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Uso, ocupação e Conservação do Solo (Apostila)

Book · January 2009

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1 author:

Rhuanito Ferrarezi
University of Florida
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2009 
Uso, Ocupação e Conservação do Solo I

Rhuanito Soranz Ferrarrezi 
 
 
USO, OCUPAÇÃO E CONSERVAÇÃO DO SOLO

Rhuanito Soranz FERRAREZI

Campinas/SP

Agosto de 2009

 
 
 
 

   
FICHA CATALOGRÁFICA

Ferrarezi, Rhuanito Soranz


Uso, Ocupação e Conservação do Solo / Rhuanito
Soranz Ferrarezi. Campinas: Conplant, 2009.
82 p.: Il.

1. Uso do solo 2. Ocupação do solo 3. Conservação do


solo I. Ferrarezi, Rhuanito Soranz. II. Título.

CDD – 634.3

Rhuanito Soranz Ferrarezi


Fone: (19) 9613-9780
rhuanito@terra.com.br
Rhuanito Soranz Ferrarezi

USO, OCUPAÇÃO E CONSERVAÇÃO DO SOLO

SUMÁRIO

1 FORMAÇÃO DOS SOLOS ............................................................................................................. 4


1.1 PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA ........................................................................................................ 4
1.2 PROCESSOS GEOLÓGICOS DE FORMAÇÃO DOS SOLOS ................................................................. 4
1.2.1 Tipos de intemperismo .................................................................................................... 4
1.2.1.1 Intemperismo Físico (ou mecânico) ............................................................................ 4
1.2.1.2 Intemperismo Químico ................................................................................................ 5
1.2.1.3 Intemperismo Biológico ............................................................................................... 5
1.3 TIPOS DE SOLOS ........................................................................................................................ 6
1.3.1.1 Solos residuais ............................................................................................................ 6
1.3.1.2 Solos transportados ..................................................................................................... 6
1.4 CARACTERÍSTICAS DO SOLO ....................................................................................................... 7
1.4.1 Textura............................................................................................................................. 7
1.4.2 Estrutura do Solo ............................................................................................................. 8
1.4.3 Porosidade do Solo ......................................................................................................... 8
1.4.4 Profundidade do Solo ...................................................................................................... 9
1.4.5 Capacidade de uso .......................................................................................................... 9
2 FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE ........................................................................... 10
2.1 CONCEITOS BÁSICOS DE FERTILIDADE DO SOLO ......................................................................... 10
2.2 NUTRIENTES ESSENCIAIS PARA AS PLANTAS .............................................................................. 10
2.2.1 Critérios de essencialidade ........................................................................................... 12
2.3 ELEMENTOS BENÉFICOS ........................................................................................................... 14
2.4 FERTILIDADE DO SOLO VERSUS PRODUTIVIDADE ........................................................................ 14
2.5 DISPONIBILIDADE DE NUTRIENTES ............................................................................................. 16
2.6 LEIS DA FERTILIDADE DO SOLO OU DAS ADUBAÇÕES ................................................................... 17
2.6.1 Lei da Restituição .......................................................................................................... 17
2.6.2 Lei do mínimo ou de Liebig (1862) ................................................................................ 18
2.6.2.1 Lei de Mitscherlich ou dos rendimentos não proporcionais (incrementos
decrescentes) ............................................................................................................................ 18
2.6.2.2 Lei da Interação ......................................................................................................... 20
2.6.3 Lei do Máximo ............................................................................................................... 20
2.6.3.1 Lei da Qualidade Biológica ........................................................................................ 20
2.7 SINTOMAS VISUAIS DE DEFICIÊNCIAS DE NUTRIENTES EM PLANTAS .............................................. 21
2.8 SINTOMAS VISUAIS DE TOXICIDADE DE NUTRIENTES EM PLANTAS ................................................ 23
3 ATRIBUTOS FÍSICOS, QUÍMICOS E BIOLÓGICOS COMO INDICADORES DA QUALIDADE
DO SOLO .............................................................................................................................................. 23
3.1 O SISTEMA DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA ........................................................................................ 23
3.2 QUALIDADE DO SOLO................................................................................................................ 23
3.2.1 Qualidade inerente e qualidade dinâmica ..................................................................... 24
3.3 INDICADORES UTILIZADOS NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DOS SOLOS .......................................... 24
3.3.1 Características dos indicadores .................................................................................... 24
3.3.2 Definição de indicadores mínimos para medir a qualidade dos solos .......................... 25
3.3.3 Atributos químicos do solo ............................................................................................ 25
3.3.3.1 Matéria orgânica do solo (húmus) ............................................................................. 25
3.3.3.2 Capacidade de troca de cátions (CTC) ..................................................................... 27

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Rhuanito Soranz Ferrarezi

3.3.3.3 pH .............................................................................................................................. 27
3.3.4 Atributos físicos do solo ................................................................................................. 28
3.3.4.1 Estrutura .................................................................................................................... 28
3.3.4.2 Aeração, taxa de infiltração e capacidade de retenção de água .............................. 28
3.3.5 Atributos biológicos do solo ........................................................................................... 29
3.3.5.1 Biomassa microbiana (C e N).................................................................................... 29
3.3.5.2 Respiração do solo (reflete a atividade microbiana) ................................................. 30
3.3.6 Como medir a atividade microbiana .............................................................................. 30
3.4 CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS ...................................................................................................... 30
4 EROSÃO ....................................................................................................................................... 31
4.1 O QUE É EROSÃO? ................................................................................................................... 31
4.2 EROSÃO X MEIO AMBIENTE ....................................................................................................... 32
4.3 CAUSAS DA EROSÃO ................................................................................................................ 32
4.3.1 Causas físicas ............................................................................................................... 33
4.3.1.1 Ação do impacto das gotas de chuva........................................................................ 33
4.3.2 Causa mecânicas .......................................................................................................... 34
4.3.2.1 Compactação dos solos ............................................................................................ 34
4.3.2.2 Erosão acelerada....................................................................................................... 34
4.4 FATORES QUE CONTRIBUEM ..................................................................................................... 34
4.5 TIPOS DE EROSÃO .................................................................................................................... 35
4.5.1 Erosão hídrica................................................................................................................ 35
4.5.1.1 Erosão laminar........................................................................................................... 36
4.5.1.2 Erosão em sulcos ...................................................................................................... 37
4.5.1.3 Erosão em voçorocas ................................................................................................ 37
4.5.2 Erosão por água e vento ............................................................................................... 39
4.5.2.1 Erosão por gravidade ................................................................................................ 39
4.5.2.2 Erosão pluvial (provocada pela ação das chuvas) .................................................... 39
4.5.2.3 Erosão marinha (provocada pela ação do mar) ........................................................ 39
4.5.2.4 Erosão química .......................................................................................................... 40
4.5.2.5 Erosão glacial (provocada pela ação do gelo) .......................................................... 40
4.5.2.6 Erosão eólica (provocada pela ação do vento) ......................................................... 40
4.6 PROBLEMAS CAUSADOS PELA EROSÃO ...................................................................................... 42
4.7 EFEITOS DA EROSÃO DO SOLO .................................................................................................. 42
4.8 PRÁTICAS DE CONTROLE À EROSÃO .......................................................................................... 42
4.9 USO DA EQUAÇÃO UNIVERSAL DE PERDAS DE SOLOS (EUPS) .................................................... 43
4.9.1 Erodibilidade dos solos .................................................................................................. 43
4.9.2 Erosividade das chuvas ................................................................................................. 43
4.9.3 Fator C (de Uso e manejo do solo) ............................................................................... 44
5 PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DE SOLOS E ÁGUAS ...................................................... 45
5.1 CONCEITO E GENERALIDADES ................................................................................................... 45
5.2 CLASSIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS .................................. 45
5.3 PRÁTICAS DE CARÁTER VEGETATIVO ......................................................................................... 46
5.3.1 Florestamento e/ou reflorestamento ............................................................................. 47
5.3.2 Reflorestamento das áreas de preservação permanente (APPs)................................. 47
5.3.3 Pastagens ...................................................................................................................... 48
5.3.4 Plantas de cobertura ..................................................................................................... 48
5.3.5 Cobertura morta............................................................................................................. 50
5.3.6 Culturas em faixas ......................................................................................................... 51
5.3.7 Cordões de vegetação permanente .............................................................................. 52
5.3.8 Alternância de capinas .................................................................................................. 54
5.3.9 Faixas de bordadura ...................................................................................................... 54

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Rhuanito Soranz Ferrarezi

5.3.10 Quebra-ventos ............................................................................................................... 54


5.4 PRÁTICAS DE CARÁTER EDÁFICO ............................................................................................... 55
5.4.1 Planejamento adequado do uso da terra ...................................................................... 55
5.4.2 Preparos conservacionistas .......................................................................................... 57
5.4.3 Plantio direto .................................................................................................................. 58
5.4.4 Cultivo Mínimo ............................................................................................................... 59
5.4.5 Reposição de nutrientes via adubação orgânica e/ou mineral ..................................... 59
5.4.6 Planejamento da época de preparo de solo e de plantio .............................................. 59
5.5 PRÁTICAS DE CARÁTER MECÂNICO ............................................................................................ 60
5.5.1 Terraceamento .............................................................................................................. 60
5.5.1.1 Características básicas ............................................................................................. 61
5.5.1.2 Classificação dos terraços ......................................................................................... 62
5.5.1.2.1 Quanto à função ................................................................................................... 62
5.5.1.2.2 Quanto à largura da base ou faixa de terra movimentada ................................... 63
5.5.1.2.3 Quanto ao processo de construção ...................................................................... 66
5.5.1.2.4 Quanto à forma do perfil do terreno...................................................................... 66
5.5.1.3 Seleção do tipo e função do terraço .......................................................................... 69
5.5.1.4 Dimensionamento de um sistema de terraceamento ................................................ 69
5.5.1.5 Dimensionamento do espaçamento entre terraços................................................... 70
5.5.2 Canais escoadouros ...................................................................................................... 70
5.5.3 Canais divergentes ........................................................................................................ 71
5.5.4 Plantio em nível ............................................................................................................. 71
5.5.5 Controle de voçorocas ................................................................................................... 72
6 PROJETOS DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS (PRAD) ................................... 74
7 BACIAS HIDROGRÁFICAS ......................................................................................................... 75
7.1 BACIAS HIDROGRÁFICAS BRASILEIRAS ....................................................................................... 76
7.2 CARACTERIZAÇÃO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS .......................................................................... 77
7.3 COMPORTAMENTO HIDROLÓGICO DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS................................................... 77
7.4 DECLIVIDADE MÉDIA ................................................................................................................. 78
8 CAPACIDADE DE USO DAS TERRAS ....................................................................................... 78
8.1 CATEGORIAS DO SISTEMA ......................................................................................................... 78
8.1.1 Grupos de capacidade de uso....................................................................................... 78
8.1.2 Classes de capacidade de uso...................................................................................... 79
8.1.3 Subclasses de capacidade de uso ................................................................................ 79
8.1.4 Unidades de capacidade de uso ................................................................................... 79
8.2 ENQUADRAMENTO DAS TERRAS NO SISTEMA ............................................................................. 79
8.2.1 O solo ideal .................................................................................................................... 79
8.2.2 Método paramétrico ....................................................................................................... 80
8.2.3 Método sintético............................................................................................................. 80
8.3 ESQUEMA GERAL DO SISTEMA ................................................................................................... 80
9 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................. 80

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Rhuanito Soranz Ferrarezi

1 FORMAÇÃO DOS SOLOS

1.1 Pedologia e Edafologia

As ciências do solo estudam o solo como recurso natural da superfície terrestre, incluindo a
formação do solo (pedogênese), sua classificação e cartografia e ainda as suas propriedades físicas,
químicas, biológicas e fertilidade, bem como a relação destas propriedades com o uso e gestão dos
solos.
Edafologia é a ciência que trata da influência dos solos em seres vivos, particularmente
plantas, incluindo o uso do solo pelo ser humano com a finalidade de proporcionar o desenvolvimento
das plantas.
Pedologia, do grego pedon (solo, terra), é o nome dado ao estudo dos solos no seu ambiente
natural. É um dos dois ramos da ciência do solo, sendo o outro a edafologia. A pedologia estuda a
formação dos solos (pedogênese), a química, a morfologia dos solos e a classificação de solos.
O solo é o resultado de algumas mudanças que ocorrem nas rochas. Estas mudanças são
bem lentas, sendo que condições climáticas e presença de seres vivos são os principais
responsáveis pelas transformações que ocorrem na rocha até a formação do solo. Para entendermos
melhor este processo, acompanhe atentamente a seqüência abaixo:

a) Rocha matriz exposta.


b) Chuva, vento e sol desgastam a rocha formando fendas e buracos. Com o tempo a rocha vai
esfarelando-se.
c) Microrganismos como bactérias e algas se depositam nestes espaços, ajudando a decompor a
rocha através das substâncias produzidas.
d) Ocorre acúmulo de água e restos dos microrganismos.
e) Organismos um pouco maiores como fungos e musgos, começam a se desenvolver.
f) O solo vai ficando mais espesso e outros vegetais vão surgindo, além de pequenos animais.
g) Vegetais maiores colonizam o ambiente, protegidos pela sombra de outros.
h) O processo continua até atingir o equilíbrio, determinando a paisagem de um local.

Todo este processo leva muito tempo para ocorrer. Calcula-se que cada centímetro do solo
se forma num intervalo de tempo de 100 a 400 anos! Os solos usados na agricultura demoram entre
3000 a 12000 anos para tornarem-se produtivos.

1.2 Processos geológicos de formação dos solos

Os solos podem ser classificados em jovens: aqueles menos intemperizados, isto é, não
houve tempo de os agentes do intemperismo atuarem na decomposição das rochas e, por esse
motivo, tendem a ser mais ricos em nutrientes, e normalmente são solos mais rasos; e em solos
velhos: são solos mais intemperizados, com intensa atividade bioclimática durante longo período de
tempo, permitindo que se desenvolva um manto de intemperismo profundo; os minerais saem
facilmente do sistema e o solo é pobre em nutrientes.
O intemperismo é o conjunto de processos químicos, físicos e/ou biológicos que, combinados
ou isoladamente, causam a decomposição e a desagregação das rochas junto à superfície da crosta
terrestre. Sobre o material intemperizado age a pedogênese, o processo de formação dos solos.
Sobre os produtos do intemperismo e da pedogênese, pode agir a erosão.
O intemperismo causa modificações na textura, na estrutura e na composição química e
mineralógica da rocha original, através de mecanismos físicos e químicos, com ou sem participação
de agentes biológicos.

1.2.1 Tipos de intemperismo

1.2.1.1 Intemperismo Físico (ou mecânico)

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Rhuanito Soranz Ferrarezi

No intemperismo físico prevalece a ação das variações de temperatura na superfície


terrestre, o que ocasiona dilatações e contrações nas rochas. Em conseqüência, as rochas se
fraturam, o que favorece a ação de outros agentes. Outros importantes agentes do intemperismo
físico são o vento, as geleiras e as soluções salinas que eventualmente podem ocupar fraturas nas
rochas.
O principal papel do intemperismo físico é o de fragmentar a rocha, abrindo caminhos para
que as soluções de alteração provoquem as mudanças químicas e mineralógicas.

1.2.1.2 Intemperismo Químico

No intemperismo químico destaca-se ação da água que, combinada com outros elementos
atmosféricos, ataca as rochas em sua superfície exposta e em suas fraturas, decompondo-as e
dando origem a novos minerais, estáveis em condições superficiais.
Os principais processos químicos envolvidos são a oxidação, a redução, a hidrólise e a
hidratação, reações com ácido carbônico e a dissolução.

1.2.1.3 Intemperismo Biológico

Caracteriza-se pela ação de seres vivos que promovem ou auxiliam no processo de


intemperismo (por exemplo, raízes de plantas e minhocas). Nesse tipo de intemperismo, embora os
processos sejam predominantemente biológicos, processos químicos e físicos quase sempre estão
presentes.
Durante a alteração intempérica, os materiais primordiais, duros e compactos, com
composição química e mineralógica peculiar, dão origem a materiais friáveis, com nova textura e
estrutura, além de composição química e mineralógica modificada.
Em geral, sobre as rochas inalteradas, existe uma seqüência vertical de materiais que vão
sendo progressivamente mais atingidos pelo intemperismo, culminando com o solo na porção mais
superficial. Essa seqüência é chamada de perfil de alteração.
A pedogênese é o processo de formação do solo e como tal engloba todos os mecanismos
que transformam uma rocha alterada em solo, um material mais evoluído do ponto de vista estrutural.
Enquanto que o intemperismo envolve, sobretudo mudanças químicas e mineralógicas, a
pedogênese envolve basicamente uma reorganização estrutural do material já intemperizado, com
grande participação dos organismos e das substâncias por eles geradas.
Na verdade, o processo de formação do solo varia de uma região para outra em função do
tipo de clima e, principalmente, do tipo de rocha. De um modo geral, os solos são compostos por
camadas ou capas, como é mostrado na Figura 01. Estas camadas são conhecidas como horizontes.
Através da diferenciação dos horizontes podemos fazer comparações entre os tipos de solo.

Figura 01 - Perfil do solo, onde: A: camada orgânica: constituída por folhas e galhos que caem das
árvores, fezes e restos de animais mortos. Nesta camada geralmente encontra-se o maior número de
seres vivos; B: camada mineral: areia ou argila; C: rocha matriz: parte da rocha que não foi
transformada.

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Rhuanito Soranz Ferrare
ezi

1.3 Tiipos de solo


os

E
Existem bassicamente 2 tipos de solo:
s os RES SIDUAIS, prrovenientes da decomp
posição e
degradação de roccha subjacen nte. (também chamado os de “in siitu”), e os TRANSPORRTADOS,
provenie
entes de erossão, transporte e deposiçção de solos pré-existenttes (Figura 0
02).

Figura 02 - Fluxograma
a para identifficação de tip
pos de solo.

1.3.1.1 Solos resiiduais

S solos produzidos pe
São ela desagreg
gação das roochas. Receebem o nome de residua ais ou “in
situ” por terem sido formados
f no mesmo loca ncontram. Tipos de soloss residuais:
al onde se en

SOLO ELUVIAL:
E Ocorre na supe
erfície, apressentando-se macroscopiccamente hom
mogêneo e is
sotrópico.
Também d solo superrficial e solo residual mad
m chamado de duro.

SOLO DED ALTERAÇ ÇÃO: Ocorre gêneo e anisotrópico


e abaixo do solo eluvial e se apressenta heterog
devido à presença das estruturas das rochass originais. Também
T chamado de sap prólito e solo
o residual
jovem.

1.3.1.2 Solos tran


nsportados

S solos tra
São ansportados por processso Fluvial, Plu
uvial, Marinh
ho, Eólico, Grravitacional e Glacial.
Tipos de
e solos transp
portados:

ALUVIÃO O: é constituído por ma aterial erodid


do, retrabalh
hado e transsportado pelos cursos d'
d água e
deposita
ados nos seuus leitos e margens,
m ou ainda em fu undos e marrgens de laggoas e lagos
s, sempre
associad
dos à ambienntes fluviais.

COLUVIÃO: é consttituído por depósitos de material sollto, encontra


ados no sopéé de encostas e que
foram traansportadoss pela ação da gravidad
de ou, simple
esmente, ma aterial decom
mposto, tran
nsportado
por gravvidade.

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Rhuanito Soranz Ferrarezi

TÁLUS: é formado pelo mesmo processo de transporte por gravidade, em encostas, que produz os
coluviões, diferenciando-se pela presença ou predominância de blocos de rocha, resultando em solos
pouco espessos na fonte, o que restringe a ocorrência de tálus ao sopé de encostas de forte
declividade ou, então, ao pé de escarpas rochosas

Na Figura 03, podemos observar a classificação, classes, perfil de intemperismo, processos


de formação, métodos de escavação e perfuração e comportamento dos solos.

Figura 03 – Classificação, classes, perfil de intemperismo, processos de formação, métodos de


escavação e perfuração e comportamento dos solos.

1.4 Características do solo

1.4.1 Textura

A textura do solo refere-se à proporção relativa em que se encontram, em determinada


massa de solo, os diferentes tamanhos de partículas. Refere-se, especificamente, às proporções
relativas das partículas ou frações de areia, silte e argila na terra fina seca ao ar (TFSA). É a

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Rhuanito Soranz Ferrarezi

propriedade física do solo que menos sofre alteração ao longo do tempo. É muito importante na
irrigação porque tem influência direta na taxa de infiltração de água, na aeração, na capacidade de
retenção de água, na nutrição, como também na aderência ou força de coesão nas partículas do
solo. Os teores de areia, silte e argila no solo influem diretamente no ponto de aderência aos
implementos de preparo do solo e plantio, facilitando ou dificultando o trabalho das máquinas. Influi
também, na escolha do método de irrigação a ser utilizado.
Para simplificar as análises, principalmente quanto às práticas de manejo, os solos são
agrupados em três classes de textura:

Solos de Textura Arenosa (Solos Leves) - Possuem teores de areia superiores a 70% e o de argila
inferior a 15%; são permeáveis, leves, de baixa capacidade de retenção de água e de baixo teor de
matéria orgânica. Altamente susceptíveis à erosão, necessitando de cuidados especiais na reposição
de matéria orgânica, no preparo do solo e nas práticas conservacionistas. São limitantes ao método
de irrigação por sulcos, devido à baixa capacidade de retenção de água o que ocasiona uma alta taxa
de infiltração de água no solo e conseqüentemente elevadas perdas por percolação.

Solos de Textura Média (Solos Médios) - São solos que apresentam certo equilíbrio entre os teores
de areia, silte e argila. Normalmente, apresentam boa drenagem, boa capacidade de retenção de
água e índice médio de erodibilidade. Portanto, não necessitam de cuidados especiais, adequando-se
a todos os métodos de irrigação.

Solos de Textura Argilosa (Solos Pesados) - São solos com teores de argila superiores a 35%.
Possuem baixa permeabilidade e alta capacidade de retenção de água. Esses solos apresentam
maior força de coesão entre as partículas, o que além de dificultar a penetração, facilita a aderência
do solo aos implementos, dificultando os trabalhos de mecanização. Embora sejam mais resistentes à
erosão, são altamente susceptíveis à compactação, o que merece cuidados especiais no seu
preparo, principalmente no que diz respeito ao teor de umidade, no qual o solo deve estar com
consistência friável. Apresentam restrições para o uso da irrigação por aspersão quando a velocidade
de infiltração básica for muito baixa.

1.4.2 Estrutura do Solo

A estrutura do solo consiste na disposição geométrica das partículas primárias e secundárias;


as primárias são isoladas e as secundárias são um conjunto de primárias dentro de um agregado
mantido por agentes cimentantes. O ferro, a sílica e a matéria orgânica são os principais agentes
cimentantes.

A TEXTURA E A ESTRUTURA DO SOLO INFLUENCIAM NA QUANTIDADE DE AR E DE ÁGUA


QUE AS PLANTAS EM CRESCIMENTO PODEM OBTER.

1.4.3 Porosidade do Solo

É constituída pelo espaço poroso, após o arranjo dos componentes da parte sólida do solo e
que, em condições naturais, é ocupada por água e ar.
As areias retêm pouca água, porque seu grande espaço poroso permite a drenagem livre da
água dos solos. As argilas absorvem relativamente, grandes quantidades de água e seus menores
espaços porosos a retêm contra as forças de gravidade. Apesar dos solos argilosos possuírem maior
capacidade de retenção de água que os solos arenosos, esta umidade não está totalmente disponível
para as plantas em crescimento. Os solos argilosos (e aqueles com alto teor de matéria orgânica)
retêm mais fortemente a água que os solos arenosos. Isto significa mais água não disponível.
Muitos solos do Brasil e da região tropical, apesar de terem altos teores de argila, comportam-
se, em termos de retenção de água, como solos arenosos. São solos com argilas de baixa atividade
(caulinita e sesquióxidos), em geral altamente porosos. Muitos Latossolos sob cerrado apresentam
esta característica.

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Rhuanito Soranz Ferrarezi

1.4.4 Profundidade do Solo

Os solos quanto a espessura da camada arável podem ser classificados em:

Solos Rasos - Normalmente, a camada arável não alcança os 20 cm de profundidade, o que dificulta
o crescimento das culturas. Além do pequeno espaço disponível para as plantas explorarem suas
necessidades nutricionais e orgânicas, esses solos tanto podem encharcar facilmente provocando
anorexia às plantas, como podem secar rapidamente, provocando estresse hídrico. Esse tipo de
solo, geralmente, apresenta altos índices de erodibilidade, devendo ser revolvido o mínimo possível.

Solos com Afloramento de Rocha - Dificultam o tráfego normal de máquinas, tornando o preparo
irregular e heterogêneo, assim como apresentam altos riscos de dano aos implementos e aos
operadores. Portanto, não devem ser usados com culturas anuais mecanizadas.

Solos Profundos - Geralmente sua camada arável se aprofunda em mais de 60 cm, onde as raízes
têm um largo espaço para buscar alimentos e as plantas não sentem tanto o excesso de chuvas nem
o déficit de água. Esse tipo de solo facilita as técnicas de preparo e de manejo do solo, além de
aumentar a eficiência do uso da água de irrigação.
O princípio básico em agricultura consiste em respeitar a aptidão natural do solo, ou seja, utilizá-lo de
acordo com a sua capacidade de uso.

1.4.5 Capacidade de uso

A capacidade de uso do solo pode ser expressa como sua adaptabilidade para fins diversos,
sem que sofra depauperamento pelos fatores de desgaste e empobrecimento, através de cultivos
anuais, perenes, pastagem, reflorestamento e vida silvestre.
Com respeito à avaliação de terras para desenvolvimento agrícola, existem inúmeros
sistemas de classificação, em que diversas modalidades de interpretação podem ser realizadas em
função do seu objetivo. Assim sendo o uso mais conveniente que se deve dar ao solo depende da
localização, do tamanho da propriedade, da quantidade da terra para outros fins, da disponibilidade e
localização de água, da habilidade do proprietário e dos recursos disponíveis.
No caso específico do algodoeiro irrigado, para alcançar altos rendimentos de algodão e fibra
de boa qualidade, seu cultivo deve ser em solos que apresentem características físicas, químicas e
de fertilidade adequadas. Os solos rasos, com afloramento de rochas, salinos, excessivamente
arenosos e/ou pedregosos, demasiadamente argilosos e/ou siltosos e de baixa permeabilidade,
devem ser evitados por suas características de difícil correção.
Um fator adverso para a capacidade de uso do solo é a erosão, pois destrói o maior
patrimônio do homem, que é o solo, provocando problemas de natureza:
• Física: destrói a estrutura do solo (quebra o esqueleto) dificultando a movimentação do complexo
ar-água-nutrientes e prejudicando o crescimento de raízes e vida do solo.
• Química: provoca a perda da fertilidade natural, a diminuição do teor de matéria orgânica e a
falta de nutrientes.
• Biológica: resulta em alteração da vida do solo, mal formação das raízes e poluição da água,
prejudicando os seres aquáticos.
• Econômica: provoca a perda do solo, arrastando calcário, adubo e semente, aumentando o
custo de produção e diminuindo os rendimentos do produtor.
• Social: é fator favorável ao êxodo rural, pois diante dos baixos rendimentos, o agricultor busca
nas cidades a realização do sonho de uma vida melhor.

CURIOSIDADE:
No solo arenoso o espaçamento das partículas é maior porque as partículas são maiores e,
portanto, há mais ar entre elas. Imagine, por exemplo, um punhado de arroz e outro de farinha. Os
grãos de farinha são bem menores que os de arroz, o espaço preenchido por ar é menor e, portanto,
permanecem mais unidos.
Se o espaço é menor entre as partículas, como no solo argiloso, a água fica retida, pois tem
mais dificuldade para passar. O contrário se verifica no solo arenoso, onde o espaçamento é maior e,
portanto, a água passa mais rapidamente se infiltrando no terreno.
A capacidade de deixar a água passar (ou retê-la) é conhecida como permeabilidade do solo.

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Rhuanito Soranz Ferrarezi

2 FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE

O crescimento vegetal é controlado pela ação interativa de muitos fatores:

a) Fatores genéticos: a seleção de variedades mais produtivas e resistentes ao ataque de pragas e


doenças é de grande importância no processo produtivo.
b) Fatores ambientais: a umidade, a aeração, a energia solar, a temperatura, o solo, as pragas e
doenças, os microorganismos do solo e as práticas culturais.

Estes fatores estão estritamente relacionados, mas podem ser agrupados em Clima, Solo,
Vegetal e também o Homem, que engloba nele todos os fatores que manejados são capazes de
modificar a produção. Cada fator afeta diretamente o crescimento das plantas e cada um está
relacionado aos outros. Exemplificando: a água e o ar ocupam o espaço poroso do solo, e os fatores
que afetam as relações de água necessariamente influenciam o ar do solo. Por sua vez, mudanças
no teor de umidade afetam a temperatura do solo. O crescimento de raízes é influenciado pela
temperatura, água e ar.

2.1 Conceitos básicos de fertilidade do solo

A fertilidade do solo é parte da ciência do solo que estuda a capacidade em suprir (ter e
fornecer) nutrientes às plantas. Ela estuda quais os elementos essenciais, como, quando e quanto
eles podem interagir com o vegetal; o que limita sua disponibilidade e como corrigir deficiências e
excessos. Cada nutriente é estudado profundamente para entender melhor as transformações, a
mobilidade e a “disponibilidade” de cada um às plantas. Em decorrência da necessidade de se avaliar
a fertilidade do solo sob uma visão integral e dinâmica, tem-se empregado os termos:

a) Fertilidade natural: é a fertilidade decorrente do processo de formação do solo (material de


origem x ambiente).
b) Fertilidade atual: é a fertilidade do solo após ter sofrido a ação do homem. É a fertilidade que o
solo apresenta após receber práticas de manejo para satisfazer as necessidades das culturas; dá
a idéia da fertilidade de um solo já trabalhado.
c) Fertilidade potencial: é aquela que pode ser manifestada sob determinadas condições. Nestes
casos, evidencia-se a existência de algum elemento ou característica que impede o solo de
mostrar sua capacidade real de ceder nutrientes. Ex: solos ácidos, onde o Alumínio (Al) é alto e
Cálcio (Ca), Magnésio (Mg) e Fósforo (P) é baixa.
d) Solo fértil: é aquele que contêm todos os nutrientes em quantidades suficientes e balanceadas
em formas assimiláveis; possui boas características físicas e microbiológicas e é livre de
elementos tóxicos.
e) Solo produtivo: é um solo fértil situado em regiões com condições favoráveis. Ex: clima,
declividade, pedregosidade, alta compactação.

Importante: Um solo fértil não é necessariamente um solo produtivo, mas todo solo produtivo
é um solo fértil. Por quê? Alguns fatores como drenagem (umidade), insetos, doenças dentre outros,
limitam a produção mesmo com fertilidade adequada.
Vale destacar que: Cerca de 70% dos solos cultivados no Brasil, apresentam alguma
limitação séria de fertilidade (acidez / adubação). Portanto, através dos conhecimentos gerados pela
pesquisa em fertilidade, solos aparentemente improdutivos podem se tornar grandes produtores de
alimentos. A aplicação dos conhecimentos de fertilidade do solo pode conciliar a economicidade da
atividade agrícola com a preservação do meio ambiente.

2.2 Nutrientes essenciais para as plantas

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Rhuanito Soranz Ferrarezi

Para que uma planta se desenvolva normalmente, ela necessita de alguns requisitos
indispensáveis: local favorável à fixação de suas raízes, temperatura adequada, luz solar, ar, água e
quantidade suficiente de elementos nutrientes (Figura 04). Essas necessidades são atendidas, em
maior ou menor proporção, pelas condições de clima e solo do local onde se encontra a planta.

