Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
João Pessoa – PB
Outubro de 2018
PEDRO CARDOSO SARAIVA MARQUES
João Pessoa – PB
Outubro de 2018
Catalogação na publicação Seção de
Catalogação e Classificação
UFPB/CCHLA
PEDRO CARDOSO SARAIVA MARQUES
Aprovada em: / /
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________
Prof. Dr. Ítalo Fittipaldi – (UFPB)
Orientador
___________________________________________________
Prof. Dr. Saulo Felipe Costa – (UEPB)
Examinador
___________________________________________________
Prof. Dr. Marcelo Burgos Pimentel dos Santos – (UFPB)
Examinador
Dedico este trabalho à minha educadora do jardim I Maria
Auxiliadora Alves Dias (Cilinha), à minha alfabetizadora Iris
Ribeiro de Souza e à minha professora de português Catarina
Tavares Vieira Jamacaru. Foi um grande privilégio tê-las como
minhas mestras.
AGRADECIMENTOS
“Escute, Robin... Mesmo que você esteja sozinha agora, alguma dia,
com certeza, você irá encontrar companheiros. O oceano é vasto,
algum dia, com certeza, seus companheiros irão aparecer para
protegê-la.” – Fala do personagem Jaguar D. Saul no capítulo 397 de
One Piece.
ABREVIAÇÕES E SIGLAS
AIC – Critério de Informação Akaike
BIC – Critério de Informação Bayesiano
BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento
BIS – Banco de Compensações Internacionais
BR – Brasil
CO – Colômbia
COPOM – Comitê de Política Monetária
Fed – Federal Reserve System
FMI – Fundo Monetário Internacional
HQC – Critério de Informação Hanan-Quinn
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
IN – Índia
NP – Nepal
p-valor – Valor de probabilidade
SELIC – Sistema Especial de Liquidação e Custódia
VAR – Vetores Autorregressivos
ZA – África do Sul
SÍMBOLOS
π – Taxa de inflação
πe – Taxa de inflação esperada
i – Taxa básica de juros
M – Estoque de moeda
P – Nível geral de preços
r – Taxa de juros real
T – Volume de transações comerciais
t – Período correspondente à observação da série temporal na equação da regressão
t-x – Esse período mas com x defasagens
V – Velocidade de circulação de certa quantidade de moeda na sociedade
α, β – Coeficientes a serem estimados para cada variável defasada
γ – Constante
ε – Fator aleatório
RESUMO
The purpose of this work is to empirically evaluate the impact of Brazillian Central Bank’s
policy for the period of 1999 to 2017. From the hypothesis that an increase of basic interest
rates by the Central Bank negatively impacts the inflation rate, a statistical method called
Vector Autorregression (VAR) was employed in order to estimate the relation between those
two variables; thus, assessing its efficacy. In addition, this monograph inspires a debate
towards monetary policy under policy-making theories and takes back historical discussions
about the development of inflation control policies.
Key words: public policy, central bank policy, impact evaluation, vector autorregression.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 15
INTRODUÇÃO
1
Baseando-se no repertório conceitual da Ciência Política, este trabalho define como política pública toda e
qualquer ação realizada pelo Estado (com base em MARQUES, 2013, p. 24). Como a taxa básica de juros é
definida por um comitê do Banco Central, logo, compreende-se que sua gestão é uma ação do Estado.
2
Pode-se definir inflação como “uma elevação persistente do nível geral de preços [de todos os bens e serviços]
ao longo do tempo”, sendo que sua taxa “mede o ritmo desse crescimento” (VICECONTI & NEVES, 2000, p.
339).
3
SELIC é a abreviação de “Sistema Especial de Liquidação e de Custódia”, que, por sua vez, refere-se à taxa
básica de juros brasileira. Trata-se dos juros estabelecidos discricionariamente pelo Banco Central do Brasil e
que incidem sobre títulos da dívida pública.
16
dinamitar seu poder de compra (VICECONTI & NEVES, 2000). Ora, a elevação duradoura
do nível de preços faz com que se tenha menos acesso aos mesmos bens e serviços do que se
tinha outrora mediante os mesmos recursos financeiros. Por esta razão, é importante que a
política pública de juros tenha seu impacto avaliado também em função da relevância com
que a inflação se apresenta.
Deriva-se dessa discussão o seguinte problema de pesquisa: a política pública de juros,
praticada pelo Banco Central do Brasil, exerce impacto sobre a taxa de inflação? Já a hipótese
norteadora do estudo (H1) se revela em seguida: “a taxa básica de juros, praticada pelo Banco
Central do Brasil, tem impacto negativo sobre a taxa de inflação no Brasil para o recorte
1999-2017”. O objetivo específico recai naturalmente sobre o teste dessa hipótese, ou seja, a
finalidade específica é estimar a conexão entre as duas variáveis mencionadas.
Sua estimação se deu através de uma abordagem quantitativa: mediante a técnica de
Vetores Autorregressivos (VAR). Esta ferramenta é classificada como um método de análise
de regressão – tendo como prerrogativa genérica, mensurar a relação entre duas variáveis
quantitativas (GUJARATI & PORTER, 2011). Além disso, o VAR tem a especificidade de
analisar dados de séries temporais4 e, a partir disso, aferir o grau de sensibilidade entre as
variáveis simultaneamente (ibid.). Deste modo, pode-se examinar como o nível geral de
preços responde a uma variação da SELIC (e vice-versa)5. Tendo o regime de metas de
inflação sido adotado em 1999, construíram-se amostras de dados que tomassem este ano
como ponto de partida. Ou seja, o período coberto é 1999-2017. Finalmente, a
macroeconomia é o eixo teórico utilizado para justificar a relação entre as variáveis
incorporadas ao modelo, pois todo método de regressão pressupõe uma relação lógica entre os
fenômenos relacionados (ibid.).
Paralelo ao objetivo supracitado, este escrito também argumenta que o estudo da
política pública de juros é compatível ao campo da Ciência Política. Tal coerência disciplinar
não se encerra sumariamente no campo de avaliação de ações do governo, mas, sobretudo,
possibilita uma leitura crítica do objeto de pesquisa. Sob esta lente, busca-se ir além de uma
perspectiva tecnocrática, ressaltando as prioridades do Estado na gestão dos recursos públicos,
analisando os discursos elaborados para conferir plausibilidade às intervenções do governo e
enfatizando que parcelas da sociedade realmente se beneficiam do regime da SELIC.
4
Denomina-se “série temporal” o conjunto de valores que uma dada variável expressou, periodicamente, dentro
de um determinado recorte histórico. A título de informação, o termo técnico para cada um destes valores é
“observação” (ver, por exemplo, MORETTIN & TOLOI, 2006).
5
Maiores detalhes a respeito do método serão apresentados no capítulo 5.
17
1. CONCEITOS ESSENCIAIS
Este primeiro bloco (formado por três subtópicos) tem como prerrogativa abordar o
processo de atribuição de valor a uma intervenção governamental e também alguns aspectos
importantes sobre política pública de juros, os quais auxiliarão a leitura das próximas seções
do texto. Na primeira subseção, contextualiza-se brevemente o procedimento avaliativo de
ações do governo à luz do chamado ciclo de políticas públicas. Subsequentemente, descrever-
se-á como a política pública de juros opera na prática e, subsequentemente, algumas
considerações críticas serão feitas a seu respeito.
