Sie sind auf Seite 1von 32

11º ano

Estratificação social e poder político nas sociedades de


Antigo Regime
Sociedade de ordens e poder absoluto no Antigo Regime

A sociedade de ordens – uma sociedade estratificada


No Antigo Regime, a sociedade estava organizada em ordens rigidamente
diferenciadas por estatutos jurídicos próprios reconhecidos pelo Direito.
As ordens sociais do Antigo Regime eram três. Tinham origem na divisão
tripartida da sociedade medieval em clero, nobreza e povo que, ao longo do tempo, se foi
institucionalizando, de forma aceite e incontestada, como organização natural do tecido
social, tal como os fundamentos da sua diferenciação:
- o estatuto de nascimento ou o ingresso na vida religiosa, que também era
condicionado pelo nascimento, pelo menos nas altas hierarquias;
- a função que desempenhava cada um dos seus membros no coletivo social;
- os privilégios e deveres de cada ordem;
- comportamentos, forma de tratamento, honras e dignidades definidas para cada
grupo.
Desta diferenciação da condição de cada ordem resultaram como principais
características da sociedade do Antigo Regime:
- a desigualdade da condição social dos súbditos perante a lei;
- a rígida divisão da sociedade em privilegiados e não privilegiados;
- a hierarquização das ordens considerando a sobrevalorização da função
religiosa e a preponderância dos que combatiam e governavam relativamente aos que
trabalhavam;
- a hierarquização dos diferentes estratos no interior de cada ordem,
considerando os diferentes níveis de vida e a origem e riqueza dos membros que a
integravam;
- a difícil mobilidade social entre as ordens.
Os diferentes estratos sociais
 O clero
O clero ocupava o primeiro lugar na hierarquia social, graças:
- ao prestígio que lhe conferia a direção da vida espiritual;
- à tutela do ensino e ao desempenho de altos cargos na administração pública e na
corte, pela cultura que detinha;
- ao poder material que a riqueza acumulada lhe proporcionava;
- aos vastos privilégios que gozava.
Considerando as funções desempenhadas, integravam o clero:
- religiosos que dirigiam as atividades de culto em contacto direto com os fiéis – o
clero secular;
- membros das ordens monásticas retirados nos conventos, mosteiros e abadias e
membros das ordens militares – o clero regular;
Considerando o poder e o estatuto de riqueza, o clero dividia-se em:
- alto clero, construído pelo topo da hierarquia eclesiástica, onde se destacavam
cardeais, arcebispos, bispos e abades, muitos deles com origem na nobreza e na alta
burguesia. Administravam a riqueza das dioceses e normalmente possuíam bens próprios.
Constituíam uma elite religiosa pelo poder e riqueza que ostentavam;
- baixo clero constituído pelos párocos, frades e outros religiosos de condição humilde
que levavam uma vida modesta, dependentes das contribuições materiais dos seus fiéis.

 A nobreza
A nobreza constituía um grupo social claramente minoritário na totalidade social.
Ocupava o segundo lugar na estrutura social e constituía também um grupo privilegiado.
À cabeça da nobreza encontravam-se os príncipes e outros familiares mais ou menos
próximos da família real. Vinham depois os descendentes dos cavaleiros, tanto mais
importantes quanto mais remota fosse a linhagem, e, por último, vinham os descendentes
de fidalgos e outra nobreza de constituição mais recente.
Quanto à sua origem, temos de considerar a nobreza de sangue e a nobreza de toga.
- A nobreza de sangue ou nobreza de espada era constituída pelas famílias
tradicionais. Era a nobreza de nascimento, orgulhosa dos seus títulos, zelosa da sua
condição, que procurava manter, olhando com desdém a nobreza de constituição mais
recente.
- A nobreza de toga era uma nobreza de origem menos tradicional, por vezes
constituída por filhos da burguesia, proeminentes juristas que exerciam importantes
cargos burocrático-administrativos do Estado. Tratava-se de uma nova nobreza que
baseava a sua ascensão no mérito e riqueza pessoais constituindo a única manifestação de
mobilidade social.
Quanto ao seu poder e riqueza, podemos falar em alta nobreza e baixa nobreza.
- a alta nobreza era constituída por aristocratas de elevado poder fundiário ou
beneficiários de elevada proteção régia. Tinham grande poder político por constituírem o
círculo mais próximo dos monarcas na governação.
- a baixa nobreza era a nobreza de mais baixa condição, constituída por fidalgos que
frequentemente atravessavam dificuldades económicas e que não tinham qualquer
relutância em intervir no comércio ultramarino e na mercantilização das suas
propriedades rurais. Foi no seio deste grupo que se formou uma nobreza híbrida
constituída pelo cavaleiro-mercador que teve forte presença nas atividades ultramarinas
dos países ibéricos.

 Terceiro estado
O Terceiro estado era constituído por toda a população sem estatuto de nobre ou de
eclesiástico. Constituía o grupo de trabalhadores e, por isso, era a base de todo o edifício
social. Contraditoriamente, era a ordem não privilegiada, levando, na maior parte dos
casos, uma vida de miséria que se agravava com frequentes conjunturas de crise
económica.
Devemos distinguir, à partida, dois grandes grupos: a população rural e a população
urbana.
A população rural, cerca de 80%, era quase exclusivamente constituída por
camponeses:
A população urbana era dominada pela burguesia. Tratava-se de um grupo cada vez
mais heterogéneo e menos identificado com a tradição da ordem que continuava a integrar
por estatuto. Podemos distinguir:
- uma alta burguesia constituída pelos homens de negócios e pelos letrados que
ocupavam altos cargos na administração ou se dedicavam ao exercício de profissões
intelectuais liberais. Era o grupo dos que facilmente ascendiam ao estatuto de nobreza de
toga;
- uma baixa burguesia constituída por mestres de ofícios, artesãos qualificados,
funcionários, pequenos comerciantes e lojistas que patenteavam alguns sinais de riqueza
e de prestígio social.
Num patamar inferior encontrava-se o povo urbano.
Habitava ainda na cidade uma massa de indigentes constituída por vagabundos,
mendigos, marginais que viviam na ociosidade à custa das esmolas ou de atividades
ilegítimas.
Por fim, existia ainda uma importante população escrava.

Comportamentos e valores
 Na vida quotidiana
As desigualdades socias instituídas pelas ordens manifestavam-se na vida quotidiana.
Podiam ser visíveis no vestiário, na alimentação, na apresentação pública, nas formas de
tratamento, no convívio social. Tudo era diferente conforme se tratasse de um membro
do clero e da nobreza ou de um membro do povo.
As diferentes regras de comportamento eram instituídas por lei. Mas, antes da lei,
as diferenças entre os direitos de uns e as obrigações de outros já eram pacifica e
passivamente aceites pois constituíam uma tradição secular que as tornava normais.
O vestiário constituiu a mais antiga forma de diferenciação. Chegou a haver
diferenças no direito de vestir determinado tipo de roupas dentro da mesma ordem.
A habitação era outra manifestação onde as regras eram bem claras. Os palácios eram
próprios dos titulares enquanto a burguesia habitava em construções de elevada qualidade
arquitetónica e decorativa, mas sempre mais sóbrias.
Na alimentação havia também particularidades muito bem definidas. Só os grupos
privilegiados tinham acesso a comidas exóticas e às peças de caça mais nobres. Os
produtos vulgares da agricultura eram indignos da boca dos nobres e ficavam reservados
às camadas populares.
Quanto à apresentação pública, o nobre não podia aparecer sem ser acompanhado
pela sua criadagem de sair. O peso do seu séquito refletia o seu poder e riqueza. Também
era definido o tipo de transporte que cada estatuto podia utilizar. Ao povo eram vedados
estes sinais exteriores de riqueza, por efetiva que ela fosse entre os burgueses.

 Nos privilégios da nobreza e do clero


Mas diferenças ainda maiores estavam nas leis e nos códigos penais.
Fosse qual fosse a condição social e económica de cada nobre, todos eram
beneficiários dos privilégios juridicamente conferidos à ordem em que se integravam:
- isenção de pagamento de impostos;
- direito a cobrar tributações aos camponeses que trabalhavam nas suas
propriedades;
- benefício de foro (justiça) privado, sendo sujeitos a leis diferentes da previstas
para a generalidade dos cidadãos;
- desempenho dos mais altos cargos;
- exclusivo do exercício de determinadas atividades como grandes caçadas,
torneios, bailes cortesãos, saraus culturais…

O absolutismo régio como garante da hierarquia social


 O estado absoluto
Fala-se em exercício absoluto do poder quando os monarcas passam a concentrar em
si todos os poderes tradicionais do Estado:
- o poder legislativo – poder de conceber e elaborar leis e de intervir na atividade
administrativa, económica, financeira e mesmo religiosa;
- o poder executivo – poder de aprovar e ordenar o cumprimento de leis;
- o poder judicial – poder de superintender os tribunais e de julgar, em ultima
instância e sem qualquer apelo, as situações de incumprimento das leis.
Com Luís XIV (1661-1715), em França, o absolutismo atinge a sua expressão
mais sublime na identificação do monarca com o próprio Estado. O Estado passa
a ser o próprio rei.

