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GUIA DE SAÍDAS

PROFISSIONAIS
AEFFUP 2016
Índice
Capitulo I – Procura de Emprego 9

Por onde começar? 11


Estratégias de Procura de Oportunidades 11
Curriculum vitae 12
Carta de Resposta a um Anúncio 14
Candidatura Espontânea 14
Linked-in e Plataformas Semelhantes 14
Entrevista de Emprego 15

Capítulo II - Saídas Profissionais 17

Áreas de Intervenção da Profissão Farmacêutica 19


Análises Clínicas e Genética Humana 19
Assuntos Regulamentares 19
Distribuição Grossista 22
Farmácia Comunitária 25
Farmácia Hospitalar 28
Indústria Farmacêutica 31
Indústria Cosmética 40
Investigação Ciêntifica 48
Ensaios Clínicos 46
Consultoria 50
Associações Setoriais 52

Capitulo III – Glossário 55

Organizações do setor/profissionais/científicas 57
Outras Siglas 57
Mensagem da Presidente
da AEFFUP

Construir o Futuro

A AEFFUP tem a honra de apresentar o “Guia de Saídas Profissionais”, um docu-


mento atualizado e pronto a fazer parte do dia-a-dia dos estudantes da Faculdade de Farmá-
cia da Universidade do Porto. Os estudantes que hoje circulam nos corredores da Faculdade
serão os profissionais de saúde que, amanhã, circularão nos corredores de uma Farmácia, de
um Hospital, de uma empresa, ou em qualquer outro local onde um Farmacêutico tenha valor.
Como tal, a Associação de Estudantes tem sempre a preocupação de investir numa boa
preparação dos seus associados, conferindo-lhes ferramentas e oportunidades valiosas que
façam crescer em cada um questões como “Que saídas profissionais para o meu curso?”,
“Qual o caminho com o qual mais me identifico?”, ”Que competências devo adquirir hoje para
ser bem sucedido amanhã?”, “O que posso esperar do mercado de trabalho?”, entre muitas
outras.

A 1.ª Edição do “Get Pro” foi pensada como uma atividade que tem como objetivo en-
volver os estudantes, docentes, profissionais da área e aqueles que ainda há bem pouco tempo
estavam sentados deste lado, e respetivas ordens profissionais. Esta atividade culmina com a
elaboração e lançamento deste Guia, como resultado de uma pesquisa pelas saídas profissio-
nais clássicas, mas também pelas áreas emergentes que atualmente empregam os farmacêuti-
cos.

Deixo já alguns conselhos: dediquem-se ao MICF, escolham Unidades Curriculares


Opcionais direcionadas para as vossas ambições no futuro, aproveitem as oportunidades, envol-
vam-se no associativismo, marquem lugar nos congressos científicos e nos fórum de discussão
política e pedagógica, usem e abusem do Desporto Universitário, aprendam línguas e não des-
valorizem a componente cultural e artística. É isto tudo que, um dia mais tarde, vos vai distinguir
e fazer a diferença na altura de provar que são vocês as pessoas ideais para ocupar aquele
cargo.
“A melhor maneira de prever o futuro é construí-lo.”, por isso começa a trabalhar no
teu futuro a partir de hoje.”

Sofia Fonte, Presidente da Direção AEFFUP 2015-2016


Mensagem do DFESP
da AEFFUP
Num mundo atual em que o nosso futuro enquanto farmacêuticos pode parecer limita-
do, é importante, acima de tudo, manter o espírito crítico e a perseverança. O leque de oferta do
mercado de trabalho é muito variado e, cada vez, mais estão a surgir áreas não convencionais
de intervenção do farmacêutico (consultoria, farmacoeconomia,etc) complementando as já ha-
bituais (farmácia hospitalar, farmácia comunitária, entre outras).
Foi precisamente devido a esta modificação do panorama atual da nossa profissão,
que surgiu a nossa vontade e motivação, para levar a cabo a missão de atualizar o Guia de Saí-
das Profissionais AEFFUP.

Neste Guia, poderás encontrar alguma informação que julgamos ser útil numa pers-
petiva de preparação para o teu futuro profissional. Nele terás oportunidade de aceder a infor-
mação sistematizada sobre o que deves ter em conta no âmbito da procura de emprego, quais
as saídas profissionais atuais do MICF e ainda um glossário com alguns conceitos gerais de
termos usados no setor farmacêutico. Considerando que ter a perspetiva em primeira mão do
mundo do trabalho é, sem dúvida, uma mais valia, procurámos incluir neste Guia testemunhos
de colegas que já exercem a nossa mui nobre profissão.
Por tudo isto, esperamos que este Guia se revele uma ferramenta útil na tua procura
de informação e esclarecimento de dúvidas.

Deixamos, desde já, um grande agradecimento a quem colaborou connosco na real-


ização deste documento: aos profissionais que deixaram os seus testemunhos (e que podem
encontrar neste nestas páginas), à Ordem dos Farmacêuticos, à Faculdade de Farmácia da Uni-
versidade do Porto, nomeadamente aos Professores José Sousa Lobo e Natércia Teixeira, aos
Professores Agostinho Almeida, Maurício Barbosa e Isabel Almeida por toda a disponibilidade e
interesse que demonstraram em colaborar connosco neste projeto.

“Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo.”


José Saramago

Ana Ribeiro, Diana Lopes e Norberto Parente,


Dep. de Formação Estágios e Saídas Profissionais
AEFFUP 2015-2016.
CAPÍTULO I
Procura de emprego
Por onde começar?
Quando se inicia a procura de emprego, deve-se adotar uma postura ativa,
motivada e determinada. É necessário compreender que este processo implica tem-
po, paciência e organização, pelo que ter consciência das dificuldades que poderão
surgir será uma forma de nos ajudar a superá-las.
A procura de emprego deve iniciar-se com uma análise introspectiva, rel-
ativamente àqueles que são os interesses do candidato, os seus pontos fortes e o
que este tem a dar ao empregador e à empresa. O passo seguinte será conhecer
o mercado de trabalho, estar a par de algumas das características dos cargos e
dos setores de atividade, bem como conhecer as áreas em crescimento dentro dos
vários setores. Tudo isto poderá ajudar o candidato a perceber quais as vertentes da
profissão, às quais mais se adequa e que mais lhe despertam interesse.

Estratégias de procura de oportunidades


- Propostas de trabalho divulgadas em anúncios: corresponde à pesquisa
sistemática de emprego em jornais ou sites online que divulguem oportunidades
de trabalho (diversas plataformas online de emprego apresentam aplicações
mobile). Devem, também, ser consultadas as ofertas nas Agências e Centros
de Emprego.

- Candidaturas espontâneas: envolvem o envio do currículo e carta de can-


didatura espontânea para empresas de interesse pessoal. Por vezes, o primeiro
passo do recrutamento corresponde à pesquisa dos currículos existentes em
base de dados.

- Registo na plataforma LinkedIn ou outras equivalentes: estas plataform-


as correspondem a uma ferramenta de comunicação profissional de relevo.
Um vasto número de instituições utiliza-as para divulgar ofertas de emprego e
procurar candidatos com o perfil desejado, para efeitos de recrutamento. Deste
modo, é importante que um profissional à procura de emprego mantenha o seu
perfil devidamente atualizado. Torna-se, também, bastante útil que promova a
sua rede de contactos e que demonstre a sua vontade na procura de emprego.

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Curriculum Vitae
Na maioria dos casos, o primeiro contacto de um candidato com a entidade
empregadora é o Curriculum vitae (CV). Como tal, é muito importante que nele constem
as informações mais relevantes que suscitem interesse nos empregadores, tais como
formação recebida, experiência profissional ou outras atividades desenvolvidas que
mereçam ter particular destaque para o cargo em questão. Devem sempre ser confir-
mados os dados pessoais, nomeadamente os dados de contacto, como o e-mail e o
contacto telefónico, por ser esta a única forma que o empregador tem de comunicar
com o candidato.

Formato
O CV deve apresentar-se de forma organizada, redigido de forma clara e con-
cisa e, ainda, visualmente apelativo e de fácil leitura. Deste modo, deve ter uma apre-
sentação cuidada e não demasiado ostensiva; com recurso a cores sóbrias, e nunca
deverá ultrapassar três páginas. Optar por um formato digital personalizado é preferível
aos formatos pré-definidos, contudo, em alguns casos, é exigido o envio nestes form-
atos, nomeadamente no formato de currículo europeu - CV Europass. A foto deve
ser apropriada e englobar apenas o busto. No entanto, há alguns empregadores que
defendem a não inclusão da foto no CV, uma vez que pode originar alguma parcialidade
no processo de seleção de candidatos.
É aconselhável o recurso a parágrafos curtos e títulos/subtítulos que facilitem
a leitura. Devem ser privilegiados os negritos e sublinhados para destacar informação
mais relevante e deve, ainda, existir um equilíbrio entre a área escrita e os espaços em
branco. Os certificados/diplomas referentes às formações efetuadas não devem ser
anexados ao CV - caso sejam necessários, serão posteriormente solicitados na entre-
vista de emprego.

Organização
Curriculum Cronológico Currículo Funcional
O modo de organização da informação A informação relativa às atividades
mais utilizado, preferencialmente, quando a profissionais deve estar agrupada por
carreira do candidato é mais homogénea. grupos de atividades ou funções se-
A informação deve estar organizada de melhantes. Deste modo, é realçada a
forma coerente, datada dos eventos mais atividade desempenhada e podem ser
recentes para os mais antigos, em relação destacadas informações relevantes indepen-
12 às atividades profissionais. dentemente da sua proximidade temporal.
Conteúdo
É importante incluir a informação no CV de forma crítica, selecionando a
mais relevante de acordo com o cargo e empresa a que se pretende candidatar. Neste
sentido, o CV não deve ser olhado como uma ferramenta imutável, bem pelo contrário:
este deve ser moldado a cada caso, se assim se justificar.
Qualquer que seja o cargo a que se candidata, no CV do candidato não deve
constar juízos de valor sobre si mesmo ou sobre empregadores/equipas de trabalho
anteriores. Também não é aconselhável que sejam mencionados os motivos da saída
de empregos anteriores.

O CV deve ser escrito utilizando verbos na voz ativa e deve conter a seguinte infor-
mação:
• Informações Pessoais: essencial ter o nome, a idade, o contacto telefónico e o
e-mail;
• Formação Académica;
• Experiência Profissional: para cada cargo deve constar o nome da empresa, o
cargo, o período em que o exerceu e as responsabilidades inerentes ao mesmo.
• Outras atividades: voluntariado, ligação a associações, carta de condução, entre
outras;
• Outros conhecimentos relevantes.

Erros mais comuns


• Erros ortográficos ou gramaticais;
• Currículo mal organizado, pouco conciso, difícil de ler e muito extenso (mais de
3 páginas);
• Falta de dados pessoais (nunca esquecer de colocar contacto!);
• Template de difícil leitura no computador;
• Mentiras ou inconsistências (são facilmente detectadas no momento ou numa
entrevista posterior);
• Fotografia inadequada;
• Inclusão de uma secção de soft skills como liderança, espírito de equipa, capaci-
dade de comunicação, entre outros. (é pouco valorizada e dispensável. Todas
essas skills são comprovadas através do percurso do candidato e na entrevista).

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Carta de resposta a anúncio
Corresponde a um documento simples, que pode ser enviado via postal
ou por via eletrónica. Este documento segue junto ao CV aquando da resposta a um
anúncio de emprego, devendo nele constar a identificação pessoal do candidato,
a referência ao anúncio a que o mesmo responde e a motivação da candidatura.
Devem ser salientados elementos do anúncio que tenham suscitado interesse no
candidato de forma a demonstrar o interesse pelo posto e pela empresa e ainda
demonstrar disponibilidade para entrevista.

Candidatura espontânea

A candidatura espontânea corresponde a uma forma de o candidato
se dar a conhecer a uma determinada empresa. Atualmente, um grande número
de empresas não recorre a anúncios para preencher vagas que surjam nos seus
quadros: recorrem a bases de dados internas, que alojam um conjunto de infor-
mações relativas a candidatos que se apresentaram de forma espontânea. Por
esta razão, esta pode ser uma forma bastante eficiente de conseguir um empre-
go.
Na candidatura espontânea (seja ela via postal, e-mail ou base de dados online),
deve enviar-se para o empregador uma carta de motivação acompanhada do CV.
A carta de motivação, ou carta de candidatura espontânea, deve conter a prin-
cipal razão que leva o candidato a contactar preferencialmente aquela empresa
e a candidatar-se a um posto nesse local. Para além disso, deve demonstrar de
que forma a sua presença na empresa será útil para a mesma, relacionando a
sua formação com a atividade desta e aproveitando o momento para demonstrar
conhecimento, interesse e uma forte motivação para pertencer aos quadros da
empresa a que se candidata. Esta carta deve servir também para gerar interesse
pelo currículo. Por fim, o candidato deve solicitar uma entrevista à entidade em-
pregadora.

Linkedin e plataformas semelhantes


O LinkedIn e as restantes plataformas semelhantes correspondem a redes
sociais de uso profissional partilhadas por profissionais e empresas. Esta ferramenta
permite que cada profissional gira um perfil que equivale a um currículo online (con-
siderando a natureza da informação que o compõe) e que se encontra disponível para
os restantes utilizadores. Por estes motivos, esta rede veio auxiliar profissionais e
empregadores na medida em que, através dela, as empresas podem não só divulgar
ofertas de emprego como procurar candidatos com o perfil adequado.
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Para além disto, os utilizadores estão também aptos a ligarem-se a
outros colegas da área, empresas ou grupos, aumentando a sua rede de con-
tactos e promovendo o networking, criando conexões que poderão servir de
alavanca para o mercado de trabalho.
Assim sendo, esta plataforma, bem como outras semelhantes, são ferramentas
que não devem ser descartadas aquando da procura de emprego. No sentido
de se atingir uma maior visibilidade, alguns cuidados devem ser considerados
tais como: colocar fotografia atualizada, incluir competências variadas, tentar
enquadrar informação extra para além da informação básica, colocar apenas
informação verdadeira, aceder frequentemente à plataforma mantendo o seu
perfil atualizado e, ainda, fortalecer contactos de forma adequada aos objetivos
profissionais.