Figura 04 - Nutrientes essenciais às plantas.

Atendida as necessidades básicas acima mencionadas, as plantas superiores providas de


clorofila, partindo do carbono, oxigênio e hidrogênio, retirados do ar e da água e de diversos
elementos provenientes do solo, conseguem com o auxílio da energia fornecida pela luz solar,
sintetizar a matéria orgânica necessária à sua própria formação.
Assim, através da fotossíntese, as plantas têm a capacidade de formar em suas células
clorofiladas, inicialmente compostos orgânicos de estrutura simples, depois partem daí para
compostos de estrutura mais complexa, como celulose, amido, açúcares diversos, ácidos orgânicos,
gorduras, proteínas, enzimas, vitaminas etc.

Resumidamente: Planta => H2O + luz + nutrientes


Equação geral da fotossíntese: 6 CO2 + 6 H2O + luz => 6 O2 + 6 (CH2O) + ATP (energia)

Para sintetizar todas estas substâncias, as plantas utilizam 18 elementos considerados


indispensáveis ao seu metabolismo e que são denominados, nutrientes de plantas, e são agrupados
ou classificados da seguinte forma:

a) Orgânicos: carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O), que são elementos originados da água e
ar. São responsáveis pela formação de cerca de 90 a 96% dos tecidos vegetais.
b) Minerais: macro e micronutrientes, que são elementos originados do solo e responsáveis por
cerca de 10 a 4% dos tecidos vegetais. Os macronutrientes são requeridos em maiores
quantidades pela planta, e os micronutrientes são aqueles requeridos em menores quantidades.

É importante ressaltar que embora sejam requeridos em menor quantidade, os


micronutrientes são tão necessários à planta quanto os macronutrientes, sendo esta separação
meramente quantitativa (pelos teores encontrados nas plantas), podendo variar entre as diferentes
espécies:

• Macronutrientes: nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre
(S).
• Micronutrientes: boro (B), cloro (Cl), cobalto (Co), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn),
molibdênio (Mo), silício (Si) e zinco (Zn).

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Na análise da matéria seca de uma planta de milho, por exemplo, encontra-se cerca de
43,5% de carbono, 44,5% de oxigênio e 6,2% de hidrogênio. Os macronutrientes primários
respondem por 1,5% de nitrogênio, 0,2% de fósforo, 1,0% de potássio, 0,23% de cálcio, 0,2% de
magnésio e 0,2% de enxofre da matéria seca total; os micronutrientes entram com porcentagens
bem reduzidas que variam de 0,0001 a 0,08% do material analisado.
Os macronutrientes são expressos em g.kg-1 e os micronutrientes expressos em mg.kg-1,
sendo estas unidades adotadas atualmente pelo Sistema Internacional de Unidades. A Tabela 01
mostra as concentrações típicas de nutrientes para o crescimento das plantas, indicando o número
relativo de átomos de macro e micronutrientes e suas formas absorvidas pelas plantas.

Tabela 01 - Concentrações típicas de nutrientes para o crescimento das plantas (EPSTEIN &
BLOOM, 2006).
Concentração (1) Número relativo de
Elemento Formas absorvidas
mg/kg Percentagem átomos
Nitrogênio (N) N-NO3-, N-NH4+ 15.000 1,5 1.000.000
+
Potássio (K) K 10.000 1,0 250.000
+2
Cálcio (Ca) Ca 5.000 0,5 125.000
+2
Magnésio (Mg) Mg 2.000 0,2 80.000
Fósforo (P) P-H2PO4- 2.000 0,2 60.000
Enxofre (S) S-SO42- 1.000 0,1 30.000
-
Cloro (Cl) Cl 100 -- 3.000
+2
Ferro (Fe) Fe 100 -- 2.000
Boro (B) B-H3BO3 20 -- 2.000
+2
Manganês (Mn) Mn 50 -- 1.000
+2
Zinco (Zn) Zn 20 -- 300
+2
Cobre (Cu) Cu 6 -- 100
Molibdênio (Mo) Mo-MoO42- 0,1 -- 1
+2
Níquel (Ni) Ni 0,05 -- 1
(1) As concentrações são baseadas no peso de matéria seca.

2.2.1 Critérios de essencialidade

Muitos elementos podem ser encontrados na amostra de um solo, quando se faz a análise
química deste, e de modo semelhante, o mesmo pode ser observado nas plantas superiores. De
modo geral, qualquer elemento que se encontre na forma “disponível” pode ser absorvido. No
entanto, a presença de um elemento químico no tecido vegetal não implica que este seja fundamental
para a nutrição da planta. Com base nisto, foi necessário separar os elementos que são essenciais
para o crescimento e desenvolvimento das plantas, daqueles que podem ser benéficos ou ainda
tóxicos. Para tanto, foram definidos os critérios de essencialidade dos nutrientes:

1. Na ausência do elemento químico a planta não é capaz de completar o seu ciclo de vida, ou seja,
germina, mas não chega a se desenvolver e reproduzir.
2. O elemento químico é insubstituível, ou seja, na sua ausência a deficiência só pode ser corrigida
através do seu fornecimento.
3. O elemento químico faz parte de molécula de um constituinte ou reação bioquímica essencial à
planta.

RESSALTANDO: TODOS OS ELEMENTOS ESSENCIAIS DEVEM ESTAR PRESENTES NA


PLANTA, MAS NEM TODOS QUE ESTÃO PRESENTES SÃO ESSENCIAIS.

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Os nutrientes apresentam funções específicas nas plantas, conforme pode ser observado nas
Tabelas 02 e 03.

Tabela 02 - Funções e compostos de macronutrientes.


Nutrientes Função Compostos
Aminoácidos e proteínas, aminas, amidas,
Importante no metabolismo como
N aminoaçúcares, purinas e pirimidinas,
composto.
alcalóides, coenzimas, vitaminas e pigmentos.
Armazenamento e transferência de Ésteres de carboidratos, nucleotídeos e ácidos
P
energia; estrutural. nucléicos, coenzimas, fosfolipídios.
Abertura e fechamento de
estômatos, síntese e estabilidade Predomina em forma iônica, compostos
K
de proteínas, relações osmóticas, desconhecidos.
síntese de carboidratos.
Ativação enzimática,
permeabilidade. Componente da
Ca membrana e parede celular: Pectato de cálcio, fitato, carbonato e oxalato.
confere rigidez aos tecidos e dá
integridade da membrana
Ativação enzimática, estabilidade
Mg Clorofila.
de ribossomos, fotossíntese.
Grupo ativo de enzimas e Cisteína, cistina, metionina e taurina, Glutatione,
S
coenzimas. glicosídios e sulfolipídeos, coenzimas.

Tabela 03 - Funções e compostos de micronutrientes.


Nutrientes Função Compostos
Transporte de carboidratos, coordenação
com fenóis. Atua na síntese de DNA e RNA,
podendo parar a multiplicação celular e a
B síntese de proteínas. É importante no Borato e Compostos desconhecidos.
aumento do tubo polínico, na germinação do
grão-de-pólen, na ausência ocorre a queda
na taxa de fertilização.
Polifenolixidades, plastocianina,
Cu Enzimas e fotossíntese.
azurina, estelacianina, umecianina.
Citocromos, ferredozina, catálise,
Grupo ativo em enzimas e em
Fe peroxidases, reductase de nitrato,
transportadores de elétrons.
nitrogenase, reductase de sulfito.
Fotossíntese e Metabolismo de ácidos
Mn Manganina.
orgânicos.
Zn Enzimas. Anidrase carbônica, aldolase.
Co Fixação de N2. Vitamina B12.
Mo Fixação de N2. Redução de NO3. Redutase do nitrato, nitrogenase.
Cl Fotossíntese Cloreto e Compostos desconhecidos.

As principais funções dos nutrientes como o N, S e P, são como constituintes de proteínas e


ácidos nucléicos. Outros nutrientes como o Mg e os micronutrientes, são constituintes de estruturas
orgânicas, principalmente de enzimas moleculares, onde existe envolvimento direto ou indireto na
função catalítica das enzimas.
O K e possivelmente o Cl, são os únicos nutrientes que não são constituintes de estruturas
orgânicas. Estes funcionam principalmente na osmorregulação, ou seja, na manutenção do equilíbrio
eletroquímico nas células e na regulação das atividades enzimáticas.
O Co é tido como elemento importante na síntese de vitamina B12 a qual, provavelmente, é
necessária para a síntese da leg-hemoglobina, uma proteína que possui papel primordial na
manutenção do ambiente redutor nos nódulos, necessário à fixação do N2 pelas bactérias do gênero
Rhizobium. Sendo, portanto, essencial para leguminosas em associação simbiótica com bactérias
fixadoras de N2 atmosférico.

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2.3 Elementos benéficos

Com a evolução das pesquisas na área de nutrição de plantas foram identificados alguns
elementos que podem ser considerados essenciais para algumas espécies de plantas ou mesmo
substituir parcialmente a função dos elementos essenciais. Outros, quando em concentrações muito
baixas, estimulam o crescimento de plantas, porém sua essencialidade não é demonstrada ou,
apenas demonstrada sob determinadas condições especiais. Esses elementos têm sido classificados
como elementos benéficos.
O efeito desses elementos no crescimento da planta decorre em alguns casos, de aumento
da resistência a pragas e doenças, ou favorecem a absorção de outros elementos essenciais. Entre
estes se encontram o Ni, Si, Se e Na.
O Ni tem sido capaz de prevenir e reduzir a infecção de plantas por fungos que promovem a
ferrugem em trigo. Alguns autores propuseram a inclusão na lista dos elementos essenciais, devido à
detecção desse elemento na urease contida nos tecidos vegetais, embora não seja necessário a
presença dele para a síntese da proteína, mas como um componente metálico essencial para a
estrutura e funcionamento da enzima.
O Si possui grande diversidade de efeitos benéficos para diferentes espécies. A resistência à
infecção por fungos, a ataques de insetos, e à toxidez de Mn são exemplos clássicos. A deposição de
SiO2 na parede celular de folhas e do caule de cana-de-açúcar, de arroz e de sorgo, parece conferir
considerável rigidez a essas estruturas.
O Se não é tão importante para plantas, mas é essencial para animais, que o requerem em
quantidades muito pequenas. Por outro lado, ele pode tornar-se tóxico se os teores forem elevados
nas forrageiras. Quanto aos seus efeitos benéficos, existem poucos casos na literatura com relatos
de respostas positivas, os quais se restringem a poucas espécies e em concentrações muito baixas.
O Na é considerado essencial para algumas espécies do gênero Atriplex encontrados na
Austrália e no Chile. O íon Na+ tem se mostrado capaz de substituir o K+ em algumas funções
relacionadas com o equilíbrio iônico interno das plantas.

2.4 Fertilidade do solo versus produtividade

Muitas tentativas foram feitas ao longo do tempo, para se conceituar a fertilidade do solo. E,
sempre existiu a tendência de se expressar a fertilidade do solo em termos de produtividade
(produção por unidade de área), ou seja, fertilidade e produtividade como sinônimos. Entretanto, com
o desenvolvimento de técnicas analíticas, o homem adquiriu maior facilidade e capacidade para
entender sobre a disponibilidade dos nutrientes, o que lhe permitiu desvincular parcialmente a
produção da planta da fertilidade do solo como único e verdadeiro índice da quantidade de nutrientes
passíveis de serem absorvidos.
Para esclarecer a diferença entre produtividade e fertilidade, imagine um solo fértil que gere
altas produções de algodão na época de verão, quando as temperaturas são elevadas, existe água
suficiente e os dias são mais longos. Sem dúvida, no inverno sucederá o contrário e os rendimentos
cairão substancialmente. Qual o motivo desta queda de produção, uma vez que a fertilidade
permanece adequada? Conclui-se então que o uso de um solo fértil nem sempre implica na obtenção
de alta produtividade, pois têm-se casos de solos férteis com impedimentos físicos, com altos teores
de argila, de declividade pronunciada, com alta pedregosidade, de alta compactação etc.
O conceito sobre fertilidade do solo apresenta algumas limitações importantes em sua
interpretação. Assim, a resposta em produção de uma planta pode ser diferente quando se aplicam
doses crescentes de um nutriente em solos de diferente fertilidade. Ex: um Latossolo vermelho
escuro (LE) tem maior produtividade do que uma Areia Quartzosa (AQ) quando se mede a produção
de matéria seca do capim jaraguá (Hyparrhenia rufa) em resposta à aplicação de diferentes doses de
enxofre. Portanto, o LE tem maior produtividade refletindo a sua maior capacidade para ceder
elementos essenciais (Figura 05).

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Figura 05 - Produção de matéria seca de capim jaraguá (Hyparrehenia rufa) em resposta à aplicação
de cinco doses de enxofre em um latossolo vermelho escuro (LE) e uma areia quartzosa (AQ).

Da mesma forma, um solo fértil pode ser aproveitado de forma diferente por espécies de
plantas distintas, uma vez que as plantas variam em sua capacidade de absorção e utilização de um
mesmo nutriente. Um exemplo disso pode ser observado na Figura 06, onde a braquiária mostra
maior capacidade de absorção e produção em relação ao Jaraguá. Portanto, o conceito de fertilidade
deve considerar também a espécie a ser cultivada.

Figura 06 - Produção de matéria seca de duas espécies de gramíneas forrageiras, braquiária


(Braquiaria decumbens) e jaraguá (Hyparrehenia rufa) em resposta à aplicação de cinco doses de
enxofre em um latossolo vermelho escuro (LE).

Com a evolução das pesquisas na área das relações solo-planta, o conceito estático de que
a fertilidade do solo é sua capacidade de ceder nutrientes, tem sido revisto. Espécies leguminosas
em associação simbiótica com rizóbio podem apresentar maior capacidade de acidificação na região
da rizosfera, trazendo reflexos importantes para sua nutrição, ou seja, a planta tem a capacidade em
alterar o ambiente radicular, interferindo, assim, na capacidade do solo em ceder nutrientes.
Por outro lado, essas respostas poderiam ser diferentes em outro solo, devido à diferentes
características entre solos, mostrando que o produto final resulta de um interação solo-planta. Um
exemplo disso pode ser visualizado nas Figuras 07 e 08.

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Figura 07 - Produção de matéria seca da parte aérea de capim andropogon (Andropogon gayanus) e
jaraguá (Hyparrehenia rufa) em resposta à aplicação de diferentes doses de P em um latossolo
vermelho amarelo de Minas Novas.

Figura 08 - Produção de matéria seca da parte aérea de capim andropogon (Andropogon gayanus) e
jaraguá (Hyparrehenia rufa) em resposta à aplicação de diferentes doses de P em um latossolo
vermelho amarelo de Sete Lagoas.

Sob o ponto de vista de um determinado nutriente o solo pode ser fértil, porém, em relação à
outro nutriente não. O mesmo pode ser observado em relação à espécie a ser cultivada, ou ainda
para diferentes variedades de uma mesma espécie.

2.5 Disponibilidade de nutrientes

A fertilidade do solo tem sido conceituada como a capacidade do solo ceder nutrientes
essenciais às plantas, ou seja, como a “disponibilidade” de nutrientes essenciais. O termo
“disponibilidade” está associado com valores fornecidos por métodos de extração química, que
apenas raramente extraem dos solos os teores disponíveis; eles fornecem valores que apresentam
correlações significativas com o que seriam os teores disponíveis. Portanto, o termo “disponível” é um
conceito global que nem sempre pode ser traduzido diretamente por um número.
O teor disponível de um nutriente em uma determinada condição depende, além das formas
químicas em que o mesmo se encontra no solo (Ex: micronutrientes quelatizados a radicais orgânicos
são mais disponíveis do que na forma iônica; da umidade do solo (condições climáticas); da presença
de outros nutrientes e/ou elementos (Al3+, por exemplo); da capacidade de absorção da cultura; do
desenvolvimento do sistema radicular; do tempo de crescimento e principalmente do pH (Figura 09).

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Figura 09 - Disponibilidade de nutrientes em função do pH.

2.6 Leis da fertilidade do solo ou das adubações

Para a maximização da produtividade vegetal, há necessidade de uma adequada


disponibilidade de N, P, K, Ca, Mg, S, B, Cl, Cu, Fe, Mn, Mo e Zn. Senão, a produção será limitada
pelo nutriente que estiver em menor disponibilidade.
Diversos princípios ou leis tem sido propostos para o estabelecimento matemático das
relação entre crescimento de uma planta e da qualidade e proporção dos elementos essenciais a ela
fornecidos. A importância do conhecimento dessas leis está na recomendação equilibrada, em termos
quantitativos e qualitativos, pois afetam o uso eficiente de fertilizantes.
Os princípios da adubação são provenientes de três leis fundamentais: lei da restituição, lei
do mínimo e lei do máximo e, duas derivações da lei do mínimo: lei dos incrementos
decrescentes e lei da interação e uma derivada da lei do máximo: lei da qualidade biológica.

2.6.1 Lei da Restituição

Baseia-se na necessidade de restituir ao solo aqueles nutrientes absorvidos pelas plantas e


exportados com as colheitas, ou seja, aqueles que não foram reciclados. Essa lei considera o
esgotamento dos solos em decorrência de cultivos sucessivos, como uma das origens da redução da
produtividade. “É indispensável, para manter a fertilidade do solo, fazer a restituição, não só dos
nutrientes exportados pelas colheitas, mas, também daqueles perdidos do solo, por erosão, lixiviação,
fixação, volatilização etc” (VOISIN, 1973). Algumas limitações desta lei:

• Muitos solos são naturalmente pobres em um ou mais nutrientes, ou apresentam problemas de


acidez ou salinidade, portanto, o primeiro objetivo seria corrigir as deficiências ou excessos
existentes.
• Os solos estão submetidos à perda de nutrientes por lixiviação e mesmo por erosão, perdas que
muitas vezes são intensificadas pela adição de corretivos e fertilizantes, por exemplo, pelo uso do
gesso, que aumenta a mobilidade de cátions em profundidade, no perfil do solo. Em geral, essas
perdas são insignificantes para P, mas para N, K, S, Ca e Mg podem ser muito importantes.

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2.6.2 Lei do mínimo ou de Liebig (1862)

"O crescimento e a produção da planta são limitados pelo nutriente que se encontra em
menor quantidade no meio". Esta lei estabelece uma proporcionalidade direta entre a quantidade do
fator de produção, em nível mais limitante e a colheita (Y = a + bX).
RESUMINDO: o nutriente que regula a produção é o que estiver no mínimo, ou menos
disponível para as plantas. Esta proposição é de importância universal no manejo da fertilidade do
solo, visando uma recomendação equilibrada de fertilizantes, sendo que o conceito de equilíbrio de
nutrientes é vital em fertilidade do solo, quando se pensa na produção das culturas. Nos sistemas de
exploração agrícola objetivando elevadas produtividades, a lei do mínimo torna-se de maior
importância. Inclusive, devendo-se considerar a disponibilidade de nutrientes tais como S, Mg e
micronutrientes. Infelizmente, os princípios básicos da proposição secular de Liebig são muitas vezes
esquecidos pelos técnicos.
Esta lei tem sido ilustrada, tradicionalmente, por um barril, tendo algumas tábuas com
diferentes alturas, sendo a tábua com menor altura a que representa o elemento mais limitante. O
aumento dessa tábua permitirá aumentar o nível de líquido no barril até o limite de outra tábua, agora
a de menor altura. Atualmente, a lei do mínimo se exprime, com mais freqüência, considerando seu
aspecto qualitativo, ou seja, a insuficiência de um nutriente no solo reduz a eficácia dos outros
elementos e, por conseguinte, diminui o rendimento das colheitas, e não pela eliminação completa
dos efeitos de outros nutrientes (Figura 10).

Figura 10 - Lei do Mínimo ou de Liebig.

2.6.2.1 Lei de Mitscherlich ou dos rendimentos não proporcionais (incrementos


decrescentes)

"Quando se aplica doses crescentes de um nutriente, os aumentos de produção são elevados


inicialmente, mas decrescem sucessivamente". Mitscherlich observou que, com o aumento
progressivo das doses do nutriente deficiente no solo, a produtividade aumentava rapidamente no
início (tendendo a uma resposta linear) e estes aumentos tornavam-se cada vez menores até atingir
um platô, quando não havia mais respostas a novas adições (Figura 11).
Os fundamentos dessa lei são básicos para a análise econômica de experimentos de
adubação, no cálculo da dose econômica, onde a produtividade máxima econômica é aquela
produtividade que proporciona maior lucro, ou seja, produzir mais unidades (Kg ou t) por hectare, com
menores custos de produção por unidade. Normalmente, a nível prático, a dose econômica é de 80-
90% da produção máxima (Figura 12).

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Figura 11 - Relação entre resposta da produção e uso eficiente de nutriente. Dibb (2000).

Figura 12 – Lei dos incrementos decrescentes. Relação entre a eficiência das adubações e a
Produtividade Máxima Econômica (PME). PM = Produtividade Máxima. Fonte: Alcarde et al., 1989.

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2.6.2.2 Lei da Interação

Variante moderna da lei do mínimo, considerando-se o aspecto qualitativo: “Cada fator de


produção é tanto mais eficaz quando os outros estão mais perto do seu ótimo”. Esta lei exprime que é
ilusório estudar, isoladamente, um fator de produção, e que pelo contrário, cada fator deve ser
considerado como parte de um conjunto, dentro do qual ele está relacionado com outros por efeitos
recíprocos, pois eles se interagem. Muitos experimentos têm mostrado que existem interações entre
os elementos e outros fatores de produção, isto é, um ou mais elementos exercem influência mútua
ou recíproca. Essa influência pode ser positiva ou sinérgica, ou ao contrário, ser negativa ou
antagônica (Tabela 04).

Tabela 04 - Exemplos de interação entre íons.

2.6.3 Lei do Máximo

“O excesso de um nutriente no solo reduz a eficácia de outros e, por conseguinte, pode


diminuir o rendimento das colheitas” (Voisin). Nesse caso, é o excesso que limita ou prejudica a
produção. “A dose faz o veneno” (Paracelso).

2.6.3.1 Lei da Qualidade Biológica

“A aplicação de fertilizantes deve ter como primeiro objetivo a melhoria da qualidade do


produto, a qual tem prioridade sobre a produtividade” (Voisin). Este pesquisador propôs esta lei
considerando os efeitos negativos na alimentação animal pela produção de pastagem com teores
desequilibrados de nutrientes, pela adição exagerada de certos corretivos ou adubos. Embora seja
importante, esta lei é de aplicação prática difícil. Um exemplo: na cultura do fumo não se deve usar
adubação potássica com cloreto potássico, pois o íon Cl- prejudica a combustão do fumo. Da
mesma forma, fontes nitrogenadas à base de NO3 - deve ser evitadas em culturas como a alface,
devido a este íon ser tóxico ao ser humano.

OBS: Somente a adubação não é responsável pela produção; a contribuição dos adubos no
aumento da produtividade das culturas é de 30-50%; de 50-70% depende de variedades, sementes
selecionadas, práticas culturais, pragas e doenças, etc. O calcário não deve ser esquecido: a relação
ideal é de 4:1 e no Brasil hoje é de 1:1 baixo uso de calcário e fertilizantes. Outras interações

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importantes: água x adubação; variedades x adubação. E lembrando que: de nada adianta água e
variedade de alto potencial produtivo se adubação não acompanha.

2.7 Sintomas visuais de deficiências de nutrientes em plantas

CAUSA DA
ÓRGÃO DA PLANTA SINTOMA DOMINANTE DESORDEM
UNIFORME N, S
FOLHAS VELHAS E CLOROSE INTERNERVAL OU
MADURAS MANCHAS Mg
NECROSE MARGINAL K
UNIFORME Fe (reticulado fino)
CLOROSE INTERNERVAL OU
FOLHAS NOVAS E ÁPICES MANCHAS Mn (reticulado grosso)
NECROSE Cu
DEFORMAÇÕES Zn,B, Ca

N - Aparecem primeiro nas folhas mais velhas, depois desenvolvem-se nas mais novas, conforme a
situação se torna mais severa. Outros sintomas da deficiência de N incluem:
• plantas raquíticas e angulosas;
• menor perfilhamento em cereais como o arroz e o trigo;
• baixo conteúdo de proteína na semente e nas partes vegetativas;
• quantidade reduzida de folhas;
• maior suscetibilidade a estresse por condições ambientais, pragas e doenças.

P - A primeira manifestação da falta de P é uma diminuição no crescimento da planta. As folhas


podem ficar torcidas. Com a severidade da deficiência, áreas mortas podem se desenvolver nas
folhas, nos frutos e no caule. As folhas velhas são afetadas antes que as novas devido ao movimento
do P na planta (mobilidade). Algumas plantas, tais como o milho, podem desenvolver uma coloração
púrpura ou avermelhada nas folhas inferiores e no caule.

K - Um dos sintomas mais comuns de deficiência de K é o secamento ou queimamento das margens


das folhas, normalmente aparecendo primeiro nas folhas mais velhas. As plantas deficientes em
potássio crescem vagarosamente e desenvolvem pouco o sistema radicular. Os caules são
quebradiços e o acamamento é comum. A semente e os frutos são pequenos e enrugados; as
culturas mostram pouca resistência a doenças e ao estresse por umidade.

Ca - Lembre-se, o cálcio não se transloca na planta, assim, os sintomas de deficiência aparecerão


nas folhas mais novas. Ocorre também:
• lento desenvolvimento do sistema radicular. As raízes freqüentemente desenvolvem uma coloração
escura e em casos severos o meristema de crescimento morre.
• as folhas novas crescem lentamente e o ápice torna-se gelatinoso.
• plantas mais sujeitas à seca, porque a falta de cálcio limita o desenvolvimento das raízes e a
absorção de água.

Mg - Quando uma deficiência ocorre, as folhas mais velhas são afetadas primeiro:
• perda da cor entre as nervuras da folha, geralmente iniciando-se nas margens e no ápice e
progredindo para o centro. Isso dá às folhas de milho uma aparência listrada;
• as folhas podem tornar-se quebradiças e encurvadas para cima;
• as folhas podem ficar mais finas que o normal;
• o ápice e a margem das folhas podem adquirir coloração púrpura-avermelhada no caso de
deficiências severas (especialmente no algodão);
• o baixo teor de Mg na folha pode diminuir a fotossíntese e o crescimento geral da cultura.

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Rhuanito Soranz Ferrarezi

S - As deficiências de enxofre são freqüentemente confundidas com as de N. Os sintomas de


deficiência de S aparecem como crescimento raquítico das plantas e amarelecimento geral das
folhas.

B - Alguns sintomas específicos de deficiência de B em várias culturas são os seguintes:


• Amendoim: vagens vazias e manchas pretas nas sementes.
• Cafeeiro: internódios mais curtos, folhas pequenas e deformadas, morte de gemas terminais e
superbrotamento.
• Citros: formação de goma no albedo e nos gomos, casca mais grossa.
• Couve-flor: manchas negras na “cabeça”.
• Macieira: cortiça na parte interna do fruto.
• Mamoeiro: calombos no fruto, exsudação de leite.
• Trigo: panículas com poucos grãos.

Cu - Os sintomas de deficiência de Cu podem não ser tão fáceis de identificar quanto os de outros
micronutrientes. Uma deficiência pequena ou moderada às vezes causa apenas menor crescimento e
redução na colheita. Deficiências mais severas podem causar amarelecimento das folhas,
murchamento das mesmas e morte das regiões de crescimento dos ramos. Como o cobre
praticamente não se redistribui dentro da planta, as deficiências aparecem primeiro nos órgãos mais
novos. As plantas deficientes mostram caules ou colmos fracos e tendência de murchar mesmo
quando há umidade suficiente.
Nos cereais, os sintomas são mais evidentes entre o fim do perfilhamento e a emergência da folha
bandeira. A cor parda da panícula e o encurvamento desta e do colmo são sintomas comuns no trigo
e na cevada. As panículas são freqüentemente vazias ou contém grãos enrugados. Na cana-de-
açúcar, as touceiras raquíticas se inclinam para o chão adquirindo o aspecto de pisoteadas pelo
gado.

Fe - Os sintomas de deficiência de Fe aparecem primeiro nas folhas mais novas, na parte superior da
planta, na ponta dos ramos (cacau, café, citros) ou na sua base (coco, dendê) porque ele não se
transloca, isto é, permanece quase todo no órgão em que primeiro se acumulou. A deficiência de Fe
apresenta-se com uma coloração verde-pálido (clorose), com acentuada distinção entre as nervuras
verdes da folha e o tecido internerval. A deficiência severa pode tornar a planta inteira amarelo
esbranquiçado.
Às vezes, a deficiência de Fe é difícil de ser identificada porque os efeitos podem ser mascarados
pela deficiência de outro nutriente ou pelo desequilíbrio nutricional. Doenças, infestação de insetos ou
dano por herbicidas podem ser diagnosticados incorretamente como deficiência de Fe (ou outro
nutrientes).

Mn - O manganês não é translocado na planta, assim, os sintomas de deficiência aparecem primeiro


nas folhas mais novas. As deficiências ocorrem com mais freqüência em solos com alto teor de
matéria orgânica, em solos com pH de neutro a alcalino, e em solos que naturalmente têm baixo
conteúdo de Mn. Os sintomas de deficiência variam pouco entre as culturas:
• Soja e batatinha: as folhas superiores primeiramente ficam amareladas entre as nervuras que
permanecem verdes durante algum tempo. As folhas mais novas no princípio são verde-pálidas e
depois amarelo-pálidas. À medida que a deficiência se toma mais severa aparecem áreas pardas e
mortas.
• Citros: aparece uma clorose entre as nervuras das folhas mais novas. As nervuras e uma estreita
faixa de tecido ao longo delas permanecem verdes, com o aspecto de um reticulado grosso. O
sintoma é facilmente confundido com o provocado pela deficiência de zinco (Zn). No caso da falta de
Zn, entretanto, as folhas são menores, mais estreitas, os internódios mais curtos. Na ponta dos ramos
forma-se um tufo (roseta) de folhinhas, o que não ocorre quando há falta de Mn, a qual não provoca
diminuição no tamanho das folhas.

Zn - Os sintomas de deficiência de Zn incluem:


• plantas raquíticas, com internódios curtos (roseta);
• áreas verde-claras entre as nervuras das folhas novas, com folhas menores (folhas pequenas);
• largas faixas brancas em cada lado da nervura central do sorgo e do milho.

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Mo - Os sintomas de deficiência de molibdênio consistem geralmente no amarelecimento das folhas e


diminuição no crescimento. No caso das leguminosas, a falta de Mo provoca sintomas de deficiência
de N pois diminui a fixação de N de que tais plantas necessitam para viver.

2.8 Sintomas visuais de toxicidade de nutrientes em plantas

CAUSA DA
ÓRGÃO DA PLANTA SINTOMA DOMINANTE DESORDEM
NECROSE MARGINAL B, Cl (Sais)
FOLHAS VELHAS
MADURAS CLOROSE MANCHAS
Mn
TRANSIENTE NECRÓTICAS
FOLHAS JOVENS CLOROSE UNIFORME Zn, Cu, Ni

3 ATRIBUTOS FÍSICOS, QUÍMICOS E BIOLÓGICOS COMO INDICADORES DA QUALIDADE


DO SOLO

3.1 O sistema de produção agrícola

Estamos diante de um sistema de produção agrícola que é constituído de três partes: o


vegetal, o solo e o ambiente externo.
O vegetal contribui com o seu potencial genético com que lhe é particular, por meio do qual
pode transformar elementos, substâncias e energia captados do solo e do ambiente externo em
materiais que são colhidos e usados pelo homem. Não há nenhuma combinação de clima e solo
capaz de forçar uma produção superior à alcançada pelo potencial genético. O solo tem contato
direto apenas com o sistema radicular da planta e serve como suporte mecânico ao vegetal,
fornecendo água, oxigênio, energia na forma de calor e nutrientes na forma de íons e substâncias, e
então a fertilidade do solo é proporcional ao seu conteúdo de materiais e energia e à sua capacidade
de liberá-los para as plantas. Clima é o nome dado à capacidade do ambiente externo de oferecer
oxigênio, CO2, calor, luz e água ao vegetal e ao solo.
Desta forma, a produtividade resulta da participação conjunta do sistema e é usualmente
expressa em unidades do órgão colhido por unidade de área, não sendo correto dizer-se
produtividade do solo, nem do vegetal, nem do ambiente, pois, isoladamente nenhum integrante do
sistema produz nada. A função dos agrônomos é manejar adequadamente o sistema para que a
produtividade máxima seja alcançada.

