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JESUS CRISTO

pessoa, obra e ensinamentos


uma visão sobre a Bíblia

Sérgio Pereira
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

JESUS CRISTO
pessoa, obra e ensinamentos
uma visão sobre a Bíblia
Sérgio Pereira © 2006
Ribeirão Preto

Revisão:
Márcio Luiz Luciano
Roberto Márcio

Sérgio Pereira 2
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Dedicado a Dora,
Dora minha filhinha,
presente de Deus.

Sérgio Pereira 3
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Agradecimentos a Carlos Baptista, Carlos Eduardo Pereira (meu pai), Eliane Werner (e
galera da MPC Brasil), Fátima Nassif Facchini, Gláucia Valério Fernandes, Guilherme
Davoli, Kátia Alves de Freitas Ferrari, Lílian Rodrigues de Oliveira Rosa, Márcio Luiz
Luciano, Marivone Lobo Pereira, Nainora Maria Barbosa de Freitas, Ricardo Costa, Ricardo
Morais Scatena e Roberto Márcio.

Sérgio Pereira 4
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Sumário
Sumário
Apresentação - 6

I – Bíblia
1.1 Profecias - 7
1.2 Flávio Josefo - 9
1.3 Os quatro Evangelhos e outros livros da Bíblia - 10
1.4 Alguns erros comuns sobre a Bíblia – 11
1.5 Bíblia Católica -13
1.6 Divisão Geral da Bíblia Protestante - 15

II - Nascimento
Nascimento e Família
2.1 Nascimento, Infância e Juventude - 16
2.2 Os dezoito primeiros anos de Jesus seguindo a cronologia - 17
2.3 Viagens de Jesus em seus primeiros anos - 18
2.4 História entre Antigo e Novo Testamentos - 19
2.5 João Batista - 20
2.6 Distâncias a partir de Jerusalém - 21

III – Ministério
3.1 A tentação – 22
3.2 Jesus no ano de inauguração - 23
3.3 Milagres - 24
3.4 Os doze discípulos e outros seguidores - 25
3.5 Esboço histórico dos apóstolos - 26
3.6 Sermão do Monte - 27
3.7 Parábolas – 29
3.8 Ano de Popularidade de Jesus - 31

IV – Morte e Ressurreição
4.1 Traição, prisão e condenação – 32
4.2 Últimos dias de Jesus - 35
4.3 Crucificação – 36
4.4 Suas horas na cruz - 38
4.5 Ressurreição e ascensão – 39
4.6 Aparições pós-ressurreição - 41

Considerações
Considerações Finais - 42

Anexo
1. Cronologia da vida de Jesus Cristo – 43
2. A Bíblia: autores e datas prováveis em que foram escritos seus livros - 50
3. Texto “A inigualável Paixão de Jesus Cristo” por John Piper - 51
4. Texto “A Paixão de Cristo, de Mel Gibson” por Carlos R. Caldas Filho - 56
5. Peça do Processo de Cristo - 61

Referências – 62

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Apresentação
O objeto deste estudo é Jesus Cristo, sua história e o que deixou de
legado à humanidade. Preocupo-me com a visão unilateral de muitos sobre
o cristianismo, que o focam apenas pelo lado crítico-racional, esquecendo
que o assunto passa necessariamente pelo campo da fé e que esta não
depende de provas materiais. Concordo com o seguinte pensamento da
pesquisadora de História das Religiões Karen Armstrong, que escreveu em
seu livro Uma História de Deus: “Um dos motivos pelos quais a religião parece irrelevante
hoje é que muitos de nós não têm mais o senso de que estão cercados pelo invisível. Nossa
cultura científica nos educa para concentrar nossa atenção no mundo físico e material à nossa
frente” (p. 16).

Muita generalização também é feita, unindo num mesmo feixe,


protestantes das mais diferentes denominações, como se todos estes
pensassem da mesma maneira e tivessem a mesma maneira de pensar
Teologia, o que não é verdade. A Igreja Presbiteriana não pensa igual à Igreja
Universal do Reino de Deus e esta segunda não pensa como a Igreja
Assembléia de Deus e assim por diante. São inúmeras denominações e
consequentemente, interpretações, doutrinas e ritos! O que une todos os
protestantes é: Jesus Cristo, o Filho de Deus que morreu por nós na cruz,
venceu a morte e voltará.

No entanto, a idéia é passar a visão cristã sem menosprezar ou ignorar o


que temos aprendido na História da humanidade. A visão político-social-
econômica sobre o cristianismo e suas instituições eclesiásticas serve de
elemento de reflexão filosófica e é de suma importância para entendermos
o contexto de várias situações e caminhos por onde passou o homem, seja
na Antigüidade, Medievo, Modernidade até os dias de hoje.

Depois de 31 anos ouvindo sobre a Palavra de Deus dentro de minha


casa e nas igrejas protestantes locais onde congreguei e congrego, chego à
mesma conclusão de Norman Geisler e Thomas Howe, alguns dos autores
usados neste estudo: aqueles que pensam terem descoberto um erro na Bíblia não sabem
muito à respeito dela! (p. 31). Apesar de Jesus ser interpretado por várias
religiões (Budismo, Islamismo, Judaísmo, Kardecismo, Hinduísmo,
Testemunhas de Jeová, Umbanda, Candomblé, Hare Krishna entre outros),
este estudo é baseado na Bíblia de organização protestante. Espero que seja
um tempo de reflexão sobre nossas vidas e quebra de preconceitos quanto
a Jesus Cristo e sua Igreja. Oro ao Deus da minha salvação que dê sabedoria
a todos nós e nos ensine com Seu amor infinito a conhecer quem é Seu
Filho Jesus que morreu um dia por nós na cruz.

Maio de 2006
Sérgio Pereira

Sérgio Pereira 6
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I – Bíblia
Profecias
De Gênesis (primeiro livro do A.T.1) a Zacarias (penúltimo livro do A.T.),
encontram-se aproximadamente 38 profecias a respeito de Jesus, desde seu
local de nascimento até como morreria. Visto como o maior dos profetas
do Antigo Testamento, Isaías é aquele que nos fornece a descrição mais
completa da história, títulos e características de Cristo. Viveu entre 740-701
a.C. sob os reinados dos reis Joatão (739-734 a.C.), Acaz (734/3-716 a.C.) e
Ezequias (716/15-699/8 a.C.), quando a Assíria se tornava uma potência
mundial (750-612 a.C.). Algumas profecias descritas por Isaías sobre Jesus
Cristo:

Sua família
Então brotará um rebento do toco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará – 11:1.

Seu nascimento
Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um
filho e lhe chamará Emanuel. — 7:14.

Seus títulos
Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e
o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz;
para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim (...) — 9:6, 7.

Seu sofrimento
Como pasmaram muitos à vista dele (pois o seu aspecto estava tão desfigurado que não era
o de um homem, e a sua figura não era a dos filhos dos homens), assim ele espantará muitas
nações; por causa dele reis taparão a boca; pois verão aquilo que não se lhes havia anunciado,
e entenderão aquilo que não tinham ouvido. Era desprezado e o mais rejeitado entre os
homens; homem de dores e que sabe o que é padecer (...) Certamente, ele tomou sobre si as
nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de
Deus e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa
das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras
fomos sarados. — 52:14-15 e 53:3, 4, 5.

1
A.T. se refere a “Antigo Testamento” e N.T. a “Novo Testamento”.

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PROFECIAS SOBRE JESUS E SEUS CUMPRIMENTOS (Thompson, p.1441-


p.1441-1444)

ANÚNCIO CUMPRIMENTO PROFECIA


Gênesis 3:15 Gálatas 4:4 Nascido de uma mulher
Gênesis 18:18 Atos 3:25 Descendente de Abraão
Gênesis 17:19 Mateus. 1:2 Descendente de Isaque
Números 24:17 Lucas 3:34 Descendente de Jacó
Gênesis 49:10 Lucas 3:33 Descendente de Judá
Isaías 9:7 Mateus 1:1 Descendente de Davi
Miquéias 5:2 Mateus 2:1 Lugar de nascimento
Deuteronômio 9:25 Lucas 2:1-2 Época de nascimento
Isaías 7:14 Mateus 1:18 Nascido de uma virgem
Jeremias 31:15 Mateus 2:16 A matança dos meninos
Oséias 11:1 Mateus 2:14 A fuga para o Egito
Isaías 9:1-2 Mateus 4:12-16 Seu ministério na Galiléia
Deuteronômio 18:15 João 6:14 Como profeta
Salmo 110:4 Hebreus 6:20 Sacerdote como Melquisedeque
Isaías 53:3 João 1:11 O desprezo dos judeus
Isaías 11:2 Lucas 2:52 Algumas características
Zacarias 9:9 João 12:13-14 Sua entrada em Jerusalém
Salmo 41:9 Marcos 14:10 Traído por um amigo
Zacarias 11:12 Mateus 26:15 Vendido por trinta moedas de
prata
Zacarias 11:13 Mateus 27:6-7 O dinheiro seria devolvido para
comprar o campo de um oleiro
Salmo 109:7-8 Atos 1:18-20 O lugar de Judas devia ser
ocupado por outro
Salmo 27:12 Mateus 26:60-61 Testemunhas falsas O
acusariam
Isaías 53:7 Mateus 26:62-63 Permaneceria em silêncio
quando acusado
Isaías 50:6 Marcos 14:65 Seria golpeado e cuspido
Salmo 69:4 João 15: 23-25 Odiado sem motivo
Isaías 53:4-5 Mateus 8:16-17 Sofreria em substituição por
nós
Isaías 53:12 Mateus 27:38 Crucificado com pecadores
Salmo 22:16 João 20:27 Suas mãos e pés trespassados
Salmo 22:6-8 Mateus 27:39-40 Seria insultado
Salmo 69:21 João 19:29 Dariam a Ele fel e vinagre
Salmo 22:8 Mateus 27:43 Ouviria palavras proféticas com
zombaria
Salmo 109:4 Lucas 23:34 Oraria por Seus inimigos
Zacarias 12:10 João 19:34 Seu lado seria trespassado
Salmo 22:18 Marcos 15:24 Os soldados lançariam sortes
sobre suas roupas
Salmo 34:20 João 19:33 Seus ossos não seriam
quebrados
Isaías 53:9 Mateus 27:57-60 Seria sepultado com os ricos
Salmo 16:10 Mateus 28:9 Sua ressurreição
Salmo 68:18 Lucas 24:50-51 Sua ascensão

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Ocorreu certa vez um fato verídico em uma escola pública de Nova York,
onde havia um bom número de estudantes judeus que se incomodavam
com as aulas de estudos bíblicos, mais especificamente com aquelas sobre
o N.T. Por fim, conseguiram um acordo: estudariam apenas o A.T.

Um dia, um cristão leu o capítulo 53 de Isaías, provocando quase um


tumulto entre os estudantes judeus. Após a aula, os pais destes foram levar
sua reclamação ao reitor da escola, dizendo que o acordo havia sido
rompido, pois o N.T. havia sido lido. Para sua surpresa, o reitor disse-lhes
que estavam enganados. - Mas eles leram acerca do seu Cristo e de sua morte na cruz
– insistiu um estudante. O reitor abriu então o livro do profeta Isaías e
mostrou-lhes o que foi lido. (Almeida, p. 114-115)

As profecias são provas de que Jesus é o Cristo esperado pelos judeus,


visto algumas terem sido escritas, segundo dados arqueológicos, mais de
mil anos antes de seu nascimento. “Há mais indícios seguros de autenticidade na
Bíblia do que em qualquer história profana” escreveu Isaac Newton. O filósofo
iluminista Goethe escreveu: “Continue avançando a cultura intelectual; progridam as
ciências naturais sempre mais em extensão e profundidade; expanda-se o espírito humano
tanto quanto queira; além da elevação e da cultura moral do cristianismo, como ele
resplandece nos Evangelhos, é que não irão.”(Halley, p.18)

O A.T. descreve uma nação. O N.T. descreve um homem e seu


aparecimento na terra é o acontecimento central de toda a história. O A.T.
fornece o cenário para esse aparecimento. O N.T. descreve-o (Halley, p.20-
21).

Flávio Josefo
Josefo foi um judeu que viveu entre 37 e 103 d.C. Filiou-se ao grupo dos
fariseus por seu zelo religioso. Durante toda sua vida seu povo esteve sob
julgo romano. Em 66 d.C. inicia-se uma violenta revolta dos judeus contra
os romanos e Josefo é enviado como líder de operações dos judeus contra o
inimigo na turbulenta região da Galiléia. Teve algumas vitórias, mas enfim
caiu aos pés do exército de Tito. Finda a guerra, é conduzido à capital do
Império, onde lhe é conferido o título de cidadão romano e seu novo
nome: Flávio. Viveu em Roma até o fim de sua vida escrevendo a obra que
atravessaria os séculos e chegaria até nós: História dos hebreus.

Esta obra é uma das maiores fontes de informação sobre o povo judeu e
o Império Romano. As recentes descobertas de Qunram e Massada, em
Israel, confirmam de modo surpreendente os relatos de Josefo, conferindo
assim maior credibilidade aos seus relatos.

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Escreveu ele sobre Jesus: “Nesse mesmo tempo apareceu JESUS, que era um homem
sábio, se todavia devemos considerá-lo simplesmente como um homem, tanto suas obras eram
admiráveis. Ele ensinava os que tinham prazer em ser instruídos na verdade e foi seguido não
somente por muitos judeus, mas mesmo por muitos gentios. Era o CRISTO. Os mais ilustres
da nossa nação acusaram-no perante Pilatos e ele fê-lo crucificar. Os que o haviam amado
durante a vida não o abandonaram depois da morte. Ele lhes apareceu ressuscitado e vivo no
terceiro dia, como os santos profetas o tinham predito e que ele faria muitos outros milagres. É
dele que os cristãos, que vemos ainda hoje, tiraram seu nome.” (Josefo, p. 156.)

Os quatro
quatro Evangelhos
Evangelhos e outros livros
livros da Bíblia
Há quatro livros no N.T. com o nome de Evangelho que significa “boas
novas”, escrito por quatro autores diferentes. São eles: Mateus (descreve
Jesus como “O Messias soberano”), Marcos (descreve Cristo como “O que
faz maravilhas”), Lucas (como “O amigo dos desprezados”) e João (como “O
Filho de Deus”), sendo que dois destes foram discípulos: Mateus e João.
São chamados de evangelhos sinóticos, três: Mateus, Marcos e Lucas que
dão um esboço biográfico e resumido da vida e ministério de Cristo, muito
compatíveis entre si. Muitos eventos são paralelos entre os três autores,
embora nem sempre concordem em todos os detalhes: quantos anjos
haviam no túmulo no dia da ressurreição, o que dizia a inscrição na cruz,
em que dia Jesus e os discípulos celebraram a Páscoa no cenáculo e assim
por diante.

Jesus declarou “A Tua palavra é a verdade”2 quando em oração ao Pai. A


Bíblia é uma coleção falível de livros infalíveis, pois apesar dos livros terem
sido inspirados por Deus, e portanto “infalíveis”, foram juntados em um
cânon que pode ser “falível” (o que acredito que não seja!), de homens
imperfeitos como todos nós. Mas como se convencer disto?
Primeiramente, devemos ser mais abrangentes e fazer outra pergunta:
como sabemos que qualquer coisa é verdadeira? Examinando
historicamente, observando sua coerência e colhendo evidências
científicas. Apesar da Bíblia ser um conjunto de 66 livros que tratam sobre
algo espiritual, homens escreveram essas palavras inspirados pelo próprio
Deus em determinado tempo e local.

Através da Arqueologia, por exemplo, a datação de tais livros, como


visto na p. 07, comprova o acerto de profecias sobre Jesus que correram
séculos até seu nascimento. Só isso já é motivo suficiente para não negar
seus escritos! As pessoas geralmente questionam o fato de haver tantas
interpretações para a Bíblia e isso é uma realidade, são inúmeras. Porém,
naquilo que é mais importante, ou seja, a mensagem de Cristo sobre a
salvação, não há contradição. Então, como estudar a Bíblia mais
profundamente perante tantas versões?