Entrevista de emprego
Corresponde a uma das últimas fases do processo de seleção e é nela
que o empregador poderá determinar quais os candidatos que têm perfil pessoal e
profissional que melhor se adaptam à empresa. Deve ser encarada com uma especial
importância. Por outro lado, o candidato também deverá olhar para entrevista como
uma forma de avaliar se a proposta de trabalho vem ao encontro às suas expectati-
vas.
É essencial que previamente seja feito um trabalho de pesquisa por forma
a aprofundar o conhecimento sobre a empresa e cargo a que se candidata (valores,
modo de funcionamento, etc). Devem ser preparadas as respostas às questões mais
frequentemente colocadas, bem como algumas perguntas que deseje formular. De
um modo geral, estes são alguns exemplos de perguntas expectáveis, por parte do
entrevistador: “Porque o devíamos contratar a si? Qual é o seu emprego de sonho?
Onde quer estar daqui a 5 anos? Quais considera ser os seus pontos fortes e pontos
a desenvolver?”
Para além disto, deve preparar todos os documentos necessários para
a entrevista e ainda confirmar a data, hora e local da mesma de modo a prevenir
qualquer tipo de atraso.

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Cuidados a ter numa entrevista
A entrevista não se baseia apenas na linguagem verbal, apresentando uma
forte componente de linguagem não-verbal que, apesar de ser tão importante quanto
a primeira, por vezes é descurada. Eis alguns cuidados a ter numa entrevista de em-
prego:
• Adotar um estilo sóbrio e confiável na sua apresentação física;
• Ser pontual;
• Desligar o telemóvel ou colocá-lo em modo silencioso;
• Entrar com passo decidido e cumprimentar o entrevistador, apresentando-se;
• Aguardar que o convidem a sentar;
• Manter uma postura corporal correta (nem demasiado tensa nem demasiado
descontraída);
• Transmitir um ar agradável e bom humor;
• Mostrar-se atento e interessado;
• Manter o contacto visual;
• Não responder com monossílabos;
• Falar com clareza e objetividade;
• Responder com determinação;
• Mostrar que conhece a empresa e a função do cargo;
• Fazer perguntas e pedir esclarecimentos;
• Não criticar anteriores chefes ou empresas;
• Demonstrar que é um candidato adaptável a situações novas, com vontade de
aprender e desejo de progredir;
• Aguardar que o entrevistador dê por terminada a entrevista e agradecer.

Atualmente, cada vez mais de verificam as entrevistas de emprego via


skype (ou equivalente). Nestes casos, a componente associada a um contacto mais
pessoal com o entrevistador não se verifica de forma tão significativa. É importante
contudo garantir que o fundo onde se enquadrará o candidato seja o mais neutro
possível, por forma a não criar “ruído visual” no decorrer da entrevista. Ter especial
atenção ao ruído de fundo é também essencial pois pode comprometer a fluidez da
entrevista.

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CAPÍTULO II
Saídas profissionais
Áreas de intervenção da profissão farmacêutica
O Farmacêutico, graças à intensa, variada e qualificada componente técni-
co-científica que a sua formação acarreta, é um profissional multifacetado com conhe-
cimentos em vastas áreas, integrando-se em várias vertentes do mercado de trabalho,
capaz de assumir posições de relevo em equipas multidisciplinares e no contacto com
diferentes profissionais e com o cidadão.
Tendo em conta a importância do serviço prestado pela farmácia e pelo far-
macêutico, enquanto especialista do medicamento, e a confiança inspirada através do
seu profissionalismo, este profissional é cada vez mais reconhecido pela população.
Assim, o Farmacêutico é um profissional que, por excelência, e de forma
eficaz e eficiente pode desempenhar funções em Análises Clínicas e Genética Huma-
na, Assuntos Regulamentares, Distribuição Grossista, Ensino, Farmácia Comunitária,
Farmácia Hospitalar, Indústria Farmacêutica, entre outros.

Análises Clínicas e Genética Humana


As análises clínicas são um dos mais importantes meios complementares de
diagnósticos colocados à disposição dos profissionais de saúde, consistindo na de-
tecção e/ou medição de determinadas substâncias ou microorganismos em amostras
de produtos biológicos. São variadas as vertentes associadas a esta área: Hematologia,
Bioquímica, Microbiologia, Imunologia, Endocrinologia, Alergologia, Monitorização de
fármacos, Toxicologia Clínica, Análise Forense, entre outras.
Graças à intensa formação laboratorial, o farmacêutico tem ocupado um lugar essencial
nas análises químico-biológicas aplicadas à saúde, dirigindo laboratórios de análises
clínicas e de genética humana e sendo responsável por unidades laboratoriais e postos
de colheita, onde colaboram outros profissionais em equipas multidisciplinares focadas
no diagnóstico laboratorial.

Assuntos regulamentares
Os Assuntos Regulamentares são uma das áreas mais jovens da atividade
farmacêutica, estando o seu aparecimento, em Portugal, muito ligado à adoção das
diretivas comunitárias, no final da década de 80, por parte da Ordem dos Farmacêuticos.
Englobam diversas atividades associadas ao licenciamento/aprovação e manutenção no
mercado de medicamentos de uso humano e veterinário, dispositivos médicos, biocidas,
suplementos alimentares e demais produtos de saúde ou de cosmética. Sendo que os
requisitos regulamentares mais desenvolvidos e exigentes estão na área do medicamen-
to, é esta a área de maior saída profissional para os farmacêuticos, no setor privado,
como seja a indústria farmacêutica, ou nas autoridades, como seja o Infarmed, Agência
Europeia do Medicamento (EMA) ou Direção Geral de Saúde (DGS). 19
Existem também profissionais que se dedicam à área da ciência regulam-
entar na academia, centros de investigação e desenvolvimento de medicamentos e
produtos de saúde, entre outros.
As atividades desenvolvidas pelo profissional de assuntos regulamentares
são várias, das quais destacamos as principais:

_ Assuntos Regulamentares “puros”: toda a atividade de estratégia regulamen-


tar, preparação e submissão de pedidos de Autorização de Introdução no Mercado
(AIM) bem como da sua manutenção durante o ciclo de vida dos medicamentos (inclui
múltiplas alterações de qualidade, segurança, eficácia e renovação de AIM). Numa
autoridade, esta área engloba a avaliação técnica e científica do dossier de AIM e doc-
umentação do medicamento ou produto de saúde, no sentido de tomar as decisões
apropriadas. No setor privado, esta área inclui o aconselhamento técnico e estratégico
às outras áreas da companhia desde o início de desenvolvimento do produto até ao
seu fim de vida.

_ Preços e comparticipações (que em alguns casos estão incorporados nos


assuntos regulamentares “puros”): esta área começa a estar populada por profis-
sionais de outras áreas como sejam economistas ou até gestores e toma o nome de
Market Access.

_ Materiais promocionais, educacionais e formação: envolvimento no circuito in-


terno de aprovação de materiais promocionais, comunicação dos mesmos à autori-
dade regulamentar e formação interna das equipas comerciais da empresa.

_ Assuntos médicos (vulgarmente designados como MSLs): treino de equipas


sobre temas específicos, aprovação de materiais promocionais e eventos educativos.

_ Ensaios/Estudos clínicos (vulgo CRA’s): toda a estratégia regulamentar aplicada


a estudos clínicos, na sua maioria ensaios, desde a fase I à fase IV.

_ Lançamento de novos medicamentos: envolvimento e liderança no lançamento


de novos medicamentos - algumas empresas têm profissionais de assuntos regulam-
entares a liderar os lançamentos de novos medicamentos, pelo seu conhecimento e
facilidade de coordenação de várias equipas dentro e fora da instituição (privada).

_ Vigilância/segurança: engloba a vigilância de medicamentos e produtos de saúde


desde da sua primeira utilização no humano (ou animal) e durante todo o seu ciclo de
vida.

_ Direção Técnica: muitas vezes acumulada com os assuntos regulamentares, inclui a


monitorização e garantia de cumprimentos das boas práticas de distribuição.

Após alguns anos de experiência, há vários profissionais de Assuntos Reg-


ulamentares em áreas mais ligadas ao negócio, as quais requerem conhecimentos
legislativos, éticos e deontológicos, como seja: Business Development, Policy ou até
20 assessores das Administrações para os assuntos mais técnicos.
Susana Figueiredo Cruz
Ano de conclusão do MICF: 2009
Cargo: Principal Registration Officer, Mylan UK

Foi necessária formação externa ao MICF


para que fosse possível enveredar por
este caminho?
O que a levou a seguir esta área e como Sim, definitivamente foi necessária.
surgiu o interesse pela mesma? Não é só necessária formação externa inicial-
O interesse começou através do mente, mas continuamente, pois é uma ativi-
conhecimento desta saída profissional por dade que flui muito com a publicação de nova
intermédio de alguns Professores da FFUP legislação e normas.
que de certa forma estão ligados a esta
Se tivesse que enumerar as três maiores
área. No entanto, só despertou verdadeira-
dificuldades do seu trabalho, quais escol-
mente quando surgiu a oportunidade e foi
heria?
definitivamente amor à primeira vista.
A interpretação de normas e leg-
Quais considera serem os pontos fortes islação pode ser muitas vezes difícil e ambí-
que a levaram a conseguir o emprego? gua. Cada país tem as suas especificidades,
(CV, atitude, experiência...) podendo muitas vezes ser complicado estar
O meu primeiro emprego na área atualizada. A necessidade de adaptação fácil
regulamentar foi conseguido por uma opor- à mudança e novas exigências das entidades
tunidade associada à atitude e vontade reguladoras.
demonstrada em trabalhar nesta área. No
O que aconselharia a alguém que re-
entanto, para conseguir o meu emprego at-
solvesse enveredar por um caminho se-
ual (após 6 anos), foi definitivamente uma
melhante ao seu?
questão de experiência adquirida.
Para quem quer iniciar o seu per-
Considerando a formação no MICF, curso profissional na área regulamentar ac-
quais as matérias em que se sentiu onselho perseverança, formação específica e
mais preparada e quais aquelas em que também o saber falar diferentes línguas, no-
sentiu mais dificuldades para enfrentar meadamente o inglês.
este desafio?
Como vê o futuro/perspetivas de cresci-
Em termos do trabalho regulam-
mento da sua área em Portugal e no es-
entar propriamente dito, o programa curric-
trangeiro?
ular do MICF dá a conhecer, conceitos muito
É definitivamente uma área em
básicos relativos a apenas alguns aspectos,
crescimento tanto em Portugal como no es-
mais relacionados com medicamentos,
trangeiro e a principal causa é, sem dúvida,
como os diferentes tipos de procedimentos
o aumento das exigências por parte das en-
ou estrutura de uma Autorização de Intro-
tidades reguladoras, que têm como objectivo
dução no Mercado (AIM). A maior limitação
promover a segurança e a eficácia dos medic-
do MICF penso ser o facto de nem serem
amentos e produtos de saúde.
referidos uma única vez durante todo o cur-
so outros produtos de saúde, como medic-
amentos veterinários, produtos cosméticos, 21
biocidas ou suplementos alimentares.
Distribuição Grossista
À medida que o mercado se tornou mais estruturado e economicamente
interessante, surgiram empresas que, de uma forma organizada, começaram a exercer
esta atividade.
O crescente número de especialidades farmacêuticas, o crescimento do consumo de
medicamentos e, finalmente, a extensão da segurança social a toda a população, per-
mitiram a certas empresas especializarem-se na compra de medicamentos à Indústria
Farmacêutica para os venderem depois a Farmácias de Oficina, que os apresentam
aos utentes.
Nesta vertente do ramo farmacêutico, são muitas as funções que podem
ser desempenhadas, nomeadamente o acompanhamento da distribuição por grosso
de medicamentos, matérias-primas, cosméticos e similares; a verificação e cumpri-
mento das boas práticas de distribuição, condições de conservação, armazenagem,
transporte e recolha dos referidos produtos e garantia de qualidade das atividades
desenvolvidas no local de trabalho no âmbito dos referidos produtos.

