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ESCOLA SECUNDÁRIA DR.

JOSÉ AFONSO

TESTE DE AVALIAÇÃO DE PORTUGUÊS – VERSÃO 1

11º ANO TURMA C D URAÇÃO: 90 MINUTOS DATA: ___/___/___

GRUPO I - DOMÍNIO DA EDUCAÇÃO LITERÁRIA [100 PONTOS]


Parte A
Lê o seguinte texto.
Às onze horas da noite, ergueu-se o académico e escutou o movimento interior da casa: não ouviu o
mais ligeiro ruído, a não ser o rangido da égua na manjedoura. Escorvou 1 de pólvora nova as duas pistolas.
Escreveu um bilhete sobrescrito a João da Cruz, e juntou-o à carta que escrevera a Teresa. Abriu as portadas
da janela do seu quarto, e passou dali para a varanda de pau, da qual o salto à estrada era sem risco. Saltou,
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e tinha dado alguns passos, quando a fresta, lateral à porta da varanda, se abriu, e a voz de Mariana lhe
disse:
– Então adeus, senhor Simão. Eu fico pedindo a Nossa Senhora que vá na sua companhia.
O académico parou, e ouviu voz íntima que lhe dizia: – “O teu anjo da guarda fala pela boca daquela
mulher, que não tem mais inteligência que a do coração alumiado pelo seu amor”.
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– Dê um abraço em seu pai, Mariana – disse-lhe Simão – e adeus… até logo, ou…
– Até ao Juízo Final… – atalhou ela.
– O destino há de cumprir-se… Seja o que o Céu quiser.
Tinha Simão desaparecido nas trevas, quando Mariana acendeu a lâmpada do santuário, e ajoelhou
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orando com o fervor das lágrimas.
Era uma hora, e estava Simão defronte do convento, contemplando uma a uma as janelas.
[…]
Às quatro horas e meia, ouviu Simão o tinido de liteiras 2, dirigindo-se àquele ponto. Mudou de local,
tomando por uma rua estreita, fronteira ao convento. […]
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Momentos depois, viu Simão chegar à portaria Tadeu de Albuquerque, encostado ao braço de Baltasar
Coutinho. O velho denotava quebranto e desfalecimento a espaços. O de Castro Daire, bem composto de
figura e caprichosamente vestido à castelhana, gesticulava com aprumo de quem dá as suas irrefutáveis
razões, e consola tomando a riso a dor alheia.
– Nada de lamúrias, meu tio! – dizia ele. – Desgraça seria vê-la casada! Eu prometo-lhe antes de um ano
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restituir-lha curada. Um ano de convento é um ótimo vomitório 3 do coração. Não há nada como isso para
limpar o sarro4 do vício em corações de meninas criadas à discrição. Se meu tio a obrigasse, desde menina,
a uma obediência cega, tê-la-ia agora submissa, e ela não se julgaria autorizada a escolher marido.
– Era uma filha única, Baltasar! – dizia o velho, soluçando.
– Pois por isso mesmo – replicou o sobrinho. – Se tivesse outra, ser-lhe-ia menos sensível a perda, e
menos funesta a desobediência.
CASTELO BRANCO, Camilo, 2016. Amor de Perdição.
Porto: Porto Editora (Capítulo X, pp. 112-114) (1.ª ed.: 1862)

1. deitou pólvora na escorva (orifício destinado à pólvora nas armas antigas);


2. antigos veículos sem rodas, sustentados por dois varais compridos, conduzidos por homens ou por animais de carga;
3. substância/medicamento que provoca o vómito e limpa o organismo (figurado);
4. crosta.

Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
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1. Interpreta os pensamentos de Simão no momento em que é surpreendido por Mariana. [15 PONTOS]
2. Considerando os sete primeiros parágrafos, aponta dois dos traços caracterizadores de Mariana. Justifica a
tua resposta com elementos textuais. [20 PONTOS]
3. Atenta no momento em que se descreve a chegada de Tadeu e Baltasar.
3.1. Interpreta a expressão com que o narrador conclui a sua observação de Baltasar: “gesticulava com
aprumo de quem dá as suas irrefutáveis razões, e consola tomando a riso a dor alheia” (ll. 21-22).
[15 PONTOS]
3.2. Caracteriza a relação existente entre tio e sobrinho, comprovando as tuas afirmações com passagens do
excerto. [20 PONTOS]
Parte B

B
Lê, atentamente, o seguinte texto.

