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Aos dezoito dias do mês de maio de dois mil e dez, às onze horas, no Plenário "D.
Pedro I" da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, realizou-se a Sétima
Reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito constituída pelo ato nº 13, de 2010,
com a finalidade de "investigar supostas irregularidades e fraudes praticadas contra
cerca de três mil mutuários da Cooperativa Habitacional dos Bancários do Estado de
São Paulo - BANCOOP, e propor soluções para o caso", da Quarta Sessão
Legislativa, da Décima Sexta Legislatura, sob a presidência do Deputado Samuel
Moreira. Presentes os Senhores Deputados Bruno Covas, Vanderlei Siraque, Vicente
Cândido, Waldir Agnello, Roberto Morais, Ricardo Montoro (efetivos), Vitor Sapienza
e João Barbosa (substitutos eventuais, durante o decorrer da reunião). Presente,
também, o Senhor Deputado Antonio Mentor. Ausentes os Senhores Deputados
Estevam Galvão e Chico Sardelli. Havendo número regimental, o Senhor Presidente
declarou abertos os trabalhos da reunião e solicitou à secretária a leitura da ata da
reunião anterior, que foi dispensada a pedidos e considerada aprovada. Em
seguida, verificada a presença do cooperado convocado, Senhor Daniel Pires de
Carvalho, o Presidente convidou-a para tomar assento à mesa; apresentar sua
qualificação e assumir o compromisso de nada ocultar do que soubesse sobre o
objeto desta Comissão Parlamentar. Após o compromisso, o depoente fez um longo
relato referente ao empreendimento Jardim Anália Franco. Em 30 de janeiro de
2001, adquiriu um apartamento pelo preço certo de R$ 89.900,00 (oitenta e nove
mil e novecentos reais), a serem pagos em 54 (cinqüenta e quatro) parcelas.
Entregou cópia do panfleto de propaganda que enfatizava o slogan "compre seu
apartamento e pague em 54 parcelas". A BANCOOP não era identificada como uma
cooperativa e era possível a utilização do FGTS como parte do pagamento, o que
deu tranqüilidade aos compradores. Só assinou o contrato e o "termo de adesão ao
sistema de cooperativa" seis meses após a compra. Informou que até abril de 2003
efetuava os pagamentos na Caixa Econômica Federal, numa conta do
empreendimento. Depois desse mês, os valores foram transferidos para uma conta
unificada e o Senhor Daniel expressou suas dúvidas sobre a transferência da
integralidade dos valores. Informou já ter pago mais de R$ 200.000,00 (duzentos
mil reais) e que a BANCOOP, alegando erros de cálculos, continua fazendo cobrança
de "aportes", que vem sendo contestado em juízo. Em 2005 a Cooperativa lançou o
FDIC (Fundo de Direitos Creditórios), aprovado, segundo ele, em reunião secreta. A
segunda depoente, Senhora Sandra Aparecida de Souza, após prestar
compromisso, relatou que adquiriu uma casa no empreendimento Vilas da Penha,
pelo valor aproximado de R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais). Em novembro de
2006, foi chamada para uma assembléia, ocasião em que foi apresentado um
aporte no valor de R$ 89.000,00 (oitenta e nove mil reais). Como não tinha
condições de pagar, dirigiu-se à BANCOOP e lhe foi apresentada uma proposta de
migrar para o empreendimento Ilhas de Itália, pagando R$ 9.000,00 (nove mil
reais) de multa. Entretanto, ao receber o documento de transferência dos direitos
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Presidente
Secretária – ATL
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BANCOOP
18/05/2010
PRESIDENTE
Sra. Marlene Fernandes, ausente; da Sra. Rosi de Oliveira, presente; e da Sra. Sandra
Aparecida Souza, presente; e também do Sr. Adalberto dos Santos Joaquim, ausente.
Constatada, então, a presença dos convocados, eu gostaria, então, de chamar
para que sentasse aqui ao meu lado direito o Sr. Daniel Pires de Carvalho.
Passo, agora, à leitura do texto que contém o embasamento legal para a oitiva.
O senhor foi convocado a comparecer nesta CPI, constituída pelo Ato n. 13, de
2010, com a finalidade de investigar supostas irregularidades e fraudes praticadas contra
cerca de três mil mutuários da Cooperativa Habitacional dos Bancários do Estado de
São Paulo (BANCOOP) e propor soluções para o caso.
