Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Educação a Distância
Caderno de estudos
CIÊNCIA E PROPRIEDADE
DOS MATERIAIS
UNIASSELVI
2012
NEAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO
LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, nº 1.040, Bairro Benedito
89130-000 - INDAIAL/SC
www.uniasselvi.com.br
Elaboração:
Prof. Jony Cesar Tomelin
1. Administração - materiais.
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
APRESENTAÇÃO
Caro(a) acadêmico(a)!
Bom estudo!
UNI
Oi!! Eu sou o UNI, você já me conhece das outras disciplinas.
Estarei com você ao longo deste caderno. Acompanharei os seus
estudos e, sempre que precisar, farei algumas observações.
Desejo a você excelentes estudos!
UNI
Objetivos de aprendizagem
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 1
TÓPICO 1
Conceitos fundamentais
1 INTRODUÇÃO
D
O
É natural que muitos conceitos apresentados nesse tópico lhe sejam completamente S
novos. É importante que, durante a leitura desse primeiro tópico, sejam anotados os termos e M
A
conceitos que não são familiares. Esses conceitos serão detalhados nos tópicos e unidades T
E
posteriores. R
I
A
I
S
4 TÓPICO 1 UNIDADE 1
2 PERSPECTIVA HISTÓRICA
C
I O posterior conhecimento do processamento de ligas metálicas, como o ferro e o
Ê
N bronze, propiciou a elaboração de utensílios de diversas naturezas e utilidades. Os avanços
C
I que se seguiram permitiram à sociedade a criação de inúmeras utilidades, culminando no
A
desenvolvimento tecnológico moderno.
E
Podemos concluir então que, tanto para o homem que habitava as cavernas até o homem
que habita as modernas estações espaciais, o conhecimento das propriedades dos materiais
disponíveis e a engenharia ou desenvolvimento de novos materiais criados e constantemente
aprimorados são fundamentais para a manutenção de condições em que este possa viver de
forma adequada às suas necessidades, em um mundo moderno cada vez mais dinâmico.
!
ROS
SFUTU
EST UDO
C
3.2 MATERIAIS CERÂMICOS
I
Ê
N
C Os materiais cerâmicos são, em sua maioria, constituídos de óxidos metálicos. As
I
A
ligações químicas desses materiais podem ser iônicas ou covalentes (estaremos estudando as
características dessas ligações no tópico 2 dessa unidade). Diferente dos metais, as cerâmicas
E
normalmente apresentam estruturas mais complexas e menos simétricas. Esse fato, aliado ao
P
R tipo de ligação, faz com que a deformação da peça antes da ruptura seja praticamente nula: o
O
P componente rompe rapidamente ao atingir seu limite de resistência. A situação descrita acima
R
I é crítica quando pensamos em aplicações mecânicas com restrições de segurança.
E
D
A Outra característica importante dos materiais cerâmicos é que estes apresentam
D
E uma sensibilidade maior a defeitos de fabricação. A presença de trincas, muitas vezes não
D detectáveis, torna o limite de resistência mais baixo do que o calculado no projeto do componente
O
S sem falhas. Por esse motivo, em alguns casos, testes mecânicos prévios desses componentes
M
são necessários para garantir uma resistência mecânica mínima exigida pela aplicação.
A
T
E Por outro lado, algumas características dos materiais cerâmicos os tornam a melhor
R
I escolha para determinadas aplicações:
A
I
S
UNIDADE 1 TÓPICO 1 7
• a baixa condutividade térmica permite a aplicação como material refratário, isolando o calor
de um processo do ambiente, protegendo os materiais metálicos que revestem determinados
equipamentos;
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
FONTE: INESCAP. Disponível em: <http://www.inescap.com.br/eng/prod_doc.html>. I
Acesso em: 25 fev. 2012. S
8 TÓPICO 1 UNIDADE 1
3.3 POLÍMEROS
Os materiais poliméricos são de base orgânica (contêm carbono, C). Esses materiais,
assim como os metais e cerâmicas, podem ser caracterizados por um agrupamento de átomos
que formam uma estrutura, que se repete indefinidamente no material. No caso dos polímeros,
essa estrutura é chamada de mero. Um polímero pode ser definido, então, como um conjunto
de meros.
3.4 COMPÓSITOS
Vimos nos itens anteriores que os diferentes tipos de materiais apresentam características
que os tornam interessantes para determinadas aplicações, porém, apresentam também
C
limitações. A busca de propriedades ótimas para aplicações específicas motivou o estudo dos I
Ê
materiais compósitos. N
C
I
A
Um material compósito consiste na junção em um mesmo material de duas ou mais
E
classes de materiais (metais, polímeros ou cerâmicas) para o desenvolvimento de um novo
P
material com propriedades muitas vezes superiores às apresentadas pelos componentes R
O
separadamente, ou seja, ocorre uma sinergia entre os componentes utilizados. P
R
I
É possível, por exemplo, melhorar as propriedades mecânicas de um material polimérico E
D
(resina epóxi, poliuretano) adicionando certa quantidade de fibras de vidro (material cerâmico), de A
D
tamanho e características controladas. Chamamos esse tipo de material de fibra de vidro, sendo E
ser auxiliada por um tratamento superficial da superfície das fibras. Ou seja, precisamos
compatibilizar a fibra para que esta fique aderida corretamente ao polímero.
Compósitos de base polimérica com adição de metais são utilizados para desenvolvimento
de propriedades de semicondutividade: a concentração e interpolação das partículas do metal
condutor na matriz polimérica irão definir a condutividade desse material, sendo interessante
nos casos onde se deseja obter condutividades controladas para determinadas aplicações,
bem como onde as propriedades do polímero são adequadas.
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D FONTE: VALE NÁUTICO. Disponível em: <http://www.valenautico.com.br/site/?key=81>.
A Acesso em: 25 fev. 2012.
D
E
D
O
S
M 3.5 SEMICONDUTORES
A
T
E
R Os materiais semicondutores apresentam condutividade elétrica intermediária entre
I
A metais condutores e materiais intrinsecamente isolantes, como é o caso da maioria das
I
S
UNIDADE 1 TÓPICO 1 11
3.6 BIOMATERIAIS
E
4 ESTRUTURA ATÔMICA
P
R
O
P
A explicação para o comportamento macroscópico dos materiais tem sua origem em R
suas características atômicas: tipos de átomos e arranjo entre eles, no que chamamos de I
E
estrutura. No entanto, para compreendermos as características de arranjo entre os átomos, é D
A
necessário relembrarmos alguns conceitos de química e física, os quais você já estudou nas D
E
respectivas disciplinas.
D
O
Os átomos são unidades compostas por partículas subatômicas que se diferem pela sua S
carga e massa: prótons, elétrons e nêutrons. Os átomos possuem um núcleo, e esse núcleo M
A
é composto por prótons e nêutrons, que são unidades muito pequenas. Prótons e nêutrons T
E
apresentam massa semelhante entre si (1,67 x 10-27 Kg). A principal diferença entre prótons e R
I
nêutrons é que os prótons apresentam carga positiva (1,60 x 10-19 C), enquanto os nêutrons A
I
não apresentam carga. S
12 TÓPICO 1 UNIDADE 1
Os elétrons apresentam carga de mesma magnitude dos prótons (1,60 x 10-19C), porém,
negativa. Outra diferença fundamental entre os elétrons e prótons é a sua massa (9,11 x 10-31
Kg), ou seja, os elétrons são cerca de 10000 vezes mais leves.
FIGURA 5 – O ÁTOMO
FONTE: O autor
C
I
Ê
N
C A quantidade de prótons do núcleo do átomo irá determinar o número atômico (Z) e o
I
A tipo de átomo. Essa informação, consequentemente, caracteriza um elemento químico. Cada
E
elemento apresenta um número específico de prótons. Se o átomo estiver em seu estado
neutro, o número de elétrons será igual ao número de prótons (lembre-se de que a magnitude
P
R da carga do elétron e do próton é a mesma, porém de sinal contrário).
O
P
R
I A massa atômica (A) é a massa de um átomo do elemento. Essa massa é caracterizada
E
D pela soma das massas de cada próton e cada nêutron do elemento. Nessa conta se exclui a
A
D
massa dos elétrons, pois neste caso esta é praticamente desprezível. Um mesmo elemento
E pode ter diferentes quantidades de nêutrons, e apresentará massas ligeiramente diferentes.
D Eles são chamados de isótopos.
O
S
M Podemos imaginar então, a partir das premissas descritas acima, que algumas
A
T propriedades físicas, como a densidade e a massa dos materiais, apresentam alguma relação
E
R
com a quantidade de prótons e nêutrons dos núcleos dos seus elementos.
I
A
I Vamos analisar este exemplo:
S
UNIDADE 1 TÓPICO 1 13
ÇÃO!
ATEN
Portanto, não somente o conhecimento das características dos átomos, como, por
exemplo, a sua massa atômica (A), é suficiente para explicar os diferentes comportamentos
C
macroscópicos dos materiais. Além da forma como os átomos são arranjados, tanto a I
magnitude como o tipo de ligação entre os átomos no material sólido se relacionam com Ê
N
algumas propriedades desses sólidos. É do estudo dessas forças que estaremos tratando C
I
no próximo tópico. A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
14 TÓPICO 1 UNIDADE 1
RESUMO DO TÓPICO 1
• Foram discutidos alguns dos aspectos principais relativos às diferentes classes de materiais
e suas aplicações em função de suas propriedades.
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 1 TÓPICO 1 15
IDADE
ATIV
AUTO
1 Descreva com suas palavras a importância da ciência dos materiais para a sociedade
moderna.
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
16 TÓPICO 1 UNIDADE 1
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 1
TÓPICO 2
LIGAÇÕES QUÍMICAS
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico estudaremos os princípios de equilíbrio das forças das ligações químicas,
C
bem como os tipos de ligação e suas características relacionadas às propriedades de cada I
Ê
classe de material. N
C
I
A
P
R
2 LIGAÇÕES ATÔMICAS NOS MATERIAIS O
P
R
I
Sabemos que um material sólido é composto por um número muito grande de átomos E
D
e que, conforme estudamos anteriormente, estes átomos são compostos por elétrons, prótons A
D
e nêutrons. A própria estrutura do átomo é resultante do equilíbrio das forças de atração e E
repulsão entre o núcleo positivo e os elétrons, que apresentam carga negativa. D
O
S
Para facilitar a nossa incursão na análise das ligações atômicas, vamos imaginar a
M
unidade mais simples possível: a ligação entre apenas dois átomos. Quais fenômenos físicos A
T
vocês esperam observar ao aproximarmos dois átomos? E
R
I
A
I
S
18 TÓPICO 2 UNIDADE 1
FONTE: O autor
Considerando que, em um estado inicial que promovemos, existe uma grande distância
entre os dois átomos (d). Nesse caso, as forças entre estes dois átomos podem ser consideradas
desprezíveis. No entanto, ao aproximarmos os dois átomos, surgem dois tipos de forças: uma
atrativa e outra repulsiva, cujas magnitudes irão depender das características de ligação entre
estes átomos. Ao aproximarmos os dois átomos a ponto de suas camadas de elétrons se
sobreporem, ocorre um aumento na força de repulsão. A força líquida (FL) entre dois átomos é
a soma entre a força de repulsão e a força de atração e, como podemos imaginar, irá depender
da distância entre os dois átomos.
C FL = FA + FR
I
Ê
N
C Se ao aproximarmos dois átomos existem duas forças concorrentes (atração e repulsão),
I
A podemos supor que, a uma determinada distância entre estes átomos, a força resultante entre
E estes é nula, ou seja:
P
R FA + FR = 0
O
P
R
I De fato esse estado de equilíbrio existe, e pode ser representado pela figura a seguir.
E
D
A
D
Para facilitar o nosso entendimento, vamos considerar a energia resultante dessas
E forças ao invés de analisarmos as forças envolvidas. A energia pode ser obtida a partir da
D equação a seguir.
O
S
M E = ∫ F dr
A
T
E
R
A figura a seguir mostra um gráfico esquemático da soma das energias de atração e
I repulsão entre dois átomos.
A
I
S
UNIDADE 1 TÓPICO 2 19
Vamos imaginar que a curva descrita na figura funciona como uma rampa, e que
depositamos uma esfera no ponto A. A esfera está em equilíbrio no ponto A, e não irá se
movimentar, a menos que coloquemos alguma energia mecânica que a faça se movimentar para
o lado direito ou esquerdo. Ao movimentarmos a esfera para o lado direito por um curto percurso,
e ao liberarmos a esfera, a mesma retornará ao ponto A. O mesmo acontece ao movimentarmos
a esfera para a esquerda: a esfera retorna ao ponto A, que é o de menor energia.
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
FONTE: O autor E
D
O
Se entendermos esse fenômeno, poderemos compreender que existe uma distância S
entre os dois átomos onde o valor da soma entre a energia repulsiva e atrativa é nula, que M
A
consiste em um ponto de equilíbrio, e que coincide com o valor da energia de ligação (E0). T
E
Portanto, chegamos a um ponto muito importante: em um material sólido, se um átomo se liga R
I
a diferentes átomos por ligações químicas, existe uma força de coesão entre esses átomos, A
I
e um estado de equilíbrio. Dessa forma, diferentes tipos de ligações e as magnitudes dessas
S
20 TÓPICO 2 UNIDADE 1
ÇÃO!
ATEN
3 LIGAÇÕES PRIMÁRIAS
C
3.1 LIGAÇÕES IÔNICAS
I
Ê
N
C Aprendemos nas disciplinas de química que os átomos tendem, através de ligação
I
A
química com outros átomos, a adquirir a configuração eletrônica dos gases inertes (estáveis).
E
A ligação do tipo iônica sempre envolve átomos metálicos e não metálicos, sendo que o metal
nesse tipo de ligação perde seu elétron de valência, e o átomo não metálico o recebe. No
P
R entanto, essa permuta tem como consequência a geração de uma carga elétrica, tornando-os
O
P íons, o que caracteriza a ligação iônica.
R
I
E
D Os átomos isoladamente apresentavam uma estrutura neutra de carga, porém, após
A
D ligação, apresentam carga positiva (o que doou o elétron) e negativa (o que recebeu elétron).
E
No entanto, no material sólido não existem apenas dois átomos, mas uma infinidade destes.
D
O
O que ocorre neste caso é uma atração entre átomos vizinhos de carga positiva e negativa, e
S a essa energia de atração damos o nome de energia de ligação iônica. As forças de atração
M são chamadas de Forças de Coulomb.
A
T
E
R A figura a seguir mostra um exemplo esquemático desse tipo de ligação.
I
A
I
S
UNIDADE 1 TÓPICO 2 21
P
FIGURA 10 – LIGAÇÕES QUÍMICAS DO CH4 R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
FONTE: Callister (2007) S
22 TÓPICO 2 UNIDADE 1
Os elétrons das camadas interiores, juntamente com os núcleos positivos, formam uma
estrutura iônica que é eletricamente estabilizada pela nuvem de elétrons. A figura a seguir
mostra esquematicamente a estrutura dos átomos em um material metálico.
ÇÃO!
ATEN
C
I FIGURA 11 – LIGAÇÃO METÁLICA
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S FONTE: Callister (2007)
UNIDADE 1 TÓPICO 2 23
4 LIGAÇÕES SECUNDÁRIAS
As ligações secundárias surgem quando existe uma separação entre a parte positiva e
negativa das moléculas ou átomos, gerando uma atração entre as partes de carga contrária.
Normalmente esse tipo de ligação apresenta energia de ligação bem inferior ao das ligações
primárias.
C
I
Ê
FONTE: Callister (2007) N
C
I
A
A elevada energia de ligação nas cerâmicas também implica em uma elevada rigidez do
material, ou seja, é necessário aplicar forças elevadas para deformar esses tipos de materiais.
De fato, os materiais cerâmicos poderiam ser referência em termos de resistência mecânica,
porém outros fatores acabam por limitar a sua confiabilidade em aplicações mecânicas, como
C
I
será abordado nos tópicos posteriores.
Ê
N
C
I Os materiais poliméricos apresentam como base ligações químicas do tipo C-H e C=C,
A
que são do tipo covalente. Essas são ligações primárias, porém, nesse caso, não conseguimos
E
obter uma correlação direta desses valores com a temperatura de fusão dos materiais
P poliméricos. Os polímeros em geral são processados em baixas temperaturas, em processos
R
O como o de injeção, onde as temperaturas são geralmente em torno de 200°C.
P
R
I
E
D Para entendermos essa discrepância, precisamos entender que a estrutura de arranjo
A
D
dos átomos nos polímeros é em forma de longas cadeias. Os átomos nessas cadeias apresentam
E uma energia de ligação elevada (ligações primárias), porém, a energia que inibe a deformação
D dessas cadeias é originada das forças secundárias existentes entre estas cadeias, que são de
O
S baixa magnitude. Esse comportamento também explica a relativa facilidade de deformarmos
M esse tipo de material.
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 1 TÓPICO 2 25
UNI
A título de visualização, podemos imaginar a estrutura de cadeias
dos materiais poliméricos de forma semelhante à de um prato
de espaguete. Considere que cada fio do macarrão corresponde
a uma cadeia do polímero que, por conseguinte, é composta de
inúmeras ligações químicas contendo C e H, primárias, covalentes,
e relativamente rígidas. Para quebrarmos um fio de macarrão é
necessária determinada força. Porém, para movimentarmos os fios
de macarrão entre si, a força necessária é bem menor. Na maioria
dos polímeros (nesse caso, mais especificamente tratamos dos
termopláticos), o agrupamento dessas cadeias é mantido pelas
forças secundárias.
Outras propriedades dos materiais metálicos irão se relacionar com a energia de ligação
e o tipo de ligação, embora a estrutura de arranjo atômico seja, em grande parcela, determinante
dessas características, como veremos no tópico a seguir. C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
26 TÓPICO 2 UNIDADE 1
RESUMO DO TÓPICO 2
• Em função dos átomos envolvidos, diferentes tipos de ligação primária podem ocorrer:
metálica, iônica ou covalente. Essas ligações apresentam características e energia de ligações
específicas, que determinam as propriedades das diferentes classes dos materiais.
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 1 TÓPICO 2 27
IDADE
ATIV
AUTO
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
28 TÓPICO 2 UNIDADE 1
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 1
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
D
Um material metálico apresenta inúmeros átomos ligados entre si. Se analisarmos essa O
S
estrutura mais de perto, poderemos constatar que ela consiste em um arranjo de átomos que
M
se repete indefinidamente pelo material. A essa pequena porção ou agrupamento de átomos, A
T
que representa o arranjo atômico do material, dá-se o nome de célula unitária. Na prática, o E
material é constituído pelo agrupamento desses pequenos “tijolos”. R
I
A
I
S
30 TÓPICO 3 UNIDADE 1
• O número de coordenação, ou seja, o número de átomos que estão ligados a cada um dos
átomos, é 12. Para visualizarmos isso, basta observarmos o átomo da face frontal: ele faz
ligação com os quatro átomos dos vértices de sua respectiva face, com quatro átomos que
C estão nas faces de sua célula unitária, e mais quatro átomos das faces da célula unitária
I
Ê que se posiciona à frente da célula unitária mostrada na figura.
N
C
I
A • Se conhecermos o raio atômico do átomo que estamos estudando, podemos geometricamente
E
calcular o comprimento da aresta do cubo (a). De posse desse valor, podemos calcular o
volume da célula unitária (a3).
P
R
O
P • Podemos obter o número de átomos contidos em uma célula unitária. Cada átomo da face
R
I pertence a duas outras células unitárias adjacentes, e cada átomo da aresta pertence a
E
D
quatro outras células unitárias. Assim, cada átomo da face contribui com ½ átomo, e cada
A átomo da aresta contribui com ¼ de átomo por célula. De posse dessa informação é simples
D
E calcularmos quantos átomos há em cada célula unitária CFC.
D
O
S • Se soubermos quantos átomos existem em cada célula e a massa de cada átomo de um
M determinado material, podemos calcular a massa de uma célula unitária;
A
T
E • Se calcularmos o volume da célula unitária e sua massa, podemos obter a sua densidade.
R
I Podemos obter também o percentual de ocupação dos átomos nessa célula, ou fator de
A
I empacotamento atômico (FEA).
S
UNIDADE 1 TÓPICO 3 31
Exemplo:
Tomemos como exemplo a célula unitária do chumbo (Pb), que apresenta raio atômico
de 0,175 x 10-9 m.
● Observe a face frontal da célula unitária do tipo CFC (figura 14, a seguir). Podemos traçar
um triângulo retângulo que compreende duas arestas;
● Podemos constatar que a hipotenusa desse triângulo tem o comprimento de 4 raios iônicos C
I
(r). Ou seja, temos que h2=a2+a2. onde h é a hipotenusa e a é a corresponde a aresta do Ê
N
cubo. C
I
A
● Se h=4r, temos: E
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
32 TÓPICO 3 UNIDADE 1
C
I
Ê
N c) Cálculo da massa da célula unitária:
C
I
A
P
Onde:
R
O
P Mc = Massa dos átomos por célula unitária (g)
R
I
E A = Massa atômica (g/mol)
D
A n = Número de átomos no interior da célula unitária
D
E
A = Número de Avogadro (6,023 X 1023 átomos/mol)
D
O
S Assim, para o caso do chumbo temos:
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 1 TÓPICO 3 33
Onde:
A densidade do chumbo comercial é de 11,34 g/cm3. Portanto, podemos ter uma boa
aproximação da densidade do material a partir de dados de sua estrutura cristalina e das
características de seus átomos.
O fator de empacotamento atômico (FEA) é calculado pela razão entre o volume dos C
I
átomos que ocupam a célula unitária e o volume da célula. Para o caso da CFC, temos: Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
O que na prática indica que 74% da célula unitária é ocupada por átomos, e 26% são vazios. E
D
O
S
M
A
2.2 CÚBICA DE CORPO CENTRADO T
E
R
I
A estrutura do tipo cúbica de corpo centrado (CCC) é típica dos materiais ferrosos (aços, A
I
ferros fundidos) em temperatura ambiente. Diferentemente da estrutura CFC, os átomos das faces S
34 TÓPICO 3 UNIDADE 1
do cubo são substituídos por um átomo do centro do cubo. Dessa forma, em cada célula unitária
temos dois átomos, um no centro, e ¼ de átomo em cada aresta (vejam a figura a seguir).
C
I
Ê
N UNI
C
I A aresta da face do cubo de uma célula CCC, volume da célula
A
e fator de empacotamento podem ser deduzidos de forma
E semelhante ao apresentado anteriormente para a célula do tipo
CFC. Para isso precisamos compreender que, na estrutura CCC,
P existe um triângulo retângulo onde a hipotenusa é uma das
R
O
diagonais internas do cubo, e que esta apresenta comprimento
P igual a 4r.
R
I
E
D
A
D
E
D
O 2.3 HEXAGONAL COMPACTA
S
M
A Alguns metais, como o zinco, cádmio, magnésio e titânio, apresentam estrutura do tipo
T
E hexagonal compacta (figura a seguir).