 O poder divino dos reis


Os defensores do absolutismo constituíram uma teoria segundo a qual os monarcas
exerciam o poder por delegação divina. No alto da sua coroação eram sagrados como
representantes de Deus na Terra e, por esse motivo, o seu poder de reinar era
sagrado.
Segundo esta teoria, a legitimidade dos reis não dependia da Nação. O poder era-lhes
outorgado por Deus, portanto só perante Deus os monarcas eram responsáveis.

 A edificação do Estado absoluto


Ao longo do processo de centralização do poder, os monarcas absolutos foram-se
rodeando de:
- um corpo de conselheiros, a que o rei recorria para decidir sobre as altas questões
do Estado;
- um corpo de funcionários da administração central, constituído pelos altos
funcionários da corte;
- um corpo de funcionários da administração local.

 A legitimidade do poder absoluto


Os teóricos do absolutismo procuram racionalizar o poder absoluto, defendendo que
ao rei deve incumbir a obrigação de contribuir para a felicidade do seu povo mediante
o exercício de uma boa governação. Essa boa governação só pode ser exercida por quem
receba o poder de Deus e só perante ele seja responsável.
É, pois, dever dos cidadãos aceitar passiva e pacificamente a autoridade régia,
exercida no respeito pelas leis inerentes à natureza humana, pelos princípios da moral
cristã e da justiça divina e pela tradição do reino.
Nos termos destas conceções de poder, ficava garantida a ordem social do Antigo
Regime.

 As limitações teóricas do poder absoluto


Mas o poder dos reis estava condicionado por algumas limitações de caracter teórico:
- os mandamentos da lei de Deus a que os reis juravam obediência e que impediam
os monarcas o exercício discricionário do poder absoluto.
- as leis naturais que impunham os monarcas a obrigação de manter a paz e a ordem
como estado natural da existência humana e de reconhecer direitos inalienáveis como
eram o direito à propriedade, o direito à vida…
- as leis fundamentais do Estado.
Porem, estas limitações não passavam da teoria. Nenhum destes princípios limitava
seriamente o poder dos reis absolutos, já que não existia qualquer controlo ou fiscalização
da sua atividade governativa.
Por outro lado, o conceito de bem publico era objeto de interpretação apenas pelos
monarcas de modo que eram legitimas todas as medidas por eles empreendidas, por
violadoras que fossem da tradição, da liberdade individual ou da justiça divina.

As cortes regias e a imagem do poder


 A corte, centro político-administrativo
A corte constituía o centro de onde irradiava a autoridade régia.
Era na corte que se centralizava todo o aparelho político-administrativo constituído
por um grande número de altos funcionários e pelas altas hierarquias do poder com o
monarca supercontrolador colocado no seu topo.
Era ainda na corte régia que se concentravam as delegações e embaixadas de outros
países e onde decorriam todas as receções e atividades diplomáticas.

 A corte, meio de dominação social


Por outro lado, a corte foi utilizada para concentrar o alto clero e a alta nobreza da
província de onde poderia advir a maior contestação ao processo de centralização do
poder.
A aspiração a uma vida faustosa e às honrarias que a vida cortesã proporcionava levou
as altas hierarquias sociais, sobretudo a nobreza rural decadente, acabando por se instalar
na periferia do rei durante longos períodos.
Na corte, a vida quotidiana impunha encargos na maior parte das vezes
incomportáveis com a sua condição económica, passando a depender de novos títulos e
pensões concedidas pelos monarcas por exercício de cargos meramente honoríficos.
Era assim que esta nobreza era mantida sob controlo, acabando por se tornar
submissa e obediente e pactuar com a absoluta concentração dos poderes do rei.

 A corte como encenação do poder


A corte servia ainda para encenar e publicitar a imagem de grandeza do chefe de
Estado.
Esta grandeza e poder começavam por se manifestar na estrutura arquitetónica do
palácio real, marcada pela sumptuosidade das suas dimensões, pela profusão dos
elementos decorativos e pela magnificência do espaço envolvente, onde sobressaiam
os esplendorosos jardins.
Na corte, a nobreza gravitava em torno do rei à semelhança das estrelas em torno do
Sol. Luís XIV, considerado Rei-Sol, configurava esta imagem pois toda a magnificência
e luxo tinham como objetivo fazer brilhar a sua figura.
Nas manifestações públicas, a imagem do monarca sentado num trono sumptuoso
era dominada pela monumentalidade do seu manto e pela imensa riqueza da sua
coroa. Nas relações com os seus súbditos e no relacionamento dos cortesãos entre si, a
solenidade e o rigor do protocolo vincavam bem a distância que existia entre os diversos
estratos sociopolíticos.

Sociedade e poder em Portugal


Preponderância da nobreza mercantilizada e fundiária
Quando, no século XVI, se pensava que a expansão ultramarina e consequente
mercantilização da economia portuguesa viria a provocar o crescimento de uma
burguesia de negócios dinâmica e empreendedora, verificou-se que o novo quadro
político e económico constituiu mais um instrumento a que os monarcas recorreram para
reforçar a posição social das ordens privilegiadas.
Já no seculo XVII, o contexto da Restauração da Independência viria proporcionar
um novo alento ao reforço do papel político da nobreza. Na realidade, com D.João, duque
de Bragança, à cabeça, foi a fragilizada nobreza nacionalista portuguesa que se ergueu
contra o rei Espanhol e levou a cabo o movimento que haveria de restaurar a
independência do reino. Seguir-se-iam 28 longos anos de estado de guerra com a Espanha
(1640-1668) e de afirmação internacional da legitimidade do rei aclamado como D.João
IV.

 O desempenho de cargos na administração ultramarina


A descoberta de novas terras e a sua exploração originaram a instituição de novos
cargos ligados à administração dos territórios ultramarinos. Capitão-donatário,
governador, capitão de fortaleza ou de entreposto comercial, comandante de armada e
patentes militares são alguns dos novos cargos que a Coroa vai distribuir pela nobreza
que, à exclusividade das funções na administração do reino, junta agora as importantes
funções na administração do Império.
Associados a estes cargos estavam inevitavelmente novos títulos e novas honras que
se traduziam em novas doações e novas tenças como forma de pagamento de serviços.
Mas o desempenho de funções na administração ultramarina abria também aos seus
titulares as portas à participação privilegiada, lícita ou ilícita, nos negócios ultramarinos.

 O cavaleiro-mercador
Bem posicionada na administração do Império, a fidalguia portuguesa junta
rendimentos que tira da terra, dos cargos que exerce e das dádivas reais, àquelas que
provêm do comércio. Por todo o Império, os nobres enriquecem à custa das sedas da
China, da canela de Ceilão, dos escravos da Guiné ou do açúcar do Brasil. Fruto destas
atividades, a nobreza mercantiliza-se, dando origem a um tipo social específico: o
cavaleiro-mercador.
O cavaleiro-mercador, é um aristocrata típico da sociedade portuguesa que
participa ativamente no comercio de produtos colonias, desde a costa africana até aos
remotos mercados orientais. Através das quintaladas ou do investimento direto nas naus
da carreira da Índia, os nobres portugueses intervêm em tudo o que prometia ser negócio
lucrativo.
Deste modo, boa parte dos lucros do comercio marítimo português não frutificava
nem contribuía para o desenvolvimento de uma burguesia enriquecida e enérgica. Pelo
contrário, no nosso país a burguesia teve sérias dificuldades em se afirmar, atrofiada
pelo protagonismo excessivo da coroa e da nobreza. Só na segunda metade do século
XVIII, em grande parte devido á atuação do Marquês de Pombal, a burguesia portuguesa
adquiriu um peso significativo na ação política e económica do reino.
Muitos foram os entraves que impediram a afirmação da burguesia e que provocaram
a sua atrofia ao longo do século XVI:
- o monopólio régio da expansão ultramarina;
- a concorrência;
- o poder político e militar da nobreza;
- a concorrência dos mercados estrangeiros;
- a ação da Inquisição;
- o carácter conservador da burguesia portuguesa.

 Criação do aparelho burocrático do Estado absoluto


A construção do Estado absolutista português começou a ganhar forma nos anos que
se seguiram à restauração da independência, em 1640, nos reinados de D.João IV,
D.Afonso VI e, sobretudo, de D.Pedro II.
Com o objetivo de assegurar uma governação centralizada, mas competente, no
respeito pelos usos e costumes do reino, e justa, no interesse dos súbditos, os monarcas
portugueses foram-se rodeando de um conjunto de instituições, umas novas, outras
reformadas, que sob sua direta e superior tutela política, foram tomando o lugar dos
tradicionais órgãos consultivos.
Efetivamente, as Cortes, o órgão consultivo por excelência, desde os primeiros
tempos da monarquia, foram perdendo importância no século XVII, acabando por ser
convocadas por D.Pedro II, pela última vez, em 1697-98. Em seu lugar, ganharam
importância política complexos órgãos administrativos constituídos por altos e zelosos
burocratas, cuidadosamente selecionados pelos monarcas, em prejuízo dos velhos
quadros de nomeação vitalícia que constituíam um estorvo ao exercício absoluto da
autoridade régia:
- o Conselho de Estado, existia desde 1563, constituído por membros da alta nobreza
e do alto clero em que o rei depositava extrema confiança. Em 1643, foi reestruturado e
organizado em varias Secretarias de Estado, que assessoravam o rei em todos os
assuntos de política interna e externa;
- o Conselho de Guerra, uma instituição nova, criada na conjuntura da Guerra da
Restauração (1641-1668) para prover em todos os assuntos de carácter logístico e jurisdicional
relativos ao exército;
- o Conselho Ultramarino, uma instituição renovada a partir do Conselho da Índia, criado
durante a dominação filipina. Como o nome sugere, era um órgão voltado exclusivamente para a
administração colonial.
- a Junta dos Três Estados, instituída e regulada nas Cortes de 1641, para administrar os
impostos nelas consignadas à defesa do reino.
O exercício da justiça, tradicionalmente considerado como primeira atribuição do rei, passou
por profundas reformas no sentido de reforçar a autoridade judicial do monarca, alargar a sua área
de intervenção e limitar liberdades e privilégios judiciais.
Em conformidade, as velhas instituições judiciais, Casa da Suplicação, Tribunal do
Desembargo do Paço, Tribunal da Relação e Casa do Porto, Mesa da Consciência e Ordens
viram os seus quadros renovados e substituídos por juristas de formação moderna fiéis servidores
do poder régio que assim passa a exercer o poder judicial com maior eficácia.
O Tribunal do Santo Oficio, instituído para julgar os desvios à tradição religiosa cristã
católica, manteve-se independente do poder e dos outros tribunais.