E, como testemunha, com fundamento nos arts. 203 e 218, ambos do Código de
Processo Penal, combinado com o § 2º do art. 3º da Lei Estadual n. 11.124, de 10 de
abril de 2002, bem como as demais normas constitucionais e infraconstitucionais
aplicáveis à espécie, cumpre-nos adverti-lo que deve dizer a verdade, não podendo fazer
afirmações falsas, calar ou negar a verdade a respeito dos fatos de seu conhecimento,
por incorrer em crime previsto no art. 4º, inciso II, da Lei Federal n. 1.579, de 18 de
março de 1952.
Então, neste momento, gostaria de passar um Termo de Qualificação, para que a
gente pudesse...
Nome completo, por favor.
as manifestações que o senhor tenha vontade de fazer, para que depois os deputados
possam fazer as perguntas ao senhor. Fique à vontade.
Em nenhum dos meios utilizados para fomentar o negócio, bem como no ato de
aquisição da pretendida unidade imobiliária, era exposto a qualquer dos adquirentes que
se tratava de contratação por meio de cooperativa, onde a essência seria a associação
para a obtenção de captação de recursos que, ao final, seria transmutado em um
patrimônio de natureza imobiliária, com eventual imputação de saldo residual. Nunca
foi exposto ou sequer ventilado que o valor de venda seria estimado e que poderia haver
pagamentos outros extras, além daquele exposto na central de vendas, e constante de
contrato firmado entre as partes. Registre-se que o contrato somente era enviado aos
adquirentes depois de alguns meses de contratação, quando já havia considerável valor
pago pela parte. O contrato que firmei com a BANCOOP somente me foi encaminhado
seis ou sete meses depois da compra da unidade. Durante esses meses somente os
boletos eram remetidos e eu, de boa-fé, os pagava, imaginando que estava contratando
com uma instituição séria e honesta.
No ato de venda das unidades, a única vinculação institucional que havia era que
se tratava a vendedora de cooperativa habitacional vinculada ao então já conhecido
Sindicato dos Bancários de São Paulo. Nada mais. Toda credibilidade da cooperativa
advinha da figura exposta do Sindicato dos Bancários. Importante registrar, Sr.
Presidente, que as vendas não eram restritas às pessoas matriculadas junto àquele
Sindicato dos Bancários, qualquer pessoa poderia – independentemente da classe
profissional que ostentasse, poderia adquirir as unidades ali ofertadas, ou seja, o
público-alvo era indeterminado, não se restringindo a uma categoria profissional
determinada.
Diante do cerco publicitário utilizado, o preço atrativo da unidade e, por fim, a
atuação agressiva da BANCOOP em um ramo social tão sensível e carente que envolve
a aquisição da moradia própria, uma gama expressiva de pessoas adquiriram em
pouquíssimo espaço de tempo todas as unidades ali ofertadas. Registre-se que o aval do
Sindicato dos Bancários, sindicato esse muito forte no Estado de São Paulo, impunha
credibilidade ao projeto ofertado pela BANCOOP, não havendo até então motivos
suficientemente sólidos para que essa massa de pessoas adquirentes, dentre eles eu,
pudesse vislumbrar o prejuízo imobiliário que estavam prestes a sofrer, que se equipara
e supera em muito o caso da Encol. Muitas dessas pessoas fizeram uso de recursos
cultivados a duras penas em anos de poupança interna, muitos utilizaram, ainda, os
recursos do Fundo de Garantia; outros, ainda, venderam outros imóveis que
eventualmente tinham para satisfazer aquela vontade de ter um imóvel melhor,
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ofertando aos seus uma vida mais estável e superior. Muitos, ainda, venderam carros
para poderem adquirir suas unidades. Na época, certamente todas as pessoas, como eu,
fizeram sacrifícios para adquirir possibilidade de ter sua unidade imobiliária. Mas, logo,
começou o drama da má-gestão da cooperativa, baseando fortemente na intencional
desinformação dos adquirentes das unidades, que, no fundo, tinham somente uma
intenção, qual seja: adquirir a casa própria.
Para surpresa de muitos, após vários meses de pagamento, o contrato de
aquisição da casa própria veio em forma de termo de adesão ao regime de cooperativa
que lhe daria o direito à aquisição ao final de uma unidade imobiliária no Jardim Anália
Franco. Isso se repetiu em diversos bairros na cidade, da Zona Sul à Zona Norte, da
Zona Leste à Zona Oeste, e, ainda, em diversas cidades vizinhas à capital paulista e
litoral.
Contudo, como nada havia até aquela data que desabonasse a conduta da
cooperativa, esse descompasso de vontade terminou sendo considerado irrelevante,
pois, enfim, de uma forma ou de outra, o fim seria o mesmo, imaginava-se, a aquisição
da casa própria. Mas a verdade não era essa. Até o mês de abril de 2006, os pagamentos
da seccional eram feitos na Caixa Econômica Federal, em conta exclusiva da Seccional
Jardim Anália Franco. Depois dessa data, a cooperativa unificou as contas de todos os
empreendimentos no Bradesco, a haver o que se chamou de conta única.