3.2 Qualidade do solo

O conceito de qualidade do solo é uma preocupação atual. A rápida degradação do solo sob
exploração agrícola no mundo, especialmente nos países tropicais em desenvolvimento, despertou
nas últimas décadas a preocupação com a qualidade do solo e a sustentabilidade da exploração
agrícola. Desde então, vários conceitos de qualidade do solo foram propostos: o melhor deles, porém,
define a qualidade do solo como sendo a sua capacidade de manter a produtividade biológica, a
qualidade ambiental e a vida vegetal e animal saudável na face da terra. Ou seja, devemos produzir,
mas utilizando sistemas de manejo que observem esses aspectos.
Além da preocupação com a produção de alimentos, que polarizou a pesquisa até próximo
aos anos 80, esse conceito traz uma nova visão mostrando a preocupação com a preservação do
ambiente e a manutenção do solo livre de agentes biológicos e químicos prejudiciais à vida. Como
agentes biológicos, podemos citar práticas que propiciem a presença, por exemplo, de rizobactérias
deletérias ao crescimento de plantas, que liberam substâncias prejudiciais aos vegetais ou podem
causar doenças no sistema radicular. Como agentes químicos, podemos citar a utilização em grande
escala de produtos fitossanitários (pesticidas) que podem causar, por exemplo, efeitos tóxicos em

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microrganismos que atuam em processos benéficos tais como bactérias do gênero Rhizobium e
fungos micorrízicos arbusculares.
Outro conceito é aquele que diz que a qualidade do solo é a capacidade do mesmo em
exercer determinadas funções em ecossistemas naturais ou manejados pelo homem. Desta forma,
fica claro que o solo exerce determinadas funções e, quando essas são comprometidas afeta a
qualidade do solo. São funções do solo:

a) sustentar a atividade biológica, diversidade e produtividade


b) regular o fluxo de água e solutos
c) filtrar e tamponar, degradando, imobilizando e detoxificando resíduos
d) armazenar e ciclar nutrientes e outros elementos dentro da biosfera terrestre
e) prover o suporte de estruturas socioeconômicas e proteção para tesouros arqueológicos
associados com habitações humanas

3.2.1 Qualidade inerente e qualidade dinâmica

Os solos variam em relação à sua capacidade para exercer suas funções. A qualidade é
inerente a cada tipo de solo. No entanto, este conceito engloba duas partes distintas, porém,
interconectadas: qualidade inerente e qualidade dinâmica.
Esses termos eram utilizados sem critério, ou seja, fazia-se confusão entre propriedade que
era considerada como não modificável pelo manejo e característica que se podia modificar. Dentro
deste contexto, propriedade como textura e mineralogia são inatas ao solo e determinadas pelos
fatores de formação tais como: clima, material de origem, relevo, tempo e organismos. Coletivamente
essas propriedades determinam a qualidade inerente do solo. Elas auxiliam na comparação entre um
solo e outro e avalia o solo para usos específicos. Por exemplo: um solo argiloso tem uma maior
capacidade de retenção de água do que um arenoso. Assim o argiloso é um solo de maior qualidade
inerente.
Mais recentemente a qualidade do solo tem se referido à qualidade dinâmica - definida como
modificações naturais nas características do solo em função de atividades humanas e manejo.
Algumas práticas de manejo tais utilização de restos de cultura como cobertura morta tais como no
sistema de plantio direto, aumentando o teor de matéria orgânica, pode ter um efeito positivo na
qualidade dinâmica do solo.
A qualidade do solo refere-se à qualidade dinâmica – aquelas características que são
afetadas pelo manejo. A avaliação da qualidade do solo é uma ferramenta para verificar-se a
interferência das práticas de manejo na sustentabilidade dos sistemas agrícolas.

3.3 Indicadores utilizados na avaliação da qualidade dos solos

A avaliação da qualidade dos solos é feita através de indicadores que podem ser
características (ou atributos) físicas, químicas e biológicas e processos que ocorrem no solo como
associações simbióticas, tais como micorrizas (ocorre na maioria das plantas cultivadas) e
associações entre rizóbios e leguminosas. Também podem ser características morfológicas e visuais
de plantas. Os indicadores são mensurados para monitorar sistemas de manejo que induzem
modificações no solo.

3.3.1 Características dos indicadores

Os indicadores da qualidade dos solos possuem determinadas características que


possibilitam a sua utilização tais como:

a) Fáceis de mensurar
b) Capazes de medir modificações nas funções básicas do solo
c) Sensíveis às variações de manejo

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d) Podem ser aplicáveis às condições de campo


e) Representativos dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo
f) Podem ser avaliados por métodos qualitativos e quantitativos

O critério para escolha dos indicadores da qualidade dos solos é a sua relação com
características específicas do solo. Os indicadores podem ser medidos por métodos qualitativos e
quantitativos:
Por exemplo: Se infiltração de água é o indicador avaliado, uma medida qualitativa seria a
observação do escorrimento superficial (runoff) excessivo no campo. A quantitativa seria medir a taxa
de infiltração. A avaliação qualitativa tem um elemento de subjetividade e, portanto, a avaliação deve
ser feita por uma única pessoa ao longo do tempo para minimizar a variabilidade dos resultados. Já a
medida quantitativa pode ser feita por diferentes pessoas obtendo-se resultados similares.

3.3.2 Definição de indicadores mínimos para medir a qualidade dos solos

Para avaliação da qualidade do solo, de forma que possam ser sugeridas modificações nos
sistemas de manejo em utilização pelos agricultores a tempo de evitar a sua degradação, é
necessário definir atributos do solo e do ambiente sensíveis ao manejo e de fácil determinação. A
proposta atual é a definição de um conjunto mínimo de atributos químicos, físicos e biológicos, que,
acompanhados ao longo do tempo, são capazes de detectar as alterações da qualidade do solo em
função do manejo.
A escolha dos indicadores mínimos varia com o tipo de solo. Por exemplo: Acúmulo de sais e
condutividade elétrica jamais seriam usados na avaliação da qualidade de solos da Amazônia (que
são ácidos), porém são importantes em solos de regiões semi-áridas.

3.3.3 Atributos químicos do solo

3.3.3.1 Matéria orgânica do solo (húmus)

A matéria orgânica (MO) do solo pode ser avaliada pelo teor de carbono orgânico total, sendo
considerada como um indicador chave da qualidade do solo. Isso decorre do fato de que seu teor é
muito sensível em relação às práticas de manejo, principalmente nas regiões tropicais e subtropicais,
onde, nos primeiros anos de cultivo, mais de 50% da matéria orgânica previamente acumulada é
perdida por diversos processos, entre esses a decomposição microbiana e a erosão. Segundo: a
maioria dos atributos do solo relacionados às suas funções básicas têm estreita relação com a MO
tais como: estabilidade dos agregados, estrutura, infiltração e retenção de água, resistência à erosão,
atividade biológica, capacidade de troca de cátions (CTC), disponibilidade de nutrientes para as
plantas, lixiviação de nutrientes, liberação de CO2 e outros gases para a atmosfera.
Considerando a importância da matéria orgânica como indicador da qualidade dos solos,
falaremos com mais detalhes sobre esse atributo enfocando inicialmente o conceito de húmus, pois é
ele, na realidade, o grande responsável pela manutenção da qualidade dos solos.

a) Conceito de húmus

O Húmus é um dos produtos finais resultante da atuação dos organismos do solo (macro e
micro) através de processos de degradação e síntese nos restos vegetais e animais presentes no
solo. Ou seja, o húmus origina-se da degradação química e biológica de resíduos orgânicos (animais
e vegetais) e da atividade sintética da biota do solo. Mas geralmente as pessoas utilizam o termo
matéria orgânica como sinônimo de húmus, o que não é verdadeiro.

b) As substâncias húmicas

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A matéria orgânica do solo consiste de restos vegetais ou animais não decompostos ou


parcialmente decompostos (restos de plantas, raízes, microrganismos e seus produtos de
decomposição). Pode ser subdividida em: substâncias húmicas (ácidos fúlvicos, ácidos húmicos e
humina) e substâncias não húmicas, tais como: carboidratos, proteínas, ceras, gorduras etc.
As substâncias húmicas são formadas por profundas alterações de substâncias não húmicas
através da degradação microbiana. São ricas em carbono (45-65 %), e oxigênio (30-40 %), que
podem, em parte, estar ligados à grupos funcionais, como OCH3, OH e COOH, contendo nitrogênio
(2-6 %) e pequenas quantidades de fósforo, enxofre orgânico e cinzas. Diferem, entre si, em função
da importância do núcleo, natureza das unidades que a constituem e composição das cadeias laterais
e dos agrupamentos funcionais. As substâncias húmicas caracterizam-se pela:

a) Polifuncionalidade – existência de vários grupamentos funcionais, com ampla faixa de


reatividade, característica de misturas heterogêneas de polímeros que interagem entre si.
b) Carga molecular – desenvolve caráter aniônico na estrutura macromolecular
c) Hidrofilicidade – tendência em formar pontes de hidrogênio fortes com moléculas de água
d) Flexibilidade estrutural – capacidade de associar-se intermolecularmente e mudar a configuração
molecular em resposta a variação do pH por exemplo.

Essas propriedades associadas à mistura heterogênea de moléculas poliméricas dá o grau de


complexidade das substancias húmicas. Elas podem ser subdivididas em ácidos fúlvicos, ácidos
húmicos e humina em função de diversas características diferentes entre elas.
Os ácidos fúlvicos são solúveis em soluções aquosas em qualquer valor de pH. Eles
possuem uma taxa de carbono relativamente fraca e o oxigênio bastante abundante com grande
número de grupos funcionais ácidos, principalmente, COOH. Trata-se de uma molécula relativamente
pequena, com núcleo pouco desenvolvido, cadeias laterais numerosas e acidez mais elevada que os
ácidos húmicos. Apresentam peso molecular mais baixo e solubilidade maior em água do que as
outras frações. Tem maior importância em transporte de pesticidas, porque estão presentes em
águas superficiais.
Os ácidos húmicos são solúveis em soluções aquosas básicas, mas precipitam em pH
menor que 2. Eles possuem um núcleo preponderante, cadeias reduzidas, molécula mais
condensada, volumosa, rica em carbono e menos em oxigênio, que pode fazer parte do núcleo sob
forma não reativa.
A humina é insolúvel em soluções aquosas a qualquer valor de pH. Ela é menos conhecida e
parece ser mais condensada que os ácidos húmicos, e sua insolubilidade pode estar relacionada com
uma ligação muito íntima com a fração mineral.
A relação C/N presente nos ácidos húmicos e fúlvicos é superior a 50% à observada na MO,
indicando, neste caso, um menor grau de degradabilidade dessas substâncias. Com um grau de
polimerização relativamente maior dos ácidos húmicos é possível constatar um estágio mais
avançado de humificação. Entretanto, os ácidos fúlvicos apresentam maior quantidade de
grupamentos COOH e juntamente com os grupos fenólicos caracterizam a acidez total das
substâncias húmicas. Os ácidos fúlvicos apresentando maior acidez total, e quando da sua
dissociação apresentam maior capacidade de troca de cátions.
Pelo que foi visto anteriormente, as substâncias húmicas apresentam variações em termos de
predominância dos átomos presentes, condensação do núcleo, e também em termos de solubilidade
em água. Do ponto de vista agronômico, é de suma importância a quantificação dessas frações visto
que, por exemplo, os ácidos fúlvicos são a fração que apresentam maior solubilidade em água e
maior reatividade, e, desta forma, a sua maior presença no solo possivelmente irá contribuir para uma
maior CTC, retenção de água, capacidade tampão, maior facilidade de liberação de nutrientes (S, P,
N, por exemplo) e, em termos ambientais maior interação com os pesticidas.
Grande parte das substâncias húmicas estão fortemente ligadas à fração mineral do solo.
Desta forma, nenhum solvente empregado para extração dessas substâncias no solo deixa de alterar
sua natureza molecular. Portanto, diferentes procedimentos utilizados para extração podem levar a
diferentes resultados. Diversos solventes são utilizados para a extração do material húmico do solo,
podendo ser dividido de acordo com as suas características químicas e físicas em diferentes grupos:
bases fortes, sais neutros e solventes orgânicos. O solvente mais utilizado é o NaOH à temperatura
ambiente. É o mais eficiente em extrair maior porcentagem das substâncias húmicas, no entanto
pode causar grandes modificações.
O fracionamento químico utilizando-se extratores ácidos e bases fortes é baseado na
solubilidade das diferentes frações em ácidos e bases.

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Existe também o fracionamento físico, onde se utilizam peneiras, as frações maiores


representam materiais menos humificado e as menores aqueles em estágio mais avançado de
decomposição. Estes do ponto de vista agrícola são mais importantes, pois atuam modificando
atributos físicos e químicos do solo.
Do ponto de vista agronômico o húmus do solo tem um papel preponderante na qualidade do
solo bem como na produtividade. A relação alta produtividade e alto teor de húmus no solo já é um
fato comprovado. Mas aí vem a pergunta? Como as substâncias húmicas (húmus) contribuem para a
fertilidade do solo (física, química e biológica) e quais as implicações da presença dessas
substâncias no comportamento dos pesticidas no ambiente?
De maneira geral podemos dizer que o húmus contribui para a melhoria da qualidade do solo
e produtividade das culturas através dos seus efeitos positivos nos atributos físicos, químicos e
biológicos do solo. Além do mais serve como reserva de nutrientes N, P e S para as plantas.

3.3.3.2 Capacidade de troca de cátions (CTC)

Considerando-se que uma das funções básicas do solo é fornecer nutrientes às plantas, um
atributo químico de grande importância também é a CTC.
A CTC dos colóides do solo (orgânicos e inorgânicos) está relacionada com a presença de
cargas negativas na superfície desses colóides. O colóide, portanto, apresenta atividade de
superfície. A origem das cargas nos colóides inorgânicos (minerais de argila) pode ser permanente ou
dependente de pH. É permanente quando originada da substituição isomórfica quando da formação
do mineral. Se o silício (tetravalente) é substituído pelo alumínio (trivalente) há um superávit de carga
negativa, gerando uma carga permanente. Se o alumínio (trivalente) é substituído pelo magnésio
(divalente) também há superávit de carga negativa. Isso ocorre durante a formação do mineral de
argila (têm diâmetro menor que 0,002 mm). As cargas dependentes de pH são geradas em função
dos grupos OH presentes nas arestas quebradas dos óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio
(estágios mais avançados do intemperismo):

R-COOH + OH -----> R-COO- + H2O R-OH + OH -----> R-O- + H2O

Solos com pH ácido e com alto grau de intemperismo desenvolvem cargas positivas nas
arestas quebradas dos cristais de óxidos de ferro e alumínio, ocorrendo a seguinte reação: R-OH +
H+ -----------> R-OH2+. Neste caso atraindo ânions (isso é característico dos solos tropicais de baixo
pH que fixam fósforo).
No caso das substâncias húmicas, estas apresentam uma CTC bastante superior ao dos
minerais de argila (colóides inorgânicos), cerca de 400-800 cmolc.kg-1, devido principalmente à
grande quantidade dos grupos carboxílicos e fenólicos, o que explica sua significante contribuição na
CTC do solo (as cargas são dependentes de pH).
Um solo com alta CTC apresenta maior capacidade de reter íons como cálcio, magnésio,
amônio etc (nutrientes das plantas). As perdas por lixiviação desses cátions são menores. Outro
aspecto importante da CTC dos solos é que:

a) As cargas negativas atraem íons H+, funcionando desta forma como reservatório desses íons que
estão em equilíbrio com o H+ da solução do solo. Desta forma, aumentam o poder tampão do
solo, influenciando na menor variação do pH deste solo.
b) Apresenta maior capacidade de retenção de água. Em solos tropicais e subtropicais a CTC da
matéria orgânica pode representar um grande percentual da CTC total do solo. Nesses solos, a
manutenção ou o aumento dos teores de matéria orgânica é fundamental na retenção de
nutrientes e na diminuição de sua lixiviação.
c) Determinação do carbono orgânico – Uma das formas para determinar-se o C-orgânico é através
da combustão seca e determinação do CO2 liberado (após remoção dos carbonatos). O CO2
liberado é capturado em um reagente e determinado titulometricamente ou gravimetricamente.

3.3.3.3 pH

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Por definição, pH significa potencial hidrogeniônico, e é o logaritmo do inverso da


concentração de hidrogênio = 1/ log [H+] ou – Log [H+]. Sua escala vai de 0 a 14. Acima de 7 é básico
e abaixo é acido. Em 7 é neutro. O pH do solo afeta:

a) Disponibilidade de nutrientes e, conseqüentemente, a nutrição da planta (Figura 09)


b) o pH afeta a população microbiana. Os microrganismos do solo são muito sensíveis às variações
de pH. Geralmente as bactérias e actinomicetos preferem pH de neutro à alcalino e os fungos pH
ácido. Neste último caso há diminuição da competição com as bactérias. Os efeitos do pH sobre
os microrganismos podem ser diretos pela ação do íon H+ na permeabilidade das membranas por
exemplo.
c) o pH afeta a decomposição da matéria orgânica e, conseqüentemente a velocidade do processo.
Considerando que esta decomposição ocorre pela ação de microrganismos na sua maioria
heterotróficos (utilizam como fonte de C e energia substâncias orgânicas complexas), se esta
população é afetada pelo pH, compromete o processo. Este processo é feito por uma vasta
quantidade de microrganismos que produzem enzimas extracelulares específicas, que degradam
determinado substrato. Por exemplo, o complexo ligninase degrada a lignina; as proteases as
proteínas.

3.3.4 Atributos físicos do solo

3.3.4.1 Estrutura

A estrutura é o principal atributo físico do solo afetado pela presença do húmus. A partir do
seu efeito sobre a agregação do solo, indiretamente são afetadas as demais características físicas do
solo como: densidade aparente, porosidade, aeração, retenção e infiltração (transporte) de água e
nutrientes que são fundamentais na capacidade produtiva do solo.
Estrutura é o arranjo das partículas primárias do solo (areia, silte e argila) definindo-se uma
geometria de poros. A estrutura pode ser modificada pelo sistema de manejo. A estrutura granular é a
mais desejável, pois neste aspecto existe uma melhor distribuição entre macro e microporos. O
húmus tem um profundo efeito na estrutura do solo. A deterioração da estrutura que acompanha um
manejo intensivo do solo é usualmente menos severa em solos adequadamente suprido com húmus.
Quando o húmus é perdido o solo tende à tornar-se compacto.
A formação dos agregados envolve dois processos: AGREGAÇÃO = FLOCULAÇÃO +
CIMENTAÇÃO. A floculação ocorre pela aproximação entre as partículas primárias. Mas, para que
esses agregados sejam estáveis, ou seja, resistam a ação da água, por exemplo, que atua na
destruição dos mesmos, é necessário que haja certa estabilidade. Essa estabilidade é dada pela
ação dos microrganismos do solo (hifas de fungos que envolvem os agregados por ex.) e ação do
húmus solo. Essa ação se deve principalmente à presença da grande quantidade de radicais
orgânicos que interagem com a superfície do mineral através de ligações de alta resistência, como
pontes de hidrogênio. A matéria orgânica envolve o agregado dificultando a entrada de água.
Outra categoria de compostos orgânicos importante na estabilização dos agregados
(microagregados) são os polissacarídeos. Eles fazem parte do grupo dos carboidratos, os quais
representam entre 5-25% da matéria orgânica do solo. Os polissacarídeos do solo são mucilagens
provenientes do metabolismo microbiano e da decomposição de raízes, resíduos vegetais e animais
e da exsudação radicular.

3.3.4.2 Aeração, taxa de infiltração e capacidade de retenção de água

Esses atributos físicos são indiretamente governados pela estrutura do solo. Um solo bem
estruturado (estrutura granular) apresenta uma melhor distribuição entre macro e microporos,
refletindo-se numa boa aeração e taxa de infiltração. Não há problemas de escorrimento superficial
(runoff) e acúmulo de água no perfil.
As substâncias húmicas aumentam a capacidade de retenção de água pela presença
principalmente dos grupos carboxílicos e fenólicos que geram cargas positivas e negativas

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(aumentam a CTC do solo) e nestes locais existe a atração das moléculas de água, diminuindo,
nestas condições a percolação da água, aumentando o armazenamento de água no perfil

3.3.5 Atributos biológicos do solo

3.3.5.1 Biomassa microbiana (C e N)

A biomassa microbiana é definida como a parte viva da matéria orgânica do solo, incluindo
bactérias, fungos, actinomicetos, protozoários, algas e microfauna. Excluindo-se raízes de plantas e
animais do solo maiores do que 5x10-3 μm3, a biomassa microbiana contém em média, de 2 a 5% do
C orgânico do solo.
Considerando-se que a ciclagem de nutrientes é governada pela atuação dos organismos do
solo e em maior proporção os microrganismos, a quantificação da biomassa microbiana (massa de
matéria viva dos microorganismos do solo) é um excelente indicador da qualidade dos solos.
Estimativas da biomassa microbiana têm sido usadas em estudos do fluxo de C e N, ciclagem
de nutrientes e produtividade das plantas em diferentes ecossistemas terrestres. Estas medidas
permitem quantificação da biomassa microbiana viva, presente no solo em um determinado tempo.
Possibilitam também a associação da quantidade de nutrientes imobilizados e a atividade microbiana
com a fertilidade e o potencial de produtividade do solo, servindo de base para estudos de formação
e ciclagem da matéria orgânica. Como a biomassa microbiana constitui a maior parte da fração ativa
da matéria orgânica, esta é mais sensível que o resultado quantitativo do C orgânico e do N total para
aferir alterações na matéria orgânica causadas pelo manejo do solo e pelas práticas de cultivo.
A manutenção da produtividade dos ecossistemas agrícolas e florestais depende, em grande
parte, do processo de transformação da matéria orgânica e, por conseguinte, da biomassa
microbiana do solo. Esta representa um importante componente ecológico, pois é responsável pela
decomposição e mineralização de resíduos vegetais do solo, utilizando esses materiais como fonte
de nutrientes e energia para a formação e desenvolvimento de suas células, bem como para a
síntese de substâncias orgânicas no solo. Os microrganismos imobilizam temporariamente C, N, P, K,
Ca, Mg, S e micronutrientes, que são liberados após sua morte e decomposição, podendo tornar-se
disponíveis para as plantas.
Em solos de baixa fertilidade e com cobertura vegetal pobre em N, a taxa de decomposição
da matéria orgânica seria menor, propiciando a imobilização do N da biomassa microbiana. Nessa
situação, a biomassa estaria representando um compartimento de reserva. Quando a relação C/N é
mais baixa (<30) a quantidade de N imobilizada seria menor, pois esse elemento estaria em
quantidade suficiente para atender à atividade metabólica dos microrganismos e ao processo de
decomposição da matéria orgânica. Neste caso, a biomassa microbiana estaria funcionando como
catalisadora e/ou fonte na decomposição da matéria orgânica.

a) Biomassa microbiana e atributos edáficos

No solo, o desenvolvimento de microrganismos depende da disponibilidade de nutrientes, pH,


temperatura, umidade, aeração, estrutura, textura etc.
Existe uma relação entre a biomassa microbiana e atributos edáficos do solo tais como o teor
de argila. Por exemplo: a argila aumenta a adsorção de compostos orgânicos e nutrientes,
proporciona maior capacidade tampão da acidez e protege os microrganismos contra predadores (os
microrganismos ficam adsorvidos às partículas de argila). Solos com maior teor de argila apresentam
maior imobilização de C e N pela biomassa microbiana
A biomassa microbiana é proporcionalmente a menor fração do C orgânico do solo.
Apresenta rápida ciclagem, responde intensamente às flutuações sazonais de umidade e
temperatura, ao cultivo e ao manejo de resíduos. Nesse sentido, é possível utilizá-la como indicador
biológico dos níveis da matéria orgânica do solo ou como índice de aferição da sustentabilidade de
sistemas de produção.
A adição de MO pode levar a um novo equilíbrio em situações em que a conversão de um
ecossistema natural em agricultura ou pastagem resultou em declínio da matéria orgânica do solo e,
conseqüentemente, em mudanças nos atributos físicos, químicos e biológicos do solo.

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Rhuanito Soranz Ferrarezi

3.3.5.2 Respiração do solo (reflete a atividade microbiana)

Quanto à fonte de carbono e energia, os microrganismos do solo podem ser classificados em:
a) Autotróficos – fotoautotróficos e quimioautotróficos
b) Heterotróficos – saprofíticos e parasíticos
Os autotróficos utilizam o carbono proveniente do CO2. Os fotoautotróficos obtém carbono
do CO2 e energia da luz (ex; algas verde-azuladas – cianobactérias que fazem fotossíntese). Os
quimioautotróficos obtém carbono do CO2 e energia da oxidação de substâncias inorgânicas
simples. Exemplos clássicos são as bactérias que fazem nitrificação – nitrosomonas e nitrobacter
(NH4 ---> NO2 ----> NO3) e das bactérias oxidantes do enxofre – Thiobacillus thiooxidans (SO + ½ O2
+ H2O ------> H2SO4).
Os heterotróficos obtêm carbono e energia da oxidação de substâncias orgânicas complexas.
A maioria dos microrganismos do solo são heterotróficos, como por exemplo, microrganismos que
fazem amonificação (Pseudomonas, Bacillus mycoides etc.) Os heterotróficos saprofíticos se
alimentam da matéria orgânica morta – os amonificadores por exemplo. Os parasíticos se alimentam
de matéria orgânica viva. Ex. Fungo Fusarium graminearum causador da giberela do trigo.
Considerando-se a natureza fortemente heterotrófica da população microbiana do solo, o
substrato orgânico geralmente torna-se fator estressante, que limita a atividade microbiana. Na
maioria dos solos ocorre uma explosão populacional em resposta à adição de carbono orgânico.
O manejo adequado dos restos culturais constitui-se um fator crítico para o equilíbrio da
população, atividade microbiológica e produtividade dos solos. Assim, o homem pode alterar a
química do solo e, conseqüentemente, a quantidade e qualidade dos microrganismos presentes
naquele sistema de produção.

3.3.6 Como medir a atividade microbiana

A atividade metabólica dos microrganismo pode ser medida através de indicadores como o
CO2 liberado, O2 consumido e atividades enzimáticas (fosfatase, urease, desidrogenase –
correlacionada com a respiração microbiana quando fontes externas de C são adicionadas ao solo –
e celulase).

(CH2O)n + O2 ------> CO2 + H2O + energia (ATP)

A respiração dos microrganismos do solo pode ser mensurada através do CO2 liberado no
campo (é mais vantajoso, pois reflete a atividade de aeróbios e anaeróbios) pela retirada de amostras
com material resistente ao impacto. Dessas amostras retiram-se as raízes, sendo o solo colocado
num cilindro contendo um recipiente com solução de NaOH ou KOH. O cilindro é vedado e as
medidas são feitas concomitantemente com a respiração edáfica.
No laboratório a respiração basal ou estimulada pode ser medida. Neste caso, tem sido
largamente usada para estudo sobre influências de diversos atributos físicos do solo (como umidade,
temperatura e aeração) e efeitos de resíduos usados na agricultura (pesticidas) sobre a mineralização
da matéria orgânica do solo.
Atualmente o grande desafio da ciência do solo é demonstrar a relação entre os níveis de
atividade biológica do solo e o funcionamento sustentável do ecossistema. Nesse sentido, uma
maioria de pesquisadores considera que a medida mais prática do “status biológico” do solo seja a da
biomassa microbiana. Assim a biomassa e atividade microbiana devem fazer parte dos estudos de
ciclagem de nutrientes, tendo como enfoque a sua contribuição na decomposição e mineralização da
matéria orgânica e, conseqüentemente, na fertilidade do solo, por meio da ciclagem microbiana, que
torna os nutrientes disponíveis para as plantas. Além disso, esses dados quando associados aos
valores de pH, teores de C orgânico, N total, umidade e argila do solo permitem uma avaliação
sistêmica do manejo adotado e a obtenção de índices de aferição da sustentabilidade.

3.4 Considerações práticas

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Rhuanito Soranz Ferrarezi

Aqui no Brasil o sistema de Plantio Direto tem contribuído significativamente para o avanço
quantitativo e qualitativo da agricultura de grande parte da região tropical brasileira. Consagrado
como o sistema conservacionista mais efetivo na resolução dos problemas de degradação dos frágeis
solos dos trópicos, reduzindo os custos de proteção ambiental, o Plantio Direto tem representado o
melhor caminho para a diminuição dos custos de produção e sustentabilidade da produtividade
agropecuária, sendo adaptado a todos os tamanhos e tipos de exploração.

4 EROSÃO

4.1 O que é erosão?

A erosão é um processo natural de desagregação, decomposição, transporte e deposição de


materiais de rochas e solos, pela ação combinada da gravidade com a água, vento, gelo ou
organismos, que vem agindo sobre a superfície terrestre desde os seus princípios. Contudo, a ação
humana sobre o meio ambiente contribui exageradamente para a aceleração do processo, trazendo
como conseqüências a perda de solos férteis, a poluição da água, o assoreamento dos cursos d'água
e reservatórios e a degradação e redução da produtividade global dos ecossistemas terrestres e
aquáticos.
Os processos erosivos iniciam-se pelo impacto da água com o terreno, desagregando suas
partículas. Esta primeira ação do impacto é complementada pela ação do escoamento superficial, a
partir do acúmulo de água em volume suficiente para propiciar o arraste das partículas liberadas
(Figura 13).

Figura 13 – Cobertura vegetal, solos perdidos por erosão e % de água de chuva perdida por
escorrimento superficial (1 acre = 0,4046 hectares).

Os dois agentes principais da erosão são as chuvas (erosão hídrica) e o vento (erosão
eólica). No Brasil, a água é que causa os maiores prejuízos (FERREIRA, 1981). O processo tende a
se acelerar, à medida que mais terras são desmatadas para a exploração da madeira e/ou para a
produção agrícola, uma vez que os solos ficam desprotegidos da cobertura vegetal e,
conseqüentemente, as chuvas incidem diretamente sobre a superfície do terreno (GUERRA, 1999).
A erosão destrói os solos e as águas e é um problema muito sério em todo o mundo. Devem
ser adaptadas práticas de conservação de solo para minimizar o problema. Em solos cobertos por
floresta a erosão é muito pequena e quase inexistente, mas é um processo natural sempre presente e

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Rhuanito Soranz Ferrarezi

importante para a formação dos relevos. O problema ocorre quando o homem destrói as florestas,
para uso agrícola e deixa o solo exposto, porque a erosão torna-se severa, e pode levar a
desertificação.
A erosão também pode ser acelerada por meio de: 1) Culturas e cultivos não adaptados às
características dos solos; 2) Queimadas; 3) Desmatamento; 4) Mineração; e 5) Ocupação irregular e
não planejada de morros.

