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1. O DISCURSO DA DISSOCIAÇÃO
como, são por vezes inflexíveis, permitindo o ponto de evitar quaisquer novos
conta numérica.
enumerados, certos, e assim, permite ao próprio olhar, uma visão tripla de um ser
espírito.
primeiro instante de reflexão, a fim de mais adiante, ser exposto o outro discurso, o
1.1 O Renascimento
filósofo René Descartes. De educação cristã, que nada diferia dos burgueses de
sua época, Descartes cresce sob o seio da mãe Igreja, nas escolas, pensamentos e
todas as questões que a humanidade poderia fazer. (Os Pensadores, 1983, p. XX)
vez mais pela Idade Média. As fortes influências do Catolicismo veiculam por entre
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Fedon foi escrito por Platão antes de sua morte. Nesse livro, sua teoria sobre o mundo das idéias é elevada e
nele é transcrito o seu postulado sobre a alma.
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que primavam pelo resgate do modelo antigo de civilização, junto delas, grandes
das ciências, matemáticas e artes, subsídios para inserirem nas pinturas o novo
modelo de arte. Agora, o mundo não seria mais o retrato das obras de Deus, mas a
equalização das formas, e o rigor científico no construir de sua arte. Artifícios como
Reforma.
formação em escolas Cristãs, delimitou a obra cientifica deste autor que ansiava
nas quais iniciará suas pesquisas, Descartes julga encontrar nas matemáticas, o
caminho para a busca das certezas que tanto almejava. Com o discorrer de seus
estudos, as certezas que antes eram o maior objeto para o filósofo foram abolidas,
elevando a dúvida como novo objeto de estudo, ou quem sabe como a ferramenta
cultural de sua época; aceita-a para combatê-la com suas próprias armas. Eis
uma metodologia para a ciência. Outros escritos como Regras Para a Direção do
Paixões da Alma (1649), foram escritos ou publicados nas datas que constam aqui,
dado ao fato que Descartes calou-se de algumas idéias, tendo em vista seu
Contudo nosso ponto principal que faz com que chamemos René
Descartes para essa discussão é sua visão declarada em seus escritos, porém com
alma. É importante expor que a alma para Descartes é responsável pelas emoções,
distinção entre a alma e o corpo, dando ao corpo a mísera função de co-existir sob
(...) Porque por um lado tenho uma clara e distinta idéia de mim
mesmo, na medida em que sou somente uma coisa que pensa e não
é extensa, e por outro lado tenho uma idéia distinta do corpo, na
medida em que ele é somente uma coisa extensa e que não pensa, é
certo que esse eu, isto é, minha alma, pela qual sou o que sou, é
inteiramente e verdadeiramente distinta do meu corpo, e que ela
pode ser ou existir sem ele. (DESCARTES apud D`Arcy, 2005,
p.XXVII
do corpo, seria ela quem poderia existir sem o mesmo, ao ponto que o corpo estaria
fadado ao fracasso sem a alma que “viveria” na parte posterior do lobo frontal.
indivíduo.
que para nenhuma das funções fisiológicas, seria necessário lançar mão dos
corporais através das artérias, chegando aos órgãos dos sentidos “como sobre uma
como sendo uma troca puramente de interesses, mas sim, o fluxo da vida de um
organismo uno.
que comprovariam a troca de interesses que há entre o corpo e a alma, já que são
considerados tão distintos pelo autor. O primeiro modelo que Descartes expõe no
relação causal que a glândula pineal e sua hospedeira, alma, produziriam com o
relação quase unívoca entre a alma e o corpo. A alma tomaria a forma do corpo e
atuaria em todas as partes do mesmo. Esse pensamento propõe quase uma união
holisticidade humana, tema que, até por alguns instantes, o maior confrontado
parece concordar.
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“Andava eu pela casa, enquanto escura, percebia a luz que por fora entrecortada
nas hastes das janelas. Era eu num breu meu, no movimento que induzido por uma
música ia. O escuro tinha um toque lento, sutil, feito nuvem, nuvem que rarefazia
para mim. Sentia que nada melhor que minha casa, minha, para encontrar os
também de consciência.
No escuro, descobri também que meu movimento era plasmado com as sombras,
éramos quase unos num feixe de tempo que a luz não satisfazia. E ali era o
Neste mesmo instante, me deparei comigo, e com o movimento que meu espírito
Neste mesmo instante, me deparei comigo, e com o movimento que minha mente
Neste mesmo instante, me deparei comigo, e com o movimento que minha meu
sonolentas e ralentadas.