A incorporação do tema das políticas públicas à Ciência Política remonta, ainda que
muito incipientemente, às décadas de 1930 e 1940 (MARQUES, 2013). À época, o campo de
estudos da ação governamental ainda devia muito à administração pública (ibid), o que
explica uma preocupação mais marcadamente técnica no campo. A contribuição da Ciência
Política para o estudo de intervenções do Estado, por sua vez, ofereceu uma perspectiva
diferencial ao localizar essas intervenções em um processo social e político mais amplo
constituído por símbolos, interesses, atritos, limites cognitivos etc. Por esta mesma razão,
Marques (2013) aponta que o amadurecimento do tema no seio da Ciência Política
caracterizou-se por uma “politização” contínua do objeto de estudo em detrimento de uma
lente exclusivamente técnica.
O arsenal metodológico desta monografia, particularmente, não é capaz de estudar os
aspectos propriamente políticos da política pública de juros, não acompanhando a rigor essa
politização da área. Por outro lado, o objeto de estudo não está sendo compreendido
meramente como uma realidade que paira a sociedade de forma totalmente externa sem raízes
na dinâmica social. Pode-se dizer que a lente analítica com a qual se enxerga a política
pública de juros, aqui, encontra-se calibrada pela Ciência Política, mas isso não deixa de ser
apenas um acréscimo ao propósito central do trabalho, que é realizar uma avaliação do
impacto da política pública de juros. Para efeitos didáticos, este propósito pode ser, ainda,
enquadrado em uma dinâmica mais ampla e fundamental a qual é associada a toda ação do
governo – o chamado ciclo de políticas públicas.
19
6
Refere-se à agenda institucional. Mais precisamente, ao conjunto de questões a serem debatidas nas instâncias
do Estado (SECCHI, 2013), como no próprio parlamento, por exemplo. Neste contexto, os atores sociais também
se mobilizam para influenciar a principalidade com a qual determinadas demandas são discutidas (ibid.).
20
7
O valor da moeda, em uma economia capitalista, é definida pela equivalência de bens e serviços aos recursos
financeiros sob posse da população. Logo, se os bens e serviços estão mais caros em relação a um valor nominal
de riquezas, pode-se efetivamente afirmar que os recursos financeiros sofreram perda de seu poder de compra
(OLIVEIRA, 2006). O termo “política monetária”, neste sentido, torna-se sinônimo de política pública de juros
pelo papel que supostamente desempenha no controle da inflação, o qual, por sua vez, impacta indiretamente o
valor da moeda.
8
Uma taxa básica de juros relativamente elevada pode ter a capacidade de atrair investimentos externos como se
discutiu no subitem anterior 1.2 (GIAMBIAGI et al., 2011).
22
dos pedidos de empréstimos aos quais atendem. Isso pode ser definido como uma forma de
balizamento de suas expectativas.
Como o Banco Central atua no controle do nível geral de preços, o aumento da taxa
básica de juros é tido como uma resposta ao aumento da inflação (RESENDE, 2017). Por
outro lado, como os bancos comerciais não querem ter seus rendimentos afetados pela erosão
do valor da moeda, estes também aumentam seus juros como forma de compensar prejuízos
financeiros em seus contratos. Ora, como contratos de empréstimo são firmados em valores
nominais, dificilmente sofrerão algum reajuste no decorrer de sua vigência, tornando o credor
“vulnerável” a aumentos futuros nos preços da economia (OLIVEIRA, 2006). Assim, os
bancos comerciais respondem a elevações na SELIC com a própria elevação de seus juros
para os novos contratos que firmarem o que, por sua vez, diminui o crédito e desaquece a
economia (CARVALHO, 2018, p. 79). Mas a lógica por trás da política monetária deriva,
ainda, de uma teoria econômica mais específica.
Segundo o consenso macroeconômico (neokeynesiano), desenvolvido no final da
década de 1980, um aumento da taxa básica de juros seria capaz de arrefecer o nível geral de
preços por sua capacidade de desaquecer o mercado (RESENDE, 2017). Se os juros
comerciais são tomados como referência pelos seus respectivos bancos, então a elevação da
SELIC, por exemplo, implicaria em custos maiores para a realização de empréstimos,
desestimulando a procura da sociedade por crédito. Consequentemente, o consumo sofreria
retração generalizada, o aumento do desemprego e, finalmente, reduzindo o nível de preços
como consequência de uma produtividade mais baixa (ibid.). Esta compreensão foi
definitivamente incorporada no Brasil com a adoção das “metas de inflação”. Não obstante, o
leitor deve atentar para o fato de que essa política monetária foi desenhada para lidar com
inflação “de demanda” como descrito acima. Ou seja, para tratar de situações em que o
aumento do consumo impulsionou o crescimento econômico a ponto de alavancar os preços.
(O diagrama da figura 1.2 resume esse ciclo) A relação entre consumo e inflação também
remete à teoria, de inspiração empírica, da Curva de Phillips9. Segundo esta, o nível de
desemprego e o nível geral de preços estão inversamente relacionados (VICECONTI &
NEVES, 2000), o que implica dizer que a demanda e inflação estão diretamente relacionados
(gráfico 1.1).
9
O nome desse modelo é atribuído a William Phillips, o primeiro pesquisador a estudar empiricamente a relação
entre taxa de desemprego e taxa de inflação, a partir de dados do Reino Unido (VICECONTI & NEVES, 2000).
Outras pesquisas constataram uma relação similar entre as duas variáveis, tornando a referida curva não uma lei,
mas um caso paradigmático.
23
Não obstante, este modelo de política monetária também pode ser compreendida pelos
paralelos que apresenta à chamada “Regra de Taylor”. Formulada pelo economista John B.
Taylor, essa regra prescreve que, de maneira incremental, os Bancos Centrais devem reagir a
um aumento ou diminuição da inflação com uma redução ou uma elevação ainda maior da
taxa básica de juros, respectivamente (ibid.). Esse é o comportamento usual dos Bancos
Centrais mundo a fora que adotam o regime de metas de inflação, inspirando-se no consenso
macroeconômico do fim do século passado. Tal dinâmica encontra paralelos ao regime de
juros brasileiro a partir de 1999 (GIAMBIAGI et al., 2011) conforme é ilustrada no gráfico
1.2. (No entanto, também vale destacar no gráfico abaixo que, apesar de a taxa de inflação
iniciar uma queda contínua de 2003 até 2006, a SELIC apresentou elevação em 2004 e 2005,
fugindo à lógica geral. Além disso, é importante visualizar que a tendência de decréscimo se
mostra bastante acidentada.
