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O SERVIDOR PÚBLICO

E A REFORMA CONSTITUCIONAL

A IMAGEM DO SERVIDOR PERANTE A SOCIEDADE


DIREITOS E OBRIGAÇÕES

A REFORMA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

eo

SISTEMA PRÓPRIO DE APOSENTADORIAS E PENSÕES

A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A CAMINHO DE


SEU TOTAL DESMANTELAMENTO
A GRANDE REFORMA CONSTITUCIONAL

CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

A começar pelos próprios Presidentes da República, desde José Sarney,


passando por Fernando Collor de Mello, Itamar Franco e agora Fernando Henrique
Cardoso, várias são as autoridades, congressistas, empresários e outros
representantes dos mais diversos segmentos da sociedade, que advogam a
necessidade imediata de reforma da Constituição de 1988. Até aí nada de mais, tanto
que, não sendo ela intocável, algumas propostas já se encontram, no Congresso
Nacional, para discussão e deliberação final. Assustam-nos, porém, os argumentos que
oferecem os seus autores, dizendo, por exemplo, que nossa Carta é altamente
inflacionária, excessivamente detalhista, corporativista e, por isso mesmo, prejudicial ao
Governo na condução e administração de seu projeto econômico.
Fala-se, abertamente, que a Constituição contempla e assegura
benefícios e vantagens exagerados, e cujo atendimento acarreta sacrifícios
insuportáveis à nação. E isto sem alusão a tantos outros pontos, direta ou
indiretamente relacionados ao Sistema Tributário Nacional, à Ordem Econômica e
Financeira, assim como a própria Ordem Social.
A opinião pública vem sendo bombardeada por grupos poderosos e seus
porta-vozes, com o mito de que o Estado brasileiro está falido. Não há como atender às
mínimas necessidades de sua população, dizem eles. Daí a premente necessidade de
uma profunda e consistente reforma da chamada “Constituição cidadã”, que envolva,
dentre outros, a Previdência Social e o Capítulo destinado à Administração Pública e
seus servidores. Não importa, segundo os defensores de propostas dessa natureza,
que direitos ou garantias fundamentais sejam dela sumariamente expurgados. Para
eles, e não obstante o que dispõe o art. 60, † 4ƒ, inciso IV (as chamadas cláusulas
pétreas ou imodificáveis), não há restrição alguma, podendo a Constituição ser
emendada em toda a sua plenitude, em benefício de um Estado que pretende ser
moderno e promissor.
No entanto - é preciso não perder de vista - conforme o seu próprio
“PREAMBULO”, o Estado Democrático por ela instituído há de assegurar

“o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a


segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça
como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na
ordem interna e internacional, com a solução pacífica das
controvérsias...”

A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E OS SEUS SERVIDORES

Ao longo dos últimos tempos, com maior amplitude a partir do Governo


Collor, vem o servidor público assumindo, por força de uma campanha insidiosa e
articulada, perante a própria sociedade da qual se origina e para a qual deve dirigir
seus esforços, uma posição bastante incômoda, semelhante a de um aproveitador que
dela pretende, única e exclusivamente, obter algum tipo de proveito ilícito ou, ao
menos, imoral.
Qualquer de nós que tenha tido tempo - ou paciência - para recortar, ou
gravar, trechos de notícias que, dia a dia, são veiculadas pelos variados órgãos de
imprensa do país, veria que pouco ou quase nada se diz em favor da administração
pública. Toda ela (ou quase toda) é ineficiente; seus agentes, os servidores, são
inoperantes e corruptos em sua imensa maioria, e, pior ainda, integram uma
casta de improdutivos, além de custarem muito ao erário público. Por isso, tudo
(ou quase tudo) deve ser privatizado, em benefício da modernização do próprio
Estado.
Com exceção, portanto, de alguns serviços, todos os demais devem ser
entregues à iniciativa privada, esta sempre “competente”. É preciso, dentro dessa ótica,
enxugar ainda mais o Estado, reduzir quadros funcionais até em relação às suas
atividades típicas ou indelegáveis, assim como em setores diversos onde a carência de
mão-de-obra é mais do que notória.
E assim caminha a administração pública para o seu total
desmantelamento.

Eis a imagem que dela tem uma parcela ponderável da própria


sociedade:

“Entre os brasileiros, de modo geral, é corrente a idéia de que o Brasil


tem excesso de funcionários públicos, muitos deles com preparo deficiente, o que
acarreta desperdício de recursos, complicação da burocracia e ineficiência dos
serviços...tornou-se moda no Brasil atribuir todos os males ao setor público, como se na
iniciativa privada não houvesse desperdício de recursos, nepotismo, incompetência e
corrupção. Nem se diga que o particular tem o direito de agir como quiser, até mesmo
de errar, porque o prejuízo será apenas seu. Na realidade, a má gestão empresarial
sempre tem repercussões sociais negativas, além do que nenhum indivíduo e nenhuma
empresa se sustenta sem receber muito do conjunto da sociedade, razão pela qual a
sociedade tem o direito de exigir o bom aproveitamento dos recursos existentes.
Por esses e outros motivos, fica evidente que a melhoria do setor
público, inclusive a redução de despesas e o aumento da eficiência, não podem ser
baseados mediante a simples dispensa de funcionários...Existe a necessidade de
aperfeiçoamento do setor público, para melhoria da qualidade dos serviços e redução
dos custos. Isso deverá ser feito, entretanto, de modo responsável e racional, não
ficando apenas na consideração simplista da quantidade de servidores, mas
considerando, antes de tudo, o interesse público na manutenção dos serviços e a boa
qualidade deles...Para que o Brasil se modernize, preparando-se para o século 21, é
indispensável parar de fingir que o setor público só acarreta prejuízos, enquanto o setor
privado age sempre em benefício da coletividade e só traz benefícios...” (Dalmo de
Abreu Dallari, Advogado e Professor).

O ex-ministro Rubens Ricúpero, por sua vez, sempre defendeu “a


necessidade da criação de uma burocracia estável, capaz de garantir a continuidade
dos governos e do próprio regime democrático.” Em alguns de seus pronunciamentos,
lembrava “que a Índia, país sempre comparado ao que há de mais atrasado no Brasil,
tem um serviço público de melhor qualidade, incomparavelmente melhor do que o
nosso...” Dizia das dificuldades do governo em formar e manter especialistas
qualificados nas funções estratégicas, defendia o recrutamento por concurso público,
planos de carreiras, a promoção por mérito e melhores salários e considerara vital pôr
fim ao que denominava hábito de empreguismo político. Considerava os sevidores
injustiçados, rebatia os argumentos dos que pregavam o achatamento dos salários do
funcionalismo com o argumento da necessidade de reduzir o tamanho do estado:
“Há atribuições que só podem ser exercidas pelo poder Público Federal
e para isso é preciso que ele esteja equipado e que receba condições para cumprir sua
função nas áreas de fiscalização, previdência, saúde, saneamento e segurança. Como
estas funções exigem sacrifícios para que possam ser exercidas, é preciso reforçar o
Estado, fugindo do desmantelamento orquestrado nos últimos anos.”

Durante o Seminário sobre Política Salarial do Setor Público,


promovido, em 1994, pela Câmara dos Deputados, foram contundentes e
irrefutáveis alguns pronunciamentos:

Do Procurador da República e Secretário Geral do Ministério Público, Dr.


João Batista de Almeida ao afirmar que
“em razão dos baixos salários, o órgão deixou de contratar cerca de 50%
dos aprovados no concurso realizado em 1992: “a defasagem salarial é tão grande que
os melhores classificados preferem a iniciativa privada ou então protelam a decisão”.

Da Coordenação Nacional das Entidades Representativas dos


Servidores Públicos Federais, o Professor Américo Kerr, ao destacar
“a imagem estereotipada que a população brasileira vem tendo dos
servidores públicos: “Como a de um burocrata com carimbo na mão ou o de uma
senhora tricotando enquanto a fila de atendimento cresce a perder de vista”. E
completou, dizendo que está ocorrendo há algum tempo no país o “desmonte proposital
do setor público, com a finalidade de atender aos interesses da iniciativa privada.”

Da Diretora de Recursos Humanos do STJ, Geny Bárbara do Carmo


Lima, ao dizer que a qualidade no serviço público não é tarefa impossível. Repensar o
setor, questionar suas finalidades e definir diretrizes constituem o ponto de partida para
sua melhoria. Entre os fatores de aprimoramento do servidor público, citou os
“intrinsecos”, que são a motivação, o reconhecimento, a realização e o
próprio trabalho realizado. Já os fatores “extrinsecos” são aqueles que não garantem
motivação, produzem baixos salários e provocam insatisfação.”
Da Ministra Elvia Castello Branco, Presidente do Tribunal de Contas da
União, ao afirmar que
“a valorização e aperfeiçoamento do serviço público é verdadeiramente o
sonho de todos os brasileiros”. E “para atender aos anseios da sociedade, é necessário
reverter o conceito desabonador do servidor público e a idéia de ineficiência do Estado”.
“Para tanto, torna-se fundamental a definição e implantação de uma política que
respeite e englobe a carreira e o salário do trabalhador em função pública”..., ratificando
“que dentro de uma nova política salarial, deve ser observada a necessidade de
mecanismos de incentivo e avaliação de desempenho dos servidores...”

Do Coordenador da ENAP-Escola Nacional de Administração Pública


José Luiz Pagnussat, que mostrou um estudo comparado com quatro países: Itália,
França, Espanha e Alemanha, no qual o Brasil aparece como um dos países que tem o
menor número de funcionários públicos do mundo, numa proporção de 37 funcionários,
nos níveis federal, estadual e municipal, para cada mil habitantes, enquanto nos
Estados Unidos este número é de 73 por mil, na Alemanha e na França de 87 por mil e
na Inglaterra chega a 91 funcionários por mil habitantes. Comparado com os países da
América Latina, o Brasil é o que tem menos servidores públicos:
“Enquanto nos Estados Unidos se gasta 2,8% do PIB com os servidores
públicos, o Brasil gasta apenas 1% do seu Produto Interno Bruto”.

Do diretor de Assuntos de Governo da Xerox do Brasil e especialista em


Recursos Humanos, Heitor Chagas de Oliveira, que defendeu um redimensionamento
do Estado de tal forma que se estabeleça um parâmetro na área do governo que sirva
de referência sobre as necessidades de pessoal desde o
“massacre da Esplanada dos Ministérios, durante o governo Collor,
quando houve a dispensa assassina de funcionários sem nenhum motivo adequado”.

