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1052 RESENHAS BOOK REVIEWS

BIOÉTICA PARA PROFISSIONAIS DA SAÚDE. para os que ainda estão em formação, mas também pa-
Rego S, Palácios M, Siqueira-Batista R. Rio de ra professores, preceptores em hospitais ou membros
Janeiro: Editora Fiocruz; 2009. 160 p. (Coleção de comitês disciplinares, a quem a obra oferece um
Temas em Saúde). mapa seguro das ferramentas básicas do campo.
ISBN: 978-85-7541-182-7 Talvez por ser um campo tão aberto e com múlti-
plas fronteiras disciplinares, os autores não definem a
Bioética e Saúde Pública bioética. A opção foi por apresentá-la por seu objeto
de pesquisa e espaço de atuação, mas não por meio de
A bioética encontra-se em um momento de vigor no conceitos. Para o público almejado, essa pode ser uma
Brasil. Os anos 1990 marcaram os seus passos iniciais: o estratégia eficaz, pois aproxima os leitores pela experi-
surgimento de grupos de pesquisa vinculados a progra- ência e não pela abstração da teoria. No entanto, essa é
mas de pós-graduação em saúde pública, as primeiras uma ausência que rapidamente se percebe no capítulo
publicações em língua portuguesa e a criação da Socie- Bioética: História e Conceitos, onde os autores apresen-
dade Brasileira de Bioética. Já a consolidação da bio- tam um miniglossário de palavras-chave do campo.
ética nas universidades como um novo campo de co- Conceitos como direito, religião, ética ou moral foram
nhecimento e pesquisa é resultado da última década 1. apresentados como ferramentas de trabalho e, assim,
Há disciplinas de bioética para a graduação em quase resumidos aos limites de um parágrafo. Somente a re-
todas as universidades públicas brasileiras e alguns cepção da obra mostrará aos autores a eficácia dessa
programas de mestrado e doutorado, além de diversas estratégia para um público cujo fôlego de leitura é re-
linhas temáticas em programas afins, como de filosofia, duzido e que provavelmente terá na obra um manual
política social ou direito. Esse novo cenário provocou o de boas práticas.
mercado editorial sobre como responder a um público O livro tem um movimento próprio: combina de
crescente, porém muito diversificado. maneira interessante a história da bioética com casos
A obra Bioética para Profissionais da Saúde atende e múltiplas estratégias de reflexão conceitual, além de
a uma parcela significativa dos leitores interessados em exemplos concretos das realidades brasileira e inter-
conhecer a bioética. Seu objetivo é apresentar a bioé- nacional. Esse ritmo entre a realidade e as ferramentas
tica para profissionais de saúde, uma idéia ao mesmo conceituais é uma fortaleza da obra, em particular por-
tempo ousada e simples. Se, por um lado, é difícil per- que permitirá aos professores sempre atualizarem o re-
seguir a originalidade quando se assume a tarefa de pertório de realidade a ser explorado com seus alunos.
resumir um campo para leitores neófitos, por outro, Há, no entanto, momentos em que o estilo narrativo do
esse é sempre um exercício à espera de ser feito, ainda livro oscila entre um esforço pedagógico e um excesso
mais em áreas tão interdisciplinares quanto é a bioéti- de informações, como se fossem diferentes vozes assu-
ca. Nesse sentido, o livro cumpre com o que promete: mindo a autoria das seções. Esse, na verdade, é um tra-
de fácil leitura, é um convite à reflexão, ampliando as ço característico de obras com autorias compartilha-
fronteiras do pensamento para quem tem o dever de das, em particular entre autores cuja inserção em um
exercitar a dúvida em situações como as provocadas determinado campo já é bastante definida.
pelo aborto, por exemplo, em que as crenças religiosas Por fim, uma questão merece destaque, muito
dos profissionais de saúde costumam se sobrepor aos embora talvez os operadores do direito não sejam o
deveres de assistência em saúde. Há, no entanto, cer- público-leitor da obra: os autores vêem de maneira
ta redução da categoria dos profissionais de saúde aos pessimista a aproximação entre a bioética e o direito.
médicos, talvez uma marca cega da inserção disciplinar Não há dúvidas de que a bioética cresce vertiginosa-
dos três autores. mente entre a nova geração de juristas. Se, por um lado,
Mas a aposta dos autores é que a reflexão bioética são os profissionais de saúde que experimentam coti-
deve ser exercitada por todos os profissionais de saúde dianamente grande parte dos conflitos morais da bio-
e não apenas por aqueles que venham a se definir como ética, por outro, são os operadores do direito que são
“bioeticistas”. Como outros saberes, a bioética se ensi- confrontados não apenas com essas mesmas questões,
na e se aprende em diferentes níveis de profundidade, mas com o desafio adicional de responder a elas rapi-
mas há um nível para o qual, sustentam os autores, to- damente e com a força do Estado.
dos os profissionais que se confrontam com os desafios Curiosamente, a compreensão dos autores sobre
impostos pelo cuidado e pela gestão da saúde devem esse encontro, que pode ser revigorante para a bioética
estar sensibilizados. O livro é, portanto, uma ferramen- brasileira, não é estimulante para os leitores. O direito
ta de suporte para o ensino da bioética a esse público se confunde com as normas e leis instituídas, isto é,
tão diverso. Nesse sentido, é uma peça útil não apenas com uma mera aplicação da ordem estabelecida aos

