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A nobreza
A nobreza constituía um grupo social claramente minoritário na totalidade social.
Ocupava o segundo lugar na estrutura social e constituía também um grupo privilegiado.
À cabeça da nobreza encontravam-se os príncipes e outros familiares mais ou menos
próximos da família real. Vinham depois os descendentes dos cavaleiros, tanto mais
importantes quanto mais remota fosse a linhagem, e, por último, vinham os descendentes
de fidalgos e outra nobreza de constituição mais recente.
Quanto à sua origem, temos de considerar a nobreza de sangue e a nobreza de toga.
- A nobreza de sangue ou nobreza de espada era constituída pelas famílias
tradicionais. Era a nobreza de nascimento, orgulhosa dos seus títulos, zelosa da sua
condição, que procurava manter, olhando com desdém a nobreza de constituição mais
recente.
- A nobreza de toga era uma nobreza de origem menos tradicional, por vezes
constituída por filhos da burguesia, proeminentes juristas que exerciam importantes
cargos burocrático-administrativos do Estado. Tratava-se de uma nova nobreza que
baseava a sua ascensão no mérito e riqueza pessoais constituindo a única manifestação de
mobilidade social.
Quanto ao seu poder e riqueza, podemos falar em alta nobreza e baixa nobreza.
- a alta nobreza era constituída por aristocratas de elevado poder fundiário ou
beneficiários de elevada proteção régia. Tinham grande poder político por constituírem o
círculo mais próximo dos monarcas na governação.
- a baixa nobreza era a nobreza de mais baixa condição, constituída por fidalgos que
frequentemente atravessavam dificuldades económicas e que não tinham qualquer
relutância em intervir no comércio ultramarino e na mercantilização das suas
propriedades rurais. Foi no seio deste grupo que se formou uma nobreza híbrida
constituída pelo cavaleiro-mercador que teve forte presença nas atividades ultramarinas
dos países ibéricos.
Terceiro estado
O Terceiro estado era constituído por toda a população sem estatuto de nobre ou de
eclesiástico. Constituía o grupo de trabalhadores e, por isso, era a base de todo o edifício
social. Contraditoriamente, era a ordem não privilegiada, levando, na maior parte dos
casos, uma vida de miséria que se agravava com frequentes conjunturas de crise
económica.
Devemos distinguir, à partida, dois grandes grupos: a população rural e a população
urbana.
A população rural, cerca de 80%, era quase exclusivamente constituída por
camponeses:
A população urbana era dominada pela burguesia. Tratava-se de um grupo cada vez
mais heterogéneo e menos identificado com a tradição da ordem que continuava a integrar
por estatuto. Podemos distinguir:
- uma alta burguesia constituída pelos homens de negócios e pelos letrados que
ocupavam altos cargos na administração ou se dedicavam ao exercício de profissões
intelectuais liberais. Era o grupo dos que facilmente ascendiam ao estatuto de nobreza de
toga;
- uma baixa burguesia constituída por mestres de ofícios, artesãos qualificados,
funcionários, pequenos comerciantes e lojistas que patenteavam alguns sinais de riqueza
e de prestígio social.
Num patamar inferior encontrava-se o povo urbano.
Habitava ainda na cidade uma massa de indigentes constituída por vagabundos,
mendigos, marginais que viviam na ociosidade à custa das esmolas ou de atividades
ilegítimas.
Por fim, existia ainda uma importante população escrava.
Comportamentos e valores
Na vida quotidiana
As desigualdades socias instituídas pelas ordens manifestavam-se na vida quotidiana.
Podiam ser visíveis no vestiário, na alimentação, na apresentação pública, nas formas de
tratamento, no convívio social. Tudo era diferente conforme se tratasse de um membro
do clero e da nobreza ou de um membro do povo.
As diferentes regras de comportamento eram instituídas por lei. Mas, antes da lei,
as diferenças entre os direitos de uns e as obrigações de outros já eram pacifica e
passivamente aceites pois constituíam uma tradição secular que as tornava normais.
O vestiário constituiu a mais antiga forma de diferenciação. Chegou a haver
diferenças no direito de vestir determinado tipo de roupas dentro da mesma ordem.
A habitação era outra manifestação onde as regras eram bem claras. Os palácios eram
próprios dos titulares enquanto a burguesia habitava em construções de elevada qualidade
arquitetónica e decorativa, mas sempre mais sóbrias.
