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PARA QUEM AINDA NÃO DESISTIU DE LUTAR

COMO AJUDAR
QUEM VOCÊ AMA
A VENCER O
ALCOOLISMO

COMO NÃO SE AFOGAR NO CAOS DO ALCOOLISMO


DO OUTRO

VITOR BLAZIUS
Como Ajudar Quem Você Ama a Vencer o Alcoolismo Vitor Blazius

Isenção de Responsabilidade

Todas as informações contidas neste guia são provenientes de meus


estudos e experiências profissionais com o tratamento de pacientes e
familiares de ao longo de vários anos. Embora eu tenha me esforçado ao
máximo para garantir a mais alta qualidade dessas informações e acredite
que todas as técnicas e métodos aqui ensinados sejam altamente efetivos
para qualquer cônjuge de alguém que tenha problemas com uso de
álcool, nenhum dos métodos ou informações foi cientificamente testado
ou comprovado nesta modalidade de treinamento por livro ou online, e
eu não me responsabilizo por erros ou omissões. Sua situação e/ou
condição particular pode não se adequar perfeitamente aos métodos e
técnicas ensinados neste guia. Assim, você deverá utilizar e ajustar as
informações de acordo com sua situação e necessidades. Este guia
incentiva e indica a busca de tratamento com profissional qualificado
presencialmente. Esse livro não deve ser encarado como substituição de
tratamento, mas sim como complemento. Se você a pessoa com a qual
você estiver convivendo tenha risco de ser violenta, não aplique o que
você vai aprender neste material. Em caso de risco de violência, você irá
precisar de orientações sob medida, que só um profissional qualificado
(como psiquiatra ou psicólogo) poderá lhe proporcionar individualmente.

Em nenhum momento há a intenção de difamar, desrespeitar, insultar,


humilhar ou menosprezar você leitor ou qualquer outra pessoa, cargo ou
instituição. Caso você acredite que alguma parte deste guia seja de
alguma forma desrespeitosa ou indevida e deva ser removida ou alterada,
pode entrar em contato diretamente comigo através do e-mail
vblazius@gmail.com.

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Você não tem permissão para vender este guia nem para
copiar/reproduzir o conteúdo do guia em sites, blogs, jornais ou
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sobre o autor

Vitor Blazius

Meu nome é Vitor Marcelo Blazius, sou médico, fiz duas


residências médicas pela universidade federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS), psiquiatria e psicoterapias. Hoje sigo atuando em
consultório particular em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, lidando
principalmente com alcoolismo e treinamento de familiares para
lidar com o alcoolista.

Registros no Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do


Sul:

- CREMERS: 39033
- RQE: 31116 (psiquiatra)
- RQE: 32262 (psicoterapeuta)

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Índice

Nota........................................................................................................................................ 8

O que esperar desse livro............................................................................................ 15

CAPÍTULO 1 - SOBRE O CONSUMO DE ÁLCOOL ..............................................17

Padrões de consumo do álcool .......................................................................17

Beber de baixo risco – baixo consumo, baixo risco de


problemas.............................................................................................................17

Beber problemático episódico (BPE) – alto consumo, alto risco


de problemas......................................................................................................21

Dependência do álcool – uso compulsivo, alto risco de


problemas............................................................................................................ 22
Critérios de dependência.............................................................................. 26
Abstinência de álcool - critérios diagnósticos (DSM - 5)................. 29
Dicas que sugerem dependência de álcool.......................................... 30
Mitos comuns da dependência de álcool ..................................................33
Quem é alcoolista bebe diariamente.......................................................30

Beber cerveja não tem problema, o problema é cachaça.............. 34

Quem é alcoolista não tem emprego.......................................................35

Não posso ser alcoolista, porque os exames que meu médico


pediu estão normais........................................................................................ 36

Não posso ser alcoolista, porque, eu sou o que menos bebe da


“turma”................................................................................................................... 37

Não tenho sinais de embriaguez, não bebo muito............................ 39

O mito de que a pessoa só bebe porque está deprimida ou


estressada............................................................................................................ 40

O alcoolismo passou, posso voltar a beber socialmente................. 42

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A pessoa precisa primeiro reconhecer que é um alcoólatra......... 43


Tratamento ................................................................................................................44
Internações..........................................................................................................47

CAPÍTULO 2 - REAÇÕES DA FAMÍLIA AO ALCOOLISMO DO OUTRO


QUE COSTUMAM NÃO FUNCIONAR ......................................................................49

Os quatro estágios disfuncionais dos familiares do alcoolista .... 53


Quem muito ajuda, as vezes atrapalha! .....................................................61
62
Comportamentos facilitadores comuns...................................................

Cuidado com a codependência .......................................................................65


Questões centrais da codependência......................................................67

Deixando as consequências naturais acontecerem ............................68

Cinco comportamentos a serem evitados ................................................70

CAPÍTULO 3 - DO ALCOOLISMO À SOBRIEDADE, A MUDANÇA DO


COMPORTAMENTO HUMANO ...................................................................................73

O problema da hostilidade ................................................................................73


Sinais de resistência .............................................................................................78
Estágios da mudança do comportamento humano .............................80

Como ajudar quando ele não estiver aceitando ajuda ......................85

Tenha um estilo de enfrentamento das situações mais


proativo ........................................................................................................................86

Como ajudar quando ele estiver aceitando ajuda ...............................87

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CAPÍTULO 4 - COMUNICAÇÃO EFETIVA .............................................................91

Porque eu tenho que melhorar minhas habilidades de


comunicação? .......................................................................................................... 92

Sinais de uma boa comunicação de um casal.....................................93


Sinais de uma comunicação ruim de um casal...................................94

Como falar com o seu amado alcoolista ....................................................95

Acusações e julgamentos ..................................................................................98


Armadilhas do conselho .....................................................................................99

Aprendendo a ouvir ...............................................................................................101


Outras armadilhas a serem evitadas ...........................................................104

Dicas finais de como se expressar ................................................................105

CAPÍTULO 5 - OS LIMITES: LIBERDADE E CONFORTO ................................106

Limites indicam a responsabilidade ............................................................107

Limites indicam que as coisas tem consequências .............................109


O que os limites ensinam ao outro que as atitudes tem
consequências .........................................................................................................111

CAPÍTULO 6 - CUIDANDO DE QUEM CUIDA .....................................................115

Avaliando suas áreas da vida ...........................................................................115


Sintomas de doenças mentais ........................................................................117

Depressão.............................................................................................................118
Ansiedade.............................................................................................................119
Reduzindo o Isolamento social .......................................................................120

Regulando suas emoções ..................................................................................122

Como reduzir a vulnerabilidade e a desregulação


emocional...................................................................................................................124
Bibliografia ................................................................................................................128

O Guia de Sobrevivência da Esposa do Alcoolista - ©2019 7


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Nota

“Só dá pra ajudar quem quer ser ajudado!”

Eu pensava assim. Acredite. Mas durante minha residência em


psiquiatria, uma professora minha me convidou pra fazer terapia
de grupo com “dependentes químicos não motivados”.

Como eu tinha muita vontade de aprender, aceitei, com a


expectativa de que isso me levasse a ter oportunidades que eu
acreditava serem melhores. Na época pareceu um castigo mesmo!
“Ter que ficar lidando com gente que não quer se ajudar!”

Para você entender, a residência médica é uma modalidade em


que os médicos aprendem suas especialidades atendendo
pacientes sob supervisão. Numa das etapas das minhas
residências, eu atendia sob supervisão, num ambulatório de
pacientes dependentes de álcool e drogas. Um lugar muito bom
para aprender com profissionais de referência na área.

Havia muitas oportunidades de treinar nas mais variadas e


complexas situações. E lá existia todo tipo de paciente. Tinha
aqueles que queriam muito parar e faziam esforços muito grandes
para se recuperarem. Mas tinha também aqueles pacientes que
não queriam parar de usar substâncias, ou pelo menos me parecia
que não queriam.

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Eram aqueles que vinham por obrigação, para mostrar para


alguém, para pararem de serem importunados e continuarem
usando. Mães que estavam ameaçadas de perder a guarda de seus
filhos por causa do crack, maridos alcoolistas querendo salvar o
casamento, funcionários querendo se afastar do trabalho
“fingindo” se tratarem pra conseguirem atestados pra não
trabalhar.

Imagina só, uma sala de grupo com 10 pacientes que "não


queriam estar ali”. Que, a princípio, não tinham como objetivo
parar de usar substâncias. Estavam ali por outras razões, e a minha
missão era “ajudá-los” a mudarem de ideia.

Eu tinha a função de motivá-los a parar de beber ou usar drogas.


Fiz o meu melhor. Mas, como você pode imaginar eu não fui, logo
de cara, recepcionado calorosamente. Acabei percebendo que eu
cheguei muito mal preparado pra atendê-los. Normal, afinal, eu
estava no início do meu treinamento.

No começo eu não percebia. Eu não tinha a noção de quão mal


preparado eu era. Eu, ingenuamente acreditava que o problema
eram os pacientes. Me flagrei gritando com os pacientes algumas
vezes pra que prestassem atenção no que eu dizia durante os
grupos.

Nesse contexto, dá para entender por que eu não tinha pressa


nenhuma para que chegassem as quartas-feiras a tarde, quando
eu "tinha" que fazer esses grupos.

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Eu me sentia num verdadeiro campo de batalha! Ficava


argumentando o óbvio, explicando para eles o porquê eles tinham
que parar de beber, enquanto eles o tempo todo mudando de
assunto, me desafiando ou simplesmente me ignorando até que
acabasse aquele martírio de quase 2 horas.

Era um sofrimento para eles e para mim. Nas minhas supervisões


com os profissionais mais experientes, eles tentavam, quase
sempre gentilmente, me dizer que o problema era o meu jeito de
lidar com os pacientes.

Sorte a minha de ter tido supervisoras tão pacientes, generosas e


atenciosas. E eu, “cabeça dura” não tinha entendido isso de
verdade ainda. Mas, dei atenção ao que os mestres me diziam. Eu
aceitei esse desafio de procurar onde eu estava errando! Arregacei
as mangas, comecei a estudar tudo o que eu podia sobre
mudança de comportamento.

Percebi, então, que eu realmente vinha fazendo tudo errado! Eu


ficava tentando vender carne para vegetarianos! Imagina só, eu
explicava para eles tudo sobre os motivos para pararem de beber
e quais as melhores maneiras para conseguirem ficar sem beber!

Mas, naquela altura, eles não queriam parar de beber. Como é


que eles iam se interessar pelo que eu estava dizendo? E, além de
não receber o reconhecimento que eu esperava, eu ainda era
ignorado e criticado... "Que injustiça"- pensava eu, no auge da
minha ingenuidade.

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Mas, mantive a cabeça a aberta e mudei a forma de trabalhar


com eles. Comecei então a ficar mais sensível ao que eles me
diziam, a prestar mais atenção às necessidades deles e menos ao
que eu achava que eles tinham que fazer.

Parei de falar com eles de cima para baixo. Passei a ouvir mais e
falar menos. Entender mais e controlar menos. Deixei de enfatizar
o que eu queria que eles fizessem e comecei a ouvir o que eles
estavam tentando me dizer que queriam há tanto tempo.

Ao invés de falar para eles pararem de beber, eu comecei a


convidá-los a falar sobre como a vida de cada um estava, sobre o
que eles queriam para vida deles. E, surpreendentemente, os
grupos começaram a ficar mais leves! Mais do que isso, começou a
surgir algo novo depois de mais de 3 meses de grupo. Conexão ou
confiança!

E a partir de ouvir mais, ter mais compaixão e a melhorar minhas


técnicas de comunicação, tudo mudou! Eles começaram a falar
sobre os motivos que eles tinham para parar de beber! (O tal
"change-talk" que os livros diziam).

Eu não parei de querer que eles deixassem de beber. Eu só parei


de tentar controlar à força e comecei a demonstrar mais interesse
na experiência deles. Percebi que a maioria deles já estava
acostumada a não ser mais ouvido por ninguém.

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Todo mundo dizia tudo o que eles tinham que fazer! Eles
estavam errados e, muitas vezes, sabiam disso. A maioria dos
familiares já tinham perdido a paciência com eles, de forma
compreensível, eles tinham errado muito na vida. Sabiam também
que era responsabilidade deles parar de usar.

E isso era algo muito duro para eles... Você já se imaginou no


lugar de alguém nessa situação? Fui desenvolvendo minha
capacidade de entender o dilema deles em mudar, por mais
irracional que pudesse parecer a um olhar menos atento. A
solidão, a dificuldade de lidar com o próprio orgulho, o
isolamento, a alienação, a marginalização, às vezes a falta até de
ter pelo que lutar.

Então a “briga” parou de ser entre eu e eles. Passou a ser entre


eles e o vício. Quando eu sai da frente, eu pude ser um agente
facilitador para que eles finalmente se confrontassem com o
problema deles.

Os pacientes começaram a participar mais do tratamento, em


outros grupos também. E aí eu entendi o que significa "grupo
motivacional". Por aumentarem o engajamento também com seus
tratamentos, eles começaram a apresentar resultados melhores!

Muitos param de beber e usar drogas. Alguns aceitaram se


internar. Outros não queriam mais ir embora do grupo, mesmo
quando já tinham melhorado o suficiente para sair, porque se
sentiam acolhidos e não ameaçados.

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Quando chegou o momento da minha formatura, quem teve que


ir embora fui eu. E eu também fiquei com vontade de continuar.
Às quartas-feiras passaram a ser momentos de muita motivação
para mim também. Ver aquelas pessoas lutando contra o uso de
substâncias, com garra, com coragem e com disposição, era
inspirador! 

Resiliência no fundo é isso. Você seguir apesar das adversidades,


mesmo depois de ter errado muito no passado, reunir forças
(motivos) pra seguir buscando um futuro melhor.

Aprendi mais do que sobre alcoolismo. Aprendi sobre o


comportamento humano, sobre o poder transformador do
relacionamento na recuperação das pessoas.

Mas a partir disso eu já estava transformado. E quando você


começa a ver algo assim, muda sua vida, não tem como “desver”! E
assim, fiquei contaminado por esse espírito transformador, segui
estudando incessantemente.

