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Carlos Biasotti

Fraseologia Latina

3a. ed.

2023
São Paulo, Brasil
O Autor

Carlos Biasotti foi advogado criminalista, presidente da


Acrimesp (Associação dos Advogados Criminalistas do Estado de
São Paulo) e membro efetivo de diversas entidades (OAB, AASP,
IASP, ADESG, UBE, IBCCrim, Sociedade Brasileira de
Criminologia, Associação Americana de Juristas, Academia
Brasileira de Direito Criminal, Academia Brasileira de Arte, Cultura
e História, etc.).

Premiado pelo Instituto dos Advogados de São Paulo, no


concurso O Melhor Arrazoado Forense, realizado em 1982, é autor
de Lições Práticas de Processo Penal, O Crime da Pedra, Tributo aos
Advogados Criminalistas, Advocacia Criminal (Teoria e Prática), além
de numerosos artigos jurídicos publicados em jornais e revistas.

Juiz do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São


Paulo (nomeado pelo critério do quinto constitucional, classe dos
advogados), desde 30.8.1996, foi promovido, por merecimento,
em 14.4.2004, ao cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça.

Condecorações e títulos honoríficos: Colar do Mérito


Judiciário (instituído e conferido pelo Poder Judiciário do Estado de
São Paulo); medalha cívica da Ordem dos Nobres Cavaleiros de
São Paulo; medalha cultural “Brasil 500 anos”; medalha “Prof. Dr.
Antonio Chaves”, etc.
Fraseologia Latina
Carlos Biasotti

Fraseologia Latina

3a. ed.

2023
São Paulo, Brasil
Índice

Preâmbulo....................................................................11

I. Fraseologia Latina.......................................................13

II. Carta ao Dr. Nelson Nery Junior, a propósito da


locução“Inaudita altera parte”..................................27

III. “Quousque tandem abutere, Catilina, patientia


nostra?”......................................................................35
Preâmbulo

É superior a toda a questão a real importância do


classicismo na vida dos povos de cultura latina. Em especial
nas esferas do Direito, cujo berço predestinado foi Roma,
mostra-se-lhe patente a influência.
O “Corpus Juris Civilis”, repositório inestimável
de leis mandadas compilar pelo Imperador Justiniano
(483 –565), difundiu, por todo o orbe, as regras e rudimentos
assim do Direito como da língua latina(1).
Foi, pois, no idioma de Cícero que nossos maiores
tiveram o primeiro contacto com as ciências jurídicas.
Obrigados a conhecer o Latim, não era muito entrassem
também a cultivá-lo e prezar-lhe sobremodo a rica forma
literária, sem deslustre para a língua vernácula.

(1) Ao Latim chamou-lhe veneranda tradição “língua dos deuses e


dos sábios”; e também a “única língua julgada digna de ser escrita”
(Ferdinand Lot; apud Carlos Bechinski, Latim, 5a. ed., p. 33). A nós
basta-nos a asserção da crítica avisada: “(...) é a língua latina a mãe
do nosso formoso idioma português” (Pe. Mílton Valente, Ludus
Primus, 20a. ed., p. 3).
12

Daqui veio a praxe, entre os que fazem profissão da


vida forense, de empregar em seus escritos e arrazoados,
sempre com discrição, em lhes caindo a lanço, as soberbas
vozes latinas.
Aos que falamos Português — “Última flor do Lácio”,
no feliz verso do poeta(2) — não nos haverá decerto repugnar
matéria que respeite à língua materna. Eis por que, neste
singelo opúsculo, ousei tratar, ainda que “per summa
capita”, de pontos referentes à Latinidade; deponho-lho aos
pés, “data venia”, benévolo e paciente leitor. “Vale”!

O Autor

(2) Do soneto “Língua Portuguesa”, de Olavo Bilac (1865–1918).


I. Fraseologia Latina

Juntamente com o Latim (idioma que falava o povo


do Lácio, antiga região da Itália), a civilização romana
herdou-nos as noções fundamentais do Direito. Nessa língua,
mercê de sua concisão e majestade, correm os aforismos ou
brocardos jurídicos. Nela foi também que Marco Túlio
Cícero, o mais eloquente advogado que o mundo nunca
viu, pronunciou suas belíssimas e imortais orações(1). Não
admira, pois, que os artífices do Direito, ao elaborar suas
petições, escritos e arrazoados, continuem a servir-se da voz
latina, sempre que lhes venha a propósito, “cum caute et
judicio”.

I – Palavras e Locuções de uso frequente no Foro

1. A contrario sensu – Expressão latina que significa: pela


razão contrária, pelo contrário, ao contrário sentido.
Exs.: “Desta disposição se induz argumento a contrario
sensu em favor da doutrina do Direito Romano exposta
no texto” (Conselheiro Lafaiete Rodrigues Pereira,
Direito das Coisas, 1977, vol. I, p. 150); “Donde,
ao contrário sentido, a ignorância das tais cousas
impertinentes e supérfluas e prejudiciais é discreta”
(Heitor Pinto, Imagem da Vida Cristã, 1940, vol. III,
p. 10)
2. Ad hoc – Para isto, para este caso. Ex.: “Se o promotor,
invadindo as atribuições da defesa, solicitar a
absolvição do réu, cumpre ao juiz presidente do
tribunal declarar vaga a cadeira da acusação e nomear
um promotor ad hoc que a desempenhe” (Inocêncio
Borges da Rosa, Processo Penal Brasileiro, 1942,
vol. III, p. 116).
14

3. Ad perpetuam rei memoriam – Para a perpétua memória


do fato. Ex.: “As vistorias, arbitramentos e inquirições
ad perpetuam rei memoriam serão determinados
mediante prévia ciência dos interessados (…)” (art.
684, parágrafo único, do Código de Processo Civil
de 1939).
4. Alea jacta est – A sorte está lançada. Célebres palavras
que, no ano 49 a.C., pronunciou Júlio César, um dos
maiores vultos da História, ao atravessar o Rubicão,
pequeno rio que separava a Itália da Gália Cisalpina.
Emprega-se quando alguém, após certa hesitação, toma
decisão importante, ousada e irrevogável.
5. Alibi – Em outro lugar, alhures, longe do local
do crime. Pronúncia: álibi. “Em Direito: ausência do
acusado no lugar do crime, provada por sua presença
noutro lugar. Já considerada palavra vernácula (álibi)
por muitos dicionaristas” (Paulo Rónai, Não Perca o
seu Latim, 1980, p. 23; Editora Nova Fronteira). Está no
caso o lexicógrafo Antônio Houaiss, que registrou o
vocábulo, aportuguesando-o: “Álibi – Defesa que o réu
apresenta quando pretende provar que não poderia
ter cometido o crime por, p.ex., encontrar-se em local
diverso daquele em que o crime de que o acusam
foi praticado (um vizinho proporcionou-lhe o á.
de que precisava)” (Dicionário Houaiss da Língua
Portuguesa, 1a. ed.; v. álibi). Diz-se também “negativa
loci”: O álibi (ou “negativa loci”) constitui exceção de
defesa e, pois, cabe ao réu o ônus da prova, aliás não se
eximirá da tacha de réu confesso (art. 156 do Cód.
Proc. Penal). Isto de álibi, “quem alega deve prová-lo,
sob pena de confissão”, adverte Damásio E. de Jesus
(Código de Processo Penal Anotado, 23a. ed., p. 159).
15

6. Animus necandi – Intenção de matar; intuito homicida.


O mesmo que animus occidendi. Ex.: “Não se pode
deduzir o animus necandi da natureza dos meios
empregados (…)” (Nélson Hungria, Comentários ao
Código Penal, 1981, vol. V, p. 73).
7. Caput – Cabeça, em latim. Pronuncia-se “cáput”.
Indica o tipo fundamental da espécie delituosa. Assim,
o art. 121, “caput”, do Código Penal trata do homicídio
simples.
8. Communis opinio doctorum – A comum opinião (sentir
ou entendimento) dos doutores. Ex.: “É o ensinamento
geral dos juristas, a communis opinio doctorum, e
menção expressa de alguns Códigos Civis” (Orosimbo
Nonato, A Coação como Defeito do Ato Jurídico, 1957,
p. 275; Editora Forense).
9. Cum grano salis – “Com um grão de sal, isto é, com
um pouco de brincadeira, não inteiramente a sério” (cf.
Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa,
11a. ed.; Apêndice). Ex.: “Trata-se, porém, de um
raciocínio imperfeito ou que deve ser aceito cum grano
salis: (…)” (Nélson Hungria, Comentários ao Código
Penal, 1980, vol. VII, p. 187); “Mas a distinção precisa
ser entendida cum grano salis” (Costa e Silva,
Comentários ao Código Penal, 1967, p. 100).
10. Data venia. Locução latina, que se traduz por: com o
devido respeito, concedida vênia, etc. Não leva acento
em latim (venia); leva-o, porém, em português (vênia).
Expressões equivalentes: venia petita, concessa venia,
data maxima venia, etc.
11. De cujus – Primeiras palavras da expressão tradicional
de cujus successione agitur. Aquele de cuja sucessão se
trata. É o autor da herança, o falecido. Se mulher, será
também de cujus: a de cujus. É para evitar o que
16

praticou aquele bisonho advogado, em petição de


inventário: O de cujus deixou uma “de cuja” e dois “de
cujinhos” (…).
12. Ex adverso – Do lado contrário; do adversário. Termo
da língua forense que designa o advogado da parte
contrária. Não diga ex adversus. Ex é preposição
latina que rege o caso ablativo; portanto: ex adverso.
Exemplo: o Código de Ética manda tratar com
urbanidade o advogado ex adverso, ou da parte
contrária (art. 44).
13. Flatus vocis – Sopro de voz. Ex.: “(…) se reduziria a
um flatus vocis, a uma expressão vazia de sentido, a um
preceito falecido de eficácia” (Orosimbo Nonato, in
Revista Forense, vol. 91, p. 98).
14. Fumus boni juris – Fumaça do bom direito (ou justa
causa). “Sem o fumus boni juris, a providência cautelar
se torna inviável” (José Frederico Marques, Elementos
de Direito Processual Penal, 1965, vol. IV, p. 15).
15. In verbis – Locução latina empregada amiúde
nos escritos forenses, que se traduz por: nestas
palavras, textualmente, etc. Expressões de igual sentido
e força: “Ipsis verbis” – Por estas mesmas palavras,
textualmente, à letra ou ao pé da letra, fielmente; “Ipsis
litteris” – Com as mesmas letras. Ex.: Transcreveu
“ipsis litteris” o despacho agravado, isto é, exarou-lhe
o teor com exatidão e fidelidade, pontualmente. (A
grafia “litteris” é melhor que “literis”). “Ad litteram”
– Letra a letra, literalmente, sem mudar nem omitir
palavra. Ex.: Reproduziu a Defesa “ad litteram” os
passos capitais do acórdão revidendo. “Ipsis litteris
virgulisque” – Expressão latina que, traduzida em
vulgar, quer dizer: com as mesmas letras e vírgulas.
“Ad verbum”, “e verbo”, “de verbo pro verbo” –
17

