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Sérgio Pereira
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
JESUS CRISTO
pessoa, obra e ensinamentos
uma visão sobre a Bíblia
Sérgio Pereira © 2006
Ribeirão Preto
Revisão:
Márcio Luiz Luciano
Roberto Márcio
Sérgio Pereira 2
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Dedicado a Dora,
Dora minha filhinha,
presente de Deus.
Sérgio Pereira 3
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Agradecimentos a Carlos Baptista, Carlos Eduardo Pereira (meu pai), Eliane Werner (e
galera da MPC Brasil), Fátima Nassif Facchini, Gláucia Valério Fernandes, Guilherme
Davoli, Kátia Alves de Freitas Ferrari, Lílian Rodrigues de Oliveira Rosa, Márcio Luiz
Luciano, Marivone Lobo Pereira, Nainora Maria Barbosa de Freitas, Ricardo Costa, Ricardo
Morais Scatena e Roberto Márcio.
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Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Sumário
Sumário
Apresentação - 6
I – Bíblia
1.1 Profecias - 7
1.2 Flávio Josefo - 9
1.3 Os quatro Evangelhos e outros livros da Bíblia - 10
1.4 Alguns erros comuns sobre a Bíblia – 11
1.5 Bíblia Católica -13
1.6 Divisão Geral da Bíblia Protestante - 15
II - Nascimento
Nascimento e Família
2.1 Nascimento, Infância e Juventude - 16
2.2 Os dezoito primeiros anos de Jesus seguindo a cronologia - 17
2.3 Viagens de Jesus em seus primeiros anos - 18
2.4 História entre Antigo e Novo Testamentos - 19
2.5 João Batista - 20
2.6 Distâncias a partir de Jerusalém - 21
III – Ministério
3.1 A tentação – 22
3.2 Jesus no ano de inauguração - 23
3.3 Milagres - 24
3.4 Os doze discípulos e outros seguidores - 25
3.5 Esboço histórico dos apóstolos - 26
3.6 Sermão do Monte - 27
3.7 Parábolas – 29
3.8 Ano de Popularidade de Jesus - 31
IV – Morte e Ressurreição
4.1 Traição, prisão e condenação – 32
4.2 Últimos dias de Jesus - 35
4.3 Crucificação – 36
4.4 Suas horas na cruz - 38
4.5 Ressurreição e ascensão – 39
4.6 Aparições pós-ressurreição - 41
Considerações
Considerações Finais - 42
Anexo
1. Cronologia da vida de Jesus Cristo – 43
2. A Bíblia: autores e datas prováveis em que foram escritos seus livros - 50
3. Texto “A inigualável Paixão de Jesus Cristo” por John Piper - 51
4. Texto “A Paixão de Cristo, de Mel Gibson” por Carlos R. Caldas Filho - 56
5. Peça do Processo de Cristo - 61
Referências – 62
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Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Apresentação
O objeto deste estudo é Jesus Cristo, sua história e o que deixou de
legado à humanidade. Preocupo-me com a visão unilateral de muitos sobre
o cristianismo, que o focam apenas pelo lado crítico-racional, esquecendo
que o assunto passa necessariamente pelo campo da fé e que esta não
depende de provas materiais. Concordo com o seguinte pensamento da
pesquisadora de História das Religiões Karen Armstrong, que escreveu em
seu livro Uma História de Deus: “Um dos motivos pelos quais a religião parece irrelevante
hoje é que muitos de nós não têm mais o senso de que estão cercados pelo invisível. Nossa
cultura científica nos educa para concentrar nossa atenção no mundo físico e material à nossa
frente” (p. 16).
Maio de 2006
Sérgio Pereira
Sérgio Pereira 6
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
I – Bíblia
Profecias
De Gênesis (primeiro livro do A.T.1) a Zacarias (penúltimo livro do A.T.),
encontram-se aproximadamente 38 profecias a respeito de Jesus, desde seu
local de nascimento até como morreria. Visto como o maior dos profetas
do Antigo Testamento, Isaías é aquele que nos fornece a descrição mais
completa da história, títulos e características de Cristo. Viveu entre 740-701
a.C. sob os reinados dos reis Joatão (739-734 a.C.), Acaz (734/3-716 a.C.) e
Ezequias (716/15-699/8 a.C.), quando a Assíria se tornava uma potência
mundial (750-612 a.C.). Algumas profecias descritas por Isaías sobre Jesus
Cristo:
Sua família
Então brotará um rebento do toco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará – 11:1.
Seu nascimento
Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um
filho e lhe chamará Emanuel. — 7:14.
Seus títulos
Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e
o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz;
para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim (...) — 9:6, 7.
Seu sofrimento
Como pasmaram muitos à vista dele (pois o seu aspecto estava tão desfigurado que não era
o de um homem, e a sua figura não era a dos filhos dos homens), assim ele espantará muitas
nações; por causa dele reis taparão a boca; pois verão aquilo que não se lhes havia anunciado,
e entenderão aquilo que não tinham ouvido. Era desprezado e o mais rejeitado entre os
homens; homem de dores e que sabe o que é padecer (...) Certamente, ele tomou sobre si as
nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de
Deus e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa
das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras
fomos sarados. — 52:14-15 e 53:3, 4, 5.
1
A.T. se refere a “Antigo Testamento” e N.T. a “Novo Testamento”.
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Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Ocorreu certa vez um fato verídico em uma escola pública de Nova York,
onde havia um bom número de estudantes judeus que se incomodavam
com as aulas de estudos bíblicos, mais especificamente com aquelas sobre
o N.T. Por fim, conseguiram um acordo: estudariam apenas o A.T.
Flávio Josefo
Josefo foi um judeu que viveu entre 37 e 103 d.C. Filiou-se ao grupo dos
fariseus por seu zelo religioso. Durante toda sua vida seu povo esteve sob
julgo romano. Em 66 d.C. inicia-se uma violenta revolta dos judeus contra
os romanos e Josefo é enviado como líder de operações dos judeus contra o
inimigo na turbulenta região da Galiléia. Teve algumas vitórias, mas enfim
caiu aos pés do exército de Tito. Finda a guerra, é conduzido à capital do
Império, onde lhe é conferido o título de cidadão romano e seu novo
nome: Flávio. Viveu em Roma até o fim de sua vida escrevendo a obra que
atravessaria os séculos e chegaria até nós: História dos hebreus.
Esta obra é uma das maiores fontes de informação sobre o povo judeu e
o Império Romano. As recentes descobertas de Qunram e Massada, em
Israel, confirmam de modo surpreendente os relatos de Josefo, conferindo
assim maior credibilidade aos seus relatos.
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Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Escreveu ele sobre Jesus: “Nesse mesmo tempo apareceu JESUS, que era um homem
sábio, se todavia devemos considerá-lo simplesmente como um homem, tanto suas obras eram
admiráveis. Ele ensinava os que tinham prazer em ser instruídos na verdade e foi seguido não
somente por muitos judeus, mas mesmo por muitos gentios. Era o CRISTO. Os mais ilustres
da nossa nação acusaram-no perante Pilatos e ele fê-lo crucificar. Os que o haviam amado
durante a vida não o abandonaram depois da morte. Ele lhes apareceu ressuscitado e vivo no
terceiro dia, como os santos profetas o tinham predito e que ele faria muitos outros milagres. É
dele que os cristãos, que vemos ainda hoje, tiraram seu nome.” (Josefo, p. 156.)