Então eu fui conhecendo técnicas de treinamentos de familiares


para lidar com o alcoolismo de alguém pouco motivado a buscar
tratamento para si, e eu tive certeza de que era onde eu queria
usar minha energia!  Conforme fui aplicando isso na prática, pude
constatar com meus próprios olhos, o poder do relacionamento da
família no tratamento do alcoolismo.

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E como esse poder, quando adequadamente direcionado, é


positivamente transformador na vida dessa família. E não há
grandes segredos nisso. Praticamente qualquer pessoa pode ser
preparada, treinada pra lidar melhor e fazer a diferença.

Mas, notei que pouquíssimas pessoas sabiam disso no Brasil,


tanto profissionais, quando pacientes. E, por isso, resolvi criar esse
e-book, na esperança de que ele atinja o maior número de pessoas
e que elas também entrem numa jornada, em que suas vidas
possam ser transformadas.

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O que esperar desse livro

Esse livro visa começar a te ajudar a conseguir três objetivos:

1) Melhorar a sua qualidade de vida;

2) Reduzir o consumo de álcool de seu cônjuge;

3) Levar seu cônjuge a buscar tratamento para si.

Começo o livro explicando o básico sobre o consumo de álcool,


porque as pessoas sempre me perguntam sobre essa parte. Eu
explico sobre uso moderado, uso problemático, sobre o que é
dependência de álcool e também um pouco sobre tratamento.

Na sequencia eu explico sobre as formas problemáticas que uma


família costuma  lidar com o alcoolista, para que você possa
compreender se você está envolvido numa dinâmica ineficaz, para
que você possa se situar melhor. Em seguida eu explico sobre a
mudança da embriaguez à sobriedade, falo sobre as mudanças do
comportamento humano.

Conceitos fundamentais que acredito que vão facilitar muito o


entendimento e te permitir compreender o  motivo de certas
coisas funcionarem mais que outras. Depois eu não poderia deixar
de falar sobre comunicação.

Como você vai ver, eu poderia ter escrito um livro só sobre isso,
mas preferi começar te introduzindo nesse tema, dei exercícios e

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fórmulas práticas para que você pudesse usar no seu dia-a-dia e


sentisse os benefícios que a mudança na forma de falar com o
outro podem te trazer.

O próximo tema é sobre limites. Eu percebo que muitos


familiares de alcoolistas mal compreendem o que é um limite
saudável, então deixei uma sessão só para explicar o que é um
limite e ofereci um exercício prático para auxiliar você a introduzir
isso na sua vida.

E pra finalizar eu falo sobre o assunto, talvez, mais importante de


todos. Você! E o seu cuidado com você mesmo! Sem se cuidar
bem, você não conseguirá aplicar as demais estratégias esperadas.
Não conseguirá ser efetivo nos seus objetivos.

Para isso eu trouxe algumas reflexões que várias pesquisas em


psicoterapia associam a maior qualidade de vida, saúde emocional
e felicidade. Eu realmente espero que esse livro não traga só
conhecimento. Que ao se dedicar nele, você seja capaz de fazer
mudanças na sua vida que tragam resultados muito positivos.

E que você se sinta à vontade para me enviar mensagens ou e-


mails para me dizer o que trouxe de bom para sua vida ou até
mesmo para me dar sugestões, críticas ou reclamações, porque
qualquer feedback que eu receber me ajuda muito a saber se
estou indo pelo caminho certo, que é ajudar pessoas a terem vidas
melhores.

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Capítulo 1 - Sobre o consumo do


álcool
“beber começa como um ato de vontade, caminha para um hábito e

finalmente afunda na necessidade”. Dr. Benjamin Rush (1971).

O consumo de álcool excessivo no mundo é responsável por 2,5


milhões de mortes a cada ano (OMS, 2011). O álcool é responsável
por 4% de todas as mortes no mundo. Isso é mais do que a Aids e
a tuberculose. Estima-se que em torno de 9% dos brasileiros
adultos sofram com transtorno por uso de álcool (dependência).
(Homens 12,4% e mulheres 4,9%). (DSM-5).

Padrões de consumo do álcool


Beber de baixo risco – Baixo Consumo, baixo risco de
problemas.

É consenso entre os especialistas que não existe consumo de


álcool sem riscos. Se a maioria das pessoas beber abaixo dessas
diretrizes, em geral, não terão problemas ou vão se colocar em
risco. É caracterizado por um consumo de álcool eventual, que
não esteja associado a problemas. A seguir a recomendação do
NIAAA de limites diário e semanal de consumo do álcool (ARCR,
2018).

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Homens   no máximo 14 doses por semana e no máximo 4 doses


por dia.
Mulheres   no máximo 7 doses por semana e no máximo 3 doses
por dia.

Equivalentes a uma dose padrão:

Cerveja Vinho Destilado

vodka, cachaça,
whisky ...
350 ml 150 ml 45 ml
1 lata 1 taça

Dicas para não ultrapassar níveis moderados:

Não beba:

Todo dia;

Para sentir os efeitos (tal beber é arriscado, com o


tempo você vai precisar de mais para conseguir o
mesmo efeito);

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Para ficar bêbado ou ficar "intoxicado";

Se for dirigir;

Se você tem responsabilidades legais (por exemplo,


liberdade condicional, liberdade condicional) ou
sanções sociais (por exemplo, família, cônjuge) que
proíbem o uso de álcool;

Quando navegar, nadar, caçar ou participar de outras


atividades recreativas ou usar ferramentas elétricas;

Se estiver grávida ou tentando engravidar;

Se tomar medicamentos que interagem com álcool;

Se tiver uma condição médica que pode ser afetada


pelo álcool (por exemplo, diabetes, úlceras, pressão
arterial elevada); Consultar o médico;

Tenha alguns dias abstinentes por semana;

Beba lentamente e faça a bebida durar mais tempo;

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Regule seu ritmo - limite sua bebida a 1 dose por


hora;

Beba bebidas não alcoólicas entre bebidas alcoólicas;

Escolha cerveja e vinho com menor teor de


álcool;

Identifique pessoas, lugares ou horários que acionem


seu hábito de beber;

Mantenha-se a par de quanto você bebe registrando-


o. Isso irá ajudá-lo a tornar-se mais consciente de
quanto você bebe e seus padrões. Ao monitorar você
pode ver as alterações que você fez;

Planejar com antecedência! Decida quando, onde e


quanto você vai beber! Não beber é uma opção!

Pare e pense! Quando você quiser beber, parar e


esperar 20 minutos antes de decidir tomar uma
bebida; Em seguida, pergunte-se por que você quer
beber e se essa bebida vai exceder o seu objetivo.

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Beber Problemático Episódico (BPE) – Alto consumo,


alto risco de problemas

O BPE é padrão de consumo associado a diversos problemas


agudos, como maior ocorrência de brigas, violência, acidentes,
tentativas de suicídio, sexo desprotegido, gravidez indesejada e
intoxicação alcoólica. É um grande problema de saúde pública. E
é definido como:

Homens: Mais que 5 doses numa única ocasião.

Mulheres : Mais que 4 doses numa única ocasião.

Esse consumo pode gerar um quadro de intoxicação patológica,


em que o consumo de álcool gera uma reação súbita de extrema
agressividade, violência e fúria, perda do controle de impulsos,
sem motivo aparente e que não é normal daquela pessoa. E pode
estar associado também a:

1) Amnésia ou apagão. Não lembrar do que ocorreu


durante a intoxicação.

2) Sonolência excessiva logo após o episódio de


agressividade.

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Algumas pessoas, mesmo com um consumo baixo, por conta de


sensibilidades individuais também podem reagir assim ao álcool, é
o que chamamos de reação paradoxal.

Dependência ao álcool – uso compulsivo, alto risco de


problemas

Na dependência ou transtorno por uso de álcool, a pessoa


apresenta uma série de sintomas que indicam que existe uma
tendência a beber que a leva a continuar bebendo mesmo que
isso pareça loucura. A pessoa tende a continuar bebendo mesmo
quando tudo o que mais importa para ela está sendo destruído
por beber.

Não há dúvidas que a dependência ao álcool é uma doença.

Vários estudos já identificaram uma série de mudanças na


estrutura cerebral dos alcoolistas, principalmente no  sistema de
recompensas .

Esse  sistema  é responsável por motivar nossos comportamentos.

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Ao adotar um comportamento correto que gera uma


consequência positiva, esse comportamento é estimulado e há a
tendência a repeti-lo. Esse sistema é a base para explicar todas as
dependências, desde a químicas, como álcool e cocaína até as
comportamentais, compras, jogos ou sexo.

A pessoa pode  decidir começar   a consumir


álcool por várias razões. Em geral ela consome
porque é bom! Porque consumir álcool é
agradável.

Se fosse horrível beber, não beberia. Mas ao consumir o álcool,


ele começa a “puxar” a pessoa e parar de consumir fica muito
difícil, como se ela fosse sugada, arrastada, como uma correnteza
( uso compulsivo ).

A tomada de decisão passa a não ser mais tão livre assim .


Passa a ter um prejuízo tanto na capacidade de prever que usar
álcool não será vantajoso, quanto na capacidade de controlar
o impulso de beber mesmo quando a pessoa sabe que será
péssimo a um prazo menos curto pra ela beber.

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Para ilustrar melhor esses conceitos sobre dependência e


compulsão, imagine um deserto, em que há um rio refrescante,
com uma correnteza considerável. Alguém chega nesse rio, se
refresca, faz um pouco de força pra se livrar da correnteza e volta
pra margem.
No dia seguinte, ao retornar para o rio, a correnteza é mais forte,
exige um pouco mais de força, mas até não foi tão difícil sair do
rio.
Aumenta então, a confiança de que o rio é seguro.

Assim, em outra ocasião,


quando faz um calor infernal,
ela retorna a se banhar, já
mais confiante na
capacidade de sair do rio.
Mas dessa vez a correnteza é
forte demais e ela só
consegue sair com um
esforço tremendo e/ou com 
ajuda.

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A correnteza é a dependência ao álcool, é a doença , mas a


decisão de voltar a se banhar no rio, nem sempre. Essa decisão de
voltar para o rio implica em outros fatores da vida e da
personalidade da pessoa.

- Timidez - Gosto por - Influências sociais


- Ansiedade aventura - Expectativas boas
- Depressão - Pouco medo de envolvendo o álcool
riscos
- Estresse

Correnteza (compulsão por beber)

Busca por: alívio da ansiedade, "barato", relaxamento, esquecer ...

Figura: Os fatores no quadro cor de “areia”, são exemplo de fatores


que podem pesar para a pessoa decidir dar o primeiro gole, com a
expectativa de conseguir algo como o que está na parte azul
(“busca por: Alívio...”), mas após tomar o “primeiro gole”, é
arrastado para a “parte preta”, que é a doença, a compulsão, a
dependência ao álcool.

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Critérios de Dependência

O manual de diagnósticos psiquiátricos (DSM-5) lista os seguintes


critérios para o transtorno por uso de álcool. 

Um padrão problemático de uso de álcool, levando a


comprometimento ou sofrimento clinicamente significativos,
manifestado por pelo menos dois dos seguintes critérios,
ocorrendo durante um período de 12 meses :

1. Álcool é frequentemente consumido em maiores


quantidades ou por um período mais longo do que o
pretendido.

2. Existe um desejo persistente ou esforços malsucedidos


no sentido de reduzir ou controlar o uso de álcool.

3. Muito tempo é gasto em atividades necessárias para a


obtenção de álcool, na utilização de álcool ou na
recuperação de seus efeitos.

4. Fissura ou um forte desejo ou necessidade de usar


álcool.

5. Uso recorrente de álcool, resultando no fracasso em


desempenhar papéis importantes no trabalho, na
escola ou em casa.

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6. Uso continuado de álcool, apesar de problemas sociais


ou interpessoais persistentes ou recorrentes causados
ou exacerbados por seus efeitos.

7. Importantes atividades sociais, profissionais ou


recreacionais são abandonadas ou reduzidas em
virtude do uso de álcool.

8. Uso recorrente de álcool em situações nas quais isso


representa perigo para a integridade física.

9. O uso de álcool é mantido apesar da consciência de


ter um problema físico ou psicológico persistente ou
recorrente que tende a ser causado ou exacerbado
pelo álcool.

10. Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes


aspectos:

a. Necessidade de quantidades progressivamente


maiores de álcool para alcançar a intoxicação ou o
efeito desejado.

b. Efeito acentuadamente menor com o uso


continuado da mesma quantidade de álcool.

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11. Abstinência, manifestada por qualquer um dos


seguintes aspectos:

a. Síndrome de abstinência característica de álcool


(explicado a seguir).

b. Álcool (ou uma substância estreitamente


relacionada, como benzodiazepínicos, como por
exemplo: Clonazepam ou Rivotril, Diazepam ou
Valium, Alprazolam ou Frontal) é consumido para
aliviar ou evitar os sintomas de abstinência.

De acordo com esses critérios, podemos também especificar a


gravidade do transtorno por uso de álcool.

1. Leve: Presença de 2 a 3 sintomas.

2. Moderado: 4 a 5 sintomas.

3. Grave: 6 ou mais sintomas.

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Abstinência de Álcool - Critérios Diagnósticos: (DSM-5)

Dois (ou mais) dos sintomas abaixo, desenvolvidos no período de


em média 4 a 12 horas após a cessação (ou redução) do uso de
álcool pesado e prolongado:

1. Hiperatividade autonômica (p. ex., sudorese ou


frequência cardíaca maior que 100 bpm);

2. Tremor aumentado nas mãos;

3. Insônia;

4. Náusea ou vômitos;

5. Alucinações ou ilusões visuais, táteis ou auditivas


transitórias;

6. Agitação psicomotora;

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7. Ansiedade;

8. Convulsões.

Dicas que sugerem dependência de álcool

- Ter apagões;

- Não lembrar do que aconteceu após uma bebedeira.

- O álcool vira resposta pra tudo;

- Quando está triste, quando quer comemorar, quando


vai se reunir com outras pessoas, quando está
estressado, quando se sente culpado, quando o chefe
dá bronca, quando a esposa ameaça.

- É como um músico que só toca “parabéns pra você”.


Em todas as festas, em todas as situações acaba
sempre tocando a música aniversário, as vezes até em
velório. Essa é a tendência do alcoolista.

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- Acidentes, brigas

- Quedas frequentes, por exemplo: cortes na testa por


ter caído por embriaguez.

