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Anotações do curso de Sociologia II (Professor Ricardo Musse)

Aula I
12/08/08
A ideologia alemã (1946), uma crítica da filosofia pos-hegeliana.
Os materialistas, como Feuerbach, concebiam o objeto como algo externo e passivo.
Por outro lado, o idealismo concebia a atividade, como algo da consciência. Porém, a ambos
escapava que a sensibilidade já era ativam a atividade humana já determinava o objeto. O
objeto externo em Feuerbach, não era visto como histórico e social, mesmo aquilo que
aparece como natural trás por detrás de si uma historia humana.
A importância do conceito de alienação. Esse conceito é um ponto decisivo para o
jovem Marx, ele diz que Feuerbach projetava o mundo mundano no mundo espirituosos;
alienação para Feuerbach é a religião, pois nela está projetada toda a potencia dos homens.1
Porém, essa contradição já está no plano mundano, e por isso é aí que deve sr investigado.
Isso como uma propedêutica (o que devemos saber antes de iniciar uma investigação
cientifica) à crítica da economia política, essa propedêutica por sua vez, saí da crítica da
filosofia.
Para voltar à filosofia pos-hegeliana, Marx teve que voltar a uma questão: a auto
intitulação dos jovens hegelianos como uma filosofia crítica. Assim, Marx tem que refazer o
sentido de crítica.
O termo crítica ganhou fama no séc XIX com Kant. Nesse caso se tratava de colocar
sobre o exame da razão, de submeter o pensamento à crítica. Marx dizia que essa crítica era
apenas teórica, e o que importava era a crítica da prática, assim em Marx, a crítica está sempre
vinculada à pratica. A efetividade de um pensamento só pode ser demonstrada na prática. E
esse sentido de prática tem um sentido político. Mas o que Marx faz n’ “A Ideologia Alemã”
(de agora em diante referida como IA) não é diretamente uma crítica política; mas há um
outro sentido de crítica, no sentido de um método... (o Musse não conclui).
Voltando a questão da alienação, Marx a redefine a partir do termo “ideologia”, que
por sua vez, tem um outro sentido corrente, outro sentido técnico que é dado tradicionalmente.
Em Marx, a ideologia é a discrepância daquilo que os homens pensam ser e o que de fato eles
realmente são.
Para examinar essa discrepância é preciso conhecer o que os homens realmente são.
Conhecimento esse que falta a filosofia pos-hegeliana.
Logo no começo da IA é definido que é necessário adotar um ponto de vista externo,
no caso, fora da Alemanha, fora da filosofia e da cultura alemã. Ou seja, para se entender o
que os homens são a filosofia alemã é insuficiente, ela redunda em mera ideologia.
Enquanto a filosofia dos jovens hegelianos de Strauss a Stirner se restringiu à crítica
das representações religiosas, mesmo que Lea tenha se aberto ela ainda ficou no plano
religioso. Com uma consciência religiosa e um homem religioso. Porém, o resultado disso é
que não há uma crítica efetiva nos jovens hegelianos.
Para deixar isso claro, vale lembrar que os velhos hegelianos viam o mundo através
das categorias hegelianas; enquanto os jovens hegelianos criticavam aquilo que possui

1
Em seu livro A essência do Cristianismo (1841), Feuerbach apresenta o conceito de alienação. Esse conceito
aparece no contexto de uma crítica religiosa: trata-se da alienação do homem em Deus. Já no Prefácio de seu
livro podemos ler: “Na primeira parte eu mostro que o verdadeiro sentido da teologia é a antropologia, que não
há diferença entre os predicados do ser divino e os predicados do ser humano [...] e, pois, que não há diferença
entre o sujeito ou o ser de Deus e o sujeito ou o ser do homem, que eles são idênticos” (Feuerbach, 1982, p. 105).
Ele afirma que há uma inversão, por meio da qual as qualidades humanas são alienadas nas qualidades divinas:
Deus aparece como criador do homem, e o homem aparece como ser criado por Deus, enquanto, na verdade, os
deuses são resultado da alienação das qualidades humanas. Segundo Feuerbach (1982, p. 142), os predicados
divinos são determinações da essência humana, de modo que se pode dizer que o homem atribui aos deuses
qualidades retiradas da própria essência do homem, elevadas à potência absoluta.

