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Marcos Mendes
segunda-feira, 14 mar 2016
https://www.mises.org.br/BlogPost.aspx?id=2350
João, o frustrado
João é inteligente e nasceu numa família de classe alta. Estudou em boas escolas e
entrou para uma universidade pública, gratuita, no curso de Engenharia. Formado,
viu que os melhores salários iniciais de engenheiros estavam em R$ 5 mil.
Decepcionou-se.
Fez então concurso para um cargo de nível médio num tribunal: salário de R$ 9
mil mais gratificações, aposentadoria integral, estabilidade, expediente de seis
horas.
Amanhã João estará em frente ao Congresso, com seus colegas, todos em greve
por aumento salarial. Não terá o dia de trabalho descontado nem se sente
remotamente ameaçado de demissão.
Pedro, o incapaz
Pedro não tem muito talento intelectual. Mas sua família pôde pagar uma boa
escola, o que lhe garantiu uma vaga num curso não muito concorrido em
universidade pública. Carente de habilidades acadêmicas, Pedro não se adaptou e
mudou de curso duas vezes, deixando para trás centenas de horas-aula
desperdiçadas e duas vagas que poderiam ter sido ocupadas por outros estudantes
que jamais terão acesso àquela universidade. Foi fácil desistir dos cursos, pois
Pedro nada pagou por eles.
Mas não consegue, porque Márcia, funcionária daquele conselho, tem como
missão criar todo tipo de dificuldade às desfiliações e manter em dia a arrecadação
compulsória. Manuel desistiu e vai pagar a contribuição pelo resto de sua vida
profissional, ainda que não se beneficie em nada e pouca satisfação seja dada pelo
conselho profissional acerca do uso desse dinheiro.
O destino de Pedro
As limitações acadêmicas de Pedro o impedem de ser aprovado em concurso
público. Ele vai ser um medíocre professor numa escola de ensino fundamental de
segunda linha (pública ou privada), oferecendo ensino de baixa qualidade às novas
gerações das famílias que não podem pagar por uma escola melhor.
Pedro só conseguiu essa vaga porque há uma reserva de mercado: por lei, as
escolas de ensino fundamental só podem contratar professores com diploma de
nível superior. Fosse permitido contratar universitários, diversos graduandos em
Biologia — mais talentosos e motivados que o diplomado Pedro — estariam em
sala de aula, oferecendo boas aulas às crianças.
Chico, o sindicalista
Chico é um líder talentoso. Dirige uma central sindical que congrega os sindicatos
dos companheiros do Judiciário e dos professores, entre outras categorias. Chico
está em frente ao Congresso Nacional apoiando a greve de Pedro por melhores
salários. Faz um discurso contra os neoliberais, que só pensam em cortar gastos
públicos e arrochar os trabalhadores.
Chico não tem muito do que reclamar (embora, como líder sindical, a sua
especialidade seja, justamente, reclamar): além da remuneração paga pelo
sindicato (e custeada pelo imposto sindical, cobrado obrigatoriamente dos
trabalhadores), ele está aposentado pelo INSS desde os 52 anos de idade. Até o fim
da sua vida receberá muito mais do que contribuiu para a Previdência.
Conclusão
Nenhum dos personagens acima citados tem comportamento considerado ilegal.
Eles jogam o jogo de acordo com as regras que estão postas. O erro está nas regras.
Mudá-las requer superar as dificuldades das decisões coletivas. Não mudá-las
implica continuar desperdiçando talentos profissionais, queimando dinheiro
público, criando empregos improdutivos, destruindo empregos produtivos,
fazendo com que potenciais permaneçam inexplorados, mantendo o gasto público
excessivo, gerando oportunidades perdidas, e fornecendo incentivos errados.