De Aldino Graef, especialista em políticas públicas, que se manifestou


preocupado com a evasão de mão-de-obra qualificada de áreas “sensíveis” do governo.
Disse ser necessário que o governo busque uma política de recursos humanos
prioritariamente de forma a evitar a “degeneração” dos serviços públicos.E que,
“desde 1985, o funcionalismo vem sendo tratado de uma forma
secundária por todos os governos.”

Na mesma linha, e com a seriedade de sempre, o Ministro Adib Jatene,


ao fazer uma análise sobre a situação da saúde pública brasileira - e isto ocorre em
todas as outras áreas - diz:
“Há 40,50 anos, os hospitais em qualquer lugar do mundo eram muito
semelhantes,todos tinham poucos recursos e o que os diferenciava eram os
profissionais mais ou menos capazes, mais ou menos competentes. Os serviços de
saúde pública eram verticalizados e funcionavam com pessoal quase permanente. O
serviço público, na época era estruturado, havia uma carreira, tinha continuidade, não
dependia das modificações de cúpula...
O poder de qualquer setor é muito importante, e no passado quem
detinha o poder do setor saúde era o pessoal do setor da saúde. Hoje quem detém o
poder no setor saúde são empresas, indústrias, aqueles que detém a tecnologia que foi
incorporada...
Quem está administrando deve trabalhar na realidade, e para isso
precisa conhecê-la. E quem conhece a realidade é quem trabalha com ela,
rotineiramente, não ocasionalmente...”

A Folha do Servidor Público, em um de seus últimos editoriais, defende


“que, antes de mais nada, são necessários um profundo estudo e um
amplo debate a respeito da função do estado na sociedade moderna. E isto não é uma
questão de, simplesmente, macaquear modelos alienígenas, como foi tentado, no
início, pelo frustrado governo do ex-presidente Fernando Collor...que, ao invés de
economizar recursos do Erário, obteve-se o desmantelamento da própria Administração
Federal, inclusive de alguns núcleos que funcionavam como verdadeiras ilhas de
eficiência.”...Quando se fala no papel e na função do Estado, discutem-se as
características que devem ser assumidas pela Administração Pública, extrapolando,
portanto, para os direitos e deveres dos servidores públicos, que são agentes de
atuação da Administração. Daí a tentativa de se mexer na Constituição, uma vez que os
direitos e as garantias básicas do servidor público estão contidos em disposições
constitucionais específicas. Neste ponto, o discurso neo-liberal volta-se, principalmente,
contra os institutos da estabilidade e da aposentadoria voluntária por tempo de serviço,
com proventos integrais...”

Jesus J. Bales, lider sindical, em interessante artigo publicado no DCI,


diz: “O servidor público federal vive, talvez, sua pior crise na história
republicana do Brasil. Repartições, em situação de total penúria, mantêm-se abertas
pela extrema dedicação de seus servidores, quando não, por simples rotina. O corpo de
servidores, mutilado por golpes profundos, com a desastrosa reforma administrativa do
governo Collor, mantém-se quase estático, sem esperança de futuro melhor.
As filas são imensas diante das repartições. O público reclama do
atendimento precário, técnicos têm estudado o problema, emitindo opiniões. Mas de
prático, nada se faz. Quando se lembram do servidor é para pedir o fim da estabilidade
ou dizer que “é preciso acabar com os marajás”. Nesse estado de prostração, o
aparelho administrativo - qual um animal gravemente ferido - fica indefeso. Abre-se a
oportunidade para aproveitadores e para os “amigos do rei”, ansiosos por um lugar no
serviço público, mesmo que não estejam preparados para o cargo pleiteado...
Governantes de momento fazem belos discursos, falam da necessidade de
“profissionalização”do servidor, mas não movem uma palha para isso. Plano de
carreira, no serviço federal, continua sendo manga de colete. Treinamentos, reciclagem
e possibilidade de ascensão para os funcionários efetivos não existem...”
A ESTABILIDADE E OUTROS DIREITOS

Diante desse insólito quadro, deprimente sob todos os aspectos,


quando se exigem providências urgentes e vigorosas no sentido de aprimorar a
máquina do Estado, resgatar sua imagem e a de seus servidores, perante a
sociedade, eis que pessoas despreparadas, algumas do próprio governo, com
argumentos tendenciosos e preconceituosos, sem conhecimento ou experiência,
manifestam-se, de maneira grosseira, agressiva e inoportuna sobre tais questões.
E, com isso, agrava-se ainda mais a situação de penúria já existente. Em nome de
uma suposta modernidade, querem que o serviço público se desmantele por
inteiro, sem nenhuma possibilidade de reversão. Assim se exige e assim
provavelmente será feito, custe o que custar, doa a quem doer, dizem os
defensores das grandes reformas nessa área. É o caso da propalada extinção da
estabilidade no serviço público que, com certeza, fará parte, em breve, de nova
emenda à Constituição Federal.

O Ministro Bresser, defensor intransigente de sua eliminação do texto


constitucional, costuma dizer mais ou menos o seguinte: de toda a população brasileira,
há 7 milhões de servidores estáveis; se, com o fim da estabilidade, forem dispensados
10% desse contingente, isso representará menos de 0,6% da população. Os
prejudicados serão tão poucos que não haverá problema algum... É um argumento tão
simplista, além de absurdo que, sequer, merece algum comentário. Afirma esse
Ministro que o objetivo da flexibilização (agora é esse o termo que se utiliza)
“ não é demitir, mas motivar os servidores e alcançar maior eficiência no
trabalho. A partir dela cada funcionário e cada chefe sabe que a estabilidade é algo que
se conquista no dia a dia, que se constrói com dedicação e espírito público..., não é um
privilégio que apenas protege os incompetentes... Já a estabilidade rígida e
generalizada prevista na Constituição de 1988 é um obstáculo fundamental à reforma
do Estado e à consolidação do Plano Real... E acrescenta: “o prejuízo causado à
administração pública pela estabilidade inflexível e indiscriminada é enorme. Em cada
ministério, em cada repartição da administração pública direta, em cada fundação ou
autarquia, o número de funcionários que trabalha sem motivação, ou não tem trabalho
efetivo para realizar, é expressivo, ainda que constitua uma minoria. Nos Estados e
municípios o problema é o mesmo, se não pior”.
E conclui:
“Da mesma forma que acontece no setor privado, os servidores que
forem demitidos sem alegação de falta grave não perderão todos os seus direitos...”
terão direito a uma indenização razoável correspondente ao que receberia se tivesse o
Fundo de Garantia de Tempo de Serviço, a férias e a 13ƒ proporcional, e conservará
seu direito à aposentadoria do setor público proporcional ao tempo trabalhado... Hoje,
para uma minoria, que não acredito seja maior do que 10% do funcionalismo, o
emprego público é um cartório ou um privilégio. Estes terão de mudar sua atitude e se
dedicar mais ao trabalho.”

Nessa mesma linha de raciocínio, ou pior ainda, Luiz Felipe C.D’Avila,


que se intitula cientista político, em artigo publicado no jornal “O Estado de São Paulo”,
de 27 de janeiro de 1995, ao criticar o instituto da estabilidade, diz:...
”As empresas produtivas, que disputam clientes num mercado cada vez
mais competitivo, não tem espaço para “trabalhador” cujo estômago foi corroído por
milhares de cafezinhos tomados à custa do contribuinte, na espera do salário no fim do
mês...” “no Brasil, o governo paga ao funcionário público para não trabalhar.” “O
funcionalismo não quer perder os privilégios, pois sabe que a realidade brasileira é
assustadora”... “Mas no mundo fictício do servidor público, uma funcionária pode passar
o dia fazendo tricô, esperando sua aposentadoria especial. Não há um contribuinte que
não esteja indignado com essa casta de parasitas que vive à custa do imposto que
pagamos. Por isso, os dois ministros que declararam guerra aos privilégios merecem
ser aplaudidos - Reinhold Stephanes quer reformar o sistema previdenciário e acabar
com as aposentadorias privilegiadas e Bresser promete terminar com o execrável
privilégio da estabilidade. O Brasil tem de deixar de ser um país de castas”...

É tão fantástica a falta de conhecimento desse “cientista político” em


relação à matéria que, no mesmo artigo, chega a dizer que a solução para o problema
(evitar “perseguições” políticas) ”é adotar o modelo do Itamaraty”. Lá, diz ele,
“não adianta procurar o deputado padrinho ou o ministro amigo. Ele é
obrigado a prestar o exame de admissão do Rio Branco - que exige muito mais do
candidato que um simples concurso público... Os melhores quadros do funcionalismo
se encontram no Itamaraty, que sabe selecionar, preparar e ainda dá condições aos
diplomatas de reciclar seus conhecimentos nas universidades estrangeiras”. E conclui:
“Se cada ministério formasse quadros com o mesmo cuidado, teríamos uma burocracia
de primeira linha ...“

Essa opinião - poder-se-ia até respeitá-la, mesmo dela discordando -


é trazida de forma absurdamente confusa, sem base científica, numa linguagem
revoltante e ofensiva, sem critério e sem consistência, fruto, provavelmente de
frustrações, traumas ou outros desvios de formação. Ao transmitir conceitos
equivocados e peçonhentos, presta um enorme desserviço à nação, perturbando
a opinião pública com o espaço que lhe reservou o jornal. Porventura, quer ele
que todo o servidor público, qualquer que seja, desde o mais humilde, preste,
além do concurso, um “exame semelhante ao do Rio Branco” e, em seguida,
recicle seus conhecimentos em universidades estrangeiras? Ora, discutir ou
polemizar sobre posicionamento tão insensato, será, no mínimo, de nossa parte,
“gastar vela com mau defunto”. Ele nada sabe, assim como tantos outros que
falam sobre a administração pública.
A estabilidade, ora tão combatida, na verdade não é um privilégio do
servidor público. É, no essencial, uma garantia da própria Administração Pública,
coerente com a premissa de que os governantes são transitórios, mas a administração
pública deve ser permanente. Todo servidor público, em maior ou menor grau, é
detentor de uma dose de autoridade. Na defesa do interesse coletivo, o servidor público
pode - e deve, se for o caso - contrariar interesses políticos ou econômicos poderosos.
A estabilidade, portanto, é uma defesa mínima que deve ser outorgada ao servidor para
colocá-lo, na medida do possível, a salvo de possíveis retaliações originárias desses
interesses contrariados. Mas há
“os que querem reabrir as portas da corrupção no serviço público,
fechadas pela Constituição de 1988, eliminando a estabilidade “relativa” dos servidores,
subordinando-os, como antes, a injunções de interesses escusos, sob ameaça de
demissão sumária. É um retorno aos bons tempos do “ou dá ou desce” na
administração pública, quando, ou o funcionário se submetia, ou ia pra rua
sumariamente. É a volta das revoadas de apaniguados na administração pública. É,
enfim, a antítese de uma política de servidores profissionalizados e competentes, nos
moldes do primeiro mundo.” É o que nos ensina Mauro Leite Magalhães Pinto, doutor
em economia financeira e monetária, em artigo publicado na Folha de São Paulo.