Hoje, desconfiamos que mesmo essa transferência pode ser viciada, pois
ninguém nos garante que todo o valor que havia na conta do Anália Franco foi
transferido na integralidade para a chamada conta única. O ato de encerrar a conta
própria do Anália Franco, unificado com os demais empreendimentos, jamais foi
oficialmente comunicado aos seus cooperados da seccional, em respectiva assembleia.
Simplesmente, foi feito pela direção da cooperativa, sem qualquer tipo de aviso ou
satisfação aos compradores. Questionamentos à época houveram, mas a resposta foi
simplória: redução de custos bancários.
Mesmo nisso, em fevereiro de 2004, foi entregue a primeira torre do
empreendimento. Em maio de 2005, já havendo atraso, face ao contrato assinado, foi
entregue a segunda torre. Curioso que mesmo o exercício regular de um direito, qual
seja, escolher a empresa que iria administrar o condomínio, era suprido pela cooperativa
que impunha a todos a administração da Bancon, uma empresa administradora de
condomínio dos bancários. Muitos questionaram e, após algum tempo, a Bancon deixou
de existir; foi transferida impositivamente para a empresa Vita Administradores de
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O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Eu acho que não seria tão longo se fosse
o caso do senhor, por isso estou perguntando se o senhor está representando alguma
entidade.
anos. Há também em juízo na 25ª Vara, aos cuidados ainda do mesmo magistrado, cinco
ações coletivas de inexigibilidade de aporte com depósito judicial dos valores cobrados
pela cooperativa, que ainda pendem de julgamento. Essas ações foram ajuizadas em
2007.
O aporte, para que os Srs. Deputados saibam, foi uma forma que a cooperativa
criou para captar mais recursos dos adquirentes da unidade sem qualquer sustentação no
contrato. O aporte no valor de, aproximadamente, seis milhões de reais deveria ser pago
em 48 parcelas. Hoje, restam cobradas apenas 10 parcelas e a obra não foi concluída
ainda e, certamente, não será.
Diante disso, e visando claramente driblar a decisão judicial proferida nos autos
da Ação Civil Pública, na manhã do dia 15 de maio deste ano, em um buffet na Zona
Leste de São Paulo, foi feita uma apresentação pela empresa OAS, para assumir as
obras do empreendimento em nome da BANCOOP. O custo a ser repassado a cada
adquirente seria em torno de 100 mil reais, mais 12% ao ano, mais IGPM, para os
apartamentos tipo com o meu e de 170 mil reais para cobertura, que deverá ser pago à
OAS. Para aqueles que não aceitarem o acordo e estão morando deverão entregar o
imóvel à BANCOOP e receberá a devolução em 36 meses, após um ano de carência.
Para aqueles que não têm um imóvel construído, a OAS negocia caso a caso e ela, OAS,
fica com a unidade para vender ao preço de mercado, é óbvio. Rápida análise da
proposta feita pela OAS nota-se que claramente um enorme prejuízo será para os
adquirentes e para mim.
A informação verbal que nos foi dada pelas pessoas que conduziam o evento era
que a BANCOOP não fornece a nenhuma outra construtora os dados do projeto e
demais informações necessárias, tipo: impostos, credores em aberto, INSS entre outros,
a fazer outros orçamentos para que tenhamos a liberalidade de verificar se, de fato, esses
valores cobrados pela OAS correspondem, de fato, a somente construção. Ou seja,
novamente estamos sujeitos às escolhas da cooperativa, como era no passado com a
Bancon, Vita e demais.
Contudo, hoje estamos dispostos e contamos com a colaboração de todos os
deputados para levar todos esses fatos ao conhecimento público e também ao Poder
Judiciário, seja novamente contra a BANCOOP, seja contra a OAS. Vejam que os
cooperados discutem com a BANCOOP desde 2006 e sempre foi um dos pleitos dos
adquirentes que a cooperativa se afastasse do empreendimento. Ela nunca aceitou se
afastar e sempre reiterou suas cobranças requerendo, inclusive, reintegração de posse de
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O SR. DANIEL PIRES DE CARVALHO – Não, por uma razão. Porque como
eu comprei e hoje ele não vale nada, mas eu aguardo o término do meu empreendimento
para que ele possa, pelo menos, se tiver algum valor, indenizar esses dez anos de
sofrimento que eu passo.
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Fora o aporte de 23 mil reais que está
depositado em juízo?