Literalmente, à letra, palavra por palavra. “Verbatim” –


Literalmente. “Verbo ad verbum” – Palavra por
palavra.
16. Lato sensu – Em sentido amplo. Antônimo: stricto
sensu (em sentido estrito). Aqui vem a ponto o reparo
de Eliasar Rosa: “Para guardar essas grafias corretas,
e não escrever, ou dizer, strictu senso e lato senso, há
um meio mnemônico. Basta lembrar que, no alfabeto, a
letra o vem antes da letra u” (Os Erros mais Comuns
nas Petições, 9a. ed., p. 240).
17. Non liquet – Não está claro; não convence; estou
em dúvida; a coisa não está bem esclarecida.
Abreviadamente: N.L. No processo criminal romano,
por ocasião da votação no julgamento de um acusado,
entregava-se a cada jurado uma tabuinha de madeira
revestida de cera, na qual, sem se comunicar com o seu
colega, inscrevia a letra A. (absolvo), ou a letra C.
(condemno) ou as letras N.L. (non liquet): não está
esclarecido (cf. V. César Silveira, Dicionário de Direito
Romano, 1957, vol. II, p. 456). “Quando a hipótese
de inocência não está subordinada a suposições
totalmente gratuitas ou despropositadas, ao arrepio
do curso normal dos acontecimentos, terá de ser
pronunciado o non liquet e absolvido o acusado”
(Nélson Hungria, in Revista Forense, vol. 138, p. 339).
18. Prima facie – “Ao primeiro aspecto” (Saraiva,
Dicionário Latino-Português, 9a. ed., p. 469); à
primeira vista; à prima vista; à primeira face; ao
primeiro lanço; ao primeiro olhar; ao primeiro súbito de
vista; à primeira visada; ao primeiro lancear de olhos,
ictu oculi, etc. Exemplos: “Bom êxito é o que, ao
primeiro aspecto, se diria expressar ali o termo
sucesso” (Rui Barbosa, Réplica, nº 453); “Essas duas
18

opiniões (…), posto que à primeira vista pareçam


repugnantes, vêm a dizer o mesmo” (Heitor Pinto,
Imagem da Vida Cristã, 1940, vol. II, p. 200); “Grande
dificuldade de à prima vista negar a procedência
etimológica de tal ou qual vocábulo” (Ernesto Carneiro
Ribeiro, Estudos Gramaticais e Filológicos, 1957, p.
92); “Todos estes termos estão à prima face mostrando
que Deus (…)” (Manuel Bernardes, Nova Floresta,
1726, t. IV, p. 151); “Esta razão não é tão judiciosa
como parece ao primeiro lanço” (Camilo, Aventuras de
Basílio Fernandes Enxertado, 1907, p. 8); “(…) podia
parecer, ao primeiro súbito de vista, que só a
sentença lhes serve de causa, àquelas nulidades”
(Orosimbo Nonato, Da Coação como Defeito do Ato
Jurídico, 1957, p. 277); “Onde encontrar apoio para
reconhecimento de direito líquido e certo, perceptível
à primeira visada (…)” (Revista Trimestral de
Jurisprudência, vol. 41, p. 487); “Agora, veja Mário
Barreto se este trecho do eminente prelado não está,
ainda que o não pareça ao primeiro lancear de olhos,
no mesmo caso dos apontados como defeituosos”
(Melo Carvalho, in Revista de Língua Portuguesa,
nº 12, p. 136); “Não existe o crimen falsi quando a
mutatio veri é reconhecível ictu oculi ou prima facie”
(Nélson Hungria, Comentários ao Código Penal, 1980,
vol. VII, p. 216).
19. Quandoque bonus dormitat Homerus – Às vezes até o
bom Homero toscaneja. Também os sábios erram.
Todos conjugamos o verbo errar. Emprega-se no sentido
figurado este verso de Horácio (Arte Poética, v. 359)
para significar que ainda nas obras dos homens de gênio
há fraquezas e imperfeições. É o tributo à “eterna
falibilidade humana, cujos estigmas ninguém evita
neste mundo” (Rui Barbosa, Réplica, nº 10).
19

20. Vexata quaestio – Questão muito controvertida. Ex.:


“(…) a síntese enunciada merece repetida como
tomada de posição na perdifficilis ac vexata quaestio”
(Orosimbo Nonato, Da Coação como Defeito do Ato
Jurídico, 1957, p. 74). Pron.: vekçata qüéstio.

II – Brocardos Jurídicos

1. Ad impossibilia nemo tenetur – Ou: Ad impossibile


nemo tenetur. Máxima de jurisprudência. Tradução:
Ninguém é obrigado ao impossível; a cada um, segundo
suas forças; quem faz tudo quanto está em suas mãos
(ou em suas posses) não pode ser obrigado a mais.
2. Allegare nihil, et allegatum non probare paria sunt –
Em vulgar tem esta significação: Nada alegar, ou
não provar o alegado, tudo é um. “Não esquecer a
advertência de Maynz, de que o magistrado não
acredita em nada, tudo deve ser provado” (Washington
de Barros Monteiro, Curso de Direito Civil, 3a. ed.,
Parte Geral, p. 257).
3. Audiatur et altera pars – Seja também ouvida a parte
contrária. Famoso aforismo jurídico em que assenta
o denominado princípio do contraditório, que é a
“ciência bilateral dos atos e termos processuais
e possibilidade de contrariá-los” (Joaquim Canuto
Mendes de Almeida, A Contrariedade na Instrução
Criminal, 1937, p. 110). Ver também Inaudita altera
parte.
4. Cogitationis poenam nemo patitur – Aforismo jurídico.
Ninguém pode ser punido por pensar. Reproduziu-o
elegantemente, num lugar de sua estimada obra, o
saudoso Prof. E. Magalhães Noronha: “O que se passa
no foro íntimo de uma pessoa não é dos domínios do
20

Direito Penal. Persiste ainda hoje a máxima de Ulpiano


– Cogitationis nemo poenam patitur. Ou como falam os
italianos – Pensiero non paga gabella (o pensamento
não paga imposto ou direito). Em intenção todos podem
cometer crimes” (Direito Penal, 1963, vol. I, p. 154).
5. Cui prodest? – A quem aproveita? Palavras extraídas do
conhecido verso de Sêneca: Cui prodest scelus, is fecit.
Procurai a quem aproveita o crime, e encontrareis o
culpado (cf. Arthur Rezende, Frases e Curiosidades
Latinas, 1955, p. 188). Cassiano, famoso jurisconsulto
de Roma, “quando se devassava de algum homicídio,
costumava aconselhar e era acostumado a dizer: Que
se atendesse a quem a morte fora de utilidade, e a
esse se atribuísse” (Cícero, Orações, 1948, p. 15; trad.
Pe. Antônio Joaquim).
6. De minimis non curat praetor – O pretor não se ocupa
de questões insignificantes. Não só o pretor (nome por
que na Roma antiga se conheciam os magistrados),
também os membros do Ministério Público e os
advogados caem sob a jurisdição do sobredito preceito.
É de péssimo exemplo fazer caso e cabedal de ninharia;
não há dar peso à fumaça.
7. Inaudita altera parte – Sem ouvir a parte contrária. “Em
ambos os casos, porém, a tramitação procedimental se
opera inaudita altera parte” (José Frederico Marques,
Elementos de Direito Processual Penal, 2a. ed., vol. IV,
p. 62; Millennium Editora). Nota: Exemplo de sintaxe
latina denominada ablativo absoluto, deve grafar-se a
frase inaudita altera parte (e não pars); os nomes e os
adjetivos empregam-se no caso ablativo (parte). Ver
também Audiatur et altera pars.
21

8. In dubio pro reo – Na dúvida, em favor do réu.


Somente a certeza pode ensejar condenação; dúvida, em
Direito, significa o mesmo que ausência de prova.
Daqui por que sabiamente dispunha o art. 36 do Código
Criminal do Império do Brasil: “Nenhuma presunção,
por mais veemente que seja, dará motivo para
imposição de pena”. Lição, a mais de um respeito
notável, de João Mendes Jr.: “A Defesa tem direitos
superiores aos da Acusação, porque, enquanto houver
uma dúvida, por mínima que seja, ninguém pode
conscientemente condenar o seu semelhante” (Processo
Criminal Brasileiro, 4a. ed., p. 388).
9. Juris praecepta sunt haec – Honeste vivere; neminem
laedere; jus suum cuique tribuere. Os preceitos do
Direito são estes: Viver honestamente; não ofender a
ninguém; dar a cada um o que é seu. Aforismo extraído
das Institutas do Imperador Justiniano (liv. I, tít. I, § 3º).
10. Necessitas non habet legem – “Frase do famoso Santo
Agostinho, autor das Confissões, que se traduz por:
A necessidade não conhece leis” (R. Magalhães Jr.,
Dicionário de Provérbios e Curiosidades, 1960, p.
181). “A necessidade exige do homem o que quer”
(Públio Siro, Máximas, 1936, p. 89; trad. Remígio
Fernandez). Forma variante: Necessitas caret lege:
A necessidade não se sujeita às leis. É causa excludente
de ilicitude jurídica (art. 23, nº I, do Cód. Penal).
11. Nemo tenetur se detegere. Ninguém é obrigado a
acusar-se. Fórmula variante: Accusare nemo se debet
nisi coram Deo. Tradução: Ninguém é obrigado a
acusar a si próprio, salvo perante Deus. Donde a
exortação de Jacques Isorni: “Reservemos a confissão
à Justiça do Altíssimo e o silêncio à dos homens”
(apud Eliasar Rosa, Dicionário de Conceitos para o
Advogado, 1974, p. 63).
22

12. Non bis in idem – Não duas vezes pela mesma razão.
Variante: Ne bis in idem. Apotegma de Jurisprudência
pelo qual ninguém pode ser duas vezes punido
pelo mesmo crime. Lê-se em José Frederico Marques:
“Um dos efeitos de litispendência é o de impedir o
desenrolar e a existência de um segundo processo para
o julgamento de idêntica acusação. Resulta, pois, da
litispendência, o direito processual de arguir o bis in
idem, mediante exceptio litis pendentis” (Elementos de
Direito Processual Penal, 2a. ed., vol. II, pp. 264-265).
13. Onus probandi – “A obrigação de provar. O onus
probandi compete a quem afirma; cabe ao acusador e
não ao acusado. Onus probandi ei qui dicit – O ônus
da prova compete a quem alega” (Arthur Rezende, op.
cit., p. 547). “A prova da alegação incumbirá a quem a
fizer”, reza o art. 156 do Código de Processo Penal.
14. Qui tacet, consentire videtur – Velha máxima que,
em português, responde assim: quem cala consente.
Embora direito seu (cf. art. 5º, nº LXVIII, da
Constituição Federal), vai mal-advertido o réu que,
dando de mão à primeira oportunidade de autodefesa,
na Polícia, prefere ficar calado (ou mudo como um
peixe). É que a própria razão natural o intima a
defender-se com o vigor da palavra, sobretudo se
inocente. Ilustra-o que farte o soberbo lugar do Pe.
Antônio Vieira: “É cousa tão natural o responder, que
até os penhascos duros respondem, e para as vozes
têm ecos. Pelo contrário, é tão grande violência não
responder, que aos que nasceram mudos fez a natureza
também surdos, porque se ouvissem, e não pudessem
responder, rebentariam de dor” (Cartas, 1971, t. III,
p. 680; Imprensa Nacional; Lisboa).
23

15. Quod abundat non nocet – O que é em abundância


não prejudica. O que abunda não dana. Famigerado
aforismo jurídico, de curso frequente nos pleitos
judiciais, serve de alvitre aos que devem desempenhar-
-se do ônus da prova, ou demonstrar uma alegação.
Melhor é que sobejem provas (ou argumentos), em prol
da causa, do que escasseiem. Há situações, contudo, em
que se mostra o brocardo contraproducente; prevalecerá
então o virtus in medio (a virtude é o meio termo). O
que é em excesso desvirtua. Até a mesma bondade
morre do excesso. O muito é muito, lembra o adágio
português, Il tanto nuoce, recitam os italianos, como se
quisessem dizer: o muito prejudica. Ainda: Ne quid
nimis (Terêncio). Nada de mais; em nada o demasiado.
Todo o excesso é uma imperfeição. Tão mau é o sobejo,
como o minguado (cf. Arthur Rezende, op. cit., p. 459).
O exagero enfraquece a causa.
16. Reformatio in pejus – Reforma para piorar (a sorte do
réu). É a “reforma empiorativa da sentença”, no dizer
de Eliézer Rosa (Dicionário de Processo Penal, 1975,
p. 184). Sendo o acusado o que unicamente recorreu,
não pode a superior instância prover-lhe o recurso para
prejudicá-lo.
17. Res sacra reus – O réu é entidade sagrada. Por este
princípio, ainda o mais vil dos homens tem direito à
proteção da lei.
18. Secundum id quod plerumque accidit – Segundo
aquilo que geralmente sucede. À luz da experiência
comum; conforme a observação material dos fatos; na
conformidade da ciência experimental; de acordo com
a lição da experiência vulgar. Ex.: “O homem normal
deve ser entendido sob um ponto de vista estatístico,
isto é, tendo-se em conta id quod plerumque accidit”
(Nélson Hungria, Comentários ao Código Penal, 1978,
vol. I, t. II, p. 188).
24

19. Summum jus, summa injuria – Justiça excessiva é


injustiça. Esta parêmia traz Cícero em seu Tratado dos
Deveres (liv. I, cap. XI, p. 29; trad. Miguel Antônio
Ciera): “(…) donde teve origem o provérbio a suma
injustiça se converte em iniquidade”. Isto mesmo sentia
Salomão, “o mais sábio de todos os que nasceram”
(Antônio Vieira, Sermões, 1959, t. IX, p. 256): Noli esse
justus multum (Ecl 7,17). Não sejas por demasiado
justo.
20. Testis unus, testis nullus – Uma só testemunha,
testemunha nenhuma. Faz ao caso a lição do Conselheiro
Ramalho: “Uma só testemunha regularmente não prova
o fato; e daí resulta a regra – dictum unius, dictum
nullius, ainda que o depoente seja dotado de grande
autoridade e dignidade” (Praxe Brasileira, 1869,
pp. 311-312).