2
João 17:17.

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Após você receber a notícia que está com uma doença incurável, não é
lúcido procurar uma segunda e terceira opinião? É o mesmo caso com a
Bíblia. Primeiramente, procure saber quem está fazendo a interpretação: é
um estudioso da palavra? Seus conceitos estão baseados em quais
teólogos? Qual é sua mensagem? Tudo isso ajuda a eliminar uma
interpretação bíblica errada! Não ouça apenas uma opinião! (Sproul, p.
54;59;61)

Alguns erros comuns sobre a Bíblia (Geisler, p. 18-31)


1. Assumir que o que não foi explicado seja inexplicável: é um erro o
crítico pressupor que o que nunca foi explicado, nunca será. Os
críticos, por exemplo, um dia afirmaram que Moisés não poderia ter
escrito o Pentateuco (os cinco primeiros livros da Bíblia) porque a
escrita não havia sido inventada ainda. Agora sabemos que a escrita
existia alguns milhares de anos antes de Moisés (1543 a.C. é
provavelmente o ano de nascimento de Moisés). O mesmo ocorreu
com o povo hitita (ou heteus). Diziam os críticos que esse povo era
totalmente desconhecido dos historiadores. Sua existência, porém,
foi comprovada pela descoberta, na Turquia, de uma biblioteca hitita.

2. Presumir que a Bíblia está errada: muitos dizem que a Bíblia está
errada até que algo venha a provar que ela está certa. Contudo, como
acontece com qualquer cidadão acusado de faltar com a verdade, a
Bíblia deve ser tida como verdadeira até que se prove o contrário.

3. Confundir as nossas falíveis interpretações com a infalível revelação


de Deus: Jesus afirmou que “a Escritura não pode falhar”3 e “Porque em
verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará
da lei, até que tudo se cumpra”4. A Bíblia sendo a Palavra Dele mesmo não
pode conter erros, pois Deus não erra. Porém, nós como seres
humanos e passíveis de erro, podemos fazer interpretações erradas.

4. Falhar na compreensão do contexto da passagem: o erro mais


comum dos críticos é tirar um texto de seu próprio contexto. Como
diz o adágio: “um texto fora de contexto é simplesmente um pretexto”. Os críticos
dizem que na Bíblia está escrito: “Não há Deus”, porém o contexto é
“Diz o insensato em seu coração: não há Deus”5.

5. Deixar de interpretar passagens difíceis à luz das que são claras: a


dificuldade às vezes é por certas passagens serem obscuras. Mas em
contato com outras, tudo se explica.

3
João 10:35.
4
Mateus 5:18; Lucas 16:17.
5
Salmo 14:1.

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Por exemplo, Tiago parece estar dizendo que a salvação é pelas obras6 ao
passo que Paulo ensina que a salvação é pela graça7. Estudando-se o
contexto percebe-se que não há contradição. Paulo está falando da
justificação perante Deus (o que é pela fé somente), ao passo que Tiago está
se referindo à justificação perante os homens (que não têm como ver nossa
fé, mas somente nossas obras).

6. Basear um ensino numa passagem obscura: a regra prática na


interpretação bíblica é: “as coisas principais são as coisas claras”. Se
for algo muito importante, será ensinado nas Escrituras de forma
bem clara, provavelmente em mais de um lugar.

7. Esquecer-se de que a Bíblia é um livro humano, com características


humanas: com algumas exceções, como é o caso dos Dez
Mandamentos, escritos “pelo dedo de Deus”8, a Bíblia não foi
verbalmente ditada. Seus autores não foram “secretários” do Espírito
Santo, mas humanos com estilos literários próprios, com seu jeito de
ver as coisas. Oséias possuía um interesse rural, Lucas uma
preocupação médica e Tiago, um amor pela natureza. Cada livro é
uma composição feita por um escritor humano; são cerca de
quarenta autores.

8. Assumir que um relato parcial seja um relato falso: ocasionalmente a


Bíblia diz a mesma coisa de diferentes modos. Portanto, a inspiração
não exclui a diversidade de expressão. Cada um dos quatro autores
dos Evangelhos relata a mesma história de uma maneira diferente,
para um grupo diferente de pessoas a às vezes citam o mesmo
episódio com palavras diferentes. Compare, por exemplo, a confissão
de Pedro no Evangelho segundo: Mateus 16:16: “Tu és o Cristo, o Filho do
Deus vivo”; Marcos 8:29: “Tu és o Cristo”; Lucas 9:20: “És o Cristo de Deus”.

9. Exigir que as citações do Antigo Testamento feitas no Novo


Testamento sejam sempre exatas: uma citação não tem que ser uma
repetição exata do que está escrito.

10. Assumir que diferentes narrações sejam falsas: pelo simples fato
de divergirem entre si duas ou mais narrações do mesmo
acontecimento, isso não significa que elas sejam mutuamente
exclusivas. Por exemplo, em Mateus 28:5 está escrito que havia um
anjo junto ao túmulo de Jesus depois da ressurreição, ao passo que
em João 20:12 há informação que haviam dois. Não há, porém,
nenhuma contradição.

6
Tiago 2:14-26.
7
Romanos 4:5; Tito 3:5-7; Efésios 2:8-9.
8
Êxodo 31:18.

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Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Há uma infalível regra matemática que facilmente explica este problema:


“onde quer que haja dois, sempre há um” e nisso não há contradição, pois
Mateus não diz que havia apenas um anjo.

11. Presumir que a Bíblia aprova tudo o que ela registra: toda a
Bíblia é verdadeira, mas ela registra algumas mentiras, como as de
Satanás em Gênesis 3:4.

12. Esquecer-se de que a Bíblia faz uso de uma linguagem comum,


não técnica: para que algo seja verdadeiro, não é necessário fazer uso
de uma linguagem científica. A Bíblia foi escrita para pessoas comuns
de todas as gerações, e, portanto, emprega a linguagem comum, do
dia-a-dia, mesmo porque esta linguagem é anterior à ciência.

13. Considerar que números arredondados sejam errados: não


temos de esperar encontrar precisão científica numa era pré-
científica. De fato, isso seria tão inesperado quanto usar um relógio
de pulso numa peça de Shakspeare.

14. Confundir afirmações gerais com universais: o livro de


Provérbios, por sua natureza, dá uma direção e não uma certeza
aplicável a todos os casos. São regras para a vida, mas regras que
admitem exceções. Os provérbios são sabedoria e não leis.

15. Esquecer-se de que uma revelação posterior sobrepõe-se a uma


anterior: Deus não revela tudo, de uma vez só. O fato de que os pais
de uma criança permitam que ela, quando bem pequena, coma com
a mão, para somente mais tarde ensinar-lhe a comer com uma
colher e depois com garfo e faca não é uma contradição. Isso é
revelação progressiva, sendo cada ordenança adequada à
circunstância particular em que a pessoa se encontra.

Bíblia Católica (Thompson, 1375)


Além dos 66 livros da Bíblia9 protestante, a Igreja Católica possui mais
alguns livros chamados apócrifos ou deuterocanônicos10, todos eles
acrescentados ao A.T. e surgidos no período entre o A.T. e N.T. As opiniões
eclesiásticas através de várias épocas têm diferido quanto ao valor dessa
literatura.

9 Alguns afirmam que todos os livros do A.T. (cânon protestante) foram reunidos e reconhecidos
sob a liderança de Esdras (V a.C.). No Sínodo de Jamnia (90 a.C.) uma reunião de rabinos judeus os
reconheceu também. O Concílio de Cartago (397) reconheceu como canônicos os 27 livros do N.T. A
Igreja Católica Romana, no Concílio de Trento (1546) considerou canônicos onze dos dezesseis livros
apócrifos (http://www.vivos.com.br/42.htm).
10
Apócrifo significa “escondido”, “secreto”. Deuterocanônico significa “pertencentes ao segundo
cânon” e é o termo usado pelos católicos para tais livros.

Sérgio Pereira 13
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Os reformadores também não aceitaram tais livros pois, em primeiro


lugar, nunca foram citados por Jesus e duvida-se que os apóstolos tenham
feito alusão a eles. Em segundo lugar, a maioria dos primeiros pais da Igreja
os consideraram como não inspirados. Em terceiro e último lugar, não
aparecem no cânon hebraico antigo.

BÍBLIAS
BÍBLIAS
PROTESTANTE (66 livros) CATÓLICA (73 livros e adições11) ABREVIAÇÃO

ANTIGO TESTAMENTO

1. Gênesis 1. Gênesis Gn
2. Êxodo 2. Êxodo Êx
3. Levítico 3. Levítico Lv
4. Números 4. Números Nm
5. Deuteronômio 5. Deuteronômio Dt
6. Josué 6. Josué Js
7. Juízes 7. Juízes Jz
8. Rute 8. Rute Rt
9. 1 Samuel 9. 1 Samuel 1Sm
10. 2 Samuel 10. 2 Samuel 2Sm
11. 1 Reis 11. 1 Reis 1Rs
12. 2 Reis 12. 2 Reis 2Rs
13. 1 Crônicas 13. 1 Crônicas 1Cr
14. 2 Crônicas 14. 2 Crônicas 2Cr
15. Esdras 15. Esdras Ed
16. Neemias 16. Neemias Ne
- 17. Tobias Tb
- 18. Judite Jd
17. Ester 19. Ester (e adições) Et
18. Jó 20. Jó Jó
19. Salmos 21. Salmos Sl
- 22. 1 Macabeus IM
- 23. 2 Macabeus IIM
20. Provérbios 24. Provérbios Pv
21. Eclesiastes 25. Eclesiastes Ec
22. Cântico dos Cânticos 26. Cântico dos Cânticos Ct
- 27. Sabedoria Is
- 28. Eclesiástico Eclo
23. Isaías 29. Isaías Is
24. Jeremias 30. Jeremias Jr
25. Lamentações 31. Lamentações Lm
- 32. Baruc Ba
26. Ezequiel 33. Ezequiel Ez
27. Daniel 34. Daniel (e adições) Dn
28. Oséias 35. Oséias Os
29. Joel 36. Joel Jl

11
O livro canônico de Ester termina com o décimo capítulo. A produção apócrifa acrescenta dez
versículos a este capítulo e mais seis capítulos, 11-16. O livro canônico de Daniel possui 12 livros. A
Igreja Católica Romana acrescenta: “O cântico dos três jovens” ao capítulo 3 (de 23-90) e mais dois
capítulos: “História de Suzana” (Dn 13);”Bel e o dragão” (Dn 14).

Sérgio Pereira 14
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

30. Amós 37. Amós Am


31. Obadias 38. Obadias Ob
32. Jonas 39. Jonas Jn
33. Miquéias 40. Miquéias Mq
34. Naum 41. Naum Na
35. Habacuque 42. Habacuque Hc
36. Sofonias 43. Sofonias Sf
37. Ageu 44. Ageu Ag
38. Zacarias 45. Zacarias Zc
39. Malaquias 46. Malaquias Ml

NOVO TESTAMENTO

1. Mateus 1. Mateus Mt
2. Marcos 2. Marcos Mc
3. Lucas 3. Lucas Lc
4. João 4. João Jo
5. Atos 5. Atos At
6. Romanos 6. Romanos Rm
7. 1 Coríntios 7. 1 Coríntios 1Co
8. 2 Coríntios 8. 2 Coríntios 2Co
9. Gálatas 9. Gálatas Gl
10. Efésios 10. Efésios Ef
11. Filipenses 11. Filipenses Fp
12. Colossenses 12. Colossenses Cl
13. 1 Tessalonicenses 13. 1 Tessalonicenses 1Ts
14. 2 Tessalonissences 14. 2 Tessalonissences 2Ts
15. 1 Timóteo 15. 1 Timóteo 1Tm
16. 2 Timóteo 16. 2 Timóteo 2Tm
17. Tito 17. Tito Tt
18. Filemon 18. Filemon Fm
19. Hebreus 19. Hebreus Hb
20. Tiago 20. Tiago Tg
21. 1 Pedro 21. 1 Pedro 1Pe
22. 2 Pedro 22. 2 Pedro 2Pe
23. 1 João 23. 1 João 1Jo
24. 2 João 24. 2 João 2Jo
25. 3 João 25. 3 João 3Jo
26. Judas 26. Judas Jd
27. Apocalipse 27. Apocalipse Ap

Divisão Geral da Bíblia Protestante:


Protestante:

Antigo Testamento
Livros históricos: Gênesis a Ester.
Livros poéticos: Jó a Cantares.
Livros proféticos: Isaías a Malaquias.

Novo Testamento
Evangelhos: Mateus a João.
História da Igreja: Atos.
Cartas: Romanos a Judas.
Profecia: Apocalipse.

Sérgio Pereira 15
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

II – Nascimento
Nascimento e Família
Nascimento, Infância e Juventude
A história de Jesus Cristo12 começa com a encarnação de Deus: o Verbo
eterno se faz carne e vive entre nós durante determinado tempo. Deus
poderia ter vindo de várias formas, mas resolveu vir através do ventre de
uma mulher virgem, como bebê indefeso e dependente de cuidados. O
Senhor do Universo nasceu em um estábulo, filho de uma camponesa!

Podemos notar o emprego de argumentos históricos de Lucas, ao citar


acontecimentos políticos da época do nascimento de Jesus. Cita César
Augusto13 como governador do Império Romano (30 a.C. – 14 d.C.). A partir
de 30 a.C. os Césares ordenam censos a fim de organizar melhor o sistema
tributário. A resistência da população levava tais censos a demorarem a
serem completados. O imposto era cobrado geralmente no lugar onde as
pessoas residiam, por isso, José se deslocou da Galiléia para Belém “porque era
da casa e família de Davi”14, conforme o costume judaico de registrar as pessoas
de acordo com suas tribos e famílias. Segundo Mateus 1:24-25, José e
Maria não haviam tido relação sexual ainda e José esperou até ela dar à luz
um filho.

Tanto Mateus 1 como Lucas 3 mencionam a genealogia de Jesus; e João


1 apresenta-O como Verbo divino. No entanto, não temos genealogia em
Marcos. A razão disso é porque Marcos apresenta Jesus como “servo” e
servo não precisa de genealogia. O público romano a quem Marcos
direciona seu Evangelho, não tinha interesse em saber de onde um servo
tinha vindo, mas sim o que ele poderia fazer. Veja o quadro comparativo
abaixo (Geisler, p. 377):

MATEUS MARCOS LUCAS JOÃO


Cristo é Rei Servo Homem Deus
apresentado
como
Símbolo Leão Touro Homem Águia
Ênfase Soberania Ministério Humanidade Divindade
Público-
Público-alvo Judeus Romanos Gregos O mundo
Seus Que é Rei (filho Anônimos Sua Sua divindade
antecedentes de Davi) humanidade
mostram

12
“Cristo” é o termo grego para o hebraico “Messias”. Ambos significam “O Ungido”.
13
Lucas 2:1.
14
Lucas 2:4.

Sérgio Pereira 16
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Os dezoito primeiros anos de Jesus seguindo a cronologia:


cronologia:

1. Um anjo anuncia a Maria acerca do nascimento de Jesus Cristo (junho de 6


a.C.); Lucas 1:26-38. Depois, a José; Mateus 1:18-24.
2. Jesus nasce em Belém15; Lucas 2:1-25. Recenseamento “mundial”16
decretado por César Augusto; Lucas 2:2.
3. Os anjos O louvam e os pastores que estavam nos campos próximos
prestam homenagens ao bebê na manjedoura17, pois um anjo anuncia seu
nascimento. Os pastores contam ao povo o que ocorreu; Lucas 2:8-20.
4. No oitavo dia de vida é circuncidado18 e Seu nome é revelado
publicamente. Seus pais o levam para Jerusalém a fim de ser apresentado
no templo como ensinava a Lei de Moisés; Lucas 2:21-24.
5. A visita dos sábios19 e a perturbação de Herodes ao saber que nasceu um “rei
dos judeus”. Herodes manda que todos os meninos com menos de dois
anos nascidos em Belém e arredores sejam mortos; Mateus 2:1-18.
6. Fuga para o Egito e morte de Herodes, o Grande; Mateus 2:13-20.
7. Do Egito para Nazaré; Mateus 2:21-23.
8. Infância20 em Nazaré; Lucas 2:40.
9. Aos 12 anos, ao retornar da festa da Páscoa em Jerusalém, seus pais
percebem que “sumiu”. Três dias depois o encontram no templo, entre
mestres, ouvindo-os, fazendo perguntas e ensinando; Lucas 2:41-50.
10. Volta para Nazaré onde trabalha com seu pai na carpintaria21. Vive lá pelos
próximos 18 anos; Marcos 6:3.