R
I
A
I
A estrutura hexagonal compacta é composta por três planos: dois conjuntos de seis
S
UNIDADE 1 TÓPICO 3 35
• Cada um dos dois átomos nos centros dos hexágonos contribui com ½ átomo;
Como a estrutura não é cúbica, neste caso se caracteriza a sua relação geométrica pela
razão c/a (conforme figura a seguir). Essa razão é adimensional e corresponde a 1,633, no entanto,
para alguns materiais, a estrutura apresenta diferenças nesse valor. O número de coordenação
é 12 e o fator de empacotamento atômico (FEA) é 0,74, de forma idêntica ao apresentado pela
estrutura do tipo CFC. Estes valores podem também ser geometricamente calculados.
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
FONTE: Callister (2007) O
P
R
I
E
D
A
D
3 ESTRUTURAS CRISTALINAS DE MATERIAIS CERÂMICOS E
D
O
Diferentemente dos metais, o materiais cerâmicos, com poucas exceções, são compostos S
por dois ou mais elementos químicos. Esses átomos apresentam raios atômicos muitas vezes M
A
bastante diferentes entre si, resultando em estruturas mais complexas que as dos metais. T
E
Devemos lembrar também que nas ligações iônicas os átomos devem ser considerados como R
I
cátions e ânions, com carga positiva e negativa. As magnitudes dessas cargas e tamanho dos A
I
ânions envolvidos irão determinar a forma como estes átomos irão se arranjar no sólido. S
36 TÓPICO 3 UNIDADE 1
UNI
Podemos fazer um contraponto interessante ao que foi abordado
C no item anterior: Nos metais puros, a relação entre os raios dos
I átomos vizinhos é igual a 1 (o raio dos átomos é igual). Por esse
Ê
N
motivo, as estruturas dos metais tendem a ser mais compactas.
C Estas estruturas apresentam maior número de coordenação e,
I consequentemente, maior fator de empacotamento. Nos materiais
A cerâmicos temos átomos com raios iônicos diferentes, o que
E
restringe o empacotamento. Essa restrição é tão maior quanto
maior for a diferença entre os raios iônicos.
P
R
O
P
R
I Embora alguns materiais cerâmicos possam ser caracterizados em estruturas cúbicas
E
D semelhantes à CFC (NaCl, MgO, MnS, dentre outros), os materiais mais comuns utilizados na
A
D engenharia de produtos são à base de silicato. Os silicatos apresentam arranjos pouco densos,
E
mais complexos que os apresentados pelos metais.
D
O
S A sílica (SiO2), estrutura mais simples dos silicatos, pode se apresentar em três formas
M polimórficas diferentes: quartzo, tridimita e cristobalita, e é composta por tetraedros contendo um
A
T átomo de Si cercado por 4 átomos de O. Esses tetraedros apresentam carga negativa -4.
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 1 TÓPICO 3 37
A maioria das cerâmicas tradicionais é composta por silicatos, tais como o quartzo (SiO2)
e as argilas (xAl2O3.ySiO2.zH2O), estas últimas apresentando estruturas mais complexas.
C
I
Ê
N
C
4 ESTRUTURAS MOLECULARES DE POLÍMEROS I
A
E
Quando tratamos de arranjo atômico de polímeros, é mais comum analisarmos a sua P
R
estrutura molecular. De fato, assim como nos metais e cerâmicas, esse arranjo também pode O
ser descrito por uma unidade que se repete no material, o mero. P
R
I
E
O mero é caracterizado por um conjunto de átomos ligados entre si, que representam a D
A
menor unidade que se repete dentro do material, formando o polímero. A união de uma grande D
E
quantidade de meros forma a molécula do polímero, que é muito mais longa quando comparada
D
a uma célula unitária de um material metálico, por exemplo. As características dos polímeros O
S
irão depender fortemente da forma como estão ligados e arranjados os átomos no mero (C e
M
H) e da presença de outros tipos de átomos e suas quantidades (Cl, O, S, F). A
T
E
R
I
A
I
S
38 TÓPICO 3 UNIDADE 1
A figura a seguir mostra alguns meros que caracterizam alguns polímeros comerciais.
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 1 TÓPICO 3 39
M
A
T
E
R
I
A
I
S
40 TÓPICO 3 UNIDADE 1
RESUMO DO TÓPICO 3
• Nos materiais cristalinos (que apresentam ordenação de átomos de longo alcance), essa
ordenação pode ser descrita por uma unidade da estrutura cristalina, chamada de célula
unitária.
• Muitos materiais metálicos podem apresentar estruturas cristalinas do tipo cúbica do tipo
CCC, CFC, e menos frequentemente, HC.
C
I • Os materiais poliméricos, que apresentam cadeias de longo comprimento, são melhores
Ê
N descritos pela sua unidade de repetição, chamada de mero.
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 1 TÓPICO 3 41
IDADE
ATIV
AUTO
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
42 TÓPICO 3 UNIDADE 1
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 1
TÓPICO 4
1 INTRODUÇÃO
Vimos nos tópicos anteriores que algumas propriedades dos materiais têm relação
direta com as características das ligações químicas. Constatamos também que somente
estas características não são suficientes para explicar as propriedades macroscópicas desses
materiais: o tipo de estrutura cristalina ou arranjo espacial destes átomos está ligado às
diferentes propriedades de um sólido.
2 MATERIAIS MONOCRISTALINOS P
R
O
P
Quando falamos anteriormente sobre a estrutura dos materiais, verificamos que alguns R
I
apresentam um arranjo atômico, os quais caracterizaram pela célula unitária, que é a menor E
D
unidade que se repete indefinidamente no material. Suponham que estamos em um estado A
D
inicial onde a temperatura de um determinado material está acima da sua temperatura de fusão, E
e temos um líquido de composição química homogênea. Nessa condição os átomos não estão
D
ligados por forças primárias. O
S
M
Ao resfriarmos esse material lentamente, um núcleo de material sólido começa a se A
T
formar. Nesse núcleo os átomos estão se ligando entre si de forma ordenada, de acordo com E
R
o arranjo descrito em sua célula unitária. Várias células unitárias vão sendo formadas nesse I
núcleo, de forma ordenada, até a solidificação de todo o líquido. Dessa forma, teremos ao final A
I
S
44 TÓPICO 4 UNIDADE 1
do processo um único cristal, que é composto por inúmeras células unitárias ordenadas, ou
seja, um monocristal.
C
I
Ê
N
C
I
FONTE: Callister (2007)
A
P
R
O
P 3 MATERIAIS POLICRISTALINOS
R
I
E
D A grande maioria dos materiais cristalinos é composta por um grande número de cristais,
A
D sendo chamados de policristalinos.
E
Os contornos de grão podem ser considerados defeitos, pois nesses pontos existem
ligações incompletas. C
I
Ê
N
C
I
UNI
A
E
Se hipoteticamente pudéssemos construir duas vigas: uma de P
alumínio monocristalino e outra de alumínio policristalino, qual R
delas vocês esperam que seja mais resistente? O
P
R
I
E
D
A
D
E
4 MATERIAIS AMORFOS D
O
S
Alguns materiais, em função das suas características químicas, têm maior dificuldade
em apresentar uma ordenação atômica de longo alcance, resultando em materiais amorfos em
C
I condições de processamento usuais. Além disso, a velocidade de resfriamento de um material
Ê
N a partir do estado líquido tem grande influência na sua cristalinidade: se um material sólido
C
I tipicamente cristalino (por exemplo, o Fe) for resfriado a partir do estado líquido de forma muito
A
brusca, pode não haver tempo para o arranjo dos átomos de forma ordenada, resultando em
E um material não cristalino ou amorfo. É possível obter materiais amorfos a partir da solidificação
P controlada de materiais tipicamente cristalinos.
R
O
P
R
I
E
D
A 5 MATERIAIS SEMICRISTALINOS
D
E
D
O
Alguns materiais apresentam características tanto de materiais cristalinos como de
S materiais amorfos. É o caso de vários tipos de polímeros. Os materiais semicristalinos são
M caracterizados por regiões bem definidas, contendo uma ordenação atômica ou molecular,
A
T caracterizando uma fração cristalina, e uma fração amorfa.
E
R
I
A
Os materiais poliméricos, que são constituídos por moléculas grandes, irão naturalmente
I apresentar restrições para o arranjo ordenado dessas moléculas. Nesses casos normalmente
S
UNIDADE 1 TÓPICO 4 47
encontramos uma estrutura mista, parte cristalina e parte amorfa. Polímeros que são obtidos
a partir da conformação de uma massa fundida, como é o caso do polietileno, polipropileno,
PVC, dentre outros, tendem a ser constituídos por cristalitos.
Os cristalitos são compostos por regiões cristalinas intercaladas por regiões amorfas,
que podem ser comparadas aos contornos de grão presentes nos materiais metálicos. A figura
a seguir mostra um esquema de um cristalito.
FIGURA 24 – CRISTALITO
C
I
FONTE: Callister (2007) Ê
N
C
I
A
TE! E
RTAN
IMPO
P
R
Alguns materiais tendem a adquirir uma configuração cristalina, O
enquanto outros se apresentam normalmente amorfos, em função P
R
de características de ligação química, tamanho das moléculas
I
envolvidas, o que dita a dificuldade ou facilidade em gerar arranjos E
ordenados de longo alcance. Materiais tipicamente cristalinos podem D
se tornar amorfos se a velocidade de resfriamento a partir do líquido A
D
for suficientemente elevada.
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
48 TÓPICO 4 UNIDADE 1
RESUMO DO TÓPICO 4
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 1 TÓPICO 4 49
IDADE
ATIV
AUTO
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
50 TÓPICO 4 UNIDADE 1
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 1
TÓPICO 5
DEFEITOS DA ESTRUTURA
CRISTALINA
1 INTRODUÇÃO
De fato, a grande maioria dos materiais apresenta algum tipo de imperfeição, em maior
ou menor quantidade, sendo estas responsáveis pela diferença de propriedades dos mesmos
em relação ao que poderíamos calcular a partir de suas características atômicas e arranjo C
I
geométrico. Neste tópico vamos discutir os principais tipos de defeitos, os seus mecanismos Ê
N
de surgimento, deslocamento no material sólido e sua implicação nas propriedades. C
I
A
P
R
2 DEFEITOS PONTUAIS O
P
R
I
Os átomos em um material sólido encontram-se, em temperatura ambiente, em E
D
movimento vibracional de elevada frequência (da ordem de 1013 vibrações por segundo) e A
D
amplitude de poucos milésimos de nanômetro. O aumento da temperatura de um material E
implica no aumento da vibração desses átomos. Na temperatura de fusão essas vibrações são D
O
tão elevadas que culminam na ruptura das ligações. S
M
A
As lacunas são um tipo de defeito pontual que consiste na ausência de um átomo T
E
na estrutura. Na prática, os materiais sempre irão apresentar lacunas, visto que a presença R
I
de lacunas aumenta a entropia (aleatoriedade do cristal), e este é um dos princípios da A
I
S
52 TÓPICO 5 UNIDADE 1
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D FONTE: Callister (2007)
E
D
O
S
M
A 3 IMPUREZAS
T
E
R
I Assim como a presença de lacunas, em materiais sólidos sempre existe uma
A
I quantidade de impurezas ou átomos estranhos na rede cristalina. De fato, a maioria dos
S
UNIDADE 1 TÓPICO 5 53
4 DISCORDÂNCIAS
Uma discordância consiste em um defeito onde localmente alguns dos átomos estão fora
C de alinhamento. As discordâncias podem ser de três tipos: linear, espiral ou mista (combinação de
I
Ê linear com espiral). A figura a seguir mostra esquematicamente uma discordância do tipo linear.
N
C
I FIGURA 27 – DISCORDÂNCIA DO TIPO LINEAR
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
FONTE: Callister (2007)
S
UNIDADE 1 TÓPICO 5 55
5 SISTEMAS DE ESCORREGAMENTO
• Proximidade dos átomos: Para a movimentação das discordâncias deve haver o rompimento
das ligações de um conjunto de átomos e a formação de nova ligação desses átomos que
se movimentaram. Portanto, quanto maior a distância entre os planos de átomos, maior a
barreira energética a ser vencida para o deslocamento da discordância. C
I
Ê
N
• Ligações covalentes: Como o movimento da discordância requer ruptura de ligações, o tipo de C
I
ligação e sua energia influenciam na facilidade ou dificuldade do movimento da discordância A
no material. Nos materiais poliméricos, as fortes ligações de carbono, covalentes, impedem
E
a movimentação das discordâncias.
P
R
O
• Ligações iônicas: Nos materiais cerâmicos, a diferença de carga entre os cátions e ânions P
R
faz com que haja uma repulsão e restrição ao movimento dos átomos quando átomos de I
E
mesma carga tendem a se aproximar. D
A
D
O movimento das discordâncias tende a ocorrer de acordo com sistemas de E
escorregamento específicos, diferentes para cada tipo de estrutura cristalina. Como vimos D
O
anteriormente, a movimentação das discordâncias é facilitada pela proximidade dos átomos. Nas S
diferentes estruturas cristalinas (CFC, CCC, HC), temos determinados planos que apresentam M
A
maior densidade de átomos. Da mesma forma, esses planos apresentam direções onde, T
linearmente, existe maior concentração de átomos. A combinação entre planos compactos e E
R
direções compactas gera sistemas de escorregamento, que indicam direções preferenciais para I
A
a movimentação das discordâncias, onde a energia gasta para essa movimentação é menor. I
S
56 TÓPICO 5 UNIDADE 1
Quando tracionamos uma barra de aço, em temperatura ambiente, existe uma tensão
aplicada na qual o material se deforma e, mesmo se retirarmos essa carga, o material permanece
deformado permanentemente. A essa tensão damos o nome de limite de escoamento (σy), que
é um parâmetro muito utilizado no cálculo de engenharia de componentes mecânicos. Em
termos de discordâncias, essa tensão corresponde ao início da sua movimentação. De fato,
a barra não irá se deformar somente quando houver a ruptura das ligações químicas, mas
sim quando houver o movimento das discordâncias, o que implica em uma tensão mecânica
muito mais baixa.
Um material pode ter vários sistemas de escorregamento, cada um com uma tensão
crítica para o movimento das discordâncias. À medida que vamos aumentando a tensão
aplicada no material, os sistemas de escorregamento vão sendo ativados, e as discordâncias
nos respectivos planos vão sendo movimentadas.
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R FONTE: Newell (2010)
I
A
I
S
UNIDADE 1 TÓPICO 5 57
UNI
Uma apresentação sobre a identificação dos planos e direções
nas estruturas cristalinas pode ser encontrada no item 3.8, p.
26 do livro Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução
(CALLISTER, 2002).
C
I
Ê
6 CONTORNOS DE GRÃOS N
C
I
A
Vimos anteriormente que, em um monocristal, o movimento das discordâncias ocorre em
E
todo o material. No entanto, os materiais comerciais são policristalinos, ou seja, são compostos
por vários cristais que nuclearam e cresceram a partir de um líquido resfriado. É válido então P
R
supormos que os planos e direções compactas estão orientados de forma diferente em cada O
P
cristal. No local onde os cristais se tocam, existem ligações químicas incompletas, consistindo R
I
em vacâncias e discordâncias, formando o que chamamos de contorno de grão. E
D
A
D
Os contornos de grão são pontos onde existe energia livre, ou seja, consistem em E
locais onde preferencialmente irão ocorrer reações químicas com outros materiais, como, por
D
exemplo, ácidos. Podemos visualizar os contornos de grão de muitos materiais sólidos após O
S
o polimento de sua superfície e o ataque químico controlado, utilizando uma solução ácida. O
M
ácido irá corroer preferencialmente os contornos de grão, onde a reflexão da luz é alterada, A
T
gerando linhas escuras ao observarmos no microscópio ótico. A figura 29a mostra o efeito de E
R
dispersão da luz gerado pelos contornos de grão. A figura 29b mostra uma micrografia ótica I
onde se podem observar os contornos de grão. A
I
S
58 TÓPICO 5 UNIDADE 1
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D FONTE: Callister (2007)
E
D
O
S Quando uma tensão mecânica de tração é aplicada em uma barra de aço policristalina,
M
existe uma tensão crítica onde o primeiro sistema de escorregamento irá ocorrer em grãos onde
A a orientação dos planos é favorável. Conforme aumentamos a tensão aplicada, as discordâncias
T
E se movimentam nos demais sistemas de escorregamento. No entanto, nesse caso, as
R
I discordâncias não estão livres para se movimentar: os contornos de grão são impedimentos
A
I
S
UNIDADE 1 TÓPICO 5 59
para o seu movimento, já que são regiões onde existe um desalinhamento de planos. Isso
significa que é necessária uma energia adicional para movimentar as discordâncias.
A partir disso podemos concluir que quanto maior o número de grãos do material (grãos
menores), maior a quantidade de contornos de grão por unidade de volume, e maior é a restrição
ao movimento das discordâncias. Sendo assim, quanto mais refinados os grãos do material,
maior tende a ser a tensão necessária para movimentar as discordâncias e gerar deformação
permanente no material. A equação de Hall-Petch nos permite estimar o limite de escoamento
do material em função do diâmetro médio dos grãos de um material:
Onde:
σy = tensão de escoamento
σ0 = constante do material
Ky = constante do material
D = diâmetro médio dos grãos.
UNI
Assim como os contornos de grão apresentam ligações
incompletas, sendo considerado um tipo de defeito, a superfície
C
externa dos componentes também pode ser considerada um I
defeito interfacial. Devido às ligações incompletas (energia livre), Ê
ali ocorrem preferencialmente reações químicas, como é o caso N
da oxidação. C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
60 TÓPICO 5 UNIDADE 1
RESUMO DO TÓPICO 5
• As discordâncias são defeitos lineares que podem se movimentar de acordo com sistemas
de escorregamento. O movimento das discordâncias gera a deformação plástica nos metais,
e seu efeito macroscópico é observado na tensão de escoamento.
• Os contornos de grão são considerados defeitos. Nessa região as ligações químicas não
estão completas, sendo um ponto preferencial para reações químicas com outros materiais.
A superfície externa do material apresenta as mesmas características.
C
I
Ê • A desordem estrutural no contorno de grão inibe a movimentação das discordâncias. Isto
N
C explica o fato de materiais com grãos menores (maior quantidade de contornos) apresentarem
I
A maior resistência ao escoamento.
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 1 TÓPICO 5 61
IDADE
ATIV
AUTO
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
62 TÓPICO 5 UNIDADE 1
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 1
TÓPICO 6
DIAGRAMAS DE FASES
1 INTRODUÇÃO
C
I
Ê
N
C
I
2 SOLUBILIDADE A
Vimos nos tópicos anteriores que para um determinado material podem ocorrer P
R
substituições parciais dos átomos do componente por outros, o que gera uma liga. Vimos O
também que em alguns casos átomos pequenos podem ocupar os espaços vazios entre os P
R
átomos e formam uma estrutura cristalina. A quantidade desses átomos “estranhos” que podem I
E
substituir ou ocupar os interstícios da estrutura é dependente da solubilidade. D
A
D
E
Considere um copo de água a 20°C, onde iremos adicionar açúcar. Adições crescentes
D
de açúcar podem ser realizadas, seguidas de uma mistura mecânica, gerando a solubilização O
do açúcar na água. A partir de certa quantidade de açúcar não ocorre mais solubilização: o S
3 FASES
No nosso exemplo da mistura de açúcar com água, quando esta ainda não atingiu
o limite de solubilidade, é composta por apenas uma fase. Quando se atinge o limite de
solubilidade, uma segunda fase faz parte do sistema: o açúcar depositado no fundo. Uma
fase consiste em uma porção homogênea da mistura, que apresenta características físicas e
químicas uniformes. Na mistura de açúcar com água, a solução é líquida e o açúcar depositado
no fundo é sólido.
4 EQUILÍBRIO DE FASES
P O sistema está em equilíbrio quando a sua energia livre se encontra em um valor mínimo,
R
O para uma combinação de temperatura, pressão e composição química. Quando aumentamos
P
R a temperatura, aumentamos a energia livre, portanto, isso induz uma mudança para outro
I
E estado, onde a energia livre é menor.
D
A
D
E Para mudança de um estado para o outro é necessária uma quantidade de tempo, que
D irá depender de cada situação particular. Em materiais sólidos, por exemplo, na maioria dos
O
S casos estaremos tratando de estados de não equilíbrio ou metaestáveis, pois a taxa para que se
M atinja o equilíbrio é extremamente lenta. Porém, na prática, a possibilidade de se obter misturas
A
T
em estados metaestáveis é de grande utilidade, como é o caso dos tratamentos térmicos dos
E materiais metálicos, como veremos nas unidades seguintes.
R
I
A
I
S
UNIDADE 1 TÓPICO 6 65
5 MICROESTRUTURA
UNI
Mais detalhes sobre as técnicas de microscopia e caracterização
microestrutural podem ser obtidos na Unidade 2 desse Caderno
de Estudos.
C
I
6 SISTEMAS BINÁRIOS ISOMORFOS Ê
N
C
I
Os sistemas isomorfos apresentam os diagramas de fases mais simples de serem A
• Linhas se apresentam no gráfico para separar fases ou conjuntos de fases distintas, que M
A
são função da composição e temperatura para determinado sistema. T
E
R
I
A figura a seguir mostra o diagrama de fases do sistema cobre-níquel. A
I
S
66 TÓPICO 6 UNIDADE 1
E • O gráfico apresenta uma fase α, que compreende uma solução sólida substitucional entre
P o Cu e o Ni;
R
O
P
R • Existe uma região intermediada por duas linhas (linha solidus e linha liquidus) onde coexistem
I
E a fase α, que é sólida, e uma fase líquida;
D
A
D
E • Acima da linha liquidus existe somente fase líquida;
D
O
S
• Os pontos de fusão do Cu puro e do Ni puro podem ser localizados sobre a ordenada
M
A
esquerda e direita: 1085°C e 1453°C, respectivamente.
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 1 TÓPICO 6 67
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
• Traçar uma isoterma que passa através do ponto B e intercepta as linhas solidus e a linha
liquidus;
• No ponto de interseção da isoterma com a linha liquidus e a linha solidus, traçar uma linha
vertical até a abcissa;
• A linha vertical a partir da linha liquidus fornece a composição da fase líquida (31,5%p de Ni
e 68,5%p de Cu) no ponto B.
• Traçar uma isoterma que passa pelo ponto B e intercepta a linha solidus e a linha liquidus;
C
I
Ê
• Calcular ou mensurar o comprimento total do segmento de reta entre a linha solidus e a linha
N
C liquidus (CT);
I
A
D
O
S
M
A
Onde %FL é o percentual da fase líquida.
T
E
R
I
A
I
S Onde %Fα é o percentual da fase α.
UNIDADE 1 TÓPICO 6 69
a) Com base nos valores de percentual do componente apresentado na abcissa para cada
ponto, obter os valor de CL e CS. O valor de CT pode ser então obtido pela equação:
CT = CS – CL
2) Com o auxílio de uma régua com graduação em mm, mensurar o comprimento das linhas
no diagrama de fases, obtendo os valores de CT, CL e CS.