21. Vim vi repellere licet – É lícito repelir a força com a


força. Argumento que se invoca para os casos de
legítima defesa (art. 25 do Cód. Penal). Matar, para não
morrer, não é crime! Ulpiano, célebre jurisconsulto,
deixou escrito para todo o sempre que a razão natural
permite ao indivíduo defender-se: Naturalis ratio
permittit se defendere (cf. José Eduardo Fonseca,
Justiça Criminal, 1925, p. 10).
A legítima defesa, afirmou Cícero num rapto de
eloquência, não tem história, porque é uma lei sagrada,
que nasceu com o homem, anterior à tradição e aos
livros, gravada que está no código imortal da natureza
(cf. “Pro Milone”, cap. IV).
Todas as leis e todos os direitos permitem repelir
a força pela força, escreveu no bronze eterno o
jurisconsulto Paulo: “Vim vi defendere omnes leges
omniaque jura permittunt” (Dig. 9,2).
25

Isto mesmo significou o elegante Manuel Bernardes:


“A justiça concede a todos repelir a força com a força”
(Nova Floresta, 1726, t. IV, p. 207).
De igual sentir, o imenso Vieira: “Haveis de ferir
necessariamente a quem vos afrontou, porque a mancha
de uma bofetada no rosto só com o sangue de quem a
deu se lava” (Sermões, 1959, t. XIII, p. 135).
Aquele, portanto, que for injustamente agredido (ou
estiver na iminência de sê-lo) poderá afastar seu
agressor até com violência, que o autoriza a lei. É a
clara dicção do art. 23, nº II, do Código Penal.
Oráculo do Direito Penal pátrio, escreveu Nélson
Hungria: “Tanto na legítima defesa, quanto no estado
de necessidade, não há crime, o que vale dizer: o fato
é objetivamente lícito” (Comentários ao Código Penal,
1981, vol. V, p. 92).
Todavia, quem invoca a descriminante da defesa
própria, a esse cabe demonstrá-la acima de dúvida, que
a falta aqui de prova equivale a confissão de crime.

Bibliografia

●Arthur Rezende, Frases e Curiosidades Latinas, 1955;


●F.R. dos Santos Saraiva, Novíssimo Dicionário Latino-
-Português, 9a. ed.;
●Giuseppe Fumagalli, Chi l’ha detto?, 1995;
●Hildebrando de Lima e outros, Pequeno Dicionário
Brasileiro da Língua Portuguesa, 11a. ed.;
●Isidoro de Sevilha, Etimologias, 1983, 2 vols.;
●L. de-Mauri, Flores Sententiarum, 1926;
26

●Napoleão Mendes de Almeida, Dicionário de Questões


Vernáculas, 1981;
●Paulo Rónai, Não Perca o seu Latim, 5a. ed.;
●Rafael Bluteau, Vocabulario Portuguez e Latino, 1712,
10 vols.;
●R. Magalhães Júnior, Dicionário de Provérbios e
Curiosidades, 1960;
●V. César da Silveira, Dicionário de Direito Romano,
1957, 2 vols.

(1) Ao advogado criminalista muito aproveitará a leitura dos


discursos de defesa de Cícero, modelos acabados da arte de
argumentar e convencer. Dentre esses têm lugar conspícuo os
seguintes: Pro Milone(*), Pro Roscio Amerino, Pro Q. Ligario,
Pro Archia, etc. Tito Lívio “tributou à sua memória a maior
homenagem, declarando que, para elogiar Cícero, só o talento
do próprio Cícero” (César Zama, Três Grandes Oradores da
Antiguidade, 1896, p. 585).
( )
* Pleito em favor do assassino de Clódio; este discurso é
considerado o mais belo de Cícero (Bernardo H. Harmsen,
Cícero, Antologia, 1959, p. 10).
II. Carta ao Dr. Nelson Nery Junior,
a propósito da locução “Inaudita altera parte”

São Paulo, 25 de janeiro de 2005

Muito estimado Dr. Nelson Nery Junior:


Cordiais saudações!
Espero tenha o Amigo a bondade de relevar-me a
ousadia com que compareço à sua presença.
Faço-o movido do sentimento natural que obriga o
beneficiário ao benfeitor: a gratidão.
Sim, é ingente a dívida em que estamos — os lidadores
do Direito — para com Vossa Excelência, processualista
exímio e justamente louvado pela preciosa contribuição que
continua a dar às letras jurídicas nacionais. Correndo em
silêncio outras produções de seu fecundo engenho, detenho-
-me no soberbo Código de Processo Civil Comentado.
Tenho-lhe grande afeição a esse prestantíssimo livro!
Não passa um dia sem que o tenha à mão e perlustre em
busca da boa doutrina e da opinião abalizada com que possa
dar alento e segurança a meus obscuros votos na 4a. Câmara
de Direito Privado de nosso Tribunal de Justiça (onde estou
há coisa de 8 meses, oriundo do Tribunal de Alçada
Criminal).
Entre os colegas — e mesmo a generalidade dos
cultores do Direito — o distinto Amigo conquistou já o
timbre de autor clássico, que Horácio mandava compulsar
com mão diurna e noturna (Arte Poética, v. 269).
28

A especial consideração (em que tenho assim o livro


como seu autor) é que me dá confiança para discorrer de um
ponto, que pudera parecer questão de nonada: a sintaxe da
locução latina “inaudita altera parte”.
Em mais de um lugar de sua reputada obra dei com a
construção “inaudita altera pars” (cf. pp. 1.181, 1.182, 1.189
e 1.194, da 8a. edição).
Lancei-o à conta de lapso tipográfico, de que se não
eximem edições, até as mais bem cuidadas, como a sua.
Firo agora o tema.
A fórmula escorreita da expressão “sem ouvir a outra
parte”, empregada mormente no capítulo das Medidas
Cautelares, é “inaudita altera parte”. Aqui se há de escrever
parte (com e), porque é a desinência que os nomes da 3a.
declinação têm no caso denominado ablativo. Tal construção
— “inaudita altera parte” — constitui o que, na língua de
Cícero, os gramáticos chamam de ablativo absoluto.
Do tema trataram as Gramáticas Latinas de Augusto
Magne (1930, p. 416), João Ravizza (1956, p. 239), Napoleão
Mendes de Almeida (1974, p. 283), Mílton Valente (78a. ed.,
p. 173), António Freire (1956, p. 287), John Clintock (1925,
p. 190), Giovanni Zenoni (2a. ed., p. 171), Manuel Francisco
de Miranda (1946, p. 350), Antonio Pereira de Figueiredo
(1900, p. 202), Júlio Comba (1991, p. 270), etc.
O velho Bluteau, em sua obra monumental, traz o passo
famoso de Sêneca: “Qui statuit aliquid, parte inaudita altera,
aequum licet statuerit, haud aequus fuit”, que tirou em
linguagem: “O que sentenciou, sem ouvir as partes, ainda
que a sentença dada seja justa, não é ele justo juiz”
(Vocabulário, 1720, t. VI, p. 164).
29

Atenta a liberdade da ordem indireta do frasear latino,


“parte inaudita altera” monta o mesmo que “inaudita altera
parte”.
Há também, ao propósito, lição do culto e insigne
Des. Geraldo Amaral Arruda: “Com grande frequência a
indicação de circunstâncias pode ser feita, com expressividade
e elegância, em orações reduzidas de particípio ou gerúndio.
Essa construção nos adveio do que na gramática latina se
denomina ablativo absoluto. Esse é o caso da conhecida
locução “inaudita altera parte”, na qual “parte” exerce
a função de sujeito da oração, embora esteja no ablativo”
(A Linguagem do Juiz, 1996, p. 84).
Dificuldade é essa para a qual, sem dúvida, terá muito
contribuído a sentenciúncula “audiatur et altera pars”, que,
em vulgar, significa “ouça-se também a outra parte”, pedra
angular do contraditório processual, como se vê em Manzini:
“Il giudice penale, dovendo rivolgere la propria attività
all’accertamento della verità reale, deve sentire così l’accusa
come la difesa (audiatur et altera pars)” (Trattato di Diritto
Processuale Penale, 1952, vol. I, p. 223).
Aqui se haverá grafar “pars” (e não “parte”), porque a
palavra está no nominativo, que é o caso do sujeito.
Fico me não levará a mal o Amigo por ter-lhe apontado
nuga literária no utilíssimo Código de Processo Civil
Comentado. Foi desejo de perfeição da obra, à qual —
verdadeiro tesouro jurídico — bem se ajustam as elegantes
palavras que escreveu Bluteau acerca do Grande Dicionário
Histórico do sábio francês Luís Moreri: tais falhas “são
manchas no disco do Sol: ficam embebidas em um mar de
luzes” (Suplemento ao Vocabulário, 1728, 2a. parte, p. 590).
30

Aceite a expressão sincera de minha estima e profunda


admiração.

Carlos Biasotti
31

São Paulo, 25 de setembro de 2006

Prezado Dr. Nelson Nery Junior:


Tendo-lhe escrito, há coisa de um ano, a propósito de
certa questão da língua do foro — “inaudita altera parte” e
“audiatur et altera pars” —, honrou-me Vossa Excelência
com amável carta, que conservo entre meus tesouros
literários.
A matéria que nela versou, considero-a de grande
utilidade a todos os que atuamos na barra da Justiça; por isso,
fora verdadeira lástima ficasse inédita!
Se o distinto amigo não tem objeção à ideia, e me dá
permissão para publicar sua carta, muito folgarei em incluí-la
na próxima edição de meu Tributo aos Advogados
Criminalistas, de que lhe estou enviando um exemplar.
Espero me releve a ousadia de passar às suas mãos —
habituadas ao contacto de obras do mais subido merecimento
(“scilicet”: Código de Processo Civil Comentado, Código
Civil Comentado, etc.) — este pobre livrinho!
Creia-me sempre seu discípulo, admirador e amigo
obrigado.

Carlos Biasotti
32

São Paulo, 5 de fevereiro de 2005

Prezado Desembargador Carlos Biasotti,


Recebi hoje sua amável e gentil carta de 25 de janeiro
de 2005, que traz importantes considerações sobre a
utilização das expressões inaudita altera parte e audiatur et
altera pars.
Agradeço imensamente as palavras de incentivo sobre o
nosso trabalho de anotação ao CPC. Nossa intenção é
proporcionar aos profissionais do Direito ferramenta com que
possam ser auxiliados nas tarefas comuns do dia-a-dia da
profissão.
Daí por que as críticas aos Comentários sempre são
bem vindas, notadamente as suas, que são totalmente
procedentes, fruto da observação de quem tem verdadeira e
profunda cultura humanística.
A sua benevolência em chamar os erros de tipográficos
só demonstra a elegância com que foram feitas as críticas.
Os gramáticos da língua latina, bem citados por V.Exa.
(Padre Ravizza, Padre Augusto Magne, Napoleão Mendes de
Almeida, etc.), se ocuparam do tema e grafam as expressões
como constam, corretamente, de sua amável carta.
O nominativo é pars, de modo que quando a frase pede
esse caso, deve ser grafada a expressão como consta dos
dicionários: audiatur et altera pars. No entanto, quando
utilizado no ablativo, deve ser declinado para parte,
consoante muito bem anotado em sua gentil correspondência:
inaudita altera parte.
33

Consultando o Padre Bluteau, verifiquei que em seu


monumental vocabulário menciona a sentença de Sêneca,
sem, entretanto, dar a fonte da obra do grande escritor
latino(1).
Em Forcellini(2) é dada a fonte de Sêneca que,
consultada, confirma suas preciosas observações(3):

“Medea: –– Qui statuit aliquid parte inaudita altera,


æquum licet statuerit, haud æquus fuit”. (Na tradução
de Justus Miller: “He who has judge aught, with the
other side unheard, may have judged righteously, but
was himself unrighteous”).

