Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Prefácio
David Maciel ................................................................................................... 14
———————
1
Disponível em: <http://temposconservadores.blogspot.com/2018/09/saiu-o-volume-2-tempos-
conservadores.html>, Acesso em: 07/12/2019.
2
Disponível em: <http://temposconservadores.blogspot.com/2016/10/tempos-conservadores-
estudos-criticos.html>, Acesso em: 07/12/2019.
GUILHERME DE ANDRADE, JEFFERSON BARBOSA, MARCOS VINICIUS RIBEIRO, RODRIGO JURUCÊ
Os Organizadores
(Dezembro de 2019)
———————
* David Maciel é professor da Faculdade de História e do Programa de Pós-Graduação em
*
PREFÁCIO | 15
DAVID MACIEL
entre “as viúvas de Hitler”. Como uma corrente ideológica “subterrânea”, ali-
mentada pelo revisionismo histórico sobre temas como o Holocausto e a Se-
gunda Guerra, e pela “adoração” de textos, dizeres e imagens dos líderes
fascistas, surgiram grupos de tamanho e perfis variados organizados em tor-
cidas de futebol, grupos de rock, centros culturais etc., que agem como gan-
gues com capacidade restrita de mobilização e convencimento, mas capa-
zes não apenas de atos simbólicos como pichações, depredação de pré-
dios, cemitérios, símbolos e monumentos, como também de atos de extrema
violência como a agressão e o assassinato de judeus, muçulmanos, imigran-
tes, homossexuais, militantes, lideranças de esquerda, dentre outros.
No entanto, a partir das últimas décadas a extrema direita de inspi-
ração fascista ou protofascista não só colocou a cabeça para fora explici-
tando suas posições mais raivosas, como conquistou uma audiência cres-
cente, desdobrada em força política e ascensão eleitoral. Esta ressurgência
é fruto das características gerais assumidas pela sociedade burguesa no
atual estágio do capitalismo, condensadas num bloco histórico novo, que
combina neoimperialismo (a chamada “globalização”), reestruturação pro-
dutiva (novas tecnologias, acumulação flexível, pós-fordismo), neolibera-
lismo e pós-modernismo. Nesta situação, o velho fascismo volta a seduzir
como se representasse o novo!
O desenvolvimento de novas tecnologias e de novas formas de or-
ganização da produção capitalista, sintetizadas no conceito de “pós-for-
dismo”, desencadeou um movimento tão avassalador de substituição do tra-
balho vivo pelo trabalho morto que impôs ao mundo do trabalho um processo
de flexibilização/precarização das relações de trabalho e retirada progres-
siva dos direitos sociais, tornando a vida ainda mais instável para milhões.
O desemprego, a rotatividade no trabalho, o arrocho salarial e a redução/eli-
minação dos direitos sociais tornaram-se corriqueiros não apenas para os
PREFÁCIO | 16
DAVID MACIEL
PREFÁCIO | 17
DAVID MACIEL
PREFÁCIO | 18
DAVID MACIEL
PREFÁCIO | 19
DAVID MACIEL
PREFÁCIO | 20
DAVID MACIEL
PREFÁCIO | 21
DAVID MACIEL
PREFÁCIO | 22
DAVID MACIEL
PREFÁCIO | 23
Direita e esquerda na história:
considerações pontuais acerca de
alguns casos de dislexia conceitual
Muniz Ferreira*1
———————
* Muniz Ferreira é professor do Departamento de História e Relações Internacionais da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRJ).
MUNIZ FERREIRA
———————
1
CONSTANT, Benjamin. Da liberdade dos antigos comparada à dos modernos (1819). Revista
Filosofia Política, n. 2, 1985.
———————
2
MAYER, Arno J. A burguesia se inclina. A força da tradição: a persistência do Antigo Regime.
São Paulo: Companhia das Letras, 1987. Ver também: SCHORSKE, Carl E. Viena Fin-de-Siècle.
São Paulo: Unicamp; Companhia das Letras, 1988.
———————
3
Cf. GOOBY-TAYLOR, Peter. Welfare, hierarquia e “nova direita” na era Thatcher. Lua Nova, n.
24, set. 1991.
4
BRESCIANI, Maria Stella. O pensamento político conservador após a Comuna de Paris. In:
BOITO JR., Armando (Org.). A Comuna de Paris na História. São Paulo: Xamã, 2001.
———————
5
Cf. MAYER, op. cit., 1987.
6
STERNHELL, Zeev. A modernidade e seus inimigos! In: STERNHELL, Zeev (Org.). O eterno
retorno: contra a democracia a ideologia da decadência. Lisboa: Editorial Bizâncio, 1999.
———————
7
BENNER, Erica. Really existing nationalisms: a post-communist view from Marx and Engels.
Oxford: Clarendon Press, 1996.
8
Cf. GRAY, John. Falso amanhecer: os equívocos do capitalismo global. Trad. Max Altman. Rio
de Janeiro: Record, 1999.
———————
9
LOSURDO, Domenico. A revolução, a nação e a paz. Estudos Avançados, v. 22, n. 62, 2008.
10
HOBSBAWN, Eric. A construção das nações. In: ________. A era do capital. São Paulo: Paz e
Terra, 1996.
———————
11
HOBSBAWN, Eric. A era dos impérios. São Paulo: Paz e Terra, 2009.
12
Cf. MAYER, op. cit., 1987.
13
HOBSBAWN, Eric. Nações e nacionalismo desde 1780. São Paulo: Paz e Terra, 2013.
———————
14
LOSURDO, Domenico. A Revolução, a nação e a paz. Estudos Avançados, v. 22, n. 62, 2008.
15
Sobre a Primeira Internacional ver: COLE, G. D. H. Historia del pensamiento socialista, v. II.
México: Fondo de Cultura Económica, 1975. A respeito da Segunda, ver: CARONE, Edgard. A
II Internacional pelos seus congressos (1889-1914). São Paulo: EDUSP, 1993.
———————
16
Cf. LENIN. A guerra e a social-democracia da Rússia. Lisboa, Portugal: Edições Avante, 1977,
pp. 557-564.
17
GRAMSCI, Antonio. Sobre el fascismo. México: Ediciones Era, 1979.
———————
18
Alguns “modernistas reacionários”, em particular Ernest Jünger, que fora militar e combatera
nas trincheiras da Primeira Grande Guerra, identificavam na solidariedade construída no front,
nos laços de sangue instituídos entre os combatentes e no heroísmo patriótico dos que se
sacrificaram pela Alemanha as bases para a reconstrução da unidade da nação alemã. Não é
preciso enfatizar aqui em que medida tais formulações antecipam o discurso de Hitler e seus
seguidores. Sobre a vida e as ideias de Jünger e outros modernistas reacionários, ver: HERF,
Jeffrey. O modernismo reacionário. São Paulo: Editora Ensaio, 1993.
———————
19
TOGLIATTI, Palmiro. Lecciones sobre el fascismo. México: Ediciones de Cultura Popular,
1977.
disto foi a disputa interna do NSDAP, que resultou na Noite das Longas Fa-
cas, com a decapitação dos setores mais “inconformistas” [sic!] das SA e
do Partido Nazista.
