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CBM-MG

Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Minas Gerais

Soldados Bombeiros Militar do Quadro de Praças (Qp-Bm) e


do Quadro de Praças Especialistas – (Qpe-Bm)

Volume I
Edital CBMMG Nº 13, de 30 de Julho de 2018

AG001-A-2018
DADOS DA OBRA

Título da obra: Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Minas Gerais - CBM-MG

Cargo: Soldados Bombeiros Militar do Quadro de Praças (QP-BM) e


do Quadro de Praças Especialistas – (QPE-BM)

(Baseado no Edital CBMMG Nº 13, de 30 de Julho de 2018)

Volume I
• Língua Portuguesa
• Redação em Língua Portuguesa
• Matemática
• Geografia
• História

Volume II
• Direitos Humanos
• Química
• Biologia
• Física

Gestão de Conteúdos
Emanuela Amaral de Souza

Diagramação/ Editoração Eletrônica


Elaine Cristina
Igor de Oliveira
Ana Luiza Cesário
Thais Regis

Produção Editoral
Suelen Domenica Pereira
Julia Antoneli
Leandro Filho

Capa
Joel Ferreira dos Santos
APRESENTAÇÃO

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SUMÁRIO

Língua Portuguesa

I - Compreensão e interpretação de textos dissertativos......................................................................................................................... 83


II - Conhecimentos linguísticos - norma culta: Ortografia /.................................................................................................................... 44
Acentuação gráfica;................................................................................................................................................................................................. 47
Classes de palavras: definições, classificações, formas,flexões, empregos;....................................................................................... 07
Estrutura e formação de palavras;...................................................................................................................................................................... 04
Estrutura da oração e do período:aspectos sintáticos e semânticos; ................................................................................................. 63
Concordância verbal; concordância nominal;................................................................................................................................................ 52
Regência verbal; regência nominal;................................................................................................................................................................... 58
Emprego de sinais de pontuação;...................................................................................................................................................................... 50
Emprego de sinal indicativo de crase............................................................................................................................................................... 71
III - A variação linguística: as diversas modalidades do uso da língua adequadas às várias situações de comunicação; ...... 76
Linguagem verbal e não verbal; ........................................................................................................................................................................ 07
Figuras de linguagem;..........................................................................................................................................................................................101
Semântica: sinonímia e antonímia;.................................................................................................................................................................... 63
Polissemia e ambiguidade.................................................................................................................................................................................... 63
IV – Elementos de textualidade, coesão e coerência textuais;................................................................................................................ 86
Gêneros textuais e tipos de ,texto: narrativo, descritivo, expositivo, argumentativo e injuntivo.............................................. 85

Redação em Língua Portuguesa

Redação........................................................................................................................................................................................................................ 01

Matemática

1. Álgebra..................................................................................................................................................................................................................... 01
1.1. Conjuntos e conjuntos numéricos: representações de um conjunto, pertinência, inclusão, igualdade, união, inter-
seção e complementação de conjuntos.................................................................................................................................................... 01
1.2. O conjunto dos números naturais: operações, divisibilidade, decomposição de um número natural nos seus fa-
tores primos, máximo divisor comum e mínimo múltiplo comum de dois ou mais números naturais........................... 07
1.3. O conjunto dos números inteiros: operações, múltiplos e divisores..................................................................................... 07
1.4. O conjunto dos números racionais: propriedades, operações, valor absoluto de um número, potenciação e radi-
ciação....................................................................................................................................................................................................................... 07
1.5. O conjunto dos números reais: números irracionais, a reta real, intervalos........................................................................ 07
1.6. Comprimento, área, volume, massa, tempo, ângulo e velocidade. Conversão de medidas......................................... 27
1.7. Equações de 1º e 2º graus. Relações entre coeficientes e raízes. Inequações de 1º e 2º graus. Desigualdades
produto e quociente. Sistema de Equações de 1º e 2º graus. Interpretação geométrica..................................................... 63
1.8. Funções. Conceito de função, função de variável real e seu gráfico no plano cartesiano. Composição de funções.
Funções crescentes e decrescentes, máximos e mínimos de uma função. Função Afim. Função Quadrática. Função
Modular. Função Exponencial. Logaritmo e função logarítmica. Gráficos................................................................................... 72
1.9. Progressões aritméticas e geométricas. Noção de limite de uma sequência. Soma dos termos de uma progressão
geométrica finita...............................................................................................................................................................................................129
1.10. Matrizes e determinantes até a 4ª ordem. propriedades e operações. resolução e discussão de sistemas linea-
res.............................................................................................................................................................................................................................. 91
1.11. Análise combinatória e probabilidade. O princípio fundamental da contagem. Permutações, arranjos e com-
binações simples. Binômio de Newton. Incerteza e probabilidade, conceitos básicos, probabilidade condicional e
eventos independentes, probabilidade da união de eventos.........................................................................................................132
1.12. Polinômios e equações algébricas: operações, polinômios de coeficientes reais, operações, raízes, teorema do
resto......................................................................................................................................................................................................................... 58
2. Geometria Plana.................................................................................................................................................................................................106
2.1. Elementos primitivos, segmento, semirreta, semiplano e ângulo.........................................................................................106
2.2. Retas perpendiculares e paralelas......................................................................................................................................................106
2.3. Teorema de Tales, congruência e semelhança de triângulos...................................................................................................106
SUMÁRIO

2.4. Relações métricas no triângulo retângulo e na circunferência...............................................................................................106


2.5. Polígonos e circunferências..................................................................................................................................................................106
2.6. Perímetro e área de figuras planas....................................................................................................................................................106
3. Trigonometria......................................................................................................................................................................................................112
3.1. Trigonometria no triângulo retângulo..............................................................................................................................................112
3.2. Resolução de triângulos quaisquer....................................................................................................................................................112
3.3. Arcos e ângulos no círculo trigonométrico....................................................................................................................................112
3.4. Seno, cosseno e tangente na circunferência trigonométrica..................................................................................................112
3.5. Equações trigonométricas.....................................................................................................................................................................112
3.6. Relações e transformações trigonométricas..................................................................................................................................112
3.7. As funções seno, cosseno, tangente e seus gráficos..................................................................................................................112
4. Matemática Financeira....................................................................................................................................................................................... 32
4.1. Razões e proporções: grandezas direta e inversamente proporcionais................................................................................ 32
4.2. Regra de três simples e composta....................................................................................................................................................... 32
4.3. Porcentagem................................................................................................................................................................................................. 32
4.4. Juros simples e composto....................................................................................................................................................................... 32
5. Estatística básica e tratamento da informação......................................................................................................................................140
5.1. População estatística, amostras, frequência absoluta e relativa............................................................................................140
5.2. Distribuição de frequências com dados agrupados, polígono de frequência, médias (aritmética e ponderada),
mediana e moda................................................................................................................................................................................................140
5.3. Leitura, construção e interpretação de gráficos de barras, de setores e de segmentos..............................................112
6. Geometria Espacial............................................................................................................................................................................................112
6.1. Conceitos básicos.....................................................................................................................................................................................112
6.2. Posições relativas de retas e planos no espaço............................................................................................................................112
6.3. Área e volume de prismas, pirâmides, cilindro, cone e esfera................................................................................................112
7. Geometria Analítica............................................................................................................................................................................................. 97
7.1. Ponto e Reta.................................................................................................................................................................................................. 97
7.2. Circunferência.............................................................................................................................................................................................. 97
8. Problemas envolvendo raciocínio lógico..................................................................................................................................................143

Geografia

O espaço natural e econômico: Orientação, Localização, Representação da Terra e Fusos Horários. .................................. 01
A Terra: Características e Movimentos; Evolução; Camadas da Terra. A Deriva Continental e a Tectônica de Placas.
Rochas: Tipos; Características. Solos: Formação; Conservação. Relevo terrestre e seus agentes. ........................................... 04
A Atmosfera e sua Dinâmica: Tempo; Clima. ................................................................................................................................................ 09
As Grandes Paisagens Naturais da Terra. ....................................................................................................................................................... 11
Aspectos Demográficos: Conceitos fundamentais. .................................................................................................................................... 18
Aspectos Econômicos Gerais: Comércio; Recursos naturais e extrativismo mineral; Fontes de energia; Indústria;
Agricultura. ................................................................................................................................................................................................................. 22
Geografia do Brasil: Regiões Brasileiras: Aspectos Físicos; Aspectos Humanos; Aspectos Políticos; Aspectos
Econômicos................................................................................................................................................................................................................. 33
Geografia geral: As relações econômicas no mundo moderno: A crise econômica mundial; Os blocos econômicos; A
questão da multipolaridade. A globalização. Focos de tensão e conflitos mundiais.................................................................... 35

História

1. O mundo moderno............................................................................................................................................................................................. 01
1.1. A expansão marítima europeia e as práticas mercantilistas...................................................................................................... 01
1.2. Da formação das monarquias nacionais ao absolutismo........................................................................................................... 01
1.3. O Renascimento.......................................................................................................................................................................................... 01
1.4. As reformas protestantes e a contrarreforma católica................................................................................................................. 01
2. A colonização europeia na época moderna.............................................................................................................................................. 04
2.1. A África na rota do expansionismo e do colonialismo europeu.............................................................................................. 04
2.1.1. A África por dentro: manifestações culturais, sociedades política/impérios, economia (do colonialismo moder-
no às independências pós II Guerra)........................................................................................................................................................... 31
SUMÁRIO

2.2. As civilizações “pré-colombianas”........................................................................................................................................................ 05


2.3. A colonização europeia no continente americano........................................................................................................................ 05
2.3.1. América espanhola................................................................................................................................................................................. 05
2.3.2. América portuguesa............................................................................................................................................................................... 05
2.3.3. América inglesa........................................................................................................................................................................................ 05
2.3.4. A presença francesa e holandesa...................................................................................................................................................... 05
3. A crise do antigo regime................................................................................................................................................................................... 07
3.1. As revoluções inglesas do século XVII................................................................................................................................................ 07
3.2. O pensamento europeu no século das luzes: Iluminismo, Despotismo Esclarecido e Liberalismo........................... 07
3.3. Rebeliões, insurreições, levantes e conjuras no mundo colonial............................................................................................. 07
4. O surgimento do mundo contemporâneo................................................................................................................................................ 08
4.1. A Revolução Industrial e o triunfo do capitalismo......................................................................................................................... 09
4.2. Processo de emancipação e independência das colônias inglesas no continente americano................................... 09
4.3. A Revolução Francesa e expansão de seus ideais.......................................................................................................................... 10
4.4. O processo de independência e construção de nações na América espanhola................................................................ 10
4.5. Portugal, Brasil e o período joanino.................................................................................................................................................... 10
4.6. A independência e a organização do Estado brasileiro............................................................................................................... 10
5. O mundo contemporâneo............................................................................................................................................................................... 13
5.1. Na Europa, as novas lutas........................................................................................................................................................................ 13
5.1.1. O fenômeno do nacionalismo e o triunfo do liberalismo politico....................................................................................... 14
5.1.2. Os trabalhadores, suas lutas, seus projetos e suas ideologias.............................................................................................. 15
5.2. O capitalismo monopolista e a expansão imperialista a partir do século XIX.................................................................... 19
5.2.1. A Belle époque......................................................................................................................................................................................... 20
5.2.2. A periferia global sob domínio do centro capitalista: África, América e Ásia.................................................................. 20
6. O continente americano no século XIX....................................................................................................................................................... 20
6.1. Os EUA e a expansão das fronteiras e consolidação da ordem interna................................................................................ 20
6.2. América espanhola a difícil consolidação da ordem interna: do caudilhismo aos regimes oligárquicos................ 20
6.3. O Estado Imperial brasileiro................................................................................................................................................................... 20
6.3.1. O Primeiro Reinado................................................................................................................................................................................ 20
6.3.2. O Período Regencial............................................................................................................................................................................... 20
6.3.3. O Segundo Reinado............................................................................................................................................................................... 20
7. O Breve Século XX............................................................................................................................................................................................... 22
7.1. O começo do declínio da Europa: I Guerra Mundial..................................................................................................................... 22
7.2 Período entre guerras................................................................................................................................................................................ 22
7.2.1. A Revolução Russa: construção de afirmação do socialismo................................................................................................. 22
7.2.2. EUA, da expansão à crise de 1929.................................................................................................................................................... 22
7.2.3. Os regimes de direita em expansão no continente europeu................................................................................................. 22
7.3. A II Guerra Mundial.................................................................................................................................................................................... 22
7.4. O mundo sob a hegemonia dos EUA e da URSS: a Guerra Fria............................................................................................... 22
7.5. As manifestações culturais do século XX.......................................................................................................................................... 22
8. Na periferia do mundo ocidental.................................................................................................................................................................. 24
8.1. Do populismo e revoluções sociais às ditaduras na América Latina...................................................................................... 24
8.2. O Brasil republicano................................................................................................................................................................................... 24
8.2.1. A Primeira República.............................................................................................................................................................................. 24
8.2.2. A Era Vargas............................................................................................................................................................................................... 24
8.2.3. Do período populista à ditadura civil-militar............................................................................................................................... 24
8.2.4. O Brasil da Nova República aos dias atuais.................................................................................................................................. 24
8.3. As lutas de libertação nacional na África e Ásia............................................................................................................................. 24
8.3.1. As questões de identidade: etnia, cultura, território................................................................................................................. 24
9. A Nova Ordem Mundial.................................................................................................................................................................................... 28
9.1. O fim da Guerra Fria.................................................................................................................................................................................. 28
9.2. Globalização, neoliberalismo, desigualdades e exclusões sociais no mundo de fins do século XX e início do XXI..28
9.2.1. Os blocos econômicos e seus impactos......................................................................................................................................... 28
9.2.2. As lutas e conflitos entre árabes e israelenses............................................................................................................................. 28
9.2.3. A Primavera Árabe.................................................................................................................................................................................. 28
LÍNGUA PORTUGUESA

Letra e Fonema.......................................................................................................................................................................................................... 01
Estrutura das Palavras............................................................................................................................................................................................. 04
Classes de Palavras e suas Flexões..................................................................................................................................................................... 07
Ortografia.................................................................................................................................................................................................................... 44
Acentuação................................................................................................................................................................................................................. 47
Pontuação.................................................................................................................................................................................................................... 50
Concordância Verbal e Nominal......................................................................................................................................................................... 52
Regência Verbal e Nominal................................................................................................................................................................................... 58
Frase, oração e período.......................................................................................................................................................................................... 63
Sintaxe da Oração e do Período......................................................................................................................................................................... 63
Termos da Oração.................................................................................................................................................................................................... 63
Coordenação e Subordinação............................................................................................................................................................................. 63
Crase.............................................................................................................................................................................................................................. 71
Colocação Pronominal............................................................................................................................................................................................ 74
Significado das Palavras......................................................................................................................................................................................... 76
Interpretação Textual............................................................................................................................................................................................... 83
Tipologia Textual....................................................................................................................................................................................................... 85
Gêneros Textuais....................................................................................................................................................................................................... 86
Coesão e Coerência................................................................................................................................................................................................. 86
Reescrita de textos/Equivalência de Estruturas............................................................................................................................................. 88
Estrutura Textual........................................................................................................................................................................................................ 90
Redação Oficial.......................................................................................................................................................................................................... 91
Funções do “que” e do “se”................................................................................................................................................................................100
Variação Linguística...............................................................................................................................................................................................101
O processo de comunicação e as funções da linguagem......................................................................................................................103
LÍNGUA PORTUGUESA

PROF. ZENAIDE AUXILIADORA PACHEGAS BRANCO

Graduada pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Adamantina. Especialista pela Universidade Estadual Paulista
– Unesp

LETRA E FONEMA

A palavra fonologia é formada pelos elementos gregos fono (“som, voz”) e log, logia (“estudo”, “conhecimento”). Significa
literalmente “estudo dos sons” ou “estudo dos sons da voz”. Fonologia é a parte da gramática que estuda os sons da lín-
gua quanto à sua função no sistema de comunicação linguística, quanto à sua organização e classificação. Cuida, também,
de aspectos relacionados à divisão silábica, à ortografia, à acentuação, bem como da forma correta de pronunciar certas
palavras. Lembrando que, cada indivíduo tem uma maneira própria de realizar estes sons no ato da fala. Particularidades na
pronúncia de cada falante são estudadas pela Fonética.
Na língua falada, as palavras se constituem de fonemas; na língua escrita, as palavras são reproduzidas por meio de
símbolos gráficos, chamados de letras ou grafemas. Dá-se o nome de fonema ao menor elemento sonoro capaz de esta-
belecer uma distinção de significado entre as palavras. Observe, nos exemplos a seguir, os fonemas que marcam a distinção
entre os pares de palavras:
amor – ator / morro – corro / vento - cento

Cada segmento sonoro se refere a um dado da língua portuguesa que está em sua memória: a imagem acústica que
você - como falante de português - guarda de cada um deles. É essa imagem acústica que constitui o fonema. Este forma
os significantes dos signos linguísticos. Geralmente, aparece representado entre barras: /m/, /b/, /a/, /v/, etc.

Fonema e Letra
- O fonema não deve ser confundido com a letra. Esta é a representação gráfica do fonema. Na palavra sapo, por
exemplo, a letra “s” representa o fonema /s/ (lê-se sê); já na palavra brasa, a letra “s” representa o fonema /z/ (lê-se zê).
- Às vezes, o mesmo fonema pode ser representado por mais de uma letra do alfabeto. É o caso do fonema /z/, que
pode ser representado pelas letras z, s, x: zebra, casamento, exílio.

- Em alguns casos, a mesma letra pode representar mais de um fonema. A letra “x”, por exemplo, pode representar:
- o fonema /sê/: texto
- o fonema /zê/: exibir
- o fonema /che/: enxame
- o grupo de sons /ks/: táxi

- O número de letras nem sempre coincide com o número de fonemas.


Tóxico = fonemas: /t/ó/k/s/i/c/o/ letras: t ó x i c o
1 2 3 4 5 6 7 12 3 45 6

Galho = fonemas: /g/a/lh/o/ letras: ga lho


1 2 3 4 12345

- As letras “m” e “n”, em determinadas palavras, não representam fonemas. Observe os exemplos: compra, conta. Nestas
palavras, “m” e “n” indicam a nasalização das vogais que as antecedem: /õ/. Veja ainda: nave: o /n/ é um fonema; dança: o
“n” não é um fonema; o fonema é /ã/, representado na escrita pelas letras “a” e “n”.

- A letra h, ao iniciar uma palavra, não representa fonema.


Hoje = fonemas: ho / j / e / letras: h o j e
1 2 3 1234

Classificação dos Fonemas


Os fonemas da língua portuguesa são classificados em:

1) Vogais
As vogais são os fonemas sonoros produzidos por uma corrente de ar que passa livremente pela boca. Em nossa língua,
desempenham o papel de núcleo das sílabas. Isso significa que em toda sílaba há, necessariamente, uma única vogal.

1
LÍNGUA PORTUGUESA

Na produção de vogais, a boca fica aberta ou entrea- 1) Ditongo


berta. As vogais podem ser:
É o encontro de uma vogal e uma semivogal (ou vice-
- Orais: quando o ar sai apenas pela boca: /a/, /e/, /i/, versa) numa mesma sílaba. Pode ser:
/o/, /u/. - Crescente: quando a semivogal vem antes da vogal:
sé-rie (i = semivogal, e = vogal)
- Nasais: quando o ar sai pela boca e pelas fossas na- - Decrescente: quando a vogal vem antes da semivo-
sais. gal: pai (a = vogal, i = semivogal)
/ã/: fã, canto, tampa - Oral: quando o ar sai apenas pela boca: pai
/ ẽ /: dente, tempero - Nasal: quando o ar sai pela boca e pelas fossas na-
/ ĩ/: lindo, mim sais: mãe
/õ/: bonde, tombo
/ ũ /: nunca, algum 2) Tritongo

- Átonas: pronunciadas com menor intensidade: até, É a sequência formada por uma semivogal, uma vo-
bola. gal e uma semivogal, sempre nesta ordem, numa só sílaba.
Pode ser oral ou nasal: Paraguai - Tritongo oral, quão - Tri-
- Tônicas: pronunciadas com maior intensidade: até, tongo nasal.
bola.
3) Hiato
Quanto ao timbre, as vogais podem ser:
- Abertas: pé, lata, pó É a sequência de duas vogais numa mesma palavra que
- Fechadas: mês, luta, amor pertencem a sílabas diferentes, uma vez que nunca há mais
- Reduzidas - Aparecem quase sempre no final das pa- de uma vogal numa mesma sílaba: saída (sa-í-da), poesia
lavras: dedo (“dedu”), ave (“avi”), gente (“genti”). (po-e-si-a).

2) Semivogais Encontros Consonantais

Os fonemas /i/ e /u/, algumas vezes, não são vogais. O agrupamento de duas ou mais consoantes, sem vo-
Aparecem apoiados em uma vogal, formando com ela uma gal intermediária, recebe o nome de encontro consonantal.
só emissão de voz (uma sílaba). Neste caso, estes fonemas Existem basicamente dois tipos:
são chamados de semivogais. A diferença fundamental en- 1-) os que resultam do contato consoante + “l” ou “r”
tre vogais e semivogais está no fato de que estas não de- e ocorrem numa mesma sílaba, como em: pe-dra, pla-no,
sempenham o papel de núcleo silábico. a-tle-ta, cri-se.
Observe a palavra papai. Ela é formada de duas sílabas: 2-) os que resultam do contato de duas consoantes
pa - pai. Na última sílaba, o fonema vocálico que se destaca pertencentes a sílabas diferentes: por-ta, rit-mo, lis-ta.
é o “a”. Ele é a vogal. O outro fonema vocálico “i” não é tão Há ainda grupos consonantais que surgem no início
forte quanto ele. É a semivogal. Outros exemplos: saudade, dos vocábulos; são, por isso, inseparáveis: pneu, gno-mo,
história, série. psi-có-lo-go.

3) Consoantes Dígrafos

Para a produção das consoantes, a corrente de ar expi- De maneira geral, cada fonema é representado, na es-
rada pelos pulmões encontra obstáculos ao passar pela ca- crita, por apenas uma letra: lixo - Possui quatro fonemas e
vidade bucal, fazendo com que as consoantes sejam verda- quatro letras.
deiros “ruídos”, incapazes de atuar como núcleos silábicos.
Seu nome provém justamente desse fato, pois, em portu- Há, no entanto, fonemas que são representados, na es-
guês, sempre consoam (“soam com”) as vogais. Exemplos: crita, por duas letras: bicho - Possui quatro fonemas e cinco
/b/, /t/, /d/, /v/, /l/, /m/, etc. letras.

Encontros Vocálicos Na palavra acima, para representar o fonema /xe/ fo-


ram utilizadas duas letras: o “c” e o “h”.
Os encontros vocálicos são agrupamentos de vogais e Assim, o dígrafo ocorre quando duas letras são usadas
semivogais, sem consoantes intermediárias. É importante para representar um único fonema (di = dois + grafo = le-
reconhecê-los para dividir corretamente os vocábulos em tra). Em nossa língua, há um número razoável de dígrafos
sílabas. Existem três tipos de encontros: o ditongo, o triton- que convém conhecer. Podemos agrupá-los em dois tipos:
go e o hiato. consonantais e vocálicos.

2
LÍNGUA PORTUGUESA

Dígrafos Consonantais

Letras Fonemas Exemplos


lh /lhe/ telhado
nh /nhe/ marinheiro
ch /xe/ chave
rr /re/ (no interior da palavra) carro
ss /se/ (no interior da palavra) passo
qu /k/ (qu seguido de e e i) queijo, quiabo
gu /g/ ( gu seguido de e e i) guerra, guia
sc /se/ crescer
sç /se/ desço
xc /se/ exceção

Dígrafos Vocálicos

Registram-se na representação das vogais nasais:

Fonemas Letras Exemplos


/ã/ am tampa
an canto
/ẽ/ em templo
en lenda
/ĩ/ im limpo
in lindo
õ/ om tombo
on tonto
/ũ/ um chumbo
un corcunda

* Observação: “gu” e “qu” são dígrafos somente quando seguidos de “e” ou “i”, representam os fonemas /g/ e /k/:
guitarra, aquilo. Nestes casos, a letra “u” não corresponde a nenhum fonema. Em algumas palavras, no entanto, o “u” repre-
senta um fonema - semivogal ou vogal - (aguentar, linguiça, aquífero...). Aqui, “gu” e “qu” não são dígrafos. Também não há
dígrafos quando são seguidos de “a” ou “o” (quase, averiguo) .
** Dica: Conseguimos ouvir o som da letra “u” também, por isso não há dígrafo! Veja outros exemplos: Água = /agua/ nós
pronunciamos a letra “u”, ou então teríamos /aga/. Temos, em “água”, 4 letras e 4 fonemas. Já em guitarra = /gitara/ - não
pronunciamos o “u”, então temos dígrafo [aliás, dois dígrafos: “gu” e “rr”]. Portanto: 8 letras e 6 fonemas).

Dífonos

Assim como existem duas letras que representam um só fonema (os dígrafos), existem letras que representam dois
fonemas. Sim! É o caso de “fixo”, por exemplo, em que o “x” representa o fonema /ks/; táxi e crucifixo também são exemplos
de dífonos. Quando uma letra representa dois fonemas temos um caso de dífono.

Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/fono/fono1.php
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Questões
ESTRUTURA DAS PALAVRAS
1-) (PREFEITURA DE PINHAIS/PR – INTÉRPRETE DE LI-
BRAS – FAFIPA/2014) Em todas as palavras a seguir há um
dígrafo, EXCETO em
(A) prazo. As palavras podem ser analisadas sob o ponto de vista
(B) cantor. de sua estrutura significativa. Para isso, nós as dividimos
(C) trabalho. em seus menores elementos (partes) possuidores de sen-
(D) professor. tido. A palavra inexplicável, por exemplo, é constituída por
três elementos significativos:
1-)
(A) prazo – “pr” é encontro consonantal In = elemento indicador de negação
(B) cantor – “an” é dígrafo Explic – elemento que contém o significado básico da
(C) trabalho – “tr” encontro consonantal / “lh” é dígrafo palavra
(D) professor – “pr” encontro consonantal q “ss” é dí- Ável = elemento indicador de possibilidade
grafo
RESPOSTA: “A”. Estes elementos formadores da palavra recebem o
nome de morfemas. Através da união das informações
2-) (PREFEITURA DE PINHAIS/PR – INTÉRPRETE DE LI- contidas nos três morfemas de inexplicável, pode-se en-
BRAS – FAFIPA/2014) Assinale a alternativa em que os itens tender o significado pleno dessa palavra: “aquilo que não
destacados possuem o mesmo fonema consonantal em to- tem possibilidade de ser explicado, que não é possível tornar
das as palavras da sequência. claro”.
(A) Externo – precisa – som – usuário.
MORFEMAS = são as menores unidades significativas
(B) Gente – segurança – adjunto – Japão.
que, reunidas, formam as palavras, dando-lhes sentido.
(C) Chefe – caixas – deixo – exatamente.
(D) Cozinha – pesada – lesão – exemplo.
Classificação dos morfemas:
2-) Coloquei entre barras ( / / ) o fonema representado
Radical, lexema ou semantema – é o elemento por-
pela letra destacada:
tador de significado. É através do radical que podemos for-
(A) Externo /s/ – precisa /s/ – som /s/ – usuário /z/
mar outras palavras comuns a um grupo de palavras da
(B) Gente /j/ – segurança /g/ – adjunto /j/ – Japão /j/ mesma família. Exemplo: pequeno, pequenininho, pequenez.
(C) Chefe /x/ – caixas /x/ – deixo /x/ – exatamente O conjunto de palavras que se agrupam em torno de um
/z/ mesmo radical denomina-se família de palavras.
(D) cozinha /z/ – pesada /z/ – lesão /z/– exemplo /z/
RESPOSTA: “D”. Afixos – elementos que se juntam ao radical antes (os
prefixos) ou depois (sufixos) dele. Exemplo: beleza (sufi-
3-) (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR/PI – CURSO DE xo), prever (prefixo), infiel.
FORMAÇÃO DE SOLDADOS – UESPI/2014) “Seja Sangue
Bom!” Na sílaba final da palavra “sangue”, encontramos Desinências - Quando se conjuga o verbo amar, ob-
duas letras representando um único fonema. Esse fenôme- têm-se formas como amava, amavas, amava, amávamos,
no também está presente em: amáveis, amavam. Estas modificações ocorrem à medida
A) cartola. que o verbo vai sendo flexionado em número (singular e
B) problema. plural) e pessoa (primeira, segunda ou terceira). Também
C) guaraná. ocorrem se modificarmos o tempo e o modo do verbo
D) água. (amava, amara, amasse, por exemplo). Assim, podemos
E) nascimento. concluir que existem morfemas que indicam as flexões das
palavras. Estes morfemas sempre surgem no fim das pala-
3-) Duas letras representando um único fonema = dí- vras variáveis e recebem o nome de desinências. Há desi-
grafo nências nominais e desinências verbais.
A) cartola = não há dígrafo
B) problema = não há dígrafo • Desinências nominais: indicam o gênero e o número
C) guaraná = não há dígrafo (você ouve o som do “u”) dos nomes. Para a indicação de gênero, o português cos-
D) água = não há dígrafo (você ouve o som do “u”) tuma opor as desinências -o/-a: garoto/garota; menino/
E) nascimento = dígrafo: sc menina. Para a indicação de número, costuma-se utilizar
RESPOSTA: “E”. o morfema –s, que indica o plural em oposição à ausência
de morfema, que indica o singular: garoto/garotos; garota/
garotas; menino/meninos; menina/meninas. No caso dos
nomes terminados em –r e –z, a desinência de plural assu-
me a forma -es: mar/mares; revólver/revólveres; cruz/cruzes.

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LÍNGUA PORTUGUESA

• Desinências verbais: em nossa língua, as desinências Palavras primitivas: aquelas que, na língua portugue-
verbais pertencem a dois tipos distintos. Há desinências sa, não provêm de outra palavra: pedra, flor.
que indicam o modo e o tempo (desinências modo-tem-
porais) e outras que indicam o número e a pessoa dos ver- Palavras derivadas: aquelas que, na língua portugue-
bos (desinência número-pessoais): sa, provêm de outra palavra: pedreiro, floricultura.

cant-á-va-mos: Palavras simples: aquelas que possuem um só radical:


cant: radical / -á-: vogal temática / -va-: desinência mo- azeite, cavalo.
do-temporal (caracteriza o pretérito imperfeito do indicati-
vo) / -mos: desinência número-pessoal (caracteriza a primei- Palavras compostas: aquelas que possuem mais de
ra pessoa do plural) um radical: couve-flor, planalto.
* As palavras compostas podem ou não ter seus ele-
cant-á-sse-is: mentos ligados por hífen.
cant: radical / -á-: vogal temática / -sse-:desinência mo-
do-temporal (caracteriza o pretérito imperfeito do subjunti- Processos de Formação de Palavras
vo) / -is: desinência número-pessoal (caracteriza a segunda
pessoa do plural) Na Língua Portuguesa há muitos processos de forma-
ção de palavras. Entre eles, os mais comuns são a derivação,
Vogal temática a composição, a onomatopeia, a abreviação e o hibridismo.
Entre o radical cant- e as desinências verbais, surge Derivação por Acréscimo de Afixos
sempre o morfema –a. Este morfema, que liga o radical
às desinências, é chamado de vogal temática. Sua função É o processo pelo qual se obtêm palavras novas (deri-
é ligar-se ao radical, constituindo o chamado tema. É ao vadas) pela anexação de afixos à palavra primitiva. A deri-
tema (radical + vogal temática) que se acrescentam as de- vação pode ser: prefixal, sufixal e parassintética.
sinências. Tanto os verbos como os nomes apresentam vo-
gais temáticas. No caso dos verbos, a vogal temática indica
Prefixal (ou prefixação): a palavra nova é obtida por
as conjugações: -a (da 1.ª conjugação = cantar), -e (da 2.ª
acréscimo de prefixo.
conjugação = escrever) e –i (3.ªconjugação = partir).
In feliz des leal
• Vogais temáticas nominais: São -a, -e, e -o, quando
Prefixo radical prefixo radical
átonas finais, como em mesa, artista, perda, escola, base,
combate. Nestes casos, não poderíamos pensar que essas
terminações são desinências indicadoras de gênero, pois Sufixal (ou sufixação): a palavra nova é obtida por
mesa e escola, por exemplo, não sofrem esse tipo de flexão. acréscimo de sufixo.
A estas vogais temáticas se liga a desinência indicadora
de plural: mesa-s, escola-s, perda-s. Os nomes terminados Feliz mente leal dade
em vogais tônicas (sofá, café, cipó, caqui, por exemplo) não Radical sufixo radical sufixo
apresentam vogal temática.
Parassintética: a palavra nova é obtida pelo acréscimo
• Vogais temáticas verbais: São -a, -e e -i, que ca- simultâneo de prefixo e sufixo. Por parassíntese formam-
racterizam três grupos de verbos a que se dá o nome de se principalmente verbos.
conjugações. Assim, os verbos cuja vogal temática é -a per-
tencem à primeira conjugação; aqueles cuja vogal temática En trist ecer
é -e pertencem à segunda conjugação e os que têm vogal Prefixo radical sufixo
temática -i pertencem à terceira conjugação.
Em tard ecer
Interfixos prefixo radical sufixo

São os elementos (vogais ou consoantes) que se in- Outros Tipos de Derivação


tercalam entre o radical e o sufixo, para facilitar ou mes-
mo possibilitar a leitura de uma determinada palavra. Por Há dois casos em que a palavra derivada é formada
exemplo: sem que haja a presença de afixos. São eles: a derivação
Vogais: frutífero, gasômetro, carnívoro. regressiva e a derivação imprópria.
Consoantes: cafezal, sonolento, friorento.
Derivação regressiva: a palavra nova é obtida por re-
Formação das Palavras dução da palavra primitiva. Ocorre, sobretudo, na formação
de substantivos derivados de verbos.
Há em Português palavras primitivas, palavras deriva- janta (substantivo) - deriva de jantar (verbo) / pesca
das, palavras simples, palavras compostas. (substantivo) – deriva de pescar (verbo)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Derivação imprópria: a palavra nova (derivada) é ob- Fontes de pesquisa:


tida pela mudança de categoria gramatical da palavra pri-
mitiva. Não ocorre, pois, alteração na forma, mas somente http://www.brasilescola.com/gramatica/estrutura-e-
na classe gramatical. formacao-de-palavras-i.htm
Não entendi o porquê da briga. (o substantivo “porquê” SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
deriva da conjunção porque) coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Seu olhar me fascina! (olhar aqui é substantivo, deriva Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
do verbo olhar). ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
** Dica: A derivação regressiva “mexe” na estrutura da Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
palavra e geralmente transforma verbos em substantivos: ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
caça = deriva de caçar, saque = deriva de sacar.
A derivação imprópria não “mexe” com a palavra,
apenas faz com que ela pertença a uma classe gramatical Questões sobre Estrutura das Palavras
“imprópria” da qual ela realmente, ou melhor, costumeira-
mente faz parte. A alteração acontece devido à presença de 1-) (RIOPREVIDÊNCIA – ESPECIALISTA EM PREVIDÊN-
outros termos, como artigos, por exemplo: CIA SOCIAL – CEPERJ/2014) A palavra “infraestrutura” é for-
O verde das matas! (o adjetivo “verde” passou a fun- mada pelo seguinte processo:
cionar como substantivo devido à presença do artigo “o”) A) sufixação
Composição B) prefixação
C) parassíntese
Haverá composição quando se juntarem dois ou mais D) justaposição
radicais para formar uma nova palavra. Há dois tipos de E) aglutinação
composição: justaposição e aglutinação.
1-) Infra = prefixo + estrutura – temos a junção de um
Justaposição: ocorre quando os elementos que for- prefixo com um radical, portanto: derivação prefixal (ou
mam o composto são postos lado a lado, ou seja, justapos-
prefixação).
tos: para-raios, corre-corre, guarda-roupa, segunda-feira,
girassol.
RESPOSTA: “B”.
Composição por aglutinação: ocorre quando os ele-
mentos que formam o composto aglutinam-se e pelo me-
2-) (SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL/MG –
nos um deles perde sua integridade sonora: aguardente
AGENTE DE SEGURANÇA SOCIOEDUCATIVO – IBFC/2014)
(água + ardente), planalto (plano + alto), pernalta (perna +
alta), vinagre (vinho + acre). O vocábulo “entristecido”, presente na terceira estrofe, é
um exemplo de:
Outros processos de formação de palavras: a) palavra composta
b) palavra primitiva
Onomatopeia – é a palavra que procura reproduzir c) palavra derivada
certos sons ou ruídos: reco-reco, tique-taque, fom-fom. d) neologismo

Abreviação – é a redução de palavras até o limite per- 2-) en + triste + ido (com consoante de ligação “c”) =
mitido pela compreensão: moto (motocicleta), pneu (pneu- ao radical “triste” foram acrescidos o prefixo “en” e o sufixo
mático), metrô (metropolitano), foto (fotografia). “ido”, ou seja, “entristecido” é palavra derivada do processo
de formação de palavras chamado de: prefixação e sufixa-
* Observação: ção. Para o exercício, basta “derivada”!
- Abreviatura: é a redução na grafia de certas palavras,
limitando-as quase sempre à letra inicial ou às letras ini- RESPOSTA: “C”.
ciais: p. ou pág. (para página), sr. (para senhor).
- Sigla: é um caso especial de abreviatura, na qual se
reduzem locuções substantivas próprias às suas letras ini-
ciais (são as siglas puras) ou sílabas iniciais (siglas impuras),
que se grafam de duas formas: IBGE, MEC (siglas puras);
DETRAN ou Detran, PETROBRAS ou Petrobras (siglas impu-
ras).
- Hibridismo: é a palavra formada com elementos
oriundos de línguas diferentes.
automóvel (auto: grego; móvel: latim)
sociologia (socio: latim; logia: grego)
sambódromo (samba: dialeto africano; dromo: grego)

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LÍNGUA PORTUGUESA

de lago lacustre
CLASSES DE PALAVRAS E SUAS FLEXÕES
de leão leonino
de lebre leporino
de lua lunar ou selênico
Adjetivo é a palavra que expressa uma qualidade ou
característica do ser e se relaciona com o substantivo, con- de madeira lígneo
cordando com este em gênero e número. de mestre magistral
de ouro áureo
As praias brasileiras estão poluídas.
de paixão passional
Praias = substantivo; brasileiras/poluídas = adjetivos de pâncreas pancreático
(plural e feminino, pois concordam com “praias”).
de porco suíno ou porcino
Locução adjetiva dos quadris ciático
de rio fluvial
Locução = reunião de palavras. Sempre que são ne-
cessárias duas ou mais palavras para falar sobre a mesma de sonho onírico
coisa, tem-se uma locução. Às vezes, uma preposição + de velho senil
substantivo tem o mesmo valor de um adjetivo: é a Locu- de vento eólico
ção Adjetiva (expressão que equivale a um adjetivo). Por
exemplo: aves da noite (aves noturnas), paixão sem freio de vidro vítreo ou hialino
(paixão desenfreada). de virilha inguinal
de visão óptico ou ótico
Observe outros exemplos:
* Observação: nem toda locução adjetiva possui um
de águia aquilino adjetivo correspondente, com o mesmo significado. Por
de aluno discente exemplo: Vi as alunas da 5ª série. / O muro de tijolos caiu.
de anjo angelical Morfossintaxe do Adjetivo (Função Sintática):
de ano anual
de aranha aracnídeo O adjetivo exerce sempre funções sintáticas (função
dentro de uma oração) relativas aos substantivos, atuando
de boi bovino como adjunto adnominal ou como predicativo (do sujeito
de cabelo capilar ou do objeto).
de cabra caprino
Adjetivo Pátrio (ou gentílico)
de campo campestre ou rural
de chuva pluvial Indica a nacionalidade ou o lugar de origem do ser.
Observe alguns deles:
de criança pueril
de dedo digital Estados e cidades brasileiras:
de estômago estomacal ou gástrico
de falcão falconídeo Alagoas alagoano
de farinha farináceo Amapá amapaense
de fera ferino Aracaju aracajuano ou aracajuense
de ferro férreo Amazonas amazonense ou baré
de fogo ígneo Belo Horizonte belo-horizontino
de garganta gutural Brasília brasiliense
de gelo glacial Cabo Frio cabo-friense
de guerra bélico Campinas campineiro ou campinense
de homem viril ou humano
de ilha insular
de inverno hibernal ou invernal

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LÍNGUA PORTUGUESA

Adjetivo Pátrio Composto

Na formação do adjetivo pátrio composto, o primeiro elemento aparece na forma reduzida e, normalmente, erudita.
Observe alguns exemplos:

África afro- / Cultura afro-americana


Alemanha germano- ou teuto-/Competições teuto-inglesas
América américo- / Companhia américo-africana
Bélgica belgo- / Acampamentos belgo-franceses
China sino- / Acordos sino-japoneses
Espanha hispano- / Mercado hispano-português
Europa euro- / Negociações euro-americanas
França franco- ou galo- / Reuniões franco-italianas
Grécia greco- / Filmes greco-romanos
Inglaterra anglo- / Letras anglo-portuguesas
Itália ítalo- / Sociedade ítalo-portuguesa
Japão nipo- / Associações nipo-brasileiras
Portugal luso- / Acordos luso-brasileiros

Flexão dos adjetivos

O adjetivo varia em gênero, número e grau.

Gênero dos Adjetivos

Os adjetivos concordam com o substantivo a que se referem (masculino e feminino). De forma semelhante aos subs-
tantivos, classificam-se em:

Biformes - têm duas formas, sendo uma para o masculino e outra para o feminino: ativo e ativa, mau e má.
Se o adjetivo é composto e biforme, ele flexiona no feminino somente o último elemento: o moço norte-americano, a
moça norte-americana.

* Exceção: surdo-mudo e surda-muda.

Uniformes - têm uma só forma tanto para o masculino como para o feminino: homem feliz e mulher feliz.
Se o adjetivo é composto e uniforme, fica invariável no feminino: conflito político-social e desavença político-social.

Número dos Adjetivos

Plural dos adjetivos simples

Os adjetivos simples se flexionam no plural de acordo com as regras estabelecidas para a flexão numérica dos substan-
tivos simples: mau e maus, feliz e felizes, ruim e ruins, boa e boas.
Caso o adjetivo seja uma palavra que também exerça função de substantivo, ficará invariável, ou seja, se a palavra que
estiver qualificando um elemento for, originalmente, um substantivo, ela manterá sua forma primitiva. Exemplo: a palavra
cinza é, originalmente, um substantivo; porém, se estiver qualificando um elemento, funcionará como adjetivo. Ficará, en-
tão, invariável. Logo: camisas cinza, ternos cinza.

Veja outros exemplos:


Motos vinho (mas: motos verdes)
Paredes musgo (mas: paredes brancas).
Comícios monstro (mas: comícios grandiosos).

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LÍNGUA PORTUGUESA

Adjetivo Composto Observe que:


a) As formas menor e pior são comparativos de supe-
É aquele formado por dois ou mais elementos. Nor- rioridade, pois equivalem a mais pequeno e mais mau, res-
malmente, esses elementos são ligados por hífen. Apenas pectivamente.
o último elemento concorda com o substantivo a que se b) Bom, mau, grande e pequeno têm formas sintéticas
refere; os demais ficam na forma masculina, singular. Caso (melhor, pior, maior e menor), porém, em comparações fei-
um dos elementos que formam o adjetivo composto seja tas entre duas qualidades de um mesmo elemento, deve-se
um substantivo adjetivado, todo o adjetivo composto ficará usar as formas analíticas mais bom, mais mau,mais grande
invariável. Por exemplo: a palavra “rosa” é, originalmente, e mais pequeno. Por exemplo:
um substantivo, porém, se estiver qualificando um elemen- Pedro é maior do que Paulo - Comparação de dois ele-
to, funcionará como adjetivo. Caso se ligue a outra pala- mentos.
vra por hífen, formará um adjetivo composto; como é um Pedro é mais grande que pequeno - comparação de
substantivo adjetivado, o adjetivo composto inteiro ficará duas qualidades de um mesmo elemento.
invariável. Veja:
Camisas rosa-claro. Sou menos alto (do) que você. = Comparativo de Infe-
Ternos rosa-claro.
rioridade
Olhos verde-claros.
Sou menos passivo (do) que tolerante.
Calças azul-escuras e camisas verde-mar.
Telhados marrom-café e paredes verde-claras.
Superlativo
* Observação:
- Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qualquer O superlativo expressa qualidades num grau muito ele-
adjetivo composto iniciado por “cor-de-...” são sempre in- vado ou em grau máximo. Pode ser absoluto ou relativo e
variáveis: roupas azul-marinho, tecidos azul-celeste, vestidos apresenta as seguintes modalidades:
cor-de-rosa. Superlativo Absoluto: ocorre quando a qualidade de
- O adjetivo composto surdo-mudo tem os dois ele- um ser é intensificada, sem relação com outros seres. Apre-
mentos flexionados: crianças surdas-mudas. senta-se nas formas:
1-) Analítica: a intensificação é feita com o auxílio
Grau do Adjetivo de palavras que dão ideia de intensidade (advérbios). Por
exemplo: O concurseiro é muito esforçado.
Os adjetivos se flexionam em grau para indicar a inten- 2-) Sintética: nesta, há o acréscimo de sufixos. Por
sidade da qualidade do ser. São dois os graus do adjetivo: exemplo: O concurseiro é esforçadíssimo.
o comparativo e o superlativo.
Observe alguns superlativos sintéticos:
Comparativo
benéfico - beneficentíssimo
Nesse grau, comparam-se a mesma característica atri-
buída a dois ou mais seres ou duas ou mais características bom - boníssimo ou ótimo
atribuídas ao mesmo ser. O comparativo pode ser de igual- comum - comuníssimo
dade, de superioridade ou de inferioridade.
cruel - crudelíssimo
Sou tão alto como você. = Comparativo de Igualdade difícil - dificílimo
No comparativo de igualdade, o segundo termo da doce - dulcíssimo
comparação é introduzido pelas palavras como, quanto ou
quão. fácil - facílimo
fiel - fidelíssimo
Sou mais alto (do) que você. = Comparativo de Supe-
rioridade Analítico Superlativo Relativo: ocorre quando a qualidade de
No comparativo de superioridade analítico, entre os um ser é intensificada em relação a um conjunto de seres.
dois substantivos comparados, um tem qualidade supe- Essa relação pode ser:
rior. A forma é analítica porque pedimos auxílio a “mais...do 1-) De Superioridade: Essa matéria é a mais fácil de
que” ou “mais...que”.
todas.
2-) De Inferioridade: Essa matéria é a menos fácil de
O Sol é maior (do) que a Terra. = Comparativo de Supe-
todas.
rioridade Sintético

Alguns adjetivos possuem, para o comparativo de * Note bem:


superioridade, formas sintéticas, herdadas do latim. São 1) O superlativo absoluto analítico é expresso por meio
eles: bom /melhor, pequeno/menor, mau/pior, alto/superior, dos advérbios muito, extremamente, excepcionalmente, an-
grande/maior, baixo/inferior. tepostos ao adjetivo.

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LÍNGUA PORTUGUESA

2) O superlativo absoluto sintético se apresenta sob - de inferioridade: menos + advérbio + que (do que):
duas formas: uma erudita - de origem latina - outra po- Renato fala menos alto do que João.
pular - de origem vernácula. A forma erudita é constituída - de superioridade:
pelo radical do adjetivo latino + um dos sufixos -íssimo, 1-) Analítico: mais + advérbio + que (do que): Renato
-imo ou érrimo: fidelíssimo, facílimo, paupérrimo. A forma fala mais alto do que João.
popular é constituída do radical do adjetivo português + o 2-) Sintético: melhor ou pior que (do que): Renato fala
sufixo -íssimo: pobríssimo, agilíssimo. melhor que João.
3-) Os adjetivos terminados em –io fazem o superlativo
com dois “ii”: frio – friíssimo, sério – seriíssimo; os termi- Grau Superlativo
nados em –eio, com apenas um “i”: feio - feíssimo, cheio
– cheíssimo. O superlativo pode ser analítico ou sintético:
- Analítico: acompanhado de outro advérbio: Renato
Fontes de pesquisa: fala muito alto.
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf32. muito = advérbio de intensidade / alto = advérbio de
php modo
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: - Sintético: formado com sufixos: Renato fala altíssimo.
Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- * Observação: as formas diminutivas (cedinho, perti-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. nho, etc.) são comuns na língua popular.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- Maria mora pertinho daqui. (muito perto)
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. A criança levantou cedinho. (muito cedo)

Advérbio Classificação dos Advérbios

Compare estes exemplos: De acordo com a circunstância que exprime, o advér-


bio pode ser de:
Lugar: aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, acolá, atrás,
O ônibus chegou.
além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde, perto, aí, abaixo,
O ônibus chegou ontem.
aonde, longe, debaixo, algures, defronte, nenhures, adentro,
afora, alhures, aquém, embaixo, externamente, a distância,
Advérbio é uma palavra invariável que modifica o sen-
à distância de, de longe, de perto, em cima, à direita, à es-
tido do verbo (acrescentando-lhe circunstâncias de tempo,
querda, ao lado, em volta.
de modo, de lugar, de intensidade), do adjetivo e do próprio Tempo: hoje, logo, primeiro, ontem, tarde, outrora,
advérbio. amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente, antes,
Estudei bastante. = modificando o verbo estudei doravante, nunca, então, ora, jamais, agora, sempre, já, en-
Ele canta muito bem! = intensificando outro advérbio fim, afinal, amiúde, breve, constantemente, entrementes,
(bem) imediatamente, primeiramente, provisoriamente, sucessiva-
Ela tem os olhos muito claros. = relação com um adje- mente, às vezes, à tarde, à noite, de manhã, de repente, de
tivo (claros) vez em quando, de quando em quando, a qualquer momen-
to, de tempos em tempos, em breve, hoje em dia.
Quando modifica um verbo, o advérbio pode acrescen- Modo: bem, mal, assim, adrede, melhor, pior, depressa,
tar ideia de: acinte, debalde, devagar, às pressas, às claras, às cegas, à
Tempo: Ela chegou tarde. toa, à vontade, às escondidas, aos poucos, desse jeito, desse
Lugar: Ele mora aqui. modo, dessa maneira, em geral, frente a frente, lado a lado,
Modo: Eles agiram mal. a pé, de cor, em vão e a maior parte dos que terminam em
Negação: Ela não saiu de casa. “-mente”: calmamente, tristemente, propositadamente, pa-
Dúvida: Talvez ele volte. cientemente, amorosamente, docemente, escandalosamen-
te, bondosamente, generosamente.
Flexão do Advérbio Afirmação: sim, certamente, realmente, decerto, efeti-
vamente, certo, decididamente, deveras, indubitavelmente.
Os advérbios são palavras invariáveis, isto é, não apre- Negação: não, nem, nunca, jamais, de modo algum, de
sentam variação em gênero e número. Alguns advérbios, forma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum.
porém, admitem a variação em grau. Observe: Dúvida: acaso, porventura, possivelmente, provavel-
mente, quiçá, talvez, casualmente, por certo, quem sabe.
Grau Comparativo Intensidade: muito, demais, pouco, tão, em excesso,
bastante, mais, menos, demasiado, quanto, quão, tanto, as-
Forma-se o comparativo do advérbio do mesmo modo saz, que (equivale a quão), tudo, nada, todo, quase, de todo,
que o comparativo do adjetivo: de muito, por completo, extremamente, intensamente, gran-
- de igualdade: tão + advérbio + quanto (como): Re- demente, bem (quando aplicado a propriedades graduá-
nato fala tão alto quanto João. veis).

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LÍNGUA PORTUGUESA

Exclusão: apenas, exclusivamente, salvo, senão, somen- Locução Adverbial


te, simplesmente, só, unicamente. Por exemplo: Brando, o
vento apenas move a copa das árvores. Quando há duas ou mais palavras que exercem função
Inclusão: ainda, até, mesmo, inclusivamente, também. de advérbio, temos a locução adverbial, que pode expres-
Por exemplo: O indivíduo também amadurece durante a sar as mesmas noções dos advérbios. Iniciam ordinaria-
adolescência. mente por uma preposição. Veja:
Ordem: depois, primeiramente, ultimamente. Por lugar: à esquerda, à direita, de longe, de perto, para
exemplo: Primeiramente, eu gostaria de agradecer aos meus dentro, por aqui, etc.
amigos por comparecerem à festa. afirmação: por certo, sem dúvida, etc.
modo: às pressas, passo a passo, de cor, em vão, em
* Saiba que: geral, frente a frente, etc.
- Para se exprimir o limite de possibilidade, antepõe-se tempo: de noite, de dia, de vez em quando, à tarde, hoje
ao advérbio “o mais” ou “o menos”. Por exemplo: Ficarei em dia, nunca mais, etc.
o mais longe que puder daquele garoto. Voltarei o menos
tarde possível. * Observações:
- Quando ocorrem dois ou mais advérbios em -mente, - tanto a locução adverbial como o advérbio modifi-
em geral sufixamos apenas o último: Por exemplo: O aluno cam o verbo, o adjetivo e outro advérbio:
respondeu calma e respeitosamente. Chegou muito cedo. (advérbio)
Joana é muito bela. (adjetivo)
Distinção entre Advérbio e Pronome Indefinido De repente correram para a rua. (verbo)

Há palavras como muito, bastante, que podem apare- - Usam-se, de preferência, as formas mais bem e mais
cer como advérbio e como pronome indefinido. mal antes de adjetivos ou de verbos no particípio:
Advérbio: refere-se a um verbo, adjetivo, ou a outro Essa matéria é mais bem interessante que aquela.
advérbio e não sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muito. Nosso aluno foi o mais bem colocado no concurso!
Pronome Indefinido: relaciona-se a um substantivo e - O numeral “primeiro”, ao modificar o verbo, é advér-
sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muitos quilômetros. bio: Cheguei primeiro.

* Dica: Como saber se a palavra bastante é advérbio - Quanto a sua função sintática: o advérbio e a locução
(não varia, não se flexiona) ou pronome indefinido (varia, adverbial desempenham na oração a função de adjunto
sofre flexão)? Se der, na frase, para substituir o “bastante” adverbial, classificando-se de acordo com as circunstân-
por “muito”, estamos diante de um advérbio; se der para cias que acrescentam ao verbo, ao adjetivo ou ao advérbio.
substituir por “muitos” (ou muitas), é um pronome. Veja: Exemplo:
Meio cansada, a candidata saiu da sala. = adjunto ad-
1-) Estudei bastante para o concurso. (estudei muito, verbial de intensidade (ligado ao adjetivo “cansada”)
pois “muitos” não dá!). = advérbio Trovejou muito ontem. = adjunto adverbial de intensi-
dade e de tempo, respectivamente.
2-) Estudei bastantes capítulos para o concurso. (estudei
muitos capítulos) = pronome indefinido Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf75.
Advérbios Interrogativos php
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
São as palavras: onde? aonde? donde? quando? como? ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
por quê? nas interrogações diretas ou indiretas, referentes Saraiva, 2010.
às circunstâncias de lugar, tempo, modo e causa. Veja: Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Interrogação Direta Interrogação Indireta SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Como aprendeu? Perguntei como aprendeu.
Onde mora? Indaguei onde morava. Artigo
Por que choras? Não sei por que choras.
O artigo integra as dez classes gramaticais, definindo-
Aonde vai? Perguntei aonde ia. se como o termo variável que serve para individualizar ou
Donde vens? Pergunto donde vens. generalizar o substantivo, indicando, também, o gênero
Quando voltas? Pergunto quando voltas. (masculino/feminino) e o número (singular/plural).
Os artigos se subdividem em definidos (“o” e as va-
riações “a”[as] e [os]) e indefinidos (“um” e as variações
“uma”[s] e “uns”).

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LÍNGUA PORTUGUESA

Artigos definidos – São aqueles usados para indicar Mas, se o nome apresentar um caracterizador, a pre-
seres determinados, expressos de forma individual: sença do artigo será obrigatória: O professor visitará a bela
O concurseiro estuda muito. Os concurseiros estudam Roma.
muito.
- antes de pronomes de tratamento:
Artigos indefinidos – São aqueles usados para indicar Vossa Senhoria sairá agora?
seres de modo vago, impreciso: Exceção: O senhor vai à festa?
Uma candidata foi aprovada! Umas candidatas foram
aprovadas! - após o pronome relativo “cujo” e suas variações:
Esse é o concurso cujas provas foram anuladas?
Circunstâncias em que os artigos se manifestam: Este é o candidato cuja nota foi a mais alta.

* Considera-se obrigatório o uso do artigo depois do Fontes de pesquisa:


numeral “ambos”: http://www.brasilescola.com/gramatica/artigo.htm
Ambos os concursos cobrarão tal conteúdo. Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
* Nomes próprios indicativos de lugar admitem o uso Saraiva, 2010.
do artigo, outros não: Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
São Paulo, O Rio de Janeiro, Veneza, A Bahia... ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.SACCO-
NI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed.
* Quando indicado no singular, o artigo definido pode Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
indicar toda uma espécie: Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
O trabalho dignifica o homem. ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
* No caso de nomes próprios personativos, denotando
a ideia de familiaridade ou afetividade, é facultativo o uso Conjunção
do artigo:
Marcela é a mais extrovertida das irmãs. Além da preposição, há outra palavra também invariá-
O Pedro é o xodó da família. vel que, na frase, é usada como elemento de ligação: a con-
junção. Ela serve para ligar duas orações ou duas palavras
* No caso de os nomes próprios personativos estarem de mesma função em uma oração:
no plural, são determinados pelo uso do artigo: O concurso será realizado nas cidades de Campinas e
Os Maias, os Incas, Os Astecas... São Paulo.
A prova não será fácil, por isso estou estudando muito.
* Usa-se o artigo depois do pronome indefinido to-
do(a) para conferir uma ideia de totalidade. Sem o uso dele Morfossintaxe da Conjunção
(o artigo), o pronome assume a noção de qualquer.
Toda a classe parabenizou o professor. (a sala toda) As conjunções, a exemplo das preposições, não exer-
Toda classe possui alunos interessados e desinteressa- cem propriamente uma função sintática: são conectivos.
dos. (qualquer classe)
Classificação da Conjunção
* Antes de pronomes possessivos, o uso do artigo é
facultativo: De acordo com o tipo de relação que estabelecem, as
Preparei o meu curso. Preparei meu curso. conjunções podem ser classificadas em coordenativas e
subordinativas. No primeiro caso, os elementos ligados
* A utilização do artigo indefinido pode indicar uma pela conjunção podem ser isolados um do outro. Esse iso-
ideia de aproximação numérica: lamento, no entanto, não acarreta perda da unidade de
O máximo que ele deve ter é uns vinte anos. sentido que cada um dos elementos possui. Já no segundo
caso, cada um dos elementos ligados pela conjunção de-
* O artigo também é usado para substantivar palavras pende da existência do outro. Veja:
pertencentes a outras classes gramaticais:
Não sei o porquê de tudo isso. Estudei muito, mas ainda não compreendi o conteúdo.
Podemos separá-las por ponto:
* Há casos em que o artigo definido não pode ser Estudei muito. Ainda não compreendi o conteúdo.
usado:
- antes de nomes de cidade e de pessoas conhecidas: Temos acima um exemplo de conjunção (e, conse-
O professor visitará Roma. quentemente, orações coordenadas) coordenativa – “mas”.
Já em:

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LÍNGUA PORTUGUESA

Espero que eu seja aprovada no concurso! As conjunções subordinativas subdividem-se em inte-


Não conseguimos separar uma oração da outra, pois a grantes e adverbiais:
segunda “completa” o sentido da primeira (da oração prin-
cipal): 1. Integrantes - Indicam que a oração subordinada por
Espero o quê? Ser aprovada. Nesse período temos uma elas introduzida completa ou integra o sentido da principal.
oração subordinada substantiva objetiva direta (ela exerce Introduzem orações que equivalem a substantivos, ou seja,
a função de objeto direto do verbo da oração principal). as orações subordinadas substantivas. São elas: que, se.
Quero que você volte. (Quero sua volta)
Conjunções Coordenativas
2. Adverbiais - Indicam que a oração subordinada
São aquelas que ligam orações de sentido completo exerce a função de adjunto adverbial da principal. De acor-
e independente ou termos da oração que têm a mesma do com a circunstância que expressam, classificam-se em:
a) Causais: introduzem uma oração que é causa da
função gramatical. Subdividem-se em:
ocorrência da oração principal. São elas: porque, que, como
1) Aditivas: ligam orações ou palavras, expressando
(= porque, no início da frase), pois que, visto que, uma vez
ideia de acréscimo ou adição. São elas: e, nem (= e não),
que, porquanto, já que, desde que, etc.
não só... mas também, não só... como também, bem como, Ele não fez a pesquisa porque não dispunha de meios.
não só... mas ainda.
A sua pesquisa é clara e objetiva. b) Concessivas: introduzem uma oração que expressa
Não só dança, mas também canta. ideia contrária à da principal, sem, no entanto, impedir sua
realização. São elas: embora, ainda que, apesar de que, se
2) Adversativas: ligam duas orações ou palavras, ex- bem que, mesmo que, por mais que, posto que, conquanto,
pressando ideia de contraste ou compensação. São elas: etc.
mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, não Embora fosse tarde, fomos visitá-lo.
obstante.
Tentei chegar mais cedo, porém não consegui. c) Condicionais: introduzem uma oração que indica a
hipótese ou a condição para ocorrência da principal. São
3) Alternativas: ligam orações ou palavras, expressan- elas: se, caso, contanto que, salvo se, a não ser que, desde
do ideia de alternância ou escolha, indicando fatos que se que, a menos que, sem que, etc.
realizam separadamente. São elas: ou, ou... ou, ora... ora, já... Se precisar de minha ajuda, telefone-me.
já, quer... quer, seja... seja, talvez... talvez.
** Dica: você deve ter percebido que a conjunção con-
Ou escolho agora, ou fico sem presente de aniversário.
dicional “se” também é conjunção integrante. A diferença é
clara ao ler as orações que são introduzidas por ela. Acima,
4) Conclusivas: ligam a oração anterior a uma oração
ela nos dá a ideia da condição para que recebamos um
que expressa ideia de conclusão ou consequência. São elas: telefonema (se for preciso ajuda). Já na oração:
logo, pois (depois do verbo), portanto, por conseguinte, por Não sei se farei o concurso...
isso, assim. Não há ideia de condição alguma, há? Outra coisa: o
Marta estava bem preparada para o teste, portanto não verbo da oração principal (sei) pede complemento (objeto
ficou nervosa. direto, já que “quem não sabe, não sabe algo”). Portanto,
Você nos ajudou muito; terá, pois, nossa gratidão. a oração em destaque exerce a função de objeto direto da
oração principal, sendo classificada como oração subordi-
5) Explicativas: ligam a oração anterior a uma oração nada substantiva objetiva direta.
que a explica, que justifica a ideia nela contida. São elas: d) Conformativas: introduzem uma oração que expri-
que, porque, pois (antes do verbo), porquanto. me a conformidade de um fato com outro. São elas: confor-
Não demore, que o filme já vai começar. me, como (= conforme), segundo, consoante, etc.
Falei muito, pois não gosto do silêncio! O passeio ocorreu como havíamos planejado.

Conjunções Subordinativas e) Finais: introduzem uma oração que expressa a fina-


lidade ou o objetivo com que se realiza a oração principal.
São aquelas que ligam duas orações, sendo uma delas São elas: para que, a fim de que, que, porque (= para que),
que, etc.
dependente da outra. A oração dependente, introduzida
Toque o sinal para que todos entrem no salão.
pelas conjunções subordinativas, recebe o nome de ora-
ção subordinada. Veja o exemplo: O baile já tinha começado f) Proporcionais: introduzem uma oração que expres-
quando ela chegou. sa um fato relacionado proporcionalmente à ocorrência do
O baile já tinha começado: oração principal expresso na principal. São elas: à medida que, à proporção
quando: conjunção subordinativa (adverbial temporal) que, ao passo que e as combinações quanto mais... (mais),
ela chegou: oração subordinada quanto menos... (menos), quanto menos... (mais), quanto
menos... (menos), etc.

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LÍNGUA PORTUGUESA

O preço fica mais caro à medida que os produtos escas- Fontes de pesquisa:
seiam. http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf84.
php
* Observação: são incorretas as locuções proporcio- SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
nais à medida em que, na medida que e na medida em que. coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
g) Temporais: introduzem uma oração que acrescenta ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
uma circunstância de tempo ao fato expresso na oração Saraiva, 2010.
principal. São elas: quando, enquanto, antes que, depois que, Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
logo que, todas as vezes que, desde que, sempre que, assim ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
que, agora que, mal (= assim que), etc. Interjeição
A briga começou assim que saímos da festa.
Interjeição é a palavra invariável que exprime emo-
h) Comparativas: introduzem uma oração que expres- ções, sensações, estados de espírito. É um recurso da lin-
sa ideia de comparação com referência à oração principal. guagem afetiva, em que não há uma ideia organizada de
São elas: como, assim como, tal como, como se, (tão)... como, maneira lógica, como são as sentenças da língua, mas sim
a manifestação de um suspiro, um estado da alma decor-
tanto como, tanto quanto, do que, quanto, tal, qual, tal qual,
rente de uma situação particular, um momento ou um con-
que nem, que (combinado com menos ou mais), etc.
texto específico. Exemplos:
O jogo de hoje será mais difícil que o de ontem.
Ah, como eu queria voltar a ser criança!
ah: expressão de um estado emotivo = interjeição
i) Consecutivas: introduzem uma oração que expressa Hum! Esse pudim estava maravilhoso!
a consequência da principal. São elas: de sorte que, de modo hum: expressão de um pensamento súbito = interjei-
que, sem que (= que não), de forma que, de jeito que, que ção
(tendo como antecedente na oração principal uma palavra
como tal, tão, cada, tanto, tamanho), etc. O significado das interjeições está vinculado à maneira
Estudou tanto durante a noite que dormiu na hora do como elas são proferidas. O tom da fala é que dita o senti-
exame. do que a expressão vai adquirir em cada contexto em que
for utilizada. Exemplos:
Atenção: Muitas conjunções não têm classificação úni- Psiu!
ca, imutável, devendo, portanto, ser classificadas de acor- contexto: alguém pronunciando esta expressão na rua
do com o sentido que apresentam no contexto (grifo ; significado da interjeição (sugestão): “Estou te chamando!
da Zê!). Ei, espere!”

O bom relacionamento entre as conjunções de um Psiu!


texto garante a perfeita estruturação de suas frases e pa- contexto: alguém pronunciando em um hospital; sig-
rágrafos, bem como a compreensão eficaz de seu conteú- nificado da interjeição (sugestão): “Por favor, faça silêncio!”
do. Interagindo com palavras de outras classes gramaticais
essenciais ao inter-relacionamento das partes de frases e Puxa! Ganhei o maior prêmio do sorteio!
textos - como os pronomes, preposições, alguns advérbios puxa: interjeição; tom da fala: euforia
e numerais -, as conjunções fazem parte daquilo a que se
pode chamar de “a arquitetura textual”, isto é, o con- Puxa! Hoje não foi meu dia de sorte!
junto das relações que garantem a coesão do enunciado. puxa: interjeição; tom da fala: decepção
O sucesso desse conjunto de relações depende do conhe-
cimento do valor relacional das conjunções, uma vez que As interjeições cumprem, normalmente, duas funções:
a) Sintetizar uma frase exclamativa, exprimindo alegria,
estas interferem semanticamente no enunciado.
tristeza, dor, etc.
Dessa forma, deve-se dedicar atenção especial às con-
Ah, deve ser muito interessante!
junções tanto na leitura como na produção de textos. Nos
textos narrativos, elas estão muitas vezes ligadas à expres-
b) Sintetizar uma frase apelativa.
são de circunstâncias fundamentais à condução da história, Cuidado! Saia da minha frente.
como as noções de tempo, finalidade, causa e consequên-
cia. Nos textos dissertativos, evidenciam muitas vezes a li- As interjeições podem ser formadas por:
nha expositiva ou argumentativa adotada - é o caso das a) simples sons vocálicos: Oh!, Ah!, Ó, Ô
exposições e argumentações construídas por meio de con- b) palavras: Oba! Olá! Claro!
trastes e oposições, que implicam o uso das adversativas e c) grupos de palavras (locuções interjetivas): Meu Deus!
concessivas. Ora bolas!

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LÍNGUA PORTUGUESA

Classificação das Interjeições 3) A interjeição pode ser considerada uma “palavra-


frase” porque sozinha pode constituir uma mensagem. Por
Comumente, as interjeições expressam sentido de: exemplo:
Advertência: Cuidado! Devagar! Calma! Sentido! Aten- Socorro! Ajudem-me! Silêncio! Fique quieto!
ção! Olha! Alerta!
Afugentamento: Fora! Passa! Rua! 4) Há, também, as interjeições onomatopaicas ou imi-
Alegria ou Satisfação: Oh! Ah! Eh! Oba! Viva! tativas, que exprimem ruídos e vozes. Por exemplo: Miau!
Alívio: Arre! Uf! Ufa! Ah! Bumba! Zás! Plaft! Pof! Catapimba! Tique-taque! Quá-quá-
Animação ou Estímulo: Vamos! Força! Coragem! Âni- quá!, etc.
mo! Adiante!
Aplauso ou Aprovação: Bravo! Bis! Apoiado! Viva! 5) Não se deve confundir a interjeição de apelo “ó” com
Concordância: Claro! Sim! Pois não! Tá! a sua homônima “oh!”, que exprime admiração, alegria,
Repulsa ou Desaprovação: Credo! Ih! Francamente! tristeza, etc. Faz-se uma pausa depois do “oh!” exclamativo
Essa não! Chega! Basta! e não a fazemos depois do “ó” vocativo. Por exemplo:
Desejo ou Intenção: Pudera! Tomara! Oxalá! Queira “Ó natureza! ó mãe piedosa e pura!” (Olavo Bilac)
Deus! Oh! a jornada negra!” (Olavo Bilac)
Desculpa: Perdão!
Dor ou Tristeza: Ai! Ui! Ai de mim! Que pena! Fontes de pesquisa:
Dúvida ou Incredulidade: Que nada! Qual o quê! http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf89.
Espanto ou Admiração: Oh! Ah! Uai! Puxa! Céus! Quê! php
Caramba! Opa! Nossa! Hein? Cruz! Putz! SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
Impaciência ou Contrariedade: Hum! Raios! Puxa! Pô! coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Ora! Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática
Pedido de Auxílio: Socorro! Aqui! Piedade! – volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa
Saudação, Chamamento ou Invocação: Salve! Viva! Souza. – 3. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.
Adeus! Olá! Alô! Ei! Tchau! Psiu! Socorro! Valha-me, Deus! Numeral
Silêncio: Psiu! Silêncio!
Numeral é a palavra variável que indica quantidade
Terror ou Medo: Credo! Cruzes! Minha nossa!
numérica ou ordem; expressa a quantidade exata de pes-
soas ou coisas ou o lugar que elas ocupam numa determi-
* Saiba que: As interjeições são palavras invariáveis,
nada sequência.
isto é, não sofrem variação em gênero, número e grau
como os nomes, nem de número, pessoa, tempo, modo,
* Note bem: os numerais traduzem, em palavras, o que
aspecto e voz como os verbos. No entanto, em uso espe-
os números indicam em relação aos seres. Assim, quando
cífico, algumas interjeições sofrem variação em grau. Não
se trata de um processo natural desta classe de palavra, a expressão é colocada em números (1, 1.º, 1/3, etc.) não se
mas tão só uma variação que a linguagem afetiva permite. trata de numerais, mas sim de algarismos.
Exemplos: oizinho, bravíssimo, até loguinho. Além dos numerais mais conhecidos, já que refletem a
ideia expressa pelos números, existem mais algumas pala-
Locução Interjetiva vras consideradas numerais porque denotam quantidade,
proporção ou ordenação. São alguns exemplos: década,
Ocorre quando duas ou mais palavras formam uma dúzia, par, ambos(as), novena.
expressão com sentido de interjeição: Ora bolas!, Virgem
Maria!, Meu Deus!, Ó de casa!, Ai de mim!, Graças a Deus! Classificação dos Numerais
Toda frase mais ou menos breve dita em tom exclama-
tivo torna-se uma locução interjetiva, dispensando análise - Cardinais: indicam quantidade exata ou determina-
dos termos que a compõem: Macacos me mordam!, Valha- da de seres: um, dois, cem mil, etc. Alguns cardinais têm
me Deus!, Quem me dera! sentido coletivo, como por exemplo: século, par, dúzia, dé-
cada, bimestre.
* Observações:
1) As interjeições são como frases resumidas, sintéticas. - Ordinais: indicam a ordem, a posição que alguém ou
Por exemplo: alguma coisa ocupa numa determinada sequência: primei-
Ué! (= Eu não esperava por essa!) ro, segundo, centésimo, etc.
Perdão! (= Peço-lhe que me desculpe.)
* Observação importante:
2) Além do contexto, o que caracteriza a interjeição é As palavras anterior, posterior, último, antepenúltimo,
o seu tom exclamativo; por isso, palavras de outras classes final e penúltimo também indicam posição dos seres, mas
gramaticais podem aparecer como interjeições. Por exem- são classificadas como adjetivos, não ordinais.
plo:
Viva! Basta! (Verbos) - Fracionários: indicam parte de uma quantidade, ou
Fora! Francamente! (Advérbios) seja, uma divisão dos seres: meio, terço, dois quintos, etc.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação - Para designar papas, reis, imperadores, séculos e par-
dos seres, indicando quantas vezes a quantidade foi au- tes em que se divide uma obra, utilizam-se os ordinais até
mentada: dobro, triplo, quíntuplo, etc. décimo e, a partir daí, os cardinais, desde que o numeral
venha depois do substantivo;
Flexão dos numerais
Ordinais Cardinais
Os numerais cardinais que variam em gênero são um/
uma, dois/duas e os que indicam centenas de duzentos/du- João Paulo II (segundo) Tomo XV (quinze)
zentas em diante: trezentos/trezentas; quatrocentos/quatro- D. Pedro II (segundo) Luís XVI (dezesseis)
centas, etc. Cardinais como milhão, bilhão, trilhão, variam
em número: milhões, bilhões, trilhões. Os demais cardinais Ato II (segundo) Capítulo XX (vinte)
são invariáveis. Século VIII (oitavo) Século XX (vinte)
Canto IX (nono) João XXIII ( vinte e três)
Os numerais ordinais variam em gênero e número:
- Se o numeral aparece antes do substantivo, será lido
primeiro segundo milésimo como ordinal: XXX Feira do Bordado. (trigésima)
primeira segunda milésima
** Dica: Ordinal lembra ordem. Memorize assim, por
primeiros segundos milésimos associação. Ficará mais fácil!
primeiras segundas milésimas - Para designar leis, decretos e portarias, utiliza-se o
ordinal até nono e o cardinal de dez em diante:
Os numerais multiplicativos são invariáveis quando
atuam em funções substantivas: Fizeram o dobro do esforço Artigo 1.° (primeiro) Artigo 10 (dez)
e conseguiram o triplo de produção. Artigo 9.° (nono) Artigo 21 (vinte e um)
Quando atuam em funções adjetivas, esses numerais
flexionam-se em gênero e número: Teve de tomar doses tri- - Ambos/ambas = numeral dual, porque sempre se
plas do medicamento. refere a dois seres. Significam “um e outro”, “os dois” (ou
Os numerais fracionários flexionam-se em gênero e “uma e outra”, “as duas”) e são largamente empregados
número. Observe: um terço/dois terços, uma terça parte/ para retomar pares de seres aos quais já se fez referência.
duas terças partes. Sua utilização exige a presença do artigo posposto: Ambos
Os numerais coletivos flexionam-se em número: uma os concursos realizarão suas provas no mesmo dia. O arti-
dúzia, um milheiro, duas dúzias, dois milheiros. go só é dispensado caso haja um pronome demonstrativo:
É comum na linguagem coloquial a indicação de grau Ambos esses ministros falarão à imprensa.
nos numerais, traduzindo afetividade ou especialização de
sentido. É o que ocorre em frases como: Função sintática do Numeral
“Me empresta duzentinho...”
É artigo de primeiríssima qualidade! O numeral tem mais de uma função sintática:
O time está arriscado por ter caído na segundona. (= - se na oração analisada seu papel é de adjetivo, o
segunda divisão de futebol) numeral assumirá a função de adjunto adnominal; se fizer
papel de substantivo, pode ter a função de sujeito, objeto
Emprego e Leitura dos Numerais direto ou indireto.
- Os numerais são escritos em conjunto de três alga- Visitamos cinco casas, mas só gostamos de duas.
rismos, contados da direita para a esquerda, em forma de Objeto direto = cinco casas
centenas, dezenas e unidades, tendo cada conjunto uma Núcleo do objeto direto = casas
separação através de ponto ou espaço correspondente a Adjunto adnominal = cinco
um ponto: 8.234.456 ou 8 234 456. Objeto indireto = de duas
- Em sentido figurado, usa-se o numeral para indicar
Núcleo do objeto indireto = duas
exagero intencional, constituindo a figura de linguagem
conhecida como hipérbole: Já li esse texto mil vezes.
- No português contemporâneo, não se usa a conjun-
ção “e” após “mil”, seguido de centena:
Nasci em mil novecentos e noventa e dois.
Seu salário será de mil quinhentos e cinquenta reais.

* Mas, se a centena começa por “zero” ou termina por


dois zeros, usa-se o “e”:
Seu salário será de mil e quinhentos reais. (R$1.500,00)
Gastamos mil e quarenta reais. (R$1.040,00)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Quadro de alguns numerais

Cardinais Ordinais Multiplicativos Fracionários


um primeiro - -
dois segundo dobro, duplo meio
três terceiro triplo, tríplice terço
quatro quarto quádruplo quarto
cinco quinto quíntuplo quinto
seis sexto sêxtuplo sexto
sete sétimo sétuplo sétimo
oito oitavo óctuplo oitavo
nove nono nônuplo nono
dez décimo décuplo décimo
onze décimo primeiro - onze avos
doze décimo segundo - doze avos
treze décimo terceiro - treze avos
catorze décimo quarto - catorze avos
quinze décimo quinto - quinze avos
dezesseis décimo sexto - dezesseis avos
dezessete décimo sétimo - dezessete avos
dezoito décimo oitavo - dezoito avos
dezenove décimo nono - dezenove avos
vinte vigésimo - vinte avos
trinta trigésimo - trinta avos
quarenta quadragésimo - quarenta avos
cinqüenta quinquagésimo - cinquenta avos
sessenta sexagésimo - sessenta avos
setenta septuagésimo - setenta avos
oitenta octogésimo - oitenta avos
noventa nonagésimo - noventa avos
cem centésimo cêntuplo centésimo
duzentos ducentésimo - ducentésimo
trezentos trecentésimo - trecentésimo
quatrocentos quadringentésimo - quadringentésimo
quinhentos quingentésimo - quingentésimo
seiscentos sexcentésimo - sexcentésimo
setecentos septingentésimo - septingentésimo
oitocentos octingentésimo - octingentésimo
novecentos nongentésimo
ou noningentésimo - nongentésimo
mil milésimo - milésimo
milhão milionésimo - milionésimo
bilhão bilionésimo - bilionésimo

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LÍNGUA PORTUGUESA

fontes de pesquisa: Dicas sobre preposição


http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf40.
php - O “a” pode funcionar como preposição, pronome
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- pessoal oblíquo e artigo. Como distingui-los? Caso o “a”
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. seja um artigo, virá precedendo um substantivo, servindo
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere- para determiná-lo como um substantivo singular e femi-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: nino.
Saraiva, 2010. A matéria que estudei é fácil!
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. - Quando é preposição, além de ser invariável, liga dois
Preposição termos e estabelece relação de subordinação entre eles.
Preposição é uma palavra invariável que serve para Irei à festa sozinha.
ligar termos ou orações. Quando esta ligação acontece, Entregamos a flor à professora!
normalmente há uma subordinação do segundo termo em *o primeiro “a” é artigo; o segundo, preposição.
relação ao primeiro. As preposições são muito importantes
na estrutura da língua, pois estabelecem a coesão textual - Se for pronome pessoal oblíquo estará ocupando o
e possuem valores semânticos indispensáveis para a com- lugar e/ou a função de um substantivo.
preensão do texto. Nós trouxemos a apostila. = Nós a trouxemos.

Tipos de Preposição Relações semânticas (= de sentido) estabelecidas


por meio das preposições:
1. Preposições essenciais: palavras que atuam exclusi-
vamente como preposições: a, ante, perante, após, até, com, Destino = Irei a Salvador.
contra, de, desde, em, entre, para, por, sem, sob, sobre, trás, Modo = Saiu aos prantos.
Lugar = Sempre a seu lado.
atrás de, dentro de, para com.
Assunto = Falemos sobre futebol.
Tempo = Chegarei em instantes.
2. Preposições acidentais: palavras de outras classes
Causa = Chorei de saudade.
gramaticais que podem atuar como preposições, ou seja,
Fim ou finalidade = Vim para ficar.
formadas por uma derivação imprópria: como, durante, ex-
Instrumento = Escreveu a lápis.
ceto, fora, mediante, salvo, segundo, senão, visto.
Posse = Vi as roupas da mamãe.
Autoria = livro de Machado de Assis
3. Locuções prepositivas: duas ou mais palavras va-
Companhia = Estarei com ele amanhã.
lendo como uma preposição, sendo que a última palavra é Matéria = copo de cristal.
uma (preposição): abaixo de, acerca de, acima de, ao lado Meio = passeio de barco.
de, a respeito de, de acordo com, em cima de, embaixo de, Origem = Nós somos do Nordeste.
em frente a, ao redor de, graças a, junto a, com, perto de, por Conteúdo = frascos de perfume.
causa de, por cima de, por trás de. Oposição = Esse movimento é contra o que eu penso.
Preço = Essa roupa sai por cinquenta reais.
A preposição é invariável, no entanto pode unir-se a
outras palavras e, assim, estabelecer concordância em gê- * Quanto à preposição “trás”: não se usa senão nas lo-
nero ou em número. Ex: por + o = pelo por + a = pela. cuções adverbiais (para trás ou por trás) e na locução pre-
positiva por trás de.
* Essa concordância não é característica da preposição,
mas das palavras às quais ela se une. Fontes de pesquisa:
Esse processo de junção de uma preposição com outra http://www.infoescola.com/portugues/preposicao/
palavra pode se dar a partir dos processos de: SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
1. Combinação: união da preposição “a” com o artigo Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
“o”(s), ou com o advérbio “onde”: ao, aonde, aos. Os vocá- ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
bulos não sofrem alteração. Saraiva, 2010.
2. Contração: união de uma preposição com outra pa- Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
lavra, ocorrendo perda ou transformação de fonema: de + ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
o = do, em + a = na, per + os = pelos, de + aquele = da- Pronome
quele, em + isso = nisso. Pronome é a palavra variável que substitui ou acom-
3. Crase: é a fusão de vogais idênticas: à (“a” prepo- panha um substantivo (nome), qualificando-o de alguma
sição + “a” artigo), àquilo (“a” preposição + 1.ª vogal do forma.
pronome “aquilo”). O homem julga que é superior à natureza, por isso o
homem destrói a natureza...

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LÍNGUA PORTUGUESA

Utilizando pronomes, teremos: Pronome Reto


O homem julga que é superior à natureza, por isso ele
a destrói... Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na senten-
Ficou melhor, sem a repetição desnecessária de termos ça, exerce a função de sujeito: Nós lhe ofertamos flores.
(homem e natureza).
Os pronomes retos apresentam flexão de número, gê-
Grande parte dos pronomes não possuem significados nero (apenas na 3.ª pessoa) e pessoa, sendo essa última a
fixos, isto é, essas palavras só adquirem significação dentro principal flexão, uma vez que marca a pessoa do discurso.
de um contexto, o qual nos permite recuperar a referên- Dessa forma, o quadro dos pronomes retos é assim confi-
cia exata daquilo que está sendo colocado por meio dos gurado:
pronomes no ato da comunicação. Com exceção dos pro-
nomes interrogativos e indefinidos, os demais pronomes - 1.ª pessoa do singular: eu
têm por função principal apontar para as pessoas do dis- - 2.ª pessoa do singular: tu
curso ou a elas se relacionar, indicando-lhes sua situação - 3.ª pessoa do singular: ele, ela
no tempo ou no espaço. Em virtude dessa característica, - 1.ª pessoa do plural: nós
- 2.ª pessoa do plural: vós
os pronomes apresentam uma forma específica para cada
- 3.ª pessoa do plural: eles, elas
pessoa do discurso.
* Atenção: esses pronomes não costumam ser usa-
Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada. dos como complementos verbais na língua-padrão. Frases
[minha/eu: pronomes de 1.ª pessoa = aquele que fala] como “Vi ele na rua”, “Encontrei ela na praça”, “Trouxeram
Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada? eu até aqui”, comuns na língua oral cotidiana, devem ser
[tua/tu: pronomes de 2.ª pessoa = aquele a quem se evitadas na língua formal escrita ou falada. Na língua for-
fala] mal, devem ser usados os pronomes oblíquos correspon-
A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada. dentes: “Vi-o na rua”, “Encontrei-a na praça”, “Trouxeram-
[dela/ela: pronomes de 3.ª pessoa = aquele de quem me até aqui”.
se fala]
* Observação: frequentemente observamos a omissão
Em termos morfológicos, os pronomes são palavras do pronome reto em Língua Portuguesa. Isso se dá porque
variáveis em gênero (masculino ou feminino) e em núme- as próprias formas verbais marcam, através de suas desi-
ro (singular ou plural). Assim, espera-se que a referência nências, as pessoas do verbo indicadas pelo pronome reto:
através do pronome seja coerente em termos de gênero Fizemos boa viagem. (Nós)
e número (fenômeno da concordância) com o seu objeto,
mesmo quando este se apresenta ausente no enunciado. Pronome Oblíquo

Fala-se de Roberta. Ele quer participar do desfile da nos- Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na sen-
sa escola neste ano. tença, exerce a função de complemento verbal (objeto
[nossa: pronome que qualifica “escola” = concordância direto ou indireto): Ofertaram-nos flores. (objeto indireto)
adequada]
[neste: pronome que determina “ano” = concordância * Observação: o pronome oblíquo é uma forma va-
adequada] riante do pronome pessoal do caso reto. Essa variação in-
[ele: pronome que faz referência à “Roberta” = concor- dica a função diversa que eles desempenham na oração:
dância inadequada] pronome reto marca o sujeito da oração; pronome oblíquo
marca o complemento da oração.
Os pronomes oblíquos sofrem variação de acordo com
Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessivos,
a acentuação tônica que possuem, podendo ser átonos ou
demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos.
tônicos.
Pronomes Pessoais Pronome Oblíquo Átono
São aqueles que substituem os substantivos, indicando São chamados átonos os pronomes oblíquos que não
diretamente as pessoas do discurso. Quem fala ou escreve são precedidos de preposição. Possuem acentuação tônica
assume os pronomes “eu” ou “nós”; usa-se os pronomes fraca: Ele me deu um presente.
“tu”, “vós”, “você” ou “vocês” para designar a quem se di- Tabela dos pronomes oblíquos átonos
rige, e “ele”, “ela”, “eles” ou “elas” para fazer referência à - 1.ª pessoa do singular (eu): me
pessoa ou às pessoas de quem se fala. - 2.ª pessoa do singular (tu): te
Os pronomes pessoais variam de acordo com as fun- - 3.ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe
ções que exercem nas orações, podendo ser do caso reto - 1.ª pessoa do plural (nós): nos
ou do caso oblíquo. - 2.ª pessoa do plural (vós): vos
- 3.ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes

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LÍNGUA PORTUGUESA

* Observações: - As preposições essenciais introduzem sempre prono-


- O “lhe” é o único pronome oblíquo átono que já se mes pessoais do caso oblíquo e nunca pronome do caso
apresenta na forma contraída, ou seja, houve a união en- reto. Nos contextos interlocutivos que exigem o uso da
tre o pronome “o” ou “a” e preposição “a” ou “para”. Por língua formal, os pronomes costumam ser usados desta
acompanhar diretamente uma preposição, o pronome forma:
“lhe” exerce sempre a função de objeto indireto na oração. Não há mais nada entre mim e ti.
Os pronomes me, te, nos e vos podem tanto ser objetos Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela.
diretos como objetos indiretos. Não há nenhuma acusação contra mim.
Os pronomes o, a, os e as atuam exclusivamente como Não vá sem mim.
objetos diretos.
* Atenção: Há construções em que a preposição, ape-
- Os pronomes me, te, lhe, nos, vos e lhes podem com- sar de surgir anteposta a um pronome, serve para introdu-
binar-se com os pronomes o, os, a, as, dando origem a for- zir uma oração cujo verbo está no infinitivo. Nesses casos,
mas como mo, mos, ma, mas; to, tos, ta, tas; lho, lhos, lha, o verbo pode ter sujeito expresso; se esse sujeito for um
lhas; no-lo, no-los, no-la, no-las, vo-lo, vo-los, vo-la, vo-las. pronome, deverá ser do caso reto.
Observe o uso dessas formas nos exemplos que seguem: Trouxeram vários vestidos para eu experimentar.
Trouxeste o pacote? Não vá sem eu mandar.
Sim, entreguei-to ainda há pouco.
Não contaram a novidade a vocês? * A frase: “Foi fácil para mim resolver aquela questão!”
Não, no-la contaram. está correta, já que “para mim” é complemento de “fácil”.
A ordem direta seria: Resolver aquela questão foi fácil para
No Brasil, essas combinações não são usadas; até mes- mim!
mo na língua literária atual, seu emprego é muito raro.
- A combinação da preposição “com” e alguns prono-
* Atenção: Os pronomes o, os, a, as assumem formas mes originou as formas especiais comigo, contigo, consigo,
especiais depois de certas terminações verbais.
conosco e convosco. Tais pronomes oblíquos tônicos fre-
- Quando o verbo termina em -z, -s ou -r, o pronome
quentemente exercem a função de adjunto adverbial de
assume a forma lo, los, la ou las, ao mesmo tempo que a
companhia.
terminação verbal é suprimida. Por exemplo:
Ele carregava o documento consigo.
fiz + o = fi-lo
fazeis + o = fazei-lo
- A preposição “até” exige as formas oblíquas tônicas:
dizer + a = dizê-la
Ela veio até mim, mas nada falou.
Mas, se “até” for palavra denotativa (com o sentido de)
- Quando o verbo termina em som nasal, o pronome
assume as formas no, nos, na, nas. Por exemplo: inclusão, usaremos as formas retas:
viram + o: viram-no Todos foram bem na prova, até eu! (=inclusive eu)
repõe + os = repõe-nos
retém + a: retém-na - As formas “conosco” e “convosco” são substituídas
tem + as = tem-nas por “com nós” e “com vós” quando os pronomes pessoais
são reforçados por palavras como outros, mesmos, próprios,
Pronome Oblíquo Tônico todos, ambos ou algum numeral.
Você terá de viajar com nós todos.
Os pronomes oblíquos tônicos são sempre precedidos Estávamos com vós outros quando chegaram as más
por preposições, em geral as preposições a, para, de e com. notícias.
Por esse motivo, os pronomes tônicos exercem a função Ele disse que iria com nós três.
de objeto indireto da oração. Possuem acentuação tônica
forte. Pronome Reflexivo
Quadro dos pronomes oblíquos tônicos:
- 1.ª pessoa do singular (eu): mim, comigo São pronomes pessoais oblíquos que, embora funcio-
- 2.ª pessoa do singular (tu): ti, contigo nem como objetos direto ou indireto, referem-se ao sujeito
- 3.ª pessoa do singular (ele, ela): si, consigo, ele, ela da oração. Indicam que o sujeito pratica e recebe a ação
- 1.ª pessoa do plural (nós): nós, conosco expressa pelo verbo.
- 2.ª pessoa do plural (vós): vós, convosco Quadro dos pronomes reflexivos:
- 3.ª pessoa do plural (eles, elas): si, consigo, eles, elas - 1.ª pessoa do singular (eu): me, mim.
Eu não me lembro disso.
Observe que as únicas formas próprias do pronome tô-
nico são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa (ti). As - 2.ª pessoa do singular (tu): te, ti.
demais repetem a forma do pronome pessoal do caso reto. Conhece a ti mesmo.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- 3.ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo. * Observações:


Guilherme já se preparou. * Vossa Excelência X Sua Excelência: os pronomes de
Ela deu a si um presente. tratamento que possuem “Vossa(s)” são empregados em
Antônio conversou consigo mesmo. relação à pessoa com quem falamos: Espero que V. Ex.ª, Se-
nhor Ministro, compareça a este encontro.
- 1.ª pessoa do plural (nós): nos.
Lavamo-nos no rio. ** Emprega-se “Sua (s)” quando se fala a respeito
da pessoa: Todos os membros da C.P.I. afirmaram que Sua
- 2.ª pessoa do plural (vós): vos. Excelência, o Senhor Presidente da República, agiu com pro-
Vós vos beneficiastes com esta conquista. priedade.

- 3.ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo. - Os pronomes de tratamento representam uma for-
Eles se conheceram. ma indireta de nos dirigirmos aos nossos interlocutores. Ao
Elas deram a si um dia de folga. tratarmos um deputado por Vossa Excelência, por exemplo,
estamos nos endereçando à excelência que esse deputado
* O pronome é reflexivo quando se refere à mesma supostamente tem para poder ocupar o cargo que ocupa.
pessoa do pronome subjetivo (sujeito): Eu me arrumei e saí.
** É pronome recíproco quando indica reciprocidade - 3.ª pessoa: embora os pronomes de tratamento diri-
de ação: jam-se à 2.ª pessoa, toda a concordância deve ser feita
Nós nos amamos. com a 3.ª pessoa. Assim, os verbos, os pronomes possessi-
Olhamo-nos calados. vos e os pronomes oblíquos empregados em relação a eles
devem ficar na 3.ª pessoa.
Pronomes de Tratamento Basta que V. Ex.ª cumpra a terça parte das suas pro-
messas, para que seus eleitores lhe fiquem reconhecidos.
São pronomes utilizados no tratamento formal, ceri-
- Uniformidade de Tratamento: quando escrevemos ou
monioso. Apesar de indicarem nosso interlocutor (portan-
nos dirigimos a alguém, não é permitido mudar, ao longo
to, a segunda pessoa), utilizam o verbo na terceira pes-
do texto, a pessoa do tratamento escolhida inicialmente.
soa. Alguns exemplos:
Assim, por exemplo, se começamos a chamar alguém de
Vossa Alteza (V. A.) = príncipes, duques
“você”, não poderemos usar “te” ou “teu”. O uso correto
Vossa Eminência (V. E.ma) = cardeais
exigirá, ainda, verbo na terceira pessoa.
Vossa Reverendíssima (V. Ver.ma) = sacerdotes e religio-
sos em geral
Quando você vier, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos
Vossa Excelência (V. Ex.ª) = oficiais de patente superior
teus cabelos. (errado)
à de coronel, senadores, deputados, embaixadores, profes-
sores de curso superior, ministros de Estado e de Tribunais, Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei nos
governadores, secretários de Estado, presidente da Repú- seus cabelos. (correto) = terceira pessoa do singular
blica (sempre por extenso) ou
Vossa Magnificência (V. Mag.ª) = reitores de universi-
dades Quando tu vieres, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos
Vossa Majestade (V. M.) = reis, rainhas e imperadores teus cabelos. (correto) = segunda pessoa do singular
Vossa Senhoria (V. S.a) = comerciantes em geral, oficiais
até a patente de coronel, chefes de seção e funcionários de Pronomes Possessivos
igual categoria São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical
Vossa Meritíssima (sempre por extenso) = para juízes (possuidor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo
de direito (coisa possuída).
Vossa Santidade (sempre por extenso) = tratamento Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1ª pessoa do
cerimonioso singular)
Vossa Onipotência (sempre por extenso) = Deus
NÚMERO PESSOA PRONOME
Também são pronomes de tratamento o senhor, a se-
nhora e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” são empre- singular primeira meu(s), minha(s)
gados no tratamento cerimonioso; “você” e “vocês”, no tra- singular segunda teu(s), tua(s)
tamento familiar. Você e vocês são largamente empregados
singular terceira seu(s), sua(s)
no português do Brasil; em algumas regiões, a forma tu é
de uso frequente; em outras, pouco empregada. Já a forma plural primeira nosso(s), nossa(s)
vós tem uso restrito à linguagem litúrgica, ultraformal ou plural segunda vosso(s), vossa(s)
literária.
plural terceira seu(s), sua(s)

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LÍNGUA PORTUGUESA

* Note que: A forma do possessivo depende da pessoa *Em relação ao tempo:


gramatical a que se refere; o gênero e o número concordam - Este(s), esta(s) e isto = indicam o tempo presente em
com o objeto possuído: Ele trouxe seu apoio e sua contribui- relação à pessoa que fala:
ção naquele momento difícil. Esta manhã farei a prova do concurso!

* Observações: - Esse(s), essa(s) e isso = indicam o tempo passado, po-


- A forma “seu” não é um possessivo quando resultar rém relativamente próximo à época em que se situa a pes-
da alteração fonética da palavra senhor: Muito obrigado, soa que fala:
seu José. Essa noite dormi mal; só pensava no concurso!

- Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam um afasta-


- Os pronomes possessivos nem sempre indicam pos-
mento no tempo, referido de modo vago ou como tempo
se. Podem ter outros empregos, como:
remoto:
a) indicar afetividade: Não faça isso, minha filha. Naquele tempo, os professores eram valorizados.
b) indicar cálculo aproximado: Ele já deve ter seus 40 *Em relação ao falado ou escrito (ou ao que se fala-
anos. rá ou escreverá):
- Este(s), esta(s) e isto = empregados quando se quer
c) atribuir valor indefinido ao substantivo: Marisa tem fazer referência a alguma coisa sobre a qual ainda se falará:
lá seus defeitos, mas eu gosto muito dela. Serão estes os conteúdos da prova: análise sintática, or-
tografia, concordância.
- Em frases onde se usam pronomes de tratamento,
o pronome possessivo fica na 3.ª pessoa: Vossa Excelência - Esse(s), essa(s) e isso = utilizados quando se pretende
trouxe sua mensagem? fazer referência a alguma coisa sobre a qual já se falou:
Sua aprovação no concurso, isso é o que mais deseja-
- Referindo-se a mais de um substantivo, o possessi- mos!
vo concorda com o mais próximo: Trouxe-me seus livros e
anotações. - Este e aquele são empregados quando se quer fa-
zer referência a termos já mencionados; aquele se refere
ao termo referido em primeiro lugar e este para o referido
- Em algumas construções, os pronomes pessoais oblí-
por último:
quos átonos assumem valor de possessivo: Vou seguir-lhe
os passos. (= Vou seguir seus passos) Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Paulo;
este está mais bem colocado que aquele. (= este [São Paulo],
- O adjetivo “respectivo” equivale a “devido, seu, pró- aquele [Palmeiras])
prio”, por isso não se deve usar “seus” ao utilizá-lo, para ou
que não ocorra redundância: Coloque tudo nos respectivos
lugares. Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Paulo;
aquele está mais bem colocado que este. (= este [São Paulo],
Pronomes Demonstrativos aquele [Palmeiras])

São utilizados para explicitar a posição de certa palavra - Os pronomes demonstrativos podem ser variáveis ou
em relação a outras ou ao contexto. Essa relação pode ser invariáveis, observe:
de espaço, de tempo ou em relação ao discurso. Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), aque-
la(s).
*Em relação ao espaço: Invariáveis: isto, isso, aquilo.
- Este(s), esta(s) e isto = indicam o que está perto da
* Também aparecem como pronomes demonstrativos:
pessoa que fala:
- o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que” e
Este material é meu.
puderem ser substituídos por aquele(s), aquela(s), aquilo.
Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disseste.)
- Esse(s), essa(s) e isso = indicam o que está perto da Essa rua não é a que te indiquei. (não é aquela que te
pessoa com quem se fala: indiquei.)
Esse material em sua carteira é seu?
- mesmo(s), mesma(s), próprio(s), própria(s): variam em
- Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam o que está dis- gênero quando têm caráter reforçativo:
tante tanto da pessoa que fala como da pessoa com quem Estas são as mesmas pessoas que o procuraram ontem.
se fala: Eu mesma refiz os exercícios.
Aquele material não é nosso. Elas mesmas fizeram isso.
Vejam aquele prédio! Eles próprios cozinharam.
Os próprios alunos resolveram o problema.

22
LÍNGUA PORTUGUESA

- semelhante(s): Não tenha semelhante atitude. Os pronomes indefinidos podem ser divididos em va-
riáveis e invariáveis. Observe:
- tal, tais: Tal absurdo eu não comenteria.
Variáveis = algum, nenhum, todo, muito, pouco, vário,
* Note que: tanto, outro, quanto, alguma, nenhuma, toda, muita, pouca,
- Em frases como: O referido deputado e o Dr. Alcides vária, tanta, outra, quanta, qualquer, quaisquer*, alguns, ne-
eram amigos íntimos; aquele casado, solteiro este. (ou en- nhuns, todos, muitos, poucos, vários, tantos, outros, quantos,
tão: este solteiro, aquele casado) - este se refere à pessoa algumas, nenhumas, todas, muitas, poucas, várias, tantas,
mencionada em último lugar; aquele, à mencionada em outras, quantas.
primeiro lugar.
Invariáveis = alguém, ninguém, outrem, tudo, nada,
- O pronome demonstrativo tal pode ter conotação algo, cada.
irônica: A menina foi a tal que ameaçou o professor?
*
Qualquer é composto de qual + quer (do verbo que-
- Pode ocorrer a contração das preposições a, de, em rer), por isso seu plural é quaisquer (única palavra cujo plu-
com pronome demonstrativo: àquele, àquela, deste, desta, ral é feito em seu interior).
disso, nisso, no, etc: Não acreditei no que estava vendo. (no
= naquilo) - Todo e toda no singular e junto de artigo significa
inteiro; sem artigo, equivale a qualquer ou a todas as:
Pronomes Indefinidos Toda a cidade está enfeitada. (= a cidade inteira)
Toda cidade está enfeitada. (= todas as cidades)
São palavras que se referem à 3.ª pessoa do discurso, Trabalho todo o dia. (= o dia inteiro)
dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando quan- Trabalho todo dia. (= todos os dias)
tidade indeterminada.
Alguém entrou no jardim e destruiu as mudas recém São locuções pronominais indefinidas: cada qual,
-plantadas. cada um, qualquer um, quantos quer (que), quem quer (que),
seja quem for, seja qual for, todo aquele (que), tal qual (=
Não é difícil perceber que “alguém” indica uma pessoa
certo), tal e qual, tal ou qual, um ou outro, uma ou outra, etc.
de quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de forma
Cada um escolheu o vinho desejado.
imprecisa, vaga. É uma palavra capaz de indicar um ser hu-
mano que seguramente existe, mas cuja identidade é des-
Indefinidos Sistemáticos
conhecida ou não se quer revelar. Classificam-se em:
Ao observar atentamente os pronomes indefinidos,
- Pronomes Indefinidos Substantivos: assumem o lu-
percebemos que existem alguns grupos que criam oposi-
gar do ser ou da quantidade aproximada de seres na frase.
São eles: algo, alguém, fulano, sicrano, beltrano, nada, nin- ção de sentido. É o caso de: algum/alguém/algo, que têm
guém, outrem, quem, tudo. sentido afirmativo, e nenhum/ninguém/nada, que têm
sentido negativo; todo/tudo, que indicam uma totalidade
Algo o incomoda? afirmativa, e nenhum/nada, que indicam uma totalidade
Quem avisa amigo é. negativa; alguém/ninguém, que se referem à pessoa, e
algo/nada, que se referem à coisa; certo, que particulariza,
- Pronomes Indefinidos Adjetivos: qualificam um ser e qualquer, que generaliza.
expresso na frase, conferindo-lhe a noção de quantidade Essas oposições de sentido são muito importantes na
aproximada. São eles: cada, certo(s), certa(s). construção de frases e textos coerentes, pois delas muitas
vezes dependem a solidez e a consistência dos argumen-
Cada povo tem seus costumes. tos expostos. Observe nas frases seguintes a força que os
Certas pessoas exercem várias profissões. pronomes indefinidos destacados imprimem às afirmações
de que fazem parte:
* Note que: Ora são pronomes indefinidos substanti- Nada do que tem sido feito produziu qualquer resultado
vos, ora pronomes indefinidos adjetivos: prático.
algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, muitos), Certas pessoas conseguem perceber sutilezas: não são
demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, nenhuns, pessoas quaisquer.
nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s), qualquer,
quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal, tais, tanto(s), *Nenhum é contração de nem um, forma mais enfática,
tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), vários, várias. que se refere à unidade. Repare:
Nenhum candidato foi aprovado.
Menos palavras e mais ações. Nem um candidato foi aprovado. (um, nesse caso, é nu-
Alguns se contentam pouco. meral)

23
LÍNGUA PORTUGUESA

Pronomes Relativos - O pronome “cujo”: exprime posse; não concorda com


o seu antecedente (o ser possuidor), mas com o conse-
São aqueles que representam nomes já mencionados quente (o ser possuído, com o qual concorda em gênero
anteriormente e com os quais se relacionam. Introduzem e número); não se usa artigo depois deste pronome; “cujo”
as orações subordinadas adjetivas. equivale a do qual, da qual, dos quais, das quais.
O racismo é um sistema que afirma a superioridade de Existem pessoas cujas ações são nobres.
um grupo racial sobre outros. (antecedente) (consequente)
(afirma a superioridade de um grupo racial sobre outros
= oração subordinada adjetiva). *interpretação do pronome “cujo” na frase acima: ações
das pessoas. É como se lêssemos “de trás para frente”. Ou-
O pronome relativo “que” refere-se à palavra “sistema” tro exemplo:
e introduz uma oração subordinada. Diz-se que a palavra Comprei o livro cujo autor é famoso. (= autor do livro)
“sistema” é antecedente do pronome relativo que.
O antecedente do pronome relativo pode ser o prono- ** se o verbo exigir preposição, esta virá antes do pro-
me demonstrativo o, a, os, as. nome:
Não sei o que você está querendo dizer. O autor, a cujo livro você se referiu, está aqui! (referiu-
Às vezes, o antecedente do pronome relativo não vem se a)
expresso.
Quem casa, quer casa. - “Quanto” é pronome relativo quando tem por an-
tecedente um pronome indefinido: tanto (ou variações) e
Observe: tudo:
Pronomes relativos variáveis = o qual, cujo, quanto, os Emprestei tantos quantos foram necessários.
quais, cujos, quantos, a qual, cuja, quanta, as quais, cujas, (antecedente)
quantas. Ele fez tudo quanto havia falado.
Pronomes relativos invariáveis = quem, que, onde. (antecedente)

Note que: - O pronome “quem” se refere a pessoas e vem sem-


- O pronome “que” é o relativo de mais largo emprego, pre precedido de preposição.
sendo por isso chamado relativo universal. Pode ser subs- É um professor a quem muito devemos.
tituído por o qual, a qual, os quais, as quais, quando seu (preposição)
antecedente for um substantivo.
O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. (= o qual) - “Onde”, como pronome relativo, sempre possui an-
A cantora que acabou de se apresentar é péssima. (= a tecedente e só pode ser utilizado na indicação de lugar: A
qual) casa onde morava foi assaltada.
Os trabalhos que eu fiz referem-se à corrupção. (= os
quais) - Na indicação de tempo, deve-se empregar quando
As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (= as ou em que.
quais) Sinto saudades da época em que (quando) morávamos
no exterior.
- O qual, os quais, a qual e as quais são exclusivamente
pronomes relativos, por isso são utilizados didaticamente - Podem ser utilizadas como pronomes relativos as pa-
para verificar se palavras como “que”, “quem”, “onde” (que lavras:
podem ter várias classificações) são pronomes relativos. To- - como (= pelo qual) – desde que precedida das pala-
dos eles são usados com referência à pessoa ou coisa por vras modo, maneira ou forma:
motivo de clareza ou depois de determinadas preposições: Não me parece correto o modo como você agiu semana
Regressando de São Paulo, visitei o sítio de minha tia, o qual passada.
me deixou encantado. O uso de “que”, neste caso, geraria
ambiguidade. Veja: Regressando de São Paulo, visitei o sítio - quando (= em que) – desde que tenha como antece-
de minha tia, que me deixou encantado (quem me deixou dente um nome que dê ideia de tempo:
encantado: o sítio ou minha tia?). Bons eram os tempos quando podíamos jogar videoga-
Essas são as conclusões sobre as quais pairam muitas me.
dúvidas? (com preposições de duas ou mais sílabas utiliza-
se o qual / a qual) - Os pronomes relativos permitem reunir duas orações
numa só frase.
- O relativo “que” às vezes equivale a o que, coisa que, e O futebol é um esporte. / O povo gosta muito deste es-
se refere a uma oração: Não chegou a ser padre, mas deixou porte.
de ser poeta, que era a sua vocação natural. = O futebol é um esporte de que o povo gosta muito.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode -lugares: Alemanha, Portugal


ocorrer a elipse do relativo “que”: A sala estava cheia de -sentimentos: amor, saudade
gente que conversava, (que) ria, observava. -estados: alegria, tristeza
-qualidades: honestidade, sinceridade...
Pronomes Interrogativos -ações: corrida, pescaria...

São usados na formulação de perguntas, sejam elas di- Morfossintaxe do substantivo


retas ou indiretas. Assim como os pronomes indefinidos,
referem-se à 3.ª pessoa do discurso de modo impreciso. Nas orações, geralmente o substantivo exerce funções
São pronomes interrogativos: que, quem, qual (e variações), diretamente relacionadas com o verbo: atua como núcleo
quanto (e variações). do sujeito, dos complementos verbais (objeto direto ou
Com quem andas?
indireto) e do agente da passiva, podendo, ainda, funcio-
Qual seu nome?
nar como núcleo do complemento nominal ou do aposto,
Diz-me com quem andas, que te direi quem és.
como núcleo do predicativo do sujeito, do objeto ou como
Sobre os pronomes: núcleo do vocativo. Também encontramos substantivos
como núcleos de adjuntos adnominais e de adjuntos ad-
O pronome pessoal é do caso reto quando tem função verbiais - quando essas funções são desempenhadas por
de sujeito na frase. O pronome pessoal é do caso oblíquo grupos de palavras.
quando desempenha função de complemento.
1. Eu não sei essa matéria, mas ele irá me ajudar. Classificação dos Substantivos
2. Maria foi embora para casa, pois não sabia se devia
lhe ajudar. Substantivos Comuns e Próprios

Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele” Observe a definição:


exercem função de sujeito, logo, são pertencentes ao caso
reto. Já na segunda oração, o pronome “lhe” exerce função Cidade: s.f. 1: Povoação maior que vila, com muitas ca-
de complemento (objeto), ou seja, caso oblíquo. sas e edifícios, dispostos em ruas e avenidas (no Brasil, toda a
Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso. sede de município é cidade). 2. O centro de uma cidade (em
O pronome oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta para oposição aos bairros).
a segunda pessoa do singular (tu/você): Maria não sabia se
devia ajudar... Ajudar quem? Você (lhe).
Qualquer “povoação maior que vila, com muitas casas
e edifícios, dispostos em ruas e avenidas” será chamada
Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou
tônicos: os primeiros não são precedidos de preposição, cidade. Isso significa que a palavra cidade é um substantivo
diferentemente dos segundos, que são sempre precedidos comum.
de preposição. Substantivo Comum é aquele que designa os seres de
- Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o que uma mesma espécie de forma genérica: cidade, menino,
eu estava fazendo. homem, mulher, país, cachorro.
- Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para mim Estamos voando para Barcelona.
o que eu estava fazendo.
O substantivo Barcelona designa apenas um ser da es-
Fontes de pesquisa: pécie cidade. Barcelona é um substantivo próprio – aquele
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf42. que designa os seres de uma mesma espécie de forma par-
php ticular: Londres, Paulinho, Pedro, Tietê, Brasil.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. Substantivos Concretos e Abstratos
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: Substantivo Concreto: é aquele que designa o ser que
Saraiva, 2010. existe, independentemente de outros seres.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Observação: os substantivos concretos designam se-
res do mundo real e do mundo imaginário.
Substantivo
Seres do mundo real: homem, mulher, cadeira, cobra,
Substantivo é a classe gramatical de palavras variáveis, Brasília.
as quais denominam todos os seres que existem, sejam Seres do mundo imaginário: saci, mãe-d’água, fantas-
reais ou imaginários. Além de objetos, pessoas e fenôme- ma.
nos, os substantivos também nomeiam:

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LÍNGUA PORTUGUESA

Substantivo Abstrato: é aquele que designa seres que enxoval roupas


dependem de outros para se manifestarem ou existirem.
Por exemplo: a beleza não existe por si só, não pode falange soldados, anjos
ser observada. Só podemos observar a beleza numa pes- fauna animais de uma região
soa ou coisa que seja bela. A beleza depende de outro ser
feixe lenha, capim
para se manifestar. Portanto, a palavra beleza é um subs-
tantivo abstrato. flora vegetais de uma região
Os substantivos abstratos designam estados, qualida- frota navios mercantes, ônibus
des, ações e sentimentos dos seres, dos quais podem ser
girândola fogos de artifício
abstraídos, e sem os quais não podem existir: vida (estado),
rapidez (qualidade), viagem (ação), saudade (sentimento). horda bandidos, invasores
médicos, bois, credores,
Substantivos Coletivos junta
examinadores

Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha, ou- júri jurados
tra abelha, mais outra abelha. legião soldados, anjos, demônios
Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas. leva presos, recrutas
Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame.
malta malfeitores ou desordeiros
Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi ne- manada búfalos, bois, elefantes,
cessário repetir o substantivo: uma abelha, outra abelha, matilha cães de raça
mais outra abelha. No segundo caso, utilizaram-se duas
palavras no plural. No terceiro, empregou-se um substan- molho chaves, verduras
tivo no singular (enxame) para designar um conjunto de multidão pessoas em geral
seres da mesma espécie (abelhas).
insetos (gafanhotos,
nuvem
mosquitos, etc.)
O substantivo enxame é um substantivo coletivo.
penca bananas, chaves
Substantivo Coletivo: é o substantivo comum que, pinacoteca pinturas, quadros
mesmo estando no singular, designa um conjunto de seres
quadrilha ladrões, bandidos
da mesma espécie.
ramalhete flores
Substantivo coletivo Conjunto de: rebanho ovelhas
assembleia pessoas reunidas repertório peças teatrais, obras musicais
alcateia lobos réstia alhos ou cebolas
acervo livros romanceiro poesias narrativas
antologia trechos literários selecionados revoada pássaros
arquipélago ilhas sínodo párocos
banda músicos talha lenha
bando desordeiros ou malfeitores tropa muares, soldados
banca examinadores turma estudantes, trabalhadores
batalhão soldados vara porcos
cardume peixes
caravana viajantes peregrinos
cacho frutas
cancioneiro canções, poesias líricas
colmeia abelhas
concílio bispos
congresso parlamentares, cientistas
elenco atores de uma peça ou filme
esquadra navios de guerra

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LÍNGUA PORTUGUESA

Formação dos Substantivos Substantivos Uniformes: apresentam uma única forma,


Substantivos Simples e Compostos que serve tanto para o masculino quanto para o feminino.
Classificam-se em:
Chuva - subst. Fem. 1 - água caindo em gotas sobre a
terra. - Epicenos: referentes a animais. A distinção de sexo se
O substantivo chuva é formado por um único elemento faz mediante a utilização das palavras “macho” e “fêmea”: a
ou radical. É um substantivo simples. cobra macho e a cobra fêmea, o jacaré macho e o jacaré fêmea.
- Sobrecomuns: substantivos uniformes referentes a
Substantivo Simples: é aquele formado por um único pessoas de ambos os sexos: a criança, a testemunha, a víti-
elemento. ma, o cônjuge, o gênio, o ídolo, o indivíduo.
Outros substantivos simples: tempo, sol, sofá, etc. Veja - Comuns de Dois ou Comum de Dois Gêneros: in-
agora: O substantivo guarda-chuva é formado por dois ele- dicam o sexo das pessoas por meio do artigo: o colega e a
colega, o doente e a doente, o artista e a artista.
mentos (guarda + chuva). Esse substantivo é composto.
Substantivo Composto: é aquele formado por dois ou
Saiba que: Substantivos de origem grega terminados
mais elementos. Outros exemplos: beija-flor, passatempo.
em ema ou oma são masculinos: o fonema, o poema, o sis-
tema, o sintoma, o teorema.
Substantivos Primitivos e Derivados
- Existem certos substantivos que, variando de gênero,
Substantivo Primitivo: é aquele que não deriva de ne- variam em seu significado:
nhuma outra palavra da própria língua portuguesa. O subs- o águia (vigarista) e a águia (ave; perspicaz)
tantivo limoeiro, por exemplo, é derivado, pois se originou o cabeça (líder) e a cabeça (parte do corpo)
a partir da palavra limão. o capital (dinheiro) e a capital (cidade)
Substantivo Derivado: é aquele que se origina de ou- o coma (sono mórbido) e a coma (cabeleira, juba)
tra palavra. o lente (professor) e a lente (vidro de aumento)
o moral (estado de espírito) e a moral (ética; conclusão)
Flexão dos substantivos o praça (soldado raso) e a praça (área pública)
o rádio (aparelho receptor) e a rádio (estação emissora)
O substantivo é uma classe variável. A palavra é variá-
vel quando sofre flexão (variação). A palavra menino, por Formação do Feminino dos Substantivos Biformes
exemplo, pode sofrer variações para indicar:
Plural: meninos / Feminino: menina / Aumentativo: - Regra geral: troca-se a terminação -o por –a: aluno
meninão / Diminutivo: menininho - aluna.
- Substantivos terminados em -ês: acrescenta-se -a ao
Flexão de Gênero masculino: freguês - freguesa
- Substantivos terminados em -ão: fazem o feminino
Gênero é um princípio puramente linguístico, não de- de três formas:
vendo ser confundido com “sexo”. O gênero diz respeito 1- troca-se -ão por -oa. = patrão – patroa
a todos os substantivos de nossa língua, quer se refiram 2- troca-se -ão por -ã. = campeão - campeã
a seres animais providos de sexo, quer designem apenas 3- troca-se -ão por ona. = solteirão - solteirona
“coisas”: o gato/a gata; o banco, a casa.
* Exceções: barão – baronesa, ladrão- ladra, sultão -
Na língua portuguesa, há dois gêneros: masculino e
sultana
feminino. Pertencem ao gênero masculino os substantivos
que podem vir precedidos dos artigos o, os, um, uns. Veja - Substantivos terminados em -or:
estes títulos de filmes: acrescenta-se -a ao masculino = doutor – doutora
O velho e o mar troca-se -or por -triz: = imperador - imperatriz
Um Natal inesquecível
Os reis da praia - Substantivos com feminino em -esa, -essa, -isa: côn-
sul - consulesa / abade - abadessa / poeta - poetisa / duque
Pertencem ao gênero feminino os substantivos que - duquesa / conde - condessa / profeta - profetisa
podem vir precedidos dos artigos a, as, uma, umas:
A história sem fim - Substantivos que formam o feminino trocando o -e
Uma cidade sem passado final por -a: elefante - elefanta
As tartarugas ninjas
- Substantivos que têm radicais diferentes no masculi-
Substantivos Biformes e Substantivos Uniformes no e no feminino: bode – cabra / boi - vaca

Substantivos Biformes (= duas formas): apresentam - Substantivos que formam o feminino de maneira es-
uma forma para cada gênero: gato – gata, homem – mulher, pecial, isto é, não seguem nenhuma das regras anteriores:
poeta – poetisa, prefeito - prefeita czar – czarina, réu - ré

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LÍNGUA PORTUGUESA

Formação do Feminino dos Substantivos Uniformes Femininos: a dinamite, a derme, a hélice, a omoplata, a
cataplasma, a pane, a mascote, a gênese, a entorse, a libido,
Epicenos: a cal, a faringe, a cólera (doença), a ubá (canoa).
Novo jacaré escapa de policiais no rio Pinheiros.
- São geralmente masculinos os substantivos de ori-
Não é possível saber o sexo do jacaré em questão. Isso gem grega terminados em -ma: o grama (peso), o quilo-
ocorre porque o substantivo jacaré tem apenas uma forma grama, o plasma, o apostema, o diagrama, o epigrama, o
para indicar o masculino e o feminino. telefonema, o estratagema, o dilema, o teorema, o trema, o
Alguns nomes de animais apresentam uma só forma
eczema, o edema, o magma, o estigma, o axioma, o traco-
para designar os dois sexos. Esses substantivos são cha-
ma, o hematoma.
mados de epicenos. No caso dos epicenos, quando houver
a necessidade de especificar o sexo, utilizam-se palavras
macho e fêmea. * Exceções: a cataplasma, a celeuma, a fleuma, etc.
A cobra macho picou o marinheiro.
A cobra fêmea escondeu-se na bananeira. Gênero dos Nomes de Cidades: Com raras exceções,
nomes de cidades são femininos.
Sobrecomuns: A histórica Ouro Preto.
Entregue as crianças à natureza. A dinâmica São Paulo.
A acolhedora Porto Alegre.
A palavra crianças se refere tanto a seres do sexo mas- Uma Londres imensa e triste.
culino, quanto a seres do sexo feminino. Nesse caso, nem Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre.
o artigo nem um possível adjetivo permitem identificar o
sexo dos seres a que se refere a palavra. Veja: Gênero e Significação
A criança chorona chamava-se João.
A criança chorona chamava-se Maria. Muitos substantivos têm uma significação no masculi-
no e outra no feminino. Observe:
Outros substantivos sobrecomuns: o baliza (soldado que, que à frente da tropa, indica os
a criatura = João é uma boa criatura. Maria é uma boa
movimentos que se deve realizar em conjunto; o que vai à
criatura.
frente de um bloco carnavalesco, manejando um bastão), a
o cônjuge = O cônjuge de João faleceu. O cônjuge de
Marcela faleceu baliza (marco, estaca; sinal que marca um limite ou proibi-
ção de trânsito), o cabeça (chefe), a cabeça (parte do cor-
Comuns de Dois Gêneros: po), o cisma (separação religiosa, dissidência), a cisma (ato
Motorista tem acidente idêntico 23 anos depois. de cismar, desconfiança), o cinza (a cor cinzenta), a cinza
(resíduos de combustão), o capital (dinheiro), a capital (ci-
Quem sofreu o acidente: um homem ou uma mulher? dade), o coma (perda dos sentidos), a coma (cabeleira), o
É impossível saber apenas pelo título da notícia, uma coral (pólipo, a cor vermelha, canto em coro), a coral (cobra
vez que a palavra motorista é um substantivo uniforme. venenosa), o crisma (óleo sagrado, usado na administração
A distinção de gênero pode ser feita através da análise da crisma e de outros sacramentos), a crisma (sacramento
do artigo ou adjetivo, quando acompanharem o substanti- da confirmação), o cura (pároco), a cura (ato de curar), o
vo: o colega - a colega; o imigrante - a imigrante; um jovem estepe (pneu sobressalente), a estepe (vasta planície de vege-
- uma jovem; artista famoso - artista famosa; repórter fran- tação), o guia (pessoa que guia outras), a guia (documento,
cês - repórter francesa pena grande das asas das aves), o grama (unidade de peso),
a grama (relva), o caixa (funcionário da caixa), a caixa (re-
- A palavra personagem é usada indistintamente nos cipiente, setor de pagamentos), o lente (professor), a lente
dois gêneros. (vidro de aumento), o moral (ânimo), a moral (honestidade,
a) Entre os escritores modernos nota-se acentuada
bons costumes, ética), o nascente (lado onde nasce o Sol), a
preferência pelo masculino: O menino descobriu nas nuvens
nascente (a fonte), o maria-fumaça (trem como locomotiva
os personagens dos contos de carochinha.
b) Com referência a mulher, deve-se preferir o femini- a vapor), maria-fumaça (locomotiva movida a vapor), o pala
no: O problema está nas mulheres de mais idade, que não (poncho), a pala (parte anterior do boné ou quepe, antepa-
aceitam a personagem. ro), o rádio (aparelho receptor), a rádio (emissora), o voga
(remador), a voga (moda).
- Diz-se: o (ou a) manequim Marcela, o (ou a) modelo
fotográfico Ana Belmonte. Flexão de Número do Substantivo

Observe o gênero dos substantivos seguintes: Em português, há dois números gramaticais: o singular,
Masculinos: o tapa, o eclipse, o lança-perfume, o dó que indica um ser ou um grupo de seres, e o plural, que
(pena), o sanduíche, o clarinete, o champanha, o sósia, o indica mais de um ser ou grupo de seres. A característica
maracajá, o clã, o herpes, o pijama, o suéter, o soprano, o do plural é o “s” final.
proclama, o pernoite, o púbis.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Plural dos Substantivos Simples - Flexionam-se os dois elementos, quando formados


de:
- Os substantivos terminados em vogal, ditongo oral e substantivo + substantivo = couve-flor e couves-flores
“n” fazem o plural pelo acréscimo de “s”: pai – pais; ímã – substantivo + adjetivo = amor-perfeito e amores-per-
ímãs; hífen - hifens (sem acento, no plural). Exceção: cânon feitos
- cânones. adjetivo + substantivo = gentil-homem e gentis-ho-
mens
- Os substantivos terminados em “m” fazem o plural numeral + substantivo = quinta-feira e quintas-feiras
em “ns”: homem - homens.
- Flexiona-se somente o segundo elemento, quando
- Os substantivos terminados em “r” e “z” fazem o plu- formados de:
ral pelo acréscimo de “es”: revólver – revólveres; raiz - raízes. verbo + substantivo = guarda-roupa e guarda-roupas
palavra invariável + palavra variável = alto-falante e al-
to-falantes
* Atenção: O plural de caráter é caracteres.
palavras repetidas ou imitativas = reco-reco e reco-re-
cos
- Os substantivos terminados em al, el, ol, ul flexionam-
se no plural, trocando o “l” por “is”: quintal - quintais; cara-
- Flexiona-se somente o primeiro elemento, quando
col – caracóis; hotel - hotéis. Exceções: mal e males, cônsul formados de:
e cônsules. substantivo + preposição clara + substantivo = água-
de-colônia e águas-de-colônia
- Os substantivos terminados em “il” fazem o plural de substantivo + preposição oculta + substantivo = cava-
duas maneiras: lo-vapor e cavalos-vapor
- Quando oxítonos, em “is”: canil - canis substantivo + substantivo que funciona como determi-
- Quando paroxítonos, em “eis”: míssil - mísseis. nante do primeiro, ou seja, especifica a função ou o tipo do
termo anterior: palavra-chave - palavras-chave, bomba-re-
Observação: a palavra réptil pode formar seu plural de lógio - bombas-relógio, homem-rã - homens-rã, peixe-espa-
duas maneiras: répteis ou reptis (pouco usada). da - peixes-espada.

- Os substantivos terminados em “s” fazem o plural de - Permanecem invariáveis, quando formados de:
duas maneiras: verbo + advérbio = o bota-fora e os bota-fora
1- Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o verbo + substantivo no plural = o saca-rolhas e os sa-
acréscimo de “es”: ás – ases / retrós - retroses ca-rolhas
2- Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam inva-
riáveis: o lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus. * Casos Especiais

- Os substantivos terminados em “ao” fazem o plural o louva-a-deus e os louva-a-deus


de três maneiras.
o bem-te-vi e os bem-te-vis
1- substituindo o -ão por -ões: ação - ações
2- substituindo o -ão por -ães: cão - cães o bem-me-quer e os bem-me-queres
3- substituindo o -ão por -ãos: grão - grãos o joão-ninguém e os joões-ninguém.

- Os substantivos terminados em “x” ficam invariáveis: Plural das Palavras Substantivadas


o látex - os látex.
As palavras substantivadas, isto é, palavras de outras
Plural dos Substantivos Compostos classes gramaticais usadas como substantivo, apresentam,
no plural, as flexões próprias dos substantivos.
- A formação do plural dos substantivos compostos Pese bem os prós e os contras.
depende da forma como são grafados, do tipo de palavras O aluno errou na prova dos noves.
que formam o composto e da relação que estabelecem en- Ouça com a mesma serenidade os sins e os nãos.
tre si. Aqueles que são grafados sem hífen comportam-se
como os substantivos simples: aguardente/aguardentes, gi- * Observação: numerais substantivados terminados
rassol/girassóis, pontapé/pontapés, malmequer/malmeque- em “s” ou “z” não variam no plural: Nas provas mensais con-
res. segui muitos seis e alguns dez.
O plural dos substantivos compostos cujos elementos
são ligados por hífen costuma provocar muitas dúvidas e
discussões. Algumas orientações são dadas a seguir:

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LÍNGUA PORTUGUESA

Plural dos Diminutivos Singular Plural


Flexiona-se o substantivo no plural, retira-se o “s” final Corpo (ô) corpos (ó)
e acrescenta-se o sufixo diminutivo. esforço esforços
fogo fogos
pãe(s) + zinhos = pãezinhos forno fornos
animai(s) + zinhos = animaizinhos fosso fossos
botõe(s) + zinhos = botõezinhos
imposto impostos
chapéu(s) + zinhos = chapeuzinhos
olho olhos
farói(s) + zinhos = faroizinhos
osso (ô) ossos (ó)
tren(s) + zinhos = trenzinhos
ovo ovos
colhere(s) + zinhas = colherezinhas
poço poços
flore(s) + zinhas = florezinhas porto portos
mão(s) + zinhas = mãozinhas posto postos
papéi(s) + zinhos = papeizinhos
tijolo tijolos
nuven(s) + zinhas = nuvenzinhas
funi(s) + zinhos = funizinhos Têm a vogal tônica fechada (ô): adornos, almoços, bol-
sos, esposos, estojos, globos, gostos, polvos, rolos, soros, etc.
túnei(s) + zinhos = tuneizinhos
pai(s) + zinhos = paizinhos * Observação: distinga-se molho (ô) = caldo (molho
pé(s) + zinhos = pezinhos de carne), de molho (ó) = feixe (molho de lenha).
pé(s) + zitos = pezitos
Particularidades sobre o Número dos Substantivos
Plural dos Nomes Próprios Personativos
- Há substantivos que só se usam no singular: o sul, o
Devem-se pluralizar os nomes próprios de pessoas norte, o leste, o oeste, a fé, etc.
sempre que a terminação preste-se à flexão. - Outros só no plural: as núpcias, os víveres, os pêsames,
as espadas/os paus (naipes de baralho), as fezes.
Os Napoleões também são derrotados. - Outros, enfim, têm, no plural, sentido diferente do
As Raquéis e Esteres. singular: bem (virtude) e bens (riquezas), honra (probidade,
bom nome) e honras (homenagem, títulos).
Plural dos Substantivos Estrangeiros - Usamos às vezes, os substantivos no singular, mas
com sentido de plural:
Substantivos ainda não aportuguesados devem ser es- Aqui morreu muito negro.
critos como na língua original, acrescentando-se “s” (exceto Celebraram o sacrifício divino muitas vezes em capelas
quando terminam em “s” ou “z”): os shows, os shorts, os jazz. improvisadas.

Substantivos já aportuguesados flexionam-se de acor- Flexão de Grau do Substantivo


do com as regras de nossa língua: os clubes, os chopes, os
jipes, os esportes, as toaletes, os bibelôs, os garçons, os ré- Grau é a propriedade que as palavras têm de exprimir
quiens. as variações de tamanho dos seres. Classifica-se em:

Observe o exemplo: - Grau Normal - Indica um ser de tamanho considera-


Este jogador faz gols toda vez que joga. do normal. Por exemplo: casa
O plural correto seria gois (ô), mas não se usa.
- Grau Aumentativo - Indica o aumento do tamanho
Plural com Mudança de Timbre
do ser. Classifica-se em:
Analítico = o substantivo é acompanhado de um adje-
Certos substantivos formam o plural com mudança de
tivo que indica grandeza. Por exemplo: casa grande.
timbre da vogal tônica (o fechado / o aberto). É um fato
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indi-
fonético chamado metafonia (plural metafônico).
cador de aumento. Por exemplo: casarão.

30
LÍNGUA PORTUGUESA

- Grau Diminutivo - Indica a diminuição do tamanho Classificação dos Verbos


do ser. Pode ser:
Analítico = substantivo acompanhado de um adjetivo Classificam-se em:
que indica pequenez. Por exemplo: casa pequena.
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indi- - Regulares: são aqueles que apresentam o radical
cador de diminuição. Por exemplo: casinha. inalterado durante a conjugação e desinências idênticas às
de todos os verbos regulares da mesma conjugação. Por
Fontes de pesquisa: exemplo: comparemos os verbos “cantar” e “falar”, conju-
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf12.php gados no presente do Modo Indicativo:
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere- canto falo
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: cantas falas
Saraiva, 2010.
canta falas
Verbo cantamos falamos
cantais falais
Verbo é a palavra que se flexiona em pessoa, núme-
ro, tempo e modo. A estes tipos de flexão verbal dá-se o cantam falam
nome de conjugação (por isso também se diz que verbo
é a palavra que pode ser conjugada). Pode indicar, entre * Dica: Observe que, retirando os radicais, as desi-
outros processos: ação (amarrar), estado (sou), fenômeno nências modo-temporal e número-pessoal mantiveram-se
(choverá); ocorrência (nascer); desejo (querer). idênticas. Tente fazer com outro verbo e perceberá que se
repetirá o fato (desde que o verbo seja da primeira conju-
Estrutura das Formas Verbais gação e regular!). Faça com o verbo “andar”, por exemplo.
Substitua o radical “cant” e coloque o “and” (radical do ver-
Do ponto de vista estrutural, o verbo pode apresentar bo andar). Viu? Fácil!
os seguintes elementos:
- Radical: é a parte invariável, que expressa o significa- - Irregulares: são aqueles cuja flexão provoca altera-
do essencial do verbo. Por exemplo: fal-ei; fal-ava; fal-am. ções no radical ou nas desinências: faço, fiz, farei, fizesse.
(radical fal-) * Observação: alguns verbos sofrem alteração no ra-
- Tema: é o radical seguido da vogal temática que in- dical apenas para que seja mantida a sonoridade. É o caso
dica a conjugação a que pertence o verbo. Por exemplo: de: corrigir/corrijo, fingir/finjo, tocar/toquei, por exemplo.
fala-r. São três as conjugações: Tais alterações não caracterizam irregularidade, porque o
1.ª - Vogal Temática - A - (falar), 2.ª - Vogal Temática - fonema permanece inalterado.
E - (vender), 3.ª - Vogal Temática - I - (partir).
- Desinência modo-temporal: é o elemento que de-
- Defectivos: são aqueles que não apresentam conju-
signa o tempo e o modo do verbo. Por exemplo:
gação completa. Os principais são adequar, precaver, com-
falávamos ( indica o pretérito imperfeito do indicativo)
/ falasse ( indica o pretérito imperfeito do subjuntivo) putar, reaver, abolir, falir.
- Desinência número-pessoal: é o elemento que de-
signa a pessoa do discurso (1.ª, 2.ª ou 3.ª) e o número (sin- - Impessoais: são os verbos que não têm sujeito e, nor-
gular ou plural): malmente, são usados na terceira pessoa do singular. Os
falamos (indica a 1.ª pessoa do plural.) / falavam (in- principais verbos impessoais são:
dica a 3.ª pessoa do plural.)
* haver, quando sinônimo de existir, acontecer, realizar-
* Observação: o verbo pôr, assim como seus derivados se ou fazer (em orações temporais).
(compor, repor, depor), pertencem à 2.ª conjugação, pois a Havia muitos candidatos no dia da prova. (Havia = Exis-
forma arcaica do verbo pôr era poer. A vogal “e”, apesar tiam)
de haver desaparecido do infinitivo, revela-se em algumas Houve duas guerras mundiais. (Houve = Aconteceram)
formas do verbo: põe, pões, põem, etc. Haverá debates hoje. (Haverá = Realizar-se-ão)
Viajei a Madri há muitos anos. (há = faz)
Formas Rizotônicas e Arrizotônicas
* fazer, ser e estar (quando indicam tempo)
Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura Faz invernos rigorosos na Europa.
dos verbos com o conceito de acentuação tônica, perce- Era primavera quando o conheci.
bemos com facilidade que nas formas rizotônicas o acento Estava frio naquele dia.
tônico cai no radical do verbo: opino, aprendam, amo, por
exemplo. Nas formas arrizotônicas, o acento tônico não cai
no radical, mas sim na terminação verbal (fora do radical):
opinei, aprenderão, amaríamos.

31
LÍNGUA PORTUGUESA

* Todos os verbos que indicam fenômenos da natureza são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, trovejar, amanhecer,
escurecer, etc. Quando, porém, se constrói, “Amanheci cansado”, usa-se o verbo “amanhecer” em sentido figurado. Qual-
quer verbo impessoal, empregado em sentido figurado, deixa de ser impessoal para ser pessoal, ou seja, terá conjugação
completa.
Amanheci cansado. (Sujeito desinencial: eu)
Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu)

* São impessoais, ainda:


- o verbo passar (seguido de preposição), indicando tempo: Já passa das seis.

- os verbos bastar e chegar, seguidos da preposição “de”, indicando suficiência:


Basta de tolices.
Chega de promessas.

- os verbos estar e ficar em orações como “Está bem, Está muito bem assim, Não fica bem, Fica mal”, sem referência a
sujeito expresso anteriormente (por exemplo: “ele está mal”). Podemos, nesse caso, classificar o sujeito como hipotético,
tornando-se, tais verbos, pessoais.

- o verbo dar + para da língua popular, equivalente de “ser possível”. Por exemplo:
Não deu para chegar mais cedo.
Dá para me arrumar uma apostila?

- Unipessoais: são aqueles que, tendo sujeito, conjugam-se apenas nas terceiras pessoas, do singular e do plural. São
unipessoais os verbos constar, convir, ser (= preciso, necessário) e todos os que indicam vozes de animais (cacarejar, cricrilar,
miar, latir, piar).

* Observação: os verbos unipessoais podem ser usados como verbos pessoais na linguagem figurada:
Teu irmão amadureceu bastante.
O que é que aquela garota está cacarejando?

Principais verbos unipessoais:

1. cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer, ser (preciso, necessário):


Cumpre estudarmos bastante. (Sujeito: estudarmos bastante)
Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover)
É preciso que chova. (Sujeito: que chova)

2. fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo, seguidos da conjunção que.
Faz dez anos que viajei à Europa. (Sujeito: que viajei à Europa)
Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não a vejo. (Sujeito: que não a vejo)

* Observação: todos os sujeitos apontados são oracionais.

- Abundantes: são aqueles que possuem duas ou mais formas equivalentes, geralmente no particípio, em que, além
das formas regulares terminadas em -ado ou -ido, surgem as chamadas formas curtas (particípio irregular).
O particípio regular (terminado em “–do”) é utilizado na voz ativa, ou seja, com os verbos ter e haver; o irregular é em-
pregado na voz passiva, ou seja, com os verbos ser, ficar e estar. Observe:

Infinitivo Particípio Regular Particípio Irregular


Aceitar Aceitado Aceito
Acender Acendido Aceso
Anexar Anexado Anexo
Benzer Benzido Bento
Corrigir Corrigido Correto
Dispersar Dispersado Disperso

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LÍNGUA PORTUGUESA

Eleger Elegido Eleito


Envolver Envolvido Envolto
Imprimir Imprimido Impresso
Inserir Inserido Inserto
Limpar Limpado Limpo
Matar Matado Morto
Misturar Misturado Misto
Morrer Morrido Morto
Murchar Murchado Murcho
Pegar Pegado Pego
Romper Rompido Roto
Soltar Soltado Solto
Suspender Suspendido Suspenso
Tingir Tingido Tinto
Vagar Vagado Vago

* Importante:
- estes verbos e seus derivados possuem, apenas, o particípio irregular: abrir/aberto, cobrir/coberto, dizer/dito, escrever/
escrito, pôr/posto, ver/visto, vir/vindo.

- Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical em sua conjugação. Existem apenas dois: ser (sou, sois, fui) e
ir (fui, ia, vades).

- Auxiliares: São aqueles que entram na formação dos tempos compostos e das locuções verbais. O verbo principal
(aquele que exprime a ideia fundamental, mais importante), quando acompanhado de verbo auxiliar, é expresso numa das
formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio.

Vou espantar todos!


(verbo auxiliar) (verbo principal no infinitivo)

Está chegando a hora!


(verbo auxiliar) (verbo principal no gerúndio)

* Observação: os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e haver.

Conjugação dos Verbos Auxiliares

SER - Modo Indicativo

Presente Pret.Perfeito Pret. Imp. Pret.mais-que-perf. Fut.do Pres. Fut. Do Pretérito


sou fui era fora serei seria
és foste eras foras serás serias
é foi era fora será seria
somos fomos éramos fôramos seremos seríamos
sois fostes éreis fôreis sereis seríeis
são foram eram foram serão seriam

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LÍNGUA PORTUGUESA

SER - Modo Subjuntivo


Presente Pretérito Imperfeito Futuro
que eu seja se eu fosse quando eu for
que tu sejas se tu fosses quando tu fores
que ele seja se ele fosse quando ele for
que nós sejamos se nós fôssemos quando nós formos
que vós sejais se vós fôsseis quando vós fordes
que eles sejam se eles fossem quando eles forem

SER - Modo Imperativo


Afirmativo Negativo
sê tu não sejas tu
seja você não seja você
sejamos nós não sejamos nós
sede vós não sejais vós
sejam vocês não sejam vocês

SER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


ser ser eu sendo sido
seres tu
ser ele
sermos nós
serdes vós
serem eles

ESTAR - Modo Indicativo



Presente Pret. perf. Pret. Imp. Pret.mais-q-perf. Fut.doPres. Fut.doPreté.
estou estive estava estivera estarei estaria
estás estiveste estavas estiveras estarás estarias
está esteve estava estivera estará estaria
estamos estivemos estávamos estivéramos estaremos estaríamos
estais estivestes estáveis estivéreis estareis estaríeis
estão estiveram estavam estiveram estarão estariam

ESTAR - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


esteja estivesse estiver
estejas estivesses estiveres está estejas
esteja estivesse estiver esteja esteja
estejamos estivéssemos estivermos estejamos estejamos
estejais estivésseis estiverdes estai estejais
estejam estivessem estiverem estejam estejam

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LÍNGUA PORTUGUESA

ESTAR - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


estar estar estando estado
estares
estar
estarmos
estardes
estarem

HAVER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Pret.Mais-Q-Perf. Fut.do Pres. Fut.doPreté.


hei houve havia houvera haverei haveria
hás houveste havias houveras haverás haverias
há houve havia houvera haverá haveria
havemos houvemos havíamos houvéramos haveremos haveríamos
haveis houvestes havíeis houvéreis havereis haveríeis
hão houveram haviam houveram haverão haveriam

HAVER - Modo Subjuntivo e Imperativo


Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo
ja houvesse houver
hajas houvesses houveres há hajas
haja houvesse houver haja haja
hajamos houvéssemos houvermos hajamos hajamos
hajais houvésseis houverdes havei hajais
hajam houvessem houverem hajam hajam

HAVER - Formas Nominais


Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio
haver haver havendo havido
haveres

haver

havermos
haverdes
haverem

TER - Modo Indicativo


Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Preté.mais-q-perf. Fut. Do Pres. Fut. Do Preté.
tenho tive tinha tivera terei teria
tens tiveste tinhas tiveras terás terias
tem teve tinha tivera terá teria
temos tivemos tínhamos tivéramos teremos teríamos
tendes tivestes tínheis tivéreis tereis teríeis
têm tiveram tinham tiveram terão teriam

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LÍNGUA PORTUGUESA

TER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


tenha tivesse tiver
tenhas tivesses tiveres tem tenhas
tenha tivesse tiver tenha tenha
tenhamos tivéssemos tivermos tenhamos tenhamos
tenhais tivésseis tiverdes tende tenhais
tenham tivessem tiverem tenham tenham

- Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na
mesma pessoa do sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais acidentais) ou apenas reforçando a ideia já implícita no
próprio sentido do verbo (pronominais essenciais). Veja:

1. Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos:
abster-se, ater-se, apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos verbos pronominais essenciais a reflexibilidade já
está implícita no radical do verbo. Por exemplo: Arrependi-me de ter estado lá.
A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito (eu) tem um sentimento (arrependimento) que recai sobre ela mes-
ma, pois não recebe ação transitiva nenhuma vinda do verbo; o pronome oblíquo átono é apenas uma partícula integrante
do verbo, já que, pelo uso, sempre é conjugada com o verbo. Diz-se que o pronome apenas serve de reforço da ideia refle-
xiva expressa pelo radical do próprio verbo.
Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e respectivos pronomes):
Eu me arrependo
Tu te arrependes
Ele se arrepende
Nós nos arrependemos
Vós vos arrependeis
Eles se arrependem

2. Acidentais: são aqueles verbos transitivos diretos em que a ação exercida pelo sujeito recai sobre o objeto repre-
sentado por pronome oblíquo da mesma pessoa do sujeito; assim, o sujeito faz uma ação que recai sobre ele mesmo. Em
geral, os verbos transitivos diretos ou transitivos diretos e indiretos podem ser conjugados com os pronomes mencionados,
formando o que se chama voz reflexiva. Por exemplo: A garota se penteava.
A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexiva pode ser exercida também sobre outra pessoa. Por exemplo: A garota
penteou-me.

* Observações:
- Por fazerem parte integrante do verbo, os pronomes oblíquos átonos dos verbos pronominais não possuem função
sintática.
- Há verbos que também são acompanhados de pronomes oblíquos átonos, mas que não são essencialmente prono-
minais - são os verbos reflexivos. Nos verbos reflexivos, os pronomes, apesar de se encontrarem na pessoa idêntica à do
sujeito, exercem funções sintáticas. Por exemplo:
Eu me feri. = Eu (sujeito) – 1.ª pessoa do singular; me (objeto direto) – 1.ª pessoa do singular

Modos Verbais

Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas pelo verbo na expressão de um fato certo, real, verdadeiro. Existem
três modos:

Indicativo - indica uma certeza, uma realidade: Eu estudo para o concurso.


Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade: Talvez eu estude amanhã.
Imperativo - indica uma ordem, um pedido: Estude, colega!

Formas Nominais

Além desses três modos, o verbo apresenta ainda formas que podem exercer funções de nomes (substantivo, adjetivo,
advérbio), sendo por isso denominadas formas nominais. Observe:

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LÍNGUA PORTUGUESA

1-) Infinitivo
1.1-) Impessoal: exprime a significação do verbo de modo vago e indefinido, podendo ter valor e função de substan-
tivo. Por exemplo:
Viver é lutar. (= vida é luta)
É indispensável combater a corrupção. (= combate à)

O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente (forma simples) ou no passado (forma composta). Por exemplo:
É preciso ler este livro.
Era preciso ter lido este livro.

1.2-) Infinitivo Pessoal: é o infinitivo relacionado às três pessoas do discurso. Na 1.ª e 3.ª pessoas do singular, não
apresenta desinências, assumindo a mesma forma do impessoal; nas demais, flexiona-se da seguinte maneira:
2.ª pessoa do singular: Radical + ES = teres (tu)
1.ª pessoa do plural: Radical + MOS = termos (nós)
2.ª pessoa do plural: Radical + DES = terdes (vós)
3.ª pessoa do plural: Radical + EM = terem (eles)
Foste elogiado por teres alcançado uma boa colocação.

2-) Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como adjetivo ou advérbio. Por exemplo:
Saindo de casa, encontrei alguns amigos. (função de advérbio)
Água fervendo, pele ardendo. (função de adjetivo)

Na forma simples (1), o gerúndio expressa uma ação em curso; na forma composta (2), uma ação concluída:
Trabalhando (1), aprenderás o valor do dinheiro.
Tendo trabalhado (2), aprendeu o valor do dinheiro.

* Quando o gerúndio é vício de linguagem (gerundismo), ou seja, uso exagerado e inadequado do gerúndio:
1- Enquanto você vai ao mercado, vou estar jogando futebol.
2 – Sim, senhora! Vou estar verificando!

Em 1, a locução “vou estar” + gerúndio é adequada, pois transmite a ideia de uma ação que ocorre no momento da
outra; em 2, essa ideia não ocorre, já que a locução verbal “vou estar verificando” refere-se a um futuro em andamento,
exigindo, no caso, a construção “verificarei” ou “vou verificar”.

3-) Particípio: quando não é empregado na formação dos tempos compostos, o particípio indica, geralmente, o resul-
tado de uma ação terminada, flexionando-se em gênero, número e grau. Por exemplo: Terminados os exames, os candidatos
saíram.

Quando o particípio exprime somente estado, sem nenhuma relação temporal, assume verdadeiramente a função de
adjetivo. Por exemplo: Ela é a aluna escolhida pela turma.

(Ziraldo)

Tempos Verbais

Tomando-se como referência o momento em que se fala, a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diversos tempos.

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LÍNGUA PORTUGUESA

1. Tempos do Modo Indicativo


- Presente - Expressa um fato atual: Eu estudo neste colégio.
- Pretérito Imperfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual, mas que não foi completamente
terminado: Ele estudava as lições quando foi interrompido.
- Pretérito Perfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual e que foi totalmente terminado: Ele
estudou as lições ontem à noite.
- Pretérito-mais-que-perfeito - Expressa um fato ocorrido antes de outro fato já terminado: Ele já estudara as lições
quando os amigos chegaram. (forma simples).
- Futuro do Presente - Enuncia um fato que deve ocorrer num tempo vindouro com relação ao momento atual: Ele
estudará as lições amanhã.
- Futuro do Pretérito - Enuncia um fato que pode ocorrer posteriormente a um determinado fato passado: Se ele
pudesse, estudaria um pouco mais.

2. Tempos do Modo Subjuntivo


- Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no momento atual: É conveniente que estudes para o exame.
- Pretérito Imperfeito - Expressa um fato passado, mas posterior a outro já ocorrido: Eu esperava que ele vencesse o jogo.

Observação: o pretérito imperfeito é também usado nas construções em que se expressa a ideia de condição ou de-
sejo. Por exemplo: Se ele viesse ao clube, participaria do campeonato.

- Futuro do Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer num momento futuro em relação ao atual: Quando ele vier
à loja, levará as encomendas.

Observação: o futuro do presente é também usado em frases que indicam possibilidade ou desejo. Por exemplo: Se
ele vier à loja, levará as encomendas.
** Há casos em que formas verbais de um determinado tempo podem ser utilizadas para indicar outro.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobre o Brasil.
descobre = forma do presente indicando passado ( = descobrira/descobriu)

No próximo final de semana, faço a prova!


faço = forma do presente indicando futuro ( = farei)

Modo Indicativo

Presente do Indicativo
1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal
CANTAR VENDER PARTIR
cantO vendO partO O
cantaS vendeS parteS S
canta vende parte -
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaIS vendeIS partIS IS
cantaM vendeM parteM M

Pretérito Perfeito do Indicativo


1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal
CANTAR VENDER PARTIR
canteI vendI partI I
cantaSTE vendeSTE partISTE STE
cantoU vendeU partiU U
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaSTES vendeSTES partISTES STES
cantaRAM vendeRAM partiRAM RAM

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LÍNGUA PORTUGUESA

Pretérito mais-que-perfeito

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal
1.ª/2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantáRAMOS vendêRAMOS partíRAMOS RA MOS
cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS
cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M

Pretérito Imperfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3ª. conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantAVA vendIA partIA
cantAVAS vendIAS partAS
CantAVA vendIA partIA
cantÁVAMOS vendÍAMOS partÍAMOS
cantÁVEIS vendÍEIS partÍEIS
cantAVAM vendIAM partIAM

Futuro do Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar ei vender ei partir ei
cantar ás vender ás partir ás
cantar á vender á partir á
cantar emos vender emos partir emos
cantar eis vender eis partir eis
cantar ão vender ão partir ão

Futuro do Pretérito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantarIA venderIA partirIA
cantarIAS venderIAS partirIAS
cantarIA venderIA partirIA
cantarÍAMOS venderÍAMOS partirÍAMOS
cantarÍEIS venderÍEIS partirÍEIS
cantarIAM venderIAM partirIAM

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LÍNGUA PORTUGUESA

Presente do Subjuntivo

Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do
indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1.ª conjugação) ou pela desinência -A (nos verbos de 2.ª e 3.ª conjugação).

1.ª conjug. 2.ª conjug. 3.ª conju. Desinên. pessoal Des. temporal Des.temporal
1.ª conj. 2.ª/3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantE vendA partA E A Ø
cantES vendAS partAS E A S
cantE vendA partA E A Ø
cantEMOS vendAMOS partAMOS E A MOS
cantEIS vendAIS partAIS E A IS
cantEM vendAM partAM E A M

Pretérito Imperfeito do Subjuntivo

Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito,
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de nú-
mero e pessoa correspondente.

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíSSEMOS SSE MOS
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSEM vendeSSEM partiSSEM SSE M

Futuro do Subjuntivo

Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito, ob-
tendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -R mais a desinência de número e
pessoa correspondente.

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRES vendeRES partiRES R ES
cantaR vendeR partiR R Ø
cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES
cantaREM vendeREM partiREM R EM

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LÍNGUA PORTUGUESA

Modo Imperativo

Imperativo Afirmativo

Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente do indicativo a 2.ª pessoa do singular (tu) e a segunda
pessoa do plural (vós) eliminando-se o “S” final. As demais pessoas vêm, sem alteração, do presente do subjuntivo. Veja:

Presente do Indicativo Imperativo Afirmativo Presente do Subjuntivo


Eu canto --- Que eu cante
Tu cantas CantA tu Que tu cantes
Ele canta Cante você Que ele cante
Nós cantamos Cantemos nós Que nós cantemos
Vós cantais CantAI vós Que vós canteis
Eles cantam Cantem vocês Que eles cantem

Imperativo Negativo

Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a negação às formas do presente do subjuntivo.

Presente do Subjuntivo Imperativo Negativo

Que eu cante ---


Que tu cantes Não cantes tu
Que ele cante Não cante você
Que nós cantemos Não cantemos nós
Que vós canteis Não canteis vós
Que eles cantem Não cantem eles
Observações:
- No modo imperativo não faz sentido usar na 3.ª pessoa (singular e plural) as formas ele/eles, pois uma ordem, pedido
ou conselho só se aplicam diretamente à pessoa com quem se fala. Por essa razão, utiliza-se você/vocês.
- O verbo SER, no imperativo, faz excepcionalmente: sê (tu), sede (vós).

Infinitivo Pessoal

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar vender partir
cantarES venderES partirES
cantar vender partir
cantarMOS venderMOS partirMOS
cantarDES venderDES partirDES
cantarEM venderEM partirEM

* Observações:
- o verbo parecer admite duas construções:
Elas parecem gostar de você. (forma uma locução verbal)
Elas parece gostarem de você. (verbo com sujeito oracional, correspondendo à construção: parece gostarem de você).

- o verbo pegar possui dois particípios (regular e irregular):


Elvis tinha pegado minhas apostilas.
Minhas apostilas foram pegas.

41
LÍNGUA PORTUGUESA

fontes de pesquisa: 3-) (POLÍCIA MILITAR/SP – OFICIAL ADMINISTRATIVO


http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54. – VUNESP/2014) Considere o trecho a seguir.
php Já __________ alguns anos que estudos a respeito da
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- utilização abusiva dos smartphones estão sendo desen-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. volvidos. Os especialistas acreditam _________ motivos para
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere- associar alguns comportamentos dos adolescentes ao uso
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: prolongado desses aparelhos, e _________ alertado os pais
Saraiva, 2010. para que avaliem a necessidade de estabelecer limites aos
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- seus filhos.
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa,
as lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e res-
pectivamente, com:
Questões sobre Verbo (A) faz … haver … têm
(B) fazem … haver … tem
1-) (TRE/MS - ESTÁGIO – JORNALISMO - TRE/MS – (C) faz … haverem … têm
2014) A assertiva correta quanto à conjugação verbal é: (D) fazem … haverem … têm
A) Houveram eleições em outros países este ano. (E) faz … haverem … tem
B) Se eu vir você por aí, acabou.
C) Tinha chego atrasado vinte minutos. 3-) Já FAZ (sentido de tempo: não sofre flexão) alguns
D) Fazem três anos que não tiro férias. anos que estudos a respeito da utilização abusiva dos
E) Esse homem possue muitos bens. smartphones estão sendo desenvolvidos. Os especialistas
acreditam HAVER (sentido de existir: não varia) motivos
1-) Correções à frente: para associar alguns comportamentos dos adolescentes ao
A) Houveram eleições em outros países este ano = uso prolongado desses aparelhos, e TÊM (concorda com o
houve termo “os especialistas”) alertado os pais para que avaliem
C) Tinha chego atrasado vinte minutos = tinha chegado a necessidade de estabelecer limites aos seus filhos.
D) Fazem três anos que não tiro férias = faz três anos Temos: faz, haver, têm.
RESPOSTA: “A”.
E) Esse homem possue muitos bens = possui
RESPOSTA: “B”.
Vozes do Verbo
2-) (POLÍCIA CIVIL/SC – AGENTE DE POLÍCIA – ACA-
Dá-se o nome de voz à maneira como se apresenta a
FE/2014) Complete as lacunas com os verbos, tempos e
ação expressa pelo verbo em relação ao sujeito, indicando
modos indicados entre parênteses, fazendo a devida con-
se este é paciente ou agente da ação. Importante lembrar
cordância.
que voz verbal não é flexão, mas aspecto verbal. São três
• O juiz agrário ainda não _________ no conflito porque
as vozes verbais:
surgiram fatos novos de ontem para hoje. (intervir - preté-
rito perfeito do indicativo) - Ativa = quando o sujeito é agente, isto é, pratica a
• Uns poucos convidados ___________-se com os vídeos ação expressa pelo verbo:
postados no facebook. (entreter - pretérito imperfeito do
indicativo) Ele fez o tra-
• Representantes do PCRT somente serão aceitos na balho.
composição da chapa quando se _________ de criticar a sujeito agente ação objeto
atual diretoria do clube, (abster-se - futuro do subjuntivo) (paciente)
A sequência correta, de cima para baixo, é:
A-) interveio - entretinham - abstiverem - Passiva = quando o sujeito é paciente, recebendo a
B-) interviu - entretiveram - absterem ação expressa pelo verbo:
C-) intervém - entreteram - abstêm
D-) interviera - entretêm - abstiverem O trabalho foi feito p o r
E-) intervirá - entretenham - abstiveram ele.
sujeito paciente ação agente
da passiva
2-) O verbo “intervir” deve ser conjugado como o ver-
bo “vir”. Este, no pretérito perfeito do Indicativo fica “veio”, - Reflexiva = quando o sujeito é, ao mesmo tempo,
portanto, “interveio” (não existe “interviu”, já que ele não agente e paciente, isto é, pratica e recebe a ação:
deriva do verbo “ver”). Descartemos a alternativa B. Como
não há outro item com a mesma opção, chegamos à res-
posta rapidamente!
RESPOSTA: “A”.

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LÍNGUA PORTUGUESA

O menino feriu-se. Conversão da Voz Ativa na Voz Passiva

* Observação: não confundir o emprego reflexivo do Pode-se mudar a voz ativa na passiva sem alterar subs-
verbo com a noção de reciprocidade: tancialmente o sentido da frase.
Os lutadores feriram-se. (um ao outro)
Nós nos amamos. (um ama o outro) O concurseiro comprou a apostila. (Voz Ativa)
Sujeito da Ativa objeto Direto
Formação da Voz Passiva
A apostila foi comprada pelo concurseiro.
A voz passiva pode ser formada por dois processos: (Voz Passiva)
analítico e sintético. Sujeito da Passiva Agente da Passi-
va
1- Voz Passiva Analítica = Constrói-se da seguinte ma-
neira: Observe que o objeto direto será o sujeito da passiva; o
sujeito da ativa passará a agente da passiva, e o verbo ativo
Verbo SER + particípio do verbo principal. Por exemplo: assumirá a forma passiva, conservando o mesmo tempo.
A escola será pintada pelos alunos. (na ativa teríamos: os Observe:
alunos pintarão a escola) - Os mestres têm constantemente aconselhado os alu-
O trabalho é feito por ele. (na ativa: ele faz o trabalho) nos.
Os alunos têm sido constantemente aconselhados pelos
* Observação: o agente da passiva geralmente é acom- mestres.
panhado da preposição por, mas pode ocorrer a constru-
ção com a preposição de. Por exemplo: A casa ficou cercada - Eu o acompanharei.
de soldados. Ele será acompanhado por mim.
- Pode acontecer de o agente da passiva não estar ex- * Observação: quando o sujeito da voz ativa for inde-
plícito na frase: A exposição será aberta amanhã. terminado, não haverá complemento agente na passiva.
Por exemplo: Prejudicaram-me. / Fui prejudicado.
- A variação temporal é indicada pelo verbo auxiliar
(SER), pois o particípio é invariável. Observe a transforma-
** Saiba que:
ção das frases seguintes:
- com os verbos neutros (nascer, viver, morrer, dormir,
acordar, sonhar, etc.) não há voz ativa, passiva ou reflexiva,
a) Ele fez o trabalho. (pretérito perfeito do Indicativo)
porque o sujeito não pode ser visto como agente, paciente
O trabalho foi feito por ele. (verbo ser no pretérito per-
ou agente-paciente.
feito do Indicativo, assim como o verbo principal da voz
ativa)
Fontes de pesquisa:
b) Ele faz o trabalho. (presente do indicativo) http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54.
O trabalho é feito por ele. (ser no presente do indica- php
tivo) SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
c) Ele fará o trabalho. (futuro do presente) Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
O trabalho será feito por ele. (futuro do presente) ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
- Nas frases com locuções verbais, o verbo SER assume Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
o mesmo tempo e modo do verbo principal da voz ativa. ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Observe a transformação da frase seguinte:
O vento ia levando as folhas. (gerúndio)
As folhas iam sendo levadas pelo vento. (gerúndio) Questões

2- Voz Passiva Sintética = A voz passiva sintética - ou 1-) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA/GO – ANALISTA JUDICIÁ-
pronominal - constrói-se com o verbo na 3.ª pessoa, segui- RIO – FGV/2014 - adaptada) A frase “que foi trazida pelo
do do pronome apassivador “se”. Por exemplo: instituto Endeavor” equivale, na voz ativa, a:
Abriram-se as inscrições para o concurso. (A) que o instituto Endeavor traz;
Destruiu-se o velho prédio da escola. (B) que o instituto Endeavor trouxe;
(C) trazida pelo instituto Endeavor;
* Observação: o agente não costuma vir expresso na (D) que é trazida pelo instituto Endeavor;
voz passiva sintética. (E) que traz o instituto Endeavor.

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LÍNGUA PORTUGUESA

1-) Se na voz passiva temos dois verbos, na ativa tere- Regras ortográficas
mos um: “que o instituto Endeavor trouxe” (manter o tem-
po verbal no pretérito – assim como na passiva). O fonema s
RESPOSTA: “B”.
S e não C/Ç

2-) (PRODAM/AM – ASSISTENTE – FUNCAB/2014 - palavras substantivadas derivadas de verbos com radi-
adaptada) Ao passarmos a frase “...e É CONSIDERADO por cais em nd, rg, rt, pel, corr e sent: pretender - pretensão /
muitos o maior maratonista de todos os tempos” para a expandir - expansão / ascender - ascensão / inverter - inver-
voz ativa, encontramos a seguinte forma verbal: são / aspergir - aspersão / submergir - submersão / divertir
A) consideravam. - diversão / impelir - impulsivo / compelir - compulsório /
B) consideram. repelir - repulsa / recorrer - recurso / discorrer - discurso /
C) considerem. sentir - sensível / consentir – consensual.
D) considerarão.
E) considerariam.
SS e não C e Ç
2-) É CONSIDERADO por muitos o maior maratonista
nomes derivados dos verbos cujos radicais terminem
de todos os tempos = dois verbos na voz passiva, então na
em gred, ced, prim ou com verbos terminados por tir ou
ativa teremos UM: muitos o consideram o maior marato-
nista de todos os tempos. -meter: agredir - agressivo / imprimir - impressão / admitir
RESPOSTA: “B”. - admissão / ceder - cessão / exceder - excesso / percutir -
percussão / regredir - regressão / oprimir - opressão / com-
prometer - compromisso / submeter – submissão.
3-) (TRT-16ª REGIÃO/MA - ANALISTA JUDICIÁRIO –
ÁREA ADMINISTRATIVA – FCC/2014) *quando o prefixo termina com vogal que se junta com
Transpondo-se para a voz passiva a frase “vou glosar a palavra iniciada por “s”. Exemplos: a + simétrico - assimé-
uma observação de Machado de Assis”, a forma verbal re- trico / re + surgir – ressurgir.
sultante deverá ser *no pretérito imperfeito simples do subjuntivo. Exem-
(A) terei glosado plos: ficasse, falasse.
(B) seria glosada
(C) haverá de ser glosada C ou Ç e não S e SS
(D) será glosada
(E) terá sido glosada vocábulos de origem árabe: cetim, açucena, açúcar.
vocábulos de origem tupi, africana ou exótica: cipó, Ju-
3-) “vou glosar uma observação de Machado de Assis” çara, caçula, cachaça, cacique.
– “vou glosar” expressa “glosarei”, então teremos na pas- sufixos aça, aço, ação, çar, ecer, iça, nça, uça, uçu,
siva: uma observação de Machado de Assis será glosada uço: barcaça, ricaço, aguçar, empalidecer, carniça, caniço,
por mim. esperança, carapuça, dentuço.
RESPOSTA: “D”. nomes derivados do verbo ter: abster - abstenção / de-
ter - detenção / ater - atenção / reter – retenção.
após ditongos: foice, coice, traição.
palavras derivadas de outras terminadas em -te, to(r):
ORTOGRAFIA marte - marciano / infrator - infração / absorto – absorção.

O fonema z
A ortografia é a parte da Fonologia que trata da correta
S e não Z
grafia das palavras. É ela quem ordena qual som devem
ter as letras do alfabeto. Os vocábulos de uma língua são
grafados segundo acordos ortográficos. sufixos: ês, esa, esia, e isa, quando o radical é subs-
tantivo, ou em gentílicos e títulos nobiliárquicos: freguês,
A maneira mais simples, prática e objetiva de apren- freguesa, freguesia, poetisa, baronesa, princesa.
der ortografia é realizar muitos exercícios, ver as palavras, sufixos gregos: ase, ese, ise e ose: catequese, metamor-
familiarizando-se com elas. O conhecimento das regras é fose.
necessário, mas não basta, pois há inúmeras exceções e, formas verbais pôr e querer: pôs, pus, quisera, quis, qui-
em alguns casos, há necessidade de conhecimento de eti- seste.
mologia (origem da palavra). nomes derivados de verbos com radicais terminados
em “d”: aludir - alusão / decidir - decisão / empreender -
empresa / difundir – difusão.

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LÍNGUA PORTUGUESA

diminutivos cujos radicais terminam com “s”: Luís - Lui- CH e não X


sinho / Rosa - Rosinha / lápis – lapisinho.
após ditongos: coisa, pausa, pouso, causa. palavras de origem estrangeira: chave, chumbo, chassi,
verbos derivados de nomes cujo radical termina com mochila, espadachim, chope, sanduíche, salsicha.
“s”: anális(e) + ar - analisar / pesquis(a) + ar – pesquisar.
As letras “e” e “i”
Z e não S
Ditongos nasais são escritos com “e”: mãe, põem. Com
sufixos “ez” e “eza” das palavras derivadas de adjetivo: “i”, só o ditongo interno cãibra.
macio - maciez / rico – riqueza / belo – beleza. verbos que apresentam infinitivo em -oar, -uar são
sufixos “izar” (desde que o radical da palavra de ori- escritos com “e”: caçoe, perdoe, tumultue. Escrevemos com
gem não termine com s): final - finalizar / concreto – con- “i”, os verbos com infinitivo em -air, -oer e -uir: trai, dói,
cretizar. possui, contribui.
consoante de ligação se o radical não terminar com “s”:
pé + inho - pezinho / café + al - cafezal * Atenção para as palavras que mudam de sentido
quando substituímos a grafia “e” pela grafia “i”: área (super-
Exceção: lápis + inho – lapisinho. fície), ária (melodia) / delatar (denunciar), dilatar (expandir)
/ emergir (vir à tona), imergir (mergulhar) / peão (de estân-
O fonema j cia, que anda a pé), pião (brinquedo).

G e não J * Dica:
- Se o dicionário ainda deixar dúvida quanto à orto-
palavras de origem grega ou árabe: tigela, girafa, ges- grafia de uma palavra, há a possibilidade de consultar o
so. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), ela-
estrangeirismo, cuja letra G é originária: sargento, gim. borado pela Academia Brasileira de Letras. É uma obra de
terminações: agem, igem, ugem, ege, oge (com pou- referência até mesmo para a criação de dicionários, pois
cas exceções): imagem, vertigem, penugem, bege, foge. traz a grafia atualizada das palavras (sem o significado). Na
Internet, o endereço é www.academia.org.br.
Exceção: pajem.
Informações importantes
terminações: ágio, égio, ígio, ógio, ugio: sortilégio, - Formas variantes são formas duplas ou múltiplas,
litígio, relógio, refúgio. equivalentes: aluguel/aluguer, relampejar/relampear/re-
verbos terminados em ger/gir: emergir, eleger, fugir, lampar/relampadar.
mugir. - Os símbolos das unidades de medida são escritos
depois da letra “r” com poucas exceções: emergir, sur- sem ponto, com letra minúscula e sem “s” para indicar plu-
gir. ral, sem espaço entre o algarismo e o símbolo: 2kg, 20km,
depois da letra “a”, desde que não seja radical termina- 120km/h.
do com j: ágil, agente. Exceção para litro (L): 2 L, 150 L.
- Na indicação de horas, minutos e segundos, não deve
J e não G haver espaço entre o algarismo e o símbolo: 14h, 22h30min,
14h23’34’’(= quatorze horas, vinte e três minutos e trinta e
palavras de origem latinas: jeito, majestade, hoje. quatro segundos).
palavras de origem árabe, africana ou exótica: jiboia, - O símbolo do real antecede o número sem espaço:
manjerona. R$1.000,00. No cifrão deve ser utilizada apenas uma barra
palavras terminadas com aje: ultraje. vertical ($).

O fonema ch Fontes de pesquisa:


http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/or-
X e não CH tografia
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
palavras de origem tupi, africana ou exótica: abacaxi, coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
xucro. Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
palavras de origem inglesa e espanhola: xampu, lagar- ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
tixa. Saraiva, 2010.
depois de ditongo: frouxo, feixe. Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
depois de “en”: enxurrada, enxada, enxoval. ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

Exceção: quando a palavra de origem não derive de


outra iniciada com ch - Cheio - (enchente)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Hífen ** O hífen é suprimido quando para formar outros ter-


mos: reaver, inábil, desumano, lobisomem, reabilitar.
O hífen é um sinal diacrítico (que distingue) usado para
ligar os elementos de palavras compostas (como ex-presi- Lembrete da Zê!
dente, por exemplo) e para unir pronomes átonos a verbos Ao separar palavras na translineação (mudança de li-
(ofereceram-me; vê-lo-ei). Serve igualmente para fazer a nha), caso a última palavra a ser escrita seja formada por
translineação de palavras, isto é, no fim de uma linha, se- hífen, repita-o na próxima linha. Exemplo: escreverei anti
parar uma palavra em duas partes (ca-/sa; compa-/nheiro). -inflamatório e, ao final, coube apenas “anti-”. Na próxima
linha escreverei: “-inflamatório” (hífen em ambas as linhas).
Uso do hífen que continua depois da Reforma Or-
tográfica: Não se emprega o hífen:

1. Em palavras compostas por justaposição que formam 1. Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo
uma unidade semântica, ou seja, nos termos que se unem termina em vogal e o segundo termo inicia-se em “r” ou
para formarem um novo significado: tio-avô, porto-ale- “s”. Nesse caso, passa-se a duplicar estas consoantes: antir-
grense, luso-brasileiro, tenente-coronel, segunda- -fei- religioso, contrarregra, infrassom, microssistema, minissaia,
ra, conta-gotas, guarda-chuva, arco-íris, primeiro-ministro, microrradiografia, etc.
azul-escuro.
2. Nas constituições em que o prefixo ou pseudopre-
2. Em palavras compostas por espécies botânicas e fixo termina em vogal e o segundo termo inicia-se com
zoológicas: couve-flor, bem-te-vi, bem-me-quer, abóbora- vogal diferente: antiaéreo, extraescolar, coeducação, autoes-
-menina, erva-doce, feijão-verde. trada, autoaprendizagem, hidroelétrico, plurianual, autoes-
cola, infraestrutura, etc.
3. Nos compostos com elementos além, aquém, re-
cém e sem: além-mar, recém-nascido, sem-número, recém- 3. Nas formações, em geral, que contêm os prefixos
-casado. “dês” e “in” e o segundo elemento perdeu o “h” inicial: de-
sumano, inábil, desabilitar, etc.
4. No geral, as locuções não possuem hífen, mas algu-
mas exceções continuam por já estarem consagradas pelo 4. Nas formações com o prefixo “co”, mesmo quando o
uso: cor-de-rosa, arco-da-velha, mais-que-perfeito, pé-de- segundo elemento começar com “o”: cooperação, coobriga-
meia, água-de-colônia, queima-roupa, deus-dará. ção, coordenar, coocupante, coautor, coedição, coexistir, etc.

5. Nos encadeamentos de vocábulos, como: ponte Rio- 5. Em certas palavras que, com o uso, adquiriram noção
Niterói, percurso Lisboa-Coimbra-Porto e nas combinações de composição: pontapé, girassol, paraquedas, paraquedis-
históricas ou ocasionais: Áustria-Hungria, Angola-Brasil, ta, etc.
etc.
6. Em alguns compostos com o advérbio “bem”: benfei-
6. Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e su- to, benquerer, benquerido, etc.
per- quando associados com outro termo que é iniciado
por “r”: hiper-resistente, inter-racial, super-racional, etc. - Os prefixos pós, pré e pró, em suas formas corres-
pondentes átonas, aglutinam-se com o elemento seguinte,
7. Nas formações com os prefixos ex-, vice-: ex-diretor, não havendo hífen: pospor, predeterminar, predeterminado,
ex-presidente, vice-governador, vice-prefeito. pressuposto, propor.
- Escreveremos com hífen: anti-horário, anti-infeccio-
8. Nas formações com os prefixos pós-, pré- e pró-: so, auto-observação, contra-ataque, semi-interno, sobre-
pré-natal, pré-escolar, pró-europeu, pós-graduação, etc. -humano, super-realista, alto-mar.
- Escreveremos sem hífen: pôr do sol, antirreforma,
9. Na ênclise e mesóclise: amá-lo, deixá-lo, dá-se, abra- antisséptico, antissocial, contrarreforma, minirrestaurante,
ça-o, lança-o e amá-lo-ei, falar-lhe-ei, etc. ultrassom, antiaderente, anteprojeto, anticaspa, antivírus,
autoajuda, autoelogio, autoestima, radiotáxi.
10. Nas formações em que o prefixo tem como se-
gundo termo uma palavra iniciada por “h”: sub-hepático, Fontes de pesquisa:
geo--história, neo-helênico, extra-humano, semi-hospitalar, http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/or-
super-homem. tografia
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
11. Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
termina com a mesma vogal do segundo elemento: micro
-ondas, eletro-ótica, semi-interno, auto-observação, etc.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Questões Armandinho, personagem do cartunista Alexandre


Beck, sabe perfeitamente empregar os parônimos “cestas”
1-) (TRE/MS - ESTÁGIO – JORNALISMO - TRE/MS – 2014) “sestas” e “sextas”. Quanto ao emprego de parônimos, da-
De acordo com a nova ortografia, assinale o item em que das as frases abaixo,
todas as palavras estão corretas: I. O cidadão se dirigia para sua _____________ eleitoral.
A) autoajuda – anti-inflamatório – extrajudicial. II. A zona eleitoral ficava ___________ 200 metros de um
B) supracitado – semi-novo – telesserviço. posto policial.
C) ultrassofisticado – hidro-elétrica – ultra-som. III. O condutor do automóvel __________ a lei seca.
D) contrarregra – autopista – semi-aberto. IV. Foi encontrada uma __________ soma de dinheiro no
E) contrarrazão – infra-estrutura – coprodutor. carro.
V. O policial anunciou o __________ delito.
1-) Correção:
A) autoajuda – anti-inflamatório – extrajudicial = correta Assinale a alternativa cujos vocábulos preenchem cor-
B) supracitado – semi-novo – telesserviço = seminovo retamente as lacunas das frases.
C) ultrassofisticado – hidro-elétrica – ultra-som = hi- A) seção, acerca de, infligiu, vultosa, fragrante.
droelétrica, ultrassom B) seção, acerca de, infligiu, vultuosa, flagrante.
D) contrarregra – autopista – semi-aberto = semiaberto C) sessão, a cerca de, infringiu, vultosa, fragrante.
E) contrarrazão – infra-estrutura – coprodutor = infraes- D) seção, a cerca de, infringiu, vultosa, flagrante.
trutura E) sessão, a cerca de, infligiu, vultuosa, flagrante.
RESPOSTA: “A”.
3-) Questão que envolve ortografia.
I. O cidadão se dirigia para sua SEÇÃO eleitoral. (setor)
2-) (TRE/MS - ESTÁGIO – JORNALISMO - TRE/MS – 2014) II. A zona eleitoral ficava A CERCA DE 200 metros de um
De acordo com a nova ortografia, assinale o item em que
posto policial. (= aproximadamente)
todas as palavras estão corretas:
III. O condutor do automóvel INFRINGIU a lei seca. (re-
A) autoajuda – anti-inflamatório – extrajudicial.
lacione com infrator)
B) supracitado – semi-novo – telesserviço.
IV. Foi encontrada uma VULTOSA soma de dinheiro no
C) ultrassofisticado – hidro-elétrica – ultra-som.
carro. (de grande vulto, volumoso)
D) contrarregra – autopista – semi-aberto.
V. O policial anunciou o FLAGRANTE delito. (relacione
E) contrarrazão – infra-estrutura – coprodutor.
com “pego no flagra”)
2-) Correção: Seção / a cerca de / infringiu / vultosa / flagrante
A) autoajuda – anti-inflamatório – extrajudicial = correta RESPOSTA: “D”.
B) supracitado – semi-novo – telesserviço = seminovo
C) ultrassofisticado – hidro-elétrica – ultra-som = hi-
droelétrica, ultrassom
D) contrarregra – autopista – semi-aberto = semiaberto ACENTUAÇÃO
E) contrarrazão – infra-estrutura – coprodutor = infraes-
trutura
RESPOSTA: “A”.
Quanto à acentuação, observamos que algumas pala-
vras têm acento gráfico e outras não; na pronúncia, ora se
3-) (CASAL/AL - ADMINISTRADOR DE REDE - COPEVE/ dá maior intensidade sonora a uma sílaba, ora a outra. Por
UFAL/2014) isso, vamos às regras!

Regras básicas – Acentuação tônica

A acentuação tônica está relacionada à intensidade


com que são pronunciadas as sílabas das palavras. Aquela
que se dá de forma mais acentuada, conceitua-se como sí-
laba tônica. As demais, como são pronunciadas com menos
intensidade, são denominadas de átonas.
De acordo com a tonicidade, as palavras são classifica-
das como:
Oxítonas – São aquelas cuja sílaba tônica recai sobre
a última sílaba. Ex.: café – coração – Belém – atum – caju –
papel

Paroxítonas – São aquelas em que a sílaba tônica recai


na penúltima sílaba. Ex.: útil – tórax – táxi – leque – sapato
– passível

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LÍNGUA PORTUGUESA

Proparoxítonas - São aquelas cuja sílaba tônica está ** Alerta da Zê! Cuidado: Se os ditongos abertos esti-
na antepenúltima sílaba. Ex.: lâmpada – câmara – tímpano verem em uma palavra oxítona (herói) ou monossílaba (céu)
– médico – ônibus ainda são acentuados: dói, escarcéu.

Há vocábulos que possuem mais de uma sílaba, mas Antes Agora


em nossa língua existem aqueles com uma sílaba somente:
são os chamados monossílabos. assembléia assembleia
idéia ideia
Os acentos
geléia geleia
acento agudo (´) – Colocado sobre as letras “a” e “i”, jibóia jiboia
“u” e “e” do grupo “em” - indica que estas letras represen- apóia (verbo apoiar) apoia
tam as vogais tônicas de palavras como pá, caí, público.
paranóico paranoico
Sobre as letras “e” e “o” indica, além da tonicidade, timbre
aberto: herói – médico – céu (ditongos abertos).
Acento Diferencial
acento circunflexo (^) – colocado sobre as letras “a”,
“e” e “o” indica, além da tonicidade, timbre fechado: tâma-
Representam os acentos gráficos que, pelas regras de
ra – Atlântico – pêsames – supôs .
acentuação, não se justificariam, mas são utilizados para
acento grave (`) – indica a fusão da preposição “a”
diferenciar classes gramaticais entre determinadas palavras
com artigos e pronomes: à – às – àquelas – àqueles
e/ou tempos verbais. Por exemplo:
trema ( ¨ ) – De acordo com a nova regra, foi totalmen-
Pôr (verbo) X por (preposição) / pôde (pretérito perfeito
te abolido das palavras. Há uma exceção: é utilizado em
de Indicativo do verbo “poder”) X pode (presente do Indica-
palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros: mülle-
tivo do mesmo verbo).
riano (de Müller)
Se analisarmos o “pôr” - pela regra das monossílabas:
til (~) – indica que as letras “a” e “o” representam vo-
terminada em “o” seguida de “r” não deve ser acentuada,
gais nasais: oração – melão – órgão – ímã
mas nesse caso, devido ao acento diferencial, acentua-se,
para que saibamos se se trata de um verbo ou preposição.
Regras fundamentais
Os demais casos de acento diferencial não são mais
utilizados: para (verbo), para (preposição), pelo (substanti-
Palavras oxítonas:
vo), pelo (preposição). Seus significados e classes gramati-
Acentuam-se todas as oxítonas terminadas em: “a”, “e”,
cais são definidos pelo contexto.
“o”, “em”, seguidas ou não do plural(s): Pará – café(s) – ci-
Polícia para o trânsito para realizar blitz. = o primeiro
pó(s) – Belém.
“para” é verbo; o segundo, preposição (com relação de fi-
Esta regra também é aplicada aos seguintes casos:
nalidade).
- Monossílabos tônicos terminados em “a”, “e”, “o”, se-
** Quando, na frase, der para substituir o “por” por
guidos ou não de “s”: pá – pé – dó – há
“colocar”, estaremos trabalhando com um verbo, portanto:
- Formas verbais terminadas em “a”, “e”, “o” tônicos,
“pôr”; nos outros casos, “por” preposição. Ex: Faço isso por
seguidas de lo, la, los, las: respeitá-lo, recebê-lo, compô-lo
você. / Posso pôr (colocar) meus livros aqui?
Paroxítonas:
Regra do Hiato:
Acentuam-se as palavras paroxítonas terminadas em:
- i, is: táxi – lápis – júri
Quando a vogal do hiato for “i” ou “u” tônicos, for a se-
- us, um, uns: vírus – álbuns – fórum
gunda vogal do hiato, acompanhado ou não de “s”, haverá
- l, n, r, x, ps: automóvel – elétron - cadáver – tórax –
acento. Ex.: saída – faísca – baú – país – Luís
fórceps
Não se acentuam o “i” e o “u” que formam hiato quan-
- ã, ãs, ão, ãos: ímã – ímãs – órfão – órgãos
do seguidos, na mesma sílaba, de l, m, n, r ou z. Ra-ul, Lu-iz,
- ditongo oral, crescente ou decrescente, seguido ou
sa-ir, ju-iz
não de “s”: água – pônei – mágoa – memória
Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se esti-
verem seguidas do dígrafo nh. Ex: ra-i-nha, ven-to-i-nha.
** Dica: Memorize a palavra LINURXÃO. Para quê? Re-
Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se vierem
pare que esta palavra apresenta as terminações das paro-
precedidas de vogal idêntica: xi-i-ta, pa-ra-cu-u-ba
xítonas que são acentuadas: L, I N, U (aqui inclua UM =
fórum), R, X, Ã, ÃO. Assim ficará mais fácil a memorização!
Observação importante:
Regras especiais:
Não serão mais acentuados “i” e “u” tônicos, formando
Os ditongos de pronúncia aberta “ei”, “oi” (ditongos
hiato quando vierem depois de ditongo (nas paroxítonas):
abertos), que antes eram acentuados, perderam o acento
de acordo com a nova regra, mas desde que estejam em
palavras paroxítonas.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Antes Agora Questões

bocaiúva bocaiuva 1-) (PREFEITURA DE SÃO PAULO/SP – AUDITOR FISCAL


feiúra feiura TRIBUTÁRIO MUNICIPAL – CETRO/2014 - adaptada) Assi-
nale a alternativa que contém duas palavras acentuadas
Sauípe Sauipe
conforme a mesma regra.
(A) “Hambúrgueres” e “repórter”.
O acento pertencente aos encontros “oo” e “ee” foi
(B) “Inacreditáveis” e “repórter”.
abolido:
(C) “Índice” e “dólares”.
(D) “Inacreditáveis” e “atribuídos”.
Antes Agora (E) “Atribuídos” e “índice”.
crêem creem
1-)
lêem leem
(A) “Hambúrgueres” = proparoxítona / “repórter” = pa-
vôo voo roxítona
enjôo enjoo (B) “Inacreditáveis” = paroxítona / “repórter” = paro-
xítona
** Dica: Memorize a palavra CREDELEVÊ. São os verbos (C) “Índice” = proparoxítona / “dólares” = proparoxí-
que, no plural, dobram o “e”, mas que não recebem mais tona
acento como antes: CRER, DAR, LER e VER. (D) “Inacreditáveis” = paroxítona / “atribuídos” = regra
Repare: do hiato
1-) O menino crê em você. / Os meninos creem em você. (E) “Atribuídos” = regra do hiato / “índice” = proparo-
2-) Elza lê bem! / Todas leem bem! xítona
3-) Espero que ele dê o recado à sala. / Esperamos que RESPOSTA: “B”.
os garotos deem o recado!
4-) Rubens vê tudo! / Eles veem tudo! 2-) (SEFAZ/RS – AUDITOR FISCAL DA RECEITA FEDERAL
Cuidado! Há o verbo vir: Ele vem à tarde! / Eles vêm à – FUNDATEC/2014 - adaptada)
tarde! Analise as afirmações que são feitas sobre acentuação
As formas verbais que possuíam o acento tônico na gráfica.
raiz, com “u” tônico precedido de “g” ou “q” e seguido de I. Caso o acento das palavras ‘trânsito’ e ‘específicos’
“e” ou “i” não serão mais acentuadas: seja retirado, essas continuam sendo palavras da língua
portuguesa.
II. A regra que explica a acentuação das palavras ‘vá-
Antes Depois rios’ e ‘país’ não é a mesma.
apazigúe (apaziguar) apazigue III. Na palavra ‘daí’, há um ditongo decrescente.
averigúe (averiguar) averigue IV. Acentua-se a palavra ‘vêm’ para diferenciá-la, em si-
tuação de uso, quanto à flexão de número.
argúi (arguir) argui Quais estão corretas?
A) Apenas I e III.
Acentuam-se os verbos pertencentes a terceira pessoa B) Apenas II e IV.
do plural de: ele tem – eles têm / ele vem – eles vêm (verbo C) Apenas I, II e IV.
vir) D) Apenas II, III e IV.
E) I, II, III e IV.
A regra prevalece também para os verbos conter, obter,
reter, deter, abster: ele contém – eles contêm, ele obtém – eles 2-)
obtêm, ele retém – eles retêm, ele convém – eles convêm. I. Caso o acento das palavras ‘trânsito’ e ‘específicos’
seja retirado, essas continuam sendo palavras da língua
Fontes de pesquisa: portuguesa = teremos “transito” e “especifico” – serão ver-
http://www.brasilescola.com/gramatica/acentuacao. bos (correta)
htm II. A regra que explica a acentuação das palavras ‘vá-
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- rios’ e ‘país’ não é a mesma = vários é paroxítona terminada
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. em ditongo; país é a regra do hiato (correta)
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere- III. Na palavra ‘daí’, há um ditongo decrescente = há um
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: hiato, por isso a acentuação (da - í) = incorreta.
Saraiva, 2010. IV. Acentua-se a palavra ‘vêm’ para diferenciá-la, em
situação de uso, quanto à flexão de número = “vêm” é uti-
lizado para a terceira pessoa do plural (correta)
RESPOSTA: “C”.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Dois pontos (:)


PONTUAÇÃO
1- Antes de uma citação
Vejamos como Afrânio Coutinho trata este assunto:

Os sinais de pontuação são marcações gráficas que 2- Antes de um aposto


servem para compor a coesão e a coerência textual, além Três coisas não me agradam: chuva pela manhã, frio à
de ressaltar especificidades semânticas e pragmáticas. tarde e calor à noite.
Um texto escrito adquire diferentes significados quando
pontuado de formas diversificadas. O uso da pontuação 3- Antes de uma explicação ou esclarecimento
depende, em certos momentos, da intenção do autor do Lá estava a deplorável família: triste, cabisbaixa, vivendo
discurso. Assim, os sinais de pontuação estão diretamente a rotina de sempre.
relacionados ao contexto e ao interlocutor.
4- Em frases de estilo direto
Principais funções dos sinais de pontuação
Maria perguntou:
- Por que você não toma uma decisão?
Ponto (.)

1- Indica o término do discurso ou de parte dele, en- Ponto de Exclamação (!)


cerrando o período.
1- Usa-se para indicar entonação de surpresa, cólera,
2- Usa-se nas abreviaturas: pág. (página), Cia. (Com- susto, súplica, etc.
panhia). Se a palavra abreviada aparecer em final de pe- Sim! Claro que eu quero me casar com você!
ríodo, este não receberá outro ponto; neste caso, o ponto
de abreviatura marca, também, o fim de período. Exemplo: 2- Depois de interjeições ou vocativos
Estudei português, matemática, constitucional, etc. (e não Ai! Que susto!
“etc..”) João! Há quanto tempo!

3- Nos títulos e cabeçalhos é opcional o emprego do Ponto de Interrogação (?)


ponto, assim como após o nome do autor de uma citação:
Haverá eleições em outubro Usa-se nas interrogações diretas e indiretas livres.
O culto do vernáculo faz parte do brio cívico. (Napoleão “- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur Aze-
Mendes de Almeida) (ou: Almeida.) vedo)

4- Os números que identificam o ano não utilizam pon- Reticências (...)


to nem devem ter espaço a separá-los, bem como os nú-
meros de CEP: 1975, 2014, 2006, 17600-250. 1- Indica que palavras foram suprimidas: Comprei lápis,
canetas, cadernos...
Ponto e Vírgula ( ; )
2- Indica interrupção violenta da frase.
1- Separa várias partes do discurso, que têm a mesma “- Não... quero dizer... é verdad... Ah!”
importância: “Os pobres dão pelo pão o trabalho; os ricos
dão pelo pão a fazenda; os de espíritos generosos dão pelo
3- Indica interrupções de hesitação ou dúvida: Este
pão a vida; os de nenhum espírito dão pelo pão a alma...”
mal... pega doutor?
(VIEIRA)

2- Separa partes de frases que já estão separadas por 4- Indica que o sentido vai além do que foi dito: Deixa,
vírgulas: Alguns quiseram verão, praia e calor; outros, mon- depois, o coração falar...
tanhas, frio e cobertor.
Vírgula (,)
3- Separa itens de uma enumeração, exposição de mo-
tivos, decreto de lei, etc. Não se usa vírgula
Ir ao supermercado;
Pegar as crianças na escola; * separando termos que, do ponto de vista sintático,
Caminhada na praia; ligam-se diretamente entre si:
Reunião com amigos. - entre sujeito e predicado:
Todos os alunos da sala foram advertidos.
Sujeito predicado

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LÍNGUA PORTUGUESA

- entre o verbo e seus objetos: Fontes de pesquisa:


O trabalho custou sacrifício aos http://www.infoescola.com/portugues/pontuacao/
realizadores. http://www.brasilescola.com/gramatica/uso-da-virgu-
V.T.D.I. O.D. O.I. la.htm
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cere-
Usa-se a vírgula: ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
- Para marcar intercalação: SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
a) do adjunto adverbial: O café, em razão da sua abun- coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
dância, vem caindo de preço.
b) da conjunção: Os cerrados são secos e áridos. Estão Questões
produzindo, todavia, altas quantidades de alimentos.
c) das expressões explicativas ou corretivas: As indús- 1-) (SAAE/SP - FISCAL LEITURISTA - VUNESP - 2014)
trias não querem abrir mão de suas vantagens, isto é, não
querem abrir mão dos lucros altos.

- Para marcar inversão:


a) do adjunto adverbial (colocado no início da oração):
Depois das sete horas, todo o comércio está de portas fe-
chadas.
b) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo: Aos
pesquisadores, não lhes destinaram verba alguma.
c) do nome de lugar anteposto às datas: Recife, 15 de
maio de 1982.

- Para separar entre si elementos coordenados (dis-


postos em enumeração):
Era um garoto de 15 anos, alto, magro.
A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e animais.

- Para marcar elipse (omissão) do verbo:


Nós queremos comer pizza; e vocês, churrasco.

- Para isolar: (SAAE/SP - FISCAL LEITURISTA - VUNESP - 2014) Se-


- o aposto: São Paulo, considerada a metrópole brasilei- gundo a norma-padrão da língua portuguesa, a pontuação
ra, possui um trânsito caótico. está correta em:
- o vocativo: Ora, Thiago, não diga bobagem. A) Hagar disse, que não iria.
B) Naquela noite os Stevensens prometeram servir, bi-
Observações: fes e lagostas, aos vizinhos.
- Considerando-se que “etc.” é abreviatura da expres- C) Chegou, o convite dos Stevensens, bife e lagostas:
são latina et cetera, que significa “e outras coisas”, seria dis- para Hagar e Helga
pensável o emprego da vírgula antes dele. Porém, o acordo D) “Eles são chatos e, nunca param de falar”, disse, Ha-
ortográfico em vigor no Brasil exige que empreguemos etc. gar à Helga.
precedido de vírgula: Falamos de política, futebol, lazer, etc. E) Helga chegou com o recado: fomos convidados, pe-
los Stevensens, para jantar bifes e lagostas.
- As perguntas que denotam surpresa podem ter com-
binados o ponto de interrogação e o de exclamação: Você 1-) Correções realizadas:
falou isso para ela?! A) Hagar disse que não iria. = não há vírgula entre ver-
bo e seu complemento (objeto)
- Temos, ainda, sinais distintivos: B) Naquela noite os Stevensens prometeram servir bi-
1-) a barra ( / ) = usada em datas (25/12/2014), sepa- fes e lagostas aos vizinhos. = não há vírgula entre verbo e
ração de siglas (IOF/UPC); seu complemento (objeto)
2-) os colchetes ([ ]) = usados em transcrições feitas C) Chegou o convite dos Stevensens: bife e lagostas
pelo narrador ([vide pág. 5]), usado como primeira opção para Hagar e Helga.
aos parênteses, principalmente na matemática; D) “Eles são chatos e nunca param de falar”, disse Ha-
3-) o asterisco ( * ) = usado para remeter o leitor a gar à Helga.
uma nota de rodapé ou no fim do livro, para substituir um E) Helga chegou com o recado: fomos convidados, pe-
nome que não se quer mencionar. los Stevensens, para jantar bifes e lagostas.
RESPOSTA: “E”.

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LÍNGUA PORTUGUESA

2-) (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – MÉDICO DO TRA- Concordância Verbal


BALHO – CESPE/2014 - adaptada)
A correção gramatical do trecho “Entre as bebidas al- É a flexão que se faz para que o verbo concorde com
coólicas, cervejas e vinhos são as mais comuns em todo seu sujeito.
o mundo” seria prejudicada, caso se inserisse uma vírgula
logo após a palavra “vinhos”. a) Sujeito Simples - Regra Geral
( ) CERTO ( ) ERRADO O sujeito, sendo simples, com ele concordará o verbo
em número e pessoa. Veja os exemplos:
2-) Não se deve colocar vírgula entre sujeito e predi- A prova para ambos os cargos será aplicada
cado, a não ser que se trate de um aposto (1), predicativo às 13h.
do sujeito (2), ou algum termo que requeira estar separado 3.ª p. Singular 3.ª p. Singular
entre pontuações. Exemplos:
O Rio de Janeiro, cidade maravilhosa (1), está em festa! Os candidatos à vaga chegarão às 12h.
Os meninos, ansiosos (2), chegaram! 3.ª p. Plural 3.ª p. Plural
RESPOSTA: “CERTO”.
Casos Particulares
3-) (PRODAM/AM – ASSISTENTE – FUNCAB/2014) Em
apenas uma das opções a vírgula foi corretamente empre- 1) Quando o sujeito é formado por uma expressão par-
gada. Assinale-a. titiva (parte de, uma porção de, o grosso de, metade de, a
A) No dia seguinte, estavam todos cansados. maioria de, a maior parte de, grande parte de...) seguida de
B) Romperam a fita da vitória, os dois atletas. um substantivo ou pronome no plural, o verbo pode ficar
C) Os seus hábitos estranhos, deixavam as pessoas per- no singular ou no plural.
plexas. A maioria dos jornalistas aprovou / aprovaram a ideia.
D) A luta em defesa dos mais fracos, é necessária e Metade dos candidatos não apresentou / apresentaram
fundamental. proposta.
E) As florestas nativas do Brasil, sobrevivem em peque-
na parte do território. Esse mesmo procedimento pode se aplicar aos casos
dos coletivos, quando especificados: Um bando de vânda-
3-) los destruiu / destruíram o monumento.
A) No dia seguinte, estavam todos cansados. = correta
B) Romperam a fita da vitória, os dois atletas = não se Observação: nesses casos, o uso do verbo no singular
separa sujeito do predicado (o sujeito está no final). enfatiza a unidade do conjunto; já a forma plural confere
C) Os seus hábitos estranhos, deixavam as pessoas per- destaque aos elementos que formam esse conjunto.
plexas = não se separa sujeito do predicado.
D) A luta em defesa dos mais fracos, é necessária e fun- 2) Quando o sujeito é formado por expressão que in-
damental = não se separa sujeito do predicado. dica quantidade aproximada (cerca de, mais de, menos de,
E) As florestas nativas do Brasil, sobrevivem em peque- perto de...) seguida de numeral e substantivo, o verbo con-
na parte do território. = não se separa sujeito do predicado corda com o substantivo.
RESPOSTA: “A”. Cerca de mil pessoas participaram do concurso.
Perto de quinhentos alunos compareceram à solenidade.
Mais de um atleta estabeleceu novo recorde nas últimas
Olimpíadas.
CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL
Observação: quando a expressão “mais de um” asso-
ciar-se a verbos que exprimem reciprocidade, o plural é
obrigatório: Mais de um colega se ofenderam na discussão.
Os concurseiros estão apreensivos. (ofenderam um ao outro)
Concurseiros apreensivos.
3) Quando se trata de nomes que só existem no plu-
No primeiro exemplo, o verbo estar encontra-se na ral, a concordância deve ser feita levando-se em conta a
terceira pessoa do plural, concordando com o seu sujeito, ausência ou presença de artigo. Sem artigo, o verbo deve
os concurseiros. No segundo exemplo, o adjetivo “apreen- ficar no singular; com artigo no plural, o verbo deve ficar
sivos” está concordando em gênero (masculino) e núme- o plural.
ro (plural) com o substantivo a que se refere: concurseiros. Os Estados Unidos possuem grandes universidades.
Nesses dois exemplos, as flexões de pessoa, número e gê- Estados Unidos possui grandes universidades.
nero correspondem-se. Alagoas impressiona pela beleza das praias.
A correspondência de flexão entre dois termos é a con- As Minas Gerais são inesquecíveis.
cordância, que pode ser verbal ou nominal. Minas Gerais produz queijo e poesia de primeira.

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LÍNGUA PORTUGUESA

4) Quando o sujeito é um pronome interrogativo ou *Quando “um dos que” vem entremeada de substanti-
indefinido plural (quais, quantos, alguns, poucos, muitos, vo, o verbo pode:
quaisquer, vários) seguido por “de nós” ou “de vós”, o verbo a) ficar no singular – O Tietê é um dos rios que atravessa
pode concordar com o primeiro pronome (na terceira pes- o Estado de São Paulo. ( já que não há outro rio que faça o
soa do plural) ou com o pronome pessoal. mesmo).
Quais de nós são / somos capazes? b) ir para o plural – O Tietê é um dos rios que estão
Alguns de vós sabiam / sabíeis do caso? poluídos (noção de que existem outros rios na mesma con-
Vários de nós propuseram / propusemos sugestões ino- dição).
vadoras.
8) Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o
Observação: veja que a opção por uma ou outra forma verbo fica na 3ª pessoa do singular ou plural.
indica a inclusão ou a exclusão do emissor. Quando alguém Vossa Excelência está cansado?
diz ou escreve “Alguns de nós sabíamos de tudo e nada fize- Vossas Excelências renunciarão?
mos”, ele está se incluindo no grupo dos omissos. Isso não
ocorre ao dizer ou escrever “Alguns de nós sabiam de tudo e 9) A concordância dos verbos bater, dar e soar faz-se de
nada fizeram”, frase que soa como uma denúncia. acordo com o numeral.
Nos casos em que o interrogativo ou indefinido estiver Deu uma hora no relógio da sala.
no singular, o verbo ficará no singular. Deram cinco horas no relógio da sala.
Qual de nós é capaz? Soam dezenove horas no relógio da praça.
Algum de vós fez isso. Baterão doze horas daqui a pouco.

5) Quando o sujeito é formado por uma expressão que Observação: caso o sujeito da oração seja a palavra re-
indica porcentagem seguida de substantivo, o verbo deve lógio, sino, torre, etc., o verbo concordará com esse sujeito.
concordar com o substantivo. O tradicional relógio da praça matriz dá nove horas.
25% do orçamento do país será destinado à Educação. Soa quinze horas o relógio da matriz.
85% dos entrevistados não aprovam a administração do
prefeito. 10) Verbos Impessoais: por não se referirem a nenhum
1% do eleitorado aceita a mudança. sujeito, são usados sempre na 3.ª pessoa do singular. São
1% dos alunos faltaram à prova. verbos impessoais: Haver no sentido de existir; Fazer indi-
cando tempo; Aqueles que indicam fenômenos da nature-
Quando a expressão que indica porcentagem não é za. Exemplos:
seguida de substantivo, o verbo deve concordar com o nú- Havia muitas garotas na festa.
mero. Faz dois meses que não vejo meu pai.
25% querem a mudança. Chovia ontem à tarde.
1% conhece o assunto.
b) Sujeito Composto
Se o número percentual estiver determinado por artigo
ou pronome adjetivo, a concordância far-se-á com eles: 1) Quando o sujeito é composto e anteposto ao verbo,
Os 30% da produção de soja serão exportados. a concordância se faz no plural:
Esses 2% da prova serão questionados. Pai e filho conversavam longamente.
Sujeito
6) O pronome “que” não interfere na concordância; já o
“quem” exige que o verbo fique na 3.ª pessoa do singular. Pais e filhos devem conversar com frequência.
Fui eu que paguei a conta. Sujeito
Fomos nós que pintamos o muro.
És tu que me fazes ver o sentido da vida. 2) Nos sujeitos compostos formados por pessoas gra-
Sou eu quem faz a prova. maticais diferentes, a concordância ocorre da seguinte ma-
Não serão eles quem será aprovado. neira: a primeira pessoa do plural (nós) prevalece sobre a
segunda pessoa (vós) que, por sua vez, prevalece sobre a
7) Com a expressão “um dos que”, o verbo deve assu- terceira (eles). Veja:
mir a forma plural. Teus irmãos, tu e eu tomaremos a decisão.
Ademir da Guia foi um dos jogadores que mais encan- Primeira Pessoa do Plural (Nós)
taram os poetas.
Este candidato é um dos que mais estudaram! Tu e teus irmãos tomareis a decisão.
Segunda Pessoa do Plural (Vós)
Se a expressão for de sentido contrário – nenhum dos
que, nem um dos que -, não aceita o verbo no singular: Pais e filhos precisam respeitar-se.
Nenhum dos que foram aprovados assumirá a vaga. Terceira Pessoa do Plural (Eles)
Nem uma das que me escreveram mora aqui.

53
LÍNGUA PORTUGUESA

Observação: quando o sujeito é composto, formado 5) Quando os núcleos do sujeito são unidos por “com”,
por um elemento da segunda pessoa (tu) e um da terceira o verbo fica no plural. Nesse caso, os núcleos recebem um
(ele), é possível empregar o verbo na terceira pessoa do mesmo grau de importância e a palavra “com” tem sentido
plural (eles): “Tu e teus irmãos tomarão a decisão.” – no muito próximo ao de “e”.
lugar de “tomaríeis”. O pai com o filho montaram o brinquedo.
O governador com o secretariado traçaram os planos
3) No caso do sujeito composto posposto ao verbo, para o próximo semestre.
passa a existir uma nova possibilidade de concordância: em O professor com o aluno questionaram as regras.
vez de concordar no plural com a totalidade do sujeito, o
verbo pode estabelecer concordância com o núcleo do su- Nesse mesmo caso, o verbo pode ficar no singular, se a
jeito mais próximo. ideia é enfatizar o primeiro elemento.
Faltaram coragem e competência. O pai com o filho montou o brinquedo.
Faltou coragem e competência. O governador com o secretariado traçou os planos para
o próximo semestre.
Compareceram todos os candidatos e o banca.
O professor com o aluno questionou as regras.
Compareceu o banca e todos os candidatos.
Observação: com o verbo no singular, não se pode
4) Quando ocorre ideia de reciprocidade, a concordân-
falar em sujeito composto. O sujeito é simples, uma vez
cia é feita no plural. Observe: que as expressões “com o filho” e “com o secretariado” são
Abraçaram-se vencedor e vencido. adjuntos adverbiais de companhia. Na verdade, é como se
Ofenderam-se o jogador e o árbitro. houvesse uma inversão da ordem. Veja:
“O pai montou o brinquedo com o filho.”
Casos Particulares “O governador traçou os planos para o próximo semes-
tre com o secretariado.”
1) Quando o sujeito composto é formado por núcleos “O professor questionou as regras com o aluno.”
sinônimos ou quase sinônimos, o verbo fica no singular.
Descaso e desprezo marca seu comportamento. *Casos em que se usa o verbo no singular:
A coragem e o destemor fez dele um herói. Café com leite é uma delícia!
O frango com quiabo foi receita da vovó.
2) Quando o sujeito composto é formado por núcleos
dispostos em gradação, verbo no singular: 6) Quando os núcleos do sujeito são unidos por ex-
Com você, meu amor, uma hora, um minuto, um segun- pressões correlativas como: “não só...mas ainda”, “não so-
do me satisfaz. mente”..., “não apenas...mas também”, “tanto...quanto”, o
verbo ficará no plural.
3) Quando os núcleos do sujeito composto são unidos Não só a seca, mas também o pouco caso castigam o
por “ou” ou “nem”, o verbo deverá ficar no plural, de acor- Nordeste.
do com o valor semântico das conjunções: Tanto a mãe quanto o filho ficaram surpresos com a no-
Drummond ou Bandeira representam a essência da poe- tícia.
sia brasileira.
Nem o professor nem o aluno acertaram a resposta. 7) Quando os elementos de um sujeito composto são
resumidos por um aposto recapitulativo, a concordância é
Em ambas as orações, as conjunções dão ideia de “adi- feita com esse termo resumidor.
Filmes, novelas, boas conversas, nada o tirava da apatia.
ção”. Já em:
Trabalho, diversão, descanso, tudo é muito importante
Juca ou Pedro será contratado.
na vida das pessoas.
Roma ou Buenos Aires será a sede da próxima Olim-
píada.
Outros Casos
* Temos ideia de exclusão, por isso os verbos ficam no 1) O Verbo e a Palavra “SE”
singular. Dentre as diversas funções exercidas pelo “se”, há duas
de particular interesse para a concordância verbal:
4) Com as expressões “um ou outro” e “nem um nem a) quando é índice de indeterminação do sujeito;
outro”, a concordância costuma ser feita no singular. b) quando é partícula apassivadora.
Um ou outro compareceu à festa. Quando índice de indeterminação do sujeito, o “se”
Nem um nem outro saiu do colégio. acompanha os verbos intransitivos, transitivos indiretos e
de ligação, que obrigatoriamente são conjugados na ter-
Com “um e outro”, o verbo pode ficar no plural ou no ceira pessoa do singular:
singular: Um e outro farão/fará a prova. Precisa-se de funcionários.
Confia-se em teses absurdas.

54
LÍNGUA PORTUGUESA

Quando pronome apassivador, o “se” acompanha ver- c) Quando o sujeito indicar peso, medida, quantidade e
bos transitivos diretos (VTD) e transitivos diretos e indiretos for seguido de palavras ou expressões como pouco, muito,
(VTDI) na formação da voz passiva sintética. Nesse caso, o menos de, mais de, etc., o verbo SER fica no singular:
verbo deve concordar com o sujeito da oração. Exemplos: Cinco quilos de açúcar é mais do que preciso.
Construiu-se um posto de saúde. Três metros de tecido é pouco para fazer seu vestido.
Construíram-se novos postos de saúde. Duas semanas de férias é muito para mim.
Aqui não se cometem equívocos
Alugam-se casas. d) Quando um dos elementos (sujeito ou predicativo)
for pronome pessoal do caso reto, com este concordará o
** Dica: Para saber se o “se” é partícula apassivadora verbo.
ou índice de indeterminação do sujeito, tente transformar No meu setor, eu sou a única mulher.
a frase para a voz passiva. Se a frase construída for “com- Aqui os adultos somos nós.
preensível”, estaremos diante de uma partícula apassivado-
ra; se não, o “se” será índice de indeterminação. Veja: Observação: sendo ambos os termos (sujeito e pre-
Precisa-se de funcionários qualificados. dicativo) representados por pronomes pessoais, o verbo
Tentemos a voz passiva: concorda com o pronome sujeito.
Funcionários qualificados são precisados (ou precisos)? Eu não sou ela.
Não há lógica. Portanto, o “se” destacado é índice de inde- Ela não é eu.
terminação do sujeito.
Agora: e) Quando o sujeito for uma expressão de sentido par-
Vendem-se casas. titivo ou coletivo e o predicativo estiver no plural, o verbo
Voz passiva: Casas são vendidas. Construção correta! SER concordará com o predicativo.
Então, aqui, o “se” é partícula apassivadora. (Dá para eu A grande maioria no protesto eram jovens.
passar para a voz passiva. Repare em meu destaque. Per- O resto foram atitudes imaturas.
cebeu semelhança? Agora é só memorizar!).
2) O Verbo “Ser” 3) O Verbo “Parecer”
O verbo parecer, quando é auxiliar em uma locução
A concordância verbal dá-se sempre entre o verbo e o verbal (é seguido de infinitivo), admite duas concordâncias:
sujeito da oração. No caso do verbo ser, essa concordân- a) Ocorre variação do verbo PARECER e não se flexiona
cia pode ocorrer também entre o verbo e o predicativo do o infinitivo: As crianças parecem gostar do desenho.
sujeito.
b) A variação do verbo parecer não ocorre e o infinitivo
Quando o sujeito ou o predicativo for: sofre flexão:
As crianças parece gostarem do desenho.
a)Nome de pessoa ou pronome pessoal – o verbo SER (essa frase equivale a: Parece gostarem do desenho as
concorda com a pessoa gramatical: crianças)
Ele é forte, mas não é dois.
Fernando Pessoa era vários poetas. Atenção: Com orações desenvolvidas, o verbo PARE-
A esperança dos pais são eles, os filhos. CER fica no singular. Por Exemplo: As paredes parece que
têm ouvidos. (Parece que as paredes têm ouvidos = oração
b)nome de coisa e um estiver no singular e o outro no subordinada substantiva subjetiva).
plural, o verbo SER concordará, preferencialmente, com o
que estiver no plural: Concordância Nominal
Os livros são minha paixão!
Minha paixão são os livros! A concordância nominal se baseia na relação entre
nomes (substantivo, pronome) e as palavras que a eles se
Quando o verbo SER indicar ligam para caracterizá-los (artigos, adjetivos, pronomes
adjetivos, numerais adjetivos e particípios). Lembre-se:
a) horas e distâncias, concordará com a expressão normalmente, o substantivo funciona como núcleo de um
numérica: termo da oração, e o adjetivo, como adjunto adnominal.
É uma hora. A concordância do adjetivo ocorre de acordo com as
São quatro horas. seguintes regras gerais:
Daqui até a escola é um quilômetro / são dois quilôme- 1) O adjetivo concorda em gênero e número quando
tros. se refere a um único substantivo: As mãos trêmulas denun-
ciavam o que sentia.
b) datas, concordará com a palavra dia(s), que pode
estar expressa ou subentendida: 2) Quando o adjetivo refere-se a vários substantivos, a
Hoje é dia 26 de agosto. concordância pode variar. Podemos sistematizar essa fle-
Hoje são 26 de agosto. xão nos seguintes casos:

55
LÍNGUA PORTUGUESA

a) Adjetivo anteposto aos substantivos: ** Dica: Substitua o “só” por “apenas” ou “sozinho”. Se
- O adjetivo concorda em gênero e número com o a frase ficar coerente com o primeiro, trata-se de advérbio,
substantivo mais próximo. portanto, invariável; se houver coerência com o segundo,
Encontramos caídas as roupas e os prendedores. função de adjetivo, então varia:
Encontramos caída a roupa e os prendedores. Ela está só. (ela está sozinha) – adjetivo
Encontramos caído o prendedor e a roupa. Ele está só descansando. (apenas descansando) - ad-
vérbio
- Caso os substantivos sejam nomes próprios ou de pa-
rentesco, o adjetivo deve sempre concordar no plural. ** Mas cuidado! Se colocarmos uma vírgula depois de
As adoráveis Fernanda e Cláudia vieram me visitar. “só”, haverá, novamente, um adjetivo:
Encontrei os divertidos primos e primas na festa. Ele está só, descansando. (ele está sozinho e descansan-
do)
b) Adjetivo posposto aos substantivos: 7) Quando um único substantivo é modificado por dois
- O adjetivo concorda com o substantivo mais próximo ou mais adjetivos no singular, podem ser usadas as cons-
ou com todos eles (assumindo a forma masculina plural se truções:
houver substantivo feminino e masculino). a) O substantivo permanece no singular e coloca-se o
A indústria oferece localização e atendimento perfeito. artigo antes do último adjetivo: Admiro a cultura espanhola
A indústria oferece atendimento e localização perfeita. e a portuguesa.
A indústria oferece localização e atendimento perfeitos.
A indústria oferece atendimento e localização perfeitos. b) O substantivo vai para o plural e omite-se o artigo
antes do adjetivo: Admiro as culturas espanhola e portu-
Observação: os dois últimos exemplos apresentam guesa.
maior clareza, pois indicam que o adjetivo efetivamente se
refere aos dois substantivos. Nesses casos, o adjetivo foi Casos Particulares
flexionado no plural masculino, que é o gênero predomi-
nante quando há substantivos de gêneros diferentes. É proibido - É necessário - É bom - É preciso - É per-
mitido
- Se os substantivos possuírem o mesmo gênero, o ad-
jetivo fica no singular ou plural. a) Estas expressões, formadas por um verbo mais um
A beleza e a inteligência feminina(s). adjetivo, ficam invariáveis se o substantivo a que se referem
O carro e o iate novo(s). possuir sentido genérico (não vier precedido de artigo).
É proibido entrada de crianças.
3) Expressões formadas pelo verbo SER + adjetivo: Em certos momentos, é necessário atenção.
a) O adjetivo fica no masculino singular, se o substan- No verão, melancia é bom.
tivo não for acompanhado de nenhum modificador: Água É preciso cidadania.
é bom para saúde. Não é permitido saída pelas portas laterais.

b) O adjetivo concorda com o substantivo, se este for b) Quando o sujeito destas expressões estiver deter-
modificado por um artigo ou qualquer outro determinati- minado por artigos, pronomes ou adjetivos, tanto o verbo
vo: Esta água é boa para saúde. como o adjetivo concordam com ele.
É proibida a entrada de crianças.
4) O adjetivo concorda em gênero e número com os Esta salada é ótima.
pronomes pessoais a que se refere: Juliana encontrou-as A educação é necessária.
muito felizes. São precisas várias medidas na educação.

5) Nas expressões formadas por pronome indefinido Anexo - Obrigado - Mesmo - Próprio - Incluso - Qui-
neutro (nada, algo, muito, tanto, etc.) + preposição DE + te
adjetivo, este último geralmente é usado no masculino sin-
gular: Os jovens tinham algo de misterioso. Estas palavras adjetivas concordam em gênero e nú-
mero com o substantivo ou pronome a que se referem.
6) A palavra “só”, quando equivale a “sozinho”, tem fun- Seguem anexas as documentações requeridas.
ção adjetiva e concorda normalmente com o nome a que A menina agradeceu: - Muito obrigada.
se refere: Muito obrigadas, disseram as senhoras.
Cristina saiu só. Seguem inclusos os papéis solicitados.
Cristina e Débora saíram sós. Estamos quites com nossos credores.

Observação: quando a palavra “só” equivale a “somen-


te” ou “apenas”, tem função adverbial, ficando, portanto,
invariável: Eles só desejam ganhar presentes.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Bastante - Caro - Barato - Longe Questões

Estas palavras são invariáveis quando funcionam como 1-) (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA
advérbios. Concordam com o nome a que se referem quan- E COMÉRCIO EXTERIOR – ANALISTA TÉCNICO ADMINIS-
do funcionam como adjetivos, pronomes adjetivos, ou nu- TRATIVO – CESPE/2014) Em “Vossa Excelência deve estar
merais. satisfeita com os resultados das negociações”, o adjetivo
As jogadoras estavam bastante cansadas. (advérbio) estará corretamente empregado se dirigido a ministro de
Há bastantes pessoas insatisfeitas com o trabalho. (pro- Estado do sexo masculino, pois o termo “satisfeita” deve
nome adjetivo) concordar com a locução pronominal de tratamento “Vossa
Nunca pensei que o estudo fosse tão caro. (advérbio) Excelência”.
As casas estão caras. (adjetivo) ( ) CERTO ( ) ERRADO
Achei barato este casaco. (advérbio)
Hoje as frutas estão baratas. (adjetivo) 1-) Se a pessoa, no caso o ministro, for do sexo femi-
nino (ministra), o adjetivo está correto; mas, se for do sexo
Meio - Meia masculino, o adjetivo sofrerá flexão de gênero: satisfeito. O
pronome de tratamento é apenas a maneira de como tratar
a) A palavra “meio”, quando empregada como adjetivo, a autoridade, não concordando com o gênero (o pronome
concorda normalmente com o nome a que se refere: Pedi de tratamento, apenas).
meia porção de polentas. RESPOSTA: “ERRADO”.
b) Quando empregada como advérbio permanece in- 2-) (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL – CADASTRO
variável: A candidata está meio nervosa. RESERVA PARA O METRÔ/DF – ADMINISTRADOR - IA-
DES/2014 - adaptada) Se, no lugar dos verbos destacados
** Dica! Dá para eu substituir por “um pouco”, assim no verso “Escolho os filmes que eu não vejo no elevador”,
saberei que se trata de um advérbio, não de adjetivo: “A
fossem empregados, respectivamente, Esquecer e gostar, a
candidata está um pouco nervosa”.
nova redação, de acordo com as regras sobre regência ver-
bal e concordância nominal prescritas pela norma-padrão,
Alerta - Menos
deveria ser
(A) Esqueço dos filmes que eu não gosto no elevador.
Essas palavras são advérbios, portanto, permanecem
(B) Esqueço os filmes os quais não gosto no elevador.
sempre invariáveis.
(C) Esqueço dos filmes aos quais não gosto no eleva-
Os concurseiros estão sempre alerta.
dor.
Não queira menos matéria!
(D) Esqueço dos filmes dos quais não gosto no eleva-
* Tome nota! dor.
Não variam os substantivos que funcionam como ad- (E) Esqueço os filmes dos quais não gosto no elevador.
jetivos:
Bomba – notícias bomba 2-) O verbo “esquecer” pede objeto direto; “gostar”, in-
Chave – elementos chave direto (com preposição): Esqueço os filmes dos quais não
Monstro – construções monstro gosto.
Padrão – escola padrão RESPOSTA: “E”.

Fontes de pesquisa: 3-) (SABESP – TECNÓLOGO – FCC/2014) Considerada a


http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint49. substituição do segmento grifado pelo que está entre pa-
php rênteses ao final da transcrição, o verbo que deverá perma-
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cere- necer no singular está em:
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: (A) ... disse o pesquisador à Folha de S. Paulo. (os pes-
Saraiva, 2010. quisadores)
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- (B) Segundo ele, a mudança climática contribuiu para a
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. ruína dessa sociedade... (as mudanças do clima)
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- (C) No sistema havia também uma estação... (várias es-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. tações)
(D) ... a civilização maia da América Central tinha um
método sustentável de gerenciamento da água. (os povos
que habitavam a América Central)
(E) Um estudo publicado recentemente mostra que a
civilização maia... (Estudos como o que acabou de ser pu-
blicado).

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LÍNGUA PORTUGUESA

3-) 1-) Verbos Intransitivos


(A) ... disse (disseram) (os pesquisadores)
(B) Segundo ele, a mudança climática contribuiu (con- Os verbos intransitivos não possuem complemento. É
tribuíram) (as mudanças do clima) importante, no entanto, destacar alguns detalhes relativos
(C) No sistema havia (várias estações) = permanecerá aos adjuntos adverbiais que costumam acompanhá-los.
no singular - Chegar, Ir
(D) ... a civilização maia da América Central tinha (ti- Normalmente vêm acompanhados de adjuntos adver-
nham) (os povos que habitavam a América Central) biais de lugar. Na língua culta, as preposições usadas para
(E) Um estudo publicado recentemente mostra (mos- indicar destino ou direção são: a, para.
tram) (Estudos como o que acabou de ser publicado). Fui ao teatro.
RESPOSTA: “C”. Adjunto Adverbial de Lugar

Ricardo foi para a Espanha.


Adjunto Adverbial de Lugar
REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL
- Comparecer
O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido por
em ou a.
Dá-se o nome de regência à relação de subordinação Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o
que ocorre entre um verbo (regência verbal) ou um nome último jogo.
(regência nominal) e seus complementos.
2-) Verbos Transitivos Diretos
Regência Verbal = Termo Regente: VERBO
Os verbos transitivos diretos são complementados por
A regência verbal estuda a relação que se estabelece objetos diretos. Isso significa que não exigem preposição
entre os verbos e os termos que os complementam (obje- para o estabelecimento da relação de regência. Ao empre-
tos diretos e objetos indiretos) ou caracterizam (adjuntos gar esses verbos, lembre-se de que os pronomes oblíquos
adverbiais). Há verbos que admitem mais de uma regência, o, a, os, as atuam como objetos diretos. Esses pronomes
o que corresponde à diversidade de significados que estes podem assumir as formas lo, los, la, las (após formas ver-
verbos podem adquirir dependendo do contexto em que bais terminadas em -r, -s ou -z) ou no, na, nos, nas (após
forem empregados. formas verbais terminadas em sons nasais), enquanto lhe e
A mãe agrada o filho = agradar significa acariciar, con- lhes são, quando complementos verbais, objetos indiretos.
tentar. São verbos transitivos diretos, dentre outros: aban-
A mãe agrada ao filho = agradar significa “causar agra- donar, abençoar, aborrecer, abraçar, acompanhar, acusar,
do ou prazer”, satisfazer. admirar, adorar, alegrar, ameaçar, amolar, amparar, auxiliar,
Conclui-se que “agradar alguém” é diferente de “agra- castigar, condenar, conhecer, conservar, convidar, defender,
dar a alguém”. eleger, estimar, humilhar, namorar, ouvir, prejudicar, prezar,
proteger, respeitar, socorrer, suportar, ver, visitar.
Saiba que: Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente
O conhecimento do uso adequado das preposições é como o verbo amar:
um dos aspectos fundamentais do estudo da regência ver- Amo aquele rapaz. / Amo-o.
bal (e também nominal). As preposições são capazes de Amo aquela moça. / Amo-a.
modificar completamente o sentido daquilo que está sen- Amam aquele rapaz. / Amam-no.
do dito. Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la.
Cheguei ao metrô.
Cheguei no metrô. Observação: os pronomes lhe, lhes só acompanham
No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no se- esses verbos para indicar posse (caso em que atuam como
gundo caso, é o meio de transporte por mim utilizado. adjuntos adnominais):
Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto)
A voluntária distribuía leite às crianças. Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua car-
A voluntária distribuía leite com as crianças. reira)
Na primeira frase, o verbo “distribuir” foi empregado Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau hu-
como transitivo direto (objeto direto: leite) e indireto (obje- mor)
to indireto: às crianças); na segunda, como transitivo direto
(objeto direto: crianças; com as crianças: adjunto adverbial). 3-) Verbos Transitivos Indiretos

Para estudar a regência verbal, agruparemos os verbos Os verbos transitivos indiretos são complementados
de acordo com sua transitividade. Esta, porém, não é um por objetos indiretos. Isso significa que esses verbos exi-
fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de diferentes gem uma preposição para o estabelecimento da relação de
formas em frases distintas. regência. Os pronomes pessoais do caso oblíquo de ter-

58
LÍNGUA PORTUGUESA

ceira pessoa que podem atuar como objetos indiretos são Informar
o “lhe”, o “lhes”, para substituir pessoas. Não se utilizam - Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto
os pronomes o, os, a, as como complementos de verbos indireto ao se referir a pessoas, ou vice-versa.
transitivos indiretos. Com os objetos indiretos que não re- Informe os novos preços aos clientes.
presentam pessoas, usam-se pronomes oblíquos tônicos Informe os clientes dos novos preços. (ou sobre os novos
de terceira pessoa (ele, ela) em lugar dos pronomes átonos preços)
lhe, lhes.
- Na utilização de pronomes como complementos, veja
Os verbos transitivos indiretos são os seguintes: as construções:
- Consistir - Tem complemento introduzido pela prepo- Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos preços.
sição “em”: A modernidade verdadeira consiste em direitos Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou so-
iguais para todos.
bre eles)
- Obedecer e Desobedecer - Possuem seus complemen-
Observação: a mesma regência do verbo informar é
tos introduzidos pela preposição “a”:
Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais. usada para os seguintes: avisar, certificar, notificar, cientifi-
Eles desobedeceram às leis do trânsito. car, prevenir.

- Responder - Tem complemento introduzido pela pre- Comparar


posição “a”. Esse verbo pede objeto indireto para indicar “a Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite as
quem” ou “ao que” se responde. preposições “a” ou “com” para introduzir o complemento
Respondi ao meu patrão. indireto: Comparei seu comportamento ao (ou com o) de
Respondemos às perguntas. uma criança.
Respondeu-lhe à altura.
Pedir
Observação: o verbo responder, apesar de transitivo Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente na
indireto quando exprime aquilo a que se responde, admite forma de oração subordinada substantiva) e indireto de
voz passiva analítica: pessoa.
O questionário foi respondido corretamente.
Todas as perguntas foram respondidas satisfatoriamen- Pedi-lhe favores.
te.
Objeto Indireto Objeto Direto
- Simpatizar e Antipatizar - Possuem seus complemen-
Pedi-lhe que se mantivesse em silêncio.
tos introduzidos pela preposição “com”.
Antipatizo com aquela apresentadora. Objeto Indireto Oração Subordinada Subs-
Simpatizo com os que condenam os políticos que gover- tantiva Objetiva Direta
nam para uma minoria privilegiada.
Saiba que:
4-) Verbos Transitivos Diretos e Indiretos - A construção “pedir para”, muito comum na lingua-
gem cotidiana, deve ter emprego muito limitado na língua
Os verbos transitivos diretos e indiretos são acompa- culta. No entanto, é considerada correta quando a palavra
nhados de um objeto direto e um indireto. Merecem desta- licença estiver subentendida.
que, nesse grupo: agradecer, perdoar e pagar. São verbos Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em casa.
que apresentam objeto direto relacionado a coisas e objeto
indireto relacionado a pessoas. Observe que, nesse caso, a preposição “para” introduz
uma oração subordinada adverbial final reduzida de infiniti-
Agradeço aos ouvintes a audiência. vo (para ir entregar-lhe os catálogos em casa).
Objeto Indireto Objeto Direto
Preferir
Paguei o débito ao cobrador. Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto in-
Objeto Direto Objeto Indireto
direto introduzido pela preposição “a”:
Prefiro qualquer coisa a abrir mão de meus ideais.
- O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito
com particular cuidado: Prefiro trem a ônibus.
Agradeci o presente. / Agradeci-o.
Agradeço a você. / Agradeço-lhe. Observação: na língua culta, o verbo “preferir” deve
Perdoei a ofensa. / Perdoei-a. ser usado sem termos intensificadores, tais como: muito,
Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe. antes, mil vezes, um milhão de vezes, mais. A ênfase já é
Paguei minhas contas. / Paguei-as. dada pelo prefixo existente no próprio verbo (pre).
Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Mudança de Transitividade - Mudança de Signifi- CHAMAR


cado - Chamar é transitivo direto no sentido de convocar,
solicitar a atenção ou a presença de.
Há verbos que, de acordo com a mudança de transitivi- Por gentileza, vá chamar a polícia. / Por favor, vá cha-
dade, apresentam mudança de significado. O conhecimen- má-la.
to das diferentes regências desses verbos é um recurso lin- Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes.
guístico muito importante, pois além de permitir a correta
interpretação de passagens escritas, oferece possibilidades - Chamar no sentido de denominar, apelidar pode
expressivas a quem fala ou escreve. Dentre os principais, apresentar objeto direto e indireto, ao qual se refere predi-
estão: cativo preposicionado ou não.
A torcida chamou o jogador mercenário.
AGRADAR A torcida chamou ao jogador mercenário.
A torcida chamou o jogador de mercenário.
- Agradar é transitivo direto no sentido de fazer cari-
A torcida chamou ao jogador de mercenário.
nhos, acariciar, fazer as vontades de.
Sempre agrada o filho quando.
- Chamar com o sentido de ter por nome é pronominal:
Aquele comerciante agrada os clientes.
Como você se chama? Eu me chamo Zenaide.
- Agradar é transitivo indireto no sentido de causar CUSTAR
agrado a, satisfazer, ser agradável a. Rege complemento in- - Custar é intransitivo no sentido de ter determinado
troduzido pela preposição “a”. valor ou preço, sendo acompanhado de adjunto adverbial:
O cantor não agradou aos presentes. Frutas e verduras não deveriam custar muito.
O cantor não lhes agradou.
- No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransitivo
*O antônimo “desagradar” é sempre transitivo indireto: ou transitivo indireto, tendo como sujeito uma oração re-
O cantor desagradou à plateia. duzida de infinitivo.

ASPIRAR Muito custa viver tão longe da família.


- Aspirar é transitivo direto no sentido de sorver, inspi- Verbo Intransitivo Oração Subordinada
rar (o ar), inalar: Aspirava o suave aroma. (Aspirava-o) Substantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo

- Aspirar é transitivo indireto no sentido de desejar, ter Custou-me (a mim) crer nisso.
como ambição: Aspirávamos a um emprego melhor. (Aspi- Objeto Indireto Oração Subordinada Subs-
rávamos a ele) tantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo

* Como o objeto direto do verbo “aspirar” não é pes- *A Gramática Normativa condena as construções que
soa, as formas pronominais átonas “lhe” e “lhes” não são atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado por
utilizadas, mas, sim, as formas tônicas “a ele(s)”, “a ela(s)”. pessoa: Custei para entender o problema. = Forma
Veja o exemplo: Aspiravam a uma existência melhor. (= As- correta: Custou-me entender o problema.
piravam a ela)
IMPLICAR
- Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos:
ASSISTIR
a) dar a entender, fazer supor, pressupor: Suas atitudes
- Assistir é transitivo direto no sentido de ajudar, pres-
implicavam um firme propósito.
tar assistência a, auxiliar.
b) ter como consequência, trazer como consequência,
As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos.
acarretar, provocar: Uma ação implica reação.
As empresas de saúde negam-se a assisti-los.
- Como transitivo direto e indireto, significa compro-
- Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, presen- meter, envolver: Implicaram aquele jornalista em questões
ciar, estar presente, caber, pertencer. econômicas.
Assistimos ao documentário.
Não assisti às últimas sessões. * No sentido de antipatizar, ter implicância, é transitivo
Essa lei assiste ao inquilino. indireto e rege com preposição “com”: Implicava com quem
não trabalhasse arduamente.
*No sentido de morar, residir, o verbo “assistir” é in-
transitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de NAMORAR
lugar introduzido pela preposição “em”: Assistimos numa - Sempre transitivo direto: Luísa namora Carlos há dois
conturbada cidade. anos.

60
LÍNGUA PORTUGUESA

OBEDECER - DESOBEDECER Há uma construção em que a coisa esquecida ou lem-


- Sempre transitivo indireto: brada passa a funcionar como sujeito e o verbo sofre leve
Todos obedeceram às regras. alteração de sentido. É uma construção muito rara na lín-
Ninguém desobedece às leis. gua contemporânea, porém, é fácil encontrá-la em textos
clássicos tanto brasileiros como portugueses. Machado de
*Quando o objeto é “coisa”, não se utiliza “lhe” nem Assis, por exemplo, fez uso dessa construção várias vezes.
“lhes”: As leis são essas, mas todos desobedecem a elas. Esqueceu-me a tragédia. (cair no esquecimento)
Lembrou-me a festa. (vir à lembrança)
PROCEDER Não lhe lembram os bons momentos da infância? (=
- Proceder é intransitivo no sentido de ser decisivo, ter momentos é sujeito)
cabimento, ter fundamento ou comportar-se, agir. Nessa
segunda acepção, vem sempre acompanhado de adjunto SIMPATIZAR - ANTIPATIZAR
adverbial de modo. - São transitivos indiretos e exigem a preposição “com”:
As afirmações da testemunha procediam, não havia Não simpatizei com os jurados.
como refutá-las. Simpatizei com os alunos.
Você procede muito mal.
Importante: A norma culta exige que os verbos e ex-
- Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a prepo- pressões que dão ideia de movimento sejam usados com
sição “de”) e fazer, executar (rege complemento introduzido a preposição “a”:
pela preposição “a”) é transitivo indireto. Chegamos a São Paulo e fomos direto ao hotel.
O avião procede de Maceió. Cláudia desceu ao segundo andar.
Procedeu-se aos exames. Hoje, com esta chuva, ninguém sairá à rua.
O delegado procederá ao inquérito.
Regência Nominal
QUERER
- Querer é transitivo direto no sentido de desejar, ter É o nome da relação existente entre um nome (subs-
vontade de, cobiçar. tantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse
Querem melhor atendimento. nome. Essa relação é sempre intermediada por uma prepo-
Queremos um país melhor. sição. No estudo da regência nominal, é preciso levar em
conta que vários nomes apresentam exatamente o mesmo
- Querer é transitivo indireto no sentido de ter afeição, regime dos verbos de que derivam. Conhecer o regime de
estimar, amar: Quero muito aos meus amigos. um verbo significa, nesses casos, conhecer o regime dos
nomes cognatos. Observe o exemplo: Verbo obedecer e os
VISAR nomes correspondentes: todos regem complementos in-
- Como transitivo direto, apresenta os sentidos de mi- troduzidos pela preposição a. Veja:
rar, fazer pontaria e de pôr visto, rubricar.
O homem visou o alvo. Obedecer a algo/ a alguém.
O gerente não quis visar o cheque. Obediente a algo/ a alguém.

- No sentido de ter em vista, ter como meta, ter como Se uma oração completar o sentido de um nome, ou
objetivo é transitivo indireto e rege a preposição “a”. seja, exercer a função de complemento nominal, ela será
O ensino deve sempre visar ao progresso social. completiva nominal (subordinada substantiva).
Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-estar
público.

ESQUECER – LEMBRAR
- Lembrar algo – esquecer algo
- Lembrar-se de algo – esquecer-se de algo (pronomi-
nal)

No 1.º caso, os verbos são transitivos diretos, ou seja,


exigem complemento sem preposição: Ele esqueceu o livro.
No 2.º caso, os verbos são pronominais (-se, -me, etc) e
exigem complemento com a preposição “de”. São, portan-
to, transitivos indiretos:
- Ele se esqueceu do caderno.
- Eu me esqueci da chave.
- Eles se esqueceram da prova.
- Nós nos lembramos de tudo o que aconteceu.

61
LÍNGUA PORTUGUESA

Regência de Alguns Nomes

Substantivos
Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo a, de
Aversão a, para, por Doutor em Obediência a
Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por
Bacharel em Horror a Proeminência sobre
Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por
Adjetivos
Acessível a Diferente de Necessário a
Acostumado a, com Entendido em Nocivo a
Afável com, para com Equivalente a Paralelo a
Agradável a Escasso de Parco em, de
Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Análogo a Fácil de Preferível a
Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a
Apto a, para Favorável a Prestes a
Ávido de Generoso com Propício a
Benéfico a Grato a, por Próximo a
Capaz de, para Hábil em Relacionado com
Compatível com Habituado a Relativo a
Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por
Contíguo a Impróprio para Semelhante a
Contrário a Indeciso em Sensível a
Curioso de, por Insensível a Sito em
Descontente com Liberal com Suspeito de
Desejoso de Natural de Vazio de

Advérbios
Longe de Perto de

Observação: os advérbios terminados em -mente tendem a seguir o regime dos adjetivos de que são formados: para-
lela a; paralelamente a; relativa a; relativamente a.

Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61.php
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

Questões

1-) (PRODAM – AUXILIAR - MOTORISTA – FUNCAB/2014) Assinale a alternativa em que a frase segue a norma culta da
língua quanto à regência verbal.
A) Prefiro viajar de ônibus do que dirigir.
B) Eu esqueci do seu nome.
C) Você assistiu à cena toda?
D) Ele chegou na oficina pela manhã.
E) Sempre obedeço as leis de trânsito.

62
LÍNGUA PORTUGUESA

1-) Quanto à estrutura da frase, as que possuem verbo


A) Prefiro viajar de ônibus do que dirigir. = prefiro viajar (oração) são estruturadas por dois elementos essenciais:
de ônibus a dirigir sujeito e predicado.
B) Eu esqueci do seu nome. = Eu me esqueci do seu O sujeito é o termo da frase que concorda com o verbo
nome em número e pessoa. É o “ser de quem se declara algo”, “o
C) Você assistiu à cena toda? = correta tema do que se vai comunicar”; o predicado é a parte da
D) Ele chegou na oficina pela manhã. = Ele chegou à frase que contém “a informação nova para o ouvinte”, é o
oficina pela manhã que “se fala do sujeito”. Ele se refere ao tema, constituindo
E) Sempre obedeço as leis de trânsito. = Sempre obe- a declaração do que se atribui ao sujeito.
deço às leis de trânsito Quando o núcleo da declaração está no verbo (que in-
RESPOSTA: “C”. dique ação ou fenômeno da natureza, seja um verbo signi-
ficativo), temos o predicado verbal. Mas, se o núcleo estiver
2-) (POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO/SP – em um nome (geralmente um adjetivo), teremos um predi-
MÉDICO LEGISTA – VUNESP/2014 - adaptada) Leia o se- cado nominal (os verbos deste tipo de predicado são os
guinte trecho para responder à questão. que indicam estado, conhecidos como verbos de ligação):
A pesquisa encontrou um dado curioso: homens com O menino limpou a sala. = “limpou” é verbo de ação
baixos níveis de testosterona tiveram uma resposta imuno- (predicado verbal)
lógica melhor a essa medida, similar _______________ . A prova foi fácil. – “foi” é verbo de ligação (ser); o nú-
A alternativa que completa, corretamente, o texto é: cleo é “fácil” (predicado nominal)
(A) das mulheres
(B) às mulheres Quanto ao período, ele denomina a frase constituída
(C) com das mulheres por uma ou mais orações, formando um todo, com sentido
(D) à das mulheres completo. O período pode ser simples ou composto.
(E) ao das mulheres
Período simples é aquele constituído por apenas uma
oração, que recebe o nome de oração absoluta.
2-) Similar significa igual; sua regência equivale à da
Chove.
palavra “igual”: igual a quê? Similar a quem? Similar à (su-
A existência é frágil.
bentendido: resposta imunológica) das mulheres.
Amanhã, à tarde, faremos a prova do concurso.
RESPOSTA: “D”.
Período composto é aquele constituído por duas ou
mais orações:
Cantei, dancei e depois dormi.
Quero que você estude mais.
FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO
SINTAXE DA ORAÇÃO E DO PERÍODO Termos essenciais da oração
TERMOS DA ORAÇÃO
COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO O sujeito e o predicado são considerados termos
essenciais da oração, ou seja, são termos indispensáveis
para a formação das orações. No entanto, existem orações
formadas exclusivamente pelo predicado. O que define a
Frase é todo enunciado suficiente por si mesmo para oração é a presença do verbo. O sujeito é o termo que es-
estabelecer comunicação. Normalmente é composta por tabelece concordância com o verbo.
dois termos – o sujeito e o predicado – mas não obrigato- O candidato está preparado.
riamente, pois há orações ou frases sem sujeito: Trovejou Os candidatos estão preparados.
muito ontem à noite.
Na primeira frase, o sujeito é “o candidato”. “Candida-
Quanto aos tipos de frases, além da classificação em to” é a principal palavra do sujeito, sendo, por isso, deno-
verbais (possuem verbos, ou seja, são orações) e nominais minada núcleo do sujeito. Este se relaciona com o verbo,
(sem a presença de verbos), feita a partir de seus elementos estabelecendo a concordância (núcleo no singular, verbo
constituintes, elas podem ser classificadas a partir de seu no singular: candidato = está).
sentido global: A função do sujeito é basicamente desempenhada por
- frases interrogativas = o emissor da mensagem for- substantivos, o que a torna uma função substantiva da ora-
mula uma pergunta: Que dia é hoje? ção. Pronomes, substantivos, numerais e quaisquer outras
- frases imperativas = o emissor dá uma ordem ou faz palavras substantivadas (derivação imprópria) também po-
um pedido: Dê-me uma luz! dem exercer a função de sujeito.
- frases exclamativas = o emissor exterioriza um estado Os dois sumiram. (dois é numeral; no exemplo, subs-
afetivo: Que dia abençoado! tantivo)
- frases declarativas = o emissor constata um fato: A Um sim é suave e sugestivo. (sim é advérbio; no exem-
prova será amanhã. plo: substantivo)

63
LÍNGUA PORTUGUESA

Os sujeitos são classificados a partir de dois elementos: 1-) com verbo na terceira pessoa do plural, desde que
o de determinação ou indeterminação e o de núcleo do o sujeito não tenha sido identificado anteriormente:
sujeito. Bateram à porta;
Um sujeito é determinado quando é facilmente iden- Andam espalhando boatos a respeito da queda do mi-
tificado pela concordância verbal. O sujeito determinado nistro.
pode ser simples ou composto.
A indeterminação do sujeito ocorre quando não é * Se o sujeito estiver identificado, poderá ser simples
possível identificar claramente a que se refere a concor- ou composto:
dância verbal. Isso ocorre quando não se pode ou não inte- Os meninos bateram à porta. (simples)
ressa indicar precisamente o sujeito de uma oração. Os meninos e as meninas bateram à porta. (composto)
Estão gritando seu nome lá fora.
Trabalha-se demais neste lugar. 2-) com o verbo na terceira pessoa do singular, acres-
cido do pronome “se”. Esta é uma construção típica dos
O sujeito simples é o sujeito determinado que apre- verbos que não apresentam complemento direto:
senta um único núcleo, que pode estar no singular ou no Precisa-se de mentes criativas.
plural; pode também ser um pronome indefinido. Abaixo, Vivia-se bem naqueles tempos.
sublinhei os núcleos dos sujeitos: Trata-se de casos delicados.
Nós estudaremos juntos. Sempre se está sujeito a erros.
A humanidade é frágil.
Ninguém se move. O pronome “se”, nestes casos, funciona como índice de
O amar faz bem. (“amar” é verbo, mas aqui houve uma indeterminação do sujeito.
derivação imprópria, transformando-o em substantivo)
As crianças precisam de alimentos saudáveis. As orações sem sujeito, formadas apenas pelo predi-
cado, articulam-se a partir de um verbo impessoal. A men-
O sujeito composto é o sujeito determinado que apre- sagem está centrada no processo verbal. Os principais ca-
sos de orações sem sujeito com:
senta mais de um núcleo.
Alimentos e roupas custam caro.
1-) os verbos que indicam fenômenos da natureza:
Ela e eu sabemos o conteúdo.
Amanheceu.
O amar e o odiar são duas faces da mesma moeda.
Está trovejando.
Além desses dois sujeitos determinados, é comum a
2-) os verbos estar, fazer, haver e ser, quando indicam
referência ao sujeito implícito na desinência verbal (o
fenômenos meteorológicos ou se relacionam ao tempo em
“antigo” sujeito oculto [ou elíptico]), isto é, ao núcleo do
geral:
sujeito que está implícito e que pode ser reconhecido pela Está tarde.
desinência verbal ou pelo contexto. Já são dez horas.
Abolimos todas as regras. = (nós) Faz frio nesta época do ano.
Falaste o recado à sala? = (tu) Há muitos concursos com inscrições abertas.
* Os verbos deste tipo de sujeito estão sempre na pri- Predicado é o conjunto de enunciados que contém a
meira pessoa do singular (eu) ou plural (nós) ou na segun- informação sobre o sujeito – ou nova para o ouvinte. Nas
da do singular (tu) ou do plural (vós), desde que os prono- orações sem sujeito, o predicado simplesmente enuncia
mes não estejam explícitos. um fato qualquer. Nas orações com sujeito, o predicado é
Iremos à feira juntos? (= nós iremos) – sujeito implícito aquilo que se declara a respeito deste sujeito. Com exceção
na desinência verbal “-mos” do vocativo - que é um termo à parte - tudo o que difere
Cantais bem! (= vós cantais) - sujeito implícito na desi- do sujeito numa oração é o seu predicado.
nência verbal “-ais” Chove muito nesta época do ano.
Houve problemas na reunião.
Mas:
Nós iremos à festa juntos? = sujeito simples: nós * Em ambas as orações não há sujeito, apenas predi-
Vós cantais bem! = sujeito simples: vós cado.

O sujeito indeterminado surge quando não se quer - As questões estavam fáceis!


ou não se pode - identificar a que o predicado da oração Sujeito simples = as questões
refere-se. Existe uma referência imprecisa ao sujeito, caso Predicado = estavam fáceis
contrário, teríamos uma oração sem sujeito.
Na língua portuguesa, o sujeito pode ser indetermina- Passou-me uma ideia estranha pelo pensamento.
do de duas maneiras: Sujeito = uma ideia estranha
Predicado = passou-me pelo pensamento

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LÍNGUA PORTUGUESA

Para o estudo do predicado, é necessário verificar se No primeiro exemplo, o verbo amanheceu apresenta
seu núcleo é um nome (então teremos um predicado no- duas funções: a de verbo significativo e a de verbo de liga-
minal) ou um verbo (predicado verbal). Deve-se considerar ção. Este predicado poderia ser desdobrado em dois: um
também se as palavras que formam o predicado referem- verbal e outro nominal.
se apenas ao verbo ou também ao sujeito da oração. O dia amanheceu. / O dia estava ensolarado.

Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres No segundo exemplo, é o verbo julgar que relaciona
de opinião. o complemento homens com o predicativo “inconstantes”.
Predicado
Termos integrantes da oração
O predicado acima apresenta apenas uma palavra que
se refere ao sujeito: pedem. As demais palavras ligam-se Os complementos verbais (objeto direto e indireto) e o
direta ou indiretamente ao verbo. complemento nominal são chamados termos integrantes da
A cidade está deserta. oração.
Os complementos verbais integram o sentido dos ver-
O nome “deserta”, por intermédio do verbo, refere-se bos transitivos, com eles formando unidades significativas.
ao sujeito da oração (cidade). O verbo atua como elemento Estes verbos podem se relacionar com seus complementos
de ligação (por isso verbo de ligação) entre o sujeito e a diretamente, sem a presença de preposição, ou indireta-
palavra a ele relacionada (no caso: deserta = predicativo mente, por intermédio de preposição.
do sujeito).
O objeto direto é o complemento que se liga direta-
O predicado verbal é aquele que tem como núcleo mente ao verbo.
significativo um verbo: Houve muita confusão na partida final.
Chove muito nesta época do ano. Queremos sua ajuda.
Estudei muito hoje!
O objeto direto preposicionado ocorre principalmen-
Compraste a apostila?
te:
- com nomes próprios de pessoas ou nomes comuns
Os verbos acima são significativos, isto é, não servem
referentes a pessoas:
apenas para indicar o estado do sujeito, mas indicam pro-
Amar a Deus; Adorar a Xangô; Estimar aos pais.
cessos.
(o objeto é direto, mas como há preposição, denomi-
na-se: objeto direto preposicionado)
O predicado nominal é aquele que tem como núcleo
significativo um nome; este atribui uma qualidade ou esta- - com pronomes indefinidos de pessoa e pronomes
do ao sujeito, por isso é chamado de predicativo do sujei- de tratamento: Não excluo a ninguém; Não quero cansar a
to. O predicativo é um nome que se liga a outro nome da Vossa Senhoria.
oração por meio de um verbo (o verbo de ligação).
Nos predicados nominais, o verbo não é significativo, - para evitar ambiguidade: Ao povo prejudica a crise.
isto é, não indica um processo, mas une o sujeito ao pre- (sem preposição, o sentido seria outro: O povo prejudica
dicativo, indicando circunstâncias referentes ao estado do a crise)
sujeito: Os dados parecem corretos.
O verbo parecer poderia ser substituído por estar, an- O objeto indireto é o complemento que se liga indi-
dar, ficar, ser, permanecer ou continuar, atuando como ele- retamente ao verbo, ou seja, através de uma preposição.
mento de ligação entre o sujeito e as palavras a ele rela- Gosto de música popular brasileira.
cionadas. Necessito de ajuda.
* A função de predicativo é exercida, normalmente, por
um adjetivo ou substantivo. O termo que integra o sentido de um nome chama-se
complemento nominal, que se liga ao nome que comple-
O predicado verbo-nominal é aquele que apresen- ta por intermédio de preposição:
ta dois núcleos significativos: um verbo e um nome. No A arte é necessária à vida. = relaciona-se com a palavra
predicado verbo-nominal, o predicativo pode se referir ao “necessária”
sujeito ou ao complemento verbal (objeto). Temos medo de barata. = ligada à palavra “medo”
O verbo do predicado verbo-nominal é sempre sig-
nificativo, indicando processos. É também sempre por in- Termos acessórios da oração e vocativo
termédio do verbo que o predicativo se relaciona com o
termo a que se refere. Os termos acessórios recebem este nome por serem
1- O dia amanheceu ensolarado; explicativos, circunstanciais. São termos acessórios o ad-
2- As mulheres julgam os homens inconstantes. junto adverbial, o adjunto adnominal, o aposto e o vocativo
– este, sem relação sintática com outros temos da oração.

65
LÍNGUA PORTUGUESA

O adjunto adverbial é o termo da oração que indi- O aposto pode ser classificado, de acordo com seu va-
ca uma circunstância do processo verbal ou intensifica o lor na oração, em:
sentido de um adjetivo, verbo ou advérbio. É uma função a) explicativo: A linguística, ciência das línguas huma-
adverbial, pois cabe ao advérbio e às locuções adverbiais nas, permite-nos interpretar melhor nossa relação com o
exercerem o papel de adjunto adverbial: Amanhã voltarei a mundo.
pé àquela velha praça. b) enumerativo: A vida humana compõe-se de muitas
coisas: amor, arte, ação.
As circunstâncias comumente expressas pelo adjunto c) resumidor ou recapitulativo: Fantasias, suor e sonho,
adverbial são: tudo forma o carnaval.
- assunto: Falavam sobre futebol. d) comparativo: Seus olhos, indagadores holofotes, fixa-
- causa: As folhas caíram com o vento. ram-se por muito tempo na baía anoitecida.
- companhia: Ficarei com meus pais.
- concessão: Apesar de você, serei feliz. O vocativo é um termo que serve para chamar, invocar
- conformidade: Fez tudo conforme o combinado. ou interpelar um ouvinte real ou hipotético, não mantendo
- dúvida: Talvez ainda chova. relação sintática com outro termo da oração. A função de
- fim: Estudou para o exame. vocativo é substantiva, cabendo a substantivos, pronomes
- instrumento: Fez o corte com a faca. substantivos, numerais e palavras substantivadas esse pa-
- intensidade: Falava bastante.
pel na linguagem.
- lugar: Vou à cidade.
João, venha comigo!
- matéria: Este prato é feito de porcelana.
Traga-me doces, minha menina!
- meio: Viajarei de trem.
- modo: Foram recrutados a dedo.
- negação: Não há ninguém que mereça.
- tempo: Ontem à tarde encontrou o velho amigo. Questões

O adjunto adnominal é o termo acessório que deter- 1-) (CASAL/AL - ADMINISTRADOR DE REDE - COPEVE/
mina, especifica ou explica um substantivo. É uma função UFAL/2014 - adaptada)
adjetiva, pois são os adjetivos e as locuções adjetivas que
exercem o papel de adjunto adnominal na oração. Também
atuam como adjuntos adnominais os artigos, os numerais
e os pronomes adjetivos.
O poeta inovador enviou dois longos trabalhos ao seu
amigo de infância.

O adjunto adnominal se liga diretamente ao substan-


tivo a que se refere, sem participação do verbo. Já o predi-
cativo do objeto se liga ao objeto por meio de um verbo.
O poeta português deixou uma obra originalíssima.
O poeta deixou-a.
(originalíssima não precisou ser repetida, portanto: ad-
junto adnominal)

O poeta português deixou uma obra inacabada. O cartaz acima divulga a peça de teatro “Quem tem
O poeta deixou-a inacabada. medo de Virginia Woolf?” escrita pelo norte-americano
(inacabada precisou ser repetida, então: predicativo do Edward Albee. O termo “de Virginia Woolf”, do título em
objeto)
português da peça, funciona como:
A) objeto indireto.
Enquanto o complemento nominal se relaciona a um
B) complemento nominal.
substantivo, adjetivo ou advérbio, o adjunto adnominal se
relaciona apenas ao substantivo. C) adjunto adnominal.
D) adjunto adverbial.
O aposto é um termo acessório que permite ampliar, E) agente da passiva.
explicar, desenvolver ou resumir a ideia contida em um ter-
mo que exerça qualquer função sintática: Ontem, segunda- 1-) O termo complementa a palavra “medo”, que é
feira, passei o dia mal-humorado. substantivo (nome – nominal). Portanto é um complemen-
to nominal. O verbo “ter” tem como complemento verbal
Segunda-feira é aposto do adjunto adverbial de tempo (objeto) a palavra “medo”, que exerce a função sintática de
“ontem”. O aposto é sintaticamente equivalente ao termo objeto direto.
que se relaciona porque poderia substituí-lo: Segunda-feira RESPOSTA: “B”.
passei o dia mal-humorado.

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LÍNGUA PORTUGUESA

2-) (TRT/AL - ANALISTA JUDICIÁRIO - FCC/2014) Coordenadas Assindéticas


... que acompanham as fronteiras ocidentais chinesas...
O verbo que, no contexto, exige o mesmo tipo de com- São orações coordenadas entre si e que não são liga-
plemento que o da frase acima está em: das através de nenhum conectivo. Estão apenas justapos-
(A) A Rota da Seda nunca foi uma rota única... tas.
(B) Esses caminhos floresceram durante os primórdios Entrei na sala, deitei-me no sofá, adormeci.
da Idade Média.
(C) ... viajavam por cordilheiras... Coordenadas Sindéticas
(D) ... até cair em desuso, seis séculos atrás.
(E) O maquinista empurra a manopla do acelerador. Ao contrário da anterior, são orações coordenadas en-
tre si, mas que são ligadas através de uma conjunção coor-
2-) Acompanhar é transitivo direto (acompanhar quem denativa, que dará à oração uma classificação. As orações
ou o quê - não há preposição): coordenadas sindéticas são classificadas em cinco tipos:
A = foi = verbo de ligação (ser) – não há complemento, aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e explicati-
mas sim, predicativo do sujeito (rota única); vas.
B = floresceram = intransitivo (durante os primórdios =
adjunto adverbial); ** Dica: Memorize SINdética = SIM, tem conjunção!
C = viajavam = intransitivo (por cordilheiras = adjunto Orações Coordenadas Sindéticas Aditivas: suas prin-
adverbial); cipais conjunções são: e, nem, não só... mas também, não
D = cair = intransitivo; só... como, assim... como.
E = empurra = transitivo direto (empurrar quem ou o Nem comprei o protetor solar nem fui à praia.
quê?) Comprei o protetor solar e fui à praia.
RESPOSTA: “E”.
Orações Coordenadas Sindéticas Adversativas: suas
Período Composto por Coordenação principais conjunções são: mas, contudo, todavia, entretan-
to, porém, no entanto, ainda, assim, senão.
O período composto se caracteriza por possuir mais de Fiquei muito cansada, contudo me diverti bastante.
uma oração em sua composição. Sendo assim: Li tudo, porém não entendi!
- Eu irei à praia. (Período Simples = um verbo, uma
oração) Orações Coordenadas Sindéticas Alternativas: suas
- Estou comprando um protetor solar, depois irei à principais conjunções são: ou... ou; ora...ora; quer...quer;
praia. (Período Composto =locução verbal + verbo, duas seja...seja.
orações) Ou uso o protetor solar, ou uso o óleo bronzeador.
- Já me decidi: só irei à praia, se antes eu comprar
um protetor solar. (Período Composto = três verbos, três Orações Coordenadas Sindéticas Conclusivas: suas
orações). principais conjunções são: logo, portanto, por fim, por con-
seguinte, consequentemente, pois (posposto ao verbo).
Há dois tipos de relações que podem se estabelecer Passei no concurso, portanto comemorarei!
entre as orações de um período composto: uma relação de A situação é delicada; devemos, pois, agir.
coordenação ou uma relação de subordinação.
Duas orações são coordenadas quando estão juntas Orações Coordenadas Sindéticas Explicativas: suas
em um mesmo período, (ou seja, em um mesmo bloco de principais conjunções são: isto é, ou seja, a saber, na verda-
informações, marcado pela pontuação final), mas têm, am- de, pois (anteposto ao verbo).
bas, estruturas individuais, como é o exemplo de: Não fui à praia, pois queria descansar durante o Do-
Estou comprando um protetor solar, depois irei à praia. mingo.
(Período Composto) Maria chorou porque seus olhos estão vermelhos.
Podemos dizer:
1. Estou comprando um protetor solar. Período Composto Por Subordinação
2. Irei à praia.
Separando as duas, vemos que elas são independen- Quero que você seja aprovado!
tes. Tal período é classificado como Período Composto Oração principal oração subordinada
por Coordenação.
Quanto à classificação das orações coordenadas, te- Observe que na oração subordinada temos o verbo
mos dois tipos: Coordenadas Assindéticas e Coordenadas “seja”, que está conjugado na terceira pessoa do singular
Sindéticas. do presente do subjuntivo, além de ser introduzida por
conjunção. As orações subordinadas que apresentam ver-
bo em qualquer dos tempos finitos (tempos do modo do
indicativo, subjuntivo e imperativo) e são iniciadas por con-
junção, chamam-se orações desenvolvidas ou explícitas.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Podemos modificar o período acima. Veja: * Atenção: Observe que a oração subordinada subs-
tantiva pode ser substituída pelo pronome “isso”. Assim,
Quero ser aprovado. temos um período simples:
Oração Principal Oração Subordinada É fundamental isso ou Isso é fundamental.
Desta forma, a oração correspondente a “isso” exercerá
A análise das orações continua sendo a mesma: “Que- a função de sujeito.
ro” é a oração principal, cujo objeto direto é a oração su- Veja algumas estruturas típicas que ocorrem na oração
bordinada “ser aprovado”. Observe que a oração subordi- principal:
nada apresenta agora verbo no infinitivo (ser). Além disso,
a conjunção “que”, conectivo que unia as duas orações, - Verbos de ligação + predicativo, em construções do
desapareceu. As orações subordinadas cujo verbo surge tipo: É bom - É útil - É conveniente - É certo - Parece certo - É
numa das formas nominais (infinitivo, gerúndio ou particí- claro - Está evidente - Está comprovado
pio) chamamos orações reduzidas ou implícitas. É bom que você compareça à minha festa.
* Observação: as orações reduzidas não são introdu-
- Expressões na voz passiva, como: Sabe-se, Soube-se,
zidas por conjunções nem pronomes relativos. Podem ser,
Conta-se, Diz-se, Comenta-se, É sabido, Foi anunciado, Ficou
eventualmente, introduzidas por preposição.
provado.
Sabe-se que Aline não gosta de Pedro.
1-) Orações Subordinadas Substantivas

A oração subordinada substantiva tem valor de subs- - Verbos como: convir - cumprir - constar - admirar -
tantivo e vem introduzida, geralmente, por conjunção inte- importar - ocorrer - acontecer
grante (que, se). Convém que não se atrase na entrevista.

Não sei se sairemos hoje. Observação: quando a oração subordinada substanti-


Oração Subordinada Substantiva va é subjetiva, o verbo da oração principal está sempre na
3.ª pessoa do singular.
Temos medo de que não sejamos aprovados.
Oração Subordinada Substantiva b) Objetiva Direta = exerce função de objeto direto
do verbo da oração principal:
Os pronomes interrogativos (que, quem, qual) também
introduzem as orações subordinadas substantivas, bem Todos querem sua aprovação no concurso.
como os advérbios interrogativos (por que, quando, onde, Objeto Direto
como).
Todos querem que você seja aprovado. (Todos
O garoto perguntou qual seu nome. querem isso)
Oração Subordinada Subs- Oração Principal oração Subordinada Substantiva
tantiva Objetiva Direta

Não sabemos quando ele virá. As orações subordinadas substantivas objetivas diretas
Oração Subordinada Substan- (desenvolvidas) são iniciadas por:
tiva - Conjunções integrantes “que” (às vezes elíptica) e
“se”: A professora verificou se os alunos estavam presentes.
Classificação das Orações Subordinadas Substanti-
vas
- Pronomes indefinidos que, quem, qual, quanto (às ve-
zes regidos de preposição), nas interrogações indiretas: O
Conforme a função que exerce no período, a oração
pessoal queria saber quem era o dono do carro importado.
subordinada substantiva pode ser:
a) Subjetiva - exerce a função sintática de sujeito do
verbo da oração principal: - Advérbios como, quando, onde, por que, quão (às ve-
zes regidos de preposição), nas interrogações indiretas: Eu
É fundamental o seu comparecimento à reu- não sei por que ela fez isso.
nião.
Sujeito c) Objetiva Indireta = atua como objeto indireto do
verbo da oração principal. Vem precedida de preposição.
É fundamental que você compareça à
reunião. Meu pai insiste em meu estudo.
Oração Principal Oração Subordinada Substan- Objeto Indireto
tiva Subjetiva

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LÍNGUA PORTUGUESA

Meu pai insiste em que eu estude. (Meu pai insiste 2-) Orações Subordinadas Adjetivas
nisso)
Oração Subordinada Substantiva Uma oração subordinada adjetiva é aquela que possui
Objetiva Indireta valor e função de adjetivo, ou seja, que a ele equivale. As
orações vêm introduzidas por pronome relativo e exercem
Observação: em alguns casos, a preposição pode estar a função de adjunto adnominal do antecedente.
elíptica na oração.
Marta não gosta (de) que a chamem de senhora. Esta foi uma redação bem-sucedida.
Oração Subordinada Substantiva Substantivo Adjetivo (Adjunto Adno-
Objetiva Indireta minal)

d) Completiva Nominal = completa um nome que O substantivo “redação” foi caracterizado pelo adjetivo
pertence à oração principal e também vem marcada por “bem-sucedida”. Neste caso, é possível formarmos outra
preposição. construção, a qual exerce exatamente o mesmo papel:

Sentimos orgulho de seu comportamento. Esta foi uma redação que fez sucesso.
Complemento Nominal Oração Principal Oração Subordinada
Adjetiva
Sentimos orgulho de que você se comportou. (Sen-
timos orgulho disso.) Perceba que a conexão entre a oração subordinada
Oração Subordinada Substantiva adjetiva e o termo da oração principal que ela modifica é
Completiva Nominal feita pelo pronome relativo “que”. Além de conectar (ou
relacionar) duas orações, o pronome relativo desempenha
Lembre-se: as orações subordinadas substantivas ob- uma função sintática na oração subordinada: ocupa o pa-
jetivas indiretas integram o sentido de um verbo, enquanto pel que seria exercido pelo termo que o antecede (no caso,
que orações subordinadas substantivas completivas nomi- “redação” é sujeito, então o “que” também funciona como
nais integram o sentido de um nome. Para distinguir uma sujeito).
da outra, é necessário levar em conta o termo complemen-
tado. Esta é a diferença entre o objeto indireto e o com-
Observação: para que dois períodos se unam num
plemento nominal: o primeiro complementa um verbo; o
período composto, altera-se o modo verbal da segunda
segundo, um nome.
oração.
e) Predicativa = exerce papel de predicativo do sujei-
Atenção: Vale lembrar um recurso didático para re-
to do verbo da oração principal e vem sempre depois do
conhecer o pronome relativo “que”: ele sempre pode ser
verbo ser.
substituído por: o qual - a qual - os quais - as quais
Nosso desejo era sua desistência. Refiro-me ao aluno que é estudioso. = Esta oração é
Predicativo do Sujeito equivalente a: Refiro-me ao aluno o qual estuda.

Nosso desejo era que ele desistisse. (Nosso desejo Forma das Orações Subordinadas Adjetivas
era isso)
Oração Subordinada Substantiva Quando são introduzidas por um pronome relativo e
Predicativa apresentam verbo no modo indicativo ou subjuntivo, as
orações subordinadas adjetivas são chamadas desenvolvi-
Observação: em certos casos, usa-se a preposição ex- das. Além delas, existem as orações subordinadas adjetivas
pletiva “de” para realce. Veja o exemplo: A impressão é de reduzidas, que não são introduzidas por pronome relativo
que não fui bem na prova. (podem ser introduzidas por preposição) e apresentam o
verbo numa das formas nominais (infinitivo, gerúndio ou
f) Apositiva = exerce função de aposto de algum ter- particípio).
mo da oração principal.
Ele foi o primeiro aluno que se apresentou.
Fernanda tinha um grande sonho: a felicidade! Ele foi o primeiro aluno a se apresentar.
Aposto
No primeiro período, há uma oração subordinada ad-
Fernanda tinha um grande sonho: ser feliz! jetiva desenvolvida, já que é introduzida pelo pronome re-
Oração subordinada lativo “que” e apresenta verbo conjugado no pretérito per-
substantiva apositiva reduzida de infinitivo feito do indicativo. No segundo, há uma oração subordina-
(Fernanda tinha um grande sonho: isso) da adjetiva reduzida de infinitivo: não há pronome relativo
e seu verbo está no infinitivo.
* Dica: geralmente há a presença dos dois pontos! (:)

69
LÍNGUA PORTUGUESA

Classificação das Orações Subordinadas Adjetivas Naquele momento, senti uma das maiores emoções de
minha vida.
Na relação que estabelecem com o termo que caracteri- Quando vi o mar, senti uma das maiores emoções de
zam, as orações subordinadas adjetivas podem atuar de duas minha vida.
maneiras diferentes. Há aquelas que restringem ou especifi-
cam o sentido do termo a que se referem, individualizando-o. No primeiro período, “naquele momento” é um adjun-
Nestas orações não há marcação de pausa, sendo chamadas to adverbial de tempo, que modifica a forma verbal “sen-
subordinadas adjetivas restritivas. Existem também orações ti”. No segundo período, este papel é exercido pela oração
que realçam um detalhe ou amplificam dados sobre o ante-
“Quando vi o mar”, que é, portanto, uma oração subordi-
cedente, que já se encontra suficientemente definido. Estas
nada adverbial temporal. Esta oração é desenvolvida, pois
orações denominam-se subordinadas adjetivas explicativas.
Exemplo 1: é introduzida por uma conjunção subordinativa (quando)
Jamais teria chegado aqui, não fosse um homem que e apresenta uma forma verbal do modo indicativo (“vi”, do
passava naquele momento. pretérito perfeito do indicativo). Seria possível reduzi-la,
Oração obtendo-se:
Subordinada Adjetiva Restritiva Ao ver o mar, senti uma das maiores emoções de minha
vida.
No período acima, observe que a oração em destaque
restringe e particulariza o sentido da palavra “homem”: tra- A oração em destaque é reduzida, apresentando uma
ta-se de um homem específico, único. A oração limita o uni- das formas nominais do verbo (“ver” no infinitivo) e não é
verso de homens, isto é, não se refere a todos os homens, introduzida por conjunção subordinativa, mas sim por uma
mas sim àquele que estava passando naquele momento. preposição (“a”, combinada com o artigo “o”).

Exemplo 2: Observação: a classificação das orações subordinadas


O homem, que se considera racional, muitas vezes age adverbiais é feita do mesmo modo que a classificação dos
animalescamente. adjuntos adverbiais. Baseia-se na circunstância expressa
Oração Subordinada Adjetiva Explicativa pela oração.
Agora, a oração em destaque não tem sentido restritivo
Orações Subordinadas Adverbiais
em relação à palavra “homem”; na verdade, apenas explici-
ta uma ideia que já sabemos estar contida no conceito de
“homem”. a) Causal = A ideia de causa está diretamente ligada
àquilo que provoca um determinado fato, ao motivo do
** Saiba que: A oração subordinada adjetiva explicati- que se declara na oração principal. Principal conjunção su-
va é separada da oração principal por uma pausa que, na bordinativa causal: porque. Outras conjunções e locuções
escrita, é representada pela vírgula. É comum, por isso, que causais: como (sempre introduzido na oração anteposta à
a pontuação seja indicada como forma de diferenciar as ora- oração principal), pois, pois que, já que, uma vez que, visto
ções explicativas das restritivas; de fato, as explicativas vêm que.
sempre isoladas por vírgulas; as restritivas, não. As ruas ficaram alagadas porque a chuva foi muito forte.
Já que você não vai, eu também não vou.
3-) Orações Subordinadas Adverbiais
A diferença entre a subordinada adverbial causal e a
Uma oração subordinada adverbial é aquela que exerce sindética explicativa é que esta “explica” o fato que aconte-
a função de adjunto adverbial do verbo da oração principal. ceu na oração com a qual ela se relaciona; aquela apresenta
Assim, pode exprimir circunstância de tempo, modo, fim, a “causa” do acontecimento expresso na oração à qual ela
causa, condição, hipótese, etc. Quando desenvolvida, vem se subordina. Repare:
introduzida por uma das conjunções subordinativas (com
1-) Faltei à aula porque estava doente.
exclusão das integrantes, que introduzem orações subor-
2-) Melissa chorou, porque seus olhos estão vermelhos.
dinadas substantivas). Classifica-se de acordo com a con-
junção ou locução conjuntiva que a introduz (assim como Em 1, a oração destacada aconteceu primeiro que o
acontece com as coordenadas sindéticas). fato expresso na oração anterior, ou seja, o fato de estar
doente impediu-me de ir à aula. No exemplo 2, a oração
Durante a madrugada, eu olhei você dormindo. sublinhada relata um fato que aconteceu depois, já que
Oração Subordinada Adverbial primeiro ela chorou, depois seus olhos ficaram vermelhos.
b) Consecutiva = exprime um fato que é consequên-
A oração em destaque agrega uma circunstância de cia, é efeito do que se declara na oração principal. São in-
tempo. É, portanto, chamada de oração subordinada adver- troduzidas pelas conjunções e locuções: que, de forma que,
bial temporal. Os adjuntos adverbiais são termos acessórios de sorte que, tanto que, etc., e pelas estruturas tão...que, tan-
que indicam uma circunstância referente, via de regra, a to...que, tamanho...que.
um verbo. A classificação do adjunto adverbial depende da Principal conjunção subordinativa consecutiva: que
exata compreensão da circunstância que exprime. (precedido de tal, tanto, tão, tamanho)

70
LÍNGUA PORTUGUESA

Nunca abandonou seus ideais, de sorte que acabou con- g) Final = indica a intenção, a finalidade daquilo que
cretizando-os. se declara na oração principal. Principal conjunção subordi-
Não consigo ver televisão sem bocejar. (Oração Reduzi- nativa final: a fim de. Outras conjunções finais: que, porque
da de Infinitivo) (= para que) e a locução conjuntiva para que.
Aproximei-me dela a fim de que ficássemos amigas.
c) Condicional = Condição é aquilo que se impõe Estudarei muito para que eu me saia bem na prova.
como necessário para a realização ou não de um fato. As
orações subordinadas adverbiais condicionais exprimem o h) Proporcional = exprime ideia de proporção, ou
que deve ou não ocorrer para que se realize - ou deixe de seja, um fato simultâneo ao expresso na oração principal.
se realizar - o fato expresso na oração principal. Principal locução conjuntiva subordinativa proporcional: à
Principal conjunção subordinativa condicional: se. Ou- proporção que. Outras locuções conjuntivas proporcio-
tras conjunções condicionais: caso, contanto que, desde que, nais: à medida que, ao passo que. Há ainda as estruturas:
salvo se, exceto se, a não ser que, a menos que, sem que, quanto maior...(maior), quanto maior...(menor), quanto me-
uma vez que (seguida de verbo no subjuntivo). nor...(maior), quanto menor...(menor), quanto mais...(mais),
Se o regulamento do campeonato for bem elaborado, quanto mais...(menos), quanto menos...(mais), quanto me-
certamente o melhor time será campeão. nos...(menos).
Caso você saia, convide-me. À proporção que estudávamos mais questões acertáva-
mos.
d) Concessiva = indica concessão às ações do verbo À medida que lia mais culto ficava.
da oração principal, isto é, admitem uma contradição ou
um fato inesperado. A ideia de concessão está diretamente i) Temporal = acrescenta uma ideia de tempo ao fato
ligada ao contraste, à quebra de expectativa. Principal con- expresso na oração principal, podendo exprimir noções de
junção subordinativa concessiva: embora. Utiliza-se tam- simultaneidade, anterioridade ou posterioridade. Principal
bém a conjunção: conquanto e as locuções ainda que, ainda conjunção subordinativa temporal: quando. Outras con-
quando, mesmo que, se bem que, posto que, apesar de que. junções subordinativas temporais: enquanto, mal e locu-
Só irei se ele for. ções conjuntivas: assim que, logo que, todas as vezes que,
A oração acima expressa uma condição: o fato de “eu”
antes que, depois que, sempre que, desde que, etc.
ir só se realizará caso essa condição seja satisfeita.
Assim que Paulo chegou, a reunião acabou.
Compare agora com:
Terminada a festa, todos se retiraram. (= Quando termi-
Irei mesmo que ele não vá.
nou a festa) (Oração Reduzida de Particípio)
A distinção fica nítida; temos agora uma concessão:
Fontes de pesquisa:
irei de qualquer maneira, independentemente de sua ida. A
http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/fra-
oração destacada é, portanto, subordinada adverbial con-
se-periodo-e-oracao
cessiva.
Observe outros exemplos: SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
Embora fizesse calor, levei agasalho. coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Foi aprovado sem estudar (= sem que estudasse / em-
bora não estudasse). (reduzida de infinitivo)

e) Comparativa= As orações subordinadas adverbiais CRASE


comparativas estabelecem uma comparação com a ação
indicada pelo verbo da oração principal. Principal conjun-
ção subordinativa comparativa: como.
Ele dorme como um urso. (como um urso dorme) A crase se caracteriza como a fusão de duas vogais
Você age como criança. (age como uma criança age) idênticas, relacionadas ao emprego da preposição “a” com
o artigo feminino a(s), com o “a” inicial referente aos pro-
*geralmente há omissão do verbo. nomes demonstrativos – aquela(s), aquele(s), aquilo e com
o “a” pertencente ao pronome relativo a qual (as quais).
f) Conformativa = indica ideia de conformidade, ou Casos estes em que tal fusão encontra-se demarcada pelo
seja, apresenta uma regra, um modelo adotado para a acento grave ( ` ): à(s), àquela, àquele, àquilo, à qual, às
execução do que se declara na oração principal. Principal quais.
conjunção subordinativa conformativa: conforme. Outras O uso do acento indicativo de crase está condicionado
conjunções conformativas: como, consoante e segundo (to- aos nossos conhecimentos acerca da regência verbal e no-
das com o mesmo valor de conforme). minal, mais precisamente ao termo regente e termo regido.
Fiz o bolo conforme ensina a receita. Ou seja, o termo regente é o verbo - ou nome - que exige
Consoante reza a Constituição, todos os cidadãos têm complemento regido pela preposição “a”, e o termo regido
direitos iguais. é aquele que completa o sentido do termo regente, admi-
tindo a anteposição do artigo a(s).

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LÍNGUA PORTUGUESA

Refiro-me a (a) funcionária antiga, e não a (a)quela con- * A letra “a” que acompanha locuções femininas (ad-
tratada recentemente. verbiais, prepositivas e conjuntivas) recebe o acento grave:
Após a junção da preposição com o artigo (destacados - locuções adverbiais: às vezes, à tarde, à noite, às pres-
entre parênteses), temos: sas, à vontade...
Refiro-me à funcionária antiga, e não àquela contratada - locuções prepositivas: à frente, à espera de, à procura
recentemente. de...
- locuções conjuntivas: à proporção que, à medida que.
O verbo referir, de acordo com sua transitividade, clas-
sifica-se como transitivo indireto, pois sempre nos referi- * Cuidado: quando as expressões acima não exerce-
mos a alguém ou a algo. Houve a fusão da preposição a + o rem a função de locuções não ocorrerá crase. Repare:
artigo feminino (à) e com o artigo feminino a + o pronome Eu adoro a noite!
demonstrativo aquela (àquela). Adoro o quê? Adoro quem? O verbo “adoro” requer
objeto direto, no caso, a noite. Aqui, o “a” é artigo, não
Observação importante: Alguns recursos servem de preposição.
ajuda para que possamos confirmar a ocorrência ou não da
crase. Eis alguns: Casos passíveis de nota:
a) Substitui-se a palavra feminina por uma masculina
equivalente. Caso ocorra a combinação a + o(s), a crase *a crase é facultativa diante de nomes próprios femini-
está confirmada. nos: Entreguei o caderno a (à) Eliza.
Os dados foram solicitados à diretora.
Os dados foram solicitados ao diretor. *também é facultativa diante de pronomes possessivos
femininos: O diretor fez referência a (à) sua empresa.
b) No caso de nomes próprios geográficos, substitui-se
o verbo da frase pelo verbo voltar. Caso resulte na expres- *facultativa em locução prepositiva “até a”: A loja ficará
são “voltar da”, há a confirmação da crase. aberta até as (às) dezoito horas.
Faremos uma visita à Bahia.
Faz dois dias que voltamos da Bahia. (crase confirmada) * Constata-se o uso da crase se as locuções preposi-
tivas à moda de, à maneira de apresentarem-se implícitas,
Não me esqueço da viagem a Roma.
mesmo diante de nomes masculinos: Tenho compulsão por
Ao voltar de Roma, relembrarei os belos momentos ja-
comprar sapatos à Luis XV. (à moda de Luís XV)
mais vividos.
* Não se efetiva o uso da crase diante da locução ad-
Atenção: Nas situações em que o nome geográfico se
verbial “a distância”: Na praia de Copacabana, observamos
apresentar modificado por um adjunto adnominal, a crase
a queima de fogos a distância.
está confirmada.
Atendo-me à bela Fortaleza, senti saudades de suas
praias. Entretanto, se o termo vier determinado, teremos uma
locução prepositiva, aí sim, ocorrerá crase: O pedestre foi
** Dica: Use a regrinha “Vou A volto DA, crase HÁ; vou arremessado à distância de cem metros.
A volto DE, crase PRA QUÊ?” Exemplo: Vou a Campinas. =
Volto de Campinas. (crase pra quê?) - De modo a evitar o duplo sentido – a ambiguidade -,
Vou à praia. = Volto da praia. (crase há!) faz-se necessário o emprego da crase.
ATENÇÃO: quando o nome de lugar estiver especifica- Ensino à distância.
do, ocorrerá crase. Veja: Ensino a distância.
Retornarei à São Paulo dos bandeirantes. = mesmo
que, pela regrinha acima, seja a do “VOLTO DE” * Em locuções adverbiais formadas por palavras repeti-
Irei à Salvador de Jorge Amado. das, não há ocorrência da crase.
Ela ficou frente a frente com o agressor.
* A letra “a” dos pronomes demonstrativos aquele(s), Eu o seguirei passo a passo.
aquela(s) e aquilo receberão o acento grave se o termo re-
gente exigir complemento regido da preposição “a”. Casos em que não se admite o emprego da crase:
Entregamos a encomenda àquela menina.
(preposição + pronome demonstrativo) * Antes de vocábulos masculinos.
As produções escritas a lápis não serão corrigidas.
Iremos àquela reunião. Esta caneta pertence a Pedro.
(preposição + pronome demonstrativo)
* Antes de verbos no infinitivo.
Sua história é semelhante às que eu ouvia quando crian- Ele estava a cantar.
ça. (àquelas que eu ouvia quando criança) Começou a chover.
(preposição + pronome demonstrativo)

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LÍNGUA PORTUGUESA

* Antes de numeral. Questões


O número de aprovados chegou a cem.
Faremos uma visita a dez países. 1-) (POLÍCIA CIVIL/SC – AGENTE DE POLÍCIA – ACA-
FE/2014) Assinale a alternativa que preenche corretamente
Observação: as lacunas da frase a seguir.
- Nos casos em que o numeral indicar horas – funcio- Quando________ três meses disse-me que iria _________
nando como uma locução adverbial feminina – ocorrerá Grécia para visitar ___ sua tia, vi-me na obrigação de ajudá
crase: Os passageiros partirão às dezenove horas. -la _______ resgatar as milhas _________ quais tinha direito.
A-) a - há - à - à - às
- Diante de numerais ordinais femininos a crase está B-) há - à - a - a – às
confirmada, visto que estes não podem ser empregados C-) há - a - há - à - as
sem o artigo: As saudações foram direcionadas à primeira D-) a - à - a - à - às
aluna da classe. E-) a - a - à - há – as
- Não ocorrerá crase antes da palavra casa, quan- 1-) Quando HÁ (sentido de tempo) três meses disse-
do essa não se apresentar determinada: Chegamos todos
me que iria À (“vou a, volto da, crase há!”) Grécia para vi-
exaustos a casa.
sitar A (artigo) sua tia, vi-me na obrigação de ajudá-la A
Entretanto, se vier acompanhada de um adjunto ad-
(ajudar “ela” a fazer algo) resgatar as milhas ÀS quais tinha
nominal, a crase estará confirmada: Chegamos todos exaus-
direito (tinha direito a quê? às milhas – regência nominal).
tos à casa de Marcela.
Teremos: há, à, a, a, às.
- não há crase antes da palavra “terra”, quando essa RESPOSTA: “B”.
indicar chão firme: Quando os navegantes regressaram a
terra, já era noite. 2-) (EMPLASA/SP – ANALISTA JURÍDICO – DIREITO –
Contudo, se o termo estiver precedido por um deter- VUNESP/2014)
minante ou referir-se ao planeta Terra, ocorrerá crase. A ministra de Direitos Humanos instituiu grupo de tra-
Paulo viajou rumo à sua terra natal. balho para proceder _____ medidas necessárias _____ exu-
O astronauta voltou à Terra. mação dos restos mortais do ex-presidente João Goulart,
sepultado em São Borja (RS), em 1976. Com a exumação de
- não ocorre crase antes de pronomes que requerem o Jango, o governo visa esclarecer se o ex-presidente morreu
uso do artigo. de causas naturais, ou seja, devido ____ uma parada cardía-
Os livros foram entregues a mim. ca – que tem sido a versão considerada oficial até hoje –, ou
Dei a ela a merecida recompensa. se sua morte se deve ______ envenenamento.
(http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,-
Observação: Pelo fato de os pronomes de tratamento governo-cria-grupo-exumar--restos-mortais-de- jan-
relativos à senhora, senhorita e madame admitirem artigo, go,1094178,0.htm 07. 11.2013. Adaptado)
o uso da crase está confirmado no “a” que os antecede, no
caso de o termo regente exigir a preposição. Segundo a norma-padrão da língua portuguesa, as la-
Todos os méritos foram conferidos à senhorita Patrícia. cunas da frase devem ser completadas, correta e respecti-
vamente, por
*não ocorre crase antes de nome feminino utilizado em (A) a ... à ... a ... a
sentido genérico ou indeterminado: (B) as ... à ... a ... à
Estamos sujeitos a críticas. (C) às ... a ... à ... a
Refiro-me a conversas paralelas. (D) à ... à ... à ... a
(E) a ... a ... a ... à
Fontes de pesquisa:
http://www.portugues.com.br/gramatica/o-uso-crase-.
2-) A ministra de Direitos Humanos instituiu grupo de
html
trabalho para proceder a medidas (palavra no plural, ge-
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. neralizando) necessárias à (regência nominal pede prepo-
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cere- sição) exumação dos restos mortais do ex-presidente João
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: Goulart, sepultado em São Borja (RS), em 1976. Com a exu-
Saraiva, 2010. mação de Jango, o governo visa esclarecer se o ex-presi-
dente morreu de causas naturais, ou seja, devido a uma
(artigo indefinido) parada cardíaca – que tem sido a versão
considerada oficial até hoje –, ou se sua morte se deve a
(regência verbal) envenenamento. A / à / a / a
RESPOSTA: “A”.

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LÍNGUA PORTUGUESA

3-) (SABESP/SP – ADVOGADO – FCC/2014) 2) Orações iniciadas por palavras interrogativas: Quem
Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores fizeram lhe disse isso?
uma escavação arqueológica nas ruínas da antiga cidade
de Tikal, na Guatemala. 3) Orações iniciadas por palavras exclamativas: Quanto
O a empregado na frase acima, imediatamente depois se ofendem!
de chegar, deverá receber o sinal indicativo de crase caso o
segmento grifado seja substituído por: 4) Orações que exprimem desejo (orações optativas):
(A) Uma tal ilação. Que Deus o ajude.
(B) Afirmações como essa.
(C) Comprovação dessa assertiva. 5) A próclise é obrigatória quando se utiliza o pronome
(D) Emitir uma opinião desse tipo. reto ou sujeito expresso:
(E) Semelhante resultado. Eu lhe entregarei o material amanhã.
Tu sabes cantar?
3-)
(A) Uma tal ilação – chegar a uma (não há acento grave Mesóclise = É a colocação pronominal no meio do
antes de artigo) verbo. A mesóclise é usada:
(B) Afirmações como essa – chegar a afirmações (antes
de palavra no plural e o “a” no singular) Quando o verbo estiver no futuro do presente ou fu-
(C) Comprovação dessa assertiva – chegar à compro- turo do pretérito, contanto que esses verbos não estejam
vação precedidos de palavras que exijam a próclise. Exemplos:
(D) Emitir uma opinião desse tipo – chegar a emitir Realizar-se-á, na próxima semana, um grande evento
(verbo no infinitivo) em prol da paz no mundo.
(E) Semelhante resultado – chegar a semelhante (pala- Repare que o pronome está “no meio” do verbo “rea-
vra masculina) lizará”:
RESPOSTA: “C”. realizar – SE – á. Se houvesse na oração alguma palavra
que justificasse o uso da próclise, esta prevaleceria. Veja:
Não se realizará...
Não fossem os meus compromissos, acompanhar-te-ia
nessa viagem.
COLOCAÇÃO PRONOMINAL (com presença de palavra que justifique o uso de pró-
clise: Não fossem os meus compromissos, EU te acompanha-
ria nessa viagem).
Colocação Pronominal trata da correta colocação dos
Ênclise = É a colocação pronominal depois do verbo. A
pronomes oblíquos átonos na frase. ênclise é usada quando a próclise e a mesóclise não forem
possíveis:
* Dica: Pronome Oblíquo é aquele que exerce a função
de complemento verbal (objeto). Por isso, memorize: 1) Quando o verbo estiver no imperativo afirmativo:
OBlíquo = OBjeto! Quando eu avisar, silenciem-se todos.
Embora na linguagem falada a colocação dos prono- 2) Quando o verbo estiver no infinitivo impessoal: Não
mes não seja rigorosamente seguida, algumas normas de- era minha intenção machucá-la.
vem ser observadas na linguagem escrita.
3) Quando o verbo iniciar a oração. (até porque não se
Próclise = É a colocação pronominal antes do verbo. A inicia período com pronome oblíquo).
próclise é usada: Vou-me embora agora mesmo.
Levanto-me às 6h.
1) Quando o verbo estiver precedido de palavras que
atraem o pronome para antes do verbo. São elas: 4) Quando houver pausa antes do verbo: Se eu passo
a) Palavras de sentido negativo: não, nunca, ninguém, no concurso, mudo-me hoje mesmo!
jamais, etc.: Não se desespere!
b) Advérbios: Agora se negam a depor. 5-) Quando o verbo estiver no gerúndio: Recusou a pro-
c) Conjunções subordinativas: Espero que me expliquem posta fazendo-se de desentendida.
tudo!
d) Pronomes relativos: Venceu o concurseiro que se es- Colocação pronominal nas locuções verbais
forçou. - após verbo no particípio = pronome depois do verbo
e) Pronomes indefinidos: Poucos te deram a oportuni- auxiliar (e não depois do particípio):
dade. Tenho me deliciado com a leitura!
Eu tenho me deliciado com a leitura!
f) Pronomes demonstrativos: Isso me magoa muito. Eu me tenho deliciado com a leitura!

74
LÍNGUA PORTUGUESA

- não convém usar hífen nos tempos compostos e nas 1-) Primeiramente identifiquemos se temos objeto di-
locuções verbais: reto ou indireto. Reconhece o quê? Resposta: a informali-
Vamos nos unir! dade. Pergunta e resposta sem preposição, então: objeto
Iremos nos manifestar. direto. Não utilizaremos “lhe” – que é para objeto indireto.
Como temos a presença do “que” – independente de sua
- quando há um fator para próclise nos tempos com- função no período (pronome relativo, no caso!) – a regra
postos ou locuções verbais: opção pelo uso do pronome pede próclise (pronome oblíquo antes do verbo): que a re-
oblíquo “solto” entre os verbos = Não vamos nos preocupar conhecem.
(e não: “não nos vamos preocupar”). RESPOSTA: “A”.

Observações importantes: 2-) (SABESP – TECNÓLOGO – FCC/2014) A substitui-


ção do elemento grifado pelo pronome correspondente foi
Emprego de o, a, os, as realizada de modo INCORRETO em:
1) Em verbos terminados em vogal ou ditongo oral, os (A) que permitiu à civilização = que lhe permitiu
pronomes: o, a, os, as não se alteram. (B) envolveu diferentes fatores = envolveu-os
Chame-o agora. (C) para fazer a dragagem = para fazê-la
Deixei-a mais tranquila. (D) que desviava a água = que lhe desviava
(E) supriam a necessidade = supriam-na
2) Em verbos terminados em r, s ou z, estas consoantes
finais alteram-se para lo, la, los, las. Exemplos: 2-)
(Encontrar) Encontrá-lo é o meu maior sonho. (A) que permitiu à civilização = que lhe permitiu = cor-
(Fiz) Fi-lo porque não tinha alternativa. reta
(B) envolveu diferentes fatores = envolveu-os = correta
3) Em verbos terminados em ditongos nasais (am, em, (C) para fazer a dragagem = para fazê-la = correta
ão, õe), os pronomes o, a, os, as alteram-se para no, na, (D) que desviava a água = que lhe desviava = que a
nos, nas. desviava
Chamem-no agora. (E) supriam a necessidade = supriam-na = correta
Põe-na sobre a mesa. RESPOSTA: “D”.

* Dica: 3-) (TRT/AL - ANALISTA JUDICIÁRIO - FCC/2014)


Próclise – pró lembra pré; pré é prefixo que significa cruzando os desertos do oeste da China − que con-
“antes”! Pronome antes do verbo! tornam a Índia − adotam complexas providências
Ênclise – “en”... lembra, pelo “som”, /Ənd/ (end, em In- Fazendo-se as alterações necessárias, os segmentos
glês – que significa “fim, final!). Pronome depois do verbo! grifados acima foram corretamente substituídos por um
Mesóclise – pronome oblíquo no Meio do verbo pronome, respectivamente, em:
Pronome Oblíquo – função de objeto (A) os cruzando - que contornam-lhe - adotam-as
(B) cruzando-lhes - que contornam-na - as adotam
Fontes de pesquisa: (C) cruzando-os - que lhe contornam - adotam-lhes
http://www.portugues.com.br/gramatica/colocacao (D) cruzando-os - que a contornam - adotam-nas
-pronominal-.html (E) lhes cruzando - que contornam-a - as adotam
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. 3-) Não podemos utilizar “lhes”, que corresponde ao
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cere- objeto indireto (verbo “cruzar” pede objeto direto: cruzar
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: o quê?), portanto já desconsideramos as alternativas “B”
Saraiva, 2010. e “D”. Ao iniciarmos um parágrafo ( já que no enunciado
temos uma oração assim) devemos usar ênclise: (cruzan-
Questões do-os); na segunda oração temos um pronome relativo (dá
para substituirmos por “o qual”), o que nos obriga a usar
1-) (IBGE - SUPERVISOR DE PESQUISAS – ADMINIS- a próclise (que a contorna); “adotam” exige objeto direto
TRAÇÃO - CESGRANRIO/2014) Em “Há políticas que reco- (adotam quem ou o quê?), chegando à resposta: adotam-
nhecem a informalidade”, ao substituir o termo destacado nas (quando o verbo terminar em “m” e usarmos um pro-
por um pronome, de acordo com a norma-padrão da lín- nome oblíquo direto, lembre-se do alfabeto: jklM – N!).
gua, o trecho assume a formulação apresentada em: RESPOSTA: “D”.
A) Há políticas que a reconhecem.
B) Há políticas que reconhecem-a.
C) Há políticas que reconhecem-na.
D) Há políticas que reconhecem ela.
E) Há políticas que lhe reconhecem.

75
LÍNGUA PORTUGUESA

c) Homógrafas e homófonas simultaneamente (ou


SIGNIFICADO DAS PALAVRAS perfeitas): São palavras iguais na escrita e na pronúncia:
caminho (subst.) e caminho (verbo);
cedo (verbo) e cedo (adv.);
livre (adj.) e livre (verbo).
Semântica é o estudo da significação das palavras e
das suas mudanças de significação através do tempo ou - Parônimos = palavras com sentidos diferentes, po-
em determinada época. A maior importância está em dis- rém de formas relativamente próximas. São palavras pa-
tinguir sinônimos e antônimos (sinonímia / antonímia) e recidas na escrita e na pronúncia: cesta (receptáculo de
homônimos e parônimos (homonímia / paronímia). vime; cesta de basquete/esporte) e sesta (descanso após o
almoço), eminente (ilustre) e iminente (que está para ocor-
Sinônimos rer), osso (substantivo) e ouço (verbo), sede (substantivo e/
ou verbo “ser” no imperativo) e cede (verbo), comprimento
São palavras de sentido igual ou aproximado: alfabeto (medida) e cumprimento (saudação), autuar (processar) e
- abecedário; brado, grito - clamor; extinguir, apagar - abolir. atuar (agir), infligir (aplicar pena) e infringir (violar), deferir
Duas palavras são totalmente sinônimas quando são (atender a) e diferir (divergir), suar (transpirar) e soar (emi-
substituíveis, uma pela outra, em qualquer contexto (cara tir som), aprender (conhecer) e apreender (assimilar; apro-
e rosto, por exemplo); são parcialmente sinônimas quando, priar-se de), tráfico (comércio ilegal) e tráfego (relativo a
ocasionalmente, podem ser substituídas, uma pela outra, movimento, trânsito), mandato (procuração) e mandado
em determinado enunciado (aguardar e esperar). (ordem), emergir (subir à superfície) e imergir (mergulhar,
afundar).
Observação: A contribuição greco-latina é responsá-
vel pela existência de numerosos pares de sinônimos: ad- Hiperonímia e Hiponímia
versário e antagonista; translúcido e diáfano; semicírculo e
Hipônimos e hiperônimos são palavras que pertencem
hemiciclo; contraveneno e antídoto; moral e ética; colóquio e
a um mesmo campo semântico (de sentido), sendo o hipô-
diálogo; transformação e metamorfose; oposição e antítese.
nimo uma palavra de sentido mais específico; o hiperôni-
mo, mais abrangente.
Antônimos
O hiperônimo impõe as suas propriedades ao hipôni-
mo, criando, assim, uma relação de dependência semânti-
São palavras que se opõem através de seu significado:
ca. Por exemplo: Veículos está numa relação de hiperoní-
ordem - anarquia; soberba - humildade; louvar - censurar; mia com carros, já que veículos é uma palavra de significa-
mal - bem. do genérico, incluindo motos, ônibus, caminhões. Veículos é
um hiperônimo de carros.
Observação: A antonímia pode se originar de um pre- Um hiperônimo pode substituir seus hipônimos em
fixo de sentido oposto ou negativo: bendizer e maldizer; quaisquer contextos, mas o oposto não é possível. A utili-
simpático e antipático; progredir e regredir; concórdia e dis- zação correta dos hiperônimos, ao redigir um texto, evita a
córdia; ativo e inativo; esperar e desesperar; comunista e an- repetição desnecessária de termos.
ticomunista; simétrico e assimétrico.
Fontes de pesquisa:
Homônimos e Parônimos http://www.coladaweb.com/portugues/sinonimos,-an-
tonimos,-homonimos-e-paronimos
- Homônimos = palavras que possuem a mesma grafia SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
ou a mesma pronúncia, mas significados diferentes. Podem coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
ser Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
a) Homógrafas: são palavras iguais na escrita e dife- Saraiva, 2010.
rentes na pronúncia: Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
rego (subst.) e rego (verbo); ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
colher (verbo) e colher (subst.); XIMENES, Sérgio. Minidicionário Ediouro da Lìngua Por-
jogo (subst.) e jogo (verbo); tuguesa – 2ªed. reform. – São Paulo: Ediouro, 2000.
denúncia (subst.) e denuncia (verbo);
providência (subst.) e providencia (verbo). Denotação e Conotação

b) Homófonas: são palavras iguais na pronúncia e di- Exemplos de variação no significado das palavras:
ferentes na escrita:
acender (atear) e ascender (subir); Os domadores conseguiram enjaular a fera. (sentido li-
concertar (harmonizar) e consertar (reparar); teral)
cela (compartimento) e sela (arreio); Ele ficou uma fera quando soube da notícia. (sentido
censo (recenseamento) e senso ( juízo); figurado)
paço (palácio) e passo (andar). Aquela aluna é fera na matemática. (sentido figurado)

76
LÍNGUA PORTUGUESA

As variações nos significados das palavras ocasionam Polissemia


o sentido denotativo (denotação) e o sentido conotativo
(conotação) das palavras. Polissemia é a propriedade de uma palavra adquirir
multiplicidade de sentidos, que só se explicam dentro de
Denotação um contexto. Trata-se, realmente, de uma única palavra,
mas que abarca um grande número de significados dentro
Uma palavra é usada no sentido denotativo quando de seu próprio campo semântico.
apresenta seu significado original, independentemente Reportando-nos ao conceito de Polissemia, logo per-
do contexto em que aparece. Refere-se ao seu significado cebemos que o prefixo “poli” significa multiplicidade de
mais objetivo e comum, aquele imediatamente reconheci- algo. Possibilidades de várias interpretações levando-se em
do e muitas vezes associado ao primeiro significado que consideração as situações de aplicabilidade. Há uma infini-
aparece nos dicionários, sendo o significado mais literal da dade de exemplos em que podemos verificar a ocorrência
palavra. da polissemia:
A denotação tem como finalidade informar o receptor O rapaz é um tremendo gato.
da mensagem de forma clara e objetiva, assumindo um ca- O gato do vizinho é peralta.
ráter prático. É utilizada em textos informativos, como jor- Precisei fazer um gato para que a energia voltasse.
nais, regulamentos, manuais de instrução, bulas de medi- Pedro costuma fazer alguns “bicos” para garantir sua
camentos, textos científicos, entre outros. A palavra “pau”, sobrevivência
por exemplo, em seu sentido denotativo é apenas um pe- O passarinho foi atingido no bico.
daço de madeira. Outros exemplos:
O elefante é um mamífero. Nas expressões polissêmicas rede de deitar, rede de
As estrelas deixam o céu mais bonito! computadores e rede elétrica, por exemplo, temos em
comum a palavra “rede”, que dá às expressões o sentido
Conotação de “entrelaçamento”. Outro exemplo é a palavra “xadrez”,
que pode ser utilizada representando “tecido”, “prisão” ou
Uma palavra é usada no sentido conotativo quando “jogo” – o sentido comum entre todas as expressões é o
apresenta diferentes significados, sujeitos a diferentes in- formato quadriculado que têm.
terpretações, dependendo do contexto em que esteja inse-
rida, referindo-se a sentidos, associações e ideias que vão Polissemia e homonímia
além do sentido original da palavra, ampliando sua signifi-
cação mediante a circunstância em que a mesma é utiliza- A confusão entre polissemia e homonímia é bastante
da, assumindo um sentido figurado e simbólico. Como no comum. Quando a mesma palavra apresenta vários signifi-
exemplo da palavra “pau”: em seu sentido conotativo ela cados, estamos na presença da polissemia. Por outro lado,
pode significar castigo (dar-lhe um pau), reprovação (tomei quando duas ou mais palavras com origens e significados
pau no concurso). distintos têm a mesma grafia e fonologia, temos uma ho-
A conotação tem como finalidade provocar sentimen- monímia.
tos no receptor da mensagem, através da expressividade e A palavra “manga” é um caso de homonímia. Ela pode
afetividade que transmite. É utilizada principalmente numa significar uma fruta ou uma parte de uma camisa. Não é
linguagem poética e na literatura, mas também ocorre em polissemia porque os diferentes significados para a pala-
conversas cotidianas, em letras de música, em anúncios pu- vra “manga” têm origens diferentes. “Letra” é uma palavra
blicitários, entre outros. Exemplos: polissêmica: pode significar o elemento básico do alfabeto,
Você é o meu sol! o texto de uma canção ou a caligrafia de um determinado
Minha vida é um mar de tristezas. indivíduo. Neste caso, os diferentes significados estão in-
Você tem um coração de pedra! terligados porque remetem para o mesmo conceito, o da
escrita.
* Dica: Procure associar Denotação com Dicionário:
trata-se de definição literal, quando o termo é utilizado Polissemia e ambiguidade
com o sentido que consta no dicionário.
Polissemia e ambiguidade têm um grande impacto na
Fontes de pesquisa: interpretação. Na língua portuguesa, um enunciado pode
http://www.normaculta.com.br/conotacao-e-denota- ser ambíguo, ou seja, apresentar mais de uma interpreta-
cao/ ção. Esta ambiguidade pode ocorrer devido à colocação
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- específica de uma palavra (por exemplo, um advérbio) em
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. uma frase. Vejamos a seguinte frase:
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere- Pessoas que têm uma alimentação equilibrada frequen-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: temente são felizes.
Saraiva, 2010. Neste caso podem existir duas interpretações diferen-
tes:

77
LÍNGUA PORTUGUESA

As pessoas têm alimentação equilibrada porque são feli- Observação: toda metáfora é uma espécie de compa-
zes ou são felizes porque têm uma alimentação equilibrada. ração implícita, em que o elemento comparativo não apa-
rece.
De igual forma, quando uma palavra é polissêmica, ela Seus olhos são como luzes brilhantes.
pode induzir uma pessoa a fazer mais do que uma interpre- O exemplo acima mostra uma comparação evidente,
tação. Para fazer a interpretação correta é muito importan- através do emprego da palavra como.
te saber qual o contexto em que a frase é proferida. Observe agora: Seus olhos são luzes brilhantes.
Muitas vezes, a disposição das palavras na construção Neste exemplo não há mais uma comparação (note a
do enunciado pode gerar ambiguidade ou, até mesmo, co- ausência da partícula comparativa), e sim símile, ou seja,
micidade. Repare na figura abaixo: qualidade do que é semelhante.
Por fim, no exemplo: As luzes brilhantes olhavam-me.
Há substituição da palavra olhos por luzes brilhantes. Esta
é a verdadeira metáfora.

Observe outros exemplos:


1) “Meu pensamento é um rio subterrâneo.” (Fernando
Pessoa)
Neste caso, a metáfora é possível na medida em que
o poeta estabelece relações de semelhança entre um rio
subterrâneo e seu pensamento (pode estar relacionando a
fluidez, a profundidade, a inatingibilidade, etc.).

2) Minha alma é uma estrada de terra que leva a lugar


(http://www.humorbabaca.com/fotos/diversas/corto- algum.
cabelo-e-pinto. Acesso em 15/9/2014). Uma estrada de terra que leva a lugar algum é, na frase
Poderíamos corrigir o cartaz de inúmeras maneiras, acima, uma metáfora. Por trás do uso dessa expressão que
indica uma alma rústica e abandonada (e angustiadamente
mas duas seriam:
inútil), há uma comparação subentendida: Minha alma é
Corte e coloração capilar
tão rústica, abandonada (e inútil) quanto uma estrada de
ou
terra que leva a lugar algum.
Faço corte e pintura capilar
A Amazônia é o pulmão do mundo.
Fontes de pesquisa:
Em sua mente povoa só inveja.
http://www.brasilescola.com/gramatica/polissemia.
htm Metonímia
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: É a substituição de um nome por outro, em virtude de
Saraiva, 2010. existir entre eles algum relacionamento. Tal substituição
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- pode acontecer dos seguintes modos:
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
1 - Autor pela obra: Gosto de ler Machado de Assis. (=
Figura de Linguagem, Pensamento e Construção Gosto de ler a obra literária de Machado de Assis).
2 - Inventor pelo invento: Édson ilumina o mundo. (=
Figura de Palavra As lâmpadas iluminam o mundo).
3 - Símbolo pelo objeto simbolizado: Não te afastes
A figura de palavra consiste na substituição de uma da cruz. (= Não te afastes da religião).
palavra por outra, isto é, no emprego figurado, simbólico, 4 - Lugar pelo produto do lugar: Fumei um saboroso
seja por uma relação muito próxima (contiguidade), seja Havana. (= Fumei um saboroso charuto).
por uma associação, uma comparação, uma similaridade. 5 - Efeito pela causa: Sócrates bebeu a morte. (= Só-
Estes dois conceitos básicos - contiguidade e similaridade - crates tomou veneno).
permitem-nos reconhecer dois tipos de figuras de palavras: 6 - Causa pelo efeito: Moro no campo e como do meu
a metáfora e a metonímia. trabalho. (= Moro no campo e como o alimento que pro-
duzo).
Metáfora 7 - Continente pelo conteúdo: Bebeu o cálice todo. (=
Bebeu todo o líquido que estava no cálice).
Consiste em utilizar uma palavra ou uma expressão em 8 - Instrumento pela pessoa que utiliza: Os microfo-
lugar de outra, sem que haja uma relação real, mas em vir- nes foram atrás dos jogadores. (= Os repórteres foram atrás
tude da circunstância de que o nosso espírito as associa dos jogadores).
e percebe entre elas certas semelhanças. É o emprego da 9 - Parte pelo todo: Várias pernas passavam apres-
palavra fora de seu sentido normal. sadamente. (= Várias pessoas passavam apressadamente).

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LÍNGUA PORTUGUESA

10 - Gênero pela espécie: Os mortais pensam e so- Fontes de pesquisa:


frem nesse mundo. (= Os homens pensam e sofrem nesse http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil2.
mundo). php
11 - Singular pelo plural: A mulher foi chamada para SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
ir às ruas na luta por seus direitos. (= As mulheres foram coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
chamadas, não apenas uma mulher). Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
12 - Marca pelo produto: Minha filha adora danone. ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
(= Minha filha adora o iogurte que é da marca Danone). Saraiva, 2010.
13 - Espécie pelo indivíduo: O homem foi à Lua. (=
Alguns astronautas foram à Lua). Antítese
14 - Símbolo pela coisa simbolizada: A balança pen-
derá para teu lado. (= A justiça ficará do teu lado). Consiste no emprego de palavras que se opõem quan-
to ao sentido. O contraste que se estabelece serve, essen-
Saiba que: Sinédoque se relaciona com o conceito de cialmente, para dar uma ênfase aos conceitos envolvidos
extensão (como nos exemplos 9, 10 e 11, acima), enquanto que não se conseguiria com a exposição isolada dos mes-
que a metonímia abrange apenas os casos de analogia ou mos. Observe os exemplos:
de relação. Não há necessidade, atualmente, de se fazer “O mito é o nada que é tudo.” (Fernando Pessoa)
distinção entre ambas as figuras. O corpo é grande e a alma é pequena.
“Quando um muro separa, uma ponte une.”
Catacrese Não há gosto sem desgosto.

Trata-se de uma metáfora que, dado seu uso contínuo, Paradoxo ou oximoro
cristalizou-se. A catacrese costuma ocorrer quando, por
falta de um termo específico para designar um conceito, É a associação de ideias, além de contrastantes, contra-
toma-se outro “emprestado”. Assim, passamos a empregar ditórias. Seria a antítese ao extremo.
algumas palavras fora de seu sentido original. Exemplos: Era dor, sim, mas uma dor deliciosa.
“asa da xícara”, “batata da perna”, “maçã do rosto”, “pé da Ouvimos as vozes do silêncio.
mesa”, “braço da cadeira”, “coroa do abacaxi”.
Eufemismo
Perífrase ou Antonomásia
É o emprego de uma expressão mais suave, mais nobre
ou menos agressiva, para comunicar alguma coisa áspera,
Trata-se de uma expressão que designa um ser através
desagradável ou chocante.
de alguma de suas características ou atributos, ou de um
Depois de muito sofrimento, entregou a alma ao Senhor.
fato que o celebrizou. É a substituição de um nome por
(= morreu)
outro ou por uma expressão que facilmente o identifique: O prefeito ficou rico por meios ilícitos. (= roubou)
A Cidade Maravilhosa (= Rio de Janeiro) continua Fernando faltou com a verdade. (= mentiu)
atraindo visitantes do mundo todo. Faltar à verdade. (= mentir)
A Cidade-Luz (=Paris)
O rei das selvas (=o leão) Ironia
Observação: quando a perífrase indica uma pessoa, É sugerir, pela entoação e contexto, o contrário do que
recebe o nome de antonomásia. Exemplos: as palavras ou frases expressam, geralmente apresentando
O Divino Mestre (= Jesus Cristo) passou a vida pratican- intenção sarcástica. A ironia deve ser muito bem construí-
do o bem. da para que cumpra a sua finalidade; mal construída, pode
O Poeta dos Escravos (= Castro Alves) morreu muito jo- passar uma ideia exatamente oposta à desejada pelo emis-
vem. sor.
O Poeta da Vila (= Noel Rosa) compôs lindas canções. Como você foi bem na prova! Não tirou nem a nota mí-
nima.
Sinestesia Parece um anjinho aquele menino, briga com todos que
estão por perto.
Consiste em mesclar, numa mesma expressão, as sen- O governador foi sutil como um elefante.
sações percebidas por diferentes órgãos do sentido. É o
cruzamento de sensações distintas. Hipérbole
Um grito áspero revelava tudo o que sentia. (grito = au-
ditivo; áspero = tátil) É a expressão intencionalmente exagerada com o intui-
No silêncio escuro do seu quarto, aguardava os aconte- to de realçar uma ideia.
cimentos. (silêncio = auditivo; escuro = visual) Faria isso milhões de vezes se fosse preciso.
Tosse gorda. (sensação auditiva X sensação tátil) “Rios te correrão dos olhos, se chorares.” (Olavo Bilac)
O concurseiro quase morre de tanto estudar!

79
LÍNGUA PORTUGUESA

Prosopopeia ou Personificação Elipse

É a atribuição de ações ou qualidades de seres anima- Consiste na omissão de um ou mais termos numa ora-
dos a seres inanimados, ou características humanas a seres ção e que podem ser facilmente identificados, tanto por
não humanos. Observe os exemplos: elementos gramaticais presentes na própria oração, quanto
As pedras andam vagarosamente. pelo contexto.
O livro é um mudo que fala, um surdo que ouve, um A catedral da Sé. (a igreja catedral)
cego que guia. Domingo irei ao estádio. (no domingo eu irei ao está-
A floresta gesticulava nervosamente diante da serra. dio)
Chora, violão.
Zeugma
Apóstrofe
Zeugma é uma forma de elipse. Ocorre quando é feita
Consiste na “invocação” de alguém ou de alguma coisa a omissão de um termo já mencionado anteriormente.
personificada, de acordo com o objetivo do discurso, que Ele gosta de geografia; eu, de português. (eu gosto de
pode ser poético, sagrado ou profano. Caracteriza-se pelo português)
chamamento do receptor da mensagem, seja ele imaginá- Na casa dela só havia móveis antigos; na minha, só mo-
rio ou não. A introdução da apóstrofe interrompe a linha de dernos. (só havia móveis)
pensamento do discurso, destacando-se assim a entidade Ela gosta de natação; eu, de vôlei. (gosto de)
a que se dirige e a ideia que se pretende pôr em evidên-
cia com tal invocação. Realiza-se por meio do vocativo. Silepse
Exemplos:
Moça, que fazes aí parada? A silepse é a concordância que se faz com o termo que
“Pai Nosso, que estais no céu” não está expresso no texto, mas, sim, subentendido. É uma
Deus, ó Deus! Onde estás? concordância anormal, psicológica, porque se faz com um
termo oculto, facilmente identificado. Há três tipos de si-
Gradação lepse: de gênero, número e pessoa.

Silepse de Gênero - Os gêneros são masculino e femi-


Apresentação de ideias por meio de palavras, sinôni-
nino. Ocorre a silepse de gênero quando a concordância se
mas ou não, em ordem ascendente (clímax) ou descenden-
faz com a ideia que o termo comporta. Exemplos:
te (anticlímax). Observe este exemplo:
Havia o céu, havia a terra, muita gente e mais Joana
1) A bonita Porto Velho sofreu mais uma vez com o calor
com seus olhos claros e brincalhões...
intenso.
Neste caso, o adjetivo bonita não está concordando
O objetivo do narrador é mostrar a expressividade dos
com o termo Porto Velho, que gramaticalmente pertence
olhos de Joana. Para chegar a este detalhe, ele se refere ao
ao gênero masculino, mas com a ideia contida no termo (a
céu, à terra, às pessoas e, finalmente, a Joana e seus olhos. cidade de Porto Velho).
Nota-se que o pensamento foi expresso em ordem decres-
cente de intensidade. Outros exemplos: 2) Vossa Excelência está preocupado.
“Vive só para mim, só para a minha vida, só para meu O adjetivo preocupado concorda com o sexo da pes-
amor”. (Olavo Bilac) soa, que nesse caso é masculino, e não com o termo Vossa
“O trigo... nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, colheu- Excelência.
se.” (Padre Antônio Vieira)
Silepse de Número - Os números são singular e plural.
Fontes de pesquisa: A silepse de número ocorre quando o verbo da oração não
http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil5. concorda gramaticalmente com o sujeito da oração, mas
php com a ideia que nele está contida. Exemplos:
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- A procissão saiu. Andaram por todas as ruas da cidade
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. de Salvador.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere- O povo corria por todos os lados e gritavam muito alto.
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010. Note que nos exemplos acima, os verbos andaram e
gritavam não concordam gramaticalmente com os sujei-
As figuras de construção (ou sintática, de sintaxe) tos das orações (que se encontram no singular, procissão
ocorrem quando desejamos atribuir maior expressividade e povo, respectivamente), mas com a ideia que neles está
ao significado. Assim, a lógica da frase é substituída pela contida. Procissão e povo dão a ideia de muita gente, por
maior expressividade que se dá ao sentido. isso que os verbos estão no plural.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Silepse de Pessoa - Três são as pessoas gramaticais: Observação: o pleonasmo só tem razão de ser quan-
eu, tu e ele (as três pessoas do singular); nós, vós, eles (as do confere mais vigor à frase; caso contrário, torna-se um
três do plural). A silepse de pessoa ocorre quando há um pleonasmo vicioso:
desvio de concordância. O verbo, mais uma vez, não con- Vi aquela cena com meus próprios olhos.
corda com o sujeito da oração, mas sim com a pessoa que Vamos subir para cima.
está inscrita no sujeito. Exemplos: Ele desceu pra baixo.
O que não compreendo é como os brasileiros persista-
mos em aceitar essa situação. Anáfora
Os agricultores temos orgulho de nosso trabalho.
“Dizem que os cariocas somos poucos dados aos jardins É a repetição de uma ou mais palavras no início de vá-
públicos.” (Machado de Assis) rias frases, criando, assim, um efeito de reforço e de coe-
rência. Pela repetição, a palavra ou expressão em causa é
Observe que os verbos persistamos, temos e somos não posta em destaque, permitindo ao escritor valorizar de-
concordam gramaticalmente com os seus sujeitos (brasilei- terminado elemento textual. Os termos anafóricos podem
ros, agricultores e cariocas, que estão na terceira pessoa), muitas vezes ser substituídos por pronomes.
mas com a ideia que neles está contida (nós, os brasileiros, Encontrei um amigo ontem. Ele me disse que te conhe-
os agricultores e os cariocas). cia.
“Tudo cura o tempo, tudo gasta, tudo digere, tudo aca-
Polissíndeto / Assíndeto ba.” (Padre Vieira)
Para estudarmos as duas figuras de construção é ne- Anacoluto
cessário recordar um conceito estudado em sintaxe sobre
período composto. No período composto por coordena- Consiste na mudança da construção sintática no meio
ção, podemos ter orações sindéticas ou assindéticas. A da frase, ficando alguns termos desligados do resto do pe-
oração coordenada ligada por uma conjunção (conectivo)
ríodo. É a quebra da estrutura normal da frase para a intro-
é sindética; a oração que não apresenta conectivo é assin-
dução de uma palavra ou expressão sem nenhuma ligação
dética. Recordado esse conceito, podemos definir as duas
sintática com as demais.
figuras de construção:
Esses alunos da escola, não se pode duvidar deles.
Morrer, todo haveremos de morrer.
1) Polissíndeto - É uma figura caracterizada pela repe-
Aquele garoto, você não disse que ele chegaria logo?
tição enfática dos conectivos. Observe o exemplo: O meni-
no resmunga, e chora, e grita, e ninguém faz nada.
A expressão “esses alunos da escola”, por exemplo,
2) Assíndeto - É uma figura caracterizada pela ausên- deveria exercer a função de sujeito. No entanto, há uma
cia, pela omissão das conjunções coordenativas, resultando interrupção da frase e esta expressão fica à parte, não exer-
no uso de orações coordenadas assindéticas. Exemplos: cendo nenhuma função sintática. O anacoluto também é
Tens casa, tens roupa, tens amor, tens família. chamado de “frase quebrada”, pois corresponde a uma in-
“Vim, vi, venci.” (Júlio César) terrupção na sequência lógica do pensamento.

Pleonasmo Observação: o anacoluto deve ser usado com finalida-


de expressiva em casos muito especiais. Em geral, evite-o.
Consiste na repetição de um termo ou ideia, com as
mesmas palavras ou não. A finalidade do pleonasmo é real- Hipérbato / Inversão
çar a ideia, torná-la mais expressiva.
O problema da violência, é necessário resolvê-lo logo. É a inversão da estrutura frásica, isto é, a inversão da
ordem direta dos termos da oração, fazendo com que o
Nesta oração, os termos “o problema da violência” e sujeito venha depois do predicado:
“lo” exercem a mesma função sintática: objeto direto. As- Ao ódio venceu o amor. (Na ordem direta seria: O amor
sim, temos um pleonasmo do objeto direto, sendo o pro- venceu ao ódio)
nome “lo” classificado como objeto direto pleonástico. Ou- Dos meus problemas cuido eu! (Na ordem direta seria:
tro exemplo: Eu cuido dos meus problemas)
Aos funcionários, não lhes interessam tais medidas.
Aos funcionários, lhes = Objeto Indireto * Observação da Zê!
O nosso Hino Nacional é um exemplo de hipérbato, já
que, na ordem direta, teríamos:
Neste caso, há um pleonasmo do objeto indireto, e o “As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado re-
pronome “lhes” exerce a função de objeto indireto pleo- tumbante de um povo heroico”.
nástico.

81
LÍNGUA PORTUGUESA

Figuras de Som

Aliteração - Consiste na repetição de consoantes como recurso para intensificação do ritmo ou como efeito sonoro
significativo.
Três pratos de trigo para três tigres tristes.
Vozes veladas, veludosas vozes... (Cruz e Sousa)
Quem com ferro fere com ferro será ferido.

Assonância - Consiste na repetição ordenada de sons vocálicos idênticos:


“Sou um mulato nato no sentido lato mulato democrático do litoral.”

Onomatopéia - Ocorre quando se tentam reproduzir na forma de palavras os sons da realidade:


Os sinos faziam blem, blem, blem, blem.

Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil8.php
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.

Questões
1-) (DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – TÉCNICO SUPERIOR ESPECIALIZADO EM BIBLIOTECO-
NOMIA – FGV/2014 - adaptada) Ao dizer que os shoppings são “cidades”, o autor do texto faz uso de um tipo de linguagem
figurada denominada
(A) metonímia.
(B) eufemismo.
(C) hipérbole.
(D) metáfora.
(E) catacrese.

1-) A metáfora consiste em retirar uma palavra de seu contexto convencional (denotativo) e transportá-la para um novo
campo de significação (conotativa), por meio de uma comparação implícita, de uma similaridade existente entre as duas.
(Fonte:http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/metafora-figura-de-palavra-variacoes-e-exemplos.htm)
RESPOSTA: “D”.

2-) (PREFEITURA DE ARCOVERDE/PE - ADMINISTRADOR DE RECURSOS HUMANOS – CONPASS/2014) Identifique a


figura de linguagem presente na tira seguinte:

A) metonímia
B) prosopopeia
C) hipérbole
D) eufemismo
E) onomatopeia

82
LÍNGUA PORTUGUESA

2-) “Eufemismo = é o emprego de uma expressão mais Normalmente, numa prova, o candidato deve:
suave, mais nobre ou menos agressiva, para comunicar al-
guma coisa áspera, desagradável ou chocante”. No caso da 1- Identificar os elementos fundamentais de uma ar-
tirinha, é utilizada a expressão “deram suas vidas por nós” gumentação, de um processo, de uma época (neste caso,
no lugar de “que morreram por nós”. procuram-se os verbos e os advérbios, os quais definem o
RESPOSTA: “D”. tempo).
2- Comparar as relações de semelhança ou de diferen-
3-) (CASAL/AL - ADMINISTRADOR DE REDE - COPEVE/ ças entre as situações do texto.
UFAL/2014) 3- Comentar/relacionar o conteúdo apresentado com
Está tão quente que dá para fritar um ovo no asfalto. uma realidade.
O dito popular é, na maioria das vezes, uma figura de 4- Resumir as ideias centrais e/ou secundárias.
linguagem. Entre as 14h30min e às 15h desta terça-feira, 5- Parafrasear = reescrever o texto com outras pala-
horário do dia em que o calor é mais intenso, a tempera- vras.
tura do asfalto, medida com um termômetro de contato,
chegou a 65ºC. Para fritar um ovo, seria preciso que o local Condições básicas para interpretar
alcançasse aproximadamente 90ºC.
Disponível em: http://zerohora.clicrbs.com.br. Acesso Fazem-se necessários:
em: 22 jan. 2014. - Conhecimento histórico-literário (escolas e gêneros
literários, estrutura do texto), leitura e prática;
O texto cita que o dito popular “está tão quente que - Conhecimento gramatical, estilístico (qualidades do
dá para fritar um ovo no asfalto” expressa uma figura de texto) e semântico;
linguagem. O autor do texto refere-se a qual figura de lin-
guagem? Observação – na semântica (significado das palavras)
A) Eufemismo. incluem-se: homônimos e parônimos, denotação e conota-
B) Hipérbole. ção, sinonímia e antonímia, polissemia, figuras de lingua-
C) Paradoxo. gem, entre outros.
D) Metonímia.
E) Hipérbato. - Capacidade de observação e de síntese;
- Capacidade de raciocínio.
3-) A expressão é um exagero! Ela serve apenas para
representar o calor excessivo que está fazendo. A figura
Interpretar / Compreender
que é utilizada “mil vezes” (!) para atingir tal objetivo é a
hipérbole.
Interpretar significa:
RESPOSTA: “B”.
- Explicar, comentar, julgar, tirar conclusões, deduzir.
- Através do texto, infere-se que...
- É possível deduzir que...
- O autor permite concluir que...
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL - Qual é a intenção do autor ao afirmar que...

Compreender significa
Texto – é um conjunto de ideias organizadas e relacio- - entendimento, atenção ao que realmente está escrito.
nadas entre si, formando um todo significativo capaz de - o texto diz que...
produzir interação comunicativa (capacidade de codificar - é sugerido pelo autor que...
e decodificar). - de acordo com o texto, é correta ou errada a afirma-
Contexto – um texto é constituído por diversas frases. ção...
Em cada uma delas, há uma informação que se liga com - o narrador afirma...
a anterior e/ou com a posterior, criando condições para a
estruturação do conteúdo a ser transmitido. A essa interli- Erros de interpretação
gação dá-se o nome de contexto. O relacionamento entre
as frases é tão grande que, se uma frase for retirada de seu - Extrapolação (“viagem”) = ocorre quando se sai do
contexto original e analisada separadamente, poderá ter contexto, acrescentando ideias que não estão no texto,
um significado diferente daquele inicial. quer por conhecimento prévio do tema quer pela imagi-
Intertexto - comumente, os textos apresentam refe- nação.
rências diretas ou indiretas a outros autores através de cita- - Redução = é o oposto da extrapolação. Dá-se aten-
ções. Esse tipo de recurso denomina-se intertexto. ção apenas a um aspecto (esquecendo que um texto é um
Interpretação de texto - o objetivo da interpretação conjunto de ideias), o que pode ser insuficiente para o en-
de um texto é a identificação de sua ideia principal. A partir tendimento do tema desenvolvido.
daí, localizam-se as ideias secundárias - ou fundamenta- - Contradição = às vezes o texto apresenta ideias con-
ções -, as argumentações - ou explicações -, que levam ao trárias às do candidato, fazendo-o tirar conclusões equivo-
esclarecimento das questões apresentadas na prova. cadas e, consequentemente, errar a questão.

83
LÍNGUA PORTUGUESA

Observação - Muitos pensam que existem a ótica do - Observe as relações interparágrafos. Um parágrafo
escritor e a ótica do leitor. Pode ser que existam, mas numa geralmente mantém com outro uma relação de continua-
prova de concurso, o que deve ser levado em consideração ção, conclusão ou falsa oposição. Identifique muito bem
é o que o autor diz e nada mais. essas relações.
- Sublinhe, em cada parágrafo, o tópico frasal, ou seja,
Coesão - é o emprego de mecanismo de sintaxe que a ideia mais importante.
relaciona palavras, orações, frases e/ou parágrafos entre si. - Nos enunciados, grife palavras como “correto” ou
Em outras palavras, a coesão dá-se quando, através de um “incorreto”, evitando, assim, uma confusão na hora da
pronome relativo, uma conjunção (NEXOS), ou um prono- resposta – o que vale não somente para Interpretação de
me oblíquo átono, há uma relação correta entre o que se Texto, mas para todas as demais questões!
vai dizer e o que já foi dito. - Se o foco do enunciado for o tema ou a ideia princi-
pal, leia com atenção a introdução e/ou a conclusão.
Observação – São muitos os erros de coesão no dia - Olhe com especial atenção os pronomes relativos,
a dia e, entre eles, está o mau uso do pronome relativo e pronomes pessoais, pronomes demonstrativos, etc., cha-
do pronome oblíquo átono. Este depende da regência do mados vocábulos relatores, porque remetem a outros vo-
verbo; aquele, do seu antecedente. Não se pode esquecer cábulos do texto.
também de que os pronomes relativos têm, cada um, valor
semântico, por isso a necessidade de adequação ao ante- Fontes de pesquisa:
cedente. http://www.tudosobreconcursos.com/materiais/portu-
Os pronomes relativos são muito importantes na in- gues/como-interpretar-textos
terpretação de texto, pois seu uso incorreto traz erros de http://portuguesemfoco.com/pf/09-dicas-para-me-
coesão. Assim sendo, deve-se levar em consideração que lhorar-a-interpretacao-de-textos-em-provas
existe um pronome relativo adequado a cada circunstância, http://www.portuguesnarede.com/2014/03/dicas-pa-
a saber: ra-voce-interpretar-melhor-um.html
- que (neutro) - relaciona-se com qualquer anteceden- http://vestibular.uol.com.br/cursinho/questoes/ques-
te, mas depende das condições da frase. tao-117-portugues.htm
- qual (neutro) idem ao anterior.
- quem (pessoa) Questões
- cujo (posse) - antes dele aparece o possuidor e depois
o objeto possuído. 1-) (SECRETARIA DE ESTADO DA ADMINISTRAÇÃO PÚ-
- como (modo) BLICA DO DISTRITO FEDERAL/DF – TÉCNICO EM ELETRÔ-
- onde (lugar) NICA – IADES/2014)
- quando (tempo)
- quanto (montante) Gratuidades
Exemplo: Crianças com até cinco anos de idade e adultos com
Falou tudo QUANTO queria (correto) mais de 65 anos de idade têm acesso livre ao Metrô-DF.
Falou tudo QUE queria (errado - antes do QUE, deveria Para os menores, é exigida a certidão de nascimento e, para
aparecer o demonstrativo O). os idosos, a carteira de identidade. Basta apresentar um
documento de identificação aos funcionários posicionados
Dicas para melhorar a interpretação de textos no bloqueio de acesso.
Disponível em: <http://www.metro.df.gov.br/estacoes/
- Leia todo o texto, procurando ter uma visão geral do gratuidades.html> Acesso em: 3/3/2014, com adaptações.
assunto. Se ele for longo, não desista! Há muitos candidatos
na disputa, portanto, quanto mais informação você absorver Conforme a mensagem do primeiro período do texto,
com a leitura, mais chances terá de resolver as questões. assinale a alternativa correta.
- Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa (A) Apenas as crianças com até cinco anos de idade
a leitura. e os adultos com 65 anos em diante têm acesso livre ao
- Leia, leia bem, leia profundamente, ou seja, leia o tex- Metrô-DF.
to, pelo menos, duas vezes – ou quantas forem necessárias. (B) Apenas as crianças de cinco anos de idade e os
- Procure fazer inferências, deduções (chegar a uma adultos com mais de 65 anos têm acesso livre ao Metrô-DF.
conclusão). (C) Somente crianças com, no máximo, cinco anos de
- Volte ao texto quantas vezes precisar. idade e adultos com, no mínimo, 66 anos têm acesso livre
- Não permita que prevaleçam suas ideias sobre as ao Metrô-DF.
do autor. (D) Somente crianças e adultos, respectivamente, com
- Fragmente o texto (parágrafos, partes) para melhor cinco anos de idade e com 66 anos em diante, têm acesso
compreensão. livre ao Metrô-DF.
- Verifique, com atenção e cuidado, o enunciado de (E) Apenas crianças e adultos, respectivamente, com
cada questão. até cinco anos de idade e com 65 anos em diante, têm
- O autor defende ideias e você deve percebê-las. acesso livre ao Metrô-DF.

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LÍNGUA PORTUGUESA

1-) Dentre as alternativas apresentadas, a única que 3-) Recorramos ao texto: “Localizada às margens do
condiz com as informações expostas no texto é “Somente Lago Paranoá, no Setor de Clubes Esportivos Norte (ao
crianças com, no máximo, cinco anos de idade e adultos lado do Museu de Arte de Brasília – MAB), está a Concha
com, no mínimo, 66 anos têm acesso livre ao Metrô-DF”. Acústica do DF. Projetada por Oscar Niemeyer”. As infor-
RESPOSTA: “C”. mações contidas nas demais alternativas são incoerentes
com o texto.
2-) (SUSAM/AM – TÉCNICO (DIREITO) – FGV/2014 - RESPOSTA: “A”.
adaptada) “Se alguém que é gay procura Deus e tem boa
vontade, quem sou eu para julgá‐lo?” a declaração do
Papa Francisco, pronunciada durante uma entrevista à im-
prensa no final de sua visita ao Brasil, ecoou como um TIPOLOGIA TEXTUAL
trovão mundo afora. Nela existe mais forma que substância
– mas a forma conta”. (...)
(Axé Silva, O Mundo, setembro 2013)
A todo o momento nos deparamos com vários textos,
O texto nos diz que a declaração do Papa ecoou como sejam eles verbais ou não verbais. Em todos há a presença
um trovão mundo afora. Essa comparação traz em si mes- do discurso, isto é, a ideia intrínseca, a essência daquilo
ma dois sentidos, que são que está sendo transmitido entre os interlocutores. Estes
(A) o barulho e a propagação. interlocutores são as peças principais em um diálogo ou
(B) a propagação e o perigo. em um texto escrito.
(C) o perigo e o poder. É de fundamental importância sabermos classificar os
(D) o poder e a energia.  textos com os quais travamos convivência no nosso dia a
(E)  a energia e o barulho.   dia. Para isso, precisamos saber que existem tipos textuais
e gêneros textuais.
Comumente relatamos sobre um acontecimento, um
2-) Ao comparar a declaração do Papa Francisco a um
fato presenciado ou ocorrido conosco, expomos nossa opi-
trovão, provavelmente a intenção do autor foi a de mostrar
nião sobre determinado assunto, descrevemos algum lugar
o “barulho” que ela causou e sua propagação mundo afora.
que visitamos, fazemos um retrato verbal sobre alguém
Você pode responder à questão por eliminação: a segun-
que acabamos de conhecer ou ver. É exatamente nessas
da opção das alternativas relaciona-se a “mundo afora”, ou
situações corriqueiras que classificamos os nossos textos
seja, que se propaga, espalha. Assim, sobraria apenas a al- naquela tradicional tipologia: Narração, Descrição e Dis-
ternativa A! sertação.
RESPOSTA: “A”.
As tipologias textuais caracterizam-se pelos aspec-
3-) (SECRETARIA DE ESTADO DE ADMINISTRAÇÃO PÚ- tos de ordem linguística
BLICA DO DISTRITO FEDERAL/DF – TÉCNICO EM CONTABI-
LIDADE – IADES/2014 - adaptada) Os tipos textuais designam uma sequência definida
Concha Acústica pela natureza linguística de sua composição. São observa-
Localizada às margens do Lago Paranoá, no Setor de dos aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações
Clubes Esportivos Norte (ao lado do Museu de Arte de lógicas. Os tipos textuais são o narrativo, descritivo, argu-
Brasília – MAB), está a Concha Acústica do DF. Projetada mentativo/dissertativo, injuntivo e expositivo.
por Oscar Niemeyer, foi inaugurada oficialmente em 1969
e doada pela Terracap à Fundação Cultural de Brasília (hoje - Textos narrativos – constituem-se de verbos de ação
Secretaria de Cultura), destinada a espetáculos ao ar livre. demarcados no tempo do universo narrado, como também
Foi o primeiro grande palco da cidade. de advérbios, como é o caso de antes, agora, depois, entre
Disponível em: <http://www.cultura.df.gov.br/nossa- outros: Ela entrava em seu carro quando ele apareceu. De-
cultura/concha- acustica.html>. Acesso em: 21/3/2014, pois de muita conversa, resolveram...
com adaptações.
- Textos descritivos – como o próprio nome indica,
Assinale a alternativa que apresenta uma mensagem descrevem características tanto físicas quanto psicológicas
compatível com o texto. acerca de um determinado indivíduo ou objeto. Os tempos
(A) A Concha Acústica do DF, que foi projetada por Os- verbais aparecem demarcados no presente ou no pretérito
car Niemeyer, está localizada às margens do Lago Paranoá, imperfeito: “Tinha os cabelos mais negros como a asa da
no Setor de Clubes Esportivos Norte. graúna...”
(B) Oscar Niemeyer projetou a Concha Acústica do DF
em 1969. - Textos expositivos – Têm por finalidade explicar um
(C) Oscar Niemeyer doou a Concha Acústica ao que assunto ou uma determinada situação que se almeje de-
hoje é a Secretaria de Cultura do DF. senvolvê-la, enfatizando acerca das razões de ela aconte-
(D) A Terracap transformou-se na Secretaria de Cultura cer, como em: O cadastramento irá se prorrogar até o dia 02
do DF. de dezembro, portanto, não se esqueça de fazê-lo, sob pena
(E) A Concha Acústica foi o primeiro palco de Brasília. de perder o benefício.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- Textos injuntivos (instrucional) – Trata-se de uma


modalidade na qual as ações são prescritas de forma se- COESÃO E COERÊNCIA
quencial, utilizando-se de verbos expressos no imperativo,
infinitivo ou futuro do presente: Misture todos os ingredien-
te e bata no liquidificador até criar uma massa homogênea.
Na construção de um texto, assim como na fala, usamos
- Textos argumentativos (dissertativo) – Demarcam- mecanismos para garantir ao interlocutor a compreensão
se pelo predomínio de operadores argumentativos, revela- do que é dito, ou lido. Estes mecanismos linguísticos que
dos por uma carga ideológica constituída de argumentos estabelecem a coesão e retomada do que foi escrito - ou
e contra-argumentos que justificam a posição assumida falado - são os referentes textuais, que buscam garantir
acerca de um determinado assunto: A mulher do mundo a coesão textual para que haja coerência, não só entre os
contemporâneo luta cada vez mais para conquistar seu es- elementos que compõem a oração, como também entre a
paço no mercado de trabalho, o que significa que os gêneros sequência de orações dentro do texto. Essa coesão tam-
estão em complementação, não em disputa. bém pode muitas vezes se dar de modo implícito, baseado
em conhecimentos anteriores que os participantes do pro-
cesso têm com o tema.
Numa linguagem figurada, a coesão é uma linha ima-
ginária - composta de termos e expressões - que une os
diversos elementos do texto e busca estabelecer relações
GÊNEROS TEXTUAIS de sentido entre eles. Dessa forma, com o emprego de di-
ferentes procedimentos, sejam lexicais (repetição, substi-
tuição, associação), sejam gramaticais (emprego de prono-
mes, conjunções, numerais, elipses), constroem-se frases,
São os textos materializados que encontramos em orações, períodos, que irão apresentar o contexto – decor-
nosso cotidiano; tais textos apresentam características só- re daí a coerência textual.
cio-comunicativas definidas por seu estilo, função, com- Um texto incoerente é o que carece de sentido ou o
posição, conteúdo e canal. Como exemplos, temos: receita apresenta de forma contraditória. Muitas vezes essa incoe-
culinária, e-mail, reportagem, monografia, poema, editorial, rência é resultado do mau uso dos elementos de coesão
piada, debate, agenda, inquérito policial, fórum, blog, etc. textual. Na organização de períodos e de parágrafos, um
erro no emprego dos mecanismos gramaticais e lexicais
A escolha de um determinado gênero discursivo de- prejudica o entendimento do texto. Construído com os ele-
pende, em grande parte, da situação de produção, ou seja, mentos corretos, confere-se a ele uma unidade formal.
a finalidade do texto a ser produzido, quem são os locu- Nas palavras do mestre Evanildo Bechara, “o enunciado
tores e os interlocutores, o meio disponível para veicular o não se constrói com um amontoado de palavras e orações.
texto, etc. Elas se organizam segundo princípios gerais de dependência
e independência sintática e semântica, recobertos por unida-
Os gêneros discursivos geralmente estão ligados a es- des melódicas e rítmicas que sedimentam estes princípios”.
feras de circulação. Assim, na esfera jornalística, por exem- Não se deve escrever frases ou textos desconexos – é
plo, são comuns gêneros como notícias, reportagens, edito- imprescindível que haja uma unidade, ou seja, que as frases
riais, entrevistas e outros; na esfera de divulgação científica estejam coesas e coerentes formando o texto. Relembre-se
são comuns gêneros como verbete de dicionário ou de enci- de que, por coesão, entende-se ligação, relação, nexo entre
clopédia, artigo ou ensaio científico, seminário, conferência. os elementos que compõem a estrutura textual.

Fontes de pesquisa: Formas de se garantir a coesão entre os elementos


http://www.brasilescola.com/redacao/tipologia-tex- de uma frase ou de um texto:
tual.htm
1. Substituição de palavras com o emprego de sinôni-
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
mos - palavras ou expressões do mesmo campo associa-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: tivo.
Saraiva, 2010. 2. Nominalização – emprego alternativo entre um ver-
Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática bo, o substantivo ou o adjetivo correspondente (desgastar
– volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa / desgaste / desgastante).
Souza. – 3. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002. 3. Emprego adequado de tempos e modos verbais:
Embora não gostassem de estudar, participaram da aula.
4. Emprego adequado de pronomes, conjunções, pre-
posições, artigos:
O papa Francisco visitou o Brasil. Na capital brasileira,
Sua Santidade participou de uma reunião com a Presiden-
te Dilma. Ao passar pelas ruas, o papa cumprimentava as
pessoas. Estas tiveram a certeza de que ele guarda respeito
por elas.

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LÍNGUA PORTUGUESA

5. Uso de hipônimos – relação que se estabelece com Questões


base na maior especificidade do significado de um deles.
Por exemplo, mesa (mais específico) e móvel (mais gené- * As questões abaixo também envolvem o conteúdo
rico). “Conjunção”. Eu as coloquei neste tópico porque abordam
6. Emprego de hiperônimos - relações de um termo de - inclusive - coesão e coerência.
sentido mais amplo com outros de sentido mais específico.
Por exemplo, felino está numa relação de hiperonímia com 1-) (SEDUC/AM – ASSISTENTE SOCIAL – FGV/2014) As-
gato. sinale a opção que indica o segmento em que a conjunção
7. Substitutos universais, como os verbos vicários.
e tem valor adversativo e não aditivo.
* Ajuda da Zê: verbo vicário é aquele que substitui (A) “Em termos de escala, assiduidade e participação
outro já utilizado no período, evitando repetições. Geral- da população na escolha dos governantes,...”.
mente é o verbo fazer e ser. Exemplo: Não gosto de estudar. (B) “... o Brasil de 1985 a 2014 parece outro país, mo-
Faço porque preciso. O “faço” foi empregado no lugar de derno e dinâmico, no cotejo com a restrita experiência elei-
“estudo”, evitando repetição desnecessária. toral anterior”.
(C) “A hipótese de ruptura com o passado se fortalece
A coesão apoiada na gramática se dá no uso de conec- quando avaliamos a extensão dos mecanismos de distri-
tivos, como pronomes, advérbios e expressões adverbiais, buição de oportunidades e de mitigação de desigualdades
conjunções, elipses, entre outros. A elipse justifica-se quan- de hoje”.
do, ao remeter a um enunciado anterior, a palavra elidida (D) “A democracia brasileira contemporânea, e apenas
é facilmente identificável (Exemplo.: O jovem recolheu-se ela na história nacional, inventou o que mais perto se pode
cedo. Sabia que ia necessitar de todas as suas forças. O ter- chegar de um Estado de Bem-Estar num país de renda mé-
mo o jovem deixa de ser repetido e, assim, estabelece a
dia”.
relação entre as duas orações).
(E) “A baixa qualidade dos serviços governamentais
Dêiticos são elementos linguísticos que têm a pro- está ligada sobretudo à limitação do PIB, e não à falta de
priedade de fazer referência ao contexto situacional ou ao políticas públicas social-democratas”.
próprio discurso. Exercem, por excelência, essa função de
progressão textual, dada sua característica: são elementos 1-)
que não significam, apenas indicam, remetem aos compo- (A) “Em termos de escala, assiduidade e participação
nentes da situação comunicativa. = adição
Já os componentes concentram em si a significação. (B) “... o Brasil de 1985 a 2014 parece outro país, mo-
Elisa Guimarães ensina-nos a esse respeito: derno e dinâmico”. = adição
“Os pronomes pessoais e as desinências verbais indi- (C) “A hipótese de ruptura com o passado se fortalece
cam os participantes do ato do discurso. Os pronomes de- quando avaliamos a extensão dos mecanismos de distri-
monstrativos, certas locuções prepositivas e adverbiais, bem buição de oportunidades e de mitigação de desigualdades
como os advérbios de tempo, referenciam o momento da de hoje”. = adição
enunciação, podendo indicar simultaneidade, anterioridade
(D) “A democracia brasileira contemporânea, e apenas
ou posterioridade. Assim: este, agora, hoje, neste momento
(presente); ultimamente, recentemente, ontem, há alguns ela na história nacional”. = adição
dias, antes de (pretérito); de agora em diante, no próximo (E) “A baixa qualidade dos serviços governamentais
ano, depois de (futuro).” está ligada sobretudo à limitação do PIB, e não à falta =
adversativa (dá para substituirmos por “mas”)
A coerência de um texto está ligada: RESPOSTA: “E”.
- à sua organização como um todo, em que devem es-
tar assegurados o início, o meio e o fim;
- à adequação da linguagem ao tipo de texto. Um texto 2-) (DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL/
técnico, por exemplo, tem a sua coerência fundamentada DF – ANALISTA DE APOIO À ASSISTÊNCIA JURÍDICA –
em comprovações, apresentação de estatísticas, relato de FGV/2014) A alternativa em que os elementos unidos pela
experiências; um texto informativo apresenta coerência se conjunção E não estão em adição, mas sim em oposição, é:
trabalhar com linguagem objetiva, denotativa; textos poé- (A) “...a disposição do povo de agir por conta própria e
ticos, por outro lado, trabalham com a linguagem figurada,
fazer justiça com as próprias mãos...”
livre associação de ideias, palavras conotativas.
(B) “...como sintoma de descrença nos políticos e nas
Fontes de pesquisa: instituições:...”
http://www.mundovestibular.com.br/articles/2586/1/ (C) “...os nossos mascarados se inspiram menos nos
COESAO-E-COERENCIA-TEXTUAL/Paacutegina1.html anarquistas e mais nos fascistas italianos...”
Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática (D) “...desprezando o passado e a tradição...”
– volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa (E) “...capaz de exprimir a experiência da violência, da
Souza. – 3. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002. velocidade e do progresso...”

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LÍNGUA PORTUGUESA

2-) A Ordem dos Termos na Frase


(A) “...a disposição do povo de agir por conta própria e
fazer justiça com as próprias mãos”. = adição Leia novamente a frase contida no item 2. Note que
(B) “...como sintoma de descrença nos políticos e nas ela é organizada de maneira clara para produzir sentido.
instituições”. = adição Todavia, há diferentes maneiras de se organizar gramatical-
(C) “...os nossos mascarados se inspiram menos nos mente tal frase, tudo depende da necessidade ou da von-
anarquistas e mais nos fascistas italianos”. = ideia de opo- tade do redator em manter o sentido, ou mantê-lo, porém,
sição acrescentado ênfase a algum dos seus termos. Significa di-
(D) “...desprezando o passado e a tradição”. = adição zer que, ao escrever, podemos fazer uma série de inversões
(E) “...capaz de exprimir a experiência da violência, da e intercalações em nossas frases, conforme a nossa von-
velocidade e do progresso”. = adição tade e estilo. Tudo depende da maneira como queremos
RESPOSTA: “C”. transmitir uma ideia, do nosso estilo. Por exemplo, pode-
mos expressar a mensagem da frase 2 da seguinte maneira:

No Brasil e na América Latina, a globalização está cau-


sando desemprego.
REESCRITA DE TEXTOS/EQUIVALÊNCIA DE
ESTRUTURAS Neste caso, a mensagem é praticamente a mesma,
apenas mudamos a ordem das palavras para dar ênfase a
alguns termos (neste caso: No Brasil e na A. L.). Repare que,
para obter a clareza tivemos que fazer o uso de vírgulas.
“Ideias confusas geram redações confusas”. Esta frase Entre os sinais de pontuação, a vírgula é o mais usado e
leva-nos a refletir sobre a organização das ideias em um o que mais nos auxilia na organização de um período, pois
texto. Significa dizer que, antes da redação, naturalmen- facilita as boas “sintaxes”, boas misturas, ou seja, a vírgula
te devemos dominar o assunto sobre o qual iremos tratar ajuda-nos a não “embolar” o sentido quando produzimos
e, posteriormente, planejar o modo como iremos expô-lo, frases complexas. Com isto, “entregamos” frases bem orga-
do contrário haverá dificuldade em transmitir ideias bem nizadas aos nossos leitores.
acabadas. Portanto, a leitura, a interpretação de textos e a
experiência de vida antecedem o ato de escrever. O básico para a organização sintática das frases é a or-
Obtido um razoável conhecimento sobre o que iremos dem direta dos termos da oração. Os gramáticos estrutu-
escrever, feito o esquema de exposição da matéria, é ne- ram tal ordem da seguinte maneira:
cessário saber ordenar as ideias em frases bem estrutura-
das. Logo, não basta conhecer bem um determinado as- SUJEITO + VERBO + COMPLEMENTO VERBAL + CIR-
sunto, temos que o transmitir de maneira clara aos leitores. CUNSTÂNCIAS
O estudo da pontuação pode se tornar um valioso alia- A globalização + está causando + desemprego + no
do para organizarmos as ideias de maneira clara em frases. Brasil nos dias de hoje.
Para tanto, é necessário ter alguma noção de sintaxe. “Sin-
taxe”, conforme o dicionário Aurélio, é a “parte da gramá- Nem todas as orações mantêm esta ordem e nem to-
tica que estuda a disposição das palavras na frase e a das das contêm todos estes elementos, portanto cabem algu-
frases no discurso, bem como a relação lógica das frases mas observações:
entre si”; ou em outras palavras, sintaxe quer dizer “mistu-
ra”, isto é, saber misturar as palavras de maneira a produ- 1) As circunstâncias (de tempo, espaço, modo, etc.)
zirem um sentido evidente para os receptores das nossas normalmente são representadas por adjuntos adverbiais
mensagens. Observe: de tempo, lugar, etc. Note que, no mais das vezes, quan-
do queremos recordar algo ou narrar uma história, existe
1)A desemprego globalização no Brasil e no na está La- a tendência a colocar os adjuntos nos começos das frases:
tina América causando.
2) A globalização está causando desemprego no Brasil e “No Brasil e na América…” “Nos dias de hoje…” “Nas mi-
na América Latina. nhas férias…”, “No Brasil…”. e logo depois os verbos e ou-
tros elementos: “Nas minhas férias fui…”; “No Brasil existe…”
Ora, no item 1 não temos uma ideia, pois não há uma
frase, as palavras estão amontoadas sem a realização de Observações:
“uma sintaxe”, não há um contexto linguístico nem relação a) tais construções não estão erradas, mas rompem
inteligível com a realidade; no caso 2, a sintaxe ocorreu de com a ordem direta;
maneira perfeita e o sentido está claro para receptores de b) é preciso notar que em Língua Portuguesa, há mui-
língua portuguesa inteirados da situação econômica e cul- tas frases que não têm sujeito, somente predicado. Por
tural do mundo atual. exemplo: Está chovendo em Porto Alegre. Faz frio em Fri-
burgo. São quatro horas agora;

88
LÍNGUA PORTUGUESA

c) Outras frases são construídas com verbos intransiti- Neste caso, há uma oração adjetiva intercalada.
vos, que não têm complemento: As orações adjetivas explicativas desempenham fre-
O menino morreu na Alemanha. (sujeito + verbo + ad- quentemente um papel semelhante ao do aposto explicati-
junto adverbial) vo, por isto são também isoladas por vírgula.
A globalização nasceu no século XX. (idem)
d) Há ainda frases nominais que não possuem verbos: A globalização causa, caro leitor, desemprego no Brasil…
cada macaco no seu galho. Nestes tipos de frase, a ordem Neste outro caso, há um vocativo entre o verbo e o seu
direta faz-se naturalmente. Usam-se apenas os termos complemento.
existentes nelas.
A globalização causa desemprego, e isto é lamentável,
Levando em consideração a ordem direta, podemos no Brasil…
estabelecer três regras básicas para o uso da vírgula: Aqui, há uma oração intercalada (note que ela não per-
1)Se os termos estão colocados na ordem direta não tence ao assunto: globalização, da frase principal, tal ora-
haverá a necessidade de vírgulas. A frase (2) é um exemplo ção é apenas um comentário à parte entre o complemento
disto: verbal e os adjuntos).
A globalização está causando desemprego no Brasil e na
América Latina. Observação: a simples negação em uma frase não exi-
ge vírgula: A globalização não causou desemprego no Brasil
Todavia, ao repetir qualquer um dos termos da oração e na América Latina.
por três vezes ou mais, então é necessário usar a vírgula,
mesmo que estejamos usando a ordem direta. Esta é a re- 3)Quando “quebramos” a ordem direta, invertendo-a,
gra básica nº1 para a colocação da vírgula. Veja: tal quebra torna a vírgula necessária. Esta é a regra nº3 da
A globalização, a tecnologia e a “ciranda financeira” colocação da vírgula.
causam desemprego…
(três núcleos do sujeito) No Brasil e na América Latina, a globalização está cau-
sando desemprego…
A globalização causa desemprego no Brasil, na América No fim do século XX, a globalização causou desemprego
Latina e na África. no Brasil…
(três adjuntos adverbiais)
Nota-se que a quebra da ordem direta frequentemente
A globalização está causando desemprego, insatisfação se dá com a colocação das circunstâncias antes do sujeito.
e sucateamento industrial no Brasil e na América Latina. Trata-se da ordem inversa. Estas circunstâncias, em gramá-
(três complementos verbais) tica, são representadas pelos adjuntos adverbiais. Muitas
vezes, elas são colocadas em orações chamadas adverbiais
2)Em princípio, não devemos, na ordem direta, sepa- que têm uma função semelhante a dos adjuntos adverbiais,
rar com vírgula o sujeito e o verbo, nem o verbo e o seu isto é, denotam tempo, lugar, etc. Exemplos:
complemento, nem o complemento e as circunstâncias, ou
seja, não devemos separar com vírgula os termos da ora- Quando o século XX estava terminando, a globalização
ção. Veja exemplos de tal incorreção: começou a causar desemprego.
Enquanto os países portadores de alta tecnologia de-
O Brasil, será feliz. A globalização causa, o desemprego. senvolvem-se, a globalização causa desemprego nos países
pobres.
Ao intercalarmos alguma palavra ou expressão entre Durante o século XX, a Globalização causou desempre-
os termos da oração, cabe isolar tal termo entre vírgulas, go no Brasil.
assim o sentido da ideia principal não se perderá. Esta é
a regra básica nº 2 para a colocação da vírgula. Dito em Observação: quanto à equivalência e transformação de
outras palavras: quando intercalamos expressões e frases estruturas, um exemplo muito comum cobrado em provas
entre os termos da oração, devemos isolar os mesmos com é o enunciado trazer uma frase no singular e pedir a passa-
vírgulas. Vejamos: gem para o plural, mantendo o sentido. Outro exemplo é a
A globalização, fenômeno econômico deste fim de sécu- mudança de tempos verbais.
lo XX, causa desemprego no Brasil.
Fonte de pesquisa:
Aqui um aposto à globalização foi intercalado entre o http://ricardovigna.wordpress.com/2009/02/02/estu-
sujeito e o verbo. dos-de-linguagem-1-estrutura-frasal-e-pontuacao/

Outros exemplos:
A globalização, que é um fenômeno econômico e cultu-
ral, está causando desemprego no Brasil e na América Lati-
na.

89
LÍNGUA PORTUGUESA

Questões
ESTRUTURA TEXTUAL
1-) (TRF/3ª REGIÃO - ANALISTA JUDICIÁRIO - FCC/2014
- adaptada)
Reunir-se para ouvir alguém ler tornou-se uma prática
necessária e comum no mundo laico da Idade Média. Até Primeiramente, o que nos faz produzir um texto é a ca-
a invenção da imprensa, a alfabetização era rara e os livros, pacidade que temos de pensar. Por meio do pensamento,
propriedade dos ricos, privilégio de um pequeno punhado elaboramos todas as informações que recebemos e orien-
de leitores. tamos as ações que interferem na realidade e organização
Embora alguns desses senhores afortunados ocasional- de nossos escritos. O que lemos é produto de um pensa-
mente emprestassem seus livros, eles o faziam para um nú- mento transformado em texto.
mero limitado de pessoas da própria classe ou família. Logo, como cada um de nós tem seu modo de pen-
(Adaptado de: MANGUEL, Alberto, op.cit.) sar, quando escrevemos sempre procuramos uma maneira
organizada do leitor compreender as nossas ideias. A fina-
Mantêm-se a correção e as relações de sentido estabe- lidade da escrita é direcionar totalmente o que você quer
lecidas no texto, substituindo-se Embora (2.º parágrafo) por dizer, por meio da comunicação.
(A) Contudo. Para isso, os elementos que compõem o texto se sub-
(B) Desde que. dividem em: introdução, desenvolvimento e conclusão. To-
(C) Porquanto. dos eles devem ser organizados de maneira equilibrada.
(D) Uma vez que.
(E) Conquanto. Introdução

1-) “Embora” é uma conjunção concessiva (apresenta Caracterizada pela entrada no assunto e a argumenta-
uma exceção à regra). A outra conjunção concessiva é “con- ção inicial. A ideia central do texto é apresentada nessa eta-
quanto”. pa. Essa apresentação deve ser direta, sem rodeios. O seu
RESPOSTA: “E”. tamanho raramente excede a 1/5 de todo o texto. Porém,
em textos mais curtos, essa proporção não é equivalente.
2-) (PRODEST/ES – ASSISTENTE ORGANIZACIONAL – Neles, a introdução pode ser o próprio título. Já nos textos
VUNESP/2014 - adaptada) Considere o trecho: “Se o senhor mais longos, em que o assunto é exposto em várias pági-
não se importa, vou levar minha sobrinha ao dentista, mas nas, ela pode ter o tamanho de um capítulo ou de uma par-
posso quebrar o galho e fazer sua corrida”. Esse trecho está te precedida por subtítulo. Nessa situação, pode ter vários
corretamente reescrito e mantém o sentido em: parágrafos. Em redações mais comuns, que em média têm
(A) Uma vez que o senhor não se importe, vou levar mi- de 25 a 80 linhas, a introdução será o primeiro parágrafo.
nha sobrinha ao dentista, assim que possa quebrar o galho
e fazer sua corrida. Desenvolvimento
(B) Já que o senhor não se importa, vou levar minha so-
brinha ao dentista, porque posso quebrar o galho e fazer A maior parte do texto está inserida no desenvol-
sua corrida. vimento, que é responsável por estabelecer uma ligação
(C) À medida que o senhor não se importe, vou levar entre a introdução e a conclusão. É nessa etapa que são
minha sobrinha ao dentista, logo que possa quebrar o galho elaboradas as ideias, os dados e os argumentos que sus-
e fazer sua corrida. tentam e dão base às explicações e posições do autor. É ca-
(D) Caso o senhor não se importe, vou levar minha so- racterizado por uma “ponte” formada pela organização das
brinha ao dentista, no entanto posso quebrar o galho e fazer ideias em uma sequência que permite formar uma relação
sua corrida. equilibrada entre os dois lados.
(E) Para que o senhor não se importe, vou levar minha O autor do texto revela sua capacidade de discutir um
sobrinha ao dentista, todavia posso quebrar o galho e fazer determinado tema no desenvolvimento, e é através desse
sua corrida. que o autor mostra sua capacidade de defender seus pon-
tos de vista, além de dirigir a atenção do leitor para a con-
2-) “Se o senhor não se importa, vou levar minha so- clusão. As conclusões são fundamentadas a partir daqui.
brinha ao dentista, mas posso quebrar o galho e fazer sua Para que o desenvolvimento cumpra seu objetivo, o es-
corrida” critor já deve ter uma ideia clara de como será a conclusão.
O primeiro período é introduzido por uma conjunção Daí a importância em planejar o texto.
condicional (“se”); o segundo, conjunção adversativa. As Em média, o desenvolvimento ocupa 3/5 do texto, no
conjunções apresentadas que têm a mesma classificação, mínimo. Já nos textos mais longos, pode estar inserido em
respectivamente, e que, por isso, poderiam substituir ade- capítulos ou trechos destacados por subtítulos. Apresentar-
quadamente as destacadas no enunciado são “caso” e “no se-á no formato de parágrafos medianos e curtos.
entanto”. Acredito que, mesmo que você não saiba a clas- Os principais erros cometidos no desenvolvimento são
sificação das conjunções, conseguiria responder à questão o desvio e a desconexão da argumentação. O primeiro está
apenas utilizando a coerência: as demais alternativas não relacionado ao autor tomar um argumento secundário que
a têm. se distancia da discussão inicial, ou quando se concentra
RESPOSTA: “D”. em apenas um aspecto do tema e esquece o seu todo. O

90
LÍNGUA PORTUGUESA

segundo caso acontece quando quem redige tem muitas


ideias ou informações sobre o que está sendo discutido, REDAÇÃO OFICIAL
não conseguindo estruturá-las. Surge também a dificul-
dade de organizar seus pensamentos e definir uma linha
lógica de raciocínio.
Pronomes de tratamento na redação oficial
Conclusão
A redação oficial é a maneira utilizada pelo poder públi-
Considerada como a parte mais importante do texto, co para redigir atos normativos. Para redigi-los, muitas regras
é o ponto de chegada de todas as argumentações elabo- fazem-se necessárias. Entre elas, escrever de forma clara, con-
radas. As ideias e os dados utilizados convergem para essa cisa, sem muito comprometimento, bem como um uso ade-
parte, em que a exposição ou discussão se fecha. quado das formas de tratamento. Tais regras, acompanhadas
Em uma estrutura normal, ela não deve deixar uma de uma boa redação, com um bom uso da linguagem, asse-
brecha para uma possível continuidade do assunto; ou seja, guram que os atos normativos sejam bem executados.
possui atributos de síntese. A discussão não deve ser en- No Poder Público, nós nos deparamos com situações em
cerrada com argumentos repetitivos, como por exemplo: que precisamos escrever – ou falar – com pessoas com as
“Portanto, como já dissemos antes...”, “Concluindo...”, “Em quais não temos familiaridade. Nestes casos, os pronomes de
conclusão...”. tratamento assumem uma condição e precisam estar adequa-
Sua proporção em relação à totalidade do texto deve dos à categoria hierárquica da pessoa a quem nos dirigimos.
ser equivalente ao da introdução: de 1/5. Essa é uma das E mais, exige-se, em discurso falado ou escrito, uma homoge-
características de textos bem redigidos. neidade na forma de tratamento, não só nos pronomes como
Os seguintes erros aparecem quando as conclusões fi- também nos verbos. No entanto, as formas de tratamento
cam muito longas: não são do conhecimento de todos.
Abaixo, seguem as discriminações de usos dos pronomes
- O problema aparece quando não ocorre uma explo- de tratamento, com base no Manual da Presidência da Repú-
ração devida do desenvolvimento, o que gera uma invasão blica.
das ideias de desenvolvimento na conclusão.
- Outro fator consequente da insuficiência de funda- São de uso consagrado:
mentação do desenvolvimento está na conclusão precisar
de maiores explicações, ficando bastante vazia. Vossa Excelência, para as seguintes autoridades:
- Enrolar e “encher linguiça” são muito comuns no tex- a) do Poder Executivo
to em que o autor fica girando em torno de ideias redun- Presidente da República, Vice-Presidente da República, Mi-
dantes ou paralelas. nistro de Estado, Secretário-Geral da Presidência da República,
- Uso de frases vazias que, por vezes, são perfeitamen- Consultor-Geral da República, Chefe do Estado-Maior das For-
te dispensáveis. ças Armadas, Chefe do Gabinete Militar da Presidência da Re-
- Quando não tem clareza de qual é a melhor conclu- pública, Chefe do Gabinete Pessoal do Presidente da República,
são, o autor acaba se perdendo na argumentação final. Secretários da Presidência da República, Procurador – Geral da
República, Governadores e Vice-Governadores de Estado e do
Em relação à abertura para novas discussões, a con- Distrito Federal, Chefes de Estado – Maior das Três Armas, Ofi-
clusão não pode ter esse formato, exceto pelos seguintes ciais Generais das Forças Armadas, Embaixadores, Secretário
fatores: Executivo e Secretário Nacional de Ministérios, Secretários de
- Para não influenciar a conclusão do leitor sobre temas Estado dos Governos Estaduais, Prefeitos Municipais.
polêmicos, o autor deixa a conclusão em aberto.
- Para estimular o leitor a ler uma possível continuidade b) do Poder Legislativo:
do texto, o autor não fecha a discussão de propósito. Presidente, Vice–Presidente e Membros da Câmara dos
- Por apenas apresentar dados e informações sobre o Deputados e do Senado Federal, Presidente e Membros do Tri-
tema a ser desenvolvido, o autor não deseja concluir o as- bunal de Contas da União, Presidente e Membros dos Tribunais
sunto. de Contas Estaduais, Presidente e Membros das Assembleias
- Para que o leitor tire suas próprias conclusões, o autor Legislativas Estaduais, Presidente das Câmaras Municipais.
enumera algumas perguntas no final do texto.
c) do Poder Judiciário:
A maioria dessas falhas pode ser evitada se antes o au- Presidente e Membros do Supremo Tribunal Federal, Presi-
tor fizer um esboço de todas as suas ideias. Essa técnica dente e Membros do Superior Tribunal de Justiça, Presidente e
é um roteiro, em que estão presentes os planejamentos. Membros do Superior Tribunal Militar, Presidente e Membros do
Naquele devem estar indicadas as melhores sequências a Tribunal Superior Eleitoral, Presidente e Membros do Tribunal
serem utilizadas na redação; ele deve ser o mais enxuto Superior do Trabalho, Presidente e Membros dos Tribunais de
possível. Justiça, Presidente e Membros dos Tribunais Regionais Fede-
rais, Presidente e Membros dos Tribunais Regionais Eleitorais,
Fonte de pesquisa: Presidente e Membros dos Tribunais Regionais do Trabalho,
http://producao-de-textos.info/mos/view/Caracter%- Juízes e Desembargadores, Auditores da Justiça Militar.
C3%ADsticas_e_Estruturas_do_Texto/

91
LÍNGUA PORTUGUESA

O vocativo a ser empregado em comunicações dirigidas A Impessoalidade


aos Chefes do Poder é Excelentíssimo Senhor, seguido do car- A finalidade da língua é comunicar, quer pela fala, quer
go respectivo: Excelentíssimo Senhor Presidente da República; pela escrita. Para que haja comunicação, são necessários: a)
Excelentíssimo Senhor Presidente do Congresso Nacional; Ex- alguém que comunique; b) algo a ser comunicado; c) alguém
celentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Federal. que receba essa comunicação. No caso da redação oficial,
E mais: As demais autoridades serão tratadas com o vo- quem comunica é sempre o Serviço Público (este ou aquele
cativo Senhor, seguido do cargo respectivo: Senhor Senador, Ministério, Secretaria, Departamento, Divisão, Serviço, Seção);
Senhor Juiz, Senhor Ministro, Senhor Governador. o que se comunica é sempre algum assunto relativo às atri-
O Manual ainda preceitua que a forma de tratamento buições do órgão que comunica; o destinatário dessa comu-
“Digníssimo” fica abolida para as autoridades descritas acima, nicação ou é o público, o conjunto dos cidadãos, ou outro
afinal, a dignidade é condição primordial para que tais cargos órgão público, do Executivo ou dos outros Poderes da União.
públicos sejam ocupados. Percebe-se, assim, que o tratamento impessoal que deve
Fica ainda dito que doutor não é forma de tratamento, ser dado aos assuntos que constam das comunicações oficiais
mas titulação acadêmica de quem defende tese de douto- decorre:
rado. Portanto, é aconselhável que não se use discriminada- a) da ausência de impressões individuais de quem comu-
mente tal termo. nica: embora se trate, por exemplo, de um expediente assina-
do por Chefe de determinada Seção, é sempre em nome do
As Comunicações Oficiais Serviço Público que é feita a comunicação. Obtém-se, assim,
uma desejável padronização, que permite que comunicações
1. Aspectos Gerais da Redação Oficial elaboradas em diferentes setores da Administração guardem
entre si certa uniformidade;
O que é Redação Oficial b) da impessoalidade de quem recebe a comunicação,
com duas possibilidades: ela pode ser dirigida a um cidadão,
Em uma frase, pode-se dizer que redação oficial é a ma- sempre concebido como público, ou a outro órgão público.
neira pela qual o Poder Público redige atos normativos Nos dois casos, temos um destinatário concebido de forma
e comunicações. Interessa-nos tratá-la do ponto de vista do homogênea e impessoal;
Poder Executivo. c) do caráter impessoal do próprio assunto tratado: se o
A redação oficial deve caracterizar-se pela impessoalida- universo temático das comunicações oficiais restringe-se a
de, uso do padrão culto de linguagem, clareza, concisão, for- questões que dizem respeito ao interesse público, é natural
malidade e uniformidade. Fundamentalmente esses atributos que não caiba qualquer tom particular ou pessoal.
decorrem da Constituição, que dispõe, no artigo 37: “A admi- Desta forma, não há lugar na redação oficial para impres-
nistração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer sões pessoais, como as que, por exemplo, constam de uma
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos carta a um amigo, ou de um artigo assinado de jornal, ou
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoali- mesmo de um texto literário. A redação oficial deve ser isenta
dade, moralidade, publicidade e eficiência (...)”. Sendo a publi- da interferência da individualidade que a elabora.
cidade e a impessoalidade princípios fundamentais de toda A concisão, a clareza, a objetividade e a formalidade de
administração pública, claro que devem igualmente nortear a que nos valemos para elaborar os expedientes oficiais con-
elaboração dos atos e comunicações oficiais. tribuem, ainda, para que seja alcançada a necessária impes-
Não se concebe que um ato normativo de qualquer na- soalidade.
tureza seja redigido de forma obscura, que dificulte ou im-
possibilite sua compreensão. A transparência do sentido dos A Linguagem dos Atos e Comunicações Oficiais
atos normativos, bem como sua inteligibilidade, são requisitos A necessidade de empregar determinado nível de lingua-
do próprio Estado de Direito: é inaceitável que um texto le- gem nos atos e expedientes oficiais decorre, de um lado, do
gal não seja entendido pelos cidadãos. A publicidade implica, próprio caráter público desses atos e comunicações; de outro,
pois, necessariamente, clareza e concisão. de sua finalidade. Os atos oficiais, aqui entendidos como atos
Fica claro também que as comunicações oficiais são ne- de caráter normativo, ou estabelecem regras para a conduta
cessariamente uniformes, pois há sempre um único comuni- dos cidadãos, ou regulam o funcionamento dos órgãos públi-
cador (o Serviço Público) e o receptor dessas comunicações cos, o que só é alcançado se em sua elaboração for empre-
ou é o próprio Serviço Público (no caso de expedientes dirigi- gada a linguagem adequada. O mesmo se dá com os expe-
dos por um órgão a outro) – ou o conjunto dos cidadãos ou dientes oficiais, cuja finalidade precípua é a de informar com
instituições tratados de forma homogênea (o público). clareza e objetividade.
A redação oficial não é necessariamente árida e infensa à As comunicações que partem dos órgãos públicos fede-
evolução da língua. É que sua finalidade básica – comunicar rais devem ser compreendidas por todo e qualquer cidadão
com impessoalidade e máxima clareza – impõe certos parâ- brasileiro. Para atingir esse objetivo, há que evitar o uso de
metros ao uso que se faz da língua, de maneira diversa da- uma linguagem restrita a determinados grupos. Não há dú-
quele da literatura, do texto jornalístico, da correspondência vida de que um texto marcado por expressões de circulação
particular, etc. restrita, como a gíria, os regionalismos vocabulares ou o jar-
Apresentadas essas características fundamentais da re- gão técnico, tem sua compreensão dificultada.
dação oficial, passemos à análise pormenorizada de cada Ressalte-se que há necessariamente uma distância en-
uma delas. tre a língua falada e a escrita. Aquela é extremamente dinâ-
mica, reflete de forma imediata qualquer alteração de cos-

92
LÍNGUA PORTUGUESA

tumes, e pode eventualmente contar com outros elementos Concisão e Clareza


que auxiliem a sua compreensão, como os gestos, a entoação, A concisão é antes uma qualidade do que uma caracte-
etc., para mencionar apenas alguns dos fatores responsáveis rística do texto oficial. Conciso é o texto que consegue trans-
por essa distância. Já a língua escrita incorpora mais lenta- mitir o máximo de informações com um mínimo de palavras.
mente as transformações, tem maior vocação para a perma- Para que se redija com essa qualidade, é fundamental que se
nência e vale-se apenas de si mesma para comunicar. tenha, além de conhecimento do assunto sobre o qual se es-
Os textos oficiais, devido ao seu caráter impessoal e sua creve, o necessário tempo para revisar o texto depois de pron-
finalidade de informar com o máximo de clareza e concisão, to. É nessa releitura que muitas vezes se percebem eventuais
requerem o uso do padrão culto da língua. Há consenso de redundâncias ou repetições desnecessárias de ideias.
que o padrão culto é aquele em que se observam as regras O esforço de sermos concisos atende, basicamente, ao
da gramática formal e se emprega um vocabulário comum princípio de economia linguística, à mencionada fórmula de
ao conjunto dos usuários do idioma. É importante ressaltar empregar o mínimo de palavras para informar o máximo. Não
que a obrigatoriedade do uso do padrão culto na redação se deve, de forma alguma, entendê-la como economia de
oficial decorre do fato de que ele está acima das diferenças pensamento, isto é, não se devem eliminar passagens subs-
lexicais, morfológicas ou sintáticas regionais, dos modismos tanciais do texto no afã de reduzi-lo em tamanho. Trata-se
vocabulares, das idiossincrasias linguísticas, permitindo, por exclusivamente de cortar palavras inúteis, redundâncias, pas-
essa razão, que se atinja a pretendida compreensão por todos sagens que nada acrescentem ao que já foi dito.
os cidadãos. A clareza deve ser a qualidade básica de todo texto ofi-
Lembre-se de que o padrão culto nada tem contra a sim- cial. Pode-se definir como claro aquele texto que possibilita
plicidade de expressão, desde que não seja confundida com imediata compreensão pelo leitor. No entanto, a clareza não
pobreza de expressão. De nenhuma forma o uso do padrão é algo que se atinja por si só: ela depende estritamente das
culto implica emprego de linguagem rebuscada, nem dos demais características da redação oficial. Para ela concorrem:
contorcionismos sintáticos e figuras de linguagem próprios - a impessoalidade, que evita a duplicidade de interpre-
da língua literária. tações que poderia decorrer de um tratamento personalista
Pode-se concluir, então, que não existe propriamente um dado ao texto;
“padrão oficial de linguagem”; o que há é o uso do padrão - o uso do padrão culto de linguagem, em princípio, de
culto nos atos e comunicações oficiais. É claro que haverá pre- entendimento geral e por definição avesso a vocábulos de
ferência pelo uso de determinadas expressões, ou será obe- circulação restrita, como a gíria e o jargão;
decida certa tradição no emprego das formas sintáticas, mas - a formalidade e a padronização, que possibilitam a im-
isso não implica, necessariamente, que se consagre a utiliza- prescindível uniformidade dos textos;
ção de uma forma de linguagem burocrática. O jargão buro- - a concisão, que faz desaparecer do texto os excessos
crático, como todo jargão, deve ser evitado, pois terá sempre linguísticos que nada lhe acrescentam.
sua compreensão limitada. É pela correta observação dessas características que se
A linguagem técnica deve ser empregada apenas em redige com clareza. Contribuirá, ainda, a indispensável relei-
situações que a exijam, evitando o seu uso indiscriminado. tura de todo texto redigido. A ocorrência, em textos oficiais,
Certos rebuscamentos acadêmicos, e mesmo o vocabulário de trechos obscuros e de erros gramaticais provém, principal-
próprio à determinada área, são de difícil entendimento por mente, da falta da releitura que torna possível sua correção.
quem não esteja com eles familiarizado. Deve-se ter o cui- A revisão atenta exige, necessariamente, tempo. A pressa
dado, portanto, de explicitá-los em comunicações encami- com que são elaboradas certas comunicações quase sempre
nhadas a outros órgãos da administração e em expedientes compromete sua clareza. Não se deve proceder à redação de
dirigidos aos cidadãos. um texto que não seja seguida por sua revisão. “Não há as-
suntos urgentes, há assuntos atrasados”, diz a máxima. Evite-se,
Formalidade e Padronização pois, o atraso, com sua indesejável repercussão no redigir.
As comunicações oficiais devem ser sempre formais, isto
é, obedecem a certas regras de forma: além das já mencio- Pronomes de Tratamento
nadas exigências de impessoalidade e uso do padrão culto Concordância com os Pronomes de Tratamento
de linguagem, é imperativo, ainda, certa formalidade de tra- Os pronomes de tratamento (ou de segunda pessoa indi-
tamento. Não se trata somente da eterna dúvida quanto ao reta) apresentam certas peculiaridades quanto à concordân-
correto emprego deste ou daquele pronome de tratamento cia verbal, nominal e pronominal. Embora se refiram à segun-
para uma autoridade de certo nível; mais do que isso, a for- da pessoa gramatical (à pessoa com quem se fala, ou a quem
malidade diz respeito à polidez, à civilidade no próprio enfo- se dirige a comunicação), levam a concordância para a terceira
que dado ao assunto do qual cuida a comunicação. pessoa. É que o verbo concorda com o substantivo que in-
A formalidade de tratamento vincula-se, também, à ne- tegra a locução como seu núcleo sintático: “Vossa Senhoria
cessária uniformidade das comunicações. Ora, se a administra- nomeará o substituto”; “Vossa Excelência conhece o assunto”.
ção federal é una, é natural que as comunicações que expede Da mesma forma, os pronomes possessivos referidos a
sigam um mesmo padrão. O estabelecimento desse padrão pronomes de tratamento são sempre os da terceira pessoa:
exige que se atente para todas as características da redação “Vossa Senhoria nomeará seu substituto” (e não “Vossa... vos-
oficial e que se cuide, ainda, da apresentação dos textos. so...”).
A clareza datilográfica, o uso de papéis uniformes para Já quanto aos adjetivos referidos a esses pronomes, o
o texto definitivo e a correta diagramação do texto são in- gênero gramatical deve coincidir com o sexo da pessoa a que
dispensáveis para a padronização. se refere, e não com o substantivo que compõe a locução.

93
LÍNGUA PORTUGUESA

Assim, se nosso interlocutor for homem, o correto é “Vossa - deve ser utilizada fonte do tipo Times New Roman de
Excelência está atarefado”, “Vossa Senhoria deve estar satis- corpo 12 no texto em geral, 11 nas citações, e 10 nas notas
feito”; se for mulher, “Vossa Excelência está atarefada”, “Vossa de rodapé;
Senhoria deve estar satisfeita”. - para símbolos não existentes na fonte Times New Ro-
No envelope, o endereçamento das comunicações diri- man poder-se-á utilizar as fontes Symbol e Wingdings;
gidas às autoridades tratadas por Vossa Excelência, terá a se- - é obrigatório constar a partir da segunda página o
guinte forma: número da página;
- os ofícios, memorandos e anexos destes poderão ser
A Sua Excelência o Senhor impressos em ambas as faces do papel. Neste caso, as mar-
Fulano de Tal gens esquerda e direita terão as distâncias invertidas nas
Ministro de Estado da Justiça páginas pares (“margem espelho”);
70.064-900 – Brasília. DF - o campo destinado à margem lateral esquerda terá,
no mínimo, 3,0 cm de largura;
A Sua Excelência o Senhor
- o início de cada parágrafo do texto deve ter 2,5 cm de
Senador Fulano de Tal
distância da margem esquerda;
Senado Federal
70.165-900 – Brasília. DF - o campo destinado à margem lateral direita terá 1,5
cm;
Senhor Ministro, - deve ser utilizado espaçamento simples entre as li-
Submeto a Vossa Excelência projeto (...) nhas e de 6 pontos após cada parágrafo, ou, se o editor
de texto utilizado não comportar tal recurso, de uma linha
Fechos para Comunicações em branco;
O fecho das comunicações oficiais possui, além da fina- - não deve haver abuso no uso de negrito, itálico, sub-
lidade de arrematar o texto, a de saudar o destinatário. Os linhado, letras maiúsculas, sombreado, sombra, relevo, bor-
modelos para fecho que vinham sendo utilizados foram re- das ou qualquer outra forma de formatação que afete a
gulados pela Portaria nº1 do Ministério da Justiça, de 1937, elegância e a sobriedade do documento;
que estabelecia quinze padrões. Com o fito de simplificá-los - a impressão dos textos deve ser feita na cor preta em
e uniformiza-los, este Manual estabelece o emprego de so- papel branco. A impressão colorida deve ser usada apenas
mente dois fechos diferentes para todas as modalidades de para gráficos e ilustrações;
comunicação oficial: - todos os tipos de documentos do Padrão Ofício de-
a) para autoridades superiores, inclusive o Presidente vem ser impressos em papel de tamanho A-4, ou seja, 29,7
da República: Respeitosamente, x 21,0 cm;
b) para autoridades de mesma hierarquia ou de hie- - deve ser utilizado, preferencialmente, o formato de
rarquia inferior: Atenciosamente, arquivo Rich Text nos documentos de texto;
- dentro do possível, todos os documentos elabora-
Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigidas dos devem ter o arquivo de texto preservado para consulta
a autoridades estrangeiras, que atendem a rito e tradição pró- posterior ou aproveitamento de trechos para casos análo-
prios, devidamente disciplinados no Manual de Redação do gos;
Ministério das Relações Exteriores. - para facilitar a localização, os nomes dos arquivos de-
vem ser formados da seguinte maneira:
Identificação do Signatário
tipo do documento + número do documento + pala-
Excluídas as comunicações assinadas pelo Presidente da
vras-chaves do conteúdo
República, todas as demais comunicações oficiais devem trazer
o nome e o cargo da autoridade que as expede, abaixo do local Ex.: “Of. 123 - relatório produtividade ano 2002”
de sua assinatura. A forma da identificação deve ser a seguinte:
Aviso e Ofício
(espaço para assinatura)
Nome Definição e Finalidade
Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República Aviso e ofício são modalidades de comunicação oficial
praticamente idênticas. A única diferença entre eles é que
(espaço para assinatura) o aviso é expedido exclusivamente por Ministros de Estado,
Nome para autoridades de mesma hierarquia, ao passo que o ofí-
Ministro de Estado da Justiça cio é expedido para e pelas demais autoridades. Ambos têm
como finalidade o tratamento de assuntos oficiais pelos ór-
Para evitar equívocos, recomenda-se não deixar a assi- gãos da Administração Pública entre si e, no caso do ofício,
natura em página isolada do expediente. Transfira para essa também com particulares.
página ao menos a última frase anterior ao fecho.
Forma e Estrutura
Forma de diagramação Quanto a sua forma, aviso e ofício seguem o modelo
Os documentos do Padrão Ofício devem obedecer à do padrão ofício, com acréscimo do vocativo, que invoca o
seguinte forma de apresentação: destinatário, seguido de vírgula.

94
LÍNGUA PORTUGUESA

Exemplos: Em regra, a exposição de motivos é dirigida ao Presidente


Excelentíssimo Senhor Presidente da República da República por um Ministro de Estado.
Senhora Ministra Nos casos em que o assunto tratado envolva mais de um
Senhor Chefe de Gabinete Ministério, a exposição de motivos deverá ser assinada por to-
dos os Ministros envolvidos, sendo, por essa razão, chamada
Devem constar do cabeçalho ou do rodapé do ofício as de interministerial.
seguintes informações do remetente:
– nome do órgão ou setor; Forma e Estrutura - Formalmente, a exposição de mo-
– endereço postal; tivos tem a apresentação do padrão ofício. A exposição de
– telefone e e-mail. motivos, de acordo com sua finalidade, apresenta duas for-
mas básicas de estrutura: uma para aquela que tenha caráter
Observação: Estas informações estão ausentes no exclusivamente informativo e outra para a que proponha al-
memorando, pois se trata de comunicação interna - des- guma medida ou submeta projeto de ato normativo.
No primeiro caso, o da exposição de motivos que sim-
tinatário e remetente possuem o mesmo endereço. Se o
plesmente leva algum assunto ao conhecimento do Presiden-
Aviso é de um Ministério para outro Ministério, também
te da República, sua estrutura segue o modelo antes referido
não precisa especificar o endereço. O Ofício é enviado para para o padrão ofício.
outras instituições, logo, são necessárias as informações do
remetente e o endereço do destinatário para que o ofício Mensagem
possa ser entregue e o remetente possa receber resposta.
Definição e Finalidade - É o instrumento de comunica-
Memorando ção oficial entre os Chefes dos Poderes Públicos, notadamente
as mensagens enviadas pelo Chefe do Poder Executivo ao Poder
Definição e Finalidade Legislativo para informar sobre fato da Administração Pública,
O memorando é a modalidade de comunicação entre expor o plano de governo por ocasião da abertura de sessão
unidades administrativas de um mesmo órgão, que podem legislativa, submeter ao Congresso Nacional matérias que de-
estar hierarquicamente em mesmo nível ou em nível dife- pendem de deliberação de suas Casas, apresentar veto, enfim,
rente. Trata-se, portanto, de uma forma de comunicação fazer e agradecer comunicações de tudo quanto seja de inte-
eminentemente interna. resse dos poderes públicos e da Nação.
Pode ter caráter meramente administrativo, ou ser em- Minuta de mensagem pode ser encaminhada pelos Mi-
pregado para a exposição de projetos, ideias, diretrizes, nistérios à Presidência da República, a cujas assessorias caberá
etc. a serem adotados por determinado setor do serviço a redação final.
público. As mensagens mais usuais do Poder Executivo ao Con-
Sua característica principal é a agilidade. A tramitação gresso Nacional têm as seguintes finalidades:
do memorando em qualquer órgão deve pautar-se pela ra- - encaminhamento de projeto de lei ordinária, comple-
pidez e pela simplicidade de procedimentos burocráticos. mentar ou financeira;
Para evitar desnecessário aumento do número de comu- - encaminhamento de medida provisória;
nicações, os despachos ao memorando devem ser dados - indicação de autoridades;
no próprio documento e, no caso de falta de espaço, em - pedido de autorização para o Presidente ou o Vice-Pre-
folha de continuação. Este procedimento permite formar sidente da República ausentarem-se do País por mais de 15
dias;
uma espécie de processo simplificado, assegurando maior
- encaminhamento de atos de concessão e renovação de
transparência à tomada de decisões e permitindo que se
concessão de emissoras de rádio e TV;
historie o andamento da matéria tratada no memorando.
- encaminhamento das contas referentes ao exercício an-
terior;
Forma e Estrutura - mensagem de abertura da sessão legislativa;
Quanto a sua forma, o memorando segue o modelo do - comunicação de sanção (com restituição de autógrafos);
padrão ofício, com a diferença de que o seu destinatário - comunicação de veto;
deve ser mencionado pelo cargo que ocupa. Ex: - outras mensagens.

Ao Sr. Chefe do Departamento de Administração Forma e Estrutura - As mensagens contêm:


Ao Sr. Subchefe para Assuntos Jurídicos a) a indicação do tipo de expediente e de seu número,
horizontalmente, no início da margem esquerda;
Exposição de Motivos b) vocativo, de acordo com o pronome de tratamento e o
cargo do destinatário, horizontalmente, no início da margem
Definição e Finalidade - Exposição de motivos é o ex- esquerda (Excelentíssimo Senhor Presidente do Senado Fede-
pediente dirigido ao Presidente da República ou ao Vice-Pre- ral);
sidente para: c) o texto, iniciando a 2,0 cm do vocativo;
a) informá-lo de determinado assunto; b) propor algu- d) o local e a data, verticalmente a 2,0 cm do final do
ma medida; ou c) submeter a sua consideração projeto de texto, e horizontalmente fazendo coincidir seu final com a
ato normativo. margem direita.

95
LÍNGUA PORTUGUESA

A mensagem, como os demais atos assinados pelo Pre- Forma e Estrutura - Um dos atrativos de comunica-
sidente da República, não traz identificação de seu signa- ção por correio eletrônico é sua flexibilidade. Assim, não
tário. interessa definir forma rígida para sua estrutura. Entretanto,
deve-se evitar o uso de linguagem incompatível com uma
Telegrama comunicação oficial.
O campo “assunto” do formulário de correio eletrôni-
Definição e Finalidade - Com o fito de uniformizar a co mensagem deve ser preenchido de modo a facilitar a
terminologia e simplificar os procedimentos burocráticos, organização documental tanto do destinatário quanto do
passa a receber o título de telegrama toda comunicação remetente.
oficial expedida por meio de telegrafia, telex, etc. Para os arquivos anexados à mensagem, deve ser utili-
Por tratar-se de forma de comunicação dispendiosa aos zado, preferencialmente, o formato Rich Text. A mensagem
cofres públicos e tecnologicamente superada, deve restringir- que encaminha algum arquivo deve trazer informações mí-
se o uso do telegrama apenas àquelas situações que não seja nimas sobre seu conteúdo.
possível o uso de correio eletrônico ou fax e que a urgência Sempre que disponível, deve-se utilizar recurso de con-
justifique sua utilização. Em razão de seu custo elevado, esta firmação de leitura. Caso não seja disponível, deve constar
forma de comunicação deve pautar-se pela concisão. na mensagem o pedido de confirmação de recebimento.
Forma e Estrutura - Não há padrão rígido, devendo- Valor documental - Nos termos da legislação em vi-
se seguir a forma e a estrutura dos formulários disponíveis gor, para que a mensagem de correio eletrônico tenha valor
nas agências dos Correios e em seu sítio na Internet. documental, e para que possa ser aceito como documento
original, é necessário existir certificação digital que ateste
Fax a identidade do remetente, na forma estabelecida em lei.
Definição e Finalidade - O fax (forma abreviada já Elementos de Ortografia e Gramática
consagrada de fac-símile) é uma forma de comunicação
que está sendo menos usada devido ao desenvolvimento Problemas de Construção de Frases
da Internet. É utilizado para a transmissão de mensagens
urgentes e para o envio antecipado de documentos, de A clareza e a concisão na forma escrita são alcançadas,
cujo conhecimento há premência, quando não há condi- principalmente, pela construção adequada da frase, “a me-
ções de envio do documento por meio eletrônico. Quando nor unidade autônoma da comunicação”, na definição de
necessário o original, ele segue posteriormente pela via e Celso Pedro Luft.
na forma de praxe. A função essencial da frase é desempenhada pelo pre-
Se necessário o arquivamento, deve-se fazê-lo com có-
dicado, que, para Adriano da Gama Kury, pode ser entendi-
pia do fax e não com o próprio fax, cujo papel, em certos
do como “a enunciação pura de um fato qualquer”. Sempre
modelos, deteriora-se rapidamente.
que a frase possuir pelo menos um verbo, recebe o nome
de período, que terá tantas orações quantos forem os ver-
Forma e Estrutura - Os documentos enviados por fax
bos não auxiliares que o constituem.
mantêm a forma e a estrutura que lhes são inerentes.
Outra função relevante é a do sujeito – mas não indis-
É conveniente o envio, juntamente com o documento
principal, de folha de rosto e de pequeno formulário com pensável, pois há orações sem sujeito, ditas impessoais –,
os dados de identificação da mensagem a ser enviada, con- de quem se diz algo, cujo núcleo é sempre um substantivo.
forme exemplo a seguir: Sempre que o verbo o exigir, teremos nas orações substan-
tivos (nomes ou pronomes) que desempenham a função
[Órgão Expedidor] de complementos (objetos direto e indireto, predicativo e
[setor do órgão expedidor] complemento adverbial). Função acessória desempenham
[endereço do órgão expedidor] os adjuntos adverbiais, que vêm geralmente ao final da
Destinatário:____________________________________ oração, mas que podem ser ou intercalados aos elementos
No do fax de destino:_______________ Data:___/___/___ que desempenham as outras funções, ou deslocados para
Remetente: ____________________________________ o início da oração.
Tel. p/ contato:____________ Fax/correio eletrônico:____ Temos, assim, a seguinte ordem de colocação dos ele-
No de páginas: ________ No do documento:____________ mentos que compõem uma oração (Observação: os parên-
teses indicam os elementos que podem não ocorrer):
Observações:___________________________________
(sujeito) - verbo - (complementos) - (adjunto adverbial).
Correio Eletrônico
Podem ser identificados seis padrões básicos para as
Definição e finalidade - O correio eletrônico (“e-mail”), orações pessoais (isto é, com sujeito) na língua portuguesa
por seu baixo custo e celeridade, transformou-se na princi- (a função que vem entre parênteses é facultativa e pode
pal forma de comunicação para transmissão de documen- ocorrer em ordem diversa):
tos.
1. Sujeito - verbo intransitivo - (Adjunto Adverbial)

96
LÍNGUA PORTUGUESA

O Presidente - regressou - (ontem). Certo: Não vejo mal em o Governo proceder assim.

2. Sujeito - verbo transitivo direto - objeto direto - (ad- Errado: Antes destes requisitos serem cumpridos, (...).
junto adverbial) Certo: Antes de estes requisitos serem cumpridos, (...).
O Chefe da Divisão - assinou - o termo de posse - (na
manhã de terça-feira). Errado: Apesar da Assessoria ter informado em tempo, (...).
Certo: Apesar de a Assessoria ter informado em tempo, (...).
3. Sujeito - verbo transitivo indireto - objeto indireto -
(adjunto adverbial). Frases Fragmentadas
O Brasil - precisa - de gente honesta - (em todos os se- A fragmentação de frases “consiste em pontuar uma
tores). oração subordinada ou uma simples locução como se fosse
uma frase completa”. Decorre da pontuação errada de uma
frase simples. Embora seja usada como recurso estilístico na
4. Sujeito - verbo transitivo direto e indireto - obj. dire-
literatura, a fragmentação de frases deve ser evitada nos
to - obj. indireto - (adj. Adv.)
textos oficiais, pois muitas vezes dificulta a compreensão.
Os desempregados - entregaram - suas reivindicações -
Exemplo:
ao Deputado - (no Congresso). Errado: O programa recebeu a aprovação do Congresso
5. Sujeito - verbo transitivo indireto - complemento ad- Nacional. Depois de ser longamente debatido.
verbial - (adjunto adverbial) Certo: O programa recebeu a aprovação do Congresso
A reunião do Grupo de Trabalho - ocorrerá - em Buenos Nacional, depois de ser longamente debatido.
Aires - (na próxima semana). Certo: Depois de ser longamente debatido, o programa re-
O Presidente - voltou - da Europa - (na sexta-feira) cebeu a aprovação do Congresso Nacional.

6. Sujeito - verbo de ligação - predicativo - (adjunto ad- Errado: O projeto de Convenção foi oportunamente sub-
verbial) metido ao Presidente da República, que o aprovou. Consultadas
O problema - será - resolvido - prontamente. as áreas envolvidas na elaboração do texto legal.
Certo: O projeto de Convenção foi oportunamente subme-
Estes seriam os padrões básicos para as orações, ou seja, tido ao Presidente da República, que o aprovou, consultadas as
as frases que possuem apenas um verbo conjugado. Na cons- áreas envolvidas na elaboração do texto legal.
trução de períodos, as várias funções podem ocorrer em or-
dem inversa à mencionada, misturando-se e confundindo-se. Erros de Paralelismo
Não interessa aqui análise exaustiva de todos os padrões exis- Uma das convenções estabelecidas na linguagem escrita
tentes na língua portuguesa. O que importa é fixar a ordem “consiste em apresentar ideias similares numa forma gramati-
normal dos elementos nesses seis padrões básicos. Acrescen- cal idêntica”, o que se chama de paralelismo. Assim, incorre-se
te-se que períodos mais complexos, compostos por duas ou em erro ao conferir forma não paralela a elementos paralelos.
mais orações, em geral podem ser reduzidos aos padrões bá- Vejamos alguns exemplos:
sicos (de que derivam).
Os problemas mais frequentemente encontrados na Errado: Pelo aviso circular recomendou-se aos Ministérios eco-
construção de frases dizem respeito à má pontuação, à am- nomizar energia e que elaborassem planos de redução de despesas.
biguidade da ideia expressa, à elaboração de falsos paralelis-
Na frase temos, nas duas orações subordinadas que com-
mos, erros de comparação, etc. Decorrem, em geral, do des-
pletam o sentido da principal, duas estruturas diferentes para
conhecimento da ordem das palavras na frase. Indicam-se, a
ideias equivalentes: a primeira oração (economizar energia) é
seguir, alguns desses defeitos mais comuns e recorrentes na
reduzida de infinitivo, enquanto a segunda (que elaborassem
construção de frases, registrados em documentos oficiais. planos de redução de despesas) é uma oração desenvolvida
introduzida pela conjunção integrante que. Há mais de uma
Sujeito possibilidade de escrevê-la com clareza e correção; uma seria
Como dito, o sujeito é o ser de quem se fala ou que exe- a de apresentar as duas orações subordinadas como desen-
cuta a ação enunciada na oração. Ele pode ter complemen- volvidas, introduzidas pela conjunção integrante que:
to, mas não ser complemento. Devem ser evitadas, portanto,
construções como: Certo: Pelo aviso circular, recomendou-se aos Ministérios
que economizassem energia e (que) elaborassem planos para
Errado: É tempo do Congresso votar a emenda. redução de despesas.
Certo: É tempo de o Congresso votar a emenda.
Outra possibilidade: as duas orações são apresentadas
Errado: Apesar das relações entre os países estarem cor- como reduzidas de infinitivo:
tadas, (...). Certo: Pelo aviso circular, recomendou-se aos Ministérios
Certo: Apesar de as relações entre os países estarem cor- economizar energia e elaborar planos para redução de despesas.
tadas, (...).
Nas duas correções respeita-se a estrutura paralela na
Errado: Não vejo mal no Governo proceder assim. coordenação de orações subordinadas.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Mais um exemplo de frase inaceitável na língua escrita culta: Certo: O salário de um professor é mais baixo do que o de
Errado: No discurso de posse, mostrou determinação, não um médico.
ser inseguro, inteligência e ter ambição.
Errado: O alcance do Decreto é diferente da Portaria.
O problema aqui decorre de coordenar palavras (subs- Novamente, a não repetição dos termos comparados
tantivos) com orações (reduzidas de infinitivo). confunde. Alternativas para correção:
Para tornar a frase clara e correta, pode-se optar ou por Certo: O alcance do Decreto é diferente do alcance da Por-
transformá-la em frase simples, substituindo as orações redu- taria.
zidas por substantivos: Certo: O alcance do Decreto é diferente do da Portaria.
Certo: No discurso de posse, mostrou determinação, segu- Errado: O Ministério da Educação dispõe de mais verbas
rança, inteligência e ambição. do que os Ministérios do Governo.
No exemplo acima, a omissão da palavra “outros” (ou
Atentemos, ainda, para o problema inverso, o falso pa- “demais”) acarretou imprecisão:
ralelismo, que ocorre ao se dar forma paralela (equivalente) Certo: O Ministério da Educação dispõe de mais verbas do
a ideias de hierarquia diferente ou, ainda, ao se apresentar, que os outros Ministérios do Governo.
de forma paralela, estruturas sintáticas distintas: Certo: O Ministério da Educação dispõe de mais verbas do
Errado: O Presidente visitou Paris, Bonn, Roma e o Papa. que os demais Ministérios do Governo.
Ambiguidade
Nesta frase, colocou-se em um mesmo nível cidades (Pa-
ris, Bonn, Roma) e uma pessoa (o Papa). Uma possibilidade Ambígua é a frase ou oração que pode ser tomada em
de correção é transformá-la em duas frases simples, com o mais de um sentido. Como a clareza é requisito básico de
cuidado de não repetir o verbo da primeira (visitar): todo texto oficial, deve-se atentar para as construções que
Certo: O Presidente visitou Paris, Bonn e Roma. Nesta últi- possam gerar equívocos de compreensão.
ma capital, encontrou-se com o Papa. A ambiguidade decorre, em geral, da dificuldade de
identificar a qual palavra se refere um pronome que possui
Mencionemos, por fim, o falso paralelismo provocado mais de um antecedente na terceira pessoa. Pode ocorrer
pelo uso inadequado da expressão “e que” num período que com:
não contém nenhum “que” anterior.
Errado: O novo procurador é jurista renomado, e que tem - pronomes pessoais:
sólida formação acadêmica. Ambíguo: O Ministro comunicou a seu secretariado que
ele seria exonerado.
Para corrigir a frase, suprimimos o pronome relativo: Claro: O Ministro comunicou exoneração dele a seu se-
Certo: O novo procurador é jurista renomado e tem sólida cretariado.
formação acadêmica. Ou então, caso o entendimento seja outro:
Claro: O Ministro comunicou a seu secretariado a exo-
Outro exemplo de falso paralelismo com “e que”: neração deste.
Errado: Neste momento, não se devem adotar medidas
precipitadas, e que comprometam o andamento de todo o pro- - pronomes possessivos e pronomes oblíquos:
grama. Ambíguo: O Deputado saudou o Presidente da Repúbli-
Da mesma forma com que corrigimos o exemplo anterior, ca, em seu discurso, e solicitou sua intervenção no seu Esta-
aqui podemos suprimir a conjunção: do, mas isso não o surpreendeu.
Certo: Neste momento, não se devem adotar medidas pre- Observe a multiplicidade de ambiguidade no exemplo
cipitadas, que comprometam o andamento de todo o progra- acima, a qual torna incompreensível o sentido da frase.
ma. Claro: Em seu discurso o Deputado saudou o Presidente
da República. No pronunciamento, solicitou a intervenção
Erros de Comparação
federal em seu Estado, o que não surpreendeu o Presidente
da República.
A omissão de certos termos ao fazermos uma compara-
ção, omissão própria da língua falada, deve ser evitada na lín-
- pronome relativo:
gua escrita, pois compromete a clareza do texto: nem sempre
Ambíguo: Roubaram a mesa do gabinete em que eu
é possível identificar, pelo contexto, qual o termo omitido. A
costumava trabalhar.
ausência indevida de um termo pode impossibilitar o enten-
dimento do sentido que se quer dar a uma frase: Não fica claro se o pronome relativo da segunda ora-
ção faz referência “à mesa” ou “a gabinete”. Esta ambigui-
Errado: O salário de um professor é mais baixo do que um dade se deve ao pronome relativo “que”, sem marca de gê-
médico. nero. A solução é recorrer às formas o qual, a qual, os quais,
A omissão de termos provocou uma comparação indevi- as quais, que marcam gênero e número.
da: “o salário de um professor” com “um médico”. Claro: Roubaram a mesa do gabinete no qual eu costu-
Certo: O salário de um professor é mais baixo do que o mava trabalhar.
salário de um médico. Se o entendimento é outro, então:

98
LÍNGUA PORTUGUESA

Claro: Roubaram a mesa do gabinete na qual eu costu- dos pronomes de tratamento apresentados nas alternati-
mava trabalhar. vas, o pronome demonstrativo será “sua”. Descartamos, en-
tão, os itens A, C e E. Agora recorramos ao pronome ade-
Há, ainda, outro tipo de ambiguidade, que decorre da quado a ser utilizado para deputados. Segundo o Manual
dúvida sobre a que se refere a oração reduzida: de Redação Oficial, temos:
Ambíguo: Sendo indisciplinado, o Chefe admoestou o Vossa Excelência, para as seguintes autoridades:
funcionário. b) do Poder Legislativo: Presidente, Vice–Presidente e
Para evitar o tipo de ambiguidade do exemplo acima, Membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal
deve-se deixar claro qual o sujeito da oração reduzida. (...).
Claro: O Chefe admoestou o funcionário por ser este RESPOSTA: “D”.
indisciplinado.
2-) (ANTAQ – ESPECIALISTA EM REGULAÇÃO DE SER-
Ambíguo: Depois de examinar o paciente, uma senhora VIÇOS DE TRANSPORTES AQUAVIÁRIOS – CESPE/2014)
chamou o médico. Considerando aspectos estruturais e linguísticos das cor-
Claro: Depois que o médico examinou o paciente, foi respondências oficiais, julgue os itens que se seguem, de
chamado por uma senhora. acordo com o Manual de Redação da Presidência da Re-
pública.
O tratamento Digníssimo deve ser empregado para to-
Fontes de pesquisa:
das as autoridades do poder público, uma vez que a dig-
http://www.redacaooficial.com.br/redacao_oficial_pu-
nidade é tida como qualidade inerente aos ocupantes de
blicacoes_ver.php?id=2
cargos públicos.
http://portuguesxconcursos.blogspot.com.br/p/reda-
( ) CERTO ( ) ERRADO
cao-oficial-para-concursos.html
2-) Vamos ao Manual: O Manual ainda preceitua que a
Questões forma de tratamento “Digníssimo” fica abolida (...) afinal, a
dignidade é condição primordial para que tais cargos públi-
1-) (TJ-PA - MÉDICO PSIQUIATRA - VUNESP - 2014) cos sejam ocupados.
Leia o seguinte fragmento de um ofício, citado do Manual Fonte: http://www.redacaooficial.com.br/redacao_ofi-
de Redação da Presidência da República, no qual expres- cial_publicacoes_ver.php?id=2
sões foram substituídas por lacunas. RESPOSTA: “ERRADO”.

Senhor Deputado 3-) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA/SE – TÉCNICO JUDICIÁRIO


Em complemento às informações transmitidas pelo te- – CESPE/2014) Em toda comunicação oficial, exceto nas di-
legrama n.º 154, de 24 de abril último, informo _____ de que recionadas a autoridades estrangeiras, deve-se fazer uso
as medidas mencionadas em ______ carta n.º 6708, dirigida dos fechos Respeitosamente ou Atenciosamente, de acor-
ao Senhor Presidente da República, estão amparadas pelo do com as hierarquias do destinatário e do remetente.
procedimento administrativo de demarcação de terras in- ( ) CERTO (
dígenas instituído pelo Decreto n.º 22, de 4 de fevereiro de ) ERRADO
1991 (cópia anexa).
(http://www.planalto.gov.br. Adaptado) 3-) Segundo o Manual de Redação Oficial: (...) Manual
estabelece o emprego de somente dois fechos diferentes
A alternativa que completa, correta e respectivamen- para todas as modalidades de comunicação oficial:
te, as lacunas do texto, de acordo com a norma-padrão a) para autoridades superiores, inclusive o Presidente
da língua portuguesa e atendendo às orientações oficiais da República: Respeitosamente,
a respeito do uso de formas de tratamento em correspon- b) para autoridades de mesma hierarquia ou de hierar-
quia inferior: Atenciosamente,
dências públicas, é:
Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigi-
A) Vossa Senhoria … tua.
das a autoridades estrangeiras, que atendem a rito e tra-
B) Vossa Magnificência … sua.
dição próprios, devidamente disciplinados no Manual de
C) Vossa Eminência … vossa.
Redação do Ministério das Relações Exteriores.
D) Vossa Excelência … sua. RESPOSTA: “CERTO”.
E) Sua Senhoria … vossa.

1-) Podemos começar pelo pronome demonstrativo.


Mesmo utilizando pronomes de tratamento “Vossa” (mui-
tas vezes confundido com “vós” e seu respectivo “vosso”),
os pronomes que os acompanham deverão ficar sempre na
terceira pessoa (do plural ou do singular, de acordo com o
número do pronome de tratamento). Então, em quaisquer

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LÍNGUA PORTUGUESA

Não encontramos as pessoas que saíram.


FUNÇÕES DO “QUE” E DO “SE” • pronome indefinido: nesse caso, pode funcionar
como pronome substantivo ou pronome adjetivo.
• pronome substantivo: equivale a que coisa. Quando
for pronome substantivo, a palavra que exercerá as fun-
A palavra que em português pode ser: ções próprias do substantivo (sujeito, objeto direto, objeto
Interjeição: exprime espanto, admiração, surpresa. indireto, etc.)
Nesse caso, será acentuada e seguida de ponto de Que aconteceu com você?
exclamação. Usa-se também a variação  o quê! A pala-
vra que não exerce função sintática quando funciona como • pronome adjetivo: determina um substantivo. Nesse
interjeição. caso, exerce a função sintática de adjunto adnominal.

Quê! Você ainda não está pronto? Que vida é essa?


O quê! Quem sumiu?
Conjunção: relaciona entre si duas orações. Nesse
Substantivo: equivale a alguma coisa. caso, não exerce função sintática. Como conjunção, a pala-
Nesse caso, virá sempre antecedida de artigo ou outro vra que pode relacionar tanto orações coordenadas quan-
determinante, e receberá acento por ser monossílabo tô- to subordinadas, daí classificar-se como conjunção coorde-
nativa ou conjunção subordinativa. Quando funciona como
nico terminado em e. Como substantivo, designa também
conjunção coordenativa ou subordinativa, a palavra que
a 16ª letra de nosso alfabeto. Quando a palavra que for
recebe o nome da oração que introduz. Por exemplo:
substantivo, exercerá as funções sintáticas próprias dessa
Venha logo, que é tarde. (conjunção coordenativa ex-
classe de palavra (sujeito, objeto direto, objeto indireto,
plicativa)
predicativo, etc.) Falou tanto que ficou rouco. (conjunção subordinativa
consecutiva)
Ele tem certo quê misterioso. (substantivo na função
de núcleo do objeto direto) Quando inicia uma oração subordinada substantiva, a
palavra que recebe o nome de conjunção subordinativa
Preposição: liga dois verbos de uma locução verbal integrante.
em que o auxiliar é o verboter.
Equivale a de. Quando é preposição, a palavra que não Desejo que você venha logo.
exerce função sintática.

Tenho que sair agora. A palavra se 


Ele tem que dar o dinheiro hoje.
A palavra se, em português, pode ser:
Partícula expletiva ou de realce: pode ser retirada da
frase, sem prejuízo algum para o sentido. Conjunção: relaciona entre si duas orações. Nesse
Nesse caso, a palavra que  não exerce função sintáti- caso, não exerce função sintática. Como conjunção, a pala-
ca; como o próprio nome indica, é usada apenas para dar vra se pode ser:
realce. Como partícula expletiva, aparece também na ex- * conjunção subordinativa integrante: inicia uma ora-
pressão é que. ção subordinada substantiva.
Perguntei se ele estava feliz.
Quase que não consigo chegar a tempo. * conjunção subordinativa condicional: inicia uma ora-
Elas é que conseguiram chegar. ção adverbial condicional (equivale a caso).
Advérbio:  modifica um adjetivo ou um advérbio. Se todos tivessem estudado, as notas seriam boas.
Equivale a quão. Quando funciona como advérbio, a pala-
Partícula expletiva ou de realce: pode ser retirada da
vra que exerce a função sintática de adjunto adverbial; no
frase sem prejuízo algum para o sentido. Nesse caso, a pa-
caso, de intensidade.
lavra se não exerce função sintática. Como o próprio nome
indica, é usada apenas para dar realce.
Que lindas flores!
Passavam-se os dias e nada acontecia.
Que barato!
Parte integrante do verbo: faz parte integrante dos
Pronome: como pronome, a palavra que pode ser: verbos pronominais. Nesse caso, o se não exerce função
• pronome relativo: retoma um termo da oração an- sintática.
tecedente, projetando-o na oração consequente. Equivale Ele arrependeu-se do que fez.
a o qual e flexões.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Partícula apassivadora: ligada a verbo que pede ob- Quanto ao nível informal, por sua vez, representa o es-
jeto direto, caracteriza as orações que estão na voz passi- tilo considerado “de menor prestígio”, e isto tem gerado
va sintética. É também chamada de pronome apassivador. controvérsias entre os estudos da língua, uma vez que, para
Nesse caso, não exerce função sintática, seu papel é apenas a sociedade, aquela pessoa que fala ou escreve de maneira
apassivar o verbo. errônea é considerada “inculta”, tornando-se desta forma
um estigma.
Vendem-se casas. Compondo o quadro do padrão informal da lingua-
Aluga-se carro. gem, estão as chamadas variedades linguísticas, as quais
Compram-se joias. representam as variações de acordo com as condições so-
Índice de indeterminação do sujeito: vem ligando a ciais, culturais, regionais e históricas em que é utilizada.
um verbo que não é transitivo direto, tornando o sujeito Dentre elas destacam-se:
indeterminado. Não exerce propriamente uma função sin-
tática, seu papel é o de indeterminar o sujeito. Lembre-se Variações históricas: Dado o dinamismo que a lín-
de que, nesse caso, o verbo deverá estar na terceira pessoa gua apresenta, a mesma sofre transformações ao longo do
do singular. tempo. Um exemplo bastante representativo é a questão
da ortografia, se levarmos em consideração a palavra far-
Trabalha-se de dia. mácia, uma vez que a mesma era grafada com “ph”, con-
Precisa-se de vendedores. trapondo-se à linguagem dos internautas, a qual se fun-
damenta pela supressão do vocábulos. Analisemos, pois, o
Pronome reflexivo: quando a palavra se é pronome fragmento exposto:
pessoal, ela deverá estar sempre na mesma pessoa do su-
jeito da oração de que faz parte. Por isso o pronome oblí-
quo se sempre será reflexivo (equivalendo a a si mesmo), Antigamente
podendo assumir as seguintes funções sintáticas:
“Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e
eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos:
* objeto direto
completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas,
Ele cortou-se com o facão.
mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arras-
* objeto indireto
tando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio.”
Ele se atribui muito valor.
Carlos Drummond de Andrade
* sujeito de um infinitivo
Comparando-o à modernidade, percebemos um voca-
“Sofia deixou-se estar à janela.”
bulário antiquado.
* Texto adaptado por Por Marina Cabral Variações regionais: São os chamados dialetos, que
são as marcas determinantes referentes a diferentes re-
Fonte: http://brasilescola.uol.com.br/gramatica/classi- giões. Como exemplo, citamos a palavra mandioca que,
ficacao-das-palavras-que-e-se.htm em certos lugares, recebe outras nomenclaturas, tais como:
macaxeira e aipim. Figurando também esta modalidade es-
tão os sotaques, ligados às características orais da lingua-
gem.

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA. Variações sociais ou culturais: Estão diretamente li-


gadas aos grupos sociais de uma maneira geral e também
ao grau de instrução de uma determinada pessoa. Como
exemplo, citamos as gírias, os jargões e o linguajar caipira.
A linguagem é a característica que nos difere dos de- As gírias pertencem ao vocabulário específico de cer-
mais seres, permitindo-nos a oportunidade de expressar tos grupos, como os surfistas, cantores de rap, tatuadores,
sentimentos, revelar conhecimentos, expor nossa opinião entre outros. Os jargões estão relacionados ao profissiona-
frente aos assuntos relacionados ao nosso cotidiano e, so- lismo, caracterizando um linguajar técnico. Representando
bretudo, promovendo nossa inserção ao convívio social. a classe, podemos citar os médicos, advogados, profissio-
Dentre os fatores que a ela se relacionam destacam-se os nais da área de informática, dentre outros.
níveis da fala, que são basicamente dois: o nível de formali-
dade e o de informalidade. Vejamos um poema sobre o assunto:
O padrão formal está diretamente ligado à linguagem
escrita, restringindo-se às normas gramaticais de um modo Vício na fala
geral. Razão pela qual nunca escrevemos da mesma ma- Para dizerem milho dizem mio
neira que falamos. Este fator foi determinante para a que Para melhor dizem mió
a mesma pudesse exercer total soberania sobre as demais. Para pior pió

101
LÍNGUA PORTUGUESA

Para telha dizem teia Releva considerar, assim, o momento do discurso, que
Para telhado dizem teiado pode ser íntimo, neutro ou solene. O momento íntimo é o
E vão fazendo telhados. das liberdades da fala. No recesso do lar, na fala entre ami-
Oswald de Andrade gos, parentes, namorados, etc., portanto, são consideradas
perfeitamente normais construções do tipo:
Fonte: http://www.brasilescola.com/gramatica/varia- Eu não vi ela hoje.
coes-linguisticas.htm Ninguém deixou ele falar.
Deixe eu ver isso!
Eu te amo, sim, mas não abuse!
Níveis de linguagem Não assisti o filme nem vou assisti-lo.
Sou teu pai, por isso vou perdoá-lo.
A língua é um código de que se serve o homem para
elaborar mensagens, para se comunicar. Existem basica- Nesse momento, a informalidade prevalece sobre a
mente duas modalidades de língua, ou seja, duas línguas norma culta, deixando mais livres os interlocutores.
funcionais: O momento neutro é o do uso da língua-padrão, que
1) a língua funcional de modalidade culta, língua culta é a língua da Nação. Como forma de respeito, tomam-se
ou língua-padrão, que compreende a língua literária, tem por base aqui as normas estabelecidas na gramática, ou
por base a norma culta, forma linguística utilizada pelo seja, a norma culta. Assim, aquelas mesmas construções se
segmento mais culto e influente de uma sociedade. Cons- alteram:
titui, em suma, a língua utilizada pelos veículos de comu- Eu não a vi hoje.
nicação de massa (emissoras de rádio e televisão, jornais, Ninguém o deixou falar.
revistas, painéis, anúncios, etc.), cuja função é a de serem Deixe-me ver isso!
aliados da escola, prestando serviço à sociedade, colabo- Eu te amo, sim, mas não abuses!
rando na educação; Não assisti ao filme nem vou assistir a ele.
2) a língua funcional de modalidade popular; língua po-
Sou seu pai, por isso vou perdoar-lhe.
pular ou língua cotidiana, que apresenta gradações as mais
diversas, tem o seu limite na gíria e no calão.
Considera-se momento neutro o utilizado nos veículos
Norma culta:
de comunicação de massa (rádio, televisão, jornal, revista,
etc.). Daí o fato de não se admitirem deslizes ou transgres-
A norma culta, forma linguística que todo povo civiliza-
sões da norma culta na pena ou na boca de jornalistas,
do possui, é a que assegura a unidade da língua nacional.
quando no exercício do trabalho, que deve refletir serviço
E justamente em nome dessa unidade, tão importante do
à causa do ensino.
ponto de vista político--cultural, que é ensinada nas esco-
las e difundida nas gramáticas. Sendo mais espontânea e O momento solene, acessível a poucos, é o da arte
criativa, a língua popular afigura-se mais expressiva e dinâ- poética, caracterizado por construções de rara beleza.
mica. Temos, assim, à guisa de exemplificação: Vale lembrar, finalmente, que a língua é um costume.
Estou preocupado. (norma culta) Como tal, qualquer transgressão, ou chamado erro, deixa
Tô preocupado. (língua popular) de sê-lo no exato instante em que a maioria absoluta o co-
Tô grilado. (gíria, limite da língua popular) mete, passando, assim, a constituir fato linguístico registro
de linguagem definitivamente consagrado pelo uso, ainda
Não basta conhecer apenas uma modalidade de lín- que não tenha amparo gramatical. Exemplos:
gua; urge conhecer a língua popular, captando-lhe a es- Olha eu aqui! (Substituiu: Olha-me aqui!)
pontaneidade, expressividade e enorme criatividade, para Vamos nos reunir. (Substituiu: Vamo-nos reunir.)
viver; urge conhecer a língua culta para conviver. Não vamos nos dispersar. (Substituiu: Não nos vamos
Podemos, agora, definir gramática: é o estudo das nor- dispersar e Não vamos dispersar-nos.)
mas da língua culta. Tenho que sair daqui depressinha. (Substituiu: Tenho de
sair daqui bem depressa.)
O conceito de erro em língua: O soldado está a postos. (Substituiu: O soldado está no
seu posto.)
Em rigor, ninguém comete erro em língua, exceto nos
casos de ortografia. O que normalmente se comete são As formas impeço, despeço e desimpeço, dos verbos im-
transgressões da norma culta. De fato, aquele que, num pedir, despedir e desimpedir, respectivamente, são exemplos
momento íntimo do discurso, diz: “Ninguém deixou ele fa- também de transgressões ou “erros” que se tornaram fatos
lar”, não comete propriamente erro; na verdade, transgride linguísticos, já que só correm hoje porque a maioria viu
a norma culta. tais verbos como derivados de pedir, que tem início, na sua
Um repórter, ao cometer uma transgressão em sua fala, conjugação, com peço. Tanto bastou para se arcaizarem as
transgride tanto quanto um indivíduo que comparece a um formas então legítimas impido, despido e desimpido, que
banquete trajando xortes ou quanto um banhista, numa hoje nenhuma pessoa bem-escolarizada tem coragem de
praia, vestido de fraque e cartola. usar.

102
LÍNGUA PORTUGUESA

Em vista do exposto, será útil eliminar do vocabulário


escolar palavras como corrigir e correto, quando nos refe- O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO E AS
rimos a frases. “Corrija estas frases” é uma expressão que FUNÇÕES DA LINGUAGEM.
deve dar lugar a esta, por exemplo: “Converta estas frases
da língua popular para a língua culta”.
Uma frase correta não é aquela que se contrapõe a
uma frase “errada”; é, na verdade, uma frase elaborada con- Comunicação
forme as normas gramaticais; em suma, conforme a norma
culta. A comunicação constitui uma das ferramentas mais im-
portantes que os líderes têm à sua disposição para desem-
Língua escrita e língua falada. Nível de linguagem: penhar as suas funções de influência. A sua importância é
tal que alguns autores a consideram mesmo como o “san-
A língua escrita, estática, mais elaborada e menos eco- gue” que dá vida à organização. Esta importância deve-se
nômica, não dispõe dos recursos próprios da língua falada. essencialmente ao fato de apenas através de uma comuni-
A acentuação (relevo de sílaba ou sílabas), a entoação cação efetiva ser possível:
(melodia da frase), as pausas (intervalos significativos no
decorrer do discurso), além da possibilidade de gestos, - Estabelecer e dar a conhecer, com a participação de
olhares, piscadas, etc., fazem da língua falada a modalidade membros de todos os níveis hierárquicos da organização,
mais expressiva, mais criativa, mais espontânea e natural, os objetivos organizacionais por forma a que contemplem,
estando, por isso mesmo, mais sujeita a transformações e não apenas os interesses da organização, mas também os
a evoluções. interesses de todos os seus membros.
Nenhuma, porém, sobrepõe-se a outra em importân-
cia. Nas escolas, principalmente, costuma se ensinar a lín- - Definir e dar a conhecer, com a participação de mem-
gua falada com base na língua escrita, considerada supe- bros de todos os níveis hierárquicos da organização, a es-
rior. Decorrem daí as correções, as retificações, as emendas, trutura organizacional, quer ao nível do desenho organiza-
a que os professores sempre estão atentos. cional, quer ao nível da distribuição de autoridade, respon-
Ao professor cabe ensinar as duas modalidades, mos- sabilidade e tarefas.
trando as características e as vantagens de uma e outra,
sem deixar transparecer nenhum caráter de superioridade - Definir e dar a conhecer, com a participação de mem-
ou inferioridade, que em verdade inexiste. bros de todos os níveis hierárquicos da organização, de-
Isso não implica dizer que se deve admitir tudo na lín- cisões, planos, políticas, procedimentos e regras aceites e
gua falada. A nenhum povo interessa a multiplicação de respeitadas por todos os membros da organização.
línguas. A nenhuma nação convém o surgimento de diale-
tos, consequência natural do enorme distanciamento entre - Coordenar, dar apoio e controlar as atividades de to-
uma modalidade e outra. dos os membros da organização.
A língua escrita é, foi e sempre será mais bem-ela-
borada que a língua falada, porque é a modalidade que - Efetuar a integração dos diferentes departamentos e
mantém a unidade linguística de um povo, além de ser a permitir a ajuda e cooperação interdepartamental.
que faz o pensamento atravessar o espaço e o tempo. Ne-
nhuma reflexão, nenhuma análise mais detida será possível - Desempenhar eficazmente o papel de influência atra-
sem a língua escrita, cujas transformações, por isso mesmo, vés da compreensão e atuação em conformidade satisfa-
processam-se lentamente e em número consideravelmente ção das necessidades e sentimentos das pessoas por forma
menor, quando cotejada com a modalidade falada. a aumentar a sua motivação.
Importante é fazer o educando perceber que o nível da
linguagem, a norma linguística, deve variar de acordo com Elementos do Processo de Comunicação
a situação em que se desenvolve o discurso.
O ambiente sociocultural determina o nível da lingua- Para perceber desenvolver políticas de comunicação
gem a ser empregado. O vocabulário, a sintaxe, a pronúncia eficazes é necessário analisar antes cada um dos elemen-
e até a entoação variam segundo esse nível. Um padre não tos que fazem parte do processo de comunicação. Assim,
fala com uma criança como se estivesse em uma missa, as- fazem parte do processo de comunicação o emissor, um
sim como uma criança não fala como um adulto. Um enge- canal de transmissão, geralmente influenciado por ruídos,
nheiro não usará um mesmo discurso, ou um mesmo nível um receptor e ainda o feedback do receptor.
de fala, para colegas e para pedreiros, assim como nenhum
professor utiliza o mesmo nível de fala no recesso do lar e - Emissor (ou fonte da mensagem da comunicação):
na sala de aula. representa quem pensa, codifica e envia a mensagem, ou
Existem, portanto, vários níveis de linguagem e, entre seja, quem inicia o processo de comunicação. A codificação
esses níveis, destacam-se em importância o culto e o coti- da mensagem pode ser feita transformando o pensamento
diano, a que já fizemos referência. que se pretende transmitir em palavras, gestos ou símbolos
que sejam compreensíveis por quem recebe a mensagem.

103
LÍNGUA PORTUGUESA

- Canal de transmissão da mensagem: faz a ligação parte do emissor, nomeadamente com o fato de se tor-
entre o emissor e o receptor e representa o meio através narem impossíveis ou pelo menos difíceis as retificações e
do qual é transmitida a mensagem. Existe uma grande as novas explicações para melhor compreensão após a sua
variedade de canais de transmissão, cada um deles com transmissão. Assim, os principais cuidados a ter para que
vantagens e inconvenientes: destacam-se o ar (no caso do a mensagem seja perfeitamente recebida e compreendida
emissor e receptor estarem frente a frente), o telefone, os pelo(s) receptor(es) são o uso de caligrafia legível e unifor-
meios eletrônicos e informáticos, os memorandos, a rádio, me (se manuscrita), a apresentação cuidada, a pontuação
a televisão, entre outros. e ortografia corretas, a organização lógica das ideias, a ri-
queza vocabular e a correção frásica. O emissor deve ainda
- Receptor da mensagem: representa quem recebe e possuir um perfeito conhecimento dos temas e deve tentar
descodifica a mensagem. Aqui é necessário ter em atenção prever as reações/feedback à sua mensagem.
que a descodificação da mensagem resulta naquilo que Como principais vantagens da comunicação escrita,
efetivamente o emissor pretendia enviar (por exemplo, em podemos destacar o fato de ser duradoura e permitir um
diferentes culturas, um mesmo gesto pode ter significados registro e de permitir uma maior atenção à organização
diferentes). Podem existir apenas um ou numerosos recep- da mensagem sendo, por isso, adequada para a transmitir
tores para a mesma mensagem. políticas, procedimentos, normas e regras. Adequa-se tam-
bém a mensagens longas e que requeiram uma maior aten-
- Ruídos: representam obstruções mais ou menos in- ção e tempo por parte do receptor tais como relatórios e
tensas ao processo de comunicação e podem ocorrer em análises diversas. Como principais desvantagens destacam-
qualquer uma das suas fases. Denominam-se ruídos inter- se a já referida ausência do receptor o que impossibilita o
nos se ocorrem durante as fases de codificação ou desco- feedback imediato, não permite correções ou explicações
dificação e externos se ocorrerem no canal de transmissão. adicionais e obriga ao uso exclusivo da linguagem verbal.
Obviamente estes ruídos variam consoante o tipo de canal
de transmissão utilizado e consoante as características do Comunicação Oral
emissor e do(s) receptor(es), sendo, por isso, um dos crité-
rios utilizados na escolha do canal de transmissão quer do No caso da comunicação oral, a sua principal caracte-
tipo de codificação. rística é a presença do receptor (exclui-se, obviamente, a
comunicação oral que utilize a televisão, a rádio, ou as gra-
- Retro-informação (feedback): representa a resposta vações). Esta característica explica diversas das suas prin-
do(s) receptor(es) ao emissor da mensagem e pode ser cipais vantagens, nomeadamente o fato de permitir o fee-
utilizada como uma medida do resultado da comunicação. dback imediato, permitir a passagem imediata do receptor
Pode ou não ser transmitida pelo mesmo canal de trans- a emissor e vice-versa, permitir a utilização de comunica-
missão. ção não verbal como os gestos a mímica e a entoação, por
  exemplo, facilitar as retificações e explicações adicionais,
Embora os tipos de comunicação sejam inúmeros, po- permitir observar as reações do receptor, e ainda a grande
dem ser agrupados em comunicação verbal e comunica- rapidez de transmissão. Contudo, e para que estas vanta-
ção não verbal. Como comunicação não verbal podemos gens sejam aproveitadas é necessário o conhecimento dos
considerar os gestos, os sons, a mímica, a expressão facial, temas, a clareza, a presença e naturalidade, a voz agradável
as imagens, entre outros. É frequentemente utilizada em e a boa dicção, a linguagem adaptada, a segurança e auto-
locais onde o ruído ou a situação impede a comunicação domínio, e ainda a disponibilidade para ouvir.
oral ou escrita como por exemplo as comunicações entre Como principais desvantagens da comunicação oral
“dealers” nas bolsas de valores. É também muito utilizada destacam-se o fato de ser efêmera, não permitindo qual-
como suporte e apoio à comunicação oral. quer registro e, consequentemente, não se adequando a
Quanto à comunicação verbal, que inclui a comunica- mensagens longas e que exijam análise cuidada por parte
ção escrita e a comunicação oral, por ser a mais utilizada na do receptor.
sociedade em geral e nas organizações em particular, por
ser a única que permite a transmissão de ideias complexas Gêneros Escritos e Orais
e por ser um exclusivo da espécie humana, é aquela que
mais atenção tem merecido dos investigadores, caracteri- Gêneros textuais são tipos específicos de textos de
zando-a e estudando quando e como deve ser utilizada. qualquer natureza, literários ou não. Modalidades discur-
sivas constituem as estruturas e as funções sociais (narra-
Comunicação Escrita tivas, discursivas, argumentativas) utilizadas como formas
de organizar a linguagem. Dessa forma, podem ser consi-
A comunicação escrita teve o seu auge, e ainda hoje derados exemplos de gêneros textuais: anúncios, convites,
predomina, nas organizações burocráticas que seguem atas, avisos, programas de auditórios, bulas, cartas, comé-
os princípios da Teoria da Burocracia enunciados por Max dias, contos de fadas, crônicas, editoriais, ensaios, entrevis-
Weber. A principal característica é o fato do receptor estar tas, contratos, decretos, discursos políticos, histórias, ins-
ausente tornando-a, por isso, num monólogo permanente truções de uso, letras de música, leis, mensagens, notícias.
do emissor. Esta característica obriga a alguns cuidados por São textos que circulam no mundo, que têm uma função

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LÍNGUA PORTUGUESA

específica, para um público específico e com características Exemplo de gêneros orais e escritos: Texto expositivo,
próprias. Aliás, essas características peculiares de um gêne- exposição oral, seminário, conferência, comunicação oral,
ro discursivo nos permitem abordar aspectos da textualida- palestra, entrevista de especialista, verbete, artigo enciclo-
de, tais como coerência e coesão textuais, impessoalidade, pédico, texto explicativo, tomada de notas, resumo de tex-
técnicas de argumentação e outros aspectos pertinentes tos expositivos e explicativos, resenha, relatório científico,
ao gênero em questão. relatório oral de experiência.
Gênero de texto então, refere-se às diferentes formas
de expressão textual. Nos estudos da Literatura, temos, por Domínios sociais de comunicação: Instruções e prescri-
exemplo, poesia, crônicas, contos, prosa, etc. ções.
Para a linguística, os gêneros textuais englobam estes Aspectos tipológicos: Descrever ações.
e todos os textos produzidos por usuários de uma língua. Capacidade de linguagem dominante: Regulação mú-
Assim, ao lado da crônica, do conto, vamos também iden- tua de comportamentos.
tificar a carta pessoal, a conversa telefônica, o email, e tan- Exemplo de gêneros orais e escritos: Instruções de mon-
tos outros exemplares de gêneros que circulam em nossa tagem, receita, regulamento, regras de jogo, instruções de
sociedade. uso, comandos diversos, textos prescritivos.
Quanto à forma ou estrutura das sequências linguís-
ticas encontradas em cada texto, podemos classificá-los
dentro dos tipos textuais a partir de suas estruturas e esti-
los composicionais. Funções da Linguagem
Domínios sociais de comunicação: Cultura Literária Fic-
cional. Quando se pergunta a alguém para que serve a lingua-
Aspectos tipológicos: Narrar. gem, a resposta mais comum é que ela serve para comuni-
Capacidade de linguagem dominante: Mimeses de ação car. Isso está correto. No entanto, comunicar não é apenas
através da criação da intriga no domínio do verossímil. transmitir informações. É também exprimir emoções, dar
Exemplo de gêneros orais e escritos: Conto de Fadas, fá- ordens, falar apenas para não haver silêncio. Para que serve
bula, lenda,narrativa de aventura, narrativa de ficção cien- a linguagem?
tífica, narrativa de enigma, narrativa mítica, sketch ou his- - A linguagem serve para informar: Função Referencial.
tória engraçada, biografia romanceada, romance, romance
histórico, novela fantástica, conto, crônica literária, adivi- “Estados Unidos invadem o Iraque”
nha, piada.
Domínios sociais de comunicação: Documentação e Essa frase, numa manchete de jornal, informa-nos so-
memorização das ações humana. bre um acontecimento do mundo.
Aspectos tipológicos: Relatar. Com a linguagem, armazenamos conhecimentos na
Capacidade de linguagem dominante: Representação memória, transmitimos esses conhecimentos a outras pes-
pelo discurso de experiências vividas, situadas no tempo. soas, ficamos sabendo de experiências bem-sucedidas, so-
Exemplo de gêneros orais e escritos: Relato de expe- mos prevenidos contra as tentativas mal sucedidas de fazer
riência vivida, relato de viagem, diário íntimo, testemunho, alguma coisa. Graças à linguagem, um ser humano recebe
anedota ou caso, autobiografia, curriculum vitae, notícia, de outro conhecimentos, aperfeiçoa-os e transmite-os.
reportagem, crônica social, crônica esportiva, histórico, re- Condillac, um pensador francês, diz: “Quereis aprender
lato histórico, ensaio ou perfil biográfico, biografia. ciências com facilidade? Começai a aprender vossa própria
língua!” Com efeito, a linguagem é a maneira como apren-
Domínios sociais de comunicação: Discussão de proble- demos desde as mais banais informações do dia a dia até
mas sociais controversos. as teorias científicas, as expressões artísticas e os sistemas
Aspectos tipológicos: Argumentar. filosóficos mais avançados.
Capacidade de linguagem dominante: Sustentação, re- A função informativa da linguagem tem importância
futação e negociação de tomadas de posição. central na vida das pessoas, consideradas individualmente
Exemplo de gêneros orais e escritos: Textos de opinião, ou como grupo social. Para cada indivíduo, ela permite co-
diálogo argumentativo, carta de leitor, carta de solicitação, nhecer o mundo; para o grupo social, possibilita o acúmulo
deliberação informal, debate regrado, assembleia, discurso de conhecimentos e a transferência de experiências. Por
de defesa (advocacia), discurso de acusação (advocacia), meio dessa função, a linguagem modela o intelecto.
resenha crítica, artigos de opinião ou assinados, editorial, É a função informativa que permite a realização do
ensaio. trabalho coletivo. Operar bem essa função da linguagem
possibilita que cada indivíduo continue sempre a aprender.
Domínios sociais de comunicação: Transmissão e cons- A função informativa costuma ser chamada também de
trução de saberes. função referencial, pois seu principal propósito é fazer com
Aspectos tipológicos: Expor. que as palavras revelem da maneira mais clara possível as
Capacidade de linguagem dominante: Apresentação coisas ou os eventos a que fazem referência.
textual de diferentes formas dos saberes.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- A linguagem serve para influenciar e ser influenciado: insinuarem intimidade com ele e, portanto, de exprimirem
Função Conativa. a importância que lhes seria atribuída pela proximidade
com o poder. Inúmeras vezes, contamos coisas que fizemos
“Vem pra Caixa você também.” para afirmarmo-nos perante o grupo, para mostrar nossa
valentia ou nossa erudição, nossa capacidade intelectual ou
Essa frase fazia parte de uma campanha destinada a nossa competência na conquista amorosa.
aumentar o número de correntistas da Caixa Econômica Por meio do tipo de linguagem que usamos, do tom
Federal. Para persuadir o público alvo da propaganda a de voz que empregamos, etc., transmitimos uma imagem
adotar esse comportamento, formulou-se um convite com nossa, não raro inconscientemente.
uma linguagem bastante coloquial, usando, por exemplo, a Emprega-se a expressão função emotiva para designar
forma vem, de segunda pessoa do imperativo, em lugar de a utilização da linguagem para a manifestação do enuncia-
venha, forma de terceira pessoa prescrita pela norma culta dor, isto é, daquele que fala.
quando se usa você.
Pela linguagem, as pessoas são induzidas a fazer de- - A linguagem serve para criar e manter laços sociais:
terminadas coisas, a crer em determinadas ideias, a sen- Função Fática.
tir determinadas emoções, a ter determinados estados de
alma (amor, desprezo, desdém, raiva, etc.). Por isso, pode- __Que calorão, hein?
se dizer que ela modela atitudes, convicções, sentimentos, __Também, tem chovido tão pouco.
emoções, paixões. Quem ouve desavisada e reiteradamente __Acho que este ano tem feito mais calor do que nos
a palavra negro pronunciada em tom desdenhoso aprende outros.
a ter sentimentos racistas; se a todo momento nos dizem, __Eu não me lembro de já ter sentido tanto calor.
num tom pejorativo, “Isso é coisa de mulher”, aprendemos
os preconceitos contra a mulher. Esse é um típico diálogo de pessoas que se encontram
Não se interfere no comportamento das pessoas ape- num elevador e devem manter uma conversa nos poucos
nas com a ordem, o pedido, a súplica. Há textos que nos instantes em que estão juntas. Falam para nada dizer, ape-
influenciam de maneira bastante sutil, com tentações e nas porque o silêncio poderia ser constrangedor ou pare-
seduções, como os anúncios publicitários que nos dizem cer hostil.
como seremos bem sucedidos, atraentes e charmosos se Quando estamos num grupo, numa festa, não pode-
usarmos determinadas marcas, se consumirmos certos mos manter-nos em silêncio, olhando uns para os outros.
produtos. Por outro lado, a provocação e a ameaça expres- Nessas ocasiões, a conversação é obrigatória. Por isso,
sas pela linguagem também servem para fazer fazer. quando não se tem assunto, fala-se do tempo, repetem-se
Com essa função, a linguagem modela tanto bons ci- histórias que todos conhecem, contam-se anedotas velhas.
dadãos, que colocam o respeito ao outro acima de tudo, A linguagem, nesse caso, não tem nenhuma função que
quanto espertalhões, que só pensam em levar vantagem, não seja manter os laços sociais. Quando encontramos al-
e indivíduos atemorizados, que se deixam conduzir sem guém e lhe perguntamos “Tudo bem?”, em geral não que-
questionar. remos, de fato, saber se nosso interlocutor está bem, se
Emprega-se a expressão função conativa da linguagem está doente, se está com problemas.
quando esta é usada para interferir no comportamento A fórmula é uma maneira de estabelecer um vínculo
das pessoas por meio de uma ordem, um pedido ou uma social.
sugestão. A palavra conativo é proveniente de um verbo Também os hinos têm a função de criar vínculos, seja
latino (conari) que significa “esforçar-se” (para obter algo). entre alunos de uma escola, entre torcedores de um time
de futebol ou entre os habitantes de um país. Não importa
- A linguagem serve para expressar a subjetividade: que as pessoas não entendam bem o significado da letra
Função Emotiva. do Hino Nacional, pois ele não tem função informativa: o
importante é que, ao cantá-lo, sentimo-nos participantes
“Eu fico possesso com isso!” da comunidade de brasileiros.
Na nomenclatura da linguística, usa-se a expressão
Nessa frase, quem fala está exprimindo sua indignação função fática para indicar a utilização da linguagem para
com alguma coisa que aconteceu. Com palavras, objetiva- estabelecer ou manter aberta a comunicação entre um fa-
mos e expressamos nossos sentimentos e nossas emoções. lante e seu interlocutor.
Exprimimos a revolta e a alegria, sussurramos palavras de
amor e explodimos de raiva, manifestamos desespero, - A linguagem serve para falar sobre a própria lingua-
desdém, desprezo, admiração, dor, tristeza. Muitas ve- gem: Função Metalinguística.
zes, falamos para exprimir poder ou para afirmarmo-nos
socialmente. Durante o governo do presidente Fernando Quando dizemos frases como “A palavra ‘cão’ é um
Henrique Cardoso, ouvíamos certos políticos dizerem “A substantivo”; “É errado dizer ‘a gente viemos’”; “Estou usan-
intenção do Fernando é levar o país à prosperidade” ou “O do o termo ‘direção’ em dois sentidos”; “Não é muito elegan-
Fernando tem mudado o país”. Essa maneira informal de se te usar palavrões”, não estamos falando de acontecimen-
referirem ao presidente era, na verdade, uma maneira de tos do mundo, mas estamos tecendo comentários sobre a

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LÍNGUA PORTUGUESA

própria linguagem. É o que chama função metalinguística. Verifica-se que a linguagem pode ser usada utilitaria-
A atividade metalinguística é inseparável da fala. Falamos mente ou esteticamente. No primeiro caso, ela é utilizada
sobre o mundo exterior e o mundo interior e ao mesmo para informar, para influenciar, para manter os laços sociais,
tempo, fazemos comentários sobre a nossa fala e a dos etc. No segundo, para produzir um efeito prazeroso de des-
outros. Quando afirmamos como diz o outro, estamos co- coberta de sentidos. Em função estética, o mais importante
mentando o que declaramos: é um modo de esclarecer que é como se diz, pois o sentido também é criado pelo ritmo,
não temos o hábito de dizer uma coisa tão trivial como a pelo arranjo dos sons, pela disposição das palavras, etc.
que estamos enunciando; inversamente, podemos usar a Na estrofe abaixo, retirada do poema “A Cavalgada”, de
metalinguagem como recurso para valorizar nosso modo Raimundo Correia, a sucessão dos sons oclusivos /p/, /t/,
de dizer. É o que se dá quando dizemos, por exemplo, Paro-
/k/, /b/, /d/, /g/ sugere o patear dos cavalos:
diando o padre Vieira ou Para usar uma expressão clássica,
vou dizer que “peixes se pescam, homens é que se não
E o bosque estala, move-se, estremece...
podem pescar”.
Da cavalgada o estrépito que aumenta
- A linguagem serve para criar outros universos. Perde-se após no centro da montanha...