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Mas até agora não houve final da obra?
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O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O senhor disse que duas foram construídas?
obra que via que estava atrasando demais, a cooperativa, na situação, chamou os
cooperados e aprovou esse aporte numa assembleia, onde quem depositava em juízo
tinha em seu pescoço um crachá dessa natureza e quem não depositasse em juízo...
O SR. BRUNO COVAS – Sr. Daniel, o senhor disse que através do processo,
não sei se eu anotei certo aqui, 2007/135799, V. Sa. questiona na Justiça o valor do
aporte. É isso?
O SR. BRUNO COVAS – O senhor disse que ainda tem mais 10 parcelas do
aporte. É isso?
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Dá seis mil reais. Seis mil reais mais os
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O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Esse é o valor total que a BANCOOP quer
cobrar de um contrato inicial de 90 mil reais?
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O senhor tem alguma outra ação contra a
BANCOOP, além dessa de 2007?
O SR. DANIEL PIRES DE CARVALHO – Nós temos uma ação de 2006, que
é da Associação de Moradores, à qual sou associado, lá da Associação de Moradores, e
que essa associação penetrou com uma ação, tem uma Ação Civil Pública, pedindo a
continuidade da obra, pedindo a inexigibilidade. O não pagamento eu acho que não tem.
É a quitação, tem quitação.
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O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Desse tempo todo, a partir de 2001, quando
o senhor teve contato com a BANCOOP... Aliás, final de 2000. É isso?
dada uma solução dentro da Justiça, ali nos autos do processo. E quando levamos, até a
juíza que fez toda a parte da conciliação falou que não tem nada de mais, é coisa até...
Estão lá os itens do que foi pedido e simplesmente tinha um representante só da
BANCOOP lá e falou não, não, não, bato o pé, não aceito, não aceito. E acabou. E nós
imaginávamos que isso poderia ter sido levado para a comissão, que poderia ter sido
levada essa proposta aos outros demais interessados que ficavam sempre ali junto com a
BANCOOP porque eles estão desesperados, gente. Não tem como dizer que não é. É
diferente. Realmente existe uma diferença entre uma pessoa que mora e uma que não
mora. Agora, não pode quebrar uma regra contratual, um procedimento, para poder usar
da força que é um dos parágrafos que eu mencionei de usar psicologicamente da
fraqueza daquelas pessoas que estão sem suas unidades.
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Só para terminar, Sr. Daniel, o senhor disse
que tem hoje as chaves, está morando no apartamento, mas não tem a escritura. É isso?
podem investigar, agora, que foi fácil de eu usar, foi; não tive nenhuma burocracia para
isso.
O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Aqui está dando dois mil duzentos e
cinquenta reais, se parar nos 200 mil, mas o senhor falou que tem mais 100 mil. É isso?
construções de hoje, que é o valor que está sendo cobrado para fazer essa proposta com
a OAS.
O SR. DANIEL PIRES DE CARVALHO – Mas eu acredito que foi mais de,
se não me falta a memória, foi mais de seis meses ou sete meses. Alguma coisa assim.
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vivenciamos todo esse problema durante esses anos todos, como que você vai dar
crédito e colocar finanças em algo que não termina e pode sumir o dinheiro de novo,
desaparecer e falar o custo da obra é mais tanto, o custo da obra é mais tanto?!
O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Sr. Daniel, cada produto tem que ter o
preço. O princípio da cooperativa é que feche lá o empreendimento, que tenha adesão e
que tenha adimplência, que as pessoas pagam, senão, porque aí saí mais barato, é mais
demorado, porque tem aporte de recursos sem recorrer a bancos. Quer mais rápido, quer
mais caro? Vai recorrer ao mercado tradicional, que é o que vocês estão fazendo. Se
todos pagassem, pelos relatos até agora aqui, acho que muitos dos empreendimentos já
teriam terminado. Agora, se não paga, não tem dinheiro, não tem como fazer obra.
milhões de reais, e eu chegasse com esses cinco milhões e falasse assim: Deputado
Vanderlei, o contrato que eu firmei com o senhor eu não tenho mais esses cinco
milhões, o senhor pode me desembolsar mais cinco porque eu vou dar continuidade,
porque eu não consigo fazer mais, o senhor daria esses cinco milhões para mim?
O SR. DANIEL PIRES DE CARVALHO – Olha, nós temos alguns grupos até
em ação coletiva, deve estar em torno de 60 e poucas pessoas.
O SR. DANIEL PIRES DE CARVALHO – Não dá para saber, mas uma parte
entrou depois, outra entrou antes e aí foi.
