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1- INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é propor uma reflexão a respeito do acesso ao


judiciário no Brasil, um dos meios utilizados pelo Estado para assegurar a efetivação da
justiça, o qual é afirmado peremptoriamente como “garantia salvaguardada a todas as
pessoas”, indistintamente.
Para tanto, buscar-se-á estabelecer um elo entre o Estado Democrático de
Direito propugnado pela Constituição Federal, tendo como basilares os diversos
princípios e garantias constitucionais que acabam se afunilando, posto que se dirigem a
um mesmo ponto a ser relevantemente resguardado – o princípio da segurança jurídica,
que tem como seu elemento fundamental o princípio da inafastabilidade do controle
jurisdicional, pontuando os problemas encontrados para a viabilização de efetivação da
política assecuratória que carece ser implementada no País, para se justapor ao clamor
social, a fim de conferir amplo acesso ao Judiciário, para consubstanciar o sustentáculo
do Estado de Direito.

2- ESTADO DE DIREITO – CONTEXTO HISTÓRICO

O Estado de Direito é mais que um conceito jurídico, adentra-se no campo


conceitual da política, por ter se originado dos movimentos burgueses revolucionários,
que se opunham ao absolutismo e ao Estado de Polícia, como preceituam J.J. Gomes
Canotilho1 e Celso Ribeiro Bastos2.
Ensina José Afonso da Silva3 que, originariamente Estado de Direito era conceito
tipicamente liberal, tanto que se falava em Estado Liberal de Direito, cujas
características integradoras podem ser citadas da seguinte maneira: 1) preponderância
da lei, a qual emanava formalmente do Poder Legislativo, que era composto de
representantes do povo; 2) divisão dos poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário –
ressaltando a independência e harmonia entre eles; 3) reconhecimento de liberdades e
garantias dos direitos individuais. Destarte, estas características revelam uma conquista
da civilização liberal, como salienta o preclaro autor.

1
CANOTILHO, Joaquim José Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 4ª. Ed.,Coimbra:
Almedina, 2000, p. 100.
2
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 20ª. ed. atual. São Paulo: Saraiva. 1999, p. 157.
3
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 19ª. ed. ver. e atual. nos termos da
Reforma Constitucional, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 116-7.
Assevera, ainda, José Afonso da Silva 4 que, não obstante a expressão “Estado
de Direito” tenha se evoluído, houveram concepções que a deformaram, vez que o seu
significado condiciona-se à própria idéia que se tem do direito, pelo que se pode adotar
a concepção formal do Estado de Direito ou a concepção de um Estado de Justiça,
sendo que neste os atos legislativos, executivos, administrativos e judiciais ficam
sujeitos ao controle jurisdicional no que se refere à legitimidade constitucional e legal.
Importa destacar que, da leitura da obra de José Afonso da Silva 5, depreeende-
se que: o direito não pode ser interpretado como um conjunto de normas estabelecidas
pelo Legislativo, e nem como o conceito de Estado de Direito, como sendo conceitos
idênticos, como o faz a teoria kelseniana6, porque sinteticamente se resume em
convertê-lo em Estado Legal, porque num ou noutro caso estar-se-ia cometendo
equívocos, no primeiro caso o Direito passaria a ser considerado um Estado de
Legalidade (ou Estado Legislativo) e no segundo, o direito seria convertido em Estado
Legal.
Não obstante se buscasse alicerçar a juridicidade estatal, utilizando-se de
conceitos vários, conforme a localidade, as características de cada conceito não se
confundem, vez que se amparam nos fatores próprios dos ordenamentos jurídicos de
cada localidade.