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o momento oportuno da chegada das velhas novidades; sendo elas, nada mais que
particularmente meus.
Quem sabe não é hora de ser dono de casa? E retomar na sabedoria doméstica,
E para a arte?
Gustavo Torres
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2. O DISCURSO DA UNIFICAÇÃO
matéria e subjetivação.
holística. Seus tratamentos, suas religiões, seu comportamento, todo ele não se
embasa em diferenças, que a partir disso serão dissociadas, mas calca-se sim em
mais profundos que tenham causado aquela doença; isso sem contar a acupuntura,
buscando como comento no início, encontrar sua ainda não entendida holisticidade.
exploram as doenças criadas muitas vezes por elas mesmas, fato que acontece
tratando a doença, e por vezes esquecendo o doente e sua causa primordial, a qual
fim de uni-la com o que nos tornamos e quem sabe construirmos essa partilha e
outra, o desenvolver das duas inseridas no mundo globalizado, torna mais palpável
questões como o motivo de seu corpo reagir aos seus pensamentos, os calafrios
quando há uma situação de medo, ou o frio na barriga quando algo parece iminente
com pacientes terminais recobrando energias, nessas vezes, por sutis mudanças de
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atitude.
responder.
Fadados a um ideal de perfeição, que permeia o homem desde sempre, nos dias
tempo em que as pessoas expõem seus corpos, fica impossível raciocinar que as
mesmas estão expondo suas mentes, e seus espíritos. Todavia, esses são os
como um todo, e tal remédio que induz à liberação de tal hormônio estará, também,
em sua recuperação, fato esse que aos poucos consegue se introduzir na profilaxia
Estados Unidos. Formada em Nova Iorque pela Erick Hawkins School of Dance e
pela Hunter College, Cohen passa a desenvolver no período entre 1962 e 1972,
fizeram com que fosse dado inicio às suas pesquisas sempre pensando: “perceber,
da qualidade que aquele movimento expressar. “Há alguma coisa na natureza que
forma padrões. Nós, como partes da natureza, também formamos padrões. A mente
é como o vento e o corpo é como um areal; se você quiser saber como que o vento
Para isso usa os conhecimentos das tradicionais anatomia e fisiologia, bem como,
reinterpretados.
relações do corpo mente, ratificando que não se trata de uma dissociação, mas sim
de uma união.
fim de que possamos estabelecer um contato mais profundo com nós mesmos, se
pleno.
entre a menor estrutura do corpo e sua atividade, o movimento celular, com o maior
importância de compreender que o movimento, por maior que seja, está partindo ou
mente e movimento pode ser feito de várias maneiras. O toque, através do trabalho
ao coração apenas bombear, aos rins apenas filtrar, ao estômago apenas digerir e
aos intestinos o sujo trabalho de expelir o desagradável. Sendo essa a verdade tão
defendida, porque todas as partes interagem entre si, e uma simples falha no
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Fluxo de energia nesse caso se refere à fluência do movimento.
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esse discurso da unificação que nos coloca um corpo/mente agindo sobre o mundo,
Centering nos propõe, e mais tarde, aliemos esses pensamento à filosofia do ator
tido como o grande motor humano, a placa mãe, o organizador dos nossos
do cérebro.
aos comandos, recebe informações, e que inexiste sem a presença de seu mestre,
Realmente a vida não existiria sem ele, mas há outro dissidente desse pensamento.
seria o corpo ganha força, já que Descartes reduz o corpo a uma coisa nada mais
cérebro, como um álibi para esconder a alma humana, visto que para o filósofo o
cérebro também é só uma parte do corpo, e apenas seria o lugar do repouso dessa
corpo. Vale ainda ressaltar que para Descartes, a alma são as emoções como
amor, ódio, tristeza, felicidade; o que aqui serão abordadas como atributos da
relações corpo/mente.
nos ajuda na compreensão de um corpo que agora não somente tem um cérebro,
F.M Alexander, Mabel Todd, Moshe Feldenkrais, já iniciaram seus trabalhos pela
ótica que enxerga o corpo como um corpo pensante, o corpo como cérebro. Seus
nos movimentos dos mesmos, atuando não somente em seus corpos, mas sim, em
teóricos foram pontos chave para o trabalho que Bonnie Baindbridge Cohen
Descartes tentou pregar, uma alma (mente) trabalhando pelos seus próprios
interesses.
corpo/mente, há uma complexidade que envolve esse assunto, pois para entendê-lo
é necessário abrir mão dos hábitos de apontar a cabeça como região da mente.
chegamos à conclusão que nossa pele, células e glândulas pensem, um corpo vivo
mensagem. Vale ressaltar que os receptores são moléculas espalhadas por todo o
que podem ser feitas, e a quantidade que poderiam vir a ocorrer são enormes.
a influência da alma sobre o corpo, no quesito cura de doenças. Com o tempo, têm-
Susan Andrews, a dualidade instituída pela renascença racionalista, que vigora até
em sua holisticidade.
todo ele se move: glândulas, órgãos, músculos, fluidos. Outro ponto a se entender,
criativos.