A linguagem não fala apenas daquilo que existe, fala Apud: Lêdo Ivo. Raimundo Correia: Poesia. 4ª ed.
também do que nunca existiu. Com ela, imaginamos novos Rio de Janeiro, Agir, p. 29. Coleção Nossos Clássi-
mundos, outras realidades. Essa é a grande função da arte: cos.
mostrar que outros modos de ser são possíveis, que outros
universos podem existir. O filme de Woody Allen “A rosa Observe-se que a maior concentração de sons oclu-
púrpura do Cairo” (1985) mostra isso de maneira bem ex- sivos ocorre no segundo verso, quando se afirma que o
pressiva. Nele, conta-se a história de uma mulher que, para barulho dos cavalos aumenta.
consolar-se do cotidiano sofrido e dos maus-tratos infligi- Quando se usam recursos da própria língua para acres-
dos pelo marido, refugia-se no cinema, assistindo inúmeras centar sentidos ao conteúdo transmitido por ela, diz-se
vezes a um filme de amor em que a vida é glamorosa, e o que estamos usando a linguagem em sua função poética.
galã é carinhoso e romântico. Um dia, ele sai da tela e am-
bos vão viver juntos uma série de aventuras. Nessa outra Para melhor compreensão das funções de linguagem,
realidade, os homens são gentis, a vida não é monótona, o torna-se necessário o estudo dos elementos da comuni-
amor nunca diminui e assim por diante.
cação.
Antigamente, tinha-se a ideia que o diálogo era de-
- A linguagem serve como fonte de prazer: Função
Poética. senvolvido de maneira “sistematizada” (alguém pergunta
- alguém espera ouvir a pergunta, daí responde, enquanto
Brincamos com as palavras. Os jogos com o sentido outro escuta em silêncio, etc).
e os sons são formas de tornar a linguagem um lugar de Exemplo:
prazer. Divertimo-nos com eles. Manipulamos as palavras
para delas extrairmos satisfação. Elementos da comunicação
Oswald de Andrade, em seu “Manifesto antropófago”,
diz “Tupi or not tupi”; trata-se de um jogo com a frase sha- - Emissor - emite, codifica a mensagem;
kespeariana “To be or not to be”. Conta-se que o poeta Emí- - Receptor - recebe, decodifica a mensagem;
lio de Menezes, quando soube que uma mulher muito gor- - Mensagem - conteúdo transmitido pelo emissor;
da se sentara no banco de um ônibus e este quebrara, fez - Código - conjunto de signos usado na transmissão e
o seguinte trocadilho: “É a primeira vez que vejo um banco recepção da mensagem;
quebrar por excesso de fundos”. - Referente - contexto relacionado a emissor e recep-
A palavra banco está usada em dois sentidos: “móvel tor;
comprido para sentar-se” e “casa bancária”. Também está - Canal - meio pelo qual circula a mensagem.
empregado em dois sentidos o termo fundos: “nádegas” e Porém, com os estudos recentes dos linguistas, essa
“capital”, “dinheiro”.
teoria sofreu uma modificação, pois, chegou-se a conclu-
são que quando se trata da parole, entende-se que é um
Observe-se o uso do verbo bater, em expressões diver-
veículo democrático (observe a função fática), assim, admi-
sas, com significados diferentes, nesta frase do deputado
Virgílio Guimarães: te-se um novo formato de locução, ou, interlocução (diá-
logo interativo):
“ACM bate boca porque está acostumado a bater: bateu
continência para os militares, bateu palmas para o Collor e - locutor - quem fala (e responde);
quer bater chapa em 2002. Mas o que falta é que lhe bata - locutário - quem ouve e responde;
uma dor de consciência e bata em retirada.” - interlocução - diálogo
(Folha de S. Paulo)

107
LÍNGUA PORTUGUESA

As respostas, dos “interlocutores” podem ser gestuais, EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES


faciais etc. por isso a mudança (aprimoração) na teoria. SOBRE: LÍNGUA PORTUGUESA
As atitudes e reações dos comunicantes são também
referentes e exercem influência sobre a comunicação 1-) (FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC/
SP – ADMINISTRADOR - VUNESP/2013) Assinale a al-
Lembramo-nos: ternativa correta quanto à concordância, de acordo
com a norma-padrão da língua portuguesa.
- Emotiva (ou expressiva): a mensagem centra-se no (A) A má distribuição de riquezas e a desigualdade
“eu” do emissor, é carregada de subjetividade. Ligada a esta social está no centro dos debates atuais.
função está, por norma, a poesia lírica. (B) Políticos, economistas e teóricos diverge em re-
- Função apelativa (imperativa): com este tipo de men- lação aos efeitos da desigualdade social.
sagem, o emissor atua sobre o receptor, afim de que este (C) A diferença entre a renda dos mais ricos e a dos
assuma determinado comportamento; há frequente uso mais pobres é um fenômeno crescente.
do vocativo e do imperativo. Esta função da linguagem é (D) A má distribuição de riquezas tem sido muito
frequentemente usada por oradores e agentes de publici- criticado por alguns teóricos.
dade. (E) Os debates relacionado à distribuição de rique-
- Função metalinguística: função usada quando a lín- zas não são de exclusividade dos economistas.
gua explica a própria linguagem (exemplo: quando, na aná-
lise de um texto, investigamos os seus aspectos morfossin- Realizei a correção nos itens:
(A) A má distribuição de riquezas e a desigualdade so-
táticos e/ou semânticos).
cial está = estão
- Função informativa (ou referencial): função usada
(B) Políticos, economistas e teóricos diverge = diver-
quando o emissor informa objetivamente o receptor de
gem
uma realidade, ou acontecimento.
(C) A diferença entre a renda dos mais ricos e a dos
- Função fática: pretende conseguir e manter a atenção
mais pobres é um fenômeno crescente.
dos interlocutores, muito usada em discursos políticos e
(D) A má distribuição de riquezas tem sido muito criti-
textos publicitários (centra-se no canal de comunicação). cado = criticada
- Função poética: embeleza, enriquecendo a mensa- (E) Os debates relacionado = relacionados
gem com figuras de estilo, palavras belas, expressivas, rit-
mos agradáveis, etc. RESPOSTA: “C”.
Também podemos pensar que as primeiras falas cons- 2-) (COREN/SP – ADVOGADO – VUNESP/2013) Se-
cientes da raça humana ocorreu quando os sons emitidos guindo a norma-padrão da língua portuguesa, a frase
evoluíram para o que podemos reconhecer como “interjei- – Um levantamento mostrou que os adolescentes ame-
ções”. As primeiras ferramentas da fala humana. ricanos consomem em média 357 calorias diárias dessa
fonte. – recebe o acréscimo correto das vírgulas em:
A função biológica e cerebral da linguagem é aquilo (A) Um levantamento mostrou, que os adolescentes
que mais profundamente distingue o homem dos outros americanos consomem em média 357 calorias, diárias
animais. dessa fonte.
(B) Um levantamento mostrou que, os adolescentes
Podemos considerar que o desenvolvimento desta fun- americanos consomem, em média 357 calorias diárias
ção cerebral ocorre em estreita ligação com a bipedia e a dessa fonte.
libertação da mão, que permitiram o aumento do volume (C) Um levantamento mostrou que os adolescentes
do cérebro, a par do desenvolvimento de órgãos fonadores americanos consomem, em média, 357 calorias diárias
e da mímica facial dessa fonte.
(D) Um levantamento, mostrou que os adolescentes
Devido a estas capacidades, para além da linguagem americanos, consomem em média 357 calorias diárias
falada e escrita, o homem, aprendendo pela observação de dessa fonte.
animais, desenvolveu a língua de sinais adaptada pelos sur- (E) Um levantamento mostrou que os adolescentes
dos em diferentes países, não só para melhorar a comuni- americanos, consomem em média 357 calorias diárias,
cação entre surdos, mas também para utilizar em situações dessa fonte.
especiais, como no teatro e entre navios ou pessoas e não
animais que se encontram fora do alcance do ouvido, mas Assinalei com um “X” onde há pontuação inadequada
que se podem observar entre si. ou faltante:
(A) Um levantamento mostrou, (X) que os adolescentes
americanos consomem (X) em média (X) 357 calorias, (X)
diárias dessa fonte.
(B) Um levantamento mostrou que, (X) os adolescentes
americanos consomem, em média (X) 357 calorias diárias
dessa fonte.

108
LÍNGUA PORTUGUESA

(C) Um levantamento mostrou que os adolescentes Distribuímos = regra do hiato


americanos consomem, em média, 357 calorias diárias des- (A) sócio = paroxítona terminada em ditongo
sa fonte. (B) sofrê-lo = oxítona (não se considera o pronome
(D) Um levantamento, (X) mostrou que os adolescentes oblíquo. Nunca!)
americanos, (X) consomem (X) em média (X) 357 calorias (C) lúcidos = proparoxítona
diárias dessa fonte. (D) constituí = regra do hiato (diferente de “constitui”
(E) Um levantamento mostrou que os adolescentes – oxítona: cons-ti-tui)
americanos, (X) consomem (X) em média (X) 357 calorias (E) órfãos = paroxítona terminada em “ão”
diárias, (X) dessa fonte.
RESPOSTA: “D”.
RESPOSTA: “C”.
5-) (TRT/PE – ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC/2012)
3-) (TRT/RO E AC – ANALISTA JUDICIÁRIO – A concordância verbal está plenamente observada na
FCC/2011) Estão plenamente observadas as normas de frase:
concordância verbal na frase: (A) Provocam muitas polêmicas, entre crentes e
a) Destinam-se aos homens-placa um lugar visível materialistas, o posicionamento de alguns religiosos e
nas ruas e nas praças, ao passo que lhes é suprimida a parlamentares acerca da educação religiosa nas escolas
visibilidade social. públicas.
b) As duas tábuas em que se comprimem o famige- (B) Sempre deverão haver bons motivos, junto
rado homem-placa carregam ditos que soam irônicos, àqueles que são contra a obrigatoriedade do ensino
como “compro ouro”. religioso, para se reservar essa prática a setores da ini-
c) Não se compara aos vexames dos homens-placa ciativa privada.
a exposição pública a que se submetem os guardadores (C) Um dos argumentos trazidos pelo autor do tex-
de carros. to, contra os que votam a favor do ensino religioso na
d) Ao se revogarem o emprego de carros-placa na escola pública, consistem nos altos custos econômicos
propaganda imobiliária, poupou-se a todos uma de- que acarretarão tal medida.
monstração de mau gosto. (D) O número de templos em atividade na cidade
e) Não sensibilizavam aos possíveis interessados de São Paulo vêm gradativamente aumentando, em
em apartamentos de luxo a visão grotesca daqueles ve- proporção maior do que ocorrem com o número de es-
lhos carros-placa. colas públicas.
(E) Tanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Fiz as correções entre parênteses: como a regulação natural do mercado sinalizam para
a) Destinam-se (destina-se) aos homens-placa um lu- as inconveniências que adviriam da adoção do ensino
gar visível nas ruas e nas praças, ao passo que lhes é supri- religioso nas escolas públicas.
mida a visibilidade social.
b) As duas tábuas em que se comprimem (comprime) (A) Provocam = provoca (o posicionamento)
o famigerado homem-placa carregam ditos que soam irô- (B) Sempre deverão haver bons motivos = deverá haver
nicos, como “compro ouro”. (C) Um dos argumentos trazidos pelo autor do texto,
c) Não se compara aos vexames dos homens-placa a contra os que votam a favor do ensino religioso na escola
exposição pública a que se submetem os guardadores de pública, consistem = consiste.
carros. (D) O número de templos em atividade na cidade de
d) Ao se revogarem (revogar) o emprego de carros- São Paulo vêm gradativamente aumentando, em propor-
-placa na propaganda imobiliária, poupou-se a todos uma ção maior do que ocorrem = ocorre
demonstração de mau gosto. (E) Tanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação como
e) Não sensibilizavam (sensibilizava) aos possíveis in- a regulação natural do mercado sinalizam para as inconve-
teressados em apartamentos de luxo a visão grotesca da- niências que adviriam da adoção do ensino religioso nas
queles velhos carros-placa. escolas públicas.

RESPOSTA: “C”. RESPOSTA: “E”.

4-) (TRE/PA- ANALISTA JUDICIÁRIO – FGV/2011) 6-) (TRE/PA- ANALISTA JUDICIÁRIO – FGV/2011)
Assinale a palavra que tenha sido acentuada seguindo a Segundo o Manual de Redação da Presidência da Repú-
mesma regra que distribuídos. blica, NÃO se deve usar Vossa Excelência para
(A) sócio (A) embaixadores.
(B) sofrê-lo (B) conselheiros dos Tribunais de Contas estaduais.
(C) lúcidos (C) prefeitos municipais.
(D) constituí (D) presidentes das Câmaras de Vereadores.
(E) órfãos (E) vereadores.

109
LÍNGUA PORTUGUESA

(...) O uso do pronome de tratamento Vossa Senhoria (D) As instituições fundamentais de um regime demo-
(abreviado V. Sa.) para vereadores está correto, sim. Numa crático não pode (podem) estar subordinado (subordina-
Câmara de Vereadores só se usa Vossa Excelência para o seu das) às ordens indiscriminadas de um único poder central.
presidente, de acordo com o Manual de Redação da Presi- (E) O interesse de todos os cidadãos estão (está) vol-
dência da República (1991). tados (voltado) para o momento eleitoral, que expõem (ex-
(Fonte: http://www.linguabrasil.com.br/nao-tropece- põe) as diferentes opiniões existentes na sociedade.
-detail.php?id=393)
RESPOSTA: “A”.
RESPOSTA: “E”.
9-) (TRE/AL – ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC/2010)
A frase que admite transposição para a voz passiva é:
7-) (TRE/AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2010)
(A) O cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sa-
... valores e princípios que sejam percebidos pela so-
grado.
ciedade como tais. (B) O conceito de espetáculo unifica e explica uma
Transpondo para a voz ativa a frase acima, o verbo grande diversidade de fenômenos.
passará a ser, corretamente, (C) O espetáculo é ao mesmo tempo parte da so-
(A) perceba. ciedade, a própria sociedade e seu instrumento de uni-
(B) foi percebido. ficação.
(C) tenham percebido. (D) As imagens fluem desligadas de cada aspecto
(D) devam perceber. da vida (...).
(E) estava percebendo. (E) Por ser algo separado, ele é o foco do olhar ilu-
dido e da falsa consciência.
... valores e princípios que sejam percebidos pela so-
ciedade como tais = dois verbos na voz passiva, então te- (A) O cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagra-
remos um na ativa: que a sociedade perceba os valores e do.
princípios... (B) O conceito de espetáculo unifica e explica uma
grande diversidade de fenômenos.
RESPOSTA: “A” - Uma grande diversidade de fenômenos é unificada e
explicada pelo conceito...
(C) O espetáculo é ao mesmo tempo parte da socieda-
8-) (TRE/AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2010) A
de, a própria sociedade e seu instrumento de unificação.
concordância verbal e nominal está inteiramente corre-
(D) As imagens fluem desligadas de cada aspecto da
ta na frase: vida (...).
(A) A sociedade deve reconhecer os princípios e (E) Por ser algo separado, ele é o foco do olhar iludido
valores que determinam as escolhas dos governantes, e da falsa consciência.
para conferir legitimidade a suas decisões.
(B) A confiança dos cidadãos em seus dirigentes RESPOSTA: “B”.
devem ser embasados na percepção dos valores e prin-
cípios que regem a prática política. 10-) (MPE/AM - AGENTE DE APOIO ADMINISTRA-
(C) Eleições livres e diretas é garantia de um verda- TIVO - FCC/2013) “Quando a gente entra nas serrarias,
deiro regime democrático, em que se respeita tanto as vê dezenas de caminhões parados”, revelou o analista
liberdades individuais quanto as coletivas. ambiental Geraldo Motta.
(D) As instituições fundamentais de um regime de- Substituindo-se Quando por Se, os verbos subli-
mocrático não pode estar subordinado às ordens indis- nhados devem sofrer as seguintes alterações:
criminadas de um único poder central. (A) entrar − vira
(E) O interesse de todos os cidadãos estão voltados (B) entrava − tinha visto
para o momento eleitoral, que expõem as diferentes (C) entrasse − veria
opiniões existentes na sociedade. (D) entraria − veria
(E) entrava − teria visto
Fiz os acertos entre parênteses:
(A) A sociedade deve reconhecer os princípios e valores
Se a gente entrasse (verbo no singular) na serraria, ve-
que determinam as escolhas dos governantes, para confe-
ria = entrasse / veria.
rir legitimidade a suas decisões.
(B) A confiança dos cidadãos em seus dirigentes de- RESPOSTA: “C”.
vem (deve) ser embasados (embasada) na percepção dos
valores e princípios que regem a prática política.
(C) Eleições livres e diretas é (são) garantia de um ver-
dadeiro regime democrático, em que se respeita (respei-
tam) tanto as liberdades individuais quanto as coletivas.

110
REDAÇÃO

Redação........................................................................................................................................................................................................................ 01
REDAÇÃO

O dióxido de carbono (CO2) é produzido a partir da


REDAÇÃO queima de combustíveis fósseis usados em veículos automo-
tores movidos a gasolina e óleo diesel. Esse não é o único
agente que contribui para emissão de gases, existem outros
como as queimadas em florestas, pastagens e lavouras após
Dissertação e o texto dissertativo-argumentativo a colheita.
Com o intenso crescimento da emissão de gases e tam-
I - Definição bém de poeira, a temperatura do ar tem um aumento de
Existem algumas diferenças entre a dissertação e aproximadamente 2ºC em médio prazo. Caso não haja um
o texto dissertativo-argumentativo. É importante estar- retrocesso na emissão de gases, esse fenômeno ocasionará
mos atentos ao que diferencia um tipo ou gênero tex- uma infinidade de modificações no espaço natural e, auto-
tual de outros, pois essas diferenças são determinantes para maticamente, na vida do homem.
que os textos cumpram com seus objetivos ao circularem
na sociedade. Isso porque há textos que circulam nos Vejamos, em seguida, as características do texto
mesmos suportes, como um jornal, mas que estão ali para dissertativo-argumentativo:
cumprir distintos objetivos: informar, convencer, vender,
parabenizar, entreter etc. Texto dissertativo-argumentativo
Há textos que cumprem outros objetivos além da dis- O  texto  dissertativo-argumentativo possui
sertação/argumentação, como os tipos Narrativo, Descri- todas as características da dissertação no que se
tivo, Expositivo e Injuntivo, os quais representam a base refere à base estrutural e alguns objetivos. Entretanto,
estrutural dos gêneros discursivos como contos, fábulas, no texto dissertativo-argumentativo, o autor deve sele-
cartas, artigos, charges, atas, relatórios, receitas etc. cionar informações, fatos, opiniões e argumentos em defe-
Vejamos, então, o que diferencia a disserta- sa de uma tese central em torno do tema.
ção do texto dissertativo-argumentativo. A tese é a opinião geral do autor a respeito do tema.
Geralmente, ela é construída a partir de relações de cau-
Dissertação sas e consequências que envolvem o tema. Ao longo do
Podemos dizer que a dissertação é um tipo de texto. texto, o autor expõe as informações e seus pontos de vista
Ela é a base estrutural de vários gêneros discursivos que (negativos ou positivos) com o objetivo de sustentar a sua
têm, entre outras finalidades, refletir e informar alguém a tese inicial e persuadir o leitor.
respeito de um assunto.
Tanto a tese quanto os pontos de vista do autor a
A dissertação é redigida em prosa, ou seja, estrutura-
respeito das informações inseridas no texto devem ser
da por períodos e parágrafos(diferentemente de um poema
claros e objetivos. Para que o autor tenha condições
ou de uma música, por exemplo, os quais são estruturados
de convencer o leitor a acatar o seu ponto de vista, ele
em  versos e estrofes). A estrutura da  dissertação deve
deve  selecionar, organizar e relacionar argumentos
apresentar, no mínimo, três parágrafos: introdução,  de-
consistentes, ou seja, aqueles que podem ser comprova-
senvolvimento e conclusão.
dos a partir de informações verídicas: pesquisas, reporta-
O  objetivo da  dissertação é informar o leitor a
respeito de um assunto, expor dados, pesquisas e a opi- gens e mobilização de outras vozes de autoridade no texto
nião de profissionais que possam esclarecer os leitores para concordar ou refutar suas ideias, como pesquisadores,
sobre o tema na sociedade. O autor da dissertação tem filósofos, estudiosos, sociólogos, profissionais da área etc.
condições de analisar o eixo temático, expondo  pontos
positivos e negativos  a respeito do assunto para que, Leia um texto dissertativo-argumentativo:
assim, o leitor informe-se e posicione-se individualmen-
te. Isso significa que não há opinião pessoal do autor na Desordem e progresso
Dissertação, mas, sim, elementos que possam contribuir É condenável a atitude que grande parte da socieda-
para que o leitor reflita criticamente e formule seus pontos de desempenha no que diz respeito à preservação do meio
de vista. ambiente. Apesar dos inúmeros desastres ecológicos que
Leia o excerto de uma dissertação: ocorrem com demasiada frequência, a população continua
“cega” e o pior é que essa cegueira é por opção.
Efeito estufa Não sou especialista no assunto, mas não é preciso que
(Eduardo de Freitas) o seja para perceber que o Planeta não anda bem. Tsuna-
mis, terremotos, derretimento de geleiras, entre outros fenô-
O efeito estufa tem como finalidade impedir que a Terra menos, assustam a população terrestre, principalmente nos
esfrie demais, pois se a Terra tivesse a temperatura muito países desenvolvidos – maiores poluidores do Planeta – seria
baixa, certamente não teríamos tantas variedades de vida. isso mera coincidência? Ou talvez a mais clara resposta da
Contudo, recentemente, estudos realizados por pesquisado- natureza contra o descaso com o futuro da Terra? Acredito
res e cientistas, principalmente no século XX, têm indicado na segunda opção.
que as ações antrópicas (ações do homem) têm agravado Enquanto o homem imbuído de ganância se empenha
esse processo por meio de emissão de gases na atmosfera, numa busca frenética pelo progresso, o tempo passa e a si-
especialmente o CO2. tuação adquire proporções alarmantes. Onde está o tal de-

1
REDAÇÃO

senvolvimento sustentável que é – ou era – primordial? Sabemos que o progresso é inevitável e indispensável para que uma
sociedade se desenvolva e atinja o estágio clímax de suas potencialidades, mas vale a pena conquistar esse progresso às custas
da destruição da fauna, da flora, da qualidade de vida que a natureza nos proporciona? Não podemos continuar cegos diante
dessa realidade. Somos seres racionais em pleno exercício de nossas faculdades, não temos o direito de nos destruirmos em
troca de cédulas com valores monetários que ironicamente estampam espécies animais em seus versos. Progresso e natureza
podem, sim, coexistir, mas, para isso, é preciso que nós – população terrestre – nos conscientizemos de nossa responsabilidade
sobre o lugar que habitamos e ponhamos em prática o que na teoria parece funcionar.

(http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/dissertacao-texto-dissertativo-argumentativo.htm)

II. Entendendo melhor a estrutura


Antes de  escrever,  o  candidato deve  tentar compreender o  tema  proposto.
• Faça perguntas relacionadas ao assunto. O enunciado indica que o candidato deve usar os “conhecimentos
construídos  ao   longo de  sua formação”: o  que  foi aprendido na escola e fora dela! Pergunte-se:  “O  que  eu  sei  sobre
isso?”,  “O  que eu   já  li ou ouvi a respeito?”, “Qual  é a minha  opinião?”.
• Pense no problema relacionado a esse tema. Identifique a causa, as consequências e as possíveis soluções (a 
tal  proposta de intervenção). A  redação do estudante, no  entanto, não  pode  se  limitar   a expor apenas esses dados. 
Podemos pensar: O  que  é a  Lei  Seca? Quais  as  causas de  sua elaboração? Qual foi  o impacto social de  sua  imple-
mentação? O  que  acontece se o  motorista for   pego alcoolizado em   uma  blitz?  Haveria outras soluções para reduzir 
o   índice  de  acidentes  no trânsito?
Uma das  dificuldades dos  estudantes é  organizar o texto de  modo a apresentar a  argumentação com  eficácia no  
limite  estipulado pelo Exame – 30   linhas.  Tradicionalmente, costuma-se dividir  o texto dissertativo em  três   grandes 
blocos, um  modelo que   não deve  ser  compreendido como  “uma receita de bolo”, mas, sim, como   “um mero recurso
didático que visa a  nortear o redator sobre a estrutura básica do texto” (LEITÃO, 2011, p. 20)

http://conversadeportugues.com.br/2015/02/como-organizar-o-texto-dissertativo-argumentativo/

A Introdução da Redação
Não é sem razão que este parágrafo é chamado de introdução. É nessa parte do texto que você vai expor (apresentar)
as principais questões a serem abordadas no restante do texto.  No primeiro parágrafo, o leitor terá uma dimensão geral do
assunto e vai entender as razões pelas quais a discussão do problema é relevante.
E nessa hora que você deve envolver o leitor e ser criativo o bastante para instigá-lo a continuar a leitura. Uma boa forma
de fazer isso é relacionar o tema a aspectos pessoais e/ou sociais. Mostre como essa questão pode afetar a vida do leitor ou
como ele está relacionado a ela.

2
REDAÇÃO

Uma boa maneira de treinar a introdução dos seus tex- Outro cuidado importante é em relação aos exem-
tos é ler, pelo menos uma vez por semana, artigos de jornais plos. Eles devem ser bastante representativos para situar
e revistas. Analise como autor utiliza as características desse o leitor e estabelecer a comunicação. Imagine que seus
gênero textual para chamar a atenção do leitor e instigar a exemplos são uma espécie de pontos luminosos do seu
curiosidade para o conteúdo que vem a seguir. texto. Eles devem ser claros o bastante para dar ainda
mais legitimidade aos seus argumentos.
Veja um exemplo de Introdução: Agora, chegou a vez da Conclusão da Redação
“No último ano, o Brasil foi palco de inúmeros protestos Se a palavra-chave do desenvolvimento é argumen-
populares. O País vinha enfrentando uma série de problemas tação, no último parágrafo o termo que você deve ter em
políticos, econômicos e sociais que culminaram com o au- mente é solução. Você levantou uma determinada ques-
mento das passagens de ônibus em diversas capitais. Embora tão ao longo do texto, certo? Agora é a hora de apresen-
tenham sido alvo de críticas no início, os manifestantes conti- tar as possíveis saídas para o problema.
nuaram nas ruas e fizeram com o que o mês de junho de 2013 Nos parágrafos utilizados como exemplo de introdu-
se tornasse um marco histórico”.   ção e desenvolvimento, optou-se por abordar a proble-
mática das manifestações. Agora, acompanhe uma possí-
Alerta vermelho: O que você não deve fazer na In- vel conclusão para o que foi apresentado anteriormente:
trodução “Ao que tudo indica, os brasileiros vão seguir com as
O principal cuidado que você deve ter ao escrever a in- manifestações até que suas exigências sejam atendidas.
trodução do seu texto é não misturar os assuntos. A plurali- Trata-se de um momento político delicado. A melhor forma
dade de ideias deixa o texto poluído e o leitor confuso. E ain- de o governo lidar com essa situação é através do diálogo.
da: não mencione nenhum fato na introdução que não será As revoltas que surgiram em função da repressão sofrida
explorado ao longo do texto. Foque na sua tese principal. pelos manifestantes mostram que a diplomacia é sempre a
É recomendável evitar períodos longos no primeiro melhor forma de estabelecer uma conversa coerente e que
parágrafo. O espaço para produzir orações mais longas é gere resultado. Ao mesmo tempo, é imprescindível prestar
o desenvolvimento. E mesmo assim, esse recurso deve ser
contas e apontar melhorias para a situação atual”.
usado com bastante critério.
(https://blogdoenem.com.br/redacao-enem-estrutu-
Veja agora o Desenvolvimento da Redação
ra-texto/)
Essa parte da sua redação pode ser resumida em uma
única palavra: argumentação. É aqui que as informações
III - Aspectos importantes da Dissertação argu-
mais polêmicas devem aparecer. Nesse espaço, você tam-
mentativa
bém pode dar voz a visões opostas sobre o assunto.
Muitos candidatos temem a prova discursiva e con-
Tudo o que foi levantado na introdução deve ser discu-
tido aqui. Meu conselho é que você reserve ao menos dois sideram a dissertação argumentativa um bicho de sete
parágrafos para que todos os dados e referências fiquem cabeças, aqui estão alguns aspectos para tentar ajudar a
claras para o leitor.  Desenvolva uma ideia diferente para entender como deve ser escrito esse tipo de dissertação:
cada parágrafo. 1. Em relação à estrutura, o texto dissertativo-argu-
Veja um exemplo de um parágrafo de desenvolvimento. mentativo possui uma estrutura própria, sendo dividido
O trecho abaixo é uma continuação da introdução apresen- em:
tada no item anterior.
“A violência e a depredação do patrimônio público eram TEMA
as principais críticas em relação aos manifestantes. Diversas POSICIONAMENTO
agências bancárias e bens públicos foram depredados, o que, ARGUMENTAÇÃO
para muitas pessoas, legitimou as ações repressivas da polícia. CONCLUSÃO
Mas a postura dos policiais foi amplamente condenada na
mídia internacional e pelos setores considerados de esquerda. 2. Essa estrutura DEVE e PRECISA ser obedecida,
A partir daí, o número de manifestantes cresceu ainda mais. sem inverter a ordem, sendo assim:
Dentre as inúmeras reivindicações estava o próprio direito à • o TEMA e o POSICIONAMENTO devem aparecer
manifestação. As marchas deram propulsão a uma série de já no primeiro parágrafo;
protestos nacionais que reverberam até os dias de hoje”. • a ARGUMENTAÇÃO, que faz parte do desenvol-
vimento do texto, deve estar nos próximos parágrafos,
Alerta vermelho: O que não fazer no desenvolvi- que podem ser 2 ou 3, sendo um parágrafo para cada
mento argumento;
Como os parágrafos de desenvolvimento são mais lon- • a CONCLUSÃO, por fim, faz parte do último pa-
gos, se você não estiver atento, corre o risco de repetir in- rágrafo.
formações – o que acarreta na perda de pontos. O mesmo 3. TEMA: é o assunto sobre o qual o aluno irá disser-
erro pode ocorrer na ânsia em convencer o leitor sobre os tar, deve ser citado de forma resumida, para situar o avalia-
seus argumentos. dor a respeito do que será abordado no texto;
4.

3
REDAÇÃO

5. POSICIONAMENTO: no texto dissertativo-argu- Um texto objetivo também envolve utilizar informa-


mentativo o autor precisa se posicionar quanto à situação- ções de qualidade e dados (quando houver) precisos.
-problema, a opinião do autor – contrária ou a favor – deve
ser exposta de forma clara já no início do texto; 2 – Valorizar a simplicidade
6. ARGUMENTAÇÃO: a partir do posicionamento Durante a elaboração do texto, é de suma importância
do autor, serão agora expostos argumentos que o funda- valorizar a simplicidade. Isso significa nunca utilizar pala-
mentem para convencer o leitor a concordar com o seu vras com as quais o autor não está familiarizado apenas por
posicionamento, o texto dissertativo-argumentativo difere serem “bonitas” ou “difíceis”.
do texto dissertativo justamente por isso, através da argu- É preferível adotar uma estrutura simples, mas que
mentação o autor precisa convencer o avaliador; possua uma boa coerência e coesão.
7. CONCLUSÃO: para finalizar o texto, o autor deve
dar a ele um tom conclusivo, dar um fechamento para as 3 – Atenção com a coerência
ideias expostas e retomar a ideia inicial – primeiro parágra- E por falar em coerência, esse é um fator primordial
fo – para isso, o autor pode comparar o primeiro e o último para um texto dissertativo argumentativo de qualidade. 
parágrafo verificando se não há ideias conflitantes e se há Isso envolve prestar atenção à composição do texto como
coerência entre os dois. um todo, adotando um raciocínio de fácil compreensão
  com ideias bem “amarradas” entre uma parte do texto e
Por onde começar? outra (introdução, desenvolvimento e conclusão).
1. Informe-se sobre o assunto, pesquise na internet
mesmo, leia notícias e artigos de jornalistas renomados a 4 – Reler o texto
respeito do assunto; Ao fazer o texto, o ideal é que ele seja feito inicialmen-
2. Comece se posicionando, escolha um posiciona- te a lápis e depois de reler, pelo menos 2 vezes, passar à
mento que facilite a argumentação, mesmo o texto sendo caneta.
de sua autoria, ele não precisa apresentar ideias e opiniões É de suma importância que os participantes de provas
pessoais; como Enem, vestibulares e concursos reservem um
3.  Busque argumentos de outros, utilize ideias e tempo adequado para a redação, já que geralmente ela é
opiniões de outras pessoas para a argumentação, não há responsável por grande parte do resultado da prova.
nenhum problema nisso, desde que sejam opiniões de Reler o texto é essencial para corrigir possíveis problemas
especialistas, de profissionais renomados; de coesão e coerência, erros gramaticais e ortográficos etc.
4. Cite a fonte dessas informações, mesmo que se-
jam retiradas de sites e busque sites confiáveis; 5 – Enriquecer o vocabulário
5. Apresente mais de um argumento, o ideal é que se- Durante e após o período escolar, é crucial que as pes-
jam apresentados 2 ou 3 argumentos, é no desenvolvimento soas se dediquem a enriquecer o vocabulário. Isso faz toda
que o autor vai mostrar que conhece/domina o tema; a diferença na hora de escrever, já que é possível utilizar
6. Conclua o seu texto com algum conectivo ou ex- muito mais palavras e aplicá-las ao contexto certo.
pressão que indique conclusão (“Dessa forma”, “Assim”, Ter um bom vocabulário é como reunir as melhores
“Pode-se concluir”, “Então”, etc.); cartas de um jogo, sabendo exatamente o momento de
7. O texto não pode, de maneira nenhuma ser escrito usá-las. Algumas dicas para aprimorar o vocabulário são:
de maneira subjetiva, não se deve usar marcas de pessoali-
dade como pronomes ou verbos em primeira pessoa; Ler constantemente
8. Respeite as margens do texto e o número máximo Livros, jornais, revistas, conteúdos de blogs etc., con-
de linhas; sistem em importantes fontes de informação, sendo a base
9. Escreva o texto de forma legível, em caso de erro, para aumentar o vocabulário. Por esse motivo, o hábito da
apenas risque com um traço simples a palavra, o trecho ou leitura é primordial para quem deseja escrever bem e se
o sinal gráfico e escreva o respectivo substituto; comunicar melhor.
10. Seja claro e objetivo, sem fazer rodeios, indo direto
ao assunto, evitando parágrafos muito longos, se for preci- Consultar o dicionário
so, releia o parágrafo e retire informações desnecessárias. Ao ler ou ouvir uma palavra difícil ou ainda não conhe-
cida, é necessário recorrer ao dicionário (também disponí-
(https://www.aprovaconcursos.com.br/noti- vel no Google) e conhecer o amplo significado dela.
cias/2014/06/09/dicas-para-escrever-uma-dissertacao- A consulta ao dicionário ajuda também a identificar os
-argumentativa/) sinônimos, as classes de palavras que são assuntos essen-
ciais para evitar que o texto fique repetitivo.
IV. 8 dicas para escrever um texto dissertativo ar-
gumentativo 6 – Manter-se atualizado
1 – Manter a objetividade Tanto nas provas do Enem quanto em concursos pú-
Esse tipo de texto requer uma linguagem objetiva, ou blicos e vestibulares, é comum que os temas de redação
seja, o autor jamais deverá enchê-lo de palavras apenas sejam aqueles que envolvem aspectos sociais, ambientais
para chegar à quantidade de linhas solicitadas na prova. científicos, culturais e políticos.

4
REDAÇÃO

Por esse motivo, é imprescindível que as pessoas EXERCÍCIOS


mantenham-se atualizadas quanto aos acontecimentos
mais recentes no Brasil e no mundo assim como os prin- 1. Identifique o sentido argumentativo dos seguin-
cipais fatos que estão sendo discutidos pela sociedade. tes textos, e separe, por meio de barras, a tese e o(s)
Para compreender a importância disso, alguns dos argumento(s).
possíveis temas de redação mais aplicados no Brasil são: a) “Meu carro não é grande coisa, mas é o bastante
para o que preciso. É econômico, nunca dá defeito e tem
• Inclusão social de moradores de rua; espaço suficiente para transportar toda a minha família.” 
• Soluções para o sistema carcerário; b) “Veja bem, o Brasil a cada ano exporta mais e mais;
• Medidas para prevenção ao suicídio; além disso, todo ano batemos recordes de produção agrí-
• Avanço tecnológico e prevenção do desemprego cola. Sem contar que nosso parque industrial é um dos
no Brasil; mais modernos do mundo. definitivamente, somos o país
• Mobilidade urbana sustentável; do futuro.”
• Conceito de família no século XXI; c) “Embora a gente se ame muito, nosso namoro tem
• A crise no sistema hídrico; tudo para dar errado: nossa diferença de idade é grande e
• Efeitos de mudanças no ensino médio; nossos gostos são quase que opostos. Além disso, a famí-
• Soluções para o combate à homofobia; lia dela é terrível.”
• Sustentabilidade da sociedade com menos jo- d) “Como o Brasil é um país muito injusto, toda política
vens e mais idosos. social por aqui implementada é vista como demagogia,
paternalismo.”
Dessa forma, os alunos devem pesquisar dados esta-
tísticos básicos quanto a esses assuntos e buscar desen- RESOLUÇÃO
volver um texto rico em argumentos que fundamentem
a) O sentido aí presente é (T→ pq→A), uma vez que,
sua opinião e eficácia das sugestões quanto ao tema/
após uma constatação, se seguem as motivações que a
problema proposto.
fundamentam.
Meu carro não é grande coisa, mas é o bastante para
7 – Pesquisar/analisar bons textos
o que preciso (TESE)./ É econômico (argumento 1), /nunca
Ao estudar para provas, também é essencial pesqui-
dá defeito (argumento 2)/ e tem espaço suficiente para
sar exemplos de bons textos. A internet disponibiliza di-
transportar toda a minha família (argumento 3).
versos textos com nota máxima no Enem e nos vestibula-
res mais concorridos do país, fazendo com que os alunos
b) Nesse exemplo, já encontramos a orientação  (A→
tenham um parâmetro prático quanto à construção de
um excelente texto dissertativo argumentativo. pt→T),  uma vez que se parte de exemplificações para, a
partir delas, enunciar uma proposição.
8 – Treinar, treinar e treinar Veja bem, o Brasil a cada ano exporta mais e mais (ar-
Fazer bons Texto Dissertativo Argumentativo somen- gumento 1);/ além disso, todo ano batemos recordes de
te é possível com muita prática. Por esse motivo, a dica produção agrícola (argumento 2)./ Sem contar que nos-
é treinar, treinar e treinar, seja durante ou depois da fase so parque industrial é um dos mais modernos do mundo
escolar. O ideal é iniciar esse treino com os possíveis te- (argumento 3)./ Definitivamente, somos o país do futuro.
mas solicitados nas provas a serem realizadas como, por (TESE).
exemplo, Enem. c) Aqui, o sentido é (T→ pq→A), em que de uma afir-
Além de aumentar (e muito) a qualidade dos textos, mação inicial se desdobram exemplos que a justificam.
o treino fará com que os alunos consigam fazer os textos Embora a gente se ame muito, nosso namoro tem
com maior segurança e de forma mais rápida, ganhando tudo para dar errado (TESE):/ nossa diferença de idade
um tempo precioso na hora de fazer provas. é grande (argumento 1) e nossos gostos são quase que
Considerando todas essas dicas e informações, fica opostos (argumento 2). Além disso, a família dela é terrível
muito mais fácil construir um texto dissertativo argu- (argumento 3).
mentativo de alta qualidade, obtendo maiores notas
nas provas e sobretudo, levando esse conhecimento d) Nesse exemplo, o movimento é (A→ pt→T), já que
para a vida toda, melhorando o nível da escrita e da se parte de uma causa que funciona como justificativa a
comunicação verbal. uma enunciação que, por sua vez, é a consequência cons-
tatada.
(https://www.figuradelinguagem.com/gramatica/tex- Como o Brasil é um país muito injusto (argumento),/
to-dissertativo-argumentativo/). toda política social por aqui implementada é vista como
demagogia, paternalismo (TESE).

(http://educacao.globo.com/portugues/assunto/tex-
to-argumentativo/argumentacao.html)

5
REDAÇÃO

 2. São características da dissertação: Súbito, a palavra descobriu um novo meio de propa-
a) Defesa de uma tese através da organização de dados, gação: o cristal líquido. Saem as árvores. Entram as nuvens
fatos, ideias e argumentos em torno de um ponto de vista de elétrons.
definido sobre o assunto em questão. Nela, deve haver uma A mudança conduz a veredas ainda inexploradas. De
conclusão, e não apenas exposição de argumentos favoráveis concreto há apenas a impressão de que, longe de enfra-
ou contrários sobre determinada ideia. quecer, a ebulição digital tonifica a escrita.
b) Os eventos são organizados cronologicamente, com E isso é bom. Quando nos chega por um ouvido, a pa-
uma estrutura que privilegia os verbos no pretérito perfeito lavra costuma sair por outro. Vazando-nos pelos olhos, o
e predicados de ação relativos a eventos que se referem à texto inunda de imagens a alma.
primeira ou à terceira pessoa. Presença de enunciados que Em outras palavras: falada, a palavra perde-se nos des-
sugerem ação e novos estados. vãos da memória; impressa, desperta o cérebro, produzin-
c) Predominância de caracterizações objetivas (físicas, do uma circulação de ideias que gera novos textos.
concretas) e subjetivas (dependem do ponto de vista de A Internet é, por assim dizer, um livro interativo. Plu-
quem as descreve) e uso de adjetivos. Os tipos de verbos gados à rede, somos autores e leitores. Podemos visitar as
mais comuns na estrutura do texto são os verbos de ligação. páginas de um clássico da literatura. Ou simplesmente ar-
d) Tipo textual marcado por uma linguagem simples e riscar textos próprios.
objetiva, sendo que um dos recursos linguísticos marcantes Otto Lara Resende costumava dizer que as pessoas
desse tipo de texto é a utilização dos verbos no imperativo, haviam perdido o gosto pela troca de correspondências.
típicos de uma atitude coercitiva. Antes de morrer, brindou-me com dois telefonemas. Em
um deles prometeu: “Mando-te uma carta qualquer dia
3. (MACKENZIE) desses”.
“Acho que não pode haver discriminação racial e reli- Não sei se teve tempo de render-se ao computador.
giosa de espécie alguma. O direito de um termina quando Creio que não. Mas, vivo, Otto estaria surpreso com a po-
começa o do outro. Em todas as raças, todas as categorias, pularização crescente do correio eletrônico.
existe sempre gente boa e gente má. No caso particular des- O papel começa a experimentar o mesmo martírio im-
sa música, não posso julgar, porque nem conheço o Tiririca. posto à pedra quando da descoberta do papiro. A era di-
Como posso saber se o que passou na cabeça dele era mes- gital está revolucionando o uso do texto. Estamos virando
mo ofender os negros? Eu, Carmen Mayrink Veiga, não tenho uma página. Ou, por outra, estamos pressionando a tecla
ideia. Mas o que posso dizer é que se os negros acharam que “enter”.
a música é uma ofensa, eles devem estar com toda razão.” SOUZA, Josias de. A revolução digital. Folha de
(Revista Veja) São Paulo, São Paulo, 6 de maio de 1996. Caderno Bra-
a) A argumentação, desenvolvida por meio de clichês, sil, p. 2.
subtende um distanciamento entre o eu/enunciador e o ele/ Com base na leitura feita, é correto afirmar que o ob-
negros. jetivo do texto é:
b) A argumentação revela um senso crítico e reflexivo, a) defender a parceria entre o papel e o texto como
uma mente que sofre com os preconceitos e, principalmente, uma história de êxitos.
com a própria impotência diante deles. b) discutir as implicações da era digital no uso da es-
c) A argumentação, partindo de visões inusitadas, mas crita.
abalizadas na realidade cotidiana, aponta para a total solida- c) descrever as vantagens e as desvantagens da inter-
riedade com os negros e oprimidos. net na atualidade.
d) O discurso altamente assumido pelo enunciador ataca  d) narrar a história do papel e do texto desde a anti-
rebeldemente a hipocrisia social, que mascara os preconcei- guidade.
tos.
e) Impossível conceber, como desse mesmo enunciador, 5. Sobre o texto dissertativo, é correto afirmar que:
essa frase: “Sempre trabalhei como uma  “negra”, publicada a) Trata-se de um tipo de texto que descreve com pa-
semanas antes na mesma revista. lavras o que se viu e se observou. Tipo textual desprovido
de ação, em que o ser, o objeto ou o ambiente são mais
4. (UFMG) importantes. Valorização do substantivo e do adjetivo, que
ocupam lugar de destaque na frase.
A revolução digital b) Tem como principal objetivo contar uma história,
seja ela real ou fictícia e até mesmo mesclando dados reais
Texto e papel. Parceiros de uma história de êxitos. Pare- e imaginários. Apresenta uma evolução de acontecimentos,
ciam feitos um para o outro. ainda que sem linearidade ou relação com o tempo real.
Disse “pareciam”, assim, com o verbo no passado, e já me c) Tipo de redação escrita em prosa sobre determinado
explico: estão em processo de separação. tema, sobre o qual deverão ser apresentados argumentos,
Secular, a união não ruirá do dia para a noite. Mas o di- provas e exemplos a fim de que se chegue a uma conclusão
vórcio virá, certo como o pôr-do-sol a cada fim de tarde. para os fatos abordados.
O texto mantinha com o papel uma relação de depen- d) Tipo de texto que indica para o leitor os procedi-
dência. A perpetuação da escrita parecia condicionada à mentos a serem realizados. Nesse tipo de texto, as frases,
produção de celulose. geralmente, estão no modo imperativo.

6
REDAÇÃO

RESPOSTAS * Palavras ou expressões sinônimas ou quase si-


nônimas – ainda que se considere a inexistência de sinô-
Questão 2 . Alternativa “a”. A dissertação nimos perfeitos, algumas substituições favorecem a não
argumentativa implica a defesa de uma tese, cuja repetição de palavras.
finalidade é a de convencer ou tentar convencer o leitor Exemplo: Os automóveis colocados à venda durante a
através de evidências presentes em bons argumentos. exposição não obtiveram muito sucesso. Isso talvez tenha
Questão 3 Alternativa “a”. Contrariando os ocorrido porque os carros não estavam em um lugar de
pressupostos que regem a escrita de uma boa destaque no evento.
dissertação argumentativa, os argumentos do enunciador * Repetição vocabular– ainda que não seja o ideal, al-
são frágeis e pouco embasados, o que denota um gumas vezes há a necessidade de repetir uma palavra, prin-
certo desconhecimento sobre o assunto em questão cipalmente se ela representar a temática central a ser abor-
(discriminação racial) e o distanciamento entre o eu/ dada. Deve-se evitar ao máximo esse tipo de procedimento
enunciador e o ele/negros. ou, ao menos, afastar as duas ocorrências o mais possível,
Questão 4 Alternativa “b”. No texto em questão, embora esse seja um dos vários recursos para garantir a
Josias de Souza reflete sobre as implicações da era digital coesão textual. Exemplo: A fome é uma mazela social que
no uso da escrita e a transição dos textos impressos para vem se agravando no mundo moderno. São vários os fato-
os textos virtuais acessíveis na internet. res causadores desse problema, por isso a fome tem sido
Alternativa  “c”. a/ descrição – b/ narração – d/ uma preocupação constante dos governantes mundiais.
injunção. * Um termo síntese – usa-se, eventualmente, um ter-
mo que faz uma espécie de resumo de vários outros termos
precedentes, como uma retomada.
(http://exercicios.brasilescola.uol.com.br/exercicios-
Exemplo – O país é cheio de entraves burocráticos. É
-redacao/exercicios-sobre-dissertacao.htm)
preciso preencher uma enorme quantidade de formulários,
que devem receber assinaturas e carimbos. Depois de tudo
Parte II - A coesão textual
isso, ainda falta a emissão dos boletos para o pagamento
“A coesão não nos revela a significação do texto, bancário. Todas essas limitações acabam prejudicando as
revela-nos a construção do texto enquanto edifício se- relações comerciais com o Brasil.
mântico.” –M. Halliday. A metáfora acima representa de * Pronomes – todos os tipos de pronomes podem fun-
forma bastante eficaz o sentido de coesão, assim como cionar como recurso de referência a termos ou expressões
as partes que compõem a estrutura de um edifício devem anteriormente empregados. Para o emprego adequado,
estar bem conectadas, bem “amarradas”, as várias partes convém rever os princípios que regem o uso dos prono-
de uma frase devem se apresentar bem “amarradas”, para mes. Exemplo – Vitaminas fazem bem à saúde, mas não
que o texto cumpra sua função primordial: veículo de ar- devemos tomá-las sem a devida orientação. /
ticulação entre o autor e seu leitor. A instituição é uma das mais famosas da localidade.
A coesão é essa “amarração” entre as várias partes do Seus funcionários trabalham lá há anos e conhecem bem
texto, ou seja, o entrelaçamento significativo entre decla- sua estrutura de funcionamento. /
rações e sentenças. Existem, em Língua Portuguesa, dois A mãe amava o filho e a filha, queria muito tanto a
tipos de coesão: a lexical e a gramatical. A coesão lexical um quanto à outra. *Numerais – as expressões quantitati-
é obtida pelas relações de sinônimos, hiperônimos, no- vas, em algumas circunstâncias, retomam dados anteriores
mes genéricos e formas elididas. Já a coesão gramatical numa relação de coesão.
é conseguida a partir do emprego adequado de artigo, Exemplo – Foram divulgados dois avisos: o primeiro
pronome, adjetivo, determinados advérbios e expressões era para os alunos e o segundo cabia à administração do
adverbiais, conjunções e numerais. colégio.
Seguem alguns exemplos de coesão: As crianças comemoravam juntas a vitória do time do
* Perífrase ou antonomásia – expressão que carac- bairro, mas duas lamentavam não terem sido aceitas no
teriza o lugar, a coisa ou a pessoa a que se faz referência. time campeão.
Exemplo: O Rio de Janeiro é uma das cidades mais
* Advérbios pronominais (classificação de Rocha Lima
importantes do Brasil. A cidade maravilhosa é conhecida
e outros) – expressões adverbiais como aqui, ali, lá, acolá, aí
mundialmente por suas belezas naturais, hospitalidade e
servem como referência espacial para personagens e leitor.
carnaval. Exemplo – Querido primo, como vão as coisas na sua
* Nominalizações – uso de um substantivo que re- terra – Aí todos vão bem – / Ele não podia deixar de visitar
mete a um verbo enunciado anteriormente. Também o Corcovado. Lá demorou mais de duas horas admirando
pode ocorrer o contrário: um verbo retomar um substan- as belezas do Rio.
tivo já enunciado. * Elipse – essa figura de linguagem consiste na omis-
Exemplo: A moça foi declarar-se culpada do crime. são de um termo ou expressão que pode ser facilmente
Essa declaração, entretanto, não foi aceita pelo juiz res- depreendida em seu sentido pelas referências do contexto.
ponsável pelo caso. / O testemunho do rapaz desenca- Exemplo – O diretor foi o primeiro a chegar à sala.
deou uma ação conjunta dos moradores para testemu- Abriu as janelas e começou a arrumar tudo para a assem-
nhar contra o réu. bléia com os acionistas.

7
REDAÇÃO

* Repetição de parte do nome próprio – Machado Vejamos agora a coesão num período mais complexo:
de Assis revelou-se como um dos maiores contistas da lite- Os amigos que me restam são da data mais recente; to-
ratura brasileira. A vasta produção de Machado garante a dos os amigos foram estudar a geologia dos campos-santos.
diversidade temática e a oferta de variados títulos. Quanto às amigas, algumas datam de quinze anos, outras
* Metonímia: outra figura de linguagem que é bas- de menos, e quase todas creem na mocidade. Duas ou três
tante usada como elo coesivo, por substituir uma palavra fariam crer nela aos outros, mas a língua que falam obriga
por outra, fundamentada numa relação de contiguidade muita vez a consultar os dicionários, e tal freqüência é can-
semântica. sativa. (Machado de Assis, Dom Casmurro)
Exemplo – O governo tem demonstrado preocupação Observemos os elementos de coesão presentes nes-
com os índices de inflação. O Planalto não revelou ainda a te texto. No primeiro período, temos o pronome que re-
taxa deste mês. metendo a amigos, que é o sujeito dos verbos restam e
são, daí a concordância, em pessoa e número, entre eles.
Coesão – Técnicas / Mecanismos Do mesmo modo, amigos é o sujeito de foram, na oração
As técnicas ou mecanismos de coesão têm por objeti- seguinte; todos e os se relacionam a amigos. Já no segun-
do período, em que o autor discorre sobre as amigas, os
vo dar consistência ao texto, interligando suas partes para
pronomes algumas, outras, todas remetem a amigas; os
que tenha uma unidade de sentido, evitando a repetição
numerais duas, três também remetem a amigas, que, por
de palavras.
sua vez, é o sujeito de datam, creem, fariam, falam; nela
São muitos os autores que têm publicado estudos
retoma a expressão na mocidade, evitando sua repetição;
sobre coerência e coesão. Apoiados nos trabalhos de que representa a língua. E, para retomar muita vez, o autor
Koch (1997), Platão e Fiorin (1996), Suárez Abreu (1990) e usou a expressão sinônima tal frequência.
Marcuschi (1983), apresentamos algumas considerações Esses fatos representam mecanismos de coesão, assi-
sobre o conceito de coesão com o objetivo de mostrar a nalando relações entre os vocábulos do texto. Outros me-
presença e a importância desse fenômeno na produção e canismos marcam a relação de sentido entre os enuncia-
interpretação dos textos. dos. Assim, os vocábulos mas ( mas a língua que falam ),
Koch (1997) conceitua a coesão como “o fenômeno e ( e quase todos crêem na mocidade, e tal freqüência é
que diz respeito ao modo como os elementos linguísticos cansativa ) assinalam relação de contraste ou de oposição e
presentes na superfície textual se encontram interligados, de adição de argumentos ou idéias, respectivamente.
por meio de recursos também linguísticos, formando se- Dessa maneira, por meio dos elementos de coesão, o
quências veiculadoras de sentido.” texto vai sendo “tecido”, vai sendo construído. A respeito do
Para Platão e Fiorin (1996), a coesão textual “é a liga- conceito de coesão, autores como Halliday e Hasan (1976),
ção, a relação, a conexão entre as palavras, expressões ou em obra clássica sobre coesão textual, que tem servido
frases do texto.” A coesão é, segundo Suárez Abreu (1990), de base para grande número de estudos sobre o assunto,
“o encadeamento semântico que produz a textualidade; afirmam que a coesão é condição necessária, mas não su-
trata-se de uma maneira de recuperar, em uma sentença B, ficiente, para que se crie um texto. Na verdade, para que
um termo presente em uma sentença A.” Daí a necessidade um conjunto de vocábulos, expressões, frases seja consi-
de haver concordância entre o termo da sentença A e o derado um texto, é preciso haver relações de sentido entra
termo que o retoma na sentença B. essas unidades (coerência) e um encadeamento linear das
Finalmente, Marcuschi (1983) assim define os fatores unidades lingüísticas presentes no texto (coesão). Mas essa
de coesão: “são aqueles que dão conta da sequenciação afirmativa não é categórica nem definitiva, por algumas ra-
superficial do texto, isto é, os mecanismos formais de uma zões. Uma delas é que podemos ter conjuntos linguísticos
língua que permitem estabelecer, entre os elementos lin- destituídos de elos coesivos que, no entanto, são consi-
güísticos do texto, relações de sentido.” derados textos porque são coerentes, isto é, apresentam
uma continuidade semântica. Um outro bom exemplo da
A coesão pode ser observada tanto em enunciados
possibilidade de haver texto, porque há coerência, sem elos
mais simples quanto em enunciados mais complexos.
coesivos explicitados lingüisticamente, é o texto do escritor
Observe:
cearense Mino, em que só existem verbos.
1) Mulheres de três gerações enfrentam o preconceito
e revelam suas experiências. 2) Elas resolveram falar. Que- Como se conjuga um empresário
brando o muro de silêncio, oito dezenas de mulheres deci- Acordou. Levantou-se. Aprontou-se. Lavou-se. Barbeou-
diram contar como aconteceu o fato que marcou sua vida. -se. Enxugou-se. Perfumou-se. Lanchou. Escovou. Abraçou.
3) Do alto de sua ignorância, os seres humanos costumam Beijou. Saiu. Entrou. Cumprimentou. Orientou. Controlou.
achar que dominam a terra e todos os outros seres vivos. Advertiu. Chegou. Desceu. Subiu. Entrou. Cumprimentou.
Nesses exemplos, temos os pronomes suas e que re- Assentou-se. Preparou-se. Examinou. Leu. Convocou. Leu.
tomando mulheres de três gerações e o fato, respectiva- Comentou. Interrompeu. Leu. Despachou. Conferiu. Vendeu.
mente; os pronomes elas e sua antecipam oito dezenas de Vendeu. Ganhou. Ganhou. Ganhou. Lucrou. Lucrou. Lucrou.
mulheres e os seres humanos, respectivamente. Estes são Lesou. Explorou. Escondeu. Burlou. Safou-se. Comprou. Ven-
apenas alguns mecanismos de coesão, mas existem muitos deu. Assinou. Sacou. Depositou. Depositou. Depositou. Asso-
outros, como veremos mais adiante. ciou-se. Vendeu-se. Entregou. Sacou. Depositou. Despachou.

8
REDAÇÃO

Repreendeu. Suspendeu. Demitiu. Negou. Explorou. Desconfiou. Vigiou. Ordenou. Telefonou. Despachou. Esperou. Chegou.
Vendeu. Lucrou. Lesou. Demitiu. Convocou. Elogiou. Bolinou. Estimulou. Beijou. Convidou. Saiu. Chegou. Despiu-se. Abra-
çou. Deitou-se. Mexeu. Gemeu. Fungou. Babou. Antecipou. Frustrou. Virou-se. Relaxou-se. Envergonhou-se. Presenteou. Saiu.
Despiu-se. Dirigiu-se. Chegou. Beijou. Negou. Lamentou. Justificou-se. Dormiu. Roncou. Sonhou. Sobressaltou-se. Acordou.
Preocupou-se. Temeu. Suou. Ansiou. Tentou. Despertou. Insistiu. Irritou-se. Temeu. Levantou. Apanhou. Rasgou. Engoliu. Bebeu.
Rasgou. Engoliu. Bebeu. Dormiu. Dormiu. Dormiu. Acordou. Levantou-se. Aprontou-se …

Neste texto, a coerência é depreendida da sequência ordenada dos verbos com os quais o autor mostra o dia-a-dia
de um empresário. Verbos como lesou, burlou, explorou, safou-se … transmitem um julgamento de valor do autor do texto
em relação à figura de um empresário. Podemos constatar que ” Como se conjuga um empresário ” não precisou de ele-
mentos coesivos para ser considerado um texto. Por outro lado, elos coesivos não são suficientes para garantir a coerência
de um texto. É o caso do exemplo a seguir: As janelas da casa foram pintadas de azul, mas os pedreiros estão almoçando. A
água da piscina parece limpa, entretanto foi tratada com cloro. A vista que tenho da casa é muito agradável. Finalizando, vale
dizer que, embora a coesão não seja condição suficiente para que enunciados se constituam em textos, são os elementos
coesivos que dão a eles maior legibilidade e evidenciam as relações entre seus diversos componentes.

Mecanismos de Coesão
São variadas as maneiras como os diversos autores descrevem e classificam os mecanismos de coesão. Consideramos
que é necessário perceber como esses mecanismos estão presentes no texto (quando estão) e de que maneira contribuem
para sua tessitura, sua organização. Para Mira Mateus (1983), “todos os processos de sequencialização que asseguram (ou
tornam recuperável) uma ligação linguística significativa entre os elementos que ocorrem na superfície textual podem ser
encarados como instrumentos de coesão.”

Esses instrumentos se organizam da seguinte forma:

Coesão Gramatical: Faz-se por meio das concordâncias nominais e verbais, da ordem dos vocábulos, dos conectores,
dos pronomes pessoais de terceira pessoa (retos e oblíquos), pronomes possessivos, demonstrativos, indefinidos, interro-
gativos, relativos, diversos tipos de numerais, advérbios (aqui, ali, lá, aí), artigos definidos, de expressões de valor temporal.
De acordo com o quadro antes apresentado, passamos a ver separadamente cada um dos tipos de conexão gramatical, a
saber, frásica, interfrásica, temporal e referencial.
1) Coesão Frásica – este tipo de coesão estabelece uma ligação significativa entre os componentes da frase, com base
na concordância entre o nome e seus determinantes, entre o sujeito e o verbo, entre o sujeito e seus predicadores, na or-
dem dos vocábulos na oração, na regência nominal e verbal.
Exemplos:
1) Florianópolis tem praias para todos os gostos, desertas, agitadas, com ondas, sem ondas, rústicas, sofisticadas.

Concordância Nominal: praias desertas, agitadas, rústicas, sofisticadas (subst.) (adjetivos)   todos os gostos (pron.)
(artigo) (substantivo) Concordância Verbal: Florianópolis tem (sujeito) (verbo)
2) A voz de Elza Soares é um patrimônio da música brasileira. Rascante, oclusiva, suingada, é algo que poucas cantoras,
no mundo inteiro, têm. Concordância Nominal: voz rascante, oclusiva, suingada poucas cantoras música brasileira mundo
inteiro.

9
REDAÇÃO

Concordância Verbal: voz é cantoras têm. 2) Coesão Interfrásica – designa os variados tipos de
Com respeito à ordem dos vocábulos na oração, des- interdependência semântica existentes entre as frases na
locamentos de vocábulos ou expressões dentro da oração superfície textual. Essas relações são expressas pelos co-
podem levar a diferentes interpretações de um mesmo nectivos. É necessário, portanto, usar o conector adequado
enunciado. à relação que queremos expressar.
Observe estas frases: Seguem exemplos dos diferentes tipos de conectores
a) O barão admirava a bailarina que dançava com um que podemos empregar: a) As baleias que acabam de che-
olhar lânguido. gar ao Brasil saíram da Antártida há pouco mais de um mês.
A expressão com um olhar lânguido , devido à posição No banco de Abrolhos, uma faixa com cerca de 500 quilôme-
em que foi colocada, causa ambiguidade, pois tanto pode tros de água rasa e cálida, entre o Espírito Santo e a Bahia,
se referir ao barão como à bailarina. Para deixar claro um as baleias encontram as condições ideais para acasalar, parir
ou outro sentido, é preciso alterar a ordem dos vocábulos. e amamentar. As primeiras a chegar são as mães, que ainda
O barão, com um olhar lânguido, admirava a bailarina amamentam os filhotes nascidos há um ano. Elas têm pressa,
que dançava. O barão admirava a bailarina que, com um porque é difícil conciliar amamentação e viagem, já que um
olhar lânguido, dançava. filhote tem necessidade de mamar cerca de 100 litros de leite
b) A moto em que ele estava passeando lentamente por dia para atingir a média ideal de aumento de peso: 35
saiu da estrada. quilos por semana. Depois, vêm os machos, as fêmeas sem
A análise deste período mostra que ele é formado de filhote e, por último, as grávidas. Ao todo, são cerca de 1000
duas orações: A moto saiu da estrada e em que ele estava baleias que chegam a Abrolhos todos os anos. Já foram deze-
passeando . A qual das duas, no entanto, se liga o advérbio nas de milhares na época do descobrimento, quando estacio-
lentamente ? Da forma como foi colocado, pode se ligar navam em vários pontos da costa brasileira. Em 1576, Pero de
a qualquer uma das orações. Para evitar a ambiguidade, Magalhães Gândavo registrou ter visto centenas delas na baía
recorremos a uma mudança na ordem dos vocábulos de Guanabara. (Revista VEJA, no 30, julho/97)
Poderíamos ter, então: b) Como suas glândulas mamárias são internas, ela es-
A moto em que lentamente ele estava passeando saiu pirra o leite na água. (idem)
da estrada. A moto em que ele estava passeando saiu len- c) Ao longo dos meses, porém, a música vai sofren-
tamente da estrada. do pequenas mudanças, até que, depois de cinco anos, é
Também em relação à regência verbal, a coesão pode completamente diferente da original. (idem)
ficar prejudicada se não forem tomados alguns cuidados. d) A baleia vem devagar, afunda a cabeça, ergue o cor-
Há verbos que mudam de sentido conforme a regência, panzil em forma de arco e desaparece um instante. Sua
isto é, conforme a relação que estabelecem com o seu cauda, então, ressurge gloriosa sobre a água como se
complemento. Por exemplo, o verbo assistir é usado com fosse uma enorme borboleta molhada. A coreografia dura
a preposição a quando significa ser espectador, estar pre- segundos, porém tão grande é a baleia que parece um
sente, presenciar. balé em câmara lenta. (idem)
Exemplo: A cidade inteira assistiu ao desfile das escolas e) Tão grande quanto as baleias é a sua discrição. Nun-
de samba. ca um ser humano presenciou uma cópula de jubartes, mas
Entretanto, na linguagem coloquial, este verbo é usado sabe-se que seu intercurso é muito rápido, dura apenas al-
sem a preposição. Por isso, com frequência, temos frases guns segundos. (idem)
f) A jubarte é engenhosa na hora de se alimentar.
como:
Como sua comida costuma ficar na superfície, ela mergu-
Ainda não assisti o filme que foi premiado no festival
lha e nada em volta dos peixes, soltando bolhas de água.
. Ou A peça que assisti ontem foi muito bem montada (ao
Ao subir, as bolhas concentram o alimento num círculo.
invés de a que assisti).
Em seguida, a baleia abocanha tudo, elimina a água pelo
No sentido de acompanhar, ajudar, prestar assistência,
canto da boca e usa a língua como uma canaleta a fim de
socorrer, usa-se com proposição ou não. Observe: O mé-
jogar o que interessa goela adentro. (idem)
dico assistiu ao doente durante toda a noite.Os Anjos do
g) Várias publicações estrangeiras foram traduzidas,
Asfalto assistiram as vítimas do acidente.
embora muitas vezes valha a pena comprar a versão ori-
No que diz respeito à regência nominal, há também ginal. (idem)
casos em que os enunciados podem se prestar a mais de h) Como guia de Paris, o livro é um embuste. Não espere,
uma interpretação. portanto, descobrir através dele o horário de funcionamento
Se dissermos A liquidação da Mesbla foi realizada no dos museus. A autora faz uma lista dos lugares onde o turista
fim do verão , podemos entender que a Mesbla foi liquida- pode comprar roupas, óculos, sapatos, discos, livros, no en-
da , foi vendida ou que a Mesbla promoveu uma liquidação tanto, não fornece as faixas de preço das lojas. (idem)
de seus produtos . Isso acontece porque o nome liquidação i) Se já não é possível espantar a chicotadas os
está acompanhado de um outro termo ( da Mesbla ). De- vendilhões do templo, a solução é integrá-los à paisagem
pendendo do sentido que queremos dar à frase, podemos da fé. (…) As críticas vêm não só dos vendilhões ameaçados
reescrevê-la de duas maneiras: A Mesbla foi liquidada no de ficar de fora, mas também das pessoas que freqüentam
fim do verão. A Mesbla promoveu uma liquidação no fim o interior do templo para exercer a mais legítima de suas
do verão funções, a oração. (Revista VEJA, no 27, julho/97)

10
REDAÇÃO

j) Na verdade, muitos habitantes de Aparecida estão Há, neste trecho, apenas uma coesão interfrásica expli-
entre a cruz e a caixa registradora. Vivem a dúvida de pre- citada: trata-se da oração “Quando se irritava com alguém,
servar a pureza da Casa de Deus ou apoiar um empreendi- não media palavras”. Os demais possíveis conectores são
mento que pode trazer benesses materiais. (idem) indicados por ponto e ponto-e-vírgula.
l) A Igreja e a prefeitura estimam que o shopping deve
gerar pelo menos 1000 empregos. (idem) Coesão Temporal – uma sequência só se apresenta
m) Aparentemente boa, a infraestrutura da Basílica se coesa e coerente quando a ordem dos enunciados estiver
transforma em pó em outubro, por exemplo, quando num de acordo com aquilo que sabemos ser possível de ocor-
único fim de semana surgem 300 mil fiéis. (idem) rer no universo a que o texto se refere, ou no qual o texto
n) O shopping da fé também contará com um centro se insere. Se essa ordenação temporal não satisfizer essas
de eventos com palco giratório. (idem) condições, o texto apresentará problemas no seu sentido.
Conectores: e (exemplos a,d,f) – liga termos ou argu- A coesão temporal é assegurada pelo emprego adequado
mentos. dos tempos verbais, obedecendo a uma sequência plau-
porque (exemplo a), já que (exemplo a), como (exem- sível, ao uso de advérbios que ajudam a situar o leitor no
plos b, f) – introduzem uma explicação ou justificativa. tempo (são, de certa forma, os conectores temporais).
para (exemplos a, i), a fim de (exemplo f) – indicam Exemplos:
uma finalidade. A dita Era da Televisão é, relativamente, nova. Embora os
porém (exemplos c, d), mas (e) , embora (g) , no princípios técnicos de base sobre os quais repousa a transmis-
entanto (h) – indicam uma contraposição. são televisual já estivessem em experimentação entre 1908
como (exemplo d) , tão … que (exemplo d), tão … e 1914, nos Estados Unidos, no decorrer de pesquisas sobre a
quanto (exemplo e) – indicam uma comparação. amplificação eletrônica, somente na década de vinte chegou-
portanto (h) – evidencia uma conclusão. -se ao tubo catódico, principal peça do aparelho de tevê. Após
Depois (a) , por último (a), quando (a), já (a), ao lon- várias experiências por sociedades eletrônicas, tiveram
go dos meses (c), depois de cinco anos (c), em seguida início, em 1939, as transmissões regulares entre Nova Iorque
(f), até que (c) – servem para explicar a ordem dos fatos, e Chicago – mas quase não havia aparelhos particulares. A
para encadear os acontecimentos. guerra impôs um hiato às experiências. A ascensão vertiginosa
então (d) – operador que serve para dar continuidade do novo veículo deu-se após 1945. No Brasil, a despeito de
ao texto. algumas experiências pioneiras de laboratório (Roquete Pinto
se (exemplo i) – indica uma forma de condicionar uma chegou a interessar-se pela transmissão da imagem), a tevê só
proposição a outra. foi mesmo implantada em setembro de 1950, com a inaugu-
não só…mas também (exemplo i) – serve para mos- ração do Canal 3 (TV Tupi), por Assis Chateaubriand. Nesse
trar uma soma de argumentos. mesmo ano, nos Estados Unidos, já havia cerca de cem esta-
na verdade (exemplo j) – expressa uma generalização, ções, servindo a doze milhões de aparelhos. Existem hoje mais
uma amplificação. de 50 canais em funcionamento, em todo o território brasileiro,
ou (exemplo j) – apresenta um disjunção argumentati- e perto de 4 milhões de aparelhos receptores. [dados de 1971]
va, uma alternativa. (Muniz Sodré, A comunicação do grotesco)
por exemplo (exemplo m) – serve para especificar o Temos, neste parágrafo, a apresentação da trajetória da
que foi dito antes. televisão no Brasil, e o que contribui para a clareza desta traje-
também (exemplo n) – operador para reforçar mais um tória é a sequência coerente das datas: entre 1908 e 1914, na
argumento apresentado. década de vinte, em 1939, Após várias experiências por socie-
Ainda dentro da coesão interfrásica, existe o processo dades eletrônicas, (época da) guerra, após 1945, em setem-
de justaposição, em que a coesão se dá em função da se- bro de 1950, nesse mesmo ano, hoje. Embora o assunto neste
quência do texto, da ordem em que as informações, as pro- tópico seja a coesão temporal, vale a pena mostrar também a
posições, os argumentos vão sendo apresentados. Quando ordenação espacial que acompanha as diversas épocas apon-
isto acontece, ainda que os operadores não tenham sido tadas no parágrafo: nos Estados Unidos, entre Nova Iorque e
explicitados, eles são depreendidos da relação que está im- Chicago, no Brasil, em todo o território brasileiro .
plícita entre as partes da frase.
O trecho abaixo é um exemplo de justaposição: Coesão Referencial – neste tipo de coesão, um com-
Foi em cabarés e mesas de bar que Di Cavalcanti fez ponente da superfície textual faz referência a outro com-
amigos, conquistou mulheres, foi apresentado a medalhões ponente, que, é claro, já ocorreu antes. Para esta referência
das artes e da política. Nos anos 20, trocou o Rio por longas são largamente empregados os pronomes pessoais de ter-
temporadas em São Paulo; em seguida foi para Paris. Aca- ceira pessoa (retos e oblíquos), pronomes possessivos, de-
bou conhecendo Picasso, Matisse e Braque nos cafés de Mon- monstrativos, indefinidos, interrogativos, relativos, diversos
tparnasse. Di Cavalcanti era irreverente demais e calculista tipos de numerais, advérbios (aqui, ali, lá, aí), artigos.
de menos em relação aos famosos e poderosos. Quando se Exemplos:
irritava com alguém, não media palavras. Teve um inimigo a) Durante o período da amamentação, a mãe ensina
na vida. O também pintor Cândido Portinari. A briga entre os segredos da sobrevivência ao filhote e é arremedada
ambos começou nos anos 40. Jamais se reconciliaram. Porti- por ele. A baleiona salta, o filhote a imita. Ela bate a cauda,
nari não tocava publicamente no nome de Di. (Revista VEJA, ele também o faz.
no 37,setembro/97) (Revista VEJA, no 30,julho/97)

11
REDAÇÃO

ela, a – retomam o termo baleiona, que, por sua vez, a) Todos os detalhes sobre a vida das jubartes são
substitui o vocábulo mãe. ele – retoma o termo filhote, resultado de anos de observação de pesquisadores apai-
ele também o faz – o retoma as ações de saltar, bater, xonados pelo objeto de estudo. Trabalhos como esse
que a mãe pratica. vêm alcançando bons resultados. (Revista VEJA, no 30,
b) Madre Teresa de Calcutá, que em 1979 ganhou o julho/97)
Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho com os destituídos O pronome esse retoma toda a seqüência anterior.
do mundo, estava triste na semana passada. Perdera uma b) Se ninguém tomar uma providência, haverá um
amiga, a princesa Diana. Além disso, seus problemas de desastre sem precedentes na Amazônia brasileira. Ainda
saúde agravaram-se. Instalada em uma cadeira de rodas, há tempo de evitá-lo. (Revista VEJA, junho/97) O pronome
ela mantinha-se, como sempre, na ativa. Já que não podia lo se refere ao desastre sem precedentes citado antes.
ir a Londres, pretendia participar, no sábado, de um ato em c) A lei é um absurdo do começo ao fim. Primeiro,
memória da princesa, em Calcutá, onde morava há quase porque permite aos moradores da superquadra isolar uma
setenta anos. Na noite de sexta-feira, seu médico foi cha- área pública, não permitindo que os demais habitantes
mado às pressas. Não adiantou. Aos 87 anos, Madre Teresa transitem por ali. Segundo, o projeto não repassa aos
perdeu a batalha entre seu organismo debilitado e frágil e moradores o custo disso, ou seja, a responsabilidade
sua vontade de ferro e morreu vítima de ataque cardíaco. pela coleta de lixo, pelos serviços de água e luz e pela
O Papa João Paulo II declarou-se “sentido e entristecido”. instalação de telefones. Pelo contrário, a taxa de limpeza
Madre Teresa e o papa tinham grande afinidade. (Revista pública seria reduzida para os moradores. Além disso, a
VEJA, nº 36, setembro/97) aprovação do texto foi obtida mediante emprego de ar-
que, seu, seus, ela, sua referem-se a Madre Teresa. gumentos falsos. (Revista VEJA, julho/97)
Há ainda outros elementos de coesão, como Além dis- Este texto apresenta diferentes tipo de elementos de
so, já que , que introduzem, respectivamente, um acrésci- coesão.
mo ao que já fora dito e uma justificativa. ali – faz referência a área pública , anteriormente ci-
c) Em Abrolhos, as jubartes fazem a maior esbórnia. Elas tada.
se reúnem em grupos de três a oito animais, sempre com disso – retoma o que é considerado um absurdo den-
uma única fêmea no comando. É ela, por exemplo, que de- tro da nova lei. Ao mesmo tempo, disso é explicado a
termina a velocidade e a direção a seguir. Os machos vão partir do operador ou seja .
atrás, na expectativa de ver se a fêmea cai na rede, com o
ou seja, pelo contrário – conectores que introduzem
perdão do trocadilho,e aceita copular. Como há mais ma-
uma retificação, uma correção.
chos que fêmeas, elas copulam com vários deles para ter
Além disso – conector que tem por função acrescen-
certeza de que engravidarão. (Revista VEJA, no 30, julho/97)
tar mais um argumento ao que está sendo discutido.
Neste exemplo, ocorre um tipo bastante comum de
Primeiro e Segundo – estes conectores indicam a or-
referência – a anafórica. Os pronomes elas (que retoma
dem dos argumentos, dos assuntos.
jubartes ), ela (que retoma fêmea ), elas (que se refere a
Coesão lexical
fêmeas ) e deles (que se refere a machos ) ocorrem depois
dos nomes que representam. Neste tipo de coesão, usamos termos que retomam
d) Ele foi o único sobrevivente do acidente que matou vocábulos ou expressões que já ocorreram, porque exis-
a princesa, mas o guarda-costas não se lembra de nada. tem entre eles traços semânticos semelhantes, até mesmo
(Revista VEJA, no 37, setembro/97) opostos. Dentro da coesão lexical, podemos distinguir a
e) Elas estão divididas entre a criação dos filhos e o de- reiteração e a substituição. Por reiteração entendemos a
senvolvimento profissional, por isso, muitas vezes, as mu- repetição de expressões linguísticas; neste caso, existe
lheres precisam fazer escolhas difíceis. (Revista VEJA, no 30, identidade de traços semânticos. Este recurso é, em geral,
julho/97) bastante usado nas propagandas, com o objetivo de fazer
Nas letras d e e temos o que se chama uma referência o ouvinte/leitor reter o nome e as qualidades do que é
catafórica. Isto acontece porque os pronomes Ele e Elas, anunciado.
que se referem, respectivamente a guarda-costas e mulheres Observe, nesta propaganda da Ipiranga, quantas ve-
aparecem antes do nome que retomam. zes é repetido o nome da refinaria.
f) A expedição de Vasco da Gama reunia o melhor que Em 1937, quando a Ipiranga foi fundada, muitos afir-
Portugal podia oferecer em tecnologia náutica. Dispunha mavam que seria difícil uma refinaria brasileira dar certo.
das mais avançadas cartas de navegação e levava pilotos Quando a Ipiranga começou a produzir querosene de
experientes. (Revista VEJA, no 27, julho/97) padrão internacional, muitos afirmavam, também, que di-
Temos neste período uma referência por elipse. O sujei- ficilmente isso seria possível.
to dos verbos dispunha e levava é A expedição de Vasco da Quando a Ipiranga comprou as multinacionais Gulf
Gama, que não é retomada pelo pronome correspondente Oil e Atlantic, muitos disseram que isso era incomum. E, a
ela, mas por elipse, isto é, a concordância do verbo – 3ª cada passo que a Ipiranga deu nesses anos todos, nunca
pessoa do singular do pretérito imperfeito do indicativo – é faltaram previsões que indicavam outra direção. Quem po-
que indica a referência. deria imaginar que a partir de uma refinaria como aquela
Existe ainda a possibilidade de uma idéia inteira ser re- Ipiranga se transformaria numa das principais empresas
tomada por um pronome, como acontece nas frases a se- do país, com 5600 postos de abastecimento anual de 5,4
guir: bilhões de dólares?

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REDAÇÃO

E, que além de tudo, está preparada para o futuro? É Foi conhecido como Antonio dos Mares, uma certa época,
que, além de ousadia, a Ipiranga teve sorte: a gente estava e também como Irmão Antonio. Os mais devotos o intitu-
tão ocupado trabalhando que nunca sobrou muito tempo lavam “Bom Jesus“, “Santo Antonio“. De batismo, era
para prestar atenção em profecias. (Revista VEJA, nº 37, se- Antonio Vicente Mendes Maciel. Quando fixou sua fama,
tembro/97) era Antônio Conselheiro, nome com o qual conquistou os
Outro exemplo: sertões e além. (Revista VEJA,setembro/97)
A história de Porto Belo envolve invasão de aventureiros Os vocábulos assinalados indicam a sinonímia para o
espanhóis, aventureiros ingleses e aventureiros franceses, que nome de Antônio Conselheiro.Por ser um parágrafo rico
procuraram portos naturais, portos seguros para proteger suas em mecanismos de coesão, vale a pena mostrar mais al-
embarcações de tempestades. (JB, Caderno Viagem, 25/08/93) guns deles. Por exemplo, o sujeito de vestia, tinha, calçava,
A substituição é mais ampla, pois pode se efetuar por levava, chamava, foi conhecido, fixou é sempre o mesmo,
meio da sinonímia, da antonímia, da hiperonímia, da hiponímia. isto é, Antônio Conselheiro, mas só ao final do texto esse
Vamos ilustrar cada um desses mecanismos por meio de sujeito é esclarecido.
exemplos. Dizemos, então, que, neste caso, houve uma referência
por elipse. Chamavam-no e o intitulavam – os pronomes
Sinonímia oblíquos no e o retomam a figura de Antônio Conselheiro.
a) Pelo jeito, só Clinton insiste no isolamento de Cuba. Da mesma forma, o pronome a (protegia-a) refere-se ao
João Paulo II decidiu visitar em janeiro a ilha da Fantasia. nome cabeça, e o possessivo sua (sua fama) tem como
(Revista VEJA, nº 39, outubro/97) referente o mesmo Antônio Conselheiro.
Os termos assinalados têm o mesmo referente. Entretan- e) Depois do ciclo Romário, o Flamengo entra na era
to, é preciso esclarecer que, neste caso, há um julgamento Sávio. Pelo menos é essa a intenção do presidente Kleber
de valor na substituição de Cuba por ilha da Fantasia, numa Leite. O dirigente nega a intenção do clube em fazer de
alusão a lugar onde não há seriedade. seu atacante uma moeda de troca. “No ano passado me
b) Aos 26 anos, o zagueiro Júnior Baiano deu uma gran- ofereceram US $ 9 milhões e mais o passe do Romário pelo
de virada em sua carreira. Conhecido por suas inconseqüentes Sávio e eu não fiz negócio”, lembrou. Segundo Kleber, o jo-
“tesouras voadoras”, ele passou a agir de maneira mais sen- gador tem categoria suficiente para se transformar em um
sata, atitude que já levou até a Seleção Brasileira. Patrícia, a ídolo nacional. Por falar em prata da casa,o presidente do
esposa, e os filhos Patrícia Caroline e Patrick são as maiores Flamengo, apoiado por Zico, vai apostar nos jovens valores
alegrias desse baiano nascido na cidade de Feira de Santana. do clube para o segundo semestre. Ele acha que, mantendo
“Eles são a minha razão de viver e lutar por coisas boas”, co- a base, com Sávio, Júnior Baiano, Athirson, Evandro e Lú-
menta o zagueiro. cio, o time rubro-negro terá condições de chegar às finais
Na galeria do ídolos, Júnior Baiano coloca três craques: do Campeonato Brasileiro e Supercopa. (Jornal dos Sports,
Leandro, Mozer a Aldair. “Eles sabem tudo de bola, diz o jo- 24/08/97)
gador. O zagueiro da Seleção só questiona se um dia terá o As expressões assinaladas se referem à mesma pessoa.
mesmo prestígio deles. Deixando para trás a fase de desajus- Na verdade, temos em dirigente um sinônimo de fato, en-
tado e brigão, o zagueiro rubro-negro agora orienta os mais quanto as outras substituições podem ser chamadas de
jovens e aposta nesta nova geração do Flamengo. (Jornal dos elipses parciais, embora todas remetam ao presidente do
Sports, 24/08/97) clube carioca. Existe igualmente sinonímia entre Sávio,
Este tipo de procedimento é muito útil para evitar as atacante e jogador.
constantes repetições que tornam um texto cansativo e pou- f) Penando para tentar reduzir a conta dos direitos e
co atraente. Observe quantas diferentes maneiras foram em- benefícios dos trabalhadores, todo governante europeu hoje
pregadas para fazer alusão à mesma pessoa. Dentro desse em dia baba de inveja dos Estados Unidos – o país do
parágrafo, observamos ainda outros mecanismos de coesão cada um por si e o governo, de preferência, bem longe
já vistos anteriormente: dessas questões. Pois foi justamente na terra do vale-
sua, ele, o, que retomam o jogador Júnior Baiano, e de- -tudo entre patrão e empregado que 185000 filiados de
les, que retoma os três craques. um sindicato cruzaram os braços neste mês e pararam por
c) Como uma ilha entre as pessoas que se comprimiam no quinze dias a UPS, a maior empresa de entregas terrestres
abrigo do bonde, o homem mantinha-se concentrado no seu do mudo . (Revista VEJA, setembro/97)
serviço. Era especialista em colorir retrato e fazia caricatura em Não podemos deixar de apontar que, neste exemplo,
cinco minutos. No momento, ele retocava uma foto de Getúlio os sinônimos escolhidos para Estados Unidos se revestem
Vargas, que mostrava um dos melhores sorrisos do presiden- de um juízo de valor, são denominações de caráter pejo-
te morto. (Wander Piroli, Trabalhadores do Brasil ) rativo.
d) Vestia um camisolão azul, sem cintura. Tinha cabelos
longos como Jesus e barbas longas. Nos pés calçava sandálias Antonímia – É a seleção de expressões linguísticas
para enfrentar o pó das estradas e, a cabeça, protegia-a do sol com traços semânticos opostos.
inclemente com um chapelão de abas largas. Nas mãos levava Exemplos:
um cajado, como os profetas, os santos, os guiadores de gente, a) Gelada no inverno, a praia de Garopaba oferece no
os escolhidos, os que sabiam o caminho do céu. Chamava os verão uma das mais belas paisagens catarinenses. (JB, Ca-
outros de “meu irmão”. Os outros chamavam-no “meu pai”. derno Viagem, 25/08/93)

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REDAÇÃO

Hiperonímia e Hiponímia – Por hiperonímia temos o EXERCÍCIOS DE COESÃO


caso em que a primeira expressão mantém com a segun-
da uma relação de todo-parte ou classe-elemento. Por hi- 1.  (Simulado INEP) Aumento do efeito estufa
ponímia designamos o caso inverso: a primeira expressão ameaça plantas, diz estudo.
mantém com a segunda uma relação de parte-todo ou O aumento de dióxido de carbono na atmosfera, re-
elemento-classe. Em outras palavras, essas substituições sultante do uso de combustíveis fósseis e das queimadas,
ocorrem quando um termo mais geral – o hiperônimo – é pode ter consequências calamitosas para o clima mun-
substituído por um termo menos geral – o hipônimo, ou dial, mas também pode afetar diretamente o crescimento
vice-versa. das plantas. Cientistas da Universidade de Basel, na Suíça,
Os exemplo ajudam a entender melhor. mostraram que, embora o dióxido de carbono seja essen-
a) Tão grande quanto as baleias é a sua discrição. cial para o crescimento dos vegetais, quantidades excessi-
Nunca um ser humano presenciou uma cópula de jubar- vas desse gás prejudicam a saúde das plantas e têm efeitos
tes, mas sabe-se que seu intercurso é muito rápido, dura incalculáveis na agricultura de vários países.
apenas alguns segundos. (Revista VEJA, no 30, julho/97) O Estado de São Paulo, 20 set. 1992, p.32.
b) Em Abrolhos, as jubartes fazem a maior esbórnia. O texto acima possui elementos coesivos que promo-
Elas se reúnem em grupos de três a oito animais, sempre vem sua manutenção temática. A partir dessa perspectiva,
com uma única fêmea no comando. É ela, por exemplo, conclui-se que
que determina a velocidade e a direção a seguir. (Idem) a) a palavra “mas”, na linha 2, contradiz a afirmação
c) Dentre as 79 espécies de cetáceos, as jubartes são inicial do texto: linhas 1 e 2.
as únicas que cantam – tanto que são conhecidas também b) a palavra “embora”, na linha 4, introduz uma explica-
por “baleias cantoras”. (Idem) ção que não encontra complemento no restante do texto.
d) A renda de bilro é a mais conhecida e criativa forma c) as expressões: “consequências calamitosas”, na linha
de artesanato catarinense. (JB, Caderno Viagem, 25/08/93) 2, e “efeitos incalculáveis”, na linha 6, reforçam a ideia que
e) O litoral norte de Santa Catarina tem um verdadei- perpassa o texto sobre o perigo do efeito estufa.
ro festival de localidades famosas: a praia de Camboriu, a d) o uso da palavra “cientistas”, na linha 3, é desneces-
ilha de São Francisco do Sul, a enseada do Brito . (Idem) sário para dar credibilidade ao texto, uma vez que se fala
f) Dado que, entre os assentados, é expressivo o nú- em “estudo” no título do texto.
mero de analfabetos, pode-se ter uma idéia de quanto é e) a palavra “gás”, na linha 5, refere-se a “combustíveis
difícil elaborar um projeto ou usar novas tecnologias. Com fósseis” e “queimadas”, nas linhas 1 e 2, reforçando a ideia
pouco dinheiro e escassa assistência, eles costumam usar de catástrofe.
sementes de qualidade baixa e voltar-se para a produção
de consumo familiar. Mesmo entre os instrumentos de  2. (ENEM – 2014)
trabalho mais corriqueiros, também há escassez brutal, e Há qualquer coisa de especial nisso de botar a cara na ja-
a maioria dos assentados não dispõe nem mesmo de uma nela em crônica de jornal ‒ eu não fazia isso há muitos anos,
pá ou de uma picareta. Entre eles, ainda que os sem-terra enquanto me escondia em poesia e ficção. Crônica algumas
tenham escolhido a foice como um dos seus símbolos de vezes também é feita, intencionalmente, para provocar. Além
luta pela reforma agrária, o instrumento mais comum ain- do mais, em certos dias mesmo o escritor mais escolado não
da é a velha enxada. (Revista VEJA, nº 29, julho/97) Hipe- está lá grande coisa. Tem os que mostram sua cara escreven-
rônimos (termos mais gerais) do para reclamar: moderna demais, antiquada demais.
Alguns discorrem sobre o assunto, e é gostoso compar-
Hipônimos (termos mais específicos) baleias animais tilhar ideias. Há os textos que parecem passar despercebi-
cetáceos artesanato litoral norte instrumentos jubartes ju- dos, outros rendem um montão de recados: “Você escreveu
bartes baleias renda de bilro praia, ilha, enseada pá, pica- exatamente o que eu sinto”, “Isso é exatamente o que falo
reta, foice, enxada com meus  pacientes”, “É isso que digo para meus pais”,
Vale a pena apontar também a coesão lexical por si- “Comentei com minha namorada”. Os estímulos são valio-
nonímia, entre assentados e sem-terra (exemplo f) e entre sos pra quem nesses tempos andava meio assim: é como
jubartes e baleias cantoras (exemplo c). Os pronomes eles me botarem no colo ‒ também eu preciso. Na verdade,
( caso reto ) e se ( caso oblíquo ) são exemplos de coesão nunca fui tão posta no colo por leitores como na janela
gramatical referencial, pois remetem aos assentados . do jornal. De modo que está sendo ótima, essa brincadei-
ra séria, com alguns textos que iam acabar neste livro, ou-
(  http://www.portalsaofrancisco.com.br/portugues/ tros espalhados por aí. Porque eu levo a sério ser sério…
coesao) mesmo quando parece que estou brincando:  essa é uma
das maravilhas de escrever. Como escrevi há muitos anos
e continua sendo a minha verdade: palavras são meu jeito
mais secreto de calar.
LUFT, L. Pensar é transgredir. Rio de janeiro: Record,
2004.

14
REDAÇÃO

Os textos fazem uso constante de recurso que per-  4. (ENEM – 2011)
mitem a articulação entre suas partes. Quanto à cons- Cultivar um estilo de vida saudável é extremamente
trução do fragmento, o elemento importante para diminuir o risco de infarto, mas também
a) “nisso” introduz o fragmento “botar a cara na janela de problemas como morte súbita e derrame. Significa que
em crônica de jornal”. manter uma alimentação saudável e praticar atividade física
b) “assim” é uma paráfrase de “é como me botarem regularmente já reduz, por si só, as chances de desenvolver
no colo”. vários problemas. Além disso, é importante para o controle
c) “isso” remete a “escondia em poesia e ficção”. da pressão arterial, dos níveis de colesterol e de glicose no
d) “alguns” antecipa a informação “É isso que digo sangue. Também ajuda a diminuir o estresse e aumentar a
para meus pais”. capacidade física, fatores que, somados, reduzem as chances
e) “essa” recupera a informação anterior “janela do jor- de infarto. Exercitar-se, nesses casos, com acompanhamento
nal”. médico e moderação, é altamente recomendável.
ATALIA, M. Nossa vida. Época . 23 mar. 2009.
 3. (ENEM – 2012) As ideias veiculadas no texto se organizam estabele-
Labaredas nas trevas Fragmentos do diário secreto cendo relações que atuam na construção do sentido. A esse
de Teodor Konrad Nalecz Korzeniowski respeito, identifica-se, no fragmento, que
20 DE JULHO [1912] a) a expressão “Além disso” marca uma sequenciação
Peter Sumerville pede-me que escreva um artigo sobre de ideias.
Crane. Envio-lhe uma carta: “Acredite-me, prezado senhor, b) o conectivo “mas também” inicia oração que exprime
nenhum jornal ou revista se interessaria por qualquer coisa ideia de contraste.
c) o termo “como”, em “como morte súbita e derrame”,
que eu, ou outra pessoa, escrevesse sobre Stephen Crane.
introduz uma generalização.
Ririam da sugestão. […] Dificilmente encontro alguém, ago-
d) o termo “Também” exprime uma justificativa.
ra, que saiba quem é Stephen Crane ou lembre-se de algo
e) o termo “fatores” retoma coesivamente “níveis de co-
dele. Para os jovens escritores que estão surgindo ele sim- lesterol e de glicose no sangue”.
plesmente não existe.”
20 DE DEZEMBRO [1919]  5. (ENEM – 2010)
Muito peixe foi embrulhado pelas folhas de jornal. Sou O Flamengo começou a partida no ataque, enquanto o
reconhecido como o maior escritor vivo da língua inglesa. Botafogo procurava fazer uma forte marcação no meio
Já se passaram dezenove anos desde que Crane morreu, campo e tentar lançamentos para Victor Simões, isolado
mas eu não o esqueço. E parece que outros também não. entre os zagueiros rubro-negros. Mesmo  com mais posse
The London Mercury resolveu celebrar os vinte e cinco de bola, o time dirigido por Cuca tinha grande dificuldade de
anos de publicação de um livro que, segundo eles, foi “um chegar à área alvinegra por causa dobloqueio montado pelo
fenômeno hoje esquecido” e me pediram um artigo. Botafogo na frente da sua área.
FONSECA, R. Romance negro e outras histórias. São No entanto, na primeira chance rubro-negra, saiu o
Paulo: Companhia das Letras, 1992 (fragmento). gol. Após cruzamento da direita de Ibson, a zaga alvinegra
Na construção de textos literários, os autores recorrem rebateu a bola de cabeça para o meio da área. Kléberson
com frequência a expressões metafóricas. Ao empregar o apareceu na jogada e cabeceou por cima do goleiro
enunciado metafórico “Muito peixe foi embrulhado pelas Renan. Ronaldo Angelim apareceu nas costas da defesa
e empurrou para o fundo da rede quase que em cima da
folhas de jornal”, pretendeu-se estabelecer, entre os dois
linha: Flamengo 1 a 0.
fragmentos do texto em questão, uma relação semântica
de
Disponível em: http://momentodofutebol.blogspot.com
a) causalidade, segundo a qual se relacionam as par- (adaptado).
tes de um texto, em que uma contém a causa e a outra, a
consequência. O texto, que narra uma parte do jogo final do Cam-
b) temporalidade, segundo a qual se articulam as par- peonato Carioca de futebol, realizado em 2009, contém
tes de um texto, situando no tempo o que é relatado nas vários conectivos, sendo que
partes em questão. a) após é conectivo de causa, já que apresenta o motivo
c) condicionalidade, segundo a qual se combinam duas de a zaga alvinegra ter rebatido a bola de cabeça.
partes de um texto, em que uma resulta ou depende de b)  enquanto  tem um significado alternativo, porque
circunstâncias apresentadas na outra. conecta duas opções possíveis para serem aplicadas no
d) adversidade, segundo a qual se articulam duas par- jogo.
tes de um texto em que uma apresenta uma orientação c)  no entanto  tem significado de tempo, porque
argumentativa distinta e oposta à outra. ordena os fatos observados no jogo em ordem cronológica
e)finalidade, segundo a qual se articulam duas partes de ocorrência.
de um texto em que uma apresenta o meio, por exemplo, d)  mesmo traz ideia de concessão, já que “com mais
para uma ação e a outra, o desfecho da mesma. posse de bola”, ter dificuldade não é algo naturalmente
esperado.

15
REDAÇÃO

e) por causa de indica consequência, porque as tentativas de ataque do Flamengo motivaram o Botafogo a fazer um
bloqueio.

 6. (ENEM – 2010)
Os filhos de Anna eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados,
instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apar-
tamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se
quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha
na mão, não outras, mas essas apenas.
LISPECTOR, C. Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
A autora emprega por duas vezes o conectivo mas no fragmento apresentado. Observando aspectos da organização,
estruturação e funcionalidade dos elementos que articulam o texto, o conectivo mas
a) expressa o mesmo conteúdo nas duas situações em que aparece no texto.
b) quebra a fluidez do texto e prejudica a compreensão, se usado no início da frase.
c) ocupa posição fixa, sendo inadequado seu uso na abertura da frase.
d) contém uma ideia de sequência temporal que direciona a conclusão do leitor.
e) assume funções discursivas distintas nos dois contextos de uso.
 
7. (Enem – 2013)
Gripado, penso entre espirros em como a palavra gripe nos chegou após uma série de contágios entre línguas. Partiu
da Itália em 1743 a epidemia de gripe que disseminou pela Europa, além do vírus propriamente dito, dois vocábulos virais:
o italianoinfluenzae o francêsgrippe. O primeiro era um termo derivado do latim medieval influentia, que significava “in-
fluência dos astros sobre os homens”. O segundo era apenas a forma nominal do verbo gripper, isto é, “agarrar”. Supõe-se
que fizesse referência ao modo violento como o vírus se apossa do organismo infectado.
RODRIGUES. S. Sobre palavras. Veja, São Paulo, 30 nov. 2011.
Para se entender o trecho como uma unidade de sentido, é preciso que o leitor reconheça a ligação entre seus elemen-
tos. Nesse texto, a coesão é construída predominantemente pela retomada de um termo por outro e pelo uso da elipse. O
fragmento do texto em que há coesão por elipse do sujeito é:
a) “[…] a palavra gripe nos chegou após uma série de contágios entre línguas.”
b) “Partiu da Itália em 1743 a epidemia de gripe […]”.
c) “O primeiro era um termo derivado do latim medieval influentia, que significava ‘influência dos astros sobre os homens’.”
d) “O segundo era apenas a forma nominal do verbo gripper […]”.
e) “Supõe-se que fizesse referência ao modo violento como o vírus se apossa do organismo infectado.”

16
REDAÇÃO

8 . (2º EQ UERJ – 2012)

Na coesão textual, os pronomes podem ser empregados para fazer a ligação entre o que está sendo dito e o que foi
enunciado anteriormente. O pronome sublinhado que estabelece ligação com uma parte anterior do texto está na seguinte
passagem:
a) “A configuração do mundo do trabalho é cada vez mais volátil” (l. 8)
b) Outra grande consequência, de acordo com o professor, diz respeito à saúde dos trabalhadores, (l. 16)
c) “Trata-se de um cenário em que todos perdem,” (l. 17-18)
d) qual o tipo de desenvolvimento que nós, como cidadãos, queremos ter? (l. 22)

17
REDAÇÃO

9. (1º EQ UERJ – 2009)

 os processos de coesão textual, há vocábulos que substituem palavras, expressões ou idéias anteriormente expostas.
Um exemplo em que o vocábulo grifado retoma algo enunciado em parágrafo anterior é:
a) “a proporção entre essas duas categorias” (l. 29-30)
b) “é porque esse mesmo fenômeno” (l. 35-36)
c) “ou para manifestar suapostura política” (l. 40-41)
d) “e tenho plena consciência de que ela é.” (l. 48-49)
 

GABARITO

1. C
Comentário:  As demais alternativas apresentam afirmações incorretas acerca da manutenção temática do texto. O
conectivomasnão exprime uma oposição de idéias, o que é afirmado na opção A, mas uma adição à sequenciação anterior-
mente feita, assim como o conectivoemboraintroduz uma concessão, ao contrário da explicação que a opção B sugere. Na
opção C, no entanto, encontramos uma informação correta, já que as expressões relacionadas retomam o tema central do
texto, as conseqüências do efeito estufa. No entanto, nas opções D e E, novamente encontramos falsas assertivas, já que a
expressãocientistasé necessária para efeito de credibilidade da informação, egásfaz referencia não acombustíveis fosseise-
queimadas, como sugere a opção E, mas adióxido de carbono.

2. A
Comentário: Comecemos, então, de trás para frente. A opção E está incorreta, já que, embora apresente uma anáfora,
como é sugerido, o trecho a que se faz referência não é “janela do jornal”, mas “levo a sério ser sério… mesmo quando pare-
ce que estou brincando”. Na opção D também encontramos uma assertiva incorreta, já que, na verdade, “nisso” não anteci-

18
REDAÇÃO

pa uma informação, mas retoma o elemento “escritor”. Na por apresentarem uma característica que não é própria
opção C, o elemento o qual se refere os pronomes “isso” é desse conectivo, uma vez que ele possui uma posição
“botar a cara na janela em crônica de jornal”, o que torna flexível, podendo, inclusive, estar em início de frase.
a opção incorreta. Isso, por sua vez, é o que torna a opção  
A correta, já que o elemento a que o pronome “nisso” faz 7. E
referência é o mesmo, sendo a referencia uma catáfora, isto Em todos os trechos, exceto em “Supõe-se que fizesse
é, uma introdução do elemento a ser enunciado posterior- referência ao modo violento como o vírus se apossa do or-
mente. A opção B, portanto, também é incorreta, já que o ganismo infectado.”, os sujeitos estão explícitos. N opção A,
termo “assim” não faz referência a um elemento presente por exemplo, o sujeito é “a palavra gripe”, assim como em
no texto, mas cumpre a função de um adjetivo. B o sujeito é “a epidemia de gripe”, e em C e D, respectiva-
  mente, os sujeitos são “O primeiro” e “O segundo”.
3. B Na opção E, porém, o sujeito do verbofazerestá elíptico.
A única alternativa que exprime a noção pretendida Caso contrário, o sujeito estando explicito, o trecho seria-
pela expressão “Muito peixe foi embrulhado pelas folhas Supõe-se que o vocábulo fizesse referência ao modo violento
de jornal” é a alternativa B, a qual trata de temporalidade. (…), o que nos leva a concluir que a opção E está correta.
Em nenhuma outra alternativa encontramos o sentido ex-  
presso por esse termo, que revela o que muito tempo se 8. B
passou desde que o último registro em diário foi feito, algo O único termo que faz uma referência com uma par-
que se assemelha à expressão “muitas águas rolaram”, que te anterior do texto éoutra, já que o termotodos,na opção
é bastante usada. Uma pista que nos leva a essa considera- C, está realizando uma catáfora, isto é, fazendo referência
ção é a própria data dos registros, um em 1912, outro em a algo que ainda será enunciado e, nas opções A e D, os
1919: 7 anos se passaram desde então. termos se referem a elementos que não estão explícitos e
  explicitados em partes do texto. Isso nos permite afirmar
4. A que somente  a opção B está correta.
Por eliminação, chegamos à alternativa correta. Basta  
9. A
localizarmos o trecho em que os termos em destaque em
O termo “duas”, na opção A, é o único que se refere
cada opção se encontram, e a que eles fazem referência.
a um elemento apresentado no parágrafo anterior, já que
Na opção E, por exemplo, afirma-se que o termo “fatores”
todos os outros contêm referentes no mesmo parágrafo.
retoma “níveis de colesterol e de glicose no sangue”. Ao
Logo, a opção A é a única correta.
analisar o termo “fatores”, chegamos a conclusão de que,
 (Exercícios disponíveis em https://descomplica.com.br/
na verdade, há uma referência adiminuição do estresseeau-
blog/redacao/questoes-comentadas-coesao-textual-2/)
mento da capacidade física. Na opção D, o termo “Também”
não exprime uma justificativa, mas uma adição. O termo Parte III - A coerência textual
“como”, apresentado pela opção C, introduz uma exempli-
ficação, não uma generalização, assim como, na opção B, Introdução
o conectivo “mas também” exprime não um contraste, mas A coerência resulta da configuração que assumem os con-
uma adição. No entanto, a opção A faz uma afirmação cor- ceitos e relações subjacentes à sua superfície textual. É consi-
reta, já que uma sequenciação e idéias é introduzida pela derada o fator fundamental da textualidade, porque é respon-
natureza adicional da expressão “além disso”. sável pelo sentido do texto. Envolve não só aspectos lógicos e
  semânticos, mas também cognitivos, na medida em que de-
5. D pende do partilhar de conhecimentos entre os interlocutores.
A alternativa D é a única que apresenta um conectivo Um discurso é aceito como coerente quando apresenta
seguido de sua semântica corretamente analisada. “após”, uma configuração conceitual compatível com o conhecimento
na opção A, exprime não uma causa, mas uma noção de de mundo do recebedor. O texto não significa exclusivamente
tempo, assim como “embora”, na opção B, que não indi- por si mesmo. Seu sentido é construído não só pelo produtor
ca alternância, como se afirma. Na opção C, o termo “no como também pelo recebedor, que precisa deter os conheci-
entanto” indica adversidade, como “por causa de” indica mentos necessários à sua interpretação. O produtor do discurso
uma causa e não uma conseqüência. A alternativa correta, não ignora essa participação do interlocutor e conta com ela. É
portanto, é a D, em que é apresentada a ideia concessiva fácil verificar que grande parte dos conhecimentos necessários à
do termo “mesmo”. compreensão dos textos não vem explícita, mas fica dependen-
  te da capacidade de pressuposição e inferência do recebedor.
6. E É a coerência que faz com que uma sequência linguística
Os dois “mas” contidos no texto possuem significa- qualquer seja vista como um texto, porque é a coerência,
ções opostas, já que o primeiro apresenta uma noção de através de vários fatores, que permite estabelecer relações
contraste e, o segundo, de adição. Isso nos faz chegar a (sintático-gramaticais,  semânticas e pragmáticas) entre os
conclusão de que a resposta correta é a opção A. A opção elementos da sequência (morfemas, palavras,  expressões,
D, porém, parte do pressuposto de que o conectivo “mas” frases, parágrafos, capítulos, etc), permitindo construí-la e
contém uma noção de temporalidade, o que a torna percebê-la, na recepção, como constituindo uma unidade
incorreta, como também são incorretas as opções B e C, significativa global.

19
REDAÇÃO

Portanto é a coerência que dá textura e textualidade à tes. Evidentemente, o relacionamento entre esses elemen-
sequência linguística, entendendo-se por textura ou tex- tos não é linear e a coerência aparece, assim, como uma
tualidade aquilo que converte uma seqüência lingüística organização reticulada, tentacular e hierarquizada do texto.
em texto. Assim sendo, podemos dizer que a coerência dá A continuidade estabelece uma coesão conceitual
início à textualidade cognitiva entre os elementos do texto através de processos
cognitiva entre os elementos do texto através de processos
Travando conhecimento com a coerência cognitivos que operam entre os usuários (produtor e re-
A idéia de incoerência depende de conhecimentos pré- ceptor) do texto e são não só de tipo lógico, mas também
vios sobre o mundo e do tipo de mundo em que o texto se dependem de fatores socioculturais diversos e de fatores
insere, bem como do tipo de texto.Todos recursos estabele- interpessoais, entre os quais podemos citar:
cidos pela a lingüística chama de coesão textual. • as intenções comunicativas dos participantes da
A coesão textual revela a importância do conhecimen- ocorrência comunicativa de que o texto é o instrumento
to lingüístico(dos elementos da língua, seus e usos) para • as formas de influencia do falante na situação de
produção do texto e sua compreensão e, portanto, para o fala;
estabelecimento da coerência.O texto só é perfeitamente • as regras sócias que regem o relacionamento en-
inteligível se houver conhecimento do uso dos elementos tre pessoas ocupando determinados “lugares sociais”
lingüísticos eu, em relação com a situação de comunicação. O Simples cortejo das idéias, das expressões lingüís-
O conhecimento de mundo é importante, não menos ticas que as ativam e das suas posições no texto deixam
importante é que esse conhecimento seja partilhado pelo evidente o caráter não linear, reticulando, tentacular da
produtor e receptor do texto. O produtor e receptor do tex- coerência.
to devem ter conhecimento comum. A coerência se estabelece na interlocução entre os
Finalmente é preciso lembrar que o sentido que damos usuários do texto, (seu produtor e receptor). Textos sem
a um texto pode depender (e com freqüência depende) do que continuidade são considerados como incoerente, em-
conhecimento de outros textos, com os quais ele se relaciona. bora a continuidade relativa a um dado tópico discursivo
Busquemos a seguir uma visão mais detalhada e siste- seja uma condição para o estabelecimento da coerência,
mática da coerência textual. nem sempre a continuidade representará incoerência. Os
processos cognitivos operantes entre os usuários do texto
Conceito de Coerência caracterizam a coerência na medida em que dão aos usuá-
Dificilmente se poderá dizer o que é coerência apenas rios a possibilidade de criar um mundo textual que pode ou
através de um conceito, por isso vamos defini-la através da não concordar com a versão estabelecida do “mundo real”.
apresentação de vários aspectos e/ou traços que, em seu A coerência é algo que se estabelece na interlocução,
conjunto, permitem perceber o que esse termo significa. na interação entre dois usuários numa dada situação co-
A coerência está diretamente ligada à possibilidade de municativa. Carolles (1979) afirmou que a coerência seria
estabelecer um sentido para o texto, ou seja, ela é o que faz a qualidade que têm os textos que permitem aos falantes
com que o texto faça sentido para os usuários, devendo, reconhecê-los como bem formados, dentro de um mundo
portanto, ser entendida com um principio de interpretabi- possível (ordinário ou não). A boa formação seria vista em
lidade, ligada à inteligibilidade do texto numa situação de função da possibilidade de os falantes recuperarem o sen-
comunicação e à capacidade que o receptor tem para calcu- tido de um texto, calculando sua coerência. Considera-se ,
lar o sentido desse texto. Este sentido, evidentemente, deve pois , a coerência como principio de interpretabilidade, de-
ser do todo, pois a coerência é global. Para haver coerência pendente da capacidade dos usuários de recuperar o senti-
é preciso que haja possibilidade de estabelecer no texto al- do do texto pelo qual interagem, capacidade essa que pode
guma forma de unidade ou relação entre seus elementos. ter limites variáveis para o mesmo usuário dependendo da
A relação que tem de ser estabelecida pode ser não só situação e para usuários diversos, dependendo de fatores
semântica (entre conteúdos), mas também pragmática, en- vários (como grau de conhecimento sobre o assunto, grau
tre atos de fala, ou seja, entre as ações que realizamos ao de cursos lingüísticos utilizados , grau de integração dos
falar (por exemplo: jurar, ordenar, asseverar, ameaçar, pro- usuários. A coerência tem a ver com a boa formação em
meter, avisar). Este fato é que levou Widdowson (1978) a termos da interlocução comunicativa, que determina não
dizer que a coerência seria a relação entre os atos de fala só a possibilidade de estabelecer o sentido do texto, mas
que as proposições realizam (uma proposição é definida também , com freqüência, qual sentido se estabelece.
como representação lingüística de um estado de coisas por Não se deve pensar que a questão de estabelecimen-
meio de um ato de referencia e um ato de predicação, daí to de sentido esteja apensa do lado receptor. A questão é
a expressão conteúdo proposicional). mesmo de interação.
Beaugrande & Dressler (1981) e Marcushi (1983) afir- Van Dijk e Kintsch falam de coerência local, referente a
mam que, se há uma unidade de sentido no todo do tex- parte do texto ou a frases ou a seqüência de frase dentro
to quando este é coerente, então a base da coerência é a do texto; e em coerência global, que diz respeito ao texto
continuidade de sentidos entre os conhecimentos ativados em sua totalidade. Já mostramos que a coerência do texto
pelas expressões do texto. Essa continuidade diz respeito é global. A coerência local advém do bom uso dos elemen-
ao modo como os componentes do mundo textual, ou seja, tos da língua em sequências menores, para expressar sen-
o conjunto de conceitos e relações subjacentes à superfície tidos que possibilitem realizar uma intenção comunicativa.
lingüística do texto, são mutuamente acessíveis e relevan- Incoerências locais advêm do mau uso desse mesmos ele-

20
REDAÇÃO

mentos lingüísticos para o mesmo fim. Ao se construir um A relação da coesão com a coerência existe porque a
texto, é preciso cuidado, pois o acumulo de incoerências coerência é estabelecida a partir da sequência linguística
locais pode tornar o todo do texto incoerente. que constitui o texto, isto é, os elementos da superfície
Van Dijk e Kinstich (1983) mencionam diversos tipos de linguística é que servem de pistas, de ponto de partida
coerênncia: para o estabelecimento da coerência. A coesão ajuda a
• Coerência semântica, que se refere à relação en- estabelecer a coerência na interpretação do textos, por-
tre significados dos elementos das frases em seqüência em que surge como uma manifestação superficial da coerên-
um texto ou entre os elementos do texto como um todo. cia no processo de produção desse mesmos textos.
• Coerência sintática, que se refere aos meios Embora a coesão auxilie no estabelecimento da coe-
sintática para expressar a coerência semântica como, por rência, ela não é garantia de se obter um texto coerente.
exemplo, os conectivos, o uso de pronomes, de sintagmas Observa Charolles, os elementos linguísticos da coesão
nominais definidos e indefinidos. não são nem necessários, nem suficientes para que a
A coerência sintática nada mais é do que um aspecto coerência seja estabelecida.
da coesão que pode auxiliar no estabelecimento da coe- O mau uso dos elementos linguísticos de coesão
rência. pode provocar incoerências locais pela violação de sua
• Coerência estilística, pela qual um usuário deve- especificidade de uso e função. Às vezes também ocorre
ria usar em seu texto elementos linguísticos, (léxico, tipos um tipo de incoerência porque o não uso de elementos
de estruturas, frases, etc.) pertencentes ou constitutivos do necessários calculá-la de forma mais direta causa uma
mesmo estilo ou registro lingüístico. estranhamento da seqüência pelo receptor. A separação
• Coerência pragmática, que tem a ver com o texto entre coesão e coerência não é tão nítida, a coesão tem
visto como uma seqüência de atos de fala. Estes são rela- relação com a coerência na medida em que é um dos
cionados de modo que, para a seqüência de atos ser per- fatores que permite calcula-a e , embora do ponto de
cebida como apropriada, os atos de fala que a constituem vista analítico seja interessante separá-las , distingui-las,
devem satisfazer as mesmas condições presentes em uma cumpre não esquecer que são duas faces do mesmo fe-
nômeno.
dada situação comunicativa. Caso contrário temos incoe-
rência.
Coerência, texto e linguística do texto
A divisão da coerência em tipo tem o mérito de chama
a atenção para diferentes aspectos daquilo que chamamos
Coerência e texto
de coerência: o semântico, o pragmático, o estilístico e o
È a coerência que faz com que uma sequência
sintático. Mas é preciso ter sempre em mente que a coe-
linguística qualquer seja vista como um texto, porque
rência é um fenômeno que resulta da ação conjunta de to-
é a coerência, através de vários fatores, que permite
dos esses níveis e de sua influência no estabelecimento do estabelecer relações (sintático-gramaticais, semânticas e
sentido do texto, uma vez que a coerência é, basicamente, pragmáticas) entre os elementos da sequência (morfemas,
um principio de interpretabilidade do texto, caracterizado palavras, expressões, frase, parágrafos, capítulos, etc),
por tudo do que o processo aí implicado possa depender permitindo construí-la e percebê-la, na recepção, como
inclusive a própria produção do texto, na medida em que constituindo uma unidade significativa global. Portanto,
o produtor do texto quer que seja entendido e o constitui é a coerência que dá textura ou textualidade à sequência
para isso, excetuadas situações muito especiais. linguística, entendendo-se por textura ou textualidade.
A coerência dá origem à textualidade , o que respon-
Relação entre coerência e coesão de a primeira questão.A coesão é apenas um dos fatores
A coerência é subjacente, tentacular, reticulada, não- de coerência, que contribui para a constituição do texto
-linear, mas, como bem observa Charolles, se relaciona com enquanto tal, representando fatos de face lingüística da
a linearidade do texto. Isto quer dizer que a coerência se coerência, mas não sendo nem necessária, nem suficiente
relaciona com a linearidade do texto. Isto quer dizer que para converter uma sequência linguística da coerência,
a coerência se relaciona com a coesão do texto , pois por mas não sendo nem necessária, nem suficiente para con-
coesão se entende a ligação , a relação , os nexos que se verter uma seqüência lingüística em texto. A coesão não
estabelecem entre os elementos que constituem a super- dá textualidade é a coerência que faz isso.
fície textual. Para Beaugrande e Dressler, para quem a coerência
A coerência , que é subjacente à coesão, é explicita- é definida em função da continuidade de sentidos há se-
mente revelada através de marcas lingüísticas, índices for- quências linguísticas incoerentes, que seriam aqueles em
mais na estrutura da sequência linguística, índices formais que o receptor não consegue descobrir qualquer conti-
na estrutura da seqüência lingüística e superficial do texto, nuidade de sentido. Marcuschi e mesmo Fávero e Koch
o que lhe dá um caráter linear, uma vez que se manifesta na falam na existência de textos incoerentes.
organização seqüencial do texto. Tendo em vista a ordem Já Charolles afirma que as sequências de frases não
em que aparecem , a coesão é sintática e gramatical, mas são coerentes ou incoerentes em si. Para Charolles não há
também semântica , pois , em muitos casos, os mecanis- texto incoerente em si. Charolles admite o tipo de incoe-
mos coesivos se baseiam numa relação entre os significa- rência que já referimos com o nome de incoerência local
dos de elementos da superfície do texto , como na chama- e que pode resultar do uso inadequado de elementos
da coesão referencial. lingüísticos, violando seu valor e função.

21
REDAÇÃO

Bernárdez, ao falar do processo de criação de um tex- , constituem o ponto de partida para a elaboração de
to coerente, propõe que ele se dá em três fases e que, inferências, ajudam a captar a orientação argumentativa
em cada uma delas, podem ocorrer falhas causadoras de dos enunciados que compõem o texto. Todo o contexto
incoerência em determinados casos: linguístico – ou co-texto – vai contribuir de maneira ativa
• na primeira fase, o produtor do texto tem uma na construção da coerência.
intenção comunicativa.
• Na segunda fase, o produtor do texto desenvol- 2) Conhecimento de Mundo
ve um plano global que lhe possibilite conseguir que seu O nosso conhecimento de mundo desempenha um
texto cumpra sua intenção comunicativa, ou seja, tenha papel decisivo no estabelecimento da coerência: se o texto
êxito face a todos os fatores envolvidos. falar de coisas que absolutamente não conhecemos, será
• Na terceira fase, o produtor realiza as operações difícil calcularmos o seu sentido e ele nos parecerá desti-
necessárias para expressar verbalmente o plano global, tuído de coerência.
de maneira que, através das estruturas superficiais, opre- Armazenando os conhecimentos, modelos cognitivos.
cebedor seja capaz de reconstituir ou identificar a inten- • os frames armazenados sob um certo “rótulo”.
ção comunicativa. • Os esquemas em sequência temporal ou causal.
Não existe o texto incoerente em si, mas que o texto • Os planos como agir para atingir determinado
pode parecer incoerente em/para determinada situação objetivo
comunicativa. Assim, ao dizer que um texto é incoerente, • Os scripts modos de agir altamente estereotipa-
temos que especificar as condições de incoerência. dos em dada cultura, inclusive em termos de linguagem;
O texto será incoerente se seu produtor não souber • As superestruturas ou esquemas textuais – con-
adequá-lo à situação, levando em conta intenção comu- junto de conhecimentos sobre os diversos tipos de textos,
nicativa, objetivos, destinatário, regras socioculturais, ou- que vão sendo adquiridos à proporção que temos con-
tros elementos da situação, uso dos recursos linguísticos, tanto com esses tipos e fazemos comparações entre eles.
etc. É o nosso conhecimento de mundo que nos faz
O mau uso de elementos linguísticos e estruturais considerar estranho o texto. É a partir dos conhecimento
cria incoerências no nível local. O produtor do texto, em
que temos que vamos construir u modelo do mundo
função de sua intenção comunicativa, levando em conta
representado em cada texto – é o universo (ou modelo)
todos os fatores da situação e usando seu conhecimento
textual. Para que possamos estabelecer a coerência de
lingüístico, de mundo , etc., constrói o texto, cuja super-
um texto, é preciso que haja correspondência ao menos
fície lingüística é constituída de pistas que permitem aos
parcial entre os conhecimentos nele ativados e o nosso
receptor calcular o (um) sentido do texto, estabelecen-
conhecimento de mundo , pois , caso contrário, não
do sua coerência, através da consideração dos mesmos
teremos condições de construir o universo textual dentro
fatores que o produtor e usando os mesmo recursos. A
do qual as palavras e expressões do texto ganham sentido.
coerência não é nem característica do texto, nem dos
usuários do mesmo, mas está no processo que coloca
texto e usuários em relação numa situação comunicativa. 3) Conhecimento compartilhado
Tendo em vista: É preciso que o produtor e receptor de um texto
• a coesão é uma manifestação da coerência na possuam , ao menos uma boa parcela de conhecimentos
superfície textual; comuns.
• os elementos linguísticos da superfície do tex- Os elementos textuais que remetem ao conhecimento
to funcionam como pistas que o produtor do texto es- partilhado entre os interlocutores constituem a informa-
colheu em função de sua intenção comunicativa e do(s) ção “velha” ou dada, ao passo que tudo aquilo que for
sentido(s) que desejava que o receptor do texto fosse ca- introduzido a partir dela constituirá a informação nova tra-
paz de recuperar – pode-se esperar que diferentes tipos zida pelo texto. Para que um texto seja coerente, é preciso
de textos apresentem diferentes modos, meios e proces- haver um equilíbrio entre informação dada e informação
sos de manifestação da coerência na superfície linguís- nova.
tica. • Constituem o co-texto;
• Aquele que fazer parte do contexto situacional
Fatores de coerência • Aqueles que são do conhecimento geral em dada
cultura
A construção da coerência decorre de uma multipli- • As que remetem ao conhecimento comum do
cidade de fatores das mais diversas ordens: lingüísticos, produtor e do receptor.
discursivos, cognitivos, culturais e interacionais . O contexto (linguístico e situacional) permite desfazer
a ambigüidade de termos e expressões da língua.
1) Elementos linguísticos
È indiscutível a importância dos elementos 4) Inferências
linguísticos do texto para o estabelecimento da Inferência é a operação pela qual, utilizando seu co-
coerência. Esses elementos servem como pistas para nhecimento de mundo, o receptor de um texto estabelece
ativação dos conhecimentos armazenados na memória uma relação não explicita entre dois elementos (normal-

22
REDAÇÃO

mente frases ou trechos) deste texto que ele busca com- 7) Informatividade
preender e interpretar; ou, então, entre segmentos de Diz respeito ao grau de previsibilidade(ou expectabili-
textos e os conhecimentos necessários para a sua com- dade) da informação contida no texto.Um texto será tanto
preensão. menos informativo se contiver apenas informação previsí-
vel ou redundante, seu grau de informatividade será baixo;
5) Fatores de contextualização se contiver, além da informação de um texto for inesperada
Os fatores de contextualização são aqueles que “an- ou imprevisível, ele terá um grau máximo de informativida-
coram” o texto em uma situação comunicativa determi- de, podendo, à primeira vista, parecer incoerente por exigir
nada. Segundo Marcushi podem ser de dois tipos: os do receptor um grande esforço de decodificação.
contextualizadores propriamente ditos e os perspectivos O grau máximo de informatividade é comum na lite-
ou prospectivos. Entre os primeiros estão a data, o local, ratura e na linguagem metafórica em geral. Mas também
a assinatura, elementos gráficos, timbre, etc., que ajudam são frequentes, tanto em texto poéticos como em textos
a situar o texto e , portanto , a estabelecer-lhe a coerên- publicitários ou manchetes jornalísticas.
cia. É a informatividade que vai determinar a seleção e
Sem os elementos contextualizadores, fica difícil de- o arranjo das alternativas de distribuição da informação
codificar a mensagem. Também em documentos, corres- no texto, de modo que o receptor possa calcular-lhe o
pondência oficial e outros textos do gênero, o timbre, o sentido com maior ou menor facilidade, dependendo
carimbo, a data, a assinatura serão de extrema importân- da intenção do produtor de construir um texto mais ou
cia, servindo, inclusive, para fé ao texto. menos hermético, mais ou menos polissêmico, ou que está,
Os fatores perspectivos ou prospectivos são aqueles evidentemente, na dependência da situação comunicativa
que avançam expectativas sobre o conteúdo – e também e do tipo de texto a ser produzido.
a forma – do texto: titulo, autor, inicio do texto.
A leitura (compreensão) de um texto é uma atividade 8) Focalização
de solução de problemas. Ao descobrirmos a solução fi- A focalização tem a ver com a concentração dos usuá-
nal, teremos estabelecido a coerência do texto. rios (produtor e receptor) em apenas uma parte do seu co-
nhecimento, bem como com a perspectiva da qual são vistos
6) Situacionalidade os componentes do mundo textual. O produtor fornece ao
A Situacionalidade, outro fator responsável pelo coe- receptor pistas sobre o que está focalizando. Diferenças de
rência, pode ser vista atuando em duas direções: focalização podem causar problemas sérios de compreen-
• da situação para o texto são, impedindo, por vezes, o estabelecimento da coerência.
• do texto para a situação A mesma palavra poderá ter sentido diferente, depen-
• Da situação para o texto – trata-se de determi- dendo da focalização. No caso de palavras homônimas, a
nar em que medida a situação comunicativo interfere na focalização comum do interlocutores permitirá depreender
produção recepção do texto e , portanto no estabeleci- o sentido do termo naquela situação especifica. A focaliza-
mento da coerência., o contexto imediato da interação, o ção determina também, em dados casos, o uso adequado
contexto sociopolitico-cultural em que a interação está de certos elementos lingüísticos. Um dos mais importantes
inserida. Ao construir um texto, verificar o que é adequa- meios de evidenciar a focalização é o uso do que chama-
do àquela situação especifica: grau de formalidade, va- mos de descrições ou expressões definidas, isso é, grupos
riedade dialetal, tratamento a ser dado ao tema, etc. O nominais introduzidos por artigo definido (ou por demons-
lugar e o momento da comunicação, as imagens recípro- trativos). Tais expressões selecionam , dentre as proprieda-
cas que os interlocutores fazem uns do outros, os papéis des e características do referente, aquelas sobre as quais se
que desempenham, seus pontos de vista , o objetivo da deseja chamar a atenção.
comunicação. O titulo do texto é, em grande parte dos casos, res-
• Do texto para a situação – também o texto tem ponsável pela focalização. Como já vimos anteriormente
reflexos importantes sobre a situação comunicativa: o ativa e/ou seleciona conhecimentos de mundo que temos
mundo textual não é jamais idêntico ao mundo real. O arquivados na memória, avançando expectativas sobre o
produtor recria o mundo de acordo com seus objetivos, conteúdo do texto.
propósitos, interesses, convicções, crenças, etc. Os refe-
rentes textuais não são idênticos ao do mundo real, mas 9) Intertextualidade
são construídos no interior do texto. O receptor, por sua Outro importante fator de coerência é a intertextuali-
vez, interpreta o texto de acordo com a sua ótica, os seus dade, na medida em que , para o processamento cognitivo
propósitos, as suas convicções – há sempre uma media- (produção/recepção) de um texto, recorre-se ao conheci-
ção entre o mundo real e o mundo textual. mento prévio de outros textos. A intertextualidade pode
Na construção da coerência , a situacionalidade exer- ser de forma ou de conteúdo. A intertextualidade de forma
ce um papel de relevância. Um texto que é coerente em ocorre quando o produtor de um texto repete expressões,
dada situação pode não sê-lo em outra: daí a importância enunciados ou trechos de outros textos, ou então o esti-
da adequação do texto à situação comunicativa. lo de determinado autor ou de determinados gêneros de
discurso.

23
REDAÇÃO

Um subtipo de intertextualidade formal é a intertex- como também das inferências e dos demais elementos
tualidade tipológica, que também é importante para o construtores da textualidade, o receptor construirá a sua
processamento adequando do texto. Os conhecimentos de leitura, entre aquelas que o texto, pela maneira como
mundo são armazenados em nossa memória sob forma de se encontra lingüisticamente estruturado, permite. È por
blocos – os modelos cognitivos globais, entre os quais es- isso que todo texto abre a possibilidade de várias leitu-
tão as superestruturas ou esquemas textuais, que são con- ras.
juntos de conhecimentos que se vão acumulando quanto
aos diversos tipos de textos utilizados em dada cultura. 11) Consistência e relevância
Quanto ao conteúdo, pode-se dizer que a intertextualidade De acordo com Giora, dois requisitos básicos para
é uma constante: os textos de uma mesma época, de uma que um texto possa ser tido como coerente são a consis-
mesma área de conhecimento, de uma mesma cultura, etc., tência e a relevância.
dialogam, necessariamente , uns com os outros. Essa inter- A condição de consistência exige que cada enun-
textualidade pode ocorrer de maneira explicita ou implícita. ciado de um texto seja consistente com os enunciados
Intertextualidade implícita não se tem indicação de fon- anteriores, isto é, que todos os enunciados do texto pos-
te, de modo que o receptor deverá ter os conhecimentos sam ser verdadeiros dentro de um mesmo mundo ou
necessários para recuperá-la; do contrário, não será capaz dentro dos mundos representados no texto. O requisito
de captar a significação implícita que o produtor pretende da relevância exige que o conjunto de enunciados que
passar. Não havendo indicação da fonte do texto original, compõe o texto seja relevante para um mesmo tópico
caberá receptor, através de seu conhecimento de mundo, discursivo subjacente, isto é, que os enunciados sejam
não só descobri-la como detectar a intenção do produtor interpretáveis como falando sobre um mesmo tema.
do texto ao retomar o que foi dito por outrem. A relevância tópica é outro fator importante da coe-
O reconhecimento do texto fonte e dos motivos de sua rência. A coerência não é apenas um traço ou uma pro-
reapresentação, no caso da intertextualidade implícita, é priedade do texto em si, mas sim que ela se constrói na
como se vê, de grande importância para a construção de interação entre o texto e seus usuários, numa situação
sentido de um texto. comunicativa concreta, em decorrência de todos os fa-
tores aqui examinados.
10) Intencionalidade e Aceitabilidade
O produtor de um texto tem, necessariamente, deter- FATORES IMPORTANTES PARA OBTER COERÊN-
minados objetivos ou propósitos, que vão desde a simples CIA EM UM TEXTO
intenção de estabelecer ou manter o contato com o recep-
tor até a de levá-lo a partilhar de suas opiniões ou a agir ou • Intencionalidade – ela exige do produtor a cons-
comportar-se de determinada maneira. A intencionalidade trução de um discurso coerente e coeso, capaz de satis-
refere-se ao modo como os emissores usam textos para fazer os objetivos em uma determinada situação comu-
perseguir e realizar suas intenções, produzindo, para tanto, nicativa (informar, convencer, pedir, etc).
textos adequados à obtenção dos efeitos desejados. • Aceitabilidade – dá-se quanto à expectativa de
A aceitabilidade constitui a contraparte da intenciona- que o recebedor tenha acesso a um texto coerente e
lidade. Já se disse que, segundo o Principio Cooperativo de coeso.
Grice, o postulado básico que rege a comunicação huma- • Situacionalidade – refere-se a que diz respeito à
na é o da cooperação, isto é, quando duas pessoas intera- adequação do texto à situação sócio-comunicativo, res-
gem por meio de linguagem, elas se esforçam por fazer-se ponsável pela pertinência e relevância do texto.
compreender e procuram calcular o sentido do texto do(s) • Intertextualidade – para isso o texto deve inte-
interlocutor(s), partindo das pistas que ele contém e ativan- ragir com outros textos que funcionam oco seu contexto
do seu conhecimento de mundo, da situação, etc.
A intencionalidade tem relação estreita com o que se OS FATORES PRAGMÁTICOS DA TEXTUALIDADE
tem chamado de argumentatividade. Se aceitamos como
verdade que não existem textos neutros, que há sempre Entre os cinco fatores pragmáticos estudados por
alguma intenção ou objetivo da parte de quem produz Beaugrande e Dressler (1983), os dois primeiros se refe-
um texto, e que este não é jamais uma “cópia” do mundo rem aos protagonistas do ato de comunicação: a inten-
real, pois o mundo é recriado no texto através da mediação cionalidade e a aceitabilidade.
de nossas crenças, convicções, perspectivas e propósitos, A intencionalidade concerne ao empenho do produ-
então somo obrigados a admitir que existe sempre uma tor em construir um discurso coerente, coeso e capaz de
argumentatividade subjacente ao uso da linguagem. A ar- satisfazer os objetivos que tem em mente numa determi-
gumentatividade manifesta-se nos textos por meio de uma nada situação comunicativa. A meta pode ser informar,
série de marcas ou pistas que vão orientar os seus enuncia- ou impressionar, ou alarmar, ou convencer, ou pedir, ou
dos no sentido de determinadas conclusões. ofender, etc., e é ela que vai orientar a confecção do
Entre estas marcas encontram-se os tempos os tem- texto.
pos verbais, os operadores e conectores argumentativos, Em outras palavras, a intencionalidade diz respeito
os modalizadores, entre outros. A partir dessa marcas, ao valor ilocutório do discurso, elementos da maior im-
portância no jogo de atuação comunicativa.

24
REDAÇÃO

O outro lado da moeda é a aceitabilidade, que concerne à expectativa do recebedor de que o conjunto de ocor-
rências com que se defronta seja um texto coerente, coeso, útil e relevante, capaz de levá-lo a adquirir conhecimentos
ou a cooperar com os objetivos do produtor.
Grice (1975. 1978) estabelece máximas conversacionais, que seriam estratégias normalmente adotadas pelos produ-
tores para alcançar a aceitabilidade do recebedor. Tais estratégias se referem à necessidade de cooperação (no sentido de
o produtor responder aos interesses de seu interlocutor) e à qualidade (autenticidade), quantidade (informatividade), per-
tinência e relevância das informações, bem como à maneira como essas informações são apresentadas (precisão, clareza,
ordenação, concisão, etc).

INFORMATIVIDADE

O texto com bom índice de informatividade tem que apresentar todas as informações necessárias para que seja com-
preendido com o sentido que o produtor pretende. Não é possível nem desejável que o discurso explicite todas as in-
formações necessárias ao seu processamento, mas é preciso que ele deixe inequívocos todos os dados necessários à sua
compreensão aos quais o recebedor não conseguirá chegar sozinho.

FOCALIZAÇÃO

A focalização que tem a ver com a concentração dos usuários (produtor e receptor) em apenas uma parte do seu
conhecimento e com a perspectiva da qual são vistos os componentes do mundo textual. Seria como uma câmera que
acompanhasse tanto o produtor como o receptor no momento em que um texto é processado.
O primeiro fornece ao segundo determinadas pistas sobre o que está focalizando, ao passo que o segundo terá de
recorrer a crenças e conhecimentos compartilhados sobre o que está sendo focalizado, para poder entender o texto (e as
palavras que o compõem), de modo adequado.

FATORES DA CONTEXTUALIZAÇÃO

Os fatores de contextualização que “ancoram” o texto em uma situação comunicativa determinada; a situacionalidade,


como outro fator responsável pela coerência, e que pode ser vista atuando em duas direções: a) da situação para o texto;
b) do texto para a situação; a informatividade que interfere na construção da coerência no que diz respeito ao grau de
previsibilidade (ou expectabilidade) da informação contida no texto;

INTENCIONALIDADE E ACEITABILIDADE

A intencionalidade e a aceitabilidade: a primeira refere-se ao modo como os emissores usam textos para perseguir
e realizar suas intenções, produzindo para tanto, textos adequados à obtenção dos efeitos desejados; a segunda constitui
a contraparte da intencionalidade que, por sua vez, tem relação estreita com o que se tem chamado de argumentativi-
dade.
(Conteúdo sobre coerência disponível em https://pedagogiaaopedaletra.com/dica-de-portugues-a-coerencia-tex-
tual/ adaptado)

Parte IV - Conhecendo as partes de uma redação nota 10

(Extraído de https://redacaoparaconcursos.com.br/redacao-nota-10-trt-fcc/adaptado)
Você já deve ter se perguntado: “qual é o segredo para escrever uma redação nota 10?
Bom, não há uma receita pronta, um método único e infalível. E isso é muito bom, porque sempre será possível se
deparar com belas e criativas redações.
Para lhe dar uma força, comentaremos uma redação nota 10 que já foi aprovada-, assim você conseguirá observar
os pequenos detalhes que fizeram toda a diferença e agradaram aos corretores. A proposta foi dada na prova do TRT 9ª
região/ 2013 ao cargo de Analista Judiciário. É a seguinte:
“A fronteira é, simultaneamente, o lugar onde países se encontram e se separam. Essa def(Adaptado de Vicente Giacca-
glini Ferraro. Disponível em: Júnior http://www.academia.edu)
Considerando o que está transcrito acima, redija um texto dissertativo-argumentativo a respeito do seguinte tema:

25
REDAÇÃO

Fronteiras territoriais e suas implicações nas relações entre países vizinhos 

O texto já começou apresentando uma oposição (fronteiras que podem aproximar ou afastar), conforme sugere o
texto motivador, ou seja, é uma paráfrase dele. Em seguida explica rapidamente, afinal, é no desenvolvimento que devem
aparecer os argumentos que justificam essa oposição, esse problema.

Olha que lindo, a primeira palavra do parágrafo já retoma uma das ideias da oposição: “a aproximação”, ela inicia o
período explicativo, o tópico frasal. Observe também que nesse tópico frasal há o argumento concreto, o qual é pormeno-
rizado ao longo do parágrafo.
Sobre a estruturação, vale destacar a presença de períodos curtos e em ordem direta. Isso facilitou a organização e
clareza das ideias.

 O conectivo além disso marca a relação entre a ideia exposta anteriormente com a que será apresentada. Nessa
construção percebe-se uma afirmação inicial seguida por um exemplo concreto que a justifica. Veja também o senso crítico
presente na observação de que esses países não fazem fronteiras territoriais, mas estabelecem uma relação apoiada em
aspectos comuns. Esse é um tipo de argumento que foge do senso comum e mostra que está “ligado” nos acontecimentos.

Mais uma vez a presença de um conectivo introduzindo o parágrafo, dessa vez apresentando o argumento que as
“fronteiras afastam”, conforme consta na introdução. A conjunção adversativa confirma esse sentido.

26
REDAÇÃO

Porém, veja que o verbo empregado para iniciar a explicação é o mesmo usado no outro parágrafo. Bom, acho que o
corretor foi benevolente e não considerou como uma falha para a argumentação. Mas reafirma-se aqui: evite as repetições!
Não conte com a bondade do corretor.
Quanto ao argumento, novamente aparece introduzido com uma afirmação seguido de exemplo concreto, nesse caso
sobre os conflitos religiosos entre judeus e palestinos. Destaque para a nomeação das religiões em conflito, ou seja, não
citou porque ouviu sobre isso em algum lugar, o candidato mostra que sabe o está falando.

Olha que linda conclusão. Retoma e resume tudo que foi exposto no desenvolvimento ao empregar termos-chave
como “relacionamento harmonioso, afinidades, metas e costumes semelhantes, diferenças étnicas e religiosas, adversida-
des”, tudo isso em períodos curtos e diretos. Aqui não há apresentação de ideias novas ou argumentos concretos.
Você está olhando para a rasura, certo? Ela é permitida, desde que não em excesso. Neste caso o candidato percebeu
uma repetição e corrigiu-a. Ou seja, é melhor mostrar que você percebeu o erro antes o corretor, não é? Ah, para corrigir,
basta apenas um traço, sem colocar parênteses ou expressões como, “digo”.
Depois disso tudo, confira a nota da redação e a ausência de comentários dos corretores: 

Parte V - Dicas para garantir excelentes notas em redação (valem para qualquer banca)

Redação deixa sempre um clima de suspense, no mundo dos concursos públicos. A verdade é que muitos têm pro-
blemas ao escrever seus textos, e na maioria das vezes não sabem o que e por que estão errando. Este artigo responderá
a dúvidas de quem precisa garantir uma boa nota nas discursivas.
A seguir, citamos alguns problemas que os concurseiros de um modo geral enfrentam, quando o assunto é redação:
• Fogem do tema como o diabo foge da cruz
• Não entendem por que seus textos não são considerados claros por outras pessoas
• Tiram notas baixas, apesar de se considerarem bons em português
• Preocupam-se mais com a legibilidade da letra do que com o que vai escrever (esse é um dos erros mais tristes)
• Escrevem sem pensar e, por isso, cometem erros básicos
• Não conseguem responder o que a banca pergunta
• Sabem escrever para outros meios, mas não sabem escrever para o examinador
• Acham que não sabem nada sobre o tema
• Têm medo de fugir do café com leite (e não acrescentam, ao texto, parágrafos essenciais para aumentar a nota)

Escrever bem se tornou uma obrigação para a maioria esmagadora de concurseiros, e cometer qualquer gafe pode ser
a diferença entre passar ou não.
É muito comum ver notas ZERO (ou notas muito baixas, até mesmo insuficientes para fazer o mínimo que a banca pede),
em redações de concursos. Eu já vi bons concurseiros tirando notas altíssimas na parte objetiva da prova e reprovando na
parte discursiva.

27
REDAÇÃO

Em resumo, as dicas são:


1. Entre aspectos formais e aspectos de conteúdo, escolha os de conteúdo
2. Não deixe o examinador pensar
3. Citação: por que, quando e como fazer
4. O que fazer na hora da prova
5. Como colocar em prática

Dica de ouro
* Entre aspectos formais e aspectos de conteúdo, escolha os de conteúdo
É verdade que se deve tomar alguns cuidados formais na hora de fazer uma redação, mas o que mais importa é o seu
conteúdo. Muito mais do que acertar na gramática ou fazer uma letra legível na hora de passar a limpo um texto, a banca
quer saber se você sabe mesmo sobre o tema.
Na maioria dos casos, os aspectos formais contam apenas 10% da nota de sua redação, enquanto os de conteúdo são
distribuídos nos 90% restantes.
E por que isso acontece?
Existe essa Teoria, sabe – a Teoria do Iceberg –, segundo a qual os aspectos visíveis e palpáveis são menos importantes
do que os aspectos invisíveis e abstratos..
Essa Teoria foi formulada por um dos maiores escritores da literatura norte-americana (Ernest Hemingway). Ela é deno-
minada “Teoria do Iceberg” porque, não importa o tamanho que seja um iceberg acima da superfície marítima (com um pico
visível), sua parte abaixo da linha do mar (invisível) será sempre maior. Essa analogia foi feita por Hemingway para demonstrar
que a parte formal de um texto (como escrever) é menos importante do que sua parte informal (o que escrever).
A Teoria do Iceberg pode ser facilmente incorporada às questões discursivas de concursos públicos. No gráfico a seguir,
apresentamos essa teoria aplicada à maioria dos casos de provas subjetivas:

28
REDAÇÃO

Abaixo, estão partes de alguns dos editais mais cobiçados da administração pública, mais especificamente, as partes
que trazem os critérios de avaliação das bancas de concurso. Ao lado esquerdo de cada parte do edital, há um gráfico
vermelho, mostrando os aspectos “acima da superfície” do iceberg, e um gráfico verde, mostrando os aspectos “abaixo da
superfície” do iceberg.

Critérios de correção de uma das provas discursivas para Analista Legislativo do Senado Federal (2012). Banca = FGV.

29
REDAÇÃO

Critérios de correção para a prova de Analista de Finanças e Controle da CGU (2012). Banca = ESAF.

Critérios de correção para a prova de Analista Judiciário do TRT 5ª região (2013). Banca = FCC.
(Extraído de http://esquemaria.com.br/nota-boa-em-redacao/adaptado)

O mais importante de todas as dicas é não temer o momento da redação. Os concurseiros que obtiveram os
maiores êxitos nas provas discursivas são os que conheciam profundamente o edital e a estrutura do texto em ques-
tão. Após o estudo da apostila que preparamos para você, confie, será redação nota 10!

30
MATEMÁTICA

Linguagem dos conjuntos Representações de um conjunto, pertinência, inclusão, igualdade, união, interseção e com-
plementação de conjuntos................................................................................................................................................................................... 01
Números reais O conjunto dos números naturais: operações, divisibilidade, decomposição de um número natural nos
seus fatores primos, máximo divisor comum e mínimo múltiplo comum de dois ou mais números naturais. O conjunto
dos números inteiros: operações, múltiplos e divisores. O conjunto dos números racionais: propriedades, operações,
valor absoluto de um número, potenciação e radiciação. O conjunto dos números reais: números irracionais, a reta real,
intervalos...................................................................................................................................................................................................................... 07
Unidades de medidas Comprimento, área, volume, massa, tempo, ângulo e velocidade. Conversão de medidas.......... 27
Proporcionalidade Razões e proporções: grandezas direta e inversamente proporcionais, regra de três simples e com-
posta. Porcentagens. Juros simples e compostos........................................................................................................................................ 32
Cálculo algébrico Operações com expressões algébricas, identidades algébricas. Polinômios de coeficientes reais: ope-
rações, raízes, teorema do resto......................................................................................................................................................................... 58
Equações e inequações Equações do 1º e 2º graus, relação entre coeficientes e raízes. Inequações de 1º e 2º graus,
desigualdades produto e quociente, interpretação geométrica. Sistemas de equações de 1º e 2º graus, interpretação
geométrica.................................................................................................................................................................................................................. 63
Funções Conceito de função, função de variável real e seu gráfico no plano cartesiano. Composição de funções, função
modular, funções inversas, funções polinomiais. Estudo das funções do 1º e 2º graus. Funções crescentes e decres-
centes, máximos e mínimos de uma função. Função exponencial e função logaritmo: propriedades fundamentais de
expoentes e logaritmos, operações. Gráficos. Equações e inequações envolvendo expoentes e logaritmos.................... 72
Matrizes e sistemas Matrizes e determinantes até a 4ª ordem, propriedades e operações. Resolução e discussão de
sistemas lineares. ..................................................................................................................................................................................................... 91
Geometria analítica plana Distância entre dois pontos no plano e entre um ponto e uma reta. Condições de paralelismo
e perpendicularismo de retas no plano. Estudo da reta e da circunferência.................................................................................... 97
Geometria plana Elementos primitivos, segmento, semirreta, semiplano e ângulo. Retas perpendiculares e paralelas.
Teorema de Tales. Triângulos: congruência e semelhança. Quadriláteros. Polígonos. Circunferência e disco. Relações
métricas no triângulo e na circunferência. Perímetro e área das principais figuras planas.......................................................106
Geometria espacial Conceitos básicos. Posições relativas de retas e planos no espaço. Área lateral e volume do prisma,
pirâmide, cilindro, cone e esfera.......................................................................................................................................................................112
Trigonometria Medida de um arco, o grau e o radiano, relação entre arcos e ângulos. O seno, o cosseno e a tangente
de um ângulo. Fórmulas para a adição e subtração de arcos..............................................................................................................112
Lei dos senos e lei dos cossenos. Identidades trigonométricas básicas, equações trigonométricas simples. As funções
seno, cosseno, tangente e seus gráficos. Relações trigonométricas no triângulo retângulo...................................................119
Sequências numéricas Sequências. Progressões aritméticas e geométricas. Noção de limite de uma sequência. Soma
dos termos de uma progressão geométrica infinita. ..............................................................................................................................129
Análise combinatória e probabilidade O princípio fundamental da contagem. Permutações, arranjos e combinações
simples. Binômio de Newton. Incerteza e probabilidade, conceitos básicos, probabilidade condicional e eventos inde-
pendentes, probabilidade da união de eventos.........................................................................................................................................132
Tratamento da informação População estatística, amostras, frequência absoluta e relativa. Distribuição de frequências
com dados agrupados, polígono de frequência, médias (aritmética e ponderada), mediana e moda. Leitura, construção
e interpretação de gráficos de barras, de setores e de segmentos....................................................................................................140
Problemas envolvendo raciocínio lógico......................................................................................................................................................143
MATEMÁTICA

Pela propriedade de seus elementos: Conhecida


LINGUAGEM DOS CONJUNTOS: uma propriedade P que caracteriza os elementos de um
REPRESENTAÇÕES DE UM CONJUNTO, conjunto A, este fica bem determinado.
PERTINÊNCIA, INCLUSÃO, P termo “propriedade P que caracteriza os elementos
IGUALDADE, UNIÃO, INTERSEÇÃO E de um conjunto A” significa que, dado um elemento x
qualquer temos:
COMPLEMENTAÇÃO DE CONJUNTOS.
Assim sendo, o conjunto dos elementos x que possuem
a propriedade P é indicado por:
{x, tal que x tem a propriedade P}
Conjuntos
É uma reunião, agrupamento de pessoas, seres ou ob- Uma vez que “tal que” pode ser denotado por t.q. ou |
jetos. Dá a ideia de coleção. ou ainda :, podemos indicar o mesmo conjunto por:
{x, t . q . x tem a propriedade P} ou, ainda,
Conjuntos Primitivos {x : x tem a propriedade P}

Os conceitos de conjunto, elemento e pertinência são Exemplos


primitivos, ou seja, não são definidos.
Um cacho de bananas, um cardume de peixes ou uma - { x, t.q. x é vogal } é o mesmo que {a, e, i, o, u}
porção de livros são todos exemplos de conjuntos. - {x | x é um número natural menor que 4 } é o mesmo
Conjuntos, como usualmente são concebidos, têm que {0, 1, 2, 3}
elementos. Um elemento de um conjunto pode ser uma - {x : x em um número inteiro e x2 = x } é o mesmo que
banana, um peixe ou um livro. Convém frisar que um {0, 1}
conjunto pode ele mesmo ser elemento de algum outro
conjunto. Pelo diagrama de Venn-Euler: O diagrama de Venn-
Por exemplo, uma reta é um conjunto de pontos; um Euler consiste em representar o conjunto através de um
feixe de retas é um conjunto onde cada elemento (reta) é “círculo” de tal forma que seus elementos e somente eles
também conjunto (de pontos). estejam no “círculo”.
Em geral indicaremos os conjuntos pelas letras
maiúsculas A, B, C, ..., X, e os elementos pelas letras Exemplos
minúsculas a, b, c, ..., x, y, ..., embora não exista essa - Se A = {a, e, i, o, u} então
obrigatoriedade.
Em Geometria, por exemplo, os pontos são indicados
por letras maiúsculas e as retas (que são conjuntos de
pontos) por letras minúsculas.
Outro conceito fundamental é o de relação de
pertinência que nos dá um relacionamento entre um
elemento e um conjunto.

Se x é um elemento de um conjunto A, escreveremos


x∈ A - Se B = {0, 1, 2, 3 }, então
Lê-se: x é elemento de A ou x pertence a A.

Se x não é um elemento de um conjunto A, escreveremos


x∉ A
Lê-se x não é elemento de A ou x não pertence a A.

Como representar um conjunto

Pela designação de seus elementos: Escrevemos os Conjunto Vazio


elementos entre chaves, separando os por vírgula.
Conjunto vazio é aquele que não possui elementos.
Exemplos Representa-se pela letra do alfabeto norueguês 0/ ou,
simplesmente { }.
- {3, 6, 7, 8} indica o conjunto formado pelos elementos Simbolicamente: ∀ x, x ∉ 0/
3, 6, 7 e 8.
{a; b; m} indica o conjunto constituído pelos elementos Exemplos
a, b e m. - 0/ = {x : x é um número inteiro e 3x = 1}
{1; {2; 3}; {3}} indica o conjunto cujos elementos são 1, - 0/ = {x | x é um número natural e 3 – x = 4}
{2; 3} e {3}. - 0/ = {x | x ≠ x}

1
MATEMÁTICA

Subconjunto - {a,a} = {a}


Sejam A e B dois conjuntos. Se todo elemento de A é - {a,b = {a} ⇔ a= b
também elemento de B, dizemos que A é um subconjunto - {1,2} = {x,y} ⇔ (x = 1 e y = 2) ou (x = 2 e y = 1)
de B ou A é a parte de B ou, ainda, A está contido em B e
indicamos por A ⊂ B. Conjunto das partes
Simbolicamente: A ⊂ B ⇔ ( ∀ x)(x ∈ ∀ ⇒ x ∈ B)
Dado um conjunto A podemos construir um novo
Portanto, A ⊄ B significa que A não é um subconjunto conjunto formado por todos os subconjuntos (partes) de A.
de B ou A não é parte de B ou, ainda, A não está contido Esse novo conjunto chama-se conjunto dos subconjuntos
em B. (ou das partes) de A e é indicado por P(A).
Por outro lado, A ⊄ B se, e somente se, existe, pelo Simbolicamente: P(A)={X | X ⊂ A} ou X ⊂ P(A) ⇔ X ⊂ A
menos, um elemento de A que não é elemento de B.
Simbolicamente: A ⊄ B ⇔ ( ∃ x)(x ∈ A e x ∉ B) Exemplos

Exemplos a) = {2, 4, 6}
P(A) = { 0/ , {2}, {4}, {6}, {2,4}, {2,6}, {4,6}, A}
- {2 . 4} ⊂ {2, 3, 4}, pois 2 ∈ {2, 3, 4} e 4 ∈ {2, 3, 4}
- {2, 3, 4} ⊄ {2, 4}, pois 3 ∉ {2, 4} b) = {3,5}
- {5, 6} ⊂ {5, 6}, pois 5 ∈ {5, 6} e 6 ∈ {5, 6} P(B) = { 0/ , {3}, {5}, B}

Inclusão e pertinência c) = {8}


P(C) = { 0/ , C}
A definição de subconjunto estabelece um
relacionamento entre dois conjuntos e recebe o nome de d) = 0/
relação de inclusão ( ⊂ ). P(D) = { 0/ }
A relação de pertinência ( ∈ ) estabelece um
relacionamento entre um elemento e um conjunto e, Propriedades
portanto, é diferente da relação de inclusão. Seja A um conjunto qualquer e 0/ o conjunto vazio.
Simbolicamente Valem as seguintes propriedades
x ∈ A ⇔ {x} ⊂ A
x ∉ A ⇔ {x} ⊄ A
0/ ≠( 0/ ) 0/ ∉ 0/ 0/ ⊂ 0/ 0/ ∈ { 0/ }
Igualdade 0/ ⊂ A ⇔ 0/ ∈ P(A) A⊂A ⇔ A ∈ P(A)

Sejam A e B dois conjuntos. Dizemos que A é igual a B


e indicamos por A = B se, e somente se, A é subconjunto de Se A tem n elementos então A possui 2n subconjuntos
B e B é também subconjunto de A. e, portanto, P(A) possui 2n elementos.
Simbolicamente: A = B ⇔ A ⊂ B e B ⊂ A
Demonstrar que dois conjuntos A e B são iguais União de conjuntos
equivale, segundo a definição, a demonstrar que A ⊂ B
e B ⊂ A. A união (ou reunião) dos conjuntos A e B é o conjunto
Segue da definição que dois conjuntos são iguais se, e formado por todos os elementos que pertencem a A ou a
somente se, possuem os mesmos elementos. B. Representa-se por A ∪ B.
Portanto A ≠ B significa que A é diferente de B. Portanto Simbolicamente: A 4 ∉BN = {X | X ∈ A ou X ∈ B}
A ≠ B se, e somente se, A não é subconjunto de B ou B não
é subconjunto de A. Simbolicamente: A ≠ B ⇔ A ⊄ B ou
B⊄A

Exemplos

- {2,4} = {4,2}, pois {2,4} ⊂ {4,2} e {4,2} ⊂ {2,4}. Isto nos


mostra que a ordem dos elementos de um conjunto não
deve ser levada em consideração. Em outras palavras, um
conjunto fica determinado pelos elementos que o mesmo Exemplos
possui e não pela ordem em que esses elementos são
descritos. - {2,3} ∪ {4,5,6}={2,3,4,5,6}
- {2,2,2,4} = {2,4}, pois {2,2,2,4} ⊂ {2,4} e {2,4} ⊂ - {2,3,4} ∪ {3,4,5}={2,3,4,5}
{2,2,2,4}. Isto nos mostra que a repetição de elementos é - {2,3} ∪ {1,2,3,4}={1,2,3,4}
desnecessária. - {a,b} ∪ φ {a,b}

2
MATEMÁTICA

Intersecção de conjuntos b) Podemos ampliar a relação do número de elementos


para três ou mais conjuntos com a mesma eficiência.
A intersecção dos conjuntos A e B é o conjunto formado
por todos os elementos que pertencem, simultaneamente, Observe o diagrama e comprove.
a A e a B. Representa-se por A ∩ B. Simbolicamente: A ∩ B
= {X | X ∈ A ou X ∈ B}

Exemplos

- {2,3,4} ∩ {3,5}={3}
- {1,2,3} ∩ {2,3,4}={2,3}
- {2,3} ∩ {1,2,3,5}={2,3}
- {2,4} ∩ {3,5,7}= φ

Observação: Se A ∩ B= φ , dizemos que A e B são


conjuntos disjuntos. Subtração

A diferença entre os conjuntos A e B é o conjunto


formado por todos os elementos que pertencem a A e não
pertencem a B. Representa-se por A – B. Simbolicamente:
A – B = {X | X ∈ A e X ∉ B}

Número de Elementos da União e da Intersecção de


Conjuntos

Dados dois conjuntos A e B, como vemos na figura


abaixo, podemos estabelecer uma relação entre os O conjunto A – B é também chamado de conjunto
respectivos números de elementos. complementar de B em relação a A, representado por CAB.
Simbolicamente: CAB = A - B{X | X ∈ A e X ∉ B}

Exemplos

- A = {0, 1, 2, 3} e B = {0, 2}
CAB = A – B = {1,3} e CBA = B – A = φ

- A = {1, 2, 3} e B = {2, 3, 4}
CAB = A – B = {1} e CBA = B – A = {14}

- A = {0, 2, 4} e B = {1 ,3 ,5}
CAB = A – B = {0,2,4} e CBA = B – A = {1,3,5}
Observações: Alguns autores preferem utilizar o
Note que ao subtrairmos os elementos comuns conceito de completar de B em relação a A somente nos
evitamos que eles sejam contados duas vezes. casos em que B ⊂ A.
- Se B ⊂ A representa-se por B o conjunto
Observações: complementar de B em relação a A. Simbolicamente: B ⊂ A
⇔ B = A – B = CAB`
a) Se os conjuntos A e B forem disjuntos ou se mesmo
um deles estiver contido no outro, ainda assim a relação
dada será verdadeira.

3
MATEMÁTICA

Assim sendo
a) O número total de crianças da escola é:

n( A ∪ B ∪ C ∪ D ) = n( A) + n( B ) + n(C ) + n( D ) = 15 + 9 + 13 + 33 = 70
b) O número de crianças que são meninas ou são
ruivas é:

n[( A ∪ B ) ∪ ( B ∪ D )] = n( A) + n( B ) + n( D ) = 15 + 9 + 33 = 57

Exemplos Questões

Seja S = {0, 1, 2, 3, 4, 5, 6}. Então: 1 – (CÂMARA DE SÃO PAULO/SP – TÉCNICO AD-


a) A = {2, 3, 4} ⇒ A = {0, 1, 5, 6} MINISTRATIVO – FCC/2014) Dos 43 vereadores de uma
b) B = {3, 4, 5, 6 } ⇒ B = {0, 1, 2} cidade, 13 dele não se inscreveram nas comissões de Edu-
c) C = φ ⇒ C = S cação, Saúde e Saneamento Básico. Sete dos vereadores
se inscreveram nas três comissões citadas. Doze deles se
Número de elementos de um conjunto inscreveram apenas nas comissões de Educação e Saúde e
oito deles se inscreveram apenas nas comissões de Saúde e
Sendo X um conjunto com um número finito de Saneamento Básico. Nenhum dos vereadores se inscreveu
elementos, representa-se por n(X) o número de elementos em apenas uma dessas comissões. O número de vereado-
de X. Sendo, ainda, A e B dois conjuntos quaisquer, com res inscritos na comissão de Saneamento Básico é igual a
número finito de elementos temos: A) 15.
n(A ∪ B)=n(A)+n(B)-n(A ∩ B) B) 21.
A ∩ B= φ ⇒ n(A ∪ B)=n(A)+n(B) C) 18.
n(A -B)=n(A)-n(A ∩ B) D) 27.
B ⊂ A ⇒ n(A-B)=n(A)-n(B) E) 16.

Resolução de Problemas 2 – (TJ-SC) Num grupo de motoristas, há 28 que diri-


gem automóvel, 12 que dirigem motocicleta e 8 que diri-
Exemplo: gem automóveis e motocicleta. Quantos motoristas há no
Numa escola mista existem 42 meninas, 24 crianças grupo?
ruivas, 13 meninos não ruivos e 9 meninas ruivas. Pergun- A) 16 motoristas
ta-se B) 32 motoristas
a) quantas crianças existem na escola? C) 48 motoristas
b) quantas crianças são meninas ou são ruivas D) 36 motoristas

3 – (TRT 19ª – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2014)


Dos 46 técnicos que estão aptos para arquivar documentos
15 deles também estão aptos para classificar processos e
os demais estão aptos para atender ao público. Há outros
11 técnicos que estão aptos para atender ao público, mas
não são capazes de arquivar documentos. Dentre esses úl-
timos técnicos mencionados, 4 deles também são capazes
de classificar processos. Sabe-se que aqueles que classi-
ficam processos são, ao todo, 27 técnicos. Considerando
que todos os técnicos que executam essas três tarefas fo-
ram citados anteriormente, eles somam um total de
A) 58.
Sejam: B) 65.
A o conjunto dos meninos ruivos e n(A) = x C) 76.
B o conjunto das meninas ruivas e n(B) = 9 D) 53.
C o conjunto dos meninos não ruivos e n(C) = 13 E) 95.
D o conjunto das meninas não ruivas e n(D) = y
De acordo com o enunciado temos: 4 – (METRÔ/SP – OFICIAL LOGISTICA –ALMOXARI-
FADO I – FCC/2014) O diagrama indica a distribuição de
n( B ∪ D) = n( B) + n( D) = 9 + y = 42 ⇔ y = 33 atletas da delegação de um país nos jogos universitários
 por medalha conquistada. Sabe-se que esse país conquis-
n( A ∪ D) = n( A) + n( B) = x + 9 = 24 ⇔ x = 15 tou medalhas apenas em modalidades individuais. Sabe-se
ainda que cada atleta da delegação desse país que ganhou

4
MATEMÁTICA

uma ou mais medalhas não ganhou mais de uma meda- 8 – (METRÔ/SP – ENGENHEIRO SEGURANÇA DO
lha do mesmo tipo (ouro, prata, bronze). De acordo com o TRABALHO – FCC/2014) Uma pesquisa, com 200 pessoas,
diagrama, por exemplo, 2 atletas da delegação desse país investigou como eram utilizadas as três linhas: A, B e C do
ganharam, cada um, apenas uma medalha de ouro. Metrô de uma cidade. Verificou-se que 92 pessoas utili-
zam a linha A; 94 pessoas utilizam a linha B e 110 pessoas
utilizam a linha C. Utilizam as linhas A e B um total de 38
pessoas, as linhas A e C um total de 42 pessoas e as linhas B
e C um total de 60 pessoas; 26 pessoas que não se utilizam
dessas linhas. Desta maneira, conclui-se corretamente que
o número de entrevistados que utilizam as linhas A e B e
C é igual a
A) 50.
B) 26.
C) 56.
D) 10.
E) 18.
A análise adequada do diagrama permite concluir cor-
retamente que o número de medalhas conquistadas por 9 – TJ/RS – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁ-
esse país nessa edição dos jogos universitários foi de RIA E ADMINISTRATIVA – FAURGS/2012) Observando-
A) 15. se, durante certo período, o trabalho de 24 desenhistas do
B) 29. Tribunal de Justiça, verificou-se que 16 executaram dese-
C) 52. nhos arquitetônicos, 15 prepararam croquis e 3 realizaram
D) 46. outras atividades. O número de desenhistas que executa-
E) 40. ram desenho arquitetônico e prepararam croquis, nesse
período, é de
5 – (PREF. CAMAÇARI/BA – TÉC. VIGILÂNCIA EM A) 10.
SAÚDE NM – AOCP/2014) Qual é o número de elementos B) 11.
que formam o conjunto dos múltiplos estritamente positi- C) 12.
vos do número 3, menores que 31? D) 13.
A) 9 E) 14.
B) 10
C) 11 10 - (TJ/RS – OFICIAL DE TRANSPORTE – CE-
D) 12 TRO/2013) Dados os conjuntos A = {x | x é vogal da pa-
E) 13 lavra CARRO} e B = {x | x é letra da palavra CAMINHO}, é
correto afirmar que A∩ B tem
A) 1 elemento.
6 - (PREF. CAMAÇARI/BA – TÉC. VIGILÂNCIA EM B) 2 elementos.
SAÚDE NM – AOCP/2014) Considere dois conjuntos A e C) 3 elementos.
B, sabendo que A ∩ B = {3}, A ∪ B = {0; 1; 2; 3; 5} e A – B = D) 4 elementos.
{1 ; 2}, assinale a alternativa que apresenta o conjunto B. E) 5 elementos.
A) {1; 2; 3}
B) {0; 3}
C) {0; 1; 2; 3; 5} Respostas
D) {3; 5}
E) {0; 3; 5} 1 - RESPOSTA: “C”
De acordo com os dados temos:
7 – (Agente Administrativo) Em uma cidade existem 7 vereadores se inscreveram nas 3.
duas empresas de transporte coletivo, A e B. Exatamente APENAS 12 se inscreveram em educação e saúde (o
70% dos estudantes desta cidade utilizam a Empresa A e 12 não deve ser tirado de 7 como costuma fazer nos con-
50% a Empresa B. Sabendo que todo estudante da cidade juntos, pois ele já desconsidera os que se inscreveram nos
é usuário de pelo menos uma das empresas, qual o % deles três)
que utilizam as duas empresas? APENAS 8 se inscreveram em saúde e saneamento bá-
A) 20% sico.
B) 25% São 30 vereadores que se inscreveram nessas 3 comis-
C) 27% sões, pois 13 dos 43 não se inscreveram.
D) 33% Portanto, 30-7-12-8=3
E) 35% Se inscreveram em educação e saneamento 3 verea-
dores.

5
MATEMÁTICA

5 -RESPOSTA: “B”.
Se nos basearmos na tabuada do 3 , teremos o seguin-
te conjunto
A={3,6,9,12,15,18,21,24,27,30}
10 elementos.

6 - RESPOSTA: “E”.
A intersecção dos dois conjuntos, mostra que 3 é ele-
mento de B.
Só em saneamento se inscreveram: 3+7+8=18 A-B são os elementos que tem em A e não em B.
Então de A∪B, tiramos que B={0;3;5}.
2 – RESPOSTA: “B”
7 - Resposta “A”.

Os que dirigem automóveis e motocicleta: 8


Os que dirigem apenas automóvel: 28-8 = 20
Os que dirigem apenas motocicleta: 12-8= 4
A quantidade de motoristas é o somatório: 20+8+4 = 70 – 50 = 20.
32 motoristas. 20% utilizam as duas empresas.

3 - RESPOSTA: “B”. 8 - RESPOSTA: “E”.


Técnicos arquivam e classificam: 15
Arquivam e atendem: 46-15=31
classificam e atendem: 4
Classificam: 15+4=19 como são 27 faltam 8
Dos 11 técnicos aptos a atender ao público 4 são capa-
zes de classificar processos, logo apenas 11-4 = 7 técnicos
são aptos a atender ao público.
Somando todos os valores obtidos no diagrama tere-
mos: 31+15+7+4+8 = 65 técnicos.

92-[38-x+x+42-x]+94-[38-x+x+60-x]+110-[42-x+x+-
60-x]+(38-x)+x+(42-x)+(60-x)+26=200
92-[80-x]+94-[98-x]+110-[102-x]+38+42-x+-
60-x+26=200
92-80+x+94-98+x+110-102+x+166-2x=200
x+462-180=200 ➜ x+182 = 200 ➜ x = 200-182 ➜ x = 18
4 - RESPOSTA: “D”.
O diagrama mostra o número de atletas que ganharam 9 - RESPOSTA: “A”.
medalhas.
No caso das intersecções, devemos multiplicar por 2
por ser 2 medalhas e na intersecção das três medalhas mul-
tiplica-se por 3.
Intersecções:

16-x+x+15-x+3=24 ➜ x+34 = 24 ➜ -x = 24-34 ➜ -x


Somando as outras: = -10, como não existe variável negativa neste caso multi-
2+5+8+12+2+8+9=46 plica-se por (-1) ambos os lados , logo x = 10.

6
MATEMÁTICA

10 - RESPOSTA: “B”.
Como o conjunto A é dado pelas vogais: A={A,O}, e
B é dado pelas letras : B={ C,A,M,I,N,H,O}, portanto A∩
B={A,O}
Ao conjunto formado pelos números Irracionais e pelos
números Racionais chamamos de conjunto dos números
NÚMEROS REAIS: O CONJUNTO DOS Reais. Ao unirmos o conjunto dos números Irracionais com
NÚMEROS NATURAIS: OPERAÇÕES, o conjunto dos números Racionais, formando o conjunto
DIVISIBILIDADE, DECOMPOSIÇÃO dos números Reais, todas as distâncias representadas
por eles sobre uma reta preenchem-na por completo;
DE UM NÚMERO NATURAL NOS SEUS
isto é, ocupam todos os seus pontos. Por isso, essa reta é
FATORES PRIMOS, MÁXIMO DIVISOR
denominada reta Real.
COMUM E MÍNIMO MÚLTIPLO COMUM
DE DOIS OU MAIS NÚMEROS NATURAIS.
O CONJUNTO DOS NÚMEROS INTEIROS:
OPERAÇÕES, MÚLTIPLOS E DIVISORES. O
CONJUNTO DOS NÚMEROS RACIONAIS:
PROPRIEDADES, OPERAÇÕES, VALOR
ABSOLUTO DE UM NÚMERO,
POTENCIAÇÃO E RADICIAÇÃO.
O CONJUNTO DOS NÚMEROS REAIS:
NÚMEROS IRRACIONAIS,
A RETA REAL, INTERVALOS.

Números Reais

O conjunto dos números reais R é uma expansão


do conjunto dos números racionais que engloba não só
os inteiros e os fracionários, positivos e negativos, mas Podemos concluir que na representação dos números
também todos os números irracionais. Reais sobre uma reta, dados uma origem e uma unidade, a
Os números reais são números usados para representar cada ponto da reta corresponde um número Real e a cada
uma quantidade contínua (incluindo o zero e os negativos). número Real corresponde um ponto na reta.
Pode-se pensar num número real como uma fração decimal
possivelmente infinita, como 3,141592(...). Os números
reais têm uma correspondência biunívoca com os pontos
de uma reta.
Denomina-se corpo dos números reais a coleção
dos elementos pertencentes à conclusão dos racionais,
formado pelo corpo de frações associado aos inteiros
(números racionais) e a norma associada ao infinito.
Existem também outras conclusões dos racionais, uma Ordenação dos números Reais
para cada número primo p, chamadas números p-ádicos. O A representação dos números Reais permite definir uma
corpo dos números p-ádicos é formado pelos racionais e a relação de ordem entre eles. Os números Reais positivos são
norma associada a p! maiores que zero e os negativos, menores. Expressamos
a relação de ordem da seguinte maneira: Dados dois
Propriedade números Reais a e b, 
O conjunto dos números reais com as operações a≤b↔b–a≥0
binárias de soma e produto e com a relação natural de
ordem formam um corpo ordenado. Além das propriedades Exemplo: -15 ≤ ↔ 5 – (-15) ≥ 0
de um corpo ordenado, R tem a seguinte propriedade: 5 + 15 ≥ 0
Se R for dividido em dois conjuntos (uma partição) A e
B, de modo que todo elemento de A é menor que todo Propriedades da relação de ordem
elemento de B, então existe um elemento x que separa os - Reflexiva: a ≤ a
dois conjuntos, ou seja, x é maior ou igual a todo elemento - Transitiva: a ≤ b e b ≤ c → a ≤ c
de A e menor ou igual a todo elemento de B. - Anti-simétrica: a ≤ b e b ≤ a → a = b
- Ordem total: a < b ou b < a ou a = b 

7
MATEMÁTICA

Expressão aproximada dos números Reais - Em geral, para obter uma aproximação de n casas
decimais, devemos trabalhar com números Reais
aproximados, isto é, com n + 1 casas decimais.
Para colocar em prática o que foi exposto, vamos
fazer as quatro operações indicadas: adição, subtração,
multiplicação e divisão com dois números Irracionais. 

Valor Absoluto

Os números Irracionais possuem infinitos algarismos Como vimos, o erro  pode ser:
decimais não-periódicos. As operações com esta classe - Por excesso: neste caso, consideramos o erro positivo.
de números sempre produzem erros quando não se - Por falta: neste caso, consideramos o erro negativo.
utilizam todos os algarismos decimais. Por outro lado, é Quando o erro é dado sem sinal, diz-se que está dado
impossível utilizar todos eles nos cálculos. Por isso, somos em valor absoluto. O valor absoluto de um número a é
obrigados a usar aproximações, isto é, cortamos o decimal designado por |a| e coincide com o número positivo, se for
em algum lugar e desprezamos os algarismos restantes. Os positivo, e com seu oposto, se for negativo. 
algarismos escolhidos serão uma aproximação do número Exemplo: Um livro nos custou 8,50 reais. Pagamos com
Real. Observe como tomamos a aproximação de e do uma nota de 10 reais. Se nos devolve 1,60 real de troco, o
número nas tabelas. vendedor cometeu um erro de +10 centavos. Ao contrário,
se nos devolve 1,40 real, o erro cometido é de 10 centavos. 
Aproximação por
Falta Excesso
Erro menor que π π
1 unidade 1 3 2 4
1 décimo 1,4 3,1 1,5 3,2
1 centésimo 1,41 3,14 1,42 3,15
1 milésimo 1,414 3,141 1,415 3,142
1 décimo de
1,4142 3,1415 1,4134 3,1416
milésimo

Operações com números Reais


Operando com as aproximações, obtemos uma
sucessão de intervalos fixos que determinam um número
Real. É assim que vamos trabalhar as operações adição,
subtração, multiplicação e divisão. Relacionamos, em
seguida, uma série de recomendações úteis para operar
com números Reais:
- Vamos tomar a aproximação por falta.
- Se quisermos ter uma ideia do erro cometido,
escolhemos o mesmo número de casas decimais em ambos
os números.
- Se utilizamos uma calculadora, devemos usar a
aproximação máxima admitida pela máquina (o maior
número de casas decimais).
- Quando operamos com números Reais, devemos
fazer constar o erro de aproximação ou o número de casas
decimais.
- É importante adquirirmos a idéia de aproximação
em função da necessidade. Por exemplo, para desenhar o
projeto de uma casa, basta tomar medidas com um erro de
centésimo.

8
MATEMÁTICA

Questões 5 - (UEM/PR – AUXILIAR OPERACIONAL – UEM/2014)


Paulo recebeu R$1.000,00 de salário. Ele gastou ¼ do sa-
1 - (SABESP – APRENDIZ – FCC/2012) Um comer- lário com aluguel da casa e 3/5 do salário com outras des-
ciante tem 8 prateleiras em seu empório para organizar os pesas. Do salário que Paulo recebeu, quantos reais ainda
produtos de limpeza. Adquiriu 100 caixas desses produtos restam?
com 20 unidades cada uma, sendo que a quantidade total A) R$ 120,00
de unidades compradas será distribuída igualmente entre B) R$ 150,00
essas prateleiras. Desse modo, cada prateleira receberá um
C) R$ 180,00
número de unidades, desses produtos, igual a
A) 40 D) R$ 210,00
B) 50 E) R$ 240,00
C) 100
D) 160 6 - (UFABC/SP – TECNÓLOGO-TECNOLOGIA DA IN-
E) 250 FORMAÇÃO – VUNESP/2013) Um jardineiro preencheu
parcialmente, com água, 3 baldes com capacidade de 15
2 - (CÂMARA DE CANITAR/SP – RECEPCIONISTA – litros cada um. O primeiro balde foi preenchido com 2/3
INDEC/2013) Em uma banca de revistas existem um total de sua capacidade, o segundo com 3/5 da capacidade, e
de 870 exemplares dos mais variados temas. Metade das o terceiro, com um volume correspondente à média dos
revistas é da editora A, dentre as demais, um terço são pu- volumes dos outros dois baldes. A soma dos volumes de
blicações antigas. Qual o número de exemplares que não água nos três baldes, em litros, é
são da Editora A e nem são antigas? A) 27.
A) 320
B) 27,5.
B) 290
C) 435 C) 28.
D) 145 D) 28,5.
E) 29.
3 - (TRT 6ª – TÉCNICO JUDICIÁRIO- ADMINISTRA-
TIVA – FCC/2012) Em uma praia chamava a atenção um 7 - (UFOP/MG – ADMINISTRADOR DE EDIFICIOS –
catador de cocos (a água do coco já havia sido retirada). UFOP/2013) Uma pessoa caminha 5 minutos em ritmo
Ele só pegava cocos inteiros e agia da seguinte maneira: normal e, em seguida, 2 minutos em ritmo acelerado e,
o primeiro coco ele coloca inteiro de um lado; o segundo assim, sucessivamente, sempre intercalando os ritmos da
ele dividia ao meio e colocava as metades em outro lado; caminhada (5 minutos normais e 2 minutos acelerados). A
o terceiro coco ele dividia em três partes iguais e coloca- caminhada foi iniciada em ritmo normal, e foi interrompida
va os terços de coco em um terceiro lugar, diferente dos após 55 minutos do início.
outros lugares; o quarto coco ele dividia em quatro partes O tempo que essa pessoa caminhou aceleradamente
iguais e colocava os quartos de coco em um quarto lugar
foi:
diferente dos outros lugares. No quinto coco agia como
A) 6 minutos
se fosse o primeiro coco e colocava inteiro de um lado, o
seguinte dividia ao meio, o seguinte em três partes iguais, B) 10 minutos
o seguinte em quatro partes iguais e seguia na sequência: C) 15 minutos
inteiro, meios, três partes iguais, quatro partes iguais. Fez D) 20 minutos
isso com exatamente 59 cocos quando alguém disse ao
catador: eu quero três quintos dos seus terços de coco e 8 - (PREF. IMARUÍ – AGENTE EDUCADOR – PREF.
metade dos seus quartos de coco. O catador consentiu e IMARUÍ/2014) Sobre o conjunto dos números reais é
deu para a pessoa CORRETO dizer:
A) 52 pedaços de coco. A) O conjunto dos números reais reúne somente os nú-
B) 55 pedaços de coco. meros racionais.
C) 59 pedaços de coco. B) R* é o conjunto dos números reais não negativos.
D) 98 pedaços de coco. C) Sendo A = {-1,0}, os elementos do conjunto A não
E) 101 pedaços de coco. são números reais.
D) As dízimas não periódicas são números reais.
4 - (UEM/PR – AUXILIAR OPERACIONAL – UEM/2014)
A mãe do Vitor fez um bolo e repartiu em 24 pedaços, to-
dos de mesmo tamanho. A mãe e o pai comeram juntos, ¼ 9 - (TJ/SP - AUXILIAR DE SAÚDE JUDICIÁRIO - AU-
do bolo. O Vitor e a sua irmã comeram, cada um deles, ¼ XILIAR EM SAÚDE BUCAL – VUNESP/2013) Para numerar
do bolo. Quantos pedaços de bolo sobraram? as páginas de um livro, uma impressora gasta 0,001 mL
A) 4 por cada algarismo impresso. Por exemplo, para numerar
B) 6 as páginas 7, 58 e 290 gasta-se, respectivamente, 0,001 mL,
C) 8 0,002 mL e 0,003 mL de tinta. O total de tinta que será
D) 10 gasto para numerar da página 1 até a página 1 000 de um
E) 12 livro, em mL, será

9
MATEMÁTICA

A) 1,111. 4 - RESPOSTA “B”.


B) 2,003.
C) 2,893.
D) 1,003.
E) 2,561.
Sobrou 1/4 do bolo.
10 - (BNDES – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CES-
GRANRIO/2013) Gilberto levava no bolso três moedas de
R$ 0,50, cinco de R$ 0,10 e quatro de R$ 0,25. Gilberto reti-
rou do bolso oito dessas moedas, dando quatro para cada
filho.
A diferença entre as quantias recebidas pelos dois fi-
lhos de Gilberto é de, no máximo, 5 - RESPOSTA: “B”.
A) R$ 0,45
B) R$ 0,90 Aluguel:
C) R$ 1,10
D) R$ 1,15
Outras despesas:
E) R$ 1,35

Respostas Restam :1000-850=R$150,00

1 - RESPOSTA: “E”.
Total de unidades: 100⋅20=2000 unidades 6 - RESPOSTA: “D”.
Primeiro balde:
unidades em cada prateleira.

2 - RESPOSTA: “B”. Segundo balde:


editora A: 870/2=435 revistas
publicações antigas: 435/3=145 revistas

Terceiro balde:

O número de exemplares que não são da Editora A e


nem são antigas são 290.
A soma dos volumes é : 10+9+9,5=28,5 litros

3 - RESPOSTA: “B”.
7 - RESPOSTA: “C”.
A caminhada sempre vai ser 5 minutos e depois 2 mi-
nutos, então 7 minutos ao total.
Dividindo o total da caminhada pelo tempo, temos:
14 vezes iguais
Coco inteiro: 14
Metades:14.2=28
Terça parte:14.3=42
Assim, sabemos que a pessoa caminhou 7. (5 minutos
Quarta parte:14.4=56
+2 minutos) +6 minutos (5 minutos+1 minuto)
3 cocos: 1 coco inteiro, metade dos cocos, terça parte
Quantidade total Aceleradamente caminhou: (7.2)+1➜ 14+1=15 minu-
Coco inteiro: 14+1=15 tos
Metades: 28+2=30
Terça parte:42+3=45
Quarta parte :56 8 - RESPOSTA: “D”.
A) errada - O conjunto dos números reais tem os con-
juntos: naturais, inteiros, racionais e irracionais.
B) errada – R* são os reais sem o zero.
C) errada - -1 e 0 são números reais.

10
MATEMÁTICA

9 - RESPOSTA: “C”. - Se um número natural é sucessor de outro, então os


1 a 9 =9 algarismos=0,001⋅9=0,009 ml dois números juntos são chamados números consecutivos.
De 10 a 99, temos que saber quantos números tem. Exemplos:
99-10+1=90. a) 1 e 2 são números consecutivos.
OBS: soma 1, pois quanto subtraímos exclui-se o pri- b) 5 e 6 são números consecutivos.
meiro número. c) 50 e 51 são números consecutivos.
90 números de 2 algarismos: 0,002⋅90=0,18ml
- Vários números formam uma coleção de números na-
De 100 a 999 turais consecutivos se o segundo é sucessor do primeiro,
999-100+1=900 números o terceiro é sucessor do segundo, o quarto é sucessor do
900⋅0,003=2,7ml terceiro e assim sucessivamente.
1000=0,004ml Exemplos:
Somando: 0,009+0,18+2,7+0,004=2,893 a) 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 são consecutivos.
b) 5, 6 e 7 são consecutivos.
10 - RESPOSTA: “E”. c) 50, 51, 52 e 53 são consecutivos.
Supondo que as quatro primeiras moedas sejam as 3
de R$ 0,50 e 1 de R$ 0,25(maiores valores). - Todo número natural dado N, exceto o zero, tem um
Um filho receberia : 1,50+0,25=R$1,75 antecessor (número que vem antes do número dado).
E as ouras quatro moedas sejam de menor valor: 4 de Exemplos: Se m é um número natural finito diferente
R$ 0,10=R$ 0,40. de zero.
A maior diferença seria de 1,75-0,40=1,35 a) O antecessor do número m é m-1.
Dica: sempre que fala a maior diferença tem que o b) O antecessor de 2 é 1.
maior valor possível – o menor valor. c) O antecessor de 56 é 55.
d) O antecessor de 10 é 9.
O conjunto abaixo é conhecido como o conjunto dos
números naturais pares. Embora uma sequência real seja
Números Naturais outro objeto matemático denominado função, algumas
vezes utilizaremos a denominação sequência dos números
O conjunto dos números naturais é representado pela naturais pares para representar o conjunto dos números
letra maiúscula N e estes números são construídos com os naturais pares: P = { 0, 2, 4, 6, 8, 10, 12, ...}
algarismos: 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, que também são co- O conjunto abaixo é conhecido como o conjunto dos
nhecidos como algarismos indo-arábicos. No século VII, os números naturais ímpares, às vezes também chamados, a
árabes invadiram a Índia, difundindo o seu sistema numéri- sequência dos números ímpares. I = { 1, 3, 5, 7, 9, 11, 13, ...}
co. Embora o zero não seja um número natural no sentido
que tenha sido proveniente de objetos de contagens na- Operações com Números Naturais
turais, iremos considerá-lo como um número natural uma
vez que ele tem as mesmas propriedades algébricas que Na sequência, estudaremos as duas principais opera-
os números naturais. Na verdade, o zero foi criado pelos ções possíveis no conjunto dos números naturais. Pratica-
hindus na montagem do sistema posicional de numeração mente, toda a Matemática é construída a partir dessas duas
para suprir a deficiência de algo nulo. operações: adição e multiplicação.
Na sequência consideraremos que os naturais têm
início com o número zero e escreveremos este conjunto A adição de números naturais
como: N = { 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, ...}
Representaremos o conjunto dos números naturais com A primeira operação fundamental da Aritmética tem
a letra N. As reticências (três pontos) indicam que este con- por finalidade reunir em um só número, todas as unidades
junto não tem fim. N é um conjunto com infinitos números. de dois ou mais números. Antes de surgir os algarismos
Excluindo o zero do conjunto dos números naturais, o indo-arábicos, as adições podiam ser realizadas por meio
conjunto será representado por: N* = {1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, de tábuas de calcular, com o auxílio de pedras ou por meio
9, 10, ...} de ábacos.

A construção dos Números Naturais Propriedades da Adição


- Todo número natural dado tem um sucessor (número - Fechamento: A adição no conjunto dos números na-
que vem depois do número dado), considerando também turais é fechada, pois a soma de dois números naturais é
o zero. ainda um número natural. O fato que a operação de adição
Exemplos: Seja m um número natural. é fechada em N é conhecido na literatura do assunto como:
a) O sucessor de m é m+1. A adição é uma lei de composição interna no conjunto N.
b) O sucessor de 0 é 1. - Associativa: A adição no conjunto dos números na-
c) O sucessor de 1 é 2. turais é associativa, pois na adição de três ou mais parce-
d) O sucessor de 19 é 20. las de números naturais quaisquer é possível associar as

11
MATEMÁTICA

parcelas de quaisquer modos, ou seja, com três números Divisão de Números Naturais
naturais, somando o primeiro com o segundo e ao resulta- Dados dois números naturais, às vezes necessitamos
do obtido somarmos um terceiro, obteremos um resultado saber quantas vezes o segundo está contido no primeiro.
que é igual à soma do primeiro com a soma do segundo e O primeiro número que é o maior é denominado dividendo
o terceiro. (A + B) + C = A + (B + C) e o outro número que é menor é o divisor. O resultado da
- Elemento neutro: No conjunto dos números naturais, divisão é chamado quociente. Se multiplicarmos o divisor
existe o elemento neutro que é o zero, pois tomando um pelo quociente obteremos o dividendo.
número natural qualquer e somando com o elemento neu- No conjunto dos números naturais, a divisão não é
tro (zero), o resultado será o próprio número natural. fechada, pois nem sempre é possível dividir um número
- Comutativa: No conjunto dos números naturais, a natural por outro número natural e na ocorrência disto a
adição é comutativa, pois a ordem das parcelas não altera divisão não é exata.
a soma, ou seja, somando a primeira parcela com a segun-
da parcela, teremos o mesmo resultado que se somando a Relações essenciais numa divisão de números naturais
segunda parcela com a primeira parcela. - Em uma divisão exata de números naturais, o divisor
deve ser menor do que o dividendo. 35 : 7 = 5
Multiplicação de Números Naturais - Em uma divisão exata de números naturais, o dividen-
É a operação que tem por finalidade adicionar o pri- do é o produto do divisor pelo quociente. 35 = 5 x 7
meiro número denominado multiplicando ou parcela, tan- - A divisão de um número natural n por zero não é pos-
tas vezes quantas são as unidades do segundo número sível pois, se admitíssemos que o quociente fosse q, então
denominadas multiplicador. poderíamos escrever: n ÷ 0 = q e isto significaria que: n = 0
x q = 0 o que não é correto! Assim, a divisão de n por 0 não
Exemplo tem sentido ou ainda é dita impossível.
4 vezes 9 é somar o número 9 quatro vezes: 4 x 9 = 9
+ 9 + 9 + 9 = 36 Potenciação de Números Naturais
O resultado da multiplicação é denominado produto Para dois números naturais m e n, a expressão mn é um
e os números dados que geraram o produto, são chama- produto de n fatores iguais ao número m, ou seja: mn = m
dos fatores. Usamos o sinal × ou · ou x, para representar a . m . m ... m . m → m aparece n vezes
multiplicação. O número que se repete como fator é denominado
base que neste caso é m. O número de vezes que a base se
Propriedades da multiplicação repete é denominado expoente que neste caso é n. O re-
- Fechamento: A multiplicação é fechada no conjunto sultado é denominado potência. Esta operação não passa
N dos números naturais, pois realizando o produto de dois de uma multiplicação com fatores iguais, como por exem-
ou mais números naturais, o resultado estará em N. plo: 23 = 2 × 2 × 2 = 8 → 43 = 4 × 4 × 4 = 64
O fato que a operação de multiplicação é fechada em Propriedades da Potenciação
N é conhecido na literatura do assunto como: A multiplica-
ção é uma lei de composição interna no conjunto N. - Uma potência cuja base é igual a 1 e o expoente na-
- Associativa: Na multiplicação, podemos associar 3 ou tural é n, denotada por 1n, será sempre igual a 1.
mais fatores de modos diferentes, pois se multiplicarmos o Exemplos:
primeiro fator com o segundo e depois multiplicarmos por a- 1n = 1×1×...×1 (n vezes) = 1
um terceiro número natural, teremos o mesmo resultado b- 13 = 1×1×1 = 1
que multiplicar o terceiro pelo produto do primeiro pelo c- 17 = 1×1×1×1×1×1×1 = 1
segundo. (m . n) . p = m .(n . p) → (3 . 4) . 5 = 3 . (4 . 5) = 60
- Elemento Neutro: No conjunto dos números naturais - Se n é um número natural não nulo, então temos que
existe um elemento neutro para a multiplicação que é o 1. no=1. Por exemplo:
Qualquer que seja o número natural n, tem-se que: 1 . n =
n.1=n→1.7=7.1=7 - (a) nº = 1
- Comutativa: Quando multiplicamos dois números na- - (b) 5º = 1
turais quaisquer, a ordem dos fatores não altera o produto, - (c) 49º = 1
ou seja, multiplicando o primeiro elemento pelo segundo
elemento teremos o mesmo resultado que multiplicando o - A potência zero elevado a zero, denotada por 0o, é
segundo elemento pelo primeiro elemento. m . n = n . m carente de sentido no contexto do Ensino Fundamental.
→ 3 . 4 = 4 . 3 = 12
- Qualquer que seja a potência em que a base é o nú-
Propriedade Distributiva mero natural n e o expoente é igual a 1, denotada por n1, é
Multiplicando um número natural pela soma de dois igual ao próprio n. Por exemplo:
números naturais, é o mesmo que multiplicar o fator, por
cada uma das parcelas e a seguir adicionar os resultados - (a) n¹ = n
obtidos. m . (p + q) = m . p + m . q → 6 x (5 + 3) = 6 x 5 + - (b) 5¹ = 5
6 x 3 = 30 + 18 = 48 - (c) 64¹ = 64

12
MATEMÁTICA

- Toda potência 10n é o número formado pelo algaris- A) R$ 150,00.


mo 1 seguido de n zeros. B) R$ 175,00.
Exemplos: C) R$ 200,00.
a- 103 = 1000 D) R$ 225,00.
b- 108 = 100.000.000
c- 10o = 1 5 - PREF. JUNDIAI/SP – AGENTE DE SERVIÇOS OPERA-
CIONAIS – MAKIYAMA/2013) Ontem, eu tinha 345 bolinhas
Questões de gude em minha coleção. Porém, hoje, participei de um
campeonato com meus amigos e perdi 67 bolinhas, mas
1 - (SABESP – APRENDIZ – FCC/2012) A partir de 1º de ganhei outras 90. Sendo assim, qual a quantidade de bo-
março, uma cantina escolar adotou um sistema de rece-
linhas que tenho agora, depois de participar do campeo-
bimento por cartão eletrônico. Esse cartão funciona como
nato?
uma conta corrente: coloca-se crédito e vão sendo debi-
A) 368
tados os gastos. É possível o saldo negativo. Enzo toma
lanche diariamente na cantina e sua mãe credita valores no B) 270
cartão todas as semanas. Ao final de março, ele anotou o C) 365
seu consumo e os pagamentos na seguinte tabela: D) 290
E) 376

6 – (Pref. Niterói) João e Maria disputaram a prefeitura


de uma determinada cidade que possui apenas duas zo-
nas eleitorais. Ao final da sua apuração o Tribunal Regional
Eleitoral divulgou a seguinte tabela com os resultados da
eleição. A quantidade de eleitores desta cidade é:

1ª Zona Eleitoral 2ª Zona Eleitoral


João 1750 2245
No final do mês, Enzo observou que tinha Maria 850 2320
A) crédito de R$ 7,00.
B) débito de R$ 7,00. Nulos 150 217
C) crédito de R$ 5,00. Brancos 18 25
D) débito de R$ 5,00. Abstenções 183 175
E) empatado suas despesas e seus créditos.
A) 3995
2 - (PREF. IMARUI/SC – AUXILIAR DE SERVIÇOS GERAIS
B) 7165
- PREF. IMARUI/2014) José, funcionário público, recebe sa-
lário bruto de R$ 2.000,00. Em sua folha de pagamento vem C) 7532
o desconto de R$ 200,00 de INSS e R$ 35,00 de sindicato. D) 7575
Qual o salário líquido de José? E) 7933
A) R$ 1800,00
B) R$ 1765,00 7 - (PREF. JUNDIAI/SP – AGENTE DE SERVIÇOS OPE-
C) R$ 1675,00 RACIONAIS – MAKIYAMA/2013) Durante um mutirão para
D) R$ 1665,00 promover a limpeza de uma cidade, os 15.000 voluntários
foram igualmente divididos entre as cinco regiões de tal
3 – (Professor/Pref.de Itaboraí) O quociente entre dois cidade. Sendo assim, cada região contou com um número
números naturais é 10. Multiplicando-se o dividendo por de voluntários igual a:
cinco e reduzindo-se o divisor à metade, o quociente da A) 2500
nova divisão será: B) 3200
A) 2 C) 1500
B) 5 D) 3000
C) 25 E) 2000
D) 50
E) 100
8 - (PREF. JUNDIAI/SP – AGENTE DE SERVIÇOS OPERA-
CIONAIS – MAKIYAMA/2013) Em determinada loja, o paga-
4 - (PREF. ÁGUAS DE CHAPECÓ – OPERADOR DE MÁ-
QUINAS – ALTERNATIVE CONCURSOS) Em uma loja, as mento de um computador pode ser feito sem entrada, em
compras feitas a prazo podem ser pagas em até 12 vezes 12 parcelas de R$ 250,00. Sendo assim, um cliente que opte
sem juros. Se João comprar uma geladeira no valor de R$ por essa forma de pagamento deverá pagar pelo compu-
2.100,00 em 12 vezes, pagará uma prestação de: tador um total de:

13
MATEMÁTICA

A) R$ 2500,00 4 - RESPOSTA: “B”.


B) R$ 3000,00
C) R$1900,00
D) R$ 3300,00
E) R$ 2700,00
Cada prestação será de R$175,00
9 – (CREFITO/SP – ALMOXARIFE – VUNESP/2012) O su-
cessor do dobro de determinado número é 23. Esse mesmo 5 - RESPOSTA: “A”.
determinado número somado a 1 e, depois, dobrado será 345-67=278
igual a Depois ganhou 90
A) 24. 278+90=368
B) 22.
C) 20. 6 - RESPOSTA: “E”.
D) 18. Vamos somar a 1ª Zona: 1750+850+150+18+183 =
E) 16. 2951
2ª Zona : 2245+2320+217+25+175 = 4982
10 - (SABESP – ANALISTA DE GESTÃO I -CONTABILIDADE – Somando os dois: 2951+4982 = 7933
FCC/2012) Uma montadora de automóveis possui cinco unida-
des produtivas num mesmo país. No último ano, cada uma des- 7 - RESPOSTA: “D”.
sas unidades produziu 364.098 automóveis. Toda a produção
foi igualmente distribuída entre os mercados consumidores de
sete países. O número de automóveis que cada país recebeu foi
A) 26.007
B) 26.070
C) 206.070 Cada região terá 3000 voluntários.
D) 260.007 8 - RESPOSTA: “B”.
E) 260.070 250∙12=3000
O computador custa R$3000,00.
Respostas
9 - RESPOSTA: “A”.
1 - RESPOSTA: “B”. Se o sucessor é 23, o dobro do número é 22, portanto
crédito: 40+30+35+15=120 o número é 11.
débito: 27+33+42+25=127 (11+1) → 2=24
120-127=-7
Ele tem um débito de R$ 7,00. 10 - RESPOSTA: “E”.
364098 → 5=1820490 automóveis
2 - RESPOSTA: “B”.
2000-200=1800-35=1765
O salário líquido de José é R$1765,00.

3 - RESPOSTA: “E”.
D= dividendo
d= divisor
Q = quociente = 10
R= resto = 0 (divisão exata) MMC
Equacionando:
D= d.Q + R O mmc de dois ou mais números naturais é o menor
D= d.10 + 0 → D= 10d número, excluindo o zero, que é múltiplo desses números.

Pela nova divisão temos: Cálculo do m.m.c.

Vamos estudar dois métodos para encontrar o mmc de


dois ou mais números:
1)  Podemos calcular o m.m.c. de dois ou mais números
Isolando Q temos: utilizando a fatoração. Acompanhe o cálculo do m.m.c. de
12 e 30:
1º) decompomos os números em fatores primos
2º) o m.m.c. é o produto dos fatores primos comuns e
não comuns:

14
MATEMÁTICA

                   12   =  2  x  2  x  3 36 = 22 x 32


                   30   =          2  x  3   x  5 90 = 2  x 32 x 5
m.m.c (12,30)  = 2  x  2  x  3   x  5 Portanto m.d.c.(36,90) = 2 x 32 = 18.
Escrevendo a fatoração dos números na forma de 2) Processo das divisões sucessivas : Nesse processo
potência, temos: efetuamos várias divisões até chegar a uma divisão exata.
12 = 22  x  3 O divisor desta divisão é o m.d.c. Acompanhe o cálculo do
30 = 2   x  3  x  5  m.d.c.(48,30).
m.m.c (12,30)  = 22  x  3  x  5 Regra prática:
1º) dividimos o número maior pelo número menor;
O mmc de dois ou mais números, quando fatorados,     48 / 30 = 1 (com resto 18)
é o produto dos fatores comuns e não comuns , cada um 2º) dividimos o divisor 30, que é divisor da divisão an-
com seu maior expoente terior, por 18, que é o resto da divisão anterior, e assim
sucessivamente;
2) Método da decomposição simultânea     30 / 18 = 1 (com resto 12)
Vamos encontrar o mmc (15, 24, 60) 18 / 12 = 1 (com resto 6)
12 / 6 = 2 (com resto zero - divisão exata)

3º) O divisor da divisão exata é 6. Então m.d.c.(48,30)


= 6.
OBS:
1.Dois ou mais números são primos entre si quando o
máximo divisor comum entre eles é o número.
2.Dados dois ou mais números, se um deles é divisor
de todos os outros, então ele é o mdc dos números dados.

Neste processo decompomos todos os números ao Problemas


mesmo tempo, num dispositivo como mostra a figura aci-
ma. O produto dos fatores primos que obtemos nessa de- 1. Uma indústria de tecidos fabrica retalhos de mes-
composição é o m.m.c. desses números. mo comprimento. Após realizarem os cortes necessários,
Portanto, m.m.c.(15,24,60) = 2 x 2 x 2 x 3 x 5 = 120 verificou-se que duas peças restantes tinham as seguintes
OBS: medidas: 156 centímetros e 234 centímetros. O gerente
1. Dados dois ou mais números, se um deles é múlti- de produção ao ser informado das medidas, deu a ordem
plo de todos os outros, então ele é o m.m.c. dos números para que o funcionário cortasse o pano em partes iguais e
dados. de maior comprimento possível. Como ele poderá resolver
2. Dados dois números primos entre si, o mmc deles é essa situação? 
o produto desses números. 2. Uma empresa de logística é composta de três áreas:
administrativa, operacional e vendedores. A área adminis-
Máximo divisor comum (mdc) trativa é composta de 30 funcionários, a operacional de 48
e a de vendedores com 36 pessoas. Ao final do ano, a em-
É o maior divisor comum entre dois ou mais núme- presa realiza uma integração entre as três áreas, de modo
ros naturais. Usamos a abreviação MDC que todos os funcionários participem ativamente. As equi-
pes devem conter o mesmo número de funcionários com
Cálculo do m.d.c o maior número possível. Determine quantos funcionários
devem participar de cada equipe e o número possível de
Vamos estudar dois métodos para encontrar o mdc de equipes. 
dois ou mais números 3. (PUC–SP) Numa linha de produção, certo tipo de
1) Um modo de calcular o m.d.c. de dois ou mais nú- manutenção é feita na máquina A a cada 3 dias, na máqui-
meros é utilizar a decomposição desses números em fato- na B, a cada 4 dias, e na máquina C, a cada 6 dias. Se no dia
res primos: 2 de dezembro foi feita a manutenção nas três máquinas,
- Decompomos os números em fatores primos; após quantos dias as máquinas receberão manutenção no
- O m.d.c. é o produto dos fatores primos comuns. mesmo dia. 
Acompanhe o cálculo do m.d.c. entre 36 e 90: 4. Um médico, ao prescrever uma receita, determina
36 = 2 x 2 x 3 x 3 que três medicamentos sejam ingeridos pelo paciente de
90 = 2 x 3 x 3 x 5 acordo com a seguinte escala de horários: remédio A, de 2
O m.d.c. é o produto dos fatores primos comuns => em 2 horas, remédio B, de 3 em 3 horas e remédio C, de 6
m.d.c.(36,90) = 2 x 3 x 3 em 6 horas. Caso o paciente utilize os três remédios às 8
Portanto m.d.c.(36,90) = 18. horas da manhã, qual será o próximo horário de ingestão
Escrevendo a fatoração do número na forma de potên- dos mesmos?
cia temos:

15
MATEMÁTICA

5. João tinha 20 bolinhas de gude e queria distribuí-las O módulo de +7 é 7 e indica-se |+7| = 7


entre ele e 3 amigos de modo que cada um ficasse com O módulo de –9 é 9 e indica-se |–9| = 9
um número par de bolinhas e nenhum deles ficasse com o O módulo de qualquer número inteiro, diferente de
mesmo número que o outro. Com quantas bolinhas ficou zero, é sempre positivo.
cada menino? 
Números Opostos: Dois números inteiros são ditos
Resposta opostos um do outro quando apresentam soma zero; as-
sim, os pontos que os representam distam igualmente da
1. Calculamos o MDC entre 156 e 234 e o resultado é origem.
:  os retalhos devem ter 78 cm de comprimento.  Exemplo: O oposto do número 2 é -2, e o oposto de -2
é 2, pois 2 + (-2) = (-2) + 2 = 0
2. Calculamos o MDC entre 30, 48 e 36. O número de No geral, dizemos que o oposto, ou simétrico, de a
equipes será igual a 19, com 6 participantes cada uma.  é – a, e vice-versa; particularmente o oposto de zero é o
próprio zero.
3. Calculamos o MMC entre 3, 4 e 6. Concluímos que Adição de Números Inteiros
após 12 dias, a manutenção será feita nas três máquinas.
Portanto, dia 14 de dezembro.  Para melhor entendimento desta operação, associare-
mos aos números inteiros positivos a idéia de ganhar e aos
4. Calculamos o MMC entre 2, 3 e 6. De 6 em 6 horas os números inteiros negativos a idéia de perder.
três remédios serão ingeridos juntos. Portanto, o próximo Ganhar 5 + ganhar 3 = ganhar 8 (+5) + (+3) = (+8)
horário será às 14 horas. Perder 3 + perder 4 = perder 7 (-3) + (-4) = (-7)
5. Se o primeiro menino ficar com 2 bolinhas, sobrarão Ganhar 8 + perder 5 = ganhar 3 (+8) + (-5) = (+3)
18 bolinhas para os outros 3 meninos. Se o segundo rece- Perder 8 + ganhar 5 = perder 3 (-8) + (+5) = (-3)
ber 4, sobrarão 14 bolinhas para os outros dois meninos.
O terceiro menino receberá 6 bolinhas e o quarto receberá O sinal (+) antes do número positivo pode ser dispen-
8 bolinhas. sado, mas o sinal (–) antes do número negativo nunca pode
ser dispensado.
Conjunto dos Números Inteiros – Z Propriedades da adição de números inteiros: O con-
junto Z é fechado para a adição, isto é, a soma de dois
Definimos o conjunto dos números inteiros como a re- números inteiros ainda é um número inteiro.
união do conjunto dos números naturais (N = {0, 1, 2, 3,
4,..., n,...}, o conjunto dos opostos dos números naturais e o Associativa: Para todos a,b,c em Z:
zero. Este conjunto é denotado pela letra Z (Zahlen=núme- a + (b + c) = (a + b) + c
ro em alemão). Este conjunto pode ser escrito por: Z = {..., 2 + (3 + 7) = (2 + 3) + 7
-4, -3, -2, -1, 0, 1, 2, 3, 4, ...}
O conjunto dos números inteiros possui alguns sub- Comutativa: Para todos a,b em Z:
conjuntos notáveis: a+b=b+a
3+7=7+3
- O conjunto dos números inteiros não nulos:
Z* = {..., -4, -3, -2, -1, 1, 2, 3, 4,...}; Elemento Neutro: Existe 0 em Z, que adicionado a
Z* = Z – {0} cada z em Z, proporciona o próprio z, isto é:
z+0=z
- O conjunto dos números inteiros não negativos: 7+0=7
Z+ = {0, 1, 2, 3, 4,...}
Z+ é o próprio conjunto dos números naturais: Z+ = N Elemento Oposto: Para todo z em Z, existe (-z) em Z,
tal que
- O conjunto dos números inteiros positivos: z + (–z) = 0
Z*+ = {1, 2, 3, 4,...} 9 + (–9) = 0

- O conjunto dos números inteiros não positivos: Subtração de Números Inteiros


Z_ = {..., -5, -4, -3, -2, -1, 0}
A subtração é empregada quando:
- O conjunto dos números inteiros negativos: - Precisamos tirar uma quantidade de outra quantida-
Z*_ = {..., -5, -4, -3, -2, -1} de;
- Temos duas quantidades e queremos saber quanto
Módulo: chama-se módulo de um número inteiro a uma delas tem a mais que a outra;
distância ou afastamento desse número até o zero, na reta - Temos duas quantidades e queremos saber quanto
numérica inteira. Representa-se o módulo por | |. falta a uma delas para atingir a outra.
O módulo de 0 é 0 e indica-se |0| = 0

16
MATEMÁTICA

A subtração é a operação inversa da adição. Sinais dos números Resultado do produto


Observe que: 9 – 5 = 4 4+5=9 Iguais Positivo
diferença Diferentes Negativo
subtraendo
minuendo Propriedades da multiplicação de números intei-
ros: O conjunto Z é fechado para a multiplicação, isto é, a
Considere as seguintes situações: multiplicação de dois números inteiros ainda é um número
inteiro.
1- Na segunda-feira, a temperatura de Monte Sião
passou de +3 graus para +6 graus. Qual foi a variação da Associativa: Para todos a,b,c em Z:
temperatura? a x (b x c) = (a x b) x c
Esse fato pode ser representado pela subtração: (+6) 2 x (3 x 7) = (2 x 3) x 7
– (+3) = +3
Comutativa: Para todos a,b em Z:
2- Na terça-feira, a temperatura de Monte Sião, duran- axb=bxa
te o dia, era de +6 graus. À Noite, a temperatura baixou de 3x7=7x3
3 graus. Qual a temperatura registrada na noite de terça-
feira? Elemento neutro: Existe 1 em Z, que multiplicado por
Esse fato pode ser representado pela adição: (+6) + todo z em Z, proporciona o próprio z, isto é:
(–3) = +3 zx1=z
Se compararmos as duas igualdades, verificamos que 7x1=7
(+6) – (+3) é o mesmo que (+6) + (–3). Elemento inverso: Para todo inteiro z diferente de
zero, existe um inverso z–1=1/z em Z, tal que
Temos: z x z–1 = z x (1/z) = 1
(+6) – (+3) = (+6) + (–3) = +3 9 x 9–1 = 9 x (1/9) = 1
(+3) – (+6) = (+3) + (–6) = –3
(–6) – (–3) = (–6) + (+3) = –3 Distributiva: Para todos a,b,c em Z:
a x (b + c) = (a x b) + (a x c)
Daí podemos afirmar: Subtrair dois números inteiros 3 x (4+5) = (3 x 4) + (3 x 5)
é o mesmo que adicionar o primeiro com o oposto do se-
gundo. Divisão de Números Inteiros

Multiplicação de Números Inteiros


Dividendo divisor dividendo:
Divisor = quociente 0
A multiplicação funciona como uma forma simplificada
Quociente . divisor = dividendo
de uma adição quando os números são repetidos. Podería-
mos analisar tal situação como o fato de estarmos ganhan-
do repetidamente alguma quantidade, como por exemplo, Sabemos que na divisão exata dos números naturais:
ganhar 1 objeto por 30 vezes consecutivas, significa ganhar 40 : 5 = 8, pois 5 . 8 = 40
30 objetos e esta repetição pode ser indicada por um x, 36 : 9 = 4, pois 9 . 4 = 36
isto é: 1 + 1 + 1 ... + 1 + 1 = 30 x 1 = 30
Se trocarmos o número 1 pelo número 2, obteremos: 2 Vamos aplicar esses conhecimentos para estudar a di-
+ 2 + 2 + ... + 2 + 2 = 30 x 2 = 60 visão exata de números inteiros. Veja o cálculo:
Se trocarmos o número 2 pelo número -2, obteremos: (–20) : (+5) = q  (+5) . q = (–20)  q = (–4)
(–2) + (–2) + ... + (–2) = 30 x (-2) = –60 Logo: (–20) : (+5) = - 4
Observamos que a multiplicação é um caso particular
da adição onde os valores são repetidos. Considerando os exemplos dados, concluímos que,
Na multiplicação o produto dos números a e b, pode para efetuar a divisão exata de um número inteiro por ou-
ser indicado por a x b, a . b ou ainda ab sem nenhum sinal tro número inteiro, diferente de zero, dividimos o módulo
entre as letras. do dividendo pelo módulo do divisor. Daí:
Para realizar a multiplicação de números inteiros, deve- - Quando o dividendo e o divisor têm o mesmo sinal, o
mos obedecer à seguinte regra de sinais: quociente é um número inteiro positivo.
(+1) x (+1) = (+1) - Quando o dividendo e o divisor têm sinais diferentes,
(+1) x (-1) = (-1) o quociente é um número inteiro negativo.
(-1) x (+1) = (-1) - A divisão nem sempre pode ser realizada no conjunto
(-1) x (-1) = (+1) Z. Por exemplo, (+7) : (–2) ou (–19) : (–5) são divisões que
não podem ser realizadas em Z, pois o resultado não é um
Com o uso das regras acima, podemos concluir que: número inteiro.

17
MATEMÁTICA

- No conjunto Z, a divisão não é comutativa, não é as- A raiz quadrada (de ordem 2) de um número inteiro a
sociativa e não tem a propriedade da existência do ele- é a operação que resulta em outro número inteiro não ne-
mento neutro. gativo que elevado ao quadrado coincide com o número a.
1- Não existe divisão por zero.
Exemplo: (–15) : 0 não tem significado, pois não existe Observação: Não existe a raiz quadrada de um núme-
um número inteiro cujo produto por zero seja igual a –15. ro inteiro negativo no conjunto dos números inteiros.
2- Zero dividido por qualquer número inteiro, diferente
de zero, é zero, pois o produto de qualquer número inteiro
por zero é igual a zero. Erro comum: Frequentemente lemos em materiais di-
Exemplos: a) 0 : (–10) = 0 b) 0 : (+6) = 0 c) 0 : (–1) dáticos e até mesmo ocorre em algumas aulas aparecimen-
=0 to de:
√9 = ±3
Potenciação de Números Inteiros mas isto está errado. O certo é:
√9 = +3
A potência an do número inteiro a, é definida como um
produto de n fatores iguais. O número a é denominado a
Observamos que não existe um número inteiro não
base e o número n é o expoente.
negativo que multiplicado por ele mesmo resulte em um
an = a x a x a x a x ... x a número negativo.
a é multiplicado por a n vezes A raiz cúbica (de ordem 3) de um número inteiro a é a
operação que resulta em outro número inteiro que elevado
Exemplos:33 = (3) x (3) x (3) = 27 ao cubo seja igual ao número a. Aqui não restringimos os
(-5)5 = (-5) x (-5) x (-5) x (-5) x (-5) = -3125 nossos cálculos somente aos números não negativos.
(-7)² = (-7) x (-7) = 49
(+9)² = (+9) x (+9) = 81 Exemplos
- Toda potência de base positiva é um número inteiro 3
positivo. (a) 8 = 2, pois 2³ = 8.
Exemplo: (+3)2 = (+3) . (+3) = +9
(b)
3
− 8 = –2, pois (–2)³ = -8.
- Toda potência de base negativa e expoente par é 3
um número inteiro positivo. (c) 27 = 3, pois 3³ = 27.
Exemplo: (– 8)2 = (–8) . (–8) = +64
(d)
3
− 27 = –3, pois (–3)³ = -27.
- Toda potência de base negativa e expoente ímpar é
um número inteiro negativo. Observação: Ao obedecer à regra dos sinais para o
Exemplo: (–5)3 = (–5) . (–5) . (–5) = –125 produto de números inteiros, concluímos que:
(a) Se o índice da raiz for par, não existe raiz de número
Propriedades da Potenciação: inteiro negativo.
Produtos de Potências com bases iguais: Conserva- (b) Se o índice da raiz for ímpar, é possível extrair a raiz
se a base e somam-se os expoentes. (–7)3 . (–7)6 = (–7)3+6 de qualquer número inteiro.
= (–7)9
Questões
Quocientes de Potências com bases iguais: Conser-
1 - (TRF 2ª – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2012) Uma
va-se a base e subtraem-se os expoentes. (+13)8 : (+13)6 =
operação λ é definida por:
(+13)8 – 6 = (+13)2
wλ = 1 − 6w, para todo inteiro w.
Com base nessa definição, é correto afirmar que a
Potência de Potência: Conserva-se a base e multipli- soma 2λ + (1λ) λ é igual a
cam-se os expoentes. [(+4)5]2 = (+4)5 . 2 = (+4)10 A) −20.
B) −15.
Potência de expoente 1: É sempre igual à base. (+9)1 C) −12.
= +9 (–13)1 = –13 D) 15.
E) 20.
Potência de expoente zero e base diferente de zero:
É igual a 1. Exemplo: (+14)0 = 1 (–35)0 = 1 2 - (UEM/PR – AUXILIAR OPERACIONAL – UEM/2014)
Ruth tem somente R$ 2.200,00 e deseja gastar a maior
Radiciação de Números Inteiros quantidade possível, sem ficar devendo na loja.
A raiz n-ésima (de ordem n) de um número inteiro a é Verificou o preço de alguns produtos:
a operação que resulta em outro número inteiro não ne- TV: R$ 562,00
gativo b que elevado à potência n fornece o número a. O DVD: R$ 399,00
número n é o índice da raiz enquanto que o número a é o Micro-ondas: R$ 429,00
radicando (que fica sob o sinal do radical). Geladeira: R$ 1.213,00

18
MATEMÁTICA

Na aquisição dos produtos, conforme as condições mencionadas, e pagando a compra em dinheiro, o troco recebido
será de:
A) R$ 84,00
B) R$ 74,00
C) R$ 36,00
D) R$ 26,00
E) R$ 16,00
3 - (PREF. JUNDIAI/SP – ELETRICISTA – MAKIYAMA/2013) Analise as operações a seguir:

I abac=ax

II

III
De acordo com as propriedades da potenciação, temos que, respectivamente, nas operações I, II e III:
A) x=b-c, y=b+c e z=c/2.
B) x=b+c, y=b-c e z=2c.
C) x=2bc, y=-2bc e z=2c.
D) x=c-b, y=b-c e z=c-2.
E) x=2b, y=2c e z=c+2.

4 - (BNDES – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESGRANRIO/2013) Multiplicando-se o maior número inteiro menor do


que 8 pelo menor número inteiro maior do que - 8, o resultado encontrado será
A) - 72
B) - 63
C) - 56
D) - 49
E) – 42

5 - (SEPLAG - POLÍCIA MILITAR/MG - ASSISTENTE ADMINISTRATIVO - FCC/2012) Em um jogo de tabuleiro, Carla


e Mateus obtiveram os seguintes resultados:

Ao término dessas quatro partidas,


A) Carla perdeu por uma diferença de 150 pontos.
B) Mateus perdeu por uma diferença de 175 pontos.
C) Mateus ganhou por uma diferença de 125 pontos.
D) Carla e Mateus empataram.

6 – (Operador de máq./Pref.Coronel Fabriciano/MG) Quantos são os valores inteiros e positivos de x para os quais
é um número inteiro?

19
MATEMÁTICA

A) 0 4 - RESPOSTA: “D”.
B) 1 Maior inteiro menor que 8 é o 7
C) 2 Menor inteiro maior que -8 é o -7.
D) 3 Portanto: 7⋅(-7)=-49
E) 4
5 - RESPOSTA: “C”.
7- (CASA DA MOEDA) O quadro abaixo indica o nú- Carla: 520-220-485+635=450 pontos
mero de passageiros num vôo entre Curitiba e Belém, com Mateus: -280+675+295-115=575 pontos
duas escalas, uma no Rio de Janeiro e outra em Brasília. Os Diferença: 575-450=125 pontos
números indicam a quantidade de passageiros que subi-
ram no avião e os negativos, a quantidade dos que desce- 6 - RESPOSTA:“C”.
ram em cada cidade. Fazendo substituição dos valores de x, dentro dos con-
juntos do inteiros positivos temos:
Curtiba +240 x=0 ; x=1
-194
Rio de Janeiro
+158
-108
Brasília
+94
, logo os únicos números que satisfa-
O número de passageiros que chegou a Belém foi: zem a condição é x= 0 e x=5 , dois números apenas.
A) 362
B) 280 7 - RESPOSTA:“D”.
C) 240 240- 194 +158 -108 +94 = 190
D) 190
E) 135 Números Racionais – Q

Respostas m Um número racional é o que pode ser escrito na forma


, onde m e n são números inteiros, sendo que n deve
n
1 - RESPOSTA:“E”. ser diferente de zero. Frequentemente usamos m/n para
Pela definição: significar a divisão de m por n.
Fazendo w=2 Como podemos observar, números racionais podem
ser obtidos através da razão entre dois números inteiros,
razão pela qual, o conjunto de todos os números racionais
é denotado por Q. Assim, é comum encontrarmos na lite-
ratura a notação:
m
Q={ : m e n em Z, n diferente de zero}
n

2 - RESPOSTA: “D”. No conjunto Q destacamos os seguintes subconjuntos:


Geladeira + Microondas + DVD = 1213+429+399 =
2041 - Q* = conjunto dos racionais não nulos;
Geladeira + Microondas + TV = 1213+429+562 = - Q+ = conjunto dos racionais não negativos;
2204, extrapola o orçamento - Q*+ = conjunto dos racionais positivos;
Geladeira +TV + DVD=1213+562+399=2174, é a maior - Q _ = conjunto dos racionais não positivos;
quantidade gasta possível dentro do orçamento. - Q*_ = conjunto dos racionais negativos.
Troco:2200-2174=26 reais
Representação Decimal das Frações
p
3 - RESPOSTA: “B”. Tomemos um número racional q , tal que p não seja
múltiplo de q. Para escrevê-lo na forma decimal, basta
I da propriedade das potências, temos: efetuar a divisão do numerador pelo denominador.
Nessa divisão podem ocorrer dois casos:

1º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula,


II um número finito de algarismos. Decimais Exatos:
2 = 0,4
III 5

20
MATEMÁTICA

1 = 0,25 Subtraindo, membro a membro, a primeira igualdade


4 da segunda:
10x – x = 3,333... – 0,333... ⇒ 9x = 3 ⇒ x = 3/9
35 = 8,75
4 Assim, a geratriz de 0,333... é a fração 3 .
9
153 = 3,06 Exemplo 2
50
Seja a dízima 5, 1717...
2º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula,
infinitos algarismos (nem todos nulos), repetindo-se Façamos x = 5,1717... e 100x = 517,1717... .
periodicamente. Decimais Periódicos ou Dízimas Periódicas: Subtraindo membro a membro, temos:
99x = 512 ⇒ x = 512/99
1
= 0,333...
3 Assim, a geratriz de 5,1717... é a fração 512 .
99
1 = 0,04545... Exemplo 3
22
Seja a dízima 1, 23434...
167 = 2,53030...
66 Façamos x = 1,23434... 10x = 12,3434... 1000x =
Representação Fracionária dos Números Decimais 1234,34... .
Subtraindo membro a membro, temos:
Trata-se do problema inverso: estando o número 990x = 1234,34... – 12,34... ⇒ 990x = 1222 ⇒ x
racional escrito na forma decimal, procuremos escrevê-lo = 1222/990
na forma de fração. Temos dois casos:
Simplificando, obtemos x = 611 , a fração geratriz da
1º) Transformamos o número em uma fração cujo dízima 1, 23434... 495
numerador é o número decimal sem a vírgula e o
denominador é composto pelo numeral 1, seguido de Módulo ou valor absoluto: É a distância do ponto que
tantos zeros quantas forem as casas decimais do número representa esse número ao ponto de abscissa zero.
decimal dado:

0,9 = 9 Exemplo: Módulo de - 3 é 3 . Indica-se - 3 = 3


10 2 2 2 2

3
5,7 =
57 Módulo de + 3 é 3 . Indica-se + 3 =
10 2 2 2 2

0,76 = 76 Números Opostos: Dizemos que – 32 e 32 são números


100 racionais opostos ou simétricos e cada um deles é o oposto
do outro. As distâncias dos pontos – 3 e 3 ao ponto zero
2 2
3,48 = 348 da reta são iguais.
100 Soma (Adição) de Números Racionais

0,005 = 5 = 1 Como todo número racional é uma fração ou pode ser


1000 200 escrito na forma de uma fração, definimos a adição entre
a c
os números racionais e , da mesma forma que a
2º) Devemos achar a fração geratriz da dízima dada; soma de frações, através de: d
b
para tanto, vamos apresentar o procedimento através de a ad + bc
alguns exemplos: + c =
b d bd
Exemplo 1 Propriedades da Adição de Números Racionais

Seja a dízima 0, 333... . O conjunto Q é fechado para a operação de adição, isto


é, a soma de dois números racionais ainda é um número
Façamos x = 0,333... e multipliquemos ambos os racional.
membros por 10: 10x = 0,333 - Associativa: Para todos a, b, c em Q: a + ( b + c ) = (
a+b)+c

21
MATEMÁTICA

- Comutativa: Para todos a, b em Q: a + b = b + a Potenciação de Números Racionais


- Elemento neutro: Existe 0 em Q, que adicionado a
todo q em Q, proporciona o próprio q, isto é: q + 0 = q A potência qn do número racional q é um produto de
- Elemento oposto: Para todo q em Q, existe -q em Q, n fatores iguais. O número q é denominado a base e o
tal que q + (–q) = 0 número n é o expoente.
qn = q × q × q × q × ... × q, (q aparece n vezes)
Subtração de Números Racionais
Exemplos:
A subtração de dois números racionais p e q é a própria 3
⎛ 2⎞ ⎛ 2⎞ ⎛ 2⎞ ⎛ 2⎞ 8
operação de adição do número p com o oposto de q, isto é: a) ⎜ ⎟ = ⎜ ⎟ .⎜ ⎟ .⎜ ⎟ =
⎝ 5 ⎠ ⎝ 5 ⎠ ⎝ 5 ⎠ ⎝ 5 ⎠ 125
p – q = p + (–q)

Multiplicação (Produto) de Números Racionais b)

Como todo número racional é uma fração ou pode ser c) (–5)² = (–5) . ( –5) = 25
escrito na forma de uma fração, definimos o produto de
dois números racionais a e c , da mesma forma que o d) (+5)² = (+5) . (+5) = 25
b d
produto de frações, através de:
Propriedades da Potenciação: Toda potência com
a c ac expoente 0 é igual a 1.
x =
b d bd 0
⎛ 2⎞ = 1
O produto dos números racionais a e b também pode ⎜⎝ + ⎟⎠
5
ser indicado por a × b, axb, a.b ou ainda ab sem nenhum
sinal entre as letras.
- Toda potência com expoente 1 é igual à própria base.
Para realizar a multiplicação de números racionais, 1
devemos obedecer à mesma regra de sinais que vale em ⎛ 9⎞ 9
toda a Matemática: ⎜⎝ − ⎟⎠ = - 4
4
(+1) × (+1) = (+1)
(+1) × (-1) = (-1)
- Toda potência com expoente negativo de um número
(-1) × (+1) = (-1)
racional diferente de zero é igual a outra potência que tem
(-1) × (-1) = (+1)
a base igual ao inverso da base anterior e o expoente igual
ao oposto do expoente anterior.
Podemos assim concluir que o produto de dois
−2 2
números com o mesmo sinal é positivo, mas o produto de ⎛ 3⎞ ⎛ 5 ⎞ 25
dois números com sinais diferentes é negativo. ⎜⎝ − ⎟⎠ .⎜⎝ − ⎟⎠ =
5 3 9
- Toda potência com expoente ímpar tem o mesmo
Propriedades da Multiplicação de Números
sinal da base.
Racionais 3
⎛ 2⎞ ⎛ 2⎞ ⎛ 2⎞ ⎛ 2⎞ 8
O conjunto Q é fechado para a multiplicação, isto é, ⎜⎝ ⎟⎠ = ⎜⎝ ⎟⎠ .⎜⎝ ⎟⎠ .⎜⎝ ⎟⎠ =
3 3 3 3 27
o produto de dois números racionais ainda é um número
racional.
- Toda potência com expoente par é um número
- Associativa: Para todos a, b, c em Q: a × ( b × c ) = (
positivo.
a×b)×c
2
- Comutativa: Para todos a, b em Q: a × b = b × a ⎛ 1⎞ ⎛ 1⎞ ⎛ 1⎞ 1
- Elemento neutro: Existe 1 em Q, que multiplicado por ⎜⎝ − ⎟⎠ = ⎜⎝ − ⎟⎠ .⎜⎝ − ⎟⎠ =
5 5 5 25
todo q em Q, proporciona o próprio q, isto é: q × 1 = q
a em Q, q diferente
- Elemento inverso: Para todo q =
-1 b - Produto de potências de mesma base. Para reduzir um
de zero, existe q =
-1 b em Q: q × q = 1 a x
b =1 a b produto de potências de mesma base a uma só potência,
a conservamos a base e somamos os expoentes.
2 3 2+3 5
- Distributiva: Para todos a, b, c em Q: a × ( b + c ) = ( ⎛ 2⎞ ⎛ 2⎞ ⎛ 2 2⎞ ⎛ 2 2 2⎞ ⎛ 2⎞ ⎛ 2⎞
a×b)+(a×c) ⎜⎝ ⎟⎠ .⎜⎝ ⎟⎠ = ⎜⎝ . ⎟⎠ .⎜⎝ . . ⎟⎠ = ⎜⎝ ⎟⎠ =⎜ ⎟
⎝ 5⎠
5 5 5 5 5 5 5 5
Divisão de Números Racionais
- Quociente de potências de mesma base. Para reduzir
A divisão de dois números racionais p e q é a própria
um quociente de potências de mesma base a uma só
operação de multiplicação do número p pelo inverso de q,
potência, conservamos a base e subtraímos os expoentes.
isto é: p ÷ q = p × q-1

22
MATEMÁTICA

Questões

1 - (PREF. JUNDIAI/SP – AGENTE DE SERVIÇOS OPE-


RACIONAIS – MAKIYAMA/2013) Na escola onde estudo,
¼ dos alunos tem a língua portuguesa como disciplina fa-
- Potência de Potência. Para reduzir uma potência de vorita, 9/20 têm a matemática como favorita e os demais
potência a uma potência de um só expoente, conservamos têm ciências como favorita. Sendo assim, qual fração repre-
a base e multiplicamos os expoentes senta os alunos que têm ciências como disciplina favorita?
A) 1/4
B) 3/10
C) 2/9
D) 4/5
E) 3/2
Radiciação de Números Racionais
Se um número representa um produto de dois ou mais 2 - (UEM/PR – AUXILIAR OPERACIONAL – UEM/2014)
fatores iguais, então cada fator é chamado raiz do número. Dirce comprou 7 lapiseiras e pagou R$ 8,30, em cada uma
Vejamos alguns exemplos: delas. Pagou com uma nota de 100 reais e obteve um des-
conto de 10 centavos. Quantos reais ela recebeu de troco?
Exemplo 1 A) R$ 40,00
B) R$ 42,00
4 Representa o produto 2 . 2 ou 22. Logo, 2 é a raiz C) R$ 44,00
quadrada de 4. Indica-se √4= 2. D) R$ 46,00
E) R$ 48,00
Exemplo 2
2
3 - (FUNDAÇÃO CASA – AGENTE DE APOIO OPERA-
1
Representa o produto 3 . 3 ou
1 1 ⎛ 1⎞ . Logo,
1
é a raiz CIONAL – VUNESP/2013) De um total de 180 candidatos,
9 ⎝⎜ 3 ⎠⎟ 3
quadrada de 19 .Indica-se 1 = 3 2/5 estudam inglês, 2/9 estudam francês, 1/3estuda espa-
1

nhol e o restante estuda alemão. O número de candidatos


9

Exemplo 3 que estuda alemão é:


A) 6.
0,216 Representa o produto 0,6 . 0,6 . 0,6 ou (0,6)3. B) 7.
Logo, 0,6 é a raiz cúbica de 0,216. Indica-se 3 0,216 = 0,6. C) 8.
D) 9.
Assim, podemos construir o diagrama: E) 10.

4 - (FUNDAÇÃO CASA – AGENTE DE APOIO OPERA-


N Z Q
CIONAL – VUNESP/2013) Em um estado do Sudeste, um
Agente de Apoio Operacional tem um salário mensal de:
salário­base R$ 617,16 e uma gratificação de R$ 185,15. No
mês passado, ele fez 8 horas extras a R$ 8,50 cada hora,
mas precisou faltar um dia e foi descontado em R$ 28,40.
Um número racional, quando elevado ao quadrado, dá No mês passado, seu salário totalizou
o número zero ou um número racional positivo. Logo, os A) R$ 810,81.
números racionais negativos não têm raiz quadrada em Q. B) R$ 821,31.
C) R$ 838,51.
O número -100 não tem raiz quadrada em Q, pois D) R$ 841,91.
9
tanto -10 como +10 , quando elevados ao quadrado, dão E) R$ 870,31.
3 3
100
.
9
Um número racional positivo só tem raiz quadrada no 5 - (Pref. Niterói) Simplificando a expressão abaixo
conjunto dos números racionais se ele for um quadrado
perfeito. Obtém-se :
A) ½
2
O número não tem raiz quadrada em Q, pois não B) 1
3
existe número racional que elevado ao quadrado dê 2 . C) 3/2
3 D) 2
E) 3

23
MATEMÁTICA

6 - (SABESP – APRENDIZ – FCC/2012) Em um jogo 10 - (PREF. JUNDIAI/SP – AGENTE DE SERVIÇOS


matemático, cada jogador tem direito a 5 cartões marcados OPERACIONAIS – MAKIYAMA/2013) Quando pergunta-
com um número, sendo que todos os jogadores recebem do sobre qual era a sua idade, o professor de matemática
os mesmos números. Após todos os jogadores receberem respondeu:
seus cartões, aleatoriamente, realizam uma determinada “O produto das frações 9/5 e 75/3 fornece a minha
tarefa que também é sorteada. Vence o jogo quem cumprir idade!”.
a tarefa corretamente. Em uma rodada em que a tarefa era Sendo assim, podemos afirmar que o professor tem:
colocar os números marcados nos cartões em ordem cres- A) 40 anos.
cente, venceu o jogador que apresentou a sequência B) 35 anos.
C) 45 anos.
D) 30 anos.
E) 42 anos.

Respostas

1 - RESPOSTA: “B”.
Somando português e matemática:

7 – (Prof./Prefeitura de Itaboraí) Se x = 0,181818..., O que resta gosta de ciências:


então o valor numérico da expressão:

2 - RESPOSTA: “B”.
A) 34/39
B) 103/147
C) 104/147 Como recebeu um desconto de 10 centavos, Dirce pa-
D) 35/49 gou 58 reais
E) 106/147 Troco:100-58=42 reais

8 - (SABESP – APRENDIZ – FCC/2012) Mariana abriu


seu cofrinho com 120 moedas e separou-as: 3 - RESPOSTA: “C”.
− 1 real: ¼ das moedas
− 50 centavos: 1/3 das moedas
− 25 centavos: 2/5 das moedas
− 10 centavos: as restantes Mmc(3,5,9)=45
Mariana totalizou a quantia contida no cofre em
A) R$ 62,20.
B) R$ 52,20.
C) R$ 50,20. O restante estuda alemão: 2/45
D) R$ 56,20.
E) R$ 66,20.

9 - (PM/SE – SOLDADO 3ªCLASSE – FUNCAB/2014)


Numa operação policial de rotina, que abordou 800 pes-
soas, verificou-se que 3/4 dessas pessoas eram homens e 4 - RESPOSTA: “D”.
1/5 deles foram detidos. Já entre as mulheres abordadas,
1/8 foram detidas.
Qual o total de pessoas detidas nessa operação policial?
A) 145
B) 185
C) 220 Salário foi R$ 841,91.
D) 260
E) 120

24
MATEMÁTICA

5 - RESPOSTA: “B”.
1,3333= 12/9 = 4/3
1,5 = 15/10 = 3/2

Total de pessoas detidas: 120+25=145

10 - RESPOSTA: “C”.

6 - RESPOSTA: “D”.

Números Irracionais
Os números racionais, aqueles que podem ser escritos
na forma de uma fração  a/b onde a e b são dois números
inteiros, com a condição de que b seja diferente de zero,
uma vez que sabemos da impossibilidade matemática da
A ordem crescente é : divisão por zero.
Vimos também, que todo número racional pode ser es-
crito na forma de um número decimal periódico, também
7 - RESPOSTA: “B”. conhecido como dízima periódica.
x=0,181818... temos então pela transformação na fra- Vejam os exemplos de números racionais a seguir:
ção geratriz: 18/99 = 2/11, substituindo: 3 / 4 = 0,75 = 0, 750000...
- 2 / 3 = - 0, 666666...
1 / 3 = 0, 333333...
2 / 1 = 2 = 2, 0000...
4 / 3 = 1, 333333...
- 3 / 2 = - 1,5 = - 1, 50000...
0 = 0, 000...  

Existe, entretanto, outra classe de números que não


8 - RESPOSTA: “A”. podem ser escritos na forma de fração a/b, conhecidos
como números irracionais. 

Exemplo
O número real abaixo é um número irracional, embora pa-
reça uma dízima periódica: x = 0,10100100010000100000...

Observe que o número de zeros após o algarismo 1


aumenta a cada passo. Existem infinitos números reais que
não são dízimas periódicas e dois números irracionais mui-
to importantes, são:

Mariana totalizou R$ 62,20. e = 2,718281828459045...,


Pi () = 3,141592653589793238462643...

9 - RESPOSTA: “A”. Que são utilizados nas mais diversas aplicações práti-
cas como: cálculos de áreas, volumes, centros de gravida-
de, previsão populacional, etc.

Classificação dos Números Irracionais


Existem dois tipos de números irracionais:
- Números reais algébricos irracionais: são raí-
zes de polinômios com coeficientes inteiros. Todo número
Como 3/4 eram homens, 1/4 eram mulheres real que pode ser representado através de uma quantidade
finita de somas, subtrações, multiplicações, divisões e raí-
zes de grau inteiro a partir dos números inteiros é um nú-
ou 800-600=200 mulheres mero algébrico, por exemplo,

25
MATEMÁTICA

II.
  .

A recíproca não é verdadeira: existem números algé-


bricos que não podem ser expressos através de radicais, III. Efetuando-se obtém-
conforme o teorema de Abel-Ruffini. se um número maior que 5.

- Números reais transcendentes: não são raízes de Relativamente a essas afirmações, é certo que
polinômios com coeficientes inteiros. Várias constantes
matemáticas são transcendentes, como pi ( ) e o núme- A) I,II, e III são verdadeiras.
ro de Euler ( ). Pode-se dizer que existem mais números B) Apenas I e II são verdadeiras.
transcendentes do que números algébricos (a comparação C) Apenas II e III são verdadeiras.
entre conjuntos infinitos pode ser feita na teoria dos con- D) Apenas uma é verdadeira.
juntos). E) I,II e III são falsas.
A definição mais genérica de números algébricos e
transcendentes é feita usando-se números complexos. 2 – (DPE/RS – ANALISTA ADMINISTRAÇÃO –
FCC/2013) A soma S é dada por:
Identificação de números irracionais
Fundamentado nas explanações anteriores, podemos
afirmar que: Dessa forma, S é igual a
- Todas as dízimas periódicas são números racionais.
- Todos os números inteiros são racionais.
- Todas as frações ordinárias são números racionais.
- Todas as dízimas não periódicas são números irra-
cionais.
- Todas as raízes inexatas são números irracionais.
- A soma de um número racional com um número irra-
cional é sempre um número irracional.
- A diferença de dois números irracionais, pode ser um 3 - (CÂMARA DE CANITAR/SP – RECEPCIONISTA –
número racional. INDEC/2013) O resultado do produto:
é:
Exemplo:  -  = 0 e 0 é um número racional.
- O quociente de dois números irracionais, pode ser
um número racional. B) 2

Exemplo:  :  =  = 2  e 2 é um número racional.


- O produto de dois números irracionais, pode ser um
número racional.
Respostas
Exemplo:  .  =  = 5 e 5 é um número racional.
- A união do conjunto dos números irracionais com o 1 - RESPOSTA: “B”.
conjunto dos números racionais, resulta num conjunto de-
nominado conjunto R  dos números reais. I
- A interseção do conjunto dos números racionais com
o conjunto dos números irracionais, não possui elementos
comuns e, portanto,  é igual ao conjunto vazio (  ).
Simbolicamente, teremos:
Q I=R
Q  I = 

Questões II
1 - (TRF 2ª – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2012)
Considere as seguintes afirmações:
I. Para todo número inteiro x, tem-se 10x=4,4444...
-x=0,4444.....
9x=4
x=4/9

26
MATEMÁTICA

III

Portanto, apenas as afirmativas I e II são verdadeiras.

2 - RESPOSTA: “D”.

3 - RESPOSTA: “D”.

UNIDADES DE MEDIDAS:
COMPRIMENTO, ÁREA, VOLUME, MASSA,
TEMPO, ÂNGULO E VELOCIDADE.
CONVERSÃO DE MEDIDAS.

Sistema de Medidas Decimais

Um sistema de medidas é um conjunto de unidades de medida que mantém algumas relações entre si. O sistema
métrico decimal é hoje o mais conhecido e usado no mundo todo. Na tabela seguinte, listamos as unidades de medida de
comprimento do sistema métrico. A unidade fundamental é o metro, porque dele derivam as demais.

Unidades de Comprimento
km hm dam m dm cm mm
quilômetro hectômetro decâmetro metro decímetro centímetro milímetro
1000m 100m 10m 1m 0,1m 0,01m 0,001m

Há, de fato, unidades quase sem uso prático, mas elas têm uma função. Servem para que o sistema tenha um padrão:
cada unidade vale sempre 10 vezes a unidade menor seguinte.
Por isso, o sistema é chamado decimal.

E há mais um detalhe: embora o decímetro não seja útil na prática, o decímetro cúbico é muito usado com o nome
popular de litro.
As unidades de área do sistema métrico correspondem às unidades de comprimento da tabela anterior.
São elas: quilômetro quadrado (km2), hectômetro quadrado (hm2), etc. As mais usadas, na prática, são o quilômetro
quadrado, o metro quadrado e o hectômetro quadrado, este muito importante nas atividades rurais com o nome de hec-
tare (ha): 1 hm2 = 1 ha.

27
MATEMÁTICA

No caso das unidades de área, o padrão muda: uma unidade é 100 vezes a menor seguinte e não 10 vezes, como nos
comprimentos. Entretanto, consideramos que o sistema continua decimal, porque 100 = 102.

Unidades de Área
km2 hm2 dam2 m2 dm2 cm2 mm2
quilômetro hectômetro decâmetro metro decímetro centímetro milímetro
quadrado quadrado quadrado quadrado quadrado quadrado quadrado
1000000m2 10000m2 100m2 1m2 0,01m2 0,0001m2 0,000001m2

Agora, vejamos as unidades de volume. De novo, temos a lista: quilômetro cúbico (km3), hectômetro cúbico (hm3), etc.
Na prática, são muitos usados o metro cúbico e o centímetro cúbico.
Nas unidades de volume, há um novo padrão: cada unidade vale 1000 vezes a unidade menor seguinte. Como 1000 =
103, o sistema continua sendo decimal.

Unidades de Volume
3 3
km hm dam3 m3 dm3 cm3 mm3
quilômetro hectômetro decâmetro metro decímetro centímetro milímetro
cúbico cúbico cúbico cúbico cúbico cúbico cúbico
1000000000m3 1000000m3 1000m3 1m3 0,001m3 0,000001m3 0,000000001m3

A noção de capacidade relaciona-se com a de volume. Se o volume da água que enche um tanque é de 7 000 litros,
dizemos que essa é a capacidade do tanque. A unidade fundamental para medir capacidade é o litro (l); 1l equivale a 1 dm3.
Cada unidade vale 10 vezes a unidade menor seguinte.

Unidades de Capacidade
kl hl dal l dl cl ml
quilolitro hectolitro decalitro litro decilitro centímetro mililitro
1000l 100l 10l 1l 0,1l 0,01l 0,001l

O sistema métrico decimal inclui ainda unidades de medidas de massa. A unidade fundamental é o grama.

Unidades de Massa
kg hg dag g dg cg mg
quilograma hectograma decagrama grama decigrama centigrama miligrama
1000g 100g 10g 1g 0,1g 0,01g 0,001g

Dessas unidades, só têm uso prático o quilograma, o grama e o miligrama. No dia-a-dia, usa-se ainda a tonelada (t):
1t = 1000 kg.

Não Decimais

Desse grupo, o sistema hora – minuto – segundo, que mede intervalos de tempo, é o mais conhecido.

2h = 2 . 60min = 120 min = 120 . 60s = 7 200s

Para passar de uma unidade para a menor seguinte, multiplica-se por 60.

0,3h não indica 30 minutos nem 3 minutos; como 1 décimo de hora corresponde a 6 minutos, conclui-se que 0,3h =
18min.

Para medir ângulos, também temos um sistema não decimal. Nesse caso, a unidade básica é o grau. Na astronomia, na
cartografia e na navegação são necessárias medidas inferiores a 1º. Temos, então:

1 grau equivale a 60 minutos (1º = 60’)


1 minuto equivale a 60 segundos (1’ = 60”)

28
MATEMÁTICA

Os minutos e os segundos dos ângulos não são, é cla- Respostas


ro, os mesmos do sistema hora – minuto – segundo. Há
uma coincidência de nomes, mas até os símbolos que os 1) Resposta “D”.
indicam são diferentes: Solução: Basta somarmos todos os valores menciona-
1h32min24s é um intervalo de tempo ou um instante dos no enunciado do teste, ou seja:
do dia. 13h 45min + 15 min + 1h 30 min = 15h 30min
1º 32’ 24” é a medida de um ângulo.
Logo, a questão correta é a letra D.
Por motivos óbvios, cálculos no sistema hora – minuto
– segundo são similares a cálculos no sistema grau – mi- 2) Resposta “0, 00348 dl”.
nuto – segundo, embora esses sistemas correspondam a Solução: Como 1 cm3 equivale a 1 ml, é melhor dividir-
grandezas distintas. mos 348 mm3 por mil, para obtermos o seu equivalente em
centímetros cúbicos: 0,348 cm3.
Há ainda um sistema não-decimal, criado há algumas Logo 348 mm3 equivalem a 0, 348 ml, já que cm3 e ml se
décadas, que vem se tornando conhecido. Ele é usado para equivalem.
medir a informação armazenada em memória de compu-
tadores, disquetes, discos compacto, etc. As unidades de Neste ponto já convertemos de uma unidade de medi-
medida são bytes (b), kilobytes (kb), megabytes (Mb), etc. da de volume, para uma unidade de medida de capacidade.
Apesar de se usarem os prefixos “kilo” e “mega”, essas uni- Falta-nos passarmos de mililitros para decilitros, quan-
dades não formam um sistema decimal. do então passaremos dois níveis à esquerda. Dividiremos
então por 10 duas vezes:
Um kilobyte equivale a 210 bytes e 1 megabyte equivale
a 2 kilobytes.
10

Exercícios Logo, 348 mm³ equivalem a 0, 00348 dl.

1. Raquel saiu de casa às 13h 45min, caminhando 3) Resposta “100 dal”.


até o curso de inglês que fica a 15 minutos de sua casa, Solução: Sabemos que 1 m3 equivale a 1.000 l, portanto
e chegou na hora da aula cuja duração é de uma hora e para convertermos de litros a decalitros, passaremos um
meia. A que horas terminará a aula de inglês? nível à esquerda.
a) 14h Dividiremos então 1.000 por 10 apenas uma vez:
b) 14h 30min
c) 15h 15min
d) 15h 30min
e) 15h 45min Isto equivale a passar a vírgula uma casa para a es-
2. 348 mm3 equivalem a quantos decilitros? querda.
Poderíamos também raciocinar da seguinte forma:
3. Quantos decalitros equivalem a 1 m3?
Como 1 m3 equivale a 1 kl, basta fazermos a conversão
4. Passe 50 dm2 para hectômetros quadrados. de 1 kl para decalitros, quando então passaremos dois ní-
veis à direita. Multiplicaremos então 1 por 10 duas vezes:
5. Quantos quilômetros cúbicos equivalem a 14 mm3?

6. Quantos centilitros equivalem a 15 hl? Logo, 100 dal equivalem a 1 m³.

7. Passe 5.200 gramas para quilogramas. 4) Resposta “0, 00005 hm²”.


Solução: Para passarmos de decímetros quadra-
8. Converta 2,5 metros em centímetros. dos para hectômetros quadrados, passaremos três níveis
à esquerda.
9. Quantos minutos equivalem a 5h05min? Dividiremos então por 100 três vezes:

10. Quantos minutos se passaram das 9h50min até as


10h35min?
Isto equivale a passar a vírgula seis casas para a es-
querda.

Portanto, 50 dm² é igual a 0, 00005 hm².

29
MATEMÁTICA

5) Resposta “0,000000000000000014 km3, ou a 1,4 x 10-17 km3”.  


Solução: Para passarmos de milímetros cúbicos para quilômetros cúbicos, passaremos seis níveis à esquerda. Dividire-
mos então 14 por 1000 seis vezes:

Portanto, 0, 000000000000000014 km3, ou a 1,4 x 10-17 km3 se expresso em notação científica equivalem a 14 mm3.

6) Resposta “150.000 cl”.


Solução: Para irmos de hectolitros a centilitros, passaremos quatro níveis à direita.
Multiplicaremos então 15 por 10 quatro vezes:

Isto equivale a passar a vírgula quatro casas para a direita.

Logo, 150.000 cl equivalem a 15 hl.

7) Resposta “5,2 kg”.


Solução: Para passarmos 5.200 gramas para quilogramas, devemos dividir (porque na tabela grama está à direita de
quilograma) 5.200 por 10 três vezes, pois para passarmos de gramas para quilogramas saltamos três níveis à esquerda.
Primeiro passamos de grama para decagrama, depois de decagrama para hectograma e finalmente de hectograma
para quilograma:

Isto equivale a passar a vírgula três casas para a esquerda.

Portanto, 5.200 g são iguais a 5,2 kg.

8) Resposta “250 cm”.


Solução: Para convertermos 2,5 metros em centímetros, devemos multiplicar (porque na tabela metro está à esquerda
de centímetro) 2,5 por 10 duas vezes, pois para passarmos de metros para centímetros saltamos dois níveis à direita.
Primeiro passamos de metros para decímetros e depois de decímetros para centímetros:

Isto equivale a passar a vírgula duas casas para a direita.

Logo, 2,5 m é igual a 250 cm.

9) Resposta “305min”.
Solução:
(5 . 60) + 5 = 305 min.

10) Resposta “45 min”.


Solução: 45 min

Unidade de tempo
A unidade padrão de medida de tempo é o segundo, abreviado por s.
Os múltiplos do segundo são:

Hora Minuto Segundo


h min s
3600 s 60 s 1s

30
MATEMÁTICA

Usamos o sistema sexagesimal, que emprega a base Para multiplicarmos uma unidade de medida de tempo
sessenta. Os múltiplos do segundo enquadram-se nesse por um número natural, devemos multiplicar as horas, mi-
sistema. Repare que cada unidade é sessenta vezes maior nutos e segundos Por esse número natural.
que a unidade que a antecede. Ex: multiplicar 4 h 52 min 8 s por 6
1 h = 60 min 4 h52 min 8 s
1 min = 60 s X6
--------------------------------------
Para transformar uma unidade em outra imediatamen- 24h 312 min48 s
te superior, basta dividi-la por 60 e inferior basta multipli-
ca-la por 60. Como 312 min é maior que 1 hora, devemos descobrir
Ex:3h = 3 . 60 = 180 min quantas horas cabem em 312 minutos. Para isso basta divi-
52 min = 52 . 60 = 3120 s dir 312 por 60 onde o resultado é 5 e o resto é 12.
1020 s = 1020 : 60 = 17 min Então 312 min = 5 h 12 min
420 min = 420 : 60 = 7 h Devemos então acrescentar 5 h a 24 h = 29 h e o re-
sultado fica
Ao usarmos o sistema sexagesimal, cada grupo de 60 for- 29 h 12 min 48 s
ma outra classe; então, 60 segundos formam 1 minuto e 60
minutos formam 1 hora. Para adicionarmos unidades de tempo Problemas
vamos tomar cuidado para posicionar hora embaixo de hora,
minuto embaixo de minuto e segundo embaixo de segundo. 1.Dois amigos partiram às 10h 32 min de Aparecida do
Por exemplo: 1)Para adicionarmos 5h 12 min 37 s a 8 Norte e chegaram a Ribeirão Preto às 16 h 8 min. Quanto
h 20 min 11 s, vamos colocar as unidades iguais uma embai- tempo durou a viagem?
xo da outra e depois adicionar os valores da mesma classe.
2. João nasceu numa terça feira às 13 h 45 min 12 s e
Horaminuto segundo Maria nasceu no mesmo dia, às 8 h 13 min 47 s. Determine
5 1237 a diferença entre os horários de nascimento de João e Ma-
8 2011 ria, nessa ordem.
--------------------------------------------
13 3248 3.Um passageiro embarcou em um ônibus na cidade
2)vamos adicionar 8h 19 min 58 s com 2 h 24 min 39 s A às 14h 32 min 18s, esse ônibus saiu da rodoviária desta
Horaminuto segundo cidade às 14h 55min 40s e chegou à rodoviária da cidade
8 19 58 B às 19h 27min 15s,do mesmo dia. Quanto tempo o passa-
224 39 geiro permaneceu no interior do ônibus?
------------------------------------------- a) 05h 54min 09s
10 43 97 b) 04h 05min 57s
Note que , na casa dos segundos, obtivemos 97 s e c) 05h 05min 09s
vamos decompor esse valor em: d) 04h 54min 57s
97 s = 60 s + 37 s = 1 min + 37 s
Então, devemos retirar 60 s da classe dos segundos e Respostas
acrescentar 1 min na classe dos minutos.
Logo a resposta fica: 10 h 44 min 37 s 1.5 h 36 min

Para subtrair unidades de medida de tempo, o proces- 2.5 h 31 min 25 s


so é semelhante ao usado na adição.
Ex; vamos subtrair 4 h 41 min 44 s de 7 h 53 min 36 s 3.Vamos considerar o horário de chegada à cidade B e
Horaminutosegundo o horário que o passageiro entrou no ônibus
7 5336
4 4144 19 h27 min15 seg
-------------------------------------------------- 14 h32 min18 seg

Perceba que a subtração 36 s – 44 s não é possível nos Para subtrair 18 de 15 não é possível então empresta-
números naturais, então, vamos retirar 1 min de 53 min, mos 1 minuto dos 27
transformar esse 1 min em 60 s e acrescenta-los aos 36 s.
Assim: Que passa a ser 26 e no lugar de 15 seg usamos 15
Hora minuto segundo +60(que é 1 min). Então
7 52 96
4 41 44 75 – 18 = 57 seg.
------------------------------------------------
3 11 52

31
MATEMÁTICA

O mesmo acontece com os minutos. Vamos emprestar Razão entre grandezas de mesma espécie
1 hora das 19 que passa a ser 18 e no lugar de 26 minutos
usamos 26 + 60 ( que é uma hora). Então 86 – 32 = 54 A razão entre duas grandezas de mesma espécie é o
minutos quociente dos números que expressam as medidas dessas
grandezas numa mesma unidade.
Por fim 18 h – 14 h = 4 horas Exemplo
Resp. 4 horas 54 min e 57 seg.
Uma sala tem 18 m2. Um tapete que ocupar o centro
dessa sala mede 384 dm2. Vamos calcular a razão entre a
área do tapete e a área da sala.
PROPORCIONALIDADE: Primeiro, devemos transformar as duas grandezas em
RAZÕES E PROPORÇÕES: uma mesma unidade:
GRANDEZAS DIRETA E INVERSAMENTE Área da sala: 18 m2 = 1 800 dm2
PROPORCIONAIS, REGRA DE TRÊS Área do tapete: 384 dm2
SIMPLES E COMPOSTA. PORCENTAGENS. Estando as duas áreas na mesma unidade, podemos
escrever a razão:
JUROS SIMPLES E COMPOSTOS.
384dm 2 384 16
= =
1800dm 2 1800 75
Razão
Razão entre grandezas de espécies diferentes
Sejam dois números reais a e b, com b ≠ 0. Chama-se
razão entre a e b (nessa ordem) o quociente a b, ou . Exemplo 1
A razão é representada por um número racional, mas é
lida de modo diferente. Considere um carro que às 9 horas passa pelo quilô-
metro 30 de uma estrada e, às 11 horas, pelo quilômetro
Exemplos 170.

3 Distância percorrida: 170 km – 30 km = 140 km


a) A fração lê-se: “três quintos”. Tempo gasto: 11h – 9h = 2h
5
3 Calculamos a razão entre a distância percorrida e o
b) A razão lê-se: “3 para 5”. tempo gasto para isso:
5
Os termos da razão recebem nomes especiais. 140km
= 70km / h
O número 3 é numerador
2h

a) Na fração
3 A esse tipo de razão dá-se o nome de velocidade mé-
5
O número 5 é denominador dia.

O número 3 é antecedente Observe que:


- as grandezas “quilômetro e hora” são de naturezas
a) Na razão 3 diferentes;
5 O número 5 é consequente - a notação km/h (lê-se: “quilômetros por hora”) deve
acompanhar a razão.
Exemplo 1 Exemplo 2

A razão entre 20 e 50 é 20 = 2 ; já a razão entre 50 e A Região Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de
20 é 50 5 . 50 5 Janeiro e São Paulo) tem uma área aproximada de 927 286
=
20 2 km2 e uma população de 66 288 000 habitantes, aproxi-
madamente, segundo estimativas projetadas pelo Instituto
Exemplo 2 Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o ano de
Numa classe de 42 alunos há 18 rapazes e 24 moças. A 1995.
razão entre o número de rapazes e o número de moças é
= , o que significa que para “cada 3 rapazes há 4 moças”.
18 3 Dividindo-se o número de habitantes pela área, obte-
24 4
remos o número de habitantes por km2 (hab./km2):
Por outro lado, a razão entre o número de rapazes e o total
de alunos é dada por 42 = 7 , o que equivale a dizer que “de
18 3
6628000
≅ 71,5hab. / km 2
cada 7 alunos na classe, 3 são rapazes”. 927286

32
MATEMÁTICA

A esse tipo de razão dá-se o nome de densidade de- Se uma criança tem 12 kg, a dosagem correta x é dada
mográfica. por:
A notação hab./km2 (lê-se: ”habitantes por quilômetro
quadrado”) deve acompanhar a razão. 5gotas x
= → x = 30gotas
2kg 12kg
Exemplo 3
Um carro percorreu, na cidade, 83,76 km com 8 L de Por outro lado, se soubermos que foram corretamente
gasolina. Dividindo-se o número de quilômetros percor- ministradas 20 gotas a uma criança, podemos concluir que
ridos pelo número de litros de combustível consumidos, seu “peso” é 8 kg, pois:
teremos o número de quilômetros que esse carro percorre
com um litro de gasolina: 5gotas
= 20gotas / p → p = 8kg
2kg
83, 76km
≅ 10, 47km / l
8l (nota: o procedimento utilizado nesse exemplo é co-
mumente chamado de regra de três simples.)
A esse tipo de razão dá-se o nome de consumo mé-
dio. Propriedades da Proporção
A notação km/l (lê-se: “quilômetro por litro”) deve
acompanhar a razão. O produto dos extremos é igual ao produto dos meios:
essa propriedade possibilita reconhecer quando duas ra-
Exemplo 4 zões formam ou não uma proporção.
Uma sala tem 8 m de comprimento. Esse comprimento
é representado num desenho por 20 cm. Qual é a escala 4 12
e
do desenho? 3 9 formam uma proporção, pois

comprimento i no i desenho 20cm 20cm 1


Produtos dos extremos ← 4.9
 = 3.12
 → Produtos dos
Escala = = = = ou1 : 40 meios. 36 36
comprimento i real 8m 800cm 40
A soma dos dois primeiros termos está para o primeiro
A razão entre um comprimento no desenho e o corres- (ou para o segundo termo) assim como a soma dos dois
pondente comprimento real, chama-se Escala. últimos está para o terceiro (ou para o quarto termo).

Proporção 5 10 ⎧ 5 + 2 10 + 4 7 14
= ⇒⎨ = ⇒ =
2 4 ⎩ 5 10 5 10
A igualdade entre duas razões recebe o nome de pro-
porção. ou
3 6
Na proporção 5 = 10 (lê-se: “3 está para 5 assim como 5 10 ⎧ 5 + 2 10 + 4 7 14
= ⇒⎨ = ⇒ =
6 está para 10”), os números 3 e 10 são chamados extre- 2 4 ⎩ 2 4 2 4
mos, e os números 5 e 6 são chamados meios.
A diferença entre os dois primeiros termos está para
Observemos que o produto 3 x 10 = 30 é igual ao pro- o primeiro (ou para o segundo termo) assim como a dife-
duto 5 x 6 = 30, o que caracteriza a propriedade fundamen- rença entre os dois últimos está para o terceiro (ou para o
tal das proporções: quarto termo).

“Em toda proporção, o produto dos meios é igual 4 8 4 − 3 8 − 6 1 2


= ⇒ = ⇒ =
ao produto dos extremos”. 3 6  4 8 4 8
Exemplo 1
ou
2 6
Na proporção = , temos 2 x 9 = 3 x 6 = 18;
3 9 4 8 4 − 3 8 − 6 1 2
= ⇒ = ⇒ =
e em 1 = 4 , temos 4 x 4 = 1 x 16 = 16. 3 6  3 6 3 6
4 16 A soma dos antecedentes está para a soma dos con-
sequentes assim como cada antecedente está para o seu
Exemplo 2 consequente.

Na bula de um remédio pediátrico recomenda-se a 12 3 ⎧12 + 3 12 15 12


seguinte dosagem: 5 gotas para cada 2 kg do “peso” da = ⇒⎨ = ⇒ =
criança. 8 2 ⎩ 8+2 8 10 8

33
MATEMÁTICA

ou
12 3 ⎧12 + 3 3 15 3
= ⇒⎨ = ⇒ =
8 2 ⎩ 8 + 2 2 10 2

A diferença dos antecedentes está para a diferença dos


consequentes assim como cada antecedente está para o
seu consequente.

3 1 ⎧ 3−1 3 2 3
= ⇒⎨ = ⇒ =
15 5 ⎩15 − 5 15 10 15
ou A razão entre a área do triângulo (CEF) e a área do
3 1 ⎧ 3−1 1 2 1 retângulo é:
= ⇒⎨ = ⇒ = a) 1/8
15 5 ⎩15 − 5 5 10 5 b) 1/6
c) 1/2
Questões d) 2/3
e) 3/4
1 - (VUNESP - AgSegPenClasseI-V1 - 2012) – Em um
concurso participaram 3000 pessoas e foram aprovadas 5 - (CREFITO/SP – ALMOXARIFE – VUNESP/2012) Na
1800. A razão do número de candidatos aprovados para o biblioteca de uma faculdade, a relação entre a quantidade
total de candidatos participantes do concurso é: de livros e de revistas era de 1 para 4. Com a compra de
A) 2/3 novos exemplares, essa relação passou a ser de 2 para 3.
B) 3/5 Assinale a única tabela que está associada corretamen-
C) 5/10 te a essa situação.
D) 2/7
E) 6/7 A)
Nº de livros Nº de revistas
2 – (VNSP1214/001-AssistenteAdministrativo-I – 2012)
– Em uma padaria, a razão entre o número de pessoas que Antes da compra 50 200
tomam café puro e o número de pessoas que tomam café Após a compra 200 300
com leite, de manhã, é 2/3. Se durante uma semana, 180
pessoas tomarem café de manhã nessa padaria, e supondo B)
que essa razão permaneça a mesma, pode-se concluir que
Nº de livros Nº de revistas
o número de pessoas que tomarão café puro será:
A) 72 Antes da compra 50 200
B) 86 Após a compra 300 200
C) 94
D) 105 C)
E) 112
Nº de livros Nº de revistas
3 - (PREF. NEPOMUCENO/MG – TÉCNICO EM SEGU- Antes da compra 200 50
RANÇA DO TRABALHO – CONSULPLAN/2013) Num zooló- Após a compra 200 300
gico, a razão entre o número de aves e mamíferos é igual à
razão entre o número de anfíbios e répteis. Considerando D)
que o número de aves, mamíferos e anfíbios são, respecti-
vamente, iguais a 39, 57 e 26, quantos répteis existem neste Nº de livros Nº de revistas
zoológico? Antes da compra 200 50
A) 31 Após a compra 300 200
B) 34
C) 36 E)
D) 38
E) 43 Nº de livros Nº de revistas
Antes da compra 200 200
4 - (TRT - Técnico Judiciário) Na figura abaixo, os pon- Após a compra 50 300
tos E e F dividem o lado AB do retângulo ABCD em seg-
mentos de mesma medida.

34
MATEMÁTICA

6 - (CREFITO/SP – ALMOXARIFE – VUNESP/2012) Uma rede varejista teve um faturamento anual de 4,2 bilhões de
reais com 240 lojas em um estado. Considerando que esse faturamento é proporcional ao número de lojas, em outro esta-
do em que há 180 lojas, o faturamento anual, em bilhões de reais, foi de
A) 2,75
B) 2,95
C) 3,15
D) 3,35
E) 3,55

7 - (PREF. IMARUÍ – AGENTE EDUCADOR – PREF. IMARUÍ/2014) De cada dez alunos de uma sala de aula, seis são do
sexo feminino. Sabendo que nesta sala de aula há dezoito alunos do sexo feminino, quantos são do sexo masculino?
A) Doze alunos.
B) Quatorze alunos.
C) Dezesseis alunos.
D) Vinte alunos.

8 - (TJ/SP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – VUNESP/2013) Em um dia de muita chuva e trânsito caótico, 2/5 dos
alunos de certa escola chegaram atrasados, sendo que 1/4 dos atrasados tiveram mais de 30 minutos de atraso. Sabendo
que todos os demais alunos chegaram no horário, pode-se afirmar que nesse dia, nessa escola, a razão entre o número de
alunos que chegaram com mais de 30 minutos de atraso e número de alunos que chegaram no horário, nessa ordem, foi de
A) 2:3
B) 1:3
C) 1:6
D) 3:4
E) 2:5

9 - (PMPP1101/001-Escriturário-I-manhã – 2012) – A razão entre as idades de um pai e de seu filho é hoje de 5/2.
Quando o filho nasceu, o pai tinha 21 anos. A idade do filho hoje é de
A) 10 anos
B) 12 anos
C) 14 anos
D) 16 anos
E) 18 anos

10 - (FAPESP – ANALISTA ADMINISTRATIVO – VUNESP/2012) Em uma fundação, verificou-se que a razão entre o nú-
mero de atendimentos a usuários internos e o número de atendimento total aos usuários (internos e externos), em um
determinado dia, nessa ordem, foi de 3/5. Sabendo que o número de usuários externos atendidos foi 140, pode-se concluir
que, no total, o número de usuários atendidos foi
A) 84
B) 100
C) 217
D) 280
E) 350

Respostas
1 – Resposta “B”

2 – Resposta “A”
Sejam CP e CL o número de pessoas que consumiram café puro e café com leite respectivamente. Como na semana o
número total de pessoas que consumiram café foi de 180, temos que:
CP+CL = 180

A relação encontrada entre eles é de ; assim aplicando a propriedade da proporção teremos:

  180.2 = CP.5  CP =  CP = 72

35
MATEMÁTICA

3 - RESPOSTA: “D”

Aplicando-se o produto dos meios pelos extremos temos:

4 - Resposta “B”

5 - RESPOSTA: “A”
Para cada 1 livro temos 4 revistas
Significa que o número de revistas é 4x o número de livros.
50 livros: 200 revistas

Depois da compra
2 livros :3 revistas
200 livros: 300 revistas
6 - RESPOSTA: “C”

240.x = 4,2.180 → 240x = 756 → x = 3,15 bilhões

7 - RESPOSTA: “A”
Como 6 são do sexo feminino, 4 são do sexo masculino(10-6 = 4) .Então temos a seguinte razão:

 6x = 72  x = 12

8- RESPOSTA: “C”

Se 2/5 chegaram atrasados

chegaram no horário

tiveram mais de 30 minutos de atraso

36
MATEMÁTICA

- Observe agora as duas sucessões de números:

Sucessão do número de ovos: 6


9 12
Sucessão do número de colheres de farinha: 4
6 8
Nessas sucessões as razões entre os termos
correspondentes são iguais:
9 – RESPOSTA: “C” 6 3 9 3 12 3
= = =
4 2 6 2 8 2
A razão entre a idade do pai e do filho é respectiva-
mente , se quando o filho nasceu o pai tinha 21, sig-
6 9 12 3
nifica que hoje o pai tem x + 21 , onde x é a idade do filho. Assim: = = =
4 6 8 2
Montando a proporção teremos:
Dizemos, então, que:

- os números da sucessão 6, 9, 12 são diretamente


proporcionais aos
3 da sucessão 4, 6, 8;
- o número 2 , que é a razão entre dois termos corres-
pondentes, é chamado fator de proporcionalidade.
Duas sucessões de números não-nulos são diretamen-
te proporcionais quando as razões entre cada termo da
primeira sucessão e o termo correspondente da segunda
sucessão são iguais.
10 - RESPOSTA: “E”
Usuários internos: I Exemplo 1: Vamos determinar x e y, de modo que as
Usuários externos : E sucessões sejam diretamente proporcionais:

2 8 y
 5I = 3I+420 2I = 420 I = 210 3 x 21

Como as sucessões são diretamente proporcionais, as


I+E = 210+140 = 350 razões são iguais, isto é:
2 8 y
Números Diretamente Proporcionais = =
3 x 21
Considere a seguinte situação: 8 2 y
2
= =
Joana gosta de queijadinha e por isso resolveu aprender 3 x 3 21
a fazê-las. Adquiriu a receita de uma amiga. Nessa receita, 2x = 3 . 8 3y = 2 . 21
os ingredientes necessários são: 2x = 24 3y = 42
24 42
3 ovos x= y=
2 3
1 lata de leite condensado
1 xícara de leite x=12 y=14
2 colheres das de sopa de farinha de trigo
1 colher das de sobremesa de fermento em pó Logo, x = 12 e y = 14
1 pacote de coco ralado
1 xícara de queijo ralado Exemplo 2: Para montar uma pequena empresa, Júlio,
1 colher das de sopa de manteiga César e Toni formaram uma sociedade. Júlio entrou com R$
24.000,00, César com R$ 27.000,00 e Toni com R$ 30.000,00.
Veja que: Depois de 6 meses houve um lucro de R$ 32.400,00 que foi
repartido entre eles em partes diretamente proporcionais
- Para se fazerem 2 receitas seriam usados 6 ovos para à quantia investida. Calcular a parte que coube a cada um.
4 colheres de farinha;
- Para se fazerem 3 receitas seriam usados 9 ovos para Solução:
6 colheres de farinha;
- Para se fazerem 4 receitas seriam usados 12 ovos para Representando a parte de Júlio por x, a de César por y,
8 colheres de farinha; e a de Toni por z, podemos escrever:

37
MATEMÁTICA

Observando que
 x + y + z = 32400 
 
 x y z 
= =
 24000 27000 30000  1 4 é mesmo que
é o mesmo que 1.120=120
1 1

32400

x y z x+ y+z 20 30
= = = 4.30=120
24000 27000 30000 24000
 +
27000
+ 30000

81000

Resolvendo as proporções:
x 32400 4
= 2 é o mesmo que 2.60=120 6 é o mesmo que
24000 8100010
10x = 96 000 6.20=1120 1
x = 9 600 60 20
y 4
=
27000 10 Podemos dizer que: Duas sucessões de números
10y = 108 000 não-nulos são inversamente proporcionais quando os
y = 10 800 produtos de cada termo da primeira sucessão pelo termo
correspondente da segunda sucessão são iguais.
z 4
=
3000 10 Exemplo 1: Vamos determinar x e y, de modo que as
10z = 120 000 sucessões sejam inversamente proporcionais:
z = 12 000
4 x 8
Logo, Júlio recebeu R$ 9.600,00, César recebeu R$ 20 16 y
10.800,00 e Toni, R$ 12.000,00.
Para que as sucessões sejam inversamente
Números Inversamente Proporcionais proporcionais, os produtos dos termos correspondentes
Considere os seguintes dados, referentes à produção deverão ser iguais. Então devemos ter:
de sorvete por uma máquina da marca x-5: 4 . 20 = 16 . x = 8 . y

1 máquina x-5 produz 32 litros de sorvete em 120 min.


2 máquinas x-5 produzem 32 litros de sorvete em 60 16 . x = 4 . 20 8 . y = 4 . 20
min. 16x = 80 8y = 80
4 máquinas x-5 produzem 32 litros de sorvete em 30 x = 80/16 y = 80/8
min. x=5 y = 10
6 máquinas x-5 produzem 32 litros de sorvete em 20
min. Logo, x = 5 e y = 10.

Observe agora as duas sucessões de números: Exemplo 2: Vamos dividir o número 104 em partes
inversamente proporcionais aos números 2, 3 e 4.
Sucessão do número de máquinas: 1 2 4 6
Sucessão do número de minutos: 120 60 30 20 Representamos os números procurados por x, y e z. E
como as sucessões (x, y, z) e (2, 3, 4) devem ser inversamente
Nessas sucessões as razões entre cada termo da proporcionais, escrevemos:   104

primeira sucessão e o inverso do termo correspondente da x y z x y z x+ y+z
segunda são iguais: = = = = =
1 1 1 1 1 1 1 1 1
1
=
2
=
4
=
6
= 120
+ +
1 1 1 1 2 3 4 2 3 4 2 3 4
120 60 30 20
Como, vem

Dizemos, então, que:


- os números da sucessão 1, 2, 4, 6 são inversamente
proporcionais aos da sucessão 120, 60, 30, 20; Logo, os números procurados são 48, 32 e 24.
- o número 120, que é a razão entre cada termo da
primeira sucessão e o inverso do seu correspondente na
segunda, é chamado fator de proporcionalidade.

38
MATEMÁTICA

Grandezas Diretamente Proporcionais Com base na tabela apresentada observamos que:

Considere uma usina de açúcar cuja produção, nos - duplicando a velocidade da moto, o número de horas
cinco primeiros dias da safra de 2005, foi a seguinte: fica reduzido à metade;
Dias Sacos de açúcar - triplicando a velocidade, o número de horas fica
reduzido à terça parte, e assim por diante.
1 5 000
2 10 000 Nesse caso dizemos que as grandezas velocidade e
3 15 000 tempo são inversamente proporcionais.
4 20 000 Observe que, duas a duas, as razões entre os números
5 25 000 que indicam a velocidade são iguais ao inverso das razões
que indicam o tempo:
Com base na tabela apresentada observamos que:
30 6
= inverso da razão 12
60 12 6
- duplicando o número de dias, duplicou a
produção de açúcar;
30 4
- triplicando o número de dias, triplicou a produção = inverso da razão 12
90 12 4
de açúcar, e assim por diante.
30 3 12
= inverso da razão
120 12 3
Nesse caso dizemos que as grandezas tempo e
produção são diretamente proporcionais.
60 4 6
Observe também que, duas a duas, as razões entre o = inverso da razão
90 6 4
número de dias e o número de sacos de açúcar são iguais:
60 3
= inverso da razão 6
120 6 3

90 3 inverso da razão 4
=
120 6 3
Isso nos leva a estabelecer que: Duas grandezas são
diretamente proporcionais quando a razão entre os valores
da primeira é igual à razão entre os valores da segunda. Podemos, então, estabelecer que: Duas grandezas
são inversamente proporcionais quando a razão entre os
Tomemos agora outro exemplo. valores da primeira é igual ao inverso da razão entre os
Com 1 tonelada de cana-de-açúcar, uma usina produz valores da segunda.
70l de álcool. Acompanhe o exemplo a seguir:
De acordo com esses dados podemos supor que:
Cinco máquinas iguais realizam um trabalho em 36 dias.
- com o dobro do número de toneladas de cana, a usina De acordo com esses dados, podemos supor que:
produza o dobro do número de litros de álcool, isto é, 140l;
- com o triplo do número de toneladas de cana, a usina - o dobro do número de máquinas realiza o mesmo
produza o triplo do número de litros de álcool, isto é, 210l. trabalho na metade do tempo, isto é, 18 dias;
- o triplo do número de máquinas realiza o mesmo
Então concluímos que as grandezas quantidade de cana- trabalho na terça parte do tempo, isto é, 12 dias.
de-açúcar e número de litros de álcool são diretamente Então concluímos que as grandezas quantidade de
proporcionais. máquinas e tempo são inversamente proporcionais.

Grandezas Inversamente Proporcionais


Considere uma moto cuja velocidade média e o tempo gasto
para percorrer determinada distância encontram-se na tabela:

Velocidade Tempo
30 km/h 12 h
60 km/h 6h
90 km/h 4h
120 km/h 3h

39
MATEMÁTICA

Questões 5 - (PC/SP – OFICIAL ADMINISTRATIVO – VU-


NESP/2014) Foram construídos dois reservatórios de
1 - (PGE/BA – ASSISTENTE DE PROCURADORIA – água. A razão entre os volumes internos do primeiro e do
FCC/2013) Uma faculdade irá inaugurar um novo espaço segundo é de 2 para 5, e a soma desses volumes é 14m³.
para sua biblioteca, composto por três salões. Estima-se Assim, o valor absoluto da diferença entre as capacidades
que, nesse espaço, poderão ser armazenados até 120.000 desses dois reservatórios, em litros, é igual a
livros, sendo 60.000 no salão maior, 15.000 no menor e os A) 8000.
demais no intermediário. Como a faculdade conta atual- B) 6000.
mente com apenas 44.000 livros, a bibliotecária decidiu co- C) 4000.
locar, em cada salão, uma quantidade de livros diretamente D) 6500.
proporcional à respectiva capacidade máxima de armaze- E) 9000.
namento. Considerando a estimativa feita, a quantidade de
livros que a bibliotecária colocará no salão intermediário é 6 – (CÂMARA DE SÃO PAULO/SP – TÉCNICO ADMI-
igual a NISTRATIVO – FCC/2014) Na tabela abaixo, a sequência
A) 17.000. de números da coluna A é inversamente proporcional à se-
B) 17.500. quência de números da coluna B.
C) 16.500.
D) 18.500.
E) 18.000.

2 - (PREF. PAULISTANA/PI – PROFESSOR DE MATE-


MÁTICA – IMA/2014) Uma herança de R$ 750.000,00 deve
ser repartida entre três herdeiros, em partes proporcionais
a suas idades que são de 5, 8 e 12 anos. O mais velho re- A letra X representa o número
ceberá o valor de:
A) R$ 420.000,00 A) 90.
B) R$ 250.000,00 B) 80.
C) R$ 360.000,00 C) 96.
D) R$ 400.000,00 D) 84.
E) R$ 350.000,00 E) 72.

7 - (SAMU/SC – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO –


3 - (CÂMARA DE SÃO PAULO/SP – TÉCNICO AD-
SPDM/2012) Carlos dividirá R$ 8.400,00 de forma inver-
MINISTRATIVO – FCC/2014) Uma empresa foi consti-
samente proporcional à idade de seus dois filhos: Marcos,
tuída por três sócios, que investiram, respectivamente,
de12 anos, e Fábio, de 9 anos. O valor que caberá a Fábio
R$60.000,00, R$40.000,00 e R$20.000,00. No final do pri-
será de:
meiro ano de funcionamento, a empresa obteve um lucro
A) R$ 3.600,00
de R$18.600,00 para dividir entre os sócios em quantias di-
B) R$ 4.800,00
retamente proporcionais ao que foi investido. O sócio que
C) R$ 7.000,00
menos investiu deverá receber
D) R$ 5.600,00
A) R$2.100,00.
B) R$2.800,00. 8 - (TRT – FCC) Três técnicos judiciários arquivaram
C) R$3.400,00. um total de 382 processos, em quantidades inversamente
D) R$4.000,00. proporcionais as suas respectivas idades: 28, 32 e 36 anos.
E) R$3.100,00. Nessas condições, é correto afirmar que o número de pro-
cessos arquivados pelo mais velho foi:
4 - (METRÔ/SP - AGENTE DE SEGURANÇA METRO- A) 112
VIÁRIA I - FCC/2013) Um mosaico foi construído com B) 126
triângulos, quadrados e hexágonos. A quantidade de po- C) 144
lígonos de cada tipo é proporcional ao número de lados D) 152
do próprio polígono. Sabe-se que a quantidade total de E) 164
polígonos do mosaico é 351. A quantidade de triângulos e
quadrados somada supera a quantidade de hexágonos em RESPOSTAS
A) 108.
B) 27. 1 - RESPOSTA: “C”.
C) 35. Como é diretamente proporcional, podemos analisar
D) 162. da seguinte forma:
E) 81. No salão maior, percebe-se que é a metade dos livros,
no salão menor é 1/8 dos livros.

40
MATEMÁTICA

Então, como tem 44.000 livros, no salão maior ficará com 22.000 e no salão menor é 5.500 livros.
22000+5500=27500
Salão intermediário:44.000-27.500=16.500 livros.

2 - RESPOSTA: “C”.
5x+8x+12x=750.000
25x=750.000
X=30.000
O mais velho receberá:12⋅30000=360.000,00

3 - RESPOSTA: “E”.
20000 :40000 :60000
1: 2: 3
k+2k+3k=18600
6k=18600
k=3100
O sócio que investiu R$20.000,00 receberá R$3.100,00.

4 - RESPOSTA: “B”.

189-162= 27

5 - RESPOSTA: “B”.
Primeiro:2k
Segundo:5k
2k+5k=14
7k=14
K=2
Primeiro=2.2=4
Segundo=5.2=10
Diferença=10-4=6m³

1m³------1000L
6--------x
X=6000 l

6 - RESPOSTA: “B”.

X=80

41
MATEMÁTICA

7 - RESPOSTA: “B”.
Marcos: a
Fábio: b
a+b=8400
b=4800

8 - RESPOSTA “A”.

382 ➜Somamos os inversos dos números, ou seja: . Dividindo-se os denominadores por 4, ficamos com:
= . Eliminando-se os denominadores, temos  191 que corresponde a uma soma. Dividindo-se a soma
pela soma:

Regra de Três Simples

Os problemas que envolvem duas grandezas diretamente ou inversamente proporcionais podem ser resolvidos através
de um processo prático, chamado regra de três simples.

Exemplo 1: Um carro faz 180 km com 15L de álcool. Quantos litros de álcool esse carro gastaria para percorrer 210 km?

Solução:
O problema envolve duas grandezas: distância e litros de álcool.
Indiquemos por x o número de litros de álcool a ser consumido.
Coloquemos as grandezas de mesma espécie em uma mesma coluna e as grandezas de espécies diferentes que se
correspondem em uma mesma linha:
Distância (km) Litros de álcool
180 15
210 x

Na coluna em que aparece a variável x (“litros de álcool”), vamos colocar uma flecha:
Distância (km) Litros de álcool
180 15  
210 x

Observe que, se duplicarmos a distância, o consumo de álcool também duplica. Então, as grandezas distância e litros
de álcool são diretamente proporcionais. No esquema que estamos montando, indicamos esse fato colocando uma fle-
cha na coluna “distância” no mesmo sentido da flecha da coluna “litros de álcool”:

42
MATEMÁTICA

Exemplo 3: Ao participar de um treino de Fórmula


Distância (km) Litros de álcool 1, um competidor, imprimindo velocidade média de 200
180 15 km/h, faz o percurso em 18 segundos. Se sua velocidade
210 x fosse de 240 km/h, qual o tempo que ele teria gasto no
percurso?
Vamos representar pela letra x o tempo procurado.
mesmo sentido Estamos relacionando dois valores da grandeza
Armando a proporção pela orientação das flechas, temos: velocidade (200 km/h e 240 km/h) com dois valores da
grandeza tempo (18 s e x s).
180 6 15
= 6x = 7 . 15 6x = 105 x = 105 x Queremos determinar um desses valores, conhecidos
210 7 x = 17,5 6 os outros três.

Velocidade Tempo gasto para fazer o percurso


Resposta: O carro gastaria 17,5 L de álcool.
200 km/h 18 s
Exemplo 2: Viajando de automóvel, à velocidade 240 km/h x
de 60 km/h, eu gastaria 4 h para fazer certo percurso.
Aumentando a velocidade para 80 km/h, em quanto tempo Se duplicarmos a velocidade inicial do carro, o tempo
farei esse percurso? gasto para fazer o percurso cairá para a metade; logo,
Solução: Indicando por x o número de horas e colocando as grandezas são inversamente proporcionais. Assim, os
as grandezas de mesma espécie em uma mesma coluna e números 200 e 240 são inversamente proporcionais aos
as grandezas de espécies diferentes que se correspondem números 18 e x.
em uma mesma linha, temos:
Daí temos:
Velocidade (km/h) Tempo (h) 200 . 18 = 240 . x
60 4 3 600 = 240x
80 x 240x = 3 600
x = 3600
Na coluna em que aparece a variável x (“tempo”), 240
vamos colocar uma flecha: x = 15

Velocidade (km/h) Tempo (h) Conclui-se, então, que se o competidor tivesse andan-
60 4 do em 200 km/h, teria gasto 18 segundos para realizar o
80 x percurso.

Observe que, se duplicarmos a velocidade, o tempo Regra de Três Composta


fica reduzido à metade. Isso significa que as grandezas
velocidade e tempo são inversamente proporcionais. O processo usado para resolver problemas que
No nosso esquema, esse fato é indicado colocando-se na envolvem mais de duas grandezas, diretamente ou
coluna “velocidade” uma flecha em sentido contrário ao inversamente proporcionais, é chamado regra de três
da flecha da coluna “tempo”: composta.

Velocidade (km/h) Tempo (h) Exemplo 1: Em 4 dias 8 máquinas produziram 160


60 4 peças. Em quanto tempo 6 máquinas iguais às primeiras
80 x produziriam 300 dessas peças?
Solução: Indiquemos o número de dias por x.
Coloquemos as grandezas de mesma espécie em uma
sentidos contrários só coluna e as grandezas de espécies diferentes que se
correspondem em uma mesma linha. Na coluna em que
Na montagem da proporção devemos seguir o sentido aparece a variável x (“dias”), coloquemos uma flecha:
das flechas. Assim, temos:
Máquinas Peças Dias
4 80 4 8 160 4  
= 12
4x = 4 . 3 4x = 12 x= x=3 6 300 x
x 60 3 4
Comparemos cada grandeza com aquela em que está
Resposta: Farei esse percurso em 3 h. o x.

43
MATEMÁTICA

As grandezas peças e dias são diretamente


proporcionais. No nosso esquema isso será indicado
colocando-se na coluna “peças” uma flecha no mesmo
sentido da flecha da coluna “dias”:

Máquinas Peças Dias


8 160 4
6 300 x As grandezas “pessoas” e “estrada” são diretamente
proporcionais. No nosso esquema isso será indicado colo-
Mesmo sentido cando-se na coluna “estrada” uma flecha no mesmo senti-
do da flecha da coluna “pessoas”:
As grandezas máquinas e dias são inversamente
proporcionais (duplicando o número de máquinas, o
número de dias fica reduzido à metade). No nosso esquema
isso será indicado colocando-se na coluna (máquinas) uma
flecha no sentido contrário ao da flecha da coluna “dias”:

Máquinas Peças Dias


8 160 4
6 300 x

Sentidos contrários Como já haviam 210 pessoas trabalhando, logo 315 –


210 = 105 pessoas.
Agora vamos montar 4 a proporção, igualando a razão Reposta: Devem ser contratados 105 pessoas.
que contém o x, que é , com o produto das outras razões,
x
obtidas segundo a orientação das flechas  6 160  : Questões
 . 
4 6 2 160 8
1
 8 300 
= . 1 – (FUNDAÇÃO CASA – AGENTE DE APOIO OPE-
RACIONAL – VUNESP/2013) Um atleta está treinando
5
x 81 30015
4 2 4 2.5 para fazer 1 500 metros em 5 minutos. Como ele pretende
= => 2x = 4 . 5 a x = => x = 10 manter um ritmo sempre constante, deve fazer cada 100
x 5 21 metros em
A) 15 segundos.
Resposta: Em 10 dias. B) 20 segundos.
C) 22 segundos.
D) 25 segundos.
Exemplo 2: Uma empreiteira contratou 210 pessoas E) 30 segundos.
para pavimentar uma estrada de 300 km em 1 ano. Após
4 meses de serviço, apenas 75 km estavam pavimentados. 2 – (SAP/SP – AGENTE DE SEGURANÇA PENITEN-
Quantos empregados ainda devem ser contratados para CIÁRIA DE CLASSE I – VUNESP/2013) Uma máquina de-
que a obra seja concluída no tempo previsto? mora 1 hora para fabricar 4 500 peças. Essa mesma máqui-
na, mantendo o mesmo funcionamento, para fabricar 3 375
Solução: Em de ano foi pavimentada de estrada. dessas mesmas peças, irá levar
A) 55 min.
Comparemos cada grandeza com aquela em que está B) 15 min.
o x. C) 35 min.
D) 1h 15min.
E) 45 min.

3 - (PREF. IMARUÍ – AGENTE EDUCADOR – PREF.


IMARUÍ/2014) Manoel vendeu seu carro por R$27.000,00(-
Sentido contrário vinte e sete mil reais) e teve um prejuízo de 10%(dez por
cento) sobre o valor de custo do tal veículo, por quanto
Manoel adquiriu o carro em questão?
As grandezas “pessoas” e “tempo” são inversamente A) R$24.300,00
proporcionais (duplicando o número de pessoas, o tem- B) R$29.700,00
po fica reduzido à metade). No nosso esquema isso será C) R$30.000,00
indicado colocando-se na coluna “tempo” uma flecha no D)R$33.000,00
sentido contrário ao da flecha da coluna “pessoas”: E) R$36.000,00

44
MATEMÁTICA

4 - (DNOCS -2010) Das 96 pessoas que participaram A) 29.


de uma festa de Confraternização dos funcionários do De- B) 30.
partamento Nacional de Obras Contra as Secas, sabe-se C) 33.
que 75% eram do sexo masculino. Se, num dado momento D) 28.
antes do término da festa, foi constatado que a porcen- E) 31.
tagem dos homens havia se reduzido a 60% do total das
pessoas presentes, enquanto que o número de mulheres 9 - (TRF 3ª – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2014) Sa-
permaneceu inalterado, até o final da festa, então a quanti- be-se que uma máquina copiadora imprime 80 cópias em
dade de homens que haviam se retirado era? 1 minuto e 15 segundos. O tempo necessário para que 7
A) 36. máquinas copiadoras, de mesma capacidade que a primei-
B) 38. ra citada, possam imprimir 3360 cópias é de
C) 40. A) 15 minutos.
D) 42. B) 3 minutos e 45 segundos.
E) 44. C) 7 minutos e 30 segundos.
D) 4 minutos e 50 segundos.
5 - (SABESP – APRENDIZ – FCC/2012) Em uma ma- E) 7 minutos.
quete, uma janela de formato retangular mede 2,0 cm de
largura por 3,5 cm de comprimento. No edifício, a largura 10 – (PREF. JUNDIAI/SP – ELETRICISTA – MAKIYA-
real dessa janela será de 1,2 m. O comprimento real corres- MA/2013) Os 5 funcionários de uma padaria produzem,
pondente será de: utilizando três fornos, um total de 2500 pães ao longo das
A) 1,8 m 10 horas de sua jornada de trabalho. No entanto, o dono
B) 1,35 m de tal padaria pretende contratar mais um funcionário,
C) 1,5 m comprar mais um forno e reduzir a jornada de trabalho de
D) 2,1 m seus funcionários para 8 horas diárias. Considerando que
E) 2,45 m todos os fornos e funcionários produzem em igual quan-
tidade e ritmo, qual será, após as mudanças, o número de
pães produzidos por dia?
6 - (CÂMARA DE SÃO PAULO/SP – TÉCNICO AD-
A) 2300 pães.
MINISTRATIVO – FCC/2014) O trabalho de varrição de
B) 3000 pães.
6.000 m² de calçada é feita em um dia de trabalho por 18
C) 2600 pães.
varredores trabalhando 5 horas por dia. Mantendo-se as
D) 3200 pães.
mesmas proporções, 15 varredores varrerão 7.500 m² de
E) 3600 pães.
calçadas, em um dia, trabalhando por dia, o tempo de
A) 8 horas e 15 minutos.
B) 9 horas. Respostas
C) 7 horas e 45 minutos.
D) 7 horas e 30 minutos. 1- RESPOSTA: “B”
E) 5 horas e 30 minutos. Como as alternativas estão em segundo, devemos tra-
balhar com o tempo em segundo.
7 – (PREF. CORBÉLIA/PR – CONTADOR – FAUEL/2014) 1 minuto = 60 segundos ; logo 5minutos = 60.5 = 300
Uma equipe constituída por 20 operários, trabalhando 8 segundos
horas por dia durante 60 dias, realiza o calçamento de uma
área igual a 4800 m². Se essa equipe fosse constituída por Metro Segundos
15 operários, trabalhando 10 horas por dia, durante 80 1500 ----- 300
dias, faria o calçamento de uma área igual a: 100 ----- x
A) 4500 m²
B) 5000 m² Como estamos trabalhando com duas grandezas dire-
C) 5200 m² tamente proporcionais temos:
D) 6000 m²
E) 6200 m²

8 – (PC/SP – OFICIAL ADMINISTRATIVO – VU-


NESP/2014) Dez funcionários de uma repartição traba- 15.x = 300.1 ➜ 15x = 300 ➜ x = 20 segundos
lham 8 horas por dia, durante 27 dias, para atender certo
número de pessoas. Se um funcionário doente foi afastado
por tempo indeterminado e outro se aposentou, o total de 2- RESPOSTA: “E”.
dias que os funcionários restantes levarão para atender o Peças Tempo
mesmo número de pessoas, trabalhando uma hora a mais 4500 ----- 1 h
por dia, no mesmo ritmo de trabalho, será: 3375 ----- x

45
MATEMÁTICA

Como estamos trabalhando com duas grandezas dire- 6. - RESPOSTA: “D”.


tamente proporcionais temos: Comparando- se cada grandeza com aquela onde esta
o x.
M²↑ varredores↓ horas↑
6000--------------18-------------- 5
7500--------------15--------------- x
4500.x = 3375.1 ➜ x = 0,75 h Quanto mais a área, mais horas(diretamente propor-
Como a resposta esta em minutos devemos achar o cionais)
correspondente em minutos Quanto menos trabalhadores, mais horas(inversamen-
Hora Minutos te proporcionais)
1 ------ 60
0,75 ----- x
1.x = 0,75.60 ➜ x = 45 minutos.

3. RESPOSTA : “C”
Como ele teve um prejuízo de 10%, quer dizer 27000 é
90% do valor total.
Valor %
27000 ------ 90 Como 0,5 h equivale a 30 minutos , logo o tempo será
X ------- 100 de 7 horas e 30 minutos.

= 27000.10 ➜ 9x = 270000 7 - RESPOSTA: “D”.


Operários↑ horas↑ dias↑ área↑
➜ x = 30000. 20-----------------8-------------60-------4800
15----------------10------------80-------- x

4. RESPOSTA : “A” Todas as grandezas são diretamente proporcionais,


logo:
75% Homens = 72
25% Mulheres = 24 Antes

40% Mulheres = 24
60% Homens = x Depois

40% -------------- 24
60% -------------- x
8- RESPOSTA: “B”
40x = 60 . 24 ➜ x = ➜ x = 36. Temos 10 funcionários inicialmente, com os afastamen-
to esse número passou para 8. Se eles trabalham 8 horas
Portanto: 72 – 36 = 36 Homens se retiraram. por dia , passarão a trabalhar uma hora a mais perfazendo
um total de 9 horas, nesta condições temos:
Funcionários↑ horas↑ dias↓
5. RESPOTA: “D” 10---------------8--------------27
Transformando de cm para metro temos : 1 metro = 8----------------9-------------- x
100cm
➜ 2 cm = 0,02 m e 3,5 cm = 0,035 m Quanto menos funcionários, mais dias devem ser tra-
Largura comprimento balhados (inversamente proporcionais).
0,02m ------------ 0,035m Quanto mais horas por dia, menos dias devem ser tra-
1,2m ------------- x balhados (inversamente proporcionais).

Funcionários↓ horas↓ dias↓


8---------------9-------------- 27
10----------------8----------------x

➜ x.8.9 = 27.10.8 ➜ 72x = 2160 ➜ x = 30


dias.

46
MATEMÁTICA

9 - RESPOSTA: “C”. Cálculo de uma Porcentagem: Para calcularmos uma


Transformando o tempo para segundos: 1 min e 15 se- porcentagem p% de V, basta multiplicarmos a fração p
gundos = 75 segundos por V. 100
Quanto mais máquinas menor o tempo (flecha con- p
trária) e quanto mais cópias, mais tempo (flecha mesma P% de V = .V
100
posição)
Exemplo 1
Máquina↑ cópias↓ tempo↓
23
1----------------80-----------75 segundos 23% de 240 = . 240 = 55,2
7--------------3360-----------x 100
Devemos deixar as 3 grandezas da mesma forma, in- Exemplo 2
vertendo os valores de” máquina”.
Em uma pesquisa de mercado, constatou-se que 67%
Máquina↓ cópias↓ tempo↓ de uma amostra assistem a um certo programa de TV.
7----------------80----------75 segundos Se a população é de 56.000 habitantes, quantas pessoas
1--------------3360--------- x assistem ao tal programa?
67
Resolução: 67% de 56 000 = .56000 = 37520
100
➜ x.7.80 = 75.1.3360 ➜ 560x =
252000 ➜ x = 450 segundos Resposta: 37 520 pessoas.

Transformando Porcentagem que o lucro representa em relação ao


1minuto-----60segundos preço de custo e em relação ao preço de venda
x-------------450
x=7,5 minutos=7 minutos e 30segundos. Chamamos de lucro em uma transação comercial de
compra e venda a diferença entre o preço de venda e o
10 - RESPOSTA: “D”. preço de custo.
Funcionários↑ Fornos ↑ pães ↑ horas↑ Lucro = preço de venda – preço de custo
5--------------------3-----------2500----------10 Caso essa diferença seja negativa, ela será chamada de
6--------------------4-------------x--------------8 prejuízo.
As flecham indicam se as grandezas são inversamente
ou diretamente proporcionais. Assim, podemos escrever:
Quanto mais funcionários mais pães são feitos(direta- Preço de custo + lucro = preço de venda
mente) Preço de custo – prejuízos = preço de venda

Podemos expressar o lucro na forma de porcentagem


de duas formas:
Lucro sobre o custo = lucro/preço de custo. 100%
Lucro sobre a venda = lucro/preço de venda. 100%

Observação: A mesma análise pode ser feita para o


caso de prejuízo.

Exemplo

Porcentagem Uma mercadoria foi comprada por R$ 500,00 e vendida


É uma fração de denominador centesimal, ou seja, por R$ 800,00.
é uma fração de denominador 100. Representamos Pede-se:
porcentagem pelo símbolo % e lê-se: “por cento”. - o lucro obtido na transação;
50 - a porcentagem de lucro sobre o preço de custo;
Deste modo, a fração 100 é uma porcentagem que - a porcentagem de lucro sobre o preço de venda.
podemos representar por 50%.
Resposta:
Forma Decimal: É comum representarmos uma Lucro = 800 – 500 = R$ 300,00
porcentagem na forma decimal, por exemplo, 35% na
forma decimal seriam representados por 0,35. Lc = 300
= 0,60 = 60%
500
75 300
75% = = 0,75 Lv = = 0,375 = 37,5%
100 800

47
MATEMÁTICA

Aumento
p2
V2 = V1 . (1 – )
Aumento Percentual: Consideremos um valor inicial 100
V que deve sofrer um aumento de p% de seu valor. V2 = V . (1 – p1 ) . (1 – p2 )
Chamemos de A o valor do aumento e VA o valor após o 100 100
aumento. Então, A = p% de V = p . V Sendo V um valor inicial, vamos considerar que ele irá
100 sofrer um aumento de p1% e, sucessivamente, um desconto
p
de p2%.
VA = V + A = V + .V Sendo V1 o valor após o aumento, temos:
100 p
p V1 = V . (1+ 1 )
100
VA = ( 1 + ).V
100
p Sendo V2 o valor após o desconto, temos:
Em que (1 + 100 ) é o fator de aumento. V2 = V1 . (1 – p2 )
100
Desconto
V2 = V . (1 + p1 ) . (1 – p2 )
Exemplo 100 100
Desconto Percentual: Consideremos um valor inicial
V que deve sofrer um desconto de p% de seu valor.
(VUNESP-SP) Uma instituição bancária oferece um
Chamemos de D o valor do desconto e VD o valor após o
rendimento de 15% ao ano para depósitos feitos numa
desconto. Então, D = p% de V = p . V
100 certa modalidade de aplicação financeira. Um cliente deste
banco deposita 1 000 reais nessa aplicação. Ao final de n
p anos, o capital que esse cliente terá em reais, relativo a esse
VD = V – D = V – .V
100 depósito, são:
p n
VD = (1 – ).V  p 
100 Resolução: VA = 1 +  .v
p  100 
Em que (1 – ) é o fator de desconto. n

100 VA = 1. 15  .1000


 100 
Exemplo
VA = 1 000 . (1,15)n
VA = 1 000 . 1,15n
Uma empresa admite um funcionário no mês de janeiro
VA = 1 150,00n
sabendo que, já em março, ele terá 40% de aumento. Se a
empresa deseja que o salário desse funcionário, a partir de
março, seja R$ 3 500,00, com que salário deve admiti-lo?
Questões
Resolução: VA = 1,4 . V
3 500 = 1,4 . V
1 - (PREF. AMPARO/SP – AGENTE ESCOLAR – CON-
3500 RIO/2014) Se em um tanque de um carro for misturado
V= = 2500
1,4 45 litros de etanol em 28 litros de gasolina, qual será o
percentual aproximado de gasolina nesse tanque?
Resposta: R$ 2 500,00
A) 38,357%
B) 38,356%
Aumentos e Descontos Sucessivos: Consideremos
C) 38,358%
um valor inicial V, e vamos considerar que ele irá sofrer
D) 38,359%
dois aumentos sucessivos de p1% e p2%. Sendo V1 o valor
após o primeiro aumento, temos:
p 2 - (CEF / Escriturário) Uma pessoa x pode realizar
V1 = V . (1 + 1 )
100 uma certa tarefa em 12 horas. Outra pessoa, y, é 50% mais
eficiente que x. Nessas condições, o número de horas ne-
Sendo V2 o valor após o segundo aumento, temos:
cessárias para que y realize essa tarefa é :
V2 = V1 . (1 + p2 )
100 A) 4
p p B) 5
V2 = V . (1 + 1 ) . (1 + 2 )
100 100 C) 6
D) 7
Sendo V um valor inicial, vamos considerar que ele irá
E) 8
sofrer dois descontos sucessivos de p1% e p2%.
3 - (SABESP – APRENDIZ – FCC/2012) Observe a ta-
Sendo V1 o valor após o primeiro desconto, temos:
bela que indica o consumo mensal de uma mesma torneira
V1 = V. (1 – p1 )
100 da pia de uma cozinha, aberta meia volta por um minuto,
uma vez ao dia.
Sendo V2 o valor após o segundo desconto, temos:

48
MATEMÁTICA

Em relação ao cosumo mensal da torneira alimentada pela água da rua, o da torneira alimentada pela água da caixa
representa, aproximadamente,
A) 20%
B) 26%
C) 30%
D) 35%
E) 40%

4 - (CÂMARA DE SÃO PAULO/SP – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – FCC/2014) O preço de uma mercadoria, na loja J, é
de R$ 50,00. O dono da loja J resolve reajustar o preço dessa mercadoria em 20%. A mesma mercadoria, na loja K, é vendida
por R$ 40,00. O dono da loja K resolve reajustar o preço dessa mercadoria de maneira a igualar o preço praticado na loja J
após o reajuste de 20%. Dessa maneira o dono da loja K deve reajustar o preço em
A) 20%.
B) 50%.
C) 10%.
D) 15%.
E) 60%.

5 - (CÂMARA DE SÃO PAULO/SP – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – FCC/2014) O preço de venda de um produto, des-
contado um imposto de 16% que incide sobre esse mesmo preço, supera o preço de compra em 40%, os quais constituem
o lucro líquido do vendedor. Em quantos por cento, aproximadamente, o preço de venda é superior ao de compra?
A) 67%.
B) 61%.
C) 65%.
D) 63%.
E) 69%.

6 - (DPE/SP – AGENTE DE DEFENSORIA PÚBLICA – FCC/2013) Um comerciante comprou uma mercadoria por R$
350,00. Para estabelecer o preço de venda desse produto em sua loja, o comerciante decidiu que o valor deveria ser sufi-
ciente para dar 30% de desconto sobre o preço de venda e ainda assim garantir lucro de 20% sobre o preço de compra.
Nessas condições, o preço que o comerciante deve vender essa mercadoria é igual a
A) R$ 620,00.
B) R$ 580,00.
C) R$ 600,00.
D) R$ 590,00.
E) R$ 610,00.

7 - (DPE/SP – AGENTE DE DEFENSORIA PÚBLICA – FCC/2013) Uma bolsa contém apenas 5 bolas brancas e 7 bolas
pretas. Sorteando ao acaso uma bola dessa bolsa, a probabilidade de que ela seja preta é
A) maior do que 55% e menor do que 60%.
B) menor do que 50%.
C) maior do que 65%.
D) maior do que 50% e menor do que 55%.
E) maior do que 60% e menor do que 65%.

8 - PREF. JUNDIAI/SP – ELETRICISTA – MAKIYAMA/2013) Das 80 crianças que responderam a uma enquete referente
a sua fruta favorita, 70% eram meninos. Dentre as meninas, 25% responderam que sua fruta favorita era a maçã. Sendo assim,
qual porcentagem representa, em relação a todas as crianças entrevistadas, as meninas que têm a maçã como fruta preferida?
A) 10%
B) 1,5%
C) 25%
D) 7,5%
E) 5%

49
MATEMÁTICA

9 - (PM/SE – SOLDADO 3ªCLASSE – FUNCAB/2014) 2 - RESPOSTA “C”.


Numa liquidação de bebidas, um atacadista fez a seguinte 12 horas → 100 %
promoção: 50 % de 12 horas = = 6 horas

X = 12 horas → 100 % = total de horas trabalhado


Y = 50 % mais rápido que X.
Então, se 50% de 12 horas equivalem a 6 horas, logo Y
faz o mesmo trabalho em 6 horas.

3 - RESPOSTA: “B”.

Alexandre comprou duas embalagens nessa promoção


e revendeu cada unidade por R$3,50. O lucro obtido por
ele com a revenda das latas de cerveja das duas embala-
gens completas foi:
A) R$33,60 4 - RESPOSTA: “B”.
B) R$28,60
C) R$26,40
D) R$40,80
E) R$43,20

10 - (PM/SE – SOLDADO 3ªCLASSE – FUNCAB/2014)


Leilão de veículos apreendidos do Detran aconteceu no dia
7 de dezembro. O reajuste deve ser de 50%.

O Departamento Estadual de Trânsito de Sergipe – De-


tran/SE – realizou, no dia 7 de dezembro, sábado, às 9 ho- 5 - RESPOSTA: “A”.
ras, no Espaço Emes, um leilão de veículos apreendidos em Preço de venda: PV
fiscalizações de trânsito. Ao todo foram leiloados 195 veí- Preço de compra: PC
culos, sendo que 183 foram comercializados como sucatas
e 12 foram vendidos como aptos para circulação. Note que: 1,4 = 100%+40% ou 1+0,4.Como ele supe-
rou o preço de venda (100%) em 40% , isso significa soma
Quem arrematou algum dos lotes disponíveis no leilão aos 100% mais 40%, logo 140%= 1,4.
pagou 20% do lance mais 5% de comissão do leiloeiro no
ato da arrematação. Os 80% restantes foram pagos impre- PV - 0,16PV = 1,4PC
terivelmente até o dia 11 de dezembro. 0,84PV=1,4PC
Fonte: http://www.ssp.se.gov.br05/12/13 (modificada).

Vitor arrematou um lote, pagou o combinado no ato


da arrematação e os R$28.800,00 restantes no dia 10 de
dezembro. Com base nas informações contidas no texto,
calcule o valor total gasto por Vitor nesse leilão. O preço de venda é 67% superior ao preço de compra.

A) R$34.600,00
B) R$36.000,00 6 - RESPOSTA: “C”.
C) R$35.400,00 Preço de venda: PV
D) R$32.000,00 Preço de compra: 350
E) R$37.800,00 30% de desconto, deixa o produto com 70% do seu
valor.
Como ele queria ter um lucro de 20% sobre o preço de
Respostas compra, devemos multiplicar por 1,2(350+0,2.350) ➜ 0,7PV
= 1,2 . 350
1 - RESPOSTA: “B”.
Mistura:28+45=73
73------100%
28------x
X=38,356% O preço de venda deve ser R$600,00.

50
MATEMÁTICA

7 - RESPOSTA: “A”. Devemos sempre relacionar taxa e tempo numa mesma


Ao todo tem 12 bolas, portanto a probabilidade de se unidade:
tirar uma preta é:
Taxa anual --------------------- tempo em anos
Taxa mensal-------------------- tempo em meses
Taxa diária---------------------- tempo em dias

8 - RESPOSTA: “D”. Consideremos, como exemplo, o seguinte problema:


Tem que ser menina E gostar de maçã. Uma pessoa empresta a outra, a juros simples, a quan-
Meninas:100-70=30% tia de R$ 3. 000,00, pelo prazo de 4 meses, à taxa de 2% ao
mês. Quanto deverá ser pago de juros?
, simplificando temos ➜ Resolução:
P = 0,075 . 100% = 7,5%.
- Capital aplicado (C): R$ 3.000,00
- Tempo de aplicação (t): 4 meses
9 - RESPOSTA: “A”. - Taxa (i): 2% ou 0,02 a.m. (= ao mês)
Fazendo o cálculo, mês a mês:
- No final do 1º período (1 mês), os juros serão: 0,02 x
R$ 3.000,00 = R$ 60,00
- No final do 2º período (2 meses), os juros serão: R$
60,00 + R$ 60,00 = R$ 120,00
- No final do 3º período (3 meses), os juros serão: R$
120,00 + R$ 60,00 = R$ 180,00
- No final do 4º período (4 meses), os juros serão: R$
180,00 + R$ 60,00 = R$ 240,00
Desse modo, no final da aplicação, deverão ser pagos
R$ 240,00 de juros.
O lucro de Alexandre foi de R$33,60.
Fazendo o cálculo, período a período:
10 - RESPOSTA: “E”.
R$28.800-------80% - No final do 1º período, os juros serão: i.C
x------------------100% - No final do 2º período, os juros serão: i.C + i.C
- No final do 3º período, os juros serão: i.C + i.C + i.C
------------------------------------------------------------
-----------
- No final do período t, os juros serão: i.C + i.C + i.C +
... + i.C

Portanto, temos:
Valor total: R$36.000,00+R$1.800,00=R$37.800,00

Juros Simples J=C.i.t


Toda vez que falamos em juros estamos nos referindo Observações:
a uma quantia em dinheiro que deve ser paga por um
devedor, pela utilização de dinheiro de um credor (aquele 1) A taxa i e o tempo t devem ser expressos na mesma
que empresta). unidade.
2) Nessa fórmula, a taxa i deve ser expressa na forma
- Os juros são representados pela letra j. decimal.
- O dinheiro que se deposita ou se empresta chamamos 3) Chamamos de montante (M) a soma do capital
de capital e é representado pela letra C. com os juros, ou seja: Na fórmula J= C . i . t, temos quatro
- O tempo de depósito ou de empréstimo é variáveis. Se três delas forem valores conhecidos, podemos
representado pela letra t. calcular o 4º valor.
- A taxa de juros é a razão centesimal que incide sobre
um capital durante certo tempo. É representado pela letra i
e utilizada para calcular juros. M=C+ j
Chamamos de simples os juros que são somados ao
capital inicial no final da aplicação.

51
MATEMÁTICA

Exemplo 4 - (PREF. JUNDIAI/SP – ELETRICISTA – MAKIYA-


MA/2013) Teresa pagou uma conta no valor de R$ 400,00
A que taxa esteve empregado o capital de R$ 25.000,00 com seis dias de atraso. Por isso, foi acrescido, sobre o va-
para render, em 3 anos, R$ 45.000,00 de juros? (Observa- lor da conta, juro de 0,5% em regime simples, para cada dia
ção: Como o tempo está em anos devemos ter uma taxa de atraso. Com isso, qual foi o valor total pago por Teresa?
anual.) A) R$ 420,00.
C = R$ 25.000,00 B) R$ 412,00.
t = 3 anos C) R$ 410,00.
j = R$ 45.000,00 D) R$ 415,00.
i = ? (ao ano) E) R$ 422,00.
C.i.t
j= 5 – (PM/SE – SOLDADO 3ªCLASSE – FUNCAB/2014)
100 25000.i.3 Polícia autua 16 condutores durante blitz da Lei Seca
45 000 =
100 No dia 27 de novembro, uma equipe da Companhia
45 000 = 750 . i de Polícia de Trânsito(CPTran) da Polícia Militar do Estado
de Sergipe realizou blitz da Lei Seca na Avenida Beira Mar.
Durante a ação, a polícia autuou 16 condutores.
i= Segundo o capitão Fábio <achado, comandante da CP-
Tran, 12 pessoas foram notificadas por infrações diversas e
i = 60 quatro por desobediência à Lei Seca[...].
Resposta: 60% ao ano. O quarteto detido foi multado em R$1.910,54 cada e
teve a Carteira Nacional de Trânsito (CNH) suspensa por
Questões um ano.
1 - (SABESP – ANALISTA DE GESTÃO I -CONTABILI- (Fonte: PM/SE 28/11/13, modificada)
DADE – FCC/2012) Renato aplicou uma quantia no regime Investindo um capital inicial no valor total das quatros
de capitalização de juros simples de 1,25% ao mês. Ao final mulas durante um período de dez meses, com juros de 5%
de um ano, sacou todo o dinheiro da aplicação, gastou me- ao mês, no sistema de juros simples, o total de juros obti-
tade dele para comprar um imóvel e aplicou o restante, por dos será:
quatro meses, em outro fundo, que rendia juros simples de A) R$2.768,15
1,5% ao mês. Ao final desse período, ele encerrou a aplica- B) R$1.595,27
ção, sacando um total de R$ 95.082,00. A quantia inicial, em C) R$3.821,08
reais, aplicada por Renato no primeiro investimento foi de D) R$9.552,70
A) 154.000,00 E) R$1.910,54
B) 156.000,00
C) 158.000,00 Respostas
D) 160.000,00
E) 162.000,00 1 - RESPOSTA: “B”.
Quantia inicial: C= 25.000 ; i=1,25% a.m = 0,0125 ; t=
2 - (CÂMARA DE CANITAR/SP – RECEPCIONISTA – 1 ano = 12 meses
INDEC/2013) Qual a porcentagem de rendimento mensal M= J+C e J= C.i.t da junção dessas duas fórmulas
de um capital de R$ 5.000,00 que rende R$ 420,00 após 6 temos : M=C.(1+i.t),aplicando
meses?
(Considere juros simples)
A) 2,2%
B) 1,6%
C) 1,4%
D) 0,7% Como ele gastou metade e a outra metade ele aplicou
a uma taxa i=1,5% a.m=0,015 e t=4m e sacou após esse
3 – (CREA/PR – AGENTE ADMINISTRATIVO – FUN- período R$ 95.082,00
DATEC/2013) Um empréstimo de R$ 50.000,00 será pago
no prazo de 5 meses, com juros simples de 2,5% a.m. (ao 95.082=0,575C.(1+0,015.4)
mês). Nesse sentido, o valor da dívida na data do seu ven- → 95.082 = 0,575C.1,06 →
cimento será:
A) R$6.250,00. 95.082 = 0,6095C → → C= 156.000
B) R$16.250,00.
C) R$42.650,00.
D) R$56.250,00. A quantia inicial foi de R$ 156.000,00.
E) R$62.250,00.

52
MATEMÁTICA

2 - RESPOSTA: “C”.
C = 5.000 ; J = 420 ; t = 6m
J=C.i.t → 420=5000.i.6

A porcentagem será de 1,4%.

3 - RESPOSTA: “D”.
J=C.i.t C = 50.000 ; i = 2,5% a.m = 0,025 ; t = 5m Na prática, as empresas, órgãos governamentais e
J=50 000.0,025.5 investidores particulares costumam reinvestir as quantias
J=6250 geradas pelas aplicações financeiras, o que justifica o
M=C+J emprego mais comum de juros compostos na Economia.
M=50 000+6 250=56250 Na verdade, o uso de juros simples não se justifica em
O valor da dívida é R$56.250,00. estudos econômicos.

4 – RESPOSTA: “B”. Fórmula para o cálculo de Juros compostos


C = 400 ; t = 6 d ; i = 0,5% a.d = 0,005 Considere o capital inicial (principal P) $1000,00
aplicado a uma taxa mensal de juros compostos ( i ) de
10% (i = 10% a.m.). Vamos calcular os montantes (principal
+ juros), mês a mês:
Após o 1º mês, teremos: M1 = 1000 x 1,1 = 1100 =
1000(1 + 0,1)
O valor que ela deve pagar é R$412,00. Após o 2º mês, teremos: M2 = 1100 x 1,1 = 1210 =
5 - RESPOSTA: “C”. 1000(1 + 0,1)2
Após o 3º mês, teremos: M3 = 1210 x 1,1 = 1331 =
1000(1 + 0,1)3
.................................................................................................

Após o nº (enésimo) mês, sendo S o montante, teremos


O juros obtido será R$3.821,08. evidentemente: S = 1000(1 + 0,1)n
De uma forma genérica, teremos para um principal
Juros Compostos P, aplicado a uma taxa de juros compostos i durante o
O capital inicial (principal) pode crescer, como já período n : S = P (1 + i)n onde S = montante, P = principal,
sabemos, devido aos juros, segundo duas modalidades, a i = taxa de juros e n = número de períodos que o principal
saber: P (capital inicial) foi aplicado.
Juros simples - ao longo do tempo, somente o principal Nota: Na fórmula acima, as unidades de tempo
rende juros. referentes à taxa de juros (i) e do período (n), tem de ser
Juros compostos - após cada período, os juros são necessariamente iguais. Este é um detalhe importantíssimo,
incorporados ao principal e passam, por sua vez, a render que não pode ser esquecido! Assim, por exemplo, se a taxa
juros. Também conhecido como “juros sobre juros”. for 2% ao mês e o período 3 anos, deveremos considerar
Vamos ilustrar a diferença entre os crescimentos de um 2% ao mês durante 3x12=36 meses.
capital através juros simples e juros compostos, com um
exemplo: Suponha que $100,00 são empregados a uma Exemplos
taxa de 10% a.a. (ao ano) Teremos: 1 – Expresse o número de períodos n de uma aplicação,
em função do montante S e da taxa de aplicação i por
período.

Solução:
Temos S = P(1+i)n
Logo, S/P = (1+i)n
Pelo que já conhecemos de logaritmos, poderemos
Observe que o crescimento do principal segundo juros escrever:
simples é LINEAR enquanto que o crescimento segundo n = log (1+ i ) (S/P) . Portanto, usando logaritmo decimal
juros compostos é EXPONENCIAL, e, portanto tem um (base 10), vem:
crescimento muito mais “rápido”. Isto poderia ser ilustrado
graficamente da seguinte forma:

53
MATEMÁTICA

log(S / P) log S − log P 3. CREA/PR – AGENTE ADMINISTRATIVO – FUNDA-


n= = TEC/2013) Um empréstimo de R$ 50.000,00 será pago no
log(1+ i) log(1+ i)
prazo de 5 meses, com juros simples de 2,5% a.m. (ao mês).
Nesse sentido, o valor da dívida na data do seu vencimento
Temos também da expressão acima que: n.log(1 + i) = será:
logS – logP A) R$6.250,00.
Deste exemplo, dá para perceber que o estudo dos B) R$16.250,00.
juros compostos é uma aplicação prática do estudo dos C) R$42.650,00.
logaritmos. D) R$56.250,00.
2 – Um capital é aplicado em regime de juros E) R$62.250,00.
compostos a uma taxa mensal de 2% (2% a.m.). Depois de
quanto tempo este capital estará duplicado? 4. (PREF. JUNDIAI/SP – ELETRICISTA – MAKIYA-
MA/2013) Teresa pagou uma conta no valor de R$ 400,00
Solução: Sabemos que S = P (1 + i)n. Quando o capital com seis dias de atraso. Por isso, foi acrescido, sobre o va-
inicial estiver duplicado, teremos S = 2P. lor da conta, juro de 0,5% em regime simples, para cada dia
Substituindo, vem: 2P = P(1+0,02)n [Obs: 0,02 = 2/100 de atraso. Com isso, qual foi o valor total pago por Teresa?
= 2%] A) R$ 420,00.
Simplificando, fica: B) R$ 412,00.
2 = 1,02n , que é uma equação exponencial simples. C) R$ 410,00.
Teremos então: n = log1,022 = log2 /log1,02 = 0,30103 D) R$ 415,00.
/ 0,00860 = 35 E) R$ 422,00.
Nota: log2 = 0,30103 e log1,02 = 0,00860; estes valores
5. PM/SE – SOLDADO 3ªCLASSE – FUNCAB/2014)
podem ser obtidos rapidamente em máquinas calculadoras
Polícia autua 16 condutores durante blitz da Lei Seca
científicas. Caso uma questão assim caia no vestibular, o
No dia 27 de novembro, uma equipe da Companhia
examinador teria de informar os valores dos logaritmos
de Polícia de Trânsito(CPTran) da Polícia Militar do Estado
necessários, ou então permitir o uso de calculadora na
de Sergipe realizou blitz da Lei Seca na Avenida Beira Mar.
prova, o que não é comum no Brasil.
Durante a ação, a polícia autuou 16 condutores.
Portanto, o capital estaria duplicado após 35 meses
(observe que a taxa de juros do problema é mensal), o que Segundo o capitão Fábio <achado, comandante da CP-
equivale a 2 anos e 11 meses. Tran, 12 pessoas foram notificadas por infrações diversas e
Resposta: 2 anos e 11 meses. quatro por desobediência à Lei Seca[...].
O quarteto detido foi multado em R$1.910,54 cada e
Exercícios teve a Carteira Nacional de Trânsito (CNH) suspensa por
1. (SABESP – ANALISTA DE GESTÃO I -CONTABILIDA- um ano.
DE – FCC/2012) Renato aplicou uma quantia no regime de (Fonte: PM/SE 28/11/13, modificada)
capitalização de juros simples de 1,25% ao mês. Ao final de Investindo um capital inicial no valor total das quatros
um ano, sacou todo o dinheiro da aplicação, gastou meta- mulas durante um período de dez meses, com juros de 5%
de dele para comprar um imóvel e aplicou o restante, por ao mês, no sistema de juros simples, o total de juros obti-
quatro meses, em outro fundo, que rendia juros simples de dos será:
1,5% ao mês. Ao final desse período, ele encerrou a aplica- A) R$2.768,15
ção, sacando um total de R$ 95.082,00. A quantia inicial, em B) R$1.595,27
reais, aplicada por Renato no primeiro investimento foi de C) R$3.821,08
A) 154.000,00 D) R$9.552,70
B) 156.000,00 E) R$1.910,54
C) 158.000,00 6. (CÂMARA DE CANITAR/SP – RECEPCIONISTA – IN-
D) 160.000,00 DEC/2013) Uma aplicação financeira rende mensalmente
E) 162.000,00 0,72%. Após 3 meses, um capital investido de R$ 14.000,00
renderá: (Considere juros compostos)
2. (CÂMARA DE SÃO PAULO/SP – TÉCNICO ADMI- A) R$ 267,92
NISTRATIVO – FCC/2014) José Luiz aplicou R$60.000,00 B) R$ 285,49
num fundo de investimento, em regime de juros compos- C) R$300,45
tos, com taxa de 2% ao mês. Após 3 meses, o montante D) R$304,58
que José Luiz poderá sacar é
A) R$63.600,00. 7. (CÂMARA DE CANITAR/SP – RECEPCIONISTA –
B) R$63.672,48. INDEC/2013) Qual a porcentagem de rendimento mensal
C) R$63.854,58. de um capital de R$ 5.000,00 que rende R$ 420,00 após 6
D) R$62.425,00. meses?
E) R$62.400,00. (Considere juros simples)

54
MATEMÁTICA

A) 2,2%
B) 1,6%
C) 1,4%
D) 0,7%

8. (PM/SP – OFICIAL – VUNESP/2013) Pretendendo aplicar em um fundo que rende juros compostos, um investidor
fez uma simulação. Na simulação feita, se ele aplicar hoje R$ 10.000,00 e R$ 20.000,00 daqui a um ano, e não fizer nenhuma
retirada, o saldo daqui a dois anos será de R$ 38.400,00. Desse modo, é correto afirmar que a taxa anual de juros conside-
rada nessa simulação foi de
A) 12%.
B) 15%.
C) 18%.
D) 20%.
E) 21%.

9. (TRT 1ª – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINISTRATIVA – FCC/2013) Juliano possui R$ 29.000,00 aplicados em
um regime de juros compostos e deseja comprar um carro cujo preço à vista é R$30.000,00. Se nos próximos meses essa
aplicação render 1% ao mês e o preço do carro se mantiver, o número mínimo de meses necessário para que Juliano tenha
em sua aplicação uma quantia suficiente para comprar o carro é
A) 7.
B) 4.
C) 5.
D) 6.
E) 3.

10. (BANCO DO BRASIL – ESCRITURÁRIO – CESGRANRIO/2012) João tomou um empréstimo de R$900,00 a juros com-
postos de 10% ao mês. Dois meses depois, João pagou R$600,00 e, um mês após esse pagamento, liquidou o empréstimo.
O valor desse último pagamento foi, em reais, aproximadamente,
A) 240,00
B) 330,00
C) 429,00
D) 489,00
E) 538,00

Respostas

1 - RESPOSTA: “B”.
Quantia inicial: C= 25.000 ; i=1,25% a.m = 0,0125 ; t= 1 ano = 12 meses
M= J+C e J= C.i.t da junção dessas duas fórmulas temos : M=C.(1+i.t),aplicando

Como ele gastou metade e a outra metade ele aplicou a uma taxa i=1,5% a.m=0,015 e t=4m e sacou após esse período
R$ 95.082,00

95.082 = 0,6095C ➜ ➜ C= 156.000

A quantia inicial foi de R$ 156.000,00.

2 - RESPOSTA: “B”.
C=60.000 ; i = 2% a.m = 0,02 ; t = 3m

O montante a ser sacado será de R$ 63.672,48.

55
MATEMÁTICA

3 - RESPOSTA: “D”.
J=C.i.t C = 50.000 ; i = 2,5% a.m = 0,025 ; t = 5m
J=50 000.0,025.5
J=6250
M=C+J
M=50 000+6 250=56250
O valor da dívida é R$56.250,00.

4 – RESPOSTA: “B”.

C = 400 ; t = 6 d ; i = 0,5% a.d = 0,005

O valor que ela deve pagar é R$412,00.

5 - RESPOSTA: “C”.

O juros obtido será R$3.821,08.

6 - RESPOSTA: “D”.
i = 0,72%a.m = 0,0072 ; t = 3m ; C = 14.000

Como ele quer saber os juros:


M = C+J . J = 14304,58-14000 = 304,58
A aplicação renderá R$ 304,58.

7 - RESPOSTA: “C”.
C = 5.000 ; J = 420 ; t = 6m
J=C.i.t . 420=5000.i.6

A porcentagem será de 1,4%.

8 - RESPOSTA: “D”.

C1º ano = 10.000 ; C2º ano = 20.000

M1+M2 = 384000

56
MATEMÁTICA

Têm se uma equação do segundo grau, usa-seentão a fórmula de Bhaskara:

É correto afirmar que a taxa é de 20%

9 - RESPOSTA: “B”.

C=29.000 ; M=30.000 ; i=1%a.m = 0,01

Teremos que substituir os valores de t, portanto vamos começar dos números mais baixos:
1,013=1,0303, está próximo, mas ainda é menor
1,014=1,0406
Como t=4 passou o número que precisava(1,0344), então ele tem que aplicar no mínimo por 4 meses.

10 - RESPOSTA: “E”.

C = 900 ; i = 10% a.m=0,10 ; t = 2m ; pagou 2 meses depois R$ 600,00 e liquidou após 1 mês

Depois de dois meses João pagou R$ 600,00.

1089-600=489

57
MATEMÁTICA

Na divisão de potências devemos conservar a base e


CÁLCULO ALGÉBRICO: OPERAÇÕES subtrair os expoentes
COM EXPRESSÕES ALGÉBRICAS, Exemplos:
IDENTIDADES ALGÉBRICAS. 1) 4x² : 2 x = 2 x
POLINÔMIOS DE COEFICIENTES 2) ( 6 x³ - 8 x ) : 2 x = 3 x² - 4
REAIS: OPERAÇÕES, RAÍZES, 3) (x4 - 5x3 + 9x2 - 7x+2) :(x2 - 2x + 1) = x2 - 3x +2
TEOREMA DO RESTO.
Resolução:
x4 - 5x3 + 9x2 - 7x+2 x2 - 2x + 1
-x4 + 2x3 - x2 x2 - 3x + 2
Expressões Algébricas são aquelas que contêm nú- 3 2
-3x + 8x -7x
meros e letras. 3x3 - 6x2 -3x
Ex: 2ax²+bx 2x2 - 4x + 2
-2x2 + 4x - 2
Variáveis são as letras das expressões algébricas que 0
representam um número real e que de princípio não  pos-
suem um valor definido. Para iniciarmos as operações devemos saber o que são
Valor numérico de uma expressão algébrica é o nú- termos semelhantes.
mero que obtemos substituindo as variáveis por números Dizemos que um termo é semelhante do outro quando
e efetuamos suas operações. suas partes literais são idênticas.

Ex: Sendo x =1 e y = 2, calcule o valor numérico (VN) Veja: 


da expressão: 5x2 e 42x são dois termos, as suas partes literais são x2
x² + y » 1² + 2 =3 Portando o valor numérico da e x, as letras são iguais, mas o expoente não, então esses
expressão é 3. termos não são semelhantes. 
7ab2 e 20ab2 são dois termos, suas partes literais são ab2
Monômio: os números e letras estão ligados apenas e ab2, observamos que elas são idênticas, então podemos
por produtos. dizer que são semelhantes.
Ex : 4x
Adição e subtração de monômios
Polinômio: é a soma ou subtração de monômios.  
Ex: 4x+2y Só podemos efetuar a adição e subtração de
monômios entre termos semelhantes. E quando os termos
Termos semelhantes: são aqueles que possuem par- envolvidos na operação de adição ou subtração não forem
tes literais iguais ( variáveis ) semelhantes, deixamos apenas a operação indicada.
Ex: 2 x³ y² z e 3 x³ y² z » são termos semelhantes pois Veja:
possuem a mesma parte literal. Dado os termos 5xy2, 20xy2, como os dois termos são
semelhantes eu posso efetuar a adição e a subtração deles.
Adição e Subtração de expressões algébricas 5xy2 + 20xy2 devemos somar apenas os coeficientes e
Para determinarmos a soma ou subtração de expres- conservar a parte literal.
sões algébricas, basta somar ou subtrair os termos seme- 25 xy2
lhantes. 5xy2 - 20xy2 devemos subtrair apenas os coeficientes e
Assim: 2 x³ y² z + 3x³ y² z = 5x³ y² z ou 2 x³ y² z - 3x³ conservar a parte literal.
y² z = -x³ y² z - 15 xy2

Convém lembrar dos jogos de sinais. Veja alguns exemplos:


Na expressão ( x³ + 2 y² + 1 ) – ( y ² - 2 ) = x³ +2 y² + - x2 - 2x2 + x2 como os coeficientes são frações devemos
1 – y² + 2 = x³ + y² +3 tirar o mmc de 6 e 9.
3x2 - 4 x2 + 18 x2
Multiplicação e Divisão de expressões algébricas             18
Na multiplicação e divisão de expressões algébricas, 17x2
devemos usar a propriedade distributiva. 18
Exemplos:
1) a ( x+y ) = ax + ay - 4x2 + 12y3 – 7y3 – 5x2 devemos primeiro unir os termos
2) (a+b)(x+y) = ax + ay + bx + by semelhantes. 12y3 – 7y3 + 4x2 – 5x2 agora efetuamos a soma
3) x ( x ² + y ) = x³ + xy e a subtração.
-5y3 – x2 como os dois termos restantes não são
Para multiplicarmos potências de mesma base, conser- semelhantes, devemos deixar apenas indicado à operação
vamos a base e somamos os expoentes. dos monômios.

58
MATEMÁTICA

Reduza os termos semelhantes na expressão 4x2 – 5x (I) (a . b)m = am . bm


-3x + 2x2. Depois calcule o seu valor numérico da expressão. (II) (am)n = am . n
4x2 – 5x - 3x + 2x2 reduzindo os termos semelhantes. 4x2 + Veja alguns exemplos:
2x2 – 5x - 3x (-5x2b6)2 aplicando a propriedade
6x2 - 8x os termos estão reduzidos, agora vamos achar
o valor numérico dessa expressão. (I). (-5)2 . (x2)2 . (b6)2 aplicando a propriedade
Para calcularmos o valor numérico de uma expressão (II) 25 . x4 . b12 25x4b12
devemos ter o valor de sua incógnita, que no caso do
exercício é a letra x. Binômio
Vamos supor que x = - 2, então substituindo no lugar
do x o -2 termos: Denomina-se Binômio de Newton , a todo binômio da
forma (a + b)n , sendo n um número natural .
6x2 - 8x
6 . (-2)2 – 8 . (-2) = Exemplo: 
6 . 4 + 16 = B = (3x - 2y)4 ( onde a = 3x, b = -2y e n = 4 [grau do
24 + 16 binômio] ).
40
Exemplos de desenvolvimento de binômios de Newton
Multiplicação de monômios :
Para multiplicarmos monômios não é necessário que
eles sejam semelhantes, basta multiplicarmos coeficiente a) (a + b)2 = a2 + 2ab + b2
com coeficiente e parte literal com parte literal. Sendo b) (a + b)3 = a3 + 3 a2b + 3ab2 + b3
que quando multiplicamos as partes literais devemos usar c) (a + b)4 = a4 + 4 a3b + 6 a2b2 + 4ab3 + b4
a propriedade da potência que diz: am . an = am + n (bases d) (a + b)5 = a5 + 5 a4b + 10 a3b2 + 10 a2b3 + 5ab4 + b5
iguais na multiplicação repetimos a base e somamos os
expoentes). Nota:
Não é necessário memorizar as fórmulas acima, já que
(3a2b) . (- 5ab3) na multiplicação dos dois monômios, elas possuem uma lei de formação bem definida, senão ve-
devemos multiplicar os coeficientes 3 . (-5) e na parte literal jamos:
multiplicamos as que têm mesma base para que possamos Vamos tomar, por exemplo, o item (d) acima:
usar a propriedade am . an = am + n. Observe que o expoente do primeiro e últimos termos
são iguais ao expoente do binômio, ou seja, igual a 5.
3 . ( - 5) . a2 . a . b . b3 A partir do segundo termo, os coeficientes podem ser
-15 a2 +1 b1 + 3 obtidos a partir da seguinte regra prática de fácil memori-
-15 a3b4 zação:
Multiplicamos o coeficiente de a pelo seu expoente e
Divisão de monômios dividimos o resultado pela ordem do termo. O resultado
será o coeficiente do próximo termo. Assim por exemplo,
Para dividirmos os monômios não é necessário que para obter o coeficiente do terceiro termo do item (d) aci-
eles sejam semelhantes, basta dividirmos coeficiente ma teríamos:
com coeficiente e parte literal com parte literal. Sendo 5.4 = 20; agora dividimos 20 pela ordem do termo an-
que quando dividirmos as partes literais devemos usar a terior (2 por se tratar do segundo termo) 20:2 = 10 que é o
propriedade da potência que diz: am : an = am - n (bases iguais coeficiente do terceiro termo procurado.
na divisão repetimos a base e diminuímos os expoentes), Observe que os expoentes da variável a decrescem de
sendo que a ≠ 0. n até 0 e os expoentes de b crescem de 0 até n. Assim o
(-20x2y3) : (- 4xy3) na divisão dos dois monômios, terceiro termo é 10 a3b2 (observe que o expoente de a de-
devemos dividir os coeficientes -20 e - 4 e na parte literal cresceu de 4 para 3 e o de b cresceu  de 1 para 2).
dividirmos as que têm mesma base para que possamos Usando a regra prática acima, o desenvolvimento do
usar a propriedade am : an = am – n. binômio de Newton (a + b)7 será:
(a + b)7 = a7 + 7 a6b + 21 a5b2 + 35 a4b3 + 35 a3b4 + 21
-20 : (– 4) . x2 : x . y3 : y3 a b + 7 ab6 + b7
2 5

5 x2 – 1 y3 – 3 Como obtivemos, por exemplo, o coeficiente do 6º ter-


5x1y0 mo (21 a2b5) ?
5x Pela regra: coeficiente do termo anterior = 35. Multipli-
camos 35 pelo expoente de a que é igual a 3 e dividimos o
Potenciação de monômios resultado pela ordem do termo que é 5.
Então, 35 . 3 = 105 e dividindo por 5 (ordem do termo
Na potenciação de monômios devemos novamente anterior) vem 105:5 = 21, que é o coeficiente do sexto ter-
utilizar uma propriedade da potenciação: mo, conforme se vê acima.

59
MATEMÁTICA

Observações: 2) Resposta “90720x4y4”.


1) o desenvolvimento do binômio (a + b)n é um poli- Solução: Temos:
nômio. a = 2x
2) o desenvolvimento de (a + b)n possui n + 1 termos . b = 3y
3) os coeficientes dos termos equidistantes dos extre- n=8
mos , no desenvolvimento De (a + b)n são iguais . Sabemos que o desenvolvimento do binômio terá 9
4) a soma dos coeficientes de (a + b)n é igual a 2n . termos, porque n = 8. Ora sendo T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 os
termos do desenvolvimento do binômio, o termo do meio
Fórmula do termo geral de um Binômio de Newton (termo médio) será o T5 (quinto termo).
Um termo genérico Tp+1 do desenvolvimento de (a+b)n
, sendo p um número natural, é dado por Logo, o nosso problema resume-se ao cálculo do T5.
Para isto, basta fazer p = 4 na fórmula do termo geral e
⎛ n⎞ efetuar os cálculos decorrentes. Teremos:
T p+1 = ⎜ ⎟ .a n− p .b p
⎝ p⎠ 8!
T4+1 = T5 = C8,4 . (2x)8-4 . (3y)4 = . (2x)4 . (3y)4 =
onde [(8-4)! .4!]
8.7.6.5.4! . 16x4 . 81y4
⎛ n⎞ n! (4!.4.3.2.1
⎜⎝ p ⎟⎠ = Cn. p = p!(n − p)! Fazendo as contas vem: 

T5 = 70.16.81.x4 . y4 = 90720x4y4 , que é o termo médio


é denominado Número Binomial e Cn.p é o número de procurado.
combinações simples de n elementos, agrupados p a p, ou
seja, o número de combinações simples de n elementos 3) Resposta “5”.
de taxa p. Solução: Ora, se o desenvolvimento do binômio possui
Este número é também conhecido como Número 16 termos, então o expoente do binômio é igual a 15.
Combinatório. Logo,
3n = 15 de onde se conclui que n = 5.
Exercícios
1. Determine o 7º termo do binômio (2x + 1)9, desen- 4) Resposta “20”.
volvido segundo as potências decrescentes de x. Solução: Sabemos que o termo independente de x é
aquele que não depende de x, ou seja, aquele que não pos-
2. Qual o termo médio do desenvolvimento de (2x + sui x.
3y)8? Temos no problema dado:
a=x
3. Desenvolvendo o binômio (2x - 3y)3n, obtemos um
1
polinômio de 16 termos. Qual o valor de n? b=
x
4. Determine o termo independente de x no desenvol- n = 6.
vimento de (x + 1/x )6.
Pela fórmula do termo geral, podemos escrever:
5. Calcule: (3x²+2x-1) + (-2x²+4x+2).
Tp+1 = C6,p . x6-p . ( 1 )p = C6,p . x6-p . x-p = C6,p . x6-2p.
Respostas Ora, para que o xtermo seja independente de x, o ex-
poente desta variável deve ser zero, pois x0 = 1.
1) Resposta “672x3”. Logo, fazendo 6 - 2p = 0, obtemos p = 3. Substituindo
Solução: Primeiro temos que aplicar a fórmula do ter- então p por 6, teremos o termo procurado. Temos então:
mo geral de (a + b)n, onde:
a = 2x T3+1 = T4 = C6,3 . x0 = C6,3 = 6! = 6.5.4.3! =20
b=1 [(6-3)!.3!] 3!.2.1
n=9 Logo, o termo independente de x é o T4 (quarto termo)
Como queremos o sétimo termo, fazemos p = 6 na fór- que é igual a 20.
mula do termo geral e efetuamos os cálculos indicados.
Temos então: 5) Solução:
T6+1 = T7 = C9,6 . (2x)9-6 × (1)6 = 9! ×(2x)3×1= (3x²+2x-1) + (-2x²+4x+2)
9.8.7.6!
[(9-6)! x6!] 3x² + 2x – 1 – 2x² + 4x + 2 =
×8x³=672x³ x² + 6x + 1
3.2.1.6!
Portanto o sétimo termo procurado é 672x3.

60
MATEMÁTICA

Polinômios Subtração

Para polinômios podemos encontrar várias definições Exemplo 1


diferentes como:
Polinômio é uma expressão algébrica com todos os Subtraindo –3x2 + 10x – 6 de 5x2 – 9x – 8.
termos semelhantes reduzidos. Polinômio é um ou mais (5x2 – 9x – 8) – (–3x2 + 10x – 6) → eliminar os parênteses
monômios separados por operações. utilizando o jogo de sinal.
As duas podem ser aceitas, pois se pegarmos um – (–3x2) = +3x2
polinômio encontraremos nele uma expressão algébrica e – (+10x) = –10x
monômios separados por operações. – (–6) = +6

- 3xy é monômio, mas também considerado polinômio, 5x2 – 9x – 8 + 3x2 –10x +6 → reduzir os termos
assim podemos dividir os polinômios em monômios semelhantes.
(apenas um monômio), binômio (dois monômios) e 5x2 + 3x2 – 9x –10x – 8 + 6
trinômio (três monômios). 8x2 – 19x – 2
Portanto: (5x2 – 9x – 8) – (–3x2 + 10x – 6) = 8x2 – 19x – 2
- 3x + 5 é um polinômio e uma expressão algébrica.
Exemplo 2
Como os monômios, os polinômios também possuem
grau e é assim que eles são separados. Para identificar o Se subtrairmos 2x³ – 5x² – x + 21 e 2x³ + x² – 2x + 5
seu grau, basta observar o grau do maior monômio, esse teremos:
será o grau do polinômio. (2x³ – 5x² – x + 21) – (2x³ + x² – 2x + 5) → eliminando
Com os polinômios podemos efetuar todas as os parênteses através do jogo de sinais.
operações: adição, subtração, divisão, multiplicação, 2x³ – 5x² – x + 21 – 2x³ – x² + 2x – 5 → redução de
potenciação. termos semelhantes.
O procedimento utilizado na adição e subtração 2x³ – 2x³ – 5x² – x² – x + 2x + 21 – 5
de polinômios envolve técnicas de redução de termos 0x³ – 6x² + x + 16
semelhantes, jogo de sinal, operações envolvendo sinais – 6x² + x + 16
iguais e sinais diferentes. Observe os exemplos a seguir: Portanto: (2x³ – 5x² – x + 21) – (2x³ + x² – 2x + 5) = – 6x²
+ x + 16
Adição
Exemplo 3
Exemplo 1
Considerando os polinômios A = 6x³ + 5x² – 8x + 15, B
Adicionar x2 – 3x – 1 com –3x2 + 8x – 6. = 2x³ – 6x² – 9x + 10 e C = x³ + 7x² + 9x + 20. Calcule:
(x2 – 3x – 1) + (–3x2 + 8x – 6) → eliminar o segundo a) A + B + C
parênteses através do jogo de sinal. (6x³ + 5x² – 8x + 15) + (2x³ – 6x² – 9x + 10) + (x³ + 7x²
+(–3x2) = –3x2 + 9x + 20)
+(+8x) = +8x 6x³ + 5x² – 8x + 15 + 2x³ – 6x² – 9x + 10 + x³ + 7x² +
+(–6) = –6 9x + 20
x2 – 3x – 1 –3x2 + 8x – 6 → reduzir os termos semelhantes. 6x³ + 2x³ + x³ + 5x² – 6x² + 7x² – 8x – 9x + 9x + 15 +
10 + 20
x2 – 3x2 – 3x + 8x – 1 – 6 9x³ + 6x² – 8x + 45
–2x2 + 5x – 7
Portanto: (x2 – 3x – 1) + (–3x2 + 8x – 6) = –2x2 + 5x – 7 A + B + C = 9x³ + 6x² – 8x + 45

Exemplo 2 b) A – B – C
(6x³ + 5x² – 8x + 15) – (2x³ – 6x² – 9x + 10) – (x³ + 7x²
Adicionando 4x2 – 10x – 5 e 6x + 12, teremos: + 9x + 20)
(4x2 – 10x – 5) + (6x + 12) → eliminar os parênteses 6x³ + 5x² – 8x + 15 – 2x³ + 6x² + 9x – 10 – x³ – 7x² – 9x
utilizando o jogo de sinal. – 20
4x2 – 10x – 5 + 6x + 12 → reduzir os termos semelhantes. 6x³ – 2x³ – x³ + 5x² + 6x² – 7x² – 8x + 9x – 9x + 15 – 10
4x2 – 10x + 6x – 5 + 12 – 20
4x2 – 4x + 7 6x³ – 3x³ + 11x² – 7x² – 17x + 9x + 15 – 30
Portanto: (4x2 – 10x – 5) + (6x + 12) = 4x2 – 4x + 7 3x³ + 4x² – 8x – 15

A – B – C = 3x³ + 4x² – 8x – 15

61
MATEMÁTICA

A multiplicação com polinômio (com dois ou mais • Polinômio é uma expressão algébrica racional e
monômios) pode ser realizada de três formas: inteira, por exemplo:
Multiplicação de monômio com polinômio. x2y
Multiplicação de número natural com polinômio. 3x – 2y
Multiplicação de polinômio com polinômio. x + y5 + ab
As multiplicações serão efetuadas utilizando as • Monômio é um tipo de polinômio que possui apenas
seguintes propriedades: um termo, ou seja, que possui apenas coeficiente e parte
- Propriedade da base igual e expoente diferente: an . literal. Por exemplo:
am = a n + m a2 → 1 é o coeficiente e a2 parte literal.
- Monômio multiplicado por monômio é o mesmo que 3x2y → 3 é o coeficiente e x2y parte literal.
multiplicar parte literal com parte literal e coeficiente com -5xy6 → -5 é o coeficiente e xy6 parte literal.
coeficiente. • Divisão de monômio por monômio

Multiplicação de monômio com polinômio Ao resolvermos uma divisão onde o dividendo e o


- Se multiplicarmos 3x por (5x2 + 3x – 1), teremos: divisor são monômios devemos seguir a regra: dividimos
3x . (5x2 + 3x – 1) → aplicar a propriedade distributiva. coeficiente com coeficiente e parte literal com parte literal.
3x . 5x2 + 3x . 3x + 3x . (-1) Exemplos: 6x3 : 3x = 6 . x3 = 2x2 3x2
15x3 + 9x2 – 3x
                
Portanto: 3x (5x2 + 3x – 1) = 15x3 + 9x2 – 3x
- Se multiplicarmos -2x2 por (5x – 1), teremos:
-2x2 (5x – 1) → aplicando a propriedade distributiva. Observação: ao dividirmos as partes literais temos
-2x2 . 5x – 2x2 . (-1) que estar atentos à propriedade que diz que base igual na
- 10x3 + 2x2 divisão, repete a base e subtrai os expoentes.
Depois de relembrar essas definições veja alguns
Portanto: -2x2 (5x – 1) = - 10x3 + 2x2 exemplos de como resolver divisões de polinômio por
monômio.
Multiplicação de número natural Exemplo: (10a3b3 + 8ab2) : (2ab2)
- Se multiplicarmos 3 por (2x2 + x + 5), teremos:
3 (2x2 + x + 5) → aplicar a propriedade distributiva. O dividendo 10a3b3 + 8ab2 é formado por dois
3 . 2x2 + 3 . x + 3 . 5 monômios. Dessa forma, o divisor 2ab2, que é um monômio,
6x2 + 3x + 15. irá dividir cada um deles, veja:
(10a3b3 + 8ab2) : (2ab2)
Portanto: 3 (2x2 + x + 5) = 6x2 + 3x + 15.

Multiplicação de polinômio com polinômio

- Se multiplicarmos (3x – 1) por (5x2 + 2) Assim, transformamos a divisão de polinômio por


(3x – 1) . (5x2 + 2) → aplicar a propriedade distributiva. monômio em duas divisões de monômio por monômio.
3x . 5x2 + 3x . 2 – 1 . 5x2 – 1 . 2 Portanto, para concluir essa divisão é preciso dividir
15x3 + 6x – 5x2 – 2 coeficiente por coeficiente e parte literal por parte literal.

Portanto: (3x – 1) . (5x2 + 2) = 15x3 + 6x – 5x2 – 2


- Multiplicando (2x2 + x + 1) por (5x – 2), teremos:
(2x2 + x + 1) (5x – 2) → aplicar a propriedade distributiva.
2x2 . (5x) + 2x2 . (-2) + x . 5x + x . (-2) + 1 . 5x + 1 . (-2)
10x3 – 4x2 + 5x2 – 2x + 5x – 2
10x3+ x2 + 3x – 2

Portanto: (2x2 + x + 1) (5x – 2) = 10x3+ x2 + 3x – 2

Divisão

A compreensão de como funciona a divisão de ou


polinômio por monômio irá depender de algumas
definições e conhecimentos. Será preciso saber o que é
um monômio, um polinômio e como resolver a divisão de Portanto, (10a3b3 + 8ab2) : (2ab2) = 5a2b + 4
monômio por monômio. Dessa forma, veja a seguir uma Exemplo: (9x2y3 – 6x3y2 – xy) : (3x2y)
breve explicação sobre esses assuntos.

62
MATEMÁTICA

O dividendo 9x2y3 – 6x3y2 – xy é formado por três 3) Resposta “7x + 3y”.


monômios. Dessa forma, o divisor 3x2y, que é um monômio Solução:
irá dividir cada um deles, veja: 7 cadernos a x reais cada um: 7x reais
3 cadernos a y reais cada um: 3y reais.
Portanto, a quantia que Noêmia gastará na compra dos
cadernos é expressa por:
7x + 3y → uma expressão algébrica que indica a adição
Assim, transformamos a divisão de polinômio por de monômios.
monômio em três divisões de monômio por monômio.
Portanto, para concluir essa divisão é preciso dividir 4) Resposta “2,3x – 1,65xy + 0,8y”.
coeficiente por coeficiente e parte literal por parte literal. Solução:
0,3x – 5xy + 1,8y + 2x – y + 3,4xy =
= 0,3x + 2x – 5xy + 3,4xy + 1,8y – y = → propriedade
comutativa
= 2,3x – 1,65xy + 0,8y → reduzindo os termos
semelhantes
Então: 2,3x – 1,65xy + 0,8y é a forma reduzida do
polinômio dado.
Portanto, 5) Resposta “5x + 2xy – 4y”.
Solução: 1˚ Modo:
(7x – 2xy – 5y) + (–2x + 4xy + y) =
= 7x – 2xy – 5y – 2x + 4xy + y =
Exercícios
= 7x – 2x – 2xy + 4xy – 5y + y =
1. Um Caderno custa y reais. Gláucia comprou 4 = 5x + 2xy – 4y
cadernos, Cristina comprou 6, e Karina comprou 3. Qual é 2˚ Modo:
o monômio que expressa a quantia que as três gastaram 7x – 2xy – 5y
juntas? – 2x + 4xy + y
-------------------------
2. Suponha que a medida do lado de um quadrado 5x + 2xy – 4y
seja expressa por 6x², em que x representa um número real
positivo. Qual o monômio que vai expressar a área desse
quadrado? EQUAÇÕES E INEQUAÇÕES:
EQUAÇÕES DO 1º E 2º GRAUS,
3. Um caderno de 200 folhas custa x reais, e um
RELAÇÃO ENTRE COEFICIENTES
caderno de 100 folhas custa y reais. Se Noêmia comprar 7
cadernos de 200 folhas e 3 cadernos de 100 folhas, qual é E RAÍZES. INEQUAÇÕES DE 1º E 2º GRAUS,
a expressão algébrica que irá expressar a quantia que ela DESIGUALDADES PRODUTO E
irá gastar? QUOCIENTE, INTERPRETAÇÃO
GEOMÉTRICA. SISTEMAS DE EQUAÇÕES DE
4. Escreve de forma reduzida o polinômio: 0,3x – 5xy + 1º E 2º GRAUS, INTERPRETAÇÃO
1,8y + 2x – y + 3,4xy. GEOMÉTRICA.

5. Calcule de dois modos (7x – 2xy – 5y) + (-2x + 4xy


+ y)
Equação do 1º Grau
Respostas Veja estas equações, nas quais há apenas uma incógnita:
1) Resposta “13y reais”. 3x – 2 = 16 (equação de 1º grau)
Solução: 4y + 6y + 3y =
= (4 + 6 + 3)y = 2y3 – 5y = 11 (equação de 3º grau)
= 13y
Logo, as três juntas gastaram 13y reais. 1 – 3x +
2
=x+ 1 (equação de 1º grau)
5 2
2) Resposta “36x4”. O método que usamos para resolver a equação de
Solução: 1º grau é isolando a incógnita, isto é, deixar a incógnita
Área: (6x²)² = (6)² . (x)² = 36x4 sozinha em um dos lados da igualdade. Para conseguir
Logo, a área é expressa por 36x4. isso, há dois recursos:

63
MATEMÁTICA

- inverter operações; Exemplo


- efetuar a mesma operação nos dois lados da
5(x+2) (x+2) . (x-3) x2
igualdade. Resolução da equação = - ,
2 3 3
usando o processo prático.
Exemplo 1
Resolução da equação 3x – 2 = 16, invertendo Procedimento e justificativa: Iniciamos da forma
operações. habitual, multiplicando os dois lados pelo mmc (2;3) = 6.
A seguir, passamos a efetuar os cálculos indicados. Neste
Procedimento e justificativa: Se 3x – 2 dá 16, conclui- ponto, passamos a usar o processo prático, colocando
se que 3x dá 16 + 2, isto é, 18 (invertemos a subtração). termos com a incógnita à esquerda e números à direita,
Se 3x é igual a 18, é claro que x é igual a 18 : 3, ou seja, 6 invertendo operações.
(invertemos a multiplicação por 3).
Registro
Registro
5(x+2) (x+2) . (x-3) x2
- =
3x – 2 = 16 2 3 3
3x = 16 + 2 2
3x = 18 6. 5(x+2) - 6. (x+2) . (x-3) = 6. x
18
x= 2 3 3
x = 63 15(x + 2) – 2(x + 2)(x – 3) = – 2x2
Exemplo 2 15x + 30 – 2(x2 – 3x + 2x – 6) = – 2x2
15x + 30 – 2(x2 – x – 6) = – 2x2
2 1
Resolução da equação 1 – 3x + = x+ , efetuando 15x + 30 – 2x2 + 2x + 12 = – 2x2
5 2
a mesma operação nos dois lados da igualdade. 17x – 2x2 + 42 = – 2x2
17x – 2x2 + 2x2 = – 42
Procedimento e justificativa: Multiplicamos os dois 17x = – 42
lados da equação por mmc (2;5) = 10. Dessa forma, são
42
eliminados os denominadores. Fazemos as simplificações x=-
17
e os cálculos necessários e isolamos x, sempre efetuando a
mesma operação nos dois lados da igualdade. No registro, Note que, de início, essa última equação aparentava
as operações feitas nos dois lados da igualdade são x2
indicadas com as setas curvas verticais. ser de 2º grau por causa do termo - no seu lado direito.
3
Entretanto, depois das simplificações, vimos que foi
Registro reduzida a uma equação de 1º grau (17x = – 42).
1 – 3x + 2/5 = x + 1 /2
10 – 30x + 4 = 10x + 5 Exercícios
-30x - 10x = 5 - 10 - 4
-40x = +9(-1) 1. Resolva a seguinte equação:
x-1 x+3
- = 2x -
x-4
40x = 9 2 4 3
x = 9/40
x = 0,225 2. Resolva:
Há também um processo prático, bastante usado, que 3. Calcule:
se baseia nessas ideias e na percepção de um padrão visual. a) -3x – 5 = 25
- Se a + b = c, conclui-se que a = c + b.
b) 2x - 1 = 3
Na primeira igualdade, a parcela b aparece somando no 2
lado esquerdo; na segunda, a parcela b aparece subtraindo c) 3x + 24 = -5x
no lado direito da igualdade.
- Se a . b = c, conclui-se que a = c + b, desde que b ≠ 0. 4. Existem três números inteiros consecutivos com
Na primeira igualdade, o número b aparece soma igual a 393. Que números são esses?
multiplicando no lado esquerdo; na segunda, ele aparece
dividindo no lado direito da igualdade. 5. Determine um número real “a” para que as expressões
O processo prático pode ser formulado assim: (3a + 6)/ 8 e (2a + 10)/6 sejam iguais.
- Para isolar a incógnita, coloque todos os termos com
incógnita de um lado da igualdade e os demais termos do
outro lado.
- Sempre que mudar um termo de lado, inverta a
operação.

64
MATEMÁTICA

Respostas 4) Resposta “130; 131 e 132”.


Solução:
-31
1) Resposta “ x = ” x + (x + 1) + (x + 2) = 393
17
3x + 3 = 393
Solução: 3x = 390
x = 130
x-1 x+3 x-4
- = 2x - Então, os números procurados são: 130, 131 e 132.
2 4 3
5) Resposta “22”.
6(x - 1) - 3(x + 3) = 24x - 4(x - 4)
Solução:
12
(3a + 6) / 8 = (2a + 10) / 6
6x – 6 – 3x – 9 = 24x – 4x + 16 6 (3a + 6) = 8 (2a + 10)
6x – 3x – 24x + 4x = 16 + 9 + 6 18a + 36 = 16a + 80
10 x – 27x = 31 2a =  44
(-1) - 17x = 31 a = 44/2 = 22

x = -31 Equação do 2º Grau


17
Denomina-se equação do 2º grau na incógnita x toda
2) Resposta “ ” equação da forma ax2 + bx + c = 0, em que a, b, c são
números reais e a ≠ 0.
Solução: Nas equações de 2º grau com uma incógnita, os
números reais expressos por a, b, c são chamados
coeficientes da equação:
- a é sempre o coeficiente do termo em x2.
- b é sempre o coeficiente do termo em x.
- c é sempre o coeficiente ou termo independente.
Equação completa e incompleta:
- Quando b ≠ 0 e c ≠ 0, a equação do 2º grau se diz
completa.

Exemplos
3) Solução: 5x2 – 8x + 3 = 0 é uma equação completa (a = 5, b =
– 8, c = 3).
a) -3x – 5 = 25 y2 + 12y + 20 = 0 é uma equação completa (a = 1, b =
-3x = 25 + 5 12, c = 20).
(-1) -3x = 30 - Quando b = 0 ou c = 0 ou b = c = 0, a equação do 2º
3x = -30 grau se diz incompleta.
- 30
x= = -10 Exemplos
3 x2 – 81 = 0 é uma equação incompleta (a = 1, b = 0 e
c = – 81).
b) 2x - 1 =3 10t2 +2t = 0 é uma equação incompleta (a = 10, b = 2
2 e c = 0).
2(2x) - 1 = 6 5y2 = 0 é uma equação incompleta (a = 5, b = 0 e c = 0).
2
4x – 1 = 6 Todas essas equações estão escritas na forma ax2 +
4x = 6 + 1 bx + c = 0, que é denominada forma normal ou forma
4x = 7 reduzida de uma equação do 2º grau com uma incógnita.
Há, porém, algumas equações do 2º grau que não
7
x= estão escritas na forma ax2 + bx + c = 0; por meio de
4 transformações convenientes, em que aplicamos o princípio
aditivo e o multiplicativo, podemos reduzi-las a essa forma.
c) 3x + 24 = -5x
3x + 5x = -24 Exemplo: Pelo princípio aditivo.
8x = -24 2x2 – 7x + 4 = 1 – x2
2x2 – 7x + 4 – 1 + x2 = 0
- 24
x= = -3 2x2 + x2 – 7x + 4 – 1 = 0
8 3x2 – 7x + 3 = 0

65
MATEMÁTICA

Exemplo: Pelo princípio multiplicativo. 2º caso: Δ é zero ( Δ = 0).


2 1 x Δ é igual a zero e ocorre:
Neste caso, √
- =
x 2 x-4
4.(x - 4) - x(x - 4) 2x2 Δ x = -b +- √
-b +- √ 0 -b +- √
0 -b
= x= = = = 2a
2x(x - 4) 2x(x - 4) 2.a 2.a 2.a
4(x – 4) – x(x – 4) = 2x2 Observamos, então, a existência de um único valor
4x – 16 – x2 + 4x = 2x2 real para a incógnita x, embora seja costume dizer que a
– x2 + 8x – 16 = 2x2 equação tem duas raízes reais e iguais, ou seja:
– x2 – 2x2 + 8x – 16 = 0
-b
– 3x2 + 8x – 16 = 0 x’ = x” =
2a
Resolução das equações incompletas do 2º grau com
uma incógnita. 3º caso: Δ é um número real negativo ( Δ < 0).
- A equação é da forma ax2 + bx = 0.
x2 + 9 = 0 ⇒ colocamos x em evidência Neste caso, √ Δ não é um número real, pois não há no
x . (x – 9) = 0 conjunto dos números reais a raiz quadrada de um número
x=0 ou x–9=0 negativo. Dizemos então, que não há valores reais para a
x=9 incógnita x, ou seja, a equação não tem raízes reais.
Logo, S = {0, 9} e os números 0 e 9 são as raízes da A existência ou não de raízes reais e o fato de elas
equação. serem duas ou uma única dependem, exclusivamente, do
discriminante Δ= b2 – 4.a.c; daí o nome que se dá a essa
- A equação é da forma ax2 + c = 0. expressão.

x2 – 16 = 0 ⇒ Fatoramos o primeiro membro, que é Na equação ax2 + bx + c = 0


uma diferença de dois quadrados. - Δ = b2 – 4.a.c
(x + 4) . (x – 4) = 0 - Quando Δ ≥ 0, a equação tem raízes reais.
x+4=0 x–4=0 - Quando Δ < 0, a equação não tem raízes reais.
x=–4 x=4 - Δ > 0 (duas raízes diferentes).
Logo, S = {–4, 4}. - Δ = 0 (uma única raiz).
Exemplo: Resolver a equação x2 + 2x – 8 = 0 no
Fórmula de Bhaskara conjunto R.
Usando o processo de Bhaskara e partindo da equação temos: a = 1, b = 2 e c = – 8
escrita na sua forma normal, foi possível chegar a uma Δ= b2 – 4.a.c = (2)2 – 4 . (1) . (–8) = 4 + 32 = 36 > 0
fórmula que vai nos permitir determinar o conjunto solução
de qualquer equação do 2º grau de maneira mais simples. Como Δ > 0, a equação tem duas raízes reais diferentes,
dadas por:
Essa fórmula é chamada fórmula resolutiva ou + 36
-b +- √Δ -(2) - √ -2 +
fórmula de Bhaskara. x= = = -6
2.a 2.(1) 2
-2 + 6 4 -2 - 6 -8
Δ
-b +- √ x’ = = =2 x” = = = -4
x= 2 2 2 2
2.a
Nesta fórmula, o fato de x ser ou não número real vai Então: S = {-4, 2}.
depender do discriminante r; temos então, três casos a
estudar. Exercícios

1º caso: Δ é um número real positivo ( Δ > 0). 1. Se x2 = – 4x, então:


Neste caso, √ Δ é um número real, e existem dois a) x = 2 ou x = 1
valores reais diferentes para a incógnita x, sendo costume b) x = 3 ou x = – 1
representar esses valores por x’ e x”, que constituem as c) x = 0 ou x = 2
raízes da equação. d) x = 0 ou x = – 4
e) x = 4 ou x = – 1
Δ
-b +- √ -b + √Δ
x= x’ =
2.a 2.a 2. As raízes reais da equação 1,5x2 + 0,1x = 0,6 são:
-b - √Δ
x’’ =
2.a a) 2 e 1
5
b) 3 e 2
5 3

66
MATEMÁTICA

c) - 3 e - 2 4) Resposta “Não”.
5 5
Solução:
d) - 2 e 2
5 3 -b -6 c 0
S= = = -6 P= = =0
a 1 a 1
e) 3 e - 2 Raízes: {-6,0}
5 3
Ou x2 + 6x = 0
3. As raízes da equação x3 – 2x2 – 3x = 0 são: x (x + 6) = 0
a) –2, 0 e 1 x=0 ou x+6=0
b) –1, 2 e 3 x=-6
c) – 3, 0 e 1
d) – 1, 0 e 3 5) Resposta “-1”.
e) – 3, 0 e 2 Solução:
-(m + 1) c -12
4. Verifique se o número 5 é raiz da equação x2 + 6x S = -b = =-m-1 P= = = -12
a 1 a 1
= 0.

5. Determine o valor de m na equação x2 + (m + 1)x – -m-1=0


12 = 0 para que as raízes sejam simétricas. m = -1

Respostas Inequação do 1º Grau

1. Resposta “D”. Inequação é toda sentença aberta expressa por uma


Solução: desigualdade.
x2 = – 4x
x2 + 4x = 0 As inequações x + 5 > 12 e 2x – 4 ≤ x + 2 são do
x (x + 4) = 0 1º grau, isto é, aquelas em que a variável x aparece com
x=0 x+4=0 expoente 1.
x = -4
2) Resposta “E”. A expressão à esquerda do sinal de desigualdade
Solução: chama-se primeiro membro da inequação. A expressão
1,5x2 + 0,1x = 0,6 à direita do sinal de desigualdade chama-se segundo
1,5x2 + 0,1x - 0,6 = 0 (x10) membro da inequação.
15x2 +1x - 6 = 0 Na inequação x + 5 > 12, por exemplo, observamos
Δ = b2 – 4.a.c que:
Δ = 12 – 4 . 15 . – 6
Δ = 1 + 360 A variável é x;
Δ = 361 O primeiro membro é x + 5;
-1 +- √ O segundo membro é 12.
361 -1 +- 19 18 -20
x= = = =
3
ou =-
2
2.15 30 30 5 30 3 Na inequação 2x – 4 ≤ x + 2:

3) Resposta “D”. A variável é x;


O primeiro membro é 2x – 4;
Solução O segundo membro é x + 2.
x3 – 2x2 – 3x = 0
x (x2 – 2x – 3) = 0 Propriedades da desigualdade
x=0 x2 – 2x – 3 = 0
Δ = b – 4.a.c
2
Propriedade Aditiva:
Δ = -22 – 4 . 1 . – 3
Δ = 4 + 12 Mesmo sentido
Δ = 16  
-(-2) +- √16 2 +- 4 Exemplo: Se 8 > 3, então 8 + 2 > 3 + 2, isto é: 10 > 5.
6 -2
x= = = = 3 ou = -1  
2.1 2 2 2
Somamos +2 aos dois membros da desigualdade

67
MATEMÁTICA

Uma desigualdade não muda de sentido quando Resolução prática de inequações do 1º grau:
adicionamos ou subtraímos um mesmo número aos seus
dois membros. A resolução de inequações do 1º grau é feita
procedendo de maneira semelhante à resolução de
Propriedade Multiplicativa: equações, ou seja, transformando cada inequação em
outra inequação equivalente mais simples, até se obter o
Mesmo sentido conjunto verdade.
 
Exemplo: Se 8 > 3, então 8 . 2 > 3 . 2, isto é: 16 > 6. Exemplo
  Resolver a inequação 4(x – 2) ≤ 2 (3x + 1) + 5, sendo
Multiplicamos os dois membros por 2 U = Q.
4(x – 2) ≤ 2 (3x + 1) + 5
Uma desigualdade não muda de sentido quando 4x – 8 ≤ 6x + 2 + 5 aplicamos a propriedade
multiplicamos ou dividimos seus dois membros por um distributiva
mesmo número positivo. 4x – 6x ≤ 2 + 5 + 8 aplicamos a propriedade aditiva
–2x ≤ 15 reduzimos os termos semelhantes
Mudou de sentido
  Multiplicando os dois membros por –1, devemos
Exemplo: Se 8 > 3, então 8 . (–2) < 3 . (–2), isto é: –16 < –6 mudar o sentido da desigualdade.
 
Multiplicamos os dois membros por –2 2x ≥ –15

Uma desigualdade muda de sentido quando Dividindo os dois membros por 2, obtemos:
multiplicamos ou dividimos seus dois membros por um 2x 15
≥− ⇒x≥−
15
mesmo número negativo. 2 2 2
⎧ 15 ⎫
Resolver uma inequação é determinar o seu conjunto Logo, V = ⎨ x ∈Q | x ≥ − ⎬
⎩ 2⎭
verdade a partir de um conjunto universo dado.
Vamos determinar o conjunto verdade caso tivéssemos
Vejamos, através do exemplo, a resolução de U = Z.
inequações do 1º grau.
15
a) x < 5, sendo U = N Sendo − = −7,5 , vamos indicá-lo na reta numerada:
2

Os números naturais que tornam a desigualdade Logo, V = {–7, –6, –5, –4, ...} ou V = {x ∊ Z| x ≥ –7}.
verdadeira são: 0, 1, 2, 3 ou 4. Então V = {0, 1, 2, 3, 4}.
b) x < 5, sendo U = Z Exercícios

1. Resolver a inequação 7x + 6 > 4x + 7, sendo U


= Q.

x 1 2x − 3x
Todo número inteiro menor que 5 satisfaz a 2. Resolver a inequação ≤ − , sendo U = Q.
desigualdade. Logo, V = {..., –2, –1, 0, 1, 2, 3, 4}. 2 4 5
3. Verificar se os números racionais −9 e 6 fazem
c) x < 5, sendo U = Q parte do conjunto solução da inequação 5x − 3 . (x +
Todo número racional menor que 5 é solução da 6) > x – 14.
inequação dada. Como não é possível representar os 4. Resolva as seguintes inequações, em R.
infinitos números racionais menores que 5 nomeando seus a) 2x + 1 ≤ x + 6
elementos, nós o faremos por meio da propriedade que b) 2 - 3x ≥ x + 14
caracteriza seus elementos. Assim:
5. Calcule as seguintes inequações, em R.
V = {x ∊ Q / x <5} a) 2(x + 3) > 3 (1 - x)
b) 3(1 - 2x) < 2(x + 1) + x - 7
c) x/3 - (x+1)/2 < (1 - x) / 4

68
MATEMÁTICA

Respostas b) 2 - 3x - x ≥ x - x + 14
2 - 4x ≥ 14
⎧ 1⎫
1) Resposta “S= ⎨ x ∈Q / x > ⎬ ”. -4x ≥ 12
Solução: ⎩ 3⎭ -x≥3
7x + 6 > 4x + 7 x ≤ -3
7x – 4x > 7 – 6
3x > 1 5) Solução:
x> 1 a) 2x + 6 > 3 - 3x
3 2x - 2x + 6 > 3 - 3x - 2x
Da inequação x >
1
, podemos dizer que todos os 6 - 3 > -5x
3 1 3 > - 5x
números racionais maiores que formam o conjunto -x < 3/5
3
solução de inequação dada, que é representada por: x > -3/5 
⎧ 1⎫
S= ⎨ x ∈Q / x > ⎬ b) 3 - 6x < 2x + 2 + x - 7
⎩ 3⎭
-6x - 3x < -8
⎧ 3⎫ -9x < -8
2) Resposta “S = ⎨ x ∈Q / x > ⎬ ”. 9x > 8
Solução: ⎩ 2⎭ x > 8/9
x 1 2x − 3x 10x 5 − 4.(2 + 3x)
≥ − → ≤ = c) Primeiro devemos achar um mesmo denominador.
2 4 5 20 20
10x ≤ 5 – 4 .(2 – 3x) 4x 6.(x + 1) 3.(1− x)
10x ≤ 5 – 8 + 12x − <
12 12 12
10x – 12 x ≤ -3
-2x ≤ -3 (-1)
2x ≥ 3 4x − 6x − 6 3 − 3x
x≥ 3 −<
2 12 12
-2x - 6 < 3 - 3x
3
Todo número racional maior ou igual a faz parte do x<9
2
conjunto solução da inequação dada, ou seja:
Inequação do 2º Grau
⎧ 3⎫
S= ⎨ x ∈Q / x > ⎬
⎩ 2 ⎭ Chamamos inequação do 2º grau às sentenças:

ax2 + bx + c > 0
3) Resposta “6 faz parte; -9 não faz parte”.
ax2 + bx + c ≥ 0
Solução:
ax2 + bx + c < 0
5x − 3 . (x + 6) > x – 14
ax2 + bx + c ≤ 0
5x – 3x – 18 > x – 14
2x – x > -18 + 14
Onde a, b, c, são números reais conhecidos, a ≠ 0, e x
x>4
é a incógnita.
Fazendo agora a verificação:
Estudo da variação de sinal da função do 2º grau:
- Para o número −9, temos: x > 4 → − 9 > 4 (sentença
falsa)
- Não é necessário que tenhamos a posição exata do
- Para o número 6, temos: x > 4 → 6 > 4 (sentença
vértice, basta que ele esteja do lado certo do eixo x;
verdadeira)
- Não é preciso estabelecer o ponto de intersecção
Então, o número 6 faz parte do conjunto solução da
do gráfico da função com o eixo y e considerando que as
inequação, enquanto o número −9 não faz parte desse
imagens acima do eixo x são positivas e abaixo do eixo
conjunto.
negativas, podemos dispensar a colocação do eixo y.

4) Solução:
Para estabelecer a variação de sinal de uma função
a) 2x - x + 1 ≤ x - x + 6
do 2º grau, basta conhecer a posição da concavidade da
x+1≤6
parábola, voltada para cima ou para baixo, e a existência e
x≤5
quantidade de raízes que ela apresenta.

69
MATEMÁTICA

Consideremos a função f(x) = ax2 + bx + c com a ≠ 0. Respostas

1) Solução:

a) a = 5; b = -3; c = -2
Equação completa

b) a = 3; b = 0; c = 55
Equação incompleta

2) Solução: Sabemos que são duas as raizes, agora


basta testarmos.

(-2)2  – 2.(-2) - 8 = 0   (-2)2  + 4 - 8   4 + 4 - 8 = 0


(achamos uma das raizes)

02 – 2.0 - 8 = 0  0 - 0 - 8  0
12 – 2.1 - 8 = 0  1 - 2 - 8   0
42 – 2.4 - 8 = 0  16 - 8 - 8 = 0 (achamos a outra raiz)

3) Solução:
Finalmente, tomamos como solução para inequação (-3)² - 7.(-3) - 2c = 0
as regiões do eixo x que atenderem às exigências da 9 +21 - 2c = 0
desigualdade. 30 = 2c
c = 15
Exemplo
4) Resposta “S = {x Є R / –7/3 < x < –1}”.
Resolver a inequação x2 – 6x + 8 ≥ 0. Solução:
- Fazemos y = x2 – 6x + 8.
- Estudamos a variação de sinal da função y.

- Tomamos, como solução da inequação, os valores de


x para os quais y > 0:
S = {x ∈ R| x < 2 ou x > 4}

Observação: Quando o universo para as soluções não é


fornecido, fazemos com que ele seja o conjunto R dos reais.

Exercícios

1. Identifique os coeficientes de cada equação e S = {x Є R / –7/3 < x < –1} 


diga se ela é completa ou não:
a) 5x2 - 3x - 2 = 0 5) Resposta “S = {x Є R / x < –1 ou x > 1/2} ”.
b) 3x2  + 55 = 0 Solução:

2. Dentre os números -2, 0, 1, 4, quais deles são raí-


zes da equação x2-2x-8= 0?
3. O número -3 é a raíz da equação x2 - 7x - 2c = 0.
Nessas condições, determine o valor do coeficiente c:

4. Resolver a inequação 3x² + 10x + 7 < 0.

5. Determine a solução da inequação  –2x² – x + 1


≤ 0.

70
MATEMÁTICA

Assim, é possível dizer que as equações


X+y=6
X–y=7

Formam um sistema de equações do 1º grau.

Exemplos de sistemas:
⎧x + y = 4

S = {x Є R / x < –1 ou x > 1/2}  ⎩x − y = 7
⎧2x + 3y + 2z = 10
Sistema de Equações ⎨
⎩ 4x − 5y + z = 15
Definição ⎧2x + y = 10

Observe o raciocínio: João e José são colegas. Ao ⎩5x − 2y = 22
passarem por uma livraria, João resolveu comprar 2
cadernos e 3 livros e pagou por eles R$ 15,40, no total
dos produtos. José gastou R$ 9,20 na compra de 2 livros ∑ Observe este símbolo. A matemática
e 1 caderno. Os dois ficaram satisfeitos e foram para casa. convencionou neste caso para indicar que duas ou mais
No dia seguinte, encontram um outro colega e falaram equações formam um sistema.
sobre suas compras, porém não se lembrava do preço
unitário de dos livros. Sabiam, apenas que todos os livros, Resolução de sistemas
como todos os cadernos, tinham o mesmo preço.
Bom, diante deste problema, será que existe algum Resolver um sistema significa encontrar um par
modo de descobrir o preço de cada livro ou caderno com
de valores das incógnitas X e Y que faça verdadeira as
as informações que temos ? Será visto mais à frente.
equações que fazem parte do sistema.
Um sistema de equação do primeiro grau com duas
incógnitas x e y, pode ser definido como um conjunto
Exemplos:
formado por duas equações do primeiro grau. Lembrando
a) O par (4,3 ) pode ser a solução do sistema
que equação do primeiro grau é aquela que em todas as
x–y=2
incógnitas estão elevadas à potência 1.
x+y=6
Observações gerais
Para saber se estes valores satisfazem ao sistema, basta
Em tutoriais anteriores, já estudamos sobre equações substituir os valores em ambas as equações:
do primeiro grau com duas incógnitas, como exemplo: X + x-y=2x+y=6
y = 7 x – y = 30 x + 2y = 9 x – 3y = 15 4–3=14+3=7
Foi visto também que as equações do 1º grau com 1 ≠ 2 (falso) 7 ≠ 6 (falso)
duas variáveis admitem infinitas soluções: A resposta então é falsa. O par (4,3) não é a solução do
x+y=6x–y=7 sistema de equações acima.
b) O par (5,3 ) pode ser a solução do sistema
x–y=2
x y x y x+y=8
0 6 0 -7
1 5 1 -6 Para saber se estes valores satisfazem ao sistema, basta
substituir os valores em ambas as equações:
2 4 2 -5
x-y=2x+y=8
3 3 3 -4 5–3=25+3=8
4 2 4 -3 2 = 2 (verdadeiro 8 = 8 (verdadeiro)
5 1 5 -2
A resposta então é verdadeira. O par (5,3) é a solução
6 0 6 -1 do sistema de equações acima.
... ...
Métodos para solução de sistemas do 1º grau.
Vendo a tabela acima de soluções das duas equações, - Método de substituição
é possível checar que o par (4;2), isto é, x = 4 e y = 2, é a Esse método de resolução de um sistema de 1º
solução para as duas equações. grau estabelece que “extrair” o valor de uma incógnita é
substituir esse valor na outra equação.

71
MATEMÁTICA

Observe: Vamos calcular então:


x–y=2 3x + 2y = 4 ( x +2)
x+y=4 2x + 3y = 1 ( x -3)
6x +4y = 8
Vamos escolher uma das equações para “extrair” o -6x - 9y = -3 +
valor de uma das incógnitas, ou seja, estabelecer o valor de -5y = 5
acordo com a outra incógnita, desta forma: y = -1
x – y = 2 ---> x = 2 + y
Substituindo:
Agora iremos substituir o “X” encontrado acima, na “X” 2x + 3y = 1
da segunda equação do sistema: 2x + 3.(-1) = 1
x+y=4 2x = 1 + 3
(2 + y ) + y = 4 x=2
2 + 2y = 4 ----> 2y = 4 -2 -----> 2y = 2 ----> y = 1
Verificando:
3x + 2y = 4 ---> 3.(2) + 2(-1) = 4 -----> 6 – 2 = 4
Temos que: x = 2 + y, então
2x + 3y = 1 ---> 2.(2) + 3(-1) = 1 ------> 4 – 3 = 1
x=2+1
x=3
FUNÇÕES: CONCEITO DE FUNÇÃO,
Assim, o par (3,1) torna-se a solução verdadeira do
FUNÇÃO DE VARIÁVEL REAL E SEU
sistema.
GRÁFICO NO PLANO CARTESIANO.
COMPOSIÇÃO DE FUNÇÕES,
- Método da adição
FUNÇÃO MODULAR, FUNÇÕES
Este método de resolução de sistema do 1º grau INVERSAS, FUNÇÕES POLINOMIAIS.
consiste apenas em somas os termos das equações ESTUDO DAS FUNÇÕES DO 1º E 2º GRAUS.
fornecidas. FUNÇÕES CRESCENTES E
DECRESCENTES, MÁXIMOS E MÍNIMOS DE
Observe: UMA FUNÇÃO. FUNÇÃO
x – y = -2 EXPONENCIAL E FUNÇÃO LOGARITMO:
3x + y = 5 PROPRIEDADES FUNDAMENTAIS
DE EXPOENTES E LOGARITMOS,
Neste caso de resolução, somam-se as equações dadas: OPERAÇÕES, GRÁFICOS. EQUAÇÕES E
x – y = -2 INEQUAÇÕES ENVOLVENDO
3x + y = 5 + EXPOENTES E LOGARITMOS.
4x = 3
x = 3/4

Veja nos cálculos que quando somamos as duas


equações o termo “Y” se anula. Isto tem que ocorrer para Função do 1˚ Grau
que possamos achar o valor de “X”. Dados dois conjuntos A e B, não-vazios, função é
uma relação binária de A em B de tal maneira que todo
Agora, e quando ocorrer de somarmos as equações e
elemento x, pertencente ao conjunto A, tem para si um
os valores de “x” ou “y” não se anularem para ficar somente
único correspondente y, pertencente ao conjunto B, que é
uma incógnita ?
chamado de imagem de x.
Neste caso, é possível usar uma técnica de cálculo de
multiplicação pelo valor excludente negativo.
Ex.:
3x + 2y = 4
2x + 3y = 1

Ao somarmos os termos acima, temos:


5x + 5y = 5, então para anularmos o “x” e encontramos
o valor de “y”, fazemos o seguinte:
» multiplica-se a 1ª equação por +2 Notemos que, para uma relação binária dos conjuntos
» multiplica-se a 2ª equação por – 3 A e B, nesta ordem, representarem uma função é preciso
que:

72
MATEMÁTICA

- Todo elemento do conjunto A tenha algum


correspondente (imagem) no conjunto B;
- Para cada elemento do conjunto A exista um único
correspondente (imagem) no conjunto B.

Assim como em relação, usamos para as funções, que


são relações especiais, a seguinte linguagem:

Domínio: Conjunto dos elementos que possuem


f(x) é injetora g(x) não é injetora
imagem. Portanto, todo o conjunto A, ou seja, D = A.
(interceptou o gráfico mais
de uma vez)
Contradomínio: Conjunto dos elementos que se
colocam à disposição para serem ou não imagem dos
Sobrejetora: Quando todos os elementos do
elementos de A. Portanto, todo conjunto B, ou seja, CD = B.
contradomínio forem imagens de pelo menos um elemento
do domínio.
Conjunto Imagem: Subconjunto do conjunto B
formado por todos os elementos que são imagens dos
elementos do conjunto A, ou seja, no exemplo anterior: Im
= {a, b, c}.
Exemplo

Consideremos os conjuntos A = {0, 1, 2, 3, 5} e B = {0,


1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8}.

Vamos definir a função f de A em B com f(x) = x + 1.


Tomamos um elemento do conjunto A, representado
Reconhecemos, graficamente, uma função sobrejetora
por x, substituímos este elemento na sentença f(x),
quando, qualquer que seja a reta horizontal que interceptar
efetuamos as operações indicadas e o resultado será a
o eixo no contradomínio, interceptar, também, pelo menos
imagem do elemento x, representada por y.
uma vez o gráfico da função.

f: A → B
y = f(x) = x + 1

Tipos de Função f(x) é sobrejetora g(x) não é sobrejetora


(não interceptou o gráfico)
Injetora: Quando para ela elementos distintos do
domínio apresentam imagens também distintas no Bijetora: Quando apresentar as características de
contradomínio. função injetora e ao mesmo tempo, de sobrejetora, ou
seja, elementos distintos têm sempre imagens distintas
e todos os elementos do contradomínio são imagens de
pelo menos um elemento do domínio.

Reconhecemos, graficamente, uma função injetora


quando, uma reta horizontal, qualquer que seja interceptar
o gráfico da função, uma única vez.

73
MATEMÁTICA

Função crescente: A função f(x), num determinado x y = 2x – 1


intervalo, é crescente se, para quaisquer x1 e x2 pertencentes
a este intervalo, com x1<x2, tivermos f(x1)<f(x2). –2 –5
–1 –3
0 –1
1 1
2 3
3 5

Transportados os pares ordenados para o plano


cartesiano, vamos obter o gráfico correspondente à função
x1<x2 → f(x1)<f(x2) f(x).
Função decrescente: Função f(x), num determinado
intervalo, é decrescente se, para quaisquer x1 e x2
pertencente a este intervalo, com x1 < x2, tivermos f(x1)>f(x2).

x1<x2 → f(x1)>f(x2)

Função constante: A função f(x), num determinado


intervalo, é constante se, para quaisquer x1 < x2, tivermos
f(x1) = f(x2).

Exemplo para a > 0


Consideremos f(x) = 2x – 1.

x f(x)
-1 -3
0 -1
1 1
2 3

Gráficos de uma Função


A apresentação de uma função por meio de seu gráfico
é muito importante, não só na Matemática como nos
diversos ramos dos estudos científicos.

Exemplo

Consideremos a função real f(x) = 2x – 1. Vamos


construir uma tabela fornecendo valores para x e, por meio
da sentença f(x), obteremos as imagens y correspondentes.

74
MATEMÁTICA

Exemplo para a < 0 O zero da função y = 2x – 4 é 2.


Consideremos f(x) = –x + 1.
No plano cartesiano, o zero da função do 1º grau é
x f(x) representado pela abscissa do ponto onde a reta corta o
-1 2 eixo x.
0 1 x y (x,y)
1 0 1 -2 (1, -2)
2 -1 3 2 (3,2)

Observe que a reta y = 2x – 4 intercepta o eixo x no


ponto (2,0), ou seja, no ponto de abscissa 2, que é o zero
da função.
Conhecido o zero de uma função do 1º grau e
Consideremos a função f(x) = ax + b com a ≠ 0, em que lembrando a inclinação que a reta pode ter, podemos
x0 é a raiz da função f(x). esboçar o gráfico da função.

a>0 a<0 Estudo do sinal da função do 1º grau:

Estudar o sinal da função do 1º grau y = ax + b é


determinar os valores reais de x para que:
- A função se anule (y = 0);
- A função seja positiva (y > 0);
- A função seja negativa (y < 0).

Exemplo
x>x0⇒f(x)>0 x>x0⇒f(x)<0 Estudar o sinal da função y = 2x – 4 (a = 2 > 0).
a) Qual o valor de x que anula a função?
x=x0⇒f(x)=0 x=x0⇒f(x)=0 y=0
x<x0⇒f(x)<0 x<x0⇒f(x)>0 2x – 4 = 0
2x = 4
Conclusão: O gráfico de uma função do 1º grau é uma
4
reta crescente para a > 0 e uma reta decrescente para a < 0. x=
2
Zeros da Função do 1º grau: x=2

Chama-se zero ou raiz da função do 1º grau y = ax + A função se anula para x = 2.


b o valor de x que anula a função, isto é, o valor de x para
que y seja igual à zero. b) Quais valores de x tornam positiva a função?
Assim, para achar o zero da função y = ax + b, basta y>0
resolver a equação ax + b = 0. 2x – 4 > 0
2x > 4
Exemplo
x> 4
2
Determinar o zero da função:
y = 2x – 4. x>2
2x – 4 = 0
2x = 4 A função é positiva para todo x real maior que 2.
x= 4
x = 22

75
MATEMÁTICA

c) Quais valores de x tornam negativa a função? Observações: (a, b) = (c, d) se, e somente se, a = c e b
=d
y<0
2x – 4 < 0 (a, b) = (b, a) se, o somente se, a = b
2x < 4
Produto Cartesiano
4
x< Dados dois conjuntos A e B, chamamos de produto
2
cartesiano A x B ao conjunto de todos os possíveis pares
x<2 ordenados, de tal maneira que o 1º elemento pertença ao
1º conjunto (A) e o 2º elemento pertença ao 2º conjunto
A função é negativa para todo x real menor que 2. (B).

Podemos também estudar o sinal da função por meio A x B= {(x,y) / x ∈ A e y ∈ B}


de seu gráfico:
Quando o produto cartesiano for efetuado entre o
conjunto A e o conjunto A, podemos representar A x A =
A2. Vejamos, por meio de o exemplo a seguir, as formas de
apresentação do produto cartesiano.

Exemplo

Sejam A = {1, 4, 9} e B = {2, 3}. Podemos efetuar o


produto cartesiano A x B, também chamado A cartesiano B,
e apresentá-lo de várias formas.

a) Listagem dos elementos


Apresentamos o produto cartesiano por meio da
listagem, quando escrevemos todos os pares ordenados
que constituam o conjunto. Assim, no exemplo dado,
- Para x = 2 temos y = 0; teremos:
- Para x > 2 temos y > 0;
- Para x < 2 temos y < 0. A e B = {(1, 2),(1, 3),(4, 2),(4, 3),(9, 2),(9, 3)}
Relação Binária
Vamos aproveitar os mesmo conjuntos A e B e efetuar
Par Ordenado o produto B e A (B cartesiano A): B x A = {(2, 1),(2, 4),(2, 9),(3,
1),(3, 4),(3, 9)}.
Quando representamos o conjunto (a, b) ou (b, a)
estamos, na verdade, representando o mesmo conjunto. Observando A x B e B x A, podemos notar que o produto
Porém, em alguns casos, é conveniente distinguir a ordem cartesiano não tem o privilégio da propriedade comutativa,
dos elementos. ou seja, A x B é diferente de B x A. Só teremos a igualdade A
Para isso, usamos a idéia de par ordenado. A princípio, x B = B x A quando A e B forem conjuntos iguais.
trataremos o par ordenado como um conceito primitivo Observação: Considerando que para cada elemento do
e vamos utilizar um exemplo para melhor entendê- conjunto A o número de pares ordenados obtidos é igual
lo. Consideremos um campeonato de futebol e que ao número de elementos do conjunto B, teremos: n(A x B)
desejamos apresentar, de cada equipe, o total de pontos = n(A) x n(B).
ganhos e o saldo de gols. Assim, para uma equipe com 12
pontos ganhos e saldo de gols igual a 18, podemos fazer a b) Diagrama de flechas
indicação (12, 18), já tendo combinado, previamente, que o Apresentamos o produto cartesiano por meio do
primeiro número se refere ao número de pontos ganhos, e diagrama de flechas, quando representamos cada um
o segundo número, ao saldo de gols. dos conjuntos no diagrama de Euler-Venn, e os pares
Portanto, quando tivermos para outra equipe a ordenados por “flechas” que partem do 1º elemento do
informação de que a sua situação é (2, -8) entenderemos, par ordenado (no 1º conjunto) e chegam ao 2º elemento
que esta equipe apresenta 2 pontos ganhos e saldo de gols do par ordenado (no 2º conjunto).
-8. Note que é importante a ordem em que se apresenta Considerando os conjuntos A e B do nosso exemplo,
este par de números, pois a situação (3, 5) é totalmente o produto cartesiano A x B fica assim representado no
diferente da situação (5,3). Fica, assim, estabelecida a diagrama de flechas:
idéia de par ordenado: um par de valores cuja ordem de
apresentação é importante.

76
MATEMÁTICA

Vejamos alguns exemplos de determinação de domínio


de uma função real.

Exemplos
Determine o domínio das seguintes funções reais.

- f(x)=3x2 + 7x – 8
D=R

- f(x)=√x+7
x – 7 ≥ 0→ x ≥ 7
c) Plano cartesiano D = {x∈R/x ≥ 7}
Apresentamos o produto cartesiano, no plano
cartesiano, quando representamos o 1º conjunto num eixo - f(x)= √x+1
3

horizontal, e o 2º conjunto num eixo vertical de mesma D=R


origem e, por meio de pontos, marcamos os elementos
desses conjuntos. Em cada um dos pontos que representam Observação: Devemos notar que, para raiz de índice
os elementos passamos retas (horizontais ou verticais). Nos impar, o radicando pode assumir qualquer valor real,
cruzamentos dessas retas, teremos pontos que estarão inclusive o valor negativo.
representando, no plano cartesiano, cada um dos pares
3
ordenados do conjunto A cartesiano B (B x A). - f(x)=
√x+8
x + 8 > 0 → x > -8
D = {x∈R/x > -8}

- f(x)= √x+5
x-8
x–5≥0→x≥5
x–8≥0→x≠8
D = {x∈R/x ≥ 5 e x ≠ 8}

Exercícios

1. Determine o domínio das funções reais


Domínio de uma Função Real apresentadas abaixo.
Para uma função de R em R, ou seja, com elementos a) f(x) = 3x2 + 7x – 8
no conjunto dos números reais e imagens também no
3
conjunto dos números reais, será necessária, apenas, a b) f(x)=
3x-6
apresentação da sentença que faz a “ligação” entre o
elemento e a sua imagem. c) f(x)= √x+2
Porém, para algumas sentenças, alguns valores reais
d) f(x)= √2x+1
3
não apresentam imagem real.
Por exemplo, na função f(x) = √(x-1) , o número real 0
não apresenta imagem real e, portanto, f(x) características e) f(x)= 4x
de função, precisamos limitar o conjunto de partida, √7x+5
eliminando do conjunto dos números reais os elementos
que, para essa sentença, não apresentam imagem. Nesse 2. Um número mais a sua metade é igual a 150.
caso, bastaria estabelecermos como domínio da função f(x) Qual é esse número?
o conjunto D = {x∈R/x ≥ 1}.
Para determinarmos o domínio de uma função, 3. Considere a função f, de domínio N, definida por
portanto, basta garantirmos que as operações indicadas na f(1) = 4 e f(x+1) = 3f(x)-2. O valor de f(0) é:
sentença são possíveis de serem executadas. Dessa forma, a) 0
apenas algumas situações nos causam preocupação e elas b) 1
serão estudadas a seguir. c) 2
2n
d) 3
1ª y= √f(x) f(x)≥(n∈N*) e) 4

2ª y= 1 ⇒ f(x)≠0 4. Sejam f e g funções definidas em R por f(x)=2x-1 e


f(x( g(x)=x-3. O valor de g(f(3)) é:

77
MATEMÁTICA

a) -1 2) Resposta “100”.
b) 1 Solução:
c) 2 n + n/2 = 150
d) 3 2n/2 + n/2 = 300/2
e) 4 2n + n = 300
3n = 300
5. Numa loja, o salário fixo mensal de um vendedor n = 300/3
é 500 reais. Além disso, ele recebe de comissão 50 reais n = 100.
por produto vendido.
a) Escreva uma equação que expresse o ganho men- 3. Resposta “C”.
sal y desse vendedor, em função do número x de pro- Solução : Com a função dada f(x + 1) = 3f(x) – 2
duto vendido. substituímos o valor de x por x = 0:
b) Quanto ele ganhará no final do mês se vendeu 4 f(0 + 1) = 3f (0) – 2
produtos? f(1) = 3f(0) - 2
c) Quantos produtos ele vendeu se no final do mês
recebeu 1000 reais? É dito que f(1) = 4, portanto:
4 = 3f(0) - 2
6. Considere a função dada pela equação y = x + 1, Isolando f(0):
determine a raiz desta função. 4+2 = 3f(0)
6 = 3f(0)
7. Determine a raiz da função y = - x + 1 e esboce f(0) = 6/3 = 2.
o gráfico.
4) Resposta “E”.
8. Determine o intervalo das seguintes funções para Solução: Começamos encontrando f(3):
que f(x) > 0 e f(x) < 0. f(3) = 2.(3) + 1, ou seja, f(3) = 7
a) y = f(x) = x + 1 Se está pedindo g[f(3)] então está pedindo g(7):
b) y = f(x) = -x + 1 g(7) = 7 - 3 = 4

Logo, a resposta certa, letra “E”.


9. Determine o conjunto imagem da função:
D(f) = {1, 2, 3}
5) Solução
y = f(x) = x + 1
a) y = salário fixo + comissão
y = 500 + 50x
10. Determine o conjunto imagem da função:
D(f) = {1, 3, 5}
b) y = 500 + 50x , onde x = 4
y = f(x) = x²
y = 500 + 50 . 4 = 500 + 200 = 700

c) y = 500 + 50x , onde y = 1000


Respostas 1000 = 500 + 50x  
50x = 1000 – 500
1) Solução: 50x = 500
a) D = R x = 10.
b) 3x – 6 ≠ 0 6) Solução: Basta determinar o valor de x para termos
x≠2 y=0
D = R –{2} x+1=0
x = -1
c) x + 2 ≥ 0
x ≥ -2
D = {x ∈ R/ x ≥ -2}

d) D = R
Devemos observar que o radicando deve ser maior ou
igual a zero para raízes de índice par.
e) Temos uma raiz de índice par no denominado, assim:
7x + 5 > 0
x > - 7/5
D = {x ∈ R/ x > -5/7}.

78
MATEMÁTICA

Dizemos que -1 é a raiz ou zero da função. 9) Solução:


f(1) = 1 + 1 = 2
f(2) = 2 + 1 = 3
f(3) = 3 + 1 = 4
Logo: Im(f) = {2, 3, 4}.

10) Solução:
f(1) = 1² = 1
f(3) = 3² = 9
f(5) = 5² = 25
Logo: Im(f) = {1, 9, 25}

Função do 2º Grau

Note que o gráfico da função y = x + 1, interceptará Chama-se função do 2º grau ou função quadrática
(cortará) o eixo x em -1, que é a raiz da função. toda função f de R em R definida por um polinômio do 2º
grau da forma f(x) = ax2 + bx + c ou y = ax2 + bx + c , com
7) Solução: Fazendo y = 0, temos: a, b e c reais e a ≠ 0.
0 = -x + 1
x=1 Exemplo

Gráfico: - y = x2 – 5x + 4, sendo a = 1, b = –5 e c = 4
- y = x2 – 9, sendo a = 1, b = 0 e c = –9
- y = x2, sendo a = 1, b = 0 e c = 0

Representação gráfica da Função do 2º grau

Exemplo

Se a função f de R em R definida pela equação y =


x2 – 2x – 3. Atribuindo à variável x qualquer valor real,
obteremos em correspondência os valores de y:

Para x = –2 temos y = (–2)2 – 2(–2) –3 = 4 + 4 – 3 = 5


Para x = –1 temos y = (–1)2 – 2(–1) –3 = 1 + 2 – 3 = 0
Note que o gráfico da função y = -x + 1, interceptará Para x = 0 temos y = (0)2 – 2(0) –3 = – 3
(cortará) o eixo x em 1, que é a raiz da função. Para x = 1 temos y = (1)2 – 2(1) –3 = 1 – 2 – 3 = –4
Para x = 2 temos y = (2)2 – 2(2) –3 = 4 – 4 – 3 = –3
8) Solução: Para x = 3 temos y = (3)2 – 2(3) –3 = 9 – 6 – 3 = 0
a) y = f(x) = x + 1 Para x = 4 temos y = (4)2 – 2(4) –3 = 16 – 8 – 3 = 5
x+1>0
x > -1
Logo, f(x) será maior que 0 quando x > -1
x+1<0
x < -1
Logo, f(x) será menor que 0 quando x < -1

b) y = f(x) = -x + 1
* -x + 1 > 0
-x > -1
x<1
Logo, f(x) será maior que 0 quando x < 1

-x + 1 < 0
-x < -1
x>1
Logo, f(x) será menor que 0 quando x > 1
(*ao multiplicar por -1, inverte-se o sinal da desigual-
dade).

79
MATEMÁTICA

x y (x,y)
–2 5 (–2,5)
–1 0 (–1,0)
0 –3 (0, –3)
1 –4 (1, –4)
2 –3 (2, –3)
3 0 (3,0)
4 5 (4,5)
Conjunto Imagem: Projeção ortogonal do gráfico da
O gráfico da função de 2º grau é uma curva aberta função no eixo y. Assim, Im = [c, d].
chamada parábola.
O ponto V indicado na figura chama-se vértice da
parábola.

Concavidade da Parábola
No caso das funções do 2º grau, a parábola pode ter
sua concavidade voltada para cima (a > 0) ou voltada para
baixo (a < 0).

Zeros da Função do 2º grau

As raízes ou zeros da função quadrática f(x) = ax2 + bx


+ c são os valores de x reais tais que f(x) = 0 e, portanto, as
soluções da equação do 2º grau.
a>0 a<0 ax2 + bx + c = 0
Podemos por meio do gráfico de uma função, A resolução de uma equação do 2º grau é feita com o
reconhecer o seu domínio e o conjunto imagem. auxílio da chamada “fórmula de Bhaskara”.
Δ
-b + √
Consideremos a função f(x) definida por A = [a, b] em R. x= -
2.a Onde Δ = b2 – 4.a.c

As raízes (quando são reais), o vértice e a intersecção


com o eixo y são fundamentais para traçarmos um esboço
do gráfico de uma função do 2º grau.

f(x) = ax2 + bx + c com a ≠ 0


Δ>0 Δ=0 Δ<0
a>0

Domínio: Projeção ortogonal do gráfico da função no a<0


eixo x. Assim, D = [a, b] = A

80
MATEMÁTICA

Coordenadas do vértice da parábola - Se a < 0, o vértice é o ponto da parábola que tem


ordenada máxima. Nesse caso, o vértice é ponto de
A parábola que representa graficamente a função do máximo e a ordenada do vértice é chamada valor máximo
2º grau apresenta como eixo de simetria uma reta vertical da função.
que intercepta o gráfico num ponto chamado de vértice.

As coordenadas do vértice são:


-b -Δ
xv = e xv =
2a 4a
   

Vértice (V)

Construção do gráfico da função do 2º grau

- Determinamos as coordenadas do vértice;


- Atribuímos a x valores menores e maiores que xv e
O Conjunto Imagem de uma função do 2º grau está calculamos os correspondentes valores de y;
associado ao seu ponto extremo, ou seja, à ordenada do - Construímos assim uma tabela de valores;
vértice (yv). - Marcamos os pontos obtidos no sistema cartesiano;
- Traçamos a curva.

Exemplo

y = x2 – 4x + 3

Coordenadas do vértice:
-(-4)
xv = -b = = 4 =2 V (2, –1)
2a 2(1) 2
yV = (2)2 – 4(2) + 3 = 4 – 8 + 3 = –1
Exemplo
Tabela:
Vamos determinar as coordenadas do vértice da Para x = 0 temos y = (0)2 – 4(0) + 3 = 0 – 0 + 3 = 3
parábola da seguinte função quadrática: y = x2 – 8x + 15. Para x = 1 temos y = (1)2 – 4(1) + 3 = 1 – 4 + 3 = 0
Para x = 3 temos y = (3)2 – 4(3) + 3 = 9 – 12 + 3 = 0
Cálculo da abscissa do vértice: Para x = 4 temos y = (4)2 – 4(4) + 3 = 16 – 16 + 3 = 3

-(-8)
xv= -b = = 8 =4 x y (x,y)
2a 2(1) 2
0 3 (0,3)
Cálculo da ordenada do vértice: 1 0 (1,0)
Substituindo x por 4 na função dada: 2 –1 (2,–1)Vértice
yV = (4)2 – 8(4) + 15 = 16 – 32 + 15 = –1 3 0 (3,0)
4 3 (4,3)
Logo, o ponto V, vértice dessa parábola, é dado por V
(4, –1).

Valor máximo e valor mínimo da função do 2º grau

- Se a > 0, o vértice é o ponto da parábola que tem


ordenada mínima. Nesse caso, o vértice é chamado ponto
de mínimo e a ordenada do vértice é chamada valor
mínimo da função;

81
MATEMÁTICA

Gráfico: 6. Há dois números cujo triplo do quadrado é a igual 15


vezes estes números. Quais números são estes?

7. Quais são as raízes da equação x2 - 14x + 48 = 0?

8. O dobro do quadrado da nota final de Pedrinho é


zero. Qual é a sua nota final?

9. Solucione a equação biquadrada: -x4 + 113x2 - 3136


= 0.

10. Encontre as raízes da equação biquadrada: x4 - 20x2


- 576 = 0.
Respostas

Estudos do sinal da função do 2º grau 1) Resposta “3”.


Estudar o sinal de uma função quadrática é determinar Solução: Sendo x o número de filhos de Pedro, temos
os valores reais de x que tornam a função positiva, negativa que 3x2 equivale ao triplo do quadrado do número de filhos
ou nula. e que 63 - 12x equivale a 63 menos 12 vezes o número de
filhos. Montando a sentença matemática temos:
Exemplo 3x2 = 63 - 12x
y = x2 – 6x + 8
Que pode ser expressa como:
Zeros da função: Esboço do Gráfico 3x2 + 12x - 63 = 0
y = x2 – 6x + 8
Δ = (–6)2 – 4(1)(8) Temos agora uma sentença matemática reduzida à
Δ = 36 – 32 = 4 forma ax2 + bx + c = 0, que é denominada equação do
√Δ= √4 = 2 2° grau. Vamos então encontrar as raízes da equação, que
será a solução do nosso problema:
Estudo do Sinal: Primeiramente calculemos o valor de Δ:
Δ = b2 - 4.a.c = 122 - 4 . 3 .(-63) = 144 + 756 = 900

6+2 8
= =4 Para x < 2 ou x > 4 temos y > 0 Como Δ é maior que zero, de antemão sabemos que
6±2
x= 2 2 Para x = 2 ou x = 4 temos y = 0 a equação possui duas raízes reais distintas. Vamos calcu-
2 6−2 4
= =2 Para 2 < x < 4 temos y < 0 lá-las:
2 2
Exercícios 3x2 + 12 - 63 = 0 ⇒ x = -12 ± √Δ ⇒
2.3
1. O triplo do quadrado do número de filhos de Pedro
é igual a 63 menos 12 vezes o número de filhos. Quantos -12 + √900 18
x1 = ⇒x1 = -12 ± 30 ⇒ x1 = ⇒ x1 = 3
filhos Pedro tem? 6 6 6
-12 - √900 -42
2. Uma tela retangular com área de 9600cm2  tem de x2 = ⇒x1 = -12 - 30 ⇒ x2 = ⇒ x2 = -7
6 6 6
largura uma vez e meia a sua altura. Quais são as dimensões
desta tela?
A raízes encontradas são 3 e -7, mas como o número
3. O quadrado da minha idade menos a idade que eu de filhos de uma pessoa não pode ser negativo, descarta-
tinha 20 anos atrás e igual a 2000. Quantos anos eu tenho mos então a raiz -7.
agora? Portanto, Pedro tem 3 filhos.

4. Comprei 4 lanches a um certo valor unitário. De outro 2) Resposta “80cm; 120 cm”.
tipo de lanche, com o mesmo preço unitário, a quantidade Solução: Se chamarmos de x altura da tela, temos
comprada foi igual ao valor unitário de cada lanche. Paguei que 1,5x será a sua largura. Sabemos que a área de uma
com duas notas de cem reais e recebi R$ 8,00 de troco. figura geométrica retangular
Qual o preço unitário de cada produto? é calculada multiplicando-se a medida da sua largura,
pela medida da sua altura. Escrevendo o enunciado na for-
5. O produto da idade de Pedro pela idade de Paulo é ma de uma sentença matemática temos:
igual a 374. Pedro é 5 anos mais velho que Paulo. Quantos x . 1,5x = 9600
anos tem cada um deles? Que pode ser expressa como:

82
MATEMÁTICA

1,5x2 - 9600 = 0
Note que temos uma equação do 2° grau incompleta, -4 ± √42 - 4 . 1 . (-192)
x2 + 4x - 192 = 0 ⇒ x =
que como já vimos terá duas raízes reais opostas, situação 2.1
que ocorre sempre que o coeficiente b é igual a zero. Va-
-4 ± √784
mos aos cálculos: ⇒ x =
2
9600
1,5x2 - 9600 = 0 ⇒ 1,5x2 = 9600 ⇒ x2 =
1,5
-4 + 28
x1 = ⇒ x1 = 12
⇒ x = ±√6400 ⇒ x = ±80 2
-4 ± 28
⇒x= ⇒ -4 - 89
As raízes reais encontradas são  -80  e  80, no entanto 2 x2 = ⇒ x2 = -16
2
como uma tela não pode ter dimensões negativas, deve-
mos desconsiderar a raiz -80. As raízes reais da equação são -16 e 12. Como o preço
Como 1,5x representa a largura da tela, temos então não pode ser negativo, a raiz igual -16 deve ser descartada.
que ela será de 1,5 . 80 = 120. Assim, o preço unitário de cada produto é de R$ 12,00.
Portanto, esta tela tem as dimensões de 80cm de altu-
ra, por 120cm de largura. 5) Resposta “22; 17”.
3) Resposta “45”. Solução: Se chamarmos de x a idade de Pedro, teremos
Solução: Denominando x a minha idade atual, a partir que x - 5 será a idade de Paulo. Como o produto das idades
do enunciado podemos montar a seguinte equação: é igual a 374, temos que x . (x - 5) = 374.
x2 - (x - 20) = 2000 Esta sentença matemática também pode ser expressa
Ou ainda: como:
x2 - (x - 20) = 2000 ⇒ x2 - x + 20 = 2000 ⇒ x2 - x - 1980 =0
A solução desta equação do 2° grau completa nós dará x.(x - 5) = 374 ⇒ x2 - 5x = 374 ⇒ x2 - 5x - 374 = 0
a resposta deste problema. Vejamos:
Primeiramente para obtermos a idade de Pedro, vamos
-(-1) ± √(-1)2 - 4 . 1 . (-1980) solucionar a equação:
x2 - x - 1980 = ⇒ x =
2.1
1 ± √7921 -(-5) ± √(-5)2 - 4 . 1 . (-374)
⇒x= x2 - 5x - 374 = 0 ⇒ 2.1
2
5 ± √1521
⇒x=
2
1 + 89
x1 = ⇒ x1 = 45
1 ± 89 2
⇒x= ⇒ 1 - 89 5 + 39
2 x2 = ⇒ x2 = -44 x1 = ⇒ x1 = 22
2 2
5 ± 39
⇒x= ⇒ 5 - 39
2 x2 = ⇒ x2 = -17
2
As raízes reais da equação são -44 e 45. Como eu não
posso ter -44 anos, é óbvio que só posso ter 45 anos.
Logo, agora eu tenho 45 anos. As raízes reais encontradas são -17 e 22, por ser nega-
4) Resposta “12”. tiva, a raiz -17 deve ser descartada.
Solução: O enunciado nos diz que os dois tipos de lan- Logo a idade de Pedro é de 22 anos.
che têm o mesmo valor unitário. Vamos denominá-lo então Como Pedro é 5 anos mais velho que Paulo, Paulo tem
de x. então 17 anos.
Ainda segundo o enunciado, de um dos produtos eu Logo, Pedro tem 22 anos e Paulo tem 17 anos.
comprei 4 unidades e do outro eu comprei x unidades.
Sabendo-se que recebi R$ 8,00 de troco ao pa- 6) Resposta “0; 5”.
gar R$ 200,00 pela mercadoria, temos as informações ne- Solução: Em notação matemática, definindo a incógnita
cessárias para montarmos a seguinte equação: como x, podemos escrever esta sentença da seguinte forma:
4 . x + x . x + 8 = 200 3x2 = 15x
Ou então: Ou ainda como:
4.x + x . x + 8 = 200 ⇒ 4x + x2 + 8 = 200 ⇒ x2 + 4x - 192=0 3x2 - 15x = 0
A fórmula geral de resolução ou fórmula de Bhaskara
Como x representa o valor unitário de cada lanche, va- pode ser utilizada na resolução desta equação, mas por se
mos solucionar a equação para descobrimos que valor é tratar de uma equação incompleta, podemos solucioná-la
este: de outra forma.

83
MATEMÁTICA

Como apenas o coeficiente c é igual a zero, sabemos Resolvendo teremos:


que esta equação possui duas raízes reais. Uma é igual aze-
−113 ± 1132 − 4.(−1).(−3136)
ro e a outra é dada pelo oposto do coeficiente b dividido -y2 + 113y - 3136 = 0 ⇒ y =
2 + (−1)
pelo coeficiente a. Resumindo podemos dizer que:
−113 + 225 -113 + 15
x1 = 0 y1 = ⇒ y1 =
−2 -2
ax2 + bx = 0 ⇒ b ⇒
x2 = - −113 − 225
a y2 = ⇒ y2 = -113 - 15
−2 -2
Temos então:
-98
b -15 y1 = ⇒ y1 = 49
x=- ⇒x= ⇒ x=5 -2
a 3 ⇒
y2 = -128 ⇒ y2 = 64
7) Resposta “6; 8”. -2

Solução: Podemos resolver esta equação simplesmente


respondendo esta pergunta: Substituindo os valores de y na expressão x2 = y temos:
Quais são os dois números que somados totalizam 14
e que multiplicados resultam em 48? Para y1 temos:
Sem qualquer esforço chegamos a 6 e 8, pois 6 + 8 = x1 = √49 ⇒ x1 = 7
14 e 6 . 8 = 48. x = 49 ⇒ x ±√49 ⇒
2

Segundo as relações de Albert Girard, que você encon- x2 = - √49 ⇒ x2 = -7


tra em detalhes em outra página deste site, estas são as
raízes da referida equação. Para y2 temos:
Para simples conferência, vamos solucioná-la também x3 = √64 ⇒ x3 = 8
através da fórmula de Bhaskara:
x = 64 ⇒ x ±√64 ⇒
2
x4 = - √64 ⇒ x4 =
-(-14) ± √(-14)2 - 4 . 1 . 48
x - 14x + 48 = 0 ⇒ x =
2
2.1
Assim sendo, as raízes da equação biquadrada -x4  +
⇒ x = 14 ± √4 113x2 - 3136 = 0 são: -8, -7, 7 e 8.
2
14 ± 2
⇒x = 10) Resposta “-6; 6”.
2
14 + 2 Solução: Iremos substituir  x4  por y2  e x2  e y, obtendo
x1 = ⇒ x1 = 8 uma equação do segundo grau:
2
⇒ y2 - 20y - 576 = 0
14 - 2
x2 = ⇒ x2 = 6
2
Ao resolvermos a mesma temos:
−20 ± (−20)2 − 4.1.(−576)
y2 - 20y - 576 = 0 ⇒
8) Resposta “0”. 2.3
Solução: Sendo x a nota final, matematicamente temos: 20 + 2704 20 + 52 72
2x2 = 0 y1=
2
⇒y1=
2
⇒y1= ⇒y1=36
2
Podemos identificar esta sentença matemática como
sendo uma equação do segundo grau incompleta, cujos 20 − 52 −32
20 − 2704
coeficientes b e c são iguais a zero. y 2= ⇒y2= ⇒y2= 2 ⇒y2=-16
Conforme já estudamos este tipo de equação sempre 2 2
terá como raiz real o número zero. Apenas para verificação
vejamos: Substituindo os valores de y na expressão x2 = y obte-
mos as raízes da equação biquadrada:
0
2x2 = 0 ⇒ x2 = ⇒ x2 = 0 ⇒ x ±√0 ⇒ x =0
2 Para y1 temos:
9) Resposta “-8; -7; 7 e 8”.
Solução: Substituindo na equação x4  por y2  e tam- x1 = √36 ⇒ x1= 6
x2 = 36 ⇒ x = ±√36 ⇒
bém x2 e y temos:
-y2 + 113y - 3136 = 0 x2 = -√36 ⇒ x2= -6

84
MATEMÁTICA

Para y2, como não existe raiz quadrada real de um nú- gado a cumprir a sua promessa. Chamou, então, o inventor
mero negativo, o valor de -16 não será considerado. do jogo e disse que ele poderia pedir o que desejasse. O
astuto inventor pediu então que as 64 casas do tabulei-
Desta forma, as raízes da equação biquadrada x4  - ro do jogo de xadrez fossem preenchidas com moedas de
20x2 - 576 = 0 são somente: -6 e 6. ouro, seguindo a seguinte condição: na primeira casa seria
colocada uma moeda e em cada casa seguinte seria colo-
Função Exponencial cado o dobro de moedas que havia na casa anterior. O Rei
considerou o pedido fácil de ser atendido e ordenou que
Uma função é uma maneira de associar a cada valor do providenciassem o pagamento. Tal foi sua surpresa quando
argumento x um único valor da função f(x). Isto pode ser os tesoureiros do reino lhe apresentaram a suposta conta,
feito especificando através de uma fórmula um  relaciona- pois apenas na última casa o total de moedas era de 263,
mento gráfico entre diagramas representando os dois con- o que corresponde a aproximadamente 9 223 300 000 000
juntos, e/ou uma regra de associação, mesmo uma tabela 000 000 = 9,2233.1018. Não se pode esquecer ainda que o
de correspondência pode ser construída; entre conjuntos valor entregue ao inventor seria a soma de todas as moe-
numéricos é comum representarmos funções por seus grá- das contidas em todas as casas. O rei estava falido!
ficos, cada par de elementos relacionados pela função de- A lenda nos apresenta uma aplicação de funções expo-
termina um ponto nesta representação, a restrição de uni- nenciais, especialmente da função y = 2x.
cidade da imagem implica em um único ponto da função As funções exponenciais são aquelas que crescem ou
em cada linha de chamada do valor independente x. decrescem muito rapidamente. Elas desempenham papéis
Como um termo matemático, “função” foi introduzido fundamentais na Matemática e nas ciências envolvidas com
por Leibniz em 1694, para descrever quantidades relacio- ela, como: Física, Química, Engenharia, Astronomia, Econo-
nadas a uma curva; tais como a inclinação da curva ou um mia, Biologia, Psicologia e outras.
ponto específico da dita curva. Funções relacionadas à cur-
vas são atualmente chamadas funções diferenciáveis e são Definição
ainda o tipo de funções mais encontrado por não-matemá-
ticos. Para este tipo de funções, pode-se falar em limites e A função exponencial é a definida como sendo a inver-
derivadas; ambos sendo medida da mudança nos valores sa da função logarítmica natural, isto é:
de saída associados à variação dos valores de entrada, for-
mando a base do cálculo infinitesimal. logab = x ⇔ ax = b
A palavra função foi posteriormente usada por Euler
em meados do século XVIII para descrever uma expressão Podemos concluir, então, que a função exponencial é
envolvendo vários argumentos; i.e:y = F(x). Ampliando a definida por:
definição de funções, os matemáticos foram capazes de es-
y= ax , com 1 ≠ a > 0
tudar “estranhos” objetos matemáticos tais como funções
Gráficos da Função Exponencial
que não são diferenciáveis em qualquer de seus pontos.
Tais funções, inicialmente tidas como puramente imaginá-
rias e chamadas genericamente de “monstros”, foram já no
final do século XX, identificadas como importantes para a
construção de modelos físicos de fenômenos tais como o
movimento Browniano.
Durante o Século XIX, os matemáticos começaram
a formalizar todos os diferentes ramos da matemática.
Weierstrass defendia que se construisse o cálculo infinite-
simal sobre a Aritmética ao invés de sobre a Geometria, o
que favorecia a definição de Euler em relação à de Leibniz
(veja aritmetização da análise). Mais para o final do sécu-
lo, os matemáticos começaram a tentar formalizar toda a
Matemática usando Teoria dos conjuntos, e eles consegui-
ram obter definições de todos os objetos matemáticos em
termos do conceito de conjunto. Foi Dirichlet quem criou a
definição “formal” de função moderna.

Função Exponencial

Conta a lenda que um rei solicitou aos seus súditos


que lhe inventassem um novo jogo, a fim de diminuir o
seu tédio. O melhor jogo teria direito a realizar qualquer
desejo. Um dos seus súditos inventou, então, o jogo de
xadrez. O Rei ficou maravilhado com o jogo e viu-se obri-

85
MATEMÁTICA

Propriedades da Função Exponencial   Segundo a definição de logaritmo nós sabemos que:


Se a, x e y são dois números reais quaisquer e k é um log2 x = 3 ⇔ 23 = x
número racional, então:
- ax ay= ax + y Logo x é igual a 8:23 = x ⇒ X = 2.2.2 ⇒ x= 8
- ax / ay= ax - y
- (ax) y= ax.y De acordo com a definição de logaritmo o logarit-
- (a b)x = ax bx mando deve ser um número real positivo e já que 8 é um
- (a / b)x = ax / bx número real positivo, podemos aceitá-lo como solução da
- a-x = 1 / ax   equação. A esta restrição damos o nome de condição de
Estas relações também são válidas para exponenciais existência.
de base e (e = número de Euller = 2,718...) logx 100 = 2
- y = ex se, e somente se, x = ln(y)
- ln(ex) =x Pela definição de logaritmo a base deve ser um núme-
- ex+y= ex.ey ro real e positivo além de ser diferente de 1. Então a nossa
- ex-y = ex/ey condição de existência da equação acima é que:
- ex.k = (ex)k
x ∈R+* − {1}
 
A Constante de Euler
Em relação a esta segunda equação nós podemos es-
Existe uma importantíssima constante matemática de- crever a seguinte sentença: logx 100 = 2 ⇔ x2 = 100
finida por
e = exp(1) Que nos leva aos seguintes valores de x:
O número e é um número irracional e positivo e em ⎧ x = −10
função da definição da função exponencial, temos que: x 2 = 100 ⇒ x = ± 100 ⇒ ⎨
Ln(e) = 1 ⎩ x = 10
Este número é denotado por e em homenagem ao ma-
temático suíço Leonhard Euler (1707-1783), um dos primei- Note que x = -10 não pode ser solução desta equação,
ros a estudar as propriedades desse número. pois este valor de x não satisfaz a condição de existência, já
O valor deste número expresso com 40 dígitos deci- que -10 é um número negativo.
mais, é: Já no caso de x = 10 temos uma solução da equação,
e = 2,7182818284590452353602874713526624977 pois 10 é um valor que atribuído a x satisfaz a condição de
57 existência, visto que 10 é positivo e diferente de 1.
Se x é um número real, a função exponencial exp(.) 7log5 625x = 42
pode ser escrita como a potência de base e com expoente
x, isto é:  Neste caso temos a seguinte condição de existência:
ex = exp(x) 0
625x > 0 ⇒ x > ⇒x>0
Função Logarítmica 625
Voltando à equação temos:
42
Toda equação que contém a incógnita na base ou no 7 log 5 625x = 42 ⇒ log 5 625x = ⇒ log 5 625x = 6
logaritmando de um logaritmo é denominada equação 7
logarítmica. Abaixo temos alguns exemplos de equações
logarítmicas: Aplicando a mesma propriedade que aplicamos nos
log 2 x = 3 casos anteriores e desenvolvendo os cálculos temos: Como
25 satisfaz a condição de existência, então S = {25} é o
log x = 100 = 2
conjunto solução da equação. Se quisermos recorrer a ou-
7 log 5 = 625x = 42 tras propriedades dos logaritmos também podemos resol-
3log 2 x 64 = 9 ver este exercício assim:
log −6−x 2x = 1
⇒ log5 x=2 ⇔ 52 = x ⇒ x = 25

Perceba que nestas equações a incógnita encontra-se Lembre-se que logb(M.N) = logb M + logb N e que log5
ou no logaritmando, ou na base de um logaritmo. Para 625 = 4, pois 54 = 625.
solucionarmos equações logarítmicas recorremos a mui- 3log2x64 = 9
tas das propriedades dos logaritmos.
Neste caso a condição de existência em função da base
Solucionando Equações Logarítmicas do logaritmo é um pouco mais complexa:
0
Vamos solucionar cada uma das equações acima, co- 2x > 0 ⇒ x > ⇒x>0
2
meçando pela primeira: log2 x = 3

86
MATEMÁTICA

E, além disto, temos também a seguinte condição:


O domínio da função ln é R+ =]0,∞[ e a imagem é o
*

1 conjunto R+* =] − ∞,+∞[ . O eixo vertical é uma assíntota ao


2x ≠ 1 ⇒ x ≠ gráfico da função. De fato, o gráfico se aproxima cada vez
2
mais da reta x=0
⎧1 ⎫ O que queremos aqui é descobrir como é o gráfico de
Portanto a condição de existência é: x ∈R+ − ⎨ ⎬
*

⎩2 ⎭ uma função logarítmica natural geral, quando comparado


ao gráfico de y=ln x, a partir das transformações sofridas
Agora podemos proceder de forma semelhante ao
por esta função. Consideremos uma função logarítmica
exemplo anterior: Como x = 2 satisfaz a condição de exis-
cuja expressão é dada por y=f1(x)=ln x+k, onde k é uma
tência da equação logarítmica, então 2 é solução da equa-
constante real. A pergunta natural a ser feita é: qual a ação
ção. Assim como no exercício anterior, este também pode
da constante k no gráfico dessa nova função quando com-
ser solucionado recorrendo-se à outra propriedade dos lo-
parado ao gráfico da função inicial y=f0(x)=ln x ?
garitmos: log-6-x 2x = 1
Ainda podemos pensar numa função logarítmica que
seja dada pela expressão y=f2(x)=a.ln x onde a é uma cons-
Neste caso vamos fazer um pouco diferente. Primeiro
tante real, a ≠ 0. Observe que se a=0, a função obtida não
vamos solucionar a equação e depois vamos verificar quais
será logarítmica, pois será a constante real nula. Uma ques-
são as condições de existência: Então x = -2 é um valor
tão que ainda se coloca é a consideração de funções lo-
candidato à solução da equação. Vamos analisar as condi-
garítmicas do tipo y=f3(x)=ln(x+m), onde m é um número
ções de existência da base -6 - x:
real não nulo. Se g(x)=3.ln(x-2) + 2/3, desenhe seu gráfico,
Veja que embora x ≠ -7, x não é menor que -6, portan-
fazendo os gráficos intermediários, todos num mesmo par
to x = -2 não satisfaz a condição de existência e não pode
de eixos.
ser solução da equação. Embora não seja necessário, va-
y=a.ln(x+m)+k
mos analisar a condição de existência do logaritmando 2x:
Conclusão: Podemos, portanto, considerar funções lo-
2x > 0 ⇒ x > 0
garítmicas do tipo y = f4(x) = a In (x + m) + k, onde o coe-
ficiente a não é zero, examinando as transformações do
Como x = -2, então x também não satisfaz esta con-
gráfico da função mais simples y = f0 (x) = In x, quando
dição de existência, mas não é isto que eu quero que você
fazemos, em primeiro lugar, y=ln(x+m); em seguida, y=a.
veja. O que eu quero que você perceba, é que enquanto
ln(x+m) e, finalmente, y=a.ln(x+m)+k.
uma condição diz que x < -6, a outra diz que x > 0. Qual
é o número real que além de ser menor que -6 é também
Analisemos o que aconteceu:
maior que 0?
- em primeiro lugar, y=ln(x+m) sofreu uma translação
Como não existe um número real negativo, que sendo
horizontal de -m unidades, pois x=-m exerce o papel que
menor que -6, também seja positivo para que seja maior
x=0 exercia em y=ln x;
que zero, então sem solucionarmos a equação nós po-
- a seguir, no gráfico de y=a.ln(x+m) ocorreu mudan-
demos perceber que a mesma não possui solução, já que
ça de inclinação pois, em cada ponto, a ordenada é igual
nunca conseguiremos satisfazer as duas condições simul-
àquela do ponto de mesma abscissa em y=ln(x+m) multi-
taneamente. O conjunto solução da equação é portanto S
plicada pelo coeficiente a;
= {}, já que não existe nenhuma solução real que satisfaça
- por fim, o gráfico de y=a.ln(x+m)+k sofreu uma
as condições de existência da equação.
translação vertical de k unidades, pois, para cada abscissa,
Função Logarítmica
as ordenadas dos pontos do gráfico de y=a.ln(x+m)+k fica-
A função logaritmo natural mais simples é a função y=-
ram acrescidas de k, quando comparadas às ordenadas dos
f0(x)=lnx. Cada ponto do gráfico é da forma (x, lnx) pois a
pontos do gráfico de y=a.ln(x+m).
ordenada é sempre igual ao logaritmo natural da abscissa.
O estudo dos gráficos das funções envolvidas auxilia
na resolução de equações ou inequações, pois as opera-
ções algébricas a serem realizadas adquirem um signifi-
cado que é visível nos gráficos das funções esboçados no
mesmo referencial cartesiano.

Função logarítmica de base a é toda função


f : *+ →  , definida por f (x) = log a x com a ∈ + e a ≠ 1 .
*

Podemos observar neste tipo de função que a variável


independente x é um logaritmando, por isto a denomina-
mos função logarítmica. Observe que a base a é um valor
real constante, não é uma variável, mas sim um número
real.
A função logarítmica de *+ →  é inversa da função
 
exponencial de  →  + e vice-versa, pois:
*

87
MATEMÁTICA

Representação da Função Logarítmica no Plano Função Logarítmica Crescente


Cartesiano
Podemos representar graficamente uma função lo-
garítmica da mesma forma que fizemos com a função
exponencial, ou seja, escolhendo alguns valores para x e
montando uma tabela com os respectivos valores de f(x).
Depois localizamos os pontos no plano cartesiano e traça-
mos a curva do gráfico. Vamos representar graficamente a
função f(x) = log x e como estamos trabalhando com um
logaritmo de base 10, para simplificar os cálculos vamos
escolher para x alguns valores que são potências de 10:
0,001, 0,01, 0,1, 1, 10 e 2.

Temos então a seguinte tabela:

x y = log x Se a > 1 temos uma função logarítmica crescente,


qualquer que seja o valor real positivo de x. No gráfico da
0,001 y = log 0,001 = -3 função ao lado podemos observar que à medida que x au-
0,01 y = log 0,01 = -2 menta, também aumenta f(x) ou y. Graficamente vemos
0,1 y = log 0,1 = -1 que a curva da função é crescente. Também podemos ob-
servar através do gráfico, que para dois valor de x (x1 e x2),
1 y = log 1 = 0 que log a x2 > log a x1 ⇔ x1 > x2 , isto para x1, x2 e a números
10 y = log 10 = 1 reais positivos, com a > 1.