15
Provavelmente nasceu no dia 1º. de abril de 5 a.C., segundo estudos mais recentes (Reese, p.1026).
Não há nenhum mandamento bíblico para celebrar o nascimento de Jesus no dia 25 de dezembro e
nada que indique que Jesus nasceu nesta data. No dia 25 de dezembro, celebrava-se um feriado
pagão no Império Romano relacionado com religiões de mistérios. Os cristãos, não querendo
participar de tal comemoração, criaram então o natal. (Sproul, p. 237-238).
16
Até pouco tempo atrás, os críticos asseguravam amplamente que Lucas cometera um engano na
sua afirmação sobre o recenseamento neste período. No entanto, pesquisas recentes reverteram tal
tendência e agora é amplamente admitido que houve um censo (Geisler, p. 391-392).
17
“Manjedoura” é comedouro de animais.
18
A circuncisão significava que o menino era admitido na comunidade do pacto judeu. Em Gênesis
17:12-13 temos Deus dando tal mandamento a Abraão. O incircunciso era considerado pagão
(TENNEY, p. 70-72).
19
A tradição católica diz que eram “reis magos”, que eram “três” e 800 anos após o nascimento de
Cristo dá nome a eles: Melchior, rei da Pérsia; Gaspar, rei da Índia; e Baltazar, rei da Arábia. Em
hebreu, esses nomes significavam “rei da luz”, “o branco” e “senhor dos tesouros”. No entanto, não
encontramos nenhuma destas informações na Bíblia. Só Mateus relata tal visita; escreveu que eram
sábios (magos) e mais de um, sem citar nomes ou de onde vieram. Outra controvérsia se dá sobre o
fato de terem seguido uma estrela para chegar até Jesus. A Bíblia condena o uso da astrologia
(Levítico 19:26) que é a crença de que o estudo da disposição e movimento das estrelas e astros
podem capacitar alguém a “prever” acontecimentos. No entanto, a estrela não estava “prevendo” e
sim “anunciando” o nascimento de Jesus. O Salmo 19:1-6 afirma que os céus proclamam a glória de
Deus e Romanos 1:18-20 nos ensina que a criação revela a existência de Deus.
20
“O menino crescia e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele.” Este é o único relato
bíblico sobre a infância de Jesus, descrito em Lucas 2:40, juntamente com o episódio do Templo,
aos 12 anos: Lucas 2:41-50.
21
Segundo o Dicionário Aurélio séc. XXI, “carpinteiro” é quem trabalha em obras grosseiras de
madeira, diferente de “marceneiro” que trabalha com mais arte.

Sérgio Pereira 17
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Viagens de Jesus em seus primeiros anos (Thompson, p. 1385):

Sérgio Pereira 18
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

História entre Antigo


Antigo e Novo Testamentos (Thompson, p. 1467):

Sérgio Pereira 19
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

João Batista
O anjo Gabriel aparece a seu pai, o sacerdote Zacarias, quando este
servia no Templo, e lhe informa o nascimento de João cerca de um ano
antes do nascimento de Jesus (João e Jesus eram parentes22). Zacarias e sua
mulher eram de idade avançada e ainda não tinham filhos, pois Isabel era
estéril. Zacarias duvida das palavras de Gabriel por isso e fica mudo até o
nascimento de João23.

João Batista é quem anunciaria a chegada do Cristo, segundo o profeta


Isaías24: “Voz do que clama no deserto: preparem o caminho para o Senhor, façam veredas
retas para ele”. Segundo Mateus 3:4, as roupas de João eram feitas de pêlos de
camelo presas por um cinto de couro na cintura. Alimentava-se de mel
silvestre e gafanhotos. João, pregava um batismo de arrependimento para o
perdão dos pecados, no rio Jordão25. Vinham até ele toda a região da Judéia
e todo o povo de Jerusalém. Dizia: “Arrependam-se, pois o Reino dos céus está
próximo”26. Ao chamar os judeus para se batizarem estava fazendo um
pedido radical e humilhante. Naquela época, só os gentios (não judeus)
convertidos ao judaísmo tinham de ser batizados.

Aos 30 anos, Jesus vai até João batista para ser batizado. João ao vê-lo,
tenta impedi-lo dizendo “Eu preciso ser batizado por ti e Tu vens a mim? Ao aceitar
ser batizado, Jesus tanto se identifica com o pecado do seu povo (morrerá
pelos pecados da humanidade três anos depois) como proclama sua
lealdade completa à Deus Pai e às Escrituras. Assim que Jesus foi batizado e
saiu da água, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu como pomba,
pousando sobre ele. No dia seguinte João viu Jesus se aproximando e disse:
“Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!”27

Dois anos depois, João Batista repreende Herodes Antipas, o tetrarca da


Judéia, por causa do adultério com Herodias, mulher do seu próprio irmão
e por todas as outras coisas más que havia feito e estava fazendo. Herodes o
condena à prisão. No aniversário de Herodes, a filha de Herodias dança
diante de todos e agrada tanto a Herodes que ele promete dar-lhe o que ela
pedisse, até metade de seu reino. Influenciada por sua mãe, pede a cabeça
de João Batista num prato. Mesmo contrariado, Herodes havia prometido
sob juramento e devia cumprir a promessa. Jesus disse que entre todos os
homens ninguém foi maior que João Batista e que ele era o “Elias que havia de
vir.”28

22
Lucas 1:36.
23
Lucas 1:5-25.
24
Isaías 40:3.
25
Leia Lucas 3:7-18.
26
Mateus 3:2.
27
Mateus 3:13-16 e João 1:29-34.
28
Jesus disse que João Batista era o profeta Elias reencarnado em Mateus 17:12? Não. Jesus não está
dizendo que Elias havia reencarnado e sim, que João veio no poder de Elias, ou seja, veio para
continuar seu ministério profético. Em segundo lugar, Elias aparece no monte da transfiguração

Sérgio Pereira 20
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Distâncias a partir de Jerusalém (Thompson, p. 1490):

(Mateus 17:10-13). Em terceiro lugar, Elias não se enquadra dentro do modelo de reencarnação
porque ele não morreu. Foi ao céu como Enoque, trasladado para não ver a morte (2 Reis 2:11;
Hebreus 11:5). De acordo com o ensino kardecista, é necessário morrer para reencarnar-se num
outro corpo. Em Hebreus 9:27, o autor declara que “aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo
depois disto, o juízo” (Geisler, p. 350).

Sérgio Pereira 21
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

III – Ministério
A Tentação
O mesmo Espírito Santo que viera sobre Jesus no seu batismo como
confirmação de sua divindade agora o leva para ser “tentado” no deserto. O
termo nos originais está mais relacionado com “aprender a depender” ou
“testar” do que com “tentação”, pois Deus não “tenta” ninguém29. Essa
palavra, no Evangelho segundo Mateus, está sempre relacionada com
“prova”. Esta foi a prova de resistência com a qual Satanás30 procurou fazer
Jesus renunciar à sua identidade como ungido de Deus, o Messias.

Diz a palavra de Deus que após Jesus jejuar quarenta dias e quarenta
noites, teve fome. O número quarenta aparece em ocasiões especiais na
Bíblia: Moisés jejuou quarenta dias no Monte Sinai enquanto recebia os
Dez Mandamentos31 e Israel ficou no deserto por quarenta anos32. Satanás
se aproxima e passa a testar Jesus, atacando-o primeiramente no físico:
desafia Jesus a matar a fome transformando as pedras em pães. Jesus
responde com Deuteronômio 8:3, onde se diz que a verdadeira vida não é
encontrada no alimento, mas em toda palavra de Deus. Conforme Mateus
4:5, Satanás o levou à cidade santa e o colocou na parte mais alta do
templo33. Desafiou Jesus a se jogar dali, pois como estava escrito34, os anjos
viriam para socorrê-lo. Jesus diz-lhe: “Também está escrito: Não tente o Senhor seu
Deus”. Satanás o leva a outro lugar muito alto, mostra-lhe os reinos da Terra
e sua glória e lhe diz: “Tudo isto te darei se te prostrares e me adorares”. Jesus lhe
disse: “Retira-te Satanás! Pois está escrito: “Adore o Senhor seu Deus e sirva somente a ele”.
Satanás o deixa e os anjos vêm e lhe servem. Esta última tentação é para
que Jesus receba os reinos do mundo sem sofrer futuramente as agonias da
cruz. Satanás apelou para as necessidades fisiológicas de Jesus, Suas
inseguranças e ambições, mas não conseguiu vencer a fidelidade de Jesus
ao Pai. Preparado pelo batismo e tentação, Jesus começa agora seu
ministério.

29
Em Tiago 1:13 encontramos o versículo: “Ninguém, ao ser tentado diga: Sou tentado por Deus”. E segue
explicando que a tentação é algo que nasce de dentro das inclinações más de nosso próprio coração.
Não podemos desculpar nosso pecado dizendo que o Diabo nos fez cometê-lo ou pior ainda, que
Deus nos provocou e nos inclinou para o pecado. É completamente fora do caráter de Deus conduzir
alguém a pecar (Sproul, p. 309-310).
30
Satanás não aparece tanto no Antigo Testamento. Temos ele identificado como a serpente no Éden
em Apocalipse 12:9, no episódio com Jó 1:6 e em Zacarias 3:2. Porém, no pensamento judeu
posterior e no Novo Testamento, é representado como um anjo que se rebelou contra Deus, um
inimigo dos Seus propósitos e do Seu povo.
31
Êxodo 34:28.
32
Deuteronômio 8:2.
33
Provavelmente 130 metros acima do Vale do Cidrom.
34
O Salmo 91:11-12 é uma promessa de que Deus estará com seu povo nas épocas de crise. Satanás
aplica mal esta promessa, a fim de tentar Jesus a fazer algo que seria insensato, numa tentativa de
forçar Deus a agir. A diferença no uso das Escrituras, feita por Satanás e Jesus é instrutiva. Jesus
emprega citações que resumem verdades centrais do Antigo Testamento. Satanás remove a citação
do seu contexto a fim de manipulá-la para significar algo muito diferente.

Sérgio Pereira 22
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Jesus no ano de inauguração (Thompson, p. 1468):

Sérgio Pereira 23
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Milagres
Os milagres de Jesus eram uma confirmação de sua natureza divina,
mas isso não significa que todo aquele que os visse seria convencido por
esses milagres. Até mesmo a melhor evidência só é efetiva havendo
vontade, não a rejeição. Eis a relação dos milagres de Jesus descritos no
N.T.35:

MILAGRES
1. Transformação de água em vinho (João 2.1-11).
2. Cura do filho do oficial (João 4.46-54).
3. Cura do paralítico de Betesda (João 5.1-9).
4. Primeira pesca (Lucas 5.1-11).
5. Libertação do endemoninhado (Marcos 1.23-28; Lucas 4.31-36).
6. Cura da sogra de Pedro (Mateus 8.14,15; Marcos 1.29-31; Lucas 4.38,39).
7. Purificação do leproso (Mateus 8.2-4; Marcos 1.40-45; Lucas 5.12-16).
8. Cura do paralítico (Mateus 9.2-8; Marcos 2.3-12; Lucas 5.18-26).
9. Cura da mão ressequida (Mateus 12.9-13; Marcos 3.1-5; Lucas 6.6-10).
10. Cura do criado do centurião (Mateus 8.5-13; Lucas 7.1-10).
11. Ressurreição do filho da viúva de Naim (Lucas 7.11-15).
12. Cura de um endemoninhado mudo (Mateus 12.22 e Lucas 11.14).
13. Acalma a tempestade (Mateus 8.18,23-27; Marcos 4.35-41; Lucas 8.22-25).
14. Cura do endemoninhado geraseno (Mateus 8.28-33; Marcos 5.1-14; Lucas 8.26-39).
15. Cura da mulher enferma (Mateus 9.20-22; Marcos 5.25-34; Lucas 8.43-48).
16. Ressurreição da filha de Jairo (Mateus 9.18, 23-26; Marcos 5.22-24, 35-43; Lucas
8.41,42,49-56).
17. Cura de dois cegos (Mateus 9.27-31).
18. Cura do mudo endemoninhado (Mateus 9.32,33).
19. Primeira multiplicação de pães (Mateus 14.14-21; Marcos 6.34-44; Lucas 9.12-17;
João 6.5-13).
20. Anda sobre as águas (Mateus 14.24-33; Marcos 6.45-52; João 6.16-21).
21. Cura da filha da Cananéia (Mateus 15.21-28; Marcos 7.24-30).
22. Cura de um surdo e gago (Marcos 7.31-37).
23. Segunda multiplicação de pães (Mateus 15.32-39; Marcos 8.1-9).
24. Cura do cego de Betsaida (Marcos 8.22-26).
25. Cura do jovem possesso (Mateus 17.14-18; Marcos 9.14-29; Lucas 9.38-42).
26. Pagamento do imposto (Mateus 17.24-27).
27. Cura de um cego (João 9.1-7).
28. Cura de uma mulher enferma (Lucas 13.10-17).
29. Cura de um hidrópico (Lucas 14.1-6).
30. Ressurreição de Lázaro (João 11.17-44).
31. Cura dos leprosos (Lucas 17.11-19).
32. Cura do cego Bartimeu (Mateus 20.29-34; Marcos 10.46-52; Lucas 18.35-43).
33. A figueira é amaldiçoada (Mateus 21.18,19; Marcos 11.12-14).
34. Restauração da orelha de Malco (Lucas 22.49-51; João 18.10).
35. Segunda grande pesca (João 21.1-11).

35
www.vivos.com.br/33.htm.

Sérgio Pereira 24
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Os doze discípulos e outros seguidores36


Após os quarenta dias de preparação no deserto, Jesus “entrevista”37 seus
primeiros cinco discípulos: André, Pedro, Filipe, Natanael e outro,
provavelmente João. Ocorre o primeiro milagre promovido por Cristo na
festa de um casamento, em Caná da Galiléia. Estavam ali sua mãe e seus
discípulos. Após o milagre, seus discípulos começam a crer Nele.

No começo do seu ministério Jesus escolheu doze homens que o


acompanhassem em suas viagens. Teriam esses homens uma importante
responsabilidade: continuariam a representá-lo depois de haver ele voltado
para o céu. A reputação deles continuaria a influenciar a igreja muito
depois de haverem morrido. Por conseguinte, a seleção dos doze foi de
grande responsabilidade. "Naqueles dias retirou-se para o monte a fim de orar, e passou
a noite orando a Deus. E quando amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu doze
dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolo"38.

A maioria dos apóstolos era da região da Galiléia, desprezada pela


sociedade judaica, e conhecida como "Galiléia dos gentios". Nenhum dos
escritores dos Evangelhos deixou-nos traços físicos dos doze. Dão-nos,
contudo, minúsculas pistas que nos ajudam a fazer um retrato razoável
sobre como pareciam e atuavam. Um fato importante que tem sido
tradicionalmente menosprezado em incontáveis representações artísticas
dos apóstolos é sua juventude. Se levarmos em conta que a maioria chegou
a viver até a terceira e quarta década do século e que João adentrou o
segundo século, então eles devem ter sido não mais do que jovens quando
aceitaram o chamado de Cristo.

DOZE APÓSTOLOS
1. André
2. Bartolomeu (Natanael)
3. Tiago (Filho de Alfeu)
4. Tiago (Filho de Zebedeu)
5. João
6. Judas (não o Iscariotes)
7. Judas Iscariotes39
8. Mateus
9. Filipe
10. Simão Pedro
11. Simão Zelote
12. Tomé

36
www.vivos.com.br/124.htm.
37
Cronologicamente, Jesus chama seus discípulos para o acompanharem permanentemente algum
tempo depois. O que ocorre neste momento é apenas uma “entrevista” do Mestre com eles. Os
discípulos, após aquele dia, voltaram aos seus lares e trabalhos diários.
38
Lc 6.12-13.
39
Matias depois de sua morte foi quem o substituiu, tornando-se o novo 12º. apóstolo (Atos 1:26).
Saulo (que passa a ser chamado de Paulo após sua conversão) é o 13º. apóstolo. Ver a nota sobre
“apóstolo” da p. 23.

Sérgio Pereira 25
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Esboço histórico dos apóstolos (Thompson, p. 1436):

Sérgio Pereira 26
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Sermão
Sermão do Monte
Para alguns estudiosos, o Sermão do Monte encontrado em Mateus
(capítulos 5 a 7), é uma das passagens mais importantes da Bíblia. Após a
escolha dos doze apóstolos, Jesus profere o famoso sermão. Estavam eles
provavelmente na cidade de Corazim, próxima ao Mar da Galiléia. Diz a
Bíblia, em Lucas 6:17-19, que uma imensa multidão vinda de vários
lugares (Judéia, Jerusalém, Tiro e Sidom) assim como grande parte de seus
discípulos ajuntaram-se para ouvi-lo e para serem curados de suas
doenças. Ao ver as multidões, Jesus sobe ao monte e se assenta40, passando
a ensinar-lhes.