Reforço das economias nacionais e tentativas de controlo


do comércio
A magnificência dos monarcas absolutos, o reforço do corpo administrativo e a
necessidade de apetrechamento de um poderoso aparelho militar exigiam ao Estado
quantias difíceis de obter, sobretudo nos tempos de crise económica que marcaram o
século XVII.
A solução para as dificuldades financeiras do Estado absoluto foi procurada na
argumentação das atividades económicas, no sentido de reforçar as economias
nacionais, segundo o principio de que um Estado será politicamente, tanto mais forte e
poderoso quanto mais forte e poderosa for a sua situação financeira.
O reforço das economias nacionais – o mercantilismo
A teoria económica que identificava a força e o poder de um Estado com o seu
nível de riqueza traduzido pela abundância de metais preciosos acumulados nos seus
cofres ficou conhecida por mercantilismo.
Convictos defensores do nacionalismo económico, os economistas mercantilistas
defendem que para um Estado conseguir acumular grandes quantidades de metais
preciosos nos seus cofres deve implementar um rigoroso protecionismo económico,
traduzido:
- no fomento da produção industrial, com vista a promover a autossuficiência
do país bem como a exportação de produtos manufaturados;
- na revisão das tarifas alfandegárias, sobrecarregando os produtos estrangeiros
e aliviando as taxas que pesavam sobre as exportações nacionais, de modo a torna-las
mais competitivas;
- no incremento e reorganização do comércio externo, de forma a proporcionar
mercados de abastecimento de matérias-primas e de colocação dos produtos
manufaturados.
Os maiores exemplos de aplicação das teorias mercantilistas às suas economias
foi conseguido pela Inglaterra, que adotou um mercantilismo marítimo e comercial, e
pela França, que privilegiou o mercantilismo continental e manufatureiro.
O mercantilismo na Inglaterra
Depois de muitas opiniões sobre a necessidade de limitar as importações,
nomeadamente de produtos originários das Províncias Unidas, e de fomentar as
atividades comerciais marítimas, foi Oliver Cromwell (1599-1658) que pôs em prática
uma politica de ataque sistemático aos interesses comerciais e marítimos dos holandeses.

 Os Atos de Navegação
Tratou-se de um conjunto de leis que tinham por fim promover o potencial marítimo
da Inglaterra e eliminar a intermediação holandesa no comércio internacional.
A primeira, em 1651, proibia os navios estrangeiros de transportar para Inglaterra
mercadorias que não tivessem origem nos seus próprios países.
Mais tarde, outras medidas reservavam o tráfego com as colónias inglesas a navios
ingleses, não só de produtos próprios, mas também de outros países que não tivessem
capacidade para os transportar.
Em 1653, o exclusivo colonial era levado ao extremo com a obrigação imposta aos
colonos ingleses de comprarem unicamente na Inglaterra os produtos de que
necessitavam e a transportá-los em barcos ingleses.
Assim destruída a concorrência holandesa, a frota mercante inglesa não encontrou
entraves ao seu crescimento, tanto mais que os Atos de Navegação foram
complementados por uma política de expansão territorial, sobretudo na América do Norte
e nas Antilhas.
O setor comercial foi ainda reforçado com a criação de grandes companhias de
comércio, às quais se concederam numerosos monopólios. A mais célebre e bem-
sucedida foi, sem dúvida, a Companhia das Índias Orientais.

 O sucesso do mercantilismo Inglês


A Inglaterra desenvolveu um mercantilismo nacional, encarado pela população
como uma questão de lua contra a hegemonia económica das Províncias Unidas,
granjeando o apoio de todos os setores económicos.
Mas o mercantilismo inglês deveu muito do seu êxito ao pragmatismo com que
foi implementado. O Governo inglês soube conciliar os interesses dos mercadores com
os interesses nacionais. Fortaleceu economicamente a Inglaterra sem privar os
mercadores da necessária liberdade de intervenção no desenvolvimento agrícola e
manufatureiro e, sobretudo, no comercio marítimo que privilegiou.
Em consequência deste avanço no mar, a Inglaterra, na segunda metade do seculo
XVII, afirma-se já como primeira potência marítima e Londres afirma-se como a
capital financeira do mundo.
 O mercantilismo na França
Foi em França que as doutrinas mercantilistas foram praticadas no seu extremo rigor.
Embora muitas medidas e iniciativas protecionistas já tivessem sido tomadas
anteriormente, coube a Colbert (1619-1683), Inspetor-Geral das Finanças de Luís XIV,
a adoção das medidas mais características do mercantilismo, também com o objetivo de
eliminar a dependência económica da França em relação á Holanda.
O mercantilismo de Colbert (colbertismo) assentou predominantemente no
desenvolvimento das manufaturas, mas a França também não descurou o comércio
marítimo e a colonização de áreas ultramarinas.

 O surto manufatureiro
O surto manufatureiro foi a principal preocupação de Colbert ao adotar as seguintes
medidas protecionistas:
- estabelecimento de entraves à importação de produtos manufatureiros e
proibição da importação de artigos de luxo;
- fomento das exportações;
- incremento da produção manufatureira nacional;
- controlo rigoroso da qualidade dos produtos;
- implementação de uma política de preços baixos;
- total abertura das fronteiras à entrada de matérias-primas, de técnicos e
equipamento estrangeiros com reciprocidade na proibição de saída.

O equilíbrio europeu e a disputa das áreas coloniais


Em 1648, em consequência do desmembramento do sacro império alemão com a
derrota na Guerra dos Trinta Anos, parecia que a Europa enveredava, finalmente, por um
tempo de paz assente num aparente equilíbrio político entres as grandes potencias
europeias.
Porém, o novo equilíbrio de poderes instituído com a Paz de Vestefália não passou
dos princípios. Acabámos de ver que o mercantilismo se afirmou como uma doutrina
económica fortemente nacionalista e que a sua prática levou a grandes potências
europeias a intensificarem a sua presença nos mares e nas regiões ultramarinas de maior
dinamismo comercial, tendo em vista o exclusivo colonial nessas regiões.
Facilmente se conclui que as rivalidades imperialistas, no continente, originarão
rivalidades imperialistas nas áreas ultramarinas.
Com efeito, a segunda metade do século XVII e a primeira do século XVIII vão ser
marcadas por violentos conflitos entre as grandes potências coloniais pelo domínio dos
mares e do comércio mundial, não só no continente, mas também nas próprias
ultramarinas.
 O conflito entre a Inglaterra e a Holanda
A guerra entre a Holanda e a Inglaterra decorreu entre 1652 1674 e marca o declínio
das Províncias Unidas.
É uma clara consequência da rivalidade no mar, como mostram os acontecimentos
que lhe deram origem.
Face ao crescimento meriti mo da Inglaterra, os Holandeses iniciam uma companha
de destruição das embarcações britânicas a que Cromwell reponde, em 652, com o
bloqueio do mar do Norte á navegação holandesa.
Mas, se no inicio do conflito, a Inglaterra é obrigada a intervir na defesa da sua
armada, já em 1664 é Carlos I que deliberadamente assume uma atitude de agressão
contra a Holanda, então em clara decadência.
Se é certo que os mercadores holandeses ainda conseguem resistir e manter alguma
força no mar, não é menos certo que, a Holanda foi perdendo a sua preponderância no
comercio mundial, em consequência do fim da sua ação de intermediação no comercio
europeu que tinha feito a sua grandeza e da perda das suas colonias, na América, na
costa africana e no Oriente.