CT = CS – CL = 42,5 – 31,1 = 1
C
I
Ê
N
De forma semelhante, o percentual da fase α é calculado de acordo com a expressão: C
I
A
P
R
O
P
Se aplicarmos a regra da alavanca para a composição do ponto B em temperaturas R
I
progressivamente inferiores a 1250°C, poderemos constatar que o percentual de fase líquida E
D
diminui à custa da formação da fase α. Esta observação converge com o que observamos na A
D
prática: o material tende a se solidificar progressivamente ao diminuirmos a temperatura. E
D
A figura a seguir mostra de forma esquemática como a composição 35%pNi-65%pCu O
S
se solidifica a partir do líquido fundido:
M
A
T
E
R
I
A
I
S
70 TÓPICO 6 UNIDADE 1
C
I FONTE: Callister (2007)
Ê
N
C
I
A • No ponto a da figura 32, a 1300°C, temos somente a fase líquida, ou seja, a composição
E
encontra-se completamente no estado líquido;
P
R
O • Ao resfriarmos até o ponto b, a 1260°C sobre a linha liquidus, teremos o surgimento do
P
R primeiro sólido da fase α, apresentando microestrutura semelhante ao apresentado na figura.
I
E A composição da fase α apresenta 42%pNi-58%pCu, que, conforme vimos anteriormente, é
D
A calculada no ponto onde a isoterma intercepta a linha solidus. A composição da fase líquida
D
E
ainda é aproximadamente a composição da liga, ou seja, 35%pNi-65%pCu;
D
O
S • Ao prosseguirmos com o resfriamento até 1250°C, mais fase α é formada à custa do líquido.
M Nesse ponto a composição da fase α e da fase líquida é diferente daquela apresentada no
A
T ponto b, embora a composição global da liga seja sempre 35%pNi-65%pCu. A proporção
E
R entre Ni e Cu vai sendo redistribuída à medida que vamos resfriando o material. Nesse ponto
I
A a composição da fase α é 32%pNi-68%pCu e da fase líquida é 43%pNi-57%pCu;
I
S
UNIDADE 1 TÓPICO 6 71
• No ponto d, o processo de solidificação está sendo finalizado, a 1220 °C. Nesse ponto a
composição da fase α é de aproximadamente 35%pNi-65%pCu, e da fase líquida residual
é de 24%pNi-76%pCu;
IMPO
RTAN
TE!
É importante relembrar que um defeito da microestrutura, que
consiste nos contornos de grão, é formado a partir do contato entre
os grãos formados já no processo de solidificação (fabricação) da
liga, como vimos nesse exemplo. Estes contornos de grão terão
influência na resistência mecânica do componente a ser fabricado
com a liga em questão.
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
72 TÓPICO 6 UNIDADE 1
C
I
Ê
N
C
I FONTE: Callister (2007)
A
E
O nível do gradiente de composição química entre o centro dos grãos até os contornos irá
P depender da taxa de resfriamento a partir do líquido. Como consequência desse desenvolvimento
R
O fora do equilíbrio, a linha solidus é deslocada para a direita, e o ponto de fusão da liga tende
P
R a ser inferior ao observado no diagrama de equilíbrio.
I
E
D Na prática, a estrutura zonada apresenta propriedades inferiores quando comparadas
A
D àquela desenvolvida no estado de equilíbrio, pelos seguintes aspectos:
E
D
O 1. A temperatura de fusão da liga será inferior àquela determinada pelo diagrama de fases no
S
estado de equilíbrio;
M
A
T 2. Ao reaquecermos a liga, a região mais próxima à dos contornos de grão tende a se fundir
E
R primeiro, pois sua composição apresenta maior percentual do elemento de menor ponto de
I
A
fusão da liga. Se ocorrer a formação de fase líquida em serviço, as propriedades mecânicas
I do componente são rapidamente deterioradas.
S
UNIDADE 1 TÓPICO 6 73
A solução prática para esse problema consiste no reaquecimento da liga abaixo da linha
solidus, mantendo por um período de tempo determinado essa temperatura. Com o aumento
da temperatura ocorre um aumento na taxa de difusão, e com isso os átomos podem se
movimentar dentro da estrutura sólida, de forma que o material tende a diminuir o gradiente de
composição química dos grãos. Dessa forma, a microestrutura tende a se aproximar daquela
observada para a condição de resfriamento no estado de equilíbrio.
A principal diferença entre estes é que nos diagramas de fases eutéticas existem regiões
onde coexistem duas fases, chamadas de α e β. A fase α é uma solução sólida substitucional onde
o soluto é o componente da esquerda do diagrama, e a fase α é uma solução sólida substitucional
onde o soluto é o componente da esquerda do diagrama. O componente da esquerda em seu
estado puro é considerado fase α, e o componente da esquerda é considerado fase β.
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
FONTE: Callister (2007) S
74 TÓPICO 6 UNIDADE 1
O sistema Fe-Fe3C é certamente um dos mais utilizados, visto que engloba a composição
da maioria dos aços e ferros fundidos, sendo estes de grande aplicação na engenharia. Embora
muitos desses materiais apresentem outros elementos de liga, além do Fe e C, o diagrama pode
ser utilizado para prever a microestrutura final e proporção entre as fases após resfriamento
desses materiais, e consequentemente, um indicativo de suas propriedades.
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S FONTE: Callister (2007)
M
A
T A fase α é chamada de ferrita, e consiste em uma estrutura do tipo CCC de Fe contendo
E
R
átomos de C alojados nos interstícios da estrutura cristalina. Os interstícios (espaços vazios na
I célula unitária) na estrutura CCC são pequenos, o que faz com que a quantidade de átomos de
A
I C que podem ser solubilizados na estrutura seja bastante limitada. A presença de ferrita pura
S
UNIDADE 1 TÓPICO 6 75
Ç ÃO!
ATEN
Observem que o campo onde somente existe ferrita (α) como única
fase da microestrutura no diagrama de fases, em temperatura
ambiente, consiste em uma estreitíssima faixa próxima à
composição do Fe puro. A solubilidade do C na estrutura CCC é
limitada.
P
• Em uma temperatura próxima a 900°C parte da austenita é convertida em ferrita. Temos R
O
essa composição de fases até a temperatura de 727°C; P
R
I
• Quando resfriamos o material abaixo de 727°C, a austenita remanescente se torna ferrita. E
D
Como a solubilidade do carbono na estrutura CCC é menor do que na estrutura CFC, o A
D
carbono excedente é “expulso” da estrutura, ocorrendo a precipitação da fase cementita. E
D
O
A liga contendo 0,76%p C é chamada de eutetoide. O ponto eutetoide consiste na S
transformação de uma fase sólida (austenita) em duas fases sólidas (cementita e ferrita). As M
A
ligas contendo percentual de carbono entre 0,022 e 0,76 são chamadas de hipoeutetoides. T
Esse intervalo de composição compreende os aços comuns ao carbono (SAE 1010, SAE 1020, E
R
SAE 1045, dentre outros). Uma microestrutura típica desses aços é apresentada seguir. I
A
I
S
76 TÓPICO 6 UNIDADE 1
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 1 TÓPICO 6 77
Para a determinação da composição química das fases e da proporção entre cada fase
na microestrutura utilizamos, respectivamente, as linhas de amarração e a regra da alavanca,
apresentadas nos tópicos anteriores. C
I
Ê
N
É válido observarmos que a formação das microestruturas apresentadas supõe um C
resfriamento em estado de equilíbrio. A utilização de outros elementos de liga e taxas de I
A
resfriamento diferenciadas pode alterar significativamente a microestrutura e as propriedades.
E
A utilização de elementos de liga e tratamentos térmicos das ligas de aço será discutida na
P
próxima unidade. R
O
P
R
I
E
D
A
D
9 DIAGRAMAS TERNÁRIOS E
D
O
Alguns materiais são compostos por três ou mais componentes, sendo que muitas S
vezes a representação gráfica de seus diagramas de fases se torna complexa e impraticável. M
A
Muitos dos sistemas cerâmicos são apresentados na forma de diagramas ternários, onde T
são desenhados três eixos, cada um correspondendo a percentual de 0% a 100% de cada E
R
componente. Um quarto eixo é utilizado para incluir a variável temperatura, perpendicular ao I
A
plano do diagrama. I
S
78 TÓPICO 6 UNIDADE 1
A necessidade de três dimensões para visualização deste tipo de gráfico torna a análise
bastante complexa. Muitas vezes utilizamos diagramas que apresentam uma projeção do eixo
da temperatura.
LEITURA COMPLEMENTAR
Edison Z. da Silva
M
A Com a chamada nanociência não foi diferente: novas técnicas experimentais saídas
T
E
de laboratórios de pesquisa mudaram a maneira como é possível estudar os constituintes da
R matéria, átomos e moléculas. Podemos dizer que a nanociência está acontecendo devido
I
A basicamente a três técnicas experimentais, a saber, o microscópio eletrônico de transmissão
I
S
UNIDADE 1 TÓPICO 6 79
O ouro, motivação dos alquimistas e material de grande valor, famoso por sua cor
amarelo brilhante, é um bom exemplo das mudanças que ocorrem no mundo nano. Suponhamos
que um bloco de ouro de um centímetro de lado seja dividido em oito bloquinhos de metade
desse tamanho. Os blocos ficaram menores, mas o resultado, o ouro nesses novos blocos, tem
as mesmas propriedades. Podemos continuar dividindo o bloco dessa forma e os novos blocos
ainda serão de ouro. Nosso senso comum nos informa que as propriedades do material não
dependem de seu tamanho. Quando chegamos à nanoescala, supondo que temos maneiras
de continuar dividindo o bloco de ouro, tudo muda, a cor do ouro, seu ponto de fusão, suas
propriedades químicas. A razão para isso é que as interações entre os átomos, que sofrem
uma média e desaparecem no ouro volumétrico, aqui têm um papel importante.
Esse processo que descrevemos, de dividir o material mais e mais até atingir a escala
nano, é um processo de nanofabricação. Como vamos do grande para o pequeno, esse
processo é conhecido como "de cima para baixo" (top-down), uma vez que se inicia com
uma grande estrutura tornando-a menor. Ao contrário, se iniciamos uma estrutura a partir dos
C
átomos que a constituem para formar a nanoestrutura, o processo chama-se "de baixo para I
Ê
cima" (bottom-up).
N
C
I
Afinal, o que é nano? O prefixo nano, "anão" em grego, abreviado por nm, significa um A
DNA tem tamanho da ordem de 100 nm, um fio de cabelo tem entre 50.000 e 100.000 nm de P
R
diâmetro. A escala nanométrica é a menor escala útil para a ciência de materiais. O
O desenvolvimento de novas áreas de pesquisa muitas vezes surge a partir de propostas P
R
visionárias que podem até parecer brincadeiras de tão revolucionárias e surpreendentes. A I
E
nanociência teve um desses momentos em 1959, quando o grande físico Richard Feynman D
A
fez uma palestra no encontro anual da Sociedade Americana de Física (APS) com o título "Há D
E
Muito Espaço Lá Embaixo" ("There's Plenty of Room at the Bottom") e muitos acharam que
D
ele apresentava apenas uma brincadeira. Nessa palestra Feynman propunha que a ciência do O
muito pequeno, a escala nanométrica, deveria ser surpreendente e que, se explorada, poderia S
entre elas é cada vez maior. A grande mudança denominada nanociência se deve ao uso e
desenvolvimento de técnicas da física e da química - que continuam sendo aperfeiçoadas e
constituem um desenvolvimento incremental da capacidade de pesquisa - e principalmente
ao desenvolvimento de novos equipamentos que permitem a pesquisa na escala dos átomos,
estes sim causando uma quebra de paradigma, ou seja, a capacidade de manipulação. É
importante distinguir a nanociência que se faz agora, um campo em extremo desenvolvimento,
da nanotecnologia, que está apenas em sua infância.
Esta é uma área muito intensa de pesquisa básica e várias tentativas de transformação
em produtos estão sendo feitas. Os nanotubos têm propriedades interessantes de absorção
e emissão de luz e já existem telas similares às LCDs feitas com nanotubos de carbono. Os
nanotubos de carbono podem ser usados para armazenar fármacos e outras moléculas com
possíveis aplicações em medicina e em armazenamento de energia. Muitas outras aplicações
estão em desenvolvimento.
Mais recentemente, em 2004, foi mostrado que o grafeno, o material que se transforma
em bolas de carbono ou nanotubos, é estável, e muita pesquisa é feita agora sobre esse
C
I material, principalmente com esperança de uso em nanoeletrônica.
Ê
N
C A evolução da física de semicondutores levou à produção dos chamados pontos
I
A quânticos (quantum dots), nanocristais semicondutores nanométricos, por exemplo, ZnS, CdS,
E GaAs, entre outros. Esses materiais, nessa escala de tamanho, têm suas propriedades elétricas
P e óticas modificadas por efeitos quânticos de tamanho. Portanto, cor depende de tamanho,
R
O
como no caso das partículas de ouro discutido anteriormente. Esses materiais têm aplicações
P em novos tipos de laser e diodos emissores de luz (LEDs). Os pontos quânticos já são usados
R
I como marcadores biológicos. Pontos quânticos foram usados para fazer a imagem do fluxo do
E
D sangue em ratos. Marcadores biológicos já existem no mercado.
A
D
E
O uso de nanocristais apresenta possibilidades interessantes para seu uso em terapias.
D
O
Nanopartículas de ouro têm picos de absorção, transmissão e reflexão de luz em diferentes
S comprimentos de onda. Partículas selecionadas em tamanhos que maximizam a absorção
M de luz de um determinado comprimento de onda, quando colocadas em solução na corrente
A
T sanguínea, tendem a se acumular no entorno de tumores cancerígenos, pois nessas regiões
E
R o fluxo é muito grande. A exposição por luz laser do comprimento de onda de absorção causa
I
A um aquecimento de até 10º C matando as células cancerígenas e com quase nenhum efeito
I no tecido sadio. É possível também cobrir nanopartículas de ouro com pequenas moléculas,
S
UNIDADE 1 TÓPICO 6 81
principalmente os tióis, que contêm enxofre. Trocando os tióis por outras moléculas, podemos
usar as nanopartículas como moléculas funcionais, capazes de realizar tarefas como conduzir
fármacos até os pontos onde devem atuar no organismo.
P
R
Produtos que incorporam nanotecnologia já existem no mercado, exemplos são as bolas O
de tênis da líder mundial Wilson, que usa uma dupla camada em suas bolas, incorporando P
R
assim, uma camada micrométrica com inclusão de nanopartículas, o que torna a vida útil da I
E
bola maior, pois evita que ela murche por perda do gás interior. Essas bolas são usadas desde D
A
2002 como as bolas oficiais da Copa Davis de Tênis. A empresa Nanoledge produz raquetes D
E
de tênis com nanotubos de carbono em sua estrutura, proporcionando um material mais leve
D
e resistente. O
S
aconteça no local do organismo onde deve atuar, assim permitindo que o seu uso seja mais
econômico e eficiente.
FONTE: SILVA, Edison Z. da. Professor do Instituto de Física Gleb Wataghin da Unicamp.
Disponível em: <http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S0103-
99892008000100008&script=sci_arttext>. Acesso em: 3 mar. 2012.
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 1 TÓPICO 6 85
RESUMO DO TÓPICO 6
• Os diagramas de fases presumem que existe uma condição de equilíbrio, o que na prática
pode gerar algumas divergências em relação à microestrutura obtida em função das taxas
de resfriamento empregadas.
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
86 TÓPICO 6 UNIDADE 1
IDADE
ATIV
AUTO
1 Defina isoterma.
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 1 TÓPICO 6 87
IAÇÃO
AVAL
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
88 TÓPICO 6 UNIDADE 1
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 2
CARACTERIZAÇÃO E PROPRIEDADES
DOS MATERIAIS
Objetivos de aprendizagem
D
TÓPICO 3 – PROPRIEDADES ELÉTRICAS O
S
TÓPICO 4 – PROPRIEDADES MAGNÉTICAS
M
A
TÓPICO 5 – PROPRIEDADES TÉRMICAS T
E
TÓPICO 6 – PRINCIPAIS TÉCNICAS DE R
CARACTERIZAÇÃO DE MATERIAIS I
A
I
S
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 2
TÓPICO 1
PROPRIEDADES MECÂNICAS
1 INTRODUÇÃO
P
Muitas características importantes são obtidas através da análise de um gráfico de R
O
tensão vs. deformação, como veremos a seguir. P
R
I
E
D
A
D
E
2 TENSÃO E DEFORMAÇÃO D
O
S
Vimos na Unidade 1 que a energia de ligação dos átomos é um fator crucial para as M
A
características de rigidez do material. Ao analisarmos o comportamento macroscópico de um T
E
material, é esperado que as características particulares da sua estrutura tenham alguma relação R
I
com as suas propriedades. De fato, o efeito da energia de ligação, tipo de arranjo cristalino, A
I
S
92 TÓPICO 1 UNIDADE 2
OS!
FU TUR
DOS
ESTU
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D Fonte: O autor
E
D
O
S Como podemos observar, a relação entre a tensão e a deformação varia com a magnitude
M da tensão aplicada. Podemos identificar três regiões distintas no gráfico, sendo que cada região é
A
T
delimitada por um valor de tensão, onde ocorrem alterações específicas no corpo-de-prova.
E
R
I A seguir analisaremos cada aspecto do gráfico de tensão vs. deformação.
A
I
S
UNIDADE 2 TÓPICO 1 93
3 MÓDULO DE ELASTICIDADE
Como já estudamos, materiais com energia de ligação mais elevada tendem a apresentar
maior rigidez. Na figura a seguir são apresentados esquematicamente duas curvas de tensão
vs. deformação correspondentes a dois materiais de classes distintas: um material cerâmico
(material frágil) e um metal dúctil (material dúctil), que apresentarão energias de ligação distintas,
em função do tipo de ligação e dos átomos envolvidos.
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
Fonte: O autor D
O
S
O material cerâmico (frágil) irá apresentar uma maior rigidez quando comparado ao M
material metálico. Isso implica que, ao aplicarmos a mesma tensão mecânica nos dois materiais, A
T
perceberemos que o material cerâmico irá apresentar uma deformação elástica bastante inferior E
R
àquela apresentada pelo metal. I
A
I
S
94 TÓPICO 1 UNIDADE 2
4 TENSÃO DE ESCOAMENTO
Nos materiais metálicos, esta tensão pode ser, em muitos casos, facilmente identificada
no gráfico de tensão vs. deformação. Ela marca o início da movimentação das discordâncias. A
partir desse ponto, uma parcela da energia mecânica que estamos impondo ao material passa
a ser utilizada para a movimentação destes defeitos, resultando em deslizamento de planos
C de átomos, o que implica em uma deformação permanente.
I
Ê
N
C
I TE!
A RTAN
IMPO
E
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
Fonte: Callister (2007) R
I
E
D
A
D
E
5 TENSÃO DE RESISTÊNCIA D
O
S
M
Durante a aplicação crescente de carga mecânica de tração em um material metálico, A
após atingir a tensão de escoamento, o material irá se deformar permanentemente (permanece T
E
deformado ao retirarmos a carga). O que observamos macroscopicamente é o aumento do R
I
comprimento e diminuição da espessura do componente. Essa condição prossegue até que o A
I
material atinja a sua tensão de resistência (σr). S
96 TÓPICO 1 UNIDADE 2
6 TENSÃO DE RUPTURA
E
A tensão de ruptura é registrada no momento da ruptura (falha) do componente.
P
R Para efeito de projeto ela apresenta pouca utilidade. Na maioria dos casos um produto
O
P com deformação permanente em serviço já pode ser considerado inadequado, sendo esta
R
I correspondente a uma tensão acima da tensão de escoamento.
E
D
A
D
E
D
O
S 7 RESILIÊNCIA, TENACIDADE, DUCTILIDADE E FRAGILIDADE
M
A
T Além do módulo de elasticidade e as tensões de escoamento, resistência e ruptura,
E
R outras informações importantes podem ser obtidas pela análise do gráfico de tensão vs.
I
A
deformação.
I
S
UNIDADE 2 TÓPICO 1 97
Conforme explanado anteriormente, o gráfico de tensão vs. deformação pode ser dividido
em duas partes: uma região de regime elástico (tensões menores que a tensão de escoamento)
e regime plástico (tensões acima do limite de escoamento). A figura a seguir mostra a região
de regime elástico e regime plástico.
Fonte: O autor
C
Durante a aplicação da carga mecânica no componente, a energia mecânica é utilizada I
Ê
para o deslocamento entre os átomos na região elástica. Portanto, o valor máximo de energia N
C
elástica que um material pode absorver está relacionado com o módulo de elasticidade (E) e I
A
a tensão de escoamento (σe). Um material que absorve uma grande quantidade de energia no
E
campo elástico é chamado de resiliente.
P
R
A resiliência pode ser calculada pela área abaixo da região elástica no gráfico de tensão O
P
vs. deformação. Essa propriedade se relaciona diretamente com a resistência ao impacto dos R
I
materiais. E
D
A
D
Um material tenaz apresenta como característica uma elevada capacidade de absorver E
energia mecânica através da deformação plástica. O nível de tenacidade dos materiais pode D
O
ser avaliado pela área abaixo da curva tensão vs. deformação na região plástica. A tenacidade, S
portanto, se relaciona com uma elevada tensão de resistência e/ou um elevado alongamento
M
ou deformação do componente antes da sua ruptura. A tenacidade do material é um parâmetro A
T
importante quando desejamos conformar mecanicamente um componente metálico, como no E
R
dobramento e conformação de chapas. I
A
I
S
98 TÓPICO 1 UNIDADE 2
D • Quantidade e tipo de defeitos da estrutura: Nos materiais onde a deformação é pelo movimento
O
S das discordâncias (metais), a quantidade destes defeitos está diretamente relacionada com a
M capacidade de deformação. Quantidades elevadas de discordâncias propiciam a ancoragem
A
T de discordâncias, restringindo a deformação.
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 2 TÓPICO 1 99
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
Fonte: NSW HSC. Engineering Studies. Disponível em: <http://hsc.csu.edu.au/engineering_ D
E
studies/application/civil/1-1/answers.html>. Acesso em: 7 abr. 2012.
D
O
De acordo com o diagrama de fases Fe-Fe3C apresentado na Unidade 1, constatamos S
menos simétrica que a cúbica, com poucos sistemas de escorregamento. Dessa forma, as
discordâncias não se movimentam facilmente pela cementita. Além disso, a cementita é um
composto cerâmico, sedo intrinsecamente frágil e mais duro do que a ferrita.
C
I
Ê
N
C
I
A Fonte: ADAPTADO DE: ohba LABORATORY. Disponível em: <http://www.
geocities.jp/ohba_lab_ob_page/Structure/Cementite.JPG>. Acesso em: 8
E
abr. 2012
P
R
O
P Portanto, ao aumentarmos o teor de carbono, aumentamos progressivamente
R
I a fração de perlita, e o que se observa é um aumento na dureza, resistência ao
E
D escoamento e à tração. No entanto, a tenacidade (capacidade de absorver energia
A
D mecânica) e a ductilidade decrescem.
E
C
I
Ê
N
C
I
A
P
Fonte: Callister (2007) R
O
P
A modificação da forma da cementita, através de tratamentos térmicos, afeta diretamente R
I
as suas propriedades. De fato, esse é um método bastante utilizado para alterar as propriedades E
D
dos aços. A
D
E
D
!