Os quatro
quatro Evangelhos
Evangelhos e outros livros
livros da Bíblia
Há quatro livros no N.T. com o nome de Evangelho que significa “boas
novas”, escrito por quatro autores diferentes. São eles: Mateus (descreve
Jesus como “O Messias soberano”), Marcos (descreve Cristo como “O que
faz maravilhas”), Lucas (como “O amigo dos desprezados”) e João (como “O
Filho de Deus”), sendo que dois destes foram discípulos: Mateus e João.
São chamados de evangelhos sinóticos, três: Mateus, Marcos e Lucas que
dão um esboço biográfico e resumido da vida e ministério de Cristo, muito
compatíveis entre si. Muitos eventos são paralelos entre os três autores,
embora nem sempre concordem em todos os detalhes: quantos anjos
haviam no túmulo no dia da ressurreição, o que dizia a inscrição na cruz,
em que dia Jesus e os discípulos celebraram a Páscoa no cenáculo e assim
por diante.
2
João 17:17.
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Após você receber a notícia que está com uma doença incurável, não é
lúcido procurar uma segunda e terceira opinião? É o mesmo caso com a
Bíblia. Primeiramente, procure saber quem está fazendo a interpretação: é
um estudioso da palavra? Seus conceitos estão baseados em quais
teólogos? Qual é sua mensagem? Tudo isso ajuda a eliminar uma
interpretação bíblica errada! Não ouça apenas uma opinião! (Sproul, p.
54;59;61)
2. Presumir que a Bíblia está errada: muitos dizem que a Bíblia está
errada até que algo venha a provar que ela está certa. Contudo, como
acontece com qualquer cidadão acusado de faltar com a verdade, a
Bíblia deve ser tida como verdadeira até que se prove o contrário.
3
João 10:35.
4
Mateus 5:18; Lucas 16:17.
5
Salmo 14:1.
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Por exemplo, Tiago parece estar dizendo que a salvação é pelas obras6 ao
passo que Paulo ensina que a salvação é pela graça7. Estudando-se o
contexto percebe-se que não há contradição. Paulo está falando da
justificação perante Deus (o que é pela fé somente), ao passo que Tiago está
se referindo à justificação perante os homens (que não têm como ver nossa
fé, mas somente nossas obras).
10. Assumir que diferentes narrações sejam falsas: pelo simples fato
de divergirem entre si duas ou mais narrações do mesmo
acontecimento, isso não significa que elas sejam mutuamente
exclusivas. Por exemplo, em Mateus 28:5 está escrito que havia um
anjo junto ao túmulo de Jesus depois da ressurreição, ao passo que
em João 20:12 há informação que haviam dois. Não há, porém,
nenhuma contradição.
6
Tiago 2:14-26.
7
Romanos 4:5; Tito 3:5-7; Efésios 2:8-9.
8
Êxodo 31:18.
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Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
11. Presumir que a Bíblia aprova tudo o que ela registra: toda a
Bíblia é verdadeira, mas ela registra algumas mentiras, como as de
Satanás em Gênesis 3:4.
9 Alguns afirmam que todos os livros do A.T. (cânon protestante) foram reunidos e reconhecidos
sob a liderança de Esdras (V a.C.). No Sínodo de Jamnia (90 a.C.) uma reunião de rabinos judeus os
reconheceu também. O Concílio de Cartago (397) reconheceu como canônicos os 27 livros do N.T. A
Igreja Católica Romana, no Concílio de Trento (1546) considerou canônicos onze dos dezesseis livros
apócrifos (http://www.vivos.com.br/42.htm).
10
Apócrifo significa “escondido”, “secreto”. Deuterocanônico significa “pertencentes ao segundo
cânon” e é o termo usado pelos católicos para tais livros.
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Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
BÍBLIAS
BÍBLIAS
PROTESTANTE (66 livros) CATÓLICA (73 livros e adições11) ABREVIAÇÃO
ANTIGO TESTAMENTO
1. Gênesis 1. Gênesis Gn
2. Êxodo 2. Êxodo Êx
3. Levítico 3. Levítico Lv
4. Números 4. Números Nm
5. Deuteronômio 5. Deuteronômio Dt
6. Josué 6. Josué Js
7. Juízes 7. Juízes Jz
8. Rute 8. Rute Rt
9. 1 Samuel 9. 1 Samuel 1Sm
10. 2 Samuel 10. 2 Samuel 2Sm
11. 1 Reis 11. 1 Reis 1Rs
12. 2 Reis 12. 2 Reis 2Rs
13. 1 Crônicas 13. 1 Crônicas 1Cr
14. 2 Crônicas 14. 2 Crônicas 2Cr
15. Esdras 15. Esdras Ed
16. Neemias 16. Neemias Ne
- 17. Tobias Tb
- 18. Judite Jd
17. Ester 19. Ester (e adições) Et
18. Jó 20. Jó Jó
19. Salmos 21. Salmos Sl
- 22. 1 Macabeus IM
- 23. 2 Macabeus IIM
20. Provérbios 24. Provérbios Pv
21. Eclesiastes 25. Eclesiastes Ec
22. Cântico dos Cânticos 26. Cântico dos Cânticos Ct
- 27. Sabedoria Is
- 28. Eclesiástico Eclo
23. Isaías 29. Isaías Is
24. Jeremias 30. Jeremias Jr
25. Lamentações 31. Lamentações Lm
- 32. Baruc Ba
26. Ezequiel 33. Ezequiel Ez
27. Daniel 34. Daniel (e adições) Dn
28. Oséias 35. Oséias Os
29. Joel 36. Joel Jl
11
O livro canônico de Ester termina com o décimo capítulo. A produção apócrifa acrescenta dez
versículos a este capítulo e mais seis capítulos, 11-16. O livro canônico de Daniel possui 12 livros. A
Igreja Católica Romana acrescenta: “O cântico dos três jovens” ao capítulo 3 (de 23-90) e mais dois
capítulos: “História de Suzana” (Dn 13);”Bel e o dragão” (Dn 14).
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NOVO TESTAMENTO
1. Mateus 1. Mateus Mt
2. Marcos 2. Marcos Mc
3. Lucas 3. Lucas Lc
4. João 4. João Jo
5. Atos 5. Atos At
6. Romanos 6. Romanos Rm
7. 1 Coríntios 7. 1 Coríntios 1Co
8. 2 Coríntios 8. 2 Coríntios 2Co
9. Gálatas 9. Gálatas Gl
10. Efésios 10. Efésios Ef
11. Filipenses 11. Filipenses Fp
12. Colossenses 12. Colossenses Cl
13. 1 Tessalonicenses 13. 1 Tessalonicenses 1Ts
14. 2 Tessalonissences 14. 2 Tessalonissences 2Ts
15. 1 Timóteo 15. 1 Timóteo 1Tm
16. 2 Timóteo 16. 2 Timóteo 2Tm
17. Tito 17. Tito Tt
18. Filemon 18. Filemon Fm
19. Hebreus 19. Hebreus Hb
20. Tiago 20. Tiago Tg
21. 1 Pedro 21. 1 Pedro 1Pe
22. 2 Pedro 22. 2 Pedro 2Pe
23. 1 João 23. 1 João 1Jo
24. 2 João 24. 2 João 2Jo
25. 3 João 25. 3 João 3Jo
26. Judas 26. Judas Jd
27. Apocalipse 27. Apocalipse Ap
Antigo Testamento
Livros históricos: Gênesis a Ester.
Livros poéticos: Jó a Cantares.
Livros proféticos: Isaías a Malaquias.