24
25
20
IPCA
15 SELIC
R² = 0,7891
Polinomial (IPCA)
10
Polinomial (SELIC)
5
R² = 0,5239
0
Talvez seja seguro presumir que a gestão da SELIC é normalmente tida como a
administração puramente técnica de um fenômeno econômico. Como é reforçado por André
Lara Resende (2017), o tal regime monetário adotado no Brasil é monopolizado pelos
economistas tanto na prática quanto no debate público. No primeiro caso, o combate à
inflação se tornou prerrogativa exclusiva do COPOM, havendo escassa coordenação com
outras instâncias do Estado11. No segundo caso, a expertise econômica (tanto dentro quanto
fora do governo) é dotada de uma autoridade sobre o assunto. Tal autoridade é reforçada pelo
fato de o conhecimento econômico por trás da relação taxa de juros/nível de preços revestir-se
de uma série de formulações matemáticas cuja compreensão se apresenta inacessível para
quem não é especialista na área (ibid.). Porém, Resende chama atenção para o fato de que tais
10
As equações referentes aos polinômios de inflação e de juros são, respectivamente, “y = -2E-05x6 + 0,2505x5 -
1255,9x4 + 3E+06x3 - 5E+09x2 + 4E+12x - 1E+15” e “y = 2E-05x6 - 0,1887x5 + 947,8x4 - 3E+06x3 + 4E+09x2 -
3E+12x + 1E+15”. Ambas foram introduzidas nesta nota para tornar transparente que os polinômios estão na
sexta ordem.
11
Naturalmente, o governo dialoga com o Banco Central ao estabelecer as metas de inflação. Por outro lado,
cabe somente ao COPOM somente, mediante a instrumentalização da SELIC, alcançar tais metas.
25
12
Trata-se do Banco Interamericano de Desenvolvimento, uma instituição financeira comprometida em realizar
investimentos e elaborar relatórios para subsidiar o desenvolvimento social, econômico e institucional na
América Latina e no Caribe. (Informações obtidas pelo acesso ao website do BID, conforme consta nas
referências bibliográficas.)
26
A pressuposição de que haja uma relação inversa entre taxa básica de juros e
inflação tanto a curto prazo quanto a longo prazo não é uma novidade e remonta ao
desenvolvimento da já ultrapassada Teoria Quantitativa da Moeda. Esta é, sem sombra de
dúvidas, uma chave conceitual fundamental para pautar a discussão histórica que se
insinua. Abreviada como TQM, a Teoria Quantitativa da Moeda advogou pela primeira vez
que a inflação é um fenômeno de procedência monetária, exigindo, portanto, o emprego de
uma política de natureza correspondente para administrá-la (sendo esta, com efeito, a
própria política de juros). A essa altura, esse diagnóstico havia sido sustentado pela
concepção de que o aumento do volume de moeda na economia é inflacionário, enquanto
sua redução é deflacionária. As considerações da TQM já não possuem validade no debate
contemporâneo, mas é de imperiosa importância notar como sua influência no passado
norteou a discussão aqui resgatada e como seus resquícios ainda se fizeram sentir na
contemporaneidade.
As premissas básicas da Teoria Quantitativa da Moeda podem ser formalmente
encontradas nos escritos de economistas clássicos do século XVIII que se inspirara a
13
As informações utilizadas neste capítulo derivam majoritariamente da leitura de Resende (2017).
28
refletir sobre a experiência da alta de preços na Europa do século XVI. Nesta época, o
abastecimento da região com cargas de ouro provenientes das grandes navegações resultou
em um processo inflacionário. Diante desta ocorrência histórica, pensadores foram levados
a supor que o aumento do volume monetário ocasiona um aumento proporcional do nível
de preços, explicação que se tornou resposta à inflação na Europa durante as grandes
navegações.
A moeda passou a ser vista como uma “mercadoria” por parte dos economistas. A
decorrência direta dessa perspectiva é basicamente que um aumento da quantidade de
moeda em circulação na sociedade, sem uma elevação correspondente de itens disponíveis
para serem consumidos, faria a moeda perder seu valor de compra (OLIVEIRA, 2000, p.
270). Assim se sucederia porque os atores sociais estariam com maior disposição para
consumir dado o aumento do estoque de moeda, elevando-se a demanda. Por outro lado, a
oferta permaneceria a mesma e em um patamar inferior, repercutindo na elevação de
preços. Tendo a moeda menor capacidade de compra, teria menos valor.
David Hume foi um dos primeiros pensadores a admitir esta teoria, ainda no século
XVIII, mas foi Irving Fisher, no século XX, quem melhor descreveu seus fundamentos,
sinteticamente formalizados na seguinte equação
M.V = P.T [ 2.1 ]
conforme a qual M refere-se ao estoque de moeda, V traduz-se como a velocidade de
circulação desse estoque na sociedade, P concerne ao nível geral dos preços e T diz
respeito ao volume de transações comerciais realizadas entre os atores sociais.
Esta equação é bastante representativa da concepção de proporcionalidade entre
liquidez e inflação consagrada no século XVIII. Mas essa tese não se encerra em tal
equivalência, vale destacar que essa proporção só é admissível se três hipóteses forem
aceitas como verdadeiras: 1) a economia apresenta pleno emprego da força de trabalho
sobre a capacidade produtiva instalada; 2) a velocidade da moeda é relativamente
constante, tendo um efeito não tão significativo e variável sobre a inflação; 3) toda moeda
é discricionariamente ofertada pela autoridade monetária (ou seja, pelo banco central),
passando a ser categorizada como exógena. Esta última pressuposição merece ser frisada,
pois, sustentando a ideia de que os bancos centrais podem aumentar e diminuir o estoque
de moeda disponível, a política de juros torna-se uma alternativa sob a promessa de
retardar ou estimular a oferta de moeda mediante encarecimento ou barateamento do
crédito (respectivamente). Mas ainda vingava o pensamento de que bancos centrais
realmente poderiam imprimir mais ou menos moeda de forma arbitrária (RESENDE, 2017,
29
a variável do nível de preços (P) torna-se menos previsível, uma vez que não se verifica a
alegada estabilidade atribuída à variável de velocidade (V) pela tese quantitativista. O
pensamento de Wicksell, no entanto, ainda hibernaria por algumas décadas antes de ser
resgatado durante revisões no paradigma dominante.
14
Aqui “tipo ideal” está empregado no sentido que Max Weber lhe atribuiu: o instrumento metodológico de
formular um conceito associado a certo número de características à luz do qual a realidade concreta se afasta
ou se aproxima, mas nunca se equivale totalmente (WEBER, 2000 [1922]).
15
Notação derivada da equação [2.1], apresentada anteriormente.
31
16
Refere-se à escola austríaca de economistas liberais.
17
IS/LM é uma abreviação para Investiment, Saving, Liquidity preference e Money supply respectivamente.
O modelo prevê um ponto ótimo de equilíbrio entre investimento, poupança, oferta de moeda (exógena) e
demanda por moeda (endógena) (VICECONTI & NEVES, 2000).
32
verdadeiramente com a constatação de que os bancos centrais não são capazes de aumentar
ou diminuir arbitrariamente suas bases monetárias, estando estas responsivas à dinâmica
interna da economia. Tradicionalmente, a política monetária de facto praticada pelos
bancos centrais era a taxa básica de juros (RESENDE, 2017, p. 55). Considerando ou não
essa realidade, algumas revisões importantes são elencadas a seguir.