A gente comprou com 60 parcelas para pagar e dessas 60, acho que eram cinco
anuais e uma parcela de chave. Eu tinha, o dinheiro que usei de recurso foi meu e do
meu marido, ele também é funcionário público, e eu tinha um processo que eu tinha
entrado um tempo atrás, de trabalhista, que saiu no decorrer desse caminho da
BANCOOP e que eu investi – tirei do processo trabalhista e coloquei num processo da
BANCOOP, que eu não sabia que ia virar processo, senão não teria colocado.
Eu paguei com muito sacrifício. Como eu disse, eu tenho três filhos. Hoje, eles
estão com 16, 13 e 09 anos. Como eu e meu marido, a gente sempre fala que o nosso
tesouro são os nossos filhos, a gente paga escola para eles, a gente procura investir na
educação, então teve momentos assim de a gente parar de sair. Olha, a gente está
investindo, a casa que vai sair, a casa é assim, é bacana. A gente passava lá bem
animado para a hora que saísse a casa, realmente. Nós pagamos de 2003, pagamos
anuais, não atrasamos uma parcela, não teve uma parcela nenhum dia atrasado, com
muito sacrifício a gente pagou cada centavo.
Quando foi dia 09 de novembro, eu não vou me esquecer a data, de 2006, meu
filho faz aniversário dia 10 de novembro, nós fomos convocados para uma assembleia
no Sindicato dos Bancários e que foi essa confusão do aporte. Isso foi uma surpresa
porque a gente nunca imaginou que ia ter um aporte, mas no mesmo valor da casa que a
gente havia comprado. A gente fechou a casa, na época, acho que era 120 mil; nós
pagamos um total de 76, sem correção, não corrigia. Como eu falei, eu não trouxe nada.
E eles estavam pedindo 89 mil. A gente não tinha condições de pagar esses 89, até
porque eu já tinha vendido o único imóvel em que eu morava, eu vendi. A pessoa que
comprou meu imóvel me deu 50 por cento. Eu falei: bom, como eles não atrasam,
atrasam pouco, atrasam seis meses ou um ano, e está construindo, ele me deu um prazo.
O ano que vem eu te entrego o imóvel, ele falou. Então já vou preparando os outros 50
por cento. A gente fez assim e ele ficou aguardando. Como meu imóvel valia bem
menos lá onde eu morava, eu, realmente, quando eu tive essa notícia, porque eu tinha
que entregar no ano seguinte, eu fiquei sem morar. Quer dizer, teoricamente, se eu
entregasse.
Mas, naquele dia, realmente, eu e meu marido saímos de lá da Rua São Bento
assim desnorteados mesmo, sem ter vontade de pegar metrô, sem ter vontade de ir para
casa. Então, esse movimento de vir aqui hoje é até muito da minha parte corajoso,
porque, realmente, a única coisa que eu não tenho vontade é de me expor, para
ninguém. Se eu me sentir em algum momento em manobra política... Porque é assim: eu
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tinha certeza que este ano o caso da BANCOOP ia vir à tona. É uma das coisas.
Justamente pelo PT agora estar numa posição. Então, por mais que a gente não queira se
envolver com política, a gente acaba se envolvendo, porque não tem jeito. E aquele dia
eu saí desnorteada, sem rumo mesmo. Duas pessoas completamente sem rumo.
E aí nós ficamos muito perdidos. Naquele novembro a gente ainda pagou.
Dezembro, nós fomos conversar na cooperativa e eles ofereceram para a gente a
possibilidade de migrar para um Ilhas D’Itália, que diz que provavelmente sairia com
muito mais facilidade que o nosso, porque o aporte do Ilhas d’Itália era menor.
Eu falei: bom, mas... Ela falou: Tem uma pessoa que desistiu. A gente pensou.
Só que você vai perder seis por cento para migrar. Quer dizer, eu ia assumir ainda, para
que eu pudesse morar, que eu tinha que desistir do meu para pegar o outro. Então, eu
falei: Bom, nós ainda achamos isso. Porque eu ainda estava acreditando que eu
precisava, que era um problema. Não sei. A gente não sabe o rumo da coisa. E eu tentei,
ainda entrei, falei vou fazer isso, tomei essa decisão, e deixei para fazer isso em janeiro.
Eles me passaram e falaram que eu iria perder tanto, eu ia passar um valor “x” para
Ilhas d’Itália e ia continuar pagando e lá a chance de sair, segundo eles, era maior. E foi
muito estranho porque eu tinha que pagar nove mil para poder entrar no Ilhas D’Itália,
que era esse valor. Eles iam passar todo crédito da minha cota para o Ilhas D’Itália e eu
tinha que pagar nove mil. E aí, eu falei: Bom, final de ano, tudo, a gente apertou, vamos
fazer. Só que de repente me deu vontade de não fazer. Eu falei: Eu vou estar trocando
seis por meia-dúzia e vou estar perdendo ainda.