Novo Testamento
Evangelhos: Mateus a João.
História da Igreja: Atos.
Cartas: Romanos a Judas.
Profecia: Apocalipse.
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II – Nascimento
Nascimento e Família
Nascimento, Infância e Juventude
A história de Jesus Cristo12 começa com a encarnação de Deus: o Verbo
eterno se faz carne e vive entre nós durante determinado tempo. Deus
poderia ter vindo de várias formas, mas resolveu vir através do ventre de
uma mulher virgem, como bebê indefeso e dependente de cuidados. O
Senhor do Universo nasceu em um estábulo, filho de uma camponesa!
12
“Cristo” é o termo grego para o hebraico “Messias”. Ambos significam “O Ungido”.
13
Lucas 2:1.
14
Lucas 2:4.
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Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
15
Provavelmente nasceu no dia 1º. de abril de 5 a.C., segundo estudos mais recentes (Reese, p.1026).
Não há nenhum mandamento bíblico para celebrar o nascimento de Jesus no dia 25 de dezembro e
nada que indique que Jesus nasceu nesta data. No dia 25 de dezembro, celebrava-se um feriado
pagão no Império Romano relacionado com religiões de mistérios. Os cristãos, não querendo
participar de tal comemoração, criaram então o natal. (Sproul, p. 237-238).
16
Até pouco tempo atrás, os críticos asseguravam amplamente que Lucas cometera um engano na
sua afirmação sobre o recenseamento neste período. No entanto, pesquisas recentes reverteram tal
tendência e agora é amplamente admitido que houve um censo (Geisler, p. 391-392).
17
“Manjedoura” é comedouro de animais.
18
A circuncisão significava que o menino era admitido na comunidade do pacto judeu. Em Gênesis
17:12-13 temos Deus dando tal mandamento a Abraão. O incircunciso era considerado pagão
(TENNEY, p. 70-72).
19
A tradição católica diz que eram “reis magos”, que eram “três” e 800 anos após o nascimento de
Cristo dá nome a eles: Melchior, rei da Pérsia; Gaspar, rei da Índia; e Baltazar, rei da Arábia. Em
hebreu, esses nomes significavam “rei da luz”, “o branco” e “senhor dos tesouros”. No entanto, não
encontramos nenhuma destas informações na Bíblia. Só Mateus relata tal visita; escreveu que eram
sábios (magos) e mais de um, sem citar nomes ou de onde vieram. Outra controvérsia se dá sobre o
fato de terem seguido uma estrela para chegar até Jesus. A Bíblia condena o uso da astrologia
(Levítico 19:26) que é a crença de que o estudo da disposição e movimento das estrelas e astros
podem capacitar alguém a “prever” acontecimentos. No entanto, a estrela não estava “prevendo” e
sim “anunciando” o nascimento de Jesus. O Salmo 19:1-6 afirma que os céus proclamam a glória de
Deus e Romanos 1:18-20 nos ensina que a criação revela a existência de Deus.
20
“O menino crescia e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele.” Este é o único relato
bíblico sobre a infância de Jesus, descrito em Lucas 2:40, juntamente com o episódio do Templo,
aos 12 anos: Lucas 2:41-50.
21
Segundo o Dicionário Aurélio séc. XXI, “carpinteiro” é quem trabalha em obras grosseiras de
madeira, diferente de “marceneiro” que trabalha com mais arte.
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João Batista
O anjo Gabriel aparece a seu pai, o sacerdote Zacarias, quando este
servia no Templo, e lhe informa o nascimento de João cerca de um ano
antes do nascimento de Jesus (João e Jesus eram parentes22). Zacarias e sua
mulher eram de idade avançada e ainda não tinham filhos, pois Isabel era
estéril. Zacarias duvida das palavras de Gabriel por isso e fica mudo até o
nascimento de João23.
Aos 30 anos, Jesus vai até João batista para ser batizado. João ao vê-lo,
tenta impedi-lo dizendo “Eu preciso ser batizado por ti e Tu vens a mim? Ao aceitar
ser batizado, Jesus tanto se identifica com o pecado do seu povo (morrerá
pelos pecados da humanidade três anos depois) como proclama sua
lealdade completa à Deus Pai e às Escrituras. Assim que Jesus foi batizado e
saiu da água, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu como pomba,
pousando sobre ele. No dia seguinte João viu Jesus se aproximando e disse:
“Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!”27
22
Lucas 1:36.
23
Lucas 1:5-25.
24
Isaías 40:3.
25
Leia Lucas 3:7-18.
26
Mateus 3:2.
27
Mateus 3:13-16 e João 1:29-34.
28
Jesus disse que João Batista era o profeta Elias reencarnado em Mateus 17:12? Não. Jesus não está
dizendo que Elias havia reencarnado e sim, que João veio no poder de Elias, ou seja, veio para
continuar seu ministério profético. Em segundo lugar, Elias aparece no monte da transfiguração
Sérgio Pereira 20
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
(Mateus 17:10-13). Em terceiro lugar, Elias não se enquadra dentro do modelo de reencarnação
porque ele não morreu. Foi ao céu como Enoque, trasladado para não ver a morte (2 Reis 2:11;
Hebreus 11:5). De acordo com o ensino kardecista, é necessário morrer para reencarnar-se num
outro corpo. Em Hebreus 9:27, o autor declara que “aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo
depois disto, o juízo” (Geisler, p. 350).
Sérgio Pereira 21
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III – Ministério
A Tentação
O mesmo Espírito Santo que viera sobre Jesus no seu batismo como
confirmação de sua divindade agora o leva para ser “tentado” no deserto. O
termo nos originais está mais relacionado com “aprender a depender” ou
“testar” do que com “tentação”, pois Deus não “tenta” ninguém29. Essa
palavra, no Evangelho segundo Mateus, está sempre relacionada com
“prova”. Esta foi a prova de resistência com a qual Satanás30 procurou fazer
Jesus renunciar à sua identidade como ungido de Deus, o Messias.
Diz a palavra de Deus que após Jesus jejuar quarenta dias e quarenta
noites, teve fome. O número quarenta aparece em ocasiões especiais na
Bíblia: Moisés jejuou quarenta dias no Monte Sinai enquanto recebia os
Dez Mandamentos31 e Israel ficou no deserto por quarenta anos32. Satanás
se aproxima e passa a testar Jesus, atacando-o primeiramente no físico:
desafia Jesus a matar a fome transformando as pedras em pães. Jesus
responde com Deuteronômio 8:3, onde se diz que a verdadeira vida não é
encontrada no alimento, mas em toda palavra de Deus. Conforme Mateus
4:5, Satanás o levou à cidade santa e o colocou na parte mais alta do
templo33. Desafiou Jesus a se jogar dali, pois como estava escrito34, os anjos
viriam para socorrê-lo. Jesus diz-lhe: “Também está escrito: Não tente o Senhor seu
Deus”. Satanás o leva a outro lugar muito alto, mostra-lhe os reinos da Terra
e sua glória e lhe diz: “Tudo isto te darei se te prostrares e me adorares”. Jesus lhe
disse: “Retira-te Satanás! Pois está escrito: “Adore o Senhor seu Deus e sirva somente a ele”.
Satanás o deixa e os anjos vêm e lhe servem. Esta última tentação é para
que Jesus receba os reinos do mundo sem sofrer futuramente as agonias da
cruz. Satanás apelou para as necessidades fisiológicas de Jesus, Suas
inseguranças e ambições, mas não conseguiu vencer a fidelidade de Jesus
ao Pai. Preparado pelo batismo e tentação, Jesus começa agora seu
ministério.