Se envolver em brigas quando alcoolizado

- Beber mesmo que traga riscos

- Ao dirigir, ao ir trabalhar. Beber mesmo quando isso


traga risco de uma consequência negativa pra si ou
para outros.

- Não muda conforme o ambiente

- A “fase da bebedeira” não passa quando as desculpas


para beber mudam. Antes dizia que bebia muito
porque o trabalho era muito estressante, depois que o
trabalho não é mais estressante, segue bebendo por
outro motivo.

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- Tendência a ser o último a perceber que está


doente

- Todo o processo da doença, costuma implicar em


uma  baixa percepção   ou uma  alta tolerância aos
prejuízos .
Pode ser necessário um acontecimento dramático pra
levar o indivíduo a considerar reduzir o consumo de
álcool.
Como risco de desemprego, de perder o casamento,
de perder a guarda de filho, de morrer de cirrose. As
pesquisas mostram que, principalmente no caso dos
homens, o mais comum é quando o há uma ameaça
ou risco a saúde do próprio indivíduo.

- Problemas no sistema digestivo

- 15% das pessoas que ingerem álcool em grandes


quantidades tem como gastrite, úlceras estomacais ou
duodenais, cirrose hepática e/ou pancreatite.

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Mitos comuns da dependência de álcool

Quem é alcoolista bebe diariamente

A verdade é que não existe


quantidade ou frequência que
caracteriza o alcoolismo . O fato de
a pessoa consumir álcool todos os
dias não significa, obrigatoriamente,
que ela é dependente.

A frequência pode ser um dos sinais de que a pessoa é


alcoolista, mas não é um diagnóstico por si só. Se tiver dúvidas,
volta e lê de novo a parte dos critérios de Transtorno por Uso de
Álcool.

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Beber cerveja não tem problema, o problema é cachaça

A cerveja tem em média 5% de álcool, isso quer dizer que,


aproximadamente, a cada 100 ml de cerveja, tem 5 ml de álcool. E
a cachaça tem em torno de 40% de álcool. Isso significa que para
cada  100 ml de cachaça, tem 40 ml de álcool. Para tomar 40 ml
de álcool tomando cerveja, é só a gente calcular. Daria
aproximadamente 800 ml de cerveja.

Então isso quer dizer que quem tomar 800 ml de cerveja, vai
ingerir a mesma quantidade de álcool que quem tomar 100 ml
de cachaça (40 ml de álcool).

E é claro que quando a pessoa


bebe cerveja, ela em geral o faz em
muito maior quantidade do que de
cachaça, isso ocorre porque precisa
de maior quantidade de cerveja para
chegar a mesma quantidade de
álcool. Mas no fim a quantidade de
álcool pode ser exatamente a mesma
independentemente do tipo de
bebida!

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Quem é alcoolista não tem emprego

Ser alcoolista não é sinônimo de


desempregado ou improdutividade.

Estudos estimam que mais de 50% dos alcoolistas seja de “alto-


funcionamento”, quer dizer, pessoas que mantêm uma vida que na
superfície parece saudável, mantêm um emprego, pagam suas
contas, tem vida social, relacionamento conjugal e familiar
(mesmo que com conflitos), e, podem ainda, manter alguns
hábitos saudáveis como se exercitar, etc.

Mas por outro lado minimizam sua forma de


beber:
“eu abuso um pouquinho”, “só bebo bebidas
especiais”, “eu não bebo como o Fulano”,
“eu mereço beber mais um pouco”, “só bebo
pra relaxar”.

Muitas vezes escondem seu uso de álcool, deixando pra beber


após as festas, sozinhos. Por conta do “alto-funcionamento” que os
faz manterem uma aparente normalidade, as pessoas ao redor
podem ficar constrangidas de falar sobre o problema e até se
perguntarem se realmente é um problema.

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Não posso ser alcoolista, porque os exames que meu


médico pediu estão todos normais

Agora você não cai mais nessa!

Perceba que os critérios pra Transtorno por Uso de Álcool não


exigem necessariamente alterações em exames .

E existem muitos exames diferentes. Os exames que o médico


pediu podem estar normais, mas se ele pedisse outros exames,
poderiam vir alterações importantes ou não.

Os danos causados pelo álcool


costumam demorar muito pra
aparecer em exames, mesmo
quando lesões graves já estejam em
andamento em vários órgãos como
cérebro, fígado, esôfago, estômago...

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Não posso ser alcoolista, porque, eu sou o que menos


bebe da “turma”

Não é a quantidade que caracteriza se a pessoa sofre da


síndrome de dependência do álcool.

E muito menos a “turma” é parâmetro!

Em geral as pessoas convivem com outras pessoas com padrões


de comportamento semelhantes.

É mais do que comum que um


alcoolista tenha convívio com outras
pessoas que bebem em níveis
altíssimos e isso pode fazer a pessoa
perder a noção do que é muito e de
quanto as pessoas bebem em geral.

A seguir mostro um gráfico de uma pesquisa muito bem-feita


mostrando quanto os brasileiros costumam beber.

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INTENSIDADE DO USO DE ÁLCOOL NO BRASIL (>18 ANOS) .

Frequente, pesado
9%

Frequente
15%

Não bebe
47%

Menos frequente
15%

Não frequente
14%

Adaptado de: I Levantamento Nacional sobre os padrões de consumo de álcool


na população brasileira / Ronaldo Laranjeira [et al.] (www.obid.senad.gov.br).

- bebe 1 vez ou mais por semana


- consome 5 ou mais doses por ocasião 1 vez por
Frequente, pesado
semana ou mais

- bebe 1 vez ou mais por semana


Frequente - consome 5 ou mais doses por ocasião mais de 1 vez
por ano

- bebe de 1 a 3 vezes por mês


Menos frequente
- pode ou não beber 5 doses ou mais pelo menos 1
vez por ano

- bebe menos de 1 vez por mês, mas pelo menos 1 vez


Não frequente por ano

- não bebe 5 ou mais doses em uma ocasião

Não bebe - bebe menos de 1 vez no ano ou nunca bebeu na


vida

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Não tenho sinais de embriaguez, não bebo muito

É comum que ao pensar em um alcoolista, as pessoas imaginem


um indivíduo que sai cambaleando do bar todos os dias e não
consegue nem voltar para casa.

As vezes isso realmente acontece. Mas não chega a ser a regra.

Até porque um dos critérios de


dependência de álcool é o aumento
da tolerância, a pessoa passa a
precisar de quantidades cada vez
maiores de álcool pra ter os mesmos
efeitos que tinha no começo.

Então ao longo do tempo é comum a pessoa ser capaz de beber


muito mais sem parecer que bebeu tanto. Mas cuidado, isso não a
torna mais apta a dirigir após beber.

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O mito de que a pessoa só bebe porque está deprimida


ou estressada

O fato de estar deprimido ou estressado pode ser um fator que


influencia alguém a beber, mas, não é sempre o motivo.

O álcool pode tanto mascarar quanto produzir sintomas


depressivos. E algumas pessoas podem beber tanto
principalmente porque estão deprimidas (alcoolismo secundário a
depressão) e quando a depressão é tratada, não é tão difícil ficar
sem beber para essas pessoas.

Mas não tem como tratar depressão sem parar de beber. O


álcool impede o funcionamento tanto das medicações quanto de
psicoterapias.

Vamos usar o exemplo da Catarina:

Quando ela fica sozinha e triste, ela


sente vontade de comer sorvete. Mas
não é porque ela está triste e sozinha
que ela “viciou” em sorvete

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O sorvete dela tem muito açúcar e o


açúcar também aciona o sistema de
recompensa cerebral. É justamente
porque ela nasceu com a tendência de
“viciar em sorvete’ e depois comeu
sorvete tantas vezes em resposta a
esses sentimentos, que ela acabou
entrando num ciclo vicioso que sempre
acaba em sorvete.

Depois, Catarina acabava se sentindo


culpada, engordava, ficava sem
autoestima e deixava de sair para
conviver com outras pessoas. Que
resultado você imagina que isso levava?
Mais e mais sorvete. Então qual pode
ser parte da saída? Parar de comer
sorvete! (Claro, no caso da Catarina,
lidar melhor com seus sentimentos e
deixar de vincular a autoestima
somente ao corpo ou até mesmo sair
de casa pra conviver mesmo estando
triste pode ajudá-la, mas vocês
entenderam o ponto, né?!).

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O alcoolismo passou, posso voltar a beber socialmente

Alcoolismo é uma doença crônica , isto é, sem cura. Igual


diabetes e hipertensão arterial. 

Nessa doença o indivíduo tem


alterações cerebrais permanentes ,
que podem ficar adormecidas
contanto que o indivíduo não use a
substância. Mas é só voltar a usar
que tudo volta da mesma forma ou
pior.

Mas como no amor e na medicina não existe sempre, nem


nunca. Existe uma pequena proporção de pessoas que mesmo
tendo bebido por anos num padrão de alcoolismo, acabam
conseguindo voltar a beber em padrões controlados por alguns
anos.

São raras exceções e mesmo assim seguem em risco de voltar


ao uso compulsivo a qualquer momento. É muito mais comum
vermos pessoas que se enganam com essa crença de que podem
voltar a beber alguma quantidade.

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A pessoa precisa primeiro reconhecer que é um


alcoólatra

Estudos mostraram que a aceitação da auto-rotulação como


alcoolista não está associada ao bom resultado de tratamento
(Lemere, O´Holarren & Maxwell, 1958; Trice, 1957) e até mesmo
pode estar relacionada a resultados piores (Orford, 1973).

Até pelo contrário, é muito comum


pessoas que nunca param de beber mas
que tem um alto nível de reconhecimento
de que tem uma dependência ao álcool
(Polich, Armor & Braiker, 1980). “Sou
alcoólatra por isso eu bebo!”.

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Tratamento

Muitas vezes a crença de que é uma


falha de caráter ou falta de força de
vontade faz com que o alcoolismo fique
com um tom tão negativo que acaba
impedindo muita gente de buscar ajuda,
além de prejudicar a qualidade dos
programas de prevenção e tratamento.

A dependência de álcool é uma doença crônica. Precisa de um


tratamento o mais breve possível, pois tende a ser progressiva.
Quanto mais demorar para pessoa receber tratamento, mais riscos
ela tem e vão piorando as chances de recuperação.

Diversas abordagens podem ser utilizadas: farmacológica,


psicológica, apoio de grupos de ajuda mútua, como "Alcoólicos
Anônimos". Nem tudo serve pra todos! Uma pessoa pode se
beneficiar mais de um tipo de ajuda que outra.

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Mas as pesquisas científicas mostram melhores resultados para


algumas abordagens de psicoterapia do que outras. Vou listar aqui
as abordagens mais efetivas para alcoolismo:

Terapia cognitivo-comportamental;

Terapia comportamental dialética;

Treinamento de habilidades sociais;

Entrevista motivacional;

Prevenção de recaídas;

Terapias de grupo.

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No Brasil, os mais conhecidos tratamentos gratuitos


especializados em dependência química são: 

os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas


(CAPS-AD);

unidades de saúde especializadas em atender


usuários e dependentes de álcool e drogas, que têm
por base o tratamento ambulatorial (sem ser
internação), buscando sua reinserção social (em linha
com as diretrizes determinadas pelo Ministério da
Saúde);

e os hospitais públicos e conveniados ao Sistema


Único de Saúde (SUS).

De acordo com o Ministério da Saúde, há 2.341* CAPS em


funcionamento no país, distribuídos em municípios dos 26 Estados
e no Distrito Federal. A lista completa pode ser acessada no
endereço:

http://sage.saude.gov.br/paineis/planoCrack/lista_caps.php?
output=html&

(Fonte: Álcool e saúde dos brasileiros: panorama 2019 / Arthur


Guerra de Andrade: Centro de informações sobe Saúde e Álcool).

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Internações

O tratamento para alcoolismo pode exigir internação hospitalar


ou em clínicas de reabilitação. O médico psiquiatra é o
profissional mais habilitado para indicar se uma internação é
necessária. Vou listar aqui algumas das possíveis indicações:

1. Uso crônico e pesado. Quando houver risco de


abstinência grave;

2. Desnutrição grave;

3. Incapacidade de parar de beber;

4. Previsão de risco de recaída importante.

As internações podem ser somente para desintoxicação, com


duração de aproximadamente uma semana, só o suficiente pra ter
apoio médico para lidar com a abstinência.

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Mas em geral as internações mais efetivas, costumam levar pelo


menos 21 dias, que é um período suficiente para passar pela
desintoxicação e também ser preparado minimamente para lidar
com a vida sem beber após a alta.

Em alguns casos a internação pode se prolongar muito mais,


quando houver necessidade e benefício em preparar a pessoa
melhor. E essas datas de duração são apenas sugestivas. Isso deve
ser avaliado individualmente pelo psiquiatra assistente, não existe
uma regra única.

A internação, quando indicada, é só o primeiro passo. Não se


engane achando que resolve todo o problema. O tratamento tem
que continuar após a alta. Seja com psiquiatra, psicólogo ou grupo
de ajuda mútua. De preferência com tudo isso.

Dica:
Faça uma pesquisa na sua região sobre os tipos de
tratamento disponíveis para você. Para que quando
houver uma oportunidade de falar sobre
tratamento com o alcoolista, você já esteja
preparada para encaminhar sem atraso. Conheça os
locais de tratamento, faça uma lista com os
contatos necessários. Se informe sobre preços, veja
quais estão nas suas possibilidades. Lembrando
sempre que o SUS sempre é uma opção e é sem
custo.

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Capítulo 2 - Reações da família


ao alcoolismo do outro que
costumam não funcionar

“Imagine uma panela cheia de água fria na qual, nada


tranquilamente, uma pequena rã. Um pequeno fogo debaixo da
panela e a água aquece muito lentamente. Pouco a pouco, a
água fica morna e a rã, achando isto bastante agradável,
continua a nadar.
A temperatura da água continua subindo. Agora a água
está quente, mais do que a rã pode apreciar, sente-se um
pouco cansada, mas não obstante, isso não a assusta. Agora
a água está realmente quente e a rã começa a achar
desagradável, mas está muito debilitada, então aguenta e não
faz nada. A temperatura continua a subir, até que, a rã acaba
simplesmente cozida e morta.
Se a mesma rã tivesse sido lançada diretamente na
água a 50 graus, com um golpe de pernas teria pulado
imediatamente da panela. Isto mostra que, quando uma
mudança acontece de um modo suficientemente lento, escapa
à consciência e não desperta, na maior parte dos casos,
qualquer reação, oposição ou revolta.”
Olivier Clerc

O alcoolismo se alimenta das fragilidades de quem bebe e das


pessoas com as quais o alcoolista se relaciona. A doença
(alcoolismo) conforme vai se desenvolvendo, vai prejudicando ou
se aproveitando do ponto fraco dos familiares e amigos do
alcoolista.