Função Logarítmica Decrescente

Ao lado temos o gráfico desta função logarítmica, no


qual localizamos cada um dos pontos obtidos da tabela e Se 0 < a < 1 temos uma função logarítmica decres-
os interligamos através da curva da função: Veja que para cente em todo o domínio da função. Neste outro gráfico
valores de y < 0,01 os pontos estão quase sobre o eixo podemos observar que à medida que x aumenta, y dimi-
das ordenadas, mas de fato nunca chegam a estar. Note nui. Graficamente observamos que a curva da função é de-
também que neste tipo de função uma grande variação no crescente. No gráfico também observamos que para dois
valor de x implica numa variação bem inferior no valor de y. valores de x (x1 e x2), que log a x2 < log a x1 ⇔ x2 > x1 , isto
Por exemplo, se passarmos de x = 100 para x = 1000000, a para x1, x2 e a números reais positivos, com 0 < a < 1. É
variação de y será apenas de 2 para 6. Isto porque: importante frisar que independentemente de a função ser
crescente ou decrescente, o gráfico da função sempre cruza
⎧ f (100) = log100 = 2 o eixo das abscissas no ponto (1, 0), além de nunca cruzar
⎨ o eixo das ordenadas e que o log a x2 = log a x1 ⇔ x2 = x1 ,
⎩ f (1000000) = log1000000 = 6 isto para x1, x2 e a números reais positivos, com a ≠ 1.

Função Crescente e Decrescente Função Polinomial


Assim como no caso das funções exponenciais, as fun-
ções logarítmicas também podem ser classificadas como Um polinômio (função polinomial) com coeficientes
função crescente ou função decrescente. Isto se dará em reais na variável x é uma função matemática f: R R
função da base a ser maior ou menor que 1. Lembre-se que definida por: p(x) = ao + a1x + a2x² + a3x³ +...+ anxn, onde
segundo a definição da função logarítmica f :  + →  , ao, a1, a2, ..., an são números reais, denominados coeficientes
*

definida por f(x) = Loga x, temos que e a > 0 e a ≠ 1 do polinômio. O coeficiente ao é o termo constante.

88
MATEMÁTICA

Se os coeficientes são números inteiros, o polinômio é Teorema


denominado polinômio inteiro em x.
Uma das funções polinomiais mais importantes é f: R Uma condição necessária e suficiente para que um
R definida por: polinômio inteiro seja identicamente nulo é que todos os
f(x) = a x² + b x + c seus coeficientes sejam nulos.

O gráfico desta função é a curva plana denominada Assim, um polinômio: p(x) = ao + a1x + a2x² + a3x³ +...+
parábola, que tem algumas características utilizadas em anxn será nulo se, e somente se, para todo k = 0,1,2,3,...,n:
estudos de Cinemática, radares, antenas parabólicas e ak= 0
faróis de carros.
O valor numérico de um polinômio p = p(x) em x = a O polinômio nulo é denotado por po= 0 em P[x].
é obtido pela substituição de x pelo número a, para obter O polinômio unidade (identidade para o produto) p1 =
p(a). 1 em P[x], é o polinômio:

Exemplo p(x) = ao + a1x + a2x² + a3x³ + ...+ anxn


tal que ao = 1 e ak = 0, para todo k = 1, 2, 3,..., n.
O valor numérico de p(x) = 2x² + 7x - 12 para x = 3 é
dado por: Soma de polinômio
p(3) = 2 × (3)² + 7 × 3 - 12 = 2 × 9 + 21 - 12 = 18 + 9
= 27 Consideremos p e q polinômios em P[x], definidos por:
p(x) = ao + a1x + a2x² + a3x³ +... + anxn
Grau de um polinômio q(x) = bo + b1x + b2x² + b3x³ +... + bnxn

Em um polinômio, o termo de mais alto grau que possui Definimos a soma de p e q, por:
um coeficiente não nulo é chamado termo dominante e o (p + q)(x) = (ao + bo) + (a1 + b1)x + (a2 + b2)x² +... + (an
coeficiente deste termo é o coeficiente do termo dominante. + bn)xn
O grau de um polinômio p = p(x) não nulo, é o expoente
de seu termo dominante, que aqui será denotado por gr(p). A estrutura matemática (P[x],+) formada pelo conjunto
Acerca do grau de um polinômio, existem várias de todos os polinômios com a soma definida acima, possui
observações importantes: algumas propriedades:
- Um polinômio nulo não tem grau uma vez que não Associativa
possui termo dominante. Em estudos mais avançados,
define-se o grau de um polinômio nulo, mas não o faremos Quaisquer que sejam p, q, r em P[x], tem-se que:
aqui. (p + q) + r = p + (q + r)
- Se o coeficiente do termo dominante de um polinômio
for igual a 1, o polinômio será chamado Mônico. Comutativa
- Um polinômio pode ser ordenado segundo as suas
potências em ordem crescente ou decrescente. Quaisquer que sejam p, q em P[x], tem-se que:
- Quando existir um ou mais coeficientes nulos, o p+q=q+p
polinômio será dito incompleto.
- Se o grau de um polinômio incompleto for n, o Elemento neutro
número de termos deste polinômio será menor do que n
+ 1. Existe um polinômio po (x) = 0 tal que:
- Um polinômio será completo quando possuir todas as po + p = p, qualquer que seja p em P[x].
potências consecutivas desde o grau mais alto até o termo
constante. Elemento oposto
- Se o grau de um polinômio completo for n, o número
de termos deste polinômio será exatamente n + 1. Para cada p em P[x], existe outro polinômio q = -p em
- É comum usar apenas uma letra p para representar a P[x] tal que
função polinomial p = p(x) e P[x] o conjunto de todos os p+q=0
polinômios reais em x.
Igualdade de polinômios Com estas propriedades, a estrutura (P[x],+) é
denominada um grupo comutativo.
Os polinômios p e q em P[x], definidos por: Produto de polinômios
p(x) = ao + a1x + a2x² + a3x³ +...+ anxn
q(x) = bo + b1x + b2x² + b3x³ +...+ bnxn Sejam p, q em P[x], dados por:
p(x) = ao + a1x + a2x² + a3x³ +...+ anxn
São iguais se, e somente se, para todo k = 0,1,2,3,...,n: q(x) = bo + b1x + b2x² + b3x³ +...+ bnxn
ak = bk

89
MATEMÁTICA

Definimos o produto de p e q, como outro polinômio 5. Qual a soma dos coeficientes do polinômio T(x)
r em P[x]: = (5x + 1)4?
r(x) = p(x) · q(x) = co + c1x + c2x² + c3x³ +...+ cnxn
6. Sendo P(x) = Q(x) + x2 + x + 1 e sabendo que 2
Tal que: é raiz de P(x) e 1 é raiz de Q(x) , calcule o valor de P(1)
ck = aobk + a1bk-1 + a2 bk-2 + a3bk-3 +...+ ak-1 b1 + akbo - Q(2).

Para cada ck (k = 1, 2, 3,..., m+n). Observamos que para 7. Qual o grau mínimo da equação P(x) = 0,
cada termo da soma que gera ck, a soma do índice de a sabendo-se que três de suas raízes são os números 5,   3
com o índice de b sempre fornece o mesmo resultado k. + 2i  e   4 - 3i.
A estrutura matemática (P[x],·) formada pelo conjunto
de todos os polinômios com o produto definido acima, 8. Multiplicando (2x2 + x + 1) por (5x – 2), teremos:
possui várias propriedades:
9. Se multiplicarmos 3 por (2x2 + x + 5), teremos:
Associativa
10. Se multiplicarmos -2x2 por (5x – 1), teremos: 
Quaisquer que sejam p, q, r em P[x], tem-se que:
(p · q) · r = p · (q · r) Respostas
1) Solução: Adição
Comutativa (–2x² + 5x – 2) + (–3x³ + 2x – 1) → eliminar os parênteses
fazendo o jogo de sinal
Quaisquer que sejam p, q em P[x], tem-se que: –2x² + 5x – 2 – 3x³ + 2x – 1 → reduzir os termos
p·q=q·p semelhantes
–2x² + 7x – 3x³ – 3 → ordenar de forma decrescente de
Elemento nulo acordo com a potência
–3x³ – 2x² + 7x – 3.
Existe um polinômio po(x) = 0 tal que
po · p = po, qualquer que seja p em P[x]. Subtração
(–2x² + 5x – 2) – (–3x³ + 2x – 1) → eliminar os parênteses
Elemento Identidade realizando o jogo de sinal
–2x² + 5x – 2 + 3x³ – 2x + 1 → reduzir os termos
Existe um polinômio p1(x) = 1 tal que semelhantes
po · p = po, qualquer que seja p em P[x]. A unidade –2x² + 3x – 1 + 3x³ → ordenar de forma decrescente de
polinomial é simplesmente denotada por p1 = 1. acordo com a potência
3x³ – 2x² + 3x – 1
Existe uma propriedade mista ligando a soma e o
produto de polinômios: 2) Resposta “15x5 + 24x4 – 3x3”.   
Solução:
Distributiva (3x2) x (5x3 + 8x2 – x) → aplicar a propriedade distributiva
da multiplicação
Quaisquer que sejam p, q, r em P[x], tem-se que: 15x5 + 24x4 – 3x3.
p · (q + r) = p · q + p · r
3) Resposta “x³ + x² – 8x + 6”.
Com as propriedades relacionadas com a soma e o Solução:
produto, a estrutura matemática (P[x],+,·) é denominada (x – 1) . (x2 + 2x - 6) 
anel comutativo com identidade. x2 . (x – 1) + 2x . (x – 1) – 6 . (x – 1)
(x³ – x²) + (2x² – 2x) – (6x – 6)
Exercícios x³ – x² + 2x² – 2x – 6x + 6 → reduzindo os termos
semelhantes.
1. Considerando os polinômios –2x² + 5x – 2 e –3x³ x³ + x² – 8x + 6.
+ 2x – 1. Efetue a adição e a subtração entre eles.
2. Transforme o seguinte polinômio em monômio: 4) Resposta “6”.
(3x2) x (5x3 + 8x2 – x). Solução: Teremos, substituindo a variável x por x =
-1 → p(-1) = (-1)3 - 5(-1) + 2 = -1 + 5 + 2 = 6
3. Efetue a multiplicação de polinômio (x – 1) x ∴ p(-1) = 6.
(x2 + 2x - 6)  por polinômio. 5) Resposta “1296”.
Solução: Teremos:
4. Qual o valor numérico do polinômio p(x) = x3 - 5x Para x = 1: 
+ 2 para x = -1? S = T(1) = (5.1 + 1)4 = 64 = 6 . 6 . 6 . 6 = 1296.

90
MATEMÁTICA

6) Resposta “10”.
Solução: Se 2 é raiz de P(x), então sabemos que P(2) =
0 e se 1 é raiz de Q(x) então Q(1) = 0. MATRIZES E SISTEMAS MATRIZES E
Temos então substituindo x por 1 na expressão dada: DETERMINANTES ATÉ A 4ª ORDEM,
PROPRIEDADES E OPERAÇÕES.
P(1) = Q(1) + 12 + 1 + 1 ∴ RESOLUÇÃO E DISCUSSÃO DE
P(1) = 0 + 1 + 1 + 1 = 3. Então P(1) = 3. Analogamente, SISTEMAS LINEARES.
poderemos escrever:

P(2) = Q(2) + 22 + 2 + 1  0 = Q(2) + 7,


Logo Q(2) = -7. Matriz
Conclui-se que P(1) - Q(2) = 3 - (-7) = 3 + 7 = 10.
As matrizes são estruturas matemáticas organizadas na
7) Resposta “5”. forma de tabelas com linhas e colunas, utilizadas na orga-
Solução: Pela propriedade P3, os complexos conjugados nização de dados e informações. Elas podem ser construí-
3 - 2i e 4 + 3i são também raízes. Logo, por P1, concluímos das com m linhas e n colunas
que o grau mínimo de P(x) é igual a 5, ou seja, P(x) possui Uma matriz de ordem m x n é qualquer conjunto de m
no mínimo 5 raízes. x n elementos dispostos em m linhas e n colunas.
Cada elemento de uma matriz é localizado por dois ín-
8) Resposta “10x3 + x2 + 3x – 2”. dices: aij. O primeiro indica a linha, e o segundo, a coluna.
Solução:
(2x2 + x + 1) (5x – 2) → aplicar a propriedade distributiva.
2x2 . (5x) + 2x2 . (-2) + x . 5x + x . (-2) + 1 . 5x + 1 . (-2)
10x3 – 4x2 + 5x2 – 2x + 5x – 2
10x3 + x2 + 3x – 2.

9) Resposta “6x2 + 3x + 15”.


Solução:
3 (2x2 + x + 5) → aplicar a propriedade distributiva.
3 . 2x2 + 3 . x + 3 . 5
6x2 + 3x + 15.
Tipos de matrizes
10) Resposta “- 10x3 + 2x2”.
Solução: Matriz linha: matriz com uma única linha.
-2x2 (5x – 1) → aplicando a propriedade distributiva. Ex: A =[4 7 -3 1], do tipo 1 x 4.
-2x2 . 5x – 2x2 . (-1)
- 10x3 + 2x2 Matriz coluna: matriz com uma única coluna. Ex:

Matriz quadrada: matriz com o mesmo nº de linhas e


colunas. Ex:

Matriz nula: matriz em que todos os elementos são


nulos; é representada por 0m x n. Ex:

91
MATEMÁTICA

Matriz diagonal: matriz quadrada em que todos os elementos que não estão na diagonal principal são nulos. Ex:

Matriz transposta: matriz At  obtida a partir da matriz A trocando-se ordenadamente as linhas por colunas ou as co-
lunas por linhas. Ex:

Matriz oposta: matriz -A obtida a partir de A trocando-se o sinal de todos os elementos . Ex:

Matriz simétrica: matriz quadrada de ordem n tal que A = transposta de A. Ex:

Matriz identidade: matriz quadrada em que todos os elementos da diagonal principal são iguais a 1 e os demais são
nulos; é representada por In, sendo n a ordem da matriz.Ex:

Adição e subtração de matrizes


Dado as matrizes A e B do tipo m por n, sua soma A + B é a matriz m por n adicionando os elementos correspondentes:
(A + B)[i,j] = A[i, j] + B[i,j].

Multiplicação de matrizes

Multiplicação
O número de colunas da matriz da esquerda é o mesmo número de linhas da matriz da direita. Se A é uma matriz m
por n e B é uma matriz n por p, então seu produto AB é a matriz m por p . Ex:

92
MATEMÁTICA

Determinante Acompanhe como aplicamos essa regra para 

O determinante de uma Matriz é dado pelo valor nu-


mérico resultante da subtração entre a somatória do pro-
duto dos termos da diagonal principal e a somatória do
produto dos termos da diagonal secundária. Nas matrizes
quadradas de ordem 3x3 esses cálculos podem ser efetua- .
dos repetindo-se a 1ª e a 2ª coluna, aplicando em seguida
a regra de Sarrus. Lembrando que uma matriz é quadrada
quando o número de linhas é igual ao número de colunas.  1º passo: Repetimos as duas primeiras colunas ao lado
da terceira:
Determinante de 1ª ordem

Dada uma matriz quadrada de 1ª ordem M=[a11], o seu


determinante é o número real a11:

det M =Ia11I = a11


Obs: Representamos o determinante de uma matriz
entre duas barras verticais. 2º passo: Encontramos a soma do produto dos ele-
mentos da diagonal principal com os dois produtos obti-
Ex: : M= [5]  det M = 5 dos pela multiplicação dos elementos das paralelas a essa
diagonal (a soma deve ser precedida do sinal positivo):

Determinante de 2ª ordem

Dada a matriz  , de ordem 2, por de-


finição o determinante associado a M, determinante de 2ª
ordem, é dado por:

3º passo: Encontramos a soma do produto dos ele-


Portanto, o determinante de uma matriz de ordem 2 mentos da diagonal secundária com os dois produtos obti-
é dado pela diferença entre o produto dos elementos da dos pela multiplicação dos elementos das paralelas a essa
diagonal principal e o produto dos elementos da diagonal diagonal ( a soma deve ser precedida do sinal negativo):
secundária. Veja o exemplo a seguir.

Determinante de 3ª ordem

Regra de Sarrus

O cálculo do determinante de 3ª ordem pode ser feito


por meio de um dispositivo prático, denominado regra de
Sarrus.

93
MATEMÁTICA

Assim:

Propriedades dos determinantes


Os determinantes associados a matrizes quadradas de ordem n apresentam seguintes propriedades:
Quando todos os elementos de uma fila ( linha ou coluna) são nulos, o determinante dessa matriz é nulo.

Exemplo:

Se duas filas de uma matriz são iguais, então seu determinante é nulo.

Exemplo:

Se duas filas paralelas de uma matriz são proporcionais, então seu determinante é nulo.
Exemplo:

Exercícios

1. Calcule o valor de x, a fim de que o determinante da matriz A seja nulo.

94
MATEMÁTICA

2. Calcular o valor do determinante:

3. Para que o determinante da matriz 1+a     -1 seja nulo, o valor de a deve ser: 3       1-a

Respostas:

1. Aplicando a regra de Sarrus, temos que o determinante será da seguinte forma.

2. Colocando 4 em evidência na 2a linha:

Colocando 5 em evidência na 3a coluna:

Aplicando Sarrus no determinante 3 × 3, teremos: 


4 · 5 · 35 = 700

Resp: O valor do determinante é 700.

3. (1+a) (1-a) – (-1).3 = 0


1 – a + a – a² - (-3) = 0
1 – a² +3 = 0
- a² + 4 = 0
a² -4 = 0
a² = 4
a = +2 ou a = -2

Sistemas Lineares
Um sistema de equações lineares (abreviadamente, sistema linear) é um conjunto finito de equações lineares aplicadas
num mesmo conjunto, igualmente finito, de variáveis
O sistema linear  também pode ser conceituado como um sistema de equações do primeiro grau, ou seja, um sistema
no qual as equações possuem apenas polinômios em que cada parcela tem apenas uma incógnita. Em outras palavras,
num sistema linear, não há potência diferente de um ou zero tampouco pode haver multiplicação en tre incógnitas .
Equação linear é toda equação do tipo onde ,.., an e b são
números reais e são as incógnitas.

95
MATEMÁTICA

Os números reais são chamados de Exercícios


coeficientes e b é o termo independente.
Os sistemas lineares são classificados quanto ao n° de 1. Resolva os sistemas:
soluções:
- Possível e determinado: tem uma única solução !+!+! =1
- Possível e indeterminado: tem infinitas soluções a) 3! + 2! + 0! = 0
- Impossível: não tem solução ! − ! − ! = ! −5
A um sistema linear de m equações e n incógnitas
podemos associar duas matrizes:
2! + ! + ! = 1
- incompleta: formada pelos coeficientes das incógnitas. b) ! − 3! + 2! = ! −1
-completa: formada pelos coeficientes das incógnitas e 3! + ! − ! = 4
os termos independentes.
2! + ! = 2 !+!+! =6
Ex: c) 2! − ! + ! = 3
5! − ! = 1
! + 4! − ! = 6
2!!!!!!!!1
Matriz incompleta:
5!!!! − 1
2. Calcule o valor de 2x – y no sistema:
2!!!!!!!!1!!!!!2 3! + ! = 1
Matriz completa:
5!!! − 1!!!!!1 ! + 3! = ! −5
Um sistema é dito normal quando o n° de equações é
igual ao n° de incógnitas Respostas:
(m = n) e o determinante da matriz incompleta é
diferente de zero.
Resolução de sistema normal 1. a) = -2+0-3-2+0+3 = -4
Resolvemos um sistema normal através da regra
de Cramer onde a solução desse sistema é obtida pelas
relações:
∆! = -2+0-1+10+0+1 = 8
X= ∆

∆!
Y= ∆ = = 0+0-15+0+0+3 = -12
∆!
Z= ∆
, ...
= = -10+0-3-2+0+15 = 0
Sendo :
- o determinante da matriz incompleta
- os determinantes obtidos da matriz incompleta
substituindo-se a coluna dos coeficientes da incógnita
procurada pela coluna dos termos independentes.
Ex:
3! − 2! = 4
Resolva o sistema: 4! + !! = 9!
∆=! 3!!!!! − 2 = 3 + 8 = 11
4!!!!!!!!!!!1

∆x = 4!!! − 2 = 4 + 18 = 22
9!!!!!!!!!1 Resp: V = {(-2, 3, 0)}
!3!!!!!!!4
∆y = = 27 -16 = 11
4!!!!!!!9
b) = 6+6+1+9-4+1 = 19
∆! !!
X= ∆
= !! = 2

∆! !! = = 3+8-1+12-2-1 = 19
Y= ∆
= !! =1
v = { (2,1)}

96
MATEMÁTICA

= = 2+6+4+3-16+1 = 0
GEOMETRIA ANALÍTICA PLANA
DISTÂNCIA ENTRE DOIS PONTOS NO
PLANO E ENTRE UM PONTO E UMA
= -24-3+1+9+2-4 = -19 RETA. CONDIÇÕES DE PARALELISMO E
PERPENDICULARISMO DE RETAS NO PLANO.
ESTUDO DA RETA E DA CIRCUNFERÊNCIA.

A Geometria Analítica, também denominada de coor-


denadas geométricas, se baseia nos estudos da Geometria
através da utilização da Álgebra. Os estudos iniciais es-
tão ligados ao matemático francês René Descartes (1596
-1650), criador do sistema de coordenadas cartesianas.

Os estudos relacionados à Geometria Analítica datam


Resp: V = { (1, 0, -1).} seu início no século XVII. Descartes, ao relacionar a Álgebra
com a Geometria, criou princípios matemáticos capazes
de analisar por métodos geométricos as propriedades do
c) = 1+1+8+1-4+2 = 9 ponto, da reta e da circunferência, determinando distâncias
entre eles, localização e pontos de coordenadas.

O Sistema de Coordenadas Cartesianas, mais comu-


= 6+6+12+6-24+3 = 9 mente conhecido como Plano Cartesiano, consiste em dois
eixos perpendiculares numerados, denominados abscissa
(horizontal-eixo x) e ordenada (vertical-eixo y), que tem a
= -3+6+12-3-6+12 = 18 característica de representar pontos no espaço.  Esses dois
eixos se coincidem num ponto comum chamado origem
do plano, ou ponto (0,0). Um ponto é, desta forma, repre-
sentado por dois valores numéricos, sendo que o primeiro
= -6+3+48+6-12-12 = 27 corresponde a x e o segundo a y – (x,y) –. Esse par, ou par
ordenado, ou ainda coordenadas cartesianas, no plano, in-
dica um ponto

Resp: V = { (1, 2, 3)}

2.

= 3 +5 = 8

= -16

X= =1

Y= = -2

x = 1, y = -2, 2x – y = 2.1 – (-2) = 2 + 2 = 4

Resp : 4

97
MATEMÁTICA

Onde,

D=

Observe que a área será metade do módulo do deter-


minante das coordenadas dos pontos A, B e C.

Exercícios

1. Calcule a área do triângulo de vértices A (4 , 0), B (0


, 0) e C (0 , 6).

2. Determine a área do triângulo de vértices A (1, 3), B


(2, 5) e C (-2,4).

3. Os pontos A (0, 0), B (0, -8) e C (x, 0) determinam um


triângulo de área igual a 20. Encontre o valor de x.

(x,y) Respostas:

A (3,3) 1. Primeiro passo é fazer o cálculo do determinante das


B (-3,2) coordenadas dos pontos A, B e C. Teremo
C (2,0)
D (-2,-4)
E (4,-3)
F (0, -2)

Área do Triangulo

Assim, obtemos:

Portanto, a área do triângulo de vértices A (4 , 0), B (0 ,


0) e C (0 , 6) é 12.

2. Primeiro devemos realizar o cálculo do determinan-


te.
Vamos determinar a área de um triângulo do ponto de
vista da geometria analítica. Assim, considere três pontos
quaisquer, não colineares, A (x1, y1), B (x2, y2) e C (x3, y3).
Como esses pontos não são colineares, ou seja, não estão
numa mesma reta, eles determinam um triângulo. A área
desse triângulo será dada por:

A=

98
MATEMÁTICA

3. Sabemos que a área do triângulo de vértices A, B e


C é 20. Então,

O ângulo A do triângulo BCA será igual ao da inclina-


ção da reta, pois, pelo Teorema de Tales, duas retas para-
lelas cortadas por uma transversal formam ângulos corres-
pondentes iguais.

Levando em consideração o triângulo BCA e que o


coeficiente angular é igual à tangente do ângulo de incli-
nação, teremos:
Cálculo do coeficiente angular de uma reta

Sabemos que o valor do coeficiente angular de uma


reta é a tangente do seu ângulo de inclinação. Através des-
sa informação podemos encontrar uma forma prática para
obter o valor do coeficiente angular de uma reta sem pre-
cisar fazer uso do cálculo da tangente.

Vale ressaltar que se a reta for perpendicular ao eixo


das abscissas, o coeficiente angular não existirá, pois não é
possível determinar a tangente do ângulo de 90º.

Para representarmos uma reta não vertical em um pla- tgα = cateto oposto / cateto adjacente
no cartesiano é preciso ter no mínimo dois pontos perten- tgα = yB – yA / xB – xA 
centes a ela. Desse modo, considere uma reta s que passa Portanto, o cálculo do coeficiente angular de uma reta
pelos pontos A(xA, yA) e B(xB, yB) e possui um ângulo de pode ser feito pela razão da diferença entre dois pontos
inclinação com o eixo Ox igual a α. pertencentes a ela.
m = tgα = Δy / Δx 

Exercícios

1. Qual é o coeficiente angular da reta que passa pelos


pontos
A (–1,3) e B (–2,4)?

2. O coeficiente angular da reta que passa pelos pontos


A (2,6) e B (4,14) é:

3. O coeficiente angular da reta que passa pelos pontos


A (8,1) e B (9,6) é

Respostas
1. m = Δy/Δx 
Prolongado a semirreta que passa pelo ponto A e é m = 4 - 3 / (-2) - (-1)
paralela ao eixo Ox formaremos um triângulo retângulo no m = 1 / -1
ponto C. m = -1

99
MATEMÁTICA

2. m = Δy/Δx  Exercício
m = 14 – 6/4 – 2
m = 8/2 1.Vamos verificar se os pontos P(2,1), Q(0,-3) e R(-2,-7)
m=4 estão alinhados. 

3. m = Δy/Δ
m = 6 – 1/9 – 8 Resposta
m = 5/1
m=5 Vamos construir a matriz através das coordenadas dos
pontos P, Q e R e calcular o determinante da matriz apli-
Condição de alinhamento de três pontos  cando Sarrus.

O alinhamento de três pontos pode ser determinado


aplicando o cálculo do determinante de uma matriz de or-
dem 3x3. Ao calcular o determinante da matriz construída
utilizando as coordenadas dos pontos em questão e en-
contrando valor igual a zero, podemos afirmar os três pon-
tos são colineares. Observe os pontos no plano cartesiano
a seguir: 2. (–3).1 + 1.1.(–2) + 1.(–7).0 – [1.(–3).( –2) + 1.0.1 + 2.(
7).1] = 0 
– 6 – 2 – 0 – [6 + 0 – 14] = 0 
– 8 – 6 +14 = 0 
–14 + 14 = 0 
0 = 0 

Podemos verificar que os pontos estão alinhados, pois


o determinante da matriz das coordenadas dos pontos é
nulo. 

Distância entre dois pontos

As coordenadas dos pontos A, B e C são: 


Ponto A (x1,y1) 
Ponto B (x2,y2) 
Ponto C (x3,y3) 
Através dessas coordenadas iremos montar a matriz
3x3, as abscissas dos pontos constituirão a 1ª coluna; as
ordenadas, a 2ª coluna e a terceira coluna será comple-
mentada com o número um.

Distância entre dois Pontos


Um dos conceitos básicos que vimos na geometria é
Aplicando Sarrus temos: que a menor distância entre dois pontos é dada por uma
reta, contudo, na geometria analítica esses pontos rece-
bem coordenadas no plano cartesiano e por meio dessas
coordenadas podemos encontrar o valor da distância entre
dois pontos.
Vamos representar dois pontos quaisquer no plano
cartesiano.
A distância entre os pontos A e B será a medida do
segmento que tem os dois pontos como extremidade. Por
x1.y2.1 + y1.1.x3 + 1.x2.x3 – (y1.x2.1 + x1.1.y3 + 1.y2.x3) = 0  se tratar de dois pontos quaisquer, representaremos as
x1.y2 + y1.x3 + x2.x3 – y1.x2 – x1.y3 – y2.x3 = 0  coordenadas desses pontos de maneira genérica.

100
MATEMÁTICA

Sabe-se que os eixos coordenados do plano cartesiano são ortogonais, portanto, podemos construir um triângulo
retângulo utilizando os pontos A e B, como mostra a figura a seguir.

Note que o segmento AB é a hipotenusa do triângulo AOB, e a medida de AB corresponde à distância entre esses dois
pontos. Por se tratar de um triângulo retângulo, podemos aplicar o teorema de Pitágoras, no qual teremos:

Note que basta fazer as diferenças das coordenadas de cada um dos pontos e elevar ao quadrado, contudo são coor-
denadas do eixo X com coordenadas do eixo X e de forma análoga para as coordenadas do eixo Y.

101
MATEMÁTICA

Exercício
1. Calcule a distância entre os pontos: A (4,5) e B(1,1)
Resposta:
Como vimos anteriormente, basta aplicar a expressão para o cálculo da distância entre dois pontos. Sendo assim:

Distância entre ponto e reta

A distância entre um ponto e uma reta é calculada unindo o próprio ponto à reta através de um segmento, que deverá
formar com a reta um ângulo reto (90º). Para estabelecer a distância entre os dois necessitamos da equação geral da reta
e da coordenada do ponto. A figura a seguir estabelece a condição gráfica da distância entre o ponto P e a reta r, sendo o
segmento PQ a distância entre eles. 

Estabelecendo a equação geral da reta s: ax0  + by0  + c = 0 e a coordenada do ponto P(x0,y0), conseguimos chegar à
expressão capaz de calcular a distância entre o ponto P e a reta s:

d=

Essa expressão surge de uma generalização feita, podendo ser utilizada nas situações em que envolve o cálculo da
distância entre um ponto qualquer e uma reta. 

Exercício
1. Dado o ponto A(3, -6) e r: 4x + 6y + 2 = 0. Estabeleça a distância entre A e r utilizando a expressão dada anterior-
mente. 

Resposta

1. Temos que: 
x= 3 
y= -6 
a= 4 
b= 6 
c= 2 

d=

102
MATEMÁTICA

Equação Geral da Reta –6x + 2y + 2 = 0.


Para determinarmos a equação geral de uma reta uti-
lizamos os conceitos relacionados a matrizes. Na determi- 2. A(–1, 2) e B(–2, 5).
nação da equação na forma ax + by + c = 0 aplicamos a
regra de Sarrus utilizada na obtenção do discriminante de
uma matriz quadrada de ordem 3 x 3. Para utilizarmos uma
matriz nessa determinação da equação geral devemos ter
no mínimo dois pares ordenados (x,y) dos possíveis pontos
alinhados, por onde a reta irá passar. Observe a matriz ge-
ral da determinação da equação geral:  
[– 5 + 2x + (–2y)] – [(– 4) + (– y) + 5x] = 0
[– 5 + 2x – 2y] – [– 4 – y + 5x] = 0
– 5 + 2x – 2y + 4 + y – 5x = 0
–3x – y – 1 = 0
A equação geral da reta que passa pelos pontos A(–1,
2) e B(–2, 5) é dada pela expressão: –3x – y – 1 = 0.

Na matriz temos os pares ordenados que devem ser Equação Reduzida da Reta 
informados: (x1, y1) e (x2, y2) e um ponto genérico represen-
tado pelo par (x, y). Observe que a 3º coluna da matriz é Uma equação reduzida da reta respeita a lei de for-
completada com o algarismo 1. mação dada por y = mx + c, onde x e y são os pontos
pertencentes à reta, m é o coeficiente angular da reta e
Exercícios c o coeficiente linear. Essa forma reduzida da equação da
1. Vamos aplicar esses conceitos na obtenção da equa- reta expressa uma função entre x e y, isto é, as duas variá-
ção geral da reta que passa pelos pontos A(1, 2) e B(3,8), veis possuem uma relação de dependência. No caso dessa
veja: expressão, ao atribuirmos valores a x (eixo das abscissas),
2. Vamos determinar a equação geral da reta que passa obtemos valores para y (eixo das ordenadas). No caso de
pelos pontos: A(–1, 2) e B(–2, 5). funções matemáticas do 1º grau, estamos relacionando o
domínio (x) de uma função com sua imagem (y). Outra ca-
Respostas: racterística desse modelo de representação é quanto ao
1. Ponto A temos que: x1 = 1 e y1 = 2 valor do coeficiente angular e linear.
Ponto B temos que: x2 = 3 e y2 = 8 O coeficiente angular (a) representa a inclinação da
Ponto genérico C representado pelo par ordenado (x, reta em relação ao eixo das abscissas (x) e o coeficiente
y) linear (c) representa o valor numérico por onde a reta passa
no eixo das ordenadas (y).

Calcular o determinante de uma matriz quadrada apli-


cando a regra de Sarrus .

[(1 . 8 . 1) + (2 . 1 .x) + (1 . 3 . y)] – [(2 . 3 . 1) + (1 . 1 . y)


+ (1 . 8 . x)] = 0
[ 8 + 2x + 3y] – [6 + y + 8x] = 0 Vamos construir a equação reduzida de uma reta de
8 + 2x + 3y – 6 – y – 8x = 0 acordo com os pontos P(2, 7) e Q(–1, –5) pertencentes à
2x – 8x + 3y – y + 8 – 6 = 0 reta. Para determinar essa equação há duas maneiras, ob-
–6x + 2y + 2 = 0 serve:

Os pontos A(1, 2) e B(3,8) pertencem a seguinte equa-


ção geral da reta:

103
MATEMÁTICA

1º maneira Equação Reduzida da Circunferência


Determinar o coeficiente angular da reta.
m = (y2 – y1) / (x2 – x1) A equação reduzida da circunferência é dada pela ex-
m = (–5 – 7) / (–1 – 2) pressão (x – a)² + (y – b)² = R². Para definir essa expressão
m = –12 / –3 vamos analisar a situação da ilustração a seguir:
m=4

De acordo com o ponto P(2, 7), temos:


y – y1 = m .(x – x1) 
y – 7 = 4 * (x – 2)
y – 7 = 4x – 8
y = 4x – 8 + 7
y = 4x – 1

2ª maneira
Temos que a lei de formação de uma equação reduzida
da reta é dada por  y = mx + c.

Considerando que ela passa por P(2, 7) e Q(–1, –5), te-


mos:
P(2, 7)
7=m.2+c
7 = 2m + c
2m + c = 7
Q(–1, –5) Na ilustração, a circunferência possui centro C com
–5 = m * (–1) + c coordenadas (a, b). O ponto genérico P possui as coordena-
–5 = –m + c das (x, y). Vamos estabelecer a distância entre os pontos C e
–m + c = –5 P utilizando a expressão matemática 
, de acordo com as definições da Geometria Analítica.
Nesse caso, os valores dos coeficientes angular (m) e li-
near (c) serão calculados por um sistema de equações. Veja:

Isolando c na 2ª equação:
–m + c = –5
c = –5 + m

Substituindo c na 1ª equação:
2m + c = 7 De acordo com a ilustração gráfica, a distância entre
2m + (–5 + m) = 7 os pontos C e P é considerado o raio da circunferência.
2m – 5 + m = 7 Dessa forma, substituiremos por R (raio), observe:
3m = 7 + 5  (x – a)² + (y – b)² = R²
3m = 12
m = 12/3 Exercícios
m=4 1. Vamos determinar a equação reduzida da circunfe-
rência com centro C (2, –9) e raio 6.
Calculando o valor de c: 2. (FEI–SP) Determine a equação da circunferência com
c = –5 + m centro no ponto C (2, 1) e que passa pelo ponto A (1, 1).
c = –5 + 4 Respostas
c = –1 1. (x – a)² + (y – b)² = R²
(x – 2)² + (y + 9)² = 6²
Portanto, a equação reduzida da reta que passa pelos (x – 2)² + (y + 9)² = 36
pontos
2. Vamos calcular a distancia entre os pontos C e P
P(2, 7) e Q(–1, –5), corresponde à expressão y = 4x
– 1.

A distância entre o centro C e o ponto P corresponde


à medida do raio.

104
MATEMÁTICA

(x – a)² + (y – b)² = R² Ponto Médio de um Segmento de Reta


(x – 2)² + (y – 1)² = 1²
(x – 2)² + (y – 1)² = 1

A equação da circunferência com centro C (2, 1) e que


passa pelo ponto A (1, 1) possui como equação reduzida
a expressão matemática (x – 2)² + (y – 1)² = 1. A equação
geral surgirá do desenvolvimento da expressão reduzida
(x – 2)² + (y – 1)² = 1, veja:
(x – 2)² + (y – 1)² = 1
x² – 4x + 4 + y² – 2y + 1 – 1 = 0
x² + y² – 4x – 2y + 4 = 0

Equação Normal da Circunferência

A equação normal da circunferência é o resultado do


desenvolvimento da equação reduzida. Veja:
(x – a)² + (y – b)² = R²
x² – 2ax + a² + y² – 2by + b² = R²
x² – 2ax + a² + y² – 2by + b² – R² = 0 O segmento de reta AB terá um ponto médio (M) com
x² + y² – 2ax – 2by + a² + b² – R² = 0 as seguintes coordenadas (xM, yM). Observe que os triân-
gulos AMN e ABP são semelhantes, possuindo os três ân-
Exercicios gulos respectivamente iguais. Dessa forma, podemos apli-
1. Vamos determinar a equação normal da circunferên- car a seguinte relação entre os segmentos que formam os
cia de centro C (3, 9) e raio igual a 5. triângulos. Veja:
2. A partir da equação normal da circunferência pode-
mos estabelecer as coordenadas do centro e o raio. Vamos
realizar uma comparação entre as equações x² + y² + 4x –
2y – 4 = 0 e x² + y² – 2ax – 2by + a² + b² – R² = 0. Observe
os cálculos:
Podemos concluir que AB = 2 .(AM), considerando
Respostas que M é o ponto médio do segmento AB. Temos:
1. (x – a)² + (y – b)² = R²
(x – 3)² + (y – 9)² = 5²
x² – 6x + 9 + y² – 18y + 81 – 25 = 0
x² + y² – 6x – 18y + 65 = 0

Também podemos utilizar a expressão x² + y² – 2ax –


2by + a²
+ b² – R² = 0, observe o desenvolvimento: AP = 2. AN
x² + y² – 2.3.x – 2.9.y + 3² + 9² – 5² = 0 xP – xA = 2. (xM – xA) 
x² + y² – 6x – 18y + 9 + 81 – 25 = 0 xB – xA = 2.(xM – xA) 
x² + y² – 6x – 18y + 65 = 0 xB – xA = 2xM – 2xA 
2. x² + y² + 4x – 2y – 4 = 0  2xM = xB – xA + 2xA 
x² + y² – 2ax – 2by + a² + b² – R² = 0 2xM = xA + xB 
– 2a = 4 → a = – 2 xM = (xA + xB)/2 
– 2 = – 2b → b = 1
a² + b² – R² = – 4  Utilizando método análogo, conseguimos demonstrar
(– 2)² + 12 – R² = – 4  que yM = (yA + yB )/2. 
4 + 1 – R² = – 4 
– R² = – 4 – 4 – 1  Portanto, considerando M o ponto médio do segmen-
– R² = – 9  to AB, temos a seguinte expressão matemática capaz de
R² = 9 determinar a coordenada do ponto médio de qualquer
√R² = √9 segmento no plano cartesiano:
R=3

Portanto, a equação normal da circunferência x² + y² +


4x – 2y – 4 = 0 terá centro C (–2, 1) e raio R = 3.

105
MATEMÁTICA

Percebemos que o cálculo da abscissa é a média


aritmética entre as abscissas dos pontos A e B. Assim, o GEOMÉTRICA PLANA: ELEMENTOS
cálculo da ordenada é a média aritmética entre as ordena- PRIMITIVOS, SEGMENTO, SEMIRRETA,
das dos pontos A e B. SEMIPLENO E ÂNGULO. RETAS
Exercícios
PERPENDICULARES E PARALELAS.
1. Dadas as coordenadas dos pontos A(4,6) e B(8,10) TEOREMA DE TALES. TRIÂNGULOS-
pertencentes ao segmento AB, determine as coordenadas CONGRUÊNCIA E SEMELHANÇA.
do ponto médio desse segmento.  QUADRILÁTEROS. POLÍGONOS.
2. Dados os pontos P(5,1) e Q(–2,–9), determine as CIRCUNFERÊNCIAS E DISCO.
coordenadas do ponto médio do segmento PQ.  RELAÇÕES MÉTRICAS NO TRIÂNGULO E NA
CIRCUNFERÊNCIA. PERÍMETRO E ÁREA DAS
Respostas PRINCIPAIS FIGURAS PLANAS
1.
xA = 4 
yA = 6 
xB = 8  A Geometria é a parte da matemática que estuda as
yB = 10  figuras e suas propriedades. A geometria estuda figuras
abstratas, de uma perfeição não existente na realidade.
xM = (xA + xB) / 2  Apesar disso, podemos ter uma boa ideia das figuras
xM = (4 + 8) / 2  geométricas, observando objetos reais, como o aro da
xM = 12/2  cesta de basquete que sugere uma circunferência, as portas
xM = 6  e janelas que sugerem retângulos e o dado que sugere um
cubo.
yM = (yA + yB) / 2 
yM = (6 + 10) / 2  Reta, semirreta e segmento de reta
yM = 16 / 2 
yM = 8 

As coordenadas do ponto médio do segmento AB é


xM (6, 8). 
2. xM = [5 + (–2)] / 2 
xM = (5 – 2) / 2 
xM = 3/2 

yM = [1 + (–9)] / 2  Definições.


yM = (1 – 9) / 2 
yM = –8/2  a) Segmentos congruentes.
yM = –4  Dois segmentos são congruentes se têm a mesma
medida.
Portanto, M(3/2, –4) é o ponto médio do segmento b) Ponto médio de um segmento.
PQ.  Um ponto P é ponto médio do segmento AB se
Fonte:www.brasilescola.com (Adaptado) pertence ao segmento e divide AB em dois segmentos
congruentes.
c) Mediatriz de um segmento.
É a reta perpendicular ao segmento no seu ponto
médio

Ângulo

106
MATEMÁTICA

Definições.
a) Ângulo é a região plana limitada por duas semirretas
de mesma origem.
b) Ângulos congruentes: Dois ângulos são ditos
congruentes se têm a mesma medida.
c) Bissetriz de um ângulo: É a semirreta de origem no
vértice do ângulo que divide esse ângulo em dois ângulos
congruentes.

Perímetro
Entendendo o que é perímetro.
Imagine uma sala de aula de 5m de largura por 8m de Veremos que a área do campo de futebol é 70 unidades
comprimento. de área.
Quantos metros lineares serão necessários para A unidade de medida da área é: m² (metros quadrados),
colocar rodapé nesta sala, sabendo que a porta mede 1m cm² (centímetros quadrados), e outros.
de largura e que nela não se coloca rodapé? Se tivermos uma figura do tipo:

A conta que faríamos seria somar todos os lados da


sala, menos 1m da largura da porta, ou seja: Sua área será um valor aproximado. Cada é uma
P = (5 + 5 + 8 + 8) – 1 unidade, então a área aproximada dessa figura será de 4
P = 26 – 1 unidades.
P = 25 No estudo da matemática calculamos áreas de figuras
planas e para cada figura há uma fórmula pra calcular a
sua área.

Retângulo
É o quadrilátero que tem todos os ângulos internos
congruentes e iguais a 90º.

Colocaríamos 25m de rodapé. No cálculo da área de qualquer retângulo podemos


A soma de todos os lados da planta baixa se chama seguir o raciocínio:
Perímetro.
Portanto, Perímetro é a soma dos lados de uma figura
plana.

Área
Área é a medida de uma superfície.
A área do campo de futebol é a medida de sua
superfície (gramado).
Se pegarmos outro campo de futebol e colocarmos
em uma malha quadriculada, a sua área será equivalente
à quantidade de quadradinho. Se cada quadrado for uma
unidade de área:

107
MATEMÁTICA

Pegamos um retângulo e colocamos em uma malha Trapézio


quadriculada onde cada quadrado tem dimensões de 1 cm. É o quadrilátero que tem dois lados paralelos. A altura
Se contarmos, veremos que há 24 quadrados de 1 cm de de um trapézio é a distância entre as retas suporte de suas
dimensões no retângulo. Como sabemos que a área é a bases.
medida da superfície de uma figuras podemos dizer que
24 quadrados de 1 cm de dimensões é a área do retângulo.

Em todo trapézio, o segmento que une os pontos


médios dos dois lados não paralelos, é paralelo às bases e
O retângulo acima tem as mesmas dimensões que o vale a média aritmética dessas bases.
outro, só que representado de forma diferente. O cálculo
da área do retângulo pode ficar também da seguinte forma:
A = 6 . 4 A = 24 cm²
Podemos concluir que a área de qualquer retângulo é:

A área do trapézio está relacionada com a área do


A=b triângulo que é calculada utilizando a seguinte fórmula:
.h A = b . h (b = base e h = altura).
2
Quadrado Observe o desenho de um trapézio e os seus elementos
É o quadrilátero que tem os lados congruentes e todos mais importantes (elementos utilizados no cálculo da sua
os ângulos internos a congruentes (90º). área):

Sua área também é calculada com o produto da base


pela altura. Mas podemos resumir essa fórmula:
Um trapézio é formado por uma base maior (B), por
uma base menor (b) e por uma altura (h).
Para fazermos o cálculo da área do trapézio é preciso
dividi-lo em dois triângulos, veja como:
Primeiro: completamos as alturas no trapézio:

Como todos os lados são iguais, podemos dizer que


base é igual a e a altura igual a , então, substituindo na
fórmula A = b . h, temos:
A= .
A= ²

108
MATEMÁTICA

Segundo: o dividimos em dois triângulos: Losango

É o quadrilátero que tem os lados congruentes.

A área desse trapézio pode ser calculada somando as


áreas dos dois triângulos (∆CFD e ∆CEF).
Antes de fazer o cálculo da área de cada triângulo Em todo losango as diagonais são:
separadamente observamos que eles possuem bases a) perpendiculares entre si;
diferentes e alturas iguais. b) bissetrizes dos ângulos internos.
A área do losango é definida pela seguinte fórmula:
Cálculo da área do ∆CEF:
d .D Onde D é a diagonal maior e d é a menor.
S=
A∆1 = B . h 2
2
Triângulo
Cálculo da área do ∆CFD:
Figura geométrica plana com três lados.
A∆2 = b . h
2
Somando as duas áreas encontradas, teremos o cálculo
da área de um trapézio qualquer:

AT = A∆1 + A∆2

AT = B . h + b . h
2 2

AT = B . h + b . h → colocar a altura (h) em evi-


2 Ângulo externo. O ângulo externo de qualquer
dência, pois é um termo comum aos dois fatores. polígono convexo é o ângulo formado entre um lado e o
prolongamento do outro lado.
AT = h (B + b) Classificação dos triângulos.
2
a) quanto aos lados:
Portanto, no cálculo da área de um trapézio qualquer - triângulo equilátero.
utilizamos a seguinte fórmula: - triângulo isósceles.
- triângulo escaleno.
A = h (B + b) b) quanto aos ângulos:
2 - triângulo retângulo.
- triângulo obtusângulo.
h = altura - triângulo acutângulo.
B = base maior do trapézio
b = base menor do trapézio Propriedades dos triângulos
1) Em todo triângulo, a soma das medidas dos 3
ângulos internos é 180º.

109
MATEMÁTICA

Área do triangulo

2) Em todo triângulo, a medida de um ângulo externo


é igual à soma das medidas dos 2 ângulos internos não
adjacentes.
Segmentos proporcionais

Teorema de Tales.

Em todo feixe de retas paralelas, cortado por uma


reta transversal, a razão entre dois segmento quaisquer
de uma transversal é igual à razão entre os segmentos
correspondentes da outra transversal.

3) Em todo triângulo, a soma das medidas dos 3


ângulos externos é 360º.

Semelhança de triângulos

Definição.
Dois triângulos são semelhantes se têm os ângulos
dois a dois congruentes e os lados correspondentes dois a
4) Em todo triângulo isósceles, os ângulos da base dois proporcionais.
são congruentes. Observação - A base de um triângulo
isósceles é o seu lado diferente. Definição mais “popular”.
Dois triângulos são semelhantes se um deles é a
redução ou a ampliação do outro.
Importante - Se dois triângulos são semelhantes, a
proporcionalidade se mantém constante para quaisquer
dois segmentos correspondentes, tais como: lados,
medianas, alturas, raios das circunferências inscritas, raios
das circunferências circunscritas, perímetros, etc.

Altura - É a distância entre o vértice e a reta suporte do


lado oposto.

110
MATEMÁTICA

Exercícios 7. Na figura, os ângulos assinalados sao iguais, AC=2 e


AB=6. A medida de AE é:
1. Seja um paralelogramo com as medidas da base e da a)6/5 b)7/4 c)9/5 d)3/2 e)5/4
altura respectivamente, indicadas por b e h. Se construir-
mos um outro paralelogramo que tem o dobro da base e o
dobro da altura do outro paralelogramo, qual será relação
entre as áreas dos paralelogramos?

2. Os lados de um triângulo equilátero medem 5 mm.


Qual é a área deste triângulo equilátero?
8. Na figura a seguir, as distâncias dos pontos A e B à
reta valem 2 e 4. As projeções ortogonais de A e B sobre
3. Qual é a medida da área de um paralelogramo cujas essa reta são os pontos C e D. Se a medida de CD é 9, a que
medidas da altura e da base são respectivamente 10 cm e distância de C deverá estar o ponto E, do segmento CD,
2 dm? para que CÊA=DÊB
a)3
b)4
4. As diagonais de um losango medem 10 cm e 15 cm. c)5
Qual é a medida da sua superfície? d)6
e)7

5. Considerando as informações constantes no trian-


gulo PQR, pode-se concluir que a altura PR desse triângulo 9. Para ladrilhar uma sala são necessários exatamente
mede: 400 peças iguais de cerâmica na forma de um quadrado.
Sabendo-se que a área da sala tem 36m², determine:
a) a área de cada peça, em m².
b) o perímetro de cada peça, em metros.

10. Na figura, os ângulos ABC, ACD, CÊD, são retos. Se


AB=2 3 m e CE= 3 m, a razão entre as áreas dos triângu-
los ABC e CDE é:

a)6
b)4
c)3
d)2
e) 3
a)5 b)6 c)7 d)8

6. Num cartão retangular, cujo comprimento é igual ao Respostas


dobro de sua altura, foram feitos dois vincos AC e BF, que
formam, entre si, um ângulo reto (90°). Observe a figura: 1. A2 = (2b)(2h) = 4bh = 4A1

2. Segundo o enunciado temos:


l=5mm

Substituindo na fórmula:
l² 3 5² 3
=
S ⇒=S = 6, 25 3 ⇒ =
S 10,8
4 4
3. Sabemos que 2 dm equivalem a 20 cm, temos:
h=10
Considerando AF=16cm e CB=9cm, determine: b=20
a) as dimensões do cartão;
b) o comprimento do vinco AC Substituindo na fórmula:
=
S b= = 100cm
.h 20.10 = ² 2dm²

111
MATEMÁTICA

4. Para o cálculo da superfície utilizaremos a fórmula 10.


que envolve as diagonais, cujos valores temos abaixo:

d1=10
d2=15

Utilizando na fórmula temos:

d1.d 2 10.15
S= ⇒ = 75cm ²
2 2

5. 4 6 36
= ⇒ PR = =6
PR 9 6
x 9 6. GEOMETRIA ESPACIAL CONCEITOS
= ⇒ x ² = 144 ⇒ x = 12
16 x BÁSICOS. POSIÇÕES RELATIVAS DE RETAS
= =
a ) x 12( altura ); 2 x 24(comprimento) E PLANOS NO ESPAÇO. ÁREA LATERAL E
VOLUME DO PRISMA, PIRÂMIDE,
b) AC = 9² + x ² = 81 + 144 = 15
CILINDRO, CONE E ESFERA.
TRIGONOMETRIA MEDIDA DE UM ARCO, O
7. GRAU E O RADIANO, RELAÇÃO ENTRE
ARCOS E ÂNGULOS. O SENO, O COSSENO E A
TANGENTE DE UM ÂNGULO.
FÓRMULAS PARA A ADIÇÃO E SUBTRAÇÃO
DE ARCOS.

Para explicar o cálculo do volume de figuras geométri-


cas, podemos pedir que visualizem a seguinte figura:

8.

a) A  figura representa a planificação de um prisma reto;


b) O volume de um prisma reto é igual ao produto da
área da base pela altura do sólido, isto é

V = Ab x a

c) O cubo e o paralelepípedo retângulo são prismas;

d) O volume do cilindro também se pode calcular da


mesma forma que o volume de um prisma reto.
9.
Os formulários seguintes, das figuras geométricas são
para calcular da mesma forma que as acima apresentadas:

112
MATEMÁTICA

Figuras Geométricas: Classificação do cone

Quando observamos a posição relativa do eixo em re-


lação à base, os cones podem ser classificados como retos
ou oblíquos. Um cone é dito reto quando o eixo é perpen-
dicular ao plano da base e é oblíquo quando não é um
cone reto. Ao lado apresentamos um cone oblíquo.
Observação: Para efeito de aplicações, os cones mais
importantes são os cones retos. Em função das bases, os
cones recebem nomes especiais. Por exemplo, um cone é
dito circular se a base é um círculo e é dito elíptico se a
base é uma região elíptica.

O conceito de cone

Observações sobre um cone circular reto


1. Um cone circular reto é chamado cone de revolução
por ser obtido pela rotação (revolução) de um triângulo
Considere uma região plana limitada por uma curva retângulo em torno de um de seus catetos
suave (sem quinas), fechada e um ponto P fora desse pla- 2. A seção meridiana do cone circular reto é a interse-
no. Chamamos de cone ao sólido formado pela reunião de ção do cone com um plano que contem o eixo do cone. No
todos os segmentos de reta que têm uma extremidade em caso acima, a seção meridiana é a região triangular limitada
P e a outra num ponto qualquer da região. pelo triângulo isósceles VAB.
3. Em um cone circular reto, todas as geratrizes são
Elementos do cone congruentes entre si. Se g é a medida de cada geratriz en-
- Base: A base do cone é a região plana contida no tão, pelo Teorema de Pitágoras, temos: g2 = h2 + R2
interior da curva, inclusive a própria curva. 4. A Área Lateral de um cone circular reto pode ser
- Vértice: O vértice do cone é o ponto P. obtida em função de g (medida da geratriz) e R (raio da
- Eixo: Quando a base do cone é uma região que pos- base do cone):ALat = Pi R g
sui centro, o eixo é o segmento de reta que passa pelo 5. A Área total de um cone circular reto pode ser ob-
vértice P e pelo centro da base. tida em função de g (medida da geratriz) e R (raio da base
- Geratriz: Qualquer segmento que tenha uma extre- do cone):
midade no vértice do cone e a outra na curva que envolve ATotal = Pi R g + Pi R2
a base.
- Altura: Distância do vértice do cone ao plano da base.
- Superfície lateral: A superfície lateral do cone é a
reunião de todos os segmentos de reta que tem uma extre-
midade em P e a outra na curva que envolve a base.
- Superfície do cone: A superfície do cone é a reunião
da superfície lateral com a base do cone que é o círculo.
- Seção meridiana: A seção meridiana de um cone é
uma região triangular obtida pela interseção do cone com
um plano que contem o eixo do mesmo.

113
MATEMÁTICA

Cones Equiláteros Aplicação: volumes de líquidos


Um problema fundamental para empresas que arma-
zenam líquidos em tanques esféricos, cilíndricos ou esfé-
ricos e cilíndricos é a necessidade de realizar cálculos de
volumes de regiões esféricas a partir do conhecimento da
altura do líquido colocado na mesma. Por exemplo, quan-
do um tanque é esférico, ele possui um orifício na parte
superior (pólo Norte) por onde é introduzida verticalmente
uma vara com indicadores de medidas. Ao retirar a vara,
Um cone circular reto é um cone equilátero se a sua observa-se o nível de líquido que fica impregnado na vara
seção meridiana é uma região triangular equilátera e neste e esta medida corresponde à altura de líquido contido na
caso a medida da geratriz é igual à medida do diâmetro região esférica. Este não é um problema trivial, como ob-
da base. servaremos pelos cálculos realizados na sequência.
A área da base do cone é dada por:
ABase=Pi R2

Pelo Teorema de Pitágoras temos:


(2R)2 = h2 + R2
h2 = 4R2 - R2 = 3R2

Assim:
h=R
Como o volume do cone é obtido por 1/3 do produto
da área da base pela altura, então: A seguir apresentaremos elementos esféricos básicos e
algumas fórmulas para cálculos de áreas na esfera e volu-
V = (1/3) Pi R3 mes em um sólido esférico.
Como a área lateral pode ser obtida por:
ALat = Pi R g = Pi R 2R = 2 Pi R2 A superfície esférica
então a área total será dada por: A esfera no espaço R³ é o conjunto de todos os pontos
ATotal = 3 Pi R2 do espaço que estão localizados a uma mesma distância
denominada raio de um ponto fixo chamado centro.
O conceito de esfera Uma notação para a esfera com raio unitário centrada
na origem de R³ é:
A esfera no espaço R³ é uma superfície muito impor- S² = { (x,y,z) em R³: x² + y² + z² = 1 }
tante em função de suas aplicações a problemas da vida. Uma esfera de raio unitário centrada na origem de R4
Do ponto de vista matemático, a esfera no espaço R³ é con- é dada por:
fundida com o sólido geométrico (disco esférico) envolvido S³ = { (w,x,y,z) em R4: w² + x² + y² + z² = 1 }
pela mesma, razão pela quais muitas pessoas calculam o
volume da esfera. Na maioria dos livros elementares sobre Você conseguiria imaginar espacialmente tal esfera?
Geometria, a esfera é tratada como se fosse um sólido, he- Do ponto de vista prático, a esfera pode ser pensada
rança da Geometria Euclidiana. como a película fina que envolve um sólido esférico. Em
Embora não seja correto, muitas vezes necessitamos uma melancia esférica, a esfera poderia ser considerada a
falar palavras que sejam entendidas pela coletividade. De película verde (casca) que envolve a fruta.
um ponto de vista mais cuidadoso, a esfera no espaço R³ é É comum encontrarmos na literatura básica a definição
um objeto matemático parametrizado por duas dimensões, de esfera como sendo o sólido esférico, no entanto não
o que significa que podemos obter medidas de área e de se devem confundir estes conceitos. Se houver interesse
comprimento, mas o volume tem medida nula. Há outras em aprofundar os estudos desses detalhes, deve-se tomar
esferas, cada uma definida no seu respectivo espaço n-di- algum bom livro de Geometria Diferencial que é a área da
mensional. Um caso interessante é a esfera na reta unidi- Matemática que trata do detalhamento de tais situações.
mensional:
So = {x em R: x²=1} = {+1,-1}
Por exemplo, a esfera
S1 = { (x,y) em R²: x² + y² = 1 }
é conhecida por nós como uma circunferência de raio
unitário centrada na origem do plano cartesiano.

114
MATEMÁTICA

O disco esférico é o conjunto de todos os pontos do Se rodarmos esta circunferência maximal C em torno
espaço que estão localizados na casca e dentro da esfera. do eixo OZ, obteremos a esfera através da rotação e por
Do ponto de vista prático, o disco esférico pode ser pen- este motivo, a esfera é uma superfície de revolução.
sado como a reunião da película fina que envolve o sólido Se tomarmos um arco contido na circunferência ma-
esférico com a região sólida dentro da esfera. Em uma me- ximal cujas extremidades são os pontos (0,0,R) e (0,p,q) tal
lancia esférica, o disco esférico pode ser visto como toda que p²+q²=R² e rodarmos este arco em torno do eixo OZ,
a fruta. obteremos uma superfície denominada calota esférica.
Quando indicamos o raio da esfera pela letra R e o cen-
tro da esfera pelo ponto (0,0,0), a equação da esfera é dada
por:
x² + y² + z² = R²
e a relação matemática que define o disco esférico é o
conjunto que contém a casca reunido com o interior, isto é:

x² + y² + z² < R²
Quando indicamos o raio da esfera pela letra R e o cen-
tro da esfera pelo ponto (xo,yo,zo), a equação da esfera é Na prática, as pessoas usam o termo calota esférica
dada por: para representar tanto a superfície como o sólido geomé-
trico envolvido pela calota esférica. Para evitar confusões,
(x-xo)² + (y-yo)² + (z-zo)² = R² usarei “calota esférica” com aspas para o sólido e sem as-
e a relação matemática que define o disco esférico é o pas para a superfície.
conjunto que contém a casca reunido com o interior, isto é, A partir da rotação, construiremos duas calotas em
o conjunto de todos os pontos (x,y,z) em R³ tal que: uma esfera, de modo que as extremidades dos arcos se-
jam (0,0,R) e (0,p,q) com p²+q²=R² no primeiro caso (calota
Norte) e no segundo caso (calota Sul) as extremidades dos
arcos (0,0,-R) e (0,r,-s) com r²+s²=R² e retirarmos estas duas
(x-xo)² + (y-yo)² + (z-zo)² < R² calotas da esfera, teremos uma superfície de revolução de-
Da forma como está definida, a esfera centrada na ori- nominada zona esférica.
gem pode ser construída no espaço euclidiano R³ de modo
que o centro da mesma venha a coincidir com a origem do
sistema cartesiano R³, logo podemos fazer passar os eixos
OX, OY e OZ, pelo ponto (0,0,0).

De um ponto de vista prático, consideremos uma me-


lancia esférica. Com uma faca, cortamos uma “calota esféri-
ca” superior e uma “calota esférica” inferior. O que sobra da
Seccionando a esfera x²+y²+z²=R² com o plano z=0, melancia é uma região sólida envolvida pela zona esférica,
obteremos duas superfícies semelhantes: o hemisfério algumas vezes denominada zona esférica.
Norte (“boca para baixo”) que é o conjunto de todos os Consideremos uma “calota esférica” com altura h1 e
pontos da esfera onde a cota z é não negativa e o hemis- raio da base r1 e retiremos desta calota uma outra “calota
fério Sul (“boca para cima”) que é o conjunto de todos os esférica” com altura h2 e raio da base r2, de tal modo que
pontos da esfera onde a cota z não é positiva. os planos das bases de ambas sejam paralelos. A região só-
Se seccionarmos a esfera x²+y²+z²=R² por um plano lida determinada pela calota maior menos a calota menor
vertical que passa em (0,0,0), por exemplo, o plano x=0, te- recebe o nome de segmento esférico com bases paralelas.
remos uma circunferência maximal C da esfera que é uma
circunferência contida na esfera cuja medida do raio coin-
cide com a medida do raio da esfera, construída no plano
YZ e a equação desta circunferência será:
x=0, y² + z² = R2
sendo que esta circunferência intersecta o eixo OZ nos
pontos de coordenadas (0,0,R) e (0,0,-R). Existem infinitas
circunferências maximais em uma esfera.

115
MATEMÁTICA

No que segue, usaremos esfera tanto para o sólido Para simplificar as operações algébricas, usaremos a
como para a superfície, “calota esférica” para o sólido en- letra r para indicar:
volvido pela calota esférica, a letra maiúscula R para en- r² = R² - (h-R)² = h(2R-h)
tender o raio da esfera sobre a qual estamos realizando A região circular S de integração será descrita por
os cálculos, V será o volume, A(lateral) será a área lateral e x²+y²<R² ou em coordenadas polares através de:
A(total) será a área total. 0<m<R, 0<t<2Pi
A integral dupla que representa o volume da calota em
Algumas fórmulas (relações) para objetos esféricos função da altura h é dada por:
Vc(h) = ∫ ∫ s (h − z)dxdy
Objeto Relações e fórmulas
Volume = (4/3) Pi R³
Esfera
A(total) = 4 Pi R² ou seja
R² = h (2R-h) Vc(h) = ∫ ∫ s (h − R + R 2 − (x 2 + y 2 ))dxdy
Calota esférica (altura h, raio A(lateral) = 2 Pi R h
da base r) A(total) = Pi h (4R-h)
Escrita em Coordenadas Polares, esta integral fica na
V=Pi.h²(3R-h)/3=Pi(3R²+h²)/6
forma:
R² = a² + [(r1² -r2²-h²)/2h)]² 2x R
Segmento esférico (altura h,
raios das bases r1>r²)
A(lateral) = 2 Pi R h
A(total) = Pi(2Rh+r1²+r2²)
Vc(h) = ∫ ∫ (h − R +
t=0 m=0
R 2 − m 2 )mdmdt
Volume=Pi.h(3r1²+3r2²+h²)/6
Após realizar a integral na variável t, podemos separá
Estas fórmulas podem ser obtidas como aplicações do
-la em duas integrais:
Cálculo Diferencial e Integral, mas nós nos limitaremos a R R
apresentar um processo matemático para a obtenção da Vc(h) = 2π { ∫ (h − R)m dm + ∫ R 2 − m 2 mdm}
fórmula do cálculo do volume da “calota esférica” em fun- 0 0
ção da altura da mesma.
ou seja:
R
Volume de uma calota no hemisfério Sul Vc(h) = π {(h − R)R 2 − ∫ R 2 − m 2 (−2m)dm}
Consideremos a esfera centrada no ponto (0,0,R) com 0
raio R.
Com a mudança de variável u=R²-m² e du=(-2m)dm
poderemos reescrever:
R2

Vc(h) = π {(h − R)R + ∫


2
u du}
u=0

Após alguns cálculos obtemos:


VC(h) = Pi (h-R) [R² -(h-R)²] - (2/3)Pi[(R-h)³ - R³]
e assim temos a fórmula para o cálculo do volume da
calota esférica no hemisfério Sul com a altura h no intervalo
[0,R], dada por:
VC(h) = Pi h²(3R-h)/3

Volume de uma calota no hemisfério Norte


A equação desta esfera será dada por:
Se o nível do líquido mostra que a altura h já ultrapas-
x² + y² + (z-R)² = R²
sou o raio R da região esférica, então a altura h está no
intervalo [R,2R]
A altura da calota será indicada pela letra h e o plano
que coincide com o nível do líquido (cota) será indicado
por z=h. A interseção entre a esfera e este plano é dado
pela circunferência
x² + y² = R² - (h-R)²

Obteremos o volume da calota esférica com a altura


h menor ou igual ao raio R da esfera, isto é, h pertence ao
intervalo [0,R] e neste caso poderemos explicitar o valor de
z em função de x e y para obter:
z = R − R 2 − (x 2 + y 2 )

116
MATEMÁTICA

Lançaremos mão de uma propriedade de simetria da Áreas e Volumes


esfera que nos diz que o volume da calota superior assim
como da calota inferior somente depende do raio R da es- Poliedro regular Área Volume
fera e da altura h e não da posição relativa ocupada. Tetraedro a2 R[3] (1/12) a³ R[2]
Aproveitaremos o resultado do cálculo utilizado para a Hexaedro 6 a2 a³
calota do hemisfério Sul. Tomaremos a altura tal que: h=2R Octaedro 2 a2 R[3] (1/3) a³ R[2]
-d, onde d é a altura da região que não contém o líquido.
Dodecaedro 3a2 R{25+10·R[5]} (1/4) a³ (15+7·R[5])
Como o volume desta calota vazia é dado por:
Icosaedro 5a2 R[3] (5/12) a³ (3+R[5])
VC(d) = Pi d²(3R-d)/3
Nesta tabela, a notação R[z] significa a raiz quadra-
e como h=2R-d, então para h no intervalo [R,2R], po-
da de z>0.
deremos escrever o volume da calota vazia em função de h:
Prisma
VC(h) = Pi (2R-h)²(R+h)/3
Prisma é um sólido geométrico delimitado por faces
Para obter o volume ocupado pelo líquido, em função
planas, no qual as bases se situam em planos paralelos.
da altura, basta tomar o volume total da região esférica e
Quanto à inclinação das arestas laterais, os prismas podem
retirar o volume da calota vazia, para obter:
ser retos ou oblíquos.
V(h) = 4Pi R³/3 - Pi (2R-h)²(R+h)/3
que pode ser simplificada para:
Prisma reto
V(h) = Pi h²(3R-h)/3
As arestas laterais têm o mesmo comprimento.
As arestas laterais são perpendiculares ao plano da
Independentemente do fato que a altura h esteja no
base.
intervalo [0,R] ou [R,2R] ou de uma forma geral em [0,2R], o
As faces laterais são retangulares.
cálculo do volume ocupado pelo líquido é dado por:
V(h) = Pi h²(3R-h)/3
Prisma oblíquo
As arestas laterais têm o mesmo comprimento.
Poliedro
As arestas laterais são oblíquas ao plano da base.
As faces laterais não são retangulares.
Poliedro é um sólido limitado externamente por planos
no espaço R³. As regiões planas que limitam este sólido são
as faces do poliedro. As interseções das faces são as ares- Bases: regiões poligonais
tas do poliedro. As interseções das arestas são os vértices congruentes
do poliedro. Cada face é uma região poligonal contendo Altura: distância entre
n lados. as bases
Arestas laterais
Poliedros convexos são aqueles cujos ângulos diedrais paralelas: mesmas
formados por planos adjacentes têm medidas menores do medidas
que 180 graus. Outra definição: Dados quaisquer dois pon- Faces laterais:
tos de um poliedro convexo, o segmento que tem esses paralelogramos
pontos como extremidades, deverá estar inteiramente con- Prisma reto Aspectos comuns Prisma oblíquo
tido no poliedro. Seções de um prisma

Poliedros Regulares Seção transversal

Um poliedro é regular se todas as suas faces são re- É a região poligonal obtida pela interseção do prisma
giões poligonais regulares com n lados, o que significa que com um plano paralelo às bases, sendo que esta região
o mesmo número de arestas se encontram em cada vértice. poligonal é congruente a cada uma das bases.
Tetraedro Hexaedro (cubo) Octaedro
Seção reta (seção normal)
É uma seção determinada por um plano perpendicular
às arestas laterais.

Princípio de Cavaliere
Consideremos um plano P sobre o qual estão apoiados
dois sólidos com a mesma altura. Se todo plano paralelo
ao plano dado interceptar os sólidos com seções de áreas
iguais, então os volumes dos sólidos também serão iguais.

117
MATEMÁTICA

Prisma regular Seja P um plano e nele vamos construir um círculo de


É um prisma reto cujas bases são regiões poligonais raio r. Tomemos também um segmento de reta PQ que não
regulares. seja paralelo ao plano P e nem esteja contido neste plano
P.
Exemplos: Um cilindro circular é a reunião de todos os segmentos
Um prisma triangular regular é um prisma reto cuja congruentes e paralelos a PQ com uma extremidade no
base é um triângulo equilátero. círculo.
Um prisma quadrangular regular é um prisma reto cuja Observamos que um cilindro é uma superfície no es-
base é um quadrado. paço R3, mas muitas vezes vale a pena considerar o cilindro
com a região sólida contida dentro do cilindro. Quando
Planificação do prisma nos referirmos ao cilindro como um sólido usaremos aspas,
isto é, “cilindro” e quando for à superfície, simplesmente
escreveremos cilindro.
A reta que contém o segmento PQ é denominada ge-
ratriz e a curva que fica no plano do “chão” é a diretriz.

Um prisma é um sólido formado por todos os pontos


do espaço localizados dentro dos planos que contêm as fa-
ces laterais e os planos das bases. As faces laterais e as ba-
ses formam a envoltória deste sólido. Esta envoltória é uma
“superfície” que pode ser planificada no plano cartesiano.
Tal planificação se realiza como se cortássemos com Em função da inclinação do segmento PQ em relação
uma tesoura esta envoltória exatamente sobre as arestas ao plano do “chão”, o cilindro será chamado reto ou oblí-
para obter uma região plana formada por áreas congruen- quo, respectivamente, se o segmento PQ for perpendicular
tes às faces laterais e às bases. ou oblíquo ao plano que contém a curva diretriz.
A planificação é útil para facilitar os cálculos das áreas
lateral e total. Objetos geométricos em um “cilindro”
Num cilindro, podemos identificar vários elementos:
Volume de um prisma - Base É a região plana contendo a curva diretriz e todo
O volume de um prisma é dado por: o seu interior. Num cilindro existem duas bases.
- Eixo É o segmento de reta que liga os centros das
Vprisma = Abase . h bases do “cilindro”.
- Altura A altura de um cilindro é a distância entre os
Área lateral de um prisma reto com base poligonal dois planos paralelos que contêm as bases do “cilindro”.
regular - Superfície Lateral É o conjunto de todos os pontos
do espaço, que não estejam nas bases, obtidos pelo deslo-
A área lateral de um prisma reto que tem por base uma camento paralelo da geratriz sempre apoiada sobre a curva
região poligonal regular de n lados é dada pela soma das diretriz.
áreas das faces laterais. Como neste caso todas as áreas das - Superfície Total É o conjunto de todos os pontos
faces laterais são iguais, basta tomar a área lateral como: da superfície lateral reunido com os pontos das bases do
cilindro.
- Área lateral É a medida da superfície lateral do ci-
lindro.
- Área total É a medida da superfície total do cilindro.
- Seção meridiana de um cilindro É uma região poli-
gonal obtida pela interseção de um plano vertical que pas-
Cilindros sa pelo centro do cilindro com o cilindro.
Classificação dos cilindros circulares
Cilindro circular oblíquo Apresenta as geratrizes oblí-
quas em relação aos planos das bases.
Cilindro circular reto As geratrizes são perpendicula-
res aos planos das bases. Este tipo de cilindro é também
chamado de cilindro de revolução, pois é gerado pela rota-
ção de um retângulo.

118
MATEMÁTICA

Cilindro equilátero É um cilindro de revolução cuja se- 3) Solução:


ção meridiana é um quadrado. hprisma = 12
Abase do prisma = Abase do cone = A
Volume de um “cilindro” Vprisma = 2 Vcone
A hprisma = 2(A h)/3
Em um cilindro, o volume é dado pelo produto da área 12 = 2.h/3
da base pela altura. h =18 cm
V = Abase × h
Se a base é um círculo de raio r, então: 4) Solução:
V = r2 h
V = Vcilindro - Vcone
Áreas lateral e total de um cilindro circular reto V = Abase h - (1/3) Abase h
Quando temos um cilindro circular reto, a área lateral V = Pi R2 h - (1/3) Pi R2 h
é dada por: V = (2/3) Pi R2 h cm3
Alat = 2 r h
onde r é o raio da base e h é a altura do cilindro.
Atot = Alat + 2 Abase
Atot = 2 r h + 2 r2
Atot = 2 r(h+r)

Exercícios

1. Dado o cilindro circular equilátero (h = 2r), calcular a


área lateral e a área total.
TRIGONOMETRIA
2. Seja um cilindro circular reto de raio igual a 2cm e al- MEDIDA DE UM ARCO, O GRAU E O
tura 3cm. Calcular a área lateral, área total e o seu volume. RADIANO, RELAÇÃO ENTRE ARCOS E
ÂNGULOS. O SENO, O COSSENO E A
3. As áreas das bases de um cone circular reto e de um
TANGENTE DE UM ÂNGULO. FÓRMULAS
prisma quadrangular reto são iguais. O prisma tem altura
PARA A ADIÇÃO E SUBTRAÇÃO DE ARCOS.
12 cm e volume igual ao dobro do volume do cone. Deter-
minar a altura do cone. LEI DOS SENOS E LEI DOS COSSENOS.
IDENTIDADES TRIGONOMÉTRICAS
4. Anderson colocou uma casquinha de sorvete dentro BÁSICAS, EQUAÇÕES TRIGONOMÉTRICAS
de uma lata cilíndrica de mesma base, mesmo raio R e mes- SIMPLES. AS FUNÇÕES SENO, COSSENO,
ma altura h da casquinha. Qual é o volume do espaço (va- TANGENTE E SEUS GRÁFICOS. RELAÇÕES
zio) compreendido entre a lata e a casquinha de sorvete? TRIGONOMÉTRICAS NO TRIÂNGULO
RETÂNGULO
Respostas

1) Solução: No cilindro equilátero, a área lateral e a


área total é dada por: A  Trigonometria (trigono: triângulo e metria: medi-
das) é o estudo da Matemática responsável pela relação
Alat = 2 r. 2r = 4 r2 existente entre os lados e os ângulos de um triângulo. Nos
Atot = Alat + 2 Abase triângulos retângulos (possuem um ângulo de 90º), as rela-
Atot = 4 r2 + 2 r2 = 6 r2 ções constituem os chamados ângulos notáveis, 30º, 45º e
V = Abase h = r2. 2r = 2 r3 60º, que possuem valores constantes representados pelas
relações seno, cosseno e tangente. Nos triângulos que não
possuem ângulo reto, as condições são adaptadas na bus-
ca pela relação entre os ângulos e os lados.

Razões trigonométricas no triângulo retângulo

2) Solução: Cálculo da Área lateral Alat = 2 r h = 2 Catetos e Hipotenusa


2.3 = 12 cm2
Cálculo da Área total Atot = Alat + 2 Abase Atot = 12 + 2 Em um triângulo chamamos o lado oposto ao ângulo
22 = 12 + 8 = 20 cm2 reto de hipotenusa e os lados adjacentes de catetos.
Cálculo do Volume V = Abase × h = r2 × h V = 22 ×
3 = × 4 × 3 = 12 cm33

119
MATEMÁTICA

Observe a figura:

Hipotenusa:    

Catetos:

 
Seno, Cosseno e Tangente

Considere um triângulo retângulo BAC:

Hipotenusa:

, m( ) = a.
Catetos:

, m( ) = b.

, m( ) = c.

Ângulos:

,    e   .

Tomando por base os elementos desse triângulo, podemos definir as seguintes razões trigonométricas:
Seno de um ângulo agudo é a razão entre a medida do cateto oposto a esse ângulo e a medida da hipotenusa.

Seno =
Assim:

Tomando por base os elementos desse triângulo, podemos definir as seguintes razões trigonométricas:
Seno de um ângulo agudo é a razão entre a medida do cateto oposto a esse ângulo e a medida da hipotenusa.

!"#$#%!!"!!"#$#%!!"!#$!
Seno = !"#$#%!!"!!!"#$%&'()

120
MATEMÁTICA

Assim:

Cosseno de um ângulo agudo é a razão entre a medida do cateto adjacente a esse ângulo e a medida da hipotenusa.
!"#$#%!!"!!"#$#%!!"!"#$%&$
Cosseno = !"#$#%!!"!!!"#$%&'()

Assim:

Tangente de um ângulo agudo é a razão entre a medida do cateto oposto e a medida do cateto adjacente a esse
ângulo.
!"#$#%!!"!!"#$#%!!"!#$!
Tangente = !"#$#!!!"!!"#$#%!!"#!$%&'%
Assim:

121
MATEMÁTICA

Exemplo:

Exemplos

1º)  Ao soltar uma pipa, um menino já usou toda a linha de seu carretel, que tem 100 metros da linha. O ângulo que a
linha forma com a horizontal é igual a 18º. A que altura está a pipa? (Dado:    sen18° = 0,3090)
Solução:
Para resolver o problema, vamos admitir que a linha fique em linha reta (na verdade, ela forma em pequena “barriga”
devido ao peso da própria linha).
Usando um modelo matemático temos:

Na figura, temos sen 18° =  h/100 . Logo, h = 100 sen18° = 100 x 0,3090 = 30,9 metros. A altura que calculamos é me-
dida a partir da mão do menino. Para calcular em relação ao solo devemos somar a distância da mão ao solo, que pode ser
estimada em 1 m. Logo, a pipa está a aproximadamente 31,9 metros do solo.
2º) Sabendo que a tangente de um ângulo agudo é igual a 2, calcule senα e cosα .
Solução:
Temos tg α = sen α/cos α = 2, ou seja, senα = 2 cos α. Substituindo na relação sen² α + cos² α = 1, obtemos 4cos² α +
cos² α  = 1.
Portanto, cos2 α = 1/5 e, como as razões trigonométricas de ângulos agudos são números positivos, cos α = 1/√5  =
(√5)/5 .
Finalmente, sen α  = 2 cos α = (2√5)/5

Problemas 

122
MATEMÁTICA

1. a) No triângulo retângulo da figura abaixo, determine 3. A rua Tenório Quadros e a avenida Teófilo Silva, am-
as medidas de x e y indicadas (Use: sen 65° = 0,91; cos 65° = bas retilíneas,  cruzam-se conforme um ângulo de 30º. O
0,42 ; tg 65° = 2,14) posto de gasolina Estrela do Sul  encontra-se na avenida
Teófilo Silva a 4 000 m do citado cruzamento. Portanto,
determine em quilômetros, a distância entre o posto de
gasolina Estrela do Sul e a rua Tenório Quadros?

cos 65° = y / 9
0,42 . 9 = y
y = 3,78
sen 65° = x /9
0,91 . 9 = x
x = 8,19
b) Considerando o triângulo retângulo ABC da figura,
determine as medidas a e b indicadas. (Sen 60° = 0,866)

4. Um poste de 4 metros de altura projeta uma sombra


sen 60° =   / a de 4√3 metros sobre o solo. Qual é a inclinação dos raios
0,866 . a = 20,78 luminosos que originaram a sombra?
a = 24
cos 60° = b / 24
0,5 . 24 = b
b = 12

2. Um avião decola, percorrendo uma trajetória


retilínea, formando com o solo, um ângulo de 30º (suponha
que a região sobrevoada pelo avião seja plana). Depois de
percorrer 1 000 metros, qual a altura atingida pelo avião?

Respostas

1. a) cos 65° = y / 9
0,42 . 9 = y
y = 3,78
sen 65° = x /9
0,91 . 9 = x
x = 8,19

A altura será de 500 metros. 

123
MATEMÁTICA

b)

A inclinação dos raios solares é de 30º.

sen 60° =   / a Seno, cosseno e tangente de alguns ângulos notá-


0,866 . a = 20,78 veis( 30°, 45° e 60°)
a = 24
cos 60° = b / 24
0,5 . 24 = b
b = 12
2.

2.

A altura será de 500 metros. 

3.

Relações importantes entre as razões trigonomé-


tricas

As relações abaixo são usadas na resolução de proble-


mas.
Sen² a + cos² a = 1

Tg a =

Cotg a =
3.
Tang² a + 1 = sec² a
1 + cotang² a = cossec² a

Sec a =

Cossec a =

124
MATEMÁTICA

Exercicios

1. Calcular:
a) tg 135°
b) cotg 30°
c) sec 150°

2. simplifique a expressão:
y = 1 – sen x . cos x . tg x

3. Sendo tg x + cotg x = 3, calcule sen x . cos x

4. simplifique a expressão:

5. Mostre que sec² x + cossec² x = sec² x. cossec² x

Respostas

1. a) tg 135 =

b) cotg 30 =

c) sec 150 =

2. y = 1 – sen x . cos x .
y = 1 – sen² x

3. tg x + cotg x = 3

=3

=3

=3

Sen x . cos x =

4. y =

= senx + cosx

5. sec² x + cossec² x = = sec²x . cossec²x

125
MATEMÁTICA

Adição e subtração de arcos

Cosseno da soma

Seno da soma

Tangente da soma

Cosseno da diferença

Seno da diferença

Tangente da diferença

Exercícios

1.Calcule:
a) cos 75
b) sen 105
c) tang 105

2. Calcule:
a) cos 15
b) sen 15

Resolução:

1.

a) Cos 75 = cos (30 + 45) = cos 30 . cos 45 – sen 30 . sen 45 = . - . =

b) sen 105 = sen (45 + 60) = sen 45 . cos 60 + sen 60 . cos. 45 = . + . =

c) tang 105 = tang (45 + 60) = = =

126
MATEMÁTICA

2. a) cos 15 = cos (45 – 30) = cos 45 . cos 30 + sen 45 . sen 30 = . + .

b) sen 15 = sen (45 – 30) = sen 45 . cos 30 – sen 30 . cos 45 = . - . =

Duplicação de arcos

Para calcular sen 2a, cos 2a, tg 2a basta fazer 2a = a + a e utilizar as fórmulas da adição.

Sen 2a = sen (a + a) = sen a . cos a + sen a . Cos a

Sen 2a = 2. Sen a . cos a

Cos 2a = Cos (a + a) = cos a . cos a - sen a . Sen a


Cos 2a = cos² a - sen² a

Observe que a fórmula de cos 2a pode ser escrita só em função de cos a ou só em função de sen a, utilizando sen² a
+ cos² a = 1

Cos 2a = cos² a – sen² a = cos² a – (1 – cos² a)

Cos 2a = 2 cos² a – 1

Cos 2a = cos² a – sen² a = (1 – sen² a) – sen² a


Cos 2a = 1 – 2 sen² a

Tg 2a = tg (a + a) =

Tg 2a =

Exercícios:

1. Sendo tg a = , calcule tg 2a e tg 4a

2. Dado cos a = , a Є 4° quadrante, calcule sen 2ª.

127
MATEMÁTICA

Respostas:

1.

Tg 2a = = = = -2

Tg 4a = = = =
Para determinarmos a medida de x no triângulo de-
vemos utilizar a lei dos senos, mas para isso precisamos
2. como sen 2a = 2 sen a . cos a, precisamos calcular descobrir o valor do terceiro ângulo do triângulo. Para tal
primeiro sen a cálculo utilizamos a seguinte definição: a soma dos ângulos
internos de um triângulo é igual a 180º. Portanto:
Sen² a = 1 – cos² a α + 105º + 45º = 180º
α + 150º = 180º
α = 180º – 150º
Sen² a = 1 - = α = 30º

Aplicando a lei dos senos


Sen a = - ( 4° quadrante o seno é negativo)

=
Então, sen 2a = 2. . . =
=
Lei dos cossenos
0,5 x = 63,63
A Lei dos Cossenos permite calcular o comprimento de X = 127,26
um lado de qualquer triângulo conhecendo o comprimen- 2. Em um triângulo ABC, temos as seguintes medidas:
to dos demais lados e a medida do ângulo oposto a esse. AB = 6 cm, AC = 5 cm e BC = 7 cm. Determine a medida
Ela também permite calcular todos os ângulos de um triân- do ângulo A.
gulo, desde que se saiba o comprimento de todos os lados. Vamos construir o triângulo com as medidas forneci-
Em qualquer triângulo, o quadrado de um dos lados é das no exercício.
igual à soma dos quadrados dos outros dois lados, menos
o dobro do produto desses dois lados pelo cosseno do ân-
gulo formado entre eles.
a² = b² + c² - 2. b. c. cos a
b² = a² + c² - 2. a . c . cos b
c² = a² + b² - 2. a . b . cos c

Lei dos senos

O seno de um ângulo de um triângulo qualquer é pro-


porcional à medida do lado oposto a esse ângulo. Aplicando a lei dos cossenos
a = 7, b = 6 e c = 5
7² = 6² + 5² – 2 . 6 . 5 . cos A
= = = 2r 49 = 36 + 25 – 60 . cos A
49 – 36 – 25 = –60 . cos A
–12 = –60 . cos A
Exercícios 12 = 60 . cos A
12/60 = cos A
1. No triângulo a seguir temos dois ângulos, um me- cos A = 0,2
dindo 45º, outro medindo 105º, e um dos lados medindo
90 metros. Com base nesses valores determine a medida O ângulo que possui cosseno com valor aproximado
de x. de 0,2 mede 78º.

128
MATEMÁTICA

r é a razão
Ex: 1.Numa PA de 7 termos, o primeiro deles é 6, o
SEQUÊNCIAS NUMÉRICAS segundo é 10. Escreva todos os termos dessa PA.
SEQUÊNCIAS. PROGRESSÕES Resp: 6, 10, 14, 18, 22, 26, 30
ARITMÉTICAS E GEOMÉTRICAS. NOÇÃO
DE LIMITE DE UMA SEQUÊNCIA. 2.Numa PA de 5 termos, o último deles é 201 e o penúl-
SOMA DOS TERMOS DE UMA PROGRESSÃO timo é 187. Escreva todos os termos dessa PA.
GEOMÉTRICA INFINITA.
Resp: 145, 159, 173, 187, 201

3.Numa PA de 8 termos, o 3º termo é 26 e a razão é -3.


Sequência é qualquer conjunto organizado de Escreva todos os termos dessa PA.
objetos, números ou eventos de qualquer natureza. Para
representar uma sequencia escrevem-se os seus elementos Resp: 32, 29, 26, 23, 20, 17, 14, 11
numa lista pela sua ordem. Frequentemente nos depara-  
mos com situações em que enumeramos elementos de 4.Determinar o 21º termo da PA (9, 13, 17, 21,...)
um conjunto seguindo uma determinada ordenação:
1. Da sucessão dos presidentes de um país; Resp: r = 4      a1 = 9       n = 21       a61 = ?
2. Da sequência dos episódios de uma minissérie de te- a61 = 9 + (21 – 1).4
levisão; a61 = 9 + 20.4 = 9 + 80 = 89 
Repare que há dois aspectos importantes na sequên-
cia: o tipo e a ordem dos elementos. Todos os elementos 5.Determinar o número de termos da PA  (4,7,10,...,136)
de uma sucessão são do mesmo tipo (por exemplo: apenas
presidentes) e obedecem a uma ordenação (por exemplo: Resp: a1 = 4     an = 136               r = 7 – 4 = 3
primeiramente ocorre o primeiro episódio da minissérie, an = a1 + (n – 1).r
depois o segundo episódio, depois o terceiro episódio...). 136 = 4 + (n – 1).3
Em matemática, uma sequência (ou uma sucessão) é 136 = 4 + 3n – 3
uma lista (conjunto) de números (ou variáveis que os repre- 3n = 136 – 4 + 3
sentem). Formalmente, a sequência é uma lista cuja ordem 3n = 135
é definida por uma “lei”, uma função específica. n = 135/3 = 45 termos 
Progressão aritmética Soma dos termos de uma PA

Uma  progressão aritmética  (  P. A.) é uma  sequência Para somar os n primeiros termos, pode-se utilizar a
numérica  em que cada termo, a partir do segundo, é igual seguinte fórmula :
à soma do termo anterior com uma constante   O número 
 é chamado de razão  da PA.
Alguns exemplos de progressões aritméticas:
1, 4, 7, 10, 13, ..., é uma PA em que a razão (a diferen-
ça entre os números consecutivos) é igual a 3. É uma PA
crescente. S n é a soma dos termos
-2, -4, -6, -8, -10, ..., é uma P.A. em que  É uma n é o número de termos
PA decrescente. a 1 é o primeiro termo
6, 6, 6, 6, 6, ..., é uma P.A. com  É uma PA cons- a n é o último termo
tante Ex:
Numa progressão aritmética, a partir do segundo ter- 1.Calcular a soma dos trinta primeiros termos da PA (4,
mo, o termo central é a média aritmética do termo anteces- 9, 14, 19,...).
sor e do sucessor, isto é, a n = a +a  
n −1 n +1 a30 = a1 + (30 – 1).r
2 a30 = a1 + 29.r
a30 = 4 + 29.5 = 149
Fórmula do termo geral de uma PA
O  enésimo termo de uma PA, representado por 
 pode ser obtido por meio da formula:

a 1 é o primeiro termo
a n é o último termo
n é o número de termos

129
MATEMÁTICA

Progressão geométrica
Denominamos de progressão geométrica, ou simples-
mente PG, a toda sequência de números não nulos em que
cada um deles, multiplicado por um número fixo, resulta
no próximo número da sequência. Esse número fixo é cha-
mado de razão da progressão e os números da sequência
recebem o nome de termos da progressão.
Observe estes exemplos:
8, 16, 32, 64, 128, 256, 512, 1024 é uma PG de 8 termos,
com razão 2.
5, 15, 45,135 é uma PG de 4 termos, com razão 3

Fórmula do termo geral de uma progressão geo-


métrica.

Problemas

Ex: 1. Dada a PA (a + b,5a – b,...) determine seu 4º termo.

1.Determinar a razão da PG tal que: 2. Determinar o 61º termo da PA (9, 13, 17, 21,...)

3. Determinar a razão da PA (a1, a2, a3,...) em que a1  =


2  e  a8 = 3

4. Interpolar (inserir) cinco meios aritméticos entre 1 e


25, nessa ordem . 
OBS: Interpolar (ou inserir) cinco meios aritméticos en-
tre 1 e 25, nessa ordem, significa determinar a PA de pri-
meiro termo igual a 1 e último termo igual a 25.

5. Determine a soma dos termos da PA (6, 10, 14,...,


134).

6. Calcule a soma dos múltiplos de 7 compreendidos


entre 100 e 300.
Obs: Múltiplos de 7 (0, 7, 14, 21, 28,...).
O primeiro múltiplo de 7 compreendido entre 100 e
300 é o 105.
Formula da soma dos n primeiros termos de uma O último múltiplo de 7 compreendido entre 100 e 300
PG: é o 294.

Sendo Sn a soma dos n primeiros termos da PG (a1,a2, a3,... 7.Numa PG, o 9º termo é 180 e o 10º termo é 30. Qual
an,...) de razão q, temos: a razão dessa PG.

Se q = 1, então Sn = n.a1 8.Determinar o 15º termo da progressão geométrica


(256, 128, 64,...).
a1 (q n − 1) 9.Numa  P.G. de quatro termos, o primeiro é -4 e a
Se q ≠ 1 , então S n = razão é 3. Determine o último termo.
q −1
10.Calcule a soma dos 6 primeiros termos da P.G. (2,
a n .q − a1 6, 18, …).
Ou , se q ≠ 1 entãoS n =
q −1
Ex: 1.Calcular a soma dos dez primeiros termos da PG
(3, 6, 12,....).

130
MATEMÁTICA

Respostas: 7. q =
1
1. (a+b, 5a-b) ? q=
6
r = 5a – b – ( a + b) =5a –b –a-b = 4a -2b
8. = 256 .

= a+b + (4-1). 4a-2b = 256 .


= a+b + 3 (4a-2b)
= a+b +12a-6b 1
= 13a-5b =
64
2. = 9 + 60 . 4
= 249 9. = -4 .
= -4 . 27
= + 7.r = -108
3 = 2 + 7.r 10. =2.
1 = 7.r
1 = 2. 243
r= = 486
7
4. = + 6. R
=
25 = 1 + 6.r
6.r = 24
r=4 =

(1, 5, 9, 13, 17, 21, 25) = 728

5. Noção intuitiva de limite


134 = 6 + (n-1).4
134 = 6 + 4n -4 Seja a função f(x)=2x+1. Vamos dar valores a x que se
134 -2 = 4n aproximem de 1, pela sua direita (valores maiores que 1) e
4n = 132 pela esquerda (valores menores que 1) e calcular o valor
n = 33 correspondente de y:

x y = 2x + 1
x y = 2x + 1
0,5 2
1,5 4
1,3 3,6 0,7 2,4
=
1,1 3,2 0,9 2,8
1,05 3,1 0,95 2,9
1,02 3,04 0,98 2,96
=
1,01 3,02
0,99 2,98

= 2310
6. 294 = 105 + (n-1).7
294 = 105 + 7n – 7
7n = 196
n = 28

= 5586

131
MATEMÁTICA

Podemos notar que quando x se aproxima de 1 (x


1), f(x) se aproxima de 3, embora para x=1 tenhamos f(x) =
2. o que ocorre é que procuramos o comportamento de y
quando x 1. E, no caso, y  3. Logo, o limite de f(x) é 3.
Escrevemos:

                          

Se g: IR   IR e g(x) = x + 2,   g(x) =   (x + 2) =


1 + 2 = 3, embora g(x) f(x) em x = 1. No entanto, ambas
têm o mesmo limite.

Notamos que à medida que x  se aproxima de


1, y se aproxima de 3, ou seja, quando x tende para 1  (x
 1), y tende para 3 (y   3), ou seja:

Observamos que quando x tende para 1, y tende para


3 e o limite da função é 3.
Esse é o estudo do comportamento de f(x) quan-
do x tende para 1 (x   1). Nem é preciso que x assuma
o valor 1. Se f(x) tende para 3 (f(x)   3), dizemos que o
limite de f(x) quando x   1 é 3, embora possam ocorrer
casos em que para x = 1 o valor de f(x) não seja 3.
De forma geral, escrevemos:
ANÁLISE COMBINATÓRIA E
PROBABILIDADE O PRINCÍPIO
FUNDAMENTAL DA CONTAGEM.
se, quando x se aproxima de a (x   a), f(x) se aproxima PERMUTAÇÕES, ARRANJOS E COMBINAÇÕES
de b (f(x) b SIMPLES. BINÔMIO DE NEWTON. INCERTEZA
E PROBABILIDADE, CONCEITOS BÁSICOS,
PROBABILIDADE CONDICIONAL E EVENTOS
INDEPENDENTES, PROBABILIDADE DA
). UNIÃO DE EVENTOS.
                                               

Como x² + x - 2 = (x - 1)(x + 2), temos:


Analise combinatória
A análise combinatória cuida, em linhas gerais, da de-
terminação do n° de possibilidades que um evento pode
ocorrer. Quando o n° de possibilidades é pequeno usamos
ao processo descritivo chamado diagrama de árvore e a
partir desse dispositivo enunciaremos o princípio funda-
mental da contagem que permite a contagem sem a des-
crição das possibilidades.

132
MATEMÁTICA

Análise combinatória é um estudo realizado na Combinação


matemática, responsável pela análise das possibilidades e
das combinações.. Em uma festa de aniversário será servido sorvete aos
Para efetuar os cálculos em alguns problemas, deve- convidados. Serão oferecidos os sabores de morango (M),
mos estudar algumas propriedades da análise combinató- chocolate (C), baunilha (B) e ameixa (A) e o convidado de-
ria: verá escolher dois entre os quatro sabores. Notemos que,
não importa a ordem em que os sabores são escolhidos.
Permutação Se o convidado escolher morango e chocolate {MC} será
a mesma coisa que escolher chocolate e morango {CM}.
As permutações são agrupamentos formados pelos Nesse caso, podemos ter escolhas repetidas, veja: {M,B} =
mesmos elementos, que diferem entre si somente pela {B,M}, {A,C} = {C,A} e assim sucessivamente.
ordem dos mesmos.  Por exemplo, se C = (2, 3, 4), as per- Portanto, na combinação os agrupamentos são carac-
mutações simples de seus elementos são: 234, 243, 324, terizados somente pela natureza dos elementos. A ordem
342, 423 e 432.  não é importante.
Indicamos o número de Permutações simples de n ele- Formula para calcular combinação simples:
mentos distintos por
Pn = n!  !!
!!,! = !!
Ex: Quais os anagramas da palavra AMOR?  !!! !
Um anagrama formado com A, M, O, R corresponde a
qualquer permutação dessas letras, de modo a formar ou
não palavras. Problemas propostos
!! = 4. 3. 2. 1 = 24
Temos 4 possibilidades para a primeira posição, 3 pos- 1. (Concurso CREA/PR-2013) A fim de vistoriar a obra
sibilidades para a segunda posição, 2 possibilidades para a de um estádio de futebol para a copa de 2014, um órgão
3 posição e 1 possibilidade para a quarta posição.  público organizou uma comissão composta por 4 pessoas,
Pelo princípio fundamental da contagem temos !! = sendo um engenheiro e 3 técnicos. Sabendo-se que em seu
4. 3. 2. 1 = 24 possibilidades ou 24 anagramas.  quadro de funcionários o órgão dispõe de 3 engenheiros
Alguns anagramas: ROMA, AMRO, MARO, ARMO, e de 9 técnicos, pode-se afirmar que a referida comissão
MORA . . . poderá ser formada de _____ maneiras diferentes. Assinale a
alternativa que completa corretamente a lacuna do trecho
Arranjos acima.
A) 252
Os arranjos são caracterizados pela natureza e pela B) 250
ordem dos elementos escolhidos. A ordem é importante. C) 243
Dado o conjunto B = {2, 4, 6, 8}. Os agrupamentos de D) 127
dois elementos do conjunto B, são: E) 81
{(2,4), (2,6), (2,8), (4,2), (4,6), (4,8), (6,2), (6,4), (6,8), (8,2),
(8,4), (8,6)} 2. Um cofre possui um disco marcado com os dígitos
0,1,2,...,9. O segredo do cofre é marcado por uma sequên-
Veja que cada arranjo é diferente do outro. Portanto, cia de 3 dígitos distintos. Se uma pessoa tentar abrir o co-
são caracterizados: fre, quantas tentativas deverá fazer(no máximo) para con-
Pela natureza dos elementos: (2,4) ≠ (4,8) seguir abri-lo? 
3. Uma prova consta de 15 questões das quais o aluno
Pela ordem dos elementos: (1,2) ≠ (2,1)  deve resolver 10. De quantas formas ele poderá escolher as
Fórmula para calcular arranjo simples: 10 questões?

!! 4.   Sobre uma circunferência são marcados 9 pontos


!!!!!,! = !!! ! distintos. Quantos triângulos podem ser construídos com
vértices nos 9 pontos marcados?
Ex: Em um colégio, dez alunos candidataram-se para
ocupar os cargos de presidente e vice-presidente do grê- 5. Quantas equipes diferentes de vôlei podem ser
mio estudantil. De quantas maneiras distintas a escolha escaladas, tendo à disposição 10 meninas que jogam em
poderá ser feita? qualquer posição? 
Resolução: Temos dez alunos disputando duas vagas,
portanto, dez elementos tomados dois a dois. 6. Uma associação tem uma diretoria formada por 10
É um arranjo de 10 alunos tomados 2 a 2, onde n= 10 pessoas das quais, 6 são homens, e 4 são mulheres.
e p= 2 De quantas maneiras podemos formar uma comissão
São 90 maneiras. dessa diretoria que tenha 3 homens e 2 mulheres?

133
MATEMÁTICA

7. Um número de telefone é formado por 8 algarismos.


Determine quantos números de telefone podemos formar
com algarismos diferentes, que comecem com 2 e termi-
nem com 8.   
Agora, multiplicamos os resultados: C6, 3 .C4, 2  = 6.20 =
8. Qual o número de anagramas que podemos formar 120  maneiras de formar uma comissão com 3 homens e
com as letras da palavra PADRINHO? 2 mulheres.

9. Otávio, João, Mário, Luís, Pedro, Roberto e Fábio es- 7. O número 2 deve ser fixado na 1ª posição e o 8 na
tão apostando corrida. Quantos são os agrupamentos pos- última. Restaram, por tanto, 6 posições e 8 algarismos, pois
síveis para os três primeiros colocados? eles precisam ser diferentes. Considerando que a ordem
Respostas dos algarismos diferencie dois números de telefone, vamos
arranjar 8 algarismos 6 a 6.
!! !! !,!,! !.!.!.!! ! !"# Usando a formula de arranjo: Podemos formar 40.320
!!,! . !!,! = !! . = !.!,! . !.!.!.!! = ! . = 252
1. !!! ! !! !!! ! números
! de telefones com os algarismos distintos e que
!! !! !,!,! !.!.!.!! ! !"# comecem com 2 e terminem com 8.
. = !.!,! . !.!.!.!! = ! . = 252
!!! ! !! !!! ! !
8. Com se trata de anagrama devemos usar permuta-
ção. Resp: 40320
Resp A
9. Obviamente, como em qualquer corrida, a ordem
2. As sequências serão do tipo xyz. Para a pri- de chegada é um fator diferenciador dos agrupamentos.
meira posição teremos 10 alternativas, para a se- Como temos 7 corredores e queremos saber o número de
gunda, 9 e para a terceira, 8. Podemos aplicar a fór- possibilidades de chegada até a terceira posição, devemos
mula de arranjos, mas pelo princípio fundamen- calcular A7, 3:
tal de contagem, chegaremos ao mesmo resultado:  Logo: 210 são os agrupamentos possíveis para os três
10.9.8 = 720.  primeiros colocados.

Observe que : A10,3 = 720 Binômio de Newton

3. Observe que a ordem das questões não muda o tes- Denomina-se Binômio de Newton, a todo binômio da
te. Logo, podemos concluir que trata-se de um problema forma (a + b)n, sendo n um número natural.
de combinação de 15 elementos com taxa 10. 
Exemplo:
Aplicando simplesmente a fórmula chegare- B = (3x - 2y)4 ( onde a = 3x, b = -2y e n = 4 [grau do
mos a:  C15,10  = 15! / [(15-10)! . 10!] = 15! / (5! . 10!) = binômio] ).
15.14.13.12.11.10! / 5.4.3.2.1.10! = 3003
Exemplos de desenvolvimento de binômios de Newton:
4. Resolvemos utilizando a formula da combinação
porque a ordem dos vértices dos triângulos não importa. a) (a + b)2 = a2 + 2ab + b2
É uma combinação de 9 pontos tomados 3 a 3 . Resp: 84 b) (a + b)3 = a3 + 3 a2b + 3ab2 + b3
5. A=  {a1,  a2,  a3,..., a10} Onde, n=10 e p= 6, pois temos c) (a + b)4 = a4 + 4 a3b + 6 a2b2 + 4ab3 + b4
que uma equipe de vôlei é formada por 6 atletas.  Logo, d) (a + b)5 = a5 + 5 a4b + 10 a3b2 + 10 a2b3 + 5ab4 + b5
colocando os dados na fórmula de combinações simples, Nota:
temos:
Não é necessário memorizar as fórmulas acima, já que
elas possuem uma lei de formação bem definida, senão ve-
jamos:
Vamos tomar, por exemplo, o item (d) acima:
Observe que o expoente do primeiro e últimos termos
são iguais ao expoente do binômio, ou seja, igual a 5.
Ou seja, podem ser formadas 210 equipes de vôlei. A partir do segundo termo, os coeficientes podem ser
obtidos a partir da seguinte regra prática de fácil memori-
6. C6, 3 . C4, 2 Fazendo zação:
Multiplicamos o coeficiente de a pelo seu expoente e
dividimos o resultado pela ordem do termo. O resultado
será o coeficiente do próximo termo. Assim por exemplo,
para obter o coeficiente do terceiro termo do item (d) aci-
  ma teríamos:

134
MATEMÁTICA

5 4 = 20; agora dividimos 20 pela ordem do termo anterior (2 por se tratar do segundo termo) 20 2 = 10 que é o coe-
ficiente do terceiro termo procurado.
Observe que os expoentes da variável a decrescem de n até 0 e os expoentes de b crescem de 0 até n. Assim o terceiro
termo é 10 a3b2 (observe que o expoente de a decresceu de 4 para 3 e o de b cresceu  de 1 para 2).
Usando a regra prática acima, o desenvolvimento do binômio de Newton (a + b)7 será:
(a + b)7 = a7 + 7 a6b + 21 a5b2 + 35 a4b3 + 35 a3b4 + 21 a2b5 + 7 ab6 + b7

Como obtivemos, por exemplo, o coeficiente do 6º termo (21 a2b5)?

Pela regra: Coeficiente do termo anterior = 35. Multiplicamos 35 pelo expoente de a que é igual a 3 e dividimos o re-
sultado pela ordem do termo que é 5.
Então, 35 3 = 105 e dividindo por 5 (ordem do termo anterior) vem 105 5 = 21, que é o coeficiente do sexto termo,
conforme se vê acima.

Observações:

1) O desenvolvimento do binômio (a + b)n é um polinômio.


2) O desenvolvimento de (a + b)n possui n + 1 termos .
3) Os coeficientes dos termos equidistantes dos extremos , no desenvolvimento de (a + b)n são iguais .
4) A soma dos coeficientes de (a + b)n é igual a 2n .

Fórmula do termo geral de um Binômio de Newton

Um termo genérico Tp+1 do desenvolvimento de (a + b)n, sendo p um número natural, é dado por:

é denominado Número Binomial e Cn.p é o número de combinações simples de n elementos, agrupados p a p, ou seja,
o número de combinações simples de n elementos de taxa p.
Este número é também conhecido como Número Combinatório.
Exercícios

1. Determine o 7º termo do binômio (2x + 1)9, desenvolvido segundo as potências decrescentes de x.

2. Qual o termo médio do desenvolvimento de (2x + 3y)8?

3. Desenvolvendo o binômio (2x - 3y)3n, obtemos um polinômio de 16 termos. Qual o valor de n?

4. Determine o termo independente de x no desenvolvimento de (x + )6.

Respostas

1) Resposta “672x3”.
Solução: Primeiro temos que aplicar a fórmula do termo geral de (a + b)n, onde:
a = 2x
b=1
n=9
Como queremos o sétimo termo, fazemos p = 6 na fórmula do termo geral e efetuamos os cálculos indicados.
Temos então:

Portanto o sétimo termo procurado é 672x3.

135
MATEMÁTICA

2) Resposta “90720x4y4”.
Solução: Temos:
a = 2x
b = 3y
n=8
Sabemos que o desenvolvimento do binômio terá 9 termos, porque n = 8. Ora sendo T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 os termos
do desenvolvimento do binômio, o termo do meio (termo médio) será o T5 (quinto termo).

Logo, o nosso problema resume-se ao cálculo do T5. Para isto, basta fazer p = 4 na fórmula do termo geral e efetuar os
cálculos decorrentes. Teremos:

Fazendo as contas vem:

T5 = 70.16.81.x4 . y4 = 90720x4y4 , que é o termo médio procurado.

3) Resposta “5”.
Solução: Ora, se o desenvolvimento do binômio possui 16 termos, então o expoente do binômio é igual a 15. 
Logo,
3n = 15 de onde se conclui que n = 5.

4) Resposta “20”.
Solução: Sabemos que o termo independente de x  é aquele que não depende de x, ou seja, aquele que não possui x.
Temos no problema dado:
a=x

b=

n = 6. 

Pela fórmula do termo geral, podemos escrever:


Tp+1 = C6,p . x6-p . ()p = C6,p . x6-p . x-p = C6,p . x6-2p . 

Ora, para que o termo seja independente de x, o expoente desta variável deve ser zero, pois x0 = 1.
Logo, fazendo 6 - 2p = 0, obtemos p = 3. Substituindo então p por 6, teremos o termo procurado. Temos então:

Logo, o termo independente de x é o T4 (quarto termo) que é igual a 20.

Probabilidade

O estudo da probabilidade vem da necessidade de em certas situações, prevermos a possibilidade de ocorrência de


determinados fatos.

Experimento Aleatório

É aquele experimento que quando repetido em iguais condições, podem fornecer resultados diferentes, ou seja, são
resultados explicados ao acaso. Quando se fala de tempo e possibilidades de ganho na loteria, a abordagem envolve cál-
culo de experimento aleatório.
Se lançarmos uma moeda ao chão para observarmos a face que ficou para cima, o resultado é imprevisível, pois tanto
pode dar cara, quanto pode dar coroa.
Se ao invés de uma moeda, o objeto a ser lançado for um dado, o resultado será mais imprevisível ainda, pois aumen-
tamos o número de possibilidades de resultado.
A experimentos como estes, ocorrendo nas mesmas condições ou em condições semelhantes, que podem apresentar
resultados diferentes a cada ocorrência, damos o nome de experimentos aleatórios.

136
MATEMÁTICA

Espaço Amostral Evento Impossível

Ao lançarmos uma moeda não sabemos qual será a No lançamento conjunto de dois dados qual é a
face que ficará para cima, no entanto podemos afirmar possibilidade de a soma dos números contidos nas duas
com toda certeza que ou será cara, ou será coroa, pois faces para cima, ser igual a 15?
uma moeda só possui estas duas faces. Neste exemplo, ao Este é um evento impossível, pois o valor máximo que
conjunto  podemos obter é igual a doze. Podemos representá-lo por 
{ cara, coroa } damos o nome de espaço amostral, , ou ainda por A = {}.
pois ele é o conjunto de todos os resultados possíveis de
ocorrer neste experimento. Conceito de probabilidade
Representamos um espaço amostral, ou espaço
amostral universal como também é chamado, pela Se em um fenômeno aleatório as possibilidades são
letra  S. No caso da moeda representamos o seu espaço igualmente prováveis, então a probabilidade de ocorrer
amostral por: um evento A é:
S = { cara, coroa }
Se novamente ao invés de uma moeda, o objeto a ser
lançado for um dado, o espaço amostral será:
S = { 1, 2, 3, 4, 5, 6 }

Evento
Por, exemplo, no lançamento de um dado, um número
Quando lançamos um dado ou uma moeda, chama- par pode ocorrer de 3 maneiras diferentes dentre 6 igual-
mos a ocorrência deste fato de evento. Qualquer subcon- mente prováveis, portanto, P = 3/6= 1/2 = 50%
junto de um espaço amostral é um evento. Probabilidade da União de dois Eventos
Em relação ao espaço amostral do lançamento de um
dado, veja o conjunto a seguir: Dados dois eventos A e B de um espaço amostral S a
A = { 2, 3, 5 } probabilidade de ocorrer A ou B é dada por: 
Note que   ( A está contido em S, A é um sub- P(A U B) = P(A) + P(B) – P(A ∩ B) 
conjunto de S ). O conjunto A é a representação do evento
do lançamento de um dado, quando temos a face para
cima igual a um número primo.

Classificação de Eventos

Podemos classificar os eventos por vários tipos. Veja-


mos alguns deles:

Evento Simples
Verificação: 
Classificamos assim os eventos que são formados por
um único elemento do espaço amostral. O Número de elementos de A U B é igual à soma do
A = { 5 } é a representação de um evento simples do número de elementos de A com o número de elementos
lançamento de um dado cuja face para cima é divisível de B, menos uma vez o número de elementos de A ∩ B que
por5. Nenhuma das outras possibilidades são divisíveis por foi contado duas vezes (uma em A e outra em B). Assim
5. temos: 

Evento Certo n(AUB) = n(A) + n(B) – n(A∩B) 

Ao lançarmos um dado é certo que a face que ficará Dividindo por n(S) [S ≠  ] resulta 
para cima, terá um n° divisor de 720. Este é um evento cer-
to, pois 720 = 6! = 6 . 5 . 4 . 3 . 2 . 1, obviamente qualquer
um dos números da face de um dado é um divisor de 720,
pois 720 é o produto de todos eles.
O conjunto A = { 2, 3, 5, 6, 4, 1 } representa um evento
certo pois ele possui todos os elementos do espaço amos- P(AUB) = P(A) + P(B) – P(A∩B) 
tral S = { 1, 2, 3, 4, 5, 6 }.  
Ex: Numa urna existem 10 bolas numeradas de 1 a
10. Retirando uma bola ao acaso, qual a probabilidade de
ocorrer múltiplos de 2 ou múltiplos de 3? 

137
MATEMÁTICA

Note que a ocorrência de um dos eventos não interfere


na ocorrência do outro. Temos, então, dois eventos inde-
pendentes.
Vamos identificar cada um dos eventos.
Evento A: sair um número ímpar = {1, 3, 5}
Evento B: sair o número 4 = {4}
Espaço Amostral: S = {1, 2, 3, 4, 5, 6}

Temos que:

A é o evento “múltiplo de 2”. 

B é o evento “múltiplo de 3”. 

P(AUB) = P(A) + P(B) – P(A∩B) = + - = = 70%


Probabilidade da intersecção de dois eventos Assim, teremos:
A probabilidade da intersecção de dois eventos ou
probabilidade de eventos sucessivos determina a chance,
a possibilidade, de dois eventos ocorrerem simultânea ou
sucessivamente. Para o cálculo desse tipo de probabilidade
devemos interpretar muito bem os problemas, lendo com Ex. 2. Numa urna há 20 bolinhas numeradas de 1 a 20.
atenção e fazendo o uso da seguinte fórmula: Retiram-se duas bolinhas dessa urna, uma após a outra,
Sejam A e B dois eventos de um espaço amostral S. A sem reposição. Qual a probabilidade de ter saído um nú-
probabilidade de mero par e um múltiplo de 5?
A ∩ B é dada por: Solução: Primeiro passo é identificar os eventos e o es-
paço amostral.
Evento A: sair um número par = {2, 4, 6, 8, 10, 12, 14,
16, 18, 20}
Onde Evento B: sair um múltiplo de 5 = {5, 10, 15, 20}
Espaço amostral: S = {1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
p(A∩B)  → é a probabilidade da ocorrência simultânea 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20}
de A e B
p(A) → é a probabilidade de ocorrer o evento A Como as duas bolinhas foram retiradas uma após a ou-
p(B│A)  → é a probabilidade de ocorrer o evento B sa- tra e não houve reposição, ou seja, não foram devolvidas à
bendo da ocorrência de A (probabilidade condicional) urna, a ocorrência do evento A interfere na ocorrência do
B, pois haverá na urna somente 19 bolinhas após a retirada
Se os eventos A e B forem independentes (ou seja, se a da primeira.
ocorrência de um não interferir na probabilidade de ocor- Assim, temos que:
rer outro), a fórmula para o cálculo da probabilidade da
intersecção será dada por:

Vejamos alguns exemplos de aplicação.

Ex. 1. Em dois lançamentos sucessivos de um mesmo


dado, qual a probabilidade de sair um número ímpar e o
número 4?
Resolução: O que determina a utilização da fórmula
da intersecção para resolução desse problema é a palavra Após a retirada da primeira bola, ficamos com 19 boli-
“e” na frase “a probabilidade de sair um número ímpar e o nhas na urna. Logo, teremos:
número 4”. Lembre-se que na matemática “e” representa
intersecção, enquanto “ou” representa união.

138
MATEMÁTICA

A probabilidade de se obter um número divisor de 6


é 2/3 ou 66,67%.

3. Neste exercício o espaço amostral possui 12 ele-


mentos, que é o número total de bolas, portanto a proba-
bilidade de ser retirada uma bola verde está na razão de 5
para 12.
Sendo S o espaço amostral e E o evento da retirada de
uma bola verde, matematicamente podemos representar a
resolução assim:

Problemas A probabilidade desta bola ser verde é 5/12


4. a) Probabilidade de todos se acidentarem
1. três irmãos Pedro, João e Luís foram brincar na Como o risco é de 1 em 30 temos que:
rua. Supondo-se que as condições de retorno para casa
são as mesmas para cada um deles, qual é a probabilidade
de Luís voltar para casa primeiro?

2. Um dado é lançado. Qual é a probabilidade de ob-


termos um número divisor de 6?

3. Uma bola será retirada de uma sacola contendo 5


bolas verdes e 7 amarelas. Qual a probabilidade dessa bola
ser verde?
4. Em uma empresa, o risco de alguém se acidentar b) Probabilidade de nenhum se acidentar
é dado pela razão 1 em 30. Determine a probabilidade de
ocorrer nessa empresa as seguintes situações relacionadas Para os acidentados temos a probabilidade de 1 em 30.
a 3 funcionários: Nesse caso para os não acidentados temos a probabilidade
a) a probabilidade de todos se acidentarem de 29 em 30. Então:
b) a probabilidade de nenhum se acidentar

5. Um casal planeja ter 5 filhos. Qual a probabilidade


de nascerem 3 meninos e 2 meninas?

Respostas

1. Como 3  é o número total de irmãos,


então Luís tem 1 chance em 3 de voltar para casa primeiro,
por isto a probabilidade de Luís voltar para casa antes dos
seus irmãos é igual a 1/3. 5. Primeiramente, devemos observar que não importa
2. Como vimos acima, o espaço amostral do lançamen- a ordem de nascimento, assim, temos 6 opções:
to de um dado é: S = { 1, 2, 3, 4, 5, 6 } - 5 meninos
Como estamos interessados apenas nos resultados di- - 4 meninos e 1 menina
visores de 6, o evento E é representado por: - 3 meninos e 2 meninas
E = { 1, 2, 3, 6 } - 2 meninos e 3 meninas
- 1 menino e 4 meninas
- 5 meninas

Logo, a probabilidade de nascerem 3 meninos e 2


meninas é:
Então n(E) = 4 e n(S) = 6, portanto:
P = 1/6 = 0,1666 = 16,66%

139
MATEMÁTICA

Média
TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO
POPULAÇÃO ESTATÍSTICA, AMOSTRAS, A média aritmética simples é a mais utilizada no nos-
so dia-a-dia. A média aritmética simples de dois ou mais
FREQUÊNCIA ABSOLUTA E RELATIVA.
termos é o quociente da soma dos números dados pela
DISTRIBUIÇÃO DE FREQUÊNCIAS COM quantidade de números somados.
DADOS AGRUPADOS, POLÍGONO DE Ex: Encontre a média em matemática de um aluno que
FREQUÊNCIA, MÉDIAS (ARITMÉTICA E teve nota 6 na 1ª prova, nota 8 na 2ª prova e nota 10 no
PONDERADA), MEDIANA E MODA. LEITURA, trabalho.
CONSTRUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE
GRÁFICOS DE BARRAS, DE SETORES E DE 6 + 8 + 10 24
SEGMENTOS Resolução: M = = =8
3 3
Resp: A média do aluno é 8.
Estatística
A média aritmética é a mais conhecida e a mais uti-
A Estatística é um conjunto de técnicas e métodos de lizada, mas ela não é a única. Além dela, temos a média
pesquisa que entre outros tópicos envolve o planejamen- aritmética ponderada, a média geométrica e a média har-
to do experimento a ser realizado, a coleta qualificada dos mônica.
dados, o processamento, a análise e a disseminação das
informações. Moda
Na estatística trabalhamos com dados, os quais podem
ser obtidos por meio de uma amostra da população em A moda (Mo) é o valor que mais se repete, ou seja, o
estudo. Conceitos básicos: valor mais provável a ser escolhido. É a única medida de
dispersão que pode ter mais de um valor, podendo ser o
População: conjunto de elementos que tem pelo me- conjunto amodal, monomodal, bimodal…
nos uma característica em comum. Esta característica deve Exemplos:
delimitar corretamente quais são os elementos da popu- O conjunto de dados 1, 2, 3, 4, 5 não possui moda por-
lação. que nenhum de seus valores se repete. Neste caso, dize-
mos que ele é amodal.
Amostra: subconjunto de elementos de uma popula- O conjunto de dados 2, 3, 3, 3, 4, 5, 5, 6 tem moda 3,
ção, que são representativos para estudar a característica pois esse valor repete-se três vezes. Ele é monomodal.
de interesse da população. A seleção dos elementos que O conjunto de dados 1, 2, 2, 3, 4, 5, 5, 6 tem moda 2 e
irão compor a amostra pode ser feita de várias maneiras e 5 pois ambos os valores se repetem duas vezes sendo ele,
irá depender do conhecimento que se tem da população e portanto, bimodal
da quantidade de recursos disponíveis. ´
O estudo das possibilidades Matemáticas está ligado Mediana
à análise combinatória, que tem grande aplicabilidade no
cotidiano, abordando diversos campos de estudo, como a A mediana (Me) é o valor que separa o conjunto em
programação de computadores, realização de experiên- dois subconjuntos de mesmo tamanho.
cias, biologia molecular, economia, estatística, para o bom Para se calcular corretamente o valor da mediana, os
funcionamento de uma empresa. elementos do conjunto devem estar em ordem do menor
Usamos as possibilidades (probabilidades) dentro da para o maior. Além disso, cabe perceber que  a mediana
estatística em diversos ramos do cotidiano não precisa, necessariamente, fazer parte do conjunto de
dados.
Distribuição de frequência Exemplo:
O conjunto 1, 2, 5, 6, 7 possui um número ímpar de
A distribuição de frequência nos mostra um agrupa- elementos. A mediana é 5.
mento de dados resumidos, dividida em classes e o núme- O conjunto 3, 3, 7, 7 tem um número de elementos
ro de ocorrências de uma classe. É uma forma de mostrar, par. A mediana é a média entre os elementos centrais 3 e
por exemplo, os resultados de uma eleição, a renda de 7, que é 5.
pessoas para uma determinada região, as vendas de um
produto dentro de um determinado período, etc. Alguns Desvio médio, variância, desvio padrão
dos gráficos que podem ser usados ​​com as distribuições de
frequência podem ser: histograma, gráfico de linha, gráfico Considere a seguinte distribuição numérica:
de barras e gráfico de setores. 1, 6, 4, 10, 9

A média aritmética dessa distribuição é :

140
MATEMÁTICA

MA = = 6 Média aritmética simples


Desvio médio é a média aritmética dos valores
absolutos da diferença entre cada valor e a média. A média aritmética simples é a mais utilizada no nos-
Encontra-se o desvio de cada valor calculando-se a so dia-a-dia. A média aritmética simples de dois ou mais
diferença entre esses valores e a média aritmética desses termos é o quociente da soma dos números dados pela
valores. quantidade de números somados.
Temos: Ex: Encontre a média em matemática de um aluno que
Desvio de 1 é 1 – 6 = -5 teve nota 6 na 1ª prova, nota 8 na 2ª prova e nota 10 no
Desvio de 6 é 6 – 6 = 0 trabalho.
Desvio de 4 é 4 – 6 = -2
Desvio de 10 é 10 – 6 = 4 Resolução: M =
Desvio de 9 é 9 – 6 = 3

O desvio médio será: Resp: A média do aluno é 8.

DM = Média aritmética ponderada


Ponderar é sinônimo de pesar. No cálculo da média
DM = ponderada, multiplicamos cada valor do conjunto por seu
peso, isto é, sua importância relativa. Para se obter a mé-
DM = dia aritmética ponderada dos elementos de um conjunto,
é necessário determinar a soma dos produtos de cada ele-
mento multiplicado pelo respectivo peso, e dividi-la pela
DM = 2,8 soma dos pesos.
Ex: Encontre a média em matemática de um aluno que
O desvio médio é 2,8 teve duas provas cujas notas foram 6 e 8 e um trabalho
que teve nota 10, sabendo que as provas tiveram peso 2 e
Variância: chama-se variância (V) de uma distribuição o trabalho peso 3.
a média aritmética dos quadrados dos desvios dessa dis-
tribuição. Resolução: M =
Na situação em análise, os desvios são -5, 0, -2, 4 e 3, = 8,28
logo a variância será: Resp: A média do aluno é 8,3
Problemas
V= 1. O número de passageiros de uma linha de ônibus,
V= em um determinado horário, foi de 27 passageiros na 2.ª
feira, 49 na 3.ª feira, 53 na 4.ª feira, 22 na 5.ª feira e 59 pas-
V= sageiros na 6.ª feira. O número de passageiros da 6.ª fei-
ra, a mais do que a média aritmética diária de passageiros
nesses cinco dias, foi:
V = 10,8
(A) 17.
A variância é 10,8 (B) 22.
(C) 38.
Desvio padrão: Chama-se desvio padrão (DP) de uma (D) 42.
distribuição a raiz quadrada da variância (E) 59.

DP = 2. Em uma seção de uma empresa com 20 funcionários,


a distribuição dos salários mensais, segundo os cargos que
No exemplo em análise, temos a variância 10,8; portan- ocupam, é a seguinte:
to o desvio padrão será:

DP =

DP = 3,28

141
MATEMÁTICA

Sabendo-se que o salário médio desses funcionários é litro de combustível. Cada um deles apresenta consu-
de R$ 1.490,00, pode-se concluir que o salário de cada um mo diferenciado: 9,8km/L,
dos dois gerentes é de: 10km/L, 12,5km/L, 15km/L e 16,2km/L. O que aconte-
ceria com a média do
(A) R$ 2.900,00. consumo desse grupo se outro automóvel com consu-
(B) R$ 4.200,00. mo de 12,7km/L fosse
(C) R$ 2.100,00. nele incluído?
(D) R$ 1.900,00. a) Diminuiria em 2km/L.
(E) R$ 3.400,00. b) Aumentaria em 1,2km/L.
c) Diminuiria em 0,3km/L.
3. A média salarial de 9 indivíduos é de R$ 680,00. d) Permaneceria a mesma
Acrescentando a esse cálculo o salário de um novo indi-
víduo, o Sr. João, a média salarial dos 10 indivíduos passa 9. ( Concurso Detran/SP 2013-Oficial Est. De Tran-
para R$ 700,00. Nas condições dadas, o salário do Sr. João, sito-VUNESP) Carlos tem uma loja de eletrônicos e ele
em reais, é de comprou celulares de 3 diferentes preços. Em média, cada
aparelho custou R$ 319,00. Carlos comprou 2 aparelhos de
(A) 750,00. R$ 670,00 cada; 4 aparelhos de R$ 151,00 cada, e o restante
(B) 780,00. dos aparelhos ele pagou R$ 309,00 cada um. No total, o
(C) 800,00. número de aparelhos celulares que Carlos comprou é igual
(D) 840,00. a
(E) 880,00. (A) 9.
(B) 7.
4. Em uma casa, há 5 potes de biscoitos. Consideran- (C) 10.
do-se todos os biscoitos desses 5 potes há, em média, 3 (D) 8.
biscoitos por pote. Se for acrescentado mais um pote com (E) 11
alguns biscoitos dentro, então a média de biscoitos por
pote passará a ser de 4. Portanto, o número de biscoitos do Respostas
último pote acrescentado era:

(A) 6.
(B) 7.
(C) 8.
(D) 9.
(E) 10.
5.Comprei 5 doces a R$ 1,80 cada um, 3 doces a R$
1,50 e 2 doces a R$ 2,00 cada. O preço médio, por doce,
foi de: 
a) R$ 1,75 2x = 4200
b) R$ 1,85 X = 2100
c) R$ 1,93 Resposta: Alternativa C
d) R$ 2,00
e) R$ 2,40 3. = 700

6. Calcular  a média aritmética entre os números 3, 4, 6120 + x = 7000


6, 9 e 13.  X = 880
Resposta: Alternativa E
7.  (FUVEST) Sabe-se que a média aritmética de 5 nú-
meros inteiros distintos, estritamente positivos, é 16. O 4. =4
maior valor que um desses inteiros pode assumir é:
a) 16 15 + x = 24
b) 20 X=9
c) 50 Resposta: Alternativa D
d) 70
e) 100 5. = 1,75

8. (concurso Agente Administrativo- Pref. P. Ale- Resposta: Alternativa A


gre/2012) Cinco
automóveis estão sendo analisados em relação à quilo- 6. =7
metragem rodada por

142
MATEMÁTICA

A carta que está oculta é:


7. = 16
(A) (B) (C)
10 + x = 16.5
10 + x = 80
X = 70
Resposta: Alternativa D

8. = 12,7 (D) (E)


Permaneceria igual
Resposta: Alternativa D

9. É um problema de média ponderada

= 319

= 319 02. Considere que a sequência de figuras foi construída


segundo um certo critério.

(6+x).319 = 1340 + 604 + 309 x


1914 + 319 x = 1944 + 309 x
319 x – 309 x = 1944 – 1914
10 x = 30
X=3
No total Carlos comprou 9 celulares
Alternativa A

Se tal critério for mantido, para obter as figuras


subsequentes, o total de pontos da figura de número 15
deverá ser:
PROBLEMAS ENVOLVENDO (A) 69
RACIOCÍNIO LÓGICO. (B) 67
(C) 65
(D) 63
(E) 61
01. Observe atentamente a disposição das cartas em
cada linha do esquema seguinte: 03. O próximo número dessa sequência lógica é: 1000,
990, 970, 940, 900, 850, ...
(A) 800
(B) 790
(C) 780
(D) 770

04. Na sequência lógica de números representados nos


hexágonos, da figura abaixo, observa-se a ausência de um
deles que pode ser:

143
MATEMÁTICA

(A) 76 08. Analise a sequência a seguir:


(B) 10
(C) 20
(D) 78

05. Uma criança brincando com uma caixa de palitos Admitindo-se que a regra de formação das figuras
de fósforo constrói uma sequência de quadrados conforme seguintes permaneça a mesma, pode-se afirmar que a
indicado abaixo: figura que ocuparia a 277ª posição dessa sequência é:
(A) (B)
.............
1° 2° 3°

Quantos palitos ele utilizou para construir a 7ª figura?


(A) 20 palitos
(B) 25 palitos (C) (D)
(C) 28 palitos
(D) 22 palitos

06. Ana fez diversas planificações de um cubo e


escreveu em cada um, números de 1 a 6. Ao montar o cubo,
ela deseja que a soma dos números marcados nas faces (E)
opostas seja 7. A única alternativa cuja figura representa a
planificação desse cubo tal como deseja Ana é:

(A) (B)

09. Observe a sequência: 2, 10, 12, 16, 17, 18, 19, ... Qual
é o próximo número?
(A) 20
(C) (D) (B) 21
(C) 100
(D) 200

10. Observe a sequência: 3,13, 30, ... Qual é o próximo


número?
(E) (A) 4
(B) 20
(C) 31
(D) 21

Respostas
07. As figuras da sequência dada são formadas por
partes iguais de um círculo. 01. Resposta: “A”.
A diferença entre os números estampados nas cartas
1 e 2, em cada linha, tem como resultado o valor da 3ª
carta e, além disso, o naipe não se repete. Assim, a 3ª carta,
dentro das opções dadas só pode ser a da opção (A).

02. Resposta “D”.


Continuando essa sequência, obtém-se exatamente 16 Observe que, tomando o eixo vertical como eixo de
círculos completos na: simetria, tem-se:
(A) 36ª figura Na figura 1: 01 ponto de cada lado  02 pontos no
(B) 48ª figura total.
(C) 72ª figura Na figura 2: 02 pontos de cada lado  04 pontos no
(D) 80ª figura total.
(E) 96ª figura Na figura 3: 03 pontos de cada lado  06 pontos no
total.

144
MATEMÁTICA

Na figura 4: 04 pontos de cada lado  08 pontos no letra “C”, da mesma forma, o 5 estaria em face oposta ao
total. 3, somando 8, não formando um lado. Na figura da letra
Na figura n: n pontos de cada lado  2.n pontos no “D”, o 2 estaria em face oposta ao 4, não determinando
total. um lado. Já na figura apresentada na letra “E”, o 1 não
estaria em face oposta ao número 6, impossibilitando,
Em particular: portanto, a obtenção de um lado. Logo, podemos concluir
Na figura 15: 15 pontos de cada lado  30 pontos no que a planificação apresentada na letra “A” é a única para
total. representar um lado.

Agora, tomando o eixo horizontal como eixo de 07. Resposta “B”.


simetria, tem-se: Como na 3ª figura completou-se um círculo, para
Na figura 1: 02 pontos acima e abaixo  04 pontos no completar 16 círculos é suficiente multiplicar 3 por 16 : 3 .
total. 16 = 48. Portanto, na 48ª figura existirão 16 círculos.
Na figura 2: 03 pontos acima e abaixo  06 pontos no
total. 08. Resposta “B”.
Na figura 3: 04 pontos acima e abaixo  08 pontos no A sequência das figuras completa-se na 5ª figura.
total. Assim, continua-se a sequência de 5 em 5 elementos. A
Na figura 4: 05 pontos acima e abaixo  10 pontos no figura de número 277 ocupa, então, a mesma posição das
total. figuras que representam número 5n + 2, com n N. Ou seja,
Na figura n: (n+1) pontos acima e abaixo  2.(n+1) a 277ª figura corresponde à 2ª figura, que é representada
pontos no total. pela letra “B”.

Em particular: 09. Resposta “D”.


Na figura 15: 16 pontos acima e abaixo  32 pontos A regularidade que obedece a sequência acima não se
no total. Incluindo o ponto central, que ainda não foi dá por padrões numéricos e sim pela letra que inicia cada
considerado, temos para total de pontos da figura 15: Total número. “Dois, Dez, Doze, Dezesseis, Dezessete, Dezoito,
de pontos = 30 + 32 + 1 = 63 pontos. Dezenove, ... Enfim, o próximo só pode iniciar também com
“D”: Duzentos.
03. Resposta “B”.
Nessa sequência, observamos que a diferença: entre 10. Resposta “C”.
1000 e 990 é 10, entre 990 e 970 é 20, entre o 970 e 940 é 30, Esta sequência é regida pela inicial de cada número.
entre 940 e 900 é 40, entre 900 e 850 é 50, portanto entre Três, Treze, Trinta,... O próximo só pode ser o número Trinta
850 e o próximo número é 60, dessa forma concluímos que e um, pois ele inicia com a letra “T”.
o próximo número é 790, pois: 850 – 790 = 60.
04. Resposta “D”
Nessa sequência lógica, observamos que a diferença:
entre 24 e 22 é 2, entre 28 e 24 é 4, entre 34 e 28 é 6, entre NOÇÕES DE PROBABILIDADE:
42 e 34 é 8, entre 52 e 42 é 10, entre 64 e 52 é 12, portanto EXPERIÊNCIA, ESPAÇO AMOSTRAL E
entre o próximo número e 64 é 14, dessa forma concluímos EVENTO. DEFINIÇÃO, PROPRIEDADES
que o próximo número é 78, pois: 76 – 64 = 14. E CÁLCULO DE PROBABILIDADE.
PROBABILIDADE CONDICIONADA.
05. Resposta “D”.
Observe a tabela:

Figuras 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª Probabilidade
Nº de Palitos 4 7 10 13 16 19 22 Ponto Amostral, Espaço Amostral e Evento

Temos de forma direta, pela contagem, a quantidade de Em uma tentativa com um número limitado de
palitos das três primeiras figuras. Feito isto, basta perceber resultados, todos com chances iguais, devemos considerar:
que cada figura a partir da segunda tem a quantidade Ponto Amostral: Corresponde a qualquer um dos
de palitos da figura anterior acrescida de 3 palitos. Desta resultados possíveis.
forma, fica fácil preencher o restante da tabela e determinar Espaço Amostral: Corresponde ao conjunto dos
a quantidade de palitos da 7ª figura. resultados possíveis; será representado por S e o número
de elementos do espaço amostra por n(S).
06. Resposta “A”. Evento: Corresponde a qualquer subconjunto do
Na figura apresentada na letra “B”, não é possível obter espaço amostral; será representado por A e o número de
a planificação de um lado, pois o 4 estaria do lado oposto elementos do evento por n(A).
ao 6, somando 10 unidades. Na figura apresentada na

145
MATEMÁTICA

Os conjuntos S e Ø também são subconjuntos de S, União de Eventos


portanto são eventos.
Ø = evento impossível. Considere A e B como dois eventos de um espaço
S = evento certo. amostral S, finito e não vazio, temos:

Conceito de Probabilidade A

As probabilidades têm a função de mostrar a chance


de ocorrência de um evento. A probabilidade de ocorrer B
um determinado evento A, que é simbolizada por P(A), de S
um espaço amostral S ≠ Ø, é dada pelo quociente entre
o número de elementos A e o número de elemento S.
Representando:

Exemplo: Ao lançar um dado de seis lados, numerados


de 1 a 6, e observar o lado virado para cima, temos: Logo: P(A B) = P(A) + P(B) - P(A B)
- um espaço amostral, que seria o conjunto S {1, 2, 3,
4, 5, 6}. Eventos Mutuamente Exclusivos
- um evento número par, que seria o conjunto A1 = {2,
4, 6} C S.
- o número de elementos do evento número par é A
n(A1) = 3.
- a probabilidade do evento número par é 1/2, pois
B
S

Propriedades de um Espaço Amostral Finito e Não Considerando que A ∩ B, nesse caso A e B serão
Vazio denominados mutuamente exclusivos. Observe que A ∩ B =
0, portanto: P(A B) = P(A) + P(B). Quando os eventos A1, A2,
- Em um evento impossível a probabilidade é igual a A3, …, An de S forem, de dois em dois, sempre mutuamente
zero. Em um evento certo S a probabilidade é igual a 1. exclusivos, nesse caso temos, analogicamente:
Simbolicamente: P(Ø) = 0 e P(S) = 1. P(A1 A2 A3 … An) = P(A1) + P(A2) + P(A3) + ... +
- Se A for um evento qualquer de S, neste caso: 0 ≤ P(An)
P(A) ≤ 1.
- Se A for o complemento de A em S, neste caso: P(A) Eventos Exaustivos
= 1 - P(A).
Quando os eventos A1, A2, A3, …, An de S forem, de dois
Demonstração das Propriedades em dois, mutuamente exclusivos, estes serão denominados
exaustivos se A1 A2 A3 … An = S
Considerando S como um espaço finito e não vazio,
temos:

Então, logo:

Portanto: P(A1) + P(A2) + P(A3) + ... + P(An) = 1

146
MATEMÁTICA

Probabilidade Condicionada Problema: Realizando-se a experiência descrita


exatamente n vezes, qual é a probabilidade de ocorrer o
Considere dois eventos A e B de um espaço amostral S, evento A só k vezes?
finito e não vazio. A probabilidade de B condicionada a A é
dada pela probabilidade de ocorrência de B sabendo que Resolução:
já ocorreu A. É representada por P(B/A). - Se num total de n experiências, ocorrer somente
k vezes o evento A, nesse caso será necessário ocorrer
Veja: exatamente n – k vezes o evento A.
- Se a probabilidade de ocorrer o evento A é p e do
evento A é 1 – p, nesse caso a probabilidade de ocorrer k
vezes o evento A e n – k vezes o evento A, ordenadamente,
é:

Eventos Independentes - As k vezes em que ocorre o evento A são quaisquer


entre as n vezes possíveis. O número de maneiras de
Considere dois eventos A e B de um espaço amostral escolher k vezes o evento A é, portanto Cn,k.
S, finito e não vazio. Estes serão independentes somente - Sendo assim, há Cn,k eventos distintos, mas que
quando: possuem a mesma probabilidade pk . (1 – p)n-k, e portanto a
probabilidade desejada é: Cn,k . pk . (1 – p)n-k
P(A/N) = P(A) P(B/A) = P(B)
QUESTÕES
Intersecção de Eventos
01. A probabilidade de uma bola branca aparecer
Considerando A e B como dois eventos de um espaço ao se retirar uma única bola de uma urna que contém,
amostral S, finito e não vazio, logo: exatamente, 4 bolas brancas, 3 vermelhas e 5 azuis é:

(A) (B) (C) (D) (E)

02. As 23 ex-alunas de uma turma que completou o


Ensino Médio há 10 anos se encontraram em uma reunião
comemorativa. Várias delas haviam se casado e tido filhos.
A distribuição das mulheres, de acordo com a quantidade
Assim sendo: de filhos, é mostrada no gráfico abaixo. Um prêmio
foi sorteado entre todos os filhos dessas ex-alunas. A
P(A ∩ B) = P(A) . P(B/A) probabilidade de que a criança premiada tenha sido um(a)
P(A ∩ B) = P(B) . P(A/B) filho(a) único(a) é
Considerando A e B como eventos independentes, logo
P(B/A) = P(B), P(A/B) = P(A), sendo assim: P(A ∩ B) = P(A)
. P(B). Para saber se os eventos A e B são independentes,
podemos utilizar a definição ou calcular a probabilidade de
A ∩ B. Veja a representação:

A e B independentes ↔ P(A/B) = P(A) ou


A e B independentes ↔ P(A ∩ B) = P(A) . P(B)

Lei Binominal de Probabilidade

Considere uma experiência sendo realizada diversas (A) (B) (C) (D) (E)
vezes, dentro das mesmas condições, de maneira que
os resultados de cada experiência sejam independentes.
Sendo que, em cada tentativa ocorre, obrigatoriamente, 03. Retirando uma carta de um baralho comum de 52
um evento A cuja probabilidade é p ou o complemento A cartas, qual a probabilidade de se obter um rei ou uma
cuja probabilidade é 1 – p. dama?

147
MATEMÁTICA

04. Jogam-se dois dados “honestos” de seis faces, Respostas


numeradas de 1 a 6, e lê-se o número de cada uma das
duas faces voltadas para cima. Calcular a probabilidade 01.
de serem obtidos dois números ímpares ou dois números
iguais? 02.
A partir da distribuição apresentada no gráfico:
05. Uma urna contém 500 bolas, numeradas de 1 a 500. 08 mulheres sem filhos.
Uma bola dessa urna é escolhida ao acaso. A probabilidade 07 mulheres com 1 filho.
de que seja escolhida uma bola com um número de três 06 mulheres com 2 filhos.
algarismos ou múltiplo de 10 é 02 mulheres com 3 filhos.
(A) 10%
(B) 12% Como as 23 mulheres têm um total de 25 filhos, a
(C) 64% probabilidade de que a criança premiada tenha sido um(a)
(D) 82% filho(a) único(a) é igual a P = 7/25.
(E) 86%
03. P(dama ou rei) = P(dama) + P(rei) =
06. Uma urna contém 4 bolas amarelas, 2 brancas e 3
bolas vermelhas. Retirando-se uma bola ao acaso, qual a
probabilidade de ela ser amarela ou branca?
04. No lançamento de dois dados de 6 faces,
07. Duas pessoas A e B atiram num alvo com numeradas de 1 a 6, são 36 casos possíveis.
probabilidade 40% e 30%, respectivamente, de acertar. Considerando os eventos A (dois números ímpares)
Nestas condições, a probabilidade de apenas uma delas e B (dois números iguais), a probabilidade pedida é:
acertar o alvo é:
(A) 42%
(B) 45%
(C) 46% 05. Sendo Ω, o conjunto espaço amostral, temos n(Ω)
(D) 48% = 500
(E) 50% A: o número sorteado é formado por 3 algarismos;
A = {100, 101, 102, ..., 499, 500}, n(A) = 401 e p(A) =
08. Num espaço amostral, dois eventos independentes 401/500
A e B são tais que P(A U B) = 0,8 e P(A) = 0,3. Podemos
concluir que o valor de P(B) é: B: o número sorteado é múltiplo de 10;
(A) 0,5 B = {10, 20, ..., 500}.
(B) 5/7
(C) 0,6 Para encontrarmos n(B) recorremos à fórmula do termo
(D) 7/15 geral da P.A., em que
(E) 0,7 a1 = 10
an = 500
09. Uma urna contém 6 bolas: duas brancas e quatro r = 10
pretas. Retiram-se quatro bolas, sempre com reposição de Temos an = a1 + (n – 1) . r → 500 = 10 + (n – 1) . 10 →
cada bola antes de retirar a seguinte. A probabilidade de só n = 50
a primeira e a terceira serem brancas é:
Dessa forma, p(B) = 50/500.
(A) (B) (C) (D) (E)
A Ω B: o número tem 3 algarismos e é múltiplo de 10;
A Ω B = {100, 110, ..., 500}.
10. Uma lanchonete prepara sucos de 3 sabores: De an = a1 + (n – 1) . r, temos: 500 = 100 + (n – 1) . 10
laranja, abacaxi e limão. Para fazer um suco de laranja, são → n = 41 e p(A B) = 41/500
utilizadas 3 laranjas e a probabilidade de um cliente pedir
esse suco é de 1/3. Se na lanchonete, há 25 laranjas, então
a probabilidade de que, para o décimo cliente, não haja Por fim, p(A.B) =
mais laranjas suficientes para fazer o suco dessa fruta é:
06.
(A) 1 (B) (C) (D) (E) Sejam A1, A2, A3, A4 as bolas amarelas, B1, B2 as brancas
e V1, V2, V3 as vermelhas.
Temos S = {A1, A2, A3, A4, V1, V2, V3 B1, B2} → n(S) = 9
A: retirada de bola amarela = {A1, A2, A3, A4}, n(A) = 4
B: retirada de bola branca = {B1, B2}, n(B) = 2

148
MATEMÁTICA

ANOTAÇÕES

___________________________________________________

Como A B = , A e B são eventos mutuamente ___________________________________________________


exclusivos;
Logo: P(A B) = P(A) + P(B) = ___________________________________________________

___________________________________________________

___________________________________________________
07.
Se apenas um deve acertar o alvo, então podem ocorrer ___________________________________________________
os seguintes eventos:
___________________________________________________
(A) “A” acerta e “B” erra; ou
(B) “A” erra e “B” acerta. ___________________________________________________

Assim, temos: ___________________________________________________


P (A B) = P (A) + P (B)
P (A B) = 40% . 70% + 60% . 30% ___________________________________________________
P (A B) = 0,40 . 0,70 + 0,60 . 0,30 ___________________________________________________
P (A B) = 0,28 + 0,18
P (A B) = 0,46 ___________________________________________________
P (A B) = 46%
___________________________________________________
08.
Sendo A e B eventos independentes, P(A B) = P(A) . ___________________________________________________
P(B) e como P(A B) = P(A) + P(B) – P(A B). Temos: ___________________________________________________
P(A B) = P(A) + P(B) – P(A) . P(B)
0,8 = 0,3 + P(B) – 0,3 . P(B) ___________________________________________________
0,7 . (PB) = 0,5
P(B) = 5/7. ___________________________________________________

___________________________________________________
09. Representando por a
probabilidade pedida, temos: ___________________________________________________
=
= ___________________________________________________

___________________________________________________

___________________________________________________
10. Supondo que a lanchonete só forneça estes três ___________________________________________________
tipos de sucos e que os nove primeiros clientes foram
servidos com apenas um desses sucos, então: ___________________________________________________
I- Como cada suco de laranja utiliza três laranjas, não é
possível fornecer sucos de laranjas para os nove primeiros ___________________________________________________
clientes, pois seriam necessárias 27 laranjas. ___________________________________________________
II- Para que não haja laranjas suficientes para o próximo
cliente, é necessário que, entre os nove primeiros, oito ___________________________________________________
tenham pedido sucos de laranjas, e um deles tenha pedido
outro suco. ___________________________________________________
A probabilidade de isso ocorrer é:
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149
MATEMÁTICA

ANOTAÇÕES

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150
GEOGRAFIA

O espaço natural e econômico: Orientação, Localização, Representação da Terra e Fusos Horários. ................................... 01
A Terra: Características e Movimentos; Evolução; Camadas da Terra. A Deriva Continental e a Tectônica de Placas. Rochas:
Tipos; Características. Solos: Formação; Conservação. Relevo terrestre e seus agentes. ............................................................ 04
A Atmosfera e sua Dinâmica: Tempo; Clima. ................................................................................................................................................ 09
As Grandes Paisagens Naturais da Terra. ....................................................................................................................................................... 11
Aspectos Demográficos: Conceitos fundamentais. .................................................................................................................................... 18
Aspectos Econômicos Gerais: Comércio; Recursos naturais e extrativismo mineral; Fontes de energia; Indústria;
Agricultura. ................................................................................................................................................................................................................. 22
Geografia do Brasil: Regiões Brasileiras: Aspectos Físicos; Aspectos Humanos; Aspectos Políticos; Aspectos
Econômicos................................................................................................................................................................................................................. 33
Geografia geral: As relações econômicas no mundo moderno: A crise econômica mundial; Os blocos econômicos; A
questão da multipolaridade. A globalização. Focos de tensão e conflitos mundiais.................................................................... 35
GEOGRAFIA

A latitude permite que possamos determinas as zonas


O ESPAÇO NATURAL E ECONÔMICO: climáticas da terra (polar ou glacial temperada e tropical)
ORIENTAÇÃO, LOCALIZAÇÃO,
REPRESENTAÇÃO DA TERRA
E FUSOS HORÁRIOS.

Linhas imaginárias: Paralelos e meridianos

Paralelos: Linhas que cortam o planeta no sentido horizon-


tal. O principal paralelo é o Equador que divide o planeta em
dois hemisférios: Norte(ou setentrional) e sul (ou meridional).
Meridianos: Linhas imaginárias que cortam o planeta em
sentido vertical. O principal meridiano é o Meridiano de Green-
wich, que passa pela cidade de Londres, na Inglaterra e divide A longitude nos permite padronizar a hora usada no
o mundo em dois hemisférios: Oeste (ou ocidental) e Leste (ou mundo. A hora mundial é calculada pelos fusos-horários.
oriental).

Pontos cardeais

Fusos Horários

Coordenadas Geográficas

Através do cruzamento entre paralelos e meridianos pode-


mos localizar qualquer ponto no planeta terra. Podemos deter-
minar a Latitude (distância do equador medida em graus. Varia
para norte e sul e o ponto de referência é o Equador cuja latitu-
de=0) e a Longitude (distância do meridiano de Greenwich me-
dida em graus. Varia de oeste para leste e o ponto de referência
é o Greenwich cuja latitude = 0)

Cada fuso corresponde à 1h e o planeta está divido em


24 fusos. São como os gomos de uma laranja. Qualquer
ponto dentro do gomo possui a mesma hora. Já comen-
Veja o planeta dividido em hemisfério norte e sul através tamos que o Meridiano de Greenwich divide o planeta em
do equador e hemisfério ocidental e oriental pelo meridiano de hemisfério ocidental e oriental. É também o ponto de refe-
Greenwich (linhas vermelhas). As áreas próximas ao equador rência para a determinação das horas, então toda a locali-
são de latitude baixa e recebem maior insolação, são, portan- dade localizada à oeste do meridiano de Greenwich possui
to mais quentes e úmidas. Quanto mais distante do equador, o horário atrasado em relação à Londres e toda localidade
maior a latitude (portanto as zonas polares são de alta latitude). localizada à leste do meridiano possui o horário adiantado.

1
GEOGRAFIA

O Brasil possui 4 fusos horários. Todos atrasados com


relação à Greenwich, como podemos observar nos mapas.
Em teoria temos, portanto, 4 horários. Então, para padro-
nizarmos as horas nas diferentes regiões, adotamos a hora
oficial. A Hora oficial do Brasil é a da capital Brasília, que
fica no centro-oeste, no estado de Goiás, portanto o se-
gundo fuso, que é atrasado 3 horas com relação á Grenwi-
ch. Isso significa que:
 Se em Londres forem 15h, nas
cidades de Brasília, São Paulo e Fortaleza será 12h (todas
estas cidades estão localizadas no segundo fuso), e na ci-
dade de Manaus (AM), 11h e Rio Branco (AC), 10 horas.
 Se em Belo Horizonte marcar
no relógio 16h, será 15h em Cuiabá (MT)
 Se em Belo Horizonte marcar
no relógio 16h,será 14h em Rio Branco
 Se em Belo Horizonte marcar
no relógio 16h, será 17h em Fernando de Noronha (ilhas 1) Um avião decolou do aeroporto da cidade A (45°W)
oceânicas. Estão no primeiro fuso do Brasil, duas horas às 7 horas com destino à cidade B (120°W). O vôo tem du-
atrasadas com relação à Greenwich.Politicamente pertence ração de oito horas. Que horas serão na cidade B quando
ao estado de Pernambuco). o avião pousar?
 Se em Belo Horizonte marcar o a) 11h
relógio 16h, será 19h em Londres. b) 10 h
c) 9 h
Agora volte a observar o mapa do planeta dividido em d) 8 h
fusos horários, que temos logo acima. Se em Londres mar- e) 2 h
car 12h no relógio, que horas serão nas cidades de Mel-
borne (Austrália) e Brasilia? Vamos lá, o primeiro passo é 2) Considere que um avião supersônico sai da cidade
contar os fusos que os separam. A Oeste de Greenwich a de Tóquio à 1 h da manhã de um domingo com direção à
hora é atrasada e a Leste a Hora é adiantada. A cidade de cidade de Manaus - AM. A duração do vôo é de nove horas
Brasília está a três fusos à Oeste de Londres. Portanto são e a diferença de fuso horário de uma cidade a outra é de
três horas atrasadas. O horário em Brasília será 9h. Melbor- onze horas. Assinale a alternativa que apresenta correta-
ne está localizada 10 fusos à leste de Grenwich. Portanto 10 mente a hora e o dia da semana da chegada desse avião na
horas adiantadas. O horário em Melborne será 22h. cidade de Manaus.
a) 22 h do sábado.
b) 23 h do sábado.
c) 01 h do domingo.
d) 10 h do domingo.
e) 12 h do domingo.

3) A viagem de um empresário de Santiago (Chile) a


Roma (Itália) está organizada da seguinte forma:
- Sai de Santiago (75° de longitude oeste) às 6 horas do
dia 2 de janeiro de 2005 e faz escala em São Paulo (45° de
longitude oeste), no Brasil, após quatro horas de viagem.
- Depois de uma escala de 2 horas, decola com des-
tino a Roma (15° de longitude leste), durando 10 horas a
viagem.
Assinale verdadeira (V) ou falsa (F) nas alternativas a
seguir.
( ) O avião chega a São Paulo às 14 horas do dia 2 de
janeiro de 2005.
( ) O avião chega a Roma às 6 horas do dia 3 de janeiro
de 2005.
( ) A diferença de horário entre Santiago e Roma é de
6 horas.
( ) A diferença de horário entre Santiago e São Paulo
é de 2 horas.

2
GEOGRAFIA

A seqüência correta é “O navio de salvamento deve atingir o ponto de.........................


a) V - F - V - F. com 12° de _________ S e 30° de ________ O, para efetuar o res-
b) V - V - V - F. gate dos náufragos.”
c) F - F - F - V. Complete a frase de modo correto:
d) F - F - V - V. a) posição geográfica; longitude; latitude
e) V - V - F - V. b) coordenadas geográficas; latitude; longitude
c) latitude; longitude; posição geográfica
d) longitude; latitude; posição geográfica
4) Um navio que, navegando pelo Atlântico, cruza o e) latitude; coordenadas geográficas; longitude
Trópico de Câncer e segue do norte para o sul, de tal forma
que, observando-se no mapa, a trajetória percorrida é re- 7) Um avião decola de Rio de Janeiro (RJ) com destino a
presentada como uma reta. Rio Branco (AC). De acordo com o mapa adiante a aeronave
Esse percurso descrito no enunciado revela que o na- segue o rumo em qual direção geral?
vio...
I - Seguirá passando por latitudes cada vez maiores até
cruzar a linha equatorial.
II - Estará modificando constantemente a latitude, po-
rém permanece na mesma longitude.
III - Estará se aproximando cada vez mais do meridiano
de origem.
IV - Estará navegando pelas águas do hemisfério aus-
tral.
V - Estará se distanciando cada vez mais do círculo po-
lar ártico. a) nordeste
b) sudeste
Estão corretas as afirmações: c) sudoeste
a) I, II e IV. d) noroeste
b) I, III e V. e) norte
c) II e III.
d) II e V. 8) “Linhas imaginárias traçadas de pólo a pólo, atravessan-
e) III, IV e V. do a linha do Equador, perpendicularmente.”
O texto define:
5) a) latitudes
b) longitudes
c) paralelos
d) meridianos
e) círculos polares

9) Na superfície do planeta Terra, existem cinco paralelos


especiais: Equador, os Trópicos de Câncer e Capricórnio e os Cír-
culos Polares Ártico e Antártico. Eles determinam as (os) _________
Complete a frase de modo correto.
a) zonas climáticas
b) áreas de maior concentração populacional
c) fusos horários
d) áreas onde ocorrem desertos
e) regiões sujeitas a movimentos tectônicos

10) Ao dividir os 360 graus da esfera terrestre pelas 24


horas de duração do movimento de __________, o resultado é
15 graus. A cada 15 graus que a Terra gira, passa-se uma hora.
Assim, cada uma das 24 divisões da Terra corresponde a um
Uma competição esportiva de vôlei masculino, dispu- __________.Para que o texto fique adequadamente preenchido,
tada em Sydney (150 °E), às 18 horas, é transmitida pela TV, as lacunas devem ser completadas, respectivamente, por:
em Brasília (48 °W), às a) translação e meridiano.
a) 4 horas e 12 minutos. b) translação e paralelo.
b) 4 horas e 48 minutos. c) rotação e círculo.
c) 5 horas e 12 minutos. d) rotação e fuso horário.
d) 5 horas e 48 minutos.
6) Observe o texto: 1B,2-B,3-D,4-D,5-B,6-B,7-D,8-D,9-A,10-D

3
GEOGRAFIA

A TERRA: CARACTERÍSTICAS E
MOVIMENTOS; EVOLUÇÃO; CAMADAS
DA TERRA. A DERIVA CONTINENTAL E A
TECTÔNICA DE PLACAS. ROCHAS: TIPOS;
CARACTERÍSTICAS. SOLOS: FORMAÇÃO;
CONSERVAÇÃO. RELEVO TERRESTRE E SEUS
AGENTES.

As camadas da terra.

O planeta terra se formou há aproximadamente a 4,5


bilhões de anos. O que se tornaria o planeta terra era um
grande aglomerado de vários elementos químicos em fu-
são. Aos poucos começa resfriar, dissipando o calor para
o espaço. A partir do resfriamento da camada mais exter-
na do planeta forma-se a Crosta terrestre. Hoje o planeta
encontra-se dividido em camadas. São basicamente 3: A
Crosta (ou litosfera), o Manto e o Núcleo. As placas tectônicas se movimentam de 3 maneiras:

Movimentos convergentes ( ): Quando as placas se mo-


vimentam na mesma direção e se chocam. Observe no mapa
acima, a placa sul americana, que se choca convergentemente
com a placa de Nazca. Do choque entre as duas placas, for-
ma-se a grande cordilheira montanhosa da América do Sul, a
Cordilheira dos Andes. Perceba no mapa que Brasil encontra-se
no centro da placa sul americano, distante da borda.
Movimentos divergentes ( ): Quando as placas se movi-
mentam em direções opostas e afastam-se, como é o caso da
placa sul americana e a placa africana que se afastam. Pelo con-
torno dos continentes não é difícil deduzir que Brasil era ligado
ao continente africano. Isso é provado pois, as rochas encon-
tradas no litoral brasileiro e no litoral africano são do mesmo
material rochoso e da mesma idade geológica.
Escorregamento lateral: quando uma placa se movimen-
ta esbarrando lateralmente em outra. Sempre que as placas se
movimentam ocorrem abalos sísmicos.
As áreas das bordas das placas tectônicas estão mais sujei-
tas à abalos sísmicos e a ocorrência de vulcões. Observe atenta-
mente no mapa que as áreas de encontro das placas tectônicas
A Crosta é formada principalmente por minerais ricos são zonas sísmicas, onde ocorrem mais terremotos e concen-
em Silício e Magnésio, por isso a Crosta pode ser chamada tram-se vulcões ativos. Nestes locais próximos às bordas das
de SIMA. O manto é um material pastoso e incandescente placas, chamamos de áreas de instabilidade geológica. Va-
que chamamos Magma. O Manto e dividido em manto su- mos sintetizar: nas bordas das placas tectônicas formam-se
perior, onde está a astenosfera (camada do manto em que montanhas, vulcões e ocorrem abalos sísmicos.
deslizam as placas tectônicas). O manto por ser muito rico
em minerais de Silício e Alumínio, pode ser chamado de Tipos de Rocha
SIAL. O núcleo da terra é solido, devido às altas pressões a Temos 3 tipos principais de rochas: 1- Ígneas ou magmáti-
que é submetido e pode ser chamado de NIFE, por ser rico cas, 2- sedimentares 3- metamórficas
em Níquel e Ferro. Rochas ígneas ou magmáticas. São rochas formadas
pelo resfriamento direto do magma (por isso magmática). Elas
A teoria das placas tectônicas podem ser divididas em rochas magmáticas intrusivas e ex-
trusivas (ou vulcânicas). A rocha é extrusiva quando ocorre
O interior do planeta está submetido à altas pressões e uma erupção e o magma é expelido, então o magma expeli-
temperaturas, e conforme o manto se movimenta, ocorrem do resfria de fora da terra em contato com a atmosfera. Esse
rachaduras na crosta, formando as placas tectônicas. contato com a atmosfera a temperaturas bem mais baixas que

4
GEOGRAFIA

no interior da terra, faz com que se resfrie e se forme mais ra- Tipos de Relevo
pidamente que as rochas intrusivas. As rochas intrusivas são de Chamamos relevo o modelado da Crosta. O relevo é
resfriamento muito lento. O interior da terra, no manto superior, provocado por agentes internos ao planeta (vulcanismo e
vai se resfriando e solidificando lentamente. Podemos exempli- tectonismo) e agentes externos (o intemperismo). Os prin-
ficar com rochas como o basalto (rocha magmática extrusi- cipais tipos de relevo são:
va, vulcânica) e o granito (rocha magmática intrusiva) Montanhas (dobramentos modernos): forma de relevo
Muitos calçamentos urbanos são com blocos de basalto. formada pelo choque das placas tectônicas. Esse processo
Nesta imagem temos uma avenida em Ribeirão Preto, nordes- em que as placas sofrem dobras chamamos orogênese.
te de São Paulo, próxima aos limites com MG. Na região do Depressões: Formadas principalmente pela erosão.
interior de SP e no Sul do Brasil, ocorreram há bilhões de anos, Área bastante desgastada, normalmente encaixada entre
derramamentos basálticos (vulcanismo). Nestes lugares é en- planaltos.
contrado um solo muito fértil: “A terra roxa”. Planície: Relevo em que predominou o processo de
sedimentação. A sedimentação supera a erosão.
Rochas sedimentares
A ação da atmosfera e das águas provocam desgastes
nas superfícies rochosas, que liberam sedimentos (pequenas
partículas de rocha). Estas ações externas na rocha chamamos
intemperismo. O intemperismo provoca desgaste nas ro-
chas e as partículas liberadas são transportadas pela água dos
rios, da chuva, pelo vento e pelo derretimento das geleiras.
Ao desgaste chamamos erosão. As partículas se acomodam
nas regiões mais baixas, com no leito dos rios, e através dos
milhões de anos, ocorre o processo de litificação, em que os
sedimentos se transformam em rochas sedimentares. Uma de
suas características é que podemos identificar camadas nas ro-
chas. Podem ser também as estruturas que encontramos den-
tro de cavernas calcárias (formadas por calcáreo, uma rocha
sedimentar), as estalactites (teto) e as estalagmites (piso).

Rochas metamórficas
Essas rochas sofreram metamorfismo (de metamorfose=-
transformação), devido a atuação das altas temperaturas e
Perceba a importância da água na formação do rele-
pressão que o interior da terra exerce nas rochas. Imagine que
vo. Nos planaltos predomina a erosão. No Brasil o clima é
ocorreu a erupção de um vulcão. Do interior da terra onde ele
tropical e é bastante chuvoso. Na verdade no clima tropi-
se formou até a superfície, ocorrerá a passagem de material
cal temos duas estações do ano bem definidas: Primavera
magmático incandescente que pode derreter as rochas que
- Verão quentes e úmidas e outono - invernos amenos e
encontra no caminho. Outro exemplo é que as rochas podem
ser “dobradas”. Dobramentos ocorrem porque quando uma bastante secos. Devido a esta característica climática, pre-
placa tectônica empurra a outra, a força e a pressão exercidas domina no Brasil o intemperismo provocado pelas águas.
são tão grandes, que dobram as rochas. Quando isso ocorre, Observe atentamente imagem acima. As chuvas modelam
normalmente formam-se as montanhas. Tanto essas grandes os planaltos e suas escarpas, enquanto os rios escavam
temperaturas vindas do interior da terra, quanto a pressão suas laterais. As enxurradas transportam os sedimentos
exercida pelas placas estimulam reações químicas e transfor- para os rios, que transportam os sedimentos pelo seu cur-
mações na rocha. Então a rocha que sofreu uma transforma- so. Nos cursos dos rios formam-se importantes áreas de
ção, chamamos metamórfica. Por exemplo, o granito quando sedimentação.
metamorfizado transforma-se em mármore.
O Relevo do Brasil.
No Brasil não existem montanhas, nem vulcões e os
terremotos são muito raros e de baixa intensidade. Isso
ocorre principalmente por dois motivos: estamos no centro
da placa tectônica, bem distante das áreas de instabilidade
geológica (nas bordas das placas, é onde ocorre a maioria
dos terremotos e estão os vulcões ativos.), e em segundo
lugar nossa estrutura rochosa é bastante antiga e cristalina.

5
GEOGRAFIA

1) Observe o mapa. Nele estão marcados os principais


eventos de Tsunami que ocorreram na década de 90, com os res-
pectivos locais, altura das ondas e número de mortes.

A respeito da distribuição espacial desses eventos, é correto


afirmar:
a) Estão associados às grandes células de alta pressão tropical,
que produzem fortes movimentos nas águas oceânicas.
b) Originam-se sempre a partir de movimentos sísmicos na
área da plataforma continental, chegando rapidamenteàs zonas
litorâneas.
c) São mais comuns no Oceano Pacífico, devido à maior circu-
lação de correntes frias.
d) Sua ocorrência é completamente aleatória, sendo pratica-
mente impossível prever o seu aparecimento.
e) Associam-se a movimentos tectônicos nas zonas de sub-
ducção, onde há o contato de placas.

2) Assinale a alternativa que contém, apenas, rochas cristalinas


e de consolidação muito antiga (Pré-Cambriano).
a) Arenito, gnaisse e mármore
b) Quartzo, calcário e granito
c) Gnaisse, granito e quartzito
Planaltos: d) Mármore, mica e arenito
Planaltos cristalinos, no sudeste. Suas formas arredon-
dadas são consequência da ação da chuva. 3) “Nos últimos seis anos, o Peru foi sacudido por quatro terre-
motos acima de 6,5 pontos na escala Richter, magnitude suficiente
para danificar construções. Nenhum desses abalos é comparável
ao ocorrido na noite de quarta-feira passada - um terremoto de 8
graus na escala Richter matou pelo menos 510 pessoas e deixou
mais de 1500 feridos. O epicentro do terremoto ocorreu a uma
distância de 145 quilômetros da capital, Lima, e a uma profundi-
dade relativamente rasa, de 40 quilômetros, o que ampliou o seu
poder de destruição.” (“Veja”, 22 ago. 2007, p. 70.)

Em relação à reportagem acima, considere as seguintes afir-


mativas:
1. A República do Peru está sujeita a abalos sísmicos porque
está situada muito próxima do encontro de duas placas tectônicas.
2. No Brasil não existem terremotos porque seu território está
situado no centro da Placa Sul-Americana.
3. Terremotos e vulcanismos são mais freqüentes na zona de-
nominada “Círculo do Fogo do Pacífico”, onde se localiza o Peru.

6
GEOGRAFIA

4. Não existe uma proporção direta entre a magnitude de um b) Entre as placas 3 e 4 há um movimento de dilata-
abalo sísmico e a sua intensidade máxima. A magnitude depende ção, que provoca vulcanismo de fenda, o qual formou ilhas
da energia liberada no epicentro, enquanto a intensidade máxima que representam o topo da cadeia montanhosa submersa,
depende da profundidade. a Dorsal Atlântica.
Assinale a alternativa correta. c) O choque entre as placas 2 e 6, pelo processo de
a) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras. subducção, formou a Cordilheira dos Andes; enquanto que
b) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. o choque entre as placas 5 e 4 formou a Cordilheira do Hi-
c) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. malaia, área de grande instabilidade tectônica.
d) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras. d) A placa 4 distancia-se da 5 chocando-se com a placa
e) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras. 3, o que tem provocado, por subducção, intensos terremo-
tos na Europa e aumentado significativamente o fundo do
4) O vulcanismo é um dos processos da dinâmica ter- Oceano Atlântico.
restre que sempre encantou e amedrontou a humanida-
de, existindo diversos registros históricos referentes a esse 6) As reservas petrolíferas estão relacionadas a um tipo
processo. Sabe-se que as atividades vulcânicas trazem de formação geológica:
novos materiais para locais próximos à superfície terres- a) escudos cristalinos
tre. A esse respeito, pode-se afirmar corretamente que o b) bacias sedimentares
vulcanismo c) dobramentos cenozóicos
a) é um dos poucos processos de liberação de energia d) placas tectônicas
interna que continuará ocorrendo indefinidamente na his- e) aluviões quaternários
tória evolutiva da Terra.
b) é um fenômeno tipicamente terrestre, sem paralelo 7) Entende-se por “erosão” o transporte de partículas
em outros planetas, pelo que se conhece atualmente. do solo que se dá pela ação da chuva e dos ventos, além da
c) traz para a atmosfera materiais nos estados líquido própria erosão geológica, que nivela a superfície terrestre,
e gasoso, tendo em vista originarem-se de todas as cama- ou seja, é a “erosão natural”.
das internas da Terra. A gravidade da associação entre queimadas e erosão
d) ocorre, quando aberturas na crosta aliviam a pres- do solo, está
são interna, permitindo a ascensão de novos materiais e a) em causar o “Efeito Estufa”, fenômeno que altera sig-
mudanças em seus estados físicos. nificativamente a temperatura na Terra.
e) é o processo responsável pelo movimento das pla-
b) na produção de dióxido de carbono, um dos ele-
cas tectônicas, causando seu rompimento e o lançamento
mentos constitutivos do “Efeito Estufa”.
de materiais fluidos.
c) no seu caráter mais imediato, enquanto dá ao “pro-
cesso natural erosivo” proporções devastadoras, causando,
5) Observe o mapa a seguir.
entre outros problemas, o assoreamento dos rios.
d) na eliminação da biodiversidade, específica da área
em destruição.

8) A teoria da Tectônica de Placas explica como a dinâ-


mica interna da Terra é responsável pela estrutura da litos-
fera, sendo INCORRETO afirmar:
a) A litosfera é a parte rígida que compõe a crosta ter-
restre; é segmentada em placas que flutuam em várias di-
reções sobre o manto.
b) O movimento das placas pode ser convergente ou
divergente, aproximando-as ou afastando-as, ou ainda
deslizando-as uma em relação à outra.
c) A tectônica é responsável por fenômenos como for-
mação de cadeias montanhosas, deriva dos continentes,
expansão do assoalho oceânico, erupções vulcânicas e ter-
remotos.
Com relação ao movimento das placas tectônicas ilus- d) As placas continentais e oceânicas possuem seme-
trado no mapa, marque a alternativa correta. lhante composição mineralógica básica, uma vez que essas
a) Por subducção, a placa 6 provoca terremotos no placas compõem a crosta terrestre.
Oeste dos Estados Unidos; ao se encontrar com a placa 5,
ocorre translação, como no Japão, provocando tremores e
vulcanismo intenso.

7
GEOGRAFIA

9) Analise esta sequência de figuras, em que está representada a formação do solo ao longo do tempo geológico, sabendo
que as divisões que aparecem em cada figura e na legenda representam as etapas dessa evolução:

A partir dessa análise, é INCORRETO afirmar que essa sequência de figuras sugere que
a) a evolução e o aumento da espessura do solo estão condicionados à escala do tempo geológico.
b) o crescimento aéreo e subterrâneo da vegetação é inversamente proporcional ao desenvolvimento do solo.
c) o desenvolvimento do solo, ao longo do tempo, resulta na sua diferenciação em horizontes.
d) o material inorgânico presente no solo resulta de alterações ocorridas na rocha.

10) A porção sólida da Terra é uma camada mais ou menos rígida, apresentando uma espessura variada. Tal camada é
o(a)
a) magma.
b) litosfera.
c) troposfera.
d) criosfera.

11) Assinale a alternativa onde encontramos apenas rochas sedimentares:


a) granito, basalto, calcário.
b) carvão, arenito, gnaisse.
c) mármore, quartzito, granito.
d) basalto, calcário, carvão.
e) calcário, carvão, arenito.

12) As estruturas geológicas da crosta terrestre refletem os processos que as originaram e ajudam a reconstituir a his-
tória do planeta. Em relação a esse assunto é correto afirmar que:
a) Os escudos cristalinos constituem o embasamento fundamental das terras emersas, pois originaram-se de dobra-
mentos modernos.
b) As bacias sedimentares resultam da ação combinada dos processos destrutivos de erosão e dos processos constru-
tivos de acumulação ou sedimentação.
c) O núcleo da Terra encontra-se em estado pastoso.
d) O manto é o envoltório rochoso da Terra.
e) Os vulcões são gerados por violentos movimentos de massas no interior do núcleo.

13) Assinale a alternativa onde encontramos apenas rochas metamórficas:


a) Gnaisse, mármore, quartzito.
b) Calcário, carvão, arenito.
c) Basalto, calcário, carvão.
d) Granito, basalto, calcário.
e) Mármore, basalto, carvão.

1-E,2-C,3-A,4-D,5-B,6-B,7-C,8-D,9-B,10-B, 11-E, 12-B, 13-D

8
GEOGRAFIA

A ATMOSFERA E SUA DINÂMICA:


TEMPO; CLIMA.

O comportamento atmosférico é bastante complexo e possui vários elementos. Não confunda clima e tempo. Tempo
são as condições metrológicas no dia. Clima é o conjunto das condições metrológicas no ano.
Entre os fatores que influenciam no clima:
 Latitude (quanto mais próximo do equador mais quente)
 Altitude (quanto maior altitude, menor temperatura
 Proximidade do mar (marítimidade)
 Chuvas
 Massas de ar

O principal tipo climático brasileiro é o tropical com duas estações bem definidas (verão úmido e inverno seco) e pe-
quena amplitude térmica anual (variação). Há variações do clima tropical : Equatorial e de altitude

1) O fato de ser o clima da região Sul do tipo subtropical é explicado:


a) pelo relevo.
b) pelo movimento de rotação da terra.
c) pelas formações vegetais.
d) pela posição geográfica
e) pela hidrografia

2) “Tipo climático que possui as mesmas características básicas do clima tropical, apresentando, entretanto, médias de
temperatura mais baixas, podendo gear forte em certos locais como Petrópolis e Campos de Jordão”.
O trecho acima refere-se ao clima:
a) subtropical.
b) tropical oceânico.
c) tropical de altitude.
d) tropical continental.
e) árido.

9
GEOGRAFIA

3) O clima predominante no Centro-Oeste: 7) Dentre os efeitos provocados pelo fenômeno iden-


a) subtropical. tificado como La Niña, no território brasileiro, destacam-se
b) tropical de altitude. as fortes chuvas nas regiões Norte e Nordeste e estiagem
c) tropical continental. no Sul.
d) equatorial. A respeito do fenômeno La Niña, é correto afirmar que
e) semi-árido. o mesmo é causado pelo:
a) esfriamento rigoroso das águas profundas do ocea-
4) A área do Sudeste ocupada pelo clima semi-árido no Atlântico
situa-se: b) intenso aquecimento das águas setentrionais do
a) norte de São Paulo. oceano Pacífico
b) sul de Minas Gerais. c) forte aquecimento das águas meridionais do oceano
c) norte de Minas Gerais. Atlântico
d) norte do Espírito Santo. d) resfriamento anormal das águas equatoriais do
e) sul de São Paulo. oceano Pacífico
e) aquecimento eventual das águas superficiais do Gol-
5) Observe os climogramas a seguir, que apresentam fo do México
as médias mensais de chuvas e de temperatura do ar at-
mosférico, de quatro cidades brasileiras. 8) Possui grandes médias pluviométricas, temperaturas
entre 24°C e 26°C, com máxima de 40°C; praticamente não
tem um período seco. Estas características pertencem ao
clima:
a) tropical.
b) subtropical.
c) árido.
d) semi-árido.
e) equatorial.

9) Sabe-se que uma área de quatro hectares de flores-


ta, na região tropical, pode conter cerca de 375 espécies de
plantas enquanto uma área florestal do mesmo tamanho,
em região temperada, pode apresentar entre 10 e 15 espé-
(Adaptado de ADAS, M. “Panorama Geográfico do Bra- cies.O notável padrão de diversidade das florestas tropicais
sil”. São Paulo: Moderna, 1998.) se deve a vários fatores, entre os quais é possível citar
Os diferentes tipos de clima identificados pelos núme- a) altitudes elevadas e solos profundos.
ros I, II, III e IV são, respectivamente: b) a ainda pequena intervenção do ser humano.
a) equatorial úmido - tropical semi-árido - desértico - c) sua transformação em áreas de preservação.
subtropical úmido d) maior insolação e umidade e menor variação climá-
b) tropical semi-úmido - subtropical úmido - desértico tica.
- equatorial úmido e) alternância de períodos de chuvas com secas pro-
c) tropical semi-úmido - desértico - tropical semi-árido longadas.
- equatorial úmido 10) “Fenômeno de origem complexa e ainda obscura.
d) equatorial úmido - tropical semi-úmido - tropical se- Suspeita-se de um componente antropogênico, quantifica-
mi-árido - subtropical úmido do pelo aumento da concentração na atmosfera de gases,
como o CO‚, da queima de combustíveis fósseis, além da
6) Leia as afirmações a seguir e assinale a alternativa emissão espontânea de metano no processo digestivo de
correta: vários mamíferos.”
I - A friagem é provocada pela invasão das massas de Fonte: “Folha de S. Paulo”, Mais, 21/09/2003, p. 5.
ar oceânicas provenientes da Amazônia.
II - Nas regiões de clima equatorial e tropical, os raios O texto refere-se ao problema:
solares são mais intensos. a) do aquecimento global.
III - O clima semi-árido que domina em uma parte da b) do buraco na camada de ozônio.
região Nordeste é caracterizado por temperaturas elevadas. c) das chuvas ácidas.
IV - O tipo de clima que abrange a maior parte do Bra- d) das correntes marítimas.
sil é o tropical. e) das ilhas de calor
a) todas as afirmativas são verdadeiras
b) as afirmativas I, II e III são verdadeiras 1-D,2-C,3-C,4-C,5-D,6-D,7-D,8-E,9-D,10-A
c) as afirmativas II e IV são verdadeiras
d) as afirmativas II, III e IV são verdadeiras
e) as afirmativas I, III e IV são verdadeiras

10
GEOGRAFIA

AS GRANDES PAISAGENS
NATURAIS DA TERRA.

Domínios Vegetais do Brasil

Observe atentamente o mapa abaixo:

11
GEOGRAFIA

Ele nos apresenta a vegetação natural do Brasil. Claro Nosso clima é predominantemente tropical, ocupa
que atualmente ela não se encontra como neste mapa e 93% do território, e isso fará com que tenhamos forma-
está bastante devastada, devido anos de exploração eco- ções florestais megadiversas, como a Amazônia, floresta
nômica. tropical equatorial em que não ocorre estações secas, e
Atualmente estaria aproximadamente assim o cerrado que é uma vegetação arbustiva que domina o
Brasil central, mas como ocorre em locais cujo solo é pou-
co desenvolvido e ácido, e possuí alternância entre uma
estação seca (outono-inverno) e outra úmida (primavera
verão), sua vegetação é de menor porte e muito variável.
Podemos dividir as formações vegetais em formações
florestais, arbustivas, complexas e de transição. Vamos
analisar as características de cada uma delas.

Domínios florestais
1- Floresta tropical equatorial (Amazônia)
2- Floresta tropical (Mata atlântica)
3- Floresta de araucárias

Floresta tropical equatorial (Amazônia)


A floresta amazônica é a maior floresta do planeta,
apesar do desmatamento chegar a quase 20%. Por ser
um bioma muito extenso, 60% da floresta está em territó-
rio brasileiro, mas abrange 9 países da América do sul (As
Guianas -Rep. Da Guiana, Suriname e Guiana Francesa-,
Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. O nono é
o Brasil) e dentro do território nacional cobre 9 estados
(Amazonas, Acre, Roraima, Rondônia, Amapá, Pará, Mato
Grosso, Tocantins e Maranhão) . A porção da floresta ama-
zônica em território nacional denominamos “Amazônia
Legal”

As áreas marcadas em cor de rosa são áreas naturais


destruídas pela ação antrópica (antropo = homem, ação
humana), seja através de corte ilegal da madeira, pecuária,
agricultura ou mineração. Perceba que as áreas próximas
ao litoral foram mais destruídas, isso ocorre porque o pro- Darei mais detalhes sobre a região amazônica quanto
cesso de colonização do país começou pelo litoral atlânti- sua ocupação, exploração econômica e problemas am-
co. Observe que a Mata Atlântica, a Mata de Araucárias e o bientais mais adiante, agora vamos caracterizá-la:
Cerrado já foram profundamente devastados.
A vegetação brasileira é bastante diversificada. Os ele-
mentos físicos que mais interferem na vegetação brasileira
são o clima e o solo.

12
GEOGRAFIA

Latifoliada: Que possui plantas com folhas grandes e Higrófila: Plantas adaptadas a alta pluviosidade (quan-
largas. tidade de chuvas).

Heterogênea: Possui enorme diversidade. É conside-


rada Megadiversa.

Perenófila: Sempre verde e abundante

Densa: Mata muito fechada, com muitas variedades e


de difícil penetração.

Ombrófila: Sombria. As copas das árvores maiores fa-


zem com que o interior da floresta receba pouca luz.

Os rios da Bacia Hidrográfica Amazônia são predomi-


nantemente de planície. Esses rios possuem uma peque-
na variação altimétrica e não possuem em geral quedas
d’agua, tornando-os exelentemente navegáveis. Os rios de
planície serpenteiam formando trajetos como o que você
pode observar. A esses trajetos serpenteantes chamamos
Meandros

Floresta tropical: mata atlântica

Ocupa toda a porção litorânea do Brasil. Cobre uma


faixa de relevo planáltico e destaca-se no estado de São
Paulo. Avança também por Minas Gerais e Paraná, nestas
regiões já entremeando áreas de transição. É uma vegeta-
ção tropical, sujeita a variação de pluviosidade no decorrer
das estações (encontra-se na faixa de clima tropical e o re-
gime de chuvas tropical é uma estação seca (outono-inver-
no) e uma úmida (primavera-verão). Podemos caracterizá
-la como uma floresta latifoliada,densa, perene, e hetero-
gênea. Nesse momento você se indaga: São as mesmas da
floresta amazônica. Superficialmente sim, mas há algumas
diferenças. A Amazônia é mais densa, seu porte é maior,
está distribuídas principalmente por planícies e depressões
e não está sujeita a estação seca.

13
GEOGRAFIA

Acicufoliadas: Plantas com folhas em formato de agulha.

Coníferas: plantas em formato de cone

Homogêneas: Biodiversidade menor que nas florestas


tropicais.

Domínios arbóreo-arbustivos

Cerrado
O Cerrado Brasileiro ocupa a maior parte do Brasil cen-
tral, com destaque para Goiás e Minas Gerais, em regiões
planálticas e de clima tropical. Caracteriza-se por:

Vegetação arbóreo-arbustivas.

Árvores de pequeno porte, casca grossa e tronco


retorcido

Solos pobres e pouco desenvolvidos

Floresta ou Mata de Araucárias

É uma formação florestal encontrada na região sul do


Brasil, de clima subtropical. As chuvas na região sul são
bem distribuídas pelo ano e não ocorrem com frequência,
estações secas, porém a pluviosidade não é muito alta. Se
caracterizam como florestas com variedades:

14
GEOGRAFIA

Campos
A vegetação de campos é formada por gramíneas e
pouquíssimas árvores. A região mais conhecida da locali-
zação dos campos é o sul do Rio Grande do sul, ultrapas-
sando as nossas fronteiras e adentrando no território do
Uruguai e da Argentina. São áreas tradicionalmente vin-
culadas a pecuária extensiva devidos seus pastos naturais.
Mas de olho no detalhe:
Caatinga
A Caatinga ocupa a porção do sertão nordestino. O cli-
ma em que se desenvolve é o semi-árido. Em tupi-guarani
significa “Mata Branca”. Caracteriza-se por ser uma vege-
tação
Rasteira e arbustiva, com espécies xerófitas: plantas
com raízes profundas para captar água, já que a atmosfera
é seca. Por exemplo o xique-xique e o mandacarú)
Decíduas: perdem as folhas parcialmente ou total-
mente na seca.

Podemos encontrar a vegetação de Campos também


ao sul do Mato Grosso do Sul e na região norte, no Amapá
e na ilha de Marajó (Foz do Rio Amazonas), bem como
em faixas estreitas na região nordeste no estado do Ma-
ranhão.

Mangues (Vegetação complexa)


Os Mangues são vegetações litorâneas encontradas
do litoral do Amapá ao Rio Grande do Sul. Estão bastante
ameaçados devido à poluição, pois os litorais brasileiros
são densamente povoados. Se caracterizam por plantas:
Halófitas (ou Halófila): Adaptadas à salinidade do
mar (lembre-se que em geral as plantas são prejudicadas
pelo sal e poucas são as espécies adaptadas à salinidade).

15
GEOGRAFIA

Pneumatóforas: Raízes aéreas

Pantanal (Vegetação complexa) Transição: Quando um domínio vegetal vai se transfor-


mando em outro temos as zonas de transição. São chama-
O Pantanal se estende entre Brasil, Paraguai e Bolívia. das de biomas ecotônos. Possuem características de um e
A região é drenada pelo rio Paraguai e é uma planície. A de outro. Nosso bioma ecótono destacado aqui é a Mata
vegetação pantaneira é extremamente heterogênea, mes- dos Cocais. Uma zona de transição localizada entre Mara-
clando características de todos os domínios naturais bra- nhão, Piauí e norte do Tocantins.
sileiros. Ao longo dos rios temos matas tropicais densas.
Nas áreas ciclicamente alagadas predominam os campos 9- Mata dos Cocais
e as áreas mais elevadas caracterizam-se por vegetação de Abrange a floresta equatorial, o cerrado, campos e caa-
cerrado. Também e considerada vegetação de transição. tinga. Separa o Domínio Amazônico do Domínio das Caa-
tingas. Predominm espécies de palmeiras como a carnaú-
ba, o babaçu, o buriti e a buritirana.

1) Assinale a alternativa que apresenta uma região do


Brasil que é recoberta por vegetação herbácea ou campes-
tre, em área de clima subtropical, e que tem sofrido grande
impacto ambiental, tendo como conseqüência a formação
de extensos areais. Dentre as causas desse impacto, pode-
mos citar a pecuária extensiva e a agricultura monocultora.
a) Sertão Nordestino.
B) Pantanal.
C) Campanha Gaúcha.
D) Cerrado.
E) Amazônia.

16
GEOGRAFIA

2) Assinale a opção que representa um ambiente na- 8) A formação vegetal na qual predominam espécies
tural brasileiro que pode ser definido como faixa de tran- de palmeiras como a carnaúba, o babaçu e o buriti, eque é
sição. considerada uma zona de transição entre os domínios da
a) araucária Amazônia e o da Caatinga é a(o)
b) caatinga A) Mata dos Cocais.
c) floresta amazônica B) Pantanal.
d) Pantanal C) Manguezal.
e) Mares de morros D) Restinga.
E)Pradaria.
3) O segundo mais extenso domínio natural brasileiro,
caracteriza-se por se associar ao clima tropical, com duas 9) Devido à relativa escassez de chuvas, o domínio em
estações bem definidas, com verões chuvosos e longas que quase todas as espécies são decíduas apresentam fo-
estiagens no inverno. Quanto a vegetação, predominam lhas de tamanho reduzido, e os solos são pouco profundos
formações arbustivas que recobrem solos ácidos. O texto em virtude do baixo nível de decomposição química das
apresenta as características do seguinte domínio natural: rochas é o do (a):
a) araucária a) Caatinga
b) caatinga b) Cerrado
c) cerrado c) Amazônia
d) Mares de morro d) Araucária
e) Amazônico e) Pradaria

4) Assinale a principal atividade econômica da Cam- 10) Marque a alternativa correspondente ao domínio
panha Gaúcha: vegetal que cobria vastas extensões dos Planaltos e Serras
A) Pecuária extensiva da Região Sul e trechos da Região Sudeste do Brasil.
B) Extrativismo vegetal a) Floresta equatorial.
C) Mineração b) Mata de Araucária.
D) Turismo c) Pantanal.
E) Pesca d) Cerrado.
e) Caatinga.
5) As cactáceas, tais como o xique-xique e o mandaca-
ru , são espécies de vegetação brasileira que apresentam 11) Vegetação típica de regiões costeiras, sendo uma
folhas de tamanho reduzido para minimizar a perda de área de encontro das águas do mar com as águas doces
água pela transpiração. Tais espécies podem serencontra- dos rios. A principal espécie encontrada nesse bioma é o
das na/no (s) caranguejo. Essas características são do:
A) Mata Atlântica. a) Cerrado
B) Manguezais. b) Mata de Cocais
C) Mata dos Cocais. c) Mangue
D) Araucária. d) Caatinga
E) Caatinga. e) Pantanal 

6) A vegetação brasileira, com espécie de conífera tipi- 12) O texto abaixo refere-se à qual formação vegetal?
camente sul-americana, é encontrada na(o) “De origem bastante discutida, essa formação é caracterís-
A) Mata Atlântica. tica das áreas onde o clima apresenta duas estações bem
B) Manguezais. marcadas: uma seca e outra chuvosa, como no Planalto
C) Mata dos Cocais. Central. Ela apresenta 2 estratos nítidos: uma arbóreo-ar-
D) Araucária. bustivo, onde as espécies tortuosas têm os caules geral-
E) Cerrado. mente revestidos de casca espessa, e outro herbáceo, ge-
ralmente dispostos em tufos”.
7) Assinale a alternativa que apresenta os estados bra- a) Floresta tropical
sileiros que compõem a Amazônia Ocidental. b) Caatinga
A) Mato Grosso do Sul, Acre e Pará. c) Formação do Pantanal
B) Maranhão, Amazonas e Tocantins. d) Mata semiúmida
C) Amazonas, Roraima e Piauí. e) Cerrado
D) Acre, Rondônia e Mato Grosso.
E) Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima

17
GEOGRAFIA

13) Localizado principalmente na Região Centro-Oeste,


esse bioma é caracterizado pela presença de pequenos ar- ASPECTOS DEMOGRÁFICOS:
bustos e árvores retorcidas, com cascas grossas e folhas re-
CONCEITOS FUNDAMENTAIS.
cobertas de pelos. Solo deficiente em nutrientes e com alta
concentração de alumínio. Marque a alternativa que corres-
ponde ao bioma que apresenta as características descritas.
a) Mangue População
b) Caatinga
c) Campos Nosso território possui uma população em 2014 de
d) Cerrado mais de 202000000 de habitantes (duzentos e dois milhões,
e) Mata de araucária somos um país bastante populoso (número de habitan-
tes). Mas devido ao nosso processo de formação territorial,
a maioria da população concentra-se nas regiões próximas
ao litoral. Observe o mapa com atenção:

Densidade demográfica é a razão entre Hab/km.km.


Veja a legenda: as áreas mais claras são menos povoadas e
14) O pinheiro-do-paraná é encontrado principalmente: as mais escuras as mais povoadas.
a) no Cerrado. Podemos perceber que a população é mal distribuída.
b) na Floresta Tropical. A maioria concentra-se na região sudeste e litoral nordes-
c) na Mata de Araucárias. tino e possuímos regiões muito pouco povoadas que con-
d) na Mata Atlântica. sideramos como “vazios demográficos”, como podemos
e) nos Campos Limpos. observar na região da Amazônia Ocidental (oeste da Ama-
zônia).

15) Vegetação típica do sertão nordestino: Fecundidade: Número de filhos por mulher. Tende a
a) Mangues diminuir com a industrialização e urbanização, devido à en-
b) Cerrado trada da mulher no mercado de trabalho e o planejamento
c) Caatinga familiar
d) Mata Atlântica
Crescimento Vegetativo:
1-c,2-d,3-c,4-a,5-e,6-d,7-e,8-a,9-a,10-b,11-c,12-e,13- CV=TN-TM (taxa de natalidade – taxa de mortalidade)
d,14-c,15-c

18
GEOGRAFIA

Urbanização: quando a população urbana cresce num 1) A contribuição dos bandeirantes para o povoamento
ritmo maior que a rural. do sul-brasileiro ficou restrita principalmente:
a) à introdução da agricultura.
b) ao comércio com os países vizinhos.
c) à navegação marítima.
d) ao conhecimento geográfico da região.
e) ao povoamento do litoral.

2) Os fluxos migratórios humanos, representados nos


mapas abaixo, mais do que um deslocamento espacial podem
significar uma mudança de condição social.

Analisando-se os mapas, pode-se afirmar que essa mu-


dança ocorreu com.
a) trabalhadores rurais nordestinos, que migraram para
São Paulo nas década de 50 e de 60,transformando-se em
operários do setor industrial.
b) agricultores sulistas, que migraram para o centro-oeste
na década de 60, transformando-se em empresários da mi-
neração.
c) trabalhadores rurais nordestinos, que migração para
a Amazônia na década de 60, transformando-se em grandes
proprietários de terras.
d) moradores das periferias das grandes cidades, que mi-
graram para o interior do país na década de 70 atraídos pelas
oportunidades de emprego nas reservas extrativistas.
e) pequenos proprietários rurais nordestinos que, na dé-
cada de 70, migraram para São Paulo para trabalhar como
bóias-frias na colheita de café.

3) Os dados da tabela mostram uma tendência de dimi-


nuição, no Brasil, do número de filhos por mulher

19
GEOGRAFIA

Dentre as alternativas, a que melhor explica essa tendência é. Com base na tabela anterior, é correto afirmar que A
a) Eficiência da política demográfica oficial por meio de POPULAÇÃO BRASILEIRA
campanhas publicitárias. a) apresentou crescimento percentual menor nas últi-
b) Introdução de legislações específicas que desestimulam mas décadas.
casamentos precoces. b) apresentou crescimento percentual maior nas últi-
c) Mudança na legislação que normatiza as relações de tra- mas décadas.
balho, suspendendo incentivos para trabalhadoras com mais de c) decresceu em valores absolutos nas cinco últimas
dois filhos. décadas.
d) Aumento significativo de esterilidade decorrente de fato- d) apresentou apenas uma pequena queda entre 1950
res ambientais. e 1980.
e) Maior esclarecimento da população e maior participação e) permaneceu praticamente inalterada desde 1950.
feminina no mercado de trabalho.
6)
4) Em reportagem sobre crescimento da população brasi-
leira, uma revista de divulgação científica publicou tabela com a
participação relativa de grupos etários na população brasileira,
no período de 1970 a 2050 (projeção), em três faixas de idade:
abaixo de 15 anos; entre 15 e 65 anos; e acima de 65 anos.

(Vamos compreender o Brasil. Rio de Janeiro: CDDI/


IBGE, 2001.) (Adaptado).

No desenho, a representação da estrutura etária do


Admitindo-se que o título da reportagem se refira ao grupo Brasil atual expressa uma transição demográfica.
etário cuja população cresceu sempre, ao longo do período re- Os indicadores que explicam esta situação de transição
gistrado, um título adequado poderia ser: estão apontados em:
a) “O Brasil de fraldas” a) aumento da imigração e redução da expectativa de
b) “Brasil: ainda um país de adolescentes” vida
c) “O Brasil chega à idade adulta” b) redução da imigração e aumento da taxa de mor-
d) “O Brasil troca a escola pela fábrica” talidade
e) “O Brasil de cabelos brancos” c) redução da taxa de natalidade e aumento da expec-
tativa de vida
5) d) aumento da taxa de natalidade e redução da taxa de
mortalidade

7) A urbanização brasileira, que se acelerou na segun-


da metade do século XX, permitiu o aparecimento de
a) megalópoles em regiões onde ocorre concentração
industrial, como São Paulo, Campinas e Fortaleza.
b) cadeias produtivas interligadas por ferrovias, sendo
as metrópoles o destino final da produção industrial.
c) metrópoles resultantes da ocupação litorânea no
Nordeste, que mantêm a influência em escala nacional.
d) conurbação entre centros importantes como Brasília
e Goiânia, constituindo uma megacidade.
e) metrópoles nacionais, como Rio de Janeiro, metró-
poles regionais, como Belém e centros regionais.

20
GEOGRAFIA

8) Analise os dados da tabela e do gráfico.

Da leitura do gráfico, pode-se afirmar que a participação


percentual do trabalho feminino no Brasil
a) teve valor máximo em 1950, o que não ocorreu com a
participação masculina.
b) apresentou, tanto quanto a masculina, menor cresci-
mento nas três últ imas décadas.
Utilizando seus conhecimentos geográficos, assinale a c) apresentou o mesmo crescimento que a participação
alternativa que contém o fator que explica a evolução po- masculina no período de 1960 a 1980.
pulacional verificada no período. d) teve valor mínimo em 1940, enquanto que a participa-
a) Elevadas taxas de crescimento vegetativo em todo ção masculina teve o menor valor em 1950.
o período e migração de estrangeiros a partir de meados e) apresentou-se crescente desde 1950 e, se mantida a
do século XX. tendência, alcançará, a curto prazo, a participação masculina.
b) Aumento contínuo das taxas de crescimento vege-
tativo até os anos sessenta, aliado à migração de brasilei- 11) Ao longo do século XX, as características da popula-
ros dos Estados da Bahia e Minas Gerais, desde o início do ção brasileira mudaram muito. Os gráficos mostram as alte-
século XX. rações na distribuição da população da cidade e do campo
c) Taxas de crescimento vegetativo em decréscimo a e na taxa de fecundidade (número de filhos por mulher) no
partir dos anos sessenta, aliadas à migração de estrangei- período entre 1940 e 2000.
ros desde o século XIX, e de brasileiros do Estado de São
Paulo e de outros Estados, a partir de meados do século XX.
d) Elevadas taxas de crescimento vegetativo até os
anos noventa, aliadas à migração de estrangeiros e de bra-
sileiros dos Estados de Minas Gerais e Pernambuco, a partir
de meados do século XX.
e) Taxas de crescimento vegetativo em decréscimo
desde os anos quarenta, e migração de estrangeiros e bra-
sileiros de outros Estados, a partir de meados do século XX. a) o aumento relativo da população rural é acompanha-
do pela redução da taxa de fecundidade.
9) A urbanização é um processo cada vez mais presen- b) quando predominava a população rural, as mulheres
tinham em média três vezes menos filhos do que hoje.
te no espaço geográfico brasileiro. Entre suas característi-
c) a diminuição relativa da população rural coincide com
cas, é INCORRETO afirmar:
o aumento do número de filhos por mulher.
a) A urbanização é definida por um determinado nú-
d) quanto mais aumenta o número de pessoas morando
mero de habitantes de uma cidade, não se restringindo ao em cidades, maior passa a ser a taxa de fecundidade.
crescimento físico ou a prolongamentos no meio circun- e) com a intensificação do processo de urbanização, o
dante. número de filhos por mulher tende a ser menor.
b) As formas de urbanização resultam do espaço pro-
duzido e expressam o caráter de formação econômico-so- 12) Em 2003, o governo brasileiro propôs mudanças no sistema
cial de produção. da Previdência Social que culminaram numa ampliação do tempo
c) A urbanização resulta da reprodução de comporta- de contribuição do trabalhador brasileiro para a Previdência Social.
mentos culturais e da estrutura de formação social urbana. Assinale a mudança na dinâmica populacional brasileira
d) A urbanização expressa a combinação de movimen- que foi utilizada como argumento pelo governo para justi-
tos sociais, difusão de valores e informações. ficar o aumento do tempo de contribuição do trabalhador.
a) Crescimento da população jovem.
10) Um dos aspectos utilizados para avaliar a posição b) Crescimento da população infantil.
ocupada pela mulher na sociedade é a sua participação no c) Aumento na expectativa de vida.
mercado de trabalho. O gráfico mostra a evolução da pre- d) Queda das taxas de fecundidade.
sença de homens e mulheres no mercado de trabalho entre e) Diminuição da taxa de crescimento vegetativo.
os anos de 1940 e 2000.
1-D,2-A,3-E,4-E,5-A,6-C,7-E,8-C,9-A,10-E, 11-E, 12-C

21
GEOGRAFIA

 Os principais recursos minerais de exportação do Brasil


são o Ferro e Manganês (encontrados em MG e no PA) e Bauxita
ASPECTOS ECONÔMICOS GERAIS: (vale do rio Trombetas, na Amazônia).
COMÉRCIO; RECURSOS NATURAIS E  Nossas reservas de carvão são insuficientes
EXTRATIVISMO MINERAL; FONTES DE  Somos produtores de petróleo terrestre e principal-
ENERGIA; INDÚSTRIA; AGRICULTURA. mente marítimo. Nossas principais jazidas são: Bacia de Santos,
Campos e Pré-Sal.
Texto: Folha de São Paulo

Projetos de mineração e ocupações urbanas foram as cate-


gorias que mais aumentaram sua participação nas áreas desmata-
das da Amazônia entre 2008 e 2012. A conclusão consta do Terra
Class, estudo do governo federal, por meio de imagens de satélite,
mapeia o uso das regiões que sofreram corte raso da vegetação. A
nova edição do trabalho foi lançada nesta quarta-feira (26).
Naquele espaço de quatro anos, a mineração e as ocupa-
ções urbanas avançaram 7,5% e 6,9% , respectivamente. Eles
continuam, no entanto, a serem minoritárias na ocupação das
áreas desmatadas, ocupando apenas 0,14% e 0,71% dos 751,3
km2 de floresta destruídas, o equivalente a 18,5% dos 4 milhões
de km2 da Amazônia.
Cerca de 60% da área destruída continuam a ser usada para
diferentes tipos de pasto. Outros 5,6% são ocupadas por agri-
cultura anual (aquelas com predominância de culturas de ciclo
anual), dominada pela soja.
Em 2012, houve um novo aumento também das áreas com
vegetação secundária - aquelas em que, após a supressão total
encontram-se em processo avançado de regeneração. Se em
2008, essa categoria ocupava 21,2% do total desmatado, em
2010 chegou à proporção de 22,2% e, em 2012, alcançou 22,9%.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, um dos órgãos en-
volvidos no projeto, entre 2008 e 2012 os 113 mil km2 com “rege-
neração estável”, ou seja, que continuam a se recuperar de maneira
contínua e não sofreram novos cortes nesse espaço de tempo, equi-
valem a 2,5 vezes o total desmatado nesse intervalo (44 mil km2)

Recursos Minerais e Extrativismo

1) Em certas regiões litorâneas, o sal é obtido da água do


mar pelo processo de cristalização por evaporação. Para o de-
senvolvimento dessa atividade, é mais adequado um local
a) plano, com alta pluviosidade e pouco vento.
b) plano, com baixa pluviosidade e muito vento.
c) plano, com baixa pluviosidade e pouco vento.
d) montanhoso, com alta pluviosidade e muito vento.
e) montanhoso, com baixa pluviosidade e pouco vento.

2) A extração mineral é uma atividade econômica que, em


geral, gera reflexos ambientais, sendo INCORRETO afirmar:
a) As avançadas tecnologias utilizadas pelas grandes empre-
sas de mineração que atuam em escala transnacional impedem
a degradação ambiental.
b) A extração clandestina e o contrabando acarretam gran-
des prejuízos, como o não-recolhimento de tributos e a descon-
sideração da legislação ambiental.
c) Nos países periféricos, a falta de controle eficaz das áreas
de garimpo agrava a depredação dos recursos minerais e o am-
biente do entorno.
d) Os recursos hídricos são os mais afetados pela extração e
lavagem de minérios, mas há problemas graves também com os
solos e a cobertura vegetal.

22
GEOGRAFIA

3) A marcha do povoamento ( ) Os minerais energéticos são explorados, essencialmen-


te, onde predominam estruturas geológicas sedimentares.
( ) A maior parte dos minerais está sendo igualmente
explorada nas áreas de rochas sedimentares e nas de estruturas
cristalinas.

A seqüência correta é
a) V - V - F - V.
b) V - F - V - F.
c) F - V - V - F.
d) F - F - V - V.
e) F - V - F - V.

5) O Brasil é o sexto produtor mundial de alumina, mas


possui a maior área de exploração do mundo do minério
do qual ela é extraída. Observe o mapa.

(Adaptado de José William Vesentini. “Geografia: série Bra-


sil”. São Paulo: Ática, 2003. p. 181)

A região X assinalada no mapa do Brasil associa-se à área


produtora de
a) sal marinho, cuja ocorrência liga-se às condições climá-
ticas do litoral: altas temperaturas, estação seca prolongada e
ventos constantes.
b) carvão mineral, cuja ocorrência liga-se à presença de ter-
renos de origem permocarbonífera.
c) petróleo, cuja ocorrência liga-se à presença de rochas se-
dimentares e detritos orgânicos.
d) bauxita, voltada para atender as necessidades das unida-
des produtoras de alumínio.
e) óleos vegetais extraídos dos cocos de babaçu e carnaúba.

4) Observe e compare os mapas:


Assinale a alternativa que indica, corretamente, o nome
do minério, o Estado brasileiro onde essa jazida está locali-
zada e a bacia hidrográfica envolvida.
a) Alumínio; Amazonas; rio Amazonas.
b) Ferro; Pará; rio Negro.
c) Cassiterita; Amazonas; rio Juruá.
d) Cobre; Amazonas; rio Madeira.
e) Bauxita; Pará; rio Trombetas.

6) O projeto Carajás, localizado no divisor Araguaia


-Xingu, é uma província mineralógica de grande importân-
cia para a região onde está inserido. Essa reserva mineral
está localizada:
a) na região Nordeste, no Estado do Maranhão.
b) na região Centro Oeste, no Estado do Tocantins.
c) na região Norte, no Estado do Amazonas.
SIMIELLI, M.E. “Geoatlas”. São Paulo: Ática, 2002. p. 82, 83. d) na região Norte, no Estado do Pará.
e) na região Norte, no Estado do Amapá.
Considerando os mapas de geologia e de recursos minerais
do Brasil, assinale verdadeira (V) ou falsa (F) nas alternativas a 7) Primeiro estado nordestino e brasileiro na produção
seguir. de sal marinho:
( ) Os minerais metálicos são explorados nas áreas de a) Ceará.
predomínio de rochas sedimentares muito antigas. b) Piauí.
( ) Nas áreas de escudos e faixas de dobramentos antigos, c) Alagoas.
concentra-se a exploração de minerais tanto metálicos quanto d) Rio Grande do Norte.
não-metálicos. e) Bahia.

23
GEOGRAFIA

8) As principais jazidas de carvão mineral no Brasil es- Fontes de energia


tão localizadas:
a) no Paraná.
b) na Bahia.
c) em Minas Gerais.
d) em Santa Catarina.
e) no Pará.

9) A produção mundial de um determinado metal é


controlada por um cartel de 6 empresas. Nos anos 60 do
século XX, os países produtores do minério desse metal ini-
ciaram esforços para elevar o seu preço internacional. As
empresas reagiram, intensificando a pesquisa, a descober-
ta e a instalação de minas na Austrália e no Brasil, hoje os
dois maiores produtores mundiais desse minério. O texto
está se referindo ao minério de:
a) manganês.
b) ferro.
c) alumínio.
d) urânio.
e) chumbo

10) A Região de Carajás é uma das provincias minerais


mais importantes do Brasil. Nela, são encontradas expres-
sivas jazidas de ferro, manganês, cobre e bauxita, que tem
uma participação destacada na pauta de exportações do
país. A BAUXITA é utilizada sobretudo para a produção de :
a) material de construção utilizado em viadutos e pon-
tes
b) estanho metálico
c) filamento para lâmpadas
d) material para computadores
e) alumínio

11)Em relação aos recursos minerais do Brasil, analise


as proposições e assinale a alternativa que contém todas as
proposições corretas.
I) A maior reserva de Ferro está na província de Carajás
no Pará, com quase 80% das jazidas. É essencial ao setor
elétrico devido à condutividade e maleabilidade.
II) O Cobre é o principal mineral exportado pelo Brasil.
É extraído principalmente da hematita, magnetita, limonita
e siderita.
III) Alumínio é extraído da bauxita por processo de ele-
trólise. As maiores reservas nacionais estão no Pará.
IV) O estanho é extraído da cassiterita e sua utilização
tem se ampliado principalmente na formação de ligas.
V) O Manganês é o segundo minério em importância
no Brasil. Sua maior utilização está na fabricação do aço,
misturado ao ferro, no setor metalúrgico de ferro-liga.
a) I, IV e V.
b) I, II e III.
c) II, III e IV.
d) III, IV e V.
e) II, III e V.

1-B,2-A,3-A,4-C,5-E,6-D,7-D,8-D,9-C,10-E, 11-D

Texto : Folha de São Paulo

24
GEOGRAFIA

O petróleo atingiu, nesta sexta (28), a menor cotação 3) Sobre as fontes de energia utilizadas pelo homem, é
desde a crise financeira global de 2009, com a perspectiva possível afirmar, de forma correta, que:
de uma guerra de preços. a) entre as fontes de energia classificadas como renováveis,
O barril negociado na Bolsa de Nova York despencou destacam-se o carvão mineral, o petróleo,
10%, negociado a US$ 66,15 no contrato com vencimento o gás natural e os minerais radioativos.
em janeiro –referência no mercado internacional. A cotação b) as fontes de energia modernas, de rendimento elevado,
é a menor desde 25 de setembro de 2009. respondem por quase metade da energia consumida atual-
O mercado respondeu à decisão da Opep (organização mente no mundo.
dos países exportadores) de manter a sua meta de produ- c) o petróleo foi a fonte de energia básica que garantiu
ção em 30 milhões de barris ao dia no primeiro semestre, a Revolução Industrial, a partir da segunda metade do século
mesmo diante de preços mais baixos nos últimos meses. XVIII.
Desde setembro, a commodity já vinha apresentando d) as fontes de energia utilizadas, variaram, através dos
queda superior a 30%. tempos, em função do desenvolvimento cultural e técnico-
Analistas interpretaram a decisão como uma tentativa científico das sociedades.
da Opep de conter o avanço da exploração de petróleo por e) o uso da energia alternativa, gerada pelo álcool, pelo
meio da técnica de fraturamento hidráulico, o chamado sol, ou ventos, é crescente, graças à baixo custo tecnológico
“fracking”, nos EUA. necessária à sua produção.

Fontes de energia 4) A produção e o consumo de energia, no Brasil, reve-


lam nitidamente o acelerado processo de modernização da
1) Para compreender o processo de exploração e o economia nacional. A partir da década de 40 do século XX, o
consumo dos recursos petrolíferos, é fundamental conhe- crescimento da produção e do consumo energético registrado
cer a gênese e o processo de formação do petróleo descri- no país acompanha as transformações estruturais na economia
tos no texto abaixo. “O petróleo é um combustível fóssil, brasileira. Em relação ao complexo hidroelétrico do Brasil, assi-
originado provavelmente de restos de vida aquática acu- nale a afirmativa INCORRETA.
mulados no fundo dos oceanos primitivos e cobertos por a) O consumo de eletricidade na região Centro-Oeste de-
sedimentos. O tempo e a pressão do sedimento sobre o pende de um amplo e complexo sistema de transmissão.
material depositado no fundo do mar transformaram esses b) A bacia hidrográfica do Paraná é a principal fornecedora
restos em massas viscosas de coloração negra denomina- de hidroeletricidade para as regiões Sul e Sudeste.
das jazidas de petróleo.” c) A criação da Companhia Hidroelétrica do São Francisco
(Adaptado de TUNDISI. “Usos de energia.” São Paulo: serviu de base energética para o crescimento industrial da re-
Atual Editora, 1991.) gião Nordeste.
d) A concentração espacial da indústria no Brasil não está
As informações do texto permitem afirmar que: relacionada à concentração espacial da demanda energética.
a) o petróleo é um recurso energético renovável a cur- e) As bacias do Amazonas e do Tocantins abrigam um po-
to prazo, em razão de sua constante formação geológica. tencial hidroelétrico estimado em mais do que o dobro da ca-
b) a exploração de petróleo é realizada apenas em pacidade geradora instalada no país.
áreas marinhas.
c) a extração e o aproveitamento do petróleo são ativi- 5) As porções escuras no mapa a seguir, indicadas pelas
dades não poluentes dada sua origem natural. setas, correspondem:
d) o petróleo é um recurso energético distribuído ho-
mogeneamente, em todas as regiões, independentemente
da sua origem.
e) o petróleo é um recurso não-renovável a curto pra-
zo, explorado em áreas continentais de origem marinha ou
em áreas submarinas.

2) Em usinas hidrelétricas, a queda d’água move tur-


binas que acionam geradores. Em usinas eólicas, os gera-
dores são acionados por hélices movidas pelo vento. Na
conversão direta solar-elétrica são células fotovoltaicas que
produzem tensão elétrica. Além de todos produzirem ele-
tricidade, esses processos têm em comum o fato de
a) não provocarem impacto ambiental.
b) independerem de condições climáticas. a) às maiores concentrações de urânio.
c) a energia gerada poder ser armazenada. b) às áreas com acumulações comerciais de petróleo.
d) utilizarem fontes de energia renováveis. c) aos terrenos cristalinos do escudo ricos em laterita.
e) dependerem das reservas de combustíveis fósseis. d) às maiores concentrações de sal marinho e de sal-gema.
e) aos terrenos sedimentares paleozóicos.

25
GEOGRAFIA

6) A energia nuclear é, até hoje, um assunto polêmico. Den- 8) As pressões ambientais pela redução na emis-
tre as críticas sobre a geração e a utilização, pode-se destacar: são de gás estufa, somadas ao anseio pela diminuição da
a) a localização das usinas deve ser perto dos grandes cen- dependência do petróleo, fizeram os olhos do mundo se
tros urbanos, visando a uma melhor distribuição da energia, o voltarem para os combustíveis renováveis, principalmente
que compromete a qualidade de vida dos habitantes devido à para o etanol. Líderes na produção e no consumo de eta-
intensa poluição gerada pelas chaminés. nol, Brasil e Estados Unidos da América (EUA) produziram,
b) o Brasil tem duas usinas nucleares construídas (Angra juntos, cerca de 35 bilhões de litros do produto em 2006.
I e II), que geram grande quantidade de resíduos radioativos Os EUA utilizam o milho como matéria-prima para a pro-
estocados em depósitos provisórios, o que é alvo de críticas por dução desse álcool, ao passo que o Brasil utiliza a cana-de
parte de ambientalistas. -açúcar. O quadro a seguir apresenta alguns índices relati-
c) o primeiro acidente em usinas nucleares, foi o de Cher- vos ao processo de obtenção de álcool nesses dois países.
nobyl. Antes, nenhum acidente havia sido registrado, mostran-
do que pouco se sabe sobre as causas dos acidentes bem como
as conseqüências da liberação da radioatividade na atmosfera.
d) para a obtenção da energia atômica utiliza-se o urânio,
material difícil de ser extraído e raro de ser encontrado. No Bra-
sil, não há reservas exigindo a necessidade de importação, en-
carecendo o processo energético.
e) por meio do beneficiamento do urânio e de sua utili-
zação, nos reatores nucleares, é possível a fabricação de bom-
bas nucleares não necessitando de grandes investimentos para
isso. Portanto, a preocupação de que o Irã venha a fabricar sua
bomba atômica, é procedente.

7) A matriz energética brasileira é considerada uma das


mais limpas do mundo, como mostra o gráfico a seguir (EPE -
Se comparado com o uso do milho como matéria-pri-
Empresa de Pesquisas Energéticas).
ma na obtenção do etanol, o uso da cana-de-açúcar é
a) mais eficiente, pois a produtividade do canavial é
maior que a do milharal, superando-a em mais do dobro
de litros de álcool produzido por hectare.
b) mais eficiente, pois gasta-se menos energia fóssil
para se produzir 1 litro de álcool a partir do milho do que
para produzi-lo a partir da cana.
c) igualmente eficiente, pois, nas duas situações, as di-
ferenças entre o preço de venda do litro do álcool e o custo
de sua produção se equiparam.
d) menos eficiente, pois o balanço energético para se
produzir o etanol a partir da cana é menor que o balanço
energético para produzi-lo a partir do milho.
e) menos eficiente, pois o custo de produção do litro
de álcool a partir da cana é menor que o custo de produção
a partir do milho.
A esse respeito, assinale a alternativa correta:
a) O uso predominante de fontes não renováveis pelos 9) Considerando-se as informações do texto da ques-
países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvi- tão anterior, é correto afirmar que
mento Econômico, que reúne trinta países, entre eles Turquia, a) o cultivo de milho ou de cana-de-açúcar favorece o
Polônia e México), caracteriza situação de certo atraso econô- aumento da biodiversidade.
mico e/ou de produção industrial mais antiga. b) o impacto ambiental da produção estadunidense de
b) Entre as principais fontes de energia não renováveis es- etanol é o mesmo da produção brasileira.
tão: petróleo, gás natural, carvão mineral, urânio e derivados. c) a substituição da gasolina pelo etanol em veículos
c) O uso de fontes renováveis, especialmente de biomassa automotores pode atenuar a tendência atual de aumento
para fins energéticos, é uma característica de países econômica do efeito estufa.
e ambientalmente mais avançados. d) a economia obtida com o uso de etanol como com-
d) Entre as principais fontes de energia renováveis estão: bustível, especialmente nos EUA, vem sendo utilizada para
energia hidráulica, energia nuclear, biomassa, e biogás. a conservação do meio ambiente.
e) Entre as fontes de energia que tendem a diminuir sua e) a utilização de milho e de cana-de-açúcar para a
participação nas matrizes energéticas, figuram a energia nu- produção de combustíveis renováveis favorece a preserva-
clear e o carvão mineral, por contribuírem com o aquecimento ção das características originais do solo.
global.

26
GEOGRAFIA

10) O desenvolvimento científico e tecnológico pos-


sibilitou a utilização de várias fontes de energia, retiradas
da natureza, que podem ser classificadas em renováveis e
não-renováveis. Sobre as formas de utilização, vantagens,
desvantagens e riscos ambientais, é possível afirmar, de
modo correto, que:
a) a maior parte das fontes energéticas utilizadas no
mundo atual é do tipo renovável, com destaque para a pro-
dução da energia eólica.
b) a hidreletricidade apresenta as vantagens da utili-
zação de um recurso natural renovável e da ausência de
impactos ambientais.
c) o carvão mineral apresenta a desvantagem de ser
uma fonte não-renovável, porém são poucos os danos que
acarreta à saúde e ao meio ambiente.
d) as novas tecnologias para a produção da biomassa
já estão disponíveis, porém esta fonte causa grandes im-
pactos negativos para o meio ambiente.
e) as perações de extração, refino e transporte do pe-
tróleo apresentam riscos de derramamento, que provoca
grandes prejuízos ao meio ambiente.

11) Nos últimos anos, a política energética brasileira


vem apontando a necessidade de diversificação da matriz
energética, fazendo com que sejam ampliados os investi-
mentos em fontes de energia renováveis como, por exem-
plo,
a) gás natural, petróleo, energia eólica e energia nu-
clear.
b) petróleo, energia solar, energia geotérmica e energia
eólica.
c) gás natural, energia geotérmica, energia hidrelétrica
e energia biológica.
d) energia eólica, energia biológica, energia solar e
energia hidrelétrica.
e) energia biológica, energia nuclear, energia eólica e
gás natural.

12) A adoção de usinas nucleares para gerar energia


voltou ao debate no Brasil em função da anunciada crise
energética. Entre as implicações mais graves que este mo-
delo de geração de energia cria, está
a) o aumento do poder militar do Brasil, que ganhará
um posto no Conselho de Segurança da ONU.
b) o lixo atômico, cuja atividade prolonga-se por ge-
rações.
c) a ameaça de explosão por ambientalistas radicais.
d) a obrigação do país de não produzir armas nuclea-
res, que mantém o ‘status quo’ nuclear mundial.
e) o risco de acidentes fatais, dado o vazamento fre- Industria
qüente de material radioativo.

1-E,2-D,3-D,4-D,5-B,6-B,7-B,8-A,9-C,10-E, 11-D, 12-B

27
GEOGRAFIA

1) A economia pós-industrial, que caracteriza as duas 5) Analise os seguintes itens:


últimas décadas do séc. XX, ameaça reverter as conquistas I - Robotização da produção.
sindicais que foram alcançadas, especialmente na Europa Oci- II - Especialização e qualificação da mão-de-obra.
dental, durante as décadas de forte crescimento econômico III - Colonização da África e América Latina para suprimento
do pós-Segunda Guerra Mundial. Isso se deve à das necessidades de novos mercados e matérias-primas.
a) flexibilização da legislação trabalhista, mediante a am- IV - Emprego do petróleo e da eletricidade como fontes de energia.
pliação dos empregos temporários, como resultado das lutas V - Introdução de novos materiais: fibra óptica e cerâmica.
sindicais. Os itens correspondentes à Terceira Revolução Industrial
b) produção do desemprego estrutural, em virtude da são apenas
maior participação do setor secundário na economia. a) I e III.
c) flexibilização das relações de trabalho e à diminuição b) III e IV.
dos custos de produção, as quais decorrem da reorganização c) I, II e V.
da produção. d) II, IV e V.
d) busca de estratégias para redução de custos fixos, des-
tacando os encargos trabalhistas e a manutenção de hierar- 6) A questão está relacionada ao gráfico e às afirmações a
quias no emprego industrial. seguir.
2) Os plásticos, por sua versatilidade e menor custo rela-
tivo, têm seu uso cada vez mais crescente. Da produção anual
brasileira de cerca de 2,5 milhões de toneladas, 40% desti-
nam-se à indústria de embalagens. Entretanto, este crescente
aumento de produção e consumo resulta em lixo que só se
reintegra ao ciclo natural ao longo de décadas ou mesmo de
séculos.
Para minimizar esse problema uma ação possível e ade-
quada é
a) proibir a produção de plásticos e substituí-los por ma-
I. Apesar de continuar liderando o setor industrial, o Sudeste
teriais renováveis como os metais.
tem perdido inúmeros estabelecimentos, que buscam novas áreas.
b) incinerar o lixo de modo que o gás carbônico e outros
II. Um dos fatores que explicam a migração de indústrias para
produtos resultantes da combustão voltem aos ciclos naturais.
outras regiões brasileiras é a chamada “guerra fiscal” entre os estados.
c) queimar o lixo para que os aditivos contidos na compo-
III. A migração das indústrias para outros centros está rela-
sição dos plásticos, tóxicos e não degradáveis sejam diluídos
no ar. cionada à busca de locais que apresentem sindicatos de traba-
d) estimular a produção de plásticos recicláveis para redu- lhadores bem organizados.
zir a demanda de matéria-prima não renovável e o acúmulo IV. O crescimento industrial das regiões Sul e Centro-Oeste
de lixo. pode ser explicado, em parte, pela proximidade com os nossos
e) reciclar o material para aumentar a qualidade do pro- parceiros do Mercosul.
duto e facilitar a sua comercialização em larga escala. V. As indústrias que migram da região Sudeste têm procu-
rado melhores suprimentos de energia e redes de transporte
3) O processo de industrialização tardia verificado após a mais eficientes em outras regiões.
Segunda Guerra Mundial promoveu A leitura do gráfico e os conhecimentos sobre a economia bra-
a) uma divisão territorial do trabalho baseada na troca de- sileira permitem afirmar que estão corretas somente as afirmações
sigual de commodities. a) I, II e III.
b) a reunião de líderes de países pobres contra o capital b) I, II e IV.
internacional. c) I, III e V.
c) uma articulação produtiva entre núcleos de países cen- d) II, III e V.
trais e de países pobres. e) III, IV e V.
d) a atuação decisiva de países periféricos no Conselho de
Segurança da ONU. 7) Considere a imagem a seguir: Carro alegórico, de Dalcío,
e) uma frente de países ricos que atuou pela libertação publicada no Correio Popular.
colonial dos povos.

4) Com a Terceira Revolução Industrial, a nova divisão do


trabalho estabeleceu uma classificação dos países capitalistas,
segundo o domínio de cada um sobre
a) os recursos minerais.
b) o conhecimento técnico-científico.
c) as fontes de energia.
d) as indústrias de bens duráveis.

28
GEOGRAFIA

A leitura atenta da charge permite afirmar que se trata 11)


de uma crítica
a) às escolas de samba que ainda mantêm carros alegóricos
tocados a força humana numa época de significativo conheci-
mento tecnológico.
b) à tendência ecológica das escolas de samba e dos car-
navalescos que vêm optando pela utilização de adornos de ori-
gem vegetal mais do que de origem animal.
c) ao mau funcionamento dos automóveis flex, tanto com
gasolina quanto com álcool, novidade recentemente introduzi-
da pela indústria automobilística.
d) aos motoristas desavisados que se esquecem de abaste-
cer seus automóveis, causando prejuízo ao tráfego de veículos
durante o Carnaval.
e) à alta dos preços do álcool combustível que tomou de
supresa os proprietários de automóveis movidos a álcool.

8) Sobre o processo de industrialização brasileiro, são feitas Com o auxílio do gráfico e considerando seus conhe-
as seguintes afirmações. cimentos, é possível afirmar que, no período representado,
I - A partir de 1930, começa um importante projeto de criação a) a região sul mostra sensível decréscimo das taxas de
de infra-estrutura para o desenvolvimento do parque industrial. produção industrial, fato que provoca êxodo da população
II - A partir da Segunda Guerra Mundial, acentua-se o pro- em busca de emprego nas atividades agrárias.
cesso de estatização das indústrias na Região Sudeste. b) a região sul apresenta taxas altas e baixas de cres-
III - A partir de 1964, amplia-se o parque industrial para cimento, devido ao esgotamento do modelo baseado em
atender a demanda da modernização da agricultura. indústrias alimentícias.
Quais estão corretas? c) os estados selecionados do Nordeste revelam ten-
a) Apenas I. dência à estagnação da produção industrial e à retração
b) Apenas II. das atividades agrárias.
c) Apenas III.
d) os dados apontam para o fenômeno da desconcen-
d) Apenas I e III.
tração industrial no Sudeste, em razão da liderança assumi-
e) Apenas II e III.
da pelo agronegócio nessa região.
9) No que se refere à industrialização brasileira, assinale o e) a região sudeste ainda apresenta concentração in-
INCORRETO. dustrial expressiva, apesar da diminuição das taxas de cres-
a) Após a Segunda Guerra Mundial, a queda na capacidade cimento de parte de seus estados.
de importação, em virtude da dificuldade cambial e das crises
no comércio internacional, leva a industrialização brasileira a 1-C,2-D,3-C,4-B,5-C,6-B,7-E,8-D,9-E,10-A,11-E
inaugurar o processo de substituição de importações.
b) Além da crise econômica mundial, um dos fatores que
contribuíram para o impulso da atividade industrial foi a subor-
dinação ao capital açucareiro paulista que, no início do século
XX, dominava a pauta das exportações.
c) A crescente diferenciação intra-regional, sobretudo entre o
Nordeste e as demais regiões brasileiras, ensejou um projeto de
industrialização de base autônoma proposto pelo GTDN/SUDENE.
d) O capital industrial, originado ainda no final do século XIX,
foi uma conseqüência da acumulação do capital no setor cafeeiro.

10) A desconcentração industrial verificada no Brasil, na úl-


tima década, decorre, entre outros fatores, da:
a) ação do Estado, por meio de políticas de desenvolvimen-
to regional, a exemplo da Zona Franca de Manaus.
b) elevação da escolaridade dos trabalhadores, o que torna todo
o território nacional atraente para novos investimentos industriais.
c) presença de sindicatos fortes nos Estados das regiões Sul
e Sudeste, o que impede novos investimentos nessas regiões.
d) isenção fiscal oferecida por vários Estados, associada à
baixa remuneração da mão-de-obra local.
e) globalização da economia, que, por meio das privatizações,
induz o desenvolvimento da atividade industrial em todo o território.

29
GEOGRAFIA

Agricultura

Texto : Folha de São Paulo

A agricultura tornou-se grande fonte de receita para o Brasil. Muitas razões levaram a indústria a perder espaço: as
políticas econômicas tiveram foco no macro enquanto, no micro, tomamos direções erradas; nossa integração à economia
internacional é baixa; o mundo mudou e ficamos fixados em realidades que não evoluíram: o Mercosul e as negociações na
OMC; atraímos investimentos diretos que miram os mercados interno e sub-regional e pouco contribuem para aumentar
nossa inserção na economia internacional.
Isso sem falar no financiamento de longo prazo concentrado no BNDES, na taxa de poupança sempre baixa, no quadro
tributário movido apenas pelo imperativo político de aumentar gastos, no reduzido apetite de empresários para conquistar
um cenário externo crescentemente desafiador.
Na agricultura, evoluímos. Com a intermediação das tradings multinacionais conquistamos o mercado chinês. Melhora-
mos a eficiência governamental e soubemos responder, com alguma agilidade, aos obstáculos que se apresentaram.
O exemplo das exportações para a China é relevante. O sucesso da soja é incontestável. Até outubro deste ano, forne-
cemos 28,5 milhões das 52,7 milhões de toneladas importadas pelos chineses. No açúcar, fornecemos 1,5 das 2,4 milhões
de toneladas compradas pela China.
Em carne bovina, de janeiro a setembro, exportamos 158 milhões de toneladas para Hong Kong, enquanto a China
continental, para onde não exportamos de tudo porque a carne brasileira estava sob embargo, importou, no total, 116 mi-
lhões de toneladas. Fomos, no mesmo período, o terceiro maior exportador de celulose e o quarto exportador de algodão
para o mercado chinês.
O risco é nos contentarmos com os resultados. O caso da soja, por exemplo: nos primeiros dez meses de 2014, au-
mentamos o volume das exportações para a China em 4%, enquanto os EUA aumentaram 38,35%, a Argentina, 28,32% e
o Canadá, 22,41%.
Os americanos estão se movendo, levando os produtores a interagir mais com os compradores, algo que não fazemos.
Em carne bovina, não podemos ficar tão dependentes das entradas via Hong Kong. A China faz vista grossa para essa trian-
gulação, mas não será para sempre.

30
GEOGRAFIA

Nossas exportações de algodão para o mercado chinês c) o uso de produtos agrícolas transgênicos é questio-
de janeiro a outubro tiveram queda de 45% em relação ao nado e proibido em todo o mundo, por seus efeitos sobre a
mesmo período de 2013. saúde humana serem ainda desconhecidos.
Fornecemos apenas 0,2% da carne de porco e 4,2% do d) enquanto no mundo desenvolvido aumenta o uso de
café importados pelos chineses. O mercado de café, segun- mão-de-obra na agricultura, o êxodo rural esvazia perma-
do um estudo da OIC (Organização Internacional do Café), nentemente o campo, nos países subdesenvolvidos.
cresce 12,8% ao ano. O consumo médio per capita é de 25 e) a atuação do MST contribuiu para a redução da con-
gramas, enquanto em outros países esse número vai a 12 centração fundiária que é marco principal da reforma agrária
kg. Quando ocuparemos maior espaço? que está sendo efetivada no Brasil.

1) O máximo de produção agrícola com total aprovei- 4) Embora a pecuária seja a atividade econômica domi-
tamento do solo é obtido através do sistema: nante no Sertão, realiza-se também o cultivo de:
a) roça a) Laranja.
b) extensivo b) Algodão.
c) primitivo c) Café.
d) intensivo d) Cacau.
e) itinerante e) Hortaliças.

2) Analise o desenho 5) O principal estado brasileiro na produção de cacau,


localizado no Nordeste.
a) Pernambuco.
b) Bahia.
c) Sergipe.
d) Alagoas.
e) Maranhão.

6) Tipo de agricultura introduzida no Brasil pelos colo-


nizadores, normalmente monocultura de produtos tropicais:
a) Sistema agrícola extensivo.
b) Sistema agrícola intensivo.
c) Agricultura de subsistência.
d) Plantation.
e) Horticultura.
Sobre os fatores que explicam a perda anual do solo,
podemos afirmar que: 7) Após a derrubada de mata, segue-se a queimada ou
I - os desmatamentos nas regiões tropicais destroem o coivara e a seguir, a limpeza do terreno e o plantio; este sis-
sistema de armazenamento e reciclagem dos nutrientes e tema leva a um esgotamento precoce do solo e seu poste-
expõem o solo desprotegido à ação das chuvas. rior abandono. O sistema agrícola refere-se a:
II - a ocupação das formações campestres das regiões a) plantation.
temperadas pela agricultura empresarial tem provocado b) intensivo
graves impactos ambientais. c) itinerante ou roça.
III - a retirada da cobertura vegetal para uso agrícola, d) jardinagem.
nas regiões semi-áridas, acelera a velocidade do escoa- e) rotação de culturas.
mento superficial, o que aumenta a erosão dos solos.
8) Produto que desbravou o interior de São Paulo, vindo
Assinale: do vale do Paraíba, trata-se:
a) se somente a afirmativa I estiver correta. a) laranja.
b) se somente a afirmativa III estiver correta. b) milho.
c) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas. c) café.
d) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas. d) algodão.
e) se as afirmativas I, II e III estiverem corretas. e) soja.

3) Sobre a atividade agropecuária, no Brasil e no mun- 9) Região pecuarista por excelência, com predomínio de
do, é possível afirmar, de forma correta, que: grandes propriedades e caracterizada pela pecuária bovina
a) com a modernização das técnicas agrícolas e o uso de corte:
da biotecnologia, elevaram-se os índices de produtividade a) Norte.
agrícola e a quantidade de trabalhadores rurais no mundo. b) Nordeste.
b) nos países subdesenvolvidos, o progresso técnico- c) Sudeste.
científico atingiu a atividade com mais intensidade nas re- d) Sul.
giões especializadas na produção para o mercado externo. e) Centro-Oeste.

31
GEOGRAFIA

10) Um agricultor adquiriu alguns alqueires de terra c) A criação extensiva de gado foi a atividade que mais
para cultivar e residir no local. O desenho a seguir repre- envolveu o homem rural, evitando a saída para os gran-
senta parte de suas terras. des centros urbanos, em função da ocupação intensiva da
mão-de-obra.
d) As cidades, a partir da mecanização do campo, con-
centraram um grande número de pessoas no setor informal
de trabalho, resultado do êxodo rural.
e) Com o êxodo rural, a favelização aumenta nas gran-
des cidades, o centro urbano se amplia, o setor secundário
da economia incha e os sindicatos se reforçam.

12) A “explosão da soja”, no Brasil, foi resultado

Pensando em construir sua moradia no lado I do rio


e plantar no lado II, o agricultor consultou seus vizinhos e
escutou as frases a seguir. Assinale a frase do vizinho que
deu a sugestão mais correta.
a) “O terreno só se presta ao plantio, revolvendo o solo
com arado”
b) “Não plante neste local, porque é impossível evitar
a erosão” a) da pesquisa realizada pela EMBRAPA que possibili-
c) “Pode ser utilizado, desde que se plante em curvas tou a expansão da soja pelas fronteiras agrícolas.
de nível” b) da agricultura familiar difundida pelo MST que ado-
d) “Você perderá sua plantação, quando as chuvas pro- tou a agricultura empresarial da soja nos seus assentamen-
vocarem inundação” tos.
e) “Plante forragem para pasto” c) das informações fornecidas pelo SIVAM que moni-
tora as condições de produção da soja na Amazônia Oci-
11) Responder à questão com base no desenho refe- dental.
rente a um determinado lugar no Brasil d) da estrutura fundiária criada pela SUDENE que per-
mitiu o acesso à terra dos pequenos e médios produtores
de soja do semi-árido nordestino.
e) da pesquisa feita pelo INPE que permitiu o controle
do movimento das massas de ar nas áreas de cultivo.

13) O uso intensivo de defensivos agrícolas contribui


para a
a) porosidade do solo, retirando microorganismos do
horizonte B.
b) descontaminação de aqüíferos, eliminando bactérias
que vivem na água.
.
A ilustração representa uma ruptura do sistema agrí- c) secagem do solo hidromórfico, ampliando a área
cola brasileiro, ao mesmo tempo em que, na organização agricultável.
urbana, modificam-se as relações cotidianas. A afirmativa d) lixiviação do solo em terrenos íngremes, permitindo
que caracteriza corretamente essa situação é: o cultivo em terraços.
a) As propriedades que produzem alimentos tendem a e) degradação do solo, devido à concentração de po-
crescer, “expulsando” os trabalhadores rurais, os quais, sem luentes.
tecnologia, buscam empregos nas transnacionais, fixando
residência junto a essas empresas. 1-D,2-E,3-B,4-B,5-B,6-D,7-C,8-C,9-E,10-C,11-D,12-A,-
b) As propriedades próximas aos centros urbanos fo- 13-E
ram as primeiras a serem abandonadas, por terem sido
desvalorizadas pela ampliação da mancha urbana, que pro-
vocou uma significativa migração.

32
GEOGRAFIA

Com base na figura, no e nos conhecimentos de Geogra-


GEOGRAFIA DO BRASIL: fia regional, assinale a alternativa correta.
REGIÕES BRASILEIRAS:
ASPECTOS FÍSICOS; ASPECTOS
HUMANOS; ASPECTOS POLÍTICOS;
ASPECTOS ECONÔMICOS.

a) O Centro-Sul é a região mais desenvolvida do país, por-


que foi a primeira a ser ocupada desde o início da colonização.
b) O norte do estado de Minas Gerais integra o complexo
regional nordestino porque apresenta características ambien-
tais e sócio-econômicas típicas do semi-árido nordestino.
c) Apesar das políticas de povoamento e de desenvolvi-
mento regional implementadas pela SUDAM desde os anos
50, a Amazônia continua se distinguindo por ser um vazio de-
mográfico.
d) A industrialização intensiva de áreas do Centro-Sul,
como São Paulo e Rio de Janeiro, é devida à imigração euro-
péia, sobretudo de origem italiana.
e) O Nordeste é uma região distinta das demais por apre-
sentar economia estagnada e população em declínio, devido
às migrações motivadas pela seca.

2) Entre os fatores de concentração industrial do Sudeste


podemos citar, exceto:
a) acúmulo de capital comercial.
b) mão-de-obra abundante.
c) rede de transporte bem estruturada.
d) grande mercado consumidor.
e) grandes jazidas carboníferas.

3) Na região Sudeste, encontramos a bacia hidrográfica


de maior produção energética do país, estando também apta
para o transporte de mercadorias através de um sistema de
eclusas. Trata-se da bacia:
a) do Paraná.
b) do São Francisco.
c) do Paraguai.
1) Uma das formas de regionalização trabalhadas pelos d) do Tocantins.
geógrafos divide o Brasil em três Complexos Regionais ou e) do Uruguai.
Regiões Geoeconômicas, quais sejam: Centro-Sul, Nordes-
te e Amazônia. Essa divisão toma por base os processos 4) O principal estado brasileiro na produção de cacau, lo-
históricos mais gerais de formação do território nacional, calizado no Nordeste.
com destaque para os processos de povoamento e de ocu- a) Pernambuco.
pação econômica do espaço. Ao contrário da divisão oficial b) Bahia.
do país em grandes regiões, elaborada pelo IBGE, os limites c) Sergipe.
regionais dessa divisão tripartite nem sempre coincidem d) Alagoas.
com os limites estaduais. e) Maranhão.

33
GEOGRAFIA

5) Primeiro estado nordestino e brasileiro na produção 10) As primeiras lavouras mecanizadas no estado do
de sal marinho: Rio Grande do Sul, que datam do começo do século XX
a) Ceará. e que permanecem economicamente importantes para o
b) Piauí. estado, são as de
c) Alagoas. a) arroz e milho.
d) Rio Grande do Norte. b) arroz e soja.
e) Bahia. c) trigo e soja.
d) soja e milho.
6) A pobreza no Brasil tem forte componente regional. e) arroz e trigo.
No que se refere à distribuição da pobreza no Nordeste,
pode-se afirmar que está relacionada à(ao) 11) Qual o setor econômico que mais emprega na re-
a) presença marcante de latifúndios com o uso intensi- gião Centro-Oeste?
vo de técnicas avançadas. a) primário.
b) presença marcante de minifúndios e de uma agricul- b) secundário.
tura basicamente comercial. c) terciário.
c) modelo de ocupação colonial com a estrutura fun- d) secundário e terciário.
diária caracterizada pela predominância de médias e pe- e) secundário e primário.
quenas propriedades.
d) modelo de ocupação territorial com a estrutura fun- 12) Considere as frases:
diária caracterizada pela concentração de terra e pela mo- I - Relevo de terras baixas, com predomínio de áreas de
nocultura. deposição sedimentar
II - Clima tropical equatorial
7) Considerando-se a posição geoeconômica e política III - Hidrografia rica em rios, devido às condições na-
ocupada pela Região Nordeste, hoje, no Brasil, é INCORRE- turais da região
TO afirmar que essa região se caracteriza por Sobre a Região Norte, são verdadeiras:
a) significativa mobilidade intra-regional de popula- a) I, II, III
ções atraídas pelo maior dinamismo econômico das me- b) I, II
trópoles Salvador, Recife e Fortaleza. c) I, III
b) autonomia no controle de suas atividades econômi- d) II, III
cas, que se traduz em independência em relação à região e) nenhuma das frases
de economia mais dinâmica do País.
c) importância, no plano político nacional, despropor- 13) A área do Sudeste ocupada pelo clima semi-árido
cional a seu peso econômico quando comparada ao papel situa-se:
exercido pelo Centro-Sul do País. a) norte de São Paulo.
d) relativo declínio da participação de seu setor agro- b) sul de Minas Gerais.
pecuário no contexto nacional, sobretudo no que se refere c) norte de Minas Gerais.
à produção de algodão e de cana-de-açúcar. d) norte do Espírito Santo.
e) sul de São Paulo.
8) O fato de ser o clima da região Sul do tipo subtropi-
cal é explicado: 14) Na região Norte o clima é muito quente e úmido, o
a) pelo relevo. que se deve a sua localização geográfica e a presença da:
b) pelo movimento de rotação da terra. a) Floresta equatorial.
c) pelas formações vegetais. b) Floresta tropical.
d) pela posição geográfica c) Floresta subtropical.
e) pela hidrografia d) A caatinga.
e) Ao cerrado.
9) O pinheiro-do-paraná é encontrado principalmente:
a) no Cerrado.
b) na Floresta Tropical. 1-B,2-E,3-A ,4-B,5-D,6-D,7-B,8-D,9-C,10-E,11-A ,-
c) na Mata de Araucárias. 12-A,13-C,14-A
d) na Mata Atlântica.
e) nos Campos Limpos.

34
GEOGRAFIA

(um celular, por exemplo) é desenvolvido na sede da empre-


sa nos EUA, alguns componentes são produzidos na China e na
GEOGRAFIA GERAL: AS RELAÇÕES
Índia com matéria prima vinda do Brasil, montado e encaixotado
ECONÔMICAS NO MUNDO MODERNO:  no México de onde será distribuído. Como as grandes corpora-
A CRISE ECONÔMICA MUNDIAL;  ções realizam investimentos muito grandes nos países subde-
OS BLOCOS ECONÔMICOS; A QUESTÃO DA senvolvidos, estes procuram atrair os investimentos oferecendo
MULTIPOLARIDADE. A vantagens produtivas às empresas, como: mão de obra barata,
GLOBALIZAÇÃO. FOCOS DE TENSÃO E matéria prima, mercado consumidor, e infraestrutura (energia,
CONFLITOS MUNDIAIS. transportes, portos, barracões). A dependência econômica dos
países subdesenvolvidos é tanta que muitas vezes tornam-se
dependentes dos investimentos das multinacionais, que acabam
por influenciar demasiadamente na política destes países, a pon-
to de podermos considerar que tem ocorrido uma diminuição
do poder dos Estados Nacionais e um aumento da influencia das
grandes corporações.

Globalização e as políticas neoliberais.


São características gerais da globalização:
Após a decadência da URSS em 1991 tem inicio o pe-
 Multipolaridade. (há três pólos de poder capitalista
ríodo que conhecemos como a nova ordem mundial ou a no mundo: EUA, Alemanha e Japão). Cada potência possui sua
ordem da Globalização. principal área de influência em que investem capitais e domi-
Globalização é o processo em que o espaço mundial nam o mercado. A área de influência direta dos EUA é todo o
adquire unidade através de um crescente fluxo de merca- continente americano, principalmente a América Latina (todos
dorias, capitais e informações, possíveis devidos aos avan- países do México à argentina). A Alemanha domina o mercado
ços tecnológicos da 3ª Revolução Industrial (revolução europeu. Como bloco a Europa domina os investimentos no
tecno-cientifica: desenvolvimento da informática e das te- continente africano e o Japão o continente asiático. As áreas
lecomunicações). de influência não são rígidas, ou seja um mesmo pais pode
Na globalização ocorre a hegemonia do capitalismo fi- receber investimento de vários países desenvolvidos.
nanceiro, e os grandes bancos mundiais e as grandes corpo-  Predomínio do capitalismo financeiro.
rações (multinacionais) são os atores que dominam a cena.  Predomínio do Toyotismo.
Os grandes bancos mundiais como o FMI (fundo monetário  Profundos avanços tecnológicos da 3° Revolução
internacional), BIRD (banco internacional de reconstrução e Industrial.
desenvolvimento) e Banco Mundial orientam suas políticas  Diminuição do poder dos Estados Nacionais em
financeiras através dos princípios do neoliberalismo, que detrimento às grandes corporações.
prega a intervenção mínima do Estado na economia. Há a  Formação de Blocos econômicos regionais. São ten-
OMC que é um tribunal internacional, que só tem poder de tativas de realizar a integração econômica e dinamizar a eco-
recomendação, e também pauta suas decisões com base no nomias dos países. São uma importante tendência da globali-
neoliberalismo, condenando práticas protecionistas e outras zação. Podemos citar:
barreiras ao comércio mundial. As grandes corporações mul- -O bloco pioneiro foi a U.E (União Européia), que come-
tinacionais hoje possuem um poder imenso. Movimentam çou a se formar logo depois da II Guerra e tem se ampliado des-
um gigantesco volume de investimentos por todo o planeta. de 1991 quando adotou a moeda única, o euro. Hoje possui 28
Na globalização predomina o toyotismo, também chamado países. Tenta se recuperar da crise econômica iniciada em 2010.
de “acumulação flexível de capital”. No toyotismo a pro- -NAFTA. Formado pelo Canadá, EUA e México.
dução é descentralizada, ou seja: Um produto é desenvolvido -MERCOSUL: Formado por Brasil, Argentina, Paraguai
pela sede normalmente localizada em um país desenvolvido (que esteve suspenso por dois anos devido a um golpe po-
e a produção ocorre em várias partes do planeta, onde tive- lítico interno, o que significa um desrespeito à democracia),
rem melhores vantagens. Por exemplo: Um produto qualquer Uruguai e Venezuela.

35
GEOGRAFIA

Neoliberalismo

O neoliberalismo é um conjunto de práticas econômicas e


políticas baseadas em um princípio teórico que prega a inter-
venção mínima (ou não intervenção para alguns) do Estado na
economia. Os neoliberais partem do princípio que o Estado não
é um bom administrador, portanto não deve possuir empresas,
então para melhorar a eficiência devem privatizá-las (vende-las,
tornadas privadas). Defendem também que o Estado deve re-
duzir ao máximo seus gastos e retirar barreiras/entraves eco-
nômicos para os investimentos estrangeiros. A aplicação destas
políticas levanta muitas polêmicas. A maior parte dos gastos de
um país, normalmente são no setor social (em benefício da po-
pulação), como gastos com aposentadoria, saúde e educação Conflitos atuais
pública, então ao tentar reduzir os gastos, o Estado acaba por Na atualidade vivemos num mundo cheio de conflitos.
tomar medidas que prejudicam os trabalhadores mais pobres, Existem conflitos étnicos, separatistas, guerras civis, funda-
como por exemplo, diminuir ou tentar eliminar os direitos tra- mentalismo religioso, terrorismo e ainda a proliferação e ris-
balhistas. São contra também qualquer tipo de apoio social do co de uso de armamentos nucleares e armas químicas. Va-
Estado para a população mais pobre, e defendem sobretudo a mos citar os mais importantes deles:
retirada de impostos para as grandes empresas.  Conflitos no Oriente Médio:
1- Guerras entre árabes e Israelenses. Este conflito
Crises econômicas: Crise econômica dos EUA teve início ocorre desde 1848 quando ocorreu a fundação do Estado de
em 2008 e começou no setor imobiliário, depois de um perío- Israel no território palestino e não foi fundado o Estado Pa-
do de grande especulação financeiro. Os juros subiram muito e lestino. Desde de então já ocorreram várias guerras entre os
as prestações dos imóveis também. Os compradores mais po- israelenses e os palestinos que estão nos territórios da faixa
bres não conseguiram pagar as dividas, não pagam os bancos de Gaza e Cisjordânia.
e virou um efeito dominó. Apesar da recuperação os EUA ainda 2- Iraque. É uma região conflituosa desde a década de
hoje estão em esforços para combater os efeitos da Crise, que 80 na primeira Guerra do Golfo. Foi invadido em 2003 pe-
foi combatida com pacotes econômicos do governo para con- los EUA sob o argumento que usavam armas químicas. Elas
trolar a crise. nunca foram encontradas. A ONU vetou a invasão e foi de-
sobedecida. Permaneceram em guerra até 2007. Depois da
desocupação militar norte americana, foi aberto espaço para
grupos fundamentalistas como é o caso do ISIS ou Estado Is-
lâmico, que tomaram o poder no norte do Iraque e no sul da
Síria. São contra a cultura ocidental e seus valores e fundaram
um Califado Islâmico.
3- Irã. Possui um programa nuclear que eles alegam
que possui fins pacíficos, mas o argumento não é aceito por
Israel e EUA, que o pressionam para parar o programa.

 Africa:
1- Várias guerra civis entre tribos, principalmente por
disputas étnicas e religiosas. Algumas delas chega a matar
milhões de pessoas como foi a Guerra Civil do Congo, ou
a divisão do país como ocorreu no Sudão que se dividiu em
dois países.
2- Fundamentalismo religioso do Grupo Boko Haran, Um
grupo extremista islâmico no norte da Nigéria, que realiza
seqüestros e atos terroristas.
A crise na Europa é diretamente ligada a da crise norte
americana de 2008 e de grandes gastos públicos (as receitas
não pagam as despesas).Os principais países em crise são os
PIIGS (Portugal, Itália, Grécia e Espanha).

1) A partir de 1989, a América Latina incorpora o neo-


liberalismo. Este modelo, contestado por diferentes grupos
e movimentos sociais, caracterizou-se, neste continente, por:
a) atenuar as diferenças sociais e a dependência em re-
lação ao capital internacional, ofertando o pleno emprego.

36
GEOGRAFIA

b) estimular o desenvolvimento do campo social e po- a) A ascensão da hegemonia norte-americana no mun-


lítico e implementar uma sociedade mais justa e igualitária. do impõe uma lógica de integração baseada na perspectiva
c) diminuir o poder da iniciativa privada transnacional, do mercado capitalista.
mediante a intervenção do Estado a favor da burguesia na- b) O surgimento das teses neoliberais sugere a integra-
cional. ção dos mercados como meio e fim da integração cultural.
d) ter uma base econômica formada por empresas pú- c) Devido à crise do Estado do Bem Estar Social, há uma
blicas que regularam a oferta e a demanda, assim como o diminuição do papel do Estado nas economias capitalistas.
mercado de trabalho. d) O fortalecimento das economias socialistas propõe a
e) instaurar um conjunto de idéias políticas e econômi- defesa de um Estado forte a partir de seu grupo étnico domi-
cas capitalistas que defendeu a diminuição da ingerência do nante.
Estado na economia. e) A globalização é caracterizada pelo toyotismo e pelo
neoliberalismo
2) No final do século passado, a falência do socialismo
real na Europa, o fim da Guerra Fria e a emergência dos 5) Ao surgir nos Estados Unidos, no começo da década
blocos econômicos internacionais (NAFTA, UE etc.) prin- de 1980, o termo “globalização” significava uma liberalização
cipiaram uma nova ordem mundial que ficou conhecida planetária das trocas comerciais. Na década de 1990, além do
como globalização. Sobre esta nova ordem mundial, é cor- campo econômico, a concepção estendeu-se à intensa e iné-
reto afirmar que: dita circulação mundial da cultura e da informação, dotada de
a) foi bloqueada pelo imperialismo associado ao capi- uma certa homogeneização.
tal financeiro. Em relação ao fenômeno descrito no texto apresentado,
b) esgotou-se na revolução comercial mercantilista du- considere as seguintes afirmações.
rante o Antigo Regime. I - A derrocada do consumismo no leste europeu e a in-
c) trouxe uma nova dinâmica para a economia, tornan- tensificação da abertura da economia pela China contribuíram
do mais fluida a circulação do capital financeiro. para uma maior unificação dos mercados mundiais.
d) acabou com as fronteiras nacionais, dando total li- II - A revolução das comunicações, especialmente com a
Internet, acentuou a dimensão cultural da globalização.
berdade de locomoção às pessoas e mercadorias.
III - Um dos sustentáculos da globalização são as empresas
e) tornou-se inevitável em decorrência do avanço de
transnacionais.
novas tecnologias de armazenamento e veiculação da in-
Quais estão corretas?
formação.
a) Apenas II.
b) Apenas I e II.
3) A queda do Muro de Berlim provocou não só o fim
c) Apenas I e III.
da Guerra Fria, mas também a instauração de um novo
d) Apenas II e III.
mundo baseado em novas relações econômicas e geopolí-
e) I, II e III.
ticas dominadas pelo capitalismo.
A Nova Ordem Internacional, ou Globalização que se 6) A propósito do fenômeno da globalização, é correto
instaurou, conforme a afirmação acima, tem como caracte- afirmar que ele
rísticas fundamentais: a) propiciou a recuperação da economia dos Estados Uni-
a) o fortalecimento do “Estado de bem-estar”, o desen- dos, que logrou uma balança comercial favorável desde então.
volvimento de políticas públicas e a eliminação de barreiras b) permitiu um acelerado avanço econômico por parte de
protecionistas alguns países em desenvolvimento.
b) o fechamento das fronteiras nacionais ao capital es- c) logrou criar postos de trabalho nos setores dinâmicos, os
peculativo, o investimento maciço na agricultura e a gera- quais absorveram amplamente os desempregados dos setores
ção do emprego tradicionais.
c) a ampliação do papel do Estado protecionista, a cria- d) promoveu a abertura do comércio de produtos agríco-
ção de uma moeda-padrão internacional e o fortalecimen- las, com o fim dos subsídios nos países desenvolvidos.
to das culturas nacionais e) eliminou os entraves à transferência de tecnologias
d) a busca do “Estado mínimo”, a formação de blocos avançadas, hoje repassadas aos países em desenvolvimento.
econômicos supranacionais e a eliminação das barreiras
protecionistas 7) Como resultado das recentes transformações econômi-
e) a formação de blocos com propósitos belicistas, a cas ocorridas no espaço mundial, hoje duas tendências convi-
intensificação da produção industrial e uma forte barreira vem e conflitam. Uma é a globalização dos mercados, estimu-
ao capital especulativo lando o fluxo planetário das mercadorias. A outra é a de regio-
nalização econômica, na atualidade melhor definida a partir da:
4) O mundo globalizado organiza o Estado-Nação sem a) divisão regional do mundo em países do norte (de-
as antigas delimitações fronteiriças e independente das di- senvolvidos) e países do sul (subdesenvolvidos).
ferenciações étnicas, diferentemente do que acontecia no b) formação de organismos supranacionais que permi-
século XIX e na maior parte do século XX. Sobre essa nova tem uma melhor distribuição dos lucros e investimentos
realidade, é correto afirmar, EXCETO: internacionais.

37
GEOGRAFIA

c) Formação de blocos e megablocos econômicos que 11) Sobre a globalização, NÃO é correto afirmar que
atuam como barreiras protecionistas, preservando a esfera a) o atual momento da expansão capitalista é marcado
de influência das zonas econômicas. pelo avanço dos meios de comunicação e de transportes.
d) Divisão regional do mundo em espaços capitalista b) a cooperação internacional entre governos se reduz,
e socialista. gradativamente, em função do crescente isolamento das
e) Divisão regional do espaço econômico mundial em nações.
centro, periferia e países emergentes. c) as mudanças tecnológicas provocam o desapareci-
mento de determinadas profissões ligadas às áreas indus-
8) As inovações tecnológicas permeiam a evolução da triais e financeiras.
sociedade humana e, conseqüentemente, do espaço geo- d) o novo processo de reestruturação das empresas
gráfico. Entre elas, destacam-se os sistemas de produção aumentou a competitividade entre os países, distanciando
industrial e de organização do trabalho, que coexistem na os ricos dos pobres.
atualidade com objetivo comum de aumentar a produtivi-
dade para a ampliação dos lucros. 12) “[...] a busca da competitividade, tal como apresen-
Nesse contexto, as empresas vêm adequando o seu rit- tada por seus defensores - governantes, homens de ne-
mo de produção às demandas do mercado, evitando o des- gócio, funcionários internacionais -, parece bastar-se a si
perdício, investindo em tecnologia de ponta e automação mesma, não necessita de qualquer justificativa ética, como
e terceirizando o processo produtivo para firmas médias e aliás, qualquer outra forma de violência. A competitivida-
pequenas, que passam a orbitar em torno da corporação. de é um outro nome para a guerra, desta vez uma guerra
Esse modelo de organização da produção e do traba- planetária [...]”
lho é denominado SANTOS, Milton. “Técnica, espaço, tempo: globalização
a) fordismo. e meio técnico-científico informacional”, São Paulo: Huci-
b) “dumping”. tec, 1997.
c) taylorismo. Milton Santos, em seu texto, refere-se à
d) “holding”. a) invasão do Iraque.
e) toyotismo b) Segunda Guerra Mundial.
c) globalização da economia.
9) A globalização, a partir da década de 80, trouxe, além d) multipolarização pós-guerra fria.
de interdependência dos povos e das economias mundiais, e) doutrina truman
a criação de megablocos e mercados regionais. No Brasil, a
nova situação se relaciona 13) Com a globalização, muitos territórios tornaram-se
a) à desvalorização do real e à reduzida dependência interdependentes, mas as perspectivas de prosperidade de
externa. suas populações não tiveram o mesmo desenvolvimento,
b) ao nível tecnológico do setor informal e ao desem- gerando conflitos de toda espécie. Essa Nova Ordem Mun-
prego estrutural. dial caracteriza-se por um (a)
c) ao aumento do poderio militar e à criação de um a) renovação do papel de órgãos tais como: FMI, ONU
bloco econômico do Sul. e OMC, entre outros, promovendo uma maior solidarieda-
d) à privatização das empresas estatais e ao aumento de mundial.
do capital estrangeiro em setores estratégicos. b) aceleração da onda de inovações tecnológicas, pro-
e) ao aumento do Estado com criação de novos minis- duzindo uma expansão financeira ainda maior nos merca-
térios. dos acionários dos países ricos.
c) processo de aglutinação política com a regionaliza-
10) Sobre o processo de globalização, NÃO é correto ção dos blocos e o enfraquecimento cultural de várias et-
afirmar que nias, diminuindo os conflitos separatistas.
a) o uso da internet modificou as concepções de tem- d) intercâmbio global, constituído por teias de fluxos
po e espaço do homem contemporâneo. intensos entre os pólos principais: América Latina, Oriente
b) o agrupamento de países em blocos econômicos fa- Médio, Europa Ocidental, América Anglo-Saxônica.
voreceu a circulação de mercadorias e de capitais. e) A globalização promoveu a diminuição das desigual-
c) as empresas transnacionais passaram a dispor de dades sociais
grande mobilidade territorial, em busca de um menor cus-
to de produção. GABARITO: 1-E,2-C,3-D,4-D,5-E,6-B,7-C,8-E,9-D,10-D,-
d) a integração das economias mundiais diminuiu as 11-B,12-C,13-B
desigualdades históricas de desenvolvimento entre os paí-
ses do Norte e do Sul.
e) o capitalismo financeiro é dominante,

38
HISTÓRIA

1. O mundo moderno............................................................................................................................................................................................. 01
1.1. A expansão marítima europeia e as práticas mercantilistas...................................................................................................... 01
1.2. Da formação das monarquias nacionais ao absolutismo........................................................................................................... 01
1.3. O Renascimento.......................................................................................................................................................................................... 01
1.4. As reformas protestantes e a contrarreforma católica................................................................................................................. 01
2. A colonização europeia na época moderna.............................................................................................................................................. 04
2.1. A África na rota do expansionismo e do colonialismo europeu.............................................................................................. 04
2.1.1. A África por dentro: manifestações culturais, sociedades política/impérios, economia (do colonialismo moder-
no às independências pós II Guerra)........................................................................................................................................................... 31
2.2. As civilizações “pré-colombianas”........................................................................................................................................................ 05
2.3. A colonização europeia no continente americano........................................................................................................................ 05
2.3.1. América espanhola................................................................................................................................................................................. 05
2.3.2. América portuguesa............................................................................................................................................................................... 05
2.3.3. América inglesa........................................................................................................................................................................................ 05
2.3.4. A presença francesa e holandesa...................................................................................................................................................... 05
3. A crise do antigo regime................................................................................................................................................................................... 07
3.1. As revoluções inglesas do século XVII................................................................................................................................................ 07
3.2. O pensamento europeu no século das luzes: Iluminismo, Despotismo Esclarecido e Liberalismo........................... 07
3.3. Rebeliões, insurreições, levantes e conjuras no mundo colonial............................................................................................. 07
4. O surgimento do mundo contemporâneo................................................................................................................................................ 08
4.1. A Revolução Industrial e o triunfo do capitalismo......................................................................................................................... 09
4.2. Processo de emancipação e independência das colônias inglesas no continente americano................................... 09
4.3. A Revolução Francesa e expansão de seus ideais.......................................................................................................................... 10
4.4. O processo de independência e construção de nações na América espanhola................................................................ 10
4.5. Portugal, Brasil e o período joanino.................................................................................................................................................... 10
4.6. A independência e a organização do Estado brasileiro............................................................................................................... 10
5. O mundo contemporâneo............................................................................................................................................................................... 13
5.1. Na Europa, as novas lutas........................................................................................................................................................................ 13
5.1.1. O fenômeno do nacionalismo e o triunfo do liberalismo politico....................................................................................... 14
5.1.2. Os trabalhadores, suas lutas, seus projetos e suas ideologias.............................................................................................. 15
5.2. O capitalismo monopolista e a expansão imperialista a partir do século XIX.................................................................... 19
5.2.1. A Belle époque......................................................................................................................................................................................... 20
5.2.2. A periferia global sob domínio do centro capitalista: África, América e Ásia.................................................................. 20
6. O continente americano no século XIX....................................................................................................................................................... 20
6.1. Os EUA e a expansão das fronteiras e consolidação da ordem interna................................................................................ 20
6.2. América espanhola a difícil consolidação da ordem interna: do caudilhismo aos regimes oligárquicos................ 20
6.3. O Estado Imperial brasileiro................................................................................................................................................................... 20
6.3.1. O Primeiro Reinado................................................................................................................................................................................ 20
6.3.2. O Período Regencial............................................................................................................................................................................... 20
6.3.3. O Segundo Reinado............................................................................................................................................................................... 20
7. O Breve Século XX............................................................................................................................................................................................... 22
7.1. O começo do declínio da Europa: I Guerra Mundial..................................................................................................................... 22
7.2 Período entre guerras................................................................................................................................................................................ 22
7.2.1. A Revolução Russa: construção de afirmação do socialismo................................................................................................. 22
7.2.2. EUA, da expansão à crise de 1929.................................................................................................................................................... 22
7.2.3. Os regimes de direita em expansão no continente europeu................................................................................................. 22
7.3. A II Guerra Mundial.................................................................................................................................................................................... 22
7.4. O mundo sob a hegemonia dos EUA e da URSS: a Guerra Fria............................................................................................... 22
7.5. As manifestações culturais do século XX.......................................................................................................................................... 22
8. Na periferia do mundo ocidental.................................................................................................................................................................. 24
8.1. Do populismo e revoluções sociais às ditaduras na América Latina...................................................................................... 24
8.2. O Brasil republicano................................................................................................................................................................................... 24
8.2.1. A Primeira República.............................................................................................................................................................................. 24
8.2.2. A Era Vargas............................................................................................................................................................................................... 24
HISTÓRIA

8.2.3. Do período populista à ditadura civil-militar............................................................................................................................... 24


8.2.4. O Brasil da Nova República aos dias atuais.................................................................................................................................. 24
8.3. As lutas de libertação nacional na África e Ásia............................................................................................................................. 24
8.3.1. As questões de identidade: etnia, cultura, território................................................................................................................. 24
9. A Nova Ordem Mundial.................................................................................................................................................................................... 28
9.1. O fim da Guerra Fria.................................................................................................................................................................................. 28
9.2. Globalização, neoliberalismo, desigualdades e exclusões sociais no mundo de fins do século XX e início do XXI..28
9.2.1. Os blocos econômicos e seus impactos......................................................................................................................................... 28
9.2.2. As lutas e conflitos entre árabes e israelenses............................................................................................................................. 28
9.2.3. A Primavera Árabe.................................................................................................................................................................................. 28
HISTÓRIA

A acumulação de moedas dentro do país, o metalismo, era


1. O MUNDO MODERNO. 1.1. A EXPANSÃO sinal concreto de que os objetivos tinham sido atingidos.
MARÍTIMA EUROPEIA E AS PRÁTICAS A manutenção de uma balança comercial favorável foi o
MERCANTILISTAS. 1.2. DA FORMAÇÃO recurso encontrado para manter o saldo monetário: expor-
DAS MONARQUIAS NACIONAIS AO tar mais e importar menos, garantindo o fluxo de moedas
para dentro.
ABSOLUTISMO. 1.3. O RENASCIMENTO.
Evidentemente para o perfeito funcionamento da ba-
1.4. AS REFORMAS PROTESTANTES E A lança comercial, o Estado teria de adotar medidas inter-
CONTRARREFORMA CATÓLICA. vencionistas, desenvolvendo o monopólio (direito exclu-
sivo da comarca sobre a economia). Partindo da ideia de
que a acumulação maior de riquezas se fazia nas operações
A Expansão Comercial e Marítima Europeia mercantis, todas as demais atividades ficaram condicio-
Passada a crise de retração do século XIV, com secas, nadas às necessidades do comércio exterior. Proibiu-se a
fome, pestes, guerras, a economia europeia retornou ao importação de produtos que tivessem similares nacionais.
crescimento iniciado com as cruzadas. Mas, em meados Proibiu-se a exportação de matéria-prima que servisse às
do século XV, começaram a surgir obstáculos ao processo, indústrias de países concorrentes. Rebaixou-se os preços
gerando uma crise de crescimento. A primeira razão era da matéria-prima, alimentos e mão-de-obra, para aumen-
a inadequação entre dois sistemas antagônicos, o feudal tar a competição internacional, barateando os custos inter-
(zona rural), e o capitalista (cidades). A Segunda razão da nos. Praticou-se a importação de artesãos para aperfeiçoar
crise de crescimento se relacionava ao mercado internacio- o nível da produção nacional.
nal, alimentado principalmente pelos produtos orientais. O Sistema Colonial
Que devido ao grande número de intermediários encare- O sistema colonial enquadra-se no capitalismo comer-
cia os preços, enquanto os senhores feudais, os principais cial e na prática mercantilista e se constituiu para beneficiar
consumidores, tinham suas rendas drenadas pela crise do sua metrópole, ser fornecedor de matérias primas, gêneros
feudalismo. alimentícios ou metais preciosos para o mercado europeu.
A terceira razão da crise: a falta de moedas, escoadas Conquista e exploração das colônias, eis o elemento essen-
para o Oriente em pagamento das especiarias, criando difi- cial de tal política econômica. A colônia existe em função
culdades para o desenvolvimento do comércio e forçando das necessidades metropolitanas e cumpre seu papel na
a busca de metais preciosos. Havia, portanto, uma espécie medida em que contribui para a manutenção da balança
de camisa-de-força contendo a expansão econômica. As- comercial favorável, transferindo lucros pra a burguesia
sim, a expansão comercial e marítima, abriria novos merca- mercantil e para o Estado. Sua exploração é regida pelo
dos ou novas rotas para os mercados tradicionais. Assim a monopólio; ela é um centro exclusivo de exploração me-
expansão comercial e marítima dos tempos modernos foi , tropolitana. Sua economia deve ser complementar e jamais
acima de tudo, resultado direto da crise de crescimento da concorrer com a mãe-pátria.
economia europeia, baseada no antagonismo entre feuda-
lismo em transformação e capitalismo em formação. Renascimento
O Mercantilismo O termo Renascimento é comumente aplicado à civi-
Entende-se por mercantilismo o conjunto de ideias e lização europeia que se desenvolveu entre 1300 e 1650.
práticas econômicas dominantes na Europa entre os sé- Além de reviver a antiga cultura greco-romana, ocorreram
culos XV e XVIII, fase correspondente à transição do feu- nesse período muitos progressos e incontáveis realizações
dalismo ao capitalismo. Trata-se da política econômica do no campo das artes, da literatura e das ciências, que supe-
capitalismo comercial. A política mercantilista, Propugnava raram a herança clássica. O ideal do humanismo foi sem
que o governo devia exercer um controle férreo sobre a duvida o móvel desse progresso e tornou-se o próprio es-
indústria e o comércio para aumentar o poder da nação, pírito do Renascimento. Trata-se de uma volta deliberada,
ao conseguir que as exportações superem em valor as im- que propunha a ressurreição consciente (o renascimento)
portações. O mercantilismo era um conjunto de sólidas do passado, considerado agora como fonte de inspiração e
crenças, entre as quais cabe destacar: a ideia de que era modelo de civilização. Num sentido amplo, esse ideal pode
preferível exportar para terceiros a importar bens ou co- ser entendido como a valorização do homem (Humanismo)
mercializar dentro do próprio país; a convicção de que a e da natureza, em oposição ao divino e ao sobrenatural,
riqueza de uma nação depende sobretudo da acumulação conceitos que haviam impregnado a cultura da Idade Mé-
de ouro e prata; e a justificação da intervenção pública na dia. 
economia voltada à obtenção dos objetivos anteriores. Características gerais:
A Prática Econômica do Mercantilismo - Racionalidade
O modelo inicial, eles procuravam equilibrar a oferta e - Dignidade do Ser Humano
a procura, evitavam a concorrência intervindo na produção, - Rigor Científico
estabeleciam preços máximos para os produtos agrícolas e - Ideal Humanista
mínimos para os produtos industriais. Disso resultava um - Reutilização das artes greco-romana
colonialismo urbano sobre a zona rural. Para dar força ao Arquitetura: Na arquitetura renascentista, a ocupação
Estado e enriquecer a burguesia, tornava-se indispensável do espaço pelo edifício baseia-se em relações matemáticas
promover a expansão econômica que desse mais lucros e estabelecidas de tal forma que o observador possa com-
ampliasse a capacidade da população de pagar impostos. preender a lei que o organiza, de qualquer ponto em que

1
HISTÓRIA

se coloque. “Já não é o edifício que possui o homem, mas Rafael - suas obras comunicam ao observador um
este que, aprendendo a lei simples do espaço, possui o se- sentimento de ordem e segurança, pois os elementos
gredo do edifício” (Bruno Zevi, Saber Ver a Arquitetura) que compõem seus quadros são dispostos em espa-
Principais características: ços amplo, claros e de acordo com uma simetria equili-
- Ordens Arquitetônicas brada. Foi considerado grande pintor de “Madonas”.
- Arcos de Volta-Perfeita Obras destacadas: A Escola de Atenas e Madona da Manhã.
- Simplicidade na construção Escultura: Em meados do século XV, com a volta dos
- A escultura e a pintura se desprendem da arquitetura e papas de Avinhão para Roma, esta adquire o seu prestígio.
passam a ser autônomas Protetores das artes, os papas deixam o palácio de Latrão e
- Construções; palácios, igrejas, vilas (casa de descanso passam a residir no Vaticano. Ali, grandes escultores se re-
fora da cidade), fortalezas (funções militares) velam, o maior dos quais é Michelângelo, que domina toda
O principal arquiteto renascentista: a escultura italiana do século XVI. Algumas obras: Moisés,
Brunelleschi - é um exemplo de artista completo renas- Davi (4,10m) e Pietá. Outro grande escultor desse período
centista, pois foi pintor, escultor e arquiteto. Além de dominar foi Andrea del Verrochio. Trabalhou em ourivesaria e esse
conhecimentos de Matemática, Geometria e de ser grande
fato acabou influenciando sua escultura. Obra destacada:
conhecedor da poesia de Dante. Foi como construtor, porém,
Davi (1,26m) em bronze.
que realizou seus mais importantes trabalhos, entre eles a cú-
Principais Características:
pula da catedral de Florença e a Capela Pazzi.
Pintura - Buscavam representar o homem tal como ele é na
Principais características: realidade
- Perspectiva: arte de figura, no desenho ou pintura, as - Proporção da figura mantendo a sua relação com a
diversas distâncias e proporções que têm entre si os objetos realidade
vistos à distância, segundo os princípios da matemática e da - Profundidade e perspectiva
geometria. - Estudo do corpo e do caráter humano
- Uso do claro-escuro: pintar algumas áreas iluminadas e O Renascimento Italiano se espalha pela Europa, tra-
outras na sombra, esse jogo de contrastes reforça a sugestão zendo novos artistas que nacionalizaram as ideias italianas.
de volume dos corpos. São eles:
- Realismo: o artistas do Renascimento não vê mais o - Durer
homem como simples observador do mundo que expressa - Hans
a grandeza de Deus, mas como a expressão mais grandiosa - Holbein
do próprio Deus. E o mundo é pensado como uma realidade - Bosch
a ser compreendida cientificamente, e não apenas admirada. - Bruegel
- Inicia-se o uso da tela e da tinta à óleo.
- Tanto a pintura como a escultura que antes apareciam Reforma Religiosa
quase que exclusivamente como detalhes de obras arquitetô- No fim da Idade Média, o crescente desprestígio da
nicas, tornam-se manifestações independentes. Igreja do Ocidente, mais interessada no próprio enrique-
- Surgimento de artistas com um estilo pessoal, diferente cimento material do que na orientação espiritual dos fiéis;
dos demais, já que o período é marcado pelo ideal de liberda- a progressiva secularização da vida social, imposta pelo
de e, consequentemente, pelo individualismo. humanismo renascentista; e a ignorância e o relaxamento
Os principais pintores foram: moral do baixo clero favoreceram o desenvolvimento do
Botticelli - os temas de seus quadros foram escolhidos grande cisma do Ocidente, registrado entre 1378 e 1417,
segundo a possibilidade que lhe proporcionavam de expressar e que teve entre suas principais causas a transferência da
seu ideal de beleza. Para ele, a beleza estava associada ao ideal
sede papal para a cidade francesa de Avignon e a eleição
cristão. Por isso, as figuras humanas de seus quadros são belas
simultânea de dois e até de três pontífices.
porque manifestam a graça divina, e, ao mesmo tempo, me-
lancólicas porque supõem que perderam esse dom de Deus. Uma angústia coletiva dominou todas as camadas so-
Obras destacadas: A Primavera e O Nascimento de Vênus. ciais da época, inquietas com os abusos da Igreja, que exi-
Leonardo da Vinci - ele dominou com sabedoria um gia dos fiéis dízimos cada vez maiores e se enriqueciam
jogo expressivo de luz e sombra, gerador de uma atmosfe- progressivamente com a venda de cargos eclesiásticos.
ra que parte da realidade mas estimula a imaginação do ob- Bispos eram nomeados por razões políticas e os novos clé-
servador. Foi possuidor de um espírito versátil que o tornou rigos cobravam altos preços pelos seus serviços (indulgên-
capaz de pesquisar e realizar trabalhos em diversos campos cias), e nem sempre possuíam suficientes conhecimento de
do conhecimento humano. Obras destacadas: A Virgem dos religião ou compreendiam os textos que recitavam.
Rochedos e Monalisa. Com as rendas que auferiam, papas e bispos levavam
Michelângelo - entre 1508 e 1512 trabalhou na pintu- uma vida de magnificência, enquanto os padres mais hu-
ra do teto da Capela Sistina, no Vaticano. Para essa capela, mildes, carentes de recursos, muitas vezes sustentavam
concebeu e realizou grande número de cenas do Antigo suas paróquias com a instalação de tavernas, casas de jogo
Testamento. Dentre tantas que expressam a genialidade do ou outros estabelecimentos lucrativos. Outros absurdos
artista, uma particularmente representativa é a criação do como a venda de objetos tidos como relíquias sagradas
homem. Obras destacadas: Teto da Capela Sistina e a Sa- – por exemplo, lascas de madeira como sendo da cruz de
grada Família Jesus Cristo – eram efetuados em profusão. Diante dessa

2
HISTÓRIA

situação alienante, pequenos grupos compostos por mem- O Calvinismo na França


bros do clero e mesmo por leigos estudavam novas vias Na França, o teólogo João Calvino posicionou-se com
espirituais, preparando discretamente uma verdadeira re- as obras protestantes e as ideias evangelistas, partindo da
forma religiosa. necessidade de dar à Reforma um corpo doutrinário lógico,
O Luteranismo na Alemanha eliminando todas as primeiras afirmações fundamentais de
Na Alemanha, o frade agostiniano Martinho Lutero de- Lutero: a incapacidade do homem, a graça da salvação e o
senvolveu suas reflexões, criando a doutrina da justificação valor absoluto da fé. Calvino julgava Deus todo poderoso,
pela fé como único ponto de partida para aprofundar os en- estando a razão humana corrompida, incapaz de atingir
sinamentos que recebera. Segundo ele, “Deus não nos julga a verdade. Segundo ele, o arrependimento não levaria o
pelos pecados e pelas obras, mas pela nossa fé”. Enquanto a homem à salvação, pois este tinha natureza irremediavel-
concessão de indulgências como prática de devoção era en- mente pecadora. Formulou então a Teoria da Predestina-
tendida pelos cristãos como absolvição, a justificação pela ção: Deus concedia a salvação a poucos eleitos, escolhidos
fé defendida por Lutero não permitia atribuir valor às obras por toda a eternidade. Nenhum homem poderia dizer com
de caridade, opondo-se à teoria da salvação pelos méritos. certeza se pertencia a este grupo, mas alguns fatores, entre
Em 1517, Lutero publicou suas 95 teses, denunciando falsas os quais a obediência virtuosa, dar-lhe-iam esperança.
seguranças dadas aos fiéis. Segundo diziam essas teses, só Os protestantes franceses seguidores da doutrina cal-
Deus poderia perdoar, e não o papa, e a única fonte de sal- vinista eram chamados huguenotes, e se propagaram rapi-
vação da Igreja residia no Evangelho. Em torno dessa nova damente pelo país. O calvinismo atingiu a Europa Central
posição, iniciou-se na Alemanha um conflito entre domini- e Oriental. Calvino considerou o cristão livre de todas as
canos e agostinianos. proibições inexistentes em sua Escritura, o que tornava líci-
Em 1520 o papa Leão X promulgou uma bula em que tas as práticas do capitalismo, determinando uma certa li-
dava 60 dias para a execução da retratação de Lutero, que berdade em relação à usura, enquanto Lutero, muito hostil
então queimou publicamente a bula papal, sendo exco- ao capitalismo, considerava-o obra do demônio. Segundo
mungado. No entanto, Lutero recebera grande apoio e Calvino, “Deus dispôs todas as coisas de modo a determi-
conquistara inúmeros adeptos da sua doutrina, como os narem a sua própria vontade, chamando cada pessoa para
humanistas, os nobres e os jovens estudantes. Consequen- sua vocação particular”. Calvino morreu em Genebra, em
temente, uma revolta individual transformou-se num cisma 1564. Porém, mesmo após sua morte, as igrejas reformadas
geral. Na Alemanha as condições favoráveis à propagação mantiveram-se em contínua expansão.
do luteranismo se acentuaram devido à fraqueza do poder O Anglicanismo na Inglaterra
imperial, às ambições dos príncipes em relação aos bens Na Inglaterra, o principal fato que desencadeou a Re-
da Igreja, às tensões sociais que opunham camponeses e forma religiosa foi a negação do papa Clemente VII a con-
senhores, e o nacionalismo, hostil às influências religiosas sentir a anulação do casamento do rei Henrique VIII com
de Roma. Catarina de Aragão, impedindo a consolidação da monar-
O imperador do Sacro Império Romano-Germânico, quia Tudor. Manipulando o clero, Henrique VIII atingiu seu
Carlos V, tentou um acordo para tolerar o luteranismo onde objetivo: tornou-se chefe supremo da Igreja inglesa, anu-
já houvesse, mas pretendia impedir sua propagação. Cinco lou seu casamento e casou-se com Ana Bolena. A reação
principados protestaram contra esta sanção, o que gerou o do papa foi imediata: excomungou o soberano e, em con-
termo protestantismo. Sentindo a fragmentação cristã em sequência, o Parlamento rompeu com Roma, dando ao rei
seus domínios, Carlos V convocou a Dieta de Augsburg, vi- o direito de governar a Igreja, de lutar contra as heresias e
sando conciliar protestantes e cristãos. Dada a impossibili- de excomungar. Consolidada a ruptura, Henrique VIII, atra-
dade de acordo, os príncipes católicos e o imperador acata- vés de seus conselheiros, organizou a Igreja na Inglaterra.
ram as condenações, na tentativa de eliminar o protestan- Entretanto, a reforma de Henrique VIII constituiu mais
tismo luterano. Após anos de luta, em 1555, os protestantes uma alteração política do que doutrinária. As reais altera-
venceram, e foi assinada a paz, que concedeu liberdade de ções teológicas surgiram no reinado de seu filho, Eduardo
religião no Santo Império. Lutero morreu em 1546, mas per- VI, que introduziu algumas modificações fortemente in-
maneceu como grande inspirador da Reforma. fluenciadas pelo calvinismo. Foi no reinado de Elizabeth I,
O movimento luterano abriu caminhos para rebeliões porém, que consolidou-se a Igreja Anglicana. A supremacia
políticas e sociais, não previstas por Lutero. Em 1524 eclodiu do Estado sobre a Igreja foi afirmada e Elizabeth I tornou-
a Revolta dos Camponeses, composta em sua maioria por -se chefe da Igreja Anglicana independente. A Reforma na
membros de uma nova seita, os anabatistas. Extremamen- Inglaterra representou uma necessidade de fortalecimento
te agressivos e individualistas, levaram às concepções de do Estado, na medida em que o rei transformou a religião
Lutero sobre a livre interpretação da Bíblia e reclamavam a numa via de dominação sobre seus súditos.
supressão da propriedade e a partilha das riquezas da Igre- A Contrarreforma
ja. Embora sustentando a ideia de liberdade cristã, Lutero A reação oficial da Igreja contra a expansão do protes-
submetia-se a autoridades legítimas, recusando-se a apoiar tantismo ficou conhecida como Contrarreforma. Em 1542,
os revoltosos. Condenou então as revoltas e incitou os no- o papa Paulo III introduziu a Inquisição Romana, confiando
bres à repressão. Os camponeses foram vencidos e o pro- aos dominicanos a função de impô-las aos Estados italia-
testantismo se expandiu apenas para os países escandina- nos. A nova instituição perseguiu todos aqueles que, atra-
vos (Suécia, Noruega e Dinamarca), sendo instrumento de vés do humanismo ou das teologias luterana e calvinista,
rebelião dos burgueses e comerciantes contra os senhores contrariavam o ortodoxia católica ou cometiam heresias.
de terra, que eram nobres católicos. A Inquisição também foi aplicada em outros países, como

3
HISTÓRIA

Portugal e Espanha. Em 1545, a Igreja Católica tomou outra tempos contemporâneo e moderno. Basta contar com um
medida: uma comissão de reforma convocou o Concílio de pouco do tempo... Aquele mesmo que parece ser tão volá-
Trento, desenvolvido em três fases principais, entre 1545 e til nesse instigante período histórico.
1563, fixou definitivamente o conteúdo da fé católica, prati- Fonte: http://historiadomundo.uol.com.br/idade-mo-
camente reafirmando suas antigas doutrinas. Confirmou-se derna/
também o celibato clerical e sua hierarquia. Em 1559 criou-
-se ainda o Índice de Livros Proibidos, composto de uma
lista de livros cuja leitura era proibida aos cristãos, por com- 2.1. A ÁFRICA NA ROTA DO
prometer a fé e os costumes católicos.
EXPANSIONISMO E DO COLONIALISMO
EUROPEU.
2. A COLONIZAÇÃO EUROPEIA NA ÉPOCA
MODERNA.
Entende-se por colonialismo, a política de um país
exercer autoridade ou controle em um território ocupado
Ao pensar em modernidade, muitas pessoas logo ima- por seus moradores, contra sua vontade, que normalmente
ginam que estamos fazendo referência aos acontecimentos, são desapossados de parte de bens e direitos políticos que
instituições e formas de agir presente no Mundo Contempo- pudessem ter anteriormente.
râneo. De fato, esse termo se transformou em palavra fácil O termo, derivado do latim, é derivado do estabeleci-
para muitos daqueles que tentam definir em uma única pa- mento de comunidades de romanos fora do território de
lavra o mundo que vivemos. Contudo, não podemos pensar Roma. O colonialismo pode ser colonizador ou de explo-
que esse contexto mais dinâmico e mutante surgiu do nada, ração.
que não possua uma historicidade. Foi por meio da colonização que os homens espalha-
Entre os séculos XVI e XVIII, um volume extraordinário ram-se pelo mundo. Houve intensa exploração de recursos
de transformações estabeleceu uma nova percepção de nos territórios colonizados, de forma que a população era
mundo, que ainda pulsa em nossos tempos. Encurtar dis-
aniquilada ou transformada em escravos. Por esse motivo,
tâncias, desvendar a natureza, lançar em mares nunca antes
ocorreram resistências e independências -processo chama-
navegados foram apenas uma das poucas realizações que
do de descolonização, que deu fim aos impérios coloniais
definem esse período histórico. De fato, as percepções do
por volta do século XX.
tempo e do espaço, antes tão extensas e progressivas, ga-
O colonialismo português
nharam uma sensação mais intensa e volátil.
Portugal foi o primeiro país da Europa a se unificar
O processo de formação das monarquias nacionais pode
ser um dos mais interessantes exemplos que nos revela tal como Estado Nacional, e os outros países do continente se
feição. Nesse curto espaço de quase quatro séculos, os reis organizavam em ducados pequenos e fragmentados. Foi
europeus assistiram a consumação de seu poder hegemôni- por meio desta precoce unificação que o país teve avanços
co, bem como experimentaram as várias revoluções liberais em relações comerciais, buscando impulsionar o comércio
defensoras da divisão do poder político e da ampliação dos através de navegações em busca de novos mercados. No
meios de intervenção política. Tronos e parlamentos fizeram século XV, Portugal tornou-se um império colonial, que
uma curiosa ciranda em apenas um piscar de olhos. teve domínios em quatro continentes e foi o mais longín-
Além disso, se hoje tanto se fala em tecnologia e globa- quo do mundo.
lização, não podemos refutar a ligação intrínseca entre esses O expansionismo português
dois fenômenos e a Idade Moderna. O advento das Grandes Antes mesmo de haver interesses comerciais, o impul-
Navegações, além de contribuir para o acúmulo de capitais so para o expansionismo dos portugueses foi pelo objetivo
na Europa, também foi importante para que a dinâmica de militar e evangelizador. No entanto, foi com o comércio
um comércio de natureza intercontinental viesse a aconte- que as buscas se intensificaram e, com o grande interes-
cer. Com isso, as ações econômicas tomadas em um lugar se do mercado europeu por especiarias vindas do Oriente,
passariam a repercutir em outras parcelas do planeta. Portugal passou a investir em novas rotas para monopoli-
No século XVIII, o espírito investigativo dos cientistas e zar o fornecimento delas.
filósofos iluministas catapultou a busca pelo conhecimen- O contorno do continente africano foi o caminho esco-
to em patamares nunca antes observados. Não por acaso, lhido pelo país para chegar até o Oriente. O trajeto, nunca
o desenvolvimento de novas máquinas e instrumentos de- antes realizado por embarcações comerciais, era na época
senvolveram em território britânico o advento da Revolu- considerado um caminho desconhecido e levou mais de
ção Industrial. Em pouco tempo, a mentalidade econômica um século para completar-se, tempo que rendeu ainda
de empresários, consumidores, operários e patrões fixaram mais benefícios para Portugal. O país, ao passar por vários
mudanças que são sentidas até nos dias de hoje. pontos do litoral africano, devido à impossibilidade de fa-
Em um primeiro olhar, a Idade Moderna pode parecer zer o trajeto continuamente, conquistou produtos, territó-
um tanto confusa por conta da fluidez dos vários fatos his- rios e escravos.
tóricos que se afixam e, logo em seguida, se reconfiguram. Os portugueses conseguiram chegar ao Oriente, con-
Apesar disso, dialogando com eventos mais específicos, é solidando uma rota chamada Périplo Africano que, apesar
possível balizar as medidas que fazem essa ponte entre os de demorada, foi bem produtiva e vantajosa para o país.

4
HISTÓRIA

Espanha a caminho do Oriente congregado mais de dois milhões de habitantes. Quando


Em 1492, a Espanha unificou-se como Estado Nacional, chegaram à América, os espanhóis encontraram boa parte
e partiu em busca de uma rota por meio do Ocidente para desses centros urbanos abandonados.
chegar ao Oriente. Cristóvão Colombo encontrou novas A mais vistosa civilização mesoamericana foi constituí-
terras que chamaram atenção de Portugal que, apesar de da pelos astecas, que conseguiram formar um império que
ter conhecimento das terras ao longo do Périplo Africano, ia do sul da Guatemala, até a porção oeste do México. A
não as conquistou. Portugal e Espanha, então, em disputa capital Tenochtitlán abrangia uma área de treze quilôme-
pelo território, entraram em acordo por meio do Tratado tros quadrados e congregava uma população composta
de Tordesilhas, que determinou que as terras localizadas a por centenas de milhares de habitantes. As populações vi-
leste de uma linha imaginária eram propriedades de Portu- zinhas eram obrigadas a pagar vários impostos que garan-
gal, e as a oeste, seriam da Espanha. tiam a hegemonia asteca.
O Brasil e suas riquezas Cada aldeia asteca era integrada por diversas famílias,
Foi depois de algum tempo, no entanto, que Portugal que utilizavam as terras férteis de forma coletiva. Uma par-
reparou no Brasil e em suas riquezas, uma vez que os lucros cela considerável da produção agrícola dos aldeões era
do Oriente eram muito interessantes. Ao temerem perder destinada ao Estado, que distribuía o alimento recolhido
as terras brasileiras, os portugueses atentaram para o país, para os funcionários públicos, os sacerdotes, militares e a
que tornou-se muito importante para Portugal no século família do imperador. Do ponto de vista político, possuíam
XIX. Em uma crise ocasionada pelo Império de Napoleão e uma monarquia centralizada nas mãos do Tlacatecuhtli,
sua expansão, a Corte Real Portuguesa foi transferida por responsável pela condução da política externa e dos exér-
completo para o Brasil, fase em que Portugal tirou muito citos.
proveito do Sistema Colonial. A economia do país era man- Em termos gerais, percebemos que o continente ame-
tida por meio da exploração da metrópole nas colônias, ricano contava com uma ampla diversidade de culturas que
mas nesse mesmo século, Portugal começou a fragmentar- se desenvolveram de forma própria. Contrariando o ideal
-se. eurocêntrico do Velho Mundo, as populações pré-colom-
O Brasil, em 1822, tornou-se independente mediante bianas estabeleceram relações sociais complexas, criaram
declaração de Dom Pedro I, e Portugal passou por ataques suas próprias instituições políticas e engendraram os seus
de outros países europeus na tentativa de sustentar suas saberes.
colônias da Ásia e da África. Durante o século XX, o império Fonte: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historia-
acaba ao perder as colônias em Macau e Timor-leste. -america/as-civilizacoes-precolombianas.htm
Fonte: https://www.estudopratico.com.br/colonialis-
mo-portugues/

2.3. A COLONIZAÇÃO EUROPEIA NO


2.2. AS CIVILIZAÇÕES “PRÉ-COLOMBIANAS”. CONTINENTE AMERICANO. 2.3.1. AMÉRICA
ESPANHOLA. 2.3.2. AMÉRICA PORTUGUESA.
2.3.3. AMÉRICA INGLESA. 2.3.4. A PRESENÇA
O processo de descoberta do continente americano re- FRANCESA E HOLANDESA.
presentou para os europeus o contato com um mosaico de
culturas bastante peculiar. Mais do que se encantaram com
o passível exotismo dos nativos, as tripulações do Velho
Mundo deram de frente com civilizações complexas. Mui- Colonização da América
tas dessas sociedades conheciam a escrita, desenvolveram Em 1492, ano da própria descoberta da América, foi
sistemas matemáticos, possuíam calendários de enorme estabelecida a primeira colônia permanente na ilha de His-
precisão e construíram centros urbanos mais amplos que paniola, por Cristóvão Colombo, o descobridor. Em poucas
as cidades da Espanha. décadas muitas outras colônias foram estabelecidas, se es-
Por volta do século VII, a Cordilheira dos Andes foi pal- palhando pelas ilhas do Caribe e ainda pela Flórida e pelo
co do desenvolvimento das civilizações chimu, tiahuanaco Peru. Pouco depois Portugal estabeleceu colônia no Brasil,
e huari. Quase quinhentos anos depois, a reunião desses assim como a Inglaterra colonizou as Honduras Britânicas
povos que ocupavam a região seria correspondente ao (atual Belize) e a Jamaica. A ocupação holandesa se fez pre-
vasto Império Inca, administrado na cidade de Cuzco. An- sente na Guiana e ainda em Curaçau, enquanto os france-
tes da chegada dos espanhóis, os incas formaram um Esta- ses tomaram posse do Haiti, de Guadalupe e da Martinica.
do de caráter expansionista, que alcançou regiões que iam A união do Novo e do Velho Mundo foi responsável por
do Equador até o Chile, e abrigava cerca de seis milhões uma mudança radical nos destinos da história de ambos. O
de pessoas. potencial de recursos naturais americanos alterou significa-
Na porção central do continente americano, olmecas, tivamente os quadros econômicos da Europa. As doenças
toltecas, teotihuacanos, astecas e maias formaram socieda- físicas do Velho Mundo foram um dos fatores responsáveis
des distintas. Os maias, entre os séculos III e XI, estabele- pela dizimação da população americana nativa. Por outro
ceram um complexo de cidades-Estado que funcionavam lado, os conquistadores europeus tornaram-se os senhores
de forma autônoma graças a um eficiente sistema de servi- das terras que outrora eram de posse dos povos Astecas,
dão coletiva. Segundo informações, a civilização maia teria dos Maias além de outros povos nativos.

5
HISTÓRIA

Os espanhóis foram, sem dúvida, os colonizadores 1780 - Tupac-Amuru lidera a revolta inca contra o do-
mais atuantes. mínio espanhol. 
Ao final do século XVIII, eles haviam estabelecido colô- 1789 - George Washington é o chefe de estado dos Esta-
nias nas regiões onde atualmente estão as cidades de San dos Unidos da América. 
Francisco, Cidade do México e Los Angeles, além de Buenos 1799 - Morte de George Washington. 
Aires e Lima. Muitos metais nobres foram enviados das ter- 1803 - O território do atual estado de Louisiana é com-
ras americanas para a Espanha, extraídos das minas ameri- prado dos franceses pelos americanos. 
canas. Ao contrário das colônias britânicas, que eram gover- 1806 - Buenos Aires é atacada pelos ingleses. 
nadas por poderes representativos locais desde o princípio, 1807 - Tomada de Montevidéu pelos ingleses, e novo ata-
as colônias espanholas eram governadas a partir de Madri. que a Buenos Aires. 
A Igreja Católica Romana desempenhou uma importante 1810 - Paraguai declara-se independente. | Bolívar lidera
influência na colonização da América. Havia muitas cate- revolta na Venezuela e é derrotado. | Hidalgo lidera a primeira
drais católicas que foram construídas nas diversas regiões tentativa de emancipação mexicana. 
da América Latina. Tal fato auxiliou na criação de influências 1812 - Bolívar é novamente derrotado. 
locais por parte da instituição religiosa. Os objetivos da pró- 1814 - Revolução vitoriosa na Venezuela, com Bolívar as-
pria Companhia de Jesus, em sua criação, eram a expansão sumindo poderes ditatoriais | Revolução vitoriosa no Uruguai. 
da fé (e da ideologia) cristã através da catequização e dou- 1815 - Morelos lidera a segunda tentativa de emancipa-
trinação religiosa dos nativos. O cumprimento de tais obje- ção do México. 
tivos acarretava na expansão dos domínios da igreja pelas 1816 - Mina lidera a terceira tentativa de emancipação
colônias, além de facilitar as relações de dominação entre do México. 
o povo católico colonizador e o povo “gentio” colonizado. 1818 - Libertação do Chile pelo General argentino San
  Martin. 
Cronologia da História da América 1820 - O general espanhol Iturbide passa para o lado dos
1492 - Cristóvão Colombo descobre a América a 12 de revoltosos mexicanos. 
outubro.  1821 - O Peru alcança sua independência | O regente por-
1500 - Pedro Álvares Cabral descobre o Brasil a 22 de tuguês D. João VI conquista a Banda Oriental (Uruguai) e a
abril.  anexa ao Brasil. 
1501 - Busca da passagem pelo Nordeste por Corte 1822 - Iturbide lidera a revolta vitoriosa e torna-se Impe-
Real.  rador, sob o nome de Agostinho I | Bolívar liberta o Equador. 
1519 - Conquista do México, realizada por Hernán Cor- 1823 - Abdicação de Agostinho I | Doutrina Monroe nos
tez.  Estados Unidos | Separação das Províncias Unidas da América
1531-1532 - Conquista do Peru, realizada por Francisco Central do México. 
Pizarro.  1824 - Vitória do General Sucre na Batalha de Ayacucho,
1535 - Pizarro funda a cidade de Lima | Conquista do acarretando na libertação definitiva do Peru | Iturbide, após
Chile, por Almagro.  viagem à Itália, volta ao México, onde é preso e fuzilado. 
1536 - Fundação da cidade de Buenos Aires por Men- 1825 - Independência do Alto Peru (Bolívia) | Revolta da
donça | Aiolas funda Assunção.  Banda Oriental, que tende a separar-se do Império Brasileiro. 
1538 - Quesada funda Santa Fé de Bogotá.  1828 - Uruguai alcança sua independência. 
1540 - Descida do Amazonas, por Orellana.  1830 - Expulsão e morte de Bolívar. 
1541 - Valdívia funda a cidade de Santiago do Chile.  1833 - Ilhas Malvinas (Falklands) ocupadas pela Inglaterra. 
1563 - Chegada dos primeiros 300 escravos negros às 1834 - Argentina sob a ditadura de Rosas. 
colônias britânicas da América do Norte.  1839 - Desmembramento das Províncias da América
1567 - Fundação da cidade de Caracas.  Central em cinco repúblicas: Costa Rica, Guatemala, Hondu-
1584 - Organização das reduções de indígenas realiza- ras, São Salvador e Nicarágua. 
da pelos jesuítas.  1845 - Guerra pela posse dos territórios do Texas (Estados
1604 - Franceses fundam Port-Royal (atual Anápolis, Es- Unidos e México). 
tados Unidos).  1848 - Através do Tratado de Guadalupe, os Estados Uni-
1608 - Champlain funda Quebec.  dos anexam aos seus domínios os territórios do Texas, Cali-
1609 - Holandeses fundam a cidade de Nova Amster- fórnia, Arizona e Novo México, pagando uma irrisória inde-
dam (atual Nova York, Estados Unidos).  nização. 
1649 - Liberdade de crença religiosa na colônia católica 1851 - Brasil e Urquiza em aliança. 
de Mayland.  1852 - Ditadura de Rosas chega ao seu fim. 
1697 - Finda a primeira guerra colonial entre a França 1861 - Guerra de Secessão nos Estados Unidos tem início. 
e a Inglaterra.  1863 - O general francês Forey entra vitorioso na capi-
1726 - É fundada a cidade de Montevidéu.  tal mexicana. 
1744 - França e Inglaterra travam a segunda guerra co- 1864 - Maximiliano torna-se Imperador do México |
lonial.  Intervenção brasileira no Uruguai | Início da Guerra do Pa-
1759 - Invasão do Canadá pelos ingleses.  raguai. 
1763 - França perde o domínio do Canadá.  1865 - Finda a Guerra de Secessão nos Estados Unidos.
1776 - Os Estados Unidos se declaram nação indepen- Vitória do Norte. O Presidente Lincoln é assassinado. 
dente. 

6
HISTÓRIA

1867 - Retirada das tropas francesas do México realiza- • Influência direta da Igreja Católica sobre o governo
da por Napoleão III, sob as exigências dos Estados Unidos. • Direito senhorial dos nobres sobre os camponeses
Fuzilamento do Imperador Maximiliano, que carecia de re- O último rei a governar a França antes da revolução
cursos militares. Benito Juárez sobe novamente ao poder | foi Luís XVI (1754 - 1793), da dinastia Bourbon, que morreu
A Rússia vende o território do Alaska aos Estados Unidos | na guilhotina. Abaixo do rei estavam o primeiro estado, o
Autonomia do Canadá em relação à Inglaterra.  segundo estado e o terceiro estado. Essa estrutura social é
1870 - A Guerra do Paraguai termina, com a vitória dos também chamada de estamentos ou organização estamen-
aliados (Argentina, Brasil e Uruguai).  tal.
1876 - Por causa da salitreira de Antofagasta, Chile de- Primeiro Estado
clara guerra ao Peru e à Bolívia.  O primeiro estado era representado pelo clero. A França
1883 - Chile sai vitorioso da guerra contra Bolívia e era um país católico e ao núcleo da igreja cabia o comando
Peru. A Bolívia, assim, perde a faixa litorânea do Pacífico.  da manutenção dos registros, a educação, as obras de cari-
1885 - Inaugura-se a estrada de ferro transcontinental dade e, claro, a vida religiosa dos franceses.
canadense de Halifax a Vancouver.  A Igreja também exercia forte influência sobre o gover-
1888 - Presidência do México é de Porfírio Díaz.  no porque muitas figuras representadas do alto clero eram
1895 - Revolução separatistas em Cuba.  conselheiros do rei. A tarefa cabia a cardeais, bispos e arce-
1898 - Havaí passa para os domínios dos Estados Uni- bispos que tinham grande poder político.
dos: ocupação americana em Porto Rico, Cuba, Filipinas, A Igreja era isenta de impostos e possuía elevada rique-
Guam e Marianas.  za, sendo proprietária de terras e administradora dos negó-
1903 - Revolta panamenha fomentada pelos Estados cios definidos pela forma de poder francês.
Veja também: Igreja Medieval.
Unidos, que intencionava controlar o Canal de Panamá |
Segundo Estado
Criação da República do Panamá 
O segundo estado era constituído pela nobreza, pes-
1906 - Em San Francisco, Califórnia, um dos grandes
soas com títulos hereditários e que ocupavam o topo do
terremotos de sua história. 
governo. Alguns nobres haviam recebido os títulos na época
1914 - Canal do Panamá é inaugurado. 
das  cruzadas. Também eram nobres os comerciantes ple-
1917 - Entrada dos Estados Unidos na I Guerra Mun-
beus que só chegavam a essa condição por compraram tí-
dial.  tulos de nobreza.
1918 - Os Estados Unidos vencem a Guerra.  Os nobres eram proprietários de terras muito ricos e
1930 - Eclode revolução na Argentina.  viviam exaltando luxo. Assim como o clero, não pagavam
1932 - Presidência de Roosevelt nos Estados Unidos, impostos e exerciam forte influência no governo francês.
com o New Deal e a política de boa vizinhança.  Terceiro Estado
1941 - Ataque japonês a Pearl Harbour, no Havaí, e Na base da sociedade francesa estava as pessoas co-
subseqüente entrada dos Estados Unidos na II Guerra muns, o terceiro estado, que correspondia a 95% da popula-
Mundial .  ção. Nessa classe estavam os burgueses, ricos comerciantes
1942 - Chanceleres americanos em conferência no Rio e profissionais liberais. Muitos tentavam comprar o título de
de Janeiro.  nobreza, mas nem sempre havia êxito.
1945 - Vitória americana e aliada na II Guerra Mundial . Fonte: https://www.todamateria.com.br/antigo-regime/

3. A CRISE DO ANTIGO REGIME. 3.1. AS 3.2. O PENSAMENTO EUROPEU NO SÉCULO


REVOLUÇÕES INGLESAS DO SÉCULO XVII. DAS LUZES: ILUMINISMO, DESPOTISMO
ESCLARECIDO E LIBERALISMO.
3.3. REBELIÕES, INSURREIÇÕES, LEVANTES E
CONJURAS NO MUNDO COLONIAL.
Antigo regime é a denominação do sistema político
e social da França anterior à Revolução Francesa. O ter-
mo foi aplicado depois da revolução como marca da tran-
sição política. Termos usados para descrever as tendências do pensa-
No antigo regime, a sociedade francesa era constituída mento e da literatura na Europa e em toda a América duran-
por uma rígida hierarquia composta por classes sociais. No te o século XVIII, antecedendo a Revolução Francesa. Foram
degrau mais alto estava o rei que governava sob o aspecto empregados pelos próprios escritores do período, convenci-
da teoria do direito divino. Ou seja, acreditava estar obede- dos de que emergiam de séculos de obscurantismo e igno-
cendo a lei de Deus. Abaixo dele, todos eram súditos. rância para uma nova era, iluminada pela razão, a ciência e
Características o respeito à humanidade. As novas descobertas da ciência,
• Rei governando sob a teoria do direito divino cen- a teoria da gravitação universal de Isaac Newton e o espí-
tralizando as decisões do executivo, legislativo e judiciário rito de relativismo cultural fomentado pela exploração do
• Clero e nobreza livres de impostos mundo ainda não conhecido foram também importantes
• Elevados impostos sobre a maioria da população para a eclosão do Iluminismo. 
• Pobreza extrema vivida pela maioria da população

7
HISTÓRIA

Entre os precursores do século XVII, destacam-se os A História Contemporânea, segundo os historiadores,


grandes racionalistas, como René Descartes e Baruch Spi- tem seu início marcado pela Revolução Francesa, em 1789.
noza, e os filósofos políticos Thomas Hobbes e John Lo- De acordo com essa idéia, modificações nas estruturas so-
cke. Na época, é igualmente marcante a fé no poder da ciais ocorreram para caracterizar uma nova fase. O evento
razão humana. Chegou-se a declarar que, mediante o uso ocorrido na França derrubou as marcas do Antigo Regi-
judicioso da razão, seria possível um progresso sem limi- me que dividiam a sociedade em escalas dentro de uma
tes. Porém, mais que um conjunto de idéias estabelecidas, pirâmide, na qual o rei e a nobreza ocupavam a posição
o Iluminismo representava uma atitude, uma maneira de mais alta, seguidos pelo clero e depois todo o resto da
pensar. De acordo com Immanuel Kant, o lema deveria ser sociedade, incluindo camponeses e burguesia. O fato é que
“atrever-se a conhecer”. Surge o desejo de reexaminar e a classe burguesa já representava um importante grupo
pôr em questão as idéias e os valores recebidos, com en- na ordem social e não recebia a devida consideração em
foques bem diferentes, daí as incoerências e contradições troca, o que os levou a derrubar uma organização social
entre os textos de seus pensadores. A doutrina da Igreja foi já arcaica.
duramente atacada, embora a maioria dos pensadores não O Iluminismo teve grande influência na confecção de
renunciassem totalmente à ela.  um novo período da humanidade, levantando a bandeira
A França teve destacado desenvolvimento em tais da razão e propaganda que as ciências seriam capazes de
idéias e, entre seus pensadores mais importantes, figuram propiciar um progresso da civilização humana. O advento
Voltaire, Charles de Montesquieu, Denis Diderot e Jean- da nova fase colocou o indivíduo em destaque na história,
-Jacques Rousseau. Outros expoentes do movimento fo- capaz de definir seu próprio futuro. Ao contrário do
ram Kant, na Alemanha, David Hume, na Escócia, Cesare que existia antes, quando o indivíduo era ligado a certa
Beccaria, na Itália, Benjamin Franklin e Thomas Jefferson, condição determinada pelo seu nascimento.
nas colônias britânicas. A experiência científica e os escritos A  História Contemporânea concretizou a presença
filosóficos entraram em moda nos círculos aristocráticos, determinante do capitalismo no cotidiano da humanidade.
surgindo, assim, o chamado despotismo ilustrado. Entre Exatamente por isso, surgiram novas teorias da vida huma-
seus representantes mais célebres encontram-se os reis na em realidade alheia ao capitalismo. A consolidação de
Frederico II da Prússia, Catarina II, a Grande, da Rússia, José várias potências capitalistas desencadeou uma forte corri-
II da Áustria e Carlos III da Espanha. O Século das Luzes, ou da por domínio de regiões fornecedoras de matéria-prima
Iluminismo, terminou com a Revolução Francesa de 1789, e consumidoras dos produtos industrializados. As tensões
que incorporou inúmeras idéias iluministas em suas fases
resultantes da corrida capitalista resultaram em esmagado-
mais violentas, desacreditando-as aos olhos da maioria dos
ras guerras no século XX, colocando em questão a evolu-
europeus contemporâneos. O Iluminismo marcou um mo-
ção da civilização.
mento decisivo para o declínio da Igreja e o crescimento
Outros eventos também caracterizam fortemente a
do secularismo atual, assim como serviu de modelo para o
História Contemporânea. O novo período marcou as inde-
liberalismo político e econômico e para a reforma huma-
pendências das antigas colônias européias, embora o im-
nista do mundo ocidental no século XIX.
perialismo tenha gerado um novo tipo de dependência, a
Fonte: http://historiadomundo.uol.com.br/idade-
-moderna/iluminismo.htm econômica. No século XIX há de se destacar as unificações
tardias de Itália e Alemanha, as quais desencadearam a
instabilidade na Europa com a entrada de novos países na
corrida imperialista.
No século XX, as Guerras Mundiais, a Revolução Rus-
4. O SURGIMENTO DO MUNDO sa, a Crise de 1929, a Descolonização da África e a Guerra
CONTEMPORÂNEO. Fria deram as marcas do novo período. No século XXI, dois
eventos foram importantes, até o momento: o Atentado
Terrorista de 11 de Setembro e a Crise Econômica de
A História Contemporânea é a fase atual que estamos 2008-2009. Entretanto, o questionamento sobre o caráter
vivendo da história da humanidade. Sucede a História eurocêntrico de se dividir a história e o evento terrorista
Moderna. de 2001 está predizendo uma nova fase da história da
A historiografia tradicional divide a história da huma- humanidade. Alguns historiadores já arriscam a dizer que
nidade em períodos: História Antiga, História Medieval, estamos vivendo a História Pós-Contemporânea. Embora
História Moderna e História Contemporânea. Segundo o termo não seja dos melhores, essa nova concepção se
esta concepção, a humanidade tem sua história dividida baseia no fato de que a soberania dos Estados Unidos, a
em períodos que correspondem a eventos ocorridos no grande potência mundial da era Contemporânea, tenha
continente europeu ou em decorrência das ações de seu sido abalada com o atentado. Daí novas relações mundiais
povo. Isto denota a forma tradicional de periodizar a his- se desencadeariam.
tória como fortemente eurocêntrica. Essa forma de encarar Fonte: https://www.infoescola.com/historia/historia-
a história da humanidade está sendo amplamente revis- -contemporanea/
ta atualmente, pois é preciso se levar em consideração a
existência de grandes civilizações com grandes culturas ao
longo da história também fora do continente europeu.

8
HISTÓRIA

- Conter o crescimento populacional:


4.1. A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E O Controles preventivos ------agiam no sentido de reduzir
a taxa de natalidade = restrições morais, vício e o controle
TRIUNFO DO CAPITALISMO.
da natalidade
Controles positivos ------- incrementar a taxa de morta-
lidade = fome, miséria, pragas e as guerras
A Revolução Industrial As massas eram incapazes de respeitar restrições mo-
Causa da Revolução Industrial Inglesa o rápido cresci- rais estavam condenados a viver para sempre ao nível da
mento das exportações de produtos manufaturados subsistência
Primazia inglesa produção de manufaturados cada vez maior - As iniciativas paternalistas, destinadas a remediar a si-
Redução de custo e obtenção de lucros tuação dos pobres, estavam fadadas ao fracasso. Malthus
Crescimento da exportação as considerava nocivas porque privavam de suas rendas e
Inovações tecnológicas riquezas os homens de condição superior (e de moral mais
Primeira Fase da Revolução ------ Inglaterra, indústria têxtil elevada). Os homens de condição social superior eram res-
Fabricantes de tecido de lã persuadiram o governo a proi- ponsáveis, quer por suas ações pessoais, quer pelo apoio
bir a importação calicós, assegurando o mercado interno para prestado a outros, por todas as grandes realizações da so-
as indústrias domésticas ciedade. Tomar dinheiro desses homens era o mesmo que
Energia ------ vapor secar a fonte de onde emanavam tais realizações; utiliza-lo
Desenvolvimento da industria siderúrgica-------- material para aliviar as condições de vida dos pobres era para mal-
para fundição: thus um exercício fútil e inconseqüente.
1o. carvão vegetal - Os governos paternalistas deviam renunciar a qualquer
2o. coque (resíduo da destilação do carvão de pedra, usa- tentativa de, em nome dos pobres, intervir na economia.
do para combustível) O Credo Político
O rápido crescimento da produtividade elevou a Inglater- Rejeitava o Estado ou o governo, considerando-o um
ra à condição de potencia hegemônica, no plano econômico mal tolerável apenas, quando não houver outra forma de
e político, do século XIX. evitar um mal maior
O Credo Psicológico - Que funções deveriam, exercer os governos?
Pressupostos do liberalismo clássico: 1. Adam Smith: proteger o país contra os invasores es-
Todo homem é egoísta trangeiros, proteger os cidadãos contra as injustiças come-
Frio e calculista tidas por outros cidadãos e o dever de erigir e manter as
Inerte instituições e obras públicas.
Atomista - A filosofia liberal clássica condenava a interferência
Todas as ações são motivadas pelo desejo de obter pra- governamental nos assuntos econômicos somente quando
zer e evitar a dor (Jeremy Bentham) essa interferência prejudicava os interesses dos capitalistas.
Conseqüência prática dessa doutrina: O Liberalismo Clássico e a Industrialização
Crença amplamente difundida na época, de que os traba- O liberalismo proporcionou as bases filosóficas do siste-
lhadores eram incuravelmente preguiçosos.Portanto, somen- ma capitalista industrial
te uma grande recompensa, ou o pavor da fome e de outras As novas idéias liberais criaram na Inglaterra uma at-
privações poderia obriga-los a trabalhar. mosfera política e intelectual extremamente propícia ao de-
O Credo Econômico senvolvimento do sistema fabril.
- Princípio fundamental do Liberalismo Clássico os homens Fonte: http://www.administradores.com.br/artigos/
deveriam dispor de liberdade para dar vazão aos seus impulsos economia-e-financas/o-liberalismo-classico-e-o-triun-
egoístas, oi que implicava a supressão dos mecanismos de con- fo-do-capitalismo-industrial/36314/
trole e coerção impostos pela sociedade, exceto os dispensáveis
Adam Smith “Os indivíduos desprovidos de capital estão sempre
procurando o emprego que lhes ofereça o maior retorno monetário
possível pelo seu trabalho. Se ambos, capitalistas e trabalhadores, fi- 4.2. PROCESSO DE EMANCIPAÇÃO E
cassem entregues à própria sorte, o interesse próprio os levaria a em-
INDEPENDÊNCIA DAS COLÔNIAS INGLESAS
pregar seu capital ou seu trabalho onde este fosse mais produtivo.
A prosperidade econômica dependia da capacidade pro- NO CONTINENTE AMERICANO.
dutiva da economia. A capacidade produtiva, por sua vez, de-
pendia da acumulação de capital e da divisão do trabalho. Se
um homem produzisse tudo o que ele e sua família neces- As Independências na América ocorreram de maneiras
sitavam, a produtividade permaneceria extremamente baixa. diferenciadas. A influência dos países colonizadores acres-
A TEORIA DA POPULAÇÃO centou características específicas às colônias da Espanha, de
Thomas Robert Malthus Portugal e da Inglaterra.
“Os homens são movidos por um desejo insaciável de O movimento de independência começou na América
prazer sexual. Em conseqüência disso, a população na- no século XVIII. Nesta ocasião, as Treze Colônias, que eram
turalmente tende a crescer em proporção geométrica ( de propriedade da Inglaterra, se manifestaram contra as
1,2,4,8,16....).Em compensação, a produção de alimentos cobranças cada vez mais intensas feitas por sua metrópole.
cresce em proporção aritmética (1,2,3,4,....)”  A coroa inglesa implementou uma série de impostos que

9
HISTÓRIA

exigia muito dos colonos. Revoltados, estes organizaram


manifestações e assumiram posturas radicais, tendo como
resultado uma guerra entre colônia e metrópole. A primei- 4.3. A REVOLUÇÃO FRANCESA E EXPANSÃO
ra recebeu o apoio da França, histórica rival da Inglaterra, e DE SEUS IDEAIS. 4.4. O PROCESSO DE
acabou conquistando sua independência na década de 1770. INDEPENDÊNCIA E CONSTRUÇÃO DE
Mais tarde, na última década do mesmo século, acon- NAÇÕES NA AMÉRICA ESPANHOLA.
teceu um caso emblemático e raro de independência no
4.5. PORTUGAL, BRASIL E O PERÍODO
continente Americano. O Haiti vivenciou uma revolta dos
escravos contra as classes dominantes. A Revolução Haitiana, JOANINO. 4.6. A INDEPENDÊNCIA E A
que começou em 1789, uniu os negros que viviam no local ORGANIZAÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO.
exercendo trabalho compulsório em combate contra a
escravidão e os abusos dos soberanos. O evento acabou
se tornando a única independência na América movida Revolução Francesa
por escravos. A conseqüência foi o descontentamento das Como a Revolução Francesa não teve apenas por obje-
metrópoles em relação ao Haiti, passando a boicotar o novo tivo mudar um governo antigo, mas abolir a forma antiga
país ou tratá-lo de maneira diferenciada. Até hoje é possível da sociedade, ela teve de ver-se a braços a um só tempo
notar os efeitos que o descaso de outros países deixaram e com todos os poderes estabelecidos, arruinar todas as in-
deixam em um país que uniu escravos para acabar com tal fluências reconhecidas, apagar as tradições, renovar cos-
forma de exploração no trabalho. tumes e os usos e, de alguma maneira, esvaziar o espírito
Já as colônias espanholas na América receberam a in- humano de todas as ideias sobre as quais se tinham fun-
fluência de uma série de fatores em seus processos de in- dado até então o respeito e a obediência. As instituições
dependência. A Espanha era detentora do maior território feudais do Antigo Regime iam sendo superadas à medida
colonial no continente americano, suas posses iam do atual que a burguesia, a partir do século XVIII, consolidava cada
México até o extremo sul do continente. Nestas terras se for- vez mais seu poder econômico. A sociedade francesa exigia
tificou uma elite local conhecida como criollos, que eram os que o país se modernizasse, mas o entrave do absolutismo
filhos dos espanhóis nascidos no Novo Mundo. Os criollos apagava essa expectativa.
desenvolveram suas atividades e seus interesses na América, O descontentamento era geral, todos achavam que
contestando, várias vezes, atitudes metropolitanas. Interna- essa situação não podia continuar. Entretanto, um mo-
mente, o fortalecimento dos criollos e a insatisfação com as vimento iniciado há alguns anos, por um grupo de inte-
exigências da metrópole influenciaram nos movimentos de lectuais franceses, parecia ter a resposta. Esse movimento
emancipação. Os criollos manifestaram-se em favor de maior criticava e questionava o regime absolutista. Eram os ilu-
liberdade política e econômica. Já no cenário internacional, ministas, que achavam que a única maneira possível de
o exemplo da independência dos Estados Unidos, que po- a França se adiantar em relação à Inglaterra era passar o
voava o imaginário dos separatistas, e a situação política na poder político para as mãos da nova classe, isto é, a bur-
metrópole, que passava por momentos de grande instabili- guesia (comerciantes, industriais, banqueiros). Era preciso
dade, davam suas contribuições para o processo. O resultado destituir a nobreza que, representada pelo Rei , se man-
foi uma série de independências no território americano que tinha no poder. A monarquia absoluta que, antes, tantos
antes pertencia à Espanha, fragmentando toda a imensa co- benefícios havia trazido para o desenvolvimento do co-
lônia em vários países durante o século XIX. mércio e da burguesia francesa, agora era um empecilho.
Já o Brasil, colônia de Portugal, não passou por uma As leis mercantilistas impediam que se vendessem merca-
guerra contra à metrópole, caso dos Estados Unidos, ou por dorias livremente. Os grêmios de ofício impediam que se
uma grande fragmentação do território, como aconteceu desenvolvessem processos mais rápidos de fabricação de
com a América Espanhola. No início do século XIX, em 1808, mercadorias. Enfim, a monarquia absoluta era um obstá-
o rei português Dom João VI transferiu toda sua corte para culo, impedindo a modernização da França. Esse obstáculo
o Brasil em meio a fuga dos exércitos de Napoleão Bonapar- precisava ser removido. E o foi pela revolução.
te que conquistavam os territórios na Europa. A mudança da A Revolução Francesa significou o fim da monarquia
corte alterou toda a lógica do Império Português no mundo, absoluta na França. O fim do antigo regime significou, prin-
que passou a ter o Brasil como centro. No final da década cipalmente, a subida da burguesia ao poder político e tam-
de 1810 apenas que o rei Dom João VI resolveu retornar à bém a preparação para a consolidação do capitalismo. Mas
Portugal como tentativa de controlar as manifestações dos a Revolução Francesa não ficou restrita à França. suas ideias
burgueses de tal localidade que se viam prejudicados em espalharam-se pela Europa, atravessaram o oceano e vie-
função do distanciamento da coroa. Porém no Brasil ficou ram para a América latina, contribuindo para a elaboração
o príncipe regente Dom Pedro I, o qual foi convencido pela de nossa independência política. Por esse seu caráter ecu-
nova elite local a tornar o Brasil independente e ainda ser mênico é que se convencionou ser a Revolução Francesa o
o primeiro imperador do mesmo. Dom Pedro I interessou- marco da passagem para a Idade Contemporânea. 
se pela proposta e declarou a independência brasileira em A situação da França antes da revolução 
1822. No Brasil não houve guerra contra Portugal, mas sim A economia: A situação econômica da França era
guerras internas para afirmar toda a extensão do território crítica. A maioria da renda vinha da agricultura, onde as
pertencente ao novo imperador. técnicas eram atrasadas em relação ao consumo do país.
Fonte: https://www.infoescola.com/historia/indepen- Dos 26 milhões de habitantes, 20 milhões viviam no campo
dencias-na-america/

10
HISTÓRIA

em condições de vida extremamente precárias. Uma parte A política na França pré-revolucionária mostrava os
dos camponeses estava ainda sob o regime de servidão. sinais da decadência acumulada dos outros Reis absolutos,
Um comerciante, para transportar suas mercadorias de um principalmente um déficit crônico no reinado Luís XVI, que su-
lado para outro do país, teria que passar pelas barreiras al- biu ao trono em 1774. As críticas ao regime aumentavam dia-
fandegárias das propriedades feudais, pagando altíssimos -a-dia. Os intelectuais, baseando-se nas teoria dos iluministas,
impostos, o que impedia os comerciantes de venderem li- não poupavam seus escritos para criticar desesperadamente
vremente suas mercadorias. o regime.
Para piorar a situação, parece que ate a natureza aju- Os Antecedentes da Revolução
dou a revolução: entre os anos de 1784 a 1785 houve inun- O Rei, diante dessa situação, tenta alguns expedientes
dações e secas alienadamente, fazendo com que os preços para resolver a questão. Convidou um iluminista de nome
dos produtos ora subissem, não dando condições para que Neckerque começou a trabalhar imediatamente, pois queria
os pobres comprassem, ora descessem, levando alguns ver sanado o mal do país. Necker, um homem de confiança
pequenos proprietários à falência. A situação da indústria do Rei, que pensa numa solução para a crise, era preciso que
francesa não era melhor, pois parte dela ainda estava sob todos pagassem impostos na França. Necker faz seu primeiro
o sistema rural e domestico, e as corporações (grêmios) ato: manda publicar as contas do Estado, onde fica claro o
impediam o desenvolvimento de novas técnicas. Como se enorme Déficit de 126 milhões de libras Em seguida, com a
não bastasse, o governo francês assinou o seguinte tratado anuência do Rei e da nobreza, convoca os Estados Gerais, úni-
com o governo inglês: os franceses venderiam vinhos para ca solução encontrada para discutir uma saída.
os ingleses, e estes venderiam panos para os franceses, Os Estados Gerais, uma assembleia de todos os Estados
sem pagar impostos, o que levou as manufaturas francesas que desde 1614 não eram convocados, deveriam discutir
a não suportarem a concorrência dos tecidos ingleses, en- mais ou menos abertamente uma solução para a crise finan-
trando numa grave crise.  ceira e achar uma saída para que todos pagassem impostos
A sociedade: A sociedade francesa, na época, estava iguais. Todavia, o Terceiro Estado não pensava só nisso, mas
dividida em três partes, conhecidas como Estados:  também em aproveitar a oportunidade e fazer exigências de
- Primeiro Estado - era o clero francês e estava dividido caráter político. A notícia da convocação dos Estados Gerais
caiu como uma bomba sobre a França. Da noite para o dia
em alto e baixo. O alto clero era composto por elemen-
todo o país foi invadido por milhares de jornais, panfletos e
tos vindos das ricas famílias da nobreza, possuindo toda a
cartazes. Os bares e os cafés tornaram-se centro de agitação,
sorte de privilégios, inclusive o de não pagar impostos. O
como o famoso Café Procope. A nobreza e o Rei viam isso
baixo clero era o pobre, estando ligado ao povo em geral e
tudo apavorados:
não à nobreza, como o primeiro.
“Já se propõe a supressão dos direitos feudais... Vossa
- Segundo Estado - era a nobreza em geral. Os privilé- Majestade estaria acaso determinado a sacrificar e humilhar
gios eram incontáveis, sendo que o mais importante era a sua brava e antiga ... nobreza ?”; Este era um desesperado
isenção de impostos. Ha que se salientar aqui que a nobre- apelo da nobreza ao Rei. Como reagia o Terceiro Estado?
za também estava dividida: a nobreza cortesã, que vivia no Organizava-se ainda mais e queria as transformações imedia-
palácio, e outros setores da nobreza, que viviam na corte, tamente. Os Estados Gerais começaram sua reunião de aber-
recebendo pensões do Rei, onerando os seus castelos, no tura no dia 5 de maio de 1789, sendo que dai em diante foi
campo, as custas do trabalho de seus servos. À medida que impossível deter a revolução. 
a crise aumentava, essa nobreza que viviam no campo au- A Revolução Estourou 
mentava a pressão sobre seus servo, favorecendo o clima O Rei abre a sessão dos Estados Gerais fazendo um dis-
de insatisfação. curso de advertência contra as pretensões políticas: “Estamos
- Terceiro Estado - era constituído de todos aqueles aqui para tratar de problemas financeiros e não para tratar de
que não pertenciam nem ao Primeiro nem ao Segundo Es- política”. O Terceiro Estado reagiu prontamente, exigindo a
tado. Afinal, o que era o Terceiro Estado? Era o setor da qualquer custo que as reuniões fossem conjuntas e não sepa-
sociedade francesa composto pela maioria esmagadora da radamente por Estados. Diante da negação, o Terceiro Estado
população, sobre cujos ombros recaia todo o peso de sus- proclama-se em Assembleia Geral Nacional. O Rei, desespe-
tentação do reino francês. Esse setor era composto, na sua rado diante do atrevimento dos representantes populares,
maioria, pelos camponeses que, com um árduo trabalho, manda fechar a saia de reuniões. Mas o Terceiro Estado não
forneciam os alimentos para toda a França, além de terem se da por vencido e seus deputados se dirigem para um salão
de pagar pesadíssimos impostos. que a nobreza utilizava para jogos. Lá mesmo fizeram uma
Finalmente, os membros mais destacados do Terceiro reunião, onde ficou estabelecido que permaneceriam reuni-
Estado, quanto a liderança: a burguesia. Esta se dividia em dos até que a França tivesse uma Constituição. Esse ato ficou
pequenos burgueses (pequenos comerciantes, artesãos), conhecido com o nome de O Juramento do Jogo de Pela.
uma camada média (composta de lojistas, profissionais li- No dia 9 de julho de 1789, reúne-se uma Assembleia Na-
berais) e a alta burguesia (grandes banqueiros, comércio cional Constituinte, incumbida de elaborar uma Constituição
exterior). O Terceiro Estado será aquele que, pelo peso das para a França. Isso significava que o Rei deixaria de ser o se-
responsabilidades, se levantará contra a opressão do Esta- nhor absoluto do reino. A burguesia francesa, por sua vez,
do Absolutista. Os camponeses terão papel importante, os apelou para o povo. No dia 14 de julho de 1789, toda a
pobres das cidades também, mas a liderança e os frutos população parisiense avança, num movimento nunca visto,
dessa revolução caberão a uma fração do Terceiro Estado: para a Bastilha, a prisão política da época, onde o respon-
a burguesia. sável pela prisão foi preso e enforcado.

11
HISTÓRIA

O momento agora e dos camponeses, que percebem a rondinos, defensores dos interesses da burguesia francesa e
fraqueza da nobreza e invadem os castelos, executando fa- que temiam a radicalização da revolução; na extrema direita,
mílias inteiras de nobres numa espécie de vingança, de uma encontram-se alguns remanecentes da aristocracia que ain-
raiva acumulada durante séculos. Avançam sobre a proprie- da não emigrara, conhecidos pelo nome de negros ou aris-
dade feudal e exigem reformas. A burguesia, na Assembleia, tocratas, que pretendiam a restauração do poder absoluto.
temerosa de que as exigências chegassem também às suas Quanto a situação externa, o clima era de total apreen-
propriedades, propõe que se extingam os direitos feudais são. As monarquias absolutas vizinhas olhavam para o que
como única saída para conter o furor revolucionário dos cam- estava acontecendo na França com grande temor. Tanto é
poneses. A 4 de agosto de 1789, extingue-se aquilo que por verdade, que alguns elementos emigrados da nobreza fran-
muitos séculos significou a opressão sobre os camponeses. A cesa pretendiam que países como a Áustria e a Prússia ini-
burguesia, preocupada em estabelecer as bases teóricas de ciassem imediatamente uma guerra contra a França. A As-
sua revolução, fez aprovar, no dia 26 de agosto do mesmo sembleia Legislativa, sabedor dessa situação, raciocinava da
ano, um documento que se tornou mundialmente famoso: A seguinte forma: ou expandimos o ideal revolucionário para
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.  esses países ou, então, a França Revolucionaria ver-se-á iso-
O Processo Revolucionário  lada e condenada ao fracasso. Daí a Assembleia também
1ª fase - Assembleia Nacional Constituinte pensar na guerra.
Um dos atos mais importantes da Assembleia foi o con-
fisco dos bens do clero francês, que seriam usados como 2ª fase - Assembleia Legislativa
uma espécie de lastro para os bônus emitidos para superar a A Assembleia Legislativa francesa exigiu da Áustria e
crise financeira. Parte do clero reage e começa a se organizar da Prússia um compromisso de não invasão e, como não
Como resposta, a Assembleia decreta a Constituição Civil do foi atendida pelas monarquias absolutas, declarou guerra a
Clero isto é, o clero passa a ser funcionário do Estado, e qual- 20 de abril de 1792. Luís XVI exultava, pois esperava que os
quer gesto de rebeldia levara a prisão. A situação estava mui- exércitos franceses fossem derrotados para que ele pudesse
to confusa. A Assembleia não conseguia manter a disciplina e voltar ao poder como Rei absoluto; dessa forma, o Rei e a
controlar o caos econômico. O Rei entra em contato com os Rainha, a famosa Maria Antonieta, entram em contato com
emigrados no exterior (principalmente na Prússia e na Áus- os inimigos, passando-lhes segredos de guerra. A atuação
tria) e começam a conspirar para invadir a França, derrubar o dos exércitos franceses foi um fracasso no campo de batalha.
governo revolucionário e restaurar o absolutismo. Na Assembleia, Robespierre denuncia a traição do Rei e dos
Para organizar a contrarrevolução, o monarca foge da generais ligados a ele, que também estavam interessados na
França para a Prússia, mas no caminho e reconhecido por derrota da França Revolucionaria. Num discurso aos jacobi-
camponeses, é preso e enviado à Paris. Na capital, os setores nos, Robespierre dizia: “Não! Eu não me fio nos generais e,
mais moderados da Assembleia conseguiram que o Rei per- fazendo exceções honrosas, digo que quase todos têm sau-
manecesse em seu posto. A partir daí uma grande agitação dades da velha ordem, dos favores de que dispõe a Corte. Só
tem início, pois seria votada e aprovada a Constituição de confio no povo, unicamente o povo.”
1791. Esta constituição estabelecia, na França, a Monarquia Nas ruas de Paris e das grandes cidades, os sans culottes
Parlamentar, ou seja, o Rei ficaria limitado pela atuação do (maneira como os pobres das cidades se identificavam) se
poder legislativo (Parlamento). agitavam pedindo a prisão dos responsáveis pelas derrotas
Neste poder legislativo era escolhido através do voto da França diante dos exércitos austríacos e prussianos. 
censitário e isso equivalia dizer que o poder continuava nas 3ª fase - A Convenção Nacional
mãos de uma minoria, de uma parte privilegiada da burgue- A 2 de setembro, pela manha, chegou a Paris a notícia
sia. Resumindo, o que temos é uma Monarquia Parlamentar de que Verdun estava sitiada; Verdun, a última fortaleza entre
dominada pela alta burguesia e pela aristocracia liberal, lide- Paris e a fronteira. Imediatamente, foi lançada uma proclama-
rada, por exemplo, pelo famoso La Fayette, é o total afasta- ção aos cidadãos: “À s armas cidadãos, às armas! O inimigo
mento do povo francês. Os setores populares estavam des- está às portas !” Vários prisioneiros, suspeitos de ligação com
contentes, porque continuavam ainda sob o despotismo, não o antigo regime, foram massacrados pela população. No dia
o da monarquia absoluta mas o despotismo dos homens do 20 de setembro de 1792, chegou a Paris a notícia da esmaga-
dinheiro, setores tradicionais da nobreza e do clero conspi- dora vitória dos exércitos franceses sobre os exércitos prus-
ravam, com a anuência do Rei, para tentar restaurar o antigo sianos e, no mesmo dia. foi oficializada a proclamação da Re-
regime. pública, a primeira da França. Agora, o órgão que governará
Os grupos políticos organizavam-se para definir suas po- a França será a Convenção eleita por voto universal.
sições: A situação dos “partidos” políticos ficou mais nítida com
No recinto da Assembleia, sentava-se à esquerda o par- a Convenção: 
tido liderado por Robespierre, que se aproximava do povo: - À direita, o grupo dos girondinos defendendo os inte-
eram os Jacobinos ou Montanheses (assim chamados por se resses da burguesia, que nesse momento estava dominando
sentarem nas partes mais altas da Assembleia); ao lado, um a Convenção.
pequeno grupo ligado aos Jacobinos, chamados Cordeliers, - No centro, o grupo da planície (ou pântano), defen-
onde apareceram nomes como Marat, Danton, Hebert e ou- dendo os interesses da burguesia financeira, mas tendo
tros; no centro, sentavam-se os constitucionalistas, defen- uma atitude oportunista dizia-se estar do lado de quem
sores da alta burguesia e a nobreza liberal, grupo que mais estava no poder.
tarde ficará conhecido pelo nome de planície; à direita, fi- - À esquerda e no alto, a montanha (jacobinos), defen-
cava um grupo que mais tarde ficará conhecido como Gi- sores dos interesses da burguesia e do povo. 

12
HISTÓRIA

O que fazer com o Rei? Os girondinos queriam mantê- A Nova Ordem está vinculada aos interesses dos Esta-
-lo vivo, pois temiam que sua execução fizesse com que o dos Unidos. Detentor da maior economia mundial, o país
povo quisesse mais reformas, o que ia contra seus interesses. desenvolveu durante a Guerra Fria todo um arcabouço téc-
Os jacobinos queriam que o Rei fosse julgado e executado nico para aumentar a sua influência econômica, cultural e
como traidor da pátria. A proposta jacobina saiu vencedora militar ao redor do globo. Por outro lado, a Europa apostou
e o Rei foi executado. Os jacobinos tornavam-se cada vez na formação de um bloco econômico bastante ambicioso,
mais populares e eram apoiados pelos sans culottes. Por sua a União Europeia, que envolve relações econômicas e po-
vez, os exércitos franceses aproveitavam suas vitorias para líticas em torno do ideal de solidariedade e crescimento em
propagar os ideais da revolução, e os países de governos ab- conjunto. Com a adoção do Euro, no ano de 2002, o bloco
solutistas se sentiam cada vez mais sujeitos à propaganda atingiu o maior dos seus objetivos de integração regional,
liberal. O novo governo revolucionário francês fez reformas criando instituições para gerenciar esse modelo de organi-
de vários níveis, mas todas elas extremamente moderadas, zação política. Na composição do eixo dos países desenvol-
de tal forma que não questionassem o poder dos girondinos. vidos está o Japão, país que conta com alto grau de desen-
Entretanto, os girondinos no poder viam na guerra uma volvimento tecnológico, mas que está atravessando muitas
forma de aumentarem suas fortunas e, por isso, quanto mais dificuldades econômicas desde o início da Nova Ordem
altos os preços dos produtos (alimentos, roupas), melhor Mundial, principalmente pelo baixo crescimento econômico
para eles. Na verdade, eram eles que os vendiam e quem acumulado e o envelhecimento de sua população.
os comprava era o povo que, em sua extrema pobreza, não Esse cenário começou a sofrer algumas alterações ao fi-
podia comprar mercadorias caras. E nessa contradição que nal da década de 1990, quando o termo ‘países emergentes’
vamos entender o porque da queda do governo da Conven- começou a ganhar espaço nas análises da conjuntura econô-
ção do jacobinos. Os sans culottes, nas ruas de Paris, exigiam mica mundial. O crescimento expressivo e contínuo de países
reformas, controle dos preços, mercadorias baratas, salários como China e Índia, a recuperação econômica da Rússia, a
altos, e os girondinos exigiam exatamente o contrário. Nesse maior estabilidade econômica do Brasil e o desenvolvimento
momento, os jacobinos (montanheses) começam a liderar as social e tecnológico da Coreia do Sul ofereceram uma nova
reivindicações e conseguem que se forme a Comissão de Sal- característica para as relações internacionais: países que ape-
vação Publica, tendo por obrigação controlar os preços e de- nas detinham uma posição secundária no sistema capitalista
nunciar os abusos feitos pelos altos comerciantes girondinos. mundial passaram a influenciar mais ativamente o comércio
A agitação aumenta, os girondinos ficam cada vez mais internacional, conquistando maior poder nas decisões de
blocos e organizações mundiais.
temerosos diante das manifestações dos sans culottes. Au-
Em 2001, o economista Jim O’Nill do banco de investi-
mentando a crise, uma região inteira da França, chamada
mentos Goldman Sachs criou o termo BRIC’s, formado por
Vendéia, instigada pelo clero e pelos ingleses, levanta-se
Brasil, Rússia, Índia e China e que atualmente conta também
num movimento contrarrevolucionário. Entre maio e junho
com a presença da África do Sul. Para O’nill, esse grupo de
de 1793, o povo se levanta em Paris, cerca o prédio da Con-
países apresentaria o maior potencial de crescimento entre
venção e exige a prisão dos Deputados traidores, isto é, dos
as nações emergentes, algo que foi consolidado na década
girondinos. Os jacobinos (montanheses) aproveitaram as de 2000 e que foi absorvido pelos países em questão, que
manifestações de apoio dos sans culottes e depuseram os promovem reuniões anuais com o estabelecimento de acor-
girondinos, instaurando um novo governo. dos comerciais e projetos para a transferência de tecnologia.
Todas essas transformações recentes nos direcio-
nam para a seguinte reflexão: após duas grandes guerras,
5. O MUNDO CONTEMPORÂNEO. 5.1. NA a Pax  Americana estruturada ao final da 2a  Guerra Mundial
EUROPA, AS NOVAS LUTAS. pode estar passando por um processo de desconstrução?
A  crise econômica mundial expõe a fragilidade
momentânea da economia norte-americana. Além do
caráter conjuntural, as dificuldades econômicas dos EUA não
representam uma decadência de sua ideologia, que continua
A geopolítica mundial tem sofrido grandes modificações fortalecida, muito menos do seu poder e eficiência militar.
nos últimos 30 anos. A partir da década de 1980, as sucessi- Nenhum outro Estado-Nação emerge como redefinidor de
vas dissoluções dos regimes socialistas na Europa, marcadas valores e nem sequer existem candidatos para esse posto
pela queda do Muro de Berlim em 1989 e o enfraquecimento (desconsiderando as bravatas expressas por líderes como
do império soviético, demonstraram que a configuração das o presidente venezuelano Hugo Chávez ou o iraniano
relações políticas internacionais pós-Segunda Guerra estava Mahmoud Ahmadinejad).
prestes a se reestruturar. Em 1991, a União Soviética, país que Os EUA devem reformular seus sistemas de vigilância,
idealizou um projeto político-econômico de oposição ao do- segurança nacional e planejamento estratégico, a fim de
mínio ocidental capitalista, não conseguiu resistir às pressões confirmar o status quo geopolítico que foi determinado após
internas relacionadas ao multiculturalismo e à fragilidade de a sua consolidação como potência hegemônica. Mesmo a
sua economia. Sua decadência decretou o fim da Ordem da China possui limites quanto ao seu crescimento econômico
Guerra Fria e o início da Nova Ordem Mundial, liderada pe- e dificuldades para construir, em curto prazo, um mercado
los Estados Unidos e com uma estrutura baseada no confli- consumidor capaz de absorver tamanho crescimento. No
to Norte-Sul: a interdependência entre os países desenvol- caso da Europa, que foi atingida mais gravemente pela
vidos e os países subdesenvolvidos. crise econômica mundial, deve ocorrer uma mudança no

13
HISTÓRIA

planejamento de suas instituições que ainda precisam ser Em contrapartida, os nacionalistas tinham algumas
fortalecidas antes de apostarem na integração de países divergências com os liberais. De acordo com seus princí-
que possuem economias mais frágeis e limitadas a setores pios, a abertura ao capital estrangeiro traria conseqüên-
menos modernos ou até mesmo pouco produtivos. cias penosas ao país. Eles enxergavam que a transferência
Mais do que a transformação na Pax Americana, mere- de tecnologia oriunda do exterior para o Brasil, de acordo
ce destaque a reformulação da ONU. A atual configuração com a proposta liberal, não traria facilmente o desenvolvi-
da organização supranacional parece estar mais condizente mento da nação. Seria inconcebível acreditar que as potên-
com o momento histórico que a Europa viveu entre o final cias econômicas mundiais transformariam as nações eco-
do século XIX e a 2a Guerra Mundial (redefinição de frontei- nômicas periféricas em futuros concorrentes comerciais.
ras) e com a bipolaridade imposta pelo período da Guerra Por isso, eles defendiam um desenvolvimento consolidado
Fria. Os debates acerca das novas funcionalidades da or- pelo capital nacional. 
ganização devem ser fundamentados na adaptação a es- Como o setor industrial carecia da disponibilidade de
ses novos tempos, em que os atos extremos, individuais ou capitais nacionais, o Estado deveria ter um papel de ampla
planejados a partir de células terroristas, tornam-se difíceis participação na economia. Através dos recursos arrecada-
de serem conduzidos por uma estrutura geopolítica como
dos pelo sistema fiscal e tributário, o governo brasileiro
a atual, ainda muito preocupada com os interesses parti-
transformava-se em um grande investidor da economia
culares nacionais e regionais. As problemáticas globais tais
nacional. Além disso, para mobilizar a população em torno
como meio ambiente, escassez de água, terrorismo, violên-
cia, energias alternativas, entre tantos outros, requerem o do projeto desenvolvimentista, o governo deveria preocu-
abandono dessas práticas políticas obsoletas e a introdução par-se em consolidar políticas sociais. 
de uma nova racionalidade pautada em valores universais. Com o acirramento político causado pela Guerra Fria,
Até porque uma pitada de utopia nunca é demais. os partidários desses dois diferentes projetos protagoniza-
Fonte: http://brasilescola.uol.com.br/geografia/confi- vam o conflito político-ideológico da época. Os naciona-
guracoes-do-mundo-contemporaneo.htm listas diziam que os liberais de “entreguismo” e os nacio-
nalistas eram acusados de serem simpáticos a princípios
comunistas. Dessa maneira, criou-se uma grande cisma
entre as personalidades políticas nacionais da época. 
PTB e o UDN tornaram-se, respectivamente, os dois
5.1.1. O FENÔMENO DO NACIONALISMO E O
grandes redutos partidários do nacionalismo e do liberalis-
TRIUNFO DO LIBERALISMO POLITICO. mo. Os demais partidos não possuíam uma posição política
definida. Dispersos em diferentes correntes, os partidos de
menor expressão política modificavam suas alianças políti-
A posição do Brasil frente suas principais questões e o cas de acordo com as possíveis vantagens a serem obtidas.
cenário político internacional dos anos cinqüenta inseriram Formavam uma base de apoio despolitizada e interesseira. 
a nação em um grande dilema político. O fim da Segunda Entre os militares surgiu uma instituição de ensino que,
Guerra Mundial abriu portas para um verdadeiro “lotea- naquele período, fez grande oposição ao projeto naciona-
mento” ideológico que dividiu o mundo entre os blocos lista. A chamada Escola Superior de Guerra, fundada pelo
comunista e capitalista. Nesse sentido, o Brasil sofreu fortes major Golbery do Couto e Silva, pregava que o projeto na-
pressões políticas dos Estados Unidos, que desde a Dou- cionalista mascarava o apoio aos ideais do “ameaçador”
trina Monroe firmou uma política de preservação de seus bloco comunista. Ao longo do tempo, a Escola Superior se-
interesses no continente americano.  ria um grande reduto de doutrinação das classes militares
Internamente, duas grandes correntes políticas ganha- da nação. 
ram destaque: o liberalismo e o nacionalismo. O projeto li-
Durante o período democrático vivido após a vigência
beral acreditava que o recente desenvolvimento industrial
da Constituição de 1945, o Brasil orientou sua trajetória po-
brasileiro tornava indispensável a busca de capitais que fi-
lítica em meio a esses dois discursos majoritários. Ao mes-
nanciassem o crescimento econômico nacional. Dessa for-
ma, os liberais apoiavam a busca de empréstimos e a entra- mo tempo, os Estados Unidos faziam forte pressão para
da de empresas multinacionais. Só assim, de acordo com a que o nacionalismo não representasse uma via de acesso
política liberal, o país alcançaria os recursos financeiros e a aos setores de esquerda no país. No plano interno, os pro-
tecnologia necessária ao seu desenvolvimento. blemas sociais e o agravamento das questões econômicas
Mesmo aumentando os valores da dívida externa na- logo criariam o afloramento de confrontos sociais e greves
cional, a contração de empréstimos ainda era vista de forma que não suportariam a alternância entre projetos de desen-
positiva pelo projeto liberal. Na medida em que a economia volvimento indefinidos.
se desenvolvia, a questão da dívida externa tornava-se uma Fonte: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/his-
questão contornável. Já a fuga de capitais seria recompen- toriadobrasil/liberalismo-x-nacionalismo.htm
sada por meio da atração de mais recursos, pois os lucros
obtidos pelas empresas estrangeiras seriam o sinal de que o
Brasil era uma nação lucrativa. O governo teria como gran-
de função controlar os índices inflacionários e a emissão
de moedas. 

14
HISTÓRIA

4. Esta visão do Brasil, que é compartilhada, com entu-


5.1.2. OS TRABALHADORES, SUAS LUTAS, siasmo, pelo chamado “mercado” que, na realidade, é cons-
tituído por uma ínfima minoria de proprietários e executivos
SEUS PROJETOS E SUAS IDEOLOGIAS.
de grandes empresas, basicamente multinacionais, e de me-
gabancos e de acadêmicos de escola neoliberal, tem amplo
apoio dos proprietários da grande mídia ortodoxa, que pro-
1. Há uma luta ideológica, política e econômica entre curam apresentar esta visão como a única correta e as políti-
dois projetos para o Brasil, como Nação, como Sociedade, cas dela decorrentes como a única solução para o Brasil evitar
como Estado. a catástrofe final.
2. Estes dois projetos decorrem de visões distintas da so- 5. Seria possível afirmar que o “Mercado” é integrado pe-
ciedade brasileira, de suas características, de seu potencial, los 71 mil brasileiros que declararam à Receita Federal terem
de seu lugar no mundo. rendimentos superiores a 160 salários mínimos, cerca de 160
3. O primeiro projeto para o Brasil se encontra mil reais por mês, e que são os indivíduos que determinam
articulado, e em acelerada execução, no programa econômico de fato os movimentos das Bolsas, as grandes operações com
e político de Michel Temer e Henrique Meirelles, o qual divisas e as decisões de realizar ou não investimentos especu-
decorre de uma visão do Brasil que pode ser assim resumida: lativos ou produtivos.
· o principal desafio da economia e da sociedade 6. A síntese das politicas adotadas pelos formuladores e
brasileira seria a inflação; executores deste projeto para o Brasil, que é impulsionado
· a economia brasileira não poderia crescer a taxas por Michel Temer e Henrique Meirelles, é a seguinte:
superiores a 3 % a/a sob risco de gerar inflação, a qual (a) congelamento dos gastos e investimentos públicos,
poderia se tornar incontrolável ; em nível constitucional, durante vinte anos;
· a principal causa da inflação seria o desequilíbrio fiscal, (b) nenhum controle sobre as despesas do Estado com os
o desequilíbrio entre receitas e despesas do Estado; juros da dívida pública que correspondem a um valor entre 40
· somente a iniciativa privada, brasileira, mas em especial e 50% do orçamento federal;
a estrangeira, seria capaz de enfrentar e resolver todos os (c) desregulamentação, privatização e desnacionalização
desafios da economia, e como consequência, da sociedade e dos sistemas públicos:
do sistema político brasileiro; v de educação;
· o Estado constituiria o maior obstáculo ao funcionamento v de saúde ;
de uma economia capitalista eficiente; v de previdência e assistência social.
· a intervenção do Estado como empresário e (d) desregulamentação total do mercado de trabalho:
regulamentador da atividade econômica afastaria e inibiria v prevalência do negociado sobre o legislado;
os investidores privados nacionais e estrangeiros; v terceirização em todos os setores de atividade das empresas;
· a redução da dimensão e da competência do Estado, v trabalho temporário;
assim como de sua capacidade de intervir na economia v fim do imposto sindical;
como regulamentador e empresário, seriam objetivos v fragilização dos sindicatos;
indispensáveis para liberar as energias e a vontade de v revisão da fórmula de atualização do salário mínimo;
investir da iniciativa privada; v enfraquecimento da Justiça do Trabalho e sua eventual
· o capital estrangeiro deveria ser o motor do desaparição.
desenvolvimento da economia capitalista no Brasil; (e) abertura total de todos os setores da economia para
· os custos do trabalho (salários, direitos etc.) seriam facilitar a aquisição de empresas brasileiras e a realização de
muito elevados no Brasil; investimentos pelas megaempresas de capital estrangeiro;
· os impostos no Brasil, que constituem em seu conjunto (f) desregulamentação de todos os setores da economia
a chamada carga tributária, seriam elevados e complexos; e redução da fiscalização do Estado sobre as atividades das
· o Brasil, pelas suas características e recursos, deveria ser empresas;
um país produtor/exportador de matérias primas agrícolas e (g) privatização (desnacionalização) de todas as empresas
minerais e importador de produtos industrializados; do Estado, em especial da:
· a atividade industrial no Brasil deveria estar limitada ao · Petrobras
processamento de matérias primas e à produção de bens · Eletrobras
industriais de tecnologia simples; · BNDES
· a economia brasileira seria “fechada”, o que prejudicaria · Caixa Econômica
a inserção do Brasil na economia internacional globalizada; · Banco do Brasil
· o Brasil, devido a sua história, a seus valores e a seus · Casa da Moeda
interesses econômicos, deveria ter como aliados naturais, · Eletronuclear
na política e na economia mundial, os Estados Unidos da · etc.
América e os países europeus, o chamado Ocidente; (h) entrega, em condições excepcionais, a megaempresas
· os países latino americanos, africanos e asiáticos não multinacionais petrolíferas das enormes reservas do pré-sal.
teriam maior contribuição a dar ao Brasil;  
· a política exterior brasileira deveria ser discreta, aceitar 7. Essas políticas reduziriam ao mínimo as dimensões e
nossa pequena importância e Poder, e se ater a sua região, a competência do Estado como investidor; como promotor
em aliança (informal) com os objetivos dos Estados Unidos. do desenvolvimento; como regulador e fiscalizador da ati-
  vidade econômica.

15
HISTÓRIA

8. Essas políticas, de uma forma ou de outra, imple- 14. O governo Temer, com o auxílio, “remunerado”, de
mentam o que os Estados Unidos da América e as potências sua maioria no Congresso, e de integrantes do Poder Judiciá-
capitalistas e industriais ocidentais vêm demandando do Bra- rio, desde a primeira instância até o Supremo Tribunal Federal,
sil há varias décadas. De certa forma, estão todas previstas vem procurando tornar permanentes as políticas econômicas
no Consenso de Washington, documento redigido por repre- que implementa através de reformas que consolidem, no sis-
sentantes do FMI, do Banco Mundial, do Departamento do tema político/judiciário, o poder das classes hegemônicas tra-
Tesouro americano e acadêmicos, em 1989. dicionais, tais como:
9. Essas políticas vêm sendo executadas por um governo · a adoção do parlamentarismo (semi-presidencialismo
com escassíssima popularidade e elevadíssima rejeição, com etc.);
o auxílio de um Congresso que se caracteriza por ter gran- · o financiamento privado, em especial empresarial, de
de número de seus membros comprometidos por denúncias campanhas;
de corrupção e por ter uma larga maioria de representantes · o voto distrital, em suas diversas formas;
de setores empresariais, eleitos por contribuições financeiras · a adoção do voto voluntário;
de grandes empresas. A legislação, caracterizada por ser um · a redução do tempo de campanha política;
retrocesso histórico, é aprovada de forma apressada e com · o fim da reeleição.
pequeno debate público, apesar de sua enorme importância.  
10. A determinação em fazer aprovar essas políticas pelo 15. A atitude, leniente e conivente, do governo Temer
Congresso e a necessidade de rejeitar as denúncias de cor- diante das violações de direitos humanos no campo e nas ci-
rupção apresentadas pela Procuradoria Geral da República fez dades contra os indivíduos mais pobres e vulneráveis, o silên-
com que o governo de Michel Temer “adquirisse” os votos cio diante das manifestações de racismo e das ações violentas
das bancadas de parlamentares que representam os interes- de grupos de direita, em público e na Internet, leva a uma di-
ses mais conservadores, tais como a bancada da bala, as ban- visão ainda mais profunda da sociedade, com o aguçamento
cadas religiosas, a bancada ruralista etc. dos preconceitos raciais, de gênero, de orientação sexual, e ao
11. Os compromissos do Governo com essas bancadas antagonismo em relação à política e às instituições, criando
conservadoras levaram à adoção não somente de leis e de- uma situação propícia ao desenvolvimento de movimentos
cretos como de medidas administrativas que representam fascistas e conducente a regimes autoritários e à ditadura.
grave retrocesso nas áreas de direitos humanos tanto políti- ***
cos, como econômicos e sociais, que se encontram protegi- 16. O segundo projeto para o Brasil parte da seguinte
dos pela Constituição em seus artigos 5º e 6º e por tratados visão da realidade:
internacionais subscritos pelo Brasil. · a primeira e principal característica do Brasil é seu
12. Paralelamente, se verifica uma politização do Poder Ju- extraordinário potencial que é definido por ter o Brasil o
diciário, da Polícia, do Ministério Público e do Tribunal de Con- quinto mais extenso território do mundo e, portanto, ampla
tas da União, que se comprova pelo seu afã persecutório contra gama de recursos minerais; por ter a quinta maior população
o PT, contra seu líder o Presidente Lula e contra os direitos dos do mundo, 207 milhões de habitantes e, portanto, amplo
trabalhadores, e por sua leniência e “ignorância” em relação a mercado interno potencial; e por ter um dos maiores parques
delitos cometidos por partidos e políticos conservadores. industriais do mundo;
13. Essa politização do Judiciário em todos os seus níveis, · a segunda característica do Brasil é o subdesenvolvimento
desde as Varas de Primeira Instância ao Supremo Tribunal Fe- de sua força de trabalho, de seu capital e de seus recursos
deral (STF), dos procuradores individuais até a Procuradoria naturais;
Geral da República (PGR) e da Polícia Federal leva a práticas e · a terceira característica do Brasil são as extraordinárias
decisões que agridem os princípios fundamentais do Direito e disparidades de riqueza; de renda; regionais; de gênero; de
violam os direitos dos cidadãos: origem étnica; culturais; e políticas;
· a tortura física ou psicológica (longas prisões, sem culpa · a quarta característica é a sua extrema vulnerabilidade
formada) para extrair confissões e delações; externa, de natureza econômica, tecnológica, ideológica,
· a desmoralização pública de acusados pela Polícia militar e política;
(condução coercitiva, uso de algemas, ostentação de força); · a quinta característica é a fragilidade do Estado.
· a intimidação, através da imposição de penas absurdas,  
àqueles que são acusados por delatores; 17. Para enfrentar os múltiplos desafios que aquelas cinco
· o vazamento seletivo de trechos de delações; características colocam é necessária uma estratégia de desen-
· a “convicção de culpa” dos juízes como único fundamento volvimento que conjugue a ação da iniciativa privada nacio-
para condenar acusados; nal, do capital estrangeiro e do Estado.
· a não observância do princípio de presunção de inocência do 18. Os investidores privados e as empresas tendem a se
início das investigações até o trâmite da sentença final em julgado; concentrar, por definição, nas atividades em que há maior
· a transferência para o acusado do ônus da prova; perspectiva de lucro, menor risco e menor concorrência in-
· não obediência ao principio de não retroatividade da Lei; terna e externa e, portanto, não são capazes, sozinhos, de
· a aplicação incorreta da teoria do “domínio do fato”; enfrentar com êxito os desafios que as características da so-
· a criação de tribunais e juízes de exceção; ciedade brasileira colocam.
· a violação da privacidade da família dos acusados; 19. Os investimentos de longo prazo, em especial em in-
· a extensão da pena, na prática, à família do acusado; fraestrutura e de menor rendimento são inibidos, pois o
· a excitação da opinião pública contra indivíduos Estado, que tem competência constitucional por sua pres-
denunciados. tação, não tem capacidade para realizá-los, delegando-os

16
HISTÓRIA

à iniciativa privada que só os assume quando consegue c. no Transporte:


obter, em contrato, condições excepcionais de remunera- · gratuidade do transporte público de massa.
ção, enquanto que as empresas muitas vezes descumprem, d. na Moradia:
mais tarde, os compromissos que tinham assumidos. · crédito público acessível para a aquisição de casa
20. Para tais investimentos não há financiamento sufi- própria, digna e saudável.
ciente do sistema bancário privado, a juros e prazos ade- e. a organização pelo poder público do mercado de
quados, o que cria uma dependência do BNDES, da CEF e trabalho:
do Banco do Brasil e a necessidade de sua existência. · a formalização da situação dos trabalhadores, com
21. O Estado, sozinho, igualmente não é capaz de en- fiscalização rigorosa da obrigação de carteira de trabalho;
frentar de forma eficiente esses desafios e tem de se forta- · política de valorização do salário mínimo;
lecer financeira e tecnicamente para enfrentar a parte que · aperfeiçoamento da Previdência Pública.
lhe cabe desses desafios. 28. A organização e o desenvolvimento do capital em
22. O capital estrangeiro, também sozinho, não seria suas três naturezas, financeira, física e empresarial, é
capaz de enfrentar esses desafios, múltiplos, complexos e indispensável para o desenvolvimento e a geração de
inter-relacionados, até por não ter uma visão global e na- empregos capaz de absorver a força de trabalho que
cional do Brasil e nem competência legal para tal tarefa. chega todo ano ao mercado e os estoques de mão de obra
23. A segunda característica  do Brasil é o subempregada e de baixa capacitação.
subdesenvolvimento, que pode ser definido como a utili- 29. Quanto ao capital financeiro:
zação, com menor eficiência e plenitude, de seus fatores de · manutenção de baixas taxas de juros e redução do
produção, isto é, de sua força de trabalho, de seu capital e spread bancário;
de seus recursos naturais. · desprivatização do Banco Central;
24. A população brasileira é de 207 milhões de indi- · desprivatização das agências reguladoras;
víduos e a população adulta corresponde ao número de · controle rigoroso de evasão de impostos;
eleitores, que é de cerca de 140 milhões. · controle da evasão de divisas para o exterior;
25. Os brasileiros adultos que declararam rendimentos · fortalecimento das instituições financeiras públicas.
à Receita Federal em 2015 foram 27 milhões, que são aque- 30. Quanto ao capital em sua natureza física:
les que percebiam rendimentos mensais superiores a 2.200 · estimular a indústria de bens de capital instalada no
reais por mês ou tinham algum imóvel. país;
26. Assim, cerca de 110 milhões de brasileiros estariam · organizar programas de compras governamentais da
fora do mercado devido a seu nível salarial mensal insufi-
produção brasileira;
ciente (inferior a 2.200 reais mensais) para adquirir muitos
· estimular a nacionalização da indústria instalada no
dos bens que seriam produzidos pela iniciativa privada, tais
Brasil por políticas de conteúdo nacional, conjugadas a
como saúde (remédios, cirurgias, internações, etc.) educa-
compras governamentais.
ção de qualidade adequada em todos os níveis, transporte
31. Quanto ao capital em sua natureza empresarial:
privado, moradia a preço de mercado, seguro de previdên-
cia privada etc. · financiamento preferencial às empresas de capital
27. A organização e desenvolvimento da força de nacional;
trabalho, essencial para que a maioria dos brasileiros pos- · participação dos empresários produtivos, industriais,
sam se tornar mais produtivos e melhores cidadãos do agrícolas e de serviços, nos conselhos de administração das
ponto de vista cultural e político e, portanto, para ampliar instituições financeiras públicas.
o mercado para a iniciativa privada, exigem políticas no 32. A organização e o desenvolvimento da explo-
campo da educação, da saúde, da segurança pública, do ração dos recursos naturais do território brasileiro é
saneamento, do transporte e políticas públicas de salários, o terceiro desafio do subdesenvolvimento. As medidas
previdência pública e assistência. Essas políticas são nume- prioritárias seriam:
rosas e complexas e serão mencionadas em princípio aque- a. no caso do solo:
las que poderiam ser consideradas essenciais e prioritárias · a reforma agrária, com desapropriações com base no
em cada área. valor do imposto territorial declarado pelos proprietários;
a. na Educação: · o controle severo do desmatamento, pela tributação;
· ensino público, laico e gratuito para todos que assim · o zoneamento econômico do uso do solo;
desejarem; · o controle do uso da água.
· implantação de horário integral em todas as escolas, b. no caso do subsolo:
do ensino fundamental e médio, públicas e privadas; · o estimulo à formação de geólogos;
· a organização da carreira de professor com salários · o mapeamento geológico de todo o território;
dignos e atraentes. · a limitação da propriedade do solo por empresas e
b. na Saúde: por indivíduos estrangeiros;
· uma política de prioridade à saúde preventiva e não · controle da exploração do subsolo.
à curativa; 33. A terceira característica  da sociedade e da
· a coleta regular de lixo, o abastecimento de água economia brasileiras são as disparidades de toda ordem
tratada e a coleta de esgoto em todas as comunidades; que entravam o desenvolvimento econômico, político
· o acesso gratuito de toda a população à assistência e social brasileiro. As principais medidas em cada setor
médica. seriam as seguintes:

17
HISTÓRIA

a. disparidades de riqueza e de renda: · impedir a formação de oligopólios de comunicação e


· implantação de um sistema tributário progressivo a propriedade cruzada dos meios;
com o fim das isenções de que gozam os indivíduos mais · a democratização e desconcentração da alocação das
ricos e as grandes empresas; verbas oficiais de propaganda;
· o combate rigoroso à evasão de impostos. · o fortalecimento da mídia comunitária de rádio e
b. disparidades regionais e intra-urbanas: televisão;
· tratamento diferencial tributário para investimentos em · financiamento especial a rádios, televisões e editoras
munícipios e distritos urbanos de baixa renda. de acordo com sua programação de produtos culturais
c. disparidades de gênero: brasileiros;
· controle e punição severa da violência contra as · financiamento de produção, da distribuição e da
mulheres; exibição da produção audiovisual brasileira.
· salário igual para funções iguais. 38. No campo militar, as medidas e políticas que redu-
d. disparidades de origem étnica: zem a vulnerabilidade externa seriam:
· controle e punição severa das manifestações racistas e · financiamento especial a empresas de defesa de
das agressões de natureza étnica, inclusive na Internet; capital nacional;
· libertação dos indivíduos que se encontram presos sem
· fortalecimento e diversificação das instituições de
terem sido condenados.
formação de oficiais superiores;
e. disparidades culturais:
· não adesão a tratados desiguais na área militar;
· ingresso gratuito para os trabalhadores sindicalizados
em espetáculos culturais de excelência (concertos, exposições, · fortalecimento da capacidade dissuasória do país.
etc.); 39. No campo político, a vulnerabilidade externa se re-
· desconto de 50% na aquisição de livros por trabalhadores duziria:
sindicalizados. · por uma política de não intervenção e de respeito
f. disparidades de poder político: absoluto ao direito de autodeterminação dos países
· fortalecimento das conferências nacionais; vizinhos sul-americanos;
· aumento do tempo de campanha política; · pela cooperação econômica e financeira com esses
· adoção do sistema de revogação de mandato eletivo; vizinhos;
· combate às manifestações de intolerância política e · pelo fortalecimento de um bloco sul-americano de
religiosa na Internet. nações;
33. A quarta característica da sociedade brasileira é a · pela participação ativa no bloco dos BRICS;
vulnerabilidade a pressões, ameaças e agressões externas, nos · pela campanha política permanente para inclusão do
campos econômico, tecnológico, ideológico, político e militar. Brasil no Conselho de Segurança.
34. A redução das vulnerabilidades depende do aumento 40. A quinta característica brasileira é a fragilidade
da presença nacional nos diversos setores da sociedade em do Estado em seus três Poderes.
que se verifica a influência externa e na maior capacidade da 41. As medidas prioritárias para enfrentar as fragilida-
sociedade de influir sobre esses setores no sentido de induzí- des do Poder Legislativo seriam:
-los a agir de acordo com os interesses gerais e não apenas · a adoção e fiscalização de sistemas efetivos de
em favor de seus interesses individuais, ou de interesses es- inscrição partidária, de contribuição partidária obrigatória
trangeiros. e de realização de convenções periódicas para debate
35. No campo econômico, as principais medidas e po- político e escolha das direções partidárias;
líticas que reduziriam a vulnerabilidade seriam as seguintes: · a proibição de troca de partido pelos representantes
· controle do endividamento das empresas privadas no eleitos;
exterior; · a atualização do número de representantes por Estado
· a diversificação das exportações, em especial de
de acordo com sua população e extensão territorial;
manufaturas;
· a adoção do sistema de referendo revogatório para
· a exigência às empresas estrangeiras de exportar para
promover a modernização do parque industrial brasileiro; mandatos parlamentares;
· não participação em acordos internacionais econômicos · financiamento público de campanhas eleitorais e
que reduzam a capacidade de realizar políticas de limitação de gastos por candidato.
desenvolvimento.  
36. No campo tecnológico, as principais medidas que re- 42. As medidas necessárias para reduzir as fragilidades
duziriam a vulnerabilidade seriam as seguintes: do Poder Executivo seriam:
· organizar e reforçar centros de formação cientifica e · revogar a Emenda Constitucional 95 que congela as
tecnológica de excelência; despesas primárias por 20 anos;
· conceder bolsas de estudos vinculadas a resultados nas · substituir o tripé da política macroeconômica (câmbio
áreas de ciências exatas e aplicadas desde o ensino médio ao flutuante, meta de inflação, meta de superávit fiscal) por
universitário, para estimular vocações cientificas; metas de desenvolvimento e de emprego;
· conceder prêmios de excelência e de realizações nas · utilizar o orçamento como instrumento para combater
áreas de ciências exatas e aplicadas. a recessão econômica e estimular o desenvolvimento;
37. No campo ideológico, as medidas e políticas que · estabelecer uma política de juros que estimule o
reduziriam a vulnerabilidade seriam: investimento privado;

18
HISTÓRIA

· combater a sonegação e a evasão de impostos; “Essa expansão deu inicio a chamada fase imperialista
· combater a evasão de divisas para paraísos fiscais; do capitalismo, da qual participaria a maioria das nações in-
· realizar a auditoria da dívida pública; dustrializadas. Uma das formas adotadas pelo imperialismo
· combater o super e o sub faturamento no comércio nessa expansão foi a partilha da áfrica e da Ásia, a criação de
exterior. áreas de influencia em diversas regiões do planeta e a forma-
43. No Poder Judiciário, as medidas prioritárias seriam: ção de novos impérios coloniais. A essa forma especifica de
· despolitizar o Judiciário, com a nomeação para o dominação imperialista se deu o nome de neocolonialismo”.
Supremo Tribunal Federal do mais antigo (no cargo) Ministro (PAZZINATO, Alceu L. & SENISE, Maria Helena V. História Mo-
do Superior Tribunal de Justiça e a nomeação para os tribunais derna e Contemporânea. São Paulo: Ática, 2002, p. 226).
estaduais do mais antigo (no cargo) juiz de primeira instância;
· garantir o cumprimento pelos juízes de primeira Imperialismo: a supremacia inglesa na Era Vitoriana
instância e pelos membros do Ministério Público dos direitos A indiscutível supremacia da Inglaterra – na Europa do
individuais, em especial: a presunção de inocência; o sigilo das século XIX atingiu seu apogeu entre 1850 e 1875. O país, que
investigações; a garantia da integridade física dos investigados; havia iniciado sua Revolução Industrial mais de cem anos an-
a não incitação da opinião pública contra investigados; tes, colocou-se quase um século na frente dos demais Esta-
· combater o abuso de poder por autoridades judiciárias, dos europeus. Somente na segunda metade do século XIX foi
policiais e do Ministério Público; que França, Itália e Alemanha começaram a avançar, mas não
· garantir o julgamento dos processos nos Tribunais pela o suficiente para abalar a hegemonia inglesa.
ordem cronológica de ingresso; A Inglaterra enviava homens, capitais, car­vão, tecidos e
· nomear para o Conselho Nacional de Justiça apenas máquinas para o mundo inteiro. A supremacia naval comple-
membros de fora do Poder Judiciário. tava a supremacia econômica. As camadas médias prospera-
*** vam, e seu papel político ganhava importância. Londres era a
44. A luta entre esses dois projetos para o Brasil é a luta entre: maior cidade do mundo, e o Parlamentarismo, um regime po-
· de um lado, o projeto de Temer e Meirelles que é o lítico estável, maleável para que as reformas se antecipassem
projeto dos setores mais tradicionais das classes hegemônicas às necessidades sociais. Assim, a Inglaterra evitou as agitações
e mais vinculados aos interesses das classes hegemônicas que assolaram a Europa dos fins do século XVIII ao século XIX.
das Grandes Potências, em especial da Potência Imperial, os A união de desenvolvimento econômico com progresso
Estados Unidos da América, com o objetivo de manter o Brasil social e estabilidade política criou condições para a formação
como um país médio, apequenado, produtor e exportador de de um vasto império colonial na América, África e Ásia.
produtos primários, território de exploração desenfreada da A dinastia Hannover, surgida no início do século XVIII,
mão-de-obra brasileira por megaempresas multinacionais, teve na rainha Vitória (1837-1901) o grande símbolo da vir-
de pequeno mercado interno e sem capacidade política tude e da perseverança inglesas. Ela governou o país durante
internacional e, o período de supremacia britânica, por isso mesmo chamado
· de outro lado, o projeto dos setores mais avançados de Era Vitoriana.
das classes tradicionais, em aliança com as forças sindicais
trabalhadoras, e setores modernos da classe média que Os Motivos da expansão imperialista
desejam construir no Brasil uma sociedade e um Estado que, As mudanças tecnológicas que caracterizaram a Segunda
com base no desenvolvimento de seu enorme potencial Revolução Industrial (motores a gasolina, diesel e eletricidade,
humano e de recursos, sejam mais desenvolvidos, mais produção de aço em larga escala) aumentaram ainda mais
prósperos, mais justos, mais democráticos, mais includentes, a produção, gerando uma grande necessidade de mercados
mais tolerantes, mais soberanos, mais capazes de se defender consumidores para os excedentes industriais. Além disso, as
a si mesmos e de contribuir para a Paz mundial. potencias centrais do capitalismo, precisavam encontrar fon-
Fonte: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/ge- tes de matérias-primas (carvão, ferro, petróleo) e de produtos
ral/48729/a+luta+entre+dois+projetos+para+o+brasil+.shtml alimentícios que faltavam em suas terras. Também buscavam
novas regiões para investir os capitais disponíveis, construin-
do ferrovias ou explorando minas, por exemplo.
5.2. O CAPITALISMO MONOPOLISTA E A Tal mecanismo era indispensável para aliviar a Europa
EXPANSÃO IMPERIALISTA A PARTIR DO dos capitais excedentes. Se eles fossem investidos na Euro-
pa, agravariam a superprodução e intensificariam a tendên-
SÉCULO XIX.
cia dos países europeus industrializados de adotar medidas
protecionistas, fechando seus mercados e tornando a situa-
ção ainda mais difícil. Some-se a tudo isso o crescimento
A Expansão Imperialista do século XIX acelerado da população européia, necessitada de novas
Definição de imperialismo terras para estabelecer-se. No plano político cada Estado
O Imperialismo do século XIX foi uma política de ex- europeu estava preocupado em aumentar seus contingen-
pansão e domínio territorial, cultural, econômico e político tes militares, para fortalecer sua posição entre as demais
de nações capitalistas que vivenciavam a segunda revo- potências. Possuindo colônias, disporiam de mais recursos
lução industrial. Está política deve ser entendida também e mais homens para seus exércitos. Tal era a política de
como impositora de novas formas de colonização – daí a revanche, característica da França, que buscava compensar
expressão neocolonialismo – que foi além do colonialismo as perdas na Europa, especialmente a Alsácia-Lorena, para
praticado dos séculos XV a XVIII, época do Antigo regime.

19
HISTÓRIA

os alemães. Ter colônias significava ter portos de escala e Uma delas, a de 1855, revelou uma oposição entre os se-
abastecimento de carvão para os navios mercantes e mili- guidores do neoclassicismo de Dominique Ingres e os do ro-
tares distribuídos pelo planeta. mantismo de Eugéne Delacroix. Este saiu vitorioso do emba-
Já a ação dos missionários religiosos, típica da segunda te, estendendo seu triunfo ao movimento cultural por ele re-
metade do século XIX, se encaixava em um discurso religio- presentado. Nesta mesma exposição o artista Gustave Courbet,
so e cultural que justificava o imperialismo. Eles desejavam ao ver seus trabalhos rejeitados, montou próximo ao salão das
converter africanos e asiáticos. Havia gente que considera- obras expostas seu Pavilhão do Realismo. Em 1867 seus esfor-
va mesmo um dever dos europeus espalhar sua civilização ços são recompensados, pois neste ano ele e sua obra tornam-
entre povos que julgavam primitivos, atrasados e inferiores. -se o centro das atenções, com o êxito da escola realista.
Na realidade, além do olhar etnocêntrico e preconceituoso, Ao mesmo tempo, este período testemunhou a escalada
esse discurso era o pretexto para justificar a colonização e do socialismo organizado e dos militantes operários. Os con-
espoliação das áreas dominadas. Foi nesse contexto que frontos criados por este novo cenário, somados às controvér-
assumiu importância um movimento intelectual e pseudo- sias políticas então vigentes, geraram um posicionamento dos
-científico. O desenvolvimento de ideologias racistas que, franceses entre a esquerda e a direita. Mesmo com esta tensão
partindo das teorias de Darwin, afirmavam a superioridade no ar, o contexto desta época é lembrado como a era dourada,
da raça branca: o etnocentrismo, baseado na idéia de que subitamente abalada pelo início da Primeira Guerra Mundial.
existiam povos superiores a outros (europeus superiores a Mudanças profundas marcam o cotidiano da Belle Époque,
asiáticos, indígenas e africanos). provocadas pelo aparecimento de novas tecnologias como o
Fonte: http://sergiokbsa.blogspot.com.br/2009/08/ telefone, o telégrafo sem fio, o cinema, a bicicleta, o automóvel,
expansao-imperialista-do-seculo-xix.html o avião, entre outras invenções. Paris se torna o centro cultural
mundial, com seus cafés-concertos, balés, operetas, livrarias,
teatros, boulevards e a alta costura inspirando e influenciando
várias regiões do Planeta. Toda a elite intelectual consome avi-
5.2.1. A BELLE ÉPOQUE. 5.2.2. A PERIFERIA damente os livros de Baudelaire, Rimbaud, Verlaine, Zola, Ana-
GLOBAL SOB DOMÍNIO DO CENTRO tole France e Balzac, uma referência existencial para os que
estavam sintonizados com os ares da Belle Époque.
CAPITALISTA: ÁFRICA, AMÉRICA E ÁSIA.
Fonte: https://www.infoescola.com/artes/belle-epoque/

A Belle Époque é normalmente compreendida como 6. O CONTINENTE AMERICANO NO


um momento na trajetória histórica francesa que teve
SÉCULO XIX. 6.1. OS EUA E A EXPANSÃO
seu início no final do século XIX, mais ou menos por volta
de 1880, e se estendeu até a eclosão da Primeira Guerra DAS FRONTEIRAS E CONSOLIDAÇÃO
Mundial, em 1914. Mas, na verdade, não é possível demar- DA ORDEM INTERNA E SUAS RELAÇÕES
car tão rigorosamente seus limites, uma vez que ela é mais EXTERNAS.. 6.2. AMÉRICA ESPANHOLA
um estado espiritual do que algo mais preciso e concreto. A DIFÍCIL CONSOLIDAÇÃO DA ORDEM
No Brasil, por exemplo, este período tem início em 1889, INTERNA: DO CAUDILHISMO AOS REGIMES
com a Proclamação da República, e vai até 1922, quando OLIGÁRQUICOS. 6.3. O ESTADO IMPERIAL
explode o Movimento Modernista, com a realização da Se- BRASILEIRO. 6.3.1. O PRIMEIRO REINADO.
mana da Arte Moderna na cidade de São Paulo. A Belle
Époque brasileira é, no entanto, instaurada lentamente no 6.3.2. O PERÍODO REGENCIAL.
país, por meio de uma breve introdução que começa em 6.3.3. O SEGUNDO REINADO.
meados de 1880, e depois ainda sobrevive até 1925, sendo
aos poucos minada por novos movimentos culturais. Imperialismo norte-americano é uma expressão
Esta era é até hoje relembrada como uma época de frequentemente utilizada para descrever um histórico de
florescimento total do belo, de transformações, avanços ações e doutrinas da política externa dos Estados Unidos que
e paz entre o território francês, onde este movimento se demonstram uma inequívoca intenção de controlar eventos
centralizou, e os países europeus mais próximos. Surgem em todo o mundo, de maneira que favoreça seus próprios
novas descobertas e tecnologias, e o cenário cultural fervi- interesses econômicos, políticos e estratégicos.
lha com o aparecimento dos cabarés, do cancan, do cine- As raízes desta prática já são encontradas logo após a
ma. A face artística é subvertida com o nascimento do Im- consolidação da independência do país, no início do século
pressionismo e da Art Nouveau. Em outras terras a arte XIX. Naquela época, o litoral do Mediterrâneo, próximo a Ar-
e a arquitetura nascentes neste momento são conhecidas gélia, Tunísia e Líbia era infestado por piratas financiados pe-
como obras de estilo ‘Belle Époque’. los governos locais, sendo que ambos dividiam os lucros dos
No Brasil a ligação com a França é profunda nesta fase ataques realizados. Para evitar ataques, todas as grandes
da História. Entre os membros da elite brasileira, era incon- potências da época pagavam tributos anuais aos três terri-
cebível não ir a Paris ao menos uma vez por ano, para estar tórios africanos, referidos então como Berbéria. Os norte-
sempre a par das mais recentes inovações. Em meados do -americanos, que durante algum tempo pagaram tal tribu-
século XIX, cinco importantes mostras internacionais orga- to, resolveram acabar por conta própria com tal esquema,
nizadas na cidade-luz indicaram as novas inclinações esté- em dois episódios chamados de Guerras Berberescas, a
ticas aos artistas de todo o mundo. primeira entre 1801 e 1805 e a segunda em 1815.

20
HISTÓRIA

Pouco depois, em 1823, surge a Doutrina Monroe, Constituição de 1824


anunciada pelo presidente James Monroe. Esta é geral- Em 1823, durante a elaboração da primeira Consti-
mente resumida na frase “América para os americanos”, ex- tuição brasileira, os políticos tentaram limitar os poderes
pressando a ideia de que todos os territórios do continente do imperador. Foi uma reação política a forma autoritária
possuem direito à independência. Na prática, a Doutrina de governar do imperador. Neste mesmo ano, o imperador,
Monroe serve para “expulsar” gradualmente Grâ-Bretanha insatisfeito com a Assembleia Constituinte, ordenou que as
e França, potências ainda com alguma influência nas Amé- forças armadas fechassem a Assembleia. Alguns deputados
ricas, colocando em seu lugar os Estados Unidos, que aca- foram presos.
bam por “apadrinhar” econômica e politicamente todos os D. Pedro I escolheu dez pessoas de sua confiança para
países da área. elaborar a nova Constituição. Esta foi outorgada em 25 de
O próximo movimento importante do imperialismo março de 1824 e apresentou todos os interesses autoritários
norte-americano é a Doutrina do “Big Stick”, (ou porrete, do imperador. Além de definir os três poderes (legislativo,
em português), levada a cabo pelo presidente Theodore executivo e judiciário), criou o poder Moderador, exclusivo
Roosevelt, onde os EUA passam a agir através de guerras, do imperador, que lhe concedia diversos poderes políticos.
ou fomento de revoluções ou ainda mediante influência A Constituição de 1824 também definiu leis para o pro-
econômica, para aumentar sua influência no planeta. O cesso eleitoral no país. De acordo com ela, só poderiam votar
país naquela época já se tornara uma potência industrial, e os grandes proprietários de terras, do sexo masculino e com
prova sua superioridade na Guerra Hispano-Americana de mais de 25 anos. Para ser candidato também era necessário
1898, ao tomar Cuba, Porto Rico e Filipinas da Espanha. comprovar alta renda (400.000 réis por ano para deputado
Além disso, anexa o Havaí e é influência determinante na federal e 800.000 réis para senador).
independência do Panamá, então um província colombia-  
na. É ali que pouco depois será construído o Canal do Pa- Guerra da Cisplatina
namá, uma via que liga de modo eficaz os oceanos Atlân-  
tico e Pacífico. A Zona do Canal, que inclui o canal e áreas Este foi outro fato que contribuiu para aumentar o des-
circundantes, ficará em posse dos Estados Unidos de 1903 contentamento e a oposição ao governo de D. Pedro I. Entre
a 1999. 1825 e 1828, o Brasil se envolveu na Guerra da Cisplatina,
As duas guerras mundiais contribuem definitivamente conflito pelo qual esta província brasileira (atual Uruguai) rei-
para o enfraquecimento das potências europeias e o vindicava a independência. A guerra gerou muitas mortes e
crescimento dos EUA, que saem vencedores dos dois gastos financeiros para o império. Derrotado, o Brasil teve
conflitos, sem ter seu território ocupado em qualquer que reconhecer a independência da Cisplatina que passou a
ocasião. A partir daí, o imperialismo se torna um veículo se chamar República Oriental do Uruguai.
para recrutar outros países e fazer frente à nova ameaça Confederação do Equador
do período da Guerra Fria, a União Soviética. Com o co- As províncias de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do
lapso desta, os EUA experimentam um período como po- Norte e Ceará formaram, em 1824 a Confederação do Equa-
tência hegemônica, chegando ao ponto de promover até dor. Era a tentativa de criar um estado independente e au-
guerras preventivas, ou seja, ataques a países onde há séria tônomo do governo central. A insatisfação popular com as
contestação às políticas norte-americanas e seus interes- condições sociais do país e o descontentamento político da
ses. classe média e fazendeiros da região com o autoritarismo de
Atualmente, em momento de crise econômica global D. Pedro I foram as principais causas deste movimento.
e de contenção de gastos, os EUA procuram exercer sua Em 1824, Manuel de Carvalho Pais de Andrade tornou-se
influência de modo mais discreto, sem despertar grande líder do movimento separatista e declarou guerra ao gover-
reprovação da opinião pública em geral. no imperial. 
Fonte: https://www.infoescola.com/politica/imperialis- O governo central reagiu rapidamente e com todos as
mo-norte-americano/ forças contra as províncias separatistas. Muitos revoltosos fo-
ram presos, sendo que dezenove foram condenados a morte.
Introdução A confederação foi desfeita, porém a insatisfação com o go-
O Primeiro Reinado é a fase da História do Brasil que verno de D. Pedro I só aumentou.
corresponde ao governo de D. Pedro I. Tem início em 7 de A saída de Dom Pedro I do governo imperial repre-
setembro de 1822, com a Independência do Brasil e termi- sentou uma nova fase para a história política brasileira.
na em 7 de abril de 1831, com a abdicação de D. Pedro I. Não tendo condições mínimas para assumir o trono, Dom
O governo de D. Pedro I enfrentou muitas dificuldades Pedro II deveria aguardar a sua maioridade até alcançar
para consolidar a independência, pois no Primeiro Reina- a idade exigida para tornar-se rei. Nesse meio tempo, os
do ocorrem muitas revoltas regionais, oposições políticas agentes políticos daquela época disputaram o poder entre
internas. si no chamado Período Regencial, que vai de 1831 até 1840. 
Reações ao processo de Independência Sendo fruto da Constituição de 1824, os grupos políticos exis-
Em algumas províncias do Norte e Nordeste do Brasil, tentes ficavam restritos aos grandes proprietários de terra, co-
militares e políticos, ligados a Portugal, não queriam reco- merciantes e algumas pequenas parcelas das classes médias
nhecer o novo governo de D. Pedro I. Nestas regiões ocor- urbanas. Em meio às reuniões e debates que aconteceriam
reram muitos protestos e reações políticas. Nas províncias para a organização da ordem regencial, temos o apareci-
do Grão-Pará, Maranhão, Piauí e Bahia ocorreram conflitos mento de três grupos políticos mais importantes: os liberais
armados entre tropas locais e oficiais. moderados, os liberais exaltados e os conservadores.

21
HISTÓRIA

Os moderados representavam os setores mais conser-


vadores que defendiam irrestritamente o poder monárqui- 7. O BREVE SÉCULO XX. 7.1. O COMEÇO DO
co e a manutenção da estrutura política centralizada. Já DECLÍNIO DA EUROPA: I GUERRA MUNDIAL.
os exaltados acreditavam que a ordem política deveria ser
7.2 PERÍODO ENTRE GUERRAS. 7.2.1. A
revisada no sentido de dar maior autonomia às províncias.
Alguns outros integrantes desse mesmo grupo chegavam a REVOLUÇÃO RUSSA: CONSTRUÇÃO DE
cogitar a adoção do sistema republicano. Por fim, havia os AFIRMAÇÃO DO SOCIALISMO.
restauradores, que acreditavam no retorno de Dom Pedro 7.2.2. EUA, DA EXPANSÃO À CRISE DE
I ao poder. 1929. 7.2.3. OS REGIMES DE DIREITA EM
Com a morte de Dom Pedro I, o cenário político re- EXPANSÃO NO CONTINENTE EUROPEU
duziu-se às agitações dos moderados e exaltados. Mesmo E SEUS REFLEXOS NO MUNDO. . 7.3. A II
sendo transitória, a regência acabou sendo marcada por GUERRA MUNDIAL. 7.4. O MUNDO SOB A
vários levantes e rebeliões que evidenciavam a precária he- HEGEMONIA DOS EUA E DA URSS: A GUERRA
gemonia do Estado brasileiro. No ano de 1834, tentando FRIA. 7.5. AS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS
aplacar o grande volume de revoltas, os liberais consegui- DO SÉCULO XX.
ram aprovar o Ato Adicional de 1834, que concedia maio-
res liberdades às províncias.
Outra medida importante foi o estabelecimento da Chama-se de Período Entreguerras os anos
Guarda Nacional, novo destacamento militar que deveria compreendidos entre o fim da  Primeira Guerra Mundial, em
manter a ordem vigente. Sendo controlada e integrada por 1918, e o início da Segunda Grande Guerra, em 1939. Para o his-
membros da elite, a Guarda Nacional acabou tendo seu toriador Eric Hobsbawn, há uma continuidade da Primeira Guer-
poder de fogo monitorado por grandes proprietários de ra Mundial no conflito iniciado em 1939, assim, os 21 anos que
terra que legitimavam o desmando e a exclusão social, po- separam os dois acontecimentos seriam uma pausa nas ações
lítica e econômica que marcaram tal contexto. bélicas, mas os eventos do período seriam o elo entre elas.
Entre as maiores revoltas da regência podemos des- Após o fim da Primeira Guerra, foi assinado entre as potên-
tacar a Cabanagem (PA), a Balaiada (MA), a Revolta dos cias europeias o Tratado de Versalhes, em 1919. Derrotada na
Malês e a Sabinada (BA), e a Guerra dos Farrapos (RS/SC). guerra, o Tratado impôs sanções à Alemanha, dentre as quais
Na maioria dos casos, todos estes eventos denunciavam a a perda dos territórios conquistados, como a Alsácia-Lorena e
insatisfação geral para com o desmando e a miséria que to- as colônias africanas e asiáticas; a redução das Forças Armadas;
mavam a nação. Vale destacar entre esses eventos a partici- proibição de fabricação de armamentos pesados e o pagamen-
pação exclusiva dos escravos na Revolta dos Malês e o pa- to de indenização aos países Aliados, vencedores do conflito.
pel das elites locais na organização da Guerra dos Farrapos. O alto valor da indenização e os custos de 4 anos de guerra
A forte instabilidade do período regencial acabou ins- deixaram a Alemanha em uma profunda crise econômica.
tigando o desenvolvimento de dois outros importantes Mas não só a Alemanha saiu destruída da Grande Guerra.
eventos. O primeiro deles foi a aprovação da Lei Interpre- Também o restante dos países europeus envolvidos precisou
tativa do Ato Adicional, de maio de 1840, que retirava a encarar a reconstrução, e o dinheiro para isso veio sobretu-
autonomia concedida às províncias. Dois meses depois, os do dos Estados Unidos da América, considerado o grande
exaltados conseguiram se aproveitar dos vários conflitos vencedor da Guerra. A década de 1920 foi de euforia eco-
nômica naquele país, e é desse momento o chamado ame-
para que o Golpe da Maioridade antecedesse a chegada
rican way of life (estilo de vida americano), caracterizado
de Dom Pedro II ao poder, colocando um fim à Regência.
pela alta produção e consumo em massa. Produtos como
carros e eletrodomésticos tornam-se acessíveis para parte da
Fonte: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/his- população americana, que consumia também cinema, música
toriadobrasil/periodo-regencial.htm (jazz e charleston eram os ritmos mais populares) e esportes
eram populares e muito procurados.
A euforia econômica, no entanto, logo teve fim. A desigual-
dade social era gritante: metade da população estava abaixo
da linha da pobreza. A modernização da agricultura resultou
em produção superior à demanda, diminuindo o preço dos
alimentos e aumentando os estoques. Também a produção
industrial atingiu níveis maiores do que a população era capaz de
consumir, resultando em demissões e diminuição da produção.
Em 1929, o mercado não aguentou a especulação de
ações na Bolsa de Valores e essas passaram a perder valor,
culminando no Crash (queda) da Bolsa de Nova York, em 29
de outubro de 1929, e no início de uma grave crise econô-
mica que atingiria todos os países de economia capitalista.
A crise começaria a ser resolvida com a adoção, em 1933,
do  New Deal, conjunto de medidas adotadas pelo presi-
dente Roosevelt.

22
HISTÓRIA

A Alemanha, que no decorrer dos anos 1920 se re- Quando se estuda o período intermediário entre as
cuperava da Grande Guerra, enfrentou recuo econômico duas guerras mundias, isto é: de 1919 a 1939, um dos te-
com a Crise de 1929, fortalecendo o Partido Nacional- mas mais importantes é o da Grande Depressão America-
-Socialista dos Trabalhadores Alemães (Partido Nazista), na, cujo símbolo máximo é a Quebra da Bolsa de Valores de
fundado em 1920. Liderado por Adolf Hitler, o Partido Na- Nova Iorque, em 1929. Esse tema é conhecido, geralmente,
zista culpabilizava judeus pela situação econômica do país como “Crise de 1929”. Crise essa de ordem financeira, que
e defendia a superioridade alemã. Em 1933, Hitler chegou afetou todo o mundo, levando milhões de pessoas ao de-
ao poder, apoiado por grande parte da sociedade alemã, semprego e ao desespero.
que via no seu discurso a saída para a crise econômica e O principal fator que contribuiu para a Crise de 1929
moral em que se encontrava desde a derrota em 1918. foi a expansão de crédito, emitido pelo Federal Reserve
Também a Itália viveu no período a ascensão de um System – Sistema de Reserva Federal – (uma espécie de
regime totalitário, o fascista, cujo líder era Benito Mussolini. Banco Central Americano) desde 1924, ainda sob o go-
Como o nazismo, era antiliberal e anticomunista, e via na verno do presidente Calvin Coolidge. Para se entender o
construção de um Estado forte e autoritário a chave para porquê de a expansão de crédito ter gerado a crise, é ne-
o desenvolvimento italiano. O Partido Fascista chegou ao cessário compreender um pouco do contexto econômico
poder em 1922, quando o rei Vítor Emanuel III nomeou da década de 1920.
Mussolini primeiro-ministro. Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a
Itália e Alemanha formaram, em 1936, uma aliança de economia dos Estados Unidos se tornou a mais importante
proteção mútua, o Eixo Roma-Berlim, que lutaria junto na do mundo. Haja vista que, com a destruição que a guerra
Segunda Guerra Mundial. Foi também em 1936 que o gene- provocou na Europa, a produção econômica de grandes
ral espanhol Francisco Franco se recusou a aceitar a vitória potências, como a Inglaterra e a Alemanha, não mais se
da Frente Popular, formado por socialistas e republicanos, sobrepunha aos outros países, pois estava em processo
e deu início ao conflito conhecido como  Guerra Civil de recuperação. Sendo assim, os EUA, ao tempo que
Espanhola. Franco, simpatizante do fascismo, recebeu aju- conseguiam uma produção econômica muito grande,
da de alemães e italianos para derrotar a Frente Popular e pois tinham compradores dentro e fora do país, também
instalar um governo forte e autoritário, o qual durou até estimulavam a oferta de crédito pra estes compradores,
1975, quando morreu o general. bem como a política de aumento salarial para empregados.
Na disputa pela sucessão no governo russo, após a Entretanto, sempre quando havia um período de pequena
morte de Lênin, Stálin obteve vitória e passou a controlar recessão, isto é: decréscimo na produção econômica, o
a União Soviética. Durante seu governo ele tomou medi- governo intervinha no mercado aplicando mais crédito
das que centralizaram diversos papéis nas mãos do Estado. (dinheiro e títulos da Bolsa de Valores) para reparar os
Com esse inchaço de atribuições do governo, os ideais so- danos.
cialistas foram se perdendo com o passar do tempo. Além A medida de expansão de crédito tornava as taxas de
disso, Stálin foi responsável por exercer forte repressão so- juros artificiais, sem lastro com as reservas de crédito reais,
bre seus inimigos políticos.  que eram ancoradas na poupança. Os investidores que ti-
Primeiramente, Stálin aboliu a NEP e criou os planos nham ações na Bolsa de Valores de Nova Iorque recebiam
qüinqüenais. Neles eram estabelecidas as metas da eco- um sinal falso da expansão de crédito e, consequentemen-
nomia russa em um prazo de cinco anos. De forma geral, te, acabavam por ampliar os seus negócios, aumentar salá-
Stálin priorizou o desenvolvimento industrial dando maior rios, e investir ainda mais. Este processo gerou uma “bolha
ênfase na expansão das indústrias de base (mineração, má- inflacionária”, pois, em 1929, chegou um momento em que
quinas e energia). Com o alcance de números positivos, os não se podia mais esconder o caráter artificial da expansão
planos qüinqüenais posteriores buscaram desenvolver os econômica: havia muito dinheiro emitido circulando, mas
demais aspectos da indústria nacional. sem valor real com a produção. Já sob o governo Hoover,
No campo, a socialização das terras foi parcialmente a Bolsa de Valores de Nova Iorque, responsável pela admi-
adotada. Dividindo atribuições, as terras cultiváveis foram nistração dos investimentos aplicados e do crédito emitido,
subdivididas em sovkhozes (fazendas do Estado) e kolkho- entrou em colapso.
zes (fazendas cooperativas). Muitos camponeses tiveram As principais consequências da Crise de 1929 foram o
suas terras apropriadas pelo governo de Stálin, o que ge- desemprego em massa, a falência de várias empresas, tan-
rou alguns conflitos no meio rural. Aqueles que se negaram to do setor industrial quanto do setor agrícola, e a pobreza,
a entregar suas terras eram mortos ou deportados para a que assolou grande parte da população americana. Muitos
Sibéria e a Ásia Central.  países que estavam atrelados ao sistema de crédito ameri-
Sob o aspecto político, Stálin exerceu forte controle cano também sofreram uma grande recessão em suas eco-
sobre as atividades do Partido Comunista. Os setores inte- nomias. O Brasil, por exemplo, teve que queimar café, prin-
lectuais e políticos da época só tinham espaço na medida cipal produto da época, para poder valorizar o seu preço.
em que concordavam com as ideologias stalinistas. Dessa As soluções para a crise foram aplicadas, principal-
forma, o stalinismo se firmou com traços claramente dita- mente, por F. Delano Roosevelt e sua política do New
toriais que contrariavam as idéias libertárias e igualitárias Deal(Novo Acordo), que procurou replanejar a economia
do socialismo. americana.
Fonte: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/his- Fonte: http://historiadomundo.uol.com.br/idade-con-
toriageral/revolucao-russagoverno-stalin.htm temporanea/crisede29.htm

23
HISTÓRIA

Guerra Fria Envolvimentos Indiretos


A Guerra Fria, que teve seu início logo após a Segun- Guerra da Coréia : Entre os anos de 1951 e 1953 a
da Guerra Mundial (1945) e a extinção da União Soviética Coréia foi palco de um conflito armado de grandes propor-
(1991) é a designação atribuída ao período histórico de ções. Após a Revolução Maoísta ocorrida na China, a Coréia
disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados sofre pressões para adotar o sistema socialista em todo seu
Unidos e a União Soviética, disputando a hegemonia polí- território. A região sul da Coréia resiste e, com o apoio militar
tica, econômica e militar no mundo. dos Estados Unidos, defende seus interesses. A guerra dura
Causas dois anos e termina, em 1953, com a divisão da Coréia no
A União Soviética buscava implantar o socialismo em paralelo 38. A Coréia do Norte ficou sob influência soviética
outros países para que pudessem expandir a igualdade e com um sistema socialista, enquanto a Coréia do Sul man-
social, baseado na economia planificada, partido único teve o sistema capitalista.
(Partido Comunista), igualdade social e falta de democra- Guerra do Vietnã  : Este conflito ocorreu entre 1959 e
cia. Enquanto os Estados Unidos, a outra potência mundial, 1975 e contou com a intervenção direta dos EUA e URSS.
defendia a expansão do sistema capitalista, baseado na Os soldados norte-americanos, apesar de todo aparato tec-
economia de mercado, sistema democrático e propriedade nológico, tiveram dificuldades em enfrentar os soldados vie-
privada. tcongues (apoiados pelos soviéticos) nas florestas tropicais
Com o fim da Segunda Guerra Mundial o contraste en- do país. Milhares de pessoas, entre civis e militares morre-
tre o capitalismo e socialismo era predominante entre a ram nos combates. Os EUA saíram derrotados e tiveram que
política, ideologia e sistemas militares. Apesar da rivalidade abandonar o território vietnamita de forma vergonhosa em
e tentativa de influenciar outros países, os Estados Unidos 1975. O Vietnã passou a ser socialista. 
não conflitou a União Soviética (e vice-versa) com arma- Fim da Guerra Fria
mentos, pois os dois países tinham em posse grande quan- A falta de democracia, o atraso econômico e a crise nas
tidade de armamento nuclear,  e um conflito armado direto repúblicas soviéticas acabaram por acelerar a crise do socia-
significaria o fim dos dois países e, possivelmente, da vida lismo no final da década de 1980. Em 1989 cai o Muro de
em nosso planeta.  Porém ambos acabaram alimentando Berlim e as duas Alemanhas são reunificadas.
conflitos em outros países como, por exemplo, na Coréia No começo da década de 1990, o então presidente da
e no Vietnã União Soviética Gorbachev começou a acelerar o fim do so-
Com o objetivo de reforçar o capitalismo, o presidente cialismo naquele país e nos aliados. Com reformas econô-
dos Estados Unidos, Harry Truman, lança o Plano Marshal, micas, acordos com os EUA e mudanças políticas, o sistema
que era um oferecimento de empréstimos com juros baixos foi se enfraquecendo. Era o fim de um período de embates
e investimentos para que os países arrasados na Segunda políticos, ideológicos e militares. O capitalismo vitorioso, aos
Guerra Mundial pudessem se recuperar economicamente. poucos, iria sendo implantado nos países socialistas.
A partir desta estratégia a União Soviética criou, em 1949,
o Comecon, que era uma espécie de contestação ao Plano
Marshall que impedia seus aliados socialistas de se interes- 8. NA PERIFERIA DO MUNDO OCIDENTAL.
sar ao favorecimento proposto pelo então inimigo político. 8.1. DO POPULISMO E REVOLUÇÕES SOCIAIS
A Alemanha por sua vez, aderiu o Plano Marshall para
ÀS DITADURAS NA AMÉRICA LATINA.
se restabelecer, o que fez com que a União Soviética blo-
queasse todas as rotas terrestres que davam acesso a 8.2. O BRASIL REPUBLICANO. 8.2.1. A
Berlim. Desta forma, a Alemanha, apoiada pelos Estados PRIMEIRA REPÚBLICA. 8.2.2. A ERA VARGAS.
Unidos, abastecia sua parte de Berlim por vias aéreas pro- 8.2.3. DO PERÍODO POPULISTA À DITADURA
vocando maior insatisfação soviética e o que provocou  a CIVIL-MILITAR. 8.2.4. O BRASIL DA NOVA
divisão da Alemanha em Alemanha Oriental e Alemanha REPÚBLICA AOS DIAS ATUAIS. 8.3. AS LUTAS
Ocidental. DE LIBERTAÇÃO NACIONAL NA ÁFRICA E
Em 1949, os Estados Unidos juntamente com seus alia- ÁSIA. 8.3.1. AS QUESTÕES DE IDENTIDADE:
dos criam a Otan (Organização do Tratado do Atlântico
Norte) que tinha como objetivo manter alianças militares ETNIA, CULTURA, TERRITÓRIO.
para que estes pudessem se proteger em casos de ataque.
Em contra partida, a União Soviética assina com seus alia-
dos o Pacto de Varsóvia que também tinha como objetivo a As ditaduras na América Latina se estabeleceram no
união das forças militares de toda a Europa Oriental. período em que a ordem internacional sofria pelos enfren-
Entre os aliados da Otan destacam-se: Estados Unidos, tamentos da Guerra Fria. Na época, os Estados Unidos de-
Canadá, Grécia, Bélgica, Itália, França, Alemanha Ocidental, senvolveram uma série de mecanismos de combate ao ex-
Holanda, Áustria, Dinamarca, Inglaterra, Suécia, Espanha. E pansionismo comunista. Já nos anos 1950, fora estabelecida
os aliados do Pacto de Varsóvia destacam-se: União So- pelas autoridades do país a Doutrina de Segurança Nacional,
viética, Polônia, Cuba, Alemanha Oriental, China, Coréia do cujas diretrizes procuravam combater o “perigo vermelho”
Norte, Iugoslávia, Tchecoslováquia, Albânia, Romênia. dentro e fora do território norte-americano.
Origem do nome Neste contexto, e notadamente a partir da Revolução
É chamada «fria» porque não houve uma guerra direta Cubana e da ascensão do governo comunista de Fidel Cas-
entre as superpotências, dada a inviabilidade da vitória em tro, os EUA viriam a intensificar a vigilância sobre a América
uma batalha nuclear. Latina. Tal preocupação originou, por exemplo, a Aliança

24
HISTÓRIA

para o Progresso, programa instituído por Washington Em fins dos anos 70, com a inflamação dos movimentos de
conjuntamente a diversas lideranças latino-americanas, atra- oposição, essas ditaduras começaram a dar os primeiros sinais
vés do qual buscava-se melhorar os índices socioeconômicos mais evidentes de fragilidade. Internacionalmente, havia igual-
da região e, concomitantemente, frear o crescimento das al- mente um cenário favorável à redemocratização das instituições
ternativas socialistas. políticas. Nos EUA, com a derrota do país na Guerra do Vietnã e
No entanto, a despeito de tais esforços, grupos de es- ascensão do governo Jimmy Carter, cresceu a pressão por um
querda e simpatizantes da causa comunista floresceram em posicionamento mais claramente contrário às experiências au-
diversas nações do continente. Frente a isso, e não raramente toritárias na América Latina. A própria Igreja Católica, em muitos
com auxílio estadunidense, forças conservadoras se mobili- casos entusiasta dos golpes militares, passara a criticar de modo
zaram nessas regiões e, atendendo a demanda de diversos mais veemente os abusos cometidos por tais governos.
setores da sociedade civil, apoiaram a instituição de governos As ditaduras latino-americanas tiveram fins distintos. Em
militares. Através de golpes de Estado sucessivos, a América alguns países, como na Argentina e Chile, tais experiências
Latina assistiu nos anos 60 e 70 a ascensão de inúmeras dita- foram tratadas como Terrorismo de Estado, sendo muitos
duras militares. dos seus responsáveis punidos pela sociedade civil. Já em
outros casos, como no Brasil, os autores das violências e
Se por um lado são evidentes as relações entre tais golpes autoritarismos cometidos foram anistiados por dispositivos
militares e os interesses do capitalismo norte-americano, por legais, muitos dos quais criados pelos próprios governos mi-
outro é igualmente inegável o apoio despejado por boa parte litares (como a brasileira Lei da Anistia).
da população latino-americana à chegada ao poder desses Posteriormente, as Comissões da Verdade cumpriram
governos. Acreditava-se que somente através de administra- o importante papel de investigar o passado e denunciar os
ções fortes, comandadas pelo ímpeto dos militares, estaria horrores cometidos pelas ditaduras. Buscaram igualmente
garantida a urgente defesa contra a ameaça comunista. elucidar a contemporaneidade acerca das condições histó-
Neste sentido, podemos verificar um espantoso número ricas que possibilitaram tais experiências. No Brasil, a Comis-
de movimentos civis que se proliferaram em favor das inter- são Nacional da Verdade só veio a ser criada em 2012 com o
objetivo de investigar as violações cometidas contra os Direi-
venções militares em boa parte do continente. Muitos desses
tos Humanos no período de 1946 a 1988.
foram arquitetados por setores da classe média, do empresa-
Fonte: http://educacao.globo.com/historia/assunto/
riado nacional, das oligarquias locais e até mesmo da Igreja
guerra-fria/ditaduras-na-america-latina.html
Católica, temerosos que o exemplo de Cuba viesse a se espa-
lhar por nações vizinhas. 
O golpe militar de 1964 foi efetivado com o objetivo de
Operação Condor e repressão evitar a ameaça comunista. O regime militar foi marcado pe-
Os governos militares latino-americanos mantinham en- las restrições aos direitos e garantias individuais e pelo uso
tre si uma poderosa rede de comunicação, onde os contatos da violência aos opositores do regime.
eram tecidos com o objetivo de expurgar todo tipo de opo- O modelo político do regime militar foi caracterizado
sição. É justamente nesses termos que podemos localizar a pelo fortalecimento do Executivo que marginalizou o Le-
criação da Operação Condor, uma aliança instituída por tais gislativo (através da cassação de mandatos) e interferiu nas
regimes com a intenção de perseguir esquerdistas, antipatrio- decisões do Judiciário (como por exemplo a publicação dos
tas e subversivos nos países do Cone Sul, independente da atos institucionais); pela centralização do poder, tornando o
nacionalidade do “criminoso”.  princípio federativa letra morta constitucional; controle da
Contra esses “inimigos da ordem”, as ditaduras se utiliza- estrutura partidária, dos sindicatos e demais representações;
vam de tantos outros expedientes. A repressão fora instituída pela censura aos meios de comunicação e intensa repressão
nas suas mais diversas facetas, sendo a censura aos meios de política – os casos de tortura eram sistemáticos.
imprensa oficializada e a tortura legitimada juridicamente. O modelo econômico do regime militar foi marcado pelo
Exílios, prisões e desaparecimentos de perseguidos políticos processo de concentração de rendas e abertura externa da
também se fizeram cotidianos em países como Chile, Uruguai, economia brasileira.
Argentina, Bolívia e Brasil. Governo do marechal Castello Branco ( 1964/67)
Crescimento e crise Foi eleito por vias indiretas, através do ato institucional n
A grande popularidade obtida por alguns desses governos 1, em 10 de abril de 1964.
esteve relacionada ao relativo crescimento econômico que Em seu governo foi criado o Serviço Nacional de Informa-
alcançaram em determinados períodos. Vinculadas ao gran- ção (SNI). Seu governo é marcado por uma enorme reforma ad-
de capital internacional, destacadamente às diretrizes norte- ministrativa, eleitoral, bancária, tributária, habitacional e agrária.
-americanas, as ditaduras latino-americanas obtiveram os Criou-se o Cruzeiro Novo, o Banco Central, Banco Nacional da
investimentos necessários ao fortalecimento de suas econo- Habitação e o Instituto Nacional da Previdência Social (INPS).
mias. Assim, a pujança financeira parecia legitimar os autori- Criou-se também o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.
tarismos estatais. Em outubro de 1965 foi assinado o ato institucional n2, am-
No entanto, a inserção desses países na ordem neoliberal pliando o controle do Executivo sobre o Legislativo, extinguindo
não garantiu necessariamente a melhoria dos índices sociais, os partidos políticos – inaugurando o bipartidarismo no Brasil.
notadamente daqueles referentes aos grupos menos abas- De um lado o partido governista a ARENA (Aliança Renova-
tados. Ao contrário, o Estado cada vez mais se distanciou da dora Nacional) e, de outro lado, a oposição, reunida no MDB
tarefa de garantir os mínimos parâmetros sociais, subju- (Movimento Democrático Brasileiro). Este mesmo ato deter-
gando as parcelas mais humildes desses países. minou que as eleições para presidente seriam diretas.

25
HISTÓRIA

Em fevereiro de 1966 foi decretado o ato institucio- destruído pela rápida ação do governo federal; um outro
nal n 3 estabelecendo eleições indiretas para governador e foco foi no vale do Ribeira, em São Paulo, chefiado pelo
para os municípios considerados de “segurança nacional”, ex-capitão Carlos Lamarca – foco também reprimido pelo
incluindo todas as capitais. Em 1967, mediante o ato insti- governo rapidamente.
tucional nº4, foi promulgada uma nova Constituição. Nela O principal foco guerrilheiro foi no Araguaia, no Pará.
mantinha-se o princípio federativo e os princípios dos atos Seus participantes eram ligados ao Partido Comunista do
institucionais – eleições indiretas para presidente e gover- Brasil e conseguiram apoio da população local. O modelo
nadores. teórico dos guerrilheiros seguia as propostas de Mao Tsé-
A Constituição fortalecia os poderes presidenciais, -tung. O foco, descoberto em 1972, foi destruído em 1975.
permitindo ao presidente decretar estado de sítio, efeti- Ao lado da guerrilha rural, desenvolveu-se também a guer-
var intervenção federal nos Estados, decretar recesso no rilha urbana.
Congresso Nacional, legislar por decretos e cassar ou sus- Seu principal organizador foi Carlos Marighella, líder
pender os direitos políticos. Antes de deixar a presidên- da Aliança de Libertação Nacional. Para combater a guerri-
cia, Castello Branco instituiu a Lei de Segurança Nacional, lha urbana o governo federal sofisticou seu sistema de in-
sendo um conjunto de normas que regulamentava todas formação com os DOI-CODI (Destacamento de Operação e
as atividades sociais, estabelecendo severa punições aos Informações-Centro de Operações de Defesa Interna), que
transgressores. destruíram os grupos de guerrilha da extrema esquerda.
Governo do marechal Costa e Silva ( 1967/1969) Os DOIs-CODIs tinham na tortura uma prática corriqueira.
Fazia parte da chamada “linha dura” – setor do Exército O MILAGRE ECONÔMICO
que exigia medidas mais enérgicas e repressivas para man- Período do governo Médici de grande crescimento
ter a ordem social e política. econômico e dos projetos de grandes impactos (como a
Em seu governo, no ano de 1967, formou-se a Frente Transamazônica e o Movimento Brasileiro de Alfabetiza-
Ampla, grupo de oposição ao regime militar – liderada por ção-MOBRAL), em razão do ingresso maciço de capital es-
Carlos Lacerda e JK. A Frente exigia a anistia política, elei- trangeiro.
ções diretas em todos os níveis e a convocação de uma Houve uma expansão do crédito, ampliando o padrão
Assembleia Constituinte. de consumo do país e gerando uma onda de ufanismo,
As agitações internacionais de 1968 tornou a esquerda como no slogan “este é um país que vai prá frente”. O regi-
mais radical, defendendo a luta armada para a redemocra- me utiliza este período de otimismo para ocultar a repres-
tização do país. O movimento estudantil crescia e exigia são política – aproveita-se inclusive das conquistas espor-
democracia. tivas da década de 70, como o tricampeonato de futebol.
Da mesma forma, os grupos de direita também se ra- O ideólogo do “milagre” foi o economista Delfim Netto
dicalizavam. O assassinato do estudante Edson Luís pela usando como atrativo ao capital estrangeiro as baixas taxas
polícia, na Guanabara, provocou um enorme ato de pro- de juros utilizadas no mercado internacional. No entanto,
testo – a passeata dos cem mil. Em dezembro de 1968, o a modernização e o crescimento econômico brasileiro não
deputado pelo MDB, Márcio Moreira Alves fez um pesado beneficiou as camadas pobres. No período do “milagre” as
discurso e atacando as Forças Armadas. taxas de mortalidade infantil subiram e, segundo estimati-
O ministro da Justiça, Gama e Silva, procurou processar vas do Banco Mundial, no ano de 1975 70 milhões de bra-
o deputado; porém o Congresso garantiu a imunidade do sileiros eram desnutridos.
parlamentar. Como resposta, Costa e Silva decretou o ato
institucional n5 – o mais violento de todos. Pelo AI-5 esta- O governo do general Ernesto Geisel (1974/79)
beleceu-se, entre outros: o fechamento do Legislativo pelo O presidente Geisel tomou posse sob a promessa do
presidente da República, a suspensão dos direitos políticos retorno ‘a democracia de forma “lenta, gradual e segura”.
e garantias constitucionais, inclusive a do habeas-corpus; Seu governo marca o início do processo de abertura polí-
intervenção federal nos estados e municípios. tica.
Através do AI-5 as manifestações foram duramente Em novembro de 1974 houve eleições parlamentares e
reprimidas, provocando o fechamento total do regime mi- o resultado foi uma expressiva vitória do MDB. Preocupado
litar. Segundo o historiador Boris Fausto: “Um dos muitos com as eleições municipais, no dia 1 de julho de 1976 foi
aspectos trágicos do AI-5 consistiu no fato de que refor- aprovada a Lei Falcão, que estabelecia normas gerias para
çou a tese dos grupos de luta armada.” Semelhante tese a campanha eleitoral através do sistema de radiodifusão:
transformou-se em realidade com a eleição (indireta) de exibição da fotografia do candidato, sua legenda e seu nú-
um novo presidente – Emílio Garrastazu Médici –pois Costa mero. Apresentação do nome e seu currículo. Semelhantes
e Silva sofreu um derrame cerebral. regras forçava o candidato a conquistar o voto no contato
Governo do general Médici ( 1969/1974) direto com o eleitor.
Período mais repressivo de todo regime militar, onde No dia 1 de abril de 1977, o presidente – utilizando o
a tortura e repressão atingiram os extremos, bem como a AI-5 – decretou o recesso do Congresso Nacional. Foi pro-
censura aos meios de comunicação. O pretexto foi a inten- mulgando, então, o pacote de abril, estabelecendo man-
sificação da luta armada contra o regime. dato de seis anos para presidente da República, manuten-
A luta armada no Brasil assumiu a forma de guerra de ção das eleições indiretas para governador, diminuição da
guerrilha (influenciada pela revolução cubana, pela guer- representação dos estados mais populosos no Congresso
ra do Vietnã e a revolução chinesa). Os focos de guerrilha Nacional e criada a reserva de um terço das vagas do Sena-
no Brasil foram: na serra do Caparaó, em Minas Gerais – do para nomes indicados pelo governo (senador biônico).

26
HISTÓRIA

Embora a censura aos meios de comunicação tenha di- leceu as eleições diretas em todos os níveis; a legalização
minuído o regime continuava fechada e a repressão existia. dos partidos políticos de qualquer tendência; instituição do
Como exemplo, a morte do jornalista da TV Cultura, Vladi- voto facultativo aos analfabetos, jovens entre 16 e 18 anos
mir Herzog, nas dependências do DOI-CODI paulista (1975) e pessoas acima de 70 anos; fim da censura; garantido o di-
e o “suicídio” do operário Manuel Fiel Filho em 1976. reito de greve e a liberdade sindical; ampliação dos direitos
O ano de 1977 foi muito agitado politicamente – em ra- trabalhistas; intervenção do Estado nos assuntos econômicos
zão da crise mundial do petróleo – resultando em cassações e nacionalismo econômico ao reservar algumas atividades às
de mandatos e diversas manifestações estudantis em todo o empresas estatais.
país. No ano de 1978 houve uma greve de metalúrgicos no As eleições presidenciais de 1989
ABC paulista, sob a liderança de Luís Inácio da Silva, o Lula. No Em dezembro de 1989 foram realizadas as primeiras
final de seu governo, Geisel revogou o AI-5. eleições diretas para a Presidência da República desde 1960.
Três candidatos destacaram-se na disputa: Fernando Collor
O governo do general Figueiredo (1979/1985) de Mello, do pequeno Partido da Renovação Nacional (PRN);
Durante o governo de João Baptista Figueiredo houve Leonel Brizola do Partido Democrático Brasileiro (PDT) e Luís
fortes pressões, da sociedade civil, que exigiam o retorno ao Inácio “Lula” da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT).
estado de direito, uma anistia política, justiça social e a convo- A disputa foi para o segundo turno entre Fernando Collor
cação de uma Assembleia Constituinte. e Lula, cabendo ao primeiro a vitória nas eleições – graças à
Em março de 1979, uma greve de metalúrgicos no ABC imagem de “caçador de marajás”, e de uma plataforma de
paulista mobilizou cerca de 180 mil manifestantes; em abril de luta contra a corrupção, na modernização do Brasil e de re-
1981, uma nova greve, que mobilizou 330 mil operários, por presentar os pobres e marginalizados – os “descamisados”.
41 dias. Neste contexto é que se destaca o líder sindical Luís O governo de Fernando Collor de Mello (1990/92)
Inácio da Silva – Lula. A UNE reorganizou-se no ano de 1979 Aplicou o plano econômico denominado de Plano Brasil
e, neste mesmo ano, o presidente Figueiredo aprovou a Lei da Novo, o qual extinguiu o cruzado novo e retornou o cruzeiro;
Anistia – que beneficiava exclusivamente os presos políticos. congelou preços e salários; bloqueio boa parte do dinheiro de
Alguns exilados puderam voltar ao país. aplicações financeiras e de poupanças por 18 meses. Houve
Ainda em 1979 foi extinto o bipartidarismo, forçando grande número de demissões no setor público, redução nas ta-
uma reforma partidária. Desta reforma surgiram o PSD (Par- rifas de importação e um tumultuado processo de privatizações.
tido Social Democrático), herdeiro da antiga Arena; o PMDB No entanto, as denúncias de corrupção envolvendo o
(Partido do Movimento Democrático Brasileiro), composto alto escalão do governo levou o Congresso a formar uma
por políticos do antigo MDB; o PTB (Partido Trabalhista Brasi- Comissão Parlamentar de Inquérito. O relatório final da CPI
leiro), controlado por Ivete Vargas e formado por setores da apontou ligações do presidente com Paulo César Farias – ami-
antiga ARENA; PDT (Partido Democrático Trabalhista), funda- go pessoal e tesoureiro da campanha presidencial.
do por Leonel Brizola e PT (Partido dos Trabalhadores), com O envolvimento de Collor no chamado “esquema PC”,
propostas socialistas. Em 1983 a sociedade civil participou in- que envolvia troca de favores governamentais por dinheiro,
tensamente do movimento das Diretas-já. gerou o processo de impeachment – ou seja, o afastamento
Em 1984 foi apresentada a Emenda Dante de Oliveira, do Presidente da República. Fernando Collor procurou blo-
que propunha o restabelecimento das eleições diretas para quear o processo, porém a população foi às ruas exigindo seu
presidente da República. A emenda foi rejeitada pelo Con- afastamento (“os caras-pintadas”).
gresso Nacional. O presidente renunciou em 30 de dezembro de 1992,
No ano de 1985, em eleições pelo Colégio Eleitoral, o após decisão histórica do Congresso Nacional no dia anterior
candidato da oposição- Tancredo Neves derrotou o candida- pelo seu afastamento. O vice-presidente Itamar Franco assu-
to da situação – Paulo Maluf. Tancredo Neves não chegou a miu o cargo.
tomar posse – devido a problemas de saúde veio a falecer em O governo de Itamar Franco ( 1992/1995)
21 de abril de 1985. O vice-presidente, José Sarney assumiu Realização de um plebiscito em 1993 que deveria estabe-
a presidência, iniciando um período conhecido como Nova lecer qual o regime político (monarquia ou república) e qual a
República. forma de governo (presidencialismo ou parlamentarismo). No
A Nova República dia 21 de abril o resultado do plebiscito confirmou a manu-
Governo de José Sarney (1985/1990) tenção da república presidencialista. No aspecto econômico
O mandato de José Sarney foi marcado pelos altos índices o mais importante foi a aplicação do Plano Real, que buscava
inflacionários e pela existência de vários planos econômicos: combater a inflação e estabilizar a economia nacional. O Pla-
Plano Cruzado (1986), Plano Bresser (1987) e Plano Verão (1989). no pregava a contenção dos gastos públicos, a privatização
O plano de maior repercussão foi o Plano Cruzado, que, de empresas estatais, a redução do consumo mediante o au-
procurando conter a inflação determinou: congelamento de mento da taxa de juros e maior abertura do mercado aos
todos os preços por um ano; abono salarial de 8%, e reajus- produtos estrangeiros.
tados após um ano, ou quando a inflação atingisse 20%; ex- O Plano contribuiu para a queda da inflação e aumen-
tinção da correção monetária e o cruzeiro perdia três zeros e to do poder aquisitivo e da capacidade de consumo – em
passava ser chamado de cruzado. razão da queda dos preços dos produtos face à concor-
Por ser um governo de transição democrática, impor- rência estrangeira. A popularidade do Plano Real auxiliou o
tantes avanços políticos ocorreram, como a convocação de ministro da Fazenda de Itamar Franco, Fernando Henrique
uma Assembleia Constituinte que elaborou e promulgou a Cardoso, a vencer as eleições em outubro de 1994.
Constituição de 1988 – “Constituição Cidadã”- que estabe-

27
HISTÓRIA

O governo de Fernando Henrique Cardoso as empresas privadas livres para investirem como quises-
(1995/2002) sem. Além disso, os Estados passaram a desregulamentar e a
Fernando Henrique Cardoso foi o primeiro presidente privatizar inúmeras atividades econômicas antes controladas
do Brasil a conseguir uma reeleição por eles.
– através de uma mudança constitucional. Seus dois man-  A Nova Ordem Mundial
datos são caracterizados pela aceleração do processo de glo- Utilizamos como marco inicial para a assim chamada
balização: a criação do Mercosul e a eliminação das barreiras “Nova Ordem Mundial” (ou “Nova Ordem Internacional”) a
alfandegárias entre Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai ( a queda do Muro de Berlim, com tudo o que simbolizou em
formação do bloco obedece várias etapas). termos políticos, econômicos e ideológicos. Evidentemente,
Em termo de organização social destaque para a questão muitos aspectos anteriores já indicavam uma nova era eco-
fundiária do país e a atuação do MST (Movimento dos Tra- nômica em formação. O Muro de Berlim não apenas separava
balhadores Rurais Sem Terra), que, através da ocupação de uma cidade e um povo. Ele simbolizava o mundo dividido pe-
terras procura agilizar o processo de reforma agrária no país. los sistemas capitalista e socialista. A sua destruição, iniciada
Os anos de FHC como presidente foram marcados pela pelo povo de Berlim, na noite de 9 de novembro de 1989,
hegemonia do neoliberalismo e antigos e urgente problemas pôs abaixo não apenas o muro material; mais do que isso,
não foram solucionados, tais como a exclusão social, a imensa rompeu com o mais significativo símbolo da Guerra Fria: a
concentração fundiária e empresarial, a corrupção e os des- bipolaridade.
casos administrativos, ausência de uma política educacional, Como foi possível a queda do Muro de Berlim, em plena
desfaçatez na área da saúde e previdência social, a violência Guerra Fria, num país sob forte hegemonia da União Soviéti-
urbana, o desemprego, crescimento do subemprego, concen- ca? Estas coisas não acontecem, por assim dizer, “como um
tração de rendas e injustiça social... raio em céu azul”. Uma série de fatores a tanto conduzem,
Somente através do conhecimento histórico podemos liderados pela Corrida Armamentista. Paralelamente ao aban-
analisar, entender e transformar a nossa história. Somente ela dono do Estado capitalista com gastos sociais, seguindo a
(a História) pode conscientizar a todos nós, para que juntos – orientação “neoliberal”, este passou a investir cada vez mais
ou individualmente – possamos transformar nossa dura, triste pesadamente em armamentos de ponta, mandando a conta
e fascinante realidade. da “defesa do mundo livre” para os países subdesenvolvidos.
Fonte: http://www.mundovestibular.com.br/arti- A União Soviética e seus aliados, sem terem “satélites” ou paí-
cles/4373/1/DA-REPUBLICA-MILITAR-A-NOVA-REPUBLI- ses a utilizar como fonte de recursos para esta finalidade –
CA-1964---1985/Paacutegina1.html que contraria o princípio básico do socialismo, a Paz – passou
a defender-se como pode. De todo o modo, se o bloco capi-
talista, dispondo de seu potencial de exploração de pratica-
mente todo o mundo subdesenvolvido e do aparato de pro-
paganda que a isto se segue, criou armas cada vez mais sofis-
9. A NOVA ORDEM MUNDIAL.
ticadas e inacreditáveis. Em fins da década de 80 falava-se no
9.1. O FIM DA GUERRA FRIA. 9.2. desenvolvimento, por conglomerados anglo-estadunidenses,
GLOBALIZAÇÃO, NEOLIBERALISMO, de um projeto de “Guerra Nas Estrelas”, uma espécie de ma-
DESIGUALDADES E EXCLUSÕES SOCIAIS NO lha de satélites voltada a destruir armamento inimigo em terra
MUNDO DE FINS DO SÉCULO XX E INÍCIO DO com canhões laser! Especulava-se ainda acerca de uma arma
XXI. 9.2.1. OS BLOCOS ECONÔMICOS E SEUS (que, se efetivada jamais foi utilizada na prática, que se saiba,
IMPACTOS. 9.2.2. AS até os dias de hoje) chamada de “Bomba de Nêutrons”, capaz
LUTAS E CONFLITOS ENTRE ÁRABES E de destruir completamente a vida sem afetar o patrimônio,
um verdadeiro emblema do ideal capitalista... Deslocando re-
ISRAELENSES. 9.2.3. A PRIMAVERA ÁRABE. cursos da produção de alimentos, medicamentos, educação
e salários para a Defesa, as nações socialistas foram levadas a
um crise econômica sem precedentes históricos, este o cerne
Neoliberalismo: O que se convencionou chamar de do problema.
Neoliberalismo é uma prática político-econômica baseada Em 1985, a eleição de Mikhail Gorbatchov para a lide-
nas ideias dos pensadores monetaristas (representados prin- rança da União Soviética tinha por finalidade encontrar for-
cipalmente por Milton Friedman, dos EUA, e Friedrich August mas pacíficas de sobrevivência democrática entre regimes
Von Hayek, da Grã Bretanha). Após a crise do petróleo de econômicos antagônicos. Se os socialistas reafirmavam a
1973, eles começaram a defender a ideia de que o governo já necessidade da intervenção estatal na economia, encontra-
não podia mais manter os pesados investimentos que haviam vam, na outra ponta a competitividade mercantil daqueles
realizado após a II Guerra Mundial, pois agora tinham défi- que se nutriam da morte e da destruição, numa palavra: da
cits públicos, balanças comerciais negativas e inflação. Defen- competitividade. Abandonaram-se as metas cooperativistas e
diam, portanto, uma redução da ação do Estado na economia. passou-se a pautar-se pela mais rapinante competitividade.
Essas teorias ganharam força depois que os conservadores Reconhecendo que falta de transparência e democracia na re-
foram vitoriosos nas eleições de 1979 no Reino Unido (un- velação dos fatos constituía um entrave ao desenvolvimento
gindo Margareth Thatcher como primeira ministra) e, de do socialismo, Gorbatchov publicou seu clássico Perestroika,
19880, nos Estados Unidos (eleição de Ronald Reagan para novas ideias para o meu país e o mundo que, contudo, foi
a presidência daquele país). Desde então o Estado passou mais utilizado pelos adversários do que pelos amigos do
apenas a preservar a ordem política e econômica, deixando social. Era sem dúvida a expressão de uma crise.

28
HISTÓRIA

Gorbatchov tentou ainda acordos com o ultradireitista CARICOM – Mercado Comum e Comunidade do Caribe.
Ronald Reagan, administrando mesmo o final do Tratado de CEI – Comunidade dos Estados Independentes.
Varsóvia e assinando com o presidente estadunidense o fa- CAN – Comunidade Andina.
moso acordo START (Strategic Arms Reduction Treaty), através MCA – Mercado Comum Árabe.
do qual a OTAN e outras organizações filo-fascistóides dos MERCOSUL – Mercado Comum do Sul.
Estados Unidos e aliados comprometiam-se a diminuir seus NAFTA – Acordo de Livre Comércio da América do Nor-
arsenais e interromper a corrida armamentista. Na prática, te.
pouco foi feito a este respeito e é correto afirmar que as na- SADC – Comunidade da África Meridional para o Desen-
ções do Oeste (Estados Unidos e Inglaterra à frente) venceram volvimento.
a Guerra Fria contra o socialismo. UE – União Europeia.
Naturalmente, a última palavra a este respeito ainda não
está dada. Outrora um dos maiores problemas de distribuição Os  blocos econômicos são associações criadas entre
na URSS era representado pelas filas: todos tinham dinheiro os países, a fim de estabelecer relações econômicas entre
para comprar os bens necessários, particularmente numa na- si. Eles surgiram do reflexo da constante competição de
ção que foi capaz de manter o preço do pão em três cope- economias que estão sempre buscando o crescimento. Além
ques durante mais de setenta anos! Mas formavam-se filas disso, é um movimento cada vez mais comum no mercado
imensas para esperar que produtos raros do ocidente chegas- mundial para aguentar o ritmo acelerado dos países.
sem às prateleiras dos supermercados, delas desaparecendo Essa união acontece por interesses mútuos e pela possi-
rapidamente. Hoje, em Moscou, o que se vê é, além do retor- bilidade de crescimento em grupo. Esse crescimento passou
no da prostituição, da miséria, da mendicância e da violência, a ser bem visto porque logo se percebeu que, por mais forte
levando uma nação que já foi uma superpotência a rivalizar que fosse uma economia, ela não poderia competir de igual
com países subdesenvolvidos neste quesito, supermercados para igual com grupos de economias unidas entre si.
e lojas de conveniência abarrotadas de bens para os quais O que são Blocos Econômicos?
ninguém mais tem dinheiro para comprar. Bloco econômico é uma união de países com interes-
ses mútuos de crescimento econômico e, em alguns casos,
A formação de blocos econômicos tem por objetivo criar se estende também à integração social. Tem como uma das
condições para dinamizar e intensificar a economia num mun- ideias principais garantir uma maior integração entre paí-
do globalizado. Em todas as modalidades de blocos econômi- ses e trazer a facilitação do comércio. Os blocos econômi-
cos, o intuito é a redução e/ou eliminação das tarifas ou im- cos começaram a surgir no fim da década de 40, após a 2ª
postos de importação e exportação entre os países membros. Guerra Mundial. Nesse período, a Europa estava devastada
Na tentativa de expansão do mercado consumidor, as por causa da guerra e também era fortemente influencia-
nações visam integrar a blocos econômicos que flexibilizem da pelo mercado norte-americano, que estava em processo
as relações comerciais em escala internacional. Os acordos de crescimento econômico e, portanto, poderia ameaçar as
têm o propósito de estabelecer tratados para uniformizar as economias europeias.
ações fiscais em termos de diminuição ou isenção de impos- O primeiro bloco econômico nasceu em 1944 com a
tos sobre as mercadorias e os serviços comercializados entre criação da BENELUX formada por Bélgica, Holanda e Lu-
os países membros. xemburgo. Seu objetivo era ajudar os países-membros a
Os blocos econômicos não ficam restritos apenas à redu- se recuperarem da guerra. Após ele, principalmente depois
ção ou abolição de tarifas alfandegárias, podendo proporcio- da Guerra Fria, outros foram criados.
nar a livre circulação de pessoas entre os países membros de Classificação dos Blocos
um determinado bloco. São definidos quatro estágios ou tipos de blocos:
Conforme suas características, os blocos econômicos po- • Área de Livre Comércio: o primeiro seria a
dem ser classificados da seguinte forma: determinação de uma área de livre comércio, que significa
Zona de livre comércio – acordos comerciais de redução que produtos produzidos por um país podem entrar em
ou eliminação das tarifas alfandegárias entre os países mem- países que têm esse acordo de livre comércio com ele, isento
bros do bloco. Exemplo: Acordo de Livre Comércio da Améri- de taxas e burocracias tradicionais de uma importação
ca do Norte (NAFTA). normal;
União aduaneira – além de reduzir ou eliminar as tarifas • União Aduaneira: numa segunda fase, de interesses
comercias entre os países integrantes do bloco, regulamen- mais amplos, a união aduaneira apresenta a implementação
ta o comércio com as nações que não pertencem ao bloco de condutas de comércio, além de regras para comércios
através da TEC (Tarifa Externa Comum). Exemplo: Mercado com países que não fazem parte dessa união.
Comum do Sul (MERCOSUL). • Mercado Comum: a terceira parte é a criação de
Mercado comum – proporciona ainda a livre circulação um mercado comum, que implica numa integração maior
de capitais, serviços e pessoas no interior do bloco. Exemplo: entre as economias e regras de comércio interno e externo,
União Europeia (UE). além de englobar a passagem de mercadorias, pessoas e
União econômica e monetária – evolução do mercado co- capital entre esses países de forma livre.
mum. Os países adotam a mesma política de desenvolvimen- • União Econômica e Monetária: o estágio máximo
to e uma moeda única. É o atual estágio da União Europeia. de ligação é o de união econômica e monetária, que é um
Atualmente, os principais blocos econômicos são: mercado comunitário, mas com o diferencial de ter uma
APEC – Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico. moeda comum em circulação nos países que compõem
ASEAN – Associação das Nações do Sudeste Asiático. esse grupo.

