tenho minhas armas, Blake Goldberg, e vou usá-
las todas contra você.
Ele me olhou carinhosamente, deixando a luxúria de
lado.
— Pode usá-las todas, amor, para o resto de nossas
vidas. A única coisa que peço nesse dia de ação de graças,
é que possamos envelhecer juntos, cuidando dos nossos
filhos e netos. — Ele se emocionou de repente. —
Obrigado por não me abandonar, e por me amar.
— Obrigada por me amar também. — Falei.
— Sim, Grace, eu amo você. Eu amo a nossa vida.
— Para sempre. Eu te amo.

Fim.
AUTORA
Adriana Arebas, 23 novembro de 2015.

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