1
implicação religiosa. Mas ambos concordam co o predomínio da religião e do universal sobre
a realidade; ambos pensam que os produtos autônomos da consciência determinam a vida dos
homens. Então, ambos são conservadores, pois apenas criticam e lutam com frases apenas.
Esse processo é o da crítica ideologia. E atentar a esse processo, a essa discrepância, é o meio
de passagem da crítica filosófica para a crítica da filosofia.
A primeira vista, a crítica ideológica não é diferente da crítica kantiana por apontar as
contradições do pensamento, ela se difere por não ser apenas um auto-exame da razão. Marx
só pode fazer a crítica a partir de uma base, um solo externo à filosofia, esse solo tem uma
parte política e uma outra parte é a teoria dessa prática que é apresentada de uma forma
simples: os pressupostos materiais. Ou seja, os indivíduos efetivos, suas ações e suas
condições materiais. Coisa que não era feita pelos idealistas ou materialistas.
E o desenvolvimento desses pressupostos é o materialismo histórico (este que é o solo,
antes referido, sobre o qual a crítica consegue ser mais que um auto-exame da razão).
Esse materialismo histórico não é apenas uma passagem, ele é um procedimento
crítico, assim a ele estão submetidos todos os campos do saber (história, economia, etc.). Isso
faz com que o pensamento de Marx seja definido como uma crítica a filosofia semelhante à
sociologia; porém ele é também diferente da sociologia.
Sendo o idealismo de Kant, Fichte e Hegel uma tentativa de conciliação entre as idéias
e os fenômenos. Como se fosse possível igualar o a posteriori com o a priori.
Marx parte do a posteriori, da via empírica. Junto disso há uma teoria da história, que
por sua vez se apresenta como uma crítica das historiografias existentes na época.
Através da relacão com a natureza e da necessidade da manutenção da vida, o homem
escolhe produzir sua vida material. Esse é o primeiro fato histórico de verdade. A atividade de
produção e reprodução física é anterior ao pensamento.
A produção das condições materiais de vida não apenas se vincula com a ação dos
indivíduos, mas pressupões a relacão entre os indivíduos (nexos sócias); um dos pressupostos
para Marx é o de compreender os nexos sociais que tem sua fonte primária na produção das
condições materiais de vida.
A produção das condições materiais de vida gera modos de vida determinados (feudal,
em clã, capitalista, etc.) que são também formas ou modos de produção. Mais
especificamente, sobre as formas de produção, as variações aparecem sobre os seguintes
padrões:
- O grau de desenvolvimento das forças produtivas.
- A divisão do trabalho.
- As formas de exploração do trabalho.
- As formas de intercambio comercial.
- As formas de propriedade.
Em Marx, junto com a divisão do trabalho é permitido enxergar, conectado a ela, um
certo modo de exploração do trabalho; e também determinadas formas de propriedade, como
o intercâmbio entre sociedade.
(Musse apresenta um resumo da hístoria dos homens, não anotei)
Na IA há um modelo de história, que por sua vez é diferente das outras correntes
historiográficas. Essas são:
a) A filosofia da história: apesar de haver historiadores desde a muito tempo
(Heródoto, Tucidites, etc.) era a filosofia que dava a interpretação dos fatos como
representação de um sistema global, ela propunha explicar não só a sucessão que ocorria na
história, mas atribuir um significa aos eventos, e assim atribuir um significado à história. Ela
acreditava que era possível ver os paradigmas que regem a história, como se a história tivese
um fim, um objetivo, um ponto a ser atingido. Como um movimento em direção ao progresso.
– O que Marx coloca é que não há vínculo necessário entre os diversos modos de produção,

2
neles encontramos apenas formas diferenciadas de exploração. Assim, a história humana antes
do comunismo é a “pré-história da humanidade”.
b) A escola histórica alemã (o historicismo): sistematizado por Werner na época do
romantismo alemão, o historicismo reivindicava que não era possível levar os pontos-de-vista
de outra época para analisar outra, ou seja, uma época apenas poderia ser avaliada por si
mesma. Era precisa considerar cada época como uma individualidade sem nenhuma forma de
relação. – O que Marx coloca é que mesmo os diferentes modos de produção mesmo sem
apresenta uma relacão direta entre eles, possuem elementos comuns, que é a produção, a
divisão do trabalho, etc, etc.
Mas a questão que se coloca para uma perspectiva é inversa a apenas a análise de
etapas; que é explicar através dos modos de produção com as formas de consciência.
O idealismo tinha uma resposta simples a isso: a partir das idéias os homens
desenvolviam formas materiais. Mas não basta inverter a equação, pois as formas materiais
não explicam as idéias.

Aula II
19/08/08
Marx encontrou a tarefa de fazer uma crítica à filosofia crítica dos novos hegelianos. A
saída de Marx é se colocar num ponto de visra externo para poder estabelecer uma crítica. E
ele procura mostrar a defasem entre o que os jovens hegelianos pensavam de si e o que els
realmente faziam.
A desconfiança em relacão ao pensamento, ao próprio movimento interno da razão,
levou Marx a afirmar em (Teses contra Feuerbach) que era necessário estabelecer a crítica em
função de uma prática; pratica essa que seria pressuposta da crítica, e resultado da crítica. A
crítica não vinculada a uma ação recai numa nova e diferente representação do status quo.
Iss leva Marx a pensar sobre o mundo fora da consciência, a prática, a produção
material da vida. A partir dos pressupostos da produção da vida ele faz uma nova teoria da
história.
Essa nova teoria da história é o solo de uma possível crítica da filosofia para poder
estabelecer uma relacão entre os homens efetivos, e o que eles pensam.
O resultado disso pode ser resumido para Marx, no fato que os homens se relacionam
com a natureza e entre si para a produção material, gerando assim modos de vida
determinados. Este é a teoria do materialismo históricos, mas ainda fica a questão de como as
condições materiais de vida produzem a consciência.
Para o idealismo essa questão era invertida. Porém, isso pressupõe uma determinação
direta do real pela idéia. O ponto de discórdia entre os jovens e velhos hegelianos era se o real
já tinha se efetivado ou não, se a razão já havia se efetivada na história, se a sociedade
existente era fruto da razão.
No ponto de vista materialista as coisas não são tão simples, pois Marx já dizia que
não bastava adotar o ponto de vista do materialismo, este que considerava o objeto como
passivo, sem considerar a sensibilidade como prática.
A teoria da história nos marxistas, ou seja, pós-Marx, era diferente da de Marx. Pois os
dois livros mais importantes sobre a teoria da história só foram publicados tardiamente e
postumamente. Os primeiros marxistas não tiveram acesso as essas obras (IA e Grundnisse)
mas reconheciam a importância da teoria da história de Marx. Assim, eles viram esse ponto
como uma lacuna no conjunto da obra. Disso resulta a “concepção materialista da história”
feita pela primeira geração pós-Marx. Eles levaram em conta a afirmação de que Marx inverte
a dialética hegeliana; e conceberam a teoria da história em Marx como uma inversão
especular da filosofia idealista. Que era uma simples inversão da equação idealista, ou seja, o
pensamento seria produzido diretamente pela matéria.