29
HISTÓRIA

Esses estágios são baseados nas fases ou categorias Outro fator importante foram os avanços do setor de
vividas pelos blocos, mas há uma ordem obrigatória para transportes. Aviões com capacidade e comodidade cada
sua criação. O bloco que seguiu todos os passos citados foi vez maior deram a chance de mais e mais pessoas reali-
a União Europeia, mas outros já formados não seguiram zarem viagens para lugares distintos, gastando um tempo
necessariamente essa ordem. menor do que anos anteriores. Isso é o chamado efeito da
O Mercosul, por exemplo, é classificado como união globalização que integra países e aproxima nações.
aduaneira; a União Europeia já atingiu o nível de união eco- Lista dos Blocos Econômicos no Mundo
nômica e monetária. Aliás, esses passos são baseados na Países ACP (Associação de países da África, Caribe e
formação desse bloco. Pacífico)
Principais Blocos Econômicos ACP-EU (Acordo de Cotonou. Um acerto comercial
União Europeia entre a União Europeia)
Na Europa existe a União Europeia que é um bloco for- AEC (Associação dos Estados do Caribe)
mado por 28 países. Ele surgiu pela necessidade dos paí- AELC (Associação Europeia de Livre Comércio)
ses de se unirem após a destruição causada pela 2ª Guerra
ALADI (Associação Latino-Americana de Integração)
Mundial. Ele contém economias fortes que conseguiram
ALALCt (Associação Latino-Americana de Livre
resistir a diversas crises econômicas mundiais. Sua moeda
Comércio)
comum é o Euro, mas existem aqueles que não aderiram
à moeda. Ainda que a Grécia, Espanha e outros países te- ALBA (Aliança Bolivariana para as Américas)
nham passado por sérias dificuldades, o fato de estarem in- ALCA (Área de Livre Comércio das Américas)
clusos na União Europeia os deu proteção e inclusive apoio APEC (Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico)
financeiro quando foi preciso. ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático)
CEI CEFTA (Acordo Centro-Europeu de Livre Comércio)
Há ainda na Europa, a Comunidade dos Estados Inde- CAFTA-DR (Comunidade de Livre Comércio entre
pendentes (CEI), que foi criada em 1991. Ela é formada pe- Estados Unidos Central e República Dominicana)
los países Armênia, Cazaquistão, Belarus, Federação Russa, CAN (Comunidade Andina de Nações)
Moldávia, Quirquistão, Tadjiquistão, Ucrânia, Uzbequistão, CAO (Comunidade da África Oriental)
Azerbaidjão e Turcomenistão (membro associado). CARICOM (Comunidade do Caribe)
Mercosul CARIFTAt (Associação de Livre Comércio do Caribe)
O Mercosul é um bloco que foi criado em 1992, sendo CEA (Comunidade Econômica Africana)
formado pelo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. A CEDEAO (Comunidade Econômica dos Estados da
Venezuela entrou no bloco em 2012, mas existem outros em África Ocidental)
processo de adesão e associados. O objetivo da Mercosul CEEA (Comunidade Econômica Eurasiática)
é trazer uma integração política, econômica e social entre CEEAC (Comunidade Econômica dos Estados da África
os países participantes, auxiliar no aumento da qualidade Central)
de vida e fortalecer o vínculo entre os cidadãos do bloco. CEI (Comunidade dos Estados Independentes)
Nafta CEMAC (Comunidade Econômica e Monetária da
O Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAF- África Central)
TA) foi criado oficialmente em 1994 e é formado por Méxi- IBAS (Fórum de Diálogo Índia-Brasil - África do Sul)
co, Estados Unidos e Canadá. O principal objetivo do bloco COMECOMt (Conselho para Assistência Econômica
é manter políticas comuns com relação a barreiras alfande- Mútua)
gárias, leis financeiras, padrões e acesso aos mercados dos COMESA (Mercado Comum da África Oriental e
países-membros.
Austral)
Comunidade Andina de Nações - Pacto Andino
MERCOSUL (Mercado Comum do Sul)
A Comunidade Andina de Nações foi criada em 1969,
formada pela Bolívia, Colômbia, Equador e Peru. Tem como NAFTA (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio)
foco a integração comercial e o acesso dos mercados. É um OCDE (Organização para a Cooperação e
dos principais parceiros dos Estados Unidos. desenvolvimento Econômico)
APEC OECO (Organização dos Estados do Caribe Oriental)
A Cooperaçao Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC) SAARC (Associação Sul- Asiática para a Cooperação
foi criada em 1993, na Conferência de Seattle, nos Estados Regional)
Unidos e é formada por países das Américas, da Oceania SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África
e a Ásia. Austral)
Globalização UA (União Africana)
Todo esse movimento de união de países, às vezes per- UAAA (União Aduaneira da África Austral)
to geograficamente outras vezes não, só é possível pelas UE (União Europeia)
seguidas formas que o homem achou de aproximar pes- UEMOA (União Econômica e Monetária dos Oeste
soas distantes. Os avanços no setor da comunicação pos- Africano)
sibilitaram esse contato e fizeram com que os indivíduos UMA (União do Magrebe Árabe)
conhecessem e vivessem culturas e costumes diferentes de UNASUL (União de Nações Sul-Americanas)
outras regiões que, antes desses avanços, eram imprová- Fonte: http://blocos-economicos.info/
veis de se conhecer.

30
HISTÓRIA

Seja governado por clãs de linhagem ou por classes so-


2.1.1. A ÁFRICA POR DENTRO: ciais específicas, estes povos irão constituir grandes patri-
MANIFESTAÇÕES CULTURAIS, SOCIEDADES mônios materiais e imateriais presentes até os dias de hoje.
POLÍTICA/IMPÉRIOS, ECONOMIA Estes bens refletem a história e o meio ambiente em
(DO COLONIALISMO MODERNO ÀS que se originaram. Por isso, representam aspectos das flo-
restas tropicais, desertos, montanhas, etc.
INDEPENDÊNCIAS PÓS II GUERRA).
Religiões Africanas
Em termos religiosos, vários cultos estão presentes na
A cultura africana deve ser observada sempre no plu- África, com destaque para o islamismo e cristianismo. Além
ral, haja vista sua existência milenar e sua vasta diversidade. deles, destacam-se as religiões tradicionais, muitas vezes
Cumpre lembrar que a África não é um país. vistas como prática de magia e a feitiçaria.
A arqueologia aponta a África como o território habi- Considerados pelos europeus como povos animistas,
tado há mais tempo no planeta. Isso resultou na profusão uma parte dos africanos reverenciam os espíritos das ár-
de idiomas com mais de mil línguas, religiões, regimes po- vores, pedras, dentre outros, e aceitam a coexistência com
líticos, condições materiais de habitação e atividades eco- forças desconhecidas.
nômicas. Cada povo africano tem suas origens mitológicas para
Atualmente, o continente africano ocupa um quinto da explicar suas origens. Estas religiões tradicionais possuem,
Terra, com mais de 50 países e quase 1 bilhão de habitantes. via de regra, um panteão e estão voltadas ao culto dos an-
tepassados e das divindades da natureza.
Etnocentrismo, Eurocentrismo e Culturas Africanas A forma mais conhecida destas religiões envolve o culto
É fato conhecido que a história africana foi escrita e aos Orixás (divindades de origem Ioruba ou Nagô) e englo-
contada pelos colonizadores europeus. bam uma ampla variedade de crenças e ritos.
Os viajantes, missionários e dirigentes coloniais foram Por outro lado, a vida material e espiritual nas religiões
os responsáveis pelos primeiros relatos acerca da cultura africanas, tendem a indistinção entre o sagrado e o profa-
dos povos africanos. no. Estas dimensões são concebidas como indissociáveis e
Assim, além de serem capturados para alimentarem a inseparáveis.
escravidão colonial, estes povos foram usurpados em todos
os seus direitos, incluindo o de contar a própria história. Fonte: https://www.todamateria.com.br/cultura-afri-
O “Etnocentrismo” e o “Eurocentrismo” nas ciências cana/
europeias durante o século XIX são os responsáveis pela
concepção das culturas africanas. Lisboa – As sociedades africanas são sociedades muito
Nesse viés, elas são consideradas manifestações primiti- diversas, ricas nas suas histórias, nos seus modos de vida e
vas ou bárbaras, típicas dos primeiros estágios da civilização. culturas e, portanto, falar delas em conjunto é uma abstra-
Hoje, com as independências dos países africanos, há ção. Neste texto são tratadas as sociedades que habitam a
um esforço de recuperação das tradições culturais africa- África Subsaariana e as suas diásporas, que são cada vez
nas, bem como a constituição de uma historiografia local. mais numerosas. A região da África subsaariana tem dimen-
sões comuns que a caracterizam, nomeadamente o relati-
Aspectos Gerais vo decrescimento da sua participação ativa no comércio e
As manifestações culturais africanas sofreram uma in- na economia mundial, não obstante a corrida desenfreada
tensa destruição pelos regimes coloniais, o que leva as na- pelos recursos naturais em algumas zonas. A desconexão
ções africanas modernas ao embate com o nacionalismo (déconnexion) da África Subsaariana manifesta-se no de-
árabe e ao imperialismo europeu. sinvestimento e na descapitalização. A desestruturação
Em se tratando de culturas tradicionais, muito se pre- das organizações econômicas produtivas, a decomposição
servou e se difundiu pelo continente africano, especial- tendencial das unidades de sobrevivência rurais, a cres-
mente devido aos fluxos migratórios pela África. cente perda de conhecimentos produtivos e organizacio-
Isso permitiu a preservação e a combinação de vários nais, assim como a perda de capacidade de socialização,
aspectos culturais entre os povos do continente. atuam como processos interdependentes que se reforçam
Ademais, vale ressaltar também que boa parte destas mutuamente numa espiral negativa. A perda de contro-
culturas são baseadas em tradições orais, o que não signi- lo de grupos sociais cujo potencial de violência flutuante
fica ausência de escrita. pode ser instrumentalizado quase completa e livremente,
é consequência da desintegração e do colapso, bem como
Organização Política condição para ainda mais destruição. Especialmente nas pe-
Os povos africanos podem ser nômades e vagarem riferias das grandes cidades, formadas no contexto de pro-
pelo deserto ou se fixarem em território para construir cessos de urbanização acelerados, estabelecem-se as con-
grandes impérios. dições para o aparecimento de atores violentos, cada vez
Também podem ser formados por pequenas tribos ou mais jovens. Estes inspiram-se, nos seus modelos culturais,
grandes reinos, onde o chefe político e o sumo sacerdote bem como na sua simbologia para a criação da sua identi-
podem ser a mesma pessoa. dade, no filme violento internacional. Os seus símbolos de

31
HISTÓRIA

comunicação tornam-se, deste modo, internacionalmente interface ao conjunto de intervenções externas mas cuja
convertíveis, e sobrepõem-se à forma mágica histórica de matriz é uma auto-organização original – tanto na sua pro-
existência do jovem guerreiro – na sua emanação moderna jeção para o exterior, como, nas relações que determinados
reforçada por drogas igualmente modernas. Os campos de grupos estabelecem com o resto das sociedades. Para ilus-
refugiados desempenham um papel especial como incu- trar este ponto: retirar as “fardas” aos atores e olhar para
badora de cadetes, os protagonistas do potencial de vio- as relações que, de fato, estabelecem com restantes ato-
lência, que entretanto já escaparam do controlo das suas res. Idem quanto ao comércio: não faz sentido distinguir
sociedades de origem. Foto: RDC – UNICEF O colapso físico entre comércio legítimo e ilegítimo, e ainda menos entre
das infra-estruturas de produção, consequência da falta economia formal e informal – olhamos para a produção
de manutenção, da falta de capacidade de investimentos e os fluxos reais de bens e serviços. O mesmo se aplica às
de substituição, ouda simples destruição, seja por desleixo intervenções externas – olhamos para os fluxos reais e em
ou com propósito, coincide com o desmoronamento das função destes, atribuímos o valor e o lugar devido às mani-
instituições da administração pública. Muitas empresas são festações simbólicas e discursivas.
canibalizadas como o são, também, muitas instituições so- Fonte: http://www.pordentrodaafrica.com/cultura/so-
ciais. Existe um triângulo de tensões entre grupos dos apa- ciedades-africanas-desenvolvimento-ou-desintegracao
relhos “estatais”, especificamente dos aparelhos repressivos
fora de qualquer controlo, (cada vez mais difícil de destacar Os impérios africanos foram formações de Estado que
dos grupos criminosos) –– do capital pirata internacional abrangiam vários povos em uma só entidade. Esta forma-
cada vez mais agressivo e das sociedades, principalmente ção se dava normalmente por meio de conquistas. Foram
urbanas mas não só, em estado de anomia crescente. Neste numerosos e importantes nas suas relações comerciais,
campo de tensões nasce uma economia, tendencialmente políticas e culturais, e cabe-nos conhecer um pouco mais
sem normas, parcialmente violenta, de organização crimi- alguns deles.
nosa que recruta o seu pessoal nos destroços da sociedade
urbana em colapso que já não consegue canalizar os seus Império Axum
conflitos inter-geracionais. Cientistas de desenvolvimento O Império Axum data de 100 d.C., com a fundação da
e colapso de sociedades De fato, o colapso de socieda- cidade de Axum. No século IV já eram o Estado de maior
des é um tema muito desagradável, cuja discussão encon- expressão do reino da Núbia e, por conta das relações no
tra resistências numerosas. Estas têm dimensões teóricas, Mar Vermelho – local de articulação entre populações afri-
ideológicas, políticas e emocionais. A orientação de um canas e árabes – adotaram o cristianismo, que se espalhou
conjunto de disciplinas científicas para o conceito de de- em boa parte do território sob o domínio romano, inclusive
senvolvimento produz uma fixação paradigmática, e um no Egito.
correspondente consenso básico entre cientistas, consen- Este Império tinha como centro de poder a cidade de
so esse que tende a excluir fenômenos não compatíveis. Axum, ao norte da atual Etiópia. Ficava localizada num pla-
nalto, acima do nível do mar e longe do litoral. Desta forma,
Foto: Nigéria – Virginia Maria Yunes A consolidação ideo-
tiveram um grande aproveitamento de recursos minerais
lógica desta atitude é reforçada, entre outros fatores, pela
e desenvolveram o cultivo de cereais, como a cevada e o
dependência econômica da política de desenvolvimento
sorgo, e o Tefé que até os dias atuais compõe a base da
que – sob pressão crescente do público contribuinte – as-
alimentação das populações etíopes.
sume uma postura de defesa cuja agressividade aumenta
Próximo às comunidades agrícolas o poder era centra-
em correlação inversa com o fracasso do desenvolvimento
lizado e a construção de palácios, alteres era comum. Além
externamente induzido. Qualquer crítica encontra, portan-
disso várias foram as estátuas e obras de devoção encon-
to, a mesma atitude de defesa hostil que reprime tudo que
tradas. Vestígios deste Império mostram que era uma so-
possa pôr em risco os fluxos da economia dissipativa. Esta ciedade complexa, hierarquizada e diversa, que tinha como
atitude é reforçada por uma forte componente emocional, representante máximo o título de negus.
proveniente de uma identificação duradoura com o objeto
e reforçada por um mal-estar crescente cuja origem é a Império Zimbábue
frustração, apenas parcialmente assumida, que resulta do O Império Zimbábue existiu entre os anos de 1200 e
fracasso do empenho de muitos anos. As posições ideoló- 1400, no litoral da África Austral, onde hoje estão localiza-
gicas, cada vez mais cristalizadas, em caso extremo do “po- dos Moçambique e Zimbábue. O território era povoado por
litical correctness”, não somente impedem a reflexão crítica, populações do tronco linguístico banto, conhecidos como
como também combatem qualquer discurso divergente (e, shonas. Os vestígios materiais desse império foram encon-
não raras vezes, os discursantes). Bissau – Foto de Virgínia trados somente no século XIX e a principal marca encontra-
Maria Yunes Embora tentemos pôr as sociedades no centro da foi o Grande Zimbábue – ou Grande Casa de Pedra. Uma
da análise, o que as ciências de desenvolvimento tendem a construção enorme, complexa e que demonstra ostentação
ignorar, sugerimos um olhar diferente que evite transportar e poder.
conceitos analíticos de um contexto para outro. Quer dizer, Este Império ficou conhecido por seu grande número
entendemos, por exemplo, o “Estado” como uma projeção de construções, que são testemunhos do poder alcançado
externa, um formato de organização de partes da socie- por ele. Foi um poderoso Estado com hegemonia na região
dade que tem origem na necessidade de proporcionar um localizada entre os rios Zambeze e Limpopo.

32
HISTÓRIA

Este Estado, poderoso e influente, atuava no comércio Seu representante supremo era chamado de Mansa, e
de minérios e seus governantes recebiam o título de Mwene residia na cidade de Niani, ao norte da atual República da
Mutapa, o senhor das minas. Havia divisão social do trabalho Guiné. O apogeu da dinastia Keita ocorreu no século XIV,
bem estabelecida, com artesãos especializados no trabalho durante o governo de Kankan Mussa, o Mansa Mussa.
com cobre e ferro, ourives, escultores e tecelões. No final do século XIV o império enfrenta dificuldades
em manter uma área tão grande e entra em processo de
Império Gana declínio.
Império Gana foi o mais antigo Estado negro que se
conhece, fundado no século IV, e conquistou uma grande Império Songai
área onde exerceu dominação política e econômica, ao sul O Império Songai está relacionado com a cidade de
do que hoje conhecemos por Mauritânia, Senegal e Mali. Foi Gao, localizada na curva do Níger. Esta cidade foi um im-
um núcleo formado pelos povos conhecidos como soninkê. portante centro comercial, político e econômico, com po-
Inicialmente Gana era o título dado ao governante que der militar de arqueiros que se lançavam ao Rio Niger.
atribuía sua soberania aos povos dominados. Gana conhe- Até o século XIV Gao estava sob o poder do Império
ceu seus tempos áureos após 790, quando o poder esteve Mali, mas no século XV conquistaram Tombuctu, um im-
sob o controle da dinastia Cissê Tunaka, exercido de forma portante centro do Islã e ponto fundamental do comércio
matrilinear. Do século IX ao século XI a hegemonia de Gana pelo Saara. É neste momento que ocorreu a formação do
foi reconhecida. Império, num processo de expansão militar, liderados por
A base econômica deste império baseava-se no reco- Sonni Ali, que além de tomarem Tombuctu, conquistam
lhimento de tributação, imposta aos povos conquistados e também Djenné. Tinham práticas religiosas politeístas e
aos produtos que circulavam em seus domínios. Além disso aprimoraram as experiências do império que os sucedeu
atividades de subsistência como a pesca, a pecuária e a agri- – o Mali, incorporando elementos dos impérios anteriores.
cultura formavam parte importante de sua economia. Além Exploravam ouro, sal e cauris e estabeleceram uma uni-
de um poderoso exército, os soberanos tinham também ao ficação de pesos e medidas que facilitava a cobrança de
seu dispor uma gama variada de funcionários. impostos e as trocas comerciais. Com uma grande exten-
A localização e seu poder hegemônico garantiam um
são territorial, o Imperio Songai tinha um comércio bem
fluxo comercial contínuo, articulando saarianos e sul saaria-
organizado e um sistema de governo centralizado. Eram
nos, ou seja, conseguiam explorar uma importante região
divididos entre uma elite e a população geral e suas cida-
de comercio. Assim, do Norte vinham o cobre, cauris (os bú-
des mais influentes eram Tombuctu, Djenné e Gao.
zios), tecidos de seda e algodão e o sal, que eram trocados
Fonte: https://www.infoescola.com/historia/imperios-
por marfim, escravos e ouro.
-africanos/
Com esta grande articulação comercial Gana conseguiu
se manter como império até o século XI, quando foram der-
rotados diante de tropas de cavaleiros e muçulmanos do Economia da África
Marrocos que estavam em guerra contra os pagãos, como A África é o continente mais pobre do mundo. Cerca
o povo de Gana. Gana foi, portanto, a última barreira para a de 1/3 dos habitantes da África vivem com menos de 1 dó-
entrada do Islã na região. lar ao dia, abaixo do nível da pobreza definido pelo Banco
Mundial. O avanço de epidemias, o agravamento da misé-
Império Mali ria e os conflitos armados levam esta região a um verdadei-
Com o declínio de Gana diversas disputas por influência ro caos. Além disso, quase 2/3 dos portadores do vírus HIV
ocorreram entre estados menores, paralelos e independen- do planeta vivem neste continente. O atraso econômico e
tes, no século XII. Um desses estados era formado pelo povo a ausência de uma sociedade de consumo em larga escala,
conhecido por sosso, de etnia Soninke. Foi por meio das ar- colocam o mercado africano em segundo plano no mundo
mas que estes se impuseram e alcançaram hegemonia no globalizado. O PIB total da África é de apenas 1% do PIB
século XIII. mundial e o continente participa de apenas 2% das transa-
O Império Mali era formado por povos presentes na re- ções comerciais que acontecem no mundo.
gião situada entre o Rio Senegal e o Rio Níger. Dentre esses Em sua maioria, os africanos são tradicionalmente
povos o mais importante eram os mandingas, conhecedores agricultores e pastores. A colonização européia aumentou
do Islã desde o século XI. Mas, além deles, outros povos for- a demanda externa de determinados produtos agrícolas e
mavam este império, como os soninkês, os fulas, os sossos minerais. Para atendê-la, construíram-se sistemas de co-
e os bozos. municação, introduziram-se cultivos e tecnologia europeus
Sundjata Keita foi o maior representante do Império e desenvolveu-se um sistema de economia de intercâmbio
Mali, e estendeu sua autoridade para unidades políticas pró- comercial, que continua coexistindo com a economia de
ximas, formando um estado unificado e hegemônico até o subsistência.
século XV. Embora um quarto do território africano seja coberto
A heemonia do Mali na África Ocidental ocorreu por al- por florestas, grande parte da madeira só tem valor como
guns importantes fatores, como a formação de um exército po- combustível. Gabão é o maior produtor de okoumé, um
deroso, o controle na extração do ouro e a existência de uma derivado da madeira usado na elaboração de compensa-
administração eficiente. Esses pontos fizeram do Mali um dos do (madeira em chapa). Costa do Marfim, Libéria, Gana e
impérios mais bem-sucedidos do continente africano. Nigéria são os maiores exportadores de madeira de lei. A

33
HISTÓRIA

pesca marítima, que é muito difundida e voltada para o humanos. Na verdade, estas imagens são tendenciosas e
consumo local, adquire importância comercial no Marro- obedecem os interesses expansionistas da época. Os po-
cos, na Namíbia e na África do Sul. A mineração representa vos explorados eram tidos como animais irracionais, o que
a maior receita dentre os produtos exportados. As indús- legitimava a colonização que lhes tornaria seres humanos
trias de extração mineral são o setor mais desenvolvido em ‘normais’.
boa parte da economia africana. Além disso, Serra Leoa Os critérios utilizados na criação destas gravuras foram
tem a maior reserva conhecida de titânio. o exótico e fantástico, os ilustradores não presenciavam
A nação mais industrializada do continente é a África nenhuma destas cenas, apenas faziam-nas com base em
do Sul, que alcançou relativa estabilidade política e desen- relatos e esboços recebidos por viajantes.
volvimento, possuindo sozinha 1/5 do PIB de toda a Áfri- Outra forma de colonialismo dá-se na linguagem a na
ca. Porém, também já foram implantados notáveis centros imposição de uma religião. Os portugueses evangelizaram
industriais no Zimbábue, no Egito e na Argélia. O principal os habitantes do Brasil, impondo o cristianismo e ignoran-
bloco econômico é o SADC, formado por 14 países, que se do os deuses indígenas que provinham de figuras naturais
firma como o pólo mais promissor do continente. como a Lua, o fogo e o Sol. Na linguagem é possível en-
Fonte: http://www.sogeografia.com.br/Conteudos/ contrar a influência da cultura de países dominantes até
Continentes/Africa/?pg=4 hoje, como nas palavras que sofreram processo de acul-
turação como: hambúrguer, fast-food (EUA), buffet, abajur
O colonialismo é uma forma de imposição de au- (França), etc.
toridade de uma cultura sobre outra. Ele pode acontecer
de forma forçada, com a utilização de poderio militar ou Fonte: https://www.infoescola.com/historia/colonialismo/
por outros meio como a linguagem e a arte. A dominação
portuguesa no Brasil é um bom exemplo de colonialismo,
assim como a colonização da África, destruição da cultura
dos povos andinos e a influência da cultura americana em
países subdesenvolvidos.
A forma mais popular do colonialismo ocorre por in-
teresses capitalistas, quando um país explora os recursos
naturais do outro para crescer economicamente. Na Amé-
rica do Sul, isso aconteceu com a colonização portuguesa
e espanhola, os colonizadores, movidos por armas de fogo,
exploraram e aniquilaram populações locais e se designa-
ram donos das terras recém ‘descobertas’.
Os dois tipos de colonização que existem são: de ex-
ploração e de povoamento. Na primeira são retirados os
recursos naturais e minerais do país, os quais são comer-
cializados pelos colonizadores. No segundo, o interesse é
desenvolver a região colonizada. Criam-se leis, há um in-
vestimento na economia e melhorias da infraestrutura.
O colonialismo pode ser dividido em duas etapas: a pri-
meira começa na Europa Ocidental entre os anos de 1415
e 1800. Foi liderada por Portugal e Espanha que criaram
rotas pelas pelas Índias. Neste momento, o interesse era o
comércio de especiarias. A segunda fase tem dois períodos.
O primeiro vai de 1815 a 1880, quando a política expansio-
nista vinha somente de países da Europa já estabelecidos.
A segunda pode ser datada entre os anos de 1880 a 1914,
quando chegou no continente africano, regiões asiáticas e
do Pacífico.
Esta época é considerada o ápice do colonialismo,
quando o império da Inglaterra tornou-se o maior do
mundo. Embora os ingleses tivessem a hegemonia, nações
como Alemanha, Portugal, Estados Unidos e Brasil também
eram fortes potências do colonialismo.
Mas o colonialismo também pode ser encontrado na
arte e na linguagem. Na primeira gravura (1), Tupinambás
são retratados como canibais separando as vísceras do ini-
migo. Já na segunda (2), homens, mulheres e crianças fa-
zem um churrasco e consomem pedaços do corpo de seres

34
HISTÓRIA

Exercícios (A) a ineficiência do sistema judiciário inglês no


território indiano.
01. (ENEM - EXAME NACIONAL DO ENSINO (B) o apoio da população hindu à prisão de Gandhi.
MÉDIO- INEP/2012) É verdade que, nas democracias, o (C) o caráter violento das manifestações hindus
povo parece fazer o que quer; mas a liberdade política não frente à ação inglesa.
consiste nisso. Deve-se ter sempre presente em mente o (D) a impossibilidade de deter o movimento
que é independência e o que é liberdade. A liberdade liderado por Gandhi.
é o direito de fazer tudo o que as leis permitem; se um (E) a indiferença das autoridades britânicas frente
cidadão pudesse fazer tudo o que elas proíbem, não ao apelo popular hindu.
teria mais liberdade, porque os outros também teriam
tal poder. (MONTESQUIEU. Do Espírito das Leis. São Em 1932, a Índia estava sob o domínio britânico,
Paulo: Editora Nova Cultural, 1997 - adaptado). sendo uma de suas colônias mais importantes, e
considerada “Joia da Coroa”. Ela tanto tinha importante
A característica de democracia ressaltada por papel geoestratégico no Oriente para os ingleses, como
Montesquieu diz respeito era de grande valia econômica, pois da referida colônia
(A) Ao status de cidadania que o indivíduo adquire provinham produtos como chá, especiarias e tecidos
ao tomar as decisões por si mesmo. (estes últimos vendidos em todas as praças comerciais do
(B) ao condicionamento da liberdade dos cidadãos império). É contra o domínio inglês que Gandhi lidera a
à conformidade às leis. luta, de cunho pacifista: propunha o boicote aos produtos
(C) à possibilidade de o cidadão participar no poder ingleses e o não pagamento de taxas. Dessa forma, Gandhi
e, nesse caso, livre da submissão às leis. conseguiu a adesão de muçulmanos e hindus. A cada
(D) ao livre-arbítrio do cidadão em relação àquilo prisão que sofria Mahatma, como era conhecido, maior se
que é proibido, desde que ciente das consequências. tornava o apoio ao líder indiano, como bem demonstra a
(E) ao direito do cidadão exercer sua vontade de charge.
acordo com seus valores pessoais.
RESPOSTA: “D”.
Foi de Montesquieu a proposta da divisão de poderes,
como maneira de cercear toda forma de abuso, prática 03. (ENEM - EXAME NACIONAL DO ENSINO
rotineira na época. Portanto, o que ele defende claramente MÉDIO- INEP/2012) Que é ilegal a faculdade que
é que “(...) a liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis se atribui à autoridade real para suspender as leis
permitem”. Assim sendo, liberdade, para ele, é sinônimo de ou seu cumprimento. Que é ilegal toda cobrança de
compartilhamento com responsabilidade e respeito às leis impostos para a Coroa sem o concurso do Parlamento,
de poder entre os cidadãos de uma determinada sociedade. sob pretexto de prerrogativa, ou em época e modo
diferentes dos designados por ele próprio. Que é
Resposta: ”B” indispensável convocar com frequência os Parlamentos
para satisfazer os agravos, assim como para corrigir,
02. ((ENEM - EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO afirmar e conservar leis. (Declaração de Direitos.
- INEP/2012) ) Disponível em: http://disciplinas.stoa.usp.br. Acesso
em: 20 dez. 2011 - adaptado).
No documento de 1689, identifica-se uma
particularidade da Inglaterra diante dos demais
Estados europeus na Época Moderna. A peculiaridade
inglesa e o regime político que predominavam na
Europa continental estão indicados, respectivamente,
em:
(A) redução da influência do papa – Teocracia.
(B) limitação do poder do soberano – Absolutismo.
(C) ampliação da dominação da nobreza –
República.
(D) expansão da força do presidente –
Parlamentarismo.
Disponível em: www.gandhiserve.org. Acesso em: 21
(E) restrição da competência do congresso –
nov. 2011.
Presidencialismo.
O cartum, publicado em 1932, ironiza as
A Revolução Inglesa ocorreu no século XVII, em duas
consequências sociais das constantes prisões de etapas: 1640, com a Guerra Civil e o Governo de Cromwell,
Mahatma Gandhi pelas autoridades britânicas, na Índia, e firma-se com a Revolução Gloriosa e a com a Declaração
demonstrando dos Direitos, em 1688. Nessa época, a maioria dos outros

35
HISTÓRIA

Estados europeus tinha regime político absolutista. Nova York, em 1929, resultou da superprodução e não
Portanto, a opção “B” é a correta. O efeito principal da da falência dos bancos. A crise de 2008 foi resultado da
Declaração dos Direitos foi a limitação dos poderes do especulação e do excesso de créditos, e difundiu-se por
soberano, o que possibilitou o surgimento do regime todo o Planeta globalizado, conforme afirma o trecho
parlamentarista, em contraste com o regime absolutista transcrito.
então vigente na Europa Continental.
RESPOSTA: “B”.
RESPOSTA: “B”.
05. ((ENEM - EXAME NACIONAL DO ENSINO
04. (ENEM - EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO - INEP/2012) )
MÉDIO- INEP/2012) Texto I
A Europa entrou em estado de exceção,
personificado por obscuras forças econômicas sem
rosto ou localização física conhecida que não prestam
contas a ninguém e se espalham pelo globo por meio
de milhões de transações diárias no ciberespaço.
(ROSSI, C. Nem fim do mundo nem mundo novo. Folha
de São Paulo, 11 dez. 2011 - adaptado).

Texto II
Estamos imersos numa crise financeira como nunca
tínhamos visto desde a Grande Depressão iniciada em
1929 nos Estados Unidos. (Entrevista de George Soros.
Disponível em: www.nybooks.com. Acesso em: 17 ago.
2011 - adaptado).
A comparação entre os significados da atual crise
econômica e do crash de 1929 oculta a principal
diferença entre essas duas crises, pois Disponível em: http://quadro-a-quadro.blog.br.
(A) o crash da Bolsa em 1929 adveio do Acesso em: 27 jan. 2012.
envolvimento dos EUA na I Guerra Mundial e a atual
crise é o resultado dos gastos militares desse país nas Com sua entrada no universo dos gibis, o Capitão
guerras do Afeganistão e Iraque. chegaria para apaziguar a agonia, o autoritarismo
(B) a crise de 1929 ocorreu devido a um quadro militar e combater a tirania. Claro que, em tempos
de superprodução industrial nos EUA e a atual crise de guerra, um gibi de um herói com uma bandeira
resultou da especulação financeira e da expansão americana no peito aplicando um sopapo no Fuhrer só
desmedida do crédito bancário. poderia ganhar destaque, e o sucesso não demoraria
(C) a crise de 1929 foi o resultado da concorrência muito a chegar. (COSTA, C. Capitão América, o primeiro
dos países europeus, reconstruídos após a I Guerra e vingador: crítica. Disponível em: www.revistastart.
a atual crise se associa à emergência dos BRICS como com.br. Acesso em: 27 jan. 2012 - adaptado).
novos concorrentes econômicos. A capa da primeira edição norte-americana da
(D) o crash da Bolsa em 1929 resultou do excesso de revista do Capitão América demonstra sua associação
proteções ao setor produtivo estadunidense e a atual com a participação dos Estados Unidos na luta contra
crise tem origem na internacionalização das empresas (A) a Tríplice Aliança, na Primeira Guerra Mundial.
e no avanço da política de livre mercado. (B) os regimes totalitários, na Segunda Guerra
(E) a crise de 1929 decorreu da política Mundial.
intervencionista norte-americana sobre o sistema de (C) o poder soviético, durante a Guerra Fria.
comércio mundial e a atual crise resultou do excesso (D) o movimento comunista, na Guerra do Vietnã.
de regulação do governo desse país sobre o sistema (E) o terrorismo internacional, após 11 de setembro
monetário. de 2001.

Os EUA, após a Primeira Guerra Mundial, tornaram-se Observando-se com atenção a capa da revista, vê-se
o grande fornecedor de produtos para a Europa, para a que o Capitão América está batendo em Hitler, o Fuhrer,
América Latina e para as colônias europeias na África e representante máximo do nazifascimo, regime totalitário
na Ásia. A Europa estava destruída pela guerra, e o dólar por excelência.
substituiu a libra esterlina como moeda de comércio
internacional, vinculando, dessa forma, o sistema financeiro RESPOSTA: “B”.
do Ocidente ao sistema americano. O “crack” da Bolsa de

36
HISTÓRIA

06. (ENEM - EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO A opção A está incorreta, pois se refere ao ateísmo,
- INEP/2011) Se a mania de fechar, verdadeiro habitus ou seja, descrença em qualquer religião. A opção B está
da mentalidade medieval, nascido talvez de um incorreta, pois o judaísmo não era, nem é, predominante na
profundo sentimento de insegurança, estava difundida Etiópia e na Península Árabe. O hinduísmo – alternativa C,
no mundo rural, estava do mesmo modo no meio tem origens na Índia, que não tem relação com a expansão
urbano, pois que uma das características da cidade era e o comércio do café. Portanto, alternativa errada. A
de ser limitada por portas e por uma muralha. (DUBY, opção D está correta, pois foram os árabes – muçulmanos,
G. et al. Séculos XIV-XV . In: ARIÈS, P.; DUBY, G. História considerados infiéis pela Igreja Católica, quem levou o café
da vida privada da Europa Feudal à Renascença. São ao Ocidente.
Paulo: Cia. das Letras, 1990 - adaptado). O protestantismo estava em fase de expansão, no
As práticas e os usos das muralhas sofreram século XVI, mas o café não é de origem europeia e, mesmo
importantes mudanças no final da Idade Média, entre os seguidores daquele movimento, o consumo da
quando elas assumiram a função de pontos de bebida feita com esse fruto era restrito.
passagem ou pórticos. Este processo está diretamente
relacionado com RESPOSTA: “D”.
(A) o crescimento das atividades comerciais e
urbanas. 08. (ENEM - EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO
(B) a migração de camponeses e artesãos. - INEP/2011) A Inglaterra pedia lucros e recebia lucros.
(C) a expansão dos parques industriais e fabris. Tudo se transformava em lucro. As cidades tinham sua
(D) o aumento do número de castelos e feudos. sujeira lucrativa, suas favelas lucrativas, sua fumaça
(E) a contenção das epidemias e doenças. lucrativa, sua desordem lucrativa, sua ignorância
lucrativa, seu desespero lucrativo. As novas fábricas e os
Na Europa Medieval, a sociedade era basicamente novos alto-fornos eram como as Pirâmides, mostrando
rural, e cada feudo tinha sua autonomia, considerando-se mais a escravização do homem que seu poder. (DEANE,
as suas subsistência e segurança e as guerras. As Cruzadas P. A Revolução Industrial. Rio de Janeiro: Zahar, 1979
e a Reconquista da Península Ibérica, a partir do século XII, -adaptado)
levaram as guerras feudais para outras regiões. Assim, as Qual relação é estabelecida no texto entre os
hoje atuais França, Alemanha, Bélgica, Holanda, Suíça e avanços tecnológicos ocorridos no contexto da
Itália passaram a ter produtos excedentes, o que as levou Revolução Industrial Inglesa e as características das
a abrir novas rotas comerciais, ampliando o comércio e cidades industriais no início do século XIX?
alterando as características das cidades. (A) A facilidade em se estabelecer relações lucrativas
transformava as cidades em espaços privilegiados
RESPOSTA: “A”. para a livre iniciativa, característica da nova sociedade
. capitalista.
07. (ENEM - EXAME NACIONAL DO ENSINO (B) O desenvolvimento de métodos de planejamento
MÉDIO - INEP/2011) O café tem origem na região urbano aumentava a eficiência do trabalho industrial.
onde hoje se encontra a Etiópia, mas seu cultivo e (C) A construção de núcleos urbanos integrados
consumo se disseminaram a partir da Península Árabe. por meios de transporte facilitava o deslocamento dos
Aportou à Europa por Constantinopla e, finalmente, trabalhadores das periferias até as fábricas.
em 1615, ganhou a cidade de Veneza. Quando o café (D) A grandiosidade dos prédios onde se localizavam
chegou à região europeia, alguns clérigos sugeriram as fábricas revelava os avanços da engenharia e da
que o produto deveria ser excomungado, por ser arquitetura do período, transformando as cidades em
obra do diabo. O papa Clemente VIII (1592-1605), locais de experimentação estética e artística.
contudo, resolveu provar a bebida. Tendo gostado do (E) O alto nível de exploração dos trabalhadores
sabor, decidiu que ela deveria ser batizada para que industriais ocasionava o surgimento de aglomerados
se tornasse uma “bebida verdadeiramente cristã”. urbanos marcados por péssimas condições de moradia,
(THORN, J. Guia do café. Lisboa: Livros e livros, 1998 saúde e higiene.
- adaptado).
A postura dos clérigos e do papa Clemente VIII, O Brasil é, ainda, um País marcado por profundas
diante da introdução do café na Europa Ocidental, diferenças regionais no âmbito social, econômico e cultural,
pode ser explicada pela associação dessa bebida ao e que sofreu o processo de industrialização tardiamente,
(A) ateísmo. a partir de quando boa parte de suas cidades começou
(B) judaísmo. a enfrentar a superpopulação, sem que se conseguisse
(C) hinduísmo. oferecer a todos as infraestruturas básicas para bem
(D) islamismo. acomodá-los. O século XXI trouxe consigo grandes
(E) protestantismo. melhorias para o trabalhador, assegurando-lhe, via lei,
proteção a seus interesses e necessidades, o que não havia
nos séculos XVIII e XIX. Os benefícios que os trabalhadores

37
HISTÓRIA

têm, hoje, foram conquistados com árdua luta, que teve (A) os agentes históricos de uma determinada
início na ação dos Quebradores de Máquinas, ocorrida por sociedade deveriam ser aqueles que realizaram feitos
volta de 1830, na Inglaterra. heroicos ou grandiosos e, por isso, ficaram na memória.
(B) a História deveria se preocupar em memorizar
RESPOSTA: “E”. os nomes de reis ou dos governantes das civilizações
que se desenvolveram ao longo do tempo.
09. (ENEM - EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO (C) os grandes monumentos históricos foram
- INEP/2011) A evolução do processo de transformação construídos por trabalhadores, mas sua memória está
de matérias-primas em produtos acabados ocorreu vinculada aos governantes das sociedades que os
em três estágios: artesanato, manufatura e máquino- construíram.
fatura. Um desses estágios foi o artesanato, em que se (D) os trabalhadores consideram que a História
(A) trabalhava conforme o ritmo das máquinas e de é uma ciência de difícil compreensão, pois trata de
maneira padronizada. sociedades antigas e distantes no tempo.
(B) trabalhava geralmente sem o uso de máquinas (E) as civilizações citadas no texto, embora muito
e de modo diferente do modelo de produção em série. importantes, permanecem sem terem sido alvos de
(C) empregavam fontes de energia abundantes pesquisas históricas.
para o funcionamento das máquinas.
(D) realizava parte da produção por cada operário, Brecht expõe, nesta maravilhosa poesia, uma crítica
com uso de máquinas e trabalho assalariado. à uma forma de escrita da História que privilegia as
(E) faziam interferências do processo produtivo por personalidades políticas, os governantes, como se fossem
técnicos e gerentes, com vistas a determinar o ritmo de estes os que construíram, com suas mãos, os monumentos.
produção.
RESPOSTA: “C”.
A questão trata da construção do modelo fabril
de produção denominado “Revolução Industrial”. As 11. (FUVEST-VESTIBULAR-2014) A ideia de ocupação
mudanças na forma de produção aconteceram de forma do continente pelo povo americano teve também raízes
bem mais lenta do que a Revolução ocorrida na segunda
populares, no senso comum e também em fundamentos
metade do século XVIII, na Inglaterra. Tais mudanças têm,
religiosos. O sonho de estender o princípio da “união”
muito provavelmente, seu início no século XIII, quando se
até o Pacífico foi chamado de “Destino Manifesto”.
tinha a comercialização da produção artesanal, com o início
Nancy Priscilla S. Naro. A formação dos Estados Unidos.
da abertura da economia feudal. A produção artesanal
São Paulo: Atual, 1986, p. 19. A concepção de “Destino
caracteriza-se pela produção sem a utilização de máquinas,
Manifesto”, cunhada nos Estados Unidos da década de
pela não produção em série, por não apresentar divisão de
trabalho nem mão de obra especializada, tendo a figura do 1840,
artesão como o principal responsável pelo processo que (A) difundiu a ideia de que os norte-americanos
vai da matéria prima ao produto final. eram um povo eleito e contribuiu para justificar o
desbravamento de fronteiras e a expansão em direção
RESPOSTA: “B”. ao Oeste.
(B) tinha origem na doutrina judaica e enfatizava
10. (ENEM - EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO que os homens deviam temer a Deus e respeitar a todos
- INEP/2011) os semelhantes, independentemente de sua etnia ou
posição social.
“Quem construiu a Tebas de sete portas? (C) baseava-se no princípio do multiculturalismo
Nos livros estão nomes de reis: e impediu a propagação de projetos ou ideologias
Arrastaram eles os blocos de pedra? racistas no Sul e no Norte dos Estados Unidos.
a Babilônia várias vezes destruída (D) derivou de princípios calvinistas e rejeitava
Quem a reconstruiu tantas vezes? a valorização do individualismo e do aventureirismo
Em que casas da Lima dourada moravam os nas campanhas militares de conquista territorial,
construtores? privilegiando as ações coordenadas pelo Estado.
Para onde foram os pedreiros, na noite em que a (E) defendia a necessidade de se preservar a
Muralha da China ficou pronta? natureza e impediu o prosseguimento das guerras
A grande Roma está cheia de arcos do triunfo. contra indígenas, na conquista do Centro e do Oeste do
(BRECHT, B. Perguntas de um trabalhador que ] território norte-americano.
lê. Disponível em: http//recantodasletras.uol.com.br.
Acesso em: 28 abr.2010.) O “Destino Manifesto” consistiu em uma concepção
de base ideológico-política, mesclada com preceitos
Partindo das reflexões de um trabalhador que lê um religiosos que fundamentou e legitimou a expansão
livro de História, o autor censura a memória construída territorial dos EUA.
sobre determinados monumentos e acontecimentos
históricos. A crítica refere-se ao fato de que RESPOSTA: “A”.

38
CBM-MG
Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Minas Gerais

Soldados Bombeiros Militar do Quadro de Praças (Qp-Bm) e


do Quadro de Praças Especialistas – (Qpe-Bm)

Volume II
Edital CBMMG Nº 13, de 30 de Julho de 2018

AG001-B-2018
DADOS DA OBRA

Título da obra: Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Minas Gerais - CBM-MG

Cargo: Soldados Bombeiros Militar do Quadro de Praças (QP-BM) e


do Quadro de Praças Especialistas – (QPE-BM)

(Baseado no Edital CBMMG Nº 13, de 30 de Julho de 2018)

Volume I
• Língua Portuguesa
• Redação em Língua Portuguesa
• Matemática
• Geografia
• História

Volume II
• Direitos Humanos
• Química
• Biologia
• Física

Gestão de Conteúdos
Emanuela Amaral de Souza

Diagramação/ Editoração Eletrônica


Elaine Cristina
Igor de Oliveira
Ana Luiza Cesário
Thais Regis

Produção Editoral
Suelen Domenica Pereira
Julia Antoneli
Leandro Filho

Capa
Joel Ferreira dos Santos
APRESENTAÇÃO

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SUMÁRIO

Direitos Humanos

Histórico dos Direitos Humanos. ...................................................................................................................................................................... 01


Direitos individuais. ................................................................................................................................................................................................ 02
Direitos sociais e direitos difusos....................................................................................................................................................................... 02
Direitos civis e políticos. ....................................................................................................................................................................................... 02
Direitos fundamentais............................................................................................................................................................................................. 02
Violação de Direitos Humanos............................................................................................................................................................................ 34
Segurança pública e cidadania. ......................................................................................................................................................................... 37
Declaração Universal dos Direitos Humanos. .............................................................................................................................................. 38
Constituição Federal (artigos 1º ao 10). ......................................................................................................................................................... 48
Constituição Estadual: Título II (artigos 4º e 5º), Título IV (artigos 185 a 226). .............................................................................. 76
Lei Nº 9.455, de 7 de abril de 1.997, Lei da Tortura. ................................................................................................................................. 84
Lei Nº 8.069, de 13 de julho de 1.990, Estatuto da Criança e do Adolescente. ............................................................................. 87
Lei Nº 10.741, de 1º de outubro de 2.003, Estatuto do Idoso.............................................................................................................140

Química

Propriedades dos materiais


1. Estados físicos e mudanças de estado. Variações de energia e do estado de agregação das partículas......................... 01
2. Temperatura termodinâmica e energia cinética média das partículas........................................................................................... 01
3. Propriedades dos materiais: cor, aspecto, cheiro e sabor; temperatura de fusão, temperatura de ebulição, densidade
e solubilidade............................................................................................................................................................................................................. 01
4. Substâncias e critérios de pureza.................................................................................................................................................................. 01
5. Misturas homogêneas e heterogêneas. Métodos de separação de misturas............................................................................. 01
Estrutura atômica da matéria – Constituição dos átomos
1. Modelo atômico de Dalton: descrição e aplicações.............................................................................................................................. 06
2. Modelo atômico de Thomson: natureza elétrica da matéria e existência do elétron.............................................................. 06
3. Modelo atômico de Rutherford e núcleo atômico................................................................................................................................. 06
4. Prótons, nêutrons e elétrons. Número atômico e número de massa. Isótopos, Isóbaros, Isótonos e Isoeletrônicos.......06
5. Modelo atômico de Bohr: aspectos qualitativos. Configurações eletrônicas por níveis de energia. Orbitais................ 06
Periodicidade química
1. Periodicidade das propriedades macroscópicas: temperaturas de fusão e ebulição, caráter metálico de substâncias
simples.......................................................................................................................................................................................................................... 09
2. Critério básico da classificação periódica moderna. Configurações eletrônicas e elétrons de valência........................... 09
3. Grupos e períodos. Elétrons de valência, número de oxidação e localização dos elementos.............................................. 09
4. Símbolos de elementos mais comuns......................................................................................................................................................... 09
5. Periodicidade das propriedades atômicas: eletronegatividade, raio atômico, afinidade eletrônica e energia de
ionização...................................................................................................................................................................................................................... 09
Ligações químicas e interações intermoleculares
1. Propriedades macroscópicas de substâncias sólidas, líquidas e gasosas e de soluções: correlação com os modelos de
ligações químicas e de interações intermoleculares.................................................................................................................................. 20
2. Energia em processos de formação ou rompimento de ligações químicas e interações intermoleculares.................... 20
3. Modelos de ligações químicas e interações intermoleculares. Substâncias iônicas, moleculares, covalentes e
metálicas...................................................................................................................................................................................................................... 20
4. Polaridade das moléculas. Reconhecimento dos efeitos da polaridade de ligação e da geometria na polaridade das
moléculas e a influência desta na solubilidade e nas temperaturas de fusão e de ebulição das substâncias.................... 20
Reações químicas e estequiometria
1. Reação química: conceito e evidências experimentais......................................................................................................................... 26
2. Equações químicas: balanceamento e uso na representação de reações químicas comuns................................................ 26
3. Oxidação e redução: conceito, balanceamento, identificação e representação de semirreações....................................... 26
4. Massa atômica, mol e massa molar: conceitos e cálculos................................................................................................................... 26
5. Aplicações das leis de conservação da massa, das proporções definidas, do princípio de Avogadro e do conceito de
volume molar de um gás. Cálculos estequiométricos. ............................................................................................................................. 26
SUMÁRIO

Relações massa e mol. ........................................................................................................................................................................................... 67


Excesso de reagentes, reagente limitante. .................................................................................................................................................... 67
Rendimento de reações químicas e grau de pureza de reagentes....................................................................................................... 67
Soluções líquidas
1. Soluções e solubilidade. O efeito da temperatura na solubilidade. Soluções saturadas........................................................ 30
2. O processo de dissolução: interações soluto / solvente; efeitos térmicos.................................................................................... 30
3. Eletrólitos e soluções eletrolíticas................................................................................................................................................................. 30
4. Concentração de soluções: em g/L, em mol/L e em percentuais. Cálculos químicos.............................................................. 30
5. Propriedades coligativas. Relações qualitativas entre a concentração de soluções de solutos não voláteis e as
propriedades: pressão de vapor, temperatura de congelação e de ebulição e a pressão osmótica...................................... 30
Termoquímica
1. Calor e temperatura: conceito e diferenciação........................................................................................................................................ 34
2. Processos que alteram a temperatura das substâncias sem envolver fluxo de calor – trabalho mecânico, trabalho
elétrico e absorção de radiação eletromagnética....................................................................................................................................... 34
3. Efeitos energéticos em reações químicas. Calor de reação e variação de entalpia. Reações exotérmicas e endotérmicas:
conceito e representação...................................................................................................................................................................................... 34
4. A obtenção de calores de reação por combinação de reações químicas; a Lei de Hess. Cálculos..................................... 34
5. A produção de energia pela queima de combustíveis: carvão, álcool e hidrocarbonetos. Aspectos químicos e efeitos
sobre o meio ambiente.......................................................................................................................................................................................... 34

Cinética e equilíbrio químico


1. Evidências de ocorrência de reações químicas: a variação de propriedades em função do tempo................................... 37
2. Velocidade de uma reação química: conceito e determinação experimental. Reações muito rápidas e muito lentas;
efeito do contato entre os reagentes, de sua concentração, da temperatura, da pressão na velocidade de reações
químicas. Catalisadores e inibidores................................................................................................................................................................. 37
3. Colisões moleculares: frequência e energia. Energia de ativação e estado de transição (complexo ativado): conceitos,
construção e interpretação de diagramas...................................................................................................................................................... 37
4. Reações químicas reversíveis. Evidências experimentais para o fenômeno da reversibilidade............................................ 37
5. Equilíbrio químico: caracterização experimental e natureza dinâmica........................................................................................... 37
6. A modificação do estado de equilíbrio de um sistema: efeitos provocados pela alteração da concentração dos
reagentes, da pressão e da temperatura. O Princípio de Lê Chatelier. Aplicações........................................................................ 37
Ácidos e bases
1. Distinção operacional entre ácidos e bases de Bronsted – Lowry................................................................................................... 46
2. Ácidos e bases (fortes e fracos) de Arrhenius; reações de neutralização...................................................................................... 46
3. Produto iônico da água. pH: conceito, escala e usos............................................................................................................................ 46
4. Indicadores ácido-base: conceito e utilização.......................................................................................................................................... 46
Eletroquímica
1. Pilhas e baterias. Funcionalidade e aplicações......................................................................................................................................... 69
2. Eletrólise: aspectos qualitativos e quantitativos...................................................................................................................................... 69
Química Orgânica
1. Conceituação de grupo funcional e reconhecimento por grupos funcionais de: alquenos, alquinos e arenos
(hidrocarbonetos aromáticos), alcoóis, fenóis, éteres, aminas, aldeídos, cetonas, ácidos carboxílicos, ésteres e
amidas.............................................................................................................................................................................................................49
2. Representação de moléculas orgânicas. Carbono tetraédrico, trigonal e digonal e ligações simples e múltiplas.
Fórmulas estruturais – de Lewis, de traços, condensadas e de linhas e tridimensionais............................................................. 49
3. Variações na solubilidade e nas temperaturas de fusão e de ebulição de substâncias orgânicas causadas por: aumento
da cadeia carbônica, presença de ramificações, introdução de substituintes polares.................................................................. 49
4. Isomeria: plana ou constitucional e Estereoisomeria (geométrica e ótica)................................................................................... 49
5. Reações Orgânicas. Reações de substituição, de adição, eliminação, oxidorredução.............................................................. 49
6. Polímeros: identificação de monômeros, unidades de repetição e polímeros – polietileno, PVC, teflon, poliésteres e
poliamidas................................................................................................................................................................................................................... 49
SUMÁRIO

Biologia

Processos fundamentais da fisiologia celular: Estrutura celular (organelas) e compostos celulares (ácidos nucleicos, proteí-
nas, carboidratos, lipídeos, vitaminas e sais minerais), respiração, fotossíntese. Divisão celular: mitose e meiose................... 01
Fisiologia humana: Morofisiologia dos sistemas: circulatório, excretor e urinário, endócrino, nervoso, digestório, respi-
ratório e tegumentar. Sistema reprodutor e métodos contraceptivos, DSTs. Anatomia, funções e disfunções................. 11
Diversidade dos seres vivos: características morfofuncionais dos seres vivos: procariontes, fungos, vegetais, protistas e
animais.......................................................................................................................................................................................................................... 31
Princípios básicos da hereditariedade: Material genético; composição, estrutura e duplicação do DNA – Código ge-
nético e mutação. Funcionamento dos genes; noções de transcrição, tradução – síntese proteica e regulação. Leis de
Mendel. Padrões de herança: autossômica, ligada ao sexo – dominante e recessiva. Grupos sanguíneos. Aplicação dos
conhecimentos atuais de genética, biologia molecular e biotecnologia. Interação gênica – herança ligada ao sexo – mu-
tações – Grupos sanguíneos................................................................................................................................................................................ 36
Evolução da vida: Origem da vida – Mecanismo de especiação e diversidade – teorias e evidências da evolução. A con-
quista dos ambientes terrestres por animais e plantas. A evolução do homem............................................................................. 74
Ecologia: Bases do funcionamento dos sistemas ecológicos, fluxo de energia e ciclagem dos materiais. Características
dos níveis de organização: população e ecossistemas. O ambiente e as adaptações dos organismos. Condições ambien-
tais e a saúde. A biosfera comprometida – a extinção das espécies.................................................................................................... 85
Programa de saúde: Principais doenças humanas provocadas e / ou transmitidas por vírus, bactérias, protistas e animais........94

Física

Mecânica: Potência de dez - Ordem de grandeza. Algarismos significativos - precisão de uma medida. Grandezas es-
calares e vetoriais - operações elementares. Aceleração - Movimento retilíneo uniformemente variado - Movimentos
retilíneo uniforme da partícula e Circular uniforme. Composição de forças - 1ª lei de Newton - equilíbrio de uma par-
tícula - peso de um corpo - força de atrito. Composição de velocidade - independência de movimentos - Movimento
de um projétil. Equilíbrio dos fluídos - Densidade - Pressão - Pressão atmosférica - Princípio de Arquimedes. Força e
aceleração - Massa - 2ª lei de Newton. Forças de ação e reação - 3ª lei de Newton. Trabalho de uma força - Potência.
Energia potencial gravitacional e elástica - conservação da energia mecânica. Quantidade de movimento linear de uma
partícula (conservação); Gravitação - Leis de Kepler e Lei de Newton................................................................................................ 01
Termodinâmica: Temperatura - Escalas termométricas - Dilatação (sólido/líquido). Quantidade de calor sensível e laten-
te; Gases ideais – Transformações isotérmica, isobárica, isovolumétrica e adiabática. Equivalente mecânico da caloria -
calor específico - energia interna. Trabalho em uma transformação gasosa. 1ª Lei da termodinâmica. Mudanças de fase.
2ª Lei da termodinâmica - transformação de energia térmica em outras formas de energia................................................... 52
Vibrações e Ondas: Movimento harmônico simples. Ondas elásticas: propagação - superposição - reflexão e refração -
noções sobre a interferência, difração e ressonância. Som..................................................................................................................... 61
Ótica: Propagação e reflexão da luz - espelhos planos e esféricos de pequena abertura; Refração da luz - dispersão e
espectros - lentes esféricas, delgadas e instrumentos óticos; Ondas luminosas - reflexão e refração da luz sob o ponto
de vista ondulatório - interferência e difração, cor de um objeto........................................................................................................ 74
Eletricidade: Carga elétrica - Lei de Coulomb “eletrização”. Campo elétrico - campo de cargas pontuais - campo de uma
carga esférica - movimento de uma carga em um campo uniforme, condutores eletrizados. Corrente elétrica, diferença
de potencial, resistência elétrica. Lei de Ohm - Efeito Joule. Associação de resistências em série e em paralelo. Gerado-
res de corrente contínua: força eletromotriz e resistência interna - circuitos elétricos; Experiência de Oersted - Campo
magnético de uma carga em movimento - indução magnética. Força exercida por um campo magnético sobre uma
carga elétrica e sobre condutor retilíneo. Força eletromotriz induzida - Lei de Faraday - Lei de Lenz - Ondas eletromag-
néticas........................................................................................................................................................................................................................... 77
Física Moderna: Quantização de energia - efeito fotoelétrico. A estrutura do átomo: experiência de espalhamento de
Rutherford - espectros atômicos; O núcleo atômico - Radioatividade - Reações nucleares..................................................... 92
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Histórico dos Direitos Humanos. ...................................................................................................................................................................... 01


Direitos individuais. ................................................................................................................................................................................................ 02
Direitos sociais e direitos difusos....................................................................................................................................................................... 02
Direitos civis e políticos. ....................................................................................................................................................................................... 02
Direitos fundamentais............................................................................................................................................................................................. 02
Violação de Direitos Humanos............................................................................................................................................................................ 34
Segurança pública e cidadania. ......................................................................................................................................................................... 37
Declaração Universal dos Direitos Humanos. .............................................................................................................................................. 38
Constituição Federal (artigos 1º ao 10). ......................................................................................................................................................... 48
Constituição Estadual: Título II (artigos 4º e 5º), Título IV (artigos 185 a 226). .............................................................................. 76
Lei Nº 9.455, de 7 de abril de 1.997, Lei da Tortura. ................................................................................................................................. 84
Lei Nº 8.069, de 13 de julho de 1.990, Estatuto da Criança e do Adolescente. ............................................................................. 87
Lei Nº 10.741, de 1º de outubro de 2.003, Estatuto do Idoso.............................................................................................................140
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

direito de revolução. Essas ideias não só foram amplamen-


te apoiadas pelos cidadãos estadunidenses, como influen-
HISTÓRICO DOS DIREITOS HUMANOS. ciaram outros fenômenos similares no mundo, em particu-
lar a Revolução Francesa, em 1789.
Os marcantes acontecimentos da Revolução Francesa
Os direitos humanos são uma importante ferramenta resultaram na elaboração de um histórico documento cha-
de proteção a qualquer cidadão no mundo. Ainda assim, mado Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
existem diversos casos de desrespeito a esses direitos, co- Nele, foi garantido sobretudo que todos os cidadãos fran-
locando pessoas em situações de abuso, intolerância, dis- ceses deveriam ter direito à liberdade, propriedade, segu-
criminação e opressão. rança e resistência à opressão.
A promoção dos direitos humanos é imprescindível Esses documentos são considerados importantes pre-
para o pleno exercício de qualquer democracia. Por isso, cursores escritos para muitos dos documentos de direitos
o Politize! vai explicar tudo o que você precisa saber para humanos atuais, entre eles a Declaração Universal de 1948.
entender a importância destes direitos. A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMA-
PRIMEIRO, QUAL A DEFINIÇÃO DE DIREITOS HUMA- NOS
NOS? A Segunda Guerra Mundial resultou na perda de um
grande número de pessoas, sobretudo com as muitas vio-
Os direitos humanos consistem em direitos naturais
lações a direitos individuais cometidas por governos fas-
garantidos a todo e qualquer indivíduo, e que devem
cistas durante o período. Logo após o fim do conflito, for-
ser  universais, isto é, se estender a pessoas de todos os
mou-se a Organização das Nações Unidas (ONU),  cujo ob-
povos e nações, independentemente de sua classe social, jetivo declarado é trazer paz a todas as nações do mundo.
etnia, gênero, nacionalidade ou posicionamento político. Além disso, foi criada uma comissão, liderada por Elea-
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), os nor Roosevelt, com o propósito de criar um documento
direitos humanos são “garantias jurídicas universais que onde seriam escritos os direitos que toda pessoa no mun-
protegem indivíduos e grupos contra ações ou omissões dos do deveria ter. Esse documento é a Declaração Univer-
governos que atentem contra a dignidade humana”. São sal, formada por 30 artigos que versam sobre os direitos
exemplos de direitos humanos o direito à vida, direito inalienáveis que devem garantir a liberdade, a justiça e a
à integridade física, direito à dignidade, entre outros. paz mundial.
Quando os direitos humanos são firmados em deter- Entre os diversos direitos garantidos pela Declaração
minado ordenamento jurídico, como nas Constituições, Universal, estão o direito a não ser escravizado, de ser
eles passam a ser chamados de direitos fundamentais. tratado com igualdade perante as leis, direito à livre ex-
COMO SURGIRAM OS DIREITOS HUMANOS? pressão política e religiosa, à liberdade de pensamento e
Os direitos humanos são garantias históricas, que mu- de participação política. O lazer, a educação, a cultura e o
dam através do tempo, adaptando-se às necessidades es- trabalho livre e remunerado também são garantidos como
pecíficas de cada momento. Por isso, ainda que a forma direitos humanos fundamentais.
com que atualmente conhecemos os direitos humanos Hoje, a Declaração Universal é assinada pelos 192 paí-
tenha surgido com a Declaração Universal dos Direitos ses que compõem as Nações Unidas e, ainda que não te-
Humanos, assinada em 1948, antes disso, princípios de ga- nha força de lei, o documento serve como base para cons-
rantia de proteção aos direitos básicos do indivíduo já apa- tituições e tratados internacionais.
reciam em algumas situações ao longo da história. COMO ESTES DIREITOS SÃO GARANTIDOS?
A primeira forma de declaração dos direitos humanos As normas de direitos humanos são organizadas por
na história é atribuída ao Cilindro de Ciro, uma peça de cada país através de negociação com organizações como a
argila contendo os princípios de Ciro, rei da antiga Pérsia ONU e em encontros e conferências internacionais. Vários
que ao conquistar a cidade da Babilônia, em 539 a.C. liber- países ainda firmam compromisso em garantir os direitos
humanos através de tratados das Nações Unidas, sobre as
tou todos os escravos da cidade, declarou que as pessoas
mais diversas áreas, como direitos econômicos, discrimi-
poderiam escolher a sua própria religião e estabeleceu a
nação racial, direitos da criança, entre outros. Para cada
igualdade racial.
um destes tratados, existe um comitê de peritos que avalia
A ideia de direitos humanos espalhou-se rapidamente como as nações participantes estão cumprindo as obriga-
para outros lugares. Com o tempo, surgiram outros impor- ções que assumiram ao se comprometer com o tratado.
tantes documentos de afirmação dos direitos individuais, Além disso, outros órgãos da ONU, como a Assembleia
como a Petição de Direito, um documento elaborado Geral das Nações Unidas, o Conselho de Direitos Huma-
pelo Parlamento Inglês em 1628 e posteriormente enviada nos e o Alto Comissariado para os Direitos Humanos cons-
a Carlos I como uma declaração de liberdades civis. A Pe- tantemente se pronunciam sobre casos de violações de
tição baseou-se em cartas e estatutos anteriores e tinha direitos humanos em todo o mundo.
como principal objetivo limitar decisões do monarca sem Outro instrumento para garantia destes direitos são
autorização do Parlamento. as operações de manutenção da paz, realizadas pela ONU
Já em 1776, foi deflagrado o processo de  indepen- e que fiscalizam o cumprimento dos direitos humanos em
dência dos Estados Unidos, contexto em que foi publica- diversas partes do mundo. Além disso, já existem três tri-
da uma declaração que acentuava os direitos individuais bunais de direitos humanos, um localizado na Europa, um
(direito à vida, à liberdade e à busca pela felicidade) e o na África e um no continente americano.

1
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

A nível nacional, cada país é responsável por garan- c) Inalienabilidade: os direitos fundamentais não
tir os direitos humanos dentro de seu território. Mas na possuem conteúdo econômico-patrimonial, logo, são in-
fiscalização destes direitos atuam também instituições de transferíveis, inegociáveis e indisponíveis, estando fora do
direitos humanos, organizações profissionais, instituições comércio, o que evidencia uma limitação do princípio da
acadêmicas, grupos religiosos, organizações não governa- autonomia privada.
mentais, entre outros. d) Irrenunciabilidade: direitos fundamentais não po-
NA PRÁTICA, OS DIREITOS HUMANOS AINDA SÃO dem ser renunciados pelo seu titular devido à fundamenta-
UM DESAFIO lidade material destes direitos para a dignidade da pessoa
Embora existam diversos documentos e instrumentos humana.
para garantir os direitos humanos, na prática ainda há uma e) Inviolabilidade: direitos fundamentais não podem
grande dificuldade em tirar esses planos do papel. Segundo deixar de ser observados por disposições infraconstitucio-
o doutor em Filosofia do Direito Bernardo Guerra, o desafio nais ou por atos das autoridades públicas, sob pena de nu-
para a eficácia dos direitos humanos está relacionado prin- lidades.
cipalmente à falta de vontade política, muitas vezes sob a f) Indivisibilidade: os direitos fundamentais compõem
justificativa dos altos custos dos investimentos sociais. um único conjunto de direitos porque não podem ser ana-
Ainda hoje, os direitos humanos são desrespeitados lisados de maneira isolada, separada.
em todas as regiões do mundo. Um caso bastante notável g) Imprescritibilidade: os direitos fundamentais não
é o da Síria, que, após anos em guerra civil, enfrenta uma se perdem com o tempo, não prescrevem, uma vez que são
grave crise de refugiados, metade deles crianças sem aces- sempre exercíveis e exercidos, não deixando de existir pela
so à educação, sem documentos e que muitas vezes são os falta de uso (prescrição).
responsáveis pelo sustento da família. h) Relatividade: os direitos fundamentais não po-
Fonte: http://www.politize.com.br/direitos-huma- dem ser utilizados como um escudo para práticas ilícitas
nos-o-que-sao/ ou como argumento para afastamento ou diminuição da
responsabilidade por atos ilícitos, assim estes direitos não
são ilimitados e encontram seus limites nos demais direitos
igualmente consagrados como humanos.

DIREITOS INDIVIDUAIS. DIREITOS SOCIAIS Vale destacar que a Constituição vai além da proteção
E DIREITOS DIFUSOS. DIREITOS CIVIS E dos direitos e estabelece garantias em prol da preservação
POLÍTICOS. DIREITOS FUNDAMENTAIS. destes, bem como remédios constitucionais a serem utili-
zados caso estes direitos e garantias não sejam preserva-
dos. Neste sentido, dividem-se em direitos e garantias as
previsões do artigo 5º: os direitos são as disposições de-
O título II da Constituição Federal é intitulado “Direitos claratórias e as garantias são as disposições assecuratórias.
e Garantias fundamentais”, gênero que abrange as seguin- O legislador muitas vezes reúne no mesmo dispositivo
tes espécies de direitos fundamentais: direitos individuais e o direito e a garantia, como no caso do artigo 5º, IX: “é livre
coletivos (art. 5º, CF), direitos sociais (genericamente pre- a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
vistos no art. 6º, CF), direitos da nacionalidade (artigos 12 e comunicação, independentemente de censura ou licença”
13, CF) e direitos políticos (artigos 14 a 17, CF). – o direito é o de liberdade de expressão e a garantia é a
Em termos comparativos à clássica divisão tridimen- vedação de censura ou exigência de licença. Em outros ca-
sional dos direitos humanos, os direitos individuais (maior sos, o legislador traz o direito num dispositivo e a garantia
parte do artigo 5º, CF), os direitos da nacionalidade e os em outro: a liberdade de locomoção, direito, é colocada
direitos políticos se encaixam na primeira dimensão (direi- no artigo 5º, XV, ao passo que o dever de relaxamento da
tos civis e políticos); os direitos sociais se enquadram na se- prisão ilegal de ofício pelo juiz, garantia, se encontra no
gunda dimensão (direitos econômicos, sociais e culturais) e artigo 5º, LXV1.
os direitos coletivos na terceira dimensão. Contudo, a enu- Em caso de ineficácia da garantia, implicando em viola-
meração de direitos humanos na Constituição vai além dos ção de direito, cabe a utilização dos remédios constitucionais.
direitos que expressamente constam no título II do texto Atenção para o fato de o constituinte chamar os remé-
constitucional. dios constitucionais de garantias, e todas as suas fórmulas de
Os direitos fundamentais possuem as seguintes carac- direitos e garantias propriamente ditas apenas de direitos.
terísticas principais:
a) Historicidade: os direitos fundamentais possuem Direitos e deveres individuais e coletivos
antecedentes históricos relevantes e, através dos tempos,
adquirem novas perspectivas. Nesta característica se en- O capítulo I do título II é intitulado “direitos e deve-
quadra a noção de dimensões de direitos. res individuais e coletivos”. Da própria nomenclatura do
b) Universalidade: os direitos fundamentais perten- capítulo já se extrai que a proteção vai além dos direitos
cem a todos, tanto que apesar da expressão restritiva do do indivíduo e também abrange direitos da coletividade. A
caput do artigo 5º aos brasileiros e estrangeiros residentes maior parte dos direitos enumerados no artigo 5º do texto
no país tem se entendido pela extensão destes direitos, na 1 FARIA, Cássio Juvenal. Notas pessoais tomadas em telecon-
perspectiva de prevalência dos direitos humanos. ferência.

2
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

constitucional é de direitos individuais, mas são incluídos que merecem proteção, isto é, vida, liberdade, igualdade,
alguns direitos coletivos e mesmo remédios constitucio- segurança e propriedade. Os incisos deste artigos delimi-
nais próprios para a tutela destes direitos coletivos (ex.: tam vários direitos e garantias que se enquadram em algu-
mandado de segurança coletivo). ma destas esferas de proteção, podendo se falar em duas
esferas específicas que ganham também destaque no texto
1) Brasileiros e estrangeiros constitucional, quais sejam, direitos de acesso à justiça e
O caput do artigo 5º aparenta restringir a proteção direitos constitucionais-penais.
conferida pelo dispositivo a algumas pessoas, notadamen-
te, “aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País”. - Direito à igualdade
No entanto, tal restrição é apenas aparente e tem sido in- Abrangência
terpretada no sentido de que os direitos estarão protegi- Observa-se, pelo teor do caput do artigo 5º, CF, que o
dos com relação a todas as pessoas nos limites da sobera- constituinte afirmou por duas vezes o princípio da igual-
nia do país. dade:
Em razão disso, por exemplo, um estrangeiro pode in-
gressar com habeas corpus ou mandado de segurança, ou Artigo 5º, caput, CF. Todos são iguais perante a lei, sem
então intentar ação reivindicatória com relação a imóvel distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei-
seu localizado no Brasil (ainda que não resida no país). ros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
Somente alguns direitos não são estendidos a todas as do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
pessoas. A exemplo, o direito de intentar ação popular exi- propriedade, nos termos seguintes [...].
ge a condição de cidadão, que só é possuída por nacionais
titulares de direitos políticos. Não obstante, reforça este princípio em seu primeiro
inciso:
2) Relação direitos-deveres
O capítulo em estudo é denominado “direitos e garan- Artigo 5º, I, CF. Homens e mulheres são iguais em direi-
tias deveres e coletivos”, remetendo à necessária relação
tos e obrigações, nos termos desta Constituição.
direitos-deveres entre os titulares dos direitos fundamen-
tais. Acima de tudo, o que se deve ter em vista é a pre-
Este inciso é especificamente voltado à necessidade de
missa reconhecida nos direitos fundamentais de que não
igualdade de gênero, afirmando que não deve haver ne-
há direito que seja absoluto, correspondendo-se para cada
nhuma distinção sexo feminino e o masculino, de modo
direito um dever. Logo, o exercício de direitos fundamen-
que o homem e a mulher possuem os mesmos direitos e
tais é limitado pelo igual direito de mesmo exercício por
parte de outrem, não sendo nunca absolutos, mas sempre obrigações.
relativos. Entretanto, o princípio da isonomia abrange muito
Explica Canotilho2 quanto aos direitos fundamentais: “a mais do que a igualdade de gêneros, envolve uma pers-
ideia de deveres fundamentais é suscetível de ser entendi- pectiva mais ampla.
da como o ‘outro lado’ dos direitos fundamentais. Como O direito à igualdade é um dos direitos norteadores
ao titular de um direito fundamental corresponde um de- de interpretação de qualquer sistema jurídico. O primeiro
ver por parte de um outro titular, poder-se-ia dizer que o enfoque que foi dado a este direito foi o de direito civil,
particular está vinculado aos direitos fundamentais como enquadrando-o na primeira dimensão, no sentido de que a
destinatário de um dever fundamental. Neste sentido, um todas as pessoas deveriam ser garantidos os mesmos direi-
direito fundamental, enquanto protegido, pressuporia um tos e deveres. Trata-se de um aspecto relacionado à igual-
dever correspondente”. Com efeito, a um direito funda- dade enquanto liberdade, tirando o homem do arbítrio dos
mental conferido à pessoa corresponde o dever de respei- demais por meio da equiparação. Basicamente, estaria se
to ao arcabouço de direitos conferidos às outras pessoas. falando na igualdade perante a lei.
No entanto, com o passar dos tempos, se percebeu que
3) Direitos e garantias em espécie não bastava igualar todos os homens em direitos e deveres
Preconiza o artigo 5º da Constituição Federal em seu para torná-los iguais, pois nem todos possuem as mesmas
caput: condições de exercer estes direitos e deveres. Logo, não
é suficiente garantir um direito à igualdade formal, mas
Artigo 5º, caput, CF. Todos são iguais perante a lei, sem é preciso buscar progressivamente a igualdade material.
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei- No sentido de igualdade material que aparece o direito à
ros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade igualdade num segundo momento, pretendendo-se do Es-
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à tado, tanto no momento de legislar quanto no de aplicar e
propriedade, nos termos seguintes [...]. executar a lei, uma postura de promoção de políticas go-
vernamentais voltadas a grupos vulneráveis.
O caput do artigo 5º, que pode ser considerado um Assim, o direito à igualdade possui dois sentidos notá-
dos principais (senão o principal) artigos da Constitui- veis: o de igualdade perante a lei, referindo-se à aplicação
ção Federal, consagra o princípio da igualdade e deli- uniforme da lei a todas as pessoas que vivem em socieda-
mita as cinco esferas de direitos individuais e coletivos de; e o de igualdade material, correspondendo à necessi-
2 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e dade de discriminações positivas com relação a grupos vul-
teoria da constituição. 2. ed. Coimbra: Almedina, 1998, p. 479. neráveis da sociedade, em contraponto à igualdade formal.

3
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Ações afirmativas engloba o respeito à integridade física, psíquica e moral,


Neste sentido, desponta a temática das ações afirmati- incluindo neste aspecto a vedação da tortura, bem como a
vas,que são políticas públicas ou programas privados cria- garantia de recursos que permitam viver a vida com dignidade.
dos temporariamente e desenvolvidos com a finalidade de Embora o direito à vida seja em si pouco delimitado
reduzir as desigualdades decorrentes de discriminações ou nos incisos que seguem o caput do artigo 5º, trata-se de
de uma hipossuficiência econômica ou física, por meio da um dos direitos mais discutidos em termos jurisprudenciais
concessão de algum tipo de vantagem compensatória de e sociológicos. É no direito à vida que se encaixam polêmi-
tais condições. cas discussões como: aborto de anencéfalo, pesquisa com
Quem é contra as ações afirmativas argumenta que, células tronco, pena de morte, eutanásia, etc.
em uma sociedade pluralista, a condição de membro de
um grupo específico não pode ser usada como critério de Vedação à tortura
inclusão ou exclusão de benefícios. Ademais, afirma-se que De forma expressa no texto constitucional destaca-se
elas desprivilegiam o critério republicano do mérito (se- a vedação da tortura, corolário do direito à vida, conforme
gundo o qual o indivíduo deve alcançar determinado cargo previsão no inciso III do artigo 5º:
público pela sua capacidade e esforço, e não por pertencer
a determinada categoria); fomentariam o racismo e o ódio; Artigo 5º, III, CF. Ninguém será submetido a tortura nem
bem como ferem o princípio da isonomia por causar uma a tratamento desumano ou degradante.
discriminação reversa.
Por outro lado, quem é favorável às ações afirmativas A tortura é um dos piores meios de tratamento de-
defende que elas representam o ideal de justiça compen- sumano, expressamente vedada em âmbito internacional,
satória (o objetivo é compensar injustiças passadas, dívidas como visto no tópico anterior. No Brasil, além da disciplina
históricas, como uma compensação aos negros por tê-los constitucional, a Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997 define
feito escravos, p. ex.); representam o ideal de justiça dis- os crimes de tortura e dá outras providências, destacando-
tributiva (a preocupação, aqui, é com o presente. Busca- -se o artigo 1º:
-se uma concretização do princípio da igualdade material);
Art. 1º Constitui crime de tortura:
bem como promovem a diversidade.
I - constranger alguém com emprego de violência ou
Neste sentido, as discriminações legais asseguram a
grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:
verdadeira igualdade, por exemplo, com as ações afirmati-
a) com o fim de obter informação, declaração ou confis-
vas, a proteção especial ao trabalho da mulher e do menor,
são da vítima ou de terceira pessoa;
as garantias aos portadores de deficiência, entre outras
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
medidas que atribuam a pessoas com diferentes condi-
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
ções, iguais possibilidades, protegendo e respeitando suas II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autori-
diferenças3. Tem predominado em doutrina e jurisprudên- dade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso
cia, inclusive no Supremo Tribunal Federal, que as ações sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo
afirmativas são válidas. pessoal ou medida de caráter preventivo.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
- Direito à vida § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa
Abrangência presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a prote- ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto
ção do direito à vida. A vida humana é o centro gravitacio- em lei ou não resultante de medida legal.
nal em torno do qual orbitam todos os direitos da pessoa § 2º Aquele que se omite em face dessas condutas,
humana, possuindo reflexos jurídicos, políticos, econômi- quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na
cos, morais e religiosos. Daí existir uma dificuldade em con- pena de detenção de um a quatro anos.
ceituar o vocábulo vida. Logo, tudo aquilo que uma pessoa § 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou
possui deixa de ter valor ou sentido se ela perde a vida. gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se
Sendo assim, a vida é o bem principal de qualquer pessoa, resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.
é o primeiro valor moral inerente a todos os seres huma- § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
nos4. I - se o crime é cometido por agente público;
No tópico do direito à vida tem-se tanto o direito de II – se o crime é cometido contra criança, gestante, porta-
nascer/permanecer vivo, o que envolve questões como dor de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; 
pena de morte, eutanásia, pesquisas com células-tronco e III - se o crime é cometido mediante sequestro.
aborto; quanto o direito de viver com dignidade, o que § 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função
ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo
3 SANFELICE, Patrícia de Mello. Comentários aos artigos I e II. dobro do prazo da pena aplicada.
In: BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal dos
§ 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de
Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008, p. 08.
graça ou anistia.
4 BARRETO, Ana Carolina Rossi; IBRAHIM, Fábio Zambitte.
Comentários aos Artigos III e IV. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comen-
§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a
tários à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: For- hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regi-
tium, 2008, p. 15. me fechado.

4
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

- Direito à liberdade Tem-se, ainda, a seguinte previsão no artigo 5º, IX, CF:
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a pro-
teção do direito à liberdade, delimitada em alguns incisos Artigo 5º, IX, CF. É livre a expressão da atividade inte-
que o seguem. lectual, artística, científica e de comunicação, indepen-
dentemente de censura ou licença.
Liberdade e legalidade
Prevê o artigo 5º, II, CF: Consolida-se outra perspectiva da liberdade de expres-
são, referente de forma específica a atividades intelectuais,
Artigo 5º, II, CF. Ninguém será obrigado a fazer ou dei- artísticas, científicas e de comunicação. Dispensa-se, com
xar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. relação a estas, a exigência de licença para a manifestação
do pensamento, bem como veda-se a censura prévia.
O princípio da legalidade se encontra delimitado nes- A respeito da censura prévia, tem-se não cabe impe-
te inciso, prevendo que nenhuma pessoa será obrigada a
dir a divulgação e o acesso a informações como modo de
fazer ou deixar de fazer alguma coisa a não ser que a lei
controle do poder. A censura somente é cabível quando
assim determine. Assim, salvo situações previstas em lei,
necessária ao interesse público numa ordem democrática,
a pessoa tem liberdade para agir como considerar conve-
niente. por exemplo, censurar a publicação de um conteúdo de
Portanto, o princípio da legalidade possui estrita rela- exploração sexual infanto-juvenil é adequado.
ção com o princípio da liberdade, posto que, a priori, tudo O direito à resposta (artigo 5º, V, CF) e o direito à in-
à pessoa é lícito. Somente é vedado o que a lei expres- denização (artigo 5º, X, CF) funcionam como a contrapar-
samente estabelecer como proibido. A pessoa pode fazer tida para aquele que teve algum direito seu violado (no-
tudo o que quiser, como regra, ou seja, agir de qualquer tadamente inerentes à privacidade ou à personalidade)
maneira que a lei não proíba. em decorrência dos excessos no exercício da liberdade de
expressão.
Liberdade de pensamento e de expressão
O artigo 5º, IV, CF prevê: Liberdade de crença/religiosa
Dispõe o artigo 5º, VI, CF:
Artigo 5º, IV, CF. É livre a manifestação do pensamen-
to, sendo vedado o anonimato. Artigo 5º, VI, CF. É inviolável a liberdade de consciên-
cia e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos
Consolida-se a afirmação simultânea da liberdade de cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção
pensamento e da liberdade de expressão. aos locais de culto e a suas liturgias.
Em primeiro plano tem-se a liberdade de pensamento.
Afinal, “o ser humano, através dos processos internos de Cada pessoa tem liberdade para professar a sua fé
reflexão, formula juízos de valor. Estes exteriorizam nada como bem entender dentro dos limites da lei. Não há uma
mais do que a opinião de seu emitente. Assim, a regra crença ou religião que seja proibida, garantindo-se que a
constitucional, ao consagrar a livre manifestação do pensa- profissão desta fé possa se realizar em locais próprios.
mento, imprime a existência jurídica ao chamado direito de Nota-se que a liberdade de religião engloba 3 tipos
opinião”5. Em outras palavras, primeiro existe o direito de distintos, porém intrinsecamente relacionados de liberda-
ter uma opinião, depois o de expressá-la. des: a liberdade de crença; a liberdade de culto; e a liber-
No mais, surge como corolário do direito à liberdade
dade de organização religiosa.
de pensamento e de expressão o direito à escusa por con-
Consoante o magistério de José Afonso da Silva6, entra
vicção filosófica ou política:
na liberdade de crença a liberdade de escolha da religião,
Artigo 5º, VIII, CF. Ninguém será privado de direitos por a liberdade de aderir a qualquer seita religiosa, a liberdade
motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou (ou o direito) de mudar de religião, além da liberdade de
política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação não aderir a religião alguma, assim como a liberdade de
legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação al- descrença, a liberdade de ser ateu e de exprimir o agnos-
ternativa, fixada em lei. ticismo, apenas excluída a liberdade de embaraçar o livre
exercício de qualquer religião, de qualquer crença. A liber-
Trata-se de instrumento para a consecução do direito dade de culto consiste na liberdade de orar e de praticar
assegurado na Constituição Federal – não basta permitir os atos próprios das manifestações exteriores em casa ou
que se pense diferente, é preciso respeitar tal posiciona- em público, bem como a de recebimento de contribuições
mento. para tanto. Por fim, a liberdade de organização religiosa
Com efeito, este direito de liberdade de expressão é refere-se à possibilidade de estabelecimento e organização
limitado. Um destes limites é o anonimato, que consiste na de igrejas e suas relações com o Estado.
garantia de atribuir a cada manifestação uma autoria cer- Como decorrência do direito à liberdade religiosa, as-
ta e determinada, permitindo eventuais responsabilizações segurando o seu exercício, destaca-se o artigo 5º, VII, CF:
por manifestações que contrariem a lei.
5 ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. 6 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional posi-
Curso de direito constitucional. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. tivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.

5
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Artigo 5º, VII, CF. É assegurada, nos termos da lei, a pres- zo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas
tação de assistência religiosa nas entidades civis e mili- cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e
tares de internação coletiva. do Estado.

O dispositivo refere-se não só aos estabelecimentos A respeito, a Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011
prisionais civis e militares, mas também a hospitais. regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do
Ainda, surge como corolário do direito à liberdade reli- art. 5º, CF, também conhecida como Lei do Acesso à Infor-
giosa o direito à escusa por convicção religiosa: mação.
Não obstante, estabelece o artigo 5º, XXXIV, CF:
Artigo 5º, VIII, CF. Ninguém será privado de direitos por
motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou po- Artigo 5º, XXXIV, CF. São a todos assegurados, indepen-
lítica, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal dentemente do pagamento de taxas:
a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alterna- a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa
tiva, fixada em lei. de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas,
Sempre que a lei impõe uma obrigação a todos, por para defesa de direitos e esclarecimento de situações de in-
exemplo, a todos os homens maiores de 18 anos o alis- teresse pessoal.
tamento militar, não cabe se escusar, a não ser que tenha
fundado motivo em crença religiosa ou convicção filosó- Quanto ao direito de petição, de maneira prática, cum-
fica/política, caso em que será obrigado a cumprir uma pre observar que o direito de petição deve resultar em uma
prestação alternativa, isto é, uma outra atividade que não manifestação do Estado, normalmente dirimindo (resol-
contrarie tais preceitos. vendo) uma questão proposta, em um verdadeiro exercí-
cio contínuo de delimitação dos direitos e obrigações que
Liberdade de informação regulam a vida social e, desta maneira, quando “dificulta
O direito de acesso à informação também se liga a uma a apreciação de um pedido que um cidadão quer apre-
dimensão do direito à liberdade. Neste sentido, prevê o
sentar” (muitas vezes, embaraçando-lhe o acesso à Justiça);
artigo 5º, XIV, CF:
“demora para responder aos pedidos formulados” (admi-
nistrativa e, principalmente, judicialmente) ou “impõe res-
Artigo 5º, XIV, CF. É assegurado a todos o acesso à in-
trições e/ou condições para a formulação de petição”, traz
formação e resguardado o sigilo da fonte, quando neces-
a chamada insegurança jurídica, que traz desesperança e
sário ao exercício profissional.
faz proliferar as desigualdades e as injustiças.
Trata-se da liberdade de informação, consistente na liber- Dentro do espectro do direito de petição se insere, por
dade de procurar e receber informações e ideias por quais- exemplo, o direito de solicitar esclarecimentos, de solicitar
quer meios, independente de fronteiras, sem interferência. cópias reprográficas e certidões, bem como de ofertar de-
A liberdade de informação tem um caráter passivo, ao núncias de irregularidades. Contudo, o constituinte, talvez
passo que a liberdade de expressão tem uma caracterís- na intenção de deixar clara a obrigação dos Poderes Públi-
tica ativa, de forma que juntas formam os aspectos ativo cos em fornecer certidões, trouxe a letra b) do inciso, o que
e passivo da exteriorização da liberdade de pensamento: gera confusões conceituais no sentido do direito de obter
não basta poder manifestar o seu próprio pensamento, é certidões ser dissociado do direito de petição.
preciso que ele seja ouvido e, para tanto, há necessidade Por fim, relevante destacar a previsão do artigo 5º, LX, CF:
de se garantir o acesso ao pensamento manifestado para
a sociedade. Artigo 5º, LX, CF. A lei só poderá restringir a publicida-
Por sua vez, o acesso à informação envolve o direito de de dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou
todos obterem informações claras, precisas e verdadeiras a o interesse social o exigirem.
respeito de fatos que sejam de seu interesse, notadamente
pelos meios de comunicação imparciais e não monopoli- Logo,o processo, em regra, não será sigiloso. Apenas
zados (artigo 220, CF). No entanto, nem sempre é possível o será quando a intimidade merecer preservação (ex: pro-
que a imprensa divulgue com quem obteve a informação cesso criminal de estupro ou causas de família em geral) ou
divulgada, sem o que a segurança desta poderia ficar pre- quando o interesse social exigir (ex: investigações que pos-
judicada e a informação inevitavelmente não chegaria ao sam ser comprometidas pela publicidade). A publicidade é
público. instrumento para a efetivação da liberdade de informação.
Especificadamente quanto à liberdade de informação
no âmbito do Poder Público, merecem destaque algumas Liberdade de locomoção
previsões. Outra faceta do direito à liberdade encontra-se no ar-
Primeiramente, prevê o artigo 5º, XXXIII, CF: tigo 5º, XV, CF:

Artigo 5º, XXXIII, CF. Todos têm direito a receber dos Artigo 5º, XV, CF. É livre a locomoção no território na-
órgãos públicos informações de seu interesse particular, cional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos ter-
ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no pra- mos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens.

6
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

A liberdade de locomoção é um aspecto básico do di- que tenham algum mal-estar no local. Outro limite é o uso
reito à liberdade, permitindo à pessoa ir e vir em todo o de armas, totalmente vedado, assim como de substâncias
território do país em tempos de paz (em tempos de guerra ilícitas (Ex: embora a Marcha da Maconha tenha sido auto-
é possível limitar tal liberdade em prol da segurança). A rizada pelo Supremo Tribunal Federal, vedou-se que nela
liberdade de sair do país não significa que existe um direito tal substância ilícita fosse utilizada).
de ingressar em qualquer outro país, pois caberá à ele, no
exercício de sua soberania, controlar tal entrada. Liberdade de associação
Classicamente, a prisão é a forma de restrição da liber- No que tange à liberdade de reunião, traz o artigo 5º,
dade. Neste sentido, uma pessoa somente poderá ser pre- XVII, CF:
sa nos casos autorizados pela própria Constituição Federal.
A despeito da normativa específica de natureza penal, re- Artigo 5º, XVII, CF. É plena a liberdade de associação
força-se a impossibilidade de se restringir a liberdade de para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar.
locomoção pela prisão civil por dívida.
Prevê o artigo 5º, LXVII, CF: A liberdade de associação difere-se da de reunião por
sua perenidade, isto é, enquanto a liberdade de reunião é
Artigo 5º, LXVII, CF. Não haverá prisão civil por dívi- exercida de forma sazonal, eventual, a liberdade de asso-
da, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e ciação implica na formação de um grupo organizado que
inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel. se mantém por um período de tempo considerável, dotado
de estrutura e organização próprias.
Nos termos da Súmula Vinculante nº 25 do Supremo Por exemplo, o PCC e o Comando vermelho são asso-
Tribunal Federal, “é ilícita a prisão civil de depositário infiel, ciações ilícitas e de caráter paramilitar, pois possuem ar-
qualquer que seja a modalidade do depósito”. Por isso, a mas e o ideal de realizar sua própria justiça paralelamente
única exceção à regra da prisão por dívida do ordenamento à estatal.
é a que se refere à obrigação alimentícia. O texto constitucional se estende na regulamentação
da liberdade de associação.
Liberdade de trabalho O artigo 5º, XVIII, CF, preconiza:
O direito à liberdade também é mencionado no artigo
5º, XIII, CF: Artigo 5º, XVIII, CF. A criação de associações e, na for-
ma da lei, a de cooperativas independem de autorização,
Artigo 5º, XIII, CF. É livre o exercício de qualquer tra- sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento.
balho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações
profissionais que a lei estabelecer. Neste sentido, associações são organizações resultan-
tes da reunião legal entre duas ou mais pessoas, com ou
O livre exercício profissional é garantido, respeitados sem personalidade jurídica, para a realização de um obje-
os limites legais. Por exemplo, não pode exercer a profis- tivo comum; já cooperativas são uma forma específica de
são de advogado aquele que não se formou em Direito associação, pois visam a obtenção de vantagens comuns
e não foi aprovado no Exame da Ordem dos Advogados em suas atividades econômicas.
do Brasil; não pode exercer a medicina aquele que não fez Ainda, tem-se o artigo 5º, XIX, CF:
faculdade de medicina reconhecida pelo MEC e obteve o
cadastro no Conselho Regional de Medicina. Artigo 5º, XIX, CF. As associações só poderão ser com-
pulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas
Liberdade de reunião por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito
Sobre a liberdade de reunião, prevê o artigo 5º, XVI, CF: em julgado.

Artigo 5º, XVI, CF. Todos podem reunir-se pacificamen- O primeiro caso é o de dissolução compulsória, ou seja,
te, sem armas, em locais abertos ao público, independen- a associação deixará de existir para sempre. Obviamente, é
temente de autorização, desde que não frustrem outra re- preciso o trânsito em julgado da decisão judicial que as-
união anteriormente convocada para o mesmo local, sendo sim determine, pois antes disso sempre há possibilidade
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente. de reverter a decisão e permitir que a associação continue
em funcionamento. Contudo, a decisão judicial pode sus-
Pessoas podem ir às ruas para reunirem-se com de- pender atividades até que o trânsito em julgado ocorra, ou
mais na defesa de uma causa, apenas possuindo o dever seja, no curso de um processo judicial.
de informar tal reunião. Tal dever remonta-se a questões de Em destaque, a legitimidade representativa da associa-
segurança coletiva. Imagine uma grande reunião de pes- ção quanto aos seus filiados, conforme artigo 5º, XXI, CF:
soas por uma causa, a exemplo da Parada Gay, que chega
a aglomerar milhões de pessoas em algumas capitais: seria Artigo 5º, XXI, CF. As entidades associativas, quando ex-
absurdo tolerar tal tipo de reunião sem o prévio aviso do pressamente autorizadas, têm legitimidade para represen-
poder público para que ele organize o policiamento e a as- tar seus filiados judicial ou extrajudicialmente.
sistência médica, evitando algazarras e socorrendo pessoas

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NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Trata-se de caso de legitimidade processual extraordi- Artigo 5º, XI, CF. A casa é asilo inviolável do indivíduo,
nária, pela qual um ente vai a juízo defender interesse de ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do mo-
outra(s) pessoa(s) porque a lei assim autoriza. rador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
A liberdade de associação envolve não somente o di- prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.
reito de criar associações e de fazer parte delas, mas tam-
bém o de não associar-se e o de deixar a associação, con- O domicílio é inviolável, razão pela qual ninguém pode
forme artigo 5º, XX, CF: nele entrar sem o consentimento do morador, a não ser
EM QUALQUER HORÁRIO no caso de flagrante delito (o
Artigo 5º, XX, CF. Ninguém poderá ser compelido a as- morador foi flagrado na prática de crime e fugiu para seu
sociar-se ou a permanecer associado. domicílio) ou desastre (incêndio, enchente, terremoto...) ou
para prestar socorro (morador teve ataque do coração, está
- Direitos à privacidade e à personalidade sufocado, desmaiado...), e SOMENTE DURANTE O DIA por
determinação judicial.
Abrangência Quanto ao sigilo de correspondência e das comunica-
Prevê o artigo 5º, X, CF: ções, prevê o artigo 5º, XII, CF:

Artigo 5º, X, CF. São invioláveis a intimidade, a vida Artigo 5º, XII, CF. É inviolável o sigilo da correspondência
privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o e das comunicações telegráficas, de dados e das comunica-
direito a indenização pelo dano material ou moral decorren- ções telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial,
te de sua violação. nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal.
O legislador opta por trazer correlacionados no mesmo
dispositivo legal os direitos à privacidade e à personalidade. O sigilo de correspondência e das comunicações está
Reforçando a conexão entre a privacidade e a intimida- melhor regulamentado na Lei nº 9.296, de 1996.
de, ao abordar a proteção da vida privada – que, em resu-
mo, é a privacidade da vida pessoal no âmbito do domicílio Personalidade jurídica e gratuidade de registro
e de círculos de amigos –, Silva7 entende que “o segredo Quando se fala em reconhecimento como pessoa pe-
da vida privada é condição de expansão da personalidade”, rante a lei desdobra-se uma esfera bastante específica dos
mas não caracteriza os direitos de personalidade em si. direitos de personalidade, consistente na personalidade ju-
A união da intimidade e da vida privada forma a pri- rídica. Basicamente, consiste no direito de ser reconhecido
vacidade, sendo que a primeira se localiza em esfera mais como pessoa perante a lei.
estrita. É possível ilustrar a vida social como se fosse um Para ser visto como pessoa perante a lei mostra-se
grande círculo no qual há um menor, o da vida privada, e necessário o registro. Por ser instrumento que serve como
dentro deste um ainda mais restrito e impenetrável, o da pressuposto ao exercício de direitos fundamentais, asse-
intimidade. Com efeito, pela “Teoria das Esferas” (ou “Teoria gura-se a sua gratuidade aos que não tiverem condição de
dos Círculos Concêntricos”), importada do direito alemão, com ele arcar.
quanto mais próxima do indivíduo, maior a proteção a ser Aborda o artigo 5º, LXXVI, CF:
conferida à esfera (as esferas são representadas pela inti-
midade, pela vida privada, e pela publicidade). Artigo 5º, LXXVI, CF. São gratuitos para os reconheci-
“O direito à honra distancia-se levemente dos dois an- damente pobres, na forma da lei: a) o registro civil de nas-
teriores, podendo referir-se ao juízo positivo que a pessoa cimento; b) a certidão de óbito.
tem de si (honra subjetiva) e ao juízo positivo que dela fa-
zem os outros (honra objetiva), conferindo-lhe respeitabi- O reconhecimento do marco inicial e do marco final
lidade no meio social. O direito à imagem também pos- da personalidade jurídica pelo registro é direito individual,
sui duas conotações, podendo ser entendido em sentido não dependendo de condições financeiras. Evidente, seria
objetivo, com relação à reprodução gráfica da pessoa, por absurdo cobrar de uma pessoa sem condições a elabora-
meio de fotografias, filmagens, desenhos, ou em sentido ção de documentos para que ela seja reconhecida como
subjetivo, significando o conjunto de qualidades cultivadas viva ou morta, o que apenas incentivaria a indigência dos
pela pessoa e reconhecidas como suas pelo grupo social”8. menos favorecidos.

Inviolabilidade de domicílio e sigilo de correspondência Direito à indenização e direito de resposta


Correlatos ao direito à privacidade, aparecem a invio- Com vistas à proteção do direito à privacidade, do di-
labilidade do domicílio e o sigilo das correspondências e reito à personalidade e do direito à imagem, asseguram-se
comunicações. dois instrumentos, o direito à indenização e o direito de
Neste sentido, o artigo 5º, XI, CF prevê: resposta, conforme as necessidades do caso concreto.
Com efeito, prevê o artigo 5º, V, CF:
7 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional posi-
tivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
Artigo 5º, V, CF. É assegurado o direito de resposta,
8 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso de direito consti- proporcional ao agravo, além da indenização por dano ma-
tucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. terial, moral ou à imagem.

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NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

“A manifestação do pensamento é livre e garantida Nesta linha, para Silva11, “efetivamente, esse conjunto
em nível constitucional, não aludindo a censura prévia em de direitos aparelha situações, proibições, limitações e pro-
diversões e espetáculos públicos. Os abusos porventura cedimentos destinados a assegurar o exercício e o gozo de
ocorridos no exercício indevido da manifestação do pensa- algum direito individual fundamental (intimidade, liberda-
mento são passíveis de exame e apreciação pelo Poder Ju- de pessoal ou a incolumidade física ou moral)”.
diciário com a consequente responsabilidade civil e penal Especificamente no que tange à segurança jurídica,
de seus autores, decorrentes inclusive de publicações inju- tem-se o disposto no artigo 5º, XXXVI, CF:
riosas na imprensa, que deve exercer vigilância e controle
da matéria que divulga”9. Artigo 5º, XXXVI, CF. A lei não prejudicará o direito ad-
O  direito de resposta é o direito que uma pessoa quirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
tem de se defender de críticas públicas no mesmo meio
em que foram publicadas garantida exatamente a mes- Pelo inciso restam estabelecidos limites à retroativida-
de da lei.
ma repercussão. Mesmo quando for garantido o direito
Define o artigo 6º da Lei de Introdução às Normas do
de resposta não é possível reverter plenamente os da-
Direito Brasileiro:
nos causados pela manifestação ilícita de pensamento,
razão pela qual a pessoa inda fará jus à indenização.
Artigo 6º, LINDB. A Lei em vigor terá efeito imediato e
A manifestação ilícita do pensamento geralmente cau- geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido
sa um dano, ou seja, um prejuízo sofrido pelo agente, que e a coisa julgada.
pode ser individual ou coletivo, moral ou material, econô- § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado
mico e não econômico. segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.
Dano material é aquele que atinge o patrimônio (ma- § 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o
terial ou imaterial) da vítima, podendo ser mensurado fi- seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles
nanceiramente e indenizado. cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condi-
“Dano moral direto consiste na lesão a um interesse ção pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
que visa a satisfação ou gozo de um bem jurídico extrapa- § 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão
trimonial contido nos direitos da personalidade (como a judicial de que já não caiba recurso.
vida, a integridade corporal, a liberdade, a honra, o decoro,
a intimidade, os sentimentos afetivos, a própria imagem) - Direito à propriedade
ou nos atributos da pessoa (como o nome, a capacidade, o O caput do artigo 5º da Constituição assegura a pro-
estado de família)”10. teção do direito à propriedade, tanto material quanto inte-
Já o dano à imagem é delimitado no artigo 20 do Có- lectual, delimitada em alguns incisos que o seguem.
digo Civil:
Função social da propriedade material
Artigo 20, CC. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à O artigo 5º, XXII, CF estabelece:
administração da justiça ou à manutenção da ordem públi-
ca, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a Artigo 5º, XXII, CF. É garantido o direito de propriedade.
publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma
pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem pre- A seguir, no inciso XXIII do artigo 5º, CF estabelece o
juízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, principal fator limitador deste direito:
a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins
Artigo 5º, XXIII, CF. A propriedade atenderá a sua fun-
comerciais.
ção social.
- Direito à segurança
A propriedade, segundo Silva12, “[...] não pode mais ser
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a pro-
considerada como um direito individual nem como institui-
teção do direito à segurança. Na qualidade de direito in- ção do direito privado. [...] embora prevista entre os direi-
dividual liga-se à segurança do indivíduo como um todo, tos individuais, ela não mais poderá ser considerada puro
desde sua integridade física e mental, até a própria segu- direito individual, relativizando-se seu conceito e significa-
rança jurídica. do, especialmente porque os princípios da ordem econô-
No sentido aqui estudado, o direito à segurança pes- mica são preordenados à vista da realização de seu fim:
soal é o direito de viver sem medo, protegido pela soli- assegurar a todos existência digna, conforme os ditames
dariedade e liberto de agressões, logo, é uma maneira de da justiça social. Se é assim, então a propriedade privada,
garantir o direito à vida. que, ademais, tem que atender a sua função social, fica vin-
culada à consecução daquele princípio”.
9 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 26. ed. 11 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional posi-
São Paulo: Malheiros, 2011. tivo... Op. Cit., p. 437.
10 ZANNONI, Eduardo. El daño en la responsabilidad civil. 12 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional posi-
Buenos Aires: Astrea, 1982. tivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.

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NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Com efeito, a proteção da propriedade privada está li- III - desapropriação com pagamento mediante títulos
mitada ao atendimento de sua função social, sendo este o da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo
requisito que a correlaciona com a proteção da dignidade Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em
da pessoa humana. A propriedade de bens e valores em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real
geral é um direito assegurado na Constituição Federal e, da indenização e os juros legais14.
como todos os outros, se encontra limitado pelos demais
princípios conforme melhor se atenda à dignidade do ser Artigo 184, CF. Compete à União desapropriar por in-
humano. teresse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural
A Constituição Federal delimita o que se entende por que não esteja cumprindo sua função social, mediante
função social: prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária,
com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no
Art. 182, caput, CF. A política de desenvolvimento urba- prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua
no, executada pelo Poder Público municipal, conforme dire- emissão, e cuja utilização será definida em lei15.
trizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o Artigo 184, § 1º, CF. As benfeitorias úteis e necessárias
bem-estar de seus habitantes. serão indenizadas em dinheiro.
Artigo 182, § 1º, CF. O plano diretor, aprovado pela Câ- No que tange à desapropriação por necessidade ou
mara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte utilidade pública, prevê o artigo 5º, XXIV, CF:
mil habitantes, é o instrumento básico da política de desen-
volvimento e de expansão urbana. Artigo 5º, XXIV, CF. A lei estabelecerá o procedimento
para desapropriação por necessidade ou utilidade pública,
Artigo 182, § 2º, CF. A propriedade urbana cumpre sua ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização
função social quando atende às exigências fundamentais de em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constitui-
ordenação da cidade expressas no plano diretor13. ção.
Artigo 186, CF. A função social é cumprida quando a
Ainda, prevê o artigo 182, § 3º, CF:
propriedade rural atende, simultaneamente, segundo crité-
rios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes
Artigo 182, §3º, CF. As desapropriações de imóveis urba-
requisitos:
nos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro.
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponí-
Tem-se, ainda o artigo 184, §§ 2º e 3º, CF:
veis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as rela-
ções de trabalho; Artigo 184, §2º, CF. O decreto que declarar o imóvel
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprie- como de interesse social, para fins de reforma agrária, auto-
tários e dos trabalhadores. riza a União a propor a ação de desapropriação.

Desapropriação Artigo 184, §3º, CF. Cabe à lei complementar estabelecer


No caso de desrespeito à função social da proprieda- procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o
de cabe até mesmo desapropriação do bem, de modo que processo judicial de desapropriação.
pode-se depreender do texto constitucional duas possibi-
lidades de desapropriação: por desrespeito à função social A desapropriação por utilidade ou necessidade pública
e por necessidade ou utilidade pública. deve se dar mediante prévia e justa indenização em dinhei-
A Constituição Federal prevê a possibilidade de desa- ro. O Decreto-lei nº 3.365/1941 a disciplina, delimitando
propriação por desatendimento à função social: o procedimento e conceituando utilidade pública, em seu
artigo 5º:
Artigo 182, § 4º, CF. É facultado ao Poder Público mu-
nicipal, mediante lei específica para área incluída no plano
14 Nota-se que antes de se promover a desapropriação de
diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do imóvel urbano por desatendimento à função social é necessário to-
solo urbano não edificado, subutilizado ou não utiliza- mar duas providências, sucessivas: primeiro, o parcelamento ou edi-
do, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, ficação compulsórios; depois, o estabelecimento de imposto sobre a
sucessivamente, de: propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo. Se am-
I - parcelamento ou edificação compulsórios; bas medidas restarem ineficazes, parte-se para a desapropriação por
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial ur- desatendimento à função social.
bana progressivo no tempo; 15 A desapropriação em decorrência do desatendimento da
função social é indenizada, mas não da mesma maneira que a desa-
13 Instrumento básico de um processo de planejamento mu- propriação por necessidade ou utilidade pública, já que na primeira
nicipal para a implantação da política de desenvolvimento urbano, há violação do ordenamento constitucional pelo proprietário, mas na
norteando a ação dos agentes públicos e privados (Lei n. 10.257/2001 segunda não. Por isso, indeniza-se em títulos da dívida agrária, que na
- Estatuto da cidade). prática não são tão valorizados quanto o dinheiro.

10
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Artigo 5º, Decreto-lei n. 3.365/1941. Consideram-se ca- Assim, se uma pessoa é mais humilde e tem uma pe-
sos de utilidade pública: quena propriedade será assegurado que permaneça com
a) a segurança nacional; ela e a torne mais produtiva.
b) a defesa do Estado; A preservação da pequena propriedade em detrimento
c) o socorro público em caso de calamidade; dos grandes latifúndios improdutivos é uma das diretrizes-
d) a salubridade pública; -guias da regulamentação da política agrária brasileira, que
e) a criação e melhoramento de centros de população, tem como principal escopo a realização da reforma agrária.
seu abastecimento regular de meios de subsistência; Parte da questão financeira atinente à reforma agrária
f) o aproveitamento industrial das minas e das jazidas se encontra prevista no artigo 184, §§ 4º e 5º, CF:
minerais, das águas e da energia hidráulica;
g) a assistência pública, as obras de higiene e decoração, Artigo 184, §4º, CF. O orçamento fixará anualmente
casas de saúde, clínicas, estações de clima e fontes medicinais; o volume total de títulos da dívida agrária, assim como o
h) a exploração ou a conservação dos serviços públicos; montante de recursos para atender ao programa de reforma
i) a abertura, conservação e melhoramento de vias ou agrária no exercício.
logradouros públicos; a execução de planos de urbanização;
o parcelamento do solo, com ou sem edificação, para sua Artigo 184, §5º, CF. São isentas de impostos federais, es-
melhor utilização econômica, higiênica ou estética; a cons- taduais e municipais as operações de transferência de imó-
trução ou ampliação de distritos industriais; veis desapropriados para fins de reforma agrária.
j) o funcionamento dos meios de transporte coletivo;
k) a preservação e conservação dos monumentos históri- Como a finalidade da reforma agrária é transformar
cos e artísticos, isolados ou integrados em conjuntos urbanos terras improdutivas e grandes propriedades em atinentes à
ou rurais, bem como as medidas necessárias a manter-lhes função social, alguns imóveis rurais não podem ser abran-
e realçar-lhes os aspectos mais valiosos ou característicos e, gidos pela reforma agrária:
ainda, a proteção de paisagens e locais particularmente do-
tados pela natureza;
Art. 185, CF. São insuscetíveis de desapropriação para
l) a preservação e a conservação adequada de arquivos,
fins de reforma agrária:
documentos e outros bens moveis de valor histórico ou ar-
I - a pequena e média propriedade rural, assim definida
tístico;
em lei, desde que seu proprietário não possua outra;
m) a construção de edifícios públicos, monumentos co-
II - a propriedade produtiva.
memorativos e cemitérios;
Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à
n) a criação de estádios, aeródromos ou campos de pou-
so para aeronaves; propriedade produtiva e fixará normas para o cumprimento
o) a reedição ou divulgação de obra ou invento de natu- dos requisitos relativos a sua função social.
reza científica, artística ou literária;
p) os demais casos previstos por leis especiais. Sobre as diretrizes da política agrícola, prevê o artigo
187:
Um grande problema que faz com que processos que
tenham a desapropriação por objeto se estendam é a in- Art. 187, CF. A política agrícola será planejada e exe-
devida valorização do imóvel pelo Poder Público, que ge- cutada na forma da lei, com a participação efetiva do setor
ralmente pretende pagar valor muito abaixo do devido, de produção, envolvendo produtores e trabalhadores rurais,
necessitando o Judiciário intervir em prol da correta ava- bem como dos setores de comercialização, de armazena-
liação. mento e de transportes, levando em conta, especialmente:
Outra questão reside na chamada tredestinação, pela I - os instrumentos creditícios e fiscais;
qual há a destinação de um bem expropriado (desapro- II - os preços compatíveis com os custos de produção e a
priação) a finalidade diversa da que se planejou inicial- garantia de comercialização;
mente. A tredestinação pode ser lícita ou ilícita. Será ilícita III - o incentivo à pesquisa e à tecnologia;
quando resultante de desvio do propósito original; e será IV - a assistência técnica e extensão rural;
lícita quando a Administração Pública dê ao bem finalidade V - o seguro agrícola;
diversa, porém preservando a razão do interesse público. VI - o cooperativismo;
VII - a eletrificação rural e irrigação;
Política agrária e reforma agrária VIII - a habitação para o trabalhador rural.
Enquanto desdobramento do direito à propriedade § 1º Incluem-se no planejamento agrícola as atividades
imóvel e da função social desta propriedade, tem-se ainda agroindustriais, agropecuárias, pesqueiras e florestais.
o artigo 5º, XXVI, CF: § 2º Serão compatibilizadas as ações de política agríco-
la e de reforma agrária.
Artigo 5º, XXVI, CF. A pequena propriedade rural, as-
sim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não As terras devolutas e públicas serão destinadas confor-
será objeto de penhora para pagamento de débitos decor- me a política agrícola e o plano nacional de reforma agrá-
rentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os ria (artigo 188, caput, CF). Neste sentido, “a alienação ou a
meios de financiar o seu desenvolvimento. concessão, a qualquer título, de terras públicas com área

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NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

superior a dois mil e quinhentos hectares a pessoa física c) 5 anos – houve controvérsia porque a Constituição
ou jurídica, ainda que por interposta pessoa, dependerá de Federal de 1988 que criou esta modalidade. E se antes
prévia aprovação do Congresso Nacional”, salvo no caso de 05 de outubro de 1988 uma pessoa tivesse há 4 anos
de alienações ou concessões de terras públicas para fins de dentro do limite da usucapião urbana? Predominou que
reforma agrária (artigo 188, §§ 1º e 2º, CF). só corria o prazo a partir da criação do instituto, não só
Os que forem favorecidos pela reforma agrária (ho- porque antes não existia e o prazo não podia correr, como
mens, mulheres, ambos, qualquer estado civil) não pode- também não se poderia prejudicar o proprietário.
rão negociar seus títulos pelo prazo de 10 anos (artigo 189, d) Moradia sua ou de sua família – não basta ter posse,
CF). é preciso que a pessoa more, sozinha ou com sua família,
Consta, ainda, que “a lei regulará e limitará a aquisição ao longo de todo o prazo (não só no início ou no final).
ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa física Logo, não cabe acessio temporis por cessão da posse.
ou jurídica estrangeira e estabelecerá os casos que depen- e) Nenhum outro imóvel, nem urbano, nem rural, no
derão de autorização do Congresso Nacional” (artigo 190, Brasil. O usucapiente não prova isso, apenas alega. Se al-
CF). guém não quiser a usucapião, prova o contrário. Este re-
quisito é verificado no momento em que completa 5 anos.
Usucapião Em relação à previsão da usucapião especial rural, des-
Usucapião é o modo originário de aquisição da pro- taca-se o artigo 191, CF:
priedade que decorre da posse prolongada por um lon-
go tempo, preenchidos outros requisitos legais. Em outras Art. 191, CF. Aquele que, não sendo proprietário de imó-
palavras, usucapião é uma situação em que alguém tem a vel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos inin-
posse de um bem por um tempo longo, sem ser incomo- terruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não
dado, a ponto de se tornar proprietário. superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu
A Constituição regulamenta o acesso à propriedade trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adqui-
mediante posse prolongada no tempo – usucapião – em rir-lhe-á a propriedade.
casos específicos, denominados usucapião especial urbana
Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiri-
e usucapião especial rural.
dos por usucapião.
O artigo 183 da Constituição regulamenta a usucapião
especial urbana:
Além dos requisitos gerais (animus e posse que seja
pública, pacífica, ininterrupta e contínua), são exigidos os
Art. 183, CF. Aquele que possuir como sua área urbana
seguintes requisitos específicos:
de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco
a) Imóvel rural
anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para
b) 50 hectares, no máximo – há também legislação que
sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio,
desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou estabelece um limite mínimo, o módulo rural (Estatuto da
rural. Terra). É possível usucapir áreas menores que o módulo ru-
§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão ral? Tem prevalecido o entendimento de que pode, mas é
conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, indepen- assunto muito controverso.
dentemente do estado civil. c) 5 anos – pode ser considerado o prazo antes 05 de
§ 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo pos- outubro de 1988 (Constituição Federal)? Depende. Se a
suidor mais de uma vez. área é de até 25 hectares sim, pois já havia tal possibilidade
§ 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usu- antes da CF/88. Se área for maior (entre 25 ha e 50 ha) não.
capião. d) Moradia sua ou de sua família – a pessoa deve morar
na área rural.
Além dos requisitos gerais (animus e posse que seja e) Nenhum outro imóvel.
pública, pacífica, ininterrupta e contínua), são exigidos os f) O usucapiente, com seu trabalho, deve ter tornado
seguintes requisitos específicos: a área produtiva. Por isso, é chamado de usucapião “pro
a) Área urbana – há controvérsia. Pela teoria da locali- labore”. Dependerá do caso concreto.
zação, área urbana é a que está dentro do perímetro urba-
no. Pela teoria da destinação, mais importante que a locali- Uso temporário
zação é a sua utilização. Ex.: se tem fins agrícolas/pecuários No mais, estabelece-se uma terceira limitação ao di-
e estiver dentro do perímetro urbana, o imóvel é rural. Para reito de propriedade que não possui o caráter definitivo
fins de usucapião a maioria diz que prevalece a teoria da da desapropriação, mas é temporária, conforme artigo 5º,
localização. XXV, CF:
b) Imóveis até 250 m² – Pode dentro de uma posse
maior isolar área de 250m² e ingressar com a ação? A juris- Artigo 5º, XXV, CF. No caso de iminente perigo públi-
prudência é pacífica que a posse desde o início deve ficar co, a autoridade competente poderá usar de propriedade
restrita a 250m². Predomina também que o terreno deve particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior,
ter 250m², não a área construída (a área de um sobrado, se houver dano.
por exemplo, pode ser maior que a de um terreno).

12
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Se uma pessoa tem uma propriedade, numa situação Propriedade intelectual


de perigo, o poder público pode se utilizar dela (ex: montar Além da propriedade material, o constituinte protege
uma base para capturar um fugitivo), pois o interesse da também a propriedade intelectual, notadamente no artigo
coletividade é maior que o do indivíduo proprietário. 5º, XXVII, XXVIII e XXIX, CF:

Direito sucessório Artigo 5º, XXVII, CF. Aos autores pertence o direito ex-
O direito sucessório aparece como uma faceta do di- clusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas
reito à propriedade, encontrando disciplina constitucional obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
no artigo 5º, XXX e XXXI, CF:
Artigo 5º, XXVIII, CF. São assegurados, nos termos da lei:
Artigo 5º, XXX, CF. É garantido o direito de herança; a) a proteção às participações individuais em obras
coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, in-
Artigo 5º, XXXI, CF. A sucessão de bens de estrangei- clusive nas atividades desportivas;
ros situados no País será regulada pela lei brasileira em be- b) o direito de fiscalização do aproveitamento eco-
nefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não nômico das obras que criarem ou de que participarem aos
lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus. criadores, aos intérpretes e às respectivas representações
sindicais e associativas;
O direito à herança envolve o direito de receber – seja
devido a uma previsão legal, seja por testamento – bens Artigo 5º, XXIX, CF. A lei assegurará aos autores de in-
de uma pessoa que faleceu. Assim, o patrimônio passa ventos industriais privilégio temporário para sua utiliza-
para outra pessoa, conforme a vontade do falecido e/ou ção, bem como proteção às criações industriais, à proprie-
a lei determine. A Constituição estabelece uma disciplina dade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos
específica para bens de estrangeiros situados no Brasil, as- distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvi-
segurando que eles sejam repassados ao cônjuge e filhos mento tecnológico e econômico do País.
brasileiros nos termos da lei mais benéfica (do Brasil ou do
Assim, a propriedade possui uma vertente intelectual
país estrangeiro).
que deve ser respeitada, tanto sob o aspecto moral quanto
sob o patrimonial. No âmbito infraconstitucional brasileiro,
Direito do consumidor
a Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, regulamenta os
Nos termos do artigo 5º, XXXII, CF:
direitos autorais, isto é, “os direitos de autor e os que lhes
são conexos”.
Artigo 5º, XXXII, CF. O Estado promoverá, na forma da
O artigo 7° do referido diploma considera como obras
lei, a defesa do consumidor.
intelectuais que merecem a proteção do direito do autor
os textos de obras de natureza literária, artística ou científi-
O direito do consumidor liga-se ao direito à proprieda- ca; as conferências, sermões e obras semelhantes; as obras
de a partir do momento em que garante à pessoa que irá cinematográficas e televisivas; as composições musicais;
adquirir bens e serviços que estes sejam entregues e pres- fotografias; ilustrações; programas de computador; coletâ-
tados da forma adequada, impedindo que o fornecedor se neas e enciclopédias; entre outras.
enriqueça ilicitamente, se aproveite de maneira indevida da Os direitos morais do autor, que são imprescritíveis,
posição menos favorável e de vulnerabilidade técnica do inalienáveis e irrenunciáveis, envolvem, basicamente, o di-
consumidor. reito de reivindicar a autoria da obra, ter seu nome divul-
O Direito do Consumidor pode ser considerado um gado na utilização desta, assegurar a integridade desta ou
ramo recente do Direito. No Brasil, a legislação que o re- modificá-la e retirá-la de circulação se esta passar a afron-
gulamentou foi promulgada nos anos 90, qual seja a Lei nº tar sua honra ou imagem.
8.078, de 11 de setembro de 1990, conforme determinado Já os direitos patrimoniais do autor, nos termos dos
pela Constituição Federal de 1988, que também estabele- artigos 41 a 44 da Lei nº 9.610/98, prescrevem em 70 anos
ceu no artigo 48 do Ato das Disposições Constitucionais contados do primeiro ano seguinte à sua morte ou do
Transitórias: falecimento do último coautor, ou contados do primeiro
ano seguinte à divulgação da obra se esta for de natureza
Artigo 48, ADCT. O Congresso Nacional, dentro de cento audiovisual ou fotográfica. Estes, por sua vez, abrangem,
e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará có- basicamente, o direito de dispor sobre a reprodução, edi-
digo de defesa do consumidor. ção, adaptação, tradução, utilização, inclusão em bases de
dados ou qualquer outra modalidade de utilização; sendo
A elaboração do Código de Defesa do Consumidor foi que estas modalidades de utilização podem se dar a título
um grande passo para a proteção da pessoa nas relações oneroso ou gratuito.
de consumo que estabeleça, respeitando-se a condição de “Os direitos autorais, também conhecidos como co-
hipossuficiente técnico daquele que adquire um bem ou pyright (direito de cópia), são considerados bens mó-
faz uso de determinado serviço, enquanto consumidor. veis, podendo ser alienados, doados, cedidos ou locados.
Ressalte-se que a permissão a terceiros de utilização de

13
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

criações artísticas é direito do autor. [...] A proteção cons- Relacionando-se à primeira onda de acesso à justiça,
titucional abrange o plágio e a contrafação. Enquanto que prevê a Constituição em seu artigo 5º, XXXV:
o primeiro caracteriza-se pela difusão de obra criada ou
produzida por terceiros, como se fosse própria, a segunda Artigo 5º, XXXV, CF. A lei não excluirá da apreciação do
configura a reprodução de obra alheia sem a necessária Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
permissão do autor”16.
O princípio da inafastabilidade da jurisdição é o prin-
- Direitos de acesso à justiça cípio de Direito Processual Público subjetivo, também
A formação de um conceito sistemático de acesso à cunhado como Princípio da Ação, em que a Constituição
justiça se dá com a teoria de Cappelletti e Garth, que apon- garante a necessária tutela estatal aos conflitos ocorrentes
taram três ondas de acesso, isto é, três posicionamentos na vida em sociedade. Sempre que uma controvérsia for
básicos para a realização efetiva de tal acesso. Tais ondas levada ao Poder Judiciário, preenchidos os requisitos de
foram percebidas paulatinamente com a evolução do Di- admissibilidade, ela será resolvida, independentemente de
reito moderno conforme implementadas as bases da onda haver ou não previsão específica a respeito na legislação.
anterior, quer dizer, ficou evidente aos autores a emergên- Também se liga à primeira onda de acesso à justiça,
cia de uma nova onda quando superada a afirmação das no que tange à abertura do Judiciário mesmo aos menos
premissas da onda anterior, restando parcialmente imple- favorecidos economicamente, o artigo 5º, LXXIV, CF:
mentada (visto que até hoje enfrentam-se obstáculos ao
pleno atendimento em todas as ondas). Artigo 5º, LXXIV, CF. O Estado prestará assistência jurí-
Primeiro, Cappelletti e Garth17 entendem que surgiu dica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiên-
uma onda de concessão de assistência judiciária aos po- cia de recursos.
bres, partindo-se da prestação sem interesse de remunera-
ção por parte dos advogados e, ao final, levando à criação O constituinte, ciente de que não basta garantir o aces-
de um aparato estrutural para a prestação da assistência so ao Poder Judiciário, sendo também necessária a efeti-
vidade processual, incluiu pela Emenda Constitucional nº
pelo Estado.
45/2004 o inciso LXXVIII ao artigo 5º da Constituição:
Em segundo lugar, no entender de Cappelletti e Garth18,
veio a onda de superação do problema na representação
Artigo 5º, LXXVIII, CF. A todos, no âmbito judicial e admi-
dos interesses difusos, saindo da concepção tradicional de
nistrativo, são assegurados a razoável duração do processo
processo como algo restrito a apenas duas partes indivi-
e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
dualizadas e ocasionando o surgimento de novas institui-
 
ções, como o Ministério Público. Com o tempo se percebeu que não bastava garantir
Finalmente, Cappelletti e Garth19 apontam uma terceira o acesso à justiça se este não fosse célere e eficaz. Não
onda consistente no surgimento de uma concepção mais significa que se deve acelerar o processo em detrimento
ampla de acesso à justiça, considerando o conjunto de ins- de direitos e garantias assegurados em lei, mas sim que é
tituições, mecanismos, pessoas e procedimentos utilizados: preciso proporcionar um trâmite que dure nem mais e nem
“[...] esse enfoque encoraja a exploração de uma ampla va- menos que o necessário para a efetiva realização da justiça
riedade de reformas, incluindo alterações nas formas de no caso concreto.
procedimento, mudanças na estrutura dos tribunais ou a
criação de novos tribunais, o uso de pessoas leigas ou pa- - Direitos constitucionais-penais
raprofissionais, tanto como juízes quanto como defensores,
modificações no direito substantivo destinadas a evitar li- Juiz natural e vedação ao juízo ou tribunal de exceção
tígios ou facilitar sua solução e a utilização de mecanismos Quando o artigo 5º, LIII, CF menciona:
privados ou informais de solução dos litígios. Esse enfoque,
em suma, não receia inovações radicais e compreensivas, Artigo 5º, LIII, CF. Ninguém será processado nem sen-
que vão muito além da esfera de representação judicial”. tenciado senão pela autoridade competente”, consolida o
Assim, dentro da noção de acesso à justiça, diversos princípio do juiz natural que assegura a toda pessoa o direito
aspectos podem ser destacados: de um lado, deve criar-se de conhecer previamente daquele que a julgará no processo
o Poder Judiciário e se disponibilizar meios para que todas em que seja parte, revestindo tal juízo em jurisdição com-
as pessoas possam buscá-lo; de outro lado, não basta ga- petente para a matéria específica do caso antes mesmo do
rantir meios de acesso se estes forem insuficientes, já que fato ocorrer.
para que exista o verdadeiro acesso à justiça é necessário
que se aplique o direito material de maneira justa e célere. Por sua vez, um desdobramento deste princípio encon-
16 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: tra-se no artigo 5º, XXXVII, CF:
teoria geral, comentários aos artigos 1º a 5º da Constituição da Repú-
blica Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. São Paulo: Atlas, Artigo 5º, XXXVII, CF. Não haverá juízo ou tribunal de
1997. exceção.
17 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Tra-
dução Ellen Grace Northfleet. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Edi-
Juízo ou Tribunal de Exceção é aquele especialmente
tor, 1998, p. 31-32.
18 Ibid., p. 49-52
criado para uma situação pretérita, bem como não reco-
19 Ibid., p. 67-73 nhecido como legítimo pela Constituição do país.

14
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Tribunal do júri de pena, etc.) antes que ele ocorra; por outro lado, se vier
A respeito da competência do Tribunal do júri, prevê o uma lei posterior ao fato que o exclua do rol de crimes ou
artigo 5º, XXXVIII, CF: que confira tratamento mais benéfico (diminuindo a pena
ou alterando o regime de cumprimento, notadamente), ela
Artigo 5º, XXXVIII. É reconhecida a instituição do júri, será aplicada. Restam consagrados tanto o princípio da ir-
com a organização que lhe der a lei, assegurados: retroatividade da lei penal in pejus quanto o da retroativi-
a) a plenitude de defesa; dade da lei penal mais benéfica.
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos; Menções específicas a crimes
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos O artigo 5º, XLI, CF estabelece:
contra a vida.
Artigo 5º, XLI, CF. A lei punirá qualquer discriminação
O Tribunal do Júri é formado por pessoas do povo, que
atentatória dos direitos e liberdades fundamentais.
julgam os seus pares. Entende-se ser direito fundamental o
de ser julgado por seus iguais, membros da sociedade e não
Sendo assim confere fórmula genérica que remete ao
magistrados, no caso de determinados crimes que por sua
natureza possuem fortes fatores de influência emocional. princípio da igualdade numa concepção ampla, razão pela
Plenitude da defesa envolve tanto a autodefesa quanto qual práticas discriminatórias não podem ser aceitas. No
a defesa técnica e deve ser mais ampla que a denominada entanto, o constituinte entendeu por bem prever trata-
ampla defesa assegurada em todos os procedimentos judi- mento específico a certas práticas criminosas.
ciais e administrativos. Neste sentido, prevê o artigo 5º, XLII, CF:
Sigilo das votações envolve a realização de votações
secretas, preservando a liberdade de voto dos que com- Artigo 5º, XLII, CF. A prática do racismo constitui crime
põem o conselho que irá julgar o ato praticado. inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão,
A decisão tomada pelo conselho é soberana. Contudo, nos termos da lei.
a soberania dos veredictos veda a alteração das decisões
dos jurados, não a recorribilidade dos julgamentos do Tri- A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 define os crimes
bunal do Júri para que seja procedido novo julgamento resultantes de preconceito de raça ou de cor. Contra eles
uma vez cassada a decisão recorrida, haja vista preservar não cabe fiança (pagamento de valor para deixar a prisão
o ordenamento jurídico pelo princípio do duplo grau de provisória) e não se aplica o instituto da prescrição (perda
jurisdição. de pretensão de se processar/punir uma pessoa pelo de-
Por fim, a competência para julgamento é dos crimes curso do tempo).
dolosos (em que há intenção ou ao menos se assume o Não obstante, preconiza ao artigo 5º, XLIII, CF:
risco de produção do resultado) contra a vida, que são: ho-
micídio, aborto, induzimento, instigação ou auxílio a sui- Artigo 5º, XLIII, CF. A lei considerará crimes inafian-
cídio e infanticídio. Sua competência não é absoluta e é çáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da
mitigada, por vezes, pela própria Constituição (artigos 29, tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
X / 102, I, b) e c) / 105, I, a) / 108, I). terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles
respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo
Anterioridade e irretroatividade da lei evitá-los, se omitirem.
O artigo 5º, XXXIX, CF preconiza:
Anistia, graça e indulto diferenciam-se nos seguintes
Artigo5º, XXXIX, CF. Não há crime sem lei anterior que
o defina, nem pena sem prévia cominação legal. termos: a anistia exclui o crime, rescinde a condenação e
extingue totalmente a punibilidade, a graça e o indulto
É a consagração da regra do nullum crimen nulla poena apenas extinguem a punibilidade, podendo ser parciais; a
sine praevia lege. Simultaneamente, se assegura o princípio anistia, em regra, atinge crimes políticos, a graça e o in-
da legalidade (ou reserva legal), na medida em que não há dulto, crimes comuns; a anistia pode ser concedida pelo
crime sem lei que o defina, nem pena sem prévia comina- Poder Legislativo, a graça e o indulto são de competência
ção legal, e o princípio da anterioridade, posto que não há exclusiva do Presidente da República; a anistia pode ser
crime sem lei anterior que o defina. concedida antes da sentença final ou depois da condena-
Ainda no que tange ao princípio da anterioridade, tem- ção irrecorrível, a graça e o indulto pressupõem o trânsito
-se o artigo 5º, XL, CF: em julgado da sentença condenatória; graça e o indulto
apenas extinguem a punibilidade, persistindo os efeitos do
Artigo 5º, XL, CF. A lei penal não retroagirá, salvo para crime, apagados na anistia; graça é em regra individual e
beneficiar o réu. solicitada, enquanto o indulto é coletivo e espontâneo.
Não cabe graça, anistia ou indulto (pode-se considerar
O dispositivo consolida outra faceta do princípio da que o artigo o abrange, pela doutrina majoritária) contra
anterioridade: se, por um lado, é necessário que a lei tenha crimes de tortura, tráfico, terrorismo (TTT) e hediondos
definido um fato como crime e dado certo tratamento pe- (previstos na Lei nº 8.072 de 25 de julho de 1990). Além
nal a este fato (ex.: pena de detenção ou reclusão, tempo disso, são crimes que não aceitam fiança.

15
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Ainda, prevê o artigo 5º, XLIV, CF: A pena de multa ou patrimonial opera uma diminuição
do patrimônio do indivíduo delituoso.
Artigo 5º, XLIV, CF. Constitui crime inafiançável e im- A prestação social alternativa corresponde às penas
prescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, restritivas de direitos, autônomas e substitutivas das penas
contra a ordem constitucional e o Estado Democrático. privativas de liberdade, estabelecidas no artigo 44 do Có-
digo Penal.
Por fim, dispõe a CF sobre a possibilidade de extradi- Por seu turno, a individualização da pena deve também
ção de brasileiro naturalizado caso esteja envolvido com se fazer presente na fase de sua execução, conforme se
tráfico ilícito de entorpecentes: depreende do artigo 5º, XLVIII, CF:

Artigo 5º, LI, CF. Nenhum brasileiro será extraditado, Artigo 5º, XLVIII, CF. A pena será cumprida em estabe-
salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado lecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito,
antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento a idade e o sexo do apenado.
em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na for-
ma da lei. A distinção do estabelecimento conforme a natureza
do delito visa impedir que a prisão se torne uma faculdade
Personalidade da pena do crime. Infelizmente, o Estado não possui aparato sufi-
A personalidade da pena encontra respaldo no artigo ciente para cumprir tal diretiva, diferenciando, no máximo,
5º, XLV, CF: o nível de segurança das prisões. Quanto à idade, desta-
cam-se as Fundações Casas, para cumprimento de medida
Artigo 5º, XLV, CF. Nenhuma pena passará da pessoa por menores infratores. Quanto ao sexo, prisões costumam
do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a ser exclusivamente para homens ou para mulheres.
decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, es- Também se denota o respeito à individualização da
tendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite pena nesta faceta pelo artigo 5º, L, CF:
do valor do patrimônio transferido.
Artigo 5º, L, CF. Às presidiárias serão asseguradas con-
O princípio da personalidade encerra o comando de o
dições para que possam permanecer com seus filhos duran-
crime ser imputado somente ao seu autor, que é, por seu
te o período de amamentação.
turno, a única pessoa passível de sofrer a sanção. Seria fla-
grante a injustiça se fosse possível alguém responder pelos
Preserva-se a individualização da pena porque é toma-
atos ilícitos de outrem: caso contrário, a reação, ao invés de
restringir-se ao malfeitor, alcançaria inocentes. Contudo, se da a condição peculiar da presa que possui filho no perío-
uma pessoa deixou patrimônio e faleceu, este patrimônio do de amamentação, mas também se preserva a dignidade
responderá pelas repercussões financeiras do ilícito. da criança, não a afastando do seio materno de maneira
precária e impedindo a formação de vínculo pela amamen-
Individualização da pena tação.
A individualização da pena tem por finalidade concre-
tizar o princípio de que a responsabilização penal é sempre Vedação de determinadas penas
pessoal, devendo assim ser aplicada conforme as peculia- O constituinte viu por bem proibir algumas espécies de
ridades do agente. penas, consoante ao artigo 5º, XLVII, CF:
A primeira menção à individualização da pena se en-
contra no artigo 5º, XLVI, CF: Artigo 5º, XLVII, CF. não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos
Artigo 5º, XLVI, CF. A lei regulará a individualização da termos do art. 84, XIX;
pena e adotará, entre outras, as seguintes: b) de caráter perpétuo;
a) privação ou restrição da liberdade; c) de trabalhos forçados;
b) perda de bens; d) de banimento;
c) multa; e) cruéis.
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos. Em resumo, o inciso consolida o princípio da humani-
dade, pelo qual o “poder punitivo estatal não pode aplicar
Pelo princípio da individualização da pena, a pena deve sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que
ser individualizada nos planos legislativo, judiciário e exe- lesionem a constituição físico-psíquica dos condenados”20 .
cutório, evitando-se a padronização a sanção penal. A in- Quanto à questão da pena de morte, percebe-se que o
dividualização da pena significa adaptar a pena ao conde- constituinte não estabeleceu uma total vedação, autorizan-
nado, consideradas as características do agente e do delito. do-a nos casos de guerra declarada. Obviamente, deve-se
A pena privativa de liberdade é aquela que restringe, respeitar o princípio da anterioridade da lei, ou seja, a le-
com maior ou menor intensidade, a liberdade do condena- gislação deve prever a pena de morte ao fato antes dele ser
do, consistente em permanecer em algum estabelecimento 20 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. 16.
prisional, por um determinado tempo. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1.

16
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

praticado. No ordenamento brasileiro, este papel é cumpri- Surgem como corolário do devido processo legal o
do pelo Código Penal Militar (Decreto-Lei nº 1.001/1969), contraditório e a ampla defesa, pois somente um procedi-
que prevê a pena de morte a ser executada por fuzilamento mento que os garanta estará livre dos vícios. Neste sentido,
nos casos tipificados em seu Livro II, que aborda os crimes o artigo 5º, LV, CF:
militares em tempo de guerra.
Por sua vez, estão absolutamente vedadas em quais- Artigo 5º, LV, CF. Aos litigantes, em processo judicial ou
quer circunstâncias as penas de caráter perpétuo, de traba- administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
lhos forçados, de banimento e cruéis. contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a
No que tange aos trabalhos forçados, vale destacar ela inerentes.
que o trabalho obrigatório não é considerado um trata-
mento contrário à dignidade do recluso, embora o trabalho O devido processo legal possui a faceta formal, pela
forçado o seja. O trabalho é obrigatório, dentro das condi- qual se deve seguir o adequado procedimento na aplica-
ção da lei e, sendo assim, respeitar o contraditório e a am-
ções do apenado, não podendo ser cruel ou menosprezar
pla defesa. Não obstante, o devido processo legal tem sua
a capacidade física e intelectual do condenado; como o
faceta material que consiste na tomada de decisões justas,
trabalho não existe independente da educação, cabe in-
que respeitem os parâmetros da razoabilidade e da pro-
centivar o aperfeiçoamento pessoal; até mesmo porque o
porcionalidade.
trabalho deve se aproximar da realidade do mundo exter-
no, será remunerado; além disso, condições de dignidade e Vedação de provas ilícitas
segurança do trabalhador, como descanso semanal e equi- Conforme o artigo 5º, LVI, CF:
pamentos de proteção, deverão ser respeitados.
Artigo 5º, LVI, CF. São inadmissíveis, no processo, as pro-
Respeito à integridade do preso vas obtidas por meios ilícitos.
Prevê o artigo 5º, XLIX, CF:
Provas ilícitas, por força da nova redação dada ao arti-
Artigo 5º, XLIX, CF. É assegurado aos presos o respeito go 157 do CPP, são as obtidas em violação a normas cons-
à integridade física e moral. titucionais ou legai, ou seja, prova ilícita é a que viola regra
de direito material, constitucional ou legal, no momento
Obviamente, o desrespeito à integridade física e mo- da sua obtenção. São vedadas porque não se pode aceitar
ral do preso é uma violação do princípio da dignidade da o descumprimento do ordenamento para fazê-lo cumprir:
pessoa humana. seria paradoxal.
Dois tipos de tratamentos que violam esta integridade
estão mencionados no próprio artigo 5º da Constituição Presunção de inocência
Federal. Em primeiro lugar, tem-se a vedação da tortura Prevê a Constituição no artigo 5º, LVII:
e de tratamentos desumanos e degradantes (artigo 5º, III,
CF), o que vale na execução da pena. Artigo 5º, LVII, CF. Ninguém será considerado culpado
No mais, prevê o artigo 5º, LVIII, CF: até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.

Artigo 5º, LVIII, CF. O civilmente identificado não será Consolida-se o princípio da presunção de inocência,
submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses pelo qual uma pessoa não é culpada até que, em definitivo,
previstas em lei. o Judiciário assim decida, respeitados todos os princípios e
garantias constitucionais.
Se uma pessoa possui identificação civil, não há por-
Ação penal privada subsidiária da pública
que fazer identificação criminal, colhendo digitais, fotos,
Nos termos do artigo 5º, LIX, CF:
etc. Pensa-se que seria uma situação constrangedora des-
necessária ao suspeito, sendo assim, violaria a integridade Artigo 5º, LIX, CF. Será admitida ação privada nos cri-
moral. mes de ação pública, se esta não for intentada no prazo
legal.
Devido processo legal, contraditório e ampla defesa
Estabelece o artigo 5º, LIV, CF: A chamada ação penal privada subsidiária da pública
encontra respaldo constitucional, assegurando que a omis-
Artigo 5º, LIV, CF. Ninguém será privado da liberdade ou são do poder público na atividade de persecução criminal
de seus bens sem o devido processo legal. não será ignorada, fornecendo-se instrumento para que o
interessado a proponha.
Pelo princípio do devido processo legal a legislação
deve ser respeitada quando o Estado pretender punir al- Prisão e liberdade
guém judicialmente. Logo, o procedimento deve ser livre O constituinte confere espaço bastante extenso no ar-
de vícios e seguir estritamente a legislação vigente, sob tigo 5º em relação ao tratamento da prisão, notadamente
pena de nulidade processual. por se tratar de ato que vai contra o direito à liberdade.

17
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Obviamente, a prisão não é vedada em todos os casos, Mesmo que a pessoa seja presa em flagrante, devido
porque práticas atentatórias a direitos fundamentais impli- ao princípio da presunção de inocência, entende-se que
cam na tipificação penal, autorizando a restrição da liber- ela não deve ser mantida presa quando não preencher os
dade daquele que assim agiu. requisitos legais para prisão preventiva ou temporária.
No inciso LXI do artigo 5º, CF, prevê-se:
Indenização por erro judiciário
Artigo 5º, LXI, CF. Ninguém será preso senão em fla- A disciplina sobre direitos decorrentes do erro judiciá-
grante delito ou por ordem escrita e fundamentada de rio encontra-se no artigo 5º, LXXV, CF:
autoridade judiciária competente, salvo nos casos de trans-
gressão militar ou crime propriamente militar, definidos em Artigo 5º, LXXV, CF. O Estado indenizará o condenado
lei. por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do
tempo fixado na sentença.
Logo, a prisão somente se dará em caso de flagrante
delito (necessariamente antes do trânsito em julgado), ou Trata-se do erro em que incorre um juiz na apreciação
em caráter temporário, provisório ou definitivo (as duas e julgamento de um processo criminal, resultando em con-
primeiras independente do trânsito em julgado, preen- denação de alguém inocente. Neste caso, o Estado inde-
chidos requisitos legais e a última pela irreversibilidade da nizará. Ele também indenizará uma pessoa que ficar presa
condenação). além do tempo que foi condenada a cumprir.
Aborda-se no artigo 5º, LXII o dever de comunicação
ao juiz e à família ou pessoa indicada pelo preso: 4) Direitos fundamentais implícitos
Nos termos do § 2º do artigo 5º da Constituição Fe-
Artigo 5º, LXII, CF. A prisão de qualquer pessoa e o lo- deral:
cal onde se encontre serão comunicados imediatamente ao
juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele Artigo 5º, §2º, CF. Os direitos e garantias expressos nesta
indicada. Constituição não excluem outros decorrentes do regime e
dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacio-
Não obstante, o preso deverá ser informado de todos nais em que a República Federativa do Brasil seja parte.
os seus direitos, inclusive o direito ao silêncio, podendo
entrar em contato com sua família e com um advogado, Daí se depreende que os direitos ou garantias podem
conforme artigo 5º, LXIII, CF: estar expressos ou implícitos no texto constitucional. Sen-
do assim, o rol enumerado nos incisos do artigo 5º é ape-
Artigo 5º, LXIII, CF. O preso será informado de seus di- nas exemplificativo, não taxativo.
reitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada a assistência da família e de advogado. 5) Tratados internacionais incorporados ao ordena-
mento interno
Estabelece-se no artigo 5º, LXIV, CF: Estabelece o artigo 5º, § 2º, CF que os direitos e garan-
tias podem decorrer, dentre outras fontes, dos “tratados
Artigo 5º, LXIV, CF. O preso tem direito à identificação internacionais em que a República Federativa do Brasil
dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório seja parte”.
policial. Para o tratado internacional ingressar no ordenamen-
to jurídico brasileiro deve ser observado um procedimento
Por isso mesmo, o auto de prisão em flagrante e a ata complexo, que exige o cumprimento de quatro fases: a ne-
do depoimento do interrogatório são assinados pelas au- gociação (bilateral ou multilateral, com posterior assinatura
toridades envolvidas nas práticas destes atos procedimen- do Presidente da República), submissão do tratado assina-
tais. do ao Congresso Nacional (que dará referendo por meio
Ainda, a legislação estabelece inúmeros requisitos para do decreto legislativo), ratificação do tratado (confirmação
que a prisão seja validada, sem os quais cabe relaxamento, da obrigação perante a comunidade internacional) e a pro-
tanto que assim prevê o artigo 5º, LXV, CF: mulgação e publicação do tratado pelo Poder Executivo21.
Notadamente, quando o constituinte menciona os tratados
Artigo 5º, LXV, CF. A prisão ilegal será imediatamente internacionais no §2º do artigo 5º refere-se àqueles que
relaxada pela autoridade judiciária. tenham por fulcro ampliar o rol de direitos do artigo 5º, ou
seja, tratado internacional de direitos humanos.
Desta forma, como decorrência lógica, tem-se a previ- O §1° e o §2° do artigo 5° existiam de maneira originá-
são do artigo 5º, LXVI, CF: ria na Constituição Federal, conferindo o caráter de prima-
zia dos direitos humanos, desde logo consagrando o prin-
Artigo 5º, LXVI, CF. Ninguém será levado à prisão ou cípio da primazia dos direitos humanos, como reconhecido
nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, pela doutrina e jurisprudência majoritários na época. “O
com ou sem fiança. 21 VICENTE SOBRINHO, Benedito. Direitos Fundamentais e
Prisão Civil. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 2008.

18
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

princípio da primazia dos direitos humanos nas relações  O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional foi
internacionais implica em que o Brasil deve incorporar os promulgado no Brasil pelo Decreto nº 4.388 de 25 de se-
tratados quanto ao tema ao ordenamento interno brasilei- tembro de 2002. Ele contém 128 artigos e foi elaborado em
ro e respeitá-los. Implica, também em que as normas vol- Roma, no dia 17 de julho de 1998, regendo a competência
tadas à proteção da dignidade em caráter universal devem e o funcionamento deste Tribunal voltado às pessoas res-
ser aplicadas no Brasil em caráter prioritário em relação a ponsáveis por crimes de maior gravidade com repercussão
outras normas”22. internacional (artigo 1º, ETPI).
Regra geral, os tratados internacionais comuns ingres- “Ao contrário da Corte Internacional de Justiça, cuja ju-
sam com força de lei ordinária no ordenamento jurídico risdição é restrita a Estados, ao Tribunal Penal Internacional
brasileiro porque somente existe previsão constitucional compete o processo e julgamento de violações contra indi-
quanto à possibilidade da equiparação às emendas consti- víduos; e, distintamente dos Tribunais de crimes de guerra
tucionais se o tratado abranger matéria de direitos huma- da Iugoslávia e de Ruanda, criados para analisarem crimes
nos. Antes da emenda alterou o quadro quanto aos trata- cometidos durante esses conflitos, sua jurisdição não está
dos de direitos humanos, era o que acontecia, mas isso não restrita a uma situação específica”23.
significa que tais direitos eram menos importantes devido Resume Mello24: “a Conferência das Nações Unidas so-
ao princípio da primazia e ao reconhecimento dos direitos bre a criação de uma Corte Criminal Internacional, reunida
implícitos. em Roma, em 1998, aprovou a referida Corte. Ela é perma-
Por seu turno, com o advento da Emenda Constitucio- nente. Tem sede em Haia. A corte tem personalidade inter-
nal nº 45/04 se introduziu o §3º ao artigo 5º da Consti- nacional. Ela julga: a) crime de genocídio; b) crime contra
tuição Federal, de modo que os tratados internacionais de a humanidade; c) crime de guerra; d) crime de agressão.
direitos humanos foram equiparados às emendas consti- Para o crime de genocídio usa a definição da convenção
tucionais, desde que houvesse a aprovação do tratado em de 1948. Como crimes contra a humanidade são citados:
cada Casa do Congresso Nacional e obtivesse a votação assassinato, escravidão, prisão violando as normas inter-
em dois turnos e com três quintos dos votos dos respecti- nacionais, violação tortura, apartheid, escravidão sexual,
vos membros: prostituição forçada, esterilização, etc. São crimes de guer-
ra: homicídio internacional, destruição de bens não justifi-
Art. 5º, § 3º, CF. Os tratados e convenções interna- cada pela guerra, deportação, forçar um prisioneiro a servir
cionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em nas forças inimigas, etc.”.
cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três
quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalen- Direitos sociais
tes às emendas constitucionais.  A Constituição Federal, dentro do Título II, aborda no
capítulo II a categoria dos direitos sociais, em sua maioria
Logo, a partir da alteração constitucional, os tratados normas programáticas e que necessitam de uma postura
de direitos humanos que ingressarem no ordenamento ju- interventiva estatal em prol da implementação.
rídico brasileiro, versando sobre matéria de direitos huma- Os direitos assegurados nesta categoria encontram
nos, irão passar por um processo de aprovação semelhante menção genérica no artigo 6º, CF:
ao da emenda constitucional.
Contudo, há posicionamentos conflituosos quanto à Artigo 6º, CF. Art. 6º São direitos sociais a educação, a
possibilidade de considerar como hierarquicamente cons- saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transpor-
titucional os tratados internacionais de direitos humanos te, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção
que ingressaram no ordenamento jurídico brasileiro ante- à maternidade e à infância, a assistência aos desampa-
riormente ao advento da referida emenda. Tal discussão se rados, na forma desta Constituição. 
deu com relação à prisão civil do depositário infiel, prevista
como legal na Constituição e ilegal no Pacto de São José Trata-se de desdobramento da perspectiva do Estado
da Costa Rica (tratado de direitos humanos aprovado antes Social de Direito. Em suma, são elencados os direitos huma-
da EC nº 45/04), sendo que o Supremo Tribunal Federal nos de 2ª dimensão, notadamente conhecidos como direi-
firmou o entendimento pela supralegalidade do tratado de tos econômicos, sociais e culturais. Em resumo, os direitos
direitos humanos anterior à Emenda (estaria numa posição sociais envolvem prestações positivas do Estado (diferente
que paralisaria a eficácia da lei infraconstitucional, mas não dos de liberdade, que referem-se à postura de abstenção
revogaria a Constituição no ponto controverso). estatal), ou seja, políticas estatais que visem consolidar o
princípio da igualdade não apenas formalmente, mas ma-
6) Tribunal Penal Internacional terialmente (tratando os desiguais de maneira desigual).
Preconiza o artigo 5º, CF em seu § 4º: Por seu turno, embora no capítulo específico do Título
II que aborda os direitos sociais não se perceba uma in-
Artigo 5º, §4º, CF. O Brasil se submete à jurisdição de tensa regulamentação destes, à exceção dos direitos tra-
Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifes-
23 NEVES, Gustavo Bregalda. Direito Internacional Público &
tado adesão. Direito Internacional Privado. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
22 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional 24 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de Direito Interna-
Público e Privado. Salvador: JusPodivm, 2009. cional Público. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

19
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

balhistas, o Título VIII da Constituição Federal, que aborda Tecnicamente, nos direitos sociais é possível invocar
a ordem social, se concentra em trazer normativas mais a cláusula da reserva do possível como argumento para a
detalhadas a respeitos de direitos indicados como sociais. não implementação de determinado direito social – seja
pela absoluta ausência de recursos (reserva do possível fá-
1) Igualdade material e efetivação dos direitos sociais tica), seja pela ausência de previsão orçamentária nos ter-
Independentemente da categoria de direitos que este- mos do artigo 167, CF (reserva do possível jurídica).
ja sendo abordada, a igualdade nunca deve aparecer num O Ministro Celso de Mello afirmou em julgamento que
sentido meramente formal, mas necessariamente material. os direitos sociais “não pode converter-se em promessa
Significa que discriminações indevidas são proibidas, mas constitucional inconsequente, sob pena de o Poder Públi-
existem certas distinções que não só devem ser aceitas, co, fraudando justas expectativas nele depositadas pela co-
como também se mostram essenciais. letividade, substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento
No que tange aos direitos sociais percebe-se que a de seu impostergável dever, por um gesto irresponsável de
igualdade material assume grande relevância. Afinal, esta infidelidade governamental ao que determina a própria Lei
categoria de direitos pressupõe uma postura ativa do Es- Fundamental do Estado”26.
tado em prol da efetivação. Nem todos podem arcar com Sendo assim, a invocação da cláusula da reserva do
suas despesas de saúde, educação, cultura, alimentação e possível, embora viável, não pode servir de muleta para
moradia, assim como nem todos se encontram na posição que o Estado não arque com obrigações básicas. Neste
de explorador da mão-de-obra, sendo a grande maioria da viés, geralmente, quando invocada a cláusula é afastada,
população de explorados. Estas pessoas estão numa clara entendendo o Poder Judiciário que não cabe ao Estado se
posição de desigualdade e caberá ao Estado cuidar para eximir de garantir direitos sociais com o simples argumen-
que progressivamente atinjam uma posição de igualdade to de que não há orçamento específico para isso – ele de-
real, já que não é por conta desta posição desfavorável que veria ter reservado parcela suficiente de suas finanças para
se pode afirmar que são menos dignos, menos titulares de atender esta demanda.
direitos fundamentais. Com efeito, deve ser preservado o mínimo existencial,
Logo, a efetivação dos direitos sociais é uma meta a ser que tem por fulcro limitar a discricionariedade político-ad-
alcançada pelo Estado em prol da consolidação da igual- ministrativa e estabelecer diretrizes orçamentárias básicas
dade material. Sendo assim, o Estado buscará o crescente a serem seguidas, sob pena de caber a intervenção do Po-
aperfeiçoamento da oferta de serviços públicos com quali- der Judiciário em prol de sua efetivação.
dade para que todos os nacionais tenham garantidos seus
direitos fundamentais de segunda dimensão da maneira 3) Princípio da proibição do retrocesso
mais plena possível. Proibição do retrocesso é a impossibilidade de que
Há se ressaltar também que o Estado não possui ape- uma conquista garantida na Constituição Federal sofra um
nas um papel direto na promoção dos direitos econômicos, retrocesso, de modo que um direito social garantido não
sociais e culturais, mas também um indireto, quando por pode deixar de o ser.
meio de sua gestão permite que os indivíduos adquiram Conforme jurisprudência, a proibição do retrocesso
condições para sustentarem suas necessidades pertencen- deve ser tomada com reservas, até mesmo porque segun-
tes a esta categoria de direitos. do entendimento predominante as normas do artigo 7º,
CF não são cláusula pétrea, sendo assim passíveis de alte-
2) Reserva do possível e mínimo existencial ração. Se for alterada normativa sobre direito trabalhista
Os direitos sociais serão concretizados gradualmente, assegurado no referido dispositivo, não sendo o prejuízo
notadamente porque estão previstos em normas progra- evidente, entende-se válida (por exemplo, houve alteração
máticas e porque a implementação deles gera um ônus do prazo prescricional diferenciado para os trabalhadores
para o Estado. Diferentemente dos direitos individuais, que agrícolas). O que, em hipótese alguma, pode ser aceito é
dependem de uma postura de abstenção estatal, os direi- um retrocesso evidente, seja excluindo uma categoria de
tos sociais precisam que o Estado assuma um papel ativo direitos (ex.: abolir o Sistema Único de Saúde), seja dimi-
em prol da efetivação destes. nuindo sensivelmente a abrangência da proteção (ex.: ex-
A previsão excessiva de direitos sociais no bojo de uma cluindo o ensino médio gratuito).
Constituição, a despeito de um instante bem-intencionado Questão polêmica se refere à proibição do retrocesso:
de palavras promovido pelo constituinte, pode levar à ne- se uma decisão judicial melhorar a efetivação de um direito
gativa, paradoxal – e, portanto, inadmissível – consequên- social, ela se torna vinculante e é impossível ao legislador
cia de uma Carta Magna cujas finalidades não condigam alterar a Constituição para retirar este avanço? Por um lado,
com seus próprios prescritos, fato que deslegitima o Poder a proibição do retrocesso merece ser tomada em conceito
Público como determinador de que particulares respeitem amplo, abrangendo inclusive decisões judiciais; por outro
os direitos fundamentais, já que sequer eles próprios, os lado, a decisão judicial não tem por fulcro alterar a norma,
administradores, conseguem cumprir o que consta de seu o que somente é feito pelo legislador, e ele teria o direito
Estatuto Máximo25. de prever que aquela decisão judicial não está incorporada
25 LAZARI, Rafael José Nadim de. Reserva do possível e mí-
na proibição do retrocesso. A questão é polêmica e não há
nimo existencial: a pretensão de eficácia da norma constitucional em entendimento dominante.
face da realidade. Curitiba: Juruá, 2012, p. 56-57. 26 RTJ 175/1212-1213, Rel. Min. CELSO DE MELLO.

20
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

4) Direito individual do trabalho em abril para que ele suprisse suas necessidades básicas e
O artigo 7º da Constituição enumera os direitos indi- da família, segundo estudo divulgado nesta terça-feira, 07,
viduais dos trabalhadores urbanos e rurais. São os direitos pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
individuais tipicamente trabalhistas, mas que não excluem Socioeconômicos (Dieese)”27.
os demais direitos fundamentais (ex.: honra é um direito
no espaço de trabalho, sob pena de se incidir em prática Artigo 7º, V, CF. Piso salarial proporcional à extensão e
de assédio moral). à complexidade do trabalho.

Artigo 7º, I, CF. Relação de emprego protegida contra Cada trabalhador, dentro de sua categoria de empre-
despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de go, seja ele professor, comerciário, metalúrgico, bancário,
lei complementar, que preverá indenização compensatória, construtor civil, enfermeiro, recebe um salário base, cha-
dentre outros direitos. mado de Piso Salarial, que é sua garantia de recebimento
dentro de seu grau profissional. O Valor do Piso Salarial é
Significa que a demissão, se não for motivada por justa estabelecido em conformidade com a data base da cate-
causa, assegura ao trabalhador direitos como indenização goria, por isso ele é definido em conformidade com um
compensatória, entre outros, a serem arcados pelo empre- acordo, ou ainda com um entendimento entre patrão e
gador. trabalhador.

Artigo 7º, II, CF. Seguro-desemprego, em caso de de- Artigo 7º, VI, CF. Irredutibilidade do salário, salvo o
semprego involuntário. disposto em convenção ou acordo coletivo.

Sem prejuízo de eventual indenização a ser recebida O salário não pode ser reduzido, a não ser que anão
do empregador, o trabalhador que fique involuntariamente redução implique num prejuízo maior, por exemplo, de-
desempregado – entendendo-se por desemprego invo- missão em massa durante uma crise, situações que devem
ser negociadas em convenção ou acordo coletivo.
luntário o que tenha origem num acordo de cessação do
contrato de trabalho – tem direito ao seguro-desemprego,
Artigo 7º, VII, CF. Garantia de salário, nunca inferior
a ser arcado pela previdência social, que tem o caráter de
ao mínimo, para os que percebem remuneração variável.
assistência financeira temporária.
O salário mínimo é direito de todos os trabalhadores,
Artigo 7º, III, CF. Fundo de garantia do tempo de serviço.
mesmo daqueles que recebem remuneração variável (ex.:
baseada em comissões por venda e metas);
Foi criado em 1967 pelo Governo Federal para pro-
teger o trabalhador demitido sem justa causa. O FGTS é Artigo 7º, VIII, CF. Décimo terceiro salário com base na
constituído de contas vinculadas, abertas em nome de remuneração integral ou no valor da aposentadoria.
cada trabalhador, quando o empregador efetua o primei-
ro depósito. O saldo da conta vinculada é formado pelos Também conhecido como gratificação natalina, foi ins-
depósitos mensais efetivados pelo empregador, equivalen- tituída no Brasil pela Lei nº 4.090/1962 e garante que o tra-
tes a 8,0% do salário pago ao empregado, acrescido de balhador receba o correspondente a 1/12 (um doze avos)
atualização monetária e juros. Com o FGTS, o trabalhador da remuneração por mês trabalhado, ou seja, consiste no
tem a oportunidade de formar um patrimônio, que pode pagamento de um salário extra ao trabalhador e ao apo-
ser sacado em momentos especiais, como o da aquisição sentado no final de cada ano.
da casa própria ou da aposentadoria e em situações de
dificuldades, que podem ocorrer com a demissão sem justa Artigo 7º, IX, CF. Remuneração do trabalho noturno
causa ou em caso de algumas doenças graves. superior à do diurno.

Artigo 7º, IV, CF. Salário mínimo, fixado em lei, nacio- O adicional noturno é devido para o trabalho exercido
nalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades durante a noite, de modo que cada hora noturna sofre a re-
vitais básicas e às de sua família com moradia, alimenta- dução de 7 minutos e 30 segundos, ou ainda, é feito acrés-
ção, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, trans- cimo de 12,5% sobre o valor da hora diurna. Considera-se
porte e previdência social, com reajustes periódicos que noturno, nas atividades urbanas, o trabalho realizado entre
lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vincula- as 22:00 horas de um dia às 5:00 horas do dia seguinte; nas
ção para qualquer fim. atividades rurais, é considerado noturno o trabalho execu-
Trata-se de uma visível norma programática da Cons- tado na lavoura entre 21:00 horas de um dia às 5:00 horas
tituição que tem por pretensão um salário mínimo que do dia seguinte; e na pecuária, entre 20:00 horas às 4:00
atenda a todas as necessidades básicas de uma pessoa e horas do dia seguinte.
de sua família. Em pesquisa que tomou por parâmetro o
preceito constitucional, detectou-se que “o salário mínimo 27 http://exame.abril.com.br/economia/noticias/salario-mini-
do trabalhador brasileiro deveria ter sido de R$ 2.892,47 mo-deveria-ter-sido-de-r-2-892-47-em-abril

21
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Artigo 7º, X, CF. Proteção do salário na forma da lei, normativa. Excepcionalmente, ocorrendo necessidade im-
constituindo crime sua retenção dolosa. periosa, poderá ser prorrogada além do limite legalmente
permitido. A remuneração do serviço extraordinário, des-
Quanto ao possível crime de retenção de salário, não de a promulgação da Constituição Federal, deverá cons-
há no Código Penal brasileiro uma norma que determina a tar, obrigatoriamente, do acordo, convenção ou sentença
ação de retenção de salário como crime. Apesar do artigo normativa, e será, no mínimo, 50% (cinquenta por cento)
7º, X, CF dizer que é crime a retenção dolosa de salário, superior à da hora normal.
o dispositivo é norma de eficácia limitada, pois depende
de lei ordinária, ainda mais porque qualquer norma penal Artigo 7º, XIV, CF. Jornada de seis horas para o traba-
incriminadora é regida pela legalidade estrita (artigo 5º, lho realizado em turnos ininterruptos de revezamento,
XXXIX, CF). salvo negociação coletiva.

Artigo 7º, XI, CF. Participação nos lucros, ou resul- O constituinte ao estabelecer jornada máxima de 6 ho-
tados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, ras para os turnos ininterruptos de revezamento, expres-
participação na gestão da empresa, conforme definido em samente ressalvando a hipótese de negociação coletiva,
lei. objetivou prestigiar a atuação da entidade sindical. Entre-
tanto, a jurisprudência evoluiu para uma interpretação res-
A Participação nos Lucros e Resultado (PLR), que é tritiva de seu teor, tendo como parâmetro o fato de que
conhecida também por Programa de Participação nos Re- o trabalho em turnos ininterruptos é por demais desgas-
sultados (PPR), está prevista na Consolidação das Leis do tante, penoso, além de trazer malefícios de ordem fisio-
Trabalho (CLT) desde a Lei nº 10.101, de 19 de dezembro lógica para o trabalhador, inclusive distúrbios no âmbito
de 2000. Ela funciona como um bônus, que é ofertado pelo psicossocial já que dificulta o convívio em sociedade e com
empregador e negociado com uma comissão de trabalha- a própria família.
dores da empresa. A CLT não obriga o empregador a forne-
cer o benefício, mas propõe que ele seja utilizado. Artigo 7º, XV, CF. Repouso semanal remunerado, pre-
ferencialmente aos domingos.
Artigo 7º, XII, CF. Salário-família pago em razão do
O Descanso Semanal Remunerado é de 24 (vinte e
dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei.
quatro) horas consecutivas, devendo ser concedido prefe-
rencialmente aos domingos, sendo garantido a todo traba-
Salário-família é o benefício pago na proporção do
lhador urbano, rural ou doméstico. Havendo necessidade
respectivo número de filhos ou equiparados de qualquer
de trabalho aos domingos, desde que previamente auto-
condição até a idade de quatorze anos ou inválido de qual- rizados pelo Ministério do Trabalho, aos trabalhadores é
quer idade, independente de carência e desde que o salá- assegurado pelo menos um dia de repouso semanal re-
rio-de-contribuição seja inferior ou igual ao limite máximo munerado coincidente com um domingo a cada período,
permitido. De acordo com a Portaria Interministerial MPS/ dependendo da atividade (artigo 67, CLT).
MF nº 19, de 10/01/2014, valor do salário-família será de
R$ 35,00, por filho de até 14 anos incompletos ou inválido, Artigo 7º, XVII, CF. Gozo de férias anuais remuneradas
para quem ganhar até R$ 682,50. Já para o trabalhador que com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal.
receber de R$ 682,51 até R$ 1.025,81, o valor do salário-
-família por filho de até 14 anos de idade ou inválido de O salário das férias deve ser superior em pelo menos
qualquer idade será de R$ 24,66. um terço ao valor da remuneração normal, com todos os
adicionais e benefícios aos quais o trabalhador tem direi-
Artigo 7º, XIII, CF. duração do trabalho normal não su- to. A cada doze meses de trabalho – denominado período
perior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, aquisitivo – o empregado terá direito a trinta dias corridos
facultada a compensação de horários e a redução da jorna- de férias, se não tiver faltado injustificadamente mais de
da, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho. cinco vezes ao serviço (caso isso ocorra, os dias das férias
serão diminuídos de acordo com o número de faltas).
Artigo 7º, XVI, CF. Remuneração do serviço extraor-
dinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do Artigo 7º, XVIII, CF. Licença à gestante, sem prejuízo do
normal. emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias.

A legislação trabalhista vigente estabelece que a du- O salário da trabalhadora em licença é chamado de
ração normal do trabalho, salvo os casos especiais, é de salário-maternidade, é pago pelo empregador e por ele
8 (oito) horas diárias e 44 (quarenta e quatro) semanais, descontado dos recolhimentos habituais devidos à Previ-
no máximo. Todavia, poderá a jornada diária de trabalho dência Social. A trabalhadora pode sair de licença a partir
dos empregados maiores ser acrescida de horas suple- do último mês de gestação, sendo que o período de licen-
mentares, em número não excedentes a duas, no máximo, ça é de 120 dias. A Constituição também garante que, do
para efeito de serviço extraordinário, mediante acordo in- momento em que se confirma a gravidez até cinco meses
dividual, acordo coletivo, convenção coletiva ou sentença após o parto, a mulher não pode ser demitida.

22
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Artigo 7º, XIX, CF. Licença-paternidade, nos termos fi- São consideradas atividades ou operações insalubres
xados em lei. as que se desenvolvem excesso de limites de tolerância
para: ruído contínuo ou intermitente, ruídos de impacto,
O homem tem direito a 5 dias de licença-paternidade exposição ao calor e ao frio, radiações, certos agentes quí-
para estar mais próximo do bebê recém-nascido e ajudar a micos e biológicos, vibrações, umidade, etc. O exercício de
mãe nos processos pós-operatórios. trabalho em condições de insalubridade assegura ao traba-
lhador a percepção de adicional, incidente sobre o salário
Artigo 7º, XX, CF. Proteção do mercado de trabalho da base do empregado (súmula 228 do TST), ou previsão mais
mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei. benéfica em Convenção Coletiva de Trabalho, equivalen-
te a 40% (quarenta por cento), para insalubridade de grau
Embora as mulheres sejam maioria na população de máximo; 20% (vinte por cento), para insalubridade de grau
10 anos ou mais de idade, elas são minoria na população médio; 10% (dez por cento), para insalubridade de grau
mínimo.
ocupada, mas estão em maioria entre os desocupados.
O adicional de periculosidade é um valor devido ao
Acrescenta-se ainda, que elas são maioria também na po-
empregado exposto a atividades perigosas. São conside-
pulação não economicamente ativa. Além disso, ainda há
radas atividades ou operações perigosas, aquelas que, por
relevante diferença salarial entre homens e mulheres, sen-
sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem risco
do que os homens recebem mais porque os empregadores acentuado em virtude de exposição permanente do tra-
entendem que eles necessitam de um salário maior para balhador a inflamáveis, explosivos ou energia elétrica; e a
manter a família. Tais disparidades colocam em evidência roubos ou outras espécies de violência física nas atividades
que o mercado de trabalho da mulher deve ser protegido profissionais de segurança pessoal ou patrimonial. O valor
de forma especial. do adicional de periculosidade será o salário do empre-
gado acrescido de 30%, sem os acréscimos resultantes de
Artigo 7º, XXI, CF. Aviso prévio proporcional ao tem- gratificações, prêmios ou participações nos lucros da em-
po de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos presa.
da lei. O Tribunal Superior do Trabalho ainda não tem enten-
dimento unânime sobre a possibilidade de cumulação des-
Nas relações de emprego, quando uma das partes de- tes adicionais.
seja rescindir, sem justa causa, o contrato de trabalho por
prazo indeterminado, deverá, antecipadamente, notificar à Artigo 7º, XXIV, CF. Aposentadoria.
outra parte, através do aviso prévio. O aviso prévio tem
por finalidade evitar a surpresa na ruptura do contrato de A aposentadoria é um benefício garantido a todo tra-
trabalho, possibilitando ao empregador o preenchimento balhador brasileiro que pode ser usufruído por aquele que
do cargo vago e ao empregado uma nova colocação no tenha contribuído ao Instituto Nacional de Seguridade So-
mercado de trabalho, sendo que o aviso prévio pode ser cial (INSS) pelos prazos estipulados nas regras da Previ-
trabalhado ou indenizado. dência Social e tenha atingido as idades mínimas previstas.
Aliás, o direito à previdência social é considerado um direi-
Artigo 7º, XXII, CF. Redução dos riscos inerentes ao to social no próprio artigo 6º, CF.
trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segu-
rança. Artigo 7º, XXV, CF. Assistência gratuita aos filhos e
dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de ida-
de em creches e pré-escolas.
Trata-se ao direito do trabalhador a um meio ambiente
do trabalho salubre. Fiorillo28 destaca que o equilíbrio do
Todo estabelecimento com mais de 30 funcionárias
meio ambiente do trabalho está sedimentado na salubri-
com mais de 16 anos tem a obrigação de oferecer um es-
dade e na ausência de agentes que possam comprometer
paço físico para que as mães deixem o filho de 0 a 6 meses,
a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores. enquanto elas trabalham. Caso não ofereçam esse espaço
aos bebês, a empresa é obrigada a dar auxílio-creche a mu-
Artigo 7º, XXIII, CF. Adicional de remuneração para as lher para que ela pague uma creche para o bebê de até 6
atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da meses. O valor desse auxílio será determinado conforme
lei. negociação coletiva na empresa (acordo da categoria ou
convenção). A empresa que tiver menos de 30 funcionárias
Penoso é o trabalho acerbo, árduo, amargo, difícil, mo- registradas não tem obrigação de conceder o benefício. É
lesto, trabalhoso, incômodo, laborioso, doloroso, rude, que facultativo (ela pode oferecer ou não). Existe a possibilida-
não é perigoso ou insalubre, mas penosa, exigindo atenção de de o benefício ser estendido até os 6 anos de idade e
e vigilância acima do comum. Ainda não há na legislação incluir o trabalhador homem. A duração do auxílio-creche
específica previsão sobre o adicional de penosidade. e o valor envolvido variarão conforme negociação coletiva
28 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Am- na empresa.
biental brasileiro. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 21.

23
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Artigo 7º, XXVI, CF. Reconhecimento das convenções e A Emenda Constitucional nº 72/2013, conhecida como
acordos coletivos de trabalho. PEC das domésticas, deu nova redação ao parágrafo único
do artigo 7º:
Neste dispositivo se funda o direito coletivo do tra-
balho, que encontra regulamentação constitucional nos Artigo 7º, parágrafo único, CF. São assegurados à cate-
artigo 8º a 11 da Constituição. Pelas convenções e acor- goria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos
dos coletivos, entidades representativas da categoria dos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI,
trabalhadores entram em negociação com as empresas na XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condições
defesa dos interesses da classe, assegurando o respeito aos estabelecidas em lei e observada a simplificação do cum-
direitos sociais; primento das obrigações tributárias, principais e acessórias,
decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, os
Artigo 7º, XXVII, CF. Proteção em face da automação, previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como
na forma da lei. a sua integração à previdência social. 

Trata-se da proteção da substituição da máquina pelo 5) Direito coletivo do trabalho


homem, que pode ser feita, notadamente, qualificando o Os artigos 8º a 11 trazem os direitos sociais coletivos
profissional para exercer trabalhos que não possam ser de- dos trabalhadores, que são os exercidos pelos trabalha-
sempenhados por uma máquina (ex.: se criada uma má- dores, coletivamente ou no interesse de uma coletivida-
quina que substitui o trabalhador, deve ser ele qualificado de, quais sejam: associação profissional ou sindical, greve,
para que possa operá-la). substituição processual, participação e representação clas-
sista29.
Artigo 7º, XXVIII, CF. Seguro contra acidentes de tra- A liberdade de associação profissional ou sindical tem
balho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização escopo no artigo 8º, CF:
a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa.
Art. 8º, CF. É livre a associação profissional ou sindi-
cal, observado o seguinte:
Atualmente, é a Lei nº 8.213/91 a responsável por tra-
I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para
tar do assunto e em seus artigos 19, 20 e 21 apresenta a
a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão
definição de doenças e acidentes do trabalho. Não se trata
competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a
de legislação específica sobre o tema, mas sim de uma nor-
intervenção na organização sindical;
ma que dispõe sobre as modalidades de benefícios da pre-
II - é vedada a criação de mais de uma organização
vidência social. Referida Lei, em seu artigo 19 da preceitua
sindical, em qualquer grau, representativa de categoria
que acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do
profissional ou econômica, na mesma base territorial, que
trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do traba- será definida pelos trabalhadores ou empregadores interes-
lho, provocando lesão corporal ou perturbação funcional sados, não podendo ser inferior à área de um Município;
que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interes-
temporária, da capacidade para o trabalho. ses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em
Seguro de Acidente de Trabalho (SAT) é uma contri- questões judiciais ou administrativas;
buição com natureza de tributo que as empresas pagam IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em
para custear benefícios do INSS oriundos de acidente de se tratando de categoria profissional, será descontada em
trabalho ou doença ocupacional, cobrindo a aposentadoria folha, para custeio do sistema confederativo da representa-
especial. A alíquota normal é de um, dois ou três por cen- ção sindical respectiva, independentemente da contribuição
to sobre a remuneração do empregado, mas as empresas prevista em lei;
que expõem os trabalhadores a agentes nocivos químicos, V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se
físicos e biológicos precisam pagar adicionais diferencia- filiado a sindicato;
dos. Assim, quanto maior o risco, maior é a alíquota, mas VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas
atualmente o Ministério da Previdência Social pode alterar negociações coletivas de trabalho;
a alíquota se a empresa investir na segurança do trabalho. VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser vo-
Neste sentido, nada impede que a empresa seja res- tado nas organizações sindicais;
ponsabilizada pelos acidentes de trabalho, indenizando VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicali-
o trabalhador. Na atualidade entende-se que a possibi- zado a partir do registro da candidatura a cargo de direção
lidade de cumulação do benefício previdenciário, assim ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente,
compreendido como prestação garantida pelo Estado ao até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta
trabalhador acidentado (responsabilidade objetiva) com grave nos termos da lei.
a indenização devida pelo empregador em caso de culpa Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se
(responsabilidade subjetiva), é pacífica, estando ampla- à organização de sindicatos rurais e de colônias de pes-
mente difundida na jurisprudência do Tribunal Superior do cadores, atendidas as condições que a lei estabelecer.
Trabalho; 29 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional esquematiza-
do. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

24
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

O direito de greve, por seu turno, está previsto no ar- Prevê a Declaração Universal dos Direitos Humanos em
tigo 9º, CF: seu artigo 15: “I) Todo homem tem direito a uma nacio-
nalidade. II) Ninguém será arbitrariamente privado de sua
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade”.
trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e A Convenção Americana sobre Direitos Humanos
sobre os interesses que devam por meio dele defender. aprofunda-se em meios para garantir que toda pessoa te-
§ 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais nha uma nacionalidade desde o seu nascimento ao adotar
e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis o critério do jus solis, explicitando que ao menos a pessoa
da comunidade. terá a nacionalidade do território onde nasceu, quando não
§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às tiver direito a outra nacionalidade por previsões legais di-
penas da lei. versas.
“Nacionalidade é um direito fundamental da pessoa
A respeito, conferir a Lei nº 7.783/89, que dispõe sobre humana. Todos a ela têm direito. A nacionalidade de um
o exercício do direito de greve, define as atividades essen- indivíduo não pode ficar ao mero capricho de um governo,
ciais, regula o atendimento das necessidades inadiáveis de um governante, de um poder despótico, de decisões
da comunidade, e dá outras providências. Enquanto não unilaterais, concebidas sem regras prévias, sem o contra-
for disciplinado o direito de greve dos servidores públicos, ditório, a defesa, que são princípios fundamentais de todo
esta é a legislação que se aplica, segundo o STF. sistema jurídico que se pretenda democrático. A questão
O direito de participação é previsto no artigo 10, CF: não pode ser tratada com relativismos, uma vez que é mui-
to séria”30.
Artigo 10, CF. É assegurada a participação dos traba- Não obstante, tem-se no âmbito constitucional e in-
lhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos pú- ternacional a previsão do direito de asilo, consistente no
blicos em que seus interesses profissionais ou previdenciá- direito de buscar abrigo em outro país quando naquele do
rios sejam objeto de discussão e deliberação. qual for nacional estiver sofrendo alguma perseguição. Tal
perseguição não pode ter motivos legítimos, como a práti-
Por fim, aborda-se o direito de representação classista
ca de crimes comuns ou de atos atentatórios aos princípios
no artigo 11, CF:
das Nações Unidas, o que subverteria a própria finalidade
desta proteção. Em suma, o que se pretende com o direi-
Artigo 11, CF. Nas empresas de mais de duzentos em-
to de asilo é evitar a consolidação de ameaças a direitos
pregados, é assegurada a eleição de um representante
humanos de uma pessoa por parte daqueles que deve-
destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o enten-
dimento direto com os empregadores. riam protegê-los – isto é, os governantes e os entes sociais
como um todo –, e não proteger pessoas que justamente
Nacionalidade cometeram tais violações.
O capítulo III do Título II aborda a nacionalidade, que
vem a ser corolário dos direitos políticos, já que somente 2) Naturalidade e naturalização
um nacional pode adquirir direitos políticos. O artigo 12 da Constituição Federal estabelece quem
Nacionalidade é o vínculo jurídico-político que liga são os nacionais brasileiros, dividindo-os em duas catego-
um indivíduo a determinado Estado, fazendo com que rias: natos e naturalizados. Percebe-se que naturalidade é
ele passe a integrar o povo daquele Estado, desfrutando diferente de nacionalidade – naturalidade é apenas o local
assim de direitos e obrigações. de nascimento, nacionalidade é um efetivo vínculo com o
Povo é o conjunto de nacionais. Por seu turno, povo Estado.
não é a mesma coisa que população. População é o con- Uma pessoa pode ser considerada nacional brasileira
junto de pessoas residentes no país – inclui o povo, os es- tanto por ter nascido no território brasileiro quanto por
trangeiros residentes no país e os apátridas. voluntariamente se naturalizar como brasileiro, como se
percebe no teor do artigo 12, CF. O estrangeiro, num con-
1) Nacionalidade como direito humano fundamental ceito tomado à base de exclusão, é todo aquele que não é
Os direitos humanos internacionais são completamen- nacional brasileiro.
te contrários à ideia do apátrida – ou heimatlos –, que é o
indivíduo que não possui o vínculo da nacionalidade com a) Brasileiros natos
nenhum Estado. Logo, a nacionalidade é um direito da pes- Art. 12, CF. São brasileiros:
soa humana, o qual não pode ser privado de forma arbitrá- I - natos:
ria. Não há privação arbitrária quando respeitados os crité- a) os nascidos na República Federativa do Brasil,
rios legais previstos no texto constitucional no que tange à ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam
perda da nacionalidade. Em outras palavras, o constituinte a serviço de seu país;
brasileiro não admite a figura do apátrida. b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou
Contudo, é exatamente por ser um direito que a na- mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço
cionalidade não pode ser uma obrigação, garantindo-se à da República Federativa do Brasil;
pessoa o direito de deixar de ser nacional de um país e
30 VALVERDE, Thiago Pellegrini. Comentários aos artigos XV e
passar a sê-lo de outro, mudando de nacionalidade, por XVI. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal
um processo conhecido como naturalização. dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008, p. 87-88.

25
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de V - exercício de profissão ou posse de bens suficientes à


mãe brasileira, desde que sejam registrados em reparti- manutenção própria e da família;
ção brasileira competente ou venham a residir na Repú- VI - bom procedimento;
blica Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, VII - inexistência de denúncia, pronúncia ou condenação
depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade bra- no Brasil ou no exterior por crime doloso a que seja comi-
sileira. nada pena mínima de prisão, abstratamente considerada,
superior a 1 (um) ano; e
Tradicionalmente, são possíveis dois critérios para a VIII - boa saúde.
atribuição da nacionalidade primária – nacional nato –,
notadamente: ius soli, direito de solo, o nacional nascido Destaque vai para o requisito da residência contínua.
em território do país independentemente da nacionalidade Em regra, o estrangeiro precisa residir no país por 4 anos
dos pais; e ius sanguinis, direito de sangue, que não depen- contínuos, conforme o inciso III do referido artigo 112. No
de do local de nascimento mas sim da descendência de um entanto, por previsão constitucional do artigo 12, II, “a”, se
nacional do país (critério comum em países que tiveram o estrangeiro foi originário de país com língua portuguesa
êxodo de imigrantes). o prazo de residência contínua é reduzido para 1 ano. Daí
O brasileiro nato, primeiramente, é aquele que nasce se afirmar que o constituinte estabeleceu a naturalização
no território brasileiro – critério do ius soli, ainda que fi- ordinária no artigo 12, II, “b” e a naturalização extraordiná-
lho de pais estrangeiros, desde que não sejam estrangeiros ria no artigo 12, II, “a”.
que estejam a serviço de seu país ou de organismo inter- Outra diferença sensível é que à naturalização ordiná-
nacional (o que geraria um conflito de normas). Contudo, ria se aplica o artigo 121 do Estatuto do Estrangeiro, se-
também é possível ser brasileiro nato ainda que não se te- gundo o qual “a satisfação das condições previstas nesta
nha nascido no território brasileiro. Lei não assegura ao estrangeiro direito à naturalização”.
No entanto, a Constituição reconhece o brasileiro nato Logo, na naturalização ordinária não há direito subjetivo à
também pelo critério do ius sanguinis. Se qualquer dos pais naturalização, mesmo que preenchidos todos os requisitos.
estiver a serviço do Brasil, é considerado brasileiro nato,
Trata-se de ato discricionário do Ministério da Justiça. O
mesmo que nasça em outro país. Se qualquer dos pais não
mesmo não vale para a naturalização extraordinária, quan-
estiverem a serviço do Brasil e a pessoa nascer no exte-
do há direito subjetivo, cabendo inclusive a busca do Poder
rior é exigido que o nascido do exterior venha ao território
Judiciário para fazê-lo valer31.
brasileiro e aqui resida ou que tenha sido registrado em
repartição competente, caso em que poderá, aos 18 anos,
c) Tratamento diferenciado
manifestar-se sobre desejar permanecer com a nacionali-
A regra é que todo nacional brasileiro, seja ele nato ou
dade brasileira ou não.
naturalizado, deverá receber o mesmo tratamento. Neste
b) Brasileiros naturalizados sentido, o artigo 12, § 2º, CF:

Art. 12, CF. São brasileiros: [...] Artigo 12, §2º, CF. A lei não poderá estabelecer distin-
II - naturalizados: ção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos ca-
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalida- sos previstos nesta Constituição.
de brasileira, exigidas aos originários de países de língua
portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto Percebe-se que a Constituição simultaneamente esta-
e idoneidade moral; belece a não distinção e se reserva ao direito de estabele-
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, resi- cer as hipóteses de distinção.
dentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze Algumas destas hipóteses de distinção já se encontram
anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que enumeradas no parágrafo seguinte.
requeiram a nacionalidade brasileira.
Artigo 12, § 3º, CF. São privativos de brasileiro nato
A naturalização deve ser voluntária e expressa. os cargos:
O Estatuto do Estrangeiro, Lei nº 6.815/1980, rege a I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
questão da naturalização em mais detalhes, prevendo no II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
artigo 112: III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
Art. 112, Lei nº 6.815/1980. São condições para a con- V - da carreira diplomática;
cessão da naturalização: VI - de oficial das Forças Armadas;
I - capacidade civil, segundo a lei brasileira; VII - de Ministro de Estado da Defesa.
II - ser registrado como permanente no Brasil;
III - residência contínua no território nacional, pelo A lógica do dispositivo é a de que qualquer pessoa no
prazo mínimo de quatro anos, imediatamente anteriores exercício da presidência da República ou de cargo que pos-
ao pedido de naturalização; sa levar a esta posição provisoriamente deve ser natural do
IV - ler e escrever a língua portuguesa, consideradas as 31 FARIA, Cássio Juvenal. Notas pessoais tomadas em telecon-
condições do naturalizando; ferência.

26
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

país (ausente o Presidente da República, seu vice-presiden- No que tange ao inciso II do parágrafo em estudo,
te desempenha o cargo; ausente este assume o Presiden- percebe-se a aceitação da figura do polipátrida. Na alínea
te da Câmara; também este ausente, em seguida, exerce “a” aceita-se que a pessoa tenha nacionalidade brasileira
o cargo o Presidente do Senado; e, por fim, o Presidente e outra se ao seu nascimento tiver adquirido simultanea-
do Supremo pode assumir a presidência na ausência dos mente a nacionalidade do Brasil e outro país; na alínea “b”
anteriores – e como o Presidente do Supremo é escolhido é reconhecida a mesma situação se a aquisição da nacio-
num critério de revezamento nenhum membro pode ser nalidade do outro país for uma exigência para continuar
naturalizado); ou a de que o cargo ocupado possui forte lá permanecendo ou exercendo seus direitos civis, pois se
impacto em termos de representação do país ou de segu- assim não o fosse o brasileiro seria forçado a optar por uma
rança nacional. nacionalidade e, provavelmente, se ver privado da naciona-
Outras exceções são: não aceitação, em regra, de brasi- lidade brasileira.
leiro naturalizado como membro do Conselho da Repúbli-
ca (artigos 89 e 90, CF); impossibilidade de ser proprietário 5) Deportação, expulsão e entrega
de empresa jornalística, de radiodifusão sonora e imagens, A deportação representa a devolução compulsória de
salvo se já naturalizado há 10 anos (artigo 222, CF); possi- um estrangeiro que tenha entrado ou esteja de forma ir-
bilidade de extradição do brasileiro naturalizado que tenha regular no território nacional, estando prevista na Lei nº
praticado crime comum antes da naturalização ou, depois 6.815/1980, em seus artigos 57 e 58. Neste caso, não hou-
dela, crime de tráfico de drogas (artigo 5º, LI, CF). ve prática de qualquer ato nocivo ao Brasil, havendo, pois,
mera irregularidade de visto.
3) Quase-nacionalidade: caso dos portugueses A expulsão é a retirada “à força” do território brasi-
Nos termos do artigo 12, § 1º, CF: leiro de um estrangeiro que tenha praticado atos tipifica-
dos no artigo 65 e seu parágrafo único, ambos da Lei nº
Artigo 12, §1º, CF. Aos portugueses com residência 6.815/1980:
permanente no País, se houver reciprocidade em favor de
Art. 65, Lei nº 6.815/1980. É passível de expulsão o es-
brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao bra-
trangeiro que, de qualquer forma, atentar contra a seguran-
sileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.
ça nacional, a ordem política ou social, a tranquilidade ou
moralidade pública e a economia popular, ou cujo proce-
É uma regra que só vale se os brasileiros receberem o
dimento o torne nocivo à conveniência e aos interesses na-
mesmo tratamento, questão regulamentada pelo Tratado
cionais.
de Amizade, Cooperação e Consulta entre a República Fe-
Parágrafo único. É passível, também, de expulsão o es-
derativa do Brasil e a República Portuguesa, assinado em
trangeiro que:
22 de abril de 2000 (Decreto nº 3.927/2001).
a) praticar fraude a fim de obter a sua entrada ou per-
As vantagens conferidas são: igualdade de direitos ci- manência no Brasil;
vis, não sendo considerado um estrangeiro; gozo de direi- b) havendo entrado no território nacional com infração
tos políticos se residir há 3 anos no país, autorizando-se à lei, dele não se retirar no prazo que lhe for determinado
o alistamento eleitoral. No caso de exercício dos direitos para fazê-lo, não sendo aconselhável a deportação;
políticos nestes moldes, os direitos desta natureza ficam c) entregar-se à vadiagem ou à mendicância; ou
suspensos no outro país, ou seja, não exerce simultanea- d) desrespeitar proibição especialmente prevista em lei
mente direitos políticos nos dois países. para estrangeiro.
4) Perda da nacionalidade A entrega (ou surrender) consiste na submissão de um
Artigo 12, § 4º, CF. Será declarada a perda da nacio- nacional a um tribunal internacional do qual o próprio país
nalidade do brasileiro que: faz parte. É o que ocorreria, por exemplo, se o Brasil en-
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença ju- tregasse um brasileiro para julgamento pelo Tribunal Penal
dicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional; Internacional (competência reconhecida na própria Consti-
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: tuição no artigo 5º, §4º).
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela
lei estrangeira; 6) Extradição
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangei- A extradição é ato diverso da deportação, da expulsão
ra, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como con- e da entrega. Extradição é um ato de cooperação interna-
dição para permanência em seu território ou para o exercício cional que consiste na entrega de uma pessoa, acusada ou
de direitos civis. condenada por um ou mais crimes, ao país que a reclama.
O Brasil, sob hipótese alguma, extraditará brasileiros natos
A respeito do inciso I do §4º do artigo 12, a Lei nº 818, mas quanto aos naturalizados assim permite caso tenham
de 18 de setembro de 1949 regula a aquisição, a perda e praticado crimes comuns (exceto crimes políticos e/ou de
a reaquisição da nacionalidade, e a perda dos direitos po- opinião) antes da naturalização, ou, mesmo depois da na-
líticos. No processo deve ser respeitado o contraditório e turalização, em caso de envolvimento com o tráfico ilícito
a iniciativa de propositura é do Procurador da República. de entorpecentes (artigo 5º, LI e LII, CF).

27
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Aplicam-se os seguintes princípios à extradição: Para ter capacidade passiva é necessário ter a ativa,
a) Princípio da Especialidade: Significa que o estrangei- mas não apenas isso, há requisitos adicionais. Sendo assim,
ro só pode ser julgado pelo Estado requerente pelo crime nem toda pessoa que tem capacidade ativa tem também
objeto do pedido de extradição. O importante é que o ex- capacidade passiva, embora toda pessoa que tenha capa-
traditado só seja submetido às penas relativas aos crimes cidade passiva tenha necessariamente a ativa.
que foram objeto do pedido de extradição.
b) Princípio da Dupla Punibilidade: O fato praticado 2) Democracia direta e indireta
deve ser punível no Estado requerente e no Brasil. Logo, Art. 14, CF. A soberania popular será exercida pelo su-
além do fato ser típico em ambos os países, deve ser puní- frágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual
vel em ambos (se houve prescrição em algum dos países, para todos, e, nos termos da lei, mediante:
p. ex., não pode ocorrer a extradição). I - plebiscito;
c) Princípio da Retroatividade dos Tratados: O fato de II - referendo;
um tratado de extradição entre dois países ter sido cele- III - iniciativa popular.
brado após a ocorrência do crime não impede a extradição.
d) Princípio da Comutação da Pena (Direitos Humanos): A democracia brasileira adota a modalidade semidire-
Se o crime for apenado por qualquer das penas vedadas ta, porque possibilita a participação popular direta no po-
pelo artigo 5º, XLVII da CF, a extradição não será autoriza- der por intermédio de processos como o plebiscito, o refe-
da, salvo se houver a comutação da pena, transformação rendo e a iniciativa popular. Como são hipóteses restritas,
para uma pena aceita no Brasil. pode-se afirmar que a democracia indireta é predominan-
temente adotada no Brasil, por meio do sufrágio univer-
7) Idioma e símbolos sal e do voto direto e secreto com igual valor para todos.
Art. 13, CF. A língua portuguesa é o idioma oficial da Quanto ao voto direto e secreto, trata-se do instrumento
República Federativa do Brasil. para o exercício da capacidade ativa do sufrágio universal.
§ 1º São símbolos da República Federativa do Brasil a Por seu turno, o que diferencia o plebiscito do refe-
bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais. rendo é o momento da consulta à população: no plebis-
§ 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios po- cito, primeiro se consulta a população e depois se toma a
derão ter símbolos próprios. decisão política; no referendo, primeiro se toma a decisão
política e depois se consulta a população. Embora os dois
Idioma é a língua falada pela população, que confere partam do Congresso Nacional, o plebiscito é convocado,
caráter diferenciado em relação à população do resto do ao passo que o referendo é autorizado (art. 49, XV, CF), am-
mundo. Sendo assim, é manifestação social e cultural de bos por meio de decreto legislativo. O que os assemelha é
uma nação. que os dois são “formas de consulta ao povo para que de-
Os símbolos, por sua vez, representam a imagem da libere sobre matéria de acentuada relevância, de natureza
nação e permitem o seu reconhecimento nacional e inter- constitucional, legislativa ou administrativa”32.
nacionalmente. Na iniciativa popular confere-se à população o poder
Por esta intrínseca relação com a nacionalidade, a pre- de apresentar projeto de lei à Câmara dos Deputados,
visão é feito dentro do capítulo do texto constitucional que mediante assinatura de 1% do eleitorado nacional, distri-
aborda o tema. buído por 5 Estados no mínimo, com não menos de 0,3%
dos eleitores de cada um deles. Em complemento, prevê o
Direitos políticos artigo 61, §2°, CF:
Como mencionado, a nacionalidade é corolário dos di-
reitos políticos, já que somente um nacional pode adquirir Art. 61, § 2º, CF. A iniciativa popular pode ser exercida
direitos políticos. No entanto, nem todo nacional é titular pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei
de direitos políticos. Os nacionais que são titulares de direi- subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacio-
tos políticos são denominados cidadãos. Significa afirmar nal, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não me-
que nem todo nacional brasileiro é um cidadão brasileiro, nos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles.
mas somente aquele que for titular do direito de sufrágio
universal. 3) Obrigatoriedade do alistamento eleitoral e do
voto
1) Sufrágio universal O alistamento eleitoral e o voto para os maiores de
A primeira parte do artigo 14, CF, prevê que “a sobera- dezoito anos são, em regra, obrigatórios. Há facultativi-
nia popular será exercida pelo sufrágio universal [...]”. dade para os analfabetos, os maiores de setenta anos e os
Sufrágio universal é a soma de duas capacidades elei- maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
torais, a capacidade ativa – votar e exercer a democracia
direta – e a capacidade passiva – ser eleito como represen- Artigo 14, § 1º, CF. O alistamento eleitoral e o voto são:
tante no modelo da democracia indireta. Ou ainda, sufrá- I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
gio universal é o direito de todos cidadãos de votar e ser II - facultativos para:
votado. O voto, que é o ato pelo qual se exercita o sufrágio, 32 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional esquematiza-
deverá ser direto e secreto. do. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

28
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

a) os analfabetos; 5) Inelegibilidade
b) os maiores de setenta anos; Atender às condições de elegibilidade é necessário
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. para poder ser eleito, mas não basta. Além disso, é preciso
não se enquadrar em nenhuma das hipóteses de inelegi-
No mais, esta obrigatoriedade se aplica aos nacionais bilidade.
brasileiros, já que, nos termos do artigo 14, §2º, CF: A inelegibilidade pode ser absoluta ou relativa. Na
absoluta, são atingidos todos os cargos; nas relativas, são
Artigo 14, §2º, CF. Não podem alistar-se como eleitores atingidos determinados cargos.
os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obri-
gatório, os conscritos. Artigo 14, § 4º, CF. São inelegíveis os inalistáveis e os
analfabetos.
Quanto aos conscritos, são aqueles que estão prestan-
do serviço militar obrigatório, pois são necessárias tropas
O artigo 14, §4º, CF traz duas hipóteses de inelegibili-
disponíveis para os dias da eleição.
dade, que são absolutas, atingem todos os cargos. Para ser
elegível é preciso ser alfabetizado (os analfabetos têm a
4) Elegibilidade
O artigo 14, §§ 3º e 4º, CF, descrevem as condições de faculdade de votar, mas não podem ser votados) e é preci-
elegibilidade, ou seja, os requisitos que devem ser preen- so possuir a capacidade eleitoral ativa – poder votar (inalis-
chidos para que uma pessoa seja eleita, no exercício de sua táveis são aqueles que não podem tirar o título de eleitor,
capacidade passiva do sufrágio universal. portanto, não podem votar, notadamente: os estrangeiros
e os conscritos durante o serviço militar obrigatório).
Artigo 14, § 3º, CF. São condições de elegibilidade, na
forma da lei: Artigo 14, §5º, CF. O Presidente da República, os Go-
I - a nacionalidade brasileira; vernadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e
II - o pleno exercício dos direitos políticos; quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos
III - o alistamento eleitoral; mandatos poderão ser reeleitos para um único período sub-
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; sequente.
V - a filiação partidária;
VI - a idade mínima de: Descreve-se no dispositivo uma hipótese de inelegibili-
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente dade relativa. Se um Chefe do Poder Executivo de qualquer
da República e Senador; das esferas for substituído por seu vice no curso do man-
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de dato, este vice somente poderá ser eleito para um período
Estado e do Distrito Federal; subsequente.
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Ex.: Governador renuncia ao mandato no início do seu
Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; último ano de governo para concorrer ao Senado Federal e
d) dezoito anos para Vereador. é substituído pelo seu vice-governador. Se este se candida-
tar e for eleito, não poderá ao final deste mandato se ree-
Artigo 14, § 4º, CF. São inelegíveis os inalistáveis e os leger. Isto é, se o mandato o candidato renuncia no início
analfabetos. de 2010 o seu mandato de 2007-2010, assumindo o vice
em 2010, poderá este se candidatar para o mandato 2011-
Dos incisos I a III denotam-se requisitos correlatos à
2014, mas caso seja eleito não poderá se reeleger para o
nacionalidade e à titularidade de direitos políticos. Logo,
mandato 2015-2018 no mesmo cargo. Foi o que aconteceu
para ser eleito é preciso ser cidadão.
com o ex-governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia,
O domicílio eleitoral é o local onde a pessoa se alista
que assumiu em 2010 no lugar de Aécio Neves o governo
como eleitor e, em regra, é no município onde reside, mas
pode não o ser caso analisados aspectos como o vínculo do Estado de Minas Gerais e foi eleito governador entre
de afeto com o local (ex.: Presidente Dilma vota em Porto 2011 e 2014, mas não pode se candidatar à reeleição, con-
Alegre – RS, embora resida em Brasília – DF). Sendo assim, correndo por isso a uma vaga no Senado Federal.
para se candidatar a cargo no município, deve ter domicílio
eleitoral nele; para se candidatar a cargo no estado, deve Artigo 14, §6º, CF. Para concorrerem a outros cargos,
ter domicílio eleitoral em um de seus municípios; para se o Presidente da República, os Governadores de Estado e do
candidatar a cargo nacional, deve ter domicílio eleitoral Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respecti-
em uma das unidades federadas do país. Aceita-se a trans- vos mandatos até seis meses antes do pleito.
ferência do domicílio eleitoral ao menos 1 ano antes das
eleições. São inelegíveis absolutamente, para quaisquer cargos,
A filiação partidária implica no lançamento da candidatu- os chefes do Executivo que não renunciarem aos seus man-
ra por um partido político, não se aceitando a filiação avulsa. datos até seis meses antes do pleito eleitoral, antes das
Finalmente, o §3º do artigo 14, CF, coloca o requisito eleições. Ex.: Se a eleição aconteceu em 05/10/2014, neces-
etário, com faixa etária mínima para o desempenho de cada sário que tivesse renunciado até 04/04/2014.
uma das funções, a qual deve ser auferida na data da posse.

29
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Artigo 14, §7º, CF. São inelegíveis, no território de ju- mandato das Constituições Estaduais e Leis Orgânicas dos
risdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos Municípios e do Distrito Federal, para as eleições que se rea-
ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presiden- lizarem durante o período remanescente do mandato para o
te da República, de Governador de Estado ou Território, do qual foram eleitos e nos oito anos subsequentes ao término
Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído da legislatura;
dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular d) os que tenham contra sua pessoa representação jul-
de mandato eletivo e candidato à reeleição. gada procedente pela Justiça Eleitoral, em decisão transitada
em julgado ou proferida por órgão colegiado, em processo de
São inelegíveis absolutamente, para quaisquer cargos, apuração de abuso do poder econômico ou político, para a
cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o se- eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem
gundo grau ou por adoção, dos Chefes do Executivo ou como para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes;
de quem os tenha substituído ao final do mandato, a não (Redação dada pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
ser que seja já titular de mandato eletivo e candidato à e) os que forem condenados, em decisão transitada em
reeleição. julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, desde a
condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após
Artigo 14, §8º, CF. O militar alistável é elegível, aten- o cumprimento da pena, pelos crimes: (Redação dada pela
didas as seguintes condições: Lei Complementar nº 135, de 2010)
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afas- 1. contra a economia popular, a fé pública, a administra-
tar-se da atividade; ção pública e o patrimônio público; (Incluído pela Lei Com-
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado plementar nº 135, de 2010)
pela autoridade superior e, se eleito, passará automatica- 2. contra o patrimônio privado, o sistema financeiro, o
mente, no ato da diplomação, para a inatividade. mercado de capitais e os previstos na lei que regula a falên-
cia; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
São inelegíveis absolutamente, para quaisquer cargos, 3. contra o meio ambiente e a saúde pública; (Incluído
os militares que não podem se alistar ou os que podem,
pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
mas não preenchem as condições do §8º do artigo 14, CF,
4. eleitorais, para os quais a lei comine pena privativa de
ou seja, se não se afastar da atividade caso trabalhe há me-
liberdade; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
nos de 10 anos, se não for agregado pela autoridade supe-
5. de abuso de autoridade, nos casos em que houver
rior (suspenso do exercício das funções por sua autoridade
condenação à perda do cargo ou à inabilitação para o exer-
sem prejuízo de remuneração) caso trabalhe há mais de
cício de função pública; (Incluído pela Lei Complementar nº
10 anos (sendo que a eleição passa à condição de inativo).
135, de 2010)
Artigo 14, §9º, CF. Lei complementar estabelecerá ou- 6. de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores;
tros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade 7. de tráfico de entorpecentes e drogas afins, racismo,
para exercício de mandato considerada vida pregressa do tortura, terrorismo e hediondos;
candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições con- 8. de redução à condição análoga à de escravo; (Incluído
tra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
de função, cargo ou emprego na administração direta ou 9. contra a vida e a dignidade sexual; e (Incluído pela Lei
indireta. Complementar nº 135, de 2010)
10. praticados por organização criminosa, quadrilha ou
O rol constitucional de inelegibilidades dos parágrafos bando; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
do artigo 14 não é taxativo, pois lei complementar pode f) os que forem declarados indignos do oficialato, ou
estabelecer outros casos, tanto de inelegibilidades absolu- com ele incompatíveis, pelo prazo de 8 (oito) anos; (Redação
tas como de inelegibilidades relativas. Neste sentido, a Lei dada pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, estabelece g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de
casos de inelegibilidade, prazos de cessação, e determina cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade in-
outras providências. Esta lei foi alterada por aquela que fi- sanável que configure ato doloso de improbidade adminis-
cou conhecida como Lei da Ficha Limpa, Lei Complementar trativa, e por decisão irrecorrível do órgão competente, salvo
nº 135, de 04 de junho de 2010, principalmente em seu se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judi-
artigo 1º, que segue. ciário, para as eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos
seguintes, contados a partir da data da decisão, aplicando-se
Art. 1º, Lei Complementar nº 64/1990. São inelegíveis: o disposto no inciso II do art. 71 da Constituição Federal, a
I - para qualquer cargo: todos os ordenadores de despesa, sem exclusão de manda-
a) os inalistáveis e os analfabetos; tários que houverem agido nessa condição; (Redação dada
b) os membros do Congresso Nacional, das Assembleias pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
Legislativas, da Câmara Legislativa e das Câmaras Munici- h) os detentores de cargo na administração pública di-
pais, que hajam perdido os respectivos mandatos por infrin- reta, indireta ou fundacional, que beneficiarem a si ou a ter-
gência do disposto nos incisos I e II do art. 55 da Consti- ceiros, pelo abuso do poder econômico ou político, que forem
tuição Federal, dos dispositivos equivalentes sobre perda de condenados em decisão transitada em julgado ou proferida

30
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

por órgão judicial colegiado, para a eleição na qual concor- Justiça Eleitoral, pelo prazo de 8 (oito) anos após a decisão,
rem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se observando-se o procedimento previsto no art. 22; (Incluído
realizarem nos 8 (oito) anos seguintes; (Redação dada pela pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
Lei Complementar nº 135, de 2010) q) os magistrados e os membros do Ministério Público
i) os que, em estabelecimentos de crédito, financiamento que forem aposentados compulsoriamente por decisão san-
ou seguro, que tenham sido ou estejam sendo objeto de pro- cionatória, que tenham perdido o cargo por sentença ou que
cesso de liquidação judicial ou extrajudicial, hajam exercido, tenham pedido exoneração ou aposentadoria voluntária na
nos 12 (doze) meses anteriores à respectiva decretação, car- pendência de processo administrativo disciplinar, pelo prazo
go ou função de direção, administração ou representação, de 8 (oito) anos; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de
enquanto não forem exonerados de qualquer responsabili- 2010)
dade; II - para Presidente e Vice-Presidente da República:
j) os que forem condenados, em decisão transitada em a) até 6 (seis) meses depois de afastados definitivamente
julgado ou proferida por órgão colegiado da Justiça Eleitoral, de seus cargos e funções:
por corrupção eleitoral, por captação ilícita de sufrágio, por 1. os Ministros de Estado:
doação, captação ou gastos ilícitos de recursos de campanha 2. os chefes dos órgãos de assessoramento direto, civil e
ou por conduta vedada aos agentes públicos em campanhas militar, da Presidência da República;
eleitorais que impliquem cassação do registro ou do diplo- 3. o chefe do órgão de assessoramento de informações
ma, pelo prazo de 8 (oito) anos a contar da eleição; (Incluído da Presidência da República;
pela Lei Complementar nº 135, de 2010) 4. o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas;
k) o Presidente da República, o Governador de Estado e 5. o Advogado-Geral da União e o Consultor-Geral da
do Distrito Federal, o Prefeito, os membros do Congresso Na- República;
cional, das Assembleias Legislativas, da Câmara Legislativa, 6. os chefes do Estado-Maior da Marinha, do Exército e
das Câmaras Municipais, que renunciarem a seus mandatos da Aeronáutica;
desde o oferecimento de representação ou petição capaz de 7. os Comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica;
autorizar a abertura de processo por infringência a dispositi- 8. os Magistrados;
vo da Constituição Federal, da Constituição Estadual, da Lei 9. os Presidentes, Diretores e Superintendentes de autar-
Orgânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica do Muni- quias, empresas públicas, sociedades de economia mista e
cípio, para as eleições que se realizarem durante o período fundações públicas e as mantidas pelo poder público;
remanescente do mandato para o qual foram eleitos e nos 8 10. os Governadores de Estado, do Distrito Federal e de
(oito) anos subsequentes ao término da legislatura; (Incluído Territórios;
pela Lei Complementar nº 135, de 2010) 11. os Interventores Federais;
l) os que forem condenados à suspensão dos direitos 12. os Secretários de Estado;
políticos, em decisão transitada em julgado ou proferida 13. os Prefeitos Municipais;
por órgão judicial colegiado, por ato doloso de improbidade 14. os membros do Tribunal de Contas da União, dos
administrativa que importe lesão ao patrimônio público e Estados e do Distrito Federal;
enriquecimento ilícito, desde a condenação ou o trânsito em 15. o Diretor-Geral do Departamento de Polícia Federal;
julgado até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o 16. os Secretários-Gerais, os Secretários-Executivos, os
cumprimento da pena; (Incluído pela Lei Complementar nº Secretários Nacionais, os Secretários Federais dos Ministérios
135, de 2010) e as pessoas que ocupem cargos equivalentes;
m) os que forem excluídos do exercício da profissão, por b) os que tenham exercido, nos 6 (seis) meses anteriores
decisão sancionatória do órgão profissional competente, em à eleição, nos Estados, no Distrito Federal, Territórios e em
decorrência de infração ético-profissional, pelo prazo de 8 qualquer dos poderes da União, cargo ou função, de nomea-
(oito) anos, salvo se o ato houver sido anulado ou suspenso ção pelo Presidente da República, sujeito à aprovação prévia
pelo Poder Judiciário; (Incluído pela Lei Complementar nº do Senado Federal;
135, de 2010) c) (Vetado);
n) os que forem condenados, em decisão transitada em d) os que, até 6 (seis) meses antes da eleição, tiverem
julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, em razão competência ou interesse, direta, indireta ou eventual, no
de terem desfeito ou simulado desfazer vínculo conjugal ou lançamento, arrecadação ou fiscalização de impostos, taxas
de união estável para evitar caracterização de inelegibilida- e contribuições de caráter obrigatório, inclusive parafiscais,
de, pelo prazo de 8 (oito) anos após a decisão que reconhecer ou para aplicar multas relacionadas com essas atividades;
a fraude; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010) e) os que, até 6 (seis) meses antes da eleição, tenham
o) os que forem demitidos do serviço público em decor- exercido cargo ou função de direção, administração ou re-
rência de processo administrativo ou judicial, pelo prazo de presentação nas empresas de que tratam os arts. 3° e 5° da
8 (oito) anos, contado da decisão, salvo se o ato houver sido Lei n° 4.137, de 10 de setembro de 1962, quando, pelo âm-
suspenso ou anulado pelo Poder Judiciário; (Incluído pela Lei bito e natureza de suas atividades, possam tais empresas
Complementar nº 135, de 2010) influir na economia nacional;
p) a pessoa física e os dirigentes de pessoas jurídicas res- f) os que, detendo o controle de empresas ou grupo de
ponsáveis por doações eleitorais tidas por ilegais por decisão empresas que atuem no Brasil, nas condições monopolísti-
transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado da cas previstas no parágrafo único do art. 5° da lei citada na

31
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

alínea anterior, não apresentarem à Justiça Eleitoral, até 6 b) os membros do Ministério Público e Defensoria Públi-
(seis) meses antes do pleito, a prova de que fizeram cessar o ca em exercício na Comarca, nos 4 (quatro) meses anteriores
abuso apurado, do poder econômico, ou de que transferiram, ao pleito, sem prejuízo dos vencimentos integrais;
por força regular, o controle de referidas empresas ou grupo c) as autoridades policiais, civis ou militares, com exercí-
de empresas; cio no Município, nos 4 (quatro) meses anteriores ao pleito;
g) os que tenham, dentro dos 4 (quatro) meses ante- V - para o Senado Federal:
riores ao pleito, ocupado cargo ou função de direção, ad- a) os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-Pre-
ministração ou representação em entidades representativas sidente da República especificados na alínea a do inciso II
de classe, mantidas, total ou parcialmente, por contribuições deste artigo e, no tocante às demais alíneas, quando se tra-
impostas pelo poder Público ou com recursos arrecadados e tar de repartição pública, associação ou empresa que opere
repassados pela Previdência Social; no território do Estado, observados os mesmos prazos;
h) os que, até 6 (seis) meses depois de afastados das fun- b) em cada Estado e no Distrito Federal, os inelegíveis
ções, tenham exercido cargo de Presidente, Diretor ou Supe- para os cargos de Governador e Vice-Governador, nas mes-
rintendente de sociedades com objetivos exclusivos de ope- mas condições estabelecidas, observados os mesmos prazos;
rações financeiras e façam publicamente apelo à poupança VI - para a Câmara dos Deputados, Assembleia Legisla-
e ao crédito, inclusive através de cooperativas e da empresa tiva e Câmara Legislativa, no que lhes for aplicável, por iden-
ou estabelecimentos que gozem, sob qualquer forma, de tidade de situações, os inelegíveis para o Senado Federal,
vantagens asseguradas pelo poder público, salvo se decor- nas mesmas condições estabelecidas, observados os mesmos
rentes de contratos que obedeçam a cláusulas uniformes; prazos;
i) os que, dentro de 6 (seis) meses anteriores ao pleito, VII - para a Câmara Municipal:
hajam exercido cargo ou função de direção, administração a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações,
ou representação em pessoa jurídica ou em empresa que os inelegíveis para o Senado Federal e para a Câmara dos
mantenha contrato de execução de obras, de prestação de Deputados, observado o prazo de 6 (seis) meses para a de-
serviços ou de fornecimento de bens com órgão do Poder sincompatibilização;
Público ou sob seu controle, salvo no caso de contrato que
b) em cada Município, os inelegíveis para os cargos de
obedeça a cláusulas uniformes;
Prefeito e Vice-Prefeito, observado o prazo de 6 (seis) meses
j) os que, membros do Ministério Público, não se tenham
para a desincompatibilização .
afastado das suas funções até 6 (seis) meses anteriores ao
§ 1° Para concorrência a outros cargos, o Presidente da
pleito;
República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal
I) os que, servidores públicos, estatutários ou não, dos
e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos
órgãos ou entidades da Administração direta ou indireta
da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e até 6 (seis) meses antes do pleito.
dos Territórios, inclusive das fundações mantidas pelo Poder § 2° O Vice-Presidente, o Vice-Governador e o Vice-Pre-
Público, não se afastarem até 3 (três) meses anteriores ao feito poderão candidatar-se a outros cargos, preservando
pleito, garantido o direito à percepção dos seus vencimentos os seus mandatos respectivos, desde que, nos últimos 6
integrais; (seis) meses anteriores ao pleito, não tenham sucedido ou
III - para Governador e Vice-Governador de Estado e do substituído o titular.
Distrito Federal; § 3° São inelegíveis, no território de jurisdição do titu-
a) os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice- lar, o cônjuge e os parentes, consanguíneos ou afins, até o
-Presidente da República especificados na alínea a do inciso segundo grau ou por adoção, do Presidente da República,
II deste artigo e, no tocante às demais alíneas, quando se de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal,
tratar de repartição pública, associação ou empresas que de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos 6
operem no território do Estado ou do Distrito Federal, obser- (seis) meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de man-
vados os mesmos prazos; dato eletivo e candidato à reeleição.
b) até 6 (seis) meses depois de afastados definitivamente § 4º A inelegibilidade prevista na alínea e do inciso I
de seus cargos ou funções: deste artigo não se aplica aos crimes culposos e àqueles
1. os chefes dos Gabinetes Civil e Militar do Governador definidos em lei como de menor potencial ofensivo, nem
do Estado ou do Distrito Federal; aos crimes de ação penal privada. (Incluído pela Lei Com-
2. os comandantes do Distrito Naval, Região Militar e plementar nº 135, de 2010)
Zona Aérea; § 5º A renúncia para atender à desincompatibilização
3. os diretores de órgãos estaduais ou sociedades de as- com vistas a candidatura a cargo eletivo ou para assunção
sistência aos Municípios; de mandato não gerará a inelegibilidade prevista na alínea
4. os secretários da administração municipal ou mem- k, a menos que a Justiça Eleitoral reconheça fraude ao dis-
bros de órgãos congêneres; posto nesta Lei Complementar. (Incluído pela Lei Comple-
IV - para Prefeito e Vice-Prefeito: mentar nº 135, de 2010).
a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações,
os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-Presidente 6) Impugnação de mandato
da República, Governador e Vice-Governador de Estado e do Encerrando a disciplina, o artigo 14, CF, aborda a im-
Distrito Federal, observado o prazo de 4 (quatro) meses para pugnação de mandato.
a desincompatibilização;

32
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Artigo 14, § 10, CF. O mandato eletivo poderá ser im- Partidos políticos
pugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias O pluripartidarismo é uma das facetas do pluralismo
contados da diplomação, instruída a ação com provas de político e encontra respaldo enquanto direito fundamental,
abuso do poder econômico, corrupção ou fraude. já que regulamentado no Título II, “Dos Direitos e Garantias
Fundamentais”, capítulo V, “Dos Partidos Políticos”.
Artigo 14, § 11, CF. A ação de impugnação de mandato O caput do artigo 17 da Constituição prevê:
tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na
forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé.
Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção
7) Perda e suspensão de direitos políticos de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o
Art. 15, CF. É vedada a cassação de direitos políticos, regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos funda-
cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: mentais da pessoa humana [...].
I - cancelamento da naturalização por sentença transi-
tada em julgado; Consolida-se, assim a liberdade partidária, não estabe-
II - incapacidade civil absoluta; lecendo a Constituição um limite de números de partidos
III - condenação criminal transitada em julgado, en- políticos que possam ser constituídos, permitindo também
quanto durarem seus efeitos; que sejam extintos, fundidos e incorporados.
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou Os incisos do artigo 17 da Constituição indicam os pre-
prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; ceitos a serem observados na liberdade partidária: caráter
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º. nacional, ou seja, terem por objetivo o desempenho de
atividade política no âmbito interno do país; proibição de
O inciso I refere-se ao cancelamento da naturalização,
o que faz com que a pessoa deixe de ser nacional e, por- recebimento de recursos financeiros de entidade ou gover-
tanto, deixe de ser titular de direitos políticos. no estrangeiros ou de subordinação a estes, logo, o Poder
O inciso II trata da incapacidade civil absoluta, ou seja, Público não pode financiar campanhas eleitorais; prestação
da interdição da pessoa para a prática de atos da vida civil, de contas à Justiça Eleitoral, notadamente para resguardar
entre os quais obviamente se enquadra o sufrágio universal. a mencionada vedação; e funcionamento parlamentar de
O inciso III refere-se a um dos possíveis efeitos da con- acordo com a lei. Ainda, a lei veda a utilização de organi-
denação criminal, que é a suspensão de direitos políticos. zação paramilitar por parte dos partidos políticos (artigo
O inciso IV trata da recusa em cumprir a obrigação mi- 17, §4º, CF).
litar ou a prestação substitutiva imposta em caso de escusa O respeito a estes ditames permite o exercício do par-
moral ou religiosa. tidarismo de forma autônoma em termos estruturais e or-
O inciso V se refere à ação de improbidade administra- ganizacionais, conforme o §1º do artigo 17, CF:
tiva, que tramita para apurar a prática dos atos de improbi-
dade administrativa, na qual uma das penas aplicáveis é a
Art. 17, §1º, CF. É assegurada aos partidos políticos auto-
suspensão dos direitos políticos.
Os direitos políticos somente são perdidos em dois nomia para definir sua estrutura interna, organização e fun-
casos, quais sejam cancelamento de naturalização por cionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime
sentença transitada em julgado (o indivíduo naturalizado de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vincu-
volta à condição de estrangeiro) e perda da nacionalidade lação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual,
brasileira em virtude da aquisição de outra (brasileiro se distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer
naturaliza em outro país e assim deixa de ser considera- normas de disciplina e fidelidade partidária. 
do um cidadão brasileiro, perdendo direitos políticos). Nos
demais casos, há suspensão. Nota-se que não há perda de Os estatutos que tecem esta regulamentação devem ser
direitos políticos pela prática de atos atentatórios contra a registrados no Tribunal Superior Eleitoral (artigo 17, §2º, CF).
Administração Pública por parte do servidor, mas apenas Quanto ao financiamento das campanhas e o acesso à
suspensão. mídia, prevê o §3º do artigo 17 da CF:
A cassação de direitos políticos, consistente na retirada
dos direitos políticos por ato unilateral do poder público,
Art. 17, §3º, CF. Os partidos políticos têm direito a re-
sem observância dos princípios elencados no artigo 5º, LV,
CF (ampla defesa e contraditório), é um procedimento que cursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à
só existe nos governos ditatoriais e que é absolutamente televisão, na forma da lei.
vedado pelo texto constitucional. § 4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de
organização paramilitar.
8) Anterioridade anual da lei eleitoral § 5º Ao eleito por partido que não preencher os re-
quisitos previstos no § 3º deste artigo é assegurado o
Art. 16, CF. A lei que alterar o processo eleitoral entrará mandato e facultada a filiação, sem perda do mandato, a
em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à elei- outro partido que os tenha atingido, não sendo essa filia-
ção que ocorra até um ano da data de sua vigência.  ção considerada para fins de distribuição dos recursos do
fundo partidário e de acesso gratuito ao tempo de rádio e
É necessário que a lei eleitoral entre em vigor pelo me- de televisão.     (Incluído pela Emenda Constitucional nº 97,
nos 1 ano antes da próxima eleição, sob pena de não se de 2017)
aplicar a ela, mas somente ao próximo pleito.

33
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Thomas Jefferson, autor da Declaração de Indepen-


VIOLAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS. dência dos Estados Unidos da América, declarou que: “O
cuidado da vida e da felicidade humanas e, não a sua
destruição, é o primeiro e único objetivo legítimo de
Todas as pessoas possuem direitos fundamentais que bom governo.”
Apesar de algumas vitórias em 6 décadas, as violações
são inerentes ao ser humano. A ausência desses direitos
dos direitos humanos ainda são uma praga no cenário
provoca abusos como discriminação, intolerância, injustiça,
mundial atual.
opressão, tortura física e psicológica e escravidão.
O Conselho dos Direitos do Homem é o principal órgão
A Declaração Universal dos Direitos do Homem das intergovernamental do sistema das Nações Unidas respon-
Nações Unidas foi assinada em 1948 logo após as atrocida- sável pela resolução de situações de violação dos direitos
des e violações ocorridas durante a II Guerra Mundial, para humanos. O Conselho também recebe relatórios temáticos
estabelecer uma compreensão comum sobre o que são os e específicos por país de uma série de mecanismos de pe-
direitos fundamentais e as formas para proteger esses di- ritos independentes, incluindo procedimentos especiais,
reitos, de modo a preservar a justiça e a paz na sociedade. bem como do Gabinete do Alto Comissariado para os Di-
Em 539 a. C., os exércitos de Ciro, O Grande, o primeiro reitos Humanos com o objetivo de promover e proteger
rei da antiga Pérsia, conquistaram a cidade da Babilônia. os direitos humanos em todo o mundo, responder melhor
Ciro libertou os escravos, declarou que todas as pessoas às necessidades das vítimas de violações de direitos, res-
tinham o direito de escolher a sua própria religião, e esta- ponsabilizar seus membros por suas ações e avançar no
beleceu a igualdade racial. cumprimento de seu objetivo de enfrentar “situações de
Estes e outros decretos foram registados num cilindro violação de direitos humanos, incluindo violações grossei-
ras e sistemáticas” em todo o mundo.
de argila na língua acádica e foi agora reconhecido como
Os promotores dos direitos humanos declaram que a
a primeira carta dos direitos humanos do mundo. Está tra-
Declaração Universal dos Direitos do Homem ainda é mais
duzido nas seis línguas oficiais das Nações Unidas e as suas um sonho que uma realidade, pois as violações dos direitos
estipulações são análogas aos quatro primeiros artigos da humanos estão por todo o mundo, tanto na forma latente
Declaração Universal dos Direitos Humanos. como manifesta.
A ideia dos direitos humanos espalhou-se rapidamente Segundo relatório da sede Europeia das Nações Uni-
à Índia, à Grécia e finalmente a Roma. Os avanços mais im- das em Genébra, Suíça, 27 milhões de pessoas vivem na es-
portantes desde então incluem: cravidão, sendo mais que o dobro do apogeu do comércio
1215: A Magna Carta — que deu novos direitos às pes- de escravos. Isso é apenas uma amostra do cenário global,
soas e tornou o rei sujeito à lei. tendo em vista a magnitude das violações dos direitos hu-
1628: A Petição de Direito — que definiu os direitos manos.
do povo. O Relatório Mundial da Anistia Internacional de 2009 e
1776: A Declaração de Independência dos Estados Uni- de outras fontes mostram que há pessoas sendo torturadas
dos — que proclamou o direito à vida, liberdade e à busca ou maltratadas em pelo menos 81 países; outras enfrentam
julgamentos injustos em pelo menos 54 países; têm sua
da felicidade.
liberdade de expressão restringida em pelo menos 77 paí-
1789: A Declaração dos Direitos do Homem e do Cida-
ses; sofrem perseguição e proscrição religiosa; mulheres e
dão — um documento da França, que afirmou que todos crianças, em especial, são marginalizadas de muitas formas;
os cidadãos eram iguais perante a lei. a imprensa não é livre em muitos países e os dissidentes
1948: A Declaração Universal dos Direitos do Homem são silenciados com frequência e de forma permanente.
— o primeiro documento que lista os trinta direitos de que Veja exemplos das principais violações dos seis artigos
deve gozar cada ser humano. da Declaração Universal dos Direitos Humanos (UDHR) em
Alguns homens notáveis defenderam os direitos hu- todo o mundo:
manos por que reconheceram que sem eles, a paz e o pro- ARTIGO 3.º — O DIREITO À VIDA
gresso nunca poderíam ser conseguidos. Cada um deles “Todos têm direito à vida, à liberdade e à segurança
mudou o mundo de uma forma significativa, por exemplo: pessoal.”
Martin Luther King, Jr., defensor dos direitos dos ne- Estima–se que 6.500 pessoas foram mortas em com-
gros nos Estados Unidos durante a década de 60, decla- bate armado no Afeganistão em 2007, quase a metade de-
rou: “Uma injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à las foram mortes de civis não combatentes nas mãos de
insurgentes. Centenas de civis também foram mortos em
justiça em todos os lugares.”
ataques suicidas por grupos armados.
Mahatma Gandhi, defensor da resistência pacífica em
No Brasil em 2007, conforme os números oficiais a po-
relação à opressão, descreveu: “A não–violência é a maior lícia matou pelo menos 1.260 pessoas, o total mais elevado
força à disposição da humanidade. É mais poderosa que até à data. Todos os incidentes foram qualificados oficial-
a mais poderosa arma de destruição idealizada pelo en- mente como “atos de resistência” e receberam pouca ou
genho humano.” nenhuma investigação.

34
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Em Uganda, 1.500 pessoas morrem a cada semana um acampamento de pessoas refugiadas num período de
nos acampamentos de pessoas internamente refugiadas. 5 semanas sem nenhum esforço por parte das autoridades
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, 500 mil para castigar os autores.
morreram nestes acampamentos. Na República Democrática do Congo serviços de se-
As autoridades vietnamitas levaram à força pelo menos gurança do governo e grupos armados cometem rotinei-
75 mil dependentes de drogas e prostitutas para 71 acam- ramente atos de tortura e maus tratos, incluindo espan-
pamentos de “reabilitação” superlotados, qualificando os camentos contínuos, facadas e violação por parte dos que
detidos como “de alto risco” de contrair HIV/SIDA, mas sem estão detidos por eles. Os detidos são mantidos incomuni-
prover nenhum tratamento. cáveis, às vezes em lugares de detenção secretos. Em 2007
ARTIGO 4.º — NÃO À ESCRAVIDÃO a Guarda Republicana (guarda presidencial) e a divisão de
“Ninguém deverá ser mantido em escravidão ou polícia de Serviços Especiais em Kinshasa deteve e torturou
trabalho forçado; a escravidão e o comércio de escravos arbitrariamente numerosas pessoas qualificadas como crí-
foram proibidos em todas as suas formas.” ticas do governo.
Em Uganda do norte, as guerrilhas do LRA (sigla do ARTIGO 13.º — LIBERDADE DE MOVIMENTO
inglês de Lord’s Resistance Army que em português sig- “1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circu-
nifica Exército da Resistência do Senhor) sequestraram 20 lar e escolher a sua residência no interior de um Estado.
mil crianças nos últimos anos e forçaram–nas a servir como “2. Todos têm o direito a abandonar qualquer país,
soldados ou como escravos sexuais do exército. incluindo o seu próprio, e de voltar a seu país.
Em Guiné–Bissau, há o tráfico de crianças de 5 anos Em Myanmar, milhares de cidadãos foram detidos, in-
que são tiradas do país para trabalhar em campos de algo- cluindo 700 prisioneiros de consciência, destacando a prê-
dão no Senegal do sul ou como mendigos na capital. Em mio Nobel Daw Aung San Suu Kyi. Em retaliação às suas
Gana, crianças de 5 a 14 anos são enganadas com falsas atividades políticas, nos últimos dezoito anos ela tem es-
promessas de educação e futuro para trabalhos perigosos, tado no total doze anos presa ou sob prisão domiciliar, e
e sem remuneração na indústria pesqueira. recusou todas as ofertas do governo de libertação que exi-
Na Ásia, o Japão é o maior país–destino para mulheres gissem que ela abandonasse o país.
traficadas, especialmente mulheres oriundas das Filipinas Na Argélia, refugiados e pessoas em procura de asilo
e Tailândia. A UNICEF estima que hajam 60 mil crianças na foram vítimas frequentes de detenção, expulsão ou maus
prostituição nas Filipinas. tratos. 28 pessoas de países africanos subsaarianos com
O Departamento de Estado dos EUA estima que entre status oficial de refugiados por parte do Alto Comissariado
600 a 820 mil homens, mulheres e crianças são traficados das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) foram depor-
nas fronteiras internacionais todos os anos, metade dos tados para o Mali após serem falsamente julgados, sem um
quais são menores e incluindo um número recorde de mu- advogado ou intérprete, sob acusações de entrar ilegal-
lheres e crianças que fogem do Iraque. mente na Argélia. Foram largados numa cidade do deserto,
Em quase todos os países, incluindo Canadá, EUA e Rei- sem comida, água nem ajuda médica onde estava ativo um
no Unido o exílio ou a perseguição são as respostas usuais grupo armado Mali.
do governo, sem nenhum serviço de ajuda para as vítimas. No Quênia as autoridades violaram a lei internacional
Na República Dominicana as operações de um bando de refugiados quando fecharam a fronteira a milhares de
de tráfico de pessoas levou à morte por asfixia de 25 tra- pessoas que fugiam do conflito armado na Somália. Os que
balhadores emigrantes haitianos. Em 2007, dois civis e dois procuravam asilo foram detidos ilegalmente na fronteira
oficiais militares receberam sentenças de prisão indulgen- do Quênia, sem acusações ou julgamento e foram devolvi-
tes pela sua participação na operação. dos à força para a Somália.
Na Somália em 2007 mais de 1.400 etíopes e somalien- No norte de Uganda, 1,6 milhões de cidadãos per-
ses deslocados morreram no mar em operações de tráfico maneceram em campos de deslocados. Na sub–região de
de pessoas. Acholi, a área mais afetada pelo conflito armado, 63% dos
ARTIGO 5.º — NÃO À TORTURA 1,1 milhões de pessoas deslocadas em 2005 ainda viviam
em campos em 2007, com apenas 7 mil que regressaram
“Ninguém deverá ser submetido à tortura ou a tra- definitivamente aos seus lugares de origem.
tamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.” ARTIGO 18.º — LIBERDADE DE PENSAMENTO
Em 2008, as autoridades dos EUA continuaram a man- “Todos têm liberdade de pensamento, consciência
ter 270 prisioneiros na Baía de Guantánamo, Cuba, sem e religião; este direito inclui a liberdade de mudar a sua
acusação ou julgamento, sujeitos a “water–boarding,” uma religião ou crença e a liberdade de manifestar a sua reli-
tortura que simula o afogamento. O antigo Presidente, gião ou crença no ensino, na prática, no culto e no cum-
George W. Bush, autorizou a CIA a continuar com a deten- primento, quer seja só ou em comunidade com outros e
ção e interrogação secretas, apesar das mesmas violarem a em público ou em privado.”
lei internacional. Em Myanmar o conselho militar esmagou manifesta-
Em Darfur a violência, as atrocidades e o sequestro ções pacíficas conduzidas por monges, fez buscas e fechou
são predominantes, e a ajuda externa está praticamente mosteiros, confiscou e destruiu propriedade, disparou, gol-
cortada. Em especial as mulheres são vítimas de ataques peou e deteve manifestantes e acossou e deteve como re-
incessantes, com mais de 200 violações na vizinhança de féns amigos e familiares dos manifestantes.

35
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Na China os praticantes de Falun Gong foram escolhi- No Iraque, pelo menos 37 empregados iraquianos das
dos para tortura e outros maus tratos enquanto estavam redes de meios de comunicação foram assassinados em
em detenção. Os cristãos foram perseguidos por pratica- 2008 e um total de 235 desde a invasão de março de 2003,
rem a sua religião fora dos canais aprovados pelo Estado. o que faz do Iraque o lugar mais perigoso do mundo para
No Cazaquistão, as autoridades locais numa comuni- os jornalistas.
dade perto de Almaty autorizaram a destruição de 12 lares, ARTIGO 21.º — DIREITO À DEMOCRACIA
todos pertencentes a membros de Hare Krishna, alegando “1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na
falsamente que o terreno em que tinham sido construídas direcção dos negócios públicos do seu país, quer direc-
as casas tinham sido adquiridos ilegalmente. Só foram des- tamente, quer por intermédio de representantes livre-
truídos lares pertencentes a membros da comunidade Hare mente escolhidos.
Krishna. “2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condi-
Na Rússia, Testemunhas de Jeová estão sofrendo per- ções de igualdade, às funções públicas do seu país.
seguição e proscrição religiosa, sendo banidas sem qual- “3. A vontade das pessoas será a base da autoridade
quer base legal, tendo seus direitos humanos totalmente do governo; esta vontade será expressada em eleições
violados por meio de obtenção de falsas provas. Também periódicas e genuínas que serão universais e de sufrá-
foi imposta a proibição de distribuir sua literatura, sendo gio igualitário e que serão realizadas mediante voto
que esta proibição foi legitimada invocando leis anti-ex- secreto ou procedimentos de voto livre equivalentes.”
tremismo de sentido amplo na Rússia. Outros métodos No Zimbabwe, centenas de defensores dos direitos hu-
coercitivos também estão sendo usados pela polícia russa, manos e membros do principal partido opositor, o Movi-
como ataques durante as reuniões de domingo e fecha- mento para a Mudança Democrática (MCD), foram presos
mento dos locais onde o grupo geralmente se encontra- por participar de reuniões pacíficas.
vam. Os líderes religiosos do grupo disseram que sua con- No Paquistão, milhares de advogados, jornalistas, de-
dição se tornou crítica. O mesmo grupo foi banido em 2014 fensores dos direitos humanos e ativistas políticos foram
em Taganrog, e outros banimentos foram implementados, encarcerados por exigirem a democracia, um Estado de Di-
reito e um poder judicial independente.
como nas cidades de Abinsk e Samara.
Em Cuba, no final de 2007, continuavam presos 62 pre-
ARTIGO 19.º — LIBERDADE DE EXPRESSÃO
sos políticos pelos seus pontos de vista políticos ou ativi-
“Todos têm o direito à liberdade de opinião e de
dades não–violentas.
expressão. Este direito inclui a liberdade para ter opi-
Por que há tanta resistência na aplicação dos Direitos
niões sem interferência e para procurar, receber e dar
Humanos?
informação e ideias através de qualquer meio de comu-
O Alto Comissariado identificou violações como a tor-
nicação e sem importar as fronteiras.” tura no Egito, a intimidação da China e a detenção de advo-
No Sudão, dezenas de defensores dos direitos huma- gados e ativistas sem fundamento; a campanha da Turquia
nos foram presos e torturados pelos serviços secretos na- contra os críticos; um novo governo dos EUA que proibiu
cionais e forças de segurança. a entrada de cidadãos de vários países muçulmanos com
Na Etiópia, dois proeminentes defensores dos direitos evidente intenção discriminatória; o assassinato de mais de
humanos foram condenados por falsas acusações e sen- 7 mil pessoas nas Filipinas desde que o Presidente Duterte
tenciados a quase três anos na prisão. tomou posse; a recusa do Burundi em cooperar com uma
Na Somália foi assassinado um proeminente defensor comissão de inquérito nomeada pelo Conselho compatí-
dos direitos humanos. vel com suas obrigações como membros, a imposição pelo
Na República Democrática do Congo o governo ataca Barém de proibições de viagem àqueles que querem par-
e ameaça os defensores dos direitos humanos e restringe ticipar do Conselho; o silenciamento de grupos da socie-
a liberdade de expressão e de associação. Em 2007, dis- dade civil no Azerbaijão; as várias leis para limitar o direito
posições do ato de Imprensa de 2004 foram usadas pelo à liberdade de expressão na Rússia, ao mesmo tempo em
governo para censurar os jornais e limitar a liberdade de que tenta desvirtuar o conceito léxico de “defensores dos
expressão. direitos humanos”.
A Rússia reprimiu a dissidência política, exerceu pres- Talvez a resposta esteja na corrupção. Um exemplo dis-
são sobre meios de comunicação independentes ou fechou so, é a própria Rússia, onde protestos anticorrupção ocor-
e perseguiu organizações não governamentais. Manifesta- reram em dezenas de cidades em toda a Rússia no último
ções públicas pacíficas foram dispersadas à força e advo- sábado, 25 de março de 2017. O alvo foi o Primeiro Minis-
gados, defensores dos direitos humanos e jornalistas foram tro Dmitry Medvedev, que foi acusado de corrupção por
ameaçados e atacados. Desde o ano 2000, os assassinatos possuir uma riqueza indecorosa que foi publicada em um
de 17 jornalistas, todos críticos das políticas e ações do go- vídeo. Estima-se que 7 mil tomaram as ruas em Moscou,
verno, ainda permanecem por resolver. muitos deles na Praça Pushkin e na Tverskaya Street. Uma
A Rússia hoje é mais repressiva do que nunca na era multidão de jovens, em sua maioria, que exibiam um cartaz
pós-soviética. Usando uma vasta gama de ferramentas, o com as palavras “A corrupção está roubando o futuro”.
Estado reforçou o controle sobre a liberdade de expres- Ainda assim, os direitos humanos são reconhecidos pelo
são, montagem e fala, com o objetivo de silenciar críticos menos em princípio por parte da maioria das nações e for-
independentes, incluindo online. Com o uso da legislação mam a essência de muitas constituições nacionais. Entretanto,
draconiana, as autoridades demonizaram como “agentes a situação atual no mundo é oposta a muito dos ideais pre-
estrangeiros” mais de 150 grupos independentes. vistos na Declaração, mostrando-se para muitos uma utopia.

36
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

As leis internacionais servem como função de conten- II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e
ção, mas são insuficientes para prover uma proteção ade- drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da
quada aos direitos humanos. Milhares continuam sendo ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas
torturados, milhares estão na prisão por motivos políticos áreas de competência;
ou simplesmente por expressarem suas ideias contrárias à III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuá-
maioria ou ao governo, e tais práticas ocorrem inclusive em ria e de fronteiras;
alguns países democráticos. IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia
Fonte: https://elainefrancoadv.jusbrasil.com.br/ judiciária da União.
artigos/443225573/a-crescente-violacao-dos-direitos-
-humanos-no-cenario-mundial Artigo 144, § 2º, CF. A polícia rodoviária federal, órgão
permanente, organizado e mantido pela União e estruturado
em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento
ostensivo das rodovias federais.

SEGURANÇA PÚBLICA E CIDADANIA. Artigo 144, § 3º, CF. A polícia ferroviária federal, ór-
gão permanente, organizado e mantido pela União e estru-
turado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulha-
SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. mento ostensivo das ferrovias federais. 

A segurança tem um duplo aspecto na Constituição Fe- Artigo 144, § 4º, CF. Às polícias civis, dirigidas por de-
deral, a saber, o aspecto de direito e garantia individual e legados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a com-
coletivo, por estar prevista no caput, do artigo 5º, da Cons- petência da União, as funções de polícia judiciária e a
tituição Federal (ao lado do direito à vida, da liberdade, da apuração de infrações penais, exceto as militares.
igualdade, e da propriedade), bem como o aspecto de di- Artigo 144, § 1º, CF. Às polícias militares cabem a po-
reito social, por estar prevista no artigo 6º, da Constituição lícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos
Federal. A segurança do caput, do artigo 5º, CF, todavia, se de bombeiros militares, além das atribuições definidas em
refere à “segurança jurídica”. Já a segurança do artigo 6º, lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.
CF, se refere à “segurança pública”, a qual encontra discipli-
namento no artigo 144, da Constituição da República. Artigo 144, § 6º, CF. As polícias militares e corpos de
Ademais, enquanto a Lei Fundamental pátria preceitua bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército,
que a educação e a saúde são “direitos de todos e dever subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Gover-
do Estado”, fala, por outro lado, que a segurança pública, nadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios”.
antes mesmo de ser direito de todos, é um “dever do Esta- Sendo que, nos termos do artigo 42, CF, “os membros das
do”. Com isso, isto é, ao colocar a segurança pública antes Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, institui-
de tudo como um dever do Estado, e só depois como um ções organizadas com base na hierarquia e disciplina, são
direito do todos, denota o compromisso dos agentes esta- militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territó-
tais em prevenir a desordem, e, consequencialmente, evitar rios. § 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito
a justiça por próprias mãos. Federal e dos Territórios, além do que vier a ser fixado em lei,
Neste prumo, no art. 144, caput, da Constituição Fede- as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142,
ral, se afirma que “a segurança pública, dever do Estado, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual específica dispor sobre as
direito e responsabilidade de todos, é exercida para a pre- matérias do art. 142, § 3º, inciso X, sendo as patentes dos
servação da ordem pública e da incolumidade das pessoas oficiais conferidas pelos respectivos governadores. § 2º Aos
e do patrimônio [...]”. Conforme enumera o próprio artigo pensionistas dos militares dos Estados, do Distrito Federal e
144, CF em seus incisos, os órgãos responsáveis pela ga- dos Territórios aplica-se o que for fixado em lei específica do
rantia da segurança pública, compondo sua estrutura, são: respectivo ente estatal.
polícia federal; polícia rodoviária federal; polícia ferroviária
federal; polícias civis; e polícias militares e corpos de bom- Artigo 144, § 7º, CF. A lei disciplinará a organização e o
beiros militares. funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pú-
Os parágrafos do artigo 144 regulamentam cada um blica, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.
destes órgãos que devem garantir a segurança pública,
com suas respectivas competências: Artigo 144, § 8º, CF. Os Municípios poderão constituir
guardas municipais destinadas à proteção de seus bens,
Artigo 144, § 1º, CF. A polícia federal, instituída por lei serviços e instalações, conforme dispuser a lei.
como órgão permanente, organizado e mantido pela União
e estruturado em carreira, destina-se a: Artigo 144, § 9º, CF. A remuneração dos servidores po-
I - apurar infrações penais contra a ordem política e so- liciais integrantes dos órgãos relacionados neste artigo será
cial ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União fixada na forma do § 4º do art. 39. 
ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, as-
sim como outras infrações cuja prática tenha repercussão Artigo 144, § 10, CF. A segurança viária, exercida para
interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, a preservação da ordem pública e da incolumidade das pes-
segundo se dispuser em lei; soas e do seu patrimônio nas vias públicas: 

37
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

I - compreende a educação, engenharia e fiscalização - Só o autor de uma obra tem o direito de usá-la, pu-
de trânsito, além de outras atividades previstas em lei, que blicá-la e tirar cópia, e esse direito passa para os seus her-
assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficien- deiros;
te; e  - Os bens de uma pessoa, quando ela morrer, passam
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal para seus herdeiros;
e dos Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades exe- - Em tempo de paz, qualquer pessoa pode ir de uma
cutivos e seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira, cidade para outra, ficar ou sair do país, obedecendo a lei
na forma da lei. feita para isso.
Fonte: http://www.significados.com.br/cidadania/
O que é Cidadania:
Cidadania é o exercício dos direitos e deveres civis, po-
líticos e sociais estabelecidos na Constituição de um país.
A cidadania também pode ser definida como a con-
dição do cidadão, indivíduo que vive de acordo com um DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS
conjunto de estatutos pertencentes a uma comunidade HUMANOS.
politicamente e socialmente articulada.
Uma boa cidadania implica que os direitos e deveres
estão interligados, e o respeito e cumprimento de ambos Adotada e proclamada pela Resolução n° 217 A (III) da 
contribuem para uma sociedade mais equilibrada e justa. Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro
Exercer a cidadania é ter consciência de seus direitos e de 1948
obrigações, garantindo que estes sejam colocados em prá-
tica. Exercer a cidadania é estar em pleno gozo das dispo- Preâmbulo
sições constitucionais. Preparar o cidadão para o exercício
da cidadania é um dos objetivos da educação de um país. O preâmbulo é um elemento comum em textos cons-
O conceito de cidadania também está relacionado com titucionais. Em relação ao preâmbulo constitucional, Jorge
o país onde a pessoa exerce os seus direitos e deveres. As- Miranda33 define: “[...] proclamação mais ou menos sole-
sim, a cidadania brasileira está relacionada com o indivíduo ne, mais ou menos significante, anteposta ao articulado
que está ligado aos direitos e deveres que estão definidos constitucional, não é componente necessário de qualquer
na Constituição do Brasil. Constituição, mas tão somente um elemento natural de
Para ter cidadania brasileira, a pessoa deve ter nascido Constituições feitas em momentos de ruptura histórica ou
em território brasileiro ou solicitar a sua naturalização, em de grande transformação político-social”. Do conceito do
caso de estrangeiros. No entanto, os cidadãos de outros autor é possível extrair elementos para definir o que re-
países que desejam adquirir a cidadania brasileira devem presentam os preâmbulos em documentos internacionais:
obedecer todas as etapas requeridas para este processo. proclamação dotada de certa solenidade e significância
Uma pessoa pode ter direito a dupla cidadania, isso que antecede o texto do documento internacional e, em-
significa de deve obedecer os diretos e deveres dos países bora não seja um elemento necessário a ele, merece ser
em que foi naturalizada. considerada porque reflete o contexto de ruptura histórica
A Constituição da República Federativa do Brasil, pro- e de transformação político-social que levou à elaboração
mulgada em 5 de outubro de 1988, pela Assembleia Nacio- do documento como um todo. No caso da Declaração de
nal Constituinte, composta por 559 congressistas (deputa- 1948 ficam evidentes os antecedentes históricos inerentes
dos e senadores), consolidou a democracia, após longos às Guerras Mundiais.
anos da ditadura militar no Brasil. Considerando que o reconhecimento da dignidade ine-
rente a todos os membros da família humana e de seus di-
Deveres do cidadão reitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da
- Votar para escolher os governantes; justiça e da paz no mundo,
- Cumprir as leis; O princípio da dignidade da pessoa humana, pelo qual
- Educar e proteger seus semelhantes; todos os seres humanos são dotados da mesma dignidade
- Proteger a natureza; e para que ela seja preservada é preciso que os direitos
- Proteger o patrimônio público e social do País. inerentes à pessoa humana sejam garantidos, já aparece no
preâmbulo constitucional, sendo guia de todo documento.
Direitos do cidadão Denota-se, ainda, a característica da inalienabilidade
- Direito à saúde, educação, moradia, trabalho, previ- dos direitos humanos, pela qual os direitos humanos não
dência social, lazer, entre outros; possuem conteúdo econômico patrimonial, logo, são in-
- O cidadão é livre para escrever e dizer o que pensa, transferíveis, inegociáveis e indisponíveis, estando fora do
mas precisa assinar o que disse e escreveu; comércio, o que evidencia uma limitação do princípio da
- Todos são respeitados na sua fé, no seu pensamento autonomia privada.
e na sua ação na sociedade; 33 MIRANDA, Jorge (Coord.). Estudos sobre a constituição. Lis-
- O cidadão é livre para praticar qualquer trabalho, ofício boa: Petrony, 1978.
ou profissão, mas a lei pode pedir estudo e diploma para isso;

38
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos di- de medidas progressivas de caráter nacional e internacional,
reitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultraja- por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância
ram a consciência da Humanidade e que o advento de um universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Esta-
mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, dos-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua
de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da jurisdição.
necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do A Assembleia Geral é o principal órgão deliberativo das
homem comum, Nações Unidas, no qual há representatividade de todos os
A humanidade nunca irá esquecer das imagens vistas membros e por onde passam inúmeros tratados interna-
quando da abertura dos campos de concentração nazis- cionais.
tas, nos quais os cadáveres esqueléticos do que não eram
considerados seres humanos perante aquele regime polí- Artigo I
tico se amontoavam. Aquelas pessoas não eram conside- Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignida-
radas iguais às demais por possuírem alguma caracterís- de e direitos. São dotadas de razão  e consciência e devem
tica, crença ou aparência que o Estado não apoiava. Daí a agir em relação umas às outras com espírito de fraterni-
importância de se atentar para os antecedentes históricos dade.
e compreender a igualdade de todos os homens, indepen- O primeiro artigo da Declaração é altamente represen-
dentemente de qualquer fator. tativo, trazendo diversos conceitos chaves de todo o do-
Considerando essencial que os direitos humanos sejam cumento:
protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem não a) Princípios da universalidade, presente na palavra
seja compelido, como último recurso, à rebelião contra tira- todos, que se repete no documento inteiro, pelo qual os
nia e a opressão, direitos humanos pertencem a todos e por isso se encon-
Por todo o mundo se espalharam, notadamente du- tram ligados a um sistema global (ONU), o que impede o
rante a Segunda Guerra Mundial, regimes totalitários alta- retrocesso.
mente opressivos, não só por parte das Potências do Eixo Na primeira parte do artigo estatui-se que não basta a
(Alemanha, Itália, Japão), mas também no lado dos Aliados igualdade formal perante a lei, mas é preciso realizar esta
(Rússia e o regime de Stálin).
igualdade de forma a ser possível que todo homem atinja
Considerando essencial promover o desenvolvimento de
um grau satisfatório de dignidade. Neste sentido, as dis-
relações amistosas entre as nações,
criminações legais asseguram a verdadeira igualdade, por
Depois de duas grandes guerras a humanidade conse-
exemplo, com as ações afirmativas, a proteção especial ao
guiu perceber o quanto era prejudicial não manter relações
trabalho da mulher e do menor, as garantias aos porta-
amistosas entre as nações, de forma que o ideal de paz
dores de deficiência, entre outras medidas que atribuam
ganhou uma nova força.
Considerando que os povos das Nações Unidas reafir- a pessoas com diferentes condições, iguais possibilidades,
maram, na Carta, sua fé nos direitos humanos fundamen- protegendo e respeitando suas diferenças.34
tais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igual- b) Princípio da dignidade da pessoa humana: a dig-
dade de direitos dos homens e das mulheres, e que decidi- nidade é um atributo da pessoa humana, segundo o qual
ram promover o progresso social e melhores condições de ela merece todo o respeito por parte dos Estados e dos
vida em uma liberdade mais ampla, demais indivíduos, independentemente de qualquer fator
Considerando que os Estados-Membros se compromete- como aparência, religião, sexualidade, condição financeira.
ram a desenvolver, em cooperação com as Nações Unidas, o Todo ser humano é digno e, por isso, possui direitos que
respeito universal aos direitos humanos e liberdades funda- visam garantir tal dignidade.
mentais e a observância desses direitos e liberdades, c) Dimensões de direitos humanos: tradicionalmente,
Considerando que uma compreensão comum desses di- os direitos humanos dividem-se em três dimensões, cada
reitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno qual representativa de um momento histórico no qual se
cumprimento desse compromisso, evidenciou a necessidade de garantir direitos de certa ca-
Todos os países que fazem parte da Organização das tegoria. A primeira dimensão, presente na expressão livres,
Nações Unidas, tanto os 51 membros fundadores quanto refere-se aos direitos civis e políticos, os quais garantem a
os que ingressaram posteriormente (basicamente, todos liberdade do homem no sentido de não ingerência estatal
demais países do mundo), totalizando 193, assumiram o e de participação nas decisões políticas, evidenciados his-
compromisso de cumprir a Carta da ONU, documento que toricamente com as Revoluções Americana e Francesa. A
a fundou e que traz os princípios condutores da ação da segunda dimensão, presente na expressão iguais, refere-se
organização. aos direitos econômicos, sociais e culturais, os quais garan-
tem a igualdade material entre os cidadãos exigindo pres-
A Assembleia  Geral proclama tações positivas estatais nesta direção, por exemplo, asse-
A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos gurando direitos trabalhistas e de saúde, possuindo como
como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e to- antecedente histórico a Revolução Industrial. A terceira di-
das as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada mensão, presente na expressão fraternidade, refere-se ao
órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declara- 34 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Uni-
ção, se esforce, através do ensino e da educação, por promo- versal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.
ver o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção

39
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

necessário olhar sobre o mundo como um lugar de todos, aos ordenamentos jurídicos próprios dos Estados viabi-
no qual cada qual deve reconhecer no outro seu semelhan- lizar os meios idôneos a proporcionar tal gozo, a fim de
te, digno de direitos, olhar este que também se lança para que se perfectibilize, faticamente, esta garantia. Isto se dá
as gerações futuras, por exemplo, com a preservação do não somente com a igualdade material diante da lei, mas
meio ambiente e a garantia da paz social, sendo o marco também, e principalmente, através do reconhecimento e
histórico justamente as Guerras Mundiais.35 Assim, desde respeito das desigualdades naturais entre os homens, as
logo a Declaração estabelece seus parâmetros fundamen- quais devem ser resguardadas pela ordem jurídica, pois é
tais, com esteio na Declaração dos Direitos do Homem e somente assim que será possível propiciar a aludida capa-
do Cidadão de 1789 e na Constituição Francesa de 1791, cidade de gozo a todos”38.
quais sejam igualdade, liberdade e fraternidade. Embora
os direitos de 1ª, 2ª e 3ª dimensão, que se baseiam nesta Artigo III
tríade, tenham surgido de forma paulatina, devem ser con- Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segu-
siderados em conjunto proporcionando a plena realização
rança pessoal.
do homem36.
Segundo Lenza39, “abrange tanto o direito de não ser
Na primeira parte do artigo estatui-se que não basta a
morto, privado da vida, portanto, direito de continuar vivo,
igualdade formal perante a lei, mas é preciso realizar esta
como também o direito de ter uma vida digna”. Na pri-
igualdade de forma a ser possível que todo homem atinja
um grau satisfatório de dignidade. meira esfera, enquadram-se questões como pena de mor-
Neste sentido, as discriminações legais asseguram a te, aborto, pesquisas com células-tronco, eutanásia, entre
verdadeira igualdade, por exemplo, com as ações afirmati- outras polêmicas. Na segunda esfera, notam-se desdo-
vas, a proteção especial ao trabalho da mulher e do menor, bramentos como a proibição de tratamentos indignos, a
as garantias aos portadores de deficiência, entre outras exemplo da tortura, dos trabalhos forçados, etc.
medidas que atribuam a pessoas com diferentes condi- A vida humana é o centro gravitacional no qual orbi-
ções, iguais possibilidades, protegendo e respeitando suas tam todos os direitos da pessoa humana, possuindo re-
diferenças. flexos jurídicos, políticos, econômicos, morais e religiosos.
Daí existir uma dificuldade em conceituar o vocábulo vida.
Artigo II Logo, tudo aquilo que uma pessoa possui deixa de ter valor
Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as ou sentido se ela perde a vida. Sendo assim, a vida é o bem
liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção principal de qualquer pessoa, é o primeiro valor moral de
de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua,  reli- todos os seres humanos. Trata-se de um direito que pode
gião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ser visto em 4 aspectos, quais sejam: a) direito de nascer; b)
ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.  direito de permanecer vivo; c) direito de ter uma vida digna
Reforça-se o princípio da igualdade, bem como o da quanto à subsistência e; d) direito de não ser privado da
dignidade da pessoa humana, de forma que todos seres vida através da pena de morte40.
humanos são iguais independentemente de qualquer con- Por sua vez, o direito à liberdade é posto como consec-
dição, possuindo os mesmos direitos visando a preserva- tário do direito à vida, pois ela depende da liberdade para
ção de sua dignidade. o desenvolvimento intelectual e moral. Assim, “[...] liber-
O dispositivo traz um aspecto da igualdade que impe- dade é assim a faculdade de escolher o próprio caminho,
de a distinção entre pessoas pela condição do país ou ter- sendo um valor inerente à dignidade do ser, uma vez que
ritório a que pertença, o que é importante sob o aspecto de decorre da inteligência e da volição, duas características da
proteção dos refugiados, prisioneiros de guerra, pessoas pessoa humana”41.
perseguidas politicamente, nacionais de Estados que não
O direito à segurança pessoal é o direito de viver sem
cumpram os preceitos das Nações Unidas. Não obstante, a
medo, protegido pela solidariedade e liberto de agressões,
discriminação não é proibida apenas quanto a indivíduos,
logo, é uma maneira de garantir o direito à vida42.
mas também quanto a grupos humanos, sejam formados
por classe social, etnia ou opinião em comum37.
“A Declaração reconhece a capacidade de gozo in- 38 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Uni-
versal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.
distinto dos direitos e liberdades assegurados a todos os
homens, e não apenas a alguns setores ou atores sociais. 39 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional esquematiza-
Garantir a capacidade de gozo, no entanto, não é sufi- do. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
ciente para que este realmente se efetive. É fundamental
35 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução Celso Lafer. 40 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Uni-
9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. versal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.

36 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Uni- 41 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Uni-
versal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. versal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.

37 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Uni- 42


versal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal dos
Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.

40
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Artigo IV 2. O presente Artigo não será interpretado de maneira a


Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a restringir qualquer instrumento internacional ou legislação
escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas nacional que contenha ou possa conter dispositivos de al-
as suas formas.  cance mais amplo.
“O trabalho escravo não se confunde com o trabalho Artigo VI
servil. A escravidão é a propriedade plena de um homem Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares,
sobre o outro. Consiste na utilização, em proveito próprio, reconhecida como pessoa perante a lei.
do trabalho alheio. Os escravos eram considerados seres “Afinal, se o Direito existe em função da pessoa huma-
humanos sem personalidade, mérito ou valor. A servidão, na, será ela sempre sujeito de direitos e de obrigações. Ne-
por seu turno, é uma alienação relativa da liberdade de gar-lhe a personalidade, a aptidão para exercer direitos e
trabalho através de um pacto de prestação de serviços ou contrair obrigações, equivale a não reconhecer sua própria
de uma ligação absoluta do trabalhador à terra, já que a existência. [...] O reconhecimento da personalidade jurídica
servidão era uma instituição típica das sociedades feudais. é imprescindível à plena realização da pessoa humana. Tra-
A servidão, representava a espinha dorsal do feudalismo. ta-se de garantir a cada um, em todos os lugares, a possi-
O servo pagava ao senhor feudal uma taxa altíssima pela bilidade de desenvolvimento livre e isonômico”44.
utilização do solo, que superava a metade da colheita”43. O sistema de proteção de direitos humanos estabeleci-
A abolição da escravidão foi uma luta histórica em todo do no âmbito da Organização das Nações Unidas é global,
o globo. Seria totalmente incoerente quanto aos princípios razão pela qual não cabe o seu desrespeito em qualquer
da liberdade, da igualdade e da dignidade se admitir que localidade do mundo. Por isso, um estrangeiro que visite
um ser humano pudesse ser submetido ao outro, ser trata- outro país não pode ter seus direitos humanos violados,
do como coisa. O ser humano não possui valor financeiro e independentemente da Constituição daquele país nada
nem serve ao domínio de outro, razão pela qual a escravi- prever a respeito dos direitos dos estrangeiros. A pessoa
dão não pode ser aceita. humana não perde tal caráter apenas por sair do território
de seu país. Em outras palavras, denota-se uma das facetas
do princípio da universalidade.
Artigo V
Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento
Artigo  VII
ou castigo cruel, desumano ou degradante.
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qual-
Tortura é a imposição de dor física ou psicológica por
quer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a
crueldade, intimidação, punição, para obtenção de uma
igual proteção contra qualquer discriminação que viole a
confissão, informação ou simplesmente por prazer da pes-
presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal dis-
soa que tortura. A tortura é uma espécie de tratamento ou
criminação.
castigo cruel, desumano ou degradante. A Convenção das Um dos desdobramentos do princípio da igualdade
Nações Unidas contra a Tortura e Outros Tratamentos ou refere-se à igualdade perante à lei. Toda lei é dotada de
Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes (Resolução n° caráter genérico e abstrato que evidencia não aplicar-se a
39/46 da Assembleia Geral das Nações Unidas) foi estabe- uma pessoa determinada, mas sim a todas as pessoas que
lecida em 10 de dezembro de 1984 e ratificada pelo Brasil venham a se encontrar na situação por ela descrita. Não
em 28 de setembro de 1989. Em destaque, o artigo 1 da significa que a legislação não possa estabelecer, em abstra-
referida Convenção: to, regras especiais para um grupo de pessoas desfavoreci-
do socialmente, direcionando ações afirmativas, por exem-
Artigo 1º, Convenção da ONU contra Tortura e Outros plo, aos deficientes, às mulheres, aos pobres - no entanto,
Tratamentos ou Penas Cruéis todas estas ações devem respeitar a proporcionalidade e a
1. Para os fins da presente Convenção, o termo “tor- razoabilidade (princípio da igualdade material).
tura” designa qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos
agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente Artigo VIII
a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira pes- Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais
soa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela competentes remédio efetivo para os atos que violem os
ou uma terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela
ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras constituição ou pela lei.
pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação Não basta afirmar direitos, é preciso conferir meios
de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos são para garanti-los. Ciente disto, a Declaração traz aos Estados
infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no partes o dever de estabelecer em suas legislações inter-
exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com nas instrumentos para proteção dos direitos humanos. Ge-
o seu consentimento ou aquiescência. Não se considerará ralmente, nos textos constitucionais são estabelecidos os
como tortura as dores ou sofrimentos que sejam consequên- direitos fundamentais e os instrumentos para protegê-los,
cia unicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes por exemplo, o habeas corpus serve à proteção do direito à
a tais sanções ou delas decorram. liberdade de locomoção.
43 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Uni- 44 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Uni-
versal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. versal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.

41
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Artigo IX bem como aos meios e recursos inerentes a estas garan-


Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exi- tias, e caso seja condenado ao final poderá ser considerado
lado. culpado. A razão é que o estado de inocência é inerente ao
Prisão e detenção são formas de impedir que a pes- ser humano até que ele viole direito alheio, caso em que
soa saia de um estabelecimento sob tutela estatal, privan- merecerá sanção.
do-a de sua liberdade de locomoção. Exílio é a expulsão “Através desse princípio verifica-se a necessidade de o
ou mudança forçada de uma pessoa do país, sendo assim Estado comprovar a culpabilidade do indivíduo presumido
também uma forma de privar a pessoa de sua liberdade de inocente. Está diretamente relacionado à questão da pro-
locomoção em um determinado território. Nenhuma des- va no processo penal que deve ser validamente produzida
tas práticas é permitida de forma arbitrária, ou seja, sem o para ao final do processo conduzir a culpabilidade do in-
respeito aos requisitos previstos em lei. divíduo admitindo-se a aplicação das penas previamente
Não significa que em alguns casos não seja aceita a pri- cominadas. Entretanto, a presunção de inocência não afas-
vação de liberdade, notadamente quando o indivíduo tiver ta a possibilidade de medidas cautelares como as prisões
praticado um ato que comprometa a segurança ou outro provisórias, busca e apreensão, quebra de sigilo como me-
direito fundamental de outra pessoa. didas de caráter excepcional cujos requisitos autorizadores
devem estar previstos em lei”46.
Artigo X 2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou
Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma omissão que, no momento, não constituíam delito peran-
audiência justa e pública por parte de um tribunal in- te o direito nacional ou internacional. Tampouco será im-
dependente e imparcial, para decidir de seus direitos e posta pena mais forte do que aquela que, no momento da
deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal prática, era aplicável ao ato delituoso.
contra ele. Evidencia-se o princípio da irretroatividade da lei penal
“De acordo com a ordem que promana do preceito in pejus (para piorar a situação do acusado) pelo qual uma
acima reproduzido, as pessoas têm a faculdade de exigir lei penal elaborada posteriormente não pode se aplicar a
um pronunciamento do Poder Judiciário, acerca de seus atos praticados no passado - nem para um ato que não era
direitos e deveres postos em litígio ou do fundamento de considerado crime passar a ser, nem para que a pena de
acusação criminal, realizado sob o amparo dos princípios um ato que era considerado crime seja aumentada. Eviden-
da isonomia, do devido processo legal, da publicidade dos cia não só o respeito à liberdade, mas também - e princi-
atos processuais, da ampla defesa e do contraditório e da palmente - à segurança jurídica.
imparcialidade do juiz”45.
Em outras palavras não é possível juízo ou tribunal de Artigo XII
exceção, ou seja, um juízo especialmente delegado para o Ninguém será sujeito a interferências na sua vida pri-
julgamento do caso daquela pessoa. O juízo deve ser esco- vada, na sua família, no seu lar ou na sua correspon-
lhido imparcialmente, de acordo com as regras de organi- dência, nem a ataques à sua honra e reputação. Toda
zação judiciária que valem para todos. Não obstante, o juí- pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interferências
zo deve ser independente, isto é, poder julgar independen- ou ataques.
temente de pressões externas para que o julgamento se dê A proteção aos direitos à privacidade e à personalidade
num ou noutro sentido. O juízo também deve ser imparcial, se enquadra na primeira dimensão de direitos fundamen-
não possuindo amizade ou inimizade em graus relevantes tais no que tange à proteção à liberdade. Enfim, o exercício
para com o acusado. Afinal, o direito à liberdade é consa- da liberdade lega-se também às limitações a este exercício:
grado e para que alguém possa ser privado dela por uma de que adianta ser plenamente livre se a liberdade de um
condenação criminal é preciso que esta se dê dentro dos interfere na liberdade - e nos direitos inerentes a esta liber-
trâmites legais, sem violar direitos humanos do acusado. dade - do outro.
“O direito à intimidade representa relevante manifes-
Artigo XI tação dos direitos da personalidade e qualifica-se como
1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direi- expressiva prerrogativa de ordem jurídica que consiste em
to de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade reconhecer, em favor da pessoa, a existência de um espaço
tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento indevassável destinado a protegê-la contra indevidas inter-
público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as ga- ferências de terceiros na esfera de sua vida privada”47.
rantias necessárias à sua defesa. Reforçando a conexão entre a privacidade e a intimida-
O princípio da presunção de inocência ou não culpa- de, ao abordar a proteção da vida privada - que, em resu-
bilidade liga-se ao direito à liberdade. Antes que ocorra mo, é a privacidade da vida pessoal no âmbito do domicílio
a condenação criminal transitada em julgado, isto é, pro- e de círculos de amigos -, Silva48 entende que “o segredo
cessada até o último recurso interposto pelo acusado, este 46 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Uni-
deve ser tido como inocente. Durante o processo penal, versal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.
o acusado terá direito ao contraditório e à ampla defesa,
47 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso de direito consti-
45 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Uni- tucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
versal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.
48 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional posi-

42
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

da vida privada é condição de expansão da personalidade”, outro Estado proteção. Claro, não se protege aquele que
mas não caracteriza os direitos de personalidade em si. “O praticou um crime comum em seu país e fugiu para outro,
direito à honra distancia-se levemente dos dois anteriores, caso em que deverá ser extraditado para responder pelo
podendo referir-se ao juízo positivo que a pessoa tem de crime praticado.
si (honra subjetiva) e ao juízo positivo que dela fazem os O direito dos refugiados é o que envolve a garantia de
outros (honra objetiva), conferindo-lhe respeitabilidade asilo fora do território do qual é nacional por algum dos
no meio social. O direito à imagem também possui duas motivos especificados em normas de direitos humanos,
conotações, podendo ser entendido em sentido objetivo, notadamente, perseguição por razões de raça, religião, na-
com relação à reprodução gráfica da pessoa, por meio de cionalidade, pertença a um grupo social determinado ou
fotografias, filmagens, desenhos, ou em sentido subjetivo, convicções políticas. Diversos documentos internacionais
significando o conjunto de qualidades cultivadas pela pes- disciplinam a matéria, a exemplo da Declaração Universal
soa e reconhecidas como suas pelo grupo social”49. de 1948, Convenção de 1951 relativa ao Estatuto dos Refu-
O artigo também abrange a proteção ao domicílio, lo- giados, Quarta Convenção de Genebra Relativa à Proteção
cal no qual a pessoa deseja manter sua privacidade e pode das Pessoas Civis em Tempo de Guerra de 1949, Convenção
desenvolver sua personalidade; e à correspondência, en- relativa ao Estatuto dos Apátridas de 1954, Convenção so-
viada ao seu lar unicamente para sua leitura e não de ter- bre a Redução da Apatridia de 1961 e Declaração das Na-
ceiros, preservando-se sua privacidade. ções Unidas sobre a Concessão de Asilo Territorial de 1967.
Não obstante, a constituição brasileira adota a concessão
de asilo político como um de seus princípios nas relações
Artigo XIII internacionais (art. 4º, X, CF).
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e “A prática de conceder asilo em terras estrangeiras a
residência dentro das fronteiras de cada Estado. pessoas que estão fugindo de perseguição é uma das ca-
Não há limitações ao direito de locomoção dentro do racterísticas mais antigas da civilização. Referências a essa
próprio Estado, nem ao direito de residir. Vale lembrar que prática foram encontradas em textos escritos há 3.500
anos, durante o florescimento dos antigos grandes impé-
a legislação interna pode estabelecer casos em que tal di-
rios do Oriente Médio, como o Hitita, Babilônico, Assírio e 
reito seja relativizado, por exemplo, obrigando um funcio-
Egípcio antigo.
nário público a residir no município em que está sediado
Mais de três milênios depois, a proteção de refugiados
ou impedindo o ingresso numa área de interesse estatal.
foi estabelecida como missão principal da agência de refu-
São exceções à liberdade de locomoção: decisão judi-
giados da ONU, que foi constituída para assistir, entre ou-
cial que imponha pena privativa de liberdade ou limitação
tros, os refugiados que esperavam para retornar aos seus
da liberdade, normas administrativas de controle de vias e
países de origem no final da II Guerra Mundial.
veículos, limitações para estrangeiros em certas regiões ou A Convenção de Refugiados de 1951, que estabeleceu o
áreas de segurança nacional e qualquer situação em que ACNUR, determina que um refugiado é alguém que ‘temen-
o direito à liberdade deva ceder aos interesses públicos50. do ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionali-
2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país, dade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do
inclusive o próprio, e a este regressar. país de sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude
A nacionalidade é um direito humano, assim como a li- desse temor, não quer valer-se da proteção desse país’.
berdade de locomoção. Destaca-se que o artigo não men- Desde então, o ACNUR tem oferecido proteção e assis-
ciona o direito de entrar em qualquer país, mas sim o de tência para dezenas de milhões de refugiados, encontran-
deixá-lo. do soluções duradouras para muitos deles. Os padrões da
migração se tornaram cada vez mais complexos nos tem-
Artigo XIV pos modernos, envolvendo não apenas refugiados, mas
1.Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de também milhões de migrantes econômicos. Mas refugia-
procurar e de gozar asilo em outros países.  dos e migrantes, mesmo que viajem da mesma forma com
2. Este direito não pode ser invocado em caso de per- frequência, são fundamentalmente distintos, e por esta
seguição legitimamente motivada por crimes de direito razão são tratados de maneira muito diferente perante o
comum ou por atos contrários aos propósitos e princípios direito internacional moderno.
das Nações Unidas. Migrantes, especialmente migrantes econômicos, de-
O direito de asilo serve para proteger uma pessoa per- cidem deslocar-se para melhorar as perspectivas para si
seguida por suas opiniões políticas, situação racial, convic- mesmos e para suas famílias. Já os refugiados necessitam
ções religiosas ou outro motivo político em seu país de ori- deslocar-se para salvar suas vidas ou preservar sua liber-
gem, permitindo que ela requeira perante a autoridade de dade. Eles não possuem proteção de seu próprio Estado
tivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. e de fato muitas vezes é seu próprio governo que ameaça
persegui-los. Se outros países não os aceitarem em seus
49 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso de direito consti- territórios, e não os auxiliarem uma vez acolhidos, poderão
tucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. estar condenando estas pessoas à morte ou à uma vida
50 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Uni-
insuportável nas sombras, sem sustento e sem direitos”51.
versal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. 51 http://www.acnur.org/t3/portugues/a-quem-ajudamos/re-
fugiados/

43
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

As Nações Unidas52 descrevem sua participação no his- Artigo XV


tórico do direito dos refugiados no mundo: 1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. 
“Desde a sua criação, a Organização das Nações Uni- 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua na-
das tem dedicado os seus esforços à proteção dos refu- cionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.
giados no mundo. Em 1951, data em que foi criado o Alto Nacionalidade é o vínculo jurídico-político que liga um
Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (AC- indivíduo a determinado Estado, fazendo com que ele pas-
NUR), havia um milhão de refugiados sob a sua responsa- se a integrar o povo daquele Estado, desfrutando assim de
bilidade. Hoje este número aumentou para 17,5 milhões, direitos e obrigações. Não é aceita a figura do apátrida ou
para além dos 2,5 milhões assistidos pelo Organismo das heimatlos, o indivíduo que não possui nenhuma naciona-
Nações Unidas das Obras Públicas e Socorro aos Refugia- lidade.
dos da Palestina, no Próximo Oriente (ANUATP), e ainda É possível mudar de nacionalidade nas situações pre-
mais de 25 milhões de pessoas deslocadas internamente. vistas em lei, naturalizando-se como nacional de outro Es-
Em 1951, a maioria dos refugiados eram Europeus. Hoje, a tado que não aquele do qual originalmente era nacional.
maior parte é proveniente da África e da Ásia. Atualmente, Geralmente, a permanência no território do pais por um
os movimentos de refugiados assumem cada vez mais a longo período de tempo dá direito à naturalização, abrindo
forma de êxodos maciços, diferentemente das fugas indi- mão da nacionalidade anterior para incorporar a nova.
viduais do passado. Hoje, oitenta por cento dos refugiados
são mulheres e crianças. Também as causas dos êxodos se Artigo XVI
multiplicaram, incluindo agora as catástrofes naturais ou 1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer
ecológicas e a extrema pobreza. Daí que muitos dos atuais restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito
refugiados não se enquadrem na definição da Convenção de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam
relativa ao Estatuto dos Refugiados. Esta Convenção refe- de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e
re-se a vítimas de perseguição por razões de raça, religião, sua dissolução. 
nacionalidade, pertença a um grupo social determinado ou 2. O casamento não será válido senão com o livre e
pleno consentimento dos nubentes.
convicções políticas. [...]
O casamento, como todas as instituições sociais, varia
com o tempo e os povos, que evoluem e adquirem novas
Existe uma relação evidente entre o problema dos re-
culturas. Há quem o defina como um ato, outros como um
fugiados e a questão dos direitos humanos. As violações
contato. Basicamente, casamento é a união, devidamente
dos direitos humanos constituem não só uma das princi-
formalizada conforme a lei, com a finalidade de construir
pais causas dos êxodos maciços, mas afastam também a
família. A principal finalidade do casamento é estabele-
opção do repatriamento voluntário enquanto se verifica- cer a comunhão plena de vida, impulsionada pelo amor e
rem. As violações dos direitos das minorias e os conflitos afeição existente entre o casal e baseada na igualdade de
étnicos encontram-se cada vez mais na origem quer dos direitos e deveres dos cônjuges e na mútua assistência.53
êxodos maciços, quer das deslocações internas. [...] Não é aceitável o casamento que se estabeleça à força para
Na sua segunda sessão, no final de 1946, a Assembleia algum dos nubentes, sendo exigido o livre e pleno con-
Geral criou a Organização Internacional para os Refugiados sentimento de ambos. Não obstante, é coerente que a lei
(OIR), que assumiu as funções da Agência das Nações Uni- traga limitações como a idade, pois o casamento é uma
das para a Assistência e a Reabilitação (ANUAR). Foi inves- instituição séria, base da família, e somente a maturidade
tida no mandato temporário de registrar, proteger, instalar pode permitir compreender tal importância.
e repatriar refugiados. [...] Cedo se tornou evidente que a
responsabilidade pelos refugiados merecia um maior es- Artigo XVII
forço da comunidade internacional, a desenvolver sob os 1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em so-
auspícios da própria Organização das Nações Unidas. As- ciedade com outros.
sim, muito antes de terminar o mandato da OIR, iniciaram- 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua pro-
-se as discussões sobre a criação de uma organização que priedade.
lhe pudesse suceder. “Toda pessoa [...] tem direito à propriedade, podendo
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Re- o ordenamento jurídico estabelecer suas modalidades de
fugiados (ACNUR) Na sua Resolução 319 A (IV) de 3 de aquisição, perda, uso e limites. O direito de propriedade,
Dezembro de 1949, a Assembleia Geral decidiu criar o Alto constitucionalmente assegurado, garante que dela nin-
Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. O guém poderá ser privado arbitrariamente [...]”54. O direito
Alto Comissariado foi instituído em 1 de Janeiro de 1951, à propriedade se insere na primeira dimensão de direitos
como órgão subsidiário da Assembleia Geral, com um humanos, garantindo que cada qual tenha bens materiais
mandato inicial de três anos. Desde então, o mandato do justamente adquiridos, respeitada a função social.
ACNUR tem sido renovado por períodos sucessivos de cin- 53 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 6. ed.
co anos [...]”. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 6.

52 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS - ONU. Direitos Hu- 54 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais:
manos e Refugiados. Ficha normativa nº 20. Disponível em: <http:// teoria geral, comentários aos artigos 1º a 5º da Constituição da Repú-
www.gddc.pt/direitos-humanos/Ficha_Informativa_20.pdf >. Acesso blica Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. São Paulo: Atlas,
em: 13 jun. 2013. 1997.

44
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Artigo XVIII Por sua vez, “a liberdade de associação para fins lícitos,
Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, vedada a de caráter paramilitar, é plena. Portanto, ninguém
consciência e religião; este direito inclui a liberdade de poderá ser compelido a associar-se e, uma vez associado,
mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar será livre, também, para decidir se permanece associado
essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto ou não”58.
e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou
em particular. Artigo XXI
Silva55 aponta que a liberdade de pensamento, que 1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no gover-
também pode ser chamada de liberdade de opinião, é con- no de seu país, diretamente ou por intermédio de represen-
siderada pela doutrina como a liberdade primária, eis que tantes livremente escolhidos. 
é ponto de partida de todas as outras, e deve ser entendida 2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço
como a liberdade da pessoa adotar determinada atitude público do seu país. 
intelectual ou não, de tomar a opinião pública que crê ver- 3. A vontade do povo será a base  da autoridade do
dadeira. Tal opinião pública se refere a diversos aspectos, governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas
entre eles religião e crença. A liberdade de religião atre- e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou pro-
la-se à liberdade de consciência e à liberdade de pensa- cesso equivalente que assegure a liberdade de voto.
mento, mas o inverso não ocorre, porque é possível existir “Na sociedade moderna, nascida de transformações
liberdade de pensamento e consciência desvinculada de que culminaram na Revolução Francesa, o indivíduo é vis-
cunho religioso. Aliás, a liberdade de consciência também to como homem (pessoa privada) e como cidadão (pessoa
concretiza a liberdade de ter ou não ter religião, ter ou não pública). O termo cidadão designava originalmente o habi-
ter opinião político-partidária ou qualquer outra manifes- tante da cidade. Com a consolidação da sociedade burgue-
tação positiva ou negativa da consciência56. sa, passa a indicar a ação política e a participação do sujeito
No que tange à exteriorização da liberdade de religião, na vida da sociedade”59.
ou seja, à liberdade de expressão religiosa, não é devida Democracia (do grego, demo+kratos) é um regime de
governo em que o poder de tomar decisões políticas está
nenhuma perseguição, assim como é garantido o direito de
com os cidadãos, de forma direta (quando um cidadão se
praticá-la em grupo ou individualmente.
reúne com os demais e, juntos, eles tomam a decisão po-
lítica) ou indireta (quando ao cidadão é dado o poder de
Artigo XIX
eleger um representante). Uma democracia pode existir
Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e ex-
num sistema presidencialista ou parlamentarista, republi-
pressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência,
cano ou monárquico - somente importa que seja dado aos
ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações cidadãos o poder de tomar decisões políticas (por si só ou
e ideias por quaisquer meios e independentemente de fron- por seu representante eleito), nos termos que este artigo
teiras. da Declaração prevê. A principal classificação das demo-
Silva57 entende que a liberdade de expressão pode ser cracias é a que distingue a direta da indireta - a) direta,
vista sob diversos enfoques, como o da liberdade de comu- também chamada de pura, na qual o cidadão expressa sua
nicação, ou liberdade de informação, que consiste em um vontade por voto direto e individual em casa questão re-
conjunto de direitos, formas, processos e veículos que via- levante; b) indireta, também chamada representativa, em
bilizam a coordenação livre da criação, expressão e difusão que os cidadãos exercem individualmente o direito de voto
da informação e do pensamento. Contudo, o a manifesta- para escolher representante(s) e aquele(s) que for(em) mais
ção do pensamento não pode ocorrer de forma ilimitada, escolhido(s) representa(m) todos os eleitores.
devendo se pautar na verdade e no respeito dos direitos à Não obstante, se introduz a dimensão do Estado So-
honra, à intimidade e à imagem dos demais membros da cial, de forma que ao cidadão é garantida a prestação de
sociedade. serviços públicos. Isto se insere na segunda dimensão de
direitos humanos, referentes aos direitos econômicos, so-
Artigo XX ciais e culturais - sem os quais não se consolida a igualdade
1. Toda pessoa tem direito à  liberdade de reunião e material.
associação pacíficas. 
O direito de reunião pode ser exercido independente- Artigo XXII
mente de autorização estatal, mas deve se dar de maneira Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à
pacífica, por exemplo, sem utilização de armas. segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela
2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma as- cooperação internacional e de acordo com a organização e
sociação. recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais
55 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional posi- e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desen-
tivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. volvimento da sua personalidade.
56 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Uni- 58 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional esquematiza-
versal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. do. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

57 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional posi- 59 SCHLESENER, Anita Helena. Cidadania e política. In: CARDI,
tivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2000.

45
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Direitos econômicos, sociais e culturais compõem a Por mais que o trabalho seja um direito humano, nem
segunda dimensão de direitos fundamentais. O Pacto in- somente dele é feita a vida de uma pessoa. Desta forma,
ternacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de assegura-se horários livres para que a pessoa desfrute de
1966 é o documento que especifica e descreve tais direi- momentos de lazer e descanso, bem como impede-se a
tos. de uma maneira geral, são direitos que não dependem fixação de uma jornada de trabalho muito exaustiva. São
puramente do indivíduo para a implementação, exigindo medidas que asseguram isto a previsão de descanso se-
prestações positivas estatais, geralmente externadas por
manal remunerado, a limitação do horário de trabalho, a
políticas públicas (escolhas políticas a respeito de áreas
concessão de férias remuneradas anuais, entre outras.
que necessitam de investimento maior ou menos para pro-
porcionar um bom índice de desenvolvimento social, dimi- Quanto aos artigos XXIII e XXIV, tem-se que é forneci-
nuindo desigualdades). Entre outros direitos, envolvem o do “[...] um conjunto mínimo de direitos dos trabalhadores.
trabalho, a educação, a saúde, a alimentação, a moradia, o De forma geral, os dispositivos em comento versam so-
lazer, etc. Como são inúmeras as áreas que necessitam de bre o direito ao trabalho, principal meio de sobrevivência
investimento estatal, naturalmente o atendimento a estes dos indivíduos que ‘vendem’ força de trabalho em troca de
direitos se dá de maneira gradual. uma remuneração justa. Ademais, estabelecem a liberdade
do cidadão de escolher o trabalho e, uma vez obtido o em-
Artigo XXIII prego, o direito de nele encontrar condições justas, tanto
1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre esco- no tocante à remuneração, como no que diz respeito ao
lha de emprego, a condições justas e favoráveis de tra- limite de horas trabalhadas e períodos de repouso (dispo-
balho e à proteção contra o desemprego. sição constante do artigo XXIV da Declaração). Garantem
2. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a ainda o direito dos trabalhadores de se unirem em associa-
igual remuneração por igual trabalho.
ção, com o objetivo de defesa de seus interesses”60.
3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remune-
ração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à
sua família, uma existência compatível com a dignidade hu- Artigo XXV
mana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios 1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz
de proteção social.  de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusi-
4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e ne- ve alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os
les ingressar para proteção de seus interesses. serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso
O trabalho é um instrumento fundamental para asse- de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros
gurar a todos uma existência digna: de um lado por pro- casos de perda dos meios de subsistência fora de seu con-
porcionar a remuneração com a qual a pessoa adquirirá trole.    
bens materiais para sua subsistência, de outro por gerar O ideal é que todas as pessoas possuam um padrão
por si só o sentimento de importância para a sociedade por de vida suficiente para garantir sua dignidade em todas as
parte daquele que faz algo útil nela. No entanto, a geração esferas: alimentação, vestuário, moradia, saúde, etc. Bem se
de empregos não se dá automaticamente, cabendo aos sabe que é um objetivo constante do Estado Democrático
Estados desenvolverem políticas econômicas para diminuir
de Direito proporcionar que pessoas cheguem o mais pró-
os índices de desemprego o máximo possível.
A remuneração é a retribuição financeira pelo trabalho ximo possível - e cada vez mais - desta circunstância.
realizado. Nesta esfera também é necessário o respeito ao Fala-se em segurança no sentido de segurança pública,
princípio da igualdade, por não ser justo que uma pessoa de dever do Estado de preservar a ordem pública e a inco-
que desempenhe as mesmas funções que a outra receba lumidade das pessoas e do patrimônio público e privado61.
menos por um fator externo, característico dela, como sexo Neste conceito enquadra-se a seguridade social, na qual o
ou raça. No âmbito do serviço público é mais fácil con- Estado, custeado pela coletividade e pelos cofres públicos,
trolar tal aspecto, mas são inúmeras as empresas privadas garante a manutenção financeira dos que por algum moti-
que pagam menor salário a mulheres e que não chegam a vo não possuem condição de trabalhar.
ser levadas à justiça por isso. Não obstante, a remuneração 2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados
deve ser suficiente para proporcionar uma existência dig- e assistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou
na, com o necessário para manter assegurados ao menos fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.
minimamente todos os direitos humanos previstos na De- A proteção da maternidade tem sentido porque sem
claração.
isto o mundo não continua. É preciso que as crianças se-
Os sindicatos são bastante comuns na seara trabalhista
jam protegidas com atenção especial para que se tornem
e, como visto, a todos é garantida a liberdade de associa-
ção, não podendo ninguém ser impedido ou forçado a in- adultos capazes de proporcionar uma melhora no planeta.
gressar ou sair de um sindicato.
60 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Uni-
Artigo XXIV versal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.
Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a 61 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional esquematiza-
limitação razoável das horas de trabalho e férias perió- do. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
dicas remuneradas.

46
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Artigo XXVI Os conflitos que se dão entre a liberdade e a proprieda-


1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será de intelectual se evidenciam, principalmente, sob o aspecto
gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. da liberdade de expressão, na esfera específica da liber-
A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico- dade de comunicação ou informação, que, nos dizeres de
-profissional será acessível a todos, bem como a instrução Silva62, “compreende a liberdade de informar e a liberdade
superior, esta baseada no mérito. de ser informado”. Sob o enfoque do direito à liberdade e
2. A instrução será orientada no sentido do pleno desen- do direito de acesso à cultura, seria livre a divulgação de
volvimento da personalidade humana e do fortalecimento toda e qualquer informação e o acesso aos dados disponí-
do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fun- veis, independentemente da fonte ou da autoria. De outro
damentais. A instrução promoverá a compreensão, a tole- lado, há o direito de propriedade intelectual, o qual possui
rância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou um caráter dualista: moral, que nunca prescreve porque
religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em o autor de uma obra nunca deixará de ser considerado
prol da manutenção da paz.  como tal, e patrimonial, que prescreve, perdendo o autor
3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gêne- o direito de explorar benefícios econômicos de sua obra63.
ro de instrução que será ministrada a seus filhos. Cada vez mais esta dualidade entre direitos se encontra em
A Declaração Universal de 1948 divide a disponibilida- conflito, uma vez que a evolução tecnológica trouxe meios
de e a obrigatoriedade da educação em níveis. Aquela edu- para a cópia em massa de conteúdos protegidos pela pro-
cação que é considerada essencial, qual seja, a elementar, priedade intelectual.
deve ser gratuita e obrigatória. Já a educação fundamental,
de grande importância, deve ser gratuita, mas não é obri- Artigo XVIII
gatória. Esta nomenclatura adotada pela Declaração equi- Toda pessoa tem direito a uma ordem social e inter-
para-se ao ensino fundamental e ao ensino médio no Brasil, nacional em que os direitos e  liberdades estabelecidos na
sendo elementar o primeiro e fundamental o segundo. A presente Declaração possam ser plenamente realizados.
educação técnico-profissional refere-se às escolas voltadas Como já destacado, o sistema de proteção dos direitos
humanos tem caráter global e cada Estado que assumiu
ao ensino de algum ofício, não complexo a ponto de exigir
compromisso perante a ONU ao integrá-la deve garantir o
formação superior e, justamente por isso, possuem menor
respeito a estes direitos no âmbito de seu território. Com
duração e menor custo; ao passo que a educação superior
isso, a pessoa estará numa ordem social e internacional na
é a que se dá no âmbito das universidades, formando pro-
qual seus direitos humanos sejam assegurados, preservan-
fissionais de maior especialidade numa área profissional,
do-se sua dignidade. Em outras palavras, “devidamente
com amplo conhecimento, razão pela qual dura mais tem-
emparelhadas, portanto, a ordem social e a ordem inter-
po e é mais onerosa. As duas últimas são de maior custo e
nacional se manifestam, a seu modo, como as duas faces
não podem ser instituídas de tal forma que sejam garanti-
das instituições humanitárias, tanto estatais quanto parti-
das vagas para todas as pessoas em sociedade, entretanto, culares, orientando seus passos a serviço da comunidade
exige-se um critério justo para a seleção dos ingressos, o humana”64.
qual seja baseado no mérito (os mais capacitados conse-
guirão as vagas de ensino técnico-profissional e superior). Artigo XXIX
Ainda, a Declaração de 1948 deixa clara que a educa- 1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade,
ção não envolve apenas o aprendizado do conteúdo pro- em que o livre e pleno desenvolvimento de sua personalida-
gramático das matérias comuns como matemática, portu- de é possível.
guês, história e geografia, mas também a compreensão de 2. No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa
abordagens sobre assuntos que possam contribuir para a estará sujeita apenas às limitações determinadas pela lei,
formação da personalidade da pessoa humana e conscien- exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhe-
tizá-la de seu papel social. cimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de
Não obstante, da parte final da Declaração extrai-se satisfazer às justas exigências da moral, da ordem pública e
a consciência de que a educação não é apenas a formal, do bem-estar de uma sociedade democrática.
aprendida nos estabelecimentos de ensino, mas também 3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese
a informal, transmitida no ambiente familiar e nas demais alguma, ser exercidos contrariamente aos propósitos e prin-
áreas de contato da pessoa, como igreja, clubes e, notada- cípios das Nações Unidas.
mente, a residência. Por isso, os pais têm um papel direto
na escolha dos meios de educação de seus filhos. 62 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional posi-
tivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
Artigo XXVII
1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente 63 PAESANI, Liliana Minardi. Direito e Internet: liberdade de in-
da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de par- formação, privacidade e responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Atlas,
ticipar do processo científico e de seus benefícios.  2006.
2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses 64 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Uni-
morais e materiais decorrentes de qualquer produção cien- versal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.
tífica, literária ou artística da qual seja autor.

47
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Explica Canotilho65 que “a ideia de deveres fundamen- Neste sentido, disciplina:


tais é suscetível de ser entendida como o ‘outro lado’ dos
direitos fundamentais. Como ao titular de um direito fun- Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela
damental corresponde um dever por parte de um outro união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Fe-
titular, poder-se-ia dizer que o particular está vinculado deral, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
aos direitos fundamentais como destinatário de um dever como fundamentos:
fundamental. Neste sentido, um direito fundamental, en- I - a soberania;
quanto protegido, pressuporia um dever correspondente”. II - a cidadania;
Esta é a ideia que a Declaração de 1948 busca trazer: não III - a dignidade da pessoa humana;
será assegurada nenhuma liberdade que contrarie a lei ou IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
os demais direitos de outras pessoas, isto é, os preceitos V - o pluralismo político.
universais consagrados pelas Nações Unidas. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o
exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente,
Artigo XXX
nos termos desta Constituição.
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser
interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado,
grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer ativida- Vale estudar o significado e a abrangência de cada qual
de ou praticar qualquer ato destinado à destruição  de destes fundamentos.
quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.
“A colidência entre os direitos afirmados na Declara- 1.1) Soberania
ção é natural. Busca-se com o presente artigo evitar que, Soberania significa o poder supremo que cada nação
no eventual choque entre duas normas garantistas, os su- possui de se autogovernar e se autodeterminar. Este con-
jeitos nela mencionados se valham de uma interpretação ceito surgiu no Estado Moderno, com a ascensão do ab-
tendente a infirmar qualquer das disposições da Declara- solutismo, colocando o reina posição de soberano. Sendo
ção ao argumento de que estão respeitando um direito em assim, poderia governar como bem entendesse, pois seu
detrimento de outro”66. poder era exclusivo, inabalável, ilimitado, atemporal e divi-
Nenhum direito humano é ilimitado: se o fossem, seria no, ou seja, absoluto.
impossível garantir um sistema no qual todas as pessoas Neste sentido, Thomas Hobbes67, na obra Leviatã, de-
tivessem tais direitos plenamente respeitados, afinal, estes fende que quando os homens abrem mão do estado na-
necessariamente colidiriam com os direitos das outras pes- tural, deixa de predominar a lei do mais forte, mas para a
soas, os quais teriam que ser violados. Este é um dos senti- consolidação deste tipo de sociedade é necessária a pre-
dos do princípio da relatividade dos direitos humanos - os sença de uma autoridade à qual todos os membros devem
direitos humanos não podem ser utilizados como um es- render o suficiente da sua liberdade natural, permitindo
cudo para práticas ilícitas ou como argumento para afasta- que esta autoridade possa assegurar a paz interna e a de-
mento ou diminuição da responsabilidade por atos ilícitos, fesa comum. Este soberano, que à época da escrita da obra
assim os direitos humanos não são ilimitados e encontram de Hobbes se consolidava no monarca, deveria ser o Levia-
seus limites nos demais direitos igualmente consagrados tã, uma autoridade inquestionável.
como humanos. Isto vale tanto para os indivíduos, numa No mesmo direcionamento se encontra a obra de Ma-
atitude perante os demais, quanto para os Estados, ao ex- quiavel68, que rejeitou a concepção de um soberano que
ternar o compromisso global assumido perante a ONU.
deveria ser justo e ético para com o seu povo, desde que
sempre tivesse em vista a finalidade primordial de manter
o Estado íntegro: “na conduta dos homens, especialmente
dos príncipes, contra a qual não há recurso, os fins justi-
CONSTITUIÇÃO FEDERAL (ARTIGOS 1º AO 10). ficam os meios. Portanto, se um príncipe pretende con-
quistar e manter o poder, os meios que empregue serão
sempre tidos como honrosos, e elogiados por todos, pois
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO o vulgo atenta sempre para as aparências e os resultados”.
BRASIL DE 1988 A concepção de soberania inerente ao monarca se
quebrou numa fase posterior, notadamente com a ascen-
1) Fundamentos da República são do ideário iluminista. Com efeito, passou-se a enxergar
O título I da Constituição Federal trata dos princípios a soberania como um poder que repousa no povo. Logo, a
fundamentais do Estado brasileiro e começa, em seu arti- autoridade absoluta da qual emana o poder é o povo e a
go 1º, trabalhando com os fundamentos da República Fe- legitimidade do exercício do poder no Estado emana deste
derativa brasileira, ou seja, com as bases estruturantes do povo.
Estado nacional. Com efeito, no Estado Democrático se garante a so-
berania popular, que pode ser conceituada como “a qua-
65 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e lidade máxima do poder extraída da soma dos atributos
teoria da constituição. 2. ed. Coimbra: Almedina, 1998.
67 MALMESBURY, Thomas Hobbes de. Leviatã. Tradução de
66 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Uni- João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. [s.c]: [s.n.], 1861.
versal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. 68 MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Tradução Pietro Nassetti.
São Paulo: Martin Claret, 2007, p. 111.

48
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

de cada membro da sociedade estatal, encarregado de 1.3) Dignidade da pessoa humana


escolher os seus representantes no governo por meio do A dignidade da pessoa humana é o valor-base de in-
sufrágio universal e do voto direto, secreto e igualitário”69. terpretação de qualquer sistema jurídico, internacional ou
Neste sentido, liga-se diretamente ao parágrafo úni- nacional, que possa se considerar compatível com os valo-
co do artigo 1º, CF, que prevê que “todo o poder emana res éticos, notadamente da moral, da justiça e da democra-
do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos cia. Pensar em dignidade da pessoa humana significa, aci-
ou diretamente, nos termos desta Constituição”. O povo ma de tudo, colocar a pessoa humana como centro e norte
é soberano em suas decisões e as autoridades eleitas que para qualquer processo de interpretação jurídico, seja na
decidem em nome dele, representando-o, devem estar elaboração da norma, seja na sua aplicação.
devidamente legitimadas para tanto, o que acontece pelo Sem pretender estabelecer uma definição fechada ou
exercício do sufrágio universal. plena, é possível conceituar dignidade da pessoa humana
Por seu turno, a soberania nacional é princípio geral da como o principal valor do ordenamento ético e, por con-
atividade econômica (artigo 170, I, CF), restando demons- sequência, jurídico que pretende colocar a pessoa humana
trado que não somente é guia da atuação política do Esta- como um sujeito pleno de direitos e obrigações na or-
do, mas também de sua atuação econômica. Neste senti- dem internacional e nacional, cujo desrespeito acarreta a
do, deve-se preservar e incentivar a indústria e a economia própria exclusão de sua personalidade.
nacionais. Aponta Barroso70: “o princípio da dignidade da pessoa
humana identifica um espaço de integridade moral a ser
1.2) Cidadania assegurado a todas as pessoas por sua só existência no
Quando se afirma no caput do artigo 1º que a Repú- mundo. É um respeito à criação, independente da crença
blica Federativa do Brasil é um Estado Democrático de Di- que se professe quanto à sua origem. A dignidade rela-
reito, remete-se à ideia de que o Brasil adota a democracia ciona-se tanto com a liberdade e valores do espírito como
como regime político. com as condições materiais de subsistência”.
Historicamente, nota-se que por volta de 800 a.C. as O Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, do
comunidades de aldeias começaram a ceder lugar para
Tribunal Superior do Trabalho, trouxe interessante conceito
unidades políticas maiores, surgindo as chamadas cidades-
numa das decisões que relatou: “a dignidade consiste na
-estado ou polis, como Tebas, Esparta e Atenas. Inicialmen-
percepção intrínseca de cada ser humano a respeito dos
te eram monarquias, transformaram-se em oligarquias e,
direitos e obrigações, de modo a assegurar, sob o foco de
por volta dos séculos V e VI a.C., tornaram-se democracias.
condições existenciais mínimas, a participação saudável e
Com efeito, as origens da chamada democracia se encon-
ativa nos destinos escolhidos, sem que isso importe des-
tram na Grécia antiga, sendo permitida a participação dire-
ta daqueles poucos que eram considerados cidadãos, por tilação dos valores soberanos da democracia e das liber-
meio da discussão na polis. dades individuais. O processo de valorização do indivíduo
Democracia (do grego, demo+kratos) é um regime po- articula a promoção de escolhas, posturas e sonhos, sem
lítico em que o poder de tomar decisões políticas está com olvidar que o espectro de abrangência das liberdades in-
os cidadãos, de forma direta (quando um cidadão se reúne dividuais encontra limitação em outros direitos fundamen-
com os demais e, juntos, eles tomam a decisão política) ou tais, tais como a honra, a vida privada, a intimidade, a ima-
indireta (quando ao cidadão é dado o poder de eleger um gem. Sobreleva registrar que essas garantias, associadas ao
representante). princípio da dignidade da pessoa humana, subsistem como
Portanto, o conceito de democracia está diretamente conquista da humanidade, razão pela qual auferiram pro-
ligado ao de cidadania, notadamente porque apenas quem teção especial consistente em indenização por dano moral
possui cidadania está apto a participar das decisões políti- decorrente de sua violação”71.
cas a serem tomadas pelo Estado. Para Reale72, a evolução histórica demonstra o domínio
Cidadão é o nacional, isto é, aquele que possui o vín- de um valor sobre o outro, ou seja, a existência de uma
culo político-jurídico da nacionalidade com o Estado, que ordem gradativa entre os valores; mas existem os valores
goza de direitos políticos, ou seja, que pode votar e ser fundamentais e os secundários, sendo que o valor fonte
votado (sufrágio universal). é o da pessoa humana. Nesse sentido, são os dizeres de
Destacam-se os seguintes conceitos correlatos: Reale73: “partimos dessa ideia, a nosso ver básica, de que a
a) Nacionalidade: é o vínculo jurídico-político que liga pessoa humana é o valor-fonte de todos os valores. O ho-
um indivíduo a determinado Estado, fazendo com que ele mem, como ser natural biopsíquico, é apenas um indivíduo
passe a integrar o povo daquele Estado, desfrutando assim entre outros indivíduos, um ente animal entre os demais
de direitos e obrigações. da mesma espécie. O homem, considerado na sua objeti-
b) Povo: conjunto de pessoas que compõem o Estado, vidade espiritual, enquanto ser que só realiza no sentido
unidas pelo vínculo da nacionalidade. 70 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Cons-
c) População: conjunto de pessoas residentes no Esta- tituição. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 382.
do, nacionais ou não. 71 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista n.
Depreende-se que a cidadania é um atributo conferido 259300-59.2007.5.02.0202. Relator: Alberto Luiz Bresciani de Fontan
aos nacionais titulares de direitos políticos, permitindo a Pereira. Brasília, 05 de setembro de 2012j1. Disponível em: www.tst.
gov.br. Acesso em: 17 nov. 2012.
consolidação do sistema democrático.
72 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19. ed. São Paulo: Sarai-
69 BULOS, Uadi Lammêngo. Constituição federal anotada. São va, 2002, p. 228.
Paulo: Saraiva, 2000. 73 Ibid., p. 220.

49
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

de seu dever ser, é o que chamamos de pessoa. Só o ho- e administração no País (artigo 170, IX, CF). Ainda, assegu-
mem possui a dignidade originária de ser enquanto deve rando a livre iniciativa no exercício de atividades econômi-
ser, pondo-se essencialmente como razão determinante cas, o parágrafo único do artigo 170 prevê: “é assegurado
do processo histórico”. a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica,
Quando a Constituição Federal assegura a dignidade independentemente de autorização de órgãos públicos,
da pessoa humana como um dos fundamentos da Repúbli- salvo nos casos previstos em lei”.
ca, faz emergir uma nova concepção de proteção de cada
membro do seu povo. Tal ideologia de forte fulcro huma- 1.5) Pluralismo político
nista guia a afirmação de todos os direitos fundamentais A expressão pluralismo remete ao reconhecimento da
e confere a eles posição hierárquica superior às normas multiplicidade de ideologias culturais, religiosas, econômi-
organizacionais do Estado, de modo que é o Estado que cas e sociais no âmbito de uma nação. Quando se fala em
está para o povo, devendo garantir a dignidade de seus pluralismo político, afirma-se que mais do que incorporar
membros, e não o inverso. esta multiplicidade de ideologias cabe ao Estado nacional
fornecer espaço para a manifestação política delas.
1.4) Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa Sendo assim, pluralismo político significa não só res-
Quando o constituinte coloca os valores sociais do tra- peitar a multiplicidade de opiniões e ideias, mas acima de
balho em paridade com a livre iniciativa fica clara a percep- tudo garantir a existência dela, permitindo que os vários
ção de necessário equilíbrio entre estas duas concepções. grupos que compõem os mais diversos setores sociais pos-
De um lado, é necessário garantir direitos aos trabalhado- sam se fazer ouvir mediante a liberdade de expressão, ma-
res, notadamente consolidados nos direitos sociais enume- nifestação e opinião, bem como possam exigir do Estado
rados no artigo 7º da Constituição; por outro lado, estes substrato para se fazerem subsistir na sociedade.
direitos não devem ser óbice ao exercício da livre iniciativa, Pluralismo político vai além do pluripartidarismo ou
mas sim vetores que reforcem o exercício desta liberdade multipartidarismo, que é apenas uma de suas consequên-
dentro dos limites da justiça social, evitando o predomínio cias e garante que mesmo os partidos menores e com pou-
do mais forte sobre o mais fraco.
cos representantes sejam ouvidos na tomada de decisões
Por livre iniciativa entenda-se a liberdade de iniciar
políticas, porque abrange uma verdadeira concepção de
a exploração de atividades econômicas no território bra-
multiculturalidade no âmbito interno.
sileiro, coibindo-se práticas de truste (ex.: monopólio). O
constituinte não tem a intenção de impedir a livre inicia-
2) Separação dos Poderes
tiva, até mesmo porque o Estado nacional necessita dela
A separação de Poderes é inerente ao modelo do Es-
para crescer economicamente e adequar sua estrutura ao
tado Democrático de Direito, impedindo a monopolização
atendimento crescente das necessidades de todos os que
do poder e, por conseguinte, a tirania e a opressão. Resta
nele vivem. Sem crescimento econômico, nem ao menos é
possível garantir os direitos econômicos, sociais e culturais garantida no artigo 2º da Constituição Federal com o se-
afirmados na Constituição Federal como direitos funda- guinte teor:
mentais.
No entanto, a exploração da livre iniciativa deve se dar Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmôni-
de maneira racional, tendo em vista os direitos inerentes cos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
aos trabalhadores, no que se consolida a expressão “valo-
res sociais do trabalho”. A pessoa que trabalha para aque- 3) Objetivos fundamentais
le que explora a livre iniciativa deve ter a sua dignidade O constituinte trabalha no artigo 3º da Constituição
respeitada em todas as suas dimensões, não somente no Federal com os objetivos da República Federativa do Brasil,
que tange aos direitos sociais, mas em relação a todos os nos seguintes termos:
direitos fundamentais afirmados pelo constituinte.
A questão resta melhor delimitada no título VI do texto Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República
constitucional, que aborda a ordem econômica e financei- Federativa do Brasil:
ra: “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim II - garantir o desenvolvimento nacional; 
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
da justiça social, observados os seguintes princípios [...]”. desigualdades sociais e regionais;
Nota-se no caput a repetição do fundamento republicano IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de ori-
dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. gem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de dis-
Por sua vez, são princípios instrumentais para a efeti- criminação.
vação deste fundamento, conforme previsão do artigo 1º e
do artigo 170, ambos da Constituição, o princípio da livre 3.1) Construir uma sociedade livre, justa e solidária
concorrência (artigo 170, IV, CF), o princípio da busca do O inciso I do artigo 3º merece destaque ao trazer a
pleno emprego (artigo 170, VIII, CF) e o princípio do tra- expressão “livre, justa e solidária”, que corresponde à tríade
tamento favorecido para as empresas de pequeno porte liberdade, igualdade e fraternidade. Esta tríade consolida as
constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede três dimensões de direitos humanos: a primeira dimensão,

50
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

voltada à pessoa como indivíduo, refere-se aos direitos ci- 4) Princípios de relações internacionais (artigo 4º)
vis e políticos; a segunda dimensão, focada na promoção O último artigo do título I trabalha com os princípios
da igualdade material, remete aos direitos econômicos, so- que regem as relações internacionais da República brasileira:
ciais e culturais; e a terceira dimensão se concentra numa
perspectiva difusa e coletiva dos direitos fundamentais. Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas
Sendo assim, a República brasileira pretende garantir a relações internacionais pelos seguintes princípios: 
preservação de direitos fundamentais inatos à pessoa hu- I - independência nacional;
mana em todas as suas dimensões, indissociáveis e inter- II - prevalência dos direitos humanos;
conectadas. Daí o texto constitucional guardar espaço de III - autodeterminação dos povos;
destaque para cada uma destas perspectivas. IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
3.2) Garantir o desenvolvimento nacional VI - defesa da paz;
Para que o governo possa prover todas as condições
VII - solução pacífica dos conflitos;
necessárias à implementação de todos os direitos funda-
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
mentais da pessoa humana mostra-se essencial que o país
IX - cooperação entre os povos para o progresso da hu-
se desenvolva, cresça economicamente, de modo que cada
manidade;
indivíduo passe a ter condições de perseguir suas metas.
X - concessão de asilo político.
3.3) Erradicar a pobreza e a marginalização e redu- Parágrafo único. A República Federativa do Brasil bus-
zir as desigualdades sociais e regionais cará a integração econômica, política, social e cultural dos
Garantir o desenvolvimento econômico não basta para povos da América Latina, visando à formação de uma comu-
a construção de uma sociedade justa e solidária. É necessá- nidade latino-americana de nações.
rio ir além e nunca perder de vista a perspectiva da igual-
dade material. Logo, a injeção econômica deve permitir o De maneira geral, percebe-se na Constituição Federal a
investimento nos setores menos favorecidos, diminuindo compreensão de que a soberania do Estado nacional bra-
as desigualdades sociais e regionais e paulatinamente er- sileiro não permite a sobreposição em relação à soberania
radicando a pobreza. dos demais Estados, bem como de que é necessário respei-
O impacto econômico deste objetivo fundamental é tar determinadas práticas inerentes ao direito internacional
tão relevante que o artigo 170 da Constituição prevê em dos direitos humanos.
seu inciso VII a “redução das desigualdades regionais e so-
ciais” como um princípio que deve reger a atividade econô- 4.1) Independência nacional
mica. A menção deste princípio implica em afirmar que as A formação de uma comunidade internacional não sig-
políticas públicas econômico-financeiras deverão se guiar nifica a eliminação da soberania dos países, mas apenas
pela busca da redução das desigualdades, fornecendo in- uma relativização, limitando as atitudes por ele tomadas
centivos específicos para a exploração da atividade econô- em prol da preservação do bem comum e da paz mundial.
mica em zonas economicamente marginalizadas. Na verdade, o próprio compromisso de respeito aos di-
reitos humanos traduz a limitação das ações estatais, que
3.4) Promover o bem de todos, sem preconceitos de sempre devem se guiar por eles. Logo, o Brasil é um país
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas independente, que não responde a nenhum outro, mas
de discriminação que como qualquer outro possui um dever para com a hu-
Ainda no ideário de justiça social, coloca-se o princípio
manidade e os direitos inatos a cada um de seus membros.
da igualdade como objetivo a ser alcançado pela República
brasileira. Sendo assim, a república deve promover o prin-
4.2) Prevalência dos direitos humanos
cípio da igualdade e consolidar o bem comum. Em verda-
O Estado existe para o homem e não o inverso. Portan-
de, a promoção do bem comum pressupõe a prevalência
do princípio da igualdade. to, toda normativa existe para a sua proteção como pessoa
Sobre o bem de todos, isto é, o bem comum, o filósofo humana e o Estado tem o dever de servir a este fim de pre-
Jacques Maritain74 ressaltou que o fim da sociedade é o seu servação. A única forma de fazer isso é adotando a pessoa
bem comum, mas esse bem comum é o das pessoas huma- humana como valor-fonte de todo o ordenamento, o que
nas, que compõem a sociedade. Com base neste ideário, somente é possível com a compreensão de que os direitos
apontou as características essenciais do bem comum: re- humanos possuem uma posição prioritária no ordenamen-
distribuição, pela qual o bem comum deve ser redistribuído to jurídico-constitucional.
às pessoas e colaborar para o desenvolvimento delas; res- Conceituar direitos humanos é uma tarefa complicada,
peito à autoridade na sociedade, pois a autoridade é ne- mas, em síntese, pode-se afirmar que direitos humanos são
cessária para conduzir a comunidade de pessoas humanas aqueles inerentes ao homem enquanto condição para sua
para o bem comum; moralidade, que constitui a retidão de dignidade que usualmente são descritos em documentos
vida, sendo a justiça e a retidão moral elementos essenciais internacionais para que sejam mais seguramente garanti-
do bem comum. dos. A conquista de direitos da pessoa humana é, na verda-
74 MARITAIN, Jacques. Os direitos do homem e a lei natural. 3. de, uma busca da dignidade da pessoa humana.
ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1967, p. 20-22.

51
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

4.3) Autodeterminação dos povos - “Bons ofícios constituem o meio diplomático de so-
A premissa dos direitos políticos é a autodetermina- lução pacífica de controvérsia internacional, em que um
ção dos povos. Neste sentido, embora cada Estado tenha Estado, uma organização internacional ou até mesmo um
obrigações de direito internacional que deve respeitar para chefe de Estado apresenta-se como moderador entre os
a adequada consecução dos fins da comunidade interna- litigantes”;
cional, também tem o direito de se autodeterminar, sendo - “Mediação define-se como instituto por meio do qual
que tal autodeterminação é feita pelo seu povo. uma terceira pessoa estranha à contenda, mas aceita pelos
Se autodeterminar significa garantir a liberdade do litigantes, de forma voluntária ou em razão de estipulação
povo na tomada das decisões políticas, logo, o direito à anterior, toma conhecimento da divergência e dos argu-
autodeterminação pressupõe a exclusão do colonialismo. mentos sustentados pelas partes, e propõe uma solução
Não se aceita a ideia de que um Estado domine o outro, pacífica sujeita à aceitação destas”;
tirando a sua autodeterminação. - “Sistema de Consultas constitui-se em meio diplomá-
tico de solução de litígios em que os Estados ou organiza-
4.4) Não-intervenção
ções internacionais sujeitam-se, sem qualquer interferência
Por não-intervenção entenda-se que o Estado brasilei-
pessoal externa, a encontros periódicos com o objetivo de
ro irá respeitar a soberania dos demais Estados nacionais.
compor suas divergências”.
Sendo assim, adotará práticas diplomáticas e respeitará as
decisões políticas tomadas no âmbito de cada Estado, eis
que são paritários na ordem internacional. 4.8) Repúdio ao terrorismo e ao racismo
Terrorismo é o uso de violência através de ataques lo-
4.5) Igualdade entre os Estados calizados a elementos ou instalações de um governo ou
Por este princípio se reconhece uma posição de pari- da população civil, de modo a incutir medo, terror, e assim
dade, ou seja, de igualdade hierárquica, na ordem interna- obter efeitos psicológicos que ultrapassem largamente o
cional entre todos os Estados. Em razão disso, cada Estado círculo das vítimas, incluindo, antes, o resto da população
possuirá direito de voz e voto na tomada de decisões polí- do território.
ticas na ordem internacional em cada organização da qual Racismo é a prática de atos discriminatórios baseados
faça parte e deverá ter sua opinião respeitada. em diferenças étnico-raciais, que podem consistirem vio-
lência física ou psicológica direcionada a uma pessoa ou a
4.6) Defesa da paz um grupo de pessoas pela simples questão biológica her-
O direito à paz vai muito além do direito de viver num dada por sua raça ou etnia.
mundo sem guerras, atingindo o direito de ter paz social, Sendo o Brasil um país que prega o pacifismo e que é
de ver seus direitos respeitados em sociedade. Os direitos assumidamente pluralista, ambas práticas são considera-
e liberdades garantidos internacionalmente não podem das vis e devem ser repudiadas pelo Estado nacional.
ser destruídos com fundamento nas normas que surgiram
para protegê-los, o que seria controverso. Em termos de 4.9) Cooperação entre os povos para o progresso
relações internacionais, depreende-se que deve ser sempre da humanidade
priorizada a solução amistosa de conflitos. A cooperação internacional deve ser especialmente
econômica e técnica, a fim de conseguir progressivamente
4.7) Solução pacífica dos conflitos a plena efetividade dos direitos humanos fundamentais in-
Decorrendo da defesa da paz, este princípio remete ternacionalmente reconhecidos.
à necessidade de diplomacia nas relações internacionais.
Os países devem colaborar uns com os outros, o que é
Caso surjam conflitos entre Estados nacionais, estes deve-
possível mediante a integração no âmbito de organizações
rão ser dirimidos de forma amistosa.
internacionais específicas, regionais ou globais.
Negociação diplomática, serviços amistosos, bons ofí-
Em relação a este princípio, o artigo 4º se aprofunda
cios, mediação, sistema de consultas, conciliação e inqué-
rito são os meios diplomáticos de solução de controvérsias em seu parágrafo único, destacando a importância da coo-
internacionais, não havendo hierarquia entre eles. Somente peração brasileira no âmbito regional: “A República Fede-
o inquérito é um procedimento preliminar e facultativo à rativa do Brasil buscará a integração econômica, política,
apuração da materialidade dos fatos, podendo servir de social e cultural dos povos da América Latina, visando à for-
base para qualquer meio de solução de conflito75. Concei- mação de uma comunidade latino-americana de nações”.
tua Neves76: Neste sentido, o papel desempenhado no MERCOSUL.
- “Negociação diplomática é a forma de autocompo-
sição em que os Estados oponentes buscam resolver suas 4.10) Concessão de asilo político
divergências de forma direta, por via diplomática”; Direito de asilo é o direito de buscar abrigo em ou-
- “Serviços amistosos é um meio de solução pacífica de tro país quando naquele do qual for nacional estiver so-
conflito, sem aspecto oficial, em que o governo designa um frendo alguma perseguição. Tal perseguição não pode ter
diplomada para sua conclusão”; motivos legítimos, como a prática de crimes comuns ou
75 NEVES, Gustavo Bregalda. Direito Internacional Público &
de atos atentatórios aos princípios das Nações Unidas,
Direito Internacional Privado. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 123. o que subverteria a própria finalidade desta proteção.
76 Ibid., p. 123-126. Em suma, o que se pretende com o direito de asilo é

52
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

evitar a consolidação de ameaças a direitos humanos de g) Imprescritibilidade: os direitos fundamentais não


uma pessoa por parte daqueles que deveriam protegê-los se perdem com o tempo, não prescrevem, uma vez que são
– isto é, os governantes e os entes sociais como um todo sempre exercíveis e exercidos, não deixando de existir pela
–, e não proteger pessoas que justamente cometeram tais falta de uso (prescrição).
violações. h) Relatividade: os direitos fundamentais não po-
“Sendo direito humano da pessoa refugiada, é obriga- dem ser utilizados como um escudo para práticas ilícitas
ção do Estado asilante conceder o asilo. Entretanto, preva- ou como argumento para afastamento ou diminuição da
lece o entendimento que o Estado não tem esta obrigação, responsabilidade por atos ilícitos, assim estes direitos não
nem de fundamentar a recusa. A segunda parte deste ar- são ilimitados e encontram seus limites nos demais direitos
tigo permite a interpretação no sentido de que é o Estado igualmente consagrados como humanos.
asilante que subjetivamente enquadra o refugiado como
asilado político ou criminoso comum”77. Vale destacar que a Constituição vai além da proteção
dos direitos e estabelece garantias em prol da preservação
destes, bem como remédios constitucionais a serem utili-
O título II da Constituição Federal é intitulado “Direitos zados caso estes direitos e garantias não sejam preserva-
e Garantias fundamentais”, gênero que abrange as seguin- dos. Neste sentido, dividem-se em direitos e garantias as
tes espécies de direitos fundamentais: direitos individuais e previsões do artigo 5º: os direitos são as disposições de-
coletivos (art. 5º, CF), direitos sociais (genericamente pre- claratórias e as garantias são as disposições assecuratórias.
vistos no art. 6º, CF), direitos da nacionalidade (artigos 12 e O legislador muitas vezes reúne no mesmo dispositivo
13, CF) e direitos políticos (artigos 14 a 17, CF). o direito e a garantia, como no caso do artigo 5º, IX: “é livre
Em termos comparativos à clássica divisão tridimen- a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
sional dos direitos humanos, os direitos individuais (maior comunicação, independentemente de censura ou licença”
parte do artigo 5º, CF), os direitos da nacionalidade e os – o direito é o de liberdade de expressão e a garantia é a
direitos políticos se encaixam na primeira dimensão (direi- vedação de censura ou exigência de licença. Em outros ca-
tos civis e políticos); os direitos sociais se enquadram na se-
sos, o legislador traz o direito num dispositivo e a garantia
gunda dimensão (direitos econômicos, sociais e culturais) e
em outro: a liberdade de locomoção, direito, é colocada
os direitos coletivos na terceira dimensão. Contudo, a enu-
no artigo 5º, XV, ao passo que o dever de relaxamento da
meração de direitos humanos na Constituição vai além dos
prisão ilegal de ofício pelo juiz, garantia, se encontra no
direitos que expressamente constam no título II do texto
artigo 5º, LXV78.
constitucional.
Em caso de ineficácia da garantia, implicando em vio-
Os direitos fundamentais possuem as seguintes carac-
lação de direito, cabe a utilização dos remédios constitu-
terísticas principais:
a) Historicidade: os direitos fundamentais possuem cionais.
antecedentes históricos relevantes e, através dos tempos, Atenção para o fato de o constituinte chamar os remé-
adquirem novas perspectivas. Nesta característica se en- dios constitucionais de garantias, e todas as suas fórmulas
quadra a noção de dimensões de direitos. de direitos e garantias propriamente ditas apenas de di-
b) Universalidade: os direitos fundamentais perten- reitos.
cem a todos, tanto que apesar da expressão restritiva do
caput do artigo 5º aos brasileiros e estrangeiros residentes Direitos e deveres individuais e coletivos
no país tem se entendido pela extensão destes direitos, na
perspectiva de prevalência dos direitos humanos. O capítulo I do título II é intitulado “direitos e deve-
c) Inalienabilidade: os direitos fundamentais não res individuais e coletivos”. Da própria nomenclatura do
possuem conteúdo econômico-patrimonial, logo, são in- capítulo já se extrai que a proteção vai além dos direitos
transferíveis, inegociáveis e indisponíveis, estando fora do do indivíduo e também abrange direitos da coletividade. A
comércio, o que evidencia uma limitação do princípio da maior parte dos direitos enumerados no artigo 5º do texto
autonomia privada. constitucional é de direitos individuais, mas são incluídos
d) Irrenunciabilidade: direitos fundamentais não po- alguns direitos coletivos e mesmo remédios constitucio-
dem ser renunciados pelo seu titular devido à fundamenta- nais próprios para a tutela destes direitos coletivos (ex.:
lidade material destes direitos para a dignidade da pessoa mandado de segurança coletivo).
humana.
e) Inviolabilidade: direitos fundamentais não podem 1) Brasileiros e estrangeiros
deixar de ser observados por disposições infraconstitucio- O caput do artigo 5º aparenta restringir a proteção
nais ou por atos das autoridades públicas, sob pena de nu- conferida pelo dispositivo a algumas pessoas, notadamen-
lidades. te, “aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País”.
f) Indivisibilidade: os direitos fundamentais compõem No entanto, tal restrição é apenas aparente e tem sido in-
um único conjunto de direitos porque não podem ser ana- terpretada no sentido de que os direitos estarão protegi-
lisados de maneira isolada, separada. dos com relação a todas as pessoas nos limites da sobera-
77 SANTOS FILHO, Oswaldo de Souza. Comentários aos arti- nia do país.
gos XIII e XIV. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração 78 FARIA, Cássio Juvenal. Notas pessoais tomadas em telecon-
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008, p. 83. ferência.

53
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Em razão disso, por exemplo, um estrangeiro pode in- Artigo 5º, caput, CF. Todos são iguais perante a lei, sem
gressar com habeas corpus ou mandado de segurança, ou distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei-
então intentar ação reivindicatória com relação a imóvel ros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
seu localizado no Brasil (ainda que não resida no país). do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
Somente alguns direitos não são estendidos a todas as propriedade, nos termos seguintes [...].
pessoas. A exemplo, o direito de intentar ação popular exi-
ge a condição de cidadão, que só é possuída por nacionais Não obstante, reforça este princípio em seu primeiro
titulares de direitos políticos. inciso:

2) Relação direitos-deveres Artigo 5º, I, CF. Homens e mulheres são iguais em direi-
O capítulo em estudo é denominado “direitos e garan- tos e obrigações, nos termos desta Constituição.
tias deveres e coletivos”, remetendo à necessária relação
direitos-deveres entre os titulares dos direitos fundamen- Este inciso é especificamente voltado à necessidade de
tais. Acima de tudo, o que se deve ter em vista é a pre- igualdade de gênero, afirmando que não deve haver ne-
missa reconhecida nos direitos fundamentais de que não nhuma distinção sexo feminino e o masculino, de modo
há direito que seja absoluto, correspondendo-se para cada que o homem e a mulher possuem os mesmos direitos e
direito um dever. Logo, o exercício de direitos fundamen- obrigações.
tais é limitado pelo igual direito de mesmo exercício por Entretanto, o princípio da isonomia abrange muito
parte de outrem, não sendo nunca absolutos, mas sempre mais do que a igualdade de gêneros, envolve uma pers-
relativos. pectiva mais ampla.
Explica Canotilho79 quanto aos direitos fundamentais: O direito à igualdade é um dos direitos norteadores
“a ideia de deveres fundamentais é suscetível de ser enten- de interpretação de qualquer sistema jurídico. O primeiro
dida como o ‘outro lado’ dos direitos fundamentais. Como enfoque que foi dado a este direito foi o de direito civil,
ao titular de um direito fundamental corresponde um de- enquadrando-o na primeira dimensão, no sentido de que a
ver por parte de um outro titular, poder-se-ia dizer que o
todas as pessoas deveriam ser garantidos os mesmos direi-
particular está vinculado aos direitos fundamentais como
tos e deveres. Trata-se de um aspecto relacionado à igual-
destinatário de um dever fundamental. Neste sentido, um
dade enquanto liberdade, tirando o homem do arbítrio dos
direito fundamental, enquanto protegido, pressuporia um
demais por meio da equiparação. Basicamente, estaria se
dever correspondente”. Com efeito, a um direito funda-
falando na igualdade perante a lei.
mental conferido à pessoa corresponde o dever de respei-
No entanto, com o passar dos tempos, se percebeu que
to ao arcabouço de direitos conferidos às outras pessoas.
não bastava igualar todos os homens em direitos e deveres
3) Direitos e garantias em espécie para torná-los iguais, pois nem todos possuem as mesmas
Preconiza o artigo 5º da Constituição Federal em seu condições de exercer estes direitos e deveres. Logo, não
caput: é suficiente garantir um direito à igualdade formal, mas
é preciso buscar progressivamente a igualdade material.
Artigo 5º, caput, CF. Todos são iguais perante a lei, sem No sentido de igualdade material que aparece o direito à
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei- igualdade num segundo momento, pretendendo-se do Es-
ros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade tado, tanto no momento de legislar quanto no de aplicar e
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à executar a lei, uma postura de promoção de políticas go-
propriedade, nos termos seguintes [...]. vernamentais voltadas a grupos vulneráveis.
Assim, o direito à igualdade possui dois sentidos notá-
O caput do artigo 5º, que pode ser considerado um veis: o de igualdade perante a lei, referindo-se à aplicação
dos principais (senão o principal) artigos da Constituição uniforme da lei a todas as pessoas que vivem em socieda-
Federal, consagra o princípio da igualdade e delimita as de; e o de igualdade material, correspondendo à necessi-
cinco esferas de direitos individuais e coletivos que mere- dade de discriminações positivas com relação a grupos vul-
cem proteção, isto é, vida, liberdade, igualdade, segurança neráveis da sociedade, em contraponto à igualdade formal.
e propriedade. Os incisos deste artigos delimitam vários
direitos e garantias que se enquadram em alguma destas Ações afirmativas
esferas de proteção, podendo se falar em duas esferas es- Neste sentido, desponta a temática das ações afirmati-
pecíficas que ganham também destaque no texto consti- vas,que são políticas públicas ou programas privados cria-
tucional, quais sejam, direitos de acesso à justiça e direitos dos temporariamente e desenvolvidos com a finalidade de
constitucionais-penais. reduzir as desigualdades decorrentes de discriminações ou
de uma hipossuficiência econômica ou física, por meio da
- Direito à igualdade concessão de algum tipo de vantagem compensatória de
Abrangência tais condições.
Observa-se, pelo teor do caput do artigo 5º, CF, que o Quem é contra as ações afirmativas argumenta que,
constituinte afirmou por duas vezes o princípio da igualdade: em uma sociedade pluralista, a condição de membro de
79 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e um grupo específico não pode ser usada como critério de
teoria da constituição. 2. ed. Coimbra: Almedina, 1998, p. 479. inclusão ou exclusão de benefícios. Ademais, afirma-se que

54
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

elas desprivilegiam o critério republicano do mérito (se- Vedação à tortura


gundo o qual o indivíduo deve alcançar determinado cargo De forma expressa no texto constitucional destaca-se
público pela sua capacidade e esforço, e não por pertencer a vedação da tortura, corolário do direito à vida, conforme
a determinada categoria); fomentariam o racismo e o ódio; previsão no inciso III do artigo 5º:
bem como ferem o princípio da isonomia por causar uma
discriminação reversa. Artigo 5º, III, CF. Ninguém será submetido a tortura nem
Por outro lado, quem é favorável às ações afirmativas a tratamento desumano ou degradante.
defende que elas representam o ideal de justiça compen-
satória (o objetivo é compensar injustiças passadas, dívidas A tortura é um dos piores meios de tratamento de-
históricas, como uma compensação aos negros por tê-los sumano, expressamente vedada em âmbito internacional,
feito escravos, p. ex.); representam o ideal de justiça dis- como visto no tópico anterior. No Brasil, além da disciplina
tributiva (a preocupação, aqui, é com o presente. Busca- constitucional, a Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997 define
os crimes de tortura e dá outras providências, destacando-
-se uma concretização do princípio da igualdade material);
-se o artigo 1º:
bem como promovem a diversidade.
Neste sentido, as discriminações legais asseguram a
Art. 1º Constitui crime de tortura:
verdadeira igualdade, por exemplo, com as ações afirmati-
I - constranger alguém com emprego de violência ou
vas, a proteção especial ao trabalho da mulher e do menor,
grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:
as garantias aos portadores de deficiência, entre outras a) com o fim de obter informação, declaração ou confis-
medidas que atribuam a pessoas com diferentes condi- são da vítima ou de terceira pessoa;
ções, iguais possibilidades, protegendo e respeitando suas b) para provocar ação ou omissão de natureza crimi-
diferenças80. Tem predominado em doutrina e jurisprudên- nosa;
cia, inclusive no Supremo Tribunal Federal, que as ações c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
afirmativas são válidas. II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autori-
dade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso
- Direito à vida sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo
Abrangência pessoal ou medida de caráter preventivo.
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a prote- Pena - reclusão, de dois a oito anos.
ção do direito à vida. A vida humana é o centro gravitacio- § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa
nal em torno do qual orbitam todos os direitos da pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico
humana, possuindo reflexos jurídicos, políticos, econômi- ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto
cos, morais e religiosos. Daí existir uma dificuldade em con- em lei ou não resultante de medida legal.
ceituar o vocábulo vida. Logo, tudo aquilo que uma pessoa § 2º Aquele que se omite em face dessas condutas,
possui deixa de ter valor ou sentido se ela perde a vida. quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na
Sendo assim, a vida é o bem principal de qualquer pessoa, pena de detenção de um a quatro anos.
é o primeiro valor moral inerente a todos os seres huma- § 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou
nos81. gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se
No tópico do direito à vida tem-se tanto o direito de resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.
nascer/permanecer vivo, o que envolve questões como § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
pena de morte, eutanásia, pesquisas com células-tronco e I - se o crime é cometido por agente público;
aborto; quanto o direito de viver com dignidade, o que II – se o crime é cometido contra criança, gestante, por-
tador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta)
engloba o respeito à integridade física, psíquica e moral,
anos; 
incluindo neste aspecto a vedação da tortura, bem como
III - se o crime é cometido mediante sequestro.
a garantia de recursos que permitam viver a vida com dig-
§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função
nidade.
ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo
Embora o direito à vida seja em si pouco delimitado
dobro do prazo da pena aplicada.
nos incisos que seguem o caput do artigo 5º, trata-se de § 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de
um dos direitos mais discutidos em termos jurisprudenciais graça ou anistia.
e sociológicos. É no direito à vida que se encaixam polêmi- § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a
cas discussões como: aborto de anencéfalo, pesquisa com hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regi-
células tronco, pena de morte, eutanásia, etc. me fechado.
80 SANFELICE, Patrícia de Mello. Comentários aos artigos I e II.
In: BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal dos - Direito à liberdade
Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008, p. 08. O caput do artigo 5º da Constituição assegura a pro-
81 BARRETO, Ana Carolina Rossi; IBRAHIM, Fábio Zambitte.
Comentários aos Artigos III e IV. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comen-
teção do direito à liberdade, delimitada em alguns incisos
tários à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: For- que o seguem.
tium, 2008, p. 15.

55
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Liberdade e legalidade Consolida-se outra perspectiva da liberdade de expres-


Prevê o artigo 5º, II, CF: são, referente de forma específica a atividades intelectuais,
artísticas, científicas e de comunicação. Dispensa-se, com
Artigo 5º, II, CF. Ninguém será obrigado a fazer ou dei- relação a estas, a exigência de licença para a manifestação
xar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. do pensamento, bem como veda-se a censura prévia.
A respeito da censura prévia, tem-se não cabe impe-
O princípio da legalidade se encontra delimitado nes- dir a divulgação e o acesso a informações como modo de
te inciso, prevendo que nenhuma pessoa será obrigada a controle do poder. A censura somente é cabível quando
fazer ou deixar de fazer alguma coisa a não ser que a lei necessária ao interesse público numa ordem democrática,
assim determine. Assim, salvo situações previstas em lei, por exemplo, censurar a publicação de um conteúdo de
a pessoa tem liberdade para agir como considerar conve- exploração sexual infanto-juvenil é adequado.
niente. O direito à resposta (artigo 5º, V, CF) e o direito à in-
Portanto, o princípio da legalidade possui estrita rela-
denização (artigo 5º, X, CF) funcionam como a contrapar-
ção com o princípio da liberdade, posto que, a priori, tudo
tida para aquele que teve algum direito seu violado (no-
à pessoa é lícito. Somente é vedado o que a lei expres-
tadamente inerentes à privacidade ou à personalidade)
samente estabelecer como proibido. A pessoa pode fazer
tudo o que quiser, como regra, ou seja, agir de qualquer em decorrência dos excessos no exercício da liberdade de
maneira que a lei não proíba. expressão.

Liberdade de pensamento e de expressão Liberdade de crença/religiosa


O artigo 5º, IV, CF prevê: Dispõe o artigo 5º, VI, CF:

Artigo 5º, IV, CF. É livre a manifestação do pensamen- Artigo 5º, VI, CF. É inviolável a liberdade de consciên-
to, sendo vedado o anonimato. cia e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos
cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção
Consolida-se a afirmação simultânea da liberdade de aos locais de culto e a suas liturgias.
pensamento e da liberdade de expressão.
Em primeiro plano tem-se a liberdade de pensamento. Cada pessoa tem liberdade para professar a sua fé
Afinal, “o ser humano, através dos processos internos de como bem entender dentro dos limites da lei. Não há uma
reflexão, formula juízos de valor. Estes exteriorizam nada crença ou religião que seja proibida, garantindo-se que a
mais do que a opinião de seu emitente. Assim, a regra profissão desta fé possa se realizar em locais próprios.
constitucional, ao consagrar a livre manifestação do pensa- Nota-se que a liberdade de religião engloba 3 tipos
mento, imprime a existência jurídica ao chamado direito de distintos, porém intrinsecamente relacionados de liberda-
opinião”82. Em outras palavras, primeiro existe o direito de des: a liberdade de crença; a liberdade de culto; e a liber-
ter uma opinião, depois o de expressá-la. dade de organização religiosa.
No mais, surge como corolário do direito à liberdade Consoante o magistério de José Afonso da Silva83, entra
de pensamento e de expressão o direito à escusa por con- na liberdade de crença a liberdade de escolha da religião,
vicção filosófica ou política: a liberdade de aderir a qualquer seita religiosa, a liberdade
(ou o direito) de mudar de religião, além da liberdade de
Artigo 5º, VIII, CF. Ninguém será privado de direitos por não aderir a religião alguma, assim como a liberdade de
motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou
descrença, a liberdade de ser ateu e de exprimir o agnos-
política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação
ticismo, apenas excluída a liberdade de embaraçar o livre
legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação al-
exercício de qualquer religião, de qualquer crença. A liber-
ternativa, fixada em lei.
dade de culto consiste na liberdade de orar e de praticar
Trata-se de instrumento para a consecução do direito os atos próprios das manifestações exteriores em casa ou
assegurado na Constituição Federal – não basta permitir em público, bem como a de recebimento de contribuições
que se pense diferente, é preciso respeitar tal posiciona- para tanto. Por fim, a liberdade de organização religiosa
mento. refere-se à possibilidade de estabelecimento e organização
Com efeito, este direito de liberdade de expressão é de igrejas e suas relações com o Estado.
limitado. Um destes limites é o anonimato, que consiste na Como decorrência do direito à liberdade religiosa, as-
garantia de atribuir a cada manifestação uma autoria cer- segurando o seu exercício, destaca-se o artigo 5º, VII, CF:
ta e determinada, permitindo eventuais responsabilizações
por manifestações que contrariem a lei. Artigo 5º, VII, CF. É assegurada, nos termos da lei, a pres-
Tem-se, ainda, a seguinte previsão no artigo 5º, IX, CF: tação de assistência religiosa nas entidades civis e mili-
tares de internação coletiva.
Artigo 5º, IX, CF. É livre a expressão da atividade inte-
lectual, artística, científica e de comunicação, indepen- O dispositivo refere-se não só aos estabelecimentos
dentemente de censura ou licença. prisionais civis e militares, mas também a hospitais.
82 ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. 83 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional posi-
Curso de direito constitucional. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. tivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.

56
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Ainda, surge como corolário do direito à liberdade reli- A respeito, a Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011
giosa o direito à escusa por convicção religiosa: regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do
art. 5º, CF, também conhecida como Lei do Acesso à Infor-
Artigo 5º, VIII, CF. Ninguém será privado de direitos por mação.
motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou po- Não obstante, estabelece o artigo 5º, XXXIV, CF:
lítica, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal
a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alterna- Artigo 5º, XXXIV, CF. São a todos assegurados, indepen-
tiva, fixada em lei. dentemente do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa
Sempre que a lei impõe uma obrigação a todos, por de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
exemplo, a todos os homens maiores de 18 anos o alis- b) a obtenção de certidões em repartições públicas,
tamento militar, não cabe se escusar, a não ser que tenha para defesa de direitos e esclarecimento de situações de in-
fundado motivo em crença religiosa ou convicção filosó- teresse pessoal.
fica/política, caso em que será obrigado a cumprir uma
prestação alternativa, isto é, uma outra atividade que não Quanto ao direito de petição, de maneira prática, cum-
contrarie tais preceitos. pre observar que o direito de petição deve resultar em uma
manifestação do Estado, normalmente dirimindo (resol-
Liberdade de informação vendo) uma questão proposta, em um verdadeiro exercí-
O direito de acesso à informação também se liga a uma cio contínuo de delimitação dos direitos e obrigações que
dimensão do direito à liberdade. Neste sentido, prevê o regulam a vida social e, desta maneira, quando “dificulta
artigo 5º, XIV, CF: a apreciação de um pedido que um cidadão quer apre-
sentar” (muitas vezes, embaraçando-lhe o acesso à Justiça);
Artigo 5º, XIV, CF. É assegurado a todos o acesso à in- “demora para responder aos pedidos formulados” (admi-
formação e resguardado o sigilo da fonte, quando neces- nistrativa e, principalmente, judicialmente) ou “impõe res-
sário ao exercício profissional. trições e/ou condições para a formulação de petição”, traz
a chamada insegurança jurídica, que traz desesperança e
Trata-se da liberdade de informação, consistente na faz proliferar as desigualdades e as injustiças.
liberdade de procurar e receber informações e ideias por Dentro do espectro do direito de petição se insere, por
quaisquer meios, independente de fronteiras, sem interfe- exemplo, o direito de solicitar esclarecimentos, de solicitar
rência. cópias reprográficas e certidões, bem como de ofertar de-
A liberdade de informação tem um caráter passivo, ao núncias de irregularidades. Contudo, o constituinte, talvez
passo que a liberdade de expressão tem uma caracterís- na intenção de deixar clara a obrigação dos Poderes Públi-
tica ativa, de forma que juntas formam os aspectos ativo cos em fornecer certidões, trouxe a letra b) do inciso, o que
e passivo da exteriorização da liberdade de pensamento: gera confusões conceituais no sentido do direito de obter
não basta poder manifestar o seu próprio pensamento, é certidões ser dissociado do direito de petição.
preciso que ele seja ouvido e, para tanto, há necessidade Por fim, relevante destacar a previsão do artigo 5º, LX, CF:
de se garantir o acesso ao pensamento manifestado para
a sociedade. Artigo 5º, LX, CF. A lei só poderá restringir a publicida-
Por sua vez, o acesso à informação envolve o direito de de dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou
todos obterem informações claras, precisas e verdadeiras a o interesse social o exigirem.
respeito de fatos que sejam de seu interesse, notadamente
pelos meios de comunicação imparciais e não monopoli- Logo,o processo, em regra, não será sigiloso. Apenas
zados (artigo 220, CF). No entanto, nem sempre é possível o será quando a intimidade merecer preservação (ex: pro-
que a imprensa divulgue com quem obteve a informação cesso criminal de estupro ou causas de família em geral) ou
divulgada, sem o que a segurança desta poderia ficar pre- quando o interesse social exigir (ex: investigações que pos-
judicada e a informação inevitavelmente não chegaria ao sam ser comprometidas pela publicidade). A publicidade é
público. instrumento para a efetivação da liberdade de informação.
Especificadamente quanto à liberdade de informação
no âmbito do Poder Público, merecem destaque algumas Liberdade de locomoção
previsões. Outra faceta do direito à liberdade encontra-se no ar-
Primeiramente, prevê o artigo 5º, XXXIII, CF: tigo 5º, XV, CF:

Artigo 5º, XXXIII, CF. Todos têm direito a receber dos Artigo 5º, XV, CF. É livre a locomoção no território na-
órgãos públicos informações de seu interesse particular, cional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos ter-
ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no pra- mos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens.
zo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas
cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e A liberdade de locomoção é um aspecto básico do di-
do Estado. reito à liberdade, permitindo à pessoa ir e vir em todo o
território do país em tempos de paz (em tempos de guerra

57
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

é possível limitar tal liberdade em prol da segurança). A de armas, totalmente vedado, assim como de substâncias
liberdade de sair do país não significa que existe um direito ilícitas (Ex: embora a Marcha da Maconha tenha sido auto-
de ingressar em qualquer outro país, pois caberá à ele, no rizada pelo Supremo Tribunal Federal, vedou-se que nela
exercício de sua soberania, controlar tal entrada. tal substância ilícita fosse utilizada).
Classicamente, a prisão é a forma de restrição da liber-
dade. Neste sentido, uma pessoa somente poderá ser pre- Liberdade de associação
sa nos casos autorizados pela própria Constituição Federal. No que tange à liberdade de reunião, traz o artigo 5º,
A despeito da normativa específica de natureza penal, re- XVII, CF:
força-se a impossibilidade de se restringir a liberdade de
locomoção pela prisão civil por dívida. Artigo 5º, XVII, CF. É plena a liberdade de associação
Prevê o artigo 5º, LXVII, CF: para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar.

Artigo 5º, LXVII, CF. Não haverá prisão civil por dívi- A liberdade de associação difere-se da de reunião por
da, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário sua perenidade, isto é, enquanto a liberdade de reunião é
e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário exercida de forma sazonal, eventual, a liberdade de asso-
infiel. ciação implica na formação de um grupo organizado que
se mantém por um período de tempo considerável, dotado
Nos termos da Súmula Vinculante nº 25 do Supremo de estrutura e organização próprias.
Tribunal Federal, “é ilícita a prisão civil de depositário infiel, Por exemplo, o PCC e o Comando vermelho são asso-
qualquer que seja a modalidade do depósito”. Por isso, a ciações ilícitas e de caráter paramilitar, pois possuem ar-
única exceção à regra da prisão por dívida do ordenamento mas e o ideal de realizar sua própria justiça paralelamente
é a que se refere à obrigação alimentícia. à estatal.
O texto constitucional se estende na regulamentação
Liberdade de trabalho da liberdade de associação.
O direito à liberdade também é mencionado no artigo
O artigo 5º, XVIII, CF, preconiza:
5º, XIII, CF:
Artigo 5º, XVIII, CF. A criação de associações e, na for-
Artigo 5º, XIII, CF. É livre o exercício de qualquer tra-
ma da lei, a de cooperativas independem de autorização,
balho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações
sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento.
profissionais que a lei estabelecer.
Neste sentido, associações são organizações resultan-
O livre exercício profissional é garantido, respeitados
tes da reunião legal entre duas ou mais pessoas, com ou
os limites legais. Por exemplo, não pode exercer a profis-
sem personalidade jurídica, para a realização de um obje-
são de advogado aquele que não se formou em Direito
e não foi aprovado no Exame da Ordem dos Advogados tivo comum; já cooperativas são uma forma específica de
do Brasil; não pode exercer a medicina aquele que não fez associação, pois visam a obtenção de vantagens comuns
faculdade de medicina reconhecida pelo MEC e obteve o em suas atividades econômicas.
cadastro no Conselho Regional de Medicina. Ainda, tem-se o artigo 5º, XIX, CF:

Liberdade de reunião Artigo 5º, XIX, CF. As associações só poderão ser com-
Sobre a liberdade de reunião, prevê o artigo 5º, XVI, CF: pulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas
por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito
Artigo 5º, XVI, CF. Todos podem reunir-se pacificamen- em julgado.
te, sem armas, em locais abertos ao público, independen-
temente de autorização, desde que não frustrem outra re- O primeiro caso é o de dissolução compulsória, ou seja,
união anteriormente convocada para o mesmo local, sendo a associação deixará de existir para sempre. Obviamente, é
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente. preciso o trânsito em julgado da decisão judicial que as-
sim determine, pois antes disso sempre há possibilidade
Pessoas podem ir às ruas para reunirem-se com de- de reverter a decisão e permitir que a associação continue
mais na defesa de uma causa, apenas possuindo o dever em funcionamento. Contudo, a decisão judicial pode sus-
de informar tal reunião. Tal dever remonta-se a questões de pender atividades até que o trânsito em julgado ocorra, ou
segurança coletiva. Imagine uma grande reunião de pes- seja, no curso de um processo judicial.
soas por uma causa, a exemplo da Parada Gay, que chega Em destaque, a legitimidade representativa da associa-
a aglomerar milhões de pessoas em algumas capitais: seria ção quanto aos seus filiados, conforme artigo 5º, XXI, CF:
absurdo tolerar tal tipo de reunião sem o prévio aviso do
poder público para que ele organize o policiamento e a as- Artigo 5º, XXI, CF. As entidades associativas, quando ex-
sistência médica, evitando algazarras e socorrendo pessoas pressamente autorizadas, têm legitimidade para represen-
que tenham algum mal-estar no local. Outro limite é o uso tar seus filiados judicial ou extrajudicialmente.

58
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Trata-se de caso de legitimidade processual extraordi- Artigo 5º, XI, CF. A casa é asilo inviolável do indivíduo,
nária, pela qual um ente vai a juízo defender interesse de ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do mo-
outra(s) pessoa(s) porque a lei assim autoriza. rador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
A liberdade de associação envolve não somente o di- prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.
reito de criar associações e de fazer parte delas, mas tam-
bém o de não associar-se e o de deixar a associação, con- O domicílio é inviolável, razão pela qual ninguém pode
forme artigo 5º, XX, CF: nele entrar sem o consentimento do morador, a não ser
EM QUALQUER HORÁRIO no caso de flagrante delito (o
Artigo 5º, XX, CF. Ninguém poderá ser compelido a as- morador foi flagrado na prática de crime e fugiu para seu
sociar-se ou a permanecer associado. domicílio) ou desastre (incêndio, enchente, terremoto...) ou
para prestar socorro (morador teve ataque do coração, está
- Direitos à privacidade e à personalidade sufocado, desmaiado...), e SOMENTE DURANTE O DIA por
determinação judicial.
Abrangência Quanto ao sigilo de correspondência e das comunica-
Prevê o artigo 5º, X, CF: ções, prevê o artigo 5º, XII, CF:

Artigo 5º, X, CF. São invioláveis a intimidade, a vida Artigo 5º, XII, CF. É inviolável o sigilo da correspondência
privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o e das comunicações telegráficas, de dados e das comunica-
direito a indenização pelo dano material ou moral decorren- ções telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial,
te de sua violação. nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal.
O legislador opta por trazer correlacionados no mesmo
dispositivo legal os direitos à privacidade e à personalidade. O sigilo de correspondência e das comunicações está
Reforçando a conexão entre a privacidade e a intimida- melhor regulamentado na Lei nº 9.296, de 1996.
de, ao abordar a proteção da vida privada – que, em resu-
mo, é a privacidade da vida pessoal no âmbito do domicílio Personalidade jurídica e gratuidade de registro
e de círculos de amigos –, Silva84 entende que “o segredo Quando se fala em reconhecimento como pessoa pe-
da vida privada é condição de expansão da personalidade”, rante a lei desdobra-se uma esfera bastante específica dos
mas não caracteriza os direitos de personalidade em si. direitos de personalidade, consistente na personalidade ju-
A união da intimidade e da vida privada forma a pri- rídica. Basicamente, consiste no direito de ser reconhecido
vacidade, sendo que a primeira se localiza em esfera mais como pessoa perante a lei.
estrita. É possível ilustrar a vida social como se fosse um Para ser visto como pessoa perante a lei mostra-se
grande círculo no qual há um menor, o da vida privada, e necessário o registro. Por ser instrumento que serve como
dentro deste um ainda mais restrito e impenetrável, o da pressuposto ao exercício de direitos fundamentais, asse-
intimidade. Com efeito, pela “Teoria das Esferas” (ou “Teoria gura-se a sua gratuidade aos que não tiverem condição de
dos Círculos Concêntricos”), importada do direito alemão, com ele arcar.
quanto mais próxima do indivíduo, maior a proteção a ser Aborda o artigo 5º, LXXVI, CF:
conferida à esfera (as esferas são representadas pela inti-
midade, pela vida privada, e pela publicidade). Artigo 5º, LXXVI, CF. São gratuitos para os reconheci-
“O direito à honra distancia-se levemente dos dois an- damente pobres, na forma da lei: a) o registro civil de nas-
teriores, podendo referir-se ao juízo positivo que a pessoa cimento; b) a certidão de óbito.
tem de si (honra subjetiva) e ao juízo positivo que dela fa-
zem os outros (honra objetiva), conferindo-lhe respeitabi- O reconhecimento do marco inicial e do marco final
lidade no meio social. O direito à imagem também pos- da personalidade jurídica pelo registro é direito individual,
sui duas conotações, podendo ser entendido em sentido não dependendo de condições financeiras. Evidente, seria
objetivo, com relação à reprodução gráfica da pessoa, por absurdo cobrar de uma pessoa sem condições a elabora-
meio de fotografias, filmagens, desenhos, ou em sentido ção de documentos para que ela seja reconhecida como
subjetivo, significando o conjunto de qualidades cultivadas viva ou morta, o que apenas incentivaria a indigência dos
pela pessoa e reconhecidas como suas pelo grupo social”85. menos favorecidos.

Inviolabilidade de domicílio e sigilo de correspon- Direito à indenização e direito de resposta


dência Com vistas à proteção do direito à privacidade, do di-
Correlatos ao direito à privacidade, aparecem a invio- reito à personalidade e do direito à imagem, asseguram-se
labilidade do domicílio e o sigilo das correspondências e dois instrumentos, o direito à indenização e o direito de
comunicações. resposta, conforme as necessidades do caso concreto.
Neste sentido, o artigo 5º, XI, CF prevê: Com efeito, prevê o artigo 5º, V, CF:
84 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional posi-
tivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
Artigo 5º, V, CF. É assegurado o direito de resposta,
85 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso de direito consti- proporcional ao agravo, além da indenização por dano ma-
tucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. terial, moral ou à imagem.

59
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

“A manifestação do pensamento é livre e garantida Nesta linha, para Silva88, “efetivamente, esse conjunto
em nível constitucional, não aludindo a censura prévia em de direitos aparelha situações, proibições, limitações e pro-
diversões e espetáculos públicos. Os abusos porventura cedimentos destinados a assegurar o exercício e o gozo de
ocorridos no exercício indevido da manifestação do pensa- algum direito individual fundamental (intimidade, liberda-
mento são passíveis de exame e apreciação pelo Poder Ju- de pessoal ou a incolumidade física ou moral)”.
diciário com a consequente responsabilidade civil e penal Especificamente no que tange à segurança jurídica,
de seus autores, decorrentes inclusive de publicações inju- tem-se o disposto no artigo 5º, XXXVI, CF:
riosas na imprensa, que deve exercer vigilância e controle
da matéria que divulga”86. Artigo 5º, XXXVI, CF. A lei não prejudicará o direito ad-
O  direito de resposta é o direito que uma pessoa quirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
tem de se defender de críticas públicas no mesmo meio
em que foram publicadas garantida exatamente a mes- Pelo inciso restam estabelecidos limites à retroativida-
de da lei.
ma repercussão. Mesmo quando for garantido o direito
Define o artigo 6º da Lei de Introdução às Normas do
de resposta não é possível reverter plenamente os da-
Direito Brasileiro:
nos causados pela manifestação ilícita de pensamento,
razão pela qual a pessoa inda fará jus à indenização.
Artigo 6º, LINDB. A Lei em vigor terá efeito imediato e
A manifestação ilícita do pensamento geralmente cau- geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido
sa um dano, ou seja, um prejuízo sofrido pelo agente, que e a coisa julgada.
pode ser individual ou coletivo, moral ou material, econô- § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado
mico e não econômico. segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.
Dano material é aquele que atinge o patrimônio (ma- § 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o
terial ou imaterial) da vítima, podendo ser mensurado fi- seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles
nanceiramente e indenizado. cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condi-
“Dano moral direto consiste na lesão a um interesse ção pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
que visa a satisfação ou gozo de um bem jurídico extrapa- § 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão
trimonial contido nos direitos da personalidade (como a judicial de que já não caiba recurso.
vida, a integridade corporal, a liberdade, a honra, o decoro,
a intimidade, os sentimentos afetivos, a própria imagem) - Direito à propriedade
ou nos atributos da pessoa (como o nome, a capacidade, o O caput do artigo 5º da Constituição assegura a pro-
estado de família)”87. teção do direito à propriedade, tanto material quanto inte-
Já o dano à imagem é delimitado no artigo 20 do Có- lectual, delimitada em alguns incisos que o seguem.
digo Civil:
Função social da propriedade material
Artigo 20, CC. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à O artigo 5º, XXII, CF estabelece:
administração da justiça ou à manutenção da ordem públi-
ca, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a Artigo 5º, XXII, CF. É garantido o direito de propriedade.
publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma
pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem pre- A seguir, no inciso XXIII do artigo 5º, CF estabelece o
juízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, principal fator limitador deste direito:
a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins
Artigo 5º, XXIII, CF. A propriedade atenderá a sua fun-
comerciais.
ção social.
- Direito à segurança
A propriedade, segundo Silva89, “[...] não pode mais ser
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a pro-
considerada como um direito individual nem como institui-
teção do direito à segurança. Na qualidade de direito in- ção do direito privado. [...] embora prevista entre os direi-
dividual liga-se à segurança do indivíduo como um todo, tos individuais, ela não mais poderá ser considerada puro
desde sua integridade física e mental, até a própria segu- direito individual, relativizando-se seu conceito e significa-
rança jurídica. do, especialmente porque os princípios da ordem econô-
No sentido aqui estudado, o direito à segurança pes- mica são preordenados à vista da realização de seu fim:
soal é o direito de viver sem medo, protegido pela soli- assegurar a todos existência digna, conforme os ditames
dariedade e liberto de agressões, logo, é uma maneira de da justiça social. Se é assim, então a propriedade privada,
garantir o direito à vida. que, ademais, tem que atender a sua função social, fica vin-
culada à consecução daquele princípio”.
86 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 26. ed. 88 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional posi-
São Paulo: Malheiros, 2011. tivo... Op. Cit., p. 437.
87 ZANNONI, Eduardo. El daño en la responsabilidad civil. 89 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional posi-
Buenos Aires: Astrea, 1982. tivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.

60
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Com efeito, a proteção da propriedade privada está li- III - desapropriação com pagamento mediante títulos
mitada ao atendimento de sua função social, sendo este o da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo
requisito que a correlaciona com a proteção da dignidade Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em
da pessoa humana. A propriedade de bens e valores em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real
geral é um direito assegurado na Constituição Federal e, da indenização e os juros legais91.
como todos os outros, se encontra limitado pelos demais
princípios conforme melhor se atenda à dignidade do ser Artigo 184, CF. Compete à União desapropriar por in-
humano. teresse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural
A Constituição Federal delimita o que se entende por que não esteja cumprindo sua função social, mediante
função social: prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária,
com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no
Art. 182, caput, CF. A política de desenvolvimento urba- prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua
no, executada pelo Poder Público municipal, conforme dire- emissão, e cuja utilização será definida em lei92.
trizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o Artigo 184, § 1º, CF. As benfeitorias úteis e necessárias
bem-estar de seus habitantes. serão indenizadas em dinheiro.
Artigo 182, § 1º, CF. O plano diretor, aprovado pela Câ- No que tange à desapropriação por necessidade ou
mara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte utilidade pública, prevê o artigo 5º, XXIV, CF:
mil habitantes, é o instrumento básico da política de desen-
volvimento e de expansão urbana. Artigo 5º, XXIV, CF. A lei estabelecerá o procedimento
para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou
Artigo 182, § 2º, CF. A propriedade urbana cumpre sua por interesse social, mediante justa e prévia indenização em
função social quando atende às exigências fundamentais de dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição.
ordenação da cidade expressas no plano diretor90.
Ainda, prevê o artigo 182, § 3º, CF:
Artigo 186, CF. A função social é cumprida quando a
propriedade rural atende, simultaneamente, segundo crité-
Artigo 182, §3º, CF. As desapropriações de imóveis urba-
rios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes
nos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro.
requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
Tem-se, ainda o artigo 184, §§ 2º e 3º, CF:
II - utilização adequada dos recursos naturais disponí-
veis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as rela- Artigo 184, §2º, CF. O decreto que declarar o imóvel
ções de trabalho; como de interesse social, para fins de reforma agrária, auto-
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprie- riza a União a propor a ação de desapropriação.
tários e dos trabalhadores.
Artigo 184, §3º, CF. Cabe à lei complementar estabelecer
Desapropriação procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o
No caso de desrespeito à função social da proprieda- processo judicial de desapropriação.
de cabe até mesmo desapropriação do bem, de modo que
pode-se depreender do texto constitucional duas possibi- A desapropriação por utilidade ou necessidade pública
lidades de desapropriação: por desrespeito à função social deve se dar mediante prévia e justa indenização em dinheiro.
e por necessidade ou utilidade pública. O Decreto-lei nº 3.365/1941 a disciplina, delimitando o pro-
A Constituição Federal prevê a possibilidade de desa- cedimento e conceituando utilidade pública, em seu artigo 5º:
propriação por desatendimento à função social: 91 Nota-se que antes de se promover a desapropria-
ção de imóvel urbano por desatendimento à função social é
Artigo 182, § 4º, CF. É facultado ao Poder Público mu- necessário tomar duas providências, sucessivas: primeiro, o
nicipal, mediante lei específica para área incluída no plano parcelamento ou edificação compulsórios; depois, o estabe-
diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do lecimento de imposto sobre a propriedade predial e territorial
solo urbano não edificado, subutilizado ou não utiliza- urbana progressivo no tempo. Se ambas medidas restarem
do, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, ineficazes, parte-se para a desapropriação por desatendimen-
sucessivamente, de: to à função social.
I - parcelamento ou edificação compulsórios; 92 A desapropriação em decorrência do desatendimen-
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial ur- to da função social é indenizada, mas não da mesma maneira
bana progressivo no tempo; que a desapropriação por necessidade ou utilidade pública,
90 Instrumento básico de um processo de planejamen- já que na primeira há violação do ordenamento constitucional
to municipal para a implantação da política de desenvolvimen- pelo proprietário, mas na segunda não. Por isso, indeniza-se
to urbano, norteando a ação dos agentes públicos e privados em títulos da dívida agrária, que na prática não são tão valori-
(Lei n. 10.257/2001 - Estatuto da cidade). zados quanto o dinheiro.

61
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Artigo 5º, Decreto-lei n. 3.365/1941. Consideram-se ca- Assim, se uma pessoa é mais humilde e tem uma pe-
sos de utilidade pública: quena propriedade será assegurado que permaneça com
a) a segurança nacional; ela e a torne mais produtiva.
b) a defesa do Estado; A preservação da pequena propriedade em detrimento
c) o socorro público em caso de calamidade; dos grandes latifúndios improdutivos é uma das diretrizes-
d) a salubridade pública; -guias da regulamentação da política agrária brasileira, que
e) a criação e melhoramento de centros de população, tem como principal escopo a realização da reforma agrária.
seu abastecimento regular de meios de subsistência; Parte da questão financeira atinente à reforma agrária
f) o aproveitamento industrial das minas e das jazidas se encontra prevista no artigo 184, §§ 4º e 5º, CF:
minerais, das águas e da energia hidráulica;
g) a assistência pública, as obras de higiene e decoração, Artigo 184, §4º, CF. O orçamento fixará anualmente
casas de saúde, clínicas, estações de clima e fontes medicinais; o volume total de títulos da dívida agrária, assim como o
h) a exploração ou a conservação dos serviços públicos; montante de recursos para atender ao programa de reforma
i) a abertura, conservação e melhoramento de vias ou agrária no exercício.
logradouros públicos; a execução de planos de urbanização;
o parcelamento do solo, com ou sem edificação, para sua Artigo 184, §5º, CF. São isentas de impostos federais, es-
melhor utilização econômica, higiênica ou estética; a cons- taduais e municipais as operações de transferência de imó-
trução ou ampliação de distritos industriais; veis desapropriados para fins de reforma agrária.
j) o funcionamento dos meios de transporte coletivo;
k) a preservação e conservação dos monumentos históri- Como a finalidade da reforma agrária é transformar
cos e artísticos, isolados ou integrados em conjuntos urbanos terras improdutivas e grandes propriedades em atinentes à
ou rurais, bem como as medidas necessárias a manter-lhes função social, alguns imóveis rurais não podem ser abran-
e realçar-lhes os aspectos mais valiosos ou característicos e, gidos pela reforma agrária:
ainda, a proteção de paisagens e locais particularmente do-
tados pela natureza;
Art. 185, CF. São insuscetíveis de desapropriação para
l) a preservação e a conservação adequada de arquivos,
fins de reforma agrária:
documentos e outros bens moveis de valor histórico ou ar-
I - a pequena e média propriedade rural, assim definida
tístico;
em lei, desde que seu proprietário não possua outra;
m) a construção de edifícios públicos, monumentos co-
II - a propriedade produtiva.
memorativos e cemitérios;
Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à
n) a criação de estádios, aeródromos ou campos de pou-
so para aeronaves; propriedade produtiva e fixará normas para o cumprimento
o) a reedição ou divulgação de obra ou invento de natu- dos requisitos relativos a sua função social.
reza científica, artística ou literária;
p) os demais casos previstos por leis especiais. Sobre as diretrizes da política agrícola, prevê o artigo 187:

Um grande problema que faz com que processos que Art. 187, CF. A política agrícola será planejada e exe-
tenham a desapropriação por objeto se estendam é a in- cutada na forma da lei, com a participação efetiva do setor
devida valorização do imóvel pelo Poder Público, que ge- de produção, envolvendo produtores e trabalhadores rurais,
ralmente pretende pagar valor muito abaixo do devido, bem como dos setores de comercialização, de armazena-
necessitando o Judiciário intervir em prol da correta ava- mento e de transportes, levando em conta, especialmente:
liação. I - os instrumentos creditícios e fiscais;
Outra questão reside na chamada tredestinação, pela II - os preços compatíveis com os custos de produção e a
qual há a destinação de um bem expropriado (desapro- garantia de comercialização;
priação) a finalidade diversa da que se planejou inicial- III - o incentivo à pesquisa e à tecnologia;
mente. A tredestinação pode ser lícita ou ilícita. Será ilícita IV - a assistência técnica e extensão rural;
quando resultante de desvio do propósito original; e será V - o seguro agrícola;
lícita quando a Administração Pública dê ao bem finalidade VI - o cooperativismo;
diversa, porém preservando a razão do interesse público. VII - a eletrificação rural e irrigação;
VIII - a habitação para o trabalhador rural.
Política agrária e reforma agrária § 1º Incluem-se no planejamento agrícola as atividades
Enquanto desdobramento do direito à propriedade agroindustriais, agropecuárias, pesqueiras e florestais.
imóvel e da função social desta propriedade, tem-se ainda § 2º Serão compatibilizadas as ações de política agríco-
o artigo 5º, XXVI, CF: la e de reforma agrária.

Artigo 5º, XXVI, CF. A pequena propriedade rural, as- As terras devolutas e públicas serão destinadas confor-
sim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não me a política agrícola e o plano nacional de reforma agrá-
será objeto de penhora para pagamento de débitos decor- ria (artigo 188, caput, CF). Neste sentido, “a alienação ou a
rentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os concessão, a qualquer título, de terras públicas com área
meios de financiar o seu desenvolvimento. superior a dois mil e quinhentos hectares a pessoa física

62
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

ou jurídica, ainda que por interposta pessoa, dependerá de dentro do limite da usucapião urbana? Predominou que
prévia aprovação do Congresso Nacional”, salvo no caso só corria o prazo a partir da criação do instituto, não só
de alienações ou concessões de terras públicas para fins de porque antes não existia e o prazo não podia correr, como
reforma agrária (artigo 188, §§ 1º e 2º, CF). também não se poderia prejudicar o proprietário.
Os que forem favorecidos pela reforma agrária (ho- d) Moradia sua ou de sua família – não basta ter posse,
mens, mulheres, ambos, qualquer estado civil) não poderão é preciso que a pessoa more, sozinha ou com sua família,
negociar seus títulos pelo prazo de 10 anos (artigo 189, CF). ao longo de todo o prazo (não só no início ou no final).
Consta, ainda, que “a lei regulará e limitará a aquisição Logo, não cabe acessio temporis por cessão da posse.
ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa física ou e) Nenhum outro imóvel, nem urbano, nem rural, no
jurídica estrangeira e estabelecerá os casos que dependerão Brasil. O usucapiente não prova isso, apenas alega. Se al-
de autorização do Congresso Nacional” (artigo 190, CF). guém não quiser a usucapião, prova o contrário. Este re-
quisito é verificado no momento em que completa 5 anos.
Usucapião Em relação à previsão da usucapião especial rural, des-
Usucapião é o modo originário de aquisição da pro- taca-se o artigo 191, CF:
priedade que decorre da posse prolongada por um lon-
go tempo, preenchidos outros requisitos legais. Em outras Art. 191, CF. Aquele que, não sendo proprietário de imó-
palavras, usucapião é uma situação em que alguém tem a vel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos inin-
posse de um bem por um tempo longo, sem ser incomo- terruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não
dado, a ponto de se tornar proprietário. superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu
A Constituição regulamenta o acesso à propriedade trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adqui-
mediante posse prolongada no tempo – usucapião – em rir-lhe-á a propriedade.
casos específicos, denominados usucapião especial urbana Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiri-
e usucapião especial rural. dos por usucapião.
O artigo 183 da Constituição regulamenta a usucapião
especial urbana: Além dos requisitos gerais (animus e posse que seja
pública, pacífica, ininterrupta e contínua), são exigidos os
Art. 183, CF. Aquele que possuir como sua área urbana seguintes requisitos específicos:
de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco a) Imóvel rural
anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para b) 50 hectares, no máximo – há também legislação que
sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, estabelece um limite mínimo, o módulo rural (Estatuto da
desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou Terra). É possível usucapir áreas menores que o módulo ru-
rural. ral? Tem prevalecido o entendimento de que pode, mas é
§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão assunto muito controverso.
conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, indepen- c) 5 anos – pode ser considerado o prazo antes 05 de
dentemente do estado civil. outubro de 1988 (Constituição Federal)? Depende. Se a
§ 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo pos- área é de até 25 hectares sim, pois já havia tal possibilidade
suidor mais de uma vez. antes da CF/88. Se área for maior (entre 25 ha e 50 ha) não.
§ 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usu- d) Moradia sua ou de sua família – a pessoa deve morar
capião. na área rural.
e) Nenhum outro imóvel.
Além dos requisitos gerais (animus e posse que seja f) O usucapiente, com seu trabalho, deve ter tornado
pública, pacífica, ininterrupta e contínua), são exigidos os a área produtiva. Por isso, é chamado de usucapião “pro
seguintes requisitos específicos: labore”. Dependerá do caso concreto.
a) Área urbana – há controvérsia. Pela teoria da locali-
zação, área urbana é a que está dentro do perímetro urba- Uso temporário
no. Pela teoria da destinação, mais importante que a locali- No mais, estabelece-se uma terceira limitação ao di-
zação é a sua utilização. Ex.: se tem fins agrícolas/pecuários reito de propriedade que não possui o caráter definitivo
e estiver dentro do perímetro urbana, o imóvel é rural. Para da desapropriação, mas é temporária, conforme artigo 5º,
fins de usucapião a maioria diz que prevalece a teoria da XXV, CF:
localização.
b) Imóveis até 250 m² – Pode dentro de uma posse Artigo 5º, XXV, CF. No caso de iminente perigo públi-
maior isolar área de 250m² e ingressar com a ação? A juris- co, a autoridade competente poderá usar de propriedade
prudência é pacífica que a posse desde o início deve ficar particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior,
restrita a 250m². Predomina também que o terreno deve se houver dano.
ter 250m², não a área construída (a área de um sobrado,
por exemplo, pode ser maior que a de um terreno). Se uma pessoa tem uma propriedade, numa situação
c) 5 anos – houve controvérsia porque a Constituição de perigo, o poder público pode se utilizar dela (ex: montar
Federal de 1988 que criou esta modalidade. E se antes uma base para capturar um fugitivo), pois o interesse da
de 05 de outubro de 1988 uma pessoa tivesse há 4 anos coletividade é maior que o do indivíduo proprietário.

63
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Direito sucessório Artigo 5º, XXVIII, CF. São assegurados, nos termos da lei:
O direito sucessório aparece como uma faceta do di- a) a proteção às participações individuais em obras
reito à propriedade, encontrando disciplina constitucional coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, in-
no artigo 5º, XXX e XXXI, CF: clusive nas atividades desportivas;
b) o direito de fiscalização do aproveitamento eco-
Artigo 5º, XXX, CF. É garantido o direito de herança; nômico das obras que criarem ou de que participarem aos
criadores, aos intérpretes e às respectivas representações
Artigo 5º, XXXI, CF. A sucessão de bens de estrangei- sindicais e associativas;
ros situados no País será regulada pela lei brasileira em be-
nefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não Artigo 5º, XXIX, CF. A lei assegurará aos autores de in-
lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus. ventos industriais privilégio temporário para sua utiliza-
ção, bem como proteção às criações industriais, à proprie-
O direito à herança envolve o direito de receber – seja
dade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos
devido a uma previsão legal, seja por testamento – bens
distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvi-
de uma pessoa que faleceu. Assim, o patrimônio passa
mento tecnológico e econômico do País.
para outra pessoa, conforme a vontade do falecido e/ou
a lei determine. A Constituição estabelece uma disciplina
específica para bens de estrangeiros situados no Brasil, as- Assim, a propriedade possui uma vertente intelectual
segurando que eles sejam repassados ao cônjuge e filhos que deve ser respeitada, tanto sob o aspecto moral quanto
brasileiros nos termos da lei mais benéfica (do Brasil ou do sob o patrimonial. No âmbito infraconstitucional brasileiro,
país estrangeiro). a Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, regulamenta os
direitos autorais, isto é, “os direitos de autor e os que lhes
Direito do consumidor são conexos”.
Nos termos do artigo 5º, XXXII, CF: O artigo 7° do referido diploma considera como obras
intelectuais que merecem a proteção do direito do autor
Artigo 5º, XXXII, CF. O Estado promoverá, na forma da os textos de obras de natureza literária, artística ou científi-
lei, a defesa do consumidor. ca; as conferências, sermões e obras semelhantes; as obras
cinematográficas e televisivas; as composições musicais;
O direito do consumidor liga-se ao direito à proprieda- fotografias; ilustrações; programas de computador; coletâ-
de a partir do momento em que garante à pessoa que irá neas e enciclopédias; entre outras.
adquirir bens e serviços que estes sejam entregues e pres- Os direitos morais do autor, que são imprescritíveis,
tados da forma adequada, impedindo que o fornecedor se inalienáveis e irrenunciáveis, envolvem, basicamente, o di-
enriqueça ilicitamente, se aproveite de maneira indevida da reito de reivindicar a autoria da obra, ter seu nome divul-
posição menos favorável e de vulnerabilidade técnica do gado na utilização desta, assegurar a integridade desta ou
consumidor. modificá-la e retirá-la de circulação se esta passar a afron-
O Direito do Consumidor pode ser considerado um tar sua honra ou imagem.
ramo recente do Direito. No Brasil, a legislação que o re- Já os direitos patrimoniais do autor, nos termos dos
gulamentou foi promulgada nos anos 90, qual seja a Lei nº artigos 41 a 44 da Lei nº 9.610/98, prescrevem em 70 anos
8.078, de 11 de setembro de 1990, conforme determinado contados do primeiro ano seguinte à sua morte ou do
pela Constituição Federal de 1988, que também estabele- falecimento do último coautor, ou contados do primeiro
ceu no artigo 48 do Ato das Disposições Constitucionais
ano seguinte à divulgação da obra se esta for de natureza
Transitórias:
audiovisual ou fotográfica. Estes, por sua vez, abrangem,
Artigo 48, ADCT. O Congresso Nacional, dentro de cento basicamente, o direito de dispor sobre a reprodução, edi-
e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará có- ção, adaptação, tradução, utilização, inclusão em bases de
digo de defesa do consumidor. dados ou qualquer outra modalidade de utilização; sendo
que estas modalidades de utilização podem se dar a título
A elaboração do Código de Defesa do Consumidor foi oneroso ou gratuito.
um grande passo para a proteção da pessoa nas relações “Os direitos autorais, também conhecidos como co-
de consumo que estabeleça, respeitando-se a condição de pyright (direito de cópia), são considerados bens móveis,
hipossuficiente técnico daquele que adquire um bem ou podendo ser alienados, doados, cedidos ou locados. Res-
faz uso de determinado serviço, enquanto consumidor. salte-se que a permissão a terceiros de utilização de cria-
ções artísticas é direito do autor. [...] A proteção consti-
Propriedade intelectual tucional abrange o plágio e a contrafação. Enquanto que
Além da propriedade material, o constituinte protege o primeiro caracteriza-se pela difusão de obra criada ou
também a propriedade intelectual, notadamente no artigo produzida por terceiros, como se fosse própria, a segunda
5º, XXVII, XXVIII e XXIX, CF: configura a reprodução de obra alheia sem a necessária
permissão do autor”93.
Artigo 5º, XXVII, CF. Aos autores pertence o direito ex-
93 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais:
clusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas teoria geral, comentários aos artigos 1º a 5º da Constituição da Repú-
obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar; blica Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. São Paulo: Atlas,

64
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

- Direitos de acesso à justiça garante a necessária tutela estatal aos conflitos ocorrentes
A formação de um conceito sistemático de acesso à na vida em sociedade. Sempre que uma controvérsia for
justiça se dá com a teoria de Cappelletti e Garth, que apon- levada ao Poder Judiciário, preenchidos os requisitos de
taram três ondas de acesso, isto é, três posicionamentos admissibilidade, ela será resolvida, independentemente de
básicos para a realização efetiva de tal acesso. Tais ondas haver ou não previsão específica a respeito na legislação.
foram percebidas paulatinamente com a evolução do Di- Também se liga à primeira onda de acesso à justiça,
reito moderno conforme implementadas as bases da onda no que tange à abertura do Judiciário mesmo aos menos
anterior, quer dizer, ficou evidente aos autores a emergên- favorecidos economicamente, o artigo 5º, LXXIV, CF:
cia de uma nova onda quando superada a afirmação das
premissas da onda anterior, restando parcialmente imple- Artigo 5º, LXXIV, CF. O Estado prestará assistência jurí-
mentada (visto que até hoje enfrentam-se obstáculos ao dica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiên-
pleno atendimento em todas as ondas). cia de recursos.
Primeiro, Cappelletti e Garth94 entendem que surgiu
uma onda de concessão de assistência judiciária aos po- O constituinte, ciente de que não basta garantir o aces-
bres, partindo-se da prestação sem interesse de remunera- so ao Poder Judiciário, sendo também necessária a efeti-
ção por parte dos advogados e, ao final, levando à criação vidade processual, incluiu pela Emenda Constitucional nº
de um aparato estrutural para a prestação da assistência 45/2004 o inciso LXXVIII ao artigo 5º da Constituição:
pelo Estado.
Em segundo lugar, no entender de Cappelletti e Garth95, Artigo 5º, LXXVIII, CF. A todos, no âmbito judicial e admi-
veio a onda de superação do problema na representação nistrativo, são assegurados a razoável duração do processo
dos interesses difusos, saindo da concepção tradicional de e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
processo como algo restrito a apenas duas partes indivi-  
dualizadas e ocasionando o surgimento de novas institui- Com o tempo se percebeu que não bastava garantir
ções, como o Ministério Público. o acesso à justiça se este não fosse célere e eficaz. Não
Finalmente, Cappelletti e Garth96 apontam uma terceira significa que se deve acelerar o processo em detrimento
onda consistente no surgimento de uma concepção mais de direitos e garantias assegurados em lei, mas sim que é
ampla de acesso à justiça, considerando o conjunto de ins- preciso proporcionar um trâmite que dure nem mais e nem
tituições, mecanismos, pessoas e procedimentos utilizados: menos que o necessário para a efetiva realização da justiça
“[...] esse enfoque encoraja a exploração de uma ampla va- no caso concreto.
riedade de reformas, incluindo alterações nas formas de
procedimento, mudanças na estrutura dos tribunais ou a - Direitos constitucionais-penais
criação de novos tribunais, o uso de pessoas leigas ou pa-
raprofissionais, tanto como juízes quanto como defensores, Juiz natural e vedação ao juízo ou tribunal de ex-
modificações no direito substantivo destinadas a evitar li- ceção
tígios ou facilitar sua solução e a utilização de mecanismos Quando o artigo 5º, LIII, CF menciona:
privados ou informais de solução dos litígios. Esse enfoque,
em suma, não receia inovações radicais e compreensivas, Artigo 5º, LIII, CF. Ninguém será processado nem sen-
que vão muito além da esfera de representação judicial”. tenciado senão pela autoridade competente”, consolida o
Assim, dentro da noção de acesso à justiça, diversos princípio do juiz natural que assegura a toda pessoa o direito
aspectos podem ser destacados: de um lado, deve criar-se de conhecer previamente daquele que a julgará no processo
o Poder Judiciário e se disponibilizar meios para que todas em que seja parte, revestindo tal juízo em jurisdição com-
as pessoas possam buscá-lo; de outro lado, não basta ga- petente para a matéria específica do caso antes mesmo do
rantir meios de acesso se estes forem insuficientes, já que fato ocorrer.
para que exista o verdadeiro acesso à justiça é necessário
que se aplique o direito material de maneira justa e célere. Por sua vez, um desdobramento deste princípio encon-
Relacionando-se à primeira onda de acesso à justiça, tra-se no artigo 5º, XXXVII, CF:
prevê a Constituição em seu artigo 5º, XXXV:
Artigo 5º, XXXVII, CF. Não haverá juízo ou tribunal de
Artigo 5º, XXXV, CF. A lei não excluirá da apreciação do exceção.
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
Juízo ou Tribunal de Exceção é aquele especialmente
O princípio da inafastabilidade da jurisdição é o prin- criado para uma situação pretérita, bem como não reco-
cípio de Direito Processual Público subjetivo, também nhecido como legítimo pela Constituição do país.
cunhado como Princípio da Ação, em que a Constituição
Tribunal do júri
1997. A respeito da competência do Tribunal do júri, prevê o
94 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Tra- artigo 5º, XXXVIII, CF:
dução Ellen Grace Northfleet. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Edi-
tor, 1998, p. 31-32.
95 Ibid., p. 49-52 Artigo 5º, XXXVIII. É reconhecida a instituição do júri,
96 Ibid., p. 67-73 com a organização que lhe der a lei, assegurados:

65
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

a) a plenitude de defesa; ou alterando o regime de cumprimento, notadamente), ela


b) o sigilo das votações; será aplicada. Restam consagrados tanto o princípio da ir-
c) a soberania dos veredictos; retroatividade da lei penal in pejus quanto o da retroativi-
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos dade da lei penal mais benéfica.
contra a vida.
Menções específicas a crimes
O Tribunal do Júri é formado por pessoas do povo, que O artigo 5º, XLI, CF estabelece:
julgam os seus pares. Entende-se ser direito fundamental o
de ser julgado por seus iguais, membros da sociedade e não Artigo 5º, XLI, CF. A lei punirá qualquer discriminação
magistrados, no caso de determinados crimes que por sua atentatória dos direitos e liberdades fundamentais.
natureza possuem fortes fatores de influência emocional.
Plenitude da defesa envolve tanto a autodefesa quanto Sendo assim confere fórmula genérica que remete ao
a defesa técnica e deve ser mais ampla que a denominada princípio da igualdade numa concepção ampla, razão pela
ampla defesa assegurada em todos os procedimentos judi- qual práticas discriminatórias não podem ser aceitas. No
ciais e administrativos. entanto, o constituinte entendeu por bem prever trata-
Sigilo das votações envolve a realização de votações mento específico a certas práticas criminosas.
secretas, preservando a liberdade de voto dos que com- Neste sentido, prevê o artigo 5º, XLII, CF:
põem o conselho que irá julgar o ato praticado.
A decisão tomada pelo conselho é soberana. Contudo, Artigo 5º, XLII, CF. A prática do racismo constitui crime
a soberania dos veredictos veda a alteração das decisões inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão,
dos jurados, não a recorribilidade dos julgamentos do Tri- nos termos da lei.
bunal do Júri para que seja procedido novo julgamento
uma vez cassada a decisão recorrida, haja vista preservar A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 define os crimes
o ordenamento jurídico pelo princípio do duplo grau de resultantes de preconceito de raça ou de cor. Contra eles
jurisdição. não cabe fiança (pagamento de valor para deixar a prisão
Por fim, a competência para julgamento é dos crimes provisória) e não se aplica o instituto da prescrição (perda
dolosos (em que há intenção ou ao menos se assume o de pretensão de se processar/punir uma pessoa pelo de-
risco de produção do resultado) contra a vida, que são: ho- curso do tempo).
micídio, aborto, induzimento, instigação ou auxílio a sui- Não obstante, preconiza ao artigo 5º, XLIII, CF:
cídio e infanticídio. Sua competência não é absoluta e é
mitigada, por vezes, pela própria Constituição (artigos 29, Artigo 5º, XLIII, CF. A lei considerará crimes inafian-
X / 102, I, b) e c) / 105, I, a) / 108, I). çáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da
tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
Anterioridade e irretroatividade da lei terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles
O artigo 5º, XXXIX, CF preconiza: respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo
evitá-los, se omitirem.
Artigo5º, XXXIX, CF. Não há crime sem lei anterior que
o defina, nem pena sem prévia cominação legal. Anistia, graça e indulto diferenciam-se nos seguintes
termos: a anistia exclui o crime, rescinde a condenação e
É a consagração da regra do nullum crimen nulla poena extingue totalmente a punibilidade, a graça e o indulto
sine praevia lege. Simultaneamente, se assegura o princípio apenas extinguem a punibilidade, podendo ser parciais; a
da legalidade (ou reserva legal), na medida em que não há anistia, em regra, atinge crimes políticos, a graça e o in-
crime sem lei que o defina, nem pena sem prévia comina- dulto, crimes comuns; a anistia pode ser concedida pelo
ção legal, e o princípio da anterioridade, posto que não há Poder Legislativo, a graça e o indulto são de competência
crime sem lei anterior que o defina. exclusiva do Presidente da República; a anistia pode ser
Ainda no que tange ao princípio da anterioridade, tem- concedida antes da sentença final ou depois da condena-
-se o artigo 5º, XL, CF: ção irrecorrível, a graça e o indulto pressupõem o trânsito
em julgado da sentença condenatória; graça e o indulto
Artigo 5º, XL, CF. A lei penal não retroagirá, salvo para apenas extinguem a punibilidade, persistindo os efeitos do
beneficiar o réu. crime, apagados na anistia; graça é em regra individual e
solicitada, enquanto o indulto é coletivo e espontâneo.
O dispositivo consolida outra faceta do princípio da Não cabe graça, anistia ou indulto (pode-se considerar
anterioridade: se, por um lado, é necessário que a lei tenha que o artigo o abrange, pela doutrina majoritária) contra
definido um fato como crime e dado certo tratamento pe- crimes de tortura, tráfico, terrorismo (TTT) e hediondos
nal a este fato (ex.: pena de detenção ou reclusão, tempo (previstos na Lei nº 8.072 de 25 de julho de 1990). Além
de pena, etc.) antes que ele ocorra; por outro lado, se vier disso, são crimes que não aceitam fiança.
uma lei posterior ao fato que o exclua do rol de crimes ou Ainda, prevê o artigo 5º, XLIV, CF:
que confira tratamento mais benéfico (diminuindo a pena

66
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Artigo 5º, XLIV, CF. Constitui crime inafiançável e im- A pena de multa ou patrimonial opera uma diminuição
prescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, do patrimônio do indivíduo delituoso.
contra a ordem constitucional e o Estado Democrático. A prestação social alternativa corresponde às penas
restritivas de direitos, autônomas e substitutivas das penas
Por fim, dispõe a CF sobre a possibilidade de extradi- privativas de liberdade, estabelecidas no artigo 44 do Có-
ção de brasileiro naturalizado caso esteja envolvido com digo Penal.
tráfico ilícito de entorpecentes: Por seu turno, a individualização da pena deve também
se fazer presente na fase de sua execução, conforme se
Artigo 5º, LI, CF. Nenhum brasileiro será extraditado, depreende do artigo 5º, XLVIII, CF:
salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado
antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento Artigo 5º, XLVIII, CF. A pena será cumprida em estabe-
em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na for- lecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito,
ma da lei. a idade e o sexo do apenado.

Personalidade da pena A distinção do estabelecimento conforme a natureza


A personalidade da pena encontra respaldo no artigo do delito visa impedir que a prisão se torne uma faculdade
5º, XLV, CF: do crime. Infelizmente, o Estado não possui aparato sufi-
ciente para cumprir tal diretiva, diferenciando, no máximo,
Artigo 5º, XLV, CF. Nenhuma pena passará da pessoa o nível de segurança das prisões. Quanto à idade, desta-
do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a cam-se as Fundações Casas, para cumprimento de medida
decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, es- por menores infratores. Quanto ao sexo, prisões costumam
tendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite ser exclusivamente para homens ou para mulheres.
do valor do patrimônio transferido. Também se denota o respeito à individualização da
pena nesta faceta pelo artigo 5º, L, CF:
O princípio da personalidade encerra o comando de o
Artigo 5º, L, CF. Às presidiárias serão asseguradas con-
crime ser imputado somente ao seu autor, que é, por seu
dições para que possam permanecer com seus filhos duran-
turno, a única pessoa passível de sofrer a sanção. Seria fla-
te o período de amamentação.
grante a injustiça se fosse possível alguém responder pelos
atos ilícitos de outrem: caso contrário, a reação, ao invés de
Preserva-se a individualização da pena porque é toma-
restringir-se ao malfeitor, alcançaria inocentes. Contudo, se
da a condição peculiar da presa que possui filho no perío-
uma pessoa deixou patrimônio e faleceu, este patrimônio
do de amamentação, mas também se preserva a dignidade
responderá pelas repercussões financeiras do ilícito.
da criança, não a afastando do seio materno de maneira
precária e impedindo a formação de vínculo pela amamen-
Individualização da pena tação.
A individualização da pena tem por finalidade concre-
tizar o princípio de que a responsabilização penal é sempre Vedação de determinadas penas
pessoal, devendo assim ser aplicada conforme as peculia- O constituinte viu por bem proibir algumas espécies de
ridades do agente. penas, consoante ao artigo 5º, XLVII, CF:
A primeira menção à individualização da pena se en-
contra no artigo 5º, XLVI, CF: Artigo 5º, XLVII, CF. não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos
Artigo 5º, XLVI, CF. A lei regulará a individualização da termos do art. 84, XIX;
pena e adotará, entre outras, as seguintes: b) de caráter perpétuo;
a) privação ou restrição da liberdade; c) de trabalhos forçados;
b) perda de bens; d) de banimento;
c) multa; e) cruéis.
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos. Em resumo, o inciso consolida o princípio da humani-
dade, pelo qual o “poder punitivo estatal não pode aplicar
Pelo princípio da individualização da pena, a pena deve sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que
ser individualizada nos planos legislativo, judiciário e exe- lesionem a constituição físico-psíquica dos condenados”97 .
cutório, evitando-se a padronização a sanção penal. A in- Quanto à questão da pena de morte, percebe-se que o
dividualização da pena significa adaptar a pena ao conde- constituinte não estabeleceu uma total vedação, autorizan-
nado, consideradas as características do agente e do delito. do-a nos casos de guerra declarada. Obviamente, deve-se
A pena privativa de liberdade é aquela que restringe, respeitar o princípio da anterioridade da lei, ou seja, a le-
com maior ou menor intensidade, a liberdade do condena- gislação deve prever a pena de morte ao fato antes dele ser
do, consistente em permanecer em algum estabelecimento 97 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. 16.
prisional, por um determinado tempo. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1.

67
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

praticado. No ordenamento brasileiro, este papel é cumpri- Surgem como corolário do devido processo legal o
do pelo Código Penal Militar (Decreto-Lei nº 1.001/1969), contraditório e a ampla defesa, pois somente um procedi-
que prevê a pena de morte a ser executada por fuzilamento mento que os garanta estará livre dos vícios. Neste sentido,
nos casos tipificados em seu Livro II, que aborda os crimes o artigo 5º, LV, CF:
militares em tempo de guerra.
Por sua vez, estão absolutamente vedadas em quais- Artigo 5º, LV, CF. Aos litigantes, em processo judicial ou
quer circunstâncias as penas de caráter perpétuo, de traba- administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
lhos forçados, de banimento e cruéis. contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a
No que tange aos trabalhos forçados, vale destacar ela inerentes.
que o trabalho obrigatório não é considerado um trata-
mento contrário à dignidade do recluso, embora o trabalho O devido processo legal possui a faceta formal, pela
forçado o seja. O trabalho é obrigatório, dentro das condi- qual se deve seguir o adequado procedimento na aplica-
ção da lei e, sendo assim, respeitar o contraditório e a am-
ções do apenado, não podendo ser cruel ou menosprezar
pla defesa. Não obstante, o devido processo legal tem sua
a capacidade física e intelectual do condenado; como o
faceta material que consiste na tomada de decisões justas,
trabalho não existe independente da educação, cabe in-
que respeitem os parâmetros da razoabilidade e da pro-
centivar o aperfeiçoamento pessoal; até mesmo porque o
porcionalidade.
trabalho deve se aproximar da realidade do mundo exter-
no, será remunerado; além disso, condições de dignidade e Vedação de provas ilícitas
segurança do trabalhador, como descanso semanal e equi- Conforme o artigo 5º, LVI, CF:
pamentos de proteção, deverão ser respeitados.
Artigo 5º, LVI, CF. São inadmissíveis, no processo, as pro-
Respeito à integridade do preso vas obtidas por meios ilícitos.
Prevê o artigo 5º, XLIX, CF:
Provas ilícitas, por força da nova redação dada ao arti-
Artigo 5º, XLIX, CF. É assegurado aos presos o respeito go 157 do CPP, são as obtidas em violação a normas cons-
à integridade física e moral. titucionais ou legai, ou seja, prova ilícita é a que viola regra
de direito material, constitucional ou legal, no momento
Obviamente, o desrespeito à integridade física e mo- da sua obtenção. São vedadas porque não se pode aceitar
ral do preso é uma violação do princípio da dignidade da o descumprimento do ordenamento para fazê-lo cumprir:
pessoa humana. seria paradoxal.
Dois tipos de tratamentos que violam esta integridade
estão mencionados no próprio artigo 5º da Constituição Presunção de inocência
Federal. Em primeiro lugar, tem-se a vedação da tortura Prevê a Constituição no artigo 5º, LVII:
e de tratamentos desumanos e degradantes (artigo 5º, III,
CF), o que vale na execução da pena. Artigo 5º, LVII, CF. Ninguém será considerado culpado
No mais, prevê o artigo 5º, LVIII, CF: até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.

Artigo 5º, LVIII, CF. O civilmente identificado não será Consolida-se o princípio da presunção de inocência,
submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses pelo qual uma pessoa não é culpada até que, em definitivo,
previstas em lei. o Judiciário assim decida, respeitados todos os princípios e
garantias constitucionais.
Se uma pessoa possui identificação civil, não há por-
Ação penal privada subsidiária da pública
que fazer identificação criminal, colhendo digitais, fotos,
Nos termos do artigo 5º, LIX, CF:
etc. Pensa-se que seria uma situação constrangedora des-
necessária ao suspeito, sendo assim, violaria a integridade Artigo 5º, LIX, CF. Será admitida ação privada nos cri-
moral. mes de ação pública, se esta não for intentada no prazo
legal.
Devido processo legal, contraditório e ampla defesa
Estabelece o artigo 5º, LIV, CF: A chamada ação penal privada subsidiária da pública
encontra respaldo constitucional, assegurando que a omis-
Artigo 5º, LIV, CF. Ninguém será privado da liberdade ou são do poder público na atividade de persecução criminal
de seus bens sem o devido processo legal. não será ignorada, fornecendo-se instrumento para que o
interessado a proponha.
Pelo princípio do devido processo legal a legislação
deve ser respeitada quando o Estado pretender punir al- Prisão e liberdade
guém judicialmente. Logo, o procedimento deve ser livre O constituinte confere espaço bastante extenso no ar-
de vícios e seguir estritamente a legislação vigente, sob tigo 5º em relação ao tratamento da prisão, notadamente
pena de nulidade processual. por se tratar de ato que vai contra o direito à liberdade.

68
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Obviamente, a prisão não é vedada em todos os casos, Indenização por erro judiciário
porque práticas atentatórias a direitos fundamentais impli- A disciplina sobre direitos decorrentes do erro judiciá-
cam na tipificação penal, autorizando a restrição da liber- rio encontra-se no artigo 5º, LXXV, CF:
dade daquele que assim agiu.
No inciso LXI do artigo 5º, CF, prevê-se: Artigo 5º, LXXV, CF. O Estado indenizará o condenado
por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do
Artigo 5º, LXI, CF. Ninguém será preso senão em flagran- tempo fixado na sentença.
te delito ou por ordem escrita e fundamentada de autori-
dade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão Trata-se do erro em que incorre um juiz na apreciação
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei. e julgamento de um processo criminal, resultando em con-
denação de alguém inocente. Neste caso, o Estado inde-
Logo, a prisão somente se dará em caso de flagrante nizará. Ele também indenizará uma pessoa que ficar presa
delito (necessariamente antes do trânsito em julgado), ou além do tempo que foi condenada a cumprir.
em caráter temporário, provisório ou definitivo (as duas
primeiras independente do trânsito em julgado, preen- 4) Direitos fundamentais implícitos
chidos requisitos legais e a última pela irreversibilidade da Nos termos do § 2º do artigo 5º da Constituição Federal:
condenação).
Aborda-se no artigo 5º, LXII o dever de comunicação Artigo 5º, §2º, CF. Os direitos e garantias expressos nesta
ao juiz e à família ou pessoa indicada pelo preso: Constituição não excluem outros decorrentes do regime e
dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacio-
Artigo 5º, LXII, CF. A prisão de qualquer pessoa e o lo- nais em que a República Federativa do Brasil seja parte.
cal onde se encontre serão comunicados imediatamente ao
juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele Daí se depreende que os direitos ou garantias podem
indicada. estar expressos ou implícitos no texto constitucional. Sen-
do assim, o rol enumerado nos incisos do artigo 5º é ape-
nas exemplificativo, não taxativo.
Não obstante, o preso deverá ser informado de todos
os seus direitos, inclusive o direito ao silêncio, podendo
5) Tratados internacionais incorporados ao ordena-
entrar em contato com sua família e com um advogado,
mento interno
conforme artigo 5º, LXIII, CF:
Estabelece o artigo 5º, § 2º, CF que os direitos e garan-
tias podem decorrer, dentre outras fontes, dos “tratados
Artigo 5º, LXIII, CF. O preso será informado de seus di- internacionais em que a República Federativa do Brasil
reitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe seja parte”.
assegurada a assistência da família e de advogado. Para o tratado internacional ingressar no ordenamen-
to jurídico brasileiro deve ser observado um procedimento
Estabelece-se no artigo 5º, LXIV, CF: complexo, que exige o cumprimento de quatro fases: a ne-
gociação (bilateral ou multilateral, com posterior assinatura
Artigo 5º, LXIV, CF. O preso tem direito à identificação dos do Presidente da República), submissão do tratado assina-
responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial. do ao Congresso Nacional (que dará referendo por meio
do decreto legislativo), ratificação do tratado (confirmação
Por isso mesmo, o auto de prisão em flagrante e a ata da obrigação perante a comunidade internacional) e a pro-
do depoimento do interrogatório são assinados pelas auto- mulgação e publicação do tratado pelo Poder Executivo98.
ridades envolvidas nas práticas destes atos procedimentais. Notadamente, quando o constituinte menciona os tratados
Ainda, a legislação estabelece inúmeros requisitos para internacionais no §2º do artigo 5º refere-se àqueles que
que a prisão seja validada, sem os quais cabe relaxamento, tenham por fulcro ampliar o rol de direitos do artigo 5º, ou
tanto que assim prevê o artigo 5º, LXV, CF: seja, tratado internacional de direitos humanos.
O §1° e o §2° do artigo 5° existiam de maneira originá-
Artigo 5º, LXV, CF. A prisão ilegal será imediatamente ria na Constituição Federal, conferindo o caráter de prima-
relaxada pela autoridade judiciária. zia dos direitos humanos, desde logo consagrando o prin-
cípio da primazia dos direitos humanos, como reconhecido
Desta forma, como decorrência lógica, tem-se a previ- pela doutrina e jurisprudência majoritários na época. “O
são do artigo 5º, LXVI, CF: princípio da primazia dos direitos humanos nas relações
internacionais implica em que o Brasil deve incorporar os
Artigo 5º, LXVI, CF. Ninguém será levado à prisão ou tratados quanto ao tema ao ordenamento interno brasilei-
nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, ro e respeitá-los. Implica, também em que as normas vol-
com ou sem fiança. tadas à proteção da dignidade em caráter universal devem
ser aplicadas no Brasil em caráter prioritário em relação a
Mesmo que a pessoa seja presa em flagrante, devido outras normas”99.
ao princípio da presunção de inocência, entende-se que 98 VICENTE SOBRINHO, Benedito. Direitos Fundamentais e
ela não deve ser mantida presa quando não preencher os Prisão Civil. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 2008.
requisitos legais para prisão preventiva ou temporária. 99 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional

69
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Regra geral, os tratados internacionais comuns ingres- “Ao contrário da Corte Internacional de Justiça, cuja ju-
sam com força de lei ordinária no ordenamento jurídico risdição é restrita a Estados, ao Tribunal Penal Internacional
brasileiro porque somente existe previsão constitucional compete o processo e julgamento de violações contra indi-
quanto à possibilidade da equiparação às emendas consti- víduos; e, distintamente dos Tribunais de crimes de guerra
tucionais se o tratado abranger matéria de direitos huma- da Iugoslávia e de Ruanda, criados para analisarem crimes
nos. Antes da emenda alterou o quadro quanto aos trata- cometidos durante esses conflitos, sua jurisdição não está
dos de direitos humanos, era o que acontecia, mas isso não restrita a uma situação específica”100.
significa que tais direitos eram menos importantes devido Resume Mello101: “a Conferência das Nações Unidas
ao princípio da primazia e ao reconhecimento dos direitos sobre a criação de uma Corte Criminal Internacional, re-
implícitos. unida em Roma, em 1998, aprovou a referida Corte. Ela é
Por seu turno, com o advento da Emenda Constitucio- permanente. Tem sede em Haia. A corte tem personalidade
nal nº 45/04 se introduziu o §3º ao artigo 5º da Consti- internacional. Ela julga: a) crime de genocídio; b) crime con-
tuição Federal, de modo que os tratados internacionais de tra a humanidade; c) crime de guerra; d) crime de agressão.
direitos humanos foram equiparados às emendas consti- Para o crime de genocídio usa a definição da convenção
tucionais, desde que houvesse a aprovação do tratado em de 1948. Como crimes contra a humanidade são citados:
cada Casa do Congresso Nacional e obtivesse a votação assassinato, escravidão, prisão violando as normas inter-
em dois turnos e com três quintos dos votos dos respecti- nacionais, violação tortura, apartheid, escravidão sexual,
vos membros: prostituição forçada, esterilização, etc. São crimes de guer-
ra: homicídio internacional, destruição de bens não justifi-
Art. 5º, § 3º, CF. Os tratados e convenções interna- cada pela guerra, deportação, forçar um prisioneiro a servir
cionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em nas forças inimigas, etc.”.
cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três
quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalen- Direitos sociais
tes às emendas constitucionais.  A Constituição Federal, dentro do Título II, aborda no
capítulo II a categoria dos direitos sociais, em sua maioria
normas programáticas e que necessitam de uma postura
Logo, a partir da alteração constitucional, os tratados
interventiva estatal em prol da implementação.
de direitos humanos que ingressarem no ordenamento ju-
Os direitos assegurados nesta categoria encontram
rídico brasileiro, versando sobre matéria de direitos huma-
menção genérica no artigo 6º, CF:
nos, irão passar por um processo de aprovação semelhante
ao da emenda constitucional.
Artigo 6º, CF. Art. 6º São direitos sociais a educação, a
Contudo, há posicionamentos conflituosos quanto à
saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transpor-
possibilidade de considerar como hierarquicamente cons- te, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção
titucional os tratados internacionais de direitos humanos à maternidade e à infância, a assistência aos desampa-
que ingressaram no ordenamento jurídico brasileiro ante- rados, na forma desta Constituição. 
riormente ao advento da referida emenda. Tal discussão se
deu com relação à prisão civil do depositário infiel, prevista Trata-se de desdobramento da perspectiva do Estado
como legal na Constituição e ilegal no Pacto de São José Social de Direito. Em suma, são elencados os direitos huma-
da Costa Rica (tratado de direitos humanos aprovado antes nos de 2ª dimensão, notadamente conhecidos como direi-
da EC nº 45/04), sendo que o Supremo Tribunal Federal tos econômicos, sociais e culturais. Em resumo, os direitos
firmou o entendimento pela supralegalidade do tratado de sociais envolvem prestações positivas do Estado (diferente
direitos humanos anterior à Emenda (estaria numa posição dos de liberdade, que referem-se à postura de abstenção
que paralisaria a eficácia da lei infraconstitucional, mas não estatal), ou seja, políticas estatais que visem consolidar o
revogaria a Constituição no ponto controverso). princípio da igualdade não apenas formalmente, mas ma-
terialmente (tratando os desiguais de maneira desigual).
6) Tribunal Penal Internacional Por seu turno, embora no capítulo específico do Título
Preconiza o artigo 5º, CF em seu § 4º: II que aborda os direitos sociais não se perceba uma in-
tensa regulamentação destes, à exceção dos direitos tra-
Artigo 5º, §4º, CF. O Brasil se submete à jurisdição de balhistas, o Título VIII da Constituição Federal, que aborda
Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifes- a ordem social, se concentra em trazer normativas mais
tado adesão. detalhadas a respeitos de direitos indicados como sociais.
 
O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional foi 1) Igualdade material e efetivação dos direitos sociais
promulgado no Brasil pelo Decreto nº 4.388 de 25 de se- Independentemente da categoria de direitos que este-
tembro de 2002. Ele contém 128 artigos e foi elaborado em ja sendo abordada, a igualdade nunca deve aparecer num
Roma, no dia 17 de julho de 1998, regendo a competência sentido meramente formal, mas necessariamente material.
e o funcionamento deste Tribunal voltado às pessoas res- 100 NEVES, Gustavo Bregalda. Direito Internacional Público &
ponsáveis por crimes de maior gravidade com repercussão Direito Internacional Privado. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
internacional (artigo 1º, ETPI). 101 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de Direito Interna-
Público e Privado. Salvador: JusPodivm, 2009. cional Público. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

70
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Significa que discriminações indevidas são proibidas, mas pela coletividade, substituir, de maneira ilegítima, o cum-
existem certas distinções que não só devem ser aceitas, primento de seu impostergável dever, por um gesto irres-
como também se mostram essenciais. ponsável de infidelidade governamental ao que determina
No que tange aos direitos sociais percebe-se que a a própria Lei Fundamental do Estado”103.
igualdade material assume grande relevância. Afinal, esta Sendo assim, a invocação da cláusula da reserva do
categoria de direitos pressupõe uma postura ativa do Es- possível, embora viável, não pode servir de muleta para
tado em prol da efetivação. Nem todos podem arcar com que o Estado não arque com obrigações básicas. Neste
suas despesas de saúde, educação, cultura, alimentação e viés, geralmente, quando invocada a cláusula é afastada,
moradia, assim como nem todos se encontram na posição
entendendo o Poder Judiciário que não cabe ao Estado se
de explorador da mão-de-obra, sendo a grande maioria da
eximir de garantir direitos sociais com o simples argumen-
população de explorados. Estas pessoas estão numa clara
posição de desigualdade e caberá ao Estado cuidar para to de que não há orçamento específico para isso – ele de-
que progressivamente atinjam uma posição de igualdade veria ter reservado parcela suficiente de suas finanças para
real, já que não é por conta desta posição desfavorável que atender esta demanda.
se pode afirmar que são menos dignos, menos titulares de Com efeito, deve ser preservado o mínimo existencial,
direitos fundamentais. que tem por fulcro limitar a discricionariedade político-ad-
Logo, a efetivação dos direitos sociais é uma meta a ser ministrativa e estabelecer diretrizes orçamentárias básicas
alcançada pelo Estado em prol da consolidação da igual- a serem seguidas, sob pena de caber a intervenção do Po-
dade material. Sendo assim, o Estado buscará o crescente der Judiciário em prol de sua efetivação.
aperfeiçoamento da oferta de serviços públicos com quali-
dade para que todos os nacionais tenham garantidos seus 3) Princípio da proibição do retrocesso
direitos fundamentais de segunda dimensão da maneira Proibição do retrocesso é a impossibilidade de que
mais plena possível. uma conquista garantida na Constituição Federal sofra um
Há se ressaltar também que o Estado não possui ape- retrocesso, de modo que um direito social garantido não
nas um papel direto na promoção dos direitos econômicos, pode deixar de o ser.
sociais e culturais, mas também um indireto, quando por Conforme jurisprudência, a proibição do retrocesso
meio de sua gestão permite que os indivíduos adquiram deve ser tomada com reservas, até mesmo porque segun-
condições para sustentarem suas necessidades pertencen-
do entendimento predominante as normas do artigo 7º,
tes a esta categoria de direitos.
CF não são cláusula pétrea, sendo assim passíveis de alte-
2) Reserva do possível e mínimo existencial ração. Se for alterada normativa sobre direito trabalhista
Os direitos sociais serão concretizados gradualmente, assegurado no referido dispositivo, não sendo o prejuízo
notadamente porque estão previstos em normas progra- evidente, entende-se válida (por exemplo, houve alteração
máticas e porque a implementação deles gera um ônus do prazo prescricional diferenciado para os trabalhadores
para o Estado. Diferentemente dos direitos individuais, que agrícolas). O que, em hipótese alguma, pode ser aceito é
dependem de uma postura de abstenção estatal, os direi- um retrocesso evidente, seja excluindo uma categoria de
tos sociais precisam que o Estado assuma um papel ativo direitos (ex.: abolir o Sistema Único de Saúde), seja dimi-
em prol da efetivação destes. nuindo sensivelmente a abrangência da proteção (ex.: ex-
A previsão excessiva de direitos sociais no bojo de uma cluindo o ensino médio gratuito).
Constituição, a despeito de um instante bem-intencionado Questão polêmica se refere à proibição do retrocesso:
de palavras promovido pelo constituinte, pode levar à ne- se uma decisão judicial melhorar a efetivação de um direito
gativa, paradoxal – e, portanto, inadmissível – consequên- social, ela se torna vinculante e é impossível ao legislador
cia de uma Carta Magna cujas finalidades não condigam alterar a Constituição para retirar este avanço? Por um lado,
com seus próprios prescritos, fato que deslegitima o Poder a proibição do retrocesso merece ser tomada em conceito
Público como determinador de que particulares respeitem amplo, abrangendo inclusive decisões judiciais; por outro
os direitos fundamentais, já que sequer eles próprios, os lado, a decisão judicial não tem por fulcro alterar a norma,
administradores, conseguem cumprir o que consta de seu
o que somente é feito pelo legislador, e ele teria o direito
Estatuto Máximo102.
de prever que aquela decisão judicial não está incorporada
Tecnicamente, nos direitos sociais é possível invocar
a cláusula da reserva do possível como argumento para a na proibição do retrocesso. A questão é polêmica e não há
não implementação de determinado direito social – seja entendimento dominante.
pela absoluta ausência de recursos (reserva do possível fá-
tica), seja pela ausência de previsão orçamentária nos ter- 4) Direito individual do trabalho
mos do artigo 167, CF (reserva do possível jurídica). O artigo 7º da Constituição enumera os direitos indi-
O Ministro Celso de Mello afirmou em julgamento viduais dos trabalhadores urbanos e rurais. São os direitos
que os direitos sociais “não pode converter-se em pro- individuais tipicamente trabalhistas, mas que não excluem
messa constitucional inconsequente, sob pena de o Poder os demais direitos fundamentais (ex.: honra é um direito
Público, fraudando justas expectativas nele depositadas no espaço de trabalho, sob pena de se incidir em prática
102 LAZARI, Rafael José Nadim de. Reserva do possível e mí- de assédio moral).
nimo existencial: a pretensão de eficácia da norma constitucional em
face da realidade. Curitiba: Juruá, 2012, p. 56-57. 103 RTJ 175/1212-1213, Rel. Min. CELSO DE MELLO.

71
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Artigo 7º, I, CF. Relação de emprego protegida contra Artigo 7º, V, CF. Piso salarial proporcional à extensão e
despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de à complexidade do trabalho.
lei complementar, que preverá indenização compensatória,
dentre outros direitos. Cada trabalhador, dentro de sua categoria de empre-
go, seja ele professor, comerciário, metalúrgico, bancário,
Significa que a demissão, se não for motivada por justa construtor civil, enfermeiro, recebe um salário base, cha-
causa, assegura ao trabalhador direitos como indenização mado de Piso Salarial, que é sua garantia de recebimento
compensatória, entre outros, a serem arcados pelo empre- dentro de seu grau profissional. O Valor do Piso Salarial é
gador. estabelecido em conformidade com a data base da cate-
goria, por isso ele é definido em conformidade com um
Artigo 7º, II, CF. Seguro-desemprego, em caso de de- acordo, ou ainda com um entendimento entre patrão e
semprego involuntário. trabalhador.

Sem prejuízo de eventual indenização a ser recebida Artigo 7º, VI, CF. Irredutibilidade do salário, salvo o
do empregador, o trabalhador que fique involuntariamente disposto em convenção ou acordo coletivo.
desempregado – entendendo-se por desemprego invo-
luntário o que tenha origem num acordo de cessação do O salário não pode ser reduzido, a não ser que anão
contrato de trabalho – tem direito ao seguro-desemprego, redução implique num prejuízo maior, por exemplo, de-
a ser arcado pela previdência social, que tem o caráter de missão em massa durante uma crise, situações que devem
assistência financeira temporária. ser negociadas em convenção ou acordo coletivo.

Artigo 7º, III, CF. Fundo de garantia do tempo de serviço. Artigo 7º, VII, CF. Garantia de salário, nunca inferior
ao mínimo, para os que percebem remuneração variável.
Foi criado em 1967 pelo Governo Federal para pro-
O salário mínimo é direito de todos os trabalhadores,
teger o trabalhador demitido sem justa causa. O FGTS é
mesmo daqueles que recebem remuneração variável (ex.:
constituído de contas vinculadas, abertas em nome de
baseada em comissões por venda e metas);
cada trabalhador, quando o empregador efetua o primei-
ro depósito. O saldo da conta vinculada é formado pelos
Artigo 7º, VIII, CF. Décimo terceiro salário com base na
depósitos mensais efetivados pelo empregador, equivalen-
remuneração integral ou no valor da aposentadoria.
tes a 8,0% do salário pago ao empregado, acrescido de
atualização monetária e juros. Com o FGTS, o trabalhador
Também conhecido como gratificação natalina, foi ins-
tem a oportunidade de formar um patrimônio, que pode
tituída no Brasil pela Lei nº 4.090/1962 e garante que o tra-
ser sacado em momentos especiais, como o da aquisição balhador receba o correspondente a 1/12 (um doze avos)
da casa própria ou da aposentadoria e em situações de da remuneração por mês trabalhado, ou seja, consiste no
dificuldades, que podem ocorrer com a demissão sem justa pagamento de um salário extra ao trabalhador e ao apo-
causa ou em caso de algumas doenças graves. sentado no final de cada ano.
Artigo 7º, IV, CF. Salário mínimo, fixado em lei, nacio- Artigo 7º, IX, CF. Remuneração do trabalho noturno
nalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades superior à do diurno.
vitais básicas e às de sua família com moradia, alimenta-
ção, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, trans- O adicional noturno é devido para o trabalho exercido
porte e previdência social, com reajustes periódicos que durante a noite, de modo que cada hora noturna sofre a re-
lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vincula- dução de 7 minutos e 30 segundos, ou ainda, é feito acrés-
ção para qualquer fim. cimo de 12,5% sobre o valor da hora diurna. Considera-se
T noturno, nas atividades urbanas, o trabalho realizado entre
rata-se de uma visível norma programática da Cons- as 22:00 horas de um dia às 5:00 horas do dia seguinte; nas
tituição que tem por pretensão um salário mínimo que atividades rurais, é considerado noturno o trabalho execu-
atenda a todas as necessidades básicas de uma pessoa e tado na lavoura entre 21:00 horas de um dia às 5:00 horas
de sua família. Em pesquisa que tomou por parâmetro o do dia seguinte; e na pecuária, entre 20:00 horas às 4:00
preceito constitucional, detectou-se que “o salário mínimo horas do dia seguinte.
do trabalhador brasileiro deveria ter sido de R$ 2.892,47
em abril para que ele suprisse suas necessidades básicas e Artigo 7º, X, CF. Proteção do salário na forma da lei,
da família, segundo estudo divulgado nesta terça-feira, 07, constituindo crime sua retenção dolosa.
pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese)”104. Quanto ao possível crime de retenção de salário, não
há no Código Penal brasileiro uma norma que determina a
104 http://exame.abril.com.br/economia/noticias/salario-mini- ação de retenção de salário como crime. Apesar do artigo
mo-deveria-ter-sido-de-r-2-892-47-em-abril 7º, X, CF dizer que é crime a retenção dolosa de salário,

72
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

o dispositivo é norma de eficácia limitada, pois depende Artigo 7º, XIV, CF. Jornada de seis horas para o traba-
de lei ordinária, ainda mais porque qualquer norma penal lho realizado em turnos ininterruptos de revezamento,
incriminadora é regida pela legalidade estrita (artigo 5º, salvo negociação coletiva.
XXXIX, CF).
O constituinte ao estabelecer jornada máxima de 6 ho-
Artigo 7º, XI, CF. Participação nos lucros, ou resul- ras para os turnos ininterruptos de revezamento, expres-
tados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, samente ressalvando a hipótese de negociação coletiva,
participação na gestão da empresa, conforme definido em objetivou prestigiar a atuação da entidade sindical. Entre-
lei. tanto, a jurisprudência evoluiu para uma interpretação res-
tritiva de seu teor, tendo como parâmetro o fato de que
A Participação nos Lucros e Resultado (PLR), que é o trabalho em turnos ininterruptos é por demais desgas-
conhecida também por Programa de Participação nos Re- tante, penoso, além de trazer malefícios de ordem fisio-
sultados (PPR), está prevista na Consolidação das Leis do lógica para o trabalhador, inclusive distúrbios no âmbito
Trabalho (CLT) desde a Lei nº 10.101, de 19 de dezembro psicossocial já que dificulta o convívio em sociedade e com
de 2000. Ela funciona como um bônus, que é ofertado pelo a própria família.
empregador e negociado com uma comissão de trabalha-
dores da empresa. A CLT não obriga o empregador a forne- Artigo 7º, XV, CF. Repouso semanal remunerado, pre-
cer o benefício, mas propõe que ele seja utilizado. ferencialmente aos domingos.

Artigo 7º, XII, CF. Salário-família pago em razão do O Descanso Semanal Remunerado é de 24 (vinte e
dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei. quatro) horas consecutivas, devendo ser concedido prefe-
rencialmente aos domingos, sendo garantido a todo traba-
Salário-família é o benefício pago na proporção do lhador urbano, rural ou doméstico. Havendo necessidade
respectivo número de filhos ou equiparados de qualquer de trabalho aos domingos, desde que previamente auto-
condição até a idade de quatorze anos ou inválido de qual- rizados pelo Ministério do Trabalho, aos trabalhadores é
quer idade, independente de carência e desde que o salá- assegurado pelo menos um dia de repouso semanal re-
rio-de-contribuição seja inferior ou igual ao limite máximo munerado coincidente com um domingo a cada período,
permitido. De acordo com a Portaria Interministerial MPS/ dependendo da atividade (artigo 67, CLT).
MF nº 19, de 10/01/2014, valor do salário-família será de
R$ 35,00, por filho de até 14 anos incompletos ou inválido, Artigo 7º, XVII, CF. Gozo de férias anuais remuneradas
para quem ganhar até R$ 682,50. Já para o trabalhador que com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal.
receber de R$ 682,51 até R$ 1.025,81, o valor do salário-
-família por filho de até 14 anos de idade ou inválido de O salário das férias deve ser superior em pelo menos
qualquer idade será de R$ 24,66. um terço ao valor da remuneração normal, com todos os
adicionais e benefícios aos quais o trabalhador tem direi-
Artigo 7º, XIII, CF. duração do trabalho normal não su- to. A cada doze meses de trabalho – denominado período
perior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, aquisitivo – o empregado terá direito a trinta dias corridos
facultada a compensação de horários e a redução da jorna- de férias, se não tiver faltado injustificadamente mais de
da, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho. cinco vezes ao serviço (caso isso ocorra, os dias das férias
serão diminuídos de acordo com o número de faltas).
Artigo 7º, XVI, CF. Remuneração do serviço extraor-
dinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do Artigo 7º, XVIII, CF. Licença à gestante, sem prejuízo do
normal. emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias.

A legislação trabalhista vigente estabelece que a du- O salário da trabalhadora em licença é chamado de
ração normal do trabalho, salvo os casos especiais, é de salário-maternidade, é pago pelo empregador e por ele
8 (oito) horas diárias e 44 (quarenta e quatro) semanais, descontado dos recolhimentos habituais devidos à Previ-
no máximo. Todavia, poderá a jornada diária de trabalho dência Social. A trabalhadora pode sair de licença a partir
dos empregados maiores ser acrescida de horas suple- do último mês de gestação, sendo que o período de licen-
mentares, em número não excedentes a duas, no máximo, ça é de 120 dias. A Constituição também garante que, do
para efeito de serviço extraordinário, mediante acordo in- momento em que se confirma a gravidez até cinco meses
dividual, acordo coletivo, convenção coletiva ou sentença após o parto, a mulher não pode ser demitida.
normativa. Excepcionalmente, ocorrendo necessidade im-
periosa, poderá ser prorrogada além do limite legalmente Artigo 7º, XIX, CF. Licença-paternidade, nos termos fi-
permitido. A remuneração do serviço extraordinário, des- xados em lei.
de a promulgação da Constituição Federal, deverá cons-
tar, obrigatoriamente, do acordo, convenção ou sentença O homem tem direito a 5 dias de licença-paternidade
normativa, e será, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) para estar mais próximo do bebê recém-nascido e ajudar a
superior à da hora normal. mãe nos processos pós-operatórios.

73
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Artigo 7º, XX, CF. Proteção do mercado de trabalho da benéfica em Convenção Coletiva de Trabalho, equivalen-
mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei. te a 40% (quarenta por cento), para insalubridade de grau
máximo; 20% (vinte por cento), para insalubridade de grau
Embora as mulheres sejam maioria na população de médio; 10% (dez por cento), para insalubridade de grau
10 anos ou mais de idade, elas são minoria na população mínimo.
ocupada, mas estão em maioria entre os desocupados. O adicional de periculosidade é um valor devido ao
Acrescenta-se ainda, que elas são maioria também na po- empregado exposto a atividades perigosas. São conside-
pulação não economicamente ativa. Além disso, ainda há radas atividades ou operações perigosas, aquelas que, por
relevante diferença salarial entre homens e mulheres, sen- sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem risco
do que os homens recebem mais porque os empregadores acentuado em virtude de exposição permanente do tra-
entendem que eles necessitam de um salário maior para balhador a inflamáveis, explosivos ou energia elétrica; e a
manter a família. Tais disparidades colocam em evidência roubos ou outras espécies de violência física nas atividades
que o mercado de trabalho da mulher deve ser protegido profissionais de segurança pessoal ou patrimonial. O valor
de forma especial. do adicional de periculosidade será o salário do empre-
gado acrescido de 30%, sem os acréscimos resultantes de
Artigo 7º, XXI, CF. Aviso prévio proporcional ao tem- gratificações, prêmios ou participações nos lucros da em-
po de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos presa.
da lei. O Tribunal Superior do Trabalho ainda não tem enten-
dimento unânime sobre a possibilidade de cumulação des-
Nas relações de emprego, quando uma das partes de- tes adicionais.
seja rescindir, sem justa causa, o contrato de trabalho por
prazo indeterminado, deverá, antecipadamente, notificar à Artigo 7º, XXIV, CF. Aposentadoria.
outra parte, através do aviso prévio. O aviso prévio tem
por finalidade evitar a surpresa na ruptura do contrato de A aposentadoria é um benefício garantido a todo tra-
trabalho, possibilitando ao empregador o preenchimento balhador brasileiro que pode ser usufruído por aquele que
do cargo vago e ao empregado uma nova colocação no tenha contribuído ao Instituto Nacional de Seguridade So-
mercado de trabalho, sendo que o aviso prévio pode ser cial (INSS) pelos prazos estipulados nas regras da Previ-
trabalhado ou indenizado. dência Social e tenha atingido as idades mínimas previstas.
Aliás, o direito à previdência social é considerado um direi-
Artigo 7º, XXII, CF. Redução dos riscos inerentes ao to social no próprio artigo 6º, CF.
trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segu-
rança. Artigo 7º, XXV, CF. Assistência gratuita aos filhos e
dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de ida-
Trata-se ao direito do trabalhador a um meio ambiente de em creches e pré-escolas.
do trabalho salubre. Fiorillo105 destaca que o equilíbrio do
meio ambiente do trabalho está sedimentado na salubrida- Todo estabelecimento com mais de 30 funcionárias
de e na ausência de agentes que possam comprometer a com mais de 16 anos tem a obrigação de oferecer um es-
incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores. paço físico para que as mães deixem o filho de 0 a 6 meses,
enquanto elas trabalham. Caso não ofereçam esse espaço
Artigo 7º, XXIII, CF. Adicional de remuneração para as aos bebês, a empresa é obrigada a dar auxílio-creche a mu-
atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lher para que ela pague uma creche para o bebê de até 6
lei. meses. O valor desse auxílio será determinado conforme
negociação coletiva na empresa (acordo da categoria ou
Penoso é o trabalho acerbo, árduo, amargo, difícil, mo- convenção). A empresa que tiver menos de 30 funcionárias
lesto, trabalhoso, incômodo, laborioso, doloroso, rude, que registradas não tem obrigação de conceder o benefício. É
não é perigoso ou insalubre, mas penosa, exigindo atenção facultativo (ela pode oferecer ou não). Existe a possibilida-
e vigilância acima do comum. Ainda não há na legislação de de o benefício ser estendido até os 6 anos de idade e
específica previsão sobre o adicional de penosidade. incluir o trabalhador homem. A duração do auxílio-creche
São consideradas atividades ou operações insalubres e o valor envolvido variarão conforme negociação coletiva
as que se desenvolvem excesso de limites de tolerância na empresa.
para: ruído contínuo ou intermitente, ruídos de impacto,
exposição ao calor e ao frio, radiações, certos agentes quí- Artigo 7º, XXVI, CF. Reconhecimento das convenções e
micos e biológicos, vibrações, umidade, etc. O exercício de acordos coletivos de trabalho.
trabalho em condições de insalubridade assegura ao traba-
lhador a percepção de adicional, incidente sobre o salário Neste dispositivo se funda o direito coletivo do tra-
base do empregado (súmula 228 do TST), ou previsão mais balho, que encontra regulamentação constitucional nos
105 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Am- artigo 8º a 11 da Constituição. Pelas convenções e acor-
biental brasileiro. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 21. dos coletivos, entidades representativas da categoria dos

74
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

trabalhadores entram em negociação com as empresas na querer seu direito na Justiça do Trabalho. A prescrição tra-
defesa dos interesses da classe, assegurando o respeito aos balhista é sempre de 2 (dois) anos a partir do término do
direitos sociais; contrato de trabalho, atingindo as parcelas relativas aos 5
(cinco) anos anteriores, ou de 05 (cinco) anos durante a
Artigo 7º, XXVII, CF. Proteção em face da automação, vigência do contrato de trabalho.
na forma da lei.
Artigo 7º, XXX, CF. Proibição de diferença de salários,
Trata-se da proteção da substituição da máquina pelo de exercício de funções e de critério de admissão por motivo
homem, que pode ser feita, notadamente, qualificando o de sexo, idade, cor ou estado civil.
profissional para exercer trabalhos que não possam ser de-
sempenhados por uma máquina (ex.: se criada uma má- Há uma tendência de se remunerar melhor homens
quina que substitui o trabalhador, deve ser ele qualificado brancos na faixa dos 30 anos que sejam casados, sendo
para que possa operá-la). patente a diferença remuneratória para com pessoas de
diferente etnia, faixa etária ou sexo. Esta distinção atenta
Artigo 7º, XXVIII, CF. Seguro contra acidentes de tra- contra o princípio da igualdade e não é aceita pelo consti-
balho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização tuinte, sendo possível inclusive invocar a equiparação sala-
a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa. rial judicialmente.

Atualmente, é a Lei nº 8.213/91 a responsável por tra- Artigo 7º, XXXI, CF. Proibição de qualquer discrimina-
tar do assunto e em seus artigos 19, 20 e 21 apresenta a ção no tocante a salário e critérios de admissão do trabalha-
definição de doenças e acidentes do trabalho. Não se trata dor portador de deficiência.
de legislação específica sobre o tema, mas sim de uma nor-
ma que dispõe sobre as modalidades de benefícios da pre- A pessoa portadora de deficiência, dentro de suas li-
vidência social. Referida Lei, em seu artigo 19 da preceitua mitações, possui condições de ingressar no mercado de
que acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho e não pode ser preterida meramente por conta de
trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do traba- sua deficiência.
lho, provocando lesão corporal ou perturbação funcional
que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou Artigo 7º, XXXII, CF. Proibição de distinção entre traba-
temporária, da capacidade para o trabalho. lho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais
Seguro de Acidente de Trabalho (SAT) é uma contri- respectivos.
buição com natureza de tributo que as empresas pagam
para custear benefícios do INSS oriundos de acidente de Os trabalhos manuais, técnicos e intelectuais são igual-
trabalho ou doença ocupacional, cobrindo a aposentadoria mente relevantes e contribuem todos para a sociedade,
especial. A alíquota normal é de um, dois ou três por cen- não cabendo a desvalorização de um trabalho apenas por
to sobre a remuneração do empregado, mas as empresas se enquadrar numa ou outra categoria.
que expõem os trabalhadores a agentes nocivos químicos,
físicos e biológicos precisam pagar adicionais diferencia- Artigo 7º, XXXIII, CF. proibição de trabalho noturno,
dos. Assim, quanto maior o risco, maior é a alíquota, mas perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qual-
atualmente o Ministério da Previdência Social pode alterar quer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na
a alíquota se a empresa investir na segurança do trabalho. condição de aprendiz, a partir de quatorze anos.
Neste sentido, nada impede que a empresa seja res-
ponsabilizada pelos acidentes de trabalho, indenizando Trata-se de norma protetiva do adolescente, estabele-
o trabalhador. Na atualidade entende-se que a possibi- cendo-se uma idade mínima para trabalho e proibindo-se
lidade de cumulação do benefício previdenciário, assim o trabalho em condições desfavoráveis.
compreendido como prestação garantida pelo Estado ao
trabalhador acidentado (responsabilidade objetiva) com Artigo 7º, XXXIV, CF. Igualdade de direitos entre o tra-
a indenização devida pelo empregador em caso de culpa balhador com vínculo empregatício permanente e o tra-
(responsabilidade subjetiva), é pacífica, estando ampla- balhador avulso.
mente difundida na jurisprudência do Tribunal Superior do
Trabalho; Avulso é o trabalhador que presta serviço a várias em-
presas, mas é contratado por sindicatos e órgãos gestores
Artigo 7º, XXIX, CF. Ação, quanto aos créditos resultan- de mão-de-obra, possuindo os mesmos direitos que um
tes das relações de trabalho, com prazo prescricional de trabalhador com vínculo empregatício permanente.
cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o A Emenda Constitucional nº 72/2013, conhecida como
limite de dois anos após a extinção do contrato de tra- PEC das domésticas, deu nova redação ao parágrafo único
balho. do artigo 7º:

Prescrição é a perda da pretensão de buscar a tutela Artigo 7º, parágrafo único, CF. São assegurados à cate-
jurisdicional para assegurar direitos violados. Sendo assim, goria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos
há um período de tempo que o empregado tem para re- nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI,

75
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condições § 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais
estabelecidas em lei e observada a simplificação do cum- e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis
primento das obrigações tributárias, principais e acessórias, da comunidade.
decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, os § 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às
previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como penas da lei.
a sua integração à previdência social. 
A respeito, conferir a Lei nº 7.783/89, que dispõe sobre
5) Direito coletivo do trabalho o exercício do direito de greve, define as atividades essen-
Os artigos 8º a 11 trazem os direitos sociais coletivos ciais, regula o atendimento das necessidades inadiáveis
dos trabalhadores, que são os exercidos pelos trabalha- da comunidade, e dá outras providências. Enquanto não
dores, coletivamente ou no interesse de uma coletivida- for disciplinado o direito de greve dos servidores públicos,
de, quais sejam: associação profissional ou sindical, greve, esta é a legislação que se aplica, segundo o STF.
substituição processual, participação e representação clas- O direito de participação é previsto no artigo 10, CF:
sista106.
A liberdade de associação profissional ou sindical tem Artigo 10, CF. É assegurada a participação dos traba-
escopo no artigo 8º, CF: lhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos pú-
blicos em que seus interesses profissionais ou previdenciá-
Art. 8º, CF. É livre a associação profissional ou sindi- rios sejam objeto de discussão e deliberação.
cal, observado o seguinte:
I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para
a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão
competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a CONSTITUIÇÃO ESTADUAL: TÍTULO II
intervenção na organização sindical; (ARTIGOS 4º E 5º), TÍTULO IV (ARTIGOS 185 A
II - é vedada a criação de mais de uma organização 226).
sindical, em qualquer grau, representativa de categoria
profissional ou econômica, na mesma base territorial, que
será definida pelos trabalhadores ou empregadores interes-
TÍTULO II
sados, não podendo ser inferior à área de um Município;
DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interes-
ses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em
Art. 4º – O Estado assegura, no seu território e nos limi-
questões judiciais ou administrativas;
tes de sua competência, os direitos e garantias fundamen-
IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em tais que a Constituição da República confere aos brasileiros
se tratando de categoria profissional, será descontada em e aos estrangeiros residentes no País.
folha, para custeio do sistema confederativo da representa- § 1º – Incide na penalidade de destituição de mandato
ção sindical respectiva, independentemente da contribuição administrativo ou de cargo ou função de direção, em ór-
prevista em lei; gão da administração direta ou entidade da administração
V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se indireta, o agente público que deixar injustificadamente de
filiado a sindicato; sanar, dentro de noventa dias da data do requerimento do
VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas interessado, omissão que inviabilize o exercício de direito
negociações coletivas de trabalho; constitucional.
VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser vo- § 2º – Independe do pagamento de taxa ou de emolu-
tado nas organizações sindicais; mento ou de garantia de instância o exercício do direito de
VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicali- petição ou representação, bem como a obtenção de certi-
zado a partir do registro da candidatura a cargo de direção dão para a defesa de direito ou esclarecimento de situação
ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, de interesse pessoal.
até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta • (Vide Lei nº 13.514, de 7/4/2000.)
grave nos termos da lei. • (Vide Lei nº 14.688, de 31/7/2003.)
Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se § 3º – Nenhuma pessoa será discriminada, ou de qual-
à organização de sindicatos rurais e de colônias de pes- quer forma prejudicada, pelo fato de litigar com órgão ou
cadores, atendidas as condições que a lei estabelecer. entidade estadual, no âmbito administrativo ou no judicial.
§ 4º – Nos processos administrativos, qualquer que seja
O direito de greve, por seu turno, está previsto no ar- o objeto e o procedimento, observar-se-ão, entre outros
tigo 9º, CF: requisitos de validade, a publicidade, o contraditório, a de-
fesa ampla e o despacho ou a decisão motivados.
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos § 5º – Todos têm o direito de requerer e obter informa-
trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e ção sobre projeto do Poder Público, a qual será prestada
sobre os interesses que devam por meio dele defender. no prazo da lei, ressalvada aquela cujo sigilo seja impres-
106 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional esquematiza- cindível à segurança da sociedade e do Estado.
do. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. • (Vide Lei nº 13.514, de 7/4/2000.)