Agradeço muitíssimo a valiosa colaboração de V.Exa.


para o aprimoramento de nosso texto. As correções estão
sendo providenciadas e, na próxima edição, espero que o
livro saia sem esses deslizes.
Receba o meu abraço fraternal.

(1) Padre Raphael Bluteau, Vocabulario Portuguez & Latino, v. VI,


na Officina de Pascoal da Sylva, Lisboa, 1720, verbete “ouvir”,
p. 164.
(2) Aegidii Forcelini, Totius Latinitatis Lexicon, v. II, Editio
in Germania prima, Sumptibus et Typis C. Schumanni,
Schneebergæ, 1831, verbete “inauditus”, p. 485.
34

(3) Seneca. Medea, in “Tragedies”, v. VIII, texto bilingue latino-


-inglês, tradução de Frank Justus Miller, Loeb Classical Library,
William Heinemann Ltd., London, 1979, nº 199, pp. 246/24.
III. “Quousque tandem abutere, Catilina,
patientia nostra?”
(Cicero, Oratio Prima in Catilinam, I, 1)

I. As palavras que servem de título a este breve ensaio


proferiu-as o célebre orador romano Marco Túlio Cícero, no
dia 8 de novembro do ano 63 a. C., no templo de “Jupiter
Stator”(*), onde, na condição de Primeiro Cônsul, reunira
o Senado para denunciar a conjuração de Catilina, “homem
audacioso e temerário”(1), que pretendia subverter os
fundamentos das instituições políticas e sociais de Roma.
Quatro orações pronunciou o notável tribuno contra
o demagogo, conhecidas pelo nome de “Catilinárias”, termo
que passou a designar toda a “acusação enérgica e
eloquente”.(2)
Segundo o historiador Salústio, “Lúcio Catilina, de
nobre ascendência, foi de grande força de alma e de corpo;
porém de má e depravada índole. (…) Depois da tirania
de Sila, um desenfreado desejo o assaltara de escravizar
a república; e como o reino obtivesse, não olhava por que
meio”.(3)

(*) “Stator, oris – Estator, epíteto de Júpiter (= que faz parar os que
fogem” (cf. Francisco Torrinha, Dicionário Latino-Português, 3a. ed.;
v. Stator).

(1) Plutarco, Varões Ilustres, 1944, p. 167; trad. Mário Gonçalves


Viana; Editora Educação Nacional; Porto.

(2) Caldas Aulete, Dicionário Contemporâneo, 2a. ed.; v. catilinária.

(3) Obras, 1945, p. 36; trad. Barreto Feio; Editora Cultura; São Paulo.
36

Catilina e seus sequazes foram, por decisão do


Senado, condenados à pena última.
Por haver descoberto e reprimido a conjuração de
Catilina, o povo concedeu a Cícero o título de Pai da pátria
(“Pater patriae”).
Os sicários do triúnviro Marco Antônio, seu inimigo
figadal, contra quem havia proferido “uma longa série de
catorze discursos conhecidos pelo nome de Filípicas”(4),
puseram termo à vida do imortal orador, cortando-lhe a
cabeça e as mãos, que foram pregadas no rostro, ou tribuna
dos oradores, em Roma.
“Cícero foi morto a 7 de dezembro do ano 710 da
fundação de Roma, isto é, 44 anos antes da nossa era: tinha
a idade de 63 anos, 11 meses e 5 dias”.(5)

II. Exemplo clássico de exórdio “ex abrupto”(6), aquele


tópico de Cícero — “Quousque tandem abutere, Catilina,

(4) Arlindo Ribeiro da Cunha, “In Catilinam”, 1943, p. CLIII;


Livraria Cruz; Braga.

(5) Cezar Zama, Três Grandes Oradores da Antiguidade, 1896,


p. 571; Bahia.

(6) “Exórdio improviso ou abrupto é aquele em que o orador,


arrebatado por uma impetuosa paixão, abala inesperadamente os
ouvintes. (…) subitamente inflamado pela presença duma pessoa ou
dum objeto, o orador começa logo a trovejar na assembleia. Assim
contra Catilina investe de súbito o orador romano (na I Cat.): Até
quando enfim, Catilina, hás de abusar da nossa paciência?” (A.
Cardoso Borges de Figueiredo, Retórica, 1875, pp. 48-49; Coimbra).
37

patientia nostra?” —, vertido em vulgar, significa: Até


quando enfim, Catilina, abusarás da nossa paciência?(7)
Cai a lanço transcrever aqui a narração de Narciso
José de Morais acerca do fato histórico:
“No momento em que os exércitos da república
colhiam na Ásia, com Pompeu, troféus brilhantes, Roma
ficou exposta de repente a um perigo terrível.

Manoel da Costa Honorato, pelo mesmo feitio: “Exórdio


veemente ou ex abrupto é aquele em que o orador entra bruscamente
em matéria, apodera-se das disposições de seu auditório e entrega-se,
desde o princípio, aos movimentos apaixonados, como fez Cícero,
entrando repentina e audaciosamente no senado romano, onde
exprobrou a Catilina por achar-se também nesse recinto, dizendo: Até
quando, ó Catilina, abusarás de nossa paciência?” (Compêndio de
Retórica e Poética, 1879, pp. 30-31; Rio de Janeiro).

De igual teor, a lição de M. Fábio Quintiliano: “(…) como o


mesmo Cícero também já tinha praticado contra Catilina: Até quando
abusarás, ó Catilina, da nossa paciência?” (Instituições Oratórias,
1888, t. I, p. 259; trad. Jerônimo Soares Barbosa; Imprensa Real da
Universidade; Coimbra).

Finalmente, o erudito Francisco de Pina: o exórdio repentino ou


veemente, “quando o orador, com toda a veemência, sai com uma
proposição inopinada; como aquela de Cícero na primeira Oração
contra Catilina: Quousque tandem abutere, Catilina, patientia
nostra?”(Arte de Retórica, 1776, p. 54; Lisboa).

(7) Assim traduziu Napoleão Mendes de Almeida, latinista exímio, o


conhecido lugar de Cícero (cf. Gramática Latina, 29a. ed., p. 371;
Editora Saraiva; São Paulo).
38

O ascendente dos cavaleiros tornara-se insuportável


e, enquanto que ostentavam em Roma suas fortunas
escandalosas, uma população inteira, arruinada pela usura,
errava na Itália, esperando só um chefe para se sublevar.
O momento era favorável para tentar qualquer
empresa audaciosa; Catilina aproveitou-o. Era homem de
têmpera superior, mas profundamente corrompido. Tinha-se
tornado centro de todos os devassos arruinados, de todos os
que esperavam restabelecer a sua fortuna sobre as ruínas da
cidade. Catilina chegou a fazer desta turba um partido, uma
sorte de exército pronto para todas as violências e para todos
os atentados.
Afastado do consulado, resolveu, por meio duma
conspiração, degolar os cônsules, uma parte dos senadores,
e apoderar-se do poder.
Nada tinha ainda transpirado da conjuração prestes a
rebentar, e era uma vez Roma, se uma mulher, Fúlvia, não
tivesse tudo descoberto a Cícero. Este fez então lançar o
famoso decreto: Caveant consules…(8), que se promulgava
nos dias de crise e de perigo” (Flores Históricas, 1887,
pp. 18-19; Porto).

(8) “Caveant consules… Que os cônsules tomem cuidado. Fórmula


com a qual o Senado Romano, nas grandes crises, investia os
cônsules do poder ditatorial: Caveant consules ne quid detrimenti
respublica capiat. Que os cônsules tomem cuidado para que a
república não sofra algum dano” (Arthur Rezende, Frases e
Curiosidades Latinas, 1955, p. 83; Rio de Janeiro).
39

III. Diversamente do português — em que os vocábulos


têm uma sílaba tônica(9), marcada, quando necessário, com o
sinal diacrítico, por exemplo: intrépido, trôpego, júri, recém,
rubrica, avaro, misantropo, etc. —, no latim as sílabas
pronunciam-se conforme a quantidade (breves ou longas).
A quantidade de uma sílaba é o tempo que se gasta na sua
prolação. A sílaba longa equivale a duas breves.
Para indicar a vogal breve emprega o latim o
sinal ˘ (braquia)(10); a vogal longa, um traço horizontal ¯
(mácron). Assim: mēnsă, vīrtūs, jūdĭciārĭus.
Aqui vem a ponto o reparo de Júlio Comba, mestre em
latim e insigne humanista:
“Acentuação. a) O acento latino não cai nunca sobre
a última sílaba: amor (amor) pronuncia-se ámor. b) Nas
palavras de mais de duas sílabas o acento cairá na

(9) Sílaba tônica – “(…) aquela sobre a qual recai o acento tônico
da palavra, isto é, aquela cujo tom predomina” (Napoleão Mendes de
Almeida, Gramática Metódica da Língua Portuguesa, 29a. ed., p. 50;
Edição Saraiva).

“Acentuação prosódica é a maior intensidadde de tom de uma


sílaba em relação às outras do mesmo vocábulo. A sílaba mais
acentuada diz-se predominante ou tônica. Tão relevante é o papel do
acento tônico, que a este chamou Max Müller a alma e o centro de
gravidade da palavra” (Osório Duque Estrada, A Arte de Fazer
Versos, 1914, p. 62; Francisco Alves & Cia.).

(10) Representação gráfica da braquia: “(…) pequena curva com a


concavidade para cima ( ˘ )” (cf. Pequeno Dicionário Brasileiro da
Língua Portuguesa, 11a. ed.; v. braquia).
40

penúltima, se esta for longa; cairá na antepenúltima, se a


penúltima for breve: Amabāmus (amávamos), pronuncia-se
amabámus; Oceănus (Oceano) pronuncia-se océanus;
circumdăbĭtis (circundareis) pronuncia-se circumdábitis”
(Gramática Latina, 4a. ed., p. 18; Editora Salesiana Dom
Bosco).

Autores modernos, para efeitos didáticos e por obviar


a dificuldades em estabelecer os sinais indicativos da
quantidade silábica — braquia ( ˘ ) e mácron ( ¯ ) —, têm
usado o acento agudo para assinalar a sílaba tônica da palavra
latina.

Em suma: embora os escritores romanos nenhum


acento gráfico empregassem — pois nem os sinais de longa e
breve eram de rigor —, pareceu bem que, para atender às
conveniências do estudo, se introduzisse o costume de marcar
as palavras latinas com o acento agudo ( ´ ), como têm
praticado sujeitos de nomeada e raro saber. Obrou nesta
conformidade José Lodeiro, ao recorrer à notação léxica
(acento agudo) para ressaltar a sílaba tônica das palavras da
bela sentença do poeta Ênio: “Amícus cértus in re incérta
cérnitur”(Pequeno Dicionário de Frases Latinas, 1946,
p. 23; Edição Tabajara; Porto Alegre). Tradução: O amigo
verdadeiro conhece-se nas ocasiões precisas.

(Isto em ordem à pronúncia; que, escrita a frase em


latim, o uso do acento será de todo o ponto escusado:
“Amicus certus in re incerta cernitur”).(11)

(11) A prática de acentuar graficamente a sílaba tônica de palavra


latina tem sido adotada por gramáticos e filólogos de pulso, como
forma de evitar constantes solecismos prosódicos (“silabadas”).
41

IV. “Abútere” ou “Abutére”?

F. R. dos Santos Saraiva (Dicionário Latino-Português,


9a. ed.; v. ăbūtŏr) traz os tempos primitivos do verbo que, em

Na verdade, à luz do pragmatismo que hoje parece orientar as


ciências, importa mais saber, por exemplo, que na palavra “labore” —
da expressão “pro labore” (pelo trabalho) — a sílaba tônica é
a penúltima (“labóre”), do que declarar, pela craveira latina, a
quantidade (breve ou longa) de suas sílabas…

Outro tanto, em referência ao advérbio “ubinam”, empregado por


Cícero: “Ubinam gentium sumus?” (1a. Cat., cap. IV). Em que parte
do mundo estamos? Atenta a quantidade de suas vogais, a palavra é
marcada com a braquia ( ˘ ): “ŭbĭnăm”. Como a devemos pronunciar,
porém?! Aqui é que está o busílis!