Osiris Lopes Filho, o respeitado e temido (pelos sonegadores)ex-


Secretário da Receita Federal, em artigo publicado também na Folha de São Paulo, é
incisivo e convincente quando diz:
“É evidente que a qualidade da prestação de serviços públicos fica
compromentida se o elemento humano da organização estatal se sente desvalorizado,
desprestigiado e desmotivado... E a pá de cal, levantada a cada anúncio de reforma
constitucional, é a extinção da estabilidade....A inversão de valores do surrealismo
tupiniquim coloca a estabilidade como se fora conquista do corporativismo egoísta.
Não. A estabilidade é garantia do administrado, da coletividade, do povo... Garantia
para o povo de que, protegido pela estabilidade no cargo, o servidor público possa
resistir, com maior amparo, ao arbítrio, aos desmandos, às ilegalidades que
eventualmente as chefias venham a determinar. E cumprir a sua missão sem
concessões a influências políticas nefastas... Alega-se que o fim da estabilidade
permitiria ao Estado depurar os seus quadros funcionais, de sorte a restar apenas uma
elite, defenestrando os desidiosos e incompetentes. A história recente demonstra o
contrário... O governo tem o dever, em benefício da melhoria substancial dos seus
serviços, de reconciliar-se com o servidor público. Prestigiá-lo, motivá-lo, valorizá-lo,
aperfeiçoá-lo, treiná-lo, colocá-lo em estruturas de carreira, dar a sua atuação o sentido
de missão e torná-lo um agente de mudanças, um agente da desburocratização do
Estado”.

Segundo a Dep. Maria Laura,


“Os que criticam a estabilidade de forma absoluta não levam em conta os
danos que seriam causados à administração pública pela possível substituição maciça
de pessoal a cada alternância do poder político. Tanto no nível federal como, mais
intensamente, no nível estadual e, notadamente, no nível municipal, as diferenças
políticas assumem com frequência um caráter passional que pode levar a exonerações
de quadros competentes por puro revanchismo. Mesmo na esfera federal, a
arbritariedade e a falta de critérios que orientaram, em passado recente, a “política”de
pessoal que ousaram apelidar de reforma administrativa, dá bem a medida da
gravidade ainda maior dos danos que teriam sido causados à máquina administrativa
não fosse a estabilidade...”

Diante disso e considerando a qualidade e o “patriotismo” dos últimos


governos uma indagação se faz necessária: O que teria sido da máquina
administrativa do Estado, não fosse o instituto da estabilidade?” - Com certeza, já
estaria totalmente esfacelada!

A estabilidade, em suma, é inata à carreira e ao caráter científico


do serviço público que, a rigor, deve ser cada vez mais modernizado, buscando
maior produtividade, de acordo com os avanços da revolução técnico-científica.
Na hipótese de eliminar-se esse direito que a Constituição cidadã contempla, poderá o
Governo, conforme a sua exclusiva conveniência, demitir ou afastar da administração
qualquer servidor. Os critérios, não tenham dúvida, serão aqueles que o “administrador
de plantão” entender apropriados, desde que, para eles, integram os servidores
públicos o que se convencionou chamar de uma “legião de improdutivos”, sejam
Agentes Administrativos, Atendentes, Professores, Médicos, Fiscais, Bombeiros,
Magistrados, Policiais, Diplomatas ou Militares. E, pior ainda, se são concursados ou
não! É preciso, dizem eles, por um paradeiro nesse enorme sorvedouro do
dinheiro público.
Mas isto não é verdade. Como qualquer outro, é o funcionário público um
trabalhador com qualidades e defeitos naturais. Nem melhor, nem pior do que os
demais. Executa suas tarefas conforme a sua capacidade e os meios colocados ao seu
alcance. É também contribuinte do erário público, consome alimentos, estuda, tem
filhos e tem família. É, enfim, um ser humano, produto da sociedade em que
vivemos. Por isso também merece respeito!

E o respeito que não vem do governo, vem de pessoas como Janio de


Freitas, festejado articulista da Folha de São Paulo e o Ministro Adib Jatene. O primeiro
nos diz:
“Seja pela ira mal dirigida de uns ou pela ansiedade de exibicionismo de
outros ministros, uma face do governo Fernando Henrique está lembrando muito o
início do Governo Collor: é a irracionalidade algo furiosa que se despeja sobre o
funcionário público em geral, como se aí, e não nos próprios governantes - incluídos
muitos dos atuais - estivesse a causa de todos os males brasileiros.
Nos dez primeiros dias de governo, o secretário de Administração
Bresser Pereira, já havia sentenciado que a estabilidade dos funcionários tem que
acabar. A isonomia que deveria dar-lhes tratamentos equivalentes tem que ser
apagada da Constituição e os funcionários não-estáveis devem ser demitidos logo...
Por que o furor contra os funcionários em geral... Atrevo-me a dizer que,
se esta geringonça chamada Brasil ainda guarda ares de nação, deve-se a técnicos-
funcionários e a funcionários burocratas.”

E o Ministro Adib Jatene que, de maneira clara e inequívoca, com


palavras e argumentos irrefutáveis, teve a coragem de manifestar, de público, sua
discordância com o ministro Bresser Pereira. Notável doutor em medicina
contemporânea, brilhante professor, administrador da coisa pública comprovadamente
competente, conhecido e respeitado por todos, no Brasil ou fora dele, e agora
novamente Ministro da Saúde, enfatiza:
“Eu tenho 65 anos de idade, 40 anos de serviço público e muita
experiência. Pessoas que vêm do setor privado e não conhecem o setor público têm
que ouvir quem conhece para ajustar suas idéias e não criar problemas. O que destruiu
o serviço público foram os cargos em comissão, que são os que dirigem a estrutura.
São pessoas de fora que não conhecem nem têm compromisso com o serviço público.”

Sobre a questão, eis o que constava do programa de governo do então


candidato Fernando Henrique Cardoso (Mãos à Obra, Brasil):
“O problema da administração pública não está no excesso de
funcionários. Houve até uma diminuição do número total de servidores e funcionários
federais, de cerca de 1,5 milhão em 1988 para 1,3 milhão em 1992. Esse efetivo, seja
em relação ao número de habitantes ou à força de trabalho, é muito inferior ao
encontrado na França, na Inglaterra ou na Itália, por exemplo”.

E o jornalista Carlos Chagas, em um de seus brilhantes artigos


acrescenta:
“nem uma linha se leu, sequer pequena menção se ouviu, relativa às
demissões de excedentes. Por isso, fica difícil aceitar o raciocínio do Presidente de que
34 milhões de eleitores aprovaram seu plano de governo, se nesse plano se incluem as
demissões... Para os funcionários ele dedicou três iniciativas: consagração do concurso
público, estabelecimento de planos de carreira e política de formação profissional...”
OUTRAS MUDANÇAS PROPALADAS

Ainda dentro do Capítulo que cuida da Administração Pública, são


aventadas outras propostas tendentes a:
a) eliminar a determinação do inciso X do art. 37 (identidade de
tratamento entre servidores civis e militares no tocante à retribuição pecuniária);
b) idem em relação ao princípio do art. 39, † 1ƒ (isonomia entre os
servidores dos três Poderes).
c) idem em relação aos parágrafos 4° e 5° do art. 40 (equivalência
remuneratória entre ativos e aposentados ou pensionistas).

A justificativa de seus autores é sempre a mesma: uma administração


que se encontra praticamente desmantelada e que pretende modernizar-se deve
destruir, enquanto é tempo, essa verdadeira “camisa de força” que contempla, ou
beneficia, apenas uma parcela de “privilegiados”.
Também nesse particular, a distorção é evidente. A Carta, como se sabe,
estabelece, com enorme sabedoria, que os reajustes de vencimentos dos servidores
civis e militares são promovidos na mesma época e sem diferenciação de índices. A
prevalecer, pois, a pretensão de suprimir referido dispositivo, ocorrerá, com certeza,
para uns ou para outros, uma perda irreparável e extremamente injusta. Uma eventual
eliminação da regra trará, com certeza, enorme angústia e intranquilidade para uma
ponderável parcela de servidores. A regra é mais do que sadia, por isso deve ser
mantida, pois não permite distinção entre os servidores do mesmo Poder. Não há
privilégio algum, não admite casuismos em benefício deste ou daquele, de
acordo com as circunstâncias de momento.

O mesmo pode ser dito em relação ao instituto da disponibilidade. A atual


Constituição assegura a irredutibilidade dos vencimentos, dado que o servidor, nessa
situação, permanece todo o tempo à disposição da administração, não podendo,
inclusive, ocupar outro emprego até o seu adequado aproveitamento.

O que ocorreu durante a reforma administrativa promovida no


início do governo Collor foi um desastre sem precedentes. A incompetência, a
imprudência e a irresponsabilidade da equipe comandada pelo famigerado e
temido João Santana, foram de tal monta que deveriam eles estar respondendo,
até criminalmente, pelos danos que causaram à administração pública. A
dispensa pura e simples sem justa causa ou a disponibilidade a que foram
submetidos milhares de servidores sem exame de sua necessidade, implicações
ou consequências acarretaram e continuam acarretando à nação prejuízos
incalculáveis. O próprio Tribunal de Contas da União, através de seu então
Presidente, Carlos Átila, chegou a afirmar que
“a colocação dos servidores em disponibilidade foi um duro golpe contra
as estruturas internas de fiscalização de cada ministério, que ficaram esvaziadas,
favorecendo o surgimento de irregularidades”.

E tudo isso sem alusão àqueles tantos que “compulsoriamente” se viram


obrigados a aposentar-se!

Por outro lado, o que dizer sobre a chamada isonomia? O Ministro


Bresser já se apressou e respondeu à indagação, afirmando estar ela enterrada. Para
ele, tudo o que o Constituinte fez nesse sentido deve ser expurgado.

É tamanha a insensatez desse Ministro que ficamos na esperança


de que outros que o sucedam em posto tão elevado, mais competentes e menos
preconceituosos, possam retomar a discussão e levar a bom termo a tão sonhada
e desejada isonomia.

Assim, a passos largos, caminha a administração pública para o seu


total desmantelamento.
A ETICA NO SERVIÇO PÚBLICO

Modesto Carvalhosa, advogado e membro do Tribunal de Ética da


OAB/SP, assim se manifesta:
“O Código de Ética do Serviço Público Federal tem como vocação
constituir-se num instrumento duradouro e constante de conscientização dos deveres
de solidariedade e dedicação dos servidores perante seus irmãos brasileiros, além e
acima de suas obrigações de ordem estritamente legal...
A conduta ética será, assim, desejada e escolhida, consoante os valores
constantes do Código, passando o servidor a conduzir-se como juíz de si mesmo, como
instância própria, iniludível e irrecusável.
A partir daí a obrigação moral apresenta-se como a determinação do
comportamento do funcionário, orientando-o na direção do precípuo respeito à sua
própria cidadania e à cidadania dos usuários...”