TUROS O
DO S FU S
ESTU
M
A
O tratamento térmico dos aços será objeto de nosso estudo no T
decorrer da Unidade 3! E
R
I
A
I
S
102 TÓPICO 1 UNIDADE 2
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A FONTE: QINGDAO HENGDA GLASS TECHNOLOGY CO. LTD. Disponível em: <http://
I en.hd-glass.com/ProductExhibitlist/&categoryid=959d99d9-9aaa-4e26-a0c6-
S
ac9e8f7efb0d.html>. Acesso em: 7 abr. 2012.
UNIDADE 2 TÓPICO 1 103
Nos materiais frágeis, como o movimento das discordâncias é impedido por barreiras E
D
A falha de um componente por fadiga acontece em aplicações onde o componente O
está sujeito a cargas cíclicas (asas de aviões, componentes de máquinas etc). De fato, a maior S
incidência de falhas em materiais metálicos tem como causa a fadiga, e há um fator bastante M
A
importante que contribui para esse fato: as tensões de falha por fadiga são substancialmente T
E
menores do que a tensão de resistência do material. Portanto, em componentes onde o R
I
carregamento é cíclico, algumas considerações adicionais de projeto precisam ser aplicadas. A
I
S
104 TÓPICO 1 UNIDADE 2
A falha por fadiga tem característica frágil, inclusive em metais dúcteis. O processo de
falha por fadiga é caracterizado por três etapas:
• Crescimento da trinca: Uma vez formada, a trinca se propaga lentamente através do material,
através de planos da estrutura com elevada tensão de cisalhamento. Durante a propagação
da trinca, em função das tensões cisalhantes envolvidas, são formadas texturas conhecidas
por marcas de praia.
• Fratura final: Ao atingir um tamanho crítico, a trinca se propaga rapidamente, gerando a falha
catastrófica do componente.
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D FONTE: BIOMED SEARCH. Disponível em: <http://www.biomedsearch.com/nih/
A Modular-titanium-alloy-neck-adapter/20047653.html>. Acesso em: 7 abr. 2012.
D
E
D
O
A resistência à fadiga é determinada em ensaios laboratoriais. Aplica-se inicialmente
S uma amplitude de tensão alta, da ordem de 2/3 da resistência à tração, registrando-se o número
M de ciclos (N) até que ocorra a fratura. Os ensaios seguintes são conduzidos com tensões
A
T progressivamente menores, resultando em valores de N maiores. Com esses dados, após
E
R tratamento estatístico, monta-se um gráfico de amplitude de tensão em função do número de
I
A
ciclos (N) em escala logarítmica.
I
S
UNIDADE 2 TÓPICO 1 105
A partir desses dados pode-se ter um direcionamento para a seleção de materiais para
aplicações em situações de fadiga.
Como regra geral, a resistência à fadiga se apresenta menor para materiais com C
menor capacidade de encruamento (capacidade de deformação do material). Sendo assim, I
Ê
um material mais “mole”, que apresente menor resistência ao escoamento e à tração, porém N
C
maior capacidade de se deformar plasticamente, pode ter um comportamento mais adequado I
A
em fadiga do que um material de elevada dureza e resistência à tração. Isso acontece porque
E
a propagação da trinca é restringida pelo encruamento (deformação plástica localizada). Essa
P
deformação plástica localizada gera um arredondamento da ponta da trinca, diminuindo a R
O
concentração de tensão. P
R
I
Utilizando uma lógica semelhante, o tratamento de superfície dos aços, tais como o E
D
jateamento e cementação, geram tensões compressivas na superfície, fazendo com que a A
D
propagação da trinca seja dificultada. Esse procedimento aumenta a vida útil em fadiga dos E
componentes mecânicos. D
O
S
De uma forma geral, para componentes que podem sofrer processo de fadiga em M
A
aplicação, a introdução de concentradores de tensão, tais como chavetas, roscas e acabamento T
E
superficial grosseiro devem ser, na medida do possível, evitados. R
I
A
I
S
106 TÓPICO 1 UNIDADE 2
13 FLUÊNCIA
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E Fonte: Callister (2007)
D
A
D
E
A curva de fluência é caracterizada por três regiões: primária, secundária e terciária:
D
O
S • Fluência primária: Nessa etapa ocorre uma diminuição crescente na taxa de deformação,
M o que nos sugere que algum fenômeno está restringindo a deformação por fluência. De
A
T fato, nessa etapa ocorre um endurecimento (encruamento) crescente do material, pois a
E
R deformação gera discordâncias que restringem os movimentos umas das outras, da mesma
I
A forma como ocorre ao tracionarmos um material em temperatura ambiente;
I
S
UNIDADE 2 TÓPICO 1 107
• Fluência terciária: Essa etapa consiste no final do processo, onde ocorre a deformação aparente
e localizada. A partir desse ponto, a ruptura pode ocorrer em um intervalo de tempo curto.
A figura a seguir mostra um gráfico de tensão em função do tempo de vida para uma
liga carbono-níquel com baixo teor de níquel em três temperaturas diferentes. Observe o efeito
da temperatura no tempo de vida para uma mesma tensão.
C
I
Ê
N
C
I
A
P
Fonte: Callister (2007) R
O
P
R
I
Algumas ligas metálicas são mais adequadas para aplicações em fluência. Uma elevada E
D
temperatura de fusão, elevado módulo de elasticidade (rigidez) e maior tamanho de grão geram A
D
materiais com maior resistência à fluência. Em relação ao tamanho de grão, o comportamento E
é exatamente o contrário do que verificamos na resistência à tração em temperatura ambiente,
D
onde materiais com grãos mais refinados apresentam melhor desempenho mecânico. Em O
S
materiais com grãos maiores, o deslizamento entre os grãos é minimizado, o que beneficia a
M
resistência à fluência. A
T
E
R
Para aplicações em fluência se utilizam os metais refratários, superligas de cobalto e I
níquel, e aços inoxidáveis. A
I
S
108 TÓPICO 1 UNIDADE 2
RESUMO DO TÓPICO 1
E
sem que haja a ruptura.
P
R • Um material pode ser dúctil, quando apresenta deformação plástica antes da ruptura, ou frágil,
O
P quando a deformação plástica do componente antes da ruptura é pequena ou inexistente.
R
I
E
D
• Os parâmetros de resistência mecânica dos materiais se relacionam com a microestrutura,
A tensões térmicas, presença de defeitos como discordâncias, e geração de discordâncias
D
E com a deformação plástica.
D
O
S • Um material exposto a esforços cíclicos pode fraturar em tensões menores do que os valores
M calculados pelo ensaio de tração. Algumas considerações de projeto adicionais devem ser
A
T
consideradas nesses casos.
E
R
I • A fluência ocorre quando as temperaturas são suficientemente elevadas e estão associadas
A
I a tensões ou pressões em serviços.
S
UNIDADE 2 TÓPICO 1 109
IDADE
ATIV
AUTO
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
110 TÓPICO 1 UNIDADE 2
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 2
TÓPICO 2
PROPRIEDADES ÓTICAS
1 INTRODUÇÃO
Ao iniciarmos nosso estudo sobre as propriedades óticas dos materiais, é natural que a
nossa visão sobre a abrangência desse tema seja limitada. Possivelmente a primeira imagem
que temos sobre o assunto está relacionada ao desenvolvimento e aplicação de lentes. De
fato, o desenvolvimento das lentes nos possibilitou conhecermos mais sobre os materiais e
sobre outras ciências com o advento da microscopia ótica, e também dos telescópios.
No entanto, as propriedades óticas dos materiais também têm relação com alguns dos
mais recentes desenvolvimentos tecnológicos: o laser e a fibra ótica. Sem o desenvolvimento
C
constante nessa área não teríamos disponíveis os leitores de CD, DVD (e mais recentemente, I
Ê
de Blu-Ray). A invenção e aplicação da fibra ótica permitiram a troca rápida de informações, N
C
com perdas bastante inferiores aos cabos de cobre. I
A
Considerando somente estas duas invenções, podemos dizer que o estudo das E
D
O
2 PRINCÍPIOS BÁSICOS S
M
A
Para facilitar o estudo, vamos relembrar alguns conceitos de física relacionados às T
E
propriedades óticas: R
I
A
I
S
112 TÓPICO 2 UNIDADE 2
• Fóton: O fóton é uma partícula elementar que pode se comportar como uma partícula ou como
uma onda. A luz é formada por um grande número de fótons: quanto maior a quantidade de
fótons, maior é a intensidade da luz;
• Comprimento de onda (λ): O comprimento de uma onda é definido pela distância entre
dois picos da onda, para ondas senoidais. Ele é inversamente proporcional à frequência, e
apresenta normalmente unidade em µm (mícron);
• Frequência (f): A frequência de uma onda exprime a quantidade de ciclos dessa onda por
unidade de tempo (s). A frequência é inversamente proporcional ao comprimento de onda,
e sua unidade é o Hertz (Hz);
• Velocidade da luz (c): A velocidade da luz é constante (c = 300.000 Km/s, ou 3 x 108 m/s no vácuo).
A velocidade da luz se relaciona com a frequência e comprimento de onda pela equação:
3 REFRAÇÃO
C Em materiais transparentes, a luz que é transmitida para o interior sofre uma diminuição
I
Ê em sua velocidade. A razão entre a velocidade da luz (c) no vácuo (3 x 108 m/s) e a velocidade
N
C da luz no material (υ) é chamada de índice de refração (η).
I
A
P
R
O
P Duas características influenciam no índice de refração: a polarização e o comprimento
R
I de onda da luz incidente.
E
D
A
D Como a luz consiste em uma onda eletromagnética, que é um campo elétrico que oscila
E
rapidamente, esse campo elétrico, ao atravessar o material, interage com os elétrons dos
D átomos, deslocando a nuvem eletrônica em relação ao núcleo dos átomos, gerando polarização.
O
S Como resultado, as ondas eletromagnéticas, ao atravessarem o meio, sofrem uma redução
M em sua velocidade.
A
T
E
R Ao incidirmos uma luz branca sobre um prisma, notamos que a luz que atravessa o
I
A prisma é decomposta em várias cores. De fato, a luz branca visível é uma composição de todas
I
S as cores, e contém todos os comprimentos de onda de luz visível.
UNIDADE 2 TÓPICO 2 113
4 REFLEXÃO
Quando uma luz passa de um meio para outro com índice de refração diferente (por
exemplo, do ar para o vidro), parte dessa luz é dispersa, e parte da luz atravessa o meio. A esse
fenômeno damos o nome de reflexão. A refletividade é relacionada com o índice de refração
C
dos meios pela seguinte equação: I
Ê
N
C
I
A
P
Quando um dos meios é o ar, cujo índice de refração é próximo a um, a equação pode R
O
ser reescrita da seguinte forma: P
R
I
E
D
A
D
E
D
Onde ns é o índice de refração do material. O
S
M
Portanto, quanto maior for o índice de refração do sólido, maior será a sua refletividade. A
T
E
R
I
A
I
S
114 TÓPICO 2 UNIDADE 2
5 ABSORÇÃO
Um material não metálico pode absorver fótons de luz incidentes. Esse fenômeno ocorre
dependendo da energia desse fóton: a energia de excitação deve ser maior do que a energia
entre a banda de valência e a banda de condução dos átomos do material. A energia do fóton
de luz incidente é utilizada para promover um elétron da banda de valência para a banda de
condução, gerando assim um elétron livre na banda de condução, e um buraco na banda de
valência. A figura a seguir ilustra esse processo.
C
I
Ê
N
C
I
A
Fonte: Callister (2007)
E
Dependendo dos valores de energia entre as bandas de valência e condução, o material
P pode ser transparente ou opaco à luz visível. Em geral, todo material não metálico se apresenta
R
O opaco para certo comprimento de onda de luz incidente (fótons com energia específica). A dissipação
P
R da energia absorvida pode ser pela geração de fótons ou dissipada na forma de calor.
I
E
D
A
D
E
D
6 TRANSMISSÃO
O
S
7 COR
O fenômeno que observamos como cor está relacionado com a absorção de luz incidente,
porém de forma seletiva em relação ao comprimento de onda. A absorção seletiva se dá pela
excitação de elétrons. Quando um fóton de determinada energia é absorvido, gerando uma
excitação de um elétron, o posterior decaimento desse elétron emite novamente um fóton.
Essa emissão nem sempre é na mesma frequência, portanto a cor irá depender da frequência
de luz transmitida, mas também da frequência reemitida pelo material.
C
Nos vidros inorgânicos a coloração é obtida através da incorporação de íons ao vidro no I
Ê
estado fundido: Cu2+ (azul, verde), Co2+(azul,violeta), Cr3+ (verde), dentre outros. A transmitância N
C
do vidro é relativamente constante em todo o intervalo de comprimento de onda. A introdução I
dos íons supracitados permite a absorção seletiva. A figura a seguir mostra a fração de energia A
P
Figura 52 – Energia radiante em função do comprimento de R
onda para um vidro verde O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
Fonte: Callister (2007) I
S
116 TÓPICO 2 UNIDADE 2
8 OPACIDADE E TRANSLUCIDEZ
9 LASERS
Laser significa amplificação da luz por emissão estimulada de radiação (do inglês:
light amplification by stimulated emission of radiation). As transições eletrônicas que
estudamos anteriormente são espontâneas. Nos lasers, essas transições são geradas por
C um estímulo externo.
I
Ê
N
C
Um laser de rubi (monocristal de Al2O3 com 0,05% de Cr3+) possui estados eletrônicos
I que são propícios ao desenvolvimento de lasers. Ele funciona da seguinte forma:
A
E
• Utiliza-se um bastão de rubi, cujas extremidades são extremamente planas e polidas.
P
R Ambas as faces são prateadas, sendo uma delas totalmente reflexiva, e outra parcialmente
O
P reflexiva;
R
I
E • O bastão é iluminado com uma lâmpada de flash de xenônio. Os fótons da lâmpada de
D
A xenônio apresentam comprimento de onda de 0,56µm, excitando os elétrons do Cr3+ até um
D
E nível de energia mais alto;
D
O
S • Os elétrons excitados decaem para estados metaestáveis específicos, gerando uma
avalanche de decaimentos. Os fótons que são emitidos paralelamente ao eixo do bastão
M
A são transmitidos através da superfície parcialmente prateada ou refletidos pela superfície
T
E totalmente prateada. Fótons emitidos em outras direções são perdidos;
R
I
A
I • O feixe de luz viaja repetidamente para frente e para trás do bastão, e sua intensidade
S
UNIDADE 2 TÓPICO 2 117
vai aumentando conforme novas emissões vão sendo estimuladas. Por fim, um feixe
monocromático de alta intensidade e bastante colimado é emitido.
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
Fonte: Callister (2007) O
S
M
A
Os lasers podem ser focados em determinados pontos para gerar aquecimento T
E
localizado, e por esse motivo são bastante utilizados para cortes, usinagens e procedimentos R
I
cirúrgicos. Devido à alta coerência do feixe, este também pode ser utilizado para fazer medições
A
de longa distância com elevada precisão. I
S
118 TÓPICO 2 UNIDADE 2
10 FIBRAS ÓTICAS
As fibras óticas apresentam grande vantagem sobre a transmissão por fios de cobre,
a saber:
• Maior densidade de transmissão (duas pequenas fibras óticas podem transmitir até 24 mil
ligações telefônicas simultaneamente);
Uma fibra é composta por núcleo, recobrimento e revestimento. O sinal passa através do
C núcleo, sua trajetória é restringida pelo recobrimento, e o revestimento protege a fibra contra abrasão
I e pressões externas. As fibras são fabricadas em vidro de sílica de alta pureza, com diâmetros
Ê
N que variam de 5-100µm. Devido à fina espessura, o material é praticamente isento de defeitos, o
C
I que contribui para a elevada eficiência das fibras, além de serem altamente resistentes.
A
E Um aspecto importante das fibras óticas é que o sinal no interior da fibra sofre reflexão
P total, ou seja, os raios que estejam se deslocando em direções oblíquas são refletidos
R
O novamente para o interior do núcleo, o que garante a intensidade do sinal mesmo em longas
P distâncias. Essa reflexão total é conseguida através do ajuste do índice de refração do núcleo
R
I e do recobrimento da fibra.
E
D
A
D
O índice de refração da fibra é ajustado de forma parabólica do centro do núcleo para
E a periferia, com a utilização controlada de impurezas de B2O3 ou GeO2. Os raios de luz que se
D deslocam pela periferia em um percurso mais longo seguem a uma maior velocidade (índice de
O
S refração menor), enquanto os raios no centro são forçados a se deslocarem a uma velocidade
M
menor (índice de refração maior). Dessa forma, os raios de luz chegam ao final do percurso
A praticamente ao mesmo tempo.
T
E
R
I As perdas de sinal nesse tipo de material devem ser mínimas. A perda de potência de
A uma fibra ótica de 16 km deve ser equivalente à perda de potência através de um vidro de
I
S janela comum de 25mm de espessura.
UNIDADE 2 TÓPICO 2 119
RESUMO DO TÓPICO 2
• A luz, ao atravessar um meio diferente do vácuo, tem menor velocidade. A razão entre a
velocidade da luz no vácuo e no meio é chamada de índice de refração.
• Materiais não metálicos absorvem fótons com energia maior que o intervalo entre a banda
de valência e a banda de condução.
• A cor de um material está relacionada à absorção seletiva de fótons com energia específicos,
associados a determinados comprimentos de onda.
C
• Alguns materiais podem ser opacos ou translúcidos, dependendo do grau de espalhamento I
Ê
da luz por microconstituintes (cristais, fases ou poros). N
C
I
A
• Os lasers podem ser obtidos através de condições específicas de emissão controlada de
E
fótons.
P
R
• As fibras óticas são elementos de transmissão de informação através de fótons, e apresentam O
P
inúmeras vantagens frente à transmissão de informação por meio de elétrons. R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
120 TÓPICO 2 UNIDADE 2
IDADE
ATIV
AUTO
4 Quais as vantagens da utilização das fibras óticas frente aos tradicionais cabos
elétricos para transmissão de informações?
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 2
TÓPICO 3
PROPRIEDADES ELÉTRICAS
1 INTRODUÇÃO
Para todos os casos, as propriedades elétricas irão depender de vários fatores, muitos
dos quais já estudamos nos tópicos anteriores: tipo de ligação química, tipos de átomos
envolvidos, presença de elétrons livres, microestrutura e defeitos da estrutura. Um conjunto de
C
características define, além das propriedades mecânicas dos materiais, as suas características I
Ê
elétricas. N
C
I
A
Alguns dos conceitos para entendimento de fenômenos relacionados a propriedades
elétricas nos materiais necessitam conhecimento mais aprofundado de física quântica. Nesse E
D
O
2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS S
M
A
Do estudo dos tópicos anteriores, aprendemos que os átomos são compostos de T
E
partículas elementares. Embora a condutividade elétrica possa estar relacionada ao movimento R
I
de íons, ela está mais frequentemente vinculada ao movimento das partículas com cargas A
I
elétricas negativas: os elétrons. A eletricidade está relacionada ao movimento de elétrons. S
122 TÓPICO 3 UNIDADE 2
Outra grandeza bastante utilizada é a condutividade, que nada mais é do que o inverso
C da resistividade:
I
Ê
N
C
I
A
E
A unidade tensão é dada em Volts (V), de resistência em Ohms (Ω) e de corrente i em
P Ampéres (A). A resistividade é dada em Ω.m, e a condutividade em (Ω.m)-1
R
O
P
R
I
E
D
A 3 RIGIDEZ DIELÉTRICA
D
E
D
O
A rigidez dielétrica é uma propriedade do material que se relaciona com a sua capacidade
S de manutenção das características de isolamento de eletricidade. Ela é avaliada aplicando-
M se um campo elétrico crescente em um material com espessura conhecida. A tensão onde
A
T o material passa de isolante a condutor é identificada em ensaios específicos. A unidade de
E
R rigidez dielétrica é V/m.
I
A
I
S
UNIDADE 2 TÓPICO 3 123
A rigidez dielétrica do ar é de 3 x 106 V/m, enquanto o Nylon® exibe uma rigidez dielétrica
da ordem de 14 x 106 V/m.
4 MATERIAIS CONDUTORES
Nos materiais metálicos, além dos elétrons das camadas de valência, existem os
elétrons mais externos, que, em função das características da ligação metálica, podem ser
movimentados para uma chamada banda de condução, utilizando para isso uma energia
relativamente baixa. Se conseguirmos liberar esses elétrons das forças que os mantêm ligados
a átomos específicos, esses podem ser acelerados pela presença de uma diferença de potencial
elétrico (pela presença de um campo elétrico).
P
R
5 MATERIAIS ISOLANTES E SEMICONDUTORES O
P
R
I
Nos materiais isolantes, em função das características das ligações iônicas e covalentes, E
D
os elétrons estão fortemente ligados a átomos específicos. Por esse motivo, existe um abismo A
D
energético entre a banda de valência e a banda de condução, e é necessária uma tensão muito E
elevada para que haja movimentação de elétrons. D
O
S
Esses materiais são muito úteis quando se faz necessário isolar energia elétrica, por
M
exemplo, quando queremos garantir que a energia elétrica que flui através de um cabo metálico A
T
não seja transmitida para a estrutura de uma rede elétrica (por exemplo, elementos do poste E
R
da rede elétrica). Nesse caso, são utilizados isoladores (de porcelana, vidro ou materiais I
A
poliméricos) que fazem essa função com certa margem de segurança. Mesmo um material I
S
124 TÓPICO 3 UNIDADE 2
isolante pode vir a conduzir eletricidade, se a tensão aplicada for suficientemente alta (acima
da rigidez dielétrica) para vencer o abismo energético para condução, que nesse caso pode
ser de alguns milhares de Volts.
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
Fonte: Callister (2007)
D
O
S
M
A
Os semicondutores que apresentam a propriedade de semicondutividade em seu estado
T puro são chamados de semicondutores intrínsecos. São exemplos desse tipo de semicondutor
E
R o silício (Si) e o germânio (Ge), bastante empregados em transistores, que substituíram as
I
A antigas válvulas eletrônicas. Os semicondutores extrínsecos são obtidos pela adição controlada
I
S
UNIDADE 2 TÓPICO 3 125
D
6 SUPERCONDUTIVIDADE O
S
M
Metais de elevada pureza normalmente apresentam uma queda na sua resistividade, A
T
proporcional à temperatura. Para temperaturas próximas a 0K, a resistividade tende a um E
R
valor mínimo. Para alguns materiais, essa resistividade cai a valores muito próximos a zero, I
A
de forma abrupta, para temperaturas muito baixas (temperatura crítica, Tc), sendo chamados I
S
126 TÓPICO 3 UNIDADE 2
Imãs supercondutores são capazes de gerar campos magnéticos muito fortes com pouca
energia elétrica sendo consumida para esse fim, e são utilizados em equipamentos de imagem
por ressonância magnética, com vasto uso na medicina. Como é de se esperar, a aplicação
desses materiais tem como principal dificuldade a manutenção de temperaturas baixas. Portanto,
um campo de pesquisa envolvendo esses materiais diz respeito ao desenvolvimento de novas
ligas com temperatura crítica (Tc) mais elevada.