Nos quadros abaixo41 está um resumo do Sermão do Monte, dividido


em oito passos progressivos pelos quais o homem alcança níveis mais altos
de vida espiritual,

OITO PASSOS TEXTOS EM MATEUS


1. Humildade 5:3
2. Penitência 5:4
3. Mansidão 5:5
4. Fome espiritual 5:6
5. Misericórdia 5:7
6. Pureza interior 5:8
7. Conciliação 5:9
8. Sofrimentos e sacrifícios 5:10-12

e ensinamentos sobre o reino de Deus:

ENSINAMENTOS TEXTOS
TEXTOS EM MATEUS
Influência 5:13-16
Cumprimento da Lei 5:17-20
Domínio próprio 5:21-22
Reconciliação 5:23-26
Fidelidade 5:27-30
O sagrado matrimônio 5:31-32
Controle no falar 5:33-37
Não resistir 5:38-40
Serviço ilimitado 5:41
Bondade 5:42
Amor universal 5:43-47
Norma divina 5:48
Dar 6:1-4
A oração 6:5-15
O jejum 6:16-18
Tesouros no céu 6:19-21
Visão espiritual 6:22-23

40
Lucas afirma que Jesus “parou num lugar plano” quando fez o sermão enquanto em Mateus
encontramos que “ele subiu ao monte”. O monte refere-se à área geral em que todos estavam, ao
passo que o lugar plano denota o ponto específico de onde Jesus falou. O texto diz que Ele “parou
num lugar plano” e não que todo o povo estava neste lugar (Geisler, p. 395).
41
Thompson, p. 1381.

Sérgio Pereira 27
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Serviço não dividido 6:24


Confiança 6:25-32
Primazia no reino de Deus 6:33
Justiça 7:1-5
Evangelização 7:6
Benevolência divina 7:7-11
Regra de ouro 7:12
O caminho estreito 7:13-14
O fruto, prova da vida 7:15-20
Obediência, a rocha da edificação 7:21-27

Jesus utilizou figuras de linguagem como aforismos42 que devem ser


interpretadas à luz da própria Bíblia, para que não haja contradição.
Quando Ele diz, por exemplo, que ao ser atingido na face direita, deve-se
oferecer a outra face também43, a expressão utilizada por Cristo se refere a
um “insulto”, semelhante a um tapa ou a palavras insultuosas em desafio,
para um duelo44.

O contexto se refere a um debate de Jesus com os fariseus sobre uma lei


mosaica do Antigo Testamento que determina o “olho por olho, dente por
dente”. Entre os rabinos, esta lei se tornou uma desculpa para um espírito
amargo de vingança e de um tratamento cruel para aqueles que quebravam
a Lei.

A expressão “dar a outra face” é dita no mesmo contexto de outras


afirmações: “Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas”45 ou ainda “Ao
que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa”46. Jesus está
dizendo que devemos fazer o máximo para não nos envolver em
contendas e que não devemos ter espírito de vingança; devemos sim, ter
misericórdia, tolerância e paciência, encontrados no próprio Deus.

“Quando Jesus acabou de dizer essas coisas, as multidões estavam maravilhadas com o seu
ensino, porque ele as ensinava como quem tem autoridade, e não como os mestres da Lei”47.
Jesus ensinou com autoridade e poder sobre o reino de Deus, pois Ele é o
próprio Deus. O Sermão do Monte não termina como imperativo e sim
como um convite à entrega de nossas vidas a Ele. Quem tem ouvidos,
ouça...

42
Aforismo é uma afirmação pequena, sucinta e vigorosa. Quando Jesus diz, por exemplo, “ignore a
tua mão esquerda o que faz a tua mão direita” em Mateus 6:3, Ele estava acabando de censurar a exibição
pública de piedade dos fariseus. Eles oravam e se vestiam de pano de saco para que todos soubessem
o quão espirituais eram (Sproul, p. 377).
43
Mateus 5:39.
44
Sproul, 1992, p. 338.
45
Mateus 5:41.
46
Mateus 5:40.
47
Mateus 7:28-29.

Sérgio Pereira 28
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Parábolas48
Quando Jesus, chegando ao fim do Seu segundo ano de pregação
pública, trouxe à beira do Mar da Galiléia aquela maravilhosa série de
parábolas ilustrando a natureza do reino do céu, seus discípulos ficaram
tão confusos com elas que lhe perguntaram em particular, "Por que lhes falas
por parábolas?" (Mateus 13:10; Marcos 4:10). Parábola, segundo o Dicionário
Aurélio Século XXI, “é uma narração alegórica na qual o conjunto de elementos evoca, por
comparação, outras realidades de ordem superior.” Jesus passou vários ensinamentos
através de exemplos de atividades da vida cotidiana como é o caso da
“parábola do semeador”.

As parábolas tinham certamente um lugar especial na última fase do


ensinamento de Jesus, mas não eram unicamente Dele. Elas aparecem
freqüentemente no Velho Testamento (2 Samuel 12:1-4), especialmente
nos profetas (Isaías 5:1-2; Ezequiel 17:1-10), e foram um método familiar
de ensinamento entre os rabis do próprio tempo de Jesus. O que, então,
deve ter surpreendido os discípulos não foi seu desconhecimento de
parábolas, mas a súbita mudança para uma abordagem de Seu Mestre até
ali desconhecida. Jesus atribui a mudança no ensinamento a uma
mudança na atitude de Seus ouvintes.

Mateus diz que Jesus falava por parábolas em cumprimento da profecia:


"Abrirei os lábios em parábolas e publicarei enigmas dos tempos antigos" (Mateus 13:34-
35; Salmo 78:2). O propósito das parábolas era revelar as verdades ocultas
do reino de Deus, porém não a todos. Ao coração honesto, estas histórias
ilustrativas trariam mais luz, mas, aos orgulhosos e rebeldes, elas criariam
mais confusão (Mateus 13:11-17). Esse é o significado da declaração de
Jesus: "Porque a vós outros é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas àqueles não
lhes é isso concedido" (Mateus 13:11).

O Evangelho do reino está assim moldado para atrair e informar os


humildes, enquanto afasta e confunde os orgulhosos. Ouvir a palavra de
Deus é uma experiência dinâmica. Seremos melhores ou piores por ela. O
mesmo Sol que derrete a cera endurece a argila. O significado das parábolas
nem sempre foi patentemente evidente, mesmo para o coração humilde,
mas a mesma história que afastou o altivo rindo presunçosamente, trouxe
de volta o humilde fazendo perguntas.

Os discípulos de Jesus não entenderam porque Ele começou


subitamente a ensinar exclusivamente por parábolas (Mateus 13:10, 34-
35), ou o que Suas histórias incomuns significavam, mas tinham aquela
simplicidade de coração que os trouxe de volta pedindo mais informação
(Mateus 13:36; Marcos 4:10; Lucas 8:9). Também temos essa escolha.

48
www.estudosdabiblia.net/1999227.htm.

Sérgio Pereira 29
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Quando somos confrontados com alguma declaração desafiadora da


Escritura, podemos tanto sair em desespero e confusão, ou ficar ali
pacientemente para aprender mais. Nossa resposta revelará se nos é dado
saber os mistérios do reino de Deus e que tipo de coração temos. As
parábolas proferidas pelo Mestre são essas49:

PARÁBOLA
PARÁBOLA TEXTO BÍBLICO
1. O semeador Mateus 13.5-8
2. O joio Mateus 13.24-30
3. O grão de mostarda Mateus 13.31,32
4. O fermento Mateus 13.33
5. O tesouro escondido Mateus 13.44
6. A pérola Mateus 13.45,46
7. A rede Mateus 13.47-50
8. A ovelha perdida Mateus 18.12-14
9. O credor incompassivo Mateus 18.23-35
10. Os trabalhadores da vinha Mateus 20.1-16
11. Os dois filhos Mateus 21.28-32
12. Os lavradores maus Mateus 21.33-46
13. As bodas Mateus 22.1-14
14. As dez virgens Mateus 25.1-13
15. Os talentos Mateus 25.14-30
16. A semente Marcos 4.26-29
17. Os dois devedores Lucas 7.41-43
18. O bom samaritano Lucas 10.25-37
19. O Amigo Importuno Lucas 11.5-8
20. O rico louco Lucas 12.16-21
21. A figueira estéril Lucas 13.6-9
22. A grande ceia Lucas 14.16-24
23. A drácma perdida Lucas 15.8-10
24. O filho pródigo Lucas 15.11-32
25. O administrador infiel Lucas 16.1-9
26. O rico e lázaro Lucas 16.19-31
27. Os servos inúteis Lucas 17.7-10
28. O juiz iníquo Lucas 18.1-8
29. O fariseu e o publicano Lucas 18.9-14
30. As dez minas Lucas 19. 12-27

49
www.vivos.com.br/34.htm.

Sérgio Pereira 30
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Ano de popularidade de Jesus (Thompson, p. 1469):

Sérgio Pereira 31
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

IV – Morte e Ressurreição
Traição, Prisão e Condenação
“Então, um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, dirigiu-se aos chefes dos sacerdotes e lhes
perguntou: “O que me darão se eu o entregar a vocês?” E lhe fixaram o preço: trinta moedas de
prata”50. Essa passagem encontrada em Mateus 26:14-15 mostra como se
deu o início da traição e martírio de Cristo. Um dia depois, acontece a
“Última Ceia” de Jesus com seus discípulos, por ocasião da Páscoa51.

Jesus fala sobre a traição que sofrerá e que um dos discípulos é o traidor.
Em Mateus 26:25 ele declara claramente que é Judas Iscariotes (que
compartilhava de Seu prato – sinal de amizade – Marcos 14:20). Após Judas
sair do cenáculo52, Jesus ensina a seus discípulos sobre a “Ceia do Senhor”,
um ritual que deve ser celebrado até Sua volta, anunciando sua morte e
ressurreição. Jesus passa vários ensinamentos aos seus discípulos como no
momento que lava seus pés, demonstrando que devem ser “servos uns dos
outros”, sobre a vinda do Espírito Santo, sobre a perseguição que sofrerão e
principalmente, que sua morte é o meio para estabelecer uma nova aliança
entre Deus e os homens.

Após terem cantado um hino, foram para o monte das Oliveiras, como
era de costume. Jesus retira-se então com Pedro, Tiago e João para um local
ao pé do monte, chamado Getsemâni53. Pede que os discípulos vigiem54 e
orem enquanto fala com o Pai.

50
As trinta moedas de prata atualizadas à nossa época, equivaleriam a três meses de salário de um
trabalhador médio, aproximadamente. (www.santiagobovisio.com/por/reflexoes/20ref.htm).
51
A Páscoa para os judeus, é uma festa que comemora a noite da “passagem do Senhor” sobre as
famílias dos hebreus no Egito, livrando seus primogênitos da morte. Entrelaçada a ela está a Festa
dos Pães Sem Fermento, que comemora o Êxodo do Egito. Cada peregrino sacrificava seu próprio
cordeiro no templo; um sacerdote aparava o sangue em uma tigela e o derramava no altar. Depois de
remover partes do cordeiro para o sacrifício, a carcaça era devolvida ao peregrino para ser assada e
comida na Páscoa. O historiador Flávio Josefo calculou que pelo menos duzentos e cinqüenta mil
cordeiros eram mortos na Páscoa (Êxodo 11 e 12). A refeição da Páscoa é feita com as pessoas
deitadas em divãs ou almofadas em volta de uma mesa baixa. Começa com uma benção, o passar do
pão, e o beber do primeiro dos quatro cálices de vinho. A seguir, são cantados alguns salmos
(chamados de “Hallel”: dos capítulos 113-118) e é lida a história do livramento egípcio, seguida do
segundo cálice e do comer do pão, das ervas (entre algumas, rábano e chicória, que representavam a
amargura da escravidão) e do molho. Depois é comida a refeição em si, com o cordeiro assado e o
restante do pão. Mais orações são feitas e o terceiro cálice é tomado. Mais salmos são cantados antes
de se beber o último cálice. Depois disso, outro salmo é cantado. Duas orações curtas e a celebração.
Os quatro cálices de vinho representam as quatro promessas feitas por Deus aos israelitas em Êxodo
6:6-7: “Eu (...) vos tirarei de debaixo das cargas do Egito”, “Eu (...) vos livrarei” “Eu (...) vos resgatarei” e “Tomar-vos-ei por
meu povo”. Jesus aparentemente não bebeu o quarto cálice; irá esperar até o banquete messiânico no
fim dos tempos para celebrar o cumprimento dessa promessa (Tenney, p. 167; Coleman, p. 63).
52
Local amplo e mobiliado, onde se ceiava ou jantava.
53
Que significa literalmente “prensa de óleo” (para fazer óleo de oliva).
54
É mais uma preocupação do Mestre com a idéia de como os discípulos iriam enfrentar Sua prisão
e morte. È estar espiritualmente alerta, para não caírem na tentação de serem infiéis a Deus
(Coleman, p. 70).

Sérgio Pereira 32
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

O evangelista e médico Lucas, relata que enquanto Jesus orava


intensamente, Seu suor era como gotas de sangue que caiam no chão55.
Seus discípulos dormem e são acordados por Cristo três vezes (além do
cansaço, provavelmente haviam tomado os quatro cálices de vinho da
cerimônia pascal – ler nota 48).

Enquanto Jesus ainda falava aos seus discípulos, Judas chega com uma
grande multidão de soldados e guardas armados de espadas e varas,
enviados pelos líderes religiosos. Dirigindo-se a Jesus, Judas disse: “Salve
Mestre!”, e o beijou, confirmando para aqueles enviados do Sumo Sacerdote,
quem era o Cristo. Imediatamente, agarram Jesus e antes de prendê-lo,
Pedro tira sua espada e decepa a orelha direita de Malco, servo do Sumo
Sacerdote. Jesus, após repreender a Pedro, cura o soldado, devolvendo-lhe a
orelha. Os discípulos fogem.

Jesus é levado diante do Sinédrio56, para interrogação sobre seus


ensinamentos. Após um dos acusadores dizer que Jesus havia afirmado
que destruiria o Templo e o reconstruiria em três dias, Caifás, o Sumo
Sacerdote, exige que Jesus se defenda das acusações: “Exijo que você jure pelo
Deus vivo: se você é o Cristo, o Filho de Deus, diga-nos.” “Eu sou. Mas eu digo a todos vós:
Chegará o dia em que vereis o Filho do homem assentado à direita do Poderoso e vindo sobre as
nuvens do céu.”57 O Sumo sacerdote rasga as próprias roupas em sinal de
protesto dizendo que Jesus blasfemou. Todo o Sinédrio apóia então a pena
capital para Cristo e resolvem acusá-lo de traição a César58. Seus olhos são
vendados, cospem em seu rosto e lhe desferem tapas e murros.

Pedro acompanha tudo de longe e nega conhecer Cristo três vezes antes
do galo cantar, assim como Cristo profetizou59. De manhã, bem cedo, os
líderes tomam a decisão de amarrar Jesus e o entregar a Pilatos60. Quando
Judas viu que Jesus fora condenado, foi tomado de remorso; tenta devolver
aos líderes religiosos as trinta moedas de prata. Contrariado, joga o
dinheiro no chão do Templo e saindo dali, enforca-se. Esses líderes tomam
então a decisão de usar o dinheiro para a compra do Campo do Oleiro, para
enterro de estrangeiros (esse mesmo campo é provavelmente onde Judas
suicidou).

55
Lucas 22:44. Debaixo de um stress emocional, finos capilares nas glândulas sudoríparas podem se
romper, misturando assim o sangue com o suor. Este processo causa fraqueza e choque.
56
Conselho dos principais líderes do povo judeu, composto por 71 homens. Neste episódio,
reuniram-se na casa de Caifás.
57
Esse episódio é narrado em Mateus 26:59-68.
58
Lucas 23:2.
59
Mateus 26:58; 69-75. João e outros seguidores e familiares provavelmente estavam
acompanhando as acusações e condenação de longe também.
60
Levam-no a Pilatos, pois Roma havia limitado o poder do Sinédrio em relação à pena capital.
Pôncio Pilatos era o quinto procurador da Judéia. Serviu de 26-36 a.C. Os historiadores da época o
descreviam como “inflexível, cruel e obstinado, que desprezava os judeus e seus costumes”
(Coleman, p. 75).

Sérgio Pereira 33
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Pilatos interroga Cristo perguntando se Ele é o “rei dos judeus” e sobre as


acusações de insurreição e oposição aos pagamentos de impostos romanos,
como afirmava o Sinédrio. “Tu o dizes”, diz Jesus, deixando Pilatos
impressionado por não responder (seus ensinamentos haviam sido muito
deturpados pelos líderes judeus). Não encontrando nada para condená-lo,
Pilatos o envia a Herodes Antipas61, pois Jesus era galileu e natural de sua
jurisdição. Após lhe fazer várias perguntas e não obter nenhuma resposta,
Herodes ridiculariza-o junto com seus soldados e o envia de volta a Pilatos.