Os fascismos, portanto, mudaram a direita no sentido de “conta-
miná-la” com discursos e mesmo práticas organizativas até então só utiliza-
das pelas esquerdas (anticapitalismo, igualitarismo e mobilização de mas-
sas), apesar do caráter farsesco, demagógico e incompleto daqueles.
———————
20
TREVOR-ROPER, H. R. Hitler’s War Aims. In KOCH, H. W. Aspects of the Third Reich. Londres:
Macmillan Education, 1988.
———————
21
“Revisionismo” aqui diz respeito à revisão dos termos do Tratado de Versalhes, considerados
desfavoráveis ao Estado alemão.
———————
22
Acerca do franquismo e sua relação com a Falange Espanhola, ver: BREA PEDREIRA, Ana et
al. Historia de España contemporánea. La Coruña: Baía Edición, 1997. Sobre o salazarismo,
ver: REZOLA, Maria Inácia. A igreja católica nas origens do salazarismo. Locus: Revista de
História, v. 18, n. 1, Juiz de Fora, 2012, pp. 69-88.
———————
23
FERREIRA, Muniz. “Do passado vem a tempestade”. Notas historiográficas sobre as políticas
externas do Terceiro Reich Alemão. Caderno de Estudos e Pesquisas, ano VIII, n. 19, jan.-abr.,
2004.
24
Acerca das interpretações historiográficas de Nolte, ver o artigo de Demian Melo no
blogue Junho, intitulado “Ernst Nolte e a historiografia revisionista”. Disponível em:
<http://blogjunho.com.br/ernst-nolte-e-a-historiografia-revisionista>. Acesso em: 02/09/2017.
———————
25
Ver a este respeito: LOSURDO, Domenico. Stalin: história crítica de uma lenda negra. Rio de
Janeiro: Editora Revan, 2004.
O neoconservadorismo
———————
26
Sobre Leo Strauss e o neoconservadorismo, ver: ANDERSON, Perry. Spectrum: de La dere-
cha a la izquierda em el mundo de las ideas. Madri: Ediciones Akal, 2008.
———————
27
Cf. AUGUSTO, André Guimarães. O que está em jogo no “Mais Mises, menos Marx”. Dispo-
nível em: <http://marxismo21.org/wp-content/uploads/2015/04/Mises-Marx.pdf>. Acesso em:
02/09/2017.
Referências
BENNER, Erica. Really existing nationalisms: a post-communist view from Marx and
Engels. Oxford: Clarendon Press, 1996.
________. Nações e nacionalismo desde 1780. São Paulo: Paz e Terra, 2013.
LOSURDO, Domenico. Stalin: história crítica de uma lenda negra. Rio de Janeiro:
Editora Revan, 2004.
REZOLA, Maria Inácia. A igreja católica nas origens do salazarismo. Locus: Revista
de História, v. 18, n. 1, Juiz de Fora, 2012, pp. 69-88.
SCHORSKE, Carl E. Viena Fin-de-Siècle. São Paulo: Unicamp; Companhia das Le-
tras, 1988.
———————
* Guilherme Franco de Andrade é doutor em História pela PUC-RS. E-mail: guilherme_
andrade@hotmail.com.
GUILHERME FRANCO DE ANDRADE
sua história, pois sua formação vai além das suas fronteiras, regiões, Esta-
dos e nações, sendo que não teria como sobrepor uma ordem de importân-
cia, ou maior relevância em uma característica sobre a outra. Investigar
como se deram essas transformações é o que contribui para a abordagem
do processo real de construção das nações europeias.
Além das questões da formação das fronteiras e regiões europeias,
o autor também elucida a importância de outros fatores que contribuíram
para o desenvolvimento das nações modernas, como as questões de ordem
econômica, social e política que constituem questões específicas, resul-
tando em construções, invenções das “identidades” locais e regionais, que
são resultado também do mercado e da sociedade civil (PUHLE, 1994, p.
13). Dessa forma, uma nação é resultado da construção de diferentes regi-
ões, de diferentes Estados, com indivíduos de diferentes nações. E isso de-
vido à enorme riqueza cultural e da diversidade existente em toda a Europa.
Segundo Puhle, tais características do continente europeu impõem ao pes-
quisador o cuidado e a preocupação preliminar com duas questões de ex-
trema relevância. A primeira é a existência de um amplo material a ser mol-
dado, investigado e explorado. Já a segunda se refere aos processos histó-
ricos complexos de interações, interferências de instituições e até mesmo as
formas de violência a partir das quais são moldadas identidades. Estes são
aspectos, segundo o autor, igualmente importantes e não devem ser esque-
cidos (PUHLE, 1994, p. 13).
Para alguns pesquisadores, os movimentos nacionalistas tiveram
seu auge no final do século XIX e início do século XX, com o final da pós-
Segunda Guerra Mundial, que marcou a derrota do nazismo e do fascismo,
principais modelos políticos nacionalistas — uma conjuntura em que nacio-
nalismo perdeu sua emergência e significado para as massas. No plano po-
lítico, o discurso nacional foi substituído pela defesa do sistema capitalista,
———————
1
CAMUS, J-Y. Metamorfoses políticas na Europa. Le Monde Diplomatique Brasil, 01/05/2002.
Disponível em: <http://diplo.org.br/2002-05,a299>. Acesso em: 10/05/2011.
———————
2
A Federação dos Estudantes Nacionalistas (FEN) surgiu durante os anos da Guerra da Argélia,
no meio universitário. Era ultranacionalista, racista, xenófoba, antissemita e antiliberal. Seu
objetivo principal durante o conflito argelino era conseguir disseminar o seu programa
antidemocrático no meio universitário. Fundada por estudantes da Universidade de Sorbonne,
que se colocavam como “vanguarda”, tinha como objetivo desenvolver um projeto político para
a extrema direita. Os fundadores da FEN utilizavam os pseudônimos François d’Orcival e
Fabrice Laroche para assinar os textos produzidos por Amaury de Chaunac-Lanzac e Alain de
Benoist, respectivamente. Sua criação foi, aparentemente, uma resposta dos estudantes
conservadores à crescente vertente dos marxistas na academia francesa e dos movimentos
estudantis, em particular a Union Nationale des Étudiants de France (UNEF).
3
O MSI surgiu no cenário político italiano logo após a Segunda Guerra Mundial, fornecendo,
anos adiante, corpo à Alleanza Nazionale. As duas agremiações, com trajetória em comum,
auxiliam a compreender o processo e a possibilidade de definição conceitual de neofascismo.
Criado, inicialmente, a partir dos quadros do Partito Nazionale Fascista e da própria burocracia
do regime fascista italiano, o MSI buscava arregimentar o capital político e a mobilização
fascista após a queda do fascismo, mantendo alguns de seus referenciais e postulando a
herança fascista de modo explícito. A este respeito, ver: MARCHI, Riccardo. Movimento sociale
italiano, Alleanza Nazionale, popolo delle liberta: do neofascismo ao pós-fascismo em Itália.