3- A ESSÊNCIA DO ESTADO DE DIREITO

O Estado de Direito tem como essência o princípio da legalidade, por ter a lei
como balizamento essencial, através da qual acreditava-se, na ocasião de sua inserção
no ordenamento jurídico, que seria suficiente para atingir o valor justiça.
Assim, como sustenta Celso Ribeiro Bastos7 que: “o Estado de Direito se resume
na submissão às leis, sejam elas quais forem.”
Insta salientar que a separação dos poderes representou a extirpação da
concentração dos poderes em mãos únicas, pelo que determinadas atribuições
passaram a ser designadas à cada órgão detentor de especialidade naquele tema, e da
mesma forma havendo um recíproco controle na atuação dos órgãos, como ensina

4
SILVA, José Afonso da, op. cit., p. 117.
5
SILVA, José Afonso da, op. cit., p. 117-9.
6
Na teoria kelseniana, o autor que originou a sua denominação, considera Direito tão-somente o direito
positivo, desvinculada de qualquer conteúdo, quer seja político, social, econômico, etc.
7
BASTOS, Celso Ribeiro, op. cit., p. 157.
José Afonso da Silva8. Dessa forma, voltados para a atividade legislativa, donde
originam-se as leis passam a reinar as pretensões igualitárias e justas, através das
representações populares, vez que o homem não fará leis consideradas injustas para
regulamentar o seu próprio convívio em sociedade.
Os pressupostos elencados na Constituição quer estabeleçam deveres, quer
delimitem restrições na atuação do homem em sociedade, revestem-se explicitamente
do devido processo legal. Efetivamente as partes têm direito ao processo, o qual será
regido integralmente pelas disposições constitucionais; as pessoas tem prévio
conhecimento da forma como se desencadeará todo o “iter” processual, entretanto a
estrita legalidade que em todos os atos deste se faz presentes não são inerências da
legalidade do Estado de Direito, como afirma Cândido Rangel Dinamarco9.
Pode-se afirmar em consentaneidade com o ensinamento de Humberto
Theodoro Júnior10 que com o Estado de Direito houve fortalecimento do Estado, vez
que foi afastada a justiça privada e introduzida a Justiça Pública ou Justiça Oficial no
País
Momento este em que o Estado assumiu o poder-dever da prestação
jurisdicional.
No Estado de Direito se conhece o caminho a ser percorrido pelo processo,
desde o seu ajuizamento – ele tende a um fim e os seus procedimentos, que
caracterizam o caminho a ser percorrido pelo mesmo, já estão previamente definidos,
evitando-se que as partes sejam surpreendidas.

4- O ADVENTO DO ESTADO DEMOCRÁTICO

Assevera Celso Ribeiro Bastos11 que, já no final do século XIX e início do século
XX, a justiça que era vista sob o prisma da aplicação da lei ao caso concreto, em estrita
observância aos seus ditames, acaba caindo por terra, face ao fim de atender o clamor
da própria sociedade, quando verificou-se que apenas o cumprimento às leis postas no
ordenamento não implementava suficiente fator para assegurar a justiça, motivo pelo

8
SILVA, José Afonso da, op. cit., p. 117.
9
DINAMARCO, Cândido Rangel.. A Instrumentalidade do Processo. 11ª. ed. rev. e atual., São Paulo:
Malheiros, 2003, p. 155.
10
THEODORO JUINOR, Humberto. Curso de direito Processual Civil. Vol. I, 25ª. ed. rev. e atual., Rio de
Janeiro: Forense, 1998, p. 34.
11
BASTOS, Celso Ribeiro, op. cit., p. 157.
qual passaria a haver, além da submissão à lei, a submissão à vontade popular, de
modo a propugnar pela igualdade e justiça não pela sua generalidade, mas pela busca
incansável da efetivação da igualização das condições dos considerados socialmente
desiguais.
Desde logo, o princípio da legalidade continua alicerçando o Estado Democrático
de Direito, da mesma forma que ocorria com o singular Estado de Direito: a diferença
consiste no fato de que no Estado Democrático de Direito, a lei não fica numa esfera
puramente normativa, mas acata as transformações políticas, econômicas e sociais que
a sociedade brasileira requer, com a evolução dos tempos.
Na realidade, transforma a sociedade, porque deixa de haver unicamente a
imposição do princípio da legalidade genericamente, mas leva em consideração as
influências dos valores que circundam a sociedade para a qual são elaboradas as leis.
Ora, se advém da vontade popular, as transformações que porventura houverem serão
valoradas até que finalmente sejam positivadas.
Consequentemente, os princípios da igualdade, legalidade e justicialidade (ou
inafastabilidade da jurisdição) apresentam-se como sustentáculo do Estado
Democrático, os quais caminham em busca da justiça.
O Estado Democrático reflete a inserção do povo na participação da coisa
pública.