Diogo Marques
Ano de conclusão do MICF: 2015
Cargo: Key Account Manager na Alliance
Healthcare

Quais considera serem os pontos fortes


que o levaram a conseguir o emprego?
(CV, atitude, experiência...)
O que o levou a seguir esta área e Acredito que somos o resultado
como surgiu o interesse pela mesma? das nossas experiências, do nosso trabalho
O meu interesse na área da e das nossas motivações.
distribuição farmacêutica surgiu durante No contexto universitário, há di-
o MICF, tendo sido uma das unidades versas opções de atividades extracurricu-
curriculares optativas que frequentei. lares que se podem desenvolver e que nos
Apesar de apenas 4% dos farmacêuticos podem tornar mais completos, pelo que,
enveredarem por esta área (de acordo terminar o MICF apenas com o diploma, não
com a Ordem dos Farmacêuticos), a dis- deverá ser uma opção, nem tão pouco será
tribuição farmacêutica assume um papel um elemento diferenciador no mercado.
fundamental no circuito do medicamento, Independentemente do que se faça, o im-
facilitando o acesso deste e dos demais portante é fazer. Só fazendo teremos a
produtos de saúde às quase 3000 farmá- oportunidade de conhecer, de crescer, de
cias que existem em todo o país. errar e aprender, de evoluir.
Atualmente, os distribuidores têm evoluí- Depois, estarmos confiantes nas nossas
do no sentido de desenvolver soluções e capacidades é fundamental, mesmo quan-
22 serviços inovadores que tragam mais e do tudo possa parecer estar a correr menos
melhor valor ao mercado farmacêutico. bem.
É importante investir numa ex- Foi necessária formação externa ao MICF
celente carta de motivação e CV. Caso para que fosse possível enveredar por este
sejamos selecionados, a preparação é caminho?
fundamental. Não foi necessária qualquer formação
Ao longo do Mestrado Integrado em Ciên- externa ao MICF de modo a preparar-me para
cias Farmacêuticas tive a oportunidade entrar para esta posição. Não obstante, e à se-
de estar envolvido em diferentes organ- melhança do que acontece com outras empre-
izações e projetos, desde o associativis- sas, passei por um período de formação interno
mo estudantil à investigação, do desporto que me capacitou a estar mais apto a lidar com
universitário às tunas. Acredito que foram as diferentes áreas da distribuição farmacêutica.
todas estas experiências que me deram Para além disto, uma vez no mercado
um background multivalente e me possibil- profissional, a formação nunca é demais, e ex-
itaram ser um elemento de valor acrescen- istem um elevado número de pós-graduações e
tado a ingressar no mercado de trabalho. mestrados que se podem frequentar, de modo
a completar o MICF com uma formação mais
Considerando a formação no MICF,
específica.
quais as matérias em que se sentiu
mais preparada e quais aquelas em Se tivesse que enumerar as três maiores
que sentiu mais dificuldades para en- dificuldades do seu trabalho, quais escol-
frentar este desafio? heria?
Durante o MICF acusamos fre- Deslocações – fruto da excelente co-
quentemente o plano curricular de não nos bertura farmacêutica de medicamentos às pop-
preparar para a vida profissional. A verdade ulações, as farmácias encontram-se dispersas
é que o papel do MICF, apesar de incom- por todo o território nacional, motivo pelo qual
pleto, é dar-nos as bases para entrar no torna-se necessária a deslocação entre estas,
mercado de trabalho. A nossa formação é sendo considerável o tempo despendido nesta
muito diversificada, mas também as saídas atividade;
profissionais o são. Há áreas que o MICF Complexidade do mercado – num
pode e deve explorar (farmacoeconomia, mercado tão competitivo como o farmacêutico,
farmacoepidemiologia, ensaios clínicos, a existência de um elevado número de players,
farmácia hospitalar, ...), mas, também, há quer a montante (laboratórios farmacêuticos),
outras que deve partir de cada um o seu quer a jusante (farmácias), com diferentes mo-
estudo e estreitamento de conhecimentos. dos de procedimento, torna o setor verdadeira-
Na minha atividade diária como Key Ac- mente diversificado, residindo nesta tentativa de
count Manager, tenho como responsabili- domínio desta complexidade o carácter desafi-
dade a gestão de uma carteira de clientes, ante intrínseco ao mesmo;
trabalhando um portefólio de produtos, Inteligência emocional – face ao
com o objetivo de incrementar o Sell-out número de players no mercado, as farmácias
e Sell-in dos laboratórios parceiros. Desta são confrontadas, diariamente, com um elevado
forma, a minha formação enquanto técnico número de propostas, motivo pelo qual podem
do medicamento é importante no contac- optar ou não pelos nossos serviços. É impor-
to com os produtos, bem como na com- tante não perder o foco, resistir às adversidades
preensão de todos os passos do circuito e acreditar no trabalho que desenvolvemos.
do medicamento. Contudo, as restantes
componentes, quer mais analíticas, quer
mais comerciais, devem ser trabalhadas
por mim diariamente, de modo a tornar-me 23
melhor profissional.
O que aconselharia a alguém que re- Como vê o futuro/perspetivas de cresci-
solvesse enveredar por um caminho se- mento da sua área em Portugal e no es-
melhante ao seu? trangeiro?
Numa área tão complexa quanto A área da distribuição farmacêutica
esta, em que o desafio reside na capacidade foi evoluindo ao longo dos últimos anos, de
de ler o negócio, torna-se importante que se modo a que para além da competente dis-
tenha a mente aberta e disponibilidade para tribuição, se procurasse trazer para o mer-
aprender. É verdade que ninguém nasce ensi- cado soluções e serviços inovadores, que
nado, mas também o é que só não se desen- acrescentassem mais valor a todos os inter-
volve quem não quer. Vontade de aprender e venientes do circuito do medicamento. Numa
ser cada dia melhor é fundamental. altura em que a distribuição a nível logístico
se encontra eficientemente otimizada, o fu-
turo passará pela diferenciação a nível destes
serviços, como se começa a verificar num
panorama nacional e internacional.

Natércia Martins Pires Moreira


Ano de conclusão do MICF: 1999
MBA 2003 Mestrado 2011
Cargo: Diretor de Marketing / Cooprofar

Considerando a formação no MICF,


quais as matérias em que se sentiu
mais preparada e quais aquelas em que
sentiu mais dificuldades para enfrentar
O que a levou a seguir esta área e como
este desafio?
surgiu o interesse pela mesma?
O MICF transmitiu-me bons con-
Trabalhei no início da minha vida
hecimentos técnico-científicos. Senti, no
profissional numa farmácia comunitária
entanto, a necessidade de efetuar formação
onde se procurava explorar todas as vert-
adicional no sentido de enveredar por uma
entes do negócio no sentido de o poten-
carreira na área de marketing.
ciar. Por essa razão, tive a oportunidade de,
além de trabalhar todas as valências tradi- Foi necessária formação externa ao
cionais da profissão de farmacêutica de MICF para que fosse possível enveredar
oficina, explorar também questões relacio- por este caminho?
nadas com vendas e promoção do serviço Sim, efetuei um MBA pela Porto
que a farmácia prestava. Business School e tenho vindo a realizar
formação continua.
Quais considera serem os pontos fortes
que a levaram a conseguir o emprego? Como vê o futuro/perspetivas de
(CV, atitude, experiência...) crescimento da sua área em Portugal e
A acumulação de conhecimentos no estrangeiro?
de Ciências Farmacêuticas e de Marketing Acredito que é uma área que con-
com a experiência em farmácia comunitária. tinuará a crescer e aportar novos desafios
do das nossas experiências, do nosso tra-
24 balho e das nossas motivações.
profissionais.
Farmácia Comunitária
O aconselhamento sobre o uso responsável do medicamento e o acompan-
hamento da sua efetividade e segurança nos cidadãos inscrevem-se na necessidade de
encontrar formas mais eficientes de funcionamento do sistema de saúde em Portugal e
no mundo.
Para além de ser o responsável pela acessibilidade e pelo ato de dispen-
sa do medicamento, o farmacêutico está apto a prestar todos os esclarecimentos e
aconselhamento, desde as interações medicamentosas, contraindicações e reações
adversas, permitindo a seleção da solução de saúde mais adequada. Este assume ain-
da a responsabilidade de sensibilizar para a importância da adoção de estilos de vida
saudáveis e para a utilização responsável do medicamento, e tem competências para
identificar de forma atempada fatores de risco e sinais de alerta para diversas patologias
e suas complicações. De uma forma geral, a intervenção do farmacêutico comunitário
visa aumentar a efetividade e garantir a segurança da terapêutica.
O conjunto de serviços que hoje é prestado aos portugueses pelos farmacêuti-
cos nas farmácias, afirmam-nas cada vez mais como uma unidade imprescindível para
o funcionamento holístico do sistema de saúde, pois, para além das funções supramen-
cionadas, o farmacêutico procede ainda à administração de vacinas e injetáveis (medi-
ante a obtenção da respetiva qualificação), à preparação individualizada da medicação
e de medicamentos manipulados, à determinação de parâmetros bioquímicos e fisi-
ológicos como o Colesterol, Glicémia, Triglicéridos e Pressão Arterial, e ainda ao acon-
selhamento em dispositivos médicos, suplementos alimentares, cosmética e produtos
de saúde em geral, sendo particularmente relevante a indicação de medicamentos não
sujeitos a receita médica em patologias autolimitadas e o contributo na prevenção da
doença e na promoção de comportamentos saudáveis.

25
Bruno Gonçalves
Ano de conclusão do MICF: 2014
Cargo: Farmacêutico Comunitário, Suíça

Considerando a formação no MICF,


quais as matérias em que se sentiu
mais preparada e quais aquelas em que
O que o levou a seguir esta área e como sentiu mais dificuldades para enfrentar
surgiu o interesse pela mesma? este desafio?
Ao reflectir sobre as possibili- Quando acabamos o curso, sen-
dades que tinha, decidi avançar para área timos no geral, que nunca sabemos nada.
da saúde, onde poderia então conciliar os Perguntem a quem quiserem e a resposta
meus interesses, e, ao mesmo tempo, con- vai ser sempre essa. O curso dá-nos as
tribuir de forma positiva numa comunidade. bases mínimas necessárias (poderia estar
Após alguma reflexão, considerei que eram mais completo, reconheço) ao exercício da
as Ciências Farmacêuticas, que permitiriam profissão farmacêutica, mas só isso. O que
fazer algo que gostasse e que me trariam nos vai tornar bons ou maus profissionais é
gratificação profissional. Foi assim que fiz a o interesse e a capacidade que temos para
minha escolha. estar em constante aprendizagem. Algo vital
nesta área. No geral saímos muito verdes,
Quais considera serem os pontos fortes
não havendo uma matéria em específico
que o levaram a conseguir o emprego?
que sentisse maior ou menor dificuldade
(CV, atitude, experiência...)
(talvez mencione a utilidade das tecnologias
O ponto que considero mais im-
farmacêuticas na preparação dos mais di-
portante é a vontade de querer fazer (bem)
versos manipulados). O que acontece é aq-
as coisas. De facto, quando fui à entrevista,
uilo que se chama de falta de experiência,
não sabia o que era trabalhar numa grande
algo que desaparece precisamente com os
cadeia, não era um nativo na língua e
anos e com o que investimos em nós e na
também pouca experiência tinha, mas hav-
nossa formação.
ia algo que se notava bem: o entusiasmo e
a vontade que eu demonstrei. As pessoas Foi necessária formação externa ao
que me fizeram a entrevista ficaram impres- MICF para que fosse possível enveredar
sionadas pela minha idade (lá é normal aca- por este caminho?
bar se o curso aos 25/26 anos e eu tinha Formação externa é sempre algo
24) e pelos progressos que, em 6 meses, fiz que está ligado à nossa profissão (que está
a nível linguístico. Apesar de não ter então em constante desenvolvimento). Como dis-
muita experiência, eles gostaram e ficaram se anteriormente, o curso dá-nos as bases
comigo. Por isso digo que a vontade é a mínimas para assegurar o desempenho da
melhor característica que se pode demon- nossa profissão.
strar numa entrevista de emprego.
26
Se queremos ser melhores, se Como vê o futuro/perspetivas de
queremos assegurar um serviço de qual- crescimento da sua área em Portugal e
idade e na vanguarda do conhecimento no estrangeiro?
científico, é só natural que façamos for- No estrangeiro, posso dizer que
mação externa. Na minha opinião é algo de esta, é uma área em enorme crescimento:
extrema importância, uma vez que permite as farmácias abrem, geram lucro e tornam
não só colmatar possíveis falhas do curso, se em autênticas empresas a gerir. É uma
como fornecer detalhes mais específicos e área em boom.
mesmo algumas dicas sobre alguns tópicos Já em Portugal, na minha opinião, é uma
não lecionados durante o curso. É algo em área com potencial (faltam explorar áreas
que vale a pena investir. de potencial lucro, como por exemplo a fi-
toterapia e a aromaterapia nas farmácias),
Se tivesse que enumerar as três
se souber ser bem aproveitada, mas neste
maiores dificuldades do seu trabalho,
momento, um pouco estagnada - apesar
quais escolheria?
das novas ideias: renovação de medicação,
A primeira: o atendimento. Num
venda de medicamentos oncológicos, con-
país estrangeiro é sempre difícil fazer passar
tra HIV, etc. Ideias estas que por exemp-
as nossas ideias, não só devido à barreira
lo, na Suíça, já estão em prática há muito
linguística, mas devido a alguns hábitos e
tempo.
costumes, que variam sempre de país para
A Portugal falta um pouco de aprendizagem
país. É necessário ter uma grande capaci-
com o que de bem se faz nos outros países,
dade de adaptação, e eu demorei a con-
do qual é exemplo a Suíça. Não digo que
seguir saber adaptar-me a cada cliente e a
seja tudo perfeito, mas há coisas que bem
cada situação.
melhor se fazem lá fora e com as quais
A segunda: o facto de estar longe de casa.
podíamos e deveríamos aprender.
Estar a trabalhar num país que não é o nos-
so, em que a integração não é fácil para
quem chega é algo difícil de lidar e nunca
chegamos a habituar-nos bem a isso. Para
mim é das coisas que mais me custou. Tive
de deixar muita coisa para trás.
A terceira: gestão da equipa. Gerir uma eq-
uipa é uma tarefa por vezes ingrata, uma
vez que nunca se consegue agradar a to-
dos. E se essa equipa for numerosa... Pior.
O truque é saber lidar com as individuali-
dades, mas custou me a assimilar esse fac-
to.