Analise Social, v. XLVI, n. 201, 2011, pp. 697-717.
———————
4
Em tradução livre: “When the process of scientific catch-up is linked too much to the political
conditions, and the topicality of the definition of the problem becomes the main criterion for its
relevance, the acute danger of trivial, breathless, non-historical reflection exists. Political pur-
posiveness dominates or at least harms the level of knowledge of empirically crashed analyses.”
5
Em tradução livre: “The contemporary extreme right has emerged in socio-political and histor-
ical circumstances that are very different to the pre-war and war-time ones. Notably, liberal and
capitalist democracy has become more embedded in Western Europe, and the international
climate has evolved from Cold War to thaw, to take in the ‘fall of the wall’ and the retreat from
communism.”
———————
6
O nacionalismo será discutido no item 1.2.2. do presente texto.
exaltação das forças repressivas e que o visual estético seja uma forma de
geração do medo, nos partidos políticos o militarismo é deixado de lado
(SHIELDS, 2007). Muito embora o FN tivesse em suas fileiras vários ex-
combatentes da Guerra da Coréia e da Argélia, o partido nunca possuiu
milícias de combate ou relação direta com o exército francês.7 Esse ponto
remete de novo à questão do nacionalismo: como no fascismo, o nacionalis-
mo estava intimamente ligado ao exército e a seus feitos históricos, sobre-
tudo na exaltação dos heróis de guerra. No que diz respeito à extrema direita,
obviamente existe um respeito pelas forças armadas, mas nada mais do que
o respeito pelos soldados que defendem a nação, como em qualquer outro
país (SHIELDS, 2007).
Para Camus (1989), o que definiria os partidos de extrema direita
europeus como família partidária seria, em primeiro momento, uma matriz
ideológica em comum, constituída pelo nacionalismo (étnico), pelo auto-
ritarismo e pelo programa político de cunho “populista-nacionalista”. Embora
haja diferenças nas pautas políticas de cada partido que compõem essa
“família”, a ideologia é o que constituiu a principal característica de
aproximação entre eles. Conforme reitera Mudde (2000), o primeiro critério
utilizado para categorizar os partidos de extrema direita é a matriz ideológica
e política; são essas aproximações que os definem como membros dessa
subfamília política.
Os partidos de extrema direita estão inseridos no cenário democrá-
tico e agem dentro dos limites impostos pelas democracias ocidentais;
portanto, o uso do termo “extremo” não está associado à violência ou
qualquer referência ao fascismo, mas às concepções e posicionamentos
políticos, ao contrário do que aponta Norris.
———————
7
Sobre o período das guerras coloniais, ver: JAUFFRET & VAÏSSE, 2012; MONNERET, 2008,
pp. 144-145; MONTAGNON, 1984, pp. 127-128; STORA, 2005, p. 25; e ERVILLE, 2002.
———————
8
Em tradução livre: “Institutionalized right-wing extremism emphasizes the notion of inequality
of individuals and ‘extreme right-wing models of political and social order are rooted in a belief
in the necessity of institutionalised social and political inequality.”
9
A Nova Direita (Nouvelle Droite) é um movimento político intelectual francês criado por Alain
de Benoit, que criticava o multiculturalismo e a incompatibilidade entre as culturas (ocidentais
x orientais), bem como a necessidade legitima de resistência e segregação cultural. Tendo
enorme aceitação na Europa, inclusive no FN, foi a base ideológica para o racismo culturalista.
———————
10
Frente Nacional pela união francesa, nome que seria abandonado futuramente perma-ne-
cendo apenas o Frente Nacional (Front National).
———————
11
Opositores do presidente francês Charles de Gaulle, que ocupou o cargo durante a ocupação
nazista na França em 1944, no exílio, e também foi presidente entre 1959 a 1969.
———————
12
Parti des Forces Nouvelles (PFN) é um partido criado em 1974 por dissidentes do Front
National (e também da Ordre Noveau).
———————
13
Em tradução livre : “Totalement désarmée par trente d’ans d’inaction et de reculades face à
la mondialisation, la France doit revenir dans le jeu des Nations. L’emploi, la réindustrialisation
du pays, l’égalité entre les Français, l’aménagement du territoire et la vitalité des services publics
en dépendent. En raison de notre histoire nationale, c’est naturellement l’Etat qui sera le fer de
lance de ce réarmement de la France : un Etat fort capable d’imposer son autorité aux puis-
sances d’argent, aux communautarismes et aux féodalités locales".
Conclusão
———————
14
Em tradução livre: “Une défense nationale au service d’une ambition: protéger la France, dé-
fendre la liberté des nations [...]. La France est l’une des cinq premières puissances diploma-
tiques et militaires du monde. Or, nos gouvernements ne considèrent plus la Défense nationale
que sous l’angle des économies budgétaires, ou bien de la participation à des interventions
multinationales souvent hasardeuses, et dans lesquelles l’intérêt national n’est pas évident.
Parce qu’il ne peut y avoir de grande Nation sans grande armée, notre politique de défense se
doit d’être à la hauteur de notre ambition nationale et internationale.
Referências
ANDERSON, B., Imagined communities: reflection on the origin and spread of nation-
alism. London: Verso, 1983.
CARTER, Elisabeth. The extreme right in Western Europe: success or failure?. Man-
chester: Manchester University Press, 2005.
CONNOR, Walker Ethnonationalism in the First World: The Present in Historical Per-
spective. In: Ethnonationalism. The quest for understanding. Princeton, N.J.: Prince-
ton University Press, 1994.
DAVIES, Peter. The extreme right in France, 1789 to the present: from the Maistre to
Le Pen. New York and London: Routledge, 2002.
________. The Front National and Catholicism: from intégrisme to Joan of Arc and
Clovis. Religion Compass, n. 4, 2010, pp. 576-587.
________. The National Front in France: ideology, discourse, and power. New York:
Routledge.1999.
________. The political symbolism of Joan of Arc in Front National discourse. Politics,
v. 13, issue 2, 1993, pp. 10-17.
FRIEND, J. Stateless nations. Western European stateless nationalisms and the old
nations. Houndmills: Palgrave Macmillan, 2012.
________. Notre projet, Programme Politique du Front National. FN, Paris, 2012.
GILDEA, R. France since 1945. New York and Oxford: Oxford University Press, 2002.
HAINSWORTH, Paul. The extreme right in France: the rise and rise of Jean-Marie Le
Pen’s Front National. Representation, n. 40, 2004.
________. The Extreme Right in Western Europe. New York: Routledge, 2008.
HROCH, M. Nationalism and national movements: comparing the past and the pre-
sent of Central and Eastern Europe. Nations and Nationalism, v. 2, n. 1, 1996.
JAUFFRET, J-C & VAÏSSE, M. Militaires et guérilla dans la guerre d'Algérie. Bruxelles:
André Versailles Éditeur, 2012.
KYMLICKA, W. Nation-building and minority rights: comparing East and West. Journal
of Ethnic and Migration Studies, v. 26, n. 2, 2000.
LE PEN, Jean Marie. Dossier pour un vrai code de la nationalité. National Hebdo Ma-
dère, n.140, semaine du 26 mars au 1er avril, 1987.