Mariana colou os ouvidos aos lábios roxos do moribundo, quando cuidou ouvir o seu nome.
«Tu virás ter connosco; ser-te-emos irmãos no céu… O mais puro anjo serás tu… se és deste mundo,
irmã; se és deste mundo, Mariana…»
A transição do delírio para a letargia completa era o anúncio infalível do trespasse.
5
Ao romper da manhã apagara-se a lâmpada. Mariana saíra a pedir luz, e ouvira um gemido estertoroso.
Voltando às escuras, com os braços estendidos para tatear a face do agonizante, encontrou a mão convulsa,
que lhe apertou uma das suas, e relaxou de súbito a pressão dos dedos.
Entrou o comandante com uma lâmpada, e aproximou-lha da respiração, que não embaciou levemente
o vidro.
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– Está morto! – disse ele.
Mariana curvou-se sobre o cadáver, e beijou-lhe a face. Era o primeiro beijo.
Algumas horas volvidas, o comandante disse a Mariana:
– Agora é tempo de dar sepultura ao nosso venturoso amigo… É ventura morrer quando se vem a este
mundo com tal estrela. Passe a senhora Mariana ali para a câmara, que vai ser levado daqui o defunto.
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Mariana tirou o maço das cartas debaixo do travesseiro, e foi a uma caixa buscar os papéis de Simão. Atou o
rolo no avental, que ele tinha daquelas lágrimas dela, choradas no dia da sua demência, e cingiu o
embrulho à cintura.
Foi o cadáver envolto num lençol, e transportado ao convés.
Mariana seguiu-o.
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Do porão da nau foi trazida uma pedra, que um marujo lhe atou às pernas com um pedaço de cabo. O
comandante contemplava a cena triste com os olhos húmidos, e os soldados que guarneciam a nau, tão
funeral respeito os impressionara, que insensivelmente se descobriram.
Mariana estava, no entanto, encostada ao flanco da nau, e parecia estupidamente encarar aqueles
empuxões que o marujo dava ao cadáver, para segurar a pedra na cintura.
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Dois homens ergueram o morto ao alto sobre a amurada. Deram-lhe o balanço para o arremessarem
longe. E, antes que o baque do cadáver se fizesse ouvir na água, todos viram, e ninguém já pôde segurar
Mariana, que se atirara ao mar.
À voz do comandante desamarraram rapidamente o bote, e saltaram homens para salvar Mariana.
Salvá-la!…
Viram-na, um momento, bracejar, não para resistir à morte, mas para abraçar-se ao cadáver de Simão,
que uma onda lhe atirou aos braços.
Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição, Edição genética e crítica de Ivo Castro,
5.a edição, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2012.

Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.

2
4. Explicita o duplo sentido da expressão «Ao romper da manhã, apagara-se a lâmpada» (l.5). [15 PONTOS]
5. Interpreta a última frase (último parágrafo) do excerto, relacionando-a com a abnegação de Mariana ao longo
da obra. [15 PONTOS]

GRUPO II- DOMÍNIOS DA LEITURA E DA GRAMÁTICA [50 PONTOS]

Lê atentamente o texto que se segue.