Eis por que autores de obras latinas, por amor da exação da


pronúncia, têm optado pelo sinal de acento agudo ( ´ ) para marcar a
sílaba tônica da palavra, como fez o abalizado Júlio Comba: “Úbinam
(…)” (op. cit., p. 201). E outros mais: Mílton Valente, Gramática
Latina, 82a. ed.; Ludus (Curso de Latim), 61a. ed.; Livraria Selbach;
Porto Alegre; Júlio Comba, Gramática Latina, 4a. ed.; Programa de
Latim (vols. I e II), 2003; Editora Salesiana Dom Bosco; Diurnal
Monástico (latim – português), 1962; Edições “Lumen Christi”; C.
Torres Pastorino, Latim para os Alunos, 1963; J. Ozon Editor; G.
Campanini – G. Carboni, Vocabolario Latino-Italiano, 1957; Torino;
V. César da Silveira, Dicionário de Direito Romano, 1957; 2 vols.;
José Bushatsky, Editor; São Paulo; José Vicente Gomes de Moura,
Compendio de Grammatica Latina e Portugueza, 1850; Imprensa da
Universidade; Lisboa, etc.
42

nosso vernáculo, significa abusar: “Ăbūtor, ăbūtĕrĭs, ăbūsŭs


sum, ăbūtĭ”.(12)
De par com essa forma típica depoente, registra a
seguinte, que averba de arcaica: “Ăbūtŏ, ăbūtĭs, ăbūtĕrĕ”.
É seu paradigma o verbo “légere”, da 3a. conjugação.
A dar-se o caso que “abutere” — que consta da frase de
Cícero — estivesse no modo infinitivo (presente), havia-se de
pronunciar “abútere” (abusar). Mas — e aqui bate o ponto! —,
a forma verbal que empregou O Príncipe da Eloquência
Romana foi “a da segunda pessoa do singular do futuro
imperfeito do indicativo. Cícero emprega-a frequentemente
(…)” (Maximiano Augusto Gonçalves, Tradução das
Catilinárias, 2a. ed., p. 22; Livraria H. Antunes Ltda.; Rio de
Janeiro).(13)

A forma verbal “abutere” — da fulminante invectiva


de Cícero contra Catilina —, portanto, não admite, pelos
regulares cânones gramaticais, senão a pronúncia “abutēre”,
pois é longa a penúltima sílaba.

(12) O Vocabolario Latino-Italiano, de G. Campanini – G. Carboni,


pondo a mira em dar a conhecer ao leitor, “prima facie”, a escorreita
prosódia das formas verbais, apresenta-as deste modo: “Abútor,
abúteris, abúsus (a, um) sum, abúti”.

(13) Assim entende esse lugar a generalidade dos latinistas: Mílton


Valente, Gramática Latina, 82a. ed., p. 148; A. J. da Silva D’Azevedo,
“Humanitas”, 4a. ed., p. 77; Nicolau Firmino, As Catilinárias, 4a. ed.,
p. 67; José Cretella Júnior, Latim para o Colégio, 1950, pp. 152-153;
Vandick Londres da Nóbrega, A Presença do Latim, 1962, vol. III,
p. 44; José Pinheiro, Selecta Latina, 1960, vol. II, p. 284, etc.
43

Daqui a razão por que mestres de latinidade, no


intento de prevenir “estridentes silabadas” — na frase do
preclaro João Ravizza(14) —, soem grafar a palavra com
acento agudo: “abutére”.

Em suma: “Quousque tandem abutere, Catilina,


patientia nostra”? Até quando enfim, Catilina, abusarás da
nossa paciência?

V. Cícero, cujo nome estará eternamente associado aos


homens de pensamento, aos artistas da palavra e aos cultores
do Direito, é “o maior vulto da literatura latina”(15) e,
juntamente, o espelho de todos os oradores e advogados.
Ilustrou, com infinitos exemplos, o poder imenso da
palavra e expôs aos advogados, em soberbas lições, a arte de
patrocinar causas judiciais e obter com a oratória triunfos
singulares.
A leitura atenta e aturada de seus discursos descobrirá
aos que fazem profissão da vida forense as excelências da
doutrina e os princípios que regem o exercício da defesa e a
técnica da argumentação à face dos pretórios da Justiça.
Ler Cícero, mesmo em tradução, é faiscar em terreno
de inesgotáveis tesouros, que nenhum espírito culto e ávido
de saber costuma desdenhar.

(14) A Morfologia Latina, 1934, p. 5.

(15) Augusto Magne, Selecta Latina, 1914, p. 333.


44

Que seja isto superior a toda a dúvida, para logo o


conhecerá aquele que se detiver na leitura de seus lapidares
discursos forenses, v.g.: Oração em Defesa de Róscio
Amerino(16), “Pro Milone” (em favor de T. Ânio Milão)(17),
“Pro Ligario” (em favor de Quinto Ligário)(18), “Pro

(16) Orçava Cícero pelos 27 anos de sua idade quando defendeu


Róscio Amerino, acusado de parricídio. “Ele teve a satisfação de ver
Róscio declarado inocente” (Luiz Carlos Muniz Barreto, História das
Orações de M. T. Cícero, 1772, p. 9; Lisboa).

(17) “(…) a obra-prima da sua eloquência. Como diz um velho autor,


cada parte é perfeita no seu gênero; admira-se a majestade do
exórdio, a clareza da narração, a conexão das provas, o vigor dos
pensamentos; finalmente o patético lastimoso, que é como a alma
da peroração” (Arlindo Ribeiro da Cunha, “In Catilinam”, 1943,
p. CXL; Livraria Cruz; Braga).

(18) Dos primores desta oração disse tudo Plutarco, ao escrever:


“Quinto Ligário foi processado como inimigo de César, e Cícero
encarregou-se de o defender. Sabendo disto, César disse aos seus
amigos: Que mal pode haver em deixarmos falar Cícero? Há já muito
tempo que não o ouvimos. O cliente dele é um homem pérfido, é meu
inimigo; já está condenado de antemão. Mas Cícero impressionou
extraordinariamente o juiz, desde o começo de seu discurso; à medida
que ia falando, excitava paixões tão contraditórias, dava à sua
linguagem uma tal doçura e encanto, que houve quem visse César
mudar muitas vezes de cor, e revelar, na fisionomia, os diversos
sentimentos que lhe agitavam a alma. Quando, por fim, o orador falou
na batalha de Farsália, César, não podendo dominar os nervos,
começou a tremer, e deixou cair os papéis que tinha na mão. Cícero,
vencendo o ódio do julgador, obrigou-o a absolver Ligário” (Varões
Ilustres — Demóstenes e Cícero —, 1944, p. 230; trad. Mário
Gonçalves Viana; Editora Educação Nacional; Porto).
45

Murena” (por Licínio Murena), Em Defesa do Poeta


Árquias, “Pro Marcello”(19), Catilinárias, Verrinas, etc.

VI. Textos Antológicos de Cícero

l. “Justitia omnium est domina et regina virtutum” (De


Officiis, III, 6).
A justiça é a senhora e rainha de todas as virtudes.
2. “Cedant arma togae” (De Off., I, 21).
Cedam as armas à toga.
3. “Dubitando ad veritatem pervenimus” (Tusculanae
Disputationes, I, 30, 73).
Duvidando chegamos à verdade.
4. “Deum non vides tamen Deum agnoscis ex operibus
ejus” (Tusc. Disp., I, 28).
Não vês Deus, mas tu o conheces pelas suas obras.

Por fim, o juízo crítico do tradutor, em nota de pé de página:

“Este discurso é, com efeito, uma peça oratória admirável, e o


triunfo de Cícero, alcançado em condições tão adversas, é um dos
mais assombrosos exemplos do poder convincente e avassalador da
palavra falada” (Idem, ibidem).

(19) “Pela elegância de estilo, viveza de sentimentos e habilidade


nos elogios feitos ao Senhor do Mundo, é, no gênero, uma das obras
mais perfeitas que a antiguidade nos legou” (Arlindo Ribeiro Cunha,
op. cit., p. CXLVI).
46

5. “Errare malo cum Platone quam cum istis vera sentire”


(Tusc. Disp., I, 17, 39).
Prefiro errar com Platão a ter razão com esses.
6. “Historia vero testis temporum, lux veritatis, vita
memoriae, magistra vitae, nuntia vetustatis”(De Oratore, II,
9, 36).
A História é a testemunha dos tempos, a luz da verdade,
a vida da memória, a mestra da vida, a mensageira da
antiguidade.
7. “Summum jus, summa injuria” (De Off., I, 10, 33).
Justiça excessiva torna-se injustiça.
8. “Patria est communis omnium parens” (Cat. , I, 7).
A pátria é a mãe comum de todos nós.
9. “Praeterita mutare non possumus” (In Pisonem, XXV,
59).
Não podemos mudar o passado.
10. “Verae amicitiae sempiternae sunt” (De Amicitia, IX,
32).
As verdadeiras amizades são eternas.
11. “Imago animi vultus” (De Orat., III, 59).
O rosto é o espelho da alma.
12. “Nihil difficile amanti puto” (Orator, X, 39).
Penso que nada é difícil para quem ama.
47

13. “Cujusvis hominis est errare; nullius, nisi insipientis in


errore perseverare” (Phil., XII, 5).
É próprio do homem errar; mas só do ignorante
perseverar no erro.
14. “Cum tacent, clamant” (Cat. I, VIII).
O silêncio deles é uma eloquente afirmação.
15. “Habes somnum imaginem mortis” (Tusc. Disp., I,
38).
Tens no sono a imagem da morte.
16. “Accipere quam facere praestat injuriam” (Tusc. Disp.,
V, 19, 56).
É melhor sofrer que cometer injustiça.
17. “Nihil tam absurdum dici potest, quod non dicatur ab
aliquo philosophorum” (De Divinatione, I, 58).
Não há coisa, por mais absurda, que já não tenha sido
afirmada por algum filósofo.
18. “Nemo igitur vir magnus sine aliquo afflatu divino
unquam fuit” (De Natura Deorum, II, 167).
Nenhum grande homem ainda existiu, sem que nele
houvesse uma como centelha divina.
19. “Optimus est enim orator, qui dicendo animos
audientium et docet, et delectat, et permovet” (De Optimo
Genere Oratorum, I, 3).
É ótimo orador aquele que, falando, não só instrui,
como deleita e comove os ouvintes.
48

20. “Ut enim magistratibus leges, ita populo praesunt


magistratibus; vereque dici potest magistratum legem esse
loquentem, legem autem mutum magistratum” (De Legibus,
III, 2).
Como as leis guiam os magistrados, assim os
magistrados o povo. Poder-se-ia dizer em verdade que o
magistrado é a Lei falando, e a Lei o magistrado mudo.
21. “Consuetudo quasi altera natura” (De Finibus Bonorum
et Malorum, V, 25).
O hábito é quase uma segunda natureza.
22. “Amicitia magis elucet inter aequales” (De Amic.,
XXVII, 101).
A amizade mais reluz entre os iguais.
23. “Haec igitur lex in amicitia sanciatur, ut neque rogemus
res turpes nec faciamus rogati” (De Amic., XII, 40).
Seja esta a primeira lei da amizade: não pedir aos amigos
nem fazer-lhes senão coisas honestas.
24. “Nihil est enim quod studio et benevolentia vel amore
potius effici non possit” (Ad Familiares, III, 9).
Nada existe que se não possa fazer com dedicação,
bondade e amor.
25. “Notatio Naturae et animadversio peperit artem”
(Orator, LV, 183).
Da observação atenta da Natureza nasceu a arte.
49

26. “Si hortum in bibliotheca habes, deerit nihil” (Ad


Familiares, IX, 4).
Se tens um jardim ao lado da biblioteca, nada aí faltará.
27. “Mendaci ne verum quidem dicenti creditur” (De
Divinatione, II, 146).
O mentiroso não é acreditado ainda quando diz verdade.
28. “Quid est sanctius, quid omni religione munitius, quam
domus uniuscujusque civium?” (Pro Domo Sua, 109).
Que há de mais sagrado nem mais santo em toda a
religião que a casa do indivíduo?
29. “Nihil est aliud bene et beate vivere, nisi honeste et recte
vivere” (Paradoxa, XV).
Viver bem não é outra coisa que viver reta e honestamente.