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novas de ganho para a humanidade, na busca de uma cura das realidades pessoas.
Nas minhas buscas, que com certeza tantas pessoas se equipararão, farei aqui um
tracejo simples e talvez até mal rebuscado de andanças pela vida e pelos
estranho.
Assim, quando não mais conhecer nada, estarei pronto para conhecer e isso é o
que basta a fim de que me torne mais que fui no momento antecessor, menos do
mesmas mascaras e proporções, quem sabe maior, mais gordo, menos feio, mais
mesmos quesitos de que hoje atribuo, encontrarei algo mais que o momento,
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formando.
Certa vez ouvi uma história, contada não sei por quem que dizia sobre os castelos
areia entre os dedos, entre as roupas. Quem sabe, quando a água do mar vier pela
noite, as ondas levem o castelo e a criança triste tentará agarrá-lo a fim de que
ele não corra, morra, perca-se. Fundida à pele da criança ela chorará, contudo
guardará em seu bolso aquele ultimo punhado que restou da construção antiga. Na
precisa de vez em quando esvaziar o que tinha para que coisas novas surjam. Será
ela, a criança, sozinha, sem pai nem mãe, a escolher quais grãos deverão sair e
quais ficar, e assim ela crescerá, florescerá e será até o fim de sua vida,
trocando com o mundo grãos, pegando dos outros e das coisas e entregando os
Se assim como eu, vive a mesma pergunta, e ainda não lembra onde construiu seu
primeiro castelo, bem como quando, como e porque, então a nossa busca é
momento.
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Voltando para casa, depois de uma ida à praia, faz-se a hora de limpar os pés,
sacudir das roupas as areias que não queremos e deitar um pouco na cama ou colo
de alguém. Já que a vida é grande jornada, já que somos capazes de caminhar por
Limpo de todas as sujeiras do dia, o que fica em nós somatiza um pouco do que
serei amanhã, e me revela através de minhas emoções como sou diante das coisas.
O dia já vai amanhecer, e aquela criança precisa descansar, amanhã será um novo
Gustavo Torres
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Isso se faz necessário, pelo motivo de que o BMC utiliza dessa consciência de um
Andrews, Larry Dossey, partimos para o terceiro ponto do trabalho, o qual tem a
individual, de uma sabedoria que pretende brotar desse conhecimento de si. Sendo
vida, pois é com ela que ele irá evoluir, e por ela que serão criados mais e mais
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trabalham com a pessoa e sua vida, e sempre será uma pesquisa sobre o ser
seu trabalho com a vida, já que para entendê-lo devemos compreender-nos, afinal,
o trabalho não é nada mais que olhar para si na busca de um estado de pleno
nos encarou.
consciência.
também, o pensamento do BMC que frisa que o cérebro não é lugar uno da
consciência humana. Assim como podem pensar que o cérebro é o lugar isolado da
claro o ponto de vista que ele e o Body-Mind Centering estarão colocando para
de vida.
parcela imutável de nós que se forma ao longo da vida pelas nossas experiências e
vivências sociais.
organismo.
Consciência
Sentimentos Padrões sensoriais indicativos de dor ,prazer e
emoções tornam-se imagens.
organismo se forma através de sua vida e de suas experiências, e como isso influirá
em seu movimento.
tirando dúvidas acerca das expressões usadas na tabela, tais como: emoções
imediatas, inatas dos organismos. Reações que não são necessárias a elas
nenhum tipo de informação prévia, ela já está aderida a nós desde que nascemos.