A concorrência francesa e inglesa na América do Norte e no índico


 A guerra da Sucessão
Tratou-se de uma guerra em que a Inglaterra interveio no sentido de impedir que as
coroas de Espanha e de França viessem a cair sobre um mesmo monarca, originando a
formação de uma grande potência politica no Ocidente europeu. Considerava a Inglaterra
que o equilíbrio europeu saia seriamente abalado, mas o que o Governo inglês temia era
a ameaça que esta unidade politica constituía para a consolidação da sua posição
hegemónica na Europa e nos mercados ultramarinos.
O conflito terminou com o Tratado de Utreque que confirmou o triunfo da
Inglaterra, tais foram as vantagens adquiridas em prejuízo dos interesses coloniais
franceses e espanhóis

 A guerra dos sete anos


Tratou-se de um conflito alimentado pelas relações hostis entre os colonos franceses
e ingleses nas Antilhas, América do Norte e na Índia, geradas nas rivalidades resultantes
das politicas expansionistas e de dominação comercial.
As potências continentais, argumentado o apoio aos seus colonos, envolvem-se em
nova guerra que termina com nova derrota da França, consumada pelo Tratado de Paris,
nos termos do qual a França perdeu para Inglaterra os seus territórios da América do Norte
e foi obrigada a desmilitarizar as suas colónias na Índia, renunciando à sua política
expansionista no Oriente. A Espanha perdeu a região da Flórida para a Inglaterra.
Em consequência destes conflitos, em meados do século XVIII, a Inglaterra afirma-
se como a grande potência colonial europeia e Londres o centro da economia mundial.
A Hegemonia económica Britânica
A segunda metade do séc.XVIII foi, para a Inglaterra, um período de intensa prosperidade
económica. A agricultura, a indústria, o comércio e a banca registaram um
desenvolvimento notável. Estes progressos, aliados às vitórias militares impuseram a
hegemonia britânica.

Condições do sucesso inglês:


 Inovações agrícolas;
 Surto demográfico e o crescimento urbano;
 Afirmação de um mercado nacional;
 Política colonial e dinamização d mercado externo;
 Prosperidade e estabilidade financeira;
 Condições de ordem social e política.

Inovações agrícolas:
 Sistema de rotação de culturas, alternância de colheitas que permitia o melhor
aproveitamento da terra assim como a articulação perfeita entre a agricultura e o
gado(estrume como fertilizante);
 Substituição dos campos abertos(open field), onde após a colheita o gado pastava
livremente, pelos campos vedados(enclosures) que permitiam a melhor
rentabilização da terra;
 Desenvolvimento das máquinas agrícolas como a semeadora elétrica, charrua
triangular e máquina debulhadora;
 Seleção das melhores sementes e aperfeiçoamento das alfaias(utensílio de
lavoura).

Efeitos da Revolução Agrícola:


 Melhorias na qualidade e quantidade de alimentação, o que provocou mais
resistência às doenças e uma vida mais prolongada, assim como uma maior
procura de bens de consumo que a produção tem de dar resposta;
 Mão de obra disponível proveniente do êxodo rural em consequência dos
movimentos dos enclosures e do crescimento natural da pop.;
 Grande quantidade de lã de que dependia a produção têxtil na fase de pré-
arranque;
 Desenvolvimento das atividades mineiras e siderúrgicas pela necessidade de
utensílios agrícolas em ferro (fundamental para a construção de grandes máquinas
industriais);
 Acumulação de capitais para o investimento no setor industrial.
Crescimento Demográfico
O crescimento demográfico deve-se à quebra da mortalidade e ao aumento da
natalidade, que levou às melhores condições de vida.
Causas do aumento:
 Melhor alimentação;
 Maior resistência às doenças;
 Progresso da medicina;
 Variedade de produtos a preços mais baixos;
 Melhores condições climáticas que permitiam um melhor rendimento dos campos
e a diminuição das epidemias;
 Sentimento de otimismo face ao futuro, que faz aumentar a taxa de nupcialidade
e a de natalidade.

Urbanização
Com o crescimento demográfico, a população abandona os campos e ruma à cidade à
procura de melhores condições de vida. A este fenómeno dá-se o nome de Êxodo Rural.

Criação de um Mercado Nacional


 Mercado onde os produtos e a mão de obra circulam livremente;
 Melhoramento das vias de circulação (canais e estradas) e dos transportes;
 Proporciona a ligação entre as regiões do interior e as cidades portuárias que
propicia o consumo assim como da importação de matérias-primas e da
exportação de produtos manufaturados.

Política Colonial e dinamismo do mercado externo


 A Inglaterra possuía já os recursos necessários à constituição de um mercado a
nível mundial, que consolidou um poderoso império colonial que lhe
proporcionava um amplo mercado internacional, fundamental para o seu
crescimento económico.
 Pôs em prática um sistema de comércio triangular no Atlântico, entre os
continentes Europeu, Africano e Americano, altamente lucrativo pela quantidade
de transações efetuadas em cada viagem;
 Esta intensa e lucrativa atividade comercial foi fundamental no arranque da
indústria, pois proporcionou:
- Acesso a matérias primas variadas e a baixo custo;
- Avultados capitais;
- Amplos mercados para a colocação de produtos manufaturados;
- Formação da nova mentalidade capitalista de empreendedores.

Prosperidade e a estabilidade financeiras


 Sistema financeiro avançado;
 Criação da bolsa de valores (mais importante da Europa);
 Banco de Inglaterra, pioneiro na emissão de papel-moeda;

Processo de industrialização (condições políticas e sociais)


 Adoção de um regime parlamentar que adota uma política de liberalização
económica;
 Existência de um grupo de empreendedores ativos e predispostos a investimentos de
risco;
 Arranque industrial:
 Abundância de matéria-prima;
 Contínuo aumento dos preços (devido à +procura);
 Grande competência técnica;
 Desejo de imposição no mercado face aos produtos de alta qualidade e a
preços baixos;
 Grandes investimentos;
 Invenção da Máquina a vapor por James Watt;
 Desenvolvimento do setor mineiro e metalúrgico;
 Desenvolvimento da indústria química;

Portugal- Dificuldades e Crescimento económico

Em finais do séc.XVII, Portugal vive uma grave crise comercial que degenera em crise
financeira. A solução passa pela introdução das doutrinas mercantilistas.

A Crise comercial de finais do século XVII(1670-1692)

 Portugal vivia sobretudo da reexportação dos produtos coloniais, como o açúcar,


o tabaco e as especiarias;
 A partir dos meados do séc.XVII, holandeses, ingleses e franceses, no âmbito das
suas medidas mercantilistas, desenvolvem plantações de açúcar e tabaco nas suas
colónias da América Central.
 Em consequência, não só deixavam de comprar esses produtos a Portugal como
invadem os mercados europeus com a sua produção a preços com os quais não
conseguíamos competir;
 Os produtos básicos da economia portuguesa veem o seu preço a baixar no
mercado enquanto aumentam os custos de produção e, mesmo a preços baixos,
ficam acumulados nos armazéns.
 A crise comercial agrava-se com a crise económica a ela associada;
 Os produtos coloniais eram os principais meios de pagamento de importações
efetuadas em quantidades elevadas. A descida dos preços e a perda de mercados
europeus obrigam o pagamento dos défices da balança comercial em moeda;
 Devido às políticas de retenção de metais preciosos pelos países europeus e
sobretudo devido à diminuição do afluxo da prata espanhola, também a moeda era
escassa.

A política industrializadora do conde da Ericeira


 Arranque do surto industrializador

Neste ambiente económico e financeiro tornava-se urgente tomar medidas que


solucionassem a crise.
Em 1675, Duarte Ribeiro de Macedo, profundo conhecedor do Colbertismo publica
um discurso propondo a adoção do modelo económico mercantilista. Neste sentido:
 Procedeu à contratação de artífices estrangeiros;
 Criou indústrias, às quais concedeu privilégios e subsídios, como as de vidro, de
fundição de ferro e tecidos;
 Praticou uma política protecionista da indústria nacional, através de leis
pragmáticas, que proibiam o uso de diversos produtos de luxo importados;
 Recorreu à desvalorização monetária com o fim a tornar os produtos portugueses
competitivos;
 Criação de companhias monopolistas, às quais se deram privilégios fiscais.

 O fim do surto industrial


 Em finais do séc., ganham importância novas forças políticas e sociais graças à
tradicional procura do vinhos portugueses pela Inglaterra;
 A crise comercial dá sinais de resolução com o aumento da procura do açúcar
português e a consequente subida dos preços;
 É do brasil que vêm as grandes soluções para a crise comercial e financeira do
reino. Entre 1693 e 1695, descobrem-se os primeiros filões de ouro;
 Em pouco tempo PT renunciou ao projeto de fomento industrial e assumiu a sua
tradicional condição de país exportador de produtos agrícolas e coloniais.
O Tratado de Methuen e a apropriação do ouro Brasileiro pelo mercado
Britânico
 Tratado de Methuen- confirmação da falência do surto industrializador

 Aproveitando-se da presença no poder de poderosos proprietários rurais,


Inglaterra envia a Portugal John Methuen com poderes para reforçar a velha
aliança entre os dois países e celebrar um acordo comercial que estabelecia
reciprocidade de privilégios nas relações económicas entre os dois países;
 Conhecido como tratado de Methuen(1703), ficou acordado que:
 Os tecidos e manufaturas inglesas passavam a entrar livremente em PT;
 Os vinhos portugueses eram exportados para Inglaterra em condições de
preferência;
 Em consequência deste tratado:
 O mercado português abre-se totalmente aos têxteis ingleses e o impulso
manufatureiro é interrompido;
 Declínio de toda a produção manufatureira e necessidade de importar tudo;
 Passa a cultivar-se o vinho(em todo o lado), PT tem de importar alimentos;
 Economia portuguesa torna-se dependente da Inglaterra.
 O tratado foi mais prejudicial porque as trocas eram desequilibradas. (défice da
balança tinha de ser resolvido com pagamento em ouro).