Por ocasião da Páscoa, era costume o governador soltar um prisioneiro


escolhido pelo povo. Pilatos então oferece a absolvição de Jesus ou de
Barrabás62 à multidão. A mulher de Pilatos envia-lhe uma mensagem: que
não se envolva com a morte de Cristo, pois ela sofreu muito em sonho, por
causa Dele. Os líderes religiosos conseguem convencer a multidão a pedir a
libertação de Barrabás e a crucificação de Jesus (cinco dias depois de exaltá-
lo na Sua entrada triunfal em Jerusalém). Quando Pilatos percebe que de
nada adiantava tentar convencer a multidão sobre Cristo, pede água para
lavar suas mãos, dizendo: “Estou inocente do sangue deste homem; a responsabilidade é
de vocês”. O povo responde: “Que o sangue dele caia sobre nós e nossos filhos!”. Pilatos
solta Barrabás, manda açoitar63 Jesus e o entrega para ser crucificado.

61
Tetrarca da Judéia, um dos filhos de Herodes, o Grande. Foi ele quem mandou degolar João
Batista.
62
Revoltoso contra Roma e envolvido em assassinato; seu nome significa ironicamente “filho do
pai”. A multidão provavelmente se reuniu a fim de pedir pela libertação de Barrabás, e não por Jesus,
que havia sido preso secretamente à noite e levado a Pilatos na madrugada da manhã seguinte
(Coleman, p. 77).
63
Os soldados usavam uma chibata de couro, entremeada de pedaços de ossos e chumbo, para
açoitar o prisioneiro nu e amarrado, entre outros instrumentos de tortura. A carne era despedaçada
(Coleman, p. 78).

Sérgio Pereira 34
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Últimos dias de Jesus (Thompson, p. 1473):

Sérgio Pereira 35
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Crucificação
Crucificação
Josefo chama a crucificação de “o método mais perverso de morte”. O indivíduo
a ser crucificado era primeiro despido; em seguida suas mãos eram
amarradas ou pregadas ao braço horizontal da cruz, que era então
levantado até a estaca vertical, já colocada no lugar. Depois disso pregavam
os pés. A morte era tipicamente um processo lento, agonizante, que ocorria
por meio de choque, sufocação e perda de sangue.

Ao ser levado para o Gólgota64, encontram um homem de Cirene (África)


chamado Simão e o forçam a ajudar Jesus a carregar a cruz. Oferecem
vinho misturado com mirra65 a Jesus, que depois de provar, se recusa a
beber. Era cerca de 9h00 da manhã quando foi crucificado. Os soldados
tiram suas roupas e a dividem66. Geralmente o crime cometido pelo
condenado era escrito em um pedaço de madeira e colocado na parte
superior da cruz. Pilatos, ao mandar escrever “O rei dos judeus” nesta placa,
estava tentando humilhar ainda mais os judeus que pedem que reescreva
“este homem se dizia rei dos judeus”; Pilatos nega mudar o que já estava escrito.

Os dois criminosos crucificados junto com Cristo podem ter sido


zelotes, envolvidos na insurreição que Barrabás também havia participado.
Insultavam e zombavam de Jesus juntamente com os líderes religiosos que
diziam: “Salvou os outros, mas não é capaz de salvar a si mesmo!”. Na verdade,
exatamente por salvar a “outros” é que está perdendo a Sua vida. No
entanto, um dos criminosos parou de insultá-lo e confessou sua fé Nele
como Messias. Do meio-dia às três horas da tarde, houve “trevas”. Jesus
clama ao Pai dizendo: “Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?”67. Clama
mais uma vez depois dizendo: “Está consumado” e enfim morre68. Neste
momento, a cortina que separava o lugar mais santo do templo (Santo dos
Santos), onde apenas o Sumo Sacerdote entrava uma vez por ano, no Dia
da Expiação, se rasga de alto a baixo69. Ela representava a barreira que havia
entre o povo e Deus; agora, todos têm livre acesso ao Pai. A barreira foi
removida porque o preço do pecado foi totalmente pago.

64
Palavra aramaica que significa “lugar da caveira”. Era provavelmente uma pequena colina, sem
vegetação, perto de Jerusalém.
65
Era um costume judeu oferecer este narcótico aos prisioneiros que iam ser crucificados.
66
João 19:23-24 e Salmo 22:18.
67
Jesus não temia a morte e sim, evitava morrer antes da hora. Jesus dizia “Ainda não é chegada minha
hora”. (João 2:4; 8:20) (Geisler, p. 403)
68
Alguns estudiosos crêem que Jesus foi crucificado na quarta-feira. Primeiro porque se Jesus tivesse
sido crucificado na sexta-feira, não haveria explicação para o que fez na quarta-feira. Todos os outros
dias são explicados. Segundo, a Páscoa não era num dia fixo (sexta-feira), mas variava. Outros
acreditam que ele foi realmente crucificado na sexta-feira e, quando Jesus se referiu ao “terceiro dia”,
não quis dizer “após o terceiro dia”, ou seja, 72 horas; podia ser figurativo (Geisler, p. 352).
69
Lucas 23:45 diz que o véu se rasgou antes de Jesus morrer; Mateus 27:50-51 e Marcos 15:37-38
revelam que foi um ato simultâneo.

Sérgio Pereira 36
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Era o “Dia da Preparação” e o dia seguinte seria especialmente sagrado.


Como não queriam que os corpos permanecessem na cruz durante o
sábado, os líderes religiosos judeus pediram a Pilatos que mandasse
quebrar as pernas dos crucificados e retirar os corpos. Após quebrarem as
pernas dos dois criminosos, se dirigiram a Jesus, mas perceberam que ele já
havia morrido70. Em vez disso, um dos soldados perfurou o lado de Jesus
com uma lança, e logo saiu sangue e água.

A terra treme, as rochas se partem, os sepulcros se abrem e os corpos de


muitos santos que haviam morrido ressuscitam, entrando em Jerusalém e
aparecendo a muitos. Quando o centurião romano71 viu o terremoto e
tudo o que havia acontecido exclamou: “Realmente este homem era o Filho de
Deus!”. No final da tarde um homem rico, membro de destaque do
Sinédrio, chamado José de Arimatéia - que havia se tornado um dos
discípulos de Jesus secretamente - dirigindo-se a Pilatos, pediu o corpo de
Cristo para sepultá-lo em um sepulcro novo, que ele havia mandado cavar
na rocha; Pilatos permite.

No dia seguinte, os líderes religiosos dirigem-se a Pilatos e pedem para


que o sepulcro seja guardado até o terceiro dia, para que não venham os
discípulos de Jesus e, roubando o corpo, digam ao povo que ele
ressuscitou. Pilatos ordena ir um destacamento de soldados para o sepulcro
que, além de guardarem a entrada, lacram a pedra.

70
Jesus nunca desmaiou nem dasfaleceu e muito menos esteve drogado na cruz como sustentam
alguns. Em primeiro lugar, o A.T. predisse que Cristo morreria. Segundo, Jesus anunciou muitas
vezes durante o seu ministério que ele iria morrer. Terceiro, todas as predições se referem ao fato
dele ressuscitar; só ressuscita quem já morreu. Quarto, a natureza e extensão dos seus ferimentos.
Quinto, a crucificação e o tempo que permaneceu na cruz (em torno de seis horas). Sexto, foi
traspassado por uma lança no seu lado (um artigo do Jornal da Sociedade Médica Americana de 21 de
março de 1986, afirma que Cristo morreu na cruz antes de ter sido traspassado. Consequentemente,
interpretações baseadas na posição de que Cristo não morreu na cruz vão de encontro a
conhecimentos médicos da atualidade). Sétimo, seu clamor pela morte foi ouvido por aqueles que
ali estavam. Oitavo, os soldados romanos, acostumados com a crucificação, pronunciaram sua
morte; nem ao menos quebraram suas pernas. Nono, Pilatos pediu confirmação duas vezes antes de
entregar o corpo para ser sepultado. Décimo, Jesus foi envolvido em pelo menos 35 quilos de lençóis
e aromas e colocado em um sepulcro lacrado, onde permaneceu três dias. Se não tivesse morrido na
cruz, como de fato estava, ele teria morrido por falta de alimentos, água e tratamento médico.
(Geisler, p. 371)
71
Oficial superior dos soldados que executaram Jesus.

Sérgio Pereira 37
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Suas horas na cruz (Thompson, p. 1474):

Sérgio Pereira 38
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Ressurreição e Ascensão
João descreve Jesus no seu capítulo 20 como o “conquistador da morte”.
Por quatro vezes derrotou-a. Primeiro, ao lado da cama de uma menina
(Mateus 9:24-25); segundo, no enterro do filho da viúva (Lucas 7:11-15);
terceiro, na tumba de Lázaro (João 11:43-44) e, finalmente quando vence a
própria morte.

Maria Madalena e possivelmente outras mulheres72 foram ver o


sepulcro. Levaram óleos aromáticos para ungir o corpo de Cristo. Elas
certamente não esperavam que Jesus havia ressurgido dentre os mortos,
pois ficaram espantadas quando receberam a notícia do anjo. Ocorre então
um grande terremoto e um anjo do Senhor rola a pedra do túmulo,
assentando-se sobre ela. Um túmulo como esse era cortado na encosta de
um morro. Uma vez no lugar, teria sido muito difícil empurrá-la de volta
encosta acima. Os guardas tremeram de medo e ficaram como mortos. O
anjo diz às mulheres: “Não tenham medo! (...) Ele não está aqui; ressuscitou, como
tinha dito (...) Venham ver o lugar onde ele jazia. Vão depressa e digam aos discípulos dele:
Ele ressuscitou dentre os mortos e está indo adiante de vocês para a Galiléia.”73

A pedra não foi removida para que Jesus pudesse sair (ele já havia saído),
mas para que os discípulos pudessem ver que estava vazio. Ao contarem
aos onze apóstolos e todos os outros seguidores, estes não acreditaram;
acharam que elas estavam loucas (as mulheres não eram consideradas
testemunhas confiáveis na lei judaica). Pedro, todavia, correu ao sepulcro e
viu as faixas de linho e mais nada; afastou-se e voltou admirado com o que
acontecera.

A ressurreição de Jesus foi tão maravilhosa e incrível que, desde o


princípio os discípulos tiveram dificuldade para aceitá-la74. Enquanto as
mulheres contavam o que haviam visto aos discípulos, alguns dos guardas
dirigiram-se à cidade e contaram aos chefes dos sacerdotes os
acontecimentos. Estes, oferecendo dinheiro aos soldados disseram-lhes:
“Vocês devem declarar o seguinte: os discípulos dele vieram à noite e furtaram o corpo,
enquanto estávamos dormindo.” Esta é uma versão que perdura até hoje entre os judeus.”75

72
Maria pode ter ido sozinha primeiramente, quando ainda estava escuro antes do sol nascer (João
20:1), e depois veio de novo, após o nascer do sol, com as outras mulheres (Marcos 16:1) (Geisler, p.
384)
73
Mateus 28:5-7.
74
O fato dos seus discípulos não o reconhecerem imediatamente foi devido a várias razões:
estupidez (Lucas 24:25-26), incredulidade (João 20:24-25), desapontamento (João 21:11-15), temor
(Lucas 24:36-37), escuridão (João 20:1 e 14-15), distância (João 21:4) e roupas diferentes (João 19:23-
24 e 20:6-8). No entanto, o problema foi apenas temporário; antes de Jesus desaparecer, eles tinham
plena convicção de que era Ele quem estava ali. (Geisler, p. 405)
75
Mateus 28:11-15.

Sérgio Pereira 39
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Em Marcos 16, lemos que após Jesus ter falado com seus discípulos, foi
elevado aos céus76 e assentou-se à direita de Deus. Estavam em Betânia,
leste de Jerusalém. Então, os discípulos saíram e pregaram por toda parte; e
o Senhor cooperava com eles, confirmando-lhes a palavra com os sinais
que a acompanhavam77.

No final do Evangelho de João (21:25), lemos que Jesus fez muitas


outras coisas. De maneira poética, João diz que se cada uma delas fosse
escrita, nem no mundo inteiro haveria tanto espaço para os livros que
seriam escritos.

76
Quando Jesus disse a Maria Madalena, depois da ressurreição: “ainda não subi para meu Pai” (João
20:16-17), ele estava se referindo à ascensão de seu corpo ao céu quarenta dias após a ressurreição
(Atos 1), não à ida de sua alma ao céu, durante o período entre sua morte e ressurreição. Houve
“aparições” e não “visões” da pessoa de Cristo após sua ressurreição, ou seja, houve manifestação
física literalmente. (Geisler, p. 406)
77
O texto de Marcos 16:15-20, chamado de “a grande comissão”, diz: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, e
pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais
acompanharão aos que crerem: em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e se
beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e estes serão curados”.

Sérgio Pereira 40
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Aparições pós-
pós-ressurreição (Thompson, p. 1475):

Sérgio Pereira 41
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Considerações Finais
Jesus Cristo é o Filho de Deus que morreu pelos pecados de toda a
humanidade. Os escritos de Isaías e outros profetas indicaram durante
séculos quem seria o “Cordeiro Santo”, que deveria ser sacrificado em favor
de muitos. Sua vida é um convite à salvação. Após subir aos céus
definitivamente, não nos deixou desamparados. Enviou a terceira Pessoa
da Trindade, o Espírito Santo, para nos consolar e indicar o caminho do
Mestre.

Disse Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por
mim” (João 14:6). Acreditar em Suas palavras é ter fé; e ter fé, segundo o
autor da carta aos hebreus (11:1) é ter certeza de coisas que se espera, é ser
convicto de algo que não se vê. Cristo disse: “Benditos os que não viram e creram”
(João 20:29).

Ora, nem tudo pode ser medido pela razão e certeza “palpável”.
Acreditar é ir além do raciocínio lógico e sentir; sentir a mão do Criador de
todas as coisas nos chamando para ser seu amigo; sentir que há mais vida
do que apenas sete, oito ou nove décadas de existência material; sentir que
há valores e prazer além do dinheiro, sexo e poder.

Enfim, Jesus diz que está à porta de nosso coração e bate. Se você ouvir
Sua voz e abrir a porta, ele entrará e ceará com você. Entenda que é algo
que não se impõe; Jesus não “arromba” a porta, ele “chama”. Você abre seu
coração se sentir, se desejar. Por que não experimentar? Hoje pode ser o dia
que Ele preparou desde a eternidade para começar um relacionamento
mais íntimo com você!

Sérgio Pereira 42
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Anexo
Cronologia da vida de Jesus Cristo78
Introduções à Vida de Jesus
Data Acontecimento Local Textos

Prefacio de Lucas Jerusalém Lc 1.1-4

O Verbo de fez carne Jo 1.1-8

Genealogia de Jesus Mt 1.1-17; Lc 3.23-38

Nascimento, Infância e Adolescência de Jesus e de João Batista


Data Acontecimento Local Textos

7 aC Anúncio do nascimento de João Jerusalém Lc 1.5-25

7-6 aC Anúncio do nascimento de Jesus à Nazaré Lc 1.26-38


Maria
c. 5 aC Maria visita Isabel Colinas Judá Lc 1.39-45

Cântico de Maria Lc 1.46-56

5-4 aC O nascimento de Jesus Belém Mt 1.18-25; Lc 2.1-7

Proclamação pelos anjos Prox. Belém Lc 2.8-14

Visita de adoração pelos pastores Belém Lc 2.15-20

Circuncisão de Jesus Belém Lc 2.21

4 aC Primeira visita ao templo / Simeão e Ana Jerusalém Lc 2.22-28

Visita dos magos em Jerusalém e Belém Mt 2.1-12

Fuga para o Egito e massacre dos Mt 2.13-18


inocentes
A volta do Egito Mt 2.19-23; Lc 2.39

7-8 dC Infância de Jesus Nazaré Lc 2.40-51

Jesus, aos 12 anos, visita o templo Jerusalém Lc 2.41-50

Jesus adolescente e adulto Nazaré Lc 2.51-52

Verdades acerca de João Batista


Batista
Data Acontecimento Local Textos

c.25-27 Início do Ministério de João Deserto Judá Mt 3.1; Mc 1.1-4; Lc 3.1-2; Jo


1.19-28
Homem e mensagem Mt 3.2-12; Mc 1.2-8; Lc 3.3-14

Sua descrição de Jesus Mt 3.11-12; Mc 1.7-8; Lc 3.15-18


etc
Sua coragem Mt 14.4-12; Lc 3.19-20

78
http://www.vivos.com.br/88.htm.