Na mesma linha, Elias Farah, advogado e também membro do Tribunal,


ao discorrer sobre a moralidade e ética na administração:
“A legalidade não basta à legitimidade dos atos administrativos. A saúde
do organismo do Poder Público está visceralmente dependente da moralidade. Ela é
imprescindível em todos os poderes e níveis. O indivíduo faz o que a lei não proibe,
mas o servidor público só pode fazer o que a lei determinar.
Os princípios constitucionais orientadores dessas virtudes estão no art.
37 da Carta Magna: legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade. Antes de
serem jurídicas, as instituições são morais. O serviço público não é um favor do Estado.
Cometida a improbidade, impõe-se que seja denunciada. Fins coletivos relevantes
recomendam-no. O bom administrador público deve equiparar-se à figura do bom pai
de família, como se diz em Direito. Cumpre-lhe que seja honesto, evite prejuízos aos
seus semelhantes e que dê a cada o que lhe pertence ou que lhe seja devido”...

Não pode o servidor, por conseguinte, desprezar o elemento ético


de sua conduta; não decide somente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o
conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas, principalmente,
entre o honesto e o desonesto. A moralidade na administração pública não se
limita à distinção entre o bem e o mal, devendo ser acrescida à idéia de que o fim
é sempre o bem comum. O equilíbrio entre a legalidade e a finalidade, na
conduta do servidor público, é que pode consolidar a moralidade do ato
administrativo. O trabalho desenvolvido pelo servidor público perante a
comunidade deve ser entendido como acréscimo ao seu próprio bem-estar, já
que, como cidadão, integrante da sociedade, o êxito desse trabalho pode ser
considerado como seu maior patrimônio.

É mais do que evidente, pois, que a atividade pública, por todas as


razões apontadas, difere, em toda sua substância, da atividade privada,
empresarial: exigência de concurso público para acesso e investidura nos
cargos, política salarial, estabilidade, disponibilidade, regime disciplinar, sistema
de aposentadorias e pensões, além de outras vantagens ou obrigações.

A REFORMA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

Como já ocorrera anteriormente, por ocasião da “Revisão”, mais uma vez


se tenta modificar o sistema de previdência social brasileiro. Em linhas gerais, eis o que
propõe o Governo Federal, através da emenda já encaminhada ao Congresso
Nacional e que também cuida da seguridade social do servidor público: elimina-se
a aposentadoria proporcional ou por simples tempo de serviço; cria-se aposentadoria
por tempo de contribuição e idade em igualdade de condições, tanto para o homem
como para a mulher (esta mais penalizada) ; iguala o trabalhador rural ao urbano para
os efeitos da aposentadoria; estabelece novas regras para concessão da aposentadoria
especial (atividades perigosas, penosas e insalubres); permite a redução do atual teto
do salário de contribuição (para 3, 5 ou 7 salários mínimos?) impede a acumulação de
benefícios; desistimula o retorno à atividade do segurado aposentado; fixa algumas
novas regras para o seu custeio; assegura regime próprio de previdência ao
servidor público, determinando que os critérios sejam aqueles fixados para o
regime geral; acrescenta que também o servidor inativo, bem como os
pensionistas participem de seu custeio; estabelece normas a serem observadas
no período de transição; veda a extensão, aos servidores inativos e aos
pensionistas de quaisquer benefícios ou vantagens concedidos àqueles em
atividade, especialmente quando decorrentes de transformação ou
reclassificação do cargo ou função em que se deu a aposentadoria ou de que
resultou a pensão (parágrafos 4o. e 5o. do art. 40 da Constituição), “não se
podendo invocar direito adquirido neste caso”. E tudo isso a ser regulamentado,
por meio de Lei Complementar.
Vejamos, em linhas gerais (apenas alguns tópicos), o que informa o
Governo na EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS que acompanhou referida proposta:
..................................................................................................................
“4-Vale assinalar que a atual conformação da previdência social é fruto
de uma evolução histórica caracterizada por dois aspectos básicos. De um lado,
continuam existindo diversos regimes especiais com regras de concessão e reajuste de
benefícios diferenciadas das regras do Regime Geral de Previdência Social...
..................................................................................................................
10-... cumpre tranquilizar a população brasileira que a reforma respeitará
integralmente os direitos adquiridos daqueles que estejam em gozo dos benefícios
previdenciários e daqueles que tenham cumprido os requisitos legais para obtê-los.
..................................................................................................................
13-Além disso, serão reconhecidas as expectativas de direito dos atuais
segurados da Previdência Social segundo regras baseadas no critério de
proporcionalidade, considerando-se a parcela do período aquisitivo já cumprida.
..................................................................................................................
22-...O Brasil é um dos poucos países do mundo a manter a
aposentadoria por tempo de serviço...
..................................................................................................................
32-Em relação ao regime próprio de previdência, os servidores públicos,
à parte a desconstitucionalização de diversos itens, busca-se fundamentalmente
desestimular aposentadorias precoces bem como vedar o acúmulo de aposentadorias e
destas com outros rendimentos pagos pelo setor público.
...................................................................................................................
40-Quanto aos regimes próprios de previdência dos servidores públicos,
foram incluídos, nas disposições transitórias, mecanismos destinados a corrigir antigas
disfunções corporativas. Dentre estes, citam-se o estabelecimento de novos
parâmetros para contagem do tempo de serviço e de limites máximos de valor para as
aposentadorias e pensões pagas por todas as esferas de Governo aos seus
respectivos servidores públicos civis e militares, bem como a desvinculação dos
critérios de reajuste de ativos e inativos.
...................................................................................................................
44-O modelo previdenciário vigente é socialmente injusto pois privilegia
os segmentos mais organizados e com maior poder de pressão, em detrimento dos
segmentos menos favorecidos que, por sua precária inserção no mercado de trabalho,
encontram maiores obstáculos para ter acesso aos benefícios. Além de injusto, ele é
inviável, no curto, médio e longo prazos, do ponto de vista financeiro e atuarial. O
desenho de suas regras não obedece à boa técnica, sem a qual, qualquer sistema
previdenciário, quer funcione em regime de repartição, quer em regime de
capitalização, corre o risco de entrar em colapso.
..................................................................................................................”

Não pretendendo abordar, aqui e agora, todos os ângulos dessa


tormentosa e polêmica questão, dada a sua notória magnitude e complexidade
que afeta, por isso mesmo, a quase totalidade da população brasileira, é nosso
propósito limitar a discussão sobre alguns poucos pontos que, por serem
também relevantes e controvertidos, tem sido objeto dos mais acalorados
debates.
Os argumentos de fato e de direito já trazidos, em especial pela própria
ANFIP como o “COMPROMISSO COM A SOCIEDADE” e tantas outras publicações
são mais do que eloquentes a demonstrar que
“o debate sobre a reforma da previdência social não visa a obter a
melhoria dos serviços previdenciários, nem o atendimento mais eficiente da população,
tornando-a mais viável e prestativa. Ao contrário, foi suscitado pelas áreas econômicas
em defesa dos grupos empresariais que reclamam permanentemente da elevada carga
tributária e da contribuição previdenciária sobre a folha de salários, além do interesse
dos grupos financeiros e de seguradoras em administrar e gerir uma grande fatia das
receitas sociais.”

Eis o que pensa um notório liberal, após ouvir explicações sobre a


reforma previdenciária, como solução única para a própria “governabilidade”: O
Presidente do PL (Partido Liberal), Alvaro do Valle, encerrou o seminário da reforma
constitucional, ontem, com críticas ao “excesso de liberalismo” do governo Fernando
Henrique Cardoso:
“De repente, ninguém mais se preocupa com os problemas sociais”...
Anunciou que a tendência do PL será acentuar os debates sobre as
questões sociais:
“Quando se liberalizou a Europa não se tirou do pobre o direito à saúde,
que o pobre brasileiro não tem. Não que eu discorde das propostas do governo”. Mas
os Ministros comportaram-se no seminário ”como se os problemas da miséria e da
saúde não existissem.” “Parece que a esquerda acabou e todos viraram liberais”.
(Jornal da Tarde, 010295).

Elio Gaspari, por sua vez, em o Estado de São Paulo, de 050395:


“Pelo cheiro da brilhantina, o pacote de reformas constitucionais que
começa a sair do Planalto, será muito mais um desmanche social do que um projeto de
reordenamento nacional... No campo social só veio ao pano verde uma reforma da
Previdência que oferece a mutilação das conquistas anteriores em troca de um futuro
melhor. Desde que Bismarck criou o sistema previdenciário alemão, nunca houve um
governante que se propusesse a mudá-lo sem prometer melhorá-lo. Ainda assim, como
o senador Cardoso, durante a campanha, prometeu piorar os benefícios existentes para
construir uma previdência saudável, pode-se entender que tenha mandato claro e
legítimo para propor o que pretende...”

O que se propoe, em verdade, é o desmonte do sistema oficial para,


depois, privatizá-lo à moda “chilena” ou coisa semelhante.

Assim agindo, mais depressa caminha a administração pública


para o seu total desmantelamento.
A DANÇA DOS NÚMEROS DA PREVIDÊNCIA

Citando o provérbio chinês que diz “A verdade é uma xícara de duas


alças, onde cada um toma pelo lado que melhor lhe convier”, Pedro Dittrich Junior,
Vice-Presidente da ANFIP, em um bem fundamentado artigo publicado no Jornal “A
Folha do Aposentado”, diz em um de seus trechos: “Como poucos conhecem o dado
verdadeiro, cada um toma, cita e defende o que melhor convier. Assim se faz também
com os números da Previdência Social...” Faz uma série de considerações sobre as
gritantes diferenças entre os tantos números fornecidos, sobretudo por nossas
autoridades maiores em palestras ou entrevistas, como o próprio Ministro Reinhold
Stephanes e seus últimos antecessores, quando comparados entre si. Mostra, com
clareza, a enorme divergência entre uns e outros e conclui:
“Fica demonstrado (creio que cabalmente) a divergência dos números da
Previdência, cuja dança, entre datas e pessoas, é de tal ordem que - as diferenças
entre 1 a 4 bilhões de dólares, como se fossem centavos insignificantes - induz a
pensar que a desinformação é proposital ou, como no ditado chinês, cada um está
tomando pela alça que melhor lhe convier”.
Não é por outra razão, portanto, que o Tribunal de Contas da União,
através de seu Presidente, o Ministro Marcos Villaça, vem a público e informa
haver determinado uma auditoria completa nas contas da Previdência Social,
inclusive para
“saber se há verba para pagar o salário mínimo de R$ 100,00, vetado
pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.”... “Os auditores do TCU querem saber
porque todo início de ano é anunciado deficit e quando chega o final do ano a situação
é diferente, com a Previdência, fechando com superavit. Para 95, diz um auditor, já
estão anunciando “rombo”de US$ 3 bilhões, sem considerar um novo salário mínimo. “É
estranho o anúncio desse rombo, pois hoje, com o superavit registrado no final do ano
passado de R$ 1,80 bilhão, a Previdência tem em caixa uma receita de R$ 2,9 bilhões”.
O auditor não entende como a Previdência já esteja anunciando deficit para o fim do
ano e que não tem dinheiro para pagar o mínimo de R$ 100,00 (DCI, de 21.02.95).