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Coisa que Marx não faz. Na verdade, ele critica esse movimento em Feuerbach. Marx
tenta então buscar um outro caminho em que a consciência é produzida pela vida material,
mas a forma dessa produção é peculiar.
A consciência é apresentada por Marx como ideologia. Isso significa que há uma
defasagem entre a produção da vida material e a produção da consciência. Essa defasagem é a
ideologia. Não há uma correspondência biunívoca entre os dois pólos (vida material e
consciência) a consciência é uma representação distorcida da vida material. Daí a metáfora da
“câmera escura”.
O primeiro ponto de produção da consciência em Marx, ressalta essa não
correspondência direta com o mundo material. Com isso já é possível ver como a teoria
materialista da história percebe a consciência. Marx reafirma que o mundo das representações
emerge das condições matérias de vida; diferenciando-se dos novos hegelianos Marx sobe “da
Terra aos céus”. Portanto tudo é objeto da historiografia, i.e., o princípio explicativo de
campos autônomos (artes, religião, etc.) só pode ser encontrado no outro, no mundo material.
Ou seja, quando remetidos a história descontínua dos homens efetivos. Portanto as
representações não possuem história própria, nem um sentido prévio, não são um índice do
progresso.
Assim, as teorias da história precedentes que viam o mundo das representações como
uma continuidade, portador de um sentido imanente, ao fazerem isso, essas teorias estão
atribuindo a consciência características de um sujeito. Em Hegel o espírito da História, em
Kant a consciência da História. E na concepção materialista, o sujeito da história são os
homens efetivos. Dessa forma, esta concepção se afasta das concepções idealista e positivista
da história. Ela não busca um sujeito interno a história ou um sentido imanente.
A concepção materialista deve reconstituir as relações sociais e históricas da produção
da vida, e ver a consciência como ideologia, como representação distorcida da produção
material.
Portanto se trata de mostrar a contra-prova do motivo pelo qual a consciência não pode
ser o ponto de partida da história. Assim, Marx recorre as bases de sua historiografia.
O primeiro ato histórico é a produção e reprodução das condições necessárias da vida.
Essa que é ao mesmo tempo estática e dinâmica. São as mesmas necessidades, mas aparecem
novas necessidades, ou antigas necessidades antigas são ampliadas; nas palavras de Marx “as
necessidades geram outras necessidades” (como a construção de uma ferramenta para atender
uma necessidade, e com isso a demanda de insumos para a construção dessa ferramenta se
apresentaria como uma nova necessidade).
Além disso os homens produzem as novas gerações, a reprodução da espécie, pelo
qual eles estabelecem relações familiares que são ao mesmo tempo naturais (impulsivas) e
sociais.
Há uma simbiose entre relações naturais e sócias. Essa estrutura é uma base da história
humana, pois ela existe em qualquer estágio em que há vida humana. Pois essa estrutura é o
pressuposto da vida humana. Isso significa para Marx que a produção material da vida é
anterior historicamente e logicamente às demais relações e também à consciência. Não só a
produção material da vida é primeira, mas ela deve ser adotada como um princípio explicativo
da consciência.
Mas essa consciência que trata a teoria materialista da história, não é algo a priori, ela
é afetada pela matéria, no mínimo pelos deslocamentos sonoros da fala. A base material da
consciência é a linguagem. E a consciência efetiva é a linguagem. Essa que surgiu
historicamente da necessidade de inter-relações entre indivíduos para a produção dos meios
de vida. Portanto, a consciência é um produto social. Na história a primeira consciência é a da
sociedade em volta de si, depôs da natureza como um poder alheio. A consciência animal da
natureza, que para Marx é a religião da natureza. Essa consciência expressa essas formas
primitivas de vida. E a consciência só se desenvolveu como independente e autônoma com o