29
Em Tiago 1:13 encontramos o versículo: “Ninguém, ao ser tentado diga: Sou tentado por Deus”. E segue
explicando que a tentação é algo que nasce de dentro das inclinações más de nosso próprio coração.
Não podemos desculpar nosso pecado dizendo que o Diabo nos fez cometê-lo ou pior ainda, que
Deus nos provocou e nos inclinou para o pecado. É completamente fora do caráter de Deus conduzir
alguém a pecar (Sproul, p. 309-310).
30
Satanás não aparece tanto no Antigo Testamento. Temos ele identificado como a serpente no Éden
em Apocalipse 12:9, no episódio com Jó 1:6 e em Zacarias 3:2. Porém, no pensamento judeu
posterior e no Novo Testamento, é representado como um anjo que se rebelou contra Deus, um
inimigo dos Seus propósitos e do Seu povo.
31
Êxodo 34:28.
32
Deuteronômio 8:2.
33
Provavelmente 130 metros acima do Vale do Cidrom.
34
O Salmo 91:11-12 é uma promessa de que Deus estará com seu povo nas épocas de crise. Satanás
aplica mal esta promessa, a fim de tentar Jesus a fazer algo que seria insensato, numa tentativa de
forçar Deus a agir. A diferença no uso das Escrituras, feita por Satanás e Jesus é instrutiva. Jesus
emprega citações que resumem verdades centrais do Antigo Testamento. Satanás remove a citação
do seu contexto a fim de manipulá-la para significar algo muito diferente.
Sérgio Pereira 22
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Sérgio Pereira 23
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Milagres
Os milagres de Jesus eram uma confirmação de sua natureza divina,
mas isso não significa que todo aquele que os visse seria convencido por
esses milagres. Até mesmo a melhor evidência só é efetiva havendo
vontade, não a rejeição. Eis a relação dos milagres de Jesus descritos no
N.T.35:
MILAGRES
1. Transformação de água em vinho (João 2.1-11).
2. Cura do filho do oficial (João 4.46-54).
3. Cura do paralítico de Betesda (João 5.1-9).
4. Primeira pesca (Lucas 5.1-11).
5. Libertação do endemoninhado (Marcos 1.23-28; Lucas 4.31-36).
6. Cura da sogra de Pedro (Mateus 8.14,15; Marcos 1.29-31; Lucas 4.38,39).
7. Purificação do leproso (Mateus 8.2-4; Marcos 1.40-45; Lucas 5.12-16).
8. Cura do paralítico (Mateus 9.2-8; Marcos 2.3-12; Lucas 5.18-26).
9. Cura da mão ressequida (Mateus 12.9-13; Marcos 3.1-5; Lucas 6.6-10).
10. Cura do criado do centurião (Mateus 8.5-13; Lucas 7.1-10).
11. Ressurreição do filho da viúva de Naim (Lucas 7.11-15).
12. Cura de um endemoninhado mudo (Mateus 12.22 e Lucas 11.14).
13. Acalma a tempestade (Mateus 8.18,23-27; Marcos 4.35-41; Lucas 8.22-25).
14. Cura do endemoninhado geraseno (Mateus 8.28-33; Marcos 5.1-14; Lucas 8.26-39).
15. Cura da mulher enferma (Mateus 9.20-22; Marcos 5.25-34; Lucas 8.43-48).
16. Ressurreição da filha de Jairo (Mateus 9.18, 23-26; Marcos 5.22-24, 35-43; Lucas
8.41,42,49-56).
17. Cura de dois cegos (Mateus 9.27-31).
18. Cura do mudo endemoninhado (Mateus 9.32,33).
19. Primeira multiplicação de pães (Mateus 14.14-21; Marcos 6.34-44; Lucas 9.12-17;
João 6.5-13).
20. Anda sobre as águas (Mateus 14.24-33; Marcos 6.45-52; João 6.16-21).
21. Cura da filha da Cananéia (Mateus 15.21-28; Marcos 7.24-30).
22. Cura de um surdo e gago (Marcos 7.31-37).
23. Segunda multiplicação de pães (Mateus 15.32-39; Marcos 8.1-9).
24. Cura do cego de Betsaida (Marcos 8.22-26).
25. Cura do jovem possesso (Mateus 17.14-18; Marcos 9.14-29; Lucas 9.38-42).
26. Pagamento do imposto (Mateus 17.24-27).
27. Cura de um cego (João 9.1-7).
28. Cura de uma mulher enferma (Lucas 13.10-17).
29. Cura de um hidrópico (Lucas 14.1-6).
30. Ressurreição de Lázaro (João 11.17-44).
31. Cura dos leprosos (Lucas 17.11-19).
32. Cura do cego Bartimeu (Mateus 20.29-34; Marcos 10.46-52; Lucas 18.35-43).
33. A figueira é amaldiçoada (Mateus 21.18,19; Marcos 11.12-14).
34. Restauração da orelha de Malco (Lucas 22.49-51; João 18.10).
35. Segunda grande pesca (João 21.1-11).
35
www.vivos.com.br/33.htm.
Sérgio Pereira 24
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
DOZE APÓSTOLOS
1. André
2. Bartolomeu (Natanael)
3. Tiago (Filho de Alfeu)
4. Tiago (Filho de Zebedeu)
5. João
6. Judas (não o Iscariotes)
7. Judas Iscariotes39
8. Mateus
9. Filipe
10. Simão Pedro
11. Simão Zelote
12. Tomé
36
www.vivos.com.br/124.htm.
37
Cronologicamente, Jesus chama seus discípulos para o acompanharem permanentemente algum
tempo depois. O que ocorre neste momento é apenas uma “entrevista” do Mestre com eles. Os
discípulos, após aquele dia, voltaram aos seus lares e trabalhos diários.
38
Lc 6.12-13.
39
Matias depois de sua morte foi quem o substituiu, tornando-se o novo 12º. apóstolo (Atos 1:26).
Saulo (que passa a ser chamado de Paulo após sua conversão) é o 13º. apóstolo. Ver a nota sobre
“apóstolo” da p. 23.
Sérgio Pereira 25
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Sérgio Pereira 26
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Sermão
Sermão do Monte
Para alguns estudiosos, o Sermão do Monte encontrado em Mateus
(capítulos 5 a 7), é uma das passagens mais importantes da Bíblia. Após a
escolha dos doze apóstolos, Jesus profere o famoso sermão. Estavam eles
provavelmente na cidade de Corazim, próxima ao Mar da Galiléia. Diz a
Bíblia, em Lucas 6:17-19, que uma imensa multidão vinda de vários
lugares (Judéia, Jerusalém, Tiro e Sidom) assim como grande parte de seus
discípulos ajuntaram-se para ouvi-lo e para serem curados de suas
doenças. Ao ver as multidões, Jesus sobe ao monte e se assenta40, passando
a ensinar-lhes.
ENSINAMENTOS TEXTOS
TEXTOS EM MATEUS
Influência 5:13-16
Cumprimento da Lei 5:17-20
Domínio próprio 5:21-22
Reconciliação 5:23-26
Fidelidade 5:27-30
O sagrado matrimônio 5:31-32
Controle no falar 5:33-37
Não resistir 5:38-40
Serviço ilimitado 5:41
Bondade 5:42
Amor universal 5:43-47
Norma divina 5:48
Dar 6:1-4
A oração 6:5-15
O jejum 6:16-18
Tesouros no céu 6:19-21
Visão espiritual 6:22-23
40
Lucas afirma que Jesus “parou num lugar plano” quando fez o sermão enquanto em Mateus
encontramos que “ele subiu ao monte”. O monte refere-se à área geral em que todos estavam, ao
passo que o lugar plano denota o ponto específico de onde Jesus falou. O texto diz que Ele “parou
num lugar plano” e não que todo o povo estava neste lugar (Geisler, p. 395).