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Esse ponto fraco das pessoas ao redor pode se caracterizar por:


ausência de conhecimento sobre o alcoolismo, dificuldade de
regulação emocional, dependência emocional, tendência a rigidez
emocional excessiva, baixa autoestima, dificuldades de
comunicação, dificuldades em colocar limites saudáveis, etc.

Essas fragilidades emocionais vão gerando disfunções que


contribuem para que o sujeito siga bebendo. Conforme a
bebedeira vai piorando, muitas vezes pioram essas disfunções de
relacionamento.

Acompanhe essa estorinha pra entender melhor:

Crise após crise. É a A cada novo incêndio, o


ressaca que castiga o desejo de parar de beber
corpo, é a família que já às vezes dá as caras.
está no limite, é o
emprego que faltou de
novo... Não quero essa vida
pra mim! Agora
chega, nunca mais
vou beber!

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A dor é forte! Às vezes o Parar sozinho, só na força


desejo de parar de beber de vontade, vira uma
surge como uma saída questão de honra.
para não passar por aquilo
mais uma vez. Não quero ninguém no
E dessa vez eu vou meu pé dizendo o que
parar! Fulano bebeu a tenho que fazer!
vida toda e parou sem
ajuda de ninguém!

A família começa a
E começa bem! Se orgulha
alimentar uma fagulha de
muito ao dizer que já
esperança. Eles querem
conseguiu ficar sem beber
muito acreditar que estão
por 3 semanas!
livres do tormento do
Ih... Foi tranquilo! alcoolismo.
Falei que eu parava
É! Mas é melhor não
quando queria!
Acho que agora ele falar nada, ou ele vai
para de beber de começar a se sentir
uma vez por todas! controlado e usar isso
como desculpa para
voltar a beber!

Os amigos estranharam. Chegando lá, a conversa


Amigo leal que é, não tava muito boa e a pressão
podia deixar os social pra ele beber, muito
companheiros na mão. Ele convidativa.
ia só dar um oi, conversar,
afinal, eram amigos de
Já faz 3 semanas que eu
longa data. não bebo!Vou tomor só um
pouquinho, só hoje! Eu
Você sumiu! Passa mereço!
OK!
lá no bar hoje pra
dar um "oi" pro
pessoal!

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Quando chega em casa Ao que ele se defende


atrasado pro jantar, aos também aos berros:
tropeços, a família o
recebe com gritos e Lá vem vocês com essa
críticas! ladainha! Eu passei 3 semanas
sem beber, isso prova que eu
Bebendo de novo! posso parar quando eu quiser!
Depois de tudo que a E da minha vida cuido eu!
gente passou! Tu não
tem vergonha na cara
mesmo

Você consegue perceber quais comportamentos alternativos, de


cada lado, poderiam ter aumentado as chances de sucesso?

Se você está lendo esse livro realmente com a intenção de


aprender a lidar melhor com o alcoolismo de alguém que você
ama, pare um pouco agora e pense.

Reflita sobre essa pergunta que acabei de fazer. Exercite suas


habilidades de lidar com conflitos de forma efetiva.

Anote o que você pensou em fazer e ao final da leitura, volte e


reavalie. Espero que ao final da leitura, deste livro, o seu repertório
tenha aumentado.

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Os quatro estágios disfuncionais dos familiares


do alcoolista

A fim de tornar mais fácil de compreender, irei explicar as


reações problemáticas dos familiares em quatro estágios, que vou
listar agora e explicar melhor em seguida:

1) Negação . O problema é ignorado.

2) Emoção descontrolada . O desespero


toma conta.

3) Controle (Endurecer demais ou


amaciar demais).

4) Desordem/caos (Adoecimento da família).

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O  primeiro  desses estágios é a  negação .

Nesse estágio, a família convive com o


alcoolismo, sofre as consequências dele, mas
nega sua existência. Os olhos não acreditam
no que estão vendo, resistem a acreditar nessa
dura realidade.

Ou por já estar vivendo de uma forma tão disfuncional, com a


vida desde sempre toda bagunçada, que os problemas nem se
destacam mais, nem chamam mais tanta atenção. Em certo
ponto, a negação não é mais suficiente para que a pessoa sofra
menos e os problemas ficam tão evidentes que se torna impossível
não dar atenção a eles.

Chegamos então no  segundo   estágio, o


da  emoção descontrolada.

Nesse estágio, a família tem uma enxurrada


de sentimentos intensos, sofrimento mesmo.
Vem a culpa, autoacusações, raiva, vergonha,
medo, desesperança, luto. Um estresse
generalizado.

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Aqui, a família, acaba acusando e culpando a


si ou aos outros:

“a culpa é da pessoa que bebe, a culpa é


minha que não fui uma companhia melhor, a
culpa é dos amigos, a culpa é do psicólogo
que não fez nada, a culpa é da falta de fé da
pessoa que bebe, a culpa é da minha sogra
que faz tudo que ele quer, a culpa é da
economia, da política, do papa!”.

Nessa fase há desespero, raiva, inquietude e medo. Com o


desespero, vem os pensamentos improdutivos: “Onde ele vai
parar?” “Onde nós vamos parar?” “E se… ele morrer/perder o
emprego, etc.”.

Todo esse sofrimento e desespero acaba gerando mais e mais


brigas, discussões, que levam a mais e mais bebida, ou promessas
impossíveis de parar de beber que geram mais culpa, mais perda
da confiança e mais dor.

Quando o desespero reduz um pouco, a


família passa para o   terceiro   estágio, o
do  controle .

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O terceiro  estágio é marcado pela confusão


misturada com arrogância e negação dos
limites da própria capacidade de resolução do
problema. Há duas formas mais comuns de
controle. Uma delas é a de tolerância zero.

Tomado pelo  desejo de voltar ao “normal” o mais rápido


possível , o familiar coloca limites muito rígidos, o semáforo só liga
o vermelho, e o trânsito para.

Por exemplo: a esposa subitamente decide


que não vai mais tolerar que o marido se
atrase para ir pra casa do trabalho em
momento nenhum e começa a fazer ameaças,
ainda que não seja capaz de cumpri-las, como:
“Se você chegar em casa bêbado, vou te
trancar do lado de fora!”.

A outra forma problemática de controle vem do  desejo de


salvar todos os envolvidos . Ignorando as diferenças nos papéis e
nas responsabilidades de cada um, o familiar do alcoolista começa
a tentar minimizar as consequências negativas do comportamento
do alcoolista, na esperança de que reduzindo as tensões, isso irá
acalmar as coisas e o alcoolismo irá desaparecer.

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A esposa ao invés de reclamar quando o marido deixar de


cumprir suas obrigações, pode começar a resolver as coisas por
ele, trabalhar dobrado nos cuidados da casa, dos filhos, das
obrigações financeiras. Pode começar também a minimizar as
próprias necessidades.

Quando essa forma de controle inevitavelmente não funcionar, o


alcoolismo continuará firme e forte. Mas já não vai mais ser o único
problema.

Assim, chegamos ao  quarto  estágio , o


da  desordem .

Aqui, começa a ocorrer o  efeito dominó , pois,


além de ter que lidar com o alcoolismo em
casa a o cônjuge terá que lidar com a perda
de sua autoestima e com o enfraquecimento
psicológico de todos.

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As necessidades das outras pessoas


envolvidas começam a ficar negligenciadas.
O cônjuge pode deixar de cuidar das próprias
necessidades, como de intimidade, auto
respeito, atenção e afeto.

  E, na maioria das vezes sem perceber, pode começar a suprir


essas necessidades emocionais de formas atrapalhadas,
disfuncionais, como gastar excessivamente, abafar seus
sentimentos, agir de maneira agressiva (e depois sentir culpa),
deixar de socializar com amigos.

O familiar, tomado pelas “responsabilidades” (que sem perceber,


ele mesmo se colocou), acaba deixando de cumprir outras
responsabilidades, como de seu trabalho, de outros
relacionamentos familiares.

Com os filhos (crianças e adolescentes) a negligência pode


causar problemas dramáticos. Muitas vezes eles podem acabar
esquecidos, sem atenção e apoio necessários de acordo com a
faixa etária e/ou colocados em situações que não são adequadas,

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como usar o filho como conselheiro ou satisfazer as necessidades


de diálogo e desabafo com os filhos, alienação parental.

Isso pode até criar mais uma dinâmica problemática em casa,


em que os filhos também começam a se sentir responsáveis pelo
problema de alcoolismo do pai, ou começam a brigar com o pai
por acharem que precisam proteger a mãe desse pai, o que é um
fardo grande demais para qualquer um, ainda mais para uma
criança ou adolescente.

Inevitavelmente, essa maneira de lidar


irá trazer diversos outros problemas,
porque ao invés de ter apenas   um doente
(o alcoolista) em casa, terá vários . E a
negação que frequentemente ocorre com
o alcoolista, pode afetar igualmente os
familiares, que não se percebem nesse
ciclo vicioso.

A esposa para de perceber que está fazendo mais do que o seu


papel, que não está cuidando de si, etc. Os filhos podem começar
a perder a autoestima, se envolverem em comportamentos-
problema para chamar atenção.

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Esses 4 quatro estágios ineficazes da família vão se repetindo e


intercalando até que se desenvolvam maneiras mais eficazes de
lidar com a situação.

Para tanto, é muito útil que o familiar aprenda melhores


maneiras de lidar com o problema. E conforme todos vão
adotando comportamentos mais saudáveis, saem e ajudam a sair
desse ciclo doente. Caminham para um ciclo de evolução, de
melhora gradual rumo a recuperação.

Controle +/-

Emoção Caos

Negação

Figura: os quatro estágios disfuncionais dos familiares do alcoolista.

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Quem muito ajuda, as vezes atrapalha!

Existem formas de tentar ajudar que acabam, sem querer,


prejudicando.

Estou falando aqui de comportamentos


facilitadores .

São comportamentos que facilitam o


consumo de álcool do outro, que reduzem as
consequências negativas associadas ao
comportamento de beber, o tornando
artificialmente menos aversivo. Vamos
começar diferenciando ajuda de facilitação.

Ajuda   é um ato de generosidade, que fazemos para as pessoas


por amor, por sentimentos positivos. Mas comportamentos facili-
tadores , são atitudes mascaradas de ajuda, que custam caro
demais, que são adotadas pelos motivos errados e que no fim das
contas pioram a situação de todos.

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Comportamentos facilitadores não são a causa do alcoolismo,


mas contribuem para que muitos alcoolistas não se sintam
desconfortáveis o suficiente para decidir mudar o próprio
comportamento ou buscar ajuda para parar de beber. Eles tornam
o peso de beber mais leve para o alcoolista, o que reduz a
motivação dele para parar de beber.

Comportamentos facilitadores comuns:

1) Negar : fazer vista grossa, não ver ou fingir que não vê


o problema;

2) Justificar : dizer que o marido só bebe porque é muito


triste, etc.;

3) Evitar problemas : não deixar que o alcoolista tenha


consequências negativas pelo próprio
comportamento. Exemplo: ligar para o trabalho do
esposo avisando que ele não foi porque está doente,
mas na verdade a falta foi porque ele ficou bebendo a
noite toda;

4) Minimizar : a quantidade e a gravidade dos


problemas. “Você nem bebe tanto”;

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5) Proteger : não deixar ninguém falar nada negativo


sobre o alcoolista, mesmo que ele esteja
completamente errado;

6) Tranquilizar : mesmo quando as coisas estão fora de


controle e sem previsão de melhorarem, dizer que vai
ficar tudo bem, que não há motivos pra preocupações;

7) Culpar : responsabilizar o outro pelas próprias


necessidades, problemas e desejos;

8) Assumir Responsabilidades : pegar pra si as


responsabilidades e problemas do outro;

9) Sentir-se superior : achar que sabe mais que o outro


sobre como levar a própria vida;

10) Controlar : cada passo da vida do alcoolista pra se


certificar que ele está fazendo o que se espera;

11) Aguentar : coisas que não são aceitáveis, como


xingamentos, agressões, ofensas, vergonhas;

12) Esperar : que venha um milagre e resolva tudo


automaticamente.

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Ajuda Comportamento facilitador

Motivado por empatia, Motivado por culpa, vergonha, carência,


solidariedade, amor egoísmo

Causa mais disfunção, mantém as relações


Promove o desenvolvimento
doentes

Demonstra amor próprio e É uma expressão de busca desesperada de


autoestima “ajudar para ser aceito/amado” pelo outro

Vai de igual pra igual Vem de um ser “superior” pra um “coitado”

Comprometida com o resultado Focada mais na imagem, numa falsa sensação


da ação de controle de quem “ajuda”

Traz resultados produtivos Só abafa o problema temporariamente,

É solicitada, reconhecida e É considerada um dever/obrigação. É recebida


apreciada. Recebida como uma como normal, como um direito, não é
recompensa, um favor. valorizada, nem reconhecida.

Gera gratidão e reciprocidade Gera passividade, irresponsabilidade e


indiferença

É limitada Nunca tem fim

Ocorre de forma clara, explícita, Se baseia mais na opinião de quem ajuda, de


objetiva forma indireta, com objetivos obscuros,
segredos, manipulações

Quem ajuda se sente fortalecido, Quem ajuda se sente usado (“trouxa”) ou se


revitalizado sente superior (“salvador da pátria”)

Reforça um padrão de Reforça um padrão de comportamento


relacionamento saudável doente

Estimula maturidade, independência, Estimula irresponsabilidade, dependência,


autonomia imaturidade

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Cuidado com a codependência

O conceito de codependência é controverso. Não é aceito em


consenso pela comunidade científica. Muitas vezes ele pode ser
usado para se referir de maneira pejorativa aos familiares de
dependentes químicos, como se a culpa do uso de drogas do
outro fosse completamente deles.