Sérgio Pereira 43
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Início do Ministério de Jesus


Data Acontecimento Local Textos

c. 27 dC Jesus é batizado Rio Jordão Mt 3.13-17; Mc 1.9-11; Jo 1.29-34

Jesus é tentado Deserto Mt 4.1-11; Mc 1.12-13. Lc 4.1-13

Chama dos primeiros discípulos Além Jordão Jo 1.35-51

Primeiro milagre Caná Galiléia Jo 2.1-11

Primeira estada em Carfanaum Cafarnaum Jo 2.12

27 dC Primeira purificação do Templo Jerusalém Jo 2.13-22

Recebido em Jerusalém Judéia Jo 2.23-25

27 dC Instrui Nicodemos acerca do novo Judéia Jo 3.1-21


nascimento

Ministério paralelo de João Batista Judéia Jo 3.22-30

Vai para a Galiléia Mt 4.12; Mc 1.14; Jo 4.1-4

A mulher samaritana no poço de Jacó Samaria Jo 4.5-42

Retorna à Galiléia Mc 1.15; Lc 4.15; Jo 4.43-45

O Ministério de Jesus
Jesus na Galiléia (27 a 29 dC)
Data Acontecimento Local Textos

27 dC A cura do filho de um oficial do rei Caná Jo 4.46-54

Rejeitado em Nazaré Nazaré Lc 4.16-30

Muda-se para Carfanaum Cafarnaum Mt 4.13-17

Quaro se tornam pescadores de Mar Galiléia Mt 4.18-22; Mc 1.18-20; Lc 5.1-


homens 11
Cura de um endemoninhado num Cafarnaum Mc 1.21-28; Lc 4.31-37
sábado
Cura da sogra de Pedro e outros Cafarnaum Mt 8.14-17; Mc 1.29-34; Lc 4.38-
41
c. 27 dC Primeira pregação na Galiléia Galiléia Mt 4.23-25; Mc 1.35-39; Lc 4.42-
44
O leproso purificado Galiléia Mt 8.1-4; Mc 1.40-45; Lc 5.12-16

O paralítico curado Cafarnaum Mt 9.1-8; Mc 2.1-12; Lc 5.17-26

O chamado de Mateus Cafarnaum Mt 9.9-13; Mc 2.13-17; Lc 5.27-


32
Discípulos defendidos por uma Cafarnaum Mt 9.14-17; Mc 2.18-22; Lc 5.33-
parábola 39
28 dC Vai para Jerusalém, 2ª Páscoa e Cura Jerusalém Jo 5.1-47

Coleta grãos incita a controvérsia do Ido Galiléia Mt 12.1-8; Mc 2.23-28; Lc 6.1-5


sábado
A Cura no sábado provoca controvérsia Galiléia Mt 12.9-14; Mc 3.1-6; Lc 6.6-11

Multidões curadas Cafarnaum Mt 12.15-21; Mc 3.7-12; Lc 6.17-


19

Sérgio Pereira 44
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

12 discípulos escolhidos após noite Cafarnaum Mc 3.13-19; Lc 6.12-16


orando
Sermão da Montanha Cafarnaum Mt 5.1-7.29; Lc 6.20-49

Cura do Servo do centurião Cafarnaum Mt 8.5-13; Lc 7.1-10

Ressuscita o filho da viúva Naim Lc 7.11-17

Jesus sana as dúvidas de João Galiléia Mt 11.2-19; Lc 7.18-35

Ais sobre os privilegiados Mt 11.20-30

Uma pecadora unge os pés de Jesus Cafarnaum Lc 7.36-50

Outra pregação na Galiléia Galiléia Lc 8.1-3

Jesus é acusado de blasfêmia Cafarnaum Mt 12.22-37; Mc 3.20-30; Lc


11.14-23
A resposta de Jesus aos pedidos de Cafarnaum Mt 12.38-45; Lc 11.24-26; 29-36
Sinais
A família de Jesus Cafarnaum Mt 12.46-50; Mc 3.31-35; Lc
8.19-21
Parábolas famosas Mar Galiléia Mt 13.1-52; Mc 4.1-34; Lc 8.4-18

Jesus apazigua a tempestade Mar Galiléia Mt 8.23-27; Mc 4.35-41; Lc 8.22-


25
Cura do endemoninhado gadareno Praia Galiléia Mt 8.28-34; Mc 5.1-20; Lc 8.26-
39
Filha Jairo ressuscitada; Cura da mulher Mt 9.18-26; Mc 5.21-43; Lc 8.40-
56
A visão de dois cegos e restaurada Mt 9.27-31

Um homem mudo e endemoninhado Mt 9.32-34


é curado
Segunda rejeição de Cristo em Nazaré Nazaré Mt 13.53-58; Mc 6.1-6

O envio dos doze Mt 9.35-11.1;Mc 6.7-13; Lc 9.1-6

Herodes decapita João Batista Galiléia Mt 14.1-12; Mc 6.14-29; Lc 9.7-9

29 dC Retorno dos doze; Jesus alimenta 5000 Betsaida Mt 14.13-21; Mc 6.30-44; Lc


9.10-17
Primavera
Jesus Anda por cima do mar Mar Galiléia Mt 14.22,23; Mc 6.45-52; Jo
6.15-21
O enfermo de Genesaré é curado Genesaré Mt 14.34-36; Mc 6.53-56

No auge da Popularidade; passa pela Cafarnaum Jo 6.22-71; 7.1


galiléia
29 dC Tradição atacada Mt 15.1-20; Mc 7.1-23

A mulher cananéia é curada Fenícia Mt 15.21-28; Mc 7.24-30

Os aflitos curados Decápolis Mt 15.29-31; Mc 7.31-37

4000 são alimentados Decápolis Mt 15.32-39; Mc 8.1-9

Os fariseus aumentam o ataque Magdala Mt 16.1-4; Mc 8.10-13

Descuido do Discípulo; Cego é curado Mt 16.5-12; Mc 8.14-26

Sérgio Pereira 45
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Pedro confessa Jesus é o Cristo Cesaréia Mt 16.13-20; Mc 8.27-30; Lc


9.18-21
Jesus prediz sua morte Cesaréia Mt 16.21-26; Mc 8.31-38; Lc
9.22-25
O reino é prometido Mt 16.27-28; Mc 9.1; Lc 9.26-27

A transfiguração Monte Mt 17.1-13; Mc 9.2-13; Lc 9.28-


36
A Cura de um lunático Monte Mt 17.14-21; Mc 9.14-29; Lc
9.37-42
Novamente fala sobre a morte e Galiléia Mt 17.22-23; Mc 9.30-32; Lc
ressurreição 9.43-45
Jesus paga tributo Cafarnaum Mt 17.24-27

Os discípulos contendam sobre que é o Cafarnaum Mt 18.1-35; Mc 9.33-50; Lc 9.46-


maior; Jesus define; paciência, lealdade, 62
perdão
Jesus rejeita o conselho dos irmãos Galiléia Jo 7.2-9

c. Set. A partida da Galiléia; a rejeição Mt 19.1; Lc 9.51-56; Jo 7.10


29 dC samaritana

Custo do discipulado Mt 8.18-22; Mc 9.57-62

Ministério Final de Jesus na Judéia e na Peréia


Data Acontecimento Local Textos

out 29 A festa dos Tabernáculos Jerusalém Jo 7.2,10-52


dC
Perdão para a mulher adultera Jerusalém Jo 7.53– 8

29 dC Cristo, a luz do mundo Jerusalém Jo 8.12-20

Os fariseus não entendem a profecia Jerusalém Jo 8.21-59

Cura de um cego de nascença Jerusalém Jo 9.1-41

Parábola do Bom Pastor Jerusalém Jo 10.1-21

A Missão dos setenta discípulos Judéia Lc 10.1-24

Um doutor ouve parábola do bom Judéia Lc 10.25-37


samaritano
A hospitalidade de Marta e Maria Betânia Lc 10.38-42

Outra lição sobre a oração Judéia Lc 11.1-13

Acusado de ligação com belzebu Lc 11.14-36

Jesus censura os fariseus e os escribas Lc 11.37-54

Jesus lida: hipocrisia, inveja, Lc 12.1-59


preocupação...
Arrependimento ou morte Lc 13.1-5

A figueira estéril Lc 13.6-9

Cura de uma mulher paralítica no Lc 13.10-17


sábado
As parábolas do grão mostarda e do Peréia Lc 13.18-21
fermento

Sérgio Pereira 46
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Inverno A festa da dedicação Jerusalém Jo 10.22-39


de 29
dC
A retirada para além do Jordão Peréia Jo 10.40-42

Começa a ensinar; Volta a Jerusalém Peréia Lc 13.22-35

Como com fariseu, cura e parábolas Lc 14.1-24

Demandas do discipulado Peréia Lc 14.25-35

Parábola O. perdida, dracma. Filho Lc 15.1-32


Pródigo
Parábola do mordomo infiel; Rico e Lc 16.1-31
Lazaro
Lições sobre serviço, fé, influência Lc 17.1-10

A ressurreição de Lázaro Peréia Jo 11.1-44

Reação a isso; retirada de Jesus Jo 11.45-54

30 dC Inicia última jornada à Jerusalém Samaria Lc 17.11

Cura de dez leprosos Lc 17.12-19

Lições sobre a vinda do Reino Lc 17.20-37

Parábola: juiz iníquo, do fariseu, do Lc 18.1-14


publicano
Acerca do divórcio Mt 19.1-12; Mc 10.1-12

Jesus abençoa as crianças Peréia Mt 19.13-15; Mc 10.13-16; Lc


18.15-17
O jovem rico Peréia Mt 19.16-30; Mc 10.17-31; Lc
18.18-30
A parábola dos trabalhadores na vinha Mt 20.1-16

Prediz sua morte e ressurreição Perto Jordão Mt 20.17-19; Mc 10.32-34; Lc


18.31-34
Ambição de Tiago e João Mc 20.20-28; Mc 10.35-45

A cura do cego Bartimeu Jericó Mc 10.46-52; Lc 18.35-43

Zaqueu, o publicano Jericó Lc 19.1-10

Parábolas das minas Jericó Lc 19.11-27

Retorna à casa de Marta e Maria Betânia Jo 11.55-12.1

Conspiração para matar Lázaro Betânia Jo 12.9-11

Semana Final de Jesus em Jerusalém


Data Acontecimento Local Textos

30 Entrada triunfal Betânia, Mt 21.1-9; Mc 11.1-11; Lc


dCDomingo Jerus., 19.28-44; Jo 12.12-19
Betânia
Segunda A figueira é amaldiçoada, templo B./Jerusalém Mt 21.10-19; Mc 11.12-18;
purificado Lc 19.45-48
Alguns gregos desejam ver Jesus Jerusalém Jo 12.20-50

Sérgio Pereira 47
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Terça A figueira seca B. /Jerusalém Mt 21.20-22; Mc 11.19-26

O Sinédrio desafia Jesus Jerusalém Mt 21.23-22.14; Mc 11.27-12.12

A questão do tributo Jerusalém Mt 22.15-22; Mc 12.13-17;


Lc 20.20-26
Os saduceus questionam a Jerusalém Mt 22.23-33; Mc 12.18-27;
ressurreição Lc 20.27-40
Os fariseus questionam os Jerusalém Mt 22.34-40; Mc 12.28-34
mandamentos
Cristo, o filho de Davi Jerusalém Mt 22.41-46; Mt 12.35-37;
Lc 29.41-44
Último sermão de Jesus Jerusalém Mt 23.1-39; Mc 12.38-40;
Lc 20.45-47
A Oferta da viúva pobre Jerusalém Mc 12.41-44; Lc 21.1-4

O Sermão profético; principio das M. Oliveira Mt 24,1-51; Mc 13.1-37; Lc


dores 21.5-36
Parábolas diversas M. Oliveira Mt 25.1.46

Jesus diz quando será crucificado Mt 26.1-5; Mc 14.1-2; Lc 22.1-2

Ungido por Maria no Jantar de Simão Betânia Mt 26.6-13; Mc 14.3-9; Jo 12.2-


8
Judas se torna traidor Mt 26.14-16; Mc 14.10-11;
Lc 22.3-6
Quinta Preparação para a Páscoa Jerusalém Mt 26.17-19; Mc 14.12-16;
Lc 22.7-13
Quinta- A Páscoa é celebrada, a inveja e Jerusalém Mt 26.20; Mc 14.17;
feira à tarde repreendida Lc 22.14-16,24-30
Jesus lava os pés aos discípulos Sala Superior Jo 13.1-20

Judas é revelado traidor Sala Superior Mt 26.21-25; Mc 14.18-21;


Jo 13.21-30
Jesus adverte sobre e deserção povir Sala Superiro Mt 26.26-29; Mc 14.22-25;
Lc 22.17-20
A últimas instruções de Jesus aos Jerusalém Jo 14.21-17-26
discípulos
Jesus é preso no Getsêmani M. Oliveira Mt 26.30,36-46; Mc 14.26,32-42

Sexta Traição, prisão e deserção Getsêmani Mt 26.47-56; Mc 14.43-52;


Jo 18.2-12
Jesus perante o Sinédrio Jerusalém Jo 18.12-14, 19-23

O julgamento por Caifás e o conselho Jerusalém Mt 26.57,59-68; Mc 14.53,


55.65
A tripla negação de Pedro Jerusalém Mt 26.58,69-75; Jo 18.15-18,25-
27
A condenação pelo conselho Jerusalém Mt 27.1; Mc 15.1; Lc 22.66-71

O Suicídio de Judas Jerusalém Mt 27.3-10

Jesus perante Herodes Jerusalém Lc 23.6-12

Segunda aparição de Jesus perante Jerusalém Mt 27.15-26;Mc 15.6-15;


Pilatos Jo 18.39-19.16
Escárnio pelos Soldados romanos Jerusalém Mt 27.27-30; Mc 15.16-19

Jesus é levado ao Gólgota Jerusalém Mt 27.31-34; Mc 15.20-23;


Jo 19.16-17

Sérgio Pereira 48
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

6 acontecimentos: 3 primeira horas na Calvário Mt 27.35-44; Mc 15.24-32;


cruz Jo 19.18-27
3 últimas horas na cruz Calvário Mt 27.45-50; Mc 15.33-37;
Jo 19.28-30
Acontecimentos na morte de Jesus Mt 27.51-60; Mc 15.38-41;
Lc 23.45,47
A sepultura de Jesus Jerusalém Mt 27.57-60; Mc 15.42-46;
Jo 19.31-42
A sepultura é selada Jerusalém Mt 27.61-66; Lc 23.55-56

Sábado As mulheres observam Jerusalém Mc 15.47

Ressurreição e Ascensão
Data Acontecimento Local Textos

30 dC As mulheres visitam o sepulcro Jerusalém Mt 28.1-10; Mc 16.1-8; Lc 24.1-


Madrugada 11
do 1º dia
Domigo
Pedro e João Vêem o sepulcro vazio Lc 24.12; Jo 20.1-10

Jesus aparece a Maria Madalena Jerusalém Mc 16,9-11; Jo 20.11-18

Jesus aparece a outras mulheres Mt 28.9-19

O relato dos guardas sobre a Mt 28.11-15


ressurreição
Domingo Jesus aparece a 2 discípulos Mc 16.12-13; Lc 24.13.35

Jesus aparece aos 10 discípulos, sem Jerusalém Lc 24.36-43; Jo 20.19-25


Tomé
1 Semana Jesus aparece aos discípulos, com Jerusalém Jo 20.26-31
depois Tomé

Durante os Jesus aparece a sete discípulos na Mar Galiléa Jo 21.1-15


40 dias até Galiléia
a ascensão
A grande comissão Mt 28.16-20; Mc 16.14-18;
Lc 24.44-49
A Ascensão M. Oliveiras Mc 16.19-20; Lc 24.50-53

Sérgio Pereira 49
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

A Bíblia: livros79
Bíblia: autores e datas prováveis em que foram escritos seus livros

Livro Data Autor Livro Data Autor

Antigo Testamento

Gn 1440 ac Moisés Ex 1400 aC Moisés


Lv 1445 aC Moisés Nm 1400 aC Moisés
Dt 1400 aC Moisés Js 1400—1375 aC Josué
Jz 1050—1000 aC Desconhecido Rt 1050—500 aC Desconhecido
1 Sm 931—722 aC Samuel e outros 2 Sm 931—722 aC Samuel e outros
1 Rs 560—538 aC Jeremias 2 Rs 560—538 aC Jeremias
1 Cr 425—400 aC Esdras 2 Cr 425—400 aC Esdras
Ed 538—457 ac Esdras Ne 423 aC Neemias
Et 465 aC Desconhecido Jó Sec. V—II aC Moisés ou Salomão
Sl 1000—300 aC Davi, Asafe e outros Pv 950—700 aC Salomão e outros
Ec 935 aC Salomão Ct 970—930 aC Salomão
Is 700—690 aC Isaias Jr 626—586 aC Jeremias
Lm 587 aC Jeremias Ez 593—573 aC Ezequiel
Dn 537 aC Daniel Os 750 aC Oséias
Jl 835—805 aC Joel Am 760—750 aC Amós
Ob 586 aC Obadias Jn 760 aC Jonas
Mq 704—696 aC Miquéias Na 612 aC Naum
Hc 600 aC Habacuque Sf 630 aC Sofonias
Ag 520 aC Ageu Zc 520—475 aC Zacarias
Ml 450 aC Malaquias

Novo Testamento

Mt 50 –75 dC Mateus Mc 65—70 dC Marcos


Lc 59—75 dC Lucas Jo 85 dC João
At 62 dC Lucas Rm 56 dC Paulo
1Co 56 dC Paulo 2Co 56 dC Paulo
Gl 55—56 dC Paulo Ef 60—61 dC Paulo
Fp 61 dC Paulo Cl 61 dC Paulo
1Ts 50 dC Paulo 2Ts 50 dC Paulo
1Tm 64 dC Paulo 2Tm 66—67 dC Paulo
Tt 64 dC Paulo Fm 60—61 dC Paulo
Hb 64—68 dC Desconhecido Tg 48-62 dC Tiago (irmão de Jesus)
1Pe 60 dC Pedro 2Pe 65—68 dC Pedro
1Jo 90 dC 1,2,3 Jo // João Jd 65—80 dC Judas
Ap 70—95 dC João

79
http://www.vivos.com.br/38.htm.