4.2 Erosão x meio ambiente

Os processos erosivos são condicionados basicamente por alterações do meio ambiente,


provocadas pelo uso do solo nas suas várias formas, desde o desmatamento e a agricultura, até
obras urbanas e viárias, que, de alguma forma, propiciam a concentração das águas de escoamento
superficial.
O fenômeno de erosão vem acarretando, através da degradação dos solos e, por
conseqüência, das águas, um pesado ônus à sociedade, pois além de danos ambientais irreversíveis
produz também prejuízos econômicos e sociais, diminuindo a produtividade agrícola, provocando a
redução da produção de energia elétrica e do volume de água para abastecimento urbano devido ao
assoreamento de reservatórios, além de uma série de transtornos aos demais setores produtivos da
economia.
Os processos erosivos se iniciam pela retirada da cobertura vegetal, seguido pela adução e
concentração das águas pluviais na implantação de obras civis (saída de coletores de drenagem em
estradas, arruamento urbano, barramento de águas pluviais pela construção de estradas forçando
sua concentração nas linhas de drenagem), estradas vicinais, ferrovias, trilhas de gado, uso e manejo
inadequado das áreas agrícolas.
A urbanização é a forma mais drástica do uso do solo, e impõe a adoção de estruturas pouco
permeáveis, fazendo com que ocorra diminuição da infiltração e aumento da quantidade e da
velocidade de escoamento das águas superficiais.
A quebra do equilíbrio natural entre o solo e o ambiente, através da remoção da vegetação,
muitas vezes promovida e acelerada pelo homem, expõe o solo a formas menos perceptíveis de
erosão, que promovem a remoção da camada superficial deixando o subsolo (geralmente de menor
resistência) sujeito à intensa remoção de partículas, o que culmina com o surgimento de voçorocas.
Quando as voçorocas não são controladas ou estabilizadas, além de inutilizar áreas aptas à
agricultura, podem ameaçar obras viárias, áreas urbanas, assorear rios, lagos e reservatórios,
comprometendo, por exemplo, o abastecimento das cidades, projetos de irrigação e até a geração de
energia elétrica.
Torna-se, portanto, importante a identificação das áreas cujos solos sejam suscetíveis a esse
tipo de erosão, sobretudo, em regiões onde não existem planos de conservação, bem como o estudo
dos fatores e processos que possam agravar este fenômeno, visando a obtenção de uma
metodologia de controle do mesmo.

4.3 Causas da erosão

O mecanismo da erosão ocorre da seguinte maneira: as gotas de chuva que golpeiam o solo,
desprendem as partículas de solo no local que sofrem o seu impacto e transportam por salpicamento
as partículas desprendidas, também, imprimem energia, em forma de turbulência, à água de
superfície. A água que escorre na superfície do terreno, principalmente nos minutos iniciais, exerce a
ação transportadora.
Podem ser distinguidos dois tipos de causas da erosão: causas físicas e causas mecânicas.
Se essas causas agissem isoladamente elas não teriam ação negativa sobre o solo. Entretanto, como
estas agem em conjunto, fornecem uma ação final resultante do esforço conjunto aumentando desta
forma, o seu potencial devastador. Pode-se observar a abrangência do assunto, na Figura 14, onde a
erosão do solo aparece como um problema central do diagnóstico ambiental.

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R
Rhuanito Soran
nz Ferrarezi

Figura 14 - Diagrama da erosão.

4.3.1 C
Causas físic
cas

S
São aquelass oriundas da d natureza, que pela in nexistência ded proteção, agem sobre o solo,
ando-o. Dentre estas causas tem-se
prejudica e: ação dos raios
r solaress, queima dee restos de culturas
c e
ação do impacto dass gotas de ch huva.
O raios solares agindo
Os o sobre o so olo desnudo trazem pro oblemas para a o mesmo. Quando
existe umma camada que intercepte estes ra aios, tais com
mo restos de e cultura porr exemplo, esta
e ação
deixa de
e existir.
O raios ultrravioletas co
Os om seu pode er biocida e os raios inffravermelhoss, com seu poder de
aquecimmento, e portaanto, de evaporação de água, quand do em excessso, podem d dificultar as condições
c
de vida do solo, provocar
p cicllos de ressecamento e umedecimento do sollo, que prov vocará o
aparecimmento de fisssuras, as qu uais facilitarã
ão a ação errosiva, por outro
o lado o ressecamen nto leva à
redução do teor de umidade e a uma estru utura muito apertada
a e por
p isso de grande resis stência à
erosão.
C
Como os raiios solares, o fogo tamb bém age neg gativamente sobre o solo o. O fogo se empre foi
considerrado uma forma rápida e ao mesmo o tempo cruel de elimina ar as coisass. Atua nos casos
c de
queima ded restos dee cultura com mo biocida, de eixando tudoo limpo e bon nito como é o conceito de muitos,
porém oso restos de cultura deve em ficar no solo como fonte
f de vidaa dos organismos que ali a vivem,
dando, conseqüente
c emente, ao solo,
s uma bo oa estrutura e, além dissso, servindo de obstáculo à ação
direta da
as gotas de chuva e do os raios sola ando ainda a ação horizzontal das águas
ares, dificulta á de
chuva. Logo,
L é fácil observar a ação nociva desta prátic ca. E daí a importância d do manejo adequado
a
dos solo
os do ponto ded vista ecoló ógico.

4.3.1.1 Ação do im
mpacto das gotas de ch
huva

A gotas de
As e chuva têm m uma gran nde importân ncia no fenô ômeno erosivo, pois qu uando as
mesmass caem sobre o solo desscoberto, po oderão comp pactá-lo e deesagregá-lo aos poucos s. A gota,
devido a sua energia a cinética, ca
ausa um impacto no solo o compactand do o mesmo, e ao mesm mo tempo,
ar partículas do solo que se desagreg
faz salta garam. Estas s partículas, ao voltarem
m à superfície
e do solo,
encontraam uma pelíccula de água a, a qual commeça a transp portar as mesmas.
E
Estas gotas,, cujo tamannho varia mu uito ao cair ao
a solo, têm m, realmente,, uma ação que atua
como elemento de impacto. As gotas de uma chuva de d 50 mm, que q caem em m 1 hectare, quando
somadass as suas en nergias de immpacto, têm energia sufic ciente para levantar uma a camada de e 17,5 cm
a uma altura
a c em toda a superfície
de 90 cm, e de 1 hectarre. Isto daria
a aproximadaamente, a suuspensão
de 2000 0 toneladas a uma alturra de 90 cm m. Partindo, destas condições é fácil observar o poder
compacttador das go otas de chuvva, principalmente se a mesma cai sobre solo descoberto, ou seja,
sem veg getação viva ou morta que o esteja prrotegendo.
A
Além desta ação,
a a gota
a, ao cair, tem
m ainda a aç ção desagregadora (que é a que pre edomina),
que faz saltar as parrtículas de solo.
s Estas partículas soltas são facilmente arrasstadas pela lâ âmina de

Págin
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Rhuanito Soranz Ferrarezi

água que existe na superfície do solo. É fácil observar estas partículas que saltam por ocasião da
chuva. As partículas menores, provenientes desta desagregação, serão arrastadas posteriormente no
escoamento superficial de uma pequena lâmina de água, seja horizontal ou verticalmente, originando
então a erosão laminar ou a erosão vertical ou interna.
Assim, origina-se a erosão laminar a partir do impacto da gota de chuva, que participa em
95% do problema erosivo. Somente 5% deste problema são causados pela água corrente.

4.3.2 Causa mecânicas

São as causas que se originam pela ação das máquinas e implementos agrícolas,
comprimindo o solo ou mobilizando-o excessivamente.

4.3.2.1 Compactação dos solos

A compactação dos solos oriunda da ação das máquinas e implementos agrícolas é um


problema que traz sérias conseqüências para a produtividade, estes equipamentos aplicam ao solo
um baixo nível de compactação que não é suficiente para aumentar a sua resistência (ao
cisalhamento) em nível tal que ele possa resistir ao fenômeno erosivo, mas reduz sua permeabilidade
aumentando dessa forma o escoamento superficial.
Esta compactação é principalmente exercida através do rodado das máquinas que
comprimem o solo e destroem a sua estrutura, e pela ação compactadora dos discos e grades.
Este fenômeno de compactação contribui para a redução da permeabilidade do solo
aumentando e/ou facilitando a erosão laminar, bem como podendo a camada de pó e partículas muito
finas estarem ainda sujeitas à erosão eólica.
A erosão não ocorre simplesmente pelo fato de chover. A erosão não é uma causa que
provoca tantos problemas, mas é conseqüência que se desencadeia devido à uma série de fatores
que agem em conjunto e em interação.
As causas da existência da erosão são, portanto, a eliminação progressiva das condições
naturais do solo, o que faz com que o equilíbrio do seu conteúdo, seja abalado. Se o equilíbrio natural
do solo é quebrado, este apresentará diversos problemas e começará a se degradar. O solo
começará a ficar compactado (com problemas de infiltração de água e ar), afetando ainda mais todas
as reações químicas e biológicas normais que nele se processam e resultando em perda de
produtividade e início de erosão.

4.3.2.2 Erosão acelerada

A erosão acelerada, provocada pelas ações antrópicas, pode ser laminar (ou em lençol),
quando causada por escoamento difuso das águas das chuvas resultante na remoção progressiva
dos horizontes superficiais do solo; e erosão linear, quando causada por concentração das linhas de
fluxo das águas de escoamento superficial, resultando em incisões na superfície do terreno na forma
de sulcos, ravinas e voçorocas.
A voçoroca é a feição mais flagrante da erosão antrópica, podendo ser formada através de
uma passagem gradual da erosão laminar para erosão em sulcos e ravinas cada vez mais profundas,
ou então, diretamente a partir de um ponto de elevada concentração de águas pluviais.

4.4 Fatores que contribuem

Em regiões tropicais, um dos principais efeitos do clima na degradação do meio ambiente


parece estar aliado ao fenômeno da precipitação e sua capacidade de causar erosão. A ação da
chuva no fenômeno de erosão depende da sua intensidade, duração e freqüência. O potencial das
chuvas em provocar erosão é denominado erosividade.

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Rhuanito Soranz Ferrarezi

Diversos são os fatores que influenciam a erosão, dentre os principais pode-se citar:

a) Chuva: é um dos fatores climáticos de maior importância na erosão dos solos. O volume e a
velocidade da enxurrada dependem da intensidade, duração e freqüência da chuva, sendo a sua
intensidade talvez o mais importante. Este fator é considerado atraves do índice de erosividade
das chuvas.
b) Infiltração: é o movimento da água dentro da superfície do solo. Quanto maior sua velocidade,
menor a intensidade de enxurrada na superfície e, conseqüentemente, a erosão.
c) Topografia do terreno: é representada pela declividade e pelo comprimento do declive, exerce
acentuada influência sobre a erosão. O tamanho e a quantidade do material em suspensão
arrastado pela água dependem da velocidade com que ela escorre, e essa velocidade é função
do comprimento do declive e da inclinação do terreno.
d) Cobertura vegetal: é a defesa natural contra a erosão. Os efeitos da vegetação no fenômeno são:
• proteção direta contra o impacto das gotas de chuva;
• dispersão da água, interceptando-a e evaporando-a antes que atinja o solo;
• decomposição das raízes das plantas que, formando canalículos no solo, aumentam a
infiltração da água;
• melhor estruturação do solo pela adição de matéria orgânica, aumentando assim sua
capacidade de retenção de água;
• diminuição da velocidade de escoamento da enxurrada pelo aumento do atrito na superfície.
e) Natureza do solo: as propriedades físicas, principalmente estrutura, textura, permeabilidade e
densidade, assim como as características químicas e biológicas do solo exercem diferentes
influências na erosão. Suas condições físicas e químicas, ao conferir maior ou menor resistência à
ação das águas, caracterizam o comportamento de cada solo exposto a condições semelhantes de
topografia, chuva e cobertura vegetal.

4.5 Tipos de erosão

Existem diversos tipos de erosão, classificados quanto à origem e quanto ao agente erosivo
(Figura 15).

4.5.1 Erosão hídrica

É o transporte, por arrastamento, de partículas do solo pela ação das águas. Existem várias
formas de erosão causadas pela água. Uma delas é a erosão pelas ondas, os efeitos das ondas se
manifestam nas regiões litorâneas, lagos, bacias e nas margens dos rios. As ondas avançam sobre a
terra, desagregando-a e suspendendo grande quantidade de material e ao retornarem carregam o
material em suspensão, que será depositado, seletivamente, no fundo dos mares, represas, nos
deltas e nos meandros dos rios. Não constitui um grande problema (RIO GRANDE DO SUL, 1985).
Existe uma interação entre os vários fatores para a existência ou não da erosão como a
cobertura vegetal, topografia, características do solo, clima e regime de chuvas e o manejo do solo
(RIO GRANDE DO SUL, 1985).
Segundo FERREIRA (1981), a chuva quando cai no terreno pode se evaporar, infiltrar no solo
ou escorrer sobre o mesmo. Esta última é a que deve ser controlada de modo a evitar as enxurradas
que produzem os estragos. É claro que nem todas as chuvas causam os mesmos danos; seus efeitos
variam segundo a intensidade. Assim, se chover 100 mm em uma hora, ocasionará mais estragos do
que se essa mesma quantidade chover em um dia, pois no primeiro caso a intensidade foi maior.
A cobertura vegetal é a defesa natural de um terreno contra a erosão pois protege contra o
impacto direto das gotas de chuvas, causa o aumento da infiltração da água pela produção de poros
no solo por ação das raízes, aumento da capacidade de retenção de água pela estruturação do solo
através da incorporação da matéria orgânica (BERTONI, 1985).
A influência da topografia do terreno na intensidade erosiva verifica-se principalmente pela
declividade e comprimento de rampa (comprimento da encosta). Esses fatores interferem diretamente
na velocidade das enxurradas (GUERRA, 1999).

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Figura 15 - Tipos de erosão, classificados quanto à origem e quanto ao agente erosivo.

As características do solo que influenciam e sofrem a ação erosiva referem-se principalmente


à textura, estrutura, permeabilidade e densidade, e às suas propriedades químicas, biológicas e
mineralógicas. A textura influi na infiltração e absorção da água da chuva, interferindo no potencial de
enxurradas. Assim, solos de textura arenosa são normalmente mais porosos, permitindo rápida
infiltração das águas da chuva, dificultando o escoamento superficial, entretanto, como possuem
baixa proporção de partículas argilosas, que atuam como uma ligação entre as partículas maiores,
apresentam maior facilidade para a remoção destas, que se verifica, mesmo em pequenas
enxurradas.
A estrutura, ou seja, o modo como se arranjam as partículas do solo, influi na capacidade de
infiltração e de absorção da água de chuva, e na capacidade de arraste das partículas do solo, assim,
solos com estrutura microagregada ou granular, como os LATOSSOLOS, apresentam alta
porcentagem de poros e, alta permeabilidade, favorecendo a infiltração da água; apresentam também
agregação entre partículas, aumentando a resistência do solo contra ao arraste.
O aumento densidade do solo, por efeito da compactação, resulta na diminuição dos
macroporos; em função disso, o solo torna-se mais erodível. As propriedades químicas, biológicas e
mineralógicas do solo influem no estado de agregação entre as partículas, aumentando ou
diminuindo a resistência do solo à erosão (GUERRA, 1999).
A erosão, inicialmente, é causada pelo impacto de uma gota d’água. Esta gota de chuva, pela
ação do impacto sobre a superfície do solo desnudo, atua compactando-o e desagregando as
partículas componentes, fazendo saltá-las a certa altura, as quais são colhidas pela película da água
que escorre (RIO GRANDE DO SUL, 1985).

4.5.1.1 Erosão laminar

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Rhuanito Soranz Ferrarezi

A erosão laminar também é chamada de erosão em lençol e ocorre superficialmente (Figura


16). Após cada chuva, pode desgastar uma camada muito fina e uniforme de toda a superfície de um
solo, como se fosse uma lâmina ou um lençol (RIO GRANDE DO SUL, 1985).

Figura 16 – Erosão laminar.

Para FERREIRA (1981), esse desgaste ocorre em camadas de poucos milímetros de cada
vez, sendo paralela a superfície do terreno, não sendo notado durante muitos anos. Entretanto, com o
tempo, começam a aparecer na superfície do solo, pedras que antes estavam enterradas, raízes de
árvores tornam-se descobertas, entre outros. Justamente por precisar tanto tempo para ser notada,
porque retira e carrega o solo da superfície, a erosão laminar é talvez a mais grave e prejudicial forma
de erosão. Ela existe sempre nos solos cultivados, às vezes junto com outras formas de erosão.
Por ser a fase inicial da erosão hídrica, pode-se perpetuar no solo, bem como provocar
arrastamento mais intenso em determinados pontos de escorrimento da água, dando origem à erosão
em sulcos ou até voçorocas (RIO GRANDE DO SUL, 1985).

4.5.1.2 Erosão em sulcos

A erosão em sulcos (Figura 17) é facilmente perceptível pelo proprietário, devido à formação
de valas e sulcos irregulares, promovendo a remoção da parte superficial do solo atingida pelos
implementos agrícolas. Nesta fase, os sulcos ainda podem ser transpostos, bem como serem
desfeitos pelas máquinas durante os trabalhos normais de preparo do solo. Em estágio avançado, a
profundidade dos sulcos pode chegar a impedir a passagem das máquinas, podendo formar
voçorocas (RIO GRANDE DO SUL, 1985).

Figura 17 – Erosão em sulcos, danificando considerável extensão de terra.

A quantidade de sulcos que se forma depende das irregularidades existentes no terreno, do


estado do solo e da sua qualidade, assim como a quantidade e intensidade das chuvas; costumam
ser maiores nos solos cultivados continuamente (FERREIRA, 1981).

4.5.1.3 Erosão em voçorocas

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A erosão em voçorocas (Figura 18) consiste no deslocamento de grandes massas de solo, de


modo a formar sulcos de grande profundidade e largura.

Figura 18 – Erosão em voçoroca.

O termo voçoroca aplica-se a profundos vales de erosão com geometrias e tamanhos


variados, de onde foram removidos grandes volumes de terra, afetando rochas, solos e relevos
diversos. O significado desta palavra provém do tupi-guarani e o seu significado é terra rasgada.
Acontecem com freqüência quando os solos são profundos e facilmente penetráveis pela
água, havendo declividade, e quando se cultiva o solo sem cuidar da sua conservação. A água, em
grande quantidade, desce pela voçoroca e, ao mesmo tempo em que se desprende e carrega o solo
do fundo, faz com que as paredes do sulco se desmoronem. É assim que uma voçoroca vai se
aprofundando e alargando (FERREIRA, 1981).
As voçorocas, nestes casos, não só se agigantam em profundidade e largura, como também
em comprimento, impedindo a exploração econômica do solo. Os estágios avançados destas
situações são de difícil recuperação (RIO GRANDE DO SUL, 1985).
As voçorocas formam-se geralmente em locais de concentração natural de escoamento
pluvial, tais como cabeceiras de drenagem e embaciados de encostas. A importância do estudo dos
fenômenos associados à formação de voçorocas é estabelecer medidas de prevenção e controle,
como também o estabelecimento de técnicas compatíveis ao combate do problema.
Em geral, os estudos que contribuem para o conhecimento das voçorocas, tendem a tratar do
assunto de maneira global, ou seja, buscando explicá-las através da interação de vários fatores,
notadamente a ação das águas, o tipo de substrato, e a intervenção humana. Estudos mais recentes,
porém, vêm tornando mais precisos alguns aspectos previamente abordados de modo genérico,
destacando-se a realização de balanços hídricos e a caracterização geotécnica dos materiais das
áreas afetadas.
As voçorocas representam um tipo de fenômeno erosivo amplamente disseminado no Brasil e
em outras partes do mundo. Entre suas conseqüências pode-se constatar: perdas de áreas de cultivo
e pastoreio, assoreamento de rios e reservatórios, causando decréscimo das vazões dos mesmos e
ocorrências de cheias muito problemáticas, com sérios prejuízos à economia local.
Apresentam-se sob a forma de seções transversais em "V" (estágio inicial) ou em "U" (estágio
avançado). Nos estágios iniciais ou intermediários, nenhuma vegetação permanente se observa. À
medida que o fenômeno perde vigor, a vegetação começa a fixar-se no fundo e nas rampas de
escombros não removidos, que arredondam a base do "U". Mesmo após a aquietação total, paredes
subverticais são mantidas indefinidamente sem vegetação, enquanto nas rampas de escombros e no
fundo pode se desenvolver vegetação arbórea expressiva".
A voçoroca típica desenvolve-se mediante os seguintes mecanismos:

a) erosão em sulco promovida pela enxurrada em mecanismo complexo;


b) aprofundamento deste sulco até atingir o lençol freático com a consequente geração de elevado
gradiente hidráulico na saída, que promove a erosão interna em horizontes ou camadas expostas
menos coerentes;
c) remoção do material proveniente dos mecanismos acima através do escoamento superficial;
d) manutenção relativamente prolongada de paredes subverticais em solo coesivo, o que permite a
instalação sazonal de gradientes de saída elevados para a retomada do processo de
instabilização, insolação intensa das paredes, provocando fissuramento;
e) formação de cavidades abobadadas ao pé das cabeceiras, pela influência combinada dos
seguintes fenômenos: jateamento pela enxurrada em cascata, erosão interna e desarticulação
estrutural do solo, promovidas pelo gradiente hidráulico de saída, ação complementar de tensões
agindo na periferia das cavidades;

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f) colapso de porções destacadas pelo fissuramento das paredes;


g) aquietação gradual do fenômeno pela diminuição progressiva do gradiente hidráulico de saída
pela redução dos fenômenos anteriores.

A erosão subterrânea é também o mecanismo de instabilização dos taludes laterais da


voçoroca, provocando o seu deslizamento. Isto é pouco comum já que, em geral, o movimento de
massas nas laterais das voçorocas é ocasionado pelo descalçamento da base dos taludes. A Figura
19 esquematiza este mecanismo. A erosão subterrânea é causada pela percolação de água nos
poros do solo, que arrasta as partículas finas e cria caminhos preferências que vão aumentando
provocando dessa forma a instabilidade das massas e seu conseqüente desmoronamento.

Figura 19 - Esquema do mecanismo de escavação da voçoroca.

4.5.2 Erosão por água e vento

4.5.2.1 Erosão por gravidade

Consiste no movimento de rochas e sedimentos montanha abaixo principalmente devido à


força da gravidade.

4.5.2.2 Erosão pluvial (provocada pela ação das chuvas)

Também chamada de deslizamento de terra, é a água da chuva que provoca um


desprendimento da camada superior, e esta camada desliza de encostas. Também ocorre nas
margens de rios.

4.5.2.3 Erosão marinha (provocada pela ação do mar)

A erosão marinha atua sobre o litoral modelando-o e deve-se fundamentalmente à ação de


três fatores: ondas, correntes e marés. Tanto ocorre nas costas rochosas bem como nas praias
arenosas. Nas primeiras a ação erosiva do mar forma as falésias, nas segundas ocorre o recuo da
praia, onde o sedimento removido pelas ondas é transportado lateralmente pelas correntes de deriva
litoral (Figura 20).

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Figura 20 – Erosão marinha (provocada pela ação do mar)

Nas praias arenosas a erosão constitui um grave problema para as populações costeiras. Os
danos causados podem ir desde a destruição das habitações e infra-estruturas humanas, até a
graves problemas ambientais. Para retardar ou solucionar o problema, podem ser tomadas diversas
medidas de proteção, sendo as principais as construções pesadas de defesa costeira (enrocamentos
e esporões) e a realimentação de praias.

4.5.2.4 Erosão química

Envolve todos os processos químicos que ocorrem nas rochas. Há intervenção de fatores
como calor, frio, água, compostos biológicos e reações químicas da água nas rochas. Este tipo de
erosão depende do clima, em climas polares e secos, as rochas se destroem pela troca de
temperatura; e em climas tropicais quentes e temperados, a umidade, a água e os dejetos orgânicos
reagem com as rochas e as destroem.

4.5.2.5 Erosão glacial (provocada pela ação do gelo)

As geleiras (glaciares) deslocam-se lentamente, no sentido descendente, provocando erosão


e sedimentação glacial. Ao longo dos anos, o gelo pode desaparecer das geleiras, deixando um vale
em forma de U ou um fiorde, se junto ao mar. Pode também ocorrer devido à susceptibilidade das
glaciações em locais com predominância de rochas porosas (Figura 21).
No verão, a água acumula-se nas cavidades dessas rochas. No inverno, essa água congela e
sofre dilatação, pressionando as paredes dos poros. Terminado o inverno, o gelo funde, e congelará
novamente no próximo inverno. Esse processo ocorrendo sucessivamente desagregará a rocha, após
certo tempo, causando o desmoronamento de parte da rocha, e conseqüentemente, levando à
formação dos grandes paredões ou fiordes.

4.5.2.6 Erosão eólica (provocada pela ação do vento)

A erosão eólica, ocasionada pelos ventos, ocorre em geral em regiões planas, de pouca
chuva, onde a vegetação natural é escassa e sopram ventos fortes. Constitui problema sério quando
a vegetação natural é removida ou reduzida; os animais, insetos, moléstias e o próprio homem
contribuem para essa remoção ou redução. As terras ficam sujeitas a erosão pelo vento quando
deveriam estar com a vegetação natural e são colocadas em cultivo com um manejo inadequado
(BERTONI, 1985).

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Figura 21 – Erosão glacial (provocada pela ação do gelo)

Este tipo de erosão consiste no transporte aéreo, ou por rolamento, de partículas de solo pela
ação do vento. A erosão eólica se reveste de maior importância nessas regiões em que a vegetação
é insuficiente para cobrir e proteger o solo, ou nas regiões áridas, nas margens arenosas de oceanos,
lagos e rios, e em solos de origem arenítica. O teor de umidade do solo é um fator limitante da
intensidade com que a erosão eólica pode ocorrer (RIO GRANDE DO SUL, 1985). Segundo BRADY
(1989), as porções mais finas podem ser carregadas a grandes alturas e por centenas de quilômetros
de distância (Figura 22).

Figura 22 – Erosão eólica (provocada pela ação do vento)

Em geral, a terra é, não só despojada do seu solo mais rico, como as culturas são impelidas
para longe ou deixadas com as raízes expostas ou ainda poderão ser cobertas pelos detritos em
movimento.
Embora não seja tão grande a velocidade, os efeitos de corte e de abrasão, sobretudo da
areia, são desastrosos sobre culturas tenras. A maioria dos prejuízos está confinados em regiões de
baixa precipitação, porém existe ocorrência em regiões úmidas. A movimentação das dunas de areia
constitui um bom exemplo (BRADY, 1989).
O meio mais eficiente para o controle da erosão eólica é manter uma cobertura protetora na
superfície do solo (BERTONI, 1985). Para controlar a erosão eólica no litoral, em que sua ocorrência
se dá pela ação predominante dos ventos fortes, fazendo com que a areia da praia seja deslocada,
litoral adentro, formando cômoros e até enormes dunas, causando um entrave para o
desenvolvimento e progresso dessas regiões sendo que essas areias litorâneas podem chegar a
invadir campos, onde a agricultura e a pecuária tornam-se difíceis, ou chegar a invadir balneários e
zonas residenciais. A ausência do revestimento vegetal permite às dunas mudarem de posição, de
acordo com o vento.
A melhor medida de controle é a manutenção de um bom revestimento vegetal sobre o solo
ou outros obstáculos à ação dos ventos – quebra -ventos (RIO GRANDE DO SUL, 1985).
A erosão eólica também ocorre nas áreas arenosas em processo de desertificação. Alguns
fatores contribuem na aceleração deste processo como o uso inadequado das potencialidades dos

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solos da região, extremamente erodíveis, em função de sua estrutura não desenvolvida e de sua
textura arenosa. O primeiro passo no controle é o impedimento a esse uso indiscriminado, para
evitar-se que novas áreas entrem no processo (RIO GRANDE DO SUL, 1985).

4.6 Problemas causados pela erosão

• Perda de solo pelo arraste de partículas, acarretando queda na produtividade. Os arrastamentos


podem encobrir porções de terrenos férteis e sepultá-los com materiais áridos.
• Morte da fauna e flora do fundo dos rios e lagos por soterramento.
• Turbidez nas águas, dificultando a ação da luz solar na realização da fotossíntese, importante
para a purificação e oxigenação das águas.
• Assoreamento de nascentes, córregos e rios
• Contaminação das águas por agroquímicos (agrotóxicos e fertilizantes químicos) que são
arrastados com partículas do solo, causando, com isso, desequilíbrio na fauna e flora nesses
corpos d'água (causando eutrofização, por exemplo).
• Desmoronamento de encostas e taludes
• Assoreamento: que preenche o volume original dos rios e lagos e como conseqüência, vindas as
grandes chuvas, esses corpos d’água extravasam, causando as enchentes
• Instabilidade: causada nas partes mais elevadas podem levar a deslocamentos repentinos de
grandes massas de terra e rochas que desabam talude abaixo, causando, no geral, grandes
tragédias

4.7 Efeitos da erosão do solo

Os efeitos da erosão do solo no campo provocam baixa produtividade agrícola pela


degradação do solo, aumento da aplicação de fertilizantes (aumentando os custos), abandono da
terra e estímulo para a migração a áreas urbanas, trazendo implicações de ordem econômica, social
e ambiental.
Em certos tipos de solos, quando a erosão atinge um elevado grau de desgaste, causa a
inutilização de áreas de cultivo não só pelo desgaste da camada superficial, mas também pelas
voçorocas, em vários estágios de profundidade, que impedem a continuidade de uma exploração
econômica (RIO GRANDE DO SUL, 1985).
Ainda existem os efeitos nas bacias hidrográficas, como a alta produção de sedimentos,
degradação do ecossistema, contaminação da água (recursos hídricos), ou seja, o transporte de
partículas de terra contribui ainda mais para poluir os cursos d’água, barragens, açudes, lagos e
lagoas, não só pela presença de materiais sólidos, mas também pela concentração de defensivos dos
mais diversos tipos e de elevado potencial tóxico, bem como no assoreamento destas favorecendo
enchentes e inundações podendo comprometer áreas urbanas (RIO GRANDE DO SUL, 1985).

4.8 Práticas de controle à erosão

Os processos erosivos em áreas de cultivo podem ser minimizados ou controlados com a


aplicação de práticas conservacionistas, que têm por concepção fundamental garantir a máxima
infiltração e menor escoamento superficial das águas da chuva. São várias as técnicas de
conservação do solo adotadas, podendo ser agrupadas em vegetativas, edáficas e mecânicas
(abordadas no próximo capítulo).
As técnicas de caráter vegetativo e edáfico são de mais fácil aplicação, menos dispendiosas e
mantêm os terrenos cultivados em condições próximas ao seu estado natural, devendo, portanto, ser
privilegiadas. Recomenda-se a adoção das técnicas mecânicas em terrenos muito susceptíveis à
erosão, em complementação às técnicas vegetativas e edáficas. (GUERRA, 1999).

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4.9 Uso da equação universal de perdas de solos (EUPS)

Pu = R x K x L x S x C x P

Onde:

y Pu = perda de solo por unidade de área, (t.ha-1)


y R = erosividade da chuva, (MJ.ha-1 mm.h-1)
y K = erodibilidade do solo, (t.ha-1/MJ.ha-1.mm.h-1)
y L = comprimento de rampa, (adimensional)
y S = declividade do terreno, (adimensional)
y C = fator que considera o uso e o manejo do solo, (adimensional)
y P = fator que considera as práticas conservacionistas adotadas, (adimensional)

4.9.1 Erodibilidade dos solos

A erodibilidade dos solos é a propriedade que retrata a facilidade com que partículas são
destacadas e transportadas, e pode ser obtida por métodos indiretos (fórmulas) ou por métodos
diretos (utilizando-se equipamentos em campo e/ou laboratório). Os valores médios de K para cada
classe de solo podem ser observados na Tabela 05.

Tabela 05 - Valores médios de K para cada classe de solo.