Viagem ao Porto dos escritores


Há um Porto que não entra nos roteiros turísticos. Um Porto que passa despercebido ao olhar que
se fixa na monumentalidade e que permanece nos lugares-comuns. Descobrir o Porto de escritores que aí
nasceram ou, em dado momento da sua vida, aí viveram, como Almeida Garrett (1799-1854), Ramalho
Ortigão (1836--1915), António Nobre (1867-1900), Camilo Castelo Branco (1825-1890), Raul Brandão (1867-
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1930) ou Júlio Dinis (1839-1871) — só para citar alguns nomes mais marcantes, uma vez que muitos mais
viveram nesta cidade —, não se adivinha tarefa fácil. Onde nasceram estes escritores, onde viveram, onde
foram sepultados? Mergulhar no passado e na procura desses lugares exige um esforço redobrado, já que a
informação que nos poderá revelar o sítio onde Camilo Castelo Branco escreveu o seu Amor de Perdição ou
onde Almeida Garrett se inspirou para escrever OArco de Sant'Ana não se encontra numa única fonte. […]
10
As paredes graníticas da Cadeia da Relação albergam as memórias de um amor conturbado. Na cela
n.º 12 esteve encarcerado (1860-1861) Camilo Castelo Branco por ter mantido relações sexuais com uma
mulher casada. Ana Plácido foi igualmente presa e esteve instalada num corredor por não haver celas para
senhoras da sociedade. No cárcere, Camilo continuou a escrever (reza a lenda que escreveu Amor de
Perdição em quinze dias) e, na cela com janela para o Douro, teve como companheiro José do Telhado, que
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o sossegava quando Camilo era invadido pelo temor de que o marido enganado, Pinheiro Alves, teria
subornado um outro preso para o matar. Camilo encerrou o seu livro Memórias do Cárcere desabafando:
«Fecham-se as memórias. Eu devia ter dito porque estive preso um ano e dezasseis dias. Não disse, nem
digo, porque verdadeiramente ainda não sei porque foi.» A vida académica no Porto deste escritor nascido
em Lisboa ficou marcada pela sua inscrição na Academia Politécnica e na Escola Médica, em 1843. A
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passagem de Camilo pelo Porto ficou também celebrizada pelo duelo na Torre da Marca com Freitas Barros.
Em 1846, Camilo apaixonou-se por uma rapariga de Vila Real e fugiu com ela para o Porto, tendo o tio desta
mandado prender Camilo. Em 1848, fixou-se no Porto, iniciando uma vida de boémia e envolvendo-se em
alguns escândalos de natureza amorosa. Faz ainda parte do grupo «Leões» do Café Guichard, o qual já não
existe, apenas sobrevivendo a esquina (da Praça Nova, atualmente chamada da Liberdade). «A
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maledicência do Café Guichard era a vingadora das vítimas do "Palheiro" em particular e da botica em geral.
Nós profligávamos a corrupção dos velhos, a putrilagem purulenta que infecionava, com a língua, toda a
florescência das almas novas», descreveu, em Serões de S. Miguel de Seide. O Águia d'Ouro era também um
café habitual. Em 1850, matriculou-se no Seminário do Porto. Em 1868, voltou a esta cidade e dirigiu a
Gazeta Literária. Camilo foi sepultado no Cemitério da Lapa, no túmulo de Freitas Fortuna (1840-1899), por
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seu desejo, como revelou numa missiva enviada em 1888 ao seu amigo Freitas: «Revalido, por esta carta, o
que lhe propus com referência ao meu cadáver e ao seu jazigo no cemitério da Lapa. Desejo ser ali
sepultado e que nenhuma força por consideração o demova de me conservar as cinzas perpetuamente na
sua capela.» Até hoje se encontram neste local os seus restos mortais, assim como, na Ordem da Lapa,
manuscritos da correspondência entre Camilo, Ana Plácido e Freitas Fortuna e numerosos objetos
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camilianos, como o revólver com que se suicidou, uma caixa de prata para rapé, com a última anotação que
utilizou, a luneta, a pena e a lapiseira-pena que lhe serviram nos últimos tempos, um livro de Droz que
Camilo começou a traduzir na Relação, um búzio que lhe serviude pisa-papéis e o seu tinteiro predileto.
Uma estátua foi colocada na Avenida de Camilo. […]
Susana Duarte, «Viagem ao Porto dos escritores», Público, http://www.publico.pt/local-porto/jornal/viagem-ao-porto-dos-
escritores-187767, 03/05/2004(consultado em 23 de agosto de 2015, com adaptações e supressões)

3
Para responderes a cada um dos itens de 1.1 a 1.7, seleciona a opção que completa corretamente cada afirmação.
[35 PONTOS]
1. De acordo com o primeiro parágrafo do texto, quem visita o Porto
(A) não conhece os locais mais importantes da cidade.
(B) tem conhecimentos literários muito pobres.
(C) prefere conhecer apenas os locais que constam em roteiros turísticos.
(D) gostaria de obter informações sobre os escritores que viveram na cidade.
2. Na expressão «Mergulhar no passado» (l.7), encontramos uma
(A) aliteração
(B) antítese
(C) apóstrofe
(D) metáfora
3. O conector «já que» (l. 7) transmite uma ideia de
(A) alternativa
(B) causa.
(C) oposição.
(D) condição.
4. A utilização do vocábulo «aí» (l. 2) assegura a coesão
(A) referencial.
(B) temporal.
(C) frásica.
(D) interfrásica.
5. O pronome «o» (l. 16) desempenha função sintática de
(A) complemento direto.
(B) complemento indireto.
(C) complemento oblíquo.
(D) sujeito simples.
6. Desempenha a função sintática de modificador apositivo do nome a expressão
(A) «Camilo» (l. 13).
(B) «as memórias» (l. 17).
(C) «Amor de Perdição» (ll. 13-14).
(D) «Pinheiro Alves» (l. 15).
7. A oração «que escreveu Amor de Perdição em quinze dias» (ll. 13-14) é uma subordinada
(A) adverbial causal.
(B) adjetiva relativa restritiva.
(C) adjetiva relativa explicativa.
(D) substantiva completiva.
8. Classifique a oração «por não haver celas para senhoras da sociedade» (ll. 12-13). [5 PONTOS]
9. Transcreva a expressão que desempenha a função sintática de complemento oblíquo na frase «Em 1868,
voltou a esta cidade e dirigiu a Gazeta Literária» (ll. 28-29). [5 PONTOS]
10. Identifique o tipo de coesão textual assegurado pela expressão «esta cidade» (ll. 28-29). [5 PONTOS]

FIM

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