Nós sabemos que uma dependência de substâncias é causada


por vários fatores complexos, não por um fator isolado.

O que eu quero enfatizar aqui é que o


relacionamento tem poder! Tanto para
manter as coisas ruins, quanto para mudar
e trazer mudanças boas para todos.
Porque nós somos capazes de influenciar o
comportamento das outras pessoas, de
acordo com as nossas atitudes.

O alcoolismo se aproveita das fragilidades existentes ou até


mesmo cria fragilidades que o permitem continuar na rede de
apoio (família, amigos).

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É como se  criasse realidades doentes , com  expectativas e


responsabilidades  tão confusas que levam uma reação em cadeia
de estilos de enfrentamento dos problemas.

Os “codependentes” em geral são pessoas bem-intencionadas,


que querem ajudar, querem cuidar. Eles buscam satisfazer as
necessidades dos outros, mesmo quando não são solicitados e
acabam muitas vezes negligenciando suas próprias necessidades.
Esse funcionamento leva ao risco de permanecer em
relacionamentos abusivos.

Veja aqui alguns itens que podem sugerir um funcionamento


codependente:

1) Pensar demais, se preocupar demais ou falar demais


sobre alguém;

2) Valorizar mais a opinião dos outros sobre a própria;

3) Dificuldade de tomar decisões sozinho;

4) Frequentemente desistir dos próprios planos, Hobbies


ou interesse pra ficar com alguém;

5) Medo exagerado de ser deixado ou rejeitado;

6) Se sentir infeliz, vazio ou descontente por ser si


mesmo;

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7) Medo exagerado de ficar sozinho;

8) Se adaptar demais aos gostos e pontos de vista dos


outros;

9) Perseguir, espionar a vida e o comportamento de


alguém;

10) Sentir-se infeliz e aprisionada num relacionamento e


não conseguir deixá-lo;

11) Focar toda sua energia nos problemas de outra pessoa.

12) Sentir-se leal a alguém que lhe machuca


recorrentemente.

Questões centrais da codependência:


1) Baixa auto estima;

a) Não gosto de mim mesmo, não confio em mim, não


sei o que eu quero.

2) Vergonha (Ansiedade, se sentir não amável, não-


merecedor);

a) Sou um fracasso, eu não importo, não sou amável,


não mereço felicidade, sou uma pessoa ruim, sou
defeituoso.

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3) Medo (Abandono, rejeição, críticas, intimidade, do


próprio poder);

a) E se eu ficar sozinho? Se eu for rejeitado? Se eu


fracassar? Se me julgarem? O amor é doloroso.

4) Culpa (Pelos próprios e dos outros: sentimentos, ações,


necessidades).

a) Eu deveria dar mais. Eu deveria me esforçar mais. É


minha culpa.

Fique atento e procure ajuda profissional caso você esteja tendo


dificuldades para lidar com essas questões.

Deixando as consequências naturais


acontecerem
Muitas vezes a dificuldade de deixar as consequências naturais
negativas do uso álcool acontecerem é por conta do medo de que
elas sejam prejudiciais para a pessoa.

Se o seu marido ou esposa está sendo ameaçado de perder o


emprego porque anda faltando por ter bebido demais você pode
se sentir com medo, aflição, com vontade de resolver essa situação
para que a pessoa não sofra ou até mesmo para que você não
sofra.

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Mas se você chegou até aqui na leitura, você certamente está


motivado a realmente solucionar esse problema. Consertar os
problemas naturais causados por beber demais pode até dar um
alívio e uma sensação de controle, mas isso só torna mais fácil
para o outro continuar bebendo. Entenda isso como um
aprendizado duro, difícil, mas você sabe que é necessário.

Vamos exercitar? Acrescente seus próprios exemplos:

Comportamento Como seria se eu não Como seria se eu


problemático deixasse os prejuízos deixasse as
naturais acontecerem? consequência naturais
(Facilitação do álcool) acontecerem?

Faltar o emprego por Ligar para o chefe dele(a) Deixar que ele(a)
ter passado a noite inventando uma desculpa resolva isso sozinho(a)
bebendo.

Faltar o jantar em casa Deixar que ele faça a


Eu fazer comida quando
por ter perdido a hora própria janta ou talvez
ele(a) chegar
no happy hour até não jante

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Cinco comportamentos a serem evitados

1) Não tenha nenhum tipo de conversa séria ou discussão


enquanto seu companheiro estiver sob efeito de álcool . Isso só
vai trazer mais conflito.

Se ele quiser conversar sob


efeito de álcool, arrume uma
desculpa, ou se afaste da forma
que puder. Quando ele estiver
sóbrio, retome o assunto.

2) C uidado com as fases de “lua de mel” . Depois de uma série


de problemas causados pelo uso do álcool, pode ser que seu
companheiro venha pedir desculpas, fazer promessas de mudança
que criem uma ilusão que você adoraria acreditar.

Não entenda isso como uma


manipulação, ele pode estar
falando a verdade, que ele
gostaria realmente de mudar no
momento em que está dizendo
isso.

Mas qualquer mudança requer mais do que uma promessa,


precisa ter atitudes que mostrem realmente que essa mudança
tem chances de ocorrer.

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Dica:
Aproveite esses momentos para
sugerir tratamento para ele, um
exemplo são grupos de ajuda mútua
como o Alcoólicos-Anônimos. (AA). Se
você já tiver pesquisado na sua região
quais locais de tratamento
disponíveis, você pode dizer para ele
nesses momentos.

E avalie qual grau real de comprometimento ele está, ou se são


apenas palavras da boca para fora com o intuito de reduzir o seu
incomodo com os problemas dele, para que ele volte a ter
conforto de fazer tudo novamente.

3) Não beba com ele . Se você está buscando que ele pare de
beber, qualquer dose que você beber com ele, passará a ideia de
que você de alguma forma incentiva o consumo de álcool dele.

Mesmo que você beba de


forma moderada, deixar de
beber traz mais vantagens. E se
mesmo assim for difícil para
você deixar de beber o pouco
que bebe, repense se você
também não está tendo
dificuldade de parar de beber.

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4) Não limpe a bagunça que ele fizer. Se por acaso ele beber,
sujar tudo ou vomitar, deixe que ele resolva o problema ele criou.

5) Não invente desculpas pra justificar o problema dele com o


álcool.

Se ele faltar o emprego


porque passou a noite
bebendo, não ligue para o
chefe dele inventando que ele
teve uma doença e não pode ir.
Deixe que ele se sofra as
consequências de seus próprios
atos.

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Capítulo 3 - Do alcoolismo à
sobriedade: a mudança do
comportamento humano

O problema da hostilidade
A história de tratamento de pacientes dependentes de álcool foi
marcada inicialmente por muita confrontação direta e hostil.
Grupos terapêuticos como, por exemplo, o Synanon nos EUA,
conhecidos também como “terapia de ataque” ou “o corte de
cabelo emocional”, tinham como base abordagens confrontativas.
Para exemplificar, observe essa citação da primeira página do The
Wall Street Journal, descrevendo uma abordagem dessas dirigida
a um executivo:

Eles marcaram uma reunião surpresa, cercaram-


no de colegas críticos de seu trabalho e
ameaçaram-no de demissão se ele não buscasse
ajuda imediatamente. Quando o executivo tentou
negar que tivesse problemas com álcool, o diretor
médico... repreendeu-o duramente. “Cale-se e
escute”, disse ele. “Alcoolistas são mentirosos,
então, nós não queremos ouvir o que você tem a
dizer.”. (Greenberger, 1983, p.1)

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Já imaginou se essa abordagem fosse recomendada a outras


doenças como depressão, ansiedade, diabetes, câncer, fobia social,
etc.? Seriam consideradas ridículas, violações da dignidade alheia,
completamente contraindicadas. No entanto, essas estratégias
agressivas, mesmo sem base científica, já foram muito
recomendadas a pessoas dependentes de álcool ou outras drogas.

Havia uma crença de que para o adicto


(dependente de substâncias) esse tipo de
técnica seria indicada porque eles precisavam
ser abordados assim para poderem melhorar.
Acreditavam que era a única abordagem que
poderia trazer algum resultado positivo. O
chamado “modelo de Minnesota”,
inicialmente, defendia que a dependência
química era um tipo de transtorno de
personalidade que torna os adictos diferentes
de pessoas com outros problemas por serem
“incapazes de ver a realidade”. Diziam que o
alcoolista nega integralmente qualquer
necessidade de ajuda sempre que é abordado
e então deve ser sempre lembrado de que não
está em contato com a realidade (Johnson,
1973, p.44).

Felizmente os programas mais recentes que empregam o


“modelo de Minnesota” hoje repudiam a confrontação agressiva e
incentivam estilos mais gentis (Fundação Hazelden, 1985; Insituto
Johnson, 1987).

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Como a sociedade e a ciência evolui, as pesquisas científicas


foram realizadas e mostraram justamente que esse tipo de
abordagem, além de não ajudar muito, traz até resultados
negativos (Lieberman, Yalo & Miles, 1973).

Não há evidencias científicas que apoiem esse tipo de


abordagem com alcoolistas! E a experiência prática mostra a
mesma coisa. É pior abordar adictos dessa forma! Eles abandonam
mais o tratamento, tem resultados muito piores!

Os maiores pesquisadores sobre mudança


de comportamento humanos hoje, se
questionam “onde foi que erramos? Como
foi que passamos a acreditar que um certo
tipo de ser humano apresenta uma condição
única que exige que utilizemos confrontação
agressiva se desejamos ajuda-lo?” (Miller &
Rollnick, 2001)

Provavelmente parte do problema foi que eram mal


interpretados ou ignorados alguns conhecimentos sobre os
padrões normais e saudáveis de comportamento humano.
Comportamentos normais eram vistos como doentios.

Por exemplo, o princípio da “ reatância psicológica ” (Brehm,


1966), que é um fenômeno natural que ocorre quando nossas
opiniões são percebidas como ameaças a liberdade pelo outro.

Figura: reatância psicológica

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Sempre que um indivíduo sente que sua liberdade está sendo


ameaçada, sua motivação fica voltada pra recuperar a liberdade
perdida. Despertamos essa tendência sempre que usamos rótulos
indesejáveis para descrever o outro (“Você é mentiroso” ou “Você é
um alcoólatra”) ou quando usamos a expressão “deve” ou “deveria”.

E isso não é uma característica exclusiva de dependentes de


álcool. É uma resposta previsível do ser humano, um princípio
psicológico saudável geral.

Se você é casado ou tem um relacionamento estável talvez seja


fácil entender isso. Imagine que você criticou alguma coisa que
você não gosta no seu marido. Por exemplo, se ele está acima do
peso, imagine dizer para ele:

“Você é um gordo! Para de comer tanto, vai explodir!”.

O que você acha prevê que vai acontecer? A tendência é que ele
passe a argumentar o contrário. Que ele passe a dar argumentos
de que, na visão dele, estar gordo não é um problema ou de que
ele não está tão gordo assim. E é possível que vocês acabem numa

discussão cada um defendendo


um ponto de vista. A motivação
NÃO PARE!
para ele querer emagrecer tende PARO!
a reduzir a partir dessa interação
com você. Ele vai sair dessa
conversa mais convencido de que
não precisa emagrecer do que
antes.

Figura: reatância psicológica

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Então o que as pesquisas mostram que resultados


positivos?

Em debates científicos de alto nível, não se discute


mais sobre a importância de um bom relacionamento
para ajudar alguém a mudar qualquer
comportamento. Seja entre médico e paciente, seja
em relacionamentos sociais.

Para auxiliar alguém a mudar precisamos oferecer empatia.


Fato esse inicialmente descrito por Carl Rogers (1959), mas
posteriormente confirmado por inúmeros pesquisadores mais
recentes.

Rogers define empatia por: “escuta reflexiva e habilidosa que


esclarece e amplifica a experiência e o significado próprios da
outra pessoa”. Resumidamente, saber ouvir, saber fazer perguntas
certas que estimulem o outro a pensar melhor, sem impor nossas
opiniões e crenças, respeitando o espaço e a autonomia da outra
pessoa.

Então quer dizer que não é pra confrontar a pessoa


com os problemas do alcoolismo dela?

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Não é isso que eu quero dizer. É importante que a


pessoa se confronte com o problema dela. Ter uma
sensação de desconforto inquietante perante a si
mesmo pode ser um importante fator gerador de
mudanças (Orford, 1985). Mas não é atirar a verdade
na cara da pessoa que vai fazê-la aceitar.

Às vezes o que o ocorre é até o oposto. Atirar a verdade na cara


dificulta ela aceitar a realidade que vive porque se ela vai se sentir
criticada, vai tender a se defender. O ponto aqui é não adotar uma
postura autoritária, hostil, pejorativa e coercitiva. Não é forçando a
barra que as coisas mudam.

Imagine um burro empacado. Qual a melhor maneira de fazê-lo


caminhar? Empurrá-lo ou usar uma cenoura para atraí-lo? Se você
o empurrar o que acontece? Ele vai firmar-se mais ainda no chão.

Sinais de resistência

É normal haver resistência no processo da mudança. Quando nos


depararmos com a resistência é um sinal de alerta de que
estarmos indo pelo lado mais difícil, provavelmente o lado errado.

Para que sua comunicação seja eficaz é fundamental avaliar os


sinais de que há receptividade pra conversar sobre mudar o
comportamento em relação ao álcool.

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Imagine um semáforo, em que a luz


verde indica que há abertura pra falar
sobre mudança (ex: parar de beber). E que
a luz vermelha indica que não há abertura,
que há risco de aumento de resistência e
de que ocorra uma discussão improdutiva.

Acompanhe o exemplo abaixo:

Você : “Eu gostaria que a gente conversasse sobre você não


beber hoje à noite.”

Seu cônjuge :

Sinal verde Sinal vermelho

“Tá bom, mas não quero saber “Lá vem você de novo com essa
de você gritando comigo!” chatice!”

“Eu não vou beber hoje!” “Eu bebo se eu quiser! Você não
manda em mim!”

“Posso dar a minha opinião?” Levantar o tom voz, cruzar os


braços, suspirar alto

Exercício prático:
Comece a prestar mais atenção a como seu cônjuge reage
quando você tenta iniciar uma conversa sobre o álcool. Escreva
quais as frases ou reações não-verbais (cruzar os braços, elevar o
tom de voz, etc.), que indicam sinal verde (receptividade) ou sinal
vermelho (resistência).

