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REDE, Marcelo.

Complexidade Social, sistemas comunicativos e gênese da escrita cuneiforme

A tendência que conferiu a escrita uma natureza matricial marcou profundamente a


pesquisa e manifestou-se de formas variadas. Contentemo-nos apenas em enfatizar estes dois
aspectos: de um lado as diversas tentativas de definição do conceito de “civilização”, em que a
Mesopotâmia se enquadra de modo inaugural, sempre implicam algum tipo de oposição entre
sociedades letradas e sociedades de tração oral; de outro, as condições de nascimento de
escrituras e línguas mortas por milênios, conferiram-lhe indelevelmente seu caráter de saber
sobre escritos, mais do que sobre sociedades.

A partir da década de setenta, uma nova abordagem sobre as relações entre a origem
da escrita cuneiforme e o incremento da complexidade social mudou. Foi resultado, em parte,
do aparecimento de dados arqueológicos inéditos, em parte, da percepção de que materiais há
muito conhecidos e tidos como independentes poderiam estar relacionados, sem seu contesto
social de origem, de modo até então insuspeito. Dois foram os passos decisivos: Uma inovação
metodológica no tratamento das fontes, que alterou substancialmente a operação analítica
que leva do artefato arqueológico ao adjetivo me que seu quadro de vida, em segundo, uma
guinada teórica que reintegrou o registro gráfico no contexto das transformações por que
passavam as sociedades próximo-orientais nos milênios que viram a alteração de toda sua base
de existência material.

1. Gênese da escrita: debates e tendência

No centro da teoria de Denise Schmandt-Besserat, pequenos objetos medindo entre 1 cm e


3 cm feitos de argila ou pedra e apresentando formas variadas (tokens) presentes em relatórios
ou publicações de escavações desde os anos 30 foram avaliados em 1959, foi proposto que
faziam parte de um “duplo ,mecanismo contábil operado pelo palácio local em meados do
segundo milênio a.C.”. Estes Tokens eram associados “em tabletes e utilizando o sistema
cuneiforme, e um dispositivo baseado na manipulação de recipientes ocos (egg-shaped tablets,
muito próximo das Bullae)...” podendo ser manipulados de acordo com as necessidades da
administração.

Em 1966 Pierre Amiet mostrava a existência de um sistema semelhante em Susa que


precedera o aparecimento dos primeiros tabletes escritos. “Amiet deslocava o fenômeno para
o quarto milênio e propunha inter-relações [...] com o aparecimento da escrita e com o
dinamismo urbano do período de Uruk, particularmente a circulação de bens e suas
conseqüentes necessidades notarias”. No quarto milênio ainda, quando se consolida a
importância de Uruk como principal centro urbano da mesopotâmia, nota-se como
característica os “Complex Tokens” os quais ganham um elevado grau de complexidade nas
suas formas e inscrições, mas não substituem os antigos. Ainda neste quarto milênio que os
Tokens são envelopados na Bullae. Neste estágio as Bullae recebem em sua superfície a
impressão de selos e, em muitos casos, do Tokens nela contido. Este é um importante passo na
linha evolutiva que levaria a escrita. Este passo que remete a imagem bidimensional esta
relacionado ainda ao sistema de contagem. Nesta referencia qualitativa e quantitativa os
Tokens valendo por um objeto ou por uma qualidade estabelecida cede lugar as tabletes
numéricos que já são um repertorio completo, autônomo e sistemático de contagem, e como
conseqüência os Tokens desaparecem, definitivamente substituídos pelas conotações feitas na
superfície dos tabletes.

“O signo, agora, é i vetor absoluto dos significados, num quadro que congrega todos os
elementos necessários para levar ao estágio final da linha evolutiva proposta por Schmandit-
Besserat: a escrita cuneiforme. [...] Para Schmandit-Besserat [...] é justamente a linha de
ascendência que leva até os Tokens que explica as características dos tabletes de Uruk ( sua
composição majoritária por sinais abstratos e sua residual carga de iconicidade) o que, em
outros termos, significa que representam o estágio avanço de um sistema já milenar, mais do
que os primeiros passos de uma novidade”.

Outro ponto de vista, o de Stephen Liebernab, por exemplo, apesar de aceitar a


existência de um sistema de contagem baseado nos Tokens, rejeitou que ele tivesse a
amplitude icônica sugerida pela autora. Uma das manifestações concretas da distância entre os
dois sistemas seria o fato de que apenas um número reduzido de sinais cuneiformes pode-ser
estabelecer uma analogia com a aparência dos Tokens.

Outra abjeção seria o fato de que embora estejamos acostumados a estabelecer uma
relação imediata, definindo a escrita como um sistema gráfico de expressão da língua, as
circunstâncias que envolvem o aparecimento do cuneiforme mostram uma situação bem mais
complexa. Em primeiro lugar porque nada garante a vinculação entre os primeiros sinais (o
chamado proto-cuneiforme) e a expressão verbal, e muito menos com uma língua em
particular. Apesar das reservas e oposições, a linha evolutiva sugerida por Schmandit-Besserat
torna-se dominante no debate, sem que nenhuma outra disputasse sua primazia.

2. Escrita e complexidade social

A necessidade de gerenciamento dos dados econômicos por parte das grandes


organizações, o controle de fluxo interno e externo de bens, a diversificação das relações e das
relações e dos procedimentos de controle de mão-de-obra gerada pelo acréscimo da divisão
social do trabalho foram freqüentemente reconhecidas como um aumento de complexidade da
sociedade civil que faz parte de um quadro do processo civilizatório que estão tidas como mais
ligadas ao grafismo. A escrita como componente da centralização do poder, da própria
formação do estado e de sua intrínseca propensão à regulamentação dos discursos ou o papel
da escrita como tecnologia do poder também forram lembrados, porém em menor grau.

“... a escrita aparece, em seus estágios iniciais como uma técnica de registro de
informações que confere ao homem um considerável aumento da capacidade de
armazenamento e manipulação dos dados, em uma situação de complexidade crescente.
Tendo se concentrado nas práticas contábeis dos templos e palácios, registrando a entrada e
saída de bens, as oferendas, a distribuição de viveres ao pessoal, administrativo etc., apenas
por volta de 2600 a.C. o sistema ganha maleabilidade suficiente para Sr aplicado a outros
campos como as inscrições reais, as narrativas mitológicas, os hinos e preces aos deuses e,
ainda mais tarde, as manifestações do cotidiano, como as cartas”.

Apesar dos primeiros exemplares da escrita mostrar um uso prioritariamente econômico


não deve ocultar que a utilização do sistema pressupunha uma transformação social, política e
cognitiva sem precedentes. O aumento da complexidade social engendrou uma grande
diversidade de mecanismos de controle. O controle significa um esforço de ordenamento das
relações diferenciadas. Quanto mais distantes a sociedade se encontra do igualitarismo,
quando maior o grau de mediação das relações sociais, maior a necessidade de instrumentos
de controle: a escrita é apenas um dentre outros.

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