A política Económica Pombalina


Em meados do séc.XVIII quando as remessas de ouro brasileiro começaram a
diminuir, Portugal viu-se nos braços de uma nova crise, de contornos muito semelhantes
aos que tinham enquadrado as medidas económicas do conde da Ericeira.
A crise e a consciência da nossa excessiva dependência face a Inglaterra
coincidiram com o governo de Marquês de Pombal.
 Fomento das atividades comerciais
Numa 1ª fase, influenciado pelo Mercantilismo inglês, Marquês de Pombal procurou
criar condições para que o comércio e o transporte das mercadorias fossem detidos por
mercadores portugueses. Para o efeito:
 Apoiou os mercados e industriais mais empreendedores;
 Combateu o contrabando e proibiu a presença de mercadores estrangeiros em
áreas comerciais portuguesas;
 Criou companhias monopolistas controladas pelo estado, mas geridas por
privados;
 Reforçou o exclusivo colonial(Brasil no centro das preocupações);
 Aumentou a tonelagem do frota nacional para que fosse mais forte a presença
portuguesa no mar
A política pombalina de defesa dos interesses comerciais portugueses obteve um
considerável êxito na redução das importações. Diminuiu o défice comercial e a economia
não dava sinais de alteração.(contudo sempre dependentes do vinho).
 Fomento industrial
A partir de 1770, Marquês altera as prioridades da economia e arranca com um projeto
de fomento industrial.(virado paro o têxtil)Para o efeito:
 Criou uma nova instituição política, a Junta de Comércio, à qual passou a incumbir
toda a tutela das atividades comerciais;
 Empreendeu uma política protecionista, lançando forte tributação sobre produtos
importados concorrentes com os de produção nacional, tornando-os mais caros;
 Publicou leis pragmáticas contra os produtos de luxo;
 Criou manufaturas nacionais e reformulou as existentes;
 Estimulou a criação de manufaturas por particulares;
 Recrutou investidores e técnicos estrangeiros;
 Privilegiou a criação de fábricas destinadas à transformação de matérias-primas
coloniais.

A política Social Pombalina


A política social pombalina teve como objetivo o nivelamento das camadas sociais
superiores e a sua subordinação absoluta ao Rei.
Assistimos então à promoção da burguesia mercantil e à renovação do velho estatuto
da nobreza enquanto ordem social privilegiada.
 Os burgueses foram honrados com privilégios de vária ordem, monopólios
comerciais e títulos nobiliárquicos;
 Foi abolida a discriminação entre cristão velho e cristão novo;
 Criação da escola comercial da Europa, Aula do Comércio.
 A aristocracia titular sofre uma profunda renovação;
 Transformação da nobreza para uma mais ativa e mais empenhada nas atividades
produtivas;
 Criação do Real Colégio dos Nobres, onde forma os jovens nobres tornando-os
úteis para a administração e desempenho de atividades produtivas.

A Filosofia das Luzes


O século XVIII é o século das Luzes ou do Iluminismo. Este conceito evoca, antes
de mais, a luz da Razão (inteligência, esclarecimento). O raciocínio humano seria meio
de atingir o progresso em todos os campos (científico, social, politico, moral). Por
contraposição, os autores identificavam, nesta época, a ignorância com as trevas.
A corrente filosófica iluminista acreditava na existência de um direito natural –
um conjunto de direitos próprios da natureza humana (e, como tal, naturais),
nomeadamente:
• a igualdade entre todos os homens;
• a liberdade de todos os homens (em consequência da igualdade, “nenhum
homem tem uma autoridade natural sobre o seu semelhante”, escrevia Jean-Jacques
Rousseau; porém, este direito natural não previa a abolição das diferenças sociais);
• o direito à posse de bens (tendo em conta que o pensamento iluminista se
identifica com os anseios da burguesia em ascensão);
• o direito a um julgamento justo;
• o direito à liberdade de consciência (a moral era entendida como natural,
independentemente da crença religiosa).
O pensamento iluminista defendia, assim, que estes direitos eram universais, isto
é, diziam respeito a todos os seres humanos e, por isso, estavam acima das leis de cada
Estado. Os Estados deveriam, antes, usar o poder politico como meio de assegurar os
direitos naturais do Homem e de garantir a sua felicidade.
Paralelamente, o Iluminismo pugnava pelo individualismo: cada indivíduo
deveria ser valorizado, independentemente dos grupos em que se integrasse. Jean-Jacques
Rosseau defende a soberania do povo. É o povo que, de livre vontade, transfere o poder
para os governantes mediante um pacto (ou contrato social). Consegue, desta forma,
respeitar a vontade da maioria sem perder a sua liberdade. Em troca, os governantes têm
de atuar com justiça, sob pena de serem depostos.
Montesquieu defende a doutrina da separação dos poderes (legislativo, executivo
e judicial) como garantia de liberdade dos cidadãos.
Voltaire advoga a tolerância religiosa e a liberdade de consciência: o pensamento
religioso que criou, o deísmo, rejeita as religiões instituídas, centrando-se na adoração a
um Deus bom, justo e poderoso, criador do Universo.
Estas ideias foram aplicadas na prática, nas revoluções liberais, sob a forma das
constituições políticas.
Os ideias iluministas contribuíram para acabar com o Antigo Regime, pois:
1. A defesa do contrato social transforma o súbdito passivo e obediente em
cidadão interventivo; deste modo, e ao contrário do que no Antigo Regime, “um povo
livre (...) tem chefes e não senhores”.
2. A teoria da separação dos poderes acaba com o poder arbitrário exercido no
Antigo Regime.
3. A ideia de tolerância religiosa conduz à separação entre a Igreja e o Estado,
presente nos regimes liberais.
4. A teoria do direito natural leva a que os iluministas condenem todas as formas
de desrespeito pelos direitos humanos (tortura, pena de morte, escravatura...),
contribuindo para alterar a legislação sobre a justiça em vários países.
A implantação do Liberalismo em Portugal

Antecedentes e conjuntura (1807-1820)


Ao abrir do século XIX, Portugal parecia escapar aos ventos do Liberalismo que
soprava fortemente na França revolucionária e dela irradiavam para o resto do continente.
Na verdade, o príncipe D.João [futuro D.João VI], que o estado de loucura de sua mãe,
D.Maria I, fizera regente, governava um país profundamente arreigado ao Antigo
Regime. As atividades primárias predominavam. Pesadas obrigações senhorias
condenavam o campesinato à miséria.
O absolutismo estava para durar, tanto mais quanto se escudava na ação repressiva da
Inquisição, da Real Mesa Censória e da Intendência-Geral e da Intendência-Geral da
Polícia.
Todavia, nos principais centros urbanos, uma burguesia comercial, ligada aos tráficos
com o Brasil, ansiava pela mudança. O mesmo se podia dizer de uma franja de intelectuais
frequentadores de cafés e botequins. Uns e outos constituíam terreno fértil para a
propagação dos ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade provenientes de França.
Muitos deles filiavam-se em lojas maçónicas e pugnavam pelo exercício da liberdade
política e económica, pelo fim dos privilégios socias, dos constrangimentos religiosos, do
fanatismo, em suma, da tirania.
Um conjuntura favorável lançou em breve o país no caminho das transformações
liberais, permitindo materializar as aspirações de mudança. Referimo-nos,
concretamente, ao impacto que as Invasões Francesas tiveram em Portugal.

As invasões francesas e a nova conjuntura política


Incapaz de vencer militarmente a Inglaterra, Napoleão tentou derrota-la pelo
domínio das áreas onde detinha interesses económicos. Para o efeito, decretou, em finais
de 1806, o Bloqueio Continental, nos termos do qual nenhum Estado europeu podia
comerciar ou manter relações de qualquer tipo com as Ilhas Britânicas.
Ora, a velha aliança diplomática que Portugal mantinha com a Inglaterra e os
graves problemas económicos que o bloqueio provocaria à economia nacional levaram
ao príncipe D.João a tentar protelar a cedência às exigências de Napoleão.
Persistindo a indefinição do governo do reino, as tropas de Junot atravessaram a
fronteira em direção a Lisboa, em finais de novembro de 1807, dando inicio à primeira
de três invasões, até 1811.
O embarque da família real para o Brasil, que de colónia passou a sede de
Governo, permitiu a Portugal manter a independência do Estado. O preço a apagar
revelou-se caro. Não só pela devastação e pela destruição que as invasões causaram,
mas especificamente, pelo domínio político e económico que a Inglaterra exerceu,
doravante, entre nós. Os ingleses passaram a exercer o poder de forma despótica na
pessoa do marechal Beresford, instituído como presidente da Junta Governativa e
generalíssimo das tropas portuguesas.
O agravamento da conjuntura económica e financeira
A situação económica e financeira do reino, nas vésperas de 1820, era de crise
generalizada:
- as invasões napoleónicas deixaram um rasto de destruição por todo o país, com
maior gravidade a norte do Tejo;
- importantes homens de negócios saíram do país, levando consigo as suas
fortunas e a sua mentalidade empreendedora para o Brasil ou para a Inglaterra;
- a abertura dos portos do Brasil ao comércio internacional e, em particular, o
Tratado de comercio de 1810 com a Inglaterra, que estabeleceu a liberdade de comércio
em Portugal e abriu o mercado Brasileiro às manufaturas.