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 26(5):1052-1054, mai, 2010


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conflitos morais. Os autores reconhecem que questões tir de uma minuciosa apresentação das características
decisivas à bioética brasileira foram enfrentadas nas climatológicas de cada uma das províncias brasileiras,
cortes e tribunais, mas se recusam a dar o devido sen- adicionou observações sobre as “trombas” d’água e as
tido a essa aproximação. Temas como a pesquisa com neblinas, além de tecer relações do clima com as carac-
células-tronco embrionárias, a anencefalia, a cirurgia terísticas geológicas de cada região.
de mudança de sexo ou a judicialização do acesso à Em sua análise parece claro que ele ainda guardava
saúde foram provocados nas cortes e é nelas também traços de estar se reportando a um território edênico. O
que a reflexão e a argumentação em bioética avançam. clima brasileiro foi anunciado como “o mais belo entre
E esse parece ser mais um intenso movimento de revi- as principais terras do globo”, da mesma maneira que os
goramento da bioética para a próxima década no Brasil. rios desta parte da América compunham segundo a vi-
são do médico francês “o mais belo sistema de irrigação
Debora Diniz natural”. Talvez para contrabalançar tais afirmações,
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil.
Anis – Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero, Brasília,
também buscou basear uma parte de suas observações
Brasil. em dados diários sobre a temperatura reinante no Rio
de Janeiro, além de buscar dados do mesmo tipo, mas
1. Braga KS. A comunicação científica e a bioética mais esparsos, de várias partes do território nacional.
brasileira: uma análise dos periódicos científicos A segunda parte do livro constitui-se na apresen-
brasileiros [Tese de Doutorado]. Brasília: Progra- tação da primeira geografia médica que toma como
ma de Pós-graduação em Ciência da Informação, alvo todo o território nacional. O crivo adotado inicial-
Universidade de Brasília; 2009. mente foi o enfoque das doenças que mais acometiam
os índios, os negros e os brancos, sem contudo situar
a condição étnica como determinante das enfermida-
DO CLIMA E DAS DOENÇAS DO BRASIL OU ES- des; pelo contrário, em vários momentos ressaltou que
TATÍSTICA MÉDICA DESTE IMPÉRIO. Sigaud JFX. as enfermidades de um grupo não eram estranhas aos
Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2009. 434 p. demais. No mesmo tópico, também se empenhou em
(Coleção História e Saúde; Clássicos e Fontes). indicar as principais doenças endêmicas e epidêmicas
ISBN: 978-85-7541-180-3 que caracterizavam o país, situado numa região de-
nominada como intertropical, conferindo um caráter
Instalado nos trópicos, Sigaud elaborou o que pode ser abrangente e até certo ponto generalizante à proble-
considerado o primeiro compêndio de Higiene sobre mática sanitária imperial.
o Brasil, utilizando para tal uma volumosa documen- Sua preocupação em historicizar as doenças le-
tação que inclui textos dos viajantes, especialmente de vou-o também a referir-se aos tipos de tratamento dis-
naturalistas, que registraram suas experiências no país poníveis desde o período colonial, sobretudo ao que
desde o início da colonização, relatórios oficiais e sua denominou medicina dos jesuítas e ao curandeirismo.
própria vivência de clínico no Rio de Janeiro. Seu pa- Como produto da elite branca, a medicina praticada
pel foi fundamental na atualização da medicina brasi- pelos padres foi colocada em oposição pelos índios e
leira, segundo as balizas do neo-hipocratismo forjado pelos negros, apesar de a própria elite fazer constante
na modernidade clássica, analisando os fatos à luz dos uso dos conhecimentos curandeirísticos das camadas
novos conhecimentos científicos produzidos na Euro- subalternas.
pa e reclamando, não sem razão, o papel pioneiro no As duas últimas partes do livro mostram-se mais
contexto nacional na elaboração da primeira estatística extensas, minuciosas e precisas, multiplicando as fon-
médica. tes de referência. O tema central da terceira parte foram
O título da obra pode enganar o leitor, pois o binô- as patologias tidas como intertropicais; com entusias-
mio clima e doença se constitui o eixo privilegiado pelo mo, reportou-se à ausência de certas enfermidades que
livro, também vem acompanhado de um grande nú- cobrava um grande número de vidas em outras partes
mero de informações que, para Sigaud, contribuiriam do planeta, como a peste, o cólera e febre amarela (as
para o esclarecimento das condições sanitárias do país, quais se pronunciaram no Brasil com toda sua violên-
desde as relações entre os grupos étnicos e as caracte- cia alguns anos após a publicação do livro), explicando
rísticas da administração sanitária até a dieta alimentar em detalhes as conseqüências orgânicas e sociais da
de cada grupo e a topografia própria de cada região do ocorrência de febres de todos os tipos, da tuberculo-
império. se e, na seqüência, das doenças que comprometiam
O livro é dividido em quatro partes. A primeira os olhos, a pele e os “órgãos geniturinários”. Juntando
delas refere-se ao clima e às doenças do Brasil. A par- a tudo isto, alinharam-se os acidentes, especialmente

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 26(5):1052-1054, mai, 2010

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