4.9.2 Erosividade das chuvas

A erosividade da chuva é a sua habilidade potencial em causar erosão, e ocorre em função


das características físicas das chuvas. As classes de erosividade da chuva média anual podem ser
observadas na Tabela 06.

Rc = Pm2 /Pa

Onde:

• Rc é o coeficiente de chuva em mm;


• Pm é a precipitação média mensal em mm; e
• Pa é a precipitação média anual em mm.

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Tabela 06 - Classes de erosividade da chuva média anual.


Classes de erosividade Valores de R (t.m.mm / ha.h.ano)
1 - Muito baixa R < 250
2 - Baixa 250 < R < 500
3 - Média 500 < R < 750
4 - Alta 750 < R < 1000
5 - Muito Alta R > 1000
Fonte: Adaptado de Carvalho, (1994).

Na Figura 23, pode ser observado o mapa da Erosividade das chuvas dos postos
pluviométricos de Jardim do Seridó/RN.
#

# Localização Estação Pluviomética


#
# Erosividade das Chuvas (MJmm/ha h ano)
#
< 3000
3000 a 4000
4000 a 5000
# #
#
> 5000
#
#

#
#
# N
#
#

# #
#
#
#
#
#
#

#
#
0 30 Kilometers
#

# #

#
#

Figura 23 - Mapa da Erosividade das chuvas dos postos pluviométricos de Jardim do Seridó/RN.

4.9.3 Fator C (de Uso e manejo do solo)

A Tabela 07 mostra alguns valores do Fator C (de Uso e manejo do solo).

Tabela 07 - valores do Fator C (de Uso e manejo do solo).

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5 PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DE SOLOS E ÁGUAS

5.1 Conceito e generalidades

As práticas conservacionistas são um conjunto de técnicas apropriadas para conseguir uma


agricultura e/ou silvicultura sustentáveis. Para isto, é preciso praticar um manejo florestal e das
culturas agrícolas sustentável, o qual deve combinar tecnologias com políticas de gestão que
integrem os princípios socioeconômicos com as preocupações ambientais, de modo que se possa,
simultaneamente:

a) manter ou elevar a produção e os serviços (produtividade),


b) reduzir o nível de risco da produção (segurança),
c) proteger o potencial dos recursos naturais e prevenir a degradação da qualidade do solo e da
água (proteção),
d) ser economicamente viável (viabilidade), e
e) ser socialmente aceitável (aceitabilidade).

Para se praticar um manejo agrícola e florestal sustentáveis, não basta um conjunto de


práticas agrícolas e silviculturais especiais. É preciso, antes, ter conhecimento dos princípios e
processos que regem a dinâmica dos recursos naturais, assim como das condições socioeconômicas
das regiões onde se insere a atividade de produção. É necessário, também, possuir os meios de
produção para executar as práticas agrícolas e silviculturais especificamente recomendadas para o
ecossistema, o que implica em bom domínio tecnológico e suficiente disponibilidade financeira.
Somente assim, conseguem-se atingir de forma integral os objetivos básicos sobre os quais se apóia
o paradigma do manejo sustentável: produtividade, segurança, proteção, viabilidade e aceitabilidade.

5.2 Classificação e caracterização das práticas conservacionistas

São várias as técnicas de conservação do solo adotadas, podendo ser agrupadas em três
grupos distintos: a) as de caráter vegetativo, b) as de caráter edáfico, e c) as de caráter mecânico. São
práticas agrosilviculturais que melhoram as perspectivas de sustentabilidade agrícola e florestal:

a) de caráter vegetativo

• florestamento e, ou, reflorestamento;


• reflorestamento das áreas de preservação permanente;
• pastagens;
• plantas de cobertura;
• culturas em faixas;
• cordões de vegetação permanente;
• alternância de capinas;
• cobertura morta;
• faixas de bordadura;
• quebra-ventos;
• plantio de genótipos adaptados às condições edafoclimáticas locais;
• planejamento da época de preparo de solo e de plantio em função das condições climáticas e do
tipo de solo;
• controle e a prevenção de incêndios florestais;
• adoção de um adequado espaçamento de plantio;
• manejo de plantas invasoras em faixas;
• ordenamento do cronograma de plantio e de colheita, de forma a se conseguir um mosaico de
ocupação das áreas de efetivo plantio com glebas em diferentes estádios de desenvolvimento;
• manejo integrado de pragas e doenças;

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b) de caráter edáfico

• planejamento adequado do uso da terra;


• cultivo mínimo do solo;
• reposição de nutrientes via adubação orgânica e mineral;
• uso de sistemas de colheita de impacto restrito sobre o solo;
• planejamento da época de colheita;

c) de caráter mecânico

• locação adequada de estradas; e


• construção de terraços.

O conjunto de práticas conservacionistas indicadas tem como objetivos fundamentais: a)


instaurar um processo de progressiva restauração da biodiversidade (vegetal e animal); b) melhorar as
condições de desenvolvimento vegetal; e c) reduzir a exposição do solo às intempéries climáticas.
Nessas circunstâncias, o aporte de matéria orgânica ao solo, oriunda da biomassa aérea e radicular, é
maior, intensificando a atividade biológica do solo; em conseqüência, tornando mais efetivos os
processos responsáveis pela recuperação de propriedades básicas do solo, como a permeabilidade e
a retenção de água e nutrientes (formas lábeis e não-lábeis).
Assim, as condições estruturais e funcionais da bacia hidrográfica são mais eficazes,
contribuindo para a preservação e restauração de processos ecológicos básicos para a
sustentabilidade, como os associados à absorção de água pelo solo e à ciclagem de nutrientes. É por
meio destes processos que:

• A infiltração de água no solo é maximizada, contribuindo para o reabastecimento do solo e do


lençol freático, estes responsáveis pela regularização e perenização da cadeia hídrica (nascentes,
córregos, riachos e rios). Além disso, há redução do deflúvio superficial (enxurrada), que causa as
perdas de solo e o arraste de insumos agrícolas; por conseguinte, degradam a qualidade dos
recursos hídricos por meio do assoreamento (deposição de sedimentos), eutrofização e
contaminação das águas com resíduos tóxicos da cadeia alimentar; e
• As perdas de nutrientes por lixiviação, volatilização e erosão são minimizadas.

Como implicações diretas, alguns atributos ecológicos essenciais do ecossistema ficam mais
efetivos:

• estabilidade – capacidade de todas as variáveis de um sistema retornarem ao equilíbrio inicial,


após a ocorrência de um distúrbio;
• resiliência – rapidez com que as variáveis de um sistema retornam ao equilíbrio, após um
distúrbio; e
• resistência – dificuldade em tirar um sistema de seu equilíbrio por efeito de um distúrbio.

Nessa visão sistêmica do manejo agrícola e florestal sustentados, em longo prazo, o nível de
produtividade ecologicamente adequado para um determinado ecossistema pode ser inferior àquele
atingível em curto prazo com intenso uso de tecnologia, mas o risco de exaustão de recursos naturais
e, ou, de comprometimento de processos básicos do ecossistema é menor.

5.3 Práticas de caráter vegetativo

As práticas de caráter vegetativo são aquelas em que se utiliza a vegetação para defender o
solo contra a erosão. A densidade da cobertura vegetal é o princípio fundamental de toda proteção
que se oferece ao solo, preservando-lhe a integridade contra os efeitos danosos da erosão, que será
menor quanto mais densa for a vegetação que recobre e protege. A importância para a conservação
do solo da densidade de cobertura vegetal além de compreender as plantas também inclui os

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resíduos vegetais (BERTONI, 1985). Dentre as práticas mais comuns destacam-se as que se
seguem.

5.3.1 Florestamento e/ou reflorestamento

O reflorestamento e, ou, a implantação de culturas que fornecem uma cobertura permanente


do solo, devem ser implantados em áreas íngremes ou em solos muito rasos e pedregosos
(DERPSCH, 1991), muito susceptíveis à erosão, e em terras de baixa capacidade de produção. Estas
áreas deverão ser recobertas com vegetações permanentes bastante densas, como as florestas,
permitindo, assim, uma utilização econômica das terras inadequadas para as culturas de ciclo mais
curto, e proporcionando-lhes, ao mesmo tempo, a preservação.
Nas regiões de topografia acidentada, as florestas devem ser formadas no topo dos morros a
fim de reduzir as enxurradas que se formam nas cabeceiras, atenuando os problemas de controle de
erosão nos terrenos situados mais abaixo, e proporcionando, pela maior infiltração, uma
regularização das fontes de água. Para certos tipos de erosão como a voçoroca, o reflorestamento
das cabeceiras e dos barrancos é bastante vantajoso. (BERTONI, 1985).

5.3.2 Reflorestamento das áreas de preservação permanente (APPs)

O reflorestamento das APPs com espécies nativas é fundamental para restaurar as condições
estruturais e funcionais da bacia hidrográfica, tornando-a mais eficiente na preservação e restauração
dos recursos genéticos (por meio da elevação da biodiversidade vegetal e animal) e de processos
ecológicos básicos para a sustentabilidade, como os associados à absorção de água pelo solo e à
ciclagem de nutrientes.
As APPs elevam a absorção de água, contribuindo para o reabastecimento do solo e do
lençol freático, responsável pela regularização e perenização da cadeia hídrica (nascentes, córregos,
rios e riachos).
Elas retêm as enxurradas que vêm das áreas de efetivo plantio, reduzindo a chegada de solo
e de insumos agrícolas aos cursos d’água. Com isto, o assoreamento é menor e a qualidade da água
é melhor, devido à manutenção das concentrações de nutrientes dentro de faixas normais (p.ex.,
causando menor eutrofização) e à menor contaminação das águas com resíduos tóxicos da cadeia
alimentar. A existência de ecossistemas ripários (áreas alagadas e matas ciliares) no fundo das
bacias, propicia um habitat mais diverso para o desenvolvimento de populações de vários
organismos, entre eles, as macroalgas perifíticas, recurso alimentar para outros níveis tróficos dentro
do corpo d’água.
Com relação à ocorrência de pragas, a APP atua, tanto como abrigo de insetos, que podem
se alimentar da vegetação em cultivo, como de inimigos naturais, que encontram nesta área,
alimentos e microhabitats apropriados para sua sobrevivência em longo prazo. Com o aumento da
riqueza em espécies, o ecossistema fica mais complexo, conseqüentemente, apresenta maior
estabilidade. A maior diversidade vegetacional geralmente favorece os insetos generalistas, tornando
mais difícil o encontro da planta hospedeira por insetos muito especializados. O inverso ocorre nas
plantações monoespecíficas.
As opções de reflorestamento são muito variáveis, dependendo das condições de
preservação das APPs e da disponibilidade de recursos financeiros. O ideal, às vezes mais
dispendioso, pode ser a associação de espécies. Por exemplo, a implantação de plantios mistos com
espécies pioneiras, secundárias e clímax geralmente, constitui-se numa prática adequada, por
combinar a exploração diferenciada das camadas de solo pelas raízes (extensão, profundidade), bem
como demandas diferenciadas por nutrientes de cada espécie.
Em muitos casos, pode ser possível reflorestar uma determinada área, na forma de florestas
secundárias, através do processo natural de sucessão ecológica. Para isto, com objetivo de agilizar o
processo de repovoamento, é necessário isolar a área, protegendo-a de incêndios por meio de
medidas preventivas, como o uso de aceiro, e não locar estradas nas proximidades da área de
regeneração. Ás vezes, torna-se necessário o estabelecimento de pequenos povoamentos florestais,
por exemplo, as ilhas de diversidade, com o objetivo de prover propágulos de maior diversidade de
espécies. Isto ocorre em áreas muito degradadas, onde o banco de sementes do solo é pobre e a
fonte de propágulos em áreas adjacentes é pequena.

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5.3.3 Pastagens

Os terrenos onde as culturas não proporcionam produções compensadoras ou onde é grande


o perigo pela erosão devem ser reservados às pastagens, que fornecem também boa proteção ao
solo. A combinação agricultura-pecuária, bem administrada, constitui a condição ideal para a
manutenção da fertilidade do solo; de um lado, assegura a produção de uma densa vegetação
durante períodos longos a todas as áreas que dela necessitam, e, de outro, fornece adubo orgânico.
As pastagens, embora em intensidade um pouco menor que as florestas, fornecem grande
proteção ao solo contra os estragos pela erosão. Seu trato pode afetar grandemente seu valor como
revestimento do solo contra a erosão.
Para que as pastagens possam constituir uma eficiente maneira de proteger o solo contra a
erosão, um cuidado essencial será mantê-las com um peso de gado compatível com a sua
capacidade. Um bom sistema de evitar que os pastos sejam muito raleados pelo gado, será fazer o
rodízio de pastagens; para tal fim, sua área total será dividida em determinado número de piquetes,
sendo o gado passado de um para o outro, dentro de uma seqüência determinada. Assim, os pastos
terão tempo suficiente para se refazerem, sem o perigo do pastoreio excessivo.
Deve-se evitar atear-lhes fogo: este pode ser uma causa da diminuição da densidade de
cobertura vegetal das pastagens, com sensível prejuízo para a proteção do solo oferecida contra a
erosão.
A fim de manter as pastagens com uma densidade de cobertura capaz de proporcionar uma
capacidade de suporte de gado razoável e, ao mesmo tempo, suficiente para garantir a proteção do
solo contra a erosão, uma das práticas mais recomendadas é o ressemeio periódico. Dessa maneira,
reformando-se a pastagem e semeando ou plantando mudas de espécies de gramíneas ou
leguminosas mais indicadas, conseguir-se-á uma cobertura de maior capacidade de suporte e,
conseqüentemente, de maior capacidade de proteção do solo contra a erosão.
É muito difícil dar indicações precisas sobre o manejo dos pastos, pois, de um lugar para
outro, variam muito as condições e as espécies utilizadas, mas os seguintes pontos gerais podem
servir de guia para tanto:

• O pasto deve ser mantido livre de ervas daninhas, devendo, porém, ter misturas de leguminosas e
gramíneas;
• Quando a fertilidade do solo diminuir, é conveniente a aplicação de um fertilizante químico
completo;
• Deve-se corrigir a acidez do solo, quando muito elevada, mediante a aplicação de calcário, a fim
de propiciar o crescimento de leguminosas;
• Os pastos recém estabelecidos não devem ser pastoreados até que as plantas tenham
desenvolvido um sistema radicular que permita suportar o pisoteio;
• As árvores de sombra para abrigo do gado devem ser localizadas na parte alta do terreno, e longe
dos riachos ou córregos e grotas;
• Os pastos não devem ser sobre-pastoreados;
• O pastoreio misto, de várias espécies de animais, assegura sempre melhor utilização da
pastagem; e,
• Os sulcos e camalhões em pastagens, em contorno, são práticas recomendadas para solos
argilosos, para regiões de pouca chuva e para pastagem em formação.

5.3.4 Plantas de cobertura

As plantas de cobertura se destinam a manter o solo coberto durante o período chuvoso, a


fim de reduzir os efeitos da erosão e melhorar as condições físicas e químicas do solo. Além de
controlarem os efeitos da erosão e evitarem que os elementos nutritivos postos em estado solúvel no
solo sejam lixiviados nas águas de percolação, também proporcionam uma eficiente proteção da
matéria orgânica do solo contra o efeito da ação direta dos raios solares.

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Um grande benefício dessas plantas é a produção de matéria orgânica para incorporação ao


solo. O aumento do conteúdo de matéria orgânica no solo melhora as suas condições físicas e
estimula os diversos processos químicos e biológicos.
De todos os resíduos das plantas, as raízes são, sem dúvida, o mais importante, pois o seu
crescimento subterrâneo possibilita a acumulação de matéria orgânica a profundidades variáveis. A
matéria orgânica melhora a estrutura e a capacidade de retenção de água pelos solos: aos argilosos,
plásticos, confere melhor resistência, refletindo não só na maior facilidade de aração e crescimento
das plantas, como também na melhora das condições de aeração; aos arenosos, melhora sua
capacidade de retenção de água, refletindo, decisivamente, no crescimento das plantas de cultivo
durante as épocas muito secas.
No caso de culturas anuais, as plantas de cobertura são intercaladas nos ciclos da cultura,
visando substituí-la assim que seja retirada do terreno.
No caso das culturas perenes, as plantas de cobertura são utilizadas, principalmente, para
suplementar o efeito de cobertura já proporcionado pelas plantas cultivadas, cobrindo os claros
deixados no terreno por suas copas.
As plantas utilizadas como cobertura, nas culturas anuais, são as mesmas leguminosas
empregadas para adubação verde, ou seja, a mucuna, as crotalárias, o feijão-guandu. Nas culturas
perenes, as plantas de cobertura são, também, as mesmas usadas para a adubação verde, a saber:
o calopogônio (Calopogonium mucunoides), a jetirana (Centrosema pubescens), o feijão-de-porco
(Canavalia ensiformes), algumas crotalárias (Crotalaria spp.), o cudzu-comum (Pueraria
thumbergiana), o cudzu-tropical (Pueraria phaseoloides).
Os rendimentos de massa verde das espécies de inverno, variam de acordo com a espécie e
ano, tipo de solo, com uma média de 20 a 70 toneladas por hectare. Por outro lado, o rendimento de
matéria seca fica entre 1.500 e 7.000 quilos por hectare, no que se refere à parte aérea. O
rendimento do sistema radicular pode variar entre 500 a 4.000 quilos por hectare.
A Tabela 08 apresenta algumas informações referentes às plantas utilizadas para a adubação
de inverno. Pode-se verificar o efeito das plantas de cobertura, mesmo que não sejam leguminosas,
quando enterradas, na melhoria das condições físicas do solo. As partículas minerais menores
(argilas), especialmente com formas laminares, como é o caso das argilas silicatadas, tendem a
unirem-se, de maneira a impedir a penetração do ar, a absorção e retenção de água. Dessa maneira,
os solos argilosos, quando secos, endurecem, e, quando úmidos, tornam-se pegajosos e pouco
permeáveis, condições essas que afetam gravemente a produção de culturas. Ao enterrar-se a planta
de cobertura, o volumoso material que se mistura ao solo melhora as condições de aeração e, à
medida que avançam os processos de decomposição, o enriquecimento em húmus (resultante da
incorporação do material vegetal ao solo) modifica ainda mais as condições físicas desfavoráveis: os
abundantes colóides que o húmus contém, de grande poder absorvente, rodeiam as partículas
minerais, em forma de película fina que retém umidade e também é capaz de reter os nutrientes.

Tabela 08 - Plantas utilizadas para a adubação de inverno.


Tipo de cobertura verde Sementes p/ Corte Altura
Plantas Espécie Nome comum plantío (kg/ha) (dias) (cm)
Lupinus Tremoço azul 140 120 85-150
Angustifolius
Lupinus Leteus Tremoço amarelo 140 140 85-120
LEGUMINOSAS Lupinus albus Tremoço branco 140 120 85-150
Vicia sativa Ervilhaca comum 80 130 34
Vicia villosa Ervilhaca peluda 50 120-180 45
Ornitophus sativus Serradela 30 150-180 30
Avena strigosa Aveia preta 50 120-140 80-130
GRAMÍNEAS Lolium multiflorum Azévem 30 130 35-50
Secale cereale Centeio 50 110 120-180
OUTRAS Spergula arvenis Espergula 20 70-90 30
ESPÉCIES Raphanus satuvus Nabo forrageiro 25 120-180 120-180

Outro efeito das plantas de cobertura, quando enterradas, é a melhoria da solubilidade de


muitas substâncias minerais do solo. Os elementos nutritivos para as plantas provêm da
decomposição das rochas e do material de origem do solo, através da meteorização, que torna esses
materiais lentamente aproveitáveis; o aumento da atividade dos microrganismos proporcionado pela

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incorporação de material orgânico acelera enormemente esse processo, de maneira que as culturas
podem logo dispor das quantidades de nutrientes requeridas.
O sombreamento do solo, proporcionado pelas plantas de cobertura, é outro efeito muito
importante. Nas regiões tropicais, o solo descoberto, submetido à ação direta do solo e da água da
chuva, sofre prejuízos graves e rápidos na sua produtividade. Com as plantas de cobertura,
consegue-se o estabelecimento de uma boa proteção sobre o terreno, amenizando esse efeito
prejudicial dos fatores meteorológicos.
A prática de plantas de cobertura pode ser contra-indicada se o custo das sementes for alto.
Ela requer, também, precauções contra a disseminação de pragas ou enfermidades ocasionadas por
plantas que podem ser hospedeiras de fungos e insetos que atacariam as culturas principais: é o
caso de algumas leguminosas suscetíveis a nematóides radiculares, que atacam muitas plantas
cultivadas. Em regiões secas, os adubos verdes têm pouca utilização em virtude da competição em
água, que refletirá na produção da cultura principal.

5.3.5 Cobertura morta

É qualquer camada de restos vegetais disposta sobre o solo de modo a formar um


revestimento na superfície do mesmo. A cobertura do solo com restos de culturas é uma das mais
eficientes práticas de controle da erosão, especialmente da eólica.
A cobertura morta protege o solo contra o impacto direto das gotas de chuva, faz diminuir o
escoamento superficial e incorpora ao solo a matéria orgânica, dificultando a desagregação e o
transporte pela água. No caso da erosão eólica, protege o solo contra a ação direta dos ventos e
impede o transporte das partículas.
A cobertura morta, com palha ou resíduos vegetais contribui para a conservação da água,
devendo ser preconizada nas zonas de precipitações pouco abundantes, e diminui a temperatura do
solo, reduzindo, assim, as perdas por evapotranspiração. Com ela, evita-se o aquecimento excessivo
do solo pelos raios solares diretos, propiciando, assim, condições de temperatura e umidade
favoráveis à atividade biológica, além de contribuir para incorporar matéria orgânica e nutrientes ao
solo e inibir o desenvolvimento de ervas daninhas (Figura 24). A disposição da cobertura morta deve
ser alternada com aceiros para evitar problemas com fogo.

Figura 24 - Cobertura morta ou “Mulching”.

Essa prática conservacionista tende a melhorar a estrutura do solo na camada superficial.


Seu efeito mais importante, do ponto de vista de controle de erosão, pela proteção que oferece contra
o impacto direto da gota de chuva e contra o escoamento acelerado da enxurrada pode ser visto na
Tabela 09. Verifica-se que há um controle de 53% nas perdas de solo e de 57% nas perdas de água.

Tabela 09 - Efeito do manejo dos restos culturais de milho sobre as perdas por erosão.
Sistema de incorporação Perdas de
Solo Água
t.ha-1 % da chuva
Palha queimada 20,2 8,0
Palha enterrada 13,8 5,8
Palha na superfície 6,5 2,5

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A aplicação de uma cobertura de palha de capim-gordura, na base de 25 toneladas por mil


pés, em cafezal, controla as perdas de solo em 65% e as águas em 55% (IAC). A cobertura morta
pode ser constituída por palha de capim, restos de culturas (de preferência leguminosas), cascas de
cereais. Sua aplicação é usualmente de 4 a 6 t ha-1, porém, encontra limitações de uso em terrenos
muito declivosos.
A cobertura morta também tem se mostrado, em algumas regiões, de valor no controle da
erosão eólica. Entretanto, nem sempre tem dado bons resultados em face do problema de fertilidade
a ela associado: essa prática necessita de um bom nível de fertilidade do solo, principalmente com
relação ao nitrogênio.
A cobertura com palha ou resíduos vegetais tem influência na quantidade de microrganismos
do solo e nas suas atividades, estimulando a decomposição e, em conseqüência, determinando a
rápida redução da disponibilidade de nitrogênio, especialmente nas primeiras semanas de
decomposição. Para que tal prática tenha sucesso na produção, é necessário que haja adequado
suprimento de nitrogênio para a atividade microbiana do solo e para o uso da planta. Na Tabela 10
verifica-se o efeito positivo da cobertura morta na produção de milho, principalmente quando se
adiciona o nitrogênio.

Tabela 10 - Efeito da cobertura morta do solo na produção de milho.


Tratamentos Produção
Kg.ha-1 %
Milho, restos enterrados 3.783 100
Milho, restos enterrados + N 4.136 109
Milho, restos na superfície 3.765 99
Milho, restos na superfície + N 4.922 130
Milho e leguminosa, restos enterrados 3.855 100
Milho e leguminosa, restos enterrados + N 5.012 130
Milho e leguminosa, restos na superfície 3.850 100
Milho e leguminosa, restos na superfície + N 4.712 122

5.3.6 Culturas em faixas

Consiste na disposição das culturas em faixas de exploração contínua ou em rotação, com


largura variável, de tal forma que, a cada ano, se alternam plantas que oferecem pouca proteção ao
solo, com outras de crescimento denso. O principal objetivo dessa prática é interceptar a velocidade
das enxurradas e dos ventos, facilitar a infiltração das águas e permitir a contenção do solo
parcialmente erodido (GUERRA, 1999). É considerada uma prática complexa, pois combina o plantio
em contorno, a rotação de culturas, as plantas de cobertura e, em muitos casos, os terraços.
A cultura em faixas é um dos mais eficientes e práticos sistemas de controle de erosão (tanto
hídrica como eólica) para culturas anuais. Deve ser orientada no sentido das curvas de nível do terreno
e, para o controle da erosão eólica, deve ser colocada na direção contrária dos ventos dominantes.
O efeito da cultura em faixas no controle da erosão é baseado em três princípios: 1) nas
diferenças em densidades das culturas empregadas; 2) no parcelamento dos lançantes; e, 3) na
disposição em contorno.
A disposição alternada de culturas diferentes faz com que as perdas por erosão sofridas por
determinada cultura sejam, em parte, controladas pela que vem logo abaixo. Culturas como mamona e
mandioca perdem mais solo e água por erosão do que amendoim, algodão e arroz e, estas, por sua
vez, perdem mais que soja, milho e cana-de-açúcar.
O parcelamento dos lançantes, pela cultura em faixas, é uma das causas de redução das
perdas por erosão, pois estas perdas aumentam progressivamente com o comprimento dos lançantes;
as larguras das faixas deverão ser determinadas em função do declive do terreno, do tipo de solo e da
cultura.
A disposição em contorno é um dos fundamentos básicos do sistema de cultura em faixas, e
as culturas diferentes, dispostas em contorno, contribuirão para reduzir os prejuízos da erosão. A fim
de reduzir ou evitar que a terra seja transportada com as enxurradas - pela redução da velocidade com
que a água escorre no terreno – as práticas agrícolas devem ser realizadas no sentido de criar
obstáculos ao seu percurso livre. A direção que se opõe ao sentido natural com que escorre a água da

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chuva nos terrenos é a direção em nível, também denominada em contorno. O plantio seguindo a
orientação da linha-de-nível do terreno é o processo fundamental para a realização do controle da
erosão hídrica nos solos agrícolas. Experiências com medidas de perdas de solo e água indicaram que
o plantio em nível, complementado com o cultivo na mesma direção, diminuíram em até 50% (à
metade) as perdas de terra e em cerca de 30%, as de água. Os trabalhos agrícolas realizados
seguindo a linha-de-nível proporcionam, ainda, redução no esforço humano, animal e mecânico.
No caso da erosão eólica, varia a orientação dada às faixas, pois as correntes a que será
necessário antepor obstáculos são as correntes dos ventos dominantes; as faixas terão que ser
orientadas de modo a serem perpendiculares à direção dos ventos dominantes. O lançante, neste
caso, deve-se entender o comprimento ao longo da direção dos ventos dominantes.
Podem-se distinguir dois sistemas principais de culturas em faixas: a) faixas de exploração
contínua, em que as culturas nelas existentes permanecem de um ano para outro na mesma posição;
e b) faixas em rotação, em que anualmente todas as culturas mudam de posição, segundo um plano
estabelecido de rotação.
O sistema de faixas em rotação adapta-se, em geral, a qualquer tipo de cultura anual ou semi-
perene (cana-de-açúcar, mandioca); é sempre interessante incluir no plano de rotação uma
leguminosa, de preferência para enterrio como adubo verde, de forma a garantir a manutenção e o
melhoramento da fertilidade do solo. A locação das faixas pode ser feita de três maneiras:

• faixas niveladas: todos os limites entre faixas são locados na linha de contorno do terreno;
• faixas paralelas: apenas uma linha mediana da gleba é marcada em contorno, sendo as demais
linhas divisórias entre faixas tiradas paralelamente à mesma;
• faixas associadas: combinação dos dois sistemas anteriores, de tal modo que uma faixa paralela
se alterne com uma nivelada, esta com largura irregular e aquela com largura regular.

O sistema em faixas niveladas é o mais adequado para terrenos de topografia irregular; o


controle da erosão será mais eficiente em virtude de as fileiras de plantas seguirem com maior
aproximação as curvas de nível do terreno, podendo ter nas linhas de transição das faixas a
construção de reforços de proteção mecânica (terraços); as faixas se apresentam com largura
irregular, de acordo com as mudanças de declividade do terreno, e com bastantes ruas mortas, que
dificultam os trabalhos de cultivo e trato.
O sistema de faixas paralelas é recomendado apenas para terrenos de topografia suave e
declive muito uniforme; sendo as faixas de largura uniforme, não há ruas mortas, o que facilita as
operações de cultivo e trato.
O sistema de faixas associadas, que é a associação de faixas niveladas e faixas paralelas, é
executado marcando uma linha nivelada de cada duas faixas e, por elas, marcam-se as paralelas; a
cultura exigente de tratos mecânicos ficará com a faixa de largura regular e, a outra, com a de largura
irregular.
O espaçamento entre as linhas divisórias das faixas, correspondente à largura das faixas,
dependerá do tipo de solo, do grau de declive, das culturas e dos sistemas cultuais empregados. A
largura da faixa será tanto menor quanto mais erodível for o solo, quanto maior for a declividade do
terreno e quanto menor for a densidade de cobertura proporcionada pela cultura. De modo geral,
adota-se entre as linhas divisórias de faixas o mesmo espaçamento usado para os terraços de base
larga, ficando, assim, feita a marcação destes para o caso de sua futura instalação. O espaçamento
entre as faixas é determinado pela tabela de espaçamento de terraços de base larga, recomendando-
se, porém, que não sejam superiores a 40 metros de largura, nem inferiores a 18 ou 20 metros;
sendo, portanto, uma prática eficiente até uma declividade de 5 ou 6%.
O sistema de cultura em faixas oferece todas as vantagens de plantio em contorno e da
rotação de culturas, e também a proteção adicional ao terreno, pela ação das faixas de culturas mais
densas que diminuem a velocidade e o volume da enxurrada provocados pelas culturas mais abertas.

5.3.7 Cordões de vegetação permanente

São fileiras de plantas perenes e de crescimento denso, dispostas com determinado


espaçamento horizontal e em contorno, com 2 a 3 metros de largura. Sua prática consiste em formar
barreiras vivas para controle da erosão, quebrar a velocidade da enxurrada, provocar a deposição de
sedimentos transportados, facilitar a infiltração, possibilitar a formação gradual de terraços. É uma
prática simples e de fácil execução.

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Em culturas anuais cultivas continuamente na mesma faixa, ou em rotação, são intercaladas


faixas estreitas de vegetação cerrada, formando os cordões de vegetação permanente; em culturas
perenes como o café e pomares, os cordões são colocados entre as árvores, com determinado
espaçamento horizontal, formando barreiras vivas para controle da erosão.
Quebrando a velocidade de escorrimento da enxurrada, o cordão de vegetação permanente
provocará a deposição de sedimentos transportados e facilitará a infiltração de água que escorre no
terreno, concorrendo, pois, para diminuir a erosão do solo.
Esses cordões possibilitam a formação gradual de terraços com o correr dos anos; com o
preparo do solo e com os cultivos que se fazem entre as faixas, e também como resultado da própria
erosão, a terra vai sendo deslocada do seu lado de cima, formando gradativamente, terraços, e com
um pequeno trabalho de acabamento, esses serão terminados. Assim, os cordões de vegetação
permanente poderão não apenas substituir os terraços como, também, representar a fase inicial de
sua construção.
O cordão de vegetação permanente é uma prática bastante eficiente de controle de erosão,
chegando quase a equivaler aos terraços. Dados obtidos pela Seção de Conservação do Solo do IAC
(Tabela 11) revelam que essa prática controla cerca de 80% das perdas de solo e 60% das perdas de
água.

