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1
CANOTILHO, Joaquim José Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 4ª. Ed.,Coimbra:
Almedina, 2000, p. 100.
2
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 20ª. ed. atual. São Paulo: Saraiva. 1999, p. 157.
3
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 19ª. ed. ver. e atual. nos termos da
Reforma Constitucional, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 116-7.
Assevera, ainda, José Afonso da Silva 4 que, não obstante a expressão “Estado
de Direito” tenha se evoluído, houveram concepções que a deformaram, vez que o seu
significado condiciona-se à própria idéia que se tem do direito, pelo que se pode adotar
a concepção formal do Estado de Direito ou a concepção de um Estado de Justiça,
sendo que neste os atos legislativos, executivos, administrativos e judiciais ficam
sujeitos ao controle jurisdicional no que se refere à legitimidade constitucional e legal.
Importa destacar que, da leitura da obra de José Afonso da Silva 5, depreeende-
se que: o direito não pode ser interpretado como um conjunto de normas estabelecidas
pelo Legislativo, e nem como o conceito de Estado de Direito, como sendo conceitos
idênticos, como o faz a teoria kelseniana6, porque sinteticamente se resume em
convertê-lo em Estado Legal, porque num ou noutro caso estar-se-ia cometendo
equívocos, no primeiro caso o Direito passaria a ser considerado um Estado de
Legalidade (ou Estado Legislativo) e no segundo, o direito seria convertido em Estado
Legal.
Não obstante se buscasse alicerçar a juridicidade estatal, utilizando-se de
conceitos vários, conforme a localidade, as características de cada conceito não se
confundem, vez que se amparam nos fatores próprios dos ordenamentos jurídicos de
cada localidade.
O Estado de Direito tem como essência o princípio da legalidade, por ter a lei
como balizamento essencial, através da qual acreditava-se, na ocasião de sua inserção
no ordenamento jurídico, que seria suficiente para atingir o valor justiça.
Assim, como sustenta Celso Ribeiro Bastos7 que: “o Estado de Direito se resume
na submissão às leis, sejam elas quais forem.”
Insta salientar que a separação dos poderes representou a extirpação da
concentração dos poderes em mãos únicas, pelo que determinadas atribuições
passaram a ser designadas à cada órgão detentor de especialidade naquele tema, e da
mesma forma havendo um recíproco controle na atuação dos órgãos, como ensina
4
SILVA, José Afonso da, op. cit., p. 117.
5
SILVA, José Afonso da, op. cit., p. 117-9.
6
Na teoria kelseniana, o autor que originou a sua denominação, considera Direito tão-somente o direito
positivo, desvinculada de qualquer conteúdo, quer seja político, social, econômico, etc.
7
BASTOS, Celso Ribeiro, op. cit., p. 157.
José Afonso da Silva8. Dessa forma, voltados para a atividade legislativa, donde
originam-se as leis passam a reinar as pretensões igualitárias e justas, através das
representações populares, vez que o homem não fará leis consideradas injustas para
regulamentar o seu próprio convívio em sociedade.
Os pressupostos elencados na Constituição quer estabeleçam deveres, quer
delimitem restrições na atuação do homem em sociedade, revestem-se explicitamente
do devido processo legal. Efetivamente as partes têm direito ao processo, o qual será
regido integralmente pelas disposições constitucionais; as pessoas tem prévio
conhecimento da forma como se desencadeará todo o “iter” processual, entretanto a
estrita legalidade que em todos os atos deste se faz presentes não são inerências da
legalidade do Estado de Direito, como afirma Cândido Rangel Dinamarco9.
Pode-se afirmar em consentaneidade com o ensinamento de Humberto
Theodoro Júnior10 que com o Estado de Direito houve fortalecimento do Estado, vez
que foi afastada a justiça privada e introduzida a Justiça Pública ou Justiça Oficial no
País
Momento este em que o Estado assumiu o poder-dever da prestação
jurisdicional.
No Estado de Direito se conhece o caminho a ser percorrido pelo processo,
desde o seu ajuizamento – ele tende a um fim e os seus procedimentos, que
caracterizam o caminho a ser percorrido pelo mesmo, já estão previamente definidos,
evitando-se que as partes sejam surpreendidas.
Assevera Celso Ribeiro Bastos11 que, já no final do século XIX e início do século
XX, a justiça que era vista sob o prisma da aplicação da lei ao caso concreto, em estrita
observância aos seus ditames, acaba caindo por terra, face ao fim de atender o clamor
da própria sociedade, quando verificou-se que apenas o cumprimento às leis postas no
ordenamento não implementava suficiente fator para assegurar a justiça, motivo pelo
8
SILVA, José Afonso da, op. cit., p. 117.
9
DINAMARCO, Cândido Rangel.. A Instrumentalidade do Processo. 11ª. ed. rev. e atual., São Paulo:
Malheiros, 2003, p. 155.
10
THEODORO JUINOR, Humberto. Curso de direito Processual Civil. Vol. I, 25ª. ed. rev. e atual., Rio de
Janeiro: Forense, 1998, p. 34.
11
BASTOS, Celso Ribeiro, op. cit., p. 157.
qual passaria a haver, além da submissão à lei, a submissão à vontade popular, de
modo a propugnar pela igualdade e justiça não pela sua generalidade, mas pela busca
incansável da efetivação da igualização das condições dos considerados socialmente
desiguais.
Desde logo, o princípio da legalidade continua alicerçando o Estado Democrático
de Direito, da mesma forma que ocorria com o singular Estado de Direito: a diferença
consiste no fato de que no Estado Democrático de Direito, a lei não fica numa esfera
puramente normativa, mas acata as transformações políticas, econômicas e sociais que
a sociedade brasileira requer, com a evolução dos tempos.