30. “Judicium hoc omnium mortalium est, fortunam a Deo


petendam, a ipso sumendam esse sapientiam” (De Natura
Deorum, III, 36).
É opinião comum dos mortais que a fortuna provém de
Deus; a sabedoria, essa devemos procurar em nós mesmos.
31. “Perjuri poena divina exitium, humana dedecus” (De
Legibus, II, 22).
A pena divina reservada ao perjúrio é a destruição; os
homens castigam-no com a infâmia.
50

32. “Meminerimus etiam adversus infimos justitiam esse


servandam” (De Off., I, 13, 41).
Lembremo-nos de que também em relação às pessoas da
última esfera devemos praticar justiça.
33. “Nemo doctus unquam mutationem consilii inconstantiam
dixit esse” (Ad Atticum, XVI, 7).
Nenhum douto jamais averbou de inconstância o mudar
de parecer.
34. “Omnium rerum principia parva sunt” (De Finibus, V,
58).
Os princípios de todas as coisas são pequenos.
35. “Mens et animus et sententia civitatis posita sunt in
legibus” (Pro Cluentio, LIII, 146).
O espírito, a alma e a sabedoria de um povo estão nas
suas leis.
36. “Mihi omne tempus est ad meos libros vacuum, nunquam
sunt illi occupati” (De Republica, I, 9).
Para os meus livros tenho sempre tempo, e eles estão
sempre livres para mim.
37. “Honos praemium virtutis” (Brutus, LXXX).
O louvor é o galardão do mérito.
38. “Fundamentum est justitiae fides, id est, dictorum
conventorumque constantia et veritas” (De Off., I, 7).
O fundamento da justiça é a boa-fé, a saber, a firmeza e
sinceridade nas palavras e contratos.
51

39. “Aliud est male dicere, aliud accusare. Accusatio crimen


desiderat, rem ut definiat, hominem notet, argumento probet,
teste confirmet. Maledictio autem nihil habet propositi,
praeter contumeliam” (Pro Caelio, III, 6).
Uma coisa é acusar ou denunciar, outra dilacerar uma
reputação. A acusação requer a descrição do fato criminoso e
a indicação do autor, instruída a causa com argumentos e
testemunhas. A maledicência, ao revés, não arma a outro fim
que ofender a honra alheia.
40. “In plerisque rebus mediocritas optima est” (De Off., I,
36).
Em muitas coisas a mediania é ótima.
41. “Memoria est thesaurus omnium rerum et custos” (De
Orat., I, 18).
A memória é tesouro e custódia de todas as coisas.
42. “Homo praeclara quadam ratione generatus est a
supremo deo”(De Leg., I, 22).
O homem é gerado de um deus supremo por uma
recôndita razão.
43. “Nil honestum esse potest quod justitia vacat” (De Off., I,
19).
Nada pode ser honesto, que não se conforme com a
justiça.
44. “Cavendum est ne major poena quam culpa sit” (De Off.,
I, 24).
Cumpre atender a que a pena seja proporcional à culpa.
52

45. “Prudentia est locata in delectu bonorum et malorum”


(De Fin., V, 23, 67).
Consiste a prudência em discernir o bem do mal.
46. “Ratio docet et explanat quid faciendum fugiendumve
sit” (De Off., I, 28).
A razão ensina e explica o que se deve fazer e o que se
deve evitar.
47. “Breve enim tempus aetatis, satis longum est ad bene
honesteque vivendum” (De Senectute, XIX, 70).
Breve é a duração da vida, mas bastante longa para viver
bem e honestamente.
48. “Nihil est veritatis luce dulcius” (Academica, II, 31).
Nada é mais doce que a luz da verdade.
49. “In omni re vincit imitationem veritas” (De Orat., III, 57,
215).
Em todas as coisas, a verdade vence a imitação.
50. “Veritas vel mendacio corrumpitur, vel silentio” (De Off.,
I, 23).
A verdade corrompe-se com a mentira ou com o silêncio.
51. “Quis ignorat maximam illecebram esse peccandi
impunitatis spem?” (Pro Milone, 16, 43).
Quem ignora que a esperança da impunidade é o maior
incentivo do crime?
53

52. “Judicis est semper in causis verum sequi” (De Off., II,
10).
Nas causas, é dever do juiz procurar sempre a verdade.
53. “Nemo est tam senex qui se annum non putet posse
vivere” (De Senectute, VII).
Ninguém é tão velho que não acredite possa viver mais
um ano.
54. “Legum omnes servi sumus, ut liberi esse possimus” (Pro
Cluentio,146).
Somos todos escravos das leis, para que possamos ser
livres.
55. “Quis nescit, primam esse historiae legem, ne quid falsi
dicere audeat?” (De Orat., II, 15).
Quem ignora ser o dever da verdade a primeira lei da
história?
56. “Studia adulescentiam alunt, senectutem oblectant,
secundas res ornant, adversis perfugium ac solacium
praebent” (Pro Archia, VII).
Os estudos nutrem a juventude, recreiam a velhice,
adornam os momentos felizes e consolam nos adversos.
57. “Cibi condimentum est fames! (De Finibus, II, 28).
O melhor tempero da comida é a fome.
54

58. “In dissensione civili, cum boni plusquam multi valent,


expendendo cives, non numerando” (De Republica, VI, 1).
Nas divergências civis, quando os bons valem mais que a
maioria, deve-se pesar, não contar os cidadãos.
59. “Ut sementem feceris, ita metes” (De Orat., II, 65).
Conforme semeares, assim colherás.
60. “Turpitudo pejus est quam dolor” (Tusc. Disp., II, 13).
A desonra é pior que a dor.
61. “Senectus est natura loquacior” (De Senectute, XVI,
55).
São os velhos de seu natural mais loquazes.
62. “Sunt quidam homines non re, sed nomine” (De Off., I,
30).
Há certos homens que o são de nome apenas, que não de
fato.
63. “Quanto superiores simus, tanto nos geramus
submissius” (De Off., I, 26).
Quanto mais alta nossa condição, tanto mais
humildemente devemos proceder.
64. “Est adulescentis majores natu vereri” (De Off., I, 34).
É próprio de um jovem respeitar os mais velhos.
55

Bibliografia:

1) Arthur Rezende, Frases e Curiosidades Latinas,1955;


2) Renzo Tosi, Dicionário de Sentenças Latinas e Gregas,
2000; trad. Ivone Castilho Benedetti; Martins Fontes;
3) Ettore Barelli e Sergio Pennachietti, Dicionário das
Citações, 2001; trad. Karina Jannini; Martins Fontes;
4) Marco Túlio Cícero, Diálogos, 1911; trad. Duarte de
Resende; Livraria Garnier, Irmãos;
5) Napoleão Mendes de Almeida, Dicionário de Questões
Vernáculas, 1a. ed.; Editora Caminho Suave Ltda.;
6) Mílton Valente, A Ética Estoica em Cícero, 1984;
Editora da Universidade de Caxias do Sul;
7) José Lodeiro, Pequeno Dicionário de Frases Latinas,
1946;
8) Paulo Rónai, Não Perca o seu Latim, 1980; Editora
Nova Fronteira;
9) Cicero, Laelius (seu De Amicitia), 1987; trad. Nicola
Flocchini; Milano;
10) Cicéron, Lettres Familières, 1935; Garnier; Paris;
11) Cicerone, L’Oratore, 1968; Giannicola Barone;
Mondadori; Milano;
12) L. de Mauri, Flores Sententiarum, 1990; Hoepli;
Milano;
13) Cícero, Da Velhice e da Amizade, 1964; trad. Tassilo
Orpheu Spalding; Editora Cultrix; São Paulo.

14) Marco Tullio Cicerone, Le Tusculane, 2019.


56

VII. Outros “Cíceros”


Em todas as nações civilizadas houve oradores que,
por discursarem com suma elegância perante assembleias, à
maneira do gênio da tribuna romana, passaram à posteridade
com o cognome de “Cícero”.
1. Dom Jerônimo Osório (1506 -1580), bispo de Silves,
autor de numerosas obras em língua latina — “De Regis
Institutione et Disciplina” (Da Instituição Real e sua
Disciplina, 1944; trad. Antônio J. da Cruz Figueiredo;
Edições Pro Domo; Lisboa); “De Rebus Emmanuelis Gestis”
(Da Vida e Feitos de el-Rei D. Manuel, 1944, 2 tomos; trad.
Francisco Manuel do Nascimento (Filinto Elísio); Livraria
Civilização – Editora; Porto); “De Gloria” (Tratado da
Glória, 2005; trad. A. Guimarães Pinto; Imprensa Nacional –
Casa da Moeda; Portugal); “De Justitia” (Tratado da Justiça,
1999; trad. A. Guimarães Pinto; Imprensa Nacional – Casa da
Moeda; Portugal), etc. —, “é geralmente conhecido pelo
Cícero Lusitano” (Aubrey F. G. Bell, O Humanista Dom
Jerônimo Osório, 1933, p. 9; trad. Antônio Álvaro Dória;
Imprensa da Universidade; Coimbra).
2. Pe. Antônio Vieira (1608-1697) — “mestre Vieira, o
grande”, como lhe chamou Rui (Réplica, nº 332) — foi
cognominado “O Cícero Português”:

a)“Começou em segundo lugar o nosso Túlio Português o


seu discurso” (André de Barros, Vida do Apostólico Padre
Antônio Vieira, 1746, p. 400; Oficina Silviana; Lisboa);
57

b)“Seus compatriotas o cognominaram Cícero Lusitano;


e de fato merece esta honrosa distinção” (Biografia
Universal, vol. 48; apud Luís Gonzaga Cabral, Vieira
Pregador, 1936, p. 415; Livraria Cruz; Braga).
3. José Estêvão (1809 -1862), egrégio tribuno português:
a) “(…) por duas vezes mostrou que era no foro
rival de Cícero (…)” (Joaquim Simões Franco, Discursos
Parlamentares de José Estêvão Coelho de Magalhães, 1878,
p. X; Imprensa Comercial; Aveiro);

b) “Morreu o Deus da palavra, assim escreveu o nosso


primeiro jornalista, consagrando um artigo ao passamento
do grande tribuno português, do Cícero do nosso
parlamento, José Estêvão Coelho de Magalhães” (J.A. de
Ornelas; apud Camilo Castelo Branco, Correspondência
Epistolar, 1968, t. II, p. 168; Parceria A. M. Pereira Ltda.;
Lisboa).

4. Emílio Castelar (1832 -1899), grande orador espanhol:

“Seu mestre foi Cícero. E, como o tribuno romano,


procurava vestir as suas ideias com roupagens rutilantes”
(Hélio Sodré, História Universal da Eloquência, 3a. ed.,
vol. II, p. 388; Editora Forense; Rio de Janeiro).
5. Daniel Webster (1782 -1852), “o americano mais
eloquente”:
“Cícero seduziu-o. Leu seus discursos com delírio e
satisfação. Decorou muitos trechos de sua preferência, os
quais costumava repetir, em voz alta” (Hélio Sodré, op. cit.,
p. 414).
58

6. Belisário Roldan (1873 -1911), que exerceu na Argentina


o primado da eloquência:
“Todavia, forçoso é reconhecer que melhor lhe caberia o
título de Cícero argentino” (Idem, ibidem, p. 526).
7. Também ao nosso Rui (1849 -1923) foi dado o epíteto não
só de “Águia de Haia”, senão ainda (e com assaz de razão)
de “Cícero Brasileiro” (cf. Laudelino Freire, Rui, 1958,
pp. 24 e 99):
a) “Possuía como Cícero, como Vítor Hugo, em grau
insólito, o dom da amplificação e desenvolvimento das
ideias” (Antão de Morais, Rui Barbosa, 1923, p. 40);
b) “E Rui Barbosa amou os livros, amou-os como se deve
amar às coisas dignas de amor. Nisto era ainda igual a
Cícero, que os estimava entranhadamente, e tinha a sua
biblioteca como a alma da casa” (Homero Pires, Rui
Barbosa e os Livros, 1949, p. 18; Casa de Rui Barbosa).
c) “Sobre haver sido o mais sublime dos nossos oradores,
êmulo de Cícero e Demóstenes, Rui Barbosa foi o mais
correto, o mais rico e o mais harmonioso dos nossos
escritores. Seus escritos são exemplares genuínos de
linguagem intemerata e opulenta, igual, e às vezes superior à
dos mais celebrados padrões da vernaculidade” (José de Sá
Nunes, Língua Vernácula, 1939, 4a. série, p. 56).