Tabela 11 - Efeito das práticas conservacionistas em culturas anuais sobre as perdas por erosão.
Práticas Perdas de
Solo Água
t.ha-1 % chuva
Morro abaixo 26,1 6,9
Contorno 13,2 4,7
Contorno + alternância de capinas 9,8 4,8
Cordões de cana-de-açúcar 2,5 1,8

Para as condições de agricultura brasileira, tais cordões apresentam, de modo geral, sobre os
terraços, a grande vantagem de sua simplicidade e facilidade de execução. Mesmo locados sem
grande precisão, apresentarão eficiência satisfatória, o que facilita o seu emprego pelos agricultores
que disponham de pequenos recursos técnicos.
Os limites de declividade em que podem ser aplicados com sucesso ultrapassam os atingidos
pelos terraços de base larga. Podem ser empregados com relativa segurança até declividade de
60%.
Quando os cordões de vegetação permanente são usados como meio de formação natural
dos terraços, convém que já sejam marcados com o espaçamento e o gradiente recomendados para
os terraços, sendo necessário, então, um pouco mais de cuidado e precisão no seu nivelamento.
Seu principal inconveniente, relativamente aos terraços, é a diminuição da área destinada às
culturas anuais. Nos terraços de base larga, toda a área do terreno, inclusive aquela ocupada pelo
camalhão e pelo canal do terraço poderá ser coberta com a cultura, sem qualquer diminuição da área
útil. Por exemplo, em uma faixa de 30 m de cultura de algodão protegida com cordões de vegetação
permanente de 3 m de largura, 10% da área da cultura principal seria ocupada com a vegetação
protetora.
A distância entre cordões de vegetação permanente varia com a declividade do terreno e com
as condições do solo; de preferência, deve ser usada a mesma tabela dos terraços.
Os cordões de vegetação permanente deverão ter de 2 a 3 m de largura. A vegetação a
empregar na sua formação, além de apresentar, de preferência, valor econômico subsidiário para a
propriedade rural, deverá possuir crescimento rápido e cerrado; formação de uma barreira densa
junto ao solo; durabilidade alta; não possuir caráter invasor para as terras de cultura adjacentes, e
não fornecer abrigo para moléstias e pragas das culturas em que tiver que ser intercalada.
As espécies mais usadas para a formação dos cordões de vegetação permanente são: a
cana-de-açúcar, que oferece valor econômico pela utilização em forragem de alimentação do gado ou
na industrialização; a erva-cidreira, que também fornece um óleo essencial, com boa barreira e a
vantagem do porte menor; o capim-gordura, que pode ser usado como feno, produz uma barreira
bastante densa e bem ligada ao solo.
Para a proteção de culturas perenes, os cordões de vegetação permanente deverão ser
formados com plantas vivazes, de pequeno porte e de crescimento bastante denso e cerrado junto à
superfície do solo, de modo a formarem barreiras contra o escoamento da enxurrada. Além do
controle da erosão, as plantas utilizadas deverão oferecer possibilidade de uso econômico, não
apresentar perigo de praguejamento e não competir com as culturas entre as quais serão plantadas.

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As espécies mais recomendadas são: capim-chorão, leucenas e erva-cidreira. O essencial é que a


planta escolhida forme um bom obstáculo ao arraste do solo.

5.3.8 Alternância de capinas

A alternância de épocas de capina em ruas adjacentes, durante o período chuvoso, é uma


maneira, praticamente sem despesa, de reduzir as perdas por erosão, tanto em culturas anuais como
em perenes.
Esse sistema consiste em fazer as capinas sempre pulando uma ou duas ruas, e, depois,
passado algum tempo, voltar para capiná-las, deixando, assim, sempre uma ou duas ruas com mato
imediatamente abaixo de outra ou de outras recém capinadas. A terra perdida pelas ruas limpas de
mato será retida pelas ruas com mato que ficam imediatamente abaixo.
O sistema de alternância de capinas requer apenas um pouco mais de atenção na
distribuição das épocas de capinas: consiste apenas em fazer com que entre cada duas ruas
adjacentes, seja dado um intervalo entre capinas de, aproximadamente, metade do intervalo
normalmente adotado; procurar-se-á fazer com que a primeira capina seja antecipada sobre a época
que, no sistema convencional, seria considerada como mais própria, de cerca de uma quarta parte do
intervalo normal entre as capinas de uma mesma área.
O efeito das alternâncias de capinas na diminuição das perdas por erosão é muito
interessante, principalmente ao considerar sua aplicação muito simples e seu custo praticamente
nulo. Os dados da Tabela 09 revelam que essa prática controla cerca de 30% das perdas por erosão
em culturas anuais. Para as perenes, a alternância de capinas proporciona um controle de perdas de
solo de 41% e de 17% no controle das perdas de água.
A eficiência desse sistema de controle de erosão será tanto maior quanto mais próximas das
curvas de nível do terreno estiverem as ruas das plantas. É uma prática que não requer despesas e é
eficiente. Deve-se atentar para a concorrência com as culturas.

5.3.9 Faixas de bordadura

As faixas marginais das terras cultivadas apresentam, muitas vezes, problemas de controle
de erosão e preparo do solo, que são resolvidos com o estabelecimento de faixas de bordadura.
Consistem em faixas estreitas formadas com plantas de porte baixo e vegetação cerrada, para
conter, sem provocar danos, os excessos de enxurrada que possam escorrer.
Com uma largura de 3 a 5m são formadas na margem dos campos cultivados, ao lado dos
caminhos e dos canais escoadouros. Sua principal finalidade é controlar a erosão nas bordas dos
terrenos de cultura. Para sua formação são recomendadas as leguminosas de pequeno porte, como
centrosema, cudzu e crotalária, e gramíneas, como erva-cidreira e capim-gordura.
As faixas de bordadura também podem proporcionar um espaço para o manejo de máquinas
de preparo do solo, cultivo, de pulverização e de colheita. No caso, principalmente, dos terrenos com
certo declive e que sejam arados e cultivados em contorno, elas vêm a facilitar a virada dessas
máquinas, quando do seu uso. Outro benefício é facilitar a ligação entre as faixas de cultura ou entre
terraços, pelas máquinas de cultivo, de pulverização e de colheita.

5.3.10 Quebra-ventos

Consistem em uma barreira densa de árvores, colocadas a intervalos regulares do terreno,


nas regiões sujeitas a ventos fortes, nos lugares susceptíveis à erosão eólica, de modo a formarem
anteparos contra os ventos dominantes (Figura 25).

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Figura 25 - Sombreamento de pastagem e quebra-vento de grevílea

Sua função fundamental é reprimir a ação do vento na superfície do solo, protegendo as


plantas cultivadas e o solo contra a erosão eólica. São espécies dispostas no sentido perpendicular à
direção predominante dos ventos e seu benefício advém de quanto mais alto desviar o vento, maior
será a proteção da área após as plantas.
Os quebra-ventos mais eficientes são aqueles com diferentes espécies de plantas,
fornecendo cada uma, uma barreira mais densa em determinada altura; as plantas de menor porte
são colocadas na frente, aumentando gradualmente de porte até as mais altas. O vento será, assim,
desviado para cima por uma superfície inclinada de copa de árvores. Quanto mais altos os quebra-
ventos, mais longe farão sentir sua influência.
Para a formação de renque de árvores destinadas a funcionar como quebra-ventos, podem
ser utilizadas as seguintes: eucalipto, o bambu, a tefrósia, o cipreste, a grevílea (Figura 26).

Figura 26 - Sombreamento de café e quebra-vento de grevílea

5.4 Práticas de caráter edáfico

São práticas em que se utilizam as modificações dos atributos do solo para defender o solo
contra a erosão (GUERRA, 1999).

5.4.1 Planejamento adequado do uso da terra

O melhor planejamento do uso da terra é aquele que concebe ações sistêmicas baseadas
nos recursos florísticos, hídricos, edáficos, econômicos e técnicos disponíveis na bacia hidrográfica,

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considerando-a como parte interdependente de uma totalidade integrada em longo prazo (princípio
básico da sustentabilidade).
O planejamento técnico do uso da terra deve ser feito antecipadamente, geralmente, alguns
meses ou anos antes do início das atividades. Neste planejamento, as delimitações das áreas de
efetivo plantio, de preservação permanente e de reserva legal, devem tomar por base a
caracterização do meio físico: condições climáticas, topográficas e edáficas. Baseando-se nessas
informações, devem ser estabelecidos critérios para nortear as decisões sobre:

a) a escolha de material genético adequado para cada condição ambiental;


b) as técnicas de preparo do solo;
c) as adubações de base e de cobertura;
d) o espaçamento de plantio;
e) as técnicas de plantio;
f) os tratos culturais (p.ex., controle de plantas invasoras, pragas e doenças) e;
g) o sistema de colheita.

É essencial organizar e explorar as glebas obedecendo as suas disposições fisiográficas, o


que também otimiza o uso e a eficiência da mão-de-obra e da mecanização na propriedade. Em
encostas íngremes (até 45º), recomenda-se o uso com florestamentos (p.ex., eucalipto e pinus) e, em
encostas muito íngremes (>45º), o uso com cobertura florestal permanente, com função principal de
proteger o solo.
Para a definição das classes de aptidão de uso das glebas é importante considerar os
seguintes fatores: proximidade dos recursos hídricos, declividade, drenagem, profundidade efetiva,
pedregosidade, suscetibilidade à erosão e fertilidade dos solos (Figura 27). A partir destes fatores é
possível estabelecer, por exemplo, classes com aptidão: boa, regular ou restrita para culturas
agrícolas, pastagens e florestamentos, bem como, definir as áreas de preservação permanente e
reserva legal. Fundamentais neste planejamento são: a locação da rede viária e a definição das áreas
finais de escoamento das enxurradas (canais vegetados, naturais ou construídos - resistentes à ação
erosiva das águas).

Figura 27 - Esquema de subdivisão de glebas com classes similares de aptidão de uso da terra.

Como algumas vantagens do adequado planejamento técnico do uso da terra, pode-se


relacionar:

• Adequação do emprego das práticas agrícolas;


• Elevação dos níveis de produtividade;

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• Redução de ocorrência e do grau de gravidade dos impactos ambientais;


• Otimização dos rendimentos operacionais; e
• Redução dos custos de produção.

5.4.2 Preparos conservacionistas

Preparos de solo conservacionistas são todos aqueles que praticamente não mobilizam (como
na semeadura direta típica) ou mobilizam pouco o solo (porém sem invertê-lo, como na escarificação,
mas aumentam a rugosidade superficial) e deixam uma quantidade de resíduo cultural na sua
superfície suficiente para protegê-lo da erosão o ano inteiro (Figura 28).

Figura 28 - Resíduos culturais presentes em sistema de plantio direto.

O cultivo mínimo é um sistema de preparo do solo conservacionista, que envolve uma


infinidade de métodos ou procedimentos que reduz ao mínimo possível o número de trabalhos de
movimentação do solo, visando a sua melhor estruturação. É o estágio intermediário entre o sistema
de preparo convencional (lavração + duas gradagens) e o sistema de plantio direto. O ponto
fundamental do cultivo mínimo é sempre deixar preservados os restos culturais, que são
posteriormente incorporados ao solo, de preferência à camada mais superficial, incorporação essa que
pode ser total ou parcial.
O plantio direto é também conhecido como semeadura direta ou cultivo sem preparo, resume-
se no plantio das culturas com o menor revolvimento do solo possível. Nesse sistema, o plantio é feito
em linhas sulcadas diretamente no solo recoberto com resteva picada, resultante da colheita anterior.
A forma como se usa o solo tem grande influência no processo erosivo. Quando são adotados
sistemas de preparo e cultivos intensivos, pode-se provocar um distúrbio maior na estrutura,
aparecendo a desagregação das camadas superficiais e compactação subsuperficial, o que facilita
sobremaneira a ação erosiva das águas das chuvas (Tabela 12).

Tabela 12 - Efeito do sistema de preparo do solo sobre as perdas de solo e água por erosão; médias
na base de 1.300 mm de chuva e declive de 10,8%.
Sistema de preparo Perdas de
Solo Água
t.ha-1 % da Chuva
Duas arações 14,6 5,7
Uma aração 12,0 5,5
Escarificação (cultivo mínimo) 8,6 5,0
Fonte: Marques e Bertoni, 1961.

Sistemas de cultivo sem revolvimento, os quais mantêm grandes quantidades de resíduos em


cobertura, podem reduzir a erosão do solo em até 90 a 95 % daquele que ocorre quando o cultivo é
feito em solo desnudo, livre de resíduos (Tabela 13).

Tabela 13 - Perdas por erosão no Plantio Direto e Convencional na cultura do milho em Latossolo
Vermelho Distroférrico e Argissolo Vermelho Amarelo textura média/arenosa; média de seis anos
(Lombardi Neto et al., 1980).

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Sistema de preparo Latossolo Vermelho Argissolo VA


Perdas de Perdas de
Solo Água Solo Água
t ha-1 % da t ha-1 % da Chuva
Chuva
Convencional 100 100 100 100
Plantio Direto 37 67 25 51
Obs. As perdas são apresentadas em percentagem em relação ao convencional, que tem valor 100.

Experimentos de campo demonstram que o solo se beneficia sob diferentes sistemas de


cultivo conservacionistas, pois estes sistemas permitem a permanência de resíduos culturais em
cobertura mínima de 20 a 30%, suficientes para controlarem cerca de 50% das perdas de solo por
erosão.
A quantidade de resíduo cultural poderá variar muito, desde 10% a 20% nos terrenos
relativamente planos, até 50% a 60% nos terrenos mais inclinados, ou mais ainda, dependendo de
outras práticas conservacionistas, as quais podem ser incluídas no plano global de conservação do
solo da propriedade pelo agricultor. O regime de chuva, estádio de crescimento da cultura, tipo de solo,
comprimento e inclinação do declive e tipo, quantidade e forma de manejo do resíduo cultural também
influem na quantidade de resíduo cultural requerida para dar suficiente e contínua proteção ao solo
contra os agentes erosivos.
É desejável que os preparos de solo conservacionistas apresentem boa rugosidade superficial,
porém compatível com a semeadura das culturas e que persista no tempo, para reter e fazer infiltrar
mais água da chuva no solo, adicionalmente reduzindo o volume e a velocidade da enxurrada.
Bem planejadas, as práticas de preparo do solo conservacionistas constituem notáveis
técnicas para reduzir os efeitos prejudiciais da erosão no solo e no ambiente. Elas são mais eficazes
naquela(s) época(s) do ano agrícola em que o potencial de erosão é o mais elevado. A eficácia relativa
de redução da erosão dos preparos conservacionistas, em relação à condição referencial ou padrão
(solo preparado convencionalmente no sentido do declive e sem nenhuma cobertura vegetal, no qual a
erosão é a máxima) é alta, podendo chegar a 85% ou 95%, respectivamente, nos casos da
escarificação e da semeadura direta, desde que bem planejadas e bem conduzidas. Tais práticas de
preparo do solo aumentam a tolerância de espaçamento entre terraços, devido reduzir a
vulnerabilidade do solo superficial à erosão.
As práticas de preparo do solo conservacionistas realmente são muito eficazes na redução das
perdas de solo por erosão hídrica. Elas, ao mesmo tempo, agem sobre os dois agentes ativos de
erosão: a chuva, dissipando energia cinética da mesma pela presença do resíduo cultural superficial
(especialmente na semeadura direta), e a enxurrada a ela associada, reduzindo a energia cinética da
mesma pela redução do seu volume e da sua velocidade pela presença do resíduo cultural superficial,
mas ainda pela rugosidade superficial do solo presente naqueles preparos em que o solo é mobilizado
em algum grau, porém sem inversão da camada arável (como na escarificação e em outras formas de
tais tipos de preparo). Além de limitarem energia erosiva da chuva e da enxurrada, o resíduo cultural e
a rugosidade superficial do solo retêm os sedimentos da erosão na lavoura, reduzindo mais ainda a
quantidade final de perda de solo da mesma.

5.4.3 Plantio direto

O plantio direto é um sistema de semeadura é colocada diretamente no solo, sem haver o


revolvimento. Somente é aberto um pequeno sulco, de profundidade e largura suficiente para garantir
uma boa cobertura e contato da semente com o solo. O sistema prepara no Maximo 25 a 30% da
superfície do solo. O extermínio de ervas daninhas, antes e depois do plantio, é geralmente feito com
herbicidas.
O sistema de plantio direto consiste numa seqüência de três operações básicas: colher e
esparramar os restos da cultura, uso de herbicidas, e plantar com equipamentos adequado para tal
tipo de pratica.
É o sistema ideal para controle da erosão em razão da manutenção dos restos vegetais na
superfície e da mínima movimentação do solo.
Para que a implantação do sistema de plantio direto tenha êxito, devem ser observados
alguns aspectos, tais como, boa drenagem dos solos úmidos e lençol freático alto, que são inaptos;
descompactação do solo ou camadas densas que afetam o rendimento do cultivo; ausência de danos

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na estrutura do solo, como os ocasionados por colheitadeiras e caminhões carregados operados em


solos muito úmidos. É importante também, que a superfície do solo esteja nivelada, solos com sulcos,
valetas, devem ser preparados antes da implantação do sistema.
Com relação à fertilidade do solo, deve ser feita a correção da acidez antes de iniciar o plantio
direto e os níveis de fertilidade devem situar-se na faixa média ou alta.
As restevas de culturas na superfície devem cobrir pelo menos 50% do solo, e jamais devem
ser queimadas. Se a quantidade produzida não for suficiente, deverá ser obtida a cobertura mediante
adubação verde. Devem ser aplicadas no mínimo 6 toneladas de matéria seca por hectare/ano. A
Figura 28 apresenta o sistema de plantio direto na cultura da soja.
Quando executado de forma correta, utilizando a rotação de culturas com adubação verde,
sem deixar o solo em pousio, o sistema de plantio direto é um dos mais eficientes para controlar a
erosão, mantendo ou eventualmente aumentando a fertilidade do solo.
Por isto o emprego do plantio direto em larga escala, a curto e médio prazo, nas propriedades
que consigam implantar o sistema é de máxima importância para a manutenção ou melhoria da
produtividade dos solos, evitando a erosão e a perda de fertilidade.

5.4.4 Cultivo Mínimo

O cultivo mínimo pode ser considerado um estado intermediário entre o plantio convencional
e o plantio direto. Por razões semelhantes e referidas no plantio direto, o cultivo mínimo também é um
sistema, uma vez que não há uma norma fixa para a sua adoção e depende de uma série de
variações. Assim, pode sofrer interrupções de um ou mais cultivos e depois continuar sendo adotado
na mesma área.
O cultivo mínimo objetiva uma menor mobilização do solo que o sistema tradicional. O
preparo do solo nesse sistema é uma escarificação e uma gradagem ou simplesmente uma
gradagem, conservando os restos culturais. Acresce-se a este preparo a incorporação de herbicidas
o que, alias, pode ser prejudicial ao solo pelo excesso de mobilização do solo.
Além disso, o cultivo mínimo, objetiva também, uma redução dos custos da lavoura, visto que
a sua adoção, reduz o numero de passadas do trator e obviamente, auxilia no controle a erosão, e dá
mais lucros ao produtor.
Neste sistema, os restos culturais ficam incorporados ao solo, um tanto superficialmente. São
colocados em uma camada de solo que tem aeração considerável, uma vez que, parte desses, ficam
semi-incorporados. Isto proporciona uma decomposição boa ou razoável dos restos de gramíneas, os
quais devem permanecer na superfície para uma decomposição ideal, sem que haja formação de
substancias tóxicas à germinação das sementes cultivadas. Entretanto, favorece a decomposição da
resteva da soja, a qual deve ser incorporada devido ao grande conteúdo de matéria nitrogenada.

5.4.5 Reposição de nutrientes via adubação orgânica e/ou mineral

A manutenção e a restauração sistemática da fertilidade do solo por meio de adubações


proporcionam melhor desenvolvimento das plantas, portanto, cobertura vegetal do terreno mais
rápida e abundante.

5.4.6 Planejamento da época de preparo de solo e de plantio

O poder erosivo das chuvas (quantidade, distribuição e intensidade) aumenta nos períodos
mais chuvosos. Nessa época, elas são mais concentradas e, geralmente, de maior intensidade. Em
função disso, de preferência, deve-se programar o preparo de solo para os períodos de menores
índices pluviométricos, sobretudo, para as áreas de solos mais susceptíveis à erosão (por exemplo,
aqueles com horizonte B textural ou B incipiente. As áreas mais íngremes, onde ocorrem os solos
mais jovens (em geral, menos permeáveis), devem ser preparadas, preferencialmente, nos períodos
de menor índice pluviométrico.

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5.5 Práticas de caráter mecânico

São as que dizem respeito ao trabalho da conservação do solo com a utilização de máquinas.
Em geral, introduzem algumas alterações no relevo, procurando corrigir os declives muito acentuados
pela construção de canais ou patamares em linhas de nível, os quais interceptam as águas das
enxurradas, forçando-as a se infiltrarem em vez de escorrer. De maneira geral, essas práticas
requerem maior dispêndio de recursos financeiros, mas podem ser indispensáveis para que terrenos
declivosos possam ser usados convenientemente, sem o risco de serem severamente erodidos.
Entre as principais práticas mecânicas de conservação do solo podem-se citar o preparo do
solo e plantio em curvas de nível, os terraços do tipo camalhão e as estruturas para desvio e
infiltração das águas que escoam das estradas. Alguns desses métodos eram conhecidos de certos
povos antigos, como os incas e astecas, por exemplo, que construíam terraços do tipo patamar em
íngremes encostas, principalmente para o cultivo da batata e do milho. Esses terraços-patamar têm o
aspecto de grandes degraus, como se a encosta fosse uma imensa escada e, foram construídos
manualmente, durante muitas centenas de anos. Esse trabalho imponente mostra que esses povos já
tinham consciência da necessidade de conservar seu solo para garantir a produção contínua de seus
alimentos.
O preparo do solo e plantio em curvas de nível, também chamado de plantio em contorno,
consiste em semear e executar todas as operações de cultivo no sentido perpendicular às maiores
pendentes. Sendo assim, cada uma das fileiras de plantas age como pequenos sulcos e montículos
de terra, que as máquinas cultivadoras deixam na superfície, compondo obstáculos que interceptam o
escorrimento da enxurrada. O plantio em contorno é uma prática que, além de ser uma medida
simples de controle da erosão, facilita a adoção de outras práticas complementares de caráter
vegetativo.
O termo terraço, em agricultura, é usado para designar o conjunto formado pelo canal e
camalhão (ou dique de terra). São construídos a intervalos regulares, no sentido transversal à
inclinação do terreno, o que permite controlar as enxurradas, forçando-as a se infiltrarem no solo, ou
conduzindo-as a um local não recentemente cultivado. O terraceamento é uma prática mecânica
muito eficiente no controle da erosão, desde que seja bem planejado e executado, e que receba
também uma adequada manutenção. Um sistema de terraços mal planejado poderá causar muito
mais estragos que benefícios, pois se um camalhão se romper, pelo transbordamento de água de
chuva muito intensa, o mesmo acontecerá com todos os outros abaixo, causando profundos sulcos
de erosão.
A construção de estradas mal planejadas quer sejam vicinal ou interna à propriedade
agrícola, pode ser também a causa de graves erosões. Com o arranjo retilíneo dos caminhos, as
fileiras de cultivos tendem a se estabelecer no sentido do escoamento das águas, dificultando a
prática do plantio em contorno e do terraceamento. Muitas vezes, também as enxurradas, ao se
acumularem no leito das estradas, são desviadas para os campos de cultivo, onde formam grandes
sulcos que, com o tempo, se transformam em voçorocas. Uma forma de controle é o planejamento
racional dos caminhos, colocando-os, ao máximo, mais próximo das linhas de contorno em nível.
Estruturas especiais também podem ser colocadas a intervalos regulares das estradas para que a
água que delas escoa seja interceptada e levada a local onde não poderá causar erosão.

5.5.1 Terraceamento

O terraceamento é uma prática mecânica de conservação do solo destinada ao controle da


erosão hídrica, das mais difundidas e utilizadas pelos agricultores (Figura 29). O terraceamento teve
inicio no Estado de São Paulo, em meados da década de trinta. A grande difusão desta prática
ocorreu quando o Departamento de Engenharia Mecânica da Agricultura (DEMA) e, posteriormente, a
Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), nos anos 1950 a 1980, planejaram, marcaram
e orientaram a construção de milhares de quilômetros de terraços com a finalidade de defender as
terras cultivadas dos efeitos da erosão.

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Figura 29 - Área com terraços de infiltração e suas faixas de proteção.

5.5.1.1 Características básicas

O terraceamento baseia-se no parcelamento das rampas, isto é, em dividir uma rampa


comprida (mais sujeita à erosão) em várias rampas menores (menos sujeitas à erosão), por meio da
construção de terraços.
Terraço é um conjunto formado pela combinação de um canal (valeta) e de um camalhão
(monte de terra ou dique) (Figura 30), construído a intervalos dimensionados, no sentido transversal
ao declive, ou seja, construídos em nível ou com pequeno gradiente.

Figura 30 - Partes Componentes de um Terraço.

Os terraços têm a finalidade de reter e infiltrar, ou escoar lentamente, as águas provenientes


da parcela do lançante imediatamente superior, de forma a minimizar o poder erosivo das enxurradas
cortando o declive. O terraço permite a contenção de enxurradas, forçando a absorção da água da
chuva pelo solo, ou a drenagem lenta e segura do excesso de água.
Cada terraço protege a faixa que está logo abaixo dele, ao receber as águas da faixa que
está acima (Figura 31). O terraço pode reduzir as perdas de solo em até 70-80%, e de água em até
100%, desde que seja criteriosamente planejado (tipo, dimensionamento), executado (locado,
construído) e conservado (limpos, reforçados). Embora apresente custo elevado (e que aumenta com
a declividade), esta prática é necessária em muitas áreas agrícolas onde técnicas mais simples

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(como o plantio em nível, as culturas em faixas ou a rotação de culturas), por si só, não são
suficientes para uma eficaz proteção do solo contra a erosão hídrica.

Figura 31 - Vista parcial da água da enxurrada retida em um terraço.

Nem todos os solos e declives podem ser terraceados com êxito. Nos pedregosos ou muito
rasos, com subsolo adensado, é muito dispendioso e difícil manter um sistema de terraceamento. As
dificuldades de construção e manutenção aumentam à medida que cresce a declividade do terreno. O
uso do terraceamento é recomendado para declives superiores a 3%, comprimentos de rampa
maiores que 100 metros e topografia regular.
O terraceamento, quando bem planejado e bem construído, reduz as perdas de solo e água
pela erosão e previne a formação de sulcos e grotas, sendo mais eficiente e menos oneroso quando
usado em combinação com outras práticas, como o plantio em contorno, cobertura morta e culturas
em faixas; após vários anos, seu efeito se pode notar nas melhores produções das culturas, devido à
conservação do solo e da água.

5.5.1.2 Classificação dos terraços

5.5.1.2.1 Quanto à função

TERRAÇO EM NÍVEL (DE RETENÇÃO, ABSORÇÃO ou INFILTRAÇÃO): recomendado para


solos com elevada permeabilidade, regiões de precipitações baixas e até 12% de declividade.
Este terraço é construído em nível (sobre uma curva em nível marcada no terreno) e tem
suas extremidades fechadas. A sua função é interceptar a enxurrada e promover a infiltração da água
no canal do terraço.
Os terraços construídos em nível não permitem um dimensionamento hidrológico muito
preciso. A taxa de infiltração de água no canal do terraço, que é o princípio de seu funcionamento,
ainda é um assunto muito pouco conhecido. Outro fator importante é que essa taxa de infiltração é
muito variável e dependente do tipo do solo, da forma de construção do terraço, do preparo do solo,
do grau de compactação do solo e da sua umidade. Em decorrência disto, o dimensionamento de
terraços de infiltração com base em critérios hidrológicos ainda não consiste numa prática rotineira.

TERRAÇO EM DESNÍVEL (COM GRADIENTE, DE DRENAGEM, COM DECLIVE OU DE


ESCOAMENTO): recomendado para solos com permeabilidade lenta ou moderada (B textural e solos
rasos), regiões de precipitações elevadas e de até 20% de declividade.

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É um terraço que apresenta declive suave, constante (uniforme) ou variável (progressivo),


com uma ou as duas extremidades abertas. Os terraços de drenagem interceptam a enxurrada e, ao
invés de promover a sua infiltração no canal do terraço, conduzem-na para um sistema de
escoamento que pode ser uma grota vegetada ou um canal escoadouro, sem que haja erosão no
leito do canal. Em alguns tipos de solos bastante permeáveis, como alguns Latossolos Vermelhos
argilosos, consegue-se, às vezes, dispensar com segurança os canais escoadouros, mediante o
emprego de práticas mecânicas (como terraceamento de infiltração) e vegetativas que produzam
quase a retenção completa das águas da chuva.
Nos terraços de drenagem, os princípios hidrológicos envolvidos no dimensionamento são
mais bem conhecidos e mais simples do que nos terraços de infiltração.
Na Tabela 14 são apresentados os valores de declividade recomendados para grupos
diferentes de solos, ao longo de terraços locados com gradiente progressivo.

Tabela 14 - Valores de declividade recomendados (%) para três grupos de solos, ao longo de
terraços locados com gradiente progressivo.

5.5.1.2.2 Quanto à largura da base ou faixa de terra movimentada

Refere-se à largura da faixa de movimentação de terra para a construção do terraço,


incluindo o canal e o camalhão.

TERRAÇO DE BASE ESTREITA OU CORDÃO DE CONTORNO (Figura 32):

- faixa movimentada de até 3 metros;


- uso em declividades de 12-18% ou mais,
- em áreas pequenas e culturas perenes;
- normalmente do tipo Nichol’s;

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Figura 32 - Terraço de base estreita.

TERRAÇO DE BASE MÉDIA (Figura 33):

- faixa de movimentação de terra de 3 a 6 m;


- utilização em declividades de 10-12 %,
- necessitando de trator e arado;

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Figura 33 - Terraço de base média.

TERRAÇO DE BASE LARGA (Figura 34):

- faixa de movimentação de 6 a 12 m;
- adequado para declividades menores que 10%,
- em solos de boa permeabilidade: até declividade de 20%;
- possibilita o uso de máquinas no plantio, dentro do canal e sobre o camalhão;
- normalmente construído em nível;

Figura 34 - Terraço de base larga.

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5.5.1.2.3 Quanto ao processo de construção

TIPO NICHOL’S OU CANAL (Figura 35):

- movimentação de terra sempre de cima para baixo na rampa;


- estreita faixa de movimentação do terreno;
- indicado para declives inferiores a 18%;
- seção transversal do canal: aproximadamente triangular;
- implementos utilizados: arado reversível, pá carregadeira;
- pode ser construído com arado quando a declividade é >10%;
- a faixa do canal não pode ser aproveitada para o cultivo;

Figura 35 - Terraço tipo Nichol’s ou canal.

TIPO MANGUM OU CAMALHÃO (Figura 36):

- durante a construção, a movimentação de terra é feita de cima para baixo, e de baixo para cima;
- adequado para áreas com declives de até 12%;
- implementos utilizados: arado fixo ou reversível, lâmina mediana;
- canal mais largo e raso, e maior capacidade de armazenamento do que o Nichol’s;
- seção transversal do canal: aproximadamente parabólica;

Figura 36 - Terraço tipo Mangum ou camalhão.