A conjuntura social
A conjuntura social era de grande descontentamento e de revolta que crescia entre:
- os populares contra a orfandade política do reino devido à presença prolongada
do rei no Brasil;
- a burguesia liberal, à medida que se confirmava a situação de colónia em que
Portugal ia caindo, face ao desenvolvimento que a presença real trazia ao Brasil;
- os nacionalistas e adeptos da causa francesa, pela humilhante repressão
praticada pelos ingleses e pela preponderância política do marechal Beresford;
- toda a população, em geral, devido à grave crise económica que o reino
atravessava.

A agitação revolucionária
Foi este descontentamento que fez crescer, sobretudo entre os setores burgueses,
o sentimento de revolta que conduziu a uma tentativa revolucionária em 1817, quando
a Maçonaria portuguesa levou a cabo uma conspiração contra Beresford, organizada em
torno de Gomes Freire de Andrade (1757-1817), um estrangeirado que fez carreira nas
armas e que chegou a combater nos exércitos de Napoleão.
A descoberta do movimento e a confirmação de sua ligação com a Maçonaria
desencadeou uma grande perseguição aos implicados, culminando com a condenação à
morte por enforcamento do seu líder mais 11 cúmplices.
A revolução de 1820 e as dificuldades da implantação da
ordem liberal (1820-1834)

A revolução de 1820
 A eclosão da revolução
Os acontecimentos tiveram o seu arranque no Porto, onde Manuel Fernandes
Tomás, desembargador da Relação, fundou, em 1817, uma associação secreta com o
nome de Sinédrio, cujos os membros pertenciam, na quase totalidade, à Maçonaria.
Atento à marcha dos políticos, o Sinédrio propunha-se intervir logo que a situação se
relevasse propícia. Esse momento precipitou-se em março de 1820, graças à conjunção
de dois fatores favoráveis:
- o ânimo que veio de Espanha, onde acabava de triunfar um movimento liberal
em consequência do qual Fernando VII foi obrigado a jurar a Constituição de Cádis.
- a partida de Beresford para o Brasil a fim de solicitar ao rei dinheiro para o
pagamento de despesas militares, além de mais amplos poderes para reprimir a crescente
onda de agitação.
Em 24 de agosto de 1820, alguns regimentos militares do Porto, apoiados pela
população e sem encontrarem grande resistência, tomam a Câmara Municipal, onde,
reunidos com autoridades civis, elegeram a Junta Provisional do Governo Supremo do
Reino destinada a governar em nome do rei.
Entretanto, em Lisboa, o governo institucional do reino ia cedendo às pressões do
movimento revolucionário e, em 15 de setembro, as autoridades pró-inglesas acabam
por ser destituídas, tendo-se formado um novo governo interino.
Os dois governos revolucionários (do Porto e de Lisboa) acabaram por se fundir
numa única junta governativa, passando a administrar o país a partir de Lisboa. Ao
mesmo tempo, era criada uma Junta Provisional Preparatória das Cortes com o objetivo
de preparar a sua reunião (que não ocorria desde 1698) e iniciar a redação de uma
Constituição.

 As primeiras medidas governativas


O governo saído da revolução empenhou-se em atacar imediatamente as causas
do mal-estar sentido no reino:
- pôr fim imediato à dominação inglesa, expulsando Beresford e as autoridades
militares;
- declarar fidelidade a D.João VI e à família real, mas reclamar o seu regresso e
comprometê-lo no processo revolucionário, impondo-lhe o reconhecimento e a
aceitação da futura Constituição;
- discutir projetos da futura Constituição do Reino por todos esperada como
fundamental para a resolução dos problemas que afligiam o país e iniciar a preparação
de eleições para as Cortes Constituintes;
-pôr fim a alguns privilégios;
A Constituição de 1822 e o vintismo
Em março de 1821, eram aprovadas as Bases da Constituição Monárquica
Portuguesa, instituídas logo como constituição provisória, com o objetivo claro de dotar
o reino com uma nova lei fundamental para que o regime liberal não se continuasse a
reger pelas “velhas leis”.
Em 23 de setembro de 1822, o mais antigo texto constitucional português,
conhecido como Constituição de 1822, foi dado como concluído, sendo jurado por
D.João VI em 1 de outubro seguinte.
Os trabalhos foram marcados por uma clara divisão entre uma tendência
moderada e uma mais radical.
No final, saíram vencedoras as posições da fação mais radical (popular e
democrática), pelo que a Constituição de 1822 instituiu em Portugal um período
revolucionário que ficou conhecido por vintismo. Vintista foi, por conseguinte, a
tendência mais radical do liberalismo português e vintistas os partidários da ideologia
consagrada na primeira constituição portuguesa.

 A nível da organização política – a monarquia constitucional


A Constituição de 1822 firmou a soberania da Nação e instituiu a monarquia
constitucional em que o poder absoluto do rei foi substituído pelo exercício tripartido do
poder:
- o poder legislativo foi atribuído às Cortes, reunidas numa só câmara, cujos
deputados eram escolhidos por sufrágio universal e direto;
- o poder executivo foi confiado ao monarca e ao governo por si constituído;
- o poder judicial era exercido por magistrados independentes do poder político.
Nos termos desta constituição, o poder real foi claramente submetido à
supremacia das Cortes.

 A nível social - o combate aos privilégios


Visando o desmantelamento da velha ordem social, a Constituição de 1822:
- instituiu a igualdade de todos perante a lei, no ato do nascimento;
- extinguiu a Inquisição;
- aboliu muitos dos privilégios senhoriais;
- reconheceu, como direitos naturais dos cidadãos, o direito à liberdade individual,
à propriedade e à segurança;
 A nível económico – a reforma dos forais
Os constituintes vintistas propunham-se encaminhar o país para o liberalismo
económico.
Num quadro de renovação económica do reino ao gosto da burguesia triunfante, foi
fundado o Banco de Lisboa, o primeiro banco português, e foram nacionalizados os bens
da Igreja, muitos deles depois vendidos em hasta pública.
A “Lei dos Forais” reduziu para metade as rendas e pensões devidas pelos
agricultores. Mas esta lei dececionou o pequeno campesinato dos rendeiros por dois
motivos. Primeiro, as rendas referidas, de um modo geral variáveis, passaram a prestações
fixas convertíveis em dinheiro, o que gerou arbitrariedades na conversão. Segundo, nas
terras não regulamentadas por cartas de foral, as prestações tradicionais mantiveram-se.
A desigualdade criada resultou num clima de instabilidade social.

 A precaridade da legislação vintista socioeconómica


A ação do vintismo revelou-se plena de contradições. Medidas liberais foram
tomadas, de que a mais ousada resultou na elaboração da Constituição. Mas, quanto à
atuação socioeconómica, a legislação vintista manifestou-se precária. Na composição
socioprofissional das Cortes Constituintes, encontraram os historiadores uma explicação:
as Cortes representavam quase exclusivamente os interesses da burguesia rural, pois, na
generalidade, os militares, os magistrados, os lentes e os membros das profissões liberais
eram proprietários de terras. Esta constatação permite-nos ainda compreender a atitude
protecionista das Cortes Liberais, mantendo os privilégios económicos da Companhia da
Agricultura do Alto Douro ou proibindo a importação de cereais, de azeite, de porcos, de
vinho, de licores. Defendia-se, obviamente, os interesses dos proprietários rurais, que
afastavam a concorrência.

A desagregação do império atlântico – independência do Brasil


A presença da corte e da família real no Brasil provocou um grande desenvolvimento
da colónia a todos os níveis.
Na realidade, o Brasil tornou-se na sede do Governo e centro do poder. Não podia
permanecer limitado às estruturas coloniais que não dignificavam a presença da família
real nem conferiam uma verdadeira imagem de independência perante a diplomacia
internacional.
Por conseguinte, o Brasil foi sendo dotado com todas as instituições características de
um país livre, a nível económico, cultural e político-administrativo.
Todo este desenvolvimento do Brasil conduziu inevitavelmente à sua elevação à
categoria de reino, em 1815, passando Portugal a chamar-se Reino Unido de Portugal,
Brasil e Algarves, com igualdade recíproca de direitos e deveres. As capitais foram
abolidas e foram criadas províncias, à maneira europeia, enquanto a produção de intensa
legislação foi suprimindo todos os atributos coloniais, tornando o Brasil numa réplica de
Portugal independente
 A atuação das cortes constituintes
O mal-estar sentido em Portugal pela continuidade do rei no Brasil e, sobretudo, as
dificuldades económicas sentidas levaram as cortes constituintes a exigir o regresso
imediato de D.João VI a Portugal, o que se concretizou em julho de 1821, e a adotar uma
política de recolonização do Brasil.
Para o efeito, entre outras medidas:
- foram anuladas muitas medidas liberalizadoras tomadas por D.João VI;
- a atividade dos tribunais e das instituições administrativas superiores foi suspensa;
- foi também exigido o regresso do príncipe D.Pedro, que tinha ficado como regente
do Brasil, sob pretexto de ter de completar a sua educação na Europa;
Esta atuação antibrasileira das Cortes vintistas contrariou toda a aceitação que o
movimento liberal português vinha tendo no Brasil e toda a confiança que os políticos
brasileiros depositavam na orientação liberal do movimento revolucionário.