Tudo isso é muito constrangedor!

De fato, ao vetar o projeto de lei que elevava o salário mínimo para R$


100,00, afirmou o Governo que em caso de aprovação, o deficit da previdência social
teria um acréscimo de, no mínimo, R$ 5 bilhões. Na melhor das hipóteses, é uma
afirmativa questionável: em 1995, seriam apenas 3 meses na base de R$ 30,00 por
benefício mínimo, já que, a partir de maio - e de acordo com a legislação aplicável -
seria o salário mínimo reajustado para importância superior a R$ 90,00. Onde, então,
essa aritmética de multiplicar R$ 30,00 por 11 milhões de segurados, durante 12
meses?

E a receita da contribuição previdenciária, especialmente sobre a Folha


de Salários não se elevaria em proporção semelhante? O raciocínio do Governo é
simplista demais: no fundo, o que teme é o aquecimento ou a explosão do consumo por
parte de quem passaria a ganhar os fantásticos R$ 100,00, pondo em risco o Plano
Real. Pode isso?

E a farsa da relação entre os segurados ativos contribuintes e os


inativos? Seria, de fato, de 2 por 1 como dizem? - Em hipótese alguma, se
considerarmos que milhões desses benefícios são destinados a trabalhadores que
jamais contribuiram para a previdência social. São benefícios que, não obstante em boa
hora introduzidos na legislação, a título de resgate, ainda que parcial, de uma imensa
dívida social com eles contraída, devem ser financiados por fontes absolutamente
distintas daquela em que baseia o sistema geral.

Muito cuidado, pois, com os que divulgam números fantasiosos!


Eles podem ser desmoralizados!
APOSENTADORIAS PRECOCES

Quando se fala na extinção da chamada aposentadoria por tempo de


serviço sem qualquer limite de idade, tal como prevista, hoje, em nossa Carta Magna, o
argumento mais eficaz que apresentam os seus defensores é de que o brasileiro se
aposenta muito cedo, acarrentando à sociedade um encargo superior à sua própria
capacidade.
Admitindo-se como verdadeira essa afirmativa, também não é menos
verdadeiro que muitos dos que estão hoje na inatividade remunerada, tanto no setor
público como no setor privado, por certo ali não estariam, não fossem as ameaças
constantemente veiculadas. Assim, e ainda que o Governo negue através de seus
porta-vozes, dizendo, por exemplo, que os direitos já adquiridos (ou até a expectativa
de direito) serão assegurados, o fato é que poucos acreditam que haja, de fato,
sinceridade nessa afirmativa.
A cada dia que passa, por insensibilidade ou mesmo por puro
terrorismo, mais notícias surgem, mais a confusão se estabelece e mais o
trabalhador se assusta e teme pelo que pode acontecer. E como consequência
natural, mais depressa se dirige aos balcões da previdência social, na busca de um
benefício que, até, poderia ser melhor, caso tivesse ele a certeza de que seus direitos
estariam protegidos. As filas, com isso, aumentam, os pedidos de aposentadorias
sufocam os já precários setores do seguro social e as despesas avolumam-se mais. E
tudo isso por culpa exclusiva do próprio Governo que não sabe, ou não quer, explicitar,
com clareza, o que se pretende fazer nessa área.

Sérgio Bueno, Superintendente Estadual do INSS, em entrevista ao DCI,


informa: O noticiário sobre a reforma previdenciária tem provocado uma corrida à
aposentadoria. Em São Paulo, os pedidos aumentaram em mais de 30% em fevereiro,
criando sérios problemas ao INSS, que já está com sua capacidade de atendimentos
estourada:
” Estamos avaliando o novo quadro que se desenha em função do
aumento da procura, decorrente do receio que as pessoas tem de perderem o direito.
“Precisamos de recursos extras. Com nossa capacidade atual, não dá para atender
todo mundo. O quadro em São Paulo está difícil...”

O Professor e Advogado, Annibal Fernandes, por sua vez, na mesma


data e no mesmo jornal, acrescenta:
“Anunciam reformas catastróficas, todo mundo corre para aposentar. É o
caos. Eles (do INSS) demitiram pessoal, fizeram disponibilidade, desmontaram equipes.
Virou um descalabro...”

Na administração pública, a situação se apresenta pior ainda. Se


voltarmos no tempo, veremos quanta desgraça já se perpetrou e quantos males já
causou o próprio Governo à nação apenas com as ameaças que fez e vem
fazendo ao seu servidor. Daí - e não poderia ser diferente - as aposentadorias
precoces, induzidas, repita-se, por esses mesmos maus administradores que
falam em mirabolantes ou fantasiosas reformas administrativas.

Quando o servidor, após 30 ou mais anos de trabalho, pede a sua


aposentadoria, o faz, quase sempre, forçado pelas circunstâncias. Sabe ele que, em
permanecendo na atividade, correrá (e também sua família) riscos enormes, podendo
alguns de seus “direitos” ser suprimidos com uma simples Medida Provisória ou coisa
semelhante. É o caso de se indagar: Vale a pena aguardar, confiar no Governo,
acreditar que seus direitos não estão ameaçados? A experiência nos diz o contrário:
“Se ficar, o bicho come, se correr o bicho pega!”(Mas pode não pegar!)

Até na magistratura o mesmo ocorre, como se vê da Tribuna do Direito -


abril/94:
“O Poder Judiciário do Estado, que já vive crise sem precedentes,
provocada principalmente pelo excessivo número de processos, falta de juízes e
insuficiência de recursos financeiros, está agora ameaçado de entrar em colapso total.
É que 505 magistrados, com tempo de serviço suficiente para deixar a ativa, poderão
se aposentar a qualquer momento para evitar prejuízos decorrentes de possíveis
mudanças na Constituição. Esses juízes representam 218 (72,42%) dos 301
profissionais de segunda entrância e 287 (22,86%) dos 1255 magistrados existentes na
primeira. Pela legislação atual, o juíz pode deixar a ativa após 30 anos de serviço com
proventos integrais...A emenda acaba com a inatividade por tempo de serviço e com as
aposentadorias especiais. Essa situação foi revelada pelo Presidente do Tribunal de
Justiça, desembargador Francis Davis, em ofício que enviou recentemente ao relator da
revisão constitucional, Deputado Nelson Jobim...”

Se isso já ocorria em 1994, pior deverá estar ocorrendo agora.

É óbvio, portanto, que a responsabilidade maior por tantas


aposentadorias há que ser atribuída ao próprio Governo, tal como ocorreu, repita-
se, com a desastrada reforma administrativa do Governo Collor, quando milhares
e milhares de servidores foram “compulsoriamente” aposentados. A outra opção
que lhes deram, caso não se aposentassem, seria submeterem-se à vergonha de
serem colocados em disponibilidade, já que, segundo aqueles “sábios
administradores”, eram eles desnecessários ao serviço.

Era preciso satisfazer à vontade do “rei”, um megalomaníaco que,


ao assumir o Poder, tudo fez para desmantelar a administração pública como um
todo. E QUASE CONSEGUIU!

A EVASÃO FISCAL

Concluídos, recentemente, os trabalhos da CPI da Evasão Fiscal,


instalada em 1992, por sugestão do então Senador Fernando Henrique Cardoso, os
resultados apresentados são mais do que assustadores. Essa, aliás, a matéria principal
da Revista da Seguridade Social (Nº 39), editada pela ANFIP e da qual, para ilustrar,
destacam-se alguns tópicos. Diz, por exemplo, o relator, senador Jutahy Magalhães: “o
que o governo deixa de arrecadar representa três vezes o orçamento da previdência
para 1995”. O Senador Ronan Tito, presidente da Comissão, por sua vez, afirma:
“o Tesouro precisa de uma arrecadação de 28% a 30% do PIB”, sendo
que, na “Alemanha, a tributação chega a 42% do PIB;”...”Já existe, continua ele,
enraizada na sociedade a cultura da sonegação”... “A falta de educação e consciência
tributária dos contribuintes, gerada, provavelmente, pela falta de vontade política para
combater a sonegação é um dos aspectos relevantes para o montante evadido”.

Osiris Lopes Filho, sobre o mesmo tema, costuma dizer:


“Rico realmente não paga imposto”. E “se rico não paga, quem acaba
pagando é o trabalhador, que não tem como fugir da carga impositiva, já que a sua
parcela vem descontada direto da folha de pagamento”.

Obviamente, o mesmo acontece na Previdência Social. Difícil,


porém, quantificar a quanto monta a evasão das contribuições previdenciárias,
exatamente pela falta de servidores, carência de controles ou de equipamentos
de alta tecnologia. Luciano Oliva Patrício, Secretário Executivo do Ministério, um dos
entrevistados, afirma que
“a plataforma tecnológica da Dataprev não atende minimamente às
necessidades do INSS” e conclui: “A Receita não está satisfeita com o Serpro; a Caixa
Econômica não está satisfeita com a Datamec e nós não estamos satisfeitos com a
Dataprev”.

Fica claro, pois, que a evasão é extremamente elevada. Não importa que
sejam 30,40%, 50% ou mais que deixam de entrar. É muita coisa, não havendo como
conviver o Estado com uma situação tão deprimente como essa. Mas isso faz parte
do desmantelamento consciente da administração pública que, de há muito, vem
sendo perpetrado pelos que querem vê-la abatida, e, por via de consequência,
substituída, até mesmo em atividades que lhes são inerentes, por ações próprias
da iniciativa privada, “esta sempre competente”.

Para alguns, a solução está na decantada reforma tributária e


previdenciária com a consequente simplificação de rotinas e redução do número de
impostos, enquanto que, para outros, a evasão deve ser combatida através da
modernização da máquina arrecadadora, aliada ao aperfeiçoamento da confusa e
controvertida legislação vigente, a causa maior de conflitos judiciais de toda a natureza.