76
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

§ 6º – O Estado garante o exercício do direito de reu- Art. 187 – As ações e serviços de saúde são de relevân-
nião e de outras liberdades constitucionais e a defesa da cia pública, e cabem ao Poder Público sua regulamentação,
ordem pública, da segurança pessoal e dos patrimônios fiscalização e controle, na forma da lei.
público e privado. • (Vide Lei nº 13.317, de 24/9/1999.)
§ 7º – Ao presidiário é assegurado o direito a: Parágrafo único – A execução das ações e serviços será
I – assistência médica, jurídica e espiritual; feita pelo Poder Público e, complementarmente, por pes-
II – aprendizado profissionalizante e trabalho produti- soa física ou jurídica de direito privado.
vo e remunerado;
III – acesso a notícia divulgada fora do ambiente car- Art. 188 – As ações e serviços públicos de saúde no
cerário; âmbito do Estado integram rede nacional regionalizada e
IV – acesso aos dados relativos à execução da respec- hierarquicamente constituída em sistema único, e se pau-
tiva pena; tam também pelas seguintes diretrizes:
V – creche ou outras condições para o atendimento do I – descentralização com direção única, em nível esta-
disposto no dual e municipal;
art. 5º, L, da Constituição da República. II – regionalização de ações da competência do Estado;
• (Vide Lei nº 11.404, de 25/11/1994.) III – integralidade na prestação de ações de saúde ade-
• (Vide Lei nº 13.054, de 23/12/1998.) quadas à realidade epidemiológica, com prioridade para as
§ 8º – É passível de punição, nos termos da lei, o agente ações preventivas e consideradas as características socioe-
público que, no exercício de suas atribuições e indepen- conômicas da população e de cada região, sem prejuízo
dentemente da função que exerça, violar direito constitu- dos serviços assistenciais;
cional do cidadão. IV – participação da comunidade;
Art. 5º – Ao Estado é vedado: V – participação complementar das instituições priva-
I – estabelecer culto religioso ou igreja, subvencioná- das no sistema único de saúde, segundo diretrizes deste,
-los, embaraçar- -lhes o funcionamento ou manter com mediante contrato de direito público ou convênio, assegu-
eles ou com seus representantes relações de dependência rada a preferência a entidades filantrópicas e às sem fins
lucrativos;
ou de aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de
VI – valorização do profissional da área da saúde, com
interesse público;
a garantia de planos de carreira e condições para recicla-
II – recusar fé a documento público;
gem periódica.
III – criar distinção entre brasileiros ou preferência em
relação às demais unidades e entidades da Federação.
Art. 189 – O sistema único de saúde será financiado
com recursos provenientes dos orçamentos da seguridade
TÍTULO IV social, da União, do Estado, dos Municípios, e com os de
DA SOCIEDADE CAPÍTULO I DA ORDEM SOCIAL] outras fontes.
Art. 185 – A ordem social tem como base o primado Art. 190 – Compete ao Estado, no âmbito do sistema
do trabalho e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais. único de saúde, além de outras atribuições previstas em lei
Seção I federal:
Da Saúde I – controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e
substâncias de interesse para a saúde e participar da pro-
Art. 186 – A saúde é direito de todos, e a assistência dução de medicamentos, equipamentos imunobiológicos,
a ela é dever do Estado, assegurada mediante políticas hemoderivados e outros insumos;
sociais e econômicas que visem à eliminação do risco de • (Vide Lei nº 12.687, de 1/12/1997.)
doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igua- • (Vide Lei nº 14.133, de 21/12/2001.)
litário às ações e aos serviços para sua promoção, proteção II – executar as ações de vigilância sanitária e epide-
e recuperação. miológica, e as de saúde do trabalhador;
Parágrafo único – O direito à saúde implica a garantia de: • (Vide Lei nº 13.317, de 24/9/1999.)
I – condições dignas de trabalho, moradia, alimenta- • (Vide Lei nº 13.866, de 10/5/2001.)
ção, educação, transporte, lazer e saneamento básico; III – ordenar a formação de recursos humanos na área
II – acesso às informações de interesse para a saúde, da saúde;
obrigado o Poder Público a manter a população informada IV – participar da formulação da política e da execução
sobre os riscos e danos à saúde e sobre as medidas de das ações de saneamento básico;
prevenção e controle; V – incrementar em sua área de atuação o desenvolvi-
III – dignidade, gratuidade e boa qualidade no atendi- mento científico e tecnológico;
mento e no tratamento de saúde; VI – fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o
IV – participação da sociedade, por intermédio de en- controle de seu teor nutricional, e bebidas e águas para o
tidades representativas, na elaboração de políticas, na de- consumo humano;
finição de estratégias de implementação e no controle das VII – participar do controle e da fiscalização da produ-
atividades com impacto sobre a saúde. ção, do transporte, da guarda e da utilização de substân-
cias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;

77
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

VIII – colaborar na proteção do meio ambiente, nele • (Vide Lei nº 12.262, de 23/7/1996.)
compreendido o de trabalho; • (Vide Lei nº 12.925, de 30/6/1998.)
IX – adotar rígida política de fiscalização e controle da
infecção hospitalar e de endemias; Art. 194 – As ações estaduais, na área de assistência so-
• (Vide Lei nº 11.053, de 30/3/1993.) cial, serão implementadas com recursos do orçamento do
X – garantir o atendimento prioritário nos casos legais Estado e de outras fontes, observadas as seguintes diretrizes:
de interrupção da gravidez; I – desconcentração administrativa, segundo a política
XI – gerir o fundo especial de reserva de medicamentos de regionalização, com participação de entidade benefi-
essenciais, na forma da lei; cente e de assistência social;
XII – promover, quando necessária, a transferência do II – participação da população, por meio de organiza-
paciente carente de recursos para outro estabelecimento ções representativas, na formulação das políticas e no con-
de assistência médica ou ambulatorial, integrante do siste- trole das ações em todos os níveis.
ma único de saúde, mais próximo de sua residência; Parágrafo único – O Estado promoverá plano de assis-
XIII – promover a instalação de estabelecimentos de tência social às populações de áreas inundadas por reser-
assistência médica de emergência nas cidades-polo; vatórios.
XIV – executar as ações de prevenção, tratamento e rea- • (Parágrafo regulamentado pela Lei nº 12.812, de
bilitação, nos casos de deficiência física, mental e sensorial; 28/4/1998.)
XV – implementar, em conjunto com os órgãos federais • (Vide Lei nº 15.012, de 15/1/2004.)
e municipais, o sistema de informação na área da saúde.
Parágrafo único – O Estado instituirá instrumentos para Seção III
controle unificado dos bancos de sangue. Da Educação
Art. 191 – A assistência à saúde é livre à iniciativa privada. Art. 195 – A educação, direito de todos, dever do Estado
§ 1º – É vedada a destinação de recursos públicos para e da família, será promovida e incentivada com a colabo-
auxílio ou subvenção a instituição privada com fins lucrativos.
ração da sociedade, com vistas ao pleno desenvolvimento
§ 2º – É vedada a participação direta ou indireta de
da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
empresa ou capital estrangeiro na assistência à saúde no
qualificação para o trabalho.
Estado, salvo nos casos previstos em lei federal.
Parágrafo único – Para assegurar o estabelecido neste
§ 3º – O Estado suplementará a legislação federal sobre
artigo, o Estado deverá garantir o ensino de Filosofia, So-
as condições que facilitem a remoção de órgãos, tecidos
ciologia e noções de Direito Eleitoral nas escolas públicas
e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa
e tratamento, e sobre coleta, processamento e transfusão do ensino médio.
de sangue e seus derivados, vedado todo tipo de comer- • (Parágrafo com redação dada pelo art. 1º da Emenda
cialização nos termos do § 4º do art. 199 da Constituição à Constituição nº 62, de 23/12/2003.)
da República.
• (Vide Lei nº 10.860, de 5/8/1992.) Art. 196 – O ensino será ministrado com base nos se-
• (Vide Lei nº 11.553, de 3/8/1994.) guintes princípios:
I – igualdade de condições para o acesso e frequência
Subseção Única à escola e permanência nela;
Do Saneamento Básico II – liberdade de aprender, ensinar e pesquisar, e de
divulgar o pensamento, a arte e o saber;
Art. 192 – O Estado formulará a política e os planos III – pluralismo de ideias e de concepções filosóficas,
plurianuais estaduais de saneamento básico. políticas, estéticas, religiosas e pedagógicas, que conduza o
• (Vide Lei nº 11.720, de 28/12/1994.) educando à formação de uma postura ética e social próprias;
§ 1º – A política e os planos plurianuais serão submeti- IV – preservação dos valores educacionais regionais e
dos a um Conselho Estadual de Saneamento Básico. locais;
§ 2º – O Estado proverá os recursos necessários para a V – gratuidade do ensino público;
implementação da política estadual de saneamento básico. VI – valorização dos profissionais do ensino, com a ga-
§ 3º – A execução de programa de saneamento bási- rantia, na forma da lei, de plano de carreira para o magis-
co, estadual ou municipal, será precedida de planejamento tério público, com piso de vencimento profissional e com
que atenda aos critérios de avaliação do quadro sanitário e ingresso exclusivamente por concurso público de provas
epidemiológico estabelecidos em lei. e títulos, realizado periodicamente, sob o regime jurídico
único adotado pelo Estado para seus servidores;
Seção II VII – gestão democrática do ensino público, na forma
Da Assistência Social da lei;
VIII – seleção competitiva interna para o exercício de
Art. 193 – A assistência social será prestada pelo Estado cargo comissionado de Diretor e da função de Vice-Diretor
a quem dela necessitar, independentemente de contribui- de escola pública, para período fixado em lei, prestigiadas,
ção, sem prejuízo da assegurada no art. 203 da Constitui- na apuração objetiva do mérito dos candidatos, a experiên-
ção da República. cia profissional, a habilitação legal, a titulação, a aptidão

78
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

para liderança, a capacidade de gerenciamento, na forma IX – promoção da expansão da rede de estabelecimen-


da lei, e a prestação de serviços no estabelecimento por tos oficiais que ofereçam cursos gratuitos de ensino téc-
dois anos, pelo menos; nico-industrial, agrícola e comercial, observadas as pecu-
• (Inciso regulamentado pela Lei nº 10.486, de liaridades regionais e as características dos grupos sociais;
24/7/1991.) X – atendimento gratuito em creche e pré-escola à
• (Inciso declarado inconstitucional em 5/2/1997 – ADI criança de até seis anos de idade, em período diário de oito
640. Acórdão publicado no Diário da Justiça em 11/4/1997.) horas, com a garantia de acesso ao ensino fundamental;
IX – garantia do princípio do mérito, objetivamente XI – propiciamento de acesso aos níveis mais elevados
apurado, na carreira do magistério; do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a
X – garantia do padrão de qualidade, mediante: capacidade de cada um;
a) avaliação cooperativa periódica por órgão próprio XII – expansão da oferta de ensino noturno regular e
do sistema educacional, pelo corpo docente e pelos res- de ensino supletivo, adequados às condições do educando;
ponsáveis pelos alunos;
XIII – criação de sistema integrado de bibliotecas, para
b) condições para reciclagem periódica pelos profissio-
difusão de informações científicas e culturais;
nais de ensino;
XIV – programas específicos de atendimento à criança
XI – coexistência de instituições públicas e privadas.
Parágrafo único – A gratuidade do ensino a cargo do e ao adolescente superdotados, na forma da lei;
Estado inclui a de todo o material escolar e a da alimenta- XV – supervisão e orientação educacional nas esco-
ção do educando, quando na escola. las públicas, em todos os níveis e modalidades de ensino,
• (Vide Lei nº 11.871, de 21/8/1995.) exercidas por profissional habilitado;
XVI – atendimento ao educando, no ensino fundamen-
Art. 197 – A descentralização do ensino, por coope- tal, por meio de programas suplementares de fornecimen-
ração, na forma da lei, submete-se às seguintes diretrizes: to de material didático-escolar, transporte, alimentação e
I – atendimento prioritário à escolaridade obrigatória; assistência à saúde;
II – garantia de repasse de recursos técnicos e finan- XVII – amparo ao menor carente ou infrator e sua for-
ceiros. mação em curso profissionalizante.
Parágrafo único – A cessão de pessoal do magistério § 1º – O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direi-
se dará com todos os direitos e vantagens do cargo, como to público subjetivo.
se em exercício em unidade do sistema estadual de ensino. § 2º – O não oferecimento do ensino obrigatório pelo
• (Artigo regulamentado pela Lei nº 12.768, de Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabi-
22/1/1998.) lidade da autoridade competente.
• (Vide Lei nº 14.158, de 4/1/2002.) § 3º – Compete ao Estado recensear os educandos do
ensino fundamental e, mediante instrumentos de controle,
Art. 198 – A garantia de educação pelo Poder Público zelar pela frequência à escola.
se dá mediante: § 4º – O ensino é livre à iniciativa privada, verificadas as
I – ensino fundamental, obrigatório e gratuito, mesmo seguintes condições:
para os que não tiverem tido acesso a ele na idade própria, I – observância das diretrizes e bases da educação na-
em período de oito horas diárias para o curso diurno; cional e da legislação concorrente em nível estadual;
II – prioridade para o ensino médio, para garantir, gra- II – autorização de funcionamento e supervisão e ava-
dativamente, a gratuidade e a obrigatoriedade desse grau liação de qualidade pelo Poder Público.
de ensino;
III – atendimento educacional especializado ao porta-
Art. 199 – As universidades gozam de autonomia didá-
dor de deficiência, preferencialmente na rede regular de
tico-científica e administrativa, incluída a gestão financeira
ensino, com garantia de recursos humanos capacitados e
e patrimonial, observado o princípio de indissociabilidade
material e equipamento públicos adequados, e de vaga em
escola próxima à sua residência; entre ensino, pesquisa e extensão.
IV – apoio às entidades especializadas, públicas e pri- § 1º – O Estado destinará dotações e recursos à ope-
vadas, sem fins lucrativos, para o atendimento ao portador racionalização e à manutenção das atividades necessárias
de deficiência; à total implantação e desenvolvimento da Universidade do
V – cessão de servidores especializados para atendi- Estado de Minas Gerais – Uemg – e da Universidade Es-
mento às fundações públicas e entidades filantrópicas, tadual de Montes Claros – Unimontes –, no valor de, no
confessionais e comunitárias sem fins lucrativos, de assis- mínimo, 2% (dois por cento) da receita orçamentária cor-
tência ao menor e ao excepcional, como dispuser a lei; rente ordinária do Estado, repassados em parcelas mensais
VI – incentivo à participação da comunidade no pro- equivalentes a um doze avos do total, no mesmo exercício.
cesso educacional, na forma da lei; • (Parágrafo acrescentado pelo art. 2º da Emenda à
VII – preservação dos aspectos humanísticos e profis- Constituição nº 47, de 27/12/2000.)
sionalizantes no ensino médio; • (Declarada a inconstitucionalidade da Emenda à
VIII – expansão e manutenção da rede de estabeleci- Constituição nº 47, de 27/12/2000 – que acrescentou o pa-
mentos oficiais de ensino, com a dotação de infraestrutura rágrafo ao art. 199 –, em 4/3/2009 – ADI 2.447. Acórdão
física e equipamentos adequados; publicado no Diário da Justiça Eletrônico em 4/12/2009.)

79
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

§ 2º – Dos recursos a que se refere o parágrafo ante- Art. 202 – O Estado publicará no órgão oficial, até o dia
rior, 7,5% (sete e meio por cento) serão destinados priori- dez de março de cada ano, demonstrativo da aplicação dos
tariamente à criação e à implantação de cursos superiores recursos previstos no artigo anterior, por Município e por
nos vales do Jequitinhonha e do Mucuri pela Universidade atividade.
do Estado de Minas Gerais – Uemg – e pela Universidade
Estadual de Montes Claros – Unimontes –, podendo, jus- Art. 203 – Os recursos públicos serão destinados às es-
tificadamente, ser empregados na manutenção de outras colas públicas e podem ser dirigidos às escolas comunitá-
atividades das respectivas universidades. rias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que:
• (Parágrafo acrescentado pelo art. 2º da Emenda à I – comprovem finalidade não lucrativa e apliquem
Constituição nº 47, de 27/12/2000.) seus excedentes financeiros em educação;
• (Declarada a inconstitucionalidade da Emenda à II – assegurem a destinação do seu patrimônio a outra
Constituição nº 47, de 27/12/2000 – que acrescentou o pa- escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Po-
rágrafo ao art. 199 –, em 4/3/2009 – ADI 2.447. Acórdão der Público, no caso de encerramento de suas atividades.
publicado no Diário da Justiça Eletrônico em 4/12/2009.) § 1º – Os recursos de que trata este artigo poderão ser
§ 3º – Na instalação das unidades da Universidade Es- destinados a bolsas de estudo para ensino fundamental e
tadual de Minas Gerais, ou na encampação de entidades médio, na forma da lei, para os que demonstrarem insufi-
educacionais de ensino universitário, levar-se-ão em conta, ciência de recursos, quando houver falta de vagas e de cur-
prioritariamente, regiões densamente povoadas não aten- sos regulares da rede pública na localidade de residência
didas por ensino público superior, observada a vocação do educando, obrigado o Poder Público a investir priorita-
regional. riamente na expansão de sua rede na localidade.
• (Parágrafo renumerado pelo art. 2º da Emenda à • (Parágrafo regulamentado pela Lei nº 10.638, de
Constituição nº 47, de 27/12/2000.) 17/1/1992.)
§ 4º – As atividades acadêmicas e administrativas das § 2º – As atividades universitárias de pesquisa e exten-
universidades públicas estaduais serão reguladas por nor- são poderão receber apoio financeiro do Poder Público.
mas específicas.
Art. 204 – O plano estadual de educação, de duração
• (Parágrafo acrescentado pelo art. 1º da Emenda à
plurianual, visará à articulação e ao desenvolvimento do
Constituição nº 72, de 24/11/2005.)
ensino em seus diversos níveis, à integração das ações do
Poder Público e à adaptação ao plano nacional, com os ob-
Art. 200 – Respeitado o conteúdo mínimo do ensino
jetivos de:
fundamental estabelecido pela União, o Estado lhe fixará
I – erradicação do analfabetismo;
conteúdo complementar, com o objetivo de assegurar a
II – universalização do atendimento escolar;
formação política, cultural e regional. III – melhoria da qualidade do ensino;
Parágrafo único – O ensino religioso, de matrícula fa- IV – formação para o trabalho;
cultativa, constituirá disciplina dos horários normais das V – promoção humanística, científica e tecnológica.
escolas públicas de ensino fundamental. Parágrafo único – Os planos de educação serão enca-
• (Vide Lei nº 15.434, de 5/1/2005.) minhados, para apreciação da Assembleia Legislativa, até o
dia trinta e um de agosto do ano imediatamente anterior
Art. 201 – O Estado aplicará, anualmente, nunca menos ao do início de sua execução.
de vinte e cinco por cento da receita resultante de seus • (Vide Lei nº 19.481, de 12/1/2011.)
impostos, incluída a proveniente de transferências, na ma-
nutenção e no desenvolvimento do ensino. Art. 205 – É defeso ao Estado auxiliar, com recursos fi-
§ 1º – A parcela de arrecadação de impostos transfe- nanceiros e humanos, o Município que deixe de comprovar
rida pelo Estado aos Municípios não é considerada para a regular e eficaz aplicação, no ano imediatamente ante-
efeito do cálculo previsto neste artigo. rior, do mínimo constitucional na manutenção e no desen-
§ 2º – Para efeito de cumprimento do disposto neste volvimento do ensino.
artigo, serão considerados o sistema estadual de ensino, os
recursos transferidos para o sistema municipal de ensino e Art. 206 – Compete ao Conselho Estadual de Educação,
os aplicados na forma do art. 203. sem prejuízo de outras atribuições a ele conferidas em lei e
§ 3º – A distribuição dos recursos públicos assegura- observadas as diretrizes e bases estabelecidas pela União:
rá prioridade ao atendimento das necessidades do ensino I – baixar normas disciplinadoras dos sistemas estadual
obrigatório, nos termos do plano estadual de educação, e municipal de ensino;
observadas as diretrizes nacionais da educação. II – interpretar a legislação de ensino;
§ 4º – O ensino fundamental público terá como fonte III – autorizar e supervisionar o funcionamento do en-
adicional de financiamento a contribuição social do salário- sino particular e avaliar-lhe a qualidade;
-educação, na forma da legislação federal. IV – desconcentrar suas atribuições, por meio de co-
• (Vide Lei nº 13.458, de 12/1/2000.) missões de âmbito municipal.
§ 5º – O percentual mínimo a que se refere este artigo Parágrafo único – A competência, a organização e as
será obtido de acordo com os valores reais dos recursos na diretrizes do funcionamento do Conselho serão estabele-
data de sua arrecadação. cidas em lei.

80
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Seção IV IV – as obras, objetos, documentos, edificações e de-


Da Cultura mais espaços destinados a manifestações artístico-culturais;
• (Vide Lei nº 11.726, de 30/12/1994.) V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico,
paisagístico, artístico, arqueológico, espeleológico, paleon-
Art. 207 – O Poder Público garante a todos o pleno tológico, ecológico e científico.
exercício dos direitos culturais, para o que incentivará, va- • (Vide Lei nº 13.956, de 24/7/2001.)
lorizará e difundirá as manifestações culturais da comuni-
dade mineira, mediante, sobretudo: Art. 209 – O Estado, com a colaboração da comuni-
I – definição e desenvolvimento de política que articu- dade, protegerá o patrimônio cultural por meio de inven-
le, integre e divulgue as manifestações culturais das diver- tários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação,
sas regiões do Estado; de outras formas de acautelamento e preservação e, ainda,
II – criação e manutenção de núcleos culturais regio- de repressão aos danos e às ameaças a esse patrimônio.
nais e de espaços públicos equipados, para a formação e Parágrafo único – A lei estabelecerá plano permanente
para proteção do patrimônio cultural do Estado, notada-
difusão das expressões artístico-culturais;
mente dos núcleos urbanos mais significativos.
III – criação e manutenção de museus e arquivos pú-
blicos regionais que integrem o sistema de preservação da Art. 210 – A lei disporá sobre a fixação de datas come-
memória do Estado, franqueada a consulta da documenta- morativas de fatos relevantes para a cultura estadual.
ção governamental a quantos dela necessitem;
IV – adoção de medidas adequadas à identificação, Seção V
proteção, conservação, revalorização e recuperação do pa- Da Ciência e Tecnologia
trimônio cultural, histórico, natural e científico do Estado;
V – adoção de incentivos fiscais que estimulem as em- Art. 211 – O Estado promoverá e incentivará o desen-
presas privadas a investir na produção cultural e artística volvimento científico, a pesquisa, a difusão e a capacitação
do Estado, e na preservação do seu patrimônio histórico, tecnológicas.
artístico e cultural; • (Vide Lei nº 17.348, de 17/1/2008.)
• (Vide Lei nº 13.464, de 12/1/2000.) § 1º – A pesquisa básica receberá tratamento prioritá-
• (Vide Lei nº 17.615, de 4/7/2008.) rio do Estado, com vistas ao bem público e ao progresso do
VI – adoção de ação impeditiva da evasão, destruição conhecimento e da ciência.
e descaracterização de obras de arte e de outros bens de § 2º – A pesquisa e a difusão tecnológicas se voltarão
valor histórico, científico, artístico e cultural; preponderantemente para a solução de problemas regio-
VII – estímulo às atividades de caráter cultura em suas nais e para o desenvolvimento produtivo do Estado, com
múltiplas dimensões. prioridade para o consumo interno.
• (Inciso acrescentado pelo art. 1º da Emenda à Consti- § 3º – O Estado apoiará a formação de recursos huma-
tuição nº 81, de 9/7/2009.) nos nas áreas de ciência, pesquisa e tecnologia e concede-
§ 1º – O Estado, com a colaboração da comunidade, rá aos que dela se ocupem meios e condições especiais de
prestará apoio para a preservação das manifestações cul- trabalho.
turais locais, especialmente das escolas e bandas musicais,
guardas de congo e cavalhadas. Art. 212 – O Estado manterá entidade de amparo e
§ 2º – O Estado manterá fundo de desenvolvimento fomento à pesquisa e lhe atribuirá dotações e recursos
necessários à sua efetiva operacionalização, a serem por
cultural como garantia de viabilização do disposto neste
ela privativamente administrados, correspondentes a, no
artigo.
mínimo, um por cento da receita orçamentária corrente or-
§ 3º – A lei estabelecerá o Plano Estadual de Cultura, de
dinária do Estado, os quais serão repassados em parcelas
duração plurianual, visando ao desenvolvimento das ações mensais equivalentes a um doze avos, no mesmo exercício.
de que tratam os incisos I a VIII deste artigo e de outras Parágrafo único – A entidade destinará os recursos de
consideradas relevantes pelo poder público para a garantia que trata este artigo prioritariamente a projetos que se
do exercício dos direitos culturais pela população. ajustem às diretrizes básicas estabelecidas pelo Conselho
• (Parágrafo acrescentado pelo art. 1º da Emenda à Estadual de Ciência e Tecnologia – Conecit –, definidos
Constituição nº 81, de 9/7/2009.) • (Vide Lei nº 11.726, de como essenciais ao desenvolvimento científico e tecnoló-
30/12/1994.) gico do Estado, e à reestruturação da capacidade técnico-
• (Vide Lei nº 22.627, de 31/7/2017.) -científica das instituições de pesquisa do Estado, em con-
formidade com os princípios definidos nos Planos Mineiros
Art. 208 – Constituem patrimônio cultural mineiro os de Desenvolvimento Integrado – PMDIs – e contemplados
bens de natureza material e imaterial, tomados individual- nos Programas dos Planos Plurianuais de Ação Governa-
mente ou em conjunto, que contenham referência à identi- mental – PPAGs.
dade, à ação e à memória dos diferentes grupos formado- • (Artigo com redação dada pelo art. 1º da Emenda à
res da sociedade mineira, entre os quais se incluem: Constituição nº 17, de 20/12/1995.)
I – as formas de expressão; • (Vide arts. nos 100 e 101 da Lei nº 11.050, de
II – os modos de criar, fazer e viver; 19/1/1993.)
III – as criações científicas, tecnológicas e artísticas; • (Vide Lei nº 17.348, de 17/1/2008.)

81
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Art. 213 – Entre outros estímulos, a lei disporá, obser- V – proteger a fauna e a flora, a fim de assegurar a di-
vado o art. 146, XI, sobre concessão de isenções, incentivos versidade das espécies e dos ecossistemas e a preservação
e benefícios fiscais a empresas brasileiras de capital nacio- do patrimônio genético, vedadas, na forma da lei, as práti-
nal, com sede e administração no Estado, que concorram cas que provoquem a extinção das espécies ou submetam
para a viabilização da autonomia tecnológica nacional, es- os animais a crueldade;
pecialmente: • (Vide Lei nº 14.181, de 17/1/2002.)
I – as do setor privado: VI – definir mecanismos de proteção à fauna e à flora
a) que tenham sua produção voltada para o mercado nativas e estabelecer, com base em monitoramento contí-
interno, em particular as dedicadas à produção de alimen-
nuo, a lista de espécies ameaçadas de extinção e que me-
tos, com utilização de tecnologia indicada para a explora-
reçam proteção especial;
ção dos recursos naturais e para a preservação do meio
ambiente; • (Inciso regulamentado pela Lei nº 10.583, de 31/1/1992.)
b) que promovam pesquisa tecnológica e desenvolvi- • (Inciso regulamentado pela Lei nº 14.181, de 17/1/2002.)
mento experimental no âmbito da medicina preventiva e VII – controlar a produção, a comercialização e o em-
terapêutica, publiquem e divulguem seus resultados e pro- prego de técnicas, métodos e substâncias que importem
duzam equipamentos especializados destinados ao uso de riscos para a vida, a qualidade de vida, o meio ambiente,
portador de deficiência; bem como o transporte e o armazenamento dessas subs-
c) que promovam pesquisa tecnológica voltada para tâncias em seu território;
o desenvolvimento de métodos e técnicas apropriadas à VIII – criar parques, reservas, estações ecológicas e
geração, interpretação e aplicação de dados minerogeoló- outras unidades de conservação, mantê-los sob especial
gicos, além de criação, desenvolvimento, inovação e adap- proteção e dotá-los da infraestrutura indispensável às suas
tação técnica, em equipamentos; finalidades;
d) que promovam pesquisa tecnológica no desenvolvi- IX – estabelecer, através de órgão colegiado, com par-
mento e na adaptação de equipamentos eletroeletrônicos; ticipação da sociedade civil, normas regulamentares e téc-
II – as empresas públicas e sociedades de economia nicas, padrões e demais medidas de caráter operacional,
mista cujos investimentos em pesquisa científica e criação para proteção do meio ambiente e controle da utilização
de tecnologia se revelem necessários e relevantes ao de- racional dos recursos ambientais;
senvolvimento socioeconômico estadual;
X – manter instituição de pesquisa, planejamento e
III – as empresas que promovam a pesquisa e a utiliza-
ção de tecnologias alternativas. execução que assegure ao órgão indicado no inciso ante-
• (Vide Lei nº 17.348, de 17/1/2008.) rior o suporte técnico e operacional necessário ao cumpri-
mento de sua finalidade;
Seção VI XI – preservar os recursos bioterapêuticos regionais.
Do Meio Ambiente § 2º – O licenciamento de que trata o inciso IV do pa-
rágrafo anterior dependerá, nos casos de atividade ou obra
Art. 214 – Todos têm direito a meio ambiente ecologi- potencialmente causadora de significativa degradação do
camente equilibrado, bem de uso comum do povo e essen- meio ambiente, de estudo prévio de impacto ambiental, a
cial à sadia qualidade de vida, e ao Estado e à coletividade que se dará publicidade.
é imposto o dever de defendê-lo e conservá-lo para as ge- § 3º – Parte dos recursos estaduais previstos no art. 20,
rações presentes e futuras. § 1º, da Constituição da República será aplicada de modo
• (Vide Lei nº 14.181, de 17/1/2002.) a garantir o disposto no § 1º, sem prejuízo de outras dota-
• (Vide Lei nº 14.309, de 19/6/2002.) ções orçamentárias.
§ 1º – Para assegurar a efetividade do direito a que se re- § 4º – Quem explorar recurso ambiental fica obrigado
fere este artigo, incumbe ao Estado, entre outras atribuições: a recuperar o meio ambiente degradado, na forma da lei.
I – promover a educação ambiental em todos os níveis § 5º – A conduta e a atividade consideradas lesivas ao
de ensino e disseminar, na forma da lei, as informações ne-
meio ambiente sujeitarão o infrator, pessoa física ou jurídi-
cessárias à conscientização pública para a preservação do
meio ambiente; ca, a sanções administrativas, sem prejuízo das obrigações
• (Inciso regulamentado pela Lei nº 15.441, de de reparar o dano e das cominações penais cabíveis.
11/1/2005.) § 6º – São indisponíveis as terras devolutas, ou arreca-
II – assegurar, na forma da lei, o livre acesso às informa- dadas pelo Estado, necessárias às atividades de recreação
ções básicas sobre o meio ambiente; pública e à instituição de parques e demais unidades de
• (Inciso regulamentado pela Lei nº 15.971, de conservação, para a proteção dos ecossistemas naturais.
12/1/2006.) • (Vide art. 52 da Lei nº 20.922, de 16/10/2013.)
III – prevenir e controlar a poluição, a erosão, o asso- § 7º – Os remanescentes da Mata Atlântica, as veredas,
reamento e outras formas de degradação ambiental; os campos rupestres, as cavernas, as paisagens notáveis e
IV – exigir, na forma da lei, prévia anuência do órgão outras unidades de relevante interesse ecológico consti-
estadual de controle e política ambiental, para início, am- tuem patrimônio ambiental do Estado e sua utilização se
pliação ou desenvolvimento de atividades, construção ou fará, na forma da lei, em condições que assegurem sua
reforma de instalações capazes de causar, sob qualquer conservação.
forma, degradação do meio ambiente, sem prejuízo de ou- • (Vide Lei nº 14.309, de 19/6/2002.)
tros requisitos legais, preservado o sigilo industrial; • (Vide art. 57 da Lei nº 20.922, de 16/10/2013.)

82
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Art. 215 – É obrigação das instituições do Poder Exe- Parágrafo único – O Poder Público garantirá ao porta-
cutivo, com atribuições diretas ou indiretas de proteção dor de deficiência atendimento especializado no que se re-
e controle ambiental, informar o Ministério Público sobre fere à educação física e à prática de atividades desportivas,
ocorrência de conduta ou atividade considerada lesiva ao sobretudo no âmbito escolar.
meio ambiente.
Art. 219 – O clube e a associação que fomentem prá-
Art. 216 – O Estado criará mecanismos de fomento a: ticas esportivas propiciarão ao atleta integrante de seus
I – reflorestamento com a finalidade de suprir a de- quadros formas adequadas de acompanhamento médico
manda de produtos lenhosos e de minimizar o impacto da e de exames.
exploração dos adensamentos vegetais nativos;
II – programas de conservação de solos, para minimi- Art. 220 – O Poder Público apoiará e incentivará o lazer,
zar a erosão e o assoreamento de corpos d’água interiores e o reconhecerá como forma de promoção social.
Parágrafo único – O Estado incentivará, mediante be-
naturais ou artificiais;
nefícios fiscais e na forma da lei, o investimento da iniciati-
III – programas de defesa e recuperação da qualidade
va privada no desporto.
das águas e do ar;
IV – projetos de pesquisa e desenvolvimento tecnoló-
Seção VIII
gico para a utilização de espécies nativas nos programas de Da Família, da Criança, do Adolescente, do Porta-
reflorestamento. dor de Deficiência e do Idoso
§ 1º – O Estado promoverá o inventário, o mapeamen-
to e o monitoramento das coberturas vegetais nativas e de Art. 221 – A família receberá proteção do Estado, na
seus recursos hídricos, para adoção de medidas especiais forma da lei.
de proteção. Parágrafo único – O Estado, isoladamente ou em coo-
§ 2º – O Estado auxiliará o Município na implantação e peração, manterá programas destinados à assistência à fa-
na manutenção de hortos florestais destinados à recompo- mília, com o objetivo de assegurar:
sição da flora nativa. I – o livre exercício do planejamento familiar;
II – a orientação psicossocial às famílias de baixa renda;
Art. 217 – As atividades que utilizem produtos flores- III – a prevenção da violência no âmbito das relações
tais como combustível ou matéria-prima deverão, para o familiares;
fim de licenciamento ambiental e na forma estabelecida IV – o acolhimento, preferentemente em casa especia-
em lei, comprovar que possuem disponibilidade daqueles lizada, de mulher, criança, adolescente e idoso, vítimas de
insumos, capaz de assegurar, técnica e legalmente, o res- violência no âmbito da família ou fora dele.
pectivo suprimento.
Parágrafo único – É obrigatória a reposição florestal Art. 222 – É dever do Estado promover ações que vi-
pelas empresas consumidoras, nos limites do Estado, pre- sem assegurar à criança e ao adolescente, com prioridade,
ferencialmente no território do Município produtor de car- o direito a vida, saúde, alimentação, educação, lazer, pro-
vão vegetal. fissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade, con-
• (Vide Lei nº 14.309, de 19/6/2002.) vivência familiar e comunitária, e colocá-los a salvo de toda
• (Vide Lei nº 20.922, de 16/10/2013.) forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.
Seção VII Do Desporto e do Lazer § 1º – O Estado estimulará, mediante incentivos fiscais,
subsídios e menções promocionais, nos termos da lei, o
Art. 218 – O Estado garantirá, por intermédio da rede
acolhimento ou a guarda de criança ou adolescente órfão
oficial de ensino e em colaboração com entidades despor-
ou abandonado.
tivas, a promoção, o estímulo, a orientação e o apoio à prá-
§ 2º – O Estado destinará recursos à assistência ma-
tica e difusão da educação física e do desporto, formal e
terno-infantil.
não formal, com: § 3º – A prevenção da dependência de drogas e afins
I – a destinação de recursos públicos à promoção prio- é dever do Estado, que prestará atendimento especializado
ritária do desporto educacional e, em situações específicas, à criança e ao adolescente dependentes, desenvolvendo
do desporto de alto rendimento; ações que auxiliem sua integração na comunidade, na for-
II – a proteção e incentivo às manifestações esportivas ma da lei.
de criação mineira; (Parágrafo regulamentado pela Lei nº 11.544, de
III – o tratamento diferenciado para o desporto profis- 25/7/1994.)
sional e não profissional;
IV – a obrigatoriedade de reserva de áreas destinadas Art. 223 – As ações do Estado de proteção à infância e
a praças e campos de esporte nos projetos de urbanização à juventude serão organizadas na forma da lei, com base
e de unidades escolares, e a de desenvolvimento de pro- nas seguintes diretrizes:
gramas de construção de áreas para a prática do esporte (Vide Lei nº 10.501, de 17/10/1991.)
comunitário. (Vide Lei nº 11.397, de 6/1/1994.)

83
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

I – desconcentração do atendimento; IX – promover a formação dos policiais militares e de-


II – valorização dos vínculos familiar e comunitário, mais servidores públicos responsáveis pela segurança do
como medida preferencial para a integração social da trânsito, para habilitá-los ao atendimento das necessidades
criança e do adolescente; do portador de deficiência;
III – atendimento prioritário em situações de risco, de- X – destinar, na forma da lei, recursos às entidades de
finidas em lei, observadas as características culturais e so- amparo e de assistência ao portador de deficiência.
cioeconômicas locais; § 2º – Ao servidor público que passe à condição de de-
(Vide Lei nº 15.473, de 28/1/2005.) ficiente no exercício de cargo ou função pública, o Estado
IV – participação da sociedade, mediante organizações assegurará assistência médica e hospitalar, medicamentos,
representativas, na formulação de políticas e programas e aparelhos e equipamentos necessários ao tratamento e à
no acompanhamento e fiscalização de sua execução. sua adaptação às novas condições de vida.
Parágrafo único – O Estado manterá programas so-
cioeducativos destinados à criança e ao adolescente priva- Art. 225 – O Estado promoverá condições que assegu-
dos das condições fundamentais necessárias ao seu pleno rem amparo à pessoa idosa, no que respeite à sua dignida-
desenvolvimento e estimulará, por meio de apoio técnico de e ao seu bem-estar.
e financeiro, os de igual natureza de iniciativa de entidade (Vide Lei nº 12.666, de 4/11/1997.)
filantrópica. (Vide Lei nº 13.176, de 20/1/1999.)
(Vide Lei nº 10.501, de 17/10/1991.) § 1º – O amparo ao idoso será, quanto possível, exer-
cido no próprio lar.
Art. 224 – O Estado assegurará condições de prevenção (Vide Lei nº 13.763, de 30/11/2000.)
das deficiências física, sensorial e mental, com prioridade § 2º – Para assegurar a integração do idoso na comu-
para a assistência pré-natal e à infância, e de integração nidade e na família, serão criados centros diurnos de lazer
social do portador de deficiência, em especial do adoles- e de amparo à velhice e programas de preparação para a
cente, e a facilitação do acesso a bens e serviços coletivos, aposentadoria, com a participação de instituições dedica-
com eliminação de preconceitos e remoção de obstáculos
das a essa finalidade.
arquitetônicos.
§ 3º – Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos é ga-
(Vide Lei nº 10.837, de 27/7/1992.)
rantida a gratuidade nos transportes coletivos urbanos me-
§ 1º – Para assegurar a implementação das medidas
diante apresentação da carteira de identidade ou de traba-
indicadas neste artigo, incumbe ao Poder Público:
lho, sendo vedada a exigência de qualquer outra forma de
I – estabelecer normas de construção e adaptação de
identificação.
logradouros e edifícios de uso público e de adaptação de
veículos de transporte coletivo; (Parágrafo acrescentado pelo art. 1º da Emenda à
(Inciso regulamentado pela Lei nº 11.666, de 9/12/1994.) Constituição nº 28, de 1/10/1997.)
II – celebrar convênio com entidade profissionalizante
sem fins lucrativos, com vistas à formação profissional e à Art. 226 – Para assegurar a efetiva participação da so-
preparação para o trabalho; ciedade, nos termos do disposto nesta seção, serão criados
III – estimular a empresa, mediante adoção de meca- o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adoles-
nismos, inclusive incentivos fiscais, a absorver a mão de cente, o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos do Por-
obra de portador de deficiência; tador de Deficiência e o Conselho Estadual do Idoso.
IV – criar centros profissionalizantes para treinamento, (Vide Lei nº 10.501, de 17/10/1991.)
habilitação e reabilitação profissional do portador de defi- (Vide Lei nº 13.176, de 20/1/1999.)
ciência e do acidentado no trabalho, e assegurar a integra- (Vide Lei nº 13.799, de 21/12/2000.)
ção entre saúde, educação e trabalho; Parágrafo único – O Conselho Estadual de Defesa dos
(Inciso regulamentado pela Lei nº 11.944, de Direitos do Portador de Deficiência e o Conselho Estadual
19/10/1995.) do Idoso serão instituídos até o dia 15 de março de 1993.
V – implantar sistemas especializados de comunica- (Artigo com redação dada pelo art. 1º da Emenda à
ção em estabelecimento da rede oficial de ensino de ci- Constituição nº 6, de 21/12/1992.)
dade-polo regional, de modo a atender às necessidades
educacionais e sociais de portador de deficiência visual ou
auditiva;
VI – criar programas de assistência integral para excep-
cional não reabilitável; LEI Nº 9.455, DE 7 DE ABRIL DE 1.997, LEI DA
VII – promover a participação das entidades represen- TORTURA.
tativas do segmento na formulação da política de atendi-
mento ao portador de deficiência e no controle das ações
desenvolvidas, em todos os níveis, pelos órgãos estaduais No Brasil, o uso da tortura - seja como meio de obten-
responsáveis pela política de proteção ao portador de de- ção de provas através da confissão, seja como forma de
ficiência; castigo a prisioneiros - data dos tempos da Colônia. Le-
VIII – assegurar, nas emissoras oficiais de televisão do gado da Inquisição, a tortura nunca deixou de ser aplicada
Estado, tradução, por intérprete, para portador de deficiên- durante os 322 anos de período colonial e nem posterior-
cia auditiva, dos noticiários e comunicações oficiais; mente - nos 67 anos do Império e no período republicano.

84
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Durante os chamados anos de chumbo, assim como na Merece evidência, ainda, o artigo 3º da Declaração:
ditadura Vargas (período denominado Estado Novo ou Re- “Nenhum Estado poderá tolerar a tortura ou tratos ou
pública Nova, em alusão à República Velha, que se findava), penas cruéis, desumanos ou degradantes. Não poderão
houve a prática sistemática da tortura contra presos políti- ser invocadas circunstâncias excepcionais tais como es-
cos - aqueles considerados subversivos, que alegadamente tado de guerra ou ameaça de guerra, instabilidade política
ameaçavam a segurança nacional. Durante o regime militar interna ou qualquer outra emergência pública como justi-
de 1964, os torturadores brasileiros eram em sua grande ficativa da tortura ou outros tratamentos ou penas cruéis,
maioria militares das forças armadas, em especial do exér- desumanos ou degradantes”. A tortura é uma ofensa ta-
cito. Os principais centros de tortura no Brasil, nesta época, manha à dignidade da pessoa humana que em nenhuma
eram os DOI/CODI, órgãos militares de defesa interna. hipótese pode ser praticada, suspendendo ou excetuando
No final dos anos 1960 e início dos anos 1970, as di- as garantias que a envolvem.
taduras militares do Brasil e de outros países da América Os outros artigos da Declaração tratam dos deveres
do Sul criaram a chamada Operação Condor, para perse- estatais de criminalização e punição da tortura, bem como
guir, torturar e eliminar opositores. Receberam o suporte de conscientização em treinamento de seus agentes a res-
de especialistas militares norte-americanos, ligados à CIA, peito de sua vedação e de reparação dos danos causados,
que ensinaram novas técnicas de tortura para obtenção de encerrando com a invalidação de qualquer declaração ou
informações. confissão proferida nestas condições.
Com a redemocratização, em 1985, cessou a prática da Em geral, a Convenção mencionada apenas amplia as
tortura com fins políticos. Mas as técnicas foram incorpo- questões protetivas tratadas na Declaração, merecendo
radas por muitos policiais, que passaram a aplicá-las contra destaque o seu artigo 1º, que diferente do primeiro artigo
os presos comuns, “suspeitos” ou detentos. da Declaração traz uma fórmula genérica para a finalidade
O artigo V da Declaração de 1948 prevê que “ninguém da tortura consistente em qualquer motivo baseado em
será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo discriminação de qualquer natureza. Não obstante, ex-
cruel, desumano ou degradante”, previsão repetida no ar- clui as sanções legítimas e lembra que se a lei nacional ou
tigo 7º do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos internacional trouxer conceito mais amplo este prevalecerá.
e no artigo 5º da Convenção Americana sobre os Direitos No Brasil, a Constituição de 1988 prevê no artigo 5o, III
Humanos. Vale lembrar que a tortura é o clássico tipo de que “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento
tratamento cruel. desumano ou degradante” e considera a prática de tortura
Há uma preocupação especial da comunidade interna- como crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia
cional de vedar tais práticas. Neste sentido, na esfera das (para o STF, a proibição se estende ao indulto).
Nações Unidas, tem-se a Declaração sobre a Proteção de Pela lei infraconstitucional, a tortura é disciplinada pela
Todas as Pessoas contra a Tortura e Outras Penas ou Trata- Lei no 9.455, de 07 de abril de 1997, que tipifica o crime de
mentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adotada pela tortura em seu artigo 1o, com pena de reclusão de 2 a 8 anos.
Assembleia Geral em 9 de dezembro de 1975, e a Conven- Diferentemente da disciplina internacional, a tortu-
ção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, ra não é ato exclusivamente praticado por funcionário
Desumanos ou Degradantes, adotada pela Assembleia Ge- público ou terceiro particular às suas ordens (seria crime
ral em 10 de dezembro de 1984 e ratificada pelo Brasil em próprio) e sim ato que pode ser praticado, em regra, por
28 de setembro de 1989. qualquer pessoa. Desta feita, o que distinguirá a tortura de
Na referida Declaração, o artigo 1º traz um conceito outros tipos penais não será a condição do agente, mas sim
de tortura: “1. Sob os efeitos da presente declaração, será a finalidade do ato ou mesmo a intensidade do sofrimen-
entendido por tortura todo ato pelo qual um funcionário to causado (esse é o critério para distinguir da prática de
público, ou outra pessoa a seu poder, inflija intencional- maus-tratos, art. 136, CP).
mente a uma pessoa penas ou sofrimentos graves, sendo
eles físicos ou mentais, com o fim de obter dela ou de LEI NO 9.455, DE 07 DE ABRIL DE 1997
um terceiro informação ou uma confissão, de castigá-la Define os crimes de tortura e dá outras providências.
por um ato que tenha cometido ou seja suspeita de que
tenha cometido, ou de intimidar a essa pessoa ou a outras. Art. 1º Constitui crime de tortura:
[...]”. No documento o conceito de tortura pode ser assim I - constranger alguém com emprego de violência ou
subdividido: a) ação, não omissão; b) praticada por funcio- grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:
nário público ou alguém sob sua autoridade; c) com dolo a) com o fim de obter informação, declaração ou
(intenção); d) contra uma pessoa; e) consistente em penas confissão da vítima ou de terceira pessoa;
ou sofrimentos graves, físicos ou mentais; f) visando - ob- Tortura-prova ou tortura-persecutória
tenção de informação ou confissão, castigo ou intimidação.
Pelo mesmo dispositivo, a pena privativa de liberdade que b) para provocar ação ou omissão de natureza cri-
seja aplicada em obediência à lei, ou seja, sem arbitrariedade, minosa;
em respeito aos direitos humanos consagrados nas Regras Tortura para a prática de crime ou tortura-crime
Mínimas para o Tratamento dos Reclusos, não é tortura. O
que constitui tortura é “[...] uma forma agravada e deliberada c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
de tratamento ou de pena cruel, desumana ou degradante”. Tortura discriminatória ou tortura-racismo

85
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Sujeito ativo: crime comum, qualquer pessoa. Tortura qualificada


Sujeito passivo: qualquer pessoa. Tortura + lesão grave ou gravíssima = reclusão, 4 a 10 anos.
Elemento subjetivo: dolo, específico, variando para Tortura + morte = reclusão, 8 a 16 anos.
cada um dos três tipos. Em ambos casos, vai se verificar se o autor da condu-
Tipo objetivo: constranger alguém mediante violência ta realmente não quis nem assumiu o risco de produzir o
ou grave ameaça, gerando sofrimento físico ou mental, é resultado da lesão grave/gravíssima ou da morte, ou seja,
conduta plurissubsistente, logo, admite tentativa. a lesão grave/gravíssima ou a morte não podem ter sido
almejadas pelo autor, se forem, há concurso formal entre a
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou au- tortura e a lesão (art. 129, §§ 1o e 2o, CP) ou então homicídio
toridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a qualificado pela tortura (art. 121, §2o, III, CP).
intenso sofrimento físico ou mental, como forma de apli-
car castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
Tortura-castigo I - se o crime é cometido por agente público;
Sujeito ativo: crime próprio, pois a pessoa deve ter atri- II – se o crime é cometido contra criança, gestante,
buto especial consistente em guarda, poder ou autoridade portador de deficiência, adolescente ou maior de 60
sobre a outra. (sessenta) anos;
Sujeito passivo: qualquer pessoa que esteja sob guar- III - se o crime é cometido mediante sequestro.
da, poder ou autoridade de outrem. Causas de aumento de pena
Elemento subjetivo: dolo, específico pois deve ser for- Se aplicam a todos os tipos anteriores.
ma de castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. Se houver mais de uma causa presente, o juiz apenas
Tipo objetivo: a conduta de submeter alguém a violên- aumenta a pena uma vez, no montante máximo de 1/3.
cia ou grave ameaça, intenso sofrimento físico ou mental, é
plurissubsistente e, como tal, admite tentativa. § 5º A condenação acarretará a perda do cargo, fun-
ção ou emprego público e a interdição para seu exercí-
cio pelo dobro do prazo da pena aplicada.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Se o sujeito ativo for funcionário público, perderá o
cargo, função ou emprego; se não for, ficará impedido de
§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa
obtê-lo ou de tentar retornar a cargo diverso, pelo dobro
presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento fí-
do prazo da pena empregada.
sico ou mental, por intermédio da prática de ato não pre-
visto em lei ou não resultante de medida legal.
§ 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível
Tortura de preso ou de pessoa sujeita a medida de de graça ou anistia.
segurança Também é insuscetível de indulto.
Sujeito ativo: crime comum, qualquer pessoa, mas na
prática será comumente cometido por quem tenha pode- § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo
res no âmbito da detenção, como carcereiro ou agente pri- a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em
sional, ou da medida de segurança, como enfermeiro. regime fechado.
Sujeito passivo: apenas pode ser pessoa presa ou sujei- Salvo no caso de omissão para a prática de tortura, o
ta a medida de segurança. regime inicial de cumprimento da pena seria fechado. En-
Elemento subjetivo: dolo. tretanto, o STF afastou a obrigatoriedade de início de pena
Tipo objetivo: submeter a sofrimento físico ou men- em regime fechado para crimes hediondos e equiparados
tal diverso de ato típico previsto em lei ou resultante de (HC 111.840/ES). Caberá ao juiz individualizar a pena, inclu-
medida legal, que é plurissubsistente, admitindo tentativa. sive quanto ao regime de cumprimento.
Evidente que a pena e a medida de segurança tipicamente
geram um tipo de sofrimento, não é este abrangido pela Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o
conduta típica. crime não tenha sido cometido em território nacional,
sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, em local sob jurisdição brasileira.
quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na Trata-se de hipótese de extraterritorialidade incondi-
pena de detenção de um a quatro anos. cionada da lei penal. O legislador quis garantir a punição
Omissão perante a tortura da prática repulsiva da tortura independentemente da lo-
Sujeito ativo: pessoa que tivesse autoridade para evitar calização da vítima (sendo ela brasileira) ou da nacionalida-
ou apurar as condutas. de do agente (estando ele sob jurisdição brasileira).
Sujeito passivo: qualquer pessoa.
Elemento subjetivo: dolo. Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Tipo objetivo: tratando-se de conduta omissiva, não
admite tentativa. Art. 4º Revoga-se o art. 233 da Lei nº 8.069, de 13 de
julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.
§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou
gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se Brasília, 7 de abril de 1997; 176º da Independência e
resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos. 109º da República.

86
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

§ 5º A adoção será assistida pelo Poder Público, na


LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1.990, forma da lei, que estabelecerá casos e condições de sua efe-
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. tivação por parte de estrangeiros.
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casa-
mento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qua-
Noções introdutórias e disciplina constitucional lificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias
relativas à filiação.
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Es- § 7º No atendimento dos direitos da criança e do ado-
tado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com lescente levar-se-á em consideração o disposto no art.
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimenta- 204107.
ção, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à § 8º A lei estabelecerá: 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar I - o estatuto da juventude, destinado a regular os di-
e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma reitos dos jovens; 
de negligência, discriminação, exploração, violência, II - o plano nacional de juventude, de duração dece-
crueldade e opressão.  nal, visando à articulação das várias esferas do poder públi-
§ 1º O Estado promoverá programas de assistência co para a execução de políticas públicas. 
integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, ad-
mitida a participação de entidades não governamentais, No caput do artigo 227, CF se encontra uma das prin-
mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes cipais diretrizes do direito da criança e do adolescente que
preceitos:  é o princípio da prioridade absoluta. Significa que cada
I - aplicação de percentual dos recursos públicos desti- criança e adolescente deve receber tratamento especial do
nados à saúde na assistência materno-infantil; Estado e ser priorizado em suas políticas públicas, pois são
II - criação de programas de prevenção e atendimen- o futuro do país e as bases de construção da sociedade.
to especializado para as pessoas portadoras de deficiência
A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 dispõe sobre o
física, sensorial ou mental, bem como de integração social
Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providên-
do adolescente e do jovem portador de deficiência, me-
cias, seguindo em seus dispositivos a ideologia do princí-
diante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a
pio da absoluta prioridade.
facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eli-
minação de obstáculos arquitetônicos e de todas as formas No §1º do artigo 227 aborda-se a questão da assistên-
de discriminação.  cia à saúde da criança e do adolescente. Do inciso I se de-
§ 2º A lei disporá sobre normas de construção dos lo- preende a intrínseca relação entre a proteção da criança e
gradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de do adolescente com a proteção da maternidade e da infân-
veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso cia, mencionada no artigo 6º, CF. Já do inciso II se depreen-
adequado às pessoas portadoras de deficiência. de a proteção de outro grupo vulnerável, que é a pessoa
§ 3º O direito a proteção especial abrangerá os seguin- portadora de deficiência, valendo lembrar que o Decreto nº
tes aspectos: 6.949, de 25 de agosto de 2009, que promulga a Convenção
I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII; e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em
II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; 30 de março de 2007, foi promulgado após aprovação no
III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e Congresso Nacional nos moldes da Emenda Constitucional
jovem à escola;  nº 45/2004, tendo força de norma constitucional e não de
IV - garantia de pleno e formal conhecimento da lei ordinária. A preocupação com o direito da pessoa porta-
atribuição de ato infracional, igualdade na relação pro- dora de deficiência se estende ao §2º do artigo 227, CF: “a
cessual e defesa técnica por profissional habilitado, se- lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e
gundo dispuser a legislação tutelar específica;
V - obediência aos princípios de brevidade, excepcio- 107 Art. 204. As ações governamentais na área da assistência
social serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade
nalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em de- social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com
senvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida base nas seguintes diretrizes: I - descentralização político-adminis-
privativa da liberdade; trativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a
VI - estímulo do Poder Público, através de assistência coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas esta-
jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, dual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência
ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou ado- social; II - participação da população, por meio de organizações re-
presentativas, na formulação das políticas e no controle das ações em
lescente órfão ou abandonado;
todos os níveis. Parágrafo único. É facultado aos Estados e ao Distrito
VII - programas de prevenção e atendimento especia- Federal vincular a programa de apoio à inclusão e promoção social
lizado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, vedada
entorpecentes e drogas afins. a aplicação desses recursos no pagamento de: I - despesas com pes-
§ 4º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a soal e encargos sociais; II - serviço da dívida; III - qualquer outra des-
exploração sexual da criança e do adolescente. pesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações
apoiados.

87
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública
de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado (alínea “b”), a preferência na formulação e na execução das
às pessoas portadoras de deficiência”. políticas sociais públicas (alínea “c”), e a destinação privi-
A proteção especial que decorre do princípio da prio- legiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a
ridade absoluta está prevista no §3º do artigo 227. Liga-se, proteção à infância e à juventude (alínea “d”).
ainda, à proteção especial, a previsão do §4º do artigo 227: Ademais, a proteção à criança, ao adolescente e ao jo-
“A lei punirá severamente o abuso, a violência e a explora- vem representa incumbência atribuída não só ao Estado,
ção sexual da criança e do adolescente”. mas também à família e à sociedade. Sendo assim, há se
Tendo em vista o direito de toda criança e adolescente prestar bastante atenção nas provas de concurso, tendo
de ser criado no seio de uma família, o §5º do artigo 227 da em vista que só se costuma colocar o Estado como obser-
Constituição prevê que “a adoção será assistida pelo Poder vador da “Doutrina da Proteção Integral”, sendo que isso
Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condi- também compete à família e à sociedade.
ções de sua efetivação por parte de estrangeiros”. Neste Nesta frequência, o direito à proteção especial abran-
sentido, a Lei nº 12.010, de 3 de agosto de 2009, dispõe gerá os seguintes aspectos (art. 227, §3º, CF):
sobre a adoção. - A idade mínima de dezesseis anos para admissão ao
A igualdade entre os filhos, quebrando o paradigma da trabalho, salvo a partir dos quatorze anos, na condição de
Constituição anterior e do até então vigente Código Civil aprendiz (inciso I de acordo com o art. 7º, XXXIII, CF, pós-al-
de 1916 consta no artigo 227, § 6º, CF: “os filhos, havidos teração promovida pela Emenda Constitucional nº 20/98);
ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os - A garantia de direitos previdenciários e trabalhistas
mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer de- (inciso II);
signações discriminatórias relativas à filiação”. - A garantia de acesso ao trabalhador adolescente e
Quando o artigo 227 dispõe no § 7º que “no atendi- jovem à escola (inciso III);
mento dos direitos da criança e do adolescente levar-se-á - A garantia de pleno e formal conhecimento da atri-
em consideração o disposto no art. 204” tem em vista a buição do ato infracional, igualdade na relação processual
adoção de práticas de assistência social, com recursos da
e defesa técnica por profissional habilitado, segundo dis-
seguridade social, em prol da criança e do adolescente.
puser a legislação tutelar específica (inciso IV);
Por seu turno, o artigo 227, § 8º, CF, preconiza: “A lei
- A obediência aos princípios de brevidade, excepcio-
estabelecerá: I - o estatuto da juventude, destinado a re-
nalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em de-
gular os direitos dos jovens; II - o plano nacional de juven-
senvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida
tude, de duração decenal, visando à articulação das várias
privativa de liberdade (inciso V);
esferas do poder público para a execução de políticas pú-
- O estímulo do Poder Público, através de assistência
blicas”. A Lei nº 12.852, de 5 de agosto de 2013, institui
jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao
o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os direitos dos
jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas de acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adoles-
juventude e o Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE. cente órfão ou abandonado (inciso VI);
Mais informações sobre a Política mencionada no inciso II - Programas de prevenção e atendimento especializa-
e sobre a Secretaria e o Conselho Nacional de Juventude do à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de
que direcionam a implementação dela podem ser obtidas entorpecentes e drogas afins (inciso VII).
na rede108. Prosseguindo, o parágrafo sexto, do art. 227, da Cons-
Aprofundando o tema, a cabeça do art. 227, da Lei Fun- tituição, garante o “Princípio da Igualdade entre os Filhos”,
damental, preconiza ser dever da família, da sociedade e do ao dispor que os filhos, havidos ou não da relação do ca-
Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com samento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e quali-
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, ficações, proibidas quaisquer designações discriminatórias
à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dig- relativas à filiação.
nidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e Assim, com a Constituição Federal, os filhos não têm
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de mais “valor” para efeito de direitos alimentícios e suces-
negligência, discriminação, exploração, violência, cruelda- sórios. Não se pode falar em um filho receber metade da
de e opressão. parte que originalmente lhe cabia por ser “bastardo”, en-
A leitura do art. 227, caput, da Constituição Federal quanto aquele fruto da sociedade conjugal receber a quan-
permite concluir que se adotou, neste país, a chamada tia integral. Aliás, nem mesmo a expressão “filho bastardo”
“Doutrina da Proteção Integral da Criança”, ao lhe assegu- pode mais ser utilizada, por representar uma forma de dis-
rar a absoluta prioridade em políticas públicas, medidas criminação designatória.
sociais, decisões judiciais, respeito aos direitos humanos, Também, o art. 229 traz uma “via de mão dupla” entre
e observância da dignidade da pessoa humana. Neste sen- pais e filhos, isto é, os pais têm o dever de assistir, criar e
tido, o parágrafo único, do art. 5º, do “Estatuto da Crian- educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever
ça e do Adolescente”, prevê que a garantia de priorida- de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou en-
de compreende a primazia de receber proteção e socorro fermidade. Tal dispositivo, inclusive, permite que os filhos
em quaisquer circunstâncias (alínea “a”), a precedência de peçam alimentos aos pais, e que os pais peçam alimentos
108 http://www.juventude.gov.br/politica aos filhos.

88
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Por fim, há se mencionar o acrescentado parágrafo oi- crianças da Europa vítimas da II Guerra Mundial. No início
tavo (pela Emenda Constitucional nº 65/2010), ao art. 227, da década de 50 o seu mandato foi alargado para respon-
da Constituição Federal, segundo o qual a lei estabelecerá der às necessidades das crianças e das mães nos países em
o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos desenvolvimento. Em 1953, torna-se uma agência perma-
jovens (inciso I), e o plano nacional de juventude, de du- nente das Nações Unidas, e passa a ocupar-se especial-
ração decenal, visando à articulação das várias esferas do mente das crianças dos países mais pobres da África, Ásia,
poder público para a execução de políticas públicas (inciso América Latina e Médio Oriente. Passa então a designar-se
II). Nada obstante a exigência constitucional desde 2010, Fundo das Nações Unidas para a Infância, mas mantém a
somente bem recentemente o Estatuto da Juventude foi sigla que a tornara conhecida em todo o mundo – UNICEF.
aprovado (Lei nº 12.852/2013), como visto acima, carecen- Desde então, sobrevieram no âmbito das Nações Unidas
do, ainda, o Plano Nacional de Juventude de maior regula- documentos bastante relevantes sobre a condição jurídica
mentação infraconstitucional. peculiar da criança, já estudados neste material.
No Brasil, no final do século XIX e início do século XX,
Evolução histórica foi instituído no Rio de Janeiro o Instituto de Proteção e
Assistência à Infância, primeiro estabelecimento público
Na Grécia antiga, a criança era colocada numa posição nacional de atendimento a crianças e adolescentes. Em se-
de inferioridade, tida como um ser irracional, sem capaci- guida, veio a Lei nº 4.242/1921, que autorizou o governo
dade de tomar qualquer tipo de decisão. Trata-se de marco a organizar o Serviço de Assistência e Proteção à Infância
da cultura grega, que enxergava apenas poucos homens de Abandonada e Dellinquente. Em 1927 foi aprovado o pri-
posses como cidadãos. Estes homens concentravam para meiro Código de Menores. Em 1941, durante o governo
si o pátrio poder, isto é, o poder do pai. Devido ao pátrio Vargas, foi criado o Serviço de Assistência ao Menor, cujo
poder, o pai de família concentrava em suas mãos plena fim era dar tratamento penal teoricamente diferenciado
possibilidade de gerir a vida das crianças e adolescentes aos menores (na prática, eram tratados como criminosos
e estes não tinham nenhuma possibilidade de participar comuns). Em 1964 surge a Política Nacional do Bem-estar
destas decisões. Na Idade Média se manteve o sistema do do Menor (Lei nº 4.513/1964), que criou a FUNABEM. Surge
“pátrio poder”. As crianças eram submetidas ao absoluto novo Código de Menores em 1979 (Lei nº 6.697), cujo ob-
poder do pai e seus destinos seguiam a mesma sorte. jeto era a proteção e vigilância de crianças e adolescentes
A partir da Idade Moderna, com o Renascimento e o em situação irregular. Na década de 80 começa um mo-
Iluminismo, as crianças e os adolescentes saíram ligeira- vimento de reelaboração da concepção de infância e ju-
mente da margem social. A moral da época passa a impor ventude. O destaque repercute na Constituição Federal de
aos pais o dever de educar seus filhos. Entretanto, a educa- 1988 e no Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990,
ção costumava ser oferecida apenas aos homens. Aqueles que revogou o Código de Menores e substituiu a doutrina
que possuíam melhores condições enviavam seus filhos da situação irregular pela doutrina da proteção integral109.
para estudarem nas universidades que começavam a des-
pontar na Europa, aqueles que possuíam condições piores Relações jurídicas no direito da criança e do ado-
ao menos passavam a ensinar seus ofícios a estes jovens. lescente
Já as meninas permaneciam marginalizadas das atividades
educacionais e profissionalizantes, apenas lhes era ensina- “As relações jurídicas são formas qualificadas de re-
do como desempenhar atividades domésticas. lações interpessoais, indicando, assim, a ligação entre
Desde o final da Revolução Francesa e, com destaque, pessoas, em razão de algum objeto, devidamente regu-
a partir da Revolução Industrial, que alterou substancial- lada pelo direito. Desta forma, o Direito da Criança e do
mente os modos e métodos de produção, a criança e o Adolescente, sob o aspecto objetivo e formal, representa
adolescente passam a ocupar papel central na sociedade, a disciplina das relações jurídicas entre Crianças e Adoles-
desempenhando atividades trabalhistas de caráter equiva- centes, de um lado, e de outro, a família, a comunidade, a
lente a dos adultos. Foram vítimas de inúmeros acidentes sociedade e o próprio Estado. [...] Percebemos que a inten-
de trabalho, morriam em meio à insalubridade das fábricas, ção dos doutrinadores e do próprio legislador foi, sempre,
então movidas predominantemente a carvão. Foi apenas criar uma doutrina da proteção integral não somente para
com a emergência da Organização Internacional do Tra- a Criança, como, ainda, para o Adolescente, ambos ainda
balho – OIT, em 1919, que aos poucos se consolidou uma em desenvolvimento, posto que, somente com o término
consciência a respeito da necessidade de se limitar a parti- da adolescência é que o menor completará o processo de
cipação das crianças e adolescentes no espaço de trabalho. aquisição de mecanismos mentais relacionados ao pensa-
Este foi o estopim para o reconhecimento da condição es- mento, percepção, reconhecimento, classificação etc. [...]
pecial da criança e do adolescente. Com isso, o Estatuto da Criança e do Adolescente, sabia-
Internacionalmente, a proteção efetiva da criança e mente, se preocupou em envolver não somente a família,
do adolescente começa a tomar corpo com o reconheci- mas, ainda, a comunidade, a sociedade e o próprio Estado,
mento internacional dos direitos humanos e a fundação
109 DEZEM, Guilherme Madeira; AGUIRRE, João Ricardo Bran-
da UNICEF. A UNICEF, inicialmente conhecida como Fundo dão; FULLER, Paulo Henrique Aranda. Estatuto da Criança e do Adoles-
Internacional de Emergência das Nações Unidas para as cente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. (Coleção Elementos do
Crianças, foi criada em dezembro de 1946 para ajudar as Direito)

89
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

para que todos, em conjunto, exerçam seus direitos e deve- b) Princípio da proteção integral: previsto no artigo
res sem oprimir aqueles que, em condição inferior, viviam 1º, ECA estabelece que a proteção da criança e do adoles-
a mercê da sociedade. Mas, qual a razão dessa inclusão tão cente não pode se restringir às situações de irregularidade,
abrangente? Pois bem, a intenção do Estatuto da Criança o que teria um caráter estigmatizante, mas deve abranger
e do Adolescente foi conferir ao menor, de forma integral, todas as situações de vida pelas quais passa a criança e o
todas as condições para que o mesmo possa desenvolver- adolescente, mesmo as regulares. Neste sentido, ao se as-
-se plenamente, evitando-se, com isso, que haja alguma segurar direitos na regularidade, evita-se que a criança e o
deficiência em sua formação. Desta forma, a melhor solu- adolescente caiam em irregularidade.
ção apresentada pelo legislador foi incluir todos os seg- c) Princípio da dignidade da pessoa humana: A dig-
mentos da sociedade, para que ninguém ficasse isento nidade da pessoa humana é o valor-base de interpretação
de qualquer responsabilidade, uma vez que a doutrina da de qualquer sistema jurídico, internacional ou nacional,
proteção integral apresentada pelo Estatuto da Criança e que possa se considerar compatível com os valores éticos,
do Adolescente exige a participação de todos, sem qual- notadamente da moral, da justiça e da democracia. Pensar
quer exceção”110. Com efeito, o objeto formal do direito da em dignidade da pessoa humana significa, acima de tudo,
criança e do adolescente é a proteção jurídica especial da colocar a pessoa humana como centro e norte para qual-
criança e do adolescente. Já o objeto material é a própria quer processo de interpretação jurídico, seja na elaboração
criança ou adolescente. da norma, seja na sua aplicação.
Sem pretender estabelecer uma definição fechada ou
Princípios plena, é possível conceituar dignidade da pessoa humana
como o principal valor do ordenamento ético e, por con-
Não se pode olvidar que os princípios sempre desem- sequência, jurídico que pretende colocar a pessoa humana
penharam um importante papel social, mas foi somente na como um sujeito pleno de direitos e obrigações na or-
atual dogmática jurídica que eles adquiriram normativida- dem internacional e nacional, cujo desrespeito acarreta a
de. Hoje em dia, os princípios servem para condensar va- própria exclusão de sua personalidade.
lores, dar unidade ao sistema e condicionar a atividade do
Aponta Barroso113: “o princípio da dignidade da pessoa
intérprete. Os princípios são normas jurídicas, não meros
humana identifica um espaço de integridade moral a ser
conteúdos axiológicos, aceitando aplicação autônoma111.
assegurado a todas as pessoas por sua só existência no
Em resumo, a teoria dos princípios chega à presente
mundo. É um respeito à criação, independente da crença
fase do Pós-positivismo com os seguintes resultados já
que se professe quanto à sua origem. A dignidade rela-
consolidados: a passagem dos princípios da especulação
ciona-se tanto com a liberdade e valores do espírito como
metafísica e abstrata para o campo concreto e positivo do
Direito, com baixíssimo teor de densidade normativa; a com as condições materiais de subsistência”.
transição crucial da ordem jusprivatista (sua antiga inser- O Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, do
ção nos Códigos) para a órbita juspublicística (seu ingresso Tribunal Superior do Trabalho, trouxe interessante conceito
nas Constituições); a suspensão da distinção clássica entre numa das decisões que relatou: “a dignidade consiste na
princípios e normas; o deslocamento dos princípios da es- percepção intrínseca de cada ser humano a respeito dos
fera da jusfilosofia para o domínio da Ciência Jurídica; a direitos e obrigações, de modo a assegurar, sob o foco de
proclamação de sua normatividade; a perda de seu cará- condições existenciais mínimas, a participação saudável e
ter de normas programáticas; o reconhecimento definitivo ativa nos destinos escolhidos, sem que isso importe des-
de sua positividade e concretude por obra sobretudo das tilação dos valores soberanos da democracia e das liber-
Constituições; a distinção entre regras e princípios, como dades individuais. O processo de valorização do indivíduo
espécies diversificadas do gênero norma, e, finalmente, por articula a promoção de escolhas, posturas e sonhos, sem
expressão máxima de todo esse desdobramento doutriná- olvidar que o espectro de abrangência das liberdades in-
rio, o mais significativo de seus efeitos: a total hegemonia dividuais encontra limitação em outros direitos fundamen-
e preeminência dos princípios112. tais, tais como a honra, a vida privada, a intimidade, a ima-
No campo do direito da criança e do adolescente, al- gem. Sobreleva registrar que essas garantias, associadas ao
guns princípios assumem destaque, entre eles: princípio da dignidade da pessoa humana, subsistem como
a) Princípio da prioridade absoluta: previsto nos ar- conquista da humanidade, razão pela qual auferiram pro-
tigos 227, CF e 4º, ECA preconiza que é dever de todos – teção especial consistente em indenização por dano moral
Estado, sociedade, comunidade e família – assegurar com decorrente de sua violação”114.
absoluta prioridade direitos fundamentais às crianças e Para Reale115, a evolução histórica demonstra o domí-
adolescentes. Por isso, estabelece-se com primazia a ado- nio de um valor sobre o outro, ou seja, a existência de uma
ção de políticas públicas, a destinação de recursos e a pres- ordem gradativa entre os valores; mas existem os valores
tação de serviços essenciais àqueles que se encontram na
faixa etária inferior a 18 anos. 113 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Cons-
tituição. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 382.
110 MENDES, Moacyr Pereira. As relações jurídicas decorrentes 114 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista n.
do Estatuto da Criança e do Adolescente. Âmbito Jurídico, Rio Grande, 259300-59.2007.5.02.0202. Relator: Alberto Luiz Bresciani de Fontan
XII, n. 70, nov. 2009. Pereira. Brasília, 05 de setembro de 2012j1. Disponível em: www.tst.
111 Ibid., p.327. gov.br. Acesso em: 17 nov. 2012.
112 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 26. ed. 115 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19. ed. São Paulo: Sarai-
São Paulo: Malheiros, 2011, p. 294. va, 2002, p. 228.

90
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

fundamentais e os secundários, sendo que o valor fonte Entretanto, para que este processo de análise de sua
é o da pessoa humana. Nesse sentido, são os dizeres de autonomia transcorra de maneira isenta, fundamentalmen-
Reale116: “partimos dessa ideia, a nosso ver básica, de que a te centrado nas peculiaridades do desenvolvimento do ser
pessoa humana é o valor-fonte de todos os valores. O ho- humano, o primeiro ponto a ser considerado é a necessida-
mem, como ser natural biopsíquico, é apenas um indivíduo de de abdicar de alguns conceitos preestabelecidos, como
entre outros indivíduos, um ente animal entre os demais é o caso da atitude paternalista. [...]
da mesma espécie. O homem, considerado na sua objeti- O segundo ponto a considerar neste percurso, em ge-
vidade espiritual, enquanto ser que só realiza no sentido ral decorrente do primeiro, é a própria legislação que, mes-
de seu dever ser, é o que chamamos de pessoa. Só o ho- mo tendo o melhor dos intuitos, praticamente nivela todos
mem possui a dignidade originária de ser enquanto deve os menores a uma mesma condição: a de incapacidade,
ser, pondo-se essencialmente como razão determinante criando a necessidade de se ter figuras aptas a decidir e
do processo histórico”. responder por eles, como se estas figuras fossem sempre e
Quando a Constituição Federal assegura a dignidade inevitavelmente imbuídas das melhores intenções em rela-
da pessoa humana como um dos fundamentos da Repúbli- ção à criança e ao adolescente.
ca, faz emergir uma nova concepção de proteção de cada No entender de Kopelman, para que toda esta legisla-
membro do seu povo. Tal ideologia de forte fulcro huma- ção fosse realmente válida seria necessário definir melhor,
nista guia a afirmação de todos os direitos fundamentais de maneira bem precisa, o que se entende por um padrão
e confere a eles posição hierárquica superior às normas mínimo de benefício ou o que é ‘o melhor’ para os interes-
organizacionais do Estado, de modo que é o Estado que ses da criança ou do adolescente, de modo que a definição
está para o povo, devendo garantir a dignidade de seus não fique em aberto para a interpretação de quem detém
membros, e não o inverso. o poder de decidir em nome deles. Além disso, estas defi-
d) Princípio da participação popular: previsto no ar- nições deveriam estar em constante revisão, para que não
tigo 227, §§ 3º e 7º e no artigo 204, II, CF, assegura a par- acabem sendo ultrapassadas, frente à evolução histórico-
ticipação popular, através de organizações representativas, -social dos fatos que geraram a necessidade de sua criação.
na elaboração de políticas públicas direcionadas à infância
Superados estes dois pontos, que apesar de potencial-
e à juventude.
mente limitantes do processo de discussão da autonomia
e) Princípio da excepcionalidade: previsto no artigo
da criança e do adolescente não podem ser simplesmente
227, §3º, V, CF assegura que quando da imposição de me-
ignorados, como se não existissem, chega-se ao terceiro e
dida privativa de liberdade esta não será imposta a não
mais importante: a interpretação do conceito de autono-
ser que se trate de um caso excepcional, em que nenhuma
mia à luz do momento de desenvolvimento em que uma
outra medida sócio-educativa possa ser utilizada.
determinada criança ou adolescente se encontra.
f) Princípio da brevidade: previsto no artigo 227, §3º,
V, CF assegura que quando da aplicação de medida privati- Nesse sentido, diversas características do desenvolvi-
va de liberdade esta não se estenderá no tempo, devendo mento devem ser levadas em consideração:
ser a mais breve possível, perdurando apenas pelo prazo 1. Trata-se de um processo que evolui continuamente
necessário para a ressocialização do adolescente. No caso, à medida que habilidades se aperfeiçoam, novas capaci-
o ECA limita a aplicação de medidas desta natureza ao pra- dades são adquiridas, novas vivências são acumuladas e
zo máximo de 3 anos. integradas e, portanto, passível de rápidas e extremas mu-
g) Princípio da condição peculiar da pessoa em de- danças no tempo;
senvolvimento: a criança e o adolescente estão em pro- 2. A aquisição das competências é progressiva, não se
cesso de formação e de transformação física e psíquica, dá saltos, como se se tratasse de compartimentos estan-
logo, possuem uma condição peculiar que deve ser respei- ques, e segue sempre uma ordem preestabelecida, sendo,
tada quando da aplicação da lei. portanto, razoavelmente previsível;
3. Os tempos e o ritmo em que o desenvolvimento se
Autonomia da criança e do adolescente processa são muito individualizados, fazendo com que dois
indivíduos de uma mesma idade possam estar em momen-
Coloca-se o trecho do trabalho de Cláudio Leone117 em tos diferentes de desenvolvimento;
que reflete sobre a construção da autonomia do infante: 4. No caso específico da inteligência, o desenvolvimen-
“Conceitualmente, a análise do respeito à autonomia to é extremamente influenciável por fatores extrínsecos ao
de uma criança ou de um adolescente só tem sentido se for indivíduo: as experiências, os estímulos, o ambiente, a edu-
conduzida a partir do conhecimento da evolução de suas cação, a cultura, etc., o que também acaba por reforçar sua
competências nas diferentes idades. É de conhecimento evolução extremamente individualizada.
de todos que a criança nasce totalmente dependente de Segundo Piaget, a capacidade de operar o pensamen-
cuidados alheios e que passa por um processo de desen- to concreto estendendo-o à compreensão do outro e às
volvimento progressivo que a leva a alcançar a completa possíveis consequências de boa parte dos seus atos se
independência na maturidade, o que, nas sociedades mo- aperfeiçoa na idade escolar, entre os 6 e os 11 anos de vida.
dernas, se situa por volta dos vinte anos de idade. Este amadurecimento se completa na adolescência, com a
116 Ibid., p. 220.
capacidade crescente de abstração que a criança desenvol-
117 LEONE, Cláudio. A criança, o adolescente e a autonomia. ve nesta fase da existência. Como consequência, é possível
Revista Bioética, v. 6, n. 1. admitir que é na segunda fase da adolescência, em geral a

91
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

partir dos 15 anos, que o indivíduo atingiria as competên- ou responsáveis, médicos e profissionais de saúde e, prin-
cias necessárias para o exercício de sua autonomia, com- cipalmente, a criança ou o adolescente, como parte de um
petências estas que necessitariam apenas serem lapidadas processo de interação franco, sincero, isento e realmente
ao longo das vivências e de uma maior experiência de vida. participativo que de fato respeite a autonomia, qualquer
Entretanto, isto não significa que a autonomia da crian- que seja o nível de competência que a criança ou o adoles-
ça e do adolescente só possa (ou deva) ser respeitada a cente estejam apresentando para tal”.
partir desta fase.
Compete ao pediatra e aos demais profissionais de Imputabilidade penal
saúde, utilizando suas competências profissionais, definir
já desde os primeiros anos de vida em que etapa a criança Art. 228, CF. São penalmente inimputáveis os meno-
se encontra ao longo do seu processo evolutivo, tentando res de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação es-
diferenciar se se está diante de uma tomada de decisão pecial.
ditada apenas pelo receio do desconhecido, por um capri-
cho ou vontade decorrente apenas de sua visão egocên- O artigo 228, CF dispõe: “são penalmente inimputáveis
trica, natural em determinadas idades, ou se a mesma já é os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legis-
o resultado de uma reflexão mais amadurecida. São estes lação especial”. Percebe-se que a normativa não está no
extremos que dão a entender a ampla gama de estágios de rol de cláusulas pétreas, razão pela qual seria possível uma
desenvolvimento, portanto de autonomia, que entre eles emenda constitucional que alterasse a menoridade penal.
podem se apresentar. [...] Inclusive, há projetos de lei neste sentido.
Novamente, cabe enfatizar que o risco que se corre ao
se utilizar definições bastante precisas como estas é o de Comentários à lei
acabar classificando um indivíduo de maneira dicotômica,
no caso específico da autonomia, como sendo capaz ou Parte geral
incapaz, desistindo assim de uma possível análise de sua
real capacidade. Título I
Consequentemente, a ausência de uma ou de mais das Das Disposições Preliminares
características anteriormente citadas não deve ser utilizada
para qualificar a criança ou o adolescente como incapaz. Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à
Deve, isto sim, servir de embasamento para que se possa criança e ao adolescente.
tentar entender como suas decisões se originaram. O princípio da proteção integral se associa ao princípio
Em face de situações específicas, individualizadas, da prioridade absoluta, colacionado no artigo 4º do ECA
como ocorre no dia-a-dia da prática pediátrica, esta é a e no artigo 227, CF. “Com a positivação desse princípio
única forma que o profissional tem de realmente respeitar tem-se também a positivação da proteção integral, que se
a autonomia da criança ou do adolescente. opõe à antiga e superada doutrina da situação irregular,
A interpretação adequada da legislação e o dimen- que era prevista no antigo Código de Menores e espe-
sionamento correto da decisão dos pais ou responsáveis cificava que sua incidência se restringia aos menores em
dependerão fundamentalmente deste tipo de análise da situação irregular, apresentando um conjunto de normas
autonomia da criança ou adolescente. Deste modo, mes- destinadas ao tratamento e prevenção dessas situações”118.
mo que resulte em situações de conflito entre as posições, Basicamente, tinha-se na doutrina da situação irregu-
servirá de embasamento para um trabalho, muitas vezes lar que era necessário disciplinar um estatuto jurídico da
exaustivo, de apresentação, de reflexão e de discussão de criança e do adolescente que apenas abordasse situações
argumentos e fatos, capaz de conduzir a uma decisão ama- em que ele estivesse irregular, seja por uma desproteção,
durecida e o mais isenta possível, que, respeitando a po- como no caso de abandono, ou pela violação da lei, como
sição da criança ou do adolescente, poderá efetivamente nos casos de atos infracionais.
redundar em seu benefício. Entretanto, o direito evoluiu e passou a contemplar
No leque das diferentes situações da prática pediá- uma noção de proteção mais ampla da criança e do ado-
trica, que se estende desde o recém-nascido no limite de lescente, que não apenas abordasse situações de irregula-
viabilidade ao qual se quer prestar cuidados intensivos de ridade (embora ainda o fizesse), mas que abrangesse todo
validade questionável naquelas circunstâncias, passando o arcabouço jurídico protetivo da criança e do adolescente.
pelas pesquisas científicas que envolvem crianças e ado-
lescentes, até a criança cujo pátrio poder pertence a pais Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a
adolescentes, portanto autônomos nas decisões que lhes pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente
dizem respeito, todas estas situações, onde nem sempre o aquela entre doze e dezoito anos de idade.
real interesse que está em jogo é o da criança, mas sim o Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se
dos responsáveis por ela, clarificam que não há uma única excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e
resposta ou solução mágica, perfeita, para a questão da vinte e um anos de idade.
autonomia da criança e do adolescente.
118 DEZEM, Guilherme Madeira; AGUIRRE, João Ricardo Bran-
Na realidade, o que deve existir é a construção conjun- dão; FULLER, Paulo Henrique Aranda. Estatuto da Criança e do Adoles-
ta de uma verdade para aquele momento, amadurecida no cente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. (Coleção Elementos do
crescimento e evolução de todos: juízes e legisladores, pais Direito)

92
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

O Estatuto da Criança e do Adolescente opta por cate- As crianças e adolescentes gozam de igualdade de di-
gorizar separadamente estas duas categorias de menores. reitos em relação às demais pessoas, podendo usufruir de
Criança é aquele que tem até 12 anos de idade (na data todos eles. O próprio estatuto contempla em seu título II
de aniversário de 12 anos, passa a ser adolescente), ado- os direitos fundamentais da criança e do adolescente, entre
lescente é aquele que tem entre 12 e 18 anos (na data de eles incluindo-se: vida, saúde, liberdade, respeito, dignida-
aniversário de 18 anos, passa a ser maior). Em situações de, convivência familiar e comunitária, educação, cultura,
excepcionais o ECA se aplica ao maior de 18 anos, até os esporte, lazer, profissionalização e proteção no trabalho.
21 anos de idade, por exemplo, no caso do menor infrator Não se trata de rol taxativo de direitos fundamentais ga-
sujeito a internação em fundação CASA que tenha 17 anos rantidos à criança e ao adolescente, eis que ele possui to-
e 11 meses na data do ato infracional poderá ficar detido dos os direitos humanos e fundamentais que as demais
até o limite de seus 20 anos e 11 meses (eis que 3 anos é o pessoas. O título II do ECA tem por objetivo aprofundar
tempo máximo de internação). especificidades acerca de algumas das categorias de direi-
tos fundamentais assegurados à criança e ao adolescente.
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os di- Deste artigo 3º do ECA é possível, ainda, extrair o des-
reitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem taque ao princípio da igualdade, no sentido de que há ple-
prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegu- na igualdade na garantia de direitos entre todas as crian-
rando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as opor- ças e adolescentes, não sendo permitido qualquer tipo de
tunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desen- discriminação.
volvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em
condições de liberdade e de dignidade. A leitura dos artigos 4º e 5º, em conjunto com outros
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei apli- dispositivos do ECA, por sua vez, permite detectar a pre-
cam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discrimi- sença de um tríplice sistema de garantias.
nação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, Assim, o Estatuto da Criança e do Adolescente adota
etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal uma estrutura que contempla três sistemas de garantia –
primário, secundário e terciário.
de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica,
a) Sistema primário – artigos 4º e 87, ECA – aborda po-
ambiente social, região e local de moradia ou outra condição
líticas públicas de atendimento de crianças e adolescentes.
que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em
que vivem.
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da socie-
O artigo 3º volta-se à concretização dos direitos da
dade em geral e do poder público assegurar, com abso-
criança e do adolescente. Concretização significa viabiliza-
luta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida,
ção prática, consecução real dos fins que a lei descreve.
à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
Como se percebe pela leitura até o momento, o legislador
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
brasileiro preocupou-se em elaborar uma legislação cujo liberdade e à convivência familiar e comunitária.
objetivo é concretizar estes direitos da criança e do adoles- Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
cente. Entretanto, a lei é apenas uma carta de intenções. É a) primazia de receber proteção e socorro em quais-
necessário colocar seu conteúdo em prática, porque sozi- quer circunstâncias;
nha ela nada faz. b) precedência de atendimento nos serviços públicos
A implementação na prática dos direitos da criança e ou de relevância pública;
do adolescente depende da adoção de posturas por parte c) preferência na formulação e na execução das po-
de todos aqueles colocados como responsáveis para tanto: líticas sociais públicas;
Estado, sociedade, comunidade e família. Especificamente d) destinação privilegiada de recursos públicos nas
no que se refere ao Estado, mostra-se essencial que ele áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
desenvolve políticas públicas adequadas em respeito à pe- O artigo 4º do ECA colaciona em seu caput teor idênti-
culiar condição do infante. co ao do caput do artigo 227, CF, onde se encontra uma das
“O Direito da Criança e do Adolescente deve ter con- principais diretrizes do direito da criança e do adolescente
dições suficientemente próprias de promoção e concreti- que é o princípio da prioridade absoluta. Significa que cada
zação de direitos. Para isso deve-se desvencilhar do dog- criança e adolescente deve receber tratamento especial do
matismo e do mero positivismo jurídico acrítico. O Direito Estado e ser priorizado em suas políticas públicas, pois são
da Criança e do Adolescente enquanto ramo autônomo o futuro do país e as bases de construção da sociedade.
do direito é responsável por ressignificar a atuação estatal, Explica Liberati120: “Por absoluta prioridade, devemos
principalmente no campo das políticas públicas e impõe entender que a criança e o adolescente deverão estar em
corresponsabilidades compartilhadas”119. primeiro lugar na escala de preocupação dos governantes;
Vale ressaltar que às crianças e aos adolescentes são devemos entender que, primeiro, devem ser atendidas to-
garantidos os mesmos direitos fundamentais que aos das as necessidades das crianças e adolescentes [...]. Por
adultos, entretanto, o ECA aprofunda alguns direitos fun- absoluta prioridade, entende-se que, na área administra-
damentais em espécie, abordando-os na vertente da con- tiva, enquanto não existirem creches, escolas, postos de
dição especial dos que pertencem a este grupo. 120 LIBERATI, Wilson Donizeti. O Estatuto da Criança e do Ado-
119 http://t.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=2236 lescente: Comentários. São Paulo: IBPS.

93
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

saúde, atendimento preventivo e emergencial às gestantes primário de prevenção, ou seja, nos casos de ineficácia das
dignas moradias e trabalho, não se deveria asfaltar ruas, políticas públicas específicas, deve ser acionado o sistema
construir praças, sambódromos monumentos artísticos secundário, operado predominantemente pelo Conselho
etc., porque a vida, a saúde, o lar, a prevenção de doenças Tutelas. Por sua vez, em casos extremos, é necessário partir
são importantes que as obras de concreto que ficam par a para a adoção de medidas socioeducativas, operadas pre-
demonstrar o poder do governante”. dominantemente pelo Ministério Público e pelo Judiciário.
O parágrafo único do artigo 4º especifica a abrangência
da absoluta prioridade, esclarecendo que é necessário con- Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de
ferir atendimento prioritário às crianças e aos adolescentes qualquer forma de negligência, discriminação, explora-
diante de situações de perigo e risco (como no salvamento ção, violência, crueldade e opressão, punido na forma da
em incêndios e enchentes, etc.), bem como nos serviços lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos
públicos em geral (chegada aos hospitais, por exemplo). fundamentais.
O artigo 5º ressalta o verdadeiro objetivo geral do ECA:
Além disso, devem ser priorizadas políticas públicas que
proteger a criança de qualquer forma de negligência, dis-
favoreçam a criança e o adolescente e também devem ser
criminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
reservados recursos próprios prioritariamente a eles.
Neste sentido, coloca-se a possibilidade de responsabiliza-
ção de todos que atentarem contra esse propósito. A res-
Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento: ponsabilização poderá se dar em qualquer uma das três es-
I - políticas sociais básicas; feras, isolada ou cumulativamente: penal, respondendo por
II - serviços, programas, projetos e benefícios de as- crimes e contravenções penais todo aquele que praticá-lo
sistência social de garantia de proteção social e de preven- contra criança e adolescente, bem como respondendo por
ção e redução de violações de direitos, seus agravamentos atos infracionais as crianças e adolescentes que atentarem
ou reincidências; um contra o outro; civil, estabelecendo-se o dever de inde-
III - serviços especiais de prevenção e atendimento nizar por danos causados a crianças e a adolescentes, que
médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tra- se estende a toda e qualquer pessoa física ou jurídica que
tos, exploração, abuso, crueldade e opressão; o faça, inclusive o próprio Estado; e administrativa, impon-
IV - serviço de identificação e localização de pais, do-se penas disciplinares a funcionários sujeitos a regime
responsável, crianças e adolescentes desaparecidos; jurídico administrativo em trabalhos privados ou em car-
V - proteção jurídico-social por entidades de defesa gos, empregos e funções públicos.
dos direitos da criança e do adolescente.
VI - políticas e programas destinados a prevenir ou Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta
abreviar o período de afastamento do convívio familiar os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem
e a garantir o efetivo exercício do direito à convivência comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a
familiar de crianças e adolescentes; condição peculiar da criança e do adolescente como pes-
VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob soas em desenvolvimento.
forma de guarda de crianças e adolescentes afastados do
convívio familiar e à adoção, especificamente inter-racial, É pacífico que o processo de interpretação hoje faz
de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades parte do Direito, principalmente se considerada a constan-
específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de ir- te evolução da sociedade, demandando diariamente por
mãos.  novos modos de aplicação das normas. Como a sociedade
é dinâmica e o Direito existe para servi-la, cabe a ele ade-
O artigo 87 descreve linhas de ação na política de
quar-se às novas exigências sociais, aplicando-se da ma-
atendimento, que compõem a delimitação do princípio da
neira mais justa à vasta gama de casos concretos. Sobre a
prioridade absoluta na vertente da priorização na adoção
interpretação, explica Gonçalves121: “Quando o fato é típico
de políticas públicas e na delimitação de recursos financei- e se enquadra perfeitamente no conceito abstrato da nor-
ros para execução de tais políticas. ma, dá-se o fenômeno da subsunção. Há casos, no entanto,
em que tal enquadramento não ocorre, não encontrando o
b) Sistema secundário – artigos 98 e 101, ECA – abor- juiz nenhuma norma aplicável à hipótese sub judice. Deve,
da as medidas de proteção destinadas à criança e ao ado- então, proceder à integração normativa, mediante o em-
lescente em situação de risco pessoal ou social. prego da analogia, dos costumes e dos princípios gerais do
Obs.: as medidas de proteção são estudadas adiante direito. [...] Para verificar se a norma é aplicável ao caso em
neste material. julgamento (subsunção) ou se deve proceder à integração
c) Sistema terciário – artigo 112, ECA – aborda as normativa, o juiz procura descobrir o sentido da norma, in-
medidas socioeducativas, destinadas à responsabilização terpretando-a. Interpretar é descobrir o sentido e o alcance
penal do adolescente infrator, isto é, àquele entre 12 e 18 da norma jurídica”.
anos que comete atos infracionais. A hermenêutica possui 3 categorias de métodos.
Obs.: as medidas socioeducativas são estudadas adian- Quanto às fontes ou origem, a interpretação pode ser
te neste material. autêntica ou legislativa, jurisprudencial ou judicial e dou-
O sistema tríplice deve operar de forma harmônica, trinária. Quanto aos meios, pode ser gramatical ou literal,
com o acionamento gradual de cada um deles. Nas situa- 121 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 9. ed.
ções em que a criança ou adolescente escape ao sistema São Paulo: Saraiva, 2011, v. 1.

94
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

examinando o texto normativo linguísticamente; lógica ou § 5º A assistência referida no § 4º deste artigo deverá
racional, apurando o sentido e a finalidade da norma; sis- ser prestada também a gestantes e mães que manifestem
temática, analisando a lei de maneira comparativa com ou- interesse em entregar seus filhos para adoção, bem como
tras leis pertencentes à mesma província do Direito (livro, a gestantes e mães que se encontrem em situação de pri-
título, capítulo, seção, parágrafo); histórica, baseando-se vação de liberdade.
na verificação dos antecedentes do processo legislativo; § 6º A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um)
sociológica, adaptando o sentido ou finalidade da nor- acompanhante de sua preferência durante o período do
ma às novas exigências sociais (artigo 5°, LINDB). Quanto pré-natal, do trabalho de parto e do pós-parto imediato.
aos resultados pode ser declarativa, quando o texto legal § 7º A gestante deverá receber orientação sobre alei-
corresponde ao pensamento do legislador; extensiva ou tamento materno, alimentação complementar saudável e
ampliativa, quando o alcance da lei é mais amplo que o in- crescimento e desenvolvimento infantil, bem como sobre
dicado pelo seu texto; e restritiva, na qual se limita o cam- formas de favorecer a criação de vínculos afetivos e de esti-
po de aplicação da lei. Nenhum destes métodos se opera mular o desenvolvimento integral da criança.
isoladamente122. § 8º A gestante tem direito a acompanhamento sau-
O artigo 6º do ECA, tal como o artigo 5º da LINDB, ex- dável durante toda a gestação e a parto natural cuidadoso,
pressa o método de interpretação sociológico, chamando estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras inter-
atenção à interpretação da lei levando em conta os seus venções cirúrgicas por motivos médicos.
fins sociais, as exigências do bem comum, os direitos e de- § 9º A atenção primária à saúde fará a busca ativa da
veres individuais e coletivos, e vai além: exige que se leve gestante que não iniciar ou que abandonar as consultas de
em conta a condição peculiar da criança e do adolescente. pré-natal, bem como da puérpera que não comparecer às
Logo, ao se interpretar o ECA não se pode nunca perder de consultas pós-parto.
vista que o seu objeto material, a criança e o adolescente, é § 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e
extremamente peculiar, dotado de especificidades as quais à mulher com filho na primeira infância que se encontrem
sempre se deve atentar. sob custódia em unidade de privação de liberdade, am-
biência que atenda às normas sanitárias e assistenciais do
Título II Sistema Único de Saúde para o acolhimento do filho, em
Dos Direitos Fundamentais articulação com o sistema de ensino competente, visando
ao desenvolvimento integral da criança.
Capítulo I
Do Direito à Vida e à Saúde Art. 9º O poder público, as instituições e os emprega-
dores propiciarão condições adequadas ao aleitamento
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a me-
à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais dida privativa de liberdade.
públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimen- § 1º Os profissionais das unidades primárias de saúde
to sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou coletivas,
visando ao planejamento, à implementação e à avaliação
Art. 8º É assegurado a todas as mulheres o acesso aos de ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento
programas e às políticas de saúde da mulher e de pla- materno e à alimentação complementar saudável, de for-
nejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequa- ma contínua.
da, atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpé- § 2º Os serviços de unidades de terapia intensiva neo-
rio e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral natal deverão dispor de banco de leite humano ou unidade
no âmbito do Sistema Único de Saúde. de coleta de leite humano.
§ 1º O atendimento pré-natal será realizado por pro-
fissionais da atenção primária. Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de
§ 2º Os profissionais de saúde de referência da gestan- atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, são
te garantirão sua vinculação, no último trimestre da ges- obrigados a:
tação, ao estabelecimento em que será realizado o parto, I - manter registro das atividades desenvolvidas, através
garantido o direito de opção da mulher. de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos;
§ 3º Os serviços de saúde onde o parto for realizado II - identificar o recém-nascido mediante o registro
assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-nascidos de sua impressão plantar e digital e da impressão digital
alta hospitalar responsável e contrarreferência na atenção da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela
primária, bem como o acesso a outros serviços e a grupos autoridade administrativa competente;
de apoio à amamentação. III - proceder a exames visando ao diagnóstico e tera-
§ 4º Incumbe ao poder público proporcionar assis- pêutica de anormalidades no metabolismo do recém-nasci-
tência psicológica à gestante e à mãe, no período pré e do, bem como prestar orientação aos pais;
pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as IV - fornecer declaração de nascimento onde constem
consequências do estado puerperal. necessariamente as intercorrências do parto e do desenvol-
122 Ibid. vimento do neonato;

95
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neo- § 1º É obrigatória a vacinação das crianças nos casos
nato a permanência junto à mãe. recomendados pelas autoridades sanitárias.
VI - acompanhar a prática do processo de amamen- § 2º O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à
tação, prestando orientações quanto à técnica adequada, saúde bucal das crianças e das gestantes, de forma trans-
enquanto a mãe permanecer na unidade hospitalar, utili- versal, integral e intersetorial com as demais linhas de cui-
zando o corpo técnico já existente. dado direcionadas à mulher e à criança.
§ 3º A atenção odontológica à criança terá função
Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de educativa protetiva e será prestada, inicialmente, antes de
cuidado voltadas à saúde da criança e do adolescen- o bebê nascer, por meio de aconselhamento pré-natal, e,
te, por intermédio do Sistema Único de Saúde, observado posteriormente, no sexto e no décimo segundo anos de vida,
o princípio da equidade no acesso a ações e serviços para com orientações sobre saúde bucal.
promoção, proteção e recuperação da saúde. § 4º A criança com necessidade de cuidados odontoló-
§ 1º A criança e o adolescente com deficiência serão gicos especiais será atendida pelo Sistema Único de Saúde.
atendidos, sem discriminação ou segregação, em suas § 5º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos
necessidades gerais de saúde e específicas de habilitação e seus primeiros dezoito meses de vida, de protocolo ou ou-
reabilitação. tro instrumento construído com a finalidade de facilitar a
§ 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamen- detecção, em consulta pediátrica de acompanhamento da
te, àqueles que necessitarem, medicamentos, órteses, criança, de risco para o seu desenvolvimento psíquico.
próteses e outras tecnologias assistivas relativas ao tra-
tamento, habilitação ou reabilitação para crianças e adoles- Capítulo II
centes, de acordo com as linhas de cuidado voltadas às suas Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
necessidades específicas.
§ 3º Os profissionais que atuam no cuidado diário ou Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberda-
frequente de crianças na primeira infância receberão for- de, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em
processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis,
mação específica e permanente para a detecção de sinais
humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.
de risco para o desenvolvimento psíquico, bem como para
Entre os direitos fundamentais garantidos à criança e
o acompanhamento que se fizer necessário.
ao adolescente que são especificados e aprofundados no
ECA estão os direitos à liberdade, ao respeito e à dignidade.
Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde,
inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva e de
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes
cuidados intermediários, deverão proporcionar condições aspectos:
para a permanência em tempo integral de um dos pais I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços
ou responsável, nos casos de internação de criança ou ado- comunitários, ressalvadas as restrições legais;
lescente. II - opinião e expressão;
III - crença e culto religioso;
Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de cas- IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
tigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de V - participar da vida familiar e comunitária, sem
maus-tratos contra criança ou adolescente serão obrigato- discriminação;
riamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva VI - participar da vida política, na forma da lei;
localidade, sem prejuízo de outras providências legais. VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.
§ 1º As gestantes ou mães que manifestem interesse O artigo 16 aborda diversas facetas do direito de liber-
em entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamen- dade: locomoção, opinião e expressão, religiosa e política.
te encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infân- Cria, ainda, duas facetes específicas deste direito: liberdade
cia e da Juventude. para brincar e divertir-se e liberdade para buscar refúgio,
§ 2º Os serviços de saúde em suas diferentes portas de auxílio e orientação, processos estes essenciais para o de-
entrada, os serviços de assistência social em seu compo- senvolvimento do infante.
nente especializado, o Centro de Referência Especializado
de Assistência Social (Creas) e os demais órgãos do Siste- Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilida-
ma de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente de da integridade física, psíquica e moral da criança e
deverão conferir máxima prioridade ao atendimento das do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da
crianças na faixa etária da primeira infância com suspeita identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos
ou confirmação de violência de qualquer natureza, formu- espaços e objetos pessoais.
lando projeto terapêutico singular que inclua intervenção
em rede e, se necessário, acompanhamento domiciliar. Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da
criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá progra- tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexató-
mas de assistência médica e odontológica para a pre- rio ou constrangedor.
venção das enfermidades que ordinariamente afetam a po- Os direitos ao respeito e à dignidade abrangem a pro-
pulação infantil, e campanhas de educação sanitária para teção da criança e do adolescente em todas facetas de sua
pais, educadores e alunos. integridade: física, psíquica e moral.

96
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de qualquer tipo de agressão física no mesmo patamar. Con-
ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou siderado o teor da lei, mesmo uma palmada numa criança
de tratamento cruel ou degradante, como formas de cor- é proibida.
reção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, Os críticos da “Lei da Palmada” apontam que ela adota
pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos res- uma posição extrema e impõe uma indevida intervenção
ponsáveis, pelos agentes públicos executores de medidas so- do Estado nos ambientes familiares, retirando o poder dis-
cioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar ciplinar garantido aos pais na educação de seus filhos.
deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los. Os defensores da “Lei da Palmada” utilizam estudos de
Parágrafo único.  Para os fins desta Lei, considera-se: psicólogos e educadores para argumentar que não é ne-
I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou pu- cessário utilizar qualquer tipo de agressão física, mesmo a
nitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança mais leve, para educar uma criança.
ou o adolescente que resulte em: 
a) sofrimento físico; ou Capítulo III
b) lesão; Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária
II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou for-
ma cruel de tratamento em relação à criança ou ao adoles- Seção I
cente que: Disposições Gerais
a) humilhe; ou
b) ameace gravemente; ou Quando se aborda o direito à convivência familiar e
c) ridicularize. comunitária no ECA confere-se destaque à distinção entre
família natural e substituta e aos procedimentos que carac-
Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os terizam a inserção e a retirada da criança e do adolescente
responsáveis, os agentes públicos executores de medidas so- destes ambientes.
cioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar
de crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los ou pro- Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser
tegê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou criado e educado no seio de sua família e, excepcional-
degradante como formas de correção, disciplina, educação mente, em família substituta, assegurada a convivência
ou qualquer outro pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo de familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desen-
outras sanções cabíveis, às seguintes medidas, que serão volvimento integral.
aplicadas de acordo com a gravidade do caso: § 1o Toda criança ou adolescente que estiver inserido em
I - encaminhamento a programa oficial ou comunitá- programa de acolhimento familiar ou institucional terá
rio de proteção à família; sua situação reavaliada, no máximo, a cada 3 (três) me-
II - encaminhamento a tratamento psicológico ou ses, devendo a autoridade judiciária competente, com base
psiquiátrico; em relatório elaborado por equipe interprofissional ou
III - encaminhamento a cursos ou programas de multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela pos-
orientação; sibilidade de reintegração familiar ou pela colocação em
IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento família substituta, em quaisquer das modalidades previs-
especializado; tas no art. 28 desta Lei.
V - advertência. § 2o A permanência da criança e do adolescente em pro-
Parágrafo único.  As medidas previstas neste artigo se- grama de acolhimento institucional não se prolongará por
rão aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras mais de 18 (dezoito meses), salvo comprovada necessida-
providências legais.  de que atenda ao seu superior interesse, devidamente funda-
mentada pela autoridade judiciária.
Os artigos 18-A e 18-B foram incluídos no ECA pela Lei § 3º A manutenção ou a reintegração de criança ou
nº 13.010, de 26 de junho de 2014, que estabelece o direito adolescente à sua família terá preferência em relação a
da criança e do adolescente de serem educados e cuidados qualquer outra providência, caso em que será esta incluí-
sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou de- da em serviços e programas de proteção, apoio e promoção,
gradante. Também ficou conhecida como “Lei do Menino nos termos do § 1o do art. 23, dos incisos I e IV do caput do
Bernardo”123 e “Lei da Palmada”. art. 101 e dos incisos I a IV do caput do art. 129 desta Lei. 
Em que pesem as aparentes boas intenções da lei no § 4º Será garantida a convivência da criança e do
sentido de evitar situações extremas como a do menino adolescente com a mãe ou o pai privado de liberdade,
Bernardo, assassinado após incontáveis ameaças e agres- por meio de visitas periódicas promovidas pelo responsável
sões físicas por parte de seus responsáveis, seu conteúdo ou, nas hipóteses de acolhimento institucional, pela entidade
é bastante criticado. Afinal, é claro que a lei coloca todo e responsável, independentemente de autorização judicial.
123 O nome da lei é uma homenagem ao menino Bernardo
§ 5o Será garantida a convivência integral da crian-
Boldrini, morto em abril de 2014, aos 11 anos, em Três Passos (RS). Os ça com a mãe adolescente que estiver em acolhimento
acusados são o pai e a madrasta do menino, com ajuda de uma amiga institucional.
e do irmão dela. Segundo as investigações, Bernardo procurou ajuda § 6o A mãe adolescente será assistida por equipe espe-
para denunciar as ameaças que sofria. cializada multidisciplinar.

97
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Como se depreende do artigo 19, a família natural é Art. 19-B. A criança e o adolescente em programa de
a regra e a família substituta é a exceção. A criança e o acolhimento institucional ou familiar poderão participar de
adolescente podem ser inseridos em programa de acolhi- programa de apadrinhamento.
mento familiar ou institucional, pelo limite temporal de 18 § 1o O apadrinhamento consiste em estabelecer e propor-
meses, cujo caráter é o de permitir a sua retirada de poten- cionar à criança e ao adolescente vínculos externos à ins-
cial ou efetiva situação de risco. Durante este programa, tituição para fins de convivência familiar e comunitária
reavaliado a cada 3 meses, se verificará se é possível a rein- e colaboração com o seu desenvolvimento nos aspectos
serção no ambiente da família natural (o que é preferencial) social, moral, físico, cognitivo, educacional e financeiro.
ou se é o caso de colocação definitiva em família substituta. § 2o (VETADO).
§ 3o Pessoas jurídicas podem apadrinhar criança ou
Art. 19-A. A gestante ou mãe que manifeste interesse adolescente a fim de colaborar para o seu desenvolvimento.
em entregar seu filho para adoção, antes ou logo após § 4o O perfil da criança ou do adolescente a ser apa-
o nascimento, será encaminhada à Justiça da Infância e drinhado será definido no âmbito de cada programa de
da Juventude. apadrinhamento, com prioridade para crianças ou ado-
§ 1o A gestante ou mãe será ouvida pela equipe in- lescentes com remota possibilidade de reinserção familiar
terprofissional da Justiça da Infância e da Juventude, que ou colocação em família adotiva.
apresentará relatório à autoridade judiciária, conside- § 5o Os programas ou serviços de apadrinhamento
rando inclusive os eventuais efeitos do estado gestacional apoiados pela Justiça da Infância e da Juventude poderão
e puerperal. ser executados por órgãos públicos ou por organizações
§ 2o De posse do relatório, a autoridade judiciária da sociedade civil.
poderá determinar o encaminhamento da gestante ou § 6o Se ocorrer violação das regras de apadrinhamen-
mãe, mediante sua expressa concordância, à rede pública to, os responsáveis pelo programa e pelos serviços de aco-
de saúde e assistência social para atendimento especiali- lhimento deverão imediatamente notificar a autoridade
zado. judiciária competente.
§ 3o A busca à família extensa, conforme definida nos
Os programas de apadrinhamento visam permitir a
termos do parágrafo único do art. 25 desta Lei, respeitará
convivência comunitária da criança e do adolescente que
o prazo máximo de 90 (noventa) dias, prorrogável por
estão no sistema de adoção, especialmente com relação
igual período.
àqueles que dificilmente sairão dele.
§ 4o Na hipótese de não haver a indicação do genitor
e de não existir outro representante da família exten-
Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casa-
sa apto a receber a guarda, a autoridade judiciária com-
mento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qua-
petente deverá decretar a extinção do poder familiar e
determinar a colocação da criança sob a guarda provi- lificações, proibidas quaisquer designações discrimina-
sória de quem estiver habilitado a adotá-la ou de enti- tórias relativas à filiação.
dade que desenvolva programa de acolhimento familiar ou O artigo 20 destaca a igualdade entre todos os filhos,
institucional. sejam eles havidos dentro ou fora do casamento, sejam
§ 5o Após o nascimento da criança, a vontade da mãe eles inseridos em família natural ou substituta.
ou de ambos os genitores, se houver pai registral ou pai
indicado, deve ser manifestada na audiência a que se re- A disciplina sobre a perda e suspensão do poder de fa-
fere o § 1o do art. 166 desta Lei, garantido o sigilo sobre a mília no ECA se encontra em dois blocos, o primeiro do ar-
entrega. tigo 21 ao 24, que aborda questões materiais, e o segundo
§ 6o (VETADO). do artigo 155 a 163, que foca em questões procedimentais:
§ 7o Os detentores da guarda possuem o prazo de 15
(quinze) dias para propor a ação de adoção, contado do Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualda-
dia seguinte à data do término do estágio de convivência. de de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que
§ 8o Na hipótese de desistência pelos genitores - ma- dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o
nifestada em audiência ou perante a equipe interprofissional direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade
- da entrega da criança após o nascimento, a criança será judiciária competente para a solução da divergência. 
mantida com os genitores, e será determinado pela Justiça
da Infância e da Juventude o acompanhamento familiar Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guar-
pelo prazo de 180 (cento e oitenta) dias. da e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no
§ 9o É garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o nas- interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as
cimento, respeitado o disposto no art. 48 desta Lei. determinações judiciais.
§ 10. (VETADO). Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm
O artigo 19-A trata do procedimento aplicável nos direitos iguais e deveres e responsabilidades comparti-
casos em que a família biológica pretenda entregar re- lhados no cuidado e na educação da criança, devendo ser
cém-nascido para adoção, assegurando-se o acompanha- resguardado o direito de transmissão familiar de suas cren-
mento por equipe multidisciplinar e também a tomada de ças e culturas, assegurados os direitos da criança estabele-
providências de busca de pessoa da família extensa apta a cidos nesta Lei.
assumir o encargo.

98
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais “O poder familiar pode ser definido como um conjunto
não constitui motivo suficiente para a perda ou a sus- de direitos e obrigações, quanto às pessoas e bens do filho
pensão do poder familiar.  menor não emancipado, exercido, em igualdade de condi-
§ 1º Não existindo outro motivo que por si só autorize ções, por ambos os pais, para que possam desempenhar os
a decretação da medida, a criança ou o adolescente será encargos que a norma jurídica lhes impõe, tendo em vista o
mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigato- interesse e a proteção do filho”126.
riamente ser incluída em serviços e programas oficiais de
proteção, apoio e promoção. Artigo 1.634, CC. Compete aos pais, quanto à pessoa dos
§2º A condenação criminal do pai ou da mãe não im- filhos menores:
plicará a destituição do poder familiar, exceto na hipótese I – dirigir-lhes a criação e educação;
de condenação por crime doloso, sujeito à pena de reclu- II – tê-los em sua companhia e guarda;
são, contra o próprio filho ou filha. III – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para
casarem;
Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão IV – nomear-lhes tutor por testamento ou documento
decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobre-
nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese vivo não puder exercer o poder familiar;
de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a V – representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da
que alude o art. 22.  vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que fo-
rem partes, suprindo-lhes o consentimento;
O instituto do poder familiar surgiu no direito romano VI – reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;
e era conhecido naquela época como pátrio poder, pois VII – exigir que lhes prestem obediência, respeito e os
o pai exercia mais poderes sobre os filhos do que a mãe, serviços próprios de sua idade e condição.
o que vinha a representar um poder absoluto por parte
do genitor, inclusive sobre a vida e a morte dos próprios Em relação às suas características, o poder familiar é
filhos124. indisponível e decorre da paternidade natural ou legal,
O Código Civil de 1916 atribuiu o poder familiar ao pai, por isso, não há a possibilidade de seu titular o transfe-
que era considerado o chefe da sociedade conjugal, e a rir a terceiros por iniciativa própria, tampouco existindo a
mãe possuía um papel secundário, conforme apontava o viabilidade de ocorrer a sua prescrição pelo desuso. O po-
artigo 380 do Código Civil de 1916 que dizia que “durante der familiar é indelegável, sendo, em regra, irrenunciável e
o casamento compete o pátrio poder aos pais, exercendo- sempre intransferível. Logo, não sendo possível ao titular
-o o marido com a colaboração da mulher [...]”. do poder familiar abrir mão de seu dever, a renúncia é in-
De acordo com Santos Neto125: “[...] o exercício da au- viável, existindo apenas uma exceção, qual seja, a decor-
toridade parental pela mãe era admitido apenas em caráter rente da adoção.
excepcional. Ao homem era dada, em condições normais, Existe apenas uma exceção, que é o caso do pedido de
a titularidade exclusiva do direito em pauta. Sua vontade colocação do menor em família substituta, disponibilizan-
prevalecia e contra ela não havia remédio previsto, salvo, é do o filho para a adoção, caso em que os direitos e deveres
claro, no caso de comportamento abusivo e contrário aos decorrentes do poder familiar serão exercidos por novos
interesses dos menores”. titulares, ou seja, pelos pais adotivos.
O Código Civil de 2002, por seu turno, seguindo a toa- A esse respeito, os direitos e deveres dos pais dispos-
da da Constituição Federal de 1988, trouxe significativas tos nos artigos 1.630 a 1.638 do Código Civil regulam, den-
modificações ao instituto em análise, surgindo então o tre os deveres e poderes decorrentes do poder familiar,
chamado poder familiar, onde ambos os pais exercem de também os de ordem pessoal, ou seja, o cuidado existen-
forma igualitária o poder sobre os filhos menores, equili- cial do menor, a educação, a correição, e os de ordem ma-
brando dessa forma a relação familiar. terial, que envolvem a administração dos bens dos filhos.
O artigo 1.630 do atual Código Civil, sem definir o po- Os principais atributos do poder familiar são a guarda, a
der familiar, dispõe que “os filhos estão sujeitos ao poder criação e a educação, que se refletem nos deveres dos pais
familiar enquanto menores”, ou seja, enquanto não com- para com os filhos; tanto que, não cumprindo algum des-
pletarem dezoito anos ou não alcançarem a maioridade ses atributos, o detentor do poder poderá sofrer sanções
civil por meio de uma das formas previstas no artigo 5º, cíveis e até criminais.
parágrafo único e seus incisos, do mesmo diploma legal. O poder familiar, conforme disposição do próprio or-
No mesmo sentido, o citado artigo 21, ECA. denamento civil, não é um instituto irrevogável e pode ser
O poder familiar, conhecido também como autoridade extinto, suspenso ou destituído a qualquer tempo. Basica-
parental, é um conjunto de direitos e deveres que são atri- mente, as formas de extinção se aplicam quando o exercí-
buídos aos pais para que esses administrem de forma legal cio do poder familiar não é mais necessário; ao passo que
a pessoa dos filhos e também de seus bens. as regras de perda e suspensão constituem casos de priva-
124 AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda Compartilhada: um ção do exercício do poder familiar pelo descumprimento
Avanço para a Família. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2010. de seus deveres.
125 SANTOS NETO, José Antônio de Paula. Do Pátrio Poder. São 126 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direi-
Paulo: Revista dos Tribunais, 1994. to de Família. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 5.

99
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Sendo assim, o Estado poderá interferir na relação fa- Por seu turno, pelo que se verifica na análise da legis-
miliar, com o objetivo de resguardar os interesses do me- lação, quando o legislador estabeleceu as hipóteses de ex-
nor, sendo que a lei disciplina os casos em que o titular do tinção do poder familiar, em regra, o fez por perceber que a
poder familiar ficará privado de exercê-lo, seja de forma pessoa que a ele se encontrava sujeita adquiriu maturidade
temporária ou até mesmo definitiva. o suficiente para guiar a sua vida, não havendo razão para
que permaneça tal vínculo. Há casos, entretanto, que a vio-
Artigo 1.637, CC. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua auto- lação aos direitos inerentes ao poder familiar tornou irre-
ridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou arruinando versível o seu restabelecimento, como ocorre na adoção.
os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente,
ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça re- Artigo 1.635, CC. Extingue-se o poder familiar: I – pela
clamada pela segurança do menor e seus haveres, até sus- morte dos pais ou do filho; II – pela emancipação, nos termos
pendendo o poder familiar, quando convenha. do artigo 5º, parágrafo único; III – pela maioridade; IV – pela
Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do adoção; V – por decisão judicial, na forma do artigo 1.638.
poder familiar ao pai ou à mãe condenados por sentença ir-
recorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a dois anos A extinção do poder familiar é mais complexa, pois
de prisão. nesta situação os pais, extintos do poder, não poderão
requerer a reintegração do poder familiar se houve inter-
Nestes casos, a suspensão não será definitiva, é apenas ferência deles para sua extinção. Na maioria dos casos, é
uma sanção imposta pelo Poder Judiciário visando preser- possível identificar facilmente a existência da extinção do
var os interesses dos filhos, assim, diante da comprovação poder familiar, por se tratarem de hipóteses objetivas.
de que os problemas que levaram à suspensão desapare-
ceram, o poder familiar poderá retornar aos genitores. Seção II
Assim sendo, os pais podem ser suspensos de exercer Da Família Natural
os direitos e deveres decorrentes do poder familiar quan-
do ficar evidenciado perante a autoridade competente o Dos artigos 25 a 27 o ECA aborda a família natural, nos
abuso. Como visto, existe, também, a probabilidade de se seguintes termos:
decretar a suspensão do poder familiar, caso um dos pais
seja condenado por crime cuja pena exceda a dois anos de Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade for-
prisão. mada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes.
Há, ainda, as hipóteses de perda ou destituição do po- Parágrafo único.  Entende-se por família extensa ou
der familiar, que é a sanção mais grave imposta aos pais ampliada aquela que se estende para além da unidade
que faltarem com os deveres em relação aos filhos: pais e filhos ou da unidade do casal, formada por paren-
tes próximos com os quais a criança ou adolescente convive
Artigo 1.638, CC. Perderá por ato judicial o poder fami- e mantém vínculos de afinidade e afetividade. 
liar o pai ou a mãe que: A família natural é composta por pais e filhos que for-
I – castigar imoderadamente o filho; mam vínculo entre si desde o nascimento, por questão bio-
II – deixar o filho em abandono; lógica.
III – praticar atos contrários à moral e aos bons costumes; O conceito de família pode ser visto de uma manei-
IV – incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no arti- ra mais ampla, o que se denomina família extensa ou am-
go antecedente. pliada. Por exemplo, avós e tios que sejam muito próximos
e participem diretamente do convívio familiar, formando
Nessa linha de pensamento, os artigos 24 e 22 do Es- para com a criança e o adolescente vínculos de afinidade
tatuto da Criança e do Adolescente, citados anteriormente, e afetividade.
além de preverem a suspensão e destituição do poder fami-
liar, trazem também os motivos que poderão acarretá-las. Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão
São bastante frequentes nos casos de pais que perdem ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente,
o poder familiar os atos de violência e espancamento; as- no próprio termo de nascimento, por testamento, me-
sim como o de abandono, no qual os menores, ao se ve- diante escritura ou outro documento público, qualquer
rem abandonados, começam a relacionar-se com pessoas que seja a origem da filiação.
delinquentes e usuárias de drogas, que não vão colaborar Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o
em nada com seu desenvolvimento e crescimento. Nessas nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se
situações, os detentores do poder familiar podem sofrer a deixar descendentes.
perda do poder familiar. Como o artigo 20 estabelece a igualdade entre os filhos
Cabe aqui consignar que, no caso da perda do poder havidos dentro ou fora do casamento, sentido em que se
familiar, se no decorrer do tempo o menor não vier a ser compreende que tanto os filhos inseridos no matrimônio
adotado por outra família e as causas que levaram a perda quanto os que não o estão fazem parte da família natural, o
do poder desaparecerem, os genitores poderão requerer artigo 26 tece detalhes sobre a possibilidade de reconheci-
judicialmente a reintegração do poder familiar, desde que mento do vínculo de filiação, que pode se dar antes mesmo
comprovem realmente que o motivo que os levou a perder do nascimento do filho ou extrapolar a sua vida, devendo
esse poder já não existe mais. ser feito em documento público.

100
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é di- III - a intervenção e oitiva de representantes do órgão
reito personalíssimo, indisponível e imprescritível, po- federal responsável pela política indigenista, no caso de
dendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem crianças e adolescentes indígenas, e de antropólogos, pe-
qualquer restrição, observado o segredo de Justiça. rante a equipe interprofissional ou multidisciplinar que irá
O direito à filiação é personalíssimo, indisponível e im- acompanhar o caso. 
prescritível. Mesmo que um filho passe a vida toda ou boa
parte de sua vida sem buscar o seu reconhecimento, ele Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta
não se perde. Logo, a ação de investigação de paternidade a pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilida-
é imprescritível, pois também o é o vínculo que ela reco- de com a natureza da medida ou não ofereça ambiente
nhece em caso de procedência. familiar adequado.

Seção III Art. 30. A colocação em família substituta não admitirá


Da Família Substituta transferência da criança ou adolescente a terceiros ou
a entidades governamentais ou não-governamentais,
Subseção I sem autorização judicial.
Disposições Gerais
Art. 31. A colocação em família substituta estrangei-
Dos artigos 28 a 32 aborda-se a família substituta, nos ra constitui medida excepcional, somente admissível na
seguintes termos: modalidade de adoção.

Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável
mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente prestará compromisso de bem e fielmente desempenhar o
da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos encargo, mediante termo nos autos.
desta Lei.
§ 1o  Sempre que possível, a criança ou o adolescen- Existem três formas de colocação em família substituta:
te será previamente ouvido por equipe interprofissional, guarda, tutela e adoção. Neste sentido, a criança é retirada
respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de com- da esfera do poder familiar de ambos os pais (o que pode
preensão sobre as implicações da medida, e terá sua opinião acontecer na tutela e na adoção), ou então permanece
devidamente considerada.  vinculado ao poder familiar de ambos genitores enquanto
§ 2o  Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, apenas um ou um terceiro exerce a guarda (o que ocorre
será necessário seu consentimento, colhido em audiência.  apenas na guarda). Trata-se de situação excepcional, eis
§ 3o  Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o que em regra a criança deve permanecer na família natural,
grau de parentesco e a relação de afinidade ou de afeti- vinculada ao poder familiar atribuído a ambos os pais.
vidade, a fim de evitar ou minorar as consequências decor- Neste tipo de circunstância, deve-se buscar sempre
rentes da medida.  ouvir a criança ou o adolescente. Caso já possua 12 anos
§ 4o  Os grupos de irmãos serão colocados sob ado- completos, a oitiva é obrigatória. Trata-se de respeito à au-
ção, tutela ou guarda da mesma família substituta, res- tonomia da criança e do adolescente.
salvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra Os irmãos devem permanecer unidos em qualquer cir-
situação que justifique plenamente a excepcionalidade de cunstância, sendo a separação de irmãos medida excep-
solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o cional. Por exemplo, se um casal estiver disposto a adotar
rompimento definitivo dos vínculos fraternais.  4 filhos e existirem 4 irmãos, será dada prioridade a ele,
§ 5o  A colocação da criança ou adolescente em família passando na frente dos demais candidatos à adoção.
substituta será precedida de sua preparação gradativa e
acompanhamento posterior, realizados pela equipe inter- Subseção II
profissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, Da Guarda
preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis
pela execução da política municipal de garantia do direito à Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência
convivência familiar.  material, moral e educacional à criança ou adolescente,
§ 6o  Em se tratando de criança ou adolescente indí- conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros,
gena ou proveniente de comunidade remanescente de qui- inclusive aos pais. 
lombo, é ainda obrigatório:  § 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de
I - que sejam consideradas e respeitadas sua identidade fato, podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos
social e cultural, os seus costumes e tradições, bem como procedimentos de tutela e adoção, exceto no de adoção por
suas instituições, desde que não sejam incompatíveis com os estrangeiros.
direitos fundamentais reconhecidos por esta Lei e pela Cons- § 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos
tituição Federal;  casos de tutela e adoção, para atender a situações pecu-
II - que a colocação familiar ocorra prioritariamente liares ou suprir a falta eventual dos pais ou responsável,
no seio de sua comunidade ou junto a membros da mes- podendo ser deferido o direito de representação para a práti-
ma etnia;  ca de atos determinados.

101
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

§ 3º A guarda confere à criança ou adolescente a con- modalidade de guarda adotada. Com a dissolução da união
dição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, conjugal, hoje se estabeleceu que a prole poderá ficar com
inclusive previdenciários. o genitor que tiver melhor condições de assistir o filho.
§ 4o  Salvo expressa e fundamentada determinação em “Mesmo que a mãe seja considerada culpada pela sepa-
contrário, da autoridade judiciária competente, ou quando ração, pode o juiz deferir-lhe a guarda dos filhos menores,
a medida for aplicada em preparação para adoção, o de- se estiver comprovado que o pai, por exemplo, é alcoólatra
ferimento da guarda de criança ou adolescente a terceiros e não tem condições de cuidar bem deles. Não se indaga,
não impede o exercício do direito de visitas pelos pais, portanto, quem deu causa à separação e quem é o cônjuge
assim como o dever de prestar alimentos, que serão objeto inocente, mas qual deles revela melhores condições para
de regulamentação específica, a pedido do interessado ou do exercer a guarda dos filhos menores, cujos interesses foram
Ministério Público.  colocados em primeiro plano. A solução será, portanto, a
mesma se ambos os pais forem culpados pela separação e
se a hipótese for de ruptura da vida em comum ou de se-
Art. 34.  O poder público estimulará, por meio de as-
paração por motivo de doença mental. A regra amolda-se
sistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o acolhi-
ao princípio do melhor interesse da criança, identificado
mento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente
como direito fundamental na Constituição Federal (art. 5º,
afastado do convívio familiar. 
§2º), em razão da ratificação pela Convenção Internacional
§ 1o  A inclusão da criança ou adolescente em pro- sobre os Direitos da Criança – ONU/89”129.
gramas de acolhimento familiar terá preferência a seu O juiz antes de decidir o mérito de uma ação de guar-
acolhimento institucional, observado, em qualquer caso, o da, separação ou divórcio, tem que determinar a guarda
caráter temporário e excepcional da medida, nos termos provisória do menor a um dos pais, o qual não se trata de
desta Lei.  um modelo de guarda, mas de definir uma situação mo-
§ 2o  Na hipótese do § 1o deste artigo a pessoa ou casal mentânea em que a prole se encontra. Somente com o jul-
cadastrado no programa de acolhimento familiar poderá gamento do mérito será estabelecida a guarda definitiva,
receber a criança ou adolescente mediante guarda, obser- que deverá adotar um dos modelos de guarda permitida
vado o disposto nos arts. 28 a 33 desta Lei.  no ordenamento jurídico brasileiro.
§ 3º A União apoiará a implementação de serviços A guarda definitiva expressa o modelo de guarda ado-
de acolhimento em família acolhedora como política tado pelos pais. Porém, mesmo tratando-se de guarda de-
pública, os quais deverão dispor de equipe que organize o finitiva, tal modelo poderá ser alterado a qualquer tempo,
acolhimento temporário de crianças e de adolescentes em pois o que regula o instituto da guarda é o melhor interes-
residências de famílias selecionadas, capacitadas e acompa- se do menor e, não sendo isso possível, a guarda é passível
nhadas que não estejam no cadastro de adoção. de modificação.
§ 4º Poderão ser utilizados recursos federais, esta- a) Guarda Comum ou Guarda Originária
duais, distritais e municipais para a manutenção dos ser- A guarda comum ou guarda originária não é uma guar-
viços de acolhimento em família acolhedora, facultando-se o da judicial, existindo quando os genitores possuem vínculo
repasse de recursos para a própria família acolhedora. matrimonial ou vivem em união estável e moram juntos
com seus filhos, situação na qual exercem plenamente e
Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tem- simultaneamente todos os poderes inerentes do poder fa-
po, mediante ato judicial fundamentado, ouvido o Ministério miliar e, consequentemente, a guarda. Não existe a figura
Público. do guardião e nem arbitramento judicial sobre a questão.
Ambos pais exercem juntos a guarda em plenitude.
b) Guarda Unilateral ou Guarda Única
Na definição de Santos Neto127 a guarda trata-se de um
Observando-se sempre o princípio do melhor interesse
“direito consistente na posse de menor oponível a terceiros
do menor, a guarda excepcionalmente poderá ser atribuí-
e que acarreta deveres de vigilância em relação a este”.
da de forma unilateral a uma terceira pessoa quando os
No entender de Ishida128, a guarda é vinculada ao po- genitores não estiverem em condições de exercê-la, pois,
der familiar, “todavia, pode ocorrer a separação dos dois conforme determina o artigo 1.583, §1º, do Código Civil,
institutos, por exemplo, com a separação judicial do mari- “compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só
do e da mulher, onde o poder familiar continua pertencen- dos genitores ou a alguém que o substitua”. Neste viés,
do aos dois, no entanto um só poderá ficar com a guarda dispõe o artigo 1.584, §5º, do mesmo diploma legal: “Se o
da prole”. ou seja, tanto o pai como a mãe são detentores juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda
do poder familiar mesmo após a separação, mas nos tipos do pai ou da mãe, deferirá a guarda à pessoa que revele
de guarda comum, apenas um terá a guarda do filho. compatibilidade com a natureza da medida, considerados,
Logo, a dissolução do vínculo conjugal não exclui o de preferência, o grau de parentesco e as relações de afini-
poder familiar, mas pode excluir a guarda de um dos pais, dade e afetividade”. Vale ressaltar que a guarda unilateral
reservando-o apenas o direito de visitas, dependendo da também é possível quando nenhum dos pais tem condi-
ções de exercê-la, por exemplo, atribuindo a guarda aos
127 SANTOS NETO, José Antônio de Paula. Do Pátrio Poder. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1994.
avós ou aos tios.
128 ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: 129 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito
Doutrina e Jurisprudência. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2008. de Família. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 6.

102
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Usualmente, nesse contexto, podemos constatar a filho(s) em períodos alternados de tempo, para conviver e
existência da guarda unilateral, que é atribuída somen- atender as suas necessidades. Basicamente, os pais se reve-
te a um dos genitores, e da guarda compartilhada, que é zam na residência do filho.
atribuída a ambos, sendo que a previsão das duas moda- f) Guarda Compartilhada
lidades de guarda encontra-se no artigo 1.583, da Lei n. Considerando a evolução da família, especialmente a
11.698/2008, que constitui que “a guarda será unilateral ou da mulher na sociedade, bem como o grande número de
compartilhada”. separações ocorridas nos últimos anos, o ordenamento ju-
A Lei alterou a redação do artigo 1.583 e passou a es- rídico busca com o instituto da guarda compartilhada evitar
tabelecer nos incisos do §2º do dispositivo algumas das prejuízos ainda maiores aos filhos de casal separado, que,
situações que deverão ser consideradas pelo magistrado além de não terem o convívio diário com um dos genitores,
ao atribuir a guarda a um dos genitores: afeto nas relações têm que vivenciar os problemas conjugais de seus pais e
com o genitor e com o grupo familiar; saúde e segurança; ainda se tornarem, em muitos casos, vítimas da Síndrome
e educação. da Alienação Parental.
Na guarda unilateral atribuída a apenas um dos pais, Segundo Akel131, “a guarda compartilhada surgiu da
apesar de um dos genitores não ser o guardião, continuam necessidade de se encontrar uma maneira que fosse capaz
ambos a exercerem a guarda jurídica. A diferença é que, de fazer com que os pais, que não mais convivem, e seus
em virtude da guarda, o genitor guardião tem o poder de filhos mantivessem os vínculos afetivos latentes, mesmo
decisão, enquanto o genitor não guardião tem o poder de após o rompimento”.
fiscalização, podendo contestar a decisão do genitor guar- Com esse propósito, a recente Lei nº 11.698/2008 insti-
dião e até mesmo recorrer à justiça, caso entenda que a tuiu expressamente no ordenamento jurídico o instituto da
decisão tomada não seja a melhor para a prole, conforme guarda compartilhada. Embora tenha sido sancionada em
prevê o artigo 1.583, §3º, do Código Civil: “a guarda unila- 13 de junho de 2008 e publicada no Diário Oficial da União
teral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervi- em 16 de junho do mesmo ano, por força da vacatio legis
sionar os interesses dos filhos”. instituída no artigo 2º, a lei somente entrou em vigor no
c) Guarda Alternada ou Guarda Partilhada país 60 (sessenta) dias após a sua publicação, ou seja, em
Nesse modelo de guarda, cada um dos genitores terá 16 de agosto de 2008 (vide anexo).
a possibilidade de ter sobre sua guarda o menor ou ado- A nova lei trás em seu bojo o conceito de guarda com-
lescente de forma alternada e exclusiva, ou seja, o casal partilhada nos seguintes termos: “compreende-se por [...]
determinará o período em que o menor ficará com o pai guarda compartilhada a responsabilização conjunta e o
ou com a mãe, existindo dessa forma sempre uma alter- exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não
nância na guarda jurídica do menor. O período em que a vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar
guarda ficará com o pai ou com a mãe na guarda alternada, dos filhos comuns”.
poderá ser de um dia, uma semana, uma parte da semana, Assim, de acordo com o novo diploma legal, pode-
um mês, um ano, ou até mais, dependendo do acordo dos -se verificar que na guarda compartilhada os pais terão os
genitores, sendo que, ao término desse período, os papéis mesmos direitos e deveres com relação ao filho, ou seja, as
se invertem. Os direitos e deveres deste modelo de guarda tarefas serão divididas de forma igualitária, não sobrecar-
ficarão sempre com o cônjuge que estiver com a guarda regando somente um dos genitores.
do menor, cabendo ao outro os direitos inerentes do não
guardião, ou seja, o de visita e o de fiscalização130. Subseção III
d) Guarda Dividida Da Tutela
Na guarda dividida, são os próprios pais que contes-
tam e procuram novos meios de garantir uma maior parti- Art. 36.  A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a
cipação na vida da prole, pois neste modelo o menor vive pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos. 
em um lar fixo e determinado e recebe periodicamente a Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a
visita do pai ou da mãe que não tem a guarda. prévia decretação da perda ou suspensão do poder fa-
Na guarda dividida o filho tem um lar fixo e recebe miliar e implica necessariamente o dever de guarda.
nele a visita de ambos os genitores em tempos diferentes,
sendo que a guarda é exercida por aquele que estiver com Art. 37.  O tutor nomeado por testamento ou qual-
a criança, o que é diferente da guarda unilateral, pois nela quer documento autêntico, conforme previsto no parágra-
a guarda é de um dos genitores e o infante vai, em dias fo único do art. 1.729 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de
determinados, receber a visita do outro não guardião. 2002 - Código Civil, deverá, no prazo de 30 (trinta) dias
e) Guarda por Aninhamento ou Nidação após a abertura da sucessão, ingressar com pedido des-
A guarda por aninhamento, conhecida também como tinado ao controle judicial do ato, observando o procedi-
guarda por nidação, ocorre quando a prole possui um lar mento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei. 
fixo e os pais se revezam, mudando-se para a casa do(s) Parágrafo único.  Na apreciação do pedido, serão ob-
servados os requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta
130 COSTA, Luiz Jorge Valente Pontes. Guarda Conjunta: em
busca do maior interesse do menor. Disponível em: <http://jus.uol.
Lei, somente sendo deferida a tutela à pessoa indicada
com.br/revista/texto/13965/guarda-conjunta-em-busca-do-maior- 131 AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda Compartilhada: um
-interesse-do-menor/2>. Acesso em: 16 out. 2010. Avanço para a Família. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

103
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

na disposição de última vontade, se restar comprovado que Art. 42.  Podem adotar os maiores de 18 (dezoito)
a medida é vantajosa ao tutelando e que não existe outra anos, independentemente do estado civil. 
pessoa em melhores condições de assumi-la.  § 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do
adotando.
Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no § 2o  Para adoção conjunta, é indispensável que os ado-
art. 24. tantes sejam casados civilmente ou mantenham união es-
tável, comprovada a estabilidade da família. 
A tutela é forma de colocação de criança e adolescente § 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos
em família substituta. Pressupõe, ao contrário da guarda, mais velho do que o adotando.
a prévia destituição ou suspensão do poder familiar dos § 4o  Os divorciados, os judicialmente separados e os
pais (família natural). Visa essencialmente a suprir carência ex-companheiros podem adotar conjuntamente, contanto
de representação legal, assumindo o tutor tal munus na que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde
ausência dos genitores. Na hipótese de os pais serem fale- que o estágio de convivência tenha sido iniciado na cons-
cidos, tiverem sido destituídos ou suspensos do poder fa- tância do período de convivência e que seja comprovada a
miliar, ou houverem aderido expressamente ao pedido de existência de vínculos de afinidade e afetividade com aque-
colocação em família substituta, este poderá ser formulado le não detentor da guarda, que justifiquem a excepcionali-
diretamente em cartório, em petição assinada pelos pró- dade da concessão.  
prios requerentes, dispensada a assistência por advogado § 5o  Nos casos do § 4o deste artigo, desde que de-
(art. 166, ECA). Em outras circunstâncias, deve passar pelo monstrado efetivo benefício ao adotando, será assegurada
crivo do Judiciário. a guarda compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da
Lei no10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil. 
Subseção IV § 6o  A adoção poderá ser deferida ao adotante que,
Da Adoção após inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no
curso do procedimento, antes de prolatada a sentença.
A disciplina do ECA a respeito da adoção também se
Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais
divide em dois blocos, um voltado a aspectos materiais,
vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legíti-
do artigo 39 ao 52-D, e outro voltado a aspectos procedi-
mos.
mentais, notadamente no que se refere à habilitação para a
adoção, do artigo 197-A a 197-D.
Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração
e saldar o seu alcance, não pode o tutor ou o curador ado-
Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á
tar o pupilo ou o curatelado.
segundo o disposto nesta Lei.
§ 1o A adoção é medida excepcional e irrevogável, à Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais
qual se deve recorrer apenas quando esgotados os recursos ou do representante legal do adotando.
de manutenção da criança ou adolescente na família natural § 1º O consentimento será dispensado em relação à
ou extensa, na forma do parágrafo único do art. 25 desta Lei.  criança ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou
§ 2o É vedada a adoção por procuração.  tenham sido destituídos do poder familiar.
§ 3o Em caso de conflito entre direitos e interesses do § 2º Em se tratando de adotando maior de doze anos
adotando e de outras pessoas, inclusive seus pais biológicos, de idade, será também necessário o seu consentimento.
devem prevalecer os direitos e os interesses do adotando.
Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convi-
Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, de- vência com a criança ou adolescente, pelo prazo máxi-
zoito anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a guar- mo de 90 (noventa) dias, observadas a idade da criança ou
da ou tutela dos adotantes. adolescente e as peculiaridades do caso.
§ 1o  O estágio de convivência poderá ser dispensado
Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do
com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, adotante durante tempo suficiente para que seja possível
desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo avaliar a conveniência da constituição do vínculo. 
os impedimentos matrimoniais. § 2o  A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a
§ 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho dispensa da realização do estágio de convivência.  
do outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre o adota- § 2o-A. O prazo máximo estabelecido no caput deste
do e o cônjuge ou concubino do adotante e os respectivos artigo pode ser prorrogado por até igual período, mediante
parentes. decisão fundamentada da autoridade judiciária.
§ 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, § 3o Em caso de adoção por pessoa ou casal residente
seus descendentes, o adotante, seus ascendentes, descen- ou domiciliado fora do País, o estágio de convivência será
dentes e colaterais até o 4º grau, observada a ordem de de, no mínimo, 30 (trinta) dias e, no máximo, 45 (quarenta e
vocação hereditária. cinco) dias, prorrogável por até igual período, uma única vez,
mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária.

104
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

§ 3o-A. Ao final do prazo previsto no § 3o deste artigo, Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o poder
deverá ser apresentado laudo fundamentado pela equipe familiar dos pais naturais. 
mencionada no § 4o deste artigo, que recomendará ou não o
deferimento da adoção à autoridade judiciária. Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada co-
§ 4o O estágio de convivência será acompanhado pela marca ou foro regional, um registro de crianças e ado-
equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da lescentes em condições de serem adotados e outro de
Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos res- pessoas interessadas na adoção.  
ponsáveis pela execução da política de garantia do direito § 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia
à convivência familiar, que apresentarão relatório minucioso consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Minis-
acerca da conveniência do deferimento da medida. tério Público.
§ 5o O estágio de convivência será cumprido no terri- § 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não
tório nacional, preferencialmente na comarca de residência satisfazer os requisitos legais, ou verificada qualquer das
da criança ou adolescente, ou, a critério do juiz, em cidade
hipóteses previstas no art. 29.
limítrofe, respeitada, em qualquer hipótese, a competência
§ 3o  A inscrição de postulantes à adoção será prece-
do juízo da comarca de residência da criança.
dida de um período de preparação psicossocial e jurídica,
orientado pela equipe técnica da Justiça da Infância e da
Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença
judicial, que será inscrita no registro civil mediante manda- Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos res-
do do qual não se fornecerá certidão. ponsáveis pela execução da política municipal de garantia
§ 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes do direito à convivência familiar. 
como pais, bem como o nome de seus ascendentes. § 4o  Sempre que possível e recomendável, a prepa-
§ 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará ração referida no § 3o deste artigo incluirá o contato com
o registro original do adotado. crianças e adolescentes em acolhimento familiar ou insti-
§ 3o A pedido do adotante, o novo registro poderá ser tucional em condições de serem adotados, a ser realizado
lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de sua sob a orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica
residência. da Justiça da Infância e da Juventude, com apoio dos téc-
§ 4o Nenhuma observação sobre a origem do ato po- nicos responsáveis pelo programa de acolhimento e pela
derá constar nas certidões do registro.   execução da política municipal de garantia do direito à
§ 5o A sentença conferirá ao adotado o nome do ado- convivência familiar. 
tante e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a § 5o  Serão criados e implementados cadastros esta-
modificação do prenome.   duais e nacional de crianças e adolescentes em condições
§ 6o Caso a modificação de prenome seja requerida pelo de serem adotados e de pessoas ou casais habilitados à
adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, observado o adoção. 
disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.   § 6o  Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais
§ 7o A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito residentes fora do País, que somente serão consultados na
em julgado da sentença constitutiva, exceto na hipótese inexistência de postulantes nacionais habilitados nos ca-
prevista no § 6o do art. 42 desta Lei, caso em que terá força dastros mencionados no § 5o deste artigo. 
retroativa à data do óbito.  § 7o  As autoridades estaduais e federais em matéria de
§ 8o O processo relativo à adoção assim como outros a adoção terão acesso integral aos cadastros, incumbindo-
ele relacionados serão mantidos em arquivo, admitindo-se -lhes a troca de informações e a cooperação mútua, para
seu armazenamento em microfilme ou por outros meios, melhoria do sistema. 
garantida a sua conservação para consulta a qualquer tem-
§ 8o  A autoridade judiciária providenciará, no prazo
po. 
de 48 (quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e
§ 9º Terão prioridade de tramitação os processos de
adolescentes em condições de serem adotados que não
adoção em que o adotando for criança ou adolescente
tiveram colocação familiar na comarca de origem, e das
com deficiência ou com doença crônica.
§ 10. O prazo máximo para conclusão da ação de ado- pessoas ou casais que tiveram deferida sua habilitação à
ção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável uma única adoção nos cadastros estadual e nacional referidos no §
vez por igual período, mediante decisão fundamentada da 5o deste artigo, sob pena de responsabilidade. 
autoridade judiciária. § 9o  Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela
manutenção e correta alimentação dos cadastros, com
Art. 48.  O adotado tem direito de conhecer sua origem posterior comunicação à Autoridade Central Federal Bra-
biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo sileira. 
no qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, § 10. Consultados os cadastros e verificada a ausência
após completar 18 (dezoito) anos.  de pretendentes habilitados residentes no País com perfil
Parágrafo único.  O acesso ao processo de adoção pode- compatível e interesse manifesto pela adoção de criança
rá ser também deferido ao adotado menor de 18 (dezoito) ou adolescente inscrito nos cadastros existentes, será reali-
anos, a seu pedido, assegurada orientação e assistência jurí- zado o encaminhamento da criança ou adolescente à ado-
dica e psicológica.  ção internacional.

105
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

§ 11.  Enquanto não localizada pessoa ou casal interes- Art. 52.  A adoção internacional observará o procedi-
sado em sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre mento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as seguin-
que possível e recomendável, será colocado sob guarda de tes adaptações: 
família cadastrada em programa de acolhimento familiar.  I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar
§ 12.  A alimentação do cadastro e a convocação cri- criança ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido
teriosa dos postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo de habilitação à adoção perante a Autoridade Central em
Ministério Público.  matéria de adoção internacional no país de acolhida, assim
§ 13.  Somente poderá ser deferida adoção em favor entendido aquele onde está situada sua residência habitual; 
II - se a Autoridade Central do país de acolhida consi-
de candidato domiciliado no Brasil não cadastrado previa-
derar que os solicitantes estão habilitados e aptos para ado-
mente nos termos desta Lei quando: 
tar, emitirá um relatório que contenha informações sobre a
I - se tratar de pedido de adoção unilateral;  identidade, a capacidade jurídica e adequação dos solicitan-
II - for formulada por parente com o qual a criança ou tes para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica, seu
adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade;  meio social, os motivos que os animam e sua aptidão para
III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda assumir uma adoção internacional; 
legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará o
que o lapso de tempo de convivência comprove a fixação relatório à Autoridade Central Estadual, com cópia para a
de laços de afinidade e afetividade, e não seja constatada a Autoridade Central Federal Brasileira; 
ocorrência de má-fé ou qualquer das situações previstas nos IV - o relatório será instruído com toda a documenta-
arts. 237 ou 238 desta Lei.  ção necessária, incluindo estudo psicossocial elaborado por
§ 14.  Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo, o equipe interprofissional habilitada e cópia autenticada da
candidato deverá comprovar, no curso do procedimento, legislação pertinente, acompanhada da respectiva prova de
que preenche os requisitos necessários à adoção, confor- vigência; 
me previsto nesta Lei.  V - os documentos em língua estrangeira serão devida-
§ 15. Será assegurada prioridade no cadastro a pes- mente autenticados pela autoridade consular, observados os
soas interessadas em adotar criança ou adolescente com tratados e convenções internacionais, e acompanhados da
deficiência, com doença crônica ou com necessidades es- respectiva tradução, por tradutor público juramentado; 
VI - a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigên-
pecíficas de saúde, além de grupo de irmãos.
cias e solicitar complementação sobre o estudo psicossocial
do postulante estrangeiro à adoção, já realizado no país de
Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na acolhida; 
qual o pretendente possui residência habitual em país-parte VII - verificada, após estudo realizado pela Autoridade
da Convenção de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à Central Estadual, a compatibilidade da legislação estrangei-
Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Ado- ra com a nacional, além do preenchimento por parte dos
ção Internacional, promulgada pelo Decreto no 3.087, de 21 postulantes à medida dos requisitos objetivos e subjetivos
junho de 1999, e deseja adotar criança em outro país-parte necessários ao seu deferimento, tanto à luz do que dispõe
da Convenção. esta Lei como da legislação do país de acolhida, será expe-
§ 1o A adoção internacional de criança ou adolescente dido laudo de habilitação à adoção internacional, que terá
brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar quan- validade por, no máximo, 1 (um) ano; 
do restar comprovado: VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado
I - que a colocação em família adotiva é a solução ade- será autorizado a formalizar pedido de adoção perante o
quada ao caso concreto; Juízo da Infância e da Juventude do local em que se encontra
II - que foram esgotadas todas as possibilidades de colo- a criança ou adolescente, conforme indicação efetuada pela
cação da criança ou adolescente em família adotiva brasilei- Autoridade Central Estadual. 
ra, com a comprovação, certificada nos autos, da inexistên- § 1o  Se a legislação do país de acolhida assim o auto-
cia de adotantes habilitados residentes no Brasil com perfil rizar, admite-se que os pedidos de habilitação à adoção
internacional sejam intermediados por organismos creden-
compatível com a criança ou adolescente, após consulta aos
ciados. 
cadastros mencionados nesta Lei;
§ 2o  Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira
III - que, em se tratando de adoção de adolescente, este o credenciamento de organismos nacionais e estrangeiros
foi consultado, por meios adequados ao seu estágio de de- encarregados de intermediar pedidos de habilitação à ado-
senvolvimento, e que se encontra preparado para a medida, ção internacional, com posterior comunicação às Autorida-
mediante parecer elaborado por equipe interprofissional, des Centrais Estaduais e publicação nos órgãos oficiais de
observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.  imprensa e em sítio próprio da internet. 
§ 2o  Os brasileiros residentes no exterior terão prefe- § 3o  Somente será admissível o credenciamento de or-
rência aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional ganismos que: 
de criança ou adolescente brasileiro.  I - sejam oriundos de países que ratificaram a Conven-
§ 3o  A adoção internacional pressupõe a intervenção ção de Haia e estejam devidamente credenciados pela Auto-
das Autoridades Centrais Estaduais e Federal em matéria ridade Central do país onde estiverem sediados e no país de
de adoção internacional.  acolhida do adotando para atuar em adoção internacional
no Brasil; 

106
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

II - satisfizerem as condições de integridade moral, com- sinais ou traços peculiares, assim como foto recente e a
petência profissional, experiência e responsabilidade exigi- aposição da impressão digital do seu polegar direito, ins-
das pelos países respectivos e pela Autoridade Central Fede- truindo o documento com cópia autenticada da decisão e
ral Brasileira;  certidão de trânsito em julgado. 
III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua for- § 10.  A Autoridade Central Federal Brasileira poderá, a
mação e experiência para atuar na área de adoção interna- qualquer momento, solicitar informações sobre a situação
cional;  das crianças e adolescentes adotados. 
IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento § 11.  A cobrança de valores por parte dos organismos
jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas pela Autori- credenciados, que sejam considerados abusivos pela Auto-
dade Central Federal Brasileira.  ridade Central Federal Brasileira e que não estejam devida-
§ 4o  Os organismos credenciados deverão ainda:  mente comprovados, é causa de seu descredenciamento. 
I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condi- § 12.  Uma mesma pessoa ou seu cônjuge não podem
ções e dentro dos limites fixados pelas autoridades compe- ser representados por mais de uma entidade credenciada
tentes do país onde estiverem sediados, do país de acolhida para atuar na cooperação em adoção internacional. 
e pela Autoridade Central Federal Brasileira;  § 13.  A habilitação de postulante estrangeiro ou domi-
II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualifica- ciliado fora do Brasil terá validade máxima de 1 (um) ano,
das e de reconhecida idoneidade moral, com comprovada podendo ser renovada. 
formação ou experiência para atuar na área de adoção in- § 14.  É vedado o contato direto de representantes de
ternacional, cadastradas pelo Departamento de Polícia Fe- organismos de adoção, nacionais ou estrangeiros, com
deral e aprovadas pela Autoridade Central Federal Brasileira, dirigentes de programas de acolhimento institucional ou
mediante publicação de portaria do órgão federal compe- familiar, assim como com crianças e adolescentes em condi-
tente;  ções de serem adotados, sem a devida autorização judicial. 
III - estar submetidos à supervisão das autoridades com- § 15.  A Autoridade Central Federal Brasileira poderá
petentes do país onde estiverem sediados e no país de aco- limitar ou suspender a concessão de novos credenciamen-
tos sempre que julgar necessário, mediante ato administra-
lhida, inclusive quanto à sua composição, funcionamento e
tivo fundamentado. 
situação financeira; 
IV - apresentar à Autoridade Central Federal Brasilei-
Art. 52-A.  É vedado, sob pena de responsabilidade e
ra, a cada ano, relatório geral das atividades desenvolvidas,
descredenciamento, o repasse de recursos provenientes de
bem como relatório de acompanhamento das adoções inter-
organismos estrangeiros encarregados de intermediar pe-
nacionais efetuadas no período, cuja cópia será encaminha-
didos de adoção internacional a organismos nacionais
da ao Departamento de Polícia Federal; 
ou a pessoas físicas. 
V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a Autori- Parágrafo único.  Eventuais repasses somente poderão
dade Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central ser efetuados via Fundo dos Direitos da Criança e do Adoles-
Federal Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois) anos. O cente e estarão sujeitos às deliberações do respectivo Conse-
envio do relatório será mantido até a juntada de cópia au- lho de Direitos da Criança e do Adolescente. 
tenticada do registro civil, estabelecendo a cidadania do país
de acolhida para o adotado;  Art. 52-B.  A adoção por brasileiro residente no ex-
VI - tomar as medidas necessárias para garantir que os terior em país ratificante da Convenção de Haia, cujo pro-
adotantes encaminhem à Autoridade Central Federal Brasi- cesso de adoção tenha sido processado em conformidade
leira cópia da certidão de registro de nascimento estrangeira com a legislação vigente no país de residência e atendido o
e do certificado de nacionalidade tão logo lhes sejam con- disposto na Alínea “c” do Artigo 17 da referida Convenção,
cedidos.  será automaticamente recepcionada com o reingresso
§ 5o  A não apresentação dos relatórios referidos no § no Brasil. 
4  deste artigo pelo organismo credenciado poderá acarre-
o
§ 1o  Caso não tenha sido atendido o disposto na Alínea
tar a suspensão de seu credenciamento.  “c” do Artigo 17 da Convenção de Haia, deverá a sentença
§ 6o  O credenciamento de organismo nacional ou es- ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça.  
trangeiro encarregado de intermediar pedidos de adoção § 2o  O pretendente brasileiro residente no exterior em
internacional terá validade de 2 (dois) anos.  país não ratificante da Convenção de Haia, uma vez rein-
§ 7o  A renovação do credenciamento poderá ser con- gressado no Brasil, deverá requerer a homologação da sen-
cedida mediante requerimento protocolado na Autoridade tença estrangeira pelo Superior Tribunal de Justiça. 
Central Federal Brasileira nos 60 (sessenta) dias anteriores
ao término do respectivo prazo de validade.  Art. 52-C.  Nas adoções internacionais, quando o
§ 8o  Antes de transitada em julgado a decisão que con- Brasil for o país de acolhida, a decisão da autoridade
cedeu a adoção internacional, não será permitida a competente do país de origem da criança ou do adolescen-
§ 9o  Transitada em julgado a decisão, a autoridade ju- te será conhecida pela Autoridade Central Estadual que
diciária determinará a expedição de alvará com autoriza- tiver processado o pedido de habilitação dos pais ado-
ção de viagem, bem como para obtenção de passaporte, tivos, que comunicará o fato à Autoridade Central Fe-
constando, obrigatoriamente, as características da criança deral e determinará as providências necessárias à expedição
ou adolescente adotado, como idade, cor, sexo, eventuais do Certificado de Naturalização Provisório.  

107
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

§ 1o  A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministério (RG), Comprovante da renda da pessoa ou casal, compro-
Público, somente deixará de reconhecer os efeitos daquela vante que demostre que as condições vão suprir a neces-
decisão se restar demonstrado que a adoção é manifesta- sidade de se incluir mais um membro naquele lar, compro-
mente contrária à ordem pública ou não atende ao interes- vante de moradia em que prove a pessoa ter sua residência
se superior da criança ou do adolescente.  que acolherá o novo integrante.
§ 2o  Na hipótese de não reconhecimento da adoção, O interessado em adotar deve juntar atestados de saú-
prevista no § 1o deste artigo, o Ministério Público deverá de física onde a pessoa vai demonstrar ser capaz de cuidar e
imediatamente requerer o que for de direito para resguar- garantir uma boa vida para o adotando e atestado de saúde
dar os interesses da criança ou do adolescente, comunican- mental, comprovando que a pessoa é capaz legalmente.
do-se as providências à Autoridade Central Estadual, que Nos aspectos judiciais inerentes ao caso devem ser
fará a comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira juntados Certidão de antecedentes criminais, que demos-
e à Autoridade Central do país de origem.  tra conduta legal do indivíduo perante a sociedade, Cer-
tidão negativa de distribuição civil, além da manifestação
Art. 52-D.  Nas adoções internacionais, quando o Brasil do M.P (Ministério Público) apresentando quesitos a serem
for o país de acolhida e a adoção não tenha sido deferida no respondidos pela equipe interdisciplinar, designação de
país de origem porque a sua legislação a delega ao país de audiência para oitiva de testemunhas e requerentes, soli-
acolhida, ou, ainda, na hipótese de, mesmo com decisão, a citar juntada de documentos complementares que sejam
criança ou o adolescente ser oriundo de país que não tenha necessários. Deve ser obrigatório o estudo psicossocial
aderido à Convenção referida, o processo de adoção segui- onde se testa a capacidade dos indivíduos para se torna-
rá as regras da adoção nacional.  rem pai ou mãe, o de incluir mais um membro junto aos
filhos já existente. Os programas de capacitação também
A adoção no Código Civil de 1916 era tratada em seu devem ser aderido a este sistema, levando esclarecimentos
capítulo V. A adoção seguia um critério de ter um filho aos pretendentes a adoção além, de manter contato com a
para que a família tivesse sucessão e para configurar a fa- criança em regime de acolhimento familiar.
Sendo os adotantes inscritos são chamados por ordem
mília da época que só tinha uma configuração costumeira
cronológica de acordo com a habilitação, e que só poderá
se houvesse pai, mãe e filhos. A idade de 30 (trinta) anos
ser dispensada se for pelo melhor interesse do adotando.
para que as pessoas pudessem não se arrepender do feito.
Os seguintes princípios e diretrizes devem guiar a de-
Quando se falava do casamento criava-se o critério de que
cisão pela adoção:
tenha se passado 05 (cinco) anos de matrimônio para que
- Condição da criança e do adolescente como ser de
o casal possa adotar, pois o ideal era que os filhos fossem
direitos: As crianças são detentoras de direitos previstos na
consanguíneos. A adoção poderia se dissolver por vontade
lei 8.069/90 e na Constituição Federal de 1988;
das partes. Caso houvessem filhos naturais reconhecidos
- Proteção integral e prioritária: Toda e qualquer norma
ou legitimados os filhos adotivos não participavam da su- contida dentro da lei 8.069/90 deve ser voltada a proteção
cessão além de não se desfazer o vínculo com os parentes integral dos interesses do menor;
naturais, somente no que dizia respeito ao pátrio poder. - Responsabilidade primária e solidaria do poder pú-
Houve um grande salto no que concerne a adoção que blico: tanto nos casos ressalvados pelo E.C.A (Estatuto da
foi a letra trazida pela Constituição Federal de 1988 em seu Criança e do Adolescente) quanto nos casos que a CF/88
artigo 227 e com o ECA, que versa sobre todas as garantias (Constituição Federal de 1988) e demais objetos legais es-
constitucionais e no que tange a adoção vem dos artigos pecíficos, é, dever dos três poderes atuarem no que for ne-
39 ao 52-D falando sobre a regularização da adoção e traz cessário para a proteção do menor;
como princípio basilar o melhor interesse da criança, além - Interesse superior da criança e do adolescente: me-
de ter como fundamento o afeto de pai para filho sem que diante a necessidade da intervenção estatal é necessário
haja qualquer diferenciação para com os filhos biológicos. que se dê privilégio ao interesse do que for melhor para a
Ainda no que concerne a adoção, foi criada para dar criança e/ou adolescente. O primeiro interesse a ser obser-
efetividade ao ECA a Lei nº 12.010 de 03 de agosto de 2009, vado é o que trouxer melhor benefício a estes;
que tem o intuito de alterar o direito à convivência familiar - Privacidade: A promoção dos direitos deve ser sem-
mostrando com clareza como deve ocorrer a adoção. pre feita respeitando a privação e o direito da imagem, a
Para ser candidato a adoção deve ter cumprido uma sua vida privada e a intimidade;
série de requisitos para se tornar hábil, estes requisitos são - Intervenção precoce: Ao primeiro sinal de perigo e
elencados na lei. O primeiro deles é a qualificação comple- risco ao menor, o Estado deve intervir para reverter a situa-
ta: da pessoa que deseja adotar ou das pessoas que dese- ção presente;
jam no caso de casais juntamente com os dados familiares, - Intervenção mínima;
dados que vão completar não só a ficha do casal ou pessoa - Proporcionalidade e atualidade: Ser a atitude tomada
que deseja adotar, mais da família onde o menor vai residir de acordo com a proporção de perigo existente no mo-
e ter sua formação os documentos pessoais como cópias mento, evitando e revertendo o risco de morte;
de certidão de nascimento (quando solteiros), de certidão - Responsabilidade parental: a intervenção deve ser a
de casamento (quando casados), cópias de declaração de princípio para que os pais tomem responsabilidade sobre
período de união estável, Cópias de Certidão de identidade seus filhos;

108
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

- Prevalência da família: Primeiro se dará a preferên- V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
cia a família natural para que a criança continue com seus residência.
pais depois a preferência vai ser da família contínua (família Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis
natural a primeira e extensa a segunda), em último caso a ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da
criança/adolescente vai ser direcionada a família substituta. definição das propostas educacionais.
- Obrigatoriedade da informação: respeitando o es-
tágio de desenvolvimento e compreensão da criança ou Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao ado-
adolescente, além de seus pais e responsáveis devem ser lescente:
informados o motivo em que se dá a intervenção e como I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclu-
esta se processou; sive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;
- Oitiva obrigatória e participação: a criança ou adoles- II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gra-
cente separados ou na companhia de seus pais, responsá- tuidade ao ensino médio;
veis ou pessoas por ela indicados; bem como seus pais e III - atendimento educacional especializado aos por-
responsáveis, tem o direito de serem ouvidas e sua opinião tadores de deficiência, preferencialmente na rede regular
deve ser considerada pelas autoridades do judiciário. de ensino;
- Afastamento da criança e do adolescente do conví- IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de
vio familiar: É um processo contencioso que importara aos zero a cinco anos de idade;
pais o direito do contraditório e da ampla defesa, este pro- V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da
cedimento é de competência do judiciário (procedimento pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de
judicial) artigo 28 §§ 1° e 2° do E.C.A; cada um;
- Acolhimento familiar: medida de proteção criada para VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
o amparo da criança até que seja resolvida a situação; condições do adolescente trabalhador;
- Guia de acolhimento: será elaborado pelo poder Ju- VII - atendimento no ensino fundamental, através de
diciário um guia para encaminhar à criança a entidade de programas suplementares de material didático-escolar,
acolhimento (guia deve conter a causa da retirada e per-
transporte, alimentação e assistência à saúde.
manência do menor fora da sua família natural além de
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é di-
todos os dados)
reito público subjetivo.
- Plano individual de atendimento: cada criança vai ter
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo
um plano a ser desenvolvido visando sua adaptação a nova
poder público ou sua oferta irregular importa responsabi-
família;
lidade da autoridade competente.
- Destituição do poder familiar: Promovida pelo M.P
§ 3º Compete ao poder público recensear os educan-
(Ministério público) sendo para isto necessário prévio aviso
a entidade de acolhimento familiar, ou, responsáveis pela dos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar,
execução da política municipal de garantia do direito a junto aos pais ou responsável, pela frequência à escola.
convivência familiar.
- Cadastro de crianças a adolescentes à regime institu- Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de ma-
cional e familiar: é um cadastro para crianças e adolescen- tricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino.
tes que necessitem de acolhimento familiar ou institucional
devido a algum registro de maus tratos. Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino
A Lei no 13.509 de 22 de novembro de 2017 surgiu com fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de:
o propósito de maximizar a efetividade das disposições do I - maus-tratos envolvendo seus alunos;
ECA, inclusive no âmbito da adoção, possuindo a peculia- II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão es-
ridade de ser mais rigorosa no que tange ao cumprimento colar, esgotados os recursos escolares;
de prazos para maior celeridade do processo. III - elevados níveis de repetência.

Capítulo IV Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experiên-


Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao cias e novas propostas relativas a calendário, seriação,
Lazer currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas
à inserção de crianças e adolescentes excluídos do ensino
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educa- fundamental obrigatório.
ção, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, pre-
paro para o exercício da cidadania e qualificação para o tra- Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os va-
balho, assegurando-se-lhes: lores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto
I - igualdade de condições para o acesso e perma- social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a
nência na escola; liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura.
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da
recorrer às instâncias escolares superiores; União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos
IV - direito de organização e participação em entida- e espaços para programações culturais, esportivas e de
des estudantis; lazer voltadas para a infância e a juventude.

109
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Capítulo V Uma vez que o adolescente está autorizado a trabalhar,


Do Direito à Profissionalização e à Proteção no mesmo que na condição de menor aprendiz, possui direi-
Trabalho tos trabalhistas e previdenciários.

Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é asse-
quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz.  gurado trabalho protegido.
Preconiza o artigo 7º, XXXIII, CF a “proibição de tra- O adolescente que possui deficiência não pode ser expos-
balho noturno, perigoso ou insalubre a menores de to a uma situação de risco em decorrência da atividade laboral.
dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis
anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regi-
anos”. me familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido
Portanto, em decorrência da própria norma constitu- em entidade governamental ou não-governamental, é ve-
cional, nenhuma criança ou adolescente pode trabalhar an- dado trabalho:
tes dos 14 anos de idade. Evidentemente que há algumas I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um
exceções a esta regra, devidamente fiscalizadas pelo Con- dia e as cinco horas do dia seguinte;
selho Tutelar, como é o caso dos artistas mirins. II - perigoso, insalubre ou penoso;
Entre 14 anos e 16 anos de idade somente será possí- III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e
vel o trabalho na condição de menor aprendiz, cuja natu- ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social;
reza é de ensino técnico-profissional, viabilizando a futura IV - realizado em horários e locais que não permitam a
inserção do adolescente no mercado de trabalho. frequência à escola.
A partir dos 16 anos, o menor pode trabalhar, mas não O menor aprendiz está proibido de trabalhar no perío-
no período noturno ou em condições de periculosidade e do noturno, em trabalho que o coloque exposto a pericu-
insalubridade. losidade (ex.: em andaimes, em áreas com risco de incêndio
ou choques), insalubridade (ex.: em freezers de frigoríficos,
Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é re- expostos a radiação) ou penosidade (ex.: excesso de força
gulada por legislação especial, sem prejuízo do disposto física exigida).
nesta Lei.
Art. 68. O programa social que tenha por base o trabalho
Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação téc- educativo, sob responsabilidade de entidade governamental
nico-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases ou não-governamental sem fins lucrativos, deverá assegurar
da legislação de educação em vigor. ao adolescente que dele participe condições de capacitação
para o exercício de atividade regular remunerada.
Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos § 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade
seguintes princípios: laboral em que as exigências pedagógicas relativas ao
I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao en- desenvolvimento pessoal e social do educando prevalecem
sino regular; sobre o aspecto produtivo.
II - atividade compatível com o desenvolvimento do § 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo tra-
adolescente; balho efetuado ou a participação na venda dos produtos de
III - horário especial para o exercício das atividades. seu trabalho não desfigura o caráter educativo.
Aquele que trabalha na condição de menor aprendiz Os programas sociais voltados à capacitação dos ado-
é obrigado a frequentar a escola, devendo ser facilitadas lescentes devem sempre ter por objetivo educá-lo para
as condições para que o faça, notadamente pelo estabe- que ele adquira condições de inserir-se no mercado de
lecimento de horário especial de trabalho. Além disso, a trabalho. Deve ser ensinado, logo, dele não se deve cobrar
atividade laboral deve ser compatível com as atividades de tanta produtividade, mas sim deve ser avaliado pelo seu
ensino, até mesmo por se tratar de ensino técnico-profis- aprendizado. O fato do trabalho ser remunerado não des-
sionalizante. virtua este propósito.
Ex.: um jovem pode trabalhar no período matutino, fre-
quentar o SENAI na parte da tarde e ir ao colégio no ensino Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização
médio noturno. e à proteção no trabalho, observados os seguintes aspec-
tos, entre outros:
Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é I - respeito à condição peculiar de pessoa em desen-
assegurada bolsa de aprendizagem. volvimento;
Toda criança e adolescente que necessitar receberá fo- II - capacitação profissional adequada ao mercado de
mento para que não se desvincule das atividades de ensi- trabalho.
no. Trata-se de incentivo àquele que sem auxílio acabaria Com efeito, profissionalização e proteção no trabalho
entrando em situação irregular e trabalhando. são direitos fundamentais garantidos ao adolescente, exigin-
do-se neste campo que sua condição peculiar inerente ao
Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze anos, processo de aprendizado seja respeitada e que o trabalho
são assegurados os direitos trabalhistas e previdenciários. sirva para permitir a sua inserção no mercado de trabalho.

110
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Título III Parágrafo único.  São igualmente responsáveis pela co-


Da Prevenção municação de que trata este artigo, as pessoas encarrega-
das, por razão de cargo, função, ofício, ministério, profissão
Capítulo I ou ocupação, do cuidado, assistência ou guarda de crianças
Disposições Gerais e adolescentes, punível, na forma deste Estatuto, o injustifi-
cado retardamento ou omissão, culposos ou dolosos. 
Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de
ameaça ou violação dos direitos da criança e do ado- Art. 71. A criança e o adolescente têm direito a infor-
lescente. mação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e
produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de
Art. 70-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os pessoa em desenvolvimento.
Municípios deverão atuar de forma articulada na elabo-
ração de políticas públicas e na execução de ações des- Art. 72. As obrigações previstas nesta Lei não excluem
tinadas a coibir o uso de castigo físico ou de tratamento da prevenção especial outras decorrentes dos princípios
cruel ou degradante e difundir formas não violentas por ela adotados.
de educação de crianças e de adolescentes, tendo como
principais ações: Art. 73. A inobservância das normas de prevenção im-
I - a promoção de campanhas educativas permanentes portará em responsabilidade da pessoa física ou jurídica,
para a divulgação do direito da criança e do adolescente de nos termos desta Lei.
serem educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou
de tratamento cruel ou degradante e dos instrumentos de Capítulo II
proteção aos direitos humanos; Da Prevenção Especial
II - a integração com os órgãos do Poder Judiciário, do
Ministério Público e da Defensoria Pública, com o Conselho Seção I
Tutelar, com os Conselhos de Direitos da Criança e do Ado-
Da informação, Cultura, Lazer, Esportes, Diversões
lescente e com as entidades não governamentais que atuam
e Espetáculos
na promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do
adolescente;
Art. 74. O poder público, através do órgão competente,
III - a formação continuada e a capacitação dos profis-
regulará as diversões e espetáculos públicos, informan-
sionais de saúde, educação e assistência social e dos demais
do sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se
agentes que atuam na promoção, proteção e defesa dos di-
recomendem, locais e horários em que sua apresentação se
reitos da criança e do adolescente para o desenvolvimento
das competências necessárias à prevenção, à identificação mostre inadequada.
de evidências, ao diagnóstico e ao enfrentamento de todas Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e es-
as formas de violência contra a criança e o adolescente; petáculos públicos deverão afixar, em lugar visível e de fácil
IV - o apoio e o incentivo às práticas de resolução pací- acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada
fica de conflitos que envolvam violência contra a criança e sobre a natureza do espetáculo e a faixa etária especificada
o adolescente; no certificado de classificação.
V - a inclusão, nas políticas públicas, de ações que visem
a garantir os direitos da criança e do adolescente, desde a Art. 75. Toda criança ou adolescente terá acesso às di-
atenção pré-natal, e de atividades junto aos pais e respon- versões e espetáculos públicos classificados como ade-
sáveis com o objetivo de promover a informação, a reflexão, quados à sua faixa etária.
o debate e a orientação sobre alternativas ao uso de casti- Parágrafo único. As crianças menores de dez anos so-
go físico ou de tratamento cruel ou degradante no processo mente poderão ingressar e permanecer nos locais de apre-
educativo; sentação ou exibição quando acompanhadas dos pais ou
VI - a promoção de espaços intersetoriais locais para a responsável.
articulação de ações e a elaboração de planos de atuação
conjunta focados nas famílias em situação de violência, com Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exi-
participação de profissionais de saúde, de assistência social birão, no horário recomendado para o público infanto ju-
e de educação e de órgãos de promoção, proteção e defesa venil, programas com finalidades educativas, artísticas,
dos direitos da criança e do adolescente. culturais e informativas.
Parágrafo único.  As famílias com crianças e adoles- Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado
centes com deficiência terão prioridade de atendimento nas ou anunciado sem aviso de sua classificação, antes de sua
ações e políticas públicas de prevenção e proteção. transmissão, apresentação ou exibição.

Art. 70-B.  As entidades, públicas e privadas, que atuem Art. 77. Os proprietários, diretores, gerentes e funcioná-
nas áreas a que se refere o art. 71, dentre outras, devem con- rios de empresas que explorem a venda ou aluguel de fitas
tar, em seus quadros, com pessoas capacitadas a reconhe- de programação em vídeo cuidarão para que não haja
cer e comunicar ao Conselho Tutelar suspeitas ou casos de venda ou locação em desacordo com a classificação
maus-tratos praticados contra crianças e adolescentes. atribuída pelo órgão competente.

111
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo deverão 2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo
exibir, no invólucro, informação sobre a natureza da obra e a pai, mãe ou responsável.
faixa etária a que se destinam. § 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou
responsável, conceder autorização válida por dois anos.
Art. 78. As revistas e publicações contendo material
impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes de- Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a au-
verão ser comercializadas em embalagem lacrada, com a torização é dispensável, se a criança ou adolescente:
advertência de seu conteúdo. I - estiver acompanhado de ambos os pais ou res-
Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as capas ponsável;
que contenham mensagens pornográficas ou obscenas se- II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado
jam protegidas com embalagem opaca. expressamente pelo outro através de documento com
firma reconhecida.
Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao pú-
blico infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fo- Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, ne-
tografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas al- nhuma criança ou adolescente nascido em território na-
coólicas, tabaco, armas e munições, e deverão respeitar cional poderá sair do País em companhia de estrangeiro
os valores éticos e sociais da pessoa e da família. residente ou domiciliado no exterior.

Art. 80. Os responsáveis por estabelecimentos que explo- Parte Especial


rem comercialmente bilhar, sinuca ou congênere ou por
casas de jogos, assim entendidas as que realizem apostas, Título I
ainda que eventualmente, cuidarão para que não seja per- Da Política de Atendimento
mitida a entrada e a permanência de crianças e adoles-
centes no local, afixando aviso para orientação do público. Capítulo I
Disposições Gerais
Seção II
Dos Produtos e Serviços
Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança
e do adolescente far-se-á através de um conjunto articu-
Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adoles-
lado de ações governamentais e não-governamentais,
cente de:
da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.
I - armas, munições e explosivos;
II - bebidas alcoólicas;
Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento:
III - produtos cujos componentes possam causar depen-
I - políticas sociais básicas;
dência física ou psíquica ainda que por utilização indevida;
IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles II - serviços, programas, projetos e benefícios de as-
que pelo seu reduzido potencial sejam incapazes de provocar sistência social de garantia de proteção social e de preven-
qualquer dano físico em caso de utilização indevida; ção e redução de violações de direitos, seus agravamentos
V - revistas e publicações a que alude o art. 78; ou reincidências;
VI - bilhetes lotéricos e equivalentes. III - serviços especiais de prevenção e atendimento
médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tra-
Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou ado- tos, exploração, abuso, crueldade e opressão;
lescente em hotel, motel, pensão ou estabelecimento IV - serviço de identificação e localização de pais,
congênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos responsável, crianças e adolescentes desaparecidos;
pais ou responsável. V - proteção jurídico-social por entidades de defesa
dos direitos da criança e do adolescente;
Seção III VI - políticas e programas destinados a prevenir ou
Da Autorização para Viajar abreviar o período de afastamento do convívio familiar
e a garantir o efetivo exercício do direito à convivência
Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora familiar de crianças e adolescentes;
da comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob
responsável, sem expressa autorização judicial. forma de guarda de crianças e adolescentes afastados do
§ 1º A autorização não será exigida quando: convívio familiar e à adoção, especificamente inter-racial,
a) tratar-se de comarca contígua à da residência da de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades
criança, se na mesma unidade da Federação, ou incluída na específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de
mesma região metropolitana; irmãos.
b) a criança estiver acompanhada:
1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:
grau, comprovado documentalmente o parentesco; I - municipalização do atendimento;

112
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

II - criação de conselhos municipais, estaduais e V - prestação de serviços à comunidade;


nacional dos direitos da criança e do adolescente, órgãos VI - liberdade assistida;
deliberativos e controladores das ações em todos os níveis, VII - semiliberdade; e
assegurada a participação popular paritária por meio de or- VIII - internação.
ganizações representativas, segundo leis federal, estaduais e § 1o  As entidades governamentais e não governamen-
municipais; tais deverão proceder à inscrição de seus programas, es-
III - criação e manutenção de programas específicos, pecificando os regimes de atendimento, na forma definida
observada a descentralização político-administrativa; neste artigo, no Conselho Municipal dos Direitos da Crian-
IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e mu- ça e do Adolescente, o qual manterá registro das inscrições
nicipais vinculados aos respectivos conselhos dos direitos da e de suas alterações, do que fará comunicação ao Conselho
criança e do adolescente; Tutelar e à autoridade judiciária.
V - integração operacional de órgãos do Judiciário, § 2o  Os recursos destinados à implementação e ma-
Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e As- nutenção dos programas relacionados neste artigo serão
sistência Social, preferencialmente em um mesmo local, previstos nas dotações orçamentárias dos órgãos públicos
para efeito de agilização do atendimento inicial a adoles- encarregados das áreas de Educação, Saúde e Assistência
cente a quem se atribua autoria de ato infracional; Social, dentre outros, observando-se o princípio da priori-
VI - integração operacional de órgãos do Judiciário, dade absoluta à criança e ao adolescente preconizado pelo
Ministério Público, Defensoria, Conselho Tutelar e en- caput do art. 227 da Constituição Federal e pelo caput e
carregados da execução das políticas sociais básicas e de parágrafo único do art. 4o desta Lei.
assistência social, para efeito de agilização do atendimento § 3o  Os programas em execução serão reavaliados pelo
de crianças e de adolescentes inseridos em programas de Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adoles-
acolhimento familiar ou institucional, com vista na sua rá- cente, no máximo, a cada 2 (dois) anos, constituindo-se
pida reintegração à família de origem ou, se tal solução se critérios para renovação da autorização de funcionamento:
mostrar comprovadamente inviável, sua colocação em famí- I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei, bem
lia substituta, em quaisquer das modalidades previstas no como às resoluções relativas à modalidade de atendimento
art. 28 desta Lei; prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e
VII - mobilização da opinião pública para a indispen- do Adolescente, em todos os níveis; 
sável participação dos diversos segmentos da sociedade; II - a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido,
VIII - especialização e formação continuada dos pro- atestadas pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Público e
fissionais que trabalham nas diferentes áreas da atenção à pela Justiça da Infância e da Juventude; 
primeira infância, incluindo os conhecimentos sobre direitos III - em se tratando de programas de acolhimento insti-
da criança e sobre desenvolvimento infantil; tucional ou familiar, serão considerados os índices de sucesso
IX - formação profissional com abrangência dos di- na reintegração familiar ou de adaptação à família substitu-
versos direitos da criança e do adolescente que favoreça ta, conforme o caso.
a intersetorialidade no atendimento da criança e do adoles-
cente e seu desenvolvimento integral; Art. 91. As entidades não-governamentais somente
X - realização e divulgação de pesquisas sobre de- poderão funcionar depois de registradas no Conselho
senvolvimento infantil e sobre prevenção da violência. Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o
qual comunicará o registro ao Conselho Tutelar e à autori-
Art. 89. A função de membro do conselho nacional e dos dade judiciária da respectiva localidade.
conselhos estaduais e municipais dos direitos da criança e do § 1o  Será negado o registro à entidade que: 
adolescente é considerada de interesse público relevante a) não ofereça instalações físicas em condições adequa-
e não será remunerada. das de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança;
b) não apresente plano de trabalho compatível com os
Capítulo II princípios desta Lei;
Das Entidades de Atendimento c) esteja irregularmente constituída;
d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas.
Seção I e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções e
Disposições Gerais deliberações relativas à modalidade de atendimento pres-
tado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do
Art. 90. As entidades de atendimento são respon- Adolescente, em todos os níveis.
sáveis pela manutenção das próprias unidades, assim § 2o  O registro terá validade máxima de 4 (quatro) anos,
como pelo planejamento e execução de programas de prote- cabendo ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e
ção e socioeducativos destinados a crianças e adolescentes, do Adolescente, periodicamente, reavaliar o cabimento de
em regime de:  sua renovação, observado o disposto no § 1o deste artigo.
I - orientação e apoio sociofamiliar;
II - apoio socioeducativo em meio aberto; Art. 92.  As entidades que desenvolvam programas de
III - colocação familiar; acolhimento familiar ou institucional deverão adotar os se-
IV - acolhimento institucional; guintes princípios:

113
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

I - preservação dos vínculos familiares e promoção Parágrafo único.  Recebida a comunicação, a autoridade
da reintegração familiar; judiciária, ouvido o Ministério Público e se necessário com o
II - integração em família substituta, quando esgota- apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas neces-
dos os recursos de manutenção na família natural ou extensa; sárias para promover a imediata reintegração familiar da
III - atendimento personalizado e em pequenos grupos; criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão não for
IV - desenvolvimento de atividades em regime de isso possível ou recomendável, para seu encaminhamento a
coeducação; programa de acolhimento familiar, institucional ou a família
V - não desmembramento de grupos de irmãos; substituta, observado o disposto no § 2o do art. 101 desta Lei. 
VI - evitar, sempre que possível, a transferência para
outras entidades de crianças e adolescentes abrigados; Art. 94. As entidades que desenvolvem programas de
VII - participação na vida da comunidade local; internação têm as seguintes obrigações, entre outras:
VIII - preparação gradativa para o desligamento; I - observar os direitos e garantias de que são titula-
IX - participação de pessoas da comunidade no pro- res os adolescentes;
cesso educativo. II - não restringir nenhum direito que não tenha sido
§ 1o  O dirigente de entidade que desenvolve progra- objeto de restrição na decisão de internação;
ma de acolhimento institucional é equiparado ao guardião, III - oferecer atendimento personalizado, em peque-
para todos os efeitos de direito.  nas unidades e grupos reduzidos;
§ 2o  Os dirigentes de entidades que desenvolvem pro- IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de
gramas de acolhimento familiar ou institucional remeterão respeito e dignidade ao adolescente;
à autoridade judiciária, no máximo a cada 6 (seis) meses, V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da
relatório circunstanciado acerca da situação de cada crian- preservação dos vínculos familiares;
ça ou adolescente acolhido e sua família, para fins da rea- VI - comunicar à autoridade judiciária, periodica-
valiação prevista no § 1o do art. 19 desta Lei.  mente, os casos em que se mostre inviável ou impossível o
§ 3o  Os entes federados, por intermédio dos Poderes reatamento dos vínculos familiares;
VII - oferecer instalações físicas em condições ade-
Executivo e Judiciário, promoverão conjuntamente a per-
quadas de habitabilidade, higiene, salubridade e segu-
manente qualificação dos profissionais que atuam direta
rança e os objetos necessários à higiene pessoal;
ou indiretamente em programas de acolhimento institucio-
VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e
nal e destinados à colocação familiar de crianças e adoles-
adequados à faixa etária dos adolescentes atendidos;
centes, incluindo membros do Poder Judiciário, Ministério
IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, odonto-
Público e Conselho Tutelar. 
lógicos e farmacêuticos;
§ 4o  Salvo determinação em contrário da autorida-
X - propiciar escolarização e profissionalização;
de judiciária competente, as entidades que desenvolvem XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de
programas de acolhimento familiar ou institucional, se ne- lazer;
cessário com o auxílio do Conselho Tutelar e dos órgãos XII - propiciar assistência religiosa àqueles que deseja-
de assistência social, estimularão o contato da criança ou rem, de acordo com suas crenças;
adolescente com seus pais e parentes, em cumprimento ao XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso;
disposto nos incisos I e VIII do caput deste artigo.  XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com inter-
§ 5o  As entidades que desenvolvem programas de aco- valo máximo de seis meses, dando ciência dos resultados à
lhimento familiar ou institucional somente poderão rece- autoridade competente;
ber recursos públicos se comprovado o atendimento dos XV - informar, periodicamente, o adolescente interna-
princípios, exigências e finalidades desta Lei.  do sobre sua situação processual;
§ 6o  O descumprimento das disposições desta Lei XVI - comunicar às autoridades competentes todos os
pelo dirigente de entidade que desenvolva programas de casos de adolescentes portadores de moléstias infectocon-
acolhimento familiar ou institucional é causa de sua desti- tagiosas;
tuição, sem prejuízo da apuração de sua responsabilidade XVII - fornecer comprovante de depósito dos perten-
administrativa, civil e criminal.  ces dos adolescentes;
§ 7o  Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) XVIII - manter programas destinados ao apoio e
anos em acolhimento institucional, dar-se-á especial aten- acompanhamento de egressos;
ção à atuação de educadores de referência estáveis e quali- XIX - providenciar os documentos necessários ao
tativamente significativos, às rotinas específicas e ao atendi- exercício da cidadania àqueles que não os tiverem;
mento das necessidades básicas, incluindo as de afeto como XX - manter arquivo de anotações onde constem data
prioritárias.  e circunstâncias do atendimento, nome do adolescente, seus
pais ou responsável, parentes, endereços, sexo, idade, acom-
Art. 93.  As entidades que mantenham programa de panhamento da sua formação, relação de seus pertences e
acolhimento institucional poderão, em caráter excepcional demais dados que possibilitem sua identificação e a in-
e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia dividualização do atendimento.
determinação da autoridade competente, fazendo comuni- § 1o  Aplicam-se, no que couber, as obrigações cons-
cação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da tantes deste artigo às entidades que mantêm programas
Infância e da Juventude, sob pena de responsabilidade.  de acolhimento institucional e familiar. 

114
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

§ 2º No cumprimento das obrigações a que alude este Capítulo II


artigo as entidades utilizarão preferencialmente os recur- Das Medidas Específicas de Proteção
sos da comunidade.
Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão
Art. 94-A.  As entidades, públicas ou privadas, que abri- ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como
guem ou recepcionem crianças e adolescentes, ainda que em substituídas a qualquer tempo.
caráter temporário, devem ter, em seus quadros, profissio-
nais capacitados a reconhecer e reportar ao Conselho
Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em con-
Tutelar suspeitas ou ocorrências de maus-tratos.
ta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas
Seção II que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e co-
Da Fiscalização das Entidades munitários.
Parágrafo único.  São também princípios que regem a
Art. 95. As entidades governamentais e não-governamen- aplicação das medidas: 
tais referidas no art. 90 serão fiscalizadas pelo Judiciário, I - condição da criança e do adolescente como sujeitos
pelo Ministério Público e pelos Conselhos Tutelares. de direitos: crianças e adolescentes são os titulares dos direi-
tos previstos nesta e em outras Leis, bem como na Constitui-
Art. 96. Os planos de aplicação e as prestações de ção Federal;  
contas serão apresentados ao estado ou ao município, II - proteção integral e prioritária: a interpretação e apli-
conforme a origem das dotações orçamentárias. cação de toda e qualquer norma contida nesta Lei deve ser
voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de que
Art. 97. São medidas aplicáveis às entidades de aten-
crianças e adolescentes são titulares;  
dimento que descumprirem obrigação constante do art. 94,
III - responsabilidade primária e solidária do poder pú-
sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal de
seus dirigentes ou prepostos: blico: a plena efetivação dos direitos assegurados a crianças
I - às entidades governamentais: e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal,
a) advertência; salvo nos casos por esta expressamente ressalvados, é de
b) afastamento provisório de seus dirigentes; responsabilidade primária e solidária das 3 (três) esferas de
c) afastamento definitivo de seus dirigentes; governo, sem prejuízo da municipalização do atendimento
d) fechamento de unidade ou interdição de programa. e da possibilidade da execução de programas por entidades
II - às entidades não-governamentais: não governamentais;  
a) advertência; IV - interesse superior da criança e do adolescente: a in-
b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas tervenção deve atender prioritariamente aos interesses e di-
públicas; reitos da criança e do adolescente, sem prejuízo da conside-
c) interdição de unidades ou suspensão de programa; ração que for devida a outros interesses legítimos no âmbito
d) cassação do registro. da pluralidade dos interesses presentes no caso concreto;  
§ 1o  Em caso de reiteradas infrações cometidas por
V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da
entidades de atendimento, que coloquem em risco os di-
reitos assegurados nesta Lei, deverá ser o fato comunicado criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela
ao Ministério Público ou representado perante autoridade intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida privada; 
judiciária competente para as providências cabíveis, inclu- VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades
sive suspensão das atividades ou dissolução da entidade.  competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo
§ 2o  As pessoas jurídicas de direito público e as organi- seja conhecida;  
zações não governamentais responderão pelos danos que VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exerci-
seus agentes causarem às crianças e aos adolescentes, ca- da exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja ação
racterizado o descumprimento dos princípios norteadores seja indispensável à efetiva promoção dos direitos e à prote-
das atividades de proteção específica.  ção da criança e do adolescente; 
VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção
Título II deve ser a necessária e adequada à situação de perigo em
Das Medidas de Proteção que a criança ou o adolescente se encontram no momento
em que a decisão é tomada; 
Capítulo I
IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser
Disposições Gerais
efetuada de modo que os pais assumam os seus deveres
Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adoles- para com a criança e o adolescente; 
cente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos X - prevalência da família: na promoção de direitos e na
nesta Lei forem ameaçados ou violados: proteção da criança e do adolescente deve ser dada preva-
I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; lência às medidas que os mantenham ou reintegrem na sua
II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; família natural ou extensa ou, se isso não for possível, que
III - em razão de sua conduta. promovam a sua integração em família adotiva;

115
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o ado- IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao


lescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e capa- convívio familiar. 
cidade de compreensão, seus pais ou responsável devem ser § 4o  Imediatamente após o acolhimento da criança ou
informados dos seus direitos, dos motivos que determinaram do adolescente, a entidade responsável pelo programa de
a intervenção e da forma como esta se processa;  acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano
XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o ado- individual de atendimento, visando à reintegração familiar,
lescente, em separado ou na companhia dos pais, de respon- ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada
sável ou de pessoa por si indicada, bem como os seus pais em contrário de autoridade judiciária competente, caso em
ou responsável, têm direito a ser ouvidos e a participar nos que também deverá contemplar sua colocação em família
atos e na definição da medida de promoção dos direitos e de substituta, observadas as regras e princípios desta Lei. 
proteção, sendo sua opinião devidamente considerada pela § 5o  O plano individual será elaborado sob a respon-
autoridade judiciária competente, observado o disposto nos sabilidade da equipe técnica do respectivo programa de
§§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.  atendimento e levará em consideração a opinião da criança
ou do adolescente e a oitiva dos pais ou do responsável. 
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no § 6o  Constarão do plano individual, dentre outros: 
art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre I - os resultados da avaliação interdisciplinar; 
outras, as seguintes medidas: II - os compromissos assumidos pelos pais ou respon-
I - encaminhamento aos pais ou responsável, me- sável; e 
diante termo de responsabilidade; III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas com
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários; a criança ou com o adolescente acolhido e seus pais ou res-
III - matrícula e frequência obrigatórias em estabele- ponsável, com vista na reintegração familiar ou, caso seja
cimento oficial de ensino fundamental; esta vedada por expressa e fundamentada determinação ju-
IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou co- dicial, as providências a serem tomadas para sua colocação
munitários de proteção, apoio e promoção da família, da em família substituta, sob direta supervisão da autoridade
criança e do adolescente;
judiciária. 
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou
§ 7o  O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá
psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
no local mais próximo à residência dos pais ou do respon-
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário
sável e, como parte do processo de reintegração familiar,
de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxi-
sempre que identificada a necessidade, a família de origem
cômanos;
será incluída em programas oficiais de orientação, de apoio
VII - acolhimento institucional;  
e de promoção social, sendo facilitado e estimulado o con-
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; 
tato com a criança ou com o adolescente acolhido. 
IX - colocação em família substituta. 
§ 1o O acolhimento institucional e o acolhimento fa- § 8o  Verificada a possibilidade de reintegração familiar,
miliar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis o responsável pelo programa de acolhimento familiar ou
como forma de transição para reintegração familiar ou, não institucional fará imediata comunicação à autoridade judi-
sendo esta possível, para colocação em família substituta, ciária, que dará vista ao Ministério Público, pelo prazo de 5
não implicando privação de liberdade.  (cinco) dias, decidindo em igual prazo.
§ 2o  Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais § 9o  Em sendo constatada a impossibilidade de reinte-
para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e gração da criança ou do adolescente à família de origem,
das providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afasta- após seu encaminhamento a programas oficiais ou comu-
mento da criança ou adolescente do convívio familiar é de nitários de orientação, apoio e promoção social, será envia-
competência exclusiva da autoridade judiciária e importará do relatório fundamentado ao Ministério Público, no qual
na deflagração, a pedido do Ministério Público ou de quem conste a descrição pormenorizada das providências toma-
tenha legítimo interesse, de procedimento judicial conten- das e a expressa recomendação, subscrita pelos técnicos
cioso, no qual se garanta aos pais ou ao responsável legal da entidade ou responsáveis pela execução da política mu-
o exercício do contraditório e da ampla defesa. nicipal de garantia do direito à convivência familiar, para a
§ 3o  Crianças e adolescentes somente poderão ser destituição do poder familiar, ou destituição de tutela ou
encaminhados às instituições que executam programas guarda. 
de acolhimento institucional, governamentais ou não, por § 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o
meio de uma Guia de Acolhimento, expedida pela autori- prazo de 15 (quinze) dias para o ingresso com a ação de
dade judiciária, na qual obrigatoriamente constará, dentre destituição do poder familiar, salvo se entender necessária
outros:  a realização de estudos complementares ou de outras pro-
I - sua identificação e a qualificação completa de seus vidências indispensáveis ao ajuizamento da demanda.
pais ou de seu responsável, se conhecidos;  § 11. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca
II - o endereço de residência dos pais ou do responsável, ou foro regional, um cadastro contendo informações atua-
com pontos de referência;  lizadas sobre as crianças e adolescentes em regime de aco-
III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados lhimento familiar e institucional sob sua responsabilidade,
em tê-los sob sua guarda;  com informações pormenorizadas sobre a situação jurídica

116
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

de cada um, bem como as providências tomadas para sua - orientação, apoio e acompanhamentos temporários
reintegração familiar ou colocação em família substituta, por pessoa nomeada pelo Juiz;
em qualquer das modalidades previstas no art. 28 desta - matrícula e frequência obrigatória em estabelecimen-
Lei.  to oficial de ensino fundamental (o Juiz determina aos pais
§ 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o a obrigação);
Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxí-
Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adoles- lio à família, à criança e ao adolescente;
cente e da Assistência Social, aos quais incumbe deliberar - requisição de tratamento médico, psicológico ou psi-
sobre a implementação de políticas públicas que permitam quiátrico em regime hospitalar (internação) ou ambulato-
reduzir o número de crianças e adolescentes afastados do rial (consultas periódicas);
convívio familiar e abreviar o período de permanência em - abrigo em entidade (não se fala em orfanato). A dou-
programa de acolhimento. trina chama de “Tutela de Estado” quando a criança está
em abrigo sob a proteção do Estado;
Art. 102. As medidas de proteção de que trata este Capí- - colocação em família substituta (é utilizada somente
tulo serão acompanhadas da regularização do registro ci- em situações muito graves).
vil.  O Juiz pode aplicar essas medidas isolada ou cumulati-
§ 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o as- vamente. Pode, também, substituir uma medida pela outra
sento de nascimento da criança ou adolescente será feito a qualquer tempo (art. 99 do ECA). Antes de aplicar qual-
à vista dos elementos disponíveis, mediante requisição da quer uma dessas medidas, o Juiz deverá ouvir os pais ou
autoridade judiciária. responsáveis, realizar estudo social do caso e ouvir o MP.
§ 2º Os registros e certidões necessários à regulariza- Essa oitiva do MP é obrigatória, sob pena de nulidade (art.
ção de que trata este artigo são isentos de multas, custas e 204 do ECA). Esse rol do art. 101 é taxativo.
emolumentos, gozando de absoluta prioridade.
§ 3o  Caso ainda não definida a paternidade, será  defla- Título III
grado procedimento específico destinado à sua averigua-
Da Prática de Ato Infracional
ção, conforme previsto pela Lei no 8.560, de 29 de dezem-
bro de 1992. 
Capítulo I
§ 4o  Nas hipóteses previstas no § 3o deste artigo, é dis-
Disposições Gerais
pensável o ajuizamento de ação de investigação de pater-
nidade pelo Ministério Público se, após o não compareci-
Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta des-
mento ou a recusa do suposto pai em assumir a paternida-
crita como crime ou contravenção penal.
de a ele atribuída, a criança for encaminhada para adoção. 
§ 5º Os registros e certidões necessários à inclusão, a
qualquer tempo, do nome do pai no assento de nascimento Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores
são isentos de multas, custas e emolumentos, gozando de de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei.
absoluta prioridade. Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser con-
§ 6º São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação re- siderada a idade do adolescente à data do fato.
querida do reconhecimento de paternidade no assento de
nascimento e a certidão correspondente. Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança
corresponderão as medidas previstas no art. 101.
As normas de prevenção do ECA são destinadas a
crianças e adolescentes em situação de risco. Existirá situa- Capítulo II
ção de risco quando a criança ou o adolescente estiverem Dos Direitos Individuais
privados de assistência. Essa assistência pode ser material
(quando não se tem onde dormir, o que comer, vestir etc.), Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua
moral (quando a criança ou o adolescente permanece em liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por
local inadequado, como locais de prática de jogo, prostitui- ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
ção etc.) ou jurídica (quando não tem quem o represente). competente.
O menor que pratica ato infracional está em situação Parágrafo único. O adolescente tem direito à identifi-
de risco por estar privado de assistência moral. A situação cação dos responsáveis pela sua apreensão, devendo ser
de risco pode decorrer de ação ou omissão do Poder Pú- informado acerca de seus direitos.
blico; ação ou omissão dos pais ou dos responsáveis; por
conduta própria. Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local
O art. 101 do ECA traz um rol das medidas protetivas onde se encontra recolhido serão incontinenti comunicados
diante da situação de risco. Essas medidas poderão ser à autoridade judiciária competente e à família do apreendi-
aplicadas tanto para a criança quanto para o adolescente. do ou à pessoa por ele indicada.
São elas: Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena de
- encaminhamento da criança e do adolescente aos responsabilidade, a possibilidade de liberação imediata.
pais ou responsáveis, mediante termo ou responsabilidade;

117
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser de- VI - internação em estabelecimento educacional;
terminada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias. VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e § 1º A medida aplicada ao adolescente levará em con-
basear-se em indícios suficientes de autoria e materia- ta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a
lidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida. gravidade da infração.
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será
Art. 109. O adolescente civilmente identificado não admitida a prestação de trabalho forçado.
será submetido a identificação compulsória pelos ór- § 3º Os adolescentes portadores de doença ou defi-
gãos policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito ciência mental receberão tratamento individual e espe-
de confrontação, havendo dúvida fundada. cializado, em local adequado às suas condições.
O adolescente não é preso, é apreendido. Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts.
A internação é a medida mais gravosa para o adoles-
99 e 100.
cente. O ECA permite a internação provisória durante o
processo. É fixado o prazo máximo de 45 dias. Os funda-
Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos
mentos para que o Juiz decrete essa internação provisória
II a VI do art. 112 pressupõe a existência de provas suficien-
são: indícios suficientes de autoria e materialidade e neces-
sidade da medida. tes da autoria e da materialidade da infração, ressalva-
Esse prazo de internação provisória será descontado da a hipótese de remissão, nos termos do art. 127.
na internação definitiva. Em nenhuma hipótese a criança Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada
poderá ser internada. Criança, que é todo aquele menor sempre que houver prova da materialidade e indícios sufi-
de 12 anos, não se sujeita a medida sócio-educativa, mas cientes da autoria.
apenas a medida de proteção.
As medidas socioeducativas dependem de um proce-
Capítulo III dimento judicial, só podendo ser aplicadas pelo Juiz. O ECA
Das Garantias Processuais apresenta dois critérios genéricos para a aplicação de me-
dida socioeducativa:
Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua liber- - capacidade do adolescente para cumprir a medida;
dade sem o devido processo legal. - circunstâncias e gravidade da infração.
A internação é uma exceção, existindo hipóteses legais
Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, para sua aplicação.
as seguintes garantias: A medida de segurança não poderá ser aplicada ao
I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato adolescente, tendo em vista ser medida para maior de ida-
infracional, mediante citação ou meio equivalente; de que apresenta periculosidade. No caso de adolescente
II - igualdade na relação processual, podendo con- doente mental, será aplicada medida de proteção, poden-
frontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as do ser requisitado tratamento médico.
provas necessárias à sua defesa; O Juiz poderá cumular medidas socioeducativas, desde
III - defesa técnica por advogado; que sejam compatíveis (ex.: prestação de serviço à comu-
IV - assistência judiciária gratuita e integral aos ne- nidade cumulada com reparação de danos). Com exceção
cessitados, na forma da lei; da internação, o Juiz poderá substituir as medidas socioe-
V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade ducativas de acordo com o caso concreto, visto não haver
competente;
taxatividade.
VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou
Se o Promotor discordar com a medida socioeducati-
responsável em qualquer fase do procedimento.
va aplicada, deverá entrar com recurso de apelação. Essa
apelação do ECA possui juízo de retratação, ou seja, o Juiz
Capítulo IV
Das Medidas Socioeducativas pode voltar atrás na decisão. O Tribunal competente para
julgar essa apelação é o TJ.
Seção I
Disposições Gerais Seção II
Da Advertência
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autori-
dade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes Art. 115. A advertência consistirá em admoestação
medidas: verbal, que será reduzida a termo e assinada.
I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano; Disposta no art. 115 do ECA, é uma medida sócio-e-
III - prestação de serviços à comunidade; ducativa que consiste em uma admoestação verbal que é
IV - liberdade assistida; aplicada pelo Juiz ao adolescente e que é reduzida a termo.
V - inserção em regime de semi-liberdade; É destinada a atos de menor gravidade.

118
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Para a aplicação da advertência, o Juiz deve levar em § 1º A autoridade designará pessoa capacitada para
consideração a prova da materialidade e indícios suficien- acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por
tes de autoria. É a única medida que o Juiz poderá aplicar entidade ou programa de atendimento.
fundamentando-se somente em indícios de autoria. § 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo míni-
mo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorro-
Seção III gada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o
Da Obrigação de Reparar o Dano orientador, o Ministério Público e o defensor.

Art. 116. Em se tratando de ato infracional com refle- Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a su-
xos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o pervisão da autoridade competente, a realização dos seguin-
caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o ressar- tes encargos, entre outros:
cimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo I - promover socialmente o adolescente e sua família,
da vítima. fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, em
Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência so-
medida poderá ser substituída por outra adequada. cial;
II - supervisionar a frequência e o aproveitamento es-
Obrigação de reparar o dano (art. 116 do ECA). Há um colar do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula;
pressuposto: o ato infracional deve ter causado um dano à III - diligenciar no sentido da profissionalização do ado-
vítima. Essa reparação é para a vítima que sofreu o dano. É lescente e de sua inserção no mercado de trabalho;
uma medida voltada para o adolescente, então deve ser es- IV - apresentar relatório do caso.
tabelecida de acordo com a possibilidade de cumprimento
pelo adolescente (ex.: devolução da coisa furtada, peque- É a última medida em que o adolescente permanece
nos serviços a título de reparação etc.). com sua família. O Juiz irá determinar um acompanhamen-
A jurisprudência admite que essa reparação de dano to permanente ao adolescente, designando, para isso, um
pode ser aplicada à criança (ex.: devolução da coisa furta- orientador, que poderá ser substituído a qualquer tempo. A
da). lei fixa um prazo mínimo de 6 meses para a duração dessa
medida. O orientador terá as seguintes obrigações legais:
Seção IV - promover socialmente o adolescente, bem como a
Da Prestação de Serviços à Comunidade sua família, inserindo-os em programas sociais. Promover
socialmente é fazer com que o adolescente realize ativida-
Art. 117. A prestação de serviços comunitários consis- des valorizadas socialmente (teatro, música etc.);
te na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, - supervisionar a frequência e o aproveitamento esco-
por período não excedente a seis meses, junto a entida- lar do adolescente;
des assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimen- - profissionalizar o adolescente (nos termos da EC n.
tos congêneres, bem como em programas comunitários ou 20);
governamentais. - apresentar relatório do caso ao Juiz.
Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as
aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante jor- Seção VI
nada máxima de oito horas semanais, aos sábados, domin- Do Regime de Semiliberdade
gos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a
frequência à escola ou à jornada normal de trabalho. Art. 120. O regime de semiliberdade pode ser determi-
nado desde o início, ou como forma de transição para o
Disposta no art. 117 do ECA, o adolescente será obri- meio aberto, possibilitada a realização de atividades exter-
gado a prestar serviços em benefício da coletividade. São nas, independentemente de autorização judicial.
tarefas gratuitas de interesse geral junto a entidades as- § 1º São obrigatórias a escolarização e a profissio-
sistenciais, hospitais, escolas ou estabelecimentos congê- nalização, devendo, sempre que possível, ser utilizados os
neres. recursos existentes na comunidade.
Como a medida é mais gravosa, a lei fixa um prazo § 2º A medida não comporta prazo determinado
máximo de 6 meses para essa prestação e um máximo de aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à in-
8 horas semanais. Essas 8 horas poderão ser estabeleci- ternação.
das discricionariamente, desde que não prejudiquem a fre-
quência ao trabalho e à escola. Deverá ser levada em conta Disposta no art. 120 do ECA, é uma medida que impor-
a aptidão do adolescente para a aplicação da medida. ta em privação de liberdade ao adolescente que pratica um
ato infracional mais grave. O adolescente é retirado de sua
Seção V família e colocado em um estabelecimento apropriado de
Da Liberdade Assistida semiliberdade, podendo realizar atividades externas (estu-
dar, trabalhar etc.) somente com autorização do diretor do
Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre estabelecimento, não havendo necessidade de autorização
que se afigurar a medida mais adequada para o fim de judicial. Pode ser usada tanto como medida principal quan-
acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. to como medida progressiva ou regressiva.

119
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

A semiliberdade não tem prazo fixado em lei, nem III - avistar-se reservadamente com seu defensor;
mínimo nem máximo. A doutrina e a jurisprudência deter- IV - ser informado de sua situação processual, sempre
minam a aplicação da medida por analogia dos prazos da que solicitada;
internação, tendo como prazo máximo 3 anos. Há a obri- V - ser tratado com respeito e dignidade;
gatoriedade de escolarização e profissionalização na semi- VI - permanecer internado na mesma localidade ou na-
liberdade. quela mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsá-
vel;
Seção VII VII - receber visitas, ao menos, semanalmente;
Da Internação VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos;
IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio
Art. 121. A internação constitui medida privativa da pessoal;
liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcio- X - habitar alojamento em condições adequadas de hi-
nalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em giene e salubridade;
desenvolvimento. XI - receber escolarização e profissionalização;
§ 1º Será permitida a realização de atividades externas, XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer:
a critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa de- XIII - ter acesso aos meios de comunicação social;
terminação judicial em contrário. XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença,
§ 2º A medida não comporta prazo determinado, de- e desde que assim o deseje;
vendo sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de
fundamentada, no máximo a cada seis meses. local seguro para guardá-los, recebendo comprovante da-
§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de inter- queles porventura depositados em poder da entidade;
nação excederá a três anos. XVI - receber, quando de sua desinternação, os docu-
§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo ante- mentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade.
rior, o adolescente deverá ser liberado, colocado em regi- § 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade.
me de semiliberdade ou de liberdade assistida. § 2º A autoridade judiciária poderá suspender tem-
§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos porariamente a visita, inclusive de pais ou responsável, se
de idade. existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialida-
§ 6º Em qualquer hipótese a desinternação será prece- de aos interesses do adolescente.
dida de autorização judicial, ouvido o Ministério Público.
§ 7o  A determinação judicial mencionada no § 1o pode- Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade física
rá ser revista a qualquer tempo pela autoridade judiciária. e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas ade-
quadas de contenção e segurança.
Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada
quando: Disposta no art. 121 e seguintes do ECA, é a medida re-
I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave servada para os atos infracionais de natureza grave. O ECA
ameaça ou violência a pessoa; estabelece princípios específicos para a internação, pois é
II - por reiteração no cometimento de outras infrações medida de privação de liberdade sempre excepcional.
graves; A internação deve durar o menor tempo possível (prin-
III - por descumprimento reiterado e injustificável da cípio da brevidade), é uma medida de exceção que só de-
medida anteriormente imposta. verá ser utilizada em último caso (princípio da excepcio-
§ 1o  O prazo de internação na hipótese do inciso III nalidade) e deve seguir o princípio do respeito à condição
deste artigo não poderá ser superior a 3 (três) meses, de- peculiar do adolescente como pessoa em desenvolvimen-
vendo ser decretada judicialmente após o devido processo to. Em nenhuma hipótese pode ser aplicada à criança.
legal. O ECA estabelece hipóteses de internação para:
§ 2º Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, - prática de ato infracional mediante grave ameaça ou
havendo outra medida adequada. violência à pessoa;
- reiteração de infrações graves;
Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entida- - descumprimento reiterado e injustificado da medi-
de exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele da anteriormente imposta (é uma hipótese de regressão).
destinado ao abrigo, obedecida rigorosa separação por cri- Neste caso, a internação não pode ultrapassar o prazo de
térios de idade, compleição física e gravidade da infração. 3 meses.
Parágrafo único. Durante o período de internação, inclu- Nas duas primeiras hipóteses, o prazo máximo para in-
sive provisória, serão obrigatórias atividades pedagógicas. ternação é de 3 anos. Por força desse prazo, o ECA poderá
atingir o maior de 18 anos. Em rigor, todas as medidas só-
Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberda- cio-educativas poderão atingir o maior de 18 anos.
de, entre outros, os seguintes: A medida só poderá ser aplicada com o devido pro-
I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do cesso legal e em nenhuma hipótese poderá ser aplicada à
Ministério Público; criança. Quando o adolescente completar 21 anos, a libe-
II - peticionar diretamente a qualquer autoridade; ração será obrigatória. Caso o adolescente tenha passado

120
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

por internação provisória, esses dias serão computados na representação contra o menor. Essa remissão concedida
internação (detração). A diferença entre semi-liberdade e pelo MP é causa de exclusão do processo, visto que, ao
internação é que, nesta, o adolescente depende de auto- conceder a remissão, inexiste o processo.
rização expressa do juiz para praticar atividades externas, Quando a remissão é concedida pelo Juiz, segue-se o
ou seja, o adolescente internado somente se ausentará do seguinte procedimento:
estabelecimento em que se achar se autorizado pelo juiz. - o Promotor oferece a representação;
O art. 123 dispõe que o local para a internação deve - na audiência de apresentação, o menor será ouvido
ser distinto do abrigo, devendo-se obedecer a separação pelo Juiz, que poderá decidir pela remissão;
por idade, composição física (tamanho), sexo e gravidade
- o representante do MP deverá, obrigatoriamente, ser
do ato infracional. Há, também, a obrigatoriedade de reali-
ouvido sobre a possibilidade da remissão antes de ela ser
zação de atividades pedagógicas.
O art. 124 dispõe sobre direitos específicos dos ado- aplicada. A remissão concedida pelo Juiz causa extinção do
lescentes: processo. Havendo discordância por parte do MP, este de-
- entrevista pessoal com o representante do MP; verá ingressar com uma apelação para reformar a decisão
- entrevista reservada com seu defensor, dentre outros. do Juiz.
As visitas podem ser suspensas pelo juiz, sob o funda- Tanto a doutrina quanto a jurisprudência admitem a
mento de segurança e proteção do menor, entretanto, em cumulação da remissão com uma medida sócio-educativa
nenhuma hipótese o menor poderá ficar incomunicável. que seja compatível (ex.: reparação do dano, advertência
etc.). Neste caso, a remissão é causa de suspensão do pro-
Capítulo V cesso.
Da Remissão O ECA traz quatro requisitos genéricos para a aplicação
da remissão, devendo ficar a critério do membro do MP ou
Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial do Juiz a sua concessão. São eles:
para apuração de ato infracional, o representante do - circunstâncias e conseqüências do fato;
Ministério Público poderá conceder a remissão, como - contexto social em que o fato foi praticado;
forma de exclusão do processo, atendendo às circunstâncias - personalidade do agente;
e consequências do fato, ao contexto social, bem como à per- - maior ou menor participação no ato infracional.
sonalidade do adolescente e sua maior ou menor participa-
A remissão, quer concedida pelo MP quer pelo Juiz,
ção no ato infracional.
não implica confissão de culpa. Existe uma divergência na
Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão
da remissão pela autoridade judiciária importará na suspen- doutrina em considerar a remissão como um acordo ou
são ou extinção do processo. não. A posição majoritária entende que a remissão não é
um acordo, tendo em vista a lei falar em concessão e, ain-
Art. 127. A remissão não implica necessariamente o da, pelo fato de não haver nenhum prejuízo para o adoles-
reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, cente, não possuindo a remissão nenhum efeito, podendo
nem prevalece para efeito de antecedentes, podendo in- ser concedida quantas vezes forem necessárias.
cluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas
previstas em lei, exceto a colocação em regime de semi-li- Título IV
berdade e a internação. Das Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsável

Art. 128. A medida aplicada por força da remissão pode- Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:
rá ser revista judicialmente, a qualquer tempo, mediante I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou
pedido expresso do adolescente ou de seu representante le- comunitários de proteção, apoio e promoção da família;
gal, ou do Ministério Público. II - inclusão em programa oficial ou comunitário de au-
xílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
Tem por conceito o perdão, a indulgência ao menor. III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psi-
Podem conceder remissão tanto o MP quanto o Juiz. São
quiátrico;
hipóteses de natureza jurídica diferentes. A remissão ju-
IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
dicial é forma de extinção ou de suspensão do processo
(portanto, pressupõe o processo em curso). Já a remissão V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompa-
ministerial é forma de exclusão do processo (logo, deve nhar sua frequência e aproveitamento escolar;
ser concedida antes do processo - administrativamente). VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente
Quando a remissão é concedida pelo MP, segue-se o se- a tratamento especializado;
guinte procedimento: VII - advertência;
- o menor é ouvido pelo Promotor que concederá a VIII - perda da guarda;
remissão; IX - destituição da tutela;
- o Promotor encaminha a remissão para homologação X - suspensão ou destituição do poder familiar.
pelo Juiz; Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas
- se o Juiz não aceitar a remissão, deverá remeter para nos incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o disposto nos
o Procurador de Justiça, que poderá insistir na remissão arts. 23 e 24.
ou designar outro representante do MP para apresentar

121
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, edu-
ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a auto- cação, serviço social, previdência, trabalho e segurança;
ridade judiciária poderá determinar, como medida cautelar, b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de
o afastamento do agressor da moradia comum. descumprimento injustificado de suas deliberações.
Parágrafo único.  Da medida cautelar constará, ainda, a IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato
fixação provisória dos alimentos de que necessitem a criança que constitua infração administrativa ou penal contra os di-
ou o adolescente dependentes do agressor. reitos da criança ou adolescente;
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua
Capítulo I competência;
Disposições Gerais VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade
judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o
Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e au- adolescente autor de ato infracional;
tônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de VII - expedir notificações;
zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adoles- VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de
cente, definidos nesta Lei. criança ou adolescente quando necessário;
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da
Art. 132.  Em cada Município e em cada Região Admi- proposta orçamentária para planos e programas de atendi-
nistrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um) mento dos direitos da criança e do adolescente;
Conselho Tutelar como órgão integrante da administração X - representar, em nome da pessoa e da família, contra
pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da
pela população local para mandato de 4 (quatro) anos, Constituição Federal;
permitida 1 (uma) recondução, mediante novo processo XI - representar ao Ministério Público para efeito das
de escolha.  ações de perda ou suspensão do poder familiar, após esgota-
das as possibilidades de manutenção da criança ou do ado-
Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho
lescente junto à família natural;
Tutelar, serão exigidos os seguintes requisitos:
XII - promover e incentivar, na comunidade e nos gru-
I - reconhecida idoneidade moral;
pos profissionais, ações de divulgação e treinamento para o
II - idade superior a vinte e um anos;
reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças e
III - residir no município.
adolescentes.
Parágrafo único.  Se, no exercício de suas atribuições, o
Art. 134.  Lei municipal ou distrital disporá sobre o
Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do con-
local, dia e horário de funcionamento do Conselho Tu-
telar, inclusive quanto à remuneração dos respectivos mem- vívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério
bros, aos quais é assegurado o direito a: Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal
I - cobertura previdenciária;  entendimento e as providências tomadas para a orientação,
II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de 1/3 o apoio e a promoção social da família. 
(um terço) do valor da remuneração mensal;
III - licença-maternidade; Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente po-
IV - licença-paternidade;  derão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de
V - gratificação natalina.  quem tenha legítimo interesse.
Parágrafo único.  Constará da lei orçamentária munici-
pal e da do Distrito Federal previsão dos recursos necessários Capítulo III
ao funcionamento do Conselho Tutelar e à remuneração e Da Competência
formação continuada dos conselheiros tutelares.
Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de com-
Art. 135.  O exercício efetivo da função de conselheiro petência constante do art. 147.
constituirá serviço público relevante e estabelecerá presun-
ção de idoneidade moral.  Capítulo IV
Da Escolha dos Conselheiros
Capítulo II
Das Atribuições do Conselho Art. 139. O processo para a escolha dos membros do
Conselho Tutelar será estabelecido em lei municipal e rea-
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: lizado sob a responsabilidade do Conselho Municipal dos
I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses pre- Direitos da Criança e do Adolescente, e a fiscalização do
vistas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no Ministério Público. 
art. 101, I a VII; § 1o  O processo de escolha dos membros do Conse-
II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplican- lho Tutelar ocorrerá em data unificada em todo o territó-
do as medidas previstas no art. 129, I a VII; rio nacional a cada 4 (quatro) anos, no primeiro domingo
III - promover a execução de suas decisões, podendo do mês de outubro do ano subsequente ao da eleição
para tanto: presidencial. 

122
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

§ 2o  A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no dia O homem necessita do convívio social, não é um ser
10 de janeiro do ano subsequente ao processo de escolha.  capaz de viver de maneira autônoma e totalmente des-
§ 3o  No processo de escolha dos membros do Con- vinculada dos demais. Neste sentido, a imposição de re-
selho Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer, pro- gramentos e normas permitiu que a sociedade atingisse o
meter ou entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de atual grau de evolução.
qualquer natureza, inclusive brindes de pequeno valor.  Obviamente, no ambiente social surgem conflitos de
interesses. Afinal, nem sempre os bens e valores existem
Capítulo V em quantidade suficiente para atender a todas as pessoas.
Dos Impedimentos Inicialmente, estes conflitos eram solucionados pelos pró-
prios envolvidos, na denominada fase da autotutela.
Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conse- Contudo, a solução possibilidade pela autotutela era
lho marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro bastante insatisfatória e fazia com que prevalecesse a lei do
e genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio, mais forte. Então, surgiu o Estado apresentando um melhor
tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado. sistema para a solução dos conflitos.
Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conse- O Estado assumiu para si o poder-dever de dizer o Di-
lheiro, na forma deste artigo, em relação à autoridade judi- reito, de solucionar os conflitos, conhecido como jurisdi-
ciária e ao representante do Ministério Público com atuação ção. Assim, o Estado irá elaborar as leis (direito material)
na Justiça da Infância e da Juventude, em exercício na co- e prever como elas serão aplicadas (direito processual). A
marca, foro regional ou distrital. autotutela para a ser punida como regra geral e o Estado
exerce a heterotutela por meio da atividade jurisdicional.
Título VI Jurisdição é o poder-dever do Estado de dizer o Direi-
Do Acesso à Justiça to. Sendo assim, trata-se de atividade estatal exercida por
intermédio de um agente constituído com competência
Capítulo I para exercê-la, o juiz.
Nos primórdios da humanidade não existia o Direito e
Disposições Gerais
nem existiam as leis, de modo que a justiça era feita pelas
próprias mãos, na denominada autotutela. Com a evolução
Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou
das instituições, o Estado avocou para si o poder-dever de
adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público
solucionar os litígios, o que é feito pela jurisdição.
e ao Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos.
O poder-dever de dizer o direito é uno, apenas existin-
§ 1º. A assistência judiciária gratuita será prestada aos
do uma separação de funções: o Legislativo regulamenta
que dela necessitarem, através de defensor público ou ad-
normas gerais e abstratas (função legislativa) e o Judiciário
vogado nomeado. as aplica no caso concreto (função jurisdicional).
§ 2º As ações judiciais da competência da Justiça da Entretanto, vale destacar que na sociedade contempo-
Infância e da Juventude são isentas de custas e emolu- rânea, devido às inúmeras mazelas que se apresentaram
mentos, ressalvada a hipótese de litigância de má-fé. envolvendo o abarrotamento de processos pelo Judiciário,
passou-se a incentivar a adoção de métodos de autocom-
Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão repre- posição, como conciliação, mediação e arbitragem.
sentados e os maiores de dezesseis e menores de vinte e Tradicionalmente, são enumerados pela doutrina os
um anos assistidos por seus pais, tutores ou curadores, na seguintes princípios inerentes à jurisdição: investidura,
forma da legislação civil ou processual. porque somente exerce jurisdição quem ocupa o cargo de
Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador juiz; aderência ao território, posto que juízes somente têm
especial à criança ou adolescente, sempre que os interes- autoridade no território nacional e nos limites de sua com-
ses destes colidirem com os de seus pais ou responsável, ou petência; indelegabilidade, não podendo o Poder Judiciário
quando carecer de representação ou assistência legal ainda delegar sua competência; inafastabilidade, pois a lei não
que eventual. pode excluir da apreciação do Poder Judiciário nenhuma
lesão ou ameaça a direito.
Art. 143. E vedada a divulgação de atos judiciais, po- Embora a jurisdição seja una, em termos doutrinários
liciais e administrativos que digam respeito a crianças e é possível classificá-la: a) quanto ao objeto – penal, traba-
adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional. lhista e civil (a civil é subsidiária, envolvendo todo direito
Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato material que não seja penal ou trabalhista, não somente
não poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-se questões inerentes ao direito civil); b) quanto ao organismo
fotografia, referência a nome, apelido, filiação, parentesco, que a exerce – comum (estadual ou federal) ou especial
residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome.  (trabalhista, militar, eleitoral); c) quanto à hierarquia – su-
perior e inferior.
Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a Neste sentido, com vistas a instrumentalizar a jurisdi-
que se refere o artigo anterior somente será deferida pela ção, impedindo que ela seja exercida de maneira caótica,
autoridade judiciária competente, se demonstrado o interes- ela é distribuída entre juízos e foros (órgãos competentes
se e justificada a finalidade. em localidades determinadas). A esta distribuição das par-
celas de jurisdição dá-se o nome de competência.

123
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

As tutelas jurisdicionais diferenciadas, por sua vez, II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou
são aquelas que apresentam procedimentos diversos do extinção do processo;
comum. Possuem procedimentos ditos especiais, os quais III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes;
buscam garantir um processo mais rápido e compatível IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses indi-
com as necessidades específicas do direito em discussão. viduais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao adolescen-
No âmbito do direito da criança e do adolescente, tem-se te, observado o disposto no art. 209;
o estabelecimento de uma tutela jurisdicional diferenciada, V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em
eis que existem inúmeras regras específicas aplicáveis aos entidades de atendimento, aplicando as medidas cabíveis;
processos que envolvem de algum modo criança ou ado- VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de in-
lescente. frações contra norma de proteção à criança ou adolescente;
A noção de jurisdição inclusiva também se aplica à tu- VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tu-
tela jurisdicional da criança e do adolescente. Basicamente, telar, aplicando as medidas cabíveis.
refere-se à propiciação de uma jurisdição que esteja atenta Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou ado-
às peculiaridades das minorias e dos grupos vulneráveis. lescente nas hipóteses do art. 98, é também competente a
No caso, as crianças e adolescentes são considerados um Justiça da Infância e da Juventude para o fim de:
grupo vulnerável devido à condição especial que ocupam. a) conhecer de pedidos de guarda e tutela;
b) conhecer de ações de destituição do poder familiar,
Capítulo II perda ou modificação da tutela ou guarda; 
Da Justiça da Infância e da Juventude c) suprir a capacidade ou o consentimento para o casa-
mento;
Seção I d) conhecer de pedidos baseados em discordância pater-
Disposições Gerais na ou materna, em relação ao exercício do poder familiar; 
e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil,
Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar quando faltarem os pais;
varas especializadas e exclusivas da infância e da juventude, f) designar curador especial em casos de apresentação
cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionali- de queixa ou representação, ou de outros procedimentos ju-
dade por número de habitantes, dotá-las de infra-estrutura e diciais ou extrajudiciais em que haja interesses de criança ou
dispor sobre o atendimento, inclusive em plantões. adolescente;
g) conhecer de ações de alimentos;
Seção II h) determinar o cancelamento, a retificação e o supri-
Do Juiz mento dos registros de nascimento e óbito.

Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz da Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar,
Infância e da Juventude, ou o juiz que exerce essa função, na através de portaria, ou autorizar, mediante alvará:
forma da lei de organização judiciária local. I - a entrada e permanência de criança ou adolescente,
desacompanhado dos pais ou responsável, em:
Art. 147. A competência será determinada: a) estádio, ginásio e campo desportivo;
I - pelo domicílio dos pais ou responsável; b) bailes ou promoções dançantes;
II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, c) boate ou congêneres;
à falta dos pais ou responsável. d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas;
§ 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão.
autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas as re- II - a participação de criança e adolescente em:
gras de conexão, continência e prevenção. a) espetáculos públicos e seus ensaios;
§ 2º A execução das medidas poderá ser delegada à b) certames de beleza.
autoridade competente da residência dos pais ou respon- § 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade
sável, ou do local onde sediar-se a entidade que abrigar a judiciária levará em conta, dentre outros fatores:
criança ou adolescente. a) os princípios desta Lei;
§ 3º Em caso de infração cometida através de trans- b) as peculiaridades locais;
missão simultânea de rádio ou televisão, que atinja mais c) a existência de instalações adequadas;
de uma comarca, será competente, para aplicação da pe- d) o tipo de freqüência habitual ao local;
nalidade, a autoridade judiciária do local da sede estadual e) a adequação do ambiente a eventual participação ou
da emissora ou rede, tendo a sentença eficácia para todas freqüência de crianças e adolescentes;
as transmissoras ou retransmissoras do respectivo estado. f) a natureza do espetáculo.
§ 2º As medidas adotadas na conformidade deste ar-
Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é compe- tigo deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as
tente para: determinações de caráter geral.
I - conhecer de representações promovidas pelo Minis-
tério Público, para apuração de ato infracional atribuído a Seção III
adolescente, aplicando as medidas cabíveis; Dos Serviços Auxiliares

124
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua A tutela sócio-educativa abrange aspectos do direito
proposta orçamentária, prever recursos para manutenção de da criança e do adolescente voltados às atividades de en-
equipe interprofissional, destinada a assessorar a Justiça da sino e aprendizagem, tanto no que se refere à educação
Infância e da Juventude. formal quanto em relação à educação informal.
A tutela coletiva volta-se à proteção de direitos difu-
Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre ou- sos e coletivos da criança e do adolescente. Aos direitos
tras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação lo- difusos e coletivos são conferidos mecanismos de tutela
cal, fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou ver- específicos para sua proteção, bem como atribuída com-
balmente, na audiência, e bem assim desenvolver trabalhos petência para tanto a órgãos determinados que exercerão
de aconselhamento, orientação, encaminhamento, preven- um papel representativo. No Brasil, destacam-se institui-
ção e outros, tudo sob a imediata subordinação à autoridade ções como o Ministério Público e a Defensoria Pública. Sem
judiciária, assegurada a livre manifestação do ponto de vista prejuízo, como visto, há remédios constitucionais que se
voltam à proteção de interesses desta categoria, como o
técnico.
mandado de segurança coletivo e a própria ação popu-
Parágrafo único. Na ausência ou insuficiência de servi-
lar, sem falar na ação civil pública, também mencionada no
dores públicos integrantes do Poder Judiciário responsáveis
texto constitucional.
pela realização dos estudos psicossociais ou de quaisquer
Considerados os diferentes tipos de tutelas inseridas
outras espécies de avaliações técnicas exigidas por esta Lei no direito da criança e do adolescente, justifica-se a tutela
ou por determinação judicial, a autoridade judiciária poderá jurisdicional diferenciada, adaptada à condição em desen-
proceder à nomeação de perito, nos termos do art. 156 da volvimento da criança e do adolescente, que deve ser ágil,
Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo efetiva, atenta às peculiaridades do caso concreto.
Civil). Os procedimentos especiais do ECA se referem a: per-
da e suspensão de poder familiar, destituição de tutela, co-
Capítulo III locação em família substituta, apuração de ato infracional
Dos Procedimentos atribuído a adolescente, apuração de irregularidades em
atendimento, apuração de infração administrativa às nor-
Seção I mas de proteção da criança e do adolescente e habilitação
Disposições Gerais em adoção.

Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei apli- Seção II


cam-se subsidiariamente as normas gerais previstas na Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar
legislação processual pertinente.
§ 1o É assegurada, sob pena de responsabilidade, prio- Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão
ridade absoluta na tramitação dos processos e proce- do poder familiar terá início por provocação do Ministério
dimentos previstos nesta Lei, assim como na execução dos Público ou de quem tenha legítimo interesse.
atos e diligências judiciais a eles referentes. 
§ 2º Os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis aos Art. 156. A petição inicial indicará:
seus procedimentos são contados em dias corridos, ex- I - a autoridade judiciária a que for dirigida;
cluído o dia do começo e incluído o dia do vencimento, veda- II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência do
do o prazo em dobro para a Fazenda Pública e o Ministério requerente e do requerido, dispensada a qualificação em se
Público. tratando de pedido formulado por representante do Minis-
tério Público;
III - a exposição sumária do fato e o pedido;
Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não cor-
IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde
responder a procedimento previsto nesta ou em outra lei, a
logo, o rol de testemunhas e documentos.
autoridade judiciária poderá investigar os fatos e ordenar
de ofício as providências necessárias, ouvido o Ministé- Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade
rio Público. judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar a suspensão
Parágrafo único.  O disposto neste artigo não se aplica do poder familiar, liminar ou incidentalmente, até o julga-
para o fim de afastamento da criança ou do adolescente de mento definitivo da causa, ficando a criança ou adolescente
sua família de origem e em outros procedimentos necessa- confiado a pessoa idônea, mediante termo de responsabili-
riamente contenciosos.  dade. 
§ 1o Recebida a petição inicial, a autoridade judiciária
Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214. determinará, concomitantemente ao despacho de citação e
independentemente de requerimento do interessado, a reali-
A tutela sócio-individual abrange aspectos do direito zação de estudo social ou perícia por equipe interprofissional
da criança e do adolescente voltado à criança e ao ado- ou multidisciplinar para comprovar a presença de uma das
lescente individualmente concebidos, isto é, pensados causas de suspensão ou destituição do poder familiar, ressal-
como sujeitos de direitos individuais que possam ser por vado o disposto no § 10 do art. 101 desta Lei, e observada a
eles exercidos. Lei no 13.431, de 4 de abril de 2017.

125
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

§ 2o Em sendo os pais oriundos de comunidades indíge- § 4º É obrigatória a oitiva dos pais sempre que eles
nas, é ainda obrigatória a intervenção, junto à equipe inter- forem identificados e estiverem em local conhecido, ressal-
profissional ou multidisciplinar referida no § 1o deste artigo, vados os casos de não comparecimento perante a Justiça
de representantes do órgão federal responsável pela política quando devidamente citados.
indigenista, observado o disposto no § 6o do art. 28 desta Lei. § 5o Se o pai ou a mãe estiverem privados de liberda-
de, a autoridade judicial requisitará sua apresentação para
Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de dez a oitiva.
dias, oferecer resposta escrita, indicando as provas a serem
produzidas e oferecendo desde logo o rol de testemunhas Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judi-
e documentos. ciária dará vista dos autos ao Ministério Público, por
§ 1º A citação será pessoal, salvo se esgotados todos os cinco dias, salvo quando este for o requerente, designando,
meios para sua realização. desde logo, audiência de instrução e julgamento.
§ 1º (Revogado).
§ 2º O requerido privado de liberdade deverá ser cita-
§ 2o Na audiência, presentes as partes e o Ministério Pú-
do pessoalmente.
blico, serão ouvidas as testemunhas, colhendo-se oralmen-
§ 3o Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça hou-
te o parecer técnico, salvo quando apresentado por escrito,
ver procurado o citando em seu domicílio ou residência sem manifestando-se sucessivamente o requerente, o requerido e
o encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, infor- o Ministério Público, pelo tempo de 20 (vinte) minutos cada
mar qualquer pessoa da família ou, em sua falta, qualquer um, prorrogável por mais 10 (dez) minutos.
vizinho do dia útil em que voltará a fim de efetuar a citação, § 3o A decisão será proferida na audiência, podendo a
na hora que designar, nos termos do art. 252 e seguintes da autoridade judiciária, excepcionalmente, designar data para
Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo sua leitura no prazo máximo de 5 (cinco) dias.
Civil). § 4o Quando o procedimento de destituição de poder fa-
§ 4o Na hipótese de os genitores encontrarem-se em lo- miliar for iniciado pelo Ministério Público, não haverá neces-
cal incerto ou não sabido, serão citados por edital no prazo sidade de nomeação de curador especial em favor da criança
de 10 (dez) dias, em publicação única, dispensado o envio de ou adolescente.
ofícios para a localização.
Art. 163. O prazo máximo para conclusão do proce-
Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de cons- dimento será de 120 (cento e vinte) dias, e caberá ao juiz,
tituir advogado, sem prejuízo do próprio sustento e de sua no caso de notória inviabilidade de manutenção do poder
família, poderá requerer, em cartório, que lhe seja nomea- familiar, dirigir esforços para preparar a criança ou o adoles-
do dativo, ao qual incumbirá a apresentação de resposta, cente com vistas à colocação em família substituta.
contando-se o prazo a partir da intimação do despacho de Parágrafo único. A sentença que decretar a perda ou
nomeação. a suspensão do poder familiar será averbada à margem do
Parágrafo único. Na hipótese de requerido privado de registro de nascimento da criança ou do adolescente.
liberdade, o oficial de justiça deverá perguntar, no momento
da citação pessoal, se deseja que lhe seja nomeado defensor. Seção III
Da Destituição da Tutela
Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária re-
quisitará de qualquer repartição ou órgão público a apre- Art. 164. Na destituição da tutela, observar-se-á o pro-
cedimento para a remoção de tutor previsto na lei proces-
sentação de documento que interesse à causa, de ofício ou
sual civil e, no que couber, o disposto na seção anterior.
a requerimento das partes ou do Ministério Público.
A destituição da tutela pode, assim, ser decretada ju-
Art. 161. Se não for contestado o pedido e tiver sido dicialmente, em procedimento contraditório, nos casos
concluído o estudo social ou a perícia realizada por equi- previstos na legislação civil, bem como na hipótese de des-
pe interprofissional ou multidisciplinar, a autoridade judi- cumprimento injustificado dos deveres e obrigações.
ciária dará vista dos autos ao Ministério Público, por 5
(cinco) dias, salvo quando este for o requerente, e decidirá Seção IV
em igual prazo. Da Colocação em Família Substituta
§ 1º A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimen-
to das partes ou do Ministério Público, determinará a oi- Dos artigos 165 a 170 estão descritos procedimentos
tiva de testemunhas que comprovem a presença de uma adotados na colocação em família substituta:
das causas de suspensão ou destituição do poder familiar
previstas nos arts. 1.637 e 1.638 da Lei no 10.406, de 10 de Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos de
janeiro de 2002 (Código Civil), ou no art. 24 desta Lei. colocação em família substituta:
§ 2o (Revogado). I - qualificação completa do requerente e de seu even-
§ 3o Se o pedido importar em modificação de guarda, será tual cônjuge, ou companheiro, com expressa anuência deste;
obrigatória, desde que possível e razoável, a oitiva da criança II - indicação de eventual parentesco do requerente e de
ou adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e seu cônjuge, ou companheiro, com a criança ou adolescente,
grau de compreensão sobre as implicações da medida. especificando se tem ou não parente vivo;

126
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

III - qualificação completa da criança ou adolescente e Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo pe-
de seus pais, se conhecidos; ricial, e ouvida, sempre que possível, a criança ou o adoles-
IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento, cente, dar-se-á vista dos autos ao Ministério Público, pelo
anexando, se possível, uma cópia da respectiva certidão; prazo de cinco dias, decidindo a autoridade judiciária em
V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou igual prazo.
rendimentos relativos à criança ou ao adolescente.
Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar-se- Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tutela, a
-ão também os requisitos específicos. perda ou a suspensão do poder familiar constituir pressupos-
to lógico da medida principal de colocação em família subs-
Art. 166.  Se os pais forem falecidos, tiverem sido tituta, será observado o procedimento contraditório previsto
destituídos ou suspensos do poder familiar, ou houve- nas Seções II e III deste Capítulo.  
rem aderido expressamente ao pedido de colocação em Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda
família substituta, este poderá ser formulado diretamente poderá ser decretada nos mesmos autos do procedimento,
em cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes, observado o disposto no art. 35.
dispensada a assistência de advogado. 
§ 1o Na hipótese de concordância dos pais, o juiz: Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar-se-á
I - na presença do Ministério Público, ouvirá as partes, o disposto no art. 32, e, quanto à adoção, o contido no art.
devidamente assistidas por advogado ou por defensor públi- 47.
co, para verificar sua concordância com a adoção, no prazo Parágrafo único.  A colocação de criança ou adolescen-
máximo de 10 (dez) dias, contado da data do protocolo da te sob a guarda de pessoa inscrita em programa de acolhi-
petição ou da entrega da criança em juízo, tomando por ter- mento familiar será comunicada pela autoridade judiciária à
mo as declarações; e entidade por este responsável no prazo máximo de 5 (cinco)
II - declarará a extinção do poder familiar. dias.  
§ 2o O consentimento dos titulares do poder familiar será
precedido de orientações e esclarecimentos prestados pela Seção V
equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Juventu- Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a Ado-
de, em especial, no caso de adoção, sobre a irrevogabilidade lescente
da medida.
§ 3o São garantidos a livre manifestação de vontade Art. 171. O adolescente apreendido por força de ordem
dos detentores do poder familiar e o direito ao sigilo das judicial será, desde logo, encaminhado à autoridade judiciá-
informações. ria.
§ 4o O consentimento prestado por escrito não terá va-
lidade se não for ratificado na audiência a que se refere o § Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de ato
1o deste artigo. infracional será, desde logo, encaminhado à autoridade po-
§ 5o O consentimento é retratável até a data da reali- licial competente.
zação da audiência especificada no § 1o deste artigo, e os Parágrafo único. Havendo repartição policial especiali-
pais podem exercer o arrependimento no prazo de 10 (dez) zada para atendimento de adolescente e em se tratando de
dias, contado da data de prolação da sentença de extinção ato infracional praticado em co-autoria com maior, prevale-
do poder familiar. cerá a atribuição da repartição especializada, que, após as
§ 6o O consentimento somente terá valor se for dado providências necessárias e conforme o caso, encaminhará o
após o nascimento da criança. adulto à repartição policial própria.
§ 7o A família natural e a família substituta receberão
a devida orientação por intermédio de equipe técnica inter- Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional come-
profissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, tido mediante violência ou grave ameaça a pessoa, a auto-
preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela ridade policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106, pará-
execução da política municipal de garantia do direito à con- grafo único, e 107, deverá:
vivência familiar. I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e
o adolescente;
Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a reque- II - apreender o produto e os instrumentos da infração;
rimento das partes ou do Ministério Público, determinará a III - requisitar os exames ou perícias necessários à com-
realização de estudo social ou, se possível, perícia por equi- provação da materialidade e autoria da infração.
pe interprofissional, decidindo sobre a concessão de guarda Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante,
provisória, bem como, no caso de adoção, sobre o estágio de a lavratura do auto poderá ser substituída por boletim de
convivência. ocorrência circunstanciada.
Parágrafo único.  Deferida a concessão da guarda pro-
visória ou do estágio de convivência, a criança ou o ado- Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsá-
lescente será entregue ao interessado, mediante termo de vel, o adolescente será prontamente liberado pela autorida-
responsabilidade.   de policial, sob termo de compromisso e responsabilidade de
sua apresentação ao representante do Ministério Público, no

127
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil ime- Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou con-
diato, exceto quando, pela gravidade do ato infracional e cedida a remissão pelo representante do Ministério Público,
sua repercussão social, deva o adolescente permanecer sob mediante termo fundamentado, que conterá o resumo dos
internação para garantia de sua segurança pessoal ou ma- fatos, os autos serão conclusos à autoridade judiciária para
nutenção da ordem pública. homologação.
§ 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a au-
Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade poli- toridade judiciária determinará, conforme o caso, o cum-
cial encaminhará, desde logo, o adolescente ao representan- primento da medida.
§ 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa
te do Ministério Público, juntamente com cópia do auto de
dos autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante des-
apreensão ou boletim de ocorrência.
pacho fundamentado, e este oferecerá representação, de-
§ 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a au-
signará outro membro do Ministério Público para apresen-
toridade policial encaminhará o adolescente à entidade de tá-la, ou ratificará o arquivamento ou a remissão, que só
atendimento, que fará a apresentação ao representante do então estará a autoridade judiciária obrigada a homologar.
Ministério Público no prazo de vinte e quatro horas.
§ 2º Nas localidades onde não houver entidade de Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do Mi-
atendimento, a apresentação far-se-á pela autoridade po- nistério Público não promover o arquivamento ou conceder
licial. À falta de repartição policial especializada, o adoles- a remissão, oferecerá representação à autoridade judiciária,
cente aguardará a apresentação em dependência separada propondo a instauração de procedimento para aplicação da
da destinada a maiores, não podendo, em qualquer hipó- medida sócio-educativa que se afigurar a mais adequada.
tese, exceder o prazo referido no parágrafo anterior. § 1º A representação será oferecida por petição, que
conterá o breve resumo dos fatos e a classificação do ato
Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade po- infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas, po-
licial encaminhará imediatamente ao representante do Mi- dendo ser deduzida oralmente, em sessão diária instalada
nistério Público cópia do auto de apreensão ou boletim de pela autoridade judiciária.
ocorrência. § 2º A representação independe de prova pré-consti-
tuída da autoria e materialidade.
Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver in-
Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a con-
dícios de participação de adolescente na prática de ato infra-
clusão do procedimento, estando o adolescente internado
cional, a autoridade policial encaminhará ao representante
provisoriamente, será de quarenta e cinco dias.
do Ministério Público relatório das investigações e demais
documentos. Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judi-
ciária designará audiência de apresentação do adolescente,
Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de decidindo, desde logo, sobre a decretação ou manutenção
ato infracional não poderá ser conduzido ou transportado da internação, observado o disposto no art. 108 e parágrafo.
em compartimento fechado de veículo policial, em condições § 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão
atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua cientificados do teor da representação, e notificados a
integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade. comparecer à audiência, acompanhados de advogado.
§ 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, a
Art. 179. Apresentado o adolescente, o representante autoridade judiciária dará curador especial ao adolescente.
do Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto de § 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade
apreensão, boletim de ocorrência ou relatório policial, devi- judiciária expedirá mandado de busca e apreensão, deter-
damente autuados pelo cartório judicial e com informação minando o sobrestamento do feito, até a efetiva apresen-
sobre os antecedentes do adolescente, procederá imediata e tação.
informalmente à sua oitiva e, em sendo possível, de seus pais § 4º Estando o adolescente internado, será requisitada
ou responsável, vítima e testemunhas. a sua apresentação, sem prejuízo da notificação dos pais
ou responsável.
Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o repre-
sentante do Ministério Público notificará os pais ou respon-
Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela au-
sável para apresentação do adolescente, podendo requisitar toridade judiciária, não poderá ser cumprida em estabeleci-
o concurso das polícias civil e militar. mento prisional.
§ 1º Inexistindo na comarca entidade com as carac-
Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo terísticas definidas no art. 123, o adolescente deverá ser
anterior, o representante do Ministério Público poderá: imediatamente transferido para a localidade mais próxima.
I - promover o arquivamento dos autos; § 2º Sendo impossível a pronta transferência, o adoles-
II - conceder a remissão; cente aguardará sua remoção em repartição policial, desde
III - representar à autoridade judiciária para aplicação que em seção isolada dos adultos e com instalações apro-
de medida sócio-educativa. priadas, não podendo ultrapassar o prazo máximo de cinco
dias, sob pena de responsabilidade.

128
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou res- Seção V-A


ponsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos mes- Da Infiltração de Agentes de Polícia para a Investi-
mos, podendo solicitar opinião de profissional qualificado. gação de Crimes contra a Dignidade Sexual de Criança
§ 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a e de Adolescente
remissão, ouvirá o representante do Ministério Público,
proferindo decisão. Art. 190-A. A infiltração de agentes de polícia na inter-
§ 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medi- net com o fim de investigar os crimes previstos nos arts. 240,
da de internação ou colocação em regime de semi-liberda- 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-
A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7
de, a autoridade judiciária, verificando que o adolescente
de dezembro de 1940 (Código Penal), obedecerá às seguin-
não possui advogado constituído, nomeará defensor, de-
tes regras:
signando, desde logo, audiência em continuação, podendo
I – será precedida de autorização judicial devidamente
determinar a realização de diligências e estudo do caso. circunstanciada e fundamentada, que estabelecerá os limites
§ 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado, da infiltração para obtenção de prova, ouvido o Ministério
no prazo de três dias contado da audiência de apresenta- Público;
ção, oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas. II – dar-se-á mediante requerimento do Ministério Pú-
§ 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemu- blico ou representação de delegado de polícia e conterá a
nhas arroladas na representação e na defesa prévia, cum- demonstração de sua necessidade, o alcance das tarefas dos
pridas as diligências e juntado o relatório da equipe inter- policiais, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e,
profissional, será dada a palavra ao representante do Mi- quando possível, os dados de conexão ou cadastrais que per-
nistério Público e ao defensor, sucessivamente, pelo tempo mitam a identificação dessas pessoas;
de vinte minutos para cada um, prorrogável por mais dez, III – não poderá exceder o prazo de 90 (noventa) dias,
a critério da autoridade judiciária, que em seguida proferirá sem prejuízo de eventuais renovações, desde que o total não
decisão. exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja demonstrada
sua efetiva necessidade, a critério da autoridade judicial.
Art. 187. Se o adolescente, devidamente notificado, não § 1º A autoridade judicial e o Ministério Público pode-
comparecer, injustificadamente à audiência de apresenta- rão requisitar relatórios parciais da operação de infiltração
ção, a autoridade judiciária designará nova data, determi- antes do término do prazo de que trata o inciso II do § 1º
deste artigo.
nando sua condução coercitiva.
§ 2º Para efeitos do disposto no inciso I do § 1º deste
artigo, consideram-se:
Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou sus- I – dados de conexão: informações referentes a hora,
pensão do processo, poderá ser aplicada em qualquer fase data, início, término, duração, endereço de Protocolo de In-
do procedimento, antes da sentença. ternet (IP) utilizado e terminal de origem da conexão;
II – dados cadastrais: informações referentes a nome e
Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer endereço de assinante ou de usuário registrado ou autenti-
medida, desde que reconheça na sentença: cado para a conexão a quem endereço de IP, identificação
I - estar provada a inexistência do fato; de usuário ou código de acesso tenha sido atribuído no mo-
II - não haver prova da existência do fato; mento da conexão.
III - não constituir o fato ato infracional; § 3º A infiltração de agentes de polícia na internet não
IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido será admitida se a prova puder ser obtida por outros meios.
para o ato infracional.
Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o Art. 190-B. As informações da operação de infiltração
adolescente internado, será imediatamente colocado em li- serão encaminhadas diretamente ao juiz responsável pela
berdade. autorização da medida, que zelará por seu sigilo.
Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o
Art. 190. A intimação da sentença que aplicar medida de acesso aos autos será reservado ao juiz, ao Ministério Públi-
co e ao delegado de polícia responsável pela operação, com
internação ou regime de semi-liberdade será feita:
o objetivo de garantir o sigilo das investigações.
I - ao adolescente e ao seu defensor;
II - quando não for encontrado o adolescente, a seus pais
Art. 190-C. Não comete crime o policial que oculta a
ou responsável, sem prejuízo do defensor. sua identidade para, por meio da internet, colher indícios de
§ 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-se- autoria e materialidade dos crimes previstos nos arts. 240,
-á unicamente na pessoa do defensor. 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-
§ 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescen- A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7
te, deverá este manifestar se deseja ou não recorrer da de dezembro de 1940 (Código Penal).
sentença. Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar
de observar a estrita finalidade da investigação responderá
pelos excessos praticados.

129
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Art. 190-D. Os órgãos de registro e cadastro público po- Seção VII


derão incluir nos bancos de dados próprios, mediante pro- Da Apuração de Infração Administrativa às Nor-
cedimento sigiloso e requisição da autoridade judicial, as mas de Proteção à Criança e ao Adolescente
informações necessárias à efetividade da identidade fictícia
criada. Art. 194. O procedimento para imposição de penalidade
Parágrafo único. O procedimento sigiloso de que trata administrativa por infração às normas de proteção à criança
esta Seção será numerado e tombado em livro específico. e ao adolescente terá início por representação do Ministério
Público, ou do Conselho Tutelar, ou auto de infração elabo-
rado por servidor efetivo ou voluntário credenciado, e assi-
Art. 190-E. Concluída a investigação, todos os atos ele-
nado por duas testemunhas, se possível.
trônicos praticados durante a operação deverão ser registra-
§ 1º No procedimento iniciado com o auto de infração,
dos, gravados, armazenados e encaminhados ao juiz e ao
poderão ser usadas fórmulas impressas, especificando-se a
Ministério Público, juntamente com relatório circunstanciado. natureza e as circunstâncias da infração.
Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados citados § 2º Sempre que possível, à verificação da infração se-
no caput deste artigo serão reunidos em autos apartados e guir-se-á a lavratura do auto, certificando-se, em caso con-
apensados ao processo criminal juntamente com o inquéri- trário, dos motivos do retardamento.
to policial, assegurando-se a preservação da identidade do
agente policial infiltrado e a intimidade das crianças e dos Art. 195. O requerido terá prazo de dez dias para apresen-
adolescentes envolvidos. tação de defesa, contado da data da intimação, que será feita:
I - pelo autuante, no próprio auto, quando este for lavra-
Seção VI do na presença do requerido;
Da Apuração de Irregularidades em Entidade de II - por oficial de justiça ou funcionário legalmente habi-
Atendimento litado, que entregará cópia do auto ou da representação ao
requerido, ou a seu representante legal, lavrando certidão;
Art. 191. O procedimento de apuração de irregularida- III - por via postal, com aviso de recebimento, se não for
des em entidade governamental e não-governamental terá encontrado o requerido ou seu representante legal;
início mediante portaria da autoridade judiciária ou repre- IV - por edital, com prazo de trinta dias, se incerto ou
sentação do Ministério Público ou do Conselho Tutelar, onde não sabido o paradeiro do requerido ou de seu representante
legal.
conste, necessariamente, resumo dos fatos.
Parágrafo único. Havendo motivo grave, poderá a auto-
Art. 196. Não sendo apresentada a defesa no prazo le-
ridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar limi- gal, a autoridade judiciária dará vista dos autos do Ministé-
narmente o afastamento provisório do dirigente da entidade, rio Público, por cinco dias, decidindo em igual prazo.
mediante decisão fundamentada.
Art. 197. Apresentada a defesa, a autoridade judiciária
Art. 192. O dirigente da entidade será citado para, no procederá na conformidade do artigo anterior, ou, sendo ne-
prazo de dez dias, oferecer resposta escrita, podendo juntar cessário, designará audiência de instrução e julgamento.
documentos e indicar as provas a produzir. Parágrafo único. Colhida a prova oral, manifestar-se-ão
sucessivamente o Ministério Público e o procurador do re-
Art. 193. Apresentada ou não a resposta, e sendo neces- querido, pelo tempo de vinte minutos para cada um, prorro-
sário, a autoridade judiciária designará audiência de instru- gável por mais dez, a critério da autoridade judiciária, que
ção e julgamento, intimando as partes. em seguida proferirá sentença.
§ 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o
Ministério Público terão cinco dias para oferecer alegações Seção VIII
finais, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo. Da Habilitação de Pretendentes à Adoção
§ 2º Em se tratando de afastamento provisório ou de-
finitivo de dirigente de entidade governamental, a auto- Art. 197-A.  Os postulantes à adoção, domiciliados no
Brasil, apresentarão petição inicial na qual conste: 
ridade judiciária oficiará à autoridade administrativa ime-
I - qualificação completa; 
diatamente superior ao afastado, marcando prazo para a
II - dados familiares; 
substituição.
III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou
§ 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a autorida- casamento, ou declaração relativa ao período de união es-
de judiciária poderá fixar prazo para a remoção das irregu- tável; 
laridades verificadas. Satisfeitas as exigências, o processo IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Ca-
será extinto, sem julgamento de mérito. dastro de Pessoas Físicas; 
§ 4º A multa e a advertência serão impostas ao dirigen- V - comprovante de renda e domicílio; 
te da entidade ou programa de atendimento. VI - atestados de sanidade física e mental; 
VII - certidão de antecedentes criminais; 
VIII - certidão negativa de distribuição cível. 

130
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Art. 197-B.  A autoridade judiciária, no prazo de 48 § 1o A ordem cronológica das habilitações somente po-
(quarenta e oito) horas, dará vista dos autos ao Ministério derá deixar de ser observada pela autoridade judiciária nas
Público, que no prazo de 5 (cinco) dias poderá:  hipóteses previstas no § 13 do art. 50 desta Lei, quando com-
I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equipe provado ser essa a melhor solução no interesse do adotando.
interprofissional encarregada de elaborar o estudo técnico a § 2o A habilitação à adoção deverá ser renovada no mí-
que se refere o art. 197-C desta Lei;  nimo trienalmente mediante avaliação por equipe interpro-
II - requerer a designação de audiência para oitiva dos fissional.
postulantes em juízo e testemunhas;  § 3o Quando o adotante candidatar-se a uma nova ado-
III - requerer a juntada de documentos complementares ção, será dispensável a renovação da habilitação, bastando
e a realização de outras diligências que entender necessárias.  a avaliação por equipe interprofissional.
§ 4o Após 3 (três) recusas injustificadas, pelo habilitado, à
Art. 197-C.  Intervirá no feito, obrigatoriamente, equi- adoção de crianças ou adolescentes indicados dentro do per-
pe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da fil escolhido, haverá reavaliação da habilitação concedida.
Juventude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que con- § 5o A desistência do pretendente em relação à guarda
terá subsídios que permitam aferir a capacidade e o prepa- para fins de adoção ou a devolução da criança ou do adoles-
ro dos postulantes para o exercício de uma paternidade ou cente depois do trânsito em julgado da sentença de adoção
maternidade responsável, à luz dos requisitos e princípios importará na sua exclusão dos cadastros de adoção.
desta Lei. 
§ 1o É obrigatória a participação dos postulantes em Art. 197-F. O prazo máximo para conclusão da habili-
programa oferecido pela Justiça da Infância e da Juventu- tação à adoção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável
de, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis por igual período, mediante decisão fundamentada da auto-
pela execução da política municipal de garantia do direito ridade judiciária.
à convivência familiar e dos grupos de apoio à adoção devi-
damente habilitados perante a Justiça da Infância e da Ju- Capítulo IV
Dos Recursos
ventude, que inclua preparação psicológica, orientação e es-
tímulo à adoção inter-racial, de crianças ou de adolescentes
Art. 198.  Nos procedimentos afetos à Justiça da Infância
com deficiência, com doenças crônicas ou com necessidades
e da Juventude, inclusive os relativos à execução das me-
específicas de saúde, e de grupos de irmãos.
didas socioeducativas, adotar-se-á o sistema recursal da Lei
§ 2o Sempre que possível e recomendável, a etapa obri-
no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Ci-
gatória da preparação referida no § 1o deste artigo incluirá
vil), com as seguintes adaptações: (Redação dada pela Lei nº
o contato com crianças e adolescentes em regime de acolhi- 12.594, de 2012)
mento familiar ou institucional, a ser realizado sob orien- I - os recursos serão interpostos independentemente de
tação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça preparo;
da Infância e da Juventude e dos grupos de apoio à adoção, II - em todos os recursos, salvo nos embargos de decla-
com apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de aco- ração, o prazo para o Ministério Público e para a defesa será
lhimento familiar e institucional e pela execução da política sempre de 10 (dez) dias; (Redação dada pela Lei nº 12.594,
municipal de garantia do direito à convivência familiar. de 2012)
§ 3o É recomendável que as crianças e os adolescentes III - os recursos terão preferência de julgamento e dis-
acolhidos institucionalmente ou por família acolhedora se- pensarão revisor;
jam preparados por equipe interprofissional antes da inclu- VII - antes de determinar a remessa dos autos à superior
são em família adotiva. instância, no caso de apelação, ou do instrumento, no caso
de agravo, a autoridade judiciária proferirá despacho funda-
Art. 197-D.  Certificada nos autos a conclusão da par- mentado, mantendo ou reformando a decisão, no prazo de
ticipação no programa referido no art. 197-C desta Lei, a cinco dias;
autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) ho- VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o escri-
ras, decidirá acerca das diligências requeridas pelo Ministé- vão remeterá os autos ou o instrumento à superior instância
rio Público e determinará a juntada do estudo psicossocial, dentro de vinte e quatro horas, independentemente de novo
designando, conforme o caso, audiência de instrução e jul- pedido do recorrente; se a reformar, a remessa dos autos
gamento.  dependerá de pedido expresso da parte interessada ou do
Parágrafo único.  Caso não sejam requeridas diligências, Ministério Público, no prazo de cinco dias, contados da in-
ou sendo essas indeferidas, a autoridade judiciária determi- timação.
nará a juntada do estudo psicossocial, abrindo a seguir vista
dos autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias, decidindo Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no art.
em igual prazo.  149 caberá recurso de apelação.

Art. 197-E.  Deferida a habilitação, o postulante será ins- Art. 199-A.  A sentença que deferir a adoção produz efei-
crito nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei, sendo a to desde logo, embora sujeita a apelação, que será recebida
sua convocação para a adoção feita de acordo com ordem exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se se tratar de
cronológica de habilitação e conforme a disponibilidade de adoção internacional ou se houver perigo de dano irrepará-
crianças ou adolescentes adotáveis.  vel ou de difícil reparação ao adotando. 

131
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Art. 199-B.  A sentença que destituir ambos ou qualquer c) requisitar informações e documentos a particulares e
dos genitores do poder familiar fica sujeita a apelação, que instituições privadas;
deverá ser recebida apenas no efeito devolutivo.  VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências inves-
tigatórias e determinar a instauração de inquérito policial,
Art. 199-C.  Os recursos nos procedimentos de adoção e para apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção
de destituição de poder familiar, em face da relevância das à infância e à juventude;
questões, serão processados com prioridade absoluta, de- VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias
vendo ser imediatamente distribuídos, ficando vedado que legais assegurados às crianças e adolescentes, promovendo
aguardem, em qualquer situação, oportuna distribuição, e as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;
serão colocados em mesa para julgamento sem revisão e IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e ha-
com parecer urgente do Ministério Público.   beas corpus, em qualquer juízo, instância ou tribunal, na de-
fesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis afetos à
Art. 199-D.  O relator deverá colocar o processo em criança e ao adolescente;
mesa para julgamento no prazo máximo de 60 (sessenta) X - representar ao juízo visando à aplicação de penali-
dias, contado da sua conclusão.  dade por infrações cometidas contra as normas de proteção
Parágrafo único.  O Ministério Público será intimado da à infância e à juventude, sem prejuízo da promoção da res-
data do julgamento e poderá na sessão, se entender neces- ponsabilidade civil e penal do infrator, quando cabível;
sário, apresentar oralmente seu parecer.  XI - inspecionar as entidades públicas e particulares de
atendimento e os programas de que trata esta Lei, adotando
Art. 199-E.  O Ministério Público poderá requerer a ins- de pronto as medidas administrativas ou judiciais necessá-
tauração de procedimento para apuração de responsabili- rias à remoção de irregularidades porventura verificadas;
dades se constatar o descumprimento das providências e do XII - requisitar força policial, bem como a colaboração
prazo previstos nos artigos anteriores.   dos serviços médicos, hospitalares, educacionais e de assis-
tência social, públicos ou privados, para o desempenho de
suas atribuições.
Capítulo V
§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações
Do Ministério Público
cíveis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas
mesmas hipóteses, segundo dispuserem a Constituição e
Art. 200. As funções do Ministério Público previstas nesta
esta Lei.
Lei serão exercidas nos termos da respectiva lei orgânica.
§ 2º As atribuições constantes deste artigo não ex-
cluem outras, desde que compatíveis com a finalidade do
Art. 201. Compete ao Ministério Público:
Ministério Público.
I - conceder a remissão como forma de exclusão do pro- § 3º O representante do Ministério Público, no exercí-
cesso; cio de suas funções, terá livre acesso a todo local onde se
II - promover e acompanhar os procedimentos relativos encontre criança ou adolescente.
às infrações atribuídas a adolescentes; § 4º O representante do Ministério Público será res-
III - promover e acompanhar as ações de alimentos e os ponsável pelo uso indevido das informações e documentos
procedimentos de suspensão e destituição do poder familiar, que requisitar, nas hipóteses legais de sigilo.
nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiães, bem § 5º Para o exercício da atribuição de que trata o inci-
como oficiar em todos os demais procedimentos da compe- so VIII deste artigo, poderá o representante do Ministério
tência da Justiça da Infância e da Juventude;  Público:
IV - promover, de ofício ou por solicitação dos interes- a) reduzir a termo as declarações do reclamante, ins-
sados, a especialização e a inscrição de hipoteca legal e a taurando o competente procedimento, sob sua presidência;
prestação de contas dos tutores, curadores e quaisquer ad- b) entender-se diretamente com a pessoa ou autoridade
ministradores de bens de crianças e adolescentes nas hipó- reclamada, em dia, local e horário previamente notificados
teses do art. 98; ou acertados;
V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para c) efetuar recomendações visando à melhoria dos ser-
a proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos re- viços públicos e de relevância pública afetos à criança e ao
lativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos no adolescente, fixando prazo razoável para sua perfeita ade-
art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal; quação.
VI - instaurar procedimentos administrativos e, para ins-
truí-los: Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não for
a) expedir notificações para colher depoimentos ou es- parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público na de-
clarecimentos e, em caso de não comparecimento injusti- fesa dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipótese
ficado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela polícia em que terá vista dos autos depois das partes, podendo jun-
civil ou militar; tar documentos e requerer diligências, usando os recursos
b) requisitar informações, exames, perícias e documen- cabíveis.
tos de autoridades municipais, estaduais e federais, da admi-
nistração direta ou indireta, bem como promover inspeções e Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qualquer
diligências investigatórias; caso, será feita pessoalmente.

132
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público IX - de ações, serviços e programas de orientação, apoio
acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício e promoção social de famílias e destinados ao pleno exercício
pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado. do direito à convivência familiar por crianças e adolescentes. 
X - de programas de atendimento para a execução das
Art. 205. As manifestações processuais do representante medidas socioeducativas e aplicação de medidas de prote-
do Ministério Público deverão ser fundamentadas. ção. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) 
§ 1o As hipóteses previstas neste artigo não excluem da
Capítulo VI proteção judicial outros interesses individuais, difusos ou
coletivos, próprios da infância e da adolescência, protegi-
Do Advogado
dos pela Constituição e pela Lei. 
§ 2o A investigação do desaparecimento de crianças
Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou res- ou adolescentes será realizada imediatamente após noti-
ponsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo interesse na ficação aos órgãos competentes, que deverão comunicar
solução da lide poderão intervir nos procedimentos de que o fato aos portos, aeroportos, Polícia Rodoviária e compa-
trata esta Lei, através de advogado, o qual será intimado nhias de transporte interestaduais e internacionais, forne-
para todos os atos, pessoalmente ou por publicação oficial, cendo-lhes todos os dados necessários à identificação do
respeitado o segredo de justiça. desaparecido.
Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária in-
tegral e gratuita àqueles que dela necessitarem. Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propos-
tas no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou
Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prá- omissão, cujo juízo terá competência absoluta para proces-
tica de ato infracional, ainda que ausente ou foragido, será     sar a causa, ressalvadas a competência da Justiça Federal e
processado sem defensor. a competência originária dos tribunais superiores.
§ 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á no-
meado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo, Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses
constituir outro de sua preferência. coletivos ou difusos, consideram-se legitimados concorren-
§ 2º A ausência do defensor não determinará o adia- temente:
I - o Ministério Público;
mento de nenhum ato do processo, devendo o juiz nomear
II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Federal
substituto, ainda que provisoriamente, ou para o só efeito e os territórios;
do ato. III - as associações legalmente constituídas há pelo me-
§ 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando nos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a
se tratar de defensor nomeado ou, sido constituído, tiver defesa dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, dis-
sido indicado por ocasião de ato formal com a presença da pensada a autorização da assembleia, se houver prévia au-
autoridade judiciária. torização estatutária.
§ 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Mi-
Capítulo VII nistérios Públicos da União e dos estados na defesa dos
Da Proteção Judicial dos Interesses Individuais, interesses e direitos de que cuida esta Lei.
Difusos e Coletivos § 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por
associação legitimada, o Ministério Público ou outro legiti-
Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações mado poderá assumir a titularidade ativa.
de responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à
criança e ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou Art. 211. Os órgãos públicos legitimados poderão tomar
oferta irregular: dos interessados compromisso de ajustamento de sua con-
I - do ensino obrigatório; duta às exigências legais, o qual terá eficácia de título exe-
cutivo extrajudicial.
II - de atendimento educacional especializado aos por-
tadores de deficiência;
Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegidos
III - de atendimento em creche e pré-escola às crianças por esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ações per-
de zero a cinco anos de idade; tinentes.
IV - de ensino noturno regular, adequado às condições § 1º Aplicam-se às ações previstas neste Capítulo as
do educando; normas do Código de Processo Civil.
V - de programas suplementares de oferta de material § 2º Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pú-
didático-escolar, transporte e assistência à saúde do educan- blica ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribui-
do do ensino fundamental; ções do poder público, que lesem direito líquido e certo
VI - de serviço de assistência social visando à proteção previsto nesta Lei, caberá ação mandamental, que se rege-
à família, à maternidade, à infância e à adolescência, bem rá pelas normas da lei do mandado de segurança.
como ao amparo às crianças e adolescentes que dele neces-
sitem; Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento
VII - de acesso às ações e serviços de saúde; de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela
VIII - de escolarização e profissionalização dos adoles- específica da obrigação ou determinará providências que as-
centes privados de liberdade. segurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

133
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

§ 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e ha- Art. 222. Para instruir a petição inicial, o interessado
vendo justificado receio de ineficácia do provimento final, poderá requerer às autoridades competentes as certidões e
é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após jus- informações que julgar necessárias, que serão fornecidas no
tificação prévia, citando o réu. prazo de quinze dias.
§ 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior
ou na sentença, impor multa diária ao réu, independente- Art. 223. O Ministério Público poderá instaurar, sob sua
mente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer pes-
com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumpri- soa, organismo público ou particular, certidões, informações,
mento do preceito. exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não pode-
§ 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em rá ser inferior a dez dias úteis.
julgado da sentença favorável ao autor, mas será devida des- § 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas
de o dia em que se houver configurado o descumprimento. as diligências, se convencer da inexistência de fundamento
para a propositura da ação cível, promoverá o arquivamen-
Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo ge- to dos autos do inquérito civil ou das peças informativas,
rido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente fazendo-o fundamentadamente.
do respectivo município. § 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de informa-
§ 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o ção arquivados serão remetidos, sob pena de se incorrer
trânsito em julgado da decisão serão exigidas através de em falta grave, no prazo de três dias, ao Conselho Superior
execução promovida pelo Ministério Público, nos mesmos do Ministério Público.
autos, facultada igual iniciativa aos demais legitimados. § 3º Até que seja homologada ou rejeitada a promoção
§ 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o di- de arquivamento, em sessão do Conselho Superior do Mi-
nheiro ficará depositado em estabelecimento oficial de cré- nistério público, poderão as associações legitimadas apre-
dito, em conta com correção monetária. sentar razões escritas ou documentos, que serão juntados
aos autos do inquérito ou anexados às peças de informação.
§ 4º A promoção de arquivamento será submetida a
Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos re-
exame e deliberação do Conselho Superior do Ministério
cursos, para evitar dano irreparável à parte.
Público, conforme dispuser o seu regimento.
§ 5º Deixando o Conselho Superior de homologar a
Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impuser
promoção de arquivamento, designará, desde logo, outro
condenação ao poder público, o juiz determinará a remessa
órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação.
de peças à autoridade competente, para apuração da res-
ponsabilidade civil e administrativa do agente a que se atri- Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as
bua a ação ou omissão. disposições da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985.
Art. 217. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado Título VII
da sentença condenatória sem que a associação autora lhe Dos Crimes e Das Infrações Administrativas
promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, fa-
cultada igual iniciativa aos demais legitimados. Capítulo I
Dos Crimes
Art. 218. O juiz condenará a associação autora a pagar
ao réu os honorários advocatícios arbitrados na conformi- Seção I
dade do § 4º do art. 20 da Lei n.º 5.869, de 11 de janeiro de
1973 (Código de Processo Civil), quando reconhecer que a Disposições Gerais
pretensão é manifestamente infundada.
Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a as- Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados
sociação autora e os diretores responsáveis pela propositura contra a criança e o adolescente, por ação ou omissão, sem
da ação serão solidariamente condenados ao décuplo das prejuízo do disposto na legislação penal.
custas, sem prejuízo de responsabilidade por perdas e danos.
Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as
Art. 219. Nas ações de que trata este Capítulo, não ha- normas da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao     pro-
verá adiantamento de custas, emolumentos, honorários pe- cesso, as pertinentes ao Código de Processo Penal.
riciais e quaisquer outras despesas.
Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pú-
Art. 220. Qualquer pessoa poderá e o servidor público blica incondicionada.
deverá provocar a iniciativa do Ministério Público, prestan-
do-lhe informações sobre fatos que constituam objeto de Seção II
ação civil, e indicando-lhe os elementos de convicção. Dos Crimes em Espécie

Art. 221. Se, no exercício de suas funções, os juízos e Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente
tribunais tiverem conhecimento de fatos que possam ensejar de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de man-
a propositura de ação civil, remeterão peças ao Ministério ter registro das atividades desenvolvidas, na forma e prazo
Público para as providências cabíveis. referidos no art. 10 desta Lei, bem como de fornecer à par-

134
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

turiente ou a seu responsável, por ocasião da alta médica, Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece
declaração de nascimento, onde constem as intercorrências ou efetiva a paga ou recompensa.
do parto e do desenvolvimento do neonato:
Pena - detenção de seis meses a dois anos. Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato des-
Parágrafo único. Se o crime é culposo: tinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. com inobservância das formalidades legais ou com o fito de
obter lucro:
Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de identifi- Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave
car corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do ameaça ou fraude: 
parto, bem como deixar de proceder aos exames referidos no Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena
art. 10 desta Lei: correspondente à violência.
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Se o crime é culposo: Art. 240.  Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou
pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:  
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liber- Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. 
dade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante § 1o  Incorre nas mesmas penas quem agencia, faci-
de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autorida- lita, recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a
de judiciária competente: participação de criança ou adolescente nas cenas referidas
Pena - detenção de seis meses a dois anos. no caputdeste artigo, ou ainda quem com esses contrace-
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que pro- na.  
cede à apreensão sem observância das formalidades legais. § 2o  Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente
comete o crime:  
Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto
apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata co- de exercê-la;  
municação à autoridade judiciária competente e à família II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabita-
do apreendido ou à pessoa por ele indicada: ção ou de hospitalidade; ou  
Pena - detenção de seis meses a dois anos. III – prevalecendo-se de relações de parentesco consan-
güíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de tu-
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua au- tor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de quem,
toridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangi- a qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou com
mento: seu consentimento.  
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Art. 241.  Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou
Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa outro registro que contenha cena de sexo explícito ou porno-
causa, de ordenar a imediata liberação de criança ou ado- gráfica envolvendo criança ou adolescente: 
lescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. 
apreensão:
Pena - detenção de seis meses a dois anos. Art. 241-A.  Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir,
distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive
Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado por meio de sistema de informática ou telemático, fotogra-
nesta Lei em benefício de adolescente privado de liberdade: fia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo ex-
Pena - detenção de seis meses a dois anos. plícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:  
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. 
Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade § 1o  Nas mesmas penas incorre quem: 
judiciária, membro do Conselho Tutelar ou representante do I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento
Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei: das fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste
Pena - detenção de seis meses a dois anos. artigo; 
II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de
Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de computadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata
quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judi- o caput deste artigo.
cial, com o fim de colocação em lar substituto:  § 2o  As condutas tipificadas nos incisos I e II do §
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa. 1  deste artigo são puníveis quando o responsável legal
o

pela prestação do serviço, oficialmente notificado, deixa


Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pu- de desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito de que trata
pilo a terceiro, mediante paga ou recompensa: o caput deste artigo. 
Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.

135
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

 Art. 241-B.  Adquirir, possuir ou armazenar, por qual- Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar,
quer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou
contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolven- a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros
do criança ou adolescente:  produtos cujos componentes possam causar dependência fí-
 Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.  sica ou psíquica:
 § 1o  A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois ter- Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se
ços) se de pequena quantidade o material a que se refere o fato não constitui crime mais grave.
o caput deste artigo. 
 § 2o  Não há crime se a posse ou o armazenamento Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou
tem a finalidade de comunicar às autoridades competentes entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente fogos
a ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241- de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo seu
A e 241-C desta Lei, quando a comunicação for feita por: reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer
 I – agente público no exercício de suas funções;  dano físico em caso de utilização indevida:
 II – membro de entidade, legalmente constituída, que Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.
inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebimento,
o processamento e o encaminhamento de notícia dos cri- Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais
mes referidos neste parágrafo;  definidos no caput do art. 2o desta Lei, à prostituição ou à
 III – representante legal e funcionários responsáveis de exploração sexual: 
provedor de acesso ou serviço prestado por meio de rede Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da
de computadores, até o recebimento do material relativo à perda de bens e valores utilizados na prática criminosa em
notícia feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da
ao Poder Judiciário.  unidade da Federação (Estado ou Distrito Federal) em que foi
 § 3o  As pessoas referidas no § 2o deste artigo deverão cometido o crime, ressalvado o direito de terceiro de boa-fé.
manter sob sigilo o material ilícito referido.  § 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o ge-
rente ou o responsável pelo local em que se verifique a
Art. 241-C.  Simular a participação de criança ou adoles- submissão de criança ou adolescente às práticas referidas
cente em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de no caputdeste artigo. 
adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo § 2o Constitui efeito obrigatório da condenação a cas-
ou qualquer outra forma de representação visual:  sação da licença de localização e de funcionamento do es-
 Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.  tabelecimento. 
Parágrafo único.  Incorre nas mesmas penas quem ven-
de, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga Art. 244-B.  Corromper ou facilitar a corrupção de menor
por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou
produzido na forma do caput deste artigo.  induzindo-o a praticá-la: 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. 
 Art. 241-D.  Aliciar, assediar, instigar ou constranger, § 1o  Incorre nas penas previstas no caput deste arti-
por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de go quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de
com ela praticar ato libidinoso:  quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da
 Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.  internet. 
 Parágrafo único.  Nas mesmas penas incorre quem:  § 2o  As penas previstas no caput deste artigo são au-
 I – facilita ou induz o acesso à criança de material con- mentadas de um terço no caso de a infração cometida ou
tendo cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de induzida estar incluída no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de
com ela praticar ato libidinoso;  25 de julho de 1990. 
 II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo
com o fim de induzir criança a se exibir de forma pornográ- Capítulo II
fica ou sexualmente explícita.  Das Infrações Administrativas

 Art. 241-E.  Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por
a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” com- estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamen-
preende qualquer situação que envolva criança ou adoles- tal, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade com-
cente em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, petente os casos de que tenha conhecimento, envolvendo
ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adoles- suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou
cente para fins primordialmente sexuais.  adolescente:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou cando-se o dobro em caso de reincidência.
entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente arma,
munição ou explosivo: Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de enti-
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos.  dade de atendimento o exercício dos direitos constantes nos
incisos II, III, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei:

136
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetá-
cando-se o dobro em caso de reincidência. culo público de afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à
entrada do local de exibição, informação destacada sobre a
Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autoriza- natureza da diversão ou espetáculo e a faixa etária especifi-
ção devida, por qualquer meio de comunicação, nome, ato cada no certificado de classificação:
ou documento de procedimento policial, administrativo ou Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
judicial relativo a criança ou adolescente a que se atribua cando-se o dobro em caso de reincidência.
ato infracional:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer re-
cando-se o dobro em caso de reincidência. presentações ou espetáculos, sem indicar os limites de idade
§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou par- a que não se recomendem:
cialmente, fotografia de criança ou adolescente envolvido Pena - multa de três a vinte salários de referência, du-
em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga res- plicada em caso de reincidência, aplicável, separadamente,
peito ou se refira a atos que lhe sejam atribuídos, de forma à casa de espetáculo e aos órgãos de divulgação ou publi-
a permitir sua identificação, direta ou indiretamente. cidade.
§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou
emissora de rádio ou televisão, além da pena prevista neste Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espe-
artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a apreen- táculo em horário diverso do autorizado ou sem aviso de sua
são da publicação ou a suspensão da programação da emis- classificação:
sora até por dois dias, bem como da publicação do periódico Pena - multa de vinte a cem salários de referência; du-
até por dois números. (Expressão declarada inconstitucional plicada em caso de reincidência a autoridade judiciária po-
pela ADIN 869-2). derá determinar a suspensão da programação da emissora
por até dois dias.
Art. 248. Deixar de apresentar à autoridade judiciária de
Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congêne-
seu domicílio, no prazo de cinco dias, com o fim de regula-
re classificado pelo órgão competente como inadequado às
rizar a guarda, adolescente trazido de outra comarca para a
crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo:
prestação de serviço doméstico, mesmo que autorizado pe-
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na
los pais ou responsável:
reincidência, a autoridade poderá determinar a suspensão
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
do espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por até
cando-se o dobro em caso de reincidência, independente-
quinze dias.
mente das despesas de retorno do adolescente, se for o caso.
Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita
Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deve-
de programação em vídeo, em desacordo com a classificação
res inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela ou atribuída pelo órgão competente:
guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária Pena - multa de três a vinte salários de referência; em
ou Conselho Tutelar:  caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá deter-
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- minar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.
cando-se o dobro em caso de reincidência.
Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78 e
Art. 250.  Hospedar criança ou adolescente desacompa- 79 desta Lei:
nhado dos pais ou responsável, ou sem autorização escrita Pena - multa de três a vinte salários de referência, du-
desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão, motel plicando-se a pena em caso de reincidência, sem prejuízo de
ou congênere:  apreensão da revista ou publicação.
Pena – multa. 
§ 1º  Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento ou o
multa, a autoridade judiciária poderá determinar o fecha- empresário de observar o que dispõe esta Lei sobre o acesso
mento do estabelecimento por até 15 (quinze) dias.  de criança ou adolescente aos locais de diversão, ou sobre
§ 2º  Se comprovada a reincidência em período inferior sua participação no espetáculo:
a 30 (trinta) dias, o estabelecimento será definitivamente Pena - multa de três a vinte salários de referência; em
fechado e terá sua licença cassada.  caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá deter-
minar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.
Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qual-
quer meio, com inobservância do disposto nos arts. 83, 84 e Art. 258-A.  Deixar a autoridade competente de provi-
85 desta Lei: denciar a instalação e operacionalização dos cadastros pre-
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- vistos no art. 50 e no § 11 do art. 101 desta Lei: 
cando-se o dobro em caso de reincidência. Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00
(três mil reais). 

137
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Parágrafo único.  Incorre nas mesmas penas a autori- subsidiadas e demais receitas, aplicando necessariamen-
dade que deixa de efetuar o cadastramento de crianças e de te percentual para incentivo ao acolhimento, sob a forma
adolescentes em condições de serem adotadas, de pessoas de guarda, de crianças e adolescentes e para programas de
ou casais habilitados à adoção e de crianças e adolescentes atenção integral à primeira infância em áreas de maior ca-
em regime de acolhimento institucional ou familiar.   rência socioeconômica e em situações de calamidade.  
§ 3º O Departamento da Receita Federal, do Ministé-
Art. 258-B.  Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de rio da Economia, Fazenda e Planejamento, regulamentará
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar a comprovação das doações feitas aos fundos, nos termos
imediato encaminhamento à autoridade judiciária de caso deste artigo.
de que tenha conhecimento de mãe ou gestante interessada § 4º O Ministério Público determinará em cada comar-
em entregar seu filho para adoção:   ca a forma de fiscalização da aplicação, pelo Fundo Muni-
Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 cipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, dos incen-
(três mil reais).  tivos fiscais referidos neste artigo.
Parágrafo único.  Incorre na mesma pena o funcionário § 5o  Observado o disposto no § 4o do art. 3o da Lei no
de programa oficial ou comunitário destinado à garantia do 9.249, de 26 de dezembro de 1995, a dedução de que trata
direito à convivência familiar que deixa de efetuar a comu- o inciso I do caput: 
nicação referida no caput deste artigo.  I - será considerada isoladamente, não se submetendo a
limite em conjunto com outras deduções do imposto; e
Art. 258-C. Descumprir a proibição estabelecida no in- II - não poderá ser computada como despesa operacio-
ciso II do art. 81: nal na apuração do lucro real.
Pena - multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$
10.000,00 (dez mil reais); Art. 260-A.  A partir do exercício de 2010, ano-calen-
Medida Administrativa - interdição do estabelecimento dário de 2009, a pessoa física poderá optar pela doação de
comercial até o recolhimento da multa aplicada. que trata o inciso II do caput do art. 260 diretamente em sua
Declaração de Ajuste Anual. 
Disposições Finais e Transitórias § 1o  A doação de que trata o caput poderá ser deduzida
até os seguintes percentuais aplicados sobre o imposto apu-
Art. 259. A União, no prazo de noventa dias contados da rado na declaração:
publicação deste Estatuto, elaborará projeto de lei dispondo I - (VETADO);
sobre a criação ou adaptação de seus órgãos às diretrizes da II - (VETADO); 
política de atendimento fixadas no art. 88 e ao que estabele- III - 3% (três por cento) a partir do exercício de 2012.
ce o Título V do Livro II. § 2o  A dedução de que trata o caput:
Parágrafo único. Compete aos estados e municípios pro- I - está sujeita ao limite de 6% (seis por cento) do impos-
moverem a adaptação de seus órgãos e programas às dire- to sobre a renda apurado na declaração de que trata o inciso
trizes e princípios estabelecidos nesta Lei. II do caput do art. 260;
II - não se aplica à pessoa física que: 
Art. 260.  Os contribuintes poderão efetuar doações aos a) utilizar o desconto simplificado;
Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, b) apresentar declaração em formulário; ou 
distrital, estaduais ou municipais, devidamente comprova- c) entregar a declaração fora do prazo;
das, sendo essas integralmente deduzidas do imposto de III - só se aplica às doações em espécie; e 
renda, obedecidos os seguintes limites:  IV - não exclui ou reduz outros benefícios ou deduções
I - 1% (um por cento) do imposto sobre a renda devido em vigor.
apurado pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lu- § 3o  O pagamento da doação deve ser efetuado até a
cro real; e data de vencimento da primeira quota ou quota única do
II - 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apu- imposto, observadas instruções específicas da Secretaria
rado pelas pessoas físicas na Declaração de Ajuste Anual, da Receita Federal do Brasil.
observado o disposto no art. 22 da Lei no 9.532, de 10 de § 4o  O não pagamento da doação no prazo estabeleci-
dezembro de 1997. do no § 3o implica a glosa definitiva desta parcela de dedu-
§ 1º - (Revogado) ção, ficando a pessoa física obrigada ao recolhimento da di-
§ 1o-A.  Na definição das prioridades a serem atendidas ferença de imposto devido apurado na Declaração de Ajuste
com os recursos captados pelos fundos nacional, estaduais Anual com os acréscimos legais previstos na legislação. 
e municipais dos direitos da criança e do adolescente, serão § 5o  A pessoa física poderá deduzir do imposto apu-
consideradas as disposições do Plano Nacional de Promo- rado na Declaração de Ajuste Anual as doações feitas, no
ção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes respectivo ano-calendário, aos fundos controlados pelos
à Convivência Familiar e Comunitária e as do Plano Nacio- Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente mu-
nal pela Primeira Infância.   nicipais, distrital, estaduais e nacional concomitantemente
§ 2o  Os conselhos nacional, estaduais e municipais com a opção de que trata o caput, respeitado o limite pre-
dos direitos da criança e do adolescente fixarão critérios de visto no inciso II do art. 260.
utilização, por meio de planos de aplicação, das dotações

138
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Art. 260-B.  A doação de que trata o inciso I do art. 260 Art. 260-G.  Os órgãos responsáveis pela administração
poderá ser deduzida: das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adoles-
I - do imposto devido no trimestre, para as pessoas jurí- cente nacional, estaduais, distrital e municipais devem:
dicas que apuram o imposto trimestralmente; e I - manter conta bancária específica destinada exclusi-
II - do imposto devido mensalmente e no ajuste anual, vamente a gerir os recursos do Fundo; 
para as pessoas jurídicas que apuram o imposto anualmente.  II - manter controle das doações recebidas; e 
Parágrafo único.  A doação deverá ser efetuada dentro III - informar anualmente à Secretaria da Receita Fede-
do período a que se refere a apuração do imposto. ral do Brasil as doações recebidas mês a mês, identificando
os seguintes dados por doador:
Art. 260-C.  As doações de que trata o art. 260 desta Lei a) nome, CNPJ ou CPF;
podem ser efetuadas em espécie ou em bens.  b) valor doado, especificando se a doação foi em espécie
Parágrafo único.  As doações efetuadas em espécie de- ou em bens.
vem ser depositadas em conta específica, em instituição fi-
nanceira pública, vinculadas aos respectivos fundos de que Art. 260-H.  Em caso de descumprimento das obrigações
trata o art. 260. previstas no art. 260-G, a Secretaria da Receita Federal do
Brasil dará conhecimento do fato ao Ministério Público.
Art. 260-D.  Os órgãos responsáveis pela administração
das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adoles- Art. 260-I.  Os Conselhos dos Direitos da Criança e do
cente nacional, estaduais, distrital e municipais devem emitir Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais divul-
recibo em favor do doador, assinado por pessoa competente garão amplamente à comunidade:
e pelo presidente do Conselho correspondente, especifican- I - o calendário de suas reuniões;
do: II - as ações prioritárias para aplicação das políticas de
I - número de ordem;  atendimento à criança e ao adolescente;
II - nome, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) III - os requisitos para a apresentação de projetos a se-
rem beneficiados com recursos dos Fundos dos Direitos da
e endereço do emitente; 
Criança e do Adolescente nacional, estaduais, distrital ou
III - nome, CNPJ ou Cadastro de Pessoas Físicas (CPF)
municipais;
do doador;
IV - a relação dos projetos aprovados em cada ano-ca-
IV - data da doação e valor efetivamente recebido; e
lendário e o valor dos recursos previstos para implementa-
V - ano-calendário a que se refere a doação.
ção das ações, por projeto;
§ 1o  O comprovante de que trata o caput deste artigo
V - o total dos recursos recebidos e a respectiva destina-
pode ser emitido anualmente, desde que discrimine os valo-
ção, por projeto atendido, inclusive com cadastramento na
res doados mês a mês.  base de dados do Sistema de Informações sobre a Infância e
§ 2o  No caso de doação em bens, o comprovante a Adolescência; e
deve conter a identificação dos bens, mediante descrição VI - a avaliação dos resultados dos projetos beneficiados
em campo próprio ou em relação anexa ao comprovante, com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e do Ado-
informando também se houve avaliação, o nome, CPF ou lescente nacional, estaduais, distrital e municipais.
CNPJ e endereço dos avaliadores.
Art. 260-J.  O Ministério Público determinará, em cada
Art. 260-E.  Na hipótese da doação em bens, o doador Comarca, a forma de fiscalização da aplicação dos incenti-
deverá: vos fiscais referidos no art. 260 desta Lei.
I - comprovar a propriedade dos bens, mediante docu- Parágrafo único.  O descumprimento do disposto nos
mentação hábil; arts. 260-G e 260-I sujeitará os infratores a responder por
II - baixar os bens doados na declaração de bens e direi- ação judicial proposta pelo Ministério Público, que poderá
tos, quando se tratar de pessoa física, e na escrituração, no atuar de ofício, a requerimento ou representação de qual-
caso de pessoa jurídica; e quer cidadão.
III - considerar como valor dos bens doados:
a) para as pessoas físicas, o valor constante da última Art. 260-K.  A Secretaria de Direitos Humanos da Pre-
declaração do imposto de renda, desde que não exceda o sidência da República (SDH/PR) encaminhará à Secretaria
valor de mercado; da Receita Federal do Brasil, até 31 de outubro de cada ano,
b) para as pessoas jurídicas, o valor contábil dos bens. arquivo eletrônico contendo a relação atualizada dos Fundos
Parágrafo único.  O preço obtido em caso de leilão não dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, distrital,
será considerado na determinação do valor dos bens doados, estaduais e municipais, com a indicação dos respectivos nú-
exceto se o leilão for determinado por autoridade judiciária. meros de inscrição no CNPJ e das contas bancárias especí-
ficas mantidas em instituições financeiras públicas, destina-
Art. 260-F.  Os documentos a que se referem os arts. das exclusivamente a gerir os recursos dos Fundos.
260-D e 260-E devem ser mantidos pelo contribuinte por um
prazo de 5 (cinco) anos para fins de comprovação da dedu- Art. 260-L.  A Secretaria da Receita Federal do Brasil ex-
ção perante a Receita Federal do Brasil. pedirá as instruções necessárias à aplicação do disposto nos
arts. 260 a 260-K.

139
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Art. 261. A falta dos conselhos municipais dos direitos da Art. 266. Esta Lei entra em vigor noventa dias após sua
criança e do adolescente, os registros, inscrições e alterações publicação.
a que se referem os arts. 90, parágrafo único, e 91 desta Lei Parágrafo único. Durante o período de vacância deverão
serão efetuados perante a autoridade judiciária da comarca ser promovidas atividades e campanhas de divulgação e es-
a que pertencer a entidade. clarecimentos acerca do disposto nesta Lei.
Parágrafo único. A União fica autorizada a repassar aos
estados e municípios, e os estados aos municípios, os recur- Art. 267. Revogam-se as Leis nº 4.513, de 1964, e 6.697,
sos referentes aos programas e atividades previstos nesta Lei, de 10 de outubro de 1979 (Código de Menores), e as demais
tão logo estejam criados os conselhos dos direitos da criança disposições em contrário.
e do adolescente nos seus respectivos níveis.
Brasília, 13 de julho de 1990; 169º da Independência e
Art. 262. Enquanto não instalados os Conselhos Tute- 102º da República.
lares, as atribuições a eles conferidas serão exercidas pela
autoridade judiciária.

Art. 263. O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de


1940 (Código Penal), passa a vigorar com as seguintes alte- LEI Nº 10.741, DE 1º DE OUTUBRO DE 2.003,
rações: ESTATUTO DO IDOSO.
1) Art. 121 (...)
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de um
terço, se o crime resulta de inobservância de regra técnica O tratamento do idoso no campo dos direitos hu-
de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar manos
imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conse- Os idosos costumam ser afastados do convívio social à
quências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. medida em que adquirem mais dificuldades de saúde, na-
Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de um terço, turais ao processo de envelhecimento. A lógica da “descar-
se o crime é praticado contra pessoa menor de catorze anos. tabilidade” do ser humano e da produtividade em massa
2) Art. 129 (...) que teima em persistir na sociedade leva à intensificação
§ 7º Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qual- deste movimento de rejeição, cabendo ao Direito assumir
quer das hipóteses do art. 121, § 4º. uma postura de promoção da igualdade material dos ido-
§ 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do sos, por medidas judiciais, legislativas e executivas perti-
art. 121. nentes.
3) Art. 136 (...) No plano da proteção internacional dos direitos huma-
§ 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é prati- nos deste grupo de pessoas, já ocorreu algum avanço, mas
cado contra pessoa menor de catorze anos. este é ainda distante se comparado ao sistema de proteção
4) Art. 213 (...) de outros grupos vulneráveis específicos, como mulheres e
Parágrafo único. Se a ofendida é menor de catorze anos: pessoas portadoras de deficiência.
Pena - reclusão de quatro a dez anos. Em relação à ONU, ainda não há Convenção especí-
5) Art. 214 (...) fica de proteção, mas apenas normativas principiológicas
Parágrafo único. Se o ofendido é menor de catorze anos: não diretamente coativas, que podem ser combinadas com
Pena - reclusão de três a nove anos.” normas genéricas como as dos Pactos Internacionais de
1966. Neste sentido, de forma mais relevante, em 1991 so-
Art. 264. O art. 102 da Lei n.º 6.015, de 31 de dezembro brevieram os Princípios das Nações Unidas para as Pessoas
de 1973, fica acrescido do seguinte item: Idosas; e em 2002, na II Conferência Internacional de Madri
“Art. 102 (...) sobre o Envelhecimento, surgiram a Declaração Política e o
6º) a perda e a suspensão do pátrio poder.” Plano de Ação Internacional de Madri sobre Envelhecimen-
to (MIPAA), estes de ordem um pouco mais pragmática.
Art. 265. A Imprensa Nacional e demais gráficas da Em janeiro de 2010, o Comitê Consultivo do Conselho
União, da administração direta ou indireta, inclusive funda- de Direitos Humanos das Nações Unidas publicou estudo
ções instituídas e mantidas pelo poder público federal pro- apontando a necessidade de uma convenção internacional
moverão edição popular do texto integral deste Estatuto, que específica, o que indica que futuramente é possível que tal
será posto à disposição das escolas e das entidades de aten- documento seja elaborado e ratificado pelos países-mem-
dimento e de defesa dos direitos da criança e do adolescente. bros da ONU.
Vale colacionar alguns trechos dos Princípios das Na-
Art. 265-A.   O poder público fará periodicamente am- ções Unidas para as Pessoas Idosas, de ordem mais genéri-
pla divulgação dos direitos da criança e do adolescente nos ca, identificando as pretendidas políticas da ONU em favor
meios de comunicação social. deste grupo vulnerável ao dividir em categorias as esferas
Parágrafo único.  A divulgação a que se refere o caput de proteção específica a ser conferida:
será veiculada em linguagem clara, compreensível e ade- a) Independência (princípios 1 a 6): acesso à ali-
quada a crianças e adolescentes, especialmente às crianças mentação, água, alojamento, vestuário e cuidados de saú-
com idade inferior a 6 (seis) anos. de adequados, recebendo recursos para tanto (apoio do

140
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Estado, da comunidade e da família); direito ao trabalho criar um tratado internacional específico para o resguarde
ou a outro rendimento; direito de decidir junto com a so- das pessoas idosas. Conforme o disposto no primeiro arti-
ciedade quando é o momento de deixar de ter uma vida go do documento: “O objetivo da Convenção é promover,
ativa de participação social e política, dedicando-se ao re- proteger e assegurar o reconhecimento e o pleno gozo e
pouso com dignidade; acesso a programas de educação e exercício, em condições de igualdade, de todos os direi-
formação; convivência em ambientes seguros e adaptáveis tos humanos e liberdades fundamentais do idoso, a fim
às suas necessidades e preferências; residência em seu pró- de contribuir para sua plena inclusão, integração e parti-
prio domicílio tanto quanto possível; cipação na sociedade”. Frisa-se, ademais, no mesmo dis-
b) Participação (princípios 7 a 9): permanência na positivo, que o disposto em tal Convenção Interamericana
integração em sociedade, participando na formulação não deve ser interpretado como uma limitação a direitos
e execução de políticas que o afetem diretamente, com- ou benefícios mais amplos ou adicionais reconhecidos pelo
partilhando suas experiências, conhecimentos e aptidões; direito internacional ou pelas legislações internas dos Esta-
possibilidade de prestar serviços à comunidade, inclusive dos-partes em favor dos idosos.
voluntariamente, no que for de seu interesse e capacidade; Também, no artigo 3º da Convenção são trazidos prin-
construção de movimentos e associações de idosos; cípios gerais que lhe são inerentes, a saber, a promoção e
c) Assistência (princípios 10 a 14): aproveitar os be- defesa dos direitos humanos e liberdades fundamentais do
nefícios dos cuidados e da proteção da família e da comu- idoso; a valorização do idoso, seu papel na sociedade e sua
nidade, conforme os valores culturais de cada sociedade; contribuição ao desenvolvimento; a dignidade, indepen-
acesso a cuidados de saúde que o garantam bem-estar dência, protagonismo e autonomia do idoso; a igualdade
físico, mental e emocional, inclusive preventivos; utiliza- e não discriminação; a participação, integração e inclusão
ção de meios adequados de assistência em âmbito insti- plena e efetiva na sociedade; o bem-estar e cuidado; a
tucional em prol de proteção, reabilitação e estimulação segurança física, econômica e social; a autorrealização; a
social e mental num ambiente humano e seguro; acesso a equidade e igualdade de gênero e enfoque do curso de
serviços jurídicos; gozo dos direitos humanos e liberdades vida; a solidariedade e o fortalecimento da proteção fami-
fundamentais onde quer que se encontrem (lar próprio ou
liar e comunitária; o bom tratamento e a atuação preferen-
instituições de assistência), com pleno respeito de sua dig-
cial; o enfoque diferencial para o gozo efetivo dos direitos
nidade e do seu direito de decidir seu próprio destino;
do idoso; o respeito e a valorização da diversidade cultural;
d) Realização pessoal (princípios 15 e 16): possibili-
a proteção judicial efetiva; bem como a responsabilidade
dade de procurar oportunidades com vista ao pleno desen-
do Estado e a participação da família e da comunidade na
volvimento do seu potencial; acesso aos recursos educati-
integração ativa, plena e produtiva do idoso dentro da so-
vos, culturais, espirituais e recreativos da sociedade;
ciedade, bem como em seu cuidado e atenção, de acordo
e) Dignidade (princípios 17 e 18): possibilidade de
com a legislação interna.
viver com dignidade e segurança, sem serem explorados
ou maltratados física ou mentalmente; tratamento de for- Por fim, são elencados na Convenção alguns direitos
ma justa, independentemente da sua idade, gênero, ori- protegidos: igualdade e não discriminação por razões de
gem racial ou étnica, deficiência ou outra condição, e sen- idade (artigo 5º); direito à vida e à dignidade na velhice
do devidamente valorizados. (artigo 6º); direito à independência e à autonomia (artigo
Por sua vez, no âmbito regional, destaca-se a menção 7º); direito à participação e integração comunitária (artigo
do Protocolo à Convenção Americana sobre Direitos Hu- 8º); direito à segurança e a uma vida sem nenhum tipo de
manos: “Artigo 18 - Proteção de pessoas idosas, PCADH. violência (artigo 9º); direito a não ser submetido à tortura
Toda pessoa tem direito à proteção especial na velhice. nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou de-
Nesse sentido, os Estados Partes comprometemse a adotar gradantes (artigo 10); direito a manifestar consentimento
de maneira progressiva as medidas necessárias a fim de pôr livre e informado no âmbito da saúde (artigo 11); direitos
em prática este direito e, especialmente, a: a) Proporcionar do idoso que recebe serviços de cuidado de longo prazo
instalações adequadas, bem como alimentação e assis- (artigo 12); direito à liberdade pessoal (artigo 13); direito à
tência médica especializada, às pessoas de idade avançada liberdade de expressão e opinião e ao acesso à informação
que careçam delas e não estejam em condições de provê-las (artigo 14); direito à nacionalidade e à liberdade de circu-
por seus próprios meios; b) Executar programas trabalhis- lação (artigo 15); direito à intimidade e à privacidade (art.
tas específicos destinados a dar a pessoas idosas a possibi- 16); direito à seguridade social (art. 17); direito ao trabalho
lidade de realizar atividade produtiva adequada às suas ca- (artigo 18); direito à saúde (artigo 19); direito à educação
pacidades, respeitando sua vocação ou desejos; c) Promover (artigo 20); direito à cultura (artigo 21); direito à recreação,
a formação de organizações sociais destinadas a melhorar ao esporte e ao lazer (artigo 22); direito à propriedade (ar-
a qualidade de vida das pessoas idosas”. tigo 23); direito à moradia (artigo 24); direito a um meio
Ainda, a OEA aprovou em 15 de junho de 2015 a Con- ambiente saudável (artigo 25); direito à acessibilidade e
venção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos à mobilidade pessoal (artigo 26); direitos políticos (artigo
Humanos das Pessoas Idosas, ainda não incorporada ao 27); direito de reunião e de associação (artigo 28); situa-
ordenamento interno brasileiro. Logo, a proteção especí- ções de risco e emergências humanitárias (artigo 29); igual
fica destes direitos avançou substancialmente no ano de reconhecimento como pessoa perante a lei (artigo 30); e
2015 dentro do sistema interamericano, primeiro sistema a acesso à justiça (artigo 31).

141
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Não se pode deixar de reconhecer, veja-se, que os O Brasil tem sido surpreendido por uma significativa
avanços das indústrias médica e farmacológica, a prática mudança demográfica. Atualmente apresenta cerca de 15
de bons hábitos alimentares e esportivos/recreativos, a milhões de idosos e, segundo projeção do IBGE, no ano
gradativa melhoria das condições de saneamento básico de 2025, será o sexto país mais idoso do mundo, apenas
e as políticas voltadas à previdência social têm promovi- perdendo para a Suíça, França, Estados Unidos, Uruguai,
do um processo geral de envelhecimento das populações Argentina, China, com um contingente de 34 milhões de
de alguns países (o que se soma, geralmente, à queda nos idosos, cerca de 15% da população.
índices de natalidade). O direito internacional dos direitos Diante dessa realidade, diferentes segmentos como a
humanos, portanto, não pode deixar desamparada esta saúde, transporte, habitação, previdência social e educação
nova realidade em rápido processo evolutivo. precisam ser redimensionados para atender esse novo per-
fil populacional.
O tratamento do idoso no direito constitucional A sociedade política também assumiu sua responsa-
Estabelece a Constituição Federal em seu artigo 230,
bilidade diante desse novo panorama demográfico brasi-
inserido no título VII (Ordem Social), capítulo VII sobre a
leiro, elaborou a Política Nacional do Idoso e o Estatuto
proteção da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem
do Idoso. São leis elaboradas para preservar os direitos do
e do Idoso:
idoso e evitar que essa faixa etária sofra discriminações e
Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o seja marginalizado na sociedade brasileira.
dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua É flagrante na sociedade brasileira um discurso favo-
participação na comunidade, defendendo sua dignida- rável ao idoso, porém inserido em uma realidade prática
de e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida. incompatível, ora reforçado pelo paternalismo, ora pelo
§ 1º Os programas de amparo aos idosos serão execu- assistencialismo, ora potencializando essa faixa etária, mas
tados preferencialmente em seus lares. sem oferecer um real espaço social.
§ 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garanti- Por isso, o Estatuto do Idoso surge como instrumento
da a gratuidade dos transportes coletivos urbanos. essencial ao resgate da dignidade inerente a todos idosos,
mediante inclusão social e reforço de direitos fundamen-
Ainda, a segunda parte do artigo 229, CF preconiza tais. O fato é que a população brasileira está envelhecen-
que “[...] os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar do e necessário se faz garantir que este envelhecimento
os pais na velhice, carência ou enfermidade”. Consolida o ocorra dentro dos princípios norteadores do atual texto
dever de solidariedade familiar, compensando os pais que constitucional. A intervenção legislativa representada nes-
criaram seus filhos quando tinham condições e que hoje te estatuto busca efetividade em resposta às necessidades
se encontram na posição de necessitados. Contudo, este emergentes desse segmento da população.
dever de amparo não é exclusivo da família, conforme se
extrai do artigo 230, CF. TÍTULO I
O fato de uma pessoa ter se tornado idosa não a trans- Disposições Preliminares
forma numa parte dispensável da sociedade, que merece
isolamento. Pelo contrário, suas experiências devem ser va- Art. 1o É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a re-
lorizadas e incorporadas nas práticas sociais, tornando-as gular os direitos assegurados às pessoas com idade igual
mais adequadas. Assim, Estado, família e sociedade pos- ou superior a 60 (sessenta) anos.
suem o dever compartilhado de conferir assistência aos A Lei nº 10.741/03 define como idoso a pessoa com
idosos.
idade maior ou igual que 60 anos, valendo-se assim do
O amparo aos idosos inclui múltiplas facetas: partici-
critério cronológico para estabelecer os que estão sob o
pação na comunidade, dignidade, bem-estar e vida. Além
efeito da presente lei.
disso, os programas de assistência, que prestam este am-
paro, devem ser executados de preferência em seus lares. Existem outras nomenclaturas utilizadas para se atri-
O artigo 230, CF também assegura de forma expressa a buir à pessoa idosa, por exemplo, pessoa na terceira idade,
gratuidade dos transportes coletivos urbanos aos maiores pessoa na melhor idade, velhos, pessoas em idade avança-
de 65 anos. da, entre outros termos.

Histórico do estatuto do idoso Art. 2o O idoso goza de todos os direitos fundamentais
A Lei nº 10.741, de 01 de outubro de 2003, que institui inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção in-
o Estatuto do Idoso, dispõe sobre papel da família, da co- tegral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou
munidade, da sociedade e do Poder Público de assegurar por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para
ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoa-
à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao es- mento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de
porte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dig- liberdade e dignidade.
nidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. Os idosos possuem todos os direitos fundamentais as-
O panorama demográfico mundial tem apresentado segurados a todas as outras pessoas, sendo-lhes garantido
mudanças nos últimos anos devido ao declínio das taxas gozar destes direitos face aos direitos de todos. Neste sen-
de fertilidade e mortalidade e como decorrência a longevi- tido, o título II do Estatuto aprofunda direitos fundamen-
dade tem-se apresentado como um fenômeno real. tais de forma específica em relação à condição do idoso.

142
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Art. 3o É obrigação da família, da comunidade, da so- de saúde, educação e ação social deve igualmente atender
ciedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com abso- prioritariamente a criança e ao adolescente como também
luta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à ao idoso, pautando-se nos princípios da proporcionalidade
alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao e razoabilidade.
trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e
à convivência familiar e comunitária. Art. 4o  Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de
§ 1o A garantia de prioridade compreende: negligência, discriminação, violência, crueldade ou
I – atendimento preferencial imediato e individuali- opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou
zado junto aos órgãos públicos e privados prestadores de omissão, será punido na forma da lei.
serviços à população; § 1o É dever de todos prevenir a ameaça ou violação
II – preferência na formulação e na execução de políti- aos direitos do idoso.
cas sociais públicas específicas; § 2o As obrigações previstas nesta Lei não excluem da
III – destinação privilegiada de recursos públicos nas prevenção outras decorrentes dos princípios por ela ado-
áreas relacionadas com a proteção ao idoso; tados.
IV – viabilização de formas alternativas de participa- Alguns tipos específicos de negligências, violências e
ção, ocupação e convívio do idoso com as demais gerações; opressões são previstos no título VI do Estatuto como cri-
V – priorização do atendimento do idoso por sua pró- mes contra os idosos. Entretanto, não é suficiente reprimir
pria família, em detrimento do atendimento asilar, ex- práticas criminosas contra idosos, mas também é impor-
ceto dos que não a possuam ou careçam de condições de tante preveni-las.
manutenção da própria sobrevivência;
VI – capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas Art. 5o A inobservância das normas de prevenção im-
áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de servi- portará em responsabilidade à pessoa física ou jurídica nos
ços aos idosos; termos da lei.
VII – estabelecimento de mecanismos que favoreçam a O instituto da responsabilidade civil é parte integran-
divulgação de informações de caráter educativo sobre os te do direito obrigacional, uma vez que a principal conse-
aspectos biopsicossociais de envelhecimento; quência da prática de um ato ilícito é a obrigação que gera
VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde para o seu auto de reparar o dano, mediante o pagamen-
e de assistência social locais. to de indenização que se refere às perdas e danos. Afinal,
IX – prioridade no recebimento da restituição do Impos- quem pratica um ato ou incorre em omissão que gere dano
to de Renda.  deve suportar as consequências jurídicas decorrentes, res-
§ 2º Dentre os idosos, é assegurada prioridade especial taurando-se o equilíbrio social.132
aos maiores de oitenta anos, atendendo-se suas necessida- A responsabilidade civil, assim, difere-se da penal, po-
des sempre preferencialmente em relação aos demais idosos. dendo recair sobre os herdeiros do autor do ilícito até os
A garantia de prioridade compreende atendimento limites da herança, embora existam reflexos na ação que
preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos apure a responsabilidade civil conforme o resultado na es-
públicos e privados prestadores de serviços à população. fera penal (por exemplo, uma absolvição por negativa de
Isso significa que todos os segmentos sociais descritos na autoria impede a condenação na esfera cível, ao passo que
Constituição devem primeiramente proteger e defender as uma absolvição por falta de provas não o faz).
pessoas idosas na busca da concretização dos seus direi- Genericamente, os elementos da responsabilidade civil
tos. Os idosos devem figurar como destinatários de cui- se encontram no art. 186 do Código Civil: “aquele que, por
dados especiais e preferenciais na elaboração de políticas ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
públicas pelos administradores públicos. violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusiva-
Cabe na análise da prioridade destinada aos idosos em mente moral, comete ato ilícito”. Este é o artigo central do
relação às demais pessoas e até mesmos às crianças, além instituto da responsabilidade civil, que tem como elemen-
do bom senso, que é sempre esperado, o princípio da pro- tos: ação ou omissão voluntária (agir como não se deve
porcionalidade na busca da justiça em cada caso concreto ou deixar de agir como se deve), culpa ou dolo do agente
que este conflito aparecer pela harmonia dos interesses em (dolo é a vontade de cometer uma violação de direito e
conflito. culpa é a falta de diligência), nexo causal (relação de causa
A preferência na formulação e na execução de políticas e efeito entre a ação/omissão e o dano causado) e dano
sociais públicas específicas também tem base na priorida- (dano é o prejuízo sofrido pelo agente, que pode ser in-
de estabelecida no art. 230 da CF que vislumbra o idoso dividual ou coletivo, moral ou material, econômico e não
como prioritário, devendo-se assegurar-lhe uma velhice econômico).
com dignidade. No mesmo norte está a destinação privi- A prática de atos ilícitos contra pessoas idosas gera
legiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com responsabilização civil, em algumas situações, criminal, e
a proteção ao idoso, que deve ser conferido com absoluta se a prática partir de servidor público ou equiparado, pode
prioridade à criança e ao adolescente, bem como ao idoso. gerar responsabilidade administrativa, havendo indepen-
Tais prioridades devem ser conjugadas a fim de que um dência entre elas.
menor sofra detrimento ao que for estabelecido ao ido- 132 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 9. ed.
so e vice-versa. O Poder Público, ao elaborar programas São Paulo: Saraiva, 2005.

143
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Art. 6o Todo cidadão tem o dever de comunicar à au- VI – participação na vida política, na forma da lei;
toridade competente qualquer forma de violação a esta VII – faculdade de buscar refúgio, auxílio e orientação.
Lei que tenha testemunhado ou de que tenha conhecimento. § 2o O direito ao respeito consiste na inviolabilida-
No mais, qualquer violação a direitos dos idosos que de da integridade física, psíquica e moral, abrangendo
venha um cidadão a ter conhecimento deve imediatamen- a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de
te comunicar a autoridade competente, sob pena de ser valores, ideias e crenças, dos espaços e dos objetos pessoais.
responsabilizado nos termos do que está disposto no men- § 3o É dever de todos zelar pela dignidade do idoso,
cionado artigo 5º supra. colocando-o a salvo de qualquer tratamento desumano, vio-
lento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
Art. 7o Os Conselhos Nacional, Estaduais, do Distrito O Estado e a sociedade devem assegurar à pessoa ido-
Federal e Municipais do Idoso, previstos na Lei no 8.842, sa a liberdade, o respeito e a dignidade. O §1º especifica
de 4 de janeiro de 1994, zelarão pelo cumprimento dos o direito à liberdade, que compreende o direito de ir e vir,
direitos do idoso, definidos nesta Lei. opinião e expressão, crença e culto religioso, esportes e
diversões, vida familiar e comunitária, vida política, refúgio,
TÍTULO II auxílio e orientação. O §2º especifica o direito ao respeito
Dos Direitos Fundamentais como inviolabilidade de qualquer tipo de integridade físi-
ca, psíquica e moral. O §3º especifica o direito à dignida-
CAPÍTULO I de como o direito de não ser posto em qualquer tipo de
Do Direito à Vida tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou
constrangedor.
Art. 8o O envelhecimento é um direito personalíssi-
mo e a sua proteção um direito social, nos termos desta CAPÍTULO III
Lei e da legislação vigente. Dos Alimentos
O envelhecimento é colocado como um direito per-
Art. 11. Os alimentos serão prestados ao idoso na for-
sonalíssimo. A ideia é de que envelhecer é um processo
ma da lei civil.
natural que não deve ser combatido, evitado ou negado a
todo custo. É, ainda, direito social, ou seja, direito humano
Art. 12. A obrigação alimentar é solidária, podendo o
de segunda dimensão.
idoso optar entre os prestadores.
Art. 9o É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa
Art. 13.  As transações relativas a alimentos poderão
a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de polí-
ser celebradas perante o Promotor de Justiça ou Defen-
ticas sociais públicas que permitam um envelhecimento sor Público, que as referendará, e passarão a ter efeito de
saudável e em condições de dignidade. título executivo extrajudicial nos termos da lei processual
Cabe ao Estado desenvolver políticas públicas que civil. 
garantam o direito à vida e à saúde das pessoas idosas.
Políticas públicas são conjuntos de programas, ações e ati- Art. 14. Se o idoso ou seus familiares não possuírem
vidades desenvolvidas pelo Estado diretamente ou indire- condições econômicas de prover o seu sustento, impõe-se ao
tamente, com a participação de entes públicos ou privados, Poder Público esse provimento, no âmbito da assistência
que visam assegurar determinado direito de cidadania, de social.
forma difusa ou para determinado seguimento social, cul- A obrigação alimentar decorre da intervenção do po-
tural, étnico ou econômico. As políticas públicas específicas der estatal, dos familiares, cônjuges e até mesmo da so-
em relação ao idoso fazem parte da Política Nacional do ciedade (ao realizar atos de caridade), em relação a quem
Idoso. se encontra impossibilitado de fazê-lo por meios próprios.
Sendo importante notar que os alimentos não abrangem
CAPÍTULO II tão somente a alimentação, mas também outras utilidades
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade necessárias para o usufruto de uma vida digna.
O artigo 1695 do Código Civil Brasileiro estabelece que
Art. 10. É obrigação do Estado e da sociedade, assegu- “são devidos os alimentos quando quem os pretende não
rar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho,
como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode
individuais e sociais, garantidos na Constituição e nas leis. fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento”.
§ 1o O direito à liberdade compreende, entre outros, os E ainda o artigo 1694, também do Código Civil, dispõe
seguintes aspectos: que “podem os parentes, os cônjuges ou companheiros
I – faculdade de ir, vir e estar nos logradouros públicos pedir uns aos outros os alimentos de que necessitam para
e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais; viver de modo compatível com a sua condição social, inclu-
II – opinião e expressão; sive para atender às necessidades de sua educação”.
III – crença e culto religioso; Por fim, estabelece o §1° do dispositivo supramenciona-
IV – prática de esportes e de diversões; do: “os alimentos devem ser fixados na proporção das neces-
V – participação na vida familiar e comunitária; sidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada”.

144
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Desses dispositivos legais, pode-se extrair que são II – atendimento geriátrico e gerontológico em ambu-
dois os pressupostos principais para se reclamar alimentos, latórios;
quais sejam, a necessidade de quem pleiteia em consonân- III – unidades geriátricas de referência, com pessoal
cia com a possibilidade de quem os fornecerá. especializado nas áreas de geriatria e gerontologia social;
O reconhecimento da solidariedade implicaria admi- IV – atendimento domiciliar, incluindo a internação,
tir que todos os obrigados fossem responsáveis de igual para a população que dele necessitar e esteja impossibili-
modo e por igual valor. Como regra, não há solidariedade tada de se locomover, inclusive para idosos abrigados e
de alimentos no direito de família. Contudo, por força da acolhidos por instituições públicas, filantrópicas ou sem fins
lei especial, é incontestável que o Estatuto do Idoso dis- lucrativos e eventualmente conveniadas com o Poder Públi-
ciplinou de forma contrária às Leis Civis de 1916 e 2002, co, nos meios urbano e rural;
adotando como política pública (art. 3º), a obrigação da V – reabilitação orientada pela geriatria e gerontolo-
família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público gia, para redução das sequelas decorrentes do agravo da
assegurar ao idoso, com absoluta prioridade a efetivação saúde.
do direito à alimentação. Para tanto, mudou a natureza da O §1º fixa as formas especiais de tratamento da po-
obrigação alimentícia de conjunta para solidária, com o ob- pulação idosa, percebendo-se que a atuação se dá na ver-
jetivo de beneficiar sobremaneira a celeridade do processo, tente de controle da população para viabilizar um melhor
evitando discussões acerca do ingresso dos demais deve- tratamento, o qual deve ser especializado e se dar tanto
dores, não escolhidos pelo credor-idoso para figurarem no em ambientes especializados quanto de forma domiciliar.
polo passivo. Ex.: Se um idoso tiver três filhos e um deles Obs.: geriatria é a especialidade médica que estuda e
não pagar o valor devido, poderá exigir do outro. trata das doenças ligadas ao envelhecimento; e geronto-
logia é o estudo dos fenômenos fisiológicos, psicológicos
CAPÍTULO IV e sociais relacionados ao envelhecimento do ser humano.
Do Direito à Saúde
§ 2o Incumbe ao Poder Público fornecer aos idosos,
Art. 15. É assegurada a atenção integral à saúde do gratuitamente, medicamentos, especialmente os de uso
idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde – SUS, continuado, assim como próteses, órteses e outros recur-
garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em con- sos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação.
junto articulado e contínuo das ações e serviços, para a O idoso tem direito a tratamento gratuito da saúde,
prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, in- inclusive recebendo medicamentos, próteses, órteses e ou-
cluindo a atenção especial às doenças que afetam prefe- tros recursos.
rencialmente os idosos.
De forma semelhante à Constituição Federal quanto ao § 3o É vedada a discriminação do idoso nos planos
direito à saúde em geral, o Estatuto do Idoso fixa: de saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão
- Direito à atenção integral: é a atenção plena, em to- da idade.
das dimensões, tanto paliativa quanto preventiva – os ob- A questão da discriminação do idoso nos planos de
jetivos, afinal, são prevenção, promoção, proteção e recu- saúde é complexa, porque não inviabiliza, segundo a ju-
peração da saúde; risprudência pátria, de forma plena o reajuste por faixa
- Por meio do Sistema Único de Saúde – SUS: é o siste- etária. O STJ disse que é possível reajustar por faixa etá-
ma público de saúde brasileiro, um dos maiores do mundo, ria se houver previsão contratual, se não forem aplicados
mas a sua presença não exclui a possibilidade de atuação percentuais desarrazoados, se preenchidos os requisitos da
privada no setor (até mesmo devido à previsão sobre aten- Lei nº 9.656/1998 (dispõe sobre os planos e seguros priva-
ção integral); dos de assistência à saúde), observância da boa-fé objetiva
- Assegurado o acesso universal e igualitário: o acesso que impede reajustes absurdos e desproporcionais (REsp
ao sistema público de saúde deve ser garantido a todas 866.840/SP, j. 07/06/2011).
pessoas e em condições de igualdade material, ou seja,
considerando as específicas necessidades das pessoas (por § 4o Os idosos portadores de deficiência ou com limi-
isso, é devido o tratamento diferenciado ao idoso e ao ido- tação incapacitante terão atendimento especializado, nos
so com deficiência ou limitação); termos da lei.
- Conjunto articulado e contínuo: as práticas de pre- As pessoas idosas com condições peculiares devem re-
venção, promoção, proteção e recuperação devem ser ceber tratamento diferenciado, especializado.
adotadas de forma constante e planejada e, para tanto,
interligada; § 5º É vedado exigir o comparecimento do idoso en-
- Atenção especial às doenças que afetam a popula- fermo perante os órgãos públicos, hipótese na qual será
ção idosa: liga-se ao aspecto da igualdade material e ao da admitido o seguinte procedimento:
atenção especial. I - quando de interesse do poder público, o agente
promoverá o contato necessário com o idoso em sua resi-
§ 1o A prevenção e a manutenção da saúde do idoso dência; ou
serão efetivadas por meio de: II - quando de interesse do próprio idoso, este se fará
I – cadastramento da população idosa em base territorial; representar por procurador legalmente constituído.

145
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

§ 6º É assegurado ao idoso enfermo o atendimento Art. 18.  As instituições de saúde devem atender aos
domiciliar pela perícia médica do Instituto Nacional do critérios mínimos para o atendimento às necessidades
Seguro Social - INSS, pelo serviço público de saúde ou pelo do idoso, promovendo o treinamento e a capacitação dos
serviço privado de saúde, contratado ou conveniado, que in- profissionais, assim como orientação a cuidadores familia-
tegre o Sistema Único de Saúde - SUS, para expedição do res e grupos de autoajuda.
laudo de saúde necessário ao exercício de seus direitos so- Caberá às instituições de saúde atender a critérios mí-
ciais e de isenção tributária. nimos que viabilizem o atendimento especializado, deven-
Os §§ 5º e 6º foram incluídos pela Lei nº 12.896/2013 do treinar e capacitar outras entidades que atuem parale-
e trata do comparecimento do idoso enfermo em órgãos lamente a elas.
públicos, inclusive para realização de perícias:
- Interesse do poder público – agente público deve ir Art. 19.  Os casos de suspeita ou confirmação de vio-
até a residência; lência praticada contra idosos serão objeto de notificação
- Interesse pessoal – representação por procurador. compulsória pelos serviços de saúde públicos e privados
* As perícias do INSS devem se realizar em domicílio. à autoridade sanitária, bem como serão obrigatoriamente
comunicados por eles a quaisquer dos seguintes órgãos: 
§ 7º Em todo atendimento de saúde, os maiores de oi- I – autoridade policial;
tenta anos terão preferência especial sobre os demais II – Ministério Público;
idosos, exceto em caso de emergência. III – Conselho Municipal do Idoso;
Trata-se de prioridade especial no atendimento de saúde. IV – Conselho Estadual do Idoso;
V – Conselho Nacional do Idoso.
Art. 16. Ao idoso internado ou em observação é as- § 1o  Para os efeitos desta Lei, considera-se violência
segurado o direito a acompanhante, devendo o órgão de contra o idoso qualquer ação ou omissão praticada em
saúde proporcionar as condições adequadas para a sua per- local público ou privado que lhe cause morte, dano ou
manência em tempo integral, segundo o critério médico. sofrimento físico ou psicológico. 
Parágrafo único. Caberá ao profissional de saúde res- § 2o  Aplica-se, no que couber, à notificação com-
ponsável pelo tratamento conceder autorização para o pulsória prevista no caput deste artigo, o disposto na Lei
acompanhamento do idoso ou, no caso de impossibilidade, no 6.259, de 30 de outubro de 1975 (dispõe sobre a or-
justificá-la por escrito. ganização das ações de Vigilância Epidemiológica, sobre
Embora o direito a acompanhante no tratamento de o Programa Nacional de Imunizações, estabelece normas
saúde seja assegurado, caberá ao profissional de saúde relativas à notificação compulsória de doenças, e dá outras
responsável decidir quanto ele é possível, justificando por providências). 
escrito eventual impossibilidade. O artigo 19 foi alterado e teve dispositivos incluídos
pela Lei nº 12.461/2011.
Art. 17.  Ao idoso que esteja no domínio de suas fa- Sua redação é um pouco confusa e inadequada. Traba-
culdades mentais é assegurado o direito de optar pelo lha com notificações que devem ser comunicadas a órgãos
tratamento de saúde que lhe for reputado mais favorável. competentes tanto práticas de violência (por qualquer ação
Parágrafo único. Não estando o idoso em condições de ou omissão praticada em local público ou privado, sendo
proceder à opção, esta será feita: violência todo caso de morte, dano ou sofrimento físico
I – pelo curador, quando o idoso for interditado; ou psicológico) quanto de doenças epidemiológicas (com
II – pelos familiares, quando o idoso não tiver curador risco de transmissão em larga escala). Cabe a comunica-
ou este não puder ser contatado em tempo hábil; ção aos órgãos descritos nos incisos do caput – autoridade
III – pelo médico, quando ocorrer iminente risco de policial, Ministério Público, Conselhos Municipal, Estadual
vida e não houver tempo hábil para consulta a curador e Federal; além dos órgãos de vigilância sanitária e outros
ou familiar; fixados na Lei nº 6.259/1975.
IV – pelo próprio médico, quando não houver curador
ou familiar conhecido, caso em que deverá comunicar o CAPÍTULO V
fato ao Ministério Público. Da Educação, Cultura, Esporte e Lazer
O idoso não perde sua autonomia para a tomada de
decisões, de modo que caberá a ele decidir sobre sua pró- Art. 20. O idoso tem direito a educação, cultura, es-
pria saúde sempre que estiver em suas plenas faculdades. porte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços
Havendo incapacidade, permanente ou transitória, a or- que respeitem sua peculiar condição de idade.
dem de tomada de decisões é a seguinte:
- Situações não emergenciais – se houver curador, ele Art. 21. O Poder Público criará oportunidades de aces-
tem prioridade, se não houver a decisão cabe ao familiar, so do idoso à educação, adequando currículos, metodolo-
mas se não houver nenhum dos dois caberá ao médico, gias e material didático aos programas educacionais a ele
que informará ao Ministério Público. destinados.
- Situações de urgência – risco de vida + ausência de § 1o Os cursos especiais para idosos incluirão conteúdo
tempo hábil – cabe ao médico decidir. relativo às técnicas de comunicação, computação e demais
avanços tecnológicos, para sua integração à vida moderna.

146
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

§ 2o Os idosos participarão das comemorações de ca- Art. 27. Na admissão do idoso em qualquer trabalho ou
ráter cívico ou cultural, para transmissão de conhecimen- emprego, é vedada a discriminação e a fixação de limite
tos e vivências às demais gerações, no sentido da preserva- máximo de idade, inclusive para concursos, ressalvados
ção da memória e da identidade culturais. os casos em que a natureza do cargo o exigir.
Parágrafo único. O primeiro critério de desempate em
Art. 22. Nos currículos mínimos dos diversos níveis de concurso público será a idade, dando-se preferência ao de
ensino formal serão inseridos conteúdos voltados ao proces- idade mais elevada.
so de envelhecimento, ao respeito e à valorização do
idoso, de forma a eliminar o preconceito e a produzir conhe- Art. 28. O Poder Público criará e estimulará programas de:
cimentos sobre a matéria. I – profissionalização especializada para os idosos,
aproveitando seus potenciais e habilidades para atividades
Art. 23. A participação dos idosos em atividades cultu- regulares e remuneradas;
rais e de lazer será proporcionada mediante descontos de II – preparação dos trabalhadores para a aposenta-
pelo menos 50% (cinquenta por cento) nos ingressos para doria, com antecedência mínima de 1 (um) ano, por meio de
eventos artísticos, culturais, esportivos e de lazer, bem como estímulo a novos projetos sociais, conforme seus interesses,
o acesso preferencial aos respectivos locais. e de esclarecimento sobre os direitos sociais e de cidadania;
III – estímulo às empresas privadas para admissão de
Art. 24. Os meios de comunicação manterão espaços idosos ao trabalho.
ou horários especiais voltados aos idosos, com finalidade Como corolário da garantia de proteção ao idoso e do
informativa, educativa, artística e cultural, e ao público sobre princípio da dignidade que lhes deve ser conferido o idoso
o processo de envelhecimento. tem direito ao exercício de atividade profissional, respeita-
das suas condições físicas, intelectuais e psíquicas.
Art. 25. As instituições de educação superior ofer- O trabalho é um direito fundamental da pessoa huma-
tarão às pessoas idosas, na perspectiva da educação ao na que não deve encontrar óbice em seu tempo de vida. A
idade somente pode ser considerada um empecilho ao exer-
longo da vida, cursos e programas de extensão, presen-
cício do trabalho somente quando em benefício do idoso.
ciais ou a distância, constituídos por atividades formais
e não formais.
CAPÍTULO VII
Parágrafo único. O poder público apoiará a criação de
Da Previdência Social
universidade aberta para as pessoas idosas e incenti-
vará a publicação de livros e periódicos, de conteúdo e
Art. 29. Os benefícios de aposentadoria e pensão do Re-
padrão editorial adequados ao idoso, que facilitem a leitura,
gime Geral da Previdência Social observarão, na sua con-
considerada a natural redução da capacidade visual. cessão, critérios de cálculo que preservem o valor real
O exercício ao direito à educação, cultura, esporte, la- dos salários sobre os quais incidiram contribuição, nos
zer, diversões, espetáculos, produtos e serviços dos idosos termos da legislação vigente.
deve respeitar sua peculiar condição de idade, fundado Parágrafo único. Os valores dos benefícios em manuten-
efetivamente em razões de igualdade material, a fim de ção serão reajustados na mesma data de reajuste do sa-
proporcionar um tratamento justo ao idoso em seu meio lário-mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas da-
social. tas de início ou do seu último reajustamento, com base em
O respeito à peculiar condição de idade implica em percentual definido em regulamento, observados os critérios
afirmar que na medida de suas condições físicas e emocio- estabelecidos pela Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991.
nais de usufruir de educação, cultura, esporte, lazer, diver-
sões, espetáculos, produtos e serviços aos idosos devem Art. 30.  A perda da condição de segurado não será
ser destinados oportunidades de participar do meio social considerada para a concessão da aposentadoria por
em que vive sem lhe acrescentar fardo algum tendo em idade, desde que a pessoa conte com, no mínimo, o tempo
vista a sua vulnerabilidade, condição esta alçada em caráter de contribuição correspondente ao exigido para efeito de
de princípio a ser buscado por todos. carência na data de requerimento do benefício.
Constitui obrigação do Poder Público criar oportunida- Parágrafo único. O cálculo do valor do benefício previsto
des de acesso do idoso à educação, adequando currículos, no caput observará o disposto no caput e § 2o do art. 3o da
metodologias e material didático aos programas educacio- Lei no 9.876, de 26 de novembro de 1999, ou, não havendo
nais a ele destinados. O idoso que necessitar obter forma- salários-de-contribuição recolhidos a partir da competên-
ção escolar regular deve ter acesso a processo educativo cia de julho de 1994, o disposto no art. 35 da Lei no 8.213,
como as demais pessoas na sociedade. de 1991.

CAPÍTULO VI Art. 31. O pagamento de parcelas relativas a benefícios,


Da Profissionalização e do Trabalho efetuado com atraso por responsabilidade da Previdência
Social, será atualizado pelo mesmo índice utilizado para
Art. 26. O idoso tem direito ao exercício de atividade os reajustamentos dos benefícios do Regime Geral de Pre-
profissional, respeitadas suas condições físicas, intelectuais vidência Social, verificado no período compreendido entre o
e psíquicas. mês que deveria ter sido pago e o mês do efetivo pagamento.

147
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Art. 32. O Dia Mundial do Trabalho, 1o de Maio, é a prestada a quem dela necessitar independente de contri-
data-base dos aposentados e pensionistas. buição.A assistência tem caráter não-contributivo visando
A data base de uma categoria profissional é a data ao amparo das pessoas necessitadas, conforme a previsão
destinada a correção salarial e a discussão e revisão das do art. 230 da CRFB/88, que a assistência social será pres-
condições de trabalho fixadas em acordo, convenção ou tada a quem dela necessitar independente de contribuição.
dissídio coletivo.
CAPÍTULO IX
Este Estatuto ao dispor sobre o regime da Previdên- Da Habitação
cia Social reconhece que este constitui direito essencial a
conferir dignidade ao trabalhador em especial aos idosos Art. 37. O idoso tem direito a moradia digna, no seio
que por muito tempo contribuíram a fim de fazer jus a este da família natural ou substituta, ou desacompanhado de
benefício. seus familiares, quando assim o desejar, ou, ainda, em insti-
A Previdência Social constitui um seguro coletivo que tuição pública ou privada.
visa a cobertura de riscos sociais, cujo objetivo está deli- § 1o A assistência integral na modalidade de entida-
neado no art. 1° da Lei 8.213/1991, que é assegurar aos de de longa permanência será prestada quando verificada
seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, inexistência de grupo familiar, casa-lar, abandono ou
por motivo de incapacidade, desemprego voluntário, ida- carência de recursos financeiros próprios ou da família.
de avançada, tempo de contribuição, encargos familiares e § 2o Toda instituição dedicada ao atendimento ao ido-
prisão ou morte daqueles de quem dependiam economi- so fica obrigada a manter identificação externa visível,
camente. sob pena de interdição, além de atender toda a legislação
pertinente.
CAPÍTULO VIII § 3o As instituições que abrigarem idosos são obriga-
Da Assistência Social das a manter padrões de habitação compatíveis com as
necessidades deles, bem como provê-los com alimenta-
Art. 33. A assistência social aos idosos será prestada, de ção regular e higiene indispensáveis às normas sanitárias
forma articulada, conforme os princípios e diretrizes pre- e com estas condizentes, sob as penas da lei.
vistos na Lei Orgânica da Assistência Social, na Política Na-
cional do Idoso, no Sistema Único de Saúde e demais normas Art. 38. Nos programas habitacionais, públicos ou sub-
pertinentes. sidiados com recursos públicos, o idoso goza de prioridade
na aquisição de imóvel para moradia própria, observado
Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) o seguinte:
anos, que não possuam meios para prover sua subsistência,   I - reserva de pelo menos 3% (três por cento) das uni-
nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o bene- dades habitacionais residenciais para atendimento aos ido-
fício mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da Lei sos; (Redação dada pela Lei nº 12.418, de 2011)
Orgânica da Assistência Social – Loas.  II – implantação de equipamentos urbanos comunitários
Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer voltados ao idoso;
membro da família nos termos do caput não será compu- III – eliminação de barreiras arquitetônicas e urbanísti-
tado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a cas, para garantia de acessibilidade ao idoso;
que se refere a Loas. IV – critérios de financiamento compatíveis com os ren-
dimentos de aposentadoria e pensão.
Art. 35. Todas as entidades de longa permanência, ou Parágrafo único.  As unidades residenciais reservadas
casa-lar, são obrigadas a firmar contrato de prestação de para atendimento a idosos devem situar-se, preferencialmen-
serviços com a pessoa idosa abrigada.  te, no pavimento térreo. (Incluído pela Lei nº 12.419, de 2011)
§ 1o No caso de entidades filantrópicas, ou casa-lar, é As ações do Estado visando conferir a pessoa idosa
facultada a cobrança de participação do idoso no custeio moradia digna devem alcançar os programas habitacionais,
da entidade. públicos ou subsidiados com recursos públicos, sendo que
§ 2o O Conselho Municipal do Idoso ou o Conselho Mu- nestes programas o idoso deve ter prioridade na aquisição
nicipal da Assistência Social estabelecerá a forma de par- de imóvel para moradia própria. Alguns requisitos devem
ticipação prevista no § 1o, que não poderá exceder a 70% ser observados nestes programas visando minimizar a si-
(setenta por cento) de qualquer benefício previdenciário ou tuação do idoso e a conferir-lhe moradia digna, como a
de assistência social percebido pelo idoso. reserva de pelo menos 3% (três por cento) das unidades
§ 3o Se a pessoa idosa for incapaz, caberá a seu repre- habitacionais residenciais para atendimento aos idosos.
sentante legal firmar o contrato a que se refere o caput des-
te artigo. CAPÍTULO X
Do Transporte
Art. 36. O acolhimento de idosos em situação de risco
social, por adulto ou núcleo familiar, caracteriza a de- Art. 39. Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos fica
pendência econômica, para os efeitos legais. assegurada a gratuidade dos transportes coletivos pú-
Já a assistência tem caráter não-contributivo visando blicos urbanos e semiurbanos, exceto nos serviços se-
ao amparo das pessoas necessitadas, conforme a previ- letivos e especiais, quando prestados paralelamente aos
são do art. 230 da CRFB/88, que a assistência social será serviços regulares.

148
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

§ 1o Para ter acesso à gratuidade, basta que o idoso TÍTULO III


apresente qualquer documento pessoal que faça prova de Das Medidas de Proteção
sua idade.
§ 2o Nos veículos de transporte coletivo de que tra- CAPÍTULO I
ta este artigo, serão reservados 10% (dez por cento) dos Das Disposições Gerais
assentos para os idosos, devidamente identificados com a
placa de reservado preferencialmente para idosos. Art. 43. As medidas de proteção ao idoso são aplicáveis
§ 3o No caso das pessoas compreendidas na faixa etária sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaçados ou violados:
entre 60 (sessenta) e 65 (sessenta e cinco) anos, ficará a
I – por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
critério da legislação local dispor sobre as condições para
II – por falta, omissão ou abuso da família, curador
exercício da gratuidade nos meios de transporte previstos
ou entidade de atendimento;
no caput deste artigo. III – em razão de sua condição pessoal.
Medidas de proteção são providências que serão to-
Art. 40. No sistema de transporte coletivo interestadual madas para resguardar a vítima de violação, exposta a si-
observar-se-á, nos termos da legislação específica:  tuação de risco. O artigo 43 leva em consideração a adoção
I – a reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veículo da doutrina da proteção integral pelo estatuto do idoso. As
para idosos com renda igual ou inferior a 2 (dois) salários- medidas de proteção se aplicam ao idoso em situação de
-mínimos; risco, que surgiu em razão de qualquer dos responsáveis
II – desconto de 50% (cinquenta por cento), no míni- por seu cuidado (Estado, família, sociedade). Existem inú-
mo, no valor das passagens, para os idosos que excederem meras situações de risco que justificam a adoção de medi-
as vagas gratuitas, com renda igual ou inferior a 2 (dois) das, por exemplo, agressões físicas, psíquicas, abandono
salários-mínimos. material ou afetivo (fundado no dever de solidariedade
Parágrafo único. Caberá aos órgãos competentes definir familiar), maus-tratos em geral. Além das medidas de pro-
os mecanismos e os critérios para o exercício dos direitos teção em favor do agredido, deverão ser tomadas medidas
previstos nos incisos I e II. de punição com relação ao agressor.

Art. 41. É assegurada a reserva, para os idosos, nos ter- CAPÍTULO II


Das Medidas Específicas de Proteção
mos da lei local, de 5% (cinco por cento) das vagas nos
estacionamentos públicos e privados, as quais deverão
Art. 44. As medidas de proteção ao idoso previstas nesta
ser posicionadas de forma a garantir a melhor comodidade Lei poderão ser aplicadas, isolada ou cumulativamente,
ao idoso. e levarão em conta os fins sociais a que se destinam e o
fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
Art. 42. São asseguradas a prioridade e a segurança do Nada impede a aplicação cumulada de mais de uma
idoso nos procedimentos de embarque e desembarque nos medida de proteção. Caberá a adoção de quantas e quais
veículos do sistema de transporte coletivo. (Redação dada forem necessárias para remover o idoso da situação de ris-
pela Lei nº 12.899, de 2013) co.
Está presente no Estatuto o direito fundamental do
idoso ao transporte. Estabelece-se que os idosos maiores Art. 45. Verificada qualquer das hipóteses previstas no
de 65 (sessenta e cinco) anos tem assegurado a gratuidade art. 43, o Ministério Público ou o Poder Judiciário, a re-
dos transportes coletivos públicos urbanos e semiurbanos, querimento daquele, poderá determinar, dentre outras, as
exceto nos serviços seletivos e especiais, quando prestados seguintes medidas:
paralelamente aos serviços regulares. I – encaminhamento à família ou curador, mediante
Assim, essa gratuidade compreende o transporte ur- termo de responsabilidade;
bano coletivo, aquele transporte público oferecido a todas II – orientação, apoio e acompanhamento temporá-
as pessoas a fim de que se desloquem diariamente na rea- rios;
III – requisição para tratamento de sua saúde, em re-
lização de suas atividades diversas e o transporte semiur-
gime ambulatorial, hospitalar ou domiciliar;
bano que tem as características do transporte coletivo, mas
IV – inclusão em programa oficial ou comunitário de
é prestado em áreas que ultrapassa os limites de muni-
auxílio, orientação e tratamento a usuários dependentes
cípios, em grandes centros metropolitanos. Essa benesse de drogas lícitas ou ilícitas, ao próprio idoso ou à pessoa de
não alcança os serviços de transportes seletivos destinado sua convivência que lhe cause perturbação;
a determinadas categorias de pessoas, como servidores de V – abrigo em entidade;
determinado órgão ou empresa pública, estudantes etc., VI – abrigo temporário.
como também não alcança o serviço de transporte espe- O Ministério Público é a instituição responsável por
cial, como os ônibus executivos que oferecem serviço e determinar ou requerer as medidas de proteção. Não é
atendimento diferenciado ao usuário. qualquer medida que o Ministério Público pode determi-
nar diretamente, mas apenas aquelas que não caracterizem

149
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

restrições involuntárias que afetem o direito de liberdade da Vigilância Sanitária e Conselho Municipal da Pessoa
(por exemplo, não pode de ofício determinar a internação Idosa, e em sua falta, junto ao Conselho Estadual ou Na-
compulsória). cional da Pessoa Idosa, especificando os regimes de aten-
As medidas descritas no rol do artigo 45 são exempli- dimento, observados os seguintes requisitos:
ficativas. Por exemplo, é possível aplicar as medidas prote- I – oferecer instalações físicas em condições adequa-
tivas de urgência da Lei Maria da Penha e as medidas cau- das de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança;
telares do CPP, quando necessário (como quando o idoso II – apresentar objetivos estatutários e plano de tra-
for vítima de crime). balho compatíveis com os princípios desta Lei;
Interessante observar que no artigo 45 se prevê a pos- III – estar regularmente constituída;
sibilidade de que a medida de proteção afete pessoa da IV – demonstrar a idoneidade de seus dirigentes.
convivência do idoso, caso se trate de dependente químico
que lhe causa perturbação. Art. 49.  As entidades que desenvolvam programas de
institucionalização de longa permanência adotarão os se-
TÍTULO IV guintes princípios:
Da Política de Atendimento ao Idoso I – preservação dos vínculos familiares;
II – atendimento personalizado e em pequenos grupos;
CAPÍTULO I III – manutenção do idoso na mesma instituição, sal-
Disposições Gerais vo em caso de força maior;
IV – participação do idoso nas atividades comunitá-
Art. 46. A política de atendimento ao idoso far-se-á por rias, de caráter interno e externo;
meio do conjunto articulado de ações governamentais V – observância dos direitos e garantias dos idosos;
e não-governamentais da União, dos Estados, do Distrito VI – preservação da identidade do idoso e oferecimento
Federal e dos Municípios. de ambiente de respeito e dignidade.
A exigência de uma forma articulada de política de Parágrafo único. O dirigente de instituição prestadora
atendimento, consolidando a proteção integral, exige pos-
de atendimento ao idoso responderá civil e criminalmen-
turas não apenas do Estado mas também de entes não-go-
te pelos atos que praticar em detrimento do idoso, sem
vernamentais.
prejuízo das sanções administrativas.
O artigo 49 é aplicável às instituições que tenham pro-
Art. 47. São linhas de ação da política de atendimento:
gramas de longa permanência. Seu parágrafo único traz
I – políticas sociais básicas, previstas na Lei no 8.842,
a regra da independência das instâncias (responsabilidade
de 4 de janeiro de 1994; (A lei dispõe sobre a política nacio-
civil, penal e administrativa – independentes entre si).
nal do idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras
providências)
II – políticas e programas de assistência social, em Art. 50.  Constituem obrigações das entidades de
caráter supletivo, para aqueles que necessitarem; atendimento: (rol exemplificativo)
III – serviços especiais de prevenção e atendimento I – celebrar contrato escrito de prestação de serviço
às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, com o idoso, especificando o tipo de atendimento, as obri-
crueldade e opressão; (serviços sociais, jurídicos, de saúde e gações da entidade e prestações decorrentes do contrato,
psicológicos) com os respectivos preços, se for o caso;
IV – serviço de identificação e localização de paren- II – observar os direitos e as garantias de que são ti-
tes ou responsáveis por idosos abandonados em hospitais tulares os idosos;
e instituições de longa permanência; III – fornecer vestuário adequado, se for pública, e ali-
V – proteção jurídico-social por entidades de defesa mentação suficiente;
dos direitos dos idosos; (ex.: MP, OAB, Defensoria, ONG) IV – oferecer instalações físicas em condições adequa-
VI – mobilização da opinião pública no sentido da das de habitabilidade;
participação dos diversos segmentos da sociedade no aten- V – oferecer atendimento personalizado;
dimento do idoso. VI – diligenciar no sentido da preservação dos vínculos
familiares;
CAPÍTULO II VII – oferecer acomodações apropriadas para recebi-
Das Entidades de Atendimento ao Idoso mento de visitas;
VIII – proporcionar cuidados à saúde, conforme a ne-
Art. 48. As entidades de atendimento são responsá- cessidade do idoso;
veis pela manutenção das próprias unidades, observa- IX – promover atividades educacionais, esportivas,
das as normas de planejamento e execução emanadas do culturais e de lazer;
órgão competente da Política Nacional do Idoso, conforme X – propiciar assistência religiosa àqueles que deseja-
a Lei no 8.842, de 1994. rem, de acordo com suas crenças;
Parágrafo único. As entidades governamentais e não- XI – proceder a estudo social e pessoal de cada caso;
-governamentais de assistência ao idoso ficam sujeitas à XII – comunicar à autoridade competente de saúde toda
inscrição de seus programas, junto ao órgão competente ocorrência de idoso portador de doenças infectocontagiosas;

150
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

XIII – providenciar ou solicitar que o Ministério Público c) suspensão parcial ou total do repasse de verbas
requisite os documentos necessários ao exercício da ci- públicas;
dadania àqueles que não os tiverem, na forma da lei; d) interdição de unidade ou suspensão de programa;
XIV – fornecer comprovante de depósito dos bens e) proibição de atendimento a idosos a bem do inte-
móveis que receberem dos idosos; resse público.
XV – manter arquivo de anotações onde constem data § 1o Havendo danos aos idosos abrigados ou qualquer
e circunstâncias do atendimento, nome do idoso, respon- tipo de fraude em relação ao programa, caberá o afasta-
sável, parentes, endereços, cidade, relação de seus perten- mento provisório dos dirigentes ou a interdição da unidade
ces, bem como o valor de contribuições, e suas alterações, e a suspensão do programa. (pode ser uma medida cautelar)
se houver, e demais dados que possibilitem sua identificação § 2o A suspensão parcial ou total do repasse de verbas
e a individualização do atendimento; públicas ocorrerá quando verificada a má aplicação ou
XVI – comunicar ao Ministério Público, para as provi- desvio de finalidade dos recursos.
dências cabíveis, a situação de abandono moral ou mate- § 3o Na ocorrência de infração por entidade de atendi-
rial por parte dos familiares; mento, que coloque em risco os direitos assegurados nesta
XVII – manter no quadro de pessoal profissionais com Lei, será o fato comunicado ao Ministério Público, para as
formação específica. providências cabíveis, inclusive para promover a suspensão
das atividades ou dissolução da entidade, com a proibição
Art. 51. As instituições filantrópicas ou sem fins lu- de atendimento a idosos a bem do interesse público, sem
crativos prestadoras de serviço ao idoso terão direito à as- prejuízo das providências a serem tomadas pela Vigilância
sistência judiciária gratuita. Sanitária.
Quando as instituições filantrópicas ou sem fins lucra- § 4o Na aplicação das penalidades, serão consideradas
tivos necessitarem ingressar ou responder judicialmente, a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos
terão direito à assistência judiciária gratuita. que dela provierem para o idoso, as circunstâncias agra-
vantes ou atenuantes e os antecedentes da entidade.
CAPÍTULO III Para aplicar a penalidade é preciso considerar: 1) natu-
Da Fiscalização das Entidades de Atendimento reza e gravidade da infração; 2) danos causados; 3) agra-
vantes e atenuantes; 4) antecedentes da entidade.
Art. 52.  As entidades governamentais e não-governa-
mentais de atendimento ao idoso serão fiscalizadas pelos CAPÍTULO IV
Conselhos do Idoso, Ministério Público, Vigilância Sani- Das Infrações Administrativas
tária e outros previstos em lei.
Art. 56. Deixar a entidade de atendimento de cum-
Art. 53. O art. 7o da Lei no 8.842, de 1994, passa a vigo- prir as determinações do art. 50 desta Lei: (Fixa as obri-
rar com a seguinte redação: gações das entidades de atendimento)
“Art. 7o Compete aos Conselhos de que trata o art. Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$
6  desta Lei a supervisão, o acompanhamento, a fiscaliza-
o
3.000,00 (três mil reais), se o fato não for caracterizado como
ção e a avaliação da política nacional do idoso, no âmbito crime, podendo haver a interdição do estabelecimento até
das respectivas instâncias político-administrativas.» que sejam cumpridas as exigências legais.
Parágrafo único. No caso de interdição do estabeleci-
Art. 54. Será dada publicidade das prestações de con- mento de longa permanência, os idosos abrigados serão
tas dos recursos públicos e privados recebidos pelas enti- transferidos para outra instituição, a expensas do estabeleci-
dades de atendimento. mento interditado, enquanto durar a interdição.
As entidades possuem, então, o dever de prestar con-
tas. O dever de publicidade pode ser excluído em casos Art. 57. Deixar o profissional de saúde ou o respon-
excepcionais. sável por estabelecimento de saúde ou instituição de longa
permanência de comunicar à autoridade competente os
Art. 55. As entidades de atendimento que descumprirem casos de crimes contra idoso de que tiver conhecimento:
as determinações desta Lei ficarão sujeitas, sem prejuízo Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$
da responsabilidade civil e criminal de seus dirigentes 3.000,00 (três mil reais), aplicada em dobro no caso de re-
ou prepostos, às seguintes penalidades, observado o devi- incidência.
do processo legal:
I – as entidades governamentais: Art. 58.  Deixar de cumprir as determinações desta
a) advertência; Lei sobre a prioridade no atendimento ao idoso:
b) afastamento provisório de seus dirigentes; Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$
c) afastamento definitivo de seus dirigentes; 1.000,00 (um mil reais) e multa civil a ser estipulada pelo
d) fechamento de unidade ou interdição de programa; juiz, conforme o dano sofrido pelo idoso.
II – as entidades não-governamentais: A aplicação de sanções administrativas decorre do po-
a) advertência; der de polícia do Estado, fazendo valer a predominância do
b) multa; interesse público sobre o particular.

151
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

CAPÍTULO V Art. 66. Havendo motivo grave, poderá a autoridade ju-


Da Apuração Administrativa de Infração às Nor- diciária, ouvido o Ministério Público, decretar liminarmen-
mas de Proteção ao Idoso te o afastamento provisório do dirigente da entidade ou
outras medidas que julgar adequadas, para evitar lesão aos
Art. 59. Os valores monetários expressos no Capítulo direitos do idoso, mediante decisão fundamentada.
IV serão atualizados anualmente, na forma da lei.
Art. 67.  O dirigente da entidade será citado para, no
Art. 60. O procedimento para a imposição de penalidade prazo de 10 (dez) dias, oferecer resposta escrita, podendo
administrativa por infração às normas de proteção ao idoso juntar documentos e indicar as provas a produzir.
terá início com requisição do Ministério Público ou auto
de infração elaborado por servidor efetivo e assinado, Art. 68. Apresentada a defesa, o juiz procederá na con-
se possível, por duas testemunhas. formidade do art. 69 (segue o CPC) ou, se necessário, de-
signará audiência de instrução e julgamento, deliberando
§ 1o No procedimento iniciado com o auto de infração
sobre a necessidade de produção de outras provas.
poderão ser usadas fórmulas impressas, especificando-se
§ 1o Salvo manifestação em audiência, as partes e o
a natureza e as circunstâncias da infração.
Ministério Público terão 5 (cinco) dias para oferecer ale-
§ 2o Sempre que possível, à verificação da infração se- gações finais, decidindo a autoridade judiciária em igual
guir-se-á a lavratura do auto, ou este será lavrado dentro prazo.
de 24 (vinte e quatro) horas, por motivo justificado. § 2o Em se tratando de afastamento provisório ou defi-
nitivo de dirigente de entidade governamental, a autorida-
Art. 61. O autuado terá prazo de 10 (dez) dias para de judiciária oficiará a autoridade administrativa ime-
a apresentação da defesa, contado da data da intimação, diatamente superior ao afastado, fixando-lhe prazo de 24
que será feita: (vinte e quatro) horas para proceder à substituição.
I – pelo autuante, no instrumento de autuação, quando § 3o Antes de aplicar qualquer das medidas, a auto-
for lavrado na presença do infrator; ridade judiciária poderá fixar prazo para a remoção das
II – por via postal, com aviso de recebimento. irregularidades verificadas. Satisfeitas as exigências, o
processo será extinto, sem julgamento do mérito.
Art. 62.  Havendo risco para a vida ou à saúde do § 4o A multa e a advertência serão impostas ao di-
idoso, a autoridade competente aplicará à entidade de rigente da entidade ou ao responsável pelo programa de
atendimento as sanções regulamentares, sem prejuízo da atendimento.
iniciativa e das providências que vierem a ser adotadas pelo
Ministério Público ou pelas demais instituições legitima- 1 – Início – Petição fundamentada do interessado ou
das para a fiscalização. do Ministério Público;
2 – Decisão liminar – juiz de forma fundamentada, ou-
Art. 63. Nos casos em que não houver risco para a vida vido o MP, pode decretar o afastamento provisório do di-
ou a saúde da pessoa idosa abrigada, a autoridade compe- rigente ou outra medida para evitar lesões (prazo de 24
tente aplicará à entidade de atendimento as sanções regu- horas para nomeação de substituto);
lamentares, sem prejuízo da iniciativa e das providências 3 – Defesa – citado, o dirigente tem 10 dias para ofere-
que vierem a ser adotadas pelo Ministério Público ou pelas cer resposta e juntar provas;
4 – Audiência de instrução e julgamento – juiz poderá
demais instituições legitimadas para a fiscalização.
seguir o rito comum do CPC ou designar AIJ para produzir
outras provas;
1 – Início: a) requisição do MP; b) auto de infração assi-
5 – Alegações finais – partes e MP terão 5 dias para
nado por duas testemunhas, caso possível; apresentar as alegações finais se elas não tiverem sido fei-
2 – Defesa: autuado terá 10 dias para defesa; tas em audiência;
3 – Aplicação de penalidade – sanções regulamentares 6 – Decisão definitiva – juiz decide em 5 dias, multa e
(mais leves, as graves serão apuradas judicialmente). advertência aplicadas ao responsável pelo programa ou ao
dirigente da entidade.
CAPÍTULO VI ATENÇÃO: removidas as irregularidades o processo é
Da Apuração Judicial de Irregularidades em Enti- extinto sem julgamento do mérito.
dade de Atendimento
TÍTULO V
Art. 64.  Aplicam-se, subsidiariamente, ao procedi- Do Acesso à Justiça
mento administrativo de que trata este Capítulo as dispo-
sições das Leis nos 6.437, de 20 de agosto de 1977 (infrações CAPÍTULO I
à legislação sanitária federal), e 9.784, de 29 de janeiro de Disposições Gerais
1999 (processo administrativo).
Art. 69. Aplica-se, subsidiariamente, às disposições deste
Art. 65. O procedimento de apuração de irregularidade em Capítulo, o procedimento sumário previsto no Código de
entidade governamental e não-governamental de atendimen- Processo Civil, naquilo que não contrarie os prazos previstos
to ao idoso terá início mediante petição fundamentada de nesta Lei.
pessoa interessada ou iniciativa do Ministério Público. Hoje o CPC apenas tem um procedimento comum.

152
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Art. 70. O Poder Público poderá criar varas especiali- IV – promover a revogação de instrumento procura-
zadas e exclusivas do idoso. tório do idoso, nas hipóteses previstas no art. 43 desta Lei,
A criação de varas especializadas é facultativa. quando necessário ou o interesse público justificar;
V – instaurar procedimento administrativo e, para
Art. 71. É assegurada prioridade na tramitação dos instruí-lo:
processos e procedimentos e na execução dos atos e di- a) expedir notificações, colher depoimentos ou escla-
ligências judiciais em que figure como parte ou interve- recimentos e, em caso de não comparecimento injustificado
niente pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) da pessoa notificada, requisitar condução coercitiva, inclu-
anos, em qualquer instância. sive pela Polícia Civil ou Militar;
§ 1o O interessado na obtenção da prioridade a que b) requisitar informações, exames, perícias e docu-
alude este artigo, fazendo prova de sua idade, requererá mentos de autoridades municipais, estaduais e federais, da
o benefício à autoridade judiciária competente para decidir administração direta e indireta, bem como promover inspe-
o feito, que determinará as providências a serem cumpri- ções e diligências investigatórias;
das, anotando-se essa circunstância em local visível nos c) requisitar informações e documentos particulares
autos do processo. de instituições privadas;
§ 2o A prioridade não cessará com a morte do be- VI – instaurar sindicâncias, requisitar diligências in-
neficiado, estendendo-se em favor do cônjuge supérstite, vestigatórias e a instauração de inquérito policial, para
companheiro ou companheira, com união estável, maior a apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção
de 60 (sessenta) anos. ao idoso;
§ 3o A prioridade se estende aos processos e proce- VII – zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garan-
dimentos na Administração Pública, empresas presta- tias legais assegurados ao idoso, promovendo as medidas
doras de serviços públicos e instituições financeiras, ao judiciais e extrajudiciais cabíveis;
atendimento preferencial junto à Defensoria Pública da VIII – inspecionar as entidades públicas e particulares
União, dos Estados e do Distrito Federal em relação aos Ser- de atendimento e os programas de que trata esta Lei, ado-
viços de Assistência Judiciária.
tando de pronto as medidas administrativas ou judiciais
§ 4o Para o atendimento prioritário será garantido ao
necessárias à remoção de irregularidades porventura ve-
idoso o fácil acesso aos assentos e caixas, identificados
rificadas;
com a destinação a idosos em local visível e caracteres le-
IX – requisitar força policial, bem como a colaboração
gíveis.
dos serviços de saúde, educacionais e de assistência so-
§ 5º Dentre os processos de idosos, dar-se-á prioridade
cial, públicos, para o desempenho de suas atribuições;
especial aos maiores de oitenta anos.
X – referendar transações envolvendo interesses e di-
Fixa-se no artigo 71 a prioridade na tramitação de
processos e procedimentos em geral caso seja parte ou reitos dos idosos previstos nesta Lei.
interveniente (terceiro) pessoa idosa maior de 60 anos. A § 1o A legitimação do Ministério Público para as ações
concessão de prioridade deve ser requerida no processo cíveis previstas neste artigo não impede a de terceiros,
juntando-se prova documental. Caso o interessado faleça nas mesmas hipóteses, segundo dispuser a lei.
e seja sucedido no processo por cônjuge maior de 60 anos § 2o As atribuições constantes deste artigo não ex-
permanece o benefício. Ainda, a prioridade será especial cluem outras, desde que compatíveis com a finalidade e
para o maior de 80 anos. atribuições do Ministério Público.
§ 3o O representante do Ministério Público, no exercí-
CAPÍTULO II cio de suas funções, terá livre acesso a toda entidade de
Do Ministério Público atendimento ao idoso.

Art. 72. (VETADO) Art. 75. Nos processos e procedimentos em que não for


parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público na
Art. 73.  As funções do Ministério Público, previstas defesa dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipó-
nesta Lei, serão exercidas nos termos da respectiva Lei Or- teses em que terá vista dos autos depois das partes, podendo
gânica. juntar documentos, requerer diligências e produção de
outras provas, usando os recursos cabíveis.
Art. 74. Compete ao Ministério Público: MP = parte ou fiscal da lei. Quando não for um, será
I – instaurar o inquérito civil e a ação civil pública outro.
para a proteção dos direitos e interesses difusos ou coletivos,
individuais indisponíveis e individuais homogêneos do idoso; Art. 76. A intimação do Ministério Público, em qualquer
II – promover e acompanhar as ações de alimentos, de caso, será feita pessoalmente.
interdição total ou parcial, de designação de curador es-
pecial, em circunstâncias que justifiquem a medida e oficiar Art. 77. A falta de intervenção do Ministério Público
em todos os feitos em que se discutam os direitos de idosos acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício
em condições de risco; pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado.
III – atuar como substituto processual do idoso em Se o MP não intervir, haverá nulidade.
situação de risco, conforme o disposto no art. 43 desta Lei;

153
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

CAPÍTULO III Art. 83. Na ação que tenha por objeto o cumprimento
Da Proteção Judicial dos Interesses Difusos, Coleti- de obrigação de fazer ou não-fazer, o juiz concederá a
vos e Individuais Indisponíveis ou Homogêneos tutela específica da obrigação ou determinará provi-
dências que assegurem o resultado prático equivalente ao
Art. 78.  As manifestações processuais do represen- adimplemento.
tante do Ministério Público deverão ser fundamentadas. § 1o Sendo relevante o fundamento da demanda e ha-
vendo justificado receio de ineficácia do provimento final,
Art. 79. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após
de responsabilidade por ofensa aos direitos assegura- justificação prévia, na forma do art. 273 do Código de Pro-
dos ao idoso, referentes à omissão ou ao oferecimento in- cesso Civil.
satisfatório de: § 2o O juiz poderá, na hipótese do § 1o ou na sentença,
I – acesso às ações e serviços de saúde; impor multa diária ao réu, independentemente do pedido
II – atendimento especializado ao idoso portador de do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação,
deficiência ou com limitação incapacitante; fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.
III – atendimento especializado ao idoso portador de § 3o A multa só será exigível do réu após o trânsito em
doença infectocontagiosa; julgado da sentença favorável ao autor, mas será devida
desde o dia em que se houver configurado.
IV – serviço de assistência social visando ao amparo
do idoso.
Art. 84. Os valores das multas previstas nesta Lei rever-
Parágrafo único. As hipóteses previstas neste artigo não
terão ao Fundo do Idoso, onde houver, ou na falta deste,
excluem da proteção judicial outros interesses difusos,
ao Fundo Municipal de Assistência Social, ficando vincu-
coletivos, individuais indisponíveis ou homogêneos, lados ao atendimento ao idoso.
próprios do idoso, protegidos em lei. Parágrafo único. As multas não recolhidas até 30 (trinta)
dias após o trânsito em julgado da decisão serão exigidas
Art. 80. As ações previstas neste Capítulo serão propos- por meio de execução promovida pelo Ministério Públi-
tas no foro do domicílio do idoso, cujo juízo terá com- co, nos mesmos autos, facultada igual iniciativa aos demais
petência absoluta para processar a causa, ressalvadas as legitimados em caso de inércia daquele.
competências da Justiça Federal e a competência originá-
ria dos Tribunais Superiores. Art. 85.  O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos
recursos, para evitar dano irreparável à parte.
Art. 81. Para as ações cíveis fundadas em interesses
difusos, coletivos, individuais indisponíveis ou homogêneos, Art. 86. Transitada em julgado a sentença que impuser
consideram-se legitimados, concorrentemente: condenação ao Poder Público, o juiz determinará a remes-
I – o Ministério Público; sa de peças à autoridade competente, para apuração da
II – a União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- responsabilidade civil e administrativa do agente a que se
nicípios; atribua a ação ou omissão.
III – a Ordem dos Advogados do Brasil;
IV – as associações legalmente constituídas há pelo Art. 87. Decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em
menos 1 (um) ano e que incluam entre os fins institu- julgado da sentença condenatória favorável ao idoso sem
cionais a defesa dos interesses e direitos da pessoa idosa, que o autor lhe promova a execução, deverá fazê-lo o
dispensada a autorização da assembleia, se houver prévia Ministério Público, facultada, igual iniciativa aos demais
autorização estatutária. legitimados, como assistentes ou assumindo o polo ativo, em
§ 1o Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os caso de inércia desse órgão.
Ministérios Públicos da União e dos Estados na defesa dos
interesses e direitos de que cuida esta Lei. Art. 88. Nas ações de que trata este Capítulo, não ha-
verá adiantamento de custas, emolumentos, honorários
§ 2o Em caso de desistência ou abandono da ação
periciais e quaisquer outras despesas.
por associação legitimada, o Ministério Público ou outro
Parágrafo único. Não se imporá sucumbência ao Mi-
legitimado deverá assumir a titularidade ativa.
nistério Público.
Art. 82. Para defesa dos interesses e direitos protegidos Art. 89. Qualquer pessoa poderá, e o servidor deverá,
por esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ação provocar a iniciativa do Ministério Público, prestando-
pertinentes. -lhe informações sobre os fatos que constituam objeto de
Parágrafo único. Contra atos ilegais ou abusivos de au- ação civil e indicando-lhe os elementos de convicção.
toridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício
de atribuições de Poder Público, que lesem direito líquido Art. 90. Os agentes públicos em geral, os juízes e tri-
e certo previsto nesta Lei, caberá ação mandamental, que bunais, no exercício de suas funções, quando tiverem conhe-
se regerá pelas normas da lei do mandado de segurança. cimento de fatos que possam configurar crime de ação

154
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

pública contra idoso ou ensejar a propositura de ação para idade avançada. O legislador preocupou-se ainda com a
sua defesa, devem encaminhar as peças pertinentes ao eficácia das decisões, que devem assegurar os resultados
Ministério Público, para as providências cabíveis. práticos esperados pelos idosos nas lides judiciais.

Art. 91. Para instruir a petição inicial, o interessado po- TÍTULO VI


derá requerer às autoridades competentes as certidões e Dos Crimes
informações que julgar necessárias, que serão fornecidas
no prazo de 10 (dez) dias. CAPÍTULO I
Disposições Gerais
Art. 92.  O Ministério Público poderá instaurar sob sua
presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer pes- Art. 93.  Aplicam-se subsidiariamente, no que couber,
soa, organismo público ou particular, certidões, informa- as disposições da Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985.
ções, exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual Aplicação subsidiária da Lei de Ação Civil Pública.
não poderá ser inferior a 10 (dez) dias.
§ 1o Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena má-
as diligências, se convencer da inexistência de fundamento xima privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro)
para a propositura da ação civil ou de peças informativas, anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei no 9.099,
determinará o seu arquivamento, fazendo-o fundamen- de 26 de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que
tadamente. couber, as disposições do Código Penal e do Código de
§ 2o Os autos do inquérito civil ou as peças de informa- Processo Penal. (Vide ADI 3.096-5 - STF)
ção arquivados serão remetidos, sob pena de se incorrer em O STF na ADI 3.096-5 (interpretação conforme com re-
falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior dução de texto) firmou o entendimento de que o disposi-
do Ministério Público ou à Câmara de Coordenação e tivo deve ser interpretado em favor do idoso, não devendo
Revisão do Ministério Público. ser beneficiado quem lhe viole direitos. Por isso, os agen-
§ 3o Até que seja homologado ou rejeitado o arquiva- tes que praticam crimes contra o idoso não poderão ter
mento, pelo Conselho Superior do Ministério Público ou por acesso a benefícios despenalizadores de direito material,
Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público, as como conciliação, transação penal, composição civil de da-
associações legitimadas poderão apresentar razões es- nos ou conversão de pena. Somente se aplicam as normas
critas ou documentos, que serão juntados ou anexados às estritamente processuais da lei (por exemplo, normas que
peças de informação. favorecem a celeridade processual e, portanto, são benéfi-
§ 4o  Deixando o Conselho Superior ou a Câmara de cas ao idoso). Embora seja adotado o rito da 9.099 quando
Coordenação e Revisão do Ministério Público de homologar a pena máxima não for maior que 4 anos, os crimes não
a promoção de arquivamento, será designado outro mem- se sujeitam à competência dos juizados especiais e não se
bro do Ministério Público para o ajuizamento da ação. enquadram como menor potencial ofensivo.
Obs.: A pena máxima é maior que 4 anos nos crimes
A proteção judicial dos interesses difusos, coletivos e do 99, §2º e 107.
individuais indisponíveis ou homogêneos relacionados às
garantias e direitos fundamentais dos idosos, nos termos CAPÍTULO II
da Constituição e da legislação ordinária, é atribuição do Dos Crimes em Espécie
Ministério Público, que deve se manifestar fundamentada-
mente em todas os processos. Direito penal promocional – função promocional da
O Estatuto do Idoso rege as ações de responsabilidade intervenção punitiva – busca-se transformar as condições
por ofensa aos direitos assegurados aos idosos, referentes de vida e a consciência do povo para dar uma direção a
à omissão ou ao oferecimento insatisfatório de acesso às determinada finalidade.
ações e serviços de saúde; de atendimento especializado
aos idosos com deficiência ou com limitação incapacitante; Art. 95. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pe-
de atendimento especializado ao idosos com doença infec- nal pública incondicionada, não se lhes aplicando os arts.
to-contagiosa; e de serviço de assistência social visando ao 181 e 182 do Código Penal.
amparo dos idosos. Não se aplicam 181 e 182 – escusa absolutória e escusa
Para as ações cíveis fundadas em interesses difusos, relativa – qualquer delito contra o idoso, seja patrimonial
coletivos, individuais indisponíveis ou homogêneos, con- ou não, com ou sem violência ou grave ameaça, a ação
sideram-se legitimados, concorrentemente, o Ministério sempre será pública incondicionada.
Público, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni- Cabe ação penal privada subsidiária da pública caso o
cípios, a Ordem dos Advogados do Brasil, e as associações MP seja omisso.
de defesa dos interesses e direitos da pessoa idosa.
O conteúdo processual do Estatuto do Idoso tem como Os crimes previstos nos artigos 96 a 108 do Estatu-
objetivo garantir que se respeite o princípio constitucional to buscam proteger a pessoa idosa da discriminação, do
da razoável duração do processo – que deve ser mais curta, descuido, do abandono, da falta de acolhida, do desprezo,
tendo em vista tratar-se de grupo vulnerável em razão da da exposição ao perigo, da negativa de oportunidades de

155
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

realização pessoal e profissional, da obstrução do acesso à Pena – detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa.
justiça, da exploração financeira, do assédio econômico e Disciplina o crime de abandono de idoso.
da manipulação. Objeto jurídico: saúde e dignidade do idoso.
Sujeito ativo: qualquer pessoa, no caso da primeira
Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou difi- parte (crime comum); apenas o responsável por atender às
cultando seu acesso a operações bancárias, aos meios de necessidades básicas do idoso, no caso da segunda parte
transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro (crime próprio).
meio ou instrumento necessário ao exercício da cidada- Sujeito passivo: idoso.
nia, por motivo de idade: Tipo objetivo: em ambas condutas, se deixa o idoso à
Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. própria sorte; na conduta de abandono se trata de conduta
§ 1o Na mesma pena incorre quem desdenhar, humi- comissiva, admitindo tentativa; na conduta de não prover
lhar, menosprezar ou discriminar pessoa idosa, por qual- necessidades se tem conduta omissiva, que não admite
quer motivo.
tentativa.
§ 2o A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a
Tipo subjetivo: dolo.
vítima se encontrar sob os cuidados ou responsabilidade
Pena: detenção, 6 meses a 3 anos + multa.
do agente.
Trata-se do crime de discriminação contra a pessoa
idosa. Art. 99.  Expor a perigo a integridade e a saúde, fí-
Objeto jurídico: dignidade da pessoa idosa, proteção sica ou psíquica, do idoso, submetendo-o a condições de-
contra o tratamento desigual. sumanas ou degradantes ou privando-o de alimentos e
Sujeito ativo: qualquer pessoa. cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou
Sujeito passivo: idoso. sujeitando-o a trabalho excessivo ou inadequado:
Tipo objetivo: no caput se traz um crime material, pois Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa.
é preciso uma conduta que coloque em perigo real o exer- § 1o Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
cício da cidadania pela pessoa idosa, de modo que não Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
realizado o resultado naturalístico de se colocar em peri- § 2o Se resulta a morte:
go a cidadania do idoso o crime será tentado. Já no §1º o Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
crime é de mera conduta, pois os motivos que levaram à Trata-se do crime de exposição do idoso ao perigo.
prática criminosa não precisam ser investigados, por con- Objeto jurídico: saúde física ou psíquica e dignidade.
sequência não se aceita tentativa. Sujeito ativo: qualquer pessoa para as condutas que
Tipo subjetivo: Dolo. envolvem submissão a condições desumanas, privação de
Pena: reclusão, de 6 meses a 1 ano + multa. cuidados ou degradantes e sujeição a trabalho excessivo
Causa de aumento de pena: aumento de 1/3 em caso ou inadequado (crime comum); apenas os responsáveis
de vítima sob cuidado ou responsabilidade do agente. por alimentos no caso de conduta de privação destes (cri-
me próprio).
Art. 97. Deixar de prestar assistência ao idoso, quan- Sujeito passivo: idoso.
do possível fazê-lo sem risco pessoal, em situação de imi- Tipo objetivo: condutas objetivas comissivas (submis-
nente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua as- são a condições degradantes ou desumanas, sujeição a
sistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir, nesses trabalho excessivo ou inadequado), que admitem tentativa,
casos, o socorro de autoridade pública: e omissivas (privação de alimentos e cuidados), que não a
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. admitem.
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da
Tipo subjetivo: dolo.
omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplica-
Pena: detenção, 2 meses a 1 ano + multa.
da, se resulta a morte.
Qualificadoras: se resulta em lesão grave, pena de re-
Trata-se no artigo 97 o crime de omissão de socorro.
clusão de 1 a 4 anos; se resulta em morte, pena de reclusão
Objeto jurídico: vida e saúde do idoso.
Sujeito ativo: qualquer pessoa. de 4 a 12 anos.
Sujeito passivo: idoso.
Tipo objetivo: delito omissivo. Consuma-se no mo- Art. 100. Constitui crime punível com reclusão de 6 (seis)
mento da omissão e não aceita a tentativa. meses a 1 (um) ano e multa:
Tipo subjetivo: dolo. I – obstar o acesso de alguém a qualquer cargo públi-
Pena: detenção, 6 meses a 1 ano + multa. co por motivo de idade;
Causa de aumento de pena: aumento de 1/2 se resulta É o crime de impedimento de acesso a cargo públi-
em lesão corporal grave; triplicada em caso de morte. co em razão da idade. O objeto jurídico é a dignidade; o
sujeito ativo pode ser qualquer pessoa; sujeito passivo é a
Art. 98. Abandonar o idoso em hospitais, casas de pessoa idosa; tipo subjetivo é o dolo; admite tentativa por-
saúde, entidades de longa permanência, ou congêneres, que é possível não conseguir impedir o acesso ao cargo.
ou não prover suas necessidades básicas, quando obri- II – negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou
gado por lei ou mandado: trabalho;

156
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

É o crime de recusa de emprego ou trabalho em ra- Objeto jurídico: patrimônio.


zão de idade. O objeto jurídico é a dignidade; o sujeito Sujeito ativo: qualquer pessoa.
ativo pode ser qualquer pessoa; sujeito passivo é a pessoa Sujeito passivo: idoso.
idosa; tipo subjetivo é o dolo; não admite tentativa porque Tipo subjetivo: dolo.
a negação é ato unissubsistente. Tipo objetivo: o crime se caracteriza com a apropria-
III – recusar, retardar ou dificultar atendimento ou ção ou o desvio, assim se consumando, aceitando tentativa
deixar de prestar assistência à saúde, sem justa causa, a caso se frustre a apropriação ou o desvio.
pessoa idosa; Pena: reclusão, 1 a 4 anos + multa.
É o crime de prestação deficitária de atendimento à
saúde de idoso. O objeto jurídico é a saúde; o sujeito ativo Art. 103. Negar o acolhimento ou a permanência do
pode ser qualquer pessoa; sujeito passivo é a pessoa idosa; idoso, como abrigado, por recusa deste em outorgar pro-
tipo subjetivo é o dolo; não admite a tentativa porque a curação à entidade de atendimento:
recusa/retardo/dificuldade são atos unissubsistentes. Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
IV – deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo É o crime de negativa de abrigo por entidade de
motivo, a execução de ordem judicial expedida na ação atendimento ao idoso.
civil a que alude esta Lei; Objeto jurídico: saúde e patrimônio.
É o crime de desobediência a ordem judicial em Sujeito ativo: responsável por entidade de atendimen-
ação civil específica. O objeto jurídico é a administração to ou outra pessoa com poderes de recusar abrigo (crime
da justiça; o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa; sujeito próprio).
passivo é o Estado e os idosos; tipo subjetivo é o dolo; ad- Sujeito passivo: idoso.
mite tentativa nas condutas de frustrar e retardar e não na Tipo subjetivo: dolo.
de deixar de cumprir (é possível que não consiga frustrar Tipo objetivo: o crime se caracteriza com a negativa de
ou retardar e a ordem seja cumprida de toda forma), mas atendimento, que no caso não admite tentativa, ou com a
não quando a deixar de cumprir ou retardar, que são con- negação de permanência, que admite tentativa, pois a pes-
dutas omissivas. soa pode conseguir permanecer na instituição.
V – recusar, retardar ou omitir dados técnicos in- Pena: detenção, 6 meses a 1 ano + multa.
dispensáveis à propositura da ação civil objeto desta Lei,
quando requisitados pelo Ministério Público. Art. 104. Reter o cartão magnético de conta bancá-
É o crime de obstrução à atuação do MP para ins- ria relativa a benefícios, proventos ou pensão do idoso, bem
truir ação civil específica. O objeto jurídico é o poder como qualquer outro documento com objetivo de assegu-
do MP de requisitar informações; o sujeito ativo pode ser rar recebimento ou ressarcimento de dívida:
qualquer pessoa; sujeito passivo é o MP e os idosos; tipo Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa.
subjetivo é o dolo; não admite tentativa porque são condu- É o crime de retenção de cartão bancário ou docu-
tas omissivas/negativas. mento do idoso.
Pena: reclusão, 6 meses a 1 ano + multa. Objeto jurídico: patrimônio.
Sujeito ativo: qualquer pessoa.
Art. 101. Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem Sujeito passivo: idoso.
justo motivo, a execução de ordem judicial expedida nas Tipo subjetivo: dolo.
ações em que for parte ou interveniente o idoso: Tipo objetivo: se consuma com a retenção, não admi-
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. tindo tentativa. Caso resulte em apropriação de rendimen-
Descreve o crime de desobediência a ordem judicial tos, enquadra-se no artigo 102.
em ações de interesse do idoso. Pena: detenção, 6 meses a 2 anos + multa.
Objeto jurídico: administração da justiça.
Sujeito ativo: qualquer pessoa. Art. 105. Exibir ou veicular, por qualquer meio de co-
Sujeito passivo: Estado e idoso. municação, informações ou imagens depreciativas ou
Tipo subjetivo: dolo. injuriosas à pessoa do idoso:
Tipo objetivo: não se refere a descumprir uma ordem Pena – detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.
em ação civil pública, baseada nos artigos 78 a 92 do Es- Trata-se do crime de publicidade depreciativa ou in-
tatuto (artigo 100, IV, EI), mas em qualquer ação em que o juriosa à pessoa idosa.
idoso seja parte ou interveniente, admitindo tentativa nas Objeto jurídico: dignidade, honra e imagem.
condutas de frustrar e retardar e não na de deixar de cum- Sujeito ativo: qualquer pessoa.
prir. Sujeito passivo: idoso.
Pena: detenção, 6 meses a 1 ano + multa. Tipo subjetivo: dolo.
Tipo objetivo: se consuma com a exibição ou veicula-
Art. 102. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, ção, que por serem condutas comissivas admitem tentativa.
pensão ou qualquer outro rendimento do idoso, dando-lhes Pena: detenção, 1 a 3 anos + multa.
aplicação diversa da de sua finalidade:
Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa. Art. 106.  Induzir pessoa idosa sem discernimento de
É o crime de apropriação ou desvio de bens ou ren- seus atos a outorgar procuração para fins de administra-
dimentos do idoso. ção de bens ou deles dispor livremente:

157
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. Art. 110. O Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de
Trata-se do crime de indução de pessoa idosa sem 1940, Código Penal, passa a vigorar com as seguintes alte-
discernimento a dispor de seus bens. rações:
Objeto jurídico: patrimônio. “Art. 61. [...] II [...] h) contra criança, maior de 60 (sessen-
Sujeito ativo: qualquer pessoa. ta) anos, enfermo ou mulher grávida; [...]”
Sujeito passivo: idoso sem lucidez (não importa se não “Art. 121. [...] § 4o No homicídio culposo, a pena é au-
foi interditado). mentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobser-
Tipo subjetivo: dolo. vância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se
Tipo objetivo: se consuma com o ato de outorga, ca- o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não
bendo tentativa em tese. procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge
Pena: reclusão, 2 a 4 anos. para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio,
a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é pratica-
do contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60
Art. 107.  Coagir, de qualquer modo, o idoso a doar,
(sessenta) anos.»
contratar, testar ou outorgar procuração:
“Art. 133. [...] § 3o [...] III - se a vítima é maior de 60 (ses-
Pena – reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
senta) anos.” (NR)
Trata-se de crime de coação de pessoa idosa à dilapi- “Art. 140. [...] § 3o Se a injúria consiste na utilização de
dação de seu patrimônio. elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou
Objeto jurídico: liberdade e patrimônio. a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:
Sujeito ativo: qualquer pessoa. [...]»
Sujeito passivo: idoso. “Art. 141. [...] IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta)
Tipo subjetivo: dolo. anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria.
Tipo objetivo: se consuma com a coação, cabendo em [...]”
tese tentativa se a coação não gerar o resultado esperado. “Art. 148. [...] § 1o [...] I – se a vítima é ascendente, des-
Pena: reclusão, 2 a 5 anos. cendente, cônjuge do agente ou maior de 60 (sessenta) anos.
[...]”
Art. 108. Lavrar ato notarial que envolva pessoa idosa “Art. 159. [...] § 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte
sem discernimento de seus atos, sem a devida representa- e quatro) horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou
ção legal: maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. bando ou quadrilha. [...]”
Lavratura de ato notarial sem representação legal do “Art. 183. [...] III – se o crime é praticado contra pessoa
idoso incapaz com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.” (NR)
Objeto jurídico: patrimônio. “Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistên-
Sujeito ativo: tabelião ou escrivão público, ou escre- cia do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou
vente de cartório de registros públicos (crime próprio). inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior
Sujeito passivo: idoso sem lucidez (não importa se não de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos
foi interditado). necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentí-
Tipo subjetivo: dolo. cia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem
Tipo objetivo: se consuma com o ato de lavratura, ca- justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, grave-
bendo tentativa. mente enfermo: [...]”
Pena: reclusão, 2 a 4 anos.
Art. 111. O art. 21 do Decreto-Lei no 3.688, de 3 de ou-
tubro de 1941, Lei das Contravenções Penais, passa a vi-
TÍTULO VII
gorar acrescido do seguinte parágrafo único:
Disposições Finais e Transitórias “Art. 21. [...] Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3
(um terço) até a metade se a vítima é maior de 60 (sessenta)
Art. 109. Impedir ou embaraçar ato do representante anos.” (NR)
do Ministério Público ou de qualquer outro agente fis-
calizador: Art. 112. O inciso II do § 4o do art. 1o da Lei no 9.455, de
Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. 7 de abril de 1997, passa a vigorar com a seguinte redação:
Descreve o crime de impedimento ou embaraço de ato “Art. 1o [...] §4º [...] II – se o crime é cometido contra
de representante do Ministério Público ou de qualquer ou- criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou
tro agente fiscalizador. maior de 60 (sessenta) anos; [...]».
Objeto jurídico: fiscalização de entidades de idoso.
Sujeito ativo: qualquer pessoa. Art. 113. O inciso III do art. 18 da Lei no 6.368, de 21 de
Sujeito passivo: Ministério Público ou agente fiscalizador. outubro de 1976, passa a vigorar com a seguinte redação:
Tipo subjetivo: dolo. “Art. 18. [...] III – se qualquer deles decorrer de associa-
Tipo objetivo: impedir ou embaraçar representante do ção ou visar a menores de 21 (vinte e um) anos ou a pessoa
MP ou outro agente, não admitindo tentativa. com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos ou a quem
Pena: reclusão, 6 meses a 1 ano + multa. tenha, por qualquer causa, diminuída ou suprimida a capa-
cidade de discernimento ou de autodeterminação: [...]”.

158
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Art. 114. O art. 1º da Lei no 10.048, de 8 de novembro de a) por agente público.


2000, passa a vigorar com a seguinte redação: b) mediante sequestro.
“Art. 1o  As pessoas portadoras de deficiência, os ido- c) contra vítima de 55 anos.
sos com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, as d) contra portador de deficiência.
gestantes, as lactantes e as pessoas acompanhadas por R: C. Preconiza o art. 1o em seu §4o: “Aumenta-se a
crianças de colo terão atendimento prioritário, nos termos pena de um sexto até um terço: I - se o crime é cometido
desta Lei.» por agente público; II - se o crime é cometido contra crian-
ça, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior
Art. 115. O Orçamento da Seguridade Social destinará de 60 (sessenta) anos; III - se o crime é cometido mediante
ao Fundo Nacional de Assistência Social, até que o Fun- sequestro”.
do Nacional do Idoso seja criado, os recursos necessários,
em cada exercício financeiro, para aplicação em programas
e ações relativos ao idoso. 3. (FCC/2014 - Prefeitura de Recife/PE - Procurador)
Nos termos do art. 226 da Constituição Federal, “a família,
Art. 116. Serão incluídos nos censos demográficos da- base da sociedade, tem especial proteção do Estado”. En-
dos relativos à população idosa do País. tre os aspectos abrangidos pelo direito à proteção especial,
segundo o texto constitucional, encontram-se os seguintes:
Art. 117. O Poder Executivo encaminhará ao Congresso a) garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; e
Nacional projeto de lei revendo os critérios de conces- obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade
são do Benefício de Prestação Continuada previsto na Lei e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvi-
Orgânica da Assistência Social, de forma a garantir que o mento, quando da aplicação de qualquer medida privativa
acesso ao direito seja condizente com o estágio de desenvol- da liberdade.
vimento socioeconômico alcançado pelo País. b) garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; e
acesso universal à educação infantil, em creche e pré-esco-
Art. 118. Esta Lei entra em vigor decorridos 90 (noventa) la, às crianças até 5 (cinco) anos de idade.
dias da sua publicação, ressalvado o disposto no caput  do c) erradicação do analfabetismo; e estímulo do Poder
art. 36, que vigorará a partir de 1o de janeiro de 2004. Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e
subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma
Brasília, 1o de outubro de 2003; 182o da Independência de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado.
e 115o da República. d) punição severa ao abuso, à violência e à exploração
sexual da criança e do adolescente; e garantia às presidiá-
rias de condições para que possam permanecer com seus
EXERCÍCIOS filhos durante o período de amamentação.
e) punição severa ao abuso, à violência e à exploração
1. (UECE-CEV/2017 - SEAS - CE - Assistente Social / sexual da criança e do adolescente; e estímulo do Poder
Pedagogo / Psicólogo) O disposto na Lei Federal nº 9.455 Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e
de 1997 (Lei da Tortura) subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma
a) aplica-se quando o crime não tenha sido cometido de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandona-
em território nacional, sendo a vítima estrangeira, ainda do.
que o agente não se encontre em local sob jurisdição bra- R: A. O artigo 227, §3º, CF fixa os aspectos que abran-
sileira. gem a proteção especial da criança e do adolescente: “I -
b) não se aplica quando o crime não tenha sido come- idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho,
tido em território nacional. observado o disposto no art. 7º, XXXIII; II - garantia de di-
c) aplica-se quando o crime não tenha sido cometido reitos previdenciários e trabalhistas; III - garantia de acesso
em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encon- do trabalhador adolescente e jovem à escola; IV - garantia
trando-se o agente em local sob jurisdição brasileira. de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato in-
d) não se aplica quando o crime tenha sido cometido fracional, igualdade na relação processual e defesa técnica
em território nacional, mas a vítima seja estrangeira. por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação
R: C. Prevê a Lei de Tortura (Lei no 9.455/97): “art. 2º. tutelar específica; V - obediência aos princípios de brevi-
O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não dade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de
tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qual-
brasileira ou encontrando-se o agente em local sob juris- quer medida privativa da liberdade; VI - estímulo do Poder
dição brasileira”. Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e
subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma
2. (CONSULPLAN/2017 - TRF - 2ª REGIÃO - Técnico de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandona-
Judiciário - Segurança e Transporte) Os crimes previstos do; VII - programas de prevenção e atendimento especiali-
na Lei de Tortura (Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997) NÃO zado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de
terão a sua pena aumentada de um sexto até um terço se entorpecentes e drogas afins”.
o crime for cometido

159
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

4. (Alternative Concursos/2017 - Prefeitura de Sul 6. (FCC/2016 - AL-MS - Agente de Polícia Legislati-


Brasil/SC - Agente Educativo) De acordo com o Estatu- vo) Sobre a prática de ato infracional à luz do Estatuto da
to da Criança e do Adolescente, Lei n.º 8.069/90, art. 60, é Criança e do Adolescente, é INCORRETO afirmar que a
proibido qualquer trabalho a menores: a) medida socioeducativa de internação pode ser de-
a) De quatorze anos de idade, inclusive na condição de terminada por descumprimento reiterado e injustificável
aprendiz. da medida anteriormente imposta.
b) De quatorze anos de idade, salvo na condição de b) internação, antes da sentença, poderá ser determi-
aprendiz. nada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias.
c) De dezesseis anos de idade, salvo na condição de c) medida socioeducativa de internação não pode-
aprendiz. rá exceder em nenhuma hipótese três anos, liberando-se
d) De dezesseis anos de idade, inclusive na condição compulsoriamente o menor infrator aos vinte e um anos
de aprendiz. de idade.
e) De dezessete anos de idade, inclusive na condição d) medida socioeducativa de liberdade assistida será
de aprendiz. fixada pelo prazo mínimo de trinta dias, podendo a qual-
R: B. Em que pese o teor do art. 64 do ECA, que pode- quer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por
ria dar a entender que um menor de 14 anos pode traba- outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e
lhar, prevalece o que diz o texto da Constituição Federal: o defensor.
“Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, e) remissão não implica necessariamente o reconhe-
além de outros que visem à melhoria de sua condição so- cimento ou comprovação da responsabilidade, nem pre-
cial: [...] XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou valece para efeito de antecedentes, podendo incluir even-
insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a tualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas
menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, em lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e
a partir de quatorze anos”. Logo, o menor pode trabalhar a internação.
em qualquer serviço, desde que não seja noturno, perigoso
R: D. A lei exige como prazo mínimo de medida so-
e insalubre, dos 16 aos 18 anos; e entre 14 e 16 anos ape-
cioeducativa o período de 6 meses, conforme art. 118, § 2º,
nas pode trabalhar como aprendiz.
ECA, não 30 dias conforme a alternativa “d”, razão pela qual
está incorreta. A alternativa “a” está prevista no art. 122, §
5. (FCC/2016 - AL-MS - Agente de Polícia Legislati-
1º, ECA; a alternativa “b” está prevista no art. 108 do ECA;
vo) Sobre a adoção, nos termos preconizados pelo Estatu-
a alternativa “c” está prevista no art. 121, §§ 3º e 5º, ECA; a
to da Criança e do Adolescente,
alternativa “e” está prevista no art. 127 ECA.
a) o adotante deve ser, no mínimo, 18 anos mais velho
que o adotando.
7. (COMPERVE/2016 - Câmara de Natal/RN - Guar-
b) é permitida a adoção por procuração. da Legislativo) As crianças e os adolescentes, qualificados
c) se um dos cônjuges adota o filho do outro, mantêm- pelo direito hoje vigente como pessoas em desenvolvimen-
-se os vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge do to, receberam do direito positivo brasileiro, tutela especial
adotante e os respectivos parentes. através da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, mais conhe-
d) é vedada a adoção conjunta pelos divorciados, se- cida como Estatuto da Criança e do Adolescente. Seguindo
parados judicialmente e pelos ex-companheiros. as diretrizes traçadas pela Constituição de 1988, o Estatuto
e) o estágio de convivência que precede a adoção não da Criança e do Adolescente trouxe a previsão normativa
poderá, em nenhuma hipótese, ser dispensado pela auto- da absoluta prioridade e de variados direitos fundamentais.
ridade judiciária. Em tal seara, foi determinado que as crianças e os adoles-
centes têm direito,
R: C. Neste sentido, disciplina o art. 41, § 1º, ECA: “Se a) à liberdade, de forma a compreender a liberdade de
um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do outro, ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitá-
mantêm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o côn- rios, ressalvadas as restrições legais; a liberdade de opinião
juge ou concubino do adotante e os respectivos parentes”. e de expressão; a liberdade de brincar e de praticar espor-
A alternativa “a” está errada porque o adotante deve ser, tes, a liberdade de participar da vida familiar e comunitária;
pelo menos, 16 anos mais velho que o adotado e possuir a liberdade de buscar refúgio, auxílio e orientação, exce-
pelo menos 18 anos (art. 42, § 3º, ECA); a alternativa “b” tuadas dessa tutela a liberdade de crença e culto religioso
está incorreta porque é vedada a adoção por procuração, e de participar da vida política.
pois a adoção é ato personalíssimo (art. 39, § 2º, ECA); a b) ao respeito, consistente na inviolabilidade da sua
alternativa “d” está incorreta porque é possível a adoção integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preser-
conjunta desde que preencha os requisitos de serem casa- vação da imagem, da identidade, da autonomia, de seus
dos civilmente ou mantenham união estável, comprovada valores, ideias e crenças, excluída a tutela dos seus espaços
a estabilidade da família (art. 42, § 1º, ECA); e a alternativa e objetos pessoais.
“e” está incorreta porque pode ser dispensado o estágio de c) de serem educados e cuidados sem o uso de cas-
convivência quando o adotando já estiver sob a tutela ou tigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como
guarda do adotante (art. 46, § 1º, ECA). formas de correção, disciplina, educação ou a qualquer

160
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

outro pretexto, por parte dos pais, de integrantes da a) prover uma boa escola para que crianças e adoles-
família ampliada, dos responsáveis, dos agentes públicos centes possam trabalhar o mais cedo possível.
executores de medidas socioeducativas ou por qualquer b) questionar políticas sociais que venham a proteger
pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los quem não merece.
ou protegê-los. c) distribuir renda entre os mais empobrecidos da po-
d) de serem criados e educados no seio de sua família pulação.
biológica, não se admitindo a sua inserção em família subs- d) proteger integralmente crianças e adolescentes, ga-
tituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em rantindo políticas públicas neste sentido.
ambiente que garanta seu desenvolvimento integral. e) proteger crianças e adolescentes da prisão.
R: C. Nestes termos, preconiza o artigo 18-A do ECA: R: D. Conforme o artigo 1º do ECA, “esta Lei dispõe
“A criança e o adolescente têm o direito de ser educados sobre a proteção integral à criança e ao adolescente”. O
e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento
princípio da proteção integral se associa ao princípio da
cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina,
prioridade absoluta, colacionado no artigo 4º do ECA e no
educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos in-
artigo 227, CF. De uma doutrina da situação irregular, o
tegrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos
direito evoluiu e passou a contemplar uma noção de prote-
agentes públicos executores de medidas socioeducativas
ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tra- ção mais ampla da criança e do adolescente, que não ape-
tá-los, educá-los ou protegê-los”. A alternativa “a” está er- nas abordasse situações de irregularidade (embora ainda
rada porque o artigo 16 do ECA fixa que o direito à liber- o fizesse), mas que abrangesse todo o arcabouço jurídico
dade envolve os seguintes aspectos: “I - ir, vir e estar nos protetivo da criança e do adolescente, que é a doutrina da
logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas proteção integral.
as restrições legais; II - opinião e expressão; III - crença e
culto religioso; IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; 10. (Prefeitura de Cruzeiro - SP - Auxiliar de Desen-
V - participar da vida familiar e comunitária, sem discrimi- volvimento Infantil - Instituto Excelência/2016) O Esta-
nação; VI - participar da vida política, na forma da lei; tuto da Criança e do Adolescente em seu art. 4º, parágrafo
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação”. A alternativa “b” único fixa a garantia de prioridade. Assinale a alternativa
está errada porque o artigo 17 do ECA prevê que “o direito CORRETA que compreende uma dessas prioridades:
ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, a) Nenhuma criança ou adolescente será objeto de
psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo qualquer forma de negligência, descriminação e exploração.
a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, b) É assegurado atendimento integral á saúde da criança
dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pes- e do adolescente por intermédio do sistema único de saúde.
soais”. A alternativa “d” está errada porque o artigo 18 do c) Precedência de atendimento, nos serviços públicos
ECA assegura que “é direito da criança e do adolescente ser ou de relevância pública.
criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmen- d) Manter alojamento conjunto, possibilitando ao neo-
te, em família substituta, assegurada a convivência familiar nato a permanência junto á mãe.
e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvi-
mento integral”. R: C. Conforme o artigo 4º, parágrafo único, ECA, “a
garantia de prioridade compreende: [...] b) precedência de
8. (FUNRIO/2016 - IF-PA - Assistente de Alunos) atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública”.
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei
8.069/90), é considerado criança
11. (FUNDAÇÃO CASA - Agente Administrativo -
a) a pessoa até seis anos incompletos de idade.
VUNESP/2010) Relativamente às Disposições Preliminares
b) a pessoa até oito anos incompletos de idade.
do Estatuto da Criança e do Adolescente, assinale a alter-
c) a pessoa até 12 anos incompletos de idade.
d) a pessoa até 18 anos incompletos de idade. nativa correta.
e) a pessoa até 14 anos incompletos, desde que não a) Considera-se criança a pessoa com até doze anos
tenha cometido nenhum crime. completos, e adolescente aquela entre treze e dezoito anos
de idade incompletos.
R: C. O Estatuto da Criança e do Adolescente opta por b) Nos casos em que a lei determinar, deverá ser cons-
categorizar separadamente estas duas categorias de me- tantemente aplicado o Estatuto da Criança e do Adolescen-
nores. Criança é aquele que tem até 12 anos de idade (na te às pessoas entre dezenove e vinte anos de idade.
data de aniversário de 12 anos, passa a ser adolescente), c) A garantia de prioridade para o adolescente com-
adolescente é aquele que tem entre 12 e 18 anos (na data preende a primazia na formulação das políticas sociais pú-
de aniversário de 18 anos, passa a ser maior), conforme o blicas para o lazer.
artigo 2º do ECA. d) Na aplicação dessa Lei, deverão ser levados em con-
ta os fins políticos a que ela se destina.
9. (FUNRIO/2016 - IF-PA - Assistente de Alunos) A e) Destinação privilegiada de recursos públicos nas
intenção principal do Estatuto da Criança e do Adolescente áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
(Lei nº 8.069/90) é

161
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

R: E. Conforme o artigo 4º, parágrafo único, ECA, “a c) peculiaridades do seu desenvolvimento pessoal.
garantia de prioridade compreende: [...] d) destinação pri- d) adequação ao mercado de trabalho.
vilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com e) prevalência das atividades educativas sobre as pro-
a proteção à infância e à juventude”. dutivas.

12. (Prefeitura de Cruzeiro - SP - Auxiliar de Desen- R: A. Dispõe o ECA: “Art. 63. A formação técnico-pro-
volvimento Infantil - Instituto Excelência/2016) Assinale fissional obedecerá aos seguintes princípios: [...] III - horário
a alternativa CORRETA conforme o artigo 15 do ECA: especial para o exercício das atividades”. Especificamente,
a) na dignidade da criança e do adolescente, pondo-os o horário deve ser fixado sem prejudicar a frequência à es-
a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, ater- cola (artigo 67, IV, ECA) e é proibido o trabalho noturno.
rorizante, vexatório ou constrangedor. Entretanto, a lei não fixa com precisão o horário de traba-
b) no direito de ser educados e cuidados sem o uso de lho permitido ao adolescente.
castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como
formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro 15. (IDECAN/2016 - UFPB - Auxiliar em Assuntos
pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, Educacionais) Considerando a prática de ato infracional
pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de por adolescentes e os direitos individuais assegurados,
medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarre- nessa situação, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente
gada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los. (ECA), assinale a alternativa correta.
c) no direito à liberdade, ao respeito e à dignidade a) Considera-se ato infracional a conduta descrita como
como pessoas humanas em processo de desenvolvimento crime e não a estabelecida como contravenção penal.
e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garan- b) O adolescente não pode ser privado de sua liberda-
tidos na Constituição e nas leis. de senão em flagrante de ato infracional ou por ordem es-
d) na inviolabilidade da integridade física, psíquica e crita e fundamentada da autoridade judiciária competente.
moral da criança e do adolescente, abrangendo a preserva- c) O adolescente que comete ato infracional perde o
ção da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, direito à identificação dos responsáveis pela sua apreen-
ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. são, devendo, contudo, ser informado acerca de seus di-
reitos.
R: D. Dispõe o ECA em seu artigo 15: “A criança e o d) O adolescente civilmente identificado será subme-
adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à digni- tido à identificação compulsória pelos órgãos policiais, de
dade como pessoas humanas em processo de desenvolvi- proteção e judiciais, independente se para efeito de con-
mento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais frontação em caso de dúvida fundada.
garantidos na Constituição e nas leis”.
R: B. Conforme preconiza o art. 106, “nenhum adoles-
13. (TRT - 1ª REGIÃO - Juiz do Trabalho Substituto cente será privado de sua liberdade senão em flagrante de
- FCC/2016) Sobre o trabalho da criança e do adolescente, ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da
é correto afirmar: autoridade judiciária competente”.
a) É proibido o trabalho de adolescentes em atividades
lúdicas. 16. (FCC - 2012 - TJ-RJ - Comissário da Infância e da
b) É proibido para os menores de 16, salvo na condição Juventude) Segundo prevê o Estatuto do Idoso, é obriga-
de aprendizes. ção da entidade de atendimento ao idoso
c) É proibido o trabalho noturno de menores de 16 a) comunicar ao juiz as situações de abandono moral
anos, salvo na condição de aprendizes. ou material por parte dos familiares.
d) É proibido o trabalho de adolescentes em hospitais, b) celebrar contrato escrito ou verbal de prestação de
salvo na condição de aprendizes de enfermagem. serviço com o idoso.
e) É proibido o trabalho de crianças em peças teatrais e c) elaborar e remeter ao Ministério Público plano indi-
atividades cinematográficas. vidual de atendimento para cada caso com vistas à reinte-
gração familiar.
R: B. Nos termos do artigo 60, ECA, “é proibido qual- d) administrar os rendimentos financeiros de seus
quer trabalho a menores de quatorze anos de idade, sal- usuários.
vo na condição de aprendiz”. Aceita-se o trabalho como e) proporcionar cuidados à saúde, conforme a neces-
aprendiz entre 14 e 16 anos. A partir dos 16 anos, o adoles- sidade do idoso.
cente pode trabalhar, não necessariamente como aprendiz,
embora a lei fixe outras restrições. R: E. Nos termos do art. 50 do Estatuto, “Constituem
obrigações das entidades de atendimento: [...] VIII – propor-
14. (TRT - 1ª REGIÃO - Juiz do Trabalho Substituto - cionar cuidados à saúde, conforme a necessidade do idoso”.
FCC/2016) A formação técnico-profissional do adolescen-
te NÃO deverá obedecer a 17. (FCC - 2012 - TJ-RJ - Comissário da Infância e da
a) horário especial, estabelecido em lei. Juventude) De acordo com o Estatuto do Idoso, é assegu-
b) horário especial, de acordo com a atividade. rado a todo idoso, benefício mensal

162
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

a) de meio salário mínimo, desde que tenha pelo me- c) A prioridade na tramitação dos processos e procedi-
nos sessenta anos e não possua meios para prover sua sub- mentos, estabelecida no Estatuto do Idoso, cessará com a
sistência. morte do beneficiado, não se estendendo em relação a seu
b) de um salário mínimo, desde que tenha pelo menos cônjuge supérstite ou companheiro(a).
sessenta e cinco anos e não possua meios para prover sua d) A prioridade na tramitação dos processos e procedi-
mentos visa assegurar o acesso à justiça e, portanto, não se
subsistência, nem de tê-la provida por sua família.
estende aos processos e procedimentos na administração
c) entre um e dois salários mínimos, desde que tenha pública.
no mínimo setenta anos e comprove sua incapacidade para e) O interessado na obtenção da prioridade no trâmite
o trabalho. dos processos e procedimentos judiciais requererá o be-
d) de setenta e cinco por cento de um salário mínimo, nefício à autoridade judiciária competente, independente-
desde que tenha no mínimo sessenta anos e não exerça mente da prova de sua idade.
qualquer tipo de atividade remunerada.
e) de um salário mínimo, desde que tenha pelo menos R: B. Preconiza o art. 71 do estatuto: “É assegurada
setenta anos e tenha recolhido, por no mínimo cinco anos, prioridade na tramitação dos processos e procedimentos e
contribuição previdenciária. na execução dos atos e diligências judiciais em que figure
como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou
superior a 60 (sessenta) anos, em qualquer instância”.
R: B. A idade para requerer o salário mínimo estipula-
do pela Lei Orgânica da Assistência Social (Loas) cai de 67 20. (FMZ - AP - 2010 - SEAD-AP - Agente Peniten-
para 65 anos, no Estatuto. ciário) No que se refere às previsões do Estatuto do Idoso
é CORRETO afirmar que
18. (FMZ - AP - 2010 - SEAD-AP - Agente Peniten- a) as medidas de proteção ao idoso são aplicáveis so-
ciário) O Estatuto do Idoso (Lei n. 10.741, de 01/10/2003) mente nos casos em que os direitos reconhecidos no Esta-
estabelece que constituem obrigações das entidades de tuto do Idoso forem ameaçados ou violados por ação da
atendimento, dentre outras, as seguintes: sociedade ou omissão do Estado, por abuso da família ou
I - Providenciar ou solicitar que o Ministério Público de entidade de atendimento.
requisite os documentos necessários ao exercício da cida- b) as medidas de proteção previstas no Estatuto do
Idoso são aplicáveis sempre cumulativamente e levarão em
dania àqueles que não os tiverem, na forma da lei. conta os fins sociais a que se destinam.
II - Celebrar contrato escrito de prestação de serviço c) é obrigação da família e da sociedade assegurar à
com o idoso, especificando o tipo de atendimento, as obri- pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como
gações da entidade e prestações decorrentes do contrato, pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, indivi-
com os respectivos preços, se for o caso. duais e sociais, atuando o Estado somente quando assim
III - Promover atividades educacionais, esportivas, cul- determinar a Constituição.
turais e de lazer. d) a garantia de prioridade ao idoso não inclui a priori-
IV - Diligenciar no sentido da preservação dos vínculos dade no recebimento da restituição do Imposto de Renda.
familiares. e) o envelhecimento é um direito personalíssimo e a
V - Oferecer atendimento personalizado. sua proteção, um direito social.
Estão CORRETAS
R: E. Envelhecer com dignidade, sem ser considerado
a) apenas I e II. incapaz, é direito de toda pessoa. No entanto, o Estado
b) apenas II, III. deve interferir para tanto, garantindo a igualdade material.
c) apenas I, II, III e IV.
d) apenas I, II e V. 21. (PRF – 2013 – CESPE – Policial Rodoviário Fede-
e) todas as afirmativas. ral) Julgue a assertiva:
Se alguém deixar de prestar assistência a idoso, quan-
R: E. Todas obrigações fazem parte das competências do for possível fazê-lo sem risco pessoal, em situação de
das entidades de atendimento, conforme regulamentação iminente perigo, cometerá, em tese, crime de menor po-
do artigo 48 e seguintes do Estatuto. tencial ofensivo.

R: Certo. Considera-se infração de MENOR potencial


19. (FMZ - AP - 2010 - SEAD-AP - Agente Peniten- ofensivo: contravenções penais e crimes com pena máxi-
ciário) O Estatuto do Idoso estabelece disposições que as- ma inferior a 2 anos. No caso, o estatuto prevê no art. 97:
seguram o acesso à justiça aos idosos. Dentre elas, pode “Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível
ser citada a seguinte: fazê-lo sem risco pessoal, em situação de iminente perigo,
a) O Poder Público deverá criar varas especializadas e ou recusar, retardar ou dificultar sua assistência à saúde,
exclusivas do idoso. sem justa causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de
b) É assegurada prioridade na tramitação dos proces- autoridade pública: Pena – detenção de 6 meses a 1 ano
sos e procedimentos e na execução dos atos e diligên- e multa”. Se a pena máxima é de 1 ano, então em tese se
cias judiciais em que figure como parte ou interveniente trata de infração de menor potencial ofensivo. Contudo,
ainda assim, não haverá direito a benefícios materiais da
pessoa com idade igual ou superior a sessenta anos, em
Lei nº 9.099/95.
qualquer instância.

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NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

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NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

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166
QUÍMICA

Propriedades dos materiais


1. Estados físicos e mudanças de estado. Variações de energia e do estado de agregação das partículas......................... 01
2. Temperatura termodinâmica e energia cinética média das partículas........................................................................................... 01
3. Propriedades dos materiais: cor, aspecto, cheiro e sabor; temperatura de fusão, temperatura de ebulição, densidade
e solubilidade............................................................................................................................................................................................................. 01
4. Substâncias e critérios de pureza.................................................................................................................................................................. 01
5. Misturas homogêneas e heterogêneas. Métodos de separação de misturas.............................................................................. 01
Estrutura atômica da matéria – Constituição dos átomos
1. Modelo atômico de Dalton: descrição e aplicações.............................................................................................................................. 06
2. Modelo atômico de Thomson: natureza elétrica da matéria e existência do elétron............................................................... 06
3. Modelo atômico de Rutherford e núcleo atômico................................................................................................................................. 06
4. Prótons, nêutrons e elétrons. Número atômico e número de massa. Isótopos, Isóbaros, Isótonos e Isoeletrônicos........06
5. Modelo atômico de Bohr: aspectos qualitativos. Configurações eletrônicas por níveis de energia. Orbitais................ 06
Periodicidade química
1. Periodicidade das propriedades macroscópicas: temperaturas de fusão e ebulição, caráter metálico de substâncias
simples.......................................................................................................................................................................................................................... 09
2. Critério básico da classificação periódica moderna. Configurações eletrônicas e elétrons de valência........................... 09
3. Grupos e períodos. Elétrons de valência, número de oxidação e localização dos elementos............................................... 09
4. Símbolos de elementos mais comuns......................................................................................................................................................... 09
5. Periodicidade das propriedades atômicas: eletronegatividade, raio atômico, afinidade eletrônica e energia de
ionização...................................................................................................................................................................................................................... 09
Ligações químicas e interações intermoleculares
1. Propriedades macroscópicas de substâncias sólidas, líquidas e gasosas e de soluções: correlação com os modelos de
ligações químicas e de interações intermoleculares................................................................................................................................... 20
2. Energia em processos de formação ou rompimento de ligações químicas e interações intermoleculares.................... 20
3. Modelos de ligações químicas e interações intermoleculares. Substâncias iônicas, moleculares, covalentes e
metálicas...................................................................................................................................................................................................................... 20
4. Polaridade das moléculas. Reconhecimento dos efeitos da polaridade de ligação e da geometria na polaridade das
moléculas e a influência desta na solubilidade e nas temperaturas de fusão e de ebulição das substâncias.................... 20
Reações químicas e estequiometria
1. Reação química: conceito e evidências experimentais......................................................................................................................... 26
2. Equações químicas: balanceamento e uso na representação de reações químicas comuns................................................. 26
3. Oxidação e redução: conceito, balanceamento, identificação e representação de semirreações....................................... 26
4. Massa atômica, mol e massa molar: conceitos e cálculos................................................................................................................... 26
5. Aplicações das leis de conservação da massa, das proporções definidas, do princípio de Avogadro e do conceito de
volume molar de um gás. Cálculos estequiométricos. ............................................................................................................................. 26
Relações massa e mol. ........................................................................................................................................................................................... 67
Excesso de reagentes, reagente limitante. ..................................................................................................................................................... 67
Rendimento de reações químicas e grau de pureza de reagentes....................................................................................................... 67
Soluções líquidas
1. Soluções e solubilidade. O efeito da temperatura na solubilidade. Soluções saturadas........................................................ 30
2. O processo de dissolução: interações soluto / solvente; efeitos térmicos.................................................................................... 30
3. Eletrólitos e soluções eletrolíticas.................................................................................................................................................................. 30
4. Concentração de soluções: em g/L, em mol/L e em percentuais. Cálculos químicos.............................................................. 30
5. Propriedades coligativas. Relações qualitativas entre a concentração de soluções de solutos não voláteis e as
propriedades: pressão de vapor, temperatura de congelação e de ebulição e a pressão osmótica....................................... 30
Termoquímica
1. Calor e temperatura: conceito e diferenciação........................................................................................................................................ 34
2. Processos que alteram a temperatura das substâncias sem envolver fluxo de calor – trabalho mecânico, trabalho
elétrico e absorção de radiação eletromagnética........................................................................................................................................ 34
3. Efeitos energéticos em reações químicas. Calor de reação e variação de entalpia. Reações exotérmicas e endotérmicas:
conceito e representação...................................................................................................................................................................................... 34
4. A obtenção de calores de reação por combinação de reações químicas; a Lei de Hess. Cálculos..................................... 34
5. A produção de energia pela queima de combustíveis: carvão, álcool e hidrocarbonetos. Aspectos químicos e efeitos
sobre o meio ambiente.......................................................................................................................................................................................... 34
QUÍMICA

Cinética e equilíbrio químico


1. Evidências de ocorrência de reações químicas: a variação de propriedades em função do tempo................................... 37
2. Velocidade de uma reação química: conceito e determinação experimental. Reações muito rápidas e muito lentas;
efeito do contato entre os reagentes, de sua concentração, da temperatura, da pressão na velocidade de reações
químicas. Catalisadores e inibidores................................................................................................................................................................. 37
3. Colisões moleculares: frequência e energia. Energia de ativação e estado de transição (complexo ativado): conceitos,
construção e interpretação de diagramas...................................................................................................................................................... 37
4. Reações químicas reversíveis. Evidências experimentais para o fenômeno da reversibilidade............................................ 37
5. Equilíbrio químico: caracterização experimental e natureza dinâmica........................................................................................... 37
6. A modificação do estado de equilíbrio de um sistema: efeitos provocados pela alteração da concentração dos
reagentes, da pressão e da temperatura. O Princípio de Lê Chatelier. Aplicações......................................................................... 37
Ácidos e bases
1. Distinção operacional entre ácidos e bases de Bronsted – Lowry.................................................................................................... 46
2. Ácidos e bases (fortes e fracos) de Arrhenius; reações de neutralização...................................................................................... 46
3. Produto iônico da água. pH: conceito, escala e usos............................................................................................................................ 46
4. Indicadores ácido-base: conceito e utilização.......................................................................................................................................... 46
Eletroquímica
1. Pilhas e baterias. Funcionalidade e aplicações......................................................................................................................................... 69
2. Eletrólise: aspectos qualitativos e quantitativos...................................................................................................................................... 69
Química Orgânica
1. Conceituação de grupo funcional e reconhecimento por grupos funcionais de: alquenos, alquinos e arenos
(hidrocarbonetos aromáticos), alcoóis, fenóis, éteres, aminas, aldeídos, cetonas, ácidos carboxílicos, ésteres e
amidas.............................................................................................................................................................................................................49
2. Representação de moléculas orgânicas. Carbono tetraédrico, trigonal e digonal e ligações simples e múltiplas.
Fórmulas estruturais – de Lewis, de traços, condensadas e de linhas e tridimensionais............................................................. 49
3. Variações na solubilidade e nas temperaturas de fusão e de ebulição de substâncias orgânicas causadas por: aumento
da cadeia carbônica, presença de ramificações, introdução de substituintes polares.................................................................. 49
4. Isomeria: plana ou constitucional e Estereoisomeria (geométrica e ótica)................................................................................... 49
5. Reações Orgânicas. Reações de substituição, de adição, eliminação, oxidorredução.............................................................. 49
6. Polímeros: identificação de monômeros, unidades de repetição e polímeros – polietileno, PVC, teflon, poliésteres e
poliamidas................................................................................................................................................................................................................... 49
QUÍMICA

Materiais cristalinos
PROPRIEDADES DOS MATERIAIS:
ESTADOS FÍSICOS E MUDANÇAS Os materiais cristalinos, além de diversas propriedades
DE ESTADO. VARIAÇÕES DE ENERGIA interessantes, podem ser processados em laboratório com
E DO ESTADO DE AGREGAÇÃO DAS elevado grau de pureza. Sua estrutura cristalina pode ser
reproduzida através de técnicas especiais conhecidas como
PARTÍCULAS. TEMPERATURA
técnicas de crescimento de cristais. Embora possa parecer
TERMODINÂMICA E ENERGIA estranho à primeira vista, o conceito envolvido nessas téc-
CINÉTICA MÉDIA DAS PARTÍCULAS. nicas de crescimento é simples. Vamos ver a seguir um
PROPRIEDADES DOS MATERIAIS: exemplo de cristal bem conhecido e que pode ser crescido
COR, ASPECTO, CHEIRO E SABOR; até mesmo em casa, sem nenhum equipamento sofistica-
TEMPERATURA DE FUSÃO, do.
TEMPERATURA DE EBULIÇÃO,
DENSIDADE E SOLUBILIDADE. S Cloreto de Sódio
UBSTÂNCIAS E CRITÉRIOS DE O cloreto de sódio (NaCl) ou sal de cozinha comum,
PUREZA. MISTURAS HOMOGÊNEAS possui estrutura cristalina cúbica, isto é, os átomos do Clo-
E HETEROGÊNEAS. MÉTODOS ro e do Sódio estão arranjados na forma de um cubo, como
mostra a figura abaixo. Este cubo chama-se célula unitária
DE SEPARAÇÃO.
do NaCl. Qualquer porção de NaCl pode ser pensada como
uma pilha destes cubos unitários colocados lado a lado e
uns sobe os outros. A aresta do cubo é designada como
parâmetro da rede cristalina do material. Em termos ma-
Os diversos elementos e substâncias conhecidas po- temáticos, um cristal é descrito por uma rede de pontos
dem ser classificados de várias formas diferentes. Uma clas- geométricos que satisfazem certas operações de simetria,
sificação importante em termos de propriedades elétricas é tais como reflexão, translação e rotação. Esta rede é conhe-
a de metais, isolantes e semicondutores. Esta classificação cida como rede de Bravais, em homenagem ao cientista
tem grande importância na engenharia e na física de dis- que sistematizou estes conceitos. Existem vários materiais
positivos. Os metais, como se sabe, são bons condutores que se cristalizam com o mesmo tipo de estrutura do NaCl,
de eletricidade enquanto os isolantes não a conduzem. Os isto é, cúbica. Ocorre entretanto que, dentro do cubo uni-
semicondutores, por outro lado, possuem comportamento tário, os átomos podem estar dispostos de modo diferente,
intermediário, conduzindo ou não a corrente elétrica em conduzindo à estruturas cúbicas diferentes. O NaCl, possui
função das condições de operação. Além desta classifica- estrutura cúbica de face centrada (fcc- face centered cubic),
ção, há também uma outra que diz respeito ao modo como havendo ainda estruturas cúbicas simples (sc - simple cubic)
os átomos ou moléculas estão arranjados ou distribuídos e estruturas cúbicas de corpo centrado (bcc - body cente-
no material. Materiais nos quais os átomos ou moléculas se red cubic). Na realidade o modo correto para descrever um
distribuem de forma organizada e regular por todo o ma- cristal, vem do conceito de rede de Bravais. A cada pondo
terial, são classificados como materiais cristalinos ou sim- geométrico da rede de Bravais, associa-se um ou mais áto-
plesmente cristais, ou ainda sólidos. Esta última designação mos, que formam a base química do cristal. É desse modo
não se refere ao estado físico do material (vapor, líquido ou que se formam os vários tipos de estruturas cristalinas cú-
sólido), mas sim ao fato de que sua estrutura atômica se bicas, além de outras formas geométricas. Por este motivo,
acha na forma de um sólido geométrico, tal qual um cubo na literatura científica, sempre que se faz referência a al-
por exemplo. Esta organização interna dos átomos em um gum tipo de cristal, é usual mencionar algum material com
cristal é responsável por uma série de propriedades impor- estrutura conhecida. Por exemplo, sempre que se fala da
tantes em aplicações industriais. Os materiais sem orga- estrutura do telureto de chumbo (PbTe), é conveniente fa-
nização atômica interna definida, são chamados amorfos. larmos que sua estrutura é cúbica como a do NaCl.
Exemplos de materiais amorfos muito utilizados são o vi-
dro e plásticos em geral. Os semicondutores, além de suas
propriedades elétricas dependentes das condições de ope-
ração, também são materiais cristalinos ou sólidos. Estas
duas características combinadas conferem à estes materiais
uma grande importância tecnológica. Os semicondutores
são os responsáveis por toda a moderna tecnologia eletrô-
nica, estando presentes em praticamente todos os apare-
lhos eletro-eletrônicos que conhecemos, desde um simples
rádio a pilha até os mais sofisticados computadores.
Estrutura Cristalina cúbida do NaCl.
As esferas maiores representam o Cloro (Cl) e as
menores o Sódio (Na).

1
QUÍMICA

Como os cristais possuem formas geométricas bem definidas é possível adotar-se eixos coordenados de forma a especificar
a orientação cristalina do material. No caso do NaCl representado na figura acima, podemos adotar como eixos coordenados,
x, y, z, as arestas do cubo. Desta forma pode-se estabelecer que a direção cristalina (100), representa a direção perpendicular à
face do cubo e a direção (111), representa a direção da diagonal maior do cubo. Esta forma de indicar as direções em um cristal
deve respeitar algumas regras e os índices numéricos são chamados de índices de Miller. Além de facilitar o estudo do material e
suas propriedades, esta indexação tem grande importância prática. No processamento de semicondutores, como o Silício, para
a confecção de dispositivos eletrônicos, o conhecimento da direção cristalina do material é muito importante. Os processos de
fabricação dependem de procedimentos físico-químicos cujo comportamento ou eficiência, variam com a orientação do cristal.
Quando um fabricante de microprocessadores precisa comprar sua matéria prima, ou seja, lâminas de Silício, ele precisa espe-
cificar a direção cristalina dessas lâminas, caso contrário sua produção de “chips” pode ser seriamente comprometida.

Crescimento de cristais

Vamos agora ver como se pode crescer um cristal. Inicialmente vamos retomar nosso exemplo do NaCl ou sal de cozinha.
Obviamente você sabe que o NaCl pode ser dissolvido na água, formando uma solução líquida. Na linguagem dos químicos, a
água é chamada de solvente e o sal de soluto. Podemos então preparar em um copo comum, uma solução supersaturada de
NaCl. Isto significa ir dissolvendo aos poucos o sal na água, até que em dado momento, não conseguimos mais dissolver sal.
A quantia de sal extra que não pode mais ser dissolvida pela água, fica depositada no fundo do copo. Esta saturação depende
basicamente do solvente, do soluto e da temperatura da solução. Se aquecermos a água, aquele sal extra do fundo do copo vai
ser dissolvido, mas assim que a temperatura voltar ao normal, o excesso volta a se depositar no fundo do copo. Não precisamos
fazer isto. Nossa solução saturada na temperatura ambiente já serve aos nossos propósitos. É importante você mexer bem a
solução, para se certificar de que realmente ficou saturada. Agora você deve filtrá-la com um coador de papel, desses utilizados
para café, para eliminar o excesso de sal não dissolvido. Feito isto, providencie algum tipo de tampa para o copo. Pode ser até
mesmo um pedaço de filme plástico utilizado na embalagem de alimentos congelados. Faça alguns furos nesta tampa de modo
que possa haver evaporação da água. Guarde o copo tapado em um lugar fresco, onde não haja muita variação de temperatura
e deixo-o em repouso. Você precisa ser paciente. Este tipo de crescimento de cristal é bastante lento. Após vários dias, você po-
derá notar pequenos grãos de sal depositados no fundo do copo. Se você for paciente, poderá deixar o crescimento prosseguir
e a medida que a água for se evaporando, os cristais no fundo do copo, ou até mesmo, nas paredes do copo irão crescer. Se
você tiver usado água limpa (o ideal seria destilada) e deixado o experimento em repouso em lugar adequado, irá obter alguns
belos cristais cúbicos de NaCl.

A explicação é simples. Sua solução inicial estava saturada. A medida que a água vai se evaporando e, portanto, dimi-
nuindo a quantidade de água no copo, o NaCl vai se precipitar na forma de um cristal cúbico microscópico. Com a evapo-
ração continuada da água, mais NaCl irá se precipitar. Mas a precipitação ocorrerá preferencialmente sobre o NaCl que já
estiver cristalizado e portanto atuando como se fosse uma semente para que mais NaCl se cristalize. A tendência natural do
NaCl é cristalizar-se na forma cúbica. Se lhe é oferecida uma superfície ou material com o mesmo arranjo atômico cúbico,
ele vai encontrar mais facilidade de se depositar sobre este material e não sobre outro lugar qualquer.

MÉTODOS DE SEPARAÇÃO DE MISTURAS

Mistura: associação de duas ou mais substâncias em porções arbitrárias, separáveis por meios mecânicos ou físicos e
em que cada um dos componentes guarda em si todoas as propriedades que lhe são inerentes. A partir disso, podemos
concluir que para saber se um composto é uma mistura ou apenas um componente, basta utilizar métodos de separação
de misturas para verificar. Estes métodos são chamados de análise imediata, sendo como dito, não alteram a natureza das
substâncias. E para cada tipo de mistura existem vários métodos diferentes.

2
QUÍMICA

Decantação: método utilizado para separar misturas heterogêneas de sólido-líquido e líquido-líquido. Exemplos: água
barrenta e água e óleo.

Se deixarmos um balde com água barrenta em repouso por um determinado tempo, observaremos que o barro pre-
cipitará, ou seja, irá para o fundo do balde, isso é devido ao fato dele ser mais denso que a água. A água então pode ser
retirada do balde facilmente.

Utilizando o funil de separação, podemos fazer o mesmo com a mistura de água e óleo, que com o passar do tempo,
o líquido mais denso, neste caso a água, vai para o fundo e o líquido menos denso, no caso o óleo, fica em cima. Sendo
possível a retirada da água e separando os dois líquidos da mistura.

Centrifugação: método utilizado para separar misturas heterogêneas do tipo sólido-líquido. Este método é uma ma-
neira de acelerar a decantação. Neste método é utilizado a centrífuga. Neste aparelho, devido aos movimentos de rotação,
as partículas com maior densidade são “atiradas” para o fundo do tubo. Girando a manivela da centrífuga manual, os tubos
de ensaio contendo a amostra, se inclinam fazendo com que a parte mais densa da amostra vá para o fundo do tubo, se-
parando-se da menos densa.

3
QUÍMICA

Centrífuga em repouso Centrífuga em funcionamento (girando)

Um exemplo de mistura que pode ser separada por este método é a água barrenta, em pequena escala, ou a separação
da nata do leite.

Filtração: método utilizado para separar misturas heterogêneas do tipo sólido-líquido e sólido-gasoso. Exemplos de
misturas que são separáveis por filtração são: filtração de café e a utilização de aspirador de pó. O processo de filtração
consiste em: um filtro reter as partículas maiores e deixar passar as menores que os “poros” do filtro.

Filtração de uma Mistura de um líquido e um sólido

No aspirador de pó ocorre basicamente o mesmo que ocorre na filtração de café, ou de uma mistura qualquer.
Quando utiliza-se o aspirador, ele aspira uma mistura de ar + poeira, ou seja, uma mistura de gás + sólido, no entanto,
o ar aspirado pelo aparelho é liberado, mas a poeira é retida por um filtro. Assim o filtro é utilizado para reter o sólido e
liberar o gás.

Dissolução fracionada: método utilizado para separar misturas heterogêneas de sólido-sólido. Exemplo de mistura
é sal + areia. Neste método, um dos sólidos é dissolvido em um solvente e depois pode ser feito filtração para separar o
sólido insolúvel e a solução do outro sólido. No exemplo dado, de uma mistura de sal + areia, pode-se utilizar água para
dissolver o sal e retirar a areia. O sal dissolvido pode ser retirado através de outro método de separação, como por desti-
lação simples.

4
QUÍMICA

Processos de separação de misturas Sublimação: Processo utilizado quando um dos com-


ponentes do sistema sublima (passa diretamente do estado
Os processos de separação são usados na obtenção dos sólido para o gasoso) quando sob aquecimento. O iodo e a
componentes individuais de uma mistura de dois ou mais naftalina são sólido que sublimam.
componentes. Nem sempre somente um método de sepa-
ração é suficiente para separar todos os componentes de Destilação fracionada: É um método de separação de
uma mistura. Os principais processos são citados a seguir. líquidos que participem de mistura homogênea ou hetero-
Catação: É um método de separação bastante rudimen- gênea. Quanto mais distantes forem os pontos de ebulição
tar, usado para separação de sistemas sólido-sólido. Baseia- destes líquidos, mais eficiente será o processo de destila-
se na identificação visual dos componentes da mistura e na ção. Eleva-se a temperatura até que se alcance o ponto de
separação dos mesmos separando-os manualmente. É o ebulição do líquido que apresente valor mais baixo para
método utilizado na limpeza do feijão antes do cozimento. esta característica e aguarda-se, controlando a temperatu-
ra, a completa destilação deste. Posteriormente, permite-se
Peneiração: Também conhecido como tamisação, este que a temperatura se eleve até o ponto de ebulição do se-
método é usado na separação de sistemas sólido-sólido, gundo líquido. Quanto mais próximos forem os pontos de
onde um dos dois componentes apresente granulometria ebulição dos líquidos, menor o grau de pureza das frações
que permita que o mesmo fique preso nas malhas de uma destiladas. A destilação fracionada é usada na obtenção
peneira. das diversas frações do petróleo.

Ventilação: Método de separação para sistemas sóli-


do-sólido, onde um dos componentes pode ser arrastado
por uma corrente de ar. Um bom exemplo é a separação da
casca e do caroço do amendoim torrado.
Levigação: A água corrente arrasta o componente me-
nos denso e o mais denso deposita-se no fundo do reci-
piente. Um bom exemplo é a lavagem da poeira do arroz.