Em 1975, Sargent & Wallace propuseram uma nova abordagem para a política
pública dos bancos centrais com base na hipótese das expectativas racionais. Assumindo
que os atores sociais orientam sua ação de forma plenamente racional, eles seriam capazes
de prever perfeitamente as medidas políticas a serem tomadas pela autoridade monetária e
a acurácia de tal previsibilidade tornaria a política monetária ineficaz. Além disso, como
necessariamente a dívida pública é uma promessa de pagamento a seus titulares no futuro,
os agentes iriam prever que uma elevação da taxa de juros no presente não anularia o
pagamento desses no futuro, findando por pressionar o orçamento público. Portanto, a
política monetária acabaria competindo com a política fiscal e isso possui implicações nas
expectativas dos atores sociais levando a resultados indeterminados. Não havendo
exogeneidade e supondo que o comportamento dos agentes é racional, a oferta de moeda
só poderia ser puramente endógena, isto é, não seria definida discricionariamente por uma
ação do governo. A receptividade a estas ideias alijou provisoriamente a explicação
monetária para o nível dos preços, pondo a moeda a escanteio.
No entanto, no fim da década de 1980, novas pesquisas revelaram que a política de
juros é, de fato, eficaz no combate a inflação no curto prazo, ao contrário do que previam
Sargent & Wallace ao partirem da hipótese de que a política monetária é perfeitamente
previsível pelos atores. Assim, a política pública de juros começou a se consagrar enquanto
um instrumento eficaz para o controle do nível de preços. No entanto, a sua justificativa
teórica se renovou inteiramente. Ora, tendo a exogeneidade e a velocidade constante da
moeda sido definitivamente questionadas, a Teoria Quantitativa da Moeda já não se
sustentava mais, impondo a necessidade de se elaborarem novas explicações teóricas para
a intervenção dos bancos centrais. Este abandono da TQM não livrou alguns economistas
da suposição de que a oferta de moeda subjaz à trajetória da política de juros, mas esta
concepção passou a ocupar uma posição bastante modesta à medida em que a
macroeconomia incorporou sucessivas mudanças em seu cabedal teórico.
18
Traduz-se como Equilíbrio Geral Dinâmico e Estocástico. Como seu nome sugere, trata-se de um modelo
que prevê um ponto de ótimo de estabilidade da economia no que tange à relação entre procura e oferta de
bens e serviços. Ao contrário de teorias mais clássicas de equilíbrio, segundo as quais o mercado livre é
capaz de reestabelecer naturalmente o equilíbrio, aquele outro modelo pressupõe que a economia seja
dinâmica e tenha várias trajetórias possíveis para se atingir um ponto de equilíbrio (por isso, estocástico).
34
19
Entende-se por ativos financeiros qualquer quantia monetária que um detentor tenha guardado em banco
(depósitos de poupança, depósitos a prazo fixo, títulos da dívida pública, etc.). Estes últimos, embora sejam
comprados por pessoas físicas e jurídicas, retornam futuramente aos mesmos acrescidos dos rendimentos
provenientes de juros (VICECONTI & NEVES, 2000, p. 243).
20
Trata-se de uma recessão econômica global ocasionada, nos Estados Unidos, pelo excesso de crédito a
juros baixos e pela propagação de empresas privadas responsáveis por comprar dívidas e renegociá-las com
outros investidores. Belluzzo & Galípolo (2017, p. 31-32) avaliam que isso consolidou uma pirâmide
insustentável de ativos financeiros cuja saturação provocou falências e quase-falências de bancos privados,
resultando finalmente em uma recessão que atingiu escala global dada a sensibilidade dos demais países a
esse crash.
35
de conter o avanço da diminuição dos preços (deflação21) mediante a redução dos juros22.
Segundo a recém-estabelecida “ortodoxia woodfordiana”, essa política deveria ser capaz
de pressionar o nível dos preços para cima admitindo-se que estimularia o consumo. No
entanto, isso não ocorreu. Uma explicação remete ao conceito keynesiano de armadilha da
liquidez: juros baixos incentivariam o embolso da renda em vez do seu investimento, pois
os atores sociais aguardariam a subida dos juros para voltarem a oferecer crédito a uma
taxa de remuneração mais elevada.
Concomitante a isso uma saída não muito convencional foi adotada e seus
resultados foram, no mínimo, estarrecedores para quem ainda insistia na Teoria
Quantitativa da Moeda. Os bancos centrais dos Estados Unidos, da Inglaterra, da União
Europeia e do Japão adotaram exaustivamente a política do Quantitative Easing (QE):
expansão das reservas monetárias que cada banco comercial possui no banco central de seu
país de origem. Cada banco comercial está comprometido a manter certa parcela de seus
rendimentos na sua conta corrente do banco central por razões de segurança. Aumentando-
se essas reservas muito acima da quantia que deve ser mantida compulsoriamente, um
grande excesso de saldo fica à disposição dos bancos para ser emprestado, reaquecendo a
economia. E ao contrário do que a Teoria Quantitativa da Moeda previa, a elevação da
oferta de moeda não resultou em um surto inflacionário, ou seja, também foi ineficaz no
combate à deflação. A experiência também foi um desafio para os modelos
neokeynesianos, já que o aumento do crédito deveria (em tese) incidir positivamente sobre
o nível dos preços.
O caso dramático do Quantitative Easing nos Estados Unidos é particularmente
representativo dessa ineficácia. Na situação, sua autoridade monetária Federal Reserve
System (Fed) expandiu as reservas bancárias de 50 bilhões de dólares para o patamar de 3
trilhões de dólares (ibid., p. 114) sem pressionar significativamente a inflação (ver a nota
de rodapé número 22). Nos demais países a empregar o QE, a variação foi de grandeza
semelhante. A curva de Philips também se mostrou pouco explicativa diante do caso norte-
americano, pois o desemprego manteve-se em 10% por mais de oito anos e a inflação
21
Tanto o aumento quanto a redução persistente e prolongada do nível geral de preços são fonte de
instabilidade. Nessas situações torna-se difícil orientar a ação econômica tendo em vista que há uma maior
flexibilidade dos preços em uma direção. Por esta razão, ambos os cenários são preocupantes.
22
A taxa de juros sofreu uma drástica redução de 4,25% a.a (ao final de 2007) para 0,13% a.a (ao final de
2008), mantendo-se em um patamar próximo a zero a partir daí. A inflação, por outro lado, não teve um
aumento expressivo, fechando o ano de 2008 em 0,70% e superando o patamar de 1% apenas em 2011,
quando alcançou 3,09%. (Fonte: Fundo Monetário Internacional)
36
manteve-se resistente e rígida (ibid., p. 131). Todos esses fatos empíricos conturbaram a
mentalidade econômica, sendo o prenúncio para adequações mais profundas.
