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Eis a entrevista.
Qual a explicação?
Por trás disso, está o projeto de recolonizar a América Latina e obrigá-la a ser
somente exportadora de commodities (carne, alimentos, minerais...). E, nessa
perversa estratégia, o Brasil é central.
Por quê?
Porque é um país riquíssimo, uma reserva de bens naturais que faltam no mundo.
Como disse várias vezes o prêmio Nobel Joseph Stiglitz, nos próximos anos toda a
economia dependerá da ecologia. E o Brasil terá um papel primordial nesse
jogo.
Não.
Porque o governo anunciou que reprimirá qualquer protesto com o exército! Aqui
todos têm medo, mesmo que a discordância cresça. Mas dentro das paredes de
casa. Assistimos a uma triste forma de inércia popular.
O seu novo livro, “Soffia dove vuole” [Sopra onde quer] (no prelo, pela
editora Emi), fala do Espírito Santo. Por quê?
Os tempos inquietantes que estamos vivendo, exigem uma séria reflexão sobre o
Spiritus Creator.
Isso não é verdade. Existem estudos grandiosos sobre o Espírito, desde o de Yves
Congar até o de Jürgen Moltmann, em diálogo com o novo paradigma
cosmológico. Mas o que podemos dizer é isto: o Espírito Santo esteve quase
sempre à margem da hierarquia eclesiástica. E com razão.
Como assim?
Eu queria criar um equilíbrio entre carisma e poder. Mas esse equilíbrio deve
começar pelo carisma. Se se começa pelo poder, corre-se o risco de que isso
sufoque o carisma. Em vez disso, se se começa do carisma, impede-se que o poder
seja exercido de forma autoritária, limites são-lhe impostos, e ele é obrigado a se
colocar a serviço da comunidade.
Não é possível fazer uma teologia atualizada sem um diálogo profundo com a
nova visão do mundo proveniente das ciências da vida, da Terra, do cosmos.
Essa leitura já tem um século, mas não é hegemônica. São poucos os teólogos que
aceitaram esse desafio.
Por quê?
O principal objetivo do meu livro é afirmar que o diálogo com a ecologia e com a
nova cosmologia nos obriga a mudar o paradigma. O paradigma da filosofia e
da teologia ocidentais é de raiz grega, essencialista, baseado em natureza,
substância, essência e outros termos semelhantes que pertencem à área da
permanência, da estabilidade. Em vez disso, quando se fala de Espírito, tudo é
dinamismo, inovação. É preciso mudar a forma de pensar Deus, a história, a
Igreja. Deus é dinamismo de três pessoas divinas em comunicação entre si e com
a criação.
O senhor acha que a Igreja Católica está pronta para aceitar essas suas
reflexões?
Em cada país, a situação é diferente. Mas em toda parte faltam profetas. Com
Wojtyla e Ratzinger, assistimos ao retorno à grande disciplina, vimos uma
Igreja fechada em si mesma, preocupada com a ortodoxia, atenta a combater
inimigos como a modernidade, as novas liberdades. E, acima de tudo, distante do
povo, com uma teologia pobre e uma liturgia alheia à sensibilidade moderna.
Enquanto agora...?
Com o Papa Francisco, emerge outro tipo de Igreja, aberta como um hospital de
campanha, em que a centralidade não é tanto a ortodoxia, mas sim a pastoral do
encontro, da ternura, da convivência. Para o Papa Francisco, as doutrinas são
importantes, mas, acima de tudo, importa entender que Cristo veio para nos
ensinar a viver os bens do reino como o amor incondicional, a misericórdia, a
solidariedade, a compaixão por quem sofre, pelos últimos.
Mensagem recebida?
Não me preocupa, porque não o preocupa. Como eu sei disso? Ele dorme às
21h30, dorme até as 5h30 como uma pedra, bebe o seu mate e leva em frente,
franciscanamente, a sua missão, com uma irradiação mundial em sentido
religioso, ético e político. Nós nos conhecemos desde 1972. Troquei com ele
algumas cartas sobre temas de ecologia e sobre o Sínodo para a Amazônia de
outubro passado.
Algo de bom. Acima de tudo, sobre a defesa do rosto indígena da Igreja e sobre
as mulheres. Nas minhas cartas, eu pedi a ele que fizesse um gesto profético sem
pedir nada a ninguém, como João XXIII fez quando convocou o Concílio
Vaticano II.
Que gesto?
Ordenar as mulheres.
A existência dos pobres, dos oprimidos sempre me faz pensar em Jesus, em São
Francisco e em tantos outros que tiveram misericórdia deles.
http://www.ihu.unisinos.br/595923-a-nova-teologia-do-ecoceno-entrevista-com-
leonardo-boff