Filtração: Este é um método de separação muito pre-


sente no laboratório químico e também no cotidiano. É
usado para separar um sólido de um líquido ou sólido de
um gás, mesmo que o sólido se apresente em suspensão.
Nos alambiques, este tipo de destilação é usado na
A mistura atravessa um filtro poroso, onde o material par- obtenção de bebidas como a cachaça e o uísque. Na des-
ticulado fica retido. A preparação do café é um exemplo de tilação fracionada em laboratório usa-se um equipamento
filtração. como o mostrado abaixo.

Destilação simples: A destilação simples é utilizada


No cotidiano, o aspirador de pó é o melhor exemplo do quando se deseja separar a substância sólida dissolvida
processo de filtração. Separa partículas sólidas suspensas do solvente e não se deseja perder este último, como no
no ar aspirado. processo de evaporação. Aquece-se a mistura até atingir
o ponto de ebulição do solvente. Não existe necessidade
Evaporação: Método de separação de misturas sóli- de controle de temperatura, pois o ponto de ebulição do
do-líquido por evaporação do solvente, também conheci- sólido é muito mais elevado que o do solvente.
do como cristalização. Em recipiente aberto, simplesmente
permite-se que o solvente evapore, deixando o sólido. Nas Separação magnética: Separa os componentes que
salinas, o sal é obtido a partir da água do mar através deste são atraídos por um imã daqueles que não apresentam
processo. esta propriedade (separação de limalha de ferro da areia).

5
QUÍMICA

Os atomistas na antiga Grécia

Os atomistas, encabeçados por Demócrito e pelo seu pro-


fessor Leucipo, pensavam que a matéria era constituída por
partículas minúsculas e invisíveis, os átomos (A-tomo),”Sem
divisão”. Achavam eles que se dividíssemos e voltássemos a
dividir, alguma vez o processo havia de parar. Para Demócri-
to, a grande variedade de materiais na natureza provinha dos
movimentos dos diferentes tipos de átomos que, ao se choca-
rem, formavam conjuntos maiores gerando diferentes corpos
com características próprias. Algumas ideias de Demócrito
sobre os átomos:
- Água: formada por átomos ligeiramente esféricos (a
água escoa facilmente).
Dissolução fracionada: Método de separação de sis- - Terra: formada por átomos cúbicos (a terra é estável e
temas sólido-sólido, onde somente um dos componentes sólida).
apresenta solubilidade num dado solvente. A mistura areia - Ar: formado por átomos em movimento turbilhonantes
e sal é um bom exemplo de aplicação para este método de (o ar se movimenta - ventos).
separação. Adicionando-se água, obtém-se a solubilização - Fogo: formado por átomos pontiagudos (o fogo fere).
do sal na água. Após uma filtração, a areia é separada, bas- - Alma: formada pelos átomos mais lisos, mais delicados
tando realizar uma destilação simples ou evaporação para e mais ativos que existem.
se separar o sal da água. Este método também é conhecido - Respiração: era considerada troca de átomos, em que
como extração por solvente. átomos novos substituem átomos usados.
- Sono: desprendimento de pequeno número de átomos
do corpo.
- Coma: desprendimento de médio número de átomos
do corpo.
ESTRUTURA ATÔMICA DA MATÉRIA - - Morte: desprendimento de todos os átomos do corpo
CONSTITUIÇÃO DOS ÁTOMOS: e da alma.
MODELO ATÔMICO DE DALTON:
DESCRIÇÃO E APLICAÇÕES MODELO ATÔMICO Os fundamentos de Demócrito para os átomos foram
DE THOMSON: NATUREZA tomando corpo com o passar do tempo. Epicuro (341 a.C. -
ELÉTRICA DA MATÉRIA E EXISTÊNCIA DO aproximadamente 270 a.C.) complementou suas ideias ao su-
gerir que haveria um limite para o tamanho dos átomos, justi-
ELÉTRON. MODELO ATÔMICO DE
ficando assim, a razão de serem invisíveis. Mas, ainda assim, a
RUTHERFORD E NÚCLEO ATÔMICO. teoria mais defendida era a de Aristóteles que acreditava que
PRÓTONS, NÊUTRONS E ELÉTRONS. a matéria seria constituída de elementos da natureza como
NÚMERO ATÔMICO E NÚMERO DE fogo, água, terra e ar que misturados em diferentes propor-
MASSA. MODELO ATÔMICO DE ções, resultariam em propriedades físico-químicas diferentes.
BOHR: ASPECTOS QUALITATIVOS.
CONFIGURAÇÕES ELETRÔNICAS Modelo de Dalton
POR NÍVEIS DE ENERGIA.
John Dalton, em 1803, tentando explicar o comportamen-
to dos diversos gases da atmosfera e das misturas gasosas, re-
tomou a hipótese atômica. Assim como Leucipo, Demócrito e
O átomo é a menor partícula que ainda caracteriza um Epicuro, Dalton acreditava que a matéria seria constituída por
elemento químico. Ele apresenta um núcleo com carga po- átomos indivisíveis e espaços vazios. Ele imaginou o átomo
sitiva (Z é a quantidade de prótons e “E” a carga elementar) como uma pequena esfera, com massa definida e proprie-
que apresenta quase toda sua massa (mais que 99,9%) e Z dades características. Dessa forma, todas as transformações
elétrons determinando o seu tamanho. Até fins do século químicas podiam ser explicadas pelo arranjo de átomos. Toda
XIX, era considerado a menor porção em que se poderia matéria é constituída por átomos. Esses são as menores partí-
dividir a matéria. Mas nas duas últimas décadas daquele culas que a constituem; são indivisíveis e indestrutíveis, e não
século, as descobertas do próton e do elétron revelaram podem ser transformados em outros, nem mesmo durante
os fenômenos químicos. Os átomos de um mesmo elemento
o equívoco dessa ideia. Posteriormente, o reconhecimento
químico são idênticos em massa e se comportam igualmen-
do nêutron e de outras partículas subatômicas reforçou a
te em transformações químicas. As transformações químicas
necessidade de revisão do conceito de átomo.
ocorrem por separação e união de átomos. Isto é, os átomos
de uma substância que estão combinados de um certo modo,
separam-se, unindo-se novamente de uma outra maneira.

6
QUÍMICA

O modelo atômico de Thomson O modelo atômico de Niels Bohr e a mecânica quântica

O britânico Joseph John Thomson descobriu os elé- O modelo planetário de Niels Bohr foi um grande avanço
trons em 1897 por meio de experimentos envolvendo raios para a comunidade científica, provando que o átomo não era
catódicos em tubos de crookes. O tubo de crookes consis- maciço. Segundo a Teoria Eletromagnética, toda carga elétrica
te-se em uma ampola que contém apenas vácuo e um dis- em movimento em torno de outra, perde energia em forma
positivo elétrico que faz os elétrons de qualquer material de ondas eletromagnéticas. E justamente por isso tal modelo
condutor saltar e formar feixes, que são os próprios raios gerou certo desconforto, pois os elétrons perderiam energia
catódicos. Thomson, ao estudar os raios catódicos, desco- em forma de ondas eletromagnéticas, confinando-se no nú-
briu que estes são afetados por campos elétrico e mag- cleo, tornando a matéria algo instável. Bohr, que trabalhava
nético, e deduziu que a deflexão dos raios catódicos por com Rutherford, propôs o seguinte modelo: o elétron orbitaria
estes campos são desvios de trajetória de partículas muito o núcleo em órbitas estacionárias, sem perder energia. Entre
pequenas de carga negativa, os elétrons. Thomson propôs duas órbitas, temos as zonas proibidas de energia, pois só é
que o átomo era, portanto, divisível, em partículas carre- permitido que o elétron esteja em uma delas. Ao receber um
gadas positiva e negativamente, contrariando o modelo quantum, o elétron salta de órbita, não num movimento con-
indivisível de átomo proposto por Dalton (e por atomistas tínuo, passando pela área entre as órbitas (daí o nome zona
na Antiga Grécia). O átomo consistiria de vários elétrons in- proibida), mas simplesmente desaparecendo de uma órbita
crustados e embebidos em uma grande partícula positiva, e reaparecendo com a quantidade exata de energia. Se um
como passas em um pudim. O modelo atômico do “pudim pacote com energia insuficiente para mandar o elétron para
com passas” permaneceu em voga até a descoberta do nú- órbitas superiores encontrá-lo, nada ocorre. Mas se um fóton
cleo atômico por Ernest Rutherford. com a energia exata para que ele salte para órbitas superiores,
certamente o fará, depois, devolvendo a energia absorvida em
O modelo atômico de Rutherford forma de ondas eletromagnéticas.

Estrutura
Em 1911, realizando experiências de bombardeio de
lâminas de ouro com partículas alfa (partículas de carga
Se o núcleo de um átomo fosse do tamanho de um limão
positiva, liberadas por elementos radioativos), Rutherford
com um raio de 3 cm, os elétrons mais afastados estariam cerca
fez uma importante constatação: a grande maioria das par-
de 3 km de distância. Os cientistas, por meio de técnicas avan-
tículas atravessava diretamente a lâmina, algumas sofriam
çadas, já perceberam a complexidade do átomo. Já compro-
pequenos desvios e outras, em número muito pequeno
varam a presença de inúmeras partículas em sua constituição
(uma em cem mil), sofriam grandes desvios em sentido
e desvendaram o comportamento dessas partículas. Mas para
contrário. A partir dessas observações, Rutherford chegou
construir alguns conceitos que ajudam a entender a química do
às seguintes conclusões: dia-a-dia, o modelo de átomo descrito por Rutherford-Bohr é
- No átomo existem espaços vazios; a maioria das par- suficiente. Na constituição dos átomos predominam os espa-
tículas o atravessava sem sofrer nenhum desvio. ços vazios. O núcleo, extremamente pequeno, é constituído por
- No centro do átomo existe um núcleo muito pequeno prótons e nêutrons. Em torno dele, constituindo a eletrosfera,
e denso; algumas partículas alfa colidiam com esse núcleo giram os elétrons.
e voltavam, sem atravessar a lâmina. O diâmetro da eletrosfera de um átomo é de 10,000 a
- O núcleo tem carga elétrica positiva; as partículas alfa 100,000 vezes maior que o diâmetro de seu núcleo, e sua es-
que passavam perto dele eram repelidas e, por isso, so- trutura interna pode ser considerada , para efeitos práticos, oca;
friam desvio em sua trajetória. pois para encher todo este espaço vazio de prótons e nêutrons
(ou núcleos) necessitaríamos de um bilhão de milhões de nú-
Pelo modelo atômico de Rutherford, o átomo é consti- cleos… O átomo de hidrogênio é constituído por um só próton
tuído por um núcleo central, dotado de cargas elétricas po- com um só elétron girando ao seu redor. O hidrogênio é o úni-
sitivas (prótons), envolvido por uma nuvem de cargas elé- co elemento cujo átomo pode não possuir nêutrons.
tricas negativas (elétrons). Rutherford demonstrou, ainda, O elétron e o próton possuem, respectivamente, carga ne-
que praticamente toda a massa do átomo fica concentrada gativa e carga positiva, porém não a mesma massa. O próton
na pequena região do núcleo. Dois anos depois de Ruther- é 1836,11 vezes mais massivo que o elétron. Usando, como
ford ter criado o seu modelo, o cientista dinamarquês Niels exemplo hipotético, um átomo de vinte prótons e vinte nêu-
Bohr o completou, criando o que hoje é chamado modelo trons em seu núcleo, e este estando em equilíbrio eletrodinâ-
planetário. Para Bohr, os elétrons giravam em órbitas cir- mico, terá vinte elétrons orbitando em suas camadas exteriores.
culares, ao redor do núcleo. Depois desses, novos estudos Sua carga elétrica estará em perfeito equilíbrio eletrodinâmico,
foram feitos e novos modelos atômicos foram criados. O porém 99,97% de sua massa encontrar-se-á no núcleo. Apesar
modelo que representa o átomo como tendo uma parte do núcleo conter praticamente toda a massa, seu volume em
central chamado núcleo, contendo prótons e nêutrons, ser- relação ao tamanho do átomo e de seus orbitais é minúsculo.
ve para explicar um grande número de observações sobre O núcleo atômico mede em torno de (1 fm) centímetros de
os materiais. diâmetro, enquanto que o átomo mede cerca de centímetros
(100 pm).

7
QUÍMICA

Principais características das partículas fundamen- Força de Van der Waals


tais
A carga eletrônica não se distribui de maneira uniforme,
Massa algumas partes da superfície atômica são menos negativas
que outras. Em função disto, a carga positiva que se encontra
Determinar a massa de um corpo significa comparar no interior do átomo infiltrar-se-á pelas áreas menos negati-
a massa deste corpo com outra tomada como padrão. A vas externas, por isso haverá uma débil atração eletrostática
unidade de massa tomada como padrão é o grama (g). Mas entre os dois átomos chamada de força de Van der Waals.
nós muitas vezes utilizamos o Quilograma, que equivale a Em baixíssima temperatura, os átomos de hélio movem-se
1000 vezes a massa de 1 g. Um exemplo disso é quando se muito lentamente, seu ricochete diminui a tal grau que é in-
diz que a massa de uma pessoa é 45 vezes a massa corres- suficiente para vencer as forças de Van der Waals, como o
pondente à do quilograma. átomo de hélio é altamente simétrico, por este motivo as
forças atuantes neste elemento são muito fracas. A contra-
ção do hélio ocorre e este acaba por se liquefazer a 4,3 graus
Ou ainda: 45 kg = 45 x 1000 g = 45 000 g
acima do zero absoluto. Nos demais gases presentes na na-
tureza sua distribuição de cargas é menos simétrica que no
Como as partículas que constituem o átomo são ex-
hélio, as forças de Van der Waals são maiores ocasionando
tremamente pequenas, uma unidade especial teve que ser uma liquefação em temperaturas maiores.
criada para facilitar a determinação de suas massas. Essa
unidade, denominada unidade de massa atômica, é repre- Atração atômica
sentada pela letra u.
Nas regiões externas dos átomos, a distribuição eletrôni-
1 u equivale a aproximadamente 1,66 · 10−27 kg. ca se dá em camadas, sua estrutura apresenta a estabilidade
máxima se estas estiverem completas. Com exceção do hélio
As massas do próton e do nêutron são praticamente e outros elementos com estabilidade e simetria semelhante,
iguais: medem cerca de 1 unidade de massa atômica. A geralmente a camada mais exterior do átomo é incomple-
massa do elétron é 1836 vezes menor que a do próton: ta, ou podem possuir excesso de elétrons. Em função disto
essa massa é desprezível, porém é errado dizer que o elé- pode haver a transferência de um ou dois elétrons do átomo
tron é desprovido dela. em que estão em excesso, para o átomo em que estão em
Carga elétrica: O elétron é uma partícula dotada de falta, deixando as camadas externas de ambos em equilí-
carga elétrica negativa. A sua carga, que foi determinada brio. O átomo que recebe elétrons ganha carga negativa, e
experimentalmente em 1908, equivale a uma unidade de o que perdeu não equilibra totalmente sua carga nucléica,
carga elétrica (1 ue). A carga do próton é igual à do elétron, positiva. Ocorre então o aglutinamento atômico. Existe ainda
só que de sinal contrário. O próton tem carga elétrica posi- o caso de dois átomos colidirem. Ocorrendo, há o compar-
tiva. O nêutron não possui carga elétrica, como o seu nome tilhamento eletrônico entre ambos que passam a ter suas
indica, ele é neutro. camadas mais externas completas desde que permaneçam
em contato.
Interação atômica: Se tivermos dois átomos hipoté-
ticos, cuja carga elétrica seja neutra, presume-se que estes Elementos químicos conhecidos
não se afetarão mutuamente por causa da neutralidade da
força eletromagnética entre si. A distribuição de cargas no É importante ter em mente que, átomo, é uma entidade
elementar. O conjunto de átomos que apresentam o mesmo
átomo se dá de forma diversa. A carga negativa é externa, a
número atômico (Z) é chamado de elemento químico. É pos-
carga positiva é interna, isto ocorre por que os elétrons or-
sível ter aproximadamente 10 sextilhões de átomos em uma
bitam o núcleo. Quando aproximamos dois átomos, mes-
casa (o algarismo 1 e 22 zeros à direita. Ex.: Ao procurar pelo
mo estando em perfeita neutralidade interna, estes se re-
Carbono na Tabela Periódica, você deve saber que está procu-
pelem, se desviam ou ricocheteiam. Exemplo típico ocorre rando pelo Elemento Carbono e não pelo átomo de Carbono.
no elemento hélio (He) onde seus átomos estão em eterno
movimento de mútuo ricochete. Em temperatura ambiente, Estado físico do elemento nas Condições Normais de
o gás hélio tem no movimento de seus átomos um rápido Temperatura e Pressão (CNTP)
ricochete. Ao diminuir a temperatura, o movimento oscila-
tório diminui, o volume fica menor e a densidade aumenta. - aqueles com o número atômico em preto são sólidos
Chegaremos teoricamente num ponto em que o movimen- nas CNTP.
to de ricochete diminuirá tanto que não se poderá mais - aqueles com o número atômico em verde são líquidos
retirar energia deste. A este nível térmico, damos o nome nas CNTP;
de zero absoluto, este é –273,15 °C. - aqueles com o número atômico em vermelho são ga-
ses nas CNTP;
- aqueles com o número atômico em cinza têm estado
físico desconhecido.

8
QUÍMICA

Ocorrência natural
PERIODICIDADE QUÍMICA:
- Borda sólida indica existência de isótopo mais antigo PERIODICIDADE DAS PROPRIEDADES
que a Terra (elemento primordial). MACROSCÓPICAS: TEMPERATURAS
- Borda tracejada indica que o elemento surge do de-
DE FUSÃO E EBULIÇÃO,
caimento de outros.
CARÁTER METÁLICO DE SUBSTÂNCIAS
- Borda pontilhada indica que o elemento é produzido
SIMPLES, ESTEQUIOMETRIAS E
artificialmente (elemento sintético).
- A cor mais clara indica elemento ainda não desco- NATUREZA ÁCIDO-BÁSICA DE ÓXIDOS.
berto. CRITÉRIO BÁSICO DA CLASSIFICAÇÃO
PERIÓDICA MODERNA. CONFIGURAÇÕES
Moléculas ELETRÔNICAS E ELÉTRONS DE
VALÊNCIA. GRUPOS E PERÍODOS.
Uma vez partilhados eletronicamente os átomos po- ELÉTRONS DE VALÊNCIA, NÚMERO D
dem possuir entre si uma ligação tão forte que para sepa- E OXIDAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DOS
rá-los é necessária uma quantidade razoável de energia, ELEMENTOS. SÍMBOLOS DE ELEMENTOS MAIS
portanto, permanecem juntos. Estas combinações são cha- COMUNS. PERIODICIDADE DAS PROPRIEDADES
madas de moléculas, nome derivado do latim que significa ATÔMICAS: RAIO
pequeno objeto. Nem sempre dois átomos em contato são ATÔMICO, ENERGIA DE IONIZAÇÃO.
suficientes para ter estabilidade, havendo necessidade de
uma combinação maior para tê-la. Para formar uma mo-
lécula de hidrogênio são necessários dois átomos deste
elemento, uma molécula de oxigênio, necessita de dois A teoria atômica de Dalton pode condensar-se nos se-
átomos de oxigênio, e assim sucessivamente. guintes princípios:
Para a formação de uma molécula de água são ne- - os átomos são partículas reais, descontínuas e indi-
cessários dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio; visíveis de matéria, e permanecem inalterados nas reações
metano, necessita de um átomo de carbono e quatro de químicas;
hidrogênio; dióxido de carbono (bióxido), um carbono, e - os átomos de um mesmo elemento são iguais e de
dois oxigênios e assim sucessivamente. Existem casos de peso invariável;
moléculas serem formadas por uma grande quantidade - os átomos de elementos diferentes são diferentes en-
de átomos, são as chamadas macromoléculas. Isto ocorre tre si;
principalmente com compostos de carbono, pois o átomo - na formação dos compostos, os átomos entram em
de carbono pode partilhar elétrons com até quatro elemen- proporções numéricas fixas 1:1, 1:2, 1:3, 2:3, 2:5 etc.;
tos diferentes simultaneamente. Logo, pode ser possível a - o peso do composto é igual à soma dos pesos dos
constituição de cadeias, anéis, e ligações entre estas molé- átomos dos elementos que o constituem.
culas longas, que são a base da chamada química orgânica.
Essa é a base das moléculas que caracterizam o tecido Embora fundada em alguns princípios inexatos, a teo-
vivo, ou seja, a base da vida. Quanto maior a molécula e ria atômica de Dalton, por sua extraordinária concepção,
menos uniforme a distribuição de sua carga elétrica, mais revolucionou a química moderna. Discute-se ainda hoje se
provável será a reunião de muitas moléculas e a formação ele teia emitido essa teoria em decorrência de experiências
de substâncias líquidas ou sólidas. Os sólidos são mantidos pessoais ou se o sistema foi estabelecido a priori, baseado
fortemente coesos pelas interações eletromagnéticas dos nos conhecimentos divulgados no seu tempo. Seja como
elétrons e prótons e entre átomos diferentes e entre mo- for, deve-se ao seu gênio a criação, em bases científicas, da
léculas diferentes. Em algumas ligações atômicas onde os primeira teoria atômica moderna. Dalton, Avogadro, Can-
elétrons podem ser transferidos formam-se os chamados nizzaro e Bohr, cada um na sua época, contribuíram decisi-
cristais (substâncias iônicas). Nestes, os átomos podem es- vamente para o estabelecimento de uma das mais notáveis
tar ligados em muitos milhões, formando padrões de gran- conceituações da física moderna: a teoria atômica.
de uniformidade. No átomo, sua interação nuclear diminui
à medida que aumenta a distância. As moléculas da água Número Atômico e Massa Atômica
por exemplo são chamadas de aguacormicas.
O número atômico (Z) é o número de prótons presen-
tes no núcleo de um átomo. O número de Massa (A) é a
soma do número de prótons (Z) e de nêutrons (N) presen-
tes no núcleo de um átomo. Exemplo: Observe o seguinte
elemento químico, retirado da tabela periódica:

9
QUÍMICA

Símbolo do elemento: F Diagrama de Energias


Elemento químico: Flúor O diagrama de energias dá a ocorrência de cada sub-
Número atômico (Z): 9 nível nos níveis, bem como a ordem de energias crescentes
Número de massa (A): 19 · Subnível mais energético é o último da distribui-
Prótons: 9 ção de acordo com o diagrama de energia.
Elétrons: 9 · Camada de valência é a camada (nível) mais ex-
Nêutrons: 19 - 9 = 10 terna.

Os átomos que possuem um mesmo número atômico Níveis Energéticos ou Camada de Valência
(mesma quantidade de prótons dentro do núcleo) dizem O volume do átomo é determinado pelos elétrons.
respeito a um mesmo elemento químico, todos esses áto- Como alguns desses elétrons são mais facilmente removí-
mos possuem as mesmas propriedades químicas. veis que outros, podemos concluir que alguns elétrons são
Para cada um dos 109 elementos químicos conhecidos mais próximos do núcleo que outros.
foi dado um nome e um símbolo (uma abrevi­ação de seu Por causa da atração pelo núcleo, a energia potencial
nome). do elétron diminui na medida em que se aproxima do nú-
Assim, podemos saber (Z) e (A), além do número de cleo. Enquanto isso, sua velocidade e, conseqüentemente,
nêutrons de todos os 109 átomos de elementos químicos sua energia cinética aumentam. De modo geral, a energia
diferentes da tabela periódica, da mesma maneira que fize- total do elétron aumenta na medida em que ele se afasta
mos com o exemplo acima (para o Flúor). do núcleo.

Fenômenos Atômicos: Isotopia, Isobaria, Isotonia e


Alotropia

Isótopos: átomos que apresentam o mesmo número


atômico mas diferente número de massa, alterando suas
propriedades físicas. Sua descoberta mudou o conceito de
massas atômicas para uma média ponderada.

Isóbaros: diz-se dos elementos químicos que pos-


suem a mesma massa atômica, porém números atômicos
diferentes, sendo por conseguinte, elementos distintos,
diferem pelo número de nêutrons. Ex: argônio, potássio e
cálcio possuem isótopos de massa atômica igual a 40, por-
tanto são isóbaros.
Isótonos: são átomos que possuem o mesmo número
de nêutrons (elementos diferentes), apresentando A (nú-
mero de massa) e Z (número de prótons) diferentes; apre-
sentam propriedades químicas e físicas diferentes;
Alotropia (allotropy): propriedade que certos elemen-
tos manifestam e que se caracteriza pela possibilidade de
existirem sob mais do que uma forma estável. Ex: Gás oxi-
gênio e ozônio, carbono diamante e grafite.

Configuração Eletrônica

Níveis Energéticos
Como já vimos, os elétrons se deslocam ao redor do
núcleo em trajetórias circulares, chamadas de camadas ou
níveis. Mas que camadas ou níveis serão esses?
Para os átomos de elementos conhecidos, existem, no
máximo, sete níveis ou camadas: Em cada um desses ní-
veis de energia cabe um número máximo de elétrons. Es-
tudando-se o átomo de elemento com maior número de
elétrons.
Na verdade, as camadas O, P e Q acomodariam mais
elétrons, mas nenhum átomo de elemento conhecido tem
tantos elétrons de modo que precisem distribuí-los ainda Dependendo da distância do elétron em relação ao
nessas camadas. núcleo, conclui-se que os elétrons se encontram em níveis
energéticos diferentes.

10
QUÍMICA

- Sabe-se que os sistemas atômicos são mantidos por Massa Molecular


meio de um conjunto de forças. O sistema atômico é com-
posto por um núcleo, positivamente carregado e orbitados As moléculas são constituídas por átomos unidos através
por elétrons, negativamente carregados. de ligações que podem ser covalentes e iônicas.
Material = átomos = núcleo (nêutrons e prótons) + A palavra massa molecular é utilizada para compostos
eletrosfera (elétrons distribuídos em diversas camadas ou formados por ligações covalentes, ela não pode ser utilizada
níveis de energia) para os compostos formados por ligações iônicas, já que não
- Os elétrons que circulam ao redor do núcleo se posi- são constituídos por moléculas e sim por íons. A expressão
utilizada para os compostos iônicos é a massa fórmula.
cionam em certos níveis de energia bem definidos, deno-
A massa da molécula é igual à soma dos átomos que a
minados orbitais.
forma, sendo assim, para obtermos a massa molecular e a
massa fórmula, devemos somar as massas de todos os áto-
- De modo didático, podemos admitir, ainda, o modelo mos contidos na fórmula das substâncias.
atômico proposto por Niels Bohr em 1913. Este modelo ex- O cálculo da Massa Molecular é feito do seguinte modo:
plica que os elétrons giram ao redor do núcleo em orbitais Usaremos a massa atômica do carbono (C =12u) e do hidro-
fixas e com energia definida. O número de elétrons varia gênio (H = 1u) para o cálculo.
de material para material. Dessa forma, existe uma varia- C5H10
ção no número de elétrons da última camada (camada de 5.12 = 60 + 10.1=10
valência). 60 + 10 = 70u
- As orbitais são chamadas de camadas eletrônicas e Massa molecular do C5H10 : MM=70u
são representadas pelas letras.
Os índices (5,10) dos elementos foram multiplicados por
Quanto mais distante do núcleo, mais energia  o elé- suas respectivas massas atômicas (12, 1), e em seguida foram
tron possui: Um elétron que está no nível 3 possui mais somadas a massa total dos dois elementos que formam a
energia do que um elétron que está no nível 2. Se um elé- molécula resultando 70u, que é a Massa molecular.
tron saia de um nível mais afastado para um mais próximo Cálculo da Massa Fórmula do composto iônico MgCl2:
do núcleo, deve ocorrer liberação de energia, isso aconte- (Massas atômicas: Mg = 24u; Cℓ = 35,5 u)
ce na forma de radiação luminosa. Podemos observar isso
Mg Cℓ2
quando estamos cozinhando e a água da panela escorre
1. 24 = 24 + 2. 35,5 = 71
para a chama azul, deixando a chama amarela. Os fogos 24 + 71 = 95u
de artifícios utilizam as trocas de níveis dos elétrons dos Massa fórmula do MgCℓ2 : MF = 95u
átomos que compõe o material que está queimando para
a emissão de luz de várias cores. A cor depende do tipo de NÚMERO DE AVOGADRO, MOL, MASSA MOLECU-
sal que estará junto à pólvora. LAR, VOLUME MOLECULAR
A energia libera forma de calor na queima da pólvora
e excita os elétrons dos átomos do material que está junto Você conhece alguma balança capaz de fornecer a massa
à pólvora. Os elétrons, ao receberem a energia, pulam para de 1 átomo? A resposta é NÃO.
níveis mais extremos, mas acabam voltando rapidamente Sendo assim, adotou-se um padrão arbitrário e esco-
para as suas órbitas de origem. Uma vez nos seus respec- lheu-se um valor de massa para dar a ele. O padrão adotado
tivos níveis de energia, os elétrons precisam devolver rapi- foi o isótopo mais comum do carbono e deu-se a ele uma
damente a energia que ganharam, pois estarão em níveis massa atômica de 12 unidades de massa atômica, 12 u.m.a.
de energia menores. A forma de devolução dessa energia Por que a unidade usada não foi o grama (g)? Porque a
para o ambiente é a luz. massa de um átomo é muito menor do que isso.
Mediante estudos de espectros (espectrologia) os cien- Uma unidade de massa atômica (1 u.m.a) corresponde
tistas podem determinar quantos níveis de energia têm nos a da massa do padrão (“carbo­no escolhido”). O valor das
massas atômicas dos átomos de elementos foi calculado fa-
átomos. De fato, quando um elétron adquire energia, ele se
zendo-se uma média das massas atômicas dos isótopos, para
move de um nível para outro mais afastado do núcleo. O
cada elemento. Você não precisa se preocupar em determi-
núcleo é o nível de maior conteúdo de energia. Perdendo a nar esses valores, pois eles já estão na tabela periódica. Note
energia adquirida, o elétron a devolve em forma de radia- que utilizaremos o mesmo valor para a massa atômica e para
ção luminosa. o número de massa do átomo de cada elemento: não con-
Nos átomos dos 110 elementos químicos conhecidos, funda essas duas coisas, pois são diferentes. Apenas o valor
podem ocorrer 7 níveis de energia contendo elétrons. Os numérico (coincidentemente) é igual para as duas grandezas.
níveis são representados pelas letras K, L, M, N, O, P e Q a) Massa Molecular (MM)
ou pelos números 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7, chamados de núme- A molécula é um grupo de átomos. Para saber sua massa
ros quânticos principais, representando aproximadamente molecular, basta somar as massas atômicas (MA) de todos os
a distância do elétron ao núcleo, e também, a energia do átomos que a formam.
elétron. Se um elétron tem um número quântico igual a 3, Também é dada em unidades de massa atômica (u.m.a.).
ele pertence à camada  M e tem energia desse nível. Para expressar massa em gramas devemos considerar o
número de Avogadro.

11
QUÍMICA

Número de Avogadro
Número de Avogadro é o número de átomos (6,02.1023) existentes quando a massa atômica de um elemento é dada em
gramas. Esclarecendo certos pontos: usaremos como exemplo o ferro (Fe): 56 u de Fe = 1 átomo de Fe.
Se aumentarmos a quantidade de Fe:
56 g de Fe = 6,02.1023 átomos de Fe
Como você viu, aumentamos a “quantidade” em massa do Fe, claro que a “quantidade” de áto­mos dentro da amostra
de Fe também vai aumentar.

Mol
Da mesma maneira que contamos ovos por dúzias, podemos contar átomos e moléculas pelo MOL, que equivale ao
número de Avogadro (6,02 . 1023). Assim temos:
1 mol = 6,02.1023 = número de Avogadro
Veja:
1 mol de átomos = 6,02.1023 átomos = número de Avogadro de átomos
1 mol de moléculas = 6,02.1023 moléculas = número de Avogadro de moléculas
1 mol de cebolas = 6,02.1023 cebolas = número de Avogadro de cebolas
etc...

Massa Molar (M)


A massa molar de átomos e moléculas é a sua massa em gramas:
Qual a massa molar de A?
1 mol de A = 6,02.1023 átomos de A = 27g
A massa molar de A é igual a 27g/mol.
Qual a massa molar de H2SO4?
1 mol de H2SO4 = 6,02.1023 moléculas de H2SO4 = 98g
A massa molar de H2SO4 é igual a 98g/mol.

CLASSIFICAÇÃO PERIÓDICA DOS ELEMENTOS QUÍMICOS

12
QUÍMICA

Classificação Periódica Moderna Configurações eletrônicas dos elementos ao longo


da classificação periódica
Além de ser mais completa que a tabela de Mendele-
yev, a Classificação Periódica Moderna apresenta os ele- Caminhando, horizontalmente, ao longo dos 7 perío-
mentos químicos dispostos em ordem crescente de núme- dos da classificação periódica, ao passarmos de uma “casi-
ros atômicos. nha” para a seguinte o número atômico aumenta de uma
unidade, o que equivale a dizer que a eletrosfera recebe um
Períodos novo elétron, chamado elétron de diferenciação.
As linhas horizontais que aparecem nas tabelas são de- É muito importante notar o seguinte:
nominadas períodos. É importante notar que: - Cada linha ou período da tabela periódica corres-
- no 6º período, a terceira “casinha” encerra 15 elemen- ponde a uma camada eletrônica. Sendo assim, quando
tos (do lantânio ao lutécio) que, por comodidade, estão in- encontramos um elemento químico no quarto período, já
sabemos que ele possui quatro camadas eletrônicas. Por
dicados em uma linha abaixo da tabela; começando com
exemplo: o ferro (número atômico 26) está na 4ª linha e,
o lantânio, esses elementos formam as chamada Série dos
consequentemente, seu átomo tem quatro camadas ele-
Lantanídios;
trônicas K, L, M, N.
- Analogamente, no 7º período, a terceira “casinha”
- Nas colunas A, o número de elétrons na ultima ca-
também encerra 15 elementos químicos (do actínio até o mada eletrônica é igual ao próprio número da coluna. Por
laurêncio), que estão indicados na Segunda linha abaixo da exemplo: o nitrogênio esta na coluna 5A e a sua ultima ca-
tabela. Começando com o actínio, eles formam a Série dos mada eletrônica tem 5 elétrons (faz exceção a coluna zero,
Actnídios. onde os átomos tem oito elétrons na ultima camada. Nas
colunas B, o número de elétrons na ultima camada é, em
Devemos ainda assinalar que todos os elementos situa- geral, dois, estando a penúltima camada incompleta (e nos
dos após o urânio (92) não existem na Natureza, devendo, lantanídios e actnídios também a antepenúltima camada
pois, ser preparados artificialmente. Eles são denominados está incompleta).
Elementos Transurânicos. Além desses, são também artifi- - Quando um elemento ganha 1,2,3... elétrons e se
ciais os elementos tecnécio-43, promécio-61 e astato-85. transforma num íon negativo (ânion), sua configuração ele-
trônica é semelhante à de outro elemento situado 1,2,3...
Colunas, grupos ou famílias “casinhas” à frente na Tabela Periódica. Ao contrário, quan-
do um elemento perde 1,2,3... elétrons e se transforma num
As linhas verticais que aparecem na tabela, são deno- íon positivo (cátion), sua configuração torna-se semelhante
minadas colunas, grupos ou famílias de elementos. É ainda à de outro elemento situado 1,2,3... “casinhas” para trás na
importante considerar o seguinte: tabela. Átomos e íons com o mesmo números de elétrons
- O hidrogênio (H), embora apareça na coluna 1A, não na eletrosfera são denominados isoeletrônicos e são, pois,
é um metal alcalino. Pelo contrário, o hidrogênio é tão di- “vizinhos” na Classificação Periódica.
ferente de todos os elementos químicos que algumas clas-
sificações preferem colocá-lo fora da tabela. Propriedades periódicas e aperiódicas
- As colunas A são as mais importantes da tabela. Seus
elementos são denominados elementos típicos, caracterís- De um modo geral, muitas propriedades dos elemen-
ticos ou representativos da Classificação Periódica. Em cada tos químicos variam periodicamente com o aumento de
coluna A, a semelhança de propriedades químicas entre os seus números atômicos (portanto, ao longo dos períodos
da Tabela Periódica), atingindo valores máximos e mínimos
elementos é máxima.
em colunas bem definidas da Classificação Periódica, sen-
- Os elementos das colunas 3B, 4B, 5B, 6B, 7B e 8B
do então chamadas de Propriedades Periódicas. Como
constituem os chamados elementos de transição. Note
exemplos, podemos citar a densidade absoluta, o volume
que, em particular, a coluna 8B é uma coluna tripla.
atômico, as temperaturas de fusão e de ebulição, etc. Esse
- Outra separação importante que podemos notar na fato costuma ser traduzido pela seguinte lei:
Classificação Periódica é a que divide os elementos em me- Muitas propriedades físicas e químicas dos elementos
tais, não-metais (ou ametais) e semimetais. são funções periódicas de seus números atômicos (Lei da
Periodicidade ou Lei de Moseley). Há, com tudo, algumas
Como podemos notar, dos 109 elementos considera- propriedades cujos valores só aumentam ou só diminuem
dos na tabela o número de metais (84) supera bastante o com o número atômico e que são chamadas propriedades
número de não-metais (11), semimetais (7) e gases nobres Aperiódicas. Dentre elas, podemos citar:
(6). Como já dissemos, o hidrogênio, devido às suas pro- A massa atômica, que aumenta com o aumento do nú-
priedades muito especiais, deve ser deixado fora dessa mero atômico; - O calor específico do elemento no estado
classificação. sólido, que diminui com o aumento do número atômico
(calor específico é a quantidade de calor necessária para
elevar de 1ºC a temperatura de 1 grama do elemento).

13
QUÍMICA

Raio atômico Pontos de fusão e de ebulição

É difícil medir o raio de um átomo, pois a “nuvem de As temperaturas nas quais os elementos entram em
elétrons” que o circula não tem limites bem definidos. Cos- fusão ou em ebulição são, também, funções periódicas de
tuma-se então medir, com o auxilio de raio X, a distância seus números atômicos. Na tabela ao lado, novamente as
(d) entre dois núcleos vizinhos e dizer que o raio atômico setas indicam o aumento do ponto de fusão: É interessante
(r) é a metade dessa distância. De um modo mais completo, notar que os elementos de menores pontos de fusão e de
dizemos que o Raio Atômico de um elemento é a metade ebulição são aqueles que podem se apresentar no estado
da distância internuclear mínima que dois átomos desse líquido, ou até mesmo gasoso, em condições ambientes.
elemento pode apresentar sem estarem ligados quimica- Com exceção do hidrogênio, esse elementos estão situa-
mente. dos à direita e na parte superior da tabela: No exemplo, são
O raio dos elementos é uma propriedade periódica, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio flúor, cloro e gases nobres.
Dos elementos comuns, só o bromo é líquido.
pois seus valores variam periodicamente (isto é, aumentam
e diminuem seguidamente) com o aumento do número
Potencial de ionização
atômico. Na Tabela Periódica, note que na vertical os raios
atômicos aumentam de cima para baixo porquê os áto-
Chama-se Potencial ou Energia de Ionização a ener-
mos têm, nesse sentido, um número crescente de camadas gia necessária para “arrancar” um elétron de um átomo iso-
eletrônicas. Na horizontal, os raios atômicos diminuem da lado no estado gasoso. Essa energia é, um geral, expressa
esquerda para a direita porque o mesmo número de cama- em elétron-volt (eV), que é a energia ou trabalho necessário
das eletrônicas vai sendo atraído cada vez mais pela carga para deslocar um elétron contra um diferença de potencial
elétrica positiva crescente dos núcleos atômicos. de 1 volt. Na pratica, o mais importante a ser considerado
Volume Atômico é o 1º. Potencial de ionização, isto é, a energia necessária
para “arrancar” o primeiro elétron da camada mais externa
Chama-se volume atômico de um elemento o volume do átomo. O primeiro potencial de ionização aumenta da
ocupado por 1 átomo-grama (6,02 x 1023 átomos) do ele- seguinte maneira:
mento no estado sólido. Observe que o “volume atômico”
não é o volume de um átomo mas o volume de um conjun-
to (6,02 x 1023) de átomos; consequentemente, no volume Eletroafinidade ou Afinidade Eletrônica
atômico inflem não só o volume individual de cada átomo
como também o espaço existente entre os átomos. Chama-se Eletroafinidade ou Afinidade Eletrônica
Podemos concluir que o volume atômico também varia a energia liberada quando um elétron é adicionado a um
periodicamente com o aumento do número atômico. átomo neutro no estado gasoso. Essa energia é também
Na Tabela Periódica notamos, que os elementos de expressa, em geral, em elétron-volt (eV) e mede “força”
maior volume atômico estão situados na parte inferior e com que o átomo “segura” esse elétron adicional. Esque-
nas extremidades das tabela. Observe também que, nas maticamente temos:
colunas da tabela a variação do volume atômico é seme- Esta propriedade é muito importante nos não-metais.
lhante à do raio atômico; nos períodos à esquerda, o volu- Entre eles, os elementos com maiores eletroafinidades são
me atômico acompanha o raio atômico; já à direita da linha os halogêneos e o oxigênio. Conclui-se que a Classifica-
pontilhada a variação é oposta porque, nos elementos aí ção Periódica é o trabalho mais perfeito e mais usado na
situados (principalmente nos não-metais), o “espaçamento” química hoje em dia, foi durante muito tempo um instru-
mento encalhado, mais a medida que as informações con-
entre os átomos passa a ser considerável.
tidas foram aumentando conforme o tempo e o estudo dos
cientistas foram se aperfeiçoando e aumentando cada vez
Densidade Absoluta
mais o número de usuários e a classe deles, passou de cien-
tistas químicos a simples estudantes do primeiro grau. A
Chama-se Densidade Absoluta (d) ou massa específi- Classificação Periódica reúne todos os elementos em uma
ca de um elemento o quociente entre sua massa (m) e seu sequência lógica e contínua.
volume (v).
Portanto: d = m/v FUNÇÕES QUÍMICAS INORGÂNICAS

A variação da densidade absoluta, no estado sólido, é Ácidos, Bases, Sais, Óxidos, Conceitos, Classificação,
também uma propriedade periódica dos elementos quími- Nomenclatura e Propriedades Gerais
cos. Na Tabela Periódica, indica a seguir de forma esque-
mática, as setas indicam o aumento da densidade absoluta. A tabela periódica é um quadro onde os elementos
Como podemos ver, os elementos mais densos situam-se químicos foram organizados em ordem crescente de seus
no centro e na parte inferior da tabela. Exemplo: ósmio (d números atômicos. Os elementos foram classificados na
= 22,5 g/cm) e irídio (d = 22,4g/cm). tabela segundo as semelhanças existentes entre proprie­
dades químicas e físicas dos elementos.

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QUÍMICA

A) Períodos e Famílias Distribuição Eletrônica por Camadas

Períodos Já vimos que cada camada comporta um número má-


As linhas horizontais são os períodos e mostram os ximo de elétrons.
elementos químicos em ordem crescente de seus números OBS:
atômicos. Ainda, o número do período onde o elemento se K L M N O P Q
encontra mostra o número de camadas que foram preen- 2 8 18 32 32 18 2
chidas pelos elétrons desse átomo de elemento. Exemplo:
o elemento Ca encontra-se no quarto período, então o Obs.: Através da distribuição por camadas eletrônicas,
Ca possui quatro camadas ocupadas por seus elétrons e a podemos definir: a última camada, a camada de valência
cama­da de valência (última camada ocupada por elétrons) ou a família em que o elemento pertence.
do Ca é a quarta camada. Temos sete períodos: muito cur-
Elementos químicos – classificação e símbolos dos ele-
to, curto, curto, longo, longo, muito longo, incompleto.
mentos químicos
Observe que o sexto período é o mais longo de todos,
pois dentro de um único quadrado estão inseridos todos
os elementos que fazem parte da “Série dos Lantanídeos”. Símbolo Número Massa
Elemento
A “Série dos Actinídeos” está inserida no sétimo período. Atômico atômica (aprox.)
Actínio Ac 89 227
Famílias ou Grupos
Alumínio Al 13 27
São as colunas verticais. Em cada coluna temos ele-
mentos químicos que apresentam seme­lhanças em suas Amerício Am 95 243
propriedades químicas, pois têm o mesmo número de elé- Antimônio Sb 51 122
trons na camada de valência. Assim, temos as famílias:
Argônio Ar 18 40
1A- Metais Alcalinos (menos H) Arsênio As 33 75
2A- Metais Alcalino-terrosos Astato At 85 210
3A- Família do Boro
4A- Família do Carbono Bário Ba 56 137
5A- Família do Nitrogênio Berílio Be 4 9
6A- Calcogênios Berquério Bk 97 247
7A- Halogênios
Zero-Gases Nobres Bismuto Bi 83 209
Os átomos de elementos das famílias A são chamados Boro B 5 11
de elementos representativos. Todos os elementos da famí- Bromo Br 35 80
lia 1 A apresentam apenas 1 elétron na camada de valência,
os elementos da família 2A apresentam 2 elétrons na ca- Cádmio Cd 48 112
mada de valência e assim por diante. Isso é válido apenas Cálcio Ca 20 40
para os elementos que se encontram em uma família A. Já
Califórmio Cf 98 251
os elementos das famílias B são chamados de ele­mentos
de transição e de transição interna. Esses elementos não Carbono C 6 10
apresentam uma regularidade de vari­ação de propriedades Cério Ce 58 140
como se observa nos elementos representativos.
Césio Cs 55 133
O grupo zero é formado pelos gases nobres, já pos-
suem oito elétrons em sua camada de valência (o He tem Chumbo Pb 82 207
dois elétrons na camada de valência). Cloro Cl 17 35,5
Cobalto Co 27 59
Algumas Características de Metais, Semimetais e
Não-Metais Cobre Cu 29 63,5
- Metais: bons condutores de calor e eletricidade, dúc- Criptônio Kr 36 84
teis e maleáveis. Nas condições ambiente a maioria é sóli-
da, exceto gálio e mercúrio. Cromo Cr 24 52
- Semimetais: têm propriedades intermediárias às dos Cúrio Cm 96 247
metais e dos não-metais. Nas condições ambiente todos Disprósio Dy 66 162
são sólidos.
- Não-Metais: maus condutores de calor e eletricidade, Einstêinio Es 99 255
não são dúcteis e não são maleáveis. Enxofre S 16 32

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QUÍMICA

Érbio Er 68 167 Paládio Pd 46 107


Escândio Sc 21 45 Platina Pt 78 195
Estanho Sn 50 119 Plutônio Pu 94 242
Estrôncio Sr 38 87,6 Polônio Po 84 210
Európio Eu 63 152 Potássio K 19 39
Férmio Fm 100 257 Prasiodímio Pr 59 141
Ferro Fe 26 56 Prata Ag 47 108
Flúor F 9 19 Promécio Pm 61 147
Fósforo P 15 31 Protactínio Pa 91 231
Frâncio Fr 87 223 Rádio Ra 88 226
Gadolínio Gd 64 157 Radônio Rn 86 222
Gálio Ga 31 69,7 Rênio Re 75 186
Germânio Ge 32 72,6 Ródio Rh 45 103
Háfnio Hf 72 179 Rubídio Rb 37 85,5
Hélio He 2 4 Rutênio Ru 44 101
Hidrogênio H 1 1 Selênio Se 34 79
Hólmio Ho 67 165 Silício Si 14 28
Índio In 49 115 Sódio Na 11 23
Iodo I 53 127 Tálio Tl 81 204
Irídio Ir 77 192 Tantálio Ta 73 181
Itérbio Yb 70 173 Tecnécio Tc 43 99
Ítrio Y 39 Telúrio Te 52 128
Lantânio La 57 139 Térbio Tb 65 159
Laurêncio Lr 103 257 Titânio Ti 22 48
Lítio Li 3 Tório Th 90 232
Lutério Lu 71 175 Túlio Tm 69 169
Magnésio Mg 12 24,3 Tungstênio W 74 184
Manganês Mn 25 54,9 Unnilennium Une 109 266
Mendelévio Md 101 256 Unnilhexium Unh 106 263
Mercúrio Hg 80 200 Unniloctium Uno 108 265
Molibidênio Mo 42 96 Unnilpentium Unp 105 261
Neodímio Nd 60 144 Unnilquadium Unq 104 260
Neônio Ne 10 20 Unnilseptium Uns 107 262
Neptúnio Np 93 237 Urânio U 92 238
Nióbio Nb 41 93 Vanádio V 23 51
Níquel Ni 28 58,7 Xenônio Xe 54 131
Nitrogênio N 7 14 Zinco Zn 30 65,4
Nobélio No 102 255 Zircônio Zr 40 91
Ósmio Os 76 190
Ouro Au 79 197
Oxigênio O 8 16

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QUÍMICA

Ácidos - prefixo meta: temos um ácido “meta”, quando reti-


ramos uma molécula de água de uma molé­cula do ácido
Definição de Arrhenius: Ácido é todo composto orto.
que, dissolvido em água, dá origem ao cátion H+.Para - prefixo piro: retira-se uma molécula de água de duas
Arrhenius é o íon H+ que confere aos ácidos o sabor azedo moléculas do ácido orto.
e sua ação sobre indicadores.
Assim, os ácidos são compostos moleculares que so- Assim, temos: A força dos ácidos é dada pelo grau de
frem ionização em água, isto é, íons são formados quando ionização do ácido em questão. O grau de ionização é a
os ácidos se “dissolvem” em água. porcentagem de moléculas dissolvidas em água que se io-
Usaremos a ionização do ácido HCl como exemplo: nizaram:
Temos dois grupos de ácidos: Classificação dos ácidos quanto ao número de hidro-
- hidrácidos: ácidos que não têm oxigênio gênios ionizáveis:
- oxiácidos: ácidos que têm oxigênio
Bases
Fórmulas e Nomenclatura de ácidos
Hidrácidos: escreve-se o nome do elemento que se liga Definição de Arrhenius: Base é todo composto que,
ao hidrogênio e acrescenta-se a terminação ÍDRICO. dissolvido em água, dá origem ao ânion OH-. As bases são
Então : ácido (elemento)ídrico adstringentes e deixam a pele escorregadia.
HF - ácido fluorídrico As bases sofrem dissociação iônica, isto é, seus íons se
H2S - ácido sulfídrico separam quando a substância é dissol­vida em água.
HBr - ácido bromídrico Exemplo: dissociação da base KOH
HCl - ácido clorídrico Fórmulas e nomenclatura de bases
HI - ácido iodídrico Caso de metais que usam sempre o mesmo NOX em
HCN - ácido cianídrico ligação iônica: alcalino, alcalino­terrosos, prata, zinco e alu-
mínio. Eles só formam um tipo de base.
Oxiácidos: Nome: Hidróxido de (nome do elemento)
Observe os quatro ácidos abaixo e seus respectivos no-
mes: Sais
HNO3 - ácido nítrico Sais são substâncias iônicas resultantes de neutraliza-
HClO3 - ácido clórico ção total ou parcial de um ácido mais uma base.
H2SO4 - ácido sulfúrico Exemplos de neutralização formando sempre sal e
H3PO4 - ácido fosfórico água:
Todos os nomes têm ICO no final. Se tirarmos ou acres- HNO3 + Na OH NaNO3 + H2O neutralização total
centarmos oxigênio a esses ácidos teremos novos ácidos ácido base sal água
com fórmulas e nomes diferentes: Exemplo:
HNO3 - ácido nítrico HC + Na OH NaC + H2Oneutralização total
HNO2 - ácido nitroso ácido base sal água

Resumidamente temos: H2SO4 + Na OHNaHSO4 + H2Oneutralização parcial


Ácido - (elemento)ico - para o maior NOX do elemen- ácido base sal água
to.
Ácido - (elemento)oso - para o menor NOX do ele- Fórmulas e nomenclatura de sais obtidos por neu-
mento tralização total

Se houver NOX ainda maior para o elemento, então: A seguir, é apresentada uma tabela de cátions e ânions
Ácido per (elemento)ico para que você possa construir fórmulas e atribuir nomes
aos sais:
E, se houver um NOX menor ainda: Para formular um sal basta unir um cátion e um ânion,
Ácido hipo (elemento)oso formando um composto neutro (mas não se esqueça da
Exemplo: regra de balanceamento de cargas utilizada para se obter o
HC04 - Ácido perclórico composto iônico: o total de cargas no composto formado
HC03 - Ácido clórico deve ser igual a zero).
HC02 - Ácido cloroso Então :
HC0 - Ácido hipocloroso
Nome: (nome do ânion) de (nome do cátion)
Ainda, alguns ácidos se desidratam, formando outros Os sais podem ser:
ácidos. Então: Os sais, por serem compostos iônicos, são sólidos e
- prefixo orto: quando o ácido gera outro através de têm altos pontos de fusão. Conduzem corrente elétrica em
desidratação. solução aquosa ou quando sofrem fusão.

17
QUÍMICA

Quanto à solubilidade, podemos consultar tabelas de A pesquisa de novos materiais radioativos prosseguiu
solubilidade: nas décadas seguintes e resultou na descoberta de ele-
mentos até então desconhecidos, como o actínio, isolado
Óxidos por André Louis Debierne, em 1899, e por Friedrich Otto
Giesel, em 1902, além do mesotório e do radiotório, isó-
Óxido: é um composto formado por apenas dois topos do rádio e do tório, respectivamente, descobertos
tipos de elementos químicos: um elemento qualquer por Otto Hahn. Os estudos sobre o comportamento dessas
combinado com oxigênio. substâncias, junto com os avanços da teoria atômica, resul-
Exemplos: CaO, K2O, BaO, CO2, CO... taram, durante as primeiras décadas do século XX, numa
nova concepção sobre a estrutura da matéria e derrubaram
Fórmulas e nomenclatura de óxidos a idéia de indivisibilidade do átomo enunciada no início do
1 ) Elemento ligado ao oxigênio possui apenas 1 NOX: século XIX. A hipótese estabelecida sobre a radioatividade,
Óxido de (elemento) definida como a desintegração dos átomos, foi reforçada
com a descoberta do nêutron por James Chadwick em
2) Elemento ligado ao oxigênio possui duas cargas 1932. Essa nova partícula, de carga elétrica neutra, comple-
possíveis (2 NOX): mentou uma teoria da estrutura atômica que compreende
Óxido (elemento) oso para menor NOX o átomo como uma conjunção equilibrada de dois compo-
Óxido (elemento) ico para maior NOX nentes: o núcleo, composto de nêutrons e prótons, partí-
culas elementares de carga positiva, e os elétrons, partícu-
RADIOATIVIDADE las fundamentais de carga negativa, distribuídas na região
extranuclear e responsáveis pelas propriedades químicas
Em 1896, o francês Henri Becquerel descobriu a ra- dos elementos. Assim, a radioatividade não é senão a con-
dioatividade, ele estudava os efeitos da luz solar sobre sequência de uma perda, por parte do átomo, de alguns
determinados materiais fluorescentes, como o minério de
de seus componentes, ou a emissão de subpartículas por
urânio. À espera da melhora do tempo, que se apresentava
desequilíbrio dos campos de energia internos.
nublado, guardou a amostra do minério numa gaveta. Ao
Em 1934, o casal Frédéric Joliot e Irène Curie (filha de
retirá-la, alguns dias mais tarde, Becquerel observou que
Pierre e Marie Curie) anunciou a descoberta da radioativi-
a pedra havia emitido radiações mesmo no escuro e ob-
dade artificial. Eles constataram que alguns núcleos atômi-
teve a primeira prova da existência da radioatividade na-
cos, bombardeados com determinados tipos de radiações
tural. Radioatividade é a propriedade que alguns tipos de
de partículas, tinham sua estrutura interna alterada e pas-
átomos instáveis apresentam de emitir energia e partículas
savam a apresentar propriedades radioativas. Os procedi-
subatômicas, o que se convenciona chamar de decaimento
mentos de transmutação artificial dos elementos químicos
radioativo ou desintegração nuclear. As teorias físicas mo-
dernas atribuem a origem da radioatividade a um grau de resultaram na obtenção de isótopos artificiais e radioativos
instabilidade interna do átomo (nuclídeo pai), que ao se da maioria dos átomos conhecidos e na descoberta de nu-
converter em outro átomo (nuclídeo filho) alcança maior merosos átomos novos, como os transurânicos (netúnio,
estabilidade. plutônio, amerício etc). O emprego de técnicas de trans-
mutação radioativa permite obter elementos químicos ar-
História da radioatividade tificiais desconhecidos na natureza. De vida extremamente
curta, devido a seu caráter fortemente radioativo, esses
Após a descoberta da radioatividade dos minérios de elementos sofrem imediatas transformações, que os con-
urânio por Becquerel, o casal Pierre e Marie Curie com- vertem em elementos naturais.
provou a existência de outras substâncias com atividade
radioativa. Simultaneamente com o alemão Gerhard Carl Tipos de radioatividade
Schmidt, o casal encontrou alto índice de radioatividade
no tório. Mais tarde, ao analisar alguns minérios de urânio, Os estudos realizados sobre o fenômeno da radioativi-
em especial as pechblendas, Marie Curie detectou uma in- dade, a partir do final do século XIX, comprovaram a exis-
tensidade radioativa maior do que a observada no urânio e tência de três tipos de radiações emergentes do interior
supôs que esses minerais continham algum elemento quí- dos átomos: os raios alfa, os raios beta e os raios gama.
mico radioativo ainda não descoberto. Prosseguindo em Raios alfa (a). De natureza eletropositiva e identifi-
suas experiências, os Curie separaram da pechblenda um cados como feixes de núcleos de hélio, os raios alfa são
elemento 400 vezes mais radioativo que o urânio, a que altamente energéticos e emitidos pelos elementos radioa-
chamaram polônio, em homenagem à terra natal da cien- tivos a milhares de quilômetros por segundo. São também
tista. Mais tarde, conseguiram isolar a partir da pechblenda chamados partículas alfa. Apesar de seu elevado conteúdo
outro elemento milhares de vezes mais ativo que o urânio, energético, possuem baixa penetrabilidade e são facilmen-
que denominaram rádio. te detidos por folhas de papel, de alumínio e de outros
metais.

18
QUÍMICA

Raios beta (b). Também chamados de partículas beta, bilidade de um átomo radioativo sofrer uma transformação
de carga negativa (b+, elétrons) ou positiva (b- , pósitrons), na unidade de tempo considerada, e o tempo de meia-vida
os raios beta são identificados como partículas de alta (semidesintegração), definido como o tempo necessário
energia expelidas pelos núcleos de átomos radioativos. para que uma quantidade de substância radioativa reduza
Essas partículas não são constituintes do núcleo, mas sur- sua massa à metade.
gem durante o decaimento beta, quando o núcleo emite A natureza probabilística da desintegração radioativa
elétrons (ou pósitrons) ou captura um elétron orbital para conduz à definição do conceito de meia-vida dos elemen-
adquirir estabilidade. As partículas beta possuem menor tos -- a média aritmética dos tempos de vida dos átomos
energia que as alfa, mas apresentam maior poder de pene- do elemento radioativo antes de sofrerem decaimento. Os
tração, razão pela qual ultrapassam a barreira das lâminas períodos de semidesintegração oscilam entre milésimos de
metálicas finas usadas para deter as partículas alfa. Para segundos (por exemplo, nas variedades do polônio e o as-
isolar a radiação beta, é necessário usar lâminas muito mais tato) e bilhões de anos (como nos isótopos mais estáveis
espessas. do urânio e do tório).
Raios gama (g). Eletricamente neutros e constituídos As transformações sofridas pelos elementos radioati-
de radiação eletromagnética (fótons) de frequência supe- vos, existentes na natureza num total de aproximadamente
rior ao do espectro da luz visível e a dos raios X, os raios quarenta, permitem agrupá-los em três séries, chamadas
gama são emitidos quando os núcleos efetuam transições, séries de desintegração radioativa, nas quais os elementos
por decaimento alfa, de estados excitados para os de ener- se convertem uns nos outros por sucessivas emissões alfa
gia mais baixa. Sua energia e capacidade de penetração di- e beta (a emissão gama não produz intrinsecamente alte-
ficultam a manipulação. A excessiva exposição dos tecidos rações nucleares):
vivos a esses raios ocasiona malformações nas células, que (1) Série do urânio, a partir do isótopo 238 do urânio
podem provocar efeitos irreversíveis. e cujos primeiros elementos são o tório (234), o protactínio
Atualmente sabe-se que existem também radiações (234), o urânio (234), o tório (230), o rádio (226) e o radô-
devidas a fissão espontânea do núcleo, que são observa- nio (222). O átomo final da série é o chumbo (206), não
das em núcleos pesados como os de urânio, plutônio e radioativo.
netúnio. Essa radiação ocorre devido à quebra espontânea (2) Série do tório, iniciada com o isótopo 232 do tório e
do núcleo em dois núcleos mais leves, com liberação de seguida de rádio (228), actínio (228), tório (228), rádio (224)
nêutrons. e outros átomos, até terminar com o chumbo estável (208).
Os principais métodos de detecção dessas radiações (3) Série do actínio, a partir do isótopo 235 do urânio,
são a câmara de Wilson, que permite efetuar um traçado que se transforma sucessivamente em tório (231), protac-
da trajetória das partículas radioativas num gás saturado tínio (231), actínio (227), tório (227), frâncio (223) etc, até
de vapor d’água; os contadores Geiger-Müller e de outros finalizar no chumbo estável (207). Esta sequência é empre-
tipos, que determinam o número de partículas radioativas gada nos processos de fusão ou ruptura nuclear.
que atravessam certa região do espaço; e as câmaras de io- Há ainda uma quarta série, a série do netúnio, que co-
nização, generalização dos contadores Geiger-Müller, que meça com o isótopo 237 do netúnio, que tem meia-vida
distinguem a passagem das partículas por meio de pulsos de dois milhões de anos. Os elementos que integram essa
de carga elétrica que produzem nos dispositivos de detec- série não ocorrem naturalmente; são produzidos artificial-
ção. mente por reações nucleares. Nas séries radioativas, as
Propriedades dos materiais radioativos. Após a con- emissões alfa reduzem em quatro unidades a massa atômi-
firmação das hipóteses enunciadas por Ernest Rutherford ca de um isótopo, expressa entre parênteses, enquanto que
e Frederick Soddy, segundo as quais a radioatividade re- na emissão beta se conserva a massa atômica e se modifica
sulta da transmutação de elementos químicos em outros, somente a natureza dos átomos?
o próprio Soddy e Kasimir Fajans enunciaram as leis que
levam seus nomes e que determinam os produtos finais de Efeitos biológicos da radioatividade
uma decomposição radioativa, resumidas na chamada lei
do deslocamento radioativo: o átomo radioativo que de- A atividade de uma substância radioativa é determi-
cai pela emissão de uma partícula alfa se transforma num nada pelo número de transformações que ela sofre por
elemento químico diferente, com dois prótons a menos unidade de tempo. A unidade internacional estabelecida
em seu núcleo e com quatro unidades de massa atômica a para medir essa grandeza, denominada curie (Ci), se define
menos; se o decaimento resulta da emissão de uma partí- como a quantidade de substância radioativa que produz o
cula beta, seu número atômico se eleva uma unidade. Por mesmo número de desintegrações que um grama de rádio
exemplo, uma emissão alfa de urânio produz tório, que por e equivale a 3,7 x 1010 desintegrações por segundo.
emissão beta produz um átomo de protactínio. A radiação gama, de efeitos extremamente nocivos para
A instabilidade dos núcleos atômicos, espontânea ou a vida, se mede em röntgen (R), como os raios X. Essa unida-
induzida, reduz, por emissão de radioatividade, a massa do de é definida como a quantidade de radiação capaz de pro-
material radioativo, que se transforma de forma progressi- duzir um determinado número de íons (átomos com carga
va em outra substância. A velocidade de transmutação de elétrica) numa certa quantidade de ar, sob condições fixas
um elemento radioativo é determinada pela constante de de temperatura e pressão. O rad é a unidade de medida de
desintegração, ou tempo de vida, valor que mede a proba- exposição local à radiação e equivale a cem ergs por grama.

19
QUÍMICA

O efeito biológico causado pela irradiação prolongada


do corpo humano se avalia segundo o fator de qualida- LIGAÇÕES QUÍMICAS E INTERAÇÕES
de da radiação (Q), que estabelece quantas vezes o efeito
INTERMOLECULARES: PROPRIEDADES
biológico causado por um dado tipo de radiação excede
MACROSCÓPICAS DE SUBSTÂNCIAS SÓLIDAS,
aquele provocado pela radiação gama de mesma dose. A
LÍQUIDAS E GASOSAS E DE
dose equivalente (DEQ), cuja unidade é o rem, se define
como a quantidade de radiação que causa o mesmo efeito SOLUÇÕES: CORRELAÇÃO COM OS
biológico que uma dose de um rad de raios X ou radiação MODELOS DE LIGAÇÕES QUÍMICAS E
gama. DE INTERAÇÕES INTERMOLECULARES.
Efeitos da radioatividade em uma pessoa ENERGIA EM PROCESSOS DE FORMAÇÃO OU
ROMPIMENTO DE LIGAÇÕES
O limite aceitável de radioatividade para o corpo hu- QUÍMICAS E INTERAÇÕES
mano é de aproximadamente meio rem por semana. A to- INTERMOLECULARES. MODELOS DE
lerância de radioatividade varia ligeiramente entre os orga- LIGAÇÕES QUÍMICAS E INTERAÇÕES
nismos vivos, mas uma dose generalizada de centenas de INTERMOLECULARES. SUBSTÂNCIAS
rem ocasiona sempre graves lesões e mesmo a morte. A IÔNICAS, MOLECULARES, COVALENTES E
administração local de uma radiação de milhares de rem, METÁLICAS. POLARIDADE DAS
porém, contribui para eliminar tumores de pele e de outros MOLÉCULAS. RECONHECIMENTO DOS
órgãos do corpo. EFEITOS DA POLARIDADE DE LIGAÇÃO
E DA GEOMETRIA NA POLARIDADE DAS
Aplicações da radioatividade MOLÉCULAS E A INFLUÊNCIA DESTA NA
SOLUBILIDADE E NAS TEMPERATURAS DE
A radioatividade tem três campos de aplicação para
FUSÃO E DE EBULIÇÃO
fins pacíficos: médico, quando se aproveita sua capacidade
DAS SUBSTÂNCIAS.
de penetração e perfeita definição do feixe emitido para o
tratamento de tumores e diversas doenças da pele e dos
tecidos em geral; industrial, nas áreas de obtenção de ener-
gia nuclear mediante procedimentos de fissão ou ruptura As ligações químicas são uniões estabelecidas entre
de átomos pesados; e científico, para o qual fornece, com átomos para formarem moléculas ou no caso de ligações
mecanismos de bombardeamento de átomos e aceleração iônicas ou metálicas aglomerados atômicos organizados
de partículas, meios de aperfeiçoar o conhecimento sobre de forma a constituírem a estrutura básica de uma subs-
a estrutura da matéria nos níveis de organização subatômi- tância ou composto. Na Natureza existem aproximada-
ca, atômica e molecular. Materiais radioativos são utilizados mente uma centena de elementos químicos. Os átomos
também na fabricação de substâncias fluorescentes e de destes elementos químicos ao se unirem formam a grande
relógios científicos, que se baseiam nos fundamentos da diversidade de substâncias químicas. Uma analogia seria
geocronologia e da cosmocronologia para obter medidas comparar os elementos químicos ao alfabeto que, uma vez
precisas de tempo. organizado seguindo uma dada regra ou ordem, leva as
letras a formarem palavras imbuídas de significado distinto
e bem mais amplo daquele disponível quando separadas.
Os átomos, comparando, seriam as letras, e as moléculas
ou aglomerados organizados seriam as palavras. Na escri-
ta não podemos simplesmente ir juntando as letras para a
formação de palavras: aasc em português não tem signifi-
cado (salvo se corresponder a uma sigla); porém se orga-
nizarmos essas mesmas letras teremos a palavra casa, que
certamente tem significado “físico”.
Assim como na escrita, há regras físico-químicas a se-
rem obedecidas, e a união estabelecida entre átomos não
ocorre de qualquer forma, devendo haver condições apro-
priadas para que a ligação entre os átomos ocorra, tais
como: afinidade, contato, energia, etc. As ligações quími-
cas podem ocorrer através da doação e recepção de elé-
trons entre os átomos, que se transformam em íons que
mantém-se unidos via a denominada ligação iônica. Como
exemplo tem-se o cloreto de sódio (NaCl). Compostos iô-
nicos conduzem eletricidade no estado líquido ou dissol-
vidos, mas não quando sólidos. Eles normalmente têm um
alto ponto de fusão e alto ponto de ebulição.

20
QUÍMICA

Outro tipo de ligações químicas ocorre através do com- 11Na - K = 2; L = 8; M = 1


partilhamento de elétrons: a ligação covalente. Como exem-
plo tem-se a água (H2O). Dá-se o nome de molécula apenas à 17Cl - K = 2; L = 8; M = 7
estrutura em que todos os seus átomos conectam-se uns aos
outros de forma exclusiva via ligação covalente. Existe tam- O sódio possui 1 elétron na última camada (camada
bém a ligação metálica onde os elétrons das últimas camadas M). Bastaria perder este elétron para que ele fique “estável”
dos átomos do metal soltam-se dos respectivos íons forma- com 8 elétrons na 2ª camada (camada L). O cloro possui
dos e passam a se movimentar livremente entre todos os íons 7 elétrons na sua última camada (camada M). É bem mais
de forma a mantê-los unidos. Um átomo encontra-se assim fácil ele receber 1 elétron e ficar estável do que perder 7
ligado não apenas ao seu vizinho imediato, como na ligação elétrons para ficar estável, sendo isto o que acontece. Sen-
covalente, mas sim a todos os demais átomos do objeto me- do assim, é interessante ao sódio doar 1 elétron e ao cloro
tálico via uma nuvem de elétrons de longo alcance que se receber 1 elétron. No esquema abaixo, está representado
distribui entorno dos mesmos. este processo, onde é mostrado apenas a camada de va-
lência de cada átomo. Seria como se fosse que os átomos
Regra do octeto se aproximam e ocorre a transferência de elétron do sódio
para o cloro:
Um grande número de elementos adquire estabilidade
eletrônica quando seus átomos apresentam oito elétrons na
sua camada mais externa, e usualmente esses se ligam de for-
ma a buscarem a completeza desses oito elétrons, especifi-
camente a completeza de suas camadas externas. Dadas as
variações na distribuição eletrônica, existem várias exceções
para essa regra, a exemplo do Hidrogênio (H) e do Hélio (He),
onde ambos se estabilizam com dois elétrons na última ca-
mada, e outros casos onde os átomos têm mais do que oito O resultado final da força de atração entre cátions e
elétrons na última camada quando ligados. Como exemplo da ânions é a formação de uma substância sólida, em condi-
regra do octeto, válida contudo de forma bem regular para os ções ambientes (25 °C, 1 atm). Não existem moléculas nos
elementos representativos da tabela periódica, temos o caso sólidos iônicos. Em nível microscópico, a atração entre os
do átomo de carbono, que é tetravalente (pode realizar qua- íons acaba produzindo aglomerados com formas geomé-
tro ligações), e além dele todos os átomos que pertencem a tricas bem definidas, denominadas retículos cristalinos. No
família de número 14 da tabela periódica que, também tetra- retículo cristalino cada cátion atrai simultaneamente vários
valentes, encontram-se no eixo central dessa regra (Octeto). ânions e vice-versa.

Ligações Iônicas ou Eletrovalentes

Ligações Iônicas são um tipo de ligação química baseada


na atração eletrostática entre dois íons carregados com car-
gas opostas. Na formação da ligação iônica, um metal tem
uma grande tendência a perder elétron(s), formando um íon
positivo ou cátion. Isso ocorre devido à baixa energia de io-
nização de um metal, isto é, é necessária pouca energia para
remover um elétron de um metal. Simultaneamente, o átomo
de um ametal (não-metal) possui uma grande tendência a ga- Configuração Eletrônica de lítio e fluor. O Lítio tem um
nhar elétron(s), formando um íon de carga negativa ou ânion. elétron em sua camada de valência, mantido com dificulda-
Isso ocorre devido à sua grande afinidade eletrônica. Sendo de porque sua energia de ionização é baixa. O Fluor possui
assim, os dois íons formados, cátion e ânion, se atraem devi- 7 elétrons em sua camada de valência. Quando um elétron
do a forças eletrostáticas e formam a ligação iônica. Se estes se move do lítio para o fluor, cada íon adquire a configu-
processos estão interligados, ou seja, o(s) elétron(s) perdido(s) ração de gás nobre. A energia de ligação proveniente da
pelo metal é(são) ganho(s) pelo ametal, então, seria “como se atração eletrostática dos dois íons de cargas opostas tem
fosse” que, na ligação iônica, houvesse a formação de íons valor negativo suficiente para que a ligação se torne está-
devido à “transferência” de elétrons do metal para o ametal. vel.
Esta analogia simplista é muito utilizada no Ensino Médio,
que destaca que a ligação iônica é a única em que ocorre a Características dos compostos iônicos
transferência de elétrons. A regra do octeto pode ser utilizada
para explicar de forma simples o que ocorre na ligação iônica. - Apresentam forma definida, são sólidos nas condi-
Exemplo: Antes da formação da ligação iônica entre um áto- ções ambientes;
mo de sódio e cloro, as camadas eletrônicas se encontram da - Possuem altos ponto de fusão e ponto de ebulição;
seguinte forma: - Conduzem corrente elétrica quando dissolvidos em
água ou fundidos.

21
QUÍMICA

OBS.: O hidrogênio faz ligação iônica com metais tam- bem presos aos átomos, em outros, algumas dessas partí-
bém. Embora possua um elétron, não é metal, logo, não culas permanecem com certa liberdade de se movimenta-
tende a perder esse elétron. Na verdade, o hidrogênio ten- rem no cristal. É o que diferencia, em termos de conduti-
de a receber um elétron ficando com configuração eletrô- bilidade elétrica, os corpos condutores dos isolantes. Nos
nica igual à do gás hélio. corpos condutores, muitos dos elétrons se movimentam
livremente no cristal, de forma desordenada, isto é, em to-
Ligações Covalentes ou Moleculares das as direções. E, justamente por ser caótico, esse movi-
mento não resulta em qualquer deslocamento de carga de
Ligação covalente ou molecular é aquela onde os áto- um lado a outro do cristal.
mos possuem a tendência de compartilhar os elétrons de Aquecendo-se a ponta de uma barra de metal, colo-
sua camada de valência, ou seja, de sua camada mais instá- ca-se em agitação os átomos que a formam e os que lhe
vel. Neste tipo de ligação não há a formação de íons, pois estão próximos. Os elétrons aumentam suas oscilações e a
as estruturas formadas são eletronicamente neutras, como energia se propaga aos átomos mais internos. Neste tipo
o exemplo abaixo, do oxigênio. Ele necessita de dois elé- de cristal os elétrons livres servem de meio de propagação
trons para ficar estável e o H irá compartilhar seu elétron do calor - chocam-se com os átomos mais velozes, ace-
com o O. Sendo assim o O ainda necessita de um elétron leram-se e vão aumentar a oscilação dos mais lentos. A
para se estabilizar, então é preciso de mais um H e esse H possibilidade de melhor condutividade térmica, portanto,
compartilha seu elétron com o O, estabilizando-o. Sendo depende da presença de elétrons livres no cristal. Estudan-
assim é formado uma molécula o H2O. do-se o fenômeno da condutibilidade elétrica, nota-se que,
quando é aplicada uma diferença de potencial, por meio
de uma fonte elétrica às paredes de um cristal metálico, os
elétrons livres adquirem um movimento ordenado: passam
a mover-se do polo negativo para o polo positivo, forman-
do um fluxo eletrônico orientado na superfície do metal,
pois como se trabalha com cargas de mesmo sinal, estas
procuram a maior distância possível entre elas. Quanto
mais elétrons livres no condutor, melhor a condução se dá.
Os átomos de um metal têm grande tendência a perder
OBS.: Ao compartilharem elétrons, os átomos podem
elétrons da última camada e transformar-se em cátions. Esses
originar uma ou mais substâncias simples diferentes. Esse
elétrons, entretanto, são simultaneamente atraídos por ou-
fenômeno é denominado alotropia. Essa substâncias são
tros íons, que então o perdem novamente e assim por diante.
chamadas de variedades alotrópicas. As variedades podem Por isso, apesar de predominarem íons positivos e elétrons
diferir entre si pelo número de átomos no retículo cristali- livres, diz-se que os átomos de um metal são eletricamente
no. Ex.: Carbono, Oxigênio, Enxofre, Fósforo. neutros. Os átomos mantêm-se no interior da rede não só
por implicações geométricas, mas também por apresentarem
Características dos compostos moleculares um tipo peculiar de ligação química, denominada ligação
metálica. A união dos átomos que ocupam os “nós” de uma
- Podem ser encontrados nos três estados físicos; rede cristalina dá-se por meio dos elétrons de valência que
- Apresentam ponto de fusão e ponto de ebulição me- compartilham (os situados em camadas eletrônicas não são
nores que os compostos iônicos; completamente cheias). A disposição resultante é a de uma
- Quando puros, não conduzem eletricidade; malha formada por íons positivos e uma nuvem eletrônica.
- Quando no estado sólido, podem apresentar dois ti-
pos de retículos cristalinos (R. C. Moleculares, R. C. Cova- Teoria da nuvem eletrônica
lente).
Segundo essa teoria, alguns átomos do metal “per-
Ligações Covalentes Dativa ou Coordenada dem” ou “soltam” elétrons de suas últimas camadas; esses
elétrons ficam “passeando” entre os átomos dos metais e
Este tipo de ligação ocorre quando os átomos envolvi- funcionam como uma “cola” que os mantém unidos. Existe
dos já atingiram a estabilidade com os oito ou dois elétrons uma força de atração entre os elétrons livres que se movi-
na camada de valência. Sendo assim eles compartilham mentam pelo metal e os cátions fixos.
seus elétrons disponíveis, como se fosse um empréstimo
para satisfazer a necessidade de oito elétrons do elemento Propriedade dos metais
com o qual está se ligando.
- Brilho metálico característico;
Ligação metálica - Resistência à tração;
- Condutibilidade elétrica e térmica elevadas;
A ligação metálica ocorre entre metais, isto é, átomos - Alta densidade;
de alta eletropositividade (tendência a doar elétrons). Num - Maleabilidade(se deixarem reduzir à chapas e lâminas finas);
sólido, os átomos estão dispostos de maneira variada, mas - Ductilidade(se deixarem transformar em fios);
sempre próximos uns aos outros, compondo um retículo - Ponto de fusão elevado;
cristalino. Enquanto certos corpos apresentam os elétrons - Ponto de ebulição elevado

22
QUÍMICA

Reações de Neutralização, Dupla Troca, Simples Como dois átomos de oxigênio (na forma de molécula
Troca, Redução, Oxidação 02) interagem, é lógico supor que duas moléculas de água
sejam formadas. Mas como duas moléculas de água são
Reações Químicas formadas por quatro átomos de hidrogênio, serão neces-
sárias duas moléculas de hidrogênio para fornecer essa
A queima de uma vela, a obtenção de álcool etílico quantidade de átomos. Assim sendo, o menor número de
a partir de açúcar e o enferrujamento de um pedaço de moléculas de cada substância que deve participar da rea-
ferro são exemplos de transformações onde são formadas ção é: hidrogênio, duas moléculas; oxigênio, uma molécula;
substâncias com propriedades diferentes das substâncias água, duas moléculas.
que interagem. Tais transformações são chamadas reações A equação química que representa a reação é: 2 H2 + 02
químicas. As substâncias que interagem são chamadas rea- => 2 H20 (que é lida da seguinte maneira: duas moléculas
gentes e as formadas, produtos. de hidrogênio reagem com uma molécula de oxigênio para
No final do século XVIII, estudos experimentais levaram formar duas moléculas de água.)
os cientistas da época a concluir que as reações químicas
obedecem a certas leis. Estas leis são de dois tipos: Lei Volumétrica das Reações Químicas
- leis ponderais: tratam das relações entre as massas de Estudos realizados por Gay-Lussac levaram-no, em
reagentes e produtos que participam de uma reação; 1808, a concluir:
- leis volumétricas: tratam das relações entre volumes Lei de Gay-Lussac: Os volumes de gases que partici-
de gases que reagem e são formados numa reação. pam de uma reação química, medidos nas mesmas con-
dições de pressão e temperatura, guardam entre si uma
Equações Químicas relação constante que pode ser expressa através de núme-
Os químicos utilizam expressões, chamadas equações ros inteiros.
químicas, para representar as reações químicas. Assim, por exemplo, na preparação de dois litros de
Para se escrever uma equação química é necessário: vapor d’água devem ser utilizados dois litros de hidrogênio
e um litro de oxigênio, desde que os gases estejam sub-
- saber quais substâncias são consumidas (reagentes) e
metidos às mesmas condições de pressão e temperatura.
quais são formadas (produtos);
A relação entre os volumes dos gases que participam do
- conhecer as fórmulas dos reagentes e dos produtos;
processo será sempre: 2 volumes de hidrogênio; 1 volume
- escrever a equação sempre da seguinte forma: rea-
de oxigênio; 2 volumes de vapor d’água. A tabela a seguir
gentes => produtos
mostra diferentes volumes dos gases que podem participar
desta reação.
Quando mais de um reagente, ou mais de um produto,
participarem da reação, as fórmulas das substâncias serão
hidrogênio + oxigênio => Vapor d’água
separadas pelo sinal “+ “; 20 cm3 10 cm3 20 cm3
- se for preciso, colocar números, chamados coeficien- 180 dm3 90 dm3 180 dm3
tes estequiométricos, antes das fórmulas das substâncias 82 ml 41 ml 82 ml
de forma que a equação indique a conservação dos áto- 126 l 63 l 126 l
mos. Esse procedimento é chamado balanceamento ou
acerto de coeficientes de uma equação. Observe que nesta reação o volume do produto (vapor
d’água) é menor do que a soma dos volumes dos reagen-
Utilizando as regras acima para representar a formação tes (hidrogênio e oxigênio). Esta é uma reação que ocorre
da água temos: com contração de volume, isto é, o volume dos produtos
- reagentes: hidrogênio e oxigênio; produto: água. é menor que o volume dos reagentes. Existem reações en-
- fórmulas das substâncias: hidrogênio: H2; oxigênio: 02; tre gases que ocorrem com expansão de volume, isto é, o
água: H20. volume dos produtos é maior que o volume dos reagentes,
- equação: H2 + 02 => H2O. como por exemplo na decomposição do gás amônia:
- acerto dos coeficientes: a expressão acima indica que
uma molécula de hidrogênio (formada por dois átomos) amônia => hidrogênio + nitrogênio
reage com uma molécula de oxigênio (formada por dois 2 vol. 3 vol 1 vol.
átomos) para formar uma molécula de água (formada por
dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio). Vemos, por- Em outras reações gasosas o volume se conserva, isto
tanto, que a expressão contraria a lei da conservação dos é, os volumes dos reagentes e produtos são iguais. E o que
átomos (lei da conservação das massas), pois antes da rea- acontece, por exemplo, na síntese de cloreto de hidrogê-
ção existiam dois átomos de oxigênio e, terminada a rea- nio:
ção, existe apenas um. No entanto, se ocorresse o desapa-
recimento de algum tipo de átomo a massa dos reagentes hidrogênio + cloro => cloreto de hidrogênio
deveria ser diferente da massa dos produtos, o que não é 1 vol. 1 vol. 2 vol.
verificado experimentalmente.

23
QUÍMICA

Hipótese de Avogadro Massas Relativas de Átomos e Moléculas


Em 1811, na tentativa de explicar a lei volumétrica de A hipótese de Avogadro permitiu, mesmo sendo im-
Gay-Lussac, Amadeo Avogadro propôs que amostras de possível determinar a massa de uma molécula, comparar as
gases diferentes, ocupando o mesmo volume e submeti- massas de várias moléculas. Em outras palavras a hipótese
das às mesmas condições de pressão e temperatura, são de Avogadro permitiu calcular quantas vezes uma molécula
formadas pelo mesmo número de moléculas. Tomando-se é mais leve ou mais pesada do que a outra. Vejamos como
como exemplo a formação de vapor d’água (todos os ga- isso pode ser feito.
ses submetidos às mesmas condições de pressão e tempe- Sabe-se que 10 litros de gás hidrogênio, submetido a
ratura) temos: 0ºC e 1 atm, pesam 0,892 grama e que o mesmo volume
de oxigênio, nas mesmas condições de pressão e tempera-
hidrogênio + oxigênio => vapor d’água tura, pesa 14,3 gramas. Como, tanto os volumes dos gases,
dados experimentais 2 vol. 1 vol. 2 vol. como as condições de pressão e temperatura em que se
hip. de Avogadro 2a moléc. a moléc. 2a moléc. encontram são iguais, as amostras gasosas são formadas
dividindo por a 2 moléc. 1 moléc. 2 moléc. pelo mesmo número de moléculas. Podemos, então, es-
ou seja, a relação entre os volumes dos gases que rea- crever:
gem e que são formados numa reação é a mesma relação - massa de uma molécula de oxigênio/massa de uma
entre o número de moléculas participantes. molécula de hidrogênio = 14,3g/0,893g = 16
A hipótese de Avogadro também permitiu a previsão - o que mostra que uma molécula de oxigênio é 16
das fórmulas moleculares de algumas substâncias. E o que vezes mais pesada que uma molécula de hidrogênio.
foi feito, por exemplo, para a substância oxigênio. Como
uma molécula de oxigênio, ao reagir com hidrogênio para Tipos de Reações Químicas
formar água, produz o dobro de moléculas de água, é ne- As reações químicas costumam ocorrer acompanhadas
cessário que ela se divida em duas partes iguais. Portanto, de alguns efeitos que podem dar uma dica de que elas
é de se esperar que ela seja formada por um número par estão acontecendo.
de átomos. Por simplicidade, Avogadro admitiu que a mo-
Vamos ver quais são estes efeitos?
lécula de oxigênio deveria ser formada por dois átomos.
Saída de gases
Raciocinando de maneira semelhante ele propôs que a
Formação de precipitado
molécula de hidrogênio deveria ser diatômica e a de água
Mudança de cor
triatômica, formada por dois átomos de hidrogênio e um
Alterações de calor
de oxigênio.
Vamos estudar alguns tipos de reações químicas.
Estas suposições a respeito da constituição das mo-
léculas de água, oxigênio e hidrogênio concordam com
Reações de Síntese
as observações experimentais acerca dos volumes dessas
Estas reações são também conhecidas como reações
substâncias que participam da reação.
Atualmente, sabe-se que a hipótese levantada por de composição ou de adição. Neste tipo de reação um úni-
Avogadro é verdadeira, mas, por razões históricas, sua pro- co composto é obtido a partir de dois compostos.
posição ainda é chamada de hipótese. Vamos ver uma ilustração deste tipo de reação!
Outra decorrência da hipótese de Avogadro é que os
coeficientes estequiométricos das equações que represen- Reações de Decomposição
tam reações entre gases, além de indicar a proporção en- Como o próprio nome diz, este tipo de reação é o in-
tre o número de moléculas que reage, indica, também, a verso da anterior (composição), ou seja, ocorrem quando a
proporção entre os volumes das substâncias gasosas que partir de um único composto são obtidos outros compos-
participam do processo, desde que medidas nas mesmas tos. Estas reações também são conhecidas como reações
condições de pressão e temperatura. Podemos exemplifi- de análise.
car este fato com as equações das reações descritas ante-
riormente: Reações de Simples Trocas
Estas reações ocorrem quando uma substância simples
- síntese de vapor d’água: reage com uma substância composta para formar outra
2 H2(g) + 02(g) 2 H2O(g) substância simples e outra composta. Estas reações são
também conhecidas como reações de deslocamento ou
- decomposição da amônia: reações de substituição.
2 NH3(g) N2(g) + 3 H2(g)
Reações de Dupla Troca
- síntese de cloreto de hidrogênio: Estas reações ocorrem quando duas substâncias com-
H2(g) + Cl2(g) 2 HC1(g) postas resolvem fazer uma troca e formam-se duas novas
substâncias compostas.

24
QUÍMICA

Redução e Oxidação O caráter oxidante e redutor de uma substância depen-


Na classificação das reações químicas, os termos oxi- de dos outros compostos que participam da reação, e da
dação e redução abrangem um amplo e diversificado con- acidez e alcalinidade do meio em que ela ocorre. Tais con-
junto de processos. Muitas reações de oxirredução são co- dições variam com a concentração de elementos ácidos.
muns na vida diária e nas funções vitais básicas, como o Entre as reações tipo redox mais conhecidas -- as reações
fogo, a ferrugem, o apodrecimento das frutas, a respiração bioquímicas -- inclui-se a corrosão, que tem grande impor-
e a fotossíntese. tância industrial.
Oxidação é o processo químico em que uma substân- Um caso particularmente interessante é o do fenôme-
cia perde elétrons, partículas elementares de sinal elétrico no chamado auto-redox, pelo qual um mesmo elemento
negativo. O mecanismo inverso, a redução, consiste no ga- sofre oxidação e redução na mesma reação. Isso ocorre
nho de elétrons por um átomo, que os incorpora a sua es- entre halogênios e hidróxidos alcalinos. Na reação com o
trutura interna. Tais processos são simultâneos. Na reação hidróxido de sódio a quente, o cloro (0) sofre auto-redox:
resultante, chamada oxirredução ou redox, uma substância
se oxida para clorato (+5) e se reduz para cloreto (-1): 6Cl +
redutora cede alguns de seus elétrons e, consequentemen-
6NaOH -> 5NaCl- + NaClO3 + 3H2O
te, se oxida, enquanto outra, oxidante, retém essas partí-
culas e sofre assim um processo de redução. Ainda que os
Balanço das reações redox. As leis gerais da quími-
termos oxidação e redução se apliquem às moléculas em
seu conjunto, é apenas um dos átomos integrantes dessas ca estabelecem que uma reação química é a redistribuição
moléculas que se reduz ou se oxida. das ligações entre os elementos reagentes e que, quando
não há processos de ruptura ou variação nos núcleos atô-
Número de oxidação. Para explicar teoricamente os micos, conserva-se, ao longo de toda a reação, a massa
mecanismos internos de uma reação do tipo redox é pre- global desses reagentes. Desse modo, o número de átomos
ciso recorrer ao conceito de número de oxidação, determi- iniciais de cada reagente se mantém quando a reação atin-
nado pela valência do elemento (número de ligações que ge o equilíbrio.
um átomo do elemento pode fazer), e por um conjunto de Em cada processo desse tipo, existe uma relação de
regras deduzidas empiricamente: proporção fixa e única entre as moléculas. Uma molécu-
(1) quando entra na constituição das moléculas mo- la de oxigênio, por exemplo, se une a duas de hidrogênio
noatômicas, diatômicas ou poliatômicas de suas varieda- para formar duas moléculas de água. Essa proporção é a
des alotrópicas, o elemento químico tem número de oxi- mesma para todas as vezes que se procura obter água a
dação igual a zero; partir de seus componentes puros: 2H2 + O2  ->  2H2O
(2) o oxigênio apresenta número de oxidação igual a A reação descrita, que é redox por se terem alterado os
-2, em todas as suas combinações com outros elementos, números de oxidação do hidrogênio e do oxigênio em cada
exceto nos peróxidos, quando esse valor é -1; um dos membros, pode ser entendida como a combinação
(3) o hidrogênio tem número de oxidação +1 em to- de duas reações iônicas parciais:
dos os seus compostos, exceto aqueles em que se combina H2 -> 2H+  + 2e- (semi-oxidação)
com os ametais, quando o número é -1; e 4e- + 2H+ + O2 -> 2OH- (semi-redução)
(4) os outros números de oxidação são determinados
de tal maneira que a soma algébrica global dos números em que os elétrons ganhos e perdidos representam-se
de oxidação de uma molécula ou íon seja igual a sua carga com e- e os símbolos H+ e OH- simbolizam respectiva-
efetiva. Assim, é possível determinar o número de oxidação mente os íons hidrogênio e hidroxila. Em ambas as etapas,
de qualquer elemento diferente do hidrogênio e do oxigê- a carga elétrica nos membros iniciais e finais da equação
nio nos compostos que formam com esses dois elementos.
deve ser a mesma, já que os processos são independentes
entre si.
Assim, o ácido sulfúrico (H2SO4) apresenta, para seu
Para fazer o balanceamento da reação global, igualam-
elemento central (enxofre), um número de oxidação n, de
se as reações iônicas parciais, de tal maneira que o número
forma que seja nula a soma algébrica dos números de oxi-
dação dos elementos integrantes da molécula: 2.(+1) + n + de elétrons doados pelo agente redutor seja igual ao nú-
4.(-2) = 0, logo, n = +6 mero de elétrons recebidos pelo oxidante, e procede-se a
Em toda reação redox existem ao menos um agente sua soma:
oxidante e um redutor. Em terminologia química, diz-se
que o redutor se oxida, perde elétrons, e, em conseqüência, (H2 -> 2H+ + 2e-) x 2
seu número de oxidação aumenta, enquanto com o oxi- (4e- + 2H+ + O2 -> 2OH-)      x 1
dante ocorre o oposto. --------------------------------------------
2H2 + 4e- + 2H+ + O2 -> 4H+ + 4e- + 2OH-
Oxidantes e redutores. Os mais fortes agentes redu- o que equivale a:
tores são os metais altamente eletropositivos, como o só- 2H2 + O2 -> 2H2O
dio, que facilmente reduz os compostos de metais nobres
e também libera o hidrogênio da água. Entre os oxidantes
mais fortes, podem-se citar o flúor e o ozônio.

25
QUÍMICA

pois os elétrons se compensam e os íons H+ e OH- se A massa molecular pode ser obtida experimentalmente
unem para formar a água. através da espectrometria de massa. Nesta técnica, a mas-
Nesses mecanismos se apóia o método generaliza- sa de uma molécula é geralmente descrita como a massa
do de balanço de reações redox, chamado íon-elétron, da molécula formada por apenas os isótopos mais comuns
que permite determinar as proporções exatas de átomos dos átomos constituintes. Isto deve-se ao fato de a técnica
e moléculas participantes. O método íon-elétron inclui as ser suficientemente sensível às diferenças entre isótopos,
seguintes etapas: mostrando então diversas espécies. As massas encontram-
(1) notação da reação sem escrever os coeficientes nu- se listadas numa tabela isotópica específica, ligeiramente
méricos; diferente dos valores de massa atómica encontrados numa
(2) determinação dos números de oxidação de todos tabela periódica normal. Isto não se aplica a moléculas
os átomos participantes; maiores (como proteínas) em que é usada a massa mo-
(3) identificação do agente oxidante e redutor e ex- lecular média (ou seja, com a contribuição dos diferentes
pressão de suas respectivas equações iônicas parciais; isótopos) pois a probabilidade de encontrar diferentes isó-
(4) igualação de cada reação parcial e soma de ambas, topos do mesmo átomo aumenta com o maior número de
de tal forma que sejam eliminados os elétrons livres; átomos da molécula.
(5) eventual recomposição das moléculas originais a
partir de possíveis íons livres. Relação entre massa molecular e massa molar

A massa molar corresponde à massa de um mol (uma


REAÇÕES QUÍMICAS E mole em Portugal) de entidades elementares (átomos, mo-
ESTEQUIOMETRIA: REAÇÃO léculas, íons, grupos específicos, partículas, etc). Desta for-
QUÍMICA: CONCEITO E EVIDÊNCIAS ma, a massa molar calcula-se como o produto entre a mas-
sa molecular e a constante de Avogadro. O valor numérico
EXPERIMENTAIS. EQUAÇÕES
é o mesmo, porém, a unidade de medida para de unidade
QUÍMICAS: BALANCEAMENTO E
de massa atômica (u) para gramas por mol.
USO NA REPRESENTAÇÃO DE REAÇÕES
QUÍMICAS COMUNS. OXIDAÇÃO Exemplo para uma substância composta:
E REDUÇÃO: CONCEITO, - Massa molecular da água = 18,015 u;
BALANCEAMENTO, IDENTIFICAÇÃO E - Massa molar da água = 18,015 g/mol;
REPRESENTAÇÃO DE SEMIRREAÇÕES. MASSA
ATÔMICA, MOL E MASSA Exemplo para uma substância simples:
MOLAR: CONCEITOS E CÁLCULOS. - Massa atômica do sódio = 22,99 u;
APLICAÇÕES DAS LEIS DE - Massa molar do sódio = 22,99 g/mol;
CONSERVAÇÃO DA MASSA, DAS
PROPORÇÕES DEFINIDAS, DO Um detalhe importante é que 1 mol de diferentes
PRINCÍPIO DE AVOGADRO E DO substâncias possui sempre o mesmo número de partículas.
CONCEITO DE VOLUME MOLAR No entanto, a massa contida em 1 mol varia consideravel-
mente entre as substâncias.
DE UM GÁS. CÁLCULOS
Em química, a fórmula empírica é uma expressão que
ESTEQUIOMÉTRICOS.
representa a proporção mais simples na que estão presen-
tes os átomos que formam um composto químico. Pode
coincidir ou não com a fórmula molecular, que indica o
A massa molecular de uma substância é a massa de uma número de átomos presentes na molécula. A molécula de
molécula dessa substância relativa à unidade de massa atô- água está formada por dois átomos de hidrogênio e um de
mica u (igual a 1/12 da massa do isótopo carbono-12, 12C). oxigênio, pelo que sua fórmula molecular é H2O, coincidin-
Formalmente deve ser chamada massa molecular relativa do com sua fórmula empírica. Para o etano, entretanto, não
devido a esta relação. O termo peso molecular (abreviatura: ocorre o mesmo, já que é formado por dois átomos de car-
MW, do inglês molecular weight) é também usado para de- bono e seis de hidrogênio, pelo que sua fórmula molecular
signar esta propriedade, embora tenda a cair em desuso. será C2H6 e sua fórmula empírica CH3.
Alguns compostos, como o cloreto de sódio ou sal co-
Cálculo da massa molecular mum, carecem de entidades moleculares e só é possível
falar de fórmula empírica: NaCl. Para encontrar a fórmula
O cálculo teórico da massa molecular faz-se somando empírica de um composto, primeiro se obtém os mols de
as massas atômicas dos átomos que formam a matéria. Por cada elemento, logo se divide cada um pelo de menor va-
exemplo: a massa atômica do hidrogênio é 1,00784 u e do lor e finalmente, portanto, se encontram os números intei-
oxigênio é 15,9994 u; portanto, a massa molecular da água, ros proporcionais.
de fórmula H2O, é (2 × 1,00784 u) + 15,9994 u = 18,01508
u. Uma molécula de água tem então 18,01508 u.

26
QUÍMICA

Fórmulas empíricas e moleculares

A determinação da estrutura de um composto inicia-se A Equação 1 não mostra a estequiometria correta da rea-
pela sua análise qualitativa. Uma vez conhecida, procede-se ção - isto é, não demonstra as proporções relativas dos rea-
à análise quantitativa, de modo a determinar a sua fórmula gentes e do produto.
empírica. A determinação quantitativa do carbono e hidrogê-
nio, que se encontram presentes numa determinada amostra
de um composto, pode ser realizada por determinação da
composição ponderal, ou através do Método de Liebig. A Equação 2 já tem a correta estequiometria e, por isso,
é dita uma equação «balanceada», que demonstra o mesmo
número de átomos de cada tipo em ambos os lados da equa-
ção. Há quatro h no lado dos reagentes e quatro no lado do
produto, e dois Os também em ambos os lados da equação.
Ou seja, a massa conserva-se. O termo «estequiometria» tam-
bém é usado com frequência para as proporções molares de
elementos em compostos estequiométricos. Por exemplo, a
estequiometria do hidrogênio e do oxigênio na água (H2O) é
2:1. Em compostos estequiométricos, as proporções molares
Representação esquemática do Método de Liebig são números inteiros (e é aí que está a lei de proporções múlti-
plas). Compostos cujas proporções molares não são números
Deste modo, as massas dos dois elementos podem ser inteiros são chamados de compostos não-estequiométricos.
calculadas pelas seguintes expressões: A estequiometria não é tão somente usada para balan-
m ( C ) = 12,01 x m ( CO2 ) / 44,01, e, m ( H ) = 2,02 x m cear equações químicas, mas também para conversões de
( H2O ) / 18,02, expressas em g. unidades - por exemplo, de gramas a mols, ou gramas a mi-
lilitros. Por exemplo, se temos 2,00 g de NaCl, para achar o
A massa de oxigénio, numa amostra contendo carbo- número de mols, pode-se fazer o seguinte:
no, hidrogénio e oxigénio, é determinada pela seguinte
relação:

mamostra = m ( C ) + m ( H ) + m ( O )
No exemplo acima, quanto escrito em forma de fração,
Conjugando as informações dadas pela fórmula empí- a unidade grama cancela-se, deixando o valor convertido a
rica e pela massa molar do composto, podemos estabele- mols (a unidade desejada)
cer a sua fórmula molecular, que, para além da composição
qualitativa, dá-nos o número de átomos de cada elemento
por molécula.
Outro uso da estequiometria é achar a quantia certa de
ESTEQUIOMETRIA
reagentes a ser usada em uma reação química. Um exemplo é
mostrado abaixo usando uma reação termite:
A palavra estequiometria (ou equações químicas)
vem do grego stoikheion (elemento) e metriā (medida, de
metron). A obra Stoichiometria de Nicéforo rendeu muitas
linhas nos livros canônicos do Novo Testamento e dos Apó- Quantos gramas de alumínio são necessários para reagir
crifos. O termo “estequiométrico” é usado com frequência completamente com 85 g de óxido de ferro III?
em Termodinâmica para referir-se à “mistura perfeita” de
um combustível e o ar. A estequiometria baseia-se na lei da
conservação das massas e na lei das proporções definidas
(ou lei da composição constante), e na lei das proporções
múltiplas. Em geral, as reações químicas combinam pro- Resposta: 28,6875 g de alumínio.
porções definidas de compostos químicos. Já que a ma-
téria não pode ser criada ou destruída, a quantia de cada Outro exemplo:
elemento deve ser a mesma antes, durante e após a rea-
ção. Por exemplo, a quantia de um elemento A no reagente Num laboratório de química há duas soluções, a primeira
deve ser igual à quantia do mesmo elemento no produto. é de ácido sulfúrico (H2SO4) com concentração desconhecida,
A estequiometria é usada frequentemente para balan- a segunda é de soda cáustica (NaOH) em concentração de
cear equações químicas. Por exemplo, os dois gases dia- 0,10 mol/L. Sabe-se que 25 mL da solução de ácido exigem
tômicos hidrogênio e oxigênio podem combinar-se para 22,50 mL da solução de soda cáustica para ser neutralizada
formar um líquido, água, em uma reação exotérmica, como completamente. Com base nessas informações, pede-se que
descrita na Equação. se calcule a concentração de ácido na solução.

27
QUÍMICA

Resolução Exemplo Básico


Começa-se montando uma regra de 3 simples com (Dado: C = 12u; O = 16u)
base nos dados da solução de soda cáustica: 2 CO(g) + 1 O2(g) → 2 CO2(g)

Proporção: 2 mol : 1 mol : 2 mol


ou
56g de CO : 32g O2 : 88g CO2
A 2ª equação será feita com base na reação de neutra-
lização entre o ácido e a base: ou
12.1023 moléculas : 6.1023 moléculas : 12.1023 moléculas

ou
44,8 L de CO : 22,4 L de O2 : 44,8 L de CO2

Com estes dados monta-se uma 3ª equação, em rela- É o quociente entre a massa da substância pura
Pureza:
ção à solução ácida: e a massa total da amostra. Pode ser expressa em porcen-
tagem.
P = massa da substância pura / massa da amostra x
100. Exemplo: Qual a massa de CaCO3 presente numa
amostra de 200g de calcário cuja pureza é de 80%?
Resposta: 0,045 mol/L. Resolução:
100g de calcário → 80g de CaCO3
Definição: É o cálculo que permite relacionar quan- 200g de calcário → x
tidades de reagentes e produtos, que participam de uma x = 160g de CaCO3
reação química com o auxílio das equações químicas cor-
respondentes.
Rendimento:
É o quociente entre a quantidade de produto
realmente obtida, e a quantidade teoricamente calculada.
Regras gerais para o cálculo estequiométrico
Pode ser expresso em porcentagem.
R = quantidade real / quantidade teórica x 100. Exem-
a) Escrever a equação química do processo. Exemplo:
plo: Qual a massa de CaCO3 obtida na reação de 2 mol de
Combustão do monóxido de carbono
CaO com 2 mol de CO2, se o rendimento for 60%?
CO + O2 → CO2
Dados: Massa molar do CaCO3 = 100g / mol
b) Acertar os coeficientes estequiométricos da equa- CaO + CO2 → CaCO3
ção da equação química. Exemplo:
Resolução:
2CO + O2 → 2CO2 1mol CaO → 1 mol CO2 → 1 mol CaCO3
2 mol CaO → 2 mol CO2 → 2 mol CaCO3
Assim você terá proporção das quantidades em mols
entre os participantes. Esses coeficientes lhe darão uma mCaCO3 = 200g
idéia da relação segundo a qual as substâncias se combi- 200g CaCO3 → 100% rendimento
nam. Exemplo: x → 60% rendimento
2 mol de CO estão para 1 mol de O2 que está para 2 x = 120g de CaCO3
mol de CO2
2:1:2 A estequiometria de uma reação química é de suma
importância por informar o reagente limitante, a massa e
c) Montar a proporção baseando-se nos dados e nas volume (no caso de gases) finais dos produtos, a quantida-
perguntas do problema (massa-massa, massa-quantidade de de reagentes que deve ser adicionada para que deter-
em mols, massa-volume etc.). minada quantidade de produto seja obtido, dentre outros
dados. Portanto, o balanceamento de equações químicas
d) Utilizar regras de três para chegar à resposta. deve ser feita sempre que se deseja retirar alguma informa-
ção acerca de uma reação fornecida. Para que o balancea-
Relações Auxiliares mento de reações químicas seja feito de maneira correta,
Massa molar corresponde à → massa molecular em deve-se atentar para os seguintes princípios:
gramas. 1) Lei de conservação de massa: Essa lei indica que a
1 mol contém → 6.1023 moléculas soma das massas de todos os reagentes deve ser sempre
1 mol ocupa → 22,4 L nas CNTP de gás igual à soma das massas de todos os produtos (princípio
de Lavoisier).

28
QUÍMICA

2) Lei das proporções definidas: Os produtos de uma Método Redox: Baseia-se nas variações dos números
reação são dotados de uma relação proporcional de massa de oxidação dos átomos envolvidos de modo a igualar o
com os reagentes. Assim, se 12g de carbono reagem com 36g número de elétrons cedidos com o número de elétrons ga-
de oxigênio para formar 48g de dióxido de carbono, 6g de nhos. Se no final do balanceamento redox faltar compostos
carbono reagem com 18g de oxigênio para formar 24g de a serem balanceados, deve-se voltar para o método das
dióxido de carbono. tentativas e completar com os coeficientes restantes.
3) Proporção atômica: De maneira análoga à lei das pro-
porções definidas, os coeficientes estequiométricos devem Exemplo: Fe3O4 + CO → FeO + CO2
satisfazer as atomicidades das moléculas de ambos os lados
da equação. Portanto, são necessárias 3 moléculas de oxigê- : Identificar os átomos que sofrem oxirredução e
Passo 1
nio (O2) para formar 2 moléculas de ozônio (O3). calcular as variações dos respectivos números de oxida-
ção. Sabendo-se que o Nox do oxigênio é -2 para todos os
Deve-se lembrar que, de acordo com a IUPAC, os coefi- compostos envolvidos. O Nox do Ferro varia de +8/3 para
cientes estequiométricos devem ser os menores valores intei- +2. E, o Nox do carbono de +2 para +4.
ros possíveis.
Portanto, o ferro se reduz e o carbono se oxida.
Métodos de Balanceamento ΔFe = 8/3 – 2 = 2/3 (variação de Nox do ferro)
ΔC = 4 – 2 = 2 (variação de Nox do carbono)
Método das Tentativas: Como o nome já sugere, con- Passo 2: Multiplicar a variação de Nox pela respectiva
siste na escolha de números arbitrários de coeficientes este- atomicidade no lado dos reagentes e atribuir o valor obtido
quiométricos. Assim, apesar de mais simples, pode se tornar a como o coeficiente estequiométrico da espécie que sofreu
forma mais trabalhosa de balancear uma equação. processo reverso. Assim, o número obtido pela multiplica-
ção da variação de Nox do ferro pela sua atomicidade deve
Método Algébrico: Utiliza-se de um conjunto de equa- ser atribuído como o coeficiente estequiométrico da mo-
ções, onde as variáveis são os coeficientes estequiométricos.
lécula de CO.
Sendo que, essas equações podem ser solucionadas por
Para o ferro: 2/3 . 3 = 2
substituição, escalonamento ou por matrizes (através de de-
Para o carbono: 2 . 1 = 2
terminantes).
Exemplo: NH4NO3 → N2O + H2O
Portanto, o coeficiente do Fe3O4 é igual a 2, e o coefi-
ciente do CO também.
Passo 1: Identificar os coeficientes.
2Fe3O4 + 2CO → FeO + CO2
aNH4NO3 → bN2O + cH2O

Passo 2: Igualar as atomicidades de cada elemento res- Simplificando-se os coeficientes para os menores valo-
peitando a regra da proporção atômica. Assim, deve-se multi- res inteiros possíveis, tem-se:
plicar a atomicidade de cada elemento da molécula pelo coe- Fe3O4 + CO → FeO + CO2
ficiente estequiométrico identificado anteriormente.
Para o nitrogênio: 2a = 2b (pois existem 2 átomos de N Passo 3
: Acrescentar os coeficientes restantes
na molécula NH4NO3) Para completar o balanceamento, pode-se realizar
Para o hidrogênio: 4a = 2c o mesmo procedimento utilizado no lado dos reagentes
Para o oxigênio: 3a = b + c (multiplicando a variação de Nox pela atomicidade do ele-
Ou seja, o número de átomos de cada elemento deve ser mento na molécula) ou realizar o método de tentativas. A
igual no lado dos reagentes e no lado dos produtos. primeira opção é a mais viável, embora para equações mais
simples (como a indicada como exemplo) possa ser utili-
Passo 3: Resolver o sistema de equações zado o segundo método. O fato é que ambos os métodos
Se 2a = 2b, tem-se que a = b. devem levar à mesma resposta final.
Se 4a = 2c, tem-se que 2a = c. Como a atomicidade do carbono no CO2 é igual a 1,
multiplicando-se pela variação do Nox 2, obtém-se o coefi-
Portanto, atribuindo-se o valor arbitrário 2 para o coefi- ciente 2 para o FeO. Do mesmo modo, sendo a variação de
ciente a, tem-se: Nox do ferro igual a 2/3, multiplicando-se pela atomicida-
a = 2, b = 2, c = 4. de 1 na molécula de FeO, obtém-se o coeficiente 2/3 para
o CO2. Agora, basta balancear o lado dos produtos: Fe3O4 +
Mas, como os coeficientes devem ser os menores valores CO → 2FeO + 2/3CO2
inteiros possíveis: Como os coeficientes devem ser os menores valores
a = 1, b = 1, c = 2. inteiros possíveis, deve-se multiplicar a equação por 3/2 a
fim de retirar o coeficiente fracionário do CO2:
Passo 4: Substituir os valores obtidos na equação original Fe3O4 + CO → 3FeO + CO2
1NH4NO3 → 1N2O + 2H2O, ou simplesmente, NH4NO3 →
N2O + 2H2O

29
QUÍMICA

Método Íon-Elétron: Baseia-se na divisão da reação


global de oxirredução em duas semi-equações. Sendo que, SOLUÇÕES LÍQUIDAS: SOLUÇÕES
para a semi-equação de redução deve-se acrescentar os E SOLUBILIDADE. O EFEITO DA
elétrons no lado dos reagentes e o ânion no lado dos pro- TEMPERATURA NA SOLUBILIDADE.
dutos. De forma análoga, para a semi-equação de oxida- SOLUÇÕES SATURADAS. O PROCESSO
ção, deve-se adicionar os elétrons no lado dos produtos
DE DISSOLUÇÃO: INTERAÇÕES SOLUTO/
junto à espécie oxidada, enquanto que no lado de reagen-
SOLVENTE; EFEITOS TÉRMICOS.
tes deve estar a espécie mais reduzida.
Exemplo: CuSO4 + Ni → NiSO4 + Cu ELETRÓLITOS E SOLUÇÕES
ELETROLÍTICAS. CONCENTRAÇÃO
Passo 1: Identificar as espécies que sofrem oxidação e DE SOLUÇÕES: EM G/L, EM MOL/L
redução E EM PERCENTUAIS. CÁLCULOS.
No composto CuSO4, o cobre possui Nox +2 e trans- PROPRIEDADES COLIGATIVAS.
forma-se em cobre puro com Nox 0. Assim como, o Níquel RELAÇÕES QUALITATIVAS ENTRE
puro passa do estado 0 para o estado de oxidação +2. Por- A CONCENTRAÇÃO DE SOLUÇÕES
tanto, o cobre 2+ sofre redução e o níquel oxidação. DE SOLUTOS NÃO-VOLÁTEIS E AS
PROPRIEDADES: PRESSÃO DE VAPOR,
Passo 2: Escrever as semi-equações
TEMPERATURA DE CONGELAÇÃO E DE
Cu2+ + 2e → Cu
EBULIÇÃO E A PRESSÃO OSMÓTICA.
Ni → Ni2+ + 2e

Passo 3: Somar as semi-equações de modo a balanceá-


-las e cancelar os elétrons cedidos com os ganhos Em Química, solução é o nome dado a dispersões cujo
Cu2+ + Ni → Ni2+ + Cu, ou simplesmente, CuSO4 + Ni tamanho das moléculas dispersas é menor que 1 nanometro
(10 Angstrons). A solução ainda pode ser caracterizada por
→ NiSO4 + Cu
formar um sistema homogêneo (a olho nu e ao microscópio),
por ser impossível separar o disperso do dispersante por pro-
Caso a quantidade de elétrons cedidos e ganhos não
cessos físicos. As soluções são compostas por moléculas ou
fosse igual, as duas semi-equações deveriam ser multipli-
íons comuns. Podem envolver sólidos, líquidos ou gases como
cadas por números inteiros de modo a equilibrar as cargas.
dispersantes (chamados de solventes – existentes em maior
Se a equação inicial possuir íons H+ em um dos lados ou
quantidade na solução) e como dispersos (solutos). A solução
átomos de oxigênio, também em um dos lados, deve-se
também pode apresentar-se nesses três estados da matéria.
balancear a primeira espécie com moléculas de hidrogênio É importante destacar que soluções gasosas são for-
e a segunda com moléculas de água. madas apenas por solvente e soluto gasosos. Em farmácia,
uma solução é uma forma farmacêutica líquida, caracterizada
pela formação de um sistema onde todas as substâncias sóli-
das presentes na formulação devem estar totalmente dissol-
vidas em um veículo adequado. Portanto a solução deve ser
líquida e transparente.

Classificação das soluções

- Quanto ao estado físico: sólidas, líquidas ou gasosas.


- Quanto à condutividade elétrica: eletrolíticas ou não ele-
trolíticas.
- Quanto à proporção soluto/solvente: diluída, concentra-
da, não-saturada, saturada e supersaturada.

Solução saturada, concentrada e diluída

Coeficiente de solubilidade é definido como a máxima


quantidade de soluto que é possível dissolver de uma quanti-
dade fixa de solvente, a determinadas temperatura e pressão.
A saturação é uma propriedade das soluções que indica a ca-
pacidade das mesmas em suportar quantidades crescentes de
solutos, mantendo-se homogêneas. Uma solução é dita insa-
turada se ainda tem capacidade de diluir soluto, sem precipitar
excessos. A solução saturada é aquela em que o soluto chegou
à quantidade máxima: qualquer adição de soluto vai ser preci-
pitada, não-dissolvida.

30
QUÍMICA

Porém, em alguns casos especiais é possível manter Há outros tipos de cálculo para a concentração em soluções,
uma solução com quantidade de soluto acima daquela que uma muito difundida refere-se à massa molar do soluto dissolvi-
pode ser dissolvida em condições normais. Nesse caso fa- da num dado volume de solução:
la-se em solução supersaturada, que é instável: com alte-
rações físicas mínimas a quantidade extra de soluto pode CM=n/V onde n=m/M
ser precipitada. CM= concentração molar [mol/l]
Solução concentrada Quando o soluto se encontra na n=número de mols de soluto [mol]
quantidade máxima que o solvente pode diluir. Solução V= volume da solução [litro]
diluída ou insaturada (não saturada) Quando a quantida- M= massa molar do soluto [g/mol]
de de soluto usado não atinge o limite de solubilidade, ou
seja, a quantidade adicionada é inferior ao coeficiente de Quando duas soluções têm a mesma concentração, elas são
solubilidade. Solução saturada Quando o solvente (ou dis- chamadas isotônicas ou isosmóticas (iso= igual).
persante) já dissolveu toda a quantidade possível de soluto
(ou disperso), e toda a quantidade agora adicionada não Quando a concentração é diferente, a mais concentrada é
será dissolvida e ficará no fundo do recipiente. Solução su- chamada hipertônica ou hiperosmótica (hiper=superior) e a
persaturada Acontece quando o solvente e soluto estão em menos concentrada é chamada hipotônica ou hiposmótica (hi-
uma temperatura em que seu coeficiente de solubilidade po=inferior).
(solvente) é maior, e depois a solução é resfriada ou aqueci-
da, de modo a reduzir o coeficiente de solubilidade. Quan- Outros possíveis significados de solução
do isso é feito de modo cuidadoso, o soluto permanece - Mistura de um soluto com um solvente
dissolvido, mas a solução se torna extremamente instável. - Uma fase líquida, gasosa ou sólida contendo dois ou mais
Qualquer vibração faz precipitar a quantidade de soluto em componentes dispersos uniformemente na fase.
excesso dissolvida. - Mistura homogênea de duas ou mais substâncias
Denomina-se dissolução endotérmica aquela em que
quanto maior a temperatura, maior o coeficiente de solubi- Concentração das Soluções
lidade do solvente (temperatura e solubilidade são direta-
mente proporcionais). Também há a dissolução exotérmica, Você já deve ter observado, que determinado volume de
que é o inverso da endotérmica, quanto menor a tempera- água pode dissolver quantidades maiores ou menores de açúcar.
tura, maior o coeficiente de solubilidade do solvente (tem- Quando o açúcar começa a se depositar no fundo do recipiente
peratura e solubilidade são inversamente proporcionais). é porque saturamos a solução, na  temperatura em que a reali-
zamos.
É importante saber que, nas práticas de química, as reações
Solubilidade nos gases
geralmente ocorrem quando os reagentes estão em solução, e
consequentemente, devemos conhecer a proporção existente
Os gases apresentam propriedades particulares para a
entre as quantidades de soluto e solvente ou ainda de soluto e
solubilidade. Quando aumenta-se a pressão, a solubilidade
de solução. A este procedimento chamamos de concentração
aumenta (Lei de Henry). O mesmo não acontece quanto
das soluções.
à temperatura. Quando aumenta-se a temperatura, dimi- Existem diversas maneiras de determinar a concentração de
nui a solubilidade. Assim, a solubilidade é diretamente uma solução.
proporcional à pressão e inversamente proporcional  
à temperatura. Vale lembrar que essas leis são válidas 1. Relação de Massa com Massa
para qualquer gás, mas não para substâncias em outros
estados físicos, como foi mostrado acima. Título é a relação entre a massa do soluto e a massa da so-
lução. Sendo: T = título (é um número puro, isto é, não tem
Expressões de concentração unidade).
m1 = massa do soluto
A quantidade de soluto dissolvida em uma quantidade m2 = massa do solvente
de solvente nos dá um valor que chamamos de concentra- m = massa da solução (m1 + m2).
ção da solução. A concentração de uma solução é tanto Aplicação: 10 gramas de um soluto A são dissolvidos em 90
maior quanto mais soluto estiver dissolvido em uma mes- gramas de um solvente B. Qual o título da solução?
ma quantidade de solvente. A concentração das soluções m1 = 10 gramas (soluto A)
pode ser expressa de diversas formas. O que se entende m2 = 90 gramas (solvente B)
simplesmente por concentração é a quantidade de soluto T =  m1 / m1 + m2  =  10 g / 100g   =  0,1
existente em relação ao volume da solução. Matematica-
mente, Porcentagem em peso
C=m/V; onde m é a massa de soluto e V o volume da
solução. % em peso é a massa do soluto em 100 g da solução.
Aplicação: Qual a percentagem em peso da solução anterior?
A unidade usual para concentração é gramas por litro A percentagem em peso (% em peso) = título x 100  =  0,1
(g/L). x 100  =  10%

31
QUÍMICA

Fração Molar (é um número puro, isto é, não tem Aplicação: Qual a concentração de uma solução que
unidade). contém 20 gramas do soluto dissolvido em 0,5 litro de so-
A fração molar de uma solução pode ser expressa de lução?
duas maneiras: m1 = 20 g
- Fração molar do soluto. V = 0,5 litro
- Fração molar do solvente. C = 20g / 0,5 litro = 40 g / litro

A fração molar do soluto (F1) é a relação entre o nú- Molaridade


mero de moles do soluto (n1) e o número de moles da so-
lução (n1+ n2).   Molaridade ou concentração molar é a relação entre o
A fração molar do solvente (F2) é a relação entre o número de moles do soluto e o volume da solução, em li-
número de moles do solvente (n2) e o número de moles da tros.
solução (n1+ n2). Sendo:   M = molaridade ou concentração molar
n1 = número de moles do soluto.
Sendo: F1 = fração molar do soluto   e    F2 = fração V = volume da solução, em litros. 
molar do solvente   
n1 = número de moles do soluto. Relacionando a Molaridade com a Concentração Co-
n2 = número de moles do solvente. mum:  
n = número de moles da solução ( n1 + n2 ). Aplicação: Foram dissolvidos 4,9 g de H2SO4 em água
A soma da fração molar do soluto (n1) e da fração mo- suficiente para 0,5 litros de solução. Qual a concentração
lar do solvente (n2) é sempre igual a um. molar (molaridade) e a concentração comum da solução ? 
F1   +    F2  =  1 Dado: mol1 de H2SO4 = 98 g
O número de moles é obtido através da aplicação da
relação massa por mol.   Cálculo da concentração molar ou molaridade:
Aplicação: Uma solução contém 4 moles do soluto dis- n1 = m1 / mol1 = 4,9 g / 98 g = 0,05
solvidos em 16 moles do solvente. M =  n1 / V (litros) =  0,05 / 0,5 litros = 0,1 molar
Determinar: Cálculo da concentração comum:
a) a fração molar do soluto. C = M . mol1  = 0,1 , 98 g = 9,8g / litro    ou    C = m1 / V
b) a fração molar do solvente. =  4,9g/0,5 litros = 9,8g/litro
    n1 = 4     e    n2 = 16  
Normalidade
Molalidade
Inicialmente faremos um estudo sobre o equivalente-
Molalidade  ou concentração molal é a relação entre grama.
o número de moles do soluto (n1) e a massa do solvente  
(m2), em quilogramas (kg) - não pode ser expressa em ou- Equivalente-Grama (E)
tra unidade.
Sendo:  W = molalidade ou concentração molal Equivalente-grama (E) de um elemento químico é a re-
n1 = número de moles do soluto lação entre átomo-grama (A) e sua  valência (v), no compos-
m2 = massa do soluto em quilogramas to considerado. Exemplos: 

Aplicação: Uma solução é preparada, dissolvendo-se Para o sódio - Na 


4,35 gramas de NaNO3 em 2000 gramas de água. A mola- E = A / v  =  23g / 1  = 23g
lidade da solução  é: Para o bário - Ba              
Dado:  Mol1 = 87 g é o mol do soluto. E = A / v  = 137g / 2 = 68,5g
n1 =  massa do soluto / mol do soluto =  4,35 g / 87 g Para o alumínio - Al          
=  0,05 E = A / v  =  27g / 3  =  9g
m2 = 2000 g = 2 kg Para o oxigênio - O           
W = 0,05 / 2 = 0,025 molal E = A / v  =  16 g / 2 =  8g
 
Equivalente-grama (E) de um ácido é a relação entre
Relação de Massa, Mols e Equivalente-grama com a molécula-grama ou mol (mol1) do ácido e o número de
Volume hidrogênios ácidos ou ionizáveis (x). Exemplos: 
Para  o ácido nítrico  - HNO3   
Concentração comum é a relação entre a massa do E = mol1 / x  =  63g / 1  = 63g    ( 1 hidrogênio ácido)
soluto, em gramas e o volume da solução, em litros. Para o ácido sulfúrico - H2SO4             
Sendo:   C = concentração comum E = mol1 / x  =  98g / 2  = 49g       ( 2 hidrogênios ácidos)
m1 = massa do soluto, em gramas. Para o ácido fosfórico - H3PO4             
V = volume da solução, em litros. E = mol1 / x  =  98g / 3  = 32,67g  ( 3 hidrogênios ácidos)

32
QUÍMICA

Para o ácido fosforoso - H3PO3             Normalidade ou Concentração Normal


E = mol1 / x  =  82g / 2  = 41g       ( 2 hidrogênios ácidos) Normalidade ou concentração normal é a relação en-
Para o ácido hipofosforoso - H3PO2       tre o número de equivalentes-gramas do soluto e o volume
E = mol1 / x  =  66g / 1  = 66g       ( 1 hidrogênio ácido) da solução, em litros.
Sendo: N = normalidade ou concentração normal.
Equivalente-grama (E) de uma base é a relação entre ne = nº de equivalentes-grama do soluto.
a molécula-grama ou mol (mol1) da base e o número de m1 = massa do soluto, em gramas.
hidroxilas (x). Exemplos:  V = volume da solução, em litros.
Para o hidróxido de sódio - NaOH             E = equivalente-grama.
E = mol1 / x  =  40g / 1  = 40g 
Para o hidróxido de cálcio - Ca(OH)2         Exemplos: Qual a normalidade (concentração normal)
E = mol1 / x  =  74g / 2  = 37g de uma solução que contém 21,56 g de H2SO4 dissolvido
Para o hidróxido de alumínio - Al(OH)3      em 200 cm3  solução?
E = mol1 / x  =  78g / 3  = 26g Dados:   H = 1; S = 32; O = 16
mol1 = 98 g    =>       E = 98 g / 2 = 49 g     =>      m1 =
Equivalente-grama (E) de um sal é a realção entre a 21,56 g        =>    V = 200 cm3 = 0,2
molécula-grama ou mol (mol1) do sal e valência total do N = m1 / E . V    =>     N = 21,56 g / 49 g . 0,2 l      =>   
cátion ou ânion (x). Exemplos:   N = 2,2 normal (2,2 N)
Para o cloreto de sódio - NaCl                                             
E = mol1 / x  =  58,5g / 1 = 58,5g Relações entre as Concentrações
Para o sulfeto de cálcio  - CaS                                             
E = mol1 / x  =  72g / 2 = 36g  - Relação entre a normalidade e a concentração co-
Para o fluoreto de bário - BaF2                                             mum: concentração em g/litro e em g/ ml
E = mol1 / x  = 175g / 2 = 87,5g - Relação entre a normalidade e a molaridade:   N =
Para o sulfato de alumínio - Al2(SO4)3                                  M.x
E = c 342g / 6 = 57g - Relação entre a normalidade, densidade e título: den-
Para o sulfato de cobre II pentahidratado - CuSO4 . 5 sidade em g/litro e em g/ ml
H2O     - Relação entre a molaridade, densidade e título: densi-
E = mol1 / x  = 249,5g / 2 = 124,75g dade em g/litro e em g/ ml
 
Equivalente-grama (E) de um oxidante ou redutor é a
relação entre a molécula-grama ou mol (mol1) da substân-
cia e o número total de elétrons cedidos ou recebidos (x)
pela molécula.  
Exemplos:   Qual o equivalente-grama do permanga-
nato de potássio (KMnO4) quando atua como oxidante em
meio ácido ?                  
A equação iônica da reação, é:
2MnO4-  + 6H++    <==>     2Mn++   +  3H2O  +  5[O]

Quando o KMnO4 atua como oxidante em meio ácido


o Mn de nox +7 ao receber 5 elétrons passa para Mn de
nox +2. Como a molécula do KMnO4 contém apenas 1 áto-
mo de Mn, seu equivalente-grama será a molécula-grama
dividida por 5.
E =  mol1 / x = 158g /5 = 31,5g

Qual o equivalente-grama do permanganato de potás-


sio (KMnO4) quando atua como oxidante em meio alcalino
?                  
A equação iônica da reação, é:
2MnO4-  + 2(OH)-    <==>     2MnO3- -   +  H2O  +  3[O]
Quando o KMnO4 atua como oxidante em meio bási-
co o Mn de nox +7 ao receber 3 elétrons passa para Mn
de nox +4 (MnO3- -). Como a molécula do KMnO4 contém
apenas 1 átomo de Mn, seu equivalente-grama será a mo-
lécula-grama dividida por 3
E =  mol1 / x = 158g /3 = 52,67g

33
QUÍMICA

A saturação é uma propriedade das soluções que indica a ca-


TERMOQUÍMICA: CALOR E pacidade das mesmas em suportar quantidades crescentes de
TEMPERATURA: CONCEITO E solutos, mantendo-se homogêneas. Uma solução é dita insa-
DIFERENCIAÇÃO. PROCESSOS turada se ainda tem capacidade de diluir soluto, sem precipitar
excessos. A solução saturada é aquela em que o soluto chegou
QUE ALTERAM A TEMPERATURA
à quantidade máxima: qualquer adição de soluto vai ser precipi-
DAS SUBSTÂNCIAS SEM ENVOLVER tada, não-dissolvida.
FLUXO DE CALOR – TRABALHO Porém, em alguns casos especiais é possível manter uma
MECÂNICO, TRABALHO ELÉTRICO solução com quantidade de soluto acima daquela que pode
E ABSORÇÃO DE RADIAÇÃO ser dissolvida em condições normais. Nesse caso fala-se em
ELETROMAGNÉTICA. EFEITOS solução supersaturada, que é instável: com alterações físicas
ENERGÉTICOS EM REAÇÕES mínimas a quantidade extra de soluto pode ser precipitada.
QUÍMICAS. CALOR DE REAÇÃO E Solução concentrada Quando o soluto se encontra na
VARIAÇÃO DE ENTALPIA. REAÇÕES quantidade máxima que o solvente pode diluir. Solução di-
EXOTÉRMICAS E ENDOTÉRMICAS: luída ou insaturada (não saturada) Quando a quantidade de
CONCEITO E REPRESENTAÇÃO. soluto usado não atinge o limite de solubilidade, ou seja, a
quantidade adicionada é inferior ao coeficiente de solubili-
A OBTENÇÃO DE CALORES DE REAÇÃO POR
dade. Solução saturada Quando o solvente (ou dispersante)
COMBINAÇÃO DE REAÇÕES já dissolveu toda a quantidade possível de soluto (ou disper-
QUÍMICAS; A LEI DE HESS. CÁLCULOS. A so), e toda a quantidade agora adicionada não será dissol-
PRODUÇÃO DE ENERGIA PELA QUEIMA DE vida e ficará no fundo do recipiente. Solução supersaturada
COMBUSTÍVEIS: CARVÃO, Acontece quando o solvente e soluto estão em uma tempe-
ÁLCOOL E HIDROCARBONETOS. ratura em que seu coeficiente de solubilidade (solvente) é
ASPECTOS QUÍMICOS E EFEITOS maior, e depois a solução é resfriada ou aquecida, de modo
SOBRE O MEIO AMBIENTE. a reduzir o coeficiente de solubilidade. Quando isso é feito
de modo cuidadoso, o soluto permanece dissolvido, mas a
solução se torna extremamente instável. Qualquer vibração
faz precipitar a quantidade de soluto em excesso dissolvida.
Em Química, solução é o nome dado a dispersões cujo ta- Denomina-se dissolução endotérmica aquela em que
manho das moléculas dispersas é menor que 1 nanometro (10 quanto maior a temperatura, maior o coeficiente de solu-
Angstrons). A solução ainda pode ser caracterizada por formar bilidade do solvente (temperatura e solubilidade são direta-
um sistema homogêneo (a olho nu e ao microscópio), por ser mente proporcionais). Também há a dissolução exotérmica,
impossível separar o disperso do dispersante por processos físi- que é o inverso da endotérmica, quanto menor a temperatu-
cos. As soluções são compostas por moléculas ou íons comuns. ra, maior o coeficiente de solubilidade do solvente (tempe-
Podem envolver sólidos, líquidos ou gases como dispersantes ratura e solubilidade são inversamente proporcionais).
(chamados de solventes – existentes em maior quantidade na
solução) e como dispersos (solutos). A solução também pode Solubilidade nos gases
apresentar-se nesses três estados da matéria.
É importante destacar que soluções gasosas são forma- Os gases apresentam propriedades particulares para a
das apenas por solvente e soluto gasosos. Em farmácia, uma solubilidade. Quando aumenta-se a pressão, a solubilidade
solução é uma forma farmacêutica líquida, caracterizada pela aumenta (Lei de Henry). O mesmo não acontece quanto à
formação de um sistema onde todas as substâncias sólidas pre- temperatura. Quando aumenta-se a temperatura, diminui a
sentes na formulação devem estar totalmente dissolvidas em um solubilidade. Assim, a solubilidade é diretamente proporcio-
veículo adequado. Portanto a solução deve ser líquida e trans- nal à pressão e inversamente proporcional à temperatura.
parente. Vale lembrar que essas leis são válidas para qualquer gás,
mas não para substâncias em outros estados físicos, como
Classificação das soluções foi mostrado acima.

- Quanto ao estado físico: sólidas, líquidas ou gasosas. Expressões de concentração


- Quanto à condutividade elétrica: eletrolíticas ou não ele-
trolíticas. A quantidade de soluto dissolvida em uma quantidade
- Quanto à proporção soluto/solvente: diluída, concentrada, de solvente nos dá um valor que chamamos de concen-
não-saturada, saturada e supersaturada. tração da solução. A concentração de uma solução é tanto
maior quanto mais soluto estiver dissolvido em uma mesma
Solução saturada, concentrada e diluída quantidade de solvente. A concentração das soluções pode
ser expressa de diversas formas. O que se entende simples-
Coeficiente de solubilidade é definido como a máxima mente por concentração é a quantidade de soluto existente
quantidade de soluto que é possível dissolver de uma quanti- em relação ao volume da solução. Matematicamente,
dade fixa de solvente, a determinadas temperatura e pressão.

34
QUÍMICA

C=m/V; onde m é a massa de soluto e V o volume da Porcentagem em peso


solução.
% em peso é a massa do soluto em 100 g da solução.
A unidade usual para concentração é gramas por litro Aplicação: Qual a percentagem em peso da solução
(g/L). anterior?
A percentagem em peso (% em peso) = título x 100  = 
Há outros tipos de cálculo para a concentração em so- 0,1 x 100  =  10%
luções, uma muito difundida refere-se à massa molar do
soluto dissolvida num dado volume de solução: Fração Molar (é um número puro, isto é, não tem
unidade).
CM=n/V onde n=m/M A fração molar de uma solução pode ser expressa de
CM= concentração molar [mol/l] duas maneiras:
n=número de mols de soluto [mol] - Fração molar do soluto.
V= volume da solução [litro] - Fração molar do solvente.
M= massa molar do soluto [g/mol]
A fração molar do soluto (F1) é a relação entre o nú-
Quando duas soluções têm a mesma concentração, mero de moles do soluto (n1) e o número de moles da so-
elas são chamadas isotônicas ou isosmóticas (iso= igual). lução (n1+ n2).  
A fração molar do solvente (F2) é a relação entre o
Quando a concentração é diferente, a mais concen- número de moles do solvente (n2) e o número de moles da
trada é chamada hipertônica ou hiperosmótica (hiper=su- solução (n1+ n2).
perior) e a menos concentrada é chamada hipotônica ou
hiposmótica (hipo=inferior). Sendo: F1 = fração molar do soluto   e    F2 = fração
molar do solvente
Outros possíveis significados de solução
n1 = número de moles do soluto.
- Mistura de um soluto com um solvente
n2 = número de moles do solvente.
- Uma fase líquida, gasosa ou sólida contendo dois ou
n = número de moles da solução ( n1 + n2 ).
mais componentes dispersos uniformemente na fase.
A soma da fração molar do soluto (n1) e da fração mo-
- Mistura homogênea de duas ou mais substâncias
lar do solvente (n2) é sempre igual a um.
F1   +    F2  =  1
Concentração das Soluções
O número de moles é obtido através da aplicação da
relação massa por mol.  
Você já deve ter observado, que determinado volume
de água pode dissolver quantidades maiores ou menores Aplicação: Uma solução contém 4 moles do soluto dis-
de açúcar. Quando o açúcar começa a se depositar no fun- solvidos em 16 moles do solvente.
do do recipiente é porque saturamos a solução, na  tempe- Determinar:
ratura em que a realizamos. a) a fração molar do soluto.
É importante saber que, nas práticas de química, as b) a fração molar do solvente.
reações geralmente ocorrem quando os reagentes estão     n1 = 4     e    n2 = 16  
em solução, e consequentemente, devemos conhecer a
proporção existente entre as quantidades de soluto e sol- Molalidade
vente ou ainda de soluto e de solução. A este procedimen-
to chamamos de concentração das soluções. Molalidade  ou concentração molal é a relação entre
Existem diversas maneiras de determinar a concentra- o número de moles do soluto (n1) e a massa do solvente
ção de uma solução. (m2), em quilogramas (kg) - não pode ser expressa em ou-
  tra unidade.
1. Relação de Massa com Massa Sendo:  W = molalidade ou concentração molal
n1 = número de moles do soluto
Título é a relação entre a massa do soluto e a massa da m2 = massa do soluto em quilogramas
solução. Sendo: T = título (é um número puro, isto é, não
tem unidade). Aplicação: Uma solução é preparada, dissolvendo-se
m1 = massa do soluto 4,35 gramas de NaNO3 em 2000 gramas de água. A mola-
m2 = massa do solvente lidade da solução  é:
m = massa da solução (m1 + m2). Dado:  Mol1 = 87 g é o mol do soluto.
Aplicação: 10 gramas de um soluto A são dissolvidos n1 =  massa do soluto / mol do soluto =  4,35 g / 87 g
em 90 gramas de um solvente B. Qual o título da solução? =  0,05
m1 = 10 gramas (soluto A) m2 = 2000 g = 2 kg
m2 = 90 gramas (solvente B) W = 0,05 / 2 = 0,025 molal
T =  m1 / m1 + m2  =  10 g / 100g   =  0,1  

35
QUÍMICA

Relação de Massa, Mols e Equivalente-grama com Equivalente-grama (E) de um ácido é a relação entre
Volume a molécula-grama ou mol (mol1) do ácido e o número de
hidrogênios ácidos ou ionizáveis (x). Exemplos: 
Concentração comum é a relação entre a massa do Para  o ácido nítrico  - HNO3   
soluto, em gramas e o volume da solução, em litros. E = mol1 / x  =  63g / 1  = 63g    ( 1 hidrogênio ácido)
Sendo:   C = concentração comum Para o ácido sulfúrico - H2SO4             
m1 = massa do soluto, em gramas. E = mol1 / x  =  98g / 2  = 49g       ( 2 hidrogênios ácidos)
V = volume da solução, em litros. Para o ácido fosfórico - H3PO4             
E = mol1 / x  =  98g / 3  = 32,67g  ( 3 hidrogênios áci-
Aplicação: Qual a concentração de uma solução que dos)
contém 20 gramas do soluto dissolvido em 0,5 litro de so- Para o ácido fosforoso - H3PO3            
lução? E = mol1 / x  =  82g / 2  = 41g       ( 2 hidrogênios ácidos)
m1 = 20 g
Para o ácido hipofosforoso - H3PO2      
V = 0,5 litro
E = mol1 / x  =  66g / 1  = 66g       ( 1 hidrogênio ácido)
C = 20g / 0,5 litro = 40 g / litro
Equivalente-grama (E) de uma base é a relação entre
Molaridade
a molécula-grama ou mol (mol1) da base e o número de
Molaridade ou concentração molar é a relação entre hidroxilas (x). Exemplos: 
o número de moles do soluto e o volume da solução, em Para o hidróxido de sódio - NaOH            
litros. E = mol1 / x  =  40g / 1  = 40g 
Sendo:   M = molaridade ou concentração molar Para o hidróxido de cálcio - Ca(OH)2        
n1 = número de moles do soluto. E = mol1 / x  =  74g / 2  = 37g
V = volume da solução, em litros.  Para o hidróxido de alumínio - Al(OH)3     
   E = mol1 / x  =  78g / 3  = 26g
Relacionando a Molaridade com a Concentração Co-
mum:   Equivalente-grama (E) de um sal é a realção entre a
Aplicação: Foram dissolvidos 4,9 g de H2SO4 em água molécula-grama ou mol (mol1) do sal e valência total do
suficiente para 0,5 litros de solução. Qual a concentração cátion ou ânion (x). Exemplos:  
molar (molaridade) e a concentração comum da solução ?  Para o cloreto de sódio - NaCl                                             
Dado: mol1 de H2SO4 = 98 g E = mol1 / x  =  58,5g / 1 = 58,5g
Para o sulfeto de cálcio  - CaS                                             
Cálculo da concentração molar ou molaridade: E = mol1 / x  =  72g / 2 = 36g 
n1 = m1 / mol1 = 4,9 g / 98 g = 0,05 Para o fluoreto de bário - BaF2                                            
M =  n1 / V (litros) =  0,05 / 0,5 litros = 0,1 molar E = mol1 / x  = 175g / 2 = 87,5g
Cálculo da concentração comum: Para o sulfato de alumínio - Al2(SO4)3                                 
C = M . mol1  = 0,1 , 98 g = 9,8g / litro    ou    C = m1 / E = c 342g / 6 = 57g
V =  4,9g/0,5 litros = 9,8g/litro Para o sulfato de cobre II pentahidratado - CuSO4 . 5
H2O    
Normalidade E = mol1 / x  = 249,5g / 2 = 124,75g
 
Inicialmente faremos um estudo sobre o equivalente-
Equivalente-grama (E) de um oxidante ou redutor é a
grama.
relação entre a molécula-grama ou mol (mol1) da substân-
 
cia e o número total de elétrons cedidos ou recebidos (x)
Equivalente-Grama (E)
pela molécula.  
Equivalente-grama (E) de um elemento químico é a re- Exemplos:   Qual o equivalente-grama do permanga-
lação entre átomo-grama (A) e sua  valência (v), no com- nato de potássio (KMnO4) quando atua como oxidante em
posto considerado. Exemplos:  meio ácido ?                  
A equação iônica da reação, é:
Para o sódio - Na  2MnO4-  + 6H++    <==>     2Mn++   +  3H2O  +  5[O]
E = A / v  =  23g / 1  = 23g
Para o bário - Ba               Quando o KMnO4 atua como oxidante em meio ácido
E = A / v  = 137g / 2 = 68,5g o Mn de nox +7 ao receber 5 elétrons passa para Mn de
Para o alumínio - Al           nox +2. Como a molécula do KMnO4 contém apenas 1 áto-
E = A / v  =  27g / 3  =  9g mo de Mn, seu equivalente-grama será a molécula-grama
Para o oxigênio - O            dividida por 5.
E = A / v  =  16 g / 2 =  8g E =  mol1 / x = 158g /5 = 31,5g

36
QUÍMICA

Qual o equivalente-grama do permanganato de potás-


sio (KMnO4) quando atua como oxidante em meio alcalino CINÉTICA E EQUILÍBRIO QUÍMICO:
?                   EVIDÊNCIAS DE OCORRÊNCIA DE
A equação iônica da reação, é:
REAÇÕES QUÍMICAS: A VARIAÇÃO DE
PROPRIEDADES EM FUNÇÃO DO TEMPO.
2MnO4-  + 2(OH)-    <==>     2MnO3- -   +  H2O  +  3[O]
VELOCIDADE DE UMA REAÇÃO
Quando o KMnO4 atua como oxidante em meio bási- QUÍMICA: CONCEITO E DETERMINAÇÃO
co o Mn de nox +7 ao receber 3 elétrons passa para Mn EXPERIMENTAL. REAÇÕES MUITO
de nox +4 (MnO3- -). Como a molécula do KMnO4 contém RÁPIDAS E MUITO LENTAS EFEITO
apenas 1 átomo de Mn, seu equivalente-grama será a mo- DO CONTATO ENTRE OS REAGENTES,
lécula-grama dividida por 3 DE SUA CONCENTRAÇÃO, DA
E =  mol1 / x = 158g /3 = 52,67g TEMPERATURA, DA PRESSÃO NA
VELOCIDADE DE REAÇÕES QUÍMICAS.
Normalidade ou Concentração Normal CATALISADORES E INIBIDORES.
COLISÕES MOLECULARES:
Normalidade ou concentração normal é a relação en- FREQUÊNCIA E ENERGIA. ENERGIA DE
tre o número de equivalentes-gramas do soluto e o volume ATIVAÇÃO E ESTADO DE TRANSIÇÃO
da solução, em litros. (COMPLEXO ATIVADO): CONCEITOS,
Sendo: N = normalidade ou concentração normal. CONSTRUÇÃO E INTERPRETAÇÃO
ne = nº de equivalentes-grama do soluto. DE DIAGRAMAS. REAÇÕES QUÍMICAS
m1 = massa do soluto, em gramas. REVERSÍVEIS. EVIDÊNCIAS
V = volume da solução, em litros. EXPERIMENTAIS PARA O FENÔMENO
E = equivalente-grama.
DA REVERSIBILIDADE. EQUILÍBRIO
QUÍMICO: CARACTERIZAÇÃO
Exemplos: Qual a normalidade (concentração normal)
EXPERIMENTAL E NATUREZA DINÂMICA. A
de uma solução que contém 21,56 g de H2SO4 dissolvido
em 200 cm3  solução? MODIFICAÇÃO DO ESTADO DE
Dados:   H = 1; S = 32; O = 16 EQUILÍBRIO DE UM SISTEMA:
mol1 = 98 g    =>       E = 98 g / 2 = 49 g     =>      m1 = EFEITOS PROVOCADOS PELA
21,56 g        =>    V = 200 cm3 = 0,2 ALTERAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO
N = m1 / E . V    =>     N = 21,56 g / 49 g . 0,2 l      =>    DOS REAGENTES, DA PRESSÃO E
N = 2,2 normal (2,2 N) DA TEMPERATURA. O PRINCÍPIO DE
LÊ CHATELIER. APLICAÇÕES.
Relações entre as Concentrações

- Relação entre a normalidade e a concentração co-


mum: concentração em g/litro e em g/ ml CINÉTICA QUÍMICA
- Relação entre a normalidade e a molaridade:   N =
M.x Velocidade de reação
- Relação entre a normalidade, densidade e título: den-
aA + bB → cC + dD
sidade em g/litro e em g/ ml
- Relação entre a molaridade, densidade e título: densi-
dade em g/litro e em g/ ml D[C]
vmédia de formação de C = ———
Dt
-D[A]
vmédia de consumo de A = ———
Dt

-D[A] -D[B] -D[C] -D[D]


vmédia da
——— = ——— = ——— = ———
reação =
a·Dt b·Dt c·Dt d·Dt

37
QUÍMICA

Energia de Ativação Mecanismo de reação é o conjunto das etapas em que


Complexo ativado é uma estrutura intermediária entre ocorre a reação. A etapa lenta é a que determina a velocidade
os reagentes e os produtos, com ligações intermediárias da reação. O mecanismo de uma reação é proposto com base
entre as dos reagentes e as dos produtos. Energia de ati- no estudo de sua velocidade.
vação é a energia mínima necessária para a formação do Superfície de contato - Quanto maior for o grau de dis-
complexo ativado. persão de um sólido, maior será a sua superfície e maior será a
velocidade da reação na qual é reagente.
Teoria da Colisão
Pela teoria da colisão, para haver reação é necessário Catálise e Catalisador
que:
- as moléculas dos reagentes colidam entre si; Catálise é uma reação na qual toma parte um catalisador.
- a colisão ocorra com geometria favorável à formação
Catalisador é uma substância que aumenta a velocidade
do complexo ativado;
de uma reação, permanecendo inalterado qualitativa e quanti-
- a energia das moléculas que colidem entre si seja
tativamente no final da reação. A ação do catalisador é abaixar
igual ou superior à energia de ativação.
a energia de ativação, possibilitando um novo caminho para a
Colisão efetiva ou eficaz é aquela que resulta em rea-
reação. O abaixamento da energia de ativação é que determina
ção, isto é, que está de acordo com as duas últimas con- o aumento da velocidade da reação.
dições da teoria da colisão. O número de colisões efetivas - Catálise homogênea - Catalisador e reagentes consti-
ou eficazes é muito pequeno comparado ao número total tuem uma só fase.
de colisões que ocorrem entre as moléculas dos reagentes. - Catálise heterogênea - Catalisador e reagentes constituem
Quanto menor for a energia de ativação de uma reação, duas ou mais fases (sistema polifásico ou mistura heterogênea).
maior será sua velocidade. Uma elevação da temperatura
aumenta a velocidade de uma reação porque aumenta o Enzima
número de moléculas dos reagentes com energia superior
à de ativação. Enzima é uma proteína que atua como catalisador em rea-
ções biológicas. Caracteriza-se pela sua ação específica e pela
Regra de Van’t Hoff - Uma elevação de 10°C duplica a sua grande atividade catalítica. Apresenta uma temperatura óti-
velocidade de uma reação. Esta é uma regra aproximada e ma, geralmente ao redor de 37°C, na qual tem o máximo de
muito limitada. O aumento da concentração dos reagentes atividade catalítica. Promotor de reação ou ativador de catalisa-
aumenta a velocidade da reação. dor é uma substância que ativa o catalisador, mais isoladamen-
te não tem ação catalítica na reação. Veneno de catalisador ou
Lei da velocidade de reação inibidor é uma substância que diminui e até destrói a ação do
catalisador, sem tomar parte na reação.
aA + bB + ... → produtos v = k [A]p [B]q Autocatálise

p e q são experimentalmente determinados Autocatálise - Quando um dos produtos da reação atua


k = constante de velocidade de reação; aumenta com como catalisador. No início, a reação é lenta e, à medida que o
a temperatura catalisador (produto) vai se formando, sua velocidade vai au-
p = ordem da reação em relação a A mentando.
q = ordem da reação em relação a B
p + q + ... = ordem da reação EQUILÍBRIO QUÍMICO

Reagente(s) gasoso(s) - A pressão de um gás é direta- Um equilíbrio químico é a situação em que a proporção
mente proporcional à sua concentração em mol/L. Por isso, entre as quantidades de reagentes e produtos em uma reação
no caso de reagente(s) gasoso(s), a lei de velocidade pode química se mantém constante ao longo do tempo. Foi estudado
ser expressa em termos de pressão. pela primeira vez pelo químico francês Claude Louis Berthollet
em seu livro Essai de statique chimique de 1803. Teoricamente,
Para aA(g) + bB(g) + ... → produtos, temos: v = k·ppA·pqB toda a reação química ocorre nos dois sentidos: de reagentes se
transformando em produtos e de produtos se transformando
O aumento da pressão aumenta a velocidade da rea- de volta em reagentes. Contudo, em certas reações, como a de
combustão, virtualmente 100% dos reagentes são convertidos
ção. Quando não há reagente gasoso, a pressão não influi
em produtos, e não se observa o contrário ocorrer (ou pelo me-
na velocidade da reação.
nos não em escala mensurável); tais reações são chamadas de
irreversíveis. Há também uma série de reações nas quais logo
Reação elementar é aquela que ocorre numa única que certa quantidade de produto(s) é formada, este(s) torna(m)
etapa. Neste caso, para aA + bB + ... → produtos, temos: v a dar origem ao(s) reagente(s); essas reações possuem o nome
= k [A]a [B]b... de reversíveis. O conceito de equilíbrio químico praticamente
restringe-se às reações reversíveis.

38
QUÍMICA

Reversibilidade de reações químicas

Um exemplo de reação reversível é a da produção da


amônia (NH3), a partir do gás hidrogênio (H2) e do gás ni-
trogênio (N2) — que faz parte do Processo de Haber:
N2(g) + 3H2(g) 2NH3(g)

Note-se que a seta dupla ( ) significa que a reação


ocorre nos dois sentidos, e que o subscrito (g) indica que a
substância se encontra na fase gasosa. Nesta reação, quan-
do as moléculas de nitrogênio e as de hidrogênio colidem
entre si há uma certa chance da reação entre elas ocorrer,
assim como quando moléculas de amônia colidem entre si
há uma certa chance de elas se dissociarem e de se reorga-
nizarem em H2 e N2.
Concentração das substâncias envolvidas em fun-
ção do tempo
No início do processo, quando há apenas uma mistu-
ra de hidrogênio e nitrogênio, as chances das moléculas
Um raciocínio similar, em princípio, pode ser aplicado
dos reagentes (H2 e N2) colidirem umas com as outras é
para qualquer equilíbrio. Deve-se salientar que quando
a máxima de toda a reação, o que fará com que a taxa uma reação atinge o equilíbrio ela não para. Ela continua
(ou velocidade) com que a reação ocorre também o seja. se processando, porém tanto a reação direta como a inver-
Porém à medida com que a reação se processa o número sa ocorrem à mesma velocidade, e desse jeito a proporção
de moléculas de hidrogênio e de nitrogênio diminui, re- entre os reagentes e os produtos não varia . Por outras pa-
duzindo dessa forma as chances de elas colidirem entre si lavras, estamos na presença de um equilíbrio dinâmico (e
e, consequentemente, a velocidade desse sentido da rea- não de um equilíbrio estático).
ção. Por outro lado, com o avançar da reação, o número
de moléculas de amônia vai aumentando, o que faz com Constante de Equilíbrio
que cresçam as chances de elas colidirem e de se voltar a
formar hidrogênio e nitrogênio, elevando assim a velocida- “Por exemplo, a constante dessa reação na temperatura
de desse sentido da reação. Por fim chegará um momento de 1000 K é 0,0413, note que a constante é Adimensional.”
em que tanto a velocidade de um dos sentidos quanto a Uma vez atingido o equilíbrio a proporção entre os rea-
do outro serão idênticas, nesse ponto nenhuma das velo- gentes e os produtos não é necessariamente de 1:1 (lê-se
cidades variará mais (se forem mantidas as condições do um para um). Essa proporção é descrita por meio de uma
sistema onde a reação se processa) e ter-se-á atingido o relação matemática, mostrada a seguir:
equilíbrio químico, conforme ilustrado nas figuras abaixo:
Dada a reação genérica: aA + bB yY + zZ, onde A,
B, Y e Z representam as espécies químicas envolvidas e a,
b, y e z os seus respectivos coeficientes estequiométricos.
A fórmula que descreve a proporção no equilíbrio entre as
espécies envolvidas é:

Os colchetes representam o valor da concentração


(normalmente em mol/L) da espécie que está simboliza-
da dentro dele ([A] = concentração da espécie A, e assim
por diante). é uma grandeza chamada de constante de
equilíbrio da reação. Cada reação de equilíbrio possui a sua
Velocidade das reações direta e inversa em função constante, a qual sempre possui o mesmo valor para uma
do tempo mesma temperatura. De um modo geral, a constante de
equilíbrio de uma reação qualquer é calculada dividindo-se
a multiplicação das concentrações dos produtos (cada uma
elevada ao seu respectivo coeficiente estequiométrico)
pela multiplicação das concentrações dos reagentes (cada
uma elevada ao seu relativo coeficiente estequiométrico).

39
QUÍMICA

Um exemplo disso é a formação do trióxido de enxofre Onde Pº = 1atm, note que daqui fica extremamente
(SO3) a partir do gás oxigênio (O2) e do dióxido de enxofre claro que o K é adimensional, pois P/Pº é adimensional.
(SO2(g)) — uma etapa do processo de fabricação do ácido Chegamos: G = Gº + RTlnP (VI) , onde lnP e o logaritmo
sulfúrico: de base e de P
Agora tendo uma reação:
2 SO2(g) + O2(g) 2 SO3(g)
aA + bB → cC + dD ( Reação direta )
A constante de equilíbrio desta reação é dada por:
cC + dD → aA + bB ( Reação inversa )

ΔG = Gp - Gr, onde Gp = Energia dos produtos e Gr


dos reagentes.

Colocando (VI) nessa equação, conclui - se: ΔG = ΔGº


É possível determinar experimentalmente o valor da
+ RTln[X/Y]
constante de equilíbrio para uma dada temperatura. Por
exemplo, a constante dessa reação na temperatura de 1000
K é 0,0413. A partir dela, dada uma certa quantidade co- Onde X = A multiplicação das pressões parciais dos
nhecida de produtos adicionados inicialmente em um sis- produtos elevado a seus respectivos coeficientes estequio-
tema nessa temperatura, é possível calcular por meio da métricos e Y idem para os reagentes.
fórmula da constante qual será a concentração de todas as X/Y = Q, onde Q é o quociente da reação.
substâncias quando o equilíbrio for atingido. É importante
notar que, Kc para uma equação química SÓ depende da Para o equilíbrio temos que K = Q e ΔG = 0
temperatura, não é alterado por catalisador e mede a es- ΔG = 0 pois a reação direta e inversa não são espontâ-
pontaneidade da reação direta, a partir da condição padrão neas, portanto é possível afirmar que o equilíbrio foi atin-
( 1 mol/l ou 1 atm ) gido! Temos por fim:
Utilizando a relação: ΔG = ΔH - TΔS, onde ΔG é a ener- 0 = ΔGº + RTlnK , concluindo:
gia livre de Gibbs, T a temperatura absoluta e ΔS e a va-
riação da entropia. Podemos colocá-la da seguinte forma: K = e( -ΔGº/RT)

(I) G = H - TS (É possível por ser função de estado) Note que aqui fica mais claro ainda que o K é adimen-
sional e que o K de uma reação elementar é o mesmo,
E sabendo que: caso a reação não seja elementar, por causa da função de
estado, onde ΔGf = ΔGi, logo K não depende do caminho
(II) H = U + PV, onde U e a energia interna, P é a pres- percorrido, só dependendo a temperatura. Note também
são e V o volume. que K mede a espontaneidade a partir da condição pa-
drão. É possível demonstrar a lei de Guldberg-Waage e a
Derivando (I) temos: Lei de Avogrado.
dG = dU - d(TS) → dG = d( U + PV ) - TdS – SdT K = K1/K2 = [Produtos]/[Reagentes] → K1[Reagentes] =
→ dG = dU + PdV + VdP - TdS - SdT (III), K2[PRODUTOS]
Sabendo que: dS = dQrev/T → dQrev = TdS ( IV )
Logo V1 = V2, onde V1 = Velocidade da reação direta
Tendo que: dU = dQ - PdV ( V )
e V2 da inversa (Lei de Guldberg - Waage). E para Lei de
Avogrado temos:
Inserindo (IV) e (V) em (III)

dG = dU + PdV + VdP - TdS, onde TdS = 0 pois, K = K1/K2 → [e(-Gp/RT)]/[e(-Gr/RT)] → {e[(-Hp/RT)+(TS/RT)]}/{e[(-Hr/


}
RT)+(TS/RT)]

Para P e T constantes temos: dG = dQ - PdV + VdP -


dQ , onde PdV = 0 Onde: e(TS/RT) = A1,2 e Hp,r é a entalpia dos produtos que
é a Ea, energia de ativação, logo temos que:
Integrando a equação de Gº ( G padrão ) a G e de Pº (
“P zero” = P padrão ) temos: K = A.e(-Ea/RT) - Lei de Avogrado.

ʃdG = ʃVdP = G - Gº = ʃ(nRT/P)dP , onde n é o nº de


mols, R a constante universal dos gases.

G - Gº = RTln(P/Pº)

40
QUÍMICA

Constante para a soma de reações

Se uma reação química pode ser expressa pela soma 2A X+Y


de duas ou mais reações (ou etapas individuais), então a
constante de equilíbrio da reação global será a multiplica-
ção das constantes de cada uma das reações individuais. Agora vejamos as duas reações que ocorrem nele, jun-
tamente com a expressão de suas respectivas velocidades
( ):

2P(g) + 3Cl2(g) 2PCl3(g)


2A → X + Y

PCl3(g) + Cl2(g) PCl5(g) X + Y → 2A

É importante frisar que o expoente que eleva as con-


centrações das espécies na fórmula da velocidade não
2P(g) + 5Cl2(g) 2PCl5(g) necessariamente é igual ao respectivo coeficiente este-
quiométrico da espécie na reação, contudo o expoente
certamente será assim se a reação se processar em uma
Neste caso, a terceira reação é igual à soma da primeira única etapa (conforme se está considerando nessa situa-
mais duas vezes a segunda: ção). Uma vez que as velocidades de ambas as reações são
idênticas no equilíbrio, pode-se igualá-las:

2P(g) + 3Cl2(g) 2PCl3(g)


+ PCl3(g) + Cl2(g) PCl5(g)
Rearranjando a equação, tem-se:
PCl3(g) + Cl2(g) PCl5(g)
2P(g) + 5Cl2(g) 2PCl5(g)

E a sua constante de equilíbrio pode ser expressa por:


Observemos que a expressão do membro esquerdo é
idêntica à fórmula do equilíbrio dessa reação. Então pode-
mos escrever:

Pode se perceber que caso uma reação apareça duas


ou mais vezes na soma, ela aparece esse mesmo número Esta relação é válida para qualquer equilíbrio cujas rea-
de vezes na multiplicação. ções ocorram em uma única etapa, o que pode ser facil-
mente constatado por essa mesma dedução para outros
equilíbrios. No caso de as reações se processarem em mais
Relação entre a velocidade da reação e a constante de uma etapa, basta lembrar que a reação global nada mais
de equilíbrio é que a soma das reações de cada etapa. Para cada uma das
etapas pode-se fazer essa mesma dedução, e então somar
Conforme já mencionado, no equilíbrio a velocidade cada reação (o que significa multiplicar as suas constantes).
tanto da reação inversa quanto a da direta são iguais. Por Dessa forma teremos para uma reação de múltiplas etapas:
sua vez, a velocidade de uma reação depende de uma ou-
tra constante chamada de constante de velocidade (simbo-
lizada aqui por ); e é possível encontrar uma relação entre
as constantes de velocidade das reações direta e indireta, e
a constante de equilíbrio.
Para demonstrar isso, considere-se o seguinte equilí-
brio genérico (supondo que as suas reações ocorram cada Sendo , , , e assim por diante as constantes
qual em uma única etapa): de velocidades de cada etapa.

41
QUÍMICA

Equilíbrio heterogêneo O membro esquerdo ( / ) é a fórmula para o cálculo


da concentração molar do gás. A constante é sempre a
Quando todas as substâncias envolvidas no equilíbrio mesma e a temperatura não varia em um sistema que
se encontram no mesmo estado físico diz-se que temos um permanece em equilíbrio químico, assim o único fator que
equilíbrio homogêneo, que é o caso de todos os equilíbrios pode variar na equação em um equilíbrio é a pressão par-
apresentados aqui até então. Analogamente, os equilíbrios cial . Dessa forma pode-se dizer que a concentração do
onde estão envolvidas mais de uma fase são chamados de gás é proporcional à sua pressão parcial. Com base nis-
equilíbrios heterogêneos, como o seguinte: so, também é possível escrever a fórmula da constante de
Ni(s) + 4CO(g) Ni(CO)4(g) equilíbrio usando-se as pressões parciais dos gases envol-
vidos, no lugar de suas concentrações. Por exemplo:
Note-se que o subscrito (s) significa que a espécie se
encontra no estado sólido. Equilíbrios heterogêneos, como
este, frequentemente apresentam ao menos um sólido
puro ou um líquido puro. Na expressão da constante de H2(g) + I2(g) 2HI(g)
equilíbrio temos as concentrações das espécies envolvidas.
A concentração pode ser calculada dividindo-se o número
de mols da substância pelo volume que ela ocupa. O nú- Observe-se que agora a constante de equilíbrio está
mero de mols representa a quantidade de matéria e, por representada por , em vez de (quando o cálculo foi
isso, ele é proporcional a massa; assim o número de mols feito usando-se as concentrações dos gases). Essas duas
dividido pelo volume é proporcional à massa dividida pelo constantes para um mesmo caso possuem valores dife-
volume. A densidade de algo é justamente calculada divi- rentes uma da outra, então é importante especificar qual
dindo-se a sua massa pelo seu volume ocupado. No caso das duas se está usando quando se está lidando com um
de uma substância pura, toda a sua massa corresponde à equilíbrio.
de uma única substância, e assim a sua “concentração” do
seu número de mols dividido pelo volume é proporcional a Adição ou remoção de reagentes (Não serve para
sua densidade (massa dividida pelo volume). sólidos)
A densidade de uma dada substância em dadas condi-
ções é uma propriedade intensiva, ou seja, é a mesma inde- Ao se alterar a quantidade de uma substância, também
pendentemente do quanto dessa substância houver. Dessa se está mexendo na velocidade em que a reação se proces-
forma pode-se concluir que a concentração de um sólido sa (pois se estará mudando as chances de as substâncias
ou um líquido puro (que são virtualmente incompressíveis) reagirem entre si). Dessa forma, a velocidade das reações
é a mesma independentemente de quanto houver deles direta e inversa deixa de ser igual: se uma substância foi
( já um gás, que pode ser comprimido sem dificuldade, tem retirada de uma das reações, essa passará a ser mais len-
a sua concentração variada facilmente). Por essa razão se ta; e, analogamente, ela passará a ser mais rápida se uma
simplifica as expressões das constantes de equilíbrio omi- substância for adicionada a ela. Assim ocorre que se algo
tindo-se a concentração de sólidos e líquidos puros. Com for acrescentado, o equilíbrio tende a reduzir a quantida-
isso, a expressão para a constante do último equilíbrio de dessa substância e vice-versa. Tal resposta do equilíbrio
apresentado fica: pode ser sumarizada pelo assim chamado Princípio de Le
Chatelier:
Quando um stress é aplicado a um sistema em equilí-
brio dinâmico, o equilíbrio tende a se ajustar para diminuir
o efeito do stress. À medida que as reações se processam,
as suas velocidades vão se aproximando até que se igualem
Equilíbrio gasoso e assim é atingido novamente o equilíbrio. A constante do
equilíbrio será a mesma da de antes de se adicionar ou
Pela equação dos gases perfeitos tem-se que para cada remover substâncias.
gás de uma mistura gasosa:
Compressão
, Um equilíbrio gasoso pode ser afetado pela com-
pressão. De acordo com o princípio de Le Chatelier, com
onde é a pressão parcial de um gás qualquer (ou o aumento da pressão o equilíbrio tende a se deslocar no
seja, a pressão que ele teria caso estivesse apenas ele no sentido de diminuir essa pressão, o que significa favorecer
recipiente), é o volume ocupado pela mistura, é o nú- a reação que resulte no menor número de moléculas no
mero de mols do gás, é a constante dos gases perfeitos, estado gasoso. Nesse caso, a o valor da constante de equi-
e a temperatura em kelvin. Rearranjando a equação, te- líbrio também não é alterado. Para se observar tal efeito,
remos: considere-se esse equilíbrio:

42
QUÍMICA

Curvas tracejadas: com catalisador


Curvas cheias: sem catalisador
N2O4(g) 2NO2(g)
Atenção: O equilíbrio não é deslocado com a presença
do catalisador.
Relação entre as constantes Kp e Kc
As concentrações podem ser escritas como o seu número
de mols dividido pelo volume ( ), então teremos:
Existe uma relação matemática entre as constantes de
equilíbrio em função da concentração Kc e em função da
pressão parcial Kp, baseada na equação de Clapeyron:

Se o valor de (volume) diminuir, é preciso que o número em que: R é a constante universal dos gases, T é a tempe-
de mols do N2O4 aumente para que o valor da constante de ratura absoluta e Δn é a diferença entre a soma dos coeficien-
equilíbrio permaneça o mesmo. Na reação, esse reagente repre- tes inteiros dos produtos gasosos e a soma dos coeficientes
sentava metade do número de moléculas do produto. O mes- inteiros dos reagentes gasosos. Por exemplo, no equilíbrio:
mo raciocínio pode ser aplicado em qualquer equilíbrio gasoso.
aA(g) + bB(g) + cC(s) yY(g) + zZ(g)
Temperatura

É encontrado experimentalmente que a formação de pro- Δn = (y + z) - (a + b)


dutos de uma reação exotérmica (isto é, que liberta energia) é
favorecida com a diminuição da temperatura, ao passo que a Essa expressão matemática apresenta uma limitação, não
formação de produtos em uma reação endotérmica (isto é, que admitindo a presença de um ou mais líquidos na reação em
absorve energia) é favorecida com o aumento da temperatura. questão. Isso não significa que a reação não apresente Kp e
Em um equilíbrio, se uma reação é endotérmica a outra neces- Kc, significa apenas que a expressão é inválida para esse caso.
sariamente é exotérmica, e vice-versa. Aumentar ou diminuir a
temperatura fará com que a velocidade de uma das reações Aplicações
aumente e a da outra diminua. As velocidades das reações se
igualarão novamente depois de um tempo; porém nesse caso Dada a constante de equilíbrio, é possível saber em
como temos o favorecimento e o desfavorecimento da forma- qual direção a reação vai ocorrer preferencialmente no iní-
ção de certas substâncias, a constante de equilíbrio nessa nova cio quando misturamos certas quantidades de substâncias
temperatura não será mais a mesma da temperatura anterior. que estarão em equilíbrio entre si. Para isso basta calcular o
quociente de reação para o início da mistura. Sua expressão
Catalisador é exatamente a mesma que a da constante de equilíbrio, o
que muda é que nesse caso usamos as concentrações ou as
A adição de um catalisador direciona a reação para um pressões parciais de um dado instante da reação (não neces-
novo mecanismo, o qual é mais rápido do que o sem a catálise. sariamente no equilíbrio). Se o quociente de reação for maior
Contudo, o catalisador não afeta o valor da constante de equi- que a constante de equilíbrio, isso significa que a quantidade
líbrio, ele apenas faz com que o equilíbrio seja atingido em um de produtos é alta demais e, pelo princípio de Le Chatelier,
tempo menor, conforme mostrado na figura a seguir: a reação vai se processar preferencialmente no sentido de
consumir os produtos. Analogamente, se o quociente de
reação for menor que a constante de equilíbrio, a reação vai
se processar preferencialmente do sentido de consumir os
reagentes. Sabendo-se disso, também é possível favorecer a
formação de um produto de interesse o removendo em uma
certa taxa ao longo do processo (pois assim o equilíbrio será
deslocado a favor da formação desse produto).

Teoria das Colisões

A teoria das colisões, proposta por Max Trautz e William


Lewis em 1916 e 1918, qualitativamente explica como rea-
ções químicas ocorrem e porque taxas de reação diferem
para diferentes reações. Esta teoria é baseada na ideia que
partículas reagentes devem colidir para uma reação ocorrer,
mas somente uma certa fração do total de colisões tem a

43
QUÍMICA

energia para conectar-se efetivamente e causar a transforma- A natureza química dos catalisadores e a sua aplica-
çao dos reagentes em produtos. Isto é porque somente uma ção catalítica é muito diversa. No entanto, é possível fazer
porção das moléculas tem energia suficiente e a orientação algumas generalizações. Os íons H+ são usados como ca-
adequada (ou ângulo”) no momento do impacto para que- talisadores, sobretudo, para reações que envolvam grupos
brar quaisquer ligações existentes e formar novas. A quan- OH (água, álcoois, etc.), incluindo a hidrólise e esterifica-
tidade mínima de energia necessária para isto ocorrer é co- ção. Os metais de transição são frequentemente usados
nhecida como energia de ativação. para catalisar reações de oxidação-redução. Nos processos
Partículas de diferentes elementos reagem com outras catalíticos que envolvam hidrogênio, a platina é o metal
por apresentar energia de ativação com que acertam as que, geralmente, está sempre presente, como por exemplo,
outras. Se os elementos reagem com outros, a colisão é na hidrogenação de alcenos. A nível biológico, as reações
chamada de sucesso, mas se a concentração de ao menos bioquímicas são catalisadas por proteínas globulares, de-
um dos elementos é muito baixa, haverá menos partículas nominadas enzimas. Devido à sua estrutura tridimensional,
para outros elementos reagirem com aqueles e a reação as enzimas apresentam locais específicos, designados por
irá ocorrer muito mais lentamente. Com a temperatura au- centros ativos, onde a molécula reativa, substrato, se encai-
mentando, a energia cinética média e velocidade das mo- xa. Esta é uma situação análoga à de uma chave (o reagen-
léculas aumenta mas isto é pouco significativo no aumento te) que apenas funciona com uma determinada fechadura
do número de colisões. A taxa da reação aumenta com a (enzima). Deste modo, apenas moléculas específicas, ou
diminuição da temperatura porque uma maior fração das partes específicas de moléculas com uma forma particular,
colisões ultrapassa a energia de ativação. A teoria das coli- se encaixam no centro ativo da enzima e ficam tempora-
sões está intimamente relacionada com a cinética química. riamente ligados. Estas propriedades levam a que se usem
enzimas como catalisadores na síntese de compostos orgâ-
Catalisadores e Inibidores nicos, processo denominado biocatálise.
Um catalisador é uma substância introduzida num sis-
O catalisador é uma substância que aumenta a veloci- tema reacional com o objetivo de aumentar a velocidade
dade de uma reação, mas não é consumido ao longo des- da reacção. No entanto, existem substâncias que diminuem
ta. A introdução de um catalisador fornece um caminho a velocidade de uma reação química, sendo designadas por
de reação alternativo que apresenta uma menor energia inibidores. Em contraste com os catalisadores, os inibidores
de ativação, consequentemente a velocidade de reacção são consumidos no decorrer da reação. Existem casos em
aumenta. Um catalisador aumenta a velocidade de uma que as reações químicas são autocatalisadas, uma vez que
reacção química, uma vez que baixa a energia de activação um dos produtos formados atua como catalisador. Assim,
(Ea) da reacção através da alteração do mecanismo reac- no decurso destas reações a quantidade de catalisador vai
cional, fornecendo assim um caminho alternativo que evita aumentando o que promove o aumento (de forma não li-
o passo lento que determina a velocidade da reação não near) da velocidade de reação. No entanto, na fase final
catalisada. da reação a velocidade vai diminuindo à medida que os
Note-se que um catalisador apesar de modificar o me- reagentes se vão esgotando.
canismo de uma reação, não afeta a variação da energia de No quotidiano os catalisadores estão presentes em
Gibbs (ΔG) da reação global, dado que a energia de Gibbs variadíssimas situações, desde os processos industriais e
é uma função de estado. Logo, uma reacção termodina- processos bioquímicos que ocorrem nos organismos até às
micamente desfavorável não passará a ser favorável pela reações que ocorrem na atmosfera, como por exemplo, a
introdução de um catalisador. Uma outra característica im- destruição do ozono (O3) na estratosfera. Neste último pro-
portante de um catalisador é a sua seletividade, ou seja, a cesso, o ozônio (O3) é destruído pelos átomos de cloro (Cl)
capacidade que o catalisador tem de formar uma quanti- provenientes dos clorofluorcarbonetos (CFCs) existentes na
dade elevada do produto de reação pretendido, limitando estratosfera a formação de átomos de cloro (Cl) a partir
ao mínimo os outros produtos da reação. Apesar de um da quebra da ligação C-Cl por ação da luz ultravioleta na
catalisador não ser consumido no decorrer da reacção, aca- molécula de triclorofluorometano (CFCl3):
ba por ir perdendo a sua atividade, uma vez que, durante
os ciclos catalíticos, vai sendo progressivamente destruído CFCl3 + hν → CFCl2 + Cl
em reações secundárias.
De acordo com a fase em que o catalisador se encon- O átomo de cloro (Cl) assim libertado atua como ini-
tra, classifica-se como heterogêneo, quando se encontra ciador de uma reação química (via radicais livres) com as
numa fase diferente da dos reagentes, ou homogêneo, moléculas de O3 existentes na estratosfera, estabelecendo-
quando está na mesma fase que os reagentes. Os catali- se o seguinte ciclo catalítico (reação em cadeia):
sadores heterogêneos são em geral sólidos, resistentes a
temperaturas elevadas e têm a vantagem de serem facil- Cl + O3 → ClO + O2
mente separáveis dos produtos de reação. Os catalisadores ClO + O → Cl + 2O2
homogêneos têm como vantagem uma elevada seletivida- --------------------------------
de, porém, como estão na mesma fase que os produtos O3 + O → O2 + O2
de reacção, torna-se difícil separá-los, conduzindo à sua
perda.

44
QUÍMICA

Deste modo, os átomos de cloro (Cl) atuam como ini- cia mostra ser constante à esquerda do gráfico: o sistema
ciadores e catalisadores, estando disponíveis no final de está em equilíbrio. Repentinamente, a concentração de
cada ciclo para novas reações. Assim, um único átomo de N2 aumenta, quando maior quantidade é adicionada ao
Cl pode destruir milhares de moléculas de O3, conduzindo recipiente. A concentração de N2 e de H2 imediatamente
à diminuição da quantidade de ozônio presente na estra- começou a diminuir, ao mesmo tempo a concentração de
tosfera. Na atualidade, os catalisadores têm uma grande NH3 começou a aumentar. Estas mudanças ocorrem quan-
importância econômica nos processos industriais, estiman- do falamos que o equilíbrio “foi deslocado para a direita”.
do-se que 90% de todos os produtos químicos produzi- N2(g) + 3H2(g) ⇐> 2NH3(g)
dos envolvam a utilização de um catalisador em algum dos
seus estágios de produção. O desenvolvimento de novos Estas mudanças continuam, entretanto a velocida-
catalisadores, tem permitido que as reações sejam não só de diminui gradualmente, até que o sistema novamente
mais rápidas, mas também mais limpas e menos consumi- restabelece um estado de equilíbrio, após o qual a con-
doras de energia, o que torna os processos cada vez mais centração de um permanece constante. Neste experimen-
ecológicos e econômicos. to, parte da quantidade de N2 adicionada é consumida
no deslocamento do equilíbrio, assim, o efeito da adição
Lei Châtelier (aumento na concentração) é parcialmente compensado.
Em outras palavras, o ajuste do sistema tende a minimizar
O princípio de Le Chatelier foi proposto pela primeira o efeito de adição de N2, como prevê o princípio de Le
vez em 1888 pelo físico e químico francês Henri Louis Le Châtelier. Nota-se, entretanto, a mudança nas grandezas
Chatelier, que nasceu em Paris, a 8 de outubro de 1850, e relativas da concentração, que ocorre após a adição de N2.
que faleceu em Isère, a 17 de setembro de 1936. O princí- Estas mudanças estão na proporção de 1:3:2 (de [N2] para
pio de Le Chatelier é uma consequência da lei da conser- [H2] e para [NH3], o que está em concordância com a este-
vação da energia e pode ser descrito da seguinte forma: quiometria da reação.
quando um sistema em equilíbrio é sujeito a uma pertur- N2(g) + 3H2(g) ⇐> 2NH3(g)
bação (alteração da temperatura, da concentração ou da
pressão, entre outros), o equilíbrio desloca-se no sentido
Um aumento na concentração dos reagentes ou uma
que contraria essa alteração, até se estabelecer um novo
diminuição na concentração dos produtos desloca o equi-
estado de equilíbrio.
líbrio para a direita. Uma diminuição da concentração dos
Com base neste princípio, é fácil prever qual o sentido
reagentes ou um aumento da concentração dos produtos
em que se desloca qualquer equilíbrio, quando o sistema
desloca o equilíbrio para a esquerda.
é sujeito a uma perturbação. São diversos os fatores que
podem provocar perturbação no equilíbrio, com evolução
Influência da pressão
num ou noutro sentido. Verifica-se que a temperatura só
tem efeito na posição de equilíbrio das reações endotér-
micas ou exotérmicas. A elevação da temperatura desfa- A resposta dada por um sistema em equilíbrio à adição
vorece as reações exotérmicas e favorece as endotérmicas. ou remoção de um componente é mais uma resposta à
As alterações de pressão (ou volume) afetam a posição mudança de concentração do que uma variação de quan-
de equilíbrio dos sistemas gasosos, se a reação se der com tidade. Para confirmar esta afirmação, considere novamen-
variação de volume. Se se aumentar a pressão de um sis- te o equilíbrio:
tema em que existem componentes gasosos em equilíbrio,
este desloca-se no sentido em que há formação de me- N2(g) + 3H2(g) ⇐> 2NH3(g)
nor número de moles gasosas. Um aumento de pressão é
equivalente a uma diminuição de volume. Se se aumentar a Se repentinamente for diminuído o volume do reci-
concentração de um reagente de um sistema em equilíbrio, piente à temperatura constante, as quantidades de N2, H2 e
este evolui no sentido em que contraria esse aumento, isto NH3 não são imediatamente afetadas, entretanto, as con-
é, no sentido em que se consome esse reagente, ou seja, centrações aumentam. Neste caso, o equilíbrio se desloca
no sentido direto. para a direita; é formado mais NH3, e menos N2 e H2 esta-
rão presentes depois de restabelecido o equilíbrio. A res-
Influência da concentração posta do sistema deve estar vinculada à concentração. De
que maneira o princípio de Le Châtelier explica a forma-
Supondo o equilíbrio: N2(g) + 3H2(g) ⇐> 2NH3(g) ção de mais NH3 neste equilíbrio? O equilíbrio é deslocado
para a direita porque assim será reduzido o número total
Se tivermos colocado N2, H2 e NH3 em um recipiente de moléculas, e portanto, a pressão total no recipiente. A
mantido à temperatura constante e que seja esperado até diminuição do volume de uma mistura de gases aumenta-
que o sistema atinja o equilíbrio. Será medido em seguida rá a pressão total (Lei de Boyle).
a concentração de equilíbrio de cada uma das três substân-
cias. Seqüencialmente, o equilíbrio será perturbado adicio-
nando N2 no recipiente. A concentração de cada substân-

45
QUÍMICA

Neste caso, porém, o aumento de pressão é minimizado


pela diminuição do número de moléculas de gás. Note, en- ÁCIDOS E BASES: DISTINÇÃO
tretanto, que depois do equilíbrio ser restabelecido, embora
OPERACIONAL ENTRE ÁCIDOS E BASES.
esteja presente mais NH3 e menos H2 e N2, as concentrações
de todos os três aumentaram, como consequência da dimi- ÁCIDOS E BASES (FORTES E FRACOS)
nuição de volume do recipiente. Nem sempre uma variação DE ARRHENIUS; REAÇÕES DE
no volume do recipiente provocará um deslocamento no NEUTRALIZAÇÃO. PRODUTO IÔNICO DA ÁGUA.
equilíbrio num sistema gasoso em equilíbrio. Por exemplo no PH: CONCEITO, ESCALA E USOS. INDICADORES
equilíbrio: ÁCIDO-BASE:
CONCEITO E UTILIZAÇÃO. DISTINÇÃO
2HI(g) ⇐> H2(g) + I2(g) OPERACIONAL ENTRE ÁCIDOS E BASES DE
BRONSTED – LOWRY.
o número de moléculas de gás é igual nos dois lados
da equação, o sistema em equilíbrio não responde a uma
diminuição de volume, à temperatura constante. Neste caso
não existe mecanismo para minimizar o aumento de pressão, Função química é um conjunto de substâncias com pro-
portanto, nenhum deslocamento é produzido pela variação priedades químicas semelhantes. Dentre as principais funções
de volume do recipiente. A variação da pressão também não estão os ácidos e bases. Antes da formalização do conceito
exerce influência sobre os equilíbrios não-gasosos. Um au- ácidos e bases, Ácidos eram caracterizados como:
mento na pressão do sistema desloca a reação para o lado - Substâncias que tem sabor azedo
que tiver menos moléculas. - Conduzem corrente elétrica
Uma diminuição na pressão do sistema desloca o equi- - Quando adicionados ao mármore e a outros carbona-
líbrio para o membro que tiver mais moléculas. O que acon- tos, produzir efervescência, com liberação de gás carbônico e
tece a um equilíbrio se for aumentada a pressão total por
meio da adição de um gás inerte ao recipiente? Neste caso, Bases eram caracterizados como:
pode-se esperar que o equilíbrio se desloque na direção em - Possuir sabor adstringente, ou seja amarrar a boca
que existem menos moléculas, mas não é o que ocorre. Isto - Tornar a pele lisa e escorregadia
é explicado pelo fato das concentrações de N2, H2 e NH3 não - Conduzir corrente elétrica
serem afetadas pela adição de um gás inerte, já que o volume
do recipiente é mantido constante. A formalização dos conceitos de ácido e base foi realizada
por 3 teorias:
Influência da temperatura
A primeira delas foi desenvolvida por Arrhenius em 1887
Agora será considerada a influência de mudanças de para explicar a condutividade elétrica de certas soluções, de-
temperatura sobre um sistema em equilíbrio. O princípio de finiu ácidos e bases assim: “Ácido é toda substância que em
Le Châtelier prevê que um aumento de temperatura favorece solução aquosa se dissocia fornecendo íons H+, como único
um reação endotérmica. A formação de amônia a partir de tipo de cátion.”
seus elementos é uma reação exotérmica.

N2(g) + 3H2(g) ⇐> 2NH3(g) ∆H = -92,2 kJ HCl H+ + Cl–

“Base é toda substância que , dissolvida em água, se dis-


o que poderia ser rescrito como socia, fornecendo íons hidróxido como único tipo de ânion.”

N2(g) + 3H2 ⇐> 2NH3(g) + 92,2 kJ


NaOH Na+ +OH –
Assim, a reação à direita é exotérmica e a da esquerda
é endotérmica. A adição de calor a este equilíbrio causa um Observações: Os ácidos são compostos moleculares. Só
deslocamento para a esquerda. A reação endotérmica (para a conduzem a eletricidade em solução, pois há dissociação, for-
esquerda) consome parte do calor adicionado para produzir mando íons. Quando puros não conduzem a eletricidade. As ba-
mais N2 e H2 a partir de NH3, e desta maneira a temperatura ses são compostos iônicos, pois temos metal ligado ao oxigênio
aumenta menos do que se poderia esperar. As temperaturas
mais altas, as concentrações de equilíbrio de [N2] e [H2] são Me+(OH) –
maiores e a de [NH3] é menor. Com a diminuição da tem-
peratura há uma inversão de todos os efeitos citados, uma No estado sólido não conduzem a eletricidade, pois os
vez que é favorecida a reação exotérmica. É produzido calor íons estão presos. No estado fundido e em solução aquosa
que compensa parcialmente aquele retirado do sistema. Um conduzem a corrente ,pois os íons estão libertos. Entretanto,
aumento de temperatura desloca o equilíbrio no sentido da atualmente sabemos que um próton simples não existe em
reação endotérmica. Uma diminuição na temperatura deslo- soluções aquosas. Um próton em solução aquosa se hidrata,
ca o equilíbrio em direção à reação exotérmica. forma cátion hidrônio: H3O+

46
QUÍMICA

A teoria de Bronsted – Lowry Definições de ácidos e bases


A definição mais tradicional dos ácidos e bases foi
Bronsted e Lowry em 1923, propuseram uma teoria dada pelo cientista sueco Svante Arrhenius, que estabele-
mais ampla , válida para todos os meios ( meio alcóolico, ceu os ácidos como substâncias que - em solução aquo-
meio aquoso, etc.) sa - liberam íons positivos de hidrogênio (H+), enquanto
as bases, também em solução aquosa, liberam hidroxilas,
Ácido= qualquer espécie química que doa prótons. íons negativos OH-. Assim, quando diluído em água, o clo-
Base= qualquer espécie química que aceita prótons. reto de hidrogênio (HCl) ioniza-se e define-se como ácido
clorídrico, como segue:
HBr + HOH H 3O + + Br –

Ácido Base

Outro exemplo: O que o íon amônio pode ser pela teo-


ria de Bronsted – Lowry

NH4 + NH3 + H+

O íon amônio pode ceder prótons funcionando como Já o hidróxido de sódio, a popular soda cáustica, ao
ácido de Bronsted- Lowry e não pode ser base de Bronsted, se ionizar em água, libera uma hidroxila OH-, definindo-se
pois não pode ganhar prótons. assim como base:

A teoria de Lewis

Lewis em 1923, apresentou uma definição eletrôni-


ca de ácido e base, ele se baseou no conceito de base de
Bronsted, que é a espécie que recebe próton, assim para
receber próton, a base deve fornecer um par de elétrons
para a ligação.
Ácido: toda espécie química que recebe par de elé- Um desdobramento da definição de Arrhenius é a re-
trons. gra de reação para ácidos e bases entre si, segundo a qual:
Base: toda espécie química que doa par de elétrons.

Exemplo:

:NH3 + HOH [ H3N:H ] + + OH –


+
base ácido NH 4

O NH3 é uma base porque recebeu um próton H+ da Se reagirmos os já citados ácido clorídrico e soda
água. cáustica, teremos:

A água é um ácido porque cedeu um próton ao NH3.

Definições de Arrhenius, Bronsted-Lowry e Lewis


Ácidos e bases (também chamadas de álcalis) são
costumeiramente lembrados como substâncias químicas
perigosas, corrosivos capazes de dissolver metais como se
fossem comprimidos efervescentes. Mas a presença dos Sendo o NaCl, o cloreto de sódio, o nosso velho co-
ácidos e base na nossa vida cotidiana é bem mais ampla
nhecido sal de cozinha.
e menos agressiva do que se imagina. Eles também são
componentes usuais de refrigerantes, alimentos, remédios,
produtos de higiene ou cosméticos. São ainda matérias
primas indispensáveis em um vasto universo de aplicações
industriais. A tal ponto que a produção de ácido sulfúrico e
soda cáustica de um país chega a ser considerada um dos
indicadores do seu nível de atividade econômica.

47
QUÍMICA

Outras definições de ácidos e bases Equilíbrio Iônico da Água

Uma outra definição para ácidos e bases foi dada pelo A água é formada por moléculas de H2O, vamos consi-
dinamarquês Johannes N. Bronsted e pelo inglês Thomas derar um recipiente contendo água pura. Será que as mo-
Lowry, independentemente, ficando conhecida como defi- léculas de H2O sofrem alguma interação iônica? A resposta
nição protônica. Segundo os dois, ácido é uma substância a essa pergunta é sim, pois as moléculas nos líquidos estão
capaz de ceder um próton a uma reação, enquanto base é em constante movimento, sendo assim, é lógico esperar
uma substância capaz de receber um próton. A definição que ocorram entre elas vários tipos de colisões. Ocorre uma
de Bronsted-Lowry é mais abrangente que a de Arrhenius, transferência de próton (H+) de uma molécula para outra
principalmente pelo fato de nem todas as substâncias que quando duas moléculas de H20 colidem ordenadamente e
se comportam como bases liberarem uma hidroxila OH-, com suficiente energia. Essa transferência é representada
como é o caso da amônia (NH3). Além disso, a definição na equação abaixo:
protônica não condiciona a definição de ácidos e básicos à
dissolução em meio aquoso, como propunha a do químico H2O(ℓ) + H2O(ℓ) ↔ H3O+(aq) + OH-(aq)
sueco.
Bronsted e Lowry definiram ácidos e bases a partir dos Ou
prótons que liberavam e recebiam. Já o norte-americano
Gilbert Newton Lewis se voltou para os elétrons ao desen- Experimentos demonstram que quando a água, limpa
volver sua definição. De acordo com ela, ácidos são subs- ou misturada com solvente, se ioniza num espaço pequeno
tâncias que, numa ligação química, podem receber pares origina o equilíbrio: Observe que houve a formação dos
eletrônicos, enquanto as bases são aquelas que cedem es- íons: H3O+ (íon hidrônio) e OH- (íon hidróxido). É por isso
tes pares. A definição de Lewis abrange as de Arrhenius e que esse processo é chamado de Ionização da água. As
a definição protônica, que, entretanto, continuam válidas concentrações de íons H+ e OH- que estão no equilíbrio
dentro de suas próprias abrangências. diversificam com a temperatura, porém constantemente
estarão iguais entre si:
água → [H+] = [OH-]
Identificação dos ácidos e bases
Em uma água pura a 25 ºC, as concentrações em mol/L
Os ácidos possuem sabor azedo, como o encontrado
de H+ e OH- mostram um valor igual a 10-7 mol. L-1. Água
nas frutas cítricas ricas no ácido de mesmo nome. Já as
pura medindo 25 ºC → [H+] = [OH-] = 10-7 mol . L-1
base tem gosto semelhante ao do sabão (sabor adstringen-
te). Mas, felizmente, há modos mais eficazes e seguros de
Auto-Ionização da H2O
identificar ácidos e bases do que o paladar. É possível me-
dir a concentração de hidrogênio iônico em uma solução H2O <–> H+ + OH-
a partir de uma escala logarítmica inversa, que recebeu o Kc = [H+] . [OH-] / [H2O]
nome de potencial hidrogeniônico, ou simplesmente, escala Kc . [H2O] = [H+] . [OH-], Kc . [H2O] = Kw
de pH. Esta escala vai de zero a 14, sendo o pH 7 consi- Kw = [H+] . [OH-]
derado neutro. Os valores menores que sete classificam a
solução medida como ácida e os maiores que sete, como Kw só depende da temperatura.
alcalinos (bases). Escala de pH: A 25°C Kw = 10-14 mol/L

H2O pura: Solução Neutra


[H+] . [OH-] = 10-14
[H+] = 10-7
[OH-] = 10-7

Solução Ácida
[H+] > [OH-]
[H+] > 10-7 mol/L
Para se medir o pH, usam-se combinações de substân- [OH-] < 10-7 mol/L
cias indicadoras, como a fenolftaleína, que mudam de cor
conforme a posição da substância testada na escala acima. Solução Básica
Também são usados instrumentos como os medidores de [OH-] > [H+]
pH por eletrodo indicador, que mede as diferenças de po- [OH-] > 10-7 mol/L
tencial elétrico produzidas pelas concentrações de hidro- [H+] < 10-7 mol/L
gênio e indica o resultado dentro da escala de 0 a 14.
pH: potencial hidrogeniônico
Indica a acidez de uma substância.

pH = -log [H+]

48
QUÍMICA

Solução neutra:
[H+] = 10-7 QUÍMICA ORGÂNICA:
pH = -log 10-7 CONCEITUAÇÃO DE GRUPO
pH = 7 FUNCIONAL E RECONHECIMENTO
pOH: potencial hidroxiliônico POR GRUPOS FUNCIONAIS DE:
Indica a basicidade de uma substância. ALQUENOS, ALQUINOS E ARENOS
(HIDROCARBONETOS AROMÁTICOS)
pOH = -log [OH-]
Solução neutra: , ALCOÓIS, FENÓIS, ÉTERES, AMINAS,
[OH-] = 10-7 ALDEÍDOS, CETONAS, ÁCIDOS
pOH = -log 10-7 CARBOXÍLICOS, ÉSTERES E AMIDAS.
pOH = 7 REPRESENTAÇÃO DE MOLÉCULAS
ORGÂNICAS. CARBONO TETRAÉDRICO,
Note, TRIGONAL E DIGONAL E LIGAÇÕES
pH = 7 e pOH = 7, podemos ter uma conclusão de que, SIMPLES E MÚLTIPLAS. FÓRMULAS
pH + pOH = 14 ESTRUTURAIS – DE LEWIS, DE TRAÇOS,
CONDENSADAS E DE LINHAS E
Solução Ácida TRIDIMENSIONAIS. VARIAÇÕES NA
pH < 7 e pOH >7
SOLUBILIDADE E NAS TEMPERATURAS DE
Solução Básica FUSÃO E DE EBULIÇÃO DE
pH > 7 e pOH < 7 SUBSTÂNCIAS ORGÂNICAS CAUSADAS POR:
AUMENTO DA CADEIA CARBÔNICA, PRESENÇA
Efeito Tampão DE RAMIFICAÇÕES,
INTRODUÇÃO DE SUBSTITUINTES
O efeito tampão, como o próprio nome indica, con- POLARES, ISOMERIA CONSTITUCIONAL
siste no efeito produzido por um tampão. Um tampão é E DIASTEREOISOMERIA CIS/TRANS.
uma mistura de compostos químicos capaz de manter um POLÍMEROS: IDENTIFICAÇÃO DE
determinado valor de pH. Os tampões mais comuns con- MONÔMEROS, UNIDADES DE
sistem em misturas de um ácido orgânico fraco e de um REPETIÇÃO E POLÍMEROS
dos seus sais ou de uma mistura de sais do ácido fosfórico.
– POLIETILENO, PVC, TEFLON,
A adição de um ácido ou de uma base provoca o desloca-
mento do equilíbrio químico, mantendo-se assim um valor POLIÉSTERES E POLIAMIDAS.
de pH constante. REAÇÕES ORGÂNICAS.

Propriedades do Átomo do Carbono

Química Orgânica: é o ramo da Química que estuda


os composto do carbono. Os átomos de carbono podem
ligar-se uns aos outros formando cadeias carbônicas. São
conhecidos compostos com cadeias formadas por 2,3,4,5 ...
até milhares de átomos de carbono

Cadeia Carbônica

As ligações entre átomos de carbono são ligações co-


valentes (pares de elétrons compartilhados). Exemplos de
compostos orgânicos: cachaça, álcool, cerveja.
O álcool que você usa como desinfetante, o álcool que
você usa como combustível, álcool que você ingere nas be-
bidas alcóolicas, é um composto orgânico cuja molécula
apresenta uma cadeia de 2 átomos de carbono.
O ácido do vinagre que você utiliza no preparo de sala-
das, maioneses, etc. , é o ácido acético, cuja molécula apre-
senta uma cadeia de dois átomos de carbono

49
QUÍMICA

O petróleo é uma mistura contendo inúmeros com-


postos orgânicos, predominando os formados de carbono
e hidrogênio.(CxHy). Por destilação fracionada do petróleo
são obtidos inúmeros produtos, tais como: gasolina, que-
rosene, óleo diesel, óleos lubrificantes, parafinas, vaselina,
asfalto, etc.
H 4C2O2 Características Gerais
As ligações mais frequentes envolvendo os compostos
Ácido Acético
orgânicos acontecem entre átomos de carbono e hidrogê-
nio. Nesse caso, como a atração exercida sobre os elétrons
O explosivo da dinamite é a nitroglicerina, que é fabricada
pela reação da glicerina com o ácido nítrico .A glicerina é um é praticamente a mesma, não ocorre acúmulo de cargas
composto orgânico cuja molécula apresenta uma cadeia de elétricas (pólos) .Portanto, essas ligações são apolares, ori-
três carbono. ginando compostos apolares.
Quando, na molécula de um composto orgânico exis-
te outro elemento químico além de carbono e hidrogênio,
suas moléculas poderão apresentar certa polaridade.

Ácido Nítrico
C3H6O - Acetona
A acetona líquida, utilizada para remover o esmalte das
unhas, é um composto orgânico cuja molécula apresenta uma ou
cadeia de três átomos de carbono:

C3H6O
Essa característica é, entre outras, responsável por al-
Acetona gumas propriedades dos compostos orgânicos. Vejamos
C6H12O6 - Glicose algumas delas:
Nos hospitais, os doentes após operações cirúrgicas são
alimentados com glicose sob a forma de soro (solução de gli- Ponto de Fusão e Ponto de Ebulição
cose).A glicose é um composto orgânico cuja molécula apre-
senta uma cadeia de seis átomos de carbono A ausência ou a baixa polaridade é responsável pelos
menores pontos de fusão e ebulição quando comparado
com os inorgânicos. Também essa característica justifica
que, à temperatura ambiente, os compostos orgânicos
sejam encontrados nos três estados físicos, enquanto os
compostos iônicos sejam encontrados somente no estado
sólido.
C6H12O6

Glicose
A coloração amarela da cenoura é dada por um pigmento
vegetal chamado caroteno, cuja molécula apresenta uma ca-
deia de 40 átomos de carbono (C40H56). A coloração averme-
lhada do tomate maduro é dada por outro pigmento chama-
do” licopeno”, cuja molécula também apresenta cadeia de 40
átomos de carbono (C40H56). A cadeia carbônica do caroteno é
diferente da do licopeno, mas ambos são (C40H56).

50
QUÍMICA

Fórmula C4H10 C2 H 6 O C6H6O NaCl


Fenol
Nome Butano Etanol Cloreto de Sódio
(ácido Fênico)
Aplicação Gás de Isqueiro Álcool Comum Bactericida Alimentação
Ponto Fusão -138 C o
- 115 C o
41 C
o
801 oC
Ponto Ebulição 0 oC 78 oC 182 oC 1413 oC
Estado Físico
Gasoso Líquido Sólido Sólido
(a 25 oC--1 atm)

Solubilidade
Os compostos orgânicos apolares são praticamente insolúveis em água e tendem a se dissolver em outros compostos
orgânicos apolares (semelhante tende a dissolver semelhante).
A graxa (orgânica) é removida quando a dissolvemos com gasolina (orgânica). No entanto, também existem compostos
orgânicos polares, portanto solúveis em água. Alguns deles: açúcar, álcool comum, ácido acético (contido no vinagre), éter
comum, etc.

Combustibilidade
A grande maioria dos compostos que sofrem combustão (queima) são de origem orgânica.

Encadeamento
Os átomos de carbono têm a propriedade de se unir, formando estruturas denominadas cadeias carbônicas. Essa pro-
priedade é a principal responsável pela existência de milhões de compostos orgânicos.
Veja alguns exemplos de cadeias:

Importante: Uma cadeia carbônica pode apresentar, além de átomos de carbono, átomos de outros elementos, desde
que estes estejam entre os á tomos de carbono. Os elementos diferentes do carbono que mais frequentemente podem
fazer parte da cadeia carbônica são: O, N, S, P. Nessa situação, estes átomos são denominados heteroátomos.
Existe outra maneira de representar a cadeia de um composto orgânico. Nesse tipo de representação, não aparecem
nem os carbonos, nem os hidrogênios ligados aos carbonos. As ligações entres os carbonos são indicados por traços (-)
localizando-se os carbonos nos pontos de inflexão (quinas) e nas extremidades dos traços.

ciclopropano

1-buteno

51
QUÍMICA

Podemos também simplificar por meio de índices ; Classificação das Cadeias Carbônicas

Cadeia Carbônica
É o conjunto de todos os átomos de carbono e de to-
dos os heteroátomo que constituem a molécula de qual-
quer composto orgânico. Quanto a disposição dos átomos
de carbono:

ou H3C
- CH2 - O - CH2 - CH3 Cadeia Fechada ou Cí-
Cadeia Aberta, Acíclica ou
clica
Alifática
Simplificando a representação dos H: C2H5 - O - C2H5 Não apresenta extremi-
ou C4H10O Apresenta pelo menos
dades e os átomos ori-
duas extremidades e ne-
ginam um ou mais ciclos
Estrutura de Compostos Orgânicos, Cadeias Carbô- nhum ciclo ou anel.
(anéis).
nicas

Classificação do Carbono

Podem ser classificados de acordo com o número de


outros átomos de carbono ligado a ele na cadeia.

Carbono Definição Fórmula Estrutural


Ligado
diretamente, no
Primário Podem ser subdivididas:
máximo, a um
outro carbono
1) Cadeia Aberta, Acíclica ou Alifática
Ligado Podem ser Normal (reta ou linear) e Ramificada
Secundário diretamente a dois
outros carbonos
Cadeia Normal, Reta ou
Cadeia Ramificada
Linear
Ligado diretamen- Apresenta no mínimo três
Terciário Apresenta apenas duas
te a três outros extremidades e seus áto-
extremidades e seus
carbonos mos não estão dispostos
átomos estão dispostos
numa única seqüência.
numa única seqüência.

Ligado diretamen-
Quaterná-
te a quatro outros
rio
carbonos

52
QUÍMICA

2) Cadeias Fechadas ou Cíclicas Quanto à natureza dos átomos que compõem a cadeia.
Podem ser: Aromáticas ou Alicíclicas (Não Aromáticas) Podem ser Classificadas em Homogênea ou Heterogê-
nea
Cadeias Alicíclicas ou
Cadeias Aromáticas
Não Aromáticas Cadeia Heterogênea
Cadeia Homogênea
São aquelas que apresen-
São cadeias que não Apresenta pelo menos
tam pelo menos um anel É constituída somente
apresentam o núcleo um heteroátomo na
benzênico por átomo de carbono.
aromático ou benzênico cadeia.

 
Benzeno

Ácido Fênico
 

Obs.: As Cadeias Carbônicas cuja a estrutura apresen-


tar extremidades livres e ciclos são denominadas mistas.
Quanto a ligação entre os átomos de carbono
Funções Orgânicas
Podem ser Saturada ou Insaturada (Não Saturada)
Notação, Nomenclatura e Propriedades Físicas e
Cadeia Insaturada ou Químicas de Hidro Carboneto, Álcool, Éter, Cenol, Ceto-
Cadeia Saturada nas, Aldeídos, Ácido Carboxílicos, Amina e Amida (Con-
Não Saturada tendo de 1 a 8 Carbonos)
Apresenta somente li-
Apresenta pelo menos As substâncias orgânicas com propriedades semelhan-
gações simples entre os
uma dupla ou tripla li- tes são agrupadas, elas podem até possuir características es-
átomos da cadeia
gação entre átomos da truturais comuns, mas se diferenciam pelo grupo funcional.
cadeia.
Estas substâncias recebem a denominação de funções or-
gânicas, conheça nesta seção algumas delas e seus respec-
tivos grupos funcionais:
Funções oxigenadas – aldeídos, cetonas, ácidos carbo-
xílios, ésteres, éteres, álcoois;
Funções nitrogenadas – aminas, amidas;
Funções halogenadas – haletos;
Função hidrogenada – hidrocarbonetos.

Esta classificação surgiu da necessidade de organizar o


grande número de compostos orgânicos em classes sub-
divididas que obedecem a propriedades químicas comuns.
Com certeza esta divisão facilita nosso estudo, então confi-
ra nesta seção as características e aplicações das principais
funções orgânicas.
O principal membro da classe das Cetonas (substâncias
orgânicas oxigenadas) recebe a denominação de Acetona
(ou ainda, propanona ou dimetil-cetona).

53
QUÍMICA

Características Físicas da Acetona: Álcoois


Os álcoois possuem o grupo funcional hidroxila (-OH)
Este composto orgânico sintético tem a forma de um ligados a um ou mais carbonos saturados.
líquido incolor de odor característico e facilmente distin-
guido.
É fácil notar a presença da acetona nos salões de bele-
za, onde é usado na remoção de esmaltes. Basta abrir o re-
cipiente que o contém e rapidamente o mesmo é inalado,
pois evapora facilmente, além de ser inflamável e solúvel
em água. 
A denominação é realizada trocando-se o final o do
CH3(CO)CH3 nome do hidrocarboneto correspondente pelo sufixo ol. A
posição do grupo hidroxila (-OH) deve ser indicada pelo
Fórmula química da acetona
menor número possível.

 
Fórmula molecular da acetona

Obtenção da Acetona: Existem vários métodos de se


obter Acetonas, um deles consiste em aquecer acetato de
cálcio 300°C. A equação abaixo representa o processo: Classificação dos Álcoois

Depende da posição da hidroxila

-Álcoois primários – apresentam sua hidroxila ligada


A acetona (C3H6O) aparece como um dos produtos fi- a carbono na extremidade da cadeia. Possuindo um grupo
nais do processo. Conheça algumas das utilizações da ace- característico – CH2OH.
tona: O principal uso é com solvente de tintas, vernizes e
esmaltes. É usada também como agente secante de ob-
jetos, como por exemplo, de recipientes em laboratórios.
Devido a propriedade de ser miscível com a água, combi-
nam-se ambos os líquidos e então evapora.

Ácidos Carboxílicos
Algumas substâncias orgânicas possuem a proprieda- -Álcoois secundários – apresentam sua hidroxila uni-
de de proteger a pele, os ácidos carboxílicos são um exem- da a carbono secundário da cadeia. Possuindo o grupo ca-
plo, eles são usados na produção de filtros solares. racterístico – CHOH.
A coloração esbranquiçada do protetor, que nos faz pa-
recer “palhaços” quando o espalhamos pelo rosto, se deve
à presença de óxidos metálicos, dentre eles, ZnO (óxido de
zinco) e TiO2 (óxido de titânio). Entre outros componentes
está o ácido p-aminobenzoico (PABA), de fórmula molecu-
lar C7H7NO2, além da proteção ele ainda proporciona um
belo bronzeado.
Como o protetor age sobre a pele? A principal função
é impedir que os raios solares nocivos (UVA) sejam absor-
vidos pelo organismo. A sigla FPS (fator de proteção solar) -Álcoois terciários – apresentam sua hidroxila ligada a
indica o tempo permitido de exposição ao sol após ter apli- carbono terciário. Possuindo o grupo – COH.
cado a loção protetora. Se o FPS for 8, você poderá per-
manecer no sol por um período 8 vezes maior do que se
estivesse sem proteção, e assim por diante.
Se o FPS for 15, significa que ele reduz 15 vezes a in-
fluência dos raios ultravioleta, ou seja, após 15 horas tere-
mos o mesmo efeito sobre a pele que teríamos em 1 hora
sob o sol, sem proteção nenhuma.

54
QUÍMICA

Aldeídos - Uma das propriedades químicas das amidas é a pola-


Os aldeídos são compostos orgânicos que se apresen- ridade, elas são polares devido à presença do grupo C=O;
tam pela presença do grupo funcional carbonila (–COH).  - Propriedades físicas: em condições ambientes podem
ser encontradas no estado sólido ou líquido. No estado lí-
quido encontramos as amidas de fórmula estrutural menor,
como a metanamida ou a formamida, esses dois compos-
tos são líquidos incolores. As amidas primárias e secun-
  dárias possuem ponto de fusão e ponto de ebulição mais
A denominação é constituída a partir do nome dos hi- elevados que outras amidas de mesma massa molecular.
drocarbonetos, finalizando com a terminação al. As amidas não ocorrem na natureza e por isso é pre-
Exemplo: ciso prepará-las em laboratório, o processo se baseia no
aquecimento de sais de amônio e seguido de desidratação,
veja a equação: R- COONH4 → R – COONH2 + H2O
As amidas são empregadas em sínteses orgânicas e re-
presentam compostos importantes como náilon. O náilon é
uma poliamida que se destaca entre os polímeros.

Nomenclatura: prefixo + AMIDA.


Nomenclatura dos aldeídos ramificados
1º - Assinalar a cadeia principal com uma moldura Exemplo: 
2º - Numerar a cadeia a partir do carbono do grupo          O
aldoxila que irá adquirir o número 1.          ║
H3C ─ C ─ NH2
3º - Começar o nome indicando a ramificação ou ra-
etanamida
mificações.
Prefixo: etan + AMIDA.
Exemplo:
As aminas são consideradas bases orgânicas, elas são
obtidas através da substituição de um ou mais hidrogênio
da amônia (NH3) por demais grupos orgânicos. Elas pos-
suem em sua fórmula geral o elemento Nitrogênio.
As aminas podem se apresentar em condições ambien-
tes na forma sólida, líquida ou gasosa, dependendo de sua
estrutura. Aminas alifáticas com até doze carbonos são lí-
quidas, e as com mais de doze carbonos são sólidas, e to-
das elas são incolores. As líquidas são tóxicas e apresentam
Aldeídos de Cadeias Cíclicas cheiro desagradável, e as sólidas são inodoras.
Aminas podem ser produzidas na decomposição de
peixes (trimetilamina), e na decomposição das proteínas
de organismos humanos putrefatos (cadáveres) são forma-
das a putrescina e cadaverina, essas são diaminas alifáticas
saturadas. Alguns compostos extraídos de vegetais, tais
como os alcalóides contêm amina em sua fórmula.
Em muitas sínteses orgânicas são utilizadas aminas,
como por exemplo, na vulcanização da borracha, na pre-
paração de corantes, na fabricação de sabões, na produção
de medicamentos, etc.
Veja como pode ser feito o processo de caracterização
de aminas:
As aminas primárias, secundárias e terciárias se com-
portam de modos distintos frente à reação com ácido ni-
troso, sendo assim, essas reações podem ser usadas para
distingui-las.
No frasco que contém a amina, adicione o ácido nitro-
Amidas so e observe o resultado:
Amina terciária: quando não há reação alguma entre
As amidas são compostos orgânicos, ou seja, possuem os componentes.
átomos de carbono em sua estrutura. Todas as amidas pos- Amina secundária: se houver formação de um precipi-
suem em sua fórmula geral, além de carbonos, o grupo tado de coloração amarela.
carbonila (C=O) e o grupo amino (NH2). Vamos então ana- Amina primária: há a liberação de gás nitrogênio du-
lisar as propriedades deste composto: rante a reação.

55
QUÍMICA

Cetona
Cetonas são substâncias orgânicas onde o grupo fun-
cional carbonila se encontra ligado a dois átomos de car-
bono. Uma cetona bastante conhecida é a Propanona. Cuja
estrutura é a seguinte:
         O 
         ║
H3C ─ C ─ CH3

Esse composto é conhecido popularmente como Ace-


tona, e se apresenta como um líquido de odor irritante e
se dissolve tanto em água como em solventes orgânicos.
Essa característica permite sua utilização como solvente de
tintas, vernizes e esmaltes. Na indústria alimentícia, possui
uma importante utilização: extração de óleos e gorduras
de sementes de plantas. Essas plantas são em geral a soja, Classificação dos alcoóis
girassol e amendoim.
As cetonas podem ser encontradas até em nossos or- Os álcoois são definidos como compostos orgânicos
ganismos, em pequena quantidade, fazendo parte dos cor- que apresentam o grupo funcional hidroxila (OH) preso a
pos cetônicos na corrente sanguínea. um ou mais carbonos saturados. Eles podem se classificar
As cetonas mostram o grupo carbonila (C = O), sendo de acordo com muitos critérios, é o que veremos agora:
esse carbono secundário. O sufixo -ona é usado para indi-
car a função: Posição da hidroxila
Álcool primário: Quando a hidroxila estiver localizada
na extremidade da cadeia, o álcool se classifica como sen-
do primário.
Exemplo:

CH3 ─ OH
A numeração da cadeia deve começar depois da extre- Metanol
midade mais próxima do grupo C = O.
Repare que a OH se encontra no extremo da cadeia e
se liga apenas a um átomo de carbono.

Álcool secundário: possui a hidroxila ligada a carbono


secundário.
Exemplo:

A denominação das cetonas ramificadas e/ou insatura-


das segue as regras já vistas. Penten-3-ol-2
Dizemos que o carbono é secundário quando está en-
tre dois átomos de carbono.

Álcool terciário: para receber esta classificação a hi-


droxila precisa estar ligada a carbono terciário.
Exemplo:

Existe uma nomenclatura usual em que o grupo >C =


O é denominado cetona, e seus ligamentos são considera- Metil-propanol-2
dos grupos orgânicos. O carbono terciário se liga a outros três átomos de car-
bono.

56
QUÍMICA

Número de hidroxilas Álcool de cadeia aromática: O álcool aromático pos-


sui um anel benzeno em sua estrutura.
Monoálcool: classificação dada a álcoois que possuem Exemplo:
apenas uma hidroxila ligada.
Exemplo:

Fenol
Propanol – 1
Éteres
Diálcool: álcool que possui duas hidroxilas ligadas à
cadeia carbônica. Éteres são compostos orgânicos caracterizados pela
Exemplo: presença de um átomo de oxigênio (O) ligado a dois radi-
cais monovalentes alquila, ou seja, hidrocarbonetos (gru-
pos orgânicos).
Exemplo:

H3C ─ O ─ CH3
éter metílico ou metóxi-metano
Propanodiol – 1,2
Os éteres são compostos incolores, de cheiro agradável
Triálcool: este álcool conta com três hidroxilas em sua e pouco solúvel em água, em condições ambientes podem
cadeia.
se apresentar na fase sólida, líquida ou gasosa. Os de mas-
Exemplo:
sa molecular mais elevada estão no estado sólido, os que
apresentam dois e três carbonos na molécula são gasosos
e os seguintes são líquidos que são extremamente voláteis.
Éteres são usados como solventes de óleos, gorduras,
resinas e na fabricação de seda artificial. Dentre as variadas
aplicações dos éteres se destaca sua utilização na medicina
que é muito importante, sendo usado como anestésico e
Propanotriol
na preparação de medicamentos.
Tipo de cadeia O éter etílico (éter comum) pertence à classe de éteres,
é um líquido incolor muito volátil (ferve a 35° C), produz
Álcool de cadeia aberta: a cadeia que forma este ál- frio intenso ao evaporar em contato com a pele e seus va-
cool é linear, ou seja, não forma ângulos. pores são três vezes mais pesados que o ar. Sua utilização
Exemplo: é feita em pacientes, é um poderoso anestésico inalatório
porque relaxa os músculos, mas possui as desvantagens de
causar irritação no trato respiratório e a possibilidade de
provocar explosões em ambientes fechados. Sendo assim,
ele está em desuso, apesar de ter sido usado durante quase
um século.
Propanol-2 O éter etílico dissolve graxas, óleos e resinas, por isso é
usado na indústria como solvente de óleos e tintas.
Álcool de cadeia cíclica: a presença de uma figura A nomenclatura oficial para os Éteres segue uma regra
geométrica caracteriza este tipo de álcool. fixa estabelecida pela União Internacional de Química Pura
Exemplo: e Aplicada (IUPAC). Observe o funcionamento das normas:
1. Inicie o nome dos éteres pelo prefixo de menor nú-
mero de carbonos, conforme abaixo:
Prefixos:

1 carbono - MET                        6 carbonos - HEX


2 carbonos - ET                         7 carbonos - HEPT
Ciclopentanol 3 carbonos - PROP                    8 carbonos - OCT
Neste caso, a figura pentágono forma a estrutura car- 4 carbonos - BUT                       9 carbonos - NON
bônica. 5 carbonos - PENT                   10 carbonos - DEC

57
QUÍMICA

2. Use o termo intermediário: oxi.


3. Encerre pelo nome do hidrocarboneto com maior número de carbonos.
Exemplos: H3C ─ CH2 ─ O ─ CH3 
Metoxi-etano
Repare que a nomenclatura começou com o prefixo de menor número de carbonos.

Reações Orgânicas

No fim do século XIX, as substâncias utilizadas no tratamento de doenças, na fabricação de produtos de limpeza e perfu-
mes, só podiam ser encontradas em seus estados naturais. O desenvolvimento da Química Orgânica possibilitou a determina-
ção das estruturas dos compostos presentes nesses produtos.
Esta evolução é devido a pesquisas e produção de inúmeras substâncias por reações feitas em laboratório. Os químicos
reconhecem o composto e tentam produzi-lo por meio de reações orgânicas. É economicamente viável, pois é mais barato
e mais fácil sintetizar uma substância do que extraí-la de uma fonte natural. Exemplo: a vitamina C pode ser obtida de fontes
naturais ou pode ser produzida em laboratório, e sua composição é a mesma em ambos os casos.
As reações orgânicas podem ser classificadas de diversas maneiras, a mais comum é a que diferencia reações de adição,
substituição e eliminação.

Reações de adição: correspondem às reações que tem uma configuração característica de hidrocarbonetos insaturados,
como os alcenos, alcinos e dienos. Na reação por adição, há a junção de duas ou mais moléculas provocando a origem de
unicamente um produto. Veja o exemplo:

Reações de substituição: um átomo ou grupo de átomos é substituído por um radical do outro reagente, ou seja, ocorre
na molécula a troca de um ligante.

Reações de eliminação: os átomos na molécula do reagente orgânico diminuem, daí o nome da reação: eliminação.
Nesse tipo de reação, ocorre a saída de ligantes de uma molécula sem que aconteça a substituição desses ligantes por outros.

Mecanismo de uma reação é o caminho pelo qual a reação se processa, ele descreve as várias etapas pelas quais ela passa.
A ruptura das ligações, os ataques eletrofílicos e nucleofílicos ao reagente orgânico, a formação de novas ligações e de
compostos intermediários, tudo isso é demonstrado em um mecanismo. Vale lembrar que um mecanismo é proposto se ba-
seado em experimentos, mas é apenas um modelo, não sendo um caminho obrigatório para a reação.
No mecanismo da reação influem vários fatores, como a natureza do solvente, polaridade das ligações, troca de elé-
trons, etc. Portanto, um determinado mecanismo nem sempre é a única maneira de se explicar a formação de determinado
produto.
No caso das reações orgânicas, um mecanismo pode ocorrer de duas maneiras: ionicamente ou via radicais livres.
1. Mecanismo iônico: a ruptura heterolítica de uma ligação covalente dá início ao processo, originando íons (carbo-
cátion e carbânion).
2. Mecanismo via radicais livres: a ruptura homolítica de uma ligação covalente forma radicais livres (muito instáveis
e reativos).

Acompanhe o mecanismo de Halidrificação de Alcenos.

58
QUÍMICA

Podemos dividir o mecanismo em etapas:

1ª Etapa: A quebra homolítica de Ácido Bromídrico (H — Br) deu origem ao radical livre • Br, este reage com alceno e forma
um novo radical.
Etapa intermediária: o radical livre ataca o hidrogênio polarizado do HBr.
Etapa final: Nesta etapa se forma o produto (1- Bromo propano) e um novo radical que reiniciará a reação.
Como se vê, a Halidrificação de Alcenos ocorre por Mecanismo via radicais livres.

Observação: Halidrificação pode ser entendida como Halogenação, uma vez que houve a adição de um Halogênio (Bromo)
à molécula.
O mecanismo de uma reação é uma maneira didática (simulação) de mostrar passo a passo a formação de determinado
produto, mas, contudo, explica o que acontece realmente na prática.

Reatividade dos Compostos Orgânicos

Reação de Saponificação

Em termos gerais, a reação de saponificação ocorre quando um éster em solução aquosa de base inorgânica origina um
sal orgânico e álcool.
A Reação de saponificação também é conhecida como hidrólise alcalina, através dela é que se torna possível o feitio do
sabão. Falando quimicamente, seria a mistura de um éster (proveniente de um ácido graxo) e uma base (hidróxido de sódio)
para se obter sabão (sal orgânico).
A equação abaixo demonstra este processo:
Éster + base forte → sabão + glicerol

Praticamente todos os ésteres são retirados de óleos e gorduras, daí o porquê das donas de casa usarem o óleo comestível
para o feitio do sabão caseiro.
Equação genérica da hidrólise alcalina:

A equação acima representa a hidrólise alcalina de um óleo (glicerídeo). Dizemos que é uma hidrólise em razão da presença
de água (H2O) e que é alcalina pela presença da base NaOH (soda cáustica). O símbolo ∆ indica que houve aquecimento duran-
te o processo. Produtos da reação de Saponificação: sabão e glicerol (álcool).

Reação de substituição

Reação de substituição, como o próprio nome já diz, é aquela em que ocorre na molécula a troca de um ligante.
Veja um exemplo de substituição por radical livre:
1ª etapa: formação do radical

Ruptura homolítica do Br2 e formação de radicais • BR: esta cisão na ligação covalente ocorre na presença de calor ou luz.
2ª etapa: ataque do radical Brometo ao Propano, causando a ruptura homolítica da ligação C ― H.

59
QUÍMICA

O ligante H da molécula de propano é substituído pelo Reação de oxidação: quando ocorre - na maioria das
ligante BR, originando o 1 -Bromo propano ou 2 - Bromo vezes - com adição de oxigênio.
propano. A reação de substituição por radical livre é típica A reação da oxidação pode ser: parcial ou total.
de alcanos.
Nota: As duas setas indicam que o radical Bromo pode Oxidação parcial de álcool primário.
substituir qualquer hidrogênio da estrutura. A ruptura de Exemplo:
ligações entre átomos pode ocorrer de modo homogêneo
ou heterogêneo.

Ruptura Homolítica: a molécula é separada de modo


igual para os radicais resultantes, ou seja, é uma cisão de
ligação sem perda nem ganho de elétrons.
Quando a quebra da ligação é feita igualmente, cada
átomo fica com seu elétron original da ligação, dando ori- Oxidação parcial de álcool secundário.
gem aos chamados radicais livres. Exemplo:

Oxidação de aldeído.
Radical livre: átomo com elétron desemparelhado, cuja Exemplo:
carga elétrica é neutra.

Ruptura Heterolítica: a quebra da ligação é feita de


modo desigual, ficando o par eletrônico com apenas um
dos átomos da ligação.

Oxidação total de álcool primário.


Exemplo:

Observe que uma das espécies ganha elétrons e a ou-


tra perde (formação de íons). Reação de redução: é o inverso da reação de oxidação.
Rompendo-se heteroliticamente a ligação entre carbo- Ocorre - na maioria das vezes - com adição de hidrogênio.
no e bromo, teremos um carbocátion e um íon brometo A reação de redução pode ser: parcial ou total.
(ânion). Neste caso, o elemento bromo, como sendo mais
eletronegativo, leva consigo o par eletrônico. Redução parcial de ácido orgânico.
Mas o que aconteceria se o par de elétrons ficasse com Exemplo:
o Carbono? Isto ocorre quando há uma quebra heterolítica
entre a ligação de carbono e hidrogênio:

Redução de aldeído.
Exemplo:

O carbono fica com o par eletrônico e colabora para a


formação de um carbânion e um íon H+ (próton).

Reações de Redução, Oxidação e Combustão

60
QUÍMICA

Redução de cetona. Bioquímica


Exemplo:
  O objetivo da Bioquímica é explicar a forma e a fun-
ção biológica em termos químicos. Uma das formas mais
produtivas de se abordar o entendimento dos fenômenos
biológicos tem sido aquela de purificar os componentes
químicos individuais, tais como uma proteína de um or-
ganismo vivo, e caracterizar sua estrutura química ou sua
atividade catalítica.
Redução total de ácido orgânico.
Exemplo: Biomoléculas

Todos os seres vivos são constituídos por moléculas


orgânicas de grandes dimensões: as macromoléculas. Es-
  tas são formadas por um número relativamente reduzido
de elementos químicos, principalmente hidrogênio, oxi-
Reação de combustão gênio, nitrogênio e carbono. Em termos de percentagem
esses elementos juntos perfazem o total de aproximada-
Combustão é uma reação química exotérmica, ou seja, mente 99% da massa da maioria das células. Eles são os
libera calor para o ambiente. Esse tipo de reação é muito co- elementos mais leves capazes de formar uma, duas, três
mum, já que a maioria da energia que consumimos é deriva- e quatro ligações, respectivamente. Em geral os elemen-
da da queima de materiais: os combustíveis. Exemplo: gás de tos químicos mais leves formam as ligações químicas mais
cozinha, gasolina, óleos e outros, todos eles obtidos a partir fortes. As biomoléculas desempenham diferentes funções:
da destilação de petróleo, por isso recebem a classificação de estruturais; energéticas; enzimáticas; armazenamento e
hidrocarbonetos. Esses compostos são formados somente por transferência de informação. Muitas biomoléculas são po-
carbono e hidrogênio, e para que uma combustão ocorra é lifuncionais, contendo dois ou mais grupos funcionais di-
necessário um comburente: o gás Oxigênio. ferentes, cada um com suas ações químicas características.
Na reação de combustão dos hidrocarbonetos ocorre a A “personalidade” química de um composto é determina-
formação de gás carbônico (CO2) e água, a energia é liberada da pela química de seus grupos funcionais e a disposição
sob a forma de calor. Veja a equação de combustão: desses no espaço tridimensional.
A bioquímica estuda os processos químicos que ocor-
H + O2 → CO2 + H2O rem nos organismos vivos, animais e vegetais, os compos-
tos bioquímicos e sua importância industrial. De um modo
A reação gerou apenas dióxido de carbono e água, quan- simplificado, para efeito de estudo, dividimos os compos-
do elementos como carbono, nitrogênio, enxofre e ferro são tos bioquímicos em três classes principais:
queimados, dão origem a óxidos: a queima do Carbono irá - Lipídios;
gerar o dióxido de carbono, a combustão do nitrogênio dará - Hidratos de carbono ou carboidratos;
origem ao dióxido de nitrogênio, a queima de enxofre irá gerar - Proteínas.
dióxido de enxofre e a do ferro irá gerar óxido de ferro III.
Mas, infelizmente, os combustíveis que apresentam ex- Normalmente os compostos bioquímicos possuem
trema importância em nossa vida também trazem tragédias massa molecular elevada como é o caso, por exemplo, dos
quando terminam em incêndios, para que isso ocorra são ne- álcoois graxos e dos ácidos graxos. Os álcoois graxos são
cessários três fatores: usados como solventes pra graxas, ceras, gomas, poma-
1- Calor; das de uso farmacêutico, aditivos para óleos lubrificantes e
2- Presença de um combustível; como tensoativos não iônicos para obtenção de emulsões
3- Presença de um comburente. de óleo e água. De um modo genérico são denominados
ácidos graxos todos os ácidos obtidos a partir de óleos e
Para se prevenir e extinguir um incêndio é preciso eliminar gorduras animais e vegetais. São monocarboxílicos, com
um dos três elementos citados, a eliminação pode ser por: um total de 4 a 22 átomos de carbono. Os compostos des-
Resfriamento: a água é usada para abaixar a temperatura; sa classe que possuem mais de 10 átomos de carbonos
Abafamento: utiliza-se cobertores para impedir o contato são chamados de ácido graxos superiores e são utilizados
do gás oxigênio do ar com o combustível; como lubrificantes e na fabricação de fármacos e cosmé-
Retirada do combustível: existem vários tipos de extin- ticos.
tores, e eles são usados conforme a origem do combustível:
- Sólidos: carvão, madeira, pólvora;
- Líquidos: gasolina, álcool, éter, óleo;
- Gasosos: metano, etano, etileno.

61
QUÍMICA

ELETRONEGATIVIDADE

A eletronegatividade corresponde à capacidade que o núcleo de um átomo tem de atrair os elétrons envolvidos em
uma ligação química.
Falando um pouco sobre ligação química, o texto ligação covalente explicou que, quando dois átomos unem-se assim,
eles compartilham pares de elétrons presentes em suas últimas camadas eletrônicas (camada de valência). Desse modo, há
interação elétrica entre os núcleos dos átomos e os elétrons das camadas de valência de ambos.
É como mostra a ilustração a seguir da formação da molécula de CO2 (dióxido de carbono). Veja que o carbono, que é
o átomo central, está compartilhando dois pares de elétrons com cada átomo de oxigênio. Os três núcleos desses átomos
estão, portanto, atraindo os elétrons envolvidos nas ligações:

Molécula de dióxido de carbono (CO2)


No entanto, a força com que cada átomo atrai os elétrons é diferente. O átomo de oxigênio é mais eletronegativo que
o carbono, o que significa que ele atrai os elétrons da ligação com mais força. Mas como sabemos que um elemento é mais
eletronegativo que outro?
Bem, a eletronegatividade é uma propriedade periódica, o que quer dizer que ela aumenta ou diminui em intervalos
regulares na Tabela Periódica de acordo com o aumento ou diminuição do número atômico dos elementos.
O cientista Linus Pauling determinou experimentalmente a eletronegatividade dos elementos da Tabela Periódica, con-
forme é mostrado a seguir:

Valores da eletronegatividade de Pauling na tabela periódica


Observe que, quando consideramos os elementos pertencentes a uma mesma família (mesma coluna), a eletrone-
gatividade aumenta de baixo para cima. Veja, por exemplo, os elementos da família 2 (Be, Mg, Ca, Sr, Ba). Os seus respec-
tivos valores de eletronegatividade são 1,6; 1,2; 1,0; 1,0 e 0,9. Portanto, esses valores comprovam que a eletronegatividade
cresce de baixo para cima na Tabela Periódica.
É importante ressaltar que esse sentido é exatamente o contrário do sentido do crescimento do raio atômico, outra
propriedade periódica. Essas duas propriedades estão intimamente relacionadas, pois, conforme o número atômico au-
menta para os elementos pertencentes a uma mesma família, o número de camadas eletrônicas e, consequentemente, o
tamanho ou raio atômico também aumentam nesse sentido.
Porém, quanto maior o raio atômico, mais distante ficará o núcleo da camada de valência, e isso resultará em uma di-
minuição da atração entre os prótons (cargas positivas) do núcleo e os elétrons (cargas negativas) da camada de valência,
ou seja, haverá diminuição da eletronegatividade.

62
QUÍMICA

Agora, se considerarmos os elementos pertencentes ao mesmo período (mesma linha) da Tabela Periódica, vere-
mos que a eletronegatividade cresce da esquerda para a direita. Por exemplo, olhe os elementos do segundo período
(Li, Be, B, C, N, O, F). A eletronegatividade deles cresce nesse sentido, ou seja, da esquerda para a direita: 1,0; 1,6; 2,0; 2,5;
3,0; 3,5 e 4,0.

Ordem do crescimento da eletronegatividade na tabela periódica


Isso também está relacionado com o raio atômico, pois, em um mesmo período, todos os elementos possuem a mesma
quantidade de camadas eletrônicas. Porém, conforme o número atômico vai aumentando (da esquerda para a direita), a
quantidade de prótons no núcleo atômico também cresce. Com isso, a atração prótons-elétrons fica mais intensa e o raio
atômico diminui, mas a eletronegatividade aumenta.
Veja que o oxigênio (4,0) é realmente mais eletronegativo que o carbono (3,5), comprovando o que foi dito anterior-
mente para a molécula de CO2. Analisar essa diferença de eletronegatividade dos elementos ligados entre si ajuda-nos a
determinar se a molécula será polar ou apolar. Veja sobre isso no texto Polaridade das ligações.
Esse mesmo texto mostra que Linus Pauling criou uma escala dos elementos mais eletronegativos, que pode ser de
ajuda para determinar a intensidade da polarização de diferentes ligações:
F > O > N > C? > Br > I > S > C > P > H
Valores das eletronegatividades: 4,0 > 3,5 > 3,0 > 3,0 > 2,8 > 2,5 > 2,5 > 2,5 < 2,1
Existe um “macete” para lembrar a fila de eletronegatividade, basta dizer a seguinte frase: “Fui Ontem No Clube, Bri-
guei I Saí Correndo Para o Hospital”. A inicial de cada palavra corresponde ao símbolo dos elementos em questão.
Fonte: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/eletronegatividade.htm

AFINIDADE ELETRÔNICA

Afinidade Eletrônica ou Eletroafinidade é uma propriedade periódica que indica a quantidade de energia liberada
no momento em que um elétron é recebido por um átomo. Esse átomo se encontra sozinho e no estado gasoso.
Esse átomo, que é instável, ganha estabilidade quando recebe o elétron. É daí que surgem as ligações químicas, con-
forme a Teoria de Octeto.
Um átomo que tem uma camada com 2 elétrons e uma com 5 elétrons tem a tendência de ir buscar mais um elétron.
Isso acontece para que sejam formados pares nessa segunda camada que, desta forma, trazem estabilização ao átomo.

63
QUÍMICA

Afinidade Eletrônica na Tabela Periódica


A afinidade eletrônica é maior nos elementos constantes no lado direito e na parte superior da tabela periódica.
Ela cresce no sentido horizontal, da esquerda para a direita, e no sentido vertical, de baixo para cima.

Repare que a eletroafinidade é inversa ao raio atômico. Ela é maior à medida que o raio atômico é menor.
O cloro tem grande afinidade eletrônica. Isso porque ele tem um raio pequeno, o que propicia a atração do elétron.
A afinidade eletrônica do cloro é de 349 KJ/mol.
No que respeita à afinidade eletrônica dos gases nobres, ela é irrelevante. Isso porque eles não conseguem receber
elétrons e, assim, não liberam energia.
Quanto mais estável um átomo, mais energia ele libera. Ao mesmo tempo, quanto mais negativa essa afinidade for,
mais elétrons são atraídos pelos átomos.
Pelo contrário, a afinidade positiva acontece quando o raio atômico é maior e essa atração é reduzida. Trata-se da ele-
tropositividade, também conhecida como caráter metálico. Isso porque os metais são elementos altamente positivos.

Afinidade Eletrônica e Energia de Ionização


Tanto a afinidade eletrônica como a energia de ionização são propriedades periódicas. Ambas são forças que influen-
ciam os átomos, mas de maneiras diferentes.
A afinidade eletrônica indica a quantidade de energia liberada quando um átomo recebe um elétron.
A energia de ionização, por sua vez, determina a quantidade de energia necessária para retirar um elétron do átomo.
Fonte: https://www.todamateria.com.br/afinidade-eletronica/

64
QUÍMICA

RELAÇÕES MASSA E MO

Antes de introduzir o conceito de massa molar e número de mol, vejamos algumas definições importantes nesse con-
texto:
→ Termo molar
Molar vem da palavra molécula, mas o que exatamente é uma molécula? É o conjunto de átomos que se ligam por
meio de ligações químicas.
→ Massa molecular (MM)
É possível calcular a massa de uma molécula pela soma das massas atômicas de cada átomo que forma a respectiva
molécula. O resultado é denominado de Massa Molecular (MM).
Qual seria a massa molecular do gás Sulfídrico (H2S), por exemplo?
Primeiro é preciso saber qual é a massa atômica de cada átomo, que é dada pela Tabela Periódica dos elementos.

• Massa atômica do hidrogênio (H) = 1 u.m.a. (unidade por massa atômica)


• Massa atômica do enxofre (S) = 32,1 u.m.a.

A massa molecular é a soma das massas atômicas dos átomos.

Obs.: o Hidrogênio da molécula de H2S possui coeficiente 2, por isso, é preciso multiplicar sua massa por 2. Calculando:
Massa molecular do H2S = 1 • 2 + 32,1 = 34,1 u
                                              (H) + (S) = (H2S)

Massa molar e o número de mol


Já a massa molar, assim como o número de mol, relaciona-se com a Constante de Avogadro (6,02 x 1023) por meio do
seguinte conceito:
‘’O número de entidades elementares contidas em 1 mol correspondem à constante de Avogadro, cujo valor é 6,02 x
1023 mol-1.’’
Sendo assim, a massa molar é a massa de 6,02 x 1023 entidades químicas e é expressa em g/mol.

Mapa Mental - Mol

65
QUÍMICA

Exemplo: H2S
• Massa Molecular = 34,1 u
• Massa molar (M) = 34,1 g/mol
Isso quer dizer que, em 34,1 g/mol de gás sulfídrico, temos 6,02 x 1023 moléculas ou 1 mol de moléculas de gás sulfí-
drico.

Conclusão
A massa molecular e a massa molar possuem os mesmos valores, o que as difere é a unidade de medida. A massa molar
relaciona-se com o número de mols que é dado pela constante de Avogadro.
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/quimica/massa-molar-numero-mol.htm

EXCESSO DE REAGENTES, REAGENTE


LIMITANTE

Segundo a Lei Ponderal de Proust, denominada de Lei das Proporções Constantes, as reações sempre ocorrem em
proporções definidas e constantes. Por exemplo, a reação de formação da amônia é realizada na proporção de 1 mol de
gás nitrogênio para 3 mols de gás hidrogênio, conforme mostrado pelos coeficientes estequiométricos na equação abaixo:
1 N2(g) + 3 H2(g) → 2 NH3(g)
Se essa reação for realizada numa proporção diferente dessa, então teremos um reagente em excesso e um reagente
limitante. No caso de reagirmos 1 mol de N2(g)com apenas 2 mols de H2(g), veremos claramente que a quantidade de hidro-
gênio é menor do que a requerida pela relação estequiométrica, então ele é o reagente limitante da reação.
Reagente limitante é aquele que limita a quantidade de produto que pode ser produzido na reação. Isso significa que
quando o reagente limitante é totalmente consumido, a reação para, mesmo tendo ainda outros reagentes.
Todos os outros reagentes que sobrarem são considerados reagentes em excesso.
Para entender isso, vamos fazer uma analogia: imagine que temos que montar todos os conjuntos possíveis entre pa-
rafusos e duas porcas. Digamos que temos 5 parafusos e 12 porcas. Nesse caso, os parafusos atuam como os reagentes
limitantes e as porcas como os reagentes em excesso, porque iremos parar de montar os conjuntos quando os parafusos
acabarem e irão sobrar ainda duas porcas.
Para resolver questões que envolvem reagentes limitantes e em excesso, podemos seguir as três etapas mostradas
abaixo:

Vejamos um exemplo:

Considere a seguinte reação corretamente balanceada:


6 Na(l) + Al2O3(s) → 2 Al(l) + 3 Na2O(s)
a) Determine o reagente limitante e o reagente em excesso dessa reação quando 5,52g de sódio reage com 5,10 g de Al2O3.
b) Qual é a massa de alumínio produzida?
c) Qual é a massa do reagente em excesso que permanecerá sem reagir no final do processo?

66
QUÍMICA

Resolução:
a) Vamos seguir os três passos citados para resolver a letra “a”:

1º Passo:
6 Na(l) + Al2O3(s) → 2 Al(l) + 3 Na2O(s)
A massa molar do Na é 23 g/mol e do Al2O3 é 102 g/mol. Determinando a quantidade em mols (n) de cada reagente:
n = m/MM
nNa = 5,52g / 23 g/mol → nNa = 0,24 mol
nAl2O3= 5,10g / 102 g/mol → nAl2O3 = 0,05 mol

2º Passo:
Fazer a relação estequiométrica para descobrir a quantidade de Al2O3 necessária para reagir com 0,24 mol de Na:
6 Na(l) + Al2O3(s) → 2 Al(l) + 3 Na2O(s)
6 mol -----  1 mol
0,24 mol---- x
x = 0,04 mol

3º Passo:
O cálculo anterior mostrou que seria necessário 0,04 mol de Al2O3 para reagir totalmente com 0,24 mol de Na. Mas, o
1º passo mostrou que na verdade temos uma massa maior do que essa, que é de 0,05 mol de Al2O3. Assim, o Al2O3(s) é o
reagente em excesso e o Na é o reagente limitante.

b) Para saber qual é a massa de alumínio produzida, basta relacionar com a quantidade do reagente limitante que
temos, isto é, do sódio:
6 Na(l) + Al2O3(s) → 2 Al(l) + 3 Na2O(s)
6 mol de Na ---- 2 mol de Al
6 mol . 23 g/mol de Na ----- 2 mol . 27 g/mol de Al
138 g de Na ---- 54 g de Al
5,52 g de Na ---- y
y = 54 . 5,52
           138
y = 2,16 g de Al serão produzidos.

c) Para saber a massa de reagente em excesso (Al2O3) que irá sobrar, basta diminuir a quantidade que foi colocada para
reagir no início pela quantidade que de fato reagiu:
0,05 mol ----- 5,10 g
0,04 mol ---- w
w = 0,04 . 5,10
           0,05
w = 4,08 g de Al2O3 reagiram
5,10 – 4,08 = 1,02 g de Al2O3 restaram.

Fonte: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/reagente-excesso-reagente-limitante.htm

RENDIMENTO DE REAÇÕES QUÍMICAS E


GRAU DE PUREZA DE REAGENTES

Uma reação química não pode ser considerada como um sistema ideal, ou seja, que poderá ser previsto quantitativa-
mente em exatidão. Vários fatores podem estar envolvidos em um processo laboratorial cujo resultado obtido não satisfez
o teorizado. “A palavra estequiometria vem do grego e significa medir algo que não pode ser dividido. Ela foi empregada
pela primeira vez pelo químico alemão J. B. Richter, que em 1972 publicou Anfangsgründe der Stöchyometrie (Fundamen-
tos de Estequiometria). Hoje a estequiometria compreende os requisitos atômicos das substâncias que participam de uma
reação química, particularmente no que diz respeito ao peso”.

67
QUÍMICA

Por exemplo, uma dada reação química de precipitação entre 1g de nitrato de prata (AgNO3) e 0,34g de cloreto de só-
dio (NaCl), massas sem excesso, após pesada a massa precipitada de um dos produtos formados, o cloreto de prata (AgCl),
após isolamento por filtração seguida por evaporação, observou-se um valor levemente abaixo do esperado, equivalente
a 0,6g deste sal. Esse fato deve-se principalmente a fatores de impurezas dos reagentes utilizados. Essa reação em questão
está equacionada abaixo, e está previamente com seus coeficientes estequiométricos ajustados, ou seja, a massa dos rea-
gentes é igual à massa dos produtos, juntamente com os pesos moleculares das espécies envolvidas.

Dessa forma, deve-se primeiramente calcular a massa teórica esperada de AgCl, para então compará-la com a massa
realmente obtida. O método empregado pode ser uma regra de três simples, considerando-se apenas um dos produtos
envolvidos, uma vez que não há excesso de reagentes. Usaremos para fins de cálculos o AgNO3, o qual terá sua massa
molecular relacionada à massa molecular do produto em destaque; na primeira linha da regra de três. Na segunda linha,
relacionaremos a massa que reage com a massa teórica esperada do produto.

O cálculo indica que seriam esperadas 0,84g de AgCl, caso tivéssemos um rendimento teórico de 100%. Entretanto,
sabemos que a massa obtida deste produto foi de 0,60g, portanto, podemos calcular o rendimento da reação química,
também através de uma regra de três simples. Nesta, consideramos como 100% a massa de produto esperada e relaciona-
mos a massa obtida com a variável, conforme podemos observar abaixo:

Observamos dessa forma que o rendimento reacional foi de 71,42%, o que nos demonstra erros operacionais durante
o procedimento laboratorial de síntese ou qualidade inferior dos reagentes utilizados, os quais não permitiram que obti-
véssemos a massa esperada (0,84g) do produto considerado, mas apenas 0,6g, validando a afirmação de que a maioria dos
processos laboratoriais não ocorre de modo ideal.

Fonte: https://www.infoescola.com/quimica/rendimento-de-uma-reacao-quimica/

Grau de pureza de reagentes


Muitas substâncias usadas como matérias-primas em processos industriais não são puras, ou seja, não contêm somente
os seus componentes principais, mas contêm também certo grau de impurezas, isto é, de outras substâncias que não par-
ticipam das reações desejadas presentes em sua constituição.
É importante determinar em laboratório qual é o grau de pureza da substância, pois, para ser usada no processo in-
dustrial, essas impurezas terão que ser eliminadas. Por essa razão, talvez o gasto que se terá nesse processo não justifique
a quantidade de produto que será obtida, portanto, pode tornar a aplicação em escala industrial inviável economicamente.

68
QUÍMICA

O grau de pureza dos reagentes (p) é a relação entre Inicialmente, ambas as equações apresentam uma redu-
a massa da substância pura e a massa total da amostra. A ção (recebimento de elétrons). Para se chegar ao potencial
porcentagem de pureza (p%) é a porcentagem da massa da gerado pela pilha, deve-se inverter a equação de menor va-
substância pura em relação à massa total da amostra. lor, independentemente de sua natureza, invertendo-se as-
Por exemplo, o calcário possui como constituinte princi- sim o sinal matemático da mesma, de modo a chegar-se a:
pal o carbonato de cálcio (CaCO3(s)). Mas nas jazidas em que Mn0 →    Mn2+  +  2e E0 = +1,18V
esse mineral é coletado, geralmente ele vem com impurezas, Zn2+  +  2e  → Zn0      E0 = -0,76V
como areia, carvão e outras substâncias em menor quantida- Ao se somar os potenciais de oxidação (primeira equa-
de. A partir do carbonato de cálcio, produz-se, por exemplo, ção) e de redução (segunda equação), chega-se o potencial
a cal virgem (óxido de cálcio – CaO(s)). Para garantir um ren- gerado pela pilha na associação dos dois metais. No caso,
dimento bom desse produto, é necessário determinar então a pilha possui um potencial de +0,42 volts. Ao se associar,
o grau de pureza do calcário. Nesse caso, temos que o grau em série ou paralelo, conjuntos individuais dessa duplas de
de pureza é quantas partes de carbonato de cálcio existem metais, aumentando o potencial referido potencial indivi-
em 100 partes de calcário. dualmente, formamos uma bateria.
Considere que temos uma amostra de calcário de 250 A função primária de uma pilha é converter energia quí-
g, sendo que 225 g é de carbonato e 25 g é de impurezas. mica em energia elétrica, por meio de uma reação espontâ-
Temos então que o grau de pureza (p) dessa amostra de cal- nea de troca de elétrons entre duas espécies (eletrodos), ge-
cário é dado por: ralmente metálicas. Forma-se um eletrodo no momento em
p = 225 que se tem um fragmento metálico imerso em uma solução
250 de seus íons. No caso, pode-se denominar esse dispositivo
p = 0,9 de pilha galvânica, pilha elétrica ou ainda simplesmente pilha.
A porcentagem de pureza (p%) é dada por: Particularmente em relação às baterias, percebe-se
250 ---------- 100 % atualmente uma maior preocupação ambiental com o seu
225 ---------- p% descarte, ainda problemático e altamente agressivo ao
p% = 90% meio ambiente. Por exemplo, “baterias de hidreto metáli-
ou co/óxido de níquel e as de íons lítio representam um risco
p% = p . 100% ambiental muito menor do que as de níquel/cádmio. Ape-
p% = 0,9 . 100% sar disso, das 5 milhões de baterias de telefones celulares
p% = 90% existentes no Brasil em 1999, 80% ainda eram de níquel/
cádmio; apenas 18% eram de hidreto metálico/óxido de ní-
Fonte: https://alunosonline.uol.com.br/quimica/pureza-
quel e 2% de íons lítio.”1. Atualmente, as pilhas e baterias de
-reagentes.html
íons de lítio dominam o mercado.
Fonte: https://www.infoescola.com/quimica/pilhas-e-
-baterias/
ELETROQUÍMICA: PILHAS E BATERIAS.
Eletrólise: aspectos qualitativos e quantitativos
FUNCIONALIDADE E APLICAÇÕES. A eletrólise é um processo que tem ampla aplicação
industrial e, portanto, os seus aspectos quantitativos são
de extrema importância para as fábricas. Por exemplo, eles
precisam saber qual é a quantidade de reagente que se
O processo químico de troca de elétrons, conhecido
como oxirredução, é responsável pelo funcionamento e pro- deve utilizar, por quanto tempo se deve realizar o processo
priedades das pilhas e baterias de nosso cotidiano. “No dia- e quanto do produto desejado vão obter.
-a-dia usamos os termos pilha e bateria indistintamente. Pilha Por meio da eletrólise ígnea do cloreto de sódio (sal de
é um dispositivo constituído unicamente de dois eletrodos e um cozinha), as indústrias produzem o gás cloro, assim, elas
eletrólito, arranjados de maneira a produzir energia elétrica. Ba- precisam saber qual o volume de gás cloro que vão con-
teria é um conjunto de pilhas agrupadas em série ou paralelo, seguir obter.
dependendo da exigência por maior potencial ou corrente.”1 Além disso, várias peças metálicas passam por eletró-
Desse modo, o processo eletrolítico envolvido em uma lise em meio aquoso a fim de serem revestidas por outro
pilha ou em uma bateria é o mesmo, e trata de uma troca metal, como ocorre no caso de semijoias e bijuterias dou-
de elétrons entre duas espécies, um agente oxidante e um radas ou prateadas. A qualidade da cor do objeto que foi
agente redutor. Por exemplo, no caso da pilha alcalina tem- revestido e a eficiência da proteção contra a sua corrosão
-se uma barra de manganês metálico eletroliticamente puro, dependem, entre outros aspectos, do tempo da eletrólise e
imerso numa pasta de hidróxido de zinco. Dela são conheci- da intensidade de corrente elétrica usada.
dos os respectivos potenciais-padrão de redução, conforme Assim, o físico e químico inglês Michael Faraday (1791-
as equações abaixo: 1867) passou a estudar esses aspectos quantitativos que
Mn2+  +  2e → Mn0     E0 = -1,18V envolvem a eletrólise e depois de vários experimentos, ele
Zn2+  +  2e  → Zn0      E0 = -0,76V descobriu algumas leis nesse caso.

69
QUÍMICA

No ano de 1909, o físico Robert Andrews Millikan


(1868-1953) determinou que a carga elétrica de 1 elétron é
igual a 1,602189 . 10-19 C.

Michael Faraday (1791-1867)

Uma delas mostrou que a quantidade de massa de um


metal que se deposita sobre o eletrodo é diretamente pro- Robert Andrews Millikan (1868-1953)
porcional à quantidade de carga elétrica (Q) que atravessa
o circuito. A constante de Avogadro diz que em 1 mol de elétrons
A carga elétrica (Q) é dada pela seguinte fórmula: há 6,02214 . 1023 elétrons. Assim, a quantidade de carga
transportada pela passagem de 1 mol de elétrons é igual
ao produto da carga elétrica de cada elétron pela quantida-
de de elétrons que temos em 1 mol, ou seja:
1,602189 . 10-19 C . 6,02214 . 1023 = 96486 C
Portanto, se soubermos a quantidade de matéria (n)
Em que: que percorre o circuito, basta multiplicar pelo valor que
i = intensidade da corrente elétrica (unidade: ampère – acabamos de ver, que encontramos a carga elétrica (Q) que
A) t = tempo (unidade: segundos – s) será necessária para realizar o processo de eletrólise que
Assim, a unidade da carga seria A . s, que é igual à uni- se quer:
dade coulomb (C).

70
QUÍMICA

Esse valor (96486 C) é conhecido como constante de Faraday (1 F). Desse modo, se a carga utilizada no processo for
dada em faraday, então poderemos usar relações estabelecidas por regras de três e calcular a quantidade de massa que
será depositada na eletrólise.

Fonte: Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/quimica/aspectos-quantitativos-eletrolise.htm

QUESTÕES

01- Para separar os componentes de uma mistura, foi realizada a seguinte sequência de operações: aquecimento =>
adição de água e filtração => evaporação
Esse procedimento é recomendável para a seguinte mistura:
a) areia, açúcar e sal
b) carvão, areia e açúcar
c) ferro, enxofre e álcool
d) enxofre, gasolina e ferro
e) iodo, sal de cozinha e areia

02- De uma mistura heterogênea de dois líquidos imiscíveis e de densidades diferentes podem-se obter os líquidos
puros por:
I. sublimação
II. decantação
III. filtração

Dessas afirmações, apenas:


a) I é correta
b) II é correta
c) III é correta
d) I e II são corretas
e) II e III são corretas

03- Considere os sistemas abaixo:


I. água e açúcar
II. álcool e carvão
III. água e areia
IV. água e óleo

Assinale a alternativa que relaciona os sistemas que podem ser separados por filtração.
a) I e II
b) II e III
c) I e III
d) II e IV
e) III e IV

04- O método eficaz de separação dos componentes de uma solução aquosa de NaCl (sal de cozinha) é:
a) decantação
b) destilação
c) filtração
d) recristalização
e) sublimação

71
QUÍMICA

05- Relacione a coluna da direita com a da esquerda, 10- Um técnico laboratorial, distraidamente, deixou
considerando a melhor técnica para separar as seguintes derramar no chão um frasco de 20 mL de uma solução 0,2
misturas: mol/L de ácido sulfúrico. Na prateleira, ele dispunha de
1) limalha de ferro e enxofre sublimação uma solução de hidróxido de sódio 0,6 mol/L. Nessa si-
2) óleo e água decantação tuação, para neutralizar completamente o volume de ácido
3) areia e naftaleno imantação derramado, será necessário um volume de base igual a:
4) açúcar e sal fusão fracionada a) 18,50 mL
5) bronze (liga de cobre e estanho) cristalização b) 20,00 mL
c) 6,66 mL
Lendo-se de cima para baixo formar-se-á a seguinte d) 13,33 mL
sequência numérica: e) 26,66 mL
a) 3 2 1 5 4
b) 1 2 3 4 5 11- Antigamente, o açúcar era um produto de preço
c) 3 5 1 2 4 elevado e utilizado quase exclusivamente como medi-
d) 4 2 5 3 1 camento calmante. No século XVIII, com a expansão das
e) 2 4 1 5 3 lavouras de cana-de-açúcar, esse cenário mudou. Hoje, a
sacarose é acessível à maior parte da população, sendo uti-
06- Numa determinada área urbana, a concentração lizada no preparo de alimentos e bebidas. Um suco de fruta
média do agente poluente SO2 no ar atmosférico atingiu o concentrado de determinada marca foi adoçado com 3,42
valor de 3,2 x 10-4 g.m-3. Essa concentração, expressa em g de açúcar (sacarose: C12H22O11) em 200 mL de solução.
mol.L-1 e em moléculas.m-3, corresponde, respectivamen- Com este suco, foi preparado um refresco, adicionando-se
te, aos valores mais 800 mL de água. A concentração em mol/L de sacaro-
a) 5,0 x 10-6 e 3,0 x 1018. se no suco e a concentração em g/L de sacarose no refres-
b) 3,2 x 10-7 e 6,0 x 1020. co são, respectivamente
c) 5,0 x 10-9 e 2,7 x 1025. a) 0,05 mol/L e 34,2 g/L.
d) 5,0 x 10-3 e 3,0 x 1021. b) 0,05 mol/L e 3,42 g/L.
e) 5,0 x 10-9 e 3,0 x 1018. c) 0,5 mol/L e 3,42 g/L.
07- Misturando-se 250 mL de solução 0,600 mol/L d) 0,5 mol/L e 34,2 g/L.
de KCℓ com 750 mL de solução 0,200 mol/L de BaCℓ2, ob- e) 0,05 mol/L e 342 g/L.
tém-se uma solução cuja concentração de íon cloreto, em
mol/L, é igual a
12- Os licores são constituídos principalmente de ex-
a) 0,300.
trato de plantas, álcool etílico e uma grande quantidade de
b) 0,400.
água e sacarose. Num copo de Becker, foram misturados
c) 0,450.
400 mL de solução de sacarose de concentração 57 g/L
d) 0,600.
e) 0,800. com 600 mL de solução de concentração 19 g/L do mesmo
açúcar. A concentração da sacarose (C12H22O11) em mol L-1,
08- O volume, em mililitros, de uma solução de 0,5 na solução final é, aproximadamente,
mol/L de AgNO3 necessário para preparar 200 mililitros de a) 0,10
uma solução 0,1 mol/L desse sal é igual a b) 0,34
a) 10. c) 1,00
b) 20. d) 3,42
c) 25. e) 34,20
d) 40.
e) 50.

09- O soro fisiológico é uma solução aquosa que con-


tém 0,9 % em massa de NaCℓ. Para preparar 200 mL dessa
solução, a quantidade necessária de NaCℓ é de aproxima-
damente
a) 0,45 g.
b) 1,8 g.
c) 0,09 mol.
d) 0,18 mol.
e) 10,6 g.

72
QUÍMICA

13- O atleta Michael Phelps é considerado um fenôme-


no na natação. Contribui para esse sucesso uma particula- Respostas:
ridade metabólica que lhe confere uma recuperação fora
do comum. Enquanto a maior parte dos nadadores, depois 01- A resposta correta é a e. Aquecendo a mistura, se-
das competições, apresenta uma média de 10 milimols de para-se o iodo por sublimação. Adicionando-se água, o sal
ácido lático por litro de sangue, o nadador campeão apre- dissolve-se nesta e separa-se da areia. Uma filtração separa
senta apenas 5,6 milimols. a areia da solução salina. Uma evaporação separa a água
Fonte: Veja, n. 2073, p.122. do sal.

As concentrações de ácido lático (C3H6O3), em gramas 02- A alternativa correta é a b. Como os líquidos são
por litro de sangue, que correspondem, respectivamente, imiscíveis (não se misturam) e tem densidades diferentes
a 10 milimols/L e 5,6 milimols/L, são de aproximadamente (um flutua sobre o outro), o processo a ser utilizado é a
decantação.
a) 1 x 10-1 e 5,6 x 10-1.
b) 1 x 10-3 e 5,6 x 10-3.
03- A alternativa correta é a b. Entre as alternativas, as
c) 4,5 x 10-1 e 2,5 x 10-1.
únicas que apresentam sistemas que podem ser separados
d) 9 x 10-1 e 5 x 10-1.
por filtração são II e III.
e) 9 x 10-3 e 5 x 10-3. 04- Através da destilação pode-se separar a água do
sal usando-se aquecimento e valendo-se da grande dife-
14- A mistura de 26,7 g de NaCℓ (massa molar 53,4 rença entre os pontos de fusão da água e do sal de cozinha.
g.mol-1) em água suficiente para que a solução apresente Na recristalização, deixa-se a solução salina num recipiente
o volume de 500 mL resulta numa concentração de: aberto e aguarda-se a evaporação completa da água. Por
a) 26,7% (m/v). sua rapidez, a destilação é o mais eficiente. A alternativa
b) 26,7 g.L-1. correta é a b.
c) 1,0 mol.L-1.
d) 0,0534 g.L-1. 05- A sublimação é usada quando um dos componen-
e) 13,35 L.mol. tes é sólido e passa para vapor se aquecido. É o caso do
15- Durante a temporada de verão, um veranista in- naftaleno (naftalina) na alternativa 3. A decantação é usada
teressado em química fez uma análise da água da Praia na separação de dois líquidos imiscíveis e com diferentes
Mansa de Caiobá. Pôs para evaporar ao ar livre 200 mL de densidades, alternativa 2. A imantação é usada para sepa-
água dessa praia, e o material sólido resultante ele colocou rar materiais que são atraídos pelo imã dos que não são
no forno de sua casa, ligado a 180 °C, por algumas horas. atraídos, alternativa 1. A fusão fracionada é usada para se-
Ao pesar o material resultante, ele encontrou 6 gramas de parar sólidos que apresentem diferentes pontos de fusão,
sólido como resultado. Supondo que o material encontra- alternativa 5. A cristalização é usada para separar solutos
do pelo veranista era NaCℓ (59 g/mol), assinale a alternativa de diferentes solubilidades, é o caso da alternativa 4, se
que apresenta a concentração desse sal na água do mar adicionarmos água a seus componentes. A alternativa cor-
em mol/L. reta é a a.
a) 0,5.
b) 1. 06-E / 07-C / 08-D / 09-B / 10-D / 11-B / 12-A / 13-D
c) 3,4. / 14-C / 15-A
d) 0,2.
e) 0,1.

73
QUÍMICA

EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES As radiações eletromagnéticas de baixo comprimento


de onda apresentam alta frequência e níveis energéticos,
01. (TRANSPETRO - TÉCNICO OPERAÇÕES JÚNIOR - têm maior poder de penetração e possibilidade de causar
CESGRANRIO/2012). Elemento químico é um conjunto danos aos tecidos, ou mesmo, genéticos.
de átomos com o mesmo número de prótons no núcleo.
Átomos de um mesmo elemento podem ter em seu nú- RESPOSTA: “CERTO”.
cleo diferentes números de nêutrons, como o 39Ca e o
40
Ca. 04. (UNIPAMPA - TÉCNICO DE LABORATÓRIO –
Esses átomos são definidos como: CESPE/2013). A radioatividade é composta por três
(A) isóbaros tipos distintos de radiação. As radiações alfa, que são
(B) isótonos carregadas positivamente; as radiações beta, compos-
(C) isótopos tas por elétrons acelerados; e as radiações gama, que
(D) isômeros são ondas eletromagnéticas de alta energia.
(E) isoeletrônicos
Estas são as características das radiações nucleares.
Átomos de um mesmo elemento químico, porém,
Lembrando que alfa e beta são partículas e a emissão gama
com diferente número de massa diferem devido ao núme-
ro de nêutrons no núcleo. Isóbaros têm mesmo número é onda eletromagnética
de massa e são átomos de diferentes elementos. Isótonos
apresentam mesmo número de nêutrons e pertencem a di- RESPOSTA: “CERTO”.
ferentes elementos químicos. Isoeletrônicos são espécies
com mesmo número de elétrons. 05. (UNIPAMPA - TÉCNICO DE LABORATÓRIO –
CESPE/2013). Para Ernest Rutherford, o átomo era uma
RESPOSTA: “C”. estrutura densa que continha cargas, isto é, era consti-
tuído por uma esfera positivamente carregada conten-
02. (UABC - TÉCNICO DE LABORATÓRIO - VU- do cargas negativas homogeneamente distribuídas por
NESP/2013). Os átomos são constituídos de inúmeras toda a sua extensão.
partículas e subpartículas. A química estuda as partí-
culas fundamentais (elétrons, prótons e nêutrons) para Estas informações correspondem a um modelo atômi-
descrever as principais características dos elementos. co, mas ao modelo de Thomson.
Átomos de mesmo tipo são aqueles que possuem o
mesmo número de___________ RESPOSTA: “ERRADO”.
Átomos do mesmo elemento químico são aqueles
que têm o mesmo número________________ 06. (UNIPAMPA - TÉCNICO DE LABORATÓRIO –
As lacunas I e II são preenchidas, correta e respec- CESPE/2013). Por meio da equação de Schrödinger, é
tivamente, por possível saber, com precisão, em um dado momento, a
A) elétrons … de massa posição e o momento do elétron, o que permite conhe-
(B) elétrons … de nêutrons cer, simultaneamente, a posição e a energia do elétron.
(C) prótons … de nêutrons
(D) prótons … atômico Este texto contraria o Principio da Incerteza de Heisen-
(E) massa … de prótons berg.
Questão com conceito básico: Ao conjunto de áto-
RESPOSTA: “ERRADO”.
mos que apresentam mesmo número de prótons (mesmo
número atômico) damos o nome de ELEMENTO químico.
07. (UNIPAMPA - TÉCNICO DE LABORATÓRIO –
Portanto, átomos que têm mesmo numero de prótons per-
tencem a um mesmo elemento químico. Exemplo: todos os CESPE/2013). De acordo com a teoria de ligação de
átomos de Ferro apresentam 26 prótons, independente da valência de Linus Pauling, a ligação covalente ocorre
massa atômica. quando há a sobreposição dos orbitais atômicos, que
devem possuir, além de energias semelhantes, orienta-
RESPOSTA: “D”. ção adequada.

03. (UNIPAMPA - TÉCNICO DE LABORATÓRIO – Para ocorrer a ligação química deve ocorrer a ade-
CESPE/2013- MODIFICADA). A respeito de teoria atô- quada orientação espacial e elétrons desemparelhados se
mica, julgue: Quanto menor o comprimento de onda de aproximando com spins opostos (para não prevalecer a re-
uma radiação eletromagnética e menor a compactação pulsão eletrostática).
da matéria, mais penetrante será a radiação. Assim, jus-
tificam-se as preocupações que as pessoas devem ter RESPOSTA: “CERTO”.
quanto à exposição às radiações ultravioleta, raios X e
raios gama.

74
QUÍMICA

08. (PCSP - PERITO CRIMINAL – VUNESP/2014). 10. (SEE/RJ - PROFESSOR I DE QUÍMICA – CE-
Considere as seguintes representações para átomos: PERJ/2013). A lei de velocidade de uma reação de
decaimento nuclear corresponde a uma equação dife-
rencial que relaciona a variação das concentrações das
. espécies com o tempo. Considerando uma reação de
O número ! de nêutrons de cada átomo é, respecti- primeira ordem, a fração que decaiu da espécie radioa-
vamente, tiva após um período de três meias-vidas é:
(A) 1, 1, 2, 4. A) 1/6
(B) 0, 0, 0, 0. B) 1/3
(C) 3, 4, 6, 9. C) 1/2
(D) 2, 2, 3, 5. D) 3/4
(E) 1, 2, 3, 4. E) 7/8

Para calcular o número de nêutrons basta fazer o cálcu- O tempo de meia-vida é o tempo necessário para que
lo que relaciona prótons, número de massa e nêutrons: A= metade da amostra radioativa seja transformada.
Z + N. logo, N= A – Z Logo teremos a seguinte situação após 3 meias-vidas:
H=> N= A – Z = 3 – 1 = 2 m----> m/2 -----> m/4------> m/8.
He => N= A – Z = 4 – 2 = 2 Portanto, restará ainda m/8 de material radioativo.
Li => N= A – Z = 6 – 3 = 3 Logo, foi transformado o correspondente a m7/8.
Be => N= A – Z = 9 – 4 = 5
RESPOSTA: “E”.
RESPOSTA: D”.
11. (MARANHÃO - PERITO CRIMINAL – FGV/2012).
09. (SEE/RJ - PROFESSOR I DE QUÍMICA – CE- Considere os átomos a seguir:
PERJ/2013). CIENTISTAS FAZEM FERRO FICAR TRANS-
I. Um átomo com 17 prótons e 18 nêutrons
PARENTE. Cientistas conseguiram realizar um experi-
II. Um átomo com um número atômico 16 e uma
mento pelo qual demonstraram que o núcleo atômico
massa atômica 32
pode se tornar transparente.(...)
III. Um átomo com um número atômico 16 e 18 nêu-
A técnica, que utiliza o efeito da transparência in-
trons
duzida eletro- magneticamente, permite que materiais
IV. Um átomo com 16 prótons e 18 nêutrons
opacos possam se tornar transparentes à luz em certos
V. Um átomo com 17 prótons e 20 nêutrons
comprimentos de onda, como o raio X (...). Esse efeito
VI. Um átomo com um número atômico 16 e uma
é promovido pela interação complexa da luz com a ele-
massa atômica 33
trosfera, onde estão os elétrons.
Esse trabalho demonstrou que o efeito também VII. Um átomo com 15 prótons e 16 nêutrons
existe quando raio X é direcionado para o núcleo atô- Indique, dentre as alternativas a seguir aquela que
mico do isótopo de ferro 57, que compreende 2% do indica o(s) par(es) isotópico(s).
ferro que ocorre naturalmente no planeta. (A) 2 e 6
(Adaptado de: http://agencia.fapesp.br/15156. (B) 2 e 7
Acesso em fevereiro de 2013.) (C) 2 e 3; 2 e 6
A estrutura atômica desse isótopo do ferro apre- (D) 1 e 3, 1 e 4; 2 e 7
senta: (E) 1 e 5; 2 e 3; 2 e 4; 2 e 6; 3 e 6; 4 e 6
A) configuração eletrônica diferente do seu isótopo
mais abundante Para serem isótopos os átomos devem apresentar o
B) mesmo número de nêutrons que seu isótopo mesmo número de prótons.
mais abundante Segundo os dados teremos os seguintes números de
C) um próton a mais que seu isótopo mais abun- prótons:
dante I, V = 17
D) elétrons distribuídos em quatro níveis de energia II, III, IV, VI = 16
E) 27 partículas subatômicas no seu núcleo VII = 15
Portanto, nossa resposta será a alternativa E.
Os isótopos (mesmo número de prótons) se diferen-
ciam pelo número de nêutrons presentes no núcleo e, RESPOSTA: “E”.
consequentemente, no número de massa. O ferro tem 26
prótons e 26 elétrons. Logo, terá a mesma distribuição ele-
trônica em todos os isótopos.

RESPOSTA: “D”.

75
QUÍMICA

12. (PETROBRÁS - TÉCNICO DE OPERAÇÃO JÚNIOR - Questão básica: a partícula fundamental que apresenta
CESGRANRIO/2012). Uma das grandes descobertas da ciên- carga elétrica positiva: próton. Elétron tem carga negati-
cia foi realizada por Ernest Rutherford, a partir de sua famosa va; nêutron não apresenta carga; Dalton é uma medida de
experiência na qual bombardeou uma lâmina de ouro com massa molecular pouco usada no cotidiano químico, em
partículas alfa, que possuem carga positiva. Observando o ensino médio ou fundamental.
ângulo de desvio dessas partículas, percebeu que a maioria
atravessava direto o ouro, algumas apresentavam desvio e RESPOSTA: “B”.
outras sofriam uma violenta repulsão, que as mandava de
volta. Com essas observações, constatou que: 15. (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA – AUXILIAR DE
(A) toda carga negativa do átomo estava concentrada LABORATÓRIO – CONSULPLAN/2014). Um átomo de
no núcleo, e as cargas positivas dispostas ao redor na ele- um elemento químico representativo possui 12 prótons,
trosfera. 14 nêutrons e 11 elétrons. Acerca desse átomo, é corre-
(B) toda a massa, praticamente, do átomo está concen- to afirmar que possui uma
trada na eletrosfera, uma vez que os elétrons são muito mais A) carga neutra.
pesados que os prótons. B) carga negativa.
(C) o átomo é uma estrutura contínua, na qual, prótons C) massa atômica igual a 26 daltons.
e elétrons estariam misturados continuamente como num D) massa atômica igual a 37 daltons.
bolo recheado de passas.
(D) o átomo constitui-se de um núcleo muito pequeno Os dados do elemento químico ou espécie química
de carga positiva e os elétrons orbitam em torno dele, na são: 12 prótons e 11 elétrons. Valores diferentes entre as
chamada eletrosfera. partículas fundamentais que possuem carga elétricas. A es-
(E) o átomo constitui-se de um núcleo muito pequeno pécie em questão tem mais prótons. É, portanto, um cátion
de carga neutra, contendo prótons e elétrons, enquanto que (estes apresentam carga global positiva).
os nêutrons orbitam em torno dele, na chamada eletrosfera. Número de massa: 12 prótons + 14 nêutrons = 26.

O modelo descrito acima apresenta as seguintes caracterís- RESPOSTA: “C”.


ticas:
-átomo com núcleo muito pequeno, positivo e central, com 16. (SEE/RJ - PROFESSOR I DE QUÍMICA – CE-
praticamente toda massa concentrada nesta região; PERJ/2013). O Departamento de Energia dos EUA pro-
- porção externa muito grande (relativamente ao núcleo) duziu seu primeiro lote de plutônio usado para alimen-
chamada eletrosfera (por conter os elétrons), com um grande tar sondas espaciais, sem fins armamentistas, desde que
vazio e cargas negativas. desligou seu reator nuclear, há 25 anos, segundo infor-
maram funcionários da NASA.
RESPOSTA: “D”. (Disponível em: http://oglobo.globo.com/ciencia/
eua-voltam-produzir-plutonio-para- alimentar-sondas-
13. (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA – TÉCNICO DE LA- -espaciais-7881294. Acesso em março de 2013.)
BORATÓRIO – CONSULPLAN/2014). Qual das distribuições Este radionuclídeo pode ser sintetizado pelo bom-
eletrônicas relacionadas a seguir pode ser atribuída a um bardeio de núcleos de urânio-238 com deutério, produ-
metal da família 1 (metais alcalinos)? zindo netúnio-238. O netúnio-238 sofre um decaimen-
A) 1s²2s²2p1. to produzindo o plutônio-238, esse decaimento ocorre
B) 1s²2s²2p6. com a emissão de partícula:
C) 1s²2s²2p2. A) alfa
D) 1s²2s²2p63s¹. B) beta
C) gama
Questão bem simples. Nos estudos de distribuição eletrô- D) próton
nica e de tabela periódica há ênfase para a identificação das fa- E) nêutron
mílias dos elementos representativos. Na família 1A (grupo 1) a
característica desta família é apresentar subnível mais energético 92
U238 + 1H3 → 93Np238
(terminação) em ns1. 93
Np238 → 94Pu238
Observe que a massa não se altera. Portanto, pode-se
RESPOSTA: ‘D”. excluir a partícula alfa. Gama também pode ser excluída
porque não altera o elemento químico em outro, ao ser
14. (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA – AUXILIAR DE LA- emitida. Próton e nêutron têm massa. Portanto, não po-
BORATÓRIO – CONSULPLAN/2014). A partícula atômica que deriam ser emitidas porque modificariam a massa inicial.
possui carga positiva é chamada de Resposta: BETA. Não altera a massa, mas altera o número
A) dalton atômico, aumentando em uma unidade.
B) próton.
C) elétron. RESPOSTA: “B”.
D) nêutron

76
QUÍMICA

17. (SEE/SP - QUÍMICA - PEB II – FGV/2013). Dife- Quando uma elemento radioativo emite uma partícula
rentemente de outros elementos transurânicos, desco- β- seu número atômico aumenta em uma unidade e sua mas-
bertos como resultado de um longo e cuidadoso plane- sa não se altera. Logo:
jamento (...) os elementos 99 e 100 foram descobertos 11
Na24 + -1β0 → 12X24
“acidentalmente”, tendo sido gerados em uma explo- Consultando a tabela periódica (fornecida na prova), po-
são termonuclear em 1952. A síntese desses novos ele- demos concluir que o elemento X é o Magnésio.
mentos deu-se pela captura de nêutrons por parte do
Urânio–238, seguida de emissão de partículas beta. RESPOSTA: “B”.
(FARIAS, R. F. Para gostar de ler a História da Quí-
mica, 3ª ed. Campinas, SP: Editora Átomo, 2008, p.73. 20. (PM/MG - PROFESSOR II DE QUÍMICA - FCC/2012).
Adaptado). O número de elétrons da camada de valência do átomo de
A emissão de partículas beta negativa nesse proces- fósforo no seu estado fundamental é:
so ocasionou Dado: Número atômico do fósforo = 15
(A) a diminuição da massa do átomo bombardeado. (A) 8.
(B) a diminuição do número de elétrons no átomo (B) 5.
formado. (C) 3.
(C) a diminuição da carga nuclear do átomo bom- (D) 2.
bardeado.
(D) o aumento do número de prótons em relação A distribuição eletrônica do fósforo é 1s2 2s2 2p6 3s2 3p3.
ao átomo inicial. Logo, na terceira camada o número de elétrons é igual a cinco
(E) o aumento do número de nêutrons em relação (3s2 3p3).
ao átomo inicial.
RESPOSTA: “B”.
Questão simples de se resolver: basta lembrar que a
emissão de partícula beta ocorre pela quebra de um nêu- 21. (PM/MG - PROFESSOR II DE QUÍMICA - FCC/2012).
Quando se compara o átomo neutro de ferro (Fe) com o
tron originando um próton a mais no núcleo. Logo, ocorre
íon Fe3+, ambos correspondentes ao isótopo de número
aumento do número atômico do elemento emissor.
de massa 56, observa-se que o íon possui três
(A) nêutrons a menos.
RESPOSTA: “D”.
(B) elétrons a mais.
(C) prótons a mais.
18. (PM SOROCABA - PROFESSOR DE QUÍMICA –
(D) elétrons a menos.
VUNESP/2012). O número de elétrons e o número de
nêutrons existentes no íon representado por 17O2– O átomo neutro de ferro possui 3 elétrons a mais que seu
são, respectivamente, cátion Fe3+, logo, o íons possui 3 elétrons a menos.
Dado: 8O
(A) 2 e 17. RESPOSTA: “D”.
(B) 2 e 9.
(C) 8 e 9. 22. (PM/MG - PROFESSOR II DE QUÍMICA - FCC/2012).
(D) 10 e 9. O nuclídeo formado após a emissão de uma partícula alfa
(E) 10 e 12. por um nuclídeo de número atômico 92 e número de mas-
Se o número de prótons é igual a 8 o átomo tem 8 sa 238 possui número atômico:
cargas positivas. Mas observamos que ele tem excesso de (A) 88 e número de massa 236.
2 elétrons em relação ao átomo neutro. Logo, apresenta 10 (B) 92 e número de massa 237.
elétrons. (C) 90 e número de massa 234.
O número de massa corresponde à soma de prótons (D) 91 e número de massa 238.
e nêutrons. Ou seja: A= Z + N. Substituindo-se os valores
teremos: 17 = 8 + N. N= 9 A equação da emissão radioativa é:
92
X238 + → 2α4 + 92-2R238-4. Logo, 90R234.
RESPOSTA: “D”.
RESPOSTA: “C”.
19. (PM SOROCABA - PROFESSOR DE QUÍMICA
– VUNESP/2012). O elemento químico que se forma 23. (PM/MG - PROFESSOR II DE QUÍMICA - FCC/2012).
quando o nuclídeo 24Na emite uma partícula β– é o O modelo de átomo nuclear de Rutherford foi sugerido a
(A) neônio. partir de resultados de experimentos que conflitaram com
(B) magnésio. (A) a existência dos raios catódicos.
(C) potássio. (B) a natureza elétrica da matéria.
(D) cálcio. (C) o átomo maciço de Thomson.
(E) cloro. (D) os resultados dos experimentos com tubos de
descarga.

77
QUÍMICA

Na evolução dos modelos atômicos o modelo de ( ) pois o núcleo do átomo é positivo, provocando
Rutherford sucede o modelo de Thomson. O modelo de uma repulsão nas partículas α (positivas).
Thomson é o conhecido como pudim com passas. O de ( ) pois existe no átomo uma pequena região onde
Rutherford propunha o átomo com duas regiões bem dis- está concentrada sua massa (o núcleo).
tintas: com núcleo e eletrosfera. A partir da Resposta: acima, marque a opção COR-
RETA.
RESPOSTA: “C”. a) I, II, III
b) II, III, I
24. (UFMT - DOCENTE QUÍMICA - IFMT/2012). So- c) II, III, I
bre um elemento químico M que apresenta número d) I, III, II
atômico igual a 38, pode-se afirmar: e) II, I, III
[A] Forma, com um metal alcalino, um composto
iônico cuja solução aquosa é boa condutora de corrente
Rutherford concluiu que o átomo é um grande vazio,
elétrica.
pois, a maioria das partículas não desviaram. Algumas pou-
[B] A ligação entre os seus íons se dá por covalência.
cas foram desviadas por serem positivas como a emissão
[C] O cátion, o ânion e o composto formado por M
alfa. Poucas porque esta região denominada núcleo é rela-
e um calcogênio Y são, respectivamente, Y2+, M-, MY.
[D] Forma com um halogênio X um composto iôni- tivamente muito pequena quando comparada à eletrosfera.
co MX2.
RESPOSTA: “B”.
Precisamos conhecer o tipo de elemento químico des-
te. A distribuição eletrônica dele seria: 1s2 – 2s2 – 2p6 – 3s2 27. (UFJF/MG - TÉCNICO DE LABORATÓRIO – IFSUL-
– 3p6 – 4s2 – 3d10 – 4p6 – 5s2. Portanto, trata-se de um metal DEMINAS/2013). Em um determinado tipo de ligação
alcalino terroso. Os metais deste tipo fazem ligações iôni- química, ocorre a formação de íons devido à perda ou
cas com haletos com formulação MX2 ou com calcogênio ao ganho de elétrons pelos átomos. Supondo-se uma
do tipo MY. Forma cátions bivalentes, M2+. ligação que dê origem aos íons Na+ e F –, é CORRETO
afirmar que:
RESPOSTA: “D”. Dado 11Na e 9F
a) o íon F– tem massa maior que o íon Na+.
25. (PM/SP – PEB - II/PROFESSOR II DE QUÍMICA b) os íons têm distribuição eletrônica igual.
– VUNESP/2012). O enriquecimento do urânio pelo mé- c) os íons têm números atômicos iguais.
todo da difusão em cascata é possível porque entre os d) os íons têm massa atômica igual.
isótopos desse elemento há diferença de e) os íons são isótopos.
(A) número atômico.
(B) carga nuclear. Os íons têm distribuição eletrônica semelhante e, no
(C) massa nuclear. caso, igual. Pois, ao serem formados se estabilizam tal qual
(D) carga elétrica. um gás nobre, com 8 elétrons na camada de valência.
(E) número de elétrons.
Os isótopos radioativos diferem quanto ao número de RESPOSTA: “B”.
nêutrons e, por consequência, no número de massa.
28. (PETROBRÁS - TÉCNICO(A) QUÍMICO(A) DE PE-
RESPOSTA: “C”.
TRÓLEO JÚNIOR -CESGRANRIO/2012). Para um mes-
mo período na Tabela Periódica, os metais alcalinos,
26. (UFJF/MG - TÉCNICO DE LABORATÓRIO – 2013
quando comparados com os metais alcalinos terrosos,
– IFSULDEMINAS) O experimento de Rutherford con-
apresentam
sistia em bombardear uma fina lâmina de ouro (0,0001
cm de espessura) com partículas alfa (α), emitidas pelo (A) maior dureza
polônio (Po). De acordo com esse experimento, rela- (B) maiores pontos de fusão
cione os resultados obtidos às conclusões tiradas por (C) maiores pontos de ebulição
Rutherford. (D) menores energias de ionização
I) Poucas partículas α não atravessavam a lâmina e (E) menores raios iônicos
voltavam,
II) A maior parte das partículas α atravessava a lâ- O assunto aborda propriedades periódicas. Quanto
mina de ouro sem sofrer desvios, mais à esquerda e em um mesmo período temos para os
III) Algumas partículas α sofriam desvios de trajetó- elementos maio raio atômico e menor energia de ioniza-
ria ao atravessar a lâmina, ção.
( ) pois o átomo possui um enorme espaço vazio
(eletrosfera), maior que o núcleo, onde os elétrons de- RESPOSTA: “D”.
vem estar localizados.

78
BIOLOGIA

Processos Fundamentais da Fisiologia Celular: compostos celulares (ácidos nucleicos, proteínas, carboidratos, lipídeos,
vitaminas e sais minerais), respiração, fotossíntese. Divisão celular: mitose e meiose................................................................. 01
Fisiologia humana: sistema circulatório, sistema excretor, sistema endócrino, sistema nervoso, sistema digestório, siste-
ma respiratório e sistema reprodutor e métodos contraceptivos, DSTs e AIDS.............................................................................. 11
Diversidade dos seres vivos: características morfofuncionais dos seres vivos: procariontes, fungos, vegetais, protistas e
animais.......................................................................................................................................................................................................................... 31
Princípios básicos da hereditariedade - Material genético; composição, estrutura e duplicação do DNA - Código ge-
nético e mutação. Funcionamento dos genes; noções de transcrição, tradução – síntese protéica – e regulação. Leis de
Mendel. Padrões de herança: autossômica, ligada ao sexo – dominante e recessiva. Grupos sanguineos. Aplicação dos
conhecimentos atuais de genética, biologia molecular e biotecnologia – Retrocruzamento Interação Gênica - Herança
ligada ao sexo - Mutações - Grupos Sanguíneos........................................................................................................................................ 36
Evolução da vida - Origem da vida - Explicações sobre a diversidade - Evidências da evolução - A origem das espécies.
A conquista dos ambientes terrestres por animais e plantas. A evolução do homem................................................................. 74
Ecologia: Bases do funcionamento dos sistemas ecológicos, fluxo de energia e ciclagem dos materiais. Características
dos níveis de organização: população e ecossistemas. O ambiente e as adaptações dos organismos. Condições ambien-
tais e a saúde. A Biosfera comprometida - A extinção das espécies.................................................................................................... 85
Programa de saúde: Principais doenças humanas provocadas e/ou transmitidas por vírus, bactérias, protistas e animais..........94.
BIOLOGIA

Outras pequenas vesículas que brotam do complexo


de Golgi contêm enzimas digestivas. São os lisossomos,
PROCESSOS FUNDAMENTAIS DA responsáveis pela digestão intracelular.
FISIOLOGIA CELULAR: COMPOSTOS Há um par de centríolos, que tem um papel importante
CELULARES (ÁCIDOS NUCLEICOS, na divisão celular. Nas células dotadas de cílios ou de flage-
PROTEÍNAS, CARBOIDRATOS, los, os centríolos estão relacionados com a formação e com
LIPÍDEOS, VITAMINAS E SAIS MINERAIS), o controle dos batimentos dessas estruturas de locomoção.
RESPIRAÇÃO, FOTOSSÍNTESE. DIVISÃO As atividades efetuadas pelas células requerem ener-
CELULAR: MITOSE E MEIOSE. gia, que elas obtêm na respiração celular. Trata-se de uma
longa sequência de reações de combustão controlada da
glicose, que transfere a energia desse açúcar para molécu-
las de adenosina-trifosfato, o ATP. As primeiras reações da
Aspectos Gerais respiração acontecem no hialoplasma, e as etapas finais,
que representam a grande fonte de energia para a célula,
Todas as células são revestidas por uma finíssima pe- processam-se no interior das mitocôndrias.
lícula, que contém o citoplasma e o núcleo: a membrana As células têm uma trama interna de filamentos de
plasmática. Essa membrana separa o conteúdo celular do proteínas, que mantém a sua arquitetura, chamada citoes-
meio circundante, mantendo instável, o meio interno. queleto.
A membrana das células animais é lipoprotéica e se- As estruturas citoplasmáticas dotadas de organização
letivamente permeável, capaz de controlar a entrada e e sistemas enzimáticos próprios são chamadas organoides
saída de materiais. Moléculas pequenas e sais inorgânicos citoplasmáticos (ou organelas). São os lisossomos, as mi-
passam através da membrana. Moléculas maiores são en- tocôndrias, o complexo de Golgi, os ribossomos, os cen-
globadas em vesículas. Substâncias exportadas pela célula tríolos, o retículo endoplasmático e os peroxissomos. As
ficam em pequenas bolsas membranosas, que se abrem na estruturas celulares desprovidas dessa organização são as
superfície, despejando seu conteúdo no exterior. inclusões citoplasmáticas, das quais são exemplos os grâ-
No interior da célula animal, há um núcleo típico de nulos de glicogênio e de pigmentos.
uma célula eucariótica. Todo o espaço existente entre o nú-
cleo e a membrana plasmática constitui o citoplasma.
No interior do núcleo, está a cromatina, formada por
DNA e por proteínas. É formada por ‘+filamentos de cro-
mossomos emaranhados, como linha embaraçada. O nu-
cléolo, corpo denso e esférico que pode ser visto dentro do
núcleo, é rico em RNA e proteínas. Participa da formação
dos ribossomos.
O envoltório nuclear, ou carioteca, tem continuidade
com o retículo endoplasmático, um complexo sistema de
canais e tubos revestidos por membrana. A carioteca tem
duas camadas sobrepostas e poros, que comunicam o in-
terior do núcleo com o citoplasma.
O retículo endoplasmático se comunica, também, com
a membrana plasmática e com o meio extracelular. Ele atua
como um sistema interno de distribuição.
Os ribossomos, pequenos grânulos observados no ci-
toplasma, são compostos por proteínas e por RNA, e sin- REVESTIMENTO CELULAR
tetizam proteínas, algumas que são usadas na célula, como
as enzimas, e outras que são lançadas no meio externo. Os A membrana apresenta uma permeabilidade seletiva,
ribossomos podem ser encontrados livres no citoplasma, dependendo da natureza da substância. Algumas substân-
aderidos na face externa do envoltório nuclear ou ligados cias atravessam a membrana com facilidade, enquanto ou-
nas membranas do retículo endoplasmático. As partes do tras são dificultadas ou totalmente impedidas. A membra-
retículo que têm ribossomos aderidos formam o retículo na é capaz de capturar substâncias necessárias no exterior,
endoplasmático rugoso ou granular, também chamado er- auxiliando sua entrada na célula.
gastoplasma. O retículo endoplasmático liso, que não tem As moléculas de água entram e saem da célula espon-
ribossomos aderidos, participa da produção de gorduras e taneamente, elas simplesmente mergulham entre as molé-
de outras substâncias. culas de fosfolipídio e saem do outro lado (difusão). Não
Observam-se, no citoplasma, vesículas achatadas há nada que a membrana possa fazer para impedir a tran-
e empilhadas que compõem o complexo de Golgi. Suas sição da água através dela. O mesmo acontece com o O2,
funções são a concentração de substâncias produzidas no gás carbônico e outras substâncias de pequeno tamanho
ergastoplasma e o seu empacotamento em pequenas ve- molecular.
sículas que se abrem na superfície da célula. Esta atividade
se chama secreção celular.

1
BIOLOGIA

Na difusão não há dispêndio de energia por parte da Retículo endoplasmático rugoso ou granular:
célula, quando isso ocorre chamamos de transporte pas- É o local de fabricação de boa parte das proteínas ce-
sivo. Esse processo é importante para a vida da célula. Por lulares. Na realidade são os ribossomos presos nas mem-
difusão as células de nosso intestino retiram a maior parte branas que fazem as moléculas de proteínas. A função dos
de substâncias nutritivas do alimento. ribossomos é a síntese proteica. Eles realizam essa função
As membranas das células também executam pro- estando no hialoplasma ou preso a membrana do retículo.
cessos ativos de transporte de substâncias. Esse processo O retículo endoplasmático desempenha, portanto, as fun-
acontece quando há um transporte de solutos e solventes ções síntese, armazenamento e transporte de substâncias.
contra o gradiente de concentração. Um exemplo pode ser
observado nas células hemácias. Nesse caso há gasto de Ribossomos:
energia. São grãos de proteína. A função dos ribossomos é a
É através do transporte ativo que uma célula pode síntese proteica pela união de aminoácidos, em processo
manter certas substâncias necessárias em concentração controlado pelo DNA. O RNA descreve a sequência dos
elevada no seu interior, mesmo que tenha pouco da mes- aminoácidos da proteína. Eles realizam essa função estan-
ma no exterior. do no hialoplasma ou preso a membrana do retículo en-
Quando uma substância não consegue atravessar a doplasmático.
membrana, ela captura a substância pelos seguintes pro- Complexo de Golgi:
cessos: A função do complexo está diretamente relacionado
com a secreção celular (quando a célula elimina substân-
Fagocitose: cias que ainda serão aproveitadas pelo organismo, só que
Quando a célula ingere a substância a partir de pseu- em outros locais). Um exemplo do papel secretor do apare-
dópodos que envolve o alimento e o coloca em uma cavi- lho de Golgi ocorrem nas células produtoras de muco, que
dade do interior da célula, onde ocorrerá a digestão. recobre os revestimentos interno do nosso corpo. Outro
exemplo é a secreção de enzimas que será utilizado na di-
Pinocitose: gestão.
Quando a célula através de invaginações da membrana Ele apresenta outras funções tais como complementar
captura pequenas gotículas líquidas. a síntese de glicídios usados na formação do glicocálix que
A energia para o transporte ativo é suprida por uma protege as células animais e serve como estrutura de iden-
substância chamada ATP, que fornece energia para a maio- tificação; ele participa na formação do acrossoma, vesícula
ria dos processos celulares. rica em enzimas localizada sobre a cabeça do espermato-
zoide, e responsável na perfuração do óvulo.
Citoplasma: Existem indicações que os lisossomos sejam formados
O citoplasma é conteúdo de uma célula, excluindo-se por ele.
o núcleo. Ele é constituído por uma solução chamada hia-
loplasma. Também inclui as organelas ligadas por mem- Lisossomos e peroxissomos:
branas, como a Mitocôndria, o complexo de Golgi e outras São bolsas citoplasmáticas cheias de enzimas digesti-
estruturas essenciais para o funcionamento da célula. vas e envolvidas por uma membrana lipoprotéica.
O lisossomo tem as seguinte funções: digestão intra-
Hialoplasma: celular; digestão dos materiais capturados por fagocitose
É o local onde ocorrem diversa reações químicas do ou pinocitose. A autofagia; onde o lisossomo digere par-
metabolismo (a síntese proteica, a parte inicial da respira- tes da própria célula, englobando organoides e formando
ção), também facilita a distribuição de substâncias por difu- os vacúolos autofágicos. Isso ocorre quando a organela
são. É aí que o alimento é degradado para fornecer energia. está velha ou quando a célula passa um período de fome.
Em certas células, as correntes citoplasmáticas são E a autólise; ocorre quando a membrana do lisossomo se
orientadas de tal maneira que resultam na locomoção de rompe espalhando enzimas pelo citoplasma, destruindo a
célula. Um exemplo são os glóbulos brancos, que possuem célula. Serve para renovar a células do corpo. Em alguns
pseudópodos. casos, o rompimento se dá por causa de doenças. O mate-
O citoplasma é coberto de organelas cada uma é res- rial conseguido com a autodigestão é mandado através da
ponsável em realizar uma ou mais atividades vitais, e a inter circulação para outras partes do corpo, onde é aproveitado
-relação entre elas resulta na vida da célula. para o desenvolvimento.

O retículo endoplasmático: Peroxissomos:


O retículo endoplasmático é um complexo sistema de Acredita-se que eles têm como função proteger a cé-
bolsas e canais membranosos. lula contra altas concentrações de oxigênio, que poderiam
Algumas regiões do retículo são lisas por isso o nome destruir moléculas importantes da célula. Os peroxissomos
de retículo endoplasmático liso. Outras porções do retícu- do fígado e dos rins atuam na desintoxicação da célula, ao
lo apresentam-se salpicadas por grânulos, os ribossomos, oxidar, por exemplo, o álcool. Outro papel que os peroxis-
que dão o aspecto granuloso, por isso o nome retículo en- somos exercem é converter gorduras em glicose, para ser
doplasmático rugoso. usada na produção de energia.

2
BIOLOGIA

Mitocôndrias e a respiração celular: Cromatina:


A função da mitocôndria é produzir energia, para to- Tem como instrução controlar quase todas as funções
dos os processos vitais da célula. Essa produção de energia celulares. Essas instruções são “receitas” para a síntese de
ocorre através da respiração celular. proteínas. Essas “receitas”, chamadas de genes, são seg-
mentos da molécula de DNA, e a célula necessita dos ge-
Como simplificação, podemos representar a respi- nes para sintetizar proteínas.
ração celular dessa forma:
Glicose + 6 O2 ===> 6 CO2 + 6 H2O + energia Cromossomos:
São constituídos de uma única molécula de DNA asso-
A respiração celular é o processo pelo qual a célula ob- ciados a proteína.
tém energia do alimento. Elas fazem isso combinado mo- A cromatina é o conjunto dos cromossomos de uma
léculas de alimento com o gás oxigênio do ar (respiração célula, quando não está se dividindo (período de interfase).
aeróbica), isso é uma oxidação controlada, através da qual
Nucléolo:
a energia contida nas moléculas é liberada. Essas moléculas
Nos núcleos das células que não está em reprodução
são degradadas até se transformarem em gás carbônico e
(núcleos interfásicos), encontramos um ou mais nucléolos.
água.
Os nucléolos são produzidos por regiões específicas de
Na falta de oxigênio, a célula pode obter energia rea-
certos cromossomos, as quais são denominadas nucléolo.
lizando apenas a parte inicial do processo de quebra de Essas regiões cromossômicas produzem um tipo de RNA
glicose. (RNA ribossômico), que se combina com proteínas forman-
Centríolos, cílios e flagelos: do grânulos.
Uma das funções dos centríolos é originar os cílios e os Quando esse grânulos amadurecem e deixam o núcleo,
flagelos, projeções em forma de pêlos móveis que algumas passam pela carioteca e se transformam em ribossomos ci-
células apresentam. Tanto os cílios quanto os flagelos for- toplasmáticos (a função dos ribossomos já foi citada).
mam-se a partir do crescimento dos microtúbulos de um Conclusão:
centríolo. Todas as células possuem organelas no seu interior. Es-
Na traqueia de mamíferos existe um epitélio lubrifi- sas organelas possuem funções, cada uma realiza um tipo,
cado por muco. O batimento constate dos cílios permite e a célula sobrevive porque elas trabalham em conjunto. A
a formação de uma corrente deste muco que tem papel célula vegetal possui vacúolo e parede celular, enquanto a
protetor, já que muitas impurezas dor ar inspiradas ficam célula animal não os possui.
aderida a ele.
Apesar de terem origem comum e idênticas finalida- Fotossíntese
des (movimentos celulares) eles diferem entre si em dois É o processo através do qual as plantas, seres auto-
detalhes: o tamanho e o número de unidades por célula. tróficos (seres que produzem seu próprio alimento) e al-
Os cílios são curtos e numerosos, enquanto os flagelos são guns outros organismos transformam energia luminosa
longos e não ultrapassam de 6 a 8 por célula. em energia química processando o dióxido de carbono
(CO2), água (H2O) e minerais em compostos orgânicos e
O núcleo celular: produzindo oxigênio gasoso (O2). A equação simplificada
O núcleo celular animal apresenta a carioteca, que con- do processo é a formação de glicose: 6H2O + 6CO2 → 6O2
têm em seu interior a cromatina, que contém ainda um, +C6H12O6(...).
dois, ou mais nucléolos em um fluído, semelhante ao hialo- Este é um processo do anabolismo, em que a planta
plasma. O núcleo é a região da célula que controla o trans- acumula energia a partir da luz para uso no seu metabolis-
mo, formando adenosina tri-fosfato, o ATP, a moeda ener-
porte de informações genéticas. No núcleo ocorrem tanto
gética dos organismos vivos.
a duplicação do DNA, imprescindível para a divisão celular,
A fotossíntese inicia a maior parte das cadeias alimen-
como a síntese do RNA, ligada a produção de proteínas
tares na Terra. Sem ela, os animais e muitos outros seres
nos ribossomos.
heterotróficos seriam incapazes de sobreviver porque a
base da sua alimentação estará sempre nas substâncias or-
Carioteca: gânicas proporcionadas pelas plantas verdes.
Ela permite a troca de material com o citoplasma. A
carioteca, ou membrana nuclear é um envoltório duplo. As Respiração aeróbia
duas membranas do conjunto são lipoprotéicas. A mem- A aerobiose refere-se a um processo bioquímico que
brana mais externa, voltada ao hialoplasma, comunica-se representa a forma mais eficaz de obter energia a partir
com os canais do retículo e frequentemente apresenta ri- de nutrientes como a glicose, na presença obrigatória de
bossomos aderidos. oxigênio. Os seres vivos que procedem à aerobiose são os
A carioteca está presente em toda divisão celular, ela seres aerobióticos. A maioria dos seres vivos encontram-se
some no início da divisão e só aparece no final do processo. nestas condições. Os seres vivos que sobrevivem sem oxi-
Ela separa o núcleo do citoplasma. génio são anaeróbicos.

3
BIOLOGIA

Fase Anaeróbica ou Glicólise Respiração anaeróbia


Esta fase acontece ainda no citoplasma (hialoplasma) Na linguagem vulgar, respiração é o ato de inalar e
da célula, fora da mitocôndria. Por ação de enzimas, a mo- exalar ar através da boca ou das cavidades nasais para se
lécula de glicose (composta de 6 carbonos, 12 hidrogênios processarem as trocas gasosas ao nível dos pulmões; este
e 6 oxigênios) é quebrada em duas moléculas menores de processo encontra-se descrito em ventilação pulmonar.
Ácido Pirúvico (cada uma com 3 carbonos). A partir de- Do ponto de vista da fisiologia, respiração é o processo
las, por ação também de enzimas ocorre a liberação de pelo qual um organismo vivo troca oxigénio e dióxido de
Gás Carbônico (CO2), transformando-as em Ácido Acético carbono com o seu meio ambiente.
(cada uma com 2carbonos). Do ponto de vista da bioquímica, respiração celular é o
Nesta fase ocorre a formação de 2 moléculas de ATP processo de conversão das ligações químicas de moléculas
(células responsáveis pelo armazenamento de energia). ricas em energia que possa ser usada nos processos vitais.

Ciclo de Krebs Respiração celular


Esta fase acontece dentro da mitocôndria, em suas O processo básico da respiração é a oxidação da gli-
cristas. A molécula de Ácido Pirúvico entra para dentro da cose, que se pode expressar-se pela seguinte equação quí-
mitocôndria, e então começa uma espécie de reconstitui-
mica:
ção da molécula, para torná-la novamente com 6 carbo-
C6H12O6 + 6O2 → 6CO2 + 6H2O + energia
nos. Essa molécula de Ácido Pirúvico é carregada por uma
Este artigo centra-se nos fenómenos da respiração,
molécula chamada “Acetila Coa “ (que possui 2 carbonos).
que se processa segundo duas sequências básicas:
A molécula de Acetil CoA faz com que o Ácido Pirúvico se
una com uma molécula de Ácido Oxalacético (composta de 1. Glicólise e
4 carbonos). Ao unirem-se, forma-se uma molécula com- 2. Oxidação do piruvato através de um de dois pro-
posta de 6 carbonos, 12 hidrogênios e 6 oxigênios (mesma cessos:
da glicose, porém com os hidrogênios em posição diferen- a) Respiração aeróbica
te), agora chamada de Ácido Cítrico. A molécula de Acetil b) Respiração anaeróbica
CoA sai da reação para voltar a carregar mais moléculas de Oxidação do piruvato
Ácido Acético para completar o ciclo. De acordo com o tipo de metabolismo, existem duas
Nesta fase não há formação de ATP sequências possíveis para a oxidação do piruvato prove-
niente da glicólise
Cadeia Respiratória
Esta fase acontece na Matriz da Mitocôndria. É a única Respiração aeróbica
fase em que há utilização de oxigênio para a quebra de A respiração aeróbica requer oxigênio. Cada piruvato
moléculas, caracterizando a respiração Aeróbia. A molécula que entra na mitocôndria e é oxidado a um composto com
de Ácido Cítrico é agora quebrada vagarosamente por mo- 2 carbonos (acetato) que depois é combinado com a Coen-
léculas de oxigênio, fazendo com que, ao invés de separar zima-A, com a produção de NADH e libertação de CO2.
em moléculas bem menores, como o ocorrido na primeira Em seguida, inicia-se o ciclo de Krebs. Neste processo, o
fase, as moléculas são quebradas perdendo 1 oxigênio por grupo acetil é combinado com compostos com 4 carbonos
vez. Assim, o ácido cítrico de 6 carbonos é quebrado por formando o citrato (6C). Por cada ciclo que ocorre liber-
uma molécula de oxigênio em uma molécula de 5 carbo- ta-se 2CO2, NADH eFADH2. No ciclo de Krebs obtém-se 2
nos, liberando gás carbônico, água e energia para a forma- Atos. Numa última fase - cadeia transportadora de elétrons
ção de ATP. Por sua vez, a molécula composta de 5 carbo- (ou fosforilação oxidativa) os elétrons removidos da glicose
nos será quebrada em uma de 4, e assim sucessivamente. são transportados ao longo de uma cadeia transportadora,
É a partir desta quebra, que se forma o Ácido Oxa- criando um gradiente protónico que permite a fosforilação
lacético, utilizado para juntar-se com o Ácido Pirúvico do ADP. O aceptor final de elétrons é o O2, que, depois de
na segunda fase.
se combinar com os elétrons e o hidrogênio, forma água.
Nesta fase, forma-se 36 ATP. Junto com as moléculas
Nesta fase da respiração aeróbica a célula ganha 34 molé-
formadas na primeira fase, gera-se um rendimento de 38
culas de ATP. Isso faz um total ganho de 38 ATP durante a
ATP, porém como para realizar este processo todo, gasta-se
respiração celular em que intervém o oxigênio.
6 ATP de energia, gera um rendimento líquido de 32 ATP.

Reações aerobióticas Respiração anaeróbica


As reações aerobióticas são um tipo específico de um A respiração anaeróbica envolve um receptor de elé-
processo mais global, designado por respiração celular. trons diferente do oxigênio e existem vários tipos de bac-
Através destas reações, a glicose é degradada em dióxido térias capazes de usar uma grande variedade de compos-
de carbono e água, libertando-se energia. É, assim, como tos como receptores de elétrons na respiração: compostos
que o processo inverso da fotossíntese, onde as plantas nitrogenados, tais como nitratos e nitritos, compostos de
produzem glicose usando água, dióxido de carbono e enxofre, tais como sulfatos, sulfitos, dióxido de enxofre e
energia solar. mesmo enxofre elementar, dióxido de carbono, compostos
de ferro, de manganês, de cobalto e até de urânio.

4
BIOLOGIA

No entanto, para todos estes, a respiração anaeróbica códon, responsável pela codificação dos aminoácidos.
só ocorre em ambientes onde o oxigénio é escasso, como Dessa forma, a molécula de RNAm replica a mensagem do
nos sedimentos marinhos e lacustres ou próximo de nas- DNA, migra do núcleo para os ribossomos, atravessando
centes hidrotermais submarinas. os poros da membrana plasmática e forma um molde para
Uma das sequências alternativas à respiração aeróbica a síntese proteica.
é a fermentação, um processo em que o piruvato é ape-
nas parcialmente oxidado, não se segue o ciclo de Krebs 2º. Ativação de aminoácidos
e não há produção de ATP numa cadeia de transporte de Nessa etapa, atua o RNA transportador (RNAt), que
elétrons. No entanto, a fermentação é útil para a célula por- leva os aminoácidos dispersos no citoplasma, provenientes
que regenera o di-nucleotídeo de nicotinamida e adenina da digestão, até os ribossomos. Numa das regiões do RNAt
(NAD), que é consumido durante a glicólise. está o anticódon, uma sequência de 3 bases complementa-
Os diferentes tipos da fermentação produzem vários res ao códon de RNAm. A ativação dos aminoácidos é dada
compostos diferentes, como o etanol (o álcool das bebidas por enzimas específicas, que se unem ao RNA transpor-
alcoólicas, produzido por vários tipos de leveduras e bacté- tador, que forma o complexo aa-RNAt, dando origem ao
rias) ou o ácido láctico do iogurte. anticódon, um trio de códons complementar aos códons
Outras moléculas, como N O 2, S O2 são os aceptores do RNAm. Para que esse processo ocorra é preciso haver
finais na cadeia de transporte de elétrons. energia, que é fornecida pelo ATP.

Respiração cutânea 3º. Tradução


Os animais de respiração cutânea precisam ter o te- Na fase de tradução, a mensagem contida no RNAm é
gumento (epiderme ou pele) constantemente humede- decodificada e o ribossomo a utiliza para sintetizar a pro-
cido, uma vez que o oxigénio e o dióxido de carbono só teína de acordo com a informação dada.
atravessam membranas quando dissolvidos. Portanto, es- Os ribossomos são formados por duas subunidades.
ses organismos só podem viver em ambientes aquáticos Na subunidade menor, ele faz ligação ao RNAm, na subu-
e em ambientes terrestres muito húmidos. Entre as células nidade maior há dois sítios (1 e 2), em que cada um desses
que formam a sua epiderme, há algumas especializadas na sítios podem se unir a duas moléculas de RNAt. Uma en-
produção de um muco. Esse muco espalha-se sobre o te- zima presente na subunidade maior realiza a ligação pep-
gumento, mantendo-o húmido e possibilitando as trocas tídica entre os aminoácidos, o RNA transportador volta ao
gasosas. citoplasma para se unir a outro aminoácido. E assim, o ri-
bossomo vai percorrendo o RNAm e provocando a ligação
Síntese proteica. entre os aminoácidos.
O fim do processo se dá quando o ribossomo passa
Síntese de Proteínas por um códon de terminação e nenhum RNAt entra no ri-
bossomo, por não terem mais sequencias complementares
As proteínas são moléculas orgânicas formadas pela aos códons de terminação. Então, o ribossomo se solta do
união de uma série determinada de aminoácidos, unidos RNAm, a proteína específica é formada e liberada do ribos-
entre si por ligações peptídicas. Trata-se das mais impor- somo.
tantes substâncias do organismo, já que desempenham Para formar uma proteína de 60 aminoácidos, por
inúmeras funções: dão estrutura aos tecidos, regulam a exemplo, é necessário 1 RNAm, 60 códons (cada um cor-
atividade de órgãos (hormônios), participam do processo responde a um aminoácido), 180 bases nitrogenadas (cada
de defesa do organismo (anticorpos), aceleram todas as sequência de 3 bases dá origem a um aminoácido), 1 ribos-
reações químicas ocorridas nas células (enzimas), atuam no somo e 60 RNAt (cada RNAt transporta um aminoácido).
transporte de gases (hemoglobina) e são responsáveis pela Pode-se notar, então, que se trata de um processo alta-
contração muscular. mente complexo, já que há a intervenção de vários agentes.
A síntese de proteínas é um processo rápido, que ocor-
re em todas as células do organismo, mais precisamente, Divisão celular.
nos ribossomos, organelas encontradas no citoplasma e no Do mesmo modo que uma fábrica pode ser multipli-
retículo endoplasmático rugoso. Esse processo pode ser di- cada pela construção de várias filiais, também as células
vidido em três etapas: se dividem e produzem cópias de si mesmas. Há dois tipos
de divisão celular: mitose e meiose. Na mitose, a divisão
1º. Transcrição de uma “célula-mãe” duas “células-filhas” geneticamen-
A mensagem contida no cístron (porção do DNA que te idênticas e com o mesmo número cromossômico que
contém a informação genética necessária à síntese protei- existia na célula-mãe. Uma célula n produz duas células n,
ca) é transcrita pelo RNA mensageiro (RNAm). Nesse pro- uma célula 2n produz duas células 2n etc. Trata-se de uma
cesso, as bases pareiam-se: a adenina do DNA se liga à divisão equacional. Já na meiose, a divisão de uma “célula-
uracila do RNA, a timina do DNA com a adenina do RNA, a mãe” 2n gera “células-filhas” n, geneticamente diferentes.
citosina do DNA com a guanina do RNA, e assim sucessiva- Neste caso, como uma célula 2n produz quatro células n, a
mente, havendo a intervenção da enzima RNA-polimerase. divisão é chamada reducional.
A sequência de 3 bases nitrogenadas de RNAm, forma o

5
BIOLOGIA

A interfase – A fase que precede a mitose Em cada ponto de checagem a célula avalia se é possível
É impossível imaginar a multiplicação de uma fábrica, avançar ou se é necessário fazer algum ajuste, antes de
de modo que todas as filiais fossem extremamente seme- atingir a fase seguinte. Muitas vezes, a escolha é simples-
lhantes a matriz, com cópias fieis de todos os componen- mente cancelar o processo ou até mesmo conduzir a célula
tes, inclusive dos diretores? Essa, porém, no caso da maio- à morte.
ria das células, é um acontecimento rotineiro. A mitose cor-
responde a criação de uma cópia da fábrica e sua meta é a As fases da mitose
duplicação de todos os componentes. A principal atividade A mitose é um processo contínuo de divisão celular,
da célula, antes de se dividir, refere-se a duplicação de seus mas, por motivos didáticos, para melhor compreendê-la,
arquivos de comando, ou seja, à reprodução de uma cópia vamos dividi-la em fases: prófase, metáfase, anáfase e te-
fiel dos dirigentes que se encontram no núcleo. lófase. Alguns autores costumam citar uma quinta fase – a
A interfase é o período que precede qualquer divisão prometáfase – intermediária entre a prófase e a metáfase.
celular, sendo de intensa atividade metabólica. Nesse pe- O final da mitose, com a separação do citoplasma, é cha-
ríodo, há a preparação para a divisão celular, que envolve a mado de citocinese.
duplicação da cromatina, material responsável pelo contro-
le da atividade da célula. Todas as informações existentes Prófase – Fase de início (pro = antes)
ao longo da molécula de DNA são passadas para a cópia, - Os cromossomos começam a ficar visíveis devido à
como se correspondessem a uma cópia fotográfica da mo- espiralização.
lécula original. Em pouco tempo, cada célula formada da - O nucléolo começa a desaparecer.
divisão receberá uma cópia exata de cada cromossomo da - Organiza-se em torno do núcleo um conjunto de
célula se dividiu. As duas cópias de cada cromossomo per- fibras (nada mais são do que microtúbulos) originadas a
manecem juntas por certo tempo, unidas pelo centrômero partir dos centrossomos, constituindo o chamado fuso de
comum, constituindo duas cromátides de um mesmo cro- divisão (ou fuso mitótico).
mossomo. Na interfase, os centríolos também se duplicam.
Embora os centríolos participem da divisão, não é de-
A interfase e a Duplicação do DNA les que se originam as fibras do fuso. Na mitose em célula
Houve época em que se falava que a interfase era o animal, as fibras que se situam ao redor de cada par de
período de “repouso” da célula. Hoje, sabemos, que na rea- centríolos opostas ao fuso constituem o áster (do grego,
lidade a interfase é um período de intensa atividade me- aster = estrela).
tabólica no ciclo celular: é nela que se dá a duplicação do - O núcleo absorve água, aumenta de volume e a cario-
DNA, crescimento e síntese. Costuma-se dividir a interfase teca se desorganiza.
em três períodos distintos: G1, S e G2. O intervalo de tempo - No final da prófase, curtas fibras do fuso, provenien-
em que ocorre a duplicação do DNA foi denominado de S tes do centrossomos, unem-se aos centrômeros. Cada uma
(síntese) e o período que antecede é conhecido como G1 das cromátides-irmãs fica ligada a um dos polos da célula.
(G1 provém do inglês gap, que significa “intervalo”). O pe-
ríodo que sucede o S é conhecido como G2. Note que os centrossomos ainda estão alinhados na
região equatorial da célula, o que faz alguns autores desig-
narem essa fase de prometáfase.

O ciclo celular todo, incluindo a interfase (G1, S, G2)


e a mitose (M) – prófase, metáfase, anáfase e telófase –
pode ser representado em um gráfico no qual se coloca a A formação de um novo par de centríolos é iniciada
quantidade da DNA na ordenada (y) e o tempo na abscissa na fase G1, continua na fase S e na fase G2 a duplicação é
(x). Vamos supor que a célula que vai se dividir tenha, no completada. No entanto, os dois pares de centríolos per-
período G1, uma quantidade 2C de DNA (C é uma unidade manecem reunidos no mesmo centrossomo. Ao iniciar a
arbitrária). Nas células, existe uma espécie de “manual de prófase, o centrossomo parte-se em dois e cada par de
verificação de erros” que é utilizado em algumas etapas do centríolos começa a dirigir-se para polos opostos da célula
ciclo celular e que é relacionado aos pontos de checagem. que irá entrar em divisão.

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BIOLOGIA

Metáfase – Fase do meio (meta = no meio)


- Os cromossomos atingem o máximo em espiraliza-
ção, encurtam e se localizam na região equatorial da célula.
- No finalzinho da metáfase e início da anáfase ocorre
a duplicação dos centrômeros.

Citocinese – Separando as células

A partição em duas copias é chamada de citocinese e


ocorre, na célula animal, de fora para dentro, isto é, como
Anáfase – Fase do deslocamento (ana indica movi- se a célula fosse estrangulada e partida em duas (citoci-
mento ao contrário) nese centrípeta). Há uma distribuição de organelas pelas
- As fibras do fuso começam a encurtar. Em conse- duas células-irmãs. Perceba que a citocinese é, na verdade
quência, cada lote de cromossomos-irmãos é puxado para a divisão do citoplasma. Essa divisão pode ter início já na
os polos opostos da célula. anáfase, dependendo da célula.

Como cada cromátide passa a ser um novo cromosso-


mo, pode-se considerar que a célula fica temporariamente
tetraplóide.

A Mitose na Célula Vegetal

Na mitose de células de vegetais superiores, basica-


mente duas diferenças podem ser destacadas, em compa-
ração com que ocorre na mitose da célula animal:
- A mitose ocorre sem centríolos. A partir de certos
locais, correspondentes ao centrossomos, irradiam-se as
fibras do fuso. Uma vez que não há centríolos, então não
existe áster. Por esse motivo, diz-se que a mitose em células
vegetais é anastral (do grego, an = negativo);
- A citocinese é centrífuga, ocorre do centro para a pe-
riferia da célula. No início da telófase forma-se o fragmo-
plasto, um conjunto de microtúbulos proteicos semelhan-
Telófase – Fase do Fim (telos = fim) tes aos do fuso de divisão. Os microtúbulos do fragmoplas-
- Os cromossomos iniciam o processo de desespirali- to funcionam como andaimes que orientam a deposição de
zação. uma placa celular mediana semelhante a um disco, origina-
- Os nucléolos reaparecem nos novos núcleos celula- da de vesículas fundidas do complexo de Golgi. Progressi-
res. vamente, a placa celular cresce em direção à periferia e, ao
- A carioteca se reorganiza em cada núcleo-filho. mesmo tempo, no interior da vesícula, ocorre a deposição
- Cada dupla de centríolos já se encontra no local defi- de algumas substâncias, entre elas, pectina e hemicelulose,
nitivo nas futuras células-filhas. ambos polissacarídeos. De cada lado da placa celular, as
membranas fundidas contribuem para a formação, nessa
região, das membranas plasmáticas das duas novas células
e que acabam se conectando com a membrana plasmática
da célula-mãe. Em continuação à formação dessa lamela

7
BIOLOGIA

média, cada célula-filha, deposita uma parede celulósica As várias fases da meiose
primária, do lado de fora da membrana plasmática. A pa- A redução do número cromossômico da célula é im-
rede primária acaba se estendendo por todo o perímetro portante fator para a conservação do lote cromossômico
da célula. das espécies, pois como a meiose formam-se gametas com
Simultaneamente a parede celulósica primária da cé- a metade do lote cromossômico. Quando da fecundação,
lula-mãe é progressivamente desfeita, o que permite o ou seja, do encontro de dois gametas, o número de cro-
crescimento de cada célula-filha, cada qual dotada, agora, mossomos da espécie se restabelece. Podemos estudar a
de uma nova parede primária. Então, se pudéssemos olhar meiose em duas etapas, separadas por um curto intervalo,
essa região mediana de uma das células, do citoplasma chamado intercinese. Em cada etapa, encontramos as fases
para fora, veríamos, inicialmente, a membrana plasmática, estudadas na mitose, ou seja, prófase, metáfase, anáfase e
em seguida a parede celulósica primária e, depois, a lame- telófase.
la média. Eventualmente, uma parede secundária poderá Vamos supor uma célula 2n = 2 e estudar os eventos
ser depositada entre a membrana plasmática e a parede principais da meiose nessa célula.
primária. Meiose I (Primeira Divisão Meiótica)

Prófase I – É a etapa mais marcante da meiose. Nela


ocorre o pareamento dos cromossomos homólogos e
pode acontecer um fenômeno conhecido como crossing
-over (também chamado de permuta). Como a prófase I
é longa, há uma sequência de eventos que, para efeito de
estudo, pode ser dividida nas seguintes etapas:
- Inicia-se a espiralização cromossômica. É a fase de
leptóteno (leptós = fino), em que os filamentos cromossô-
micos são finos, pouco visíveis e já constituídos cada um
A mitose serve para... por duas cromátides.
A mitose é um tipo de divisão muito frequente entre
os organismos da Terra atual. Nos unicelulares, serve à
reprodução assexuada e à multiplicação dos organismos.
Nos pluricelulares, ela repara tecidos lesados, repões cé-
lulas que normalmente morrem e também está envolvida
no crescimento. No homem, a pele, a medula óssea e o re-
vestimento intestinal são locais onde a mitose é frequente.
Nem todas as células do homem, porém, são capazes de
realizar mitose. Neurônios e célula musculares são dois ti-
pos celulares altamente especializados em que não ocorre
esse tipo de divisão (ocorre apenas na fase embrionária).
Nos vegetais, a mitose ocorre em locais onde existem teci-
dos responsáveis pelo crescimento, por exemplo, na ponta
de raízes, na ponta de caules e nas gemas laterais. Serve
também para produzir gametas, ao contrário do que ocorre Começa a atração e o pareamento dos cromossomos
nos animais, em que a meiose é o processo de divisão mais homólogos; é um pareamento ponto por ponto conhecido
diretamente associado à produção das células gaméticas. como sinapse (o prefixo sin provém do grego e significa
união). Essa é a fase de zigóteno (zygós = par).
Meiose
Diferentemente da mitose, em que uma célula diplóide,
por exemplo, se divide formando duas células também di-
plóides (divisão equacional), a meiose é um tipo de divisão
celular em que uma célula diplóide produz quatro células
haplóides, sendo por este motivo uma divisão reducional.
Um fato que reforça o caráter reducional da meiose é que,
embora compreenda duas etapas sucessivas de divisão ce-
lular, os cromossomos só se duplicam uma vez, durante a
interfase – período que antecede tanto a mitose como a
meiose. No início da interfase, os filamentos de cromati-
na não estão duplicados. Posteriormente, ainda nesta fase,
ocorre a duplicação, ficando cada cromossomo com duas
cromátides.

8
BIOLOGIA

- A espiralização progrediu: agora, são bem visíveis as Enquanto acontecem esses eventos, os centríolos, que
duas cromátides de cada homólogo pareado; como exis- vieram duplicado da interfase, migram para os pólos opos-
tem, então, quatro cromátides, o conjunto forma uma té- tos e organizam o fuso de divisão; os nucléolos desapa-
trade ou par bivalente. Essa é a fase de paquíteno (pakhús recem; a carioteca se desfaz após o término da prófase I,
= espesso). prenunciando a ocorrência da metáfase I.
Metáfase I – os cromossomos homólogos pareados se
dispõem na região mediana da célula; cada cromossomo
está preso a fibras de um só polo.

Anáfase I – o encurtamento das fibras do fuso sepa-


ra os cromossomos homólogos, que são conduzidos para
polos opostos da célula, não há separação das cromátides
-irmãs. Quando os cromossomos atingem os polos, ocorre
sua desespiralização, embora não obrigatória, mesmo por-
que a segunda etapa da meiose vem a seguir. Às vezes,
nem mesmo a carioteca se reconstitui.
Telófase I – no final desta fase, ocorre a citocinese, se-
parando as duas células-filhas haplóides. Segue-se um cur-
- Ocorrem quebras casuais nas cromátides e uma tro- to intervalo a intercinese, que procede a prófase II.
ca de pedaços entre as cromátides homólogas, fenômeno
conhecido como crossing-over (ou permuta). Em seguida,
os homólogos se afastam e evidenciam-se entre eles algu-
mas regiões que estão ainda em contato. Essas regiões são
conhecidas como quiasmas (qui corresponde à letra “x” em
grego). Os quiasmas representam as regiões em que houve
as trocas de pedaços. Essa fase da prófase I é o diplóteno
(diplós = duplo).

Meiose II (segunda divisão meiótica)

- Os pares de cromátides afastam-se um pouco mais Prófase II – cada uma das duas células-filhas tem ape-
e os quiasmas parecem “escorregar” para as extremidades; nas um lote de cromossomos duplicados. Nesta fase os
a espiralização dos cromossomos aumenta. É a última fase centríolos duplicam novamente e as células em que houve
da prófase I, conhecida por diacinese (dia = através; kinesis formação da carioteca, esta começa a se desintegrar.
= movimento).
Metáfase II - como na mitose, os cromossomos pren-
dem-se pelo centrômero às fibras do fuso, que partem de
ambos os polos.

Anáfase II – Ocorre duplicação dos centrômeros, só


agora as cromátides-irmãs separam-se (lembrando a mi-
tose).

Telófase II e citocinese – com o término da telófase II


reorganizam-se os núcleos. A citocinese separa as quatro
células-filhas haplóides, isto é, sem cromossomos homó-
logos e com a metade do número de cromossomos em
relação à célula que iniciou a meiose.

9
BIOLOGIA

se pensa no crossing, é comum analisar o que aconteceria,


por exemplo, quanto à combinação entre os genes alelos A
e a e B e b no par de homólogos ilustrados na figura. Nessa
combinação o gene A e B encontram-se em um mesmo
cromossomo, enquanto a e b estão no cromossomo ho-
mólogo. Se a distância de A e B for considerável, é grande
a chance de ocorrer uma permuta. E, se tal acontecer, uma
nova combinação gênica poderá surgir. As combinações
Ab e aB são novas. São recombinações gênicas que con-
tribuem para a geração de maior variabilidade nas células
resultantes da meiose. Se pensarmos na existência de três
genes ligados em um mesmo cromossomo (A, b e C, por
exemplo), as possibilidades de ocorrência de crossings de-
penderão da distância em que os genes se encontram –
caso estejam distantes, a variabilidade produzida será bem
maior.
Outro processo que conduz ao surgimento de varia-
bilidade na meiose é a segregação independente dos cro-
mossomos. Imaginando-se que uma célula com dois pares
Variabilidade: Entendendo o crossing-over de cromossomos homólogos (A e a, B e b), se divida por
meiose, as quatro células resultantes ao final da divisão po-
A principal consequência da meiose, sem dúvida, é derão ter a seguinte constituição cromossômica: (a e b),
o surgimento da diversidade entre os indivíduos que são (a e B), (A e b) e (A e B). A variabilidade genética existente
produzidos na reprodução sexuada da espécie. A relação entre os organismos das diferentes espécies é muito im-
existente entre meiose e variabilidade é baseada principal- portante para a ocorrência da evolução biológica. Sobre
mente na ocorrência de crossing-over. essa variabilidade é que atua a seleção natural, favorecen-
do a sobrevivência de indivíduos dotados de características
genéticas adaptadas ao meio. Quanto maior a variabilidade
gerada na meiose, por meio de recombinação gênica per-
mitida pelo crossing-over, maiores as chances para a ação
seletiva do meio.

Na meiose a variação da quantidade de DNA pode ser


representada como no gráfico ao lado, partindo-se, por
exemplo, de uma célula que tenha uma quantidade 2C de
DNA em G1.

O crossing é um fenômeno que envolve cromátides ho-


mólogas. Consiste na quebra dessas cromátides em certos
pontos, seguida de uma troca de pedaços correspondentes
entre elas. As trocas provocam o surgimento de novas se-
quências de genes ao longo dos cromossomos. Assim, se
em um cromossomo existem vários genes combinados se-
gundo uma certa sequência, após a ocorrência do crossing
a combinação pode não ser mais a mesma. Então, quando

10
BIOLOGIA

Termos relativos à direção e à localização:


FISIOLOGIA HUMANA: SISTEMA - Superior – em direção à cabeça.
CIRCULATÓRIO, SISTEMA EXCRETOR, SISTEMA - Inferior – em direção aos pés.
- Anterior – em direção à frente.
ENDÓCRINO, SISTEMA
- Posterior – em direção ao dorso.
NERVOSO, SISTEMA DIGESTÓRIO, - Medial – em direção à linha mediana ou centro do
SISTEMA RESPIRATÓRIO E SISTEMA corpo.
REPRODUTOR E MÉTODOS - Lateral – para a esquerda ou direita da linha mediana.
CONTRACEPTIVOS, DSTS E AIDS. - Proximal – próximo ao ponto usado como referência.
- Distal – longe do ponto usado como referência.
- Superficial – próximo à superfície.
- Profundo – distante da superfície.
Fisiologia - Interno – do lado de dentro.
- Externo – do lado de fora.
Para o entendimento do funcionamento do nosso or-
ganismo, e necessária a visão de noções básicas de como
se dá a inter-relação entre os sistemas. É disto que trata
a Fisiologia. Neste livro temos a intenção de mostrar uma
visão geral destas relações entre os diversos sistemas do
organismo, afim de podermos entender melhor suas fun-
ções e importância para o dia-a-dia, além de melhorar a
percepção dos capítulos que se seguem.
A homeostase designa a tendência do organismo
vivo em manter constante o meio interno, em equilíbrio.
Quando o organismo não consegue manter a homeostase
ocorre a doença. Quando o corpo é ameaçado ou sofre um
trauma, sua resposta pode envolver mudanças estruturais
ou funcionais. Essas mudanças podem ser adaptativas ou
mal adaptativas. Os mecanismos de defesa que o corpo
suporta vai determinar a diferença entre saúde e doença.

Fisiologia: (do grego physis = natureza, função ou fun-


cionamento; e logos = palavra ou estudo) é o ramo da bio-
logia que estuda as múltiplas funções mecânicas, físicas e
bioquímicas nos seres vivos. De uma forma mais sintética, a
fisiologia estuda o funcionamento do organismo.
Anatomia: é a ciência que estuda e classifica e des-
creve as estruturas e órgãos do corpo humano. Etimologi- A sustentação do corpo humano tem como base os
camente, deriva do grego Ana, “repetir”, e tomos, “cortar”; Sistemas: Muscular e Esquelético
ou seja, da repetição de cortes na dissecação de cadáveres. Sistema Esquelético

O corpo humano é formado por um arcabouço de os-


Quando você procura assistência médica, precisa usar
sos unidos por ligamentos que conectam um osso a outro,
os termos anatômicos corretos para descrever a posição, a
camadas de músculos e tendões que conectam os múscu-
direção e a localização da vítima. Primeiramente, veremos
los aos ossos ou outras estruturas. O sistema esquelético
os termos relativos à posição, direção e localização.
é responsável pela movimentação, apoio e proteção dos
Termos relativos à posição:
órgãos vitais.
Os ossos são formados por células vivas circundadas
Posição anatômica – o paciente está em pé, ereto, os por depósitos densos de cálcio; todas as células ósseas são
braços para baixo ao longo do corpo, as palmas voltadas ricamente supridas por vasos sanguíneos e nervos. O es-
para frente. “Direita” e “esquerda” referem-se à direita e es- queleto do adulto tem 206 ossos que são classificados de
querda da vítima. acordo com seu tamanho e formato.
Posição de decúbito dorsal – o acidentado está deita- As extremidades ósseas se encaixam umas nas outras
do de costas (com a barriga para cima). formando uma articulação. Todas as articulações são en-
Posição de decúbito ventral – o acidentado está dei- volvidas por uma cápsula flexível rígida com uma mem-
tado com a barriga para baixo (de bruços). brana interna que produz um líquido espesso para lubri-
Posição de decúbito lateral – o paciente está deitado ficação. As articulações podem ser imóveis (como as do
de lado (direito ou esquerdo). crânio), ligeiramente móveis (como as da coluna vertebral)
  ou de movimento livre (como joelho ou cotovelo).

11
BIOLOGIA

A emergência mais comum envolvendo o sistema esquelético é a fratura, uma rachadura ou quebra do osso. Quando
a fratura danifica vasos sanguíneos pode causar hemorragia interna potencialmente grave.

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BIOLOGIA

Sistema Muscular

Os músculos dão ao corpo capacidade de movimento. Todos os músculos são compostos de células longas e filiformes,
denominadas fibras, que formam deixes em grupos sobrepostos e intimamente reunidos.

Existem três tipos básicos de músculos no corpo humano:

- Músculos esqueléticos ou voluntários – estão sobre o controle consciente da pessoa e tornam possíveis ações
como andar, mastigar, engolir, sorrir, falar e mover os olhos. Estes músculos ajudam a dar a forma ao corpo. A maioria dos
músculos esqueléticos está presa aos ossos por tendões, que são cordões rígidos de tecido fibroso.
- Músculos lisos ou involuntários – são aqueles que temos pouco ou nenhum controle consciente, como no intestino
e vasos sanguíneos.
- Músculo cardíaco – forma a parede do coração. Este músculo é capaz de auto-estimular suas contrações sem receber
sinais do sistema nervoso central.

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BIOLOGIA

corpo e transportar os resíduos das células corporais para


os rins. O sistema linfático fornece drenagem para o líquido
dos tecidos, denominado linfa.
O coração contrai e relaxa alternadamente para bom-
bear os pulmões (onde ocorre a oxigenação) e depois para
a vasta rede de vasos sanguíneos. Ele fica localizado no
centro esquerdo do tórax, imediatamente atrás do esterno,
e tem aproximadamente o tamanho da mão fechada. As
artérias e arteríolas carregam o sangue oxigenado do co-
ração para as células do corpo. A troca de líquido, oxigênio
e gás carbônico entre o sangue e as células dos tecidos
ocorre através dos capilares. As vênulas e veias carregam o
sangue pobre em oxigênio de volta para o coração, onde
o ciclo recomeça.
Existem três tipos de músculos. Os músculos esquelé- Cada vez que o coração contrai, a corrente sanguínea
ticos, também denominados músculos voluntários, são en- pode ser sentida, na forma de pulsação, em qualquer lugar
contrado em todo o corpo. O músculo cardíaco se limita ao onde uma artéria passa próxima a superfície da pele. As
coração. Os músculos lisos, ocasionalmente denominados principais localizações onde podem ser sentidas o pulso
músculos involuntários, são encontrados nos intestinos, são: no punho, na virilha e no pescoço.
nas arteríolas e nos bronquíolos. As emergências envolvendo o sistema circulatório
ocorrem quando há sangramento descontrolado, compro-
Sistema Tegumentar metimento da circulação ou quando o coração perde sua
capacidade de bombear.
A pele é o maior órgão do organismo. Tem a função
de proteger os órgãos internos contra lesões e invasão de
microorganismos, impedir a desidratação, manter a tempe-
ratura do corpo e atuar como receptor do tato, dor, calor
e frio.
A pele é composta de três camadas. A camada mais
externa, a epiderme, contém células que dão cor à pele.
A derme, se segunda camada, conte a vasta rede de va-
sos sanguíneos, folículos pilosos, glândulas sudoríparas,
glândulas sebáceas e nervos sensitivos. A última camada é
composta por tecido adiposo com espessura variada, de-
pendendo da parte do corpo que ela cobre.

Sistema Cardiovascular

O sistema cardiocirculatório é exposto a condições


variáveis de estresse e tem uma grande capacidade de se
adaptar. Entender essa fisiologia adaptativa torna-se muito
importante, visto que as manifestações clínicas de muitas
doenças cardiovasculares acontecem devido à perda desta
Sistema Circulatório capacidade adaptativa e de sua função principal, que é for-
necer sangue para suprir os tecidos de oxigênio e nutrien-
O sistema circulatório é formado por dois sistemas de tes necessários para o metabolismo
transporte principais: o sistema cardiovascular, que com- O endocárdio compõe o revestimento interno do cora-
preende o coração, vasos sanguíneos e sangue, com o ob- ção (membrana interna), em contato direto com o sangue,
jetivo de carregar oxigênio e nutrientes para as células do o pericárdio é a membrana que reveste externamente o co-

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BIOLOGIA

ração. O miocárdio, músculo cardíaco, é estriado e possui Quando o organismo tem febre, ocorre um aumento
filamentos de actina e miosina (proteínas que fazem a con- acentuado da FC, chegando até o dobro do seu valor. Isto
tração muscular), que deslizam uns pelos outros durante a se dá pelo fato de o calor aumentar o metabolismo, dentre
contração, determinando o inotropismo cardíaco, que é a outros fatores. Na hipotermia ocorre o inverso, a FC dimi-
força de contração. O feixe átrio ventricular é um sistema nui chegando a alguns poucos batimentos por minuto até
de condução elétrica especializado em conduzir potencial a morte.
elétrico entre átrio e ventrículo, determinando a contração  
sincronizada das células cardíacas. O nodo sinusal, ou tam- Sistema Hematopoiético
bém chamado sinoatrial é considerado o marcapasso nor-
mal do coração, controlando o batimento cardíaco devido O sangue é um tecido fluido, composto em 45% de
a sua frequência de descargas rítmicas liberadas.  componentes celulares que circulam em suspensão num
meio líquido, denominado plasma. A parte celular, com-
posta principalmente pelas hemácias (células vermelhas,
para transporte de oxigênio no sangue) é denominada he-
matócrito. O componente celular do sangue consiste em
três tipos principais de células: leucócitos (células brancas),
eritrócitos (hemácias) e trombócitos (plaquetas). A porção
acelular ou plasma é constituída por 92% de água. Os 8%
restantes são formados por proteínas, sais e outros consti-
tuintes orgânicos em dissolução
Num homem adulto e normal, com peso corpóreo de
75 kg, o volume total de sangue é de, aproximadamente,
5.000 mL. Nas mulheres, esses valores são um pouco me-
nores, ou seja, 3.404 mL de volume sanguíneo total, consi-
derando-se um peso médio de 55 kg.
O sistema hematopoiético consiste em sangue e nos
locais onde este é produzido, incluindo a medula óssea e
o sistema reticulo endotelial. Na criança, todos os ossos
esqueléticos estão envolvidos, mas, à medida que a pessoa
envelhece, a atividade da medula diminui. Todavia, na ida-
  de adulta, a atividade da medula é geralmente limitada à
O ciclo cardíaco é a sequência de eventos ocorridos pelve, costela, vértebra e esterno.
entre um batimento e outro, começando pela geração de Vejamos abaixo, os principais tipos células sanguíneas
um potencial de ação no nodo sinusal (o marcapasso autô- e suas principais características.
nomo já citado), que está localizado no átrio direito, propa-
gando-se através de ambos os átrios e, daí, através do feixe
átrio ventricular, para os ventrículos através do feixe de His
que se divide em ramo esquerdo e direito; a partir daí, as
células de Purkinje distribuem-se de forma a permitir que
todo o miocárdio ventricular (células de contração cardía-
ca) seja ativado simultaneamente. O ciclo cardíaco consis-
te em um período de relaxamento, denominado diástole,
onde o coração se enche de sangue, e um período de con-
tração denominado sístole, onde o coração bombeia boa
parte do sangue presente nos ventrículos.

 
                        Além do sistema cardiovascular (circulatório) para a cir-
Diástole                               Sístole culação do sangue, o corpo humano possui outro sistema
de fluxo de líquido: o sistema linfático.

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BIOLOGIA

O sistema linfático compreende o conjunto formado Sistema Renal


pela linfa, pelos vasos linfáticos e órgãos como os linfono- O sistema urinário é composto pelos rins, ureteres, be-
dos, o baço, o timo e as tonsilas palatinas. A linfa é um xiga e uretra. Os rins são órgãos excretores e reguladores.
líquido claro, ligeiramente amarelado, que flui lentamente Excretando a água e outras substâncias, os rins eliminam
em nosso corpo através dos vasos linfáticos. Parte do plas- do corpo o excesso de água e produtos desnecessários e
ma sanguíneo extravasa continuamente dos vasos capilares, tóxicos. Eles também regulam o volume e a composição
formando um material líquido entre as células dos diversos dos fluidos corporais dentro de um limite bastante estreito,
tecidos do organismo – o líquido intercelular ou intersticial. eliminando o efeito de grandes variações na absorção de
Uma parte desse líquido intercelular retorna aos capila- alimentos e água. Devido à função homeostática dos rins,
res sanguíneos, carregando gás carbônico e resíduos diver- os tecidos e as células do corpo podem realizar suas fun-
sos. Outra parte – a linfa – é recolhida pelos capilares lin- ções habituais em um ambiente relativamente constante.
fáticos. Os capilares linfáticos transportam a linfa até vasos O fluxo sanguíneo para os dois rins é equivalente a
de maior calibre, chamados vasos linfáticos. Esses vasos se- 25% (1,25 L/min) do débito cardíaco nos indivíduos em
melhantes às veias, por sua vez, desembocam em grandes repouso. Contudo, os rins constituem menos de 0,5% do
veias, onde a linfa é liberada, misturando-se com o sangue. peso corporal total.
Ao longo do seu trajeto, os vasos linfáticos passam pelo No ser humano, cada rim é constituído de cerca de 1
interior de pequenos órgãos globulares, chamados linfo- milhão de néfrons, cada um destes é capaz de formar urina.
nodos. Os vasos linfáticos passam ainda por certos órgãos, Os néfrons são tubos ocos formados de uma camada celu-
como as tonsilas palatinas (amídalas) e o baço. lar simples. O rim não tem a capacidade de regenerar no-
O sistema linfático não possui um órgão equivalente ao vos néfrons. Por conseguinte, em caso de lesão ou doença
coração. A linfa, portanto, não é bombeada como no caso do renal, ou no processo do envelhecimento normal, verifica-
sangue. Mesmo assim se desloca, pois as contrações muscula- se diminuição gradual do número de néfrons.
res comprimem os vasos linfáticos, provocando o fluxo da linfa.  
Os vasos linfáticos possuem válvulas que impedem o
refluxo (retorno) da linfa em seu interior: assim, ela circula
pelo vaso linfático num único sentido. O sistema linfático
auxilia o sistema cardiovascular na remoção de resíduos, na
coleta e na distribuição de ácidos graxos e gliceróis absor-
vidos no intestino delgado e contribui para a defesa do or-
ganismo, produzindo certos leucócitos, como os linfócitos.

Néfron esquemático demonstrando arteríola inter-


lobular, arteríola aferente, arteríola eferente, glomérulos,
cápsula de Bowman, espaço urinário, ducto proximal, alça
de Henle, ducto distal e ducto coletor.
Cada néfron possui dois componentes principais: (1)
um glomérulo (capilares glomerulares), através do qual,
grandes quantidades de líquidos são filtradas do sangue e
(2) um longo túbulo no qual o liquido filtrado é convertido
em urina no seu trajeto até a pelve renal.

Sistema Endócrino
O sistema endócrino possui alta complexidade, sendo
composto por um grupo de órgãos integrados e de ampla
distribuição, coordenando um estado de equilíbrio me-
tabólico (homeostase) entre vários órgãos do corpo. Este
equilíbrio ocorre, pois são regulados por dois sistemas: sis-
tema nervoso representado pelo hipotálamo e o sistema
endócrino.

16
BIOLOGIA

Assim, podemos enumerar algumas das principais fun-


ções do sistema endócrino, lembrando da interação com
os diversos sistemas do nosso organismo:
- Regula a proliferação e a diferenciação celular;
- Crescimento;
- Reprodução;
- Controla a pressão arterial;
- Concentração iônica;
- Comportamento.
Sistema Nervoso

O sistema nervoso é composto de centros nervosos (a


maioria deles no encéfalo e na medula espinhal) e nervos
que se ramificam a partir desses centros, levando aos teci-
O hipotálamo contém neurossecreções que são impor- dos e órgãos do corpo.
tantes no controle de certas atividades metabólicas, como Existem duas divisões estruturais principais do sistema
a manutenção do equilíbrio hídrico, metabolismo do açú- nervoso. O sistema nervoso central compreende o encéfa-
car e das gorduras, regulação da temperatura corporal, se- lo e a medula espinha; o sistema nervoso periférico com-
creção de hormônios liberadores e inibidores. preende os nervos localizados fora do encéfalo e da me-
Os hormônios agem nas células em um sistema cha- dula espinhal.
mado “chave-fechadura”, ou seja, as chaves são os hormô-
nios e a fechadura, são os receptores sendo divididos em
receptores de membrana: hormônios hipofisários e cateco-
laminas; receptores de citoplasma ou de núcleo: hormônios
esteróides; receptores associados diretamente ao DNA:
hormônio tireóideo. Com frequência, o hormônio endócri-
no é transportado pelo sangue de seu local de liberação
até o seu órgão-alvo (órgão onde o hormônio ira agir).
A função das glândulas endócrinas é controlada por
meios de mecanismos de retro alimentação: feedback, assim
as discrepâncias nas taxas séricas normais desses hormônios
estimulam ou inibem a liberação de substâncias de controle
de secreção produzidas no eixo hipotálamo-hipofisário.
O sistema endócrino é constituído pelo hipotálamo,
hipófise, pineal, tireóide, paratireóides, timo, supra-renal,
pâncreas, ovários, testículos e placenta (durante a gravidez).

Existem também duas divisões funcionais do sistema


nervoso: o sistema nervoso voluntário influencia os mo-
vimentos voluntários em todo o corpo; o sistema nervoso
autônomo, que não está sob a influência direta do cérebro,
influencia os músculos involuntários e as glândulas.
O sistema nervoso autônomo é ainda subdividido em
dois sistemas:
- O sistema nervoso simpático regula o funcionamen-
to do coração, o suprimento de sangue para as artérias e
a função dos órgãos internos. Este sistema é o responsável
pela resposta ao estresse com agitação e força.
- O sistema nervoso parassimpático se opõe ao siste-
ma nervoso simpático, impedindo que as reações do corpo
se tornem extremas.

17
BIOLOGIA

O atendimento de emergência é necessário em caso de Sistema Digestório


perda de consciência, traumatismo craniano significativo,
traumatismo encefálico ou lesão medular e qualquer grau O sistema digestivo tem a função primordial de promo-
de paralisia. ver nutrientes para o corpo. O alimento, após passar pela
boca, é propelido, por meio do esôfago, para o estômago
e, em seguida para os intestinos delgado e grosso, antes
de ser esvaziado pelo ânus. O sistema digestório prepara
o alimento para ser usado pelas células por meio de cinco
atividades básicas.

- Ingestão: Captar alimento pela boca (ato de comer).


- Mistura e movimentação do alimento: As contra-
ções musculares misturam o alimento e as secreções e mo-
vimentam o alimento ao longo do trato gastrointestinal.
- Digestão: Ocorre a degradação do alimento por pro-
cessos químicos e mecânicos. A digestão química é uma
série de reações que degradam as moléculas grandes e
complexas de carboidratos, lipídios e proteínas que inge-
rimos, transformando-as em moléculas simples, pequenas
o suficiente para passar através das paredes dos órgãos
digestórios e eventualmente para as células do corpo. A
digestão mecânica consiste de vários movimentos que au-
xiliam na digestão química. Os dentes trituram o alimento
para que ele seja deglutido; o músculo liso do estômago
e do intestino delgado promovem a mistura do alimento
com as enzimas que o digerem; e as ondas de contração
muscular denominadas peristalse movem o alimento ao
longo do trato gastrointestinal.
- Absorção: É a passagem do alimento digerido do tra-
to gastrointestinal aos sistemas sanguíneo e linfático para
Sistema nervoso autônomo, que pode ser descrito de distribuição às células.
acordo com a função. Existem duas divisões: o sistema vo- - Defecação: É a eliminação de substâncias não digeri-
luntário (cerebrospinal), que geralmente controla as ações das do trato gastrointestinal.
corpóreas conscientes e deliberadas mediante comando
voluntário, além dos reflexos, que podem ou não ser cons- Assim, as funções gerais desempenhadas pelo tubo
cientes, e o sistema involuntário (autônomo), que é auto- gastrintestinal podem ser classificadas em
mático e parcialmente independente do resto do sistema - propulsão e mistura do conteúdo gastrintestinal;
nervoso. O sistema nervoso autônomo é subdividido em: - secreção dos sucos digestivos;
sistema simpático e parassimpático. - digestão do alimento;
- absorção do alimento.
 

18
BIOLOGIA

Todas as células do corpo necessitam de nutrientes. São exemplos de doenças do sistema respiratórias a
Esses nutrientes derivam da ingestão de alimento que con- DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) que nela in-
tém proteína, lipídios, carboidratos, vitaminas e minerais, clui o enfisema pulmonar e a bronquite crônica; embolia
bem como fibras de celulose e outras matérias vegetais pulmonar; síndrome do desconforto respiratório agudo
sem valor nutricional. (SDRA); edema agudo de pulmão (EAP); pneumonia; infec-
As principais funções digestivas do trato gastrointes- ções; insuficiência respiratória aguda (IRA); dentre outras.
tinal são: A inspiração, que promove a entrada de ar nos pul-
- Clivar as partículas alimentares na forma molecular mões, dá-se pela contração da musculatura do diafragma
para a digestão. e dos músculos intercostais. O diafragma abaixa e as cos-
- Absorver as pequenas moléculas produzidas pela di- telas elevam-se, promovendo o aumento da caixa torácica,
gestão para dentro da corrente sanguínea. com consequente redução da pressão interna (em relação
- Eliminar alimentos não-digeridos e não-absorvidos e à externa), forçando o ar a entrar nos pulmões. A expira-
outros produtos residuais do corpo. ção, que promove a saída de ar dos pulmões, dá-se pelo
Depois que o alimento é ingerido, ele é impulsionado relaxamento da musculatura do diafragma e dos músculos
através do trato gastrointestinal, ficando em contato com intercostais. O diafragma eleva-se e as costelas abaixam, o
uma ampla variedade de secreções que auxiliam na diges- que diminui o volume da caixa torácica, com consequente
tão, absorção e eliminação do mesmo. aumento da pressão interna, forçando o ar a sair dos pul-
O processo digestivo consiste em uma série de trans- mões.
formações sequenciais e é deflagrada por mediadores quí-
micos, endócrinos e estímulos diversos, desenvolvidos pelo
aparelho digestivo com a finalidade de possibilitar a me-
lhor absorção alimentar.
A digestão se inicia na boca, onde a mastigação e a
salivação reduzem os alimentos sólidos a uma massa de
menor tamanho, auxiliados pela movimentação da língua.
Segue-se a deglutição voluntária e/ou reflexa, que conduz
o bolo alimentar ao estômago, onde se inicia a absorção
de nutrientes. O bolo segue para o duodeno onde é feito a
mistura com suco pancreático e bile. Deste ponto em dian-
te a movimentação do bolo é feita por movimentos peris-
tálticos. No intestino delgado é feita a maior parte da ab-
sorção de nutrientes e no intestino grosso, a reabsorção de
agua e formação do bolo fecal, para posterior evacuação.
Cinética do movimento inspiratório com elevação
das costelas e abaixamento do diafragma.
Sistema Respiratório
 
A respiração é o intercâmbio de gases entre um orga- O transporte de gás oxigênio está a cargo da hemo-
nismo e o meio no qual esse organismo vive. Mais especi- globina, proteína presente nas hemácias. Cada molécula de
ficamente, trata-se da absorção de oxigênio, sua utilização hemoglobina combina-se com 4 moléculas de gás oxigê-
nos tecidos e a eliminação de dióxido de carbono pelo or- nio, formando a oxi-hemoglobina. Nos alvéolos pulmona-
ganismo. res o gás oxigênio do ar difunde-se para os capilares san-
Para o diagnóstico e o tratamento da maioria das guíneos e penetra nas hemácias, onde se combina com a
doenças respiratórias é necessário compreender os princí- hemoglobina, enquanto o gás carbônico (CO2) é liberado
pios da fisiologia respiratória e das trocas gasosas. Algumas para o ar. Nos tecidos ocorrem um processo inverso: o gás
doenças respiratórias resultam de ventilação inadequada, oxigênio dissocia-se da hemoglobina e difunde-se pelo lí-
ao passo que outras resultam de anormalidades na difusão quido tissular, atingindo as células.
através da membrana pulmonar ou no transporte de gases Em repouso, a frequência respiratória (FR) é da ordem
dos pulmões para os tecidos. de até 12 movimentos por minuto.  A respiração é contro-
Podemos dividir a respiração em quatro grandes even- lada automaticamente por um centro nervoso localizado
tos, do ponto de vista funcional: no bulbo. Desse centro partem os nervos responsáveis pela
- A ventilação pulmonar, que é a remoção cíclica do gás contração dos músculos respiratórios (diafragma e múscu-
alveolar pelo ar atmosférico. los intercostais).
- A difusão do oxigênio e do dióxido de carbono entre Os sinais nervosos são transmitidos desse centro atra-
os alvéolos e o sangue. vés da coluna espinhal para os músculos da respiração. O
- O transporte, no sangue e nos líquidos corporais, do mais importante músculo da respiração, o diafragma, re-
oxigênio (dos pulmões para as células) e do dióxido de car- cebe os sinais respiratórios através de um nervo especial,
bono (das células para os pulmões). o nervo frênico, que deixa a medula espinhal na metade
- A regulação da ventilação e de outros aspectos da superior do pescoço e dirige-se para baixo, através do tó-
respiração. rax até o diafragma.

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BIOLOGIA

 Os sinais para os músculos expiratórios, especialmente os músculos abdominais, são transmitidos para a porção baixa
da medula espinhal, para os nervos espinhais que inervam os músculos.
Existem algumas ocasiões em que a concentração de oxigênio nos alvéolos cai a valores muito baixos. Isso ocorre es-
pecialmente em locais de grande altitude ou quando uma pessoa contrai pneumonia, por exemplo.

Sistema Reprodutor Humano


O sistema ou aparelho reprodutor humano é constituído no sexo masculino pelos testículos, ductos genitais, glân-
dulas acessórias e pênis e no sexo feminino pelos ovários, dois obductos (também denominados trompa de Falópio),
útero, vagina e duas glândulas mamárias. A seguir será descrito resumidamente estes aparelhos.

Aparelho Reprodutor Masculino

Fig. 1 - Esquema geral do Aparelho Genital Masculino

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BIOLOGIA

Testículos: Em número de dois, apresentam-se envolvidos por uma espessa cápsula de tecido conjuntivo, rico em fibras
colágenas, a albugínea.

Os testículos são constituídos por uma série de túbulos enovelados, túbulos seminíferos, na parede dos quais são
formados os espermatozoides, originários das células germinativas primárias (espermatogênese) (fig.2). As duas extre-
midades de cada túbulo drenam para rede de dutos no epidídimo de onde os espermatozoides passam para o canal
deferente, deste para o ducto ejaculador e dai para a uretra prostática por ocasião da ejaculação. Entre os túbulos no
testículo existem ninhos de células que contém grânulos de lipídeos (células intersticiais de Leydig), as quais secretam
testosterona para a circulação.

Fig. 2 - Testículo e Túbulo Seminífero

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BIOLOGIA

Espermatogênese: as espermatogônias, células germinativas primárias localizadas junto à lâmina de base dos túbu-
los seminíferos, evoluem para espermatócitos primários, sendo este processo iniciado durante a adolescência, por ação
hormonal. Os espermatócitos primários reduzem, pela divisão meiótica, o número de cromossomos em dois estágios:
espermatócitos secundários e em espermátides; este último contém o número haplóide de 23 cromossomos. Após as
espermátides sofrerem maturação formam-se os espermatozóides (fig.3).

Fig. 3 – Espermatogênese

O número estimado de espermátides formadas de uma única espermatogônia é 512. No homem, a formação de es-
permatozóide maduro, a partir da célula germinativa primária, no processo regular de espermatogênese leva em média 74
dias. Cada espermatozóide é uma complicada célula móvel, rica em DNA, cuja cabeça é constituída fundamentalmente de
material cromossômico.
Sabe-se que a temperatura é muito importante na regulação da espermatogênese e que esse processo geralmente
ocorre só a temperaturas inferiores a do corpo humano, aproximadamente 32oC. É por esse motivo que na maioria dos ma-
míferos, os testículos se encontram fora da cavidade abdominal, nas bolsas escrotais, e sua distância do abdômen varia com
a temperatura, sendo esta distância controlada por ação de músculos que se contraem ou relaxam. Porém o fator de ação
mais contínua e importante sobre a espermatogênese é, sem dúvida, o endócrino. Esse processo depende do estímulo do
hormônio folículoestimulante (FSH) da hipófise anterior, que age diretamente na linhagem seminal, e do LH, que estimula
a secreção de andrógeno nas células intersticiais, hormônio este que estimula a espermatogênese.

Ductos Genitais: são os ductos que transportam os espermatozóides produzidos no testículo: epidídimo e ducto de-
ferente.
Epidídimo: é constituído por um tubo único, longo (quatro a seis metros) e intensamente enovelado sobre si mesmo. É
revestido internamente por um epitélio pseudo-estratificado, composto por células basais arredondadas e células prismáti-
cas. Essas células se apoiam sobre uma membrana basal envolta por fibras musculares lisas e um tecido conjuntivo frouxo,
rico em capilares sanguíneos.

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BIOLOGIA

Ducto Eferente: caracteriza-se por apresentar uma estreita luz e parede espessa constituída por músculo liso. É revestido
internamente por um epitélio pseudo-estratificado prismático com microvilos. A lâmina própria é de natureza conjuntiva, rica
em fibras elásticas. Ao longo do ducto deferente e ligados a ele correm vasos e nervos que entram no testículo e dele saem.
Glândulas Acessórias: são as vesículas seminais, a próstata e as glândulas bulbouretrais.
Vesículas Seminais: são dois órgãos; cada um formado por um tubo de 15 cm de comprimento, intensamente enrolado
sobre si mesmo. Em corte, esse órgão apresenta epitélio pseudo-estratificado prismático, com células ricas em grânulos de
secreção. A lâmina própria é rica em fibras elásticas e envolta por uma camada muscular lisa, constituída por duas lâminas: uma
interna, de fibras circulares, e outra externa, de fibras longitudinais. A secreção da vesícula seminal (sêmem), que é acumulada
no interior dessa glândula, é eliminada na ejaculação graças à contração da musculatura lisa. Essa secreção contém proteínas e
é rica em vitamina C e frutose, metabólitos importantes para os espermatozóides. Tanto a secreção quanto o funcionamento da
musculatura lisa desse órgão são dependentes do hormônio testosterona.
Próstata: é um conjunto de 30 a 50 glândulas tubuloalveolares ramificadas, cujos ductos desembocam na uretra prostática.
A próstata não só produz o líquido prostático, mas também o armazena no seu interior para expulsá-lo durante a ejaculação. A
próstata apresenta-se envolta por uma cápsula fibroelástica rica em músculo liso, que envia septos que penetram na glândula.
Essas glândulas são revestidas internamente por epitélio cúbico simples ou por epitélio colunar pseudo-estratificado, cujas
células secretam proteínas.
As glândulas prostáticas dividem-se em três grupos: mucosas, submucosas e principais; em três regiões separadas, situadas
concentricamente em volta da uretra. Dessas glândulas as que mais contribuem para a secreção prostática são as principais.
Os processos de secreção da próstata dependem, como na vesícula seminal, da testosterona; quando falta esse hormônio, a
glândula regride.
Glândulas bulbouretrais: são formações pares, do tamanho de uma ervilha, que se situam atrás da uretra membranosa,
onde desembocam. São glândulas tuboalveolares com células do tipo mucoso. Apresentam músculo esquelético e liso nos
septos que separam os seus lóbulos. Sua secreção tem aspecto mucoso.
Pênis: é constituído essencialmente por três massas cilíndricas de tecido muscular, mais a uretra, envoltas externamente por
pele. Delas, duas são colocadas dorsalmente e recebem o nome de corpos cavernosos do pênis. A outra, ventral, chama-se
corpo cavernoso da uretra e envolve a uretra peniana em todo o seu trajeto. Na sua porção terminal, dilata-se formando a
glande. Os três corpos cavernosos encontram-se envoltos por uma resistente membrana de tecido conjuntivo denso, a túnica
albugínea do pênis. Essa membrana forma um septo que penetra os dois corpos cavernosos do mesmo. Os corpos cavernosos
do pênis e da uretra são formados por um emaranhado de vasos sanguíneos dilatados, revestidos por endotélio. O prepúcio
é uma prega retrátil da pele do pênis contendo tecido conjuntivo, com músculo liso no seu interior. Observa-se, na sua dobra
interna e na pele que recobre a glande, pequenas glândulas sebáceas.

Aparelho Reprodutor Feminino:

Fig. 4- Esquema geral do aparelho genital feminino.

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BIOLOGIA

Ovários
Folículos ovarianos: o número total de folículos nos dois ovários da criança recém-nascida é estimado em dois milhões,
porém a maioria sofrerá um processo degenerativo, sendo que na época da puberdade restam apenas cerca de 300.000
folículos. Essa regressão folicular ocorre durante toda a vida, desde a menarca (primeira menstruação) até a menopausa
(última menstruação). Distinguem-se os folículos primários, os folículos em crescimento e os folículos maduros ou de
Graaf. A regressão pode atingir qualquer tipo de folículo, desde os primários até os quase completamente maduros. Como
em geral apenas um ovócito é liberado pelos ovários em cada ciclo menstrual (duração média 28 dias) e a vida reprodutiva
da mulher é de 30 a 40 anos, o total de ovócitos liberados é de aproximadamente 450. Todos os demais folículos, com seus
ovócitos, degeneram e desaparecem.
À medida que um folículo cresce, principalmente pelo aumento de células granulosas, surgem acúmulo de líquido
entre essas células (líquido folicular). As cavidades contendo líquido confluem e acabam formando uma cavidade única,
o antro folicular. O líquido folicular contém proteoglicanas, diversas proteínas e altos teores dos hormônios esteróides,
progesterona, estrógenos e andrógenos.

As células foliculares da primeira camada em volta do ovócito e, portanto, em contato com a zona pelúcida tornam-se
alongadas e formam a corona radiata, que acompanha quando este deixa o ovário. A corona radiata está ainda presente
quando o espermatozóide fertiliza o óvulo (na trompa uterina) e se mantém por algum tempo durante o trajeto deste pela
trompa.

Ovulação: ocorre na ruptura do folículo maduro com liberação do ovócito, que será colhido pela extremidade dilatada
na trompa uterina. A ovulação ocorre aproximadamente no meio do ciclo menstrual, portanto em torno do 14o dia, consi-
derando-se o ciclo de 28 dias, que é o mais frequente. A ovulação ocorre através da pressão exercida pelo folículo maduro
na superfície do ovário fazendo com que se inicie uma isquemia o que contribui para o enfraquecimento dos tecidos, faci-
litando a saída do ovócito.
Pós-ovulação: após a ovulação, as células foliculares e as da teca interna que permanecem no ovário dão origem a um
glândula endócrina temporária, denominada corpo lúteo (corpo amarelo). O corpo lúteo se localiza no cortical do ovário e
secreta progesterona e estrógenos, que atuam sobre a mucosa uterina, estimulando a secreção de suas glândulas. Além disso,
a progesterona impede o desenvolvimento dos folículos ovarianos e a ovulação. As células foliculares não se dividem depois
da ovulação, mas aumentam muito de volume e adquirem as características de células secretoras de hormônios esteróides.
O corpo lúteo é formado pelo estímulo do hormônio luteinizante (LH) sintetizado pela parte distal da hipófise, sob o
controle do hipotálamo. Quando não ocorre gravidez, o corpo lúteo tem uma existência de 10 a 14 dias apenas. Após esse
período, devido à falta de hormônio luteinizante, ele degenera e desaparece. Este é chamado corpo lúteo menstrual ou
espúrio. Ocorrendo a gravidez, as gonadotrofinas coriônicas produzidas pelo sinciotrofoblasto da placenta estimularão o
corpo lúteo, que se manterá durante a gestação. Este é o corpo lúteo gravídico ou verdadeiro. Todo o ciclo ovariano está
esquematizado na figura 5.

Fig. 5 - Ciclo Ovariano

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BIOLOGIA

Oviductos

A trompa uterina ou oviducto é um tubo musculomembranoso de grande mobilidade, com cerca de 12 cm de com-
primento. Uma de suas extremidades abre-se na cavidade peritoneal, próximo ao ovário, e a outra atravessa a parede do
útero e abre-se no interior desse órgão. O oviducto divide-se em quatro segmentos chamados: intramural (localiza-se no
interior da parede uterina), istmo (formado pelo terço da trompa adjacente), ampola e infundíbulo (tem a forma de um
funil e localiza-se próximo ao ovário). A extremidade livre do infundíbulo, que é a mais larga, apresenta prolongamentos
em forma de franjas (fímbrias). A parede da trompa é formada por uma camada mucosa, uma muscular e uma serosa re-
presentada pelo peritônio.
Quando ocorre a ovulação a trompa uterina recebe o ovócito expulso pelo ovário e o conduz na direção do útero. Sua
luz representa um ambiente adequado à fertilização, e a secreção aí contida contribui para a proteção e nutrição do ovócito,
bem como para a ativação do espermatozóide.
Na época da ovulação, a trompa movimenta-se de modo regular pela contração de sua musculatura. As fímbrias do
infundíbulo aproximam-se da superfície do ovário e sua forma de funil facilita a captação do ovócito liberado. A trompa
também apresenta ondas de contração iniciadas no infundíbulo e que se dirigem na direção do útero. Essas ondas, auxilia-
das pela atividade ciliar do epitélio, parecem ser de grande importância na movimentação do embrião no sentido do útero.

Útero
Tem a forma de uma pêra, com uma porção dilatada, o corpo, cuja parte superior é o fundo do útero e uma parte infe-
rior cilíndrica que se abre na vagina, a cérvix ou colo do uterino. A parede do útero é relativamente espessa e constituída
por três túnicas, que, de fora para dentro são: 1ª serosa (tecido conjuntivo e mesotélio) ou adventícia (tecido conjuntivo),
conforme a região do órgão considerada; 2ª miométrio (túnica de músculo liso); e 3ª endométrio (mucosa).

Miométrio: é a túnica mais espessa do útero, sendo formada por feixes de fibras musculares lisas separadas por tecido
conjuntivo. Durante a gravidez o miométrio cresce acentuadamente, sofrendo regressão após o parto. Esse crescimento
deve-se ao aumento do número de fibras musculares lisas, à hipertrofia dessas fibras e um aumento do material interce-
lular, principalmente colágeno. As novas fibras musculares que surgem na gravidez resultam da divisão miótica de fibras
preexistentes e da diferenciação de células mesenquimatosas presentes no miométrio.
Após a gravidez ocorre destruição de algumas fibras musculares lisas, redução no tamanho das que persistem e uma
degradação enzimática do colágeno, de modo que o útero reduz seu tamanho, quase voltando às suas dimensões de pré-
gravidez.

Endométrio: é formado por epitélio e lâmina própria contendo glândulas tubulosas simples que às vezes se ramificam
em suas porções mais profundas. O epitélio ao mesmo tempo, reveste e secreta glicoproteínas (muco). Suas células são
cilíndricas e algumas apresentam cílios. Sob a ação dos hormônios ovarianos (estrógeno e progesterona) produzidos por
estímulo da adeno-hipófise, o endométrio sofre modificações estruturais cíclicas, que constituem o ciclo menstrual.
As modificações estruturais do endométrio durante o ciclo menstrual são graduais. Porém, para efeito didático, ele
pode ser descrito na seguinte ordem: fase proliferativa, fase secretória e fase menstrual.

Fase Proliferativa: após a fase menstrual a mucosa uterina fica reduzida a uma pequena faixa de tecido conjuntivo,
contendo os fundos das glândulas, pois suas porções superficiais e o epitélio de revestimento se perderam. Esta parte
profunda do endométrio, que não descama na menstruação, chama-se camada basal, enquanto a porção que é destruída
e renovada em cada ciclo chama-se camada funcional. As células presentes nos fundos das glândulas, proliferam e, por
deslizamento, migram para a superfície da mucosa e vão reconstruir as glândulas e o epitélio de revestimento do endomé-
trio. Ocorre também proliferação das células do conjuntivo da lâmina própria, havendo crescimento do endométrio como
um todo.

Fase Secretória: inicia-se após a ovulação e depende da formação do corpo lúteo, o qual secreta progesterona. Nesta
fase o endométrio atinge sua espessura máxima (5mm), devido ao acúmulo de secreção e ao aparecimento de edema na
lâmina própria.

Fase Menstrual: não havendo fertilização do óvulo expelido pelo ovário, ocorrerá uma queda brusca dos níveis de
estrógenos e progesterona no sangue. Em consequência, o endométrio, que estava desenvolvido pelo estímulo desses hor-
mônios, entra em colapso, sendo parcialmente destruído. O sangue da menstruação é principalmente de origem venosa,
pois as artérias, ao se romperem, contraem suas paredes, fechando a extremidade rompida. O endométrio destaca-se por
partes e o grau de perda endometrial varia de mulher para mulher; daí o motivo da menstruação durar aproximadamente
3 dias, ou mais. A figura 6 sintetiza os níveis hormonais, o aspecto do folículo ovariano e do endométrio durante o ciclo
menstrual.

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BIOLOGIA

Fig. 6 - Níveis hormonais e aspecto geral do endométrio durante o ciclo menstrual.

Placenta: é um órgão que se desenvolve durante a gravidez, no revestimento do útero. Quando completamente de-
senvolvido tem a forma de um bolo achatado (placenta = bolo), com aproximadamente 15 cm de diâmetro e 2 cm de
espessura. A placenta desenvolve-se parcialmente de material fetal e parcialmente de material materno. (fig.7).

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BIOLOGIA

Fig. 7 - Formação da Placenta

Parte fetal: é formada pelo córion. Consta de uma placa corial de onde partem vilos coriônicos. Esses vilos são cons-
tituídos por uma parte central conjuntiva, derivada do mesênquima extra-embrionário, e pelas camadas de citrofoblasto e
de sinciotrofoblasto.

Parte materna: é a decídua basal, que fornece sangue arterial para as lacunas situadas entre os vilos coriônicos do
feto e recebe de volta o sangue tornado venoso pelos vilos.
A função primária da placenta é permitir que substâncias dissolvidas no sangue do feto difundam para o sangue ma-
terno e vice-versa. A sua estrutura é tal que permite que isso ocorra numa área muito grande. Em condições normais não
há mistura de sangue fetal com o sangue materno, pois não há contato direto entre eles. Isso é devido graças a barreira
placentária que é uma membrana composta de vários tecidos. Através da placenta, o alimento e oxigênio dissolvidos no
sangue materno difundem através da barreira placentária para o sangue fetal e dessa maneira, a vida e o crescimento são
mantidos até o nascimento do feto.
Do mesmo modo, produtos do catabolismo fetal atravessam a barreira placentária para o sangue materno e serão eli-
minados pelos órgãos excretores maternos. O sangue passa livremente do feto para a placenta através dos vasos do cordão
umbilical, estrutura esta que une o feto à placenta, durante a gravidez. Durante o nascimento o feto é eliminado do útero,
ainda em conexão por meio do cordão umbilical à placenta. Uma das tarefas do médico assistente é amarrar o cordão um-
bilical logo após o nascimento da criança, pois logo a placenta será eliminada do útero não exercendo mais a sua função.
De fato, após a placenta se despregar do revestimento uterino a sua superfície representa como se fosse uma ferida aberta
e o feto poderia morrer de uma hemorragia através dessa ferida, se o cordão umbilical não fosse amarrado.

Implantação e Desenvolvimento do Óvulo Fecundado: o óvulo humano é fertilizado na ampola da tuba uterina e
sua segmentação ocorre à medida que ele se desloca passivamente na direção do útero. Por mitoses sucessivas, forma-se
a mórula. Aparece, então, uma cavidade nesta massa previamente sólida, que recebe o nome de blastocisto (cisto porque
é uma cavidade e blasto porque vai formar alguma coisa). O blastocisto permanece livre na cavidade uterina por apenas
um ou dois dias, após os quais ele se implantará na parede do útero por ser envolvido pela secreção das glândulas endo-
metriais.

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BIOLOGIA

Na fase de blastocisto, a zona pelúcida se desfaz, permitindo que as células do trofoblasto (trefen = alimentar), que
têm o poder de invadir as mucosas, entrem em contato direto com o endométrio, ao qual se aderem. Imediatamente co-
meça a multiplicação intensa das células do trofoblasto que vão assegurar a nutrição do embrião à custa do endométrio.
O trofoblasto se fixa ao endométrio e o ataca, promovendo a implantação ou nidação do embrião no interior da
mucosa uterina. Esta tipo de implantação ocorre exclusivamente em primatas e é chamado de intersticial. A implantação
inicia-se por volta do sexto dia, e, aproximadamente no nono dia após a fertilização, o embrião se encontra totalmente
mergulhado no endométrio, do qual receberá proteção e nutrição até o fim da gravidez (fig.8).

Fig. 8 - Desenvolvimento embrionário humano

Glândulas Mamárias:
Cada mama é um conjunto de 15 a 25 glândulas exócrinas do tipo tubuloalveolar composta; essas glândulas são dividi-
das em lobos por tecido conjuntivo denso e adiposo e têm por função secretar leite para nutrir os recém-nascidos. Embora
o conjunto de lobos seja chamado frequentemente de glândula mamária, cada lobo é de fato uma glândula mamária, com
sua parte secretora e seu ducto excretor próprio. Esses ductos secretores chamados galactóforos, abrem-se independen-
temente na papila mamária, a qual mostra de 15 a 25 orifícios, cada um com cerca de 0,5 mm de diâmetro.
O tecido conjuntivo penetra em cada lobo, dividindo-o em lóbulos e envolvendo cada unidade secretora. A estrutura
histológica das glândulas mamárias varia de acordo com a idade e condições fisiológicas do organismo (fig.9).

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BIOLOGIA

Fig. 9 - Estrutura da mama.

Desenvolvimento das glândulas mamárias: antes da puberdade as glândulas mamárias apresentam-se constituídas
pelos seios galactóforos, que se ramificam, apresentando nas suas extremidades profundas, pequenos maciços celulares.
Ao atingir a maturidade sexual, puberdade, as mamas aumentam de tamanho e tomam a forma hemisférica e o mamilo
torna-se proeminente.

Na mulher adulta: as glândulas mamárias são constituídas pelos ductos galactóforos e por porções secretoras tubu-
loalveolares. Próximo à abertura da papila os ductos galactóforos dilatam-se, formando os seios galactóforos. Estes são
revestidos por epitélio estratificado pavimentoso, próximo ao seu orifício externo. À medida que o ducto se aprofunda na
mama, seu epitélio se torna cada vez mais fino, com menor número de camadas de células cilíndricas. Mais próximo às
unidades secretoras, o epitélio do ducto se torna cúbico simples. Na parede dos ductos existem células musculares lisas.
A parte secretora das glândulas mamárias é constituída por túbulos de epitélio cúbico simples, os quais terminam em
porções dilatadas, os alvéolos. A luz dos túbulos e alvéolos é muito pequena e alguns desses elementos são compactos,
sem luz.
Durante o ciclo menstrual observam-se pequenas variações na estrutura histológica dessas glândulas, que se caracte-
rizam por uma proliferação dos ductos e das partes secretoras aproximadamente na época da ovulação e que coincidem
com o maior teor de estrógeno circulante. Além disso, observam-se maior acúmulo de tecido adiposo e hidratação maior
do tecido conjuntivo na fase pré-menstrual, que se reflete num aumento do volume das mamas. Nesta fase a divisão das
glândulas mamárias em lóbulos se torna mais nítida.
O crescimento das glândulas mamárias durante a gravidez dá-se pela ação sinergética de vários hormônios, destacan-
do-se os seguintes: estrógenos, progesterona, prolactina, hormônio mamotrófico placentário, tiroxina e hormônio
somatotrófico. Os estrógenos agem sobre os ductos galactóforos, estimulando seu crescimento (aumento do número de

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BIOLOGIA

mitoses) e promovendo sua ramificação. A progesterona o HIV. Outra forma de infecção pode ocorrer pela trans-
estimula o crescimento das partes secretoras das glândulas fusão de sangue contaminado ou pelo compartilhamento
mamárias. de seringas e agulhas, principalmente no uso de drogas
Durante a gravidez a quantidade de estrógeno aumen- injetáveis. A aids e a sífilis também podem ser transmitidas
ta, pois esse hormônio é também produzido pela placenta. da mãe infectada, sem tratamento, para o bebê durante a
Aumenta também a taxa de progesterona, que é produzida gravidez, o parto. E, no caso da aids, também na amamen-
primeiro pelo corpo lúteo (que na gravidez se mantém du- tação.
rante um período mais longo) e mais tarde pela placenta. O tratamento das DST melhora a qualidade de vida
A lactação caracteriza-se pelo desencadeamento dos do paciente e interrompe a cadeia de transmissão dessas
processos de secreção do leite, que produzido dentro das doenças.
células epiteliais das porções secretoras, se acumula em
sua luz e dentro dos ductos galactóforos. Consequente- Sintomas das DST
mente, o aspecto das glândulas nesta fase é diferente do
apresentado pelas glândulas em crescimento. As células As doenças sexualmente transmissíveis (DST) são mui-
tornam-se cúbicas ou pavimentosas. Apresentam retículo tas e podem ser causadas por diferentes agentes. Apesar
endoplasmático liso muito aumentado, e abundantes va- disso, elas podem ter sintomas parecidos. Veja, abaixo, os
cúolos esféricos e de tamanho variado contendo lipídios. principais sintomas das doenças mais comuns.
Além dos vacúolos lipídicos, observam-se, bem evidentes
no pólo apical das células secretoras, grânulos de natureza Sintomas: Corrimento pelo colo do útero e/ou vagina
protéica. A síntese das proteínas do leite se dá ao nível do (branco, cinza ou amarelado), pode causar coceira, dor ao
urinar e/ou dor durante a relação sexual, cheiro ruim na
retículo endoplasmático rugoso, abundante na parte basal
região.
desta célula, passando pelo aparelho de Golgi e acumu-
DST prováveis: Tricomoníase, gonorreia, clamídia.
lando-se na porção apical. As proteínas constituem apro-
ximadamente 1,5% do leite humano; já a lactose constitui
Sintomas: Corrimento pelo canal de onde sai a urina,
cerca de 7%.
que pode ser amarelo purulento ou mais claro - às vezes,
A sucção da criança funciona em mulheres lactantes
com cheiro ruim, além de poder apresentar coceira e sin-
como estímulo nos receptores tácteis que existem em tomas urinários, como dor ao urinar e vontade de urinar
abundância ao redor do mamilo e que são os responsá- constante.
veis pelo desencadeamento de um reflexo que promoverá DST prováveis: Gonorreia, clamídia, tricomoníase, mi-
a liberação da oxitocina (hormônio da hipófise posterior). coplasma, ureoplasma.
Este hormônio promove a contração das células mioepite-
liais presentes na glândula, ocorrendo, assim, a ejeção do Sintomas: Presença de feridas na região genital (pode
leite. Em mulheres em período de lactação, os estímulos ser uma ou várias), dolorosas ou não, antecedidas ou não
emocionais e sexuais também podem determinar a libera- por bolhas pequenas, acompanhadas ou não de “íngua”
ção de oxitocina, fazendo com que o leite brote nos ma- na virilha.
milos. DST prováveis: Sífilis, cancro mole, herpes genital, do-
Após a menopausa inicia-se a involução climatérica da novanose, linfogranuloma venéreo.
mama, que é caracterizado por uma redução do seu tama-
nho, consequência da atrofia dos ductos, porções secreto- Sintomas: Dor na parte baixa da barriga (conhecido
ras e do tecido conjuntivo. como baixo ventre ou “pé da barriga”) e durante a relação
sexual.
O que são DST DST prováveis: Gonorreia, clamídia, infecção por outras
bactérias.
As doenças sexualmente transmissíveis (DST) são trans-
mitidas, principalmente, por contato sexual sem o uso de Sintomas: Verrugas genitais ou “crista de galo” (uma ou
camisinha com uma pessoa que esteja infectada, e geral- várias), que são pequenas no início e podem crescer rapi-
mente se manifestam por meio de feridas, corrimentos, bo- damente e se parecer como uma couve-flor.
lhas ou verrugas. As mais conhecidas são gonorreia e sífilis. DST prováveis: Infecção pelo papilomavírus humano
Algumas DST podem não apresentar sintomas, tanto (HPV)
no homem quanto na mulher. E isso requer que, se fize-
rem sexo sem camisinha, procurem o serviço de saúde para O que é HIV
consultas com um profissional de saúde periodicamente.
Essas doenças quando não diagnosticadas e tratadas a HIV é a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência
tempo, podem evoluir para complicações graves, como in- humana. Causador da aids, ataca o sistema imunológico,
fertilidades, câncer e até a morte. responsável por defender o organismo de doenças. As cé-
Usar preservativos em todas as relações sexuais (oral, lulas mais atingidas são os linfócitos T CD4+. E é alteran-
anal e vaginal) é o método mais eficaz para a redução do do o DNA dessa célula que o HIV faz cópias de si mesmo.
risco de transmissão das DST, em especial do vírus da aids, Depois de se multiplicar, rompe os linfócitos em busca de
outros para continuar a infecção.

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BIOLOGIA

Ter o HIV não é a mesma coisa que ter a aids. Há muitos Direitos do soropositivo
soropositivos que vivem anos sem apresentar sintomas e Atendimento, tratamento e medicamento gratuitos.
sem desenvolver a doença. Mas, podem transmitir o vírus Sigilo sobre a sua condição sorológica.
a outros pelas relações sexuais desprotegidas, pelo com- Em respeito à intimidade e à privacidade, nenhuma
partilhamento seringas contaminadas ou de mãe para filho pessoa pode divulgar quem tem HIV/aids sem prévia auto-
durante a gravidez e a amamentação. Por isso, é sempre rização, mesmo os profissionais de saúde.
importante fazer o teste e se proteger em todas as situa- Queda da obrigatoriedade do exame de aids no teste
ções. admissional
Biologia – HIV é um retrovírus, classificado na subfa- As empresas não podem mais obrigar um profissional
mília dos Lentiviridae. Esses vírus compartilham algumas a fazer o teste de detecção de aids ao começar em um
propriedades comuns: período de incubação prolongado novo emprego.
antes do surgimento dos sintomas da doença, infecção das Permanecer no trabalho
Nenhum empregador pode demitir o empregado ape-
células do sangue e do sistema nervoso e supressão do
nas por ter HIV. A demissão por discriminação pode gerar
sistema imune.
ação trabalhista para que o trabalhador seja reintegrado.
Se, além disso, a demissão for constrangedora, o trabalha-
O que é aids dor pode requerer indenização por danos morais.
Valores do PIS/PASEP e FGTS
Aids é a Síndrome da Imunodeficiência Humana. A aids O soropositivo tem o direito de efetuar o levantamento
se caracteriza pelo enfraquecimento do sistema de defesa do FGTS e do PIS/PASEP, independentemente de rescisão
do corpo e pelo aparecimento das doenças oportunistas. contratual ou de comunicação à empresa.
Benefício de prestação continuada
Como se pega o HIV? Toda pessoa com aids que esteja incapacitada para
o trabalho e com renda familiar inferior a 1/4 do salário
• Fazendo sexo sem camisinha (oral, vaginal ou anal); mínimo tem direito ao Benefício de Prestação Continuada
• Compartilhando agulhas e seringas contaminadas; (BPC), pago pelo Governo Federal.
• Da mãe para o bebê durante a gravidez, na hora do Isenção do pagamento de IR
parto e/ou amamentação. Portadores de doenças crônicas, inclusive a aids, têm
direito à isenção do pagamento de imposto de renda,
É possível viver bem com a aids quando receber proventos de aposentadoria, reforma por
Atualmente, existem os medicamentos antirretrovirais acidente em serviço e pensão.
Ninguém deve sofrer discriminação por viver com HIV/
- coquetéis antiaids que aumentam a sobrevida dos soro-
aids.
positivos. É fundamental seguir todas as recomendações
médicas e tomar o medicamento conforme a prescrição.
É o que os médicos chamam de adesão, ou seja, aderir ao
tratamento. Há, também, outras atitudes que oferecem DIVERSIDADE DOS SERES VIVOS:
qualidade de vida, como praticar exercícios e ter uma ali- CARACTERÍSTICAS MORFOFUNCIONAIS DOS
mentação equilibrada. Quem tem HIV namora, beija na SERES VIVOS: PROCARIONTES,
boca e transa, assim como todo mundo. Mas não se esque- FUNGOS, VEGETAIS, PROTISTAS E
ça de usar camisinha sempre.
ANIMAIS.
Como é o tratamento?
O tratamento inclui acompanhamento periódico com
profissionais de saúde e a realização exames. A pessoa
só vai começar a tomar os medicamentos antirretrovi- Reino Protista.
rais quando exames clínicos e de laboratório indicarem
a necessidade. Esses remédios buscam manter o HIV sob A complexidade da célula eucariótica de um protozoá-
controle o maior tempo possível. A medicação diminui a rio é tão grande, que ela - sozinha - executa todas as fun-
multiplicação do HIV no corpo, recupera as defesas do or- ções que tecidos, órgãos e sistemas realizam em um ser
pluricelular complexo. Locomoção, respiração, excreção,
ganismo e, consequentemente, aumenta a qualidade de
controle hídrico, reprodução e relacionamento com o am-
vida do soropositivo. Para que o tratamento dê certo, o
biente, tudo é executado por uma única célula, que conta
soropositivo não pode se esquecer de tomar os remédios com algumas estruturas capazes de realizar alguns desses
ou abandoná-los. O vírus pode criar resistência e, com isso, papéis específicos, como em um organismo pluricelular.
as opções de medicamentos diminuem. A adesão ao trata- Segundo a classificação dos seres vivos em cinco rei-
mento é fundamental para a qualidade de vida. nos (Whittaker – 1969), um deles, o dos Protistas, agrupa
Mesmo em tratamento, a pessoa com aids pode e deve organismos  eucariontes, unicelulares, autótrofos e he-
levar uma vida normal, sem abandonar a sua vida afetiva e terótrofos. Neste reino se colocam as algas inferiores:
social. Ela deve trabalhar, namorar, beijar na boca, transar euglenófitas, pirrófitas (dinoflagelados) e crisófitas (diato-
(com camisinha), passear, se divertir e fazer amigos. máceas), que são protistas autótrofos (fotossintetizantes).
Os protozoários são protistas heterótrofos.

31
BIOLOGIA

A célula
 
A célula de um protista é semelhante às células de
animais e plantas, mas há particularidades. Os plastos das
algas são diferentes dos das plantas quanto à sua organi-
zação interna de membranas fotossintéticas.
Ocorrem cílios e flagelos para a locomoção. A célula do
protozoário tem uma membrana simples ou reforçada por
capas externas protéicas ou, ainda, por carapaças minerais,
como certas amebas (tecamebas).
Os radiolários e heliozoários possuem um esqueleto
intracelular composto de sílica.
Os foraminíferos são dotados de carapaças externas
feitas de carbonato de cálcio. As algas diatomáceas pos-
suem carapaças silicosas.
Os protistas podem ainda ter adaptações de forma e Habitat
estrutura de acordo com o seu modo de vida: parasita, ou
de vida livre. Os protozoários são, na grande maioria, aquáticos,
O citoplasma está diferenciado em duas zonas, uma vivendo nos mares, rios, tanques, aquários, poças, lodo e
externa, hialina, o ectoplasma, e outra interna, granular, o terra úmida. Há espécies mutualísticas e muitas são para-
endoplasma. Nesta, existem vacúolos digestivos e inclu- sitas de invertebrados e vertebrados. Eles são organismos
sões. microscópicos, mas há espécies de 2 a 3 mm. Alguns for-
mam colônias livres ou sésseis.
Fazem parte do plâncton (conjunto de seres que vivem
em suspensão na água dos rios, lagos e oceanos, carrega-
dos passivamente pelas ondas e correntes). No plâncton
distinguem-se dois grupos de organismos:
• Fitoplâncton: organismos produtores (fotossinte-
tizadores), representados principalmente por dinoflagela-
dos e diatomáceas, constituem a base de sustentação da
cadeia alimentar nos mares e lagos. São responsáveis por
mais de 90% da fotossíntese no planeta.
• Zooplâncton: organismos consumidores, isto é,
heterótrofos, representados principalmente por protozoá-
rios, pequenos crustáceos e larvas de muitos invertebrados
e de peixes.
 
Reino Monera
Origem  
O reino monera é formado por bactérias, cianobac-
 Os protozoários constituem um grupo de euca- térias e arqueobactérias (também chamadas arqueas),
riontes com cerca de 20 mil espécies. É um grupo di- todos seres muito simples, unicelulares e com célula pro-
versificado, heterogêneo, que evoluiu a partir de algas cariótica (sem núcleo diferenciado). Esses seres microscó-
unicelulares. Em alguns casos essa origem torna-se bem pios são geralmente menores do que 8 micrômetros (1µm
clara, como por exemplo no grupo de flagelados. Há = 0,001 mm).
registro fóssil de protozoários com carapaças (forami- As bactérias (do grego bakteria: ‘bastão’) são encon-
níferos), que viveram há mais de 1,5 bilhão de anos, na trados em todos os ecossistemas da Terra e são de grande
Era Proterozóica. Grandes extensões do fundo dos ma- importância para a saúde, para o ambiente e a economia.
res apresentam espessas camadas de depósitos de carapa- As bactérias são encontradas em qualquer tipo de meio:
ças de certas espécies de radiolários e foraminíferos. São as mar, água doce, solo, ar e, inclusive, no interior de muitos
chamadas vasas. seres vivos.
Ao lado: Microscopia eletrônica da carapaça presente Exemplos da importância das bactérias:
externamente à célula de uma espécie de radiolário. • Na  decomposição de matéria orgânica morta.
Esse processo é efetuado tanto aeróbia, quanto anaerobia-
mente;
• Agentes que provocam doença no homem;
• Em processos industriais, como por exemplo, os
lactobacilos, utilizados na indústria de transformação do
leite em coalhada;

32
BIOLOGIA

• No ciclo do nitrogênio, em que atuam em diver- Reino Fungi.


sas fases, fazendo com que o nitrogênio atmosférico possa
ser utilizado pelas plantas; Os fungos são popularmente conhecidos por bolores,
• Em Engenharia Genética e Biotecnologia para a mofos, fermentos, levedos, orelhas-de-pau, trufas e co-
síntese de várias substâncias, entre elas a insulina e o hor- gumelos-de-chapéu (champignon). É um grupo bastante
mônio de crescimento. numeroso, formado por cerca de 200.000 espécies espa-
  lhadas por praticamente qualquer tipo de ambiente.
Estrutura das Bactérias  
Os Fungos e sua Importância
Bactérias são microorganismos unicelulares, procario-  
tos, podendo viver isoladamente ou construir agrupamen- Ecológica
tos coloniais de diversos formatos. A célula bacterianas
contém os quatro componentes fundamentais a qualquer Os fungos apresentam grande variedade de modos de
célula: membrana plasmática, hialoplasma, ribossomos e vida. Podem viver como saprófagos, quando obtêm seus
cromatina, no caso, uma molécula de DNA circular, que alimentos decompondo organismos mortos; como parasi-
constitui o único cromossomo bacteriano. tas, quando se alimentam de substâncias que retiram dos
A região ocupada pelo cromossomo bacteriano costu- organismos vivos nos quais se instalam, prejudicando-o ou
ma ser denominada nucleóide. Externamente à membrana podendo estabelecer associações mutualísticas com ou-
plasmática existe uma parede celular (membrana esquelé- tros organismos, em que ambos se beneficiam. Além des-
tica, de composição química específica de bactérias). ses modos mais comuns de vida, existem alguns grupos de
É comum existirem plasmídios - moléculas de DNA fungos considerados predadores que capturam pequenos
não ligada ao cromossomo bacteriano - espalhados pelo animais e deles se alimentam.
hialoplasma. Plasmídios costumam conter genes para re- Em todos os casos mencionados, os fungos liberam
sistência a antibióticos. enzimas digestivas para fora de seus corpos. Essas enzi-
mas atuam imediatamente no meio orgânico no qual eles
se instalam, degradando-o à moléculas simples, que são
absorvidas pelo fungo como uma solução aquosa.
Os fungos saprófagos são responsáveis por grande
parte da degradação da matéria orgânica, propiciando a
reciclagem de nutrientes. Juntamente com as bactérias sa-
prófagas, eles compõem o grupos dos organismos decom-
positores, de grande importância ecológica. No processo
da decomposição, a matéria orgânica contida em organis-
mos mortos é devolvida ao ambiente, podendo ser nova-
mente utilizada por outros organismos.
Apesar desse aspecto positivo da decomposição, os
fungos são responsáveis pelo apodrecimento de alimentos,
de madeira utilizada em diferentes tipos de construções de
tecidos, provocando sérios prejuízos econômicos. Os fun-
gos parasitas provocam doenças em plantas e em animais,
inclusive no homem.
A ferrugem do cafeeiro, por exemplo, é uma parasito-
se provocada por fungo; as pequenas manchas negras,
  indicando necrose em folhas, como a da soja, ilustrada a
seguir, são devidas ao ataque por fungos.
Algumas espécies de bactérias possuem, externamente Em muitos casos os fungos parasitas das plantas pos-
à membrana esquelética, outro envoltório, mucilaginoso, suem hifas especializadas - haustórios - que penetram nas
chamado de cápsula. É o caso dos pneumococos (bactérias células do hospedeiro usando os estomas como porta de
causadoras de pneumonia). Descobriu-se que a periculosi- entrada para a estrutura vegetal. Das células da planta cap-
dade dessas bactérias reside na cápsula em um experimen- tam açúcares para a sua alimentação.
to, ratos infectados com pneumococo sem cápsula tiveram Dentre os fungos mutualísticos, existem os que vi-
a doença porém não morreram, enquanto pneumococos vem associados a raízes de plantas formando as micorri-
capsulados causaram pneumonia letal. zas (mico= fungo; rizas = raízes). Nesses casos os fungos
A parede da célula bacteriana, também conheci- degradam materiais do solo, absorvem esses materiais
da como membrana esquelética, reveste externamente a degradados e os transferem à planta, propiciando-lhe um
membrana plasmática, e é constituída de uma substância crescimento sadio. A planta, por sua vez, cede ao fungo
química exclusiva das bactérias conhecida como mureí- certos açucares e aminoácidos de que ele necessita para
na (ácido n-acetil murâmico). viver.

33
BIOLOGIA

 Algumas plantas que formam as micorrizas natural- As plantas, juntamente com outros seres fotossinte-
mente são o tomateiro, o morangueiro, a macieira e as gra- tizantes, são produtoras de matéria orgânica que nutre a
mínias em geral. maioria dos seres vivos da Terra, atuando na base das ca-
As micorrizas são muito frequentes também em plan- deias alimentares. Ao fornecer o gás oxigênio ao ambiente,
tas típicas de ambientes com solo pobre de nutrientes mi- as plantas também contribuem para a manutenção da vida
nerais, como os cerrados, no território brasileiro. Nesses dos seres que, assim como elas próprias, utilizam esse gás
casos, elas representam um fator importante de adaptação, na respiração. As plantas conquistaram quase todos os am-
melhorando as condições de nutrição da planta. bientes da superfície da Terra.
Certos grupos de fungos podem estabelecer associa- Segundo a hipótese mais aceita, elas evoluíram a par-
ções mutualísticas com cianobactérias ou com algas ver- tir de ancestrais protistas. Provavelmente, esses ancestrais
des, dando origem a organismos denominados líquens. seriam tipos de algas pertencentes ao grupo dos protistas
Estes serão discutidos posteriormente. que se desenvolveram na água. Foram observadas seme-
  lhanças entre alguns tipos de clorofila que existem tanto
Econômica nas algas verdes como nas plantas.
A partir dessas e de outras semelhanças, supõe-se que
as algas verdes aquáticas são ancestrais diretas das plantas.
Muito fungos são aeróbios, isto é, realizam a respira-
Há cerca de 500 milhões de anos, as plantas iniciaram
ção, mas alguns são anaeróbios e realizam a fermentação.
a ocupação do ambiente terrestre. Este ambiente oferece
Destes últimos, alguns são utilizados no processo de
às plantas vantagens como: maior facilidade na captação
fabricação de bebidas alcoólicas, como a cerveja e o vinho, da luz, já que ela não chega às grandes profundidades da
e no processo de preparação do pão. Nesses processos, o água, e facilidade da troca de gases, devido à maior con-
fungo utilizado pertence à espécie Saccharomyces cerevi- centração de gás carbônico e gás oxigênio na atmosfera.
siae, capaz de transformar o açúcar em álcool etílico e CO2 Esses fatores são importantes no processo da respiração e
(fermentação alcoólica), na ausência de O2. Na presença de da fotossíntese.
O2 realizam a respiração. Eles são, por isso, chamados de Mas e quanto a presença da água, tão necessária à
anaeróbios facultativos. vida?
Na fabricação de bebidas alcoólicas o importante é o Ao compararmos o ambiente terrestre com o ambien-
álcool produzido na fermentação, enquanto, na preparação te aquático, verificamos que no terrestre a quantidade de
do pão, é o CO2. Neste último caso, o CO2 que vai sendo água sob a forma líquida é bem menor e também que a
formado se acumula no interior da massa, originando pe- maior parte dela está acumulada no interior do solo.
quenas bolhas que tornam o pão poroso e mais leve. Como, então, as plantas sobrevivem no ambiente ter-
O aprisionamento do CO2 na massa só é possível de- restre? Isso é possível porque elas apresentam adapta-
vido ao alto teor de glúten na farinha de trigo, que dá a ções que lhes possibilitam desenvolver no ambiente
“liga” do pão. Pães feitos com farinhas pobres em glúten terrestre e ocupá-lo eficientemente. As plantas adaptadas
não crescem tanto quanto os feitos com farinha rica em ao ambiente terrestre apresentam, por exemplo, estrutu-
glúten. ras que permitem a absorção de água presente no solo e
Imediatamente antes de ser assado, o teor alcoólico do outras estruturas que impedem a perda excessiva se água.
pão chega a 0,5%; ao assar, esse álcool evapora, dando ao Veremos mais adiante como isso ocorre.
pão um aroma agradável. Devemos lembrar que alguns grupos de plantas conti-
Alguns fungos são utilizados na indústria de laticínios, nuaram sobrevivendo em ambiente aquático.
como é o caso do Penicillium camemberti e do Penicillium
roqueforte, empregados na fabricação dos queijos Ca- Classificação das plantas
membert e Roquefort, respectivamente. As plantas cobrem boa parte dos ambientes terrestres
do planeta. Vistas em conjunto, como nesta foto, parecem
Algumas espécies de fungos são utilizadas diretamente
todas iguais. Mas na realidade existem vários tipos de plan-
como alimento pelo homem. É o caso da Morchellae da es-
ta e elas ocupam os mais diversos ambientes.
pécie Agaricus brunnescens, o popular cogumelo ou cham-
Em geral, os cientistas consideram como critérios im-
pignon, uma das mais amplamente cultivadas no mundo. portantes:
• A característica da planta ser vascular ou avascular,
Reino Plantae. isto é, a presença ou não de vasos condutores de água e
sais minerais (seiva bruta) e matéria orgânica (a seiva ela-
As plantas são seres pluricelulares e eucariontes. Nes- borada);
ses aspectos elas são semelhantes aos animais e a muitos • Ter ou não estruturas reprodutoras (semente, fruto
tipos de fungos; entretanto, têm uma característica que as e flor) ou ausência delas.
distingue desses seres - são autotróficas. Como já vimos,
seres autotróficos são aqueles que produzem o próprio ali- Os nomes dos grupos de plantas
mento pelo processo da fotossíntese. • Criptógama: palavra composta por cripto, que
Utilizando a luz, ou seja, a energia luminosa, as plantas significa escondido, e gama, cujo significado está relacio-
produzem a glicose, matéria orgânica formada a partir da nado a gameta (estrutura reprodutiva). Esta palavra signifi-
água e do gás carbônico que obtêm do alimento, e liberam ca, portanto, “planta que tem estrutura reprodutiva escon-
o gás oxigênio. dida”. Ou seja, sem semente.

34
BIOLOGIA

• Fanerógama: palavra composta por fanero, que Os invertebrados são todos os animais que não pos-
significa visível, e por gama, relativo a gameta. Esta palavra suem vértebras e, consequentemente, coluna vertebral. A
significa, portanto, “planta que tem a estrutura reprodutiva maior parte dos animais é formada pelos invertebrados,
visível”. São plantas que possuem semente. caso das esponjas, medusas, planárias, vermes, minhocas,
• Gimnosperma: palavra composta por gimmno, insetos, siris, estrelas-do-mar e outros.
que significa descoberta, e sperma, semente. Esta palavra O termo invertebrado não tem nenhum valor taxonô-
significa, portanto, “planta com semente a descoberto” ou mico e não corresponde a grupos como filo, classe, ordem
“semente nua”. ou outros; é simplesmente um termo vulgar aplicado a to-
• Angiosperma: palavra composta por angion, que dos esses animais.
significa vaso (que neste caso é o fruto) esperma, semente. Os vertebrados correspondem a todos os animais que
A palavra significa, “planta com semente guardada no in- possuem vértebras, caso dos peixes, anfíbios, répteis, aves
terior do fruto”. e mamíferos. Os vertebrados correspondem a um subfilo
dentro do filo dos cordados. Dentre os cordados, existem
Reino Animalia. animais invertebrados, como é o caso do anfioxo, que vive
enterrado na areia, no ambiente marinho.
O Reino Animalia é definido segundo características co-  
muns a todos os animais: organismos eucariontes, mul- Simetria e Locomoção
ticelulares,  heterotróficos,  que obtêm seu alimento por
ingestão de nutrientes do meio. Animais de organização mais simples, como diversas
Mesmo dentro de critérios assim tão amplos, podemos esponjas, possuem formas irregulares, sendo, por isso, cha-
encontrar exceções, em funções de fatores diversos, como mados assimétricos.
a adaptação de organismos a meios de vida especiais. É o Em outros animais, podemos passar por seus corpos
que ocorre, por exemplo, com alguns endoparasitas que diversos planos verticais de simetria que passam pelo eixo
perderam a capacidade de ingestão de nutrientes, obten- central longitudinal (como nos tipos de esponjas que cres-
do-os por absorção direta dos líquidos do corpo dos orga- cem com a forma aproximada de vaso, nos cnidários e
nismos parasitados. Todos os animais começam seu desen- na maioria dos equinodermos, por exemplo); cada plano
volvimento a partir de uma célula-ovo ou zigoto, que surge permite a separação do animal em metades equivalentes.
da fecundação do óvulo pelo espermatozóide. Assim, a re- São os chamados simétricos radiais, em geral animais cilín-
produção sexuada sempre está presente nos ciclos de vida dricos ou em forma de sino. Os animais simétricos radiais,
dos animais. Isso não significa que a reprodução assexuada em sua maioria, são fixos ao substrato (esponjas adultas,
não aconteça; ela ocorre e é muito importante em alguns pólipos de cnidários etc.), ou movem-se com lentidão (me-
grupos. dusas, estrelas e ouriços-do-mar etc.).
A partir do zigoto, inicia-se o desenvolvimento embrio- No entanto, a simetria predomina no reino animal é
nário, que passa pelas fases de mórula, blástula e gás- a bilateral. Os animais bilaterais possuem lados esquerdo
trula. São vários os tipos de desenvolvimento embrionário, e direito, faces ventral e dorsal e extremidades anterior e
mas, apenas para exemplificação, vamos representar a se- posterior. A extremidade anterior é aquela em que fica lo-
guir todas essas fases, desde o zigoto até a gástrula, con- calizada a cabeça, que contém o centro de comando ner-
siderando o padrão mais fácil para o entendimento básico voso.
de como elas ocorrem. A extremidade posterior é aquela em que, na maioria
Alguns animais desenvolvem-se até um conjunto de das vezes, situa-se o ânus e os orifícios reprodutores.
células que não chega a formar tecidos verdadeiros, en- Nesse tipo de simetria existe um plano sagital que
quanto a maioria atinge níveis de organização superiores divide o animal em duas metades equivalentes. De modo
a tecidos, tais como órgãos e sistemas. É possível, assim, geral, a simetria bilateral é relacionada ao modo de vida
distinguir dois grandes grupos: de «ir em busca» do alimento de uma forma mais dirigida.
• Parazoa (parazoário; pará = ao lado, zoa = ani-
mal): representado pelos Porífera (esponjas), no qual não
há a formação de tecidos verdadeiros.
• Eumetazoa (eumetazoários; eu = verdadeiros,
metazoário = animal): representados por todos os outros
animais que possuem tecido diferenciado.
Dentre os Eumetazoa distinguem-se dois outros gru-
pos: o dos organismos que não passam do nível de organi-
zação superior a tecidos, do qual fazem parte os cnidários,
e o dos organismos que já apresentam os órgãos em siste-
mas definidos, compreendendo a maioria dos Eumetazoa.
O ramo da biologia que estuda os animais é denomi-
nado Zoologia (zoo = animal, logus = estudo).
É muito comum, em Zoologia falar-se em animais in-
vertebrados e animais vertebrados.

35
BIOLOGIA

Não quero dizer que podemos usar todos os reprodu-


PRINCÍPIOS BÁSICOS tores com problemas, não, pelo contrário!! Devemos é ten-
DA HEREDITARIEDADE - MATERIAL tar perceber a causa desses problemas e certificarmo-nos
GENÉTICO; COMPOSIÇÃO, ESTRUTURA que é genética e transmissível antes de eliminarmos aves
com bom potencial genético. Para melhorar a qualidade
E DUPLICAÇÃO DO DNA - CÓDIGO
das nossas aves é essencial eliminar algumas delas retiran-
GENÉTICO E MUTAÇÃO.
do os seus genes das linhas de reprodução, mas estas aves
FUNCIONAMENTO DOS GENES; poderão facilmente preencher as necessidades de uma
NOÇÕES DE TRANSCRIÇÃO, TRADUÇÃO – principiantes e são até por vezes muito boas.
SÍNTESE PROTÉICA – E REGULAÇÃO. LEIS DE Por exemplo em algumas linhas de mandarins não
MENDEL. PADRÕES DE pretendo que existam gene recessivos para o fator malha-
HERANÇA: AUTOSSÔMICA, LIGADA do pelo que qualquer ave que seja portadora é eliminada
AO SEXO – DOMINANTE E RECESSIVA. GRUPOS (bem como os seus antepassados em algumas situações),
SANGUINEOS. APLICAÇÃO mas ao mesmo tempo mantenho uma linha distinta de ma-
DOS CONHECIMENTOS ATUAIS DE lhados. Os malhados são bons e desejáveis na minha linha
GENÉTICA, BIOLOGIA MOLECULAR E de malhados, não nas outras!!
BIOTECNOLOGIA – RETROCRUZAMENTO Todo o indivíduo é o resultado da interação de genéti-
INTERAÇÃO GÊNICA - HERANÇA ca e ambiente. Um bom exemplo disto são os canários de
LIGADA AO SEXO - MUTAÇÕES fator vermelho. Por muito boa que seja a genética dos pais
se os filhos não receberem os suplementos necessários du-
- GRUPOS SANGUÍNEOS. EVOLUÇÃO
rante a muda nunca ganharão toda a cor pretendida. Este
DA VIDA - ORIGEM DA VIDA
exemplo é perfeito para percebermos como as coisas se
- EXPLICAÇÕES SOBRE A DIVERSIDADE combinam, aqui a genética influencia o modo como o pig-
- EVIDÊNCIAS DA EVOLUÇÃO mento é absorvido e distribuído pela plumagem mas o am-
- A ORIGEM DAS ESPÉCIES. biente é que controla a quantidade de pigmento que a ave
A CONQUISTA DOS AMBIENTES tem para distribuir na plumagem. Suponhamos agora que
TERRESTRES POR ANIMAIS E PLANTAS. o criador de esquecia de administrar os corantes necessá-
A EVOLUÇÃO DO HOMEM. rios numa época mas sabia ter um bom cruzamento com
resultados já dados em anos anteriores. Não era por os fi-
lhos serem laranjas que não poderia ficar com alguns para
Por certo que já várias vezes se juntaram duas aves na espe- reprodução, muito provavelmente se na época seguinte
rança de que produzissem crias da cor de um dos pais e no final fornecesse na alimentação os pigmentos necessários os
se obteve quase todas as cores possíveis mesmo o queríamos. descendentes desses filhos poderiam exprimir toda a sua
Quando me refiro às cores é por acaso, pois podia fazê capacidade genética.
-lo em relação a variados fatores como o porte, tamanho,
qualidades reprodutoras, entre outros. A transmissão de Definições
certas características de pais para filhos é regida por leis
que são a base da genética e devemos conhecer. Antes de podermos compreender os mecanismos ge-
É importante saber que alguns fatores são também néticos em si é importante conhecer alguns termos.
ambientais e nem sempre é fácil distingui-los. Por exemplo Genótipo: constituição genética do indivíduo.
uma ave que permaneça no ninho por dois meses (como Fenótipo: Aparência do indivíduo em parte como con-
alguns psitacídeos) se não tiver uma alimentação adequa- sequência do seu genótipo e ambiente.
da particularmente em vitaminas e cálcio pode ficar com Loci (pl) Locus (sing.): Localização específica de uma
problemas de pernas. Agora imaginemos que essa ave era característica (alelo) num cromossoma. Um par de alelos
um macho com qualidades extraordinárias como uma nova (gene) tem loci iguais cada um transportando um diferente
cor de plumagem. Muita gente acabaria (?!)por não o usar alelo podendo ou não ser afetados por esses outros ale-
na reprodução, mas o facto é que os problemas que ele los. Gene: Unidade de informação hereditária. É uma zona
mostra não são transmissíveis aos filhos pois a sua causa específica do DNA dos indivíduos que contém codificada
foi ambiental e, com uma alimentação correta, quase de a informação para a síntese de uma determinada proteí-
certeza que os seus descendentes não teriam quaisquer na. Alelo: cada umas das formas alternativas de um gene,
problemas de pernas. que pode ocupar o respectivo lócus e cujo número varia. A
Foi por situações semelhantes que algumas mutações representação normal é feita por meio de uma letra. Cro-
ganharam fama de serem muito sensíveis ou até mesmo mossoma: Unidade do genótipo que contém um grande
letais erradamente. Veja-se o caso dos mandarins de bo- número de genes. O número de cromossomas é específico
checha negra onde o cruzamento de dois recessivos ainda para cada espécie.
é “proibido” pelo surgimento de alguns indivíduos melanís- Autossômico: As características herdadas são regidas
ticos que morriam sem deixar descendentes e por causas pelos genes localizados em cromossomas não determinan-
inteiramente ambientais, devidas a deficiências nutritivas. tes do sexo.

36
BIOLOGIA

Fatores ligados ao sexo (“Sex-linked”): Características Por definição, e no caso das aves, os fatores ligados ao
herdadas através dos cromossomas sexuais. No caso das sexo estão no cromossoma sexual masculino Z. Isto é muito
aves os machos possuem um par de cromossomas Z e as importante porque enquanto os outros fatores nos cromos-
fêmeas um cromossoma Z e um cromossoma W. Conside- somas autossômicos são transportados em pares em todos
ra-se que estas características estão baseadas no cromos- os indivíduos de ambos os sexos, neste caso os machos
soma masculino Z, podendo ser herdadas numa só cópia transportam dois cromossomas Z e as fêmeas apenas um.
pelas fêmeas e em uma ou duas pelos machos. Esta situação é o inverso do que sucede com os mamíferos
Homozigóticos: a presença de dois alelos semelhantes onde é o sexo masculino que têm uma situação de hetero-
no loci correspondente do mesmo gene. Aplica-se a genes zigotia sexual com um cromossomas X e um Y, enquanto as
autossômicos mas também pode ser aplicado a característi- fêmeas são XX.
cas ligadas ao sexo nos machos. Por exemplo uma fêmea Gould amarela tem um único
Heterozigótico: A presença de dois alelos diferentes nos gene co-dominante para costas amarelas e contudo tem cos-
loci do mesmo gene. Aplica-se a genes autossômicos mas tas totalmente amarelas e nunca diluídas (como no caso das
também pode ser aplicado a características ligadas ao sexo machos onde o amarelo perde intensidade em heterozigó-
nos machos. ticos).
Recessivo: características expressas no fenótipo só quan- Quando da fertilização os óvulos produzidos pela fêmea
do existem dois alelos para essa característica nos loci do transportam ou um cromossoma Z ou W ao qual sevai juntar
mesmo gene, caso contrário o efeito desse alelo não é visível, um cromossoma Z proveniente do macho reformando o par
exceto no caso das fêmeas com mutações ligadas ao sexo. ZZ ou ZW conforme a combinação. Assim todos os genes
Dominante: caraterísticas que são expressas no fenótipo que a mãe tiver no seu cromossoma Z são passados aos filhos
mesmo quando só está presente um alelo. Quando combi- macho (pois recebem um cromossoma Z da mãe), enquanto
nadas com um outro alelo recessivo dominam-no. que os filhos fêmea recebem o cromossoma W ao qual se
Portador: indicado “/”: indivíduo que embora não o de- junta um dos Z do macho. É por isso que com mutações liga-
monstre no seu fenótipo transporta alelos recessivos ou li- das ao sexo os machos podem produzir descendência com
gados ao sexo mas que estão escondidos por outro gene, essa mutação (sempre fêmeas) mas para se produzirem ma-
podendo mesmo assim ser transmitidos à descendência. chos também de mutação temos sempre de ter uma fêmea
FS: Fator Simples. Apenas está presente um alelo para já mutada e um macho no mínimo portador (em que apenas
a característica. Usa-se para diferenciar os indivíduos que, existe o gene mutado num dos dois cromossomas Z).
expressando um fenótipo dominante não são puros e trans-
portam outros alelos recessivos. Seleção
FD: Fator Duplo. Estão presentes dois alelos para a ca-
racterística. Apenas faz sentido quando usado para identifi- Entende-se por seleção a escolha não aleatória dos re-
car indivíduos dominantes puros, i.e., com dois alelos domi- produtores de modo a que estes transmitam determinadas
nantes. características às gerações seguintes. Desde sempre que o
homem faz seleção artificial de várias coisas, cruzando ani-
Cruzamentos teste mais com força a outros com grande tamanho, plantas de
frutos grande com outras que produzem mais frutos, mas de
Este cruzamento é feito com um indivíduo homozigóti- menores dimensões ou melhor qualidade.
co recessivo para o fator que se pretende estudar, que facil- Também nas aves se vêem selecionando à já vários sécu-
mente se identifica pelo seu fenótipo e um outro de genóti- los características específicas. Na Idade média faziam-se con-
po conhecido ou não. Por exemplo se cruzarmos um macho cursos de tentilhões para ver qual cantava melhor vencendo
desconhecido com uma fêmea recessiva podemos determi- os seus rivais. Foi assim que se chegou a criar novas espécies
nar se o macho é portador daquele caráter recessivo ou se é como o bengalim do Japão ou todas as variedades de caná-
puro. Caso este seja puro todos os filhos serão como ele, se rio a partir da ave selvagem.
for portador 25% serão brancos, etc.. Esta explicação é muito Para selecionarmos temos antes de mais que assegurar
básica pois geralmente é preciso um pouco mais do que este que aquele casal apenas acasala entre si, pelo que convém
único cruzamento. separá-lo de outros da mesma espécies e de espécies inter-
A limitação destes cruzamentos está no facto de não cruzáveis. Tem de ser referido um fator que muitas vezes é
permitirem identificar portadores de alelos múltiplos para a esquecido por quem começa e por quem já sabe do ofício
mesma característica ou seja podem existir em alguns casos e leva a desilusões frequentes. Quando se fala de seleção,
mais do que dois alelos para o mesmo gene e o efeito da esta apenas faz sentido numa linha e raramente em indiví-
sua combinação variar. Além disso podemos estar a cruzar duos isolados. Ou melhor a seleção individual dos indivíduos
para um fator para o qual o macho ou fêmea a testar não são deve ter em vista a melhoria de uma linha, semelhante ou
portadores mas serem para outros. não. Não podemos esperar que num único cruzamento se
melhore a qualidade das aves isso sucede ao longo das ge-
Fatores ligados ao Sexo rações conforme vamos mantendo os melhores exemplares
Existem diversas mutações em muitas espécies que são e reproduzindo com eles. É errado pensar que comprando
controladas e transmitidas por este mecanismo genético, uma ave muito boa se pode fazer milagres, muitas vezes é
pelo que é importante que se compreenda o seu funcio- desperdiçar de tempo e dinheiro, é preciso aprender o que
namento. se precisa, o que se tem e o que se quer melhorar nas ge-
rações futuras.

37
BIOLOGIA

Depois temos de saber o que queremos produzir e plares (tamanho, porte, cor). Desse cruzamento escolhe-
como esse fator é transmitido geneticamente. O modo mos de novo os melhores mas agora para cruzar com uma
empírico e mais usual é usar aves que mostrem aquela ca- ave semelhante de outra linha que não a dos pais ou ir-
raterística específica e cruzá-las entres si, para depois espe- mãos. Podemos por exemplo usar uma fêmea e adquirir
rar que os filhos demonstrem ainda mais aquele fator, mas um outro macho. Deste modo quebramos imediatamente
nem sempre isto funciona, é mais adequado para trabalhar a depressão por consanguinidade nos descendentes do
e melhorar mutações já estabelecidas. terceiro cruzamento. Também já tive uma situação em que
depois de procurar por uma determinada ave que queria
Linhas puras não fosse relacionada com as que já tinha, depois de final-
mente a encontrar (bem longe de casa) regressei e fiquei
Uma linha pura é aquela em que todos os indivíduos muito surpreendido ao ver que o número de criador de
têm uma constituição genética idêntica e originam descen- ambas era o mesmo...
dentes idênticos, sendo o resultado do cruzamento previ- A consanguinidade resulta do acumular de genes com
sível. efeitos negativos, diminuindo o tamanho e vigor das aves.
Arranjar linhas puras é complicado e envolve muito Quando se começa a partir de boas linhas reprodutoras
tempo de trabalho, em especial com espécies que se repro- que estão “isentas” de genes desfavoráveis é aceitável a
duzem pouco e atingem a maturidade sexual muito tarde. co-sanguinidade e perdermos nuns pontos para obter uma
Assim, na minha opinião por vezes vale a pena pagar mais ave com uma boa característica específica a partir da qual
por uma ave e adquiri-la a um criador que nos pode dar vamos estabelecer cruzamentos para recuperar o que foi
algumas garantias e informações sobre os seus antepassa- perdido, geralmente tamanho e fertilidade.
dos. Isso não invalida o que eu disse anteriormente sobre Esquemas de cruzamentos
aves de grande potencial não fazerem por si uma linha. O
maior erro de muita gente com efetivos de qualidade mé- O cruzamento a seguir vai depender do tipo de meca-
dia é pensar que pode comprar uma ave muito boa (geral- nismo genético da característica a trabalhar.
mente pensa-se sempre no tamanho...) e melhorar todo o
efetivo a partir dela, o que leva em pouco tempo a efeitos Caracteres recessivos
contrários de consanguinidade.
Para obtermos uma linha pura NUNCA podemos tra- Para os caracteres controlados por um mecanismo au-
balhar apenas com uma ou duas aves, nem mesmo com tossômico recessivo temos de produzir reprodutores que
um só casal. Se dispusermos de pelo menos dois casais de sejam ou homozigóticos recessivos ou, no mínimo, porta-
origens distintas, mas com as mesmas características que dores desse alelo recessivo. Só assim conseguiremos obter
queremos selecionar, podemos intercruzar os filhos e eli- descendentes que manifestem essa característica.
minar todos aqueles que não se enquadrem no pretendido. Partindo de um único macho devemos primeiro pro-
Desse novo cruzamento devemos obter alguns exemplares duzir uma geração de portadores o que se consegue cru-
puros que depois vamos usar em combinações ou cruza- zando o macho recessivo com uma fêmea pura dominante
mentos com outras aves para fixar a característica. para esse alelo (ou vice-versa). Todos os filhos serão feno-
Mesmo assim o mínimo para fixar uma linhagem são 3 tipicamente idênticos à mãe mas portadores do alelo re-
casais distintos, de preferência 4 ou 5. Só assim podemos cessivo. Aqui devemos escolher dois filhos e cruzá-los de
garantir que existe suficiente variabilidade genética dentro modo a obtermos 25% de descendentes que são recessivos
do efetivo para assegurar uma melhoria nas gerações futu- tal como o primeiro macho. Esses vão ser acasalados com
ras. A variabilidade genética é a base de TODA a evolução, outras fêmeas de uma outra linha que não a da sua mãe
perseguir linhas uniformes é utópico pois acaba por inva- de modo a fazer duas linhas distintas de portadores. Deste
lidar avanços futuros. Só podemos escolher os melhores modo conseguimos obter duas linhas com apenas 25% de
em gerações sucessivas se houver alguns melhores que ou- consanguinidade e que podem ser cruzadas entre si sem
tros!! E sobretudo melhores que os pais o que se consegue grandes problemas.
juntando os pontos fortes dos reprodutores. Os cruzamentos entre dois portadores não são reco-
mendáveis porque nunca poderemos saber quais os filhos
Consanguinidade portadores e os não portadores pois estes são fenotipi-
camente iguais, daí que quando se pretenda evitar o cru-
Este é outro dos pontos em que muitas vezes se erra. zamento de dois recessivos devamos usar sempre ou um
Não existe qualquer problema em cruzar irmãos com ir- recessivo e um dominante (obtendo todos os descenden-
mãos ou filhos com pais desde que se saiba como fazê-lo. tes portadores) ou então um recessivo e um portador (ob-
Na realidade este é o método mais rápido e eficaz de fixar tendo 50% recessivos e 50% portadores). Em alguns casos
uma característica porque a base genética é semelhante. não há alternativa senão cruzar portadores mas, em espe-
Quando se faz isto tem de se partir de um casal não cial para quem tem poucos interesses de seleção fiquem
relacionado, isto é os pais nunca poderão ser da mesma conscientes que isso é “espalhar genética” que pode muito
linha. O melhor portanto é tentar adquiri-los em sítios di- bem ir parar às mãos de alguém que não trate de apro-
ferentes. Dito isto, a descendência que esse casal produz veitar uma característica rara por não saber que ela existe
pode ser cruzada entre si escolhendo os melhores exem- naquela ave...

38
BIOLOGIA

Caracteres recessivos ligados ao sexo 3. BASES FÍSICAS DA HEREDITARIEDADE

São mais fáceis de trabalhar apenas por serem ligados Pouco depois da redescoberta dos trabalhos de Men-
ao sexo. Assim basta pensarmos numa coisa, os machos del, os cientistas perceberam que os padrões hereditários
vão sempre produzir fêmeas recessivas e machos portado- que ele havia descrito eram comparáveis à ação dos cro-
res independentemente da fêmea com que sejam acasala- mossomos nas células em divisão, e sugeriram que as uni-
dos. Por seu lado as fêmeas vão produzir todos os machos dades mendelianas de herança, os genes, se localizavam
portadores. Para obtermos machos recessivos precisamos nos cromossomos. Os cromossomos variam em forma e
de que a fêmea seja recessiva e o macho, no mínimo porta- tamanho e em geral apresentam-se em pares. Os mem-
dor, o que até é preferível em relação ao acasalamento de bros de cada par, chamados cromossomos homólogos,
dois recessivos neste caso. têm grande semelhança entre si. A maioria das células do
corpo humano contém 23 pares de cromossomos. Atual-
Caracteres Dominantes mente, sabe-se que cada cromossomo contém muitos ge-
nes e que cada gene se localiza numa posição específica, o
A dominância é um pau de dois bicos. É fácil de traba- lócus, no cromossomo. Os gametas originam-se através da
lhar porque produz sempre o que queremos mas temos de meiose, divisão na qual só se transmite a cada célula nova
ter cuidado com o que escondemos, não devemos cruzar um cromossomo de cada um dos pares da célula original.
dominantes com aves portadoras de caracteres recessivos Quando, na fecundação, se unem dois gametas, a célula
raros ou não pois nunca iremos saber quais os filhos por- resultante, chamada zigoto, contém toda a dotação dupla
tadores. de cromossomos. A metade destes cromossomos procede
Alguns fatores dominantes não devem ser criados em de um progenitor e a outra metade do outro.
fator duplo (os Gloster de poupa). De qualquer modo um
dominante FS produz 50% de descendentes dominantes, o 4. A TRANSMISSÃO DE GENES
que até é bom porque um gene dominante é tão fácil de
reproduzir que pode passar de raro a excessivo num efetivo A união dos gametas combina dois conjuntos de ge-
em apenas 2 ou 3 gerações! Este é outro problema quan- nes, um de cada progenitor. Por isso, cada gene — isto é,
do se trabalha em seleção, muitas vezes, para mais se tra- cada posição específica sobre um cromossomo que afeta
balhamos com portadores e combinações, acabamos por uma característica particular — está representado por duas
ocupar muito espaço muito depressa. Com os dominantes cópias, uma procedente da mãe e outra do pai. Quando as
é ainda mais grave porque basta ficarmos com uma cria duas cópias são idênticas, diz-se que o indivíduo é homozi-
para que metade dos seus descendentes sejam também gótico para aquele gene particular. Quando são diferentes,
dominantes, raramente se refuga os pais e assim é preciso ou seja, quando cada progenitor contribuiu com uma for-
uma nova gaiola, um novo casal, uma nova cria que sai bas- ma diferente, ou alelo, do mesmo gene, diz-se que o indi-
tante boa e acaba por ficar e assim em diante. víduo é heterozigótico para o gene. Ambos os alelos estão
contidos no material genético do indivíduo, mas se um é
dominante, apenas este se manifesta. No entanto, como
Genética demonstrou Mendel, a característica recessiva pode voltar
a manifestar-se em gerações posteriores (em indivíduos
Estudo científico de como se transmite os caracteres
homozigóticos para seus alelos).
físicos, bioquímicos e de comportamento de pais a filhos.
5. FUNÇÃO DOS GENES: O ADN E O CÓDIGO DA
Este termo foi criado em 1906 pelo biólogo britânico Wil-
VIDA
liam Bateson. Os geneticistas determinam os mecanismos
hereditários pelos quais descendentes de organismos que
Em 1944, o bacteriologista canadense Oswald Theo-
se reproduzem de forma sexual não se parecem exatamen-
dore Avere demonstrou que o ácido desoxirribonucléico
te com seus pais, e as diferenças e semelhanças entre pais e
(ADN) era a substância fundamental que determinava a
filhos que se reproduzem de geração em geração, segundo
herança. O geneticista norte-americano James Watson e o
determinados padrões.
britânico Francis Compton Crick descobriram que a molé-
cula de ADN é formada por duas cadeias que se enrolam,
2. ORIGEM DA GENÉTICA
compondo uma hélice dupla, semelhante a uma escada em
caracol. As cadeias, o corrimão da escada, são constituídas
A ciência da genética nasceu em 1900, quando vários
por moléculas de fosfato e carboidratos que se alternam.
investigadores da reprodução das plantas descobriram o
As bases nitrogenadas, dispostas em pares, representam os
trabalho do monge austríaco Gregor Mendel, que, apesar
degraus. Para fazer uma cópia nova e idêntica da molécula
de ter sido publicado em 1866, havia, na prática, sido igno-
de ADN, só é necessário que as duas cadeias se estendam
rado por muito tempo. Mendel, que trabalhou com a plan-
e se separem por suas bases; graças à presença na célula
ta da ervilha, descreveu os padrões da herança em função
de mais nucleotídeos, pode-se unir a cada cadeia separada
de sete pares de traços contrastantes que apareciam em
bases complementares novas, formando duas duplas héli-
sete variedades diferentes dessa planta
ces. Desde que se demonstrou que as proteínas eram pro-
duto dos genes, e que cada gene era formado por frações

39
BIOLOGIA

de cadeias de ADN, os cientistas chegaram à conclusão de 7. HEREDITARIEDADE HUMANA


que deve haver um código genético através do qual a or-
dem dos trípletes (ou códons), define a ordem dos aminoá- A maioria das características físicas humanas recebe
cidos no polipeptídeo. influências das múltiplas variáveis genéticas e também do
As duas cadeias do ADN se separam numa porção de meio. Algumas, como a altura, possuem forte componen-
seu comprimento. Uma delas atua como suporte sobre o te genético, enquanto outras, como o peso, têm um com-
qual se forma o ARN mensageiro (ARNm), num processo ponente ambiental muito importante. No entanto, parece
denominado transcrição. A molécula nova de ARNm se que outros caracteres, como os grupos sanguíneos (ver
insere numa estrutura pequena chamada ribossomo, de Grupo sanguíneo) e os antígenos que atuam na rejeição
onde se forma a proteína. Neste processo, denominado dos transplantes, estão totalmente determinados por com-
tradução, a sequência de bases de nucleotídeos presentes ponentes genéticos. Os biólogos têm grande interesse no
no ARNm determina a ordem em que se unem os aminoá- estudo e na identificação dos genes. Quando determinado
cidos, para formar o polipeptídeo. gene provoca uma doença específica, seu estudo é muito
importante, do ponto de vista médico. O genoma humano
6. MUTAÇÕES contém entre 50 mil e 100 mil genes, dos quais cerca de 4
mil podem estar associados a doenças. O Projeto Genoma
Humano, coordenado por várias instituições, começou em
Embora a replicação do ADN seja muito precisa, ela
1990, com o objetivo de estabelecer o genoma humano
não é perfeita. Em raros casos, produzem-se erros e o ADN completo. No final da década, pesquisadores americanos
novo contém um ou mais nucleotídeos trocados. Um erro e britânicos decifraram pela primeira vez o genoma de um
deste tipo, que recebe o nome de mutação, pode aconte- organismo pluricelular, um verme nematódeo de 1 mm
cer em qualquer área do ADN. Se acontecer na sequência de comprimento chamado Coenorhabditis elegans. O se-
de nucleotídeos que codifica um polipeptídeo particular, quenciamento do código genético consiste em determinar
este pode apresentar um aminoácido trocado na cadeia com precisão o encadeamento dos pares de nucleotídeos,
polipeptídica. Esta modificação pode alterar seriamente as elementos unitários da estrutura do ADN, que são medi-
propriedades da proteína resultante. Por exemplo, os poli- dos em milhões de bases. O genoma do verme estudado
peptídeos que distinguem a hemoglobina normal da he- é constituído de 97 milhões de bases, que formam 19 mil
moglobina das células falciformes diferem em apenas um genes. O estudo desses genes deverá permitir uma melhor
aminoácido (ver Anemia das células falciformes). Quando compreensão do genoma humano (que tem cerca de 3 bi-
se produz uma mutação durante a formação dos gametas, lhões de bases), pois o Coenorhabditis elegans tem muitos
esta se transmitirá às gerações seguintes. Diferentes for- genes em comum com os seres humanos.
mas de radiação, como os raios X, assim como as tempera-
turas elevadas e vários compostos químicos, podem induzir 8. Engenharia genética
a mutações.
A substituição de um nucleotídeo por outro não é o Método que modifica as características hereditárias de
único tipo possível de mutação. Algumas vezes, pode-se um organismo em um sentido predeterminado, mediante
ganhar ou perder por completo um nucleotídeo. Além dis- a alteração de seu material genético. Geralmente, é usada
so, é possível que se produzam modificações mais óbvias para conseguir que determinados microorganismos, como
ou graves, ou que se altere a própria forma e o número dos bactérias ou vírus, aumentem a síntese de compostos, for-
cromossomos. Uma parte do cromossomo pode se sepa- mem compostos novos ou se adaptem a meios diferen-
rar, inverter e depois se unir de novo ao cromossomo no tes. Outra aplicação dessa técnica, também denominada
mesmo lugar. Isto é chamado de inversão. Se o fragmen- técnica de ADN recombinante, inclui a terapia genética: o
fornecimento de um gene funcional a uma pessoa que so-
to separado se une a um cromossomo diferente, ou a um
fre de uma anomalia genética. Outros usos da engenharia
fragmento diferente do cromossomo original, o fenômeno
genética são o aumento da resistência de culturas a pra-
se denomina translocação. Algumas vezes, perde-se um
gas, a produção de compostos farmacêuticos no leite dos
fragmento de um cromossomo que faz parte de um par animais, o desenvolvimento de vacinas e a alteração das
de cromossomos homólogos, e este fragmento é adquirido características do gado.
por outro. Então, diz-se que um apresenta uma deficiência
e o outro uma duplicação. 9. Hereditariedade
Outro tipo de mutação produz-se quando a meiose
erra a separação de um par de cromossomos homólogos. Estudo de todas as características de um organismo
Isto pode originar gametas — e portanto zigotos — com que estão determinadas por certos elementos biologica-
cromossomos demais, e outros onde faltam um ou mais mente ativos que procedem de seus progenitores. Embora
cromossomos. Os indivíduos com um cromossomo a mais o estudo científico e experimental da hereditariedade, a
são chamados trissômicos, e aqueles nos quais falta um, genética, tenha se desenvolvido no início do século XX, as
monossômicos. Ambas as situações tendem a produzir in- teorias sobre este campo datam da Grécia antiga.
capacidades graves. Por exemplo, as pessoas com síndro- A redescoberta, em 1900, dos escritos de Gregor Men-
me de Down são trissômicas, com três cópias do cromos- del do ano de 1866 sobre os padrões de hereditariedade
somo 21. nas ervilhas promoveu uma abordagem importante do
problema da hereditariedade.

40
BIOLOGIA

Uma das conquistas mais importantes para o desen- 12. Gene


volvimento dos estudos sobre a hereditariedade em geral,
e os princípios mendelianos em particular, foi a separação Unidade de hereditariedade, partícula de material ge-
entre genótipo e fenótipo, estabelecida pelo botânico di- nético que determina a hereditariedade de determinada
namarquês Wilhelm Johannsen em 1911. O genótipo refe- característica, ou de um grupo delas. Os genes estão locali-
re-se aos genes que o organismo possui e é capaz de trans- zados nos cromossomos no núcleo celular e se alinham ao
mitir à geração seguinte. O fenótipo refere-se à aparência longo de cada um deles. Cada gene ocupa no cromossomo
(em termos de caracteres) que mostra um organismo. A uma posição, ou lócus.
importância desta distinção está no fato de que a única O material genético é o ácido desoxirribonucléico, o
forma de determinar o genótipo é através de experiências ADN, uma molécula que representa a “coluna vertebral” do
de reprodução, não simplesmente através do exame do fe- cromossomo. Como em cada cromossomo o ADN é uma
nótipo de um organismo. molécula contínua, alongada, simples e delgada, os genes
Depois de vários anos de experiências com Drosophila devem ser parte dela e exercem seus efeitos através das
melanogaster, Thomas Hunt Morgan ajudou a estabelecer a moléculas às quais dão origem, em sua maioria proteínas.
teoria cromossômica da hereditariedade. O grupo de Mor- Profilaxia é a parte da medicina que tem por objeto as
gan propôs que os fatores mendelianos se disporiam de medidas preventivas contra as doenças e enfermidades. É o
forma linear sobre os cromossomos, definindo deste modo emprego de todos os meios conhecidos para evitar doen-
a realidade física dos genes como partículas distintas. ças. Pode ser um trabalho preservativo ou defensivo.
Depois da II Guerra Mundial, o estudo da hereditarie-
dade alcançou um alto grau de desenvolvimento, quando
os biólogos começaram a aprofundar-se sobre a própria
natureza do gene. Nas décadas de 40 e 50, confirmou-se FUNCIONAMENTO DOS GENES; NOÇÕES
que os ácidos nucléicos são as substâncias principais da DE TRANSCRIÇÃO, TRADUÇÃO – SÍNTESE
hereditariedade e que atuam dirigindo a síntese de pro-
teínas.
PROTÉICA – E REGULAÇÃO

10. Nucléicos, Ácidos


A síntese proteica é um fenômeno relativamente rápi-
Moléculas muito complexas que produzem as células do e muito complexo que ocorre em quase todos os orga-
vivas e os vírus. Transmitem as características hereditárias nismos, e se desenvolve no interior das células. Este pro-
de uma geração para a seguinte e regulam a síntese de cesso tem duas fases: transcrição e a tradução.
proteínas.
Os ácidos nucléicos são formados por subunidades Transcrição: Ocorre no interior do núcleo das células e
chamadas nucleotídeos, que consistem em uma base ni- consiste na síntese de uma molécula de RNAm (RNA Men-
trogenada, um açúcar de 5 carbonos e ácido fosfórico. Há sageiro) a partir da leitura da informação contida no cís-
duas classes de ácidos nucléicos, o ácido desoxirribonucléi- tron de uma molécula de DNA. Este processo inicia-se pela
co (ADN), com uma estrutura em forma de dupla hélice e ligação de um complexo enzimático à molécula de DNA, o
o ácido ribonucléico (ARN), formado por uma única cadeia RNA-polimerase. A enzima helicase desfaz a dupla hélice,
helicoidal. O ADN tem a pentose desoxirribose e as bases destruindo as ligações de hidrogênio que ligam as bases
nitrogenadas adenina, guanina, citosina e timina, e o ARN complementares das duas cadeias, afastando-as. O RNA
contém a pentose ribose e uracila em vez de timina. -polimerase, inicia a síntese de uma molécula de mRNA de
A especificidade do ácido nucléico reside na sequên- acordo com a complementaridade das bases nitrogenadas.
cia dos quatro tipos de bases nitrogenadas. Este código Nesse processo, as bases pareiam-se: a adenina do DNA
indica à célula como reproduzir uma cópia de si mesma se liga à uracila do RNAm, a timina do DNA com a adenina
ou as proteínas que necessita para sua sobrevivência. Nos do RNAm, a citosina do DNA com a guanina do RNAm,
mamíferos, as cadeias de ADN estão agrupadas formando e assim sucessivamente, havendo a intervenção da enzi-
cromossomos. ma RNA-polimerase. Quando a leitura termina, a molécula
mRNA separa-se da cadeia do DNA, esta restabelece as li-
11. Interação gênica gações de hidrogênio e a dupla hélice é reconstituída.
Nem todas as sequências da molécula do DNA codi-
Fenômeno em que vários pares de genes interagem ficam aminoácidos. O RNA sintetizado sofre um processa-
entre si para influenciar uma única característica. mento ou maturação antes de abandonar o núcleo. Algu-
A interação gênica envolve graus variáveis de complexi- mas porções do RNA transcrito, “íntrons”, vão ser removi-
dade. Os casos mais simples, porém, resultam da interação das e as porções não removidas, “éxons”, ligam-se entre
entre dois genes não-alelos que são independentemente si, formando assim um mRNA maturado. O RNA que sofre
segregados. Em um estudo clássico realizado por Bateson este processo de exclusão de porções é designado do RNA
e Punnett, ficou demonstrado que o caráter “tipo de crista” pré-mensageiro. No final do processo, o mRNA é constituí-
em galinhas, por exemplo, é determinado por dois pares do apenas pelas sequências que codificam os aminoácidos
independentes de genes. O contrário da interação gênica é de uma proteína, podendo assim migrar para o citoplasma,
a pleiotropia, em que um par de genes determina ao mes- onde vai ocorrer a tradução da mensagem, isto é, a síntese
mo tempo mais de um caráter do organismo. de proteínas.