Em 2010, o economista John Cochrane, precursor do que viria a ser os modelos
neokeynesianos mais recentes, reforçou o abandono definitivo da TQM e a necessidade de
se elaborarem novas teses face aos eventos recentes. Dentre elas, a chamada hipótese
neofisheriana (HNF) gerou um novo entendimento ao questionar a consagrada relação
inversa entre taxa básica de juros e inflação em toda e qualquer circunstância. A nova
teoria se inspira no postulado de Irving Fisher, segundo o qual a taxa básica de juros (i)
equivale à taxa real de juros23 (r) mais a inflação futura esperada (πe). Ou seja,
i = r + πe [ 2.3 ]
A novidade que a hipótese neofisheriana trouxe foi considerar a taxa real de juros
relativamente constante em decorrência de sistemas financeiros desenvolvidos (ibid., p.
137). Sendo “r” constante, então a expectativa de inflação futura tenderá nominalmente à
taxa básica de juros conforme a equação
πe = i – r [ 2.4 ]
No longo prazo, isso implica afirmar que a manutenção de uma taxa de juros
nominal elevada pressiona o nível dos preços para cima e não o contrário, como se
pensava. No entanto, a hipótese neofisheriana só é possível se os atores sociais realmente
assentarem sua expectativa futura de inflação vis-à-vis com a política dos bancos centrais.
Esta é uma deficiência que foi posteriormente revisada por Woodford ao propor um
procedimento de aprendizado iterativo para tornar as expectativas racionais, em
concordância com o modelo.
Por outro lado, a tese neofisheriana não dá conta de explicar sozinha por que uma
elevação da taxa básica de juros tem impacto negativo sobre a inflação no curto prazo,
conforme algumas pesquisas empíricas já corroboraram. John Cochrane procurou uma
solução lógica a isso na chamada Teoria Fiscal do Nível de Preços (TFNP)24. Em
acréscimo à pressuposição de que a inflação se ancora nas expectativas sobre sua evolução
futura, a TFNP afirma que fatores fiscais também influenciam significativamente tais
perspectivas e o próprio nível de preços. Sendo que um aumento da taxa básica de juros no
presente implica o pagamento dos mesmos no futuro e, portanto, expansão do déficit fiscal,
23
É a taxa básica de juros decrescida da taxa de inflação.
24
Conforme André Lara Resende (2017, p.132), diversos autores já haviam contribuindo para a
sistematização dessa teoria desde a década de 1990. Dentre eles: Eric Leeper, Christopher Sims, Michael
Woodford e, naturalmente, o próprio John Cochrane.
37
isso afeta as expectativas dos atores sociais sobre o desempenho futuro da economia
intertemporalmente. Ainda, permanecer elevando os juros apenas gera receio por parte dos
atores sociais no longo prazo, traduzindo-se em aumento dos preços de bens e ativos. Em
outra instância, para que a inflação vá a concurso de uma taxa básica de juros próxima a
zero (como foi o caso dos Estados Unidos) estabilizando-se, seria necessário haver um
equilíbrio fiscal, inspirando credibilidade por parte do governo em honrar as suas dívidas.
Prevê-se, portanto, que a hipótese neofisheriana só é hipoteticamente possível dadas as
condições fiscais da economia.
A estabilidade da inflação observada após a crise de 2007, a despeito da
manutenção das taxas de juros a um nível baixo, abriu finalmente espaço para se admitir
que a variação do nível de preços possua uma estabilidade por si mesma em certas
circunstâncias, perturbando o entendimento convencional da suposta eficácia do
instrumento de política monetária em situações universais. É importante frisar que o mérito
do novo consenso recai sobre sua proposta de não ignorar evidências empíricas recentes,
mas que também precisa de um amadurecimento intelectual.
Conhecendo com maior profundidade a discussão teórica a respeito da política
pública de controle da inflação (a tabela 2.1 sumariza esse debate), a próxima seção voltará
a discutir a política de juros brasileira, mas primeiramente à luz de seu estabelecimento na
história recente.
38
Tabela 2.1 Histórico dos estudos a respeito da relação entre taxa de juros e nível dos preços
Autor (Ano) Filiação teórica Argumento principal Crítica à teoria predominante
Thomas Toke Abordagem O crédito antecede a moeda conferindo-lhe O nível de preços determina o estoque de moeda e
(1844) creditícia da moeda liquidez e aceitação universal não o contrário
A velocidade renda e a demanda por moeda estão A velocidade da moeda não é constante
John Hicks (1931) Teoria Geral
em função da taxa de juros como se alegava
Sargent & Wallace Expectativas Os bancos centrais não controlam arbitrariamente o Se a hipótese da exogeneidade da moeda é
(1975) racionais estoque de moeda falsa, o nível dos preços é indeterminado
Michael A moeda não é uma variável exógena, mas A eficácia da política monetária se
Neokeynesianismo;
Woodford a política de juros é um instrumento eficaz deve por seu efeito sobre variáveis
Neowicksellianismo
(2003) contra a inflação endógenas
Neokeynesianismo; Hipótese No longo prazo, a inflação tende à taxa A âncora do nível dos preços são as
John Cochrane
Neofisheriana; Teoria Fiscal do Nível básica de juros sob determinadas expectativas e o déficit orçamentário
(2010)
de Preços circunstâncias do governo
Fonte: Elaboração própria a partir da leitura de Resende (2017)
41
25
Um dos problemas da inflação está em como a flutuação de preços cria um ambiente de imprevisibilidade,
retroalimentando-a. Com uma moeda virtual, as expectativas se tornam mais bem ancoradas e isso pode ser
canalizado para um combate mais eficaz da inflação.
42
Inflação
Fonte: Elaboração própria com dados do IBGE utilizando-se o IPCA acumulado de 12 meses
26
De 46,14% a.a, em janeiro de 1995, subiu para 56,28%, 65,72% e 85,42% nos respectivos três meses
posteriores (Fonte: Banco de Compensações Internacionais).
27
Na ordem de 0,84 (em fevereiro de 1995) para 0,90 (em abril). Subsequentemente, o câmbio valorizou uma
vez, depois passando a microdesvalorizar continuamente (gráfico 3.2).
43
3,7
3,2
y = 0,0007x - 24,429
R² = 0,8381
2,7
2,2
1,7
1,2
0,7 dez/96
ago/98
dez/01
jun/94
fev/96
nov/94
abr/95
mar/98
jun/99
fev/01
jul/96
nov/99
abr/00
mai/97
jan/99
jul/01
mai/02
set/95
out/97
set/00
out/02
Linear (Taxa nominal de câmbio R$/US$)
28
Taxa de câmbio R$/US$ comercial (valor de venda) média do período.
29
Esta análise se inspira no Modelo de Fluxos Múltiplos de John Kingdom (CAPELLA, 2006).
45
30
A lei refere-se ao pagamento de juros empregando-se o termo “resultados primários” (BRASIL, 2000).
46
Gráfico 3.3 Despesas orçamentárias em relação à despesa com juros da dívida pública
em 2015
Saúde Educação
Déficit da previdência Defesa
Desenvolvimento social Trabalho
Cidades Fazenda
Planejamento Transporte
24 25
15 16
9
5 6 6 7
4
Fonte: Elaboração própria com dados disponibilizados por Belluzzo & Galípolo (2017, p. 151)
31
A variável utilizada foi inflação de fim de período baseado nos preços do consumidor (variação percentual
ao ano).