O que aconselharia a alguém que re-


solvesse enveredar por um caminho se-
melhante ao seu?
Aconselharia a pessoa a saber
ter paciência, uma vez que o período inicial
é sempre o mais complicado (ao início as
condições não são as melhores), mas para
nunca desistir. As recompensas virão com o
empenho demonstrado no trabalho. 27
Farmácia Hospitalar
Na equipa multidisciplinar do hospital, os farmacêuticos hospitalares estão
no centro do circuito do medicamento e são indispensáveis à adequada prestação de
cuidados aos doentes. A sua intervenção é transversal e exige frequentemente o recurso
a uma vasta gama de conhecimentos inerentes à sua formação de base científica.
Os farmacêuticos hospitalares participam na seleção de medicamentos para os hos-
pitais, no âmbito das Comissões de Farmácia e Terapêutica, nos grupos dedicados
à política de anti-infeciosos, etc. Neste âmbito intervêm diretamente na definição dos
protocolos terapêuticos e no desenho de processos tendentes a um uso seguro e eficaz
dos medicamentos nos hospitais.
Cabe também aos farmacêuticos hospitalares elaborar os critérios de aquisição de me-
dicamentos, bem como participar no júri dos processos de aquisição, procurando a
cada momento o medicamento adequado ao melhor preço, e gerindo o processo de
aquisição e armazenamento diretamente aos titulares de autorização de introdução no
mercado.
No meio hospitalar, é frequente a existência de necessidades terapêuticas que o mer-
cado não satisfaz. Cabe aos farmacêuticos hospitalares desenvolver os medicamentos
manipulados adequados, assim como a sua preparação nas condições de boas práticas
definidas na legislação.
Para o doente internado, o farmacêutico hospitalar valida as prescrições, na sua maioria
em suporte eletrónico. Neste processo de validação são verificadas a adequação da
terapêutica e eventuais interações e efetuadas intervenções junto do corpo clínico para
assegurar o melhor cuidado dos doentes. Cabe igualmente ao farmacêutico hospitalar
a implementação e gestão de sistemas de distribuição de medicamentos adequados às
necessidades dos doentes, como por exemplo a distribuição individual diária em dose
unitária.
Cabe igualmente aos farmacêuticos hospitalares a responsabilidade da preparação de
medicamentos injetáveis citotóxicos e outros, em condições controladas que protejam
o produto (e, logo, o doente), assim como os operadores, minimizando desta forma a
exposição a agentes tóxicos. Neste processo são efetuados cálculos de diluição e dos-
agem e validadas as prescrições com extremo rigor e dupla verificação, essenciais face
à estreita margem terapêutica destes medicamentos.
Finalmente, é importante referir a intervenção dos farmacêuticos hospitalares na moni-
torização de ensaios clínicos e na dispensa de medicamentos em ambulatório hospita-
lar. Para estes medicamentos, limitados no seu circuito de dispensa pelas suas carac-
terísticas intrínsecas ou da patologia a que se destinam, o trabalho com os doentes, e
em estreita articulação com o corpo clínico dos hospitais, assegura um uso correto e
eficiente dos mesmos.

28
Leonor Neves
Ano de conclusão do MICF: 2015
Cargo: Farmacêutica Hospitalar, Londres

O que a levou a seguir esta área e como No entanto, da experiência que


surgiu o interesse pela mesma? tenho vindo a adquirir, acho que para se
Tive a oportunidade de fazer conseguir um emprego em Inglaterra esse
Erasmus+ em Londres, no hospital onde conhecimento científico não é suficiente. O
trabalho, neste momento. Este estágio des- currículo é importante, mas não é o essen-
pertou-me para uma realidade profissional cial, a experiência é o fator mais valoriza-
que, para mim, era completamente descon- do. A competição é notória e sentida, no
hecida. O farmacêutico hospitalar tem, no dia-a-dia e a maioria das pessoas com as
Reino Unido, um papel significativo e bem quais tive de competir eram farmacêuticos,
definido nas equipas que se ocupam da no mínimo, com um ano de experiência em
saúde do doente. farmácia hospitalar e eu contava, apenas,
Quais considera serem os pontos fortes com os três meses resultantes do meu es-
que o levaram a conseguir o emprego? tágio como estudante Erasmus.
(CV, atitude, experiência...) Consideran- A preparação para a entrevista a que tive de
do a formação que o MICF lhe conce- me submeter para o acesso ao lugar que
deu, quais foram as matérias em que ocupo hoje exigiu o estudo de determinados
se sentiu mais preparado e quais foram fármacos, mais em pormenor, interações
aquelas em que sentiu mais dificul- farmacológicas mais comuns, uma análise
dades para enfrentar este desafio? Foi mais detalhada de resultados laboratoriais
necessária formação externa ao MICF com relação a determinadas doenças e/ou
para que fosse possível enveredar por fármacos, avaliação de prescrições com o
este caminho? intuito de identificar erros e sugestões de
A FFUP prepara muito bem os como proceder, entre outros. Contei, para
alunos, ao nível dos conteúdos curriculares, o efeito, com a preciosa colaboração de al-
ou seja, no domínio teórico. A preparação guns colegas que já trabalhavam há mais
que recebemos tem uma grande compo- tempo no hospital, caso contrário, seria
nente científica e considero essa carac- quase impossível.
terística como uma das quais me distingue 24) e pelos progressos que, em 6 meses,
de alguns farmacêuticos hospitalares no fiz a nível linguístico. Apesar de não ter en-
Reino Unido, cujo conhecimento é mais ao tão muita experiência, eles gostaram e fic-
nível fisiopatológico e farmacoterápico e, aram comigo. Por isso digo que a vontade é
portanto, mais direcionado para a prática a melhor característica que se pode demon-
profissional. strar numa entrevista de emprego. 29
Se tivesse que enumerar as três O que aconselharia a alguém que re-
maiores dificuldades do seu trabalho, solvesse enveredar por um caminho se-
quais escolheria? melhante ao seu?
Como já estou a trabalhar há mais O programa Erasmus+ é uma das
de um ano, não tenho as mesmas dificul- maiores oportunidades para complemen-
dades que tinha no início, mas continuo a tar o currículo académico e o tornar mais
aprender todos os dias. Diariamente, méd- diversificado. Um bom profissional não
icos, enfermeiros, farmacêuticos, fisiotera- é só aquele que tem as matérias em dia,
peutas e outros profissionais de saúde jun- mas também aquele que sabe lidar com
tam-se nas enfermarias correspondentes às as mais variadas situações, em ambientes
suas e discutem o plano individual de cada diferentes daqueles aos quais está habit-
doente. Isto implica tomar decisões sobre uado, daí que eu seja uma grande apolo-
que tipo de exames fazer e avaliar quais as gista deste programa. Acho que para quem
complicações que daí advêm, qual o plano quiser enveredar por esta área um estágio
de alta, quais os medicamentos que de- em farmácia hospitalar no Reino Unido é o
vem ser suspensos ou descontinuados até ideal para ter contacto com esta realidade,
reavaliação do caso. O farmacêutico está mas caso não tenham essa oportunidade
envolvido em cada passo deste processo. através do programa Erasmus+ tentem
É preciso ganhar um determinado nível de enviar email para os hospitais - a maioria
confiança para que o farmacêutico possa costuma receber imensos estudantes ou
chamar a atenção a um médico de que algo profissionais à procura de experiência o ano
foi prescrito incorretamente ou que determi- inteiro. É importante arriscar!
nado tratamento poderá ser otimizado. Tan-
Como vê o futuro/perspetivas de
to médicos como enfermeiros confiam no
crescimento da sua área em Portugal e
farmacêutico na obtenção dos mais diver-
no estrangeiro?
sos níveis de informação. Podem ligar-nos
As oportunidades em Farmácia
a perguntar como administrar determinado
Hospitalar em Portugal são escassas, o
injetável, qual o melhor medicamento para
Farmacêutico não desempenha atividades
prescrever a um doente com a condição X,
tão clinicas como no Reino Unido nem é tão
Y, Z, etc. Mais importante que ter a resposta
reconhecido pelos outros profissionais de
na ponta da língua é saber onde procurar
saúde e, por último, os salários são inferi-
a informação e saber interpretá-la. Acho
ores. Um dos requisitos para o avanço da
que outra das dificuldades prende-se com
carreira profissional do Reino Unido é, após
o facto de haver muitas abreviaturas nesta
a conclusão do MICF e de alguma experiên-
área, o que torna a leitura das notas clínicas
cia laboral, iniciar um Diploma em Farmácia
do doente complicada! Apesar de termos
Clinica, que é nem mais nem menos do que
lido muitos artigos em inglês na faculdade,
uma Pós-Graduação. Iniciei o Diploma este
há muitos conceitos que nos escapam e
ano e a conclusão está prevista para daqui
que requerem alguma pesquisa, caso con-
a dois anos. Ao fim de algum tempo, se os
trário, torna-se difícil fazer sugestões de
conhecimentos não voltarem a ser cimen-
como otimizar a terapêutica. E para tornar a
tados e outros adquiridos corre-se o risco
leitura ainda mais complicada, letra de méd-
da atividade farmacêutica se tornar rotineira
ico, seja em Portugal ou no Reino Unido, é
e pouco interessante. Com o progressivo
ininteligível!
desenvolvimento tecnológico quer-se que a
profissão se mantenha ativa e atualizada.
30
Indústria Farmacêutica
A Indústria Farmacêutica permite ao farmacêutico um envolvimento direto na
investigação e desenvolvimento de novos fármacos.
Todo o processo negocial inerente à colocação do medicamento nos circuitos acima
descritos envolve áreas onde o farmacêutico tem cada vez mais um papel imprescindível
como a Gestão de Vendas, o Marketing e Publicidade, o Controlo e Garantia de Quali-
dade, a Farmacoeconomia ou a Produção Industrial e Logística, incluindo o controlo de
matérias-primas ou a implementação de Boas Práticas.

Direção Técnica
A função de Director(a) Técnico (a) (num sentido mais amplo
designada por Pessoa Qualificada ou Qualified Person) é uma área restrita
a farmacêuticos que está envolvida na vertente mais nobre desta área que
é o fabrico e controlo de qualidade dos medicamentos.

Investigação, desenvolvimento tecnológico


e inovação
Além das áreas já referidas relativas a produção e controlo de
medicamentos, o farmacêutico de indústria atua em áreas como a in-
vestigação e desenvolvimento de novos processos de fabrico, quer para
novos fármacos quer para medicamentos já em comercialização, actual-
izando ou adaptando o uso de novas tecnologias. Também na área analíti-
ca a evolução tecnológica é constante e mais uma vez o farmacêutico
de indústria é chamado a desenvolver novos métodos analíticos, mais
rápidos e precisos e capazes de determinar o perfil de qualidade quer de
excipientes, princípios activos ou formulações farmacêuticas.

Farmacovigilância
Na fase de comercialização do medicamento os farmacêuticos
de indústria assumem um papel importante na área da Farmacovigilância,
reunindo e submetendo às autoridades todos os relatórios de segurança
sobre o medicamento e propondo medidas em caso de existirem novos
conhecimentos derivados do uso dum medicamento.

31
Produção e Controlo de Qualidade

Para o fabrico e controlo de medicamentos o farmacêutico de


indústria pode exercer e exerce em áreas tão diversas como a compra de
matérias primas para a produção de medicamentos, o seu controlo na
recepção das mesmas aprovando-as para fabrico, toda a gestão do seu
armazenamento até aviamento para a produção dum medicamento.
Na fase de produção de um medicamento, o farmacêutico de indústria
actua em atividades como planeamento das atividades, supervisão da
produção, controlo em processo e controlo de qualidade final do medic-
amento.
A elevada regulamentação a que a indústria farmacêutica é sujeita levou
ao desenvolvimento de atividades cuja função é garantir que todas as
regulamentações são cumpridas ao longo da cadeia de produção do me-
dicamento. Essas áreas, designadas por Garantia da Qualidade, actuam
em campos multidisciplinares verificando e assegurando que desde a se-
leção de um fornecedor, de um excipiente ou princípio activo até à expe-
dição do medicamento para um distribuidor grossista ou farmácia todas
as normas, designadas por Boas Práticas de Fabrico, foram cumpridas e
o medicamento produzido cumpre com as especificações da Autorização
de Introdução no Mercado, AIM, emitida pelas autoridades de saúde, na-
cionais (Infarmed) ou Europeias (EMA). Somente após esta certificação é
que o Director Técnico está em condições de aprovar o medicamento e
permitir a sua comercialização.

Gestão
O enorme conhecimento que o farmacêutico de indústria ad-
quire e a ampla visão que tem das empresas, das pessoas e dos merca-
dos, permite-lhe em muitos casos assumir papéis de direção na gestão,
Direção Geral, Direção de Fábrica, Direção comercial, Direção de Market-
ing e mesmo Direção de Pessoal sendo estes normalmente associados
ao corolário duma carreira bem sucedida.

32
Marketing Farmacêutico
O conhecimento do mercado farmacêutico permitiu ao far-
macêutico um alargar de horizontes a áreas como o Marketing Far-
macêutico. É cada vez mais normal encontrar farmacêuticos a atuar em
atividades especializadas de marketing. Os profundos conhecimentos do
farmacêutico sobre o medicamento, farmacologia, farmacocinética, far-
macodinâmica, permitem-lhe compreender e explicar o modo de ação de
medicamentos melhor do que a maioria dos profissionais. Dentro do Mar-
keting Farmacêutico, existem três áreas em que os farmacêuticos ganhar-
am espaço por direito próprio: a gestão de marketing, como directores de
departamento ou gestores de produto, e as áreas comerciais, como del-
egado de informação médica. Esta última é importante para obter acesso
às duas primeiras. Contudo, especial destaque merece uma área nova
que é a de actuar como consultores científicos nas empresas na sua
ligação a outras classes. Assim, nos últimos tempos, os farmacêuticos
encontram-se entre os mais procurados pela indústria para a função de
Medical Scientific Liaison, nova função em que predomina a necessidade
de compreender e saber passar conhecimentos sobre fármacos cada vez
mais complexos.

Assuntos Regulamentares

Para a produção de um medicamento é necessário que o mes-


mo possua uma AIM. O processo de obtenção duma AIM junto das autor-
idades obriga à reunião num documento de toda a informação disponível
sobre o medicamento. Esta área designada normalmente por Assuntos
Regulamentares é também uma área em cuja atuação os farmacêuticos
de indústria são verdadeiros peritos. De notar que esta área não se esgota
com a obtenção duma AIM mas prolonga-se por toda a vida do medic-
amento (Life Cicle) permitindo manter atualizadas todas as informações
técnicas sobre o medicamento.