Na alimentação havia também particularidades muito bem definidas. Só os grupos
privilegiados tinham acesso a comidas exóticas e às peças de caça mais nobres. Os
produtos vulgares da agricultura eram indignos da boca dos nobres e ficavam reservados
às camadas populares.
Quanto à apresentação pública, o nobre não podia aparecer sem ser acompanhado
pela sua criadagem de sair. O peso do seu séquito refletia o seu poder e riqueza. Também
era definido o tipo de transporte que cada estatuto podia utilizar. Ao povo eram vedados
estes sinais exteriores de riqueza, por efetiva que ela fosse entre os burgueses.
O cavaleiro-mercador
Bem posicionada na administração do Império, a fidalguia portuguesa junta
rendimentos que tira da terra, dos cargos que exerce e das dádivas reais, àquelas que
provêm do comércio. Por todo o Império, os nobres enriquecem à custa das sedas da
China, da canela de Ceilão, dos escravos da Guiné ou do açúcar do Brasil. Fruto destas
atividades, a nobreza mercantiliza-se, dando origem a um tipo social específico: o
cavaleiro-mercador.
O cavaleiro-mercador, é um aristocrata típico da sociedade portuguesa que
participa ativamente no comercio de produtos colonias, desde a costa africana até aos
remotos mercados orientais. Através das quintaladas ou do investimento direto nas naus
da carreira da Índia, os nobres portugueses intervêm em tudo o que prometia ser negócio
lucrativo.
Deste modo, boa parte dos lucros do comercio marítimo português não frutificava
nem contribuía para o desenvolvimento de uma burguesia enriquecida e enérgica. Pelo
contrário, no nosso país a burguesia teve sérias dificuldades em se afirmar, atrofiada
pelo protagonismo excessivo da coroa e da nobreza. Só na segunda metade do século
XVIII, em grande parte devido á atuação do Marquês de Pombal, a burguesia portuguesa
adquiriu um peso significativo na ação política e económica do reino.
Muitos foram os entraves que impediram a afirmação da burguesia e que provocaram
a sua atrofia ao longo do século XVI:
- o monopólio régio da expansão ultramarina;
- a concorrência;
- o poder político e militar da nobreza;
- a concorrência dos mercados estrangeiros;
- a ação da Inquisição;
- o carácter conservador da burguesia portuguesa.
Os Atos de Navegação
Tratou-se de um conjunto de leis que tinham por fim promover o potencial marítimo
da Inglaterra e eliminar a intermediação holandesa no comércio internacional.
A primeira, em 1651, proibia os navios estrangeiros de transportar para Inglaterra
mercadorias que não tivessem origem nos seus próprios países.
Mais tarde, outras medidas reservavam o tráfego com as colónias inglesas a navios
ingleses, não só de produtos próprios, mas também de outros países que não tivessem
capacidade para os transportar.
Em 1653, o exclusivo colonial era levado ao extremo com a obrigação imposta aos
colonos ingleses de comprarem unicamente na Inglaterra os produtos de que
necessitavam e a transportá-los em barcos ingleses.
Assim destruída a concorrência holandesa, a frota mercante inglesa não encontrou
entraves ao seu crescimento, tanto mais que os Atos de Navegação foram
complementados por uma política de expansão territorial, sobretudo na América do Norte
e nas Antilhas.
O setor comercial foi ainda reforçado com a criação de grandes companhias de
comércio, às quais se concederam numerosos monopólios. A mais célebre e bem-
sucedida foi, sem dúvida, a Companhia das Índias Orientais.
O surto manufatureiro
O surto manufatureiro foi a principal preocupação de Colbert ao adotar as seguintes
medidas protecionistas:
- estabelecimento de entraves à importação de produtos manufatureiros e
proibição da importação de artigos de luxo;
- fomento das exportações;
- incremento da produção manufatureira nacional;
- controlo rigoroso da qualidade dos produtos;
- implementação de uma política de preços baixos;
- total abertura das fronteiras à entrada de matérias-primas, de técnicos e
equipamento estrangeiros com reciprocidade na proibição de saída.