32
A variação utilizada foi porcentagem ao ano.
33
Inicialmente, a comparação também se daria neste intervalo tomando-se o Plano Real como referência.
Porém, o ano de 1994 apresentou-se como ponto aberrante na série histórica brasileira e, portanto, optou-se
por excluí-lo da comparação.
34
A média aritmética se apresenta como uma medida descritiva mais adequada quando a distribuição de um
conjunto de dados é simétrica, pois é capaz de resumi-lo com menor viés; enquanto a mediana, dada a sua
resistência a valores atípicos, é mais adequada quando a amostra é assimétrica (MORETTIN & BUSSAB,
2010, p.37). Neste sentido, optou-se por utilizar a mediana de inflação como critério de seleção, pois é menos
suscetível aos valores aberrantes encontrados no banco de dados.
48
Tabela 4.1 Comparação das medianas de inflação e de taxa de juros entre os países
selecionados35
Países Mediana da inflação Mediana da taxa de juros
Nepal 7,92 7,00
Índia 6,64 7,75
Brasil 6,13 15,00
Colômbia 6,12 7,25
África do Sul 5,99 7,00
Coeficiente de variação 12% 40%
Fonte: Elaboração própria com dados do Fundo Monetário Internacional, do Banco de Compensações
Internacionais e do Banco Central da Colômbia
35
Elaboração própria com dados do Fundo Monetário Internacional, do Banco de Compensações
Internacionais e do Banco Central da Colômbia.
36
Coeficiente de variação é uma medida de dispersão, ou seja, utilizada para aferir a variabilidade dos
valores de um conjunto de dados. Optou-se por esta medida em detrimento do desvio padrão (comumente
empregado), pelo último ser mais vulnerável a dados atípicos, conforme Morettin & Bussab (2010, p. 65).
49
37
A África do Sul é uma exceção, pois apenas foi possível coletar dados sobre sua política monetária no
recorte 1999-2017.
38
Tendo-se em vista que o uso da média ou da mediana é mais adequado conforme o tipo de distribuição do
conjunto de dados, optou-se por incluir ambas as medidas descritivas de forma a enriquecer a análise
exploratória. Não obstante, os graus de assimetria também serão indicados para denotar qual medida
descritiva é mais adequada: sendo o grau igual a 0, conclui-se que há simetria; quanto mais diferente de 0
(para menos ou para mais), mais assimétrica é a distribuição; ou seja, mais discrepante entre si são a média, a
moda e a mediana da amostra.
50
20
15
Nepal
10 Brasil
O gráfico 4.2, por sua vez, apresenta uma comparação entre a trajetória da taxa
básica de juros brasileira e nepalesa. Conforme o gráfico, no intervalo 1995-1998, Nepal
não ultrapassou o Brasil em nenhum período. Os coeficientes de variação são 12% (Nepal)
e 25% (Brasil); as medianas, 10 (NP) e 33,5 (BR); as médias 10 (NP) e 32,56 (BR); e os
coeficientes de assimetria, 0 (NP) e -0,39 (BR).
No intervalo 1999-2017, a política monetária de Nepal superou a do Brasil em
apenas 1/19 período (no ano de 2012) e se igualou em 2017. A distribuição nepalesa
expressa uma variabilidade de 14% em contraste à brasileira, na ordem de 33%. Os valores
centrais são 7 (NP) e 13,75 (BR); enquanto as médias são 6,84 (NP) e 13,88 (BR); e, por
último, os graus de distorção figuram em 0,47 (NP) e 0,57 (BR) respectivamente.
51
10
6 Inflação
Juros
4
20
15
Índia
10 Brasil
No concernente à taxa básica de juros destes dois países (gráfico 4.5), de 1995 a
1998, a Índia não exprimiu patamares maiores em nenhum período. Os coeficientes de
variação são 16% para Índia e 25% para o Brasil; respectivamente as médias são 10,50
(IN) e 32,56 (BR); os valores centrais, 10,50 (IN) e 33,50 (BR); e os graus de distorção
figuram 0 (IN) e -0,39 (BR) respectivamente.
Quanto ao período 1999-2017, a Índia ultrapassou o Brasil apenas em 1/19 período
(2012). As variabilidades contabilizam 14% para a Índia e 33% para o Brasil; as médias
são 7,11 (IN) e 13,88 (BR); as medianas, 7,25 (IN) e 13,75 (BR); e em seu turno, os
coeficientes de distorção figuram -0,53 (IN) e 0,57 (BR) respectivamente.
54
50
40
30 Índia
Brasil
20
10
Fonte: Elaboração própria com dados do Fundo Monetário Internacional e do Banco de Compensações
Internacionais.
Conforme ilustra o gráfico 4.7, a África do Sul expressou taxas de inflação maiores
que as do Brasil em 7/19 períodos. A dispersão do primeiro país contabiliza 48% e a do
segundo, 36%. A média da distribuição sul-africana fecha em 5,67, enquanto a do Brasil
fecha em 6,66. Já as medianas são 5,36 (ZA) e 5,97 (BR); e os níveis de distorção figuram
0,58 (ZA) e 0,93 (BR) respectivamente.
39
Pelas fontes utilizadas, não se conseguiu ter acesso aos números da política monetária da África do Sul
entre 1995 e 1998. Portanto, as análises envolvendo esse país se limitam ao recorte 1999-2017.
56
12
10
8
África do Sul
6
Brasil
4
A taxa básica de juros do país africano, por sua vez, expressou valores inferiores à
do país sul-americano durante todo o período observado (gráfico 4.8). O coeficiente de
variação é 33% para ambos os contextos; as médias são 8,14 (para a África do Sul) e 13,88
(para o Brasil); as medianas, 7,00 (ZA) e 13,75 (BR); e as assimetrias, 0,66 (ZA) e 0,57
(BR) respectivamente.
Gráfico 4.8 Evolução das taxas básicas de juros da África do Sul e do Brasil
30
25
20
15 África do Sul
Brasil
10
3,58 vezes maior e uma taxa básica de juros 1,76 vez maior. As medianas para essas duas
razões, respectivamente, são 1,06 e 1,95. Como a distribuição dos quocientes de inflação é
muito assimétrica (4,31), deve-se considerar que a média lhe traz um resumo enviesado. A
distribuição dos quocientes de juros também é assimétrica, ainda que de forma pouco
acentuada (-0,14).
40
Optou-se por construir um gráfico em escala logarítmica natural, dado que o quociente do ano 2003 era tão
elevado que excedia a própria figura. A escala foi empregada apenas para efeito de visualização, portanto, os
dados analisados no parágrafo são os quocientes originais e não os logaritmos sobre a base 2,71828 (base
“E”).
58
as medianas são 5,50 (CO) e 5,97 (BR); e os graus de distorção contabilizam 0,11 (CO) e
0,93 (BR).
20
15
Colômbia
10 Brasil
45
40
35
30
25
Colômbia
20
Brasil
15
10
5
0
Fonte: Elaboração própria com dados do Fundo Monetário Internacional e do Banco Central da Colômbia.