Por exemplo: um pinto no alto de um ninho, após avistar uma águia vindo em sua
direção, sabe exatamente que tem de abaixar ou fugir da mesma, sem mesmo
nunca ter visto uma. Enquanto as emoções secundárias são aquelas que causam
compreender que as emoções são as nossas reações externas, reações àquilo que
estado interno, algo que somente a pessoa saberá e sentirá. Por exemplo: ao
sentir-se triste, o ato e a vontade de chorar são atributos da emoção, bem como a
sentimentos, seu repertório com o repertório que o mundo irá propor todo momento.
meio das tensões na paisagem corporal, elas serão as respostas dos nossos
António Damásio. O confronto com o mundo gera imagens acerca das informações
com nossas informações calcadas de antigas gerações, acabam por formar uma
que nos leva a concluir que a todo momento estamos incorporando o mundo e nos
costumes e hábitos, já que, inseridos cada qual em seu espaço, formarão suas
nossos pré-conceitos. Estas informações são capitadas pelos órgãos dos sentidos,
iniciais. O interessante é que esses pontos não são ligados entre si, criando então a
nos canais de saída do cérebro. Isso nos leva ao conceito de “sincronicidade” das
temporal.
podem tanto vir do externo como de outras partes do corpo, e isso gerará o
emoção.
ela é a base da mente, como postula Damásio. Através das imagens, serão
Define-se então que muitas atividades do organismo são efetivadas pela condução
inato e adquirido, deve ser constante e harmônica, já que uma depende da outra
Isso nos leva a uma das questões mais relevantes para esse
sinapse) podem liberar uma reação a acontecerem, elas podem inibir alguma das
informação vinda do meio externo como exemplo uma ofensa, seria captada pelos
órgãos dos sentidos e a resposta a essa emoção, uma talvez raiva, refletiria no
corpo uma paisagem. Essa paisagem poderia vir a ser a tensão nos músculos do
ofensa percorre todo o corpo através dos canais nervosos (nervos motores e
Essas ligações geram a resposta, no caso a emoção, e tudo isso ao mesmo tempo
aconteceu. No meio dessa explicação, a pessoa que teria sofrido essa suposta
organismo.
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1996.p. 145)
onde vive. Ao nascer, a pessoa lança mão se seu “kit de sobrevivência”, uma
desagradável causa certa agitação visceral, e por ser uma reação corporal, utiliza-
organismo.
seus sistemas durante a vida. Por isso, o trabalho com o Body-Mind Centering será
o BMC trabalha, e buscarei paralelo com o trabalho do ator, a fim de ser ele, o
humano e seu confronto diário com o mundo que o cerca, em uma competição de
então, a linha na qual está inserido o trabalho, e a partir disso, poder discursar e
filosofia do ator.
ator, que nada mais é que um indivíduo em constante trabalho e busca sobre si
mesmo.
Constantin Stanislavski sobre o ator e seu trabalho no mundo e sobre si. Teórico
russo Stanislavski, declarou a vida do ator como sendo seu material de expressão,
artísticos.
consciência una, holística, seriam os mestres do movimento, e mais uma vez a vida
sugerirá para os artistas, um veículo, um estímulo, uma forma livre de olhar para si,
movimento.
boca (esse já fora do útero, nos primeiros momentos de nascimento), o padrão pré-
empurrar (já buscando ligação com o solo), padrão de puxa e empurrar, padrão
movimento e permitir o livre acesso e fluxo da energia por aquele local, alcançando
vocal.
além disso, indivíduo e ator comporiam, como sempre foram, a mesma coisa, a
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mesma vida a mesma arte, quebrando de vez a comum frase que rotula “a partir do
momento que entra na sala de ensaio, seus problemas ficam para fora”.
Contudo, são várias as formas já trabalhadas, e infinitas as que ainda estão por se
um trabalho que cresce com as descobertas de cada pessoa que trabalha com essa
meu para com a arte, numa tentativa de orar todo momento que me movimento, e
celeste.
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momento expressivo.
como na vida.
Cunhado pela professora Doutora e performer Margarida Vine, esse termo vem
vida, de uma individualidade a qual será a mesma transcrita à cena, com todas as
faz uno e único em cena, criando de acordo com suas vivências um elo entre si e o
arte.
com isso descobrir o potencial expressivo ali existente, tornou-se um caminho que
ativados conscientemente.
sangue arterial passa, com exemplo da força da pulsação com a qual ele é
BMC. Por ser uma busca pessoal, empírica e que se estenderá pela vida toda, o
BMC é um conhecimento sensível sobre si, e particular. Por isso, dependendo das
destino ,o que para mim seria, a Deus. Elas serão reflexões em movimento, pedidos
exprimir.
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Vine. Nele tive contato com diversas áreas e teorias que abordam o movimento
Visão Futuro em Porangaba, São Paulo, onde fui beneficiado com uma bolsa
integral para cursar Biopsicologia. Além disso, o contato com outros profissionais
como o bailarino, Jovair Longo, como também com um dos licenciados da escola de
BMC.
e o da Unificação.