E para minha surpresa foi ótimo eu não ter feito isso, porque eles tinham me
dado... Eu não sei, eu não lembro direito da história, porque eu não entrei realmente
com processo, eles me deram o CPF da onde eu ia transferir e, nem sei por que, eu fui
consultar o CPF. Como eu trabalho com licitação, essas coisas, a gente tem mania de
consultar CPF, aquelas coisas de CND, certidão negativa, e eu fui consultar e deu o
nome de Alessandro Robson Bernardino. Esse Alessandro já era morto. Eu falei: Como
é que eu vou comprar imóvel de um morto? Eu falei: Gente, isso aqui é muita confusão.
Aí eu peguei e falei: Não! Não me restou outra alternativa a não ser entrar
judicialmente. Eu entrei.
Eu trabalhava na Líbero, a BANCOOP fica na Líbero, eu tentei diversas vezes
conversar. Eu falei: Gente, eu só quero morar. Eu tenho que entregar meu imóvel, eu só
quero morar, eu tenho três filhos. E não tem, não tem possibilidade de falar com
ninguém. Não me restou outra alternativa senão contratar um advogado, um advogado
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que já tinha pego um caso da BANCOOP, de uma colega minha, por conta de escritura
e tudo mais, que foi bem sucedido, e aí eu fiz isso e entrei com esse processo. Entrei
com esse processo e tentei esquecer e resolver. Porque é assim, se você ficar pensando,
você não vive. Seus filhos não têm mãe, seus filhos não têm pai. E como é que é? Você
tem que trabalhar, você tem que viver, você tem que tocar a vida, afinal de contas... Aí
eu fiz assim, eu deixei, a gente entrou com processo e fui tentar outra alternativa.
Eu e meu marido fizemos todas as dívidas possíveis e imagináveis. Como
funcionário público a gente tem crédito em tudo quanto é lugar, todo mundo oferece
crédito, então, a gente acabou comprando um imóvel, a gente tem bastante dívida,
muita, em crédito consignado.
Quando eu fiz a cooperativa da BANCOOP, eu tinha feito, antes disso, a gente
já tinha vontade de ter um imóvel, eu tinha feito um consórcio da Porto Seguro de 30
mil. Como a gente não sabia como funcionava consórcio, a gente fez um valor pequeno.
Quando aconteceu isso, a gente resolveu aumentar esse valor e foi isso que fez com que
a gente pudesse adquirir a casa, mais os empréstimos que a gente fez, a gente conseguiu
adquirir um imóvel na Vila Matilde, que nós estamos pagando, morando lá, e com
bastante sacrifício, porque a gente tinha planejado muitas coisas para os nossos filhos
em termos de educação e tudo mais, porque a gente lutou muito para ser funcionário
público, a gente tem estabilidade, então a gente não pode falar disso. Em compensação,
a gente tem muita dívida agora e só agora a gente está se levantando para poder falar
mesmo do assunto, porque teve momento que as pessoas nos procuravam e eu não
acredito mais em ninguém, eu vou ser sincera. Qualquer pessoa que falar comigo, hoje,
a respeito, eu não sei onde estou pisando, eu não sei em que chão eu estou pisando, eu
não sei quem é honesto, eu não sei quem é desonesto, não acredito em quase nada e
ninguém; e não sei em quem acreditar.
Até... A desconfiança é tanta, que na 10ª Vara onde meu caso está, que é no
Fórum João Mendes, eu pedi a gratuidade da Justiça. O juiz alegou que eu não tinha
direito a gratuidade, porque eu e meu marido tínhamos uma renda que não era
necessária gratuidade. Minha advogada falou: Mas isso nunca aconteceu. A gente já
começa a desconfiar e falar: Meu Deus! Está tudo comprado. Você não sabe mais em
quem confiar. Você chega num ponto da sua vida, porque eu não comprei um imóvel no
Guarujá, segundo imóvel, não comprei uma chácara, não comprei nada disso. Eu
comprei um imóvel para morar.
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O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Sra. Sandra, apenas para que a gente possa
identificar, a senhora citou vários valores, até para poder esclarecer, o valor inicial do
imóvel era de 120 mil reais?
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Fique tranquila. 119 ou 121. Qualquer coisa
nessa faixa.
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O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Quando houve essa negociação sobre uma
possível mudança da Penha para outro empreendimento? Quando foi essa conversa com
a BANCOOP? Foi depois da assembleia?