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Estágios da mudança do comportamento


humano

Assim como as estações do ano, a gravidez, o emagrecimento, o


nascer e o pôr do sol, muitas das mudanças no comportamento
humano não são imediatas como um interruptor de luz, em que
você aperta um botão e tudo muda num piscar de olhos.

Para entender isso, é só lembrar das mudanças que você fez na


sua vida. Se você já mudou de estilo de vida, começou a se
exercitar, se alimentar melhor, mudou estilo de roupas, de
emprego, de carro, etc. Tudo começa antes de você perceber que
precisa mudar.

Os 6 estágios da mudança:  (Prochaska e Diclemente)

A pessoa não acha que tem um problema,


Pré-contemplação
não acha que precisa mudar.

Começa a pensar que pode ter um


Contemplação
problema. Ao mesmo tempo acha que
precisa e acha que não precisa mudar.
(Ambivalência)
A pessoa já identificou o problema e
Preparação acha que precisa mudar, mas está se
preparando pra isso, ainda não tomou
uma atitude concreta.
Está tomando atitudes que vão gerar a
Ação
mudança desejada

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A pessoa já mudou e continua evitando


Manutenção
voltar ao comportamento anterior.

Volta ao comportamento anterior e acaba


voltando para algum estágio anterior da
Recaída
mudança (por exemplo: contemplação ou
preparação...)

Figura: Os 6 Estágios da Mudança (Prochaska e Diclemente).

Repare que os processos da mudança ocorrem numa espiral. É


um processo dinâmico, não estático. Isso significa que as fases
podem mudar ao longo do tempo e ocorrer em ordem diferente,
bem como, não é sempre necessário passar por um estágio para
chegar em outro. 

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Durante cada um desses estágios, a pessoa vai ter uma reação


diferente para cada abordagem que ela receber. Vamos imaginar
que você faça a seguinte pergunta pra alguém:

Você : “Você acha que precisa parar de beber?”

E agora as respostas da mesma pessoa de acordo com o estágio


da mudança que ela estiver:

1) Pré-contemplação :

“De jeito nenhum. Você encrenca demais com


as coisas!”

2) Contemplação:

“Às vezes eu acho que eu passo um pouco do


ponto, mas não acho que eu perca o controle.”

3) Preparação:
“Até acho, mas não sei como parar...”

4) Ação:
“Claro! Você poderia me ajudar?”

São só exemplos pra facilitar o entendimento. Cada pessoa


poderia dar respostas bem diferentes, mas a ideia que quero te
passar é de que a mesma pessoa vai responder de forma diferente
ao que você disser, seja com o discurso, seja com as atitudes, de
acordo com o estágio da mudança que ela estiver.

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A abordagem a ser utilizada varia de acordo com o estágio em


que a pessoa se encontra, portanto, é muito útil entender em qual
fase a pessoa está para saber como ajudá-la a ir para o próximo
estágio. Veja algumas dicas do que é necessário buscar em cada
estágio a fim de evoluir para o próximo:

1) Pré-contemplação :

a) São fases em que ainda não decidiu que beber é


um problema. Então aqui não é hora de dar dicas
sobre como parar de beber. Seria como oferecer um
churrasco a um vegetariano. É útil levantar dúvidas,
aumentar a percepção dele sobre os riscos de
problemas de beber. Apoiar a sobriedade e não ter
comportamentos facilitadores.

2) Contemplação:

a) Estimular a autoconfiança na capacidade de parar


de beber, evocar razões para parar e riscos de
continuar bebendo. Reduza o aspecto desejável de
continuar bebendo (ex: não arrume os problemas
que ele causou por estar bebendo). Aumente os
aspectos desejáveis dele permanecer sóbrio (ex:
convide para uma atividade que ele goste, mas só
possa fazer sóbrio).

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3) Preparação:

a) Ajudar a pensar em quais estratégias poderiam


ajudar a parar de beber. Facilitar a busca por ajuda,
pode ser útil fazer uma busca na internet sobre
tratamentos ou grupos de ajuda mútua disponíveis
na sua região. E conversarem sobre as opções.

4) Ação:

a) Ajudar a seguir agindo na direção certa.

5) Manutenção:

a) Auxiliar a identificar e utilizar estratégias para


prevenir o uso de álcool.

6) Recaída:

a) Incentivar ou auxiliar para que não fique paralisado,


desmoralizado, sem confiança por conta de ter
recaído. (Se quiser saber mais, pesquise por “efeitos
da violação da abstinência”).

Fonte: Miller, W. R. & Rollnick, S. (2002) Motivational Interviewing – preparing


people for change. 2 ed. New York: The Guilford Press.

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Como ajudar quando ele não estiver aceitando


ajuda

Diferencie a doença do doente . Lembre-se de que o


que você não quer pra sua vida é o alcoolismo, e que
alcoolista se comporta muitas vezes, pelo menos
parcialmente, levado pela doença dele. Isso não
significa que ele não tenha responsabilidade por mudar,
mas ajuda a perceber que por trás do alcoolismo pode
existir uma pessoa por quem valha a pena você lutar, se
você assim o quiser.

Busque tratamento pra você . Independentemente do


que ele vá fazer, procure você apoio, existem grupos de
ajuda-mútua que são gratuitos para familiares como:
http://www.codabrasil.org.br/  e http://www.al-anon.org.br/.
Ou procure psicólogos ou psiquiatras que trabalhem
com dependência química no SUS ou na rede privada.

Faça um mapeamento das opções de tratamento pra


alcoolismo que tem na sua região. Pesquise na internet,
ligue, visite locais. Pra quando você for sugerir, já puder
saber aonde, como, quanto custa, se é pelo SUS, se
atende o convênio, etc.

Pense em como você vai agir independente da


atitude dele . Mesmo ficando casada, é importante que
você cuide das suas próprias necessidades, não deixe
que ele e o problema dele sejam o centro da sua vida.

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Torça para o melhor, mas se prepare para o pior .


Tenha planos de como vai lidar caso aconteçam coisas
que você não quer. Se ele não parar de beber? Se ele
ficar agressivo? Se ele ficar doente? Se você for
dependente financeiramente dele, pense em maneiras
de depender menos. Isso te dará mais tranquilidade pra
não fazer só o que a doença dele quer.

Tenha um estilo de enfrentamento das


situações mais proativo:

Estilo de enfrentamento reativo :

É quando você segue reagindo aos problemas conforme eles


aparecem. Vai apagando um incêndio por vez.

Responde impulsivamente, movido pela


emoção, pelas crenças distorcidas, pela
fuga da dor. Movido pelo prazer
imediato, fuga da dor imediata. Voltado
a sofrimento. Julga, culpa, critica. Foco
seletivo, ruim ou bom, sem considerar o
todo. Repete aprendizados errados do
passado, transgeracionais.

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Estilo de enfrentamento  proativo :

Responde de forma planejada, movido pelos valores de vida,


respeito e construção.

Busca do prazer consistente, da vida Me preparo! Planejo


como vou lidar com as
plena. Transforma a dor em situações antes delas
acontecerem!
crescimento. Avalia, determina, foca
mais no positivo das situações ruins ao
mesmo tempo em que reconhece o
que há de ruim. Compreende, conhece,
mas busca independência dos
aprendizados errados do passado,
transgeracionais através de atitudes
produtivas.

Como ajudar quando ele estiver aceitando


ajuda

O alcoolismo é uma doença que pode prejudicar a força de


vontade do indivíduo. Isso significa que mesmo quando a pessoa
quer melhorar, ela terá desafios pela frente.

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Se ele está aceitando ajuda, é importante que você o apoie


positivamente, dentro das suas possibilidades e desejos. Ajudá-lo
na recuperação não precisa fazer mal a você, e não fará se você
souber dosar a forma de ajudar.

Cuidado para não cair na armadilha de medir a motivação de


forma errada. Muitas vezes acreditamos que a motivação está no
discurso da pessoa ou se ela parece ou não angustiada com a sua
situação. Mas isso pode ser muito enganoso.

O que realmente mostra que alguém


está motivado são as atitudes, se a pessoa
está de fato, seguindo os combinados ou
as orientações médicas. É bom lembrar
que uma pessoa pode estar motivada para
algumas coisas e pra outras não.

Nesses casos é importante que você possa ter paciência pra não
querer resolver todos os conflitos gerados pelo alcoolismo de uma
vez só. O ajude a priorizar o tratamento na vida dele, pelo menos
até que ele consiga lidar com outras coisas.

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O foco número um é a abstinência do álcool. Se por acaso você


também quer que ele pare de fumar, seja paciente, não fique
exigindo pra que agora ele mude completamente de uma hora
para outra. Só de não estar bebendo, já é um grande avanço.

Um passo por vez e chega-se longe!

Vou dar algumas dicas para essa fase inicial de tratamento,


quando a pessoa parou de beber a pouco tempo:

1) Ao invés de perguntar como ele está, estimule a


atividade, pergunte o que ele vai fazer, sem
pressão . Tipo:
“E aí, planejou o que pro final de semana? Vamos
passear? Vamos visitar a tia Gertrudes?”. Ajude a
mantê-lo ocupado, mas sem pressionar demais.

2) Se interesse por como ele está se sentindo .


Demonstre empatia pelos sentimentos dele. Ele pode
querer ou não falar sobre o desejo dele de beber, mas
não se assuste demais com isso, porque se você ficar
irritada toda vez que ele falar em desejo de beber, ele
não vai querer discutir isso com você no futuro e você
não conseguirá ajudá-lo a passar por isso sem beber,
desabafando ou se distraindo. Esteja por perto, mas
não banque o detetive.

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3) Tenha contatos para o caso de necessidade .


Tenha o contato do psicólogo, psiquiatra, ou de algum
padrinho do AA. Tenha já em mãos os números de
contato pra pedir ajuda caso aconteça alguma
recaída. Pode ser que ele se abra mais fácil pra um
profissional ou padrinho do AA do que pra você, então
o ajude a receber esse apoio.

4) Tenha um plano para recaída .


É muito comum ter recaídas durante o primeiro ano
de abstinência. Mas a recaída pode ser bem pontual se
for enfrentada de forma adequada. Não se desespere
caso aconteça. Tenha claro pra você se você irá querer
continuar ajudando e como pretende fazer. Vocês
podem até fazer algum tipo de combinado sobre
internar, ou sobre usar uma medicação que você possa
de ajudá-lo a lembrar de tomar, nesses primeiros
meses. Faça isso com a ajuda de um profissional.

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Capítulo 4 - Comunicação
Efetiva

Posso lidar com você me dizendo O que eu fiz ou deixei de fazer.


E posso lidar com suas interpretações.
Mas, por favor, não misture as duas coisas.
Se você quer deixar qualquer assunto confuso, Posso lhe dizer como
fazer: Misture o que eu
faço Com a maneira que você reage a isso.
Diga-me que você está decepcionada Com as tarefas inacabadas que
você vê, Mas me
chamar de “irresponsável”
Não é um modo de me motivar.
E me diga que fica magoada Quando digo “não” às suas aproximações,
Mas me chamar de
um homem “frígido”
Não vai melhorar suas chances.
Sim, posso lidar com você me dizendo O que fiz ou deixei de fazer.
E posso lidar com suas interpretações.
Mas, por favor, não misture as duas coisas.
MARSHALL B. ROSENBERG – Comunicação Não Violenta

A comunicação é uma peça fundamental pra ajudar quem você


ama a parar de beber! Existem várias formas de aprender a se
comunicar melhor, a se expressar de uma forma que você consiga
ser ouvida, que aumentem as chances de você conseguir o que
quer de forma honesta, sem brigas ou retaliação.

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Esse tema daria assunto para um livro inteiro só sobre isso. Esse
tipo de dialogo exige treino, persistência e intenção. Não é da
noite pro dia que você será capaz de mudar sua forma de
comunicação, mas quanto mais você se esforçar em praticar,
melhor você se tornará, até que sairá quase de forma automática.

O que é uma comunicação efetiva?

Comunicação efetiva é quando a mensagem que você quer


enviar, é recebida da maneira que você pretendia. Quer dizer, que
o que um quis falar é a mesma coisa que o que o outro entendeu.

Porque eu tenho que melhorar minhas


habilidades de comunicação?

A experiência clínica e as pesquisas mostram que


problemas de comunicação envolvendo familiares são
fatores que interferem de forma muito importante na
busca de tratamento e no consumo de álcool do
alcoolista.

A melhora na nossa capacidade de comunicação,


aumenta também nossa satisfação em várias áreas da
vida, ajuda a aumentar a rede de apoio social,
aumenta a sua capacidade de conseguir que as
pessoas façam o que você necessita.

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Comunicação positiva é contagiante. Estimula os


outros a também se comunicarem positivamente com
você.

Sinais de uma boa comunicação de um casal

Ouvem com cuidado;

São educados;

Validam o ponto de vista um do outro;

Falam pro parceiro sobre os sentimentos bons que


tem um pelo outro;

Trocam favores;

Param pra pensar antes de comentar algo que possa


irritar o outro;

Escolhem o lugar e hora pra resolverem problemas;

Tem um objetivo com cada reclamação;

Reclamam de uma coisa por vez;

Pedem pro outro mudar de uma forma positiva e não


crítica;

Um tem compromisso com o outro;


-  Cada um dá e recebe um pouco.
-  Às vezes um cede pra agradar o outro e vice-versa.

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Sinais de uma comunicação ruim de um casal

Não se escutam;

Um acha que já sabe o que o outro está pensando


sem verificar;

Depois de dizer um sim, sempre tem um MAS;

Não conseguem concluir uma discussão por sempre


mudarem de assunto;

Um interrompe demais o outro;

As discussões são verdadeiras competições em que


um ganha e o outro perde;

Tratamentos de silêncio;

Quando vão discutir, costumam perder o controle;

Nunca param pra ter o feedback um do outro;

Insultos;

Desvaloriza o que o outro fala;

Tem roupa suja demais que nunca termina de ser


lavada;

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Como falar com o seu amado alcoolista

É importante ter em mente quais os seus objetivos quando você


quiser falar sobre parar de beber. Se sua intenção for conversar
com ele para aumentar a motivação dele para parar de beber, vou
listar aqui alguns objetivos úteis para você ter em mente:

1) Desenvolver nele uma percepção de desconforto por


ele estar agindo de forma problemática;

Isso se chama dissonância cognitiva (Festinger, 1957).