41
BIOLOGIA

Ativação de aminoácidos: Nessa etapa, atua o RNA Finalização: O ribossomo encontra o códon de finali-
transportador (RNAt), que leva os aminoácidos dispersos zação - UAA, UAG ou UGA terminando assim o alongamen-
no citoplasma até os ribossomos. Numa das regiões do to. Quando último tRNA abandona o ribossoma, as subuni-
RNAt está o anticódon, uma sequência de 3 bases comple- dades do ribossoma separam-se, podendo ser recicladas e
mentares ao códon de RNAm. A ativação dos aminoácidos por fim, a proteína é libertada.
é dada por enzimas específicas que se unem ao RNA trans-
portador, formando o complexo aa-RNAt, dando origem
ao anticódon (um trio de códons complementar aos có- LEIS DE MENDEL.
dons do RNAm). Para que esse processo ocorra é preciso
haver energia, que é fornecida pelo ATP.
Tradução: Ocorre no citoplasma e é a segunda par-
te da síntese proteica. Nessa fase a mensagem contida no Genética
RNAm é decodificada no ribossomo.
Desde os tempos mais remotos o homem tomou cons-
Participa do processo. ciência da importância do macho e da fêmea na geração de
- mRNA ou RNA mensageiro, que vem do interior do seres da mesma espécie, e que características como altura,
núcleo; cor da pele etc. eram transmitidas dos pais para os descen-
- Os ribossomos; dentes. Assim, com certeza, uma cadela quando cruzar com
- O RNAt ou RNA ribossomal (ou ainda RNA transpor- um cão, irá originar um filhote com características de um
tador); cão e nunca de um gato. Mas por quê?
- Enzimas (responsáveis pelo controle das reações de
síntese); Mendel, o iniciador da genética
- E o ATP, é o que fornece energia necessária para o Gregor Mendel nasceu em 1822, em Heinzendorf, na
processo Áustria. Era filho de pequenos fazendeiros e, apesar de bom
aluno, teve de superar dificuldades financeiras para conse-
Nas moléculas de RNAt apresentam-se cadeias de 75 guir estudar. Em 1843, ingressou como noviço no mosteiro
a 80 ribonucleotídeos que funcionam como intérpretes da de agostiniano da cidade de Brünn, hoje Brno, na atual Re-
pública Tcheca. Após ter sido ordenado monge, em 1847,
linguagem do mRNA e da linguagem das proteínas.
Mendel ingressou na Universidade de Viena, onde estudou
matemática e ciências por dois anos. Ele queria ser profes-
Toda molécula de mRNA possui:
sor de ciências naturais, mas foi mal sucedido nos exames.
- um Códon de iniciação, que é sempre o mesmo
De volta a Brünn, onde passou o resto da vida. Mendel con-
(AUG), correspondente ao aminoácido metionina;
tinuou interessado em ciências. Fez estudos meteorológi-
- vários códons que determinam a sequência dos ami-
cos, estudou a vida das abelhas e cultivou plantas, tendo
noácidos no polipeptídeo;
produzido novas variedades de maças e peras. Entre 1856
- um códon de terminação, que marca o final daquela
e 1865, realizou uma série de experimentos com ervilhas,
cadeia polipeptídica, podendo ser UAG, UAA, ou UGA; só com o objetivo de entender como as características heredi-
há um deles na molécula de mRNA. tárias eram transmitidas de pais para filhos.
Em 8 de março de 1865, Mendel apresentou um tra-
O processo da tradução encerra com três etapas: inicia- balho à Sociedade de História Natural de Brünn, no qual
ção, alongamento e finalização. enunciava as suas leis de hereditariedade, deduzidas das
experiências com as ervilhas. Publicado em 1866, com data
Iniciação: A subunidade menor do ribossomo liga-se de 1865, esse trabalho permaneceu praticamente desco-
à extremidade 5’ do mRNA, esta, desliza ao longo da mo- nhecido do mundo científico até o início do século XX. Pelo
lécula do mRNA até encontrar o códon de iniciação (AUG), que se sabe, poucos leram a publicação, e os que leram
transportando o tRNA ligado a um aminoácido, ligando-se não conseguiram compreender sua enorme importância
ao códon de iniciação por complementaridade. A subuni- para a Biologia. As leis de Mendel foram redescobertas
dade maior liga-se à subunidade menor do ribossoma. O apenas em 1900, por três pesquisadores que trabalhavam
processo de tradução começa pelo aminoácido de metio- independentemente. Mendel morreu em Brünn, em 1884.
nina AUG. Os últimos anos de sua vida foram amargos e cheios de de-
sapontamento. Os trabalhos administrativos do mosteiro o
Alongamento: Um 2º tRNA transporta um aminoáci- impediam de se dedicar exclusivamente à ciência, e o mon-
do específico de acordo com o códon. Estabelece-se uma ge se sentia frustrado por não ter obtido qualquer reco-
ligação peptídica entre o aminoácido recém-chegado e nhecimento público pela sua importante descoberta. Hoje
a metionina. O ribossoma avança três bases ao longo do Mendel é tido como uma das figuras mais importantes no
mRNA no sentido 5’ -> 3’, repetindo-se sempre o mesmo mundo científico, sendo considerado o “pai” da Genética.
processo. Os tRNA que já se ligaram inicialmente, vão-se No mosteiro onde viveu existe um monumento em sua ho-
desprendendo do mRNA sucessivamente. menagem, e os jardins onde foram realizados os célebres
experimentos com ervilhas até hoje são conservados.

42
BIOLOGIA

Os experimentos de Mendel radas como a geração parental (P), isto é, a dos genito-
res. Após repetir o mesmo procedimento diversas vezes,
A escolha da planta Mendel verificou que todas as sementes originadas desses
cruzamentos eram amarelas – a cor verde havia aparente-
A ervilha é uma planta herbácea leguminosa que per- mente “desaparecido” nos descendentes híbridos (resultan-
tence ao mesmo grupo do feijão e da soja. Na reprodução, tes do cruzamento das plantas), que Mendel chamou de F1
surgem vagens contendo sementes, as ervilhas. Sua esco- (primeira geração filial). Concluiu, então, que a cor amarela
lha como material de experiência não foi casual: uma plan- “dominava” a cor verde. Chamou o caráter cor amarela da
ta fácil de cultivar, de ciclo reprodutivo curto e que produz semente de dominante e o verde de recessivo. A seguir,
muitas sementes. Desde os tempos de Mendel existiam Mendel fez germinar as sementes obtidas em F1 até surgi-
muitas variedades disponíveis, dotadas de características rem as plantas e as flores. Deixou que se autofertilizassem
de fácil comparação. Por exemplo, a variedade que flores e aí houve a surpresa: a cor verde das sementes reapareceu
púrpuras podia ser comparada com a que produzia flores na F2 (segunda geração filial), só eu em proporção menor
brancas; a que produzia sementes lisas poderia ser com- que as de cor amarela: surgiram 6.022 sementes amarelas
parada cm a que produzia sementes rugosas, e assim por para 2.001 verdes, o que conduzia a proporção 3:1. Con-
diante. Outra vantagem dessas plantas é que estame e pis- cluiu que na verdade, a cor verde das sementes não havia
tilo, os componentes envolvidos na reprodução sexuada do “desaparecido” nas sementes da geração F1. O que ocorreu
vegetal, ficam encerrados no interior da mesma flor, prote- é que ela não tinha se manifestado, uma vez que, sendo
gidas pelas pétalas. Isso favorece a autopolinização e, por uma caráter recessivo, era apenas “dominado” (nas palavras
extensão, a autofecundação, formando descendentes com de Mendel) pela cor amarela. Mendel concluiu que a cor
as mesmas características das plantas genitoras. das sementes era determinada por dois fatores, cada um
determinando o surgimento de uma cor, amarela ou verde.

A partir da autopolinização, Mendel produziu e sepa-


rou diversas linhagens puras de ervilhas para as caracterís-
ticas que ele pretendia estudar. Por exemplo, para cor de Era necessário definir uma simbologia para representar
flor, plantas de flores de cor de púrpura sempre produziam esses fatores: escolheu a inicial do caráter recessivo. As-
como descendentes plantas de flores púrpuras, o mesmo sim, a letra v (inicial de verde), minúscula, simbolizava o
ocorrendo com o cruzamento de plantas cujas flores eram fator recessivo. Assim, a letra v (inicial de verde), minúscula,
brancas. Mendel estudou sete características nas plantas simbolizava o fator recessivo – para cor verse – e a letra V,
de ervilhas: cor da flor, posição da flor no caule, cor da se- maiúscula, o fator dominante – para cor amarela.
mente, aspecto externo da semente, forma da vagem, cor VV vv Vv
da vagem e altura da planta.
Semente amarela Semente verde Semente
Os cruzamentos pura pura amarela híbrida

Depois de obter linhagens puras, Mendel efetuou Persistia, porém, uma dúvida: Como explicar o desa-
um cruzamento diferente. Cortou os estames de uma flor parecimento da cor verde na geração F1 e o seu reapareci-
proveniente de semente verde e depois depositou, nos mento na geração F2? A resposta surgiu a partir do conhe-
estigmas dessa flor, pólen de uma planta proveniente de cimento de que cada um dos fatores se separava durante a
semente amarela. Efetuou, então, artificialmente, uma poli- formação das células reprodutoras, os gametas. Dessa for-
nização cruzada: pólen de uma planta que produzia apenas ma, podemos entender como o material hereditário passa
semente amarela foi depositado no estigma de outra plan- de uma geração para a outra. Acompanhe nos esquemas
ta que só produzia semente verde, ou seja, cruzou duas abaixo os procedimentos adorados por Mendel com rela-
plantas puras entre si. Essas duas plantas foram conside- ção ao caráter cor da semente em ervilhas.

43
BIOLOGIA

Exemplo da primeira lei de Mendel em um animal


Resultado: em F2, para cada três sementes amarelas,
Mendel obteve uma semente de cor verde. Repetindo o Vamos estudar um exemplo da aplicação da primeira
procedimento para outras seis características estudadas lei de Mendel em um animal, aproveitando para aplicar a
nas plantas de ervilha, sempre eram obtidos os mesmos terminologia modernamente usada em Genética. A carac-
resultados em F2, ou seja a proporção de três expressões terística que escolhemos foi a cor da pelagem de cobaias,
dominantes para uma recessiva. que pode ser preta ou branca. De acordo com uma con-
venção largamente aceita, representaremos por B o alelo
Leis de Mendel dominante, que condiciona a cor preta, e por b o alelo re-
cessivo, que condiciona a cor branca. Uma técnica simples
1ª Lei de Mendel: Lei da Segregação dos Fatores de combinar os gametas produzidos pelos indivíduos de F1
para obter a constituição genética dos indivíduos de F2 é a
A comprovação da hipótese de dominância e recessivi- montagem do quadrado de Punnet. Este consiste em um
dade nos vários experimentos efetuados por Mendel levou, quadro, com número de fileiras e de colunas que corres-
mais tarde à formulação da sua 1º lei: “Cada característica pondem respectivamente, aos tipos de gametas masculi-
é determinada por dois fatores que se separam na for- nos e femininos formados no cruzamento. O quadrado de
mação dos gametas, onde ocorrem em dose simples”, Punnet para o cruzamento de cobaias heterozigotas é:
isto é, para cada gameta masculino ou feminino encami-
nha-se apenas um fator. Mendel não tinha idéia da consti- B Gametas maternos
tuição desses fatores, nem onde se localizavam. Gametas paternos Bb
b
As bases celulares da segregação BB Bb
Preto Preto
A redescoberta dos trabalhos de Mendel, em 1900, Bb bb
trouxe a questão: onde estão os fatores hereditários e como Preto Branco
eles se segregam? Em 1902, enquanto estudava a formação
dos gametas em gafanhotos, o pesquisador norte america- Os conceitos de fenótipo e genótipo
no Walter S. Sutton notou surpreendente semelhança en-
tre o comportamento dos cromossomos homólogos, que Dois conceitos importantes para o desenvolvimento da
se separavam durante a meiose, e os fatores imaginados genética, no começo do século XX, foram os de fenótipo e
por Mendel. Sutton lançou a hipótese de que os pares de genótipo, criados pelo pesquisador dinamarquês Wilhelm
fatores hereditários estavam localizados em pares de cro- L. Johannsen (1857 – 1912).
mossomos homólogos, de tal maneira que a separação dos
homólogos levava à segregação dos fatores. Hoje sabemos Fenótipo
que os fatores a que Mendel se referiu são os genes (do
grego genos, originar, provir), e que realmente estão locali- O termo “fenótipo” (do grego pheno, evidente, brilhan-
zados nos cromossomos, como Sutton havia proposto. As te, e typos, característico) é empregado para designar as
diferentes formas sob as quais um gene pode se apresentar características apresentadas por um indivíduo, sejam elas
são denominadas alelos. A cor amarela e a cor verde da se- morfológicas, fisiológicas e comportamentais. Também fa-
mente de ervilha, por exemplo, são determinadas por dois zem parte do fenótipo características microscópicas e de
alelos, isto é, duas diferentes formas do gene para cor da natureza bioquímica, que necessitam de testes especiais
semente. para a sua identificação. Entre as características fenotípicas
visíveis, podemos citar a cor de uma flor, a cor dos olhos de
uma pessoa, a textura do cabelo, a cor do pelo de um ani-

44
BIOLOGIA

mal, etc. Já o tipo sanguíneo e a sequência de aminoácidos Quando um indivíduo apresenta o fenótipo condicio-
de uma proteína são características fenotípicas revelada nado pelo alelo recessivo, conclui-se que ele é homozigoto
apenas mediante testes especiais. quanto ao alelo em questão. Por exemplo, uma semente de
ervilha verde é sempre homozigota vv. Já um indivíduo que
apresenta o fenótipo condicionado pelo alelo dominante
poderá ser homozigoto ou heterozigoto. Uma semente de
ervilha amarela, por exemplo, pode ter genótipo VV ou Vv.
Nesse caso, o genótipo do indivíduo só poderá ser deter-
minado pela análise de seus pais e de seus descendentes.
Caso o indivíduo com fenótipo dominante seja filho de
pai com fenótipo recessivo, ele certamente será heterozi-
goto, pois herdou do pai um alelo recessivo. Entretanto, se
ambos os pais têm fenótipo dominante, nada se pode afir-
mar. Será necessário analisar a descendência do indivíduo
em estudo: se algum filho exibir o fenótipo recessivo, isso
indica que ele é heterozigoto.

Cruzamento-Teste
O fenótipo de um indivíduo sofre transformações com Este cruzamento é feito com um indivíduo homozigó-
o passar do tempo. Por exemplo, à medida que envelhece- tico recessivo para o fator que se pretende estudar, que
mos o nosso corpo se modifica. Fatores ambientais tam- facilmente se identifica pelo seu fenótipo e um outro de
bém podem alterar o fenótipo: se ficarmos expostos à luz genótipo conhecido ou não. Por exemplo, se cruzarmos um
do sol, nossa pele escurecerá. macho desconhecido com uma fêmea recessiva podemos
determinar se o macho é portador daquele caráter recessi-
Genótipo vo ou se é puro. Caso este seja puro todos os filhos serão
O termo “genótipo” (do grego genos, originar, provir, como ele, se for portador 25% serão brancos, etc. Esta ex-
e typos, característica) refere-se à constituição genética do plicação é muito básica, pois geralmente é preciso um pou-
indivíduo, ou seja, aos genes que ele possui. Estamos nos co mais do que este único cruzamento. A limitação destes
referindo ao genótipo quando dizemos, por exemplo, que cruzamentos está no fato de não permitirem identificar
uma planta de ervilha é homozigota dominante (VV) ou portadores de alelos múltiplos para a mesma característica,
heterozigota (Vv) em relação à cor da semente. ou seja, podem existir em alguns casos mais do que dois
alelos para o mesmo gene e o efeito da sua combinação
Fenótipo: genótipo e ambiente em interação variar. Além disso, podemos estar cruzando um fator para
O fenótipo resulta da interação do genótipo com o o qual o macho ou fêmea teste não são portadores, mas
ambiente. Consideremos, por exemplo, duas pessoas que sim de outros alelos.
tenham os mesmos tipos de alelos para pigmentação da
pele; se uma delas toma sol com mais frequência que a
outra, suas tonalidades de pele, fenótipo, são diferentes.
Um exemplo interessante de interação entre genótipo e
ambiente na produção do fenótipo é a reação dos coelhos
da raça himalaia à temperatura. Em temperaturas baixas,
os pelos crescem pretos e, em temperaturas altas, cres-
cem brancos. A pelagem normal desses coelhos é branca,
menos nas extremidades do corpo (focinho, orelha, rabo e
patas), que, por perderem mais calor e apresentarem tem-
peratura mais baixa, desenvolvem pelagem preta.

Determinando o genótipo
Enquanto que o fenótipo de um indivíduo pode ser
observado diretamente, mesmo que seja através de instru-
mentos, o genótipo tem que ser inferido através da ob-
servação do fenótipo, da análise de seus pais, filhos e de
outros parentes ou ainda pelo sequenciamento do genoma
do indivíduo, ou seja, leitura do que está nos genes. A téc-
nica do sequenciamento, não é amplamente utilizada, de-
vido ao seu alto custo e pela necessidade de aparelhagem
especializada. Por esse motivo a observação do fenótipo e
análise dos parentes ainda é o recurso mais utilizado para
se conhecer o genótipo.

45
BIOLOGIA

Construindo um Heredograma Interpretação dos Heredogramas

No caso da espécie humana, em que não se pode rea- A análise dos heredogramas pode permitir se deter-
lizar experiências com cruzamentos dirigidos, a determina- minar o padrão de herança de uma certa característica (se
ção do padrão de herança das características depende de é autossômica, se é dominante ou recessiva, etc.). Permi-
um levantamento do histórico das famílias em que certas te, ainda, descobrir o genótipo das pessoas envolvidas, se
características aparecem. Isso permite ao geneticista saber não de todas, pelo menos de parte delas. Quando um dos
se uma dada característica é ou não hereditária e de que membros de uma genealogia manifesta um fenótipo domi-
modo ela é herdada. Esse levantamento é feito na forma de nante, e não conseguimos determinar se ele é homozigoto
uma representação gráfica denominada heredograma (do dominante ou heterozigoto, habitualmente o seu genótipo
latim heredium, herança), também conhecida como genea- é indicado como A_, B_ou C_, por exemplo. A primeira in-
logia ou árvore genealógica. Construir um heredograma formação que se procura obter, na análise de um heredo-
consiste em representar, usando símbolos, as relações de grama, é se o caráter em questão é condicionado por um
parentesco entre os indivíduos de uma família. Cada indi- gene dominante ou recessivo. Para isso, devemos procurar,
víduo é representado por um símbolo que indica as suas no heredograma, casais que são fenotipicamente iguais e
características particulares e sua relação de parentesco com tiveram um ou mais filhos diferentes deles. Se a caracterís-
os demais. Indivíduos do sexo masculino são representa- tica permaneceu oculta no casal, e se manifestou no filho,
dos por um quadrado, e os do sexo feminino, por um cír- só pode ser determinada por um gene recessivo. Pais feno-
culo. O casamento, no sentido biológico de procriação, é tipicamente iguais, com um filho diferente deles, indicam
indicado por um traço horizontal que une os dois membros que o caráter presente no filho é recessivo!
do casal. Os filhos de um casamento são representados por Uma vez que se descobriu qual é o gene dominante e
traços verticais unidos ao traço horizontal do casal. qual é o recessivo, vamos agora localizar os homozigotos
recessivos, porque todos eles manifestam o caráter reces-
sivo. Depois disso, podemos começar a descobrir os ge-
nótipos das outras pessoas. Devemos nos lembrar de duas
coisas:
1ª) Em um par de genes alelos, um veio do pai e o ou-
Os principais símbolos são os seguintes: tro veio da mãe. Se um indivíduo é homozigoto recessivo,
ele deve ter recebido um gene recessivo de cada ancestral.
2ª) Se um indivíduo é homozigoto recessivo, ele envia
o gene recessivo para todos os seus filhos. Dessa forma,
como em um “quebra-cabeça”, os outros genótipos vão
sendo descobertos. Todos os genótipos devem ser indica-
dos, mesmo que na sua forma parcial (A_, por exemplo).
Exemplo:

A montagem de um heredograma obedece a algumas


regras:
1ª) Em cada casal, o homem deve ser colocado à es-
querda, e a mulher à direita, sempre que for possível.
2ª) Os filhos devem ser colocados em ordem de nasci-
mento, da esquerda para a direita.
3ª) Cada geração que se sucede é indicada por alga-
rismos romanos (I, II, III, etc.). Dentro de cada geração, os Em uma árvore desse tipo, as mulheres são representa-
indivíduos são indicados por algarismos arábicos, da es- das por círculos e os homens por quadrados. Os casamen-
querda para a direita. Outra possibilidade é se indicar todos tos são indicados por linhas horizontais ligando um círculo
os indivíduos de um heredograma por algarismos arábicos, a um quadrado. Os algarismos romanos I, II, III à esquerda
começando-se pelo primeiro da esquerda, da primeira ge- da genealogia representam as gerações. Estão represen-
ração. tadas três gerações. Na primeira há uma mulher e um ho-
mem casados, na segunda, quatro pessoas, sendo três do

46
BIOLOGIA

sexo feminino e uma do masculino. Os indivíduos presos a P: Flor Branca


uma linha horizontal por traços verticais constituem uma BB
irmandade. Na segunda geração observa-se o casamento
de uma mulher com um homem de uma irmandade de três V BV BV
pessoas. Flor Vermelha cor-de-rosa cor-de-rosa
V VB VB
Dominância incompleta ou Co-dominância cor-de-rosa cor-de-rosa

Nem todas as características são herdadas como a cor F1 = 100% VB (flores cor-de-rosa)
da semente da ervilha, em que o gene para a cor amare-
la domina sobre o gene para cor verde. Muito frequente- Cruzando, agora, duas plantas heterozigotas (flores
mente a combinação dos genes alelos diferentes produz cor-de-rosa), teríamos:
um fenótipo intermediário. Essa situação ilustra a chamada
dominância incompleta ou parcial. Um exemplo desse tipo
F1 Flor cor-de-rosa
de herança é a cor das flores maravilha. Elas podem ser VB
vermelhas, brancas ou rosas. Plantas que produzem flores
cor-de-rosa são heterozigotas, enquanto os outros dois fe- V VV BV
nótipos são devidos à condição homozigota. Supondo que Flor cor-de-rosa Vermelha cor-de-rosa
o gene V determine a cor vermelha e o gene B, cor branca, B VB BB
teríamos: cor-de-rosa Branca

VV = flor vermelha F2 = Genótipos: 1/4 VV, 1/2 VB, 1/4 BB.


BB = flor branca Fenótipo: 1/4 plantas com flores vermelhas
VB = flor cor-de-rosa 1/2 plantas com flores cor-de-rosa
1/4 plantas com flores brancas
Apesar de anteriormente usarmos letras maiúsculas
para indicar, respectivamente, os genes dominantes e re- Alelos letais: Os genes que matam
cessivos, quando se trata de dominância incompleta muitos
autores preferem utilizar apenas diferentes letras maiúscu- As mutações que ocorrem nos seres vivos são total-
las. Fazendo o cruzamento de uma planta de maravilha que mente aleatórias e, às vezes, surgem variedades genéticas
produz flores vermelhas com outra que produz flores bran- que podem levar a morte do portador antes do nascimento
cas e analisando os resultados fenotípicos da geração F1e ou, caso ele sobreviva, antes de atingir a maturidade sexual.
F2, teríamos: Esses genes que conduzem à morte do portador, são co-
nhecidos como alelos letais. Por exemplo, em uma espécie
de planta existe o gene C, dominante, responsável pela co-
loração verde das folhas. O alelo recessivo c, condiciona a
ausência de coloração nas folhas, portanto o homozigoto
recessivo cc morre ainda na fase jovem da planta, pois esta
precisa do pigmento verde para produzir energia através
da fotossíntese. O heterozigoto é uma planta saudável, mas
não tão eficiente na captação de energia solar, pela colo-
ração verde clara em suas folhas. Assim, se cruzarmos duas
plantas heterozigotas, de folhas verdes claras, resultará na
proporção 2:1 fenótipos entre os descendentes, ao invés da
proporção de 3:1 que seria esperada se fosse um caso clás-
sico de monoibridismo (cruzamento entre dois indivíduos
heterozigotos para um único gene). No caso das plantas
o homozigoto recessivo morre logo após germinar, o que
conduz a proporção 2:1.

P Planta com folhas verde claras


Agora analisando os resultados genotípicos da gera- Cc
ção F1e F2, teríamos: C CC Cc
Planta com folhas Verde escuro Verde clara
verde claras Cc cc
c Verde clara Inviável

47
BIOLOGIA

F1 = Fenótipo: 2/3 Verde clara Noções de probabilidade aplicadas à genética


1/3 Verde escura
Genótipo: 2/3 Cc Acredita-se que um dos motivos para as ideias de Men-
1/3 CC del permanecerem incompreendidas durante mais de 3 dé-
cadas foi o raciocínio matemático que continham. Mendel
Esse curioso caso de genes letais foi descoberto em partiu do princípio que a formação dos gametas seguia as
1904 pelo geneticista francês Cuénot, que estranhava o fato leis da probabilidade, no tocante a distribuição dos fatores.
de a proporção de 3:1 não ser obedecida. Logo, concluiu se
tratar de uma caso de gene recessivo que atuava como le- Princípios básicos de probabilidade
tal quando em dose dupla. No homem, alguns genes letais
provocam a morte do feto. É o caso dos genes para acon- Probabilidade é a chance que um evento tem de ocor-
droplasia, por exemplo. Trata-se de uma anomalia provo- rer, entre dois ou mais eventos possíveis. Por exemplo, ao
cada por gene dominante que, em dose dupla, acarreta a lançarmos uma moeda, qual a chance dela cair com a face
morte do feto, mas em dose simples ocasiona um tipo de “cara” voltada para cima? E em um baralho de 52 cartas,
nanismo, entre outras alterações. Há genes letais no ho- qual a chance de ser sorteada uma carta do naipe ouros?
mem, que se manifestam depois do nascimento, alguns na
infância e outros na idade adulta. Na infância, por exemplo, Eventos Aleatórios
temos os causadores da fibrose cística e da distrofia mus-
cular de Duchenne (anomalia que acarreta a degeneração Eventos como obter “cara” ao lançar uma moeda, sor-
da bainha de mielina nos nervos). Dentre os que se expres- tear um “ás” de ouros do baralho, ou obter “face 6” ao jogar
sam tardiamente na vida do portador, estão os causadores um dado são denominados eventos aleatórios (do latim
da doença de Huntington, em que há a deterioração do alea, sorte) porque cada um deles tem a mesma chance de
tecido nervoso, com perde de células principalmente em ocorrer em relação a seus respectivos eventos alternativos.
uma parte do cérebro, acarretando perda de memória, mo- Veja a seguir as probabilidades de ocorrência de alguns
vimentos involuntários e desequilíbrio emocional. eventos aleatórios. Tente explicar por que cada um deles
ocorre com a probabilidade indicada.
Como os genes se manifestam - A probabilidade de sortear uma carta de espadas de
um baralho de 52 cartas é de ¼.
Vimos que, em alguns casos, os genes se manifestam - A probabilidade de sortear um rei qualquer de um
com fenótipos bem distintos. Por exemplo, os genes para baralho de 52 cartas é de 1/13.
a cor das sementes em ervilhas manifestam-se com fenóti- - A probabilidade de sortear o rei de espadas de um
pos bem definidos, sendo encontradas sementes amarelas baralho de 52 cartas é de 1/52.
ou verdes. A essa manifestação gênica bem determinada
chamamos de variação gênica descontínua, pois não há fe- A formação de um determinado tipo de gameta, com
nótipos intermediários. Há herança de características, no um outro alelo de um par de genes, também é um even-
entanto, cuja manifestação do gene (também chamada to aleatório. Um indivíduo heterozigoto Aa tem a mesma
de expressividade) não determina fenótipos tão definidos, probabilidade de formar gametas portadores do alelo A do
mas sim uma gradação de fenótipos. A essa gradação da que de formar gametas com o alelo a (1/2 A: 1/2 a).
expressividade do gene, variando desde um fenótipo que
mostra leve expressão da característica até sua expressão Eventos Independentes
total, chamamos de norma de reação ou expressividade va-
riável. Por exemplo, os portadores dos genes para braqui- Quando a ocorrência de um evento não afeta a pro-
dactilia (dedos curto) podem apresentar fenótipos varian- babilidade de ocorrência de um outro, fala-se em eventos
do de dedos levemente mais curtos até a total falta deles. independentes. Por exemplo, ao lançar várias moedas ao
Alguns genes sempre que estão presentes se manifestam, mesmo tempo, ou uma mesma moeda várias vezes con-
dizemos que são altamente penetrantes. Outros possuem secutivas, um resultado não interfere nos outros. Por isso,
uma penetrância incompleta, ou seja, apenas uma parcela cada resultado é um evento independente do outro. Da
dos portadores do genótipo apresenta o fenótipo corres- mesma maneira, o nascimento de uma criança com um de-
pondente. terminado fenótipo é um evento independente em relação
Observe que o conceito de penetrância está relacio- ao nascimento de outros filhos do mesmo casal. Por exem-
nado à expressividade do gene em um conjunto de indi- plo, imagine uma casal que já teve dois filhos homens; qual
víduos, sendo apresentado em termos percentuais. Assim, a probabilidade que uma terceira criança seja do sexo femi-
por exemplo, podemos falar que a penetrância para o gene nino? Uma vez que a formação de cada filho é um evento
para a doença de Huntington é de 100%, o que quer dizer independente, a chance de nascer uma menina, supondo
que 100% dos portadores desse gene apresentam (expres- que homens e mulheres nasçam com a mesma freqüência,
sam) o fenótipo correspondente. é 1/2 ou 50%, como em qualquer nascimento.

A regra do “e”

48
BIOLOGIA

A teoria das probabilidades diz que a probabilidade de Alelos múltiplos na determinação de um caráter
dois ou mais eventos independentes ocorrerem conjunta-
mente é igual ao produto das probabilidades de ocorrerem Como sabemos, genes alelos são os que atuam na de-
separadamente. Esse princípio é conhecido popularmente terminação de um mesmo caráter e estão presentes nos
como regra do “e”, pois corresponde a pergunta: qual a mesmo loci (plural de lócus, do latim, local) em cromosso-
probabilidade de ocorrer um evento E outro, simultanea- mos homólogos. Até agora, só estudamos casos em que só
mente? Suponha que você jogue uma moeda duas vezes. existiam dois tipos de alelos para uma dada característica
Qual a probabilidade de obter duas “caras”, ou seja, “cara” (alelos simples), mas há caso em que mais de dois tipos de
no primeiro lançamento e “cara” no segundo? A chance de alelos estão presentes na determinação de um determina-
ocorrer “cara” na primeira jogada é, como já vimos, igual a do caráter na população. Esse tipo de herança é conhecido
½; a chance de ocorrer “cara” na segunda jogada também como alelos múltiplos (ou polialelia). Apesar de poderem
é igual a1/2. Assim a probabilidade desses dois eventos existir mais de dois alelos para a determinação de um de-
ocorrer conjuntamente é 1/2 X 1/2 = 1/4. terminado caráter, um indivíduo diplóide apresenta apenas
No lançamento simultâneo de três dados, qual a pro- um par de alelos para a determinação dessa característica,
babilidade de sortear “face 6” em todos? A chance de ocor- isto é, um alelo em cada lócus do cromossomo que consti-
rer “face 6” em cada dado é igual a 1/6. Portanto a proba- tui o par homólogo.
bilidade de ocorrer “face 6” nos três dados é 1/6 X 1/6 X São bastante frequentes os casos de alelos múltiplos
1/6 = 1/216. Isso quer dizer que a obtenção de três “faces tanto em animais como em vegetais, mas são clássicos os
6” simultâneas se repetirá, em média, 1 a cada 216 jogadas. exemplos de polialelia na determinação da cor da pelagem
em coelhos e na determinação dos grupos sanguíneos do
sistema ABO em humanos. Um exemplo bem interessante
e de fácil compreensão, é a determinação da pelagem em
Um casal quer ter dois filhos e deseja saber a probabi-
coelhos, onde podemos observar a manifestação genética
lidade de que ambos sejam do sexo masculino. Admitindo
de uma série com quatro genes alelos: o primeiro C, ex-
que a probabilidade de ser homem ou mulher é igual a ½,
pressando a cor Aguti ou Selvagem; o segundo Cch, trans-
a probabilidade de o casal ter dois meninos é 1/2 X 1/2, ou
mitindo a cor Chinchila; o terceiro Ch, representando a cor
seja, ¼.
Himalaia; e o quarto alelo Ca, responsável pela cor Albina.
A regra do “ou” Sendo a relação de dominância → C > Cch > Ch > Ca
Outro princípio de probabilidade diz que a ocorrên- O gene C é dominante sobre todos os outros três, o
cia de dois eventos que se excluem mutuamente é igual Cch dominante em relação ao himalaia e ao albino, porém
à soma das probabilidades com que cada evento ocorre. recessivo perante o aguti, e assim sucessivamente.
Esse princípio é conhecido popularmente como regra do
“ou”, pois corresponde à pergunta: qual é a probabilidade O quadro abaixo representa as combinações entre os
de ocorrer um evento OU outro? Por exemplo, a probabili- alelos e os fenótipos resultantes.
dade de obter “cara” ou “coroa”, ao lançarmos uma moeda,
é igual a 1, porque representa a probabilidade de ocorrer
“cara” somada à probabilidade de ocorrer “coroa” (1/2 + Genótipo Fenótipo
1/2 =1). Para calcular a probabilidade de obter “face 1” ou CC, C C , C C e C C
ch h a
Selvagem ou Aguti
“face 6” no lançamento de um dado, basta somar as proba- CchCch, CchCh e CchCa Chinchila
bilidades de cada evento: 1/6 + 1/6 = 2/6.
C C e Ch C
h h a
Himalaia
Em certos casos precisamos aplicar tanto a regra do “e”
como a regra do “ou” em nossos cálculos de probabilida- CC
a a
Albino
de. Por exemplo, no lançamento de duas moedas, qual a
probabilidade de se obter “cara” em uma delas e “coroa” na A diferença na cor da pelagem do coelho em relação à
outra? Para ocorrer “cara” na primeira moeda E “coroa” na cor da semente das ervilhas é que agora temos mais genes
segunda, OU “coroa” na primeira e “cara” na segunda. As- diferentes atuando (4), em relação aos dois genes clássicos.
sim nesse caso se aplica a regra do “e” combinada a regra No entanto, é fundamental saber a 1ª lei de Mendel conti-
do “ou”. A probabilidade de ocorrer “cara” E “coroa” (1/2 X nua sendo obedecida, isto é, para a determinação da cor da
1/2 = 1/4) OU “coroa” e “cara” (1/2 X 1/2 = 1/4) é igual a 1/2 pelagem, o coelho terá dois dos quatro genes. A novidade
(1/4 + 1/4). O mesmo raciocínio se aplica aos problemas da é que o número de genótipos e fenótipos é maior quando
genética. Por exemplo, qual a probabilidade de uma casal comparado, por exemplo, com a cor da semente de ervi-
ter dois filhos, um do sexo masculino e outro do sexo femi- lha. O surgimento dos alelos múltiplos (polialelia) deve-se
nino? Como já vimos, a probabilidade de uma criança ser a uma das propriedades do material genético, que é a de
do sexo masculino é ½ e de ser do sexo feminino também sofrer mutações. Assim, acredita-se que a partir do gene
é de ½. Há duas maneiras de uma casal ter um menino e C (aguti), por um erro acidental na duplicação do DNA,
uma menina: o primeiro filho ser menino E o segundo filho originou-se o gene Cch (chinchila). A existência de alelos
ser menina (1/2 X 1/2 = 1/4) OU o primeiro ser menina e o múltiplos é interessante para a espécie, pois haverá maior
segundo ser menino (1/2 X 1/2 = 1/4). A probabilidade final variabilidade genética, possibilitando mais oportunidade
é 1/4 + 1/4 = 2/4, ou 1/2. para adaptação ao ambiente (seleção natural).

49
BIOLOGIA

A segunda lei de Mendel A segunda lei de Mendel

A segregação independente de dois ou mais pares Mendel concluiu que a segregação independente dos
de genes fatores para duas ou mais características era um princípio
geral, constituindo uma segunda lei da herança. Assim, ele
Além de estudar isoladamente diversas características denominou esse princípio segunda lei da herança ou lei
fenotípicas da ervilha, Mendel estudou também a trans- da segregação independente, posteriormente chamada se-
missão combinada de duas ou mais características. Em um gunda lei de Mendel: Os fatores para duas ou mais caracte-
de seus experimentos, por exemplo, foram considerados rísticas segregam-se no híbrido, distribuindo-se indepen-
simultaneamente a cor da semente, que pode ser amarela dentemente para os gametas, onde se combinam ao acaso.
ou verde, e a textura da casca da semente, que pode ser
lisa ou rugosa. A proporção 9:3:3:1
Plantas originadas de sementes amarelas e lisas, ambos
traços dominantes, foram cruzadas com plantas originadas Ao estudar a herança simultânea de diversos pares
de sementes verdes e rugosas, traços recessivos. Todas as de características. Mendel sempre observou, em F2, a pro-
sementes produzidas na geração F1 eram amarelas e lisas. porção fenotípica 9:3:3:1, conseqüência da segregação in-
A geração F2, obtida pela autofecundação das plantas dependente ocorrida no duplo-heterozigoto, que origina
originadas das sementes de F1, era composta por quatro quatro tipos de gameta.
tipos de sementes:
9/16 amarelo-lisas Segregação independente de 3 pares de alelos
3/16 amarelo-rugosas
3/16 verde-lisas Ao estudar 3 pares de características simultaneamente,
1/16 verde-rugosas Mendel verificou que a distribuição dos tipos de indivíduos
em F2 seguia a proporção de 27: 9: 9: 9: 3: 3: 3: 1. Isso indica
que os genes para as 3 características consideradas segre-
gam-se independentemente nos indivíduos F1, originando
8 tipos de gametas. Em um dos seus experimentos, Mendel
considerou simultaneamente a cor (amarela ou verde), a
textura da casca (lisa ou rugosa) e a cor da casca da se-
mente (cinza ou branca). O cruzamento entre uma planta
originada de semente homozigota dominante para as três
características (amarelo-liso-cinza) e uma planta originada
de semente com traços recessivos (verde-rugosa-branca)
produz apenas ervilhas com fenótipo dominante, amare-
las, lisas e cinza. Esses indivíduos são heterozigotos para os
três pares de genes (VvRrBb). A segregação independente
desses três pares de alelos, nas plantas da geração F1, leva
à formação de 8 tipos de gametas.

Em proporções essas frações representam 9 amare-


lo-lisas: 3 amarelo-rugosas: 3 verde-lisas: 1 verde-rugosa.
Com base nesse e em outros experimentos, Mendel aven-
tou a hipótese de que, na formação dos gametas, os ale-
los para a cor da semente (Vv) segregam-se independen-
temente dos alelos que condicionam a forma da semente
(Rr). De acordo com isso, um gameta portador do alelo V
pode conter tanto o alelo R como o alelo r, com igual chan-
ce, e o mesmo ocorre com os gametas portadores do alelo
v. Uma planta duplo-heterozigota VvRr formaria, de acordo
com a hipótese da segregação independente, quatro tipos
de gameta em igual proporção: 1 VR: 1Vr: 1 vR: 1 vr.

50
BIOLOGIA

Os gametas produzidos pelas plantas F1 se combinam Agora a probabilidade de obtermos sementes verdes
de 64 maneiras possíveis (8 tipos maternos X 8 tipos pater- e lisas:
nos), originando 8 tipos de fenótipos.
Determinando o número de tipos de gametas na se- sementes verdes E sementes lisas
gregação independente
1/4 X 3/4 = 3/16
Para determinar o número de tipos de gametas for-
mados por um indivíduo, segundo a segregação indepen- Finalmente, a probabilidade de nós obtermos semen-
dente, basta aplicar a expressão 2n, em que n representa o tes verdes e rugosas:
número de pares de alelos no genótipo que se encontram sementes verdes E sementes rugosas
na condição heterozigota.
1/4 X 1/4 = 1/16
Utilizando a regra do E, chegamos ao mesmo resultado
Obtendo a Proporção 9:3:3:1 sem Utilizar o Quadro
obtido na construção do quadro de cruzamentos com a
de Cruzamentos
vantagem da rapidez na obtenção da resposta.

Genótipo Valor de n 2n Número de A relação Meiose e 2ª Lei de Mendel


gametas
AA 0 20 1 Existe uma correspondência entre as leias de Mendel
Aa 1 21 2 e a meiose. Acompanhe na figura o processo de formação
de gametas de uma célula de indivíduo diíbrido, relacio-
AaBB 1 21 2 nando-o à 2ª Lei de Mendel. Note que, durante a meiose,
AaBb 2 22 4 os homólogos se alinham em metáfase e sua separação
AABbCCDd 2 22
4 ocorre ao acaso, em duas possibilidades igualmente viá-
veis. A segregação independente dos homólogos e, con-
AABbCcDd 3 23
8
sequentemente, dos fatores (genes) que carregam, resulta
AaBbCcDd 4 24 16 nos genótipos AB, ab, Ab e aB.
AaBbCcDdEe 5 25
32

A 2º lei de Mendel é um exemplo de aplicação dire-


ta da regra do E de probabilidade, permitindo chegar aos
mesmos resultados sem a construção trabalhosa de qua-
dro de cruzamentos. Vamos exemplificar, partindo do cru-
zamento entre suas plantas de ervilha duplo heterozigotas:
P: VvRr X VvRr

- Consideremos, primeiro, o resultado do cruzamento


das duas características isoladamente:

Vv X Vv Rr X Rr
3/4 sementes amarelas 3/4 sementes lisas
1/4 sementes verdes 1/4 sementes rugosas

Como desejamos considerar as duas características si- A 2ª Lei de Mendel é sempre obedecida?
multaneamente, vamos calcular a probabilidade de obter-
mos sementes amarelas e lisas, já que se trata de eventos A descoberta de que os genes estão situados nos cro-
independentes. Assim, mossomos gerou um impasse no entendimento da 2º Lei
de Mendel. Como vimos, segundo essa lei, dois ou mais
genes não-alelos segregam-se independentemente, des-
sementes amarelas e sementes lisas
de que estejam localizados em cromossomos diferentes.
3/4 X 3/4 = 9/16 Surge, no entanto, um problema. Mendel afirmava que os
genes relacionados a duas ou mais características sempre
E a probabilidade de obtermos sementes amarelas e apresentavam segregação independente. Se essa premis-
rugosas: sa fosse verdadeira, então haveria um cromossomo para
cada gene. Se considerarmos que existe uma infinidade
sementes amarelas E sementes rugosas de genes, haveria, então, uma quantidade assombrosa de
3/4 X 1/4 = 3/16 cromossomos, dentro de uma célula, o que não é verdade.
Logo, como existem relativamente poucos cromossomos

51
BIOLOGIA

no núcleo das células e inúmeros genes, é intuitivo concluir Ao analisar esse resultado, Morgan convenceu-se de
que, em cada cromossomo, existe uma infinidade de ge- que os genes P e V localizavam-se no mesmo cromosso-
nes, responsáveis pelas inúmeras características típicas de mo. Se estivessem localizados em cromossomos diferentes,
cada espécie. Dizemos que esses genes presentes em um a proporção esperada seria outra (1: 1: 1: 1). No entanto,
mesmo cromossomo estão ligados ou em linkage e cami- restava a dúvida: como explicar a ocorrência dos fenótipos
nham juntos para a formação dos gametas. Assim a 2ª lei corpo cinza/asas vestigiais e corpo preto/asas longas? A
de Mendel nem sempre é obedecida, bastando para isso resposta não foi difícil de ser obtida. Por essa época já es-
que os genes estejam localizados no mesmo cromossomo, tava razoavelmente esclarecido o processo da meiose. Em
ou seja, estejam em linkage. 1909, o citologista F. A. Janssens (1863-1964) descreveu o
fenômeno cromossômico conhecido como permutação ou
crossing over, que ocorre durante a prófase I da meiose e
consiste na troca de fragmentos entre cromossomos ho-
Linkage mólogos.

Genes unidos no mesmo cromossomo

T. H. Morgan e seus colaboradores trabalharam com a


mosca da fruta, Drosophila melanogaster, e realizaram cru-
zamentos em que estudaram dois ou mais pares de genes,
verificando que, realmente, nem sempre a 2ª Lei de Mendel
era obedecida. Concluíram que esses genes não estavam
em cromossomos diferente, mas, sim, encontravam-se no
mesmo cromossomo (em linkage).

Um dos cruzamentos efetuados por Morgan


Em 1911, Morgan usou essa observação para concluir
Em um dos seus experimentos, Morgan cruzou moscas que os fenótipos corpo cinza/asas vestigiais e corpo preto/
selvagens de corpo cinza e asas longas com mutantes de asas longas eram recombinantes e devido a ocorrência de
corpo preto e asas curtas (chamadas de asas vestigiais). To- crossing-over.
dos os descendentes de F1 apresentavam corpo cinza e asas Como diferenciar Segregação independente (2ª Lei
longas, atestando que o gene que condiciona corpo cinza de Mendel) de Linkage?
(P) domina o que determina corpo preto (p), assim como
o gene para asas longas (V) é dominante sobre o (v) que Quando comparamos o comportamento de pares de
condiciona surgimento de asas vestigiais. A seguir Morgan genes para duas características para a segunda lei de Men-
cruzou descendentes de F1 com duplo-recessivos (ou seja, del com a ocorrência de linkage e crossing-over em um cru-
realizou cruzamentos testes). Para Morgan, os resultados zamento genérico do tipo AaBb X aabb, verificamos que
dos cruzamentos-teste revelariam se os genes estavam lo- em todos os casos resultam quatro fenótipos diferentes:
calizados em cromossomos diferentes (segregação-inde- - Dominante/dominante
pendente) ou em um mesmo cromossomo (linkage). - Dominante/recessivo
- Recessivo/dominante
Surpreendentemente, porém, nenhum dos resultados - Recessivo/recessivo.
esperados foi obtido. A separação e a contagem dos des-
cendentes de F2 revelou o seguinte resultado: A diferença em cada caso está nas proporções obtidas.
- 41,5% de moscas com o corpo cinza e asas longas; No caso da 2ª lei de Mendel, haverá 25% de cada fenótipo.
- 41,5% de moscas com o corpo preto e asas vestigiais; No linkage com crossing, todavia, os dois fenótipos paren-
- 8,5% de moscas com o corpo preto e asas longas; tais surgirão com frequência maior do que as frequências
- 8,5% de moscas com o corpo cinza e asas vestigiais. dos recombinantes. A explicação para isso reside no fato
de, durante a meiose a permuta não ocorrer em todas as

52
BIOLOGIA

células, sendo, na verdade, um evento relativamente raro.


Por isso, nos cruzamentos PpVv X ppvv, da pagina anterior, PADRÕES DE HERANÇA: AUTOSSÔMICA,
foram obtidos 83% de indivíduos do tipo parental (sem LIGADA AO SEXO – DOMINANTE E RECESSIVA.
crossing) e 17% do tipo recombinantes (resultantes da GRUPOS SANGUINEOS.
ocorrência de permuta).
Frequentemente, nos vários cruzamentos realizados do
tipo AaBb X aabb, Morgan obteve os dois fenótipos paren-
tais (AaBb e aabb), na proporção de 50% cada. Para explicar Teoria Cromossômica da Herança
esse resultado, ele sugeriu a hipótese que os genes ligados
ficam tão próximos um do outro que dificultam a ocorrên- A noção que os cromossomos carregam os genes,
cia de crossing over entre eles. Assim, por exemplo, o gene como percebe-se, só foi aceita mais tarde e constituiu-se
que determina a cor preta do corpo da drosófila e o gene na Teoria Cromossômica da Herança.
que condiciona a cor púrpura dos olhos ficam tão próximos Thomas Hunt Morgan em 1910, trouxe a primeira evi-
que entre eles não ocorre permuta. Nesse caso se fizermos dência para essa teoria. Foi obtida a partir de estudos em
um cruzamento teste entre o duplo-heterozidoto e o duplo uma mosca da fruta, a Drosophila melanogaster.
-recessivo, teremos nos descendentes apenas dois tipos de
fenótipos, que serão correspondentes aos tipos parentais.

Os arranjos “cis” e “trans” dos genes ligados


Considerando dois pares de genes ligados, como, por
exemplo, A/a e B/b, um indivíduo duplo heterozigoto pode
ter os alelos arranjados de duas maneiras nos cromosso-
mos: Esse organismo que mostrou-se como um dos mais
Os alelos dominantes A e B se situam em um cromos- adequados organismos para estudos genéticos, pelo seu
somo, enquanto os alelos recessivos a e b se situam no ho- pequeno tamanho e baixo número de cromossomos, fácil
mólogo correspondente. Esse tipo de arranjo é chamado criação em pequenos espaços de laboratório, cultura de
de Cis. O alelo dominante A e o alelo recessivo b se situam manutenção econômica, grande número de descendentes
em um cromossomo, enquanto o alelo recessivo a e o ale- por geração, grande número de gerações em pouco espa-
lo dominante B, se situam no homólogo correspondente. ço de tempo e a possibilidade de se obter fêmeas virgens
Esse tipo de arranjo é chamado de Trans. logo após a eclosão para efetuar cruzamentos precisos.
Morgan cruzou moscas de linhagens puras com olhos ver-
melhos (gene dominante) e de olhos brancos. Entretanto
nem toda a progênie era de olho vermelho. Quando cruza-
va machos de olho vermelho da geração F1 com suas irmãs
fêmeas de olho vermelho produzia somente ¼ de machos
de olho branco mas nenhuma fêmea de olho branco.
Para uma explicação desse resultado a cor de olho nes-
sa mosca deveria ser ligada ao sexo. Então existiriam cro-
mossomos sexuais que carregariam genes como os da co-
loração de olhos. Observando essa e outras características
com o mesmo padrão de segregação emDrosophila: asas
pequenas (Miniature), cor de corpo amarela (Yelow), Mor-
Podemos descrever esses arranjos, usando um traço gan trouxe, portanto, como evidência da Teoria Cromos-
duplo ou simples para descrever o cromossomo, ou mais sômica da Herança, os padrões de segregação dos genes
simplificadamente, o arranjo pode ser descrito como AB/ ligados aos cromossomos sexuais em Drosophila.
ab para Cis e Ab/aB para trans. O arranjo cis e trans dos Embora W. Waldeyer (1888) tenha sido quem usou o
alelos no duplo-heterozigoto pode ser facilmente identi- termo cromossomo pela primeira vez, foi W. C. Von Nageli
ficado em um cruzamento teste. No caso dos machos de (1842) quem primeiro os observou, mas foi W. Fleming
Drosófila, se o arranjo for cis (PV/pv), o duplo heterozigoto (1879-1875) que utilizando novas técnicas de coloração os
forma 50% de gametas PV e 50% de gametas pv. Se o ar- descreveu, denominando essa substância existente no nú-
ranjo for trans (Pv/pV), o duplo heterozigoto forma 50% cleo de cromatina.
de gametas Pv e 50% de pV. Nas fêmeas de Drosófila, nas Foi Oscar Hertwig(1875) quem primeiro referiu a fu-
quais ocorrem permutações, o arranjo cis ou trans pode são do esperma com o ovo para formar o zigoto.
ser identificado pela frequência das classes de gametas. As A identificação dos cromossomos como carregadores
classes mais frequentes indicam as combinações parentais dos genes foi rapidamente demonstrada em trabalhos de
e as menos frequentes as recombinantes. 1880 de T. Boveri, K. Rabi e E. Van Breden, e mais tarde evi-
denciadas em publicações de Mc.Clung (1902), W.S.Sutton
(1903), T.Boveri (1904), E.B.Wilson (1905).

53
BIOLOGIA

Em 1885, A. Weissmann já afirmava que a herança era mossomo do eucarote é a região terminal do cromossomo
baseada exclusivamente no núcleo e em 1887 predizia chamada de telômero. Telomeros são as regiões de DNA
a ocorrência e uma divisão redutora que denominou de terminal do cromosssomo, usualmente heterocromáticas
meiose. e constituídas de sequências repetidas tandemicamente
Em 1890, O. Hertwig e T. Boveri descreviam o processo (com as mesmas sequências de bases).
de meiose em detalhe.
Em 1913, A. Sturtevant criava o primeiro mapa gené- Os grupos sanguíneos
tico usando as características deDrosophila melanogaster.
Demonstrava que os genes existiam em ordem linear nos O fornecimento seguro de sangue de um doador para
cromossomos. um receptor requer o conhecimento dos grupos sanguí-
Em 1927, L. Stadler e H. J. Muller demonstravam que os neos. Estudaremos dois sistemas de classificação de grupos
genes podiam ser originados artificialmente ou induzidos sanguíneos na espécie humana: os sistemas ABO e Rh. Nos
por mutações usando radiações ionizantes como o Raio-X. seres humanos existem os seguintes tipos básicos de san-
Os cromossomos de eucariotes são formados por nu- gue em relação aos sistema ABO: grupo A, grupo B, grupo
cleoproteinas, as histonas e não histonas associadas a DNA. AB e grupo O.
Possuem em sua estutura dois braços separados por uma Cada pessoa pertence a um desses grupos sanguíneos. 
constrição primário ou centrômero, e ainda constricções Nas hemácias humanas podem existir dois tipos de pro-
secundárias que separam eventuamente o braço cromos- teínas: o aglutinogênio A e o aglutinogênio B. De acordo
sômico de uma pequena região chamada de satélite. No com a presença ou não dessas hemácias, o sangue é assim
M.E., um cromossomo na fase descondensada e com ati- classificado:
vidade de síntese de RNA, pode ser observado com um • Grupo A – possui somente o aglutinogênio A;
estrutura de contas em colar (os nucleossomos) constituí- • Grupo B – possui somente o aglutinogênio B;
dos de DNA enrolado (core DNA) em uma bola de 4 pares • Grupo AB – possui somente o aglutinogênio A e
de histonas, H2A, H2B, H3 e H4, (core Histona) que juntos B;
constituem cada nucelossomo. Observe o esquema na • Grupo O – não possui aglutinogênios.
figura a seguir. No plasma sanguíneo humano podem existir duas pro-
teínas, chamadas aglutininas: aglutinina anti-A eaglutinina
anti-B.

Dentro da região do centrômero existem regiões onde


no processo de divisão celular os fusos acromáticos se li-
gam. O lugar onde ocorre essa ligação é o Kinetocoro, re-
gião constituída de DNA e proteina, a sequência de DNA
dessa região é chamada de CEN DNA, que possui compri- Se uma pessoa possui aglutinogênio A, não pode
mento de 120 pares de base e está constituído de várias ter aglutinina anti-A, da mesma maneira, se possui
sub-regiões, CDE-I, CDE-II e CDE-III. Quando ocorrer uma aglutinogênio B, não pode ter aglutinina anti-B. Caso
mutação pontual na região III, isso elimina a possibilidade contrário, ocorrem reações que provocam a aglutinação
do centrômero funcionar na segregação do cromossomo ou o agrupamento de hemácias, o que pode entupir vasos
durante a divisão celular. Atualmente foram evidenciados 3 sanguíneos e comprometer a circulação do sangue no or-
tipos de proteinas que pertencem a essa região. esse com- ganismo. Esse processo pode levar a pessoa à morte.
plexo de proteinas é denominado Cbf-III. Esse complexo Na tabela abaixo você pode verificar o tipo de agluti-
se liga a região III normal mas não tem capacidade de se nogênio e o tipo de aglutinina existentes em cada grupo
ligar a essa região III mutada. Outra estrutura típica do cro- sanguíneo:

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BIOLOGIA

aglutininas anti-Rh produzidas dessa vez, somadas as pro-


Grupo duzidas anteriormente, podem ser suficientes para produ-
Aglutinogênio Aglutinina
sanguíneo zir grande aglutinação nas hemácias doadas, prejudicando
A A anti-B os organismos.
B B anti-A
GENES LIGADOS AO SEXO
AB AeB Não possui
O Não possui anti-A e anti-B CONCEITO
 
A existência de uma substância denominada fator Rh Refere-se à herança de genes localizados na porção
no sangue é outro critério de classificação sanguínea. Diz- não homóloga do cromossomo X (mamíferos, Droso-
se, então, que quem possui essa substância no sangue é Rh phila, etc.) ou no cromossomo análogo Z.
positivo; quem não a possui é Rh negativo. O fator Rh tem
esse nome por ter sido identificado pela primeira vez no CARACTERÍSTICAS
sangue de um macaco Rhesus.
A transfusão de sangue consiste em transferir o san- Os seguintes fatos são evidências de um herança li-
gue de uma pessoa doadora para outra receptora. Geral- gada ao sexo:
mente é realizada quando alguém perde muito sangue
num acidente, numa cirurgia ou devido a certas doenças. Herança cruzada em cruzamentos onde a fêmea é
Nas transfusões de sangue deve-se saber se há ou não recessiva;
compatibilidade entre o sangue do doador e o do receptor.
Se não houver essa compatibilidade, ocorre aglutinação Cruzamentos recíprocos com resultados diferentes;
das hemácias que começam a se dissolver (hemólise).  Em
relação ao sistema ABO, o sangue doado não deve con- Herança do tipo avô-neto. Neste caso o fenótipo do
ter aglutinogênios A; se o sangue do receptor apresentar avô desaparece na F1 e volta aparecer na F2.
aglutininas anti-B, o sangue doado não pode conter aglu-
tinogênios B. EXEMPLOS
 
Cor de olhos em Drosophila

Fenótipo Macho Fêmea


Vermelho XB Y XBXB XBXb
Branco Xb Y XbXb

Daltonismo 
O daltonismo é um defeito na visão em que o indi-
víduo confunde cores. Comumente a confusão se faz
entre o verde e o vermelho e daí o nome, dado em rela-
ção ao químico Dalton, que sofria desta anomalia. Este
defeito é provocado por um alelo recessivo ligado ao
sexo.

Fenótipo Homem Mulher


Normal XDY XDXD ou XDXd
Daltônico XdY XdXd
 
Hemofilia 

Em geral os indivíduos Rh negativos (Rh-) não possui A hemofilia é uma anomalia na capacidade de coa-
aglutininas anti-Rh. No entanto, se receberem sangue Rh gulação do sangue, regulada por um alelo recessivo li-
positivo (Rh+), passam a produzir aglutininas anti-Rh. gado ao sexo. É uma doença que causou grande mal às
Como a produção dessas aglutininas ocorre de forma re- famílias reais européias, depois de ser introduzida pelos
lativamente lenta, na primeira transfusão de sangue de descendentes da rainha Vitória. Os sintomas apresenta-
um doador Rh+ para um receptor Rh-, geralmente não há dos pelo hemofílico são: hemorragia quer por ferimen-
grandes problemas. Mas, numa segunda transfusão, deve- to ou não; sangramento de natureza de fluxo lento e
rá haver considerável aglutinação das hemácias doadas. As persistente; sangramento duradouro. Pode durar sema-
nas e então levar a uma anemia profunda. Verificou-se

55
BIOLOGIA

que a coagulação em tubo de ensaio poderia levar 30 Xeroderma pigmentosum


minutos ou horas se o sangue fosse de um hemofílico. Anormalidade caracterizada por uma irritação na
Com relação a este caráter são verificados os seguintes pele formando placas pigmentosas. Há formações can-
genótipos e fenótipos: cerosas no corpo ou a presença de tumores malignos.
A anormalidade gera também uma fotossensibilidade
Fenótipo Homem Mulher nos olhos à luz solar. Esta anormalidade é provocada
por um alelo recessivo parcialmente ligado ao sexo.
Normal XHY XHXH ou XHXh
Hemofílico XhY XhXh Fenótipo Homem Mulher
Os zigotos hemofílicos femininos tem possibilida- Normal XPYP, XPYp e XpYP XPXp e XPXP
des teóricas para existirem, entretanto nunca foram Xeroderma XpYp XpXp
convenientemente admitidos. Estes zigotos seriam for-
mados a partir do casamento entre um homem XhY e GENES HOLÂNDRICO
uma mulher XHXh. A chance do homem hemofílico, vir
a se casar é pequena e, mesmo que o casamento ocorra, CONCEITO
a probabilidade de surgir uma mulher hemofílica é de É a herança daqueles genes localizados no cromos-
apenas 25%. somo Y, no segmento sem homologia. O cromossomo Y
Alguns autores acham que mulheres XhXh vi- é o principal determinante da masculinidade na espécie
veriam no máximo até a primeira menstruação. humana e outros mamíferos. Nele deve estar contido
BIRCH demonstrou que hormônios feminino tem os genes de efeito masculinizante. Afora esta possível
efeito favorável na coagulação de sangue. Entre- ação masculinizante, pouco se conhece sobre os genes
tanto a aplicação destes hormônios em homens do Y, com algumas exceções no homem.
hemofílicos apresentou resultados duvidosos. Como o cromossomo Y é restrito aos machos, ape-
nas este sexo apresentam tais características, sendo re-
GENES PARCIALMENTE LIGADOS AO SEXO passado de pais para filhos.

CONCEITO EXEMPLOS

É a herança daqueles genes localizados na região Ictiose grave Este é um dos exemplos incluídos
homóloga dos cromossomos X e Y. Este genes podem como gene holândrico, entretanto segundo STERN,
permutar-se durante o paquíteno já que se encontram não é a rigor, um caso conclusivo. Um cidadão inglês,
nas regiões dos cromossomos sexuais que se pareiam. Edward Lambert, nascido em 1917 tinha pelos longos e
O genótipo apresentado pelo macho poderá ser: XAYA, duros, a semelhança de cerdas de porco, e daí o nome
XAYa, XaYA e XaYa. que se lhe deu de “porco espinho”. Ele casou-se e teve
6 filhos que também apresentavam a mesma caracte-
EXEMPLOS rística. O fenótipo nunca foi encontrado em mulheres.
Hipertricose auricular Tem sido considerado tal-
Retinite pigmentar vez o único exemplo, na espécie humana, de herança
A retinite pigmentar é uma degeneração da retina holândrica. A hipertricose é caracterizada pela presen-
com depósito de substâncias melânicas levando à ce- ça de pelo no pavilhão auditivo, muito comum em ho-
gueira. É causada por um alelo dominante, parcialmen- mens indianos.
te ligada ao sexo. Os seguintes genótipos são encontra-
dos na população humana: 
Fenótipo Homem Mulher
Retinite XRYR, XRYr e XrYR XRXR e XRXr
Normal XrYr XrXr GENES INFLUENCIADOS PELO SEXO

Como o gene localiza-se na região de homologia há CONCEITO


possibilidade de formação de indivíduos recombinan-
tes. Considerando o casamento entre um homem com Na herança influenciada pelo sexo o efeito do gene
retinite, de contituição cromossômica XrYR e uma mu- é afetado pelas características hormonais e fisiológicas
lher normal XrXr, constata-se que há possibilidade de do sexo em que se encontra. Um gene é influenciado
serem formados homens normais XrYr e mulheres com pelo sexo quando ele age como dominante num sexo
retinite XRXr, em razão da união de envolvendo esper- mas recessivo no outro. Assim, ocorre uma reversão de
matozóides recombinantes com XR ou Yr. dominância em função do sexo do indivíduo, a qual é
constatada pela variação de fenótipos apresentados
pelos heterozigotos dos dois sexos.

56
BIOLOGIA

EXEMPLOS Neste caso, H1 domina H2 nos machos e H2 domina


H1 nas fêmeas, conforme ilustrado no quadro a seguir:
Calvície
Genótipo Macho Fêmea
A calvície pode ter origem em vários fatores: sebor-
réia, sífilis, distúrbio da tiróide etc. Entretanto a inten- H1 H1 Com chifre Com chifre
sidade e alguns tipos de calvície pode ser hereditária. H1 H2 Com chifre Sem chifre
A calvície hereditária tem o seguinte mecanismo gené- H2 H2 Sem chifre Sem chifre
tico:
GENES LIMITADOS AO SEXO
Genótipo Homem Mulher
BB Calvo Calva CONCEITO
Bb Calvo Não calva Neste caso um dos sexos apresenta um único fenó-
Bb Não calvo Não calva tipo, para qualquer que seja seu genótipo. A segrega-
ção fenotípica ocorre apenas no sexo oposto.
Neste caso, o alelo B determina a calvície e o alelo
b determina a persistência de cabelos. O alelo B domi- EXEMPLOS
na b, quando em um genótipo do indivíduo do sexo
masculino. Em indivíduos do sexo feminino o alelo b Asas de borboletas (gênero Colias)
domina o alelo B.
Neste exemplo a segregação fenotípica ocorre ape-
Pelagem de gado ayrshire nas no sexo feminino, no qual o alelo W determina as
asas de cor branca e o alelo recessivo w determina asas
Nesta raça de gado leiteiro o animal branco pode de cor amarela. Os machos só se apresentam com asas
apresentar áreas (manchas) no pescoço que podem ter amarelas.
coloração vermelha ou castanha. Os seguintes alelos
determinam a herança deste caráter: Genótipo Fêmeas Machos
M1 = castanho WW Branca Amarela
Ww Branca Amarela
M2 = vermelho ww Amarela Amarela
Sendo que M1 domina M2 em organismos do sexo Penas de galinhas
masculino, mas é dominado por M2 nos indivíduos do
sexo feminino. Assim, são verificados os seguinte fenó- Neste exemplo a segregação fenotípica ocorre ape-
tipos associados aos genótipos atribuídos ao gene M1/ nas no sexo masculino. No sexo feminino, o fenótipo é
M2: o mesmo, independente do genótipo da ave.

Genótipo Macho Fêmea Genótipo Macho Fêmea


M1 M1 Castanho Castanho HH penas de galinha penas de galinha
M1 M2 Castanho Vermelho Hh penas de galinha penas de galinha
M2 M2 Vermelho Vermelho hh penas de galo penas de galinha

O alelo H inibe a presença de penas masculinas


quando em presença de hormônios sexuais masculinos.
Se o galo Hh for castrado, o nível de hormônios mas-
culino decresce e o efeito inibitório do alelo H desapa-
Presença de chifres em carneiros rece, permitindo h manifestar-se e o galo passa, após
castrado, ter penas de galos.
Com relação a este caráter temos o seguinte meca- Herança Quantitativa
nismo genético:  
A herança quantitativa também é um caso particular de
H1 = com chifre interação gênica. Neste caso, em que as diferenças fenotí-
picas de uma dada característica não mostram variações
H2 = sem chifre expressivas, as variações são lentas e contínuas e mudam
gradativamente, saindo de um fenótipo “mínimo” até che-

57
BIOLOGIA

gar a um fenótipo “máximo”. É fácil concluir, portanto, que na herança quantitativa (ou poligênica) os genes possuem efeito
aditivo e recebem o nome de poligenes.
A herança quantitativa é muito frequente na natureza. Algumas características de importância econômica, como a pro-
dução de carne em gado de corte, produção de milho etc., são exemplos desse tipo de herança. No homem, a estatura, a
cor da pele e, inclusive, inteligência, são casos de herança quantitativa.
 
Herança da cor da pele no homem
Segundo Davenport (1913), a cor da pele na espécie humana é resultante da ação de dois pares de genes (AaBb), sem
dominância. Dessa forma, A e B determinam a produção da mesma quantidade do pigmento melanina e possuem efeito
aditivo. Logo, conclui-se que deveria existir cinco tonalidades de cor na pele humana, segundo a quantidade de genes A e B.

Genótipos Fenótipos
aabb pele clara
Aabb, aaBb mulato claro
AAbb, aaBB, AaBb mulato médio
AABb, AaBB mulato escuro
AABB pele negra
 
Vejamos os resultados genotípicos e fenotípicos que seriam obtidos a partir do cruzamento de dois indivíduos mulatos
médios, duplo-heterozigotos:

mulato médo            X           mulato médio


AaBb                                      AaBb
 
  AB Ab aB ab
AB AABB AABb AaBB AaBb
Negro mulato escuro mulato escuro Púrpura
Ab AABb AAbb AaBb Aabb
mulato escuro mulato médio mulato médio mulato claro
aB AaBB AaBb aaBB aaBb
mulato escuro mulato médio mulato médio mulato claro
ab AaBb Aabb aaBb aabb
mulato médio mulato claro mulato claro Branca
Fenótipos:
1/16      :      4/16      :        6/16       
:        4/16        :       1/16
branco      mulato claro      mulato
médio     mulato escuro         negro
 
E a cor dos olhos?
Todo o professor de biologia tem que responder, durante as aulas de genética, ao inevitável questionamento sobre
como é herdada a cor dos olhos. Contudo, muitos ainda tratam erroneamente essa característica genética como um tipo
de herança mendeliana simples, cuja ocorrência é influenciada por um único par de genes associados com a produção de
olhos escuros e claros. Essa explicação simplista, porém, não mostra como surge toda a variedade de cores presentes nos
olhos e não esclarece por que pais de olhos castanhos podem ter filhos com olhos castanhos, azuis, verdes, ou de qualquer
outra tonalidade. A cor dos olhos é uma característica cuja herança é poligênica, um tipo de variação contínua em que os
alelos de vários genes influenciam na coloração final dos olhos. Isso ocorre por meio da produção de proteínas que diri-
gem a proporção de melanina depositada na íris. Outros genes produzem manchas, raios, anéis e padrões de difusão dos
pigmentos.
 
Distribuição dos fenótipos em curva normal ou de Gauss.
Normalmente, os fenótipos extremos são aqueles que se encontram em quantidades menores, enquanto os fenótipos
intermediários são observados em frequências maiores. A distribuição quantitativa desses fenótipos estabelece uma curva
chamada normal (curva de Gauss).
 

58
BIOLOGIA

RNA - O ácido ribonucleico (RNA) é uma molécula


também formada por um açúcar (ribose), um grupo fosfato
e uma base nitrogenada (U ou uracila, A ou adenina, C ou
citosina e G ou guanina). Um grupo reunindo um açúcar,
um fosfato e uma base é um “nucleotídeo”.
Código genético - A informação contida no DNA, o có-
digo genético, está registrada na sequência de suas bases
na cadeia (timina sempre ligada à adenina, e citosina sem-
pre com guanina). A sequência indica outra sequência, a
de aminoácidos - substâncias que constituem as proteínas.
O DNA não é o fabricante direto das proteínas; para isso
ele forma um tipo específico de RNA, o RNA mensageiro,
no processo chamado transcrição. O código genético, na
forma de unidades conhecidas como genes, está no DNA,
no núcleo das células. Já a “fábrica” de proteínas se localiza
  no citoplasma celular em estruturas específicas, os ribosso-
O número de fenótipos que podem ser encontrados, mos, para onde se dirige o RNA mensageiro. Na transcri-
em um caso de herança poligênica, depende do número de ção, apenas os genes relacionados à proteína que se quer
pares de alelos envolvidos, que chamamos n. produzir são copiados na forma de RNA mensageiro. Cada
Número de fenótipos = 2n + 1 grupo de três bases (ACC, GAG, CGU etc.) é chamado có-
  don e é específico para um tipo de aminoácido. Um pe-
Se uma característica é determinada por três pares de daço de ácido nucléico com cerca de mil nucleotídeos de
alelos, sete fenótipos distintos podem ser encontrados. comprimento pode, portanto, ser responsável pela síntese
Cada grupo de indivíduos que expressam o mesmo fenóti- de uma proteína composta de centenas de aminoácidos.
po constitui uma classe fenotípica. Nos ribossomos, o RNA mensageiro é por sua vez lido por
Sabendo-se o número de pares envolvidos na herança, moléculas de RNA de transferência, responsável pelo trans-
podemos estimar a frequência esperada de indivíduos que porte dos aminoácidos até o local onde será montada a
demonstram os fenótipos extremos, em que n é o número cadeia proteica. Essa produção de proteínas com base em
de pares de genes. um código é o fundamento da engenharia genética.
Texto adaptado de Maria Duarte Mendonça.
Frequência dos fenótipos extremos =1/4n
Herança mendeliana.
DNA e RNA
A genética mendeliana, herança mendeliana ou Men-
Substâncias químicas das quais são feitos os genes. Ve- delismo é um conjunto de princípios relacionados à trans-
rifica-se isso pelo fato de essas moléculas estarem envolvi- missão hereditária das características de um organismo a
das na transmissão dos caracteres hereditários e na produ- seus filhos. Consiste na base principal da genética clássica.
ção de proteínas. Estas últimas são os principais compostos Originou-se dos trabalhos de Mendel publicados em 1865
constituintes dos seres vivos e estão em produção constan- e 1866, os quais foram considerados controversos inicial-
te pelas células sob ordem dos genes. Ou seja, do DNA e mente, e redescobertos em 1900. Somente quando incor-
do RNA, siglas que em inglês significam, respectivamente, porada à teoria do cromossomo de Thomas Hunt Morgan
ácido desoxirribonucleico e ácido ribonucleico. De maneira em 1915 foi que a Genética mendeliana se tornou a essên-
geral, se diz que são ácidos nucléicos e também se podem cia da genética clássica.
chamá-los pela sigla em português ADN e ARN. De acor- Gregor Johann Mendel nasceu a 20 de Julho de 1822,
do com a moderna biologia, com exceção dos retrovírus, o na Silésia, sendo batizado a 22 de julho de 1822, o que
DNA produz RNA, que, por sua vez, produz proteína. gera confusão em relação ao dia de seu nascimento. Se-
DNA - O ácido desoxirribonucleico é uma molécula gundo consta, era pobre, e aos 21 anos de idade entrou
formada por duas cadeias na forma de uma dupla hélice. para um convento da Ordem de Santo Agostinho, de onde
Essas cadeias são constituídas de um açúcar, chamado de- seus superiores o enviaram a Viena a fim de estudar histó-
soxirribose, um grupo fosfato e quatro bases nitrogenadas, ria natural. Indicado depois para professor-substituto des-
chamadas T ou timina, A ou adenina, C ou citosina e G ou sa matéria, jamais conseguiu, entretanto, a aprovação nos
guanina. O fato de o DNA ter a forma de duas hélices, en- exames para se tornar efetivo no cargo. Seu trabalho genial
roladas uma na outra, é um fator essencial na sua replica- colocou-o no nível dos maiores cientistas da humanidade.
ção, isto é, a sua reprodução, gerando uma nova molécula Sua obra Experiências com hibridização de plantas, que
de DNA enquanto ocorre a divisão celular. Durante a repli- não abrange mais de 30 páginas impressas, é um modelo
cação, as duas hélices se desenrolam uma da outra e cada de método científico. O que descobriu, e vem sendo ensi-
uma delas serve de molde para fazer duas novas. nado desde 1900, se tornou absolutamente imprescindível
para a compreensão da Biologia moderna.

59
BIOLOGIA

Baseado em trabalhos já existentes acerca de hibridi- 1, sempre 3 amarelas para 1 verde. Inclusive na análise de
zação de plantas ornamentais, mas que não haviam sido dois caracteres simultaneamente, Mendel sempre caía na
bem-sucedidos, tais como o trabalho de Kölreuter, Gartner, proporção final de 3:1.
e outros, Mendel decidiu estudar o mesmo problema. O Para explicar a ocorrência de somente sementes ama-
primeiro cuidado que teve foi selecionar devidamente o relas em F¹ os dois tipos em F², Mendel começou admitin-
material de estudo; para isso, estabeleceu alguns critérios do a existência de fatores que passassem dos pais para os
e procurou material que se lhes adequassem. Tais critérios filhos por meio dos gametas. Cada fator seria responsável
consistiam principalmente em encontrar plantas de carac- pelo aparecimento de um caráter. Assim, existiria um fator
teres nitidamente distintos e facilmente diferenciáveis; que que condiciona o caráter amarelo e que podemos repre-
essas plantas cruzassem bem entre si, e que os híbridos sentar por A (maiúsculo), e um fator que condiciona o ca-
delas resultantes fossem igualmente férteis e se reprodu- ráter verde e que podemos representar por a (minúsculo).
zissem bem; e, por fim, que fosse fácil protegê-las contra Quando a ervilha amarela pura é cruzada com uma ervilha
polinização estranha. Baseado nesses critérios, depois de verde pura, o híbrido F¹ recebe o fator A e o fator a, sendo
várias análises, Mendel escolheu algumas variedades e es- portanto, portador de ambos os fatores. As ervilhas obti-
pécies de ervilhas (Pisum sativum), conseguindo um total das em F¹ eram todas amarelas, isso quer dizer que, por
de sete pares de caracteres distinto. ter o fator A (maiusculo), esse se manifestou, sendo assim
Vamos chamar de linhagem os descendentes de um chamado de “dominante”. Mendel chamou de “recessivo”
ancestral comum. Mendel observou que as diferentes li- (a)(minúsculo) o fator que não se manifesta em F¹. Utili-
nhagens, para os diferentes caracteres escolhidos, eram za-se sempre a letra do caráter recessivo para representar
sempre puras, isto é, não apresentavam variações ao lon- ambos os caráteres, sendo maiúscula a letra do dominante
go das gerações. Por exemplo, a linhagem que apresen- e minúscula a do recessivo. Continuando a análise, Mendel
tava sementes da cor amarela produziam descendentes contou em F², o número de indivíduos com caráter recessi-
que apresentavam exclusivamente a semente amarela. O vo, e verificou que eles ocorrem sempre na proporção de 3
mesmo caso ocorre com as ervilhas com sementes verdes. dominantes para 1 recessivo.
Essas duas linhagens eram, assim, linhagens puras. Mendel Mendel chegou a conclusão que o fator para verde só
resolveu então estudar esse caso em especifico. A flor de se manifesta em indivíduos puros, ou seja com ambos os
ervilha é uma flor típica da família das Leguminosae. Apre- fatores iguais à a (minúsculo). Em F¹ as plantas possuíam
senta cinco pétalas, duas das quais estão opostas forman- tanto os fatores A quanto o fator a sendo, assim, neces-
do a carena, em cujo interior ficam os órgãos reprodutores sariamente amarelas. Podemos representar os indivíduos
masculinos e femininos. Por isso, nessa família, a norma é da geração F¹ como Aa (heterozigoto e, naturalmente, do-
haver autofecundação; ou seja, o grão de pólen da antera minante). Logo para poder formar indivíduos aa (homozi-
de uma flor cair no pistilo da própria flor, não ocorrendo gotos recessivos) na geração F² os gametas formados na
fecundação cruzada. Logo para cruzar uma linhagem com fecundação só poderiam ser aa. Esse fato não seria pos-
a outra era necessário evitar a autofecundação. sível se a geração desse origem a gametas com fatores
Mendel escolheu alguns pés de ervilha de semente iguais aos deles (Aa). Isso só seria possível se ao ocorrer
amarela e outros de semente verde, emasculou as flores a fecundação houvesse uma segregação dos fatores A e
ainda jovens, ainda não-maduras. Para isso, retirou das a presentes na geração F¹, esse fatores seriam misturados
flores as anteras imaturas, tornando-as, desse modo, com- entre os fatores A e a provenientes do pai e os fatores A e
pletamente femininas. Depois de algum tempo, quando as a provenientes da mãe. Os possíveis resultados sendo: AA,
flores se desenvolveram e estavam maduras, polinizou as Aa e aa. Esse fato foi posteriormente explicado pela meio-
flores de ervilha amarela com o pólen das flores de ervilha se, que ocorre durante a formação dos gametas. Mendel
verde, e vice-versa. Essas plantas constituem portanto as havia criado então sua teoria sobre a hereditariedade e da
linhagens parentais. Os descendentes desses cruzamentos segregação dos fatores.
constituem a primeira geração em estudo designada por
geração F¹, assim como as seguintes são designadas por Segunda Lei: Segregação independente
F², F³, etc.
A Segunda Lei de Mendel é também conhecida como
Primeira Lei: Lei da Segregação Lei da segregação independente dos genes. Mendel em
seus experimentos também cruzou plantas que diferiam
A primeira lei de Mendel, chamada de lei da segrega- em relação a dois pares de alelos. Neste cruzamento, que
ção ou lei da pureza dos gametas, pode ser enunciada da objetivava esclarecer a relação de diferentes pares de ale-
seguinte forma: na formação dos gametas, os pares de fa- los, ele cruzou plantas que possuíam sementes amarelas
tores se segregam. Todas as sementes obtidas em F¹, foram e lisas com plantas que possuíam sementes verdes e ru-
amarelas (por serem dominantes e as verdes recessivas), gosas. A progênie F1 resultante entre o cruzamento dos
portanto iguais a um dos pais. Uma vez que todas as se- progenitores homozigota é formada por híbridos(hetero-
mentes eram iguais, Mendel plantou-as e deixou que as zigotos) para dois pares de genes. A progênie F1 (GgWw)
plantas quando florescessem, se autofecundassem, produ- é formada por diíbridos e, por extensão, o cruzamento
zindo assim a geração F². As sementes obtidas na gera- GGWW x ggww é um cruzamento diíbrido. Sabia-se, graças
ção F² foram verdes e amarelas, na proporção de 3 para à experiências anteriores, que os alelos que determinavam

60
BIOLOGIA

sementes amarelas e lisas eram dominantes e sobre seus Importância dos estudos de Mendel
respectivos alelos, que produziam sementes verdes e rugo- Embora as conclusões de Mendel tenham se baseado
sas. Assim, considerando dois deles tinham-se as informa- em trabalhos com uma única espécie de planta, os prin-
ções: caráter cor dos cotilédones já tinha sido observado cípios enunciados nas duas leis aplicam-se a todos os or-
que o padrão amarelo (V_) apresentava dominância sobre ganismos de reprodução sexuada. Pode-se tomar como
o padrão verde (vv); caráter aspecto da casca da semente exemplo um caso de herança animal. Cobaias pretas ho-
neste caso, já se observa que o padrão de casca lisa (R_) era mozigotas cruzadas com cobaias brancas homozigotas ori-
dominante sobre o tipo casca rugosa (rr). ginarão descendentes pretos heterozigotos, que cruzados
Os cruzamentos foram realizados no mesmo esquema entre si, originarão cobaias pretas e brancas na proporção
da elaboração da primeira lei. A geração parental(P) utiliza- 3:1. Mendel criou a base da genética moderna. Embora
va duas plantas homozigóticas para as características estu- seus estudos tenham permanecidos obscuros até o século
dadas, assim uma duplo-dominante (AA) era cruzada com XX eles influenciaram a biologia como um todo dando ori-
um duplo-recessiva (aa). Desse cruzamento surgiu um hí- gem a todos os estudos posteriores sobre hereditariedade
brido heterozigótico (Aa). Mendel selecionou dois caracte- e genética.
res das sete estudadas na primeira lei para comparação, er-
vilhas amarelas(AA) e lisas(BB)(duplo-dominante) e ervilhas Alelos múltiplos e tipos sanguíneos (ABO, Rh e MN).
verdes(aa) e rugosas(bb)(duplo-recessiva).No primeiro cru-
zamento (F1) todas as ervilhas obtidas eram amarelas(Aa) Sistema ABO de grupos sanguíneos
e lisas(Bb). Na segunda geração(F2) foram obtidas ervilhas A herança dos tipos sanguíneos do sistema ABO cons-
amarelas(A_) e lisas(B_), amarelas(A_) e rugosas(bb),ver- titui um exemplo de alelos múltiplos na espécie humana.
des(aa) e lisas(B_) e verdes(aa)e rugosas(bb), Na proporção,
respectivamente, 9:3:3:1 (P)AA/aa + BB/bb (F1)AAxaa=Aa A descoberta dos grupos sanguíneos
BBxbb=Bb (F2)AaxAa=AA/Aa/Aa/aa BbxBb=BB/Bb/Bb/bb Por volta de 1900, o médico austríaco Karl Landsteiner
(1868 – 1943) verificou que, quando amostras de sangue
Cruzamentos possíveis de todos os gametas obtidos de determinadas pessoas eram misturadas, as hemácias
se juntavam, formando aglomerados semelhantes a coá-
Gametas AB Ab aB ab gulos. Landsteiner concluiu que determinadas pessoas têm
AB AABB AABb AaBB AaBb sangues incompatíveis, e, de fato, as pesquisas posteriores
Ab AABb AAbb AaBb Aabb revelaram a existência de diversos tipos sanguíneos, nos di-
aB AaBB AaBb aaBB aaBb ferentes indivíduos da população. Quando, em uma trans-
ab AaBb Aabb aaBb aabb fusão, uma pessoa recebe um tipo de sangue incompatível
A_: Dominante(cor Amarela). B_: Dominante(forma com o seu, as hemácias transferidas vão se aglutinando
Lisa). aa: Recessivo(cor Verde). bb: Recessivo(forma Rugo- assim que penetram na circulação, formando aglomerados
sa). compactos que podem obstruir os capilares, prejudicando
Obs.: Foram obtidos dezesseis resultados entre os a circulação do sangue.
cruzamentos dos possíveis tipos de cromossomos. Obs.2:
A proporção obtida na experiencia decorre da soma do Aglutinogênios e Aglutininas
número de ocorrencias. Exemplo: Amarela e Lisa(A_B_)- No sistema ABO existem quatro tipos de sangues: A, B,
1/16x9= 9/16. AB e O. Esses tipos são caracterizados pela presença ou não
Assim na geração F2 constata-se a existência de quatro de certas substâncias na membrana das hemácias, os aglu-
fenótipos distintos, sendo dois idênticos da geração pa- tinogênios, e pela presença ou ausência de outras subs-
rental e dois novos(A_bb e aaBabba_). Todos os resultados tâncias, as aglutininas, no plasma sanguíneo. Existem dois
confirmaram que os genes de cada carácter passavam de tipos de aglutinogênio, A e B, e dois tipos de aglutinina, an-
forma independente dos demais, ou seja, o fenótipo do- ti-A e anti-B. Pessoas do grupo A possuem aglutinogênio
minante - amarelo - não era transmitido obrigatoriamente A, nas hemácias e aglutinina anti-B no plasma; as do grupo
com o fenótipo dominante - liso, o mesmo ocorreu com B têm aglutinogênio B nas hemácias e aglutinina anti-A no
a transmissão dos fenótipos recessivos - verde e rugoso - plasma; pessoas do grupo AB têm aglutinogênios A e B
para os descendentes. A segunda Lei de Mendel também nas hemácias e nenhuma aglutinina no plasma; e pessoas
denominada de lei da segregação independente foi criada do gripo O não tem aglutinogênios na hemácias, mas pos-
por Gregor Mendel diz que, as diferenças de uma caracte- suem as duas aglutininas, anti-A e anti-B, no plasma. Deter-
rística são herdadas independentemente das diferenças em minação dos grupos sanguíneos utilizando soros anti-A e
outras características. anti-B. Amostra 1- sangue tipo A. Amostra 2 - sangue tipo
B. Amostra 3 - sangue tipo AB. Amostra 4 - sangue tipo O.
Mecanismos hereditários não previstos por Mendel
Co-dominância
Alelos múltiplos
Genes Letais

61
BIOLOGIA

Veja na tabela abaixo a compatibilidade entre os diversos tipos de sangue:

ABO Substâncias % Pode receber de


Tipos Aglutinogênio Aglutinina Frequência A+ B+ A+ 0+ A- B- AB- O-
AB+ AeB Não Contém 3% X X X X X X X X
A+ A Anti-B 34% X X X X
B+ B Anti-A 9% X X X X
O+ Não Contém Anti-A e Anti-B 38% X X
AB- Ae B Não Contém 1% X X X X
A- A Anti-B 6% X X
B- B Anti-A 2% X X
O- Não Contém Anti-A e Anti-B 7% X

Tipos possíveis de transfusão

As aglutinações que caracterizam as incompatibilidades sanguíneas do sistema acontecem quando uma pessoa pos-
suidora de determinada aglutinina recebe sangue com o aglutinogênio correspondente. Indivíduos do grupo A não podem
doar sangue para indivíduos do grupo B, porque as hemácias A, ao entrarem na corrente sanguínea do receptor B, são
imediatamente aglutinadas pelo anti-A nele presente. A recíproca é verdadeira: indivíduos do grupo B não podem doar
sangue para indivíduos do grupo A. Tampouco indivíduos A, B ou AB podem doar sangue para indivíduos O, uma vez que
estes têm aglutininas anti-A e anti-B, que aglutinam as hemácias portadoras de aglutinogênios A e B ou de ambos. Assim,
o aspecto realmente importante da transfusão é o tipo de aglutinogênio da hemácia do doador e o tipo de aglutinina do
plasma do receptor. Indivíduos do tipo O podem doar sangue para qualquer pessoa, porque não possuem aglutinogênios
A e B em suas hemácias. Indivíduos, AB, por outro lado, podem receber qualquer tipo de sangue, porque não possuem
aglutininas no plasma. Por isso, indivíduos do grupo O são chamadas de doadores universais, enquanto os do tipo AB são
receptores universais.

Como ocorre a Herança dos Grupos Sanguíneos no Sistema ABO?

A produção de aglutinogênios A e B são determinadas, respectivamente, pelos genes I A e I B. Um terceiro gene, cha-
mado i, condiciona a não produção de aglutinogênios. Trata-se, portanto de um caso de alelos múltiplos. Entre os genes I
A
e I B há co-dominância (I A = I B), mas cada um deles domina o gene i (I A > i e I B> i).

Fenótipos Genótipos
A I AI A ou I Ai
B I BI B ou I Bi
AB I AI B
O ii

62
BIOLOGIA

A partir desses conhecimentos fica claro que se uma Analisando o sangue de muitos indivíduos da espé-
pessoa do tipo sanguíneo A recebe sangue tipo B as he- cie humana, Landsteiner verificou que, ao misturar gotas
mácias contidas no sangue doado seriam aglutinadas pelas de sangue dos indivíduos com o soro contendo anti-Rh,
aglutininas anti-B do receptor e vice-versa. cerca de 85% dos indivíduos apresentavam aglutinação (e
O sistema MN de grupos sanguíneos pertenciam a raça branca) e 15% não apresentavam. Defi-
niu-se, assim, “o grupo sanguíneo Rh +” (apresentavam o
Dois outros antígenos forma encontrados na superfície antígeno Rh), e “o grupo Rh -“ ( não apresentavam o antí-
das hemácias humanas, sendo denominados M e N. Ana- geno Rh). No plasma não ocorre naturalmente o anticorpo
lisando o sangue de diversas pessoas, verificou-se que em anti-Rh, de modo semelhante ao que acontece no sistema
algumas existia apenas o antígeno M, em outras, somente Mn. O anticorpo, no entanto, pode ser formado se uma
o N e várias pessoas possuíam os dois antígenos. Foi possí- pessoa do grupo Rh -, recebe sangue de uma pessoa do
vel concluir então, que existiam três grupos nesse sistema: grupo Rh +. Esse problema nas transfusões de sangue não
M, N e MN. Os genes que condicionam a produção desses são tão graves, a não ser que as transfusões ocorram repe-
antígenos são apenas dois: L M e L N (a letra L é a inicial do tidas vezes, como também é o caso do sistema MN.
descobridor, Landsteiner). Trata-se de uma caso de herança A Herança do Sistema Rh
medeliana simples. O genótipo L ML M, condiciona a produ-
ção do antígeno M, e L NL N, a do antígeno N. Entre L M e L Três pares de genes estão envolvidos na herança do
N
há co-dominância, de modo que pessoas com genótipo L fator Rh, tratando-se portanto, de casos de alelos múlti-
L produzem os dois tipos de antígenos.
M N
plos. Para simplificar, no entanto, considera-se o envolvi-
mento de apenas um desses pares na produção do fator
Genótipos Fenótipos Rh, motivo pelo qual passa a ser considerado um caso de
herança mendeliana simples. O gene R, dominante, deter-
M L ML M mina a presença do fator Rh, enquanto o gene r, recessivo,
N L NL N condiciona a ausência do referido fator.
MN L ML N
Genótipos Fenótipos
Transfusões no Sistema MN Rh +
RR ou Rr
A produção de anticorpos anti-M ou anti-N ocorre so- Rh - rr
mente após sensibilização (você verá isso no sistema RH).
Assim, não haverá reação de incompatibilidade se uma Doença hemolítica do recém-nascido ou eritroblas-
pessoa que pertence ao grupo M, por exemplo, receber tose fetal
o sangue tipo N, a não ser que ela esteja sensibilizada por
transfusões anteriores. Uma doença provocada pelo fator Rh é a eritroblastose
fetal ou doença hemolítica do recém-nascido, caracteriza-
O sistema RH de grupos sanguíneos da pela destruição das hemácias do feto ou do recém-nas-
cido. As consequências desta doença são graves, podendo
Um terceiro sistema de grupos sanguíneos foi desco- levar a criança à morte. Durante a gestação ocorre passa-
berto a partir dos experimentos desenvolvidos por Lands- gem, através da placenta, apenas de plasma da mãe para o
teiner e Wiener, em 1940, com sangue de macaco do gêne- filho e vice-versa devido à chamada barreira hemato-pla-
ro Rhesus. Esses pesquisadores verificaram que ao se injetar centária. Pode ocorrer, entretanto, acidentes vasculares na
o sangue desse macaco em cobaias, havia produção de an- placenta, o que permite a passagem de hemácias do feto
ticorpos para combater as hemácias introduzidas. Ao cen- para a circulação materna. Nos casos em que o feto possui
trifugar o sangue das cobaias obteve-se o soro que conti- sangue fator rh positivo os antígenos existentes em suas
nha anticorpos anti-Rh e que poderia aglutinar as hemácias hemácias estimularão o sistema imune materno a produzir
do macaco Rhesus. As conclusões daí obtidas levariam a anticorpos anti-Rh que ficarão no plasma materno e po-
descoberta de um antígeno de membrana que foi denomi- dem, por serem da classe IgG, passar pela BHP provocando
nado Rh (Rhesus), que existia nesta espécie e não em outras lise nas hemácias fetais. A produção de anticorpos obede-
como as de cobaia e, portanto, estimulavam a produção ce a uma cascata de eventos (ver imunidade humoral) e
anticorpos, denominados anti-Rh. Há neste momento uma por isto a produção de anticorpos é lenta e a quantidade
inferência evolutiva: se as proteínas que existem nas hemá- pequena num primeiro. A partir da segunda gestação, ou
cias de vários animais podem se assemelhar isto pode ser após a sensibilização por transfusão sanguínea, se o filho
um indício de evolução. Na espécie humana, por exemplo, é Rh + novamente, o organismo materno já conterá anti-
temos vários tipos de sistemas sanguíneos e que podem corpos para aquele antígeno e o feto poderá desenvolver a
ser observados em outras espécies principalmente de ma- DHPN ou eritroblastose fetal.
cacos superiores. O diagnóstico pode ser feito pela tipagem sanguínea
da mãe e do pai precocemente e durante a gestação o tes-
te de Coombs que utiliza anti-anticorpo humano pode de-
tectar se esta havendo a produção de anticorpos pela mãe

63
BIOLOGIA

e providências podem ser tomadas. Uma transfusão , rece- Quando dois pares de genes alelos estão situados de
bendo sangue Rh -, pode ser feita até mesmo intra-útero tal forma, em um par de homólogos, que não ocorre per-
já que Goiânia está se tornando referência em fertilização mutação entre eles, diz-se que há linkage total entre eles.
in vitro. O sangue Rh - não possui hemácias com fator Rh e Caso haja permutação, o linkage é parcial.
não podem ser reconhecidas como estranhas e destruídas Em um caso de ligação gênica, não basta se conhecer
pelos anticorpos recebidos da mãe. Após cerca de 120 dias, o genótipo de um indivíduo. É necessário que se determine
as hemácias serão substituídas por outras produzidas pelo a posição relativa dos genes no par de homólogos. Por que
próprio indivíduo. O sangue novamente será do tipo Rh +, isso é tão importante? Observe as duas situações mostra-
mas o feto já não correrá mais perigo. das a seguir:
Após o nascimento da criança toma-se medida pro-
filática injetando, na mãe Rh- , soro contendo anti Rh. A
aplicação logo após o parto, destrói as hemácias fetais que
possam ter passado pela placenta no nascimento ou antes.
Evita-se, assim, a produção de anticorpos “zerando o placar
de contagem”. Cada vez que um concepto nascer e for Rh+
deve-se fazer nova aplicação pois novos anticorpos serão
formados. Os sintomas no RN que podem ser observados
são anemia (devida à destruição de hemácias pelos anti-
corpos), icterícia (a destruição de hemácias aumentada le-
vará a produção maior de bilirrubina indireta que não pode
ser convertida no fígado), e após sua persistência o apa-
recimento de uma doença chamada Kernicterus que cor-
responde ao depósito de bilirrubina nos núcleos da base
cerebrais o que gerará retardo no RN.
Ligação gênica.

O que é ligação gênica?

Dois ou mais pares de genes alelos localizados em di-


ferentes pares de cromossomos homólogos segregam-se Podemos notar que, embora as duas células possuam
independentemente. Portanto, esta é a condição de vali- os mesmos genes, a sua posição, no par de cromossomos
dade da segunda lei de Mendel. homólogos não é a mesma, o que determina a produção
Quando dois ou mais pares de genes alelos estão lo- de tipos diferentes de gametas, na meiose.
calizados em um mesmo par de cromossomos homólogos, Existem diversas formas de se indicar a posição dos ge-
eles não obedecem à lei da segregação independente. nes no par de homólogos. As mais comuns são:
Afinal, durante a meiose irá haver uma tendência de que
esses genes permaneçam unidos, quando o par de homó-
logos se separar, como mostra a figura abaixo.

 
Quando dois ou mais pares de genes alelos se loca-
lizam em um mesmo par de cromossomos, dizemos que Uma outra forma de se indicar essa posição relativa
eles apresentam ligação gênica (ou ligação fatorial). dos genes é uma nomenclatura habitualmente usada pela
Os autores de língua inglesa dão a essa situação o nome química orgânica. O duplo-heterozigoto que tem os dois
de linkage. No entanto, há um fenômeno capaz de alte- genes dominantes no mesmo cromossomo e os dois reces-
rar essa tendência de união. É a permutação gênica (ou sivos no outro (AB/ab) é chamado de heterozigoto “cis”.
crossing-over), troca de fragmentos entre cromossomos O duplo-heterozigoto cujos genes dominantes estão em
homólogos, que pode acontecer na prófase da primeira cromossomos diferentes do par de homólogos (Ab/aB) é o
divisão da meiose. heterozigoto “trans”.

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BIOLOGIA

2. Gametas parentais e recombinantes Os cromossomos sexuais


Quando as células de um indivíduo cujo genótipo é ge-
nótipo AB/ab sofrem meiose e originam gametas, os tipos O cromossomo Y é mais curto e possui menos genes
de gametas formados podem variar em função da ocorrên- que o cromossomo X, além de conter uma porção encur-
cia ou não da permutação. tada, em que existem genes exclusivos do sexo masculino.
Não acontecendo o crossing-over, apenas dois tipos Observe na figura abaixo que uma parte do cromossomo X
de gametas poderão se formar: AB e ab. Caso ocorra o não possui alelos em Y, isto é, entre os dois cromossomos
crossing-over, além desses dois tipos também poderão ser há uma região não-homóloga.
encontrados os gametas aB e Ab.

É importante destacar que, mesmo ocorrendo o cros-


sing-over, os gametas AB e ab se formam, uma vez que as
cromátides externas não trocam fragmentos entre si. Veja
novamente a figura anterior e repare que apenas as cro-
mátides internas, também chamadas cromátides vizinhas,
trocam fragmentos!
Os gametas dos tipos AB a ab, cujo aparecimento não Determinação genética do sexo
depende da ocorrência da permutação, são chamados
gametas parentais, porque eles refletem a posição dos O sistema XY
genes nas células. Os gametas dos tipos Ab e aB, que só
aparecem caso aconteça a permutação, são chamados re- Em algumas espécies animais, incluindo a humana, a
combinantes. constituição genética dos indivíduos do sexo masculino
é representada por 2AXY e a dos gametas por eles pro-
Herança e sexo. duzidos, AX e AY; na fêmea, cuja constituição genética é
indicada por 2AXX, produzem-se apenas gametas AX. No
Em condições normais, qualquer célula diplóide huma- homem a constituição genética é representada por 44XY
na contém 23 pares de cromossomos homólogos, isto é, e a dos gametas por ele produzidos, 22X e 22Y; na mulher
2n= 46. Desses cromossomos, 44 são autossomos e 2 são 44XX e os gametas, 22X. Indivíduos que forma só um tipo
os cromossomos sexuais também conhecidos como hete- de gameta, quanto aos cromossomos sexuais, são deno-
rossomos. minados homogaméticos. Os que produzem dois tipo são
chamados de heterogaméticos. Na espécie humana, o sexo
Autossomos e heterossomos feminino é homogamético, enquanto o sexo masculino é
heterogamético.
Os cromossomos autossômicos são os relacionados às
características comuns aos dois sexos, enquanto os sexuais
são os responsáveis pelas características próprias de cada
sexo. A formação de órgãos somáticos, tais como fígado,
baço, o estômago e outros, deve-se a genes localizados
nos autossomos, visto que esses órgãos existem nos dois
sexos. O conjunto haplóide de autossomos de uma célula
é representado pela letra A. Por outro lado, a formação dos
órgãos reprodutores, testículos e ovários, característicos
de cada sexo, é condicionada por genes localizados nos
cromossomos sexuais e são representados, de modo geral,
por X e Y. O cromossomo Y é exclusivo do sexo masculino.
O cromossomo X existe na mulher em dose dupla, enquan-
to no homem ele se encontra em dose simples. Microsco-
pia Eletrônica do cromossomo X e Y. Compare a diferença
de tamanho de cada cromossomo.

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BIOLOGIA

Mecanismo de compensação de dose O Sistema ZW


Em 1949, o pesquisador inglês Murray Barr descobriu
que há uma diferença entre os núcleos interfásicos das células Em muitas aves (inclusive os nossos conhecidos galos
masculinas e femininas: na periferia dos núcleos das células e galinhas), borboletas e alguns peixes, a composição cro-
femininas dos mamíferos existe uma massa de cromatina que mossômica do sexo é oposta à que acabamos de estudar:
não existe nas células masculinas. Essa cromatina possibilita o sexo homogamético é o masculino, enquanto as fêmeas
identificar o sexo celular dos indivíduos pelo simples exame são heterogaméticas. Também a simbologia utilizada, nes-
dos núcleos interfásicos: a ela dá-se o nome de cromatina se- se caso, para não causar confusão com o sistema XY, é di-
xual ou corpúsculo de Barr. A partir da década de 1960, evi- ferente: os cromossomos sexuais dos machos são repre-
dências permitiram que a pesquisadora inglesa Mary Lyon le- sentados por ZZ, enquanto nas fêmeas os cromossomos
vantasse a hipótese de que cada corpúsculo de Barr forre um sexuais são representados por ZW.
cromossomo X que, na célula interfásica, se espirala e se torna
inativo, dessa forma esse corpúsculo cora-se mais intensa- Abelhas e Partenogênese
mente que todos os demais cromossomos, que se encontram
ativos e na forma desespiralada de fios de cromatina. Nas abelhas, a determinação sexual difere acentua-
Segundo a hipótese de Lyon, a inativação atinge ao acaso
damente da que até agora foi estudada. Nesses insetos, o
qualquer um dos dois cromossomos X da mulher, seja o pro-
sexo não depende da presença de cromossomos sexuais,
veniente do espermatozóide ou do óvulo dos progenitores. Al-
e sim da ploidia. Assim, os machos (zangões) são sempre
guns autores acreditam que a inativação de um cromossomo
X da mulher seria uma forma de igualar a quantidade de genes haplóides, enquanto as fêmeas são diplóides. A rainha é a
nos dois sexos. A esse mecanismo chamam de compensação única fêmea fértil da colmeia, e por meiose, produz cente-
de dose. Como a inativação ocorre ao acaso e em uma fase do nas de óvulos, muitos dos quais serão fecundados. Óvulos
desenvolvimento na qual o número de células é relativamente fecundados originam zigotos que se desenvolvem em fê-
pequeno, é de se esperar que metade das células de uma mu- meas. Se na fase larval, essas fêmeas receberem uma ali-
lher tenha ativo o X de origem paterna, enquanto que a outra mentação especial, trasnformar-se-ão em novas rainhas.
metade tenha o X de origem materna em funcionamento. Por Caso contrário, se desenvolverão em operárias, que são
isso, diz-se que as mulheres são “mosaicos”, pois – quanto aos estéreis. Os óvulos não fecundados desenvolvem-se por
cromossomos sexuais apresentam dois tipos de células. mitose em machos haplóides. Esse processo é chamado
A determinação do sexo nuclear (presença do corpúsculo de Barr) de partenogênese (do grego, partheno = virgem, gênesis =
tem sido utilizada em jogos olímpicos, quando há dúvidas quanto ao origem), ou seja, é considerado um processo de desenvol-
sexo do indivíduo. Compare quanto a presença do corpúsculo de Barr vimento de óvulos não-fertilizados em indivíduos adultos
nas células masculinas (acima) com a células femininas (abaixo). haplóides.

O sistema X0 Determinação do sexo em plantas


Em algumas espécies, principalmente em insetos, o ma-
cho não tem o cromossomo Y, somente o X; a fêmea continua Grande parte das plantas produz flores hermafrodi-
portadora do par cromossômico sexual X. Pela ausência do tas, que contém tanto estruturas reprodutoras masculi-
cromossomo sexual Y, chamamos a esse sistema de sistema nas como femininas. Plantas desse tipo são monóicas (do
X0. As fêmeas são representadas por 2A + XX (homogaméti- grego mono, um, e oikos, casa), termo que significa “uma
cas) e os machos 2A + X0 (heterogaméticos). casa para dois sexos”. Outras espécies têm sexos separa-
dos, com plantas que produzem flores masculinas e plantas
que produzem flores femininas. Essas espécies são deno-
minadas dióicas (do grego di, duas, e oikos, casa), termo
que significa “duas casas, uma para cada sexo”. Nas plantas
dióicas os sexos são determinados de forma semelhante a
dos animais. O espinafre e o cânhamo, por exemplo, têm
sistema XY de determinação do sexo; já o morando segue
o sistema ZW.

Organismos que não tem sistema de determinação


do sexo
Os organismos monóicos (hermafroditas) não apresen-
tam qualquer sistema de determinação cromossômica ou
genética de sexo. Todos os indivíduos da espécie têm, basi-
camente, o mesmo cariótipo. Esse é o caso da maioria das
plantas e de animais como minhocas, caramujos e caracóis.

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BIOLOGIA

Herança de genes localizados no cromossomo X cuja herança seguia o mesmo padrão. Além disso, permitiu
também explicar a herança de genes relacionados com o
Herança ligada ao sexo em drosófila sexo em outras espécies. Os genes localizados no cromos-
Em 1910, Morgan estudou uma macho de drosófila somo X, que não têm alelo correspondente no cromosso-
portador de olho branco, originado de uma mutação do mo Y seguem o que se denomina herança ligada ao sexo
olho selvagem, que tem cor marrom avermelhada. O cru- ou herança ligada ao X.
zamento desse macho de olho branco (white) com fêmeas
de olho selvagem originou, na geração F1, apenas descen- Herança ligada ao sexo
dentes de olho selvagem. O cruzamento de machos e fê-
meas da geração F1 resultou em uma geração F2 constituída Habitualmente, classificam-se os casos de herança re-
por fêmeas de olho selvagem, machos de olho selavagem lacionada com o sexo de acordo com a posição ocupada
e machos de olho branco. A proporção de moscas de olho pelos genes, nos cromossomos sexuais. Para tanto, vamos
selvagem e moscas de olho branco foi de aproximadamen- dividi-los em regiões: A porção homóloga do cromossomo
te 3:1, o que permitiu concluir que a característica olho X possui genes que têm correspondência com os genes da
branco era hereditária e recessiva. porção homóloga do cromossomo Y. Portanto, há genes
Morgan voltou sua atenção para o fato de não ter nas- alelos entre X e Y, nessas regiões. Os genes da porção he-
cido nenhuma fêmea de olho branco na geração F2. Isso teróloga do cromossomo X não encontram correspondên-
indicava que a característica em questão tinha alguma re- cia com os genes da porção heteróloga do cromossomo Y.
lação com o sexo dos indivíduos. Na sequência dos expe- Logo, não há genes alelos nessas regiões, quando um cro-
rimentos, Morgan cruzou machos de olho branco com as mossomo X se emparelha com um cromossomo Y. Herança
suas próprias filhas, que eram heterozigotas em relação à ligada ao sexo é aquela determinada por genes localizados
cor do olho. Desse cruzamento surgiram fêmeas e machos na região heteróloga do cromossomo X. Como as mulheres
de olho selvagem, e fêmeas e machos de olho branco, na possuem dois cromossomos X, elas têm duas dessas re-
proporção 1:1:1:1. Esse resultado mostrou que o caráter giões. Já os homens, como possuem apenas um cromosso-
olho branco podia aparecer também nas fêmeas. Como mo X (pois são XY), têm apenas um de cada gene. Um gene
explicar, então a ausência de fêmeas de olho branco na ge- recessivo presente no cromossomo X de um homem irá se
ração F2 do primeiro cruzamento? manifestar, uma vez que não há um alelo dominante que
impeça a sua expressão. Na espécie humana. os principais
exemplos de herança ligada ao sexo são:

Daltonismo

Trata-se da incapacidade relativa na distinção de certas


cores que, na sua forma clássica, geralmente cria confusão
entre o verde e o vermelho. É um distúrbio causado por
um gene recessivo localizado na porção heteróloga do cro-
mossomo X, o gene Xd, enquanto o seu alelo dominante
XD determina a visão normal. A mulher de genótipo XDXd,
embora possua um gene para o daltonismo, não manifesta
a doença, pois se trata de um gene recessivo. Ela é chama-
da de portadora do gene para o daltonismo. O homem de
genótipo XdY, apesar de ter o gene Xd em dose simples, ma-
nifesta a doença pela ausência do alelo dominante capaz
de impedir a expressão do gene recessivo.

Genótipo Fenótipo

Em 1911, Morgan concluiu que os resultados dos cru- X X


D D
mulher normal
zamentos envolvendo o loco da cor do olho, em drosófila, X DX d mulher normal portadora
podiam ser explicados admitindo-se que ele estivesse lo- X dX d mulher daltônica
calizado no cromossomo X. O macho de olho branco ori-
ginal teria fornecido seu cromossomo X, portador do alelo XD Y homem normal
recessivo mutante w (Xw), a todas as filhas que receberam X Y
d
homem daltônico
seu outro cromossomo X das mães, portadoras do alelo
selvagem W (XW). As fêmeas da geração F1 seriam, portan- O homem XdY não é nem homozigoto ou heterozigoto:
to, heterozigotas XWXw. Já os machos de F1 receberam o é homozigoto recessivo, pois do par de genes ele só possui
cromossomo X das fêmeas selvagens puras (XW). Sua cons- um. O homem de genótipo XDY é homozigoto dominante.
tituição gênica seria, portanto XWY. A hipótese de Morgan
foi confirmada pela análise de outros genes de drosófila,

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BIOLOGIA

Hemofilia o TDF ( iniciais de testis-determining factor), também cha-


mado de SRY (iniciais de sex-determining region of Y chro-
É um distúrbio da coagulação sanguínea, em que falta mossome), que codifica o fator determinante de testículos.
o fator VIII, uma das proteínas envolvidas no processo, en- O gene TDF já foi identificado e está localizado na região
contrado no plasma das pessoas normais. As pessoas he- não-homóloga do cromossomo Y.
mofílicas têm uma tendência a apresentarem hemorragias Tradicionalmente, a hipertricose, ou seja, presença de
graves depois de traumatismos banais, como um pequeno pelos no pavilhão auditivo dos homens, era citada como
ferimento ou uma extração dentária. O tratamento da he- um exemplo de herança restrita ao sexo. No entanto, a evi-
mofilia consiste na administração do fator VIII purificado dência que a hipertricose deve-se a uma herança ligada ao
ou de derivados de sangue em que ele pode ser encon- Y está sendo considerada inconclusiva, pois, em algumas
trado (transfusões de sangue ou de plasma). Pelo uso fre- famílias estudadas, os pais com hiperticose tiveram filhos
quente de sangue e de derivados, os pacientes hemofílicos homens com e sem pêlos nas bordas das orelhas. Na he-
apresentam uma elevada incidência de AIDS e de hepatite rança restrita ao sexo verdadeira: Todo homem afetado é
tipo B, doenças transmitidas através dessas vias. filho de um homem também afetado; todos os seus filhos
serão afetados, e as filhas serão normais.

Herança autossômica influenciada pelo sexo

Nessa categoria, incluem-se as características determi-


nadas por genes localizados nos cromossomos autosso-
mos cuja expressão é, de alguma forma, influenciada pelo
sexo do portador. Nesse grupo, há diversas modalidades
de herança, das quais ressaltaremos a mais conhecida, a
dominância influenciada pelo sexo, herança em que, dentro
do par de genes autossômicos, um deles é dominante nos
homens e recessivo nas mulheres, e o inverso ocorre com
o seu alelo. Na espécie humana, temos o caso da calvície.

Genótipo No homem Na mulher


CC calvo calva
Cc calvo não-calva
cc não-calvo não-calva

Outras formas de herança autossômica influenciada


A hemofilia atinge cerca de 300.000 pessoas. É condi- pelo sexo são a penetrância influenciada pelo sexo e a ex-
cionada por um gene recessivo, representado por h, loca- pressividade influenciada pelo sexo. Na espécie humana,
lizado no cromossomo X. É pouco frequente o nascimento a ocorrência de malformações de vias urinárias apresenta
de mulheres hemofílicas, já que a mulher, para apresentar a uma penetrância muito maior entre os homens do que en-
doença , deve ser descendente de um hímen doente (XhY) tre as mulheres. Elas, portanto, ainda que possuam o genó-
e de uma mulher portadora (XHXh) ou hemofílica (XhXh). tipo causador da anormalidade, podem não vir a manifes-
Como esse tipo de cruzamento é extremamente raro, acre- tá-la. A expressividade também pode ser influenciada pelo
dita-se que praticamente inexistiriam mulheres hemofíli- sexo. Um exemplo bem conhecido é o do lábio leporino,
cas. No entanto, já foram relatados casos de hemofílicas, falha de fechamento dos lábios. Entre os meninos, a doen-
contrariando assim a noção popular de que essas mulheres ça assume intensidade maior que nas meninas, nas quais
morreriam por hemorragia após a primeira menstruação os defeitos geralmente são mais discretos. Basicamente, há
(a interrupção do fluxo menstrual deve-se à contração dos duas evidências que permitem suspeitar de um caso de he-
vasos sanguíneos do endométrio, e não a coagulação do rança relacionada com o sexo:
sangue). 1º) Quando o cruzamento de um macho afetado com
uma fêmea não afetada gera uma descendência diferente
Herança holândrica, ligada ao cromossomo Y ou do cruzamento entre um macho não afetado com uma fê-
herança restrita ao sexo mea afetada.
2º) Quando a proporção fenotípica entre os descen-
O cromossomo Y possui alguns genes que lhe são ex- dentes do sexo masculino forem nitidamente diferentes da
clusivos, na porção encurvada que não é homóloga ao X. proporção nos descendentes do sexo feminino.
Esses genes, também conhecidos como genes holândricos,
caracterizam a chamada herança restrita ao sexo. Não há
duvidas de que a masculinização está ligada ao cromosso-
mo Y. Um gene que tem um papel importante nesse fato é

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BIOLOGIA

Interações e expressões gênicas. fogenéticos. Com isso, o material citoplasmático também


é redistribuído assimetricamente entre as células filhas.
O estudo do controle da expressão gênica em células Através do processo de clivagem, são produzidas várias cé-
eucarióticas fornece os principais subsídios para se com- lulas filhas por divisões mitóticas, até o estágio chamado
preender os passos que levam ao desenvolvimento de um de blástula ou blastocisto (em alguns casos), caracterizado
organismo inteiro. As descobertas nessa área têm sido ob- pela existência de uma cavidade ou lacuna no interior de
tidas através de métodos de genética molecular e de ge- um epitélio circundante.
nética clássica. O seu principal objetivo é compreender os O blastóporo é a porção representada pela linha de
mistérios que conduzem um ovo fertilizado a um complexo invaginação, através da qual ocorre em seguida o movi-
organismo multicelular, com diferentes tipos celulares es- mento de gastrulação. Essa invaginação (em direção à ca-
pecializados, de forma ordenada. A embriologia, por sua vidade interior da blástula) formará o intestino primitivo do
vez, é uma ciência cujos principais problemas, teorias, e fre- embrião, e também possibilitará o surgimento dos primei-
quentemente as técnicas que despertam o nosso interesse ros tecidos: Ectoderma, mesoderma e endoderma, os quais
atualmente, são essencialmente os mesmos de algumas seguirão diferentes caminhos de especialização, até o final
décadas atrás. Portanto, esses problemas já foram defini- deste processo, com os indivíduos adultos. As informações
dos há algum tempo pelos pesquisadores, e até hoje ainda necessárias para o desenvolvimento de um indivíduo e/ou
existem muitas dúvidas a respeito da diferenciação celular. a especialização celular, estão contidas primordialmente no
Segundo Ashworth (1973), existem dois caminhos para seu genoma. Ao mesmo tempo, um único indivíduo deve
se tentar compreender, experimentalmente, um fenômeno possuir diferentes tipos celulares especializados, conten-
tão complexo quanto a diferenciação celular. O primeiro do o mesmo genoma, que diferem entre si na expressão
caminho, o qual pode ser chamado de abordagem redu- de determinados genes, característicos do tipo celular em
cionista, inicialmente consiste em subdividir o problema questão.
em vários problemas menores, e, posteriormente, encon- Devido à assimetria da célula-ovo, a clivagem também
trar um sistema biológico suficientemente simples, o qual é assimétrica. Dessa forma, um determinado conjunto de
possa nos mostrar apenas as características necessárias à blastômeros pode possuir diferentes mRNAs e produtos
compreensão da cada um dos problemas menores, já que gênicos diferentes de outro conjunto, o que acarretará
o problema central foi dividido. Por exemplo, um bacterió- também em diferentes destinos de especialização para es-
fago (tomado como um dos mais simples sistemas vivos) sas células. As primeiras clivagens, que geram os blastô-
seria interessante para estudos de mutações no material meros iniciais, não podem definir um grande número de
genético. O segundo caminho pode ser chamado de abor- tipos celulares. Através da interação entre essas células,
dagem clássica, assume que como resultado de intensa ainda podem ser formados novos tipos de células, desde
pressão evolutiva, cada característica existente em um or- que as células que interagem entre si tenham algum conta-
ganismo pode, de alguma forma, estar presente de manei- to. Foi descoberto em Xenopus, que, quando blastômeros
ra mais intensa em um outro organismo, e a compreensão comprometidos a se diferenciarem em ectoderma, eram de
de seu papel naquele organismo, também pode ser alcan- alguma forma separados uns dos outros, não havia a dife-
çada com exemplos em outro organismo. Exemplo: Os cro- renciação destes tecidos em mesoderma. Portanto, desco-
mossomos politênicos, que ocorrem em glândulas salivares briu-se que era necessário o contato entre esses dois teci-
de um grande número de insetos, podem se tornar mode- dos primordiais para que o mesoderma se desenvolvesse.
los interessantes para a compreensão do comportamento À esse fenômeno, dá-se o nome de indução, e através dele,
das moléculas de DA, mesmo em organismos que não os as células podem induzir as células vizinhas a se diferencia-
apresentam. Esses métodos de estudo foram bastante úteis rem em outro tipo. Um fato importante é que muitos tipos
durante um longo período de tempo, e, atualmente, existe celulares podem ser gerados a partir de interações indu-
uma grande quantidade de métodos auxiliares para o es- tivas, e as células geradas dessa maneira também podem
tudo da diferenciação celular. Esta revisão consta de uma induzir as células vizinhas, e vice-versa, sofrendo também
breve síntese sobre o assunto diferenciação celular, sob os indução. Existem sinais químicos responsáveis por esse fe-
aspectos da expressão gênica e do ciclo celular. nômeno de indução, os quais são proteínas sinalizadoras
secretadas pelas células e induzem a diferenciação de cé-
DIFERENCIAÇÃO E CONTROLE DA EXPRESSÃO GÊ- lulas vizinhas.
NICA Há um grande número de moléculas sinalizadoras
atuando no embrião de um animal superior, as quais con-
Descobriu-se que, desde as primeiras divisões celula- tribuirão conjuntamente para a formação dos padrões do
res, o organismo já se apresenta sujeito a alguns meca- corpo do animal adulto. No embrião de Xenopus, existe
nismos de controle para a formação dos eixos do corpo. uma região diferenciada do mesoderma chamada “orga-
Normalmente, a célula-ovo é assimétrica, e essa caracterís- nizador de Spemann”, e esse organizador, por sua vez, se-
tica, por si só, pode definir os três eixos do corpo do indiví- creta uma molécula sinalizadora específica, que atuará em
duo adulto, uma vez que materiais diferentes, distribuídos células vizinhas. Esse sinal é uma molécula que se difunde
assimetricamente nessa célula, poderão facilitar ou limitar entre as células próximas, e supõe-se que essa molécula
as divisões celulares (e seus respectivos planos de divisão) seja lentamente degradada, na medida em que ela se afas-
em determinadas regiões, bem como os movimentos mor- ta da célula fonte do sinal. Com isso, essa molécula estará

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BIOLOGIA

em maior concentração próxima à fonte, e em concentra- as suas descendentes. Por exemplo, quando uma célula de
ções cada vez menores na medida em que ela se distancia pigmento sofre mitose, , as suas células filhas continuam
da célula que a secretou, ou seja, forma-se um gradiente a ser pigmentadas, quando um queratinócito se divide, as
de concentração dessa substância. Como resultado, desse características dessa célula são conservadas nas células fi-
gradiente, as células, dependendo da sua distância da cé- lhas. Há um estágio, no início do desenvolvimento, em que
lula fonte do sinal, estarão sujeitas à uma maior ou menor a célula assume certo comprometimento com uma deter-
concentração dessa molécula, e, dependendo dessa con- minada via de diferenciação, antes mesmo que essa dife-
centração do sinal, essas células podem se tornar diferen- renciação comece a se manifestar, a partir de um complexo
tes. Tal substância, de concentração variável (dependendo conjunto de estímulos, ou seja, a célula está determinada a
da sua localização), é denominada morfógeno. se diferenciar em um tipo particular de célula, mesmo que
Os gradientes de morfógeno podem controlar o posi- as características finais da célula diferenciada ainda não se-
cionamento ou a diferenciação das células. Existe um limiar jam identificáveis.
de resposta aos morfógenos, através do qual uma célu- A partir desses dados, têm-se os conceitos de deter-
la necessita de uma concentração mínima desta molécu- minação e diferenciação distintos. Para ilustrar melhor, so-
la para responder ao sinal de determinada forma. Através mente através do processo de diferenciação, a célula assu-
desse limiar de resposta, células expostas a diferenças mí- me as características intrínsecas ao seu tipo celular final, as
nimas de concentração de um morfógeno podem assumir quais são pré-programadas já no estágio de determinação.
caminhos completamente diferentes. Outro fato interes- Todos esses processos parecem ser severamente controla-
sante é que, além da concentração de morfógeno que as dos por genes regulatórios. Existem diversos fatores cito-
células recebem, também é muito importante o momento plasmáticos proteicos que atuam como elementos regula-
em que as células recebem o sinal, uma vez que as células tórios, e, essas proteínas, por sua vez, controlam a expres-
estão constantemente sofrendo mudanças no seu estado são de determinados conjuntos de genes relacionados à
interno, e, dessa forma, também podem responder dife- diferenciação celular. No caso da diferenciação das células
rentemente ao morfógeno. Um exemplo disso ocorre na musculares, uma parte essencial deste processo de sinali-
formação do eixo central do corpo de Xenopus, durante o zação é efetuada pela família MyoD e de proteínas miogê-
processo de gastrulação. Nesse processo, o eixo do corpo nicas proximamente relacionadas. Essas proteínas possuem
do animal vai sendo formado gradativamente, de acordo sítios de ligação ao DNA, e, assim como o nome sugere,
com o estágio de desenvolvimento das células que rece- atuam na determinação das células musculares, desen-
bem o estímulo. cadeando a produção de proteínas músculo-específicas.
No caso das células ovo simétricas dos mamíferos, não Quando essas proteínas são inseridas em fibroblastos, por
há grande acúmulo de material citoplasmático , porque exemplo, elas podem diferenciá-los em células musculares,
esse embrião será nutrido através da placenta materna. através da expressão desses genes.
Esses ovos são cerca de 2000 vezes menores em relação Um mecanismo de diferenciação, diferentemente do
aos ovos de anfíbios, e a transcrição gênica já começa no que ocorre no processo de determinação, depende de uma
estágio de duas células. Juntamente com o embrião, há o interação entre essas proteínas miogênicas e algumas ou-
desenvolvimento das estruturas anexas, tais como o saco tras protéinas. Estas últimas pertencem à família de proteí-
amniótico e a placenta, esta última responsável pela co- nas do tipo hélice-volta-hélice. Uma vez que essas protéinas
municação do embrião com o corpo materno. Portanto, miogênicas possuem estrutura semelhante a essas últimas,
o ambiente onde o embrião se desenvolve, nesses casos, esses dois conjuntos de proteínas podem frequentemente
é bem diferente em relação aos outros grupos animais, e, formar dímeros para ativar a expressão de certos genes. De
como consequência, o desenvolvimento inicial do embrião acordo com a proteína escolhidas para formar o dímero,
se dá concomitantemente ao desenvolvimento das estru- diferentes genes podem ser ativados ou ligados, e a célula
turas anexas, que serão importantes no auxílio de seu de- entra em uma determinada via de diferenciação. Antes que
senvolvimento. O desenvolvimento inicial em mamíferos é as células se diferenciem, elas migram para sua localização
altamente regulatório, e há uma frequente interação entre no corpo, através da aquisição de sinais, chamados valores
células próximas. Além disso, existem também a influência posicionais, que recebem esse nome pelo fato deles carac-
ambiental no início do desenvolvimento. Como não há as- terizarem a posição final da célula no organismo, e também
simetria entre os blastômeros iniciais, apenas a interação há interação entre as células, com respeito a esses valores
entre as células e o ambiente onde elas se encontram será posicionais, da mesma forma como ocorre com as demais
responsável pelo processo de diferenciação inicial. Dessa moléculas sinalizadoras, a fim de que os padrões espaciais
forma, sinais químicos proteicos serão enviados para as cé- do corpo sejam mantidos de geração em geração.
lulas vizinhas, e determinados genes poderão ser ou não A partir dos dados acima, pode-se concluir que o pro-
ativados nesse estágio. cesso de diferenciação celular em organismos superiores
De algum modo, após as divisões celulares, as células é bastante complexo, podendo envolver diferentes vias de
filhas devem conservar as características da célula-mãe, a sinalização intercelulares, e é dependente do ambiente em
fim de que essas características sejam herdáveis pelas gera- que a célula se encontra. Os mecanismos de expressão gê-
ções subsequentes. A partir disto, cria-se o conceito de me- nica que envolve esse processo de diferenciação, em dife-
mória celular, isto é, as células “lembram-se” das influências rentes organismos, ainda não estão totalmente esclareci-
das células que as originaram, e as passam adiante para dos, principalmente devido a dificuldades experimentais, e

70
BIOLOGIA

também à própria complexidade desse assunto. O exemplo essa molécula sinalizadora. Essa molécula, produzida pelas
mais bem conhecido de determinação genética da estrutu- células foliculares, é gerada somente na superfície ventral
ra do corpo é o da mosca da fruta Drosophila melanogas- do ovo. A proteína chamada dorsal é uma proteína regu-
ter, o qual é descrito a seguir. ladora da transcrição, que atua nos núcleos das células do
blastoderma, ativando determinados genes. Como essa
O DESENVOLVIMENTO DE Drosophila melanogaster proteína é distribuída assimetricamente no embrião (re-
E A EXPRESSÃO DOS GENES gião dorsal), ela forma gradientes de concentração neste.
Mais ventralmente, onde a sua concentração é mais alta, o
A mosca da fruta D. melanogaster se revelou um ótimo chamado gene twist é ativado, que é específico para a di-
objeto de estudo de como os genes do controle do de- ferenciação do mesoderma. Dorsalmente, onde a concen-
senvolvimento atuam em um organismo. Vários genes re- tração da proteína dorsal é mais baixa, o gene dpp pode
gulatórios do desenvolvimento desse organismo já foram ser ligado, especificando estruturas dorsais. Já numa região
catalogados, e suas funções foram estabelecidas. Isso pôde intermediária, onde a concentração desta proteína é alta
ser obtido através de técnicas de hibridização in situ , usan- o suficiente para reprimir dpp, mas baixa o bastante para
do-se sondas de DNA e RNA, e através do estudo de genes ativar o gene twist, as células se diferenciam em ectoderma
mutantes. O ovo de D. melanogaster tem uma polaridade neurogênico. A proteína dorsal é muito importante porque
claramente definida, e logo no início do desenvolvimento regula genes responsáveis pela determinação das estrutu-
ocorrem divisões nucleares, as quais resultam na formação ras dorso-ventrais do embrião, bem como a manutenção
de um sincício, e logo os núcleos migram para a superfície do próprio eixo dorso-ventral.
do ovo. Após esse estágio, as membranas celulares cres- O sistema terminal, da mesma forma como o sistema
cem em direção a esses núcleos, e dessa forma é formado dorso-ventral, se utiliza de sinais extracelulares provenien-
o blastoderma celular. Os ciclos de clivagem iniciais são tes das células foliculares, e de receptores transmembra-
bastante rápidos, dependendo principalmente do material na para esses sinais. Essa sinalização gera gradientes de
de RNA e de proteínas estocados nas células, e a síntese proteínas reguladoras no embrião, e esses gradientes irão
de proteína ainda é baixa nesse momento. O blastoderma especificar endoderma intestinal e estruturas especializa-
formado deve ter suas posições definidas, e, para isso, há das terminais. Quanto aos sistemas anterior e posterior,
a atuação dos genes de polaridade do ovo, que definem eles estabelecem gradientes dependentes de mRNAs es-
os dois principais eixos do corpo do embrião: o eixo dor- pecíficos do ovo, e não de sinais extracelulares das célu-
so-ventral e o eixo ântero-posterior. Através da análise de las foliculares. O sistema posterior especifica a linhagem
mutantes para o plano do corpo, descobriu-se a existên- de células germinativas. O sistema anterior, dependerá do
cia de 12 genes pertencentes ao sistema de organização mRNA localizado no pólo anterior do embrião. Esse mRNA
dorso-ventral. Quanto ao sistema ântero-posterior, foram traduz uma protéina reguladora que forma um gradiente,
descobertos quatro genes que definem a parte anterior do na porção anterior do ovo, de uma proteína chamada “bi-
corpo, onze para a parte posterior, e seis genes que go- coid” . Essa proteína possui capacidade de se ligar ao DNA
vernam as extremidades do embrião. Cada um desses três e regular a expressão gênica.
sistemas é baseado em um gradiente de morfógeno, como
foi descrito anteriormente. Genes de segmentação
Os genes responsáveis pela assimetria do ovo são
transcritos a partir do genoma materno durante a ovogê- Os genes de segmentação agem em estágios mais tar-
nese, de forma que o fenótipo do embrião está determina- dios em relação aos genes de polaridade, descritos ante-
do por genes maternos. Isso é chamado de efeito materno, riormente. No estágio onde esses genes se expressam, já
e foram descritos alguns genes responsáveis por esse efeito há uma considerável taxa de transcrição e síntese de pro-
em Drosophila. Quanto à expressão da forma do corpo em teínas do embrião. Esses genes se dividem em três grupos,
Drosophila, existem três classes de genes reguladores: os conforme seus fenótipos mutantes e estágios de ação?
genes maternos (citados acima), os genes de segmentação, -Os genes “gap” controlam as subdivisões grosseiras
os quais atuam no número e na polaridade dos segmentos, do embrião. Mutações em algum gene “gap” podem elimi-
e os genes homeóticos, os quais controlam a identidade nar grupos de segmentos adjacentes ou provocar outros
dos segmentos. Esses três conjuntos de genes interagem defeitos.
para formar o padrão corporal do inseto, em conjunto, e -Os genes “pair-rule” controlam segmentos alternados
são regulados por morfógenos específicos. Esses morfó- (ao invés de segmentos adjacentes). Mutações nesses ge-
genos podem ser proteínas reguladoras da transcrição ou nes podem implicar na ausência de segmentos pares, como
mesmo proteínas ativadoras de algum fator transcricional. no caso do mutante “pair-rule even-skipped” , ou ausência
O eixo dorso-ventral do embrião já é estabelecido pe- de segmentos ímpares (mutante “pair-rule fushi-tarazu”.
las células foliculares que nutrem o óvulo, as quais secre- -Os genes “segment-polarity”, como o próprio nome
tam uma molécula sinalizadora. Essa molécula possui re- sugere, regulam a polaridade dos segmentos, e mutações
ceptores na superfície do ovo, que podem, dependendo nesses genes usualmente provocam a deleção de parte de
da concentração dessa molécula, ativar protéinas regula- cada segmento, e a sua substituição por uma imagem em
doras de alguns genes. Um gene do sistema dorso-ventral, espelho da mesma parte do segmento.
chamado Toll, codifica esse receptor (transmembrana) para

71
BIOLOGIA

Além desses grupos de genes, os genes seletores ho- re em outros insetos. O complexo “antennapedia” contém
meóticos ainda servem para definir as diferenças entre um os genes homeóticos labial, “proboscipedia”, “deformed”,
segmento e outro. Esses conjuntos de genes de segmen- “sex combs reduced” e “antennapedia”, enquanto que o
tação frequentemente atuam sobre outros genes, já que complexo bitórax apresenta os genes ultrabitorácico (que
codificam proteínas regulatórias de genes. Portanto, um regula o terceiro segmento torácico) e os genes Abd A e
gene de segmentação pode agir sobre a ação de outro. Por Abd B, referentes aos segmentos abdominais. As sequên-
exemplo, o morfógeno “bicoid” ativa os genes gapé hun- cias de DNA regulatórias dos genes homeóticos contém
chbacké kruppelé kirps, criando uma cascata de ativação sítios de ligação para as proteínas de polaridade do ovo
gênica. Com isso, determinados genes tornam-se expres- e de segmentação (bicoid, hunchback e even-skipped). O
sos em algumas regiões, mas não em outras, dividindo o DNA regulatório interpreta todas as informações vindas
corpo em uma série de unidades segmentares e subseg- desses fatores, e em resposta causa a ativação de genes
mentares. Esse padrão de controle da expressão gênica em específicos para a diferenciação das partes do corpo em
cascata pode ser verificado através da análise de mutantes cada segmento.
para seus genes correspondentes. Com isso, pode-se es- Existe uma alta homologia de sequência entre os ho-
tabelecer relações entre a expressão de diferentes genes. meoboxes de D. melanogaster com regiões homeobox pre-
sentes em rãs e mamíferos. Estes dados podem sugerir que
Genes seletores homeóticos estes genes estejam envolvidos na regulação da embriogê-
nese de muitas espécies, inclusive no homem. Acredita-se
Os genes seletores homeóticos são responsáveis pela que a ordem dos genes no cromossomo em cada parte do
diferenciação do padrão de cada segmento do corpo. Esses complexo ordene o domínio de sua expressão no corpo. O
genes impõem o programa para determinar a diferencia- mecanismo molecular que controla o fenômeno de memó-
ção única de cada segmento. As mutações nesses genes ria não é bem conhecido, mas deve depender de mudanças
fazem com que as células de uma região específica do em- de autoperpetuação de estado nas regiões de controle no
brião desenvolvam o fenótipo de células de outra parte do complexo HOM.
corpo. O modo de atuação dos genes homeóticos ainda
não está claramente definido. Parte deles atuam produzin- O CICLO CELULAR E O DESENVOLVIMENTO
do fatores de transcrição, que ativarão outros genes ho-
meóticos, e, dessa forma, pode haver uma série de con- O período entre duas divisões mitóticas define o ciclo
sequências fenotípicas provocadas por uma mutação em celular somático. O tempo do final de uma divisão mitótica
alguns destes genes. No caso das mutações, pode haver o ao início de outra é chamado intérfase, e o período real de
desenvolvimento de um segmento do abdome idêntico a divisão, correspondendo à mitose visível, é chamado fase
outro, formação de uma pata no lugar das antenas, e for- M. Para se dividir, a célula somática eucariótica deve dupli-
mação de asas no lugar dos olhos. car a sua massa e dividir seus componentes entre duas cé-
Os dois principais complexos de genes homeóticos lulas filhas. a duplicação do tamanho é um processo contí-
são o complexo “antennapedia” e o complexo bitórax. nuo, resultado da transcrição e da tradução dos genes que
Cada complexo, da mesma forma como aqueles citados codificam as proteínas que constituem o fenótipo celular.
anteriormente, é formado por um conjunto de genes com Em contrapartida, a reprodução do genoma ocorre apenas
funções semelhantes. Enquanto o complexo bitórax atua durante um período específico na intérfase. A mitose de
diferenciando os segmentos do tórax com os do abdome, uma célula somática gera duas células filhas idênticas, cada
o complexo “antennapedia” diferencia os segmentos torá- uma delas comportando um conjunto diplóide de cromos-
cicos com os da cabeça. Em alguns insetos, há apenas um somos. A intérfase é dividida em períodos definidos com
complexo, o complexo HOX. Cada gene homeótico age de referência ao tempo de síntese de DNA. As células saem
uma forma característica, e define uma região do corpo, da divisão mitótica para a fase G1, durante a qual RNAs e
sendo que mutações em diferentes genes homeóticos im- proteínas são sintetizados, mas não o DNA.
plicam em anomalias em diferentes locais no adulto. Os O início da replicação do DNA deifne a transcrição da
genes de segmentação auxiliam na ativação dos genes ho- fase G1 para o período S. O período S é estabelecido até
meóticos (também os genes de segmentação são ativados que todo o DNA tenha sido replicado. Durante essa fase S,
antes), de forma que o resultado da diferenciação de cada o conteúdo total de DNA é aumentado a seu valor tetra-
tecido do corpo seja o resultado de uma combinação bem plóide (4n). O período que parte da fase S até a mitose é
definida de genes homeóticos e segmentares. denominado período G2, durante o qual a célula apresenta
As proteínas reguladoras de genes, produzidas pelos dois conjuntos diplóides de cromossomos. Durante a intér-
genes homeóticos seletores, contém uma sequência cha- fase, não há praticamente mudanças visíveis na célula. O
mada homeobox, que por sua vez codifica um homeodo- núcleo aumenta de tamanho durante a fase S, justamente
mínio que se liga ao DNA, de 60 resíduos de aminoácidos. no momento em que a maquinaria de replicação do DNA
O complexo bitórax possui três genes homeóticos com ho- é mobilizada, e o estado da cromatina parece ser o mesmo
meoboxes, e o complexo “antennapedia” cinco genes. Fre- durante todo esse período. A mitose segrega um conjunto
quentemente aplica-se a denominação HOM à esses dois diplóide de cromossomos para cada célula-filha, e os cro-
complexos, porque acredita-se que eles tenham se sepa- mossomos individuais podem ser visualizados nessa fase,
rado à partir de um complexo comum, único, como ocor- quando o envelope nuclear se desorganiza, e forma-se o

72
BIOLOGIA

fuso mitótico. Em uma célula animal somática em ciclo ce- anterior à fase S ainda é desconhecida. Descobriu-se tam-
lular, essa sequência de eventos é repetida a cada 18-24 bém que o ativador da fase S é uma proteíno-quinase, e
horas. está relacionado com a quinase responsável pela ativação
Existem dois pontos de controle fundamentais no ciclo da mitose.
celular, os quais determinam a ordem da sua progressão: A mitose depende da ativação da proteína quinase da
-Os cromossomos são comprometidos a se replicarem fase M, uma proteína com duas subunidades. Uma delas é
na fase G1. Se as condições para esse “ponto de compro- uma subunidade catalítica com modo de ação de quinase,
metimento” são satisfeitas, a célula entrará na fase S. Em que é ativada por modificação de sua estrutura, no início
leveduras esse ponto do ciclo é chamado de START, e em da mitose. A outra subunidade é uma ciclina, uma proteína
células animais é chamado de ponto de restrição. que se acumula devido à uma síntese contínua durante a
-A célula é comprometida a sofrer a divisão mitótica no interface, e que é destruída na mitose. A destruição des-
final da fase G2. Se a célula não se dividir nesse ponto ela sa proteína inativa a quinase da fase M, e libera as células
permanecerá na condição tetraplóide. filhas da mitose. Essa atividade de controle é altamente
Para células animais em cultura, o controle em G1 é conservada, e parece estar presente em todos os sistemas
o principal ponto de decisão do ciclo, e o controle em G2 eucarióticos! Alguns desses sistemas têm ciclos que se des-
é secundário. As células passam a grande maioria do seu viam um pouco dos padrões normais do ciclo somático.
tempo do ciclo na fase G1, e o comprimento dessa fase é Isto ocorre particularmente em muitos dos processos de
ajustado em resposta às condições de crescimento. Algu- embriogênese. No ovo de Xenopus, por exemplo, ocorrem
mas células não se dividem totalmente, e são consideradas divisões muito rápidas, nas quais a fase S se alterna direta-
como tendo saído do ciclo celular para um outro estado, mente com a fase M (mitose). Nos blastômeros, e entrada
semelhante a G1, mas incapazes de entrarem na fase S. Esse na mitose é controlada pela quinase da fase M, o mesmo
estado é chamado de G0, e as células muito diferenciadas, fator de todas as células somáticas, da mesma forma como
com pouca ou nenhuma capacidade de diferenciação sub- ocorre em leveduras.
sequente, geralmente permanecem nesse estado. Algumas O desenvolvimento inicial dos ovos de Xenopus reve-
células em G0 ainda podem ser reestimuladas para entra- lou um sistema bastante útil para se analisar as característi-
rem novamente no ciclo. Os núcleos, em alguns estados da cas que levam uma célula à divisão. O ovócito de Xenopus
embriogênese de insetos, se dividem e permanecem em é interrompido em seu primeiro ciclo de divisão meiótica,
repouso no estado tetraplóide. no início da condensação cromossômica, e a correspon-
Existem ainda os pontos de checagem do ciclo celular, dência mais íntima com o ciclo somático está no estágio
que verificam se a célula está pronta para seguir para a pró- G2. A ovulação ocorre quando os hormônios desenca-
xima fase do ciclo. Cada ponto de checagem representa um deiam o progresso do ciclo até a segunda divisão da meio-
“loop” de controle que marca o início de um evento no ci- se e, quando o ovo é posto, o progresso é interrompido
clo celular que é dependente do evento anterior, de forma até o final da segunda meiose, numa condição de mitose
que um ponto de checagem atua diretamente sobre os fa- somática. O ovo de anfíbios, bem como o das aves, é uma
tores que controlam a progressão do ciclo. Nesses pontos estrutura grande, que contém grande quantidade de mate-
de checagem, devem ser verificados: se todo o DNA está rial citoplasmático para as primeiras divisões. A fertilização
duplicado, ou se o ambiente é favorável, se a célula está desencadeia ciclos de divisões muito rápidos, que alternam
grande o bastante para se dividir, ou se todos os cromosso- os períodos S com a fase M, como citado anteriormente. O
mos estão presos no fuso mitótico. O sistema de controle maior período de atividade sintética das células nesse está-
central do ciclo celular se dá por meio de proteínas que gio corresponde, portanto, à fase S, de replicação do DNA,
foram altamente conservadas durante a evolução. Muitas e isso ocorre porque não há a fase G1 da intérfase, repre-
delas, quando retiradas de humanos, funcionam perfeita- sentada por intensa transcrição gênica e síntese de protéi-
mente em leveduras, ou seja, à partir de estudos sobre o nas. Estudos realizados com ovócitos e também com ovos
ciclo celular em leveduras, pode-se realizar inferências para de Xenopus possibilitaram a descoberta do fator promotor
o ciclo das células de outros organismos. de maturação (MPF), que induzia a maturação dos ovócitos
Alguns ciclos de células embrionárias parecem “pular” e, portanto, preparava a célula para a divisão meiótica.
alguns dos pontos de controle, e estarem submetidas à um O MPF torna-se inativo quando as ciclinas são degra-
timer ou oscilador. Assim, o sistema de controle do ciclo ce- dadas, para que a célula encerre a divisão, e a anáfase se
lular pode se combinar com uma unidade de tempo, com a inicie. Essa molécula consiste de duas subunidades, a p34 e
taxa de crescimento da célula, com a massa celular ou com a p45. O dímero tem atividade de quinase, e pode fosforilar
a própria replicação do DNA. A existência dos reguladores uma grande variedade de proteínas. É através da fosfori-
do ciclo celular em diferentes estágios foi revelada através lação das proteínas alvo em um ponto específico do ciclo
de experimentos de fusão de células em diferentes está- que o MPF exerce sua função. A subunidade p34 é catalíti-
gios do ciclo celular. Com os resultados obtidos, descobriu- ca, com atividade de quinase. Fosforila resíduos de serina
se a presença de proteínas indutoras da fase M (mitose) e e treonina nas proteínas alvo. A subunidade p45 é uma ci-
da fase S (replicação), e, ao mesmo tempo, que esses in- clina, uma subunidade regulatória, necessária ao funciona-
dutores estão presentes apenas transitoriamente. Durante mento da atividade de quinase do MPF. Quando a ciclina
o período G1, a célula, de alguma forma, se compromete está presente, ela confere ao MPF uma mudança confor-
a entrar no período de START, mas a natureza do intervalo macional para ativação de sua subunidade catalítica. Uma

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BIOLOGIA

protéina homóloga à subunidade catalítica p34 do MPF Hoje sabemos que os ratos que apareciam não se for-
encontrada em leveduras é chamada cdc2. Essa proteína mavam da mistura de ingredientes, mas sim eram atraídos
interage com as ciclinas da mesma forma como a p34. Essa pela mistura. 
proteína é fosforilada e desfosforilada por outras enzimas. Nesse mesmo século surgiram sábios com novas idéias
A sua fosforilação impede a sua atividade catalítica, mesmo e dispostos a provar que a vida não provinha de matéria
que cdc2 esteja complexada com alguma ciclina. bruta como propunha a Teoria da abiogênese. Que foi logo
Existem as ciclinas mitóticas, as quais se complexam descartada quando Redi, Spallanzani, e Pasteur iniciaram
com cdc2 para permitir que a célula atinja a fase M, e as seus experimentos. Eles provaram que um ser vivo só se
ciclinas do período G1, que fazem com que a célula dupli- origina de outro ser vivo. Esta é então a atualmente acei-
que seu DNA, entrando na fase S. Com o desaparecimento ta Teoria da biogênese.
das ciclinas nas fases S e M, a subunidade catalítica tor-  
na-se inativa novamente, e, somente quando a célula tiver Os experimentos de Redi
condições de atingir as fases S e M novamente (satisfeitas  
as condições dos pontos de checagem), genes específicos O médico, biólogo e cientista italiano Francesco Redi
serão ativados por proteínas reguladoras controlarão es- (1626-1697) estava convencido de que a vida não surgia
ses mecanismos de fosforilação e desfosforilação na célu- espontaneamente. Para provar isso fez o que chamamos
la, enquanto que as ciclinas serão produzidas quase que de experiência controlada. Em frascos, Redi, colocou pe-
daços de carne, alguns frascos foram vedados com gaze,
continuamente durante a intérfase. Muitos fatores externos
outros não. Nos frascos abertos onde moscas entravam e
podem atuar no controle do ciclo celular, incluíndo hor-
saíam livremente surgiam muitas larvas provenientes de
mônios e fatores de crescimento de tecidos específicos,
ovos depositados ali. Nos frascos fechados com gaze, onde
no processo de proliferação celular, para a organização, ou as moscas não entravam, não apareceu nenhuma larva
mesmo para a manutenção dos tecidos. Existem diferentes mesmo depois de muitos dias. Redi demonstrou com tal
controles externos que podem atuar no ciclo celular, e as experimento que as larvas presentes na carne putrefata se
células dependerão, fundamentalmente de sinais em seu desenvolvem a partir de ovos de moscas depositadas ali, e
material citoplasmático (no início da embriogênese), bem não pela transformação da carne, como propunha a abio-
como de sinais do ambiente externo. Nos processos de gênese.
proliferação celular e senescência, outros sinais de controle  
externos do ciclo desencadearão de maneira diferente esse Needham X Spallanzani
sistema citado aqui.  
Em meados do século XVII, o holandês Antonie van
Leeuwenhoek com um microscópio descobriu o mundo
dos microorganismos, os micróbios. Os abiogenitas acredi-
EVOLUÇÃO DA VIDA - ORIGEM DA VIDA taram ainda mais na sua tese, afirmando que seres tão pe-
- EXPLICAÇÕES SOBRE A DIVERSIDADE - quenos não se reproduzia e sim surgiam espontaneamen-
EVIDÊNCIAS DA EVOLUÇÃO - A ORIGEM DAS te. O cientista inglês John Needham (1713-1481) realizou
ESPÉCIES. A CONQUISTA DOS AMBIENTES seus experimentos para provar que os micróbios surgiam
de geração espontânea. Diversos frascos contendo um cal-
TERRESTRES POR ANIMAIS E PLANTAS. A
do nutritivo foram submetidos à fervura por 30 minutos.
EVOLUÇÃO DO HOMEM. Depois Needham lacrava os frascos com rolhas e os deixa-
va por repouso por alguns dias. Depois desse repouso ele
examinou o caldo com a ajuda de um microscópio e notou
A origem da vida a presença de microorganismos. A explicação dada foi que
  a fervura tinha matado todos os seres eventualmente pre-
Desde a antiguidade a origem da vida tem sido um sentes no caldo e nenhum microorganismo poderia entrar
no frasco após de ter sido lacrado com rolhas. Portanto, só
mistério. O homem antigo procurava de todas as formas
havia uma explicação! Os microorganismos surgiram por
possíveis explicarem da onde é que surgiam novos seres
geração espontânea ou abiogênese. Após alguns anos o
vivos. De muitas explicações surgiu a Teoria da geração
padre e pesquisador italiano Lazzaro Spallanzani (1729-
espontânea ou Teoria da abiogênese. De acordo com
1799) repetiu os experimentos de Needham com algumas
essa teoria os seres vivos se formariam através da matéria modificações. Spallanzani colocou caldo nutritivo em ba-
bruta do meio. Por exemplo= na Índia, Babilônia e Egito lões de vidro e fechou-os hermeticamente esses balões
ensinavam que as rãs, crocodilos e cobras eram gerados eram então colocados em caldeirões e fervidos por cerca
pelo lodo dos rios. Um dos grandes defensores da Teoria de uma hora. Dias depois ele examinou os caldos e obteve
da abiogênese no século XVII foi Jean Baptista van Hel- resultados completamente diferentes aos de Needham = o
mont (1577-1644), um importante médico belga que che- caldo estava livre de microorganismos. 
gou a formular uma ‘’ receita’’ para se produzir ratos. Veja:  Spallanzani explicou que Needham submeteu a solu-
‘’ (...) coloca-se num canto sossegado e mal iluminado ção à fervura por um tempo curto demais para esterilizar
trigo, fermento e camisas sujas. O resultado será que, em o caldo. Needham respondeu às críticas afirmando que o
21 dias, surgirão ratos (...)’’.  tempo longo usado pelo cientista destruía a força vital ou

74
BIOLOGIA

princípio ativo que dava vida à matéria, e ainda tornava o velocidade muito maior do que a da luz. Isso teria deixado
ar desfavorável ao aparecimento da vida. Em fins do século uniforme o Universo que observamos, mas encoberto tudo
XVII pôde-se entender porque o ar se tornava desfavorá- o que acontecera.
vel ao aparecimento da vida. Descobriu-se que o oxigênio Se os físicos têm dificuldade em entender o que se pas-
é essencial à vida. Segundo abiogenistas o aquecimento sou logo após o Big Bang, descobrir o que ocorreu antes é,
prolongado e a vedação hermética excluíam o oxigênio portanto, uma tarefa muito mais árdua - ainda mais porque
tornando impossível a sobrevivência de qualquer forma de é provável que esse fenômeno não tenha sido o início de
vida. A polêmica abiogênese X biogênese continuou exis- tudo. “O Universo já existia no momento do Big Bang”, diz
tindo até cerca de 1860, quando a abiogênese sofreu seu o físico Mario Novello, do Centro Brasileiro de Pesquisas Fí-
golpe final. sicas (CBPF), no Rio de Janeiro. Entre as dezenas de mode-
  los propostos, é possível que o espaço e o tempo tenham
Pasteur derruba a abiogênese existido desde sempre, que o Big Bang seja o resultado do
  colapso entre diversas dimensões e que a explosão tenha
Foi por volta de 1860 que um grande cientista francês dado origem não a um, mas sim a vários universos.
conseguiu provar definitivamente que seres vivos só po-
dem se originar de outros seres vivos. Louis Pasteur (1822- Big Bang
1895) preparou um caldo de carne – excelente meio de
cultura para micróbios – colocou então, esse caldo em um De acordo com o modelo do Big Bang, o Universo se
frasco com pescoço de cisne e submeteu o líquido contido expandiu a partir de um estado extremamente denso e
dentro desse frasco à fervura para a esterilização. Após a quente e continua a se expandir atualmente. Uma analogia
fervura a medida que o líquido resfriava, gotículas de água comum explica que o espaço está se expandindo, levando
se acumulavam no pescoço do frasco agindo como uma galáxias com ele, como passas em um naco de pão a au-
espécie de filtro retendo os micróbios contidos no ar que mentar. O esquema gráfico superior é um conceito artístico
penetrava no balão, impedindo a contaminação do caldo. que ilustra a expansão de uma parte de um Universo plano.
Esse experimento mostrou que não era a falta de ar fres- O Big Bang, também por vezes denominada em por-
co que impedia a formação de microorganismos no caldo. tuguês como a Grande Explosão, é a teoria cosmológica
Pasteur provou também que não havia nenhuma ‘’ força vi- dominante do desenvolvimento inicial do universo. Os cos-
tal’’ que era destruída após a fervura, pois se aquele mesmo mólogos usam o termo “Big Bang” para se referir à ideia
caldo esterilizado fosse submetido ao ar sem a filtragem de que o universo estava originalmente muito quente e
que o balão pescoço de cisne proporcionava, surgiriam sim denso em algum tempo finito no passado e, desde então
microorganismos que advinham de contaminação.  tem se resfriado pela expansão ao estado diluído atual e
Com esse espetacular experimento Pasteur recebeu continua em expansão atualmente. A teoria é sustentada
um prêmio compensador da Academia Francesa de Ciên- por explicações mais completas e precisas a partir de evi-
cias e derrubou de uma vez por todas a hipótese da gera- dências científicas disponíveis e da observação. De acordo
ção espontânea ou abiogênese. Com isso o problema da com as melhores medições disponíveis em 2010, as condi-
origem da vida se tornou preocupante, pois se os organis- ções iniciais ocorreram por volta de 13,3 a 13,9 bilhões de
mos surgem a partir de outros, como foi que se originou anos atrás.
o primeiro? Georges Lemaître propôs o que ficou conhecido como
a teoria Big Bang da origem do Universo, embora ele tenha
Qual é a origem do Universo? chamado como “hipótese do átomo primordial”. O quadro
para o modelo se baseia na teoria da relatividade de Albert
Não existe nenhuma questão mais enigmática do que Einstein e hipóteses simplificadoras (como homogeneida-
essa! A grande maioria dos cientistas acredita na teoria de e isotropia do espaço). As equações principais foram
do Big Bang, ou Grande Explosão - mas o que havia antes formuladas por Alexander Friedmann. Depois Edwin Hubb-
dela? Tudo indica que seja impossível saber com certeza! le descobriu em1929 que as distâncias de galáxias distan-
O próprio Big Bang, aliás, já é bem misterioso. Segundo tes eram geralmente proporcionais aos seus desvios para
a teoria, há cerca de 15 bilhões de anos toda a matéria que o vermelho, como sugerido por Lemaître em1927. Esta ob-
constitui o Universo concentrava-se num único ponto, que servação foi feita para indicar que todas as galáxias muito
explodiu, dando origem a tudo o que conhecemos... e até distantes e aglomerado de galáxias têm uma velocidade
ao que ainda não conhecemos. Essa origem bombástica é aparente diretamente para fora do nosso ponto de vista:
comprovada por várias observações científicas, mas pos- quanto mais distante, maior a velocidade aparente. Se a dis-
sui alguns problemas. O principal deles é que, pelas leis tância entre os aglomerados de galáxias está aumentando
da física, a explosão estaria sujeita a pequenas flutuações hoje, todos deveriam estar mais próximos no passado. Esta
que tornariam o universo irregular - o que não acontece na idéia tem sido considerada em detalhe volta no tempo para
realidade. “Existem mais de 50 teorias que tentam resolver as densidades e temperaturas extremas, e grandes acelera-
essa questão”, diz o físico Augusto Damineli, da Universi- dores de partículas têm sido construídos para experimentar
dade de São Paulo (USP). A idéia mais aceita foi proposta e testar tais condições, resultando em significativa confir-
pelo físico americano Alan Guth em 1981: nas primeiras mação da teoria, mas estes aceleradores têm capacidades
frações de segundo, a explosão teria se expandido a uma limitadas para investigar em tais regimes de alta energia.

75
BIOLOGIA

Sem nenhuma evidência associada com a maior brevidade O Big Bang, ou grande explosão, também conhecido
instantânea da expansão, a teoria do Big Bang não pode e como modelo da grande explosão térmica, parte do princí-
não fornece qualquer explicação para essa condição inicial, pio de Friedmann, onde, enquanto o Universo se expande,
mas sim, que ela descreve e explica a evolução geral do a radiação contida e a matéria se esfriam. Para entender a
Universo desde aquele instante. As abundâncias observa- teoria do Big Bang, deve-se em primeiro lugar entender
das de elementos leves em todo o cosmos se aproximam a expansão do Universo, de um ponto A para um ponto
das previsões calculadas para a formação destes elementos B, assim, podemos, a partir deste momento retroceder no
de processos nucleares na expansão rápida e arrefecimento espaço, portanto no tempo, até o Big Bang.
dos minutos iniciais do Universo, como lógica e quantita-
tivamente detalhado de acordo com a nucleossíntese do Temperatura e expansão
Big Bang.
Fred Hoyle é creditado como o criador do termo Big Como a temperatura é a medida da energia média das
Bang durante uma transmissão de rádio de 1949. Popu- partículas, e esta é proporcional à matéria do universo, de
larmente é relatado que Hoyle, que favoreceu um modelo uma forma simplificada, ao dobrar o tamanho do universo,
cosmológico alternativo chamado “teoria do estado esta- sua temperatura média cairá pela metade. Isto é, ao redu-
cionário”, tinha por objetivo criar um termo pejorativo, mas zir o tecido universal, portanto aumentando sua densida-
Hoyle explicitamente negou isso e disse que era apenas um de, aquela dobrará; podemos ter um ponto de partida de
termo impressionante para destacar a diferença entre os temperatura máxima, e massa concentrada numa singu-
dois modelos. Hoyle mais tarde ajudou consideravelmen- laridade, que nos dará o tempo aproximado do início da
te no esforço de compreender a nucleossíntese estelar, a aceleração da expansão do tecido universal, e sua gradual
via nuclear para a construção de alguns elementos mais e constante desaceleração térmica. Para entender este pro-
pesados até os mais leves. Após a descoberta da radiação cesso, há que se usar um exemplo prático, a visão deve
cósmica de fundo em 1964, e especialmente quando seu ser quadridimensional. Como os sentidos humanossomen-
espectro (ou seja, a quantidade de radiação medida em te percebem o espaço tridimensional (Coordenadas x,y,z),
cada comprimento de onda) traçou uma curva de corpo ilustrando a partir de um modelo em três dimensões fica
negro, muitos cientistas ficaram razoavelmente convenci- mais compreensível, pois o tempo estaria numa coordena-
dos pelas evidências de que alguns dos cenários propostos da “d”, o que dificulta ao leitor comum a compreensão da
pela teoria do Big Bang devem ter ocorrido. evolução do tempo e espaço simultaneamente.
As estrelas ou corpos celestes marcados com círculos
História: são os mais distantes, logo os mais antigos já observados
pelos humanos. A coloração avermelhada é devida ao efei-
Em 1927, o padre e cosmólogo belga Georges Lemaî- to Doppler. Quando um corpo se afasta deu um suposto-
tre (1894-1966) derivou independentemente as equações centro, mais a sua imagem desvia para o vermelho, e quan-
de Friedmann a partir das equações de campo de Einstein do se aproxima, ao contrário o desvio é para o azul. Como
e propôs que os desvios espectrais observados em nebu- o afastamento é quase para o vermelho de tonalidade mais
losas se deviam a expansão do universo, que por sua vez escura, isto indica que se dá em altíssimas velocidades,
seria o resultado da “explosão” de um “átomo primordial”. (suas distâncias estão beirando os treze bilhões deanos-
luz), algo bastante próximo do Big-bang. Estas formações
Em 1929, Edwin Hubble forneceu base observacional indicam um Universo infantil, onde as grandes galáxias
para a teoria de Lemaitre ao medir um desvio para o ver- (presumivelmente) ainda não se haviam formado.
melho no espectro (“redshift”) de galáxias distantes e verifi- Imaginemos uma bolha de sabão, suponhamos que
car que este era proporcional às suas distâncias o que ficou esta bolha seja preenchida por umfluido, deixemos o flui-
conhecido como Lei de Hubble-Homason. do de lado e concentremo-nos na superfície propriamen-
te dita da bolha. Esta no início é um ponto de água com
O Wilkinson Microwave Anisotropy Probe (WMAP) sabão, por algum motivo desconhecido, que não importa,
é um sistema de sensoreamento térmico da energia re- começa a aumentar através da inserção de um gás, toman-
manescente de fundo, ou ruído térmico de fundo do do a formaesférica. Observemos que, na medida em que
Universo conhecido. Esta imagem é um mapeamento o ar penetra preenchendo o interior da bolha de sabão (a
em microondas do Universo conhecido cuja energia exemplo de uma bexiga), começa a haver a expansão volu-
que chega ao sistema está reverberando desde 379000 métrica do objeto. Nos concentremos no diâmetro da bo-
anos depois do Big-bang, há 13 bilhões de anos (pre- lha e na espessura da parede. Verificaremos que, à medida
sume-se). A temperatura está dividida entre nuances que seu diâmetro aumenta, a espessura diminui, ficando
que vêm do mais frio ao mais morno, do azulao verme- mais e mais tênue, pois a matéria está se desconcentran-
lho respectivamente, sendo o mais frio, a matéria ou o do e seespalhando em todas as direções. De uma maneira
“éter”, onde a energia térmica de fundo está mais fria, simplificada, podemos afirmar que o aumento do diâmetro
demonstrando regiões mais antigas. A comparação, da bolha é o universo em expansão, o aumento da área da
feita pelo autor da imagem, é como se tivéssemos tira- superfície é a diminuição da densidade material, a redução
do umafotografia de uma pessoa de oitenta anos, mas, da espessura da parede é a constante térmica que diminui
no dia de seu nascimento. à medida que o universo se expande.

76
BIOLOGIA

Modelo quadridimensional O início da teoria da grande explosão:

No modelo quadridimensional, não existe a fronteira, Conforme descrito no início do artigo, em 1927, o
ou a parede; o conceito é volumétrico no domínio tempo, padre e cosmólogo belga Georges Lemaître (1894-1966),
portanto, só visualizável através de cálculo. Porém pode- derivou independentemente as equações de Friedmann a
se tentar mostrar algo sobre a quarta dimensão, basta um partir das equações de Einstein e propôs que os desvios
pouco de imaginação e uma boa dose de visualização tri- espectrais observados em nebulosas se deviam a expan-
dimensional. são do universo, que por sua vez seria o resultado da “ex-
Embora não se deva imaginar a expansão Universo plosão” de um “átomo primordial”. A teoria do Big Bang,
como uma bolha crescendo vista do lado de fora, (O lado grande explosão, tornou-se a explicação da expansão do
de fora não existe, a matéria e o tempo tiveram seu iní- universo desde suas origens, no tempo, (arbitrando-se o
cio a partir do ponto zero), esta é uma das poucas manei- conceito de que o tempo teve uma origem).
ras de se tentar vislumbrar um espaço quadridimensional Segundo essa teoria, o universo surgiu há pelo me-
do Universo em expansão (Não se deve também assumir nos 13,7 bilhões de anos, a partir de um estado inicial de
uma visão antropocêntrica). Ao centro, está representada temperatura e densidade altamente elevadas. Embora essa
em amarelo aVia Láctea, os círculos coloridos excêntricos explicação tenha sido proposta na década de 1920, sua
são todos os corpos celestesse afastando, azul para frente
versão atual é da década de 1940 e deve-se sobretudo ao
e vermelho para trás devido ao efeito Doppler, as esferas
grupo de George Gamow que deduziu que o Universo teria
sem cor representam a posição real dos astros.
surgido após uma grande explosão resultante da compres-
Para que entendamos um objeto tridimensional em
são de energia.
visualização bidimensional, temos que desenhá-lo de for-
ma que enxerguemos uma parte de cada vez. Imagine o
mesmo exemplo da bolha, agora vista em duas dimensões, Edwin Hubble
temos largura e profundidade, mas não temos noção da
dimensão altura. Para que possamos representá-la e enten- Voltando no tempo…, no início do século XX, a Astro-
dê-la, precisaremos fazer diversos desenhos no domínio da nomia desviou sua atenção das estrelas e dos planetas. Nos
Altura, iniciando na parte mais baixa e assim por diante, últimos oitenta anos a Cosmologia se voltou para as galá-
representando círculos que, se vistos bidimensionalmente xias e espaço exterior. Um dos muitos responsáveis por esta
sobrepostos, apresentarão um círculo dentro do outro, (se- mudança de perspectiva foi Edwin Hubble, do Observató-
melhantes aos mapas topográficos). Porém, devidas limi- rio Monte Wilson. Em 1924, foram publicadas fotografias
tações no desenho, a primeira impressão que teremos (se provando que as manchas de luz difusas e distantes, cha-
não soubermos que é uma esfera) não será de uma esfera, madas de Nebulosas, (este nome devido à crença de que
e sim de meia esfera. se tratava de massas informes de gás e poeira), na verdade
Para a representação tridimensional, os eixos (x,y,z), eram gigantescos sistemas de aglomerados de estrelas, se-
e o eixo tempo (t) inserido, (isto é, em quatro dimensões, melhantes à Via Láctea.
porém representada em três), a analogia é semelhante, po-
deremos vislumbrar a meia esfera de acordo com nossas Os movimentos galácticos e a Lei de Hubble-Homa-
observações e medições, a outra metade somente pode- son
remos teorizar.
Podemos inclusive usar a mesma esfera, porém , em Hubble dedicou-se ao estudo das galáxias, medindo
vez de olharmos um círculo dentro de outro, representan- suas distâncias, localizando sua distribuição no espaço e
do a imagem topográfica, imaginemos uma esfera dentro analisando seus movimentos.
de outra, maior e maior, como se o fotografássemos em Com o passar do tempo, notou-se que aqueles mo-
momentos em que estivesse inflando , assim temos uma vi- vimentos não eram ao acaso, como o deslocamento das
são quadridimensional num universo tridimensional, onde moléculas de um gás na termodinâmica, porém obedecem
a superfície da esfera, aumentando a cada passar de tem-
a uma trajetória centrífuga. Cada galáxia distante afasta-se
po, seria a expansão quadridimensional do Universo. Esta
da Via Láctea numa velocidade proporcional à distância em
visão não deve ser encarada como antropocêntrica, pois
que se encontra desta, quanto maior a distância, maior a
de qualquer ponto do espaço vemos o Universo se expan-
velocidade.
dindo em todas as direções, ou seja, sempre nos parecerá
estarmos no centro, não importa de qual ponto estejamos Hubble e seu colega Milton L. Homason pesquisaram
observando. Portanto, devemos imaginar, não estando no para descobrir a proporção dos movimentos e sua acele-
centro da esfera, mas num ponto onde absolutamente tudo ração, deduzindo uma equação conhecida como Lei de
se afasta em todas as direções, embora os nossos sentidos Hubble-Homason em que:Vm=16r, onde Vm é a velocida-
nos digam estarmos no centro. de de afastamento da galáxia, dada em quilômetros por
segundo, e r expressa a distância entre a Terra e a galáxia
em estudo, dada em unidades de milhões de anos luz, e,
segundo esta, se uma galáxia estiver situada a cem milhões
de anos luz, esta se afasta a 1600 quilômetros por segundo.

77
BIOLOGIA

Aparentemente, o Universo está se expandindo em tor- em mutação? Voltando-se no tempo e espaço, chega-se
no de nós, novamente é afirmado que isto não deve ser en- que desde o começo, o Universo se expande de acordo
carado como antropocentrismo, pois todos os pontos do com leis bastante regulares. É portanto razoável que estas
universo estão se afastando relativamente uns aos outros se mantenham durante e antes da grande explosão, logo
simultaneamente, conforme já explicado. A observação, na singularidade está a chave para se descobrir como hou-
feita em 1929 por Hubble, significa que no início do tem- ve o momento de aceleração inicial nos eventos iniciais do
po-espaço a matéria estaria de tal forma compactada que Universo atual.
os objetos estariam muito mais próximos uns dos outros. Existe uma outra teoria, entre muitas que, antes do big
Mais tarde, observou-se em simulações que de fato bang, houve outro universo, idêntico ao atual onde as ga-
exista aparentemente a confirmação de que entre dez a láxias ao invés de se afastarem, se aproximariam (O dia em
vinte bilhões de anos atrás toda a matéria estava exata- que o universo quicou - Gravitação quântica em laços).
mente no mesmo lugar, portanto, a densidade do Universo De facto tem-se apenas que, com os conhecimentos
seria infinita. que detêm-se hoje acerca da matéria e energia, é possí-
As observações em modelos e as conjecturas dos cien- vel delinear com razoável precisão os processos associados
ao Big Bang que ocorreram após um dado tempo conta-
tistas apontam para a direção em que o Universo foi infi-
do a partir do “tempo zero”, o que implica dizer que, para
nitesimalmente minúsculo, e infinitamente denso. Nessas
os processos anteriores a este tempo limite, entra-se em
condições, as leis convencionais da física não podem ser um campo muito mais especulativo do que propriamente
aplicadas, pois quando se tem a dimensão nula e a mas- científico. O que se conhece acerca do Big Bang é descrito
sa infinita, qualquer evento antes desta singularidade não como processos ocorrendo no espaço-tempo. Considera-
pode afetar o tempo atual, pois ao iniciar o universo, ex- ções acerca deste ter sido criado no instante zero ou existir
pandindo a massa e ao mesmo tempo se desenvolvendo antes, acerca da existência de outro universo com carac-
em todas as direções, indica que o tempo também esteve terísticas distintas das encontradas no universo que nos
nesta singularidade, logo o tempo era nulo. abriga, ou qualquer outra afirmação relativa ao que ocorre
antes deste tempo limite definido pela nossa compreensão
Gamow, a explosão e a teoria da expansão factual transcendem assim - até a presente data - os limi-
tes científicos e o paradigma cientificamente aceito acerca
Segundo Gamow, na expansão do universo a partir de do Big Bang. A pergunta sobre o que ocorreu antes deste
seu estado inicial de alta compressão, numa explosão re- tempo limite é contudo certamente pertinente à teoria. O
pentina, o resultado foi uma violentíssima redução de den- Grande Colisor de Hádrons (LHC) construído na Europa traz
sidade e temperatura; após este ímpeto inicial, a matéria consigo a esperanças de, em breve, poder-se compreender
passou a predominar sobre a antimatéria. de facto o comportamento da matéria-energia, e por tal do
Ainda segundo Gamow toda a matéria existente hoje espaço-tempo, em densidades tão altas quanto as espera-
no universo encontrava-se concentrada no chamado “áto- das para antes deste tempo limite - geralmente aceito pela
mo inicial”, ou “ovo cósmico”, e que uma incalculável quan- maioria como próximo ao denominado tempo de planck.
tidade de energia, depois de intensamente comprimida, Embora muitas vezes apoiadas em sólidas bases ma-
repentinamente explodiu, formando ao avançar do tempo temáticas, considerações antes apresentadas estendem-se
gases, estrelas e planetas. assim para todas as teorias - ainda não científicas justo pela
A temperatura média do universo diminui à medida ausência de fatos - que afirmam conhecimento acerca do
que se expande. Alguns autores afirmam que a partir de que ocorreu antes deste tempo limite, entre as quais desta-
um determinado momento, quando universo for totalmen- cam-se certamente a teoria das cordas, teoria que propõe
a existência de multiversos e de onze dimensões - ao invés
te resfriado, ele vai começar a diminuir de tamanho nova-
de apenas as quatro do espaço-tempo - e as teorias do Big
mente, voltando a sua primeira forma, do átomo inicial.
Bang Frio; e do Big Crunch e do Universo oscilante.
A nucleossíntese foi a formação inicial dos primeiros
O paradoxo do tempo núcleos atômicos elementares (hidrogênio e hélio). Ela
ocorreu porque a atuação da Força Nuclear Forte acabou
Se o tempo iniciou numa grande explosão, juntamente atraindo prótons e nêutrons que se comprimiram em nú-
com o espaço e com a matéria-energia no Universo mutá- cleos primitivos. Sabe-se que esta força nuclearforte só é
vel, num Universo imutável um começo no tempo é neces- eficaz em distâncias da ordem de 10-13 cm. Presume-se
sário se impor para que se possa ter uma visão dinâmica do que a nucleossíntese ocorreu 100 segundos após o impul-
processo da criação inicial (não confundir com Criação Teo- so inicial, e que esta foi seguida de um processo de repen-
lógica), esta se deu tanto numa maneira de se ver o início tino resfriamento devido à irradiação que, segundo alguns,
da dualidade tempo matéria, quanto em outra. Partindo-se ocasionou o surgimento dos núcleos — segundo outros, o
da premissa de que o Universo é mutável no domínio do surgimento dos núcleos ocasionou o resfriamento. Em fun-
tempo, pois de outra forma não se consegue observar a ção da nucleossíntese, a matéria propriamente dita passou
expansão deste, deve haver razões físicas para que o Uni- a dominar o universo primitivo, pois sabe-se que a densi-
verso realmente tivesse um começo, pois não se consegue dade de energia em forma de matéria passou, a partir da-
imaginar a existência de um universo antes do Big Bang, quele momento, a ser maior do que a densidade em forma
e se não existia nada antes, o que fez o desequilíbrio da de radiação. Isso se deu em torno de 10 mil anos após o
singularidade que acabou criando um Universo caótico e impulso inicial.

78
BIOLOGIA

Com a queda da temperatura universal, os núcleos Os dois pré-supostos:


atômicos de hidrogênio, hélio e lítio recém-formados se
ligaram aos elétrons, formando assim átomos completos A Teoria do Big Bang baseia-se em dois pré-supostos: o
desses elementos. Presume-se que isso se deu em torno de primeiro é a Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein,
300 mil anos após o chamado marco zero. A temperatura que explica a interação gravitacional da matéria; o segun-
universal estava então em torno de 3.000 K. do pressuposto é o conhecido princípio cosmológico, que
O processo, ou a era da formação atômica, segundo diz que o aspecto do universo independe da posição do
alguns pesquisadores, durou cerca de um milhão de anos observador (não há um ponto de observação privilegiado
aproximadamente. À medida que se expandia a matéria, — o universo é isotrópico) e da direção em que ele olhe
a radiação que permeava o meio se expandia simultanea- (o universo apresenta o mesmo aspecto não importando
mente pelo espaço, porém em velocidade muito maior, a direção em que se o olhe — o universo é homogêneo).
ultrapassando a primeira. Daquela energia irradiada so- A unificação das origens
braram alguns resquícios em forma de micro-ondas, que Da teoria da gravidade de Newton sabe-se que a força
foram detectadas em 1965 por Arno A. Penzias e Robert gravitacional entre dois corpos depende somente de suas
W. Wilson, tendo sido chamada de radiação de fundo. O massas e não da matéria de que são constituídos. A teoria
“som” característico da radiação propagada é semelhante geral da relatividade descreve a estrutura do universo e a
ao ruído térmico, ou seja, um silvo branco (ruído branco força da gravidade, isto é, o macro-universo ou as intera-
contendo todas as frequências), contínuo, linear igual ao ções do trinômio energia-tempo-matéria, no qual as mas-
sas são mais importantes* que as cargas. A mecânica quân-
ruído que se ouve num receptor de televisão, ou de recep-
tica descreve o micro-universo e as interações também do
tores de frequência modulada quando estão fora de sinto-
trinômio energia-tempo-matéria, no qual as massas são
nia. O som característico é um “sssssss” constante, ou um
menos **relevantes que as cargas, embora tratem da mes-
ruído de cachoeira.
ma natureza, obviamente diferenciando-se o tamanho. As
O satélite COBE, em 1992, descobriu flutuações na ra- interações, em muitos aspectos, são idênticas às teorias,
diação de fundo recebida que explicariam a formação das porém estas são incompatíveis e não se completam. Por-
galáxias logo após a Grande Explosão. tanto, falta a chave que teoricamente as une, pois não po-
Um exemplo ilustrativo da expansão repentina a que se dem estar ao mesmo tempo corretas e erradas.
seguiu após o evento inicial, seria que a matéria comprimi- Portanto, pode-se deparar com muitas teorias a res-
da num volume hipotético do tamanho de uma cabeça de peito do início do universo, mas por enquanto apenas uma
alfinete, em torno de 1 mm de diâmetro, se expandiria para trata do seu início, ou seja, a teoria do Big-Bang — é a que
cerca de 2 mil vezes o tamanho do nosso sol. une as duas teorias de macro e micro-universo.
Antes de completar um segundo de idade, o Univer-
so estava na era da formação dos prótons e nêutrons. Os A questão da relevância é discutível. Acredita-se que
nêutrons tendem a decair espontaneamente em prótons, o termo mais correto seria ênfase devido às comparações
porém prótons recém formados pelo decaimento não de- entre os tamanhos e das interações no cosmo.
caem. Devido a experimentos em aceleradores de partícu- As massas, as ondas e as leis da física na singulari-
las, sabe-se que o universo naquela era, (1 segundo apro- dade:
ximadamente), ficou com 7 prótons para cada nêutron —
uma massa turbilhonante das partículas mais elementares. Uma dúvida ainda persistente para os astrofísicos é
Era também mais denso do que o ferro e tão opaco que quanto à natureza da matéria e as distorções que ocorrem
nenhuma luz conseguiria penetrá-lo. nas leis que a regem quando ela começa a ser comprimida
Outro dado apontado pelas pesquisas realizadas leva à ao cair em objetos densíssimos.
cifra de aproximadamente 500 mil anos, em média, do res- Os buracos negros são, por natureza, um exercício de
friamento universal acelerado. Supõe-se que as partículas abstração intelectual. Não há como saber se as leis da na-
elementares, ao se fundirem formando hidrogênio e hélio, tureza se aplicam em condições tão extremas de compres-
formaram imensos bolsões de gás que poderiam ter sido são gravitacional e distorção do espaço-tempo. Na prática,
causados por pequenas alterações da gravidade, resultan- é impossível criar as condições dos efeitos gravitacionais
de um objeto tão denso na Terra; porém, já existem méto-
do assim em protogaláxias que teriam originado estrelas
dos pelos quais é possível a simulação dos efeitos de forma
entre 1 e 2 bilhões de anos após o Big Bang.
virtual, ou seja, em sistemas de ensaio operados por pode-
A evolução estelar aponta para as gigantes vermelhas
rosos supercomputadores.
e supernovas, que durante a sua vida, geraram o carbono
Mesmo com simulações e construção de objetos den-
e demais átomos. Todos os elementos, presume-se, seriam síssimos em ambiente virtual, restam questões quanto à
espalhados no meio interestelar a partir das supernovas; possibilidade de compressão de massa cujo volume aplica-
uma data limítrofe para esses eventos estaria em torno de do é nulo e a densidade infinita — a isso se dá o nome de
1,1 bilhão de anos após a explosão inicial. singularidade de Schwarzschild.
As supernovas semearam nas galáxias a matéria-prima Einstein acreditava que o aumento da intensidade da
para posteriores nascimentos de estrelas. gravidade cria uma distorção que retarda a percepção tem-
poral. Noutras palavras, objetos muito densos, como bura-

79
BIOLOGIA

cos negros ou estrelas de nêutrons, retardam o tempo de- muito distantes. A observação da propagação no meio inter
vido aos efeitos gravitacionais. Se fosse possível observar -espacial da energia eletromagnética de supernovas, (ver-
a queda de objetos num buraco negro, presume-se que se dadeiros tsunamis de energia que constantemente varrem
veria um objeto mover-se cada vez mais devagar, ao con- o espaço), com a nova tecnologia dos futuros telescópios
trário do que poderia naturalmente supor, pois à medida e radiotelescópios espaciais, brevemente poderá identificar
que este se aproxima da singularidade, a distorção tempo- e esclarecer muitas dúvidas sobre o comportamento da luz
ral agiria de tal forma que não o veríamos parar. Segundo através da matéria escura. Independente disso, e embora
Einstein, há o desvio para o vermelho e este também é de- ainda não possa ser confirmado com as imagens de fun-
pendente da intensidade gravitacional. Se se analisar sob o do provindas dos limites de observação, habitar e observar
ponto de vista corpuscular, imaginando-se que a luz é um apenas parte de um hipotético universo que se desloca li-
pacote quântico com massa e que esta partícula ocupa um nearmente, e, em paralelo com velocidade acelerada, seria
determinado lugar no espaço, e está acelerada energetica- uma dessas teorias que atendem a região que está sendo
mente (isto é, vibrando), a oscilação gera o comprimento mapeada. Essa teoria estima que estaríamos em meio a um
de onda de luz, que se propaga como frente de onda em universo acelerado em paralelo, e cujo efeito retardado da
espaço livre. Longe de campo gravitacional intenso, a fre- informação da luz que nos chega só seria permitido ob-
quência emitida tende para o azul. Na medida em que o servar as ondas luminosas com desvio do espectro para o
campo gravitacional começa a agir sobre a partícula, esta vermelho.
começará a se movimentar, ou vibrar, com menos intensi- Em linguagem matemática, o ponto de vista das infor-
dade, logo sua emissão desviará para o vermelho, pois a mações “emitidas e recebidas” entre duas partículas que se
oscilação foi retardada. Nesse ponto, a análise funde a dua- movem com velocidades próximas à da luz e em paralelo
lidade matéria-energia. Sabe-se que não é possível analisar poderiam melhor explicar o fenômeno da expansão.
a partícula como matéria e energia ao mesmo tempo: ou
se considera o ponto de vista vibratório ou o corpuscular. Formação em partículas:
Porém, próximo à singularidade, temos que fazer este exer-
cício de raciocínio, pois a atração gravitacional é tão forte A teoria mais aceita para a origem do universo propõe
que pode fazer parar o movimento oscilatório, e ao mesmo que ele seja o resultado duma grande explosão, logo após
tempo atrair o objeto para si. Portanto, qualquer que seja o a qual a matéria estava extremamente densa, comprimida
ângulo de observação, a gravidade prende a radiação em
e quente. Essa matéria primordial era composta, principal-
si mesma. Logo, a conclusão é que não se pode observar
mente, de partículas elementares, como quarks e elétrons.
absolutamente nada o que ocorre dentro do raio de Sch-
À medida que ela ia se expandindo e esfriando, os quarks
warzschild, ou singularidade.
se uniam formando partículas maiores chamadas hádrons,
Como antes do Big-Bang o Universo era uma singula-
os quais podem conter 3 quarks (bárions) ou 2 quarks (mé-
ridade, presume-se que o tempo então não existia, pois se
sons). Os prótons e nêutrons formados (que são bárions) se
objetos densos tendem a retardar o tempo, logo quando se
tem matéria infinita em espaço nulo a singularidade é tal agrupavam em núcleos e os elétrons eram capturados em
que o tempo para. órbitas em torno dos núcleos, formando átomos.
Os núcleos maiores e mais pesados foram criados no
Novas Possibilidades: interior de estrelas, as quais por sua vez se formaram pela
aglomeração de grandes quantidades da matéria primor-
Este é o conceito artístico da expansão do Universo, dial. Algumas dessas estrelas ejetaram parte de sua massa
onde o espaço (incluindo hipotéticas partes não observá- para o espaço interestelar, levando à formação de estrelas
veis do Universo) é representado em cada momento, em menores, planetas, nebulosas etc. As substâncias químicas
seções circulares. O esquema é decorado com imagens do foram criadas pela aglomeração dos átomos em moléculas
satélite WMAP. e, finalmente, os seres vivos originaram-se do agrupamen-
Apesar de ser uma tendência da cosmologia investir to de vários tipos de moléculas em estruturas complexas.
num princípio, devemos considerar que o argumento que
endossa a teoria do Big Bang é uma expansão do universo Controvérsias:
que pode ser observada. No entanto, essa dilatação pode
ser um fenômeno regional, existente apenas nos limites A teoria do Big Bang não é um acontecimento igual a
do universo observável ou no alcance do atual telescópio uma explosão da forma que conhecemos; embora o uni-
Espacial Hubble. Diante disso, existe a possibilidade desse verso observável com a ajuda das lentes dos modernos te-
fenômeno não atender todo o universo. Nesse caso, o que lescópios espaciais ainda descreva um resultado de uma
até hoje foi observado seria somente um processo de dila- explosão (uma fuga cósmica), há quem levante dúvidas se
tação regional de causa ainda desconhecida, e somente o realmente houve algo que explodiu ou se foi uma explosão
desenvolvimento de telescópios de maior alcance e resolu- a causa dessa dilatação observada.
ção poderiam confirmá-lo. Alguns afirmam que o termo “Big Bang” é utilizado
Não aceitar a constante de afastamento das galáxias como uma aproximação para designar aquilo que também
mais distantes como uma verdade absoluta, implica endos- se costuma chamar de “Modelo Cosmológico Padrão”. Este
sar outras teorias que melhor se identificariam com o efeito consiste numa aplicação da Relatividade Geral ao Univer-
sonda encontrado na informação de luz emitida de fontes so como um todo. Isso é feito, em um primeiro momento,

80
BIOLOGIA

assumindo-se que o universo é homogêneo e isotrópico composição e neles colocam seus ovos. Desse ovos surgem
em larga escala. Em um segundo momento se introduzem as larvas, que se transformam em moscas adultas. Como as
flutuações de densidade no modelo e estuda-se a evolução larvas são vermiformes, os “vermes” que ocorrem nos ca-
destas até a formação de galáxias. dáveres em decomposição nada mais seriam que larvas de
O modelo cosmológico padrão é extremamente bem moscas. Redi concluiu, então, que essas larvas não surgem
testado experimentalmente e possibilitou a previsão da ra- espontaneamente a partir da decomposição de cadáveres,
diação cósmica de fundo e da razão entre as abundâncias mas são resultantes da eclosão dos ovos postos por mos-
de hidrogênio e hélio. cas atraídas pelo corpo em decomposição.
Os dados observacionais atualmente são suficiente- Para testar a sua hipótese, Redi realizou o seguinte
mente bons para se saber como é a geometria do universo. experimento: colocou pedaços de carne crua dentro de
Se for imaginado um triângulo, com lados maiores do frascos, deixando alguns cobertos com gaze e outros com-
que milhares de vezes o raio de uma galáxia observável pletamente abertos. De acordo com a hipótese da abiogê-
qualquer, poder-se-á saber da validade do teorema de Pi- nese, deveriam surgir vermes ou mesmo mosca nascidos
tágoras pela observação direta. Porém, não se tem idéia de da decomposição da própria carne. Isso, entretanto, não
qual é a topologia do universo em larga escala atualmente. aconteceu. Nos frascos mantidos abertos verificaram-se
Ou, é sabido se ele é infinito ou finito no espaço. O termo ovos, larvas e moscas sobre a carne, mas nos frascos co-
Big Bang também designa o instante inicial (singular) no bertos gaze nenhuma dessas formas foi encontrada sobre
qual o fator de escala (que caracteriza como crescem as a carne. Esse experimento confirmou a hipótese de Redi e
distâncias com a expansão) tende a zero. comprovou que não havia geração espontânea de vermes
Alguns afirmam que as equações da Relatividade Geral a partir de corpos em decomposição.
falham no instante 0 (pois é uma singularidade). Eventos Os experimentos de Redi conseguiram reforçar a hipó-
como o big bang simplesmente não estão definidos. Por- tese da biogênese até a descoberta dos seres microscópi-
tanto acreditam alguns que, segundo Relatividade Geral, cos, quando uma parte dos cientistas passou novamente a
não faz sentido se referir a eventos antes do Big Bang. Sa- considerar a hipótese da abiogênese para explicar a origem
be-se que as condições físicas do universo muito jovem desses seres. Segundo esses cientistas, os microorganismos
estão fora do domínio de validade da Relatividade Geral surgem espontaneamente em todos os lugares, indepen-
devido à densidade ambiental e não se espera que as res- dentemente da presença de outro ser vivo. Já outro grupo
postas sejam corretas na situação de densidade infinita e de pesquisadores não aceitava essas explicações. Para eles
tempo zero. os microorganismos somente surgiam a partir de “semen-
Em abril de 2011, utilizando uma incerteza de Heisen- tes” presentes no ar, na água ou no solo. Essas “sementes”,
berg persistente, relacionada à posição primordial de uma ao encontrarem locais adequados, proliferavam (interpre-
origem comóvel, um físico brasileiro publicou uma solução tação coerente com a hipótese da biogênese).
para as equações de campo de Einstein, dentro do con- A teoria da geração espontânea perdeu credibilidade
texto cosmológico, fornecendo uma temperatura de zero com o experimento de redi, mas voltou a ser usada para
absoluto para o universo primordial: “On the Cold Big bang explicar a origem dos seres microscópicos, descobertos em
Cosmology”.[13] Em junho de 2011 é publicada uma de- meados do século XVII pelo holandês Antonie Van Leeuwe-
monstração onde a incerteza de Heisenberg persistente nhoek (1632-1723). Usando um microscópio de sua própria
que leva uma temperatura de zero absoluto para o univer- fabricação, Leeuwenhoek havia observado pela primeira
so primordial advém de um critério de quantização para a vez os microorganismos, seres pequenos demais para se-
energia rem vistos a olho nu.
Era difícil imaginar que seres tão simples e tão variados,
Biogênese versus Abiogênese presentes em praticamente em todos os lugares, pudes-
sem surgir por meio da reprodução. Até o século XVIII, a
Até meados do século XIX os cientistas acreditavam maioria das pessoas achava que os microorganismos sur-
que os seres vivos eram gerados espontaneamente do cor- giam apenas por geração espontânea. Muitos estudiosos,
po de cadáveres em decomposição; que rãs, cobras e cro- porém, estavam convencidos de que a geração espontânea
codilos eram gerados a partir do lodo dos rios. não ocorria, nem para os seres macroscópicos, nem para
Essa interpretação sobre a origem dos seres vivos ficou seres microscópicos.
conhecida como hipótese da geração espontânea ou da Somente por volta de 1860, com os experimentos reali-
abiogênese (a= prefixo de negação, bio = vida, genesis = zados por Louis Pasteur (1822 – 1895), conseguiu-se com-
origem; origem da vida a partir da matéria bruta). provar definitivamente que os microorganismos surgem a
Pesquisadores passaram, então, a contestar a hipótese partir de outros preexistentes.
de geração espontânea, apresentando argumentos favorá-
veis à outra hipótese, a da biogênese, segundo a qual to- Os experimentos de Pasteur estão descritos e es-
dos os seres vivos originam-se de outros seres vivos pree- quematizados na figura abaixo:
xistentes.
Em 1668, Francesco Redi (1626 -1697) investigou a A ausência de microrganismos nos frascos do tipo
suposta origem de vermes em corpos em decomposição. “pescoço de cisne” mantidos intactos e a presença deles
Ele observou que moscas são atraídas pelos corpos em de- nos frascos cujo “pescoço” havia sido quebrado mostram

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BIOLOGIA

que o ar contém microorganismos e que estes, ao entra- chances de sobrevivência do que os menos adaptados,
rem em contato com o líquido nutritivo e estéril do balão, deixando um número maior de descendentes. Os organis-
desenvolvem-se. No balão intacto, esses microorganismos mos mais bem adaptados são, portanto, selecionados para
não conseguem chegar até o líquido nutritivo e estéril, pois aquele ambiente.
ficam retidos no “filtro” formado pelas gotículas de água Os princípios básicos das ideias de Darwin podem ser
surgidas no pescoço do balão durante o resfriamento. Já resumidos no seguinte modo:
nos frascos em que o pescoço é quebrado, esse “filtro” dei- Os indivíduos de uma mesma espécie apresentam va-
xa de existir, e os micróbios presentes no ar podem entrar riações em todos os caracteres, não sendo, portanto, idên-
em contato com o líquido nutritivo, onde encontram con- ticos entre si.
dições adequadas para seu desenvolvimento e proliferam. Todo organismo tem grande capacidade de reprodu-
A hipótese da biogênese passou, a partir de então, a ção, produzindo muitos descendentes. Entretanto, apenas
ser aceita universalmente pelos cientistas. alguns dos descendentes chegam à idade adulta.
O número de indivíduos de uma espécie é mantido
Teorias da Evolução mais ou menos constante ao longo das gerações.
Assim, há grande “luta” pela vida entre os descenden-
Várias teorias evolutivas surgiram, destacando-se, en- tes, pois apesar de nascerem muitos indivíduos poucos
tre elas, as teorias de Lamarck e de Darwin. Atualmente, foi atingem a maturidade, o que mantém constante o número
formulada a Teoria sintética da evolução, também deno- de indivíduos na espécie.
minada Neodarwinismo, que incorpora os conceitos mo- Na “luta” pela vida, organismos com variações favorá-
dernos da genética ás ideias essenciais de Darwin sobre veis ás condições do ambiente onde vivem têm maiores
seleção natural. chances de sobreviver, quando comparados aos organis-
mos com variações menos favoráveis.
A teoria de Lamarck: Os organismos com essas variações vantajosas têm
maiores chances de deixar descendentes. Como há trans-
Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829), naturalista francês, missão de caracteres de pais para filhos, estes apresentam
foi o primeiro cientista a propor uma teoria sistemática da essas variações vantajosas.
evolução. Sua teoria foi publicada em 1809, em um livro Assim, ao longo das gerações, a atuação da seleção
denominado Filosofia zoológica. natural sobre os indivíduos mantém ou melhora o grau de
Segundo Lamarck, o principio evolutivo estaria basea- adaptação destes ao meio.
do em duas Leis fundamentais:
Lei do uso ou desuso: o uso de determinadas partes do A teoria sintética da evolução:
corpo do organismo faz com que estas se desenvolvam, e
o desuso faz com que se atrofiem. A Teoria sintética da evolução ou Neodarwinismo foi
Lei da transmissão dos caracteres adquiridos: altera- formulada por vários pesquisadores durante anos de estu-
ções provocadas em determinadas características do orga- dos, tomando como essência as noções de Darwin sobre a
nismo, pelo uso e desuso, são transmitidas aos descenden- seleção natural e incorporando noções atuais de genética.
tes. A mais importante contribuição individual da Genética, ex-
Lamarck utilizou vários exemplos para explicar sua teo- traída dos trabalhos de Mendel, substituiu o conceito anti-
ria. Segundo ele, as aves aquáticas tornaram-se pernaltas go de herança através da mistura de sangue pelo conceito
devido ao esforço que faziam no sentido de esticar as per- de herança através de partículas: os genes.
nas para evitarem molhar as penas durante a locomoção A teoria sintética considera, conforme Darwin já havia
na água. A cada geração, esse esforço produzia aves com feito, a população como unidade evolutiva. A população
pernas mais altas, que transmitiam essa característica à ge- pode ser definida como grupamento de indivíduos de uma
ração seguinte. Após várias gerações, teriam sido origina- mesma espécie que ocorrem em uma mesma área geográ-
das as atuais aves pernaltas. fica, em um mesmo intervalo de tempo.
A teoria de Lamarck não é aceita atualmente, pois suas Para melhor compreender esta definição, é importante
ideias apresentam um erro básico: as características adqui- conhecer o conceito biológico de espécie: agrupamento de
ridas não são hereditárias. populações naturais, real ou potencialmente intercruzantes
Verificou-se que as alterações em células somáticas e reprodutivamente isolados de outros grupos de organis-
dos indivíduos não alteram as informações genéticas con- mos.
tida nas células germinativas, não sendo, dessa forma, he- Quando, nesta definição, se diz potencialmente inter-
reditárias. cruzantes, significa que uma espécie pode ter populações
que não cruzem naturalmente por estarem geograficamen-
A teoria de Darwin: te separadas. Entretanto, colocadas artificialmente em con-
tato, haverá cruzamento entre os indivíduos, com descen-
Charles Darwin (1809-1882), naturalista inglês, desen- dentes férteis. Por isso, são potencialmente intercruzantes.
volveu uma teoria evolutiva que é a base da moderna teo- A definição biológica de espécie só é válida para or-
ria sintética: a teoria da seleção natural. Segundo Darwin, ganismos com reprodução sexuada, já que, no caso dos
os organismos mais bem adaptados ao meio têm maiores organismos com reprodução sexuada, já que, no caso dos

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BIOLOGIA

organismos com reprodução assexuada, as semelhanças Essas modificações transformaram não só a paisagem
entre características morfológicas é que definem os agru- como também o clima: as grandes elevações formaram
pamentos em espécies. uma barreira contra a passagem da umidade tão necessária
Observando as diferentes populações de indivíduos à manutenção das florestas; consequentemente, as árvores
com reprodução sexuada, pode-se notar que não existe escassearam, diminuindo as áreas de florestas, em parte
um indivíduo igual ao outro. Exceções a essa regra pode- substituídas por matas, savanas e desertos.
riam ser os gêmeos univitelínicos, mas mesmo eles não são Posteriormente, outras modificações da crosta terrestre
absolutamente idênticos, apesar de o patrimônio genético originaram um grande vale que, estendendo-se de norte a
inicial ser o mesmo. Isso porque podem ocorrer alterações sul, funcionou como um obstáculo natural às populações
somáticas devidas a ação do meio. animais que viviam no leste e no oeste.
A enorme diversidade de fenótipos em uma população Separados por essa barreira natural, grupos de maca-
é indicadora da variabilidade genética dessa população, cos passaram a viver em lugares com condições ambientais
diferentes, fato que propiciou o ambiente ideal à formação
podendo-se notar que esta é geralmente muito ampla.
de uma nova espécie.
A compreensão da variabilidade genética e fenotípica
Assim, o destino dos seres vivos que ficaram nessas no-
dos indivíduos de uma população é fundamental para o vas regiões dependia da adaptação às novas condições do
estudo dos fenômenos evolutivos, uma vez que a evolução meio; se se adaptassem sobreviveriam; se não, pereceriam.
é, na realidade, a transformação estatística de populações Separados por essa barreira natural, os indivíduos fo-
ao longo do tempo, ou ainda, alterações na frequência dos ram sofrendo pequenas modificações que, ao longo de
genes dessa população. Os fatores que determinam alte- muitas gerações, resultaram populações com característi-
rações na frequência dos genes são denominados fatores cas físicas e comportamentais diferentes em cada uma das
evolutivos. Cada população apresenta um conjunto gênico, regiões. Assim, alguns desses macacos do passado conti-
que sujeito a fatores evolutivos, pode ser alterado. O con- nuaram habitando as árvores das florestas remanescentes
junto gênico de uma população é o conjunto de todos os e originaram o orangotango, o gorila e o chimpanzé; ou-
genes presentes nessa população. Assim, quanto maior é a tros, que ocupavam a região que se modificou, para poder
variabilidade genética. sobreviver, abandonaram as árvores, aventuraram-se pelo
Os fatores evolutivos que atuam sobre o conjunto gê- chão e deram origem aos humanos. Isso não se deu num
nico da população podem ser reunidos duas categorias: passe de mágica, mas foram necessários milhões de anos
- Fatores que tendem a aumentar a variabilidade gené- em que, gradativamente, foram se acumulando modifica-
tica da população: mutação gênica, mutação cromossô- ções até se formar uma nova espécie: a humana.
mica, recombinação; A floresta primitiva apresentava grande variedade de
folhas e frutos comestíveis, alimento farto e variado aos
- Fatores que atuam sobre a variabilidade genética já
nossos antepassados que não precisavam deslocar-se a
estabelecida: seleção natural, migração e oscilação gené-
grandes distâncias para obtê-lo nem de horário certo para
tica. se alimentar. Viviam em bandos e saciavam a fome nos lu-
A integração desses fatores associada ao isolamento gares por onde passavam. Com as mudanças das condi-
geográfico pode levar, ao longo do tempo, ao desenvolvi- ções ambientais escassearam as florestas e apareceram as
mento de mecanismos de isolamento reprodutivo, quando, savanas, e já não havia mais a mesma fartura de alimento.
então, surgem novas espécies. As espécies, então, iniciaram uma grande competição pelo
alimento. Provavelmente alguns macacos se aventuraram
Origem e Evolução do Ser Humano fora do ambiente em que sempre tinham vivido, para pro-
curar outras fontes de subsistência. Para sobreviver, modi-
África, o berço da humanidade ficaram os hábitos alimentares, pois a vegetação escassa
forçava-os a procurar outros alimentos, levando-os prova-
É comum indagarmos sobre a nossa origem. Viemos velmente a especializar-se mais na caça de pequenos ani-
mesmo dos macacos? Antigamente a pergunta era ouvida mais para complementar a sua alimentação.
com desprezo e incredulidade, mas hoje é recebida com Todas as modificações que ocorreram em seu organis-
naturalidade. mo que os capacitaram a caçar com mais facilidade pro-
A origem do ser humano - esse mamífero tão especial vavelmente foram mantidas, pois, caçando mais, teriam
- deve ser analisada, pois o comportamento humano tem alimentação de melhor qualidade, e esse fator aumentaria
as chances de sobreviver, ter filhos e transmitir as novas
raízes num passado remoto, quando um ser meio macaco,
características às gerações futuras.
meio humano ocupava as florestas e depois as savanas da
Fisicamente, porém, havia um grande empecilho: não
África, onde devem ter surgido os primeiros ancestrais dos possuíam características de caçador. Não tinham presas
seres humanos. desenvolvidas nem garras nem esqueletos que lhes per-
Há milhões de anos, a África era coberta por densas mitissem locomover-se em pé, olhando por sobre o capim,
florestas e macacos movimentavam-se em bandos. Ter- com as mãos livres para empunhar paus, pedras e carregar
remotos, porém, modificaram a paisagem, fazendo surgir o que coletavam. A caça de animais maiores tornava-se di-
montanhas de até 3 mil metros de altitude ao longo do fícil... Algo deveria mudar. Teriam chances de sobreviver?
continente.

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BIOLOGIA

A evolução do ser humano desses grupos tivesse permanecido isolado por longo pe-
ríodo de tempo, tantas poderiam ter sido as modificações
O antropólogo Richard Leakey, em seu livro A origem causadas pelas mutações que talvez até impossibilitassem
da espécie humana, afirma que a primeira espécie de maca- o cruzamento ou a formação de um descendente caso es-
co bípede - o fundador da família humana - era fisicamente ses grupos se encontrassem. Neste caso ter-se-ia se for-
diferente dos macacos atuais e devia alimentar-se de talos, mado uma nova espécie. No entanto, isso não aconteceu.
sementes, raízes, brotos e insetos, da mesma forma que fa- Assim, ocorre naturalmente uma seleção imposta pelo
zem hoje os babuínos das regiões montanhosas da Etiópia. ambiente, sobrevivendo aquele que estiver mais adaptado
Talvez comesse animais que já encontrava mortos e, como a ele. A esse processo - o principal mecanismo da Teoria da
os chimpanzés, usasse gravetos para desenterrar raízes ou Evolução enunciada por Charles Darwin (1809-1882) - da-
espantar adversários. mos o nome de seleção natural.
Acredita-se que a partir desse animal, que viveu entre A hipótese mais aceita sobre a origem da espécie hu-
5 e 7 milhões de anos atrás, surgiu a família humana. Mas mana afirma que, por um mecanismo semelhante, um gru-
somente há 3 milhões de anos aproximadamente os homi- po primitivo de macacos se diversificou, originando o ser
nídeos (espécies humanas ancestrais) proliferaram e deram humano, o chimpanzé, o gorila e o orangotango.
origem a novos tipos: um deles a linhagem do Homo, que Recentemente, estudos bioquímicos revelaram que há
originou o homem moderno. 99,4% de semelhança entre o DNA humano e o do chim-
Entre esse ancestral e o ser humano atual - conhecido panzé. Também nos mostraram que o chimpanzé é muito
nos meios científicos como Homo sapiens sapiens - houve mais parecido com os humanos do que com o gorila. Após
uma série de outros tipos. esses estudos, o chimpanzé e o gorila passaram a fazer
Por meio dos fósseis sabemos que progressivas modi- parte da família humana.
ficações determinaram um aumento da estatura e também
do volume do cérebro. Este quase triplicou, passando de O que nos diferencia dos outros primatas:
500 para 1.400 centímetros cúbicos no homem atual. Como
tudo isso aconteceu? O homem, o gorila, o chimpanzé, o orangotango, os
O ser humano originou-se pela seleção natural, o mes- macacos do Novo e do Velho Mundo, o társio e o lêmure
mo processo evolutivo que deu origem a todos os seres formam o grupo dos mamíferos conhecido como primatas.
vivos. Diferem bastante entre si, mas, de todos, o homem é um
Nas células de todos os seres vivos há os cromossomos primata muito especial: herdou de seus ancestrais macacos
e, nestes, os genes. Os genes são estruturas responsáveis a visão binocular (que permite a visão tridimensional e a
por todas as características que identificam um ser. Defi-
percepção da profundidade) e a capacidade de agarrar e
nem-lhe desde a forma até as substâncias que compõem
manipular objetos com as mãos, com destreza e perfeição.
suas células, assim como o seu funcionamento.
Além de o corpo ter-se tornado ereto, houve ainda o au-
Os genes são formados por uma substância conheci-
mento relativo do volume do cérebro e da espessura do
da como DNA, que contém as informações genéticas ne-
córtex, onde se situam as circunvoluções, que no ser hu-
cessárias à vida em um sistema chamado código genético.
mano são mais desenvolvidas do que nos demais primatas.
Ocasionalmente, este código se modifica e, consequente-
Como consequência dessas modificações cerebrais sua ca-
mente, as substâncias que vão ser formadas nesse ser, o
pacidade mental tornou-se maior. Além dessas diferenças,
que alterará as características determinadas pelo gene. Es-
sas modificações geralmente casuais são as mutações, que uma das principais características humanas é a criação do
constituem a base ou a matéria-prima da evolução. Se esta mundo espiritual. Os chimpanzés não enterram seus mor-
modificação for favorável ao ser, aumentando-lhe a proba- tos nem têm simbologia para o além; não representam gra-
bilidade de sobrevivência no meio, a mutação será manti- ficamente as emoções, embora elas estejam presentes no
da. Essas mudanças ocorrem continuamente e, por serem semblante e nos gestos; não apresentam criatividade para
graduais, são assimiladas naturalmente pelas populações, a elaboração de símbolos que levem a imagens gráficas ou
passando despercebidas aos nossos olhos. musicais.
Desse modo, somos, entre outras coisas, o resultado O ser humano é o único animal capaz de impor sua
da herança genética codificada em nosso DNA, originada vontade ao meio ambiente. Só ele tem realmente a capaci-
não só do nosso grupo familiar e racial, mas também dos dade de entender a diferença entre o bem e o mal. Somen-
nossos antepassados que viveram há milhões de anos. En- te o homem ama de forma a englobar todas as criaturas.
tretanto, não podemos chegar ao extremo de acreditar que
o DNA seja o único responsável por tudo o que somos. O despertar da consciência
Agindo sobre o nosso material genético comum, a cultura
cria inúmeras e variadas tradições. A própria formação dos Será que os outros animais também têm consciência?
grupos étnicos é resultado das mutações. Grupos humanos Até bem pouco tempo essa indagação não teria sentido, e
dispersaram-se por várias regiões da Terra e ficaram mui- a resposta seria um sonoro “Não!”. Atualmente, como se
to tempo isolados geograficamente. Durante o período de descobriu que o chimpanzé reconhece sua imagem no es-
isolamento, sofreram pequenas modificações que se foram pelho, já não podemos mais responder negativamente a
somando e dando-Ihes características diferentes. Se um essa pergunta.

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BIOLOGIA

Pesquisadores colocaram uma mancha vermelha na Numérica, Ecologia Quantitativa, Ecologia Teórica, Macroe-
testa de um chimpanzé e fizeram-no olhar-se no espelho; cologia, Ecofisiologia, Agroecologia, Ecologia da Paisagem.
imediatamente, ele colocou a mão na testa: sabia que era Ainda pode-se dividir a Ecologia em Ecologia Vegetal e
a sua imagem. Outros tipos de macacos, porém, não pos- Animal e ainda em Ecologia Terrestre e Aquática.
suem a mesma capacidade, portanto devem existir vários O meio ambiente afeta os seres vivos não só pelo es-
níveis de consciência, entre os quais a humana seria a mais paço necessário à sua sobrevivência e reprodução, mas
diferenciada e, como diz o antropólogo Richard Leakey, “o também às suas funções vitais, incluindo o seu compor-
produto de uma criação muito especial”. tamento, através do metabolismo. Por essa razão, o meio
A partir de 1960, vários trabalhos têm demonstrado ambiente e a sua qualidade determinam o número de indi-
que determinados comportamentos considerados essen- víduos e de espécies que podem viver no mesmo habitat.
cialmente humanos - reconhecer-se diante do espelho, Por outro lado, os seres vivos também alteram permanen-
usar símbolos, fabricar artefatos e ferramentas - não são temente o meio ambiente em que vivem. O exemplo mais
exclusividade da espécie humana. Experiências realizadas dramático de alteração do meio ambiente por organismos
com chimpanzés já demonstraram que eles relacionam é a construção dos recifes de coral por minúsculosinverte-
com facilidade símbolos com objetos. Outros animais tam- brados, os pólipos coralinos.
bém são capazes de fazer essa associação. Os cães, por As relações entre os diversos seres vivos existentes
exemplo, ficam felizes ao ver seus donos pegar a coleira, num ecossistema também influencia na distribuição e
pois associam a coleira ao passeio na rua, assim como as- abundância deles próprios. Como exemplo, incluem-se a
sociam uma vasilha com o alimento. Havia, porém, uma competição pelo espaço, pelo alimento ou por parceiros
curiosidade entre os pesquisadores: queriam saber se os para a reprodução, a predação de organismos por outros,
chimpanzés usariam os símbolos para pensar abstratamen- asimbiose entre diferentes espécies que cooperam para a
te. Para isso, em um teste, ensinaram-lhes o que era comida sua mútua sobrevivência, o comensalismo, o parasitismo e
e o que era ferramenta. Posteriormente, mostraram outras outras.
comidas e outras ferramentas: os chimpanzés separaram A maior compreensão dos conceitos ecológicos e da
com facilidade as comidas das ferramentas, mostrando que verificação das alterações de vários ecossistemas pelo ho-
seu intelecto estava generalizando abstrações. mem levou ao conceito daEcologia Humana que estuda as
relações entre o homem e a biosfera, principalmente do
ponto de vista da manutenção da sua saúde, não só físi-
ca, mas também social. Com o passar do tempo surgiram
ECOLOGIA: BASES DO FUNCIONAMENTO DOS também os conceitos de conservação que se impuseram
SISTEMAS ECOLÓGICOS, FLUXO DE ENERGIA E na atuação dos governos, quer através das ações de regu-
CICLAGEM DOS MATERIAIS. CARACTERÍSTICAS lamentação do uso do ambiente natural e das suas espé-
DOS NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO: POPULAÇÃO E cies, quer através de várias organizações ambientalistasque
ECOSSISTEMAS. O AMBIENTE E AS promovem a disseminação do conhecimento sobre estas
ADAPTAÇÕES DOS ORGANISMOS. interações entre o homem e a biosfera.
CONDIÇÕES AMBIENTAIS E A SAÚDE. Há muitas aplicações práticas da ecologia, como a bio-
A BIOSFERA COMPROMETIDA logia da conservação, gestão de zonas úmidas, gestão de
- A EXTINÇÃO DAS ESPÉCIES. recursos naturais (agricultura,silvicultura e pesca), planeja-
mento da cidade e aplicações na economia.
A Ecologia tem uma complexa origem, em grande par-
te devido a sua natureza multidisciplinar. Os antigos filó-
A ecologia abrange desde áreas como processos glo- sofos da Grécia, incluindo Hipócrates e Aristóteles, foram
bais, estudos de habitats marinhos e terrestres (Meio) a in- os primeiros a registrar observações sobre história natural.
terações interespecíficas como predação e polinização. A No entanto, os filósofos da Grécia Antiga consideravam a
Ecologia é a ciência que estuda as interações entre os or- vida como um elemento estático, não existindo a noção
ganismos e seu ambiente, ou seja, é o estudo científico da de adaptação. Tópicos mais familiares do contexto moder-
distribuição e abundância dos seres vivos e das interações no, incluindo cadeias alimentares, regulação populacional
que determinam a sua distribuição. As interações podem e produtividade, não foram desenvolvidos antes de 1700.
ser entre seres vivos e/ou com o meio ambiente. A palavra Os primeiros trabalhos foram do microscopista Antoni van
Ecologia tem origem no grego “oikos”, que significa casa, Leeuwenhoek (1632–1723) e do botânico Richard Bra-
e “logos”, estudo. Logo, por extensão seria o estudo da ca- dley(1688-1732). O biogeógrafo Alexander von Humbolt
sa,ou, de forma mais genérica, do lugar onde se vive. (1769–1859) foi outro pioneiro do pensamento ecológico,
O cientista alemão Ernst Haeckel usou pela primeira um dos primeiros a reconhecer gradientes ecológicos e fa-
vez este termo em 1869 para designar o estudo das rela- zer alusão às relações entre espécies e área.
ções entre os seres vivos e o ambiente em que vivem. No início do século XX, a ecologia foi uma forma
A Ecologia pode ser dividida em Autoecologia, De- analítica de história natural. Seguindo a tradição de Aris-
moecologia e Sinecologia. Entretanto, diversos ramos tem tóteles, a natureza descritiva da história natural examina
surgido utilizando diversas áreas do conhecimento: Bio- a interação dos organismos com o seu meio ambiente e
logia da Conservação, Ecologia da Restauração, Ecologia suas comunidades. Historiadores naturais, incluindo James

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BIOLOGIA

Hutton e Jean-Baptiste Lamarck, contribuíram com obras De Aristóteles a Darwin o mundo natural foi predomi-
significativas que lançaram as bases das modernas ciências nantemente considerado estático e sem mudanças desde
ecológicas. O termo “ecologia” é de origem mais recente e criação original. Antes do livro The Origin of Species teve
foi escrito pelo biólogo alemão Ernst Haeckel no seu livro pouca valorização ou entendimento das dinâmicas relações
Generelle Morphologie der Organismen (1866). Haeckel foi entre os organismos e suas adaptações e modificações re-
um zoólogo, artista, escritor e professor de anatomia com- lacionadas ao meio ambiente.  Enquanto Charles Darwin é
parada. o mais conhecido por seus trabalhos em evolução, ele é
Por ecologia entendemos o corpo de conhecimentos também um dos fundadores de ecologia de solo. Em The
sobre a economia da natureza, da investigação das rela- Origin of Species Darwin faz nota a o primeiro experimento
ções totais dos animais com o ambiente inorgânico e orgâ- ecológico publicado em 1816. Na ciência que antecederam
nico; incluindo, sobretudo, suas relações amigáveis e hostis a Darwin a noção de evolução das espécies foi ganhando
com aqueles animais e plantas com as quais entram dire- apoio popular. Este paradigma científico mudou a maneira
tamente ou indiretamente em contato – em uma palavra, que os pesquisadores se aproximaram das ciências ecoló-
gicas.[24]
ecologia é o estudo de todas as complexas inter-relações
referidas por Darwin como as condições da luta pela exis-
Após o século 20
tência.
As opiniões divergem sobre quem foi o fundador da Alguns sugerem que o primeiro texto ecológico (Natu-
teoria ecológica moderna. Alguns marcam a definição de ral History of Selborne) for publicado em 1789, por Gilbert
Haeckel como o início, outros atribuem a Eugenius War- White (1720–1793). O primeiro livro ecológico da América
ming com a escrita de Oecology of Plants: An Introduc- foi publicado em 1905 por Frederic Clements. No livro, Cle-
tion to the Study of Plant Communities (1895). A ecologia ments passa a ideia que as comunidades de plantas são
pode também ter começado com Carl Linnaeus, principal como superorganismos. Essa publicação lança o debate
pesquisador da economia da natureza no início do século entre o holismo ecológico e individualismo que durou até
XVIII. Ele fundou um ramo de estudo ecológico que cha- a década de 1970. O conceito de Clements para superor-
mou de economia da natureza. Os trabalhos de Linnaeus ganismo propõem quem os ecossistemas progridem por
influenciaram Darwin no The Origin of Species onde adota um regulado e determinado estágio de desenvolvimento,
a frase de Linnaues economia ou política da natureza. Lin- análogo ao estágios de desenvolvimento de um organis-
naeus foi o primeiro a enquadrar o equilíbrio da natureza, mo, cujas partes função para manter a integridade do todo.
como uma hipótese testável. Haeckel, que admirava o tra- O paradigma de Clements foi desafiado por  Henry Glea-
balho de Darwin, definiu ecologia com base na economia son. De acordo com Gleason, comunidades ecológicas se
desenvolvem a partir da associação única de organismos
da natureza, o que levou alguns a questionar se a ecologia
individuais. Essa mudança de percepção colocado o foco
é sinônimo dos conceitos de Linnaues para a economia da
para as histórias de vida de organismos individuais e como
natureza. isso se relaciona com o desenvolvimento de comunidades.
A síntese moderna da ecologia é uma ciência jovem, A teoria de superorganismo de Clements não foi com-
que substancial atenção formal no final do século 19 e pletamente rejeitada, mas alguns sugerem que ela foi uma
tornando se ainda mais popular durante os movimento aplicação além do limite do holismo. Holismo continua a
ambientais da década de 1960, embora muitas observa- ser uma parte crítica da fundamentação teórica contem-
ções, interpretações e descobertas relacionadas a ecologia porânea em estudos ecológicos. Holismo foi primeiro in-
estendem-se desde o início dos estudos da história natu- troduzido em 1926 por uma polarizada figura histórica,
ral. Por exemplo, o conceito de balanço ou regulação da um general da África do Sul chamado Jan Christian Smuts.
natureza pode ser rastreado até Heródoto (morto em 425 Smuts foi inspirado pela teoria de superorganismo de Cle-
ac.), que descreveu mutualismo no Rio Nilo, quando cro- ment’s e desenvolveu e publicou o conceito de holismo,
codilos abrem a boca permitindo escolopacídeos remover que contrasta com a visão politica do seu pai sobre o Apar-
sanguessugas. theid. Quase ao mesmo tempo, Charles Elton pioneiro no
Contribuições mais ampla para o desenvolvimento his- conceito de cadeiras alimentares no livro “Animal Ecolo-
tórico das ciências ecológicas, Aristóteles é considerado um gy”. Elton definiu relações ecológicas usando conceitos de
dos primeiros naturalistas que teve um papel influente no cadeiras alimentares, ciclos de alimentos, o tamanho de
desenvolvimento filosófico das ciências ecológicas. Um dos alimentos, e descreveu as relações numéricas entre os dife-
rentes grupos funcionais e suas relativas abundâncias. ‘ci-
alunos de Aristóteles, Teofrasto, fez observações ecológicas
clos alimentares’ foram substituídos por ‘teias tróficas `em
sobre plantas e postulava uma postura filosófica sobre as
posteriores textos ecológicos um texto posterior ecológica.
relações autônomas entre as plantas e seu ambiente, que Ecologia desenvolveu-se em muitas nações, incluindo
está mais na linha com o pensamento ecológico moderno. na Rússia com Vladimir Vernadsky que fundou o conceito
Tanto Aristóteles e Teofrasto fizeram observações detalha- de biosfera na década de 1920 ou Japão com Kinji Ima-
das sobre as migrações de plantas e animais, biogeografia, nishi e seu conceito de harmonia na natureza e segregação
fisiologia e seus hábitos no que poderia ser considerado de habitat na década de 1950. O reconhecimento científi-
um análogo do nicho ecológico moderno. Hipócrates, ou- co ou a importância das contribuições para a ecologia de
tro filósofo grego, também é creditado com referência a outras culturas é dificultada por barreiras linguísticas e de
temas ecológicos em seus primeiros desenvolvimentos. tradução.

86
BIOLOGIA

Níveis de organização, âmbito e escala da organi- Biodiversidade


zação
Biodiversidade é um atributo de um local ou área que
Regeneração do ecossistema depois de perturbação consiste na variedade dentro e entre comunidades bióticas,
como fogo, formando estrutura de mosaicos de diferentes influenciadas ou não por seres humanos, em qualquer es-
idades na paisagem. Na figura estão diferentes estágios de cala espacial de microhabitats a manchas de habitats, para
ecossistemas florestais, iniciando de colonização pioneira toda a biosfera.
em um local perturbado e maturando nos estágios succes- Biodiversidade é simplesmente a forma resumida para
sionais levando para uma floresta madura. a diversidade biológica. Biodiversidade descreve todas as
Como ecologia lida sempre com ecossistemas em mu- variantes da vida de genes a ecossistemas, e é uma área
dança, por isso, tempo e espaço devem ser levados em complexa que abrange todos os níveis biológicos de orga-
conta quando são descritos fenômenos ecológicos. No que nização. Há muitas índices, maneiras para medir e repre-
diz respeito ao tempo, pode levar milhares de anos para sentar a biodiversidade. Biodiversidade inclui diversidade
um processo ecológico amadurecer. O tempo de vida de
de espécies, diversidade de ecossistemas, diversidade ge-
uma arvore, por exemplo, pode passar através de diferen-
nética e os complexos processos que operam em e entre
tes estágios sucessionais até atingir a maturidade de uma
esses diversos níveis. Biodiversidade executa um importan-
floresta. O processo ecológico ainda é estendido mais ao
longo do tempo até a arvore cair e decompor. Ecossistemas te papel na saúde ecológica, quanto na saúde dos huma-
são também classificados em diferentes escalas espaciais. nos. Prevenindo ou priorizando a extinção das espécies é
A área de um ecossistema pode variar muito, de muito pe- uma maneira de preservar a biodiversidade, nas popula-
queno a muito vasto. Por exemplo, várias gerações de um ções, a diversidade genética entre elas e os processos eco-
pulgão e seus predadores podem existir sobre uma única lógicos, como migração, que estão sendo ameaçados em
folha, e dentro de cada um destes pulgões podem existir escala global e desaparecendo rapidamente. Prioridades
diversas comunidades de bactérias. A escalada do estudo de conservação e técnicas de gestão requerem diferen-
deve ser muito ampla para estudar árvores de uma floresta, tes abordagens e considerações para abordar toda gama
onde vivem pulgões e bactérias.  Para entender o cresci- ecológica da biodiversidade. População e migração de es-
mento das arvores, por exemplo, o tipo de solo, umidade, pécies, por exemplo, são os mais sensíveis indicadores de
inclinação do terreno, abertura do dossel e outras variáveis serviços ecológicos que sustentam e contribuem para o ca-
locais devem ser examinadas. Para entender a ecologia de pital natural e para o “bem estar” do ecossistema. O enten-
uma floresta, complexos fatores locais, como clima tam- dimento da biodiversidade tem uma aplicação pratica para
bém devem ser levados em conta. o planejamento da conservação dos ecossistemas, para to-
Estudos ecológicos de longo prazo promovem impor- mar decisões ecologicamente responsáveis nas gestão de
tantes registros para entender melhor os ecossistemas no empresas de consultoria, governos e empresas.
espaço e no tempo. O International Long Term Ecological
Network gerencia e faz intercambio de informação entre Nicho Ecológico
locais de pesquisas. O mais longo experimentos existente é
o Park Grass Experiment que inicio em 1856. Outro exem- O nicho ecológico é um conceito central na ecologia
plo inclui o Hubbard Brook Experimental Forest em opera- de organismos. São muitos as definições do nicho ecoló-
ção desde 1960. Em ecologia também é complicado o fato gico desde 1917, mas George Evelyn Hutchinson fez um
de que os padrões de pequena escala não necessariamente avanço conceitual em 1957 e intruduziu a definição mais
explicam os fenômenos de grande escala.  Estes fenôme- amplamente aceita: “O nicho é o grupo de condições bio-
nos operam em diferentes escalas no ambiente, que vão
ticas e abióticas condições na qual uma espécie é capaz
desde a escala molecular a escala planetaria, e requerem
de persistir e manter estável o tamanho da população.  O
diferentes conjuntos de explicação. 
nicho ecológico é dividido em nicho fundamental e nicho
Para estruturar o estudo da ecologia em um quadro
de entendimento o mundo biológico é concetualmente or- efetivo. O nicho fundamental é o grupo de condições am-
ganizado em uma estrutura hierárquica, variando de uma bientais sobre qual uma espécie é apta a persistir. O nicho
escala de genes, para células, tecidos, órgãos, organismos, efetivo é o grupo de condições ambientais ótimas sobre a
espécies, até o nível de biosfera. Ecossistemas são primei- qual uma espécie é apta a persistir.  Organismos tem traços
ramente pesquisados em seus principais níveis de organi- fundamentais que são excepcionalmentes adaptados ao
zação, incluindo: nicho ecológico. Um traço é uma propriedade mensurável
(1) organismos, do organismo que fortemente influencia sua performace.
(2) populações e Padrões biogeográficos e escalas de distribuição são expli-
(3) comunidades. cados e previstos através do conhecimento e compreen-
são das exigências do nicho da espécie.  Por exemplo, a
Ecólogos estudam ecossistemas por amostragem de adaptação natural de cada espécie no sue nicho ecológico
certo número de indivíduos que representam uma popula- significa que ela é apta para excluir competitivamente ou-
ção. Os ecossistemas consistem nas comunidades que en- tras espécies similarmente adaptada que tem uma escala
tre elas e com o meio ambiente. E em ecologia, comunida- geográfica de sobreposição. Isso é chamado de principio
des são criadas por interação de populações de diferentes de exclusão competitiva Importante do conceito do nicho
espécies de uma área. é o habitat. O habitat é o ambiente sobre a qual uma espé-

87
BIOLOGIA

cies sabemos que ocorre e o tipo de comunidade que é formada como resultado. Por exemplo, habitat pode se referia a um
ambiente aquático ou terrestre que pode ser categorizado como ecossistemas de montanha ou Alpes.
Biodiversidade de um recife de corais. Corais adaptam e modificam seu ambiente pela formação de esqueleto de
carbonato de cálcio que fornecem condições de crescimento para futuras gerações e formam habitat para muitas outras
espécies.
Organismos são sujeitos a pressões ambientais, mas eles também podem modificar seus habitats. O feedback positivo
entre organismos e seu ambiente pode modificar as condições em uma escala local ou global (Ver Hipótese Gaia) e muitas
vezes até mesmo após a morte do organismo, como por exemplo deposição de esqueletos de sílica ou calcário por orga-
nismos marinhos. Este processo de engenharia de ecossistemas também pode ser chamado de construção de nicho. Enge-
nheiro de ecossistemas são definidos como:”...organismos que diretamente ou indiretamente modulam a disponibilidade
de recursos para outras espécies, causando mudanças nos estados físicos nos matérias bióticos ou abióticos. Assim eles
modificam, mantem e criam habitats.
O conceito de engenharia ecológica foi estimulado por uma nova apreciação do grau de influencia que os organismos
tem no ecossistemas e no processo evolutivo. O conceito de construção de nicho destaca um prévio subvalorizado meca-
nismo de feedback na seleção natural transmitindo forças no nicho abiótico.  Um exemplo de seleção natural através de
engenharia de ecossistemas ocorre em nichos de insetos sociais, incluindo formigas, abelhas, vespas e cupins. Lá é uma
emergência de homeostase na estrutura do nicho que regula, mantém e defende a fisiologia no interior da colônia. Montes
de cupins, por exemplo, mantém uma temperatura interna constante através de chaminés de ar condicionado. A estrutura
dos nichos é sujeita as forças da seleção natural. Além disso, o nicho pode sobreviver a sucessivas gerações, o que significa
que os organismos herdam o material genético e um nicho, que foi construído antes do seu tempo. 

Ecologia de populações
A população é a unidade de analise da ecologia de populações. Uma população consiste nos indivíduos de uma es-
pécies que vivem, interagem e migram através do mesmo nicho e habitat . Uma primarias lei da ecologia de populações é
a Teoria Populacional Malthusiana. Este modelo prevê que: “...uma população pode crescer (ou declinar) exponencialmente
enquanto o ambiente experimentado por todos os indivíduos da população se mantém constante...”
Esta premissa Malthusiana fornece a base para a formulação de teorias preditivas e testes que se seguem. Modelagens
simples de populações usualmente começam com quatro variáveis incluído nascimento, morte, imigração e emigração.
Modelos matemáticos são usados para calcular a mudança demográfica na população usando modelos nulos. Um modelo
nulo é usado como uma hipótese nula para os testes estatísticos. A hipótese nula parte da pressuposto que processos
aleatórios criam os padrões observados. Alternativamente o padrão observado difere significantemente do modelo alea-
tório e exige mais explicação. Modelos podem ser matematicamente complexos quando “...varias hipóteses competitivas
são simultaneamente confrontadas com os dados.” Um exemplo de um modelo introdutório de população descreve uma
população fechada, como em uma ilha, onde a imigração e emigração não ocorre. Nestes modelos de ilha as taxas per
capita de variação são descritos como:

onde N é o número total de indivíduos na população, B é o número de nascimentos, D é o número de mortos, b e d são


as taxas per capita de nascimento e morte respectivamente, e r é a taxa per capita de mudança populacional. Esta formula
pode ser lida como a taxa de mudança na população (dN/dT) é igual aos nascimentos menos as mortes (B - D).
Usando estas técnicas de modelagem, os modelo de crescimento populacional de Malthus`s foi mais tarde transforma-
do em um modelo conhecido como a equação logística:

onde N é o número de indivíduos medidos como densidade de biomassa, a é a taxa per capita máxima de mudança,
e K é a capacidade de suporte da população. A formula pode ser lida assim, a taxa de mudança na população (dN/dT) é
igual ao crescimento (aN) que é limitado pela capacidade de suporte (1-N/K). A disciplina de ecologia de populações ba-
seia-se estes modelos introdutórios para entender os processos demográficos em populações real e conduz testes de hipó-
teses estatísticos. O campo da ecologia populacional, muitas vezes utiliza os dados sobre história de vida e álgebra matricial
para desenvolver matrizes de projeção em fecundidade e sobrevivência. Esta informação é usada para o gerenciamento de
estoques da vida selvagem e fixação de quotas de colheita.
Uma lista de termos que define vários tipos de agrupamentos naturais de indivíduos que são usados no estudo das populações.
Termos Definições
Populações de es-
Todos os indivíduos de uma espécie.
pécies

88
BIOLOGIA

Metapopulação Um conjunto de populações desjuntas, entre as quais ocorre migração.


Um grupo de coespecíficos indivíduos que são demograficamente, geneticamente, ou espacialmente
População
separadas de outros grupos de indivíduos.
Agregação Um agrupamento espacial de grupos de indivíduos.
Um grupo de indivíduos que são mais geneticamente similares do que outros indivíduos, usualmente
Deme
com algum grau de isolamento espacial também.
Um grupo de indivíduos dentro de uma pequena área delimitada, menos que a distribuição geográfica
População local
da espécie, muitas vezes dentro de uma população. A população local pode ser uma população desjunta.
Subpopulação Um subconjunto de indivíduos de uma população arbitrariamente delimitado espacialmente.

As populações são também estudadas através do conceito de metapopulações.

Ecologia de Metapopulações

O conceito de metapopulação foi introduzido em 1969 :”como uma população de populações qual vai se extinguindo
e recolonizadas localmente.” Ecologia de metapopulações é uma abordagem estatística que é frequentemente usada na
biologia da conservação.  A pesquisa com metapopulações simplifica a paisagem em manchas com diferentes níveis de
qualidade. Como o modelo de seleçãor/K, o modelo de metapopulações pode ser usado para explicar a evolução da histo-
ria de vida, como a estabilidade ecológica da metamorfose dos ambifios, que deslocam nos estágios de vida de manchas
aquáticas para manchas terrestres. Na terminologia de metapopulação existem emigrantes (indivíduos que deixam um
fragmento), imigrantes (indivíduos que se movem nos fragmentos) e os sítio (site) são classificados ou como fontes ou su-
midouros. Um sítio (site) é um termo genérico que se refere a lugares onde as amostras das populações, tais como lagoas
ou definidas áreas de amostragem em uma floresta.
Sítios fontes são locais produtivos que geram uma oferta sazonal de organismos jovens que migram para outros
fragmentos. Sítios sumidouros são locais improdutivos que só recebem os migrantes e estes vão se extinguir a menos
que resgatados por um sítios fonte adjacentes ou as condições ambientais tornam-se mais favoráveis. Modelos de meta-
população examinar a dinâmica dos fragmentos ao longo do tempo para responder perguntas sobre ecologia espacial e
demográfica. A ecologia de metapopulações é um processo dinâmico de extinção e colonização. Pequenos fragmentos de
menor qualidade são mantidos ou resgatados por um fluxo sazonal de novos imigrantes. Uma estrutura de metapopulação
dinâmica evolui de ano para ano, onde alguns fragmentos são sumidouros em anos secos e se tornam fontes de quando
as condições são mais favoráveis. Ecologistas utilizam uma mistura de modelos de computador e estudos de campo para
explicar a estrutura das metapopulações.

Ecologia de comunidades

Ecologia de comunidade examina como as interações entre espécies e seu ambiente que afeta a abundância, distribui-
ção e diversidade de espécies dentro das comunidades.

Ecologia de comunidades é uma subdisciplina da ecologia que estuda a distribuição, abundância, demografia e in-
terações entre populações coexistentes. Um exemplo do um estudo na ecologia de comunidades medida da produção
primaria em uma área alagada em relação as taxas de decomposição em consumo. Isto requer o entendimento da conexão
da comunidade entre plantas (produtores primários) e os decompositores (fungos e bactérias). ou a analise da dinâmica
predador presa afetando a biomassa de anfíbios. Teias alimentares e níveis tróficos são duis modelos conceituais bastante
utilizados para explicar a ligações entre espécies.

Teias alimentares

Teias alimentares são um tipo de mapa conceitual que ilustra os caminhos ecológicos reais, usualmente começando
com a energia solar sendo usado pelas plantas durante a fotossíntese. As plantas crescem acumulando carboidratos que
são consumidos pelos herbívoros. Existem diferentes dimensões ecológicas que podem ser mapeados para criar teias
alimentares mais complicadas, incluindo: composição de espécies (Tipo de espécies), riqueza de espécies (numero de
espécies), biomassa (o peso seco de plantas e animais), produtividade (taxa de conversão de energia e nutrientes em cres-
cimento) e estabilidade (teias alimentares ao longo do tempo). Um diagrama ilustrando a composição da teia alimentar
mostra como uma mudança em uma única espécies pode diretamente ou indiretamente influenciar muitas outras espécies.
Estudos de microcosmos são usados para simplificar as pesquisas com teias alimentares em unidades semi isoladas
como pequenas molas, logs decadentes, e experimentos de laboratório usando organismos que se reproduzem rapida-
mente, como as Daphnia alimentando-se de algas em ambientes controlados. Princípios adquiridos em teias alimentares

89
BIOLOGIA

de modelos experientais de microcosmos são usados para extrapolar pequenas cinceitos dinâmicos em grandes siste-
mas. Food-chain length is another way of describing food webs as a measure of the number of species encountered as
energy or nutrients move from the plants to top predators.
Existem diferentes formas de cálculo de comprimento cadeia alimentar, dependendo do que os parâmetros da dinâmi-
ca da cadeia alimentar estão sendo considerados: conectância, energia ou interação. Em um simples exemplo de predador
presa, um cervo é um passo removido em come plantas (comprimento de cadeia = 1) e um lobo que come o cervo é dois
passos removido (comprimento de cadeia = 2). A quantidade relativa ou a força de influência que estes parâmetros são as
questões acessadas da cadeia alimentar sobre:
a identidade ou existência de poucas espécies dominantes (chamados interatores forte ou espécies-chave)
o número total de espécies e comprimento da cadeia alimentar (incluindo muitas interações fracas) e
como a estrutura da comunidade, função e estabilidade é determinada.

Dinâmica trófica

Links na teia alimentar primeiramente conectam relações alimentares entre espécies. Biodiversidade dentro do ecos-
sistema pode se organizar em dimensões verticais e horizontais. A dimensão vertical representa as relações alimentares da
base da cadeia alimentar até os predadores de topo. A dimensão horizontal representa a abundancia relativa ou biomassa
de casa nível Quando a abundancia relativa ou biomassa de cada grupo alimentar é empilhada em seus respectivos grupos
tróficos eles naturalmente formam uma espécie de ‘piramide de números’. Grupos funcionais são amplamente categori-
zados como autotróficos (ou produtores primários), heterotrificos (ou consumidores), e dretritivoros (ou decompositores).
Heterotrofagos podem ser subdivididos em diferentes grupos funcionais, incluindo: consumidores primários (herbívoros),
consumidores secundários (predadores que consomem exclusivamente herbívoros) e consumidores terciários (predadores
que consimem tanto herbívoros quanto outros predadores). Onívoros não se encaixam perfeitamente nessas categorias
funcionais porque consomem tanto tecidos vegetais e tecidos animais. Tem sido sugerido, entretanto, que os onívoros
têm uma maior influência funcional como predadores, porque em relação aos herbívoros são relativamente ineficientes na
pastagem.
Ecólogos coletam dados em níveis tróficos e teias alimentares para modelar estatisticamente e calcular parâmetros
matemáticos, tais como aqueles usados em outros tipos de análise de rede, para estudar os padrões emergentes e pro-
priedades compartilhadas entre os ecossistemas. O arranjo piramidal emergente de níveis tróficos com quantidades de
transferência de energia diminuindo à medida que as espécies se tornam mais distantes da fonte de produção é um dos
vários padrões que repetem entre os ecossistemas. O tamanho de cada nível trófico na pirâmide geralmente representa a
biomassa, que pode ser medida como o peso seco dos organismos. Autótrofos podem ter a maior proporção mundial de
biomassa, mas eles são rivalizados de perto ou mesmo superados pelos microrganismos.
A decomposição da matéria orgânica morta, como folhas caindo no chão da floresta, se transforma em solo que a ali-
menta a produção de plantas. A soma total dos ecossistemas do planeta terra é chamado de pedosfera, onde é encontrada
uma proporção muito grande da biodiversidade. Invertebrados que se alimentam e rasgam folhas maiores, por exemplo,
criar pequenos pedaços que alimentam organismos menores na cadeia de alimentação. Coletivamente, estes são os detrití-
voros que regulam a formação do solo. As raízes das árvores, fungos, bactérias, minhocas, formigas, besouros, centopéias,
mamíferos, aves, répteis e anfíbios todo o contribuem para criar a cadeia trófica da vida nos ecossistemas do solo. Como
organismos se alimentam e deslocam fisicamente materiais para solos, este processo ecológico importante é chamado bio-
turbação. Biomassa de microrganismos do solo são influenciadas por feedback (retroalimentantação) na dinâmica trófica da
superfície solar exposta. Estudos paleecológicos de solos colocam a origem da bioturbação a um tempo antes do período
Cambriano. Outros eventos, como a evolução das árvores e anfíbios no período devoniano teve um papel significativo no
desenvolvimento dos solos e trofismo ecológico.

Lista dos grupos funcionais ecológicos, definição e exemplos


Grupos funcionais Definição e exemplos
Normalmente plantas ou cianobactérias que são capazes de realizar fotossíntese, mas
Autotróficos ou Produtores pode ser outros organismos como bactérias que vivem perto dos chaminés oceânicos que
são capaz de realizar Quimiossíntese.
Heterotróficos ou Consu- Animais, os quais pode ser consumidos primários (Herbívoros), ou consumidores secun-
midores dários e terciários (Carnívoros e Onívoros).
Bactérias, fungos e insetos que degradam matéria orgânica de todos tipo e restauram os
Detritivos ou Decomposi-
nutrientes do ambiente. Os produtores consumirão os nutrientes, completando o ciclo
tores
biogeoquímico.

90
BIOLOGIA

Grupos tróficos funcionais separam hierarquicamen- exemplo, são muitas vezes arbitrariamente definidas, mas
te em uma piramide trófica porque requerem adaptações os processos de vida interagem com os diferentes níveis
especializadas para realizar fotossíntese ou predação, mas e organizam em conjuntos mais complexos. Biomas, por
raramente são eles tem uma combinação de ambas habili- exemplo, são uma grande unidade de organização que
dades funcionais. Isso explica por que adaptações funcio- categorizam regiões de ecossistemas da Terra, de acordo
nais em trofismo organizam diferentes espécies emergente com a fisionomia e composição da vegetação.  Diferentes
em um grupo funcional.  Níveis tróficos são parte de um pesquisas tem aplicados diferentes métodos para definir
holístico ou comprexo sistema visto no ecossistema. Cada limites continentais de domínios de biomas, por diferen-
nível trófico contém espécies independentes que se agru- tes tipos de função da comunidade de vegetação, que
pam, porque compartilham funções ecológicas comuns. são limitada na distribuição do clima, precipitação e ou-
Agrupamento de espécies funcionalmente similar em um tras variáveis ambientais. Exemplos de nomes de biomas
sistema trófico dá uma imagem macroscópica do amplo incluem: florestas tropicais, florestas temperadas decíduas,
design funcional. taiga, tundra, desertos quentes e desertos polares.  Outras
Links em uma teia alimentar ilustram diretas relações pesquisas tem recentemente iniciado a categorizar outros
tróficas entre espécies, mas podem também efeitos indire- tipos de biomas, como microbioma humano e oceânico.
tos que podem alterar a abundancia, distribuição ou bio- Para os microrganismos o corpo humano é o habitat e uma
massa do nível trófico. Por exemplo, predadores comendo paisagem. O microbioma tem sido descoberto através de
herbívoros indiretamente influenciam a controle e regula- avanços na genética molecular, revelando uma desconheci-
ção da produção primaria nas plantas. Embora predadores da riquesa de microorganismos no planeta. O microbioma
não comem plantas diretamente, eles regulam a população oceânico desempenha um significante papel na ecologia
de herbívoros que diretamente são ligados diretamente as
biogeoquímica dos oceanos. 
plantas. A rede de relações de efeitos diretos e indiretos é
A maior escala de organização ecológica é a biosfera.
clamada de cascata trófica. Cascata trófica são separadas
A biosfera é a soma total dos ecossistemas do planeta. Re-
em cascatas a nível de espécie, onde apenas um subcon-
junto da dinâmica da teia alimentar é impactado por uma lações ecológicas regulam o fluxo de energia, nutrientes e
mudança no numero da população, e cascadas ao nível de clima, todos subindo até a escala planetária. Por exemplo, a
comunidade, onde uma mudança no numero da popula- historia dinâmica da composição de CO2 e O2 na atmosfera
ção pode ter um efeito dramático na teia alimentar inteira, foi em grande parte por fluxos de gases biogênicos prove-
como a distribuição de biomassa de plantas. nientes da respiração e fotossíntese, com níveis flutuando
no tempo em relação a ecologia e evolução dos animais
Espécies Chaves e plantas. Quando partes de subcomponetes são organi-
zadas em um todo, muitas vezes propriedades emergen-
Uma espécie chave é uma espécie que ocupa um pa- tes descrevem a natureza do sistema. Teorias ecológicas
pel particularmente forte ou central em uma teia alimen- tem sido usadas para explicar os fenômenos emergentes
tar. Uma espécie chave ocupa um papel desproporcional de auto regulação na escala planetária. Isso é conhecido
em manter processos ecológicos. A perda de uma espécie Como Hipótese Gaia. The Gaia hypothesis is an example of
chave resulta na extinção de outras espécies e um efeito holism applied in ecological theory. A ecologia do planeta
cascata alterando o dinâmica trófica e conexões na teia ali- age como uma única unidade regulatória e holística cha-
mentar. Espécies chaves, como os engenheiros de ecossis- mada de hipótese Gaia. A hipótese Gaia afirma que exis-
temas, tem um papel estruturador, apesar de ter níveis rela- te um feedback emergente gerado pelo metabolismo dos
tivamente baixos de representação da biomassa na pirâmi- organismos vivos que mantem a temperatura da Terra e
de trófica. Lontras do mar (Enhydra lutris) são um exemplo condições da atmosfera dentro de uma estreita escala de
clássico de espécies chave porque limitam o densidade de tolerância auto regulável.
ouriços que se alimentam de algas. Se as lontras são remo- Ecologia e Evolução
vidas do sistema, os ouriços pastam até que as algas mari-
nha desaparecer e isso tem um efeito dramático na estru- Ecologia e evolução são consideradas disciplinas irmãs,
tura da comunidade. A caça de lontras do mar, por exem- sendo ramos da ciência da vida. 
plo, é considerado em ter indiretamente levado a extinção Seleção Natural, Historia de vida, desenvolvimen-
do dugongo-de-steller(Hydrodamalis gigas). Enquanto o
tos, adaptação, populações, e herança estão presentes em
conceito de espécies chaves tem sido muito usado como
teorias evolutivas e ecológicas.
uma ferramenta de conservação biológica, ele foi criticado
Morfologia, comportamento e/ou traços genéticos,
por estar mal definido. Diferentes ecossistemas expressam
diferentes complexidades e por isso é claro como aplicável por exemplo, podem ser mapeados em árvores evoluti-
que o modelo de espécies chave pode ser aplicado. vas para estudar a desenvolvimento histórico da espécie e
também organizar a informação em relação a adaptações
Bioma e Biosfera ecológicas. Em outras palavras, adaptação é explicada em
relação a origem histórica de traços e condições ecológicas
Unidades ecológicas de organização são definidas e que esta sujeita a forças da seleção natural. Nesse qua-
através de referencia de algumas magnitudes de espaço dro, ferramentas analíticas de ecólogos e evolucionistas se
e tempo no planeta. Comunidades de organismos, por sobrepõem para organizar, classificar e investigar a vida
atraces de princípios sistemáticos comuns, como filogené-

91
BIOLOGIA

ticos ou taxonômicos de Lineu As duas disciplinas frequen- Sistemas


tenmente aparecem juntas como no titulo do jornal Trends
in Ecology and Evolution. Não há uma fronteira nítida que Os sistemas são formados pela união de vários órgãos,
separa a ecologia da evolução e que diferem suas áreas que se trabalham em conjunto para exercer uma determi-
de aplicação. Ambas as disciplinas descobrem e explicam nada função corporal, por exemplo, o sistema digestório,
emergentes e únicos processos que operam em diferen- que é formado por vários órgãos, como boca, estômago,
tes escalas espaciais e temporais da organização. Embora a intestino, glândulas, etc.
fronteira entre a ecologia e evolução nem sempre é clara, Organismo
é óbvio que os ecólogos estudam os fatores abióticos e
bióticos que influenciam o processo evolutivo. A união de todos os sistemas forma o organismo, que
pode ser uma pessoa, uma planta, um peixe, um cachorro,
um pássaro, um verme, etc.

CARACTERÍSTICAS DOS NÍVEIS DE População


ORGANIZAÇÃO: POPULAÇÃO E ECOSSISTEMAS.
O AMBIENTE E AS ADAPTAÇÕES DOS Dificilmente um organismo vive isolado, ele interage
com outros organismos da mesma espécie e de outras es-
ORGANISMOS. CONDIÇÕES AMBIENTAIS E pécies, e também com o meio ambiente. O conjunto de
A SAÚDE. A BIOSFERA COMPROMETIDA - A organismos da uma mesma espécie, interagindo entre si e
EXTINÇÃO DAS ESPÉCIES. que habitam uma determinada região, em uma determina-
da época, chama-se população.

Existem vários níveis hierárquicos de organização entre Comunidade


os seres vivos, começando pelos átomos e terminando na
biosfera. Cada um desses níveis é motivo de estudo para O conjunto de indivíduos de diferentes espécies inte-
ragindo entre si numa determinada região geográfica, ou
os biólogos.
seja, conjunto de diferentes populações vivendo juntas e
interagindo é chamado de comunidade. O “Cerradinho”,
Átomos e moléculas
uma reserva ecológica dentro da Universidade Federal de
Os átomos forma toda a matéria que existe. Eles se
Mato Grosso do Sul, é uma comunidade que abriga dife-
unem por meio de ligações químicas para formar as mo-
rentes populações de plantas e animais nativos da região.
léculas, desde moléculas simples como a água (H2O), até
Ecossistema:
moléculas complexas como proteínas, que possuem de
centenas a milhares de átomos. Como já vimos, a matéria O ecossistema é o conjunto dos seres vivos da comu-
viva é formada principalmente pela união dos átomos (C) nidade, com os fatores não vivos, como temperatura, lumi-
Carbono, (H) Hidrogênio, (O) Oxigênio e (N) Nitrogênio. nosidade, umidade e componentes químicos. Esses fatores
não vivos são chamados de fatores abióticos. Os seres vivos
Organelas e Células são chamados de fatores bióticos. A interação entre os se-
As organelas são estruturas presentes no interior das res bióticos e os abióticos recebe o nome de ecossistema.
células, que desempenham funções específicas. São forma- Por exemplo, uma população de jacarés que está tomando
das a partir da união de várias moléculas. A célula é a uni- sol em cima de uma pedra, nas margens de um rio.
dade básica da vida, sendo imprescindível para a existência
dela. Existem vários tipos de células, cada uma com sua Biosfera:
função específica.
A biosfera é o conjunto de todos os ecossistemas do
Tecidos planeta Terra. A biosfera é a mais alta de todas as hierar-
Os tecidos são formados pela união de células espe- quias. Adaptado de: Fabiana Santos Gonçalves
cializadas. Os tecidos estão presentes apenas em alguns
organismos multicelulares como as plantas e animais. Um Cadeia alimentar.
exemplo de tecido é o muscular tem a função de produzir
os movimentos musculares, o tecido ósseo, formado pelas A energia do Sol, captada pelos seres clorofilados – de-
células ósseas tem a função de sustentar o organismo. nominados produtores – é a fonte de alimentação desses.
Produtores são fonte de alimento para os consumido-
Órgãos res primários – organismos herbívoros e que, por sua vez,
são alimentos (e fonte de energia) para outros consumido-
Os tecidos se organizam e se unem, formando os ór- res. Esses organismos serão consumidos pelos seres detri-
gãos. Eles são formados de vários tipos de tecidos, por tívoros e/ou decompositores – como urubus e bactérias,
exemplo. O coração é formado por tecido muscular, san- respectivamente. E, desta forma, um organismo é fonte de
guíneo e tecido nervoso. Os ossos são formados por tecido matéria e energia a outro organismo, ao servir de alimento
ósseo, sanguíneo e nervoso. a ele.

92
BIOLOGIA

Cadeia Alimentar é o percurso de matéria e energia em Entre os tipos de interação está a competição, que
vários níveis tróficos, ou seja: a cada grupo de organismos pode resultar na eliminação de uma espécie (caso das an-
com necessidades alimentares semelhantes quanto à fonte giospermas do gênero Lemna) ou sua conformidade a um
principal de alimento: quadro não competitivo (cracas e icterídeos). As plantas-
Produtores: são todos os seres autotróficos clorofila- competem ás vezes uma com a outra produzindo substân-
dos, presentes em todas as cadeias alimentares. Eles que cias tóxicas que limitam o crescimento de espécies próxi-
transformam a energia luminosa em energia química, sen- mas; esse fenômeno é chamado alelopatia. A simbiose é a
do assim, o único processo de entrada de energia em um associação estreita entre organismos de espécie> diferen-
ecossistema. tes. A associação pode ser benéfica a ambos os organismos
Consumidores: são os que se alimentam dos produ- (mutualismo), benéfica a um e inócua ao outro (comensa-
tores (consumidores primários) ou de outros consumido- lismo), ou benéfica a um e prejudicial ao outro (parasitis-
res (consumidores secundários, terciários, etc.). Nesse nível mo). Em alguns casos de simbiose, como no dos líquens e
trófico estão os detritívoros – animais que se alimentam das formigas cultivadoras de fungos, as formas associadas
de restos orgânicos e têm como representantes os urubus, não podem viver separadas.
abutres, hienas, moscas, etc.
A maioria das doenças nos organismos é causada por
Decompositores:  reciclam a matéria orgânica, de-
parasitas. A maior parte dos parasitas não mata o hospe-
compondo-a e degradando-a em matéria inorgânica. Esta
deiro e quase nunca extermina populações inteiras. Os pa-
é reaproveitada pelos produtores, dando continuidade ao
rasitas tendem a adaptar-se tão completamente aos seus
ciclo. São representados por micro-organismos, tais como
fungos e bactérias. hospedeiros que passam a depender completamente des-
ses.
Teias alimentares são várias cadeias alimentares rela- Os níveis tróficos de um ecossistema estão ligados por
cionadas entre si. Elas representam de forma mais fiel o que associações predador-presa. Essas associações exercem
ocorre, de fato, na natureza. papel regulador no tamanho das populações e profundos
efeitos evolutivos nas diversas espécies implicadas.
População é um grupo de organismos da mesma espé- As plantas e os animais desenvolveram uma variedade
cie ocupantes de uma determinada área em um determina- de processos de defesa contra a predação. Esses tipos de
do tempo. Uma comunidade consiste no conjunto de todas defesa incluem a “armadura” e outras formas de proteção
as populações de uma certa área. física, como as observada; nos cactos, tatus, tartarugas e
A posição, ou função, de uma população dentro de numerosos organismos, e armas químicas, tais como ve-
uma comunidade é chamada seu nicho ecológico. A hipó- nenos de plantas e secreções aversivas de insetos. Muitos
tese da exclusão competitiva prevê que somente uma es- organismos se camuflam.
pécie possa ocupar o mesmo nicho ecológico em um dado Alguns insetos vieram a assemelhar-se a organismos
momento e que, quando duas espécies competem pelo de outra espécie, seja para exibir um dispositivo protetor
mesmo nicho, uma é eliminada. eficaz que tenham em comum com essa outra espécie (mi-
O tamanho de qualquer população é determinado pe- metismo mülleriano), seja para “dar a impressão” de pos-
las taxas de natalidade e de mortalidade. A taxa de natali- suírem esse dispositivo embora na verdade não o possuam
dade teórica de uma população – seu potencial reproduti- (mimetismo batesiano).
vo - é exponencial (isto é, 2, 4, 8, 16, 32); quanto maior for Todas essas associações contribuem para determinar o
o número de indivíduos de uma população, tanto mais ra- caráter da comunidade e dos organismos que nela vivem.
pidamente ela crescerá. A taxa de crescimento de uma po-
pulação que se expande pode geralmente ser tabulada por Pirâmides Ecológicas:
uma curva sigmóide, que começa lentamente, aumenta de PIRÂMIDE DE ENERGIA
modo exponencial durante um certo tempo, e depois se ni-
A pirâmide de energia expressa a quantidade de ener-
vela, a medida que a população atinge os limites de algum
gia acumulada em cada nível da cadeia alimentar.
recurso disponível, como alimento, espaço, ou, no caso de
5º- GAVIÕES
organismos aquáticos, oxigênio. Na maioria das comunida-
4º- COBRAS
des, a taxa de mortalidade de uma espécie é aproximada-
mente igual à taxa de natalidade, e a população permanece 3º- SAPOS
relativamente estável de uma geração para a seguinte. 2º- INSETOS
Fatores bióticos e abióticos desempenham um papel 1º- GRAMÍNEAS
na regulação natural da abundância dos organismos. Esses O fluxo decrescente de energia da cadeia alimentar jus-
fatores podem ser independentes de densidade (tempe- tifica o fato de a pirâmide apresentar o vértice voltado para
ratura ou duração do dia) ou dependentes de densidade cima. O comprimento do retângulo (tamanho das palavras)
(fonte de alimento ou predação). indica o conteúdo energético presente em cada elo da ca-
Os tipos e a abundância dos organismos em uma co- deia. Estima-se que cada nível trófico transfira apenas 10%
munidade dependem não somente dos fatores abióticos, da capacidade energética para o nível trófico seguinte, por
como os descritos no capítulo anterior, mas também de isso, que uma pirâmide dificilmente apresentara mais que
fatores bióticos, das interações entre as várias populações. cinco níveis tróficos. Assim, podemos presumir o seguinte:

93
BIOLOGIA

Se em uma área de plantio que durante o ano alimenta Tipos de Isolamento: Há vários tipos de isolamento,
100 pessoas, se for utilizada para engorda do gado, o nú- adequados à etiologia e sintomatologia das crianças, as-
mero de gado, será tão pequeno, que não alimentara mais sim como as condições do cliente. Normalmente são sina-
que cinco pessoas durante o ano. lizados por cartões diferentes para cada tipo de precaução
Vemos então, que a quantidade de energia que se per- adotada.
deu de um nível trófico para outro foi muito grande. Con- - Isolamento Total ou Rigoroso (IT): Para casos de
cluímos assim, que os consumidores primários estão muito doenças altamente contagiosas e que requerem cuidados
mais servido energeticamente que os demais níveis tróficos completos, sendo necessário o uso de gorro, óculos, más-
da pirâmide energética. cara, avental, luvas e pró-pé.
- Isolamento Respiratório: Utilizado em casos de doen-
ças de transmissão aérea, por meio da respiração, tosse e
gotículas expelidas pelo doente. A principal proteção é o
PROGRAMA DE SAÚDE: PRINCIPAIS uso de máscara descartáveis.
DOENÇAS HUMANAS PROVOCADAS E/OU - Isolamento Entérico ou Precauções Entéricas: Geral-
TRANSMITIDAS POR VÍRUS, BACTÉRIAS, mente utilizado na presença de diarreias provocadas por
PROTISTAS E ANIMAIS. agentes infecciosos transmissíveis. È obrigatório o uso de
luvas e avental, preferencialmente descartáveis.
- Isolamento Reverso ou Protetor: Visa a proteção de
clientes imunodeprimidos, em que a baixa resistência faci-
Doenças Transmissíveis lita o desenvolvimento de DTS que podem tornar-se extre-
mamente graves, pondo em risco a garantia do tratamen-
Segundo a OMS, doença transmissível é [...] toda mo- to. Deve-se observar rigorosamente a aplicação de técnicas
léstia por agente infeccioso específico ou por seus pro- assépticas no contato com o cliente, além das fômites e
dutos metabólicos, e que resultam da transmissão desse objetos da enfermaria.
agente ou de seus produtos de um reservatório para um
hospedeiro suscetível, seja direta ou indiretamente. Precauções – Padrão: De acordo com a Association
A distribuição e a ocorrência das DTS variam de acordo for Practioners Infection Control (APIC) , sempre se deve
com as condições ambientais , socioeconômicas, culturais tomar as seguintes precauções; Evitar o contato direto com
e políticas das diversas regiões brasileiras para que esses o sangue e fluidos orgânicos, lavando as mãos com fre-
índices alcancem patamares aceitáveis dentro do ponto de quência e utilizando luvas de proteção.
vista da saúde pública, deve haver uma melhoria da quali- Uso consciente de agulha, cortantes e perfurantes, com
dade de vida, atingindo todas as camadas sociais. o cuidado especial quanto ao descarte adequado, com a
Isolamento: É a forma pela qual se busca efetivar o manipulação segura em recipientes apropriados; Aumentar
tratamento de pessoas infectada, durante o período de a confiabilidade dos clientes, usando essas mesmas pre-
transmissão da moléstia, em um local que impeça a propa- cauções para todos os demais que se encontrem em am-
gação direta ou indireta do agente infeccioso. O Ministério bulatório, pronto socorro, UTIs...
da Saúde recomenda que, para cara 40 leitos, 25% sejam Uso consciente dos equipamentos de proteção indivi-
destinados a portadores de DTs, e a unidade ideal de isola- dual (EPIs) padrão, como máscara de proteção respiratória,
mento deve ter as seguintes características: óculos de acrílico, avental, luvas de látex ou de silicone e
- Ser constituído por quarto privativo com identifica- pró-pé.
ção da precaução adotada; Doenças infecciosas e parasitárias (DIP): São doen-
- Possuir antessala com lavatório, armário e equipa- ças causadas por seres vivos ou seus produtos. Quando o
mentos privativos; ser vivo que causa a doença vive às custas de outro ser
- Contar com mínimo de mobiliário possível: cama, vivo que o abriga estes são chamados respectivamente de
criado-mudo e mesinha de refeição; parasita e hospedeiro. Muitas vezes as DIP são confundidas
- Levar em conta as restrições e orientações específicas com as doenças contagiosas, mas nem todas as DIPs são
a respeito das visitas, circulação de colaboradores e trans- contagiosas (p.ex. o tétano não é contagioso). A especiali-
porte do cliente para exames externos; dade DIP, no Brasil, se originou da tradicional Medicina Tro-
- Possuir equipe treinada no controle de propagação pical que trata das grandes doenças que assolam e assola-
da doença. ram o Brasil e o Mundo durante séculos (como a malária).
A especialidade DIP procura (mas nem sempre consegue)
Em condições particulares, o isolamento deve ser man- se concentrar em questões urbanas como as infecções hos-
tido em uma unidade de internação comum, desde que se- pitalares, a síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA/
jam adotadas as precauções necessárias para evitar a pro- AIDS), as endocardites infecciosas, as infecções transfusio-
pagação da moléstia, ou uma ou mais unidades de interna- nais, etc. Como herança da Medicina Tropical a especia-
ção para DTs em comum, com o máximo da precaução no lidade inclui ainda os acidentes e doenças causadas por
controle de transmissibilidade. animais peçonhentos como cobras, aranhas e escorpiões.

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BIOLOGIA

Algumas Doenças Hanseníase: Definição: Enfermidade infecciosa crô-


nica de transmissibilidade moderada caracterizada por
Transmitidas por Bactérias lesões cutâneas anestésicas. Agente Etiológico: Bacilo de
Hansen ou Mycobacterium leprae. Modo de Transmissão:
Tétano: Definição: Doença infecciosa aguda, cujo ba- Por contato direto pelo contato com pele, mucosas, lesões
cilo desenvolve-se no local do ferimento e produz uma cutâneas ou secreções nasais do doente. Sinais e Sintomas:
neuroto-xina que, ao atingir o SNC, provoca os sinais e Lesões cutâneas com anestesia local; comprometimento de
sintomas da doença. Agente Etiológico: Clostridium Tetanii. nervos periférico ulcerações da mucosa nasal até a perfura-
Modo de Transmissão: Objetos contaminados que pene- ção do septo; lesões oculares. Diagnóstico: Testes cutâneos
tram em feridas, ferimentos insignificante, queima-duras, de sensibilidade (tátil, térmica, dolorosa), biópsia da lesão;
coto umbilical, etc. Sinais e Sintomas: Trismo, rigidez da observação do tipo de lesão; teste de Mitsuda. Tratamento:
nuca, contraturas e espasmos musculares, mialgia intensa; Quimioterapia; psicológico em razão das consequências na
posição de opistótomo; riso sardônico, febre e sudorese in- vida social e econômica do cliente; fisioterápico para pre-
tensa. Diagnóstico: Exame clínico e físico. Tratamento: De- venção e tratamento das incapacidades físicas.
bridamento da ferida; antibióticos; soro antitetânico (SAT);
vacinas; miorrelaxantes; sedativos; ambiente isento de ba- Cólera: Definição: Doença infecciosa aguda e grave,
rulhos e iluminação excessiva. transmitida principalmente pela contaminação fecal da
água, alimentos e ouros produtos que vão a boca. Agen-
Tuberculose: Definição: Doença bacteriana crônica, de te Etiológico: Víbrio Cholerae (vibrião colérico). Modo de
caráter social, ocorrendo com maior frequência em regiões Transmissão: Água, alimentos ou fômites contaminados
de precárias condições. Agente Etiológico: Bacilo de Koch pelas fezes e vômitos dos indivíduos infectados, sintomáti-
ou Mycobacterium tuberculosis. Modo de Transmissão: De cos ou não. Sinais e Sintomas: Diarreia líquida súbita e in-
pessoa para pessoa, por exposição íntima e prolongada, tensa com aspecto de água de arroz; desidratação; cãibras;
por meio de escarro ou gotículas de suspensas no ar, eli- hipotensão; choque hipovolêmico. Diagnóstico: Exame clí-
minadas pela tosse de clientes bacilíferos. Sinais e Sinto- nico, físico e laboratorial. Tratamento: Antibioticoterapia;
mas: Tosse produtiva e persistente; febre; perda de peso; hidratação; Isolamento.
hemoptise; dor torácica. Diagnóstico: Exame bacteriológi-
co (escarro); prova tuberculínica; radiológico. Tratamento: Coqueluche: Definição: Doença bacteriana que afeta
a traqueia, os brônquios e os bronquíolos. Agente Etioló-
Quimioterapia e controle em comunicantes e familiares;
gico: Bordetella pertussis. Modo de Transmissão: Contato
fazer vacinação conforme calendário.
direto (por meio de gotículas de muco e saliva eliminados
pelo indivíduo contaminado) ou indireto (pelo contato com
Febre Tifoide: Definição: Doença infecciosa causada
objetos recentemente contaminados). Sinais e Sintomas:
pelo bacilo de Eberth. Agente Etiológico: Bacilo de Eberth
Período catarral: coriza, espirros, lacrimejamento. Período
ou Salmonella Typhi. Modo de Transmissão: Por contato
paroxístico: crise de tosse, expectoração, cianose. Período
direto (com fezes ou urina do portador) ou indireto (com
de convalescença: os sintomas vão desaparecendo grada-
água e alimentos contaminados). Sinais e Sintomas: Hi-
tivamente. Diagnóstico: Exame clínico, físico e laboratorial.
pertermia progressiva, astenia, anorexia, náuseas, vômitos, Tratamento: Antibioticoterapia, Isolamento respiratório,
esplenomegalia, leucopenia, constipação alternada com antitussígenos.
crises de diarreia (fezes líquidas esverdeadas e fétidas).
Diagnóstico: Exame clínico, físico e laboratorial. Tratamen- Transmitidas por Vírus
to: Antibioticoterapia e profilaxia com saneamento básico,
fiscalização sanitária e vigilância epidemiológica. Caxumba: Definição: Doença infecciosa aguda de iní-
Difteria: Definição: Doença aguda, caracterizada por cio súbito, caracterizado pela tumefação das glândulas sali-
quadro tóxico-infeccioso, com duração variável podendo vares, geralmente das parótidas e, às vezes das sublinguais.
apresentar desde sintomatologia leve até fatal. Agente Agente Etiológico: Vírus parotidite. Modo de Transmissão:
Etiológico: Bacilo de Klebs loeffler ou bacilo Corynebacte- Contato direto (por meio de gotículas de muco e saliva
rium diphtheriae. Modo de Transmissão: Por contato físico eliminados pelo indivíduo contaminado) ou indireto (pelo
direto; por gotículas de secreção dispersas no ar ou por contato com objetos recentemente contaminados). Sinais
meio de objetos contaminados. Sinais e Sintomas: Placas e Sintomas: Febre, calafrios discretos, dores pelo corpo,
com abundante exudação na faringe, provocando sintomas principalmente na região da tumefação, orquite, ooforite.
de asfixia, agitação, batimentos da asa do nariz, cianose, Diagnóstico: Exame clínico, físico e laboratorial. Tratamen-
contrações dos músculos intercostais devido a dificuldade to: Analgésicos e antitérmicos; corticosteroides e repouso
respiratória. Pode ocorrer parada respiratória. Diagnóstico: no leito. A profilaxia é a vacina da tríplice viral (MMR).
Exame clínico, físico e laboratorial. Tratamento: Manter o Rubéola: Definição: Doença exantemática em geral
paciente em isolamento respiratório; antibioticoterapia; benigna, que ocorre predominantemente na infância e
soro antidiftérico (SAD); cirúrgico. Fazer profilaxia com va- adolescência. Agente Etiológico: vírus do grupo togavírus
cinação. L. rubellus. Modo de Transmissão: Contato direto (por meio
das secreções nasofaríngeas). Sinais e Sintomas: Período

95
BIOLOGIA

Podrômico: febre, calafrios discretos, dores no corpo. Pe- siderado como a medida mais eficiente para prevenir a
ríodo Exantemático: surge exantemas na face, couro cabe- contaminação e impedir sua disseminação. Alguns grupos,
ludo. Período de descamação: pele ressecada com prurido principalmente os religiosos, afirmam que a castidade, a
intenso. Diagnóstico: Exame clínico, físico e laboratorial. abstinência sexual e a fidelidade poderiam bastar para evi-
Tratamento: Analgésicos e antitérmicos; banhos com antis- tar a disseminação de tais doenças. Pesquisas afirmam que
séptico. Vacinação. A mulher deve evitar gravidez durante a contaminação de pessoas monogâmicas e não-fiéis por-
3 meses após a vacinação. tadoras de DST tem aumentado, em resultado da contami-
nação ocasional do companheiro(a), que pode contrair a
Sarampo: Definição: Doença infecciosa aguda, extre- doença em relações extraconjugais. Todavia, as campanhas
mamente contagiosa, caracterizada por febre e exantema pelo uso do preservativo nem sempre conseguem reduzir a
máculo-papular. Agente Etiológico: Vírus do grupo para- incidência de doenças sexualmente transmissíveis.
mixovírus. Modo de Transmissão: Contato direto (por meio
das secreções nasais e da garganta do doente) ou indireto História: Nas primeiras civilizações havia o culto aos
(por meio de objetos contaminados). Sinais e Sintomas: Fe- deuses e deusas da fertilidade, que eram consideradas
bre alta, exantemas maculo-papular, tosse, coriza e conjun- como uma dádiva. O culto à essas deusas era feito princi-
tivite. Diagnóstico: Exame clínico, físico e laboratorial. Tra- palmente a partir da prostituição. Uma das características
tamento: Sintomático, conforme as manifestações de cada presentes nessas sociedades era a promiscuidade, um dos
caso. motivos para o surgimento dessas doenças, que mais tarde
Varicela ou Catapora: Definição: Doença infecciosa seriam conhecidas como doenças venéreas, em referência
amplamente disseminada que ocorre particularmente em à Vênus, considerada a deusa do amor. A Gonorreia foi cita-
crianças. Agente Etiológico: Vírus da varicela; herpes-ví- da na bíblia, mas a causa da doença só foi conhecida no sé-
rus ou vírus varicela-zóster. Modo de Transmissão: Conta- culo XIX. Além disso, no Egito antigo tumbas apresentaram
to direto (por meio de secreções nasais e da garganta do alguns registros sobre a Sífilis. Em 1494 houve um surto de
doente ou contato com as lesões cutâneas) ou indireto (por sífilis na Europa. A doença se espalhou rapidamente pelo
meio de objetos contaminados). Sinais e Sintomas: Febre continente, matando mais de cinco milhões de pessoas.
alta, calafrios, mialgia e adenomegalias, erupções cutâneas Cada localidade que ela passava recebia um nome dife-
inicialmente máculas que evoluem para pápulas e por fim, rente. Contudo, em 1536 foi publicado um poema médico,
vesículas; estas evoluem e secam formando crostras. Diag- em que um dos personagens da história havia contraído a
nóstico: exame clínico, físico e laboratorial. Tratamento: Sin- doença. O nome do personagem era Sifilo.
tomático: repouso, analgésico, banhos com antissépticos. Antes de serem inventados os medicamentos, as doen-
ças eram consideradas incuráveis, e o tratamento se limi-
Poliomielite: Definição: Doença viral aguda, cuja ex- tava a diminuir os sintomas.[9] Todavia, no século XX sur-
pressão clínica varia desde uma infecção inaparente até pa- giu os antibióticos, que se mostraram bastante eficientes.
ralisias. Agente Etiológico: poliovírus. Modo de Transmis- [6] Em 1980 a herpes genital e a AIDS na sociedade como
são: secreções orofaríngeas e nas fezes. Sinais e Sintomas: doenças incuráveis. Essa, por sua vez se tornou uma pan-
as manifestações clínicas da infecção pelo poliovírus são demia.
muito variáveis, desde infecção inaparente até quadros de
paralisia grave, levando a morte. Diagnóstico: exame clíni- Causa: vários tipos de agentes infecciosos (vírus, fun-
co e físico. Tratamento: Sintomático: o principal meio de gos, bactérias e parasitas) estão envolvidos na contamina-
prevenção e erradicação é a vacina Sabin/Anti-poliomielite. ção por DST, gerando diferentes manifestações, como feri-
Raiva ou Hidrofobia: Definição: doença infecciosa das, corrimentos, bolhas ou verrugas.
aguda de prognóstico fatal em todos os casos, causada
por vírus que se propaga pelo SNC. Agente Etiológico: ví- Bactérias
rus da raiva Rhabdovirus. Modo de Transmissão: Mordedu- - Cancro mole (Haemophilus ducreyi)
ra de animais que contenham o agente na saliva. Sinais e - Clamídia (Chlamydia trachomatis’)
Sintomas: mal estar, anorexia, náuseas, insônia, distúrbios - Granuloma inguinal (Dovania granulamatis)
psíquicos e respiratórios, dor e parestesia no local do feri- - Gonorreia (Neisseria gonorrhoeae)
mento, espasmos, delírios, convulsões e morte por parali- - Sífilis (Treponema pallidum)
sias dos músculos respiratórios. Diagnóstico: exame clínico - Vaginose Bacteriana (Gardnerella vaginalis)
e físico. Tratamento: Não existe tratamento específico. O Fungos
cliente necessita de cuidados especiais em UTI, sedativos, - Candidíase (Cândida albicans)
antitérmicos e medidas de controle das complicações.
Vírus
Doenças sexualmente transmissíveis ou Infecção se- - Hepatite
xualmente transmissível, conhecida popularmente por DST - Herpes simples
são patologias antigamente conhecidas como doenças - HIV ou Aids
venéreas. São doenças infecciosas que se transmitem es- - HPV
sencialmente (porém não de forma exclusiva) pelo contato - Molusco contagioso
sexual. O uso de preservativo (camisinha) tem sido con-

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BIOLOGIA

Parasitas O hospital, um espaço mítico que deve conter e admi-


- Piolho-da-púbis nistrar os problemas emocionais provocados pelo paciente
e sua doença e toda rede de relações sociais que a eles
Protozoários se vinculam os sentimentos como depressão e ansiedade,
- Tricomoníase (Trichomonas vaginalis) tanto dos pacientes como dos familiares são naturalmen-
Prevenção te projetados no hospital, através de seus elementos de
mediação, ou sejam os profissionais e em especial ao en-
Preservativo: mais conhecido como camisinha é um fermeiro, a quem cabe decidir questões importantes e as-
dos métodos mais seguros contra as DSTs. Sua matéria sumir responsabilidades de forma integral.
prima é o latex. Antes de chegar nas lojas, é submetido à O paciente hospitalizado estabelece relação com toda
vários testes de qualidade. Apesar de ser o método mais a gama de materiais e equipamentos utilizados para o seu
eficiente contra a transmissão do vírus HIV (causador da tratamento. Passa a compartilhar sua existência, com os
epidemia da SIDA), o uso de preservativo não é aceito pela que trabalham no hospital, nas mais diversas funções, com
os familiares que o visitam, e com outros pacientes interna-
Igreja Católica Romana, pelas Igrejas Ortodoxas e pelos
dos. Para o paciente crônico terminal, apesar de haver uma
praticantes do Hinduísmo. O principal argumento utilizado
pequena perspectiva de alta hospitalar, fica delineada uma
pelas religiões para sua recusa é que um comportamento
condição de extremo sofrimento e conflito considerando o
sexual avesso à promiscuidade e à infidelidade conjugal
agravo contínuo de seu quadro e a proximidade da mor-
bastaria para a proteção contra DSTs. te. Esta situação, sempre bastante difícil para o enfermeiro,
que fica próximo ao paciente partilhando com ele este mo-
Vacina: alguns tipos de HPV, a Hepatite A e B podem mento de vida.
ser prevenidas através da vacina. As doenças crônicas degenerativas (DCD) figuram
como principal causa de mortalidade e incapacidade no
Doenças não Transmissíveis mundo, cerca de 59% dos 56,5 milhões de óbitos anuais
são os chamados agravos não transmissíveis que incluem
As doenças crônico-degenerativas são doenças pro- doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade, câncer e
gressivas e que interferem na qualidade de vida de seus doenças respiratórias; são predominantes em países de-
portadores. Tendo em vista esse aspecto e o fato de ser senvolvidos, sendo os maiores fatores de causa o estresse
a humanização das relações e do cuidado ao ser humano e o sedentarismo.
uma preocupação de profissionais de saúde e de cuidado- Nos países em desenvolvimento ocorre o padrão epi-
res. demiológico de transição, onde além das doenças infeccio-
O enfermeiro desde longa data vem se preocupando sas, como dengue e febre amarela, surgiram as DCD.
em desenvolver uma assistência globalizada aos pacientes,
visualizando o cuidar nas dimensões física, emocional e es- Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS)
piritual. Na prática diária porém, a operacionalização des- A pressão arterial é aquela existente no interior das ar-
ta meta vem enfrentando obstáculos, principalmente, no térias e comunicada às suas paredes. Quando os ventrícu-
que tange à assistência aos pacientes com doenças crônico los se contraem, o ventrículo esquerdo ejeta sangue para a
degenerativas, considerando que o avanço tecnológico e artéria aorta. Essa contração recebe o nome de sístole. No
científico, na atualidade vem contribuindo para aumentar a momento dessa contração, a pressão nas artérias se torna
expectativa de vida dos mesmos. máxima e elas se distendem um pouco. Esta é a pressão
A assistência de enfermagem a estes pacientes, prin- sistólica. Quando os ventrículos se relaxam, isso se chama
cipalmente em estágio avançado da doença crônico de- diástole. Nesse momento o sangue que está na aorta tenta
refluir, mas é contido pelo fechamento da válvula aórtica,
generativa, torna-se mais complexa, em decorrência da
que evita que ele retorne ao ventrículo, a pressão nas ar-
somatória progressiva de limitações físicas e alterações
térias cai a um valor mínimo, chamada pressão diastólica.
emocionais ocorridas, incluindo o comprometimento de
A hipertensão arterial é o principal fator de risco de
sua identidade.
morte entre as doenças não-transmissíveis, existindo rela-
Neste processo não só o paciente, como seus familia- ção direta e positiva com o risco cardiovascular.
res tornam-se intensamente envolvidos e comumentemen- Outro fato importante é a hipertensão infantil, que está
te procuram apoio do enfermeiro para ajudá-los na supe- associada ao crescimento da obesidade, causado pela po-
ração destas dificuldades. Pitta, salienta que os pacientes e pularização de maus hábitos alimentares e sedentarismo.
familiares nesta condição nutrem sentimentos complicados Cerca de 1,56 bilhão de pessoas podem sofrer de hiper-
em relação ao hospital, expressando-os aos enfermeiros, tensão arterial em 2025, 60% a mais que atualmente, o que
que frequentemente sentem-se confusos e angustiados, provocaria uma epidemia global de doenças cardiovascu-
pois as necessidades assistenciais apresentadas pelos pa- lares, segundo relatório publicado, em uma conferência so-
cientes e familiares, vão além do simples cuidado físico, bre hipertensão arterial no mundo. O estudo foi realizado
das tomadas de pressão e temperatura, das aplicações te- por uma equipe de especialistas da London School of Eco-
rapêuticas ou ainda das de higiene e conforto, requerendo nomics, do Instituto Karolinska (Suécia) e da Universidade
um preparo diferenciado do enfermeiro. do Estado de Nova York.

97
BIOLOGIA

Os especialistas se preocupam especialmente com o - Sal: o excesso de consumo de sódio contribui para a
alarmante crescimento do número de doentes em países ocorrência de HAS.
em desenvolvimento, especialmente no Brasil, China, Ín- - Obesidade: o excesso de massa corporal é respon-
dia, Rússia e Turquia, onde as taxas podem crescer 80% até sável por 20% a 30% dos casos de HAS. A perda de peso
2025. A hipertensão e as doenças relacionadas à pressão acarreta a redução da pressão arterial;
arterial são responsáveis por alta taxa de internações hos- - Álcool: o consumo elevado de bebidas alcoólicas
pitalares. Ocorreram 1.180.184 internações por doenças como cerveja, vinho e destilados aumenta a pressão ar-
cardiovasculares, com custo global de R$ 1.323.755.008,28. terial. Verifica-se redução média de 3,3 mmHg na pressão
Estudos têm demonstrado correlação direta entre hi- sistólica e 2,0 mmHg na pressão diastólica com a redução
pertensão arterial e doença coronariana, acidente vascular no consumo de álcool;
cerebral e insuficiência cardíaca congestiva. Essas doenças - Sedentarismo: indivíduos sedentários apresentam
são responsáveis por 40% dos óbitos ocorridos nos Esta- risco aproximado 30% maior de desenvolver hipertensão
dos Unidos, não se restringindo apenas aos idosos, mas que os ativos.
constituindo a segunda causa de morte na faixa de 45 a
64 anos e a terceira entre 25 e 44 anos. No fim de 2002, Prevenção primária da hipertensão e dos fatores de
houve a publicação de uma revisão conjunta de estudos de risco associados: Entre as medidas preventivas, destacam-
coorte em todas as áreas da Medicina, e que pode ser en- se a adoção de hábitos alimentares saudáveis, prática de
tendida como evidência definitiva sobre a associação entre atividade física e o abandono ao tabagismo.
pressão arterial e risco cardiovascular. Foram avaliados 61 Adoção de hábitos alimentares saudáveis: A adoção
grandes estudos de coorte, com um milhão de indivíduos de hábitos saudáveis é um componente muito importante
sob risco (12,7 milhões de pessoas/ano), que apresentaram da prevenção primária da hipertensão arterial. As V Diretri-
uma incidência de 56 mil mortes por evento cardiovascular. zes Brasileiras de Hipertensão recomendam manter o peso
Por essa análise se confirma que a associação entre pressão adequado, reduzir o consumo de sal, moderar o consumo
arterial e risco cardiovascular é contínua e exponencial, e de bebidas alcoólicas, controlar o uso de gorduras e incluir
que começa em valores muito baixos de pressão arterial alimentos ricos em potássio na alimentação diária. A média
sistólica (115 mmHg) ou diastólica (75mmHg). diária de consumo de sal de hipertensos homens é de 17,6
Por esta razão foi criada uma nova diretriz nos EUA,
gramas e entre mulheres é de 13,7 gramas. É recomendado
Joint National Committee 7 - JNC 7, para prevenção e trata-
pelas V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, o consumo
mento de hipertensão que foram divulgadas pelo National
máximo diário de 06 gramas, considerando que 02 gramas
Heart, Lung and Blood Institute (NHLBI). A principal dife-
já são naturalmente encontrados nos alimentos.
rença do JNC 7, em comparação ao JNC 6, é a nova clas-
Tabagismo: O fumo é o único fator de risco totalmente
sificação de hipertensão. As categorias de pressão arterial
evitável de doenças e morte cardiovasculares.
foram reduzidas a três: normal, pré-hipertensão e hiper-
tensão. A definição de “normal”, em JNC 7, é a mesma que
previamente era considerada normal, ou seja PAS < 120 Estresse: Há evidências de uma relação direta entre
mm Hg e PAD < 80 mm Hg. estresse emocional e aumento da pressão arterial e da rea-
Segundo Machado, a nova categoria, pré-hipertensão, tividade cardiovascular, sendo que o estresse é um fator
é a alteração mais significativa no esquema de classificação prognóstico ao desenvolvimento da hipertensão arterial.
e representa PAS de 120 a 139 mm Hg ou PAD de 80 a 89 O controle do estresse emocional é fundamental como
mm Hg. prevenção da hipertensão arterial, resultando na redução
As alterações morfológicas e fisiológicas são mais fre- da pressão arterial, sendo recomendado não apenas aos
quentemente observadas nos seguintes órgãos: coração hipertensos, mas também a todos aqueles que possuam
(hipertrofia ventricular esquerda, insuficiência cardíaca, fatores de risco para hipertensão arterial.
doença coronária), encéfalo (doença cerebrovascular he-
morrágica ou isquêmica, encefalopatia hipertensiva), rim Atividade Física: O programa de condicionamento
(nefrosclerose, insuficiência renal crônica), retina (retinopa- físico tem sido frequentemente recomendado como uma
tia hipertensiva), e vasos (aneurismas de aorta, dissecan- conduta importante no tratamento não-farmacológico
tes ou não; aneurismas de outros vasos; obstrução arterial da hipertensão arterial. Existe uma relação inversa entre a
crônica). quantidade de atividade física e a manifestação de hiper-
Segundo as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, são tensão arterial. Segundo as Diretrizes Brasileiras de Hiper-
fatores de risco para a hipertensão: tensão, o tratamento da hipertensão arterial deve incluir
- Idade: a pressão arterial aumenta linearmente com medidas não medicamentosas de controle da pressão ar-
a idade; terial, dentre as quais destacam-se a realização regular de
- Etnia: a hipertensão é mais prevalente em mulheres exercícios físicos aeróbios e o treinamento em relaxamento.
afrodescendentes com excesso de risco de hipertensão de Os indivíduos hipertensos devem ser sistematicamen-
até 130% em relação às mulheres brancas; te monitorizados durante os exercícios físicos. Deverão ser
- Fatores Socioeconômicos: nível socioeconômico aferidos antes, durante e depois da sessão de treinamen-
mais baixo está associado a maior prevalência de hiperten- to, os níveis de pressão arterial sistêmica (PAS), frequência
são arterial e de fatores de risco para elevação da pressão cardíaca (FC) e duplo produto (PAS x FC). Os exercícios físi-
arterial; cos aeróbios são os mais recomendados para hipertensos,

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BIOLOGIA

como por exemplo: caminhadas, corridas, natação e ciclis- Pesquisas realizadas pela American Heart Association
mo; devem ser prescritos a uma intensidade entre 50-70% apontam que as medidas preventivas, principalmente no
do consumo máximo de oxigênio ou frequência cardíaca que se refere à mudança de hábitos alimentares e estilo
entre 60-80%, com duração entre 30 a 60 min., realizados de vida, têm efeito positivo e comprovado na qualidade de
de 3 a 6 vezes por semana. vida. A adoção de hábitos alimentares saudáveis e ativida-
de física constante aumentam as chances de longevidade
A incidência de doenças que atingem a população livre de doenças coronarianas, derrames e diabetes melli-
mundial modificou-se ao longo deste século. Os males que tus, proporcionando melhor qualidade de vida.
afetavam a humanidade no início do século eram em sua A vida agitada nos grandes centros urbanos tem pro-
maioria, doenças agudas, como as infecciosas e parasitá- vocado mudanças substanciais na alimentação e no estilo
rias. Os jovens eram os mais atingidos por essas doenças. de vida. As pessoas tem optado cada vez mais por uma ali-
mentação rápida e prática, o fast-food. Contudo, este tipo
Contudo, com a crescente industrialização, a desco-
de alimentação é muito rico em gorduras saturadas e pro-
berta de medicamentos potentes contra os agentes infec-
teínas, acarretando em aumento do risco nutricional para
ciosos e a melhoria das condições de saneamento básico, as doenças crônicas degenerativas. Além disso, existe uma
este quadro foi sendo alterado. Todos esses processos im- tendência acentuada ao sedentarismo, provocada pela di-
plicaram em melhorias na qualidade de vida e consequente minuição de exercícios físicos. Por isso, os pesquisadores
aumento da expectativa de vida. Neste final de século, as têm enfocado a prevenção de doenças crônicas degenera-
moléstias que apresentam altas taxas de morbidade e mor- tivas através da adoção de uma alimentação saudável e ba-
talidade são as doenças crônicas degenerativas. Devido ao lanceada, juntamente com a prática de exercícios, visando
aumento da expectativa de vida, os mais atingidos pelas uma melhor qualidade de vida. A seguir, são apresentadas
doenças crônicas são os idosos. Cerca de 75% das mortes as doenças crônicas degenerativas que possuem relação
de pessoas com idade em torno de 65 anos, nos estados com a alimentação, salientando as suas causas, incidência
Unidos, são decorrentes de doenças cardíacas, câncer e e medidas de prevenção relacionadas com a Nutrição.
doenças vasculares cerebrais.
Segundo dados, a doença cardiovascular é a principal Doenças Cardiovasculares
causa de mortes nos EUA, constituindo-se em 24% do to- A incidência de doenças cardiovasculares é responsável
tal. Além disso, os dados mostram que 72,4% das causas de por aproximadamente 24% das mortes nos EUA e 38% das
mortes da população foram provocadas por doenças que mortes no Brasil. Isto se deve a hábitos alimentares errô-
apresentam comprovada relação com a alimentação: doen- neos e à crescente tendência ao sedentarismo, comuns nos
grandes centros de países desenvolvidos, como os EUA. A
ças cardíacas, câncer, derrame, diabetes mellitus, e ateros-
importação desses hábitos para países em desenvolvimen-
clerose. Segundo os dados apresentados, ainda pode-se to, como o Brasil, tem levado a um aumento crescente de
inferir que aproximadamente 5,6% das causas de mortes doenças cardiovasculares. O ponto de partida para a re-
foram provocadas por doenças ou problemas relacionados dução dos níveis de risco do colesterol sérico, segundo a
com a alimentação: as doenças do fígado e acidentes de American Heart Association, (1990) e Assis, (1997), é a mu-
trânsito ambos provocados pela excessiva ingestão de ál- dança de estilo de vida com relação a:
cool. - Hábitos alimentares, particularmente com a redução
Esta estatística não difere muito da apresentada no das gorduras saturadas e o aumento de fibras solúveis;
Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de - Prática de atividade física regular
38% das mortes da população na faixa etária acima dos
65 anos correspondem a doenças do aparelho circulató- Câncer
rio. Nessa porcentagem estão incluídas as doenças cere- O câncer é responsável por 22% das mortes nos EUA
brovasculares (32%), doenças isquêmicas do coração (29%) e 13% no Brasil (Ministério da Saúde). É considerada a ter-
e infarto agudo do miocárdio (21%). Todas essas doenças ceira causa de mortes e possui íntima relação com hábitos
possuem relação comprovada com altos índices de coles- alimentares. Ao contrário das doenças cardíacas, a sua taxa
terol no sangue. Já as doenças hipertensivas, relacionadas vem aumentando. A incidência de tipos de câncer associa-
ao colesterol e ao alto consumo de sal, contam com 3%. O dos à alimentação (mama, cólon e próstata) aumentou. Vá-
rios estudos indicam que a excessiva ingestão de gorduras
Diabetes mellitus conta com 4% das causas de morte nessa
é um fator de risco para alguns tipos de câncer, principal-
mesma população.
mente o câncer de mama, cólon, próstata, reto e ovários.
Estes são dados alarmantes, pois além de serem as prin- Outros componentes da alimentação aparecem como risco
cipais causas de mortes, essas doenças representam queda potencial de câncer: os defumados, embutidos e agentes
substancial na qualidade de vida. Estudos comprovam que contaminantes como as aflatoxinas e compostos N-nitro-
a associação entre a obesidade e as doenças crônicas de- sos.
generativas, como diabetes mellitus, hipertensão arterial e Os padrões dietéticos que caracterizados pelo alto
hiperlipidemia, constitui fator de extrema importância para consumo de fibras estão associados à baixa ocorrência de
a redução da qualidade e da expectativa de vida. Isto ocor- certos tipos de câncer, principalmente mama e cólon. Es-
re devido a complicações tão comuns na evolução dessas tudos demonstram que as frutas, os vegetais amarelos e
doenças, que muitas vezes levam à incapacitação do indi- verdes são alimentos que contribuem para a prevenção do
víduo. câncer, pois são fontes de substâncias antioxidantes.

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BIOLOGIA

Diabetes mellitus tipo 2 importância de uma alimentação adequada, balanceada e


O diabetes tipo 2 (não-insulino dependente) não é o variada. Na próxima seção apresentamos a importância do
mais grave, mas é de mais difícil diagnóstico, pois os sin- diagnóstico nutricional na prevenção e no tratamento das
tomas raramente aparecem na sua fase inicial. Estima-se doenças crônicas degenerativas que apresentam relação
que 4 a 5 milhões de pessoas são portadoras de diabe- com a alimentação.
tes não diagnosticada. As complicações mais comuns são
neuropatia, retinopatia e doença cardiovascular, que muitas O Diagnóstico Nutricional
vezes advêm de um diagnóstico tardio ou de um acompa- O cuidado nutricional individual é muito importante na
nhamento errôneo do tratamento por parte dos pacien- prevenção e no tratamento das doenças relacionadas com
tes. Essas complicações têm um impacto negativo sobre a a alimentação, como é o caso das doenças crônicas de-
expectativa de vida ativa, debilitando ou incapacitando os generativas. O estabelecimento de uma conduta dietética
seus portadores. adequada depende do diagnóstico nutricional para avaliar
A obesidade é um fator importante na prevalência do a existência de fatores de risco nutricional. O risco nutricio-
diabetes tipo 2. A dieta balanceada, o controle do peso e nal é o potencial prejuízo que uma alimentação inadequa-
os exercícios físicos são capazes de normalizar a glicemia e da, associada a fatores hereditários ou não, pode ocasionar
podem minimizar os efeitos deletérios do diabetes. O acon- a um indivíduo. A determinação do diagnóstico nutricional
selhamento dietético para diabéticos consiste em diminuir é efetuado durante uma consulta com especialistas. A con-
o consumo de carboidratos, principalmente os carboidra- sulta em Nutrição consta de quatro etapas:
tos simples, dando preferência à ingestão dos provenien- - coleta de informações;
tes das frutas e vegetais, em aumentar a ingestão de fibras - análise das informações obtidas;
solúveis, em reduzir as gorduras da dieta, principalmente as - estabelecimento do plano de ação;
saturadas, e em evitar um alto consumo de proteínas. - determinação da conduta dietoterápica.
A finalidade do diagnóstico nutricional é verificar a
Obesidade influência da alimentação na saúde do indivíduo. Isto é
A obesidade é um distúrbio nutricional relacionado obtido através da avaliação do estado nutricional. As fina-
com o excesso de ingestão de calorias. Ela está associada lidades da avaliação nutricional são identificar distúrbios
a outras doenças, como as doenças coronarianas, hiper- nutricionais, estabelecer valores básicos para avaliar a efi-
tensão, diabetes mellitus, dislipidemias, doenças da vesícula cácia de planos alimentares e reconhecer, precocemente,
biliar, osteoporose e alguns tipos de câncer, aumentando a potenciais riscos à saúde devido a fatores nutricionais.
morbidade e a mortalidade. Este distúrbio, muito comum Através de uma consulta, o especialista em Nutrição
em países desenvolvidos, visto que a sua maior causa é o coleta informações pertinentes ao estado nutricional do
excesso de ingestão de alimentos, tem atingido, também, indivíduo. Os instrumentos necessários para a obtenção
nos países em desenvolvimento. Com a crescente globali- do diagnóstico nutricional são história dietética, dados
zação, têm-se assistido a um aumento dramático na preva- antropométricos, bioquímicos, antecedentes médicos, an-
lência de obesidade nos países em desenvolvimento. Isto tecedentes familiares, histórico alimentar e fatores psicos-
se deve a mudança de hábitos alimentares e estilo de vida sociais.
em toda a América Latina. Estes países estão incorporando - O histórico do consumo alimentar feito através de
hábitos alimentares dos países mais industrializados. De anamnese alimentar indica a presença de hábitos alimen-
fato, esta tendência, chamada de “ocidentalização da Nu- tares errôneos que podem interferir no estado nutricional
trição” (nutritional westernization), vem se caracterizando do indivíduo;
pelo aumento do consumo de fast-food e por uma tendên- - Dados antropométricos obtidos através das medidas
cia à diminuição da atividade física. A incorporação dessa de altura, peso e/ou dobras cutâneas. Fornecem informa-
mudança de hábitos alimentares nas regiões da América ções sobre a massa e a distribuição de gordura corpórea;
Latina tem propiciado o aumento das taxas de doenças crô- - Os exames bioquímicos indicam o estado nutricional
nicas degenerativas em contraposição à das doenças infec- através do estado metabólico do indivíduo, entre eles: gli-
tocontagiosas, as maiores responsáveis pela mortalidade cemia, colesterol sérico, hemograma etc.;
no passado. Existem estudos que permitem a comparação - Os antecedentes médicos indicam patologias que po-
da prevalência da obesidade em muitos países da América dem estar associadas à alimentação, como por exemplo,
Latina. O indicador de obesidade escolhido na pesquisa foi diabetes, obesidade, hipertensão, anemia ferropriva etc.;
o Índice de Massa Corporal acima de 25kg/m². - Os antecedentes familiares indicam se os parentes
Verificou-se uma alta prevalência de obesidade, prin- próximos apresentam doenças que podem ser transmitidas
cipalmente com relação ao sexo feminino, em todos os por hereditariedade, como por exemplo, as acima citadas;
países estudados. No Brasil, a prevalência de obesidade - A determinação de fatores psicossociais, como an-
é maior no sexo feminino, enquanto no Uruguai encon- siedade, depressão, condição socioeconômica que podem
tramos uma prevalência de obesidade semelhante em interferir na alimentação.
homens e mulheres. Tais resultados demonstram que são A análise conjunta desses dados conduz ao diagnósti-
necessárias medidas urgentes para que a população se co nutricional e à determinação de uma conduta dietética
conscientize dos males de uma dieta rica em gorduras e específica. A prescrição dietética é definida como uma in-
proteínas. Cabe aos especialistas em Nutrição alertar para a tervenção que implica na melhoria da saúde do indivíduo

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BIOLOGIA

através de uma dieta. O plano alimentar envolve a prescri- dos glúteos. Os valores de circunferência da cintura acima
ção de uma dieta adequada e balanceada e a sugestão de de 100cm são considerados potencialmente aterogênicos,
cardápios. Esta dieta deve levar em consideração a compo- ou seja, podem indicar maior deposição de colesterol nas
sição de nutrientes dos alimentos, equilíbrio entre quanti- artérias. Os valores limiares sugeridos como adequados
dade e qualidade dos nutrientes, ingestão de alimentos e para a relação da circunferência cintura/quadril são:
refeições do dia, respeitando a adequação e as preferências - 0,8 para mulheres de meia idade ou idosas
individuais. - 0,9 para homens
Valores superiores são considerados fatores de risco de
Indicadores de riscos para a saúde doença cardiovascular, apresentando correlação positiva
O índice de massa corpórea (IMC) e a relação cin- com a mortalidade cardiovascular em homens e mulheres.
tura quadril Embora a relação cintura quadril tenha sido bastante
Muitos profissionais da saúde, incluindo médicos e nu- empregada para estimar a distribuição de gordura corpó-
tricionistas, buscam relacionar os níveis de obesidade ao rea, a literatura recente sugere que a circunferência abdo-
risco para a saúde. O peso como um parâmetro isolado, minal pode indicar uma melhor correlação com doenças
embora seja frequentemente obtido como parte da rotina crônicas e degenerativas e a ocorrência de adiposidade na
de consultórios, não constitui uma boa informação sobre região central do corpo. Fortes correlações foram obser-
esta relação. Quando o peso é relacionado a outros parâ- vadas com o risco para diabetes tipo 2, doenças cardio-
metros, como o IMC e a circunferência abdominal, pode-se vasculares, hipertensão e dislipidemias. Quanto maior for a
obter uma estimativa da sua associação com o risco à saú- medida da circunferência abdominal, maior é o risco de se
de. Estas informações são muito importantes no acompa- adquirir doenças crônicas e degenerativas.
nhamento do controle da obesidade e devem ser coletadas A distribuição regional da gordura corporal é um in-
rotineiramente. A utilização de indicadores de risco nutri- dicador de risco nutricional muito importante. Estudos re-
cional está cada vez mais sendo preconizada em estudos velam que existe uma íntima relação com o tipo de dis-
populacionais. O Índice de Massa Corpórea e a Relação cin- tribuição regional de gordura corporal e a ocorrência de
tura/quadril constituem os indicadores de risco nutricional doenças cardiovasculares. Os tipos de distribuição de gor-
mais utilizados devido à sua fácil obtenção e a precisão nos dura corporal dividem-se em: abdominal, conhecida como
resultados andróide, e no quadril, denominada ginecoide. O tipo de
A utilização do Índice de Massa Corpórea (IMC) na distribuição de gordura corporal que apresenta maior re-
avaliação do risco à saúde é o instrumento mais prático lação com o aparecimento de doenças cardiovasculares é
para orientar o tratamento da obesidade e é considerada o andróide.
a melhor estimativa da relação entre obesidade e o risco Conhecendo-se o grau de risco nutricional ao qual o
nutricional. Constitui uma ferramenta importante e fácil de indivíduo está submetido, o passo seguinte é o estabeleci-
ser obtida para o diagnóstico nutricional. Ele é calculado da mento da conduta dietética, que consiste na prescrição de
seguinte forma: uma dieta individualizada e adequada nutricionalmente, na
orientação da dieta prescrita e no acompanhamento evo-
lutivo do paciente.

Já há algum tempo, a magnitude das doenças cardio-


vasculares como causa de óbito e morbidade tem susci-
tado estudos que relacionam certos fatores (tabagismo,
alcoolismo, hipercolesterolemia, obesidade, “stress”, diabe-
onde: tes melitus, hipertensão arterial e outros), ao aparecimento
peso = peso atual em kg; dessas doenças. No intuito de tentar evitar a morte precoce
altura = em metros, elevada ao quadrado. e a morbidade por essas citadas doenças, em sua maior
parte incapacitantes, tem-se formulado duas estratégias
A definição de faixas de IMC saudáveis (IMC=19 a 25) é básicas: a do “enfoque de risco” e a do “enfoque popula-
aceita pela Organização Mundial da Saúde e está baseada cional”. O primeiro propõe o controle de exposição a fa-
na avaliação do risco da obesidade (Meisler) em ocasionar tores de risco em indivíduos com alto risco para doenças
doenças crônicas degenerativas. O IMC pode classificar o cardiovasculares (DCV), em trabalho realizado indivíduo a
indivíduo em: indivíduo. Já o “enfoque populacional” pretende alcançar a
- Desnutrição: <18,5 redução dos fatores de risco na população, realizando-se a
- Eutrofia : 18,5 – 24,9 abordagem ao nível do coletivo. Ambas as estratégias tem
- Sobrepeso: 25 – 30 como pressuposto que a supressão de um ou mais fatores
- Obesidade moderada: 30 – 40 de risco acarretaria diminuição da mortalidade e morbida-
- Obesidade mórbida: > 40 de por DCV.
A relação cintura/quadril é o índice mais utilizado para O Ministério da Saúde, pela sua Divisão Nacional de
averiguar a distribuição local de tecido adiposo regional. A Doenças Crônico-Degenerativas, lançou as “Bases Estraté-
circunferência da cintura é determinada na área mais estrei- gicas e Operacionais” para o controle das DCV, em docu-
ta, acima do umbigo e a do quadril, sobre a área máxima mento onde faz uma breve avaliação do trabalho realizado

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BIOLOGIA

naquele ano e expõe sua proposta de atuação. O docu- Calcula-se que, em todo o mundo, existam 177 milhões
mento prevê que a abordagem do problema seja feita atra- de pessoas a sofrer de diabetes, sobretudo de tipo 2. Dois
vés dos dois enfoques, o de risco e o populacional. terços do total vivem nos países em vias de desenvolvi-
O trabalho de prevenção pela “estratégia populacio- mento. Mais de mil milhões de adultos sofrem de excesso
nal” seria realizado por meio de campanhas anti-fumo, a de peso. Destes, pelo menos 300 milhões são clinicamen-
favor dos exercícios físicos e da dieta mais equilibrada. Já o te obesos. Apesar de muito diferentes entre si, as doenças
trabalho de prevenção pela “estratégia de alto risco” seria crônicas apresentam fatores de risco comuns. São poucos
realizado pela assistência médica prestada aos indivíduos e podem ser prevenidos:
de alto risco, especialmente hipertensos, com a detecção - Colesterol elevado;
e controle dos principais fatores de risco, tais como fumo, - Tensão arterial elevada;
obesidade, hipercolesterolemia, entre outros. - Obesidade;
- Tabagismo;
A avaliação do processo de trabalho, busca compreen- - Consumo de álcool.
der as relações que se estabelecem, no processo de traba-
lho em saúde, entre os elementos que o constituem: objeto Através da alteração do seu estilo de vida poderá, em
do trabalho, meios de trabalho (onde se incluem, além dos pouco tempo, reduzir o risco de desenvolver uma doen-
instrumentos materiais, o conhecimento clínico e o co- ça crônica. Alterando a dieta alimentar – privilegiar frutas,
nhecimento epidemiológico), e agentes do trabalho; estes vegetais, frutos secos e cereais integrais; substituir as gor-
são determinados, em última instância, pela necessidade duras animais saturadas por gorduras vegetais insaturadas;
social de obtenção dos produtos desse processo de traba- reduzir as doses de alimentos salgados e doces; Iniciando
lho. Nesses termos, a avaliação deve reconhecer quais são a prática de exercício físico diário; Mantendo um peso nor-
essas necessidades (ou, pelo menos, qual é sua expressão mal – Índice de Massa Corporal entre 18,5 e 24,9. Eliminan-
hegemônica), e verificar se o processo efetivamente reali- do o consumo de tabaco.
zado é adequado à satisfação dessas necessidades sociais. Já está comprovado que as intervenções comporta-
É evidente que a satisfação efetiva dessa necessidade só mentais sustentadas são eficazes na redução dos fatores
pode ser apreendida pelo próprio conjunto social que, ao de risco para a população. Mais de 80% dos casos de ocor-
fazê-lo, reitera, modifica ou substitui aquele processo por rência de doenças cardíacas coronárias, 90% dos casos de
outro. diabetes de tipo 2 e de um terço das ocorrências de cancro
Deste modo, três enfoques aparecem como pertinen- podem ser evitados através da alteração dos hábitos ali-
tes para a avaliação do processo de trabalho relativo a mentares, do aumento de atividade física e do abandono
ações programáticas dirigidas ao controle de DCV: avalia- do tabagismo.
ção da cobertura, avaliação do uso do serviço, e avaliação
do conteúdo das ações. Doenças Sexualmente Transmissíveis
A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que as Doenças sexualmente transmissíveis ou Infecção se-
doenças crônicas de declaração não obrigatória, como as xualmente transmissível, conhecida popularmente por
doenças cardiovasculares, a diabetes, a obesidade, o can- DST são patologias antigamente conhecidas como doen-
cro e as doenças respiratórias, representam cerca de 59% ças venéreas. São doenças infecciosas que se transmitem
do total de 57 milhões de mortes por ano e 46 por cento essencialmente (porém não de forma exclusiva) pelo con-
do total de doenças. Afetam países desenvolvidos e países tato sexual. O uso de preservativo (camisinha) tem sido
em vias de desenvolvimento. A expansão das doenças crô- considerado como a medida mais eficiente para prevenir
nicas reflete os processos de industrialização, urbanismo, a contaminação e impedir sua disseminação. Alguns gru-
desenvolvimento econômico e globalização alimentar, que pos, principalmente os religiosos, afirmam que a castidade,
acarretam: a abstinência sexual e a fidelidade poderiam bastar para
- Alteração das dietas alimentares; evitar a disseminação de tais doenças.
- Aumento dos hábitos sedentários; Pesquisas afirmam que a contaminação de pessoas
- Crescimento do consumo de tabaco. monogâmicas e não fiéis portadoras de DST tem aumen-
tado, em resultado da contaminação ocasional do compa-
Cerca de metade das mortes causadas por doenças nheiro (a), que pode contrair a doença em relações extra-
crônicas está diretamente associada às doenças cardiovas- conjugais. Todavia, as campanhas pelo uso do preservativo
culares. Os ataques cardíacos e os enfartes do miocárdio nem sempre conseguem reduzir a incidência de doenças
matam cerca de 12 milhões de pessoas por ano. A hiper- sexualmente transmissíveis.
tensão e outras doenças cardíacas matam, por sua vez, 3,9
milhões de pessoas. Cerca de 75% das doenças cardiovas- História: Nas primeiras civilizações havia o culto aos
culares são atribuíveis a: deuses e deusas da fertilidade, que eram consideradas
- Colesterol elevado; como uma dádiva. O culto à essas deusas era feito princi-
- Tensão arterial elevada; palmente a partir da prostituição. Uma das características
- Dieta pobre em frutas e vegetais; presentes nessas sociedades era a promiscuidade, um dos
- Sedentarismo; motivos para o surgimento dessas doenças, que mais tarde
- Tabagismo. seriam conhecidas como doenças venéreas, em referência

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BIOLOGIA

à Vênus, considerada a deusa do amor. A Gonorreia foi cita- falsa sensação de melhora. As mulheres representam um
da na bíblia, mas a causa da doença só foi conhecida no sé- grupo que deve receber especial atenção, uma vez que em
culo XIX. Além disso, no Egito antigo tumbas apresentaram diferentes casos de DST os sintomas levam tempo para tor-
alguns registros sobre a Sífilis. Em 1494 houve um surto de narem-se perceptíveis ou confundem-se com as reações
sífilis na Europa. A doença se espalhou rapidamente pelo orgânicas comuns de seu organismo. Isso exige da mulher,
continente, matando mais de cinco milhões de pessoas. em especial aquelas com vida sexual ativa, independente
Cada localidade que ela passava recebia um nome dife- da idade, consultas periódicas ao serviço de saúde. Cer-
rente. Contudo, em 1536 foi publicado um poema médico, tas DST, quando não diagnosticadas e tratadas a tempo,
em que um dos personagens da história havia contraído a podem evoluir para complicações graves como infertilida-
doença. O nome do personagem era Sífilo. Antes de serem de, infecções neonatais, malformações congênitas, aborto,
inventados os medicamentos, as doenças eram considera- câncer e a morte. Num caso, a primeira recomendação é
das incuráveis, e o tratamento se limitava a diminuir os sin- procurar um médico, que fará diagnóstico para que seja
tomas. Todavia, no século XX surgiram os antibióticos, que preparado um tratamento. Também há o controle de cura,
se mostraram bastante eficientes. Em 1980 a herpes genital ou seja, uma reavaliação clínica. A automedicação é alta-
e a AIDS na sociedade como doenças incuráveis. Essa, por mente perigosa, pois pode até fazer com que a doença seja
sua vez se tornou uma pandemia. camuflada.
Causa
Epidemiologia: Incidência de DSTs (exceto AIDS) por
Vários tipos de agentes infecciosos (vírus, fungos, bac-
idade a cada 100 mil habitantes em 2004. As taxas de inci-
térias e parasitas) estão envolvidos na contaminação por dência de doenças sexualmente transmissíveis continuam
DST, gerando diferentes manifestações, como feridas, cor- a altos níveis em todo o mundo, apesar dos avanços de
rimentos, bolhas ou verrugas. diagnosticação e tratamento. Em muitas culturas, especial-
Bactérias Cancro mole (Haemophilus ducreyi) mente para as mulheres houve a eliminação de restrições
Clamídia (Chlamydia trachomatis’) sexuais através da mudança na moral e o uso de contra-
Granuloma inguinal (Dovania granulamatis) ceptivos, e tanto médicos e pacientes acabam tendo difi-
Gonorreia (Neisseria gonorrhoeae) culdade em lidar de forma aberta e francamente com essas
Sífilis (Treponema pallidum) questões. Além disso, o desenvolvimento e a disseminação
Vaginose Bacteriana (Gardnerella vaginalis) de bactérias resistentes aos antibióticos fazem que certas
Vírus Hepatite doenças sejam cada vez mais difíceis de serem curadas.
Herpes simples Em 1996, a OMS estimou que mais de um milhão de
HIV ou AIDS pessoas estavam sendo infectadas diariamente, e cerca de
HPV 60% dessas infecções em jovens menores de 25 anos de
Molusco contagioso idade, e cerca desses jovens 30% são menores de 20 anos.
Parasitas Piolho-da-púbis Entre as idades de 14 a 19 anos, as doenças ocorrem mais
Protozoários Tricomoníase (Trichomonas vaginalis) em mulheres em uma proporção quase dobrada. Estima-se
que cerca de 340 milhões de novos casos de sífilis, gonor-
Prevenção reia, clamídia, tricomoníase ocorreram em todo o planeta
Preservativo: O preservativo, mais conhecido como ca- em 1999. A Aids é a maior causa da mortalidade na África
misinha é um dos métodos mais seguros contra as DSTs. Subsaariana, sendo que em cinco mortes uma é por causa
Sua matéria prima é o látex. Antes de chegar nas lojas, é da doença. Por causa da situação, o governo do Quênia pe-
submetido à vários testes de qualidade. Apesar de ser o diu que a população deixasse de fazer sexo por dois anos.
método mais eficiente contra a transmissão do vírus HIV No Brasil, desde o primeiro caso até junho de 2011 foram
(causador da epidemia da SIDA), o uso de preservativo não registrados mais de seiscentos mil casos da doença. Entre
2000 e 2010, a incidência caiu na Região Sudeste, enquan-
é aceito pela Igreja Católica Romana, pelas Igrejas Orto-
to nas outras regiões aumentou. A mortalidade também
doxas e pelos praticantes do Hinduísmo. O principal argu-
diminuiu. As cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba
mento utilizado pelas religiões para sua recusa é que um
e Porto Alegre são as que possuem o maior número dos
comportamento sexual avesso à promiscuidade e à infide- portadores da doença. Em contrapartida, o país é um dos
lidade conjugal bastaria para a proteção contra DSTs. que mais se destacam no combate, além de ser o líder em
distribuição gratuita do Coquetel anti-HIV.
Vacina: Alguns tipos de HPV, a Hepatite A e B podem O modelo de Política Pública para DST/Aids do Estado
ser prevenidas através da vacina. de São Paulo. O Programa Estadual de DST/Aids (PE-DST/
Aids) foi criado em 1983, com quatro objetivos básicos: vi-
Abstinência sexual: A abstinência sexual consiste em gilância epidemiológica, esclarecimento à população para
evitar relações sexuais de qualquer espécie. Possui forte evitar o pânico e discriminação dos grupos considerados
ligação com a religião. vulneráveis na época, garantia de atendimento aos casos
verificados e orientação aos profissionais de saúde. No pri-
Tratamento meiro momento, a Divisão de Hanseníase e Dermatologia
Algumas DSTs são de fácil tratamento e de rápida re- Sanitária, órgão do Instituto de Saúde da SES/SP, sediou o
solução quando tratadas corretamente, contudo outras são Programa e a organização inicial do que seria posterior-
de tratamento difícil ou permanecem latentes, apesar da mente o serviço de referência.

103
BIOLOGIA

O Instituto de Infectologia Emílio Ribas (IIER) e o Insti- Hanseníase


tuto Adolfo Lutz (IAL) foram designados, respectivamente, Características Gerais
como retaguardas hospitalar e laboratorial. Em 1988, foi Doença crônica granulomatosa, proveniente de infec-
criado o Centro de Referência e Treinamento em Aids (CR- ção causada pelo Mycobacterium leprae. Esse bacilo tem a
T-A), vinculado ao gabinete do Secretário da Saúde. Tinha capacidade de infectar grande número de indivíduos (alta
como metas prioritárias, além da referência técnica, atuar infectividade), no entanto poucos adoecem (baixa patoge-
como capacitador e gerador de normas técnicas, com vis- nicidade); propriedades essas que não são em função ape-
tas a um processo de descentralização das atividades de nas de suas características intrínsecas, mas que dependem,
prevenção, vigilância e assistência no Estado de São Paulo. sobretudo, de sua relação com o hospedeiro e o grau de
Além de capacitação e monitorização técnica, o CRT-A endemicidade do meio, entre outros aspectos. O domicílio
teve, neste período, um importante papel na implementa-
é apontado como importante espaço de transmissão da
ção de alternativas assistenciais, como hospital-dia e as-
sistência domiciliar terapêutica. Em 1993, ocorre a junção doença, embora ainda existam lacunas de conhecimento
dos programas de aids e DST e a transformação do CRT quanto aos prováveis fatores de risco implicados, espe-
em Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids (CRT cialmente aqueles relacionados ao ambiente social. O alto
-DST/Aids). Em 1995, o CRT-DST/Aids retoma seu papel de potencial incapacitante da hanseníase está diretamente re-
instância de Coordenação do Programa Estadual de DST/ lacionado ao poder imunogênico do M. leprae. A hansenía-
Aids, o que delimitou com maior precisão a função estra- se parece ser uma das mais antigas doenças que acomete
tégica da instituição, como referência técnica e como sede o homem. As referências mais remotas datam de 600 a.C.
da Coordenação do Programa Estadual de DST/Aids. Em e procedem da Ásia, que, juntamente com a África, po-
1996 o CRT-DST/Aids passa a ser vinculado à Coordenação dem ser consideradas o berço da doença. A melhoria das
dos Institutos de Pesquisa (CIP), órgão então responsável condições de vida e o avanço do conhecimento científico
pela definição das políticas de saúde pública no âmbito da modificaram significativamente o quadro da hanseníase,
Secretaria de Estado da Saúde-SP.. que atualmente tem tratamento e cura. No Brasil, cerca de
Com a mudança de estrutura ocorrida na Secretaria de 47.000 casos novos são detectados a cada ano, sendo 8%
Estado da Saúde em 2005, a Coordenação dos Institutos de deles em menores de 15 anos.
Pesquisa passou a chamar-se Coordenadoria de Controle
de Doenças. A Coordenação do Programa Estadual de DST/ Agente Etiológico: O M. leprae é um bacilo álcool-áci-
Aids, apoiada na estrutura do CRTDST/Aids, é responsável
do resistente, em forma de bastonete. É um parasita intra-
pela implementação, articulação, supervisão e monitora-
celular, sendo a única espécie de microbactéria que infecta
mento das políticas e estratégias relativas às DST/Aids, nas
áreas de Prevenção, Assistência, Vigilância Epidemiológica, nervos periféricos, especificamente células de Schwann.
em todo o Estado de São Paulo. Esse bacilo não cresce em meios de cultura artificiais, ou
O PE-DST/Aids adota como referências éticas e políti- seja, in vitro.
cas a luta pelos direitos de cidadania dos afetados e contra Reservatório: O ser humano é reconhecido como a
o estigma e a discriminação, a garantia do acesso universal única fonte de infecção, embora tenham sido identificados
à assistência gratuita, incluindo medicamentos específicos, animais naturalmente infectados – o tatu, macaco manga-
e o direito de acesso aos meios adequados de prevenção. bei e o chimpanzé. Os doentes com muitos bacilos (mul-
O PE-DST/Aids atua de forma coordenada com outros se- tibacilares-MB) sem tratamento – hanseníase virchowiana
tores governamentais, como Justiça, Educação e Promoção e hanseníase dimorfa – são capazes de eliminar grande
Social, e em estreita colaboração com as ONGs que atuam quantidade de bacilos para o meio exterior (carga bacilar
nesta área. de cerca de 10 milhões de bacilos presentes na mucosa
O Estado de São Paulo é dividido em 28 Grupos de nasal).
Vigilância Epidemiológica (GVE) que, por sua vez, contam Modo de transmissão: A principal via de eliminação
com um interlocutor do PE-DST/Aids, responsáveis pela dos bacilos dos pacientes multibacilares (virchowianos e di-
implementação das ações nos níveis regionais e locais. morfos) é a aérea superior, sendo, também, o trato respira-
A estrutura e a missão do CRT DST/Aids permitem pro- tório a mais provável via de entrada do M. leprae no corpo.
ver atendimento, criar e validar procedimentos preventivos
e modelos de assistência, avaliar e levar adiante pesquisas
Período de incubação: A hanseníase apresenta longo
clínicas e oferecer treinamentos com maior legitimidade
diante dos profissionais e instituições do Estado. período de incubação; em média, de 2 a 7 anos. Há refe-
Este modelo organizacional é único no Brasil e na Amé- rências a períodos mais curtos, de 7 meses, como também
rica Latina e tem sido uma estrutura e a missão do CRTDST/ a mais longos, de 10 anos.
Aids permitem prover atendimento, criar e validar procedi- Período de transmissibilidade: Os doentes com pou-
mentos preventivos e modelos de assistência, avaliar e le- cos bacilos – paucibacilares (PB), indeterminados e tuber-
var adiante pesquisas clínicas e oferecer treinamentos com culóides – não são considerados importantes como fonte
maior legitimidade diante dos profissionais e instituições de transmissão da doença, devido à baixa carga bacilar. Os
do Estado. Este modelo organizacional é único no Brasil e pacientes multibacilares, no entanto, constituem o grupo
na América Latina e tem sido um dos fatores para os êxi- contagiante, assim se mantendo como fonte de infecção,
tos obtidos pelo Programa Estadual DST/Aids, nos últimos enquanto o tratamento específico não for iniciado.
anos.

104
BIOLOGIA

Suscetibilidade e imunidade: Como em outras doenças infecciosas, a conversão de infecção em doença depende de
interações entre fatores individuais do hospedeiro, ambientais e do próprio M. leprae. Devido ao longo período de incu-
bação, a hanseníase é menos frequente em menores de 15 anos, contudo, em áreas mais endêmicas, a exposição precoce,
em focos domiciliares, aumenta a incidência de casos nessa faixa etária. Embora acometa ambos os sexos, observa-se
predominância do sexo masculino.

Aspectos Clínicos e Laboratoriais


Diagnóstico Clínico
O diagnóstico é essencialmente clínico e epidemiológico, realizado por meio da análise da história e condições de
vida do paciente, do exame dermatoneurológico, para identificar lesões ou áreas de pele com alteração de sensibilidade
e/ou comprometimento de nervos periféricos (sensitivo, motor e/ou autonômico). O diagnóstico é essencialmente clínico
e epidemiológico, realizado por meio da análise da história e condições de vida do paciente, do exame dermatoneuroló-
gico, para identificar lesões ou áreas de pele com alteração de sensibilidade e/ou comprometimento de nervos periféricos
(sensitivo, motor e/ou autonômico).
Os casos com suspeita de comprometimento neural, sem lesão cutânea (suspeita de hanseníase neural pura), e aqueles
que apresentam área com alteração sensitiva e/ou autonômica duvidosa e sem lesão cutânea evidente deverão ser encami-
nhados para unidades de saúde de maior complexidade para confirmação diagnóstica. Recomenda-se que nessas unidades
os mesmos sejam submetidos novamente ao exame dermatoneurológico criterioso, à coleta de material (baciloscopia ou
histopatologia cutânea ou de nervo periférico sensitivo), a exames eletrofisiológicos e/ou outros mais complexos, para
identificar comprometimento cutâneo ou neural discreto e para diagnóstico diferencial com outras neuropatias periféricas.
Em crianças, o diagnóstico da hanseníase exige exame criterioso, diante da dificuldade de aplicação e interpretação dos
testes de sensibilidade. Nesse caso, recomenda-se utilizar o “Protocolo Complementar de Investigação Diagnóstica de Ca-
sos de Hanseníase em Menores de 15 Anos” (Portaria SVS/SAS/MS nº 125, de 26 de março de 2009). O diagnóstico de han-
seníase deve ser recebido de modo semelhante ao de outras doenças curáveis. Se vier a causar impacto psicológico, tanto
a quem adoeceu quanto aos familiares ou pessoas de sua rede social, essa situação requererá uma abordagem apropriada
pela equipe de saúde, que permita a aceitação do problema, superação das dificuldades e maior adesão aos tratamentos.
Essa atenção deve ser oferecida no momento do diagnóstico, bem como no decorrer do tratamento da doença e, se
necessária, após a alta. A classificação operacional do caso de hanseníase, visando o tratamento com poliquimioterapia é
baseada no número de lesões cutâneas de acordo com os seguintes critérios:
- Paucibacilar (PB) – casos com até 5 lesões de pele;
- Multibacilar (MB) – casos com mais de 5 lesões de pele.
Diagnóstico Diferencial: As seguintes dermatoses podem se assemelhar a algumas formas e reações de hanseníase
e exigem segura diferenciação: eczemátides, nevo acrômico, pitiríase versicolor, vitiligo, pitiríase rósea de Gilbert, eritema
solar, eritrodermias e eritemas difusos vários, psoríase, eritema polimorfo, eritema nodoso, eritemas anulares, granuloma
anular, lúpus eritematoso, farmacodermias, fotodermatites polimorfas, pelagra, sífilis, alopécia areata (pelada), sarcoidose,
tuberculose, xantomas, hemoblastoses, esclerodermias, neurofibromatose de Von Recklinghausen.

Diagnóstico Laboratorial
Exame baciloscópico – a baciloscopia de pele (esfregaço intradérmico), quando disponível, deve ser utilizada como
exame complementar para a classificação dos casos em PB ou MB. A baciloscopia positiva classifica o caso como MB, inde-
pendentemente do número de lesões.

Atenção: O resultado negativo da baciloscopia não exclui o diagnóstico de hanseníase.


Exame histopatológico – indicado como suporte na elucidação diagnóstica e em pesquisas.

Quadro 1. Sinopse para classificação das formas clínicas da hanseníase

Classificação operacional vigente


Clínicas Baciloscópicas Formas clínicas
para a rede pública
Áreas de hipo ou anestesia, parestesias,
manchas hipocrômicas e/ou eritemohipo-
crômicas, Negativa Indeterminada (HI) Paucibacilar (PB)
com ou sem diminuição da sudorese e rare-
fação de pelos.

105
BIOLOGIA

Placas eritematosas, eritemato-hipocrômi-


cas, até 5 lesões de pele bem delimitadas,
Negativa Tuberculóide (HT) Paucibacilar (PB)
hipo ou anestésicas, podendo ocorrer com-
prometimento de nervos.
Lesões pré-foveolares (eritematosas planas
Positiva (bacilos e
com o centro claro). Lesões foveolares (eri- Multibacilar (MB)
globias ou com
tematopigmentares de tonalidade ferrugino- Dimorfa (HD)
raros bacilos) ou Mais de 5 lesões
sa ou pardacenta), apresentando alterações
negativa
de sensibilidade.
Eritema e infiltração difusos, placas erite-
matosas de pele, infiltradas e de bordas mal Positiva (bacilos Multibacilar (MB)
definidas, tubérculos e nódulos, madarose, abundantes Virchowiana (HV)
lesões das mucosas, com alteração de sen- e globias) Mais de 5 lesões
sibilidade.

Avaliação do grau de incapacidade e da função neural

É imprescindível avaliar a integridade da função neural e o grau de incapacidade física no momento do diagnóstico
do caso de hanseníase e do estado reacional. Para determinar o grau de incapacidade física, deve-se realizar o teste da
sensibilidade dos olhos, mãos e pés. É recomendada a utilização do conjunto de monofilamentos de Semmes-Weinstein (6
monofilamentos: 0.05g, 0.2g, 2g, 4g, 10g e 300g), nos pontos de avaliação de sensibilidade em mãos e pés, e do fio dental
(sem sabor) para os olhos. Considera-se, grau 1 de incapacidade, ausência de resposta ao filamento igual ou mais pesado
que o de 2g (cor violeta). O formulário para avaliação do grau de incapacidade física (Anexo III da Portaria SVS/SAS/MS nº
125, de 26 de março de 2009), deverá ser preenchido conforme critérios expressos no Quadro 2.

Quadro 2. Critérios de avaliação do grau de incapacidade e da função neural


Grau Características
0 Nenhum problema com os olhos, mãos e pés devido à hanseníase.
1 Diminuição ou perda da sensibilidade nos olhos, diminuição ou perda da sensibilidade nas mãos e ou pés
Olhos: lagoftalmo e/ou ectrópio; triquíase; opacidade corneana central; acuidade visual menor que 0,1 ou não
conta dedos a 6m de distância.
2
Mãos: lesões tróficas e/ou lesões traumáticas; garras; reabsorção; mão caída.
Pés: lesões tróficas e/ou traumáticas; garras; reabsorção; pé caído; contratura do tornozelo.

Para verificar a integridade da função neural recomenda-se a utilização do formulário de Avaliação Neurológica Sim-
plificada (Anexo IV da Portaria SVS/SAS/MS nº 125, de 26 de março de 2009). Para avaliação da força motora, preconiza-se
o teste manual da exploração da força muscular, a partir da unidade músculo-tendinosa durante o movimento e da capa-
cidade de oposição à força da gravidade e à resistência manual, em cada grupo muscular referente a um nervo específico.
Os critérios de graduação da força muscular podem ser expressos como forte, diminuída e paralisada ou de zero a cinco,
conforme o Quadro 3.
Quadro 3. Critérios de graduação da força muscular
Força Descrição
Forte 5 Realiza o movimento completo contra a gravidade, com resistência máxima.
4 Realiza o movimento completo contra a gravidade, com resistência parcial.
3 Realiza o movimento completo contra a gravidade.
Diminuída
2 Realiza o movimento parcial.
1 Contração muscular sem movimento.
Paralisada
0 Paralisia (nenhum movimento)

Reações Hansênicas
Os estados reacionais ou reações hansênicas são alterações do sistema imunológico, que se exteriorizam como ma-
nifestações inflamatórias agudas e subagudas, que podem ocorrer mais frequentemente nos casos MB (Quadro 4). Elas
podem ocorrer antes (às vezes, levando à suspeição diagnóstica de hanseníase), durante ou depois do tratamento com
Poliquimioterapia (PQT):

106
BIOLOGIA

- Reação Tipo 1 ou reação reversa (RR) – caracteriza-se pelo aparecimento de novas lesões dermatológicas (manchas
ou placas), infiltração, alterações de cor e edema nas lesões antigas, com ou sem espessamento e dor de nervos periféricos
(neurite).

- Reação Tipo 2, cuja manifestação clínica mais frequente é o eritema nodoso hansênico (ENH) – caracteriza-se
por apresentar nódulos subcutâneos dolorosos, acompanhados ou não de febre, dores articulares e mal-estar generalizado,
com ou sem espessamento e dor de nervos periféricos (neurite).

Os estados reacionais são a principal causa de lesões dos nervos e de incapacidades provocadas pela hanseníase.
Portanto, é importante que o diagnóstico das reações seja feito precocemente, para se dar início imediato ao tratamento,
visando prevenir essas incapacidades. Frente à suspeita de reação hansênica, recomenda-se:

- confirmar o diagnóstico de hanseníase e fazer a classificação operacional;

- diferenciar o tipo de reação hansênica;

- investigar fatores predisponentes (infecções, infestações, distúrbios hormonais, fatores emocionais e outros).

O diagnóstico dos estados reacionais é realizado através do exame físico geral e dermatoneurológico do paciente. Tais
procedimentos são também fundamentais para o monitoramento do comprometimento de nervos periféricos e avaliação
da terapêutica antirreacional. A identificação dos mesmos não contraindica o início do tratamento (PQT/OMS). Se os esta-
dos reacionais aparecerem durante o tratamento, esse não deve ser interrompido, mesmo porque reduz significativamente
a frequência e a gravidade dos mesmos. Se forem observados após o tratamento específico para a hanseníase, não é ne-
cessário reiniciá-lo e sim iniciar a terapêutica antirreacional.
Quadro 4. Síntese das reações hansênicas (tipo 1 e 2) em relação à classificação operacional da hanseníase: ca-
sos paucibacilares e multibacilares.

Tipo 1 Tipo 2
Episódios reacionais
Reação reversa Eritema nodoso hansênico (ENH)
Formas clínicas Paucibacilar Multibacilar
Antes do tratamento PQT ou nos primeiros 6 meses Pode ser a primeira manifestação da doença.
Início do tratamento. Pode ser a primeira manifestação Pode ocorrer durante ou após o tratamento da
com PQT. doença.
Processo de hiperatividade imunológica, em respos- Processo de hiperatividade imunológica, em res-
Causa
ta ao antígeno (bacilo ou fragmento bacilar). posta ao antígeno (bacilo ou fragmento bacilar).
- Aparecimento de novas lesões que podem ser - As lesões preexistentes permanecem inaltera-
eritemato-infiltradas (aspecto erisipilóide). das.
- Reagudização de lesões antigas. - Há aparecimento brusco de nódulos eritemato-
Manifestações clínicas
- Dor espontânea nos nervos periféricos. sos, dolorosos à palpação ou até mesmo espon-
- Aumento ou aparecimento de áreas hipo ou anes- taneamente que podem evoluir para vesículas,
tésicas. pústulas, bolhas ou úlceras.
Comprometimento sistê- É frequente. Apresenta febre, astenia, mialgias,
Não é frequente.
mico náuseas (estado toxêmico) e dor articular.
- Edema de extremidades.
- Edema de mãos e pés. - Irite, epistaxes, orquite, linfadenite.
Fatores associados
- Aparecimento brusco de mão em garra e pé caído. - Neurite. Comprometimento gradual dos tron-
cos nervosos.
- Leucocitose, com desvio à esquerda, e aumen-
Hematologia Pode haver leucocitose. to de imunoglobinas.
- Anemia.
- Lenta. - Rápida.
Evolução - Podem ocorrer sequelas neurológicas e complica- - O aspecto necrótico pode ser contínuo, durar
ções, como abcesso do nervo. meses e apresentar complicações graves.

107
BIOLOGIA

Tratamento poliquimioterápico – PQT/OMS

O tratamento é eminentemente ambulatorial. Nos serviços básicos de saúde, administra-se uma associação de medi-
camentos, a poliquimioterapia (PQT/OMS). A PQT/OMS mata o bacilo e evita a evolução da doença, prevenindo as incapa-
cidades e deformidades por ela causadas, levando à cura. O bacilo morto é incapaz de infectar outras pessoas, rompendo
a cadeia epidemiológica da doença. Assim sendo, logo no início do tratamento a transmissão da doença é interrompida e,
se realizado de forma completa e correta, garante a cura da doença. A PQT/OMS é constituída pelo conjunto dos seguintes
medicamentos: rifampicina, dapsona e clofazimina, com administração associada. Essa associação evita a resistência medi-
camentosa do bacilo que ocorre, com frequência, quando se utiliza apenas um medicamento, impossibilitando a cura da
doença. É administrada através de esquema padrão, de acordo com a classificação operacional do doente em paucibacilar
e multibacilar.

A informação sobre a classificação do doente é fundamental para se selecionar o esquema de tratamento adequado ao
seu caso. Para crianças com hanseníase, a dose dos medicamentos do esquema padrão é ajustada de acordo com a idade e
peso. Já no caso de pessoas com intolerância a um dos medicamentos do esquema padrão, são indicados esquemas alter-
nativos. A alta por cura é dada após a administração do número de doses preconizado pelo esquema terapêutico, dentro
do prazo recomendado. O tratamento da hanseníase é ambulatorial, utilizando os esquemas terapêuticos padronizados
(Quadro 5).

Quadro 5. Esquemas terapêuticos padronizados

Faixa Cartela PB Cartela MB

Rifampicina (RFM): cápsula de 300mg (2) Dapsona (DDS):


comprimido de 100mg (28) Dapsona (DDS): comprimido de
Rifampicina (RFM): cápsula de 300mg (2)
100mg (28) - Clofazimina (CFZ): cápsula de 100mg (3) e cápsu-
Adulto
la de 50mg (27)

Rifampicina (RFM): cápsula de 150mg (1) e cáp- Rifampicina (RFM): cápsula de 150mg (1) e cápsula de 300mg
sula de 300mg (1) Dapsona (DDS): comprimido Dapsona (DDS): comprimido de 50mg (28) - Clofazimina
Criança
de 50mg (28) (CFZ): cápsula de 50mg (16)

Nota: a gravidez e o aleitamento não contraindicam o tratamento PQT.

Esquemas terapêuticos
Os esquemas terapêuticos deverão ser utilizados de acordo com a classificação operacional (Quadros 6 e 7).

Quadro 6. Esquemas terapêuticos utilizados para Paucibacilar: 6 cartelas

Rifampicina (RFM): dose mensal de 600mg (2 cápsulas de 300mg), com administração supervisionada.

Adulto
Dapsona (DDS): dose mensal de 100mg, supervisionada, e dose diária de 100mg, autoadministrada.

Rifampicina (RFM): dose mensal de 450mg (1 cápsula de 150mg e 1 cápsula de 300mg), com administração
supervisionada.
Criança
Dapsona (DDS): dose mensal de 50mg, supervisionada, e dose diária de 50mg, autoadministrada

Duração: 6 doses.
Seguimento dos casos: comparecimento mensal para dose supervisionada.
Critério de alta: o tratamento estará concluído com 6 doses supervisionadas, em até 9 meses. Na 6ª dose, os pacientes
deverão ser submetidos ao exame dermatológico, avaliação neurológica simplificada e do grau de incapacidade física e
receber alta por cura.

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BIOLOGIA

Quadro 7. Esquemas terapêuticos utilizados para Multibacilar: 12 cartelas

Rifampicina (RFM): dose mensal de 600mg (2 cápsulas de 300mg), com administração supervisionada.
Dapsona (DDS): dose mensal de 100mg, supervisionada, e uma dose diária de 100mg, autoadministrada.

Adulto Clofazimina (CFZ): dose mensal de 300mg (3 cápsulas de 100mg), com administração supervisionada, e uma
dose diária de 50mg, autoadministrada.

Rifampicina (RFM): dose mensal de 450mg (1 cápsula de 150mg e 1 cápsula de 300 mg), com administração
supervisionada.

Dapsona (DDS): dose mensal de 50mg, supervisionada, e uma dose diária de 50mg, autoadministrada.
Criança
Clofazimina (CFZ): dose mensal de 150mg (3 cápsulas de 50mg), com administração supervisionada, e uma
dose de 50mg, autoadministrada, em dias alternados.

Duração: 12 doses.
Seguimento dos casos: comparecimento mensal para dose supervisionada.
Critério de alta: o tratamento estará concluído com 12 doses supervisionadas, em até 18 meses. Na 12ª dose, os pa-
cientes deverão ser submetidos ao exame dermatológico, avaliação neurológica simplificada e do grau de incapacidade
física, e receber alta por cura.
Os pacientes MB que não apresentarem melhora clínica, ao final do tratamento preconizado de 12 doses (cartelas), de-
verão ser encaminhados para avaliação nas unidades de maior complexidade, para verificar a necessidade de um segundo
ciclo de tratamento, com 12 doses.

Notas: Em crianças ou adulto com peso inferior a 30kg, ajustar a dose de acordo com o peso conforme as orientações
do Quadro 8.

Quadro 8. Esquemas terapêuticos utilizados para crianças ou adultos com peso inferior a 30kg

Dose mensal Dose diária


Rifampicina (RFM)- 10 a 20mg/kg
Dapsona (DDS) – 1,5mg/kg Dapsona (DDS) –
1,5mg/kg
Clofazimina (CFZ) – 5mg/kg Clofazimina (CFZ) –
1mg/kg

- Nos casos de hanseníase neural pura, o tratamento com PQT dependerá da classificação (PB ou MB), conforme avalia-
ção do centro de referência; além disso, faz-se o tratamento adequado do dano neural. Os pacientes deverão ser orientados
para retorno imediato à unidade de saúde, em caso de aparecimento de lesões de pele e/ou de dores nos trajetos dos
nervos periféricos e/ou piora da função sensitiva e/ou motora, mesmo após a alta por cura.
- Em mulheres na idade reprodutiva, deve-se atentar ao fato que a rifampicina pode interagir com anticoncepcionais
orais, diminuindo a sua ação.

Efeitos colaterais dos medicamentos e condutas

Os medicamentos em geral, aqueles utilizados na poliquimioterapia e no tratamento dos estados reacionais, também
podem provocar efeitos colaterais. No entanto, os trabalhos bem controlados, publicados na literatura disponível, permi-
tem afirmar que o tratamento PQT/OMS raramente precisa ser interrompido em virtude de efeitos colaterais.
A equipe da unidade básica precisa estar sempre atenta para essas situações, devendo, na maioria das vezes, encami-
nhar a pessoa à unidade de referência para receber o tratamento adequado.
A seguir, são apresentados os possíveis efeitos colaterais dos medicamentos utilizados na PQT/OMS e no tratamento
dos estados reacionais, bem como as principais condutas a serem adotadas para combatê-los. O diagnóstico desses efeitos
colaterais é fundamentalmente baseado nos sinais e sintomas por eles provocados.

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BIOLOGIA

Efeitos colaterais da rifampicina Outros efeitos colaterais raros podem ocorrer, tais
Cutâneos – rubor de face e pescoço, prurido e rash como insônia e neuropatia motora periférica.
cutâneo generalizado.
Gastrointestinais – diminuição do apetite e náuseas. Efeitos colaterais dos medicamentos utilizados nos
Ocasionalmente, podem ocorrer vômitos, diarreias e dor episódios reacionais
abdominal leve. Efeitos colaterais da talidomida
Hepáticos – mal-estar, perda do apetite, náuseas, po- - Teratogenicidade;
dendo ocorrer também icterícia. São descritos dois tipos - sonolência, edema unilateral de membros inferiores,
de icterícias: a leve ou transitória e a grave, com danos he- constipação intestinal, secura de mucosas e, mais raramen-
páticos importantes. A medicação deve ser suspensa e o te, linfopenia;
paciente encaminhado à unidade de referência se as tran- - neuropatia periférica, não comum no Brasil, pode
saminases e/ou bilirrubinas aumentarem mais de duas ve- ocorrer em doses acumuladas acima de 40g, sendo mais
zes o valor normal. frequente em pacientes acima de 65 anos de idade.
Hematopoéticos – trombocitopenia, púrpuras ou Efeitos colaterais dos corticosteroides
sangramentos anormais, como epistaxes. Podem também - Hipertensão arterial;
ocorrer hemorragias gengivais e uterinas. Nesses casos, o
- disseminação de infestação por Strongyloides ster-
paciente deve ser encaminhado ao hospital.
coralis;
Anemia hemolítica – tremores, febre, náuseas, cefa-
- disseminação de tuberculose pulmonar;
leia e, às vezes, choque, podendo também ocorrer icterí-
- distúrbios metabólicos: redução de sódio e potássio,
cia leve. Raramente ocorre uma síndrome “pseudogripal”,
quando o paciente apresenta: febre, calafrios, astenia, mial- aumento das taxas de glicose no sangue, alteração no me-
gias, cefaleia, dores ósseas. Esse quadro pode evoluir com tabolismo do cálcio, levando à osteoporose e à síndrome
eosinofilia, nefrite intersticial, necrose tubular aguda, trom- de Cushing;
bocitopenia, anemia hemolítica e choque. Esta síndrome, - gastrointestinais: gastrite e úlcera péptica;
muito rara, se manifesta a partir da 2ª ou 4ª dose supervi- - outros efeitos: agravamento de infecções latentes,
sionada, devido à hipersensibilidade por formação de anti- acne cortisônica e psicoses.
corpos anti-rifampicina, quando o medicamento é utilizado
em dose intermitente. Condutas gerais em relação aos efeitos colaterais
A coloração avermelhada da urina não deve ser con- dos medicamentos
fundida com hematúria. A secreção pulmonar avermelha- A equipe de saúde deve estar sempre atenta para a
da não deve ser confundida com escarros hemoptóicos. possibilidade de ocorrência de efeitos colaterais dos medi-
A pigmentação conjuntival não deve ser confundida com camentos utilizados na PQT e no tratamento dos estados
icterícia. reacionais, devendo realizar imediatamente a conduta ade-
quada.
Efeitos colaterais da clofazimina
Cutâneos – ressecamento da pele, que pode evoluir Condutas no caso de náuseas e vômitos incontro-
para ictiose, alteração na coloração da pele e suor. Nas pes- láveis
soas de pele escura, a cor pode se acentuar; nas pessoas - Suspender o tratamento;
claras, a pele pode ficar com uma coloração avermelhada - encaminhar o paciente para a unidade de referência;
ou adquirir um tom acinzentado, devido à impregnação e - solicitar exames complementares, para realizar diag-
ao ressecamento. Esses efeitos ocorrem mais acentuada- nóstico diferencial com outras causas;
mente nas lesões hansênicas e regridem, muito lentamen- - investigar e informar à unidade de referência se os
te, após a suspensão do medicamento. efeitos ocorrem após a ingestão da dose supervisionada de
Gastrointestinais – diminuição da peristalse e dor rifampicina, ou após as doses autoadministradas de dap-
abdominal, devido ao depósito de cristais de clofazimina
sona.
nas submucosas e linfonodos intestinais, resultando na in-
Condutas no caso de icterícia
flamação da porção terminal do intestino delgado. Esses
- Suspender o tratamento se houver alteração das pro-
efeitos poderão ser encontrados, com maior frequência, na
vas de função hepática, com valores superiores a duas ve-
utilização de doses de 300mg/dia por períodos prolonga-
dos, superiores a 90 dias. zes os normais;
- encaminhar o paciente à unidade de referência;
Efeitos colaterais da dapsona - fazer a avaliação da história pregressa: alcoolismo,
Cutâneos – síndrome de Stevens-Johnson, dermatite hepatite e outras doenças hepáticas;
esfoliativa ou eritrodermia. - solicitar exames complementares necessários para
Hepáticos – icterícias, náuseas e vômitos. realizar diagnóstico diferencial;
Hemolíticos – tremores, febre, náuseas, cefaleia, às - investigar se a ocorrência deste efeito está relaciona-
vezes choque, podendo também ocorrer icterícia leve, me- da com a dose supervisionada de rifampicina ou com as
taemoglobinemia, cianose, dispneia, taquicardia, fadiga, doses autoadministradas de dapsona.
desmaios, anorexia e vômitos.

110
BIOLOGIA

Condutas no caso de anemia hemolítica Tratamento de reações hansênicas


- Suspender o tratamento; Para o tratamento das reações hansênicas é impres-
- encaminhar o paciente à unidade de referência ou ao cindível:
hematologista para avaliação e conduta; - diferenciar o tipo de reação hansênica;
- investigar se a ocorrência desse efeito está relacio- - avaliar a extensão do comprometimento de nervos
nada com a dose supervisionada de rifampicina ou com as periféricos, órgãos e outros sistemas;
doses autoadministradas de dapsona. - investigar e controlar fatores potencialmente capazes
de desencadear os estados reacionais;
Condutas no caso de metaemoglobinemia - conhecer as contraindicações e os efeitos adversos
Leve – suspender o medicamento e encaminhar o dos medicamentos utilizados no tratamento da hanseníase
paciente para unidade de referência; observar, pois geral- e em seus estados reacionais;
mente ela desaparece, gradualmente, com a suspensão do - instituir, precocemente, a terapêutica medicamentosa
medicamento; e medidas coadjuvantes adequadas visando a prevenção
Grave – encaminhar para internação hospitalar. de incapacidades;
- encaminhar os casos graves para internação hospi-
Condutas no caso de síndrome pseudogripal talar.
- Suspender a rifampicina imediatamente, encaminhar
o paciente para unidade de referência e avaliar a gravidade Atenção: A ocorrência de reações hansênicas não con-
do quadro; traindica o início da PQT/OMS, não implica na sua interrup-
- nos quadros leves, administrar anti-histamínico, anti- ção e não é indicação de reinício da PQT, se o paciente já
térmico e deixar o paciente sob observação por, pelo me- houver concluído seu tratamento.
nos, 6 horas;
- nos casos moderados e graves, encaminhar o pacien- As reações com ou sem neurites devem ser diagnosti-
te à unidade de referência para administrar corticosterói- cadas por meio da investigação cuidadosa dos sinais e sin-
tomas específicos, valorização das queixas e exame físico
des (hidrocortisona, 500mg/250ml de soro fisiológico – 30
geral, com ênfase na avaliação dermatológica e neurológi-
gotas/minuto, via intravenosa) e, em seguida, (prednisona
ca simplificada. Essas ocorrências deverão ser consideradas
via oral, com redução progressiva da dose até a retirada
como situações de urgência e encaminhadas às unidades
completa).
de maior complexidade para tratamento nas primeiras 24
Condutas no caso de efeitos cutâneos provocados
horas.
pela clofazimina
Nas situações onde há dificuldade de encaminhamen-
Prescrever a aplicação diária de óleo mineral ou creme
to imediato, os seguintes procedimentos deverão ser apli-
de ureia, após o banho, e orientar para evitar a exposição
cados até a avaliação:
solar, a fim de minimizar esses efeitos.
- orientar repouso do membro afetado, em caso de
suspeita de neurite;
Condutas no caso de farmacodermia leve até sín- - iniciar prednisona na dose de 1 a 2mg/kg peso/dia,
drome de Stevens-Johnson, dermatite esfoliativa ou devendo-se tomar as seguintes precauções para a sua uti-
eritrodermia provocados pela dapsona lização: garantia de acompanhamento médico, registro do
Interromper definitivamente o tratamento com a dap- peso, da pressão arterial, da taxa de glicose no sangue, tra-
sona e encaminhar o paciente à unidade de referência. tamentos profiláticos da estrongiloidíase e da osteoporose.

Condutas no caso de efeitos colaterais provocados O acompanhamento dos casos com reação deverá ser
pelos corticosteroides realizado por profissionais com maior experiência ou por
- Observar as precauções ao uso de corticosteróides; unidades de maior complexidade. Para o encaminhamento,
- encaminhar imediatamente à unidade de referência. deverá ser utilizada a ficha de referência/c,*ontrarreferência
padronizada pelo município, contendo todas as informa-
Ao referenciar a pessoa em tratamento para outro ser- ções necessárias, incluindo a data do início do tratamento,
viço, enviar, por escrito, todas as informações disponíveis: esquema terapêutico, número de doses administradas e o
quadro clínico, tratamento PQT, resultados de exames la- tempo de tratamento.
boratoriais (baciloscopia e outros), número de doses to- O tratamento dos estados reacionais é geralmente
madas, se apresentou episódios reacionais, qual o tipo, se ambulatorial e deve ser prescrito e supervisionado por um
apresentou ou apresenta efeito colateral à alguma medica- médico.
ção, causa provável do quadro, entre outras.
Esquemas terapêuticos alternativos Reação Tipo 1 ou reação reversa (RR)
A substituição do esquema padrão por esquemas al- - Iniciar prednisona na dose de 1 a 2 mg/kg/dia, con-
ternativos deverá acontecer, quando necessária, sob orien- forme avaliação clínica;
tação de serviços de saúde de maior complexidade. - manter a poliquimioterapia, se o doente ainda estiver
em tratamento específico;

111
BIOLOGIA

- imobilizar o membro afetado com tala gessada, em - observar a coexistência de fatores desencadeantes,
caso de neurite associada; como parasitose intestinal, infecções concomitantes, cárie
- monitorar a função neural sensitiva e motora; dentária, estresse emocional;
- reduzir a dose de corticóide, conforme resposta te- - utilizar a clofazimina, associada ao corticosteroide, no
rapêutica; seguinte esquema: clofazimina em dose inicial de 300mg/
- programar e realizar ações de prevenção de incapa- dia por 30 dias, 200mg/dia por mais 30 dias e 100mg/dia
cidades. por mais 30 dias.
Esquema terapêutico alternativo para reação tipo 2 –
Na utilização da prednisona, devem ser tomadas algu-
utilizar a pentoxifilina. na dose de 1.200mg/dia, dividida em
mas precauções:
- registro do peso, da pressão arterial e da taxa de gli- doses de 400mg de 8/8 horas, associada ou não ao corti-
cose no sangue para controle; cóide. Pode ser uma opção para os casos onde a talidomi-
- fazer o tratamento antiparasitário com medicamen- da for contraindicada, como em mulheres em idade fértil. A
to específico para Strongiloydes stercoralis, prevenindo a pentoxifilina pode beneficiar os quadros com predomínio
disseminação sistêmica desse parasita (Tiabendazol 50mg/ de vasculites.
kg/dia, em 3 tomadas, por 2 dias, ou 1,5g/dose única; ou Reduzir a dose conforme resposta terapêutica, após
Albendazol, na dose de 400mg/dia, durante 3 dias conse- pelo menos 30 dias, observando a regressão dos sinais e
cutivos). sintomas gerais e dermatoneurológicos.
- a profilaxia da osteoporose deve ser feita com Cálcio
1.000mg/dia, Vitamina D 400-800UI/dia ou Bifosfonatos Tratamento cirúrgico das neurites – este tratamen-
(por exemplo, Alendronato 10 mg/dia, administrado com to é indicado depois de esgotados todos os recursos
água, pela manhã, em jejum). clínicos para reduzir a compressão do nervo perifé-
rico por estruturas anatômicas constritivas próximas.
Recomenda-se que o desjejum ou outra alimentação
matinal ocorra, no mínimo, 30 minutos após a ingestão do O paciente deverá ser encaminhado para avaliação
comprimido da alendronato. em unidade de referência de maior complexidade, para
descompressão neural cirúrgica, de acordo com as seguin-
Reação Tipo 2 ou eritema nodoso hansênico (ENH) tes indicações:
A talidomida é a droga de escolha na dose de 100 a - abscesso de nervo;
400mg/dia, conforme a intensidade do quadro (para mu- - neurite que não responde ao tratamento clínico pa-
lheres em idade fértil, observar a Lei nº 10.651, de 16 de dronizado, em 4 semanas;
abril de 2003, que dispõe sobre o uso da talidomida). Na - neurites subintrantes;
impossibilidade do seu uso, prescrever prednisona, na dose - neurite do nervo tibial após avaliação, por ser, geral-
1 a 2mg/kg/dia: mente, silenciosa e, nem sempre, responder bem ao corti-
- manter a poliquimioterapia, se o doente ainda estiver cóide. A cirurgia pode auxiliar na prevenção da ocorrência
em tratamento específico; de úlceras plantares.
- introduzir corticosteroide em caso de comprometi-
mento neural, segundo o esquema já referido;
- imobilizar o membro afetado em caso de neurite as- Dor neural não controlada e/ou crônica – a dor neu-
sociada; ropática (neuralgia) pode ocorrer durante o processo in-
- monitorar a função neural sensitiva e motora; flamatório, associado ou não à compressão neural, ou por
- reduzir a dose da talidomida e/ou do corticóide, con- sequela da neurite, devendo ser contemplada no tratamen-
forme resposta terapêutica; to da neuropatia. Pacientes com dores persistentes, com
- programar e realizar ações de prevenção de incapa- quadro sensitivo e motor normal ou sem piora, devem ser
cidades. encaminhados aos centros de referência para o tratamento
adequado.
Outras indicações da corticoterapia para reação tipo 2 - Para pacientes com quadro neurológico de difícil con-
(ENH) trole, as unidades de referência poderão também adotar
- mulheres grávidas e sob risco de engravidar: irite ou protocolo clínico de pulsoterapia com metilprednisolona
iridociclite; orquiepididimite; endovenosa, na dose de 1g por dia, até melhora acentuada
- mãos e pés reacionais: glomerulonefrite; eritema no-
dos sinais e sintomas, até o máximo de 3 pulsos seguidos,
doso necrotizante; vasculites;
em ambiente hospitalar, por profissional experiente, quan-
- artrite: contraindicações da talidomida.
do será substituída por prednisona via oral.
Conduta nos casos de reação crônica ou subintran- - Para pacientes com dor persistente e quadro sensi-
te – a reação subintrante é a reação intermitente, cujos tivo e motor normal ou sem piora, poderão ser utilizados
surtos são tão frequentes que, antes de terminado um, antidepressivos tricíclicos (Amitriptilina, Nortriptilina, Imi-
surge o outro. Esses casos respondem ao tratamen- pramina, Clomipramina) ou fenotiazínicos (Clorpromazina,
to com corticosteróides e/ou talidomida, mas, tão logo Levomepromazina) ou anticonvulsivantes (Carbamazepina,
a dose seja reduzida ou retirada, a fase aguda recrudesce. Oxicarbamazepina, Gabapentina, Topiramato).
Nesses casos recomenda-se:

112
BIOLOGIA

Seguimento de casos deverão ser avaliados quanto à necessidade de reinício ou


Os pacientes devem ser agendados para retorno a possibilidade de aproveitamento de doses anteriores, vi-
cada 28 dias. Nessas consultas, eles tomam a dose super- sando a finalização do tratamento dentro do prazo preco-
visionada no serviço de saúde e recebem a cartela com os nizado.
medicamentos das doses a serem autoadministradas em Condutas para indicação de outro ciclo de trata-
domicílio. Essa oportunidade deve ser aproveitada para mento em pacientes MB – para o paciente MB sem me-
avaliação do paciente, esclarecimento de dúvidas e orien- lhora clínica ao final das 12 doses PQT/OMS, a indicação
tações. Além disso, deve-se reforçar a importância do exa- de um segundo ciclo de 12 doses de tratamento deverá
me dos contatos e agendar o exame clínico e a vacinação ser baseada na associação de sinais de atividade da doen-
dos contatos. ça, mediante exame clínico e correlação laboratorial (ba-
O cartão de agendamento deve ser usado para registro ciloscopia e, se indicada, histopatologia), em unidades de
da data de retorno à unidade de saúde e para o controle referência.
da adesão ao tratamento. Os pacientes que não compa-
recerem à dose supervisionada deverão ser visitados, no Hanseníase e gestação – em que pese a recomen-
máximo, em 30 dias, nos seus domicílios, com o objetivo dação de se restringir a ingestão de drogas no primeiro
de manter o tratamento e evitar o abandono. trimestre da gravidez, os esquemas PQT/OMS, para tra-
No retorno para tomar a dose supervisionada, o pa- tamento da hanseníase, têm sua utilização recomendada.
ciente deve ser submetido à revisão sistemática por médico Contudo, mulheres com diagnóstico de hanseníase e não
responsável pelo monitoramento clínico e terapêutico. Essa grávidas devem receber aconselhamento para planejar a
medida visa identificar reações hansênicas, efeitos adver- gestação após a finalização do tratamento de hanseníase.
sos aos medicamentos e dano neural. Em caso de reações As alterações hormonais da gravidez causam diminui-
ou outras intercorrências, os pacientes devem ser examina- ção da imunidade celular, fundamental na defesa contra o
dos em intervalos menores. M. leprae. Portanto, é comum que os primeiros sinais de
Técnicas de autocuidados devem fazer parte das orien- hanseníase, em uma pessoa já infectada, apareçam durante
tações de rotina do atendimento mensal, sendo recomen- a gravidez e no puerpério, quando também podem ocorrer
dada a organização de grupos de pacientes e familiares ou os estados reacionais e os episódios de recidivas. A gesta-
outras pessoas de sua convivência, que possam apoiá-los ção, nas mulheres portadoras de hanseníase, tende a apre-
na execução dos procedimentos recomendados. A prática sentar poucas complicações, exceto pela anemia, comum
das técnicas de autocuidado deve ser avaliada sistematica- em doenças crônicas. Os recém-nascidos, porém, podem
mente, para evitar piora do dano neural por execução ina- apresentar a pele hiperpigmentada pela clofazimina, ocor-
dequada. Em todas as situações, o esforço realizado pelos rendo a regressão gradual da pigmentação após a parada
pacientes deve ser valorizado para estimular a continuida- da PQT/OMS.
de das práticas de autocuidado. Os efeitos adversos às me- Hanseníase e tuberculose – para o paciente com tu-
dicações que compõem a PQT não são frequentes, que, em berculose e hanseníase deve ser mantido o esquema te-
geral, são bem toleradas. Mais de 25 milhões de pessoas já rapêutico apropriado para a tuberculose (lembrando que,
utilizaram a PQT, nos últimos 25 anos. nesse caso, a dose de rifampicina, de 600mg, será admi-
Nos casos suspeitos de efeitos adversos às drogas da nistrada diariamente), acrescido dos medicamentos espe-
PQT, deve-se suspender temporariamente o esquema tera- cíficos para a hanseníase, nas doses e tempos previstos no
pêutico, com imediato encaminhamento do paciente para esquema padrão PQT/OMS:
avaliação em unidades de saúde de média ou alta com- - para os casos paucibacilares, acrescenta-se a dapso-
plexidade, que contarão com o apoio de exames laborato- na;
riais complementares e que farão a prescrição da conduta - para os casos multibacilares, acrescenta-se a dapsona
adequada. Casos de hanseníase que apresentem outras e a clofazimina até o término do tratamento da tuberculo-
doenças associadas (AIDS, tuberculose, nefropatias, hepa- se, quando deverá ser acrescida a rifampicina do esquema
topatias, endocrinopatias), se necessário, devem ser enca- padrão da hanseníase;
minhados às unidades de saúde de maior complexidade - para os casos que não utilizam a rifampicina no tra-
para avaliação. tamento da tuberculose, por contraindicação dessa droga,
utilizar o esquema substitutivo próprio para estes casos, na
Critérios de alta por cura hanseníase;
O encerramento da poliquimioterapia deve ser estabe- - para os casos que não utilizam a rifampicina no tra-
lecido segundo os critérios de regularidade ao tratamento: tamento da tuberculose por resistência do Mycobacterium
número de doses e tempo de tratamento, de acordo com tuberculosis a essa droga, utilizar o esquema padrão PQT/
cada esquema mencionado anteriormente, sempre com OMS da hanseníase.
avaliação neurológica simplificada, avaliação do grau de
incapacidade física e orientação para os cuidados após a Hanseníase e infecção pelo HIV e/ou Aids – para o
alta. Situações a serem observadas: paciente com infecção pelo HIV e/ou aids e hanseníase,
Condutas para pacientes irregulares – os pacientes deve ser mantido o esquema PQT/OMS, de acordo com a
que não completaram o tratamento preconizado PB (6 do- classificação operacional.
ses, em até 9 meses) e MB (12 doses, em até 18 meses)

113
BIOLOGIA

Hanseníase e outras doenças – em casos de associa- As pessoas que apresentarem intercorrências após a
ção da hanseníase com doenças hepáticas, renais ou hema- alta deverão ser tratadas na unidade básica de saúde, por
tológicas, a escolha do melhor esquema terapêutico para profissional de saúde capacitado, ou em uma unidade de
tratar a hanseníase deverá ser discutida com especialistas referência ambulatorial, por médico treinado. Somente os
das referidas áreas. casos graves, bem como os que apresentarem reações re-
versas graves deverão ser encaminhados para hospitaliza-
Prevenção e tratamento de incapacidades físicas ção. É importante diferenciar um quadro de estado reacio-
A principal forma de prevenir a instalação de deficiências nal de um caso de recidiva. No caso de estados reacionais,
e incapacidades físicas é o diagnóstico precoce. A prevenção a pessoa deverá receber tratamento antirreacional, sem rei-
de deficiências (temporárias) e incapacidades (permanen- niciar, porém, o tratamento PQT/OMS. No caso de suspeita
tes) não deve ser dissociada do tratamento PQT. As ações de recidiva, o paciente deverá ser encaminhado para um
de prevenção de incapacidades e deficiências fazem parte da centro de referência para confirmação da recidiva e reinício
rotina dos serviços de saúde e recomendadas para todos os
do tratamento PQT/OMS.
pacientes.
A avaliação neurológica deve ser realizada:
- no início do tratamento; Recidiva
- a cada 3 meses durante o tratamento, se não houver Os casos de recidiva em hanseníase são raros em pa-
queixas; cientes tratados regularmente, com os esquemas poliqui-
- sempre que houver queixas, tais como: dor em trajeto mioterápicos. Geralmente, ocorrem em período superior
de nervos, fraqueza muscular, início ou piora de queixas pa- a 5 anos após a cura. É considerado um caso de recidiva
restésicas; aquele que completar com êxito o tratamento PQT/OMS
- no controle periódico de pacientes em uso de corticói- e que, depois, venha, eventualmente, desenvolver novos
des, em estados reacionais e neurites; sinais e sintomas da doença. A maior causa de recidivas é
- na alta do tratamento; o tratamento PQT/OMS inadequado ou incorreto. O tra-
- no acompanhamento pós-operatório de descompres- tamento, portanto, deverá ser repetido integralmente, de
são neural, com 15, 45, 90 e 180 dias. acordo com a classificação paucibacilar ou multibacilar.
Deve haver a administração regular dos medicamentos,
Autocuidados pelo tempo estipulado no esquema.
A prevenção das incapacidades físicas é realizada através Nos paucibacilares, muitas vezes é difícil distinguir a
de técnicas simples e de orientação ao paciente para a práti- recidiva da reação reversa. No entanto, é fundamental que
ca regular de autocuidado. Técnicas simples são procedimen- se faça a identificação correta da recidiva. Quando se con-
tos a serem aplicados e ensinados ao paciente pelas unida-
firmar uma recidiva, após exame clínico e baciloscópico, a
des básicas de saúde, durante o acompanhamento do caso
classificação do doente deve ser criteriosamente reexami-
e após a alta, com o propósito de prevenir incapacidades e
deformidades físicas decorrentes da hanseníase. Autocuida- nada para que se possa reiniciar o tratamento PQT/OMS
dos são procedimentos que o próprio paciente, devidamente adequado. Nos multibacilares, a recidiva pode manifestar-
orientado, deverá realizar regularmente no seu domicílio. se como uma exacerbação clínica das lesões existentes e
com o aparecimento de lesões novas. Quando se confirmar
Indicação de cirurgia de reabilitação a recidiva, o tratamento PQT/OMS deve ser reiniciado.
O paciente com incapacidade instalada, apresentando No caso de recidiva, a suspensão da quimioterapia dar-
mão em garra, pé caído e lagoftalmo, bem como outras inca- se-á quando a pessoa em tratamento tiver completado as
pacidades, tais como madarose superciliar, desabamento da doses preconizadas, independente da situação clínica e ba-
pirâmide nasal, queda do lóbulo da orelha, atrofia cutânea da ciloscópica, e significa, também, a saída do registro ativo,
face, deverão ser encaminhados para avaliação e indicação já que não mais será computada no coeficiente de preva-
de cirurgia de reabilitação em centros de referência de alta lência.
complexidade, de acordo com os seguintes critérios: ter com-
pletado o tratamento PQT e estar sem apresentar estados Critérios clínicos para a suspeição de recidiva
inflamatórios reacionais há, pelo menos, 1 ano. O diagnóstico diferencial entre reação e recidiva deve-
rá ser baseado na associação de exames clínico e laborato-
Situações pós-alta por cura riais, especialmente, a baciloscopia, nos casos MB. Os casos
Reações pós-alta por cura
que não responderem ao tratamento proposto para os es-
Pacientes que, no momento da alta por cura, apresen-
tados reacionais deverão ser encaminhados a unidades de
tam reações ou deficiências sensitivomotoras e/ou incapa-
cidades deverão ser monitorados. Os pacientes deverão ser referência para confirmação de recidiva.
orientados para retorno imediato à unidade de saúde, em Os critérios clínicos, para o diagnóstico de recidiva
caso de aparecimento de novas lesões de pele e/ou de do- (Quadro 9), segundo a classificação operacional são:
res nos trajetos dos nervos periféricos e/ou piora da função Paucibacilares (PB) – paciente que, após alta por cura,
sensitiva e/ou motora. O acompanhamento dos casos após apresentar dor no trajeto de nervos, novas áreas com alte-
a alta consiste no atendimento às possíveis intercorrências rações de sensibilidade, lesões novas e/ou exacerbação de
que possam ocorrer com as pessoas que já concluíram o lesões anteriores, que não respondem ao tratamento com
tratamento PQT/OMS. corticosteroide, por pelo menos 90 dias.

114
BIOLOGIA

Multibacilares (MB) – paciente que, após alta por cura, apresentar: lesões cutâneas e/ou exacerbação de lesões an-
tigas; novas alterações neurológicas, que não respondem ao tratamento com talidomida e/ou corticosteroide nas doses e
prazos recomendados; baciloscopia positiva; ou quadro clínico compatível com pacientes virgens de tratamento.

Quadro 9. Critérios clínicos para diagnóstico de recidiva

Características Reação Recidiva


Período de ocorrência Frequente durante a PQT e/ou menos fre- Em geral, período superior a 5
quente no período de 2 a 3 anos após término anos após término da PQT.
do tratamento.
Surgimento Súbito e inesperado. Lento e insidioso.
Lesões antigas Algumas ou todas podem se tornar eritema- Geralmente imperceptíveis.
tosas, brilhantes, intumescidas e infiltradas.
Lesões recentes Em geral, múltiplas. Poucas.
Ulceração Pode ocorrer. Raramente ocorre.

Regressão Presença de descamação. Ausência de descamação.


Comprometimento neural Muitos nervos podem ser rapidamente envol- Poucos nervos podem ser envol-
vidos, ocorrendo dor e alterações sensitivo- vidos, com alterações sensitivo-
-motoras. -motoras de evolução mais lenta.
Resposta a medicamentos antirreacionais. Excelente. Não pronunciada.

Apesar da eficácia comprovada dos esquemas PQT/OMS, a vigilância da resistência medicamentosa deve ser iniciada.
Para tanto, as unidades de referência devem encaminhar coleta de material de casos de recidiva confirmada em multibaci-
lares, aos centros nacionais de referência indicados para esse fim.

Aspectos Epidemiológicos
O Programa Nacional de Controle da Hanseníase (PNCH) assume como objetivo de saúde pública o controle da doen-
ça (WHO, 2008) e privilegia, nesse aspecto, o acompanhamento epidemiológico por meio do coeficiente de detecção de
casos novos, em substituição ao indicador de prevalência pontual, optando pela sua apresentação por 100.000 habitantes,
para facilitar a comparação com outros eventos. O foco é a atenção integral e uma ação integrada em regiões, estados e
municípios envolvidos nos clusters identificados, que representam áreas com maior risco, onde se encontram a maioria dos
casos, para reduzir as fontes de transmissão.
Essas áreas concentram 53,5% dos casos detectados, em apenas 17,5% da população brasileira residente em extensas
áreas geográficas, sede de muitas tensões, o que adiciona maior complexidade a intervenções efetivas. Determinantes
sociais e históricos, associados à ocupação da Amazônia Legal e à manutenção de iniquidades sociais na região Nordeste,
ajudam a explicar o acúmulo de pessoas infectadas, em se tratando de doença de longo período de incubação.
O coeficiente de detecção em menores de 15 anos é prioridade da política atual de controle da hanseníase no país, por
indicar focos de infecção ativos e transmissão recente. Essa informação fortalece o esforço pelo alcance da meta do PAC
(Mais Saúde/MS), de redução do coeficiente de detecção dos casos novos em menores de 15 anos de idade em 10,0%, no
país, até 2011. A hanseníase apresenta tendência de estabilização dos coeficientes de detecção no Brasil, mas ainda em
patamares muito altos nas regiões Norte, Centro-oeste e Nordeste.
O coeficiente de detecção de casos novos é função da incidência real de casos e da agilidade diagnóstica dos servi-
ços de saúde. O valor médio do indicador para o Brasil, no período, foi de 25,44/100.000 habitantes, tendo oscilado de
29,37/100.000, em 2003, para 20,52/100.000, em 2008. A comparação entre os coeficientes na população total e em meno-
res de 15 anos permite observar semelhança no comportamento evolutivo dos indicadores, com queda mais acentuada na
série temporal de menores de 15 anos, ao final do período estudado. O valor médio do coeficiente em menores de 15 anos,
no período acompanhado, foi de 7,01/100.000 habitantes, variando de 5,74/100.000, em 1994, a 8,28/100.000, em 1997,
com tendência de queda ao final do período. O Gráfico 2 apresenta a evolução do coeficiente de detecção de casos novos
nas regiões, de 1990 a 2008. Observa-se, no período, uma maior ocorrência de casos nas regiões Norte e Centro-oeste,
seguidas da região Nordeste. A região Norte apresentou, no período estudado, um coeficiente médio de 70,13/100.000
habitantes, declinando de 84,40/100.000 em 1997 para 54,34/100.000, em 2007. Na região Centro-oeste, o coeficiente
apresentou um valor médio de 61,76/100.000 habitantes, variando de 72,58/100.000, em 1997, para 41,19/100.000, em
2007. A média do coeficiente, para o período, referente à região Nordeste foi de 32,23/100.000 habitantes, apresentando
o valor anual mais baixo de 23,37/100.000, em 1994, e elevando para 38,75/100.000, em 2004. Na região Sudeste, a média
do coeficiente foi de 13,40/100.000 habitantes, com um valor máximo de 16,16/100.000, em 1997, e mínimo de 8,81, em

115
BIOLOGIA

2008. Na região Sul, foram registrados os valores mais bai- Notificação


xos do país, a média foi de 7,48/100.000, oscilando entre A hanseníase é uma doença de notificação compul-
5,66/100.000, em 1994, e 8,67/100.000, em 1996. sória em todo território nacional e de investigação obri-
gatória. Cada caso diagnosticado deve ser notificado na
Vigilância Epidemiológica semana epidemiológica de ocorrência do diagnóstico, uti-
A vigilância epidemiológica envolve a coleta, proces- lizando-se a ficha de notificação e investigação, do Sistema
samento, análise e interpretação dos dados referentes de Informação de Notificação de Agravos (Sinan), nos três
aos casos de hanseníase e seus contatos. Ela subsidia re- níveis de atenção à saúde. A notificação deve ser enviada
comendações, a promoção e a análise da efetividade das em meio físico, magnético ou virtual, ao órgão de vigilância
intervenções. É fundamental a divulgação das informações epidemiológica hierarquicamente superior, permanecendo
obtidas, como fonte de planejamento das intervenções a uma cópia no prontuário. As fichas de notificação dos ca-
serem desencadeadas. sos devem ser preenchidas por profissionais das unidades
A vigilância epidemiológica deve ser organizada em de saúde onde o paciente foi diagnosticado.
todos os níveis de atenção, da unidade básica de saúde à A notificação de casos de recidiva deverá ser realiza-
alta complexidade, de modo a garantir informações acer-
da pelo serviço de referência que procedeu a confirmação
ca da distribuição, da magnitude e da carga de morbidade
diagnóstica. Após avaliação, os casos confirmados e sem
da doença nas diversas áreas geográficas. Ela propicia o
complicação, deverão ser contrarreferenciados para trata-
acompanhamento rotineiro das principais ações estratégi-
mento e acompanhamento na unidade básica.
cas para o controle da hanseníase.
Descoberta de casos
Objetivos Caso novo de hanseníase é aquele que nunca recebeu
- Detectar e tratar precocemente os casos novos, para qualquer tratamento específico. A descoberta de caso é
interromper a cadeia de transmissão e prevenir as incapa- feita por meio da detecção ativa e passiva (demanda es-
cidades físicas. pontânea e encaminhamento).
- Realizar exames dermatoneurológicos de todos os A detecção ativa de casos de hanseníase prevê a busca
contatos de casos de hanseníase, com o objetivo de detec- sistemática de doentes, pela equipe da unidade de saúde,
tar novos casos e iniciar o tratamento o mais precocemente por meio das seguintes atividades:
possível, evitando a ocorrência de outros casos. - investigação epidemiológica de contatos;
- exame de coletividade, com inquéritos e campanhas;
Os objetivos do Programa Nacional de Controle da - exame das pessoas que demandam espontaneamen-
Hanseníase são: te os serviços gerais de unidade de saúde, por outros mo-
- fortalecer a inserção da política sobre hanseníase nos tivos que não sinais e sintomas dermatológicos ou neuro-
pactos firmados entre gestores das três esferas de gover- lógicos;
no e nos instrumentos de macroplanejamento das políticas - exame de grupos específicos, em prisões, quartéis,
públicas de abrangência nacional; escolas, de pessoas que se submetem a exames periódicos,
- realizar ações de promoção, proteção à saúde, pre- entre outros;
venção, diagnóstico, tratamento e reabilitação, envolvendo - mobilização da comunidade adstrita à unidade, prin-
toda a complexidade da atenção à saúde; cipalmente em áreas de alta magnitude da doença, para
- fomentar a ampliação da cobertura das ações com que as pessoas demandem os serviços de saúde sempre
descentralização e prioridade à sua inclusão na atenção bá- que apresentarem sinais e sintomas suspeitos.
sica e na estratégia Saúde da Família; Em todas essas situações, deve ser realizado o exame
- preservar a autonomia e a integridade física e mo- dermatoneurológico para o diagnóstico de hanseníase.
ral das pessoas acometidas pela hanseníase e humanizar o Existem condições importantes para que o diagnóstico
atendimento;
da hanseníase seja feito precocemente, referentes à popu-
- fortalecer as parcerias com a sociedade civil, visando
lação, às unidades de saúde e aos profissionais de saúde:
à mobilização social e ao controle social das políticas de
- a população deve conhecer os sinais e sintomas da
saúde relacionadas à hanseníase.
doença e deve estar informada de que a hanseníase tem
Definição de caso cura, sobre o tratamento e estar motivada a buscá-lo nas
A pessoa que apresenta um ou mais dos seguintes si- unidades de saúde de seu município;
nais cardinais e que necessita de tratamento poliquimio- - as unidades de saúde devem ter seus serviços orga-
terápico: nizados para desenvolver as atividades de controle da han-
- lesão e/ou área da pele com diminuição ou alteração seníase, garantindo o acesso da população aos mesmos;
de sensibilidade; - os profissionais de saúde devem estar capacitados
- acometimento de nervo periférico, com ou sem es- para reconhecer os sinais e sintomas da doença, isto é, para
pessamento associado a alterações sensitivas e/ou moto- diagnosticar e tratar os casos de hanseníase;
ras e/ou autonômicas; e\ - os profissionais de saúde devem estar capacitados
- baciloscopia positiva de esfregaço intradérmico. para realizar ações de promoção de saúde.

116
BIOLOGIA

Vigilância de casos em menores de 15 anos - vigilância de contatos ou exame de coletividade;


As unidades de saúde dos municípios, diante de um - investigação dos casos de recidiva, pela possibilidade
caso suspeito de hanseníase em menores de 15 anos, de- de ocorrência de resistência medicamentosa em pessoas
vem preencher o “Protocolo Complementar de Investiga- submetidas a monoterapia irregular com dapsona;
ção Diagnóstica de Casos de Hanseníase em Menores de - ações de prevenção e reabilitação física, psicossocial
15 Anos” – PCID - <15 (Anexo II, da Portaria SVS/SAS/MS e profissional;
nº 125/2009) e, se confirmado o caso, remeter esse proto- - integração dessas instituições à rede de serviços do
colo à SMS, com a ficha de notificação do Sinan, anexando SUS.
cópia no prontuário do paciente. - identificação de qual paciente se enquadra nos crité-
As SMS, mediante a análise do PCID <15, encaminha- rios da Lei nº 11.520, de 18 de setembro de 2007.
da pela unidade de saúde, devem avaliar a necessidade de
promover a investigação/validação do caso ou de referen- Primeiras medidas a serem adotadas
ciá-lo para serviços com profissionais mais experientes, ou Assistência ao paciente
referência regional/estadual, para confirmação do diagnós- Tratamento específico – o tratamento da hanseníase é
tico. As SES, através do PCH, ao identificarem o caso no eminentemente ambulatorial. O esquema terapêutico uti-
sistema de informação, devem confirmar com as SMS ou lizado é a PQT/OMS. Os medicamentos devem estar dis-
Regionais de Saúde correspondentes, o preenchimento do poníveis em todas as unidades de saúde de municípios
PCID <15, ou solicitar cópia do mesmo, quando necessário, endêmicos. A alta por cura é dada após a administração
para avaliarem a necessidade de confirmação diagnóstica. do número de doses preconizadas, segundo o esquema
O Ministério da Saúde, através do PCNH, ao identificar terapêutico administrado. Prevenção e tratamento de inca-
o caso no sistema de informação, deve confirmar com as pacidades físicas – todos os casos de hanseníase, indepen-
SES, o preenchimento do protocolo, ou solicitar cópia do dentemente da forma clínica, deverão ser avaliados quanto
mesmo, quando necessário, para avaliar a necessidade de ao grau de incapacidade no momento do diagnóstico e, no
validação do caso. mínimo, uma vez por ano, inclusive na alta por cura.
Toda atenção deve ser dada ao diagnóstico precoce do
Vigilância de recidivas comprometimento neural. Para tanto, os profissionais de
As unidades de saúde dos municípios, diante de um saúde e pacientes devem ser orientados para uma atitude
caso suspeito de recidiva, devem preencher a “ficha de in- de vigilância do potencial incapacitante da hanseníase. Tal
tercorrências pós-alta por cura” (Anexo VI, da Portaria SVS/ procedimento deve ter em vista o tratamento adequado
SAS/MS nº 125/2009) e, encaminhar o caso para a unidade para cada caso e a prevenção de futuras deformidades. Es-
de referência mais próxima. Uma vez confirmado o caso, sas atividades não devem ser dissociadas do tratamento
remeter a ficha para a secretaria municipal de saúde, junta- quimioterápico, estando integradas na rotina dos serviços,
mente com a ficha de notificação do Sinan, anexando cópia de acordo com o grau de complexidade dos mesmos.
no prontuário do paciente. As secretarias estaduais de saú- Roteiro para investigação epidemiológica
de (SES), através das Coordenações Estaduais do Progra- A investigação epidemiológica tem por finalidade a
ma de Controle de Hanseníase, ao identificarem o caso de descoberta de casos entre aqueles que convivem ou con-
recidiva no sistema de informação, devem confirmar, com viveram com o doente e suas possíveis fontes de infecção.
as SMS ou Regionais de Saúde correspondentes, o preen- A partir do diagnóstico de um caso de hanseníase deve ser
chimento da ficha ou solicitar cópia da mesma, quando feita, de imediato, a sua investigação epidemiológica.
necessário, para avaliarem a necessidade de confirmação As pessoas que vivem com o doente de hanseníase
diagnóstica. correm maior risco de serem contaminadas do que a po-
As secretarias municipais e estaduais de saúde, me- pulação em geral. Por isso, a vigilância de contatos intrado-
diante a análise dessas fichas, devem avaliar a necessidade miciliares é muito importante. Para fins operacionais, con-
de promover a validação do caso ou de referenciá-lo para sidera-se contato intradomiciliar toda e qualquer pessoa
serviços com profissionais mais experientes, referências que resida ou tenha residido com o doente de hanseníase,
regionais/estaduais, para confirmação do diagnóstico. As nos últimos 5 anos.
unidades de referência devem avaliar a possibilidade de re- A investigação consiste no exame dermatoneurológi-
sistência medicamentosa, nesses casos, e encaminhar ma- co de todos os contatos intradomiciliares dos casos no-
terial para os exames laboratoriais nos centros nacionais de vos detectados e no repasse de orientações sobre período
referência. de incubação, transmissão e sinais e sintomas precoces da
hanseníase, bem como em relação ao aparecimento de
Atenção às áreas de ex-colônias de hanseníase seus sinais e sintomas, indicando, nesses casos, a procura
Apesar do isolamento compulsório, no Brasil, ter sido da unidade de saúde.
abolido em 1962, muitas pessoas permaneceram residindo
em ex-colônias ou em seus arredores. Outras foram inter-
nadas por razões sociais até o início dos anos 80, em alguns
estados. Recomenda-se, portanto, que essas populações
sejam alvo das seguintes ações de vigilância e controle de
hanseníase:

117
BIOLOGIA

Vacinação BCG (bacilo de Calmette-Guërin) programação de atividades, alocação de recursos, avaliação


das ações). Portanto, é necessário que todos os profissionais
Recomendações de saúde, bem como a comunidade, tenham acesso a essas
A vacina BCG-ID deverá ser aplicada nos contatos intra- informações.
domiciliares, sem presença de sinais e sintomas de hanseníase,
no momento da avaliação, independentemente de serem con- Acompanhamento de casos
tatos de casos PB ou MB. A aplicação da vacina BCG depende Informações relativas ao acompanhamento dos casos são
da história vacinal e segue as recomendações do Quadro 10. úteis para a avaliação da efetividade do tratamento e para o
monitoramento da doença. A pessoa com hanseníase deverá
Quadro 10. Esquemas terapêuticos utilizados ser agendada para a tomada da dose supervisionada a cada
Avaliação da cicatriz Vacinal conduta 28 dias, utilizando-se cartões de agendamento para o registro
da data de retorno à unidade de saúde e controle da adesão
Sem cicatriz Prescrever uma dose. ao tratamento.
Com uma cicatriz de BCG Prescrever uma dose. No ato do comparecimento à unidade de saúde para re-
Com duas cicatrizes de BCG Não prescrever nenhuma dose. ceber a medicação específica preconizada e de modo supervi-
sionado, o paciente deve ser submetido à revisão sistemática
Atenção: todo contato de hanseníase deve receber por médico e/ou enfermeiro responsável pelo monitoramen-
orientação de que a BCG não é uma vacina específica para to clínico e terapêutico, objetivando identificação de reações
este agravo e, nesse grupo, é destinada, prioritariamente, aos hansênicas, efeitos colaterais ou adversos aos medicamentos
contatos intradomiciliares. em uso e surgimento de dano neural.
Recomenda-se aproveitar a presença do paciente na uni-
Notas dade de saúde para agendar os contatos intradomiciliares
- Contatos intradomiciliares de hanseníase com menos para exame clínico, orientação e administração da vacina BCG,
de 1 ano de idade, já vacinados, não necessitam da aplicação conforme preconizado. O prontuário da pessoa com hanse-
de outra dose de BCG. níase deverá ser o mesmo utilizado para os demais atendi-
- Contatos intradomiciliares de hanseníase com mais de 1 mentos realizados na unidade de saúde, acrescido de anexos
ano de idade, já vacinados com a primeira dose, devem seguir constituídos por impressos específicos como cópia da ficha
as instruções do quadro anterior. de notificação, ficha de avaliação neurológica simplificada e
- Na incerteza de cicatriz vacinal ao exame dos contatos do grau de incapacidade física e de informações evolutivas
intradomiciliares, recomenda-se aplicar uma dose, indepen- sobre o acompanhamento do caso.
dentemente da idade. O arquivamento dos prontuários dos casos de hanseníase,
em registro nas unidades, deve obedecer aos processos admi-
As contraindicações para aplicação da vacina BCG são nistrativos internos da organização institucional. É importante
as mesmas referidas pelo Programa Nacional de Imunização reiterar que constem do prontuário os seguintes formulários:
(PNI), disponíveis no seguinte endereço eletrônico: /portal/ - cópia da ficha de notificação;
arquivos/pdf/manual_pos-vacinacao.pdf. - protocolo complementar de diagnóstico de hanseníase
É importante considerar a situação de risco dos contatos em menores de 15 anos;
possivelmente expostos ao HIV e outras situações de imu- - formulário para avaliação do grau de incapacidade;
nodepressão, incluindo corticoterapia. Para pessoas HIV po- - formulário para avaliação neurológica simplificada;\
sitivas ou com AIDS, devem ser seguidas as recomendações - formulário de vigilância de contatos intradomiciliares de
específicas para imunização com agentes biológicos vivos ou hanseníase;
atenuados disponíveis no seguinte endereço eletrônico: www. - outros formulários que se fizerem necessários para o
aids.gov.br/final/biblioteca/imunização/imuniza.htm. acompanhamento eficiente dos doentes.

Análise de dados Informações sobre a evolução clínica e psicossocial, admi-


Para a operacionalização e eficácia da vigilância epide- nistração das doses supervisionadas e vigilância de contatos
miológica da hanseníase na obtenção e fornecimento de in- deverão constar do registro regular, no prontuário de todos
formações fidedignas e atualizadas sobre a doença, seu com- os pacientes. Os casos de suspeição diagnóstica de hansenía-
portamento epidemiológico e atividades de controle, faz-se se em menores de 15 anos devem seguir protocolo do PNCH/
necessário um sistema de informação efetivo e ágil. SVS/MS, de acordo com Nota Técnica nº 14/2008. Por ser a
O sistema de informação é componente fundamental da hanseníase uma doença infecciosa crônica, os casos notifica-
vigilância epidemiológica, subsidiando-a na tomada de deci- dos demandam atualização das informações do acompanha-
são de planejamento das atividades de controle da doença, mento pela unidade de saúde, por meio do preenchimento
bem como na sua execução: informação – decisão – ação. do boletim de acompanhamento de casos, do Sinan.
Cada unidade de saúde deve manter um arquivo organizado O boletim de acompanhamento de casos deve ser enca-
com a definição do fluxo das informações, atribuição de res- minhado pela unidade de saúde, ao final de cada mês, ao ní-
ponsabilidades, prazos e periodicidade. vel hierárquico superior, informatizado, contendo as seguintes
As informações geradas são úteis para o diagnóstico informações: data do último comparecimento, classificação
e a análise da situação de saúde da população e para o operacional atual, esquema terapêutico atual, número de do-
processo de planejamento (identificação de prioridades, ses de PQT/OMS administradas, episódio reacional durante
o tratamento, número de contatos examinados e, em caso

118
BIOLOGIA

de saída, tipo, data e o grau incapacidade na alta por cura. A - O planejamento das atividades de controle da hanse-
saída por “abandono” deverá ser informada quando o doen- níase é um instrumento de sistematização de nível operativo
te, que ainda não concluiu o tratamento, não compareceu ao que perpassa todas as ações, que vão do diagnóstico situacio-
serviço de saúde nos últimos 12 meses, independente da clas- nal, estratégia de intervenção e monitorização à avaliação dos
sificação operacional. resultados alcançados.
O município é responsável por imprimir e enviar mensal- - O conhecimento de dados básicos é indispensável ao
mente às unidades de saúde, o boletim de acompanhamento, planejamento. Dentre outros, destacam-se:
para atualização das informações. Após atualização, as unida- › população alvo (da unidade de saúde, município ou es-
des de saúde deverão devolvê-lo à vigilância epidemiológica tado);
para a digitação no Sinan. As alterações dos casos no Sinan só › número de casos de hanseníase em registro ativo;
poderão ser feitas no primeiro nível informatizado. O fluxo de › número de contatos intradomiciliares de casos novos;
informações em hanseníase deverá ser construído segundo › casos de hanseníase com incapacidades físicas.
a lógica do envio sistemático dos dados e atualização per-
manente do sistema de informações, desde o nível municipal Educação em saúde
até a esfera federal. A comunicação e educação em saúde é um dos compo-
nentes estruturantes do Programa Nacional de Controle da
Indicadores Hanseníase, compreendendo três eixos: ações de comunica-
Indicadores são aproximações quantificadoras de um deter- ção em saúde; educação permanente; e mobilização social.
minado fenômeno. Podem ser usados para ajudar a descrever de- Essas ações devem ser conduzidas sempre em consonância
terminada situação e para acompanhar mudanças ou tendências com as políticas vigentes.
em um período de tempo. Os indicadores de saúde permitem a Nesse processo, deve-se promover a participação de di-
comparabilidade entre diferentes áreas ou diferentes momentos ferentes atores sociais no planejamento, execução e avaliação,
e fornecem subsídios ao planejamento das ações de saúde. Os favorecendo a democratização e a descentralização dessas
indicadores para o monitoramento da hanseníase constam na ações. As ações de comunicação são fundamentais à divulga-
Portaria SVS/SAAS/MS nº 125, de 26 de março de 2009. ção das informações sobre hanseníase dirigidas à população
em geral, e, em particular, aos formadores de opinião (profes-
Classificação dos indicadores sores, jornalistas, líderes religiosos), aos profissionais de saúde
Podem ser classificados em dois grandes grupos, de acor- e pessoas atingidas pela doença e de sua convivência. Essas
do com o tipo de avaliação a que se destinam: epidemiológi- ações devem ser realizadas de forma integrada à mobiliza-
cos e operacionais. ção social. As práticas de educação em saúde para controle
da hanseníase devem basear-se na política de educação per-
Indicadores epidemiológicos – medem a magnitude manente e na política nacional de promoção da saúde. Elas
ou transcendência do problema de saúde pública. Referem- atividades devem compreender a atenção integral, o estímulo
se, portanto, à situação verificada na população ou no meio à investigação, o autoexame dos contatos intradomiciliares,
ambiente, num dado momento ou determinado período. Ex: o autocuidado, a prevenção e tratamento de incapacidades
coeficiente de detecção de casos e proporção de casos com físicas e suporte psicológico, durante e após o tratamento.
deformidades detectados no ano. A educação permanente em saúde, ao proporcionar a for-
Podem ser classificados em dois grandes grupos, de acor- mação dos profissionais de saúde, gestores e usuários, é uma
do com o tipo de avaliação a que se destinam: epidemioló- estratégia essencial à atenção integral humanizada e de qua-
gicos e operacionais, medem a magnitude ou transcendên- lidade, ao fortalecimento do SUS e à garantia de direitos e da
cia do problema de saúde pública. Referem-se, portanto, à cidadania. Para tanto, faz-se necessário estabelecer ações in-
situação verificada na população ou no meio ambiente, num tersetoriais, envolvendo os setores da Educação e da Saúde, de
dado momento ou determinado período. Ex: coeficiente de acordo com as diretrizes para implementação da política nacio-
detecção de casos e proporção de casos com deformidades nal de educação permanente em saúde. Recomenda-se que a
detectados no ano. educação permanente em saúde contemple, para o controle da
hanseníase, a reorientação das práticas de formação, atenção,
Indicadores operacionais – medem o trabalho realizado, gestão, formulação de políticas e controle social, e seja realizada
seja em função da qualidade ou quantidade. Ex: proporção de forma intersetorial, com outras áreas governamentais, socie-
de examinados entre os contatos intradomiciliares registrados dades científicas, conselhos reguladores e órgãos formadores
dos casos novos de hanseníase no ano. de profissionais da saúde e entidades não governamentais.
Notas De acordo com as recomendações do Pacto pela Saúde,
- Para monitorar a ocorrência de recidiva, recomenda-se caberá às três esferas de governo trabalhar, em parceria, com as
que as gerências estaduais e municipais investiguem as en- demais instituições e entidades da sociedade civil, para a divul-
tradas por recidiva no Sinan e a utilização do formulário de gação de informações atualizadas sobre a hanseníase e aten-
intercorrências após a alta. ção integral ao portador de hanseníase ou de suas sequelas.
- Todos os indicadores listados devem ser calculados uti- A hanseníase é uma das mais antigas doenças que
lizando-se dados de casos residentes na unidade federada, acomete o homem. As referências mais remotas da-
independente do local de detecção e/ou tratamento. tam de 600 anos Antes de Cristo, e procedem da Ásia,
- Além dos indicadores listados, as variáveis da ficha que, juntamente com a África, podem ser consideradas
de notificação/investigação também devem ser analisadas, o berço da doença. A hanseníase é uma doença causa-
inclusive quanto à completitude e consistência. da pelo Mycobacterium leprae, bacilo descoberto em

119
BIOLOGIA

1873 pelo médico Amaneur Hansen, na Noruega. Em ho- Importante: Assim que a pessoa doente começa o tra-
menagem ao seu descobridor, o bacilo é também chama- tamento deixa de transmitir a doença.
do de Bacilo de Hansen. O bacilo de Hansen é um micró- Ela não precisa ser afastada do trabalho, nem do convívio fa-
bio que apresenta afinidade pela pele e nervos periféricos. miliar e pode manter relações sexuais com seu parceiro ou parceira.
A hanseníase é uma doença infecciosa, crônica, de grande im-
portância para a saúde pública devido à sua magnitude e seu Quais são os fatores de risco para a hanseníase?
alto poder incapacitante, atingindo principalmente as pessoas Apesar de muitas pessoas contraírem o bacilo poucas
em faixa etária economicamente ativa comprometendo seu adoecem. Isso porque a maioria das pessoas tem boa re-
desenvolvimento profissional e/ou social. O alto potencial sistência ao mesmo. Situações de pobreza como precárias
incapacitante da hanseníase está diretamente relacionado à condições de vida, desnutrição, alto índice de ocupação das
capacidade do bacilo penetrar a célula nervosa e também ao moradias e outras infecções simultâneas podem favorecer o
seu poder imunogênico. Atualmente a hanseníase tem trata- desenvolvimento e a propagação da hanseníase. Esta doença
mento e cura. pode atingir pessoas de ambos os sexos em qualquer idade
em áreas endêmicas. Entretanto, é necessário um longo pe-
Qual a classificação da hanseníase? ríodo de exposição e apenas uma pequena parcela da popu-
A hanseníase, para fins de tratamento, pode ser classifi- lação infectada, adoece.
cada em:
Paucibacilar – poucos bacilos: até 5 lesões de pele. Qual o período de incubação?
Multibacilar – muitos bacilos: mais de 5 lesões de pele. Em média de 2 a 5 anos.

Quais os sinais e sintomas? Como as pessoas podem suspeitar que estão com han-
- Manchas esbranquiçadas, avermelhadas ou amarronza- seníase?
das em qualquer parte do corpo com perda ou alteração de Os sinais e sintomas mais frequentes da hanseníase são
sensibilidade; manchas e áreas da pele com diminuição de sensibilidade tér-
- Área de pele seca e com falta de suor; mica (ao calor e frio), tátil (ao tato) e à dor, que podem estar
- Área da pele com queda de pelos, especialmente nas em qualquer parte do corpo, principalmente nas extremida-
sobrancelhas; des das mãos e dos pés, na face, nas orelhas, no tronco, nas
- Área da pele com perda ou ausência de sensibilidade nádegas e nas pernas.
ao calor, dor e tato. A pessoa se queima ou machuca sem
perceber; Como confirmar o diagnóstico?
- Sensação de formigamento (Parestesias); A confirmação do diagnóstico é feita pelo médico por
- Dor e sensação de choque, fisgadas e agulhadas ao lon- meio de exame clínico, baseado nos sinais e sintomas detecta-
go dos nervos dos braços e das pernas, inchaço de mãos e pés; dos na observação de toda a pele, olhos, palpação dos nervos,
- Diminuição da força dos músculos das mãos, pés e face avaliação da sensibilidade superficial e da força muscular dos
devido à inflamação de nervos, que nesses casos podem estar membros superiores e inferiores. Em raros casos será necessário
engrossados e doloridos. solicitar exames complementares para confirmação diagnóstica.
- Úlceras de pernas e pés. Como é o tratamento da hanseníase?
- Caroços (nódulos) no corpo, em alguns casos averme- O tratamento específico é encontrado nos serviços pú-
lhados e dolorosos. blicos de saúde e é chamado de poliquimioterapia (PQT),
- Febre, edemas e dor nas juntas. porque utiliza a combinação de três medicamentos. Os medi-
- Entupimento, sangramento, ferida e ressecamento do camentos utilizados consistem na associação de antibióticos,
nariz. conforme a classificação operacional, sendo:
- Ressecamento nos olhos. - Paucibacilares: rifampicina, dapsona - 6 doses em até 9
Locais do corpo com maior predisposição para o surgi- meses;
mento das manchas: mãos, pés, face, costas, nádegas e pernas. - Multibacilares: rifampicina, dapsona e clofazimina – 12
doses em até 18 meses;
Importante: Em alguns casos, a hanseníase pode ocorrer
sem manchas. O paciente vai ao serviço mensalmente tomar a dose su-
pervisionada pela equipe de saúde, e pegar a medicação para
Como se transmite? as doses que ele toma diariamente em casa. A regularidade
A transmissão se dá entre pessoas. Uma pessoa doente do tratamento e o início mais precoce levariam a cura da han-
que apresenta a forma infectante da doença (multibacilar – seníase mais rápida e segura.
MB), estando sem tratamento, elimina o bacilo pelas vias res-
piratórias (secreções nasais, tosses, espirros), podendo assim Como prevenir a hanseníase?
transmiti-lo para outras pessoas suscetíveis. O bacilo de Han- Apesar de não haver uma forma de prevenção especifica,
sen tem capacidade de infectar grande número de pessoas, existem medidas que podem evitar novos casos e as for-
mas poucas pessoas adoecem porque a maioria tem capa- mas multibacilares, tais como:
cidade de se defender contra o bacilo. O contato direto e - diagnóstico e tratamento precoces;
prolongado com a pessoa doente em ambiente fechado, - exame das pessoas que residem ou residiram nos úl-
com pouca ventilação e ausência de luz solar, aumenta a timos cinco anos com o paciente;
chance da pessoa se infectar. - aplicação da BCG (ver item vacinação).

120
BIOLOGIA

Como se realiza a prevenção de incapacidades? persão do vetor desde sua reintrodução em 1976 e o avanço
A prevenção de incapacidades (PI) é uma atividade que se da doença. Essa reintrodução não conseguiu ser controlada
inicia com o diagnóstico precoce, tratamento com PQT, exa- com os métodos tradicionalmente empregados no combate
me dos contatos e BCG, identificação e tratamento adequado às doenças transmitidas por vetores em nosso país e no con-
das reações e neurites e a orientação de autocuidado, bem tinente.
como apoio emocional e social. A Prevenção de Incapacida- Programa essencialmente centrados no combate químico,
des se faz necessária também em alguns casos após a alta de com baixíssima ou mesmo nenhuma participação da comuni-
PQT (reações, neurites e deformidades em olhos, mãos e pés). dade, sem integração intersetorial e com pequena utilização
A avaliação neurológica, classificação do grau de incapacida- do instrumental epidemiológico mostraram-se incapazes de
de, aplicação de técnicas de prevenção e a orientação para o conter um vetor com altíssima capacidade de adaptação ao
autocuidado são procedimentos que precisam ser realizados novo ambiente criado pela urbanização acelerada e pelos no-
nas unidades de saúde. Estas medidas são necessárias para vos hábitos. Nos primeiros seis meses deste ano, 84.535 pes-
evitar sequelas, tais como: úlceras, perda da força muscular soas tiveram dengue, enquanto que, em 2003, as notificações
e deformidades (mãos em garra, pé caído-sem força para le- chegaram a 299.764. Saiba qual é a situação atual da dengue
vantar o pé-, lagoftalmo – incapacidade parcial ou total de no Brasil e o que tem sido feito para sua erradicação.
fechar as pálpebras). Recomenda-se o encaminhamento às Dengue é a enfermidade causada pelo vírus da dengue,
unidades de referencia os casos que não puderem ser resolvi- um arbovírus da família Flaviviridae, gênero Flavivírus, que in-
dos nas unidades básicas. clui quatro tipos imunológicos: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-
4. A infecção por um deles dá proteção permanente para o
Como proceder em caso que requer reabilitação? mesmo sorotipo e imunidade parcial e temporária contra os
Os pacientes diagnosticados tardiamente e com defor- outros três. A dengue tem, como hospedeiro vertebrado, o
midades físicas deverão ser encaminhados para unidades de homem e outros primatas, mas somente o primeiro apresen-
referência onde poderão se beneficiar de tratamento adequa- ta manifestação clínica da infecção e período de viremia de
do, como a cirurgia, exercícios pré e pós-operatórios e o au- aproximadamente sete dias. Nos demais primatas, a viremia é
tocuidado, bem como da indicação de próteses e/ou órteses. baixa e de curta duração.
O objetivo é proporcionar uma melhor qualidade de vida às O vírus da dengue, provavelmente, se originou de vírus
pessoas com hanseníase e/ou suas sequelas. que circulavam em primatas na proximidade da península da
Malásia. O crescimento populacional aproximou as habita-
Gravidez e o aleitamento ções da região à selva e, assim, mosquitos transmitiram vírus
A gravidez e o aleitamento materno não contraindicam o ancestrais dos primatas aos humanos que, após mutações,
tratamento poliquimioterápico da hanseníase que são segu- originaram nossos quatro diferentes tipos de vírus da dengue.
ros tanto para a mãe como para a criança. Alguns dos medi- Provavelmente, o termo dengue é derivado da frase swahili
camentos podem ser eliminados pelo leite, mas não causam “ki dengu pepo”, que descreve os ataques causados por maus
efeitos adversos importantes. Os lactentes, porém, podem espíritos e, inicialmente, usado para descrever a enfermidade
apresentar a pele hiperpigmentada pela Clofazimina, ocor- que acometeu os ingleses durante a epidemia que afetou as
rendo à regressão gradual da pigmentação, após a parada do Índias Ocidentais Espanholas em 1927-1928. Foi trazida para
tratamento. o continente americano a partir do Velho Mundo, com a co-
Vacinação BCG (BACILO DE CALMETTE-GUÉRIN) lonização no final do século XVIII. Entretanto, não é possível
Toda pessoa que reside ou residiu nos últimos cinco anos afirmar, pelos registros históricos, que as epidemias foram
com doente de hanseníase, sem presença de sinais e sintomas causadas pelos vírus da dengue, visto que seus sintomas são
de hanseníase no momento da avaliação, deve ser examinada similares aos de várias outras infecções, em especial, a febre
e orientada a receber a vacina BCG para aumentar a sua pro- amarela.
teção contra a hanseníase. Deve também receber orientação Atualmente, a dengue é a arbovirose mais comum que
no sentido de que não se trata de vacina específica para a atinge o homem, sendo responsável por cerca de 100 mi-
hanseníase. Estudos realizados no Brasil e em outros países lhões de casos/ano em população de risco de 2,5 a 3 bilhões
verificaram que o efeito protetor da BCG na hanseníase varia- de seres humanos. A febre hemorrágica da dengue (FHD) e
va de 20 a 80%, concedendo maior proteção para as formas síndrome de choque da dengue (SCD) atingem pelo menos
multibacilares da doença. Em alguns casos o aparecimento de 500 mil pessoas/ano, apresentando taxa de mortalidade de
sinais clínicos de hanseníase, logo após a vacinação, pode es- até 10% para pacientes hospitalizados e 30% para pacientes
tar relacionado com o aumento da resposta imunológica em não tratados. A dengue é endêmica no sudeste asiático e tem
indivíduo anteriormente infectado. originado epidemias em várias partes da região tropical, em
intervalos de 10 a 40 anos. Uma pandemia teve início na dé-
Dengue cada dos anos 50 no sudeste asiático e, nos últimos 15 anos,
A dengue é um dos principais problemas de saúde pú- vem se intensificando e se propagando pelos países tropicais
blica no mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) do sul do Pacífico, África Oriental, ilhas do Caribe e América
estima que entre 50 a 100 milhões de pessoas se infectem Latina.
anualmente, em mais de 100 países, de todos os continen- Epidemias da forma hemorrágica da doença têm ocorri-
tes, exceto a Europa. Cerca de 550 mil doentes necessitam do na Ásia, a partir da década de 1950, e no sul do Pacífico, na
de hospitalização e 20 mil morrem em consequência da dos 80. Entretanto, alguns autores consideram que a doença
dengue. Em nosso país, as condições socioambientais fa- não seja tão recente, podendo ter ocorrido nos EUA, África
voráveis à expansão do Aedes aegypti possibilitaram a dis- do Sul e Ásia, no fim do século XIX e início do XX. Durante

121
BIOLOGIA

a epidemia que ocorreu em Cuba, em 1981, foi relatado o acentuado no número de notificações no período de 1994 a
primeiro de caso de dengue hemorrágica, fora do sudeste da 1998, com queda em 1999. A média anual, após 1986, foi de
Ásia e Pacífico. Este foi considerado o evento mais importante 78.928 casos/ano, ficando acima desse valor em 1987, com
em relação à doença nas Américas. Naquela ocasião, foram 82.446 casos; em 1990, com 103.336; em 1995, com 81.608;
notificados 344.203 casos clínicos de dengue, sendo 34 mil em 1996, com 87.434; em 1997, com 135.671; em 1998, com
casos de FHD, 10.312 das formas mais severas, 158 óbitos 363.010 e 1999, com 104.658 casos.
(101 em crianças). O custo estimado da epidemia foi de US$ Observou-se a falta de uniformidade quanto ao modo
103 milhões. de notificação da distribuição do número de casos, por es-
Entre 1995 e o início de 2001, foram notificados à Orga- tado. Alguns não têm dados disponíveis, enquanto outros,
nização Pan-Americana da Saúde - OPAS, por 44 países das como Mato Grosso, apresenta registros fragmentados, não
Américas, 2.471.505 casos de dengue, dentre eles, 48.154 da incluindo todas as regiões. Quanto ao estado de São Paulo,
forma hemorrágica e 563 óbitos. O Brasil, o México, a Colôm- verificou-se que foram notificados os casos confirmados por
bia, a Venezuela, a Nicarágua e Honduras apresentaram nú- exames de laboratório e, dentre os municípios, não constava
mero elevado de notificações, com pequena variação ao longo o da capital. No Estado de São Paulo, a dengue foi incluída
do período, seguidos por Costa Rica, El Salvador, Guatemala, no rol das doenças de notificação compulsória, em 1986. Em
Panamá, Porto Rico, Guiana Francesa, Suriname, Jamaica e Tri- 1987, foram detectados dois focos da doença na região de
nidad & Tobago. Nota-se a quase ausência de casos nos EUA, Araçatuba, os quais foram controlados. Na região de Ribeirão
que notificaram somente sete, em 1995. A Argentina compa- Preto, a epidemia alcançou o pico em 1991, estendendo-se
receu a partir de 1998 e o Paraguai, a partir de 1999. Os casos pelas regiões de São José do Rio Preto, Araçatuba e Bauru,
de dengue hemorrágica e óbitos acompanham a distribuição confirmando as previsões de risco crescente de ocorrência da
descrita acima, e parece não terem relação com os sorotipos arbovirose.
circulantes. No Brasil, os sorotipos registrados foram o 1 e o Em resumo, agrupando por regiões, a Sudeste foi a que
2. Somente no ano de 2000 registrou-se o sorotipo 3. A Gua- registrou o maior número de casos, sendo também a de maior
temala notificou a circulação dos quatro sorotipos, com baixo população e disponibilidades de recursos para diagnóstico e
número de casos graves e óbitos. notificação. Seguem-se em relação à incidência de dengue as
Vetores e transmissão regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Norte.
A transmissão se faz pela picada da fêmea contaminada do Em 2002, novamente o Rio de Janeiro foi castigado por
mosquito Aedes aegypti ou Aedes albopictus, pois o macho se uma epidemia de dengue, agora com a entrada do vírus tipo
alimenta apenas de seiva de plantas. No Brasil, ocorre na maioria 3. Quase 290 mil pessoas contraíram a doença no Estado e 91
das vezes por Aedes aegypti. Após um repasto de sangue infec- morreram em todo o Estado, sendo 65 mortes e 138 mil casos
tado, o mosquito está apto a transmitir o vírus, depois de 8 a 12 somente na capital. Foi o ano com mais casos de dengue na
dias de incubação extrínseca. A transmissão mecânica também história do país, concentrados no Rio de Janeiro. Em 10 anos,
é possível, quando o repasto é interrompido e o mosquito, ime- dobrou o número de Municípios infestados pelo mosquito
diatamente, se alimenta num hospedeiro susceptível próximo. transmissor da dengue.
Um único mosquito desses em toda a sua vida (45 dias em mé- Segundo dados do Ministério da Saúde, entre janeiro e
dia) pode contaminar até 300 pessoas. Não há transmissão por setembro de 2006 foram registrados 279.241 casos de den-
contato direto de um doente ou de suas secreções com uma gue o equivalente a 1 caso (não fatal) para cada 30 km ² do
pessoa sadia, nem de fontes de água ou alimento. Na Ásia e território desse país. Um crescimento de 26,3% em relação ao
África alguns macacos silvestres podem contrair dengue e assim mesmo período em 2005. A maior incidência foi na Região
serem usados como vetores, porém na América do Sul os ma- Sudeste do Brasil. Apesar dos números, para o Governo fe-
cacos demonstraram baixa viremia, provavelmente insuficiente deral não ocorre uma nova epidemia da doença no Brasil. No
e não há estudos comprovando eles como vetores. entanto, medidas para combater o mosquito foram tomadas
Casos de dengue no Brasil – como mapeamento de focos do Aedes aegypti e orientação
No Brasil, existem registros de epidemias de dengue no à população das áreas com maior risco de infestação.
Estado de São Paulo, que ocorreram nos anos de 1851/1853 e A cidade de Ilha Solteira lidera o ranking da epidemia de
1916 e no Rio de Janeiro, em 1923. Entre essa data e os anos dengue no estado de São Paulo. Segundo dados não oficiais,
80, a doença foi praticamente eliminada do país, em virtude Ilha Solteira com pouco mais de 26 mil habitantes conta com
do combate ao vetor Aedes aegypti, durante campanha de er- mais de 13 mil casos da doença com 3 mortes até o mês de
radicação da febre amarela. Observou-se a reinfestação desse março de 2007. A prefeitura da cidade não manifestou preo-
vetor em 1967, provavelmente originada a partir dos países cupação alguma e divulga na imprensa que no máximo 200
vizinhos, que não obtiveram êxito em sua erradicação. Na dé- pessoas tiveram dengue e que não houve qualquer caso de
cada dos anos 80, foram registrados novos casos de dengue: morte. Tal situação causa preocupação, pois a cidade conta
em 1981 - 1982 em Boa Vista (RR); em 1986 - 1987 no Rio com mais de três mil universitários de diversas partes do país e
de Janeiro (RJ); em 1986, em Alagoas e Ceará; em 1987, em devido a movimentação destes, espalhar a doença mais ainda.
Pernambuco, Bahia, Minas Gerais e São Paulo; em 1990, no Em 2008, a doença volta a assustar os cariocas. Nessa epi-
Mato Grosso do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro; em 1991, demia, foram registrados quase 250 mil casos da doença e
em Tocantins e, em 1992, no estado de Mato Grosso. 174 mortes em todo o Estado (e outras 150 em investigação),
No período de 1986 a outubro de 1999, foram registra- sendo 100 mortes e 125 mil casos somente na cidade do
dos, no Brasil, 1.104.996 casos de dengue em dezenove dos Rio de Janeiro.[14] A epidemia de 2008 superou, em núme-
vinte e sete Estados. Observou-se flutuação no número de ro de vítimas fatais, a epidemia de 2002, onde 91 pessoas
casos notificados entre 1986 e 1993, seguido de aumento morreram.

122
BIOLOGIA

Recentemente, houve uma epidemia de Dengue no esta- 1ª medida de controle dos vetores de dengue, nos países
do do Pará, sendo que das 7000 ocorrências no estado, 400 se onde são endêmicos, são poucas ou inexistentes;
deram na capital Belém. No estado, 3 pessoas se encontram 2ª crescimento da população humana com grandes mu-
sob suspeita de dengue hemorrágica, sendo que uma é do danças demográficas;
município de Tucuruí e duas são da capital Belém. Entre 1º de 3ª expansão e alteração desordenadas do ambiente ur-
janeiro e 13 de fevereiro de 2010, foram notificados 108.640 bano, com infraestrutura sanitária deficiente, propiciando o
pacientes com a doença, 109% a mais que no mesmo perío- aumento da densidade da população vetora;
do de 2009. Os estados Mato Grosso do Sul, Acre, Rondônia, 4ª aumento acentuado no intercâmbio comercial entre
Goiás e Mato Grosso respondem por 71% desses casos. As múltiplos países e consequente aumento no número de via-
altas temperaturas, grande volume de chuvas e o retorno do gens aéreas, marítimas e fluviais, favorecendo a dispersão dos
tipo 1 do vírus explicam parte da epidemia. vetores e dos agentes infecciosos.
Como se pôde observar, a doença foi reconhecida há apro- Qualquer que seja a causa, o aumento da variabilidade
ximadamente 200 anos e tem apresentado caráter epidêmico e genética do vírus da dengue é observação que se reveste de
endêmico variado. As mudanças na dinâmica de transmissão da extrema importância porque as populações humanas estão
dengue podem ser explicadas pela baixa prevalência do vírus sendo expostas a diversas cepas virais, e algumas podem es-
até recentemente, quando houve maior disponibilidade de hos- capar da proteção imunológica obtida com a exposição pré-
pedeiros humanos. O aumento da concentração humana em via ao sorotipo. Acresce considerar que podem surgir cepas
ambiente urbano propiciou crescimento substancial da popula- com patogenicidade e infectividade aumentadas e que popu-
ção viral. As linhagens, que surgiram antes das aglomerações e lações silvestres do vírus dengue, geneticamente diferentes,
movimentações humanas terem início, tinham poucas chances quando introduzidas em populações de hospedeiros, podem
de causar grandes epidemias e terminavam por falta de hos- desencadear epidemias. Embora as populações de vírus com
pedeiros susceptíveis. Entretanto, as alterações ambientais de sequências de nucleotídeos conhecidas sejam esparsas, es-
natureza antrópica têm propiciado o deslocamento e/ou dano pecialmente das populações africanas, encontraram-se qua-
à fauna e flora, bem como o acúmulo de detritos e de recipien- tro genótipos para o DEN-2 e DEN-3 e dois para o DEN-1 e
tes descartáveis. Paralelamente, as mudanças nas paisagens têm DEN-4, com diversidade máxima de aminoácidos, de aproxi-
promovido alterações microclimáticas que parecem ter favore- madamente 10% para o gene E. Mesmo não se dispondo de
cido algumas espécies vetoras, em detrimento de outras, ofe- amostras históricas para se avaliarem as possíveis alterações
recendo abrigos e criadouros, bem como a disponibilidade de genéticas através do tempo, as observações mostram que a
hospedeiros. A dengue é uma doença muito grave. variabilidade genética está aumentando.
No entanto, o fator de maior preocupação é que a diversida-
Epidemiologia de genética dos quatro subtipos de vírus dengue está provavel-
Faixa exposta na UFMG retratando aliança com a prefei- mente ligada ao crescimento da população humana, podendo
tura de Belo Horizonte contra a dengue. Aplicando-se o mé- aumentar no futuro. A alta variabilidade genética do vírus pode
todo de estimar taxas de substituição de nucleotídeos para estar relacionada com o surgimento de casos graves da doença,
calcular o tempo de divergência de populações, a partir de causados, possivelmente, pelo efeito anticorpo-dependente em
dados conhecidos atualmente, estima-se que os quatro so- resposta a populações virais geneticamente diferentes.[4]
rotipos do vírus da dengue tenham surgido há cerca de 2000
anos e que o rápido aumento da população viral e a explo- Imunologia
são da diversidade genética tenham ocorrido há, aproxima- O macaco não é reconhecido como reservatório do ví-
damente, 200 anos, coincidindo com o que conhecemos por rus na América Latina. Macaco do gênero Saimiri. Quando
emergência da dengue em registros históricos, a saber: uma pessoa é infectada por um dos 4 sorotipos virais, torna-
Primeira fase: Separação do vírus dos demais flavivírus. se imune a todos os tipos de vírus durante alguns meses e
Esta separação pode ter ocorrido há 2000 anos. posteriormente mantém-se imune, pelo resto da vida, ao tipo
Segunda fase: O vírus tornou-se sustentável na espécie pelo qual foi infectado. Se voltar a ter dengue, dessa vez um
humana. É provável que fosse, primariamente, silvestre, circu- dos outros 3 tipos do vírus, há uma probabilidade maior que a
lando em macacos no velho mundo e mudando para doença doença seja mais grave que a anterior, mas não é obrigatório
humana com transmissão em ambiente urbano, no fim do que aconteça.
século XVIII. A classificação 1, 2, 3 ou 4 não tem qualquer relação com
Terceira fase: Em meados da década iniciada em 1950 a gravidade da doença, diz respeito à ordem da descoberta
ocorreram os primeiros casos notificados da dengue hemor- dos vírus. Cerca de 90% dos casos de dengue hemorrágica
rágica. ocorrem em pessoas anteriormente infectadas por um dos
O impacto dessa doença sobre a população humana é quatro tipos de vírus.
notado, não só pelo desconforto que causa, como pela per- Progressão e sintomas
da de vidas, principalmente entre crianças. Na Ásia, é a se- O período de incubação é de três a quinze dias após a
gunda causa de internamentos hospitalares de crianças. Há, picada. Dissemina-se pelo sangue (viremia). Os sintomas ini-
também, prejuízos econômicos expressos em gastos com ciais são inespecíficos como febre alta (normalmente entre
tratamento, hospitalização, controle dos vetores, absentis- 38° e 40 °C) de início abrupto, mal-estar, anorexia (pouco
mo no trabalho e perdas com turismo. O ressurgimento da apetite), cefaleias, dores musculares e nos olhos. No caso
dengue, em escala global, é atribuído a diversos fatores, da hemorrágica, após a febre baixar pode provocar gengi-
ainda não bem conhecidos. Os mais importantes estão re- vorragias e epistáxis (sangramento do nariz), hemorragias
lacionados a seguir: internas e coagulação intravascular disseminada, com da-

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BIOLOGIA

nos e enfartes em vários órgãos, que são potencialmente mor- Tratamento


tais. Ocorre frequentemente também hepatite e por vezes choque A parte central do tratamento da dengue comum é a rei-
mortal devido às hemorragias abundantes para cavidades internas dratação, geralmente associada com analgésicos e antitérmi-
do corpo. Há ainda petéquias (manchas vermelhas na pele), e do- coscomooparacetamol.Opacienteéaconselhadopelomé-
res agudas das costas (origem do nome, doença “quebra-ossos”). dicoaficaremrepousoebebermuitoslíquidos(sucos,água
A síndrome de choque hemorrágico da dengue ocorre echássemcafeína)evitandocafé,refrigeranteseleite(que
quando pessoas imunes a um sorotipo devido a infecção pas- irritamoestômago).Éimportanteentãoevitaraautomedica-
sada já resolvida são infectadas por outro sorotipo. Os anti- ção,porquepodeserperigosa,jáqueaprescriçãomédicade-
corpos produzidos não são específicos suficientemente para saconselhausarremédiosàbasedeácidoacetilsalicílico(AAS)
neutralizar o novo sorotipo, mas ligam-se aos virions forman- ououtrosantinflamatóriosnão-esteróides(AINEs)normal-
do complexos que causam danos endoteliais, produzindo he- menteusadosparafebre,porqueelesfacilitamahemorragia.
morragias mais perigosas que as da infecção inicial. A febre é Ummedicamentomuitousadonadengueéoparace-
o principal sintoma.. tamolporsuaspropriedadesanalgésicaseantitérmicas,boa
Sinais de Alerta da Dengue Hemorrágica tolerânciaepoucosefeitoscolaterais.Analgésicosabasede
- Dor abdominal contínua dipirona(comoNovalgina,DorflexeAnador)devemserevi-
- Vômitos persistentes tadosempessoascompressãobaixapoispodemdiminuira
- Hipotensão postural pressão e causar manchas de pele.
- Hipotensão arterial Casos Graves
- Pressão diferencial < 20mmHg (PA convergente) Em caso mais graves, quando ocorre perda de fluido es-
- Hepatomegalia dolorosa timada em 5% ou mais do peso corporal, é feita uma reidra-
- Hemorragias importantes (hematêmese e/ou melena) tação endovenosa com um bolus de solução glicofisiológi-
- Extremidades frias, cianose ca (1:1 a 1:2) de 10-20ml/kg mantendo-se infusão contínua
- Pulso rápido e fino numa velocidade inicial de 6-7ml/kg/hora. (ou seja, injetar
- Agitação e/ou letargia soro fisiológico na veia pra repor a água que foi perdida suan-
- Diminuição da diurese do, vomitando, urinando e sangrando). Caso não haja melho-
- Diminuição repentina da temperatura corpórea ou hi- ra inicial aumenta-se a velocidade do soro para 10ml/kg/h ou
potermia até 15ml/kg/h nos casos refratários. Se não houver melhora,
- Aumento repentino do hematócrito recomenda-se monitorização da pressão venosa e a colo-
- Desconforto respiratório cação de sonda vesical de demora para controle da diurese.
Pacientes que apresentarem um ou mais dos sinais de Após essa fase, não havendo estabilização clínica e laborato-
alerta, acompanhados de evidências de hemoconcentração e rial, avalia-se a necessidade de drogas vasoativas e de sangue
plaquetopenia, devem ser reidratados e permanecer sob ob- total (10ml/kg) para queda importante no hematócrito ou
servação médica até melhora do quadro. alternativamente plasma, albumina ou colóides artificiais (10-
20ml/kg) no caso de elevação do hematócrito.
Diagnóstico Sangramentos podem ocorrer por causa dos síndrome
O diagnóstico é feito clinicamente e por meio de exa- de choques da dengue (SCD) e coagulação do sangue, ge-
mes laboratoriais. As pessoas em áreas endêmicas que têm ralmente agravada por medicamentos coagulantes, fazendo
sintomas como febre alta devem consultar um médico para o nível de plaquetas descer abaixo do nível funcional mínimo
fazer análises sendo que o diagnóstico normalmente é feito (trombocitopenia. Nesse caso pode ser necessário transfusão
por isolamento viral através de inoculação de soro sanguíneo de sangue caso o soro não seja suficiente ou já tenha sido
(IVIS) em culturas celulares ou por sorologia esse procedi- usado excessivamente. A monitorização hemodinâmica ou da
mento é essencial para saber se o paciente é portador do ví- pressão arterial deve ser usada para identificar os casos mais
rus da dengue. A definição da Organização Mundial de Saúde graves. Soluções cristalóides são mais eficazes e econômicas
de febre hemorrágica de dengue tem sido usada desde 1975. que as colóides. O uso de corticóides é desaconselhado.
Todos os quatro critérios devem ser preenchidos: Vários novos tratamentos tem sido sugeridos para lidar
1.Febre com as citocinas e toxinas envolvidas na infecção. Tem sido
2.Tendência hemorrágica (teste de torniquete positivo, estudados tratamentos com Inibidores do fator ativador de
contusões espontâneas, sangramento da mucosa, vômito de plaquetas (PAF), pentoxifilina, antioxidantes, n-acetilcisteína,
sangue ou diarreia sanguinolenta) além de inibidores das endorfinas naturais como o naloxone
3.Trombocitopenia (<100.000 plaquetas por mm³) e de antagonistas da bradicinina.
4.Evidência de vazamento plasmático (hematócrito mais O uso de inibidores do óxido nítrico pode ser benéfico
de 20% maior do que o esperado ou queda no hematócrio de principalmente nos casos de hipotensão persistente.[22] O
20% ou mais da linha de base após fluido IV, derrame pleural, uso de infusão contínua de azul de metileno, também mos-
ascite, hipoproteinemia). trou-se benéfico e com toxicidade mínima.
Exame laboratorial Prevenção
A determinação da doença por exame de laboratório faz- O controle é feito basicamente através do combate
se através de testes sorológicos, com presença de anticor- ao mosquito vetor, principalmente na fase larvar do inse-
pos classe IgM (única amostra de soro) ou IgG (aumento to. Deve-se evitar o acúmulo de água em possíveis locais
de título em amostras pareadas) ou isolando o agente etio- de desova dos mosquitos. Quanto à prevenção individual
lógico, que é o método mais específico. Estes dois exames da doença, aconselha-se o uso de janelas teladas, além do
são complementares. uso de repelentes. É importante tratar de todos os lugares

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BIOLOGIA

onde se encontram as fases imaturas do inseto, neste caso, 1. A elaboração de programas permanentes, uma vez
a água. O mosquito da dengue coloca seus ovos em lugares que não existe nenhuma evidência técnica de que a erradica-
com água parada limpa. Embora na fase larval os insetos es- ção do mosquito seja possível, em curto prazo;
tejam na água, os ovos são depositados pela mãe na parede 2. O desenvolvimento de campanhas de informação e
dos recipientes, aguardando a subida do nível da água para mobilização das pessoas, de maneira a se criar o envolvimen-
eclodirem. to da sociedade na manutenção do ambiente doméstico livre
Pesquisas recentes mostraram que o uso de borra de café de potenciais criadouros do vetor;
nos locais de potencial proliferação de larvas é extremamente 3. Fortalecimento da vigilância epidemiológica e entomo-
eficiente na aniquilação do mosquito. Cientistas da UNESP de lógica para ampliar a capacidade de predição e de detecção
São José do Rio Preto - Estado de São Paulo, descobriram que precoce de surtos da doença;
a larva do Mosquito da Dengue pode ser combatido através de 4. Melhoria da qualidade do trabalho de campo de com-
borra de café, já utilizada. Apenas 500 microgramas são neces- bate ao vetor;
sários para matar a larva do mosquito transmissor, sendo suge- 5. Integração das ações de controle da dengue na atenção
rida a utilização de 2 colheres dessa borra para cada meio copo básica, com a mobilização dos Programas de Agentes Comuni-
d’água. Um dos principais problemas no combate ao mosquito tários de Saúde (PACS) e Programas de Saúde da Família (PSF);
é localizá-lo. Atualmente, o Ministério da Saúde Brasileiro utiliza 6. Utilização de instrumentos legais que facilitem o traba-
o Índice Larvário, um método antigo, do início do século XX, lho do poder público na eliminação de criadouros em imóveis
cujas informações são pouco confiáveis e demoradas. comerciais, casas abandonadas etc.;
O Ministério da Saúde indica que em algumas regiões 7. Atuação multissetorial por meio do fomento à destina-
brasileiras foi detectada resistência do mosquito a larvicidas e ção adequada de resíduos sólidos e a utilização de recursos
inseticidas. Por isso, tem crescido a ideia de utilizar mosquitos seguros para armazenagem de água;
transgênicos. A estratégia possui vantagens ecológicas pela 8. Desenvolvimento de instrumentos mais eficazes de
diminuição do uso de inseticidas que costumam afetar outras acompanhamento e supervisão das ações desenvolvidas pelo
espécies e prejudicar o ambiente. Recentemente, cientistas da Ministério da Saúde, estados e municípios.
Universidade Federal de Minas Gerais desenvolveram um mé-
todo de monitoramento do mosquito utilizando armadilhas, Programa Nacional
produto atraente, computadores de mão e mapas geo refe- Com as dificuldades enfrentadas nas diversas tentativas
renciados. O sistema, chamado M.I. Dengue, permite localizar de erradicação da doença, a ideia é garantir uma forte cam-
rapidamente mosquitos nas áreas urbanas, permitindo ações panha de mobilização social, em 2002 o objetivo passa a ser
de combate apenas nas áreas afetadas, com aumento da efi- a redução do dano causado pela doença. A dengue é um dos
ciência e economia de recursos. principais problemas de saúde pública no mundo. A Orga-
nização Mundial da Saúde (OMS) estima que entre 50 a 100
Desenvolvimento de vacina milhões de pessoas se infectem anualmente, em mais de 100
Ainda não há vacinas comercialmente disponíveis para a países, de todos os continentes, exceto a Europa. Cerca de 550
dengue, mas a comunidade científica internacional e brasi- mil doentes necessitam de hospitalização e 20 mil morrem
leira está trabalhando firme neste propósito. A dengue, com em consequência da dengue.
quatro vírus identificados até o momento, é um desafio para Em nosso país, as condições socioambientais favoráveis
os pesquisadores, pois a sua vacina é mais complexa que as à expansão do Aedes aegypti possibilitaram a dispersão do
demais. É necessário fazer uma combinação de todos os vírus vetor desde sua reintrodução em 1976 e o avanço da doença.
para que se obtenha um imunizante realmente eficaz contra a Essa reintrodução não conseguiu ser controlada com os mé-
doença. Pesquisadores da Tailândia estão testando uma vaci- todos tradicionalmente empregados no combate às doenças
na para a dengue em 3.000-5.000 voluntarios humanos após transmitidas por vetores. Programas com baixíssima ou mes-
terem obtido sucesso em testes com animais e em um pe- mo nenhuma participação da comunidade, sem integração
queno grupo de voluntários humanos. Diversas outras vacinas intersetorial e com pequena utilização do instrumental epide-
candidatas estão entrando na fase I ou fase II das pesquisas. miológico mostraram-se incapazes de conter um vetor com
Atualmente, existem vacinas de primeira, segunda e terceira altíssima capacidade de adaptação ao novo ambiente criado
geração sendo testadas. As de primeira geração contem vírus pela urbanização acelerada e pelos novos hábitos.
atenuados e tetravalentes (para os 4 tipos de vírus) ou inati- Em 1996, o Ministério da Saúde decidiu rever sua estra-
vados. As de segunda possuem proteínas recombinantes em tégia e propôs o Programa de Erradicação do Aedes aegypti
diferentes sistemas e as de terceira geração são as de DNA. As (PEAa). Ao longo do processo de implantação desse progra-
de primeira geração foram testadas em macacos produzindo ma observou-se a inviabilidade técnico de erradicação do
baixa viremia e neurovirulência. O Instituto Oswaldo Cruz no mosquito a curto e médios prazos. O PEAa, mesmo não atin-
Rio de Janeiro anunciou que em 2012 estará disponível uma gindo seus objetivos, teve méritos ao propor a necessidade
vacina para os quatro tipos de dengue. de atuação multissetorial e prever um modelo descentraliza-
Novas Ações do de combate à doença, com a participação das três esferas
O controle proposto pelo Programa Nacional de Controle de governo: Federal, Estadual e Municipal.
da Dengue trouxe mudanças efetivas em relação aos mo- A implantação do PEAa resultou em um fortalecimento das
delos anteriores. Veja o que tem sido prioritário. O controle ações de combate ao vetor, com um significativo aumento
da transmissão do vírus da dengue se dá essencialmente dos recursos utilizados para essas atividades, mas ainda com
no âmbito coletivo e exige um esforço de toda a sociedade. as ações de prevenção centradas quase que exclusivamente
Por isso, é prioritário para o PNCD: nas atividades de campo de combate ao Aedes aegypti.

