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Grupo II
LEITURA / GRAMÁTICA
TEXTO
Desejo e verbo
Já se disse e escreveu que a terceira longa-metragem de Ivo Ferreira, «Cartas da Guerra» (na com-
petição pelo Urso de Ouro), é um filme sobre o amor. No caso, o amor confessado nas cartas enviadas
por António Lobo Antunes (Miguel Nunes), entre janeiro de 1971 e meados de ‘1972, à sua mulher de
então, Maria José, durante o tempo em que ele, médico, serviu o exército português em Angola, durante
a Guerra Colonial. 5
Parece- me, contudo, que «Cartas da Guerra» é muito mais um filme sobre a solidão e o desejo do que
qualquer outra coisa, Como António diz no filme naquela voíce-over que não se trava, «aqui cada um vive
somente para si próprio e para as cartas que recebe,» Ora, o que Ivo Ferreira vai tentar com esta narrativa
não convencional é aproximar o remetente do destinatário, E não é com nostalgia que o tenta (nostalgia
são aqueles relatos do Benfica que ouvimos na rádio, a «Maria Rita» , dos Duo Ouro Negro, ou, no fim, o 10
António Calvário do «Rapazes de Táxis» projetado «às avessas»), mas sim com um desfasamento no tempo
que gera um efeito interessante:
António escreve as cartas, mas a voz que ouvimos é sempre a de quem as lê (leitura / interpretação
importantes de Margarida Vila-Nova). É como se aquele passado ainda ecoasse no presente – uma espécie
de pretérito imperfeito que precisa da cumplicidade do espetador e que é sempre difícil de fixar no cinema. 15
Acontece que os textos íntimos, ora mais graves e abertos ao mundo, ora mais banais e até caricatos, acabam
por ganhar uma preponderância exagerada em relação à banda-imagem, secundarizando-a, e deixando, de
certa forma, a Guerra Colonial em pano de fundo (apesar do ótimo trabalho de fotografia de João Ribeiro
e da opção de pós-produção que passou para preto e branco o que a câmara havia filmado a cores). Isto
não quer dizer que se desejasse que som e imagem se complementassem. Até podiam, pelo contrário, cho- 20
car, à condição que daí nascesse uma reverberação. Mas o filme só em momentos pontuais a encontra. É
curioso notar que o melhor de «Cartas da Guerra» vem de cenas que dispensam o off, afastando-se assim
do mecanismo mais praticado pelo filme: quando António é confrontado com um pedido especial do seu
Major (Ricardo Pereira), ou quando ele adota aquela miúda nómada que, por uns tempos, lhe fará com-
panhia. «Cartas da Guerra» foi genericamente bem recebido pela imprensa, sobretudo a anglo-saxónica. 25
E o que pensará dele o júri?
Francisco Ferreira, in Revista do Expresso, Fevereiro 2016
1. Para responder a cada um dos itens de 1.1 a 1.7, seleciona a única opção que permite obter uma afirmação cor-
reta.
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1.3 Segundo o autor desta apreciação crítica, o filme tem por temas
A. o amor e a solidão.
B. a solidão e a nostalgia.
C. o amor e a espera.
D. a solidão e o desejo.
1.4 Ouve-se no filme a mulher ler as cartas que o homem lhe escreveu. Esta técnica permite
A. evidenciar a nostalgia sentida por emissor e destinatário.
B. fazer perdurar o passado no presente.
C. intensificar a dor da separação.
D. dar relevo ao pepel da destinatária.
1.5 Relatos do Benfica ouvidos na rádio ou a «Maria Rita» , dos Duo Ouro Negro fazem parte
A. dos momentos de alegria do emissor das cartas.
B. do que o emissor das cartas rejeita do seu passado.
C. das pequenas memórias irrelevantes do emissor das cartas.
D. de momentos do dia a dia, que, agora, o emissor das cartas recorda com saudade.
1.6 Na perspetiva do crítico, a Guerra Colonial, espaço e tempo de «Cartas da Guerra», deveria
A. ser apenas o pano de fundo do filme.
B. merecer maior relevância.
C. merecer um trabalho de fotografia mais cuidado.
D. passar despercebida.
1.7 Pela leitura desta apreciação crítica, ficamos a saber, globalmente, o assunto do filme e a opinião do crítico
sobre algumas opções do realizador. Merecem-lhe, particular atenção, pela positiva,
A. a leitura / interpretação de Margarida Vila-Nova e aspetos pontuais como o pedido do major ou a adoção
da miúda.
B. a leitura / interpretação de Margarida Vila-Nova, a tentativa de aproximação emissor/ destinatário pelo
desfasamento no tempo e aspetos pontuais como o pedido do major ou a adoção da miúda.
C. a leitura / interpretação de Margarida Vila-Nova e aspetos pontuais como o pedido do major ou a adoção
da miúda, a nostalgia que envolve emissor/ destinatário.
D. a leitura / interpretação de Margarida Vila-Nova, a tentativa de aproximação emissor/ destinatário pelo
desfasamento no tempo, pouca relevância da Guerra Colonial.
NPL11LP © RAIZ EDITORA
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2.1 «Já se disse e escreveu que a terceira longa-metragem de Ivo Ferreira, “Cartas da Guerra” (na competição
pelo Urso de Ouro), é um filme sobre o amor.» (l. 0)
Justifica a utilização dos parênteses nesta frase.
2.2 «Até podiam, pelo contrário, chocar, à condição que daí nascesse uma reverberação.»
• Reescreve a frase, substituindo a expressão assinalada por uma conjunção.
• Classifica a oração introduzida por estes conectores.
Grupo III
ESCRITA
Num texto bem estruturado, com um mínimo de 200 e um máximo de 300 palavras, apresenta a tua opinião sobre a
questão abordada neste excerto.
Fundamenta o teu ponto de vista, recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustrando cada um deles com um
exemplo significativo.
COTAÇÕES
2.3..................................... 5 pontos
50 pontos
TOTAL ................................... 200 pontos
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