MARCUS, J. The National Front and French politics. London: Macmillan, 1995.
MAYER, Nonna; SINEAU, Mariette. France: the Front National. In: AMSBERGER,
Helga. Rechtsextreme Parteien. Leverkusen: Leske & Budrich, 2002.
MUDDE, Cas. The ideology of the extreme right. Manchester and New York:
Manchester University Press, 2000.
PUHLE, Hans-Jürgen. Nation states, nations, and nationalisms in Western and South-
ern Europe. In: BERAMENDI, J. et al. (Eds.). Nationalism in Europe: past and present.
Santiago de Compostela: Universidad de Santiago de Compostela, 1994, vol. II.
SHIELDS, James G. The extreme right in France: from Pétain to Le Pen. London and
New York: Routledge, 2007.
SILVA, Glaydson José da. O mundo antigo visto por lentes contemporâneas: as
extremas direitas na França nas décadas de 1980 e 90, ou da instrumentalidade da
Antiguidade. História, v. 26, 2007, pp. 98-118.
SIMMONS, Harvey G. The French National Front: the extremist challenge to democ-
racy. Oxford: Westview, 1996.
SPEKTOROWSKI, Alberto. Ethnoregionalism: the intellectual new right and the Lega
Nord. The Global Review of Ethnopolitics, v. 2, n. 3, 2003, pp. 55-70.
STIRBOIS, J.-P. L’Avenir nous appartient. Paris: Editions National Hebdo, 1988.
STORA, B. Les mots de la guerre d'Algérie. Paris: Presses Univ. du Mirail, 2005.
———————
* Jefferson Rodrigues Barbosa é professor de Teoria Política no Departamento de Ciências
Políticas e Econômicas (DCPE) da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual
Paulista (Unesp). E-mail: jrb@marilia.unesp.br.
JEFFERSON RODRIGUES BARBOSA
ESTREMA DESTRA I NUOVO FASCITI: CASA POUND... SOB A PERSPECTIVA DE ANTONIO GRAMSCI | 88
JEFFERSON RODRIGUES BARBOSA
ESTREMA DESTRA I NUOVO FASCITI: CASA POUND... SOB A PERSPECTIVA DE ANTONIO GRAMSCI | 89
JEFFERSON RODRIGUES BARBOSA
ESTREMA DESTRA I NUOVO FASCITI: CASA POUND... SOB A PERSPECTIVA DE ANTONIO GRAMSCI | 90
JEFFERSON RODRIGUES BARBOSA
———————
1
TOM, Kington. Ital's fascists sta true to Mussolini's ideology. The Guardian, 06/11/2011.
Disponível em: <http://www.theguardian.com/world/2011/nov/06/italy-fascists-true-mussolini-
ideology>. Acesso em: 07/04/2016.
2
VERDÙ, Daniel. Fascismo renovado assume nova força na Itália. El País, 20/09/2017. Dispo-
nível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/17/internacional/1505669165_912633.html>.
Acesso em: 22/01/2018.
ESTREMA DESTRA I NUOVO FASCITI: CASA POUND... SOB A PERSPECTIVA DE ANTONIO GRAMSCI | 91
JEFFERSON RODRIGUES BARBOSA
———————
3
Disponível em: <http:// casapounditalia.org/p/le-faq-di-cpi.html>. Acesso em: 22/01/2018.
ESTREMA DESTRA I NUOVO FASCITI: CASA POUND... SOB A PERSPECTIVA DE ANTONIO GRAMSCI | 92
JEFFERSON RODRIGUES BARBOSA
ESTREMA DESTRA I NUOVO FASCITI: CASA POUND... SOB A PERSPECTIVA DE ANTONIO GRAMSCI | 93
JEFFERSON RODRIGUES BARBOSA
———————
4
GRAMSCI, A. “La crisis de la pequeña burguesía”, L’Unità, 02/07/1924. In: SANTARELLI, E.
Sobre el fascismo, 1979, pp. 151-153.
ESTREMA DESTRA I NUOVO FASCITI: CASA POUND... SOB A PERSPECTIVA DE ANTONIO GRAMSCI | 94
JEFFERSON RODRIGUES BARBOSA
———————
5
Ibidem, p. 165.
6
GRAMSCI, A. Después del discurso del 3 de enero. Situación política. Acta de la relación al
Comitê Central del Partido Comunista del 6 de febrero de 1925 (título do editor). In: SANTA-
RELLI, E. Sobre el fascismo, 1979, pp. 178-179.
ESTREMA DESTRA I NUOVO FASCITI: CASA POUND... SOB A PERSPECTIVA DE ANTONIO GRAMSCI | 95
JEFFERSON RODRIGUES BARBOSA
———————
7
GRAMSCI, A. Cadernos do cárcere, v. 4. Americanismo e Fordismo. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2001, pp. 276-277.
8
Ibidem, p. 278.
ESTREMA DESTRA I NUOVO FASCITI: CASA POUND... SOB A PERSPECTIVA DE ANTONIO GRAMSCI | 96
JEFFERSON RODRIGUES BARBOSA
ESTREMA DESTRA I NUOVO FASCITI: CASA POUND... SOB A PERSPECTIVA DE ANTONIO GRAMSCI | 97
JEFFERSON RODRIGUES BARBOSA
———————
9
SANTARELLI, Enzo. Sobre el fascismo. Roma: Editori Riuniti, 1974.
ESTREMA DESTRA I NUOVO FASCITI: CASA POUND... SOB A PERSPECTIVA DE ANTONIO GRAMSCI | 98
JEFFERSON RODRIGUES BARBOSA
———————
10
Casa Pound Itália. Disponível em: <http://www.casapounditalia.org>. Acesso em: 23/01/2018.
ESTREMA DESTRA I NUOVO FASCITI: CASA POUND... SOB A PERSPECTIVA DE ANTONIO GRAMSCI | 99
JEFFERSON RODRIGUES BARBOSA
ESTREMA DESTRA I NUOVO FASCITI: CASA POUND... SOB A PERSPECTIVA DE ANTONIO GRAMSCI | 100
JEFFERSON RODRIGUES BARBOSA
Referências
________. Dio patria famiglia. Plínio salgado e gli “integralisti” brasiliani. Historia
Magistra, v. 1, 2015, pp. 15-29.
DEL ROIO, M. Os prismas de Gramsci: a fórmula política da frente única. São Paulo:
Xamã, 2005.
ESTREMA DESTRA I NUOVO FASCITI: CASA POUND... SOB A PERSPECTIVA DE ANTONIO GRAMSCI | 101
JEFFERSON RODRIGUES BARBOSA
DI NUNZIO, Daniele; TOSCANO, Emanuele. Dentro e fuori Casa Pound: capire el fa-
scismo del terzo millennio. Roma: Armando Editore, 2011.
DI TULLIO, D. Nessun Dolore: uma storia di Casa Pound. Milano: RCS Libri, 2010.
________. Centri Sociali di destra: ocupazione e culture non conformi. Roma: Castel-
vecchi, 2006.