d) “Rui Barbosa não foi o Cícero do Brasil?” (A.J. de


Figueiredo, Aspectos da Vida e do Estilo de Clóvis Beviláqua,
1960, p. 31; Livraria Freitas Bastos S.A.; Rio de Janeiro).
59

8. “Burke (1719-1797), considerado o Cícero inglês, dando


parecer contrário a um projeto de lei no parlamento, disse:
Previ, há um ano, que esta proposta seria apresentada. Vede.
Fui bom profeta! Um colega, que a defendia, replicou: O
colega Burke proclamou-se profeta. Mas a que profeta
se assemelha? Só posso compará-lo a Balaão, que foi
censurado até pelo próprio asno. Burke pediu a palavra
novamente e acrescentou: Aceito a comparação com Balaão.
A quem daremos a parte do asno? Verdadeiramente, não sei!
Chamo vossa atenção somente para o fato de que o único a
censurar-me, até aqui, foi o meu colega que acaba de
falar”… (José Duarte, in Revista Brasileira de Criminologia
e Direito Penal, 1954, ns. 1 e 2, p. 207).
60

VIII. Juízos, Notícias e Curiosidades acerca de Cícero


1. “Marco Túlio Cícero (Marcus Tullius Cicero), o maior
prosador latino e um dos mais notáveis vultos da literatura
universal, nasceu em Arpino, cidade da Itália, a 3 de janeiro
do ano 106 a.C.” (Maximiano Augusto Gonçalves, As
Catilinárias, 6a. ed., p. 7; Livraria H. Antunes Ltda., Editora;
Rio de Janeiro).
2. “Patérculo afirmou: o gênero humano desaparecerá da
terra antes de que a glória de Cícero desapareça de sua
memória” (V. César da Silveira, Dicionário de Direito
Romano, 1957, vol. I, p. 127
3. “(…) aquele grande orador Marco Túlio, cume da
oratória, ao qual entre todos os mortais foi reservada a
palma da humana eloquência” (Heitor Pinto, Imagem da
Vida Cristã, 1940, vol. I, pp. 31-32; Livraria Sá da Costa –
Editora; Lisboa).
4. “Cícero é o maior vulto da literatura latina” (Augusto
Magne, Antologia Latina, 3a. série, 1943, p. 151; Editora
Anchieta).
5. “Santo Agostinho (De Magistro, V, 16: Quid in lingua
latina excellentius Cicerone inveniri potest?” (Idem, ibidem,
p. 155).
Que é o que se pode encontrar na língua latina superior a
Cícero?
6. “Segundo Quintiliano, os contemporâneos de Cícero
diziam ser ele o rei da barra (regnare in iudiciis); a
posteridade, porém, afirma o mesmo gramático, não mais
considerou Cícero como nome de um homem, mas como o
61

símbolo da eloquência: apud posteros vero id consecutus, ut


Cicero iam non hominis nomen, sed eloquentiae habeatur
(Inst. X, 1, 112)” (Bernardo H. Harmsen, Cícero – Antologia,
1959, p. 10; Editora Vozes).
7. Cícero: “O mais alto entendimento que tem honrado a
nossa espécie” (Rui, Obras Completas, vol. XXXVIII, t. II,
p. 66).
8. Cícero: “O maior orador político de todos os tempos e
de todas as literaturas. De tal forma que Santo Agostinho
chegou a dizer que, se pudesse viajar de volta ao passado,
teria desejado acima de tudo presenciar duas coisas: Jesus
Cristo pregando às multidões e Cícero discursando no
Senado” (João Paixão Neto, Literatura Latina, 1995, p. 63;
Editora Teresa Martin).
9. “Magna erat Ciceronis facundia: lapides lamentari
coegisset. Grande era a eloquência de Cícero: teria feito
chorar as pedras” (E. Ragon, Primeiros Exercícios de Latim,
p. 156).
10. “Marco Túlio, que ilustrou a filosofia latina e meteu
o mundo em admiração com sua rica língua e alta
eloquência…” (Heitor Pinto, op. cit., vol. IV, p. 258).
11. “Dizem que S. Jerônimo, por causa de Cícero, levou uma
sova dos anjos” (Heitor Pinto, op. cit., vol. IV, p. 258; nota
de rodapé).
12. Visão que teve São Jerônimo: “Então o que presidia
disse-me: Estás a mentir. É ciceroniano que tu és, mas
não cristão” (in Tratado da Imitação, de Dionísio de
Halicarnasso, 1986, p. 26; Raul Miguel Rosado Fernandes
et alii; Centro de Estudos Clássicos das Universidades de
Lisboa).
62

13. Cícero: “Cicer, em latim, significa grão de bico”


(Plutarco, Vidas dos Homens Ilustres – Demóstenes e Cícero
–, 3a. ed., p. 43; trad. Sady-Garibaldi).
14. “Cícero quer dizer ervilha, e Marco Túlio tomou esse
nome porque um dos seus ascendentes apresentava na ponta
do nariz uma protuberância que lembrava um grão de
ervilha, e recebera esse apelido. Cícero chegou certa vez a
mandar gravar num vaso de prata o seu nome Marco Túlio a
que mandou se ajuntasse, gravado, um grão de bico ou
ervilha” (Alfredo Xavier Pedroza, Compêndio de História da
Literatura Latina, 1947, p. 58; Imprensa Oficial; Recife).
15. “Sabendo da sorte que o esperava, o Orador resolvera
dirigir-se ao Oriente, aos arraiais de Bruto, e chegou a
pôr-se a caminho. Depois de muitas hesitações, voltou,
porém, a uma das suas casas da Campânia e, quando ia de
liteira em direção ao mar, foi surpreendido por Popílio,
tribuno militar, e Herênio, que, por ordem de Antônio, lhe
cortou a cabeça com que pensara as Filípicas e as mãos com
que as escrevera.
Aquela cabeça singular foi colocada, entre as duas mãos,
no meio dos esporões da tribuna do Forum.
Contam que Fúlvia, esposa de Antônio, que se dizia
ofendida pelo defunto Orador, quisera exercer nela a sua
vingança de mulher. Tomou-a com ambas as próprias mãos,
pousou-a nos joelhos e extraiu-lhe a língua, que ia
espicaçando com o bico duma agulha” (Arlindo Ribeiro
da Cunha, “In Catilinam”, 1943, p. CLXI; Livraria Cruz;
Braga).
63

16. Refere Pantaleão de Aveiro que se achara na cidade de


Zante, ilha da Grécia, a sepultura de Marco Túlio Cícero, e
dentro dela “dois vasos de vidro muito maciço”: guardava
um “a cinza de seu corpo”; no outro “haviam estado as
lágrimas dos amigos”. Tinham estes frascos seus letreiros.
O das cinzas: “Urna cinerum”; o das lágrimas: “Urnula
lachrymarum amicorum” (cf. Itinerário da Terra Santa,
1927; pp. 19-20; Imprensa da Universidade).
17. “Petrarca não se consolava de haver perdido o De
Gloria, de Cícero, dádiva com que o brindara o jurisconsulto
Raimond Soranzo, e que ele emprestara ao seu velho mestre
Convennole, que, sempre sem recursos, o dera em penhor
a um desconhecido. Mais que Petrarca, foi o patrimônio
mental da humanidade atingido desse grave deslize, só em
virtude de um empréstimo fatal. E assim em nenhuma parte
nem no comércio dos livros no século, nem nas coleções dos
conventos, nem nas das idades modernas, se encontrou
jamais o extraviado livro de Cícero” (Homero Pires, Rui
Barbosa e os Livros, 1949, p. 99).
18. Em seu imortal Poema, Dante colocou Cícero no
primeiro Círculo (IV, 141): “entra com Virgílio no Limbo
(…); continuando, vão dar a um senhoril castelo, dentro do
qual estanceiam os sábios da antiguidade, que, embora
pagãos, tiveram vida virtuosa”.
“(…) e Túlio, por muito estimado por Dante, que do seu
livro De Amicitia serviu-se como de guia para introduzi-lo
nas partes mais íntimas da filosofia, inspirando-lhe todo o
amor por esta ciência (…). É Cícero por ele recomendado,
não só como insigne entre os filósofos, e oradores, mas como
virtuoso cidadão, por ter contra Catilina defendido a
64

liberdade romana (…)” (A Divina Comédia de Dante


Alighieri – O Inferno –, 1886, pp. 113 e 127; trad. Joaquim
Pinto de Campos; Imprensa Nacional; Lisboa).

19. “Mais estendeu Cícero a glória do Império Romano


com a sua pena, do que César com a sua espada”
(Bluteau, Vocabulário, 17l6, t. V, p. 165).
20. “(…) Marco Túlio foi afamado entre os seus
contemporâneos e reverenciado até os nossos dias pela sábia
disposição de seus discursos, pela graça inimitável da sua
locução, pela textura simétrica de seus períodos, pela sua
variada e profunda erudição, pela veemência de suas
explosões retóricas, e pelo fogo das suas paixões no foro e na
tribuna (…)” (José Maria Latino Coelho; Demóstenes, A
Oração da Coroa, 1877, p. III; Lisboa).
21. “M. T. Cicero: Omnium Romanorum eloquentissimus
fuit, & Latinae Eloquentiae Princeps” (Calepinus, Lexicon
Latinum, 1772, vol. I, p. 140). Foi Marco Túlio Cícero o mais
eloquente de todos os romanos e o Príncipe da Eloquência
Latina.
22. “Cicero optimus ex Romanis oratoribus fuit. Cícero
foi o melhor dos oradores romanos” (F. Kinchin Smith,
Aprenda Sozinho Latim, p. 113; trad. Milton Campana;
Livraria Pioneira Editora; São Paulo).
65

23. “O Sr. Rui Barbosa – Quer o Senador (A. Azeredo) que


eu ontem aqui me parecesse com Cícero acusando a Catilina.
Não me pega a ironia da comparação. Se é por me
magoarem que me submetem ao sarcasmo de tais contrastes,
podem acreditar que os recebo como donde vêm, que é como
devemos, neste mundo, receber o bem e o mal. No ambiente
de hoje em dia abundariam arremedilhos de Catilina. Mas
Cíceros, para se lhes contraporem, é o que tais ares não
criam. E, se Cícero atualmente ressurgisse, não seria para
esmagar a Catilina, mas ser por ele esmagado. Hoje não é
a tribuna que há de tomar contas ao vício. É o vício que
há de chamar a contas a tribuna” (Rui Barbosa, Obras
Completas, vol. XLI, t. III, p. 321).
24. “O famoso orador foi de elevada estatura, dotado de
um rosto formoso e expressivo, como nos atestam seus
contemporâneos e afirmam o magnífico busto, que se
conserva na Galeria dos Ofícios de Florença, e outros três
que se admiram no Museu Vaticano” (João Ravizza, Orações
Ciceronianas, 1930, p. XXIV; Niterói).
25. “Apesar de seus defeitos, era um homem honesto, que
amava muito o seu país, como o dizia o próprio Augusto,
num dia de franqueza e de remorso. Se por vezes foi hesitante
e fraco, acabou sempre por defender o que considerava a
causa da justiça e do direito; e, quando a justiça foi vencida
para sempre, prestou o último serviço que ela pode reclamar
de seus defensores: honrou-a pela sua morte” (Gaston
Boissier, Cícero e seus Amigos, 1946, p. 68; trad. Júlio Abreu
Filho; Editora Renascença S.A.; São Paulo).
66

26. “Por outro lado, César dedicava a Cícero o tratado da


Analogia e a propósito dizia-lhe em linguagem magnífica:
Descobriste todas as riquezas da eloquência e dela te
serviste primeiro. Por isto bem mereceste o nome de romano
e honraste a pátria. Obtiveste a mais bela de todas as glórias
e um triunfo maior do que os dos grandes generais, porque
mais vale estender os limites do espírito do que distender as
fronteiras do império. Para um escritor essa era a mais
delicada lisonja, porque vinha de um vitorioso como César”
(Idem, ibidem, p. 206).
27. “Marco Antônio podia, naturalmente, ser liberal, agora
que dois mil dos mais ricos homens da Itália haviam sido
vencidos e despojados. Pagou ao centurião nada menos que
um milhão de sestércios pelo saco ensanguentado que
continha a cabeça e as mãos do que fora Marco Túlio
Cícero. Nem com isso, porém se satisfez sua sede de
vingança. A cruel aversão do sangrento indivíduo pelo
homem que lhe fora superior na escala moral, fê-lo imaginar
uma horrível façanha — sem prever que a vergonha dela
decorrente se voltaria contra ele até o fim dos tempos.
Ordenou que as mãos e a cabeça da vítima fossem pregadas
no Rostrum do qual Cícero eloquentemente apelara para o
povo congregar-se contra Antônio, em defesa da liberdade
romana.
A plebe assistiu ao espetáculo no dia seguinte. Em meio
ao Forum, no Rostrum, via-se a cabeça do derradeiro
campeão da liberdade. Enorme prego enferrujado perfurava
a fronte que pensara milhares de grandes pensamentos;
pálidos e enrugados, cerrados, estavam os lábios que haviam
proferido mais docemente que quaisquer outros as sonoras
67

palavras da língua latina; fechadas as pálpebras para


esconder os olhos que, por sessenta anos, tinham velado pela
República; inertes jaziam as mãos que haviam escrito as
mais belas epístolas de sua era. Mas nenhuma das acusações
que o famoso orador pronunciara dessa tribuna contra a
brutalidade, contra a fúria do despotismo, contra a infração
da lei, podia denunciar tão convincentemente a eterna
afronta da força, como o fazia, agora, a silenciosa cabeça
degolada do homem assassinado. O terrífico espetáculo do
cruel martírio tinha, sobre as massas intimidadas, poder
mais eloquente do que os mais famosos discursos com que
outrora clamara, do profanado Forum. O que fora concebido
para ser vergonhosa humilhação, tornara-se a última
e maior vitória” (Stefan Zweig, Obras Completas, 1956,
t. XIII, pp. 143-144: O Momento Supremo; trad. Elias
Davidovich; Editora Delta S.A.; Rio de Janeiro).