 O grito do Ipiranga
A resposta dos nacionalistas foi imediata e traduziu-se na intensificação da agitação
conspiradora, sobretudo por ação das lojas maçónicas, culminando no apelo veemente
à presença de D.Pedro no Brasil.
D.Pedro respondeu positivamente ao apelo nacionalista brasileiro em janeiro de 1822.
A partir deste momento, a luta pela independência transformou-se num processo
irreversível.
Nesta conjuntura, em 7 de setembro de 1822 nas margens do rio Ipiranga, em
S.Paulo, D.Pedro proclamou a independência, que só viria a ser reconhecida por Portugal
em 1825.

As dificuldades de implantação do Liberalismo em Portugal


 A conjuntura externa
A Revolução de 1820 deparou-se com várias dificuldades. Para começar, sucedeu
num tempo em que as grandes potências procuravam eliminar os vestígios da Revolução
francesa. Efetivamente, em 1815, constituíra-se a Santa Aliança entre a Rússia, a Áustria
e a Prússia. Destinava-se a manter a ordem política estabelecida na Europa após o
Congresso de Viena, isto é, a evitar a disseminação dos ideais de liberdade e igualdade
individuais e dos povos. Foi, logo a seguir, completada pela Quádrupla Aliança, que
contou com a participação da Inglaterra e, mais tarde, da França, servindo uma e outra
para reprimir vários movimentos liberais e nacionalistas.
 A reação conservadora
A conjuntura descrita favorecia o crescimento da reação absolutista dentro das
fronteiras.
Os defensores da nova ordem organizaram-se no “partido” constitucional ou
liberal. Os que pretendiam o regresso das instituições do Antigo Regime organizaram-se
no “partido” realista ou absolutista em torno da rainha Carlota Joaquina e do príncipe
D.Miguel, que se recusaram a jurar a Constituição.

A Vila-Francada
Ocorreu em Vila Franca de Xira, em 1823, e foi uma rebelião dirigida por
D.Miguel que atraiu à sua causa dois regimentos que se dirigiam para a froonteira com
objetivo de defender o reino de uma possível invasão espanhola, em consequência do
triunfo dos absolutistas naquele país.
A revolta fracassou com a intervenção de D.João VI sem, todavia, deixar de fazer
algumas cedências aos revolutosos.

A Abrilada
A vida política não serenou mesmo assim. As medidas contemporizadas não
satisfizeram plenamente o carácter extremista dos absolutistas.
Em 30 de abril de 1824, deflagrou em Lisboa outra conspiração liderada por
D.Miguel que visava obrigar o rei a abdicar e, favor da rainha D.Carlota Joaquina.
Esta rebelião terminou com a intervenção do corpo diplomático sedeado em
Lisboa apoiando o rei no exoneração de D.Miguel das funções para que tinha sido
nomeado e na sua condenação ao exílio.

A Carta Constitucional – uma solução de compromisso


 O problema de sucessão
A morte de D.João VI, em março de 1826, deixou o reino numa situação de
indefinição relativamente à sucessão.
O sucessor legítimo era D.Pedro, aclamado imperador do Brasil. Porém, por ter
encabeçado o processo de independência da colonial brasileira, era acusado de crime de
lesa-pátria e de se ter tomado estrangeiro.
A alternativa vinha do segundo filho D.Miguel, que contava com importantes apoios
entre os absolutistas. Mas exilado, tinha contra si os liberais que o declaravam proscrito
no reino pela sua ação contrarrevolucionária.
A solução foi encontrada por D.Pedro que se considerou rei de Portugal mas abdicou
a favor de sua filha, D.Maria da Glória, de apenas 7 anos, com a condição de a Nação
aceitar a outorga de uma Carta Constitucional e a negociação do casamento da princesa
com seu tio D.Miguel, que, depois de jurar a Carta, seria instituído como regente do
reino até à maioridade da herdeira do trono.

 A Carta Constitucional
Outorgada em 29 de abril de 1826, no Brasil, a Carta Constitucional representou um
compromisso entre a doutrina da soberania nacional, adotada sem restrições pela
Constituição de 1822, e a recuperação da antiga dignidade e dos antigos poderes do
rei, fortemente diminuídos pelo vintismo.
A Carta Constitucional era, para todos os efeitos, uma nova Constituição. A diferença
residia no facto de não ser redigida e aprovada por uma assembleia constituinte
democraticamente eleita que submete à aceitação pelo rei, mas, ao contrário, ser
elaborada e proposta à Nação pelo monarca.
A solução proposta por D.Pedro IV trouxe importantes alterações:
- reitera o principio da separação de poderes, mas, além do legislativo, executivo e
judicial, passa a prever um, o moderador, exercido exclusivamente pelo rei;
- as Cortes passam a ser compostas por duas câmaras: uma câmara baixa, eletiva
e temporária, a Câmara dos Deputados, e uma câmara alta a Câmara dos Pares, a que
tinham acesso os membros da alta nobreza e clero, nomeados pelo rei a titulo vitalício e
hereditário e sem número fixo;
- os direitos dos cidadãos continuavam presentes, mas remetidos para o final do
documento.
Claramente longe do espirito democrático que norteou a Constituição de 1822, a Carta
Constitucional de 1826 pôs fim à revolução vintista e deu origem a uma nova corrente
liberal que vai marcar o futuro da revolução – o cartismo

 A guerra civil
D.Miguel jurou a Carta Constitucional em Viena, em 6 de dezembro de 1827 e, em
fevereiro do ano seguinte, era aclamado rei junto à foz do Tejo pelos partidos
absolutistas que nunca reconheceram direitos à sucessão a D.Pedro.

A deflagração do conflito
Apesar de D.Miguel aceitar a sua condição de regente e de reiterar a sua
fidelidade a D.Pedro, a D.Maria II e à Carta, cedo começou a dar sinais evidentes da sua
vontade de exercer o poder de forma pessoal, segundo os princípios do absolutismo.
Em conformidade, em junho de 1828, proclamou-se rei absoluto e:
- convocou novas cortes com moldes tradicionais;
- anulou os direitos de D.Pedro e a Carta Constitucional:
- iniciou uma feroz perseguição aos liberais.
Perante a autentica restauração do absolutismo, houve pronunciamentos
militares por todo o reine violentamente reprimidos pelas forças de D.Miguel. Tinha-se
entrado num clima de guerra civil.

A reação de D.Pedro IV
Em 1831, perante a gravidade dos acontecimentos, D.Pedro abdicou do trono
barsileiro em favor do seu filho, D.Pedro de Alcântara (D.Pedro II, do Brasil), e veio para
a Europa com o objetivo de organizar um exército para intervir em defesa dos direitos
da rainha legítima de Portugal, D.Maria II.
Conseguiu apoio do movimento liberal francês e inglês e de um grupo de fiéis
constitucionalistas refugiados na ilha Terceira, nos Açores, onde tinha, organizado um
conselho de regência, que D.Pedro reconheceu e cuja presidência passou a assumir. Em
1832, desembarcou no Mindelo (Porto) quase sem resistência, pois as forças absolutistas
estavam concentradas em Lisboa.
Os liberais entraram, sem resistência no Porto, mas rapidamente foram cercados
pelas tropas absolutistas. Aí lutaram e resistiram até ao levantamento do cerco em agosto
de 1833. Entretanto, já a Armada liberal tinha destruído, ou apresado, a quase totalidade
da Armada miguelista, na batalha do Cabo de S.Vicente, e as tropas liberais saídas do
Porto dirigiam-se por mar até ao Algarve e, a partir daí avançaram até Lisboa onde, a 24
de julho de 1833, entraram sem combate.
Desmoralizados pelas deserções nas suas fileiras, pela perda de apoio dos
populares e pela conjuntura externa disposta a favorecer a causa liberal na Península
Ibérica, os absolutistas não encontraram mais forças para continuarem os combates. As
batalhas de Almoster e Asseiceira confirmaram a derrota de D.Miguel, que depôs as
armas, assinou a Convenção de Évora Monte e partiu, definitivamente, para o exilio.
O Liberalismo triunfou definitivamente, mas as lutas politicas continuaram dentro da
causa liberal, entre defensores da Constituição de 1822 (os vintistas) e os defensores da Carta
Constitucional (os cartistas), até maio de 1851.