É quando uma pessoa percebe que está agindo de
uma forma muito distante de seus objetivos próprios.
Pode ser conseguida por exemplo quando a pessoa se
dá conta dos custos do próprio comportamento.
Quando ela percebe que seu comportamento vai
contra valores pessoais importantes para ela como
uma autoimagem positiva, a felicidade da família, o
desenvolvimento no trabalho. Cada pessoa vai se sentir
tocada de acordo com sua singularidade. Pra alguns
ver que os filhos estão abandonados é motivo de
muito desconforto. Para outros, isso pode não mexer
tanto.

2) Expressar empatia. Respeito pelas dificuldades e pelo


ponto de vista do outro;

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3) Evitar argumentação.

4) Não forçar quando houver resistência (sinal vermelho).

5) Estimular a autoconfiança na capacidade de ele parar


de beber.

Dicas gerais:

1) Seja verdadeira : A verdade direta sem exagero, nem


minimização dos seus sentimentos, é um grande
presente que você pode dar a alguém. Minimizar ou
exagerar seus sentimentos só contribuem pra criar um
mundo de fantasia. Lembre-se de que falar sobre seus
sentimentos é diferente de jogá-los na cara ou culpa-
lo pelos seus sentimentos.
Acusações e brigas tiram o foco do que importa. Por
exemplo: “Eu tenho medo que as coisas fiquem piores
se você não procurar ajuda” é melhor que “Olha pra
você! É ridículo que você ainda não tenha ido se
tratar!”.

2) Peça pra ele considerar procurar ajuda : Pra muitos


alcoolistas aceitar ajuda é impensável. “Você
consideraria buscar ajuda?” ou “Eu sei que é difícil, as
vezes parece que você simplesmente não consegue
parar”. Mas não seja muito insistente. Ofereça ajuda,
demonstre que você está disposta a colaborar, mas
não precisa ficar repetindo a oferta.

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3) Escute . As principais técnicas pra motivar mudanças


de comportamento valorizam o elemento de a própria
pessoa falar sobre o problema dela ("change-talk").
Quando mais ele se ouvir falando sobre o problema
dele, maior a chance de ele pensar melhor. E quando
ele precisar desabafar, é maior a chance de te procurar
novamente.

4) Não aconselhe quando não for solicitada . Conselho


sábios como: pare de andar com “Fulano”, volta pros
estudos, faça mais exercícios. Só colocam mais pressão
no lugar errado. O foco não é o que ele deve fazer. É
ele querer fazer. E parar de tentar solucionar tudo pelo
outro também é uma carga emocional a menos pra
você. Você pode dizer algo como “eu ouvi que anda
estressado e que as vezes tem se sentido sozinho. Isso
deve ser difícil” ao invés de “se você parasse de andar
com esses bêbados/drogados e se esforçasse mais no
seu trabalho, você seria muito mais feliz e nós
poderíamos parar de brigar!”.

5) Não dependa da decisão dele pra viver sua vida.

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Acusações e julgamentos

Acusações e julgamentos fazem o clima pesar mais ainda.


Costumam despertar no outro a necessidade de se defender, de
defender a própria autoestima.

As críticas e julgamentos são estímulos dolorosos, podem


prejudicar a relação. Elas geram 2 tendências de reações no outro:

1) Hostilidade ou antagonismo.
- Raiva, sensação de injustiça, vontade de reagir à
altura, se justificar, tentar provar que não é aquilo.

2) Submissão.

- Redução da autoestima, medo, vergonha, culpa,


tendência a obedecer de má vontade, talvez retaliação
futura.

Dica:
Quando tiver que fazer reclamações:

1) Faça uma por vez;


2) Sempre tenha um objetivo para cada
reclamação.

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Armadilhas do conselho

Em geral a gente consegue perceber quando nossos conselhos


não estão sendo bem recebidos. Quando alguém está bebendo de
forma problemática, quem está ao redor costuma sentir
frustração, ansiedade, medo, entre outras emoções que são
capazes de tirar nosso foco no objetivo de que a pessoa reduza
seu consumo de álcool.

Se você estiver atento a essas 5 principais armadilhas ao


aconselhar alguém a parar de beber, será muito mais efetivo na
sua comunicação.

- “Palestrar”:

É quando você fala para alguém e não


com alguém. Dando ordens, dizendo
o que a pessoa tem que fazer,
explicando o que ela fez de errado em
cada situação, mesmo quando a
pessoa já sabe e não está receptiva.

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- “Rotular”:

Você é um “alcoólatra”, “viciado”. A


Você é um
conversa passa a ser sobre rótulos e alcoólatra!

não sobre comportamentos


ALCOÓLATRA
específicos

- Culpar:
Tentar convencer a pessoa através da
culpa. “Você está fazendo da minha Você está
tornando
vida um inferno!”. Não confunda minha vida
um inferno!
culpar com expressar seus
sentimentos, existem maneiras de
fazer isso que não bloqueiam
a capacidade do outro te ouvir.

- Tomar partido demais:


É quando você fica “militando” que a
pessoa tem que decidir por parar de
beber. Quando a pessoa está
“dividida” em relação ao que fazer,
Você precisa
quando alguém toma muito um decidir parar
de beber!
lado, a tendência é que a outra
pessoa assuma o outro lado (nesse
caso o lado de continuar bebendo).

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- Interrogar:
Você não
“Você bebeu ontem? Quanto? Com disse que ia
parar?!
quem? Você não disse que ia parar?”.
Perguntas fechadas que não
estimulam o diálogo, costumam
aumentar a resistência.

Aprendendo a ouvir

Ouvir não é um ato realizo apenas com as orelhas. É um


processo que depende do interesse que você é capaz de ter e, é
claro, demonstrar.

Quando mais você é capaz de ser um bom ouvinte, mais será


capaz de ajudar o outro a pensar e tomar melhores decisões.
Porque através de uma boa escuta, você estimula a outra pessoa a
falar sem se sentir julgada, sem aumentar a resistência.

As pesquisas mostram que um dos elementos mais eficazes para


aumentar a motivação pra mudança é quando a pessoa fala (e se
escuta) sobre os motivos pra mudar.

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1) Perguntas abertas:

Faça perguntas que estimulem a outra pessoa a discorrer sobre


o ponto de vista dela sobre uma situação.

Por exemplo, ao invés de perguntar: 

“Você gostou da festa de ontem?”

Pergunte:

“O que você achou da festa de ontem?”.

2) Reconheça o positivo:

Fale a respeito das coisas positivas do que está sendo dito. Isso
ajuda a aumentar a autoestima do outro e a baixar a guarda. Mas
cuidado pra não exagerar ou dizer algo que não for sincero.
Ninguém gosta de bajulação e em geral fica muito nítido quando
você está tentando forçar a barra pra mudança.

Você pode dizer algo como:

Eu reconheço a coragem que você teve que ter pra me


dizer isso”;

Dá pra ver que você está se esforçando”

“Eu fico realmente feliz e agradecido por você confiar em


mim pra falar isso”

“Admiro sua coragem”.

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3) Reflexões (Escuta ativa):

Repita o que entendeu sobre o que o outro disse. Com a


finalidade de se certificar que você entendeu o que a outra pessoa
está dizendo e demonstrar interesse em realmente entender.

É importante que você mantenha um tom não julgador , mesmo


que se incomode com o que está ouvindo. Uma coisa é o seu
incomodo e você tem todo direito de se incomodar, mas outra
coisa é reconhecer que a experiência do outro é válida e faz
sentido do pondo de vista dele . Demonstre humildade,
igualdade e não tente ser dono da verdade.

4) Sumários:

Após um diálogo produtivo, você será capaz de construir um


resumo sobre o que ele falou. Resumir indica que você realmente
ouviu e ajuda a cair a ficha para do outro.

Por exemplo: 

“Posso tentar resumir o que você me disse pra eu ver se eu


entendi bem?
Em alguns momentos você acha que passa da conta na
bebida, mas não acha que isso ocorra com frequência e
que você consegue parar de beber quando quiser, por isso
você não se preocupa com isso. Certo?”.

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Precisará de treino pra se adaptar a esse jeito até que ele saia
naturalmente, mas com persistência você verá que é um jeito
muito mais confortável de conversar com alguém até mesmo se
você discorda do ponto de vista do outro, porque acima da
discordância, demonstra respeito e dignidade.

Outras armadilhas a serem evitadas

- Implorar : “Você está destruindo a sua vida! Pelo amor


de Deus pare!”;

- Exigir : “Você tem que parar de usar!”;

- Ameaçar : “Se você não parar de usar, nunca mais vou


falar com você!”;

- Julgar : “Você realmente acha que é um bom pai?”;

- Repreender : “Como você pode fazer isso com a


gente?”;

- Exagerar : “Você nunca faz o que nós combinamos!”;

- Dizer : "Você nunca" ou "Você sempre";

- Usar gestos ou tom de voz agressivos ;

- Ameaçar de agressão ou divórcio ;

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Dicas finais de como se expressar:

Fale de você, use “eu”;

Tome responsabilidade pelos seus sentimentos;

Diga como você se sente em relação a algo que seu


parceiro fez:

“Eu me senti _____________. Quando você


________________”.

Expresse sentimento negativos com palavras, não ações;

Discuta um assunto por vez;

Mostre respeito (valide os sentimentos do outro);

Trabalhe junto pra resolver os problemas;

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Capítulo 5 - Os limites: liberdade


e conforto

Limites são fundamentais para qualquer relacionamento ser


bem-sucedido e para que ambos se sintam satisfeitos. Os limites
são o desenho do relacionamento, eles determinam as regras do
jogo. O que um deve esperar do outro. Quando não são
claramente definidos causam uma confusão tremenda.

Alerta:

Se você estiver lidando com uma pessoa


potencialmente violenta, se certifique de
que você não está em risco. Nada é mais
importante do que sua vida e sua
segurança.

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Limites indicam a responsabilidade

João e Joana vieram para a terapia de casal porque


estavam brigando demais. Quando eu perguntei porque
eles brigavam tanto, ele me disse que é porque ela quer
controlar a vida dele. E ela respondeu que tinha que
controlá-lo porque do contrário ele ia ter outra recaída no
álcool. Ela ficava em cima dele o tempo todo,
monitorando a agenda dele, conferindo se ele estava
mesmo onde dizia estar, as vezes seguia ele nos jogos
de futebol fingindo que queria assistir as partidas. Então
eu perguntei se era verdade, se ele iria ter uma recaída
se ela parasse de controlá-lo. Para o meu espanto ele
disse que sim, que se não fosse ela, ele já teria recaído
há muito tempo, ao mesmo tempo que ela o estressa
tanto que ele aproveita para beber sempre que ela viaja
ou se ausenta por algum tempo.

Aí está uma situação em que um culpa o outro pelo próprio


comportamento. Como se o comportamento de um fosse causado
pelo outro, sem que houvesse auto responsabilidade . Entretanto,
cada um é responsável pelos próprios sentimentos, atitudes,
comportamentos, necessidades, desejos, pensamentos, limites,
valores e gostos.

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Quando a pessoa passa a se responsabilizar,


ela deixa de ser vítima do alcoolismo do outro
e passa a ter poder e liberdade de escolha.
Você já deve ter visto ou talvez até já tenha
dito isso: “Eu sou infeliz porque ele bebê!”.
Esse tipo de frase expressa que você está
responsabilizando outra pessoa pelo seu bem-
estar.

Mas ficar com ele é, discutivelmente, uma escolha sua! Se você


depende dele financeiramente ou afetivamente, isso diz respeito
principalmente a você. Se você considera ele um marido ou pai
ruim e quer que ele seja melhor, é um desejo seu, são avaliações
suas, são valores seus, não são necessariamente os dele e vice-
versa.

Esclareça para si mesma a diferença entre expectativas e


obrigações entre vocês. "Antes de tudo, cada um de vocês é uma
pessoa física com seu próprio CPF, não?!".

Você é a principal defensora das suas


necessidades! Eu, das minhas, todos somos!
Podemos até esperar coisas dos outros, mas
não podemos obrigá-los a nos dar. Podemos
atraí-los para nos dar o que precisamos, de
bom grado. Assim como o que damos, que
seja também de bom grado.

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Quando você começa a perceber isso, você começa a sentir o


alívio e a liberdade que essa realidade proporciona. Você para de
se vitimizar e limitar suas possibilidades de ação e para de brigar
com os outros que não fazem o que você quer.

Ou pelo menos aceita com mais humildade a própria condição,


sem piorar tudo. Todos somos em parte dependentes de outras
pessoas, só não podemos nos perder nisso querendo que alguém
nos satisfaça a força.

Limites indicam que as atitudes têm


consequências

Quando você coloca um limite, você protege a sua vida, você


deixa de ser vítima e deixa de colaborar para estilos de vida
destrutivos. Colocar limites, é estabelecer consequências para
determinadas condições.

Cada pessoa deve avaliar quais consequências julga necessárias,


de acordo com as próprias necessidades.

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Quais são as consequências que um cônjuge em geral pode


precisar?  Aqui vou dar alguns exemplos para te ajudar a
entender:

1. Se recusar a seguir em uma conversa abusiva;

2. Chamar a polícia caso ele a coloque em risco ou a


ameace.

3. Se distanciar fisicamente;

4. Parar de dar dinheiro para bebida;

5. Não pagar as contas do parceiro;

6. Não lavar as roupas do outro;

7. Se recusar a fazer sexo;

8. Cancelar o cartão de crédito;

9. Não cozinhar para o outro ou não o esperar para o


jantar;

10. Se divorciar;

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Não estou sugerindo que você adote nenhuma das atitudes que
exemplifiquei. Essa avaliação só pode ser feita por você mesma. Se
estiver difícil pensar nisso, considere ajuda profissional (ex:
psicólogo ou psiquiatra).

Os limites ensinam ao outro que as atitudes tem


consequência

Limites não são ameaças. São as regras do jogo. Caso algum


limite seja ultrapassado, existe uma consequência direta.