FASANELLA, Giovanni; GRIPPO, Antonela. L’Orda Nera. Milano: RCS Libri, 2009.
FRESU, G. Eugenio Curiel. Il lungo viaggio contro il fascismo. Roma: Odradek, 2013.
FROSINI. Fábio. Il fascismo nei Quaderni del carcere. Roma: IGS Italia, seminario del
22 gennaio 2016.
________. “Pueblo” y “guerra de posicion como clave del populismo. Una lectura de
los Cadernos de la Carcere de Antonio Gramsci. Caderno e Ètica y Filosofia Política,
n. 3, Lima, 2014, pp. 63-82.
________. I “Quaderni” tra Mussolini e Croce. Crítica Marxista, 2012, pp. 60-68.
ESTREMA DESTRA I NUOVO FASCITI: CASA POUND... SOB A PERSPECTIVA DE ANTONIO GRAMSCI | 102
JEFFERSON RODRIGUES BARBOSA
________. Quaderni del cárcere: edizione critica dell’Istituto Gramsci. Turim: Giulio
Einaudi, 2001.
ESTREMA DESTRA I NUOVO FASCITI: CASA POUND... SOB A PERSPECTIVA DE ANTONIO GRAMSCI | 103
JEFFERSON RODRIGUES BARBOSA
________. Lições sobre o fascismo. São Paulo: Livraria e Editora Ciências Humanas,
1978.
ESTREMA DESTRA I NUOVO FASCITI: CASA POUND... SOB A PERSPECTIVA DE ANTONIO GRAMSCI | 104
O populismo de direita e suas
estratégias de sobrevivência na
Alemanha: o Alternativ für
Deutschland (AfD)
Vinícius Liebel*1
Introdução
———————
* Vinícius Liebel é historiador, doutor em Ciência Política pela Freie Universität Berlin (FU-Berlin),
com bolsa integral do Deutscher Akademischer Austauschdienst (DAAD). Professor adjunto de
História Contemporânea da UFRJ. Pesquisador associado ao Núcleo Interdisciplinar de Estudos
Judaicos NIEJ-UFRJ e do Núcleo de Estudos Contemporâneos (NEC-UFF).
VINÍCIUS LIEBEL
A decisão foi criticada por analistas alemães, sobretudo por dar sal-
vo-conduto a discursos de ódio e preconceituosos no campo político ale-
mão. Esse juízo não encontra apenas no NPD seu efeito, mas também em
uma série de movimentos e partidos de caráter populista de direita que têm
subido o tom de suas falas nos últimos anos. Ainda que o cenário não seja
o de domínio da opinião pública por esse tipo de discurso, não há dúvidas
de que ele vem-se tornando cada vez mais comum, naturalizando algumas
posições que possibilitam o crescimento desses movimentos e partidos. De
fato, uma das argumentações mais utilizadas é a de que esse tipo de deci-
são jurídica, somado a uma série de espaços que vêm sendo abertos aos
defensores de discursos tidos como problemáticos à democracia, torna na-
turais e aceitas as práticas e ideias racistas, autoritárias e preconceituosas.
A publicação do livro de Thilo Sarrazin, Deutschland schafft sich ab:
Wie wir unser Land aufs Spiel setzen (2010), pode ser apontada como o
ponto de virada para essa conjuntura no passado mais recente da Alema-
nha. Preocupado com o que chama de “conquista da Alemanha através da
fertilidade”, o autor denuncia um crescimento desproporcional entre as ca-
madas alemã e turca em seu país, o que, aliado a fatores “hereditários e de
herança cultural”, promoveriam uma desgermanização cultural e racial da
Alemanha. O livro é um panfleto pela contenção da imigração em direção à
Alemanha, e um apelo pela assimilação por parte dos imigrantes legalizados
dos valores, língua e legislação alemães. A linguagem implícita promove a
diminuição dos imigrantes, e não são raros os elementos francamente euge-
nistas utilizados no desenvolvimento da argumentação. O lançamento do li-
vro causou grande alvoroço, trazendo, de forma bastante contundente, o
debate sobre a assimilação dos imigrantes na sociedade alemã, em particu-
lar os de origem árabe e turca.
———————
1
Ver: <http://www.sueddeutsche.de/politik/zulauf-fuer-pegida-protestieren-in-dresden-gegen-
ueberfremdung-1.2301366>.
2
Por exemplo, em HUESMANN (2015). Disponível em: <http://blog.zeit.de/stoerungsmel-
der/2015/01/13/pegida-in-duesseldorf-nazis-hools-und-rechtspopulisten_18174>. E também
em EICHSTÄDT (2015). Disponível em: <https://www.welt.de/politik/deutschland/arti-
cle136047773/Das-Nazi-Vokabular-der-Pegida-Wutbuerger.html>.
———————
3
Disponível em: <http://www.faz.net/aktuell/politik/inland/meinungsforschung-umfrage-sieht-
18-prozent-fuer-sarrazin-partei-11040003.html>.
———————
4
Em julho de 2015, Lucke e outros dissidentes fundaram o ALFA (Allianz für Fortschritt und
Aufbruch), que meses mais tarde, por questões legais de nomenclatura, mudou seu nome para
LKR (Liberal-Konservative Reformer).
———————
5
Disponível em: <http://www.zeit.de/2016/17/alexander-gauland-afd-cdu-konservatismus>.
———————
6
Disponível em:<http://www.zeit.de/politik/deutschland/2016-05/alexander-gauland-afd-vorab-
meldung>.
7
Por exemplo, ao classificar os militantes esquerdistas radicais como “excrecências no corpo
da nação”, uma retórica de metáforas médico-biológicas que é intimamente ligada ao discurso
nazista. Disponível em: <http://www.faz.net/aktuell/politik/inland/sachsen-anhalt-afd-landes-
chef-poggenburg-nutzt-ns-vokabular-14835065.html>.
8
Disponível em: <http://www.stern.de/politik/deutschland/bjoern-hoecke--seine-fuenf-provozie-
rendsten-auftritte-7325160.html>.
9
Até abril de 2017. Este texto foi redigido antes das eleições nacionais de 2017, não contando,
portanto, com o desempenho da AfD neste pleito. Pesquisas de março de 2017, entretanto,
davam conta de que a AfD, que já havia chegado a ocupar a segunda colocação nas
pesquisas, encontrava-se com cerca de 7% das intenções de voto, atrás de CDU, SPD,
Esquerda e Verdes. Disponível em: <http://www.zeit.de/politik/deutschland/2017-03/afd-
wahlumfrage-niedrigster-stand-fluechtlingskrise-frauke-petry>.