41
Thompson, p. 1381.
Sérgio Pereira 27
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
“Quando Jesus acabou de dizer essas coisas, as multidões estavam maravilhadas com o seu
ensino, porque ele as ensinava como quem tem autoridade, e não como os mestres da Lei”47.
Jesus ensinou com autoridade e poder sobre o reino de Deus, pois Ele é o
próprio Deus. O Sermão do Monte não termina como imperativo e sim
como um convite à entrega de nossas vidas a Ele. Quem tem ouvidos,
ouça...
42
Aforismo é uma afirmação pequena, sucinta e vigorosa. Quando Jesus diz, por exemplo, “ignore a
tua mão esquerda o que faz a tua mão direita” em Mateus 6:3, Ele estava acabando de censurar a exibição
pública de piedade dos fariseus. Eles oravam e se vestiam de pano de saco para que todos soubessem
o quão espirituais eram (Sproul, p. 377).
43
Mateus 5:39.
44
Sproul, 1992, p. 338.
45
Mateus 5:41.
46
Mateus 5:40.
47
Mateus 7:28-29.
Sérgio Pereira 28
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Parábolas48
Quando Jesus, chegando ao fim do Seu segundo ano de pregação
pública, trouxe à beira do Mar da Galiléia aquela maravilhosa série de
parábolas ilustrando a natureza do reino do céu, seus discípulos ficaram
tão confusos com elas que lhe perguntaram em particular, "Por que lhes falas
por parábolas?" (Mateus 13:10; Marcos 4:10). Parábola, segundo o Dicionário
Aurélio Século XXI, “é uma narração alegórica na qual o conjunto de elementos evoca, por
comparação, outras realidades de ordem superior.” Jesus passou vários ensinamentos
através de exemplos de atividades da vida cotidiana como é o caso da
“parábola do semeador”.
48
www.estudosdabiblia.net/1999227.htm.
Sérgio Pereira 29
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
PARÁBOLA
PARÁBOLA TEXTO BÍBLICO
1. O semeador Mateus 13.5-8
2. O joio Mateus 13.24-30
3. O grão de mostarda Mateus 13.31,32
4. O fermento Mateus 13.33
5. O tesouro escondido Mateus 13.44
6. A pérola Mateus 13.45,46
7. A rede Mateus 13.47-50
8. A ovelha perdida Mateus 18.12-14
9. O credor incompassivo Mateus 18.23-35
10. Os trabalhadores da vinha Mateus 20.1-16
11. Os dois filhos Mateus 21.28-32
12. Os lavradores maus Mateus 21.33-46
13. As bodas Mateus 22.1-14
14. As dez virgens Mateus 25.1-13
15. Os talentos Mateus 25.14-30
16. A semente Marcos 4.26-29
17. Os dois devedores Lucas 7.41-43
18. O bom samaritano Lucas 10.25-37
19. O Amigo Importuno Lucas 11.5-8
20. O rico louco Lucas 12.16-21
21. A figueira estéril Lucas 13.6-9
22. A grande ceia Lucas 14.16-24
23. A drácma perdida Lucas 15.8-10
24. O filho pródigo Lucas 15.11-32
25. O administrador infiel Lucas 16.1-9
26. O rico e lázaro Lucas 16.19-31
27. Os servos inúteis Lucas 17.7-10
28. O juiz iníquo Lucas 18.1-8
29. O fariseu e o publicano Lucas 18.9-14
30. As dez minas Lucas 19. 12-27
49
www.vivos.com.br/34.htm.
Sérgio Pereira 30
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Sérgio Pereira 31
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
IV – Morte e Ressurreição
Traição, Prisão e Condenação
“Então, um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, dirigiu-se aos chefes dos sacerdotes e lhes
perguntou: “O que me darão se eu o entregar a vocês?” E lhe fixaram o preço: trinta moedas de
prata”50. Essa passagem encontrada em Mateus 26:14-15 mostra como se
deu o início da traição e martírio de Cristo. Um dia depois, acontece a
“Última Ceia” de Jesus com seus discípulos, por ocasião da Páscoa51.
Jesus fala sobre a traição que sofrerá e que um dos discípulos é o traidor.
Em Mateus 26:25 ele declara claramente que é Judas Iscariotes (que
compartilhava de Seu prato – sinal de amizade – Marcos 14:20). Após Judas
sair do cenáculo52, Jesus ensina a seus discípulos sobre a “Ceia do Senhor”,
um ritual que deve ser celebrado até Sua volta, anunciando sua morte e
ressurreição. Jesus passa vários ensinamentos aos seus discípulos como no
momento que lava seus pés, demonstrando que devem ser “servos uns dos
outros”, sobre a vinda do Espírito Santo, sobre a perseguição que sofrerão e
principalmente, que sua morte é o meio para estabelecer uma nova aliança
entre Deus e os homens.
Após terem cantado um hino, foram para o monte das Oliveiras, como
era de costume. Jesus retira-se então com Pedro, Tiago e João para um local
ao pé do monte, chamado Getsemâni53. Pede que os discípulos vigiem54 e
orem enquanto fala com o Pai.
50
As trinta moedas de prata atualizadas à nossa época, equivaleriam a três meses de salário de um
trabalhador médio, aproximadamente. (www.santiagobovisio.com/por/reflexoes/20ref.htm).
51
A Páscoa para os judeus, é uma festa que comemora a noite da “passagem do Senhor” sobre as
famílias dos hebreus no Egito, livrando seus primogênitos da morte. Entrelaçada a ela está a Festa
dos Pães Sem Fermento, que comemora o Êxodo do Egito. Cada peregrino sacrificava seu próprio
cordeiro no templo; um sacerdote aparava o sangue em uma tigela e o derramava no altar. Depois de
remover partes do cordeiro para o sacrifício, a carcaça era devolvida ao peregrino para ser assada e
comida na Páscoa. O historiador Flávio Josefo calculou que pelo menos duzentos e cinqüenta mil
cordeiros eram mortos na Páscoa (Êxodo 11 e 12). A refeição da Páscoa é feita com as pessoas
deitadas em divãs ou almofadas em volta de uma mesa baixa. Começa com uma benção, o passar do
pão, e o beber do primeiro dos quatro cálices de vinho. A seguir, são cantados alguns salmos
(chamados de “Hallel”: dos capítulos 113-118) e é lida a história do livramento egípcio, seguida do
segundo cálice e do comer do pão, das ervas (entre algumas, rábano e chicória, que representavam a
amargura da escravidão) e do molho. Depois é comida a refeição em si, com o cordeiro assado e o
restante do pão. Mais orações são feitas e o terceiro cálice é tomado. Mais salmos são cantados antes
de se beber o último cálice. Depois disso, outro salmo é cantado. Duas orações curtas e a celebração.