33
Rui Ferreira
Ano de conclusão do MICF: 2013
Cargo: Product Manager - GSK

Foi necessária formação externa ao


MICF para que fosse possível enveredar
por este caminho?
No que diz respeito à minha ex-
periência na Alemanha, o MICF foi sufi-
O que o levou a seguir esta área e como ciente, no entanto, para progredir na car-
surgiu o interesse pela mesma? reira, acredito que formações externas ao
O interesse pela área de Market- MICF em escolas de “negócios” são uma
ing Farmacêutico surgiu de forma natural e mais valia pois complementam algumas la-
como forma de juntar o útil ao agradável, cunas existentes
ou seja, de juntar a minha formação base O que aconselharia a alguém que re-
de ciências farmacêuticas, com uma área solvesse enveredar por um caminho se-
que sempre esteve presente em atividades melhante ao seu?
extracurriculares e sempre me despoletou Procurar formação mais especial-
interesse, o Marketing. izada na área e procurar experiências ex-
Quais considera serem os pontos fortes tra-curriculares ao longo do MICF que lhe
que o levaram a conseguir o emprego? permitam adquirir competências que po-
(CV, atitude, experiência...) dem ser importantes aquando da chegada
No meu caso, acredito que tenha ao mercado de trabalho, por exemplo, pert-
sido a atitude demonstrada nas entrevistas, encerem a um dos vários departamentos da
visto que a experiência profissional na altura Associação de estudantes.
ser bastante reduzida. Como vê o futuro/perspetivas de
Considerando a formação que o MICF crescimento da sua área em Portugal e
lhe concedeu, quais foram as matéri- no estrangeiro?
as em que se sentiu mais preparado Acredito que a pior fase do mer-
e quais foram aquelas em que sentiu cado português já está ultrapassada e que
mais dificuldades para enfrentar este as oportunidades acabam por surgir.
desafio? Na minha opinião, procurar uma carreira
A base científica adquirida du- internacional, é sem dúvida uma mais val-
rante o MICF foi claramente uma mais valia ia, oportunidades existem, e em todas as
em alguns momentos, no entanto toda a áreas, claro que por vezes não é fácil de
parte de gestão, que a meu ver é bastante conseguir, mas com resiliência acredito que
reduzida no MICF, acredito que poderia ter qualquer um pode conseguir. No entanto,
sido muito mais desenvolvida durante o tem que ser uma decisão muito bem pon-
mesmo de forma a estarmos melhor prepa- derada, pois enfrentar culturas e realidades
34 rados para o real mercado de trabalho. de vida diferentes nem sempre é fácil.
Raquel Alves de Figueiredo
Ano de conclusão do MICF: 2015
Cargo: Trade Marketing Trainee - Angelini

Considerando a formação que o MICF


lhe concedeu, quais foram as matéri-
as em que se sentiu mais preparado
e quais foram aquelas em que sentiu
mais dificuldades para enfrentar este
O que a levou a seguir esta área e como desafio?
surgiu o interesse pela mesma? Na área de Marketing, sinto que a
Nos últimos anos do MICF, minha formação Farmacêutica me permitiu
comecei a analisar as áreas existentes na criar versatilidade e multidisciplinariedade
Indústria Farmacêutica em que os Far- para me conseguir adaptar e adquirir novos
macêuticos podem atuar. De todas, o Mar- conceitos. Graças ao estágio curricular em
keting Farmacêutico foi a que me despertou Farmácia comunitária, adquiri conhecimen-
maior interesse, por ser uma área que alia o to sobre os produtos existentes no merca-
pensamento estratégico e criativo à compo- do, o que é muito importante na área do
nente científica dos produtos. Marketing de OTC’s, pois é necessário es-
tarmos constantemente atualizados sobre
Quais considera serem os pontos fortes os produtos que existem no mercado. Creio
que o levaram a conseguir o emprego? que faltou, na formação que o MICF me for-
(CV, atitude, experiência...) neceu, conhecimento sobre o funcionamen-
Os pontos fortes que eu consid- to geral da indústria farmacêutica, tal como
ero serem os mais importantes para um conceitos de gestão aplicados à mesma.
recém-licenciado (como eu era, na altura)
conseguir emprego na Indústria Farmacêuti- Foi necessária formação externa ao
ca passam por um bom Curriculum Vitae e MICF para que fosse possível enveredar
a atitude em entrevista. Focando o primeiro por este caminho?
ponto, a meu ver, é muito importante haver No meu caso não foi necessária
experiências como estágios (curriculares formação externa ao MICF. A formação que
e extra-curriculares, em Portugal e no es- o mesmo me deu e as atividades associ-
trangeiro) e envolvimento em associações ativas e académicas em que participei ati-
académicas e desportivas, porque nos vamente para além do curso, fizeram-me
fazem desenvolver soft-skills e competên- desenvolver várias características e com-
cias que são procuradas pelos recrutadores petências que considero serem fundamen-
em candidatos que não possuem experiên- tais no exercício da minha atividade profis-
cia profissional anterior. Estas skills adquiri- sional: capacidade de trabalho em equipa
das são o que poderá fazer a diferença na e de gestão de tempo, sentido crítico, ca-
hora da entrevista, e no momento de de- pacidade de resolução de problemas sobre
pressão, e adaptação a diferentes pessoas,
cisão entre dois candidatos com o mesmo
contextos e métodos de trabalho.
35
curso superior.
Se tivesse que enumerar as três O Marketing Farmacêutico é uma área com-
maiores dificuldades do seu trabalho, ercial e, como tal, é necessário haver um
quais escolheria? grande sentido de orientação para os ob-
Uma das grandes dificuldades jetivos, gosto por desafios e capacidade de
passa pelo cumprimento dos deadlines que trabalhar sobre pressão. Rigor, capacidade
são colocados. No marketing, as ideias e analítica e criatividade são de extrema im-
as oportunidades surgem com uma vel- portância, tal como excelentes capacidades
ocidade estonteante e por vezes os dead- de comunicação.
lines acabam por ser muito apertados. Por
Como vê o futuro/perspetivas de
outro lado, surge a dificuldade em prever
crescimento da sua área em Portugal e
como o consumidor irá reagir às ações
no estrangeiro?
que tomamos relativamente aos produtos
Creio que o marketing farmacêuti-
(campanhas, packs promocionais, etc). Por
co será uma área em que se irá apostar
último, surgem algumas vezes imprevistos
cada vez mais. As necessidades e exigên-
logísticos que fogem ao nosso controlo e
cias do consumidor e do mercado são cada
que impactam negativamente o resultado
vez mais desafiantes, sendo necessário,
do nosso trabalho.
assim, haver profissionais qualificados e eq-
O que aconselharia a alguém que re- uipas de trabalho com capacidade de fazer
solvesse enveredar por um caminho se- face às mesmas.
melhante ao seu?
A quem deseja enveredar pelo
Marketing Farmacêutico, aconselho, primei-
ro de tudo, a ser persistente e a não desistir
até conseguir entrar nesta área.

36
Francisco Costa
Ano de conclusão do MICF: 2015
Cargo: Medical Scientific Liaison / Novartis

Um MSL tem um conjunto de funções no seu dia-a-dia muito multidisciplinar, e que


combina uma vertente muito científica com uma visão também muito estratégica para a sua
empresa. Trabalhamos como pontes científicas entre a empresa e os profissionais de saúde.
Asseguramos respostas atempadas e com qualidade a dúvidas de médicos, farmacêuticos
ou enfermeiros acerca de determinado fármaco, sendo que cada MSL trabalha com determi-
nada área terapêutica. Estas dúvidas poderão surgir tanto em relação a produtos já comer-
cializados, como a moléculas que estão ainda em fase de ensaios clínicos. Damos formação
externa e interna (por exemplo à equipa de delegados de informação médica) acerca da área
terapêutica onde trabalhamos e suas moléculas, atuando como peritos internos em questões
científicas. Identificamos oportunidades de estudos clínicos e o seu respetivo planeamento
e execução, assim como outros projetos médico-científicos, como publicações ou eventos.
Sucintamente, diria que somos a cara da empresa no terreno, no que à ciência diz respeito.

Quais considera serem os pontos fortes


que o levaram a conseguir o emprego?
O que o levou a seguir esta área e como (CV, atitude, experiência...)
surgiu o interesse pela mesma? O documento do CV deverá ser
Ao longo dos cinco anos do MICF um documento original, tanto no que diz
fui como que excluindo algumas áreas que respeito à forma, como ao conteúdo, nada
não me despertavam tanto interesse, após de modelos Europass ou outros pré-for-
ter feito alguns estágios extracurriculares e matados. O nosso CV deverá ser de fácil
curriculares, em áreas como a farmácia co- leitura, e que chame a atenção nos primei-
munitária ou as análises clínicas. Após está- ros segundos. Em ambiente de entrevis-
gio em Farmácia Hospitalar, tomei contacto ta, a preparação é fundamental. Quanto
com a Indústria Farmacêutica e com os à experiência necessária, recomendo que
Ensaios Clínicos, que me suscitaram muita durante os anos em que estejam no ensi-
curiosidade. Ao trabalhar no Departamento no superior, tentem ao máximo diversificar
Médico da Indústria Farmacêutica, consigo os vossos interesses e experiências extra-
usar o conhecimento que adquiri no MICF curriculares. Desde estágios, associações
e noutras experiências extracurriculares, estudantis/juvenis, laboratórios de investi-
num ambiente que acho muito interessante, gação dentro da FFUP, tunas, etc. É impor-
como o mundo empresarial. Numa frase, di- tante que não saiam da FFUP “apenas” com
ria que consigo trabalhar com ciência numa o MICF.
perspetiva que inclui uma visão estratégica
de negócio, com integridade e seriedade. 37
Considerando a formação que o MICF Atualizações científicas quase
lhe concedeu, quais foram as matérias diárias, pois todas as semanas há novos ar-
em que se sentiu mais preparado e quais tigos para ler e estudar, novos dados para
foram aquelas em que sentiu mais difi- analisar e novos projetos para trabalhar.
culdades para enfrentar este desafio? A competição inerente ao setor,
Trabalhando no Departamen- uma vez que, como sabemos, o mercado
to Médico da Novartis, o meu background do medicamento é extremamente compet-
científico é importantíssimo para o dia-a-dia, itivo, e como tal, é necessário estarmos
e áreas como a farmacologia, farmacocinéti- sempre atentos, focados, para conseguir-
ca, farmacodinâmica, ou mais especifica- mos resultados com qualidade e dentro do
mente as neurociências (área terapêutica tempo certo.
com que trabalho) são-me necessários con-
stantemente. No entanto, o MICF na FFUP O que aconselharia a alguém que re-
não nos prepara para algumas áreas onde solvesse enveredar por um caminho se-
o farmacêutico pode trabalhar hoje em dia, melhante ao seu?
e que no meu quotidiano também tenho de Como já referi, diversifiquem as
lidar, como os Ensaios Clínicos, os Assuntos vossas experiências e áreas de ação. No
Regulamentares, ou os chamados Medical mercado de trabalho atual as chamadas
Affairs. soft skills são tão valorizadas (senão mais)
como as competências científicas. Trabalho
Foi necessária formação externa ao
de equipa, comunicação, raciocínio rápido
MICF para que fosse possível enveredar
e crítico são caraterísticas que podem ser
por este caminho?
desenvolvidas durante os anos de facul-
No meu caso sim. Como sabia que
dade nas associações, tunas, laboratórios,
este setor me exigiria algum conhecimento
estágios, etc.
em áreas que o MICF não preenche, fiz al-
guns cursos online que me ajudaram a estar Como vê o futuro/perspetivas de
mais preparado para o mercado de trabalho. crescimento da sua área em Portugal e
Existem plataformas online com cursos muito no estrangeiro?
interessantes, desde especializações dentro Os Medical Affairs são, sem
das ciências farmacêuticas, até áreas como qualquer dúvida, uma área que cresce e
a farmacoeconomia ou gestão e marketing, crescerá em Portugal e lá fora. A Indústria
que podem ser um excelente complemento da Farmacêutica já não é aquilo que era há
para quem ambiciona saídas profissionais uns anos, e o papel do Departamento Méd-
que não as tradicionais ico tem ganho cada vez mais importância,
pois confere às empresas imparcialidade,
Se tivesse que enumerar as três maiores
qualidade e segurança nas suas comuni-
dificuldades do seu trabalho, quais es-
cações e conteúdos.
colheria?
Mobilidade constante (uma vez
que contacto com hospitais de todo o país,
incluindo as ilhas), mas que vejo como uma
vantagem, pois gosto de conhecer as difer-
entes realidades das diferentes regiões de
Portugal, tanto no que diz respeito ao modo
de trabalhar na saúde, como as próprias idi-
ossincrasias das populações.
38
Miguel Maia
Ano de conclusão do MICF: 2013
Cargo: Stability and Validation Specialist –
BIAL - Portela & Cª., S.A.

A oportunidade de podermos integrar os


laboratórios em projetos de investigação é
uma enorme mais-valia. A nível das chama-
O que o levou a seguir esta área e como das softskills, nomeadamente comunicação,
surgiu o interesse pela mesma? gestão de projetos, tempo e prioridades,
Trabalhar na Indústria Farmacêuti- foram componentes que desenvolvi nas
ca e ter um contacto direto com as primei- atividades extracurriculares. É da responsa-
ras etapas do ciclo de vida do medicamento bilidade de cada um integrar um projeto e
foi a razão por que me candidatei ao MICF. crescer com ele. Faz parte da experiência
No Serviço de Estabilidades e Validações universitária!
tenho um contacto diário com diversas áre- A área onde senti alguma resistência foi a
as relacionadas com o medicamento, desde nível regulamentar, nomeadamente GMP’s e
o desenvolvimento farmacêutico ao fabrico, outras guidelines aplicáveis à indústria far-
controlo de qualidade e assuntos regulam- macêutica. São temas que deveriam ser mais
entares. aprofundados durante o curso.
Quais considera serem os pontos fortes Foi necessária formação externa ao
que o levaram a conseguir o emprego? MICF para que fosse possível enveredar
(CV, atitude, experiência...) por este caminho?
Por um lado a componente téc- Não. Creio que saímos do MICF
nica, a experiência em química analítica e com as ferramentas necessárias para lidar
análise de resultados. Por outro as ativi- com a generalidade das situações. Obvia-
dades extracurriculares, nomeadamente na mente que por vezes requerem algum em-
AEFFUP e FARMA|inove, onde tive de gerir penho e pesquisa.
projetos e prioridades e trabalhar por ob-
jetivos. Por último mas não menos impor- Se tivesse que enumerar as três maiores
tante, a motivação em integrar a indústria dificuldades do seu trabalho, quais es-
farmacêutica. colheria?
Multitasking, análise de dados e el-
Considerando a formação que o MICF evado rigor.
lhe concedeu, quais foram as matéri-
as em que se sentiu mais preparado O que aconselharia a alguém que re-
e quais foram aquelas em que sentiu solvesse enveredar por um caminho se-
mais dificuldades para enfrentar este melhante ao seu?
desafio? Experiência em química analítica,
A nível técnico considero que o análise de dados e gestão de projetos
MICF nos dá uma excelente formação.