Sérgio Pereira 50
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

A Inigualável Paixão de Jesus Cristo


John Piper80

Se os cristãos não fossem tão familiarizados com estas coisas, devido aos
2000 anos de tradição e liturgia, eles poderiam sentir quão absolutamente
improvável seria que a morte de Jesus se tornasse a base de uma fé
mundialmente transformadora. Como poderia um convicto, condenado e
executado pretendente ao trono de Roma desencadear, nos três séculos
seguintes, um poder para sofrer e para amar, que modelaria o Império?

A resposta cristã é que a paixão de Jesus Cristo foi absolutamente única,


e sua ressurreição dentre os mortos, três dias após, foi um ato de Deus para
confirmar o que sua morte consumou. A singularidade não está
necessariamente no tamanho ou intensidade da dor física. Ela foi
inefavelmente terrível. Mas eu não gostaria de minimizar os horrores de
outros que também morreram horrivelmente. A singularidade descansa em
outro lugar.

Divindade Inigualável
A paixão de Jesus Cristo foi única porque ele era único. Quando
perguntado “És tu o Cristo (=Messias), Filho do Deus Bendito (=Deus)?”, Jesus
disse “Eu sou”. Era uma afirmação quase inacreditável. Esperava-se que o
Messias fosse poderoso e glorioso. Mas ali estava Jesus, pronto para ser
crucificado, dizendo abertamente o que ele freqüentemente apontava
durante seu ministério: Eu sou o Messias, o Rei de Israel. Ele falou
abertamente no exato momento em que havia menos chances de ser
acreditado. E então, ele adiciona palavras que explicam como um Cristo
crucificado reinaria como Rei de Israel: “Vereis o Filho do homem assentado à direita
do poder de Deus, e vindo sobre as nuvens do céu” (Marcos 14.62). Em outras
palavras, ele espera reinar à direita de Deus e algum dia voltar à Terra em
glória.

Ele era mais que um mero homem. Não menos. Ele era, como o antigo
Credo de Nicéia diz: “verdadeiro Deus de verdadeiro Deus”. Cristo existia
antes da criação. Ele é co-eterno com Deus o Pai. Ele não foi criado. Não
houve um ponto quando ele não existia. Desde a eternidade, antes do
princípio dos séculos, Deus existe com uma essência divina em três
Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Este é o testemunho daqueles que o
conheciam e escreveram textos inspirados por Ele para explicar quem Ele é.

80
John Piper é doutor em Estudos do Novo Testamento, professor de Estudos Bíblicos na Faculdade
Bethel, em Minnesota, onde atua como pastor presidente na Igreja Batista Bethelehm
(www.monergismo.com).

Sérgio Pereira 51
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Por exemplo, o apóstolo João refere-se a Cristo como o “Verbo” e escreve:


“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no
princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se
fez(...). E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do
unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.” (João 1.1-3,14)

O próprio Jesus disse coisas que só fazem sentido se ele fosse ao mesmo
tempo Deus e homem. Por exemplo, ele perdoou pecados: “Filho, perdoados
estão os teus pecados” (Marcos 2.5). Este tipo de atitude foi o que finalmente o
matou. A resposta furiosa era compreensível: “Por que diz este assim blasfêmias?
Quem pode perdoar pecados, senão Deus?” (Marcos 2.7).

É uma reação compreensível. C.S. Lewis, o professor britânico que


escreveu clássicos infantis e excelentes defesas do Cristianismo, explica: “Se
alguém me rouba dois quilos numa balança, pode ser possível e é razoável para eu dizer:
‘Bem, eu perdôo ele, nós não falaremos mais sobre isso'. O que você diria, se alguém tivesse
roubado de você os dois quilos, e eu dissesse: ‘Está tudo bem. Eu o perdôo'?”81. Pecado é
pecado porque é contra Deus. Se Jesus não era um lunático, então ele
perdoou pecados contra Deus porque ele era Deus.

Isto é o que suas palavras e ações apontavam. Uma vez ele disse: “Eu e o
Pai somos um”, o que quase o levou a ser apedrejado (João 10.30-31). Em
outra ocasião, ele diz: “antes que Abraão existisse, Eu sou” (João 8.58). As palavras
“Eu sou” não sinalizam apenas sua existência antes de Abraão, que viveu
2000 anos antes, mas também se referem ao nome que Deus deu a si
mesmo no Antigo Testamento. “E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse
mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós” (Êxodo 3.14).

Jesus previu sua própria traição como se soubesse o futuro tanto quanto
o passado, e então explicou o que isto significava com outra afirmação
assustadora: “Desde agora vo-lo digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer,
acrediteis que Eu sou” (João 13.19). Jesus era o “EU SOU” – o Deus de Israel, o
Senhor do Universo em forma humana. Este é o porquê a sua paixão é sem
paralelos. Somente a morte do divino Filho de Deus poderia consumar o
que Deus pretendia fazer por esta morte.

Inocência Inigualável
A paixão de Cristo também foi única porque ele era totalmente
inocente. Não apenas inocente dos crimes de blasfêmia e rebelião, mas de
todo pecado. Ele perguntou certa vez aos seus inimigos: “Quem dentre vós me
convence de pecado?” (João 8.46). O que quer que pensassem, eles sabiam que
não havia nada contra Jesus.

81
C. S. Lewis, “What Are We to Make of Jesus Christ?” IN C. S. Lewis: Essay Collection and Other
Short Pieces, ed. Lesley Walmsley (London : HarperCollins, 2000), 39.

Sérgio Pereira 52
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Seu discípulo, Pedro, que sabia seu próprio pecado tão bem, disse que a
morte de Jesus foi “a morte de um cordeiro imaculado e incontaminado” (1 Pedro
1.19). A recusa de Jesus em lutar contra a forma como ele foi injustamente
condenado e morto fortaleceu a convicção de seus seguidores de que ele
era sem pecado.

Pedro expressou isto depois: “O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se
achou engano. O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava,
mas entregava-se àquele que julga justamente” (1 Pedro 2.22-23). A razão da morte
de Jesus levar todos os sacrifícios judaicos de animais a um fim é que ele se
tornou o próprio sacrifício definitivo e “se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus”
(Hebreus 9.14). Sua morte foi inigualável porque ele não tinha pecado.

Desígnio Inigualável
A paixão de Cristo foi sem paralelos na história humana porque ela foi
planejada e predestinada por Deus, para nossa salvação. Apesar de toda a
controvérsia sobre quem realmente matou Jesus, a verdade mais profunda
é: Foi Deus quem planejou e viu o que iria acontecer. Quando os terríveis
eventos aconteciam na noite antes dele morrer, Jesus disse, “Tudo isto
aconteceu para que se cumpram as escrituras dos profetas” (Mateus 26.56). Todos os
detalhes, desde o fato de terem lançado sortes por suas vestes (João 19.24)
e ser perfurado por uma lança, ao contrário de quebrarem suas pernas
(João 19.36) – tudo isto foi planejado pelo Pai e predito nas Escrituras.

A igreja primitiva resumiu isto em sua pregação: “Porque verdadeiramente


contra o teu santo Filho Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio
Pilatos, com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o que a tua mão e o teu
conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer” (Atos 4.27-28). A
verdade de que Deus enviou seu Filho para morrer é central ao
cristianismo. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito,
para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). A
morte de Jesus foi única porque havia um único Filho e um único plano
divino para salvação.

Autoridade Inigualável na Morte


A paixão de Cristo foi única também porque Jesus não somente se
submeteu desejosamente ao plano de seu Pai: “Pai, se queres, passa de mim este
cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lucas 22.42); ele também o
abraçou e prosseguiu por sua própria autoridade divina. Uma das mais
emocionantes palavras ditas por Jesus foi sobre sua morte e ressurreição:
“Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de
mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la.
Este mandamento recebi de meu Pai” (João 10.17-18). Ninguém jamais falou sobre
sua vida e morte desta forma. O grande testemunho do Novo Testamento é
que a controvérsia sobre quem matou Jesus é irrelevante. Ele escolheu
morrer. Seu Pai ordenou. Ele aceitou.

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Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Um ordenou todas as coisas, o outro obedeceu. A autoridade estava nas


mãos de Deus. E estava nas mãos de Jesus. Porque Jesus é Deus.

Significado Inigualável para o Mundo


Finalmente, a paixão de Cristo foi inigualável porque foi acompanhada
de eventos únicos, cheios de significado para o mundo. Primeiro, temos as
palavras de incomparável amor e autoridade na cruz. Nenhum homem
crucificado, morrendo em agonia, falaria como Cristo. Um dos ladrões, que
estava crucificado com Jesus, finalmente arrependeu-se e disse,
desesperadamente: “Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino”. Que
momento para ver um reino ser estabelecido! Jesus não o corrigiu. Ao
contrário, ele disse “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso” (Lucas
23.43). Esta era a voz de quem decide onde os ladrões passarão a
eternidade.

O ladrão não foi o único que recebeu a misericórdia de Cristo enquanto


ele morria. Jesus olhou para aqueles que o crucificaram e disse “Pai, perdoa-
lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23.34). Eles poderiam fazê-lo sangrar e
gritar, mas não poderiam fazê-lo odiar.

E quando o momento de sua morte estava próximo, Jesus gritou “Está


consumado!” e, inclinando a cabeça, entregou o espírito (João 19.30). Com
essas palavras, ele quis dizer mais que “minha vida acabou”. Ele quis dizer
“cumpri plenamente o trabalho redentor que meu Pai me enviou para
fazer”. Uma vida inteira de obediência imaculada a Deus, seguida de um
sofrimento horrendo e morte – o motivo pelo qual ele veio. Estava
consumado.

O significado do que ele consumou foi simbolizado por um


surpreendente evento em Jerusalém. No lugar santíssimo do templo judeu,
onde somente o Sumo sacerdote poderia ir e encontrar Deus uma vez por
ano, a cortina se rasgou quando Jesus morreu. “E Jesus, clamando outra vez com
grande voz, rendeu o espírito. E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo”
(Mateus 27.50-51). O significado disto: quando Jesus morreu – quando sua
carne foi rasgada – Deus rasgou (de alto a baixo) a cortina que separava as
pessoas ordinárias de Si mesmo. A morte de Jesus abriu o caminho para o
mundo ter uma íntima, santa, pessoal, perdoada e alegre comunhão com
Deus. Nenhum mediador humano é necessário.

Jesus abriu o caminho para o acesso direto a Deus. Ele se tornou o único
Mediador necessário entre os homens e Deus. A igreja primitiva disse
“Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo
caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne... Cheguemo-nos com
verdadeiro coração, em inteira certeza de fé”. (Hebreus 10.19-22).

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Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Cumprimento Inigualável
O trabalho de redenção foi terminado. O preço da reconciliação entre
Deus e o homem foi pago. Agora somente restava a Deus confirmar a
consumação ressuscitando Jesus dos mortos.
Esta é a forma que Jesus predisse e planejou. Mais de uma vez, ele disse:
“Eis que subimos a Jerusalém, e se cumprirá no Filho do homem tudo o que pelos profetas foi
escrito; pois há de ser entregue aos gentios, e escarnecido, injuriado e cuspido; e, havendo-o
açoitado, o matarão; e ao terceiro dia ressuscitará” (Lucas 18.31-33).

Aconteceu três dias depois (partes de dias são consideradas como dias:
Sexta, Sábado e Domingo). No começo da manhã de domingo ele se
levantou dos mortos. Por quarenta dias apareceu numerosas vezes aos
discípulos antes de sua ascensão ao céu. O médico Lucas, que escreveu o
livro que leva seu nome, disse que “Aos quais também, depois de ter padecido, se
apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta
dias, e falando das coisas concernentes ao reino de Deus” (Atos 1.3).

Os discípulos demoraram a crer no que realmente havia acontecido.


Não havia precedentes. Eles eram pescadores terrenos. Eles sabiam que
pessoas não se levantam dos mortos. Ao ponto de Jesus insistir em comer
peixe para provar-lhes que não era um fantasma.

“Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um
espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho. E, dizendo isto, mostrou-lhes as
mãos e os pés. E, não o crendo eles ainda por causa da alegria, e estando maravilhados, disse-
lhes: Tendes aqui alguma coisa que comer? Então eles apresentaram-lhe parte de um peixe
assado, e um favo de mel; o que ele tomou, e comeu diante deles.” (Lucas 24.39-43).

Não foi a ressurreição de um cadáver. Foi a ressurreição do Deus-


Homem, para uma indestrutível nova vida de majestade à destra de Deus.
A igreja primitiva o aclamou como Senhor do Céu e da Terra. Eles diziam
“Havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da
majestade nas alturas” (Hebreus 1.3). Jesus terminou o trabalho inigualável que
Deus lhe deu para fazer, e a ressurreição foi a prova de que Deus ficou
satisfeito.

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Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

“A Paixão de Cristo, de Mel Gibson”


Carlos R. Caldas Filho82

1. Com muita curiosidade, acompanhei as candentes discussões,


comentários entusiasmados (pró e contra) e as acesas polêmicas a respeito
de The Passion of the Christ ("A Paixão de Cristo"), produção independente
do laureado ator Mel Gibson. Depois finalmente tive oportunidade de ver o
tão falado filme. Por isso, arrisco, mesmo não sendo crítico de cinema, nem
especialista em Novo Testamento, a emitir minhas opiniões, impressões e
comentários a respeito.

2. Por um lado, A Paixão de Cristo é apenas mais um filme a respeito da


vida de Jesus. Por outro lado, um filme único, simplesmente ímpar. De
fato, seria interessante apresentar uma comparação crítica entre filmes
anteriores sobre Jesus e o de Mel Gibson. Nos primeiros filmes sobre Jesus,
produzidos no início do século XX, sequer era mostrado o rosto do ator
que interpretava o papel principal, decerto por excesso de pudor por parte
dos diretores da época.

Tal excesso de pudor chegava às raias do docetismo, por sua recusa


(ingênua) em apresentar o rosto de Jesus. Mais tarde, alguns filmes se
tornaram famosos, como Rei dos Reis (EUA, 1961) e O Evangelho Segundo
São Mateus (Itália, 1964) do diretor italiano marxista Pier Paolo Pasolini.
Uma mudança tremenda já será percebida em filmes como Godspell e Jesus
Christ Superstar, (ambos produzidos nos EUA em 1973), os quais rompem
com uma visão tradicional a respeito de Jesus. Jesus de Nazaré (1977),
superprodução de Franco Zefirelli, retoma uma apresentação clássica a
respeito de Jesus.

Este filme teve um grande elenco, tendo Robert Powell no papel


principal, com interpretação magnífica. A visão cinematográfica crítica e
acanônica sobre Jesus volta com força em A última tentação de Cristo (EUA,
1988), de Martin Scorcese, com o competente William Dafoe no papel
principal. O filme de Mel Gibson, por um lado, se alinha com clássicos do
estilo filme de Zefirelli. Por outro lado, como dito há pouco, é um filme
único.