Mas não é o que se vê: o novo Governo (parece que estamos em 1990)
radicaliza e, valendo-se da mídia que está a sua disposição, limita-se a oferecer
propostas de mudanças que alcançam, apenas, a “periferia” da questão maior; coloca o
servidor público contra a própria sociedade, afirmando que, com ele, gasta além de
suas possibilidades e ameaçando, por isso, retirar-lhe algumas garantias fundamentais
(privilégios, no seu entedimento). Daí mais aposentadorias, não importando que, mais
adiante, o “bicho pode pegar”, com a desvinculação da remuneração entre ativos e
inativos.
Com isso mais a administração pública se desestrutura e se
desmantela!

É imperioso, pois, que o Governo enderece seus esforços para outros


caminhos. É preciso, isto sim, um combate vigoroso, sem tréguas, aos maus
contribuintes do erário público.

Interessante e risível, não fosse trágico, o que nos traz o Jornal da


Tarde, em sua edição de 14.12.93, sob o título ”Premio aos maus pagadores”.
“A sonegação compensa”:
“Teste de múltipla escolha: quem paga imposto é A) trouxa; B) bobo; C)
idiota; D) os três qualificativos juntos. Qualquer uma das quatro opções está correta,
mas talvez a mais certa seja mesmo a resposta D.
Quem leu a portaria 655, assinada por Fernando Henrique Cardoso, não
tem outra opção de resposta. Essa portaria autoriza as empresas que deixaram de
recolher a Cofins a pagar os atrasados em 80 prestações mensais, ou seja, em até seis
anos e oito meses...Como a COFINS tem apenas 20 meses de vigência, se o prazo de
pagamento dos atrasados fosse de exatos 20 meses, o devedor teria a recolher apenas
uma prestação atrasada por mês. Como passa a ter 80 meses para pagar, cada uma
dessas prestações corresponderá a apenas 25% de cada mensalidade atrasada. Ou
seja, foi honesto, pagou tudo. Quem sonegou, passa a ter a colherona de chá de
recolher apenas 25% de cada vez.
A Cofins foi contestada na Justiça e só dia 1º último é que o Supremo
bateu o martelo considerando-a uma cobrança legal. As empresas que recorreram aos
tribunais contra esse pagamento e depositaram sua parcela em juízo ou aquelas que,
simplesmente, pagaram a Cofins sem contestação não mereceram nenhuma
consideração por terem cumprido seus compromissos para com a Receita Federal. O
benefício do generoso parcelamento é estendido apenas aos que recorreram à evasão
fiscal.
Não importam aqui eventuais considerações pragmáticas da Receita.
Importa concluir que, na lógica do ministro e de sua portaria, sonegar é bom negócio e
só traz vantagens ao sonegador. Quando não garante uma anistia camarada, obtém
um escandaloso parcelamento.”

Valendo-nos, mais uma vez, de Osiris Lopes Filho:


“Há municípios em que a arrecadação tributária federal mensal está
abaixo de R$ 10,00. Em outros 212, é inferior a R$ 110,00; em 638, é menor de R$
500,00; em 1.001, situa-se num limite menor do que R$ 5.000,00; no final, há 2.609
municípios cuja arrecadação federal total, em cada mês, está abaixo de R$ 10.000,00.
É inverossímil que não exista em cada um desses municípios pelo
menos um latifúndio para pagar o Imposto Territorial Rural, ou uma revendedora de
automóveis ou implementos agrícolas para pagar a Cofins, ou uma agência bancária na
qual se façam aplicações financeiras que possibilitem a arrecadação do Imposto de
Renda na fonte ou o IOF...
O que mostram esses números? Sem dúvida, que há um Brasil pobre
espalhado pelo interior. Mas demonstra também um absurdo nível de evasão tributária.
Evidencia, ainda, a impotência da administração tributária de alcançar todas as áreas
geográficas, com sua ação vigilante de exigir o pagamento do tributo devido...
Afinal, quem paga imposto entre as empresas? Sem grandes sacrifícios,
apenas os oligopólios ou monopólios que, por terem domínio do mercado, têm como
transferir mais facilmente a carga tributária embutida nos preços das mercadorias para
o consumidor final.
Esses dados confirmam...: não adianta realizar apenas reformas
legislativas, alterando a norma tributária vigente. O decisivo é dispor-se de uma
administração tributária atuante, bem equipada, competente, que tenha condições
operacionais em todo o território nacional. Afinal, a lei deve ser como o sol, para todos.
Sem eclípses...
É preciso mudar o que tem sido quase a regra geral: quem tem pago
imposto voluntariamente situa-se num plano de ascensão ética tão elevado, que já tem
passaporte visado para a santidade; ou que, temente à ferocidade do “leão”, deseja
fugir ao salvo-conduto para a cadeia por sonegação.”

José Martins Filho, reitor da Universidade Estadual de Campinas, em


artigo intitulado “Reforma previdenciária e cidadania (Folha de São Paulo de 02.11.94)
é incisivo e convincente ao afirmar:
“Quatro anos de boa administração talvez demonstrem que o reequilíbrio
das contas previdenciárias tem mais a ver com o cerco fiscal aos sonegadores, com a
caça implacável à fraude institucionalizada e com a correta utilização de seus recursos
do que propriamente com o peso específico da massa de aposentados”...

Elio Gaspari, em “O Estado de São Paulo”, de 261094, escreve:


“A Receita Federal acaba de divulgar uma triste demonstração da
natureza astuciosa da crise do Estado brasileiro. De cada 100 pessoas com patrimônio
superior a U$ 1 milhão, 13 não apresentaram declaração de imposto de renda. De 10
que apresentaram, 2 provaram-se isentas. Acharam-se 42 milionários sem
rendimentos,gente que pelas estatísticas oficiais talvez esteja escondida no meio dos
32 milhões de miseráveis do Betinho.
É bem provável que nenhum dos 42 nababos do Betinho seja um
sonegador. São pessoas que se valem de todos os buracos da lei para iludi-la.”...
Um dos homens mais ricos do Brasil, com patrimônio de centenas de
milhões de dólares, já foi ouvido numa delicatessen de Nova Yorque (Kaplan’s do
Delmonico) explicando para o filho que a lei brasileira aceita como despesas da firma
as contas de jantares de fim de semana, com a família. Sentindo que o adolescente
não o entendera, acrescentou: “Aqui nos Estados Unidos não pode, mas lá pode.”
Não se trata apenas de poder ou não poder. Nos Estados Unidos, quem
derrama na contabilidade da empresa os seus gastos pessoais vai para a cadeia. No
Brasil, a lei permite que isso seja feito e quem não fizer pode acabar sendo chamado de
otário...”

Luiz Gushiken, deputado federal, também sobre a previdência social


(Folha de São Paulo, de 030395), discorre:
“É evidente que a previdência, particularmente, apresenta sérios
problemas, a começar pelo seu gerenciamento. A fiscalização é precária, provocando
um enorme contingente de sonegadores e fraudadores do sistema. Vale salientar que,
atualmente, temos cerca de 3.400 fiscais do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social)
em atividades de auditoria e no trabalho de combate à sua inadimplência, num universo
estimado em mais de 2 milhões de empresas. Em 1974, o número de fiscais era de
7000 para um universo de 500 mil empresas...”

Dalmo de Abreu Dallari, também na Folha de São Paulo de 22.02.95,


destaca:
“Na realidade, não é preciso ser especialista em economia ou finanças -
bastando ser razoavelmente informado - para saber que os graves problemas do
sistema previdenciário são o produto de inúmeros vícios que a Constituição não criou
nem permite e cuja correção não necessita de emendas constitucionais....
A sonegação das contribuições previdenciárias é antiga, pública e
notória, já tendo fornecido material expressivo para a imprensa, sem, no entanto,
desencadear qualquer ação corretiva que desencorajasse os sonegadores. A par disso,
é muito difundida, inclusive entre grandes empresas, a prática de descontar dos
empregados a contribuição para a previdência e ficar utilizando o dinheiro,
caracterizando-se o crime de apropriação indébita. A crônica policial registrou alguns
desses casos, poucos em face do que se tem noticiado...
Alguns analistas, nem sempre de boa fé, tem confrontado os dados de
receita e despesa para afirmar a falência do sistema, ocultando o fato de que a receita
tem sido muito menor do que aquela que a lei determina. Sonegação e apropriação
indébita são vícios que, no caso, alteram significativamente o equilíbrio financeiro. Além
disso, é sabido que os recursos da previdência são usados há muito tempo para tapar
buracos de outros setores da administração pública ou para financiar, com muita
generosidade, atividades que nada tem a ver com a previdência...”

Técnicos da Receita, conhecidos como “Inteligência Fiscal”, concluíram


que, mensalmente, US$ 1,25 bilhão circulam na economia brasileira, livre de impostos.
Em um ano, US$ 15 bilhões:
“Entre os detentores dos 50 maiores patrimônios- que variam entre US$
88,7 milhões e 764,3 milhões - cinco deles se declararam isentos do imposto de renda
de 93...O relatório afirma que as pessoas mais ricas, em grande parte, se consideram
imunes à Receita, chegando mesmo a ignorar a “malha fina”, que tanto aterroriza a
classe média na hora da declaração. Dos 460 listados, 25 tiveram aumentos
patrimoniais de vários milhões de dólares, sem a menor preocupação com rendimentos
que o justificassem...” (DCI de 26.10.94).

A evasão da receita, seja pela sonegação dolosa, por fraudes de


toda a espécie ou pela simples inadimplência deve ( e pode) ser minimizada a
valores compatíveis, o que, evidentemente não ocorre nos tempos atuais. Antes,
portanto, de qualquer reforma constitucional ou mesmo sem prejuízo dessa, há
que serem adotadas - e com urgência - algumas das medidas já, há muito tempo,
preconizadas, incluisive pela ANFIP e que, exemplificadamente, poderiam
consistir em: aprimoramento permanente do sistema arrecadador/fiscalizador,
com pessoal e equipamentos suficientes, objetivando à pronta identificação de
distorções, a par de permitir a maior eficácia no direcionamento de sua ação;
simplificação e racionalização da legislação e bem assim dos tributos e
contribuições sociais, reduzindo-os, quantitativamente, pela fusão daqueles
correlatos; agilização da cobrança administrativa e judicial dos débitos fiscais e
previdenciários, com a efetiva e pronta aplicação da legislação específica,
combatendo a impunidade, o maior fator de estímulo à sonegação;
gerenciamento mais eficaz e adequado na aplicação dos recursos públicos,
resgatando a imagem das instituições governamentais, melhorando a qualidade e
quantidade dos serviços prestados, de forma a conquistar a credibilidade e a
confiança da população.