39
Indústria Cosmética
No contexto da Indústria Cosmética, o farmacêutico desempenha um papel
direto na investigação e desenvolvimento de novos ingredientes e produtos cosméticos.
O Controlo e Garantia de Qualidade e a Produção Industrial e Logística, incluindo o con-
trolo de ingredientes ou a implementação de Boas Práticas de Fabrico são outras áreas
de atuação do farmacêutico a nível industrial.
Quer no âmbito do fabrico quer na distribuição de produtos cosméticos, todo o proces-
so inerente à colocação no mercado envolve áreas onde o farmacêutico pode assumir
funções tais como Assuntos Regulamentares, Cosmetovigilância, Gestão comercial e
Marketing e Publicidade. O desenvolvimento de material científico e formação científica
dos recursos humanos são funções habitualmente desempenhadas por Farmacêuticos
na vertente de interação com as Farmácias Comunitárias.
O Farmacêutico tem ocupado também um lugar de relevo no sector da prestação de
serviços à indústria cosmética, tais como elaboração de relatórios de segurança, aval-
iação da qualidade, e avaliação in vitro e in vivo da segurança e eficácia.

Ana Sofia Pinto


Ano de conclusão do MICF: 2014
Cargo: Formadora nos Laboratórios Bailleul
Portugal

Penso que todo o know-how que adquiri


ao longo deste estágio e o meu interesse
por esta área foram os pontos-chave para
O que a levou a seguir esta área e como conseguir a vaga de emprego em que me
surgiu o interesse pela mesma? encontro atualmente.
Sempre tive um carinho especial
Considerando a formação que o MICF
pela dermocosmética e esta área foi o prin-
lhe concedeu, quais foram as matéri-
cipal motivo pelo qual optei pelo Mestrado
as em que se sentiu mais preparado
Integrado em Ciências Farmacêuticas após
e quais foram aquelas em que sentiu
concluir o ensino secundário.
mais dificuldades para enfrentar este
Quais considera serem os pontos fortes desafio?
que o levaram a conseguir o emprego? A nível de fundamentação teóri-
(CV, atitude, experiência...) ca a formação obtida no MICF é excelente,
O estágio voluntário na Uriage tor- no entanto, penso que a nível mais prático,
nou-se um estágio remunerado de um ano nomeadamente noções de marketing e ven-
no departamento científico e de formação das há margem para melhorar bastante o
da empresa. Foi uma oportunidade que se ensino a todos os estudantes de Ciências
traduziu num crescimento a nível profission- Farmacêuticas e não apenas os que por-
ventura venham a seguir o caminho da der-
40 al e pessoal que superou as minhas expec-
mocosmética.
tativas.
Foi necessária formação externa ao Como vê o futuro/perspetivas de cresci-
MICF para que fosse possível enveredar mento da sua área em Portugal e no es-
por este caminho? trangeiro?
Não foi essencial realizar mais nen- A indústria cosmética está em cre-
huma formação para conseguir esta vaga. scendo a nível mundial já há vários anos e
No entanto, é importante a atualização con- podemos observá-lo pela evolução a nível
stante, pelo que pretendo tirar pós-gradu- científico, tecnológico e regulamentar que a
ações num futuro próximo. área tem sofrido nos últimos anos. Consid-
erando o contexto atual português, a dermo-
Se tivesse que enumerar as três maiores
cosmética assume também uma importância
dificuldades do seu trabalho, quais es-
cada vez maior no mercado farmacêutico e
colheria?
penso que se mantenha assim no futuro.
Atualmente o meu dia-a-dia con-
siste em realizar formações sobre os pro-
dutos da Bailleul (especificamente da Bior-
ga Dermatologie) em ponto de venda (tanto
em farmácias como em parafarmácias). Não
vou dizer quais são as principais dificuldades
pois não as vejo dessa forma, são antes os
três principais pontos a dominar: atualização
científica constante, perceção do nosso inter-
locutor: todos os dias lidamos com pessoas
completamente diferentes quer a nível de per-
sonalidade como em grau de conhecimentos
e é muito importante adaptar a comunicação;
e finalmente preparação para o previsto e
para o imprevisto: há sempre um planeamen-
to inerente às semanas de trabalho que te-
mos pela frente para rentabilizar o nosso tem-
po. No entanto, também é frequente que algo
aconteça e de repente termos que adaptar a
nossa agenda e no fim o que acabamos por
fazer naquele dia não tem nada a ver com o
inicialmente previsto. Às vezes é “fácil” deix-
ar-nos levar pelo stress e ansiedade nestas
situações, mas é importante perceber que
mesmo o anormal é normal acontecer de vez
em quando

O que aconselharia a alguém que re-


solvesse enveredar por um caminho se-
melhante ao seu?
O meu principal conselho é mesmo
ser persistente e não deixar escapar opor-
tunidades que possam inicialmente não pare-
cer as ideais, mas que têm potencial para ser
peças fundamentais a nível profissional.
41
Rita Margarida Figueiredo
Ano de conclusão do MICF: 2011
Cargo: Diretora de estudos do departamento de
formulação e controlo de qualidade na inovapotek,
Pharmaceutical Research and Development

Foi necessária formação externa ao


MICF para que fosse possível enveredar
por este caminho?
O que a levou a seguir esta área e como
No meu caso considero que o
surgiu o interesse pela mesma?
Mestrado em Tecnologia Farmacêutica me
O interesse por esta área surgiu
ajudou a consolidar os conhecimentos já
durante o MICF, mais concretamente com
adquiridos durante o MICF e adquirir novos
as aulas de Tecnologia Farmacêutica.
conhecimentos que no meu dia-a-dia na ino-
Quais considera serem os pontos fortes vapotek fazem toda a diferença.
que o levaram a conseguir o emprego?
Se tivesse que enumerar as três maiores
(CV, atitude, experiência...)
dificuldades do seu trabalho, quais es-
No meu caso em concreto pen-
colheria?
so que terá sido a atitude visto que após
A pressão, que é uma realidade da
conclusão do MICF sempre estive atenta
vida empresarial; a responsabilidade a que o
às oportunidades que iam surgindo nesta
mundo do trabalho obriga; manter os meus
área. Para além disso, considero que o CV
conhecimentos atualizados.
também teve um papel preponderante uma
vez que na altura me encontrava a frequen- O que aconselharia a alguém que re-
tar o Mestrado em Tecnologia Farmacêutica solvesse enveredar por um caminho se-
e tenho a certeza que o mesmo terá sido le- melhante ao seu?
vado em conta pela gerência da inovapotek. Estar atento às oportunidades que
vão surgindo e investir na formação pois esta
Considerando a formação que o MICF
certamente ajudará a abrir novas portas.
lhe concedeu, quais foram as matéri-
as em que se sentiu mais preparado Como vê o futuro/perspetivas de cresci-
e quais foram aquelas em que sentiu mento da sua área em Portugal e no es-
mais dificuldades para enfrentar este trangeiro?
desafio? A cosmetologia é uma área da
Sem dúvida que o conhecimento ciência que está em permanente evolução e
técnico adquirido na FFUP me permitiu es- que é claramente influenciada pela evolução
tar à altura deste desafio. As dificuldades de outras científicas. Em Portugal esta área
sentidas estiveram relacionadas com a não é tão forte contudo, com a ajuda de no-
pressão e a responsabilidade que o mundo vos empreendedores ela tem vindo a crescer.
do trabalho obriga, uma vez que durante o Para além disso as exigências regulamen-
curso estamos “protegidos” pela faculdade. tares nesta área começam a ser cada vez
maiores, o que vai certamente obrigar a um
42 crescimento.
Investigação Científica

Pedro Miguel Maurício


Consultor Júnior em Life Sciences & Pharma-
ceutical Industry na Altran Portugal
Ex-Bolseiro de Investigação no REQUIMTE –
Rede de Química e Tecnologia

O farmacêutico, fruto do seu variado leque de conhecimentos técnico-científi-


cos e da sua capacidade de adaptação, pode exercer atividades no âmbito da inves-
tigação científica nas mais diversas áreas, como a Química, Microbiologia, Tecnologia
Farmacêutica, Bromatologia, Biologia Celular, entre outras que podem estar ou não
relacionadas com as ciências da vida, saúde ou medicamento.
No que se refere às funções a desempenhar, o farmacêutico pode assumir
funções como investigador, gestor de projetos científicos e até coordenador/chefe de
laboratório, tanto na indústria farmacêutica como nos laboratórios e institutos académi-
cos.
Ao contrário do que a sociedade possa pensar, os farmacêuticos também po-
dem ser investigadores científicos e, em muitos casos, desempenhar papéis essenciais
na vanguarda da ciência e inovação.
Ao longo do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas, facilmente nos
apercebe mos do papel de destaque que a Faculdade de Farmácia assume na investi-
gação científica e, uma boa parte desse destaque deve-se aos farmacêuticos que dela
fazem parte e também a todos os outros que exercem atividade noutras instituições.
Graças ao leque ampliado de conhecimentos e à forte adaptabilidade, o far-
macêutico consegue-se envolver numa lista interminável de áreas de investigação, que
comprovam o quão além o seu conhecimento e expertise pode chegar.
Um farmacêutico, para vingar na investigação científica, deve possuir um forte
espírito crítico e postura de problem solver, persistência que o permita não desistir dos
seus objetivos e, talvez a mais importante, capacidade de saber “vender” as suas ideias,
descobertas e inovações. Na minha opinião, o facto de o farmacêutico trabalhar na zona
de transição entre a química e a biologia, entre o medicamento e o Homem, dota-o de
uma maior sensibilidade e melhor capacidade de humanizar os seus âmbitos de investi-
gação.
Relembrando o meu primeiro parágrafo, creio que o farmacêutico ainda passa bastante
despercebido na investigação científica como resultado da sua deficitária capacidade de
se publicitar. Digo isto pois, por experiência própria, tenho a perceção de que os inves-
tigadores mais experientes se esquecem das suas origens académicos e poucas vezes
se apresentam ao mundo científico como farmacêuticos que (ainda) são. 43
Como será o futuro nesta área? Incerto.
Em Portugal a investigação científica ainda é um caminho muito sinuoso e
duro a percorrer, com uma cultura meritocrática baseada no número de artigos e des-
focada do real progresso científico e com um financiamento e crescimento profissional
demasiado limitados.
Porém, quando a dedicação, profissionalismo e sorte se encontram, a carreira
de investigador científico torna-se bastante gratificante, pois sentimos que estamos a
crescer e a fazer o mundo crescer connosco.

Ana Sara Caetano Cordeiro


Ano de conclusão do MICF: 2010
Cargo: Estudante de doutoramento – Departa-
mento de Farmacologia, Farmácia e Tecnologia
Farmacêutica, Universidade de Santiago de
Compostela