5.5.1.2.4 Quanto à forma do perfil do terreno

TERRAÇO COMUM (Figura 37):

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É a combinação de um canal com camalhão construído em nível ou com gradiente, cuja


função é interceptar a enxurrada, forçando sua absorção pelo solo ou a retirada do excesso de água
de maneira mais lenta, sem provocar erosão. Cada terraço protege a área de terra acima dele. A
declividade máxima para sua construção é de 20%. Deve ser combinado com práticas vegetativas e
sistemas de manejo que proporcionem proteção superficial, amenizando o impacto das gotas de
chuva. É o tipo de terraço mais usado.

Figura 37 - Terraço comum.

TERRAÇOS TIPO PATAMAR (Figura 38):

É construído através da movimentação de terra com cortes e aterros, que resultam em


patamares em forma de escada. A plataforma do patamar deve apresentar pequena inclinação com
direção ao seu interior e um pequeno dique, a fim de evitar o escoamento de água de um terraço para
outro, o que poderia provocar erosão no talude.

Figura 38 - Terraço tipo patamar.

No patamar deve ser plantada a cultura, e o talude deve ser recoberto com vegetação
rasteira, desde que não seja invasora, para manter sua estabilidade. Em solos pouco permeáveis
esse tipo de prática não é recomendada. É construído manualmente ou com trator de esteira
equipado com lâmina frontal. Em virtude do alto custo de construção, é normalmente recomendado
para exploração de culturas de alta rentabilidade econômica. Pode ser contínuo (semelhante a
terraços) ou descontínuo (banquetas individuais). É indicado para terrenos acima de 20% de
declividade.

TERRAÇOS TIPO BANQUETAS INDIVIDUAIS (Figura 39):

Quando o terreno apresenta obstáculos ou afloramentos de rochas ou existe deficiência de


máquinas ou implementos para construção do terraço tipo patamar, pode ser utilizada uma variação
deste tipo de terraço, chamada de banquetas individuais ou patamar descontínuo.

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Figura 39 - Terraço tipo banquetas individuais.

São bancos construídos individualmente para cada planta, onde a movimentação de terra se
dá apenas no local onde se vai cultivar. É indicado para culturas perenes. As ferramentas
empregadas são manuais: enxada e enxadão, porque são construídas em áreas com declividade
bastante acentuada, sendo impraticável o uso de máquinas. Inicialmente, retira-se toda a camada
superior mais fértil que é amontoada ao lado da área onde vai ser construída a banqueta. Em seguida
faz-se o corte no barranco e aproveita-se a terra retirada no corte para fazer o aterro. Da mesma
forma que o patamar, acerta-se a superfície da plataforma com ligeira declividade no sentido inverso
ao da declividade original do terreno. Vegeta-se com gramas a parte de aterro para melhor
estabilidade e, finalmente, espalha-se a terra raspada da superfície a fim de conservar a fertilidade da
banqueta.

TERRAÇO TIPO MURUNDUM OU LEIRÃO (Figura 40):

É o termo utilizado para terraço construído raspando-se o horizonte superficial do solo


(horizonte A), por tratores que possuem lâmina frontal, e amontoando-a para formar um camalhão de
avantajadas proporções (pode chegar a mais de 2 m). O murundum é recomendado para áreas com
uso agrícola intensivo com declividade máxima de 15%.

Figura 40 - Terraço tipo murundum.

Normalmente, esse tipo de terraço não segue dimensionamento adequado. Visando facilitar o
trânsito de máquinas e caminhões na área agrícola, a distância entre eles é maior do que a
recomendada para os terraços comuns; de forma errada, tenta-se compensar esta medida
aumentando a dimensão do camalhão para segurar maior volume de água.

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Uma limitação apresentada por esse tipo de terraço é que a remoção da camada mais fértil
do solo prejudica o desenvolvimento das plantas na área que foi raspada. Além disso, por requerer
grande movimentação de terra, seu custo de construção é elevado. Pelo fato de ser locado com
distâncias maiores, apresenta erosão acentuada e está sujeito a rompimento.

TERRAÇO TIPO EMBUTIDO (Figura 41):

É mais difundido em áreas de plantio de cana-de-açúcar e sua forma assemelha-se à dos


murunduns. É construído de modo que o canal tenha forma triangular, ficando o talude que separa o
canal do camalhão praticamente na vertical. Apresenta pequena área inutilizada para o plantio, sendo
construído normalmente, com motoniveladora ou trator de lâmina frontal.

Figura 41 - Terraço tipo embutido.

5.5.1.3 Seleção do tipo e função do terraço

A decisão de quando se utilizar terraço em nível e quando utilizar terraço com gradiente deve
considerar as vantagens e desvantagens que apresentam, conforme a Tabela 15.

Tabela 15 - Vantagens e desvantagens dos terraços em nível e com gradiente.


TIPO DE VANTAGENS DESVANTAGENS
TERRAÇO
Em nível - Armazenam água no solo - Maior risco de rompimento;
- Não necessitam de locais para - Exigência de limpezas mais freqüentes;
escoamento do excesso de água
Com gradiente - Menor risco de rompimento - Desvio da água caída sobre a gleba;
- Necessidade de locais apropriados para
escoamento da água;
- Maior dificuldade de locação.

Além das vantagens e desvantagens relacionadas aos terraços em nível e com gradiente,
também devem ser considerados outros fatores para a seleção do tipo a ser utilizado, como:
permeabilidade do solo e do subsolo, intensidade das chuvas, topografia, cultura (anual ou perene),
manutenção e outros custos em longo prazo.

5.5.1.4 Dimensionamento de um sistema de terraceamento

O dimensionamento de um sistema de terraceamento considera, inicialmente, o objetivo a que se


propõe o sistema: Para infiltração da água ou para seu escoamento. Esta decisão, tomada em função

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de características relacionadas, principalmente, às condições de declividade (Tabela 16) e de


permeabilidade do solo, leva à construção de um sistema de terraços em nível, para infiltração, ou em
gradiente, para escoamento do excedente da água da chuva. No entanto, para ambas as situações, o
dimensionamento do sistema é feito em função de seu potencial em gerar enxurradas quando da
ocorrência de chuvas intensas. Dessa maneira, verifica-se que o cálculo da quantidade de enxurrada
é o ponto crucial para o dimensionamento.

Tabela 16 - Tipos de terraços recomendados em função da declividade do terreno


Declividade (%) Tipo de terraço recomendado
2–8 Base larga
8 – 12 Base média
12 – 18 Base estreita
18 – 50 Em patamar

Um sistema de terraceamento deve ser locado em um local protegido (natural ou


artificialmente) da introdução de água que não aquela efetivamente caída sobre o local considerado.
Desta maneira, o sistema de terraceamento deverá ser implementado em uma área delimitada por
divisores de água naturais (microbacia) ou protegido por um sistema de derivação (diversão).
Para que um sistema de terraceamento funcione com plena eficiência é necessário um
correto dimensionamento, tanto no que diz respeito ao espaçamento entre terraços como à sua seção
transversal.

5.5.1.5 Dimensionamento do espaçamento entre terraços

A primeira etapa no dimensionamento de terraços é a definição de seu espaçamento. Por


espaçamento entende-se a distância entre um terraço e outro. Pode ser referido de duas maneiras:
espaçamento vertical ou espaçamento horizontal.
O Espaçamento Vertical (EV) entre dois terraços corresponde à diferença de nível entre eles
– significa quantos metros se desce no terreno de um terraço até o outro. Considerando-se que o
terraço pode ser construído ao longo de uma linha de nível (curva de nível) e que esta corresponde à
linha de interseção de um plano inclinado cortado por um plano horizontal, pode-se também definir o
espaçamento vertical entre dois terraços como sendo a distância entre os dois planos horizontais que
passam por eles.
O Espaçamento Horizontal (EH) representa, em linha reta (medido na horizontal), quantos
metros separam os terraços. Pode ser também definido como a distância entre dois planos verticais
que passam por dois terraços.
Os critérios para a definição do espaçamento devem considerar características do solo (como
susceptibilidade à erosão em sulcos e capacidade de infiltração de água no solo), aspectos do relevo
(como declividade e comprimento das vertentes) e o sistema de produção (como o tipo de cultura,
manejo dos restos de cultura e preparo do solo). Critérios para a definição do espaçamento de
terraços foram desenvolvidos, no Brasil, por Bertoni (1978) e Lombardi Neto et al., (1989), os quais
desenvolveram novas tabelas de espaçamento entre terraços em função de um efetivo controle da
erosão. Estas tabelas, apesar de não poderem ser consideradas conclusivas, representam um
avanço por estarem apoiadas em dados de pesquisas sobre perdas por erosão de solo e água,
considerando tanto a cobertura vegetal, os sistemas de preparo do solo, o manejo de restos culturais,
bem como a erodibilidade de classes de solos identificadas em levantamentos pedológicos recentes.

5.5.2 Canais escoadouros

Os canais escoadouros ou coletores de água podem ser naturais ou artificiais. Os que já


existem no terreno são denominados naturais, tais como rios, riachos etc. Mesmo assim, estes
escoadouros devem ser devidamente examinados para verificar se não está havendo erosão nestes
locais, para serem devidamente protegidos.
Os canais artificiais são construídos especialmente para receberem e conduzirem, a um
determinado local, a água coletada nos canais dos terraços;

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Ao planejar uma lavoura, a primeira preocupação que se dever ter, é a escolha dos canais
para descarga do excesso de água do sistema de terraceamento. A escolha destes canais deve
obedecer a determinados critérios, peculiares de cada região. Mas é aconselhado, sempre que
possível, utilizar os canais escoadouros naturais, com proteção de gramíneas nativas ou implantadas.
Para cobertura dos canais escoadouros são indicados diversos vegetais, porém deve-se sempre dar
preferência a gramas nativas, estas devem ser resistentes e que não se disseminem pelo resto da
lavoura, com facilidade.
A disposição dos canais escoadouros deve ser feita com todo o cuidado, preferindo-se
sempre, escoadouros naturais e ainda fazer canais artificiais nos locais que forem necessários.
A largura do canal escoadouro varia muito, dependendo diretamente do volume de água que
ele deve escoar. Deve ter a parte inicial com no mínimo 2 a 3 m na parte inicial em lavouras
pequenas e à medida que se alonga, deverá ir tomando dimensões maiores, atingindo até 15 a 20 m
em grandes lavouras. Deve ser mantido sempre raso, de forma que o agricultor possa ultrapassá-lo
com as maquinas agrícolas, sem ter que contorná-lo.
Porém os canais escoadouros, não devem servir em hipótese alguma, como estradas, uma
vez que o trafego tem a tendência de sufocar e matar a grama, vindo a provocar a erosão com a
passagem de água. O mesmo poderá ocorrer nas estradas que vierem a ser utilizadas como
escoadouros.
Onde houver condições, aconselha-se fazer dos canais escoadouros, uma área para
pastoreio, mas para isso, devem ser cercados e preparados para tal atividade. Aconselha-se
principalmente para propriedades médias e grandes, que tenham condições de integrar as áreas dos
canais escoadouros com outras áreas de pastagem, ou quando o agricultor já tiver implantado um
sistema de agricultura e pecuária, executando a rotação de culturas anuais com pastagens.
Os canais escoadouros também devem ser revisados periodicamente, devem ser retirados
possíveis obstáculos que possam vir a impedir a livre passagem da água.
Se a área cultivada que desaguar no canal escoadouro for degradada e proporcionar
condições para que os terraços transportem solo para os canais, estes irão sendo aos poucos
assoreados, uma vez que a vegetação rasteira terá tendência de reter as partículas de solo. Por isto
a conservação do solo deve ser integral, muito mais do que somente algumas práticas isoladas.

5.5.3 Canais divergentes

São construídos entre duas áreas contíguas, de diferentes níveis, visando à proteção da
superfície mais baixa das enxurradas.
Áreas a serem protegidas podem ser lavouras situadas em encostas, acima das quais se
situam outras lavouras, em níveis mais altos, que deixam escorrer águas pluviais. Esses canais são
construídos em toda a extensão do perímetro que limita as duas superfícies e visam, portanto, o
desvio das águas, para que não atinjam a área em nível mais baixo, evitando assim, inundação,
erosão, ou assoreamento, ou ainda carreamento de venenos. Essas áreas podem também ser
várzeas, susceptíveis aos problemas de enxurradas, ou mesmo lagos ou açudes que necessitam ser
protegidos contra desmoronamentos, carreamento de venenos, e mesmo assoreamento.
Os taludes sempre deverão ter uma determinada inclinação ser revestidos com gramíneas,
para evitar o desmoronamento e conseqüentemente a obstrução do canal, dando-se preferência à
secção trapezoidal.
As extremidades onde os canais divergentes deságuam, devem estar sempre desobstruídas,
permitindo o livre escoamento, assim como toda a extensão do canal deve ser revisada para que não
aconteçam obstruções.
Porem, se construídos sem um planejamento, os canais divergentes, podem vir a apresentar
problemas de desmoronamento de seus taludes ou então se aprofundarem muito, se transformando
em voçorocas.

5.5.4 Plantio em nível

Nessa técnica, o preparo do solo e a execução dos trabalhos de campo, são feitos em nível,
ou seja, perpendiculares ao declive, acompanhando as curvas de nível.

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Muitos autores citam esta pratica como uma regra básica importante para um controle de
erosão bem sucedido.
Os rastros do preparo do solo e os sulcos do plantio perpendiculares ao declive formam
obstáculos ao escoamento da água. Também os sulcos das rodas do trator, onde a infiltração de
água é menor, são menos suscetíveis a erosão, quando perpendiculares ao declive e não paralelos
ao mesmo.
Com o preparo do solo ou plantio sendo realizado no sentido do declive, a água infiltrada é
canalizada para o sulco das rodas do trator e para o resto rastro dos implementos, ocasionando a
erosão.

5.5.5 Controle de voçorocas

As voçorocas são uma conseqüência da erosão, no seu estágio mais avançado. São
aprofundados no solo, devido à passagem de volumes consideráveis de água com grande
velocidade. Portanto, a concentração do volume de água e sua velocidade são os principais fatores
que concorrem para a sua formação.
A voçoroca é uma forma de erosão facilmente visualizada, devido a seu grande tamanho. Isto
faz muitos entenderem que somente há erosão no solo, quando existe a voçoroca. A erosão laminar
é mais insidiosa e não é observada por grande parte dos agricultores.
Dependendo do tipo de solo, as voçorocas cavam valas profundas. As voçorocas também
podem se originar de estradas mal locadas ou mal conservadas e que conduzem grandes volumes de
águas pluviais.
Deve-se tomar cuidado para não deixá-las de aprofundarem muito, pois, neste estágio, são
mais difíceis de controlar. Seu controle sempre constitui uma tarefa difícil, porque requer muito
trabalho e persistência. Basicamente, existem duas formas de controle de voçorocas.

A) uma forma mais rápida consiste em desmoronar os barrancos, até que fiquem nivelados.
Entretanto, isoladamente, esta pratica pouco resolve a situação, tendo em vista que, as primeiras
chuvas fortes levam consideráveis quantidades de terras. Por este fato, deve ser tomado muito
cuidado para que isto seja evitado. Quando possível, devem ser alterados os canais escoadouros ou
canais divergentes. No caso de canais escoadouros, construí-los lateralmente a voçoroca e revesti-
los com grama. Estes canais divergentes devem estar a certa distancia da margem da voçoroca. Esta
distancia, de 10 a 20 metros varia de acordo com o tamanho da voçoroca, uma vez que, se for
grande, precisará um volume grande de terra a ser desmoronado lateralmente. Depois que estes
canais estiverem consolidados e gramados, então poderá se fazer o desmoronamento da voçoroca,
com o arado de disco lavrando no sentido longitudinal, sempre com o máximo de cuidado para não se
aproximar demais da margem, evitando a queda do trator.
Este trabalho também pode ser executado com motoniveladoras com muita vantagem de
tempo e eficiência. Antes de começar o desmoronamento, pode-se colocar na voçoroca, ramos de
arvores ou arbustos, tocos, bagaço de cana-de-açúcar, pedaços de madeira ou outras substancias
orgânicas, para auxiliar a obstruir e, conseqüentemente, diminuir o volume de terra a mobilizar.
De imediato deve ser construído um canal, onde foi fechada a voçoroca, cultivando grama,
para protegê-lo, evitando assim o transporte do solo. Após estar devidamente consolidado com
grama, este funcionará como um canal escoadouro. Poderão ser destruídos os canais laterais
provisórios e preparar para conduzir as águas pluviais para dentro da antiga voçoroca. Neste caso
podem ser utilizados restos vegetais, tocos etc, dentro da antiga voçoroca, com a finalidade de
reduzir a velocidade da água. Deve-se observar que estes devem estar fixos, com estacas para que
ofereçam resistência a passagem da água. Devem ser colocados de tal forma que alcancem toda a
largura da voçoroca, para obrigar que as águas os transponham e não desviem lateralmente, pois
neste caso, criariam um problema, escavando outra voçoroca lateral.
De imediato deve ser feita a semeadura ou enleivamento de grama (missioneira ou
pensacola) para que, aos poucos, esta grama revista o canal protegendo-o da erosão.

B) Outra forma de controlar voçorocas, sem desbarrancamento, consiste em colocar, no seu


leito, várias series de septos. A função dos septos é servir como obstáculos para a velocidade da
água, e fixar a terra até o nível de sua altura, quando isso ocorrer, a primeira série de septos já não
serve para fixar a terra e, por isto, deveram ser colocados outros intercalares, ou seja, a segunda
série, como pode ser observado na Figura 42.

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Rhuanito Soranz Ferrarezi

Por sua vez quando estes septos também estiverem com a terra transportada, provavelmente
a primeira série está totalmente aterrada. A esta altura poderá ser colocada uma terceira série de
septos, aproximadamente ao nível entre os da segunda série, ou seja, praticamente sobre os da
primeira serie. Quando estes estiverem nivelados, colocar a quarta série de septos, aproximadamente
sobre a segunda série e assim sucessivamente.

Figura 42 - Posição dos septos no interior da voçoroca.

Com o tempo, a profundidade da voçoroca vai diminuindo, devido ao constante assoreamento


provocado pelos septos, em seu interior. Quando este nível alcançar a superfície, deve ser feita a
semeadura ou enleivamento de grama, para devido revestimento.
Cabe lembrar que independente do método utilizado para controlar as voçorocas; os locais
restabelecidos normalmente são muito vulneráveis e podem começar a reabrir uma nova voçoroca a
qualquer descuido, por isso, precisam de cuidado constante.
Para voçorocas muito grandes, que necessitam muita mão de obra, podem ser utilizadas
outras formas para acelerar o processo. Estas formas dizem respeito à primeira etapa de etapa de
recuperação e as mais aconselháveis são através de vegetação cultivada como: cana-de-açúcar,
milheto, capim-elefante, tremoço, arborização, com espécies rústicas etc. As espécies deverão ser
selecionadas de acordo com a aptidão mais apropriada do local. Alem disso devem também ser
usados septos para reter o solo na voçoroca (Figura 43).

Figura 43 – Uso de maquinário para controle de voçoroca.

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Rhuanito Soranz Ferrarezi

Se a área onde está a voçoroca for destinada às pastagens, possivelmente, esta possa
permanecer arborizada após a regeneração. Caso for utilizada para lavoura, deve-se verificar o
estagio de regeneração da voçoroca e, com muita cautela, proceder a utilização racional do solo,
conforme as condições permitirem.
Se a voçoroca estiver em área de pastagem, esta deverá ser interditada para pastoreio ou
passagem de gado e devem ser evitadas queimadas, objetivando a sua correção. Isto normalmente é
feito com cerca margeando a área.
O controle de voçorocas é um trabalho demorado, e que exige cuidado e dedicação, mas
corresponde quando feito com dedicação, possibilitando, assim, recuperar áreas improdutivas ou de
difícil transposição por maquinas ou animais, devido a ação erosiva do escorrimento das águas das
chuvas.

6 PROJETOS DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS (PRAD)

Um projeto de recuperação de áreas degradadas (PRAD) é um documento que indica o


estado de degradação de determinada área e as medidas que serão realizadas para sua
recuperação, sendo apresentado ao órgão ambiental (Municipal, Estadual ou Federal) e ao Ministério
Público, em cumprimento à: Lei 4.771 de 15-09-1965, Resolução CONAMA nº 302, de 20-03-2002,
Resolução SMA nº 47, de 26-11-2003 (revogada pela Res. SMA 58, de 29-12-2006), Resolução SMA
nº 58, de 29-12-2006 e Resolução SMA nº 08, de 31-01-2008, além de outras legislações.
Existem diversos procedimentos técnico-operacionais para sua confecção, não havendo um
modelo-padrão, em função das adaptações ao tipo de degradação.
Os principais aspectos que devem estar contidos num PRAD são:

1. CARACTERIZAÇÃO DAS ÁREAS DEGRADADAS


• Caracterização do tipo de degradação
• Condição da Cobertura vegetal
• Identificação do proprietário
• Número do processo (se houver)
• Identificação do lote/imóvel (Caracterização geral, Coordenadas geográficas, Mapa de
localização e Croqui do lote/imóvel

2. LEVANTAMENTO DA VEGETAÇÃO E USO DOS SOLOS DA REGIÃO ONDE SE INSERE(M) A


(S) ÁREA (S) DEGRADADA (S)

3. OBJETIVOS

4. DESCRIÇÃO DO PROJETO
a) Atividades de recomposição
b) Plantio das espécies indicadas
c) Monitoramento e avaliação do processo de recuperação

4.1. ESCOLHA DAS ATIVIDADES DE RECOMPOSIÇÃO


• Isolamento da área
• Retirada dos fatores de degradação
• Eliminação de competidores naturais
• Adensamento de espécies com mudas ou sementes
• Enriquecimento com mudas ou sementes
• Implantação de módulos de mudas ou sementes
• Seleção de espécies pioneiras e secundárias nativas
• Indução do banco de sementes ou sua transferência
• Aproveitamento econômico

4.2. PLANTIO DAS ESPÉCIES INDICADAS


• Conservação dos solos

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Rhuanito Soranz Ferrarezi

• Abertura de covas
• Correção dos solos e adubações
• Ações de plantio e tutoramento

4.3. MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO


• Coroamento
• Podas
• Controle de pragas e doenças
• Aceiros
• Apresentação de laudos técnicos do acompanhamento sistemático (Momento de
avaliação do projeto executivo de PRAD)

5. ELABORAÇÃO DE CRONOGRAMA EXECUTIVO DE ATIVIDADES

6. ELABORAÇÃO DE QUADRO FINANCEIRO DE ATIVIDADES

7. INDICAÇÃO DA RESPONSABILIDADE TÉCNICA (vincular ART)

8. ASSINATURA DE TERMO DE RESPONSABILIDADE

IMPORTANTE:
• Fazer recomposição topográfica para o disciplinamento das águas superficiais se necessário
• O ideal é que os mesmos técnicos que elaboram o PRAD, também sejam os responsáveis
pelo acompanhamento de sua execução e por seu monitoramento;
• O registro fotográfico deve ser realizado observando os mesmos pontos fotografados nas
fases de pré e pós-recuperação
• O processo de recuperação de áreas degradadas deve atender as exigências dos órgãos
ambientais Municipais, Estaduais ou Federais licenciadores de atividades modificadoras do
ambiente

7 BACIAS HIDROGRÁFICAS

Uma bacia hidrográfica é uma unidade fisiográfica, limitada por divisores topográficos, que
recolhe a precipitação, age como um reservatório de água e sedimentos, defluindo-os em uma seção
fluvial única, denominada exutório. Os divisores topográficos ou divisores de água são as cristas das
elevações do terreno que separam a drenagem da precipitação entre duas bacias adjacentes, tal
como ilustrado na Figura 44.
A bacia hidrográfica, associada a uma dada seção fluvial ou exutório, é individualizada pelos
seus divisores de água e pela rede fluvial de drenagem; essa individualização pode se fazer por meio
de mapas topográficos. Os divisores de água de uma bacia formam uma linha fechada, a qual é
ortogonal às curvas de nível do mapa e desenhada a partir da seção fluvial do exutório, em direção
às maiores cotas ou elevações (Figura 44). A rede de drenagem de uma bacia hidrográfica é formada
pelo rio principal e pelos seus tributários, constituindo-se em um sistema de transporte de água e
sedimentos, enquanto a sua área de drenagem é dada pela superfície da projeção vertical da linha
fechada dos divisores de água sobre um plano horizontal, sendo geralmente expressa em hectares
(ha) ou quilômetros quadrados (km2).
Uma bacia hidrográfica é um sistema que integra as conformações de relevo e drenagem. A
parcela da chuva que se abate sobre a área da bacia e que irá transformar-se em escoamento
superficial, chamada precipitação efetiva, escoa a partir das maiores elevações do terreno, formando
enxurradas em direção aos vales. Esses, por sua vez, concentram esse escoamento em córregos,
riachos e ribeirões, os quais confluem e formam o rio principal da bacia. O volume de água que passa
pelo exutório na unidade de tempo é a vazão ou descarga da bacia. Na seqüência de um evento
chuvoso significativo, a vazão Q varia com o tempo de uma forma característica de cada bacia
(Figura 45).

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  700 
 700
  700 
 695 

 695
 700

 690
  690 690 
  695 

695 
  685   680 
  690   680
700 
  675   685

 680   675  680

  685

  670 
  680    665

  685 
Divisor de Águas

  655   660  665  670


                 Exutório 
Figura 44 – Individualização de uma Bacia Hidrográfica

Figura 45 - Bacia Hidrográfica é uma área que funciona como se fosse um funil. Toda água que cai
com a chuva escorre para um único rio ou lago. Esta área física é uma importante unidade de
planejamento e de execução de atividades sócio-econômicas, ambientais, culturais e educativas.

7.1 Bacias hidrográficas brasileiras

O Brasil possui 9 Bacias Hidrográficas (Figura 46).

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Rhuanito Soranz Ferrarezi

Figura 46 - Bacias Hidrográficas brasileiras

7.2 Caracterização de bacias hidrográficas

a) Caracterização sócio-econômica: Produtor, propriedade, uso atual da terra, benfeitorias,


associativismo, práticas de manejo, produção animal e vegetal problemas de utilização da terra,
estrutura fundiária

b) Caracterização fisiográfica: localização e descrição da área, Levantamento de solos,


caracterização climática, cobertura vegetal, caracterização hidrológica, forma relevo, rede de
drenagem, declividade.

Para fazer a caracterização, algumas informações são necessárias:

• Localização e caracterização da área: Município, coordenadas, altitude, sistema viário


• Levantamento de solos: Características químicas, físicas, mineralógicas, morfológicas,
distribuição e classificação dos solos existentes na BH
• Caracterização climática: Pluviosidade (quantidade, intensidade, duração e freqüência),
temperatura, insolação, umidade relativa, evaporação, evapotranspiração, balanço hídrico,
erosividade das chuvas.
• Cobertura vegetal: Principais espécies nativas

7.3 Comportamento hidrológico das bacias hidrográficas

Quantidade e intensidade da enxurrada:

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Rhuanito Soranz Ferrarezi

Q = CIA / 360

Onde:

Q = Vol. de enxurrada -> m3 / s


C = Coeficiente de enxurrada
I = Intensidade máx. da chuva -> mm / h
A = Área da bacia hidrográfica --> ha

Intensidade e duração da chuva:

I=a/t+b

Onde:

I = Intensidade da chuva ----> mm / h


t = Duração da chuva -----> min
a = 3.000
b = 40

7.4 Declividade média

• < 5%: Declive plano e suave com escoamento superficial lento ou médio. Não impedem o uso de
máquinas agrícolas. A erosão hídrica não é problema e exige práticas simples de conservação do
solo (plantio em nível, cobertura morta, rotação de culturas).
• 5-10%: Superfícies inclinadas, geralmente em relevo ondulado nos quais o escoamento
superficial é médio. O declive não prejudica o uso de máquinas agrícolas e a erosão hídrica já
causa problemas em alguns casos, exigindo práticas simples e complexas de conservação.
• 10-15%: Compreende áreas muito inclinadas ou declivosas, com escoamento superficial rápido.
Dificulta o uso de máquinas agrícolas. Os solos são facilmente erodíveis. Normalmente são áreas
que só podem ser utilizadas para alguns cultivos perenes, pastagens ou reflorestamento.
• 15-20%: São áreas fortemente inclinadas, cujo escoamento superficial é rápido. Não são
apropriadas para culturas perenes sendo próprias para pastagens ou reflorestamento. Apresenta
problemas de erosão e impedimento ao uso de máquinas agrícolas

LEI Nº 9.433, DE 8 DE JANEIRO DE 1997: VER ANEXO I

8 CAPACIDADE DE USO DAS TERRAS

A capacidade de uso das terras é um agrupamento interpretativo ou classificação técnico-


interpretativa, originalmente desenvolvida nos Estados Unidos, representando um grupamento
qualitativo de tipos de solos sem considerar a localização ou as características econômicas da terra.
Por este sistema são definidas classes homogêneas de terra, de acordo com sua máxima
capacidade de uso, sem risco de degradação do solo, especialmente no que diz respeito a erosão
acelerada.

8.1 Categorias do sistema

8.1.1 Grupos de capacidade de uso

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Rhuanito Soranz Ferrarezi

Estabelecidos de acordo com a intensidade de uso:


• A: Terras próprias para lavouras anuais ou perenes e/ou reflorestamento e vida silvestre
• B: Terras impróprias para lavouras, mas apropriadas ao pastoreio e/ou reflorestamento e vida
silvestre
• C: Terras impróprias para lavoura, pastoreio e silvicultura, porém apropriadas para proteção
da fauna, da flora, recreação ou armazenamento de água

8.1.2 Classes de capacidade de uso

Baseadas no grau de limitação ao uso:

CLASSE I - Sem práticas especiais


CLASSE II - Com práticas simples
A
CLASSE III - Com práticas intensivas
CLASSE IV - Com uso limitado e práticas intensivas
CLASSE V - Sem restrições ou práticas especiais
B CLASSE VI - Com restrições moderadas
CLASSE VII - Com severas restrições de uso
C CLASSE VIII - Terra extremamente acidentada, arenosa, úmida ou árida

8.1.3 Subclasses de capacidade de uso

Baseadas na natureza da limitação ao uso:

• e: Limitações pela erosão presente e/ou risco de erosão


• s: Limitações relativas ao solo
• a (w): limitações por excesso de água
• c: limitações climáticas

8.1.4 Unidades de capacidade de uso

Baseadas em condições específicas que afetam o uso e o manejo da terra:

IIIs-1: Limitação por problemas de profundidade


IIIs-2: Limitações por pedregosidade
IIIs-3: Limitação por salinidade

IIIe-1: Limitação por declividade


IIIe-2: Limitação por erosão laminar
IIIe-3: Limitação por erosão em sulcos

8.2 Enquadramento das terras no sistema

8.2.1 O solo ideal

• Profundidade efetiva suficiente para expansão do sistema radicular das plantas. + ou - 150 cm.
• Fertilidade relativamente alta, com propriedades e características que facilitem a correção de
eventuais deficiências.

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Rhuanito Soranz Ferrarezi

• Boa capacidade de armazenamento de água em forma disponível às plantas, sem problemas de


excesso.
• Boa drenagem interna e/ou situação topográfica, boa aeração e ausência de deficiência de
oxigênio.
• Baixa erodibilidade, relevo favorável e ausência de impedimentos a mecanização e ambiente com
condições térmicas e hídricas adequadas para o crescimento e desenvolvimento das culturas.

8.2.2 Método paramétrico

Considera-se os efeitos de características individuais da terra, atribuindo-lhes pesos ou


parâmetros e, depois se combina esses efeitos para se obter a capacidade de uso. Utiliza chaves,
tabelas e réguas para classificação de terras.