3. A começar pelas inovações introduzidas por Gibson: o filme é todo


falado em aramaico e latim. Não é difícil imaginar o trabalho que os atores
tiveram nas gravações.

82
Carlos R. Caldas Filho é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil. Doutor em ciências da religião pela
Universidade Metodista de São Paulo. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da
Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Retirado da revista Teologia Hoje vol 2, núm 2
(2004) artigo 5. - www.ftsa.edu.br/revista/artigos/TH2_2_5p.htm.

Sérgio Pereira 56
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Vendo o filme, fica nítido que não é preciso saber aramaico para perceber,
pela entonação e pela lentidão da pronúncia, que nenhum ator é falante
nativo da antiga língua prima-irmã do hebraico, hoje praticamente morta
(só se fala aramaico hoje em algumas remotas vilas da Síria e nas liturgias
de algumas igrejas orientais).

Não obstante, com esta exigência, Gibson resgata com originalidade um


aspecto importante da história. Particularmente fiquei satisfeito ao
conseguir entender de vez em quando uma ou outra palavra, tanto em
aramaico (no caso, palavras que são as mesmas em hebraico, como
malkuth, reino, tsadiq, justo, mishpat, julgamento, Kephah, Cefas [Pedro],
além da óbvia amem) como também em latim (algumas exclamações de
espantados soldados romanos diante da flagelação de Jesus: robustissimum
est! - é fortíssimo!, credere non posso - resistentia sua es incredibile! Não
posso acreditar - sua resistência é incrível!, rex verminorum, rei dos
vermes, além de um sonoro e óbvio idiota, e do clássico ecce homo! - eis o
homem, dito por Pilatos em referência a Jesus, cf. Jo 19:5). Mas há algumas
falhas: é extremamente improvável que Jesus tivesse dialogado com Pilatos
em latim, como o filme apresenta. O mais lógico é que tal diálogo tivesse
acontecido em grego koiné, a "língua franca" do mundo mediterrâneo da
época.

4. Outra inovação a meu ver interessante por demais é o diabo


completamente andrógino - não dá para saber se quem o interpreta é
homem ou mulher, trajando uma veste que faz lembrar o Imperador,
aquele do "lado negro da força" da série "Guerra nas Estrelas" (Star Wars). Há
que se reconhecer, no entanto, o óbvio: em nenhum evangelho canônico o
diabo aparece tanto nas narrativas da Paixão. Mesmo assim, achei
sensacional a cena em que, após a morte de Jesus, o diabo grita em
completo e absoluto desespero, ao finalmente perceber que, a aparente
derrota de Jesus, na verdade foi uma vitória!

5. O filme segue o roteiro dos evangelhos. Aliás, Gibson pula de um


evangelho para o outro com muita habilidade e destreza. Isto se constitui,
a meu ver, a um só tempo, em virtude e fraqueza. Pois não há um único
relato sobre Jesus nas Escrituras. Sabemos que os evangelhos apresentam a
narrativa da paixão com diferentes estruturas literárias, a partir de
diferentes pontos de vista, diferentes perspectivas e com diferentes
propósitos teológicos. Por isso, é muito difícil, quiçá impossível, apresentar
uma cronologia absolutamente exata dos últimos acontecimentos da vida
terrena de Jesus.

Sérgio Pereira 57
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Apesar desta dificuldade, Gibson apresenta muito bem relatos que só


aparecem em um evangelho, como por exemplo, Jesus curando a orelha do
servo do sumo sacerdote (Lc 22:51 - os demais evangelhos não mencionam
a cura, só o fato de Pedro ter ferido o homem), a advertência da mulher de
Pilatos ao seu marido, aconselhando-o a não se envolver com um acusado
justo (Mt 27:19), Jesus levado a Herodes (Lc 23:8-12).

Mas algumas omissões são muito estranhas: não entendi as opções de


Gibson em deixar de fora de seu filme eventos importantes, que tiveram
influência direta na morte de Jesus, como por exemplo, o ataque de Jesus
aos cambistas e vendedores dos átrios externos do Templo (Marcos 11:15-
18) ou a expectativa popular que se criou em torno da possibilidade de
Jesus restaurar a monarquia israelita (João 6:1-15). Há várias cenas em
flashback no filme (como por exemplo, uma cena do Sermão da
Montanha). Pelo menos a cena da expulsão dos vendilhões do Templo
poderia ter aparecido em flashback. Em linhas gerais, o filme de Gibson
segue a seqüência do evangelho de João. Possivelmente especialistas em
Novo Testamento apresentarão críticas à harmonia dos evangelhos
proposta por Gibson. Mas Gibson fez um filme, não um tratado teológico.

6. Lembro-me no filme de alguns momentos que não constam dos


evangelhos canônicos: a seqüência em que Cláudia, mulher de Pilatos,
entrega uma toalha a Maria, mãe de Jesus, que a utiliza para enxugar o
sangue que o filho derramou quando foi flagelado (antes da crucificação), o
episódio em que Verônica enxuga o rosto de Jesus na Via Dolorosa (cena
que, conquanto tradicional e muito conhecida da piedade popular
católico-romana, é ausente do relato bíblico - na verdade, o mito de
Verônica foi cunhado na Idade Média.

O próprio nome "Verônica" é um nome híbrido, composto pelo latim


"vero", verdadeiro, e o grego "ikon", imagem; a "imagem verdadeira" teria
sido a imagem de Jesus impressa como um carimbo de sangue na toalha),
as duas Marias (a mãe de Jesus e Madalena) e João acompanhando na casa
de Caifás o julgamento de Jesus, o momento em que um corvo (típica ave
de mau agouro em culturas do norte-atlântico) bica os olhos do ladrão
impenitente. Talvez a mais estranha cena não bíblica no filme de Gibson
seja a que mostra Judas Iscariotes correndo em desespero, perseguido por
uma multidão de meninos apresentados como pequenos demônios - isto
definitivamente não tem nada a ver com textos bíblicos tão preciosos como
Marcos 10:14. Outra cena presente no filme, mas ausente dos relatos
bíblicos, é o terremoto que, no momento em que Jesus expira, faz rachar o
próprio templo, quando, à luz do relato neotestamentário, foi o véu que se
rasgou, não o templo (cf. Marcos 15:38).

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Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

7. Mas A Paixão de Cristo retrata com fidelidade, entre tantos relatos dos
evangelhos, o sadismo dos soldados romanos, a fraqueza de Pilatos (que
tem poder, mas se rende à pressão dos líderes do Templo), o medo de
Pedro, a angústia de Maria diante dos sofrimentos intensos aos quais o
filho era submetido (mas quanto a isso, como protestante, não posso
deixar de tecer crítica a Gibson: várias vezes o filme mostra a face triste,
expressando angústia de Maria. Com a sua insistência em mostrar quase o
tempo todo Maria angustiada, acompanhando o sofrimento do filho, não
estaria Gibson apresentando a velha noção teológica romana de Maria
Virgo, mater dolorosa ["Virgem Maria, mãe de dores"]?

Esta quase ubiqüidade de Maria acompanhando o sofrimento de Jesus


não consta de nenhum evangelho canônico. Outra crítica que teço à
superênfase mariana de Gibson está no fato que, no filme, quando Jesus é
preso, um discípulo corre para avisar Maria o que acontecera. Esta simples
e candidamente diz: "começou". Não há base escriturística, e nem sequer
no senso comum para isso. Qualquer mãe do mundo se desesperaria ao
saber que seu filho foi preso e está para ser torturado), a ajuda que Simão
Cirineu dá a Jesus, a princípio compulsória, mas depois, voluntária, a
fidelidade do discípulo amado (tradicionalmente identificado com João,
autor do quarto evangelho), o único a não debandar e permanecer junto
com o Mestre até o fim. Mas sem dúvida, o auge do filme está nas longas (e
assustadoras) seqüências da flagelação, do carregar da cruz, e da
crucificação propriamente.

Nunca jamais houve tamanho realismo em filmes sobre Jesus. A dor


que Jesus suportou foi mostrada de maneira impressionante, a um ponto
tão convincente que será difícil ver o filme sem se espantar, sem se chocar
e mesmo sem chorar com a crueldade extrema dos suplícios impostos ao
Senhor. Jim Caviezel (JC - coincidência?), conhecido por seu trabalho em O
Conde de Monte Cristo (2002), com lentes de contato castanhas (Jesus de
olhos azuis, como Robert Powell no filme de Zefirelli, não tem nada a ver),
a meu ver, se houve bem interpretando o papel de Jesus.

8. Vendo o filme, é fácil perceber que Mel Gibson é católico romano. O


sofrimento de Jesus é apresentado conforme o tradicional roteiro das
estações da Paixão, típico da devocionalidade popular romana. Nem
sempre o roteiro da Via Sacra é absolutamente fiel ao relato dos evangelhos
canônicos. Outra evidência do romanismo de Gibson está quando Pedro,
desesperado por ter negado a Jesus se encontra com Maria, a chama de
"mãe", e se recusa a receber o carinho, dizendo não ser digno, por ter
negado conhecer o Mestre - não há nos evangelhos canônicos nada que
diga que os apóstolos chamassem Maria de "mãe".

Sérgio Pereira 59
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Mas Gibson, mesmo católico romano tradicionalista, se contém


algumas vezes: no início do filme, no Jardim do Getsêmani, tentado pelo
diabo, Jesus pisa na cabeça de uma serpente (óbvia evocação de Gênesis
3:15), indo contra a interpretação romana da passagem que entende que
seria Maria a pisar na cobra - há várias estátuas de Maria que a representam
com uma serpente a seus pés.

9. Que influências Gibson recebeu no processo de construção de seu


filme? Decerto, várias. A mim ficou a impressão que uma delas foi o
quadro "Cristo carregando a cruz"83, de Hyeronimous Bosch, pintor
flamengo do século XV. Uma cena logo no início do filme, quando Jesus
está sendo julgado pelo Sinédrio, faz lembrar muito o quadro de Bosch.
Parece-me também que Gibson deve ter lido "Operação Cavalo de Tróia",
ficção do espanhol J. J. Benitez sobre um oficial da Força Aérea Norte
Americana que participa de um projeto ultra-secreto, que o conduz em
uma viagem no tempo até os dias de Jesus. Benitez descreve com detalhes,
por exemplo, os erros do processo judiciário de Jesus no Sinédrio, a
flagelação, a fraqueza de Pilatos. O filme parece seguir o roteiro de Benitez.
Mas, como disse, é apenas uma impressão que tive. Não posso afirmar
categoricamente que Gibson tenha mesmo lido e seguido Benitez.

10. Resumindo: muito ainda poderia ser dito a respeito do filme. Talvez
eu o faça em outra ocasião. Há diversas possibilidades de leituras do filme.
Por enquanto, creio que é suficiente apresentar o filme como bem feito,
mas não infalível. Como visto, em A Paixão de Cristo por várias vezes
Gibson não foi absolutamente fiel aos relatos canônicos. Mas é inegável
que o filme tem méritos.

O principal deles a meu ver é provocar debates em praticamente todo


o mundo. Cristãos poderão ver o filme com seus amigos, e compartilhar
sua fé dizendo: "Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras"
(1 Coríntios 15:3).

83
http://www.artchive.com/artchive/B/bosch/carrying.jpg.html.

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Peça do Processo de Cristo84

No ano dezenove de TIBERIO CÉSAR, Imperador Romano de todo o


mundo, Monarca Invencível, na Olimpíada cento e vinte e um, e na Elíada
vinte e quatro, da criação do mundo, segundo o número e cômputo dos
Hebreus, quatro vezes mil cento e oitenta e sete, do progênio, do Romano
Império, no ano setenta e três, e na libertação do cativeiro de Babilônia, no
ano mil duzentos e sete, sendo governador da Judéia; QUINTO SÉRGIO,
sob o regimento e governador da cidade de Jerusalém, Presidente
Gratíssimo, PÔNCIO PILATOS; regente, na baixa Galiléia, HERODES
ANTIPRAS; pontífice do sumo sacerdote, CAIFÁS; magnos do templo, ALIS
ALMAEL, ROBAS ACASEL, FRANCHINO CEUTAURO; cônsules romanos da
cidade de Jerusalém; QUINTO CORNÉLIO SUBLIME e SIXTO RUSTO, no
mês de março e dia XXV do ano presente – EU, PÔNCIO PILATOS, aqui
Presidente do Império Romano, dentro do Palácio e arqui-residência, julgo,
condeno e sentencio à morte, Jesus, chamado pela plebe – CRISTO
NAZARENO – e galileu de nação, homem, sedicioso, contra a Lei Mosaica –
contrário ao grande Imperador TIBÉRO CÉSAR.
Determino e ordeno por esta, que se lhe dê morte na cruz, sendo
pregado com cravos como todos os réus, porque congregando e ajustando
homens, ricos e pobres, não tem cessado de promover tumultos por toda a
Judéia, dizendo-se filho de DEUS e REI DE ISRAEL, ameaçando com a ruína
de Jerusalém e do sacro Templo, negando o tributo a César, tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo, com grande parte da plebe,
dentro da cidade de Jerusalém. Que seja ligado e açoitado, e que seja
vestido de púrpura e coroado de alguns espinhos, com a própria cruz aos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores, e que,
juntamente com ele, sejam conduzidos dois ladrões homicidas; saindo logo
pela porta sagrada, hoje ANTONIANA, e que se conduza JESUS ao monte
público da Justiça, chamado CALVÁRIO, onde, crucificado e morto ficará
seu corpo na cruz, como espetáculo para todos os malfeitores, e que sobre
a cruz se ponha, em diversas línguas, este título: JESUS NAZARENUS, REX
JUDEORUM.
Mando, também, que nenhuma pessoa de qualquer estado ou condição
se atreva, temerariamente, a impedir a Justiça por mim mandada,
administrada e executada com todo o rigor, segundo os Decretos e Leis
Romanas, sob as penas de rebelião contra o Imperador Romano.
Testemunhas da nossa sentença: Pelas doze tribos de Israel: RABAM
DANIEL, RABAM JOAQUIM BANICAR, BANBASU, LARÉ PETUCULANI, Pelos
fariseus: BULLIENIEL, SIMEÃO, RANOL, BABBINE, MANDOANI,
BANCURFOSSI. Pelos hebreus: MATUMBERTO. Pelo Império Romano e pelo
Presidente de Roma: LÚCIO SEXTILO e AMACIO CHILICIO.

84
Existente no Museu da Espanha — extraída do Livro “O ADVOGADO”, de Manoel Fernandes
Quadra, p. 187/188.

Sérgio Pereira 61
Jesus Cristo – pessoa, obra e ensinamentos – uma visão sobre a Bíblia

Referências
Referências
ALMEIDA, Abraão de. História, milagres e profecias da Bíblia.
Bíblia São Paulo:
Vida, 1987.

ARMSTRONG, Karen. Em nome de Deus.


Deus São Paulo: Cia das Letras, 2001.

COLEMAN, Lyman. Ministério de Jesus Cristo:


Cristo andando nos passos de
Jesus. Tradução Cristina Kuczynski. São Paulo: Sepal, 1999.

GEISLER, Norman L.; HOWE, Thomas. Manual popular de dúvidas,


enigmas e “contradições” da Bíblia.
Bíblia Tradução Milton Azevedo Andrade. São
Paulo: Mundo Cristão, 1999.

HALLEY, Henry H. Manual bíblico:


bíblico um comentário abreviado da Bíblia.
Tradução David A. de Mendonça. São Paulo: Vida Nova, 1970.

JEREMIAS, Joachim, 1900. Jerusalém nos tempos de Jesus:


Jesus pesquisa de
história econômico-social no período neotestamentário. Tradução M.
Cecília de M. Duprat. Revisão Honório Dalbosco. São Paulo: Edições
Paulinas, 1983.

JOSEFO, Flávio. História dos hebreus.


hebreus v. 2. Tradução Vicente Pedroso. Rio
de Janeiro: CPAD, 1990.

SPROUL, R.C. Boa pergunta!.


pergunta! Tradução Heloísa Cavalari Ribeiro Martins. São
Paulo: Cultura Cristã, 1999.

TENNEY, Merril C.; PACKER, J. I.; WHITE JR., Willian. Vida cotidiana nos
tempos bíblicos.
bíblicos Tradução Luiz Aparecido Caruso. São Paulo: Vida, 1980.

Bíblias
A Bíblia em ordem cronológica:
cronológica nova versão internacional. São Paulo: Vida,
2003.

Bíblia de referência Thompson:


Thompson com versículos em cadeia temática. São
Paulo: Vida, 1992.

Bíblia Sagrada Ave Maria.


Maria São Paulo: Ave Maria, 1974.

Sites
www.monergismo.com
www.sbb.org.br
www.vivos.com.br

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