Os quatro cálices de vinho representam as quatro promessas feitas por Deus aos israelitas em Êxodo
6:6-7: “Eu (...) vos tirarei de debaixo das cargas do Egito”, “Eu (...) vos livrarei” “Eu (...) vos resgatarei” e “Tomar-vos-ei por
meu povo”. Jesus aparentemente não bebeu o quarto cálice; irá esperar até o banquete messiânico no
fim dos tempos para celebrar o cumprimento dessa promessa (Tenney, p. 167; Coleman, p. 63).
52
Local amplo e mobiliado, onde se ceiava ou jantava.
53
Que significa literalmente “prensa de óleo” (para fazer óleo de oliva).
54
É mais uma preocupação do Mestre com a idéia de como os discípulos iriam enfrentar Sua prisão
e morte. È estar espiritualmente alerta, para não caírem na tentação de serem infiéis a Deus
(Coleman, p. 70).
Sérgio Pereira 32
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Enquanto Jesus ainda falava aos seus discípulos, Judas chega com uma
grande multidão de soldados e guardas armados de espadas e varas,
enviados pelos líderes religiosos. Dirigindo-se a Jesus, Judas disse: “Salve
Mestre!”, e o beijou, confirmando para aqueles enviados do Sumo Sacerdote,
quem era o Cristo. Imediatamente, agarram Jesus e antes de prendê-lo,
Pedro tira sua espada e decepa a orelha direita de Malco, servo do Sumo
Sacerdote. Jesus, após repreender a Pedro, cura o soldado, devolvendo-lhe a
orelha. Os discípulos fogem.
Pedro acompanha tudo de longe e nega conhecer Cristo três vezes antes
do galo cantar, assim como Cristo profetizou59. De manhã, bem cedo, os
líderes tomam a decisão de amarrar Jesus e o entregar a Pilatos60. Quando
Judas viu que Jesus fora condenado, foi tomado de remorso; tenta devolver
aos líderes religiosos as trinta moedas de prata. Contrariado, joga o
dinheiro no chão do Templo e saindo dali, enforca-se. Esses líderes tomam
então a decisão de usar o dinheiro para a compra do Campo do Oleiro, para
enterro de estrangeiros (esse mesmo campo é provavelmente onde Judas
suicidou).
55
Lucas 22:44. Debaixo de um stress emocional, finos capilares nas glândulas sudoríparas podem se
romper, misturando assim o sangue com o suor. Este processo causa fraqueza e choque.
56
Conselho dos principais líderes do povo judeu, composto por 71 homens. Neste episódio,
reuniram-se na casa de Caifás.
57
Esse episódio é narrado em Mateus 26:59-68.
58
Lucas 23:2.
59
Mateus 26:58; 69-75. João e outros seguidores e familiares provavelmente estavam
acompanhando as acusações e condenação de longe também.
60
Levam-no a Pilatos, pois Roma havia limitado o poder do Sinédrio em relação à pena capital.
Pôncio Pilatos era o quinto procurador da Judéia. Serviu de 26-36 a.C. Os historiadores da época o
descreviam como “inflexível, cruel e obstinado, que desprezava os judeus e seus costumes”
(Coleman, p. 75).
Sérgio Pereira 33
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
61
Tetrarca da Judéia, um dos filhos de Herodes, o Grande. Foi ele quem mandou degolar João
Batista.
62
Revoltoso contra Roma e envolvido em assassinato; seu nome significa ironicamente “filho do
pai”. A multidão provavelmente se reuniu a fim de pedir pela libertação de Barrabás, e não por Jesus,
que havia sido preso secretamente à noite e levado a Pilatos na madrugada da manhã seguinte
(Coleman, p. 77).
63
Os soldados usavam uma chibata de couro, entremeada de pedaços de ossos e chumbo, para
açoitar o prisioneiro nu e amarrado, entre outros instrumentos de tortura. A carne era despedaçada
(Coleman, p. 78).
Sérgio Pereira 34
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Sérgio Pereira 35
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Crucificação
Crucificação
Josefo chama a crucificação de “o método mais perverso de morte”. O indivíduo
a ser crucificado era primeiro despido; em seguida suas mãos eram
amarradas ou pregadas ao braço horizontal da cruz, que era então
levantado até a estaca vertical, já colocada no lugar. Depois disso pregavam
os pés. A morte era tipicamente um processo lento, agonizante, que ocorria
por meio de choque, sufocação e perda de sangue.
64
Palavra aramaica que significa “lugar da caveira”. Era provavelmente uma pequena colina, sem
vegetação, perto de Jerusalém.
65
Era um costume judeu oferecer este narcótico aos prisioneiros que iam ser crucificados.
66
João 19:23-24 e Salmo 22:18.
67
Jesus não temia a morte e sim, evitava morrer antes da hora. Jesus dizia “Ainda não é chegada minha
hora”. (João 2:4; 8:20) (Geisler, p. 403)
68
Alguns estudiosos crêem que Jesus foi crucificado na quarta-feira. Primeiro porque se Jesus tivesse
sido crucificado na sexta-feira, não haveria explicação para o que fez na quarta-feira. Todos os outros
dias são explicados. Segundo, a Páscoa não era num dia fixo (sexta-feira), mas variava. Outros
acreditam que ele foi realmente crucificado na sexta-feira e, quando Jesus se referiu ao “terceiro dia”,
não quis dizer “após o terceiro dia”, ou seja, 72 horas; podia ser figurativo (Geisler, p. 352).
69
Lucas 23:45 diz que o véu se rasgou antes de Jesus morrer; Mateus 27:50-51 e Marcos 15:37-38
revelam que foi um ato simultâneo.
Sérgio Pereira 36
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
70
Jesus nunca desmaiou nem dasfaleceu e muito menos esteve drogado na cruz como sustentam
alguns. Em primeiro lugar, o A.T. predisse que Cristo morreria. Segundo, Jesus anunciou muitas
vezes durante o seu ministério que ele iria morrer. Terceiro, todas as predições se referem ao fato
dele ressuscitar; só ressuscita quem já morreu. Quarto, a natureza e extensão dos seus ferimentos.
Quinto, a crucificação e o tempo que permaneceu na cruz (em torno de seis horas). Sexto, foi
traspassado por uma lança no seu lado (um artigo do Jornal da Sociedade Médica Americana de 21 de
março de 1986, afirma que Cristo morreu na cruz antes de ter sido traspassado. Consequentemente,
interpretações baseadas na posição de que Cristo não morreu na cruz vão de encontro a
conhecimentos médicos da atualidade). Sétimo, seu clamor pela morte foi ouvido por aqueles que
ali estavam. Oitavo, os soldados romanos, acostumados com a crucificação, pronunciaram sua
morte; nem ao menos quebraram suas pernas. Nono, Pilatos pediu confirmação duas vezes antes de
entregar o corpo para ser sepultado. Décimo, Jesus foi envolvido em pelo menos 35 quilos de lençóis
e aromas e colocado em um sepulcro lacrado, onde permaneceu três dias. Se não tivesse morrido na
cruz, como de fato estava, ele teria morrido por falta de alimentos, água e tratamento médico.
(Geisler, p. 371)
71
Oficial superior dos soldados que executaram Jesus.
Sérgio Pereira 37
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Sérgio Pereira 38
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Ressurreição e Ascensão
João descreve Jesus no seu capítulo 20 como o “conquistador da morte”.
Por quatro vezes derrotou-a. Primeiro, ao lado da cama de uma menina
(Mateus 9:24-25); segundo, no enterro do filho da viúva (Lucas 7:11-15);
terceiro, na tumba de Lázaro (João 11:43-44) e, finalmente quando vence a
própria morte.