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surgimento da divisão social do trabalho. Especificamente na divisão entre atividade material
e atividade intelectual. Esse é o ponto de partida para a autonomização da consciência em
teorias, em filosofia pura.
A consciência não procede a vida, nem a produção e a reprodução da vida. E o
contorno de Marx da homologia da relacão direta entre consciência e mundo material é a
ideologia. Ou seja, a consciência nunca é o produto final das condições materiais da vida.
Disso surge a pergunta: o que explica essa defasagem? A resposta que Marx da a essa
distorção surge com a forma desenvolvida de consciência, com a divisão do trabalho, da
distinção entre trabalho espiritual e material. Ou seja, a contradição que emerge na
consciência já estava no mundo material.2
Nas palavras de Marx: “As forças de produção no estado social e a consciência estão
em contradição porque com a divisão do trabalho, a atividade material e intelectual, a
produção e a consciência, o trabalho e a fruição, são deixados a indivíduos diferentes.”
A divisão do trabalho engendra na diferença entre indivíduos, sendo que uma classe
sobrevive dos excedentes de produção da outra, que são apropriados por uma forma de
dominação.
A produção da consciência é distorcida, pois na divisão do trabalho há uma separação
entre aqueles que se encarregam da produção material e aqueles que consomem, tem a fruição
desses produtos, e produzem atividade intelectual, esses que são responsáveis pela esfera das
representações. Isso implica, que a base dessa distorção tem uma base social.
Mas isso também implica que as formas de dominação são legitimadas pelas
representações. Um exemplo disso é a sacralização dos governantes no Egito antigo.
A divisão do trabalho também causa uma distinção entre interesses de quem comanda
e quem executa, isso faz com que há uma diferença entre interesses individuais e interesses
sociais, a expressão disso é a manifestação do Estado ao longo da história.
O problema da divisão do trabalho é a sua fixação, ela não se apresenta apenas como
complementaridade entre os homens como se pensava antes. O ponto que Marx chama
atenção é que ela engendra uma apropriação dos excedentes de uma camada, e assim ela trás
em si uma forma de dominação e ela cristaliza essa dominação. Assim, uma saída positiva é a
sociedade comunista, com a liberdade de escolha de sua atividade sem que essa atividade
prenda o sujeito (objetive o sujeito).
Esse fato não é percebido pelos indivíduos. Estes percebem que a vida social não
resulta de sua ação, ou melhor, as ações dos homens efetivos e de sua produção material da
vida. Ou seja, a vida social é vista como que fora de sua ação e sua escolha; como a figura do
Estado, esse que é a garantia da dominação, da distribuição desigual de tarefas e atividades.
Assim, a consciência é resultado de uma alienação, o mundo das representações e o próprio
Estado surgem na medida me que aquilo que constitui o solo da produção material aparece
como natural, como externo aos indivíduos. Então as representações são distorcidas na
medida em que há um estranhamento da sua vida material, quando essas lhe aparecem como
algo alheio à ação desses próprios indivíduos. Como se a configuração social se apresenta-se
como algo imutável pela ação humana.
O Estado é uma das expressões da distorção ideológica, apresentada aqui sobre a
forma da alienação.
A ideologia seria um novo modo, um novo termo para a alienação. Lembrando na
Tese 4 contra Feuerbach, que Marx critica que a noção de alienação precisa ser entendida
2
“Feuerbach parte do fato da auto-alienação religiosa, da duplicação do mundo em religioso e terreno. Seu
trabalho consiste em resolver o mundo religioso em seu fundamento terreno. Mas que esse fundamento se
desloque de si mesmo e se fixe nas nuvens como um reino autônomo, isto só se ilumina a partir do
autodilaceramento e da autocontradicão do próprio fundamento terreno. Este deve ser pois entendido em si
mesmo, em sua contradição, como praticamente revolucionário. Porquanto, depois de, por exemplo, descobrir na
família terrestre o segredo da família sagrada, cabe aniquilar a primeira teórica e praticamente.” Teses contra
Feuerbach, tese 4.

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sobre sua forma histórica e social. A alienação do homem é projetada no Estado, este por sua
vez, é uma força legitimadora da divisão do trabalho apresentado como uma comunidade
ilusória, como se ele representasse o interesse comunitário.
Quando Marx aproxima a ideologia da alienação, ele não a está apresentado como
apenas um erro, um desvio, mas como uma ilusão socialmente necessária.
A filosofia moderna percebeu a existência de representações distorcidas; em Descartes
está essa preocupação, como em Espinosa ou em Kant, que são autores que se propuseram a
criar modalidades que conseguissem sanar os equívocos das distorções do conhecimento. O
ponto que vai distinguir Marx na filosofia moderna, é que para ele essas distorções não são
apenas um auto-engano da razão, e assim as distorções não podem ser corrigidas por apenas
um auto-exame da própria razão. Se a base dessa distorção é a divisão do trabalho (a
organização da produção material da vida – em outro momento chamada por Marx como
“sociedade civil”), essa distorção só pode ser sanada através de uma crítica prática.
Por isso a idéia da alienação como ilusão socialmente necessária. Pois ela deriva-se no
seio das relações sociais de produção que são em si contraditórias. Só há mudança na
consciência, então, com a mudança na organização social.
O comunismo seria a negação da fixação da divisão social do trabalho. A negação das
representações distorcidas (o Estado entre elas). O comunismo seria uma forma de superação
da alienação e da contradição da sociedade.
Tudo isso posto, Marx vai tratar das formas de ideologia (filosofia historiografia, etc.)
Ele também vai dizer que da mesma forma que se deve desconfiar de como as pessoas se
pensam de si; deve-se desconfiar dos conceitos historicamente dados, ou seja, o conjunto de
representações de uma época, o espírito da época (Zeitgeist), portanto é preciso aplicar o
mesmo princípio materialista para se analisar qualquer momento histórico.
Assim, o conjunto de representações são também formas de entendimento de como se
são legitimadas determinadas formas de dominação. Os pensamentos da classe dominante,
dominam o conjunto de representações da época.
A ideologia é apresentada não como um fenômeno anônimo que se dissemina por toda
a sociedade, ela é apresentada como a imposição da explicação dada a ordem social pelos
indivíduos da classe dominante. Assim, a alienação é separada da ideologia; a ideologia seria
a imposição da visão de mundo de uma classe sobre toda a sociedade, enquanto na alienação
seria o movimento de auto-estranhamento da consciência sobre si.
Os marxistas posteriores diferenciaram, dessa forma, a ideologia e a alienação, tanto
Lukács e a escola de Frankfurt, quanto Althusser.