125
BIOLOGIA

Essa estratégia, comum aos programas de controle de 5) a integração das ações de controle da dengue na aten-
doenças transmitidas por vetor em todo o mundo, mostrou- ção básica, com a mobilização do Programa de Agentes Co-
se absolutamente incapaz de responder à complexidade epi- munitários de Saúde (Pacs) e Programa de Saúde da Família
demiológica da dengue. Os resultados obtidos no Brasil e o (PSF);
próprio panorama internacional, onde inexistem evidências 6) a utilização de instrumentos legais que facilitem o tra-
da viabilidade de uma política de erradicação do vetor, em balho do poder público na eliminação de criadouros em imó-
curto prazo, levaram o Ministério da Saúde a fazer uma nova veis comerciais, casas abandonadas, etc.;
avaliação dos avanços e das limitações, com o objetivo de 7) a atuação multissetorial por meio do fomento à des-
estabelecer um novo programa que incorporasse elementos tinação adequada de resíduos sólidos e a utilização de reci-
como a mobilização social e a participação comunitária, in- pientes seguros para armazenagem de água; e.
dispensáveis para responder de forma adequada a um vetor 8) o desenvolvimento de instrumentos mais eficazes de
altamente domiciliado. acompanhamento e supervisão das ações desenvolvidas pelo
Diante da tendência de aumento da incidência verifica- Ministério da Saúde, estados e municípios.
da no final da década de 90 e da introdução de um novo Verifica-se que quase 70% dos casos notificados da
sorotipo (Dengue 3) que prenunciava um elevado risco de dengue no país se concentram em municípios com mais de
epidemias de dengue e de aumento nos casos de Febre He- 50.000 habitantes que, em sua grande maioria, fazem parte
morrágica de Dengue (FHD), o Ministério da Saúde, com a de regiões metropolitanas ou polos de desenvolvimento eco-
parceria da Organização Pan-Americana de Saúde, realizou nômico. Os grandes centros urbanos, na maioria das vezes,
um Seminário Internacional, em junho de 2001, para avaliar são responsáveis pela dispersão do vetor e da doença para
as diversas experiências bem sucedidas no controle da doen- os municípios menores. Nesse cenário, o PNCD propõe-se a
ça e elaborar um Plano de Intensificação das Ações de Con- implantar a estratégia de controle em todos os municípios
trole da Dengue (PIACD). brasileiros, com ênfase em alguns considerados prioritários,
A introdução do sorotipo 3 e sua rápida disseminação assim definidos:
para oito estados, em apenas três meses, evidenciou a fa- 1- Capital de estado e sua região metropolitana;
cilidade para a circulação de novos sorotipos ou cepas do 2- Município com população igual ou superior a 50.000
vírus com as multidões que se deslocam diariamente. Estes habitantes; e.
eventos ressaltaram a possibilidade de ocorrência de novas 3- Municípios receptivos à introdução de novos sorotipos
epidemias de dengue e de FHD. Neste cenário epidemio- de dengue (fronteiras, portuários, núcleos de turismo, etc.).
lógico, tornou-se imperioso que o conjunto de ações que
vinham sendo realizadas e outras a serem implantadas fos- Objetivos
sem intensificadas, permitindo um melhor enfrentamento do Os objetivos do PNCD são:
problema e a redução do impacto da dengue no Brasil. Com • Reduzir a infestação pelo Aedes aegypti;
esse objetivo, o Ministério da Saúde implantou em 2002 o • Reduzir a incidência da dengue;
Programa Nacional de Controle da Dengue (PNCD). • Reduzir a letalidade por febre hemorrágica de dengue.
Muito embora outras causas tenham influenciado, con-
sidera-se que as ações do PNCD, desenvolvidas em parceria Metas
com Estados e Municípios, tenham contribuído na redução • Reduzir a menos de 1% a infestação predial em todos
de 73,3% dos casos da doença no primeiro semestre de 2004 os municípios;
em relação ao mesmo período do ano anterior. Dados da Se- • Reduzir em 50% o número de casos de 2003 em relação
cretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde a 2002 e, nos anos seguintes, 25% a cada ano;
mostram que, nos primeiros seis meses de 2004, 84.535 pes- • Reduzir a letalidade por febre hemorrágica de dengue
soas tiveram dengue, enquanto que, em 2003, as notificações a menos de 1%.
chegaram a 299.764.
Componentes
Fundamentação O Programa Nacional de Controle da Dengue (PNCD) será
O PNCD procura incorporar as lições das experiências implantado por intermédio de 10 componentes. Em cada uni-
nacionais e internacionais de controle da dengue, enfatizan- dade federada deverão ser realizadas adequações condizentes
do a necessidade de mudança nos modelos anteriores, fun- com as especificidades locais, inclusive com a possibilidade da
damentalmente em alguns aspectos essenciais: elaboração de planos sub-regionais, em sintonia com os obje-
1) a elaboração de programas permanentes, uma vez tivos, metas e componentes do PNCD apresentados a seguir.
que não existe qualquer evidência técnica de que erradicação Vigilância Epidemiológica:
do mosquito seja possível, em curto prazo; O objetivo da vigilância epidemiológica da dengue é re-
2) o desenvolvimento de campanhas de informação e de duzir o número de casos e a ocorrência de epidemias, sendo
mobilização das pessoas, de maneira a se criar uma maior de fundamental importância que a implementação das ati-
responsabilização de cada família na manutenção de seu am- vidades de controle ocorra em momento oportuno. Nesse
biente doméstico livre de potenciais criadouros do vetor; caso, oportunidade é entendida como detecção precoce da
3) o fortalecimento da vigilância epidemiológica e ento- circulação viral e adoção de medidas de bloqueio adequa-
mológica para ampliar a capacidade de predição e de de- das para interromper a transmissão.
tecção precoce de surtos da doença; A vigilância da dengue já conta com recursos neces-
4) a melhoria da qualidade do trabalho de campo de sários, como sistemas de informação (Sistema Nacional
combate ao vetor; de Agravos de Notificação (Sinan) e o de Febre Amarela e

126
BIOLOGIA

Dengue - FAD) e profissionais treinados na utilização dessas - Implantar, em cinco laboratórios de referência regional,
ferramentas. Uma análise do sistema de vigilância indicou que a detecção viral por técnica de biologia molecular (PCR).
a detecção precoce dos casos, um dos mais importantes as-
pectos para o controle da doença, não estava sendo alcançada. - Vigilância em Áreas de Fronteiras
No ano de 2001, foram realizadas cinco oficinas de treina- O objetivo é a detecção precoce da introdução de novos
mento para aprimoramento em análise de dados de vigilância vírus/cepas nas regiões de fronteiras. A circulação do soroti-
com o objetivo de otimizar o uso das informações produzidas po 4 e de diferentes cepas dos demais sorotipos do vírus da
pelos sistemas. Nessas oficinas foram apresentados os indi- dengue tem sido identificada em alguns países que fazem
cadores prioritários que devem ser produzidos pelo menos a fronteira com o Brasil: Guiana, Suriname, Bolívia, Venezue-
cada 15 dias para acompanhamento da situação epidemio- la, Colômbia, Peru e Paraguai. Os municípios brasileiros que
lógica, permitindo uma sinalização precoce da mudança do fazem fronteira com esses países são, consequentemente,
padrão de ocorrência dos casos. potenciais portas de entrada dessas cepas/sorotipos no país.
As atividades de vigilância não substituem as demais ati- A adoção de barreiras sanitárias não é uma estratégia factí-
vidades de controle da doença, devendo, sim, ser desenvolvi- vel de ser implantada, tornando necessário um permanente
das de forma concomitante e integradas às demais ações. A monitoramento da circulação viral. O intercâmbio oportuno
vigilância epidemiológica da dengue no PNCD está baseada e regular de informações epidemiológicas com os países de
em quatro subcomponentes: fronteira será realizado com o apoio da Organização Pan-A-
mericana de Saúde (Opas).
- Vigilância de casos;
O objetivo desse subcomponente é a detecção em mo- Ações:
mento oportuno dos casos e orientar as medidas de controle - Implantar unidades sentinelas de vigilância para moni-
apropriadas. toramento da circulação viral e possível introdução de novos
Ações: sorotipos/cepas em municípios de fronteira selecionados;
- Manter o Sinan como único sistema de informações de - Implantar o monitoramento virológico, em articulação
notificação de casos. Nos períodos de epidemia, poderá ser com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, em portos,
adotado sistema de notificação simplificado para o envio de aeroportos e municípios de fronteira.
informações. O uso desta alternativa, quando necessário será
autorizado pela FUNASA e não substitui a obrigatoriedade de - Vigilância Entomológica
notificação posterior pelo Sinan; Este subcomponente tem como objetivo principal o mo-
- Produzir quinzenalmente os indicadores prioritários de nitoramento dos índices de infestação por Aedes aegypti
acompanhamento da situação epidemiológica; para subsidiar a execução das ações apropriadas de elimina-
- Capacitar técnicos das secretarias de saúde de estado ção dos criadouros de mosquitos.
e dos municípios prioritários na análise dos dados coletados; Ações:
- Elaborar mapas municipais para monitoramento das si- - Realizar a alimentação diária do FAD e proceder à aná-
tuações epidemiológicas e entomológicas. lise dos dados de vigilância e controle de vetores em todos
os municípios;
- Vigilância Laboratorial - Manter o sistema FAD como única fonte de informa-
O objetivo desse subcomponente é o aprimoramento da ções vetoriais para a vigilância da dengue. A utilização de
capacidade de diagnóstico laboratorial dos casos para detec- outros sistemas já existentes só será aceita após validação
ção precoce da circulação viral, e monitoramento dos soroti- pela FUNASA, uma vez comprovada a sua compatibilidade
pos circulantes. A vigilância laboratorial será empregada para com o FAD;
atender às demandas inerentes da vigilância epidemiológica, - Realizar a consolidação e análise dos indicadores de
não sendo o seu propósito o diagnóstico de todos os casos acompanhamento da situação entomológica, em todos os
suspeitos, em situações de epidemia. estados, para a identificação de municípios de maior risco;
Ações: - Implantar nova metodologia para realizar levantamen-
- Descentralizar, sob a coordenação dos Laboratórios to rápido de índices de infestação, a ser implementado pela
Centrais de Saúde Pública (Lacen), o diagnóstico laboratorial FUNASA nos municípios de maior risco.
(sorologia) para laboratórios públicos de saúde, localizados
nas capitais e cidades polos; Combate ao Vetor
- Implantar novo kit diagnóstico (kit ELISA) para sorologia As operações de combate ao vetor têm como objetivo a
da dengue nos Laboratórios Centrais de Saúde Pública, labo- manutenção de índices de infestação inferiores a 1%.
ratórios de capitais e de municípios polos, que possibilitará a Ações:
realização do exame laboratorial em até quatro horas; - Estruturar as secretarias estaduais e municipais de Saú-
- Divulgar, para os médicos e para a rede assistencial, as de com equipamentos necessários para as ações de combate
indicações das diversas técnicas laboratoriais na vigilância e ao vetor, incluindo a disponibilização de veículos e computa-
no diagnóstico da dengue, em parceria com as sociedades de dores para as SES e SMS de municípios prioritários;
especialistas e conselhos regionais e federal de Medicina; - Implantar o FAD em todos os municípios;
- Ampliar a rede de diagnóstico para isolamento viral - Realizar a atualização do número de imóveis em to-
para todos os Lacen; dos os municípios;
- Implantar unidades sentinelas de coleta de amostras - Manter reserva nacional estratégica de equipamentos
de sangue para isolamento viral em municípios estratégicos; para ações contingenciais de combate ao vetor;

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BIOLOGIA

- Reduzir os índices de pendência a menos de 10% em Integração com a Atenção Básica


todos os municípios; Esse componente tem como objetivo principal consolidar
- Promover a unificação da base geográfica de trabalho a inserção do Programa de Agentes Comunitários de Saúde
entre as vigilâncias epidemiológica, entomológica, operações e do Programa de Saúde da Família nas ações de prevenção
de campo e Pacs/PSF (nas áreas cobertas pelos programas); e controle da dengue, visando, principalmente, promover
- Supervisionar, por intermédio da FUNASA e das SES, a mudanças de hábito da comunidade que contribuam para
correta utilização dos equipamentos disponibilizados para as manter o ambiente doméstico livre do Aedes aegypti. Além
ações de combate ao vetor; dessa ação educativa, os Agentes Comunitários de Saúde
- Monitorar junto às SES e aos municípios o quantitativo de (ACS) contribuirão para aumentar a sensibilidade do sistema
pessoal envolvido na execução das ações de combate ao vetor; de vigilância por meio da notificação imediata da ocorrência
- Avaliar periodicamente a efetividade dos larvicidas e de casos, bem como as equipes de saúde da família atuarão
adulticidas utilizados no combate ao vetor; para realizar o diagnóstico oportuno e o tratamento adequa-
- Assegurar que os equipamentos utilizados nas ações do das formas graves e hemorrágicas, resultando na redução
de combate ao vetor obedeçam aos padrões técnicos defini- da letalidade.
dos para sua operação; Para a maior efetividade dessas ações é importante que
- Implantar o combate ao vetor, em articulação com a se estabeleça, em cada município, a unificação das áreas
Agência Nacional de Vigilância Sanitária, em portos, aeropor- geográficas de trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde
tos e fronteiras; (ACS) e dos Agentes de Controle de Endemias (ACE), possibi-
- Promover ações conjuntas de combate ao vetor em litando uma ação mais oportuna quando ocorrer à detecção
municípios de fronteira estadual, com a coordenação da FU- de focos do mosquito e/ou de casos de dengue.
NASA; As atribuições dos ACS, de acordo com a Portaria MS n°.
- Promover ações conjuntas de controle vetorial em mu- 44, de 3/1/2002, são as seguintes:
nicípios de fronteira internacional, em articulação com a Opas. a) atuar junto aos domicílios informando os seus mora-
dores sobre a doença - seus sintomas e riscos - e o agente
Assistência aos Pacientes transmissor;
Este componente tem como objetivo garantir a assistên- b) informar o morador sobre a importância da verifica-
cia adequada aos pacientes e, consequentemente, reduzir a ção da existência de larvas ou mosquitos transmissores da
letalidade das formas graves da doença. Compreendem as dengue na casa ou redondezas;
ações de organização do serviço, a melhoria na qualidade da c) vistoriar os cômodos da casa, acompanhado pelo mo-
assistência e a elaboração de planos de contingência nos es- rador, para identificar locais de existência de larvas ou mos-
tados e municípios para fazer frente ao risco da ocorrência de quito transmissor da dengue;
epidemias de Febre Hemorrágica da Dengue (FHD). d) orientar a população sobre a forma de evitar e eli-
minar locais que possam oferecer risco para a formação de
Organização dos Serviços Sociais criadouros do Aedes aegypti;
Ações: e) promover reuniões com a comunidade para mobilizá
- Organizar a rede assistencial, identificando unidades de -la para as ações de prevenção e controle da dengue;
saúde de referência e o fluxo de atendimento aos pacientes; f) comunicar ao instrutor supervisor do Pacs/PSF a exis-
- Implantar, em municípios prioritários, o Sistema de Re- tência de criadouros de larvas e ou mosquitos transmissores
gulação de Leitos (SIS-REG), para orientação do fluxo de pa- da dengue, que dependam de tratamento químico, da inter-
cientes; veniência da vigilância sanitária ou de outras intervenções do
- Elaborar nas três esferas de governo, planos de con- poder público;
tingência para situações de epidemia (planejamento de ne- g) encaminhar os casos suspeitos de dengue à unidade
cessidades de leitos e instalações de UTI, insumos, veículos, de saúde mais próxima, de acordo com as orientações da
equipamentos e pessoal). Secretaria Municipal de Saúde.
O Ministério da Saúde repassará aos municípios um re-
Qualidade da Assistência curso adicional, no valor de R$ 240,00 anuais, por todos os
Ações: ACS, para estimular essa integração nas ações de prevenção
- Divulgar, para 310.000 médicos, protocolo padronizado e controle de doenças, particularmente a malária e a dengue.
de assistência ao paciente com dengue; Ações:
- Capacitar profissionais de saúde dos diferentes níveis - Capacitar os agentes comunitários de saúde nas ações
de complexidade (equipes de PSF, unidades básicas de saúde, de prevenção e controle da dengue;
pronto atendimento) com enfoques específicos às suas esfe- - Capacitar às equipes de saúde da família nas ações
ras de atuação; assistenciais adequadas para diagnóstico e tratamento das
- Implantar, em municípios prioritários, um sistema de re- formas graves e hemorrágicas de dengue.
gistro - o cartão de acompanhamento - contendo as informa-
ções necessárias para assistência adequada; Ações de Saneamento Ambiental
- Assegurar, por intermédio da Agência Nacional de O objetivo deste componente é fomentar ações de sa-
Saúde Suplementar, o atendimento dos casos de dengue, neamento ambiental para um efetivo controle do Aedes ae-
pelos planos de saúde, para seus segurados; gypti, buscando garantir fornecimento contínuo de água, a
- Viabilizar a realização de exames laboratoriais, hema- coleta e a destinação adequada dos resíduos sólidos e a
tócrito e contagem de plaquetas, para o monitoramento correta armazenagem de água no domicílio, onde isso for
dos casos de dengue. imprescindível. Na atual situação do país, onde é elevado

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BIOLOGIA

o número de municípios infestados por Aedes aegypti, tor- - Divulgar informações aos prefeitos sobre as ações
na-se imprescindível a implementação de mecanismos para municipais que devem ser desenvolvidas e as estratégias
a intensificação das políticas de saúde, saneamento e meio a serem adotadas;
ambiente, que venham contribuir para a redução do número - Incentivar a participação da população na fiscalização
de potenciais criadouros do mosquito. das ações de prevenção e controle da dengue executadas
pelo Poder Público;
Ações: - Constituir Comitês Nacional e Estaduais de Mobili-
- Realizar ações de melhorias sanitárias domiciliares, prin- zação com participação dos diversos segmentos da socie-
cipalmente para a substituição de depósitos e recipientes para dade.
água existentes no ambiente doméstico e a vedação de de-
pósitos de água. b) Ações de Comunicação Social
- Fomentar a limpeza urbana e a coleta regular de lixo - Veicular campanha publicitária durante todo o ano,
realizadas de forma sistemática pelos municípios, buscando com ênfase nos meses que antecedem o período das chu-
atingir coberturas adequadas, principalmente em área de ris-
vas;
co.
- Promover entrevistas coletivas com gestores da área
- Desenvolver modelos de reservatórios para armaze-
de saúde para divulgar o PNCD;
namento de água potável em domicílios, protegidos da in-
- Inserir conteúdos de educação em saúde, prevenção
festação pelo Aedes aegypti, para áreas sem abastecimento
e controle da dengue nos programas de grande audiência,
contínuo;
- Apoiar a implantação de tecnologias de aproveita- formadores de opinião pública;
mento de pneus como matéria-prima para a construção de - Adotar mecanismos de divulgação (imprensa, “Voz do
moradias, disponibilizando para os municípios com mais de Brasil”, cartas aos órgãos legislativos e conselhos estaduais
100.000 imóveis trituradores para o processo industrial de pi- e municipais de saúde) do PNCD;
cagem dos pneus. - Manter a mídia permanentemente informada, por
- Estimular tecnologias industriais que absorvam os pneus meio de comunicados ou notas técnicas, quanto à situação
descartados, tais como parcerias com refinarias e siderurgias da implantação do PNCD.
para a queima de pneus e/ou utilização como combustível;
- Propor à Associação Brasileira de Normas Técnicas c) Capacitação de Recursos Humanos
(ABNT) alterações nas normas para a fabricação de caixas de O objetivo principal deste componente é capacitar pro-
água adaptando-as contra a infestação pelo Aedes aegypti. fissionais das três esferas de governo, para maior efetivida-
de das ações nas áreas de vigilância epidemiológica, en-
Ações Integradas de Educação em Saúde, Comunica- tomológica, assistência ao doente e operações de campo.
ção e Mobilização Social. Ações:
O principal objetivo desse componente é fomentar o de- • Realizar capacitação de:
senvolvimento de ações educativas para a mudança de com- - 6.360 supervisores de campo para aperfeiçoamento
portamento e a adoção de práticas para a manutenção de das operações de combate ao vetor;
o ambiente domiciliar preservado da infestação por Aedes - 18.100 supervisores do Pacs/PSF para a inserção das
aegypti, observadas a sazonalidade da doença e as realida- ações de prevenção e controle da dengue na atenção
des locais quanto aos principais criadouros. A comunicação básica;
social terá como objetivo divulgar e informar sobre ações de - 150 técnicos/multiplicadores para aperfeiçoamento
educação em saúde e mobilização social para mudança de das atividades de vigilância epidemiológica;
comportamento e de hábitos da população, buscando evitar - 700 médicos/multiplicadores para a melhoria da as-
a presença e a reprodução do Aedes aegypti nos domicílios, sistência aos pacientes com dengue grave e febre
por meio da utilização dos recursos disponíveis na mídia. hemorrágica da dengue;
a) Ações de Educação e Mobilização Social - 166.487 agentes comunitários de saúde nas ações de
- Elaborar, em todos os municípios, um programa de edu- prevenção e controle da dengue;
cação em saúde e mobilização social, contemplando estraté- - 54 profissionais/multiplicadores para ações de sanea-
gias para: Promover a remoção de recipientes nos domicílios mento ambiental;
que possam se transformar em criadouros de mosquitos; Di- - 54 profissionais/multiplicadores para ações de comu-
vulgar a necessidade de vedação dos reservatórios e caixas nicação e mobilização social;
de água; Divulgar a necessidade de desobstrução de calhas, - 26.000 agentes de controle de endemias, cedidos
lajes e ralos; pela FUNASA aos estados e municípios, por meio do Pro-
- Implementar medidas preventivas para evitar prolifera- grama de Formação de Agentes Locais em Vigilância em
ção de Aedes aegypti em imóveis desocupados; Saúde (Proformar).
- Promover orientações dirigidas a imóveis especiais (es-
colas, unidades básicas de saúde, hospitais, creches, igrejas, Legislação
comércio, indústrias, etc.); O objetivo desse componente é fornecer suporte para
- Organizar o Dia Nacional de Mobilização contra a que as ações de prevenção e controle da dengue sejam
dengue, em novembro; implementadas com a cobertura e intensidade necessárias
- Implantar ações educativas contra a dengue na rede para a redução da infestação por Aedes aegypti a índices
de ensino básico e fundamental; inferiores a 1%.

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BIOLOGIA

Ações: - Realizar o acompanhamento de todos os municípios a


- Elaborar instrumento normativo padrão para orientar partir dos relatórios gerados na análise quinzenal dos indica-
a ação do Poder Público municipal e/ou estadual na solu- dores prioritários, pelas SES;
ção dos problemas de ordem legal encontrados na execução - Promover reuniões regionais bimestrais de avaliação,
das atividades de prevenção e controle da dengue, tais como com a participação dos gerentes do Programa de Contro-
casas fechadas, abandonadas e aquelas onde o proprietário le da Dengue e coordenadores da Atenção Básica das SES,
não permite o acesso dos agentes, bem como os estabele- Coordenação Regional da FUNASA e representantes do co-
cimentos comerciais e industriais com repetidas infestações mitê nacional de acompanhamento e avaliação;
por Aedes aegypti. - Suspender o repasse do Teto Financeiro de Epidemio-
- Acompanhar a efetiva aplicação da Resolução Conama logia e Controle de Doenças dos estados e/ou municípios
nº 258/1999, que dispõe sobre a destinação de pneus inser- que não cumprirem as metas pactuadas na Programação
víveis e estabelece o recolhimento de pneus produzidos nas Pactuada Integrada/Epidemiologia e Controle de Doenças
seguintes proporções: 2002 - 25%, 2003 - 50%, 2004 - 100% (PPI/ECD) e comunicar formalmente ao Conselho Municipal
e a partir de 2005 - 125%; de Saúde, Câmara de Vereadores, Ministério Público e Tribu-
- Desenvolver ações visando à aprovação de leis que es- nal de Contas;
tabeleçam normas para destinação final de garrafas plástica - Elaborar relatório periódico de avaliação da implanta-
do tipo PET. ção do PNCD e enviar ao Conselho Nacional de Saúde, a Co-
missão Intergestores Tripartite, bem como disponibilizar na
Sustentação Político-Social página da FUNASA na Internet;
Este componente tem como objetivo sensibilizar e mo- - Manter grupo tarefa de 30 técnicos de nível superior
bilizar os setores políticos, com vistas a assegurar o aporte para assessorar as SES na implantação do PNCD;
financeiro e a articulação intersetorial necessários à implan- - Constituir grupo executivo do Ministério da Saúde para
tação e execução do Programa. acompanhamento e avaliação das atividades com represen-
Ações: tantes da FUNASA, Secretaria de Assistência à Saúde (SAS) e
- Realizar reunião com governadores dos estados para Secretaria de Políticas de Saúde (SPS), Agência Nacional de
apresentação do PNCD e obtenção da prioridade política; Vigilância Sanitária (ANVISA) e Agência Nacional de Saúde
- Realizar reuniões regionais com todos os secretários Suplementar (ANS).
estaduais de saúde, secretários municipais de saúde das ca-
pitais e de municípios com população superior a 100.000 ha- Assistência de enfermagem a pacientes com doenças
bitantes para discutir a implantação e manutenção do PNCD. crônico-degenerativas
As doenças crônico-degenerativas são doenças progres-
Acompanhamento e Avaliação do PNCD sivas e que interferem na qualidade de vida de seus portado-
O objetivo desse componente é promover o permanen- res. Tendo em vista esse aspecto e o fato de ser a humaniza-
te acompanhamento da implantação do PNCD, da execução ção das relações e do cuidado ao ser humano uma preocu-
das ações, da avaliação dos resultados obtidos e eventual re- pação de profissionais de saúde e de cuidadores.
direcionamento ou adequação das estratégias adotadas.
O enfermeiro desde longa data vem se preocupando em
Esse é um dos componentes fundamentais do PNCD,
desenvolver uma assistência globalizada aos pacientes, vi-
à medida que em recentes avaliações promovidas pela FU-
sualizando o cuidar nas dimensões física, emocional e espiri-
NASA quanto ao processo de descentralização das ações de
tual. Na prática diária porém, a operacionalização desta meta
epidemiologia e controle de doenças, com a participação dos
vem enfrentando obstáculos, principalmente, no que tange
gestores estaduais e municipais, constatou-se uma necessi-
dade de melhorar a capacidade para a detecção e correção à assistência aos pacientes com doenças crônico degenera-
oportuna de problemas que interferem diretamente na efeti- tivas, considerando que o avanço tecnológico e científico, na
vidade das ações de prevenção e controle da dengue. atualidade vem contribuindo para aumentar a expectativa de
Ações: vida dos mesmos.
- Constituir comitê nacional de acompanhamento e ava- A assistência de enfermagem a estes pacientes, princi-
liação dos indicadores do PNCD, com representantes da FU- palmente em estágio avançado da doença crônico degene-
NASA, universidades, instituições de pesquisa, sociedades de rativa, torna-se mais complexa, em decorrência da somató-
especialistas, Conselho Nacional de Secretários Estaduais de ria progressiva de limitações físicas e alterações emocionais
Saúde (Conass), Conselho Nacional de Secretários Municipais ocorridas, incluindo o comprometimento de sua identidade.
de Saúde (Conasems) e Organização Pan-Americana de Saú- Neste processo não só o paciente, como seus familia-
de (Opas); res tornam-se intensamente envolvidos e comumentemente
- Constituir comitês estaduais de acompanhamento e procuram apoio do enfermeiro para ajudá-los na superação
avaliação dos indicadores do PNCD, com representantes da destas dificuldades. Pitta, salienta que os pacientes e fami-
FUNASA, Secretaria Estadual de Saúde, e Conselho de Secre- liares nesta condição nutrem sentimentos complicados em
tários Municipais de Saúde (Cosems), universidades e institui- relação ao hospital, expressando-os aos enfermeiros, que
ções de pesquisa, entre outros; frequentemente sentem-se confusos e angustiados, pois as
- Realizar o acompanhamento e a avaliação do Progra- necessidades assistenciais apresentadas pelos pacientes e
ma nos estados, nos municípios prioritários de cada unidade familiares, vão além do simples cuidado físico, das tomadas
federada, pela FUNASA, em conjunto com as SES, com base de pressão e temperatura, das aplicações terapêuticas ou
nos indicadores estabelecidos para os diversos componen- ainda das de higiene e conforto, requerendo um preparo
tes; diferenciado do enfermeiro.

130
BIOLOGIA

O hospital , um espaço mítico que deve conter e adminis- - na adoção, em tempo oportuno, de medidas de pre-
trar os problemas emocionais provocados pelo paciente e sua caução e isolamento para impedir a disseminação do agente
doença e toda rede de relações sociais que a eles se vinculam no ambiente hospitalar;
os sentimentos como depressão e ansiedade, tanto dos pa- - na orientação de quimioprofilaxia, ou de administração
cientescomODOSFAMILIARESSÃONATURALMENTEPROJETADOSNO de imunobiológicos, dependendo do agravo, e em conso-
HOSPITAL,ATRAVÉSDESEUSELEMENTOSDEMEDIAÇÃO,OUSEJAM nância com as normas técnicas estabelecidas pelos órgãos
OSPROFISSIONAISEEMESPECIALAOENFERMEIRO,AQUEMCABE oficiais;
DECIDIRQUESTÕESIMPORTANTESEASSUMIRRESPONSABILIDADESDE - na busca ativa e notificação dos casos aos órgãos ofi-
FORMA INTEGRAL. ciais, em tempo hábil para implementação de medidas de
OPACIENTEHOSPITALIZADOESTABELECERELAÇÃOCOMTODAA prevenção e controle eficazes na comunidade.
GAMADEMATERIAISEEQUIPAMENTOSUTILIZADOSPARAOSEUTRA-
TAMENTO.PASSAACOMPARTILHARSUAEXISTÊNCIA,COMOSQUETRA- QUESTÕES
BALHAMNOHOSPITAL,NASMAISDIVERSASFUNÇÕES,COMOSFAMI-
LIARESQUEOVISITAM,ECOMOUTROSPACIENTESINTERNADOS.PARA 1. Na agricultura, a busca por uma produtividade cada
OPACIENTECRÔNICOTERMINAL,APESARDEHAVERUMAPEQUENA vez maior leva os agricultores a instalarem monoculturas fre-
PERSPECTIVADEALTAHOSPITALAR,FICADELINEADAUMACONDIÇÃODE quentemente com apenas uma linhagem geneticamente me-
EXTREMOSOFRIMENTOECONFLITOCONSIDERANDOOAGRAVOCONTÍ- lhorada. A desvantagem é que tais cultivos são muito suscetí-
NUODESEUQUADROEAPROXIMIDADEDAMORTE.ESTASITUAÇÃO, veis ao ataque de pragas e doenças. Quando isto acontece, os
SEMPREBASTANTEDIFÍCILPARAOENFERMEIRO,QUEFICAPRÓXIMOAO melhoristas desenvolvem novas variedades a partir de
PACIENTEPARTILHANDOCOMELEESTEMOMENTODEVIDA. (A) genes de resistência encontrados nas populações na-
tivas da espécie.
ASDOENÇASCRÔNICASDEGENERATIVAS(DCD)FIGURAMCOMO (B) proteínas de resistência projetadas por engenharia
PRINCIPALCAUSADEMORTALIDADEEINCAPACIDADENOMUNDO, genética.
CERCADE59%DOS56,5MILHÕESDEÓBITOSANUAISSÃOOSCHA- (C) agentes mutagênicos que induzem resistência em cul-
MADOSAGRAVOSNÃOTRANSMISSÍVEISQUEINCLUEMDOENÇASCAR- turas de tecidos.
DIOVASCULARES,DIABETES,OBESIDADE,CÂNCEREDOENÇASRESPIRA- (D) outras espécies resistentes nos arredores da planta-
TÓRIAS;SÃOPREDOMINANTESEMPAÍSESDESENVOLVIDOS,SENDOOS ção.
MAIORESFATORESDECAUSAOESTRESSEEOSEDENTARISMO. (E) mecanismos moleculares que induzem a resistência.
NOSPAÍSESEMDESENVOLVIMENTOOCORREOPADRÃOEPIDE-
MIOLÓGICODETRANSIÇÃO,ONDEALÉMDASDOENÇASINFECCIOSAS, 2. Em uma célula que produz proteínas para serem expor-
COMO DENGUE E FEBRE AMARELA, SURGIRAM AS DCD. tadas, o caminho percorrido pelos polipeptídeos, do local de
síntese até o meio extracelular é
DOENÇAS DE NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA (A) cromossomos, envoltório nuclear, complexo golgien-
As doenças de notificação compulsória são assim designa- se e matriz extracelular.
das por constarem da Lista de Doenças e Agravos de Notifica- (B) vacúolo contrátil, retículo endoplasmático rugoso e
ção Compulsória (DNC), em âmbito mundial, nacional, estadual proteoma.
e municipal. São doenças cuja gravidade, magnitude, trans- (C) ribossomos, retículo endoplasmático liso, lisossomos
cendência, capacidade de disseminação do agente causador e e proteoma.
potencial de causar surtos e epidemias exigem medidas efica- (D) retículo endoplasmático rugoso, complexo golgiense
zes para a sua prevenção e controle. Algumas têm período de e membrana plasmática.
incubação curto, e a adoção de medidas imediatas de controle, (E) matriz nuclear, complexo golgiense e retículo endo-
após a detecção de um único caso, é fundamental para impedir plasmático rugoso.
a disseminação do agente e o aparecimento de casos secundá-
rios no grupo populacional onde foi detectado o caso índice. 3. Os líquens são formados por fungos e algas. A asso-
Por isso, as listas de doenças de notificação compulsória, ciação permite que os líquens habitem locais onde nem algas
estabelecem quais DNC são de notificação imediata, e ain- nem fungos poderiam viver separadamente. Esta associação
da mais, dentre estas, quais devem ser notificadas à simples é classificada como
suspeição. O não cumprimento desta exigência pode com- (A) mutualismo.
prometer a eficácia das medidas de prevenção e controle dis- (B) protocooperação.
poníveis. (C) parasitismo.
Grande parte das DNC pela sua gravidade demanda tra- (D) comensalismo.
tamento hospitalar em algum momento de sua evolução. E (E) inquilinismo.
nesses casos, a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar
(CCIH) pode desempenhar um papel fundamental, naqueles 4. Em uma feira livre pode-se encontrar um excelente ma-
hospitais onde não há um núcleo de vigilância epidemioló- terial para aulas de botânica. Assim, batata, goiaba, cenoura e
gica estruturado, contribuindo: pimentão são exemplos, respectivamente, de
- para o estabelecimento do diagnóstico, a partir de (A) raiz, pseudo-fruto, raiz e fruto.
dados clínicos e epidemilógicos, orientando os exames es- (B) raiz, fruto, legume e legume.
pecíficos a serem solicitados, os espécimes clínicos a serem (C) pseudo-fruto, fruto, caule e legume.
colhidos, e como estes devem ser armazenados e transpor- (D) fruto, fruto, caule e flor.
tados até o laboratório; (E) caule, fruto, raiz e fruto.

131
BIOLOGIA

5. Na base de uma cadeia alimentar encontram-se sem- 11. A concentração total de solutos em uma hemácia é
pre I; a cada nível trófico II dos consumidores diminui. Na 2%. A sacarose não pode passar pela membrana mas água e
frase acima, I e II são corretamente substituídos por uréia podem. Esta célula teria o menor volume quando colo-
(A) os predadores e o peso. cada em uma solução
(B) as bactérias nitrificantes e o tamanho. (A) hipotônica de uréia.
(C) os herbívoros e a energia. (B) hipotônica de sacarose.
(D) os produtores e a biomassa. (C) isotônica de uréia.
(E) os fatores abióticos e a dependência. (D) hipertônica de sacarose.
6. A construção de instalações sanitárias adequadas é (E) água pura.
uma medida preventiva para 12. Dentre as funções do fígado humano está a
(A) ascaridíase, enterobiose, amebíase. (A) detoxificação de substâncias.
(B) esquistossomose, amarelão, úlcera de Bauru. (B) destruição de glóbulos brancos.
(C) filaríose, tricomoníase, teníase. (C) síntese de amido.
(D) triquinose, úlcera de Bauru, giardíase. (D) síntese de adrenalina.
(E) giardíase, enterobiose, filaríose. (E) estocagem de bile.
7. Em um risoto de lulas, camarões, siris e mexilhões en-
contramos animais pertencentes a 13. Cloroplastos e mitocôndrias têm em comum
(A) 4 filos e 4 espécies. (A) vias metabólicas idênticas.
(B) 3 filos e 4 espécies. (B) a forma e o tamanho.
(C) 2 filos e 4 espécies. (C) a sua presença em todas as células vivas.
(D) 4 classes e 2 gêneros. (D) a provável origem endossimbiótica.
(E) 3 classes e 2 gêneros. (E) o tamanho de seus genomas.

8. Foram feitas as afirmativas abaixo sobre o efeito estufa. 14. A poluição térmica consiste no aquecimento das águas
I. É essencial para a sobrevivência dos seres terrestres. naturais pela introdução da água quente utilizada na refrigera-
II. Foi gerado pelo recente aumento da emissão de CO2. ção de centrais elétricas, usinas nucleares, refinarias, siderúrgicas
III. As medidas do protocolo de Kyoto visam diminuí-lo. e indústrias diversas. Esta elevação da temperatura afeta o meio
IV. Os gases presentes na atmosfera absorvem o calor (A) diminuindo a concentração do O2 na água.
irradiado pela superfície terrestre. (B) aumentando a concentração do CO2 na água.
(C) diminuindo a concentração de sais na água.
É correto o que se afirma APENAS em (D) aumentando a pressão da água.
(A) II e III. (E) diminuindo o pH da água.
(B) I, III e IV.
(C) I e III. 15. Galileu Galilei é considerado um dos criadores da
(D) II e IV. ciência moderna por
(E) II, III e IV. (A) incorporar o método de análise cartesiano.
(B) introduzir o raciocínio matemático na física.
9. Robert Hooke, que construiu o primeiro microscópio (C) divulgar o pensamento aristotélico-ptolomaico.
composto, descreveu as células de plantas como caixinhas (D) ter inventado o telescópio e o sextante.
microscópicas preenchidas por um material gelatinoso. As cai- (E) ter refutado as teses de Copérnico.
xinhas descritas por Hooke correspondem
(A) à membrana plasmática. 16. Um observador na Terra, percebe que a constelação
(B) à carioteca. do Cruzeiro do Sul muda de lugar ao longo do ano em rela-
(C) ao hialoplasma. ção à sua posição. Ele percebe, também, que esta constelação
(D) ao parênquima lacunoso. (A) se aproxima da constelação de Sagitário do início do verão.
(E) à parede celular. (B) indica o centro de referência para estudos astronô-
micos.
10. Considere as definições abaixo. (C) é aquela que brilha mais em todo o céu noturno,
I. Um ecossistema compreende os organismos de um principalmente no verão.
ambiente, os fatores abióticos e suas interações. (D) mantém sempre a mesma posição em relação às de-
II. As várias populações encontradas em um mesmo local mais constelações.
formam uma comunidade. (E) se afasta da constelação de Ursa Maior durante o ou-
III. Uma população é o conjunto de indivíduos de uma tono e o inverno.
espécie em um determinado local.
17. Ao observar uma fotografia de um pôr-do-sol, o pro-
É correto o que se afirma em fessor comentou que, no momento em que a foto foi tirada,
(A) I, apenas. o Sol já havia se posto a pelo menos 8 minutos. O comen-
(B) I e II, apenas. tário do professor é correto pois
(C) II, apenas. (A) a distância entre o Sol e a Terra é de cerca de 8
(D) II e III, apenas. anos-luz.
(E) I, II e III. (B) a luz do Sol leva cerca de 8 minutos para chegar à Terra.

132
BIOLOGIA

(C) ele quis ressaltar a relação entre tempo e tamanho (A) o dia de 24 horas.
do Sol. (B) o ano de 365 dias.
(D) o filme demora cerca de 8 minutos para fixar a ex- (C) a oscilação das marés.
posição. (D) as estações do ano.
(E) a velocidade da luz é de cerca de 8 Km/min. (E) os eclipses lunares.

18. Em 1643 Torricelli conduziu um experimento no 23. Se um mesmo objeto cair de uma altura de 10 m nos
qual encheu um tudo de vidro com mercúrio, tampou a ex- diferentes planetas do sistema solar, ele atingirá o solo mais
tremidade aberta e inverteu o tubo colocando-o num vaso rapidamente em
também cheio de mercúrio. Constatou que o mercúrio no (A) Mercúrio.
tubo baixou, mas permanecia sempre aproximadamente 76 (B) Marte.
cm mais alto do que a superfície de mercúrio fora do tubo, (C) Júpiter.
em contato com o ar. Com este experimento o cientista (D) Saturno.
(A) propôs a lei da conservação da massa. (E) Netuno.
(B) inferiu a compressão dos gases.
(C) descobriu a pressão do ar. 24. Várias medições sucessivas têm verificado que a ca-
(D) inventou o anemômetro de mercúrio. mada de ozônio está ficando cada vez mais rarefeita em al-
(E) desvendou a composição da atmosfera. guns locais. A camada de ozônio é importante pois ela
(A) reduz a incidência de chuvas ácidas.
19. Os australopitecos foram descobertos na África, na (B) impede o efeito estufa.
década de 20. Na época muitos cientistas se recusaram a (C) filtra os raios ultravioleta do Sol.
aceitá-lo como integrante da linhagem do Homo sapiens, (D) diminui as inversões térmicas.
cujo cérebro tem cerca de 1.500 mL, enquanto o do chim- (E) mantém as calotas polares.
panzé tem apenas 500 mL. Dentre as características do gê-
nero Australopithecus encontram-se o 25. A necessidade diária de carboidratos de um homem
(A) bipedalismo e um cérebro de 500 mL. adulto é de centenas de gramas enquanto a de vitaminas é
(B) quadrupedalismo e um cérebro de 1.000 mL. de miligramas. As vitaminas são necessárias em quantidades
(C) uso do fogo e uma indústria lítica primitiva. tão pequenas porque
(D) uso da linguagem e de pinturas nas cavernas. (A) não são importantes no metabolismo.
(E) polegar oponível e escrita incipiente. (B) armazenam tanta energia que não precisamos de
grandes quantidades.
20. A evolução biológica é um processo de (C) podemos estocar grandes quantidades da maioria
(A) geração de mutações. das vitaminas.
(B) competição interespecífica. (D) em sua maioria são coenzimas, que são reutilizáveis.
(C) eliminação de mutações hereditárias. (E) apenas algumas células precisam de vitaminas.
(D) manutenção da variabilidade genética.
(E) descendência com modificações. 26. Na espécie humana, comparando-se um zigoto com
um óvulo, o zigoto
21. O esquema abaixo representa um coração humano. (A) tem mais cromossomos.
Considere uma hemácia com uma grande concentração de (B) é menor.
carboxi-hemoglobina, que chega ao coração. A ordem de (C) tem mais de uma célula.
passagem pelos compartimentos cardíacos será (D) é muito maior.
(E) divide-se por meiose.

27. Alguns biólogos acreditam que metade das espécies


da Terra podem ser exterminadas neste século. Extinções em
massa já ocorreram antes, mas esta seria diferente pois
(A) as espécies estão ameaçadas por uma mudança cli-
mática.
(B) está acontecendo a uma velocidade muito maior.
(C) uma porção muito maior da Terra será afetada.
(D) toda a vida na Terra poderá ser extinta.
(E) é muito mais gradual e difícil de se notar.
(A) I, II, III e IV.
(B) I, III, II e IV. 28. Algumas salamandras apresentam um fenômeno
(C) II, IV, I e III. chamado neotenia no qual animais sexualmente maduros
(D) II, I, IV e III. (A) reproduzem assexuadamente.
(E) IV, II, III e I. (B) não mais se reproduzem.
(C) são partenogenéticos.
22. A inclinação do eixo terrestre tem, como conse- (D) retêm características larvais.
quência, (E) fazem auto-fecundação.

133
BIOLOGIA

29. Considere os seguintes eventos: origem da agricultura, (C) valorize o desenvolvimento econômico como gera-
formação do planeta Terra, origem dos primeiros mamíferos e dor de igualdade social.
origem dos primeiros tetrápodes. Em número de anos, as or- (D) analise criticamente o ambiente e a comunidade es-
dens de grandeza respectivamente usadas para os eventos são colares.
(A) centenas, bilhões, milhões e bilhões. (E) reconheça o impacto ambiental do desenvolvimento
(B) milhões, trilhões, bilhões e milhões. econômico.
(C) dezenas, milhões, milhares e milhões. 34. No ensino fundamental os conteúdos relacionados à
(D) centenas, milhões, milhares e milhares. saúde devem enfatizar
(E) milhares, bilhões, milhões e milhões. (A) os parasitas e seus vetores.
(B) a manutenção da saúde.
30. O atual Plano de Educação para a Ciência, do MEC, é (C) os ciclos das doenças.
uma iniciativa que tem, dentre seus objetivos: (D) as doenças endêmicas regionais.
– Incentivar projetos curriculares voltados para a educa- (E) a importância da medicina alternativa.
ção científica e mudanças curriculares que incorporem abor-
dagens práticas e problematizadoras das Ciências; 35. Um dos riscos de um processo ensino-aprendizagem
– Implantar as oficinas de Ciências, Cultura e Arte em insti- contextualizado está em considerar que a simples sistema-
tuições de ensino e científicas, como espaços de ensino-apren- tização do conhecimento cotidiano seja suficiente para a
dizagem e de formação inicial e continuada de professores. aprendizagem. Assim, um dos papéis do professor de Ciên-
cias deve ser
Estes objetivos permitem identificar um movimento para (A) incentivar a investigação científica e o método em-
um ensino de ciências que prioriza pírico.
(A) o positivismo e o processo de investigação. (B) incorporar métodos alternativos de busca de conhe-
(B) a psicologia da instrução e o behaviorismo. cimento.
(C) o enfoque multidisciplinar e contextualizado. (C) mostrar que a ciência encontra-se além das motiva-
(D) a exposição de conteúdos, memorização e repetição. ções históricas e sociais.
(E) o construtivismo e a experimentação. (D) discutir os limites do senso comum para explicar os
fenômenos.
31. Os PCNs apresentam quatro grandes blocos de conteúdos. (E) partir do contexto em direção à busca da verdade.
I. Recursos tecnológicos.
II. Ser humano e saúde. 36. Considere as características abaixo.
III. Terra e universo. I. A importância do envolvimento ativo do aluno.
IV. Ambiente. II. O respeito pelo aluno e por suas próprias ideias.
III. O entendimento da ciência enquanto criação humana.
Todos os ciclos do ensino fundamental devem trabalhar
conteúdos dos blocos Aplicam-se ao construtivismo educacional as caracterís-
(A) I e II, apenas. ticas
(B) I e III, apenas. (A) I, apenas.
(C) I, II e IV, apenas. (B) I e II, apenas.
(D) II e III, apenas. (C) I e III, apenas.
(E) I, II, III e IV. (D) II e III, apenas.
(E) I, II e III.
32. Segundo os PCNs, as propostas para o ensino de
Ciências devem considerar 37. O ensino do método científico é fundamental para o
(A) suas relações com a tecnologia e com as demais ques- desenvolvimento de atitudes e habilidades que propiciem ao
tões sociais e ambientais. aluno a aquisição de uma postura de questionamento. NÃO
(B) o método científico, da maneira como é utilizado pe- é um aspecto do método científico:
los cientistas. (A) observação.
(C) a assimilação de conteúdos, para formar uma base (B) falseabilidade.
teórica bem consolidada. (C) elaboração de hipóteses.
(D) o uso do livro didático como o norteador do processo (D) comprovação da verdade.
ensino-aprendizagem. (E) descrição de um fenômeno.
(E) a busca da verdade e de explicações incontestáveis
para os fenômenos naturais.
Respostas: 01-A / 02-D / 03-A / 04-E / 05-D / 06-A /
33. Discutir o desenvolvimento sustentável, analisando 07-C / 08-B / 09-E / 10-E / 11-D / 12-A / 13-D / 14-A / 15-B
soluções tecnológicas possíveis na agricultura, na diminui- / 16-D / 17-B / 18-C / 19-A / 20-E / 21-B / 22-D / 23-C /
ção do lixo e no controle da poluição requer um ensino que 24-C / 25-D / 26-A / 27-B / 28-D / 29-E / 30-C / 31-C / 32-A
(A) considere a importância do convívio social na cons- / 33-E / 34-B / 35-D / 36-E / 37-D
trução de conhecimento.
(B) verifique a validade das propostas e projetos go-
vernamentais.

134
FÍSICA

Mecânica: Potência de dez - Ordem de grandeza. Algarismos significativos - precisão de uma medida. Grandezas es-
calares e vetoriais - operações elementares. Aceleração - Movimento retilíneo uniformemente variado - Movimentos
retilíneo uniforme da partícula e Circular uniforme. Composição de forças - 1ª lei de Newton - equilíbrio de uma par-
tícula - peso de um corpo - força de atrito. Composição de velocidade - independência de movimentos - Movimento
de um projétil. Equilíbrio dos fluídos - Densidade - Pressão - Pressão atmosférica - Princípio de Arquimedes. Força e
aceleração - Massa - 2ª lei de Newton. Forças de ação e reação - 3ª lei de Newton. Trabalho de uma força - Potência.
Energia potencial gravitacional e elástica - conservação da energia mecânica. Quantidade de movimento linear de uma
partícula (conservação); Gravitação - Leis de Kepler e Lei de Newton................................................................................................ 01
Termodinâmica: Temperatura - Escalas termométricas - Dilatação (sólido/líquido). Quantidade de calor sensível e laten-
te; Gases ideais – Transformações isotérmica, isobárica, isovolumétrica e adiabática. Equivalente mecânico da caloria -
calor específico - energia interna. Trabalho em uma transformação gasosa. 1ª Lei da termodinâmica. Mudanças de fase.
2ª Lei da termodinâmica - transformação de energia térmica em outras formas de energia................................................... 52
Vibrações e Ondas: Movimento harmônico simples. Ondas elásticas: propagação - superposição - reflexão e refração -
noções sobre a interferência, difração e ressonância. Som..................................................................................................................... 61
Ótica: Propagação e reflexão da luz - espelhos planos e esféricos de pequena abertura; Refração da luz - dispersão e
espectros - lentes esféricas, delgadas e instrumentos óticos; Ondas luminosas - reflexão e refração da luz sob o ponto
de vista ondulatório - interferência e difração, cor de um objeto........................................................................................................ 74
Eletricidade: Carga elétrica - Lei de Coulomb “eletrização”. Campo elétrico - campo de cargas pontuais - campo de uma
carga esférica - movimento de uma carga em um campo uniforme, condutores eletrizados. Corrente elétrica, diferença
de potencial, resistência elétrica. Lei de Ohm - Efeito Joule. Associação de resistências em série e em paralelo. Gerado-
res de corrente contínua: força eletromotriz e resistência interna - circuitos elétricos; Experiência de Oersted - Campo
magnético de uma carga em movimento - indução magnética. Força exercida por um campo magnético sobre uma
carga elétrica e sobre condutor retilíneo. Força eletromotriz induzida - Lei de Faraday - Lei de Lenz - Ondas eletromag-
néticas........................................................................................................................................................................................................................... 77
Física Moderna: Quantização de energia - efeito fotoelétrico. A estrutura do átomo: experiência de espalhamento de
Rutherford - espectros atômicos; O núcleo atômico - Radioatividade - Reações nucleares..................................................... 92
FÍSICA

Resumindo: Uma grandeza vetorial é tal que sua ca-


MECÂNICA racterização completa requer um conjunto de três atribu-
POTÊNCIA DE DEZ - ORDEM DE GRANDEZA. tos: o módulo, a direção e o sentido.
ALGARISMOS SIGNIFICATIVOS - PRECISÃO Direção: é aquilo que existe de comum num feixe de
DE UMA MEDIDA. GRANDEZAS ESCALARES retas paralelas.
Sentido: podemos percorrer uma direção em dois sen-
E VETORIAIS - OPERAÇÕES ELEMENTARES.
tidos.
ACELERAÇÃO - MOVIMENTO RETILÍNEO
UNIFORMEMENTE VARIADO - MOVIMENTOS
RETILÍNEO UNIFORME DA PARTÍCULA E
CIRCULAR UNIFORME. COMPOSIÇÃO DE
FORÇAS - 1ª LEI DE NEWTON - EQUILÍBRIO
DE UMA PARTÍCULA - PESO DE UM CORPO
- FORÇA DE ATRITO. COMPOSIÇÃO DE
VELOCIDADE - INDEPENDÊNCIA DE sentido
MOVIMENTOS - MOVIMENTO DE UM
PROJÉTIL. EQUILÍBRIO DOS FLUÍDOS Portanto, para cada direção existem dois sentidos.
Além da posição, a velocidade, a aceleração e a força são,
- DENSIDADE - PRESSÃO - PRESSÃO
por exemplo, grandezas vetoriais relevantes na Mecânica.
ATMOSFÉRICA - PRINCÍPIO DE ARQUIMEDES. Através de atividades realizadas numa mesa de forças,
FORÇA E ACELERAÇÃO - MASSA - 2ª LEI DE identificaremos e determinaremos a equilibrante de um sis-
NEWTON. FORÇAS DE AÇÃO E REAÇÃO - 3ª LEI tema de duas forças colineares ou não-colineares e calcular
DE NEWTON. TRABALHO DE UMA FORÇA a resultante de duas forças utilizando método algébrico e
CONSTANTE - POTÊNCIA. ENERGIA POTENCIAL geométrico. Comprovar o efeito de mudança de ângulo
GRAVITACIONAL E ELÁSTICA - CONSERVAÇÃO no módulo da força resultante. Forças são definidas como
DA ENERGIA MECÂNICA. QUANTIDADE DE grandezas vetoriais em Física. Com efeito, uma força tem
MOVIMENTO LINEAR DE UMA PARTÍCULA módulo, direção e sentido e obedecem as leis de soma,
(CONSERVAÇÃO); GRAVITAÇÃO - LEIS DE subtração e multiplicação vetoriais da Álgebra. Este é um
KEPLER E LEI DE NEWTON. conceito de extrema valia, pois comumente o movimento
ou comportamento de um corpo pode ser estudado em
função da somatória vetorial das forças atuantes sobre ele,
e não de cada uma individualmente. Por outro lado, uma
Grandezas Escalares e Vetoriais determinada força pode também ser decomposta em sub-
vetores, segundo as regras da Álgebra, de modo a melhor
analisar determinado comportamento.
A Física lida com um amplo conjunto de grandezas. Advém da compreensão da força como uma grande-
Dentro dessa gama enorme de grandezas existem algu- za vetorial a definição da Primeira Lei de Newton. Esta lei
mas, cuja caracterização completa requer tão somente um postula que:
número seguido de uma unidade de medida. Tais grande- Considerando um corpo no qual não atue nenhuma
zas são chamadas grandezas escalares. Exemplos dessas força resultante, este corpo manterá seu estado de movi-
grandezas são a massa e a temperatura. Uma vez espe- mento: se estiver em repouso, permanecerá em repouso;
cificado que a massa é 1kg ou a temperatura é 32ºC, não se estiver em movimento com velocidade constante, conti-
precisamos de mais nada para caracterizá-las. nuará neste estado de movimento. Assim, pode-se de fato
Outras grandezas há que requerem três atributos para aplicar várias forças a um corpo, mas se a resultante veto-
a sua completa especificação como, por exemplo, a po- rial destas for nula, o corpo agirá como se nenhuma força
sição de um objeto. Não basta dizer que o objeto está a estivesse sendo aplicada a ele. Este é o estado comum de
200 metros. Se você disser que está a 200 metros existem “equilíbrio” da quase totalidade dos corpos no cotidiano,
muitas possíveis localizações desse objeto (para cima, para já que sempre há, na proximidade da Terra, a força da gra-
baixo, para os lados, por exemplo). Dizer que um objeto vidade ou peso atuando sobre todos os corpos. Um livro
está a 200 metros é necessário, porém não é suficiente. A deitado sobre uma mesa está na verdade sofrendo a ação
distância (200 metros) é o que denominamos, em Física, de pelo menos duas forças, que se equilibram ou anulam
módulo da grandeza. Para localizar o objeto, é preciso e dão-lhe a aparência de estar parado. Os experimentos a
especificar também a direção e o sentido em que ele se seguir ajudarão a demonstrar o comportamento algébrico
encontra. Isto é, para encontrar alguém a 200 metros, pre- e geométrico de duas forças. A discussão, quando apro-
cisamos abrir os dois braços indicando a direção e depois priado, far-se-á intercalada à descrição dos experimentos.
fechar um deles especificando o sentido. Na vida cotidiana,
fazemos os dois passos ao mesmo tempo, economizando
abrir os dois braços.

1
FÍSICA

Composição de Forças Colineares dica a existência do equilíbrio, independente dos valores


lidos no dinamômetro. Veja Figura 4 para uma ilustração
   das forças atuantes.

Figura 4: Forças em equilíbrio.

Se o sistema está em equilíbrio e não apresenta mo-


Figura 1: Mesa de Forças. Figura 2: Mesa de vimento, conclui-se que nenhuma força resultante deverá
forças e suporte estar agindo sobre ele. Assim, a força equilibrante Fe anula
para dinamômetro. completamente a força peso F1. Acrescentando outra mas-
Procedimento e Discussão sa de peso 0,5N ao conjunto de massa m, novamente mo-
vimentou-se o dinamômetro de modo a posicionar o anel
Determinou-se o peso F1 do um conjunto de massa m no centro da mesa de forças. Fez-se nova leitura então do
formado por um gancho lastro mais duas massas acoplá- dinamômetro, que representa a força equilibrante Fe.
veis. Fe = 1,68 N
F1 = 1,154 N Conclui-se que esse peso de 0,5N foi somado em mó-
dulo à força Fe, que apresentou um aumento de precisos
Uma roldana foi afixada na posição 0o da mesa de for- 0,5N. É lícito então afirmar que duas forças colineares de
ças, e o conjunto de massa m, através do cordão, foi passa- sentidos opostos se subtraem.
do por ela e afixado no anel central. Ver Figura 3. No experimento acima, como os módulos eram idên-
ticos, o resultado foi um vetor zero. Da mesma maneira, é
possível afirmar que o vetor força resultante de duas ou
mais forças colineares de mesmos sentidos é a somató-
ria dos módulos de cada vetor força. É precisamente o
que ocorreu na adição de um peso de 0,5N ao conjunto
Figura 3: Vista superior da mesa de forças. de massa m no experimento acima. Um vetor força peso
  de módulo 0,5N, de mesmo sentido e direção que o vetor
 A fim de conferir equilíbrio ao sistema, uma segunda peso anterior de 1,154N foi a ele somado. Graficamente,
força Fe, denominada equilibrante, será aplicada segundo isso pode ser representado conforme observado na Figura
direção e sentido apropriados. A fim de obter tal façanha, 5.
prendeu-se o conjunto de suporte com o dinamômetro na
ponta oposta da massa m, de modo que o anel central que
prende os ganchos com fios ficasse centrado no pino exis-
tente no meio do disco de forças.
Alinhou-se a altura do dinamômetro com a altura da
mesa de forças, de modo a que os fios de ligação ficas-
sem paralelos à mesa, mas que não a tocassem, evitando
assim forças de atrito indesejáveis. Batendo com o dedo
levemente sobre a mesa e sobre a capa de proteção do
dinamômetro, tensões foram aliviadas enquanto movia-se
o conjunto do dinamômetro, mantendo o anel centrado no
meio da mesa. Ver novamente a Figura 3.
Criou-se, assim, um sistema de duas forças de mesma
direção, mesmo módulo e sentidos opostos, que equilibra- Figura 5: Soma e subtração de vetores força.
ram o conjunto de massa m numa ponta. Uma das forças  
é a força peso exercida pelo conjunto de massa, e a outra Em I, os vetores F1 e F2 são somados, posicionando-se
força é exercida pelo dinamômetro. Fazendo a leitura do a origem do vetor F2 coincidente com a extremidade do
dinamômetro, obteve-se o valor: Fe = 1,18 N vetor F1. O vetor resultante então é traçado da origem de
Este valor é muito próximo da força F1 anteriormente F1 à extremidade de F2, conforme as regras geométricas da
medida do conjunto de massa, que foi de 1,154N. Impre- somatória vetorial. Na subtração, em II, F2 é subtraído de
cisões do dinamômetro e influência de forças de atrito e F1, posicionando-se pois a origem de F2 na extremidade
inércia rotacional da roldana e fio resultam na diferença de F1 e traçando-se então o vetor resultante da origem de
encontrada, uma vez que a teoria prevê valores idênticos. F1 à extremidade de F2. Observar que F2 em II é o mes-
Entretanto, o fato de que o sistema não se movimenta in- mo vetor F2 em I, porém de sentido oposto. A resultante é

2
FÍSICA

portanto menor. Tomando-se F1 e F2 de mesmo módulo, é Forças Concorrentes Quaisquer


óbvio que a resultante seria zero, conforme demonstrou-se  
no experimento. Procedimento e Discussão
O objetivo deste experimento é determinar o ângulo a
Composição de Forças Ortogonais entre duas forças F1 e F2, de mesmo módulo, de modo que
uma terceira força F3 de módulo igual às anteriores equili-
Procedimento e Discussão bre o sistema. Usando a Lei dos Cossenos adaptada para o
Tomou-se dois conjuntos de massa com pesos F1 e F2, formato abaixo:
medidos com o dinamômetro, conforme abaixo:

F1 = 0,66N É possível determinar algebricamente este ângulo.


F2 = 0,66N Esta é uma equação modificada da Lei dos Cossenos, pois
  considera o menor ângulo formado pelos vetores (que são
Montou-se esses pesos na mesa de forças conforme a posicionados de forma a terem a mesma origem). Este me-
Figura 6. nor ângulo é o suplemento do maior ângulo formado se se
posicionar a origem de um vetor na extremidade de outro.
Como cos(180-a ) = -cos(a ), o sinal do termo 2F1F2cosa é
positivo, ao invés do esperado negativo da Lei dos Cosse-
nos. Ver Figura 8.

Figura 6: Vista superior.


O dinamômetro foi movimentado até que o anel ficas-
se centrado no pino da mesa de forças. Figura 8: Representação geométrica da
Inicialmente escolheu-se um ângulo qualquer entre Lei dos Cossenos adaptada.
F1 e F2 e fez-se uma leitura no dinamômetro. À medida Determinou-se então algebricamente o ângulo neces-
em que o ângulo entre estas forças foi sendo ajustado de sário para estabelecer equilíbrio entre as forças. Tomando
modo a aumentar, percebeu-se que o dinamômetro tendia F3 = F2 = F1 = F, vem:
a indicar forças menores. Chegou-se a um ângulo de 180o
entre as forças, e o dinamômetro indicou zero. Isso é con-
sistente com a regra de soma vetorial. Vejamos a Figura 7.

A fim de comprovar este valor experimentalmente, to-


mou-se dois pesos F de módulos iguais, 0,66N, e montou-
Figura 7: Vetores em 90 graus. -se todo o conjunto sobre a mesa de forças de modo que
o ângulo entre todas as forças fosse de 120o. Ver Figura 9.
O vetor resultante de F1 e F2, traçado com auxílio de um
paralelogramo conforme indicado na figura, tem mesmo
módulo, direção e sentido oposto ao vetor Fe, que é o valor
indicado no dinamômetro. Ao aumentar o ângulo entre F1
e F2, este vetor resultante vai diminuindo em módulo, con-
forme foi indicado no dinamômetro. Se este ângulo chega
a 180o , isso significaria vetores colineares e de sentidos Figura 9: Sistema em equilíbrio de forças de módulos
opostos. Como têm o mesmo módulo, anular-se-iam mu- iguais.
tuamente e o resultante seria zero.  
Por outro lado, diminuindo-se o ângulo entre F1 e F2 Obteve para a leitura do dinamômetro o valor da força
até chegar a 0o, a resultante seria a soma dos módulos de equilibrante Fe.
ambos. Assim sendo, tomando a equação vetorial:
F r = F1 + F2 Fe = 0,65N

Fr atinge valor máximo quando o ângulo entre os ve- Usando-se a Lei dos Cossenos, calculou-se o valor te-
tores F1 e F2 for de 0o, sendo F1 e F2 de mesmo sentido. Fr órico a ser obtido no sistema para o módulo da força Fe.
atinge seu valor mínimo, ou zero, quando o ângulo é 180o. Assim,

3
FÍSICA

As grandezas escalares, se adicionam segundo espe-


cificações da álgebra, porém para se operar as grandezas
vetoriais, usaremos recursos diferentes. Podemos concluir,
com relação as grandezas vetoriais, que:
Comparando-se este valor com o achado experimen- Considerando um deslocamento de A para B, em se-
talmente, vem: guida de B para C, seu efeito final é levar o carro de A para
C. Consideramos então, que o vetor c é a soma ou resultan-
te dos vetores a e b. Esta é a forma de adicionar dois des-
locamentos para qualquer grandeza vetorial. Concluímos
então conforme o autor que, “para encontrar a resultante,
Um erro consideravelmente baixo, levando em conta c, de dois vetores a e b traçamos o vetor b de modo que
que desconsiderou-se para efeito de cálculo influência do sua origem coincida com a extremidade do vetor a com a
atrito das roldanas, inércia rotacional das mesmas e erros extremidade do vetor b, obtendo a resultante c.
de leitura e precisão do dinamômetro. De fato, pois, o ân- Regra do Paralelogramo – Para se determinar o para-
gulo de 120o é o indicado para equilibrar três forças de lelogramo, é necessário fazer com que a resultante c seja
iguais módulos e mesma origem. dada pela diagonal deste paralelogramo que parte da
origem comum dos dois vetores, sendo denominado tal
A equação pode processo de regra do paralelogramo. Resultante de vários
portanto ser usada para calcular o módulo da força resul- vetores – Utilizaremos o mesmo processo para o resultante
tante de quaisquer forças coplanares, sabendo-se o menor de dois vetores, porém a sua resultante deverá ser capaz de
ângulo entre elas e tendo a origem dos vetores num ponto substituir os deslocamentos sucessivos combinados, que
comum. una a sua origem do primeiro vetor com a extremidade
do último. Para que se determine os componentes de um
vetor, é necessário saber que: o componente de um vetor,
segundo uma direção, é a projeção (ortogonal) do vetor
naquela direção ao determinarmos as componentes retan-
gulares de um vetor v, encontramos dois vetores, que em
conjunto podem substituir o vetor v.

Vetor Velocidade e Vetor Aceleração


Os experimentos realizados puderam demonstrar as
fórmulas e teorias algébricas da composição e decom- Vetor velocidade – Conforme esclarece o autor, “a di-
posição de vetores, ou seja, a soma vetorial e a resultante reção de v é tangente à trajetória no ponto que a partícula
de vetores. Foi possível experimentar várias configurações ocupa no instante considerado e o seu ponto que a par-
diferentes de pesos e ângulos e observar de imediato as tícula ocupa no instante considerado e o seu sentido é o
alterações e influência, registradas no dinamômetro. O ex- sentido do movimento da partícula naquele instante”.
perimento com forças concorrentes foi de especial valia, Aceleração centrípeta – É necessário que sua velocida-
pois com ele podia-se vislumbrar o efeito na resultante do de permaneça constante, sendo um vetor perpendicular à
ângulo formado pelas forças e serviu de comprovação ir- velocidade e dirigida para o centro da trajetória, também
refutável do ângulo fixo e constante que equilibra três for- sendo chamada de aceleração normal.
ças de mesmo módulo e origem. Esta é uma configuração Aceleração tangencial – É aquela onde possui vetores
comum e importante em geradores de corrente alternada na mesma direção de v (tangente a trajetória), se caracteri-
trifásicos, obtendo-se aproximadamente 380 Volts de três zando pela variação do módulo de v.
fases de 110 V em ângulos de 120o. Podemos concluir que: sempre que variar a direção do
vetor velocidade de um corpo, este corpo possuirá acele-
Vetores – Movimento Curvilíneo ração centrípeta. Sempre que variar o módulo do vetor ve-
Para que se determine uma grandeza escalar, é neces- locidade de um corpo possuirá uma aceleração tangencial.
sário determinar um valor para todos os problemas que se As Ciências chamadas Exatas (a Física, a Química, a As-
deseja medir. Por exemplo: dizemos que a área coberta de tronomia, etc.) baseiam-se na “medição”, sendo esta sua ca-
uma casa é de 300 m², ou que uma criança tem uma febre racterística fundamental. Em outras Ciências, ao contrário,
de 38ºC. Podemos então entender que todos as grande- o principal é a descrição e a classificação. Assim, a Zoologia
zas, ficam mais fáceis de se visualizar quando se estipula descreve e classifica os animais, estabelecendo categorias
apenas o seu valor, denominada de grandezas escalares. de separação entre os seres vivos existentes. Todos temos
A grandeza vetorial, só é determinada quando se conhe- uma certa noção do que é medir e o que é uma medida.
ce o seu módulo, a sua direção e o seu sentido. Podemos O dono de uma quitanda não pode realizar seus negó-
considerar como grandeza vetorial, a velocidade, a força, cios se não mede; com uma balança mede a quantidade de
onde deveremos especificar o seu módulo (intensidade) e farinha ou de feijão pedida. Um lojista, com o metro, mede
direção (horizontal ou vertical) e seu sentido (para cima ou a quantidade de fazenda que lhe solicitaram. Em uma fá-
para baixo). brica mede-se com o relógio o tempo que os operários

4
FÍSICA

trabalham. Há diferentes coisas que podem ser medidas; o As Grandezas Comprimento, Área e Volume
dono da quitanda mede “pesos”, o lojista “comprimentos”,
a fábrica “tempos”. Também podem ser medidos volumes, Comprimento
áreas, temperaturas, etc. Tudo aquilo que pode ser medi- A unidade de comprimento é o metro (m), o qual pode
do chama-se “grandeza”, assim, o peso, o comprimento, o ser dividido em 100 centímetros (cm) ou 1000 milímetros
tempo, o volume, a área, a temperatura, são “grandezas”. (mm). O múltiplo do metro mais usado é o quilômetro
Ao contrário, visto que não podem ser medidas, não são (km), que vale 1000 m.
grandezas a Verdade ou a Alegria.

Medir é comprar uma quantidade de uma grandeza


qualquer com outra quantidade da mesma grandeza que
se escolhe como “unidade”. Careceria de sentido tentar
medir uma quantidade de uma grandeza com uma unida-
de de outra grandeza. Ninguém, mesmo que esteja louco,
pretenderá medir a extensão de um terreno em quilogra-
mas, ou o comprimento de uma rua em litros. A Física não Área: A unidade de área é o metro-quadrado (m2).
trabalha com números abstratos. O fundamental é medir Muitas vezes se faz confusão nas medidas de área, pois um
e o resultado da medição é um número e o nome da uni- quadrado com 10 unidades de comprimento de lado con-
dade que se empregou. Assim, pois, cada quantidade fica tém 10 x 10 = 100 unidades de área. Assim 1cm = 10mm,
expressa por uma parte numérica e outra literal. Exemplos: entretanto, 1cm2 = 100mm2, o que explica ao examinar-
10 km; 30 km/h; 8h. Opera-se com as unidades como se mos a figura 8. Da mesma forma:
fossem números; assim:
1 m2 = 1m x 1m = 100cm x 100cm = 10000 cm2
1 m2 = 1000mm x 1000mm = 1.000.000 mm2

A Grandeza Tempo Volume: A unidade é o metro cúbico (m3). De forma


Feche seus olhos por alguns instantes. Abra-os, então, análoga à área, podemos provar que um cubo com 10 uni-
enquanto conta “um, dois, três”. Feche-os novamente. Que dades de comprimento contém 10 x 10 x 10 = 1000 unida-
notou você enquanto seus olhos estavam abertos? Se você des de volume.
estiver numa sala comum, pouca coisa terá acontecido.
Nada pareceu sofrer modificação. Mas se você tivesse es-
tado sentado durante algumas horas, mantendo os olhos
abertos, veria pessoas indo e vindo, movendo cadeiras,
abrindo janelas. O que aconteceu na sala parece depender
do intervalo de tempo durante o qual você observa. Olhe
durante um ano, e a planta em seu vaso há de crescer, florir
e murchar. As medidas de tempo às quais nos referimos
nesses exemplos dizem respeito à duração de um aconteci-
mento e são indicadas por um “intervalo de tempo”. Entre-
tanto, também usamos medidas de tempo para definirmos
quando se deu tal acontecimento e, nesse caso, estamos Obtém-se assim que: 1m3 = 1m X 1m X 1m = 100cm
indicando um “instante de tempo”. X 100cm X 100cm = 1.000.000 cm3. Uma unidade muito
Para medirmos intervalos de tempo podemos usar usual de volume é o litro (l), definido como o volume de um
apenas um cronômetro - ele é destravado, parte do zero, e cubo com 10 cm de lado. A milésima parte de um litro é o
mede a extensão de um intervalo de tempo. Por outro lado, mililitro (ml). A maioria das garrafas tem seu volume, escri-
para medirmos instantes de tempo podem ser medidas to no rótulo, e gravado no fundo das garrafas, expresso em
com as mesmas unidades e entre elas as mais comumente mililitros (ml).
usadas são a hora, o minuto e o segundo. As relações en- Também estão expressos em ml os volumes de vidros
tre estas três unidades são muito conhecidas, mas vamos de remédios, mamadeiras, frascos de soro hospitalar, etc.
mencioná-las aqui: A Grandeza Massa
1 h = 60 min
1 s = 1/60 h O sistema métrico decimal foi criado pela Revolução
1 min = 60 s Francesa, que com isso tentou uma renovação não apenas
1 s = 1/3600 h na vida social, mas também nas Ciências. Originalmente se
1 h = 3600 s definiu como unidade de massa, a massa de um litro de
1 min = 1/60 h água a 150 C. Essa massa foi chamada de um quilogra-
ma (1 kg). Mais tarde percebeu-se o inconveniente desta
definição, pois o volume da água varia com a pureza da
mesma. Passou-se, então, a adotar como padrão de massa

5
FÍSICA

um certo objeto chamado “padrão internacional de massa”. O Kgf não é a unidade de força do SI, a unidade de for-
Tal padrão é conservado no Museu Internacional de Pesos ça nesse sistema é denominada 1newton = 1N, em home-
e Medidas, em Sèvres, Paris. A massa deste objeto é de 1 nagem a Issac Newton. A relação entre essas duas unidades
kg. Dentro do possível, fêz-se que a massa deste padrão é: 1Kgf = 9,8N
fosse igual à massa de 1 litro de água destilada a 150 C. Os Portanto, a força de 1N é aproximadamente igual a
submúltiplos mais comuns do quilograma são a grama (g) 0,1Kgf (praticamente igual à força que a Terra exerce sobre
e a miligrama (mg), sendo 1 kg = 1000 g e 1g = 1000 mg. O um pacote de 100g).
múltiplo mais usual do quilograma é a tonelada (t), sendo
1 t = 1000 kg. Inércia
Várias experiências do nosso cotidiano comprovam as
Forças e suas Características afirmações de Galileu. Assim, temos:
- se um corpo está em repouso, ele tende a continuar
A ideia de força é bastante relacionada com a experi- em repouso. Se uma pessoa estiver em repouso sobre um
ência diária de qualquer pessoa: sempre que puxamos ou cavalo, e este partir repentinamente, ela tende a permane-
empurramos um objeto, dizemos que estamos fazendo cer onde estava.
uma força sobre ele. É possível encontrar forças que se ma- - se um corpo está em movimento, ele tende a conti-
nifestam sem que haja contato entre os corpos que intera- nuar em movimento retilíneo uniforme.
gem. Por exemplo: um imã exerce uma força magnética de
atração sobre um prego mesmo que haja certa distância O garoto em movimento, junto com o skate, conti-
entre eles; um pente eletrizado exerce uma força elétrica de nua a se mover quando o skate pára repentinamente. Esses
atração sobre os cabelos de uma pessoa sem necessidade exemplos, e vários outros que nós já devemos ter obser-
de entrar em contato com eles; de forma semelhante a Ter- vado, mostram que os corpos têm a tendência de perma-
ra atrai os objetos próximos à sua superfície, mesmo que necer como estão: continuar em repouso, quando estão
eles não estejam em contato com ela. em repouso, e continuar em movimento, quando estão se
movendo. Esta propriedade dos corpos de se comportarem
Intensidade, Direção e Sentido de uma Força dessa maneira é denominada inércia. Então:
- por inércia, um corpo em repouso tende a ficar em
Imagine que uma pessoa lhe informe que exerceu so- repouso
- por inércia, um corpo em movimento tende a ficar em
bre uma mola seu esforço muscular, deformando-a Apenas
movimento
com essa informação, você não pode fazer ideia de como
foi essa deformação, pois o esforço pode Ter sido feito in-
Vários anos mais tarde, após Galileu ter estabelecido o
clinadamente, verticalmente ou horizontalmente. Se ela
conceito de inércia, Issac Newton, ao formular as leis bási-
acrescentasse que o esforço foi feito na vertical, ainda as-
cas da mecânica, conhecidas como “as três leis de Newton”,
sim voc6e poderia ficar na dúvida se o esforço foi dirigido
concordou com as conclusões de Galileu e usou-as no
para baixo ou para cima. Assim você só pode ter uma idéia
enunciado de sua primeira lei:
completa da força se a pessoa lhe fornecer as seguintes
“Na ausência de forças, um corpo em repouso continua
informações: em repouso, e um corpo em movimento continua em movi-
- intensidade ou módulo da força mento em linha reta e com velocidade constante.”
- direção da força Logo, tanto Galileu quanto Newton perceberam que
- sentido da força um corpo pode estar em movimento sem que nenhuma
Sendo fornecidas essas características, módulo, direção força atue sobre ele. Observe que, quando isto ocorre, o
e sentido, a força fica completamente conhecida. A força movimento é retilíneo uniforme.
faz parte de um conjunto de grandezas da física, tais como  
a velocidade e a aceleração, por exemplo, denominadas Resultante de duas Forças
grandezas vetoriais, que só ficam determinadas quando Considere a situação mostrada na figura 1, na qual duas
essas características são indicadas. pessoas exercem sobre um bloco as forças F e S mostradas.
  Quando duas ou mais forças atuam sobre um corpo, mui-
Medida de uma Força tas vezes temos necessidade de substituí-las por uma força
  única, capaz de produzir o mesmo efeito que elas, em con-
Quando vamos medir uma grandeza, precisamos esco- junto, produzem. Esta força única é denominada resultante
lher uma unidade para realizar a medida. No caso da força, das forças consideradas.
uma unidade muito usada na prática diária é 1 quilograma-  
-força, que se representa pelo símbolo 1 Kgf. Esta unidade As forças têm a mesma direção e o mesmo sentido
é o peso de um objeto, denominado quilograma-padrão, Esta é a situação mostrada na figura 1. Neste caso, a
que é guardado na Repartição Internacional de Pesos e experiência mostra que a resultante R, do sistema, tem a
Medidas, em Paris, na França. Obs.: 1 quilograma-força mesma direção e o mesmo sentido das componentes (F e
(1Kgf) é a força com que a Terra atrai o quilograma-padrão S) e seu módulo é dado por R = F + S (soma dos módulo
(isto é, o seu peso) ao nível do mar e a 45º de latitude. das componentes).

6
FÍSICA

A ordem de grandeza de um número é a potência de


dez mais próxima deste número. Ordem de grandeza é
uma forma de avaliação rápida, do intervalo de valores em
que o resultado deverá ser esperado. Para se determinar
As forças têm a mesma direção e sentidos contrários com facilidade a ordem de grandeza, deve-se escrever o
Neste caso, a resultante R tem a mesma direção das número em notação científica (isto é, na forma de produto
componentes (F e S), mas seu sentido é aquele da força de N.10n) e verificar se N é maior ou menor que (10)1/2.
maior módulo. O módulo de R é dado por R = F – S (dife- a) se N > 3,16 , a ordem de grandeza do número é
rença entre os módulos das componentes). 10n+1.
b) se N < 3,16, a ordem de grandeza do número é 10n.
onde (10)1/2 = 3,16

Exemplo 1 - Se formos medir a massa de um homem,


As forças
  não têm a mesma direção é razoável esperarmos que a massa se encontre mais próxi-
mo de 100 (102) kg do que de 10 (101) kg ou 1000 (103) kg.
Suponha que duas forças, F e S, de direções diferen-
tes, estejam atuando sobre uma pequena esfera, forman- Exemplo 2 – Dê a ordem de grandeza das medidas
do entre elas um certo ângulo, como mostra a figura 3. abaixo.
Realizando experiências cuidadosas, os físicos chegaram a) 2 = 100
à conclusão de que a resultante R destas forças deve ser b) 69= 102
determinada da seguinte maneira, conhecida como a re- c) 0,3= 10-1
gra do paralelogramo: da extremidade da força F traça-se d) 0,7= 100
uma paralela à força S e, da extremidade da força S, traça- e) 3 x 10-4= 10-4
-se uma paralela à força F. Assim, estará construindo um f) 4 x 103 =104
paralelogramo, que tem F e S como lados. A resultante é g) 8 x 105 = 106
dada, em módulo, direção e sentido, pela diagonal do pa- h) 9 x 107 = 108
ralelogramo, que tem sua origem no ponto de aplicação
das duas forças, como mostra a figura. Exemplo 3 – Qual a ordem de grandeza do número de
segundos existentes em um século.
Solução: 1 hora = 60 x 60 = 3600 s
1 dia = 24 x 3600 = 86.400 = 8,64 x 104 s
1 ano = 365 x 8,64 x 104 = 3,1436 x 107 s
1 século = 100 x 3,1536 x 107 = 109 s

Obs: A razão do uso de (10)1/2 para acrescentar ou não


uma unidade ao expoente decorre do fato de se ter uma
operação exponencial. O valor médio, que é diferente da
média aritmética ao se passar de um expoente 100 para
Forças em equilíbrio outro 101, é 101/2 = 3,16...

Na figura mostramos uma esfera de peso P sendo sus- Algarismos Significativos e Erros
tentada por uma pessoa que exerce sobre a esfera uma
força F. Suponha que o módulo de F seja tal que F = P. Te- Quando realizamos uma medida precisamos estabele-
mos assim, atuando sobre a esfera, duas forças de mesmo cer a confiança que o valor encontrado para a medida re-
módulo, mesma direção e sentidos contrários. Pelo que vi- presenta. Medir é um ato de comparar e esta comparação
mos anteriormente, é claro que a resultante das forças que envolve erros dos instrumentos, do operador, do processo
atuam na esfera é nula, isto é, R = 0. Esta situação é, então, de medida e outros. Podemos ter erros sistemáticos que
equivalente àquela em que nenhuma força atua sobre a es- ocorrem quando há falhas no método empregado, defei-
fera. Podemos, pois, concluir, pela primeira lei de Newton, to dos instrumentos, etc... e erros acidentais que ocorrem
que a esfera estará em repouso ou em movimento retilíneo quando há imperícia do operador, erro de leitura em uma
uniforme. Quando isto ocorre, dizemos que a esfera está escala, erro que se comete na avaliação da menor divisão
em equilíbrio. da escala utilizada etc...
Em qualquer situação deve-se adotar um valor que
melhor represente a grandeza e uma margem de erro den-
tro da qual deve estar compreendido o valor real. Vamos
aprender como determinar esse valor e o seu respectivo
desvio ou erro.

7
FÍSICA

Valor Médio - Desvio Médio Quando é realizada uma única medida, você considera
desvio a metade da menor divisão do aparelho de medida.
Quando você realiza uma medida e vai estimar o valor No caso da régua esse desvio é 0,05 cm. Uma única medida
situado entre as duas menores divisões do seu aparelho seria representada como:
de medida, você pode obter diferentes valores para uma S = 5.81 ± 0,05 cm
mesma medida. Como exemplo, vamos medir o espaço (S)
percorrido pelo PUCK utilizando uma régua milimetrada (a Erro ou Desvio Relativo
menor divisão é 1 mm). Vamos supor que você tenha medido o espaço com-
preendido entre dois pontos igual a 49,0 cm, sendo que o
valor verdadeiro era igual a 50,00 cm. Com a mesma régua
você mediu o espaço entre dois pontos igual a 9,00 cm,
sendo que o valor verdadeiro era igual a 10,00 cm. Os erros
absolutos cometidos nas duas medidas foram iguais:
absoluto 1
S= | 50,00 - 49,00 | = 1,00 cm
Medindo com uma régua milimetrada o espaço S. absoluto 2
S = | 10,00 - 9,00 | = 1,00 cm
Você observa que o valor de S ficou situado entre 5,80 Apesar de os erros ou desvios absolutos serem iguais,
e 5,90. Vamos supor que mentalmente você tenha dividido você observa que a medida 1 apresenta erro menor que a
esse intervalo em 10 partes iguais e fez cinco medidas ob- medida 2. Neste caso o erro ou desvio relativo é a razão
tendo os valores de S apresentados na tabela 1. entre o desvio absoluto e o valor verdadeiro.
Desvio relativo = desvio absoluto / valor verdadeiro.
N SN (cm) Exemplo:
(S) (cm)
relativo1
S= 1 cm / 50 cm = 0,02
1 5,82 0,01 S= 1 cm / 10 cm = 0,1
relativo2
2 5,83 0,00
3 5,85 0,02
Isso nos mostra que a medida 1 apresenta erro 5 vezes
menor que a medida 2. Os desvios relativos são geralmente
4 5,81 0,02 representados em porcentagem, bastando multiplicar por
5 5,86 0,03 100 os desvios relativos encontrados anteriormente, ob-
N=5 tendo:
SN = 29,17 N
= 0,08 S=2%
relativo1
relativo2
S = 10 %
Valores obtidos para S e os respectivos desvios (S).
Concluímos que o erro ou desvio relativo de uma medi-
De acordo com o postulado de Gauss: da de qualquer grandeza é um número puro, independente
“O valor mais provável que uma série de medidas de da unidade utilizada. Os erros relativos são de importância
igual confiança nos permite atribuir a uma grandeza é a fundamental em tecnologia.
média aritmética dos valores individuais da série”. Fazendo
a média aritmética dos valores encontrados temos o valor Propagação de Erros
médio, ou seja, o valor mais provável de S como sendo: Para obtermos a densidade de um corpo temos que me-
Valor médio de S = (5,82 + 5,83 + 5,85 + 5,81 + 5,86) dir a massa do corpo e o volume. A densidade é obtida indire-
/ 5 = 5,83 cm. tamente pelo quociente entre a massa e o volume: d = m / V
O erro absoluto ou desvio absoluto ( A) de uma medi- Como as grandezas medidas, massa e volume, são afe-
da é calculado como sendo a diferença entre valor experi- tadas por desvios, a grandeza densidade também será. Para
mental ou medido e o valor adotado que no caso é o valor a determinação dos desvios correspondentes às grandezas
médio: A = valor adotado - valor experimental que são obtidas indiretamente, deve-se investigar como os
Calculando os desvios, obtemos: desvios se propagam através das operações aritméticas:
1
= | 5,83 - 5,82 | = 0,01
2
= | 5,83 - 5,83 | = 0,00 Soma e Subtração
3
= | 5,83 - 5,85 | = 0,02 Na soma e subtração os desvios se somam, idepen-
4
= | 5,83 - 5,81 | = 0,02 dentemente do sinal.
5
= | 5,83 - 5,86 | = 0,03 S = S1 + S2 + S3 + ... + Sn
O desvio médio de S será dado pela média aritmética Vamos provar para dois desvios que por indução fica
dos desvios: provado para n desvios.
médio
S = (0.01 + 0,00 + 0,02 + 0,02 + 0,03) / 5 = 0,02 Considerando as medidas S1 ± S1 e S2 ± S2, fazemos
a soma:
O valor medido de S mais provável, portanto, será dado S1 ± S1 + S2 ± S2 = (S1 +S2 ) ± ( S1 + S2 )
como: S = Smédio ± médioS
S = 5,83 ± 0,02 Portanto na soma, os desvios se somam.

8
FÍSICA

Multiplicação e Divisão De acordo com o postulado de Gauss:


Na multiplicação e divisão os desvios relativos se somam. “O valor mais provável que uma série de medidas de
S / S = S 1 / S1 + S2 / S2 + S3 / S3 + ... + Sn / Sn igual confiança nos permite atribuir a uma grandeza é a
média aritmética dos valores individuais da série”. Fazendo
Provando novamente para dois desvios ficará provado a média aritmética dos valores encontrados temos o valor
para n desvios. médio, ou seja, o valor mais provável de S como sendo:
Fazendo a multiplicação: Valor médio de S = (5,82 + 5,83 + 5,85 + 5,81 + 5,86)
(S1 ± S1 ). (S2 ± S2 )= S1 S2 ± S1 S2 ± S2 S1 ± S1 S2 / 5 = 5,83 cm.
O erro absoluto ou desvio absoluto ( A) de uma medi-
Desprezando-se a parcela S1 S2 (que é um número da é calculado como sendo a diferença entre valor experi-
muito pequeno) e colocando S1 S2 em evidência, obtemos: mental ou medido e o valor adotado que no caso é o valor
(S1 ± S1 ). (S2 ± S2 )= S1 S2 ± ( S1 / S1 + S2 / S2) médio: A = valor adotado - valor experimental

Portanto na multiplicação, os desvios relativosAlgaris- Calculando os desvios, obtemos:


mos Significativos e Erros 1
= | 5,83 - 5,82 | = 0,01
Quando realizamos uma medida precisamos estabelecer 2
= | 5,83 - 5,83 | = 0,00
a confiança que o valor encontrado para a medida represen- 3
= | 5,83 - 5,85 | = 0,02
ta. Medir é um ato de comparar e esta comparação envolve 4
= | 5,83 - 5,81 | = 0,02
erros dos instrumentos, do operador, do processo de medida 5
= | 5,83 - 5,86 | = 0,03
e outros. Podemos ter erros sistemáticos que ocorrem quan-
do há falhas no método empregado, defeito dos instrumen- O desvio médio de S será dado pela média aritmética
tos, etc... e erros acidentais que ocorrem quando há imperícia dos desvios:
do operador, erro de leitura em uma escala, erro que se co- médio
S = (0.01 + 0,00 + 0,02 + 0,02 + 0,03) / 5 = 0,02
mete na avaliação da menor divisão da escala utilizada etc...
Em qualquer situação deve-se adotar um valor que me- O valor medido de S mais provável, portanto, será dado
lhor represente a grandeza e uma margem de erro dentro da como: S = Smédio ± médioS
qual deve estar compreendido o valor real. Vamos aprender S = 5,83 ± 0,02
como determinar esse valor e o seu respectivo desvio ou erro.
Quando é realizada uma única medida, você considera
desvio a metade da menor divisão do aparelho de medida.
Valor Médio - Desvio Médio
No caso da régua esse desvio é 0,05 cm. Uma única medida
Quando você realiza uma medida e vai estimar o valor situ-
seria representada como:
ado entre as duas menores divisões do seu aparelho de medida,
S = 5.81 ± 0,05 cm
você pode obter diferentes valores para uma mesma medida.
Como exemplo, vamos medir o espaço (S) percorrido pelo PUCK
Erro ou Desvio Relativo
utilizando uma régua milimetrada (a menor divisão é 1 mm).
Vamos supor que você tenha medido o espaço com-
preendido entre dois pontos igual a 49,0 cm, sendo que o
valor verdadeiro era igual a 50,00 cm. Com a mesma régua
você mediu o espaço entre dois pontos igual a 9,00 cm,
sendo que o valor verdadeiro era igual a 10,00 cm. Os erros
absolutos cometidos nas duas medidas foram iguais:
Medindo com uma régua milimetrada o espaço S. S= | 50,00 - 49,00 | = 1,00 cm
absoluto 1
Você observa que o valor de S ficou situado entre 5,80 S = | 10,00 - 9,00 | = 1,00 cm
absoluto 2
e 5,90. Vamos supor que mentalmente você tenha dividido
esse intervalo em 10 partes iguais e fez cinco medidas ob- Apesar de os erros ou desvios absolutos serem iguais,
tendo os valores de S apresentados na tabela 1. você observa que a medida 1 apresenta erro menor que a
medida 2. Neste caso o erro ou desvio relativo é a razão
entre o desvio absoluto e o valor verdadeiro.

Desvio relativo = desvio absoluto / valor verdadeiro.


Exemplo:
relativo1
S= 1 cm / 50 cm = 0,02
relativo2
S= 1 cm / 10 cm = 0,1

Isso nos mostra que a medida 1 apresenta erro 5 vezes


menor que a medida 2. Os desvios relativos são geralmente
representados em porcentagem, bastando multiplicar por
100 os desvios relativos encontrados anteriormente, ob-
Valores obtidos para S e os respectivos desvios (S). tendo:

9
FÍSICA

relativo1
S=2% régua milimetrada você teve certeza sobre os algarismos 5
relativo2
S = 10 % e 8, que são os algarismos corretos (divisões inteiras da ré-
gua), sendo o algarismo 1 avaliado denominado duvidoso.
Concluímos que o erro ou desvio relativo de uma medi- Consideramos algarismos significativos de uma medida os
da de qualquer grandeza é um número puro, independente algarismos corretos mais o primeiro duvidoso.
da unidade utilizada. Os erros relativos são de importância
fundamental em tecnologia. Algarismos algarismos primeiro algarismo
Propagação de Erros significativos = corretos + duvidoso.
Para obtermos a densidade de um corpo temos que
medir a massa do corpo e o volume. A densidade é obtida
indiretamente pelo quociente entre a massa e o volume: d 5,81 5,8 1
=m/V Sempre que apresentamos o resultado de uma medi-
Como as grandezas medidas, massa e volume, são afe- da, este será representado pelos algarismos significativos.
tadas por desvios, a grandeza densidade também será. Para Veja que as duas medidas 5,81cm e 5,83m não são funda-
a determinação dos desvios correspondentes às grandezas mentalmente diferentes, porque diferem apenas no alga-
que são obtidas indiretamente, deve-se investigar como os rismo duvidoso.
desvios se propagam através das operações aritméticas: Observação: Para as medidas de espaço obtidas a par-
tir da trajetória do PUCK serão considerados apenas os
Soma e Subtração algarismos corretos: não há necessidade de considerar o
algarismo duvidoso já que não estamos calculando os des-
Na soma e subtração os desvios se somam, idepen- vios. Os zeros à esquerda não são considerados algarismos
dentemente do sinal. significativos com no exemplo: 0,000123 contém apenas
S = S1 + S2 + S3 + ... + Sn três algarismos significativos.

Vamos provar para dois desvios que por indução fica Operações com Algarismos Significativos
provado para n desvios.
Considerando as medidas S1 ± S1 e S2 ± S2, fazemos Há regras para operar com algarismos significativos. Se
a soma: estas regras não forem obedecidas você pode obter resul-
S1 ± S1 + S2 ± S2 = (S1 +S2 ) ± ( S1 + S2 ) tados que podem conter algarismos que não são signifi-
cativos.
Portanto na soma, os desvios se somam.
Adição e Subtração
Multiplicação e Divisão
Vamos supor que você queira fazer a seguinte adição:
Na multiplicação e divisão os desvios relativos se so- 250,657 + 0,0648 + 53,6 =
mam. Para tal veja qual parcela apresenta o menor número
S / S = S 1 / S1 + S2 / S2 + S3 / S3 + ... + Sn / Sn de algarismos significativos. No caso 53,6 que apresenta
Provando novamente para dois desvios ficará provado apenas uma casa decimal. Esta parcela será mantida e as
para n desvios. demais serão aproximadas para uma casa decimal. Você
tem que observar as regras de arredondamento que resu-
Fazendo a multiplicação: midamente são:
(S1 ± S1 ). (S2 ± S2 )= S1 S2 ± S1 S2 ± S2 S1 ± S1 S2 Ao abandonarmos algarismos em um número, o últi-
mo algarismo mantido será acrescido de uma unidade se
Desprezando-se a parcela S1 S2 (que é um número o primeiro algarismo abandonado for superior a 5; quando
muito pequeno) e colocando S1 S2 em evidência, obtemos: o primeiro algarismo abandonado for inferior a 5, o últi-
mo algarismo permanece invariável, e quando o primeiro
(S1 ± S1 ). (S2 ± S2 )= S1 S2 ± ( S1 / S1 + S2 / S2) algarismo abandonado for exatamente igual a 5, é indife-
rente acrescentar ou não uma unidade ao último algarismo
Portanto na multiplicação, os desvios relativos se so- mantido.
mam.
No nosso exemplo teremos as seguinte aproximações:
Algarismos Significativos 250,657 250,6
0,0648 0,1
Quando você realizou as medidas com a régua mili-
metrada do espaço S, você colocou duas casas decimais. Adicionando os números aproximados, teremos:
é correto o que você fez? Sim, porque você considerou os 250,6 + 0,1 + 53,6 = 304,3 cm
algarismos significativos. O que são os algarismos signifi-
cativos? Quando você mediu o valor de S = 5,81 cm com a Na subtração, você faz o mesmo procedimento.

10
FÍSICA

Multiplicação e Divisão Em relação ao ônibus, você está em repouso, porém, se


levarmos em conta um poste na estrada, você está em mo-
Vamos multiplicar 6,78 por 3,5 normalmente: vimento, ou seja, você é um móvel. O próprio poste passa
6,78 x 3,5 = 23,73 a ser um móvel quando você é o referencial.
Aparece no produto algarismos que não são significa-
tivos. A seguinte regra é adotada: Verificar qual o fator que Referencial: é o local onde um observador fixa um
apresenta o menor número de algarismos significativos e sistema de referência para, a partir do qual, estudar
apresentar no resultado apenas a quantidade de algaris- o movimento ou o repouso de objetos. É impossível
mo igual a deste fator, observando as regras de arredon- afirmarmos se um ponto material está em movimento ou
damento. em repouso sem antes adotarmos outro corpo qualquer
6,78 x 3,5 = 23,7 como referencial. Dessa forma, um ponto material estará
em movimento em relação a um dado referencial se sua
Para a divisão o procedimento é análogo. posição em relação a ele for variável. Da mesma forma, se
o ponto material permanecer com sua posição inalterada
Observação: As regras para operar com algarismos sig- em relação a um determinado referencial, então estará em
nificativos não são rígidas. Poderia ser mantido perfeita- repouso em relação a ele. Tomemos como exemplo o caso
mente um algarismo a mais no produto. Os dois resultados de um elevador. Se você entrar em um elevador no andar
são aceitáveis: 6,78 x 3,5 = 23,73 ou 6,78 x 3,5 = 23,7. térreo de um edifício e subir até o décimo andar, durante
Mecânica o tempo em que o elevador se deslocar você estará em
movimento em relação ao edifício, e ao mesmo tempo o
A mecânica é o ramo da física que compreende o es- seu corpo estará em repouso em relação ao elevador, pois
tudo e análise do movimento e repouso dos corpos, e sua entre o térreo e décimo andar sua posição será a mesma
evolução no tempo, seus deslocamentos, sob a ação de em relação a ele.
forças, e seus efeitos subsequentes sobre seu ambiente. A Perceba que nesse caso citado, a questão estar ou não
disciplina tem suas raízes em diversas civilizações antigas. em movimento depende do referencial adotado. Podería-
Durante a Idade Moderna, cientistas tais como Galileu Ga- mos utilizar o exemplo de um carro em movimento na estra-
lilei, Johannes Kepler, e especialmente Isaac Newton, lan- da. O motorista nesse caso está em movimento em relação
çaram as bases para o que é conhecido como mecânica a uma árvore à beira da estrada, mas continua em repouso
clássica. É dividida em: em relação ao carro, já que acompanha o movimento do
veículo. Nesse caso, podemos dizer também que a árvore
Cinemática: descreve o movimento de um corpo sem está em movimento em relação ao motorista e em repouso
se preocupar com suas causas. em relação à estrada. Isso nos leva a propriedade simétrica:
Se A está em movimento em relação a B, então B está em
Dinâmica: estuda as causas do movimento. movimento em relação a A. E Se A está em repouso em
relação a B, então B está em repouso em relação a A.
Estática: analisa as condições para se manter um cor- Se a distância entre dois corpos for a mesma no de-
po equilibrado ou em repouso. correr do tempo, você pode dizer que um está parado em
relação ao outro? A resposta é não. Se na ponta de um
Conceitos Básicos de Cinemática barbante for amarrada uma pedra e alguém pegar a outra
ponta do barbante e passar a girar fazendo um movimento
Ponto Material ou Partícula: é uma abstração feita circular com a pedra, as posições sucessivas da pedra no
para representar qualquer objeto que em virtude do fe- espaço irão mudar em relação à outra ponta do barban-
nômeno tem dimensões desprezíveis, ou seja, dimensões te, mas a distância continuará a mesma. Note então que o
tais que não afetam o estudo do fenômeno. Por exemplo, conceito de movimento implica em variação de posição e
no estudo dos movimentos da Terra, dada a distância que não de distância. Um ponto material está em movimento
separa este corpo dos demais, suas dimensões são des- em relação a certo referencial se a sua posição no decorrer
prezíveis e ela pode ser considerada um ponto material, do tempo variar em relação a esse referencial.
porém caso algum outro corpo se aproximasse da Terra,
seria preciso abandonar esta aproximação e considerar o
tamanho da Terra e sua estrutura.

Corpo Extenso: quando o fenômeno estudado não pu-


der prescindir das dimensões do objeto, este será encarado
como um corpo extenso. Corpos que sofrem rotação e pos-
suem momento linear são exemplos de corpos extensos.

Móvel: é um ponto que em relação a um referencial,


muda de posição com o passar do tempo. Exemplo: Um
ônibus andando numa rodovia. Você está viajando nele.

11
FÍSICA

Localização: para localizarmos um móvel num deter-


minado instante, construímos um sistema de referência
cartesiana, que pode apresentar uma, duas ou três dimen-
sões. Para darmos a posição de um automóvel em traje-
tória retilínea, basta um único eixo (movimento unidimen-
sional), já que uma abcissa x, desse eixo o localizará num
certo instante.

Um ponto material está em repouso em relação a certo


referencial se a sua posição não variar no decorrer do tem-
po em relação a esse referencial.

Movimento: quando um objeto se move de um lugar


para o outro. Um corpo está em movimento quando muda Para identificarmos uma cidade no nosso planeta, pre-
de posição em relação a um referencial ao longo do tempo. cisamos de um sistema cartesiano com dois eixos, x e y,
determinando a sua latitude e longitude.
Repouso: quando o corpo ou objeto não se move do lu-
gar, ou seja, ele fica imóvel, ou seja, se, durante certo intervalo
de tempo, o corpo mantém sua posição constante em relação
a um referencial, dizemos que ele se encontra em repouso.

Trajetória: é o caminho determinado por uma suces-


são de pontos, por onde o móvel passa em relação a certo
referencial. Os rastros na neve deixados por um esquiador
mostram o caminho percorrido por ele durante a descida Agora, para identificarmos a posição de um avião em
de uma montanha. Se considerarmos o esquiador como movimento na atmosfera, num determinado instante, pre-
sendo um ponto material, podemos dizer que a curva tra- cisamos de um sistema cartesiano com três eixos, x, y e z,
çada na neve unindo suas sucessivas posições em relação a determinando sua latitude, longitude e altitude.
um dado referencial, recebe o nome de trajetória. O trilho
de um trem é um exemplo claro de trajetória. A bola chu-
tada por um jogador de futebol ao bater uma falta pode
seguir trajetórias diferentes, dependendo da maneira que
é chutada, às vezes indo reta no meio do gol, outras vezes
sendo colocadinha no ângulo através de uma curva.
Repare que a trajetória de um ponto material também
depende de um referencial. Isso quer dizer que um ponto
material pode traçar uma trajetória reta e outra curva ao
mesmo tempo? Sim. Veja o caso de uma caixa com ajuda
humanitária sendo lançada de um avião (geralmente esse
exemplo é dado com bombas). Para quem estiver no chão, Espaço: é a distância, medida ao longo da trajetória, do
olhando de longe, a trajetória da caixa será um arco de ponto onde se encontra o móvel até a origem (O), acres-
parábola. Já para quem estiver dentro do avião, a trajetória cido de um sinal de acordo com a orientação da trajetória.
será uma reta, isso porque o avião segue acompanhando a
caixa. Na verdade, você irá entender isso melhor quando já
tiver em mente o conceito de inércia, mas por hora, fique
tranquilo com o que foi demonstrado até o momento.

Função Horária do Espaço: Durante o movimento de


um ponto material, a sua posição varia com o decorrer do
tempo. A maneira como a posição varia com o tempo é a
lei do movimento ou função horária.

12
FÍSICA

s = f(t)

Na expressão acima, devemos ler: o espaço é função


do tempo. As variáveis s e t têm unidades, que devem ser
indicadas quando se representa a função. Normalmente
são utilizadas as unidades do Sistema Internacional (SI), ou
seja:
- espaço: metros (m)
- tempo: segundos (s) A figura abaixo apresenta os espaços ocupados por um
móvel numa trajetória em dois instantes diferentes.
Exemplo

s = 4,0 + 2,0t (SI)

s e t são as variáveis, isto significa que para cada valor


de t temos um valor de s. No instante t=0, o espaço s é
denominado s0 (espaço inicial). Assim:

- para t=0 → s = s0 = 4,0 + 2,0 . (0)


Pela figura anterior, temos que, no instante t1 = 3s, o
s0 = 4,0m móvel encontra-se na posição s1 = 4m, e, no instante t2 =
6s, sua posição é s2 = 9m. Podemos afirmar que, entre os
- para t=1,0s → s = s1 = 4,0 + 2,0 . (1) instantes 3s e 6s, o espaço do móvel variou de 5m, ou seja,
s1 = 6,0m de 4 para 9m. Essa variação de espaço recebe o nome de
Sentido de Tráfego: quando o móvel caminha sentido deslocamento escalar ( ). Quando o movimento for pro-
da orientação da trajetória, seus espaços (s) são crescentes gressivo, o deslocamento escalar será positivo ( ).
no decorrer do tempo. Denominamos este sentido de trá- Quando retrógrado, será negativo ( ).
fego de progressivo. Distância Percorrida (d): é a grandeza que nos in-
forma quanto o móvel efetivamente percorreu entre dois
instantes. Quando o sentido de tráfego do móvel se man-
tém, seja progressivo ou retrógrado, a distância percorrido
coincide com o módulo do deslocamento escalar ocorrido.
Na figura a seguir, considerando-se o movimento como
progressivo, a distância percorrida entre os instantes t1 e t2
foi de 5m. Ou seja: d = | | = |5m| = 5m.

Quando o móvel retrocede, caminhando contra a


orientação da trajetória, seus espaços (s) são decrescentes.
Este sentido de tráfego é classificado como retrógrado.

Caso o sentido de tráfego entre t1 e t2 fosse retrógrado,


como ilustra a figura abaixo, o deslocamento escalar seria
de -5m e a distância percorrida: d = | | = |-5m| = 5m.
Deslocamento Escalar: a grandeza física que indica,
entre dois instantes, a variação de espaço do móvel é de-
nominada deslocamento escalar ( ).

13
FÍSICA

Quando há inversão de sentido no tráfego, a distância Velocidade Escalar Instantânea


total percorrido é calculada somando-se os módulos dos É considerada um limite da velocidade escalar média,
deslocamentos parciais (em cada sentido). O trajeto ABC quando o intervalo de tempo for zero. A velocidade escalar
sobre a rampa abaixo exemplifica este caso, sendo B o pon- instantânea é totalmente derivada do espaço, em relação
to de inversão de tráfego. ao tempo. Essa “derivação” pode ser representada pela
equação:

Existem também funções polinomiais, como por exem-


plo: s = atn + bt + c, e para essas funções temos:

Vejamos alguns exemplos:


Velocidade Escalar
a) s = 8,0(km) + 3,0t(h) →
Velocidade Escalar Média

Sabendo-se o deslocamento de um móvel, de um pon-


to s0 até um ponto s, por exemplo, podemos medir o quão b) s = 3,0 - 2,0t + 1,0t2 (CGS) →
rápido foi este deslocamento, assim a “rapidez” deste des-
locamento é definida como velocidade escalar média (ou
apenas velocidade média). c) s = 3,0t3 - 2,0 (SI) →

É chamado de velocidade escalar inicial (v0), quando


a velocidade escalar instantânea no instante t é igual a 0.
Vejamos um exemplo:

- para t=0: v0 = -2,0 + 2,0 (cm/s) sua v0 = -2,0 cm/s.

, como t0 é quase sempre zero temos: A velocidade escalar instantânea possui um sinal que
define o sentido do movimento ao longo da trajetória. Ve-
jamos os exemplos:
- se V > 0 → o corpo vai no sentido positivo da trajetória
Sistema de unidades: - se V < 0 → o corpo vai na direção negativa da trajetória.

A velocidade escalar tende a zero, se caso o sentido do


No Sistema Internacional (SI), a unidade de velocidade movimento estiver em ponto de inversão.
é metro por segundo (m/s). É também muito comum o em-
prego da unidade quilômetro por hora (km/h). Pode-se de- Movimento Uniforme
monstrar que 1m/s é equivalente a 3,6 km/h. Assim temos: Quando um móvel se desloca com uma velocidade cons-
tante, diz-se que este móvel está em um movimento unifor-
me (MU). Particularmente, no caso em que ele se desloca
com uma velocidade constante em trajetória reta, tem-se
um movimento retilíneo uniforme. Uma observação impor-
tante é que, ao se deslocar com uma velocidade constante,
a velocidade instantânea deste corpo será igual à velocidade
média, pois não haverá variação na velocidade em nenhum
momento do percurso. A equação horária do espaço pode
ser demonstrada a partir da fórmula de velocidade média.

14
FÍSICA

Isolando os , teremos:

Mas sabemos que:

Então:

Por exemplo: Um tiro é disparado contra um alvo preso


a uma grande parede capaz de refletir o som. O eco do dis-
paro é ouvido 2,5 segundos depois do momento do golpe.
Considerando a velocidade do som 340m/s, qual deve ser
a distância entre o atirador e a parede?
Analisando o gráfico, é possível extrair dados que de-
= 2,5s verão ajudar na resolução dos problemas:
vm = 340m/s
S 50m 20m -10m
Aplicando a equação horária do espaço, teremos: T 0s 1s 2s

, mas o eco só será ouvi- Sabemos então que a posição inicial será a posição s0
do quando o som “ir e voltar” da parede. = 50m quando o tempo for igual a zero. Também sabemos
Então que a posição final s = -10m se dará quando t=2s. A partir
daí, fica fácil utilizar a equação horária do espaço e encon-
trar a velocidade do corpo:

-10m = 50m + v (2s – 0s)


-10m – 50m = (2s) v
-60m = (2s) v

30m/s = v

A velocidade será numericamente igual à tangente do


ângulo formado em relação à reta onde está situada, desde
É importante não confundir o “s” que simboliza o des- que a trajetória seja retilínea uniforme.
locamento do s que significa segundo.
Por convenção, definimos que, quando um corpo se
desloca em um sentido que coincide com a orientação da
trajetória, ou seja, para frente, então ele terá uma v > 0 e
um > 0 e este movimento será chamado movimento
progressivo. Analogamente, quando o sentido do movi-
mento for contrário ao sentido de orientação da trajetória,
ou seja, para trás, então ele terá uma v < 0 e um < 0, e
ao movimento será dado o nome de movimento retrógrado.

Diagrama s x t

Existem diversas maneiras de se representar o deslo-


camento em função do tempo. Uma delas é por meio de
gráficos, chamados diagramas deslocamento versus tempo
(s x t). No exemplo a seguir, temos um diagrama que mos-
tra um movimento retrógrado:

15
FÍSICA

Diagrama v x t

Em um movimento uniforme, a velocidade se mantém igual no decorrer do tempo. Portanto seu gráfico é expresso por
uma reta:

Dado este diagrama, uma forma de determinar o deslocamento do móvel é calcular a área sob a reta compreendida
no intervalo de tempo considerado.

Velocidade Relativa

É a velocidade de um móvel relativa a outro. Por exemplo: Considere dois trens andando com velocidades uniformes
e que v1 ≠ v2. A velocidade relativa será dada se considerarmos que um dos trens (trem 1) está parado e o outro (trem 2)
está se deslocando. Ou seja, seu módulo será dado por v1 - v2. Generalizando, podemos dizer que a velocidade relativa é a
velocidade de um móvel em relação a outro móvel referencial.
Consideremos duas partículas A e B movendo-se em uma mesma trajetória e com velocidades escalares vA e vB, em duas
situações distintas: movendo-se no mesmo sentido e em sentidos opostos. A velocidade escalar que uma das partículas
possui em relação à outra (tomada como referência) é chamada de velocidade relativa (vREL) e o seu módulo é calculado
como relataremos a seguir.

I. Móveis em Sentidos Opostos

vREL = |vA| + |vB|

II. Móveis no Mesmo Sentido

vREL = |vA| - |vB|

Ao estabelecermos um movimento relativo entre móveis, um deles é tomado como referência e, portanto, permanece
parado em relação a si mesmo, enquanto o outro se aproxima ou se afasta dele com certa velocidade relativa. Observe isto
no esquema abaixo.

16
FÍSICA

Movimento Relativo Uniforme

Se dois móveis, ao longo da mesma trajetória, mantiverem constantes suas velocidades escalares, logo um em relação
ao outro executará um movimento relativo uniforme, aproximando-se ou afastando-se um do outro com velocidade relati-
va de módulo constante. Desta forma, podemos estabelecer a seguinte expressão para este MU:

Os processos de encontro ou ultrapassagens de móveis são analisados normalmente através de movimento relativo.
Suponha, por exemplo, duas partículas trafegando na mesma trajetória com velocidades escalares constantes, vA e vB, e
separadas inicialmente por uma certa distância D0, como indica a figura a seguir.

Como os movimentos têm sentidos opostos, a velocidade relativa é dada em módulo por:

vREL = |vA| + |vB|

Tomando-se um dos corpos como referência, o outro irá até o encontro percorrer um deslocamento relativo de módulo
D0. O intervalo de tempo ( ) gasto até o encontro será calculado assim:

Aceleração Escalar

Ao observarmos os eventos que ocorrem no dia a dia notamos que é quase impossível que um automóvel se mantenha
com uma velocidade constante e mesmo para realizar as tarefas cotidianas sempre se muda a velocidade ou constância que
se realiza uma atividade. Exemplos:
- Um automóvel freia diante de uma colisão iminente.
- Apertamos o passo para chegar a tempo ao trabalho.
Em situações deste tipo é necessário medir quão rápido foi esta mudança de velocidade, assim representa-se esta
mudança por a.

- Um corpo sob uma trajetória orientada:

- Este corpo muda sua velocidade ao longo de um determinado tempo (t1), percorrido uma distância s.

17
FÍSICA

A aceleração escalar instantânea representa a ace-


leração do móvel num determinado instante (t) e, mais
precisamente, seu cálculo é feito através do processo de
derivação, análogo ao ocorrido com a velocidade escalar
instantânea. A aceleração escalar instantânea de um mó-
vel é obtida através da derivada da função horária de sua
velocidade escalar. Simbolicamente, isto é expresso assim:

- Sua mudança de velocidade ocorre sempre em inter-


valos de tempo iguais.

Classificação

Sabemos que o velocímetro de um veículo indica o


módulo de sua velocidade escalar instantânea. Quando as
suas indicações são crescentes, está ocorrendo um movi-
mento variado do tipo acelerado. Quando o velocímetro
indica valores decrescentes, o movimento é classificado
como retardado. De modo geral, podemos detalhar esses
casos assim:
Assim é definida a aceleração do corpo como sendo:
a) O móvel se movimenta com uma velocidade escalar
instantânea, cujo módulo aumenta em função do tempo.
O movimento é denominado acelerado.

Considerando-se que intervalos de tempo são sempre


positivos temos:
v > v0 → a > 0 → movimento acelerado.
v < v0 → a < 0 → movimento retardado.

Nota-se que para o (SI) de medidas a unidade de ace-


leração será dada por

, onde
Para que isto ocorra, a aceleração escalar instantânea
Aceleração Escalar Instantânea deve ser no mesmo sentido da velocidade escalar instantâ-
nea, ou seja, v e a possuem o mesmo sinal.
De modo análogo à velocidade escalar instantânea, b) O móvel se movimenta com velocidade escalar ins-
podemos obter a aceleração escalar instantânea, partindo tantânea cujo módulo diminui em função do tempo. O
da expressão que nos fornece a aceleração escalar média movimento é denominado retardado.
(), fazendo tender a zero. Com este procedimento, a ace-
leração escalar média tende para um valor denominado de
aceleração escalar instantânea:

Em termos práticos, vamos determinar a aceleração


instantânea da seguinte forma:

Para que isto ocorra, a aceleração escalar instantânea


deve ser no sentido oposto ao da velocidade escalar ins-
tantânea, ou seja, v e a possuem sinais opostos.

18
FÍSICA

c) O móvel se movimenta com velocidade escalar ins- Posição em função do tempo


tantânea constante em função do tempo. O movimento é A melhor forma de demonstrar esta função é através
denominado uniforme. Para que isto ocorra, a aceleração do diagrama velocidade versus tempo (v x t) no movimento
escalar instantânea deve ser nula (a = 0). uniformemente variado.

Tanto o movimento acelerado quanto o retardado po-


dem apresentar uma aceleração escalar instantânea cons-
tante. Neste caso, o movimento recebe a denominação de
uniformemente acelerado ou retardado.
Movimento Uniformemente Variado

Também conhecido como movimento acelerado, con-


siste em um movimento onde há variação de velocidade,
ou seja, o móvel sofre aceleração à medida que o tempo
passa. Mas se essa variação de velocidade for sempre igual
em intervalos de tempo iguais, então dizemos que este é
um Movimento Uniformemente Variado (também chama-
do de Movimento Uniformemente Acelerado), ou seja, que
tem aceleração constante e diferente de zero.
O conceito físico de aceleração difere um pouco do
conceito que se tem no cotidiano. Na física, acelerar sig- O deslocamento será dado pela área sob a reta da ve-
nifica basicamente mudar de velocidade, tanto a tornan- locidade, ou seja, a área do trapézio.
do maior, como também menor. Já no cotidiano, quando
pensamos em acelerar algo, estamos nos referindo a um
aumento na velocidade. O conceito formal de aceleração é:
a taxa de variação de velocidade numa unidade de tempo,
então como unidade teremos:
Onde sabemos que:

Logo:

Velocidade em Função do Tempo

No entanto, quando este intervalo de tempo for infini-


tamente pequeno, ou seja, , tem-se a aceleração instantâ-
nea do móvel.

Isolando-se o : Ou

Mas sabemos que:

Então:

Interpretando esta função, podemos dizer que seu grá-


fico será uma parábola, pois é resultado de uma função do
segundo grau.

Entretanto, se considerarmos t0=0, teremos a função Equação de Torricelli


horária da velocidade do Movimento Uniformemente Va- Até agora, conhecemos duas equações do movimento
riado, que descreve a velocidade em função do tempo uniformemente variado, que nos permitem associar veloci-
[v=f(t)]: dade ou deslocamento com o tempo gasto. Torna-se práti-
co encontrar uma função na qual seja possível conhecer a
velocidade de um móvel sem que o tempo seja conhecido.
Para isso, usaremos as duas funções horárias que já conhe-
cemos:

19
FÍSICA

(1)

(2)

Isolando-se t em (1): Movimento Circular Uniforme

Substituindo t em (2) teremos: O movimento só poderá ser considerado como circular


uniforme, se:
- quando sua trajetória for uma circunferência, ou
- quando o valor da velocidade permanecer constante.

O período do movimento, sendo representado pela le-


tra T, significa o tempo que a partícula gasta para efetuar
uma volta completa em torno de seu eixo.

Composição de Velocidade

Podemos considerar várias velocidades para os mais


variados casos de nossas vidas. Como sugere o exemplo do
autor, a velocidade de um barco que desce o rio é dada por
Reduzindo-se a um denominador comum: v = vB + vC, e a velocidade do mesmo barco subindo o rio é
v = vB – vC. Independentemente das velocidades, notamos
2a (s-s0) = 2v0v – 2v02 + v2 – 2vv0 + v02 que, as velocidades tanto do barco como da correnteza são
2as = (-2v02 + v02) +v2 perpendiculares entre si, significando que a velocidade da
2as = -v02 + v2 correnteza não tem componente na velocidade do barco,
v2 = v02 + 2as concluindo que a correnteza não vai ter nenhum tipo de in-
fluência no tempo gasto pelo barco para se atravessar o rio.
Exemplo: Uma bala que se move a uma velocidade es- Segundo o autor, podemos concluir que: quando um cor-
calar de 200m/s, ao penetrar em um bloco de madeira fixo po está animado, simultaneamente, por dois movimentos
sobre um muro, é desacelerada até parar. Qual o tempo perpendiculares entre si, o deslocamento na direção de um
que a bala levou em movimento dentro do bloco, se a dis- deles é determinado apenas pela velocidade naquela dire-
tância total percorrida em seu interior foi igual a 10cm? ção, sendo observada por Galileu, pois ambos caem simul-
taneamente, gastando o mesmo tempo até atingir o solo.
Apesar de o problema pedir o tempo que a bala levou,
para qualquer uma das funções horárias, precisamos ter a Queda Livre
aceleração, para calculá-la usa-se a Equação de Torricelli.
É quando perto da superfície da terra, ocorre a queda
v2 = v02 + 2as de corpos (pedra, por exemplo) de certas alturas, onde a
02 = v02 + 2as um crescimento de sua velocidade, caracterizando um
02 = (200)2 + 2a(0 – 0,1) movimento acelerado. Porém quando o mesmo objeto
ou corpo é lançado para cima a sua velocidade decresce
Observe que as unidades foram passadas para o SI gradualmente até se anular e consequentemente voltar
(10cm = 0,1m) ao seu local de lançamento. Segundo Aristóteles, grande
filósofo, que viveu aproximadamente 300 anos a.C., acre-
-40000 = 0,2a ditava que abandonando corpos leves e pesados de uma
mesma altura, seus tempos de queda não seriam iguais:
os corpos mais pesados alcançariam o solo antes dos mais
leves.
Segundo Galileu, considerado como introdutor do mé-
todo experimental, chegou a seguinte conclusão: “abando-
a = -200000m/s2 nados de uma mesma altura, um corpo leve e um corpo
pesado caem simultaneamente, atingindo o chão no mes-
A partir daí, é possível calcular o tempo gasto: mo instante”. Após essa afirmação Galileu passou a ser alvo
de perseguição devido a descrença do povo e também por
v = v0 + at considerá-lo como revolucionário. O ar exerce efeito retar-
dador na queda de qualquer objeto e que este efeito exer-
0 = 200 + -200000)t ce maior influência sobre o movimento da Pedra. Porém

20
FÍSICA

se retirarmos o ar, observa-se que os dois objetos caem Ainda assim Galileu foi condenado por heresia e obri-
na mesma hora e no mesmo instante, conforme a figura gado a permanecer confinado em sua casa, impedido de se
representa, confirmando também as afirmações feitas por afastar daquele local, até o fim de sua vida. Galileu mesmo
Galileu. Através desse fato concluímos também que as ex- doente ainda teve forças para lançar seu último livro, cha-
periências de Galileu, só têm coerência se forem feitas para mado de “Duas Novas Ciências”, com dados de Mecânica
os corpos em queda livre no vácuo, e que o ar é desprezível e morreu completamente cego em 8 de Janeiro de 1642,
para materiais mais pesados como algodão, pena ou uma deixando descobertas de fundamental importância para a
folha de papel. humanidade. Os trechos acima foram elaborados pelo pró-
Denomina-se então queda livre, para os corpos que prio autor.
não tem influência do ar, isto é, materiais pesados e lan-
çados no vácuo. Aceleração da Gravidade – Podemos con- Cinemática Vetorial: conceitos e propriedades ve-
siderar a aceleração da gravidade como sendo o mesmo toriais composições de movimentos, movimentos circu-
valor para todos os corpos que caem em queda livre, sen- lares uniforme e uniformemente variado, lançamento
horizontal e oblíquo.
do representada pela letra g, sendo também considerada
como um movimento uniformemente acelerado, devido a
Cinemática Vetorial
sua aceleração constante. Para se determinar o valor de g
seguiram-se vários estudos chegando a conclusão de que
Na Cinemática Escalar, estudamos a descrição de um
o seu valor é de 9,8 m/s², sendo que se o objeto for lançado movimento em trajetória conhecida, utilizando as grande-
para baixo a aceleração da gravidade é considerada positi- zas escalares. Agora, veremos como obter e correlacionar
va (+ 9,8 m/s²), e quando o objeto for lançado para cima a as grandezas vetoriais descritivas de um movimento, mes-
aceleração da gravidade é negativa (- 9,8 m/s²). mo que não sejam conhecidas previamente as trajetórias.
Breve biografia sobre Galileu Galilei: Nascido em Pisa Grandezas Escalares – Ficam perfeitamente definidas
em 1564, o físico e astrônomo, depois de uma infância po- por seus valores numéricos acompanhados das respectivas
bre, aos 17 anos foi encaminhado para o estudo da Medi- unidades de medida. Exemplos: massa, temperatura, volu-
cina, devido a mesma apresentar fins lucrativos muito alto me, densidade, comprimento, etc.
para a época. Porém não interessando a Galileu, dedicou- Grandezas vetoriais – Exigem, além do valor numérico
-se a outros tipos de problemas, o qual com o passar do e da unidade de medida, uma direção e um sentido para
tempo, mostrou-se capaz de resolvê-los com muito êxito. que fiquem completamente determinadas. Exemplos: des-
Com relação a Medicina, Galileu foi um grande contribui- locamento, velocidade, aceleração, força, etc.
dor, pois inventou um aparelho capaz de medir a pulsação
de pacientes, sendo essa a última contribuição de Galileu Vetores
para a Medicina, pois o estudo do pêndulo e de outros dis-
positivos mecânicos alteraram completamente sua orien- Para representar as grandezas vetoriais, são utilizados
tação profissional. Após essas ocorrências Galileu resolveu os vetores: entes matemáticos abstratos caracterizados
estudar a Matemática e Ciências. por um módulo, por uma direção e por um sentido.
Além da Mecânica, Galileu também ajudou muito a As- Representação de um vetor – Graficamente, um vetor é
tronomia. Construiu o primeiro telescópio para o uso em representado por um segmento orientado de reta:
observações astronômicas. Entre algumas de suas desco-
bertas o autor coloca algumas de suma importância para a
humanidade conforme segue:
- percebeu que a superfície da Lua é rugosa e irregular
e não lisa e perfeitamente esférica como se acreditava;
- descobriu três satélites girando ao redor de Júpiter,
contrariando a idéia aristotélica de que todos os astros de-
viam girar em torno da terra.
- verificou que o planeta Vênus apresenta fases (como Elementos de um vetor:
as da Lua) e esta observação levou-o a concluir que Vênus Direção – Dada pela reta suporte (r) do vetor.
gira em torno do Sol, como afirmava o astrônomo Copêr- Módulo – Dado pelo comprimento do vetor.
nico em sua teoria heliocêntrica. Sentido – Dado pela orientação do segmento.
- lançou o Livro “Diálogos Sobre os Dois Grandes Siste-
mas do Mundo”, no qual afirmava que a terra, assim como Resultante de vetores (vetor-soma) – Considere um
os demais planetas, girava em torno do Sol, em 1632. A automóvel deslocando-se de A para B e, em seguida, para
sua obra foi condenada pela Igreja, onde Galileu foi taxado C. O efeito desses dois deslocamentos combinados é levar
como herético, preso e submetido a julgamento pela Inqui- o carro de A para C. Dizemos, então, que o vetor é a soma
sição em 1663. Galileu para evitar a morte acabou obrigado ou resultante dos vetores e .
a renegar suas idéias através de “confissão”, lida em voz alta
perante o Santo Conselho da Igreja.

21
FÍSICA

Direção de at: A direção da aceleração tangencial é


paralela à velocidade vetorial, isto é, tangente à trajetória.

Sentido de at: o sentido irá depender do movimento,


vejamos:
Se o movimento for acelerado, consequentemente o
módulo da sua velocidade irá aumentar e sua aceleração
Regra do Polígono – Para determinar a resultante tangencial irá ter o mesmo sentido da velocidade vetorial.
dos vetores e , traçamos, como na figura acima, Vejamos:
os vetores de modo que a origem de um coincida com a
extremidade do outro. O vetor que une a origem de com
a extremidade de é o resultante .

Regra do Paralelogramo – Os vetores são dispostos


de modo que suas origens coincidam. Traçando-se um
paralelogramo, que tenha e como lados, a resultante
será dada pela diagonal que parte da origem comum dos
dois vetores.

Se o movimento for retardado, consequentemente


o módulo da velocidade irá diminuir e sua aceleração
tangencial irá ter o sentido oposto ao da velocidade
vetorial. Vejamos:

Componentes ortogonais de um vetor – A


componente de um vetor, segundo uma dada direção, é
a projeção ortogonal (perpendicular) do vetor naquela
direção. Decompondo-se um vetor , encontramos suas
componentes retangulares, x e y, que conjuntamente
podem substituí-lo, ou seja, = x + y.

Componentes da aceleração vetorial

Estudo da aceleração tangencial


Aceleração tangencial (a t) – é o componente da
aceleração vetorial na direção do vetor velocidade e indica
a variação do módulo deste. Possui módulo igual ao da
aceleração escalar: Notação de at: é quando a grandeza vetorial é
representada matematicamente. Vejamos:

Módulo de at: O módulo da aceleração tangencial é


totalmente igual ao valor absoluto da aceleração.
→ Efeito at

Podemos dizer que a aceleração escalar y, tem uma


relação direta com a variação da velocidade escalar V, do
módulo da velocidade vetorial V.

22
FÍSICA

Propriedades: Notas:
- Quando falamos de movimento uniforme, podemos - Quando falamos de movimentos retilíneos, podemos
dizer que a velocidade vetorial apresenta um módulo dizer que a velocidade vetorial apresenta uma direção
constante, e por isso sua aceleração tangencial é sempre constante, e com isso, sua aceleração centrípeta se torna
nula, independente da sua trajetória. constantemente nula.
- Quando falamos de movimento não uniforme, - Sempre que o móvel estiver em repouso, sua
podemos dizer que a velocidade vetorial apresenta um aceleração centrípeta, será nula.
módulo variável, e por isso sua aceleração tangencial não Vetor deslocamento ou deslocamento vetorial entre
será sempre nula. dois instantes
- Sempre que um corpo ou um objeto estiver em
repouso, sua aceleração tangencial será nula. O deslocamento vetorial pode ser representado por d,
- No instante em que y = 0, a aceleração tangencial esse deslocamento é definido entre dois instantes t1 e t2,
será nula, independente de o móvel estar em repouso ou sendo o vetor P1 e P2, o vetor de origem P1 e extremidade
em movimento. P2. Vejamos:

Estudo da aceleração centrípeta


Aceleração centrípeta ou normal (c) – é o componente
da aceleração vetorial na direção do raio de curvatura (R)
e indica a variação da direção do vetor velocidade ( ). Tem
sentido apontando para o centro da trajetória (por isso,
centrípeta) e módulo dado por:

Sendo que, V é a velocidade escalar e R é o raio de


curvatura da trajetória. Com isso, o deslocamento vetorial é definido como a
Importante: nos movimentos retilíneos, c é nula porque diferença entre os vetores posição.
o móvel não muda de direção nesses movimentos.
Direção de acp: A direção da aceleração centrípeta é Relação entre os módulos do e da variação de
considerada normal em relação à tangente à trajetória, ou espaço (deslocamento escalar)
seja, ela é igual a velocidade vetorial. Vejamos:
Pensando em uma trajetória arbitrária L, não retilínea e
entre as posições P1 e P2, teremos:

Sentido de acp: O sentido da aceleração centrípeta


sempre será voltado para o centro da circunferência,
osculadora à trajetória, ou seja, direcionado para uma
região convexa limitada pela curva.
Notação de acp: A função que podemos usar para
representarmos a notação da aceleração centrípeta é: Notas:
- Todo deslocamento escalar é dependente da forma
da trajetória;
- Todo deslocamento vetorial é independente da forma
da trajetória;
- Toda variação de espaço ou deslocamento escalar,
é medido no percurso da trajetória, e com isso, ele irá
depender da forma da trajetória;
Efeito de acp: Quando falamos de trajetória retilínea, - Como o deslocamento vetorial não depende da forma
podemos considerar R ⇒ ∞ e acp= 0. Já quando falamos da trajetória, ele irá servir somente para a posição inicial de
que a trajetória é curva, podemos dizer que a velocidade P1 e para a posição final de P2.
vetorial varia em direção e sua aceleração centrípeta nem
sempre difere de zero.

23
FÍSICA

Velocidade vetorial média (Vm) Propriedades e Equações

A velocidade vetorial média é considerada a razão entre


o deslocamento vetorial d e o tempo gasto no intervalo de
tempo delta t deste deslocamento.

Quando falamos em módulo de Vm, temos:


Movimento da Circunferência

Uma vez que é preciso analisarmos propriedades


angulares mais do que as lineares, no movimento
circular são introduzidas propriedades angulares como o
deslocamento angular, a velocidade angular e a aceleração
angular e centrípeta. No caso do MCU existe ainda o
período, que é propriedade também utilizada no estudo dos
movimentos periódicos. O deslocamento angular (indicado
por ) se define de modo similar ao deslocamento linear.
Porém, ao invés de considerarmos um vetor deslocamento,
consideramos um ângulo de deslocamento. Há um ângulo
de referência, adotado de acordo como problema. O
Orientação de Vm deslocamento angular não precisa se limitar a uma medida
de circunferência
( ); para quantificar as outras propriedades do
movimento circular, será preciso muitas vezes um dado sobre
o deslocamento completo do móvel, independentemente
de quantas vezes ele deu voltas em uma circunferência.
Se for expresso em radianos, temos a relação
, onde R é o raio da circunferência e s é o deslocamento
linear.
Pegue-se a velocidade angular (indicada por ), por
exemplo, que é a derivada do deslocamento angular pelo
intervalo de tempo que dura esse deslocamento:

A unidade é o radiano por segundo. Novamente há


Movimentos Circulares uma relação entre propriedades lineares e angulares:
, onde é a velocidade linear.
Na Mecânica clássica, movimento circular é aquele em
Por fim a aceleração angular (indicada por ), somente
que o objeto ou ponto material se desloca numa trajetória
no MCUV, é definida como a derivada da velocidade
circular. Uma força centrípeta muda de direção o vetor
angular pelo intervalo tempo em que a velocidade varia:
velocidade, sendo continuamente aplicada para o centro do
círculo. Esta força é responsável pela chamada aceleração
centrípeta, orientada para o centro da circunferência-
trajetória. Pode haver ainda uma aceleração tangencial,
que obviamente deve ser compensada por um incremento
na intensidade da aceleração centrípeta a fim de que não
deixe de ser circular a trajetória. O movimento circular A unidade é o radiano por segundo, ou radiano por
classifica-se, de acordo com a ausência ou a presença de segundo ao quadrado. A aceleração angular guarda
aceleração tangencial, em movimento circular uniforme relação somente com a aceleração tangencial e não com a
(MCU) e movimento circular uniformemente variado aceleração centrípeta: , onde é a aceleração
(MCUV). tangencial.

24
FÍSICA

Como fica evidente pelas conversões, esses valores O movimento circular ocorre quando em diversas
angulares não são mais do que maneiras de se expressar as situações que podem ser tomadas como exemplo:
propriedades lineares de forma conveniente ao movimento - Uma pedra fixada a um barbante e colocada a girar por
circular. Uma vez quer a direção dos vectores deslocamento, uma pessoa descreverá um movimento circular uniforme.
velocidade e aceleração modifica-se a cada instante, é mais - Discos de vinil rodam nas vitrolas a uma frequência
fácil trabalhar com ângulos. Tal não é o caso da aceleração de 33 ou 45 rotações por minuto, em MCU.
centrípeta, que não encontra nenhum correspondente no - Engrenagens de um relógio de ponteiros devem
movimento linear. rodar em MCU com grande precisão, a fim de que não se
Surge a necessidade de uma força que produza essa atrase ou adiante o horário mostrado.
aceleração centrípeta, força que é chamada analogamente - Uma ventoinha em movimento.
de força centrípeta, dirigida também ao centro da trajetória. - Satélites artificiais descrevem uma trajetória
A força centrípeta é aquela que mantém o objeto em aproximadamente circular em volta do nosso planeta.
movimento circular, provocando a constante mudança da - A translação aproximada, para cálculos muito pouco
direção do vector velocidade. precisos, da Lua em torno do planeta Terra (a excentricidade
A aceleração centrípeta é proporcional ao quadrado da orbital da Lua é de 0,0549).
velocidade angular e ao raio da trajetória: - O movimento de corpos quando da rotação da Terra,
como por exemplo, um ponto no equador, movendo-se ao
f redor do eixo da Terra aproximadamente a cada 24 horas.
A função horária de posição para movimentos Lançamento Horizontal e Oblíquo
circulares, e usando propriedades angulares, assume a
forma: , onde é o deslocamento angular no Movimento Vertical no Vácuo
início do movimento. É possível obter a velocidade angular Podemos destacar dois tipos de movimentos verticais
a qualquer instante , no MCUV, a partir da fórmula: no vácuo: a queda livre e o lançamento na vertical. A queda
livre é o abandono de um corpo, a partir do repouso, no
vácuo desconsiderando-se a ação da resistência do ar; o
lançamento na vertical diz respeito ao lançamento de um
corpo para cima ou para baixo, o qual, diferente da queda
Para o MCU define-se período T como o intervalo de livre, apresentará velocidade inicial.
tempo gasto para que o móvel complete um deslocamento Os corpos envolvidos nos movimentos verticais estão
angular em volta de uma circunferência completa ( sujeitos à aceleração da gravidade (g), suposta constante,
). Também define-se frequência (indicada por f) como cujo valor é: g = 9,80665 m/s2. Costuma-se adotar, para
o número de vezes que essa volta é completada em a realização de cálculos matemáticos, g = 10 m/s2. Como
determinado intervalo de tempo (geralmente 1 segundo, o valor da aceleração é considerado constante, a queda
o que leva a definir a unidade de frequência como ciclos livre e o lançamento vertical são considerados movimentos
por segundo ou hertz). Assim, o período é o inverso da retilíneos uniformemente variados (MRUV).
frequência:
Por exemplo, um objeto que tenha velocidade Análise Matemática do Movimento Vertical
angular de 3,14 radianos por segundo tem período Estudando as características do movimento vertical, po-
aproximadamente igual a 2 segundos, e frequência igual demos dizer que na queda livre o módulo da velocidade es-
a 0,5 hertz. calar aumenta no decorrer do movimento. Concluímos as-
sim que o movimento, nesse caso, é acelerado. Entretanto,
Transmissão do movimento circular no lançamento para cima, o módulo da velocidade escalar
diminui, de modo que o classificamos como retardado.
Muitos mecanismos utilizam a transmissão de um
cilindro ou anel em movimento circular uniforme para
outro cilindro ou anel. É o caso típico de engrenagens e
correias acopladas as polias. Nessa transmissão é mantida
sempre a velocidade linear, mas nem sempre a velocidade
angular. A velocidade do elemento movido em relação ao
motor cresce em proporção inversa a seu tamanho. Se os
dois elementos tiverem o mesmo diâmetro, a velocidade
angular será igual; no entanto, se o elemento movido for
menor que o motor, vai ter velocidade angular maior. Como
a velocidade linear é mantida, e , então:

25
FÍSICA

Uma importante propriedade do lançamento vertical


para cima é o fato de a velocidade do móvel ir decrescendo
com o passar do tempo, tornando-se nula quando ele che-
ga ao ponto mais alto da trajetória (altura máxima). Nes-
se instante, o móvel muda de sentido, passando a cair em
movimento acelerado. Outras considerações que merecem
atenção são os sinais da velocidade escalar e da aceleração
escalar. Se a orientação da trajetória é para cima, a acele-
ração escalar é negativa durante todo o movimento (g <
0). Portanto, o que determina se o corpo sobe ou desce é
o sinal da velocidade escalar, que na subida é positivo (v > A trajetória é parabólica, como você pode notar na
0) e na descida negativo (v < 0). Por outro lado, se a orien- figura acima. Como a análise deste movimento não é fácil,
tação da trajetória é para baixo, a aceleração é positiva, e o é conveniente aplicarmos o princípio da simultaneidade
valor da velocidade é negativo na subida (v < 0) e positivo de Galileu. Veremos que ao projetamos o corpo
na descida (v > 0). simultaneamente no eixo x e y teremos dois movimentos:
Observação: As definições sobre o movimento vertical - Em relação a vertical, a projeção da bola executa um
são feitas desconsiderando a resistência do ar. movimento de aceleração constante e de módulo igual a g.
Funções Horárias do Movimento Vertical Trata-se de um M.U.V. (lançamento vertical).
- Em relação a horizontal, a projeção da bola executa
Como os movimentos verticais são uniformemente um M. U.
variados, as funções horárias que os descrevem são iguais
às do MUV. Vejamos no esquema abaixo: Lançamento Horizontal

O lançamento balístico é um exemplo típico de


composição de dois movimentos. Galileu notou esta
particularidade do movimento balístico. Esta verificação
se traduz no princípio da simultaneidade: “Se um
corpo apresenta um movimento composto, cada um dos
movimentos componentes se realiza como se os demais não
existissem e no mesmo intervalo de tempo”.

Composição de Movimentos

O princípio da simultaneidade poderá ser verificado no


Observação I: Nas fórmulas acima, v representa a Lançamento Horizontal.
velocidade final, vo, a velocidade inicial. O mesmo se aplica
a S (espaço final) e So (espaço inicial).
Observação II: Vale ressaltar que “a” = “g”, uma vez que
se trata da aceleração da gravidade. O sinal de g, como
foi dito acima, independe de o corpo subir ou descer,
estabelecendo relação com a orientação da trajetória.
Orientação para cima: g é negativo; orientação para baixo:
g é positivo.

Lançamento Oblíquo
O lançamento oblíquo é um exemplo típico de
composição de dois movimentos. Galileu notou esta
particularidade do movimento balístico. Esta verificação Um observador no solo, (o que corresponde a nossa
se traduz no princípio da simultaneidade: “Se um posição diante da tela) ao notar a queda do corpo do
corpo apresenta um movimento composto, cada um dos helicóptero, verá a trajetória indicada na figura. A trajetória
movimentos componentes se realiza como se os demais não traçada pelo corpo, corresponde a um arco de parábola,
existissem e no mesmo intervalo de tempo”. que poderá ser decomposta em dois movimentos:

Composição de Movimentos.

O lançamento oblíquo estuda o movimento de corpos,


lançados com velocidade inicial V0 da superfície da Terra.
Na figura a seguir vemos um exemplo típico de lançamento
obliquo realizado por um jogador de golfe.

26
FÍSICA

O vetor soma em forças concorrentes é representado


em intensidade, direção e sentido pela diagonal do
paralelogramo traçado sobre as componentes. A
intensidade é graficamente representada pelo tamanho da
diagonal em uma escala. Vemos na escala dada que: 1N =
1cm

Como:
F1= 2,0N, sua representaçãoé um seguimento de 2,0cm
F2 = 2,0N, sua representação é um seguimento de
2,0cm

Portanto a resultante ou o vetor soma tem intensidade


de 2,8N, pois seu tamanho é de 2,8cm
- A projeção horizontal (x) do móvel descreve um
Movimento Uniforme. Quando as forças concorrentes formam um angulo
O vetor velocidade no eixo x se mantém constante, de 90°, a intensidade do vetor soma pode ser encontrada
sem alterar a direção, sentido e o módulo. aplicando-se o Teorema de Pitagoras, ou seja, pela formula:
- A projeção vertical (y) do móvel descreve um
movimento uniformemente variado. R2 = F12 + F22

O vetor velocidade no eixo y mantém a direção e o R=


sentido porém o módulo aumenta a medida que se
aproxima do solo.
O termo dinâmica significa “forte”. Em física, a dinâmi-
ca é um ramo da mecânica que estuda o movimento de um
corpo e as causas desse movimento. Em experiências diá-
rias podemos observar o movimento de um corpo a partir
da interação deste com um (ou mais) corpo(s). Como por
exemplo, quando um jogador de tênis dá uma raquetada
numa bola, a raquete interage com ela e modifica o seu
movimento. Quando soltamos algum objeto a uma certa R2 = 32 + 42
altura do solo e ele cai, é resultado da interação da terra R=
com este objeto. Esta interação é convenientemente des- R=
crita por um conceito chamado força. Os Princípios de di- R = 5N
nâmica foram formulados por Galileu e Newton, porém foi
Newton que os enunciou da forma que conhecemos hoje. Sistemas de Forças Concorrentes num Ponto

Forças Concorrentes Se as linhas de ação das todas as forças concorrem no


mesmo ponto O, o sistema é equivalente a uma única força
Forças concorrentes são aquelas as componentes resultante R que passa por O e coincide com o eixo central.
formam um angulo no ponto de aplicação.

27
FÍSICA

Segundo Galileu, devido às afirmações de Aristóteles,


decidiu analisar certas experiências e descobriu que uma
esfera quando empurrada, se movimentava, e mesmo ces-
sando a força principal, a mesma continuava a se movi-
mentar por um certo tempo, gerando assim uma nova con-
clusão sobre as afirmações de Aristóteles. Assim Galileu,
verificou que um corpo podia estar em movimento sem
a ação de uma força que o empurrasse, conforme figura
Se o vetor , o sistemas está em equilíbrio. demonstrando tal experiência. Galileu repetiu a mesma ex-
Para calcular o momento do sistema em qualquer ponto Q periência em uma superfície mais lisa, e chegou a conclu-
diferente de O aplica-se o teorema de Varignon. são que o corpo percorria uma distância maior após ces-
sar a ação da força, concluindo que o corpo parava, após
cessado o empurrão, em virtude da ação do atrito entre
a superfície e o corpo, cujo efeito sempre seria retardar o
seu movimento. Segundo a conclusão do próprio Galileu
Equivalência a zero: . podemos considerar que: se um corpo estiver em repouso,
é necessária a ação de uma força sobre ele para colocá-lo
Leis de Newton em movimento. Uma vez iniciado o movimento, cessando
a ação das forças que atuam sobre o corpo, ele continuará
Em primeiro lugar, para que se possa entender as fa- a se mover indefinidamente, em linha reta, com velocidade
mosas leis de Newton, é necessário ter o conhecimento constante.
do conceito de força. Assim existem alguns exemplos que Todo corpo que permanece em sue estado de repouso
podem definir tal conceito, como a força exercida por uma ou de movimento, é considerado segundo Galileu como
locomotiva para arrastar os vagões, a força exercida pelos um corpo em estado de Inércia. Isto significa que se um
corpo está em inércia, ele ficará parado até que sob ele
jatos d’água para que se acione as turbinas ou a força de
seja exercida uma ação para que ele possa sair de tal esta-
atração da terra sobre os corpos situados próximo à sua su-
do, onde se a força não for exercida o corpo permanece-
perfície. Porém é necessário também definir o seu módulo,
rá parado. Já um corpo em movimento em linha reta, em
sua direção e o seu sentido, para que a força possa ser bem inércia, também deverá ser exercido sob ele uma força para
entendida, sendo que o conceito que melhor a defini é uma movimentá-lo para os lados, diminuindo ou aumentando
grandeza vetorial e poderá, portanto ser representada por a sua velocidade. Vários são os estados onde tal conceito
um vetor. Então podemos concluir que: peso de um corpo de Galileu pode ser apontado, como um carro considerado
é a força com que a terra atrai este corpo. corpo pode se movimentar em linha reta ou como uma
Podemos definir as forças de atração, como aquela em pessoa dormindo estando em repouso (por inércia), tende
que se tem a necessidade de contato entre os corpos (ação a continuar em repouso.
à distância). Para que se possa medir a quantidade de força
usada em nossos dias, os pesquisadores estabeleceram a Primeira Lei de Newton
medida de 1 quilograma força = 1 kgf, sendo este o peso
de um quilograma-padrão, ao nível do mar e a 45º de la- A primeira lei de Newton pode ser considerada como
titude. Um dinamômetro, aparelho com o qual se conse- sendo uma síntese das idéias de Galileu, pois Newton se
gue saber a força usada em determinados casos, se monta baseou em estudos de grandes físicos da Mecânica, rela-
colocando pesos de 1 kgf, 2 kgf, na extremidade de uma tivas principalmente a Inércia; por este fato pode-se con-
mola, onde as balanças usadas em muitas farmácias con- siderar também a primeira lei de Newton como sendo a
tém tal método, onde podemos afirmar que uma pessoa lei da Inércia. Conforme Newton, a primeira Lei diz que:
com aproximadamente 100 Kg, pesa na realidade 100 kgf. Na ausência de forças, um corpo em repouso continua em
Outra unidade para se saber a força usada, também repouso e um corpo em movimento move-se em linha reta,
muito utilizada, é o newton, onde 1 newton = 1 N e eqüi- com velocidade constante. Para que ocorra um equilíbrio
vale a 1kgf = 9,8 N. Portanto, conforme a tabela, a força de uma partícula é necessário que duas forças ajam em
de 1 N eqüivale, aproximadamente, ao peso de um pacote um corpo, sendo que as mesmas podem ser substituídas
de 100 gramas (0,1 kgf). Segundo Aristóteles, ele afirmava por uma resultante r das duas forças exercidas, determina-
que “um corpo só poderia permanecer em movimento se da em módulo, direção e sentido, pela regra principal do
existisse uma força atuando sobre ele. Então, se um corpo paralelogramo.
Podemos concluir que: quando a resultante das forças
estivesse em repouso e nenhuma força atuasse sobre ele,
que atuam em um corpo for nula, se ele estiver em repou-
este corpo permaneceria em repouso. Quando uma força
so continuará em repouso e, se ele estiver em movimento,
agisse sobre o corpo, ele se poria em movimento mas, ces-
estará se deslocando com movimento retilíneo uniforme.
sando a ação da força, o corpo voltaria ao repouso” confor- Para que uma partícula consiga o seu real equilíbrio é ne-
me figura abaixo. A primeira vista tais idéias podem estas cessário que:
certas, porém com o passar do tempo descobriu-se que - a partícula esteja em repouso
não eram bem assim. - a partícula esteja em movimento retilíneo uniforme.

28
FÍSICA

Segunda Lei de Newton Podemos definir que: 1 N = 1 g m/s², ou seja, 1 N é a


força que, atuando na massa de 1 Kg, imprime a esta mas-
Para que um corpo esteja em repouso ou em movi- sa a aceleração de 1 m/s². Para a Segunda Lei de Newton,
mento retilíneo uniforme, é necessário que o mesmo en- deve-se usar as seguintes unidades:
contre-se com a resultante das forças que atuam sobre o R (em N)
corpo, nula, conforme vimos anteriormente. Um corpo, sob m (em kg)
a ação de uma força única, adquire uma aceleração, isto é, a(em m/s²)
se F diferente de 0 temos a (vetor) diferente de 0. Podemos
perceber que: Terceira Lei de Newton
- duplicando F, o valor de a também duplica.
- triplicando F, o valor de a também triplica. Segundo Newton, para que um corpo sofra ação é
necessário que a ação provocada para tal movimentação,
Podemos concluir que: também seja provocada por algum outro tipo de força. Tal
- a força F que atua em um corpo é diretamente pro- definição ocorreu segundo estudos no campo da Dinâmi-
porcional à aceleração a que ela produz no corpo, isto é, ca. Além disso, Newton, percebeu também que na intera-
F α a. ção de dois corpos, as forças sempre se apresentam aos
- a massa de um corpo é o quociente entre a força que pares: para cada ação de um corpo sobre outro existirá
atua no corpo e a aceleração que ela produz nele, sendo: sempre uma ação contraria e igual deste outro sobre o pri-
meiro. Podemos concluir que: Quando um corpo A exerce
M=F uma força sobre um corpo B, o corpo B reage sobre A com
A uma força de mesmo módulo, mesma direção e de sentido
contrário.
Quanto maior for a massa de um corpo, maior será a As forças de ação e reação são enunciadas conforme a
sua inércia, isto é, a massa de um corpo é uma medida de terceira lei de Newton, sendo que a ação está aplicada em
inércia deste corpo. A resultante do vetor a terá sempre a um corpo, e a reação está aplicada no corpo que provocou
mesma direção e o mesmo sentido do vetor F , quando a ação, isto é, elas estão aplicadas em corpos diferentes.
se aplica uma força sobre um corpo, alterando a sua ace- As forças de ação e reação não podem se equilibrar se-
leração. De acordo com Newton, a sua Segunda Lei diz o gundo Newton, porque para isso, seria necessário que elas
seguinte: A aceleração que um corpo adquire é diretamen- estivessem aplicadas em um mesmo corpo, o que nunca
te proporcional à resultante das forças que atuam nele e acontece. Podemos considerar o atrito, como sendo a ten-
tem a mesma direção e o mesmo sentido desta resultante, dência de um corpo não se movimentar em contato com
sendo uma das leis básicas da Mecânica, utilizada muito a superfície. O corpo em repouso indica que vai continuar
na análise dos movimentos que observamos próximos à em repouso, pois as forças resultantes sobre o corpo é
superfície da Terra e também no estudo dos movimentos nula. Porém deve existir uma força que atuando no corpo
dos corpos celestes. faz com que ele permaneça em repouso, sendo que este
Para a Segunda Lei de Newton, não se costuma usar a equilíbrio (corpo em repouso e superfície) é consequência
medida de força de 1 kgf (quilograma-força); sendo utiliza- direta do atrito, denominada de força de atrito. Podemos
do o Sistema Internacional de Unidades (S.I.), o qual é utili- então perceber que existe uma diferença muito grande en-
zado pelo mundo todo, sendo aceito e aprovado conforme tre atrito e força de atrito.
decreto lei já visto anteriormente. As unidades podem ser Podemos definir o atrito como: a força de atrito está-
sugeridas, desde que tenham-se como padrões as seguin- tico f, que atua sobre um corpo é variável, estando sempre
tes medidas escolhidas pelo S.I.: a equilibrar as forças que tendem a colocar o corpo em
A unidade de comprimento: 1 metro (1 m) movimento. A força de atrito estático cresce até um va-
A unidade de massa: 1 quilograma (1 Kg) lor máximo. Este valor é dado em micras, onde a micras é
A unidade de tempo: 1 segundo (s) o coeficiente de atrito estático entre as superfícies. Toda
força que atua sobre um corpo em movimento é denomi-
O Sistema MKS, é assim conhecido por ser o Sistema nada de força de atrito cinético. Pequena biografia de Isaac
Internacional da Mecânica, de uso exclusivo dessa área de Newton: Após a morte de Galileu, em 1642, nascia uma na
atuação, pelos profissionais. Para as unidades derivadas, pequena cidade da Inglaterra, Issac Newton, grande físico
são obtidas a partir de unidades fundamentais, conforme e matemático que formulou as leis básicas da Mecânica.
descreve o autor: Foi criado por sua avó sendo abandonado quando ainda
De área (produto de dois comprimentos) = 1 m X 1 m criança, pela mãe, marcando a vida de Newton pelo seu
X 1 m² temperamento tímido, introspectivo, intolerante que o ca-
De volume (produto de três comprimentos) = 1 m X 1 racterizou quando adulto. Com a morte de seu padrasto,
m X 1 m = 1 m³ é solicitado a assumir a fazenda da família, demonstrando
De velocidade (relação entre comprimento e tempo) = pouco interesse, tornando-se num verdadeiro fracasso.
1m/1s = 1 m/s Aos 18 anos, em 1661, Newton é enviado ao Trinity Col-
De aceleração (entre velocidade e tempo) = 1 m/s/1s lege da Universidade de Cambridge (próximo a Londres),
= 1 m/s² para prosseguir seus estudos. Dedicou-se primeiramente

29
FÍSICA

ao estudo da Matemática e em 1664, escrevia seu primei- Várias experiências como essa levam-nos às seguintes
ro trabalho (não publicado) com apenas 21 anos de idade, propriedades da força de atrito (direção, sentido e módu-
sob a forma de anotações, denominado “Algumas Questões lo):
Filosóficas”. Em 1665, com o avanço da peste negra (peste
bubônica), newtom retornou a sua cidade natal, refugiando- Direção: As forças de atrito resultantes do contato en-
-se na tranqüila fazenda de sua família, onde permaneceu tre os dois corpos sólidos são forças tangenciais à super-
por 18 meses, até que os males da peste fossem afastados, fície de contato. No exemplo acima, a direção da força de
permitindo o seu retorno a Cambridge. Alguns trabalhos exe- atrito é dada pela direção horizontal. Por exemplo, ela não
cutados por Newton durante seu refúgio: aparecerá se você levantar a caixa.
- Desenvolvimento em série da potência de um binômio Sentido: A força de atrito tende sempre a se opor ao
ensinado atualmente nas escolas com o nome de “binômio movimento relativo das superfícies em contato. Assim, o
de Newton”. sentido da força de atrito é sempre o sentido contrário ao
- Criação e desenvolvimento das bases do Cálculo Dife- movimento relativo das superfícies
rencial e do Cálculo Integral, uma poderosa ferramenta para
o estudo dos fenômenos físicos, que ele próprio utilizou pela
primeira vez.
- Estudo de alguns fenômenos óticos, que culminaram
com a elaboração de uma teoria sobre as cores dos corpos.
- Concepção da 1º e da 2º leis do movimento (1º e 2º leis
de Newton), lançando, assim, as bases da Mecânica.
- Desenvolvimento das primeiras idéias relativas à Gravi-
Módulo: Sobre o módulo da força de atrito cabem aqui
dade Universal.
alguns esclarecimentos: enquanto a força que empurra a
Em 1667, retornando a Cambridge, dedicou-se a desen- caixa for pequena, o valor do módulo da força de atrito
volver as ideias que havia concebido durante o tempo que é igual à força que empurra a caixa. Ela anula o efeito da
permaneceu afastado da Universidade. Aos 50 anos de ida- força aplicada.  Uma vez iniciado o movimento, o módulo
de Newton, abandonava a carreira universitária em busca de da força de atrito é proporcional à força (de reação) do
uma profissão mais rendosa. Em 1699 foi nomeado diretor plano-N.
da Casa da Moeda de Londres, recebendo vencimentos bas-
tante elevados, que tornaram um homem rico. Neste cargo, Escrevemos:
desempenhou brilhante missão, conseguindo reestruturar as
finanças inglesas, então bastante abaladas. Foi membro do O coeficiente é conhecido como coeficiente de
Parlamento inglês, em 1705, aos 62 anos de idade, sagrando- atrito. Como a força de atrito será tanto maior quanto
-se cavaleiro pela rainha da Inglaterra, o que lhe dava con- maior for , vê-se que ele expressa propriedades das su-
dição de nobreza e lhe conferia o título de “Sir”, passando a perfícies em contato (da sua rugosidade, por exemplo). Em
ser tratado como Sir Issac Newton. Até 1703 até a sua morte geral, devemos considerar dois coeficientes de atrito: um
em 1727, Newton permaneceu na presidência da Real Aca- chamado cinemático e outro, estático, . Em geral,
demia de Ciências de Londres. Com a modéstia própria de , refletindo o fato de que a força de atrito é ligei-
muitos sábios, Newton afirmava que ele conseguiu enxergar ramente maior quando o corpo está a ponto de se deslo-
mais longe do que os outros colegas porque se apoiou em car (atrito estático) do que quando ela está em movimento
“ombros de gigantes”. (atrito cinemático).
O fato de a força de atrito ser proporcional à força de
Aplicações Envolvendo Forças de Atrito reação normal representa a observação de que é mais fácil
Podemos perceber a existência da força de atrito e enten- empurrar uma caixa à medida que a vamos esvaziando. Re-
der as suas características através de uma experiência muito presenta também por que fica mais difícil empurrá-la de-
simples. Tomemos uma caixa bem grande, colocada no solo, pois que alguém se senta sobre ela (ao aumentar o peso N
contendo madeira. Podemos até imaginar que, à menor for-
também aumenta).
ça aplicada, ela se deslocará. Isso, no entanto, não ocorre.
Quando a caixa ficar mais leve, à medida que formos retiran-
do a madeira, atingiremos um ponto no qual conseguiremos
movimentá-la. A dificuldade de mover a caixa é devida ao
surgimento da força de atrito Fat entre o solo e a caixa.

Podemos resumir o comportamento do módulo da


força de atrito em função de uma força externa aplicada a
um corpo, a partir do gráfico ao lado.

30
FÍSICA

Note-se nesse gráfico que, para uma pequena força Os pneus, acoplados às rodas, impulsionam a Terra
aplicada ao corpo, a força de atrito é igual à mesma. A for- para trás. O surgimento da força de atrito impulsiona o veí-
ça de atrito surge tão somente para impedir o movimento. culo para frente.
Ou seja, ela surge para anular a força aplicada. No entanto, Quando aplicamos o freio vale o mesmo raciocínio an-
isso vale até um certo ponto. Quando o módulo da força terior e a força de atrito atua agora no sentido contrário ao
aplicada for maior do que do movimento do veículo como um todo.

Impedindo a Derrapagem
o corpo se desloca. Esse é o valor máximo atingido pela
força de atrito. Quando o corpo se desloca, a força de atrito A força de atrito impede a derrapagem nas curvas, isto
diminui, se mantém constante e o seu valor é é, o deslizamento de uma superfície - dos pneus - sobre a
outra (o asfalto).

Origem da Força de Atrito Momento linear, conservação do momento linear,


impulso e variação do momento linear
A força de atrito se origina, em última análise, de for- O Momento linear (também chamado de quantidade
ças interatômicas, ou seja, da força de interação entre os de movimento linear ou momentum linear, a que a lingua-
átomos. gem popular chama, por vezes, balanço ou “embalo”) é
Quando as superfícies estão em contato, criam-se pon- uma das duas grandezas físicas fundamentais necessárias à
tos de aderência ou colagem (ou ainda solda) entre as su- correta descrição do inter-relacionamento (sempre mútuo)
perfícies. É o resultado da força atrativa entre os átomos entre dois entes ou sistemas físicos. A segunda grandeza é
próximos uns dos outros. a energia. Os entes ou sistemas em interação trocam ener-
Se as superfícies forem muito rugosas, a força de atrito gia e momento, mas o fazem de forma que ambas as gran-
é grande porque a rugosidade pode favorecer o apareci- dezas sempre obedeçam à respectiva lei de conservação.
mento de vários pontos de aderência. Em mecânica clássica o momento linear é definido pelo
Isso dificulta o deslizamento de uma superfície sobre produto entre massa e velocidade de um corpo. É uma
a outra. Assim, a eliminação das imperfeições (polindo as grandeza vetorial, com direção e sentido, cujo módulo é o
superfícies) diminui o atrito. Mas isto funciona até um certo produto da massa pelo módulo da velocidade, e cuja dire-
ponto. À medida que a superfície for ficando mais e mais ção e sentido são os mesmos da velocidade. A quantidade
lisa o atrito aumenta. Aumenta-se, no polimento, o número de movimento total de um conjunto de objetos permane-
de pontos de “solda”. Aumentamos o número de átomos ce inalterada, a não ser que uma força externa seja exer-
que interagem entre si. Pneus “carecas” reduzem o atrito e, cida sobre o sistema. Esta propriedade foi percebida por
por isso, devem ser substituídos. No entanto, pneus muito Newton e publicada na obra Philosophiæ Naturalis Princi-
lisos (mas bem constituídos) são utilizados nos carros de pia Mathematica, na qual Newton define a quantidade de
corrida. movimento e demonstra a sua conservação.
Particularmente importante não só em mecânica clás-
Força de Atrito no Cotidiano sica como em todas as teorias que estuam a dinâmica de
matéria e energia (relatividade, mecânica quântica, etc.), é
A força de atrito é muito comum no nosso mundo físi- a relação existente entre o momento e a energia para cada
co. É ela que torna possível o movimento da grande maio- um dos entes físicos. A relação entre energia e momento é
ria dos objetos que se movem apoiados sobre o solo. Va- expressa em todas as teorias dinâmicas, normalmente via
mos dar três exemplos: uma relação de dispersão para cada ente, e grandezas im-
portantes como força e massa têm seus conceitos direta-
Movimento dos Animais mente relacionados com estas grandezas.

Os animais usam as patas ou os pés (o caso do ho- Fórmulas


mem) para se movimentar. O que esses membros fazem é Na física clássica, a quantidade de movimento linear (
comprimir o solo e forçá-lo ligeiramente para trás. Ao fazê- ) é definida pelo produto de massa ( ) e velocidade (
-lo surge a força de atrito. Como ela é do contra (na direção ).
contrária ao movimento), a força de atrito surge nas patas
ou pés impulsionando os animais ou o homem para frente.

Movimento dos Veículos a motor O valor é constante em sistemas nos quais não há for-
ças externas atuando.
As rodas dos veículos, cujo movimento é devido à Mesmo em uma colisão inelástica - onde a conserva-
queima de combustível do motor, são revestidas por pneus. ção da energia mecânica não é observada - a conservação
A função dos pneus é tirar o máximo proveito possível da do momento linear permanece válida se sobre o sistema
força de atrito (com o intuito de tirar esse proveito máximo, não atuar força externa resultante.
as equipes de carros de corrida trocam frequentemente os A unidade da quantidade de movimento linear no SI é
pneus). o quilograma.metro por segundo(kg.m/s).

31
FÍSICA

Sistema mecânico O momento linear total é conservado nas colisões. No


entanto, a energia cinética não se conserva devido a que
Diz-se que um sistema está mecanicamente isolado parte da energia cinética se transforma em energia térmica
quando o somatório das forças externas é nulo. e em energia potencial elástica interna quando os corpos
Consideremos um casal patinando sobre uma pista de se deformam durante a colisão.
gelo, desprezando os efeitos do ar e as forças de atrito en- Definimos colisão inelástica como a colisão na qual não
tre a pista e as botas que eles estão usando. Veja que na se conserva a energia cinética. Quando dois objetos que
vertical, a força peso é equilibrada com a normal, ou seja chocam e ficam juntos depois do choque dizemos que a
P = N, tanto no homem quanto na mulher, e neste eixo as colisão é perfeitamente inelástica. Por exemplo, um meteo-
forças se cancelam. Mesmo que o casal resolva empurrar rito que se choca com a Terra.
um ao outro (a terceira lei de newton garante que o empur- Em uma colisão elástica a energia cinética se conserva.
rão é sempre mútuo), não haverá força externa resultante Por exemplo, as colisões entre bolas de bilhar são aproxi-
uma vez que a força externa expressa a interação de um madamente elásticas. A nível atômico as colisões podem
ser perfeitamente elásticas.
ente pertencente ao sistema com outro externo ao sistema:
apesar de haver força resultante tanto no homem como so-
bre a mulher, ambos estão dentro do sistema em questão,
e estas forças são forças internas ao mesmo. Na ausência
de forças externas há conservação do momento linear do A grandeza Q é a diferença entre as energias cinéticas
sistema. A conservação do momento linear permite calcu- depois e antes da colisão. Q toma o valor zero nas colisões
lar a razão entre a velocidade do homem e a velocidade perfeitamente elásticas, porém pode ser menor que zero se
da mulher após o empurrão, conhecidas as suas massas e no choque se perde energia cinética como resultado da de-
velocidades iniciais: Como o momento total deve ser con- formação, ou pode ser maior que zero, se a energia cinética
servado, a variação da velocidade do homem é VH = − MM / das partículas depois da colisão é maior que a inicial, por
MHVM, onde VM é a variação da velocidade da mulher. exemplo, na explosão de uma granada ou na desintegra-
A variação da quantidade de movimento é chamada ção radiativa, parte da energia química ou energia nuclear
Impulso. se converte em energia cinética dos produtos.
Fórmula: I = ΔP = Pf − Po  
I = Impulso, a unidade usada é N.s (Newton vezes se- Coeficiente de Restituição
gundo) Foi encontrado experimentalmente que em uma coli-
são frontal de duas esferas sólidas como as que experimen-
Lei da Variação do Momento Linear (ou da Variação tam as bolas de bilhar, as velocidades depois do choque
da Quantidade de Movimento) estão relacionadas com as velocidades antes do choque,
pela expressão
O impulso de uma força constante que actua num cor-
po durante um intervalo de tempo é igual à variação do
momento linear desse corpo, nesse intervalo de tempo,

ou seja,
onde e é o coeficiente de restituição e tem um valor
entre 0 e 1, relação foi proposta por Newton . O valor de
um é para um choque perfeitamente elástico e o valor de
Princípio da Conservação do Momento Linear
zero para um choque perfeitamente inelástico.
O coeficiente de restituição é a razão entre a velocida-
Quando dois ou mais corpos interagem, o momento li- de relativa de afastamento depois do choque, e a velocida-
near desse sistema (conjunto dos corpos) permanece cons- de relativa de aproximação antes do choque das partículas.
tante:
Colisão Elástica
Colisões entre partículas, elásticas e inelásticas, uni Para dois corpos A e B em colisão elástica, não há per-
e bidimensionais da de energia cinética (conservação da energia) entre os
instantes antes e depois do choque. As energias cinéticas
Empregamos o termo de colisão para representar a si- são escritas como
tuação na qual duas ou mais partículas interagem durante
um tempo muito curto. Supomos que as forças impulsivas
devidas a colisão são muito maiores que qualquer outra
força externa presente.

32
FÍSICA

A quantidade de movimento é conservada por ser nulo O que é importante relembrar? As colisões são
o somatório das forças externas e para os dois corpos A e divididas em dois grupos: as Elásticas e as Inelásticas
B os seus momentos lineares antes e depois da colisão são (essa subdivida em colisões inelásticas e perfeitamente
dados por: inelásticas). A colisão inelástica tem como característica
o fato do momento linear do sistema se conservar, mas
a energia cinética do sistema não. A colisão elástica tem
como propriedade o fato de tanto o momento linear como
Colocando-se as massas mA e mB em evidência, temos a energia cinética do sistema se conservarem.
  Estudo das Colisões
Quando dois corpos colidem como, por exemplo, no
choque entre duas bolas de bilhar, pode acontecer que a
direção do movimento dos corpos não seja alterada pelo
podendo ser escrito como choque, isto é, eles se movimentam sobre uma mesma reta
antes e depois da colisão. Quando isso acontece, dizemos
que ocorreu uma colisão unidimensional.
Entretanto, pode ocorrer que os corpos se movimen-
tem em direções diferentes, antes ou depois da colisão.
Reescrevendo a primeira equação após colocarmos as Nesse caso, a colisão é denominada de colisão bidimen-
massas em evidência tem-se sional.
Para uma colisão unidimensional entre duas partículas,
temos que:

Dividindo-se a segunda equação pela terceira equação


encontramos Conceito de Trabalho

Se denomina trabalho infinitesimal, ao produto escalar


do vetor força pelo vetor deslocamento.
Para uma colisão unidimensional entre duas partículas,
Em termos das velocidades relativas antes e depois do temos que:
choque, a quarta equação terá a forma

Conceito de Trabalho

Para o cálculo da colisão elástica, empregamos a pri- Se denomina trabalho infinitesimal, ao produto escalar
meira e a quinta equação em conjunto. A relação entre a do vetor força pelo vetor deslocamento.
velocidade relativa dos dois corpos depois do choque e a ve-
locidade relativa dos corpos antes do choque é denominada
coeficiente de restituição e, mostrado na sexta equação.

O coeficiente de restituição “e” assume sempre o valor


e = 1 para a colisão perfeitamente elástica.
Onde Ft é a componente da força ao longo do deslo-
Colisão Inelástica camento, ds é o módulo do vetor deslocamento dr, e q  o
Para dois corpos A e B em colisão inelástica, há perda ângulo que forma o vetor força com o vetor deslocamento.
de energia cinética, mas conservando-se a energia mecâ- O trabalho total ao longo da trajetória entre os pontos
nica. Após o choque, os corpos deslocam-se em conjunto A e B é a soma de todos os trabalhos infinitesimais
com velocidades finais iguais e um coeficiente de restitui-
ção e = 0.

Como é válida a conservação da quantidade de movi-


mento

33
FÍSICA

Seu significado geométrico é a área sob a representa- - Se a força e o deslocamento tem o mesmo sentido, o
ção gráfica da função que relaciona a componente tangen- trabalho é positivo
cial da força Ft, e o deslocamento s. - Se a força e o deslocamento tem sentidos contrários,
o trabalho é negativo
- Se a força é perpendicular ao deslocamento, o
trabalho é nulo.

Conceito de Energia Cinética

Suponhamos que F é a resultante das forças que atuam


sobre uma partícula de massa m. O trabalho desta força é
igual a diferença entre o valor final e o valor inicial da ener-
Exemplo: Calcular o trabalho necessário para alongar gia cinética da partícula.
uma mola 5 cm, se a constante da mola é 1000 N/m.
A força necessária para deformar uma mola é F=1000·x
N, onde x é a deformação. O trabalho desta força é calcula-
do mediante a integral

Na primeira linha aplicamos a segunda lei de Newton;


a componente tangencial da força é igual ao produto da
massa pela aceleração tangencial.
Na segunda linha, a aceleração tangencial at é igual a
derivada do módulo da velocidade, e o quociente entre o
deslocamento ds e o tempo dt gasto em deslocar-se é igual
a velocidade v do móvel.
Define-se energia cinética pela expressão

A área do triângulo da figura é (0.05·50)/2=1.25 J


Quando a força é constante, o trabalho é obtido multi-
plicando a componente da força ao longo do deslocamen- O teorema do trabalho-energia indica que o trabalho
to pelo deslocamento. da resultante das forças que atuam sobre uma partícula
W=Ft·s modifica sua energia cinética.

Exemplo: Exemplo: Achar a velocidade com a qual sai uma bala


Calcular o trabalho de uma força constante de 12 N, cujo depois de atravessar uma tabela de 7 cm de espessura e
ponto de aplicação se translada 7 m, se o ângulo entre as que opõe uma resistência constante de F=1800 N. A velo-
direções da força e do deslocamento são 0º, 60º, 90º, 135º, 180º. cidade inicial da bala é de 450 m/s e sua massa é de 15 g.
O trabalho realizado pela força F é -1800·0.07=-126 J

A velocidade final v é

34
FÍSICA

Força Conservativa - Energia Potencial Vamos calcular o trabalho em cada um dos ramos e o
Uma força é conservativa quando o trabalho de desta trabalho total no caminho fechado.
força é igual a diferença entre os valores inicial e final de
uma função que só depende das coordenadas. A dita fun- - Ramo AB
ção é denominada energia potencial. Trajetória y=x2/3, dy=(2/3)x·dx.

O trabalho de uma força conservativa não depende do


caminho seguido para ir do ponto A ao ponto B.
O trabalho de uma força conservativa ao longo de um
caminho fechado é zero.
- Ramo BC
A trajetória é a reta que passa pelos pontos (0,1) e (3,3).
Se trata de uma reta de inclinação 2/3 e cuja ordenada na
Exemplo: Sobre uma partícula atua a força F=2xyi+x2j origem é 1.
N y=(2/3)x+1, dy=(2/3)·dx
Calcular o trabalho efetuado pela força ao longo do
caminho fechado ABCA.
- A curva AB é um ramo de parábola y=x2/3.
- BC é o segmento de reta que passa pelos pontos (0,1)
e (3,3) e
- CA é a porção do eixo Y que vai desde a origem ao
ponto (0,1)
- Ramo CA
A trajetória é a reta x=0, dx=0, A força F=0 e por tanto,
o trabalho WCA=0
• O trabalho total
WABCA=WAB+WBC+WCA=27+(-27)+0=0

O Peso é uma Força Conservativa

Calculemos o trabalho da força peso F=-mg j quando


o corpo se desloca da posição A cuja ordenada é yA até a
posição B cuja ordenada é yB.

O trabalho infinitesimal dW é o produto escalar do


vetor força pelo vetor deslocamento
dW=F·dr=(Fxi+Fyj)·(dxi+dyj)=Fxdx+Fydy
As variáveis x e y são relacionadas através da equação
da trajetória y=f(x), e os deslocamentos infinitesimais dx e
dy são relacionadas através da interpretação geométrica da
derivada dy=f’(x)·dx. onde f’(x) quer dizer, derivada da fun-
ção f(x) relativo a x.

A energia potencial Ep correspondente a força conser-


vativa peso tem a forma funcional

Onde c é uma constante aditiva que nos permite esta-


belecer o nível zero da energia potencial.

35
FÍSICA

A Força que exerce uma Mola é Conservativa Igualando ambos trabalhos, obtemos a expressão do
princípio de conservação da energia
Como vemos na figura quando um mola se deforma x, EkA+EpA=EkB+EpB
exerce uma força sobre a partícula proporcional a deforma-
ção x e de sinal contrária a esta. A energia mecânica da partícula (soma da energia po-
tencial mais cinética) é constante em todos os pontos de
sua trajetória.

Comprovação do Princípio de Conservação da Ener-


gia

Um corpo de 2 kg é deixado cair desde uma altura de


3 m. Calcular
- A velocidade do corpo quando está a 1 m de altura e
Para x>0, F=-kx quando atinge o solo, aplicando as fórmulas do movimen-
Para x<0, F=kx to retilíneo uniformemente acelerado
- A energia cinética, potencial e total nestas posições
O trabalho desta força é, quando a partícula se desloca
da posição xA a posição xB é Tomar g=10 m/s2

A função energia potencial Ep correspondente a força


conservativa F vale

O nível zero de energia potencial é estabelecido do se-


guinte modo: quando a deformação é zero x=0, o valor
da energia potencial é tomado zero, Ep=0, de modo que a
constante aditiva vale c=0.

- Posição inicial x=3 m, v=0.


Ep=2·10·3=60 J, Ek=0, EA=Ek+Ep=60 J

  - Quando x=1 m
Princípio de Conservação da Energia

Se somente uma força conservativa F atua sobre uma


partícula, o trabalho desta força é igual a diferença entre o
valor inicial e final da energia potencial

Ep=2·10·1=20 J, Ek=40, EB=Ek+Ep=60 J

- Quando x=0 m

Como vimos no relato anterior, o trabalho da resultante


das forças que atua sobre a partícula é igual a diferença
entre o valor final e inicial da energia cinética.

Ep=2·10·0=0 J, Ek=60, EC=Ek+Ep=60 J

A energia total do corpo é constante. A energia poten-


cial diminui e a energia cinética aumenta.
 

36
FÍSICA

Forças não Conservativas Para a fabricação de um carro, de um caminhão, de


Para darmos conta do significado de uma força não uma geladeira ou de uma bicicleta, é preciso Ter disponível
conservativa, vamos compará-la com a força conservativa muita energia elétrica, térmica e mecânica.
peso. A energia elétrica é muito importante para as indús-
trias, porque torna possível a iluminação dos locais de tra-
O Peso é uma Força Conservativa. balho, o acionamento de motores, equipamentos e instru-
mentos de medição.
Calculemos o trabalho da força peso quando a partí- Para todas as pessoas, entre outras aplicações, serve
cula se translada de A para B, e continuando quando se para iluminar as ruas e as casas, para fazer funcionar os
translada de B para A. aparelhos de televisão, os eletrodomésticos e os elevado-
res. Por todos esses motivos, é interessante converter ou-
tras formas de energia em energia elétrica.

Energia Cinética
A energia que um corpo adquire quando está em mo-
vimento chama-se energia cinética. A energia cinética de-
pende de dois fatores: da massa e da velocidade do corpo
em movimento.

Potencial
WAB=mg x É um tipo de energia que o corpo armazena, quando
WBA=-mg x está a uma certa distância de um referencial de atração
O trabalho total ao longo do caminho fechado A-B-A, gravitacional ou associado a uma mola.
WABA é zero. Energia Cinética
Qualquer corpo que possuir velocidade terá energia ci-
A Força de Atrito é uma Força não Conservativa nética. A equação matemática que a expressa é:

Quando a partícula se move de A para B, ou de B para


A a força de atrito é oposta ao movimento, o trabalho é ne-
gativo por que a força é de sinal contrário ao deslocamento

Teorema da  energia cinética


O trabalho realizado pela resultante de todas as forças
aplicadas a uma partícula durante certo intervalo de tempo
é igual à variação de sua energia cinética, nesse intervalo
de tempo.

tR,AB = m.v2B/2 - m.v2A/2 = [DEcin.]A==>B

Conservação da Energia Mecânica

A energia mecânica (Emec) de um sistema é a soma da


WAB=-Fr x energia cinética e da energia potencial.
WBA=-Fr x Quando um objeto está a uma altura h, como já foi vis-
to, ele possui energia potencial; à medida que está caindo,
O trabalho total ao longo do caminho fechado A-B-A, desprezando a resistência do ar, a energia potencial gravi-
WABA é diferente de zero tacional do objeto que ele possui no topo da trajetória vai
WABA=-2Fr x se transformando em energia cinética e quando atinge o
nível de referência a energia potencial é totalmente trans-
De um modo geral, a energia pode ser definida como formada em energia cinética (fig.6). Este é um exemplo de
capacidade de realizar trabalho ou como o resultado da conservação de energia mecânica.
realização de um trabalho. Na prática, a energia pode ser Na ausência de forças disssipativas, a energia mecânica
melhor entendida do que definida. Quando se olha para total do sistema se conserva, ocorrendo transformação de
o Sol, tem-se a sensação de que ele é dotado de muita energia potencial em cinética e vice-versa.
energia, devido à luz e ao calor que emite constantemente.
A humanidade tem procurado usar a energia que a cer- Energia Mecânica
ca e a energia do próprio corpo, para obter maior conforto, Chamamos de Energia Mecânica a todas as formas de
melhores condições de vida, maior facilidade de trabalho, energia relacionadas com o movimento de corpos ou com
etc. a capacidade de colocá-los em movimento ou deformá-los.

37
FÍSICA

Armazenamento de Energia A Conservação da Energia Mecânica


Note-se que o princípio de conservação é facilmente
confundido com a ideia de ‘armazenamento’ de energia no O sinal negativo na definição da função energia po-
interior de um sistema material. tencial (D U= U2-U1= -W= -ò s1 s2 F.ds), é introduzido de
No século dezessete formou-se a idéia de que o tra- modo que o trabalho efetuado por uma força conservati-
balho que um sistema podia realizar era ‘armazenado’ de va sobre uma partícula, seja igual a diminuição de energia
alguma maneira no interior do próprio sistema e que o ‘tra- potencial do sistema. Consideremos um sistema no qual o
balho armazenado’ era sempre igual ao ‘trabalho realizado’. trabalho seja efetuado apenas sobre uma das partículas,
Não sabemos o que a energia é. Todavia, se falamos como o caso esquiador-terra. Se a única força que efetuar o
que a energia pode ser armazenada, está-se assumir que trabalho sobre a partícula for uma força conservativa, o tra-
sabemos o que é – “como queijo armazenado no frigorí- balho feito pela força é igual a diminuição da energia po-
fico, talvez”, na pitoresca imagem de Benyon. Benyon per- tencial do sistema, e também igual ao aumento da energia
gunta, então, ‘como a energia é armazenada no objeto e cinética da partícula (que no caso, é o aumento de energia
onde?’. A ‘energia’ é uma quantidade abstrata, um conceito cinética do sistema):
inventado por conveniência do estudo da Natureza. Como Wtotal= ò F.ds= -D U= +D K
se pode então, armazenar uma abstração? E, comparando Portanto,
energia com os números, outra abstração, como se pode D K+D U= D (K+U)=0
armazenar um número? Pode-se evidentemente armazenar A soma da Energia cinética com a energia potencial do
objetos em forma de números ou quantidades de objetos sistema é a energia mecânica total E:
correspondentes a números, mas não os números em si. E= K+U
Benyon sugere, então, que a idéia do armazenamento de Se apenas forças conservativas efetuam trabalho, a
energia decorre da energia ser tratada não como um con- equação D K+D U= D (K+U)=0, afirma que a variação da
ceito físico abstrato mas como algo real, como um fluido energia mecânica total é nula. Então a energia mecânica
ou um combustível que possa ser armazenado ou transfe- total permanece constante durante o movimento da par-
rido de um corpo a outro. tícula.
Frequentemente o conceito de armazenamento de E= K+U= constante
energia refere-se a combustíveis, como se houvesse ener- Esta é a lei da conservação da energia mecânica e é a
gia, geralmente referida como energia química, armazena- origem da denominação “força conservativa”.
da no combustível. Um exemplo é ilustrativo: Um pedaço Símbolos
de carvão, não possui energia química neste sentido, pois W: Trabalho;
não pode, por si só, ser transformado em gás carbônico e K: Energia cinética;
libertar energia. O que ocorre é que a mistura inicial do car- U: Energia Potencial ;
vão e oxigênio está num estado energético mais alto que E: Energia Mecânica;
o produto da combustão, gás carbônico, tal como a pedra ò : Integral.
antes de cair estava numa posição mais alta. Durante sua D : variação (D K: variação de energia cinética, D U: va-
queima, os átomos de carbono reagem quimicamente com riação de energia potencial, ...)
as moléculas de oxigênio do ar num processo exotérmico,
o que significa que a diferença positiva no valor da energia ENERGIA POTENCIAL ELÁSTICA DE UMA MOLA
química do sistema é transferida para o meio ambiente em IDEAL
forma de calor, neste caso, aquecendo o ar circundante, por
exemplo. Note-se, todavia, para que essa reação de com- Define-se ‘energia potencial elástica’ a energia poten-
bustão aconteça, é necessário que a mistura seja aquecida cial de uma corda ou mola que possui elasticidade.
a 750 ºC, isto é, é necessária a transferência energia em Se considerarmos que uma mola apresenta comporta-
forma de calor à mistura de carvão e oxigênio antes que mento ideal, ou seja, que toda energia que ela recebe para
a reação aconteça, mais um motivo para não fazer sentido se deformar ela realmente armazena, podemos escrever
dizer-se que ‘o carvão tem energia’. que a energia potencial acumulada nessa mola vale:
Outra analogia fornecida por McClelland é interessan-
te: Se algo será armazenado em sentido metafórico, deverá
estar associado a algo material que possa ser armazena-
do fisicamente. Assim, podemos armazenar combustíveis
e podemos armazenar livros; mas há tanto sentido falar em
armazenar energia quanto armazenar informação. Nessa equação, “x” representa a deformação (con-
Um livro não contém informação, mas apenas man- tração ou distensão) sofrida pela mola, e “K” chamada de
chas de tinta sobre folhas de papel – cabe a um leitor, que constante elástica, de certa forma, mede a dificuldade para
aprendeu a reconhecer aquelas manchas de tinta como le- se conseguir deformá-la. Molas frágeis, que se esticam ou
tras e palavras e a associar palavras a conceitos, ‘extrair’ comprimem facilmente, possuem pequena constante elás-
informação do livro. tica. Já molas bastante duras, como as usadas na suspen-
são de um automóvel, possuem essa constante com valor
elevado.

38
FÍSICA

Pela equação de energia potencial elástica, podemos


notar algo que nossa experiência diária confirma: quanto
maior a deformação que se quer causar em umas mola e
quanto maior a dificuldade para se deformá-la (K), maior a
quantidade de energia que deve ser fornecida a ela (e con-
sequentemente maior a quantidade de energia potencial
elástica que essa mola armazenará).

Exemplos de Ocorrências Uma massa presa a uma mola. Com uma boa
aproximação podemos considerar que quando a massa é
Quando alguém puxa a corda de um arco e flecha, deslocada de sua posição de equilíbrio, a mola exerce uma
quando estica ou comprime uma mola ou quando salta força proporcional a distância até a posição de equilíbrio.
em um Bungee jumping, em todos esses casos, energia Essa relação é conhecida como Lei de Hooke, e pode ser
está sendo utilizada para deformar um corpo. Para poder expressa como
acertar o alvo, um arqueiro tem que usar energia de seus
músculos para puxar a flecha para trás e o arco para fren-
te. Dessa forma, a corda desse instrumento fica esticada e
com certa quantidade de energia armazenada. Quando o
arqueiro solta a corda, a flecha recebe parte dessa energia
e, com isso, adquire movimento.
Assim como nos exemplos citados, sempre que um
corpo é deformado e mantém a capacidade de diminuir
essa deformação (voltando ao formato original ou não),
dizemos que esse corpo armazenou uma modalidade de F=-kx
energia chamada de energia potencial elástica. Agora, o
nome potencial é originado do fato de o corpo esticado ou onde  x  é a distância até a posição de equilíbrio e  k  é a
comprimido pode adquirir movimento espontaneamente constante da mola. Essa força também é chamada de força
após ser liberado. A denominação elástica vem do fato de restauradora, pois tende a fazer com que a massa volte
a capacidade de deformar e voltar ao normal ser chamada até a posição de equilíbrio. A energia potencial elástica 
de elasticidade. U(x)  associada a força restauradora tem a forma de uma
Nosso organismo, por exemplo, possui uma proteí- parábola U(x) = k x2/2
na chamada elastina - responsável por dar elasticidade à Ponto de equilíbrio: O ponto de equilíbrio é aquele
nossa pele. Quando pressionamos ou puxamos a pele de onde a força exercida pela mola sobre a massa é nula. E
alguém, energia potencial elástica fica armazenada permi- esse ponto representa o menor valor da energia potencial
tindo que a pele retorne ao formato natural. Se não fosse elástica.
assim, caso apertássemos o braço de alguém, ele ficaria Condições iniciais: As condições iniciais determinam
deformado para sempre. as especificidades do movimento do sistema massa-
A energia potencial gravitacional depende da mola. Podemos ter uma situação inicial onde a mola está
aceleração da gravidade, então em que situações essa distendida e em repouso. Podemos também ter a condição
energia é positiva, nula ou negativa? inicial onde a distensão é nula (a massa está no ponto de
A força elástica depende da massa da mola? Por quê? equilíbrio) mas a velocidade é não nula. Ou podemos ter
Se uma mola é comprimida por um objeto de massa uma combinação das condições anteriores.
grande, quando solto a mola não consegue se mover, o  
que acontece com a energia potencial elástica? Amplitude de oscilação e constante de fase
x(t) = A sen(wt+j)
Sistema Massa-Mola v(t) = -wA cos(wt+j)

Esse modelo é extremamente importante para a o onde


estudo de fenômenos naturais, pois é usado como uma A = amplitude de oscilação
boa aproximação para oscilações de pequenas amplitudes, wt+ j = fase
de sistemas que originalmente se encontram em equilíbrio w = frequência angular
estável.  j = constante de fase
Uma mola com uma extremidade presa a um suporte As condições iniciais são dadas através dos valores da
fixo e a outra extremidade presa a uma mola. Nesta amplitude de oscilação e constante de fase. Consideremos
situação a mola se encontra numa posição horizontal, e a um sistema massa-mola onde a freqüência angular vale  w
massa pode mover-se horizontalmente em um plano com = 5rad/s. Se a constante de fase for  j = 0  e a amplitude de
um coeficiente de atrito desprezível. oscilação for  A=3m , teremos
 x(0) = 0
v(0) = -15m/s

39
FÍSICA

Velocidade e posição: A solução x(t) da equação de


movimento do sistema massa-mola que nos informa como
a posição da mola varia com o tempo é dada por:
 x(t) = A sen(wt+j)
v(t) = -wA cos(wt+j)
Características do sistema: O sistema massa mola é
 onde definido pelos valores da massa  m  e da constante elástica
A = amplitude de oscilação da mola  k , e considerando esses parâmetros, encontramos
wt+j  = fase que a freqüência angular  w  tem a forma:
w = frequência angular
j = constante de fase
Podemos inverter as relações de dependência e
encontrar que

e o período T

Velocidade nula e posição diferente da posição de


equilíbrio: Considerando a solução x(t) da equação de Sistema conservativo (Ausência de atrito): O sistema
movimento do sistema massa-mola que nos informa como será considerado conservativo, quando forem conservativas
a posição da mola varia com o tempo é dada por: as forças que nele atuam. Uma força é dita conservativa
x(t) = A sen(wt+j) quando o trabalho que ela produz em um percurso fechado
v(t) = -wA cos(wt+j) é nulo. Chamamos de percurso fechado a trajetória que
retorna até a sua posição original. Consideremos um sistema
encontramos composto pela Terra e uma bola que está localizada próximo
v(0) = 0 a sua superfície. A força gravitacional entre a Terra e a bola é
x(0) = x0 ≠ 0 uma força conservativa, pois o trabalho que a força da Terra
ou seja: exerce sobre a bola em um percurso fechado é nulo.
A = x0 Por exemplo, se a bola for lançada verticalmente para
j = p/2 cima ela retornará até a posição original com a mesma
  energia. Ou seja: o trabalho que a força gravitacional
Posição de equilíbrio e velocidade não nula: exerceu na subida da bola é exatamente igual e de sinal
Considerando a solução x(t) da equação de movimento do contrário ao trabalho que ela exerceu na descida.
sistema massa-mola que nos informa como a posição da Conservação da Energia Mecânica: Quando em um
mola varia com o tempo é dada por: sistema só existirem forças conservativas, esse sistema será
 x(t) = A sen(wt+j) conservativo, e portanto a sua energia será uma constante.
v(t) = -wA cos(wt+j) Pequenas oscilações de sistemas reais em equilíbrio
encontramos estável: A energia potencial de um sistema ideal tal como o
v(0) = v0 = - wA  ≠  0 sistema massa-mola, é simétrica em torno da sua posição
x(0) = 0 de mínimo. No entanto a energia potencial de sistemas
reais não têm uma forma tão idealizada, mas apresenta-se
ou seja: como o exemplo adiante:
A = v0 /w
j=0

Posição diferente da posição de equilíbrio e velocidade


não nula: Considerando a solução x(t) da equação de
movimento do sistema massa-mola que nos informa como
a posição da mola varia com o tempo é dada por:
 x(t) = A sen(wt+j)
v(t) = -wA cos(wt+j)
A energia potencial do gráfico anterior é um exemplo de
encontramos uma função não simétrica em torno do ponto de mínimo  xMIN  .
Se considerarmos um sistema onde a massa está sob
a ação de um potencial da forma acima, e inicialmente se
encontra na posição de equilíbrio  xMIN  , caso seja afastado de
sua posição de equilíbrio ele tenderá a retornar a essa posição.

40
FÍSICA

Se o afastamento da posição de equilíbrio for muito Força Centrípeta


pequeno, a massa se deslocará por uma região onde a
energia potencial é vizinha do ponto de mínimo, e essa Inicialmente deveremos definir que sempre que um
região tem uma forma muito parecida com a parábola. Daí corpo descreve uma curva, sua velocidade vetorial varia em
dizermos que para qualquer forma que tenha a energia direção. Para que isso ocorra, pelo principio fundamental
potencial, para oscilações de pequenas amplitudes podemos da dinâmica, as forças que atuam sobre o corpo devem
aproximar o movimento por um oscilador harmônico. gerar uma aceleração centrípeta.
Energia potencial atrativa, mas não simétrica em torno
do ponto de mínimo: A energia potencial  U(x)  do gráfico
ao lado é um exemplo de uma função não simétrica em
torno do ponto de mínimo  xMIN   . Se considerarmos um
sistema onde a massa está sob a ação de um potencial
da forma acima, e inicialmente se encontra na posição
de equilíbrio  xMIN   , caso seja afastado de sua posição
de equilíbrio ele tenderá a retornar a essa posição. Se o
afastamento da posição de equilíbrio for muito pequeno,
a massa se deslocará por uma região onde a energia
potencial é vizinha do ponto de mínimo, e essa região tem
uma forma muito parecida com a parábola.
Sendo Fr a resultante das forças que atuam sobre o cor-
po, gerando uma aceleração centrípeta na mesma direção
da força.

Daí dizermos que para qualquer forma que tenha a


energia potencial, para oscilações de pequenas amplitudes
podemos aproximar o movimento por um oscilador
harmônico.
Dissipação da energia mecânica: Quando as forças que
atuam em um corpo são conservativas, a energia mecânica
se mantém constante enquanto esse corpo se movimenta.
No entanto, quando pelo menos uma dessas forças for
não-conservativa, a energia mecânica desse corpo não O trem da montanha russa não cai devido à força cen-
se manterá constante. Poderá aumentar ou diminuir trípeta. A resultante das forças que atuam sobre o corpo,
dependendo do tipo de força não conservativa que esteja gerando uma aceleração. Resultante centrípeta num mo-
atuando. vimento curvilíneo podemos observar a atuação de duas
Sistema dissipativo (Presença de atrito): Uma categoria forças, uma de componente tangencial (responsável pela
de força não conservativa são as forças dissipativas. Quando variação do módulo da velocidade) sempre tangente à tra-
for dissipativa pelo menos uma das forças que atuam em jetória e outra de componente centrípeta (responsável pela
um corpo, a sua energia mecânica diminui enquanto ele se variação da trajetória).
movimenta. As forças de atrito são forças de contato entre Num sistema onde co-atuam força centrípeta e for-
duas superfícies, onde se dificulta o movimento relativo e ça tangencial, a decomposição da força resultante é dada
como consequência existe uma transformação de parte da como mostra abaixo.
energia mecânica em calor.
Diminuição da Energia Mecânica: A energia mecânica
de um sistema é a soma dos seus vários possíveis tipos de
energia potencial e a sua energia cinética. Quando conside-
ramos uma sistema conservativo, as forças que atuam nele
são todas conservativas, e a sua energia mecânica se conser-
va, apesar se existir uma transformação permanente entre as
energias potenciais e cinética. No entanto, na presença de
uma força dissipativa, parte da energia mecânica do sistema
vai se transformando de maneira irreversível em calor.

41
FÍSICA

Observe que Ft = Fr.cosθ, e que Fc = Fr.senθ Equações

Quando o movimento é uniforme, Ft é zero. O impulso( ) é igual à variação da quantidade de mo-


vimento ( ) de um corpo.
Força em um referencial não-inercial

Em situações onde a força mostra-se constante ao lon-


go do intervalo de atuação, o impulso pode também ser
calculado a partir do produto entre a força ( ) aplicada ao
corpo e o intervalo de tempo ( ) durante o qual a força
atua.

Em situações mais complicadas - onde a força resul-


tante atuanto no corpo é variável - a equação anterior
contudo não se aplica. Deve-se determinar o impulso nes-
tes casos pela integração de no tempo:

Um observador no interior do carro, sobre uma acele- Variação da Quantidade de Movimento


ração em relação à estrada, quando entra em uma curva
sente-se atirado para fora do carro, ou seja para fora da Na maioria dos casos a massa do corpo permanece
curva. constante, e nestes casos a variação da quantidade de mo-
Esta poderia ser considerada a força centrífuga, que o vimento pode ser calculada como o produto da massa (
atira para fora da trajetória circular, porém a força centrifu- ) pela variação de velocidade ( ).
ga só é válida para o observador em movimento junto ao
carro, ou seja um observador não-inercial. A força centrífu-
ga não é reação da força centrípeta.
Porém a fórmula mais geral, aplicável a qualquer si-
Impulso tuação, deve incluir os casos em que há variação não ape-
nas na velocidade como na massa. Neste caso o impulso é
Impulso é a grandeza física que mede a variação da dado pela quantidade de movimento final ( ) subtraída
quantidade de movimento de um objeto. É causado pela da quantidade de movimento inicial ( ).
ação de uma força atuando durante um intervalo de
tempo . Uma pequena força aplicada durante muito
tempo pode provocar a mesma variação de quantidade de
movimento que uma força grande aplicada durante pouco
tempo. Ambas as forças provocaram o mesmo impulso. A Ou ainda
unidade no Sistema Internacional de Unidades para o im-
pulso é o N•s (newton segundo ou newton vezes segundo).
A velocidade de um corpo é transferida a outro idêntico.
A unidade do Impulso também pode ser escrita como O impulso sofrido por um objeto (massa constante)
o produto da unidade de massa, o quilograma, pela unida- depende apenas das quantidades de movimento associa-
de de velocidade, o metro por segundo, demonstrando-se das ao instante antes da colisão e após a colisão, e não de
facilmente que “quilograma metro por segundo” (kg.m/s) quão rápido se processam as colisões que levam o mesmo
é equivalente a “newton segundo” (N.s). Via de regra, ao estado incial ao mesmo estado final.
falar-se de impulso, dá-se preferência pelo “N.s”; ao falar-se A exemplo considere um ovo abandonado em queda
de variação da quantidade e movimento, dá-se preferência livre de uma determinada altura, primeiro sobre uma almo-
ao “kg.m/s”. fada, posteriormente sobre o chão.
Contudo não há problema algum em se intercambiar A massa do ovo é a mesma em ambos os casos, e pro-
as duas. vido que as alturas de queda - entre o ponto de soltura e
o ponto de contato do ovo com o obstáculo seja mantida
a mesma, as velocidades do ovo após cair a distância em

42
FÍSICA

consideração também serão a mesma em ambos os casos. CENTRO DE MASSA DE UM SÓLIDO, CENTRO DE
Visto que P = mV, tem-se pois que as quantidades de mo- MASSA DE UMA DISTRIBUIÇÃO DE PARTÍCULAS
vimento imediatamente antes da colisão são iguais em am-
bas as situações. O Centro de Massa
Em ambas as situações o estado final do ovo corres-
ponde ao ovo parado - com velocidade zero, quer este te- O Sistema de Referência do Centro de Massa (sistema-
nha quebrado, quer não - de forma que as quantidades -C) é especialmente útil para descrever as colisões compa-
de movimento finais do ovo são ambas nulas ao fim do rando com o Sistema de Referência do Laboratório (siste-
processo. ma-L).
A conclusão pode surpreender alguns: se as quantida- Movimento do Centro de Massas
des de movimento inciais são iguais em ambos os casos,
ocorrendo o mesmo com as quantidades de movimento fi- Na figura, temos duas partículas de massas m1 e m2,
nais, tem-se que os impulsos sofridos pelo ovo, determiná- como m1 é maior que m2, a posição do centro de massas do
vel pela diferença entre a quantidade de movimento final e sistema de duas partículas estará próxima da massa maior.
inicial, são também iguais.
A pergunta iminente é: porque o ovo quebra em um
caso, e não no outro? A resposta é: embora o impulso so-
frido seja o mesmo, as forças que atuam em cada caso não
são iguais, sendo muito maiores na colisão com o chão.
Supondo uma força média contante atuando em ambos os
casos, o produto determina o impulso sofrido, e deve
fornecer o mesmo resultado em ambos os casos. Contudo
o tempo de colisão no caso da almofada - dada a deforma-
ção gradual desta - é consideravelmente maior, de forma
que a força de interação almofada-ovo é consideravelmen-
te menor. Na interação ovo-piso os papeis se invertem: o
choque deve ser completado em um intervalo de tempo
Em geral, a posição rcm do centro de massa de um sis-
muito menor que no caso da almofada, e por tal, para que
tema de N partículas é
o produto continue o mesmo, a força neste caso deve
ser consideravelmente maior.
Em verdade, a força é definida como:

Dado o mesmo impulso, quanto menor o intervalo de A velocidade do centro de massas vcm  é obtida
tempo necessário à sua aplicação, maior a força necessária derivando com relação ao tempo
à situação, e vice versa. No caso do ovo colidindo com o
chão a intensa força aplicada no ponto de colisão leva à
tensões na estrutura do ovo além dos limites mecânicos
desta, e por tal o ovo se quebra.
Assim as forças de interação em colisões dependem
não apenas das condições iniciais e finais em questão
como também das propriedades físicas dos objetos que
colidem: quanto mais elásticos são os objetos em colisão
maiores são os tempos de colisão e menores são as forças No numerador figura o momento linear total e no de-
envolvidas na colisão, e vice-versa. Materiais inelásticos são nominador a massa total do sistema de partículas.
geralmente frágeis. Da dinâmica de um sistema de partículas temos que
Se antes da leitura deste artigo não de forma cons-
ciente, intuitivamente parece que os seres humanos - e os
animais - conhecem tal princípio: ao pularem de locais al-
tos, estes flexionam os joelhos de forma a promoverem o
aumento do tempo de interação no processo de colisão
com chão, e assim o fazendo reduzem as forças que atuam O centro de massas de um sistema de partículas se
sobre os seus corpos no processo que os leva ao estado move como se fosse uma partícula de massa igual a massa
estático. Se as pernas fossem mantidas totalmente estica- total do sistema sob a ação da força externa aplicada ao
das, estas certamente se quebrariam com maior facilidade. sistema.

43
FÍSICA

Em um sistema isolado Fext=0 o centro de massas se é verdadeiro, ou seja, sabendo as forças que atuam em
move com velocidade constante vcm=cte. um corpo e determinando a sua resultante, poderemos
O Sistema de Referência do Centro de Massas calcular a aceleração de um corpo (a = R/m). Com base
na aceleração, podemos conseguir a velocidade do
Para um sistema de duas partículas corpo e a posição que ele ocupará em qualquer instante,
onde podemos tirar conclusões sobre o movimento que
o corpo descreve.
EQUILÍBRIO ESTÁTICO DE UM CORPO RÍGIDO, MO-
MENTO DE UMA FORÇA
A velocidade da partícula 1 relativa ao centro de mas-
sas é Um dispositivo que é utilizado para demonstrar que
um corpo fica em equilíbrio desde que a vertical que passa
pelo seu centro de gravidade intersecte a sua base de sus-
tentação. O equilíbrio será estável se o centro de gravidade
do corpo estiver localizado abaixo dessa base.
A velocidade da partícula 2 relativa ao centro de mas- O aparelho é constituído por uma peça de ferro, tendo
sas é uma parte direita de secção quadrada e outra parte encur-
vada, terminando por um gancho, no qual se suspende um
corpo relativamente pesado.
A porção direita entra numa bainha, também de ferro,
cujas dimensões são tais que há um ajuste perfeito entre
esta e a parte reta da peça.
No sistema-C, as duas partículas se movem em dire- Para a realização de experiências destinadas às lições
ções opostas. de Física Experimental, o professor deveria apoiar a bainha
sobre uma mesa, de maneira a poder fazer deslocar por de-
A massa também pode ser considerada como sendo baixo do tampo a parte curva que suspende o peso, enfian-
uma medida do conceito de Inércia, sendo pequena, apre- do ou retirando a parte reta no interior da bainha. Esta, ao
sentando Inércia. É também uma grandeza escalar, onde ser puxada para o exterior da bainha, faz com que o corpo
em sua fórmula F é o módulo da força que atua no cor- suspenso se aproxime da vertical que passa pela periferia
po e a é o valor da aceleração que F produz nele, sendo do tampo da mesa. Desta forma, o centro de gravidade do
uma propriedade constante, não variando de corpo para
conjunto desloca-se no mesmo sentido. Quando a vertical
qualquer outro local, ou quando se altera a temperatura
que passa pelo centro de gravidade do conjunto intersecta
do corpo.
A força com que a Terra atrai um corpo, podemos cha- a superfície de apoio da bainha sobre a mesa, este fica em
mar de Peso do corpo, também denominada de grandeza equilíbrio, apesar de o vértice de ligação entre a parte reta
vetorial, então podemos concluir que: o peso de um corpo e a parte encurvada da peça estar consideravelmente afas-
é uma força que imprime a este corpo uma aceleração g. tado da base de apoio.
Podemos entender as variações de peso, onde uma Caso a peça seja puxada quase totalmente para o ex-
pessoa situada mais próxima aos pólos da terra tem um terior da bainha, de forma a que o centro de gravidade
peso maior do que se estivesse próximo ao equador, de- do conjunto fique localizado sobre uma vertical que não
vendo esse fato simplesmente ao valor da força da gra- intersecte o tampo da mesa, a bainha inclina-se e o peso
vidade, sendo que há lugares onde a força gravitacional, suspenso move-se, aproximando-se da vertical que passa
embora com o mesmo valor, exerce maior pressão nos in- pela periferia da mesa. Nestas condições, o conjunto ficará
divíduos, sendo que na lua a gravidade é cerca de 6 vezes apoiado sobre a mesa apenas por uma linha de apoio que
menor que na terra, consequentemente o indivíduo pesará é transversal ao eixo longitudinal da bainha. A configura-
6 vezes menos que na terra. ção de equilíbrio exige que esta linha se encontre, neces-
sariamente, acima do centro de gravidade do conjunto. Se
Medida de Massa o conjunto for largado duma posição tal que a vertical que
passa pelo seu centro de gravidade não intersecte a linha
A massa é medida, pela sua simples fórmula m = F/a,
de apoio, então iniciará um movimento pendular amorteci-
definindo assim a massa de um corpo, onde o quociente de
do, até atingir a posição de equilíbrio.
F/a nos fornecerá o valor de m.
Um equilibrista segura uma vara dobrada, nas extremi-
Exemplos de Aplicação da Segunda Lei de Newton
É usado para que consiga resolver o maior número dades da qual existem duas esferas de latão. Era utilizado
de problemas, principalmente em Física, onde através nas lições de Física Experimental, para mostrar a importân-
da observação de um objeto e determinando a sua cia da posição do centro de gravidade de um corpo relati-
aceleração, podemos definir a resultante das forças vamente à sua base de sustentação, quando em equilíbrio
que atuam no corpo, sendo que o contrário também estável.

44
FÍSICA

O equilibrista tem a particularidade de se encontrar MOMENTO RESULTANTE


apoiado sobre um pequeno disco de latão, através de um
espigão de ferro existente sob o seu pé esquerdo. O disco A resultante livre de um sistema de forças é igual à
encontra-se no topo de uma coluna de madeira ricamente soma das forças componentes do sistema. RL = F1 + F2 +
trabalhada. ...... >>>  RL = S Fi
A resultante livre de um sistema de forças mede o efei-
Momento de uma Força to de translação produzido pelo sistema.

O momento de uma força , em relação a um ponto


de um eixo, exercida num ponto (por exemplo, o momen-
to da força exercida por uma mão num ponto de uma porta
em relação ao eixo de rotação da porta), cuja posição é
descrita por um vector posição , é uma grandeza vectorial
que se obtém através do produto vectorial entre o vector
posição e o vector força:

A direção e o sentido da resultante livre correspondem


à direção e o sentido do efeito de translação. O módulo da
resultante livre nos informa sobre a intensidade do efeito
de translação
Momento resultante de um sistema de forças em rela-
ção a um ponto P é igual à soma dos momentos das forças
componentes do sistema em relação à este mesmo ponto
P.
MP = MPF1 + MPF1 ........ >>> MP =  S MPFi  

O momento de uma força em relação a um eixo é Observação importante: Se as forças componentes do


uma grandeza escalar que consiste na projecção, sobre o sistema e o ponto P forem coplanares, os vetores momen-
eixo de rotação, do momento de uma força em relação a to serão paralelos e a soma vetorial acima se reduz a uma
um ponto. A figura seguinte representa a porta citada no soma escalar.
exemplo e, ao lado, o esquema geométrico da força e da MP = MPF1 + MPF1 ........ >>> MP =  S MPFi  
distância ao eixo: O momento resultante de um sistema de forças em re-
lação a um ponto P, mede o efeito de rotação em torno do
ponto P, produzido pelo sistema.

Define-se o momento de uma força , M, em relação A direção do momento resultante é normal ao plano
a um eixo de rotação, como o produto do módulo da força de rotação. O sentido do momento resultante é indicati-
pela distância entre o seu ponto de aplicação e o eixo e vo do sentido do efeito de translação, isto é, o sentido do
pelo seno do ângulo (que não tem unidade) formado entre momento resultante é dos pés à cabeça de um observador
a direcção da força e a distância referida: que em pé sobre o plano de rotação veria a rotação se rea-
lizar no sentido anti-horário. O módulo do momento resul-
tante nos informa sobre a intensidade do efeito de rotação.
Resultante de um sistema de forças é uma força única
As unidades em jogo são: capaz de produzir o mesmo efeito do sistema.
• ou M em N.m; Existem sistemas de forças cujo efeito não pode ser
• F em N; produzido por uma única força.
• d em m. O binário é um sistema constituído por duas forças de
mesma direção, mesmo módulo e sentidos contrários.

45
FÍSICA

Na sua forma mais simples o sistema se reduz à uma


única força. O sistema admite resultante sendo esta igual à
sua resultante livre.
Sabemos que a resultante livre mede o efeito de trans-
lação e que o momento resultante mede o efeito de rota-
ção. Se RL = 0  >>> sistema não produz efeito de translação.
Se M  não é zero >>> sistema produz efeito de rotação.
Na sua forma mais simples o sistema se reduz à um
binário.
O sistema não admite resultante. Sabemos que a resul-
A resultante livre de um binário é nula. A resultante li- tante livre mede o efeito de translação e que o momento
vre é a soma das forças componentes do sistema >>> RL = resultante mede o efeito de rotação. Se RL não é zero >>>
F1 + F2 como F1 = - F2 >>> RL = 0 sistema produz efeito de translação. Se M não é zero >>>
sistema produz efeito de rotação.
Na sua forma mais simples o sistema se reduz à um
conjunto constituído por uma força e um binário.
O sistema não admite resultante. Sabemos que a resul-
tante livre mede o efeito de translação e que o momento
resultante mede o efeito de rotação. Se RL = 0 >>> sistema
não produz efeito de translação. Se M = 0 >>> sistema não
produz efeito de rotação.
Na sua forma mais simples o sistema se reduz à uma
única força nula.
Considere o binário da figura, vamos calcular o módulo O sistema admite resultante sendo esta igual à uma
de seu momento resultante em relação ao ponto P. força nula.
Este sistema que não produz efeito é chamado de sis-
tema de forças em equilíbrio.
Hidrostática: Massa Específica e Densidade
A massa específica (m ) de uma substância é a razão
entre a massa (m) de uma quantidade da substância e o
volume (V) correspondente:

Convencionaremos que uma rotação no sentido horá-


rio corresponde a uma momento positivo. MP = - F1.PA + Uma unidade muito usual para a massa específica é o
F2. PB,  representando o módulo das forças componentes g/cm3 , mas no SI a unidade é o kg/m3 . A relação entre elas
do binário por F >>>> F1 = F2 = F >>> MP = - F.PA + F.PB é a seguinte:
>>> MP = F.(PB - PA) >>> MP = F.d
Significa dizer que o momento do binário não varia
quando o ponto P muda de posição, como já mostramos.

Assim, para transformar uma massa específica de g/cm3


para kg/m3, devemos multiplicá-la por 1.000 . Na tabela a
seguir estão relacionadas as massas específicas de algumas
substâncias.
Substância

Água 1,0 1.000


Gelo 0,92 920
Uma força única não é capaz de produzir o efeito de
rotação que o binário produz.  Álcool 0,79 790
Sabemos que a resultante livre mede o efeito de Ferro 7,8 7.800
translação e que o momento resultante mede o efeito de
Chumbo 11,2 11.200
rotação. Se RL não é zero >>> sistema produz efeito de
translação. Se M = 0 >>> sistema não produz efeito de Mercúrio 13,6 13.600
rotação.

46
FÍSICA

Observação: É comum encontrarmos o termo Um veículo perigoso tem as rodas formadas por
densidade (d) em lugar de massa específica (m ). Usa-se grandes sacos cheios de ar com uma pressão 8 vezes que o
“densidade” para representar a razão entre a massa e o dos pneus de um jipe. Os sacos podem sustentar o enorme
volume de objetos sólidos (ocos ou maciços), e “massa peso do veículo porquê têm uma grande área em contato
específica”para líquidos e substâncias. com o solo. O veículo anda facilmente nas piores estradas
A densidade absoluta de uma substância é definida porque os sacos amortecem os choques ou solavancos.
como a relação entre a sua massa e o seu volume. Uma patinadora de gelo produz uma pressão de 45kg
A densidade relativa é a relação entre a densidade por cm2 em vista da pequena área da lâmina do patim. A
absoluta de um material e a densidade absoluta de moça está patinando no gelo com patins que se apóiam
uma substância estabelecida como padrão. No cálculo sobre uma lâmina estreita, seu peso causa enorme pressão.
da densidade relativa de sólidos e líquidos, o padrão Pressão é a força dividida pela área.
usualmente escolhido é a densidade absoluta da água, que
é igual a 1,000 kg/dm³ (equivalente a 1,000 g/cm³) a 4°C.
A massa específica (m) de uma substância é a razão
entre a massa (m) de uma quantidade da substância e o
volume (V) correspondente, ou seja, é representado pelo
mesmo cálculo da densidade. Exemplo: Uma caixa pesando 150kg mede 1,20m de
comprimento por 0,5m de largura. Que pressão exerce ela
Obviamente, é comum o termo densidade (d) em lugar sôbre o chão?
de massa específica (m )... 120 kg = peso da caixa;
Uma explicação que encontrei seria que se usaria 0,5 m = largura da caixa;
“densidade” para representar a razão entre a massa e o 1,2 m = comprimento da caixa.
volume de objetos sólidos (ocos ou maciços), e “massa
específica”para líquidos e soluções. Mas se assim fosse, Determinar a pressão.
não poderíamos falar densidade da água, mas somente
massa específica. Curiosamente já encontrei também
massa específica se referindo a solo, que não é líquido.
Em termos gerais, a principal diferença observada que
densidade é um conceito mais usado na química e massa
Líquidos em Equilíbrio em um Campo Gravitacional
específica na física (hidrostática).
Uniforme, Princípios de Pascal e de Arquimedes
Conceito de Pressão, Pressão em um Fluido Unifor-
me em Equilíbrio
Princípio de Arquimedes
Todo corpo imerso, total ou parcialmente, num fluido
Muitas pessoas pensam que pressão é sinônimo de
fôrça. Pressão, no entanto, leva em conta não apenas a fôrça em equilíbrio, sofre a ação de uma força vertical, para cima,
que você exerce mas também a área em que a fôrça atua. aplicada pelo fluido. Essa força é denominada empuxo ,
Um bloco de 1 decímetro quadrado por dois decímetros de cuja intensidade é igual ao peso do fluido deslocado pelo
altura, pesando 4 kg. O pêso do bloco é distribuído sobre corpo. E = Pfd = mfd . g E = df . Vfd . g 
uma área de 1dm2, de modo que exerce uma pressão de
4kg por decímetro quadrado. Se o bloco estiver apoiado
na face lateral de modo que a área em contato com a mesa
seja de 2 dm2, a pressão será de 2kg por dm2. Um pneu de
automóvel, de cerca de 20 centímetros de largura tem uma
grande superfície em contato com o chão. Com esse pneu
um carro pesado roda mais suavemente que com um pneu
menor que exigiria maior pressão.
Pressão = Força / Área.
(A) O peso do bloco (4 kg), distribuído em 1 dm2, exerce Assim, quando um barco está flutuando na água, em
uma pressão de 4 kg por dm2. equilíbrio, ele está recebendo um empuxo cujo valor é igual
(B) Qual é a pressão? (A) representa um homem de ao seu próprio peso, isto é, o peso do barco está sendo
80kg tentando andar em areia movediça. Seu peso produz equilibrado pelo empuxo que ele recebe da água: E = P.
grande pressão porque a área dos seus sapatos é pequena
e ele afunda na areia. Se ele se deitar de costas seu peso Aplicação
atuará sobre uma área maior causando pressão muito Um mergulhador e seu equipamento têm massa total
menor e ele não afundará. de 80kg. Qual deve ser o volume total do mergulhador para
Pressão e Área. (A) Quando o homem tenta ficar de que o conjunto permaneça em equilíbrio imerso na água?
pé na areia movediça, ele afunda porque seu peso causa Solução: Dados: g = 10m/s2; dágua = 103kg/m3; m =
uma grande pressão na pequena área de seus sapatos. (B) 80kg. Como o conjunto deve estar imerso na água, o volu-
Quando se deita na areia ele não afunda porquê seu peso me de líquido deslocado (Vld) é igual ao volume do conjun-
atua numa área maior e a pressão que ele exerce é menor. to (V). Condição de equilíbrio:

47
FÍSICA

E=P Equilíbrio de Corpos Flutuantes


d . Vld . g = m . g
103 x V x 10 = 80 x 10 Quando um corpo emerge na superfície da água, ele
V = 8 x 10-2m3 passa a deslocar um menor volume de água. De acordo
com o Princípio de Arquimedes, seu empuxo (que antes
Princípio de Pascal era maior do que seu peso) diminui. O bloco ficará em
equilíbrio de flutuação na superfície da água quando a
Quando um ponto de um líquido em equilíbrio sofre força de empuxo for exatamente igual ao peso. Dizemos
uma variação de pressão, todos os outros pontos do líqui- que o corpo ficará flutuando em equilíbrio estático.
do também sofrem a mesma variação. Ocasionalmente, algumas embarcações ou navios
podem ser modificadas, introduzindo-se mastros maiores
ou canhões mais pesados; nestes casos, eles se tornam mais
pesados e tendem a emborcar em mares mais agitados. Os
“icebergs” muitas vezes também viram quando derretem
parcialmente.
Estes fatos sugerem que, além das forças, os torques
destas forças também são importantes para o estudo do
equilíbrio de flutuação.

Dois recipientes ligados pela base são preenchidos por


um líquido (geralmente óleo) em equilíbrio. Sobre a super-
fície livre do líquido são colocados êmbolos de áreas S1 e
S2. Ao aplicar uma força F1 ao êmbolo de área menor, o
êmbolo maior ficará sujeito a uma força F2, em razão da
transmissão do acréscimo de pressão p. Segundo o Princí-
pio de Pascal:

Quando um corpo está flutuando em um líquido, ele


Importante: o Princípio de Pascal é largamente utili- está sujeito à ação de duas forças de mesma intensidade,
zado na construção de dispositivos ampliadores de força mesma direção (vertical) e sentidos opostos: a força-
– macaco hidráulico, prensa hidráulica, direção hidráulica, peso e o empuxo. Os pontos de aplicação dessas forças
etc. são, respectivamente, o centro de gravidade do corpo G
e o centro de empuxo C, que corresponde ao centro de
Aplicação gravidade do líquido deslocado ou centro de empuxo.
Numa prensa hidráulica, as áreas dos êmbolos são SA Se o centro de gravidade G coincide com o centro de
= 100cm2 e SB = 20cm2. Sobre o êmbolo menor, aplica-se empuxo C, situação mais comum quando o corpo está
uma força de intensidade de 30N que o desloca 15cm. De- totalmente mergulhado, o equilíbrio é indiferente, isto é, o
termine: corpo permanece na posição em que for colocado.
a) a intensidade da força que atua sobre o êmbolo
maior;
b) o deslocamento sofrido pelo êmbolo maior.

Solução:

a) Pelo Princípio de Pascal:

Quando um corpo flutua parcialmente imerso no fluido


e se inclina num pequeno ângulo, o volume da parte da
água deslocada se altera e, portanto, o centro de empuxo
b) O volume de líquido transferido do êmbolo menor muda de posição. Para que um objeto flutuante permaneça
para o maior é o mesmo: em equilíbrio estável, seu centro de empuxo deve ser des-
locado de tal modo que a força de empuxo (de baixo para
cima) e o peso (de cima para baixo) produzam um torque
restaurador, que tende a fazer o corpo retornar a sua posi-
ção anterior.

48
FÍSICA

1ª Lei (Lei das órbitas): 


– Tomando o Sol como referencial, todos os planetas
movem-se em órbitas elípticas, localizando-se o Sol em
dos focos da elipse descrita. 

Quando o centro de gravidade G estiver acima do


centro de empuxo C, o equilíbrio pode ser estável ou não.
Vai depender de como se desloca o centro de empuxo
em virtude da mudança na força do volume de líquido
deslocado. As figuras mostram essa situação, onde o centro
de gravidade G está acima do centro de empuxo mas, ao
deslocar o corpo da posição inicial, o centro de empuxo
muda, de modo que o torque resultante faz com que o
corpo volte para sua posição inicial de equilíbrio. O que é uma elipse?
Obs.: A diferença conceitual entre centro de empuxo
e centro de gravidade é que a posição do centro de Denomina-se elipse uma curva correspondente ao es-
gravidade não se altera em relação ao corpo, a menos que paço geométrico de todos os pontos de um plano, onde a
ele seja deformado. distância entre dois pontos fixos do plano é considerada
Mas o centro de empuxo do corpo flutuante muda de uma soma constante. Esses pontos fixos são denominados
acordo com a forma do líquido deslocado porque o centro focos da elipse.
de empuxo está localizado no centro de gravidade do
líquido deslocado pelo corpo. Vejamos uma elipse: 

As figuras abaixo mostram o equilíbrio chamado


instável. Movimentando o corpo (oscilando) de sua posição
inicial, o deslocamento do centro de empuxo faz com que
o torque resultante vire o corpo. Em relação ao ponto P da elipse acima, temos: 
A tarefa de um engenheiro naval consiste em projetar
os navios de modo que isto não ocorra.

Como podemos observar na elipse acima, existe uma


distância entre os pontos A e A, essa distância é considera-
da uma medida denominada eixo maior da elipse. 
Já a letra a é o semi eixo maior, e o f representa a me-
dida da semi distância focal. Podemos adotar e para repre-
sentar a excentricidade da elipse. 

Vejamos: 
As Leis de Kepler (1571-1630) 
O astrônomo Tycho Brahe (1546-1601) realizou me-
dições de notável precisão. Johannes Kepler (1571-1630),
discípulo de Tycho Brahe, utilizando os dados colhidos por
seu mestre, descreveu, de modo singelo e preciso, os mo-
vimentos planetários.

49
FÍSICA

Se e = 0, a elipse irá se degenerar dentro de uma cir- Importante! 


cunferência, ou seja, no caso da elipse acima, F1 e F2 irão Considerando a figura acima, que representa um pla-
coincidir com 0. neta em quatro posições de sua órbita elíptica em torno
O tamanho da elipse irá depender do valor de e, ou do Sol. O ponto mais próximo do Sol chama-se periélio e o
seja, quanto maior for o valor de e maior será a elipse. Já mais afastado, afélio.
quando e = 1, irá se degenerar em um único segmento de a) No periélio, a velocidade escalar de um planeta tem
reta. módulo máximo, enquanto que, no afélio, tem módulo
mínimo.
Enunciado da 1ª Lei de Kepler b)  Do periélio para o afélio, um planeta descreve
movimento retardado, enquanto que, do afélio para o
É importante sabermos que todas as órbitas que são periélio, movimento acelerado.
expostas por todos os planetas em volta do Sol, estarão
localizadas em um dos focos. Vejamos agora uma tabe- Enunciados da 2ª lei de Kepler:
la que apenas Mercúrio e Plutão apresentam uma elipse A) Quando falamos dos raios vetores que ligam os pla-
maior, ou seja, uma elipse que contenha maior excentri- netas com o Sol, devemos saber que esses raios varrem as
cidade, já os outros planetas apresentam as elipses mais áreas iguais nos intervalos de tempos iguais. 
perto das circunferências, ou seja, as que possuem uma
excentricidade menor.  Com isso temos que: 

Vejamos essa tabela:

B) Se tratando da área que foi varrida pelo raio vetor de


um dos planetas, podemos dizer que ela é proporcional ao
intervalo de tempo que foi gasto. 
Com isso temos que: 

Onde K é considerada a constante de proporcionalida-


de, que pode ser chamada de velocidade areolar do pla-
neta.
c) Essa velocidade areolar é considerada constan-
te, pois ela é a razão entre a área varrida e o intervalo de
Porém é importante sabermos que a órbita de um pla- tempo gasto. É importante lembrar que essa velocidade
neta em volta de uma estrela, teoricamente pode ser cir- é variável, ou seja, ela pode variar de um planeta para o
cular. outro, fazendo com que a distância média do planeta ao
2.a Lei (Lei das Áreas): Sol aumente se tornando mínima para Mercúrio e máxima
Essa lei é referente à parte de um planeta que foi “varri- para Plutão.
da” pelo raio vetor, durante um intervalo de tempo. 
– O segmento de reta traçada do centro de massa do Consequência da 2ª lei de Kepler
Sol ao centro de massa de um planeta do Sistema Solar Como vimos anteriormente à velocidade areolar de um
varre áreas iguais em tempos iguais. planeta é constante, e por este fator ela pode interferir na
velocidade de translação, ou seja, ela não deixa com que a
velocidade de translação seja variável.
Como podemos observar na figura acima, A1 e A2, são
iguais, porém essa igualdade impede que a medida do arco
t1 t2 seja maior do que a medida do arco t3 t 4, portanto
podemos concluir que a velocidade de translação em t1 t2
se torna maior do que em t3 t 4, pelo fato do intervalo de
tempo ser o mesmo. 

50
FÍSICA

Portanto:  Vejamos: 

Com base na conclusão acima, podemos dizer que o 3.a Lei (Lei dos Períodos):
planeta vai chegando próximo do Sol, e a sua órbita elípti- – Para qualquer planeta do sistema solar, o quociente
ca, e com isso sua velocidade de translação vai aumentan- entre o cubo do raio médio (r) da órbita e o quadrado do
do. Com isso podemos ver que conforme o Sol vai chegan- período de revolução (T) em torno do Sol é constante. 
do perto o raio vetor vai diminuindo e para que ele consiga
“varrer” a mesma área, o planeta deverá se movimentar
mais rápido. 
No ponto mais próximo do Sol, a velocidade de trans-
lação irá ser a maior. Isso recebe o nome de periélio. Já
quando o ponto estiver bem longe do Sol, a velocidade de
translação irá ser a menor. Isso recebe o nome de afélio.

Vejamos a ilustração: 

T é o período de revolução do planeta em torno do Sol


Com base na figura acima, podemos observar que o (intervalo de tempo também chamado de ano do planeta).
movimento de translação se torna uniforme, pois a órbita
do planeta é circular, onde do afélio para o periélio o movi- Período de translação ou ano de um planeta
mento é considerado acelerado e do periélio para o afélio, O período de translação de um planeta é o intervalo de
o movimento é considerado retardado. tempo, representado por T, em que o planeta consegue dar
uma volta completa em volta do Sol.
Velocidade média de translação 
Com relação a um planeta, essa velocidade possui uma Enunciado da 3ª Lei de Kepler
função decrescente em relação à distância média de cada
planeta ao Sol.  É importante sabermos que dentre os planetas do
O planeta mais rápido possui uma velocidade média Sistema Solar, a razão entre o cubo do raio médio da órbita e
de 50 Km/s, que é o Mercúrio, sendo que a Terra possui o quadrado do período de translação, são constantes. Por-
uma velocidade de mais ou menos 30 Km/s.  tanto: 
Considerando as órbitas como circulares, podemos
afirmar que a velocidade média possui um valor totalmen-
te inversamente proporcional à raiz quadrada do raio de
cada órbita. 
Vejamos: 
Quando falamos de dois planetas, representados por
A e B, teremos: 

O raio de órbita de Plutão é considerado mais ou me-


nos 100 vezes maior que o raio de órbita de Mercúrio, com
isso a velocidade média de Mercúrio chega a ser 10 vezes Se tratando da constante de proporcionalidade da 3ª
maior que a de Plutão. lei de Kepler, temos: 

51
FÍSICA

- Uma velocidade areolar igual a da Terra; 


- Uma velocidade média de translação, que é de apro-
ximadamente 30 km/s; 
- Um período de translação de 1 ano.
4- Todas as Leis de Kepler são válidas tanto para os
Onde G representa a constante de gravitação universal, planetas do nosso sistema solar, como para os corpos que
e M representa a massa do Sol. gravitam em volta das grandes massas centrais, ou seja,
planetas que estejam em volta de estrelas, satélites tanto
Vejamos algumas observações: naturais como artificiais que estejam em volta de um pla-
1- Considerando m como a massa do planeta, e M >> neta e corpos celestes que estejam em volta da Lua.
m podemos desconsiderar m, quando comparado com M, 5- Quando falamos a respeito dos satélites da Terra, é
podendo chegar à expressão da 3ª Lei de Kepler. Vejamos:  importantíssimo ressaltar que:
• Suas órbitas podem ser tanto elíptica como circular; 
• Em relação à Terra, podemos afirmar que seu pon-
to mais próximo é denominado perigeu, e seu ponto mais
afastado é denominado apogeu. 
2- Quanto menor o tempo de translação do planeta, • Alguns fatores como a velocidade areolar e a veloci-
mais próximo do Sol estaremos, pois quanto mais longe do dade média da translação, dependem somente da massa
Sol, mais a velocidade média do planeta vai diminuir, assim da Terra e do raio médio da órbita, porém não dependem
aumentando a extensão da sua órbita. Isso é o que pode- da massa do satélite. 
mos chamar de período de translação crescente.  • Quanto à translação da Lua, podemos considerar sua
A unidade as astronômica, representada por UA, é con- velocidade média como ordem de 1,0 km/s, já de um saté-
siderada a distância média da Terra ao Sol, que vale:  lite estacionário, consideramos sua ordem como 3,0 km/s
e de um satélite rasante 8,0 km/s. Lembrando que esses
valores é sem considerar os efeitos do ar.

TERMODINÂMICA
Vejamos agora um quadro que apresenta a variação do
período com a distância média ao Sol que é medida em UA.  TEMPERATURA - ESCALAS TERMOMÉTRICAS –
DILATAÇÃO (SÓLIDO/LÍQUIDO). GASES
IDEAIS – TRANSFORMAÇÕES ISOTÉRMICA,
ISOBÁRICA, ISOVOLUMÉTRICA E ADIABÁTICA.
EQUIVALENTE MECÂNICO DA CALORIA –
CALOR ESPECÍFICO - ENERGIA INTERNA. 1ª LEI
DA TERMODINÂMICA. MUDANÇAS DE FASE. 2ª
LEI DA TERMODINÂMICA - TRANSFORMAÇÃO
DE ENERGIA TÉRMICA EM OUTRAS FORMAS
DE ENERGIA.

A Termologia ou Termofísica é a parte da Física que


estuda o calor. Os fenômenos são interpretados a partir de
modelos da estrutura da matéria, sob dois pontos de vista
distintos, porém complementares: o macroscópico (tempe-
ratura, energia interna e pressão) e o microscópico (veloci-
dade e energia cinética de átomos e moléculas). Veremos a
explanação deste assunto nos próximos tópicos.
Termometria: conceitos de Termometria, tempera-
3- Vejamos alguns fatores que são funções de órbita, tura, unidades de medidas térmicas, termômetros, es-
ou seja, são totalmente dependentes da massa do Sol e do calas termométricas e suas conversões.
raio médio da órbita: 
- velocidade areolar;  Termometria é a parte da termologia voltada para o
- velocidade média de translação.  estudo da Temperatura, dos Termômetros e das Escalas ter-
Porém esses fatores não são dependentes das caracte- mométricas. Apenas com o nosso tato, é possível perceber
rísticas do planeta que está gravitando.  se um objeto está mais quente ou mais frio que outro cor-
Isso nos mostra que se um corpo celeste resolver gra- po tomado como referência. Essa noção de quente e frio
vitar em volta do Sol e na órbita da Terra, ele irá adquirir:  está intimamente relacionada com o grau de agitação das

52
FÍSICA

partículas constituintes do corpo. Essa grandeza física que Fixo Fundamental. Entre estes pontos, dividimos a altura
nos permite dizer se algo está quente ou esquentando, frio do tubo capilar em partes iguais, montando assim, uma es-
ou esfriando é a Temperatura. Temperatura é a grandeza cala termométrica, onde cada altura corresponderá a uma
escalar que nos permite medir a energia cinética média das temperatura.
moléculas de um corpo.
Escalas Termométricas
Equilíbrio Térmico
Existem várias escalas termométricas, que foram cria-
Quando corpos de diferentes temperaturas são colo- das por vários cientistas em situações diferentes. Mas exis-
cados em contato um com os outros, se não houver in- tem três escalas que são as mais utilizadas:
fluência do meio externo, estes passarão a ter a mesma
temperatura final. Ou seja, quando colocamos dois corpos Escala Celsius - É uma escala usada na maioria dos
em contato (isolados das influências do meio externo) com países de opção para uso popular, anteriormente chamada
diferentes temperaturas iniciais, após um certo intervalo de
de escala centígrada. Esta escala foi apresentada a 1742,
tempo, eles atingirão o equilíbrio térmico e possuirão uma
pelo astrônomo sueco Anders Celsius (1701-1744). O in-
mesma temperatura final.
tervalo entre os Pontos Fixos Fundamentais desta escala é
dividido em 100 partes iguais, cada um valendo 1 °C (um
Medida de Temperatura
grau Celsius). O primeiro ponto fixo fundamental, chamado
Quando a temperatura de um corpo muda, algumas de ponto de fusão do gelo a 1 atm, corresponde ao valor
propriedades desse corpo se modificam. Por exemplo: de 0 °C e o segundo ponto fixo fundamental, chamado de
- Quando aquecemos um líquido, o volume deste au- ponto de ebulição da água a 1 atm, corresponde ao valor
menta. de 100 °C.
- Quando aquecemos uma barra de metal, o compri-
mento desta barra aumenta. Escala Fahrenheit - É uma escala utilizada nos países
- Quando aquecemos um fio elétrico, a resistência des- de língua inglesa. Esta escala foi apresentada a 1727, pelo
te aumenta. físico alemão Gabriel Daniel Fahrenheit (1686-1736). O in-
- Quando aquecemos um gás confinado, a pressão tervalo entre os pontos fixos fundamentais desta escala é
deste gás aumenta. dividido em 180 partes iguais. O ponto de fusão do gelo
corresponde a 32 °F (trinta e dois graus Fahrenheit) e o
Podemos usar estas propriedades para criar uma fer- ponto de ebulição da água corresponde a 212 °F (ambos a
ramenta capaz de medir a temperatura de um corpo, co- pressão de 1 atm).
locando um destes tipos de material em contato com o
corpo. O nome desta ferramenta usada para medir a tem- 0°C = 32°F
peratura de um corpo é Termômetro. 100°C = 212°F
Existem vários tipos de termômetros que usam diver-
sas propriedades físicas da matéria para medir a tempe- Escala Kelvin - é conhecida como escala absoluta,
ratura, por exemplo: Termômetro Clínico, Termômetro de usada no meio científico. Esta escala foi inventada pelo en-
Cristal Líquido, Termômetro a Álcool, Termômetro a Gás, genheiro, matemático e fisco britânico William Thomson
Termômetro de Radiação, Pirômetro Óptico, Termômetro Kelvin (Lord Kelvin, 1824-1907). Nesta escala, o ponto de
Digital, entre outros. O tipo mais comum de termômetro fusão do gelo corresponde a 273 K (duzentos e setenta e
que existe é o termômetro de mercúrio, que consiste em três kelvins) e o ponto de ebulição da água corresponde
um bulbo (recipiente) ligado a um tubo capilar. No inte-
a 373 K (ambos a pressão de 1 atm). A escala Kelvin não
rior deste bulbo, existe uma certa quantidade de mercúrio.
apresenta a notação em graus. Esta escala é absoluta por-
Quando colocamos este termômetro em contato com um
que tem origem na temperatura zero absoluto, ou seja, a
corpo mais quente, o mercúrio vai se aquecer e dilatar, en-
menor temperatura que existe é o zero absoluto (0 K). Já
tão a altura de mercúrio no tubo capilar vai aumentar até
parar, quando o mercúrio entra em equilíbrio térmico com que a temperatura está relacionada com o grau de agitação
o corpo. das moléculas, o zero absoluto seria o valor de temperatura
Cada altura da coluna de mercúrio no tubo capilar cor- que um corpo não possuiria nenhuma agitação molecular.
responde a uma temperatura. Para determinar a escala de -273,15°C = 0K
temperatura, colocamos o termômetro na água e gelo em 0°C = 273,15K
equilíbrio térmico (sempre à pressão de 1 atm), esperamos 100°C = 373,15K
o mercúrio entrar em equilíbrio térmico com o gelo em fu-
são, então o mercúrio pára. Chamamos este ponto, onde Conversão de Escalas
o mercúrio se estabilizou de Primeiro Ponto Fixo Funda-
mental. Depois colocamos o termômetro em contato com Celsius para Fahrenheit: C = 5/9 (F – 32)
água em ebulição, quando o mercúrio entrar em equilíbrio Kelvin para Celsius: K = 273 + C
térmico com a água e vapor, marcamos o Segundo Ponto

53
FÍSICA

Onde C corresponde à temperatura em graus Celsius, O contrário da solidificação, a fusão, também ocorre a
F corresponde à temperatura em graus Fahrenheit e K cor- essa temperatura, chamada de ponto (ou temperatura) de
responde à temperatura em Kelvin. fusão.
Dilatação térmica: dilatação térmica dos sólidos e De modo geral, cada substância apresenta um ponto
dos líquidos. de fusão (ou de solidificação) e um ponto de ebulição (ou
de condensação) específico.
Mudanças de estado físico, dilatação dos corpos, calor
latente, trabalho a pressão constante, transmissão de ca- Influência da pressão
lor, condução, convecção, erradiação, regime estacionário,
coeficiente de condutividade térmica. O diagrama a seguir Além da temperatura, a pressão também influi na mu-
mostra as mudanças de estado, com os nomes particulares dança de estado. Note que até agora falamos em ponto de
que cada uma delas recebe. fusão e ponto de ebulição ao nível do mar.
Quanto menor a pressão exercida sobre a superfície de
um líquido, mais fácil é a vaporização, pois as moléculas
do líquido encontram menor resistência para aandoná-lo e
transformar-se em vapor.
Vejamos, por exemplo, o caso da água. Ao nível do mar,
a pressão exercida pelo ar é, como já dito anteriormente,
de 1 atmosfera. A água ferve então a 100ºC. Já na cidade
de São Paulo, por exemplo, que está a uma altitude maior,
a pressão atmosférica é menor, e a água ferve a cerda de
98ºC.
Como citado anteriormente, dois fatores são importan-
tes nas mudanças de estado das substâncias: temperatura O mesmo efeito notamos na fusão. Uma alteração na
e pressão. pressão atmosférica modifica o ponto de fusão das subs-
tâncias. Uma diminuição na pressão atmosférica costuma
Influência da temperatura provocar também uma diminuição no ponto de fusão.
Com relação à fusão, no entanto, a água é uma exceção
A vaporização, que é a passagem do estado líquido a essa regra. Para essa substância, um aumento na pressão
para o gasoso, pode ocorrer de três modos: evaporação, provoca uma diminuição do seu ponto de fusão.
ebulição e calefação. Um caso curioso acontece na Lua. Lá não existe ar
A evaporação acontece com líquidos a qualquer tem- e, portanto, a pressão atmosférica é nula. Se levarmos
peratura. É o caso, por exemplo, da água líquida colocada até lá um bloco de gelo e colocarmos ao sol para derre-
em um prato que após algum tempo desaparece, ou seja, ter, observaremos uma sublimação, isto é, a passagem
transforma-se em vapor e mistura-se à atmosfera. direta da água do estádo sólido para o estado gasoso.
Como se explica esse fato?
Já a calefação é um processo rápido de vaporização, Acontece que a ausência de pressão impede que lá
que ocorre quando há um aumento violento de temperatu- exista água no estado líquido. A falta de forças de pressão
ra. É o que acontece quando colocamos água em pequenas faria a água ferver, mesmo estando a qualquer tempera-
quantidades em uma frigideira bem quente. Ela vaporiza tura.
de modo brusco, quase instantâneo.
Dilatação dos Sólidos
A ebulição é a vaporização que acontece a uma deter-
Todos os corpos sólidos, líquidos ou gasosos, se di-
minada temperatura.
latam quando a temperatura aumenta. Quando a tempe-
Se colocarmos água para esquentar, notaremos que
ratura do sólido é aumentada, aumentando a agitação de
quando sua temperatura chega a 100ºC, ela ferve, entran- seus átomos, que ao vibrar afastam-se mais da posição de
do em ebulição. Isso acontece ao nível do mar, onde a pres- equilíbrio.
são exercida pelo ar (pressão atmosférica) corresponde a A dilatação também influi na densidade das substân-
uma atmosfera - 1 atm. A essa temperatura damos o nome cias. Quando a temperatura do corpo cresce seu volume
de ponto (ou temperatura) de ebulição. aumenta e como sua massa não varia sua densidade dimi-
A temperatura em que ocorre a ebulição, acontece nui. A variação de densidade causa a formação dos ventos.
também a condensação. Assim, se for resfriado, o vapor
d’água começa a transformar-se em água no estado líqui- Dilatação dos Líquidos
do a partir de 100ºC.
Ainda ao nível do mar, se resfriarmos água no esta- Apesar dos líquidos não terem a mesma forma que os
do líquido, notaremos que ela se solidifica a 0ºC. A essa sólidos, eles de dilatam da mesma forma que os sólidos,
temperatura damos o nome de ponto (ou temperatura) de tomando forma do recipiente. Quando usamos um reci-
solidificação. piente com dilatação muito pequena, a dilatação aparente
torna-se igual a dilatação real.

54
FÍSICA

Mudanças de Fases A ebulição ocorre quando o líquido atinge um determi-


nado valor observando uma rápida formação e tumultuosa
Os átomos da substância se encontra próximos uns de vapores.
dos outros e ligados por uma forças elétricas grandes. Eles
encontram-se em constante movimentação de vibração. Influência da Pressão
em torno de uma posição média de equilíbrio. Quase todos
os sólido se apresentam em forma de cristais, os átomos Quando um substância se funde ela aumenta de vo-
que os constituem são organizados de maneira regular. lume. Observa-se um aumento na pressão exercida sobre
Uma mesma substância pode se apresentar em estruturas ela acarreta um aumento em sua temperatura de fusão. O
cristalinas diferentes. Um exemplo é o diamante e a grafite. aumento da pressão diminui a temperatura de fusão.
Os seus átomos não estão distribuídos em uma estrutura A influência da pressão na temperatura de ebulição, o
organizada. aumento da pressão acarreta um aumento na temperatura
Líquido - Os átomos de uma substância líquida são de ebulição, dificultando a vaporização. A diminuição de
mais afastados uns dos outros do que no estado sólido. É pressão abaixa a temperatura da ebulição.
por este motivo que os líquidos podem escoar com uma São poucas as substâncias que sublimam nas condi-
facilidade, não oferece resistência à penetração e tomam a ções ambientes, podendo ocorrer com qualquer substância
forma do recipiente onde são colocados. dependendo da temperatura e da pressão que está sendo
Gasoso - A separação entre os átomos gasoso é muito submetida.
maior do que os sólidos é líquidos, sendo sua força nula. Uma substância pode apresentar-se nos estados líqui-
O aumento de agitação dos átomo faz com que a for- dos, sólido e gasoso., dependendo da temperatura e da
ça de ligação entre os átomos seja alterada, acarretando pressão. Com os valores de temperatura e de pressão em
modificações na organização e separação destes átomos. que uma substância se localiza, se encontra o diagrama de
Assim a absorção de calor por um corpo provoca mudança fases permitindo determinar se ela está sólida, líquida ou
de fase. Estas mudanças ocorrem com uma substância re- gasosa.
cebendo denominações como: Transmissão de Calor
- fusão - passagem de sólido para líquido
- solidificação - passagem de líquido para sólido A propagação do calor efetua-se por três modos dife-
- vaporização - passagem de líquido para gás rentes: condução, convecção e irradiação. Para os três mo-
- condensação (ou liquefação) - passagem de gás para
dos de propagação, definimos a grandeza fluxo de calor .
líquido
Seja S uma superfície localizada na região onde ocorre
- sublimação - passagem direta de sólido para gás ou
a propagação de calor. O fluxo de calor através da superfí-
para sólido (sem passar para o estado líquido).
cie S é dado pela relação entre a quantidade de calor Q que
Fusão - a energia recebida pelo sólido provoca au-
atravessa a superfície e o intervalo de tempo t decorrido.
mento na agitação dos átomos na rede cristalina provo-
cando um aumento na temperatura do corpo. Atingindo
um certo grau de intensidade sendo suficiente para desfa-
zer a rede cristalina.

Leis da Fusão

1ª a temperatura onde ocorre a fusão é determinada


para cada substância.
2ª fornecimento de calor para que ocorra a mudança
de estado. Calor este que deve ser fornecido por uma uni-
dade de massa denominada calor latente de fusão.
3ª a temperatura do sólido permanece constante. As unidades usuais de fluxo de calor são cal/s e kcal/s.
Como é energia, podemos também usar a unidade watt
A solidificação acontece de forma inversa da fusão. Du- (W), que corresponde ao joule por segundo (J/s).
rante a solidificação a temperatura permanece constante
devendo assim retirar o líquido, a mesma quantidade de Condução
calor.
A vaporização ocorre de duas maneiras: pela evapora- É o processo de transmissão de calor pelo qual a ener-
ção, e pela ebulição. gia passa de molécula para molécula sem que elas sejam
A evaporação ocorre quando as moléculas de um líqui- deslocadas. Exemplo: aquecendo-se a extremidade de uma
do a qualquer temperatura, encontra-se em agitação em barra metálica, as moléculas passam a vibrar com maior
todas as direções com velocidades variadas. Quando alcan- intensidade, transmitindo essa energia adicional às molé-
çam a superfície, conseguem escapar do seio do líquido. culas mais próximas, que também passam a vibrar mais
Ao escaparem Estas moléculas passam a se encontrarem intensamente e assim sucessivamente até alcançar a outra
muito afastadas umas das outras sendo essa força nula. extremidade.

55
FÍSICA

Os metais, por exemplo, são bons condutores e outras Condutividade Térmica


substâncias, como a cortiça, o ar, a madeira, o gelo, a lã, o
algodão, etc., são isolantes térmicos. Condutividade térmica é uma propriedade física  dos
Nos líquidos e nos gases, a condução térmica é baixa. materiais que descreve a habilidade dessa de conduzir ca-
Por esse motivo é que os gases são utilizados como isolan- lor.  E
tes térmicos. Equivale a quantidade de calor Q transmitida através
de uma espessura L, numa direção normal a superfície de
Lei da Condução Térmica área A, devido ao gradiente de temperatura ΔT, sob con-
dições de estado fixo e quando a transferência de calor é
Considere dois ambientes a temperaturas 1 e 2, tais dependente apenas do gradiente de temperatura.
que 2 > 1, separados por uma parede de área A e espessura A quantidade de calor que atravessa, por exemplo,
e (figura abaixo) uma parede, por segundo, depende dos seguintes fatores:

Area A

largura →
T1
A experiência mostra que: Em regime estacionário, o
fluxo de calor por condução num material homogêneo é T2
diretamente proporcional à área da seção transversal atra-
vessada e à diferença de temperatura entre os extremos,
e inversamente proporcional à espessura da camada con-
siderada. Esse enunciado é conhecido como lei Fourier, -é diretamente proporcional à área da parede (A);
expressa pela equação: -é diretamente proporcional à diferença de temperatu-
ras entre o interior da habitação (T2) e o exterior (T1);
-é inversamente proporcional à espessura (L) da pare-
de.

(Q / ΔT) = K x A x (ΔT / L)
A constante de proporcionalidade K depende da na- (Q / ΔT) = energia transferida, como calor, por segundo
tureza, sendo denominada, coeficiente de condutibilida- (J/s)
de térmica. Seu valor é elevado para os bons condutores, K= condutividade térmica (W/m.K)
como os metais, e baixo para os isolantes térmicos. A= área (m²)
ΔT= diferença de temperaturas (K)
Exemplos: L= espessura (m)
Prata: 0,99cal/s . cm . ºC
Alumínio: 0,50cal/s . cm . ºC Coeficiente de condutividade térmica é uma caracte-
Ferro: 0,16cal/s . cm . ºC rística da natureza do material. Corresponde à quantidade
Água: 0,0014cal/s . cm . ºC de energia, sob a forma de calor, que passa, num segundo,
Lã: 0,000086cal/s . cm . ºC através de 1m² de superfície, quando a diferença de tem-
Ar seco: 0,000061cal/s . cm . ºC peratura entre o interior e o exterior é de 1°C.
(Q / ΔT) = U x A x ΔT
Convecção (Q / ΔT) = energia transferida, como calor, por segundo
(J/s)
É o processo de transmissão do calor, nos líquidos ou U= coeficiente de condutividade térmica
nos gases, por efeito das camadas aquecidas que se cha- A= área (m²)
mam correntes de convecção. Na convecção, não ocorre ΔT= diferença de temperaturas (K)
passagem de energia de um corpo para outro, mas mo-
vimento de partículas, levando consigo a energia de uma A condutividade térmica e o coeficiente de condutivi-
posição para outra. Por isso, a convecção não pode ocorrer dade térmica relacionam-se através da seguinte expressão:
no vácuo. A convecção explica, por exemplo, as brisas marí- U=K/L
timas e terrestres; porque os aparelhos de ar-condicionado A unidade U pode estar expressa em
devem ser instalados elevados; porque os refrigeradores watt por metro quadrado vezes graus Celsius (símbolo:
têm o congelador na parte superior. W/m²/°C)

56
FÍSICA

Condutividade térmica de materiais a 27°C A unidade de capacidade térmica no S.I. é o J/K ( joule
por kelvin).
Condutividade térmica (W/ Calor específico (c) - É a capacidade específica de uma
Material
m^2/°C) substância de mudar sua temperatura ao receber ou liberar
calor para cada massa unitária que esta vier a se incluir. Isto
Prata 426
quer dizer que a Capacidade Térmica de um corpo é dada
Cobre 398 pelo Calor Específico da substância que o compõe e sua
massa. A unidade usual para determinar o calor específico
Alumínio 237 é
Tungsténio 178
e no S.I. é o J/K.kg
Ferro 80,3
Vidro 0,72 - 0,86
Água 0,61
Tijolo 0,4 - 0,8 - c: calor específico de um dado material.
- C: capacidade térmica da amostra deste material.
Madeira (pinho) 0,11 - 0,14 - M: massa da amostra deste material.
Fibra de vidro 0,046 Uma caloria (1 cal): é a quantidade de calor necessária
Espuma de para aquecer, sob pressão normal, 1,0 g de água de 14,5°C
poliestireno
0,033 a 15,5°C.
Ar 0,026 Função Fundamental da Calorimetria (Quantidade
Espuma de de Calor Sensível)
poliuretano
0,020 Ocorre mudança de temperatura nas substâncias.
Calorimetria: calor, calorímetro, capacidade térmi-
ca, calor específico e equação fundamental da calori-
metria, calores sensível e latente, mudanças de estado,
equilíbrio térmico, trocas de calor e propagações do ca- - Q>0 (o corpo recebe calor) (o corpo
lor. se aquece).
- Q<0 (o corpo cede calor) (o corpo se
Calorimetria é a parte da física que estuda as trocas de esfria).
energia entre corpos ou sistemas quando essas trocas se Quantidade de Calor Latente
dão na forma de calor. Calor significa uma transferência de
energia térmica de um sistema para outro, ou seja: pode- Ocorre mudança de estado físico nas substâncias.
mos dizer que um corpo recebe calor, mas não que ele pos-
sui calor. A Calorimetria é uma ramificação da termologia.

Calor - Energia térmica que flui de um corpo para ou- Propriedades envolvidas nas trocas de Calor (Prin-
tro em virtude da diferença de temperatura entre eles. Pode cípios da Calorimetria)
ser adicionado ou removido de uma substância. É medido
em calorias ou joules S.I. - Princípios de transformações inversas: a quantidade
de calor que um corpo recebe é igual, em módulo, à
Capacidade térmica (C) - É a capacidade de um corpo quantidade de calor que um corpo cede ao voltar, pelo
de mudar sua temperatura ao receber ou liberar calor. Ela é mesmo processo, à situação inicial.
dada como a razão entre a quantidade de calor e a variação - Princípio do Equilíbrio Térmico: quando vários corpos
de temperatura. inicialmente a temperaturas diferentes trocam calor entre
si, e só entre si, observamos que alguns perdem enquanto
outros recebem calor, de tal maneira que decorrido um
certo tempo, todos estacionam numa mesma temperatura,
chamada temperatura de equilíbrio térmico.
- Princípio da Igualdade das Trocas de Calor: quando
- C: capacidade térmica do corpo. vários corpos trocam calor apenas entre si, a soma das
- Q: quantidade de calor trocada pelo corpo. quantidades de calor que alguns cedem é igual, em módulo,
- : variação de temperatura do corpo. à soma das quantidades de calor que os restantes recebem.

57
FÍSICA

perfície é o efeito causado pelos choques das partículas


constituintes sobre essa superfície. Com o aumento da
temperatura, a velocidade média das partículas constituin-
Unidades tes do gás aumenta; a pressão aumenta se o recipiente que
contém o gás conserva o mesmo volume. Sejam P (Pa), V
C= capacidade térmica (cal/°C) (m3) e T (K), respectivamente, a pressão, o volume e a tem-
Q= quantidade de calor (cal) peratura absoluta. As variáveis P, V e T especificam o esta-
∆T ou ∆Θ= variação de temperatura (K) do de uma dada massa gasosa; por isso são denominadas
c= calor específico (cal/g°C ou J/kg K) variáveis de estado.
M= massa (g)
T= temperatura (°C) Transformações dos Gases

Exemplo Uma dada massa sofre uma transformação gasosa


quando passa a um novo estado, isto é, quando ocorrem
1. Ao receber 6000 cal, um corpo de 250 g aumenta variações nas grandezas P, V e T. Há transformações mais
sua temperatura em 40°C, sem mudar de fase. Qual o calor simples, onde uma das grandezas é fixa, modificando-se
específico do material desse corpo? apenas as outras duas. Transformação isotérmica é aquela
na qual a temperatura do gás é mantida constante.
Quantidade de calor sensíveis:
Q = m.c.Δθ
6000 = 250.c.40
c = 6000/(250.40) Transformação isobárica é aquela na qual a pressão do
c = 0,6 cal/g.°C gás é mantida constante.
2. Um bloco de vidro com massa de m=300g está ini-
cialmente á temperatura θi=25°C. Sabendo que o calor
especifico do vidro é c=0,20cal/g°C, calcule a quantidade
Transformação isométrica ou isocórica é aquela na qual
de calor necessária para elevar a temperatura do bloco até
o volume do gás é mantido constante.
Θf=40°C.
Q = m.c.Δθ Q = 300.0.20.15 Q = 300.20/100.15 Q =
30.2.15 = 900cal
Gases Perfeitos ou Ideais
3. Uma fonte térmica fornece, em cada minuto, 20 cal.
Para produzir um aquecimento de 30°C em 50g de um lí-
quido, são necessários 15 min. Determine o calor específi- São aqueles que (só existem teoricamente) obedecem
co do líquido e a capacidade térmica dessa quantidade de à risca a equação geral dos gases perfeitos. Os gases reais
líquido. apresentam comportamentos que se aproximam dos ideais
Capacidade Térmica: quanto mais baixa for a pressão e mais alta sua tempera-
tura.

20/1 = x/15 Q = 300 C = 300/30 C = 10 cal/°C

Calor Específico:
Q = 300 Δθ = 30ºC m = 50g
Q = m.c.Δθ 300 = 50.c.30 300 = 1500.c c = 0,2 cal/g.ºC
Observações: Quando nos referimos a uma dada mas-
sa gasosa, nas transformações, isto significa que a equação
Comportamento térmico dos gases: propriedades geral dos gases perfeitos só se aplica para massa constante
dos gases perfeitos ou ideais e leis físicas dos gases. do gás, no estado inicial e final. Ao se referir a condições
normais de temperatura e pressão, abreviadamente CNTP,
Variáveis de Estado a temperatura considerada é 273K e a pressão de 1 atm
(105 Pa). As variáveis de estado são medidas:
Todo gás é constituído de partículas (moléculas, áto- T - temperatura medida no termômetro.
mos ou íons) que estão em contínuo movimento desorde- V - volume do gás é o volume do recipiente.
nado, por isso ocupa sempre o volume total do recipiente P - pressão medida no manômetro.
que o contém. A pressão que o gás exerce sobre uma su-

58
FÍSICA

Lei de Boyle-Mariotte:

Na transformação isotérmica de uma dada massa ga-


sosa, a pressão é inversamente proporcional ao volume.

Termodinâmica: trabalho, energia interna, princí-


pios da Termodinâmica.

O diagrama anterior P x V denomina-se diagrama de O Calor como Energia


Clapeyron e a isoterma é o conjunto de todos os pontos de Quando dois corpos a temperatura diferente são colo-
mesma temperatura. cadas em contato, eles atingem, depois de um certo tem-
po uma mesma temperatura. Quando os corpos atingem a
Lei de Charles (1ª Lei de Gay-Lussac) mesma temperatura, o fluxo de calórico era interrompido e
eles permanecem em equilíbrio térmico.
Na transformação isobárica de uma dada massa ga- A energia transferida de um corpo para outro em vir-
sosa, o volume é diretamente proporcional à temperatura tude de uma diferença de temperatura entre eles é calor.
absoluta. O termo calor é empregado para designar a energia em
trânsito, enquanto está sendo transferida de um corpo para
outro por causa da diferença de temperatura. Se um cor-
po está com a temperatura mais elevada do que outro, ele
pode transferir parte dela para outro. Mesmo recebendo
outra forma de energia , a energia interna de um corpo
pode aumentar sem que o corpo receba calor. O aumento
da energia interna, ocorre pelo fato da energia mecânica
transferida à água.
Transferência de Calor
A transmissão de calor é denominado condução. A
maior parte do calor é transferido através dos corpos sóli-
dos é transmitida de um ponto para outro por condução.
Se a temperatura do ambiente for baixa, esta transmissão
se faz com maior rapidez
A transferência de calor nos líquidos e gases podem
ser feitas por condução, mas é pelo processo de convecção
que responsável pela maior parte de calor transferido atra-
vés dos fluidos.

Capacidade Térmica de Calor Específico


Lei de Charles (2ª Lei de Gay-Lussac) Quando se fornece a mesma quantidade de calor a um
outro corpo, verificamos a elevação de temperatura dife-
Na transformação isométrica (isocórica) de uma dada rente. Este processo e definido por capacidade térmica.
massa gasosa, a pressão é diretamente proporcional à tem- O calor específico da água é maior que os calores es-
peratura absoluta. pecíficos de quase todas as substâncias.

59
FÍSICA

Trabalho em uma Variação de Volume 1. Uma parte da energia pode ser usada para o sistema
Na física, sistema é usado para designar corpo. Tudo realizar um trabalho (t), expandindo-se ou contraindo-se,
aquilo que pertence ao sistema, o resto do universo, é a ou também pode acontecer de o sistema não alterar seu
vizinhança do sistema. volume (t = 0);
Um sistema pode trocar energia sob a forma de calor 2. A outra parte pode ser absorvida pelo sistema, vi-
ou pela realização de trabalho. Quando há um diferença rando energia interna, ou seja, essa outra parte de energia
de temperatura entre o sistema e a vizinhança uma certa é igual à variação de energia (ΔU) do sistema. Se a variação
quantidade de calor pode ser transferida de um outro. de energia for zero (ΔU = 0) o sistema utilizou toda a ener-
gia em forma de trabalho.
Trabalho Positivo e Trabalho Negativo ΔU= Q – t
Trabalho Positivo é sempre que um sistema aumenta Assim temos enunciada a primeira lei da termodinâmi-
de volume. ca: a variação de energia interna ΔU de um sistema é igual
Trabalho Negativo quando o sistema realiza um traba- a diferença entre o calor Q trocado com o meio externo e
lho o seu volume é reduzido. o trabalho t por ele realizado durante uma transformação.
Aplicando a lei de conservação da energia, temos:
Primeira Lei da Termodinâmica ΔU= Q – t à Q = ΔU + t
Essa energia representa a soma das diversas formas
de energia de um corpo possuem. Quando um sistema vai * Q à Quantidade de calor trocado com o meio:
do estado inicial a outro estado final ele geralmente troca Q > 0 à o sistema recebe calor;
energia com a sua vizinhança. Com isso a energia sofre va- Q < 0 à o sistema perde calor.
riações passando de valor inicial para valor final.
* ΔU à Variação da energia interna do gás:
Transformações Adiabáticas ΔU > 0 à a energia interna aumenta, portanto, sua tem-
Quando um gás se expande ele não pode ceder nem peratura aumenta;
receber calor da vizinhança. Uma transformação em que o ΔU < 0 à a energia interna diminui, portanto, sua tem-
sistema não troca calor com a vizinhança. Se a transforma- peratura diminui.
* t à Energia que o gás troca com o meio sob a forma
ção é muito rápida, a quantidade de calor que o sistema
de trabalho:
poderá ceder ou absorver é muito pequena.
t > 0 à o gás fornece energia ao meio, portanto, o vo-
lume aumenta;
Transformações Isotérmicas
t < 0 à o gás recebe energia do meio, portanto, o vo-
Se o trabalho que o gás realiza for igual ao calor que
lume diminui.
ele absorve. A energia interna permanece constante indi-
cando que a temperatura não sofreu alterações, assim o
Termodinâmica  é a área da física que estuda a
gás se expandiu isotermicamente, recebendo uma quanti-
transformação de energia térmica em energia mecânica  ou
dade de calor igual ao trabalho realizado na expansão. vice-versa. Um fato importante de falarmos nesse tema, é que
está intimamente ligado ao trabalho de uma força, bem como
Calor Absorvido por um Gás a temperatura, volume e energia interna de um gás perfeito.
Quando massas iguais de um mesmo gás é aqueci- No estudo da termodinâmica temos que, para um de-
do uma dela o volume é constante e na outra a pressão é terminado gás, podemos calcular o trabalho da força exerci-
constante. Para as duas a mesma elevação de temperatura, da por ele. Para isso, vamos imaginar um vaso com um êm-
a quantidade de calor que fornecemos a pressão constante bolo móvel na parte superior (uma seringa, por exemplo),
é maior do que aquela que devemos fornecer a volume de forma que este possa se mover sempre que necessário.
constante. Quando aplicamos uma força F sobre o embolo esta
Calorímetro pode ser expressa pela equação F = P . A, onde P é a pres-
Calorímetro é um aparelho usado na medida do ca- são exercida sobre a área de contato (A). Sobre o trabalho
lor trocado entre corpos, podendo obter como resultado de uma força, sabemos que ele é descrito pelo produto en-
dessa medida, o calor específico de uma substância qual- tre a força e a variação do espaço promovida pelo mesmo,
quer. quando um ou mais corpos são colocados no interior logo temos que,
de um calorímetro, sendo suas temperaturas diferentes da
temperatura dos corpos existentes, havendo assim troca de
calor entre eles alcançando assim o equilíbrio térmico.
A primeira lei da termodinâmica nada mais é que
o princípio da conservação de energia e, apesar de ser
estudado para os gases, pode ser aplicado em quaisquer
processos em que a energia de um sistema é trocado com
o meio externo na forma de calor e trabalho. Porém temos que
Quando fornecemos a um sistema certa quantidade de
energia Q, esta energia pode ser usada de duas maneiras: Portanto:

60
FÍSICA

Podemos também, calcular o trabalho através da área - Ondas unidimensionais: só se propagam em uma di-
do gráfico expresso no plano P x Δv, conforme a figura. reção (uma dimensão), como uma onda em uma corda.
- Ondas bidimensionais: se propagam em duas dire-
ções (x e y do plano cartesiano), como a onda provocada
pela queda de um objeto na superfície da água.
- Ondas tridimensionais: se propagam em todas as di-
reções possíveis, como ondas sonoras, a luz, etc.

Classificação quanto a direção de propagação

- Ondas longitudinais: são as ondas onde a vibração


da fonte é paralela ao deslocamento da onda. Exemplos de
ondas longitudinais são as ondas sonoras (o alto falante vi-
bra no eixo x, e as ondas seguem essa mesma direção), etc.
- Ondas transversais: a vibração é perpendicular à pro-
pagação da onda. Ex.: ondas eletromagnéticas, ondas em
VIBRAÇÕES E ONDAS uma corda (você balança a mão para cima e para baixo para
MOVIMENTO HARMÔNICO SIMPLES. ONDAS gerar as ondas na corda).
ELÁSTICAS: PROPAGAÇÃO – SUPERPOSIÇÃO
Características das ondas
- REFLEXÃO E REFRAÇÃO - NOÇÕES SOBRE A
INTERFERÊNCIA, DIFRAÇÃO E RESSONÂNCIA. Todas as ondas possuem algumas grandezas físicas,
SOM. que são:

- Frequência: é o número de oscilações da onda, por


um certo período de tempo. A unidade de frequência do
Ondulatória é a parte da Física que estuda as ondas. Sistema Internacional (SI), é o hertz (Hz), que equivale a 1
Qualquer onda pode ser estudada aqui, seja a onda do segundo, e é representada pela letra f. Então, quando di-
mar, ou ondas eletromagnéticas, como a luz. A definição zemos que uma onda vibra a 60Hz, significa que ela oscila
de onda é qualquer perturbação (pulso) que se propaga 60 vezes por segundo. A frequência de uma onda só muda
em um meio. Ex: uma pedra jogada em uma piscina (a fon- quando houver alterações na fonte.
te), provocará ondas na água, pois houve uma perturbação.
Essa onda se propagará para todos os lados, quando ve- -Período: é o tempo necessário para a fonte produzir
mos as perturbações partindo do local da queda da pedra, uma onda completa. No SI, é representado pela letra T, e é
até ir na borda. Uma sequência de pulsos formam as ondas. medido em segundos.
Chamamos de Fonte qualquer objeto que possa criar
ondas. A onda é somente energia, pois ela só faz a transfe- É possível criar uma equação relacionando a frequência
rência de energia cinética da fonte, para o meio. Portanto, e o período de uma onda:
qualquer tipo de onda, não transporta matéria!. As ondas
podem ser classificadas seguindo três critérios: f = 1/T
Classificação das ondas segundo a sua Natureza
ou
Quanto a natureza, as ondas podem ser dividas em
dois tipos: T = 1/f
- Comprimento de onda: é o tamanho de uma onda,
- Ondas mecânicas: são todas as ondas que precisam que pode ser medida em três pontos diferentes: de crista
de um meio material para se propagar. Por exemplo: ondas a crista, do início ao final de um período ou de vale a vale.
no mar, ondas sonoras, ondas em uma corda, etc. Crista é a parte alta da onda, vale, a parte baixa. É represen-
- Ondas eletromagnéticas: são ondas que não preci- tada no SI pela letra grega lambda (λ)
sam de um meio material para se propagar. Elas também
podem se propagar em meios materiais. Exemplos: luz, - Velocidade: todas as ondas possuem uma velocida-
raio-x , sinais de rádio, etc. de, que sempre é determinada pela distância percorrida,
sobre o tempo gasto. Nas ondas, essa equação fica:
Classificação em relação à direção de propagação v = λ / T ou v = λ . 1/T ou ainda v = λ . f

As ondas podem ser dividas em três tipos, segundo - Amplitude: é a “altura” da onda, é a distância entre
as direções em que se propaga: o eixo da onda até a crista. Quanto maior for a amplitude,
maior será a quantidade de energia transportada.

61
FÍSICA

Conceitos e propriedades ondulatórias, ondas e suas À medida que afastamos o bloco de massa m da
características, propagações e fenômenos ondulatórios, posição de equilíbrio, a força restauradora vai aumentando
sons e suas características, reflexão, refração, difração, (estamos tomando o valor de X crescendo positivamente à
polarização e interferência de ondas, efeito Doppler e direita do ponto de equilíbrio e vice-versa), se empurramos
ressonância. o bloco de massa m para a esquerda da posição 0, uma
força de sentido contrário e proporcional ao deslocamento
MOVIMENTO HARMÔNICO SIMPLES, PERÍODO, X surgirá tentando manter o bloco na posição de equilíbrio
FREQUÊNCIA, PÊNDULO SIMPLES, LEI DE HOOKE, SIS- 0.
TEMA MASSA-MOLA Se dermos um puxão no bloco de massa m e o soltar-
mos veremos o nosso sistema oscilando. Você teria ideia de
Movimento Harmônico Simples (MHS) por quê o nosso sistema oscila? Se haveria, e se sim, qual
Um dos comportamentos oscilatórios mais simples de a relação da força restauradora e do fato de nosso sistema
se estender, sendo encontrado em vários sistemas, poden- ficar oscilando?
do ser estendido a muitos outros com variações é o Movi- Na tentativa de respondermos a essa pergunta come-
mento Harmônico Simples (M.H.S). çaremos discutindo o tipo de movimento realizado por
Muitos comportamentos oscilatórios surgem a partir nosso sistema massa-mola e a natureza matemática deste
da existência de forças restauradoras que tendem a trazer tipo de movimento.
ou manter sistemas em certos estados ou posições, sen- Perfil de um comportamento tipo M.H.S.
do essas forças restauradoras basicamente do tipo forças Oscilando em torno de um ponto central, apresentan-
elásticas, obedecendo, portanto, a Lei de Hooke (F = - kX). do uma variação de espaço maior nas proximidades do
Um sistema conhecido que se comporta dessa maneira ponto central do que nas extremidades. Você saberia dizer
é o sistema massa-mola (veja a figura abaixo). Consiste de qual o tipo de função representada em nosso esquema?
uma massa de valor m, presa por uma das extremidades Esse formato característico pertence a que tipo de funções?
de uma certa mola de fator de restauração k e cuja outra Uma explicação para esse tipo de gráfico obtido po-
extremidade está ligada a um ponto fixo. deria sair de uma análise das forças existentes no sistema
massa-mola, mesmo que a compreensão total da mesma
somente possa ser entendida a fundo a nível universitário.
Sabendo-se que a força aplicada no bloco m do nosso
sistema massa-mola na direção do eixo X será igual à força
restauradora exercida pela mola sobre o bloco na posição
X aonde o mesmo se encontrar (3a. Lei de Newton) pode-
Sistema Massa-Mola mos escrever a seguinte equação:
Esse sistema possui um ponto de equilíbrio ao qual F (X) = - kX
chamaremos de ponto 0. Toda vez que tentamos tirar o
nosso sistema desse ponto 0, surge uma força restauradora Passando o segundo termo para o primeiro membro
(F = -kX) que tenta trazê-lo de volta a situação inicial. temos:
F (x) + kX = 0

Usando da 1a. Lei de Newton sabemos que F(X) =


ma(X), tendo nós agora:
ma(X) + kX = 0

Podemos perceber também que X = X(t) já que a po-


Sistema Massa-Mola na Posição de Equilíbrio sição de X varia com o tempo enquanto o nosso sistema
oscila, ficando a nossa equação:
ma(X(t)) + kX(t) = 0
É possível se ver em um curso de Cálculo Diferencial e
Integral a nível superior que em sistemas dependentes do
tempo como este podemos aplicar uma função de função
chamada derivada aonde podemos dizer que a(X(t)) =
d^2X(t)/d^2t, ou seja, que a derivada segunda de X em
Sistema Massa-Mola Estendido relação ao tempo é igual à aceleração de nosso sistema.
Tendo a nossa equação o seguinte aspecto agora: m(d2X(t)/
d2t) + kX(t) = 0
Onde a solução desta equação sendo chamada de
equação diferencial é a função de movimento de nosso
sistema massa-mola. Apesar de não termos conhecimen-
tos para resolve-la, comentários podem ser feitos sobre a
Sistema Massa-Mola Comprimido mesma para termos uma ideia de como se resolve. Primeiro

62
FÍSICA

vamos tentar entender melhor o que seja uma derivada.


Em uma função você sempre dá um número e a função
lhe devolve outro número. A derivada que é uma função
de função não é muito diferente, você lhe dar uma função
e ela lhe dá outra função. Sendo a derivada segunda de
uma função, o resultado depois de ter passado duas vezes
uma função por uma derivada. Passado esse ponto vamos
tentar entender melhor o que seja resolver uma equação
diferencial. Você sabe resolver uma equação de 2o. Grau
não sabe? Pois bem, você deve se lembrar que você tem
algo do tipo: aX2 + bX + c2 = 0
E que a ideia de resolver a equação de segundo grau é
encontrar valores de X que satisfaçam a equação, ou seja,
que se forem substituídos na expressão acima ela será igual
a zero. Você se lembra do procedimento do algoritmo, não? M.C.U. eixo x produzindo um M.H.S.
delta = b2 - 4ac X = (-b ± ((delta)1/2))/2a A função obtida é do tipo seno ou coseno.
Onde você encontra aos valores que satisfazem a equa- O comportamento dessa equação de movimento pode
ção de 2o. Grau. Pois bem, a ideia de resolver uma equação ser mais bem compreendido ao tratarmos também outros
diferencial não é muito diferente, somente que em vez de parâmetros importantes como a velocidade, a aceleração,
valores você deverá encontrar as funções que satisfazem a a dinâmica e a energia no M.H.S.
equação diferencial, funções que quando substituídas na A partir da projeção do vetor velocidade no M.C.U.
equação diferencial no nosso caso dê uma expressão final (usando de um pouco de conhecimentos de trigonometria)
igual a zero. Mesmo sem sabermos como resolver à equa- também podemos deduzir que a função velocidade tam-
ção, posso dizer que um conjunto de funções que a resolve bém será do tipo seno ou coseno, sendo somente que v(t)
são funções do tipo seno e coseno, o que corrobora muito = -wA sen(wt + ø) ou v(t) = wA cos(wt + ø), o que também
bem com o esquema apresentado no começo da seção. pode ser escrito v(t) = ±wX(t).
Em outras palavras, a nossa função de movimento X(t) Em um curso de Cálculo Diferencial e Integral podere-
terá a forma A cos(wt + ø) ou A sen(wt + ø), ou seja, X(t) = mos ver que a função velocidade é a derivada da função
A cos(wt + ø) ou X(t) = A sen(wt + ø). deslocamento em relação ao tempo, ou seja, que dX(t)/dt
Onde A é amplitude do nosso M.H.S, que seria o des- = v(t). E que disso, poderemos deduzir que v(t) = dX(t)/dt =
locamento máximo realizado pelo bloco em relação à -wA sen(wt + ø) ou wA cos(wt + ø), considerando que X(t)
posição de equilíbrio, w é a frequência angular do nosso será igual a A cos(wt + ø) ou a A sen(wt + ø).
movimento periódico em radianos por segundo (w = 2*p*f,
sendo f o número de vezes que o ciclo se repete a cada
unidade de tempo), t é a nossa grandeza de tempo, e ø
é uma fase ou deslocamento angular acrescida ao nosso
M.H.S. Não existe grande diferença entre uma função seno
ou coseno se virmos pela questão de que uma função seno
ou coseno se transforma na outra ou essa multiplicada
por (-1) se deslocarmos 90 graus ou p/2 uma em relação
à outra.
Uma outra forma para se ver que a equação de mo-
vimento do M.H.S. é do tipo seno ou coseno é a partir da
projeção do Movimento Circular Uniforme (M.C.U.) sobre o
eixo x, onde sabemos que projeções são feitas a partir das
funções seno e coseno.

Projeção do M.C.U. sobre o M.C.U. com uma diferença


de fase ø. Vetores Velocidade e Aceleração do M.C.U.

63
FÍSICA

Assim sendo: 1o. Membro: [a] = m/(s2) 2o. Membro:


[A][w2] = [A][w][w] = m * 1/s * 1/s = m * 1/(s2) = m/(s2)
O que comprova que a equação dimensionalmente é coe-
rente.
A essa altura você deve estar se perguntando como
podemos saber qual é o valor de w? Posso dizer que w,
que é a nossa frequência angular, determinando a variação
angular do nosso oscilador no tempo, que está diretamente
relacionado a nossa frequência linear f, que determina o
número de ciclos realizados por nosso oscilador em uma
unidade de tempo, dependerá do fator de restauração
k da mola e do fator de inércia m do bloco, ambas
respectivamente com unidades físicas de [k] = N/m e [m]
= kg. Como [w] = 1/s, podemos encontrar uma maneira
de arranjar as grandezas físicas k e m de maneira a termos
Gráficos da função deslocamento, função velocidade e uma expressão aproximada para w.
função aceleração do M.H.S. De antemão já digo que essa expressão será obtida
tirando-se a raiz quadrada da razão de k/m, ficando: (([k]/
Entretanto, podemos fazer uma análise dimensional e [m])1/2) = (((N/m)/kg)1/2) = ((((kg * m/(s2))/m)/kg)1/2)
verificar a coerência da forma apresentada. Podemos usar = ((((kg/m)*(m/(s2)))/kg)1/2) = (((kg/(s2))/kg)1/2) = (((kg/
uma análise dimensional para verificar se em termos de kg)*(1/(s2)))1/2) = ((1/(s2))1/2) = 1/s
unidades a expressão é coerente. Por exemplo, os termos onde já poderíamos considerar pela análise dimen-
cos(wt + ø) e sen(wt + ø) são termos adimensionais, ou sional que uma expressão próxima da que determinasse
seja, não são representarmos em termos de m/s, m/s2, kg, w seria w ~ ((k/m)1/2), o que não permite sabermos se
N, oC, J ou qualquer unidade física, são apenas números existiriam termos adimensionais ou constantes, mas expe-
que no caso dessas funções apenas assumem valores que rimentalmente já fora comprovado a bastante tempo que
vão de (-1) a 1. realmente w = ((k/m)1/2).
A amplitude A, no entanto está representando o valor Na próxima seção, compreendermos como se dá o pro-
máximo de deslocamento do nosso sistema massa-mola cesso de conservação de energia dentro do sistema massa-
em relação à posição de equilíbrio em unidades de distân- -mola, como se dão as conversões de energia potencial em
cia, que no nosso caso usaremos o m. A frequência angular cinética e vice-versa, antes de chegarmos a Dinâmica do
w, que é igual a 2*p*f, onde a frequência linear f é dada em M.H.S., onde poderemos ver algumas variações do nosso
termos de 1 sobre a nossa unidade de tempo t ,(1/t), já que sistema massa-mola apresentado.
f dá o número de repetições de ciclos em uma unidade
de tempo t, também será dada em termos de 1 sobre a Pêndulo Simples
unidade de tempo t já que 2*p também é adimensional. O pêndulo simples é um tipo de oscilador que para
A nossa unidade de tempo no caso será o segundo. A certas condições pode ser considerado um oscilador har-
expressão será coerente dimensionalmente se as unidades mônico simples.
do primeiro membro forem iguais a do segundo membro.
Ou seja, que as unidades do segundo membro dêem a
unidade m/s que é correspondente à grandeza velocidade.
udo isso pode ser escrito da seguinte maneira: 1o.
Membro: [v] = m/s 2o. Membro: [A][w] = m * 1/s = m/s
Então dimensionalmente, a expressão é coerente. A aná-
lise dimensional não permite definir se existem constantes
ou outros termos adimensionais multiplicando as grandezas,
mas com certeza é uma ferramenta útil para dirimir discre-
pâncias e vermos a coerência de expressões. Para a acele-
ração do M.H.S. também podemos ver que a mesma é do
tipo seno ou coseno a partir da projeção do vetor aceleração
do M.C.U., somente que a sua expressão é dada por a(t) =
-(w2)A cos(wt + ø) ou -(w2)A sem(wt + ø). A partir de um
curso de Cálculo Diferencial e Integral também podemos ver
que a aceleração é a derivada segunda em relação ao tem-
po da função deslocamento X(t), ou seja, que a(t) = dv(t)/dt
= d(dX(t)/dt)/dt = d2X(t)/dt = -(w2)X(t), de onde podemos
deduzir que a(t) = -(w2)A cos(wt + ø) ou -(w2)A sen(wt + ø); A partir da figura com a decomposição de forças exis-
mas podemos fazer uma análise dimensional para a função tentes no pêndulo simples podemos ver que a força res-
aceleração assim como fizemos para a função velocidade. tauradora do sistema pêndulo simples é do tipo F(teta) =

64
FÍSICA

-mg sen(teta), que é diferente do tipo de força restaura- Lei de Hooke


dora do nosso sistema massa-mola e que caracteriza um
movimento harmônico simples F(X) = -kX, contudo para Medida de uma força: deformação elástica. Pode-
ângulos pequenos de teta, sen teta ~ teta, podendo nós mos medir a intensidade de uma força pela deformação que
fazermos a seguinte substituição para a força restauradora ela produz num corpo elástico. O dispositivo utilizado é o
do pêndulo simples para ângulos pequenos, F(teta) = -mg dinamômetro, que consiste numa mola helicoidal envol-
sen (teta) ~ -mg(teta). vida por um protetor. Na extremidade livre da mola há um
O que nos permitiria chegarmos a uma equação mui- ponteiro que se desloca do ponto de uma escala. A medi-
to parecida com a que encontramos para o nosso sistema da de uma força é feita por comparação da deformação
massa-mola: causada da deformação causada por essa força com a
F(teta) + mg*teta = 0 de força padrão. Uma mola apresenta uma deformação
Onde teta também é teta = teta(t), conseguindo nós elástica se, retirada a força que a deforma, ela retorna ao
assim que: seu comprimento e forma originais.
F(teta(t)) + mg*teta(t) = 0 Robert Hooke, cientista inglês enunciou a seguinte lei,
Que pelo o que comentamos anteriormente podemos valida para as deformações elásticas: “A intensidade da
reescrever como: força deformadora (F) é proporcional à deformada (X).”
d2(teta(t))/dt + mg*teta(t) = 0 A expressão matemática da Lei de Hooke é: F = K . X
De onde dessa equação diferencial se é possível obter Onde K = constante de proporcionalidade característi-
uma equação de movimento similar à equação de movi- ca da mola (constante elástica da mola).
mento do sistema massa-mola:
teta(t) = A cos (wt + ø) Ondas Mecânicas, Ondas Transversais e Longitudi-
Todas as demais considerações que foram feitas para nais
o sistema massa-mola poderão ser generalizadas para o
pêndulo simples agora, com a observação que a única re- As ondas podem ser classificadas de três modos.  
presentante de energia potencial a entrar no somatório
de energias para dar Et é a energia potencial gravitacional Quanto à natureza
(Epg), de maneira a conservar a energia total do sistema,
com energia potencial gravitacional se convertendo em Ondas mecânicas: são aquelas que precisam de um
energia cinética e vice-versa, sendo que a nossa posição meio material para se propagar (não se propagam no
de equilíbrio é exatamente o ponto mais baixo do sistema. vácuo).
De maneira análoga a que fizemos para encontrar a Exemplo: Ondas em cordas e ondas sonoras (som).  
expressão de w para o sistema massa-mola podemos fazer Ondas eletromagnéticas: são geradas por cargas
para encontrar a expressão de w para o pêndulo simples; elétricas oscilantes e não necessitam de uma meio material
onde em vez de k e m, as grandezas físicas a serem consi- para se propagar, podendo se propagar no vácuo.
deradas serão as grandezas g e l. Exemplos: Ondas de rádio, de televisão, de luz, raios X,
Reescrevendo a equação de w agora com g e l ficamos raios laser, ondas de radar etc.
que w = ((g/l)1/2), sobre a qual podemos fazer uma análise
dimensional para verificar a sua coerência: Quanto à direção de propagação
(([g]/[l])1/2) = (((m/(s2))/m)1/2) = ((1/(s2))1/2) = 1/s [w]  
= 1/s Unidimensionais: são aquelas que se propagam numa
o que confere com o esperado, podendo se reescre- só direção.
ver a expressão w = ((g/l)1/2) como o período de oscila- Exemplo: Ondas em cordas.
ção T, onde T = 1/f = 1/(w/2*p) = 2*p/w = 2*p/((g/l)1/2) = Bidimensionais: são aquelas que se propagam num
2*p*((l/g)1/2), tendo nós deduzido a expressão: plano.
T = 2* p * ((l/g)1/2) Exemplo: Ondas na superfície de um lago.
Tridimensionais: são aquelas que se propagam em
Esse resultado nós diz que o período de oscilação do todas as direções.
pêndulo simples independe da abertura angular em que Exemplo: Ondas sonoras no ar atmosférico ou em
ele é solto, somente dependendo de parâmetros consi- metais.
derados fixos como o comprimento do fio do pêndulo ou   
haste e da gravidade local (no caso do sistema massa-mola Quanto à direção de vibração
os parâmetros a ser considerados como vimos é o fator de
restauração k e o fator de inércia m). Dessa forma pode- Transversais: são aquelas cujas vibrações são
mos concluir que não deverá haver variações no período perpendiculares à direção de propagação.
do pêndulo podendo o mesmo ser utilizado como medidor Exemplo: Ondas em corda.
do tempo.

65
FÍSICA

 
Longitudinais: são aquelas cujas vibrações coincidem
com a direção de propagação.
Exemplos: Ondas sonoras, ondas em molas.

 
Em que: F = a força de tração na corda µ = , a den-
sidade linear da corda
ONDAS EM UMA CORDA, VELOCIDADE, FREQUÊNCIA  Aplicação: Uma corda de comprimento 3 m e massa
E COMPRIMENTO DE ONDA, ONDAS ESTACIONÁRIAS 60 g é mantida tensa sob ação de uma força de intensidade
NUMA CORDA FIXA EM AMBAS AS EXTREMIDADES 800 N. Determine a velocidade de propagação de um pulso
nessa corda.
Velocidade de Propagação de uma Onda Unidimen- Resolução:
sional  

Considere uma corda de massa m e comprimento ℓ,


sob a ação de uma força de tração .

Suponha que a mão de uma pessoa, agindo na extre-


midade livre da corda, realiza um movimento vertical, pe- Reflexão de um pulso numa corda
riódico, de sobe-e-desce. Uma onda passa a se propagar Quando um pulso, propagando-se numa corda, atinge
horizontalmente com velocidade . sua extremidade, pode retornar para o meio em que estava
se propagando. Esse fenômeno é denominado reflexão.
Cada ponto da corda sobe e desce. Assim que o ponto Essa reflexão pode ocorrer de duas formas:
A começa seu movimento (quando O sobe), B inicia seu
movimento (quando O se encontra na posição inicial), mo- Extremidade fixa
vendo-se para baixo. Se a extremidade é fixa, o pulso sofre reflexão com
O ponto D inicia seu movimento quando o ponto O inversão de fase, mantendo todas as outras características.
descreveu um ciclo completo (subiu, baixou e voltou a subir
e regressou à posição inicial).
Se continuarmos a movimentar o ponto O, chegará o
instante em que todos os pontos da corda estarão em vi-
bração.
A velocidade de propagação da onda depende da den-
sidade linear da corda e da intensidade da força de tração
, e é dada por:

66
FÍSICA

Extremidade livre Princípio da Superposição


Se a extremidade é livre, o pulso sofre reflexão e volta Quando duas ou mais ondas se propagam,
ao mesmo semiplano, isto é, ocorre inversão de fase. simultaneamente, num mesmo meio, diz-se que há uma
superposição de ondas.
Como exemplo, considere duas ondas propagando-se
conforme indicam as figuras:
Supondo que atinjam o ponto P no mesmo instante,
elas causarão nesse ponto uma perturbação que é igual à
soma das perturbações que cada onda causaria se o tivesse
atingido individualmente, ou seja, a onda resultante é igual
à soma algébrica das ondas que cada uma produziria
individualmente no ponto P, no instante considerado.
   

Refração de um pulso numa corda


Se, propagando-se numa corda de menor densidade,
um pulso passa para outra de maior densidade, dizemos
que sofreu uma refração.

 
A experiência mostra que a freqüência não se modifica Após a superposição, as ondas continuam a se propagar
quando um pulso passa de um meio para outro. com as mesmas características que tinham antes.
Os efeitos são subtraídos (soma algébrica), podendo-se
anular no caso de duas propagações com deslocamento invertido.

Essa fórmula é válida também para a refração de ondas


bidimensionais e tridimensionais.
Observe que o comprimento de onda e a velocidade
de propagação variam com a mudança do meio de
propagação.
  
Aplicação: Uma onda periódica propaga-se em uma
corda A, com velocidade de 40  cm/s e comprimento de
onda 5  cm. Ao passar para uma corda B, sua velocidade
passa a ser 30 cm/s. Determine: Em resumo:
a) o comprimento de onda no meio B Quando ocorre o encontro de duas cristas, ambas
b) a frequência da onda levantam o meio naquele ponto; por isso ele sobe muito mais.
Quando dois vales se encontram eles tendem a baixar
o meio naquele ponto.
Quando ocorre o encontro entre um vale e uma crista,
um deles quer puxar o ponto para baixo e o outro quer puxá-
lo para cima. Se a amplitude das duas ondas for a mesma,
não ocorrerá deslocamento, pois eles se cancelam (amplitude
zero) e o meio não sobe e nem desce naquele ponto.

Resolução: 

67
FÍSICA

Ondas Estacionárias
São ondas resultantes da superposição de duas
ondas de mesma freqüência, mesma amplitude, mesmo
comprimento de onda, mesma direção e sentidos opostos.
Pode-se obter uma onda estacionária através de uma
corda fixa numa das extremidades.
Com uma fonte faz-se a outra extremidade vibrar
com movimentos verticais periódicos, produzindo-se
perturbações regulares que se propagam pela corda.

ONDAS SONORAS, NATUREZA DO SOM, PROPAGA-


ÇÃO, VELOCIDADE, ALTURA, INTENSIDADE, TIMBRE

Ondas Sonoras

Som é uma onda que se propaga em meio material,


água, ar, etc. O som não se propaga no vácuo, não se
percebe o som sem um meio material.
A intensidade do som é tanto quanto maior que a
Em que: N = nós ou nodos e V= ventres. amplitude da onda sonora.
Ao atingirem a extremidade fica, elas se refletem, * Velocidade de propagação das ondas:
retornando com sentido de deslocamento contrário ao a) Quanto mais tracionado o material, mais rápido o
anterior. pulso se propagará.
Dessa forma, as perturbações se superpõem às outras b) O pulso se propaga mais rápido em um meio de
que estão chegando à parede, originando o fenômeno das menor massa.
ondas estacionárias. c) O pulso se propaga mais rápido quando o compri-
Uma onda estacionária se caracteriza pela amplitude mento é grande.
variável de ponto para ponto, isto é, há pontos da corda d) Equação da velocidade:
que não se movimentam (amplitude nula), chamados nós
(ou nodos), e pontos que vibram com amplitude máxima,
chamados ventres.
É evidente que, entre nós, os pontos da corda vibram
com a mesma freqüência, mas com amplitudes diferentes.
Observe que: Como os nós estão em repouso, não
pode haver passagem de energia por eles, não havendo, ou ainda pode ser V = l.f
então, em uma corda estacionária o transporte de energia.
A distância entre dois nós consecutivos vale . * A equação acima nos mostra que quanto mais rápida
A distância entre dois ventres consecutivos vale .   for a onda maior será a freqüência e mais energia ela tem.
A distância entre um nó e um ventre consecutivo vale Porém, a freqüência é o inverso do comprimento de onda
. (l), isto quer dizer que ondas com alta freqüência têm l pe-
quenos. Ondas de baixa freqüência têm l grandes
Aplicação: Uma onda estacionária de freqüência 8 Hz
se estabelece numa linha fixada entre dois pontos distantes
60 cm. Incluindo os extremos, contam-se 7 nodos. Calcule
a velocidade da onda progressiva que deu origem à onda
estacionária.

Resolução:

* Ondas Unidimensionais: São aquelas que se propa-


gam em um plano apenas. Em uma única linha de propa-
gação.
* Ondas Bidimensionais: São aquelas que se propagam
  em duas dimensões. Em uma superfície, geralmente. Movi-
mentam-se apenas em superfícies planas.
* Ondas Tridimensionais: São aquelas que se propagam
em todas as direções possíveis.

68
FÍSICA

Som Construtiva - Crista + Crista ou Vale + Vale - som au-


menta de intensidade.
O som é uma onda (perturbação) longitudinal e tri-
dimensional, produzida por um corpo vibrante sendo de Difração:
cunho mecânico. Ocorre quando uma onda encontra obstáculos à sua
* Fonte sonora: qualquer corpo capaz de produzir vi- propagação e seus raios sofrem encurvamento.
brações. Estas vibrações são transmitidas às moléculas do
meio, que por sua vez, transmitem a outras e a outras, e Timbre
assim por diante. Uma molécula pressiona a outra passan- O Timbre é a “cor” do som. Aquilo que distingue a
do energia sonora. qualidade do tom ou voz de um instrumento ou cantor, por
* Não causa aquecimento: As ondas sonoras se propa- exemplo a flauta do clarinete, o soprano do tenor.
gam em expansões e contrações adiabáticas. Ou seja, cada Cada objeto ou material possui um timbre que é único,
expansão e cada contração, não retira nem cede calor ao assim como cada pessoa possui um timbre próprio de voz.
meio.  
* Velocidade do som no ar: 337m/s FENÔMENOS ONDULATÓRIOS, REFLEXÃO, ECO,
* Nível sonoro: o mínimo que o ouvido de um ser hu- REVERBERAÇÃO, REFRAÇÃO, DIFRAÇÃO
mano normal consegue captar é de 20Hz, ou seja, qual- E INTERFERÊNCIA
quer corpo que vibre em 20 ciclos por segundo. O máximo
da sensação auditiva, para o ser humano é de 20.000Hz Já que sabemos o que é o som, nada mais justo do que
(20.000 ciclos por segundo). Este mínimo é acompanhado entender como o som se comporta. Vamos então explorar
de muita dor, por isso também é conhecido como o limiar um pouco os fenômenos sonoros.
da dor. Na propagação do som observam-se os fenômenos
Há uma outra medida de intensidade de som, que cha- gerais da propagação ondulatória. Devido à sua natureza
mada de Bell. Inicialmente os valores eram medidos em longitudinal, o som não pode ser polarizado; sofre, entre-
Béis, mas tornaram-se muito grandes numericamente. En- tanto, os demais fenômenos, a saber: difração, reflexão, re-
tão, introduziram o valor dez vezes menor, o deciBell, dB. fração, interferência e efeito Doppler.
Esta medida foi uma homenagem a Alexander Graham Bell. Se você achar esta matéria cansativa, não se preocupe.
Eis a medida de alguns sons familiares: Estaremos voltando a estes tópicos toda vez que precisar-
mos deles como suporte. Você vai cansar de vê-los aplica-
Fonte sonora ou dB Intensidade dos na prática... e acaba aprendendo ;-)
Descrição de ruído em W.m-2 A difração é a propriedade de contornar obstáculos.
Ao encontrar obstáculos à sua frente, a onda sonora conti-
Limiar da dor 120 1 nua a provocar compressões e rarefações no meio em que
está se propagando e ao redor de obstáculos envolvidos
Rebitamento 95 3,2.10-3 pelo mesmo meio (uma pedra envolta por ar, por exemplo).
Trem elevado 90 10-3 Desta forma, consegue contorná-los. A difração depende
Tráfego urbano     do comprimento de onda. Como o comprimento de onda
(?) das ondas sonoras é muito grande - enorme quando
pesado 70 10-5 comparado com o comprimento de onda da luz - a difra-
Conversação 65 3,2.10-6 ção sonora é intensa.
Automóvel silencioso 50 10-7 A reflexão do som obedece às leis da reflexão ondula-
tória nos meios materiais elásticos. Simplificando, quando
Rádio moderado 40 10-8 uma onda sonora encontra um obstáculo que não possa
Sussurro médio 20 10-10 ser contornado, ela “bate e volta”. É importante notar que
Roçar de folhas 10 10-11 a reflexão do som ocorre bem em superfícies cuja exten-
são seja grande em comparação com seu comprimento de
Limite de audição 0 10-12 onda.
A reflexão, por sua vez, determina novos fenômenos
* Refração: mudanças na direção e na velocidade. conhecidos como reforço, reverberação e eco. Esses fenô-
Refrata quando muda de meio. menos se devem ao fato de que o ouvido humano só é
Refrata quando há mudanças na temperatura capaz de discernir duas excitações breves e sucessivas se
o intervalo de tempo que as separa for maior ou igual a
* Difração:Capacidade de contornar obstáculos. O som 1/10 do segundo. Este décimo de segundo é a chamada
tem grande poder de difração, porque as ondas têm um l persistência auditiva.
relativamente grande.

* Interferência: na superposição de ondas pode haver


aumento de intensidade sonora ou a sua diminuição.
Destrutiva - Crista + Vale - som diminui ou para.

69
FÍSICA

Reflexão do som Ondas Estacionárias

A distância (d) entre dois nós consecutivos é de meio


comprimento de onda ( d = ? / 2 ). Sendo a velocidade
da onda no gás Vgás = ?×f tem-se Vgás = 2×f×d, o que
resulta num processo que permite calcular a velocidade de
propagação do som em um qualquer gás! A frequência f é
fornecida pelo oscilador de áudio-frequência que alimenta
o auto-falante.
A refração do som obedece às leis da refração ondu-
latória. Este fenômeno caracteriza o desvio sofrido pela
frente da onda quando ela passa de um meio para outro,
cuja elasticidade (ou compressibilidade, para as ondas lon-
gitudinais) seja diferente. Um exemplo seria a onda sonora
passar do ar para a água.
Quando uma onda sonora sofre refração, ocorre uma
Suponhamos que uma fonte emita um som breve que mudança no seu comprimento de onda e na sua velocida-
siga dois raios sonoros. Um dos raios vai diretamente ao de de propagação. Sua frequência, que depende apenas da
receptor (o ouvido, por exemplo) e outro, que incide num fonte emissora, se mantém inalterada.
anteparo, reflete-se e dirige-se para ao mesmo receptor. Como já vimos, o som é uma onda mecânica e trans-
Dependendo do intervalo de tempo (?t) com que esses porta apenas energia mecânica. Para se deslocar no ar, a
sons breves (Direto e Refletido) atingem o ouvido, pode- onda sonora precisa ter energia suficiente para fazer vibrar
mos ter uma das três sensações distintas já citadas: reforço, as partículas do ar. Para se deslocar na água, precisa de
reverberação e eco. energia suficiente para fazer vibrar as partículas da água.
Quando o som breve direto atinge o tímpano dos nos- Todo meio material elástico oferece uma certa “resistência”
sos ouvidos, ele o excita. A excitação completa ocorre em à transmissão de ondas sonoras: é a chamada impedância.
0,1 segundo. Se o som refletido chegar ao tímpano antes A impedância acústica de um sistema vibratório ou meio
do décimo de segundo, o som refletido reforça a excitação
de propagação, é a oposição que este oferece à passagem
do tímpano e reforça a ação do som direto. É o fenômeno
da onda sonora, em função de sua frequência e velocidade.
do reforço.
A impedância acústica (Z) é composta por duas gran-
Na reverberação, o som breve refletido chega ao ouvi-
dezas: a resistência e a reactância. As vibrações produzidas
do antes que o tímpano, já excitado pelo som direto, tenha
por uma onda sonora não continuam indefinidamente pois
tempo de se recuperar da excitação (fase de persistência
são amortecidas pela resistência que o meio material lhes
auditiva). Desta forma, começa a ser excitado novamente,
oferece. Essa resistência acústica (R) é função da densidade
combinando duas excitações diferentes. Isso ocorre quan-
do meio e, consequentemente, da velocidade de propaga-
do o intervalo de tempo entre o ramo direto e o ramo refle-
tido é maior ou igual a zero, porém menor que 0,1 segun- ção do som neste meio. A resistência é a parte da impe-
do. O resultado é uma ‘confusão’ auditiva, o que prejudica dância que não depende da frequência. É medida em ohms
o discernimento tanto do som direto quanto do refletido. É acústicos. A reactância acústica (X) é a parte da impedância
a chamada continuidade sonora e o que ocorre em auditó- que está relacionada com a frequência do movimento re-
rios acusticamente mal planejados. sultante (onda sonora que se propaga). É proveniente do
No eco, o som breve refletido chega ao tímpano após efeito produzido pela massa e elasticidade do meio mate-
este ter sido excitado pelo som direto e ter-se recuperado rial sobre o movimento ondulatório.
dessa excitação. Depois de ter voltado completamente ao Se existe a impedância, uma oposição à onda sonora,
seu estado natural (completou a fase de persistência au- podemos também falar em admitância, uma facilitação à
ditiva), começa a ser excitado novamente pelo som breve passagem da onda sonora. A admitância acústica (Y) é a
refletido. Isto permite discernir perfeitamente as duas ex- recíproca da impedância e define a facilitação que o meio
citações. elástico oferece ao movimento vibratório. Quanto maior
Ainda derivado do fenômeno da reflexão do som, é for a impedância, menor será a admitância e vice-versa. É
preciso considerar a formação de ondas estacionárias nos medida em mho acústico (contrário de ohm acústico).
campos ondulatórios limitados, como é o caso de colunas A impedância também pode ser expressa em unidades
gasosas aprisionadas em tubos. O tubo de Kundt, abaixo rayls (homenagem a Rayleigh). A impedância característica
ilustrado, permite visualizar através de montículos de pó do ar é de 420 rayles, o que significa que há necessidade de
de cortiça a localização de nós (regiões isentas de vibração uma pressão de 420 N/m2 para se obter o deslocamento
e de som) no sistema de ondas estacionárias que se esta- de 1 metro, em cada segundo, nas partículas do meio.
belece como resultado da superposição da onda sonora Para o som, o ar é mais refringente que a água pois a
direta e da onda sonora refletida. impedância do ar é maior. Tanto é verdade que a onda so-
nora se desloca com maior velocidade na água do que no
ar porque encontra uma resistência menor.

70
FÍSICA

Quando uma onda sonora passa do ar para a água, ela Se as ondas amarelas chegarem em oposição de fase
tende a se horizontalizar, ou seja, se afasta da normal, a com as ondas laranja, ocorre uma interferência destrutiva,
linha marcada em verde (fig.6). O ângulo de incidência em o que determina o anulamento ou extinção delas. O resul-
relação à água é importante porque, se não for suficiente, a tado é o silêncio.
onda sonora não consegue “entrar” na água e acaba sendo Dois sons de alturas iguais, ou seja, de frequências
refletida. iguais, se reforçam ou se extinguem permanentemente
conforme se superponham em concordância ou em
Refração da água para o ar oposição de fase.

A refração, portanto, muda a direção da onda sonora Batimento


(mas não muda o seu sentido). A refração pode ocorrer
num mesmo meio, por exemplo, no ar. Camadas de ar de Se suas frequências não forem rigorosamente iguais,
temperaturas diferentes possuem impedâncias diferentes e ora eles se superpõem em concordância de fase, ora em
o som sofre refrações a cada camada que encontra. oposição de fase, ocorrendo isso a intervalos de tempo
Da água para o ar, o som se aproxima da normal. O iguais, isto é, periodicamente se reforçam e se extinguem.
som passa da água para o ar, qualquer que seja o ângulo É o fenômeno de batimento e o intervalo de tempo é
de incidência. denominado período do batimento.
Dada a grande importância da impedância, tratada Distingue-se um som forte de um som fraco pela in-
aqui apenas para explicar o fenômeno da refração, ela pos- tensidade. Distingue-se um som agudo de um som grava
sui um módulo próprio. É um assunto relevante na geração pela altura. Distingue-se o som de um violino do som de
e na transmissão de sons. uma flauta pelo timbre.
Interferência Efeito Doppler
A interferência é a consequência da superposição de O Efeito Doppler é consequência do movimento
ondas sonoras. Quando duas fontes sonoras produzem, ao
relativo entre o observador e a fonte sonora, o que
mesmo tempo e num mesmo ponto, ondas concordantes,
determina uma modificação aparente na altura do som
seus efeitos se somam; mas se essas ondas estão em
recebido pelo observador.
discordância, isto é, se a primeira produz uma compressão
num ponto em que a segunda produz uma rarefação, seus
efeitos se neutralizam e a combinação desses dois sons
provoca o silêncio.

Trombone de Quincke

O trombone de Quincke é um dispositivo que permi-


te constatar o fenômeno da interferência sonora além de
permitir a determinação do comprimento de onda. O pro-
cesso consiste em encaminhar um som simples produzido
por uma dada fonte (diapasão, por exemplo) por duas vias
diferentes (denominados ‘caminhos de marcha’) e depois
reuni-los novamente em um receptor analisador (que pode
ser o próprio ouvido).
Observando a fig.9 percebe-se que o som emitido pela
fonte percorre dois caminhos: o da esquerda (amarelo), O efeito doppler ocorre quando um som é gerado ou
mais longo, e o da direita (laranja), mais curto. As ondas refletido por um objeto em movimento. Um efeito dop-
entram no interior do trombone formando ondas estacio- pler ao extremo causa o chamado estrondo sônico. Se ti-
nárias dentro do tubo. Como o meio no tubo é um só e ver curiosidade, leia mais sobre o assunto em “A Barreira
as ondas sonoras são provenientes de uma mesma fonte, Sônica”. A seguir, veja um exemplo para explicar o efeito
é óbvio que as que percorrem o caminho mais curto che- doppler.
guem primeiro ao receptor. Depois de um determinado pe- Imagine-se parado numa calçada. Em sua direção vem
ríodo de tempo, chegam as ondas do caminho mais longo um automóvel tocando a buzina, a uma velocidade de 60
e se misturam às do caminho mais curto: é a interferência. km/h. Você vai ouvir a buzina tocando uma “nota” enquan-
De acordo com as fases em que se encontram as ondas do to o carro se aproxima porém, quando ele passar por você,
caminho mais longo e as ondas do caminho mais curto, o o som da buzina repentinamente desce para uma “nota”
efeito pode ser totalmente diverso. mais baixa - o som passa de mais agudo para mais grave.
Se as ondas amarelas chegarem em concordância de Esta mudança na percepção do som se deve ao efeito do-
fase com as ondas laranja, ocorre uma interferência cons- ppler.
trutiva e, o que se ouve, é um aumento na intensidade do
som.

71
FÍSICA

A velocidade do som através do ar é fixa. Para simplifi- Características das Ondas


car, digamos que seja de 300 m/s. Se o carro estiver parado
a uma distância de 1.500 metros e tocar a buzina durante 1 As ondas do mar são semelhantes às que se formam
minuto, você ouvirá o som da buzina após 5 segundos pelo numa corda: apresentam pontos mais elevados – chama-
tempo de 1 minuto. dos cristas ou montes – e pontos mais baixos – chamados
Porém, se o carro estiver em movimento, vindo em sua vales ou depressões.
direção a 90 km/h, o som ainda será ouvido com um atraso As ondas são caracterizadas pelos seguintes elemen-
de 5 segundos, mas você só ouvirá o som por 55 segundos tos:
(ao invés de 1 minuto). O que ocorre é que, após 1 minuto Amplitude – que vai do eixo médio da onda até o pon-
o carro estará ao seu lado (90 km/h = 1.500 m/min) e o to mais auto de uma crista ou até o ponto mais baixo de
som, ao fim de 1 minuto, chega até você instantaneamente. um vale.
Da sua perspectiva, a buzinada de 1 minuto foi “empacota- Comprimento da onda – distâncias entre duas cristas
da” em 55 segundos, ou seja, o mesmo número de ondas sucessivas ou entre dois vales sucessivos.
sonoras foi comprimida num menor espaço de tempo. Isto Freqüência – números de ondas formadas em 1s; a fre-
significa que a frequência foi aumentada e você percebe o quência é medida em hertz: 1 Hz eqüivale a uma onda por
som da buzina como mais agudo. segundo;
Quando o automóvel passa por você e se distancia, Período – tempo gasto para formar uma onda. O perío-
ocorre o processo inverso - o som é expandido para preen- do é o inverso da freqüência.
cher um tempo maior. Mesmo número de ondas num es- Tipos de onda
paço de tempo maior significa uma frequência menor e um Ondas como as do mar ou as que se formam quan-
som mais grave. do movimentamos uma corda vibram nas direções verti-
cal, mas se propagam na direção horizontal. Nessas ondas,
Reflexão do Som chamadas ondas transversais, a direção de vibração é per-
pendicular à direção de propagação.
Se você joga uma bola de borracha perpendicularmen- Existem ondas que vibram na mesma direção em que
te contra uma parede, ela bate na parede e volta na mesma se propagam: são as ondas longitudinais. Pegue uma mola
direção. Se a bola é jogada obliquamente contra a parede, e fixe uma de suas extremidades no teto. Pela outra extre-
depois de bater ela se desvia para outra direção. Nos dois midade, mantenha a mola esticada e puxe levemente uma
casos a bola foi refletida pela parede. O mesmo acontece das espirais para baixo. Em seguida, solte a mola. Você verá
com as ondas sonoras. que esta perturbação se propaga até o teto prodazido na
Timbre: o “documento de identidade” dos instrumen- mola zonas de compressão e distensão.
tos.
Todo instrumento musical tem o seu timbre, isto é, seu Estudo do som
som característico. Assim, o acordeão e o violão podem Encoste a mão na frente de seu pescoço e emita um
emitir uma mesma nota musical, de mesma freqüência e som qualquer. Você vai sentir a garganta vibrar enquanto
intensidade, mas será fácil distinguir o som de um e do dura o som de sua voz. O som produzido resulta de um
outro. movimento vibratório das cordas vocais, que provoca uma
Na música, o importante não é a freqüência do som perturbação no ar a sua volta, cujo efeito é capaz de im-
emitido pelos diversos instrumentos, mas sim a relação en- pressionar o ouvido.
tre as diversas freqüências de cada um. Os, por exemplo, Quando uma lâmina de aço vibra, ela também provo-
um dó e um mi são tocados ao mesmo tempo, o som que ca uma perturbação no ar em sua volta. Propagando-se
ouvimos é agradável e nos dá uma sensação de música pelo ar, essa perturbação produz regiões de compressão e
acabada. Mas, se forem tocadas simultaneamente o fá e distensão. Como nosso aparelho auditivo é sensível e essa
o sí, ou sí e o ré, os sons resultantes serão desagradáveis, vibração do ar, podemos percebê-las sob a forma de som.
dando a sensação de que falta alguma coisa para comple- Além das cordas vocais e lâminas de aço, existem inú-
tá-las. Isso acontece porque, no primeiro caso, as relações meros outros corpos capazes de emitir som. Corpos com
entre freqüências são compostas de números pequenos, essa capacidade são denominados fontes sonoras. Como
enquanto no segundo, esses números são relativamente exemplo, podemos citar os diapasões, os sinos, as mem-
grandes. branas, as palhetas e os tubos.
Com o progresso da eletrônica, novos instrumentos Frequência do som audível
foram produzidos, como a guitarra elétrica, o órgão eletrô- O ouvido humano só é capaz de perceber sons de fre-
nico etc., que nos proporcionam novos timbres. qüências compreendidas entre 16Hz e 20.000Hz, aproxima-
O órgão eletrônico chega mesmo a emitir os sons dos damente. Os infra-sons, cuja freqüência é inferior a 16Hz,
outros instrumentos. Ele pode ter, inclusive, acompanha- e os ultra-sons, cuja freqüência é superior a 20.000Hz, não
mento de bateria, violoncelo, contrabaixo e outros, consti- são captados por nosso olvido, mas são percebidos por al-
tuindo-se numa autentica orquestra eletrônica, regida por guns animais, como os cães, que ouvem sons de 25.000Hz,
um maestro: executante da música. e os morcegos, que chegam a ouvir sons de até 50.000Hz.

72
FÍSICA

Propagação do som Na prática não se usa unidades de intensidade sonora,


O som exige um meio material para propagar-se. Esse mas de nível de intensidade sonora, uma grandeza relacio-
meio pode ser sólido, líquido ou gasoso. nada à intensidade sonora e à forma como o nosso ouvido
O som não se propaga no vácuo, o q poder ser com- reage a essa intensidade. Essas unidades são o bel e o seu
provado pela seguinte experiência: colocando um desper- submúltiplo o decibel (dB), que vale 1 décimo do bel. O
tador dentro de uma campânula onde o ar é rarefeito, isto ouvido humano é capaz de suportar sons de até 120dB,
é, onde se fez “vácuo”, o som da campainha praticamente como é o da buzina estridente de um carro. O ruído pro-
deixa de ser ouvido. duzido por um motor de avião a jato a poucos metros do
observador produz um som de cerca de 140dB, capaz de
Velocidade do som causar estímulos dolorosos ao ouvido humano. A agitação
A propagação do som não é instantânea. Podemos ve- das grandes cidades provocam a chamada poluição sonora
rificar esse fato durante as tempestades: o trovão chega aos composta dos mais variados ruídos: motores e buzinas de
nossos ouvidos segundos depois do relâmpago, embora automóveis, martelos de ar comprimido, rádios, televisores
ambos os fenômenos (relâmpago e trovão) se formem ao e etc. Já foi comprovado que uma exposição prolongada
mesmo tempo. (A propagação da luz, neste caso o relâm- a níveis maiores que 80dB pode causar dano permanente
pago, também não é instantânea, embora sua velocidade ao ouvido. A intensidade diminui à medida que o som se
seja superior à do som.) propaga ou seja, quanto mais distante da fonte, menos in-
Assim, o som leva algum tempo para percorrer deter- tenso é o som.
minada distância. E a velocidade de sua propagação de- Timbre – imagine a seguinte situação: um ouvinte que
pende do meio em que ele se propaga e da temperatura não entende de música está numa sala, ao lado da qual
em que esse meio se encontra. existe outra sala onde se encontram um piano e um violi-
No ar, a temperatura de 15ºC a velocidade do som é no. Se uma pessoa tocar a nota dó no piano e ao mesmo
de cerca de 340m/s. Essa velocidade varia em 55cm/s para tempo outra pessoa tocar a nota dó no violino, ambas com
cada grau de temperatura acima de zero. A 20ºC, a veloci- a mesma força os dois sons terão a mesma altura (freqüên-
dade do som é 342m/s, a 0ºC, é de 331m/s. cia) e a mesma intensidade. Mesmo sem ver os instrumen-
Na água a 20ºC, a velocidade do som é de aproxima- tos, o ouvinte da outra sala saberá distinguir facilmente um
damente 1130m/s. Nos sólidos, a velocidade depende da
som de outro, porque cada instrumento tem seu som ca-
natureza das substâncias.
racterizado, ou seja, seu timbre.
Qualidades fisiológicas do som
Podemos afirmar, portanto, que timbre é a qualidade
A todo instante distinguimos os mais diferentes sons.
que nos permite perceber a diferença entre dois sons de
Essa diferenças que nossos ouvidos percebem se devem às
mesma altura e intensidade produzidos por fontes sonoras
qualidades fisiológicas do som: altura, intensidade e tim-
diferentes.
bre.
INFRA-SOM E ULTRASSOM.
Altura
Mesmo sem conhecer música, é fácil distinguir o som Infrassons são ondas sonoras extremamente graves,
agudo (ou fino) de um violino do som grave (ou grosso) com frequências abaixo dos 20 Hz, portanto abaixo da faixa
de um violoncelo. Essa qualidade que permite distinguir audível do ouvido humano que é de 20 Hz a 20.000 Hz.
um som grave de um som agudo se chama altura. Assim, Ondas infrassônicas podem se propagar por longas
costuma-se dizer qu o som do violino é alto e o do violon- distâncias, pois são menos sujeitas às perturbações ou in-
celo é baixo. A altura de um som depende da freqüência, terferências que as de frequências mais altas.
isto é, do número de vibrações por segundo. Quanto maior Infrassons podem ser produzidos pelo vento e por al-
a freqüência mais agudo é o som e vice versa. Por sua vez, guns tipos de terremotos. Os elefantes são capazes de emi-
a freqüência depende do comprimento do corpo que vibra tir infrassons que podem ser detectados a uma distância
e de sua elasticidade; Quanto maior a atração é mais curta de 2 km.
for uma corda de violão, por exemplo, mais agudo vai será É comprovado que os tigres têm a mais forte
o som por ela emitido. capacidade de identificar infrassons. Seu rugido emite
Você pode constatar também a diferença de freqüên- ondas infrassônicas tão poderosas que são capazes de
cias usando um pente que tenha dentes finos e grossos. paralisar suas presas e até pessoas. Há mais de 50 anos
Passando os dentes do pente na bosta de um cartão você é estudada uma forma de usar o infrassom em armas de
ouvirá dois tipos de som emitidos pelo cartão: o som agu- guerra, já que sua potência pode destruir construções e até
do, produzido pelos dentes finos (maior freqüência), e o mesmo estourar órgãos humanos.
som grave, produzido pelos dentes mais grossos (menor Ultrassom é um som a uma frequência superior àquela
freqüência). que o ouvido do ser humano pode perceber, aproximada-
mente 20.000 Hz.
Intensidade Alguns animais, como o cão, golfinho e o morcego,
é a qualidade que permite distinguir um som forte têm um limite de percepção sonora superior ao do ouvido
de um som fraco. Ele depende da amplitude de vibração: humano e podem, assim, ouvir ultrassons. Existem “apitos”
quanto maior a amplitude mais forte é o som e vice versa. especiais nestas frequências que servem a estes princípios.

73
FÍSICA

Um som é caracterizado por vibrações (variação de - Óptica quântica ou óptica física: Estudo quântico da
pressão) no ar. O ser humano normal médio consegue dis- interação entre as ondas eletromagnéticas e a matéria, no
tinguir, ou ouvir, sons na faixa de frequência que se estende que a dualidade onda-corpúsculo joga um papel crucial.
de 20Hz a 20.000Hz aproximadamente. Acima deste inter-
valo, os sinais são conhecidos como ultrassons e abaixo Conceitos e propriedades ópticas, princípios da óp-
dele, infrassons. tica geométrica, reflexão e refração da luz, dioptros
O emissor de som, em aparelhos de som, é o alto-fa- planos.
lante. Um cone de papelão movido por uma bobina imersa
em um campo magnético , produzido por um imã perma- A Óptica Geométrica ocupa-se de estudar a propaga-
nente. Este cone pode “vibrar” a frequências de áudio e ção da luz com base em alguns postulados simples e sem
com isto impulsionar o ar promovendo ondas de pressão grandes preocupações com sua natureza, se ondulatória
que ao atingirem o ouvido humano, são interpretados ou particular.
como sons audíveis. Porém, à medida que a frequência
das vibrações aumenta, a amplitude das vibrações vai se Princípios
reduzindo. Para gerar sons de alta-frequência e ultrassons
geralmente são utilizados cerâmicas ou cristais piezoelétri- Os princípios em que se baseia a Óptica Geométrica
cos, os quais produzem oscilações mecânicas em resposta são três: Propagação Retilínea da Luz: Em um meio ho-
a impulsos elétricos. mogêneo e transparente a luz se propaga em linha reta.
Cada uma dessas “retas de luz” é chamada de raio de luz.
Independência dos Raios de Luz: Quando dois raios de luz
ÓTICA se cruzam, um não interfere na trajetória do outro, cada
PROPAGAÇÃO E REFLEXÃO DA LUZ - um se comportando como se o outro não existisse. Rever-
ESPELHOS PLANOS E ESFÉRICOS DE PEQUENA sibilidade dos Raios de Luz: Se revertermos o sentido de
propagação de um raio de luz ele continua a percorrer a
ABERTURA; REFRAÇÃO DA LUZ - DISPERSÃO E
mesma trajetória, em sentido contrário.
ESPECTROS - LENTES ESFÉRICAS, DELGADAS E O princípio da propagação retilínea da luz pode ser ve-
INSTRUMENTOS ÓTICOS; rificado no fato de que, por exemplo, um objeto quadrado
ONDAS LUMINOSAS - REFLEXÃO E projeta sobre uma superfície plana, uma sombra também
REFRAÇÃO DA LUZ SOB O PONTO DE VISTA quadrada. O princípio da independência pode ser observa-
ONDULATÓRIO - INTERFERÊNCIA E DIFRAÇÃO. do, por exemplo, em peças de teatro no momento que ho-
lofotes específicos iluminam determinados atores no palco.
Mesmo que os atores troquem suas posições nos palcos
e os feixes de luz sejam obrigados a se cruzar, ainda sim
A óptica é um ramo da Física que estuda a luz ou, mais
amplamente, a radiação eletromagnética, visível ou não. A os atores serão iluminados da mesma forma, até mesmo,
óptica explica os fenômenos de reflexão, refração e difra- por luzes de cores diferentes. O terceiro princípio pode ser
ção, a interação entre a luz e o meio, entre outras coisas. verificado por exemplo na situação em que um motoris-
Geralmente, a disciplina estuda fenômenos envolvendo a ta de táxi e seu passageiro, este último no banco de trás,
luz visível, infravermelha, e ultravioleta; entretanto, uma conversam, um olhando para o outro através do espelho
vez que a luz é uma onda electromagnética, fenômenos central retrovisor.
análogos acontecem com os raios X, microondas, ondas O domínio de validade da óptica geométrica é o de a
de rádio, e outras formas de radiação electromagnética. A escala em estudo ser muito maior do que o comprimento
óptica, nesse caso, pode se enquadrar como uma subdis- de onda da luz considerada e em que as fases das diver-
ciplina do eletromagnetismo. Alguns fenômenos ópticos sas fontes luminosas não têm qualquer correlação entre si.
dependem da natureza da luz e, nesse caso, a óptica se Assim, por exemplo é legítimo utilizar a óptica geométrica
relaciona com a mecânica quântica. para explicar a refração mas não a difração. Todos os três
Segundo o modelo para a luz utilizada, distingue-se princípios podem ser derivados do Princípio de Fermat, de
entre os seguintes ramos, por ordem crescente de precisão Pierre de Fermat, que diz que quando a luz vai de um pon-
(cada ramo utiliza um modelo simplificado do empregado to a outro, ela segue a trajetória que minimiza o tempo
pela seguinte): do percurso (tal princípio foi utilizado por Bernoulli para
- Óptica geométrica: Trata a luz como um conjunto de resolver o problema da braquistócrona. Note a semelhança
raios que cumprem o princípio de Fermat. Utiliza-se no es- entre os enunciados do princípio e do problema).
tudo da transmissão da luz por meios homogêneos (lentes, A óptica geométrica fundamentalmente estuda o fe-
espelhos), a reflexão e a refração. nômeno da reflexão luminosa e o fenômeno da refração
- Óptica ondulatória: Considera a luz como uma onda luminosa. O primeiro fenômeno tem sua máxima expressão
plana, tendo em conta sua frequência e comprimento de no estudo dos espelhos, enquanto que o segundo, tem nas
onda. Utiliza-se para o estudo da difração e interferência. lentes o mesmo papel. Durante sua propagação no espaço,
- Óptica eletromagnética: Considera a luz como uma a onda propicia fenômenos que acontecem naturalmente
onda eletromagnética, explicando assim a reflexão e trans- e frequentemente. O conhecimento dos fenômenos on-
missão, e os fenômenos de polarização e anisotrópicos. dulatórios culminou em várias pesquisas de importantes

74
FÍSICA

cientistas, como Christiaan Huygens e Thomas Young, es- Difração


tes defendiam que a luz tinha características ondulatórias e
não corpusculares como Isaac Newton acreditava, isso foi Uma onda quando perpassa um obstáculo que possui
possível mediante a uma importante experiência feita por a mesma ordem de grandeza de seu comprimento de onda,
Young, a da “Dupla fenda”, baseada no fenômeno de inter- apresenta um fenômeno denominado difração, modifican-
ferência e difração (veja a figura Fig.1), inerente às ondas. do sua direção de propagação e contornando um obstácu-
Mais tarde, um outro cientista célebre chamado Heinrich lo. Esse fenômeno foi estudado pelo físico Thomas Young e
Rudolf Hertz, runescape fotoelétrico que foi muito bem representado em sua experiência junto ao de interferência
entendido e explicado pelo físico Albert Einstein, o que lhe - utilizado pra provar a característica ondulatória da luz. Se
rendeu o Nobel de Física. Essa contradição permitiu à luz uma pessoa tentar se comunicar com outra, sendo estes
ter caráter dualista, ou seja, ora se comporta como onda separados por uma parede espessa e relativamente alta, os
ora como partícula. Outro exemplo importante foi o de dois se ouvirão em uma conversa, isso é possível graças ao
Gauss, no campo da óptica, com suas descobertas e teorias fenômeno de difração, pois como a onda sonora possui um
sobre a reflexão da luz em espelhos esféricos e criador das comprimento de onda na escala métrica, esta contornar a
fórmulas que permite calcular a altura e distancia de uma parede e atingir os ouvidos dos indivíduos. A luz não po-
imagem do espelho com relação ao objeto. deria contornar a parede, pois possui um comprimento de
onda na escala manométrica o que faz os indivíduos não se
Reflexão verem apenas se escutarem.

Há muitos séculos, curiosos gregos como Heron de Interferência


Alexandria tentavam desvendar os mistérios da natureza,
em especial a ele a reflexão luminosa. Atualmente os co- É quando duas ondas, simultaneamente, se propagam
nhecimentos adquiridos sobre este campo culminaram, no mesmo meio. Denomina-se então uma superposição de
em parte, na contemporânea mecânica quântica, cientistas ondas. Quando ocorre o encontro entre duas cristas ambas
como Niels Bohr (com seu modelo atômico mais comple- aumentam sua amplitude. Quando dois vales se encontram
xo) perpassaram por estudos na área da reflexão, quando sua amplitude é igualmente aumentada e os dois abaixam
um de seus postulados dizia que fótons poderiam intera- naquele ponto. Quando um vale e uma crista encontram-
gir com os elétrons da camada mais exterior da eletrosfera -se, ambos irão querer puxar cada elevação para o seu lado.
de um átomo, excitando-os e proporcionando-os a estes Se as amplitudes forem iguais elas se cancelam (a=0). Se as
os chamados saltos quânticos que resultariam na “devo- amplitudes foram diferentes elas se subtraem.
lução” da radiação(pacote destes fótons) incidente. A re-
flexão, no entanto, não vale só para as ondas luminosas Polarização
e sim para todas as ondas, ou seja, acústica, do mar, etc.
Tomando como exemplo ondas originadas de inúmeras A polarização é um fenômeno que pode ocorrer ape-
perturbações superficiais (pulsos) periódicas em um balde nas com ondas transversais, aquelas em que a direção de
largo e comprido de água inerte (parada), percebe-se que vibração é perpendicular à de propagação, como a produ-
as ondas se propagam no meio “batem” nas paredes do zida em uma corda esticada. A onda é chamada polarizada
recipiente e “voltam” sem sofrerem perdas consideráveis quando a vibração ocorre em uma única direção. Polarizar
de energia, esse fenômeno é chamado de reflexão. Os es- uma onda significa orientá-la em uma única direção ou
tudos do grego Alexandria resultaram na conclusão de que plano.
as ondas luminosas, natureza de onda estudada por ele,
incidiam sobre um espelho e eram refletidas, e ainda que Dioptro
o ângulo de incidência é igual ao de reflexão. Esta teoria,
aceita até os dias atuais, é valida para todas as naturezas de É todo o sistema formado por dois meios homogêneos
onda, com exceção à acústica, por se propagar em todas as e transparentes. Quando esta separação acontece em um
direções (tridimensional). meio plano, chamamos então, dioptro plano.

Refração

Propagando-se numa corda de menor densidade,


quando um pulso passa para outra de maior densidade,
está sofrendo uma refração.
Leis da refração

1.Os raios de onda incidente, refratado e normal são


coplanares. A figura acima representa um dioptro plano, na
2.Lei de Snell - Descartes: a frequência e a fase não separação entre a água e o ar, que são dois meios
variam. A velocidade de propagação e o comprimento de homogêneos e transparentes.
onda variam na mesma proporção.

75
FÍSICA

Formação de imagens através de um dioptro Tipos de prismas


Considere um pescador que vê um peixe em um lago. - Prismas dispersivos são usados para separar a luz em
O peixe encontra-se a uma profundidade H da superfície suas cores de espectro.
da água. O pescador o vê a uma profundidade h. Conforme - Prismas refletivos são usados para refletir a luz.
mostra a figura abaixo: - Prismas polarizados podem dividir o feixe de luz em
componentes de variadas polaridades.

Lentes esféricas convergentes

- Em uma lente esférica com comportamento


convergente, a luz que incide paralelamente entre si é
refratada, tomando direções que convergem a um único
ponto.
- Tanto lentes de bordas finas como de bordas espessas
podem ser convergentes, dependendo do seu índice de
refração em relação ao do meio externo.
A fórmula que determina esta distância é: - O caso mais comum é o que a lente tem índice de
refração maior que o índice de refração do meio externo.
! !! Nesse caso, um exemplo de lente com comportamento
=! convergente é o de uma lente biconvexa (com bordas
ℎ !! finas):

Prisma
Um prisma é um sólido geométrico formado por uma
face superior e uma face inferior paralelas e congruentes
(também chamadas de bases) ligadas por arestas. As
laterais de um prisma são paralelogramos. No entanto, para
o contexto da óptica, é chamado prisma o elemento óptico
transparente com superfícies retas e polidas que é capaz
de refratar a luz nele incidida. O formato mais usual de um
prisma óptico é o de pirâmide com base quadrangular e
lados triangulares. Já o caso menos comum ocorre quando a lente tem
menor índice de refração que o meio. Nesse caso, um
exemplo de lente com comportamento convergente é o de
uma lente bicôncava (com bordas espessas):

Lentes esféricas divergentes


A aplicação usual dos prismas ópticos é seu uso
para separar a luz branca policromática nas sete cores Em uma lente esférica com comportamento divergente,
monocromáticas do espectro visível, além de que, em a luz que incide paralelamente entre si é refratada, tomando
algumas situações poder refletir tais luzes. direções que divergem a partir de um único ponto. Tanto
lentes de bordas espessas como de bordas finas podem
Funcionamento do prisma ser divergentes, dependendo do seu índice de refração em
relação ao do meio externo.
Quando a luz branca incide sobre a superfície do prima, O caso mais comum é o que a lente tem índice de
sua velocidade é alterada, no entanto, cada cor da luz refração maior que o índice de refração do meio externo.
branca tem um índice de refração diferente, e logo ângulos Nesse caso, um exemplo de lente com comportamento
de refração diferentes, chegando à outra extremidade do divergente é o de uma lente bicôncava (com bordas
prima separadas. espessas):

76
FÍSICA

sua vez deriva do latim clássico “electrum”, “amante do âm-


bar”, termo esse cunhado a partir do termo grego ήλεκτρον
(elétrons) no ano de 1600 e traduzido para o português
como âmbar. O termo remonta às primeiras observações
mais atentas sobre o assunto, feitas esfregando-se pedaços
de âmbar e pele.
No uso geral, a palavra “eletricidade” se refere de forma
igualmente satisfatória a uma série de efeitos físicos. Em
um contexto científico, no entanto, o termo é muito geral
Já o caso menos comum ocorre quando a lente tem para ser empregado de forma única, e conceitos distintos
menor índice de refração que o meio. Nesse caso, um contudo a ele diretamente relacionados são usualmente
exemplo de lente com comportamento divergente é o de melhor identificadas por termos ou expressões específicos.
uma lente biconvexa (com bordas finas): Alguns conceitos importantes com nomenclatura específi-
ca que dizem respeito à eletricidade são:
- Carga elétrica: propriedade das partículas subatômi-
cas que determina as interações eletromagnéticas dessas.
Matéria eletricamente carregada produz, e é influenciada
por, campos eletromagnéticos. Unidade SI (Sistema In-
ternacional de Unidades): ampère segundo (A.s), unidade
também denominada coulomb (C).
- Campo elétrico: efeito produzido por uma carga no
espaço que a contém, o qual pode exercer força sobre
outras partículas carregadas. Unidade SI: volt por metro
(V/m); ou newton por coulomb (N/C), ambas equivalentes.
- Potencial elétrico: capacidade de uma carga elétrica
de realizar trabalho ao alterar sua posição. A quantidade de
energia potencial elétrica armazenada em cada unidade de
ELETRICIDADE carga em dada posição. Unidade SI: volt (V); o mesmo que
CARGA ELÉTRICA - LEI DE COULOMB. CAMPO joule por coulomb (J/C).
ELÉTRICO – CAMPO DE CARGAS PONTUAIS - Corrente elétrica: quantidade de carga que ultrapas-
- CAMPO DE UMA CARGA ESFÉRICA - sa determinada secção por unidade de tempo. Unidade SI:
MOVIMENTO DE UMA CARGA EM UM CAMPO ampère (A); o mesmo que coulomb por segundo (C/s).
UNIFORME. CORRENTE ELÉTRICA, DIFERENÇA - Potência elétrica: quantidade de energia elétrica con-
DE POTENCIAL, RESISTÊNCIA ELÉTRICA. LEI vertida por unidade de tempo. Unidade SI: watt (W); o mes-
DE OHM - EFEITO JOULE. ASSOCIAÇÃO DE mo que joules por segundo (J/s).
RESISTÊNCIAS EM SÉRIE E EM PARALELO. - Energia elétrica: energia armazenada ou distribuída
na forma elétrica. Unidade SI: a mesma da energia, o joule
GERADORES DE CORRENTE CONTÍNUA: FORÇA
(J).
ELETROMOTRIZ E RESISTÊNCIA INTERNA - Eletromagnetismo: interação fundamental entre o
- CIRCUITOS ELÉTRICOS; EXPERIÊNCIA campo magnético e a carga elétrica, estática ou em mo-
DE OERSTED - CAMPO MAGNÉTICO DE vimento.
UMA CARGA EM MOVIMENTO - INDUÇÃO
MAGNÉTICA. FORÇA EXERCIDA POR UM O uso mais comum da palavra “eletricidade” atrela-se à
CAMPO MAGNÉTICO SOBRE UMA CARGA sua acepção menos precisa, contudo. Refere-se a: Energia
ELÉTRICA E SOBRE CONDUTOR RETILÍNEO. elétrica (referindo-se de forma menos precisa a uma quan-
FORÇA ELETROMOTRIZ INDUZIDA – LEI tidade de energia potencial elétrica ou, então, de forma
DE FARADAY - LEI DE LENZ - ONDAS mais precisa, à energia elétrica por unidade de tempo) que
ELETROMAGNÉTICAS. é fornecida comercialmente pelas distribuidoras de ener-
gia elétrica. Em um uso flexível contudo comum do termo,
“eletricidade” pode referir-se à “fiação elétrica”, situação
em que significa uma conexão física e em operação a uma
A eletricidade é um termo geral que abrange uma va- estação de energia elétrica. Tal conexão garante o acesso
riedade de fenômenos resultantes da presença e do fluxo do usuário de “eletricidade” ao campo elétrico presente na
de carga elétrica. Esses incluem muitos fenômenos facil- fiação elétrica, e, portanto, à energia elétrica distribuída por
mente reconhecíveis, tais como relâmpagos, eletricidade meio desse.
estática, e correntes elétricas em fios elétricos. Além disso, Embora os primeiros avanços científicos na área re-
a eletricidade engloba conceitos menos conhecidos, como montem aos séculos XVII e XVIII, os fenômenos elétricos
o campo eletromagnético e indução eletromagnética. A têm sido estudados desde a antiguidade. Contudo, antes
palavra deriva do termo em neolatim “ēlectricus”, que por dos avanços científicos na área, as aplicações práticas para

77
FÍSICA

a eletricidade permaneceram muito limitadas, e tardaria CONDUTORES E ISOLANTES


até o final do século XIX para que os engenheiros fossem
capazes de disponibilizá-la ao uso industrial e residencial, Em alguns tipos de átomos, especialmente os que
possibilitando assim seu uso generalizado. A rápida ex- compõem os metais - ferro, ouro, platina, cobre, prata e
pansão da tecnologia elétrica nesse período transformou outros -, a última órbita eletrônica perde um elétron com
a indústria e a sociedade da época. A extraordinária versa- grande facilidade. Por isso seus elétrons recebem o nome
tilidade da eletricidade como fonte de energia levou a um de elétrons livres.Estes elétrons livres se desgarram das úl-
conjunto quase ilimitado de aplicações, conjunto que em timas órbitas eletrônicas e ficam vagando de átomo para
tempos modernos certamente inclui as aplicações nos se- átomo, sem direção definida. Mas os átomos que perdem
tores de transportes, aquecimento, iluminação, comunica- elétrons também os readquirem com facilidade dos áto-
ções e computação. A energia elétrica é a espinha dorsal da mos vizinhos, para voltar a perdê-los momentos depois. No
sociedade industrial moderna, e deverá permanecer assim interior dos metais os elétrons livres vagueiam por entre os
no futuro tangível. átomos, em todos os sentidos.
Eletrostática é o ramo da eletricidade que estuda as
propriedades e o comportamento de cargas elétricas em
repouso, ou que estuda os fenômenos do equilíbrio da
eletricidade nos corpos que de alguma forma se tornam
carregados de carga elétrica, ou eletrizados.
CONSTITUIÇÃO DA MATÉRIA, PARTÍCULA FUNDA-
MENTAIS

Tudo aquilo que tem massa e ocupa lugar no espaço Devido à facilidade de fornecer elétrons livres, os me-
pode ser definido como sendo matéria. Toda matéria é for- tais são usados para fabricar os fios de cabos e aparelhos
mada por pequenas partículas, designadas átomos. Segun- elétricos: eles são bons condutores do fluxo de elétrons li-
do a teoria atômica de Dalton podemos definir que: vres.
- A matéria é constituída de pequenas partículas esféri- Já outras substâncias - como o vidro, a cerâmica, o
cas, maciças e indivisíveis, denominadas de átomos. plástico ou a borracha - não permitem a passagem do fluxo
- Elemento químico é composto de um conjunto de de elétrons ou deixam passar apenas um pequeno número
átomos com as mesmas massas e tamanhos. deles. Seus átomos têm grande dificuldade em ceder ou
- Elementos químicos diferentes indicam átomos com receber os elétrons livres das últimas camadas eletrônicas.
massas, tamanhos e propriedades diferentes. São os chamados materiais isolantes, usados para recobrir
- Substâncias diferentes são resultantes da combinação os fios, cabos e aparelhos elétricos.
de átomos de elementos diversos.
- A origem de novas substâncias está relacionada ao
rearranjo dos átomos, uma vez que eles não são criados e
nem destruídos.

A madeira, a argila, a água, o ferro são exemplos de


matéria, podemos vê-los e tocá-los, mas existem matérias
que não podem ser vistas e nem sentidas, é o caso do ar
que respiramos e que enche nossos pulmões. O calor que
sentimos, as cores, os nossos sentimentos, os sonhos, ne-
nhum deles é matéria, já que não são materiais.
Através da matéria podemos dar origem a materiais Essa distinção das substâncias em condutores e iso-
(objetos). Exemplificando seria assim: com um pedaço de lantes se aplica não apenas aos sólidos, mas também aos
madeira o carpinteiro faz um móvel. Ao relacionarmos ma- líquidos e aos gases. Dentre os líquidos, por exemplo, são
téria com o exemplo, ficaria assim: bons condutores as soluções de ácidos, de bases e de sais;
Madeira – matéria são isolantes muitos óleos minerais. Os gases podem se
tábua – corpo comportar como isolantes ou como condutores, depen-
mesa – objeto dendo das condições em que se encontrem.

Surge assim outra definição, a de corpo e objeto: Cor- Condutores e Isolantes


po é qualquer porção limitada de matéria e objeto, é aquilo
que o corpo se transforma quando é trabalhado. O que determina se um material será bom ou mau con-
Mais exemplos: o escultor usa um pedaço de mármore dutor térmico são as ligações em sua estrutura atômica ou
(corpo) para fazer uma estátua (objeto). O ourives faz um molecular. Assim, os metais são excelentes condutores de
anel (objeto), de uma barra (corpo) de ouro (matéria). calor devido ao fato de possuírem os elétrons mais exter-
nos “fracamente” ligados, tornando-se livres para transpor-
tar energia por meio de colisões através do metal. Por ou-

78
FÍSICA

tro lado temos que materiais como lã, madeira, vidro, papel conectado a uma bateria, movendo um ímã em suas pro-
e isopor são maus condutores de calor (isolantes térmicos), ximidades ou colocando perto outro condutor, pelo qual
pois, os elétrons mais externos de seus átomos estão fir- circulava uma corrente variável.
memente ligados. Coulomb, Charles de (1736-1806), físico francês e pio-
Os líquidos e gases, em geral, são maus condutores neiro na teoria elétrica. Em 1777, inventou a balança de
de calor. O ar, por exemplo, é um ótimo isolante térmico. torção para medir a força da atração magnética e elétrica.
Por este motivo quando você põe sua mão em um forno A unidade de medida de carga elétrica recebeu o nome de
quente, não se queima. Entretanto, ao tocar numa forma de Coulomb em sua homenagem (ver Unidades elétricas).
metal dentro dele você se queimaria, pois, a forma metálica Unidades elétricas, unidades empregadas para medir
conduz o calor rapidamente. quantitativamente toda espécie de fenômenos eletrostáti-
A neve é outro exemplo de um bom isolante térmico. cos e eletromagnéticos, assim como as características ele-
Isto acontece porque os flocos de neve são formados por tromagnéticas dos componentes de um circuito elétrico. As
cristais, que se acumulam formando camadas fofas apri- unidades elétricas empregadas estão definidas no Sistema
sionando o ar e dessa forma dificultando a transmissão do Internacional de unidades.
calor da superfície da Terra para a atmosfera. A unidade de intensidade de corrente é o ampère. A da
carga elétrica é o coulomb, que é a quantidade de eletri-
Força da Lei de Coulombi cidade que passa em um segundo por qualquer ponto de
um circuito através do qual flui uma corrente de um ampè-
As forças entre cargas elétricas são forças de campo, re. O volt é a unidade de diferença de potencial. A unidade
isto é, forças de ação à distância, como as forças gravita- de potência elétrica é o watt.
cionais (com a diferença que as gravitacionais são sempre A unidade de resistência é o ohm, que é a resistência
forças atrativas). de um condutor em que uma diferença de potencial de um
O cientista francês Charles Coulomb conseguiu estabe- volt produz uma corrente de um ampère. A capacidade de
lecer experimentalmente uma expressão matemática que um condensador é medida em farad: um condensador de
nos permite calcular o valor da força entre dois pequenos um farad tem uma diferença de potencial de um volt entre
corpos eletrizados. Coulomb verificou que o valor dessa suas placas quando estas apresentam uma carga de um
força (seja de atração ou de repulsão) é tanto maior quanto coulomb.
maiores forem os valores das cargas nos corpos, e tanto O Henry é a unidade de indutância, a propriedade
menor quanto maior for a distância entre eles. Ou seja: a de um circuito elétrico em que uma variação na corrente
força com que duas cargas se atraem ou repelem é propor- provoca indução no próprio circuito ou num circuito vizi-
cional às cargas e inversamente proporcional ao quadrado nho. Uma bobina tem uma auto-indutância de um Henry
da distância que as separa. Assim, se a distância entre duas quando uma mudança de um ampère/segundo na corren-
cargas é dobrada, a força de uma sobre a outra é reduzida te elétrica que a atravessa provoca uma força eletromotriz
a um quarto da força original. oposta de um volt.
Para medir as forças, Coulomb aperfeiçoou o método Lei de Coulomb, lei que governa a interação eletros-
de detectar a força elétrica entre duas cargas por meio da tática entre duas cargas pontuais, descrita por Charles de
torção de um fio. A partir dessa ideia criou um medidor Coulomb. Entre as muitas manifestações da eletricidade,
de força extremamente sensível, denominado balança de encontramos o fenômeno da atração ou repulsão entre
torção. dois ou mais corpos eletricamente carregados que se en-
contram em repouso.
Lei de Coulomb De modo geral, estas forças de atração ou repulsão
estáticas têm uma forma matemática muito complicada.
Os fenômenos elétricos e magnéticos só começaram a No entanto, no caso de dois corpos carregados que têm
ser compreendidos no final do século XVIII, quando prin- tamanho desprezível em relação à distância que os separa,
cipiaram os experimentos nesse campo. Em 1785, o físico a força de atração ou repulsão estática entre eles assume
francês Charles de Coulomb confirmou, pela primeira vez uma forma muito simples, que é chamada lei de Coulomb.
de forma experimental, que as cargas elétricas se atraem A lei de Coulomb afirma que a intensidade da força F
ou se repelem com uma intensidade inversamente propor- entre duas cargas pontuais Q1 e Q2 é diretamente propor-
cional ao quadrado da distância que as separa. A possibili- cional ao produto das cargas, e inversamente proporcional
dade de manter uma força eletromotriz capaz de impulsio- ao inverso do quadrado da distância R que as separa.
nar de forma contínua partículas eletricamente carregadas Eletricidade, categoria de fenômenos físicos origina-
chegou com o desenvolvimento da bateria de pilha quími- dos pela existência de cargas elétricas e pela sua intera-
ca em 1800, pelo físico italiano Alessandro Volta. ção. Quando uma carga elétrica encontra-se estacionária,
O cientista francês André Marie Ampère demonstrou ou estática, produz forças elétricas sobre as outras cargas
experimentalmente que dois cabos por onde circula uma situadas na mesma região do espaço; quando está em mo-
corrente exercem uma influência mútua igual à dos pó- vimento, produz, além disso, efeitos magnéticos.
los de um ímã. Em 1831, o físico e químico britânico Mi- Os efeitos elétricos e magnéticos dependem da posi-
chael Faraday descobriu que podia induzir o fluxo de uma ção e do movimento relativos das partículas carregadas.
corrente elétrica num condutor em forma de espiral, não No que diz respeito aos efeitos elétricos, essas partículas

79
FÍSICA

podem ser neutras, positivas ou negativas (ver Átomo). Então


A eletricidade se ocupa das partículas carregadas positi-
vamente, como os prótons, que se repelem mutuamente,
e das partículas carregadas negativamente, como os elé-
trons, que também se repelem mutuamente (ver Elétron;
Próton).
Em troca, as partículas negativas e positivas se atraem O resultado completo obtido por Coulomb pode ser
entre si. Esse comportamento pode ser resumido dizendo- expresso como
-se que cargas do mesmo sinal se repelem e cargas de sinal
diferente se atraem.
A força entre duas partículas com cargas q1 e q2 pode
ser calculada a partir da lei de Coulomb segundo a qual a
força é proporcional ao produto das cargas, dividido pelo
quadrado da distância que as separa. A lei é assim chamada Onde a notação está explicada na figura 2.
em homenagem ao físico francês Charles de Coulomb.
Se dois corpos de carga igual e oposta são conectados
por meio de um condutor metálico, por exemplo, um cabo,
as cargas se neutralizam mutuamente. Essa neutralização
é devida a um fluxo de elétrons através do condutor, do
corpo carregado negativamente para o carregado positiva-
mente. A corrente que passa por um circuito é denominada Forca entre duas cargas
corrente contínua (CC), se flui sempre no mesmo sentido, Um outro fato experimental é a validade da terceira lei
e corrente alternada (CA), se flui alternativamente em um de Newton ,
e outro sentido. Em função da resistência que oferece um
material à passagem da corrente, podemos classificá-lo em
condutor, semicondutor e isolante.
O fluxo de carga ou intensidade da corrente que per-
corre um cabo é medido pelo número de coulombs que CAMPO E POTENCIAL ELÉTRICO ASSOCIADOS A
passam em um segundo por uma seção determinada do UMA CARGA PUNTIFORME E UMA DISTRIBUIÇÃO SIM-
cabo. Um Coulomb por segundo equivale a 1 ampère, PLES DE CARGAS, PRINCÍPIO DA SUPERPOSIÇÃO, CON-
unidade de intensidade de corrente elétrica cujo nome é CEITOS FUNDAMENTAIS
uma homenagem ao físico francês André Marie Ampère.
Quando uma carga de 1 coulomb se desloca através de Campo e Potencial Elétrico
uma diferença de potencial de 1 volt, o trabalho realizado
corresponde a 1 joule. Essa definição facilita a conversão de A todo instante estamos relacionando os fatos de
quantidades mecânicas em elétricas. natureza e o nosso modo de vida que depende de técnicas
A primeira constatação de que a interação entre cargas e aparelhos elétricos modernos.
elétricas obedece à lei de força Analisaremos os fenômenos magnéticos que são
causados por cargas elétricas em movimento.
Carga Positiva – corpos que tem comportamento
como o de uma barra de vidro atritada com seda, neste
caso todos os corpos se repelem uns aos outros, estando
onde r é a distância entre as cargas F e é o módulo detrizados positivamente, adquirindo carga positiva.
da força, foi feita por Priestley em 1766. Priestley observou Carga Negativa – corpos que se comportam com
que um recipiente metálico carregado, não possui cargas uma barra de ferro de borracha atritada com um pedaço
na superfície interna, 1, não exercendo forças sobre uma de lã, todos os corpos se repelem uns aos outros, mas
carga colocada dentro dele. A partir deste fato experimen- atraem os corpos do grupo anterior. Estando eletrizados
tal, pode-se deduzir matematicamente a validade de (1) O negativamente, possuindo carga positiva.
mesmo tipo de dedução pode ser feita na gravitação, para
mostrar que dentro de uma cavidade não há força gravi- Porque um corpo se eletriza
tacional.
Medidas diretas da lei (1) foram realizadas em 1785 por Quando dois corpos são atritados um contra o outro,
Coulomb , utilizando um aparato denominado balança de se um deles se eletriza positivamente, o outro irá adquirir
torção . Medidas modernas mostram que supondo uma lei carga negativa.
dada por Os fenômenos elétricos eram produzidos pela
existência de um “fluído elétrico” que está presente em
todos os corpos.
Em um corpo não eletrizado este fluido existe em
quantidade normal.

80
FÍSICA

Existem também os condutores elétricos ou também É por isso que em aparelhos de TV, válvulas se
chamados de condutores isolantes. apresentam envolvidas por capas metálicas, blindadas
Os corpos são constituídos de átomos que possuem por estes condutores.
partículas eletrizadas, e quando esses átomos se reúnem Este fato já era conhecido por Foraday.
para formar certos sólidos, os elétrons não permanecem
ligados aos átomos, adquirindo liberdade para se Potencial Elétrico
movimentarem no interior do sólido.
Existem sólidos que estão firmemente ligados aos Consideremos o exemplo abaixo:
átomos que não possuem elétrons livres. Onde não Um corpo eletrizado com 1 campo elétrico no espaço
é possível o deslocamento de cargas elétricas através ao redor. Neste, dois pontos A e B.
destes corpos são denominados de isolantes elétricos ou Uma carga positiva q, é abandonada em A, sobre ela
dielétricos. atuando uma força elétrica F devida ao campo. A carga se
A indução eletrostática é a separação de cargas em deslocando de A para B.
um condutor, provocada pela aproximação de um corpo A força elétrica realiza um trabalho que denominamos
eletrizado. Tab, que representa uma quantidade de energia elétrica
A utilização por indução é quando o condutor, transferida de F para q no deslocamento citado.
provocada pela aproximação de um corpo eletrizado. Neste trabalho está relacionada uma grandeza
A eletrização por indução é quando o condutor adquiri denominada diferença de potencial entre os pontos A e B.
carga negativa, uma carga de sinal contrária ao do indutor, A diferença de potencial pode também ser chamada de
não podendo receber nem carga durante o processo. voltagem ou tensão entre 2 pontos.
Quando a voltagem de dois pontos é muito grande, a
Eletroscópio alta voltagem, quer dizer que o campo elétrico realiza um
grande trabalho sobre uma carga que se desloca entre tais
É um dispositivo que nos permite verificar se um pontos.
corpo está eletrizado. O conceito de voltagem é utilizado por nós no dia-a-
Quando o corpo está eletrizado, ele possui um excesso -dia, isto pode ser notado em nossas residências, como é o
de prótons ou de elétrons que por isso pode ser medido caso das tomadas elétricas e das baterias dos carros.
O trabalho realizado pela força elétrica é o mesmo, in-
pelo n.º de elétrons que o corpo perder ou ganhar.
dependentemente da trajetória seguida pela carga. Isto é
denominado de força conservativa.
Campo Elétrico
Desta forma, seja qual for a trajetória seguida pela car-
ga, a diferença de potencial entre dois pontos tem o valor
O ponto de uma região que corresponde ao valor
único.
de uma grandeza, dizemos que existe um campo àquela
Uma carga positiva abandonada em um campo elétrico
grandeza.
se desloca de pontos de maior potencial para pontos de
Quando uma carga positiva é colocada em um ponto
menor potencial. Com a carga negativa o deslocamento é
de campo elétrico, ela se desloca no sentido do campo, e a contrário, ou seja, de pontos de menor potencial para pon-
carga negativa se desloca em sentido contrário ao campo. tos de maior potencial.
Podemos concluir então, com o auxílio do autor que:
Linhas de Força uma carga positiva abandonada em um campo elétrico
tende a se deslocar de pontos onde o potencial é maior
Traçar uma linha tem valores que tem a mesma direção, para pontos onde ele é menor. Uma carga negativa tenderá
essa linha é tangente em cada vetor. a se mover em sentido contrário, isto é, de pontos onde o
Caso um condutor seja atritado em uma curta região, potencial é menor para pontos onde ele é maior.
ele vai adquirir uma carga de valor negativo.
Essas cargas se repelem e atuam sobre os elétrons Voltagem de um Campo Elétrico
livres do condutor fazendo com que eles se desloquem
atingindo uma situação de equilíbrio eletrostático. Para que se calcule o valor da voltagem usa-se a se-
Ao atingir esse equilíbrio verifica-se que a carga guinte fórmula: Vab = Ed
negativa esta distribuída na superfície. Essa expressão permite que calculemos a diferença de
A carga positiva adquirida pelo condutor atrai elétrons potencial entre dois pontos quaisquer de um campo uni-
livres desse corpo, que se deslocam até atingir equilíbrio forme. Ela é muito importante nos dias de hoje, pois per-
eletrostático mite que possamos obter o valor do campo elétrico através
da medida da voltagem. Os aparelhos mais usados para
Blindagem Eletrostática se medir a voltagem em nossos dias é o Voltímetro, não
existindo ainda aparelhos capazes de medir a intensidade
Quando um aparelho está blindado dizemos de um campo. A unidade para se representar a voltagem
que nenhum fenômeno elétrico externo afetará o está incluída no Sistema Internacional sendo representada
funcionamento. por 1 V/m.

81
FÍSICA

Potencial de um ponto, significa a diferença de poten- Segundo o americano Robert Millikan (1868-1953), os
cial entre este ponto e outro ponto, tomado como refe- valores das grandezas podem sofrer variações em saltos,
rência, sendo muito usado nos dias de hoje. Para que se dizemos então que ela é quantizada. Millikan realizou
calcule tal potencial, é necessário achar o valor de A (VA) uma grande número de experiências, medindo o valor
em relação a P, onde P representa um ponto qualquer de- da carga elétrica adquirida por milhares de gotículas de
nominado nível de potencial, cujo valor é nulo. óleo, concluindo que a carga elétrica será quantizada,
Para se calcular o valor de uma carga puntual, usare- possibilitando determinar o valor do quantum de carga do
mos a seguinte fórmula: V = K0 Q elétron.
Essa expressão nos permite obter considerando-se
como referência um ponto muito afastado de carga Q, sen- Princípio da Superposição
do que a mesma consegue calcular seus valores até o seu
infinito. Até agora, discutimos as forças elétricas devido a
Para que se calcule a fórmula acima com total acerto, é interação entre dois corpos carregados. Vamos supor que
necessário saber analisar os valores de Q, sendo : uma carga de prova positiva (qo) tenha sido colocada na
Se Q positivo, o potencial será também positivo presença de várias outras cargas. Qual será, então, a força
Se Q negativo, o valor de V em P será negativo. eletrostática resultante sobre qo? Somos tentado a resolver
De acordo com a figura podemos estabelecer que Q1, este problema da mesma maneira como é feito com a força
Q2, Q3, é igual à soma algébrica dos potenciais que cada gravitacional na mecânica, isto é, adicionar vetorialmente
carga produz naquele ponto P. as forças que atuam separadamente entre dois corpos,
Para que se determine uma superfície equipotencial, para obter a força resultante. Este método é conhecido
é necessário que todos os seus pontos possuam o mesmo como princípio da superposição. Na Fig.1, mostramos a
potencial, onde uma superfície esférica com centro Q será, representação esquemática das forças atuando em qo,
uma superfície equipotencial, pois todos os seus pontos devido a todas as outras forças. Embora este resultado
estão igualmente distanciados de Q, conforme figura abai- possa parecer óbvio, ele não pode ser derivado de algo
xo, onde as superfícies equipontenciais do campo criado mais fundamental. A única forma de verificá-lo é testando-o
pela carga Q. experimentalmente.
Através da afirmação de que é nulo o interior de um
campo elétrico de um condutor em equilíbrio eletrostático,
concluímos que no potencial de uma esfera, os pontos en-
tão no mesmo potencial.
Concluímos também que os elétrons livres podem
deslocar dentro de um condutor metálico, sendo que suas
cargas negativas tendem a se deslocar entre os pontos
onde o potencial é menor para aqueles que possuem
potencial maior.
Após essa transferência de elétrons, ocorrerá alteração
e consequentemente os condutores ficaram com os
mesmos valores, em relação aos seus potenciais.
Uma rápida biografia de Van de Graaff: Engenheiro
americano que após estudar alguns anos em Paris, onde
teve a oportunidade de assistir a conferências de Marie Forças elétricas sobre uma carga de prova qo devido a
Curie, passou a se dedicar à pesquisas no campo da Física uma distribuição de cargas infinitesimais (qi).
Atômica. Trabalhando na Universidade de Oxford, Van No caso de N partículas carregadas, temos que a força
de Graaff, sentiu a necessidade, para desenvolver suas resultante sobre qo será, então a soma vetorial de todas 
pesquisas, de uma fonte de partículas subatômicas de , como a seguir
alta energia, criando então o gerador de Van de Graaff,
acelerador de partículas que recebeu seu próprio nome e
que encontrou larga aplicação, não só na Física Atômica,
como também na Medicina e na indústria. Mais tarde,
voltando aos Estados Unidos, depois de se dedicar à
pesquisa durante um certo tempo, montou uma indústria ou que
para fabricar exemplares de seu gerador.
O gerador de Van, se baseia nos seguintes princípios
físicos: Um corpo metálico eletrizado coloca-se em contato
interno com outro, transferindo toda a sua carga. O
conceito básico do gerador de Van, é o fato de as cargas
elétricas se transferirem integralmente de um corpo para
outro, quando ocorrer contato interno. No lugar de motor,
utiliza-se uma manivela para movimentar a polia e a correia,
podendo obter tal gerador alguns milhares de volts.

82
FÍSICA

onde ri é a distância entre a carga de prova qo e uma Assim podemos estabelecer suas fórmulas:
outra carga qi. Neste caso, dizemos que a força resultante
sobre qo deve-se à uma distribuição de cargas discreta. Nas I = V ou I = E R R I = Intensidade (ampère)
próximas seções discutiremos o princípio da superposição
devido a diferentes distribuições de cargas contínuas. V = Voltagem ou força eletromotriz
CAMPO UNIFORME, SUPERFÍCIES EQUIPOTENCIAIS,
DIFERENÇA DE POTENCIAL ENTRE DOIS PONTOS E R = Resistência
ANÁLISE DO MOVIMENTO DE UMA CARGA PUNTIFOR- Corrente Continua ou Alternada
ME NO CAMPO
A diferença entre uma e outra esta no sentido do “ca-
Corrente elétrica minhar” dos elétrons. Na corrente continua os elétrons es-
tão sempre no mesmo sentido. Na corrente alternada os
Chama-se corrente elétrica o fluxo ordenado de elé- elétrons mudam de direção, ora num sentido, ora no outro.
trons em uma determinada secção. A corrente contínua Este movimento denomina Ciclagem.
tem um fluxo constante, enquanto a corrente alternada
tem um fluxo de média zero, ainda que não tenha valor Corrente Alternada - utilizadas nas residências e em-
nulo todo o tempo. Esta definição de corrente alternada presas.
implica que o fluxo de elétrons muda de direção continua-
mente. O fluxo de cargas elétricas pode gerar-se em um Corrente Contínua - proveniente das pilhas e baterias .
condutor, mas não existe nos isolantes. Alguns dispositivos
elétricos que usam estas características elétricas nos mate- Efeitos Produzidos pela Energia Elétrica
riais se denominam dispositivos eletrônicos. A Lei de Ohm
descreve a relação entre a intensidade e a tensão em uma Os efeitos são variados e podem ser: Luminosos - pro-
corrente eléctrica: a diferença de potencial elétrico é direta- duz luminosidade; Caloríficos - produz calor - aquecendo a
mente proporcional à intensidade de corrente e à resistên- água ou mesmo ambientes; Químico - produzindo a que-
cia elétrica. Isso é descrito pela seguinte fórmula: bra de ligações química exp. Eletrolise da água ou mesmo
compor a água juntando dois gases - hidrogênio e oxigê-
V = R*I nio. Fisiológico - podendo ser útil a saúde ou mesmo malé-
fico. Magnético - o mais comum é a formação de eletroimã.
Onde: Imagine dois objetos eletrizados, com cargas de mes-
mo sinal, inicialmente afastados. Para aproximá-los, é ne-
V = Diferença de potencial elétrico I = Corrente elé- cessária a ação de uma força externa, capaz de vencer a
trica R = Resistencia repulsão elétrica entre eles.
O trabalho realizado por esta força externa mede a
A quantidade de corrente em uma seção dada de um energia transferida ao sistema, na forma de energia po-
condutor se define como a carga elétrica que a atravessa tencial de interação elétrica. Eliminada a força externa, os
em uma unidade de tempo. objetos afastam-se novamente, transformando a energia
potencial de interação elétrica em energia cinética à me-
I=Q/T dida que aumentam de velocidade. O aumento da energia
cinética corresponde exatamente à diminuição da energia
Numa corrente elétrica devemos considerar três aspec- potencial de interação elétrica.
tos:
Potencial Elétrico
- Voltagem - (Que é igual a diferença de potencial) é a
diferença entre a quantidade de elétrons nos dois pólos do Com relação a um campo elétrico, interessa-nos a ca-
gerador. A voltagem é medida em volts (em homenagem pacidade de realizar trabalho, associada ao campo em si,
ao físico italiano Volta). O aparelho que registra a voltagem independentemente do valor da carga q colocada num
denomina-se Voltímetro; ponto desse campo. Para medir essa capacidade, utiliza-se
- Resistênsia - é a dificuldade que o condutor oferece a grandeza potencial elétrico.
á passagem da corrente elétrica. A resistência é medida em Para obter o potencial elétrico de um ponto, coloca-se
ohms (em homenagem ao físico alemão G.S. Ohms). Repre- nele uma carga de prova q e mede-se a energia potencial
sentamos a resistência pela letra grega (W). adquirida por ela. Essa energia potencial é proporcional ao
- Intensidade - é a relação entre a voltagem e a resis- valor de q. Portanto, o quociente entre a energia potencial
tência da corrente elétrica. A intensidade é medida num e a carga é constante. Esse quociente chama-se potencial
aparelho chamado Amperímetro, através de uma unidade elétrico do ponto.
física denominada Ampére.
Lei de Ohm pode ser assim enunciada: A intensidade
de uma corrente elétrica é diretamente proporcional à vol-
tagem e inversamente proporcional à resistência.

83
FÍSICA

Diferença de Potencial Para calcular o potencial elétrico devido a uma carga


puntiforme usa-se a fórmula:

No S.I. , d em metros, K é a constante dielétrica do


meio, e Q a carga geradora.
Como o potencial é uma quantidade linear, o potencial
gerado por várias cargas é a soma algébrica (usa-se o sinal)
dos potenciais gerados por cada uma delas como se esti-
vessem sozinhas:

A diferença de potencial entre dois pontos, em uma


região sujeita a um campo elétrico, depende apenas da
posição dos pontos. Assim, podemos atribuir a cada ponto Superfície Equipotencial
um potencial elétrico, de tal maneira que a diferença de
potencial entre eles corresponda exatamente à diferença
entre seus potenciais, como o próprio nome indica.
Físicamente, é a diferença de potencial que interessa,
pois corresponde ao trabalho da força elétrica por unidade
de carga.

Com relação a um campo elétrico interessa-nos a ca-


pacidade de realizar trabalho, associada ao campo em si,
independentemente do valor da carga q colocada num Superfície equipotencial quando uma carga puntifor-
ponto desse campo. Para medir essa capacidade, utiliza-se me está isolada no espaço, ela gera um campo elétrico
a grandeza potencial elétrico. em sua volta. Qualquer ponto que estiver a uma mesma
Para obter o potencial elétrico de um ponto, coloca-se distância dessa carga possuirá o mesmo potencial elétrico.
nele uma carga de prova q e mede-se a energia potencial Portanto, aparece ai uma superfície equipotencial esférica.
adquirida por ela. Essa energia potencial é proporcional ao Podemos também encontrar superfícies equipotenciais no
valor de q. Portanto, o quociente entre a energia potencial campo elétrico uniforme, onde as linhas de força são pa-
e a carga é constante. Esse quociente chama-se potencial ralelas e equidistantes. Nesse caso, as superfícies equipo-
elétrico do ponto. Ele pode ser calculado pela expressão: tenciais localizam-se perpendicularmente às linhas de força
(mesma distância do referencial). O potencial elétrico e dis-
tância são inversamente proporcionais, portanto o gráfico
cartesiano Vxd é uma assimptota.
Nota-se que, percorrendo uma linha de força no seu
sentido, encontramos potenciais elétricos cada vez meno-
onde V é o potencial elétrico, Ep a energia potencial e q res.
a carga. A unidade no S.I. é J/C = V (volt). Portanto, quando Vale ainda lembrar que o vetor campo elétrico é sem-
se fala que o potencial elétrico de um ponto L é VL = 10 pre perpendicular à superfície equipotencial, e consequen-
V, entende-se que este ponto consegue dotar de 10J de temente a linha de força que o tangencia também.
energia cada unidade de carga da 1C. Se a carga elétrica
for 3C por exemplo, ela será dotada de uma energia de Geradores, Turbinas e Sistemas de Condução Eléc-
30J, obedecendo à proporção. Vale lembrar que é preciso trica
adotar um referncial para tal potencial elétrico. Ele é uma
região que se encontra muito distante da carga, localizado Tal como aprendemos no 2º capítulo a eletricidade
no infinito. desloca-se nos fios elétricos até acender as lâmpadas, tele-
visões, computadores e todos os outros aparelhos eletróni-
cos. Mas de onde é que vem a eletricidade? Sabemos que
a energia não pode ser gerada, mas sim transformada. Nas
barragens e outras centrais elétricas a energia mecânica é
transformada em energia elétrica.
O processo inicia-se com o aquecimento de água em
grandes caldeiras. Nestas, queimam-se combustíveis para
produzir calor e ferve-se a água de forma a transformá-la

84
FÍSICA

em vapor. O vapor é condensado em alta pressão na tur- Associação de Resistências


bina, que gira a grande velocidade; o gerador ligado á tur- É a mesma coisa quando se determina uma
bina transforma a energia da rotação mecânica da turbina resistência em série, como por exemplo as lâmpadas de
em electricidade. Vamos aprofundar melhor este processo. natal na decoração de uma árvore, com os mesmos valo-
res de resistência, onde as mesmas serão percorridas pela
corrente elétrica.
Podemos concluir segundo o autor que: quando várias
resistências R1, R2, R3, etc., são associadas em série, todas
elas são percorridas pela mesma corrente e a resistência
equivalente da associação é dada por: R = R1 + R2 + ......
quando várias resistências R1, R2, R3, etc., associadas em
paralelo, todas elas ficam submetidas à mesma voltagem e
a resistência equivalente da associação é dada por
1 = 1 + 1 +...
R R1 R2

Instrumentos Elétricos de Medida


Muitos instrumentos são usados hoje para se medir
a eletricidade, pois há a necessidade de saber valores de
grandezas envolvidas nos mais variados tipos de circuitos.
Para que tais aparelhos funcionem é necessário que
Em muitas caldeiras, a madeira, o carvão, o petróleo ou consigam interpretar os seguintes itens:
o gás natural são queimados para produzir calor. O interior - intensidade da corrente
da caldeira é constituído por uma série de tubos de metal - diferença de potencial
por onde passa água corrente. A energia calorífica aquece - resistência elétrica
os tubos e a água até ferver. A água ferve a 100º Celsius ou Então através dessas preocupações usamos os seguin-
a 212º Fahrenheit. A turbina contém várias lâminas seme- tes aparelhos:
lhantes a uma ventoinha. O vapor da água chega ás lâmi- - quando se indica a presença de corrente elétrica, usa-
mos o galvanômetro
nas que começam a girar. O gerador encontra-se ligado á
- quando se indica a presença de intensidade utiliza-
turbina e recebe a sua energia mecânica transformando-a
mos o amperímetro
em energia eléctrica.
- para se medir o valor de uma resistência utilizamos o
O gerador é constituído por um imã gigante situa-
ohmímetros
do dentro de um círculo enrolado com um grande fio. O
- para se medir a diferença de potencial utilizamos o
eixo que liga a turbina ao gerador está sempre a rodar;
voltímetro.
ao mesmo tempo que a parte magnética gira. Quando o
fio ou outro condutor eléctrico atravessa o campo mag- Para que um amperímetro consiga indicar o valor
nético produz-se uma corrente eléctrica. Um gerador é o da corrente, é necessário que dentro do mesmo, possua
contrário de um motor eléctrico. Em vez de usar a energia fios condutores que devem ser percorridos pela corrente
eléctrica para por a trabalhar o motor ou leme como nos elétrica, denominando-os como resistência interna do am-
brinquedos eléctricos, o eixo da turbina põe a trabalhar o perímetro.
motor que produz a electricidade. O multímetro é um dos únicos aparelhos com que se
Depois do vapor passar pela turbina vai para um zona mede todos os tipos de valores, sendo adaptado para ser
de arrefecimento e em seguida é canalizada pelos tubos de utilizado como ohmímetro, bastando ligar a resistência R
metal para novo aquecimento nas caldeiras. Existem cen- desconhecida aos terminais A e B do aparelho conforme
trais eléctricas que usam energia nuclear para aquecer a ilustração.
água, noutras a água quente vem naturalmente de reser-
vatórios subterrâneos sem queimar nenhum combustível. Potência em um elemento do circuito
Quando um aparelho elétrico, ao ser submetido a uma
Lei de Ohm diferença de potencial, sendo percorrido por uma corrente
Segundo o inventor de tal lei, verificou-se que para , sendo potência desenvolvida será dada por: P = iVAB
muitos dos materiais existentes, a relação entre a voltagem As correntes elétricas são transformadas em forma de
e a corrente mantinham-se constante, onde se conclui que: energia, através dos aparelhos usados hoje em dia em nos-
o valor da resistência permanece constante, não depen- sas vidas.
dendo da voltagem aplicada ao condutor. Porém as cargas perdem energias, sendo que as mes-
Para tais condutores, denominamos de condutores de mas não desaparecem, aparecendo em outras formas de
ôhmicos, onde a resistividade do material é alterada pela energia, onde podemos exemplificar através de um simples
modificação na voltagem. aquecedor onde a corrente elétrica é transformada em ca-
lor, ou então através de uma lâmpada de mercúrio, onde a
mesma é transformada em energia luminosa.

85
FÍSICA

Segundo observações feitas pelo autor, segue uma Amperímetro – instrumento que mede a intensidade
breve biografia de Kamerlingh Onnes. de corrente elétrica. Alguns amperímetros indicam tam-
Físico holandês que se tornou conhecido pelos seus bém, além da intensidade da corrente, seu sentido que ,
trabalhos no campo das baixas temperaturas e pela pro- quando a indicação for positiva ela circula no sentido horá-
dução de hélio líquido. Onnes descobriu que a supercon- rio e negativa, no sentido anti horário.
dutividade dos materiais, é a redução da resistência elétrica
de algumas substâncias praticamente a zero, quando res- Símbolo
friadas a temperatura próximas do zero absoluto. Em 1913
ele recebeu o Prêmio Nobel de Física por estes trabalhos.

Variação da Resistência com a Temperatura


É necessário saber que qualquer que seja a resistência Se você quer medir a intensidade da corrente na lâm-
de um condutor a uma certa temperatura, uma resistência pada L1 da figura, você deve inserir o amperímetro no tre-
R, a qualquer temperatura é dada por : R = R0 ( 1 + delta t) cho onde ela está, pois ele “lê” a corrente que passa através
Para todos os materiais, os cientistas chegaram a con- dele.
clusão que sempre terão: α > 0.
Existem, porém outras substâncias que possuem o va-
lor 0, para alfa, sendo silício, germânio e o próprio carbo-
no, sendo que as suas resistências diminuem quando são
aquecidas. O tungstênio, ao contrário, quando aquecido
aumenta sua resistência sendo usado hoje em dia em lâm-
padas convencionais. Os cientistas analisaram também os
sólidos e perceberam que a resistência desses corpos varia
com a temperatura, dependendo basicamente de dois fa-  Assim o amperímetro deve ser associado em série no
tores principais: trecho onde você deseja medir a corrente.
- o número de elétrons livres
Como o amperímetro indica a corrente que passa por
-mobilidade desses elétrons
ele no trecho do circuito onde ele está inserido, sua re-
Para que se determine que uma temperatura seja de
sistência interna deve ser nula, caso contrário ele indica-
transição, é necessário que ela torne-se supercondutora,
ria uma corrente de intensidade menor que aquela que
variando de um material para outro, podendo num futuro
realmente passa pelo trecho. Então ele deve se comportar
próximo desempenhar importantíssimo na descoberta de
como um fio ideal, de resistência interna nula, ou seja, deve
novas tecnologias. A figura abaixo mostra tal explicação, na
se comportar como se estivesse em curto circuito.
substância Mercúrio.
Um amperímetro ideal deve possuir resistência in-
Efeito Joule terna nula.
O efeito joule é explicado pelo o aquecimento dos con-
dutores, ao serem percorridos por uma corrente elétrica, Voltímetro – instrumento que mede a diferença de
estando os elétrons livres no condutor metálico possuem potencial ou tensão
grande mobilidade podendo se deslocar se chocando com                                  
outros átomos da rede cristalina, durante seus movimentos, Símbolo
sofrem contínuas colisões com os átomos da rede cristalina
desse condutor. A cada colisão, parte da energia cinética
do elétron livre é transferida para o átomo com o qual ele
colidiu, e esse passa a vibrar com uma energia maior. Esse
aumento no grau de vibração dos átomos do condutor tem Como em qualquer ligação em paralelo a diferença de
como consequência um aumento de temperatura. Através potencial (tensão) é a mesma, o voltímetro deve ser ligado
desse aumento de temperatura ocorre o aparecimento da em paralelo ao aparelho em cujos terminais você quer de-
incandescência que nada mais é do que a luz emitida nessa terminar a ddp, assim o aparelho e o voltímetro indicarão
temperatura. Para cada temperatura há um espectro de luz. a mesma ddp.
Alguns dos equipamentos que possuem resistores e por-
tanto produzem o efeito joule são: chuveiro elétrico, seca-
dor de cabelo, aquecedor elétrico, ferro de passar roupas,
pirógrafos, etc.

CIRCUTO ELEMENTARES COM AMPERÍMETROS E


VOLTÍMETROS IDEAIS
O voltímetro deve ser ligado em paralelo com o apare-
Aparelhos de medição elétrica (amperímetros, vol- lho ou trecho cuja diferença de potencial (tensão) se deseja
tímetros, ponte de Wheatstone) medir.

86
FÍSICA

Para que a corrente que passa pelo aparelho cuja ddp Amperímetro
se deseja medir não se desvie para o voltímetro, um voltí- Aparelho utilizado para medir a intensidade de corren-
metro ideal deve possuir resistência interna extremamente te elétrica que passa por um fio. Pode medir tanto corrente
alta, tendendo ao infinito. contínua como corrente alternada. A unidade utilizada é o
àmpere.
Um voltímetro ideal deve possuir resistência inter- O amperímetro deve ser ligado sempre em série, para
na infinita. aferir a corrente que passa por determinada região do cir-
  cuito. Para isso o amperímetro deve ter sua resistência in-
Suponha que você deseja medir a corrente que passa terna muito pequena, a menor possível.
pelo ponto B e a diferença de potencial entre os pontos Se sua resistência interna for muito pequena, compara-
C e D, da figura, dispondo de voltímetro e amperímetro, da às resistências do circuito, consideramos o amperímetro
ambos ideais. como sendo ideal.
Amperímetro Ideal → Resistência interna nula

Para isso, você deve abrir o circuito em B e inserir aí


o amperímetro, pois ele deve ficar em série com o trecho
percorrido por iB, de modo que iB passe por ele. Os termi-
nais do voltímetro devem ser ligados aos pontos C e D de Voltímetro não-ideal Amperímetro Ideal
modo que o voltímetro fique em paralelo com o trecho
entre C e D, onde você quer medir a ddp. CIRCUITOS SIMPLES COM GERADORES, LEIS DE KIR-
Observe que a resistência interna do amperímetro ideal CHHOF
dever ser nula de modo que toda iB passe por ele e que a
resistência interna do voltímetro deve ser infinita de modo Corrente Contínua
que iCD não desvie para ele
É preciso considerar que as cargas estejam sempre
Medidas Elétricas em repouso. Para que possamos considerar o que é uma
corrente elétrica, é necessário que façamos algumas
É de vital importância, em eletricidade, a utilização de experiências, como ligar as extremidades de fios aos
dois aparelhos de medidas elétricas: o amperímetro e o pólos de uma pilha.
voltímetro. Podemos concluir que o fio possui muitos elétrons
Voltímetro livres., estando em movimento devido a força elétrica do
Aparelho utilizado para medir a diferença de potencial campo, possuindo carga negativa, em movimento contrá-
entre dois pontos; por esse motivo deve ser ligado sempre rio ao do campo ampliado, gerando portanto a chamada
em paralelo com o trecho do circuito do qual se deseja corrente elétrica.
obter a tensão elétrica. Para não atrapalhar o circuito, sua Quando um campo elétrico é estabelecido em um
resistência interna deve ser muito alta, a maior possível. condutor qualquer, as cargas livres aí presentes entram em
Se sua resistência interna for muito alta, comparada movimento sob a ação deste campo, ocorrendo um deslo-
às resistências do circuito, consideramos o aparelho como camento constituindo uma corrente elétrica.
sendo ideal. Nos metais, a corrente elétrica é conduzida por elé-
Os voltímetros podem medir tensões contínuas ou al- trons livres em movimento.
ternadas dependendo da qualidade do aparelho. Nos líquidos, as cargas livres que se movimentam são
Voltímetro Ideal → Resistência interna infinita. íons positivos e íons negativos enquanto que, nos gases,
são íons positivos, íons negativos e também elétrons livres.
Segundo os físicos para se determinar uma corrente
convencional seria necessário que uma carga negativa em
movimento seja sempre imaginada como se fosse uma car-
ga positiva, movendo-se em sentido contrário, conforme
ilustração abaixo.
A intensidade da corrente se da pela fórmula:

I = delta Q
delta t
Voltímetro Ideal Voltímetro não-ideal

87
FÍSICA

onde, delta Q, representa a quantidade de carga, delta As cargas realizarão colisões contra os átomos ou mo-
t o intervalo de tempo, concluindo assim que o valor de i, léculas havendo, então oposição a corrente elétrica, po-
é a intensidade. dendo ser maior ou menor, dependendo da natureza do
Quando uma quantidade de carga delta Q passa atra- fio ligado em A e B.
vés da secção de um condutor, durante o intervalo de tem- A resistência elétrica se baseia na seguinte fórmula: R
po delta t, a intensidade i da corrente nesta secção, é a sua = VAB
relação dividida. Portanto, quanto menor for o valor da corrente i,
Segundo o fundador do Eletromagnetismo, André- maior será o valor de R. A unidade de representação da
-Marie Ampère (1775-1836), desenvolveu a teoria da mate- medida de resistência é a do sistema internacional, sendo
mática dos fenômenos eletromagnéticos, a Lei de Ampère, que 1 volt/ampère = 1 V/A, sendo denominada como 1
sendo a primeira pessoa a utilizar medidas elétricas, tendo ohm (ou representada pela letra grega Ω, em homenagem
construído um instrumento que foi o precursor dos apare- ao físico alemão do século passado, Georg Ohm.
lhos de medidas hoje conhecidos. Podemos concluir que: quando uma voltagem VAB é
A corrente elétrica quando muda de sentido, e deno- aplicada nas extremidades de um condutor, estabelecendo
minada de corrente alternada, sendo hoje as usadas pelas nele uma corrente elétrica i, a resistência é dada pela fór-
companhias elétricas, não são correntes contínuas, sendo mula acima descrita.
que as mesmas se mantêm em seus sentidos, podendo se Quanto maior for o valor de R, maior será a oposição
usar como exemplo de tal corrente, a das pilhas convencio- que o condutor oferecerá à passagem da corrente.
nais ou as baterias dos automóveis. O valor da resistividade pode ser considerada como
Podemos concluir que: Uma corrente alternada pode sendo uma grandeza característica de todo material que
ser transformada em corrente contínua por meio de dispo- constitui um fio, sendo definida como: uma substância será
sitivos especiais, denominado de retificadores, sendo intro- tanto melhor condutora de eletricidade quanto menor for
duzidos em um fio condutor no qual existe uma corrente o valor de sua resistividade.
alternada, se transformando em corrente contínua. Reostato segundo seus criadores, é um aparelho onde
se pode variar a resistência de um circuito e, assim, tor-
Circuitos Simples nando-se possível aumentar ou diminuir, a intensidade da
corrente elétrica.
Vamos verificar tal circuito através da de um “corte” em Dado um comprido fio AC, de grande resistência, um
uma pilha, mostrando seus componentes, entretanto a di- cursor B, que se desloca através do fio, entrando em conta-
ferença de potencial entre os pólos da pilha abaixo é man- to com A e C, observe a corrente que sai do pólo positivo
tida graças à energia liberada em reações químicas. da bateria percorrendo o trecho AB do reostato. Verifica-se
Consideraremos também dois pólos sendo um positivo que não há corrente passando no trecho BC, pois estando
e um negativo, sendo que sem esses componentes a cor- o circuito interrompido em C, a corrente não poderá pros-
rente elétrica jamais se formaria. seguir através desse trecho.
A voltagem que sempre é fornecida em uma pilha é
de 1,5 V, entretanto há aparelhos que se utilizam mais do Carga Elétrica
que essa quantidade de Volts. Sendo assim é necessário
que mais de uma pilha sejam colocadas para o devido fun- Um corpo tem carga negativa se nele há um excesso
cionamento, onde a corrente elétrica é o valor da pilha x de elétrons e positiva se há falta de elétrons em relação ao
o seu próprio número. Como exemplo, confira o seguinte número de prótons.
raciocínio: Um carrinho de criança que se coloca 3 pilhas, A quantidade de carga elétrica de um corpo é determi-
o valor de sua corrente elétrica se dá por: 1,5 V + 1,5 V + nada pela diferença entre o número de prótons e o núme-
1,5 V = 4,5 V ro de elétrons que um corpo contém. O símbolo da carga
Já as baterias de automóvel vem com uma carga elé- elétrica de um corpo é Q, expresso pela unidade coulomb
trica de 2 V, onde suas placas são mergulhadas em uma (C). A carga de um coulomb negativo significa que o corpo
solução de ácido sulfúrico e colocando-as dentro de um contém uma carga de 6,25 x 1018 mais elétrons do que
invólucro resistente, para que não ocorra seu vazamento. prótons.
Se por acaso houver uma diferença de potencial entre os Diferença de Potencial
seus pólos, a voltagem será estabelecida nas extremida-
des dos fios, gerando assim um circuito elétrico simples. Graças à força do seu campo eletrostático, uma carga
A figura abaixo nos mostra uma sistema convencional de pode realizar trabalho ao deslogar outra carga por atração
corrente elétrica. ou repulsão. Essa capacidade de realizar trabalho é cha-
mada potencial. Quando uma carga for diferente da outra,
Resistência Elétrica haverá entre elas uma diferença de potencial(E).
A soma das diferenças de potencial de todas as cargas
Para um condutor AB, estando ele ligado a uma bate- de um campo eletrostático é conhecida como força eletro-
ria, ocorrerá sempre que se estabelecer contato, uma dife- motriz.
rença de potencial nas extremidades, e consequentemente A diferença de potencial (ou tensão) tem como unida-
a passagem da corrente i através dele. de fundamental o volt(V).

88
FÍSICA

Corrente Associação Série


Na associação série, dois resistores consecutivos têm
Corrente (I) é simplesmente o fluxo de elétrons. Essa um ponto em comum. A resistência equivalente é a soma
crrente é produzida pelo deslocamento de elétrons atra- das resistências individuais. Ou seja:
vés de uma ddp em um condutor. A unidade fundamental Req = R1 + R2 + R3 + ...
de corrente é o ampère (A). 1 A é o deslocamento de 1 C Exemplificando:
através de um ponto qualquer de um condutor durante 1 s. Calcule a resistência equivalente no esquema abaixo:
I=Q/t
O fluxo real de elétrons é do potencial negativo para o
positivo. No entanto, é convenção representar a corrente
como indo do positivo para o negativo.

Correntes e Tensões Contínuas e Alternadas


Req = 10kW + 1MW + 470W
A corrente contínua (CC ou DC) é aquela que passa Req = 10000W + 1000000W + 470W
através de um condutor ou de um circuito num só sentido. Req = 1010470W
Isso se deve ao fato de suas fontes de tensão (pilhas, bate-
rias,...) manterem a mesma polaridade de tensão de saída. Associação Paralelo
Uma fonte de tensão alternada alterna a polaridade
constantemente com o tempo. Conseqüentemente a cor- Dois resistores estão em paralelo se há dois pontos em
rente também muda de sentido periódicamente. A linha comum entre eles. Neste caso, a fórmula para a resistência
de tensão usada na aioria das residências é de tensão al- equivalente é: 1/Req = 1/R1 + 1/R2 + 1/R3 + ...
ternada. Exemplo:
Calcule a resistência equivalente no circuito abaixo:
Resistência Elétrica

Resistência é a oposição à passagem de corrente elé-


trica. É medida em ohms (W). Quanto maior a resistência,
menor é a corrente que passa.
Os resistores são elementos que apresentam resistên-
cia conhecida bem definida. Podem ter uma resistência fixa
ou variável. Note que a resistência equivalente é menor do que as
Símbolos em eletrônica e eletricidade resistências individuais. Isto acontece pois a corrente elétri-
Abaixo estão alguns símbolos de componentens elétri- ca tên mais um ramo por onde prosseguir, e quanto maior
cos e eletrônicos: a corrente, menor a resistência.

As Leis de Kirchhoff

Lei de Kirchhoff para Tensão: A tensão aplicada a um


circuito fechado é igual ao somatório das quedas de tensão
naquela circuito.

Associações de Resistores Ou seja: a soma algébrica das subidas e quedas de ten-


são é igual a zero (SV). Então, se temos o seguinte circuito:
Os resistores podem se associar em paralelo ou em sé- podemos dizer que VA = VR1 + VR2 + VR3
rie. (Na verdade existem outras formas de associação, mas Lei de Kirchhoff para Correntes: A soma das corren-
elas são um pouco mais complicadas e serão vistas futura- tes que entram num nó ( junção) é igual à soma das corren-
mente) tes que saem desse nó.

89
FÍSICA

Se aplicarmos no capacitor uma tensão alternada, ele


vai oferecer uma “oposição à corrente” (na verdade é oposi-
ção à variação de tensão) chamada reatância capacitiva (Xc).
Xc=1/2pfC
A oposição total de um circuito à corrente chama-se
impedância (Z). Num circuito composto de uma resistência
em série com uma capacitância:
Z = (R22+Xc2) 1/2 ou Z = Ö R22+XC2
I1+I2= I3+I4+I5 As leis de Kirchhoff serão úteis na re- Podemos imaginar a impedância como a soma vetorial
solução de diversos problemas.Na próxima atualização, fa- de resistência e reatância. O ângulo da impedância com a
rei uma série de exercícios sobre todos os conceitos que abscissa é o atraso da tensão em relação à corrente.
expliquei até aqui. Aplicações: Se temos um circuito RC série, a medida
que aumentarmor a freqüência, a tensão no capacitor di-
Capacitor minuirá e a tensão no resistor aumentará. Podemos então
fazer filtros, dos quais só passarão freqüências acima de
O capacitor é constituído por duas placas condutoras uma freqüência estabelecida ou abaixo dela. Estes são os
paralelas, separadas por um diélétrico. Quando se aplica filtros passa alta e passa baixa.
uma ddp nos seus dois terminais, começa a haver um mo-
vimento de cargas para as placas paralelas. A capacitância Freqüência de corte: é a freqüência onde XC=R.
de um capacitor é a razão entre a carga acumulada e a Quando temos uma fonte CA de várias freqüencias, um
tensão aplicada. resistor e um capacitor em série, em freqüências mais bai-
C = Q/V xas XC é maior, desta forma, a tensão no capacitor é bem
Deve-se também ter em mente que a capacitância é maior que no resistor. A partir da freqüência de corte, a
maior quanto amior for a área das placas paralelas, e quan- tensão no resistor torna-se maior. Dessa forma, a tensão no
to menor for a distância entre elas. Desta forma: A (8,85 x capacitor é alta em freqüências mais baixas que a freqüên-
10-12 ) C= ---------------------- k d cia de corte. Quando a freqüência é maior que a freqüência
Onde: C = capacitância A = área da placa d = distância de corte, é o resistor que terá alta tensão.
entre as placas k = constante dielétrica do material isolante
Vamos agora estudar o comportamento do capaci- Filtro passa baixa:
tor quando nele aplicamos uma tensão DC. Quando isto
acontece, a tensão no capacitor varia segundo a fórmula:
Vc=VT(1-e-t/RC)
Isso gera o seguinte gráfico Vc X t

Vsaída=It XC

Filtro passa alta

Isto acontece porque a medida que mais cargas vão se


acumulando no capacitor, maior é a oposição do capacitor
à corrente (ele funciona como uma bateria). No estudo da Física, o eletromagnetismo é o nome da
Note que no exemplo abaixo ligamos um resistor em teoria unificada desenvolvida por James Maxwell para ex-
série com o capacitor. Ele serve para limitar a corrente ini- plicar a relação entre a eletricidade e o magnetismo. Esta
cial (quando o capacitor funciona como um curto). O tem- teoria baseia-se no conceito de campo eletromagnético.
po de carga do capacitor é 5t, onde t = RC (resistência ve- O campo magnético é resultado do movimento de cargas
zes capacitância). elétricas, ou seja, é resultado de corrente elétrica. O cam-
po magnético pode resultar em uma força eletromagnética
quando associada a ímãs. A variação do fluxo magnético
resulta em um campo elétrico (fenômeno conhecido por
indução eletromagnética, mecanismo utilizado em gera-
dores elétricos, motores e transformadores de tensão). Se-
melhantemente, a variação de um campo elétrico gera um
campo magnético. Devido a essa interdependência entre
No exemplo abaixo, o tempo de carga é: Tc= 5 x 1000 campo elétrico e campo magnético, faz sentido falar em
x 10-6 = 5ms uma única entidade chamada campo eletromagnético.

90
FÍSICA

Conta uma lenda que a palavra magnetismo deriva do


nome de um pastor da Grécia antiga, chamado Magnes,
que teria descoberto que um determinado tipo de pedra
atraía a ponta metálica de seu cajado. Em homenagem a
Magnes, a pedra foi chamada de magnetita, de onde deri-
vam as palavras magnético e magnetismo. Uma outra ver-
são atribui o nome do mineral ao fato de ele ser abundan-
te na região asiática da Magnésia. Seja qual for a versão
verdadeira da origem da palavra, a magnetita é um imã
natural - um minério com propriedades magnéticas. Sejam
naturais ou artificiais, os ímãs são materiais capazes de se
atraírem ou repelirem entre, si bem como de atrair ferro e
outros metais magnéticos, como o níquel e o cobalto.

Polaridade Limalha de ferro desenha as linhas de força do campo


magnético de um imã.
Os imãs possuem dois polos magnéticos, chamados
de polo norte e polo sul, em torno dos quais existe um Como os planetas também possuem polos magnéticos
campo magnético. Seguindo a regra da atração entre opos- norte e sul, a Terra se comporta como um imenso imã, ra-
tos, comum na física, o polo norte e o sul de dois imãs se zão pela qual, numa bússola, o polo sul da agulha imantada
atraem mutuamente. Por outro lado, se aproximarmos os aponta sempre para o polo norte da Terra. Entretanto, se
polos iguais de dois imãs o efeito será a repulsão. O campo as propriedades dos imãs já eram conhecidas desde a an-
magnético é um conjunto de linhas de força orientadas que tiguidade, demorou um bom tempo até que as correlações
partem do polo norte para o pólo sul dos imãs, promoven- entre os fenômenos elétricos e magnéticos fossem estabe-
do sua capacidade de atração e repulsão, mecanismo que lecidos. O cientista inglês Michael Faraday (1791-1867) foi
fica explicado na figura que segue: um dos pioneiros do estudo desta correlação.

Indução eletromagnética

Faraday descobriu que uma corrente elétrica era gera-


da ao posicionar um imã no interior de uma bobina de fio
condutor. Deduziu que se movesse a bobina em relação ao
imã obteria uma corrente elétrica contínua, efeito que após
comprovado recebeu o nome de indução eletromagnética.
A indução eletromagnética é o princípio básico de funcio-
namento dos geradores e motores elétricos, sendo estes
dois equipamentos iguais na sua concepção e diferentes
apenas na sua utilização. No gerador elétrico, a movimen-
tação de uma bobina em relação a um imã produz uma
corrente elétrica, enquanto no motor elétrico uma corrente
As linhas de força promovem a atração entre elétrica produz a movimentação de uma bobina em relação
polos opostos e repulsão entre polos iguais. ao imã. A seguir, a ilustração representa o efeito de indução
eletromagnética, como pesquisado por Faraday:
Um fato interessante sobre os polos de um imã é que
impossível separá-los. Se cortarmos um imã ao meio, exa-
tamente sobre a linha neutra que divide os dois polos, cada
uma das metades formará um novo imã completo, com seu
próprio polo norte e sul.

Perfis magnéticos

Um modo de visualizarmos as linhas de força do cam-


po magnético é pulverizando limalha de ferro em torno
de um imã. Abaixo, a figura ilustra esse efeito pelo qual as
partículas metálicas atraídas desenham o perfil do campo
magnético.

91
FÍSICA

A movimentação de um campo elétrico próximo a uma


bobina produz a corrente elétrica i.

O princípio da indução eletromagnética é também a


base de funcionamento dos eletroímãs, equipamentos que
geram campos magnéticos apenas, enquanto uma corren-
te elétrica produz o efeito de indução. Uma vez desligados
perdem suas propriedades, ao contrário dos imãs perma-
nentes. Hoje, as leis do eletromagnetismo fundamentam
boa parte da nossa tecnologia mecânica e eletroeletrônica.
Os campos magnéticos e suas interações elétricas fazem
funcionar desde um secador de cabelos até os complexos
sistemas de telecomunicações, desde os poderosos ge- Figura 1
No eixo dos x mostram-se os comprimentos de onda
radores elétricos das usinas nucleares até os minúsculos
das radiações eletromagnéticas, medidos em nanômetros,
componentes utilizados nos circuitos eletrônicos. Magnes,
isto é, em milionésimos de milímetro. No eixo dos y vemos
o lendário pastor grego, ficaria muito impressionado com
as intensidades das radiações em unidades arbitrárias. As
o que se descobriu fazer possível com os poderes da pedra
curvas coloridas representam os resultados observados
que encontrou por acaso. experimentalmente com um corpo negro. (Em física, cor-
po negro é a idealização de um corpo que absorve toda
a luz que incide nele. Como absorve toda a luz, ele não
reflete nenhuma, daí ser ‘negro’). Em laboratório é um pe-
FÍSICA MODERNA queno “forno” completamente fechado, mas com um ori-
QUANTIZAÇÃO DE ENERGIA - EFEITO fício. Esquentando-se o forno, o calor, isto é, as radiações
FOTOELÉTRICO. A ESTRUTURA DO ÁTOMO: eletromagnéticas escapam pelo orifício e são captadas e
EXPERIÊNCIA DE ESPALHAMENTO DE analisadas.
RUTHERFORD - ESPECTROS A curva vermelha é obtida quando o corpo irradia à
ATÔMICOS; O NÚCLEO ATÔMICO - temperatura de 3.000 kelvins; a verde, a 4.000 kelvins; e, a
RADIOATIVIDADE - REAÇÕES NUCLEARES. azul, a 5.000 kelvins. (Para se ter uma idéia quantitativa da
medida kelvin para temperatura, tenha em mente que a
água ferve a aproximadamente 370 kelvins). A curva preta,
que desce desde o infinito, é a previsão teórica, para tem-
Como tudo começou peratura de 5.000 kelvins, baseada no modelo clássico da
época (modelo de Rayleigh e Jeans). Ela deveria se ajustar
Os conceitos da Física Moderna provocaram mudanças à curva azul. Como se vê, a “explicação” era um desastre,
radicais na Física Clássica e levaram os cientistas a ver e causando muito desconforto aos físicos.
pensar o universo de uma forma nunca antes suspeitada. Naquela época (1900), Lord Kelvin (William Thomson)
Em uma exposição sucinta, veremos que as idéias e afirmou, numa reunião da Associação Britânica para o Pro-
conceitos da Física Moderna foram desenvolvidas num es- gresso da Ciência, que “nada mais há para ser descoberto
paço de tempo de cerca de três décadas. Vamos nos res- na Física. Tudo que falta é apenas fazer medidas mais e
tringir à história da Mecânica Quântica, embora a Teoria da mais precisas”. Que otimismo! Referindo-se ao problema
Relatividade de Einstein seja outro marco no surgimento da da radiação do corpo negro, ele disse que se tratava ape-
nas de uma das duas nuvenzinhas que ainda pairavam no
Física Moderna.
tranqüilo céu da Física. A outra estava associada à explica-
Certamente você já sentiu o calorzinho que emana de
ção do resultado negativo da experiência de Michelson-
uma panela quente ou de uma lâmpada incandescente
-Morley, que pretendia comprovar a existência do éter.
acesa. O que nos causa essa sensação de calor são ondas
Mais uma vez demonstrou Lord Kelvin que, como profeta,
eletromagnéticas que irradiam dos corpos, de todos os ele era uma catástrofe, pois foi dessas duas nuvenzinhas
corpos, o tempo todo. É precisamente nos esforços para que desencadearam violentas tempestades que mudaram
descrever essas prosaicas emanações que vamos encontrar a Física, e os cientistas, para sempre. Uma delas conduziu
a semente que germinou e deu origem à Mecânica Quân- ao desenvolvimento da Mecânica Quântica; a outra, à Teo-
tica. ria da Relatividade.
Para se ter uma idéia de um dos problemas que os
cientistas do final do século XIX enfrentavam, sem conse- Pacotes de energia
guir resolver, examinemos a figura 1. Quem não está fami-
liarizado com gráficos não deve desanimar. Pode ignorar Diante da impossibilidade de se resolver o problema
esta parte de nosso texto e prosseguir sem prejuízo para o mencionado na seção anterior com as teorias vigentes na
entendimento do resto do artigo. época, Max Planck, em uma das reuniões da Sociedade
Alemã de Física em 1900, sugeriu que a radiação de ener-

92
FÍSICA

gia eletromagnética se dá na forma de pacotes discretos. Com esse modelo, Bohr explicou muitos detalhes das
Planck quantizou a energia eletromagnética. Foi necessária linhas espectrais do átomo de hidrogênio e de outros áto-
muita coragem (ou desespero, como ele mesmo afirmou?) mos mais pesados. Mas, sua teoria não possibilitava cal-
para esta subversão, pois considerava-se e aceitava-se que cular, por exemplo, a intensidade das várias linhas dos es-
a energia eletromagnética era transportada por ondas, e pectros óticos. Também não explicava por que as órbitas
ondas são entidades contínuas. Para Planck, contudo, sua eletrônicas que postulava eram do jeito que eram. Era uma
proposta era apenas uma espécie de truque matemático proposta para “ver o que acontece”, dizia ele. Foi necessá-
para resolver o problema da radiação do corpo negro. rio transcorrer mais uma década para que Louis de Broglie
Quando abordado, Planck insistia em que sua hipótese era mostrasse que as órbitas de Bohr eram como eram porque
apenas um recurso matemático, sem maior significado físi- deveriam acomodar um número inteiro de “ondas-piloto”.
co. Somente se convenceu da realidade física de sua hipó- O que eram essas misteriosas ondas-piloto não se sabia
tese após os trabalhos teóricos de Einstein que, em 1905, exatamente, mas que se especulava muito, disso tenham
usou a hipótese de Planck para explicar corretamente o certeza.
efeito fotoelétrico (elétrons são arrancados de metais por
incidência de luz), o que lhe proporcionou o prêmio Nobel Mecânica ondulatória
de Física de 1921.
Na análise teórica do efeito fotoelétrico, Einstein in- As idéias de de Broglie tomaram uma forma matemá-
troduziu o conceito de luz quantizada. Em outras palavras, tica mais exata com o advento da Mecânica Ondulatória
a luz se propaga em pacotinhos, ou fótons, um conceito (mais tarde, Mecânica Quântica), uma criação de Erwin
semelhante à antiga hipótese de Newton de que a luz se Schroedinger em 1926. Além de explicar sem mistérios as
propagava em forma de partículas! órbitas propostas por Bohr, a Mecânica Ondulatória cobriu
Mais uma evidência experimental de que a radiação pontos que a teoria de Bohr não explicava, como as intensi-
eletromagnética se propaga em forma de pacotes de ener- dades das linhas espectrais mencionadas na seção anterior.
gia foi obtida em 1923. Naquele ano, em suas experiências Também previu novos fenômenos, como a difração em um
com espalhamento de raios-X (que também são radiações feixe de elétrons.
eletromagnéticas), Arthur Compton observou que esses Vejam que coisa maluca! A luz, que deveria se propagar
raios se espalham da mesma forma que esferas elásticas como ondas, propaga-se como partículas, os pacotinhos
em colisão. de luz de Einstein; os raios-X, que deveriam agir como on-
Dissiparam-se, então, quaisquer dúvidas que ainda po- das, mostram que se comportam como bolinhas de bilhar;
diam persistir. A energia eletromagnética, com certeza, se
e, o elétron, que deveria ser uma partícula, produz fenôme-
propaga em forma de pacotes. E outras formas de ener-
nos característicos de ondas, a difração. Não é para fundir
gia, como a energia mecânica, também se apresentam em
a cuca de qualquer um?
pacotinhos? A resposta já havia sido dada por Niels Bohr,
No mesmo ano em que Schroedinger publicou seu tra-
como veremos na próxima seção.
balho, outro físico, Werner Heisenberg, de forma indepen-
dente e em periódico científico diferente, tratou os proble-
Órbitas eletrônicas e linhas espectrais
mas quânticos com uma ferramenta matemática totalmen-
Uma forma promissora para entender o átomo é exa- te distinta da usada por Schroedinger. Enquanto este de-
minar sua estrutura interna. Como não é possível dar uma senvolveu um trabalho analítico, aquele usou álgebra não
espiadinha por lá, uma solução é examinar o que vem lá comutativa. (Uma estrutura matemática em que nem sem-
de dentro. Sob determinadas condições, os átomos emi- pre a ordem dos fatores não altera o produto, ou seja, x ve-
tem luminosidades que são chamadas “linhas espectrais”. zes ypode dar um resultado diferente de y vezes x.)
São essas linhas que nos mostram que há ácido sulfúrico O tratamento de Heisenberg e o de Schroedinger con-
na atmosfera do planeta Vênus. Não precisamos ir até lá duziam aos mesmos resultados com respeito à estrutura
para ficar sabendo disso. As linhas espectrais do átomo de atômica e linhas espectrais. Contudo, nenhuma das duas
hidrogênio (o mais simples dos átomos) eram conhecidas formulações, analítica ou algébrica, conseguia quantizar
experimentalmente. Além de não se saber como eram pro- sistemas que se moviam a altas velocidades, próximas à da
duzidas, essas linhas se agrupavam de certa forma organi- luz. Desta vez, contudo, não foi necessário esperar muito
zada, mas incompreensível. E, se há alguma coisa de que tempo para sanar esta dificuldade. Bastaram três anos.
os cientistas não gostam, essa coisa é a falta de explicação
para o que observam. Mecânica quântica relativista
Numa tentativa de colocar a casa em ordem, em 1913
Niels Bohr lançou mão da idéia de Planck da quantização Para descrever o movimento de elétrons em altas ve-
de energia eletromagnética e a estendeu para a energia locidades, em 1929 P. A. M. Dirac construiu sua famosa
mecânica de elétrons no interior de átomos. Bohr reescre- equação de onda relativista. Além de explicar o movimen-
veu o modelo atômico de Rutherford de tal forma que as to de elétrons em altas velocidades, também foi capaz de
órbitas eletrônicas não podiam ter quaisquer raios; estes explicar outros fenômenos como os momentos lineares e
estavam bem estabelecidos. As órbitas atômicas foram, as- angulares (mecânicos) e os momentos magnéticos. Além
sim, quantizadas; seus raios não podiam ser nem um pou- disso, para resolver uma dificuldade técnica com a equação
quinho maior nem um pouquinho menor. que propôs, Dirac sugeriu a existência de elétrons positivos

93
FÍSICA

(os anti-elétrons ou pósitrons). Os pósitrons foram detec- 3. No exercício anterior, qual foi a velocidade nos in-
tados poucos anos mais tarde no estudo de ráios cósmicos. tervalos antes e depois de o pneu furar? Sabendo que o
Além do anti-elétron, outras anti-partículas foram desco- incidente ocorreu quando faltavam 115 km para chegar à
bertas posteriormente. Uma teoria é amplamente aceita cidade B.
quando explica fenômenos observados; ganha ainda maior
respeitabilidade quando prevê fenômenos desconhecidos. Antes da parada:
A existência da anti-matéria foi mais uma previsão teórica S= 200-115=85km
baseada tão somente em equações matemáticas. A História t=1hora
da Ciência nos brinda com muitos outros exemplos. v=?
A ciência progride com vagar, mas com segurança.
Foram necessários cerca de trinta anos para a Mecânica
Quântica surgir. Relatamos os aspectos mais interessantes
dessa aventura, desde a nossa panela quente até a anti-
-matéria. Muitos detalhes tiveram, necessaria e compreen-
sivelmente, de ser omitidos. Depois da parada:
Devemos acrescentar que, apesar de seu inegável êxito,
a Mecânica Quântica é uma teoria. Além disso, ainda não S= 115km
bem compreendida. Há questões, principalmente de inter- t= 4h-1h-1h20min= 1h40min=1,66h (utilizando-se re-
pretação, que ainda não foram resolvidas. Mesmo assim, gra de três simples)
não falta quem se julgue conhecedor dos mistérios que a v=?
teoria cuidadosamente não revela. Também não é raro en-
contrar quem abusa, principalmente do termo “quântico”,
para dizer um monte de tolices. Por isso, gostaríamos de
fechar esta concisa exposição fazendo este alerta: “Quando
ouvir ou ler algo sobre teoria quântica e suas implicações, 4. Um bola de basebol é lançada com velocidade igual
fique com um pé atrás”. a 108m/s, e leva 0,6 segundo para chegar ao rebatedor. Su-
Questões pondo que a bola se desloque com velocidade constante.
Qual a distância entre o arremessador e o rebatedor?
1. Um macaco que pula de galho em galho em um zoo-
lógico, demora 6 segundos para atravessar sua jaula, que
mede 12 metros. Qual a velocidade média dele? , se isolarmos S:
S=12m
t=6s
v=?

5. Durante uma corrida de 100 metros rasos, um com-


petidor se desloca com velocidade média de 5m/s. Quanto
tempo ele demora para completar o percurso?

2. Um carro viaja de uma cidade A a uma cidade B,


distantes 200km. Seu percurso demora 4 horas, pois de- , se isolarmos t:
corrida uma hora de viagem, o pneu dianteiro esquerdo
furou e precisou ser trocado, levando 1 hora e 20 minutos
do tempo total gasto. Qual foi a velocidade média que o
carro desenvolveu durante a viagem?
S=200km
t=4h
v=?

6. Um carro desloca-se em uma trajetória retilínea des-


crita pela função S=20+5t (no SI). Determine:
(a) a posição inicial;
Mesmo o carro tendo ficado parado algum tempo du- (b) a velocidade;
rante a viagem, para o cálculo da velocidade média não le- (c) a posição no instante 4s;
vamos isso em consideração. (d) o espaço percorrido após 8s;
(e) o instante em que o carro passa pela posição 80m;
(f) o instante em que o carro passa pela posição 20m.

94
FÍSICA

Comparando com a função padrão:

(a) Posição inicial= 20m

(b) Velocidade= 5m/s

(c) S= 20+5t
S= 20+5.4
S= 40m
(d) S= 20+5.8
S= 60m

Para que seja possível fazer este cálculo, precisamos sa-


ber a velocidade de algum dos dois ônibus, e depois, calcular
(e) 80= 20+5t
a distância percorrida até o momento em que acontece o
80-20=5t
encontro dos dois, onde as trajetórias se cruzam.
60=5t
12s =t
Calculando a velocidade ônibus que sai da cidade A em
(f) 20= 20+5t direção a cidade B (linha azul)
20-20= 5t
t=0
7. Em um trecho de declive de 10km, a velocidade má-
xima permitida é de 70km/h. Suponha que um carro inicie
este trecho com velocidade igual a máxima permitida, ao Sabendo a velocidade, é possível calcular a posição do
mesmo tempo em que uma bicicleta o faz com velocidade encontro, quando t=3h.
igual a 30km/h. Qual a distância entre o carro e a bicicleta
quando o carro completar o trajeto?

Carro:

S=10km
v=70km/h
t=? 9. Um carro, se desloca a uma velocidade de 20m/s
S=70t em um primeiro momento, logo após passa a se deslocar
10=70t com velocidade igual a 40m/s, assim como mostra o gráfi-
0,14h=t co abaixo. Qual foi o distância percorrida pelo carro?
t=8,57min (usando regra de três simples)

Bicicleta

O tempo usado para o cálculo da distância alcançada


pela bicicleta, é o tempo em que o carro chegou ao final do
trajeto: t=0,14h
v=30km/h
t=0,14h
S=?
S=0+30.(0,14)
S=4,28Km

8. O gráfico a seguir mostra as posições em função do Tendo o gráfico da v x t, o deslocamento é igual à área
tempo de dois ônibus. Um parte de uma cidade A em di- sob a reta da velocidade. Então:
reção a uma cidade B, e o outro da cidade B para a cidade S= Área A + Área B
A. As distâncias são medidas a partir da cidade A. A que S=20 5 + 40 (15-5)
distância os ônibus vão se encontrar? S=100+400
S=500m

95
FÍSICA

10. Dois trens partem simultaneamente de um mesmo


local e percorrem a mesma trajetória retilínea com veloci-
dades, respectivamente, iguais a 300km/h e 250km/h. Há
comunicação entre os dois trens se a distância entre eles
não ultrapassar 10km. Depois de quanto tempo após a saí-
da os trens perderão a comunicação via rádio?

Para este cálculo estabelece-se a velocidade relativa en-


tre os trens, assim pode-se calcular o movimento como se o
trem mais rápido estivesse se movendo com velocidade igual
a 50km/h (300km/h-250km/h) e o outro parado.
12. Dada a figura abaixo:
Assim:
v=50km/h
S=10km
t=?

Calcule as intensidades das correntes 1 e 2.

Lembrando da condição de continuidade da corrente


elétrica (1ª Lei de Kirchoff):
11. Um fio de cobre é percorrido por uma corren-
te elétrica constante com intensidade 7A. Sabendo que No primeiro nó:
qual o módulo da carga elétrica que
atravessa uma secção transversal do condutor, durante um
segundo? E quantos elétrons atravessam tal região neste
intervalo de tempo?
No segundo nó:
Para resolvermos a primeira parte do problema deve-
mos lembrar da definição de corrente elétrica: Lembrando que o total de corrente que chega ao sis-
tema não pode ser alterado, neste caso, basta sabermos a
corrente total, e utilizarmos o valor que já conhecemos para
a corrente 1:

Substituindo os valores dados no exercício:

Reduzindo deste total o valor já conhecido:

Para a resolução da segunda parte do exercício basta


utilizarmos a equação da quantização da carga elétrica:

96
FÍSICA

13. A tabela abaixo descreve a corrente elétrica em fun-


ção da tensão em um resistor ôhmico mantido a tempera-
tura constante:

i (A) U (V)
0 0 B)
2 6
4 12
6 18
8 24

Calcule a resistência e explique o que leva a chamar


este condutor de ôhmico.

Um condutor ôhmico é caracterizado por não alterar sua


resistência quando mudam a corrente ou a tensão, fazendo Sendo:
com que o produto entre as duas permaneça constante. Se
o resistor descrito é ôhmico, basta calcularmos a resistência
em um dos dados fornecido (exceto o 0V, pois quando não
há tensão não pode haver corrente), esse cálculo é dado por:

O circuito B é uma associação de resistores em para-


lelo, pois há caminhos secundários a serem utilizados pela
corrente, o que faz com que duas resistências possam ser
percorridas por corrente elétrica no mesmo instante. O cál-
culo do inverso da resistência total do circuito é feito pela
soma dos inversos de cada resistências, ou seja:

14. Dada as associações de resistores abaixo, diga qual


é o seu tipo de associação, justifique e calcule a resistência
total da associação.

A)

Onde:

O circuito A é uma associação de resistores em série,


pois há apenas um caminho para que a corrente passe de
uma extremidade à outra, devendo atravessar cada resistor
sucessivamente. O cálculo da resistência total do circuito é
feito pela soma de cada resistência que o forma, ou seja:

97
FÍSICA

EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES A Poesia


SOBRE: LÍNGUA PORTUGUESA De cada dia
(Andrade, Oswald. Pau-Brasil. Obras completas de Os-
01-) (TRF/4ª REGIÃO – TÉCNICO JUDICIÁRIO – wald de Andrade. São Paulo, Globo, Secretaria de Estado
FCC/2010) Observam-se corretamente as regras de da Cultura, 1990, p. 63)
concordância verbal e nominal em: Texto II
a) O desenraizamento, não só entre intelectuais O texto abaixo reproduz algumas afirmativas do
como entre os mais diversos tipos de pessoas, das mais Manifesto Pau-Brasil, que Oswald de Andrade, um dos
sofisticadas às mais humildes, são cada vez mais co- mentores do movimento modernista brasileiro de 1922,
muns nos dias de hoje. lançou no Correio da Manhã em 18 de março de 1924.
b) A importância de intelectuais como Edward Said A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e
e Tony Judt, que não se furtaram ao debate sobre ques- de ocre nos verdes da Favela, sob o sol cabralino, são
tões polêmicas de seu tempo, não estão apenas nos li- fatos estéticos. O carnaval do Rio é o acontecimento
vros que escreveram. religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os
c) Nada indica que o conflito no Oriente Médio en- cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação ét-
tre árabes e judeus, responsável por tantas mortes e nica rica.
tanto sofrimento, estejam próximos de serem resolvi- A poesia Pau-Brasil. Ágil e cândida. Como uma
dos ou pelo menos de terem alguma trégua. criança.
d) Intelectuais que têm compromisso apenas com a A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e
verdade, ainda que conscientes de que esta é até certo neológica. A contribuição milionária de todos os erros.
ponto relativa, costumam encontrar muito mais detra- Como falamos. Como somos.
tores que admiradores. Nenhuma fórmula para a contemporânea expres-
e) No final do século XX já não se via muitos inte- são do mundo. Ver com olhos livres.
lectuais e escritores como Edward Said, que não apenas Temos a base dupla e presente − a floresta e a es-
era notícia pelos livros que publicavam como pelas po- cola. A raça crédula e dualista e a geometria, a álge-
sições que corajosamente assumiam. bra e a química logo depois da mamadeira e do chá de
erva-doce. Um misto de “dorme nenê que o bicho vem
Fiz as correções entre parênteses: pegá” e de equações.
a) O desenraizamento, não só entre intelectuais como Obuses de elevadores, cubos de arranha-céus e a
entre os mais diversos tipos de pessoas, das mais sofistica- sábia preguiça solar. A reza. O Carnaval. A energia ínti-
das às mais humildes, são (é) cada vez mais comuns (co- ma. O sabiá. A hospitalidade um pouco sensual, amo-
mum) nos dias de hoje. rosa.
b) A importância de intelectuais como Edward Said e (http://www.lumiarte.com/luardeoutono/oswald/ma-
Tony Judt, que não se furtaram ao debate sobre questões nifpaubr.html acesso em 11/02/2012)
polêmicas de seu tempo, não estão (está) apenas nos livros
que escreveram. 02-) (TRF/2ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO -
c) Nada indica que o conflito no Oriente Médio en- FCC/2012) Wagner submerge ante os cordões de Bota-
tre árabes e judeus, responsável por tantas mortes e tanto fogo.
sofrimento, estejam (esteja) próximos (próximo) de serem A afirmativa que exprime corretamente, com ou-
(ser) resolvidos (resolvido) ou pelo menos de terem (ter) tras palavras, o sentido original da frase acima é:
alguma trégua. (A) Os cordões de Botafogo superam Wagner.
d) Intelectuais que têm compromisso apenas com a (B) Wagner supera o que se faz nos cordões de Bo-
verdade, ainda que conscientes de que esta é até certo tafogo.
ponto relativa, costumam encontrar muito mais detratores (C) Botafogo, com seus cordões, retoma a superio-
que admiradores. ridade de Wagner.
e) No final do século XX já não se via (viam) muitos (D) Diante dos cordões de Botafogo, Wagner será
intelectuais e escritores como Edward Said, que não apenas a superação.
era (eram) notícia pelos livros que publicavam como pelas (E) Para os cordões de Botafogo, Wagner é superior.
posições que corajosamente assumiam.
Pela leitura do texto e analisando a afirmativa do enun-
RESPOSTA: “D”. ciado, entende-se que os cordões de Botafogo superam
Wagner.
(TRF/2ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - FCC/2012
- ADAPTADO) Atenção: As questões de números 02 e 03 RESPOSTA: “A”.
baseiam-se nos Textos I e II, a seguir.
Texto I 03-) (TRF/2ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO -
No Pão de Açúcar FCC/2012) ... o tema das mudanças climáticas pressiona
De cada dia os esforços mundiais para reduzir a queima de combus-
Dai-nos Senhor tíveis.

98
FÍSICA

A mesma relação entre o verbo grifado e o comple- (A) Os manifestantes de todas as idades desfilaram
mento se reproduz em: pelas ruas da cidade.
(A) ... a Idade da Pedra não acabou por falta de pe- (B) Não junte este líquido verde com aquele abra-
dras... sivo.
(B) ... o estilo de vida e o modo da produção (...) são (C) A casa pertence aos Nemer desde 1982.
os principais responsáveis... (D) Patrocinou o evento do último sábado.
(C) ... que ameaçam a nossa própria existência. (E) Encontraram com um comerciante essas anota-
(D) ... e a da China triplicou. ções.
(E) Mas o homem moderno estaria preparado...
Regência do verbo “gostar”: transitivo indireto.
O verbo grifado é transitivo direto (pressiona quem? A – desfilaram – intransitivo
o quê?): B – junte – transitivo direto
A – acabou – intransitivo C – pertence – transitivo indireto
B – são – verbo de ligação D – patrocinou – transitivo direto
C – ameaçam quem? – transitivo direto E – transitivo direto preposicionado
D – triplicou = no contexto: intransitivo
E – estaria – verbo de ligação RESPOSTA: “C”.

06-) (TRF/1ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO -


RESPOSTA: “C”.
FCC/2011) As palavras estão corretamente grafadas na
seguinte frase:
04-) (TRF/2ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO -
(A) Que eles viajem sempre é muito bom, mas não é
FCC/2012) O verbo que, dadas as alterações entre pa-
boa a ansiedade com que enfrentam o excesso de pas-
rênteses propostas para o segmento grifado, deverá ser sageiros nos aeroportos.
colocado no plural, está em: (B) Comete muitos deslises, talvez por sua esponta-
(A) Não há dúvida de que o estilo de vida... (dúvi- neidade, mas nada que ponha em cheque sua reputa-
das) ção de pessoa cortês.
(B) O que não se sabe... (ninguém nas regiões do (C) Ele era rabugento e tinha ojeriza ao hábito do
planeta) sócio de descançar após o almoço sob a frondoza ár-
(C) O consumo mundial não dá sinal de trégua... (O vore do pátio.
consumo mundial de barris de petróleo) (D) Não sei se isso influe, mas a persistência dessa
(D) Um aumento elevado no preço do óleo reflete- mágoa pode estar sendo o grande impecilho na supe-
-se no custo da matéria-prima... (Constantes aumentos) ração dessa sua crise.
(E) o tema das mudanças climáticas pressiona os (E) O diretor exitou ao aprovar a retenção dessa alta
esforços mundiais... (a preocupação em torno das mu- quantia, mas não quiz ser taxado de conivente na con-
danças climáticas) cessão de privilégios ilegítimos.

(A) Não há dúvida de que o estilo de vida... (dúvidas) = Fiz a correção entre parênteses:
“há” permaneceria no singular (A) Que eles viajem sempre é muito bom, mas não é
(B) O que não se sabe ... (ninguém nas regiões do pla- boa a ansiedade com que enfrentam o excesso de passa-
neta) = “sabe” permaneceria no singular geiros nos aeroportos.
(C) O consumo mundial não dá sinal de trégua (B) Comete muitos deslises (deslizes), talvez por sua
... (O consumo mundial de barris de petróleo) = “dá” espontaneidade, mas nada que ponha em cheque (xeque)
permaneceria no singular sua reputação de pessoa cortês.
(D) Um aumento elevado no preço do óleo reflete-se (C) Ele era rabugento e tinha ojeriza ao hábito do sócio
no custo da matéria-prima... Constantes aumentos) = “re- de descançar (descansar) após o almoço sob a frondoza
(frondosa) árvore do pátio.
flete” passaria para “refletem-se”
(D) Não sei se isso influe (influi), mas a persistência
(E) o tema das mudanças climáticas pressiona os es-
dessa mágoa pode estar sendo o grande impecilho (empe-
forços mundiais... (a preocupação em torno das mudanças
cilho) na superação dessa sua crise.
climáticas) = “pressiona” permaneceria no singular
(E) O diretor exitou (hesitou) ao aprovar a retenção
dessa alta quantia, mas não quiz (quis) ser taxado de coni-
RESPOSTA: “D”. vente na concessão de privilégios ilegítimos.
05-) (TRF/1ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - RESPOSTA: “A”.
FCC/2011) “Gosto de Ouro Preto”, explicou Elizabeth
ao poeta Robert Lowell... 07-) (TRF/4ª REGIÃO – TÉCNICO JUDICIÁRIO –
No segmento acima, o verbo “gostar” está empre- FCC/2010) A substituição do elemento grifado pelo
gado exatamente com a mesma regência com que está pronome correspondente, com os necessários ajustes
empregado o verbo da seguinte frase: no segmento, está INCORRETA em:

99
FÍSICA

a) continua a provocar irritação = continua a pro- Fiz as correções:


vocá-la. A) O Brasil apresenta bastante = bastantes.
b) a constituir um deslocamento = a lhe constituir. B) A situação ficou meia = meio
c) batalhar [...] contra a leucemia = batalhar contra C) É necessário segurança para se viver bem.
ela. D) Esses cidadãos estão quite = quites
d) que treinavam a elite = que a treinavam. E) Os soldados permaneceram alertas = alerta
e) gerou uma subdisciplina acadêmica = gerou-a.
RESPOSTA: “C”.
a) continua a provocar irritação = continua a provocá-
-la. 10-) (TJ/SP – AGENTE DE FISCALIZAÇÃO JUDICIÁ-
b) a constituir um deslocamento = a lhe constituir. = RIA – VUNESP/2010) Assinale a alternativa em que a
constituí-lo frase – É ela que faz o interlocutor se emocionar... – está
c) batalhar [...] contra a leucemia = batalhar contra ela. corretamente reescrita, tendo um pronome assumindo
d) que treinavam a elite = que a treinavam. as mesmas relações de sentido expressas pela expres-
são destacada, de acordo com a norma--padrão.
e) gerou uma subdisciplina acadêmica = gerou-a.
(A) É ela que emociona-o.
(B) É ela que o emociona.
RESPOSTA: “B”.
(C) É ela que emociona-lhe.
(D) É ela que emociona ele.
08-) (CETESB/SP – ESCRITURÁRIO - VUNESP/2013) (E) É ela que ele emociona.
Assinale a alternativa em que a concordância das for-
mas verbais destacadas está de acordo com a norma- Como temos a presença do “que” (independente de
-padrão da língua. sua função), devemos usar a próclise: É ela que o emociona.
(A) Fazem dez anos que deixei de trabalhar em hi-
gienização subterrânea. RESPOSTA: “B”.
(B) Ainda existe muitas pessoas que discriminam os
trabalhadores da área de limpeza. 11-) (PREFEITURA MUNICIPAL DE JAPERI/RJ -
(C) No trabalho em meio a tanta sujeira, havia altos ORIENTADOR PEDAGÓGICO - FUNDAÇÃO BENJAMIN
riscos de se contrair alguma doença. CONSTANT/2013) Assinale o item em que a vírgula foi
(D) Eu passava a manhã no subterrâneo: quando era usada para isolar o aposto.
sete da manhã, eu já estava fazendo meu serviço. (A) Ele já morou em Natal, em Fortaleza, em São
(E) As companhias de limpeza, apenas recentemen- Paulo.
te, começou a adotar medidas mais rigorosas para a (B) Os dois rapazes, Rodrigo e Paulo, eram primos.
proteção de seus funcionários. (C) Com muito cuidado, a advogada analisou o do-
cumento.
Fiz as correções: (D) A igreja era pequena e pobre. Os altares, hu-
(A) Fazem dez anos = faz (sentido de tempo = singular) mildes.
(B) Ainda existe muitas pessoas = existem (E) Você ainda não sabe, mocinha vaidosa, que a
(C) No trabalho em meio a tanta sujeira, havia altos ris- vida é difícil.
cos
(D) Eu passava a manhã no subterrâneo: quando era (A) Ele já morou em Natal, em Fortaleza, em São Paulo.
sete da manhã = eram = enumeração
(B) Os dois rapazes, Rodrigo e Paulo, eram primos. =
(E) As companhias de limpeza, apenas recentemente,
explicação de um termo anterior (aposto)
começou = começaram
(C) Com muito cuidado, a advogada analisou o docu-
mento. = advérbio
RESPOSTA: “C”.
(D) A igreja era pequena e pobre. Os altares, humildes.
= zeugma
09-) (POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO ACRE – ALU- (E) Você ainda não sabe, mocinha vaidosa, que a vida é
NO SOLDADO COMBATENTE – FUNCAB/2012) Apenas difícil. = vocativo
uma das opções abaixo está correta quanto à concor-
dância nominal. Aponte-a. RESPOSTA: “B”.
A) O Brasil apresenta bastante problemas sociais.
B) A situação ficou meia complicada depois das mu- 12-) (BANCO DO BRASIL – MÉDICO DO TRABALHO
danças. – FCC/2012) Atente para as seguintes frases:
C) É necessário segurança para se viver bem. I. Quem nos ensina a olhar são os pintores e fotó-
D) Esses cidadãos estão quite com suas obrigações. grafos, que andam em volta dos objetos à procura de
E) Os soldados permaneceram alertas durante a novos ângulos.
manifestação. II. Felizes as pessoas que, todos os dias, sabem en-
contrar companhia em tudo o que as cerca.

100
FÍSICA

III. Em silêncio, nos oferecerão sua muda compa- 15-) (SEE/SP – PROFESSOR EDUCAÇÃO BÁSICA II
nhia. E PROFESSOR II – LÍNGUA PORTUGUESA - FCC/2011)
A supressão da(s) vírgula(s) acarretará mudança de ...permite que os criadores tomem atitudes quando a
sentido para o que está APENAS em proliferação de algas tóxicas ameaça os peixes.
(A) I. A transposição para a voz passiva da oração grifada
(B) II. acima teria, de acordo com a norma culta, como forma
(C) II e III. verbal resultante:
(D) I e II. (A) ameaçavam.
(E) III. (B) foram ameaçadas.
(C) ameaçarem.
I. Quem nos ensina a olhar são os pintores e fotógra-
(D) estiver sendo ameaçada.
fos que andam em volta dos objetos à procura de novos
ângulos. = agora teremos uma restrição (adjetiva restritiva) (E) forem ameaçados.
II. Felizes as pessoas que todos os dias sabem encon-
trar companhia em tudo o que as cerca. = facultativo o uso Quando a proliferação ameaça os peixes = voz ativa
da vírgula (advérbio) Quando os peixes forem ameaçados pela proliferação...
III. Em silêncio, nos oferecerão sua muda companhia. = = voz passiva
facultativo o uso da vírgula (advérbio)
RESPOSTA: “E”.
RESPOSTA: “A”.
16-) (COPERGÁS - TÉCNICO OPERACIONAL MECÂ-
13-) (POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO ACRE – ALU- NICO - FCC/2011 - ADAPTADA)
NO SOLDADO COMBATENTE – FUNCAB/2012) Apenas ... para desovar e criar seus filhotes até que sejam
uma das frases abaixo foge à norma culta no que se re- capazes de seguir para o oceano.
fere à colocação pronominal. Aponte-a.
O verbo que se encontra conjugado nos mesmos
A) Enviar-lhe-ei por Sedex os documentos solicita-
tempo e modo que o grifado na frase acima está em:
dos.
B) Quem se candidataria à prefeito nesse momento? (A) ... espaços que misturam água do mar e de rios
C) O jogo que realiza-se hoje contará com a presen- em meio a árvores de raízes expostas.
ça de políticos eminentes. (B) ... que ela prejudique ainda mais a vida dos pei-
D) Viu-se obrigado a tomar uma atitude que não xes e das pessoas.
desejava. (C) ... Mario Barletta, que, com seu grupo, percorre
E) Realizar-se-á uma nova eleição. os estuários da América do Sul.
(D) ... que várias espécies de peixes precisam de re-
A) Enviar-lhe-ei por Sedex os documentos solicitados. dutos distintos no mangue ...
= correta (E) ... uma equipe da Universidade Federal de Per-
B) Quem se candidataria à prefeito nesse momento? = nambuco verificou que várias espécies de peixes ...
correta
C) O jogo que realiza-se = o jogo que se realiza “Sejam” está no presente do Subjuntivo.
D) Viu-se obrigado a tomar uma atitude que não dese-
(A) ... espaços que misturam = presente do Indicativo
java. = correta
E) Realizar-se-á uma nova eleição. = correta (B) ... que ela prejudique = presente do Subjuntivo
(C) ... Mario Barletta, que, com seu grupo, percorre =
RESPOSTA: “C”. presente do Indicativo
(D) ... que várias espécies de peixes precisam = presen-
14-) (BANCO DO BRASIL – MÉDICO DO TRABALHO te do Indicativo
– FCC/2012) Ficava difícil se apoiar em algum chavão. (E) ... uma equipe da Universidade Federal de Pernam-
O período acima passa de composto a simples caso buco verificou = pretérito perfeito do Indicativo
se substitua o elemento sublinhado por
(A) para algum chavão apoiá-lo. RESPOSTA: “B”.
(B) que algum chavão o apoiasse.
(C) apoiá-lo em algum chavão. 17-) (SABESP – TECNÓLOGO – FCC/2014) A substi-
(D) algum chavão vir a apoiá-lo. tuição do elemento grifado pelo pronome correspon-
(E) o apoio em algum chavão.
dente foi realizada de modo INCORRETO em:
Para que tenhamos um período simples é necessária a (A) que permitiu à civilização = que lhe permitiu
presença de um único verbo. Fazendo a alteração e man- (B) envolveu diferentes fatores = envolveu-os
tendo o sentido da frase inicial, a alternativa “o apoio em (C) para fazer a dragagem = para fazê-la
algum chavão” é a que está escrita de maneira correta. (D) que desviava a água = que lhe desviava
(E) supriam a necessidade = supriam-na
RESPOSTA: “E”.

101
FÍSICA

(A) que permitiu à civilização = que lhe permitiu = cor- (C) ... também se associa o Desenvolvimento Sustentá-
reta vel... = presente do Indicativo
(B) envolveu diferentes fatores = envolveu-os = correta (D) ... e incorporou [...] = pretérito perfeito do Indicativo
(C) para fazer a dragagem = para fazê-la = correta (E)... e reforce a identidade das comunidades. = pre-
(D) que desviava a água = que lhe desviava = que a sente do Subjuntivo.
desviava
(E) supriam a necessidade = supriam-na = correta RESPOSTA: “E”.

RESPOSTA: “D”. 20-) (TRF/4ª REGIÃO – TÉCNICO JUDICIÁRIO –


FCC/2010) Se a tendência se mantiver, teremos cada vez
18-) (SABESP – TECNÓLOGO – FCC/2014) Conside- mais...
rada a substituição do segmento grifado pelo que está Ao substituir o segmento grifado acima por “Caso
entre parênteses ao final da transcrição, o verbo que a tendência”, a continuação que mantém a correção e o
deverá permanecer no singular está em: sentido da frase original é:
(A) ... disse o pesquisador à Folha de S. Paulo. (os a) se mantenha, teremos cada vez mais...
pesquisadores) b) fosse mantida, teríamos cada vez mais...
(B) Segundo ele, a mudança climática contribuiu c) se manter, teremos cada vez mais...
para a ruína dessa sociedade... (as mudanças do clima) d) for mantida, teremos cada vez mais...
(C) No sistema havia também uma estação... (várias e) seja mantida, teríamos cada vez mais...
estações)
(D) ... a civilização maia da América Central tinha Ao empregarmos o termo “caso a”, conjugaremos o
um método sustentável de gerenciamento da água. (os verbo utilizando o modo hipotético (Subjuntivo). A trans-
povos que habitavam a América Central) formação será: Caso a tendência se mantenha, teremos
(E) Um estudo publicado recentemente mostra que cada vez mais...
a civilização maia... (Estudos como o que acabou de ser
publicado). RESPOSTA: “A”.

(A) ... disse (disseram) (os pesquisadores) 21-) (TRF/4ª REGIÃO – TÉCNICO JUDICIÁRIO –
(B) Segundo ele, a mudança climática contribuiu (con- FCC/2010) Não se trata de negar ...... crianças o aces-
tribuíram) (as mudanças do clima) so aos meios eletrônicos, tarefa indesejável e mesmo
(C) No sistema havia (várias estações) = permanecerá impossível de ser realizada, mas de impor limites ......
no singular utilização desses equipamentos tão sedutores, para que
(D) ... a civilização maia da América Central tinha (ti- elas também possam se dedicar ...... outras atividades
nham) (os povos que habitavam a América Central) fundamentais para o seu desenvolvimento.
(E) Um estudo publicado recentemente mostra (mos- Preenchem corretamente as lacunas da frase acima,
tram) (Estudos como o que acabou de ser publicado). na ordem dada:
a) às - a - à
RESPOSTA: “C”. b) as - a - à
c) às - à - a
19-) (SABESP – TECNÓLOGO – FCC/2014) É importante d) as - à - a
que a inserção da perspectiva da sustentabilidade na cultu- e) às - à – à
ra empresarial, por meio das ações e projetos de Educa-
ção Ambiental, esteja alinhada a esses conceitos. Não se trata de negar às (regência verbal de “negar”
O verbo empregado nos mesmos tempo e modo pede objeto direto – o acesso – e indireto – às crianças)
que o verbo grifado na frase acima está em: crianças o acesso aos meios eletrônicos, tarefa indesejável
(A) ... a Empresa desenvolve todas as suas ações, e mesmo impossível de ser realizada, mas de impor limites
políticas... à (regência verbal de “impor” pede objeto direto – limites
(B) ... as definições de Educação Ambiental são – e indireto – à utilização) utilização desses equipamentos
abrangentes... tão sedutores, para que elas também possam se dedicar
(C) ... também se associa o Desenvolvimento Sus- a (regência verbal de “dedicar” pede preposição, mas há
tentável... presença de pronome indefinido) outras atividades funda-
(D) ... e incorporou [...] também aspectos de desen- mentais para o seu desenvolvimento.
volvimento humano.
(E)... e reforce a identidade das comunidades. RESPOSTA: “C”.

O verbo “esteja” está no presente do Subjuntivo.


(A) ... a Empresa desenvolve = presente do Indicativo
(B) ... as definições de Educação Ambiental são = pre-
sente do Indicativo

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