Apesar da elevada condutividade elétrica dos metais, estes apresentam alguns fatores
que alteram as suas características elétricas. A temperatura é um destes fatores.
P
R Da mesma forma, a presença de impurezas no material (tal como o carbono no ferro,
O
P em ligas de aço) diminui a condutividade e aumenta a resistividade, visto que essas impurezas
R
I acabam atuando como centros de espalhamento dos elétrons.
E
D
A
D A deformação plástica de um metal, conforme vimos anteriormente, promove a geração
E
de defeitos da estrutura cristalina: as discordâncias. Dessa forma, quanto maior for a deformação
D
O plástica do material, maior tende a ser a sua resistividade, pois as discordâncias, nesse caso,
S
também atuam como pontos de espalhamento dos elétrons.
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 2 TÓPICO 3 127
RESUMO DO TÓPICO 3
• A resistência elétrica (R) é função da tensão aplicada (V) e da corrente elétrica (i).
• Um material condutor apresenta elétrons que podem ser excitados para a banda de condução,
através da aplicação de um campo elétrico de baixa magnitude.
• Um material isolante necessita de uma elevada energia para que elétrons possam passar
para a banda de condução. C
I
Ê
N
• Materiais semicondutores apresentam estrutura de bandas semelhante à de um material C
I
isolante, porém a energia para excitação de elétrons é menor. A
E
• Os materiais semicondutores podem ser intrínsecos ou extrínsecos. Os semicondutores
P
extrínsecos podem ser do tipo p ou do tipo n. R
O
P
R
• Os materiais supercondutores apresentam uma temperatura crítica, baixa, na qual sua I
E
condutividade é substancialmente aumentada. D
A
D
• Defeitos da estrutura e da microestrutura, assim como a temperatura, aumentam a E
M
A
T
E
R
I
A
I
S
128 TÓPICO 3 UNIDADE 2
IDADE
ATIV
AUTO
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 2
TÓPICO 4
PROPRIEDADES magnéticas
1 INTRODUÇÃO
gravados e lidos através de meios magnéticos, onde o alinhamento dos domínios magnéticos P
R
é relacionado com o sistema binário (0 e 1), base para o armazenamento de informações O
P
nesses sistemas. R
I
E
D
Neste tópico serão abordados alguns aspectos fundamentais e tipos de materiais A
magnéticos, bem como as suas características intrínsecas. D
E
D
O
S
M
2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS A
T
E
R
I
As forças magnéticas presentes nos materiais são originadas de dipolos magnéticos, A
que são análogos aos dipolos elétricos. Sabemos que os átomos são compostos por partículas I
S
130 TÓPICO 4 UNIDADE 2
E
Quando um campo magnético H é aplicado, um campo magnético interno no material
é gerado. Esse é designado por B (indução magnética). A relação entre essas duas variáveis
P
R é dada pela equação:
O
P
R
I
E
D
A O valor de µ representa a permeabilidade do material. No vácuo, a permeabilidade é
D
E chamada de µ0 e a densidade de fluxo magnético, B0. Assim, no vácuo, temos:
D
O
S
M
A A permeabilidade de um material normalmente é expressa de forma relativa à
T
E permeabilidade no vácuo, e é chamada de permeabilidade relativa (µr):
R
I
A
I
S
UNIDADE 2 TÓPICO 4 131
3 DIAMAGNETISMO
C
4 PARAMAGNETISMO I
Ê
N
C
O fenômeno denominado paramagnetismo ocorre quando no material existem momentos I
A
de dipolo permanente, ou seja, quando existe o cancelamento incompleto dos momentos
E
magnéticos relacionados aos elétrons (de orbital e spin, conforme estudamos anteriormente).
Esses momentos magnéticos estão orientados de forma aleatória no material. P
R
O
P
Ao aplicarmos um campo magnético externo H, os dipolos magnéticos internos do material R
I
tendem a girar e se alinhar com esse campo. Com o alinhamento dos dipolos magnéticos, o E
D
campo magnético é aumentado (os dipolos são somados ao campo magnético H já existente). A
Assim, a permeabilidade magnética relativa (µr) é aumentada, e é maior do que a unidade. No D
E
entanto, a densidade de fluxo magnético B é praticamente a mesma que a do vácuo.
D
O
S
Os materiais paramagnéticos, assim como os diamagnéticos, são considerados não
magnéticos, pois ao retirarmos o campo magnético H, o material não exibe magnetização. M
A
T
E
A figura a seguir mostra esquematicamente o alinhamento dos dipolos magnéticos com R
I
e sem a presença de um campo magnético H, para um material diamagnético e um material A
paramagnético. I
S
132 TÓPICO 4 UNIDADE 2
C
I Fonte: Callister (2007)
Ê
N
C
I
A
E
5 FERROMAGNETISMO
P
R
O
P Os materiais ferromagnéticos, ao contrário dos materiais diamagnéticos e paramagnéticos,
R
I são considerados magnéticos. Os dipolos magnéticos presentes nos materiais ferromagnéticos
E
D têm origem principal no cancelamento incompleto dos spins dos elétrons. Além disso, a estrutura
A
D eletrônica desses materiais proporciona um alinhamento desses dipolos magnéticos, culminando
E
na presença de magnetismo sem a necessidade de aplicarmos um campo magnético externo H.
D
O
S Os metais ferrosos (ferrita α, estrutura CCC), cobalto e níquel são exemplos de metais
M de transição que apresentam esse comportamento magnético. Grandes regiões do material
A
T que apresentam esse comportamento relacionado ao alinhamento dos dipolos magnéticos são
E
R chamados de domínios magnéticos, sobre os quais trataremos mais adiante.
I
A
I
S
UNIDADE 2 TÓPICO 4 133
6 ANTIFERROMAGNETISMO
P
R
O
P
7 FERRIMAGNETISMO R
I
E
D
A
Alguns materiais cerâmicos se apresentam magnéticos. É o caso da magnetita mineral D
(Fe3O4). Nesse tipo de material, o princípio da magnetização novamente está relacionado ao E
P
R Apesar de os materiais magnéticos cerâmicos (ferrimagnéticos) não apresentarem
O
P magnetização tão elevada quanto os materiais ferromagnéticos, estes são bastante empregados
R
I
onde as características de isolamento elétrico são necessárias. É o caso dos transformadores
E elétricos.
D
A
D
E
D
O
S 8 HISTERESE
M
A
T
E Quando um campo magnético externo H é aplicado em um material ferromagnético ou
R
I
ferrimagnético, uma densidade de fluxo magnético B é gerada. Nesses materiais, H e B não
A são proporcionais. O valor de B irá depender da magnitude de H.
I
S
UNIDADE 2 TÓPICO 4 135
C
A curva parte da origem (H = B = 0). Ao incrementarmos o valor de H, observa-se um I
Ê
aumento crescente no valor de B nos estágios iniciais. O valor de B se aproxima gradativamente N
do valor de H, e atinge um valor máximo. A esse valor máximo damos o nome de fluxo magnético C
I
de saturação (Bs), o qual está associado a uma magnetização de saturação (Ms). A
Os materiais magnéticos moles são caracterizados pela sua curva de histerese, a qual
descrevemos no item anterior. Conforme apresentado, a histerese está relacionada à resistência
ao realinhamento dos domínios quando invertemos a direção de um campo magnético externo
H. Essa resistência intrínseca do material magnético tem implicações práticas: materiais que
C apresentam elevada histerese irão desenvolver uma elevada energia interna ao aplicarmos um
I
Ê campo magnético oscilante. Essa energia interna irá se dissipar na forma de calor, gerando o
N
C aquecimento do material.
I
A
E
Os materiais magnéticos moles apresentam baixa histerese, e são aplicados onde ocorre
oscilação de campo magnético H (campos magnéticos alternados), e onde se deve manter
P
R uma temperatura baixa, como, por exemplo, em transformadores.
O
P
R
I Já os materiais magnéticos duros, os quais apresentam elevada histerese (elevada
E
D
remanescência), são aplicados onde o interesse é o da manutenção de uma elevada resistência
A à desmagnetização, como em imãs permanentes.
D
E
D
O
S TE!
RTAN
IMPO
M
A
T Você pode obter informações mais detalhadas sobre outras
E
R
características relacionadas às propriedades dos materiais
I magnéticos moles e duros na bibliografia recomendada.
A
I
S
UNIDADE 2 TÓPICO 4 137
10 ARMAZENAMENTO DE INFORMAÇÕES
Nos discos rígidos, por exemplo, utiliza-se um cabeçote, que é basicamente composto
por um fio enrolado em um núcleo de material magnético, e que apresenta um segmento
cortado. O sinal elétrico é passado pelo núcleo de material magnético, que gera um campo
magnético na região cortada. O disco ou fita fica próximo a esse cabeçote. O campo magnético
gerado magnetiza pequenas regiões do material a ser gravado, e o sinal é dessa forma
armazenado.
partículas são alinhadas por um campo magnético, e ficam dispostas em uma fita polimérica. E
Já nos discos rígidos existem várias camadas de película delgada (10 a 50 nm), de ligas P
R
especiais como CoPtCr ou CoPtTa, separados por uma película de cromo. Como cada camada O
P
pode conter informações distintas, o elevado número dessas finíssimas camadas permite R
I
armazenarmos muita informação em um disco rígido, muito mais do que podemos armazenar E
D
em fitas magnéticas. A
D
E
M
A
T
E
R
I
A
I
S
138 TÓPICO 4 UNIDADE 2
RESUMO DO TÓPICO 4
• As forças magnéticas no material são originadas de dipolos magnéticos dos elétrons, que
se relacionam com o seu movimento ao redor do núcleo (orbital) e ao redor de seu próprio
eixo (spin).
• Ao aplicarmos um campo magnético externo H, dipolos magnéticos que não são anulados
no material podem ser orientados paralelamente ou antiparalelamente ao esse campo;
P
R • Um material magnético pode ser duro ou mole, dependendo da sua característica de fluxo
O
P magnético B em função da aplicação de um campo magnético externo H alternado.
R
I
E
• Os materiais magnéticos são utilizados em diversas aplicações, como no armazenamento
D
A de informações em aplicações eletrônicas (materiais magnéticos duros) e núcleo de
D
E transformadores (materiais magnéticos moles).
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 2 TÓPICO 4 139
IDADE
ATIV
AUTO
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
140 TÓPICO 4 UNIDADE 2
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 2
TÓPICO 5
PROPRIEDADES TÉRMICAS
1 INTRODUÇÃO
Nos tópicos anteriores vimos que as propriedades elétricas e magnéticas têm uma
forte relação com os elétrons nos átomos que compõem o material. Alguns fenômenos estão
relacionados com a quantidade de energia para “transportar” os elétrons para a banda de
condução, e com momentos magnéticos relacionados ao orbital e spin dos elétrons.
P
2 ORIGEM DAS CARACTERÍSTICAS TÉRMICAS R
O
P
R
As propriedades térmicas dos materiais dependem de alguns fatores, dentre eles as I
E
características das ligações químicas. Quando um material recebe energia térmica (energia D
A
na forma de calor), essa energia é transportada no interior do material de duas formas: D
E
movimentação de elétrons e vibrações da rede cristalina. A condutividade térmica líquida no
material depende da contribuição desses dois tipos de condução de energia. D
O
S
3 CAPACIDADE CALORÍFICA
P
Onde dQ representa a quantidade de calor necessária para elevar a temperatura em
R
O dT. Ela é expressa normalmente para um mol de material. As unidades usuais são: J/mol-K e
P
R cal/mol-K.
I
E
D O calor específico também é bastante usual para representar esta propriedade. A
A
D diferença é que este é obtido com base em unidades de massa: J/Kg-K ou cal/g-k.
E
D
O
Como vimos anteriormente, a capacidade de absorver calor se relaciona com as vibrações
S dos átomos no retículo cristalino. A capacidade calorífica é dependente da temperatura, e a
M sua proporção de incremento é dada pela equação:
A
T
E
R
C = A.T³
I
A
I Onde A é uma constante independente da temperatura.
S
UNIDADE 2 TÓPICO 5 143
4 EXPANSÃO TÉRMICA
A expansão térmica dos materiais sólidos é caracterizada pela variação das dimensões
do material sólido em função do aumento da sua temperatura. Um parâmetro que é usualmente
considerado para efeito de projeto é coeficiente linear de expansão térmica (α), que indica
o grau com que um determinado material se expande à medida que aumentamos a sua
temperatura. As unidades usuais são: °C-1 e K-1. O coeficiente volumétrico de expansão
térmica é, em materiais isotrópicos, 3α. O coeficiente linear de expansão térmica pode ser
obtido através da equação:
Lf = Comprimento final
L0 = Comprimento inicial
Tf = Temperatura final
C
T0 = Temperatura inicial I
Ê
N
C
Com o aumento da temperatura, ocorre o aumento das vibrações reticulares. Se as I
A
vibrações dos átomos para a esquerda e para a direita tivessem a mesma amplitude, nenhuma
E
dilatação dos materiais seria observada em função da temperatura.
P
R
O
No entanto, sabemos que a barreira energética para o movimento dos átomos uns de P
R
encontro aos outros é maior devido à grande repulsão gerada pelos núcleos dos átomos. No I
E
sentido de afastamento dos átomos, a barreira energética é menor. Vamos recordar o gráfico D
A
de energia de ligação? D
E
D
A figura a seguir mostra um gráfico de energia de ligação, onde estão indicados O
S
aumentos crescentes na energia vibracional dos átomos, gerados por aumentos sucessivos
M
na temperatura do material. A
T
E
R
I
A
I
S
144 TÓPICO 5 UNIDADE 2
são governadas pelas características das ligações secundárias, que são intrinsecamente mais
fracas do que as ligações primárias.
5 CONDUTIVIDADE TÉRMICA
C
I
Ê
N
q = Fluxo de calor em por unidade de tempo por unidade de área (W/m2) C
I
k = Condutividade térmica (W/m-K) A
E
dT/dx = gradiente de temperatura através do meio de condução
P
R
O
O fluxo de calor é da região mais quente para a região mais fria, o que na expressão P
R
acima é indicado pelo sinal negativo. I
E
D
Os metais são bons condutores de energia térmica e também bons condutores de A
D
energia elétrica. Essas duas características apresentam-se relacionadas, visto que, conforme E
já estudamos nos tópicos anteriores, a condutividade elétrica acontece nos metais pela D
O
movimentação dos elétrons livres. Nos metais temos uma forte contribuição do movimento dos S
elétrons na condutividade térmica, ou seja, um dos mecanismos de transferência de energia M
térmica é o mesmo mecanismo de condução elétrica nos metais: o movimento dos elétrons. A A
T
relação entre a condutividade térmica e a condutividade elétrica é dada pela equação: E
R
I
A
I
S
146 TÓPICO 5 UNIDADE 2
IMPO
RTAN
TE!
Quando necessitamos isolar o calor, materiais cerâmicos refratários
podem ser utilizados, na forma de tijolos ou mantas. Poros
fechados melhoram o isolamento térmico, porém a resistência
mecânica deve ser considerada se houver solicitações mecânicas
ou necessidade de sustentação da estrutura: ela decresce em
função da porosidade.
C
I
Ê Os materiais poliméricos apresentam baixa condutividade térmica (da ordem de 0,3
N
C W/m-K), sendo bastante utilizados em isolamento térmico. É o caso do Poliestireno Expandido
I
A (Isopor®), que consiste em uma espuma de poliestireno, onde a porosidade interna auxilia
E no isolamento do calor, da mesma forma que observamos nas cerâmicas refratárias. Nos
P polímeros, a transferência de calor é dada pela rotação das moléculas do polímero. Polímeros
R
O que apresentam maior cristalinidade irão conduzir melhor o calor, visto que a movimentação
P
R das cadeias poliméricas de forma sincronizada é análoga ao movimento dos retículos cristalinos
I
E
nos materiais metálicos.
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 2 TÓPICO 5 147
RESUMO DO TÓPICO 5
• A condução de calor em um material pode ser por dois mecanismos distintos: através de
elétrons livres ou fônons.
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
148 TÓPICO 5 UNIDADE 2
IDADE
ATIV
AUTO
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 2
TÓPICO 6
PRINCIPAIS TÉCNICAS DE
CARACTERIZAÇÃO DE MATERIAIS
1 INTRODUÇÃO
2 MICROSCOPIA ÓTICA
C
I
Ê
N
C
I FONTE: Disponível em: <http://focobiomedico.blogspot.com.br/2011/03/
A microbiologia-e-afins-principais.html>. Acesso em: 31 mar. 2012.
P As lentes utilizadas nos microscópios óticos são do tipo convergente. A objetiva consiste
R
O em um conjunto de lentes que fica próximo à amostra, apresentando pequena distância
P
R focal, e gera uma imagem real aumentada do objeto. Já a lente ocular, como o nome indica,
I
E fica posicionada na região de observação do microscópio pelo operador do equipamento, e
D
A funciona como uma lupa, fornecendo uma imagem virtual e aumentada da imagem formada
D
E
pela objetiva.
D
O O conjunto do microscópio apresenta regulagens, de forma que a lente se aproxime ou
S
se afaste da amostra, para ajuste do foco. O poder de ampliação do microscópio é dado pela
M
A multiplicação da ampliação da lente objetiva pela ampliação da ocular.
T
E
R Para a análise de amostras no microscópio ótico, faz-se incidir uma luz focalizada sobre
I
A a amostra. O sistema consiste em uma fonte de luz, condensador de iluminação, diafragma de
I
S
UNIDADE 2 TÓPICO 6 151
campo, espelho ajustável, condensador de foco e diafragma de abertura. Esse sistema pode
estar alocado abaixo ou acima do plano da amostra analisada, sendo o último mais usual na
caracterização de materiais metálicos, devido às características de opacidade.
Onde
NA = n.sen(α)
n = índice de refração do meio percorrido pela luz entre o foco e a lente
α = semiângulo de abertura do feixe de luz que atinge a lente colocada à distância focal do objeto.
C
IMPO
RTAN
TE!
I A norma ASTM 250 dispõe sobre as técnicas corretas de Metalografia
Ê e Ceramografia. Nela você pode encontrar qual o tipo de solução
N
C e tempo de ataque químico recomendado em função do material
I a ser analisado.
A
P
R Por que realizar um ataque químico na amostra?
O
P
R
I Se após o polimento levarmos a nossa amostra ao microscópio ótico, o que iremos
E
D
observar é a reflexão da luz na superfície. Se a amostra foi bem preparada e está nivelada,
A apenas pequenos ajustes de foco serão necessários para focalizarmos diferentes regiões
D
E da amostra. No entanto, não conseguiremos visualizar os microconstituintes, como as fases
D cristalinas e contornos de grão. Caso a amostra apresente poros abertos cujo tamanho seja
O
S possível de ser visualizado no microscópio ótico, estes podem ser visualizados na amostra
M mesmo sem o ataque químico. Nos poros abertos a luz é espalhada, o que verificamos no
A
microscópio ótico como pontos mais escuros.
T
E
R
I Durante o ataque químico da amostra, nas regiões mais propícias à corrosão ocorrerá
A
I a retirada preferencial de material. Os contornos de grão são evidenciados no ataque químico,
S
UNIDADE 2 TÓPICO 6 153
pois nessas regiões existem ligações químicas incompletas, ou seja, há uma maior energia
livre. O ácido irá remover material preferencialmente nessas regiões, criando vales. Esses
vales, quando recebem uma luz externa, espalham parte dessa luz, aparecendo como linhas
mais escuras no microscópio ótico.
A figura a seguir mostra a imagem de uma microestrutura de uma liga de aço cromo-
molibdênio, utilizado na fabricação de tubos de caldeiras, obtida a partir de um microscópio ótico.
C
I
Ê
N
C
I
A
M
Outra limitação da microscopia ótica diz respeito ao limite de aumento, relacionado A
ao limite de resolução, e que também está ligada à qualidade das lentes e do equipamento. T
E
Também é necessário considerar a dificuldade de ajuste de foco em aumentos muito elevados, R
I
o que demanda uma preparação minuciosa da amostra para análise. Aumentos maiores do A
I
que 2000x demandam equipamentos de alto desempenho e custo elevado. S
154 TÓPICO 6 UNIDADE 2
No MEV a amostra, ao invés dos fótons, é bombardeada por um feixe muito fino de
elétrons, chamados de elétrons primários, e quando este atinge a amostra, são gerados
diversos tipos de radiação, dependendo do tipo de interação que cada elétron terá com os
átomos do material que está sendo analisado. As interações dos elétrons com a amostra
podem gerar: elétrons secundários, elétrons retroespalhados, raios-X, elétrons Auger, fótons,
dentre outros.
P
retroespalhados (ERE) são os que sofrem uma interação elástica com a amostra, e dão
R informações importantes sobre a variação da composição química em diferentes regiões da
O
P amostra.
R
I
E
D
A A figura a seguir mostra uma imagem obtida em microscópio ótico, comparativamente
D
E
a uma obtida em microscópio eletrônico de varredura por elétrons secundários. Observe
que no MEV (imagem da direita) a profundidade de foco é bastante superior à obtida no
D
O microscópio ótico.
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 2 TÓPICO 6 155
calor, que permite que os elétrons se desprendam do material. No caso do metal tungstênio E
(W), as emissões começam a temperaturas da ordem de 2400°C, porém, bem abaixo do seu P
R
ponto de fusão (3410°C). Esse filamento dura cerca de 60h. A tensão no filamento pode chegar O
P
a 30.000V. R
I
E
Após desprendidos do material, esse elétrons são acelerados para o ânodo (terra) D
A
devido à diferença de potencial elétrico entre a tensão aplicada no filamento e o terra. Nesse D
E
percurso, o feixe é colimado pelas lentes eletromagnéticas, chegando até à amostra.
D
O
S
Se no equipamento estiver selecionado o modo SE (secondary electrons), a imagem
M
formada será resultado da interação dos elétrons secundários (ES) com o detector. Esses A
elétrons são formados pela interação dos elétrons primários com outros elétrons da banda de T
E
condução (se a amostra for um metal condutor) ou da banda de valência, e apresentam energia R
I
inferior a 50 eV. Esses elétrons são produzidos durante todo o percurso do elétron primário pela A
I
S
156 TÓPICO 6 UNIDADE 2
amostra, mas devido à sua baixa energia, somente os que estão próximos à superfície têm a
possibilidade de “escapar” da amostra, chegando ao detector e contribuindo para a formação
da imagem da amostra.
Se o equipamento for dotado de uma sonda EDS (energy dispersive X-ray detector, EDX
ou EDS), torna-se possível a detecção dos raios-X emitidos pela amostra. Através dessa técnica
é possível identificar os elementos químicos que compõem as fases do material analisado e,
além disso, investigar gradientes de composição entre as fases. Os raios-X são gerados pela
interação dos elétrons primários (do feixe eletrônico) com os elétrons dos átomos nas camadas
mais internas, ejetando esses elétrons. As transições dos elétrons das camadas mais externas,
para preenchimento do vazio gerado, provocam a emissão de fótons de raios-X característicos
para cada elemento químico.
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E FONTE: UFSC. Disponível em: <http://lcme.ufsc.br/mev/>. Acesso em: 1 abr. 2012.