A legislação de Mouzinho da Silveira


A ação política dos primeiros governos cartistas foi determinada pela obra
legislativa de José Xavier Mouzinho da Silveira (1780-1849), ministro da Fazenda e da
Justiça.
Intransigente defensor da Carta Constitucional, Mouzinho da Silveira tinha em
vista remediar a ineficácia da legislação vintista na alteração das estruturas
socioeconómicas e demolir, de vez, as estruturas do Antigo Regime.
A nível socioeconómico, pautou a sua ação legisladora pelo combate aos
privilégios e obrigações de índole feudal que persistiam e continuavam a entravar o
desenvolvimento do reino:
- libertação da terra, considera riqueza nacional;
- extinção do dízimo eclesiástico e outras obrigações devidas pelos fiéis à igreja;
- salvaguarda jurídica do direito ao trabalho;
- salvaguarda e instituição jurídica da liberdade individual.
Com objetivo de liberalizar o comercio interno e externo:
- publicou-se o primeiro Código Comercial (autor: Ferreira Borges)
- decretou a limitação da aplicação do imposto sisa apenas aos bens de raiz;
- suprimiu as portagens e outros encargos que encareciam a circulação de
mercadoria
Com objetivo de modernizar as estruturas administrativas:
- empreendeu uma profunda reestruturação da Administração Pública, dividindo
os cidadãos em províncias, comarcas e concelhos;
- reorganizou o sistema judicial, eliminando os velhos foro privados e tornando
todos os cidadãos iguais perante a lei. Dividiu o reino em círculos judiciais,
subdivididos em comarcas e estas em julgados que se dividiam em freguesias.
Como ministro da Fazenda:
- aboliu os sistemas de tributação local exercida pelo clero e pela nobreza;
- e instituiu um sistema de tributação nacional tutelado pelo Tribunal do
Tesouro Público

O projeto setembrista
A ação dos governos cartistas cedo provocou o descontentamento de amplas
camadas populares, que continuavam a sofrer os efeitos do atraso económico do reino,
bem como da pequena e média burguesia pouco beneficiada pelas reformas económicas.
Com efeito, denunciavam o carácter conservador da Carta, acusavam os governos
cartistas de corrupção no favorecimento da alta burguesia e reclamavam o regresso aos
princípios revolucionários do vintismo.
Quando em 9 de setembro de 1836, apas novas eleições, os deputados eleitos pelo
Porto chegam a Lisboa e foram recebidos pela população com vivas á Constituição de
1822, teve origem uma sublevação de caracter civil contra mais um governo cartista que
foi obrigado a demitir-se.
No seguimento dos acontecimentos, D.Maria II acabou por nomear outro governo
onde preponderavam elementos politicamente mais identificados com os princípios
vintistas – setembristas (Sá da Bandeira).
A constituição de 1838
A primeira medida do Governo setembrista foi suspender a Carta
Constitucional e repor em vigor a Constituição de 1828. Porém, face ao violento
protesto dos cartistas, iniciou-se a redação de uma nova constituição, que veio a ser jurada
pela rainha em abril de 1848 – Constituição de 1838.
A nova constituição, acaba por conciliar o radicalismo democrático da
Constituição de 1822 com o caracter conservador da Carta Constitucional.

 As principais medidas do Governo setembrista


Entre 1836 e 1842, o Governo setembrista tentou praticar uma politica económica
inspirada nas doutrinas protecionistas, com considerável incidência no
desenvolvimento industrial.
Para efeito:
- publicou a Pauta Aduaneira de 10 de janeiro de 1837;
- promoveu a exploração das colónias africanas e fomentou o comercio colonial;
- fomentou a produção nacional;
- empreendeu uma profunda reforma na educação;
- fomentou o associativismo entre s industriais;
- facilitou a importação de técnicos e tecnologia estrangeiros e incentivou o
espírito inventivo nacional;
- realizou, em 1838, a Primeira Exposição Industrial Portuguesa.

 O fracasso do Setembrismo
Estas medidas de fomento tiveram uma considerável repercussão no
desenvolvimento e modernização do setor produtivo nacional.
Todavia, o Setembrismo fracassou. Fracassou porque faltavam em Portugal as
infraestruturas que viabilizam qualquer processo de modernização económica:
- continuava a faltar um forte núcleo empresarial;
- não se investiu na comunicações;
- faltavam as poderosas instituições de crédito;
- fraca qualidade dos produtos.
O projeto cabralista
Cabralista foi o nome dado ao novo Governo encabeçado por Costa Cabral
(1803-1889). Cabralismo foi o nome dado ao período que mediou entre fevereiro de
1842 e fins de abril de 1851.
Costa Cabral correspondeu aos anseios da alta burguesia desejosa de regressar ao
poder, congregando também alguns setores da média e baixa burguesia descontentes
com o fracasso económico do setembrismo.
Apesar de cartista, o Governo de Costa Cabral não cortou as tentativas
industrializadoras setembristas. Bem pelo contrário, deu-lhe uma sólida continuidade,
com particular atenção para a modernização das vias de comunicação e fomento de
obras publicas. O desenvolvimento económico do país não podia deixar de ser alvo de
preocupações governativas qualquer fosse a política adotado.
Assim, o novo Governo suspende o protecionismo setembrista e adota o modelo
livre-cambista, em consonância com os interesses dos grandes comerciantes. Portugal
abre-se, desta vez, à entrada de capitais estrangeiros e pareceria entrar-se num novo surto
de desenvolvimento se o reino não ficasse mais sujeito às crises do capitalismo
internacional.
Esta crise voltou a sentir-se em 1846-47 e as suas consequências políticas foram
mais graves ao ponto de quase lançarem o reino numa nova guerra civil entre os apoiantes
do cabralismo, que, na prática, governava em ditadura, e a todas as outras forças políticas
coligadas em juntas revolucionárias. A revolta da Maria da Fonte, na primavera de
1846, e a Patuleia, entre outubro de 1846 e junho de 1847, foram manifestações deste
ambiente de guerra civil.
Só em 1 de maio de 1851, com o derrube do segundo governo de Costa Cabral,
em consequência de mais uma insurreição armada encabeçada pelo marechal Saldanha, é
que a vida política nacional iniciou um tempo de acalmia política e de prosperidade
económica, sob vigência da Carta Constitucional reformulada. São os tempos da
Regeneração, que se prolongarão até ao derrube da monarquia, em 5 de outubro de 1910.

O legado do liberalismo
 Em consequência do processo revolucionário que atravessou toda a Europa, o
Liberalismo triunfou e com ele triunfou uma nova ordem social, política,
económica e social, preconizada pelos pensadores iluministas.
 As principais transformações sociais traduziam-se no fim da sociedade de ordens
e na afirmação de um novo ordenamento assente no reconhecimento dos direitos
do individuo à liberdade, à igualdade, e à segurança.
 Traduzem-se estes direitos no livre exercício do pensamento e da sua expressão,
na igualdade perante a lei no ato do nascimento e na liberdade de oportunidades
na concretização das aspirações pessoais e na defesa intransigente da ordem e da
disciplina como forma de garantir a segurança dos indivíduos e a inviolabilidade
da propriedade privada.
 Inerente à liberdade dos indivíduos está o seu direito a intervir ativamente na vida
pública do Estado, seja como eleitores dos seus representantes, seja como
detentores de cargos políticos, ou apenas participando em grupos de opinião, ou
publicando as suas opiniões nos órgãos de comunicação escrita.
 A nova ordem politica assenta no principio da soberania nacional. Trata-se de uma
nova forma de governação em que o exercício supremo do poder, por monarcas
hereditários e vitalícios ou por presidentes temporários eleitos, passa a ser
exercido no respeito pela vontade da Nação.
 Desta forma, o poder tem um carácter representativo na medida em que os
governantes o são em representação da nação, constituída pelos cidadãos em pleno
exercício dos seus deveres cívicos que os elegem, nos termos de uma Constituição
 A Constituição é um dos principais legados do Contrato Social preconizado pelos
iluministas. Nela estão consignados os princípios pelos quais os órgãos de
soberania devem pautar a governação assente no principio da separação de
poderes.
 Os pensadores liberais preconizam o Estado laico com clara separação entre as
esferas temporal e espiritual. Por isso, a Igreja perde a proeminência que detinha
do Estado absolutista em consequência da secularização das instituições e da
perda de bens patrimoniais expropriados e nacionalizados.
 Num Estado em que o poder é exercido de forma representativa, o cidadão afirma-
se como importante ator político. Apesar das muitas limitações de que reveste este
liberalismo burguês, pelo menos em teoria, é dever do cidadão escolher os seus
representantes, candidatar-se aos cargos públicos ou simplesmente vigiar
atentamente o exercício do poder.
 Em matéria económica, o Liberalismo assenta no estrito reconhecimento da livre
iniciativa e da livre concorrência. Os economistas liberais defendem que o
progresso económico depende da liberdade detida pelos indivíduos de produzirem
riqueza através do trabalho, de a multiplicarem num regime de livre concorrência
e de se apropriarem dessa riqueza sem limitações de ordem politica, por quanto o
progresso económico e a prosperidade do Estado serão tanto maiores quanto
maior for o enriquecimento pessoal dos cidadãos.
 Nas relações económicas, recusam a intervenção do estado, ao qual, quando
muito, incumbe a simples função de garantir a manutenção da ordem social para
assegurar a cada um o pleno exercício da liberdade individual e a proteção da
propriedade, bem como manter determinados serviços e instituições públicas
necessárias à vida em sociedade.
 São o interesse individual e a lei do mercado que devem pautar as relações
económicas. De acordo com o primeiro, os agentes económicos orientam
livremente as suas atividades em função das necessidades do mercado. Segundo
a lei de mercado o preço de uma mercadoria sobe naturalmente se houver mais
procura do que oferta e desce naturalmente se se verificar a situação contrária.
 O liberalismo do século XIX foi instituído pela burguesia em consequência do
triunfo das revoluções que lideraram. Por isso os princípios por que pugnaram não
tiveram uma aplicação tão universal como se pretende.

Das könnte Ihnen auch gefallen