24% dos votos. Uma pesquisa com os eleitores da Alternative (apud FUNKE,
2016, pp. 80-81) mostrou que as motivações para esses eleitores que esco-
lheram a AfD variaram de desapontamento com os partidos tradicionais
(64%), sentimento de exclusão do crescimento econômico (73%) e a perce-
pção de perda individual no desenvolvimento social (47%). Em síntese, o
que moveu o sucesso do partido foram o ressentimento e a frustração de
parcela do eleitorado. O discurso mais incisivo, a ligação com movimentos
de massa de direita e a tática da agitação alteraram o caráter do partido,
que passou a investir na retórica vazia e nas manchetes sensacionalistas em
detrimento de um programa partidário. O que transparece dessa ala do AfD
que ascende e se torna hegemônica em 2015 (e que, é necessário frisar, já
existia antes, mas era eclipsada por discussões econômicas e políticas) é
que as estratégias expressivas que são por ela empregada promovem um
enquadramento discursivo e metafórico que visa, a um só tempo, a propaga-
ção de um discurso de ódio camuflado de um verniz político respeitável, a
diminuição da vigilância contra esse discurso através do meio (partido polí-
tico) pelo qual é propagado, e a transformação desses pontos controversos
em temas de debate aceitáveis na arena pública.
———————
10
Por exemplo, em: <https://www.welt.de/newsticker/dpa_nt/infoline_nt/brennpunkte_nt/arti-
cle156393161/Muslimische-Einwanderung-bedroht-Europa.html>.
———————
11
Disponível em: <http://www.spiegel.de/politik/deutschland/afd-beatrix-von-storch-wird-im-
netz-verspottet-a-1076209.html>.
———————
12
O medo e o preconceito com os quais essas imagens dialogam têm sido produzidos e
difundidos pela imprensa por anos, de forma sistemática, ao reportarem “o perigo islâmico”, o
terrorismo e o “choque de civilizações”. Monika Schwarz-Friesel (2014), em artigo que analisa
mais de 100.000 reportagens da imprensa alemã sobre o fenômeno do Terrorismo entre os anos
de 1993 e 2011, aponta a composição imaginária que é utilizada em sua descrição, de carga
fortemente emocional, que vão desde a alegoria da Hidra até a metáfora do câncer. Esse
substrato de medo e de insegurança é que sustenta parte da retórica da AfD e de outros grupos
de extrema direita na temática da islamofobia.
———————
13
Disponível em: <https://www.welt.de/politik/deutschland/article163446354/AfD-ist-einer-der-
wenigen-Garanten-juedischen-Lebens.html>.
———————
14
A imagem está disponível em: <http://uebermedien.de/14394/die-afd-hat-ein-naeschen-fuer-
antisemitismus>.
———————
15
Ver: <http://www.tagesspiegel.de/politik/hoecke-rede-im-wortlaut-gemuetszustand-eines-
total-besiegten-volkes/19273518.html>.
———————
16
Disponível em: <http://www.zeit.de/2016/34/wolfgang-gedeon-antisemitismus-afd>.
———————
17
Jan-Werner Müller (2016, p. 20) defende que a análise do populismo não deve se centrar nos
sentimentos e nas subjetividades, sob o risco de cairmos em um psicologismo raso. Entretanto,
abandonar completamente esse ponto nos parece também um caminho para o reducionismo,
em particular na análise de um fenômeno que, como demonstramos aqui, faz constante
referência e se utiliza de uma retórica bastante violenta e emotiva. O Populismo não é um
fenômeno estritamente emocional, mas também não deixa de sê-lo.
———————
18
O programa está disponível em: <http://www.berliner-zeitung.de/familie/zurueck-in-die-50er-
diese-familienpolitik-meint-die-afd-wirklich-ernst-23724138>.
———————
19
Ver, por exemplo: <http://www.taz.de/!5043854>.
———————
20
Ver, por exemplo: <http://www.tagesspiegel.de/politik/afd-jugend-gegen-feminismus-fuer-
hausfrauen-und-gegen-vorstandschefinnen/9634926.html>.
Conclusão
Referências
BRUNS, J. et al. Rechte Kulturrevolution – Wer und was ist die Neue Rechte von
heute? Hamburg: VSA, 2015.
FUNCK, M. Wolfgang Gedeon – wie antisemitisch ist dieser AfD-Politiker? Die Zeit,
06/09/2016. Disponível em: <http://www.zeit.de/2016/34/wolfgang-gedeon-antisemi-
tismus-afd>.
________. Der grüne Kommunismus und die Diktatur der Mindheiten. Frankfurt:
Fischer, 2012.
LIEBEL, V. Politische Karikaturen und die Grenzen des Humors und der Gewalt – Eine
dokumentarische Analyse der nationalsozialistischen Zeitung Der Stürmer. Opladen
& Farmington Hills: Budrich Unipress, 2011.
MEYER, T. Politik und Medien. In: Soziale Welt. Sonderband 14 – Der Begriff des
Politischen. Baden-Baden, Nomos, 2003, pp. 263-280.
SARRAZIN, T. Deutschland schafft sich ab: wie wir unser Land aufs Spiel setzen.
Berlin: Deutsche Verlag, 2010.
________. Europa braucht den Euro nicht – Wie uns politisches Denken in die Krise
geführt hat. Berlin: Deutsche Verlag, 2012.
———————
* Termo usado por Piero Ignazi, para descrever o lugar do Movimento Social Italiano (MSI) : Il
1
Por mais impressionante que seja esse resultado, que leva o partido
a níveis sem precedentes para qualquer tipo de eleição, 1 trata-se de um
resultado ambíguo. De fato, Marine Le Pen foi bastante derrotada no segun-
do turno por Emmanuel Macron (66% dos votos). Não chegou a 40% julga-
dos alcançáveis segundo uma pesquisa da IPSOS cinco dias antes do
escrutínio,2 padecendo seu fraco desempenho durante o debate televisio-
nado em 3 de maio entre os dois candidatos, durante o qual mostrou uma
carência frente às problemáticas econômicas e uma ausência clara de es-
tatura presidencial. Ela nem confirmou no primeiro turno o nível das inten-
ções de voto que previam as pesquisas até o primeiro debate televisionado
em 4 de abril entre os onze candidatos e até o qual lhe foi creditado entre
24% e 25,5%.
Suas hesitações entre a saída da União Europeia e do Euro, por um
lado, que é a doutrina tradicional da FN, e a transformação da moeda única
em moeda comum, por outro lado, obscureceram sua imagem de “separa-
tista integral” sem tranquilizar os eleitores da direita tradicional, que, deso-
rientados com a derrota de François Fillon, poderiam ter aceitado sua candi-
datura, pelo menos no segundo turno.
Finalmente, o pacto entre Nicolas Dupont-Aignan e Marine Le Pen,
concluído em 28 de abril e pelo qual o presidente do Debout la France (DLF,
“França de pé”, em tradução livre) concordou em se tornar o primeiro-
ministro da líder frontista, se fosse eleita, não permaneceu: em 15 de maio,
o líder do DLF anunciou que seu movimento se canditava em toda parte nas
eleições legislativas, incluindo candidatos da FN que estavam em disputa.
———————
1
Nas eleições presidenciais de 2012, Marine Le Pen tinha conseguido 6,421 milhões de votos.
2
Esta pesquisa IPSOS-Steria para Radio France, do dia 2 de maio de 2017, lhe atribuia entre
37% e 43% dos votos.