Lamentavelmente, essa é a reali-


dade com que devemos lidar quando quer-
O que a levou a seguir esta área e como
emos começar um doutoramento. Este foi o
surgiu o interesse pela mesma?
principal motivo pelo qual eu procurei diret-
Desde o ensino secundário que
amente oportunidades de doutoramento no
tinha muito interesse pela área da investi-
resto da Europa (excluindo Portugal), por ter
gação científica, já que tive o privilégio de
conhecimento da extrema competitividade
disfrutar de uma excelente formação a nível
pelas bolsas da FCT e da consequente ele-
laboratorial nessa fase e aí nasceu o inter-
vada fasquia colocada nas notas de final de
esse pela área. A escolha do MICF foi na
curso necessárias para as obter. Para além
realidade motivada também por este inter-
desta questão, segundo a minha experiên-
esse e a reputação da FFUP na área da in-
cia, já há muitos membros da comunidade
vestigação foi um dos motivos que me levou
académica em toda a Europa que têm em
a fazer essa escolha. Mais tarde, já durante
consideração outros aspetos, dos quais
a frequência do MICF, pude experimentar
destacaria: experiência prévia em investi-
diferentes áreas de investigação e consol-
gação científica, autoria ou coautoria de
idar a minha escolha para a etapa seguinte,
artigos científicos, participação em eventos
o doutoramento.
científicos (apresentação de trabalhos em
Quais considera serem os pontos fortes congressos) e demonstração de capaci-
que o levaram a conseguir o emprego? dades de trabalho em equipa, organização
(CV, atitude, experiência...) e gestão de tempo.
Nesta área a nota final de curso é
44 muito relevante, sobretudo para conseguir
financiamento.
Considerando a formação que o MICF Se tivesse que enumerar as três maiores
lhe concedeu, quais foram as matéri- dificuldades do seu trabalho, quais es-
as em que se sentiu mais preparada colheria?
e quais foram aquelas em que sentiu A investigação científica é um mun-
mais dificuldades para enfrentar este do de poucos e pequenos avanços numa
desafio? imensidão de trabalho. Por este motivo, di-
No meu caso penso que o MICF ria que as três maiores dificuldades são: a
me preparou muito bem, já que entendo que gestão de tempo – é necessário ser muito
a maioria dos licenciados/mestres em Ciên- organizado para rentabilizar bem o nosso
cias Farmacêuticas no resto da Europa não tempo e aproveitar ao máximo as horas de
têm a mesma experiência a nível laboratorial que dispomos; a autonomia – esta etapa é
que nós temos quando terminamos o MICF. fundamental para desenvolvermos a nossa
Isso permite ter uma autonomia importante autonomia e podermos tornar-nos investi-
logo desde os primeiros momentos no lab- gadores cada vez mais independentes; e a
oratório e talvez “avançar” um pouco mais gestão da frustração – é importante gostar
rapidamente nessa primeira fase. Para além muito do que fazemos.
disto, ao pertencer a uma das primeiras ger-
ações a viver a adaptação da antiga licen- O que aconselharia a alguém que re-
ciatura em Ciências Farmacêuticas ao atual solvesse enveredar por um caminho se-
MICF, tive várias oportunidades ao longo do melhante ao seu?
meu período na FFUP para contactar com EPenso que nesta área o mais
a realidade da investigação científica, tanto importante é ser realista em relação às
a nível do núcleo de apoio à investigação, possibilidades, mas não deixar de sonhar
como da disciplina de Projeto I e ainda em e acreditar que se pode fazer investigação
várias disciplinas nas quais nos era pedido e ser bem-sucedido nesta área. Também é
ler e discutir artigos científicos. Penso que importante: ter os horizontes abertos e não
tudo isto contribuiu bastante para a minha ficar à espera das oportunidades, porque
preparação para o doutoramento e consid- elas não vão aparecer sem se procurar; estar
ero que a investigação científica é uma das disponíveis para a mobilidade internacion-
áreas para as quais a FFUP melhor prepara al, para nos enriquecermos noutros países,
os seus estudantes, apesar de ser talvez noutros grupos de investigação, com outras
uma das menos procuradas pelos mesmos. pessoas e outras formas de trabalhar; mant-
er a motivação e a paixão pelo que fazemos
Foi necessária formação externa ao mesmo nos dias mais difíceis, quando todos
MICF para que fosse possível enveredar os resultados são maus e não se percebe
por este caminho? porquê (acreditar que tudo tem solução!);
No meu caso concreto não foi querer aprender sempre mais, ver o lado
necessário, mas penso que não é uma positivo de todas as circunstâncias e lutar por
opinião que se possa generalizar a todas aquilo que acreditamos ser o melhor para o
as pessoas que procurem enveredar pela nosso projeto.
investigação científica. Há áreas de inves-
tigação para as quais pode ser necessária
uma formação complementar em temas
que não são tão aprofundados durante o
MICF.

45
Ensaios Clínicos

Cristina Lopes
Ano de conclusão do Doutoramento em
Química Analítica: 2008
Cargo: Diretora de Operações Clínicas, BLUE-
CLINICAL Investigação e Desenvolvimento em
Saúde, Lda

Em 2006, um outro desafio me “bateu à


porta”: iniciar uma carreira na área da In-
vestigação Clínica. Desde então, tive a
Qual foi o seu percurso profissional oportunidade de trabalhar como Coorde-
desde a conclusão da licenciatura e de nadora de Investigação Clínica em várias
que modo o seu percurso académico a instituições hospitalares; como Monitora
preparou para prosseguir esse camin- de Ensaios Clínicos em diversas empresas,
ho? nacionais e internacionais, consultoras e in-
Terminei a licenciatura em Ciên- dústria; como Gestora da Qualidade numa
cias Farmacêuticas no ano 2000. Na altura, grande multinacional, a Merck, Sharp &
tive a oportunidade de, durante 2 anos, ex- Dohme (MSD); e, desde 2013, como Dire-
ercer a profissão em Farmácia Comunitária tora de Operações Clínicas na Blueclinical.
e em Farmácia Hospitalar. Mal iniciei a minha atividade na Investigação
Em 2002, em resposta a um desafio que Clínica em 2006, percebi que a possibili-
me foi lançado pelo, na altura, Departa- dade de trabalhar em ambiente competitivo,
mento de Química-Física, obtive uma bolsa internacional e cuja atividade tem resultados
pela Fundação para a Ciência e Tecnolo- mais imediatos na sociedade era a área que
gia (FCT) ao abrigo da qual estive dedica- mais me motivava, e na qual queria constru-
da à atividade de investigação na área da ir carreira. Nos 2 primeiros anos, mantive
Química Analítica, até 2006, com vista ao em paralelo a conclusão do doutoramento,
doutoramento. Durante esse período tive o que para mim foi um desafio à minha ca-
também a experiência de lecionar, por um pacidade de resiliência e de trabalho.
semestre, as aulas laboratoriais de Quími- Felizmente, a Academia preparou-me para
ca Farmacêutica Orgânica na Universidade estar à altura de abraçar as oportunidades
Fernando Pessoa, aos alunos do curso de que me foram aparecendo e de tirar o mel-
Ciências Farmacêuticas. hor partido de todas elas.
Em 2006, um outro desafio me “bateu à
porta”: iniciar uma carreira na área da In-
vestigação Clínica.

46
O que a levou a seguir esta área e como Tive de passar por uma série de entrevistas,
surgiu o interesse pela mesma? incluindo testes psicotécnicos, na altura
Enquanto estudante tive a opor- feitos pela empresa Hays. Depois de se-
tunidade de tomar conhecimento do tra- lecionada, tive de me mudar para Lisboa,
balho de I&D, nomeadamente de investi- onde vivi uns meses, para ter formação
gação clínica, que se fazia na Bial. Na altura, específica na área da investigação clínica.
a Bial tinha a única unidade em Portugal Foi assim que comecei a minha carreira
onde se conduziam ensaios de Fase I em na investigação clínica! Acabei por regres-
voluntários saudáveis e isso era muito con- sar ao Norte, onde me mantive a trabalhar
hecido junto da comunidade de estudantes, sempre home based, até Março de 2013.
já que muitos estudantes aproveitavam para Entretanto, mudei várias vezes de emprego
se voluntariar para participar nos ensaios e de empresa. Entre 2008 e 2013, trabalhei
clínicos e com isso obter uma compen- para uma CRO internacional (Covance) e
sação financeira, muito útil para o reforço também para a MSD.
das mesadas!... Desde então, mantive-me Apesar de estar a trabalhar a partir de casa,
curiosa e alerta em relação à investigação viajava muito, mais de 60% do tempo, den-
clínica. Quando me surgiu a oportunidade tro e fora do país. Durante muito tempo es-
de iniciar carreira na área, não hesitei. Senti tive a reportar a estruturas sediadas noutros
que era um desafio que tinha de aceitar! países Europeus e, por isso, as minhas re-
uniões de trabalho implicavam sempre viajar
Como surgiu a oportunidade de envere-
para fora do país. Foi uma experiência mui-
dar por esta área e o que a motiva a
to enriquecedora!
continuar?
No final de 2012 fui abordada pela Blue-
Próximo do término da bolsa de
clinical, a empresa na qual trabalho presen-
doutoramento, a AstraZeneca preparava-se
temente, através do Linkedin. Agendámos
para iniciar um projeto de investigação clíni-
uma reunião e foi-me apresentado o proje-
ca na área dos cuidados de saúde primári-
to que estavam a iniciar e pelo qual eu de
os, que envolvia centenas de centros de
imediato me apaixonei! Não sou nada em-
saúde, por todo o País. A Datamedica,
preendedora, mas se tivesse essa capaci-
Contract Reserach Organization (CRO) se-
dade, este teria sido certamente o projeto
diada em Lisboa a quem tinha sido subcon-
que eu criaria, o meu projeto de vida. Por
tratada a implementação, procurava Clinical
isso, não hesitei em abandonar a minha
Research Associates (CRAs, i.e., Monitores
carreira internacional para abraçar o desafio
de Ensaio Clínico) que pudessem trabalhar
de ajudar a criar e ver crescer uma start-
no projeto. Dado o número de centros de
up numa área que me é tão cara! Eu fui a
ensaio envolvidos e a sua dispersão pelo
segunda pessoa a integrar os quadros da
território português, de modo a aumentar
Blueclinical, em Março de 2013, e atual-
a eficiência, a Datamedica procurava CRAs
mente a empresa conta já com mais de 100
em diferentes pontos do país, de Norte a
colaboradores, dos quais aproximadamente
Sul. Dada a dificuldade em encontrar profis-
75 são do quadro de pessoal a tempo intei-
sionais experientes no Norte do país e pelo
ro. A geração de conhecimento, a tradução
perfil de conhecimento que os farmacêuti-
desse conhecimento em valor para a socie-
cos normalmente trazem da Universidade,
dade, a criação de emprego, são para mim
a Datamedica contactou o Conselho Ped-
um motivo de orgulho por pertencer a esta
agógico da FFUP para os auxiliar na procu-
empresa.
ra de um CRA. Foi nesse contexto que eu
tomei conhecimento da oportunidade e a 47
ela me candidatei.
Para além da criação de emprego direto, O largo espectro do plano curricular de
indiretamente a Blueclinical também aca- Ciências Farmacêuticas deu-me as ferra-
bou por contribuir para acrescentar valor mentas básicas que me permitiram apro-
em Portugal, ocupando mão-de-obra de fundar conhecimento de forma autónoma.
prestadores de serviços e reduzindo as im- Essa capacidade de aprender sozinho foi
portações e aumentando as exportações de obviamente aprimorada durante o tempo
I&D. de doutoramento. Aliás, o doutoramento foi
Na unidade de Fase I da Blueclinical, lo- excelente para me permitir ver mais além,
calizada no Hospital da Prelada, no Porto, alargar horizontes. Talvez hoje optasse por
realizam-se dezenas de ensaios clínicos uma área diferente de conhecimento, mais
por ano, em voluntários saudáveis. A com- próxima da investigação clínica, mas cer-
pensação financeira pela participação num tamente investiria igualmente num douto-
ensaio clínico acaba por contribuir positiva- ramento pelas soft skills que me permitiu
mente para o orçamento disponível no final adquirir.
do mês. Nesta altura de crise que o país
Foi necessária formação externa à da
atravessa, isso terá certamente ajudado
FFUP para que fosse possível envere-
muitos dos nossos voluntários. Quem tiver
dar por este caminho?
curiosidade em saber mais sobre o assun-
Claro que sim. Nem a licenciatura
to, pode consultar o website da empresa,
nem o doutoramento me deram o conhe-
www.blueclinical.com, o qual contém infor-
cimento técnico necessário para trabalhar
mação detalhada sobre o modo de partici-
na área de investigação clínica. Pelo menos
par nos ensaios.
na minha altura, apesar do plano curricular
Quais considera serem os pontos fortes cobrir muitas áreas, senti que no final tudo
que a levaram a conseguir o emprego? se conjugava para afunilar as saídas profis-
O facto de ser apaixonada pela sionais para, essencialmente, 3 possíveis: a
área e de trabalhar com gosto e dedicação Farmácia Comunitária, a Farmácia Hospita-
talvez sejam os fatores que mais tenham lar e a Investigação básica. Aliás, do meu
contribuído para eu conseguir o emprego e ano de licenciatura, poucos foram os que
conseguir mantê-lo, que também é impor- seguiram um caminho diferente desse.
tante.
Se tivesse que enumerar as três
Outras características que acredito que
maiores dificuldades do seu trabalho,
também tenham dado o seu contributo são:
quais escolheria?
organização, multitasking, “olho para o de-
Gestão de tempo / equilíbrio “vida profis-
talhe”, pensamento crítico, perfecionismo,
sional vs. vida familiar/amigos”. O trabalho
gostar de desafios e de aprender coisas
é demasiado absorvente, há sempre o que
novas, não ter receio de arriscar, muita re-
fazer. Por isso, quando se gosta do que se
siliência e capacidade de auto-motivação.
faz e há sempre o que fazer, é um desafio
Considerando a formação que a FFUP imenso não perder os laços com as pes-
lhe concedeu, quais foram as matéri- soas, não colocar de parte a vida social.
as em que se sentiu mais preparada Algo que definitivamente tenho de mel-
e quais foram aquelas em que sentiu horar...
mais dificuldades para enfrentar este Trabalho sobre pressão. A investigação
desafio? clínica tem um ambiente muito competitivo,
Na FFUP desenvolvi o gosto pela ciência, a onde os resultados são monitorizados de
resiliência, a vontade de trabalhar para con- muito perto para que nada falhe.
48 seguir mais e melhor.
Os clientes procuram numa empresa como Só em investigação clínica, a Comissão
a Blueclinical o melhor serviço, com a mel- Europeia estima um investimento anual de
hor qualidade, nos melhores tempos (i.e., €21 mil milhões, na UE. Se em Portugal
o mais rapidamente possível), e pelo custo tivéssemos um investimento proporcional à
mais competitivo possível. Compete a cada população que temos, isso corresponderia
colaborador trabalhar nesse sentido e ger- a um investimento anual de cerca de €400
ir os imprevistos da melhor forma possív- milhões. Face a esta realidade, só posso
el para que as expectativas do cliente não ver um futuro risonho, também com muitas
saiam defraudadas. Pode ser enervante... oportunidades para os jovens que irão en-
Só sei que nada sei. Na investigação clíni- trar no mundo do trabalho, dentro e fora de
ca não há lugar para dogmatismos. É uma portas. E, mais uma vez, estou certa que a
área muito regulada, mas em constante Blueclinical estará apta a aproveitar essas
evolução. A verdade de hoje pode não ser a oportunidades e a continuar a contribuir
verdade de amanhã. Estudar todos os dias, para a geração de valor!
consultar sempre a fonte para confirmar se
o que conhecemos se mantém, pode ser
esgotante...

