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Dos dados:
Notificado:
CPF: 05872689721
Veículo: GOL/ VW
Infração:
Da qualificação:
Eu, Felipe Lins Santos, CPF nº 05872689721, residente e domiciliada na Rua Manoel
Correia 108, Piedade, Rio de janeiro, venho respeitosamente à presença de Vossa
Senhoria, com fundamento na Lei nº 9.503/97, interpor o presente recurso contra a
aplicação de penalidade por suposta infração de trânsito, conforme notificação anexa, o
que faz da seguinte forma.
Dos Fatos:
Para que fosse consistente e válido, tal auto de infração deveria o condutor ter sido
parado, autuado em flagrante, sob pena de ofensa aos Princípios do Devido Processo
Legal e da Ampla Defesa.
É sabido por todos que a conduta dos fiscais de trânsito de Santa Cruz do Sul deixa a
desejar, pois são infundadas pois, somente na existência de BLITZ existe o flagrante.
Porém não é o que acontece, sendo que, diariamente são aplicadas supostas multas sem
o motorista ao menos saber, pois quase nunca são parados.
Para ser educativo o motorista precisa ser devidamente parado, advertido verbalmente
E MULTADO se necessário, mas assim como é feito, se trata de caráter punitivo e de
abuso de poder.
O subjetivismo dessa multa é tão grande que chega a inverter o ônus da prova,
sabidamente inserido no artigo 333 do Código Processo Civil, sob a falaciosa ideia de
que o agente da autoridade, no caso, tem fé pública.
Aceitar-se que um simples agente municipal de trânsito tem em seu ato de multar a
presunção da verdade absoluta, é querer minimizar, fragilizar os direitos e garantias dos
cidadãos que trafegam com seus carros pelas avenidas da cidade. O condutor fica à
mercê dos humores, amores e desamores de um agente da autoridade, cuja caneta
vai fazendo vários reféns nas armadilhas orquestradas pela administração pública.
A multa aplicada pelo uso do telefone celular chega à casa dos cidadãos numa total
surpresa que não raro o condutor se questiona de como alguém pode afirmar que estava
neste dia, hora e local falando no celular? Por que o agente não fez o condutor parar
e assinar a multa? Então começa um verdadeiro processo Kafkiano[1]. Um agente que
não se sabe quando e onde viu, ou parece que viu o motorista dirigindo e usando o
celular. Se o carro estava parado, então o motorista poderia usar o celular. Não pode
fazê-lo quando em movimento. Neste caso, uma centena de fatos podem gerar o gesto
de o motorista levar a mão próximo do ouvido. Ainda que pareça pueril o argumento, o
movimento pode ser fruto de um breve mal estar, como uma coceira no ouvido, ou um
aparelho auditivo que esteja saindo do lugar ou, mesmo, o cordão dos óculos que se
desprendeu. Qualquer insignificante caso fortuito.
O que, em conclusão, importa é que o agente, ao seu talante, multa, do cume da sua "fé
pública". E o dano que esse gesto é capaz de causar não se limita, apenas, à esfera
financeira, mas acrescenta quatro pontos na CNH.
Quando se vive num Estado Democrático, exercitar a cidadania faz parte do processo.
Não se pode virar as costas às injustiças, aos engodos. Tem-se que se insurgir contra
esses impositores. Aceitar como verdadeira uma multa aplicada ao arbítrio de um
agente-fiscal de trânsito, é a mais absoluta manifestação de conformismo e desrespeito à
inteligência.
Ainda é oportuno ressaltar um fato da maior relevância: o que diz respeito à prova. A
simples alegação, como já visto, não significa prova. Está sob exame, agora, a aplicação
de multa sob a alegação de que o motorista usava, dirigindo, o telefone celular. De um
lado, o agente afirmando; de outro, o motorista, se for o caso, negando. Sabidamente,
como ensina basilar princípio de lógica material, ninguém pode provar o nada. Em se
tratando de prova, a analogia com o Processo Penal é evidente. Para elucidar, de
maneira objetiva e incontestável, a necessidade da existência de prova a respeito de um
fato alegado contra alguém, são oportunos os ensinamentos de ARANHA 1987, p.9)[2],
quando disserta sobre a Divisão do Ônus Probatório:
Ressalte-se que a aplicação de uma multa nada mais significa do que a prática de um ato
administrativo. E este, para sua concretização plena, necessita preencher requisitos
indispensáveis. No entendimento de ABREU (1998, p. 124)[3] “a simples menção do
dispositivo legal não basta para caracterizá-la, porque a infração é um fato, com suas
circunstâncias ou elementos constitutivos”.
A autoridade de trânsito deve ter em mente que a finalidade primeira do novo CTN não
é a sanção, a punição, mas, conforme dispõe o
Art. 5º, Capítulo II, do diploma legal referido: I- estabelecer diretrizes da política
nacional de trânsito, com vistas à segurança, à fluidez, ao conforto, à defesa ambiental e
à educação para o trânsito, e fiscalizar seu cumprimento.
Nesse sentir, entende-se que a nova legislação está preocupada com a educação e a
prevenção. Se é esse o objetivo da lei, nada mais natural que o agente - que é o
instrumento para que ela se concretize - aplique suas regras no intento de prevenir e
educar o cidadão, de forma preferencial. Caso contrário, estará desvirtuada a própria
aplicação da Lei. Não pode a Administração Pública fazer das multas um meio de
encher as burras do erário.
Enfocando um brocardo latino, pode-se dizer que allegatio et non probatio, quasi non
allegatio. Naturalmente, que aquilo que se alega se não se pode provar, sequer pode ser
considerada uma simples alegação. Logo, não há prova concreta de que o motorista
estaria dirigindo e usando o celular. Há só uma presunção.
Para finalizar, chega-se ao entendimento de que a multa aplicada pelo uso do telefone
celular, quando não preenchidas as formalidades para validade do ato, deverá ser
considerada insubsistente, conforme preceitua o art. 281, parágrafo único, I do CTB.
Deve ser arquivada.
DO DIREITO:
Termos em que,
Pede deferimento.