Veja as características de um limite adequado:

1. Você é capaz de mantê-lo;

2. É claro;

3. É sobre você e não sobre o outro;

4. Alivia sua carga;

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5. Te ajuda em momentos difíceis;

6. É imediato;

7. É você quem manda no limite, então você pode mudá-


lo se quiser;

Não conseguir colocar limites e se sentir obrigada a fazer ou


aceitar coisas que você não quer, pode indicar:

Medo de deixar de ser amada;

Medo de deixar o cônjuge irritado ou contrariado;

Medo de ficar sozinha;

Medo de se tornar uma pessoa ruim;

Medo dos próprios sentimentos de culpa;

Medo de não estar dando de volta o amor que recebe;

Medo de perder a aprovação dos outros  (querer


agradar 100% das vezes);

Medo de ferir os sentimentos do outro.

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Vamos a um exercício prático! Complete a tabela a seguir com


exemplos da sua situação. (Os exemplos não são conselhos!)

Comportamento positivo Consequência que eu vou cumprir por meu


cônjuge não ter atingido

Falar comigo com respeito Se ele gritar e me ofender vou sair de casa por
algumas horas

Seguir o tratamento Me divorciar


psicológico

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Tenha em mente que dentro dos relacionamentos saudáveis há


necessidade de equilíbrio entre a vida individual e a vida em casal.
Não deixe que o alcoolismo e a codependência tomem conta da
vida de vocês.

Esposo Casal Esposa


Familiares Vida em comum Familiares
Amizades Afeto Amizades
Hobbys Parceria Hobbys
Lazer Companheirismo Lazer
Interesses próprios Amor Interesses próprios
Fontes de apoio Sexualidade Fontes de apoio
Carreira Acordos Carreira
Desejos Desejos
Necessidades Necessidades
Opiniões Opiniões
Problemas Problemas

Esposo Casal Esposa


Familiares Vida em comum Familiares
Amizades Afeto Amizades
Hobbys Parceria Hobbys
Lazer Companheirismo Lazer
Interesses próprios
Alcoolismo
Amor Interesses próprios
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Capítulo 6 - Cuidando de quem


cuida

É muito mais difícil, se não impossível, ajudar outra pessoa se


você não estiver bem. É fundamental nessa trajetória que você
esteja cuidando primeiro de si. Para tanto, eu trouxe aqui algumas
reflexões que podem te ajudar a cuidar de sua saúde mental e
qualidade de vida.

Avaliando suas áreas da vida


vi ade

P
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so
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al
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Qu
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Satisfação (0 a 10)
Área Âmbito
Atual Objetivo
Saúde e Disposição
Pessoal Desenvolvimento intelectual
Equilíbrio emocional
Realização e Propósito
Profissional Recursos financeiros
Contribuição social
Família
Relacionamentos
Desenvolvimento amoroso
Vida Social
Criatividade, Hobbies e Diversão
Qualidade de Vida Plenitude e felicidade
Espiritualidade

Após pontuar o seu nível de satisfação cada área da sua vida,


escolha algumas das áreas que você considera importantes e que
estejam com uma menor que o seu objetivo.

Área 1: Nota atual:

Objetivo:

Atitudes com as quais me comprometo para melhorar:

Quais obstáculos espero enfrentar para colocar em prática?

Como Vou superar esses obstáculos? Posso contar com a ajuda


de alguém? Quem? Como especificamente espero que essa
pessoa possa me ajudar?

Repita esse processo para outras áreas da vida que estiverem


abaixo dos seus objetivos. Procure não se sobrecarregar, comece
melhorando um pouco aqui, um pouco ali. O mais importante não
é a velocidade, mas a direção.

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Sintomas de doenças mentais

Os transtornos mentais são muito comuns e muita gente não


reconhece quando eles ocorrem. Pode parecer, para algumas
pessoas, que é normal ficar triste a maior parte do tempo ou com
níveis de ansiedade e descontrole emocional das mais variadas
formas.

Dica:
Se você passa por qualquer que seja o tipo de
sofrimento emocional e não faz nenhum tratamento
com algum profissional da psicologia, medicina ou
psiquiatria, te sugiro que considere consultar um
desses profissionais para receber uma avaliação e
tratamento adequado.

Como eu sei que muitas pessoas não se convencem a procurar


um profissional para tratamento sem que haja mais evidências
dessa necessidade, vou deixar aqui duas escalas pra ajudar você a
ver se está com sintomas de depressão e ansiedade.

Mesmo que você não se encaixe nesses sintomas e esteja


sofrendo, busque atendimento profissional da mesma forma.
Somente um profissional será capaz de avaliar se você está ou não
com uma doença mental e qual o melhor tratamento para o seu
caso.

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Depressão

PHQ-9 (Patient Health Questionnaire) Nenhuma Vários Mais da Quase


Durante as últimas 2 semanas, com vez dias metade dos todos os
que frequência você foi incomodado/a dias dias
por qualquer um dos problemas
abaixo?

1. Pouco interesse ou pouco prazer em 0 1 2 3


fazer as coisas

2. Se sentir “para baixo”, deprimido/a 0 1 2 3


ou sem perspectiva

3. Dificuldade para pegar no sono ou 0 1 2 3


permanecer dormindo, ou dormir mais
do que de costume

4. Se sentir cansado/a ou com pouca 0 1 2 3


energia

5. Falta de apetite ou comendo demais 0 1 2 3

6. Se sentir mal consigo mesmo/a — ou 0 1 2 3


achar que você é um fracasso ou que
decepcionou sua família ou você
mesmo/a

7. Dificuldade para se concentrar nas 0 1 2 3


coisas, como ler o jornal ou ver
televisão

8. Lentidão para se movimentar ou 0 1 2 3


falar, a ponto das outras pessoas
perceberem. Ou o oposto – estar tão
agitado/a ou irrequieto/a que você fica
andando de um lado para o outro
muito mais do que de costume

9. Pensar em se ferir de alguma 0 1 2 3


maneira ou que seria melhor estar
morto/a
Drs. Robert L. Spitzer, Janet B.W. Williams, Kurt Kroenke e colegas (1999), com um subsídio educacional
da Pfizer Inc.

Se você marcou mais que 10, você pode estar com depressão.

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Ansiedade

Durante as últimas 2 semanas, com Quase


Nenhuma Vários Mais da
que freqüência você foi todos os
vez dias metade dos
incomodado/a pelos problemas dias
dias
abaixo?

1. Sentir-se nervoso/a, ansioso/a ou 0 1 2 3


muito tenso/a

2. Não ser capaz de impedir ou de 0 1 2 3


controlar as preocupações

3. Preocupar-se muito com diversas 0 1 2 3


coisas

4. Dificuldade para relaxar 0 1 2 3

5. Ficar tão agitado/a que se torna 0 1 2 3


difícil permanecer sentado/a

6. Ficar facilmente aborrecido/a ou 0 1 2 3


irritado/a

7. Sentir medo como se algo horrível 0 1 2 3


fosse acontecer

Spitzer e cols. (2006) e validado em 2007 por Kroenke, Spitzer, Williams, Monahan e Löwe. A tradução
para o português foi realizada pela Pfizer com validação no Brasil em 2006.

Se você marcou mais que 10, você pode estar com transtorno de
ansiedade.

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Reduzindo o Isolamento social

Milhares de pessoas passam ou passaram pelo que você está


passando! Muita gente na sua situação se sente envergonhada. Se
esse for o seu caso, não se deixe levar por esse sentimento.  Não
há motivos pra você se envergonhar!

Esse é o tipo de situação em que o isolamento


social só piora as coisas. Você, como qualquer
outra pessoa, precisa de suporte social!

Se você convive com pessoas que te invalidam, criticam e não


dividem o mesmo posicionamento de melhorar que você, não se
deixe abalar. Não se perca na expectativa de tentar receber
aprovação e apoio de todo mundo. 

Se esforce para construir uma rede de relacionamentos que te


apoie. Tudo fica mais leve quando temos alguém para nos ajudar a
enfrentar os problemas.

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Não espere encontrar tudo o que você precisa numa pessoa só.
Para te ajudar nisso, vamos fazer uma lista de quem você poderia
buscar para cada necessidade. Vou começar listando algumas
necessidades possíveis, siga inserindo o que cabe melhor na sua
situação.

Companhia para qual situação? Nomes possíveis


Desabafar

Jogar conversa fora

Receber um conselho

Rir

Me inspirar

Me sentir útil e competente

Tornar o clima mais leve

Ligar numa hora difícil

Alimente esses relacionamentos. São pessoas que fazem bem


pra você. Que valem o esforço de encontrar tempo numa rotina
tumultuada para você encontra-las com alguma regularidade.

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Se concentre, também em manter as relações positivas. Sirva de


apoio para as pessoas,  Desabafar é uma coisa, transformar o outro
em um “muro das lamentações” é outra.

É importante que você tenha alguém para expressar seus


sentimentos, mas siga se responsabilizando pelos seus problemas
e lutando para que você possa progredir na solução deles.

Regulando suas emoções

As emoções são importantes! Quando elas ficam mais intensas


do que somos capazes de lidar, podemos acabar agindo de forma
ineficaz (que nos afasta dos nossos objetivos).

O que as emoções fazem conosco:

1) Nos motivam, nos preparam para uma atitude.

a. Ex: O medo de ser atropelado pode fazer com que


você corra para sair do trajeto de um carro que vem
em alta velocidade.

2) Nos mostram nossos valores e necessidades.

a. Emoções podem ser sinais de alarme de que algo


não vai bem. Mas, cuidado, elas podem ser
desencadeadas pelos fatos ou por interpretações
erradas que estamos fazendo dos fatos.

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3) Comunicam aos outros.

a. A linguagem corporal, expressões faciais e tom de


voz, comunicam informações importantes aos
outros. Algumas dessas informações podem não ser
úteis de acordo com nosso objetivo. Quando
queremos muito comunicar algo a alguém, pode ser
difícil modificar nossas emoções, pode ser
importante “digerirmos” melhor uma emoção antes
de comunica-la. Ex: Sentir muita frustração por
conta do comportamento de alguém pode fazer-nos
confrontar e xingar causando uma briga. Em geral,
ineficaz. Eventualmente pode nos deixar
arrependidos ou criar mais um problema pra nós.

Por exemplo: a raiva faz com que nossa atenção seja


rigidamente focada para a situação que está nos deixando com
raiva. Fica difícil pensar com perspectiva quando estamos
tomados pela raiva.

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Como reduzir a vulnerabilidade e a desregulação emocional

1) Cuidar da sua saúde física

a. Dormir bem, se alimentar adequadamente, tratar


doenças, evitar substâncias que alterem seu humor.

b. Se exercitar regularmente. Pelo menos 20 minutos


diários.

2) Vivenciar coisas positivas regularmente

a. Se envolva em atividades agradáveis. Faça uma lista


de atividades prazerosas pra você e se esforce pra
praticá-las regularmente. Ex: Passear na praça.
Desenhar. Caminhar. Ver um filme. Sair pra dançar.
Tomar um banho quente e demorado. Ouvir música.
Ver vídeos engraçados no YouTube.

3) Pratique a gratidão

a. Esteja atento as experiências positivas que ocorrem


todos os dias.

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Mesmo que pequenas. E todos os dias ao acordar e


antes de dormir, se esforce para pensar nessas
coisas positivas que ocorreram e reconheça o valor
que elas tem, mesmo que pareça pouco importante.
Ex: Alguém foi gentil com você no transito. Alguma
pequena surpresa positiva inesperada. Seja grato(a)
pelo que você tem, sua saúde, sua liberdade, etc.

4) Não evite o desconforto necessário

a. Sempre que evitamos lidar com um problema


importante, as chances são de que ele aumente e
nos sobrecarregue no futuro.

5) Identifique algo importante para você desenvolver e


faça um pouco disso regularmente.

a. Se você acha importante estudar e se desenvolver


intelectualmente, estude regularmente. Se você
acha importante ajudar as pessoas, busque
maneiras se ser melhor nisso gradualmente. Faça
coisas que te tragam orgulho e propósito.

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6) Higiene da linguagem;

a. Pensamentos: Observe que quando você está infeliz


ou com algum sentimento desagradável, você está
pensando em coisas que despertam esse
sentimento. Procure alimentar sua mente com
coisas positivas, lembranças que tragam
sentimentos que você quer ter. Diga coisas positivas
pra si mesmo ou a respeito de si (pode ser em voz
alta ou só na sua cabeça mesmo).

b. Postura corporal: Quando estamos aflitos, ansiosos


é possível que também estejamos com os músculos
tensos e contraídos. Quando estamos tristes, é
possível que estejamos também com uma postura
corporal entristecida. Busque manter sua postura
corporal relaxada, mantendo uma postura “digna”,
que você teria caso estivesse se sentindo orgulhoso
de si. As emoções tem uma relação bidirecional
corpo-mente. Nosso corpo é capaz de enviar
informações que influenciam nossos sentimentos e
nossos sentimentos são capazes de mudar nosso
corpo, nossa postura. Faça um teste. Quando estiver
com raiva e quiser reduzir a raiva, experimente
sentar, dar um meio-sorriso e repousar suas mãos
nas coxas com as palmas das mãos voltadas pra
cima acima (numa postura de disposição, de
aceitação, como se fosse um monge).

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7) Mantenha uma intenção de estar com o emocional


positivo.

a. Essa intenção vai ter fazer tomar atitudes que te


levem a ter esse emocional positivo. Não fique só
esperando que emoções positivas apareçam em
você quando acontecer alguma coisa, vá atrás disso!
Mesmo que tudo estiver ruim, ainda assim você
pode conservar uma postura de positividade.
Porque positividade trás energia, que trás atitudes,
que trás resultados diferentes.

8) Aceite a realidade e se comprometa com a mudança


do que não gosta

a. Não aceitar a realidade só causa mais sofrimento.


Tenha a intenção e se esforce pra aceitar aquilo que
já aconteceu, por mais que você não goste do que
aconteceu. Isso é capaz de te fazer gastar menos
energia com o que você não tem controle.

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someone you love is a drug user / Copyright © Tony Trimingham
and Claire Halliday Allen & Unwin 2009

Get your loved one sober : alternatives to nagging, pleading, and


threatening, / Robert J. Meyers,
Brenda L. Wolfe. 2004

THE PARTNER’S 20 MINUTE GUIDE SECOND EDITION. A guide for


partners about how to help their loved one change their
substance use. © 2016 by Center for Motivation & Change.

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