Aula III
26/08/08
O Manifesto do partido comunista (de agora em diante referido como manifesto).
Exílio de Marx em Bruxelas, a fundação da liga dos justos, ele ficou incumbido de
fazer o manifesto.
Marx situa o ponto de vista onde ele está falando. O comunismo antecedeu a obra de
Marx, e ele aderiu ao comunismo na década de 40; e fez de tal forma que ele identificou sua
teoria com a prática e política do proletariado. Ou seja, aquilo que foi realizado apenas como
forma incompleta na IA, a prática política, aparece nessa adesão ao comunismo.
O manifesto apareceu como uma obra madura. Este qie complementa a IA no tocante à
história. Na IA Marx fala pouco sobre o capitalismo, e no manifesto há a complementação.
Com o conteúdo no manifesto de uma teoria da modernidade e Marx. No manifesto há
também uma teoria da modernidade em Marx.
Porém, na IA a intenção era caracterizar os modos de produção surgidos ao longo da
história, por sua vez, no manifesto a intenção é a explicação da transição dos diferentes modos
de produção, e assim há uma teoria da modernidade.

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Ou seja, a idéia do processo revolucionário como fator de mudança. Quando se trata
da transição entre modos de produção é preciso retomar a história política, esta é: uma
história de como a ação política se articula com a produção material da vida.
“A história de todas as sociedades até o presente é a história das lutas de classes.” O
conflito entre as classes, o conflito social; seria o ponto de referencia econômico-social e
político da história que possibilitaria o entendimento da passagem entre modos de produção.
E é através da luta de classes que Marx expõe sua teoria do mundo moderno. A luta de
classes é um marcador que deve ser visto pelo materialismo histórico. Esta que é um fruto da
divisão do trabalho, e da relação de dominação; e essa relacão é uma relação de conflito, uma
luta ininterrupta, ora aberta, ora fechada.
Marx vai pensar a história moderna sobre a dupla possibilidade; uma reconfiguração
revolucionária ou uma derrocada comum das classes em luta.
Vendo que a burguesia apenas recolocou as formas de opressão, Marx vai
diagnosticar que no mundo moderno não existe uma ruptura profunda com o mundo feudal,
ou com o mundo antigo.
Na economia política inglesa o mundo capitalista (o sistema de mercado) se regula
autonomaticamente e o bem-comum advém da preocupação auto-interessada dos indivíduos.
O diagnostico de Marx é o oposto. No capitalismo, no mundo pós-revolucão industrial, pós-
revolução francesa, ainda há o conflito social, porém agora há a polarização entre burguesia e
proletariado, isso que na verdade é uma polarização política.
O axioma do qual se parte no manifesto é a o da luta de classes, que no mundo
moderno aparece como o confronto entre burguesia e proletariado. Assim há uma
apresentação das classes. Na nota 1 a definição lógica que aparece das classes não é de Marx,
e sim de Engels (colocada posteriormente), e nela há um problema. Pois Marx sabia que a
burguesia não podia ser apresentada por uma definição formal.
Em nenhum momento a burguesia será claramente definida. A burguesia só é
apresentada historicamente, dentro da teoria da modernidade. Há a apresentação histórica ao
invez de uma construção lógica. Isso que faz com que as determinações lógicas sejam
substituídas pela experiência histórica. Assim, Marx não apresenta as classes por definições
formais mas sim por sua ação histórica.
E a gênese da burguesia coincide com o do mundo moderno (no séc XVII), quatro
fatores são decisivos:
1º: o descobrimento da América, a navegação pela costa da África, e com isso as
novas rotas marítimas de comércio. Com maiores incrementos no comércio e com isso uma
intensificação na produção.
2º: o surgimento da manufatura, no lugar do trabalho artesanal. Se antes o artesão
controlava todas as fases da produção de sua obra. Com a intensificação da divisão do
trabalho surge uma cooperação entre indivíduos, ou seja, o trabalho social vem com a
manufatura. Com ele há o aumento nos bens de maneira não antes vista. Porém, com isso há a
transformação de ferramentas e formas de trabalho em operações simples.
3º: o processo visto em 2º foi gradativamente se intensificando e o trabalho humano
sendo substituindo pela máquina. Assim a energia humana é substituída pela energia da
natureza. Em outras palavras, isso é a revolução industrial e o surgimento da grande industria.
4º: a criação de um mercado mundial. AS industrias, assim, perderam seu caráter
nacional, pois seus insumos chegam de outros países, e seus produtos são consumidos tanto
no seu país quanto em outros.
Junto com essa história, está a história dos capitalistas, da burguesia. Pois foram esses
capitalistas que financiaram as viagens, eles instalaram a manufatura, a grande indústria, etc.
Com isso a burguesia mudou seu papel político, de classe oprimida a situação oposta de
detentora exclusiva do poder político. Se antes ela se aliou ao monarca, ela depois se rebelou
contra o antigo regime deteve exclusivamente o poder.