D
O
S
Abaixo estão listadas algumas possibilidades de análise de materiais em um microscópio
eletrônico de varredura:
M
A
T
E • Análise de defeitos e impurezas em contornos de grão;
R
I
A • Análise de superfícies de fratura;
I
S
UNIDADE 2 TÓPICO 6 157
• Quantificação de fases;
P
R
O ensaio de dureza é possivelmente o mais utilizado na indústria metalúrgica, em função O
da resposta rápida obtida e facilidade de operação do equipamento. Basicamente o processo P
R
de medição da dureza do material consiste em: I
E
D
A
• Obtenção de uma superfície plana no componente ou amostra a ser analisada. Caso não D
E
haja ponto adequado para medição, a peça pode ser lixada ou cortada;
D
O
• Dispor a peça no equipamento; S
M
A
• Acionar o equipamento, que irá imprimir uma carga através de uma ponteira padronizada, T
de forma a deformar o material localmente (identação através de ponteira padrão); E
R
I
A
• O equipamento pode fornecer a dureza diretamente no equipamento. Caso o equipamento I
S
158 TÓPICO 6 UNIDADE 2
não disponha do recurso, é possível obter o valor de dureza pela análise das dimensões da
identação, considerando a carga do ensaio, e comparando o valor obtido com uma tabela.
Embora existam diversos métodos de medição de dureza, podemos dizer que os mais
comuns na análise de materiais são o ensaio Brinell (metais), Rockwell (metais), Vickers ou
Knopp (materiais frágeis ou dúcteis) e Shore (polímeros).
A dureza Brinell para metais varia de 50HB a 750HB. Como a dureza e a resistência à
tração (σT) nos metais apresenta correlação, em função da sua habilidade na capacidade de
se deformar permanentemente antes da ruptura, a resistência à tração de um material pode
ser estimada a partir do valor de dureza Brinell através da equação:
C
I
Ê
N
C FIGURA 64 – EQUIPAMENTO PARA MEDIÇÃO DE DUREZA BRINELL
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I FONTE: K&M INSTRUMENTS LTD. Disponível em: <http://kminstruments.
A en.busytrade.com/products/info/1352321/Digital-Automatic-Load-cell-
I
S
Type-Brinell-Hardness-Tester.html>. Acesso em: 1 abr. 2012.
UNIDADE 2 TÓPICO 6 159
A dureza Rockwell é uma variação da dureza Brinell, onde a esfera é substituída por
uma pirâmide de diamante. Ela normalmente é utilizada para aços de maior dureza.
IMPO
RTAN
TE!
Detalhes adicionais sobre o ensaio de microdureza podem ser
obtidos na norma internacional ASTM E-384.
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
FONTE: ASTM International. Disponível em: <http://www.astm.org/SNEWS/ E
MJ_2010/e0405_mj10.html>. Acesso em: 1 abr. 2012.
D
O
S
Outro método de medição de dureza consiste em uma medição de resistência ao riscado M
por uma sequência de materiais de diferentes durezas. Esse método foi desenvolvido por A
T
Friedrich Mohs em 1822, e consiste em uma lista de 10 materiais, aos quais foi determinado E
R
um valor de dureza em uma escala de 1 (talco) a 10 (diamante). I
A
I
S
160 TÓPICO 6 UNIDADE 2
5 ENSAIO DE TRAÇÃO
NOT
A!
Em ensaios de rotina de produtos, quando o fundamental é
C conhecer a carga ou tensão de ruptura, normalmente não se utiliza
I o extensômetro, por ser um equipamento relativamente caro e que
Ê apresenta risco de ser danificado durante a ruptura do componente
N
C no ensaio. Nesse caso, a deformação no gráfico de tensão vs.
I deformação corresponde ao deslocamento entre as garras.
A
P O ensaio de tração pode ser conduzido fixando dois tipos de taxas: ou a velocidade
R
O ou taxa de deslocamento da garra inferior ou a taxa de aumento da carga. A resistência do
P
R material ao processo de tração uniaxial imposto pelo equipamento é registrada através de
I
E
duas grandezas: a carga medida pela célula de carga e a deformação do componente ou
D deslocamento das garras a cada instante. O ensaio pode ser conduzido até a ruptura da peça,
A
D se necessário, ou até um limite preestabelecido, para fins de controle de qualidade.
E
D Para montarmos um gráfico de tensão vs. deformação, sobre o qual já discutimos nos
O
S tópicos anteriores, precisaremos das seguintes informações:
M
A
T
• Carga mensurada pela célula de carga, registrada em intervalos de tempo pelo equipamento.
E
R
I • Deformação do componente ou deslocamento das garras, registrada em conjunto com o
A
I valor da carga.
S
UNIDADE 2 TÓPICO 6 161
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
FONTE: CCME. Disponível em: <http://www.cccme.org.cn/shop/timehightech/ A
I
offerinfo-3065745.aspx>. Acesso em: 5 abr. 2012. S
162 TÓPICO 6 UNIDADE 2
Dependendo do tipo de material a ser analisado, uma norma específica de ensaio deve
ser adotada para padronização dos métodos de ensaio. A norma internacional ASTM E8M é
adotada para materiais metálicos. A norma brasileira NBR 6152 prescreve o método de ensaio
de tração de materiais metálicos à temperatura ambiente.
IMPO
RTAN
TE!
Quando desenvolvemos ou caracterizamos materiais, é importante
adotarmos, sempre que possível, normas adequadas para
padronização dos ensaios. Dessa forma, os resultados podem ser
comparados com a literatura e com outros estudos já realizados.
6 ANÁLISE QUÍMICA
dureza do material. E
P
R
O
! P
ROS R
SFUTU
EST UDO I
E
D
A
Estaremos conversando mais sobre o processo de fabricação dos D
metais e seus controles de qualidade na Unidade 3. E
D
O
S
complementar. Por esse motivo, o espectrômetro de emissão ótica é mais adequado para metais
ferrosos, onde a identificação do teor de carbono é muitas vezes imprescindível.
C
I
Um material cristalino pode ser enxergado como uma sobreposição de diversos planos Ê
N
de átomos. Esses átomos, dependendo da orientação do plano, estão separados por uma C
I
determinada distância, que depende do tipo de ligação e tamanho do átomo. Em outras palavras, A
cada material apresenta distância entre seus planos de átomos característica. E
P
R
O físico inglês W. H. Bragg e seu filho (também físico) W. L. Bragg deduziram, em O
P
1913, a denominada Lei de Bragg, a qual os possibilitou receber o Prêmio Nobel de Física em R
I
1915 pela determinação das estruturas cristalinas do NaCl, ZnS e do diamante. A expressão E
D
deduzida pelos Bragg é a seguinte: A
D
E
D
O
S
Essa equação pode ser mais bem compreendida pela análise da figura a seguir.
M
A
T
E
R
I
A
I
S
166 TÓPICO 6 UNIDADE 2
C
Inspeção visual I
Ê
A inspeção visual é realizada geralmente antes de se iniciar qualquer outro tipo de ensaio N
C
não destrutivo, pois as características da superfície da peça podem inviabilizar os ensaios I
A
posteriores, ou evidenciar a necessidade de que algum tratamento seja feito. Esse ensaio pode
E
ser realizado a olho nu, posicionando a peça a cerca de 600 mm e sob um ângulo maior do
que 30°, ou através de lupas, microscópios portáteis ou aparelhos de videoscopia. P
R
O
P
Raios-X R
I
O ensaio de raios-X baseia-se na diferença de absorção de raios-X pela matéria. Uma E
D
fonte de raios-X é utilizada, e a radiação emitida é direcionada para a amostra. A radiação A
emergente da amostra é registra em um filme radiográfico, tela fluorescente ou detector de D
E
raios-X.
D
O
S
Regiões com maior espessura irão absorver uma parcela maior da radiação emitida, e
M
na radiografia, as regiões mais espessas aparecem como regiões mais claras. Se a amostra A
T
apresentar poros ou inclusões de algum material que absorva menos radiação, esses pontos E
irão aparecer mais escuros na radiografia. R
I
A
I
S
168 TÓPICO 6 UNIDADE 2
NOT
A!
Você certamente já viu uma radiografia de corpo humano.
O princípio da técnica para análise de materiais é bastante
semelhante!
FONTE: SILVA JR., Silvério Ferreira da, MARQUES, Paulo Villani. Ensaios Não Destrutivos. Disponível
em: <http://www.demec.ufmg.br/site/cursos/arquivos/168pdf>. Acesso em: 7 abr. 2012.
NOT
A!
C A norma ABNT NBR 15783 “Ensaios não destrutivos — Radiografia
I industrial — Medição de espessura em serviço de tubulações e
Ê acessórios com uso de radiografia computadorizada” traz as diretrizes
N
C para os ensaios de radiografia industrial em tubulações.
I
A
P Ultrassom
R
O
P
R
O ensaio de ultrassom é realizado utilizando ondas mecânicas de alta frequência (acima
I de 20.000 Hz). A velocidade de propagação da onda no material sólido depende da densidade
E
D do material, seu módulo de elasticidade, e também da frequência da onda. A velocidade (V)
A
D de propagação é constante para cada material. Se alterarmos a frequência da onda (f), o
E
comprimento da onda (λ) será alterado de acordo com a seguinte equação:
D
O
S
M
A
T
E Assim como vimos no estudo das propriedades óticas dos materiais, as ondas sonoras
R
I também apresentam o fenômeno da difração. Portanto, uma onda sonora, ao atravessar uma
A
I
interface passando de um determinado material para outro, terá sua direção alterada.
S
UNIDADE 2 TÓPICO 6 169
Uma das técnicas mais usuais é a do tipo pulso-eco. Nessa técnica, com a presença
de imperfeições ou descontinuidades internas no material analisado, a onda ultrassônica será
parcialmente refletida. A análise da onda refletida nos fornece informações sobre a localização,
dimensão e orientação de um defeito. A espessura do material também pode ser determinada,
visto que parte da onda será refletida ao atravessar do meio sólido para o ar. Esse efeito é
particularmente interessante para avaliarmos diferenças de espessuras em peças, como em
tubulações, e a presença de defeitos internos. O equipamento de ultrassom também pode ser
utilizado para a medição de espessuras de peças em regiões nas quais não é possível medir
com outros instrumentos de medição.
C
FONTE: SILVA JR., Silvério Ferreira da, MARQUES, Paulo Villani. Ensaios Não Destrutivos. I
Disponível em: <http://www.demec.ufmg.br/site/cursos/arquivos/168pdf>. Acesso em: Ê
N
7 abr. 2012.
C
I
A
Líquidos penetrantes E
P
R
Esse ensaio é utilizado para a revelação de defeitos superficiais, tais como trincas. Para O
P
isso, usa-se um líquido especial em conjunto com um revelador. As etapas para realização do R
I
ensaio são: E
D
A
D
• Limpar a superfície da amostra (deve-se retirar impurezas, tais como óleos e graxas); E
D
O
• A amostra deve ser seca; S
M
A
• Aplica-se o líquido penetrante, mantido sobre a superfície por um tempo determinado para T
E
que este penetre nas trincas; R
I
A
I
S
170 TÓPICO 6 UNIDADE 2
• Aplica-se um líquido revelador específico, para promover o contraste do material nos defeitos,
permitindo a sua visualização;
• Após a avaliação da peça, essa deve ser limpa, de forma a manter as qualidades da peça
em uso.
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D FONTE: SILVA JR., Silvério Ferreira da, MARQUES, Paulo Villani. Ensaios Não Destrutivos.
A Disponível em: <http://www.demec.ufmg.br/site/cursos/arquivos/168pdf>. Acesso
D em: 7 abr. 2012.
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 2 TÓPICO 6 171
LEITURA COMPLEMENTAR
Com a ajuda de minúsculas contas de vidro, o procedimento faz uso das chamadas
ondas infinitesimais, emitidas muito próximas de um objeto e que normalmente se perdem. Os
cientistas fazem com que as contas de vidro recuperem esta luz e refaçam o foco, canalizando-a
para um microscópio comum. O método permitiu aos pesquisadores ver com os próprios olhos
níveis de detalhes normalmente só identificados por observação indireta, como a microscopia
através da força atômica e varreduras com emissão de elétrons (MEV). Os detalhes foram
publicados na revista acadêmica "Nature Communications".
Utilizar a luz visível - o tipo de luz captada pelo olho humano - para observar objetos
C
dessa escala é, de certa maneira, romper as regras da teoria da luz. Normalmente, os menores I
Ê
objetos visíveis são definidos por um parâmetro conhecido como limite da difração. Ondas N
C
leves natural e inevitavelmente se dispersam de tal maneira a limitar o alcance do seu foco, ou I
A
o tamanho do objeto que pode ser capturado. As ondas infinitesimais que são produzidas na
E
superfície dos objetos tendem a se enfraquecer com a distância - mas elas não estão sujeitas
ao limite da difração. P
R
O
P
Se capturadas, as ondas infinitesimais oferecem uma resolução muito mais alta que R
I
a obtida por métodos padrões de captação de imagens, explica o pesquisador do Centro de E
D
Pesquisa de Processamento a Laser da Universidade de Manchester, Lin Li. Para observar A
D
os objetos, a equipe colocou contas de vidro com tamanho entre dois e nove milionésimos de E
onde acreditamos haver interesse é a observação de células, bactérias e até vírus", afirma
Li. Métodos indiretos de observação conseguiram enxergar objetos a uma resolução de um
nanômetro e até os traços de uma única molécula. Mas nenhum deles é tão simples quanto a
observação direta através do microscópio.
"Usar a tecnologia corrente requer muito tempo. Por exemplo, usar microscopia ótica
fluorescente requer dois dias para preparar a amostra e a taxa de sucesso dessa preparação é
de 10 a 20%", exemplifica o pesquisador. "Isto ilustra o ganho potencial de introduzir métodos
de observação direta."
FONTE: G1: CIÊNCIA E SAÚDE. Cientistas criam microscópio mais potente do mundo. Disponível
em: <http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2011/03/cientistas-criam-microscopio-mais-
potente-do-mundo.html>. Acesso em: 9 abr. 2012.
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 2 TÓPICO 6 173
RESUMO DO TÓPICO 6
• O ensaio de dureza apresenta boa praticidade e seu resultado pode ser correlacionado com
a resistência à tração.
E
• Ensaios não destrutivos podem ser utilizados quando se deseja identificar defeitos em sua
P
estrutura, mantendo a funcionalidade da peça após o ensaio. R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
174 TÓPICO 6 UNIDADE 2
IDADE
ATIV
AUTO
2 Um aço SAE 1020 apresenta dureza de 105HB. Calcule a sua resistência à tração
(Mpa).
P 6 Qual tipo de ensaio não destrutivo você utilizaria para verificar a presença de trincas
R
O em uma solda? Por quê?
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 2 TÓPICO 6 175
IAÇÃO
AVAL
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
176 TÓPICO 6 UNIDADE 2
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 3
PROCESSAMENTO E SELEÇÃO
DE MATERIAIS
Objetivos de aprendizagem
P
R
O
PLANO DE ESTUDOS P
R
I
Esta unidade está dividida em três tópicos que contribuirão na E
D
compreensão do processamento e seleção dos materiais. Além disso, A
D
em cada um dos tópicos você encontrará atividades que o ajudarão E
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 3
TÓPICO 1
PROCESSOS DE FABRICAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
E
Possivelmente você já tenha ouvido falar do processo de fundição. Nesse tipo de
P
processamento o material é levado até uma temperatura acima do seu ponto de fusão, e R
O
posteriormente vazado em moldes com o formato da peça, onde ocorre o resfriamento e P
R
solidificação do material, obtendo-se a forma do molde. Esse tipo de processamento é bastante I
comum para materiais metálicos, mas dificilmente será utilizado para materiais cerâmicos: o E
D
ponto de fusão dos materiais cerâmicos cristalinos é, normalmente, muito elevado. Para que A
D
isso fosse viável, deveríamos ter fornos com revestimento de um material com ponto de fusão E
ainda maior que o da cerâmica a ser fundida, e moldes com a mesma característica. Além D
O
disso, a elevada energia empregada para a fusão do material inviabilizaria produzir os materiais S
em grande escala. M
A
T
E
Uma atribuição na atuação do Engenheiro de Produção pode se relacionar com o R
gerenciamento de processos de produção, o que envolve a análise e proposição de novos I
A
processos de fabricação, seja para aumentar a produtividade ou redução de custos e lead I
S
180 TÓPICO 1 UNIDADE 3
time. Para isso, é imprescindível o conhecimento detalhado das variáveis do processo que
afetam as características do produto, e métodos alternativos de produção a serem sugeridos
e analisados pelo responsável de cada departamento em uma organização.
Outra situação bastante comum nas indústrias diz respeito à necessidade de substituição
ou recuperação de equipamentos ou peças, onde são necessários processos de usinagem,
tratamentos térmicos e superficiais. Nesse tópico estudaremos alguns aspectos importantes
relativos a esses processos.
C 2.1 FUNDIÇÃO
I
Ê
N
C A fundição é uma das técnicas precursoras na fabricação de ligas metálicas, sendo
I
A muito utilizada até hoje. Normalmente essa técnica é escolhida quando:
P
• A peça é muito grande e a sua produção por métodos de conformação ou usinagem não é
R viáveis, como, por exemplo, na fabricação de hélices para turbinas de hidrelétricas;
O
P
R
I • O metal a ser utilizado no processo de fabricação não apresenta boa ductilidade que permita
E
D o processo de fabricação por conformação mecânica a frio ou a quente;
A
D
E
• Custo de fabricação: quando a fabricação de matrizes para conformação mecânica é inviável,
D
O
principalmente quando a quantidade de peças a ser produzida é pequena, inviabilizando
S
esse tipo de processamento.
M
A
T Para a fabricação de peças em ferro fundido (liga ferro-carbono com percentual de
E
R carbono acima de 2%), normalmente são utilizados moldes de areia de fundição. Os moldes
I
A são obtidos pela compactação mecânica dessa areia por vibração sobre um modelo com as
I
S
UNIDADE 3 TÓPICO 1 181
dimensões da peça a ser fabricada, com ajustes que irão considerar a retração na solidificação
e necessidade de usinagem. Um molde é normalmente constituído por duas partes, e contém
um canal de entrada do metal líquido.
Os ferros fundidos são obtidos normalmente pela fusão acima de 1150ºC, em fornos
de indução, a partir de sucatas metálicas selecionadas. Como a composição química dessas
sucatas pode sofrer variações, um controle da composição química do metal fundido se faz
necessário. Normalmente são realizados ajustes de composição do metal fundido, adicionando
Ferro Gusa e outros materiais ao material fundido. Na fabricação de ferro fundido, três classes
são de produção mais usual: ferro fundido cinzento, ferro fundido nodular e ferro fundido
branco.
O ferro fundido nodular é obtido pela adição de elementos ao metal líquido como o Mg,
Ca e Ce, que fazem com que a grafita deixe de ser lamelar e se torne esférica na microestrutura.
Com isso, os pontos de concentração de tensão causados pelas lamelas da grafita são
eliminados, o que resulta em uma maior resistência mecânica e tenacidade.
C
I
O ferro fundido branco apresenta carbono na forma de cementita (ausência de grafita), Ê
N
o que faz com que este apresente maior dureza, quando comparado aos outros tipos de ferro C
I
fundido. Ele é empregado quando é necessária uma elevada resistência ao desgaste, como A
em componentes onde ocorre atrito elevado.
E
P
Após fusão completa do metal e correções de sua composição química, este é vazado R
O
nos moldes de areia, onde sofre a solidificação gradativa. Como a velocidade de resfriamento P
R
entre a região mais próxima da superfície de contato com o molde e o núcleo da peça é I
E
diferente, gradientes na microestrutura podem ser observados em amostras da superfície D
A
para o centro. Outro aspecto importante relacionado à velocidade de resfriamento desses D
E
materiais diz respeito à formação de ferro fundido branco em locais onde a peça apresenta
uma espessura muito fina, devido à velocidade de resfriamento ser mais alta nesses pontos, D
O
inibindo a precipitação da grafita. S
M
A
Após o resfriamento, os moldes de areia são vibrados sobre uma peneira, onde T
E
desmancham, e as peças são retiradas e enviadas para os processos de jateamento, retífica, R
I
e pintura, se necessário. A
I
S
182 TÓPICO 1 UNIDADE 3
A fundição dos aços apresenta aspectos semelhantes ao da fundição dos ferros fundidos,
porém a temperatura de fusão é mais elevada (acima de 1400ºC). A figura a seguir mostra
uma turbina do tipo Francis utilizada em usinas hidrelétricas, fabricada em aço pelo processo
de fundição.
C
I
NOT
A!
Ê Nesse momento, caro(a) acadêmico(a), é interessante observarmos
N novamente o diagrama Fe-Fe3C, apresentado na Unidade 1. Tente
C localizar a região de composição dos aços e dos ferros fundidos, e
I
A observe como varia a temperatura de fusão conforme alteramos
o percentual de carbono!
E
P
R
O
P A fundição de aços diretamente em perfis pode ser obtida pela junção do processo de
R
I fundição com um processo subsequente de laminação a quente. Nesse processo, o metal líquido
E
D é vazado e gradativamente resfriado, e posteriormente passado através de uma sequência de
A
D rolos laminadores. Esse processo é chamado de fundição contínua. A figura a seguir mostra
E
um exemplo desse tipo de processo.
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 3 TÓPICO 1 183
e ajustada (quando necessário) durante o processo de fabricação, visto que esta altera as D
O
propriedades do produto e os demais parâmetros de processo; S
M
• Temperatura de fusão e de vazamento: A viscosidade do material fundido depende da sua A
T
temperatura. O intervalo de tempo entre a retirada do metal líquido do forno para o vazamento E
R
nos moldes deve ser controlado. Se a temperatura do fundido no momento do vazamento no I
A
I
S
184 TÓPICO 1 UNIDADE 3
molde de areia for inferior ao especificado, algumas partes da peça podem não ser formadas,
ou teremos inclusões de ar, como bolhas;
• Nos casos específicos de alguns ferros fundidos, espessuras muito finas devem ser obtidas
por usinagem. A espessura mínima admissível para uma liga é determinada pelo teste de
coquilhamento, que consiste na fundição de um corpo de prova em forma de cunha, onde o
limiar entre a formação de ferro fundido branco e ferro fundido nodular ou cinzento é avaliado,
e sua espessura na região é determinada;
• Espessura da peça: Peças com espessura muito elevada podem apresentar diferenças
importantes de tamanho de grão da superfície para o núcleo, resultando em uma diferença de
dureza da superfície para o centro. Esses parâmetros precisam ser controlados e comparados
com a especificação do produto;
• Em ferros fundidos nodulares, o controle da microestrutura deve ser mais rigoroso. O grau
de nodularização deve ser avaliado para garantir a qualidade do produto.
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
FONTE: FONDERIE SAGUENAY. Disponível em: <http://foundry-sag.com/products/
M
A types-of-alloys/ductile-iron-castings>. Acesso em: 15 abr. 2012.
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 3 TÓPICO 1 185
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
FONTE: Callister (2007)
M
A
T
E
R Em casos mais específicos, alguns processos de fabricação diferenciados podem
I
A ser utilizados. Sabemos que os materiais metálicos apresentam, em geral, alta ductilidade
I
S
(capacidade de formação), permitindo, na maioria dos casos, a fabricação pelos métodos
UNIDADE 3 TÓPICO 1 187
convencionais, citados anteriormente. Para metais que não apresentam essas características,
uma das técnicas de conformação utilizadas é a metalurgia do pó.