Não se pode, pois, obstar a máquina arrecadadora/fiscalizadora ou


negar-lhe recursos indispensáveis, tal como ocorreu em 1993, quando, por inexistência
de verba específica, não conseguiu a Receita, sequer, imprimir formulários para a
declaração do Imposto de Renda.”Tática mais obscena para desmoralizar o Leão, o
Estado, impossível! (Aloysio Biondi).

Sem isso, não há como evitar-se o desmantelamento total da


administração pública em todas as suas esferas.
O SISTEMA PRÓPRIO DE APOSENTADORIAS E PENSÕES

Frente a todo esse contexto negativo, criado e cultivado por uma insólita
e articulada campanha de descrédito da administração pública, parte-se, agora, do
pressuposto de que deva a previdência social básica ter um caráter universal,
funcionando até um determinado limite, a partir do qual poderão os interessados aderir
a planos facultativos de previdência complementar. É a solução, dizem, para a crise por
que atravessa o sistema oficial, dado o desequilíbrio estrutural grave provocado pela
acentuada queda da relação entre os segurados contribuintes e os beneficiários.

Antes, quando Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso já


falava em reforma do sistema de aposentadoria dos funcionários públicos para impedir
que os inativos auferissem ganhos idênticos ou viessem a ser beneficiados por
eventuais vantagens obtidas pelos servidores em atividade. Daí as variadas propostas
de mudanças, hoje discutidas em conjunto com aquelas que cuidam do sistema
aplicável aos trabalhadores em geral.

Todas as sugestões, nesse sentido, antes ou agora com o novo


Governo, baseiam-se, fundamentalmente, no Relatório apresentado pelo então Dep.
Antonio Britto, quando da conclusão dos trabalhos da Comissão Especial instituída, em
janeiro de 1992, pela Câmara dos Deputados com o objetivo de promover:

“um amplo estudo do sistema previdenciário brasileiro, tanto no


tocante a sua estrutura, quanto ao seu regime de custeio e de
benefícios e propor soluções cabíveis para o seu regular
funcionamento e cumprimento de sua destinação social e
institucional.”
`
O Dep. Nelson Jobim, então Relator da fracassada Revisão
Constitucional, propugnava em seu Parecer, que a previdência social básica deveria ser
organizada em forma de regime geral, sendo compulsória a filiação de todos os
trabalhadores, empregadores, servidores públicos civis, membros dos Poderes
Legislativo e Judiciário, dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos dos
Poderes da União, Estados, Distrito Federal e Municípios.Os servidores militares
poderiam ser excluídos do regime geral unificado, dado que o tipo de atividade por eles
desempenhada os distingue dos trabalhadores em geral.

Com isso, muitas das conquistas obtidas pelos servidores públicos


- que para os “reformistas” não passam de “privilégios” - poderiam ser
expurgados do texto constitucional.

O TÃO FALADO RELATÓRIO BRITTO

Por esse RELATÓRIO, evidencia-se de maneira clara - e nesse aspecto


com toda razão - qual o desespero, a frustração e a revolta de seus destinatários
maiores. Fala-se, ali, em irritação da sociedade, desorganização do sistema geral e,
acima de tudo, incompetência gerencial.
Contudo - é justo que se ressalte - naquele tempestuoso momento,
quando se desenrolava a chamada novela dos 147% e, mais ainda, quando
estarrecedoras denúncias sobre fraudes de toda a espécie eram trazidas a público,
acabou por dar a Comissão exagerada ênfase à questão da seguridade social do
servidor público. E isto porque a exaustiva discussão levada a efeito, a par de ter
desviado a atenção de seus integrantes, foi inoportuna, uma ação meramente
demagógica de alguns que pretendiam tirar proveito - e tiraram - de uma notória
situação de turbulência. De fato, muitos dos elementos trazidos a debate sobre o
servidor público não eram e não são confiáveis no seu todo; eram, ao contrário,
incompletos e imprecisos, não retratavam, com fidelidade, o que, de fato, ocorria,
produzindo, como é natural, uma conclusão apressada e, por via de consequência,
desprovida de qualquer sustentação.
Ao registrar que os servidores da ativa contribuem com parcela
insignificante dos valores pagos a seus colegas inativos, cabendo à União e à própria
Seguridade Social fornecer o restante dos recursos necessários, comete a Comissão
evidente erro de avaliação. Além desse aspecto, e por informações trazidas pelo
Relator Adjunto, constataram-se, em relação aos servidores públicos, “gritantes
diferenças entre estes e os brasileiros filiados à Previdência Social”. Mas como se
verá, havia e há outros componentes não menos importantes que deveriam ter sido
considerados para uma boa e clara amostragem ou diagnóstico a respeito da matéria.

Tomemos, ao acaso, um dos tópicos levantados, ou seja, as Tabelas


que reproduzem o valor médio, dos diversos tipos de aposentadorias, das pensões, dos
abonos e dos auxílios pagos pelo sistema geral e que se apresentam efetivamente
ridículos. Contudo, não há como compará-los com os valores que auferem os
servidores públicos, ou pior ainda, somá-los e deles extrair uma simples média
aritmética. E isto porque a aposentadoria por velhice ou outra qualquer não pode ser
somada àquela por tempo de serviço, nem com os auxílios, a renda mensal vitalícia,
abonos, pensões e muito menos com os benefícios da área rural.
Por seu turno, a Tabela 25 que reproduz a situação, em novembro\91,
dos ENCARGOS com o PESSOAL DA UNIÃO, mistura os servidores ativos aos
inativos e pensionistas dos Poderes Legislativo, Judiciário e Executivo (administração
direta e autarquias), assim como aqueles pertencentes às fundações, empresas
públicas e sociedades de economia mista. São situações diversas, cada uma com suas
peculiaridades próprias, servindo, isto sim, como base ou parâmetro para correção de
eventuais distorções existentes, relativamente aos três Poderes envolvidos, nada tendo
com o sistema geral de previdência social.
Não sendo aquele foro, pelas circunstâncias apontadas, o mais
apropriado para discutir a questão da seguridade social do servidor público, as
alternativas aventadas nessa área, configuram meras afirmações demagógicas.
Comparar, como se disse, os planos de previdência social a que se refere o sistema
geral (arts. 201 e 202 da Constituição Federal), com aquele aplicável à Administração
Pública (arts. 37 e seguintes da CF), apenas porque os aposentados desta última são,
em média, melhor aquinhoados, é confundir “alhos com bugalhos”. Na Administração,
há regras específicas para o acesso e investidura no cargo, para revisão da
remuneração e fixação dos seus limites mínimo e máximo, além de outras relativas ao
regime jurídico, aos planos de carreira, à estabilidade, à disciplina funcional, à
aposentadoria e, por fim, à disponibilidade, não aplicáveis aos trabalhadores sujeitos ao
regime geral.
Não há, no serviço público, a chamada Renda Mensal Vitalícia,
concedida, em sua quase totalidade, sem a correspondente fonte de custeio; não
há o benefício ao trabalhador rural, de valor também insignificante e indigno,
desde que estava ele, pessoalmente, dispensado de qualquer contribuição. Há
também, no sistema geral, uma gama enorme de aposentados que recebem tão
somente o valor equivalente a um salário mínimo, porque a isso se submeteram,
não progredindo na escala, por faixas, do salário de contribuição (autônomos e
empregadores) ou porque este, de fato, era o salário que percebiam na atividade.
Enfim, que média é essa? Por que compará-la com a do servidor público?

Afirmar que o servidor nada recolhe para sua aposentadoria é outro


equívoco. Por conseguinte, nada de errado ou imoral existe em poder aposentar-se
com proventos integrais ou suportar a União, com seus recursos próprios, o pagamento
de parte desses benefícios, sempre que a receita proveniente dos descontos sobre a
respectiva remuneração dos ativos não seja suficiente para a sua cobertura integral.
Injustificável, por isso mesmo, qualquer medida tendente a afastar, de um
momento para outro, essa responsabilidade histórica, não criada pela
Constituição de 1988, sobretudo porque, no curso desses anos todos (enquanto
em atividade o servidor) nada despendeu a União; injustificável, mais ainda, que
se socorra ela do sistema geral da seguridade social para cobertura desses
encargos.
A aposentadoria do servidor público federal sempre foi ônus da própria
União; por sua vez, o atual e ainda recente estatuto jurídico, ao atender expressa
determinação constitucional, estendeu seus efeitos aos antigos celetistas que, até
então, se aposentavam pelo sistema geral. Mas esquecem-se os “reformistas” de que
se exonerou a União, em contrapartida, dos elevados encargos para o Fundo de
Garantia de Tempo de Serviço em relação a esses mesmos celetistas.
Foi injusta a COMISSÃO ao afirmar que condena o sacrifício que está
sendo imposto ao conjunto da sociedade para cobrir a diferença entre o que arrecada
dos atuais servidores e o que paga aos inativos. Porventura, queria ela, a
COMISSÃO, que o servidor ativo, sozinho, suportasse, em sua integridade, os
encargos com os aposentados e pensionistas? Isso é absolutamente impossível,
considerando que a contribuição patronal, tal como prevista no sistema geral,
representa, hoje, bem mais do que a receita obtida pela contribuição do segurado
em atividade.
Aliás, é gritante a diferença entre o que paga o trabalhador do setor
privado e o que paga o servidor público para a sua previdência social. Enquanto o
primeiro contribui com, no máximo, R$ 58,28 até 04.95 (10% do valor teto do salário de
contribuição), não importando que seu salário seja superior, o servidor público, em
situação semelhante, contribui com 12% do total de sua remuneração.