Inovações agrícolas:
Sistema de rotação de culturas, alternância de colheitas que permitia o melhor
aproveitamento da terra assim como a articulação perfeita entre a agricultura e o
gado(estrume como fertilizante);
Substituição dos campos abertos(open field), onde após a colheita o gado pastava
livremente, pelos campos vedados(enclosures) que permitiam a melhor
rentabilização da terra;
Desenvolvimento das máquinas agrícolas como a semeadora elétrica, charrua
triangular e máquina debulhadora;
Seleção das melhores sementes e aperfeiçoamento das alfaias(utensílio de
lavoura).
Urbanização
Com o crescimento demográfico, a população abandona os campos e ruma à cidade à
procura de melhores condições de vida. A este fenómeno dá-se o nome de Êxodo Rural.
Em finais do séc.XVII, Portugal vive uma grave crise comercial que degenera em crise
financeira. A solução passa pela introdução das doutrinas mercantilistas.
A conjuntura social
A conjuntura social era de grande descontentamento e de revolta que crescia entre:
- os populares contra a orfandade política do reino devido à presença prolongada
do rei no Brasil;
- a burguesia liberal, à medida que se confirmava a situação de colónia em que
Portugal ia caindo, face ao desenvolvimento que a presença real trazia ao Brasil;
- os nacionalistas e adeptos da causa francesa, pela humilhante repressão
praticada pelos ingleses e pela preponderância política do marechal Beresford;
- toda a população, em geral, devido à grave crise económica que o reino
atravessava.
A agitação revolucionária
Foi este descontentamento que fez crescer, sobretudo entre os setores burgueses,
o sentimento de revolta que conduziu a uma tentativa revolucionária em 1817, quando
a Maçonaria portuguesa levou a cabo uma conspiração contra Beresford, organizada em
torno de Gomes Freire de Andrade (1757-1817), um estrangeirado que fez carreira nas
armas e que chegou a combater nos exércitos de Napoleão.
A descoberta do movimento e a confirmação de sua ligação com a Maçonaria
desencadeou uma grande perseguição aos implicados, culminando com a condenação à
morte por enforcamento do seu líder mais 11 cúmplices.
A revolução de 1820 e as dificuldades da implantação da
ordem liberal (1820-1834)
A revolução de 1820
A eclosão da revolução
Os acontecimentos tiveram o seu arranque no Porto, onde Manuel Fernandes
Tomás, desembargador da Relação, fundou, em 1817, uma associação secreta com o
nome de Sinédrio, cujos os membros pertenciam, na quase totalidade, à Maçonaria.
Atento à marcha dos políticos, o Sinédrio propunha-se intervir logo que a situação se
relevasse propícia. Esse momento precipitou-se em março de 1820, graças à conjunção
de dois fatores favoráveis:
- o ânimo que veio de Espanha, onde acabava de triunfar um movimento liberal
em consequência do qual Fernando VII foi obrigado a jurar a Constituição de Cádis.
- a partida de Beresford para o Brasil a fim de solicitar ao rei dinheiro para o
pagamento de despesas militares, além de mais amplos poderes para reprimir a crescente
onda de agitação.
Em 24 de agosto de 1820, alguns regimentos militares do Porto, apoiados pela
população e sem encontrarem grande resistência, tomam a Câmara Municipal, onde,
reunidos com autoridades civis, elegeram a Junta Provisional do Governo Supremo do
Reino destinada a governar em nome do rei.
Entretanto, em Lisboa, o governo institucional do reino ia cedendo às pressões do
movimento revolucionário e, em 15 de setembro, as autoridades pró-inglesas acabam
por ser destituídas, tendo-se formado um novo governo interino.
Os dois governos revolucionários (do Porto e de Lisboa) acabaram por se fundir
numa única junta governativa, passando a administrar o país a partir de Lisboa. Ao
mesmo tempo, era criada uma Junta Provisional Preparatória das Cortes com o objetivo
de preparar a sua reunião (que não ocorria desde 1698) e iniciar a redação de uma
Constituição.
O grito do Ipiranga
A resposta dos nacionalistas foi imediata e traduziu-se na intensificação da agitação
conspiradora, sobretudo por ação das lojas maçónicas, culminando no apelo veemente
à presença de D.Pedro no Brasil.
D.Pedro respondeu positivamente ao apelo nacionalista brasileiro em janeiro de 1822.
A partir deste momento, a luta pela independência transformou-se num processo
irreversível.
Nesta conjuntura, em 7 de setembro de 1822 nas margens do rio Ipiranga, em
S.Paulo, D.Pedro proclamou a independência, que só viria a ser reconhecida por Portugal
em 1825.