A pedra não foi removida para que Jesus pudesse sair (ele já havia saído),
mas para que os discípulos pudessem ver que estava vazio. Ao contarem
aos onze apóstolos e todos os outros seguidores, estes não acreditaram;
acharam que elas estavam loucas (as mulheres não eram consideradas
testemunhas confiáveis na lei judaica). Pedro, todavia, correu ao sepulcro e
viu as faixas de linho e mais nada; afastou-se e voltou admirado com o que
acontecera.
72
Maria pode ter ido sozinha primeiramente, quando ainda estava escuro antes do sol nascer (João
20:1), e depois veio de novo, após o nascer do sol, com as outras mulheres (Marcos 16:1) (Geisler, p.
384)
73
Mateus 28:5-7.
74
O fato dos seus discípulos não o reconhecerem imediatamente foi devido a várias razões:
estupidez (Lucas 24:25-26), incredulidade (João 20:24-25), desapontamento (João 21:11-15), temor
(Lucas 24:36-37), escuridão (João 20:1 e 14-15), distância (João 21:4) e roupas diferentes (João 19:23-
24 e 20:6-8). No entanto, o problema foi apenas temporário; antes de Jesus desaparecer, eles tinham
plena convicção de que era Ele quem estava ali. (Geisler, p. 405)
75
Mateus 28:11-15.
Sérgio Pereira 39
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Em Marcos 16, lemos que após Jesus ter falado com seus discípulos, foi
elevado aos céus76 e assentou-se à direita de Deus. Estavam em Betânia,
leste de Jerusalém. Então, os discípulos saíram e pregaram por toda parte; e
o Senhor cooperava com eles, confirmando-lhes a palavra com os sinais
que a acompanhavam77.
76
Quando Jesus disse a Maria Madalena, depois da ressurreição: “ainda não subi para meu Pai” (João
20:16-17), ele estava se referindo à ascensão de seu corpo ao céu quarenta dias após a ressurreição
(Atos 1), não à ida de sua alma ao céu, durante o período entre sua morte e ressurreição. Houve
“aparições” e não “visões” da pessoa de Cristo após sua ressurreição, ou seja, houve manifestação
física literalmente. (Geisler, p. 406)
77
O texto de Marcos 16:15-20, chamado de “a grande comissão”, diz: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, e
pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais
acompanharão aos que crerem: em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e se
beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e estes serão curados”.
Sérgio Pereira 40
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Aparições pós-
pós-ressurreição (Thompson, p. 1475):
Sérgio Pereira 41
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Considerações Finais
Jesus Cristo é o Filho de Deus que morreu pelos pecados de toda a
humanidade. Os escritos de Isaías e outros profetas indicaram durante
séculos quem seria o “Cordeiro Santo”, que deveria ser sacrificado em favor
de muitos. Sua vida é um convite à salvação. Após subir aos céus
definitivamente, não nos deixou desamparados. Enviou a terceira Pessoa
da Trindade, o Espírito Santo, para nos consolar e indicar o caminho do
Mestre.
Disse Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por
mim” (João 14:6). Acreditar em Suas palavras é ter fé; e ter fé, segundo o
autor da carta aos hebreus (11:1) é ter certeza de coisas que se espera, é ser
convicto de algo que não se vê. Cristo disse: “Benditos os que não viram e creram”
(João 20:29).
Ora, nem tudo pode ser medido pela razão e certeza “palpável”.
Acreditar é ir além do raciocínio lógico e sentir; sentir a mão do Criador de
todas as coisas nos chamando para ser seu amigo; sentir que há mais vida
do que apenas sete, oito ou nove décadas de existência material; sentir que
há valores e prazer além do dinheiro, sexo e poder.
Enfim, Jesus diz que está à porta de nosso coração e bate. Se você ouvir
Sua voz e abrir a porta, ele entrará e ceará com você. Entenda que é algo
que não se impõe; Jesus não “arromba” a porta, ele “chama”. Você abre seu
coração se sentir, se desejar. Por que não experimentar? Hoje pode ser o dia
que Ele preparou desde a eternidade para começar um relacionamento
mais íntimo com você!
Sérgio Pereira 42
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Anexo
Cronologia da vida de Jesus Cristo78
Introduções à Vida de Jesus
Data Acontecimento Local Textos
78
http://www.vivos.com.br/88.htm.
Sérgio Pereira 43
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
O Ministério de Jesus
Jesus na Galiléia (27 a 29 dC)
Data Acontecimento Local Textos
Sérgio Pereira 44
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Sérgio Pereira 45
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Sérgio Pereira 46
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Sérgio Pereira 47
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Sérgio Pereira 48
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Ressurreição e Ascensão
Data Acontecimento Local Textos
Sérgio Pereira 49
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
A Bíblia: livros79
Bíblia: autores e datas prováveis em que foram escritos seus livros
Antigo Testamento
Novo Testamento
79
http://www.vivos.com.br/38.htm.
Sérgio Pereira 50
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Se os cristãos não fossem tão familiarizados com estas coisas, devido aos
2000 anos de tradição e liturgia, eles poderiam sentir quão absolutamente
improvável seria que a morte de Jesus se tornasse a base de uma fé
mundialmente transformadora. Como poderia um convicto, condenado e
executado pretendente ao trono de Roma desencadear, nos três séculos
seguintes, um poder para sofrer e para amar, que modelaria o Império?
Divindade Inigualável
A paixão de Jesus Cristo foi única porque ele era único. Quando
perguntado “És tu o Cristo (=Messias), Filho do Deus Bendito (=Deus)?”, Jesus
disse “Eu sou”. Era uma afirmação quase inacreditável. Esperava-se que o
Messias fosse poderoso e glorioso. Mas ali estava Jesus, pronto para ser
crucificado, dizendo abertamente o que ele freqüentemente apontava
durante seu ministério: Eu sou o Messias, o Rei de Israel. Ele falou
abertamente no exato momento em que havia menos chances de ser
acreditado. E então, ele adiciona palavras que explicam como um Cristo
crucificado reinaria como Rei de Israel: “Vereis o Filho do homem assentado à direita
do poder de Deus, e vindo sobre as nuvens do céu” (Marcos 14.62). Em outras
palavras, ele espera reinar à direita de Deus e algum dia voltar à Terra em
glória.
Ele era mais que um mero homem. Não menos. Ele era, como o antigo
Credo de Nicéia diz: “verdadeiro Deus de verdadeiro Deus”. Cristo existia
antes da criação. Ele é co-eterno com Deus o Pai. Ele não foi criado. Não
houve um ponto quando ele não existia. Desde a eternidade, antes do
princípio dos séculos, Deus existe com uma essência divina em três
Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Este é o testemunho daqueles que o
conheciam e escreveram textos inspirados por Ele para explicar quem Ele é.
80
John Piper é doutor em Estudos do Novo Testamento, professor de Estudos Bíblicos na Faculdade
Bethel, em Minnesota, onde atua como pastor presidente na Igreja Batista Bethelehm
(www.monergismo.com).
Sérgio Pereira 51
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
O próprio Jesus disse coisas que só fazem sentido se ele fosse ao mesmo
tempo Deus e homem. Por exemplo, ele perdoou pecados: “Filho, perdoados
estão os teus pecados” (Marcos 2.5). Este tipo de atitude foi o que finalmente o
matou. A resposta furiosa era compreensível: “Por que diz este assim blasfêmias?
Quem pode perdoar pecados, senão Deus?” (Marcos 2.7).