PODE A FRENTE NACIONAL AO PODER CHEGAR? O TERCEIRO EXCLUÍDO DA VIDA POLÍTICA | 135
JEAN-YVES CAMUS
PODE A FRENTE NACIONAL AO PODER CHEGAR? O TERCEIRO EXCLUÍDO DA VIDA POLÍTICA | 136
JEAN-YVES CAMUS
———————
3
Tweet de L. Wauquiez em 17 de maio de 2017.
PODE A FRENTE NACIONAL AO PODER CHEGAR? O TERCEIRO EXCLUÍDO DA VIDA POLÍTICA | 137
JEAN-YVES CAMUS
———————
4
De acordo com uma pesquisa da Ipsos-Steria, realizada entre 4 de maio e 6 de maio, apenas
7% dos eleitores de Mélenchon optaram para sobre Marine Le Pen. 24% se abstiveram no
segundo turno. Outra pesquisa realizada pela Harris Interactive em 6 de abril de 2017 mostra
que aqueles que pretendiam votar em Mélenchon foram motivados principalmente pela luta
contra as desigualdades (66%), o emprego (48%) e o meio ambiente (41%), ao passo que os
de Le Pen davam mais importância à imigração (80%), à luta contra o terrorismo (64%) e à
segurança das pessoas e dos bens (44%).
5
Os dados seguintes foram retirados da pesquisa IPSOS-Sopra Steria para a France Télévisi-
ons, Radio France LCP-Public Sénat, RFI-France 24, Le Point et Le Monde, publicada em 24 de
abril.
PODE A FRENTE NACIONAL AO PODER CHEGAR? O TERCEIRO EXCLUÍDO DA VIDA POLÍTICA | 138
JEAN-YVES CAMUS
frontista deve ser cruzado com duas variáveis: o fato de votar e o baixo nível
de escolaridade.
Por último, o eleitorado de maior idade, aquele com a maior taxa de
participação, é um limite importante para a FN, segundo o qual a candidata
obteve 19% dos votos nos eleitores de 60 a 69 anos, bem atrás de Fillon
(27%) e Macron (26%). Esta rejeição da FN ainda aumenta no caso dos
eleitores de mais de 70 anos, dos quais 49% votaram em Fillon, 27% em
Macron e apenas 10% na presidente da FN.
Finalmente, é necessário localizar geograficamente as áreas onde
domina o voto frontista. Fica claro que moradores de grandes cidades votam
muito pouco em favor da FN (menos de 5% em Paris, 7,39% em Bordeaux,
8,86% em Lyon), exceto em Marselha (23,66%). A regra de que “quanto mais
se afasta das grandes cidades, mais o voto fronstista aumenta” continua vá-
lida, e certos territórios rurais ou suburbanos colocam Marine Le Pen no topo
dos votos no segundo turno (assim foi no Aisne com 52,91%), ou muito per-
to da maioria (Haute-Marne: 49,52%, Córsega do Sul: 49,41%, Ardenas:
49,27%, Meuse: 48,38%, Haute-Saône: 48,29%). Comparando com 2012, Le
Pen vê sua pontuação crescer em quase toda parte; porém, mais do que a
média no norte (+ 9% no Pas de Calais), no nordeste da França e no Var.
Esta observação parece confirmar a ideia de uma presença local que está
se expandindo em áreas onde a FN tem responsabilidades municipais des-
de 2014 e onde há um trabalho de campo de longa data por líderes locais
bem estabelecidos, oriundos da região ou pelo menos “conquistando-a" com
constância. Isto foi confirmado nas eleições legislativas em que a FN obteve
5 cadeiras em 8, nos dois departamentos do Nord e do Pas de Calais,
incluindo o de Marine Le Pen, eleita com 58,6%, enquanto o partido venceu
2 cadeiras no Hérault e no Gard onde a FN gerencia as cidades de Beziers
e Beaucaire, a última cadeira pertencendo por pouco a Louis Aliot, vice-
PODE A FRENTE NACIONAL AO PODER CHEGAR? O TERCEIRO EXCLUÍDO DA VIDA POLÍTICA | 139
JEAN-YVES CAMUS
———————
6
Ou seja, o mais alto nível registrado desde o início da Quinta República, em 1958.
PODE A FRENTE NACIONAL AO PODER CHEGAR? O TERCEIRO EXCLUÍDO DA VIDA POLÍTICA | 140
JEAN-YVES CAMUS
———————
7
Pesquisa BVA, de 7 de maio de 2017.
PODE A FRENTE NACIONAL AO PODER CHEGAR? O TERCEIRO EXCLUÍDO DA VIDA POLÍTICA | 141
JEAN-YVES CAMUS
PODE A FRENTE NACIONAL AO PODER CHEGAR? O TERCEIRO EXCLUÍDO DA VIDA POLÍTICA | 142
JEAN-YVES CAMUS
———————
8
O Compassionate Conservatism, caracterizado em parte pela fé religiosa cristã de seus segui-
dores, admite tanto a necessidade de uma política fiscal e orçamentária classicamente conser-
vadora quanto a de um dever de ajudar os mais pobres. Seu declínio a partir do surgimento do
Tea Party pode vir precisamente porque constituía um tipo de condescendência de caridade,
enquanto a classe trabalhadora e a média já rejeitavam o livre comércio e da globalização.
9
Sobre esta evolução do Partido Republicano, cf. Dionne Jr. (2016).
PODE A FRENTE NACIONAL AO PODER CHEGAR? O TERCEIRO EXCLUÍDO DA VIDA POLÍTICA | 143
JEAN-YVES CAMUS
———————
10
Particularmente, o livro de Guy Hermet, Les populismes dans le monde (2001), ou de Juan J.
Linz, Régimes totalitaires et autoritaires (2000).
PODE A FRENTE NACIONAL AO PODER CHEGAR? O TERCEIRO EXCLUÍDO DA VIDA POLÍTICA | 144
JEAN-YVES CAMUS
———————
11
Como Les chemises vertes do deputado nacionalista Henri Dorgères, na França dos anos
1930.
12
Paradoxalmente, há pelo menos um caso extremo proclamando-se social-democrata, o parti-
do Smer, do primeiro-ministro eslovaco Robert Fico, cujas declarações e práticas, tanto xenófo-
bas como nacionalistas e jogando sobre a oposição entre o povo e as elites, são claramente
nacional-populistas.
PODE A FRENTE NACIONAL AO PODER CHEGAR? O TERCEIRO EXCLUÍDO DA VIDA POLÍTICA | 145
JEAN-YVES CAMUS
———————
13
Os números mais recentes disponíveis atribuem 58% dos votos para Trump entre os
trabalhadores brancos, enquanto o voto frontista teria atingido 43% entre os trabalhadores
franceses em 2015 e 71% entre os trabalhadores austríacos para o candidato FPÖ, na eleição
presidencial de maio de 2016.
PODE A FRENTE NACIONAL AO PODER CHEGAR? O TERCEIRO EXCLUÍDO DA VIDA POLÍTICA | 146
JEAN-YVES CAMUS
———————
14
A referência à escola de Rothbard, Murray e Nozick, e além deles a Frédéric Bastiat, é
frequente nos partidos populistas de direita, mas também liberais, da Europa do Leste (o KNP
Polaco mas também seu concorrente a lista KORWIN, o Partido dos Cidadãos Livres na
República Tcheca, o Partido da Reforma da Estônia). Não é um indicador de extremismo polí-
tico.