A Vila-Francada
Ocorreu em Vila Franca de Xira, em 1823, e foi uma rebelião dirigida por
D.Miguel que atraiu à sua causa dois regimentos que se dirigiam para a froonteira com
objetivo de defender o reino de uma possível invasão espanhola, em consequência do
triunfo dos absolutistas naquele país.
A revolta fracassou com a intervenção de D.João VI sem, todavia, deixar de fazer
algumas cedências aos revolutosos.
A Abrilada
A vida política não serenou mesmo assim. As medidas contemporizadas não
satisfizeram plenamente o carácter extremista dos absolutistas.
Em 30 de abril de 1824, deflagrou em Lisboa outra conspiração liderada por
D.Miguel que visava obrigar o rei a abdicar e, favor da rainha D.Carlota Joaquina.
Esta rebelião terminou com a intervenção do corpo diplomático sedeado em
Lisboa apoiando o rei no exoneração de D.Miguel das funções para que tinha sido
nomeado e na sua condenação ao exílio.
A Carta Constitucional
Outorgada em 29 de abril de 1826, no Brasil, a Carta Constitucional representou um
compromisso entre a doutrina da soberania nacional, adotada sem restrições pela
Constituição de 1822, e a recuperação da antiga dignidade e dos antigos poderes do
rei, fortemente diminuídos pelo vintismo.
A Carta Constitucional era, para todos os efeitos, uma nova Constituição. A diferença
residia no facto de não ser redigida e aprovada por uma assembleia constituinte
democraticamente eleita que submete à aceitação pelo rei, mas, ao contrário, ser
elaborada e proposta à Nação pelo monarca.
A solução proposta por D.Pedro IV trouxe importantes alterações:
- reitera o principio da separação de poderes, mas, além do legislativo, executivo e
judicial, passa a prever um, o moderador, exercido exclusivamente pelo rei;
- as Cortes passam a ser compostas por duas câmaras: uma câmara baixa, eletiva
e temporária, a Câmara dos Deputados, e uma câmara alta a Câmara dos Pares, a que
tinham acesso os membros da alta nobreza e clero, nomeados pelo rei a titulo vitalício e
hereditário e sem número fixo;
- os direitos dos cidadãos continuavam presentes, mas remetidos para o final do
documento.
Claramente longe do espirito democrático que norteou a Constituição de 1822, a Carta
Constitucional de 1826 pôs fim à revolução vintista e deu origem a uma nova corrente
liberal que vai marcar o futuro da revolução – o cartismo
A guerra civil
D.Miguel jurou a Carta Constitucional em Viena, em 6 de dezembro de 1827 e, em
fevereiro do ano seguinte, era aclamado rei junto à foz do Tejo pelos partidos
absolutistas que nunca reconheceram direitos à sucessão a D.Pedro.
A deflagração do conflito
Apesar de D.Miguel aceitar a sua condição de regente e de reiterar a sua
fidelidade a D.Pedro, a D.Maria II e à Carta, cedo começou a dar sinais evidentes da sua
vontade de exercer o poder de forma pessoal, segundo os princípios do absolutismo.
Em conformidade, em junho de 1828, proclamou-se rei absoluto e:
- convocou novas cortes com moldes tradicionais;
- anulou os direitos de D.Pedro e a Carta Constitucional:
- iniciou uma feroz perseguição aos liberais.
Perante a autentica restauração do absolutismo, houve pronunciamentos
militares por todo o reine violentamente reprimidos pelas forças de D.Miguel. Tinha-se
entrado num clima de guerra civil.
A reação de D.Pedro IV
Em 1831, perante a gravidade dos acontecimentos, D.Pedro abdicou do trono
barsileiro em favor do seu filho, D.Pedro de Alcântara (D.Pedro II, do Brasil), e veio para
a Europa com o objetivo de organizar um exército para intervir em defesa dos direitos
da rainha legítima de Portugal, D.Maria II.
Conseguiu apoio do movimento liberal francês e inglês e de um grupo de fiéis
constitucionalistas refugiados na ilha Terceira, nos Açores, onde tinha, organizado um
conselho de regência, que D.Pedro reconheceu e cuja presidência passou a assumir. Em
1832, desembarcou no Mindelo (Porto) quase sem resistência, pois as forças absolutistas
estavam concentradas em Lisboa.