5
5
4
4
3
3 Inflação
2 Juros
2
1
1
0
Fonte: Elaboração própria com dados do Fundo Monetário Internacional e do Banco Central da Colômbia.
Este capítulo tem como finalidade testar a hipótese (H1) norteadora da pesquisa
realizada. Isto é, verificar se a afirmação “A taxa básica de juros, praticada pelo Banco
Central do Brasil, tem impacto negativo sobre a taxa de inflação no Brasil para o recorte
1999-2017” está correta. Ressalta-se que o período de análise foi escolhido em função do
ano no qual se adotou o regime de metas de inflação no Brasil (1999). Mas antes de mais
nada, faz-se mister aprofundar e justificar o uso da ferramenta utilizada para o teste dessa
hipótese.
O método utilizado para aferir a conexão entre taxa de inflação e taxa básica de
juros no Brasil foi o de Vetores Autorregressivos (VAR). Trata-se de uma técnica
estatística que permite calcular em que medida duas ou mais variáveis se afetam
reciprocamente com base nas séries temporais utilizadas na análise. A partir dessa
ferramenta, torna-se possível tanto prever a resposta de uma dada variável à elevação de
outra (e vice versa), como estimar percentualmente o quão responsável um fenômeno é
pela variação de outro (ver, por exemplo, ARQUETE & JAYME JR., 2003). Para os
propósitos aqui subentendidos, interessou-se estudar primariamente qual a resposta da taxa
de inflação a uma elevação da SELIC. Na prática, isso foi possível ao introduzir as séries
temporais de inflação e de juros ao modelo por intermédio de um software de estatística: o
Gretl.
A escolha de se utilizar VAR esteve condicionada a três características
fundamentais do modelo: 1) sensibilidade a defasagens, 2) ser adequado para a análise de
séries temporais e 3) ser ateórico.
Primeiramente, no jargão da estatística, “defasagem” se refere genericamente a
como o impacto de uma variável sobre outra se distribui no tempo ou de forma retardatária.
Assim, prevê-se geralmente que a totalidade do efeito de uma variável (especialmente
econômica) sobre outra não é imediata (GUJARATI & PORTER, 2011), implicando que o
aumento de uma no mês presente, pode estar relacionado à variação da outra em meses
62
futuros. Esta característica é importante na medida em que torna possível, para o estudioso,
prever como se dá a evolução do efeito de uma variável sobre outra intertemporalmente.
Na prática, fica a cargo do pesquisador determinar, nas especificações do modelo,
quantas defasagens levar em consideração. Em se tratando de séries mensais, isso significa
definir a extensão temporal do efeito de cada observação da amostra além do impacto
imediato. Mas se deve atentar para o fato de que, quanto mais defasagens adotadas, mais
informações das séries temporais são perdidas – por exemplo, se duas defasagens fossem
escolhidas para uma série de periodicidade mensal, então o modelo começaria a calcular o
impacto de um fenômeno a partir do mês de março. Também é preciso destacar que nem
todas defasagens expressam efeito significativo.
Por essas razões, o estudioso não escolhe, com total arbitrariedade, o número de
defasagens que adotará em sua modelagem de dados sendo necessário utilizar parâmetros.
Para a conveniência da pesquisa, o software de estatística adotado já possui mecanismos
para calcular o número de defasagens mais adequado para os dados estudados com base em
alguns critérios estatísticos. No contexto de avaliação da política monetária, segundo a
função “Seleção de defasagens (VAR)” do Gretl para uma defasagem máxima de 30, o
software marcou a defasagem de ordem 2 como a ideal para as variáveis segundo o
Critério de Informação Bayesiano (BIC), 8 conforme o Critério de Informação Hanan-
Quinn (HQC), e 10 de acordo com o Critério de Informação Akaike (AIC. Optou-se, por
uma ordem de duas defasagens como consequência de BIC ser considerado um critério
mais rigoroso, além de que é preferível a menor ordem dentre aquelas apontadas como
ideais (GOMES, 2003, p. 12).
Neste sentido, o método permite trabalhar com os valores passados de uma mesma
variável, sendo este um dos motivos da técnica levar o nome de “autorregressivo”41.
Difere-se, portanto, das análises de regressão linear, as quais estimam a relação entre duas
ou mais variáveis com base em valores que não podem estar correlacionados no tempo42.
Através do VAR, portanto, pode-se analisar séries temporais, o que indica uma vantagem
do método levando em conta a natureza do objeto de pesquisa.
41
“Vetores Autorregressivos” leva esta nomenclatura por três razões: 1) o valor das variáveis em um ponto
do tempo têm impacto sobre o valor das variáveis em outro ponto no tempo (vetor); 2) as variáveis são
explicadas, em parte, por sua própria história (auto); 3) as variáveis apresentam sensibilidade entre si
(regressivo).
42
Análise de regressão é todo estudo de como uma variável se comporta em função de outra (GUJARATI &
PORTER, 2011). Diferentemente do VAR, análises de regressão linear não admitem a influência de
determinado valor a seus valores passados.
63
43
Não confundir modelo ateórico com escolha ateórica de variáveis. Em toda regressão, a escolha dos
fenômenos a serem analisados sempre pressupõe que realmente haja uma conexão entre elas, ao menos em
teoria (GUJARATI & PORTER, 2011). Assim, afirmar que um modelo é ateórico não implica negar uma
escolha de variáveis assentada em uma teoria; implica apenas que a estruturação interna do modelo não sofre
interferência de pressupostos teóricos.
44
Interpretação autoral com base na classificação de Morettin & Toloi (2004).
64
Os dados utilizados para serem processados pelo software foram a própria SELIC e
o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – o qual é calculado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e é o índice oficial para o cálculo da inflação
no Brasil. A série temporal da taxa básica de juros foi obtida pela base de dados online do
Banco de Compensações Internacionais e está dada em variação percentual ao ano. Em seu
turno, o IPCA selecionado foi especificamente o índice para itens livres (variação
percentual mensal), ou seja, para bens e serviços cujos preços não são definidos pelo
governo. Os itens administrados pelo Estado estão fora da influência da política monetária
por sua precificação obedecer a critérios discricionários, sendo diferente de preços livres,
que são mais sensíveis à dinâmica de oferta e procura e, por extensão, aos juros (como já
se discutiu anteriormente). O IPCA foi obtido pelo Sistema Gerenciador de Séries
Temporais, do Banco Central do Brasil.
Dentro do modelo, as variáveis contemporâneas e defasadas de IPCA e SELIC são
consideradas endógenas por seus valores variarem no tempo e em função dos demais
componentes do modelo (conforme definições de Gujarati & Porter, 2011). Já os
coeficientes (αx e βx) e a constante (γ) são considerados termos exógenos, pois seus valores
são inalteráveis historicamente, estando apenas na posição de influenciar as variáveis
endógenas (por isso, também conhecidas como dependentes). (Ver tabela 5.1)
5.2 – RESULTADOS
45
É um método de “teste de raiz unitária”. Raiz unitária concerne a uma condição da amostra na qual a raiz
de sua equação é igual a 1 (GUJARATI & PORTER, 2011, p. 738). Quando isso é verdadeiro, então se diz
que há um “problema de raiz unitária”. A técnica de Dickey-Fuller Aumentado é um instrumento de se
verificar se tal problema se observa na série estudada (Ibid.).