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Isso foi final, então, de 2006, começo de
2007?
tinha que pegar o termo de transferência. E, pelo CPF, eu coloquei por acaso, porque eu
queria saber de quem eu estava comprando. Como eu não tenho acesso a SPC, essas
coisas, eu fiz o que eu tenho acesso, que qualquer cidadão tem – que é a certidão
negativa de débito, e aí coloquei e aí que eu descobri que era morto.
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – A senhora depois disse que vai fornecer o
número do CPF do senhor Alessandro Robson Bernardino.
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – A senhora sabe mais ou menos que data
isso ocorreu?
O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Antes de mais nada, até para que nós
possamos esclarecer as nossas investigações, seria importante que a depoente
autorizasse à BANCOOP encaminhar a esta CPI o relacionamento dela com a CPI, que
é sigiloso, sigiloso – os contratos, as condições. A senhora autoriza?
O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – O senhor tem dúvida que haja vítimas
aqui, deputado?
não tem o direito de dizer para nós o que nós vamos perguntar, como nós não temos o
direito de dizer a V. Exa. o que o senhor deve perguntar, de acordo com os critérios
regimentais, para que nós possamos esclarecer a verdade.
lado de cá também tem a mesma impressão. A motivação desta CPI, ela tem uma
conotação forte de uma CPI política, de incriminação da BANCOOP ou de pessoas da
BANCOOP, que vai, no meu ver, na mesma esteira de uma boa parte da mídia, que tem
falado aí o que bem entende sem nenhuma prova ou com matérias distorcidas, ou com
matéria que às vezes não têm nada a ver com o fato aqui da BANCOOP em si ou da
CPI. Se não fosse isso, pela investigação em si nem precisaria da CPI, porque já tem
investigação aí nos meios judiciários, no Ministério Público e Polícia. Então a CPI aqui,
nesse sentido, também se faz desnecessária. Então, eu também tenho a interpretação do
lado de cá de que ela tem uma conotação forte política, ainda que nós estamos aqui
procurando esclarecer fatos. Mas eu acho que do lado de cá também é verdadeiro.
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Os outros três depoentes que não haviam
respondido a V. Exa., senhor Adalberto e senhora Marlene se encontram?
A SRA. ROSI DE OLIVEIRA – Rua Dr. Gomes Ferraz, 176, apartamento 113,
Edifício Holanda.
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Qual o valor dessa cobrança que apareceu
em 2005?
A SRA. ROSI DE OLIVEIRA – Foi por volta de cinco mil e oitocentos reais.
Não sei exatamente, mas eu tenho o valor aqui.
A SRA. ROSI DE OLIVEIRA – Olha, não claramente. Não de uma forma que
eu entenderia.
A SRA. ROSI DE OLIVEIRA – Olha, até eu liquidar, ter certeza, sempre que
eu fui convocada diretamente eu fui. Participei também de reuniões com eles. Eu
sempre fui uma pessoa que gostei de participar e saber no que eu estava mexendo.
Então, quando precisava, a gente se reunia. Tinha o Cantomaz, tinha o Luís, na época,
Luís Malheiros. Desculpe se eu errei o nome. Mas a gente se reunia, de vez em quando,
para discutir algumas coisas das obras e para acompanhar. A título de acompanhamento
mesmo. Mas a maioria das assembleias eram feitas via um jornal que ninguém lia e
você nunca sabia quando ia acontecer.
A SRA. ROSI DE OLIVEIRA – Não, porque foi entrado com uma liminar, o
advogado pediu uma liminar e a gente não tem nenhum problema de cobrança.
se trata mais de uma controvérsia jurídica do que os deputados aqui... Mas seja bem-
vinda.
A SRA. ROSI DE OLIVEIRA – Isso. Depois de cinco anos. Não só eu, como
todos os 224 condôminos do nosso condomínio.
de muita credibilidade, a gente foi por confiança mesmo. Eu fui lá, e naquele dia foram
vendidos os 224 apartamentos. Então, eu fiz, eles me deram um recibo do valor do sinal
que eu dei, o contrato veio bem depois. E, no ano de 2000, como eu mudei de empresa,
saí, fui desligada da empresa onde eu trabalhava para mudar para uma outra, eu resolvi
quitar o restante, que eu deveria terminar de pagar em 2002, mais ou menos.
A SRA. ROSI DE OLIVEIRA – Claro. Está aqui até. Eu posso dar uma cópia.
aplicáveis à espécie, cumpre-nos adverti-la que deve dizer a verdade, não podendo fazer
afirmações falsas, calar ou negar a verdade a respeito dos fatos de seu conhecimento por
incorrer em crime previsto no art. 4º, inciso II, da Lei Federal n. 1.579, de 18 de março
de 1952.