28. Numa livraria, pergunta o cliente à vendedora:


— A senhora tem o livro As Catilinárias de Cícero?

E a vendedora (sem dissimular radiante ignorância):


— Infelizmente, não! Arte Culinária só temos a de Maria
Teresa!(20)

(20) Alusão ao famoso livro de Maria Thereza A. Costa, Noções de


Arte Culinária, 1964, 28a. ed.; Editora Vozes Ltda.; Petrópolis (RJ).
68

29. “Mitto tibi navem prora puppique carentem”. Envio-te


um navio sem proa nem popa.
Saudação que Cícero mandou a um amigo. Com efeito,
se de “navem” tirarmos a proa e a popa — o n e o m —,
ficará “ave”, isto é, “bom dia!” (cf. Arthur Rezende, op. cit.,
p. 416).

30. Na Capital do Estado de São Paulo tem Cícero seu


monumento, no Largo do Arouche. Executou-o Galimberti
Poletti, arquiteto e escultor. Guilherme de Almeida,
“Príncipe dos Poetas Brasileiros”, compôs-lhe a seguinte
inscrição:(21)

(21) Cf. O Monumento a Cícero, de Galimberti Poletti, 1961, p. 3;


“Graeca & Latina”; Editora Sociedade Brasileira de Expansão
Comercial Ltda.
69

A RENOVAR NO BRONZE PERENE A TUTELAR


E UNIVERSAL IMAGEM DE MARCO TÚLIO
CÍCERO, UM DIGNO ARTISTA — O CONDE
HUBERTO GALIMBERTI POLETTI DE ASSANDRI
— MODELOU ESTA IMAGEM DO SUPREMO
MODELADOR DA “LINGUA MATER”,
BUSCANDO EXPRIMIR-LHE DA MENSAGEM
O ALCANCE, DA ELOQUÊNCIA A ALTURA,
DO ESTILO A ELEGÂNCIA, DO HOMEM A
VERDADE E, JUNTO A ESTE MARCO
ESPIRITUAL DA LATINIDADE, A
UNIÃO NACIONAL DE CULTURA
GRECO-LATINA,
QUE O ERIGIU,
FAZ POR UM INSTANTE — “CEDANT TEMPORA
TOGAE” — PARAR A “CIDADE QUE NÃO PARA”.
“MACTE”.

SÃO PAULO, XQI – VII – MCMLX

Guilherme de Almeida(*)

____________
(*) A placa de bronze, em que estava gravado o elogio histórico de
Cícero, mãos criminosas furtaram para sempre! É bem o caso, pois, de
exclamar com o excelso Orador: “O tempora! o mores!”.
71

Busto de Cícero
(Museo Capitolino, Roma)
Fig. 1
72

Cícero denuncia Catilina


Mural de Cesare Maccari (1840-1919);
Palazzo Madama (Senado Italiano), Roma
Fig. 2
73

Frontispício da edição de 1543 das Orações de


Cícero e do celebérrimo Exórdio da 1a. Catilinária
(cópia de exemplar do acervo da Biblioteca Mário
de Andrade; São Paulo, Brasil).
Fig. 3
74

Estátua de Cícero
(Largo do Arouche; São Paulo, Brasil;
Escultor: Galimberti Poletti)
Fig. 4
75

Torre di Cicerone
Padrão histórico levantado em Arpino (Itália) para
indicar o sítio do nascimento, em 3 de janeiro de
106 a.C., do Príncipe da Eloquência Romana.
76
77

Homenagem da cidade de Arpino (Itália) ao mais


ilustre de seus filhos: Marco Túlio Cícero, que
ensinou ao mundo a sublime arte da palavra.
78
79

(Tradução)

Marco Túlio Cícero

Ele foi o que, único, sobrelevou a todos. Com os primores


de sua arte de dizer enriqueceu a língua dos romanos e
ilustrou, com suma edificação, as nações sujeitas à mãe
comum.
Defendeu a liberdade oprimida pelas lutas civis.
Glória da sabedoria antiga e arauto da cultura universal,
acabou imolado pelas discórdias políticas.
No segundo milênio de sua morte, rende-lhe este preito de
homenagem a Sociedade de Estudos Ciceronianos.

Arpino, 7 de dezembro de 1957


80
81

(Tradução)

Esta é a pátria minha e de meu irmão. De estirpe


antiquíssima, aqui em verdade nascemos; estão aqui as
relíquias de família, aqui a origem e os numerosos vestígios de
nossos antepassados.
(Das Leis, II, 3)

No XV Certame Ciceroniano, a cidade de Arpino e o


Liceu Tuliano prestam tributo a Marco Túlio Cícero, no ano
2100 de seu nascimento.

Arpino, 29 de maio de 1995


82
83
84

Magnífica estátua de Cícero


(Junto ao pórtico do Supremo Tribunal de
Justiça da Itália; Corte di Cassazione; Roma).
85

(Corte di Cassazione; Roma)


86

Domus Ciceronis
Na colina do Palatino, sobranceira ao Forum Romanum,
situava-se a majestosa casa de Cícero, mandada arrasar,
ao tempo de seu exílio (58 a.C.), pelo tribuno Clódio,
que lhe votava ódio implacável.
87

Rostrum
(Rostro ou tribuna dos oradores no Forum
Romanum). Aqui, onde tantas vezes discursara com
desconhecida eloquência, foi exposta a cabeça de
Cícero, cuja morte, em 7 de dezembro de 43 a.C., o
tribuno Marco Antônio havia decretado.
88

Tribuna dos Rostros (Rostra) no Forum Romanum


Na época imperial e hoje (ao lado).
(Fotos de Roma Reconstruída, pp. 40-43;
Gruppo Lozzi Editori; Roma).
89
90

No Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,


uma herma perpetua a glória do Cícero Brasileiro:
Rui Barbosa (1849 – 1923). No pedestal lê-se
a famosa divisa: Estremeceu a pátria,
viveu no trabalho e não perdeu o ideal.
91
92

(Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo)


Trabalhos Jurídicos e Literários de
Carlos Biasotti

1. A Sustentação Oral nos Tribunais: Teoria e Prática;


2. Adauto Suannes: Brasão da Magistratura Paulista;
3. Advocacia: Grandezas e Misérias;
4. Antecedentes Criminais (Doutrina e Jurisprudência);
5. Apartes e Respostas Originais;
6. Apelação em Liberdade (Doutrina e Jurisprudência);
7. Apropriação Indébita (Doutrina e Jurisprudência);
8. Arma de Fogo (Doutrina e Jurisprudência);
9. Cartas do Juiz Eliézer Rosa (1a. Parte);
10. Citação do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
11. Crime Continuado (Doutrina e Jurisprudência);
12. Crimes contra a Honra (Doutrina e Jurisprudência);
13. Crimes de Trânsito (Doutrina e Jurisprudência);
14. Da Confissão do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
15. Da Presunção de Inocência (Doutrina e Jurisprudência);
16. Da Prisão (Doutrina e Jurisprudência);
17. Da Prova (Doutrina e Jurisprudência);
18. Da Vírgula (Doutrina, Casos Notáveis, Curiosidades, etc.);
19. Denúncia (Doutrina e Jurisprudência);
20. Direito Ambiental (Doutrina e Jurisprudência);
21. Direito de Autor (Doutrina e Jurisprudência);
22. Direito de Defesa (Doutrina e Jurisprudência);
23. Do Roubo (Doutrina e Jurisprudência);
24. Estelionato (Doutrina e Jurisprudência);
25. Furto (Doutrina e Jurisprudência);
26. “Habeas Corpus” (Doutrina e Jurisprudência);
27. Legítima Defesa (Doutrina e Jurisprudência);
28. Liberdade Provisória (Doutrina e Jurisprudência);
29. Mandado de Segurança (Doutrina e Jurisprudência);
30. O Cão na Literatura;
31. O Crime da Pedra (Defesa Criminal em Verso);
32. O Crime de Extorsão e a Tentativa (Doutrina e Jurisprudência);
33. O Erro. O Erro Judiciário. O Erro na Literatura (Lapsos e Enganos);
34. O Silêncio do Réu. Interpretação (Doutrina e Jurisprudência);
35. Os 80 Anos do Príncipe dos Poetas Brasileiros;
36. Princípio da Insignificância (Doutrina e Jurisprudência);
37. “Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?”;
38. Tópicos de Gramática (Verbos abundantes no particípio; pronúncias e
construções viciosas; fraseologia latina, etc.);
39. Tóxicos (Doutrina e Jurisprudência);
40. Tribunal do Júri (Doutrina e Jurisprudência);
41. Absolvição do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
42. Tributo aos Advogados Criminalistas (Coletânea de Escritos
Jurídicos); Millennium Editora Ltda.;
43. Advocacia Criminal (Teoria e Prática); Millennium Editora Ltda.;
44. Cartas do Juiz Eliézer Rosa (2a. Parte);
45. Contravenções Penais (Doutrina e Jurisprudência);
46. Crimes contra os Costumes (Doutrina e Jurisprudência);
47. Revisão Criminal (Doutrina e Jurisprudência);
48. Nélson Hungria (Súmula da Vida e da Obra);
49. Ação Penal (Doutrina e Jurisprudência);
50. Crimes de Falsidade (Doutrina e Jurisprudência);
51. Álibi (Doutrina e Jurisprudência);
52. Da Sentença (Doutrina e Jurisprudência);
53. Fraseologia Latina;
54. Da Pena (Doutrina e Jurisprudência);
55. Ilícito Civil e Ilícito Penal (Doutrina e Jurisprudência);
56. Regime Prisional (Doutrina e Jurisprudência);
57. Alimentos (Doutrina e Jurisprudência);
58. Estado de Necessidade (Doutrina e Jurisprudência);
59. Receptação (Doutrina e Jurisprudência);
60. Inquérito Policial. Indiciamento (Doutrina e Jurisprudência);
61. A Palavra da Vítima e seu Valor em Juízo;
62. A Linguagem do Advogado;
63. Memorando aos Colegas da Advocacia e da Magistratura;
64. Código de Defesa do Consumidor (Casos Especiais em Matéria
Criminal);
65. Crime de Dano (Doutrina e Jurisprudência).;
66. Nulidade Processual (Doutrina e Jurisprudência);
67. Da Coação no Direito Penal (Doutrina e Jurisprudência);
68. Violação de Domicílio (Doutrina e Jurisprudência);
69. Indenização (Doutrina e Jurisprudência);
70. Desistência Voluntária (Doutrina e Jurisprudência);
71. A Embriaguez e o Direito Penal (Doutrina e Jurisprudência);
72. Embargos de Declaração (Doutrina e Jurisprudência);
73. A Estrada Real do Direito.
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www.scribd.com/Biasotti
Fraseologia Latina Carlos Biasotti

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