Os liberais entraram, sem resistência no Porto, mas rapidamente foram cercados
pelas tropas absolutistas. Aí lutaram e resistiram até ao levantamento do cerco em agosto
de 1833. Entretanto, já a Armada liberal tinha destruído, ou apresado, a quase totalidade
da Armada miguelista, na batalha do Cabo de S.Vicente, e as tropas liberais saídas do
Porto dirigiam-se por mar até ao Algarve e, a partir daí avançaram até Lisboa onde, a 24
de julho de 1833, entraram sem combate.
Desmoralizados pelas deserções nas suas fileiras, pela perda de apoio dos
populares e pela conjuntura externa disposta a favorecer a causa liberal na Península
Ibérica, os absolutistas não encontraram mais forças para continuarem os combates. As
batalhas de Almoster e Asseiceira confirmaram a derrota de D.Miguel, que depôs as
armas, assinou a Convenção de Évora Monte e partiu, definitivamente, para o exilio.
O Liberalismo triunfou definitivamente, mas as lutas politicas continuaram dentro da
causa liberal, entre defensores da Constituição de 1822 (os vintistas) e os defensores da Carta
Constitucional (os cartistas), até maio de 1851.
O projeto setembrista
A ação dos governos cartistas cedo provocou o descontentamento de amplas
camadas populares, que continuavam a sofrer os efeitos do atraso económico do reino,
bem como da pequena e média burguesia pouco beneficiada pelas reformas económicas.
Com efeito, denunciavam o carácter conservador da Carta, acusavam os governos
cartistas de corrupção no favorecimento da alta burguesia e reclamavam o regresso aos
princípios revolucionários do vintismo.
Quando em 9 de setembro de 1836, apas novas eleições, os deputados eleitos pelo
Porto chegam a Lisboa e foram recebidos pela população com vivas á Constituição de
1822, teve origem uma sublevação de caracter civil contra mais um governo cartista que
foi obrigado a demitir-se.
No seguimento dos acontecimentos, D.Maria II acabou por nomear outro governo
onde preponderavam elementos politicamente mais identificados com os princípios
vintistas – setembristas (Sá da Bandeira).
A constituição de 1838
A primeira medida do Governo setembrista foi suspender a Carta
Constitucional e repor em vigor a Constituição de 1828. Porém, face ao violento
protesto dos cartistas, iniciou-se a redação de uma nova constituição, que veio a ser jurada
pela rainha em abril de 1848 – Constituição de 1838.
A nova constituição, acaba por conciliar o radicalismo democrático da
Constituição de 1822 com o caracter conservador da Carta Constitucional.
O fracasso do Setembrismo
Estas medidas de fomento tiveram uma considerável repercussão no
desenvolvimento e modernização do setor produtivo nacional.
Todavia, o Setembrismo fracassou. Fracassou porque faltavam em Portugal as
infraestruturas que viabilizam qualquer processo de modernização económica:
- continuava a faltar um forte núcleo empresarial;
- não se investiu na comunicações;
- faltavam as poderosas instituições de crédito;
- fraca qualidade dos produtos.
O projeto cabralista
Cabralista foi o nome dado ao novo Governo encabeçado por Costa Cabral
(1803-1889). Cabralismo foi o nome dado ao período que mediou entre fevereiro de
1842 e fins de abril de 1851.
Costa Cabral correspondeu aos anseios da alta burguesia desejosa de regressar ao
poder, congregando também alguns setores da média e baixa burguesia descontentes
com o fracasso económico do setembrismo.
Apesar de cartista, o Governo de Costa Cabral não cortou as tentativas
industrializadoras setembristas. Bem pelo contrário, deu-lhe uma sólida continuidade,
com particular atenção para a modernização das vias de comunicação e fomento de
obras publicas. O desenvolvimento económico do país não podia deixar de ser alvo de
preocupações governativas qualquer fosse a política adotado.
Assim, o novo Governo suspende o protecionismo setembrista e adota o modelo
livre-cambista, em consonância com os interesses dos grandes comerciantes. Portugal
abre-se, desta vez, à entrada de capitais estrangeiros e pareceria entrar-se num novo surto
de desenvolvimento se o reino não ficasse mais sujeito às crises do capitalismo
internacional.
Esta crise voltou a sentir-se em 1846-47 e as suas consequências políticas foram
mais graves ao ponto de quase lançarem o reino numa nova guerra civil entre os apoiantes
do cabralismo, que, na prática, governava em ditadura, e a todas as outras forças políticas
coligadas em juntas revolucionárias. A revolta da Maria da Fonte, na primavera de
1846, e a Patuleia, entre outubro de 1846 e junho de 1847, foram manifestações deste
ambiente de guerra civil.