• A porosidade da peça pode ser controlada por parâmetros do processo, incluindo a etapa de
sinterização. A porosidade final pode ser nula ou bastante elevada. Em algumas aplicações,
poros de tamanho controlado podem ser interessantes, como em filtros metálicos e buchas
autolubrificantes;
• Para a produção de peças complexas, o processo de fundição pode não ser uma alternativa
viável para metais com alto ponto de fusão. Nesses casos, a metalurgia do pó pode ser uma
alternativa interessante;
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
FONTE: EPMA. Disponível em: <http://www.epma.com/New_non_members/ I
A
selecting_pm.htm>. Acesso em: 18 abr. 2012. I
S
188 TÓPICO 1 UNIDADE 3
2.3 USINAGEM
Nos processos de usinagem onde ocorre o contato de uma ferramenta com a peça,
aspectos tanto do material como da ferramenta a ser utilizada devem ser levados em
consideração. Os materiais mais empregados na usinagem de metais são:
• Aço ferramenta: apresenta teor de carbono de 0,8 a 1,5%. O baixo custo e tratamentos
térmicos simples são as suas principais vantagens, embora tenha sido progressivamente
substituído pelo aço rápido. A temperatura de trabalho não deve exceder os 250ºC;
• Aço rápido: A introdução de elementos de liga, como o vanádio, tungstênio, cromo, molibdênio
e manganês, permitiram a obtenção dos chamados aços rápidos. A temperatura de trabalho
passou a ser de até 600ºC, e a resistência à abrasão foi melhorada. No entanto, o tratamento
térmico desses aços é mais complexo, aliado ao custo mais elevado em relação ao aço
C
I ferramenta;
Ê
N
C
I • Metal duro: O metal duro consiste em um material compósito, cuja matriz é um metal (mais
A
comumente cobalto), e a presença de carbonetos, como o WC (carboneto de tungstênio),
E
TiC (carboneto de titânio), TaC (carboneto de tântalo) ou NbC (carboneto de nióbio). A
P fase metálica permite a absorção de impactos na usinagem, além de conduzir e permitir
R
O a dissipação do calor gerado no processo. A fase cerâmica gera uma elevada dureza e
P
R resistência ao desgaste a esse tipo de ferramenta.
I
E
D
A
• Nitreto de boro cúbico cristalino (CBN): Esse tipo de material foi introduzido somente na
D década de 1950, e apresenta como vantagem a elevada dureza e maior estabilidade contra
E
oxidação do que o diamante. Esse tipo de material é utilizado na usinagem de materiais
D
O extremamente duros, como ferros fundidos coquilhados (brancos) e aços duros ou com
S
camada endurecida.
M
A
T
E
• Diamante: O material de maior dureza na escala Mohs é utilizado quando o acabamento é
R um fator relevante, visto que ele permite uma afiação do gume superior aos outros materiais.
I
A Um ponto importante é que este não deve ser utilizado na usinagem de metais ferrosos,
I
S
UNIDADE 3 TÓPICO 1 189
pois o carbono do diamante pode difundir para o metal. Para temperatura acima de 900ºC
ocorre grafitização, sendo o grafite extremamente macio. O diamante para ferramenta de
corte é produzido sinteticamente, apresentando elevado custo.
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
FONTE: ILO. Disponível em: <http://www.ilo.org/safework_bookshelf/
I
english?content&nd=857170109>. Acesso em: 28 abr. 2012. S
190 TÓPICO 1 UNIDADE 3
2.4.1 Recozimento
C
I
Ê Como vimos anteriormente, alguns processos de fabricação, sobretudo os realizados a
N
C
frio, geram tensões internas no material. O recozimento consiste em submeter o material a uma
I temperatura elevada por um longo período de tempo, com a finalidade de se obter o alívio das
A
tensões internas, tornando o material mais mole. O resultado do recozimento pode ser avaliado
E
por ensaios mecânicos, como o ensaio de dureza, ou pela avaliação da microestrutura.
P
R
O
P
No processo de recozimento devemos levar em consideração a velocidade de
R aquecimento, a temperatura máxima, o tempo de permanência nessa temperatura e a velocidade
I
E de resfriamento até a temperatura ambiente. O controle desses parâmetros é de suma
D
A importância, e irá depender do tipo de material que está sendo recozido, da sua condutividade
D
E térmica,e da espessura da peça. Durante o aquecimento e resfriamento da peça serão gerados
D gradientes de temperatura na peça, dependentes da condutividade térmica do material. Conforme
O
S
já estudamos, os materiais tendem a sofrer dilatação com o aumento da temperatura, e essa
diferença entre a dilatação do centro da peça até a superfície, sendo função da temperatura, pode
M
A gerar tensões térmicas adicionais. O tempo de permanência na temperatura de recozimento deve
T
E ser suficiente para que a peça seja aquecida por completo, e para que as reações, comandadas
R
I pelo processo de difusão, ocorram de acordo com o especificado.
A
I
S
UNIDADE 3 TÓPICO 1 191
2.4.2 Têmpera
C
I
A têmpera consiste no aquecimento do material acima da temperatura onde a sua Ê
N
estrutura passa de ferrita (CCC) para austenita (CFC), e resfriamento rápido até temperatura C
I
ambiente. Para os aços comuns ao carbono, a temperatura para a completa austenitização A
depende do teor de carbono (veja o diagrama de fases Fe-Fe3C, apresentado no tópico 6 da E
Unidade 1). Sabemos que, ao se transformar em austenita (CFC), o aço adquire a capacidade
P
de solubilizar maior quantidade de carbono que, em temperaturas inferiores à temperatura de R
O
austenitização, estava precipitado na forma de cementita. P
R
I
E
Se o resfriamento fosse realizado em condições de equilíbrio a partir de uma temperatura D
A
acima da temperatura de austenitização, o carbono seria gradativamente expulso da estrutura, D
formando cementita. Quando resfriamentos rapidamente a peça, retirando-a do forno acima E
necessário para que o carbono saia da estrutura é insuficiente. Como resultado, temos com esse M
A
procedimento a formação de outra fase, chamada de martensita. Esse processo é chamado de T
E
têmpera. A estrutura da austenita é tetragonal de corpo centrado (TCC), e consiste basicamente R
na estrutura CCC com uma das dimensões alongadas. I
A
I
S
192 TÓPICO 1 UNIDADE 3
P
R O processo de têmpera é utilizado para o endurecimento dos aços. Como a martensita
O
P é um microconstituinte de elevada dureza e fragilidade, o aço nesse estado apresenta pouca
R
I ductilidade e tenacidade. Além disso, como o resfriamento é realizado de forma rápida, tensões
E
D internas são invariavelmente inseridas no produto, que podem gerar trincas ou empenamento.
A
D Os produtos normalmente não são utilizados diretamente após a têmpera, sendo realizado um
E
tratamento térmico subsequente, denominado revenido.
D
O
S O revenido é realizado abaixo da temperatura eutetoide, normalmente entre 250ºC e
M 650ºC. Nesse processo, as tensões internas são aliviadas a temperaturas de cerca de 200ºC,
A
T e conforme aumentamos a temperatura, inicia-se o processo de difusão. A estrutura TCC da
E
R martensita é gradativamente transformada em martensita revenida, que consiste em uma fase
I
A α (ferrita) e cementita (Fe3C), as mesmas que observamos no diagrama de equilíbrio Fe-Fe3C.
I
S
UNIDADE 3 TÓPICO 1 193
P
R
O
A! P
NOT
R
I
E
Os fabricantes de aços normalmente fornecem tempo e temperatura D
de revenimento para os materiais fornecidos, na forma de tabelas A
D
ou curvas tempo versus temperatura de revenimento.
E
D
O
S
Para aços que contêm elementos de liga em quantidades relevantes, tais como o
manganês, níquel ou cromo, que contenham também antimônio, fósforo, arsênio ou estanho,
pode ocorrer a fragilização por revenido. Nesses casos, o acúmulo desses elementos nos
C
I contornos de grão faz com que a resistência ao impacto desses aços fique reduzida. Para evitar
Ê
N
esse problema, a temperatura de revenido, nesses casos específicos, não deve ser superior
C a 575ºC ou inferior a 375ºC.
I
A
P
R
O 3 PROCESSAMENTO DE MATERIAIS CERÂMICOS
P
R
I
E
D
Assim como nos materiais metálicos, no processamento dos materiais cerâmicos temos,
A em certas etapas do processamento, o consumo de energia na forma de calor. Na fabricação de
D
E vidros, que apresentam temperatura de fabricação inferior a 1000ºC, o processo de moldagem
D e conformação é realizado a quente, com a utilização de moldes metálicos ou por insuflação
O
S de ar, ou ambos. A fabricação de vidros planos pode ser por processo de laminação a quente,
M semelhante ao processo que estudamos anteriormente para os metais, ou pela deposição do
A
T vidro fundido sobre uma “piscina” de metal líquido de baixo ponto de fusão (normalmente se
E
R utiliza estanho fundido).
I
A
I
S
UNIDADE 3 TÓPICO 1 195
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
FONTE: MUDD CULTURE. Disponível em: <http://muddculture.blogspot.com.br/2011/08/ I
slip-casting-slip-trailing-and-altered.html>. Acesso em: 21 abr. 2012. S
196 TÓPICO 1 UNIDADE 3
Muitos dos produtos cerâmicos técnicos ou estruturais são obtidos através de extrusão,
seguida ou não de conformação plástica. Nesses processos, o material cerâmico é passado
através de uma matriz metálica, em um equipamento denominado extrusora, que pode ser de
C
I
êmbolo ou fuso. A umidade da massa cerâmica, a qual usualmente apresenta um percentual de
Ê material argiloso, varia em função do tipo de material a ser produzido, e se encontra geralmente
N
C na faixa de 20-30%.
I
A
E A massa cerâmica, após extrusão, pode ser conformada em matrizes, furada, usinada
P (torneamento) a úmido ou a seco. As características do produto e os custos envolvidos irão
R
O
determinar as técnicas posteriores a serem utilizadas, se necessárias. A figura a seguir mostra
P exemplos de produtos obtidos por processo de extrusão de massa cerâmica.
R
I
E
D A extrusora normalmente é equipada com uma câmara de vácuo. Uma pressão negativa
A
D é gerada nessa câmara através de uma bomba de vácuo, com a finalidade de retirar uma
E
parcela do ar presente na massa cerâmica. Com esse procedimento, tem-se como resultado
D
O
um material com maior compactação e consistência, permitindo a extrusão com menores
S umidades, o que favorece os processos subsequentes.
M
A
T No processo de extrusão, a consistência da massa deve ser a mais elevada possível,
E
R de forma a evitar a deformação do produto. Ainda, a umidade deve ser a mínima necessária
I
A
para a produção sem defeitos, visto que esta deve ser retirada em um processo posterior de
I secagem, o que representa um consumo energético.
S
UNIDADE 3 TÓPICO 1 197
• Umidade da massa;
C
• Consistência; I
Ê
N
• Velocidade de extrusão; C
I
A
• Nível de pressão negativa na câmara de vácuo da extrusora;
E
P
• Dimensional dos fusos e desgaste das matrizes. R
O
P
R
I
E
D
A
3.3 PRENSAGEM D
E
D
A prensagem de materiais cerâmicos é atualmente muito utilizada na fabricação de O
S
revestimentos cerâmicos (pisos e azulejos, dentre outros), bem como alguns itens de porcelana
M
de mesa. Os tipos de prensagem mais utilizados são: A
T
E
• Uniaxial: A prensagem é realizada em um único eixo, pela movimentação de uma punção R
I
que compacta o pó sobre uma matriz fixa; A
I
S
198 TÓPICO 1 UNIDADE 3
• Uniaxial de duplo efeito: A prensagem é realizada pela movimentação tanto de uma punção
superior como da matriz inferior;
E • Umidade do pó;
P
R • Escoabilidade do pó;
O
P
R
I • Pressão específica;
E
D
A • Características dimensionais da matriz ou molde.
D
E
D
Na fabricação dos moldes e modelos, o retorno elástico do material e das matrizes deve
O ser considerado. O retorno elástico do material depois de retirada a carga pode gerar defeitos
S
na extração da peça.
M
A
T
E
No processo de prensagem, geometrias planas podem ser obtidas com elevada
R produtividade em prensagem uniaxial. O atrito gerado entre as partículas do material e entre
I
A as partículas e a matriz deve ser considerado no processo de prensagem. Para produtos com
I
S
UNIDADE 3 TÓPICO 1 199
P
R
O
P
FONTE: Callister (2007) R
I
E
D
Conforme a água é gradativamente eliminada da peça, o produto experimenta uma A
D
contração. As partículas se aproximam até o momento em que se tocam (figura 84 (B)). A E
partir desse estágio, a peça não sofre retração dimensional, e a água a ser eliminada é aquela
D
presente nos poros entre as partículas do material cerâmico. A figura 84 (C) representa a O
S
peça seca.
M
A
T
É importante observar que no processo de secagem o intervalo de umidade E
R
correspondente ao estágio inicial até o estágio correspondente à figura 84 (b) é o mais crítico, I
visto que, em função da retração podem ser geradas tensões internas e trincas. A partir do A
I
estado descrito na figura 84 (b), o processo de secagem pode ser acelerado. S
200 TÓPICO 1 UNIDADE 3
O processo de queima dos materiais cerâmicos visa promover a sinterização, que pode
ser total ou parcial. No caso de tijolos e alguns produtos de revestimento cerâmico, assim
como nos materiais cerâmicos refratários, a sinterização não é completa, ou seja, existe uma
porosidade residual no produto acabado. Essa porosidade pode ser desejável em função da
aplicação do produto (isolamento térmico, por exemplo). Para materiais cerâmicos onde se faz
necessária a minimização da porosidade, a temperatura de queima deve ser mais elevada. A
sinterização pode ser facilitada pela formação de uma fase líquida viscosa. Essa fase líquida
escoa entre as partículas mais duras e auxilia na eliminação dos poros. Esse é o caso das
porcelanas e porcelanatos.
E
secundárias, ou seja, as ligações entre as cadeias poliméricas do material.
P
R Os polímeros podem ser agrupados em duas classes: termoplásticos e termofixos. Os
O
P termoplásticos sofrem amolecimento quando aquecidos e podem ser conformados, e quando
R
I resfriados e reaquecidos, podem ser moldados novamente. Já os termofixos formam ligações
E
D
cruzadas (ligações primárias) entre as cadeias poliméricas e, ao serem reaquecidos, ocorre
A a quebra de ligações, gerando a degradação do polímero, não sendo possível moldá-los
D
E novamente.
D
O
S No grupo dos termofixos temos as borrachas vulcanizadas (que também podem ser
M classificadas como elastômeros), resinas epóxi, resinas fenólicas e algumas resinas de poliéster.
A
T
Já os termoplásticos compreendem uma grande parcela dos materiais encontrados no nosso
E cotidiano, tais como o PVC (tubulações), PP e PE (embalagens, recipientes), PS (copos de
R
I café descartáveis), dentre outros.
A
I
S
UNIDADE 3 TÓPICO 1 201
• Polimerização por adição: Nesse processo, um centro ativo é formado pela reação de um
catalisador com um monômero. Na sequência, várias moléculas do monômero são fixadas
umas às outras, formando uma molécula polimérica que cresce gradativamente. O processo
termina quando duas cadeias se ligam mutuamente, ou reação com outro radical, não
restando extremidade reativa. O polietileno e o polipropileno são obtidos por essa técnica;
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
FONTE: Callister (2007) A
I
S
202 TÓPICO 1 UNIDADE 3
4.2 EXTRUSÃO
Vários produtos poliméricos podem ser obtidos pelo processo de extrusão. Os produtos
que apresentam seção reta constante são mais facilmente obtidos por esse processo, tais
como barras e tubos. Tubos de PVC, por exemplo, são produzidos em extrusoras de fuso,
semelhantes às utilizadas na produção de materiais cerâmicos, os quais já foram discutidos
anteriormente.
C
I
Ê
N Na produção de polímeros por extrusão, o material é alimentado no início da extrusora,
C
I juntamente com aditivos, tais como: retardadores de chama, plastificantes, corantes,
A
estabilizadores e enchimentos (carga). A extrusora é dotada de um sistema de aquecimento
E
resistivo ao longo de seu eixo. O sistema de aquecimento, em conjunto com o atrito do material
P
R com o fuso, promove a mistura e amolecimento do material. O material fundido passa pela
O
P
boquilha, e é posteriormente cortado no comprimento desejado.
R
I
E
D Dos parâmetros de extrusão a serem controlados, a velocidade de rotação do fuso
A
D e o gradiente de temperatura no interior do equipamento são de fundamental importância.
E
Se a temperatura e mistura do material forem insuficientes, heterogeneidades no material
D
O
extrudado podem ser observadas. Um excesso de temperatura ou excesso de atrito pode
S gerar a degradação das moléculas do polímero, tornando-o frágil ou com tonalidade
M inadequada.
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 3 TÓPICO 1 203
A cor dos materiais poliméricos é relevante quando este é aplicado também como
elemento decorativo, como é o caso dos forros de PVC. Com a degradação do polímero já
no processo de fabricação, ocorre uma tendência ao amarelamento do material. O processo
de produção necessita de inspeções periódicas de tonalidade, que pode ser visual e/ou com
utilização de um colorímetro.
4.3 INJEÇÃO
adquire a rigidez necessária para ser desmoldado. O produto retirado do molde apresenta os E
canais de alimentação ligando as diferentes peças em uma mesma matriz, ou apenas o canal P
R
de alimentação, se for uma peça única por cavidade. A separação das peças desses canais é O
P
realizada posteriormente. R
I
E
D
Em alguns casos, um percentual de retorno (canais de alimentação, rebarbas, peças A
D
com defeitos de processamento) pode ser reprocessado e adicionado novamente ao polímero E
virgem alimentado na injetora. A figura a seguir mostra esquematicamente um perfil de um D
molde de injeção. O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
204 TÓPICO 1 UNIDADE 3
D
O 5.1 COMPÓSITOS METAL-CERÂMICA
S
M
A A junção de metais com cerâmicas para a produção de novos materiais apresenta
T
E aspectos bastante interessantes. Como compreendemos a partir do estudo das unidades
R
I anteriores, os metais apresentam a capacidade de se deformarem plasticamente antes da
A
I
ruptura, quando uma carga é aplicada. Já os materiais cerâmicos são intrinsecamente frágeis,
S
UNIDADE 3 TÓPICO 1 205
falham sem deformação plástica, porém, podem apresentar dureza bastante superior à dos
metais, o que resulta em uma excelente resistência à abrasão.
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
FONTE: ILO. Disponível em: <http://www.ilo.org/safework_bookshelf/ A
english?content&nd=857170109>. Acesso em: 28 abr. 2012. I
S
206 TÓPICO 1 UNIDADE 3
UNI
As microestruturas dos materiais compósitos do tipo metal-
cerâmica apresentam alguma semelhança com os aços. Procure
realizar uma comparação. Nas autoatividades desse tópico
estaremos conversando sobre esse assunto!
Um aspecto que precisa ser considerado quando tratamos de materiais cerâmicos diz
respeito ao seu mecanismo de falha por ruptura mecânica. De fato, devido à sua elevada energia
de ligação, os materiais cerâmicos deveriam apresentar resistência mecânica muito superior ao
C
I observado para os materiais metálicos. No entanto, a incapacidade de se deformar plasticamente
Ê
N resulta em uma elevada sensibilidade a defeitos de fabricação. Quanto maior for o defeito presente
C
I no material cerâmico, menores tendem a ser as tensões de ruptura do material.
A
E
Além do tamanho do defeito, a quantidade de defeitos presentes no material cerâmico
P
R está vinculada diretamente à sua probabilidade de falha. Portanto, um material cerâmico
O
P
normalmente apresenta certo nível de incerteza no que diz respeito à sua tensão de ruptura.
R
I
E Esse fato se relaciona com a possibilidade de existência de um defeito de fabricação
D
A de tamanho crítico, que muitas vezes não é detectável por técnicas de caracterização não
D
E destrutivas, as quais estudamos na Unidade 2. Quando uma trinca atinge o tamanho crítico no
D material para um determinado nível de tensão aplicada, esta começa a se propagar rapidamente,
O
S gerando a falha instantânea do componente.
M
A
T
Como podemos contornar esse problema e aproveitar melhor as características
E mecânicas dos materiais cerâmicos?
R
I
A
I
S
UNIDADE 3 TÓPICO 1 207
• A propagação da trinca ocorre quando existe no material tensão suficiente para que
essa seja propagada, gerando a falha do componente. Essa propagação é praticamente
instantânea.
• Se uma fibra apresenta um defeito crítico, a ruptura dessa única fibra não irá gerar a falha
do componente.
C
I
Os compósitos polímero-cerâmica apresentam ótimas propriedades mecânicas, pois Ê
N
aliam a resistência mecânica elevada das fibras e sua rigidez com a capacidade de absorção de C
I
impacto e de deformação do material polimérico. Normalmente as fibras sofrem um tratamento A
superficial, de forma a promover uma excelente adesão da fibra com a matriz polimérica. Essa
E
adesão é fundamental, pois a energia mecânica na matriz polimérica deve ser transferida para
P
a fibra para que haja um efetivo reforço mecânico. R
O
P
R
Além de fibras, os materiais cerâmicos podem ser adicionados à matriz polimérica I
E
na forma de partículas. Os polímeros mais utilizados nesse tipo de compósito são do tipo D
A
epóxi e poliuretano. Polímeros termoplásticos também podem ser reforçados com materiais D
E
cerâmicos.
D
O
Os materiais compósitos do tipo polímero-cerâmica podem ser obtidos pelos métodos S
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 3 TÓPICO 1 209
RESUMO DO TÓPICO 1
P
• Materiais cerâmicos cristalinos apresentam, a priori, alto ponto de fusão, e normalmente R
O
não é viável produzi-los por fundição. O produto é conformado a frio e sinterizado em altas P
R
temperaturas. Vidros, de baixo ponto de fusão, podem ser conformados a quente. I
E
D
A
• Materiais cerâmicos são produzidos usualmente por colagem de barbotina, extrusão ou D
prensagem, sendo a principal diferença entre os processos o teor de umidade do material; E
D
O
• Materiais poliméricos termoplásticos são mais comumente obtidos por extrusão ou injeção, S
IDADE
ATIV
AUTO
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 3
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
2 REQUISITOS DE PROJETO
D
O
S
M
A
T
E
R
I FONTE: Adaptado de: WIKIPEDIA. Disponível em: <http://he.wikipedia.org/wiki/%D7
A
%A7%D7%95%D7%91%D7%A5:Materials_science_tetrahedron;structure,_
I
S processing,_performance,_and_proprerties.svg>. Acesso em: 29 abr. 2012.
UNIDADE 3 TÓPICO 2 213
!
