Sie sind auf Seite 1von 4
LEITURAS De um Coldquio intemaci- ‘onal realizado na Pontificia Uni- versidade Catélica de Sia Pau- lo, em 1994, surge este livro. Um livro que tom a capacidade de ‘movimentar, dei produzindo ofl tos: 0s textos que o integram transportam uma qualidade de ppensamento tal que propcia uma ssodimontagao, uma espécie de ‘matéria prima, que vai adquirin- {do formas no encontrocotidlano ‘com a clinica psicanaltia © com ‘os acontecimentos sacias © po- Iiticos de cada dla Varios sa0.0s autores: bra- sileiros, argentinos, uruguaios & franceses, assim definidos em {ungao dos paises de pertindncia, mas cuja identidade nacional 6 cconstituida, muitas vezes, de ‘amélgamas com paises ¢ cultu- ras outras, de origem préxima ou remota, Varias S80 as formagées: jomalstas, socidlogos, torapeu- tas, flésofos e psicanalistas, Psicanalistas que, por sua vez, procedem da psicologia, da ps. uiatria, da flosofia © da socio- logia ‘A resultante: uma diversi- dade de pontos de partida © de abordagem, uma produtiva estrangeiridade e surpreenden- tes diregdes comuns. Estas so, em parte, feitas pelas possibil- dads que os escrtores nao ps canalistasrevelam de se banha- om na teorizagao psicanaltica € das possibilidades dos auto- ros psicanalistas de se reconhe- ‘cerem banhados pela cultura fi loséfica histérca, sociolégica e Itorvia, Quem € 0 estrangeiro? Resenha de Caterina Koltai (org.), 0 Estrangeiro, So Paulo, Editora Escuta, 1998, 214 p. ‘Algumas vezes encontra- ‘mos um mesmo autor menciona- do em textos de profissionals {que trabalham em campos dife- rentes. Mas nao éisto 0 que es- ‘sencialmente vai criando as di- regdes comuns; sabernos que ‘requentemente a referéncia as mesmas fontes bibliograticas resulta na produgo de idéias ‘dvergentes ou em roupagens confusionantas, tecidas em pseudo concordéncias. O que val, no vio, configurando o uni- ‘verso comum 6a presenga de— uma posigao ética ~ Eugene Enriquez escreve: " estrangel ro sempre faz mal Aquele que 431 Fecusa a interrogagao"(p. 40). Os autores do livro nao serecu- sam. Acolhem estrangeiro, a0 acolherem as interragagées, ro: velando-nos o quanto conviver com elas ~ @ de uma posiggo tedrica compativel—mals oume- ‘os expiicitamento, dita oui diretamente, haa sequinte pre- missa: 0 sujeito humano 6, Inexoravalmente, descentrado de si mosmo, o que implica em angtstas fundamentais. Um dos avatares destas angistias 6 a busca de se uniticar em si pr prio eno social ~0“eu",o nds" ‘ou ainda o “entre-nds" surgem, teniao, enquanto uma tentadora unidade —identidade compacta, Uma unidade que exclu. Exclu 8 diferentes: aiferentes-de- ‘mim, diferentes-de-nés, diferon- tes-do-consenso do enlre-nés, ‘Alguns autores se ocupam do “ou"; outros se inquietam a pattirdo "nés” e— uns @ outros ~desenham as pontes. Pontes delicadas, arquitotadas na plo- na consciéncia de que a aticu- lagao do psicanalitico como po- Ico nao se dé sem tropegos" (Caterina Kota, p. 106. A minha tha propria de percorrer os textos passa pe- los pontos comuns que ful en= Contrendo; deparei-me com um compartihado que se sustenta ‘om vivas singularidades, ‘A angistia presentificada Em “Um episédio de ‘Unheimiiche na clinica", Luiz Carlos Menezes nos faz vivera angistia que com ele permane- ‘ce desde... Desde quo um paci- ete morre, uma morte pressen- tida por ele e parece, também, polo analista. Sonha o paciento, sonha 0 analista. Quem sonha? Qual o grau de proximidade que pode vir @ acontecer na situa- 80 analitica? Esta inftrada a “inquietagao, inquietante estra- nnheza, aquilo que diz respeito pois & angiistia quo so oncontra, 8 espreita nas bordas incertas do Eu’ (p. 127). Ela passa tam- bém anos acompanhar. ‘Aronia de um titulo: Vood acide!” ondea exclamagéo faz a diferenca. Diferenga radical coma série do televisdo, na qual 'e torna possivel, aotérmino, a ccalma tranqtila de uma decisdo, ‘Mas Emilio Rodrigué nos deixa noincémodo, com seu texto; del- xa-nos com os residuos do “tal- LEITURAS vez, quem sabe, quiga”(p. 154), ao tirar da margem deixada por Peter Gay um fragmento da his teria da psicandlise ~as graves ‘acusag6es contra Max Eitingon, (Osuspense se mantém, através de provas que assinalam ora para a veracidade, ora para a inviablidade. Decida,leitor...e ‘conviva com um barulho destes, Pater Pal Pelbart, em um texto de pungente beleza, langa-nos na “relagao com 0 ‘temponoseu excesso"(p. 138) ‘Sacode-nos para uma tempore lidade que a pés-modemidade tentaeliminar ao aboliro “tempo sua dimonsdo estrangeira” (p. 188). E surge a Morte e 0 Morter, nossos intimos estran- goiros. Peterincta‘nos:‘cabe ao ppensamenio, arte, & clinica, também cultivar esta arte do morrer que ha na vida © que a bre constantemente para as d- mensGes inclementes, nao apaziguadas, ndo-reconciladas do tempo". Enfrentar a tole-se- renidade 6 viver, 6 sair do cinismo mortitero que chama para falsas etemidades ¢ 6 se doer. Inavitavel A angistia tematizada Neuza Santos Souza,em estrangetro: nossa condi stransporta-nos, de imedia- ‘o, para dentro da psicanélise, ‘onde o estrangeiro ¢ 0 eu; onde 50 osfacola a prosuneao do harmonia, onde ndo se desco- mnhece "que se 6 sempre obri- ‘gado a fazer uma escolha’ (p. 156), onde so esvai a presun- (:a0 de “cassar os dlraltas do ‘estrangeiro que, desde sem- pre, mora em nossa casa’ (p. 158). Se fosse possivel aco- ther efémero, 0 ransitéro, po doriamos entdo viver a alegria do novo, a afirmagao do multi- plo @ deixar de lado os racis- ‘mos, Assim termina o texto de Neuza: “contra o racismo de todas as cores... que nos va- Ika oestrangeiro ~ 0 estrangel- ro de toda parte, o estrangeiro do exterior @ do interior dends ‘mesmos" (p. 163) Esta ponte erigida aparir da psicandlise é também per- corrida por Caterina Koltal Kola, retomando Freud er Mal- estar na civilizacao, trabalha ‘com a questo da identficarao. Nao hd a possibilidade de amor entre irméos sem rejeigdo do estrangeiro:"Eisolmite doamor dopréximo como si mesmo" (. 107). E segregativo, porque fundado na identiticagaio. A autora traz a segregagéo para ‘cere do proceso analtico, apostando na viagem que se pode empreenderna estranhe- 2a de si préptio: ‘poderemos, ‘quem sabe, modiicar em pro- fundidade nossa relagao singu- lar com 0 outro @ abandonar a ‘eterna procura de um bode ‘expiatério" (111), Por outro lado, em “Teérico na psicandlise” Maria Cristina Rios Magalhdes nos alerta para o quanto, enquanto Psicanalistas, ndo estamos lon- {ge dos riscos de repetr obses- Sivamente os mesmas circuits, “ropassando a defesa em sou movimento — contra a transte- réncia, contra o pulsional e a sexualidade" (p. 116). Alerta~ nos que a teorizagao na psioa- nalise implica na incluso per- manent do estranhamento, do infans e do infantil, do estran- ‘geiro que “pstando sempre & parte, tem sua digposigo, na sua prépria lingua, toda a me- ‘méria do orginaro"(p.117).Ler © escutar © produzir na pula: (0 anassémico-polissémico ~ eis o nosso ofcio. ‘A angastia na constituigsio da alteridade Luiz Claudio Figueiredo ‘expde, em seu texto, asua con- ceprao de alteridade contra- Pondoa & de Jean Laplanche, Figueiredo propoe a idéia de uma alteridade processual — a que acontece no proprio pro- ‘ce880 no qual se consitu o si préprio. Desenvolve com rigor @ preciso os pontos de con: 132 vvergéncia ede dlvergéncia com a conceitualizagao de referén- cia (Laplanche) e assim vai te- ccendo a tese que sustenta 20 final no 6a alteridade do ou- ‘ro que surpreende e eventual- mente assusta, mas a surpro- sa diante de alguém-que-sen- do-parte-do-mesmo é outro, 0 que constitul 0 outro na sua alleridade e estrangetrice”(p. 74). A surpresa polo que pro: vvém do que parecia amir. Um rasgo, frente ao qual se pode ter varias reagses Sendo a mais dificil delas.a de no obturar, do hospedar o estrangairo om um ‘espago potencial, refazendo-se cconsiantemente, E uma exper- éncia que traz incomadidades, mas 6 nela que podem se ins- taurar os “lugares do pensar’ E 0 xendfobo sorri um sorriso constrangido quando reconhecemos, como Radmila Zygouris ofaz, que “todos nés somos ou fomos, um pouco, ‘muito, apaixonadamente xen6- fobos"(p. 193). Fundamentan- do-seem Lacan na questo da angistia © da agressividade, admila val aniagando-as com ‘apulsdo e com aidentficagao, Em seu trajto encontra-se com Petor Pal Pelbartao temalizara _angistiarelacionada com oter- Po: “no temos nenhum contro le sobre otempo...(p.202) 00 ‘objeto novo, gerador do med, pode surgir também do tempo (@ nao apenas do espago). A

Das könnte Ihnen auch gefallen