Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
RESUMO
I
Quando se procura investigar a dimensão e a natureza das bases a partir das
quais Nietzsche desenvolveu sua reflexão acerca do niilismo, a obra de Paul Bourget
Essais de psychologie contemporaine é considerada por vários estudiosos como a fonte
mais significativa.1 De fato, é indiscutível que o desenvolvimento que o escritor francês
fez da “teoria da décadence”, bem como seu diagnóstico da presença do “espírito
∗
Doutorando pelo programa de pós-graduação em filosofia da UNICAMP. E-mail:
jpsvboas@yahoo.com.br
1
Cf. ANDLER, Charles. Nietzsche, sa vie et sa pensée: la dernière philosophie de Nietzsche, p. 266. e
também MÜLLER-LAUTER, Wolfgang. Nietzsche, seine Philosophie der Gegensätze und die Gegensätze
seiner Philosophie. Berlin/ New York: Walter de Gruyter, 1971.
2
ARALDI, Clademir. A radicalização do niilismo na obra de Nietzsche: acerca da posição de um novo
sentido de criação e aniquilamento. Tese de doutorado. São Paulo, 2002. p. 34.
3
TURGUÊNIEV, Ivan. Pais e Filhos. Trad. Rubens Figueiredo. São Paulo: Cosac e Naify, 2004. p. 7-8.
4
Muito embora a origem etimológica do niilismo remonte ao conceito de nada (nihil), sendo com isso
possível remontar sua presença na tradição filosófica já a partir do diálogo Górgias de Platão, o primeiro
uso da designação “niilista” ocorre apenas na Revolução Francesa, quando eram assim denominados
aqueles que não eram nem a favor nem contra a revolução. Cf. PECORARO, Rossano. Niilismo. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar. 2007. p. 8.
5
PECORARO, Rossano. op.cit., p. 11-12.
6
Cf. ARALDI, Clademir. op. cit., p. 29-30.
7
Apesar desta ressalva, vale ressaltar que já nesta época Nietzsche, ao seu próprio modo, também
desenvolve uma crítica ao idealismo alemão, que pode ser encontrada por exemplo nos aforismos 490
de Humano, demasiado humano e 190 de Aurora.
8
NIETZSCHE, F. Kritische Studienausgabe. Org. Giorgio Colli e Mazzino Montinari. Berlin/New York:
Walter de Gruyter, 1988. Vol 15: Chronik zu Nietzsches Leben vom 19. April 1969 bis 9. Januar 1889. p.
50. Doravante, KSA.
9
KUHN, Elisabeth. op.cit., p. 274.
10
TURGUÊNIEV, Ivan. op.cit., p. 46-47
11
Idem, p. 52.
12
Idem, p. 83.
13
Idem, p. 84.
14
Idem, p. 83.
15
Idem, p. 84.
II
As primeiras ocorrências explícitas do termo “niilista” na obra de Nietzsche
ocorrem em dois fragmentos póstumo do verão de 1880. Recém-aposentado, o
16
Idem, p. 84-85.
17
Idem, p. 87-88
18
Idem, p. 88-89.
19
Idem, p. 86.
20
A tradução de todas as citações é de minha autoria.
21
CF. KUHN, Elisabeth. op.cit., p. 256-257.
A partir desta fala, percebemos claramente que, para Bazárov, não existem
instituições imutáveis e indestrutíveis que estejam assentadas sobre fundamentos
eternos e inquestionáveis. Ora, o mesmo pode ser dito acerca de Nietzsche com
relação aos valores, sobre os quais estas mesmas instituições encontrariam seu apoio.
Diante do que foi visto, acreditamos então ser possível concluir que, na
medida em que os dois primeiros fragmentos sobre o niilismo podem ser entendidos
como um diálogo com a postura defendida pela personagem Bazárov, é inegável a
afirmação de que a leitura do romance de Turguêniev tenha influenciado diretamente
as primeiras reflexões do filósofo alemão acerca do niilismo.
Como uma última ressalva, vale destacar que, apesar destes dois fragmentos
constituírem uma espécie de “reflexão isolada” acerca deste tema dentro do conjunto
da obra de Nietzsche dos anos 80 até 82, podemos perceber que diversos temas
Referências Bibliográficas
PECORARO, Rossano. Niilismo. RJ: Jorge Zahar. 2007. (Coleção Filosofia Passo-a-passo).
TURGUÊNIEV, Ivan. Pais e Filhos. Trad. Rubens Figueiredo. SP: Cosac e Naify, 2004.
(Coleção Prosa do Mundo).