8.2.3 Método sintético

Considera características e qualidades da gleba com um todo, julgando com elas a sua
adaptabilidade para uso intensivo com cultivos, pastagens e reflorestamento e comparando-as com
as definições das classes de capacidade de uso enquadra-se a gleba na que mais se aproxima.

8.3 Esquema geral do sistema

Fórmula para levantamento utilitário do meio físico:

EXEMPLO DE MAPA DE USO DO SOLO: VER ANEXO II

9 BIBLIOGRAFIA

BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F.; Conservação do solo. Piracicaba: Livroceres, 1985. 392p.
BRADY, N. C.; Natureza e propriedades dos solos. 7. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1989. 878 p.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: ciências naturais.
Brasília: MEC/SEF, 1997. 136 p.

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Rhuanito Soranz Ferrarezi

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais -terceiro e quarto


ciclos: ciências naturais. Brasília: MEC/SEF, 1998a. 138 p.
BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: ciências
da natureza, matemática e suas tecnologias. Brasília: MEC/SEF, 1999.
DERPSCH, R.; ROTH, D. H.; SIDIRAS, N.; KÖPKE, U.; Controle da erosão no Paraná, Brasil:
Sistemas de cobertura do solo, plantio direto e preparo conservacionista do solo. Eschborn:
Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (GTZ) GmbH, 1991. 268 p.
DIBB, D. W. The mysteries (myths) of nutrient use efficiency. Better Crops, v. 84, n. 3, p. 3-5, 2000.
EPSTEIN. E. & BLOOM, A. J. Nutrição mineral de plantas: Princípios e Perspectivas. Londrina:
Editora Planta, 2006
FERREIRA, P. H. de M.; Princípios de manejo e conservação do solo. 2. ed. São Paulo: Nobel, 1981.
GUERRA, A. J. T.; SILVA, A. S. da; BOTELHO, R. G. M.; Erosão e conservação dos solos: conceitos,
temas e aplicações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. 340 p.
http://www.cnps.embrapa.br/search/planets/coluna14/coluna14.html
http://www.cnps.embrapa.br/search/planets/coluna06/coluna06.html
http://www.cnps.embrapa.br/search/planets/coluna18/coluna18.html
http://www.mma.gov.br/port/redesert/desertmu.html
http://www.wikipedia.org.br – pesquisar EROSÃO
RECURSOS HÍDRICOS. Plano diretor para a utilização dos recursos hídricos do estado do Paraná –
Relatório setorial / volume J. Disponível em
<htttp://www.hidricos.mg.gov.br/ufparana/volume_j/41.htm>.
RIO GRANDE DO SUL; Secretaria da Agricultura. Manual de conservação do solo e água: uso
adequado e preservação dos recursos naturais renováveis. 3.ed. Porto Alegre, 1985. 287 p.
RODRIGUES, R.R & GANDOLFI, S. 1996. Recomposiçãode florestas nativas:princípios gerais e
subsídios para uma definição metodológica. Rev. Bras. Hort. Orn. Campinas/SP. V.2, n. 1, p. 4-15.
RODRIGUES, R.R (Coord.); Vasconcelos, T.N.N .; Monteiro, J.R.B.; Paes de Barros, L.T.L.;
Albuquerque, L.B.; Pinto, L.P.; Borges, L.M.K.; Tonello,V.M. & Martins, A.L., 1996. Metodologia
para recuperação de áreas degradadas pala agricultura: um estudo de caso do rio Brilhante,
Jaciara/MT. UFMT/IBAMA. Cuiabá-MT. 46 p.

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ANEXO I
 
LEI Nº 9.433, DE 8 DE JANEIRO DE 1997.

Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de
13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

TÍTULO I

DA POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS

CAPÍTULO I

DOS FUNDAMENTOS

Art. 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos:

I - a água é um bem de domínio público;

II - a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;

III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a
dessedentação de animais;

IV - a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas;

V - a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos


Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;

VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder
Público, dos usuários e das comunidades.

CAPÍTULO II

DOS OBJETIVOS

Art. 2º São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos:

I - assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de


qualidade adequados aos respectivos usos;

II - a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas
ao desenvolvimento sustentável;

III - a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do
uso inadequado dos recursos naturais.

CAPÍTULO III

DAS DIRETRIZES GERAIS DE AÇÃO

Art. 3º Constituem diretrizes gerais de ação para implementação da Política Nacional de Recursos
Hídricos:

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I - a gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos aspectos de quantidade e
qualidade;

II - a adequação da gestão de recursos hídricos às diversidades físicas, bióticas, demográficas,


econômicas, sociais e culturais das diversas regiões do País;

III - a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental;

IV - a articulação do planejamento de recursos hídricos com o dos setores usuários e com os


planejamentos regional, estadual e nacional;

V - a articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo;

VI - a integração da gestão das bacias hidrográficas com a dos sistemas estuarinos e zonas costeiras.

Art. 4º A União articular-se-á com os Estados tendo em vista o gerenciamento dos recursos hídricos de
interesse comum.

CAPÍTULO IV

DOS INSTRUMENTOS

Art. 5º São instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos:

I - os Planos de Recursos Hídricos;

II - o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água;

III - a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;

IV - a cobrança pelo uso de recursos hídricos;

V - a compensação a municípios;

VI - o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.

SEÇÃO I

DOS PLANOS DE RECURSOS HÍDRICOS

Art. 6º Os Planos de Recursos Hídricos são planos diretores que visam a fundamentar e orientar a
implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e o gerenciamento dos recursos hídricos.

Art. 7º Os Planos de Recursos Hídricos são planos de longo prazo, com horizonte de planejamento
compatível com o período de implantação de seus programas e projetos e terão o seguinte conteúdo
mínimo:

I - diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos;

II - análise de alternativas de crescimento demográfico, de evolução de atividades produtivas e de


modificações dos padrões de ocupação do solo;

III - balanço entre disponibilidades e demandas futuras dos recursos hídricos, em quantidade e
qualidade, com identificação de conflitos potenciais;

IV - metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade dos recursos


hídricos disponíveis;

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V - medidas a serem tomadas, programas a serem desenvolvidos e projetos a serem implantados, para
o atendimento das metas previstas;

VI - (VETADO)

VII - (VETADO)

VIII - prioridades para outorga de direitos de uso de recursos hídricos;

IX - diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso dos recursos hídricos;

X - propostas para a criação de áreas sujeitas a restrição de uso, com vistas à proteção dos recursos
hídricos.

Art. 8º Os Planos de Recursos Hídricos serão elaborados por bacia hidrográfica, por Estado e para o
País.

SEÇÃO II

DO ENQUADRAMENTO DOS CORPOS DE ÁGUA EM CLASSES, SEGUNDO OS USOS


PREPONDERANTES DA ÁGUA

Art. 9º O enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água,
visa a:

I - assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais exigentes a que forem destinadas;

II - diminuir os custos de combate à poluição das águas, mediante ações preventivas permanentes.

Art. 10. As classes de corpos de água serão estabelecidas pela legislação ambiental.

SEÇÃO III

DA OUTORGA DE DIREITOS DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS

Art. 11. O regime de outorga de direitos de uso de recursos hídricos tem como objetivos assegurar o
controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água.

Art. 12. Estão sujeitos a outorga pelo Poder Público os direitos dos seguintes usos de recursos
hídricos:

I - derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para consumo final,
inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo;

II - extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo produtivo;

III - lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não,
com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final;

IV - aproveitamento dos potenciais hidrelétricos;

V - outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um corpo de
água.

§ 1º Independem de outorga pelo Poder Público, conforme definido em regulamento:

I - o uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de pequenos núcleos populacionais,
distribuídos no meio rural;

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II - as derivações, captações e lançamentos considerados insignificantes;

III - as acumulações de volumes de água consideradas insignificantes.

§ 2º A outorga e a utilização de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica estará
subordinada ao Plano Nacional de Recursos Hídricos, aprovado na forma do disposto no inciso VIII do art.
35 desta Lei, obedecida a disciplina da legislação setorial específica.

Art. 13. Toda outorga estará condicionada às prioridades de uso estabelecidas nos Planos de
Recursos Hídricos e deverá respeitar a classe em que o corpo de água estiver enquadrado e a manutenção
de condições adequadas ao transporte aquaviário, quando for o caso.

Parágrafo único. A outorga de uso dos recursos hídricos deverá preservar o uso múltiplo destes.

Art. 14. A outorga efetivar-se-á por ato da autoridade competente do Poder Executivo Federal, dos
Estados ou do Distrito Federal.

§ 1º O Poder Executivo Federal poderá delegar aos Estados e ao Distrito Federal competência para
conceder outorga de direito de uso de recurso hídrico de domínio da União.

§ 2º (VETADO)

Art. 15. A outorga de direito de uso de recursos hídricos poderá ser suspensa parcial ou totalmente, em
definitivo ou por prazo determinado, nas seguintes circunstâncias:

I - não cumprimento pelo outorgado dos termos da outorga;

II - ausência de uso por três anos consecutivos;

III - necessidade premente de água para atender a situações de calamidade, inclusive as decorrentes
de condições climáticas adversas;

IV - necessidade de se prevenir ou reverter grave degradação ambiental;

V - necessidade de se atender a usos prioritários, de interesse coletivo, para os quais não se disponha
de fontes alternativas;

VI - necessidade de serem mantidas as características de navegabilidade do corpo de água.

Art. 16. Toda outorga de direitos de uso de recursos hídricos far-se-á por prazo não excedente a trinta
e cinco anos, renovável.

Art. 17. (VETADO)

Art. 18. A outorga não implica a alienação parcial das águas, que são inalienáveis, mas o simples
direito de seu uso.

SEÇÃO IV

DA COBRANÇA DO USO DE RECURSOS HÍDRICOS

Art. 19. A cobrança pelo uso de recursos hídricos objetiva:

I - reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor;

II - incentivar a racionalização do uso da água;

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III - obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções contemplados nos
planos de recursos hídricos.

Art. 20. Serão cobrados os usos de recursos hídricos sujeitos a outorga, nos termos do art. 12 desta
Lei.

Parágrafo único. (VETADO)

Art. 21. Na fixação dos valores a serem cobrados pelo uso dos recursos hídricos devem ser
observados, dentre outros:

I - nas derivações, captações e extrações de água, o volume retirado e seu regime de variação;

II - nos lançamentos de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, o volume lançado e seu
regime de variação e as características físico-químicas, biológicas e de toxidade do afluente.

Art. 22. Os valores arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos serão aplicados
prioritariamente na bacia hidrográfica em que foram gerados e serão utilizados:

I - no financiamento de estudos, programas, projetos e obras incluídos nos Planos de Recursos


Hídricos;

II - no pagamento de despesas de implantação e custeio administrativo dos órgãos e entidades


integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

§ 1º A aplicação nas despesas previstas no inciso II deste artigo é limitada a sete e meio por cento do
total arrecadado.

§ 2º Os valores previstos no caput deste artigo poderão ser aplicados a fundo perdido em projetos e
obras que alterem, de modo considerado benéfico à coletividade, a qualidade, a quantidade e o regime de
vazão de um corpo de água.

§ 3º (VETADO)

Art. 23. (VETADO)

SEÇÃO V

DA COMPENSAÇÃO A MUNICÍPIOS

Art. 24. (VETADO)

SEÇÃO VI

DO SISTEMA DE INFORMAÇÕES SOBRE RECURSOS HÍDRICOS

Art. 25. O Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos é um sistema de coleta, tratamento,
armazenamento e recuperação de informações sobre recursos hídricos e fatores intervenientes em sua
gestão.

Parágrafo único. Os dados gerados pelos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento
de Recursos Hídricos serão incorporados ao Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos.

Art. 26. São princípios básicos para o funcionamento do Sistema de Informações sobre Recursos
Hídricos:

I - descentralização da obtenção e produção de dados e informações;

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II - coordenação unificada do sistema;

III - acesso aos dados e informações garantido à toda a sociedade.

Art. 27. São objetivos do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos:

I - reunir, dar consistência e divulgar os dados e informações sobre a situação qualitativa e quantitativa
dos recursos hídricos no Brasil;

II - atualizar permanentemente as informações sobre disponibilidade e demanda de recursos hídricos


em todo o território nacional;

III - fornecer subsídios para a elaboração dos Planos de Recursos Hídricos.

CAPÍTULO V

DO RATEIO DE CUSTOS DAS OBRAS DE USO MÚLTIPLO, DE INTERESSE COMUM OU COLETIVO

Art. 28. (VETADO)

CAPÍTULO VI

DA AÇÃO DO PODER PÚBLICO

Art. 29. Na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, compete ao Poder Executivo
Federal:

I - tomar as providências necessárias à implementação e ao funcionamento do Sistema Nacional de


Gerenciamento de Recursos Hídricos;

II - outorgar os direitos de uso de recursos hídricos, e regulamentar e fiscalizar os usos, na sua esfera
de competência;

III - implantar e gerir o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos, em âmbito nacional;

IV - promover a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental.

Parágrafo único. O Poder Executivo Federal indicará, por decreto, a autoridade responsável pela
efetivação de outorgas de direito de uso dos recursos hídricos sob domínio da União.

Art. 30. Na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, cabe aos Poderes Executivos
Estaduais e do Distrito Federal, na sua esfera de competência:

I - outorgar os direitos de uso de recursos hídricos e regulamentar e fiscalizar os seus usos;

II - realizar o controle técnico das obras de oferta hídrica;

III - implantar e gerir o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos, em âmbito estadual e do
Distrito Federal;

IV - promover a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental.

Art. 31. Na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, os Poderes Executivos do


Distrito Federal e dos municípios promoverão a integração das políticas locais de saneamento básico, de
uso, ocupação e conservação do solo e de meio ambiente com as políticas federal e estaduais de recursos
hídricos.

TÍTULO II

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DO SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS

CAPÍTULO I

DOS OBJETIVOS E DA COMPOSIÇÃO

Art. 32. Fica criado o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, com os seguintes
objetivos:

I - coordenar a gestão integrada das águas;

II - arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos;

III - implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos;

IV - planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos hídricos;

V - promover a cobrança pelo uso de recursos hídricos.

Art. 33. Integram o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos:

I - o Conselho Nacional de Recursos Hídricos;

II - os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal;

III - os Comitês de Bacia Hidrográfica;

IV - os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais e municipais cujas competências se


relacionem com a gestão de recursos hídricos;

V - as Agências de Água.

Art. 33. Integram o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos: (Redação dada pela
Lei 9.984, de 2000)

I – o Conselho Nacional de Recursos Hídricos; (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

I-A. – a Agência Nacional de Águas; (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

II – os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal; (Redação dada pela Lei
9.984, de 2000)

III – os Comitês de Bacia Hidrográfica; (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

IV – os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do Distrito Federal e municipais cujas
competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos; (Redação dada pela Lei 9.984, de
2000)

V – as Agências de Água. (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

CAPÍTULO II

DO CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS

Art. 34. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos é composto por:

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I - representantes dos Ministérios e Secretarias da Presidência da República com atuação no
gerenciamento ou no uso de recursos hídricos;

II - representantes indicados pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos;

III - representantes dos usuários dos recursos hídricos;

IV - representantes das organizações civis de recursos hídricos.

Parágrafo único. O número de representantes do Poder Executivo Federal não poderá exceder à
metade mais um do total dos membros do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

Art. 35. Compete ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos:

I - promover a articulação do planejamento de recursos hídricos com os planejamentos nacional,


regional, estaduais e dos setores usuários;

II - arbitrar, em última instância administrativa, os conflitos existentes entre Conselhos Estaduais de


Recursos Hídricos;

III - deliberar sobre os projetos de aproveitamento de recursos hídricos cujas repercussões extrapolem
o âmbito dos Estados em que serão implantados;

IV - deliberar sobre as questões que lhe tenham sido encaminhadas pelos Conselhos Estaduais de
Recursos Hídricos ou pelos Comitês de Bacia Hidrográfica;

V - analisar propostas de alteração da legislação pertinente a recursos hídricos e à Política Nacional de


Recursos Hídricos;

VI - estabelecer diretrizes complementares para implementação da Política Nacional de Recursos


Hídricos, aplicação de seus instrumentos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos;

VII - aprovar propostas de instituição dos Comitês de Bacia Hidrográfica e estabelecer critérios gerais
para a elaboração de seus regimentos;

VIII - (VETADO)

IX - acompanhar a execução do Plano Nacional de Recursos Hídricos e determinar as providências


necessárias ao cumprimento de suas metas;

IX – acompanhar a execução e aprovar o Plano Nacional de Recursos Hídricos e determinar as


providências necessárias ao cumprimento de suas metas; (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

X - estabelecer critérios gerais para a outorga de direitos de uso de recursos hídricos e para a
cobrança por seu uso.

Art. 36. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos será gerido por:

I - um Presidente, que será o Ministro titular do Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e
da Amazônia Legal;

II - um Secretário Executivo, que será o titular do órgão integrante da estrutura do Ministério do Meio
Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, responsável pela gestão dos recursos hídricos.

CAPÍTULO III

DOS COMITÊS DE BACIA HIDROGRÁFICA

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Art. 37. Os Comitês de Bacia Hidrográfica terão como área de atuação:

I - a totalidade de uma bacia hidrográfica;

II - sub-bacia hidrográfica de tributário do curso de água principal da bacia, ou de tributário desse


tributário; ou

III - grupo de bacias ou sub-bacias hidrográficas contíguas.

Parágrafo único. A instituição de Comitês de Bacia Hidrográfica em rios de domínio da União será
efetivada por ato do Presidente da República.

Art. 38. Compete aos Comitês de Bacia Hidrográfica, no âmbito de sua área de atuação:

I - promover o debate das questões relacionadas a recursos hídricos e articular a atuação das
entidades intervenientes;

II - arbitrar, em primeira instância administrativa, os conflitos relacionados aos recursos hídricos;

III - aprovar o Plano de Recursos Hídricos da bacia;

IV - acompanhar a execução do Plano de Recursos Hídricos da bacia e sugerir as providências


necessárias ao cumprimento de suas metas;

V - propor ao Conselho Nacional e aos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos as acumulações,


derivações, captações e lançamentos de pouca expressão, para efeito de isenção da obrigatoriedade de
outorga de direitos de uso de recursos hídricos, de acordo com os domínios destes;

VI - estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos e sugerir os valores a


serem cobrados;

VII - (VETADO)

VIII - (VETADO)

IX - estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum
ou coletivo.

Parágrafo único. Das decisões dos Comitês de Bacia Hidrográfica caberá recurso ao Conselho
Nacional ou aos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, de acordo com sua esfera de competência.

Art. 39. Os Comitês de Bacia Hidrográfica são compostos por representantes:

I - da União;

II - dos Estados e do Distrito Federal cujos territórios se situem, ainda que parcialmente, em suas
respectivas áreas de atuação;

III - dos Municípios situados, no todo ou em parte, em sua área de atuação;

IV - dos usuários das águas de sua área de atuação;

V - das entidades civis de recursos hídricos com atuação comprovada na bacia.

§ 1º O número de representantes de cada setor mencionado neste artigo, bem como os critérios para
sua indicação, serão estabelecidos nos regimentos dos comitês, limitada a representação dos poderes
executivos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios à metade do total de membros.

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§ 2º Nos Comitês de Bacia Hidrográfica de bacias de rios fronteiriços e transfronteiriços de gestão
compartilhada, a representação da União deverá incluir um representante do Ministério das Relações
Exteriores.

§ 3º Nos Comitês de Bacia Hidrográfica de bacias cujos territórios abranjam terras indígenas devem
ser incluídos representantes:

I - da Fundação Nacional do Índio - FUNAI, como parte da representação da União;

II - das comunidades indígenas ali residentes ou com interesses na bacia.

§ 4º A participação da União nos Comitês de Bacia Hidrográfica com área de atuação restrita a bacias
de rios sob domínio estadual, dar-se-á na forma estabelecida nos respectivos regimentos.

Art. 40. Os Comitês de Bacia Hidrográfica serão dirigidos por um Presidente e um Secretário, eLeitos
dentre seus membros.

CAPÍTULO IV

DAS AGÊNCIAS DE ÁGUA

Art. 41. As Agências de Água exercerão a função de secretaria executiva do respectivo ou respectivos
Comitês de Bacia Hidrográfica.

Art. 42. As Agências de Água terão a mesma área de atuação de um ou mais Comitês de Bacia
Hidrográfica.

Parágrafo único. A criação das Agências de Água será autorizada pelo Conselho Nacional de
Recursos Hídricos ou pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos mediante solicitação de um ou mais
Comitês de Bacia Hidrográfica.

Art. 43. A criação de uma Agência de Água é condicionada ao atendimento dos seguintes requisitos:

I - prévia existência do respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica;

II - viabilidade financeira assegurada pela cobrança do uso dos recursos hídricos em sua área de
atuação.

Art. 44. Compete às Agências de Água, no âmbito de sua área de atuação:

I - manter balanço atualizado da disponibilidade de recursos hídricos em sua área de atuação;

II - manter o cadastro de usuários de recursos hídricos;

III - efetuar, mediante delegação do outorgante, a cobrança pelo uso de recursos hídricos;

IV - analisar e emitir pareceres sobre os projetos e obras a serem financiados com recursos gerados
pela cobrança pelo uso de Recursos Hídricos e encaminhá-los à instituição financeira responsável pela
administração desses recursos;

V - acompanhar a administração financeira dos recursos arrecadados com a cobrança pelo uso de
recursos hídricos em sua área de atuação;

VI - gerir o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos em sua área de atuação;

VII - celebrar convênios e contratar financiamentos e serviços para a execução de suas competências;

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VIII - elaborar a sua proposta orçamentária e submetê-la à apreciação do respectivo ou respectivos
Comitês de Bacia Hidrográfica;

IX - promover os estudos necessários para a gestão dos recursos hídricos em sua área de atuação;

X - elaborar o Plano de Recursos Hídricos para apreciação do respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica;

XI - propor ao respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica:

a) o enquadramento dos corpos de água nas classes de uso, para encaminhamento ao respectivo
Conselho Nacional ou Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, de acordo com o domínio destes;

b) os valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos;

c) o plano de aplicação dos recursos arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos;

d) o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo.

CAPÍTULO V

DA SECRETARIA EXECUTIVA DO CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS

Art. 45. A Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Recursos Hídricos será exercida pelo órgão
integrante da estrutura do Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal,
responsável pela gestão dos recursos hídricos.

Art. 46. Compete à Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Recursos Hídricos:

I - prestar apoio administrativo, técnico e financeiro ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos;

II - coordenar a elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos e encaminhá-lo à aprovação do


Conselho Nacional de Recursos Hídricos;

III - instruir os expedientes provenientes dos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos e dos
Comitês de Bacia Hidrográfica;

IV - coordenar o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos;

V - elaborar seu programa de trabalho e respectiva proposta orçamentária anual e submetê-los à


aprovação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

Art. 46. Compete à Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Recursos Hídricos: (Redação dada
pela Lei 9.984, de 2000)

I – prestar apoio administrativo, técnico e financeiro ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos;


(Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

II – revogado; (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

III – instruir os expedientes provenientes dos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos e dos
Comitês de Bacia Hidrográfica;" (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

IV – revogado;" (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

V – elaborar seu programa de trabalho e respectiva proposta orçamentária anual e submetê-los à


aprovação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

CAPÍTULO VI

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DAS ORGANIZAÇÕES CIVIS DE RECURSOS HÍDRICOS

Art. 47. São consideradas, para os efeitos desta Lei, organizações civis de recursos hídricos:

I - consórcios e associações intermunicipais de bacias hidrográficas;

II - associações regionais, locais ou setoriais de usuários de recursos hídricos;

III - organizações técnicas e de ensino e pesquisa com interesse na área de recursos hídricos;

IV - organizações não-governamentais com objetivos de defesa de interesses difusos e coletivos da


sociedade;

V - outras organizações reconhecidas pelo Conselho Nacional ou pelos Conselhos Estaduais de


Recursos Hídricos.

Art. 48. Para integrar o Sistema Nacional de Recursos Hídricos, as organizações civis de recursos
hídricos devem ser legalmente constituídas.

TÍTULO III

DAS INFRAÇÕES E PENALIDADES

Art. 49. Constitui infração das normas de utilização de recursos hídricos superficiais ou subterrâneos:

I - derivar ou utilizar recursos hídricos para qualquer finalidade, sem a respectiva outorga de direito de
uso;

II - iniciar a implantação ou implantar empreendimento relacionado com a derivação ou a utilização de


recursos hídricos, superficiais ou subterrâneos, que implique alterações no regime, quantidade ou qualidade
dos mesmos, sem autorização dos órgãos ou entidades competentes;

III - (VETADO)

IV - utilizar-se dos recursos hídricos ou executar obras ou serviços relacionados com os mesmos em
desacordo com as condições estabelecidas na outorga;

V - perfurar poços para extração de água subterrânea ou operá-los sem a devida autorização;

VI - fraudar as medições dos volumes de água utilizados ou declarar valores diferentes dos medidos;

VII - infringir normas estabelecidas no regulamento desta Lei e nos regulamentos administrativos,
compreendendo instruções e procedimentos fixados pelos órgãos ou entidades competentes;

VIII - obstar ou dificultar a ação fiscalizadora das autoridades competentes no exercício de suas
funções.

Art. 50. Por infração de qualquer disposição legal ou regulamentar referentes à execução de obras e
serviços hidráulicos, derivação ou utilização de recursos hídricos de domínio ou administração da União, ou
pelo não atendimento das solicitações feitas, o infrator, a critério da autoridade competente, ficará sujeito às
seguintes penalidades, independentemente de sua ordem de enumeração:

I - advertência por escrito, na qual serão estabelecidos prazos para correção das irregularidades;

II - multa, simples ou diária, proporcional à gravidade da infração, de R$ 100,00 (cem reais) a R$


10.000,00 (dez mil reais);

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III - embargo provisório, por prazo determinado, para execução de serviços e obras necessárias ao
efetivo cumprimento das condições de outorga ou para o cumprimento de normas referentes ao uso,
controle, conservação e proteção dos recursos hídricos;

IV - embargo definitivo, com revogação da outorga, se for o caso, para repor incontinenti, no seu antigo
estado, os recursos hídricos, Leitos e margens, nos termos dos arts. 58 e 59 do Código de Águas ou
tamponar os poços de extração de água subterrânea.

§ 1º Sempre que da infração cometida resultar prejuízo a serviço público de abastecimento de água,
riscos à saúde ou à vida, perecimento de bens ou animais, ou prejuízos de qualquer natureza a terceiros, a
multa a ser aplicada nunca será inferior à metade do valor máximo cominado em abstrato.

§ 2º No caso dos incisos III e IV, independentemente da pena de multa, serão cobradas do infrator as
despesas em que incorrer a Administração para tornar efetivas as medidas previstas nos citados incisos, na
forma dos arts. 36, 53, 56 e 58 do Código de Águas, sem prejuízo de responder pela indenização dos danos
a que der causa.

§ 3º Da aplicação das sanções previstas neste título caberá recurso à autoridade administrativa
competente, nos termos do regulamento.

§ 4º Em caso de reincidência, a multa será aplicada em dobro.

TÍTULO IV

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 51. Os consórcios e associações intermunicipais de bacias hidrográficas mencionados no art. 47


poderão receber delegação do Conselho Nacional ou dos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, por
prazo determinado, para o exercício de funções de competência das Agências de Água, enquanto esses
organismos não estiverem constituídos.

Art. 51. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos e os Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos
poderão delegar a organizações sem fins lucrativos relacionadas no art. 47 desta Lei, por prazo
determinado, o exercício de funções de competência das Agências de Água, enquanto esses organismos
não estiverem constituídos. (Redação dada pela Lei nº 10.881, de 2004)

Art. 52. Enquanto não estiver aprovado e regulamentado o Plano Nacional de Recursos Hídricos, a
utilização dos potenciais hidráulicos para fins de geração de energia elétrica continuará subordinada à
disciplina da legislação setorial específica.

Art. 53. O Poder Executivo, no prazo de cento e vinte dias a partir da publicação desta Lei,
encaminhará ao Congresso Nacional projeto de Lei dispondo sobre a criação das Agências de Água.

Art. 54. O art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, passa a vigorar com a seguinte redação:

"Art. 1º .............................................................................

........................................................................................

III - quatro inteiros e quatro décimos por cento à Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio
Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal;

IV - três inteiros e seis décimos por cento ao Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica - DNAEE,
do Ministério de Minas e Energia;

V - dois por cento ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

....................................................................................

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§ 4º A cota destinada à Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos
Hídricos e da Amazônia Legal será empregada na implementação da Política Nacional de Recursos
Hídricos e do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e na gestão da rede
hidrometeorológica nacional.

§ 5º A cota destinada ao DNAEE será empregada na operação e expansão de sua rede hidrometeorológica,
no estudo dos recursos hídricos e em serviços relacionados ao aproveitamento da energia hidráulica."

Parágrafo único. Os novos percentuais definidos no caput deste artigo entrarão em vigor no prazo de
cento e oitenta dias contados a partir da data de publicação desta Lei.

Art. 55. O Poder Executivo Federal regulamentará esta Lei no prazo de cento e oitenta dias, contados
da data de sua publicação.

Art. 56. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 57. Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 8 de janeiro de 1997; 176º da Independência e 109º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Gustavo Krause

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 9.1.1997

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ANEXO II
MAPA DO USO DO SOLO E DA COBERTURA VEGETAL DO MUNICÍPIO DE PALMAS - TO
791000 804000 817000

PREFEITURA MUN ICIPAL DE PALM AS

SEDUH
8910000

8910000
Secretaria de Des envolvimento Gerênc ia de Informações
Urbano e Habitação - SEDUH Urbanís ticas e Georreferenciamento

LEGENDA

Convenções Cartográficas
Lago
8897000

8897000
Cursos d'água
Quadras

Uso do Solo

Rio Tocantins
Aeroporto - construção
Aeroporto atual
Área de lazer
Área de mineração
8884000

8884000
Área de residuos
Área inundada
Área urbana
Campo de várzea
Campo limpo
Campo sujo
Cascalheira
Cerrado
Cerradão
8871000

8871000
Cultura perene
Floresta estacional
Mata ciliar
Mata de galeria
Pasto
8858000

8858000

Pal mas Buritirana


Taquaruçú

Dis tritos do Mu nicípio d e Palmas - TO

ESCALA GRÁFICA
m
0 1.950 3.900 7.800 11.700
8845000

8845000

1:250.000
Projeção Cartográfica - Universal Transversal
de Mercator - UTM - SAD 69 - Fuso 22
Z:\ S EDUH\ M apas E x portados \ 2007\ SI G-I nform aç ões G era is

NOTA T ÉCNICA
- Base Cartográfic a Urbanística compilada do Mos aico das
Ortofotos do projeto nº 680/03. Escala das fotos: 1:8000.
Configuração:Sentido do vôo N-S-N, com câmara ZEISS
U wlk 2000, distância focal calibrada 152,355 mm.
Época do vôo: maio de 2003. Levantamento autorizado
pelo Exército e realizado pela Engefoto em parceria com
a Prefeitura Municipal de Palmas. Layout versão 3.0.
8832000

8832000

FONTE DE DADOS
- Informações provenientes da bas e de dados do Cadastro
Multifinalitário, levantamento realizado no período de outubro
de 2003 a setembro de 2004 pela Prefeitura Munic ipal
de Palmas;
- Informações do Us o do Solo e da Cobertura Vegetal
M 009_A gos to de 2007

provenientes da Dissertação de Mestrado:


"Cartografia Geotécnica Regional do Município de
Palmas/TO" de autoria de Lindomar Ferreira dos
Santos;
- Base Temática da SEPLAN - Atlas do Tocantins.

791000 804000 817000

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