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Isso tudo pode ser entendido como as ações dessa classe: “Ela (a burguesia) cria para
si um mundo com sua própria imagem.” Se o mundo moderno é apresentado como resultado
de uma classe, da classe burguesa, ele também é resultado de um mecanismo. A sociedade ora
é um mecanismo e ora é um conflito de classes.Dessa forma, a burguesia deixa de ser
apresentada como uma classe ativa, para ser mostrada de uma forma quase passiva.
Porém, há uma distinção do capitalismo com todo os outros modos de produção
precedentes, pois os fatores anteriores não permaneciam inalterados, há um incessante
revolucionamento dos instrumentos de produção, mas a burguesia só se mantém como classe
dominante através da constante revolução das formas de produção. Ao mesmo tempo em que
a burguesia instaura essa forma, ela é submetida a ela. Nisso há a dialética da modernidade,
pois há o constante revolucionamento e a invariabilidade estática. Ou seja, a manutenção do
status quo através de constantes mudanças das formas de produção.
E é isso que difere a classe burguesa das outras classes dominantes que existiram
anteriormente.
Musse define três tipos de expansões dentro do capitalismo:
Expansão: a)imanente, b) intensiva, c) extensiva.
a) essa expansão é dada pela revolução incessante dos meios de produção,
ferramentas, métodos, maquinas, são constantemente revolucionados.
b) a mercantilização, algo inerente ao capitalismo, a generalização da forma
mercadoria; bens que podem ser trocados entre só com a mediação de dinheiro. Isso vai além,
no capitalismo tudo se torna mercadoria. A lógica da esfera econômica transborda para as
outras esferas. Análise essa que se mostra contrária a de Weber (ou seja, contrário ao
movimento de desencantamento do mundo e autonomização das diferentes esferas de valor), e
contrária a boa parte da sociologia.
c) a expansão geográfica em áreas não-capitalistas, tanto no campo de um país
capitalista, até a periferia do capitalismo. Uma espécie de antecedente da globalização.
Porém, esse sistema é contraditório. E a contradição é fundamental no capitalismo, é a
contradição entre as forças produtivas e as relações de produção. As forças produtivas e as
relações de produção estão em contradição, pois a expansão imanente leva a um contínuo
desenvolvimento da riqueza e bens resultantes do trabalho cooperado, a alavanca que
incrementa as forças produtivas é o trabalho social, porém, a apropriação desse trabalho tem a
forma privada. Assim, os produtos do trabalho pertencem aos detentores dos meios de
produção e não aqueles que realizam o trabalho. Como se houvesse uma defasagem das
relações de produção em relacão às forças primitivas. Um resultado disso eram as constantes
crises, como as crises de superprodução.
Há também no manifesto uma atribuição de vontade e capacidade à burguesia. E é
possível atribuir a ela as mesmas determinações a categoria de sujeito no idealismo alemão. A
burguesia é um sujeito histórico que se constituiu como tal, como uma classe que com sua
ação mudou o mundo a sua forma.
Por outro lado, a descrição do proletariado também faz com que ele seja um sujeito
histórico. A apresentação do proletariado se faz através de sua ação política. De sua gradativa
organização a um grupo político. Porém, o proletariado não é apenas um grupo político, os
membros desse grupo se encontram numa mesma situação de classe, na mesma inserção no
processo de produção.
O capitalismo surge quando se preenche duas situações: a forma mercadoria, e o
aparecimento do trabalho livre e assalariado. Livre no sentido de sem restrições e livre no
sentido de sem meios de produção ou subsistência (vide, Cap 24 do livro I do Capital, “A
assim chamada acumulação primitiva”).
Ao venderem sua força de trabalho o proletariado se comporta como uma mercadoria.
Assim, estão sujeitos aos mesmos efeitos de mercado. estão sujeitos também a um processo
de trabalho que eles não controlam. Tanto o processo quanto o produto do trabalho aparece

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como algo externo. Também há o “despotismo” na organização do processo de trabalho pelo
capitalista. Sendo assim, ele se torna um objeto da produção.
Isso, por sua vez, são coisas que obstruem a organização do proletariado como classe
política. Porém, em 1848 havia uma organização política, de fato, do proletariado. Com a
grande industria, por outro lado, há uma facilitação para a união de interesses e a organização.
Marx vai ver que o embrião de uma nova sociedade já estava dentro da organização
política do proletariado através da solidarização e da tomada de papel como agente político.
Ou seja, uma associação voluntária de homens livres. Assim, há uma aposta no proletariado
como agente político que pudesse tomar uma atitude oposta, em direção a uma revolução.
Mas a situação do proletariado era a mesma. A pauperização (a possibilidade de
pobreza) era factível. Só que Marx apostava que essa situação levaria a revolução.
E a emancipação do proletariado tem a peculiaridade de ser a supressão da sociedade
de classes, e assim a emancipação da sociedade. Uma revolução da maioria. Uma passagem
ao comunismo, fazendo que o proletariado se tornasse um sujeito histórico.

Aula IV
02/09/08
As primeiras linhas de “O 18 de Brumário de Luis Bonaparte” (daqui em diante
referido por 18B) nos lembra a IA, pois reencontramos uma defasagem semelhante. Entre
aquilo que aconteceu efetivamente e sua representação. Se na IA o alvo era o idealismo
alemão, um movimento filosófico; no 18B a política se faz sob o signo do passado.
No começo há um balanço da ação política, esta marcada por ilusões e mascaramentos.
Isso indica que a política deve ser entendi dentro da mesma teoria da história apresentada na
ideologia alemã. Os princípios do materialismo histórico permitiam uma crítica da política, ou
seja, uma crítica da representação política, o modo como os agentes políticos concebem suas
ações.
Desse ponto de vista há uma continuidade entre os três textos vistos em aula (o IA, o
manifesto e o 18B) como a aplicação dos mesmos princípios a campos diferentes. Na IA há a
apresentação dos pressupostos do materialismos histórico (a divisão do trabalho, as formas de
propriedade, etc.) e com isso é aberta a possibilidade de entender a história de longa duração,
a historia mundial (Weltgeschichte). No manifesto a preocupação de Marx era caracterizar o
capitalismo, e entender as coordenadas de transição entre modos de produção distintos
(feudalismo, capitalismo, comunismo). Essa mesma teoria da história é aplicada a curta
duração, i.e., a eventos particulares de lugares determinas, no caso, o golpe de estado de Luis
Bonaparte em 1851.
Então vimos três aplicações distintos da teoria da história de Marx, ressaltando em
cada caso aspectos distintos.
Assim, Marx escreveu os acontecimentos de 1848-1851 depois de eles ocorrerem (ele
escreve em 1851-52). Ele aplica o mesmo método de crítica às representações políticas,
aqueles que motivaram as ações dos indivíduos, e aqueles que tentaram explicar os
acontecimentos.
A partir das primeiras frases do texto vemos que quando se atem ao plano das
representações apenas, o processo como um todo permanece inexplicado. Não é possível
atender os acontecimentos e o resultado final apenas reconstituindo as representações dos
agentes. Novamente não é possível vir do céu para terra, mas sim ir da terra ao céu.
Uma coisa enfatizada é a especificidade de 1848, não basta somente recriminar a
atitude de tentar recriar a situação de 1789. Isso significa, sobretudo que 1848 foi mais que
uma revolução política, mais que uma deposição de um rei, a queda da monarquia ou a
passagem à república e ao império. E ao mesmo tempo foi menos que 1789, pois lá, pelo
menos, houve uma troca de classes, a burguesia no lugar da aristocracia; e em 1848 isso não
aconteceu. Por isso a tragédia está para a farsa.

