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Mídias e mentiras

Quem convive com crianças sabe: na hora da explicação sobre algo que
aconteceu, é uma confusão. Cada uma tem a sua versão e interpreta de modo diferente a
sequência dos fatos, de acordo com suas atitudes e motivos.
Se a dificuldade é grande quando se trata de briga de crianças, imagina quando
falamos de fatos públicos, que interessam a todos? E imagina quando alguns envolvidos
em determinados acontecimentos não estão nem um pouco interessados em se explicar?
Esse é o trabalho da imprensa, que há algum tempo, principalmente a partir das
redes sociais digitais, passou a ser contestado. São muitos os protestos contra empresas
de mídia, alegando que mentem e que querem manipular o povo.
No livro A Narração dos Fatos, o professor Muniz Sodré explica que toda
notícia é uma construção, ou seja, as notícias não correspondem diretamente aos eventos
em si, mas ao modo como estes acontecimentos são interpretados e representados.
O problema é que, ao descobrimos isso, revoltamo-nos contra as mídias por
acharmos que não nos informam como deveriam. No entanto, contraditoriamente,
ficamos mais abertos a acreditar em mentiras, aquelas que sequer são representadas,
pois são simplesmente inventadas.
Nesse sentido, precisamos amadurecer. Não podemos mais esperar que a
realidade nos chegue pronta e acabada. Como afirma o pesquisador Eduardo Meditsch,
nossa percepção da realidade deve ser construída com as mídias, e não exclusivamente
através delas – ou por meio de somente uma delas.
Passando da revolta à sensatez, devemos entender, enfim, que qualquer
acontecimento, ao ser comunicado, é necessariamente atravessado por interpretações. Já
a mentira não é um fato que se relata, mas um que não existe.

Isabella Pichiguelli, jornalista e mestre em Comunicação e Cultura.

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