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Resumo do caso Lucy R.

Esta é uma breve exposição do caso Lucy R. presente nos Estudos


sobre Histeria. Esse texto não pretende aprofundar e desenvolver em extensão
o caso, o objetivo é de que seja apresentados os mecanismos do sintoma
histérico e sua relação como a historicidade do sujeito.1

No final de 1892, um colega amigo me encaminhou uma jovem dama de


quem tratava em virtude de uma rinite supurativa cronicamente recorrente.
Como se verificou mais tarde, a causa da tenacidade de seus transtornos era
uma cárie do etmoide. Ultimamente, a paciente o procurara em decorrência de
novos sintomas que o experiente médico não mais pôde imputar a uma
afecção local. Havia perdido por completo a percepção do olfato e era
perseguida quase continuamente por uma ou duas sensações olfativas
subjetivas que muito a afligiam. Além disso, sentia-se deprimida, cansada,
queixava-se de cabeça pesada e de apetite e vigor diminuídos.

A jovem dama, que vivia como preceptora na casa de um diretor de


fábrica nos arredores de Viena, visitava-me em meus horários de consulta, de
tempos em tempos. (...) Sofria de abatimento do ânimo e fadiga, era
atormentada por sensações olfativas subjetivas e apresentava, como sintoma
histérico, uma analgesia geral bastante nítida, com sensibilidade tátil intacta;
num exame grosseiro (com a mão), os campos de visão não revelavam
nenhuma redução. O interior do nariz mostrava-se completamente analgésico e
sem reflexo. Contatos eram sentidos, mas a percepção desse órgão sensorial
encontrava-se suspensa tanto para estímulos específicos como para outros
(amoníaco, ácido acético). O catarro nasal purulento estava justamente num
período de melhora.

(...) À minha pergunta sobre que tipo de odor a perseguia com mais
frequência, recebi a resposta: “Como o de torta queimada”. Assim, precisei
apenas supor que o odor de torta queimada realmente ocorrera no episódio de
efeito traumático. É mesmo bastante incomum que sensações olfativas sejam
escolhidas como símbolos da lembrança de traumas, mas parecia evidente o

1
Entre aspas os trechos do caso na edição da Cia. Das Letras, em itálico meus comentários e em negritos
as partes importantes para o caso.
motivo dessa escolha. A doente padecia de uma rinite supurativa e por isso o
nariz e suas percepções estavam no primeiro plano de sua atenção. Sobre as
circunstâncias de vida da doente eu sabia apenas que na casa onde cuidava
de duas crianças, faltava a mãe, morta havia alguns anos em decorrência de
aguda e grave doença.

(...) Decidi partir do pressuposto de que minha paciente também sabia


tudo que de algum modo tivesse significado patogênico e que se tratava
apenas de forçá-la a comunicá-lo. Assim, quando havia chegado a um ponto
em que, à pergunta “Desde quando você tem esse sintoma?” ou “De onde
ele provém?”, recebia a resposta “Isso realmente não sei”, procedia da
seguinte maneira: colocava a mão sobre a testa da doente ou tomava sua
cabeça entre minhas mãos e dizia: “Agora, sob a pressão de minha mão, isso
lhe ocorrerá. No instante em que eu cessar a pressão, verá algo diante de si ou
algo lhe passará pela cabeça como ideia súbita. Agarre isso. É o que
procuramos. — Então, o que você viu ou o que lhe ocorreu?”.

Nas tentativas de hipnose, portanto, ela não entrava em


sonambulismo; apenas ficava deitada, tranquila, em algum grau de influência
mais leve, os olhos continuamente fechados, a fisionomia algo rígida, sem
mover um membro. Perguntei-lhe se se lembrava em que ocasião havia
surgido a sensação do cheiro de torta queimada. “Oh, sim, isso sei com
precisão. Foi há cerca de dois meses, dois dias antes do meu aniversário.
Estava com as crianças no quarto de estudos e brincava com elas (duas
meninas) de cozinhar, quando trouxeram uma carta que o carteiro acabara de
entregar. Reconheci pelo selo postal e pela caligrafia que a carta era de minha
mãe, de Glasgow, e quis abri-la e lê-la. As crianças então se atiraram sobre
mim, arrancaram-me a carta das mãos e gritaram: Não, você não pode lê-la
agora; com certeza, é pelo seu aniversário, vamos guardá-la para você.
Enquanto as crianças brincavam assim à minha volta, espalhou-se de repente
um odor intenso. As meninas haviam deixado a torta cozinhando e ela
queimara. Desde então esse odor me persegue, na verdade está sempre
comigo e se torna mais forte quando me inquieto.”