5- A JUNÇÃO: ESTADO DE DIREITO + ESTADO DEMOCRÁTICO

Para fins de atendimento ao clamor social houve a junção entre o Estado de


Direito e a sociedade democrática, originando o Estado Democrático de Direito,
expressamente estabelecido no art. 1º. da Constituição Federal de 1988,
consubstanciando a forma constitutiva da República Federativa.
José Afonso da Silva12 tece precioso comentário acerca da tarefa fundamental do
Estado Democrático de Direito, a qual adiante transcrevemos: “A tarefa fundamental do
Estado Democrático de Direito consiste em superar as desigualdades sociais e
regionais e instaurar um regime democrático que realize a justiça social.”
Na nossa Constituição, a expressão democrático atribui valores da democracia
sobre todos os elementos constitutivos do Estado e sobre a ordem jurídica; portanto o
Direito embasado nestes valores tende a ajustar-se ao interesse coletivo.

12
SILVA, José Afonso da, op. cit., p. 126.
Tanto que, já no Preâmbulo a Constituição faz expressa menção ao Estado
Democrático de Direito, como princípio basilar.
Prepondera a soberania popular, que objetiva assegurar a justiça, conforme o
critério por ela considerado como “justo”, almejando a difusão da igualdade, dignidade e
direitos e liberdades fundamentais da pessoa humana, incondicionadamente, todavia os
órgãos detentores dos Poderes, que vinculam todos os poderes e atos provenientes da
vontade popular devem obediência à lei. Portanto, a Justiça pretendida num Estado
Democrático de Direito funda-se na legitimidade constitucional.
E, como preceitua o insigne mestre Pietro de Jesús Lora Alarcón 13, quanto mais
houver a reprodução dos princípios que alicerçam o Estado Democrático de Direito,
maior será a firmação deste na sociedade. Saliente-se que, na menção atribuída aos
princípios, o mestre refere-se aos princípios da igualdade, da legalidade e da
justicialidade (o da inafastabilidade do controle jurisdicional).
Vemos então, que a Constituição de 1988 trouxe novamente os princípios que já
haviam sido consagrados na Constituição de 1946, a República, o Estado Federal e
Democrático, entretanto diferencia-se no aspecto de o Estado Democrático ter se
justaposto ao Estado de Direito, encontrando-se consagrado no Preâmbulo, e a
República Federativa encontrar-se estabelecida no art. 1º.
Janice Helena Ferreri Morbidelli14 em sua obra, comenta os elementos
caracterizadores do Estado Federal e da Democracia, adiante transcrito:

Caracterizam-se os Estados democráticos por serem Estados de


direito, ou seja, aqueles nos quais o sistema legal, baseado numa
Constituição livremente promulgada e aceita, assegura direitos sociais,
políticos e econômicos, nela expressos ou dela decorrentes, e a
igualdade de oportunidade para todos, conforme os méritos de cada
um. O conceito de democracia – essencialmente político, na origem –
evoluiu para abranger, também, a justiça social.