Na realidade, transforma a sociedade, porque deixa de haver unicamente a
imposição do princípio da legalidade genericamente, mas leva em consideração as
influências dos valores que circundam a sociedade para a qual são elaboradas as leis.
Ora, se advém da vontade popular, as transformações que porventura houverem serão
valoradas até que finalmente sejam positivadas.
Consequentemente, os princípios da igualdade, legalidade e justicialidade (ou
inafastabilidade da jurisdição) apresentam-se como sustentáculo do Estado
Democrático, os quais caminham em busca da justiça.
O Estado Democrático reflete a inserção do povo na participação da coisa
pública.
12
SILVA, José Afonso da, op. cit., p. 126.
Tanto que, já no Preâmbulo a Constituição faz expressa menção ao Estado
Democrático de Direito, como princípio basilar.
Prepondera a soberania popular, que objetiva assegurar a justiça, conforme o
critério por ela considerado como “justo”, almejando a difusão da igualdade, dignidade e
direitos e liberdades fundamentais da pessoa humana, incondicionadamente, todavia os
órgãos detentores dos Poderes, que vinculam todos os poderes e atos provenientes da
vontade popular devem obediência à lei. Portanto, a Justiça pretendida num Estado
Democrático de Direito funda-se na legitimidade constitucional.
E, como preceitua o insigne mestre Pietro de Jesús Lora Alarcón 13, quanto mais
houver a reprodução dos princípios que alicerçam o Estado Democrático de Direito,
maior será a firmação deste na sociedade. Saliente-se que, na menção atribuída aos
princípios, o mestre refere-se aos princípios da igualdade, da legalidade e da
justicialidade (o da inafastabilidade do controle jurisdicional).
Vemos então, que a Constituição de 1988 trouxe novamente os princípios que já
haviam sido consagrados na Constituição de 1946, a República, o Estado Federal e
Democrático, entretanto diferencia-se no aspecto de o Estado Democrático ter se
justaposto ao Estado de Direito, encontrando-se consagrado no Preâmbulo, e a
República Federativa encontrar-se estabelecida no art. 1º.
Janice Helena Ferreri Morbidelli14 em sua obra, comenta os elementos
caracterizadores do Estado Federal e da Democracia, adiante transcrito:
6- CONCLUSÕES
A cada dia que passa, estreita-se mais o canal de acesso à jurisdição, não
obstante tratar-se o nosso sistema jurídico de um sistema aberto de regras e princípios,
na realidade apresenta-se bastante fechado para a sociedade, que se depara com
diversos requisitos que acabam por obstar o efetivo acesso à jurisdição.
Trata-se de verdadeiro tolhimento ao direito de acesso à prestação jurisdicional.
Neste diapasão, viola-se o corolário do Estado Democrático de Direito – o
acesso à jurisdição – É exatamente isso. Como se pode assentar a justiça num País em
que nem mesmo o acesso à jurisdição é assegurado ao seu povo?
Não há nem que se cogitar: cabe ao Estado promover iniciativas que resguardem
à população o direito de ação, em todas as instâncias. É inconcebível que existam
taxas e custas estabelecidas, cujos valores possam impedir ou dificultar a promoção de
atos processuais.
Lamentavelmente enfrentamos esta realidade. E estas obstaculizações
deságuam na ausência de efetivação da justiça.
A observância dos diversos princípios e garantias constitucionalmente
consagrados atinge os fins propugnados pelo Estado Democrático de Direito, cujos fins
colimados sintetiza-se na preservação da segurança jurídica, pelo que podemos afirmar
que o marco inicial desta preservação é o da garantia da inafastabilidade do controle
jurisdicional: no qual se conclama à todos o resguardo do direito de acesso à prestação
jurisdicional. Assim, pelo que discorremos, atualmente tem havido imposições das mais
variadas que se traduzem em verdadeiras restrições para o exercício deste direito. Se o
alicerce do Estado Democrático de Direito encontra-se estremecido, todo o sistema
jurídico sofre as conseqüências, repercutindo finalmente, na ausência de segurança
jurídica.
O artigo inaugural de nossa Constituição Federal deixa claro que a vontade
popular será preservada: a lei será aplicada, e esta foi elaborada em conformidade com
as transformações sociais, políticas, culturais, atendidas a valoração que lhe atribuiu a
sociedade, entretanto se não houver iniciativa do Estado para assegurar ao povo o
gozo das virtudes depositadas em cada um destes direitos e destas garantias
fundamentais, resta impossibilitado o alcance da maior destas virtudes, que é a Justiça.
REFERÊNCIAS
ALARCÓN, Pietro de Jesús Lora. Processo, Igualdade e Justiça. Igualdade e Justiça. Revista Brasileira
de Direito Constitucional. São Paulo: Editora Método, jul./dez.2003, p. 166.
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 20ª. ed. atual. São Paulo: Saraiva. 1999.
CANOTILHO, Joaquim José Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 4ª. Ed.,Coimbra:
Almedina, 2000.
DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 11ª. ed. rev. e atual., São Paulo:
Malheiros, 2003.
MORBIDELLI, Janice Helena Ferreri. Um novo pacto federativo para o Brasil. São Paulo: Celso
Bastos Editor: Instituto Brasileiro de Direito Constitucional, 1999.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 19ª. ed. ver. e atual. nos termos da
Reforma Constitucional, São Paulo: Malheiros, 2001.
THEODORO JUINOR, Humberto. Curso de direito processual civil. Vol. I, 25ª. ed. rev. e atual., Rio
de Janeiro: Forense, 1998.