(...) é importante demarcar uma diferença entre os dois: se, com Lucy,
Freud não consegue fazer uso da hipnose, com Elisabeth a utilização desse
recurso ocorre com frequência. Isso faz com que, no Caso Lucy, malgrado a
curta duração, seja possível testemunhar o empenho mais acentuado de Freud
em desenvolver estratégias alternativas à hipnose. (RABÊLO, 2017)

Saltemos agora para trechos das entrevistas com Freud,

“Você vê essa cena nitidamente diante de si?” — “Palpável, como a vivi.”


— “O que pôde perturbá-la tanto nesse episódio?” — “Comoveu-me o fato de
que as crianças fossem tão carinhosas comigo.” — “Não o eram sempre?” —
“Sim, mas justamente quando eu recebia a carta de minha mãe.” — “Não
compreendo em que medida a ternura das pequenas e a carta de sua mãe
produziriam um contraste, ao qual você parece aludir.” — “É que tinha a
intenção de viajar para a casa de minha mãe e afligia-me tanto o coração
abandonar essas crianças queridas.” — “O que há com sua mãe? Porventura
vive só e mandou chamá-la para junto de si? Ou na época estava doente e
você esperava notícias dela?” — “Não, está adoentada mas não exatamente
doente e tem consigo uma acompanhante.” — “Então por que precisava deixar
as crianças?”

“A situação na casa estava insustentável. A governanta, a cozinheira e a


francesa parecem ter julgado que eu me ensoberbecia em meu cargo, uniram-
se numa pequena intriga contra mim, contaram ao avô (das crianças) toda
sorte de coisas a meu respeito e não encontrei nos dois senhores o apoio que
esperava quando me queixei a eles. Diante disso, apresentei minha demissão
ao senhor diretor (o pai das crianças); ele me respondeu, muito amavelmente,
que eu deveria refletir ainda por duas semanas, antes de comunicar-lhe minha
decisão definitiva. Eu estava então nesse período de suspensão; acreditava
que iria deixar a casa. E afinal fiquei.”

“E além da ternura que lhe tinham, algo particular ligava-a às crianças?”


— “Sim, em seu leito de morte, havia prometido à sua mãe — uma parente
distante da minha — que me dedicaria a cuidar das pequenas com todas as
minhas forças, que não as abandonaria e que substituiria a mãe junto a
elas.
Havia quebrado essa promessa ao apresentar minha demissão.” Assim, pois,
parecia concluída a análise da sensação olfativa subjetiva; de fato, ela fora um
dia objetiva e, para ser exato, intimamente associada a uma vivência, uma
pequena cena em que afetos contraditórios haviam se confrontado: o
pesar de abandonar as crianças e as ofensas que a impeliam a essa
decisão.

Tudo parecia bastante plausível, mas algo me faltava, um motivo


aceitável para que essa série de excitações e esse conflito dos afetos tivessem
que conduzir precisamente à histeria. Por que tudo isso não permaneceu no
terreno da vida psíquica normal?

Freud insistia em não estar satisfeito com a explicação obtida até agora,
achava insuficiente para uma jovem que recém havia “adquirido a histeria”.

“Assim, do fato de Miss Lucy R. ter sucumbido naquele momento à


conversão histérica tirei a conclusão de que, entre os pressupostos daquele
trauma, devia haver um que ela deliberadamente deixava obscuro, que se
empenhava em esquecer. (...) Disse-lhe: “Não acredito que essas sejam todas
as razões para seu sentimento em relação às duas crianças; antes presumo
que esteja apaixonada por seu patrão, o diretor, talvez sem se dar conta disso
você mesma, e que alimente em si a esperança de ocupar efetivamente o lugar
da mãe. A isso acrescenta-se ainda o fato de ter-se tornado tão suscetível em
relação aos empregados, com os quais convivera pacificamente durante anos.
Você teme que eles percebam algo de sua esperança e zombem de você por
isso”. Respondeu-me, no seu estilo lacônico: — “Sim, creio que é isso.” —
“Mas se você sabia que ama o diretor, por que não me disse?” — “Não o
sabia de fato, ou melhor, não queria sabê-lo, queria tirar isso da minha
cabeça, nunca mais pensar a respeito; creio, aliás, tê-lo conseguido nesses
últimos tempos.”

E então Lucy: “Por que você não queria confessar essa inclinação? Você
se envergonhava de amar um homem?” — “Oh não, não sou tolamente pudica;
por sentimentos não somos de modo algum responsáveis. Isso me era
penoso apenas por ser ele o patrão a quem sirvo, em cuja casa vivo, em
relação ao qual não sinto em mim, como em relação a um outro, uma
independência total. E porque sou uma garota pobre e ele um homem rico de
família distinta; decerto as pessoas ririam de mim, se suspeitassem de alguma
coisa.”

Freud também conta que Lucy disse que numa certa conversa com seu
patrão Lucy começou a criar certas esperanças, devido aos elogios que
recebera, contudo, não havendo muito desenvolvimento, Lucy decidiu parar de
pensar nisso. A partir disso Freud pensou haver a dissolução dos sintomas de
Lucy, contudo, isso não ocorreu. O odor de torta não havia sumido por
completo, aparecendo mais em situações de inquietude.