O acesso à jurisdição num Estado Democrático de Direito torna-se possível


através da própria atuação popular, que fica jungida ao império constitucional que
difunde princípios, os quais predeterminam a conduta social, de modo a possibilitar que
os membros da sociedade saibam, antecipadamente, o caminho a ser percorrido para
realizar seus interesses.
13
ALARCÓN, Pietro de Jesús Lora. Processo, Igualdade e Justiça. Igualdade e Justiça. Revista Brasileira
de Direito Constitucional. São Paulo: Editora Método, jul./dez.2003, p. 166.
14
MORBIDELLI, Janice Helena Ferreri. Um novo pacto federativo para o Brasil. São Paulo: Celso Bastos
Editor: Instituto Brasileiro de Direito Constitucional, 1999, p. 44.
E se a legislação demonstra a vontade popular, reconhecendo os princípios
constitucionais, dadas as particularidades do princípio democrático, certamente a
referida vontade popular originária já propugnara pela justiça, razão pela qual não pode
o legislador desvirtuar esta vontade, com a inserção no sistema jurídico de normas que
se confrontem com o espírito constitucional, ou seja, a real intenção propugnada pelo
texto constitucional, como um todo, considerada a sua análise sistemática.
Com isso aparece o acesso amplo ao judiciário como sendo um dos
sustentáculos do Estado de Direito; de nada adiantaria disponibilizar de todas as
garantias constitucionais, ainda que inseridas no rol das garantias fundamentais, se não
houvesse a garantia da inafastabilidade da tutela jurisdicional.

6- CONCLUSÕES

A cada dia que passa, estreita-se mais o canal de acesso à jurisdição, não
obstante tratar-se o nosso sistema jurídico de um sistema aberto de regras e princípios,
na realidade apresenta-se bastante fechado para a sociedade, que se depara com
diversos requisitos que acabam por obstar o efetivo acesso à jurisdição.
Trata-se de verdadeiro tolhimento ao direito de acesso à prestação jurisdicional.
Neste diapasão, viola-se o corolário do Estado Democrático de Direito – o
acesso à jurisdição – É exatamente isso. Como se pode assentar a justiça num País em
que nem mesmo o acesso à jurisdição é assegurado ao seu povo?
Não há nem que se cogitar: cabe ao Estado promover iniciativas que resguardem
à população o direito de ação, em todas as instâncias. É inconcebível que existam
taxas e custas estabelecidas, cujos valores possam impedir ou dificultar a promoção de
atos processuais.
Lamentavelmente enfrentamos esta realidade. E estas obstaculizações
deságuam na ausência de efetivação da justiça.
A observância dos diversos princípios e garantias constitucionalmente
consagrados atinge os fins propugnados pelo Estado Democrático de Direito, cujos fins
colimados sintetiza-se na preservação da segurança jurídica, pelo que podemos afirmar
que o marco inicial desta preservação é o da garantia da inafastabilidade do controle
jurisdicional: no qual se conclama à todos o resguardo do direito de acesso à prestação
jurisdicional. Assim, pelo que discorremos, atualmente tem havido imposições das mais
variadas que se traduzem em verdadeiras restrições para o exercício deste direito. Se o
alicerce do Estado Democrático de Direito encontra-se estremecido, todo o sistema
jurídico sofre as conseqüências, repercutindo finalmente, na ausência de segurança
jurídica.
O artigo inaugural de nossa Constituição Federal deixa claro que a vontade
popular será preservada: a lei será aplicada, e esta foi elaborada em conformidade com
as transformações sociais, políticas, culturais, atendidas a valoração que lhe atribuiu a
sociedade, entretanto se não houver iniciativa do Estado para assegurar ao povo o
gozo das virtudes depositadas em cada um destes direitos e destas garantias
fundamentais, resta impossibilitado o alcance da maior destas virtudes, que é a Justiça.

REFERÊNCIAS

ALARCÓN, Pietro de Jesús Lora. Processo, Igualdade e Justiça. Igualdade e Justiça. Revista Brasileira
de Direito Constitucional. São Paulo: Editora Método, jul./dez.2003, p. 166.

BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 20ª. ed. atual. São Paulo: Saraiva. 1999.

CANOTILHO, Joaquim José Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 4ª. Ed.,Coimbra:
Almedina, 2000.

DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 11ª. ed. rev. e atual., São Paulo:
Malheiros, 2003.

MORBIDELLI, Janice Helena Ferreri. Um novo pacto federativo para o Brasil. São Paulo: Celso
Bastos Editor: Instituto Brasileiro de Direito Constitucional, 1999.

SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 19ª. ed. ver. e atual. nos termos da
Reforma Constitucional, São Paulo: Malheiros, 2001.

THEODORO JUINOR, Humberto. Curso de direito processual civil. Vol. I, 25ª. ed. rev. e atual., Rio
de Janeiro: Forense, 1998.

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