O que aconselharia a alguém que re-


solvesse enveredar por um caminho se-
melhante ao seu?
Procurar formação específica na
área, já em contexto de on-the-job-training.
Foi como comecei e sinto que foi o melhor
modo de começar. Na altura, confesso que
tive mixed feelings em relação a isso, porque
me obrigou a dar vários passos atrás, pelo
menos em termos salariais. Mudei-me para
Lisboa, a viver com o equivalente ao Está-
gio Profissional, depois de ter praticamente
um doutoramento concluído (na altura não
havia a Blueclinical no Porto). Foi o meu
salário mais baixo de sempre, desde que in-
iciei a minha carreira profissional. Mas hoje
sou muito grata à Datamedica pela opor-
tunidade que me criou, pela formação “no
trabalho” que me proporcionou. É muito im-
portante ter alguém que invista em nós, que
nos proporcione acesso à teoria, mas que
também nos permita aplicá-la. Aprende-se
mais e mais rápido!

Como vê o futuro/perspetivas de
crescimento da sua área em Portugal e
no estrangeiro?
O I&D farmacêutico e a investi-
gação clínica continuam a crescer, a nível
mundial. 49
Consultoria

Joana Ferreira
Ano de conclusão do MICF: 2015
Cargo: Consultora/Serviço de Consultoria e Gestão
de Farmácias na Glintt – Business Solutions, Lda.

Formação extracurricular em Gestão e Mar-


keting são outros pontos fortes a constar
O que a levou a seguir esta área e como no currículo de um candidato a este cargo.
surgiu o interesse pela mesma? Considerando a formação que o MICF
Em primeiro lugar o facto de ser lhe concedeu, quais foram as matéri-
um projeto novo e ainda em fase de desen- as em que se sentiu mais preparado
volvimento desde logo suscitou o meu inter- e quais foram aquelas em que sentiu
esse. Para além disso, o desafio que seria mais dificuldades para enfrentar este
trabalhar numa área na qual praticamente desafio?
não temos qualquer tipo de formação cur- De todas as matérias lecionadas
ricular ao longo dos 5 anos do MICF, como durante o MICF e dado que não trabalham-
é o caso da consultoria, o que exige uma os diretamente o medicamento em si, acho
aprendizagem constante. que sem dúvida o estágio em Farmácia
Quais considera serem os pontos fortes Comunitária foi a cadeira mais importante
que o levaram a conseguir o emprego? e que me melhor me preparou para este de-
(CV, atitude, experiência...) safio. Um dos pilares mais fortes da nossa
O que foi mais valorizado no intervenção é a Gestão Operacional e para
momento da entrevista foram todos os isso é essencial conhecer a dinâmica e os
projetos e atividades extracurriculares nos processos que se desenrolam dentro da
quais me envolvi ao logo do curso. Para uma farmácia. Ter passado pela experiên-
esta oportunidade em concreto, e uma vez cia de estar atrás do balcão permite-nos ter
que não tínhamos qualquer formação cur- outra visão e capacidade de detetar formas
ricular nesta área, procuraram candidatos de otimização e melhorias que permitam
com uma forte componente social, dado uma maior eficiência operacional das equi-
que trabalhamos diretamente com o cliente pas.
e a forma como nos relacionamos com as Todo o restante percurso do MICF per-
pessoas é um fator crítico de sucesso na mite-nos desenvolver uma grande capaci-
implementação das soluções propostas. dade analítica, forte poder de raciocínio e
Outras características como a proatividade, uma aptidão para aprender novas matérias
dinamismo, capacidade de inovação e cri- muito mais fácil e rapidamente, tornando-se
atividade são muito valorizadas na área em mais valias para nós.
50 questão.
Foi necessária formação externa ao Caso pretenda acrescentar alguma in-
MICF para que fosse possível enveredar formação que considere relevante para
por este caminho? este testemunho, por favor sinta-se à
Sim, antes de começarmos a vontade para o fazer
trabalhar no terreno propriamente dito foi Penso ser importante para todos
necessário passarmos por um período os alunos do MICF terem noção do vasto
inicial de formação nas áreas de gestão leque de oportunidades e posições que um
económico-financeira, comercial e mar- Farmacêutico pode ocupar no mercado de
keting, recursos humanos e ainda sobre a trabalho. Para isso é importante investirem
metodologia Kaizen, uma vez que é a nossa na vossa formação, estarem abertos a
ferramenta de trabalho para implementação oportunidades menos “tradicionais” e sem-
de melhorias a nível operacional. pre que possível encarar novos desafios
que vos façam sair da vossa zona de con-
Se tivesse que enumerar as três
forto.
maiores dificuldades do seu trabalho,
quais escolheria?
O elevado número de deslo-
cações, a imprevisibilidade de horários e a
constante necessidade de integração e ad-
aptação a diferentes equipas.

O que aconselharia a alguém que re-


solvesse enveredar por um caminho se-
melhante ao seu?
Investir na formação extracurric-
ular e envolver-se em todos os projetos e
atividades que a nossa Faculdade e Asso-
ciação de Estudantes têm para nos ofere-
cer. Sem dúvida que nos diferenciam e nos
tornam capazes de responder a este tipo de
desafios com a excelência que nos carac-
teriza.

Como vê o futuro/perspetivas de
crescimento da sua área em Portugal e
no estrangeiro?
Sendo que é ainda um projeto piloto em
Portugal, não é fácil prever a extensão da
expansão desta área. No entanto, confio
muito neste projeto uma vez que utiliza uma
abordagem multidisciplinar para melhorar
os processos e aumentar o sucesso das
Farmácias a vários níveis.

51
Associações Setoriais

Ana Rita Vieira Dias


Ano de conclusão do MICF: 2015
Cargo: Farmacêutica, Gestora de Produto / De-
partamento de Desenvolvimento de Negócio das
Farmácias, Associação Nacional das Farmácias.

Considerando a formação que o MICF


lhe concedeu, quais foram as matéri-
as em que se sentiu mais preparado
O que a levou a seguir esta área e como e quais foram aquelas em que sentiu
surgiu o interesse pela mesma? mais dificuldades para enfrentar este
O principal motivo que me lev- desafio?
ou a seguir esta área foi o foco no desen- A experiência no MICF foi impre-
volvimento do setor Farmacêutico, que scindível para enfrentar o mercado de tra-
passa impreterivelmente pelas Farmácias, balho. Sinto que todos os conhecimentos
sendo estas o contacto primordial e pref- Farmacêuticos são fundamentais no dia-
erencial dos utentes. Tendo em conta o a-dia, muitas vezes de forma indireta, mas
desenvolvimento rápido e agressivo da sem dúvida são estes que marcam a difer-
sociedade, as Farmácias têm necessidade ença. Para o exercício das minhas funções,
de se reinventarem e evoluírem no sentido foi fundamental a experiência em Farmá-
de acompanharem gerações. Desta forma, cia comunitária, tanto em Portugal como
interessa-me acima de tudo participar no em Espanha, que me permitiu o contacto
desenvolvimento e evolução das mesmas, com o publico, o conhecimento do sistema
mantendo o estigma que as Farmácias fo- operativo ao pormenor, o atendimento, o
ram vindo a construir ao longo de anos de aconselhamento Farmacêutico, faturação
história junto dos utentes. e gestão da Farmácia, assim como organ-
ização de espaço e de colaboradores.
Quais considera serem os pontos fortes
que o levaram a conseguir o emprego? Foi necessária formação externa ao
(CV, atitude, experiência...) MICF para que fosse possível enveredar
Os pontos fortes foram especial- por este caminho?
mente o facto de ter trabalho como forma- Sim, foi necessária uma formação
dora de produtos de Saúde na GSK, o que a nível de marketing e gestão que obtive
me permitiu contacto com as Farmácias e junto do Departamento de Desenvolvimento
experiência comercial. Capacidade de co- de Negócio das Farmácias, na ANF.
municação, argumentação e a facilidade de
criar relações e trabalhar em grupo. Carac-
52 terísticas que fui desenvolvendo ao longo
da minha vida académica.
Se tivesse que enumerar as três De que forma difere o seu cargo de
maiores dificuldades do seu trabalho, um semelhante na Indústria por tra-
quais escolheria? balhar numa Associação Socioprofis-
As três maiores dificuldades são sional?
também o verdadeiro desafio: lidar todos os Na minha perspetiva, a principal difer-
dias com personalidades e opiniões com- ença prende-se com o facto da Asso-
pletamente distintas; resolução de proble- ciação Nacional das Farmácias ser uma
mas e dar resposta rápida e eficaz a todas entidade que representa a maioria das
as dificuldades; lidar com a pressão dos Farmácias em Portugal na qual as Farmá-
objetivos mensais; cias se revêm e com a qual foram criando
laços de confiança. As Farmácias vêm o
O que aconselharia a alguém que re-
meu trabalho como um apoio/ajuda que
solvesse enveredar por um caminho se-
é fundamental para o seu desempenho e
melhante ao seu?
desenvolvimento.
Humildade na forma como encar-
amos os desafios do dia-a-dia, e acima de
tudo, capacidade de trabalho.

Outras Áreas de Intervenção


Dispositivos Médicos Toxicologia e Análises Toxicológicas
Administração Pública Análises Ambientais
Formação Indústria Alimentar
Tecnologias de Informação Saúde Pública
Hidrologia e Análises Hidrológicas Avaliação Económica de Tecnologias de
Bromatologia e Análises Bromatológicas Saúde
Farmácia Militar

Colégios de Especialidade da
Ordem dos Farmacêuticos
A Ordem dos Farmacêuticos é composta, na sua organização, por quatro
Colégios de Especialidade, designadamente: Indústria Farmacêutica, Análises Clíni-
cas e Genética Humana, Farmácia Hospitalar e Assuntos Regulamentares.
Para aceder às especialidades e, consequentemente, aos Colégios respetivos, os
farmacêuticos devem apresentar a sua candidatura, cumprindo os requisitos descritos
em cada uma das Normas para Atribuição do Título de Especialista em vigor.
Além do tempo mínimo de exercício do ato farmacêutico no setor em causa,
os farmacêuticos deverão demonstrar competências em determinadas áreas, sendo
posteriormente sujeitos a um exame escrito, prático e/ou oral, dependendo da espe-
cialidade.
Neste momento, existem 343 especialistas em Indústria Farmacêutica, 937
em Análises Clínicas, 706 em Farmácia Hospitalar, 143 em Assuntos Regulamentares
e 20 em Genética Humana. 53
CAPÍTULO III
Glossário
Glossário para Farmacêuticos
Organizações do setor/profissionais/científicas:
ANF (Associação Nacional das Farmácias)
APEF (Associação Portuguesa de Estudantes de Farmácia)
APDC (Associação Portuguesa de Direito do Consumo)
APIFARMA (Associação Portuguesa Da Indústria Farmacêutica)
SPCF (Sociedade Portuguesa de Ciências Farmacêuticas)
APAC (Associação Portuguesa de Analistas Clínicos)
APFH (Associação Portuguesa de Farmacêuticos Hospitalares)
APJF (Associação Portuguesa de Jovens Farmacêuticos)
FIP (International Pharmaceutical Federation)
EMA (European Medicines Agency)
INFARMED (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde)
AFP (Associação de Farmácias de Portugal)
APREFAR (Associação dos Profissionais de Registos e Regulamentação Farmacêutica)
GROQUIFAR (Associação de Grossistas de Produtos Químicos e Farmacêuticos)

Outras siglas:
AIM (Autorização de Introdução no Mercado)
ASMF (Active Substance Master File)
AUE (Autorização de Utilização Especial)
BPF (Boas Práticas de Fabrico)
BPL (Boas Práticas de Laboratório)
CAM (Comissão de Avaliação de Medicamentos)
CCDESM (Conselho Consultivo para o Desenvolvimento Estratégico do Sector do Medic-
amento)
CNPM (Conselho Nacional de Publicidade de Medicamentos)
CPMP (Comité das Especialidades Farmacêuticas)
DCI (Denominação Comum Internacional)
DGCC (Direcção Geral do Comércio e da Concorrência)
DIV (Dispositivos Médicos para diagnóstico in Vitro)
DM (Dispositivos Médicos)
DMF (Drug Master File)
EC (Ensaios Clínicos)
EEE (Espaço Económico Europeu)
EFSA ( European Food Safety Authority)
FDA (Food and Drug Administration - Agência reguladora E.U.A.)

57
Outras siglas:

FHNM (Formulário Hospitalar Nacional de Medicamentos)


FI (Folheto Informativo)
FP (Farmacopeia Portuguesa)
GMP (Good Manufacturing Practices)
IC (Instituto do Consumidor)
ICH (International Conference on Harmonisatio)
IFPMA (International Federation of Pharmaceutical Manufacturers Associations)
IPQ (Instituto Português da Qualidade)
ISO (International Organization for Standardization)
MDD (Medical Devices Dictionary)
MG (Medicamento Genérico)
MNSRM (Medicamento Não Sujeito a Receita Médica)
MSRM (Medicamento Sujeito a Receita Médica)
OF (Ordem dos Farmacêuticos)
OM (Ordem dos Médicos)
OMS (Organização Mundial de Saúde)
OMV (Ordem dos Médicos Veterinários)
PCHC (Produtos Cosméticos e de Higiene Corporal)
PFH (Produto Farmacêutico Homeopático)
Ph. Eur. (Farmacopeia Europeia)
PR (Preço de Referência)
PT (Prontuário Terapêutico)
PVP (Preço de Venda ao Público)
RAM (Reacção Adversa Medicamentosa)
RCM (Resumo das características do medicamento)
RMS (Estado Membro de Referência)
RPS (Relatório Periódico de Segurança)
SNF (Sistema Nacional de Farmacovigilância)
SNS (Serviço Nacional de Saúde)
SPQ (Sistema Português da Qualidade)
SPR (Sistema de Preços de Referência)
STI (Sexually Transmitted Infections)
WHO (World Health Organization)
WSMI (World Self-Medication Industry)
WTO (World Trade Organization)

58
Guia de Saídas Profissionais 2016
2ª Edição
Associação de Estudantes da Faculdade de Farmácia da Universi-
dade do Porto
Tiragem: 150 exemplares

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