Orações foram as maneiras mais condizentes com minha vida para expressar-me
nesse momento, e gostaria de compartilhar este trabalho e este termo com àqueles
que sempre me ajoelhei e rezei, agora escolho outro repertório para me religar, uso
em movimento.
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que ela pulse em mim, foi um caminho de me deparar com minha prática, que assim
como o BMC, representa não só um tema, mas sim uma filosofia, ou o que já
Aqui gostaria de relatar meu momento subjetivo. Escrever apenas o que é possível
4.3 Orações
mais encaro de material expressivo do que a mim mesmo. Colocado como matéria
tão sôfrega do horário da criação, introduzo para a arte o meu vocabulário que
exploração, que tenho contato com uma parcela de novidades, as quais ressurgem
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naquele momento, como fala de outro nível de consciência, senão aquele a que
resolve criar gritos, já que não tenho a decência de permitir que tais vozes (que
nada mais são que a minha única voz) emanem para completo entendimento do
que sou.
cênica, ali, tão somente, embrenho até fronteiras antes nunca conhecidas, a fim de
estabelecer contato com minhas zonas mais recônditas. Como por sorte as
encontro, ora como queira, ora como não as quisesse ter visto, sou para a arte um
Porque de repente falta chão, e cada passo, pássaro, ai... passo, pássaro. Um dia
pássaro, outro passo, dia pássaro, outro passo, e mais outro, mais e mais. Quando
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sem mais nem menos um passo passa; depressa. Pássaro na verdade é cada
A vida é pequenininha.
Por isso, Deus, me faça assim: que meus passos atinjam mais que
a mim mesmo. A ponta dos meus pés estejam longe, bem longe, e eu não mais as
veja. Assim, estarei eu a ponto de sempre desvendar, mas nunca de saber. Estarei
Pai, eu tenha olhos para olhar por onde ando, e sentidos para saber
realmente. Que não comece a contar do dois, mesmo sabendo dos perigos do
carne seja sólida, e saiba que nela reside a existência. Quando meus olhos se
fecharem, serei eu perdido num outro devaneio, pois o mundo acabou-se. Fechou-
para outros. Deixei para quem realmente fosse tinhoso. Porque eu, não sou assim
Meu Deus, meu movimento é tão simples, sujo quase casado com a
desesperança. Ele não sabe para onde vai, só sabe que vai ao longe, como num
passo gigante. No encontro com dívidas traiçoeiras. Não as pago, pois não tenho
como.
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divino.
Saber então, que nada mais sou que a versão humilhada dos céus,
pois abaixo dele percebo que o toco com meus olhos, mesmo sabendo que meu
entrar e ver que o mundo e eu somos, coração que marca cada passo em direção
ao existir. Poesia.”
Expresso o sentido exato entre mim e mim de outro. O mim de outro é a parte que
me atraio e que me faço homem. Perante sim, tenho receios de desbravar a não
Penso por acaso em variar de vez enquanto minhas sombras. Cubram-se, quero
vergonha, mas aceito, pois preciso. Quero caminhar em outro.aceito, preciso. Vento
que voa que se vai que come, tenho fogo aonde não preciso de nada, ou sim. Sou
porque quando sou demais, peco na vertente que me leva. Suspiro, para fins
enérgicos, nessa hora recobro a consciência de que nada sou senão aquele que
quem eu sou. Não nego, pois caso negue, negarei o que me tornei: um pé calmo.
quebrantado de inérticos vazios. Esqueço de hora, por tempo que sou vivifico. Com
efeito, não sigo a padronização que me dissessem, palavras calam, num próximo
expressões. Manifesto para sempre, o legado de pouco ser, já que muito penso
sobre minha expressão. Ela é mais que simples progresso de minha alma, ela é
Regressivo progresso?
cessasse o ciclo expressivo da vida. Levanto. Num calmo sentido de frente para o
Expresso.
a coluna do mundo.
Meu coração então pulsa. Ele pulsa do lado esquerdo, mas isso não
quer dizer que não tenho coração do outro. Coração contou-me outro dia que
reconhecia a bela donzela que não me agradava. E eu, por assim pensar agrado
hojes?
culminante da tragédia. No ápice das coisas a vida gigante dá outra volta. Suspiro,
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Vem.”
um cansaço, depois de uma chuva, depois de uma vida. Voltar para o mesmo
encontra um estado livre de fluência. Desvendar então a mim mesmo, é isso que
de que eu flua, e pulse como uma célula, em um estado divino, um estado artístico.
arduamente, e procurar, mesmo que seja por milésimos de segundos, provar dessa
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