PODE A FRENTE NACIONAL AO PODER CHEGAR? O TERCEIRO EXCLUÍDO DA VIDA POLÍTICA | 147
JEAN-YVES CAMUS
———————
15
O partido agrário SMP, de onde vêm “Os Verdadeiros Finlandeses”, tinha chegado ao go-
verno pela primeira vez em 1983.
PODE A FRENTE NACIONAL AO PODER CHEGAR? O TERCEIRO EXCLUÍDO DA VIDA POLÍTICA | 148
JEAN-YVES CAMUS
PODE A FRENTE NACIONAL AO PODER CHEGAR? O TERCEIRO EXCLUÍDO DA VIDA POLÍTICA | 149
JEAN-YVES CAMUS
PODE A FRENTE NACIONAL AO PODER CHEGAR? O TERCEIRO EXCLUÍDO DA VIDA POLÍTICA | 150
JEAN-YVES CAMUS
(3,71%), assim como o partido popular Nossa Eslováquia (LSNS), cujo líder,
Marian Kotleb, é governador da região Banka Bystrica desde 2013 e que,
desde março de 2016, tem 14 cadeiras com 8% dos votos, mesmo que es-
teja em concorrência com o partido nacional eslovaco (8,6% e 15 eleitos),
uma formação nacional-populista mais antiga e mais clássica. É muito cedo
para avaliar o vigor do fenômeno, mas não deixa de ser notável que, mesmo
se considerarmos que esses partidos cativam um voto de protesto e não de
adesão, formas bastante explícitas do fascismo reaparecem após o sumiço
considerado definitivo desde 1945.
Há consonâncias mínimas entre esses movimentos muito distintos:
nacionalismo em oposição à União Europeia; a recusa da OTAN e do
alinhamento da Europa com os Estados Unidos, bem como o desejo explícito
de construir um mundo multipolar no qual a Rússia seria um parceiro es-
tratégico e um modelo de valores sociais; o etnocentrismo, que não preza
mais a hierarquia das raças, mas que prestigia intensamente as diferenças
culturais; a necessidade de cada povo alcançar seu desenvolvimento em
seu próprio território; e, finalmente, uma capacidade muito real de aproveitar
a profunda crise de representação política que se apoderou da Europa
desde o desaparecimento das grandes ideologias mobilizadoras e do su-
posto esgotamento da história. Não obstante, há dúvidas de que os partidos
nacional-populistas serão os únicos a se valerem desse pensamento ideo-
lógico no futuro.
A hipótese é até plausível de que a democracia iliberal teorizada por
Fareed Zakaria (1997) domine o lado liberal-conservador da grande família
das direitas, do qual se distingue em particular pela oposição à primazia dos
direitos individuais, pela concepção organicista da sociedade e pela refuta-
ção ao princípio da separação de poderes. Temos que raciocinar como se
a fronteira entre a direita dominante e a extrema direita já tivesse se tornado
PODE A FRENTE NACIONAL AO PODER CHEGAR? O TERCEIRO EXCLUÍDO DA VIDA POLÍTICA | 151
JEAN-YVES CAMUS
Referências
LAVAU, G. À la recherche d’un cadre théorique pour l’étude du PCF. Revue Française
de Science Politique, 18-3, 1968, pp. 445-466.
———————
16
Cujo antigo presidente, Vaclav Klaus, foi o fundador.
PODE A FRENTE NACIONAL AO PODER CHEGAR? O TERCEIRO EXCLUÍDO DA VIDA POLÍTICA | 152
Ausência de consenso: os
partidos de extrema direita
como família partidária*
João Carvalho**1
———————
* Optou-se pela manutenção do português de Portugal como ortografia oficial do texto.
** João Carvalho é professor do Departamento de Ciência Política e Políticas Públicas do Insti-
tuto Universitário de Lisboa (ISCTE/IUL).
JOÃO CARVALHO
[...] uma ideologia que defende que estados devem ser ha-
bitados por membros do grupo nativo (a nação) e que
elementos não-nativos (pessoas e ideias) constituem, fun-
damentalmente, uma ameaça à homogeneidade do Estado-
nação. (MUDDE, 2007, p. 19)
Conclusões
Referências
________. The Divergent Paths of the FPO and Lega Nord. In: M. SCHAIN, A. et al.
Shadows over the Europe: the development and Impact of the extreme right in
Western Europe. USA: Palgrave Macmillan, 2002, pp. 61-81.
BOBBIO, N. Left and right: the significance of a political distinction. Oxford: Polity,
1996.
________. The impact of extreme-right parties on immigration policy in Italy and France
in the early 2000s. Comparative European Politics, v. 14, n. 5, 2016, pp. 663-685.
DOWNS, A. An economic theory of democracy. New York: Harper and Row, 1957.
________. Pariahs in their Midst: Belgian and Nowegian react to extremist threats.
West European Politics, v. 24, n. 3, 2001, pp. 23-42.
________. The rebirth of the “extreme right” in Western Europe? Parliamentary Affairs,
v. 53, n. 3, 2000, pp. 407-425.
________. (Ed.). The extreme right in Europe and the USA. London: Pinter Publishers,
1992.
HUNTINGTON, S. The clash of civilizations and the remaking of world order. New
York: Simon & Schuster, 1996.
HUSBANDS, C. How to tame the dragon, or what goes around comes around: a
critical review of some major contemporary attempts to account for extreme right. In:
SCHAIN, M. et al. The extreme right and immigration policy making: measuring direct
and indirect effects. USA: Palgrave Macmillan, 2002, pp. 39-60.
________. The extreme right: defining the object and assessing the causes. In:
SCHAIN, M. et al. The extreme right and immigration policy making: measuring direct
and indirect effects. USA: Palgrave Macmillan, 2002, pp. 21-38.
________. The radical right in Western Europe. USA: Michigan University Press, 1995.
MAIR, P., & MUDDE, C. The party family and its study. Annual Review Political
Science, v. 1, 1998, pp. 211-229.
MESSINA, A. The logics and politics of post-WWII Migration to Europe. New York:
Cambridge University Press, 2007.
MINKENBERG, M. The radical right in public office: agenda-setting and policy effects.
West European Politics, v. 24, n. 4, 2001, pp. 1-21.
________. (Ed.). The populist radical right. A reader. Oxon: Routledge, 2006.
SARTORI, G. (1976). Parties and party systems. A framework for analysis. Cambridge:
Cambridge University Press, 2005.
SCHAIN, M., ZOLBERG, A., & HOSSAY, P. Shadows over Europe: the development
and impact of extreme right in Western Europe. USA: PalgraveMacmillan, 2002.
TAGUIEFF, A. & TRIBALAT, M. Face au Front National: arguments pour une contre-
offensive. Paris: La Découverte, 1998.
WARE, A. Political parties and party systems. New York: Oxford University Press,
1996.