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Não é possível entender a sucessão dos acontecimentos como um mero encadeamento
de acontecimentos na ótica da revolução política. Houve mais que mudanças meramente nas
formas de dominação (monarquia republica, ditadura, etc.) em 1848 houve a possibilidade e a
tentativa de uma revolução social.
Esse é o traço distintivo dos acontecimentos desse período. Embora todos os discursos
de todos os agentes gravitassem no plano político, o acontecimento decisivo estava no plano
social, ou seja, de uma mudança na situação de dominação do modo de produção.
Foi visto no manifesto que no mundo moderno as classes decisivas são a burguesia e o
proletariado; isso é corroborado em 18B, pois a revolução seria uma luta do proletariado
contra a burguesia.
Porém, a classe que sustenta Luis Napoleão é uma outra classe social (e não política),
o campesinato. Como não são capazes de se organizar politicamente delegam seu poder a
outro, no caso, Luis Bonaparte.
No 18B não há apenas a polarização entre burguesia e proletariado, mas outras classes
entram em cena. Em muitos casos essa polarização se torna invisível para as próprias classes.
Como se fossem dois pólos magnéticos que orientam o movimento das demais classes sem
aparecer. O mesmo acontece com a idéia de revolução social, porém o eixo central desse
processo não aparece de forma sempre visível.
Marx faz uma periodização da revolução:
1º momento: 24/02/48- 04/03/48: A derrubada da monarquia de Luis Felipe. Um rei da
casa do Orleans. Depois foi instaurada a república, com ela um improvisado governo
provisório, nesse todo os segmentos contrários a Luis Felipe estavam lá: a nobreza da casa
dos Bourbons, a burguesia republicana, a pequena burguesia democrática e os trabalhadores.
E depois se convocou uma assembléia constituinte.
Esse relato já aponta uma série de contradições da própria situação da república na
França da época, todos esses setores que se opunham a Luis felipe, concebiam por república
coisas distintas. Para o proletariado, por exemplo, era uma república social, para a burguesia
uma república liberal, para a aristocracia uma monarquia Bourbon.
Outra discordância era com os interesses matérias, não só diferentes, mas divergentes.
2º período, fundação da república 04/03/48 – 30/03/49: Os conflitos latentes entre os
diferentes segmentos se entrecruzavam com outros conflitos entre a cidade e o campo. Como
se toda a França tivesse se unido contra o proletariado.
A burguesia afasta o proletariado da participação do poder. Assim, há a percepção de
que ocorreu a passagem de uma monarquia burguesa, para uma república burguesa. Com isso
há a insurreição de junho de 48 em que o proletariado “procura ir além do figurino de uma
transição política entre monarquia a república, busca fazer uma revolução social”.
A insurreição de junho confirma o modelo que Marx havia criado, o proletário se volta
contra a burguesia; ou seja, o proletário para de enfrentar os inimigos da burguesia
(monarquia, aristocracia, latifundiários, etc.). A insurreição de junho de 48 é um fator
determinante da confirmação da luta de classes prevista no manifesto.
Mas a insurreição fracassa. Então 18B pode ser lido como uma explicação do fracasso
e derrota de uma insurreição do proletariado. Como se fosse um modelo que possa entender
acontecimentos semelhantes (nazismo, ditaduras latinos americanas, etc.).
E a insurreição fracassa, pois todas as classes sócias se voltaram contra o proletariado.
Depois dessa derrota o proletariado deixa de ser protagonista, e toda vez que ele rotama a
cena política ele a faz para ser derrotado.
Porém, nem por isso a revolução social deixa e ser estruturante ao processo, por isso é
preciso observar as inconsistências entre as representações e os acontecimentos. Pois uma vez
que a revolução entra em cena, ela nunca mais sai do cenário. Pois ela é se coloca como uma
possibilidade histórica.