“A persistência desse símbolo mnêmico me fez supor que, além da cena


principal, ele passara a representar os traumas secundários muitos pequenos.
Assim, investigamos tudo o mais que pudesse estar relacionado à cena da
torta queimada, repassamos o tema dos atritos domésticos e do
comportamento do avô, entre outros.”

Houve uma certa interrupção no tratamento e quando Lucy retornou,


disse a Freud que o cheiro de torta queimada havia sumido, contudo, um novo
cheiro insistia, o de charuto.

“Eu não estava muito satisfeito com o resultado da minha terapia.


Sucedera, pois, o que sempre se imputa a uma terapia meramente sintomática:
um sintoma fora removido apenas para que um novo pudesse tomar o
lugar desocupado. Entretanto, iniciei prontamente a eliminação analítica
desse novo símbolo mnêmico.”

Contudo, agora Lucy não sabia especificar de onde viria o cheiro de


charuto, já que este era comum diariamente. Freud utiliza novamente o artifício
da pressão para fazê-la recordar. Vem a sua mente uma imagem fragmentária,
aparentemente comum, da qual Freud insiste para que ela persista narrando.

— “Nada acontece. Nós nos levantamos da mesa, as crianças devem se


despedir e em seguida, como todos os dias, sobem conosco ao segundo
andar.” — “Então?” — “De fato, é mesmo uma ocasião especial, agora
reconheço a cena. Quando as crianças se despedem, o contador-chefe quer
beijá-las. O patrão se exaspera e grita-lhe abertamente: ‘Não beije as
crianças!’. Isso me dá uma pontada no coração e, como os senhores já
fumavam, fica-me na memória a fumaça dos charutos.”

Freud pensa, “Mas de onde provém a eficácia dessa cena? —


Perguntei-lhe: “O que é anterior no tempo? Esta cena ou a da torta
queimada?”. — “A última cena é a mais antiga; e, para ser precisa, em quase
dois meses.” — “Por que então sentiu uma pontada no coração no momento da
rejeição do pai? A reprimenda, de qualquer forma, não se dirigia a você.” —
“Não foi certo tratar assim asperamente um velho senhor, que é um amigo
querido e, além do mais, um convidado. Pode-se dizer aquilo com
tranquilidade.” — “Então foi apenas a expressão violenta de seu patrão que a
feriu? Talvez tenha se envergonhado por ele ou pensado: se por uma tal
insignificância pode ser tão violento com um velho amigo e convidado, como
não seria comigo, se eu fosse sua mulher?” — “Não, não é isso.” — “Mas, de
qualquer forma, foi por causa da violência?” — “Sim, por causa do beijo nas
crianças, ele jamais gostou disso.” — E nesse momento, sob a pressão de
minha mão, volta a emergir a lembrança de uma cena ainda mais antiga, que
era o trauma na verdade atuante e que também havia emprestado eficácia
traumática à cena com o contador-chefe.”

Ressalta-se que alguns meses antes uma amiga da família fora visita-los
e ao despedir-se das crianças beijou-as na boca, fato que o pai não aprovava,
e responsabilizou Lucy, que ficou acoada e desesperançosa de ter outra
conversa calorosa com seu patrão

Diz Lucy, “Se por um assunto tão pequeno em que, além do mais, sou
completamente inocente, ele pode exasperar-se comigo desse modo e fazer-
me tais ameaças, então me enganei, ele nunca teve por mim um sentimento
mais cálido; este lhe teria ensinado a mostrar consideração” e Freud conclui
“Foi evidentemente a lembrança dessa cena penosa que lhe veio, quando o
contador-chefe quis beijar as crianças e o pai o repreendeu.”

Dois dias depois Lucy foi visitar Freud novamente e segundo ele, estava
transfigurada, pois estava de cabeça erguida e alegre e a mesma responde ao
espanto dele que esse seria seu estado normal. Ela reconheceu seu amor pelo
patrão mas adotando uma nova postura isso já não a afetava de forma
sintomática. “Todo o tratamento se estendera-se por nove semanas. Quatro
meses mais tarde, encontrei casualmente a paciente numa de nossas
estâncias de verão. Ela estava alegre e confirmou a persistência de seu bem-
estar.”

Referências Bibliográficas

FREUD, Sigmund. FREUD (1893-1895) ESTUDOS SOBRE A


HISTERIA Obras completas volume 2. [S. l.]: Companhia das Letras, 2016.

RABELO, Fabiano Chagas. Os primórdios do tratamento de ensaio no


Caso Elisabeth.Tempo psicanal., Rio de Janeiro , v. 49, n. 1, p. 158-
179, jun. 2017 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
48382017000100009&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 31 maio 2019.

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