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Eis a entrevista.
Percebo como uma oportunidade única que o papa Francisco tem para fazer
mudanças. O que desde o centro do poder religioso no Vaticano não poderia
fazer jamais. Em primeiro lugar, destaca o caráter sinodal do encontro, isso é, as
decisões dependem de todos os participantes, inclusive dos povos originários.
O texto é claro: não se trata de converter as culturas, mas sim de evangelizar nas
culturas, de forma que possa nascer uma Igreja nova, com rosto indígena, com
sua sabedoria ancestral, com seus ritos e hábitos. Nesse contexto promove a
discussão sobre a oportunidade de consagrar para o ministério laical, a casados e
indígenas que conviverão nessas comunidades distantes. E, também, sobre um
ministério oficial das mulheres. Há bispos que propõem não se referir a “viri
probati” (homens de caráter provado) mas sim a “personae probatae” (pessoa de
caráter provado), com a possibilidade de ampliar o sacerdócio às mulheres.
Aqueles que, na Europa e Estados Unidos, a raiz das afirmações do texto básico,
acusam o Papa de heresia, são os mesmos que vivem como reféns do paradigma
europeu, esquecendo-se que o cristianismo atual nasceu da incorporação de
cultura grega, romana e germânica. Por que não permitir que hoje nossos povos
possam fazer o mesmo? Por trás das acusações ao Papa se esconde uma questão
de poder. Os que o acusam, não aceitam a emergência de outro tipo de Igreja, de
igrejas mais vitais e mais numerosas, com suas teologias e liturgias. Finalmente, é
importante recordar que a maioria dos católicos está nas Américas com 62% do
total, enquanto que os europeus são somente 25% de todos os católicos no
mundo.
O papa Francisco representa esse tipo novo de Igreja com outra visão do
exercício do poder sagrado, simples, evangélico, sem se agarrar em doutrinas e
dogmas, mas sim no encontro vivo com Jesus. Assumindo seu exemplo porque,
disse, veio para nos ensinar a viver o amor incondicional, a solidariedade, a
compaixão, a abertura total ao Deus-Paizinho (Nota: Deus papai, cuidador).
Não fui convidado. É preciso reconhecer que sou uma figura polêmica para
muitos bispos, apesar de todo o apoio que dei ao papa Francisco e o apoio
pessoal que recebi de sua parte. Porém colaboro com textos, alguns enviados
diretamente ao Papa e ao grupo Ameríndia (uma articulação de muitos grupos
da Igreja latino-americana) que estará presente em Roma.
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http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/593137-uma-possibilidade-unica-de-
mudanca-na-igreja-catolica-romana-entrevista-com-leonardo-boff-sobre-o-
sinodo-da-amazonia