Só em 1 de maio de 1851, com o derrube do segundo governo de Costa Cabral,
em consequência de mais uma insurreição armada encabeçada pelo marechal Saldanha, é
que a vida política nacional iniciou um tempo de acalmia política e de prosperidade
económica, sob vigência da Carta Constitucional reformulada. São os tempos da
Regeneração, que se prolongarão até ao derrube da monarquia, em 5 de outubro de 1910.
O legado do liberalismo
Em consequência do processo revolucionário que atravessou toda a Europa, o
Liberalismo triunfou e com ele triunfou uma nova ordem social, política,
económica e social, preconizada pelos pensadores iluministas.
As principais transformações sociais traduziam-se no fim da sociedade de ordens
e na afirmação de um novo ordenamento assente no reconhecimento dos direitos
do individuo à liberdade, à igualdade, e à segurança.
Traduzem-se estes direitos no livre exercício do pensamento e da sua expressão,
na igualdade perante a lei no ato do nascimento e na liberdade de oportunidades
na concretização das aspirações pessoais e na defesa intransigente da ordem e da
disciplina como forma de garantir a segurança dos indivíduos e a inviolabilidade
da propriedade privada.
Inerente à liberdade dos indivíduos está o seu direito a intervir ativamente na vida
pública do Estado, seja como eleitores dos seus representantes, seja como
detentores de cargos políticos, ou apenas participando em grupos de opinião, ou
publicando as suas opiniões nos órgãos de comunicação escrita.
A nova ordem politica assenta no principio da soberania nacional. Trata-se de uma
nova forma de governação em que o exercício supremo do poder, por monarcas
hereditários e vitalícios ou por presidentes temporários eleitos, passa a ser
exercido no respeito pela vontade da Nação.
Desta forma, o poder tem um carácter representativo na medida em que os
governantes o são em representação da nação, constituída pelos cidadãos em pleno
exercício dos seus deveres cívicos que os elegem, nos termos de uma Constituição
A Constituição é um dos principais legados do Contrato Social preconizado pelos
iluministas. Nela estão consignados os princípios pelos quais os órgãos de
soberania devem pautar a governação assente no principio da separação de
poderes.
Os pensadores liberais preconizam o Estado laico com clara separação entre as
esferas temporal e espiritual. Por isso, a Igreja perde a proeminência que detinha
do Estado absolutista em consequência da secularização das instituições e da
perda de bens patrimoniais expropriados e nacionalizados.
Num Estado em que o poder é exercido de forma representativa, o cidadão afirma-
se como importante ator político. Apesar das muitas limitações de que reveste este
liberalismo burguês, pelo menos em teoria, é dever do cidadão escolher os seus
representantes, candidatar-se aos cargos públicos ou simplesmente vigiar
atentamente o exercício do poder.
Em matéria económica, o Liberalismo assenta no estrito reconhecimento da livre
iniciativa e da livre concorrência. Os economistas liberais defendem que o
progresso económico depende da liberdade detida pelos indivíduos de produzirem
riqueza através do trabalho, de a multiplicarem num regime de livre concorrência
e de se apropriarem dessa riqueza sem limitações de ordem politica, por quanto o
progresso económico e a prosperidade do Estado serão tanto maiores quanto
maior for o enriquecimento pessoal dos cidadãos.
Nas relações económicas, recusam a intervenção do estado, ao qual, quando
muito, incumbe a simples função de garantir a manutenção da ordem social para
assegurar a cada um o pleno exercício da liberdade individual e a proteção da
propriedade, bem como manter determinados serviços e instituições públicas
necessárias à vida em sociedade.
São o interesse individual e a lei do mercado que devem pautar as relações
económicas. De acordo com o primeiro, os agentes económicos orientam
livremente as suas atividades em função das necessidades do mercado. Segundo
a lei de mercado o preço de uma mercadoria sobe naturalmente se houver mais
procura do que oferta e desce naturalmente se se verificar a situação contrária.
O liberalismo do século XIX foi instituído pela burguesia em consequência do
triunfo das revoluções que lideraram. Por isso os princípios por que pugnaram não
tiveram uma aplicação tão universal como se pretende.