66
A equação de juros, por sua vez, apresenta-se da seguinte forma de acordo com os
valores estimados através do VAR:
it = −0,061it-1 −0,127it-2 +0,483πt-1 +0,198πt-2 −0,168 + εt [ 5.4 ]
Paralelamente, a tabela 5.3 indica que a SELIC em um período t é responsiva
apenas à sua segunda defasagem e à primeira defasagem do IPCA para itens livres.
Conforme os coeficientes, observou-se o aumento da taxa de juros em dois meses
anteriores influencia ngativamente a taxa corrente, na medida de −0,127%. Por outro lado,
46
Essa referência de comparação já vem incorporada ao software e foi aceita por ser amplamente utilizada
em pesquisas estatísticas para o tipo de teste realizado.
67
uma elevação na variação mensal do índice de preços de um mês anterior exerce pressão
positiva sobre a SELIC corrente (na ordem de 0,483%), reforçando a ideia de que o Banco
Central do Brasil aumenta a taxa básica de juros na observância retrospectiva de um
aumento na inflação. A constante também foi significativa e igual a −0,168; indicando o
comportamento estimado da SELIC quando as demais variáveis do modelo são iguais a
zero.
Essa primeira análise já demonstra indícios de que a hipótese de pesquisa (H1) não
se sustenta. Ou seja, a política pública de juros não impacta negativamente a taxa de
inflação, pois seu próprio efeito não é estatisticamente relevante. Apesar disso, os
resultados ainda podem ser complementarmente expandidos.
A começar pelo primeiro gráfico (5.1), a princípio, observar-se-ia que a taxa básica
de juros reage positiva e imediatamente a um choque47 dela mesma (na ordem de 1,02
pontos percentuais). Subsequentemente, no segundo e terceiro meses, a SELIC sofre uma
redução em virtude dela mesma. No quinto mês, ela reagiria positivamente a um choque de
si própria, e se normalizaria no restante da previsão. Ou seja, a partir do sexto mês, a taxa
básica de juros retorna ao seu curso normal (sua trajetória sob variância zero em
decorrência do choque das suas defasagens it-1 e it-2).
No entanto, pelo intervalo de confiança adotado (que se pode identificar pela região
obscurecida), não há significância estatística na maior parte do período. Sempre que a
região do intervalo de confiança toca a região zero, existe a possibilidade de os
coeficientes serem nulos. Portanto, na maior parte da trajetória do comportamento da
SELIC em resposta a ela mesma, não há significância estatística.
47
Entende-se por choque uma variação abrupta de uma variável.
69
entanto, o intervalo de confiança indica que o comportamento da taxa básica de juros não é
estatisticamente diferente de zero.
Gráfico 5.2 Resposta de SELIC a um choque de IPCA
Por último, apresenta-se o gráfico 5.4, que mais interessa a este trabalho, por
representar a reação da taxa de inflação a um choque da política monetária, ainda que a
relação não seja estatisticamente significante. Segundo se vê abaixo, o IPCA sofre um
impacto imediato de 0,14 e 0,02 pontos percentuais nos primeiro e segundo meses
respectivamente. O comportamento do IPCA em relação a si mesmo inverte-se duas vezes
seguidas e normaliza-se por volta do sexto mês.
71
Demonstrar o impacto em pontos percentuais sobre uma variável pode não ser
muito elucidativo por não haver um parâmetro claro para avaliar se o efeito é robusto. Uma
maneira de complementar a análise realizada acima é apresentar o quanto a variação de
uma variável se deve percentualmente à sua própria história e às demais variáveis
empregadas. Isso também foi estimado pelo software para o quadro de previsão de 24
meses, como nos gráficos da subseção anterior. Esse tipo de análise chama-se
decomposição da variância (ARQUETE & JAYME JR, 2003).
Na tabela 5.4, destaca-se o exame da variância para a taxa de inflação. Observa-se
que, nos dois primeiros meses, a variação do IPCA se deve aproximadamente 99% às suas
próprias defasagens, enquanto a SELIC só explica em torno de 1% da variação. Durante o
restante do período, o comportamento se altera muito pouco, mas de um modo geral, a
participação da SELIC na variação do IPCA se eleva ao longo do tempo. Esses resultados
apontam para uma resistência muito forte da taxa de inflação em relação à taxa básica de
juros. É importante frisar também que a adição de outras variáveis poderiam alterar os
percentuais na medida em que estas também oferecessem alguma explicação (ARQUETE
& JAYME JR., 2003).
72
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante disso, pode-se conjecturar como essa situação pôde se prolongar. Uma
resposta provisória a isso poderia se assentar na monopolização da Banco Central,
enquanto um subsistema, sobre a prerrogativa do controle da inflação. Um dos
sustentáculos desse monopólio (para além do aspecto institucional) é a imagem que se
constrói da política pública de juros. Imagem esta que não necessariamente se baseia em
evidências, podendo ser consequência de discursos, conservadorismo intelectual, interesses
etc48. De um modo mais amplo, pode-se supor provisoriamente que esse estado de coisas é
antes fruto das politics que atravessam essa policy.
De todo modo, também é importante reforçar as limitações metodológicas da
pesquisa apresentada. Os resultados são, antes de mais nada, preliminare. A modelagem
dos dados que foi feita pode ser aprimorada em estudos futuros, contemplando-se outras
variáveis. Não obstante, deixa-se em aberto que fatores foram mais consistentemente
determinantes para a estabilidade de preços observadas no Brasil durante o governo Lula.
Para Carvalho (2018), o nível de preços sóbrio observado durante esse período se deve ao
câmbio sobrevalorizado da época; partindo-se do pressuposto de que haja uma relação
íntima entre câmbio e inflação. É conveniente que estudos empíricos também possam se
debruçar a respeito do peso do câmbio brasileiro sobre o nível dos preços nos últimos anos.
48
Essa análise não é inovação do autor. Pensar em como certas instâncias burocráticas (subsistemas)
monopolizam certas políticas ou eixos temáticos a partir de uma percepção compartilhada já foi teorizado por
Baumgartner e Jones (conforme CAPELLA, 2006).
76
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BELLUZZO, L. G.; GALÍPOLO, B. Manda quem pode, obedece quem tem prejuízo. São
Paulo: Contracorrente, 2017.
BID. A política das políticas públicas: Progresso econômico e social na América Latina.
Rio de Janeiro: Elsevier Editora, 2006.
MORETTIN, P. A.; BUSSAB, W. O. Estatística básica. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
MORETTIN, P. A.; TOLOI, C. M. C. Análise de séries temporais. 2. ed. São Paulo: Egard
Blucher, 2006.
SECCHI, L. Políticas públicas: conceitos, esquemas de análise, casos práticos. São Paulo:
Cengage Learning, 2013.
WU, X. et al. Guia de políticas públicas: gerenciando processos. Brasília: Enap, 2014.