A verdade é que nada consta do RELATÓRIO em favor do servidor


público e de sua seguridade. Nada sobre não ter ele percebido, e por 23 anos
consecutivos, o 13ƒ salário. Quem da COMISSÃO se preocupou em saber quanto
isso teria representado, até 1986, quando pago pela primeira vez? Ou quanto
representaria, até dezembro de 1990 (vigência do Regime Jurídico Único) o valor
dos depósitos para o FGTS, devidamente atualizados, se estes fossem também
devidos em relação ao servidor estatutário?
A Deputada Maria Laura, em trabalho apresentado quando da Revisão
Constitucional, já dizia:
”A crítica à aposentadoria integral, a pretexto de não ser a mesma
concedida ao universo dos trabalhadores em geral é simplista, pois ignora que
diferenças de tratamento existem não só quanto à aposentadoria, mas sim quanto a
todo o regime de trabalho...
Ainda com respeito à aposentadoria integral, há os que a defendem,
considerando porém “exagerada” a garantia de revisão de valor dos proventos
estabelecida no † 4ƒ do art. 40. Este parágrafo é, todavia, essencial para que a
aposentadoria com proventos integrais, não se transforme em ficção...
A parte final do dispositivo, embora a alguns pareça exorbitante, tem
fundamento na necessidade historicamente demonstrada de proteger os aposentados
da má-fé dos governantes. Em diversas ocasiões no passado, eles burlaram a
determinação de aplicação de mesmos índices de reajuste para servidores ativos e
inativos, utilizando-se do expediente de conceder reposição inferior à inflação do
período e, simultaneamente, criar novas vantagens ou determinar reclassificações que
não eram extensivas aos aposentados. A precaução do legislador constituinte, no caso,
é produto da histórica esperteza e deslealdade dos governantes...
Nos últimos tempos assiste-se nos meios de comunicação aos primeiros
ensaios de uma bem articulada campanha em prol da privatização da previdência...
A cobiça dos grupos privados dirige-se em especial à classe média.
Sabem não poder atrair os ricos, pois esses não têm necessidade de qualquer tipo de
aposentadoria ou pensão: não vivem de salário, mas sim das rendas que usufruem de
investimentos e propriedades.
Também os pobres não lhes interessam. Com sua pequena capacidade
contributiva, alto índice de desemprego e de rotatividade no emprego, os pobres
representam potencialmente mais problemas do que lucros.
A classe média é, então, o público alvo dos grupos que pretendem
privatizar a previdência. Para isto, parecem ter escolhido como estratégia limitar a
aposentadoria pública a valores irrisórios. Assim fazendo, atenuariam seu discurso
privatista, tornando-o mais palatável, pois a previdência pública continuaria existindo e
atendendo aos mais necessitados...
Esta estratégia ficaria incompleta se os servidores públicos, parte
substancial da clientela que os grupos privados pretendem cativa, pudesse permanecer
atendida pelo seu próprio sistema de previdência, nas condições hoje asseguradas pela
Constituição... Daí o empenho com que atacam por todos os meios o art. 40 da Carta
Magna, sofismando com a pretensa democratização e igualdade de um sistema único...
Aos que defendem a idéia em função do desejável equilíbrio das contas
públicas, não ocorreu que, pelo menos no curto prazo, o efeito financeiro seria negativo.
Isto porque, de um lado teriam que ser mantidos todos os benefícios já concedidos com
base na legislação atual, pois configuram direitos adquiridos. Por outro lado, a
arrecadação que é proveniente das contribuições dos servidores seria sensivelmente
reduzida: hoje estabelecida em alíquotas de até 12%, sem teto, passaria essa
contribuição a ser cobrada em percentuais menores, tendo por teto o salário limite de
contribuição.”
O DIREITO ADQUIRIDO

Ainda que se admita a concretização de algumas das mudanças


preconizadas, até porque a Carta não é imutável no seu todo, o mínimo que se espera
é que não sejam agredidas as regras específicas para a tramitação das respectivas
emendas.
O Congresso não possui poderes ilimitados. As propostas que visem, por
exemplo, “abolir direitos e garantias individuais “ não podem, sequer, ser objeto de
deliberação, porquanto assim determina o seu art. 60, § 4º, IV. Não basta, pois, ao
Governo dizer que serão assegurados os direitos adquiridos. É preciso demonstrar,
com o máximo de clareza, deixando tudo muito bem expresso no texto e não em
futuras leis ordinárias ou complementares. Acreditar na boa fé dos governantes,
permitir a desconstitucionalização de capítulos inteiros, é posicionar-se de forma
passiva e ilusória. Por isso, e na hipótese de efetivar-se a alteração, que se resguarde,
de maneira inequívoca, que continuam os seus envolvidos, sejam eles servidores
públicos ou trabalhadores em geral, com seus direitos protegidos pelas normas
constitucionais vigentes anteriormente à promulgação de qualquer emenda restritiva.

Isso é mais do que salutar e indispensável, ao menos em


homenagem ao artífice maior da Carta, o Doutor Ulysses, um grande brasileiro,
aquele que foi um herói da democracia, um parlamentar incomparável, o
conciliador e conselheiro das horas difíceis, o anti-candidato, o Senhor Diretas, o
velho mas não “velhaco”. Simples, modesto e respeitado, aquele que, em 1988,
deu vida à nossa Carta Política, chamando-a de Constituição cidadã. Foi um
verdadeiro artista da resistência, sempre odiou a ditadura, um modelo de
coragem e retidão. Como estadista e político, foi inigualável, um defensor
intransigente da cidadania e dos direitos fundamentais da pessoa humana. E que
em momentos de sua existência disse frases de grande sabedoria:
“Na política, o povo é tudo ou nada, ou é personagem como
cidadão, ou é vítima, como vassalo”;
“O estado de direito há que ser o estado do bem-estar popular”;
“A verdade não desaparece quando é eliminada a opinião dos que
divergem”;
“Levantar-se, depois cair, ainda coberto de pó ou sujo de lama, isso
é ser homem. Quem tomba e não mais se ergue, não é digno da vitória”;
“Viemos fazer uma Constituição, não para ter medo. O medo tem
cheiro. Os cavalos e os cachorros sentem-no, por isso derrubam ou mordem o
medrosos.”

A proposta de modificação do sistema de previdência social, além de


inconveniente à própria administração pública, é extremamente confusa. Ao assegurar,
como consta, regime próprio de previdência ao servidor público e, ao mesmo tempo,
dizer que será ele regido pela Lei Complementar prevista no art. 201 que cuida do
regime geral é, no mínimo, uma impropriedade proposital. É um retrocesso sem
precedentes, não podendo, assim, prosperar, sob pena de, como ocorria
anteriormente, voltar o servidor aposentado a uma situação de penúria, indígna e
deplorável sob todos os aspectos.
A proposta, em suma, penaliza muito mais o servidor. De fato, se propõe
o Governo, a extinção, para todos, da aposentadoria proporcional e por simples tempo
de serviço, no caso dos servidores ela é muito mais abrangente e radical; não mais lhes
serão estendidos benefícios ou vantagens atribuídos aos servidores em atividade; e,
pior ainda, não poderão eles, nesse caso, “invocar o direito adquirido”.

Mais do que atual, por conseguinte, a justificativa apresentada por


diversos parlamentares, quando, à época da Revisão, os † 4o. e 5o. do art. 40 da
Constituição eram, da mesma forma, ameaçados:

“A presente proposta de emenda tem por escopo resguardar os


direitos sociais dos servidores civis e militares, inativos e pensionistas, contra
eventuais ofensas aos direitos e garantias fundamentais da nacionalidade,
conquistados com a Carta Magna de 1988, na forma consolidada no art. 5o.,
XXXVI, mas que, por interpretações diversas, possam não ser respeitados.
Convem lembrar que, na intitulada Constituição “Cidadã”, de
Ulysses, os parágrafos 4o. e 5o., do art. 40, protetores desse direito, foram os
únicos dispositivos que receberam aprovação unânime dos constituintes de
1988, sendo por ele enaltecido, com a seguinte frase: “A emenda bateu um
recorde. Configura uma situação inédita. Nenhum voto contrário.” Portanto, em
1988, foi a primeira vez na história que o servidor aposentado teve reconhecidos
os seus direitos. Temos que preservar essa penosa conquista e não deixar que
tais direitos sejam usurpados.

Dessa forma, para que a admissibilidade das emendas em que se


subdividiu o projeto seja acolhida, há que serem retiradas as expressões que violentam
os direitos e garantias individuais. E isto, tanto para os servidores como para os
trabalhadores em geral, pois constituem cláusulas pétreas, não apenas na nossa, mas
em qualquer Constituição democrática do mundo.
Ou, como nos lembra o Prof. Goffredo da Silva Telles Junior:
“As Constituições não são feitas para serem abaladas por decisões
açodadas. A firmeza da Constituição - sua estabilidade e permanência, sua durabilidade
- é garantia de nossos direitos e de nossas liberdades.”
CONSIDERAÇÕES FINAIS

·Que a Constituição cidadã, “a melhor coisa que se produziu entre


nós desde o fim da ditatura” (Carlos Chagas) pode e deve ser aprimorada, tudo
bem. Mas não será com atitudes apressadas ou com emendas como essa que,
em razão de equívocos grosseiros nela contidos, quase foi liminarmente
rejeitada.
·Que a Previdência Social, cuja viabilidade já foi exaustivamente
demonstrada, também deve ser aperfeiçoada, ninguém mais discute. Mas para
isso, e sem prejuízo de alterações de ordem gerencial ou, até mesmo,
legislativas, é preciso que lhe forneçam condições mínimas de funcionamento.
Do contrário, queiram ou não os seus destinatários maiores, haverá o desmonte
do sistema oficial, tal como apregoam e exigem os seus notórios e interesseiros
inimigos.
·Que a administração pública, no seu todo, não está oferecendo à
sociedade os serviços por ela reclamados, tanto em quantidade como em
qualidade, também é mais do que evidente. Mas, para isso, é preciso que
obtenha ela os recursos financeiros indispensáveis, deixando de operar em
condições de penúria extrema, absolutamente desfavoráveis.
·Que a carência desses recursos para melhoria dos serviços
públicos pode e deve ser minimizada, desde que, como se exige, seja
modernizado todo aparelho estatal. É uma meta perfeitamente factível pretender
que o País, dentro da conjuntura atual e em curto espaço de tempo, eleve a
arrecadação em relação ao seu PIB, conforme propõe o senador Ronan Tito,
reduzindo, a níveis aceitáveis, a espantosa e institucionalizada evasão tributária e
de contribuições sociais. Do contrário, não havendo justiça fiscal, de nada valerá
qualquer reforma constitucional.
·Que aos trabalhadores, neles incluídos os servidores públicos,
não cabe ser atribuída responsabilidade por esses desmandos administrativos, a
ponto de penalizá-los com medidas que, além de inconvenientes e impróprias,
representam, pura e simplesmente, a supressão de direitos sociais arduamente
conquistados.
·Que, no caso específico do servidor público, cumpre ao Governo,
antes de tudo, com ele reconciliar-se. Deve e precisa o Governo reconhecer a sua
importância, oferecer-lhe condições razoáveis de trabalho e dar-lhe a necessária
tranquilidade para que bem desempenhe suas atividades, em benefício da
comunidade. Não pode, por isso, concordar com aqueles que o agridem
gratuitamente, generalizando conceitos negativos.
·Que, por todas essas razões, não se justifica a alteração
constitucional, no tocante às atuais regras de aposentadoria e pensões de seus
servidores.
O IMPORTANTE PARA TODA A SOCIEDADE É QUE NÃO SE
PERMITA O DESMANTELAMENTO TOTAL DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA! AINDA
HÁ TEMPO! MAS É PRECISO MUITA VONTADE POLÍTICA PARA TANTO!
Com a palavra o
CONGRESSO NACIONAL!
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