Eu passo às suas mãos, para que a gente possa fazer a qualificação da senhora.
Nome completo?
uma liminar que não nos obrigou a pagar esse volume que eles haviam nos mandado.
Eram boletos. Começaram a chegar os boletos e eu me assustava, porque era tudo
corrigido. Inclusive o vigésimo quinto estava no valor de 900 e tantos reais, o que eu
achei que era uma proposta meio indecente mesmo.
Quando foi o ano passado eu fiquei sabendo que ia ter uma assembleia onde eles
iam apresentar a OAS como possível representante para terminar os empreendimentos.
O caso é o mesmo do Anália Franco, é bem parecido. A situação é a mesma,
praticamente. Então tudo que o rapaz falou, o Daniel falou, o nosso caso é praticamente
idêntico. E a OAS solicitou a minha presença e o que eles estavam propondo era o
seguinte: eu poderia ficar com o imóvel, só que no valor de mercado. E eu tenho o meu
contrato aqui, que o valor estimado era 37 mil. No total, em 2002, eu havia pago 64 mil.
E a proposta deles era: eles pagarem para mim a preço de custo, sendo a primeira
parcela vencendo depois de um ano, seriam 36 parcelas. E eles também estavam
solicitando a multa de 15% sobre o valor total, corrigido, que era como multa pelo meu
desligamento da BANCOOP. O que eu acho... Eu acho que é fora de cogitação, porque
não havia essa cláusula no contrato que eu assinei.
Então, eu acho que a BANCOOP não honrou o compromisso comigo. A OAS,
no caso, estaria me lesando também. Então, por esse motivo que eu inclusive entrei com
ação individual contra a BANCOOP, porque eu acho que não foi justo isso. Esse valor
para mim não era um valor lógico, coerente, de acordo com o contrato que eu assinei.
Eles falam em empréstimo também. É um empréstimo solidário. Eu até trouxe
uma cópia para o senhor dar uma analisada de que eu não estou falando mentira aqui.
Nós estamos com um superávit, inclusive, e não foi repassado para a gente, não foi
devolvido.
Então, a situação minha é essa. Aqui está. Onde está o seu dinheiro? Que eles
falam do empréstimo solidário. Aqui assinado pelo Sr. João Vaccari Neto, que houve
empréstimo para os outros empreendimentos e esse empréstimo não foi repassado.
A SRA. MARLENE FERNANDES – Esse aqui eu tirei cópia sim, para ficar
aqui anexado ao processo.
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A SRA. MARLENE FERNANDES – Foi assim. 5490 reais foram itens que
eles colocaram no apartamento, que até então não tinham sido mencionados aqui, tipo
melhorias, então eles mandaram boletos...
A SRA. MARLENE FERNANDES – Não, porque eles falaram que iam dar a
escritura depois que terminasse a quarta torre.
memória, 100% deles, sem a devida explicação. É por isso que a gente defende a
transparência da BANCOOP.
para a gente, a senhora não vai ficar nem com a BANCOOP nem com... Eu falei: Não.
Eu vou tentar procurar a Justiça e eu vou ver se a Justiça me ouve, se entende meu caso.
Porque eu me senti lesada.
A SRA. MARLENE FERNANDES – Sim, senhor. Posso até ler para o senhor.
depoimentos, que a gente acaba constrangendo os cooperados, as pessoas que vêm, nós
não podemos deixar de fazer as perguntas, mas eu acho que não tem mais, a não ser que
tiver algum fato novo, nós respeitamos os deputados, mas se for pelo mesmo fato, que
sinceramente eu vejo muito a relação aí do Código do Consumidor e do Código Civil e
as controvérsias jurídicas que todos têm o direito de reclamar junto ao Judiciário, a
direção vai se defender, tem o contraditório, mas se não tiver fatos que vão além desses,
eu acho que já deu uma noção geral, que nós pudéssemos ouvir também os atuais
dirigentes, porque, na verdade, se refere mais às questões.
necessário? Tinha a questão do tempo de discussão de cada deputado, mas acho que as
coisas estão andando dentro do normal e, em princípio, eu acho que está tudo bem.
Mais algum assunto?
O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Então, nós vamos ter que ler todos os
documentos que virão aqui? Nós vamos analisar em reunião de trabalho e depois ver se
é pertinente, se tem conteúdo, se vai ser de ajuda, porque senão eu vou começar também
a ler um monte de requerimento aqui de sentença judicial.
O SR. BRUNO COVAS – Eu não ia ler, mas V. Exas. pediram com tanto
afinco...
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