ROS
SF UTU
ESTUDO
sido objeto de diversos estudos. A elevada temperatura de fusão desses materiais permitiria, P
R
por exemplo, a sua utilização como componentes em processos onde ocorre combustão (tais O
P
como em motores de automóveis), onde uma temperatura maior de trabalho poderia viabilizar R
I
um melhor rendimento do processo. E
D
A
Na indústria automobilística e aeronáutica, vários desenvolvimentos relacionados aos D
E
materiais estão direcionados à maximização da resistência mecânica e minimização do peso
D
do componente. Basta observarmos a evolução na quantidade de componentes poliméricos O
S
e compósitos de base polimérica nos automóveis, que apresentam menor densidade, em
M
substituição aos metais, mais densos. Na fabricação de aviões, o desenvolvimento de ligas A
T
de alumínio com elevada resistência permitiu a diminuição de peso das aeronaves, resultando
E
em melhor desempenho e economia de combustível. Verificamos a importância desse R
I
desenvolvimento quando analisamos a evolução dos custos desse tipo de transporte, e que A
I
S
214 TÓPICO 2 UNIDADE 3
vem se tornando cada vez mais acessível a uma parcela maior da população, além do aspecto
ambiental.
Problema exemplo:
Um eixo cilíndrico de uma roda de avião deve suportar um esforço de flexão, proporcionado
por uma parcela do peso da aeronave. Analisando os dados do projeto mecânico, verificou-se
que o eixo precisa suportar uma carga de 300 kg. Determine o material mais adequado para
a aplicação, de forma a obter o eixo com o menor peso possível. O comprimento do eixo deve
ser de 50 cm.
Resolução:
Onde:
P
R Agora, podemos inserir na equação os dados do problema, o que resulta em:
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
Precisamos agora considerar a massa (m) do eixo, pois um dos requisitos do produto
é a obtenção da menor massa possível para o componente. A massa consiste no produto do
M
A volume do eixo (V) pela densidade do material (ρ):
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 3 TÓPICO 2 215
Resolvendo para m:
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
Os valores tabelados irão apresentar a tensão de ruptura ou de escoamento dos materiais A
D
a serem analisados, os menores valores de m para o eixo calculado serão obtidos quando o E
eixo for confeccionado em um material que apresente a menor relação:
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
216 TÓPICO 2 UNIDADE 3
O índice de desempenho (P) pode ser calculado pelo inverso da equação acima. Dessa
forma, os materiais que apresentarão o melhor desempenho para a aplicação serão aqueles
que apresentarem os maiores valores de P.
QUADRO 4 – PROPRIEDADES
Densidade (Kg/ Tensão de ruptura/
Material P
m 3) escoamento (MPa)
Fibra de Vidro em
2100 700 (ruptura) 3,11
Matriz Epóxi
Portanto, de acordo com a nossa análise, o material compósito Fibra de Vidro em Matriz
Epóxi apresenta o melhor índice de desempenho, e deve ser selecionado para a aplicação.
C
I
Ê
N
C ÇÃO!
I
ATEN
A
E
O diâmetro do nosso eixo irá depender do material selecionado. O
P cálculo do diâmetro será apresentado posteriormente. Portanto,
R guarde essas informações para nosso estudo ao longo dessa
O unidade.
P
R
I
E
D
A No projeto do eixo do nosso exemplo em aplicação real existe a possibilidade da atuação
D
E
de outros tipos de esforços, como o de torção. Os tipos de esforços e métodos de cálculo serão
mais detalhados no caderno de Resistência dos Materiais.
D
O
S
M
A
T
E 2.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A RESISTÊNCIA À FADIGA E FLUÊNCIA
R
I
A
I Quando os fenômenos de fadiga ou fluência podem estar presentes na aplicação, a
S
UNIDADE 3 TÓPICO 2 217
E
Estabilizantes específicos são adicionados ao polímero para reagir com os radicais
P
livres gerados inicialmente pela quebra da cadeia (estabilizantes primários) ou pelo radical R
O
já oxidado (estabilizante secundário), impedindo a propagação da reação. Outros tipos de P
R
estabilizantes são adicionados ao polímero para reagirem com os radicais livres gerados pela I
E
quebra de ligações, causada pela radiação UV, presente na luz solar. O uso de estabilizantes D
A
é muito importante para aumentar a vida útil desses materiais em condições de degradação D
que, no caso dos polímeros, podem ser uma aplicação no meio ambiente comum, em muitos E
casos. D
O
S
de alumínio. No entanto, o requisito mecânico pode ficar comprometido, visto que a resistência
mecânica dessas ligas tende a ser inferior às dos aços.
Você deve estar lembrado de que o processo de conformação a frio – como, por
exemplo, o dobramento e uma chapa de aço inoxidável – gera tensões internas causadas
pela deformação plástica. Dessa forma, mesmo o material sendo considerado inerte ao meio
corrosivo ao qual este foi inserido, podem surgir pontos de corrosão localizados nas regiões
onde existem tensões residuais: como resultado, o componente pode falhar. Uma solução
para esse problema consiste na realização de tratamentos térmicos de alívio de tensão no
C componente conformado. As cerâmicas apresentam, na maioria dos casos, boa resistência a
I
Ê intempéries, visto que já são compostas por óxidos.
N
C
I
A FIGURA 90 – CORROSÃO DE ELEMENTO METÁLICO ESTRUTURAL: ST.
E
ANTHONY BRIDGE, MINEÁPOLIS
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
FONTE: Disponível em:<http://www.freerepublic.com/focus/f-news/1954133/posts>.
A Acesso em: 5 maio 2012.
I
S
UNIDADE 3 TÓPICO 2 219
3 ASPECTOS ECONÔMICOS
P
A determinação da viabilidade de aplicação do material selecionado com base em R
critérios de propriedades nem sempre é suficiente para garantir o melhor desempenho do O
P
produto ou componente na aplicação. Em uma aplicação real, alguns fatores econômicos R
I
podem inviabilizar o processo. Além de verificarmos a disponibilidade do material selecionado, E
D
e a possibilidade de fabricarmos o componente através das técnicas de fabricação disponíveis, A
D
faz-se necessário avaliar o contexto da sua aplicação, para evitar erros que podem resultar E
em perdas financeiras significativas. D
O
S
No nosso exemplo do item 2.1, constatamos que o melhor material para aplicação
M
estudado é a Fibra de Vidro em Matriz Epóxi. No entanto, nesse caso ainda não consideramos A
T
o custo dos materiais a serem selecionados. No caso do nosso exemplo, o custo do material irá E
R
depender da massa do eixo (quantidade em quilos de material a ser utilizado para fabricarmos I
o eixo) e do custo do material por quilo. A
I
S
220 TÓPICO 2 UNIDADE 3
Agora, vamos calcular o diâmetro mínimo do eixo, caso este fosse produzido em aço 4340:
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R Observe que o diâmetro do eixo em aço 4340 pode ser cerca de 24% menor quando
I
E comparado àquele produzido em fibra de vidro, suportando os mesmos 300 kg especificados
D
A no projeto.
D
E
Por fim, calculamos o diâmetro do eixo produzido em ferro fundido nodular:
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 3 TÓPICO 2 221
Como o ferro fundido nodular apresenta resistência mecânica mais baixa, um eixo que
atenda à especificação precisa ter um diâmetro maior.
Agora, vamos calcular a massa de cada eixo produzido em cada um dos três materiais,
considerando as dimensões do eixo e suas respectivas densidades:
No quadro a seguir está apresentada a massa de cada eixo e o custo por quilo de
cada material, bem como o custo final de cada eixo, em termos do preço do insumo para sua
fabricação.
Fibra de vidro em
2496 62,0 154.752
matriz epóxi
E
Vamos agora analisar os demais aspectos do projeto da aeronave:
P
R
O projeto da aeronave informa que esta consome 6.000 litros de combustível por O
P
hora para uma massa total da aeronave de 300.000 kg, e que o consumo de combustível é R
I
linearmente proporcional à massa da aeronave. Portanto, cada quilo de material representa E
D
um consumo de 0,02 litros de combustível por hora. Adicionalmente, o custo do combustível A
D
de avião é de 4,20 R$/litro. E
D
Assim, podemos concluir que cada quilo de material a mais no avião representa O
S
um custo de R$ 0,084 por hora de vôo. A vida útil da aeronave está planejada para ser de
M
40.000 horas de vôo. Considerando os dados apresentados, podemos calcular o quanto A
T
representa a massa do eixo no consumo de combustível da aeronave durante a sua vida E
R
útil (quadro a seguir). I
A
I
S
222 TÓPICO 2 UNIDADE 3
Fibra de Vidro em
2496 210 8.400 mil
Matriz Epóxi
ÇÃO!
ATEN
P
3.2 GARANTIAS DE FORNECIMENTO E QUALIDADE
R
O
P
R Quando da aquisição de materiais na forma de insumos para a fabricação de produtos,
I
E
além do desempenho do material selecionado e seu custo e processabilidade, faz-se necessário
D avaliar o desempenho do fornecedor ao longo do tempo. Para tanto, é desejável:
A
D
E
• Investigar a confiabilidade do fornecedor junto a outros clientes;
D
O
S
• Exigência de certificação de qualidade (ISO 9001 e normas específicas, de acordo com o
M
A
segmento produtivo);
T
E
R • Em alguns casos pode ser conveniente o envio de amostras para análise em laboratórios
I
A credenciados para validação do fornecedor e constatação de qualidade de lotes recebidos.
I
S
UNIDADE 3 TÓPICO 2 223
P
• Substituição total ou parcial de matérias-primas ou materiais de origem externa por R
O
fornecedores regionais, avaliando as propriedades e constância da qualidade de fornecimento, P
R
permitindo a minimização de custos de transporte; I
E
D
• Economia de energia através do aumento da produção e produtividade, ou pela possibilidade A
D
de processamento a temperaturas mais baixas, por exemplo; E
D
O
• Aumento da vida útil de componentes através da utilização de tratamentos térmicos ou S
tratamentos superficiais adequados. M
A
T
A integração entre o conhecimento adquirido nas universidades e centros de pesquisa E
R
com a indústria é de fundamental importância para o aperfeiçoamento dos processos I
A
produtivos. I
S
224 TÓPICO 2 UNIDADE 3
A redução de custos, quando relacionada a materiais, deve ser muito bem avaliada.
Como vimos no nosso exemplo de seleção de materiais para um eixo, uma análise completa
do problema muitas vezes precisa ser realizada para evitar escolhas erradas. Quando tratamos
de processos produtivos em grande escala, essas escolhas podem significar grandes perdas
financeiras. Sobre esse assunto é válido enumerarmos alguns aspectos relevantes:
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 3 TÓPICO 2 225
RESUMO DO TÓPICO 2
• A seleção de materiais para aplicações mecânicas passa pela análise dos esforços mecânicos
presentes no material na aplicação.
• Os critérios de projeto precisam ser bem definidos, pois o direcionamento para escolha do
material mais adequado depende de vários aspectos.
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
226 TÓPICO 2 UNIDADE 3
IDADE
ATIV
AUTO
Resistência ao
Material
cisalhamento (MPa)
Fibra de vidro em matriz epóxi 75
Aço 4340 800
Ferro fundido nodular 320
Dado
C MT
I t=
π. D
Ê 3
N
C 8
I
A
E
t = Resistência ao cisalhamento
MT= Momento de torção
P
R D = Diâmetro
O
P
R
I 2 O setor de pesquisa e desenvolvimento da sua empresa está elaborando um projeto de
E
D uma prensa responsável pelo dobramento de chapas para a fabricação de cantoneiras
A
D
de aço. Cite e descreva pelo menos três fatores a serem considerados no projeto da
E matriz metálica a ser utilizada na prensa.
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 3
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
C
Os impactos ambientais causados pela geração de resíduos sólidos podem ser I
Ê
minimizados através do desenvolvimento de métodos eficientes de reciclagem. Nesse tópico N
C
abordaremos alguns aspectos relacionados à reciclagem de materiais cerâmicos, polímeros, I
A
metais e compósitos.
E
P
R
O
P
R
2 CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS I
E
D
A
A classificação de resíduos tem como diretriz a norma NBR 10004, e passa pela D
E
identificação do processo no qual este foi gerado, bem como as suas características e
D
propriedades. Após esse processo, o material é comparado com uma lista de materiais disponível O
na referida norma, para determinação do impacto à saúde e ao meio ambiente. Os resíduos S
Os resíduos da classe II são subdivididos em não inertes (classe II-A) e inertes (classe II-B).
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I FONTE: ABNT NBR 10004: 2004
A
I
S
UNIDADE 3 TÓPICO 3 229
De acordo com NEWELL (2010), as sucatas metálicas são denominadas sucatas novas
quando são provenientes de produtos não utilizados, como, por exemplo, as rebarbas de
usinagem ou de estamparia. Outro tipo de sucatas, denominadas sucatas velhas, é proveniente
do descarte de produtos metálicos comercializados e descartados, tais como embalagens e
chassis de automóveis sucateados. O comércio dessas sucatas é um mercado que movimenta
muito capital, sobretudo em países desenvolvidos, que vendem as suas sucatas de automóveis
para a reciclagem em países em desenvolvimento, tais como a China. Mais de 12 mil companhias
de desmontagem de automóveis operam nos Estados Unidos.
P
R
4 RECICLAGEM DE MATERIAIS POLIMÉRICOS O
P
R
I
A reciclagem dos polímeros, quando comparada à de outras classes de materiais, pode E
D
ser considerada problemática. Podemos citar algumas das dificuldades: A
D
E
C
I
Ê
N
C
I FONTE: Adaptado de: Embalagem Sustentável. Disponível em: <http://
A
embalagemsustentavel.com.br/2010/09/02/dica-rotulagem-reciclagem/>.
E Acesso em: 6 maio. 2012.
P
R
O
PET: Poli (tereftalato de etila)
P
R PEAD: Polietileno de alta densidade
I
E
D
PVC: Poli (cloreto de vinila)
A
D PEBD: Polietileno de baixa densidade
E
PP: Polipropileno
D
O
S PS: Poliestireno.
M
A
T Infelizmente nem todos os produtos apresentam identificação, somando-se a isso
E
R
o problema relacionado aos produtos importados de forma ilegal, e que se transformam
I posteriormente em resíduos sólidos a serem reciclados ou descartados.
A
I
S
UNIDADE 3 TÓPICO 3 231
cerâmicos que são produzidos por aquecimento e posterior conformação, tais como os vidros, E
são mais facilmente recicláveis. P
R
O
P
Existem algumas linhas de pesquisa atuantes no processo de elaboração de meios de R
I
reciclagem dos materiais cerâmicos. Uma saída conveniente diz respeito ao processamento e E
D
utilização desses materiais como agregado ao concreto para construção civil. Já os materiais A
D
cerâmicos inertes podem ser utilizados para drenagem do solo e dispostos em aterros. E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
232 TÓPICO 3 UNIDADE 3
LEITURA COMPLEMENTAR
De modo geral, as indústrias que estão mais interessadas em reciclar seus resíduos
poliméricos são dos segmentos de embalagens e automotivo. A energia gasta para o transporte
é consideravelmente reduzida ao substituir embalagens de vidro por polímero. Por exemplo,
um caminhão carregado de água mineral engarrafada em vidro está, na verdade, transportando
57% em massa (m/m) de água e 43% m/m de vidro. Em 2000, no Brasil, cerca de 15% e 26%
dos produtos foram embalados por termoplásticos rígidos e flexíveis, respectivamente. Nos
EUA estes valores foram de 21% e 9%.
C
I
Ê
Dentre os polímeros reciclados, o PET destaca-se pelo alto índice de reciclagem atingido
N em um curto período de existência. No início dos anos 80 os EUA e o Canadá reciclavam o
C
I PET para fazer enchimento de almofadas; posteriormente, com a melhora na qualidade do
A
PET reciclado, surgiram aplicações importantes, como tecidos e recipientes para produtos não
E
alimentícios. Na década de 90 o governo americano autorizou o uso do material reciclado em
P
R embalagens multicamadas para alimentos, onde o material reciclado não tem contato com o
O
P alimento, pois fica na camada intermediária.
R
I
E
D
Atualmente, nos EUA e em alguns países da Europa é permitida a utilização de
A PET reciclado para a confecção de embalagens monocamadas que têm contato direto com
D
E alimentos. Para este fim foram desenvolvidas tecnologias conhecidas como “bottle-to-bottle”,
D que envolvem etapas de lavagem, descontaminação, cristalização, pós-condensação no estado
O
S sólido e extrusão do PET.
M
A
T No Brasil, de acordo com a Portaria nº 987, de 1998, da Secretaria de Vigilância Sanitária
E
R do Ministério da Saúde, apenas é possível a utilização de PET pós-consumo em embalagens
I
A
multicamadas destinadas ao acondicionamento de bebidas carbonatadas não alcoólicas.
I Portanto, os artefatos fabricados de polímeros reciclados têm limitações de aplicação, ou seja,
S
UNIDADE 3 TÓPICO 3 233
não podem ser utilizados em contato com bebidas, remédios, alimentos, brinquedos e material
de uso hospitalar, pois, dependendo do uso anterior, ele pode estar contaminado. Então, o
PET reciclado é utilizado como fibra têxtil (41%), mantas de não tecido (16%), cordas (15%),
resinas insaturadas (10%), embalagens (9%), cerdas de vassouras e escovas (5%) e de outros
produtos (4%).
P
De modo geral, as empresas de reciclagem de polímeros fazem a separação por R
O
diferença de densidade. A separação automatizada baseada na diferença de densidade é P
R
muito utilizada para o PE, o PP, o PS, o PVC e o PET e é realizada em tanques de flotação ou I
E
hidrociclones. Quando dois polímeros apresentam densidades próximas, este procedimento D
A
torna-se mais difícil. O material metálico é retirado por separação eletrostática. D
E
etc. A hidrólise do PET é um processo autocatalítico onde os grupos hidroxílicos terminais reagem M
A
formando grupos carboxílicos que aceleram a hidrólise, resultando em pontos pretos no produto T
E
transparente. A contaminação acima de 50 ppm de PVC torna o PET fora de especificação para R
I
a fabricação de filmes. Algumas tecnologias alternativas têm sido desenvolvidas para detectar A
I
o cloro do PVC por fluorescência de raios-X, a fim de separá-lo previamente. S
234 TÓPICO 3 UNIDADE 3
E
É crescente o interesse na reciclagem do PET, entretanto, as embalagens de PET
P
R recicladas não rendem muito aos recicladores e muitas empresas já faliram também aqui
O
P no Brasil, pois a maioria dos interessados em reciclar quer iniciar pelo PET. Este interesse
R
I pelas embalagens de PET vem da sua visibilidade nas calçadas, nos lixões, aterros e rios.
E
D Aparentemente disponíveis, as embalagens de PET têm como principal destino o lixão. Outros
A
D polímeros, como o PE, o PP e o OS, têm demanda e oferta bem superior, além de necessitarem
E
investimentos menores. A coleta seletiva é importante para a solução deste problema, e sem
D ela a reciclagem vai continuar deficiente.
O
S
M Através de entrevistas nos EUA, foi constatado que o consumidor se mostra interessado
A
T em reciclar e até apoia iniciativas nesta área. Na prática, porém, ele não quer pagar mais
E
R pelos produtos reciclados. Foi verificado também que tanto o consumidor quanto o fabricante
I
A estão dispostos a pagar um pouco mais (de 10% a 15%) por embalagens “ecologicamente
I
S responsáveis”, mas este preço adicional ainda é insuficiente. Algumas medidas já foram
UNIDADE 3 TÓPICO 3 235
tomadas, tanto por parte dos fornecedores de material como dos fabricantes, para diminuição
da quantidade de material (paredes mais finas, redução de tamanho), que resultaram em
benefícios financeiros.
Outro aspecto que vem sendo bastante discutido é a avaliação do ciclo de vida. Esta
é feita a partir da definição técnica do processo envolvido para transformar matérias-primas e
produtos. Nas diferentes unidades dessa cadeia de produção e consumo são levantados dados
quantitativos sobre aspectos ambientais importantes, tais como emissões, consumo de recursos,
consumo de energia e geração de resíduos. Uma característica marcante da avaliação do ciclo
de vida é o fato de ser a única ferramenta de gestão ambiental aplicada do berço ao túmulo
dos sistemas de produção. Ela permite identificar os aspectos ambientais em todos os elos da
cadeia produtiva e consumo, desde a exploração das matérias-primas brutas até o uso final,
passando pelo transporte, embalagem, reciclagem e destino final dos resíduos. No mercado
existem casos clássicos sobre ciclo de vida de produtos. Os mais visíveis, provavelmente, são
aplicados a embalagens.
E
Para se garantir o sucesso da reciclagem de polímeros são necessárias quatro condições
P
básicas: 1) contínuo fornecimento de material bruto para uma organização adequada de coleta, R
O
separação e esquemas de pré-tratamento, 2) tecnologia de conversão adequada, 3) mercado P
R
para o produto reciclado e 4) viabilidade econômica. No entanto, o abastecimento de materiais I
E
recicláveis tem crescido muito mais rápido que a capacidade de convertê-los em produtos D
A
usáveis e o preço destes materiais tem flutuado bastante, tornando difícil o planejamento de D
E
um sistema completo.
D
O
FONTE: SPINACÉ, M. A. S.; PAOLI, M. A. A TECNOLOGIA DA RECICLAGEM DE POLÍMEROS. S
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/%0D/qn/v28n1/23041.pdf>. Acesso em: 7 maio 2012.
M
A
T
E
R
I
A
I
S
236 TÓPICO 3 UNIDADE 3
RESUMO DO TÓPICO 3
• Os resíduos sólidos são classificados em perigosos (classe I) e não perigosos (classe II), e
podem ser inertes ou não inertes.
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
UNIDADE 3 TÓPICO 3 237
IDADE
ATIV
AUTO
1 Cite três características dos polímeros que contribuem de forma negativa para o
processo de reciclagem.
3 Por que a reciclagem dos vidros é mais simples do que a reciclagem das cerâmicas
cristalinas?
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
238 TÓPICO 3 UNIDADE 3
IAÇÃO
AVAL
C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S
239
REFERÊNCIAS
CALLISTER, W.D. Ciência e Engenharia de Materiais: Uma Introdução. Rio de Janeiro: LTC,
2002.
CALLISTER, W.D. Materials Science and Engineering: An Introduction. U.S.A.: John Wiley
& Sons, 2007. 975p.
SENAI MARIO AMATO. Ferramenteiro de moldes para plásticos. São Paulo: SENAI SP.
NTP - Núcleo de Tecnologia do Plástico, 2001. (apostila).
SILVA JR., Silvério Ferreira da, MARQUES, Paulo Villani. Ensaios Não Destrutivos. Disponível
em: <http://www.demec.ufmg.br/site/cursos/arquivos/168pdf>. Acesso em: 7 abr. 2012.
TEIXEIRA, Rejane M. Ribeiro. Lei de Bragg e Difração: Como ondas podem revelar a estrutura
atômica de cristais. Disponível em: <http://www.if.ufrgs.br/tex/fis01101/home.html>. Acesso
em: 6 abr. 2012.
VLACK, V. Princípios de Ciência dos Materiais. São Paulo: Edgard Blucher, 2000. C
I
Ê
N
C
I
A
P
R
O
P
R
I
E
D
A
D
E
D
O
S
M
A
T
E
R
I
A
I
S