Isto é o que suas palavras e ações apontavam. Uma vez ele disse: “Eu e o
Pai somos um”, o que quase o levou a ser apedrejado (João 10.30-31). Em
outra ocasião, ele diz: “antes que Abraão existisse, Eu sou” (João 8.58). As palavras
“Eu sou” não sinalizam apenas sua existência antes de Abraão, que viveu
2000 anos antes, mas também se referem ao nome que Deus deu a si
mesmo no Antigo Testamento. “E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse
mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós” (Êxodo 3.14).
Jesus previu sua própria traição como se soubesse o futuro tanto quanto
o passado, e então explicou o que isto significava com outra afirmação
assustadora: “Desde agora vo-lo digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer,
acrediteis que Eu sou” (João 13.19). Jesus era o “EU SOU” – o Deus de Israel, o
Senhor do Universo em forma humana. Este é o porquê a sua paixão é sem
paralelos. Somente a morte do divino Filho de Deus poderia consumar o
que Deus pretendia fazer por esta morte.
Inocência Inigualável
A paixão de Cristo também foi única porque ele era totalmente
inocente. Não apenas inocente dos crimes de blasfêmia e rebelião, mas de
todo pecado. Ele perguntou certa vez aos seus inimigos: “Quem dentre vós me
convence de pecado?” (João 8.46). O que quer que pensassem, eles sabiam que
não havia nada contra Jesus.
81
C. S. Lewis, “What Are We to Make of Jesus Christ?” IN C. S. Lewis: Essay Collection and Other
Short Pieces, ed. Lesley Walmsley (London : HarperCollins, 2000), 39.
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Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia
Seu discípulo, Pedro, que sabia seu próprio pecado tão bem, disse que a
morte de Jesus foi “a morte de um cordeiro imaculado e incontaminado” (1 Pedro
1.19). A recusa de Jesus em lutar contra a forma como ele foi injustamente
condenado e morto fortaleceu a convicção de seus seguidores de que ele
era sem pecado.
Pedro expressou isto depois: “O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se
achou engano. O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava,
mas entregava-se àquele que julga justamente” (1 Pedro 2.22-23). A razão da morte
de Jesus levar todos os sacrifícios judaicos de animais a um fim é que ele se
tornou o próprio sacrifício definitivo e “se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus”
(Hebreus 9.14). Sua morte foi inigualável porque ele não tinha pecado.
Desígnio Inigualável
A paixão de Cristo foi sem paralelos na história humana porque ela foi
planejada e predestinada por Deus, para nossa salvação. Apesar de toda a
controvérsia sobre quem realmente matou Jesus, a verdade mais profunda
é: Foi Deus quem planejou e viu o que iria acontecer. Quando os terríveis
eventos aconteciam na noite antes dele morrer, Jesus disse, “Tudo isto
aconteceu para que se cumpram as escrituras dos profetas” (Mateus 26.56). Todos os
detalhes, desde o fato de terem lançado sortes por suas vestes (João 19.24)
e ser perfurado por uma lança, ao contrário de quebrarem suas pernas
(João 19.36) – tudo isto foi planejado pelo Pai e predito nas Escrituras.
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Jesus abriu o caminho para o acesso direto a Deus. Ele se tornou o único
Mediador necessário entre os homens e Deus. A igreja primitiva disse
“Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo
caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne... Cheguemo-nos com
verdadeiro coração, em inteira certeza de fé”. (Hebreus 10.19-22).
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Cumprimento Inigualável
O trabalho de redenção foi terminado. O preço da reconciliação entre
Deus e o homem foi pago. Agora somente restava a Deus confirmar a
consumação ressuscitando Jesus dos mortos.
Esta é a forma que Jesus predisse e planejou. Mais de uma vez, ele disse:
“Eis que subimos a Jerusalém, e se cumprirá no Filho do homem tudo o que pelos profetas foi
escrito; pois há de ser entregue aos gentios, e escarnecido, injuriado e cuspido; e, havendo-o
açoitado, o matarão; e ao terceiro dia ressuscitará” (Lucas 18.31-33).
Aconteceu três dias depois (partes de dias são consideradas como dias:
Sexta, Sábado e Domingo). No começo da manhã de domingo ele se
levantou dos mortos. Por quarenta dias apareceu numerosas vezes aos
discípulos antes de sua ascensão ao céu. O médico Lucas, que escreveu o
livro que leva seu nome, disse que “Aos quais também, depois de ter padecido, se
apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta
dias, e falando das coisas concernentes ao reino de Deus” (Atos 1.3).
“Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um
espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho. E, dizendo isto, mostrou-lhes as
mãos e os pés. E, não o crendo eles ainda por causa da alegria, e estando maravilhados, disse-
lhes: Tendes aqui alguma coisa que comer? Então eles apresentaram-lhe parte de um peixe
assado, e um favo de mel; o que ele tomou, e comeu diante deles.” (Lucas 24.39-43).
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Carlos R. Caldas Filho é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil. Doutor em ciências da religião pela
Universidade Metodista de São Paulo. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da
Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Retirado da revista Teologia Hoje vol 2, núm 2
(2004) artigo 5. - www.ftsa.edu.br/revista/artigos/TH2_2_5p.htm.
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Vendo o filme, fica nítido que não é preciso saber aramaico para perceber,
pela entonação e pela lentidão da pronúncia, que nenhum ator é falante
nativo da antiga língua prima-irmã do hebraico, hoje praticamente morta
(só se fala aramaico hoje em algumas remotas vilas da Síria e nas liturgias
de algumas igrejas orientais).
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7. Mas A Paixão de Cristo retrata com fidelidade, entre tantos relatos dos
evangelhos, o sadismo dos soldados romanos, a fraqueza de Pilatos (que
tem poder, mas se rende à pressão dos líderes do Templo), o medo de
Pedro, a angústia de Maria diante dos sofrimentos intensos aos quais o
filho era submetido (mas quanto a isso, como protestante, não posso
deixar de tecer crítica a Gibson: várias vezes o filme mostra a face triste,
expressando angústia de Maria. Com a sua insistência em mostrar quase o
tempo todo Maria angustiada, acompanhando o sofrimento do filho, não
estaria Gibson apresentando a velha noção teológica romana de Maria
Virgo, mater dolorosa ["Virgem Maria, mãe de dores"]?
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10. Resumindo: muito ainda poderia ser dito a respeito do filme. Talvez
eu o faça em outra ocasião. Há diversas possibilidades de leituras do filme.
Por enquanto, creio que é suficiente apresentar o filme como bem feito,
mas não infalível. Como visto, em A Paixão de Cristo por várias vezes
Gibson não foi absolutamente fiel aos relatos canônicos. Mas é inegável
que o filme tem méritos.
83
http://www.artchive.com/artchive/B/bosch/carrying.jpg.html.
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84
Existente no Museu da Espanha — extraída do Livro “O ADVOGADO”, de Manoel Fernandes
Quadra, p. 187/188.
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Referências
Referências
ALMEIDA, Abraão de. História, milagres e profecias da Bíblia.
Bíblia São Paulo:
Vida, 1987.
TENNEY, Merril C.; PACKER, J. I.; WHITE JR., Willian. Vida cotidiana nos
tempos bíblicos.
bíblicos Tradução Luiz Aparecido Caruso. São Paulo: Vida, 1980.
Bíblias
A Bíblia em ordem cronológica:
cronológica nova versão internacional. São Paulo: Vida,
2003.
Sites
www.monergismo.com
www.sbb.org.br
www.vivos.com.br
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