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Assim, vai existir o temor da revolução social, que por sua vez vai dar o tom do
desenvolvimento político, indo da derrota da república ate o novo império de Luis Bonaparte
e a recolocação da burguesia num lugar subalterno.
O que estava em jogo não era a república ou a monarquia ou qualquer outra forma de
governo, essa sucessão é contrastada por um outro processo, o processo anti-revolucináro. É
a possibilidade da revolução social que faz com que surja no debate político da época o
movimento conservador.
No capítulo II há a facção republicana burguesa, sua história e sua dissolução. Ela
tinha representação política, mas não havia um interesse comum entre os agentes, sua
unificação era feita por um compartilhamento de idéias. Eles não eram aquilo que Marx
chama de burguesia industrial.
Na época havia uma aristocracia financeira que estava no poder com Luis Felipe, a
emprestar dinheiro ao Estado, e os juros eram pagos com o dinheiro dos impostos. A
burguesia quando assume o poder, assume pelos profissionais liberais (professores,
advogados, etc.) representando a burguesia industrial. Porém como a revolução social batia a
porta, surge uma série de paradoxos.
Nesse período se elaborou a constituição enquanto se decretava estado de sítio. Essa
constituição aprovou o sufrágio universal e direto, isso que garantiu a subida de Luis
Bonaparte ao poder.
E na constituição havia setores que queriam aumentar as liberdades individuais e
outras que queriam suprimi-las, propriamente na constituição. as primeiras eram os
pressupostos e os princípios enquanto as segundas as leis.
Outra contradição foi entre a constituinte e o presidente eleito Luis Bonaparte (eleito
por todas as classes que se sentiram excluídas do poder político exercido pela burguesia
industrial). Ele garantiu o retorno da aristocracia financeira e da classe dos latifundiários.
Com isso foi dada uma luta contra a constituinte,e ela é encerrada em 1849.
3º período, república parlamentar, 28/04/49– 02/10/1851: 1848 é uma revolução
extinta, por isso seu encadeamento leva a uma outra lógica (a da contra-revolução). O
movimento foi o oposto a 1789, ele moveu-se em linha descendente em movimento de uma
maior conservação do poder antecedente. Além disso esse processo guiado por falsas
representações engendrou uma série de contradições: constitucionalistas contra a constituição,
revolucionários se declarando constitucionalistas, etc., etc.
Nesse 3º período, o importante é que o partido da ordem detinha a maioria no poder e
havia uma pequena oposição na assembléia. No entanto, no final de 1851 o poder é enfeixado
por Luis Bonaparte; assim, a dificuldade de explicar isso pelas representações corrobora a tese
de Marx.
Marx vai tentar mostrar como do ponto de vista social, a luta de classes é visível. Para
isso ele vai partir de um ponto externo. Esse ponto privilegiado é a disputa entre as facções
monárquicas.
Orleanistas e legitimistas. O que separa as duas facções eram os interesses matérias. A
propriedade da terra e a propriedade de empresas, ou seja, os grupos dominantes do campo
contra os da cidade.
Assim, na apresentação dos interesses materiais distorcidos pelas representações “as
frases e fantasias dos partidos” reencontramos o mesmo esquema da IA, a consciência aparece
como uma distorção dos meios matérias da vida. No 18B os interesses materiais aparecem
como filiação a um grupo. O que valia pra os indivíduos (no caso da IA, os jovens-
hegelianos) valia pra as classes e para os partidos.
A relação entre política e economia. No manifesto, a burguesia era mostrada ora como
uma classe ativa, como agente histórico, ora como uma classe passiva que vivia a seguir um
determinado modo de produção. Nas transições as determinações econômicas são colocadas
em suspenso e a ação política se torna determinante (o contrário do momento estático) a

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mudança de um modo de produção a outro é uma ação política. Mas o que acontece quando a
transição é travada? Os meios de domínio da classe dominante anterior, no caso a burguesia,
são ampliados.
O jogo político não é um jogo de tudo ou nada (revolução socialista ou domínio da
burguesia). Isso Marx apreende em 18B. Um dos resultados disso é o bonapartismo, uma
situação em que diante da possibilidade da revolução social a burguesia evita o jogo de tudo
ou nada, e assume uma posição secundária na hierarquia de poder para conseguir conter a
revolução. Isso foi feito de uma forma extrema, o bonapartismo, quando um terceiro (no caso,
Luis Bonaparte) se apodera do aparelho de Estado, e isso só é permitido desde que ele
mantenha o poder econômico e social da burguesia. Ou seja, a burguesia cede o poder político
para manter seu poder em outras esferas.
Além disso há uma outra possibilidade histórica não explorada, a social-democracia,
i.e., o enfraquecimento do antagonismo entre trabalho assalariado e capital, entre burguesia e
proletariado. E a pequena burguesia se situa entre essas duas classes, isso faz com que a
pequena burguesia se interesse pela social democracia, há um vínculo de mentalidade entre a
pequena burguesia e a social democracia.
Isso significa que não é possível entender as representações políticas sem recorrer as
relações materiais. A política é dependente da situação social e econômica, ou seja, ela não é
autônoma em relacão às outras esferas da sociedade. A política, então, pode ser vista no
espectro da ideologia, e esse espectro pode ser visto com resultado de interesses matérias
concretos.
Nesse sentido a política tem uma relativa autonomia, pois o que acontece ao longo do
jogo político não é indiferente. Então é preciso explicar porque a burguesia com poder
econômico e social é derrotada por Luis Bonaparte.
Isso é tratado no final do livro, quando se pensa sobre o Estado. No jovem Marx o
Estado era apresentado como pura ideologia quanto ao resultado real. Porém, no 18B Marx
vai ver o Estado como uma força efetiva que organiza a sociedade civil. O Estado aparece
como uma máquina que controla e administra o corpo social.
Mas há uma outra concepção de intensificação e expansão do Estado. Ou seja, o
resultado das revoluções políticas é a expansão do estado. Como o comunismo é a supressão
do Estado, isso mostra o caráter anti-revolucionário de 1848.

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